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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA HIDRÁULICA E AMBIENTAL
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO – SANEAMENTO AMBIENTAL
Francisco Preto Rodrigues
UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA DA BIORREMEDIAÇÃO EM SISTEMAS DE
ESGOTAMENTO SANITÁRIO. APLICAÇÃO NA CIDADE DE JUAZEIRO DO NORTE,
CEARÁ.
Fortaleza – Ceará
2005
FRANCISCO PRETO RODRIGUES
UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA DA BIORREMEDIAÇÃO EM SISTEMAS DE
ESGOTAMENTO SANITÁRIO. APLICAÇÃO NA CIDADE DE JUAZEIRO DO NORTE,
CEARÁ.
Tese submetida à Coordenação do Curso de Pós-graduação em
Engenharia Civil, Área de Concentração em Saneamento
Ambiental, da Universidade Federal do Ceará, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Civil.
Orientador. Prof. Dr. Francisco Suetônio Bastos Mota
FORTALEZA
2005
FRANCISCO PRETO RODRIGUES
UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA DA BIORREMEDIAÇÃO EM SISTEMAS DE
ESGOTAMENTO SANITÁRIO. APLICAÇÃO NA CIDADE DE JUAZEIRO DO NORTE,
CEARÁ.
Esta dissertação foi submetida à coordenação do Curso de
Pós-graduação em Engenharia Civil, Área de Concentração em
Saneamento Ambiental, como parte dos requisitos necessários
à obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil.
Aprovada em _____/_____/______.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________ Prof. Dr. Francisco Suetônio Bastos Mota (Orientador)
Universidade Federal do Ceará - UFC
_______________________________________________ Prof. Dr. Antônio Idivan Vieira Nunes
Universidade Federal do Ceará – UFC
_______________________________________________________
Prof. Dr. Adeildo Cabral da Silva (Examinador Externo)
Centro Federal de Ensino Tecnológico – CEFET/Ce
AGRADECIMENTOS
Agradeço principalmente a DEUS, por ter me dado forças para trilhar mais um passo
na minha vida profissional.
Ao professor Suetônio Mota, por sua paciência e compreensão nas dificuldades em
realizar o trabalho.
A minha esposa Núbia Maria Marques, pela ajuda na digitação e por sua constante e
paciente preocupação com a minha pessoa.
Aos meus amigos, Adriana e Paulo, pelo auxílio na coleta de dados.
A Bio Ambiental Sistema de Saneamento Ltda, na pessoa do Engº. Esupério Aguilar,
por sua confiança, amizade, companheirismo, e sobretudo, por incluir-me neste processo.
Ao CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pelo
suporte financeiro concedido.
A CAGECE – Companhia de Água e Esgoto do Estado do Ceará, em especial ao
Engº. Expedito Galba Batista (gerente da UNSBA) e aos colegas Robervânia e Renato (técnicos
Industriais), por ceder informações privativas da companhia.
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
1 INTRODUÇÃO 14
1.1 Caracterização do Problema 14
1.2 Objetivos 15
2 REVISÃO DE LITERATURA 16
2.1 Lagoas de Estabilização 16
2.1.1 Definições e Princípios 16
2.1.2 Histórico 18
2.1.3 Generalidades 19
2.1.4 Descrição e Caracterização 20
2.1.5 Lagoas Anaeróbias 21
2.1.5.1 Digestão Anaeróbia 22
2.1.6 Lagoas Facultativas 25
2.1.7 Lagoas de Maturação 29
2.1.8 Lagoas de Alta Taxa de Degradação 31
2.2 Legislação Brasileira para Corpos Aquáticos e Padrões de
Lançamento de Efluentes 32
2.3 Biorremediação 35
2.3.1 Definições e Aplicabilidade 35
2.3.2 Biorremediação no Brasil 37
2.3.3 Ação e Controle 38
2.4 Estação de Tratamento de Esgoto de Juazeiro do Norte/CE 41
2.4.1 Descrição do Projeto 41
2.4.2 Características do Sistema 42
2.4.3 Problemas Operacionais nas Lagoas Anaeróbias do Sistema ETE Malvas 48
3 MATERIAL E MÉTODOS 51
3.1 Caracterização da Área em Estudo 52
3.2 Alimentação do Sistema de Lagoas 53
3.3 Equipamentos Utilizados 54
3.4 Aditivo biológico 55
3.4.1 Especificações 55
3.4.2 Precauções 55
3.4.3 Preparo do aditivo biológico 56
3.4.4 Aplicação do aditivo biológico 58
3.5 Monitoramento do sistema de lagoas durante o tratamento com aditivo biológico 63
3.5.1 Alterações ocorridas nas Lagoas Facultativas após as aplicações 63
3.6 Coletas de amostras das lagoas de estabilização ETE Malvas 65
3.7 Variáveis analisadas e métodos analíticos 65
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 67
4.1 Análises Físico-químicas e Bacteriológicas 67
5 CONCLUSÕES 83
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 - Percentagem de redução da DBO5 afluente em função
da temperatura da água e tempo de detenção hidráulica (Td) 22
Tabela 2.2 - Influência dos principais fatores ambientais externos
em Lagoas de Estabilização 28
Tabela 2.3 - Produções de Proteínas de Culturas Agrícolas comparadas com
produção de algas em lagoa de alta taxa de degradação 32
Tabela 2.4 - Padrões de qualidade a serem mantidos em corpos
d’água de classe 2 33
Tabela 2.5 - Padrões de lançamento de efluentes.Portaria 154/02 – SEMACE 34
Tabela 2.6 - Geometria e tempos de detenção hidráulica das unidades de
tratamento da série de lagoas de Juazeiro do Norte 43
Tabela 3.1 - Mudanças na quantidade e local de aplicação do aditivo biológico.
Juazeiro do Norte/CE. 2005 62
Tabela 3.2 - Variáveis, métodos e referências analisados 66
Tabela 4.1 - Valores de análises físico-químicas e bacteriológicas antes da aplicação
do aditivo. ETE Malvas, Juazeiro do Norte- Ceará (JUL/04 a JAN/05) 67
Tabela 4.2 - Valores de análises físico-químicas e bacteriológicas durante a aplicação
do aditivo. ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará (FEV/05 a JUN/05) ..... 68
Tabela 4.3 - Valores de análises de gás sulfídrico e sulfeto antes da aplicação do aditivo.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará (JUL/04 a JAN/05) 68
Tabela 4.4 - Valores de análises de gás sulfídrico, sulfeto e temperatura
durante a aplicação do aditivo. ETE Malvas,
Juazeiro do Norte – Ceará (FEV/05 a JUN/05) 68
LISTAS DE FIGURAS
Figura 2.1 - Seqüência metabólica e grupos microbianos
envolvidos na digestão anaeróbia 23
Figura 2.2 - Variação das zonas aeróbias e anaeróbias de uma
lagoa facultativa 25
Figura 2.3 - Simbiose de algas e bactérias em lagoas de estabilização 27
Figura 2.4 - Esquema simplificado do funcionamento de uma lagoa facultativa 27
Figura 2.5 - Denominações usualmente empregadas para biorremediação 36
Figura 2.6 - Sistemas biológicos e funções específicas............................................................41
Figura 2.7 - Lay-out geral da ETE Malvas e estações elevatórias,
em Juazeiro do Norte, Ceará 44
Figura 2.8- Projeto da Estação Elevatória do Bairro Salesiano
em Juazeiro do Norte – Ceará 45
Figura 2.9 - Projeto da Estação Elevatória do Bairro das Malvas
em Juazeiro do Norte – Ceará 46
Figura 2.10 - Projeto da Estação Elevatória do Bairro Vila Fátima
em Juazeiro do Norte – Ceará 47
Figura 2.11 - Batimetria das lagoas anaeróbias do Sistema ETE Malvas,
Juazeiro do Norte-Ceará. 2005 48
Figura 2.12 - Esquema da batimetria da primeira lagoa anaeróbia.
ETE de Juazeiro do Norte, Ceará. 2005 49
Figura 2.13 - Esquema da batimetria da segunda lagoa anaeróbia.
ETE de Juazeiro do Norte, Ceará. 2005 49
Figura 3.0 - Mapa de Localização do Município de Juazeiro do Norte – CE......................51
Figura 3.1 - Vista aérea da ETE Malvas, Juazeiro do Norte – CE 53
Figura 3.2 - Produto biológico usado como aditivo no tratamento de esgoto 56
Figura 3.3 - Recipiente para preparo do aditivo biológico, constando de
tambor e aerador 57
Figura 3.4 - Aditivo biológico no momento da aeração 57
Figura 3.5 - Transporte e acondicionamento do aditivo biológico 58
Figura 3.6 - PV I: Rua das Dores / bairro Salesiano.
Juazeiro do Norte, Ceará, 2005 61
Figura 3.7 - ETE Malvas, Ponto V: Entrada das lagoas facultativas.
ETE de Juazeiro do Norte. Ceará, 2005 61
Figura 3.8 - Ponto V, entrada das lagoas anaeróbias.
ETE de Juazeiro do Norte, Ceará. 2005 62
Figura 3.9 - Lagoa facultativa I. ETE de Juazeiro do Norte, Ceará. Fev/05 63
Figura 3.10 - Lagoa facultativa II. ETE de Juazeiro do Norte, Ceará. Fev/05 63
Figura 3.11 - Comportamento das algas após as aplicações do aditivo biológico 64
Figura 4.1 - Valores médios mensais do pH. ETE Malvas,
Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005. 69
Figura 4.2 - Valores médios mensais da Condutividade Elétrica. ETE Malvas,
Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005 70
Figura 4.3 - Valores médios mensais de Sólidos Sedimentáveis. ETE Malvas,
Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005 71
Figura 4.4 - Valores médios mensais de Sólidos Suspensos Totais. ETE Malvas,
Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005 72
Figura 4.5 - Valores médios mensais de DBO5. ETE Malvas,
Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005 73
Figura 4.6 - Valores médios mensais de DQO. ETE Malvas,
Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005 74
Figura 4.7 - Valores médios mensais de Coliformes Totais no Esgoto Bruto.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005 75
Figura 4.8 - Valores médios mensais de Coliformes Totais no Esgoto Tratado.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005 76
Figura 4.9 - Valores médios mensais de Coliformes Termotolerantes no Esgoto Bruto.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005 77
Figura 4.10 - Valores médios mensais de Coliformes Termotolerantes no Esgoto Tratado.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005 77
Figura 4.11 - Valores médios mensais de Oxigênio Dissolvido.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005 79
Figura 4.12 - Valores médios mensais de Gás Sulfídrico e Sulfeto na Lagoa A1.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005 80
Figura 4.13 - Valores médios mensais de Gás Sulfídrico e Sulfeto na Lagoa A2.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005 81
Figura 4.14 - Valores médios mensais de Temperatura.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2005 82
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
A1 - Anaeróbia 1
A2 - Anaeróbia 2
CAGECE - Companhia de Água e Esgoto do Ceará
CENTEC - Centro de Ensino Tecnológico
CETESB - Companhia de tecnologia de Saneamento Ambiental
CF - Coliformes Fecais
CH4 - Gás Metano
CO2 - Gás Carbônico
CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente
CNPQ -g - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CT - Coliformes Totais
CTT - Coliformes Termotolerantes
DBO - Demanda Bioquímica de Oxigênio
DQO - Demanda Química de Oxigênio
ETE - Estação de Tratamento de Esgoto
EUA - Estados Unidos da América
FEA - Faculdade de Engenharia de Alimentos
FUNASA -Fundação Nacional de Saúde
ha - Unidade de Área (hectare): 1ha = 104m
2
H2 - Gás Hidrogênio
H2S - Gás Sulfídrico
Ls - Taxa de aplicação superficial
O2 - Gás Oxigênio
OD - Oxigênio Dissolvido
NA - Nível de Água
NMP - Número mais Provável
pH - Potencial Hidrogeniônico
PVs - Poços de Visitas
PVC - Cloreto de Polivinila
SEMACE - Superintendência Estadual de Meio Ambiente do Ceará
SS - Sólidos Sedimentáveis
SST - Sólidos Suspensos Totais
T - Temperatura
Td - Tempo de detenção
UFC - Unidades Formadoras de Colônias
UNBSA - Unidade de Negócio da Bacia do Salgado
US-EPA - Agência de Proteção Ambiental Americana
VMP - Valor Máximo Permitido
RESUMO
RODRIGUES, F. P. Utilização da técnica da biorremediação em sistemas de esgotamento
sanitário: aplicação na cidade de Juazeiro do Norte, Ceará.
Este trabalho procurou avaliar o uso da técnica de biorremediação, através da aplicação de
microrganismos selecionados (aditivos biológicos), que aceleram o processo de degradação da
matéria orgânica, para incrementar a população microbiana no sistema de tratamento,
recuperando e/ ou aumentando a eficiência do processo biológico em lagoas de estabilização. O
trabalho desenvolveu-se a partir dos resultados de análises laboratoriais de amostras de esgotos
coletadas na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE - Malvas), operada pela Companhia de Água
e Esgotos do Ceará (CAGECE) em Juazeiro do Norte, Ceará. Durante um período de 5(cinco)
meses foi verificado o comportamento da série de lagoas, através da análise dos seguintes
parâmetros: DBO e DQO, Coliformes Totais e Termotolerantes, Sólidos Sedimentáveis, Sólidos
Suspensos Totais, Condutividade Elétrica, Temperatura, Oxigênio Dissolvido, Gás Sulfídrico e
Sulfeto. As remoções totais de DBO e DQO foram, respectivamente, de 84 e 80%. As remoções
de gás sulfídrico, nas lagoas 1 e 2 foram, respectivamente, de 43 e 38%. A taxa de oxigênio
dissolvido, durante a aplicação do aditivo, teve um crescimento gradual mês a mês. O efluente da
lagoa de maturação pode ser aproveitado para irrigação irrestrita, uma vez que CTT < 1000/100
mL. O processo utilizado de biorremediação in situ (no local) teve como finalidade utilizar a
ciência para ajudar a natureza, através da recolocação de microrganismos fortalecendo a ação dos
mesmos no processo de biodegradação.
Palavras-chave: Biorremediação, Aditivo Biológico, Lagoas de Estabilização, Tratamento de
Esgoto, Águas Residuárias.
ABSTRACT
This work evaluated the use of the bioremediation technique by the application of selected
microorganisms (biological additives), that accelerate the organic matter degradation, to increase
the microbial population in the treatment system, recovering or improving the biological process
efficiency in stabilization ponds. The work was developed in the basis of the results from the
wastewater samples analysis collected in Malvas wastewater treatment plant, operated by the
Company of Water and Wastewater of Ceará (CAGECE) in Juazeiro do Norte, Ceará State.
During a 5 (five) month period, it was verified the behavior of the ponds by the analysis of the
following parameters: BOD, COD, total and fecal coliforms, settable solids, total suspended
solids, electric conductivity, temperature, dissolved oxygen, sulphydric gas and sulfide. The total
BOD and COD removals were, respectively, 84 and 80%. The sulphydric gas removal in ponds 1
and 2 were, respectively, 43 and 38%. The dissolved oxygen rate, during the additive application,
increased gradually month by month. The maturation pond effluent can be used for unrestricted
irrigation, since TFC < 1000/100 mL. The in situ bioremediation process had the objective of
applying the technology to help the environment, by reintroducing microorganisms, improving
their activity in the biodegradation process.
Keywords: bioremediation, biological additive, stabilization ponds, sewage treatment,
wastewater.
14
1.0 INTRODUÇÃO
1.1 Caracterização do Problema
A grande vantagem das lagoas de estabilização é o fato de serem meios relativamente
baratos e muitos eficientes para tratamento de resíduos orgânicos. São de fácil construção,
mínimo de manutenção e nenhuma mecanização. Portanto, constituem uma das soluções
aplicáveis às condições sócio-econômicas e climáticas dos países em desenvolvimento, como o
Brasil.
Grande parte dos profissionais de engenharia sanitária continua a recomendar a
construção de tais unidades de tratamento de águas residuárias; entretanto, os mais renomados
membros de sua profissão consideram que lagoas de estabilização são os mais desejáveis
métodos para países em desenvolvimento, para pequenas e médias populações – se a terra é
disponível (MARA, 1976).
Segundo Silva & Mara (1979), lagoas de estabilização são, sem dúvida alguma, o
mais importante processo de tratamento de águas residuárias nos climas tropicais, onde
normalmente se dispõe de terrenos a custos relativamente baixos e onde a temperatura e
luminosidade são favoráveis ao seu desempenho. O reduzido custo de construção e operação das
lagoas de estabilização, comparado àqueles dos métodos convencionais de tratamento, é a
principal razão de sua aceitação, principalmente nas pequenas comunidades.
Os sistemas de tratamento de águas residuárias mais comumente propostos pelos
engenheiros sanitaristas são unidades de lodo ativado, lagoas aeradas e outros sistemas
convencionais. Enquanto que, as exigências de espaço para tais sistemas são relativamente
baixos, eles necessitam de muito capital para sua construção (compra de material, equipamentos,
etc.) e são caros para operar e manter, devido ao custo da eletricidade e com necessidade de
supervisão por especialistas.
15
Portanto, as lagoas de estabilização, por serem comprovadamente eficientes e
possuírem as vantagens citadas, devem ser mais intensamente estudadas a fim de serem
otimizadas.
Uma das perspectivas é a utilização da técnica de biorremediação, que usa de forma
controlada processos microbiológicos que ocorrem normalmente na natureza para remover
poluentes. Especificamente, a biorremediação atua através da introdução de processos biológicos
adicionais para a decomposição dos resíduos que favorecem e incrementam a velocidade do
processo natural de degradação. A grande maioria dos composto orgânicos conhecidos, de
origem animal ou vegetal, bem como muitos agentes químicos tóxicos, pode ser biodegradável
através de técnicas de biorremediação. (BRANCO, 2002).
A utilização de microrganismos em estações de tratamento de esgoto já vem sendo
praticada desde os primórdios do desenvolvimentos dos processos biológicos de tratamento. A
biorremediação é uma tecnologia bastante utilizada em reatores biológicos, propondo a
recuperação e adequação dos mesmos através da utilização de culturas de microrganismos
selecionados que, adicionados ao esgoto bruto, podem degradar a matéria orgânica presente com
mais rapidez e eficiência.
1.2 Objetivos
O objetivo deste trabalho foi verificar a possibilidade de melhoria do funcionamento
das estações de tratamento de esgotos com ênfase na redução de odores, utilizando aditivos
biológicos com o intuito de aumentar a eficiência dos processos biológicos envolvidos no
tratamento dos efluentes, bem como, propiciar uma elevada tratabilidade das águas residuárias e
sua adeqüabilidade de lançamento e descarte ao meio ambiente e até mesmo ao reúso.
Como objetivo específico, buscou-se verificar, aplicando-se um aditivo biológico no
sistema de esgotamento sanitário da cidade de Juazeiro do Norte-Ceará, qual seu efeito sobre
algumas características físico-químicas e bacteriológicas do efluente da estação de tratamento de
esgoto, constituída de lagoas de estabilização em série.
16
2.0 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Lagoas de Estabilização
2.1.1 Definições e Princípios
As lagoas de estabilização, genericamente falando, são sistemas dos mais simples de
tratamento de esgotos, principalmente devido à simplicidade na construção, operação,
manutenção, controle e eficiência na remoção de organismos patogênicos. (ANDRADE NETO,
1997, p. 136).
Conforme o ponto de vista de alguns autores especialistas no ramo da engenharia
sanitária mundial, os conceitos estabelecidos para lagoa de estabilização resumem-se em:
eficiência, simplicidade, operacionalidade e controle; de acordo com as seguintes definições:
“As lagoas de estabilização são grandes reservatórios de pequena profundidade,
delimitados por diques de terra, onde as águas residuárias são tratadas por processos
inteiramente naturais, envolvendo algas e bactérias.” (MARA, 1976)
Lagoa de estabilização é um reator biológico dimensionado dentro de critérios técnicos, e que
recebe águas residuárias brutas, as quais são submetidas à degradação biológica, de maneira a
estabilizar, ou seja, mineralizar o máximo possível de sua carga orgânica e reduzir o número
de microrganismos patogênicos nelas existentes. (SILVA e MARA, 1979).
“[...] sistema de tratamento biológico em que a estabilização da matéria orgânica é
realizada pela oxidação bacteriológica (oxidação aeróbia ou fermentação anaeróbia)
e/ou redução fotossintética das algas.” (PESSOA & JORDÃO, 1982).
17
“ Lagunas de estabilización el término o denominación que incluye todos los tipos de
lagunas y a la vez describe mejor los processos que se desarollan durante el
tratamiento de las aguas residuales.” 1(CUBILLUS, 1986).
“As lagoas de estabilização são corpos de água lênticos, construídos pelo homem e
destinados a armazenar resíduos líquidos de natureza orgânica, esgoto sanitário bruto
e sedimentado, despejos industriais orgânicos e oxidáveis ou águas residuárias
oxidadas.” (UEHARA e VIDAL, 1989).
“Uma lagoa de estabilização é uma depressão no terreno que permite que o esgoto
seja retido por um período de tempo, antes de atingir o corpo receptor, e em que
fenômenos de natureza física, biológica e química ocorrerão, acarretando uma
atenuação do impacto poluente original.” (MANUAL DE OPERAÇÃO, 1992).
“[...] waste stabilization ponds are impoundments into wich wastewater relies rolely
on the natural processes of biological purification that occur in any natural water
body. No external energy, ather than derived from sunlight, is requiered for their
operation.” 2(MARA et al., 1992).
“As lagoas de estabilização constituem um processo biológico de tratamento de águas
residuárias que se caracterizam pela simplicidade, eficiência e baixo custo.”
(MATSUSHITA, S.D. apud KELLNER e PIRES, 1998).
1 “Lagoas de estabilização é o termo ou denominação que inclui todos os tipos de lagoas ao mesmo tempo, que
descreve melhor os processos que se desenvolvem durante o tratamento das águas residuárias.” 2“[...] lagoas de estabilização são açudes dentro dos quais o esgoto flui, entrando e saindo após em período de
retenção definido. O tratamento conta apenas com os processos naturais de purificação biológica que ocorrem em
qualquer corpo natural de água. Nenhuma energia externa, além daquela originada da luz solar, e requerida para a
operação.”
18
2.1.2 Histórico
O tratamento de esgotos em lagoas surgiu, em vários lugares do mundo, de maneira
mais ou menos “casual”, ao lançar-se esgotos em lagoas pré-existentes e verificando que esses
esgotos, em geral eram estabilizados, sem a esperada produção de mau cheiro, ao mesmo tempo
que as águas da lagoa se tornavam esverdeadas, graças à proliferação de algas microscópicas
estimulada pelos esgotos como se tratasse de um adubo. (BRANCO, S. M., 2002).
Nos EUA, provavelmente em 1901, uma lagoa de armazenamento de esgotos foi
construída na cidade de San Antonio, Texas, com a finalidade de utilizar a água na irrigação.
Verificou-se, posteriormente, que os efluente possuíam melhor qualidade que os afluentes, ou
seja, ocorrera um tratamento do esgoto. (VICTORETTI, 1964 ; SILVA e MARA, 1979).
A Califórnia iniciou o uso de lagoas de estabilização a partir de 1911, quando
Betterweet, no Condado de San Benito, construiu uma lagoa para receber águas residuárias de
estações de bombeamento de petróleo, de unidades geradoras de vapor e águas residuárias
domésticas.(OSWALD, 1961 apud SILVA e MARA, 1979).
Em 1924, na cidade de Santa Rosa, Califórnia, lançaram-se os esgotos sobre um leito
natural de pedras, imaginando-se que este funcionaria como um filtro natural, antes do despejo
final no poluído córrego Santa Rosa. Em pouco tempo, o esgoto bruto colmatou o leito de pedra
formando uma lagoa de 90cm de profundidade, sem apresentar odores desagradáveis.
(KELLNER e PIRES, 1998).
Em meados de 1940, foram iniciadas pesquisas para a depuração do esgoto bruto de
Melbourne, empregando-se lagoas de estabilização (PARKER et al., 1950; VICTORETTI, 1964).
A primeira lagoa de estabilização a ser construída nos Estados Unidos, seguindo os
princípios técnicos até então disponíveis, foi a da cidade de Maddock, na Dakota do Norte, em
1948. (SVORE, 1961 apud SILVA e MARA, 1979).
19
Em fins da década de 50, principalmente durante a década de 60, as lagoas de
estabilização despertaram mais interesse, passando a ser usadas largamente, não só como
processo de tratamento das águas residuárias domésticas, mas também daquelas industriais, e
chamaram a atenção dos estudiosos em várias partes do mundo, os quais passaram a aprofundar,
através de pesquisas, o conhecimento sobre o processo em questão. (SILVA e MARA, 1979).
Pode-se concluir, do que foi exposto, que inicialmente as lagoas de estabilização
foram utilizadas sem nenhum critério técnico e, em diversos casos, completamente por acaso.
No Brasil, a primeira lagoa de estabilização a ser construída dentro de critérios
técnicos foi a da cidade de São José dos Campos, no Estado de São Paulo, cujo idealizador foi o
Eng°. Benoit Almeida Victoretti, no ano de 1960. Essa lagoa, tendo caráter experimental, tipo
australiano, serviu para o levantamento de dados iniciais sobre rendimento, associações
biológicas entre algas e bactérias, tempos de detenção e muitos outros parâmetros importantes
para projeto. (KELLNER e PIRES, 1998).
No Estado do Ceará, o primeiro sistema de lagoa foi implantado em 1974, no maior
conjunto habitacional da cidade de Fortaleza, o Conjunto Ceará. (DA SILVA et al., 1999).
Existem pelo menos 40 ETE’s do tipo lagoas de estabilização no Ceará, das quais 21
estão na Região Metropolitana de Fortaleza. Encontram-se em fase de projeto ou execução mais
60 ETE’s deste tipo. (DA SILVA e ARAÚJO, 2004).
2.1.3 Generalidades
A partir de 1950, quando houve uma maior ascensão aos estudos técnicos, trazendo
dados que permitiam um melhor dimensionamento das lagoas, principalmente em termos de
tempos de detenção, dois sistemas logo se diferenciaram pelo tratamento prévio dado aos esgotos
antes de seu lançamento à lagoa:
20
a) O “sistema americano”, em que o esgoto era submetido previamente a um
tratamento primário, em decantadores primários, visando não só reduzir a carga de sólidos mas,
principalmente, “clarificar” os esgotos, permitindo maior penetração da luz, essencial à
fotossíntese;
b) O “sistema australiano”, em que não só a sedimentação, mas uma depuração prévia
era realizada em uma lagoa primária, com menor tempo de detenção, onde se realizava uma
digestão anaeróbia, metânica, a céu aberto. (BRANCO, 2002).
2.1.4 Descrição e Caracterização
Nas lagoas de estabilização os esgotos são lançados e mantidos durante vários dias
(período de detenção), necessários para que a matéria orgânica sofra, convenientemente, a ação
de processos naturais de tratamento físico, bioquímico e biológico, denominados “auto-
depuração” ou “estabilização”. (DACACH, 1984).
Estes processos naturais, sob condições parcialmente controladas, são responsáveis
pela transformação de compostos orgânicos putrescíveis em compostos minerais ou orgânicos
mais estáveis, daí a denominação restritiva de “estabilização”. (BRANCO, 2002).
Conforme Von Sperling (1996), as lagoas de estabilização são indicadas para as
condições brasileiras, devido aos seguintes aspectos:
Vasta disponibilidade de área;
Condições climáticas favoráveis (temperatura e insolação altas);
Simplicidade operacional;
Necessidade de poucos ou nenhum equipamento.
21
As lagoas de estabilização são classificadas em quatro (04) tipos, segundo o ponto de
vista do processo de degradação biológica da matéria orgânica. (POVINELLI, 1977; HAMMER,
1979; ANDRADE NETO, 1997).
2.1.5 Lagoas Anaeróbias
As lagoas anaeróbias funcionam de modo semelhante a uma fossa séptica desprovida
de cobertura. Seus principais inconvenientes são os maus odores e necessidade de remoção
periódica do lodo. (DACACH, 1984).
O processo de depuração que é desenvolvido nestas lagoas não necessita da presença
de luz solar na massa líquida, permitindo assim, a total negligência quanto a turbidez, e com isso,
possibilita a entrada no sistema de altas cargas orgânicas. (ANDRADE NETO, 1997).
Conforme Silva e Mara (1979), a operação ótima dessa lagoa depende do equilíbrio
entre as bactérias formadoras de ácido e as formadoras de metano. Com este equilíbrio
estabilizado, a temperatura será maior que 15°C e seu pH deve ser mantido acima de 6. Mantidos
estes parâmetros, a acumulação de lodo é mínima e sua remoção ocorrerá a cada 3 a 5 anos.
Segundo Von Sperling (1996b), a profundidade dessas lagoas é da ordem de 4 a 5m,
o que permite reduzir a possibilidade da penetração do oxigênio produzido na superfície, para as
camadas mais profundas.
A eficiência provável na remoção de DBO nas lagoas anaeróbias está intimamente
relacionada à detenção e à temperatura do líquido (ver Tabela 2.1).
22
Tabela 2.1 – Percentagem de redução da DBO5 afluente em função da temperatura da água e do
tempo de detenção hidráulica (Td).
Temperatura Lagoas
Anaeróbia (°C)
Tempo de
Detenção (dias)
Remoção de
DBO5 (%)
10 – 15 4 – 5 30 – 40
15 – 20 2 – 3 40 – 50
20 – 25 1 – 2 50 – 60
25 – 30 1 - 2 60 – 80
Fonte: ARCEIVALA citado em YANEZ (1993)
Conforme Mendonça (1990) apud Von Sperling (1996b): “A taxa de acúmulo de lodo
nas lagoas anaeróbias é da ordem de 0,03 a 0,04m3/hab.ano”. Este autor cita que essas lagoas
devem ser limpas quando a camada de lodo atingir aproximadamente a metade da altura útil.
O tratamento de esgoto afluente se dá pela atuação de dois processos que são a
sedimentação e a digestão anaeróbia.
2.1.5.1 Digestão Anaeróbia
De forma simplificada, a digestão anaeróbia é um processo que ocorre em duas fases.
Este processo depende do delicado equilíbrio entre as bactérias formadoras de ácidos,
denominadas acidogênicas, e aquelas formadoras de metano, as metanogênicas. (SILVA e
MARA, 1979).
Segundo Braile e Cavalcanti (1993), os microrganismos responsáveis pela
decomposição da matéria orgânica são comumente divididos em dois grupos: o primeiro,
hidroliza e fermenta compostos orgânicos complexos para ácidos orgânicos simples; o segundo
grupo, converte os ácidos orgânicos formados pelo primeiro grupo em gás metano e gás
carbônico. As bactérias responsáveis por esta transformação são estritamente anaeróbias.
23
A digestão anaeróbia que ocorre neste tipo de lagoa é um processo biológico natural
que acontece na ausência de oxigênio molecular, resultando, como principais produtos gasosos, o
metano e o gás carbônico. (ZAIAT, 2002).
Embora o processo de digestão anaeróbia seja simplificadamente considerado como
de duas fases, este pode ser subdividido em quatro fases principais, como: Hidrólise,
Acidogênese, Acetogênese e Metanogênese. A Figura 2.1 representa esquematicamente os grupos
bacterianos e as fases da digestão anaeróbia.
Fonte: Adaptado de Chernicharo, 1997.
Figura 2.1 – Seqüências metabólicas e grupos microbianos envolvidos na digestão
anaeróbia.
24
Em cada fase da digestão anaeróbia pode ser verificado o seguinte:
Hidrólise: Nessa fase se dá a liquefação da matéria sólida insolúvel em substâncias
solúveis. Essa etapa é realizada graças à ação de enzimas exógenas, as quais, uma vez produzidas
pelas bactérias, são liberadas no meio onde vão exercer sua atividade catalizadora sobre o
material sólido de forma a que, uma vez solúveis, possam ser absorvidos através das paredes
celulares dos microrganismo bacterianos (BRANCO, 1986).
Acidogênese: Os açucares e aminoácidos são absorvidos pelos organismos
acidogênicos e fermentados intracelularmente a ácidos graxos de cadeias mais curtas, como ácido
propiônico, butírico, além de CO2, H2 e acetato.
Acetogênese: As bactérias acetogênicas são responsáveis pela oxidação dos produtos
gerados na fase acidogênica em substrato apropriado para as bactérias metanogênicas. Dessa
forma, as bactérias acetogênicas fazem parte de um grupo metabólico intermediário que produz
substrato para as metanogênicas (VAN HAANDEL e LETTINGA, 1996).
Metanogênese: A etapa final no processo global de degradação anaeróbia do
compostos orgânicos em metano e dióxido de carbono é efetuada pelas bactérias metanogênicas.
Metano é o produto final da mineralização da digestão anaeróbia.
Os principais problemas operacionais das lagoas anaeróbias são os seguintes
(CETESB, 1989; JORDÃO e PESSOA, 1995).
aparecimento de maus odores
proliferação de insetos
crescimento de vegetais
manchas verdes no encontro do nível de água com o talude
entupimento das tubulações de entrada
superfície da lagoa coberta por uma camada de escuma.
25
2.3.6 Lagoas Facultativas
As lagoas facultativas são aquelas em que ocorrem, simultaneamente, processos de
fermentação anaeróbia, oxidação aeróbia, e reação fotossintética. Uma zona de atividade
anaeróbia é sobreposta por uma zona de atividade biológica aeróbia, próxima à superfície
(KELLNER e PIRES, 1998).
O termo facultativa refere-se à dualidade ambiental característica desse tipo de lagoa:
aeróbia na superfície e anaeróbia no fundo. Durante a maior parte do dia, prevalecem as
condições aeróbias na maior parte da coluna líquida, devido principalmente à produção de
oxigênio fotossintético e a reaeração superficial. Ao anoitecer, cessada a incidência da luz solar
sobre a lagoa, a produção de oxigênio, a partir da fotossíntese é interrompida. Com isso, passa a
prevalecer a condição anaeróbia na maior parte da coluna líquida. Essa região em que ora aparece
como aeróbia, ora como anaeróbia, caracteriza esse tipo de lagoa como facultativa. A Figura 2.2
ilustra a ocorrência das três zonas presentes nas lagoas facultativas.
Fonte: Adaptado de Kellner e Pires (1998)
Figura 2.2 – Variação das zonas aeróbias e anaeróbias de uma lagoa facultativa
O trabalho de degradação da matéria orgânica em lagoas facultativas dá-se pelas
bactérias e algas através de dois princípios básicos, respectivamente: respiração e fotossíntese. O
primeiro constitui um processo pelo qual os organismos liberam dos alimentos ingeridos ou
acumulados as energias necessárias para suas atividades vitais, inclusive locomotoras. A
fotossíntese é um processo contrário da respiração, na qual, determinados organismos conseguem
sintetizar a matéria orgânica, portanto acumular energia, utilizando como fonte de energia a luz
solar. Esses dois processos podem ocorrer com alta, baixa ou nenhuma intensidade, dependendo
26
da profundidade e do horário de ocorrência em diferentes pontos da lagoa definidos por zona
anaeróbia, aeróbia e zona facultativa.
Na zona anaeróbia não ocorre fotossíntese devido à falta de luz solar, portanto, não há
oxigênio. O que ocorre é um processo de respiração anaeróbia, onde o lodo de fundo formado
pela sedimentação da matéria orgânica em suspensão (DBO particulada) é decomposto pelas
bactérias anaeróbias e convertido a gás carbônico, metano, água, gás sulfídrico e outros.
Andrade Neto (1997), diz que compostos mal cheirosos como gás sulfídrico, por
exemplo, formado na camada de lodo do fundo são oxidados no meio aeróbio não chegando a
alcançar a superfície e por conseqüência não gera problema de mau odor, salvo esporádicos
problemas de sobrecarga ou variações bruscas de temperatura.
Na zona aeróbia, camada mais superficial da lagoa, a fotossíntese é bastante intensa
devido à incidência direta de luz solar sobre a mesma. Nessa zona, o processo de oxidação da
matéria orgânica suspensa, que não sedimentou, ocorre por meio de respiração aeróbia.
Com a profundidade, tem-se a zona facultativa, que é o intermediário entre as zonas
anaeróbias e aeróbias. Nesta zona, o processo fotossintético é menor e, por conseqüência, o
oxigênio dissolvido também. As bactérias presentes são as facultativas, que sobrevivem tanto na
presença como na ausência de oxigênio.
De acordo com Von Sperling (1996b), o comportamento das algas e bactérias,
portanto, está relacionado ao balanço do consumo e produção de oxigênio e gás carbônico através
dos processos de fotossíntese e respiração, onde na fotossíntese as algas consomem o gás
carbônico produzido pelas bactérias para produzir oxigênio e na respiração as bactérias
consomem este oxigênio para produzir gás carbônico e vice-versa. Existe, portanto, uma
associação de mútuo benefício (simbiose) entre as algas e bactérias em uma lagoa. As Figuras 2.3
e 2.4 apresentam a ocorrência da simbiose e o funcionamento de uma lagoa facultativa,
respectivamente.
27
Fonte: Silva e Mara (1979)
Figura 2.3 – Simbiose de algas e bactérias em lagoas de estabilização
Fonte: Adaptado de Von Sperling (1996b)
Figura 2.4 – Esquema simplificado do funcionamento de uma lagoa facultativa
Para que ocorra a fotossíntese é necessário energia luminosa. Como a mesma só
acontece durante o dia, no período da noite pode ocorrer uma mistura, e como não há fotossíntese
o consumo de oxigênio prevalece sobre a produção. Apenas na superfície da lagoa é que se
encontra oxigênio dissolvido devido a reaeração atmosférica. Von Sperling (1996b) explica que,
com a profundidade, na lagoa existe um ponto chamado oxipausa onde a produção de oxigênio
pelas algas se iguala ao consumo de oxigênio pelas próprias bactérias e pelos microrganismos
decompositores.
zona anaeróbia
zona facultativa facultativa
zona aeróbia
algas bactérias
CO2
@
@2 O2
O2
28
As condições ambientais exercem também grande influência nas lagoas de
estabilização, sendo as principais: radiação solar, temperatura e vento, os quais são comentados
na Tabela 2.2 (Jordão e Pessoa, 1995 apud Von Sperling, 1996b).
Tabela 2.2 – Influência dos principais fatores ambientais externos em lagoas de estabilização
Fator Influência
Radiação solar - Velocidade de fotossíntese
Temperatura - Velocidade de fotossíntese
- Taxa de decomposição bacteriana
- Solubilidade e transferência de gases
- Condições de mistura
Vento - Condições de mistura
- Reaeração atmosférica (*) (*) mecanismo de menor importância no balanço de OD
Fonte:Von Sperling (1996b)
Silva e Mara (1979) relatam que a mistura realiza algumas funções vitais numa lagoa,
tais como: minimiza a possibilidade de ocorrência de curtos circuitos hidráulicos, reduz a
formação de zonas estagnadas, distribui uniformemente no sentido vertical da DBO (algas e
oxigênio), transporta as algas não motoras para a zona fótica superficial, que tendem a
sedimentar, e transporta oxigênio produzido na zona fótica para as camadas inferiores, podendo
assim, aumentar a carga de DBO que pode ser tratada em uma lagoa.
Quando numa lagoa não há mistura, a mesma fica sujeita a ocorrência de um processo
chamado estratificação térmica, a qual provoca a separação da camada superficial (quente) da
inferior (fria) por uma fina camada de mudança de temperatura chamada termoclima. Quando
isso acontece, há redução na produção de oxigênio e na estabilização da matéria orgânica,
ocasionando, assim, a redução na eficiência do tratamento.
O efluente de uma lagoa facultativa possui as seguintes características principais
(CETESB, 1989):
cor verde devida às algas;
29
elevado teor de oxigênio dissolvido;
sólidos em suspensão, embora praticamente estes não sejam sedimentáveis (as
algas não sedimentam no teste de cone Imhoff).
Assim como nas lagoas anaeróbias, para as lagoas facultativas adotam-se alguns
critérios de projeto durante sua implantação. A taxa de aplicação superficial é um dos mais
importantes itens de projeto, e fundamenta-se na necessidade de uma área extensa à exposição da
luz solar e sua taxa é expressa em termos de carga de DBO (Ls, expressa em KgDBO5/ha.d). Von
Sperling (1996b) adota taxas de aplicação superficial variando de acordo com cada região:
Regiões com inverno quente e elevada insolação: Ls = 240 a 350 KgDBO5/ha.d
Regiões com inverno e insolação moderados: Ls = 120 a 240 KgDBO5/ha.d
Regiões com inverno frio e baixa insolação: Ls = 100 a 180 KgDBO5/ha.d
A profundidade é outro item importante e exerce influência em aspectos físicos,
biológicos e hidrodinâmicos da lagoa. Von Sperling (1996b) adota uma faixa que varia de 1,5m a
2m. Silva e Mara (1979) e Kellner e Pires (1998) adotam profundidades para as lagoas
facultativas de 1m a 1,5m.
O tempo de detenção hidráulico é um critério que se refere ao tempo necessário de
ocorrência da estabilização da matéria orgânica, e está associado ao volume e à vazão de projeto.
As faixas adotadas por Von Sperling (1996b) variam de 15 a 45 dias. Já Kellner e Pires (1998)
dizem que podem variar próximas a 20 dias. Quanto à geometria da lagoa (relação
comprimento/largura) pode variar de L/B = 2 a 4 (VON SPERLING, 1996b).
2.3.7 Lagoas de Maturação
As lagoas de maturação, também conhecidas como lagoas de polimento, funcionam
como segundo estágio de tratamento após as lagoas facultativas. As mesmas são projetadas para
receber o efluente das lagoas facultativas, ou de outros processos de tratamento, objetivando
30
melhorar a qualidade do efluente. Dentre os mais diversos tipos de tratamento de esgoto, as
lagoas de maturação são as mais eficientes na remoção de organismos patogênicos.
A remoção de patogênicos em uma lagoa de estabilização é devida ao tempo de
exposição destes microrganismos a condições adversas de sobrevivência, dependentes de:
temperatura elevada; radiação ultravioleta; condições aeróbias, principalmente em níveis de
saturação de O2; redução do substrato (nutrientes orgânicos); competição vital; pH elevado; e a
combinação de vários destes fatores (ANDRADE NETO, 1998).
Von Sperling (1996a) diz que entre os organismos a serem removidos, incluem-se
bactérias, vírus, cistos de protozoários e ovos de helmintos. As bactérias e vírus são representados
pelos coliformes como indicadores. A remoção de bactérias e vírus é influenciada pelas
condições adversas; já os cistos de protozoários e ovos de helmintos são removidos através da
sedimentação.
Segundo Silva e Mara (1979), as lagoas de maturação, quando bem dimensionadas,
chegam a remover até 99,99% ou mais de coliformes fecais presentes no esgoto bruto, não
apresentando, assim, problemas para obter efluentes que exijam menos de 5000 CF/100mL.
Além de remover patógenos, as lagoas de maturação são bastante eficientes na
remoção de nutrientes, principalmente, nitrogênio e fósforo. Uma das formas de remoção de
nitrogênio se dá através da volatilização da amônia e a remoção de fósforo, através da
precipitação de fosfatos, principalmente na forma de hidroxiapatita. Estes dois tipos de remoção
ocorrem devido às condições de baixa profundidade, a qual permite a ocorrência total da
fotossíntese em toda a lagoa, e por conseqüência, elevados valores de pH, portanto fatores
característicos das lagoas de maturação (SILVA e MARA, 1979).
De acordo com Von Sperling (1996b), em termos de projeto de implantação, as
lagoas de maturação são usualmente projetadas com baixas profundidades, de forma a maximizar
os efeitos bactericidas da luz solar, bem como da fotossíntese, resultando na elevação do pH.
Valores comumente adotados são de 0,8 a 1,5m.
31
2.1.8 Lagoas de Alta Taxa de Degradação
São lagoas de estabilização pouco profundas, projetadas para o tratamento de águas
residuárias decantadas, visando uma produção máxima de algas (SILVA e MARA, 1979).
Constituem um poderoso método para produção de proteínas, sendo de 100 a 1000 vezes mais
produtivas que a agricultura convencional (Ver Tabela 2.3). É aconselhável o seu uso, para
tratamento de esgoto, quando houver a viabilidade do reaproveitamento da produção das algas. A
sua operação exige pessoal capaz e o seu uso é restrito. A profundidade média é de 0,3m a 0,5m
(FUNASA, 2004).
Segundo Andrade Neto (1997), essas lagoas, mesmo sem ter a massa líquida clara
como as de maturação, aproveitam ao máximo a energia da luz solar porque são ainda mais rasas
(± 50 cm) e, conseqüentemente, têm alta produção de oxigênio fotossintético e mantêm condições
aeróbias predominantes mesmo sob altas cargas orgânicas, resultando uma alta taxa de
degradação.
A biomassa de algas produzida, após certificação da ausência de algas toxigênicas,
pode ser empregada como alimento peletizado, fertilizante, na produção de biogás e como fonte
de produtos químicos. Apesar de potencialmente promissora, a produção de algas em lagoas de
alta taxa tem aceitação pública limitada e custo elevado (ARAÚJO, 1999).
O dimensionamento de lagoas de alta taxa baseia-se na taxa de fotossíntese
pretendida para a lagoa, dependendo, portanto, de condições climáticas (luz e temperatura) que
favoreçam a atividade fotossintética. Normalmente, o efluente deste tipo de lagoa, após a
remoção das algas, apresenta uma DBO5 de 20 mg/L e OD em torno de 0,5 mg/L .
32
Tabela 2.3 – Produções de Proteínas de Culturas Agrícolas comparadas com a produção de algas
em lagoa de Alta Taxa de Degradação
Produção de Proteínas de Culturas Agrícolas e Aquaculturas
Cultura Produção de Proteínas
(kg/ha.ano)
Soja
Milho
Trigo
Arroz
Algas
650
270
150
55
82.000+
+ Produção de uma lagoa de Alta Taxa de Degradação.
Fonte: Adaptado de McGarry (1971)
2.2 Legislação Brasileira para Corpos Aquáticos e Padrões de Lançamento de Efluentes
A legislação federal que determina os padrões e critérios de qualidade das águas a
serem mantidos no território nacional é a Resolução n° 357, de 17 de março de 2005, do
Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA, a qual estabelece a classificação das águas
doces, salobras e salinas em treze classes e os parâmetros físicos, químicos e biológicos que as
definem, estabelecendo as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras
providências.
Segundo Bezerra (2004), o Estado do Ceará, assim como outros estados brasileiros,
ainda não dispõem de um enquadramento dos seus vários corpos d’água, portanto se os mesmos
forem de água doce são automaticamente classificados como sendo de Classe 2. A Tabela 2.4
mostra os padrões de qualidade a serem mantidos nos corpos d’água de Classe 2, de acordo com
a resolução CONAMA 357/05.
33
Tabela 2.4 – Padrões de qualidade a serem mantidos em corpos d’água de classe 2
Parâmetro
Valor limite no corpo d’água
Potencial Hidrogeniônico 6 a 9
Demanda Bioquímica de Oxigênio 5 mg/L
Oxigênio Dissolvido 5 mg/L
Nitrogênio amoniacal 3,7 mg/L N, para pH 7,5
2,0 mg/L N, para 7,5 pH 8,0
1,0 mg/L N, para 8,0 pH 8,5
0,5 mg/L N, para pH 8,5
Nitrato 10 mg/L
Fósforo total
Até 0,030 mg/L em ambientes lênticos
Até 0,050 mg/L em ambientes intermediários
Coliformes fecais 1000 CF/100mL Fonte: Resolução CONAMA 357/05
Além dos padrões de qualidade estabelecidos para os corpos d’águas, a legislação
determina os padrões de lançamento nos mesmos, para efluentes de qualquer fonte poluidora.
Vários estados brasileiros dispõem de legislação própria para o controle de efluentes.
No Estado do Ceará, a Superintendência Estadual de Meio Ambiente – SEMACE estabelece a
legislação que regulamenta os padrões de lançamento de efluentes através da Portaria n° 154, de
Julho de 2002, a qual dispõe sobre os padrões e condições para o lançamento de efluentes
líquidos gerados por fontes poluidoras.
O artigo 4° da Portaria 154/02 diz que as indústrias ou qualquer fonte poluidora
localizada em áreas não dotadas de rede pública provida de sistema de tratamento, deverão
possuir estação de tratamento própria, de maneira a atender aos padrões de qualidade dos cursos
de água estabelecidos em função de sua classe, segundo seus usos preponderantes, bem como a
enquadrar seus despejos líquidos aos padrões estabelecidos.
A Portaria 154/02 determina, no § 2°, que, devido às características específicas, os
efluentes provenientes de sistemas de lagoa de estabilização deverão obedecer aos mesmos
padrões estabelecidos pelo art. 4°, com exceção de alguns parâmetros. A Tabela 2.5 mostra os
34
parâmetros com seus respectivos valores estabelecidos pela Portaria 154/02, para qualquer
estação de tratamento, e menciona os valores em particular para sistemas de lagoas de
estabilização.
Tabela 2.5 – Padrões de lançamento de efluentes. Portaria 154/02, do Estado do Ceará.
Parâmetro
Portaria 154/02
Portaria 154/02 – Lagoas de
Estabilização pH Entre 5 – 9 Entre 7,5 – 10
Temperatura (°C) Inferior a 40 Inferior a 40 *
Materiais
Sedimentáveis (mL/L)
Até 1 Até 1 (1)
Óleos e graxas (mg/L)
Minerais até 20
Vegetais e gorduras
animais até 50
Minerais até 20
Vegetais e gorduras animais até 50
Materiais flutuantes Ausentes Ausentes
Amônia total (mg N/L) 5 5
Oxigênio dissolvido
(mg/L)
-
3
DBO5 (mg/L) - 60 amostra filtrada
DQO (mg/L) 200 200 amostra filtrada
Sólidos em Suspensão
Total (mg/L)
Efluentes industriais 100
Efluentes domésticos 50
150
Coliformes Fecais 5000 5000
*sendo que a elevação da temperatura do corpo receptor não deverá exceder a 3°C
(1) em teste de 1 hora em Cone Imhoff Fonte: SEMACE – Portaria 154/02
35
2.3 Biorremediação
2.3.1 Definições e Aplicabilidade
A biorremediação tem sido definida de muitas formas pelos principais organismos e
centros de pesquisa. A Agência de Proteção Ambiental Americana (US-EPA) apresenta uma
definição genérica à informação sobre a prática da biorremediação: “Biorremediação é o processo
de tratamento que utiliza a ocorrência natural de microrganismos para degradar substâncias
toxicamente perigosas transformando-as em substâncias menos ou não tóxicas”.
Cookson Jr. (1995) define biorremediação como sendo uma tecnologia de utilização
de microrganismos na recuperação de áreas degradadas pela disposição de resíduos,
particularmente químicos tóxicos. Branco (2002) explica essa tecnologia dizendo que consiste na
intensificação da atividade decompositora, mediante seleção dos microrganismos envolvidos,
adição de nutrientes ou modificação das características ambientais, de modo a torná-las mais
favoráveis à ação dos microrganismos envolvidos no processo e, eventualmente, adaptação de
espécies de microrganismos decompositores para que exerçam mais eficazmente a ação
decompositora sobre compostos mais resistentes a biodegradação.
A Figura 2.5 apresenta um resumo das principais denominações que a biorremediação
pode assumir segundo a localização onde ela praticada e as ações aplicadas.
36
Fonte PELEGRINI et al., 2003.
Figura 2.5 Denominações usualmente empregadas para biorremediação
O processo de biorremediação que se dá no local contaminado é denominado
biorremediação in situ (no local). Este processo, por ocorrer de forma intrínseca, no qual a
ciência pouco interfere, acontece se valendo dos microrganismos existentes no local para a
biodegradação. Quando há total ausência de interferência da ciência no processo, ela é
denominada intrínseca-natural e, quando, em que pese à existência dos microrganismos
necessários a biodegradação, ela não é em quantidade ou na localização exata para efeito efetivo
sobre os contaminantes, a ciência dá uma mãozinha à natureza, através da recolocação de
microrganismos e outros processos muito próximos dos utilizados pela própria natureza para
fortalecer a ação dos microrganismos no processo de biodegradação. Esta segunda forma é
denominada intrínseca-auxiliada (PELEGRINI et al., 2003).
BIORREMEDIAÇÃO
IN SITU EX SITU
ENGENHADA INTRÍNSECA
NATURAL AUXILIADA
37
A biorremediação intrínseca é sempre in situ, ou seja, ela é, conceitualmente, sempre
realizada no local da ocorrência contaminadora.
Há casos, entretanto, em que um simples auxílio não é suficiente à remediação por
biodegradação natural (a biorremediação é possível, porém é necessária uma série muito maior de
providências do que o simples auxílio ao meio ambiente natural). A tais casos são aplicadas
verdadeiras técnicas de engenharia, que vão desde a modificação topográfica do local,
implantação de novos microrganismos (organismos alóctones), implantação de bioreatores,
aplicação de nutrientes. As técnicas que alocam grande quantidade de recursos tecnológicos,
aliadas a um planejamento meticuloso e extenso, são chamadas biorremediação engenhada.
A biorremediação engenhada, dependendo das circunstâncias, pode ser realizada in
situ, o que inicialmente é sempre recomendável por questões econômicas e de menor agressão ao
meio ambiente.
Casos existem, entretanto, em que o material ou parte do ambiente, normalmente
quando se trata de solo, há de ser removido para se evitar riscos de alastramento da área
contaminada. Também, quando a remoção do ambiente contaminado é de pouca monta, vale a
pena ser removida a parte contaminada a fim de evitar-se um alastramento de contaminação.
Neste caso, a biorremediação é denominada ex-situ .
2.3.2 Biorremediação no Brasil
No mundo desenvolvido, é crescente o uso de biorremediadores no tratamento de
esgotos domésticos e industriais com o propósito de preservar o meio ambiente e a saúde da
população.
No Brasil, atualmente, os esforços desenvolvidos para elucidação da microbiologia
ambiental são incipientes se comparados àqueles nos países desenvolvidos. Os estudos se
concentram em maior intensidade na microbiologia de águas de abastecimento, portanto controle
38
de qualidade de mananciais e avaliação da biodegradação de compostos poluentes, do que na
microbiologia dos processos de tratamento de resíduos. Porém, nota-se o aparecimento de grande
interesse às linhas de pesquisa que contemplam a avaliação da microbiologia de bioreatores
aplicados ao tratamento de resíduos, não somente pela sua importância intrínsica, mas também
devido ao melhor conhecimento da biodiversidade microbiana existente nos ecossistemas
brasileiros.
Nos laboratórios da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, tem-
se realizado pesquisas nessa área. O objetivo principal dos estudos conduzidos na FEA, é
combater a contaminação do ambiente (mar, solo, rios e lençol freático), evitando desse modo
prejuízos à cadeia alimentar e, conseqüentemente, ao homem.
Pesquisadores da Embrapa-Meio Ambiente em Jaguariúna, SP desenvolveram meios
para multiplicar microrganismos (fungos, bactérias e actinomicetos) em laboratório, utilizando
fermentadores, para depois inoculá-los em áreas contaminadas, acelerando assim o processo de
biodegradação.
Uma das técnicas da biotecnologia é a biolixiviação, similar à bioventilação, nela, os
microrganismos são recirculados nas pilhas de resíduos sólidos industriais até baixar a
concentração do poluente alvo. Essa técnica vem sendo utilizada em Minas Gerais com sucesso
na indústria de mineração.
Segundo técnicos da empresa LMS Meio Ambiente S/C Ltda., a tendência no Brasil é
o desenvolvimento de processos biológicos de tratamento de baixo custo, que permitam a sua
utilização em larga escala, atendendo às necessidades inerentes a qualidade ambiental e de saúde
pública, além da preservação dos recursos naturais, notadamente os ecossistemas aquáticos.
2.3.3 Ação e Controle
As bactérias utilizadas na biorremediação se encontram abundantemente na natureza;
são microrganismos facultativos selecionados por sua grande capacidade de produzir as enzimas
39
necessárias para quebrar as estruturas dos componentes orgânicos e especializados em digerir de
forma mais rápida, segura e principalmente a baixo custo, todo o lixo orgânico produzido pelo
homem, ou seja: gorduras, óleos, excretas, detergentes, restos de alimentação, papéis e outros,
transformando-os em dióxido de carbono, sais, água, energia e outros dejetos inócuos ao meio
ambiente.3
A biorremediação tem sido utilizada desde o final da década de 70 no processo de
degradação de produtos derivados de petróleo e hidrocarbonetos, e que ao longo dos anos vem se
aperfeiçoando no tratamento de várias naturezas no meio ambiente, tais como: no tratamento de
resíduos sólidos em aterros sanitários, estações de tratamento de esgoto doméstico e industrial,
despoluição de rios, lagos e oceanos.
De acordo com Tortora et al. (2000), a biorremediação pode ser utilizada para
remover poluentes químicos e naturais, e as bactérias utilizadas podem ser naturais ou
geneticamente modificadas, ou ainda complementadas com fertilizantes de vegetais comuns de
nitrogênio e fósforo (biofertilizantes) dependendo do tipo de poluente que se deseja remover.
Este último é um modo muito simples de acelerar o processo de limpeza e não necessita de
engenharia genética, além do que, cientistas têm comprovado sua eficiência na remoção de
petróleo, através do aumento da velocidade de degradação do mesmo.
Segundo Pedersen et al. (1992), as atividades de correção do ambiente, empregando
microrganismos adaptados podem ser desenvolvidas in situ, isto é, no próprio campo, ou local
afetado pelo lançamento continuado de um produto orgânico nocivo, ou, ao contrário, mediante a
transferência do material poluente para um local apropriado – eventualmente um bioreator –
onde será feita a biorremediação em condições mais controladas.
_______________ 3
http://www.sanear01.ubbi.com.br/index.html (07/07/05)
40
Os bioreatores são sistemas biológicos de tratamento, em especial ao tratamento de
águas residuárias, e que podem ser aeróbios ou anaeróbios, onde, se operados sob determinadas
condições, resulta na estabilização da matéria orgânica poluente. Nestes bioreatores ocorre o
tratamento biológico ou biotratamento, que é uma outra tecnologia, a qual emprega a ação
conjunta de espécies diferentes de microrganismos. Se neste é aplicado aditivo biológico à base
de microrganismos selecionados, irá ocorrer a biorremediação, através da ação única e exclusiva
de bactérias e enzimas produzidas por elas. A Figura 2.6 lista alguns sistemas biológicos
empregados como bioreatores, bem como algumas de suas funções.
Para melhor distingui-las, Griffiths (1992) dá as definições das tecnologias citadas no
tratamento de águas residuárias, a saber: Biotratamento, os poluentes são tratados em bioreatores,
geralmente instalados junto às fontes de emissão; Biorremediação é a recuperação pelo
tratamento in situ de ambientes danificados pela disposição de enormes quantidades de materiais
poluentes tóxicos; pode ser necessário o uso de bioreatores.
Portanto, a biorremediação requer o controle e a manipulação de processos biológicos
microbianos tanto na área degradada, com introdução de microrganismos específicos no local
poluído, e, quando imprescindível, em reatores operados no local de disposição do material
poluente. Neste último caso ocorre a interface com as tecnologias de biotratamento. Porém, na
biorremediação, o objetivo principal é a obtenção de culturas bacterianas altamente
especializadas na degradação de determinados poluentes.
41
Sistemas biológicos
Funções
Lagoas de estabilização
Fornecimento natural de oxigênio
pelo desenvolvimento de algas em
lagoas construídas para a
degradação microbiana de
compostos orgânicos poluentes, e
conversão a dióxido de carbono e
água.
Lodos Ativados, Filtros
Biológicos, Lagoas Aeradas e
Valos de Oxidação
Degradação microbiana de
compostos orgânicos poluentes
através do metabolismo aeróbio,
facilitado pela disponibilidade
artificial de oxigênio em reatores
ou em lagos, e conversão a dióxido
de carbono e água.
Sistema de nitrificação
Conversão de compostos orgânicos
nitrogenados e amônia a nitratos
Sistemas de desnitrificação Conversão de nitratos a nitrogênio
gasoso
Sistema alterado anóxico e aeróbio
para remoção de nutrientes
Remoção de nutrientes,
particularmente de fosfatos
Biodigestão anaeróbia
Degradação microbiana de
compostos orgânicos a ácidos
orgânicos, álcoois, hidrogênio,
dióxido de carbono e metano. Fonte: Baseado em COOKSON JR. (1995).
Figura 2.6 – Sistemas biológicos e funções específicas.
2.4 Estação de tratamento de esgoto de Juazeiro do Norte/CE
2.4.1 Descrição do Projeto
O sistema de tratamento de esgoto de Juazeiro do Norte é composto de duas lagoas
anaeróbias em paralelo, seguidas de duas lagoas facultativas, também em paralelo, com
polimento final em uma lagoa de maturação. O sistema de lagoas é precedido de tratamento
preliminar composto de duas caixas de areia dispostas em paralelo e de gradeamento através de
cestas que retiram o material mais grosseiro do esgoto bruto. (Ver Figura 2.7 e 2.9).
42
O sistema de lagoas é operado sempre com uma divisão eqüitativa dos efluentes para
os dois pares de lagoas anaeróbias e facultativas.
A relação comprimento/largura de cerca de 5 : 1 assegura uma maior proximidade do
tempo de detenção teórico, garantindo assim as eficiências “desejadas”.
A lagoa de maturação confere ao efluente das lagoas facultativas um polimento final,
reduzindo principalmente o número de organismos patogênicos e tendo como benefícios
adicionais a redução do número de algas e da DBO do efluente tratado.
As lagoas anaeróbias foram projetadas para uma carga volumétrica de menos de
200 gDBO5/m3.d, o que praticamente assegura a inexistência de maus odores durante o seu
funcionamento. Entretanto, a partir da caixa de saída da lagoa de maturação foi projetada uma
linha de recirculação cujo objetivo é retornar o efluente supersaturado de oxigênio para a lagoa
anaeróbia sempre que houver a ocorrência de odores fortes.
A vazão média de projeto é de 204,7 l/s (vazão calculada em função do Td).
Nas Figuras 2.8 a 2.10 estão indicados esquemas de estações elevatórias do sistema
de esgotamento de Juazeiro do Norte: do bairro Salesiano (Figura 2.8); do bairro Malvas (Figura
2.9); do bairro Vila Fátima (Figura 2.10).
2.4.2 Características do Sistema
O tratamento preliminar é constituído de grade de barras, caixas de areia e calha
Parshall, executado em uma caixa de concreto armado, com os seus componentes modelados em
paredes secundárias de concreto.
A geometria das lagoas e os tempos de detenção hidráulica da ETE são mostrados na
Tabela 2.6. O tempo de detenção hidráulica (Td) total previsto para o sistema é de 22,8 dias.
43
Tabela 2.6 – Geometria e tempos de detenção hidráulica das unidades de tratamento da série de
lagoas de Juazeiro do Norte
Lagoa Largura x Comprimento à
Meia profundidade (m)
Profundidade
(m)
Tempo de Detenção
Hidráulica (dias)*
Anaeróbia 1
Anaeróbia 2 86,04 x 102,0 (cada) 3,2 2,4
Facultativa 1
Facultativa 2 105,5 x 558,1 (cada) 1,5 10,0
Maturação 113,7 x 558,1 1,5 10,4
*Com base em elementos de projeto da CAGECE.
As lagoas anaeróbias da E.T.E de Juazeiro do Norte/CE foram submetidas a processo
de batimetria, como mostra a Figura 2.11.
44
Fonte: CAGECE de Juazeiro do Norte - Ceará
Figura 2.7 – Lay-out geral da ETE Malvas e estações elevatórias, em Juazeiro do Norte, Ceará
45
Fonte: CAGECE de Juazeiro do Norte - Ceará
Figura 2.8 – Projeto da Estação Elevatória do Bairro Salesiano em Juazeiro do Norte - Ceará
46
Fonte: CAGECE de Juazeiro do Norte - Ceará
Figura 2.9 – Projeto da Estação Elevatória do Bairro das Malvas em Juazeiro do Norte - Ceará
47
Fonte: CAGECE de Juazeiro do Norte - Ceará
Figura 2.10 – Projeto da Estação Elevatória do Bairro Vila Fátima em Juazeiro do Norte - Ceará
48
2.4.3 Problemas Operacionais nas Lagoas Anaeróbias do Sistema ETE Malvas
Para iniciar o tratamento com aplicações de microrganismos foi necessário verificar a
carga de sólidos acumulada no fundo das lagoas anaeróbias. Para isso, a equipe da CAGECE
realizou um trabalho de batimetria técnica, que determina a altura da biomassa (lodo)
sedimentada na lagoa. A Figura 2.11 ilustra o momento da realização da batimetria nas lagoas
anaeróbias do Sistema ETE Malvas.
Figura 2.11 – Batimetria das lagoas anaeróbias do Sistema ETE Malvas, Juazeiro do Norte-Ceará. 2005.
Esse trabalho foi realizado no mês de fevereiro de 2005, logo após o início das
aplicações dos microrganismos. Dados da batimetria constataram que as lagoas encontram-se
assoreadas. As Figuras 2.12 e 2.13 mostram o esquema detalhado dos valores encontrados da
batimetria na primeira e na segunda lagoa anaeróbia.
49
Figura 2.12 – Esquema da batimetria da primeira lagoa anaeróbia. ETE de Juazeiro do Norte, Ceará. 2005.
Fonte: CAGECE
Figura 2.13 – Esquema da batimetria da segunda lagoa anaeróbia . ETE de Juazeiro do Norte, Ceará. 2005.
Fonte : CAGECE
50
As lagoas anaeróbias encontram-se sobrecarregadas com sólidos sedimentáveis. As
mesmas não estão se comportando como anaeróbias devido à baixa profundidade decorrente do
acúmulo de lodo, o que vem prejudicando o funcionamento normal das lagoas.
Lodos de esgotos, mesmo parcialmente digeridos, exercem uma grande demanda de
oxigênio. Além do incremento de matéria orgânica, os lodos contêm grande quantidade de
nutrientes (nitrogênio e fósforo) e microrganismos patogênicos (METCALF & EDDY, 1991).
Sistemas de tratamento de efluentes com desequilíbrios no processo biológico
refletem em conseqüências negativas como: baixa eficiência do tratamento, exalação de odores
desagradáveis, acúmulo de sólidos, depósito de gorduras, etc. Os fatores que levam a esse
desequilíbrio podem ser devidos a sobrecarga, alterações bruscas de pH, concentrações
excessivas de agentes de limpeza, detergentes, branqueadores, produtos químicos, pesticidas e
fertilizantes sintéticos, causando reduções nas populações microbianas e queda da atividade
biológica.4
A CAGECE substituiu o nitrato de amônio NH4 (NO3) por nitrato de sódio (NaNO3)
como auxiliar para a diminuição de emissão de sulfeto gasoso para atmosfera, a partir da unidade
de tratamento preliminar e das lagoas anaeróbias. A quantidade de NaNO3 consumido é de cerca
de 144 Kg por dia (101 a 225 Kg/dia), considerando as informações oferecidas pelos técnicos da
empresa. Tal substituição se deu em razão da necessidade de diminuir a carga total de amônia
entrando no sistema. Este proceder diz mais respeito ao impacto sobre o corpo receptor do que
propriamente ao controle de odor.
As lagoas anaeróbias encontravam-se com grandes camadas de sobrenadantes, os
quais são fonte de mau cheiro, e também com presença de zonas mortas que diminuem a
eficiência, provoca fluxo preferencial e também causa mau cheiro.
_________________________________
4 http://www.uenf.br/uenf/centros/cct/qambiental/ef_biorremediacao.html (06/07/05)
51
3.0 MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi realizado no município de Juazeiro do Norte no Estado do Ceará.
(Ver Figura 3.0).
Figura 3.0 – Mapa de Localização do Município de Juazeiro do Norte – CE.
52
3.1 Caracterização da Área em Estudo
O município de Juazeiro do Norte está localizada no extremo sul do Estado do Ceará,
no chamado Vale do Cariri, distante cerca de 563 Km de Fortaleza, com uma área de
aproximadamente 235 Km2; limitando-se, ao norte, com Caririaçú; ao sul, com Barbalha; a leste,
com Missão Velha e a oeste, com Crato. Apresenta latitude (S) 7° 12’ 47”, longitude (W) 39° 18’
55”; altitude de 377m em relação ao nível do mar. A temperatura média máxima é de 33,7°C e a
média mínima é de 18,3°C.
Segundo dados do IBGE 2003, a população de Juazeiro do Norte é de 224.014
habitantes, sendo que a maior parte se concentra na zona urbana. A população de Juazeiro do
Norte é bastante heterogênea. Há praticamente pessoas de todos os estados nordestinos, muitos
dos quais romeiros, que para aqui vieram atraídos pela fama do Padre Cícero.
O clima é temperado. De junho a agosto faz um pouco de frio. A época chuvosa
geralmente vai de janeiro a abril. O município é banhado pelo Rio Salgadinho, que nasce na
vizinha cidade do Crato.
Conforme a etimologia, o topônimo Juazeiro deve-se a uma árvore, muito comum na
região Nordeste, que resiste à seca mais inclemente, permanecendo sempre viçosa, chamada
cientificamente Ziziphus Juazeiro. A palavra é híbrida, tupi-portuguesa: juá ou iuá(fruto de
espinho) + o sufixo eiro.
A estação de tratamento de esgotos denominada ETE – MALVAS está localizada no
bairro Malvas do referido município e tem como responsável pela operação e manutenção a
Companhia de Água e Esgoto do Ceará – CAGECE. (ver Figura 3.1).
53
Figura 3.1 – Vista aérea da ETE Malvas, Juazeiro do Norte - CE (Cortesia da CAGECE)
3.2 Alimentação do Sistema de Lagoas
O sistema é alimentado com águas residuárias brutas domésticas e industriais
provenientes de vários bairros da cidade de Juazeiro do Norte, as quais, da rede coletora são
encaminhadas para quatro elevatórias, a saber: elevatória Almino Loiola, Vila Fátima, Malvas e
Salesiano, e destinadas até as lagoas, tendo a divisão de fluxo de acordo com a proximidade entre
os bairros.
A elevatória Almino Loiola contribui para a vazão da elevatória Vila Fátima, que em
seguida encaminha o esgoto para outra elevatória, a das Malvas, que por fim encaminha o esgoto
até as lagoas. A elevatória do Salesiano, está ligada diretamente na entrada das lagoas anaeróbias.
Portanto, existem duas entradas no sistema de lagoas, a das Malvas, cuja vazão é em média 100
L/s, na qual ocorre a junção das elevatórias Almino Loiola e Vila Fátima e uma outra entrada, a
da elevatória individual do Salesiano, cuja vazão situa-se em média de 25 L/s totalizando,
54
portanto, uma vazão atual de 125 L/s, sendo que, de acordo com a CAGECE, a vazão de projeto é
de 204,7 L/s. (ver Figura 2.6).
Todas as elevatórias são constituídas de tratamento preliminar contendo gradeamento
para reter os materiais mais grosseiros, duas caixas de areia, medidor de vazão e poço de sucção.
Os bairros atendidos por esses sistemas são: Centro, Salesianos, Santa Tereza, Pirajá,
Franciscanos, Pio XII, Limoeiro, Vila Fátima, Leandro Bezerra e Romeirão.
Os esgotos são coletados através de ramais prediais, inclusive com caixa de inspeção
nas calçadas e a rede, cuja extensão é de 225.881m, com diâmetros das tubulações variando de
100 a 700mm e encaminhados por gravidade até as elevatórias. A partir destas, o esgoto é
bombeado para a entrada do sistema de lagoas (lagoas anaeróbias). Na entrada das lagoas
anaeróbias e facultativas, como existe em número de duas em cada sistema, há uma caixa de
eqüipartição para dividir o fluxo de efluente para as subseqüentes lagoas. Os efluentes das lagoas
são conduzidos por gravidade nas linhas de recirculação, e o efluente final é lançado também por
gravidade no corpo receptor (Rio Salgado).
Segundo dados da CAGECE, a estação de tratamento de esgotos ETE Malvas está
atendendo, em 2005, cerca de 36,84% da população de Juazeiro do Norte, sendo que, tem
cobertura para atender até cerca de 39,17% da população.
3.3 Equipamentos Utilizados
No desenvolvimento dos trabalhos foi usado os seguintes materiais:
01 tambor com capacidade de 238L
01 compressor para aquário (HP – 400) capacidade 3,5 L/min.
01 funil grande com abertura de 25mm (mínimo)
01 cano de PVC rígido para hidráulica, 1,5m de cano Ø 25mm
01 mangueira cristal 1x 2,0mm (4m de mangueira)
12 bambonas de plástico com capacidade de 10 e 20L
01 veículo utilitário tipo Fiorino (fechada)
55
Equipamentos de proteção individual (EPI)
3.4 Aditivo biológico
Na pesquisa foi utilizado o aditivo biológico a seguir especificado.
3.4.1 Especificações
Nome: Biomix E/G
Conteúdo: Cultura de microrganismos (concent. > ou = 1,0 x 109/cm
3)
Taxa de evaporação: 0,0% líquido com baixo conteúdo de mistura
Polimerização: não ocorre
Toxidade: não tóxico
pH: 6,0 a 7,0
Densidade: 0,6 a 0,8 g/cc
Reatividade: Estável
Responsável técnico: Sáudio Peixoto – CRF-5 nº 973
Fabricação : Bio Ambiental Sistemas de Saneamento Ltda
CGC – 02.031.905/001-54 i.e.: 10.297.508-6
End.: Av. Mutirão, nº 2451, Setor Marista – Goiânia/GO
CEP.: 74.150-340 Fone: (0XX62) 3274.1775
3.4.2 Precauções
Não congelar
Evitar exposições a temperaturas superiores a 40°C
Manter estocado em lugar fresco e seco
Exposição na pele: vermelhão na pele em pessoas alérgicas; nos olhos: pode
causar irritação não patogênica.
56
3.4.3 Preparo do aditivo biológico
O produto utilizado como aditivo biológico foi um composto em pó a base de
microrganismos selecionados, não tóxicos e não patogênicos, e nutrientes (farinha de trigo),
necessitando, antes de sua aplicação, de um preparo para adequá-los as condições de inoculação
no esgoto (Figura 3.2).
O aditivo biológico foi preparado diariamente em um tambor com capacidade para
238 litros, sendo usado um aerador com duas saídas de oxigênio cada uma com pedra porosa,
objetivando aumentar as bolhas de oxigênio para assim poder proporcionar melhores condições
aos microrganismos no seu processo de ativação que começa neste período (Figura 3.3).
No primeiro momento a água de diluição passou por algumas horas aerando para reter
o cloro residual que foi usado na etapa de desinfecção do seu tratamento. Isso se faz necessário
porque o cloro é um bactericida, então sua presença eliminaria os microrganismos inoculados.
Após a água ser oxigenada, o produto é adicionado e homogeneizado e permanece de 2 a 4 horas
aerando; passado esse tempo o mesmo está pronto para ser aplicado. Nesse período, os
microrganismos já estão se ativando e, como há nutrientes, eles se alimentam e começam a se
multiplicar. A Figura 3.4 mostra o processo de aeração.
Figura 3.2 – Produto biológico usado como aditivo no tratamento de esgoto.
57
Figura 3.3 – Recipiente para preparo do aditivo biológico, constando de tambor e aerador.
Figura 3.4 – Aditivo biológico no momento da aeração
Depois de pronto, o aditivo biológico foi transportado por sinfonação e
acondicionado em tambores de 10 e 20 litros e em seguida aplicado nos pontos de dosagens
mencionados a seguir (Figura 3.5).
58
Figura 3.5 – Transporte e acondicionamento do aditivo biológico.
3.4.4 Aplicação do aditivo biológico
As aplicações com o aditivo biológico iniciaram-se no dia 10 de fevereiro de 2005 e
foram efetuadas em quatro poços de visita (PVs) localizados na rede coletora da CAGECE, antes
das estações elevatórias, e em um único ponto da Estação de Tratamento de Esgoto ETE Malvas,
nos horários de 10:30h às 11:30h da manhã.
O tratamento biológico desenvolveu-se através da aplicação de microrganismos não
patogênicos, inoculados, com capacidade de alta taxa de degradação da matéria orgânica presente
no esgoto.
A aplicação ocorreu em duas fases:
1ª. Fase - Tratamento de Choque
2ª. Fase - Tratamento de Manutenção
O tratamento de choque se faz necessário para facilitar os processos de degradação
dos compostos orgânicos, para se obter a chamada “estabilização da matéria orgânica” e eliminar
a maior parte dos compostos instáveis presentes no esgoto da E.T.E. O controle biológico deverá
atingir a estabilização completa, bem como a eliminação do mau cheiro proveniente da mesma,
59
através da utilização de aditivos biológicos inoculados, numa quantidade 3 vezes maior que o
período subseqüente.
O tempo determinado para o tratamento de choque normalmente varia de duas a
quatro semanas de aplicação, dependendo das características do esgoto e do funcionamento do
sistema. No caso da ETE Malvas o tratamento de choque ocorreu durante mais de quatro meses,
isto devido a problemas operacionais do sistema e elevada descarga de efluentes industriais
advindos de indústrias de banhos metálicos, curtumes e outros, que lançam seus esgotos na rede
coletora da CAGECE. Os esgotos industriais podem conter em sua composição elevados teores
de metais pesados, trazendo prejuízos assim ao processo normal do sistema de tratamento com
aditivos biológicos. Portanto, todo este trabalho foi desenvolvido na fase de choque.
O tratamento de manutenção visa manter o sistema ativo como um todo, evitando,
assim, a redução da atividade biológica dos microrganismos inoculados dentro da E.T.E. Nesta
fase, com uma dosagem bem menor de aditivos biológicos, a tendência é da matéria orgânica ir
se apresentando cada vez mais oxidada, graças à ação de enzimas específicas produzidas pelos
microrganismos intervenientes. Essa oxidação leva à produção de subprodutos suscetíveis ao
ataque de outras enzimas, alcançando uma simplificação química, perda de energia e
mineralização final do esgoto.
Primeiramente, foi colocada num recipiente de plástico, 200L de água proveniente da
CAGECE; depois, foi colocado em contato com a água um compressor (HP-400) com capacidade
de 3.5L/min., com a finalidade de reduzir a quantidade de cloro residual contido na água, pois o
mesmo inibe a ação dos microrganismos. Esse compressor atuou num período de 8 horas
seguidas, sendo então dissolvida a cultura de microrganismos, que ficou no recipiente por mais 4
horas, com o compressor ligado.
Após este tempo, a solução fica pronta para ser utilizada no esgoto sanitário.
A distribuição é feita em bambonas com capacidade de 10 e 20L.
60
Na rede coletora, os PVs definidos para a aplicação do aditivo foram os seguintes:
PV I: Rua das Dores, Bairro Salesiano
PV II: Av. Paraná com Rua Capitão Coimbra, Bairro Pirajá
PV III: Rua Cícera Patrícia da Costa com Geraldo Rocha, Bairro Leandro
Bezerra.
PV IV: Rua Pedro Guilherme, Bairro Vila Fátima
Na ETE Malvas, para o início do tratamento com aditivo biológico, foi definido como
ponto de aplicação a saída das lagoas anaeróbias, ponto este, onde há uma caixa de eqüipartição
que divide os efluentes das duas lagoas anaeróbias e que alimenta, em seguida, as lagoas
facultativas.
Foi definido fazer a dosagem primeiro nas lagoas facultativas porque é aconselhável
iniciar o tratamento da saída para a entrada do sistema para que não haja acúmulo de resíduos nas
unidades subseqüentes e também porque as lagoas anaeróbias já recebem contribuição do aditivo
advindo das aplicações na rede coletora, além do que, se tem uma expectativa de limpeza
mecânica nas lagoas anaeróbicas. A Figura 3.6 ilustra o ponto de aplicação na rede coletora. A
Figura 3.7 mostra o ponto de aplicação na entrada das lagoas facultativas.
Os pontos de aplicação foram selecionados juntamente com o pessoal técnico da
CAGECE, considerando a distância das elevatórias, o fluxo dentro dos PVs e o logradouro, no
sentido de viabilizar a mobilidade do produto e roteiro das aplicações.
61
Figura 3.6 - PV I: Rua das Dores / bairro Salesiano.
Juazeiro do Norte, Ceará, 2005.
Figura 3.7 - ETE Malvas, PV V: Entrada das lagoas facultativas.
ETE de Juazeiro do Norte. Ceará, 2005.
A partir do dia 21 de abril de 2005, foram feitas algumas alterações na quantidade de
aditivo aplicado e no local de aplicação. O PV V (entrada das lagoas facultativas) foi mudado
para a entrada das lagoas anaeróbias, ponto este onde realmente se deveria ter iniciado as
aplicações, mas não foi possível devido a problemas operacionais, como a baixa profundidade
resultado da sobrecarga de sólidos sedimentáveis no fundo das lagoas anaeróbias, provocando seu
assoreamento. Essa sobrecarga gerou odores desagradáveis nas lagoas, o que motivou a mudança
de aplicação. Nos PVs não houve mudanças de locais, apenas nas quantidades aplicadas. A
Tabela 3.1 mostra o esquema das aplicações antes e depois da mudança nos pontos de aplicação.
62
Tabela 3.1 – Mudanças na quantidade e local de aplicação do aditivo biológico.
Juazeiro do Norte/CE. 2005.
Local de aplicação Antes
(entr. das lag.Facultativ.)
Depois
(entr. das lag. Anaer.)
PV I 30 litros/dia 20 litros/dia
PV II 20 litros/dia 10 litros/dia
PV III 10 litros/dia 10 litros/dia
PV IV 50 litros/dia 20 litros/dia
PV V 100 litros/dia 150 litros/dia
Quando se iniciou a adição do aditivo biológico nas lagoas anaeróbias observou-se o
aumento de degradação da matéria orgânica pelos microrganismos inoculados, já que os mesmos
entraram em contato direto com o efluente, e por conseqüência houve a redução de maus odores.
A Figura 3.8 ilustra o PV V na entrada das lagoas anaeróbias.
Figura 3.8 – PV V, entrada das lagoas anaeróbias.
ETE de Juazeiro do Norte, Ceará. 2005
63
3.5 Monitoramento do sistema de lagoas durante o tratamento com aditivo biológico
O monitoramento do sistema de lagoas ETE Malvas teve início no dia 10/02/05,
quando se iniciaram as aplicações com aditivo biológico, indo até junho de 2005. Foram
observados, visualmente, nesse período, os comportamentos entre algas e bactérias junto com os
microrganismos inoculados. Para avaliar o desempenho do sistema foram feitas coletas de
amostras pontuais dos afluentes/efluentes das lagoas.
3.5.1 Alterações ocorridas nas Lagoas Facultativas após as aplicações
A partir do dia 16/02/05, foram observadas algumas alterações no aspecto físico das
lagoas facultativas, tais como, o aparecimento de camada sobrenadante de algas mortas em suas
superfícies e maior clarificação do efluente das lagoas facultativas.
Este processo de flotação aumentou gradativamente devido à interrupção das
dosagens de nitrato de sódio nas elevatórias, o qual cortou o fornecimento de nutrientes às algas e
também pela desnitrificação do nitrogênio residual promovido pelos microrganismos
adicionados. Isto caracteriza um processo de estabilização do sistema (Figuras 3.9 e 3.10).
Figura 3.9 Lagoa Facultativa I . Figura 3.10 Lagoa Facultativa II.
ETE Juazeiro do Norte, Ceará. 2005. ETE Juazeiro do Norte, Ceará. 2005.
64
O processo de desnitrificação indica uma maior atividade biológica dos
microrganismos, dentro da tecnologia utilizada, demonstrada pela mortandade das algas, o que é
normal para limpeza e adequação do sistema, onde, neste caso, ocorria um excedente de
nutrientes devido às dosagens feitas anteriormente com nitrato de sódio.
A Figura 3.11 mostra a lagoa facultativa I após a aplicação do aditivo biológico. A
presença de algas flotando na superfície das lagoas facultativas e de maturação, observadas após
a aplicação, deve ser em função da competitividade por nutrientes entre algas e os
microrganismos inoculados, que, por degradarem a matéria orgânica com mais rapidez, acabam
consumindo também os nutrientes necessários à sobrevivência das algas; que acabam morrendo,
até chegar a um ponto em que esse comportamento fica estável.
Figura 3.11 – Comportamento das algas após as aplicações do aditivo biológico,
Lagoa Facultativa I.
65
3.6 Coletas de amostras nas lagoas de estabilização ETE Malvas
Foram feitas coletas quinzenalmente de amostras de esgoto bruto e tratado, bem como
das lagoas anaeróbias I e II, pelos laboratoristas do Centro de Ensino Tecnológico CENTEC e
encaminhadas para realização de análises nos laboratórios de físico-química e microbiológicas da
própria instituição. As metodologias de análises foram baseadas no Standard Methods. Os pontos
de coleta foram os seguintes:
P1 – Amostra de esgoto bruto na entrada das lagoas anaeróbias;
P3 – Amostra coletada na parede lateral da lagoa anaeróbia I;
P4 – Amostra coletada na parede lateral da lagoa anaeróbia II;
P2 – Amostra coletada na caixa de saída da lagoa de maturação.
As coletas de amostras feitas nos meses anteriores à aplicação do aditivo (Jul/04 a
Jan/05) foram realizadas nos mesmos pontos de coleta citados acima. Essas análises foram
realizadas pela CAGECE, através do seu Laboratório Central de Análises, em Fortaleza, de
acordo com o Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater.
3.7 Variáveis analisadas e métodos analíticos
Os parâmetros quantificados foram definidos em função de sua importância para os
aspectos de caracterização da qualidade física, química e sanitária dos sistemas de tratamento
estudados, a saber: Temperatura, Potencial Hidrogeniônico (pH), Condutividade Elétrica, Sólidos
Suspensos Totais (SST), Sólidos Sedimentáveis (SS), Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO),
Demanda Química de Oxigênio (DQO), Sólidos Totais Dissolvidos (STD), Coliformes Totais
(CT) e Coliformes Termotolerantes (CTT), Oxigênio Dissolvido (OD), Gás Sulfídrico e Sulfeto.
Todas as análises foram realizadas de acordo o Standard Methods for the Examination of Water
and Wastewater. A Tabela 3.2 apresenta os parâmetros analisados, métodos e referências.
66
Tabela 3.2 – Variáveis, métodos e referências analisados
Variáveis analisadas
Metodologia
Referência
Temperatura (°C) Eletrométrico APHA et al (1995)
pH Eletrométrico APHA et al (1995)
Condutividade Elétrica
(uS/cm)
Eletrométrico APHA et al (1995)
Sólidos Suspensos Totais
(mg/L)
Gravimétrico APHA et al (1995)
Sólidos Sedimentáveis (ml/L) Gravimétrico APHA et al (1995)
DBO5 (mg/L) Refluxação fechada APHA et al (1995)
DQO (mg/L) Frascos Padrões APHA et al (1995)
Oxigênio Dissolvido
(mgO2/L)
Winkler APHA et al (1995)
Coliformes Totais
(NMP/100ml)
Número Mais Provável APHA et al (1995)
Coliformes Termotolerantes
(NMP/100ml)
Número Mais Provável APHA et al (1995)
Gás Sulfídrico
(mgH2S/L)
Titulométrico APHA et al (1995)
Sulfeto
(mgS2-
/L)
Titulométrico APHA et al (1995)
67
4.0 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Análises Físico-Químicas e Bacteriológicas
Durante os 05 (cinco) meses de monitoramento, após a aplicação do aditivo em
fevereiro de 2005, as lagoas de estabilização estiveram sob operação regular, com exceção do
mês de Abril, tratando integralmente o fluxo de esgoto afluente. Nas tabelas 4.1 e 4.2 encontra-se
a média mensal dos 9 (nove) parâmetros observados durante o levantamento, para os 02 (dois)
pontos de amostragem P1 e P2.
Tabela 4.1 – Valores de análises físico-químicas e bacteriológicas antes da aplicação do aditivo.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte- Ceará (JUL/04 a JAN/05).
Antes do Aditivo
Parâmetros Bruto (P1) Tratado (P2) Percentual
Mín. Máx. Média n Mín. Máx. Média n (%)
pH 6,70 8,00 7,18 12 7,77 8,80 8,24 12 +14,76
Condutividade Elétrica (μS/cm) 650,00 1006,00 838,36 11 988,00 1520,00 1257,80 11 +50,03
Sól. Sedimentáveis (mL/L) 4,50 12,00 7,50 12 0,00 0,20 0,12 12 -98,40
Sól. Susp. Totais (mg/L) 250,00 646,00 358,33 12 14,00 464,00 93,83 12 -73,81
DBO5 (mgO2/L) 395,70 727,00 564,36 11 47,00 138,70 83,62 11 -88,73
DQO (mgO2/L) 451,00 1120,30 834,45 12 99,00 231,20 165,50 12 -80,17
Coliformes Totais /100ml (N.M.P.) 4x10
6 1,6x10
8 4,09x10
8 11 1x102 2,4x10
7 2,73x10
6 11 -33,2518
Colif. Termotolerante /100ml (N.M.P.) 2x10
6 2,2x10
8 9,36x10
7 12 1x10
2 1,9x10
6 1,7x10
5 12 -81,8376
Oxigênio Dissolvido (mgO2/L) - - - - 2,90 13,70 8,36 11
P1 – Esgoto Bruto P2 – Esgoto Tratado (+) Aumento de percentagem (-) Diminuição de percentagem
n – número de amostras
Nas tabelas 4.3 e 4.4 são apresentados as médias mensais de mais alguns parâmetros
nos pontos de amostragem P3 e P4.
68
Tabela 4.2 – Valores de análises físico-químicas e bacteriológicas durante a aplicação do aditivo.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará (FEV/05 a JUN/05)
Depois do Aditivo
Parâmetros Bruto (P1) Tratado (P2) Perc.
Mín. Máx. Média n Mín. Máx. Média n (%)
pH 7,20 8,30 7,90 15 8,00 9,40 8,71 12 +10,25
Condutividade Elétrica (μS/cm) 594,00 1960,00 1021,10 14 733,00 1298,00 1036,40 14 +1,5
Sól. Sedimentáveis (mL/L) 2,00 28,00 0,93 15 0,00 0,50 0,13 15 -86,02
Sól. Susp. Totais (mg/L) 236,00 2796,00 579,29 14 24,00 188,00 66,07 14 -88,59
DBO5 (mgO2/L) 229,50 748,50 465,68 11 24,37 141,89 76,28 11 -83,62
DQO (mgO2/L) 583,30 3719,51 1210,17 12 86,95 642,85 238,66 12 -80,28
Coliformes Totais /100ml (N.M.P.) 2x10
6 3,5x10
8 1,21x108 15 2,3x10
2 2,8x10
5 1,29x105 15 -89,34
Colif. Termotolerante /100ml (N.M.P.) 2x10
6 2,7x10
8 7,47x107 13 1x10
2 1,6x10
5 1,35x104 15 -99,99
OD (mgO2/L) x x x x 0,60 8,70 3,71 13
P1 – Esgoto Bruto P2 – Esgoto Tratado (+) Aumento de percentagem (-) Diminuição de percentagem n – número de amostras
Tabela 4.3 – Valores de análises de gás sulfídrico e sulfeto antes da aplicação do aditivo.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará (JUL/04 a JAN/05).
Antes do Aditivo
Parâmetros Lagoa A1 (P3) Lagoa A2 (P4)
Mín. Máx. Média n Mín. Máx. Média n
Gás Sulfídrico (mgH2S/L) 0,10 1,60 0,40 47 0,10 1,60 0,21 40
Sulfeto (mgS2-
/L) 0,20 5,90 1,89 49 0,10 3,10 0,74 49
P3 – Lagoa Anaeróbia 1 P4 – Lagoa Anaeróbia 2 (+) Aumento de percentagem (-) Diminuição de percentagem n – número de amostras
Tabela 4.4 – Valores de análises de gás sulfídrico, sulfeto e temperatura durante a aplicação do aditivo.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará (FEV/05 a JUN/05).
Depois do Aditivo
Parâmetros Lagoa A1 (P3) Lagoa A2 (P4)
Mín. Máx. Média n Mín. Máx. Média n
Gás Sulfídrico (mgH2S/L) 0,10 0,70 0,23 26 0,10 0,40 0,13 26
Sulfeto (mgS2-
/L) 0,10 4,30 1,79 27 0,10 3,90 0,76 26
Temperatura (°C) 27,00 33,00 29,78 16 27,00 33,00 30,11 18
P3 – Lagoa Anaeróbia 1 P4 – Lagoa Anaeróbia 2 (+) Aumento de percentagem (-) Diminuição de percentagem
n – número de amostras
69
A seguir, são feitas algumas considerações sobre cada uma das variáveis estudadas.
Observe-se que a aplicação do aditivo ocorreu a partir de fevereiro de 2005.
a) pH
Antes do tratamento, o pH apresentava-se com valores crescentes, tanto no esgoto “bruto”
quanto no “tratado”, com média de 7,18 no bruto e de 8,24 no tratado, como se pode
observar na Figura 4.1.
Análise Físico-Química do pH
6,50
7,00
7,50
8,00
8,50
9,00
9,50
jul-04 ago-04 set-04 out-04 nov-04 jan-05 fev-05 mar-05 abr-05 mai-05 jun-05
Coletas das Amostras (médias mensais)
Valo
res d
e p
H
Esgoto Bruto
Esgoto Tratado
Figura 4.1 – Valores médios mensais do pH. ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005.
Durante aplicação do aditivo observaram-se valores descendentes, tanto no esgoto “bruto”
quanto no “tratado”, com média de 7,90 e 8,71, respectivamente. No mês de abril houve
um pico devido a alta descarga de esgoto industrial, que elevou o pH do esgoto tratado
para o máximo de 9.40, fora dos padrões estabelecidos pela resolução CONAMA 357/05.
(ver Tabela 2.4). Segundo Von Sperling (1995), a faixa típica para esgoto bruto é pH
entre 6,7 e 7,5.
70
b) Condutividade Elétrica
A condutividade elétrica depende da quantidade de sais dissolvidos.
Antes da aplicação do aditivo, o esgoto bruto apresentava um valor médio de
condutividade elétrica de 838,36 μS/cm. As lagoas promoveram um aumento de 50,03%,
sendo descarregado no corpo receptor um efluente com condutividade média igual a
1.257,80 μS/cm.
Durante a aplicação do aditivo, o esgoto bruto apresentou um valor médio de
condutividade elétrica de 1.021,10 μS/cm. As lagoas promoveram um pequeno aumento
de 1,5%, sendo descarregado no corpo receptor um valor médio de 1.036,40 μS/cm.(Ver
Figura 4.2)
Análise Físico-Química da Condutividade Elétrica
700
850
1000
1150
1300
1450
1600
jul-04 ago-04 set-04 out-04 nov-04 jan-05 fev-05 mar-05 abr-05 mai-05 jun-05
Coletas das Amostras (médias mensais)
Valo
res d
e C
on
du
tivid
ad
e
μS/cm
Esgoto Bruto
Esgoto Tratado
Figura 4.2 – Valores médios mensais da Condutividade Elétrica.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005.
71
c) Sólidos Sedimentáveis
Antes da aplicação do aditivo, as lagoas apresentavam uma redução de sólidos
sedimentáveis de 98,40%. Durante a aplicação do aditivo, esta redução foi de 86%,
provavelmente devido a alta mortandade de algas logo após a aplicação. (Ver Figuras 3.9
e 3.10).
O processo de flotação aumentou gradativamente devido a interrupção das dosagens de
nitrato de sódio nas elevatórias, resultando no não fornecimento de nutrientes às algas, e
também pela desnitrificação do nitrogênio residual promovido pelos microrganismos
adicionados. (Ver Figura 4.3).
Análise Físico-Química
Sólidos Sedimentáveis
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
jul-04 ago-04 set-04 out-04 nov-04 jan-05 fev-05 mar-05 abr-05 mai-05 jun-05
Coletas das Amostras (médias mensais)
Valo
res d
e S
ólid
os
Sed
imen
táveis
mL
/L
Esgoto Bruto
Esgoto Tratado
Figura 4.3 – Valores médios mensais de Sólidos Sedimentáveis. ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005.
72
d) Sólidos Suspensos Totais
Conforme se observa nas Tabelas 4.1 e 4.2, antes da aplicação do aditivo houve uma
redução de 73,81%, enquanto que, durante a aplicação, esta redução foi de 88,59%. A alta
descarga no mês de abril, de 2.796 mg/L, afetou significativamente o equilíbrio do
sistema (Ver Figura 4.4)
Análise Físico-Química
Sólidos Suspensos Totais
5
205
405
605
805
1005
1205
1405
1605
jul-04 ago-04 set-04 out-04 nov-04 jan-05 fev-05 mar-05 abr-05 mai-05 jun-05
Coletas das Amostras (médias mensais)
Valo
res d
e S
ólid
os
Su
sp
en
so
s T
ota
is
mg
/L
Esgoto Bruto
Esgoto Tratado
Figura 4.4 – Valores médios mensais de Sólidos Suspensos Totais.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005.
e) Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO5)
Antes da aplicação do aditivo, a redução de DBO5 era de 88,73% e, durante a aplicação
foi de 83,62%. Pode-se observar na Figura 4.5 que, mesmo com a descarga elevada no
mês de abril, o sistema permaneceu estável, com média de 76,28 mgO2/L para o esgoto
tratado.
Pearson e Mara apud Carvalho (1997) citam a faixa de remoção de DBO5 entre 70% e
80% para sistemas australianos.
73
Análise Físico-Química de DBO5
5
155
305
455
605
755
905
jul-04 ago-04 set-04 out-04 nov-04 jan-05 fev-05 mar-05 abr-05 mai-05 jun-05
Coletas das Amostras (médias mensais)
Valo
res d
e D
BO
5
mg
O2/L
Esgoto Bruto
Esgoto Tratado
Figura 4.5 – Valores médios mensais de DBO5.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005
f) Demanda Química de Oxigênio (DQO)
A Figura 4.6 mostra os valores médios mensais de DQO.
Com relação à DQO, o sistema apresentava, antes da aplicação do aditivo, uma eficiência
de remoção de 80,17%. Durante a aplicação, esta eficiência foi de 80,28%.
A relação DQO/DBO5 para o esgoto bruto, antes da aplicação do aditivo, era de 1,48;
durante a aplicação, foi de 2.60, considerando os valores médios obtidos.
Braile & Cavalcanti (1993) consideram um resíduo facilmente biodegradável aquele cujas
DQO e DBO5 apresentam uma relação DQO/DBO5 < 2. Nesse caso, a DQO/ DBO5 do
afluente é semelhante à DQO/DBO5 do efluente, recomendando-se o tratamento biológico
convencional. Entretanto, quando a relação DQO/DBO5 > 2, a DQO/DBO5 do afluente é
menor que a DQO/DBO5 do efluente, indicando a existência de matéria orgânica não
74
biodegradável; Yanez (1993) diz que quando esta relação encontra-se entre 1,7 e 2,0,
indica pequena presença de afluentes de origem industrial.
A relação DQO/DBO5 para os efluentes, antes e durante a aplicação do aditivo,
respectivamente, foram de 1,98 e 3,13. Considerando os valores médios obtidos.
Von Sperling (1995) afirma que a relação DQO/DBO5, nos efluentes de tratamentos de
esgotos biológicos é usualmente superior a 3,0. Conforme Braile & Cavalcanti (1993), os
valores de DQO/DBO5 alcançados pela E.T.E. – Malvas, durante a aplicação do aditivo,
de 2,60 e 3,13, esgoto bruto e tratado respectivamente, significa que ela recebe influência
de esgotos industriais.
Análise Físico-Química de DQO
5
205
405
605
805
1005
1205
jul-04 ago-04 set-04 out-04 nov-04 jan-05 fev-05 mar-05 abr-05 mai-05 jun-05
Coletas das Amostras (médias mensais)
Valo
res d
e D
QO
mg
O2/L
Esgoto Bruto
Esgoto Tratado
Figura 4.6 – Valores médios mensais de DQO.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005.
75
g) Coliformes Totais
Os organismos do grupo coliforme são utilizados como índice de poluição por matéria
fecal. Sob o ponto de vista sanitário é da maior importância que a concentração desses
indicadores se mantenha dentro dos padrões permissíveis para os diversos usos da água.
A eficiência do sistema, de remoção de coliformes totais, antes da aplicação do aditivo,
foi de 33%, enquanto que, durante a aplicação, esta eficiência aumentou para 89%. (Ver
Figuras 4.7 e 4.8).
Análise Bacteriológica de
Coliformes Totais
1,0E+06
1,3E+08
2,6E+08
3,9E+08
5,2E+08
6,5E+08
7,8E+08
jul-04 ago-04 set-04 out-04 nov-04 jan-05 fev-05 mar-05 abr-05 mai-05 jun-05
Coletas das Amostras (médias mensais)
Valo
res d
e
Co
lifo
rmes T
ota
is
/100m
l
N.M
.P.
Esgoto Bruto
Figura 4.7 – Valores médios mensais de Coliformes Totais no Esgoto Bruto.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005.
76
Análise Bacteriológica de
Coliformes Totais
4,0E+02
3,0E+06
6,0E+06
9,0E+06
1,2E+07
jul-04 ago-04 set-04 out-04 nov-04 jan-05 fev-05 mar-05 abr-05 mai-05 jun-05
Coletas das Amostras (médias mensais)
Va
lore
s d
e
Co
lifo
rme
s T
ota
is
/10
0m
l
N.M
.P.
Esgoto Tratado
Figura 4.8 – Valores médios mensais de Coliformes Totais no Esgoto Tratado.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005.
h) Coliformes Termotolerantes
Coliformes termotolerantes - subgrupo das bactérias do grupo coliforme que fermentam a
lactose a 44,5 ± 0,2°C em 24 horas; tendo como principal representante a Escherichia
Coli, de origem exclusivamente fecal.
A eficiência do sistema, antes da aplicação do aditivo, foi de 82%, enquanto que, durante
a aplicação, observou-se uma eficiência de 99,99%. (Ver Figura 4.9 e 4.10).
77
Análise Bacteriológica de
Coliformes Termotolerantes
2,0E+06
2,2E+07
4,2E+07
6,2E+07
8,2E+07
1,0E+08
1,2E+08
1,4E+08
1,6E+08
1,8E+08
jul-04 ago-04 set-04 out-04 nov-04 jan-05 fev-05 mar-05 abr-05 mai-05 jun-05
Coletas das Amostras (médias mensais)
Valo
res d
e
Co
lifo
rmes T
erm
oto
lera
nte
s
/100m
l N
.M.P
.
Esgoto Bruto
Figura 4.9 – Valores médios mensais de Coliformes Termotolerantes no Esgoto Bruto.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005.
Análise Bacteriológica de
Coliformes Termotolerantes
0,0E+00
1,5E+05
3,0E+05
4,5E+05
6,0E+05
7,5E+05
9,0E+05
jul-04 ago-04 set-04 out-04 nov-04 jan-05 fev-05 mar-05 abr-05 mai-05 jun-05
Coletas das Amostras (médias mensais)
Valo
res d
e
Co
lifo
rmes T
erm
oto
lera
nte
s
/100m
l N
.M.P
.
Esgoto Tratado
Figura 4.10 – Valores médios mensais de Coliformes Termotolerantes no Esgoto Tratado.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005.
78
i) Oxigênio Dissolvido
O oxigênio dissolvido é um fator muito importante para o funcionamento de lagoas de
estabilização facultativas e aeróbias. Este gás é indispensável para os microrganismos
responsáveis pelos processos aeróbios de degradação dos resíduos orgânicos.
Quando do lançamento de carga num curso d’água a matéria orgânica tende a ser
mineralizada naturalmente pelos microrganismos aeróbios existentes, consumindo
oxigênio da água. Quando a carga poluídora é expressiva, o OD se esgota e passam a
predominar os organismos anaeróbios, até que mais oxigênio se dissolva na água. Assim,
o balanço de oxigênio nas águas, obtido através da determinação do OD e da DBO5, tem
se mostrado como um bom indicador de poluição.
Antes da aplicação do aditivo, o valor médio mensal de OD do efluente final era de 8,36
mgO2/L, o que obedece a Portaria 154/02 da SEMACE (Tabela 2.5) para padrões de
lançamento de efluentes. Durante a aplicação do aditivo temos um valor médio de 3,71
mgO2/L.
De acordo com a Figura 4.11, pode-se verificar que a partir de fevereiro/95 a média
mensal de OD aumentou gradativamente após aplicação do aditivo. Antes, o sistema
apresentava-se completamente desordenado em relação ao teor de OD.
79
Análise Físico-Química do
Oxigênio Dissolvido
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
jul-04 ago-04 set-04 out-04 nov-04 jan-05 fev-05 mar-05 abr-05 mai-05 jun-05
Coletas das Amostras (médias mensais)
Valo
res d
e
Oxig
ên
io D
isso
lvid
o
mg
O2/L
Esgoto Tratado
Figura 4.11 – Valores médios mensais de Oxigênio Dissolvido.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005.
j) Gás Sulfídrico e Sulfetos
Os maus odores formados pelo gás sulfídrico desprendido afetavam toda a região em
torno da ETE, gerando constantes reclamações da população que reside nessa região,
além de ser potencialmente perigoso para os operadores das ETEs, devido a seu grau de
toxidade.
A formação de gás sulfídrico traz dois sérios inconvenientes ao sistema: a formação de
maus odores e a destruição parcial das algas, uma vez que estas são sensíveis à toxidade
do gás sulfídrico, que age, pois, como um inibidor da fotossíntese ( BRANCO, 1986).
Conforme pode-se observar nas Figuras 4.12 e 4.13, desde o início da aplicação do
aditivo, vem-se reduzindo o parâmetro gás sulfídrico a valores cada vez mais baixos, nas
lagoas anaeróbias 1 e 2.
80
Durante a aplicação do aditivo, o percentual de redução de gás sulfídrico, na lagoa
anaeróbia 1, foi de 43%, em relação ao valor médio, anterior à aplicação do aditivo. Na
lagoa anaeróbia 2, este percentual de redução foi de 38%.
Os sulfetos são substâncias que produzem maus odores. Na ausência de oxigênio os
sulfatos são quimicamente reduzidos a sulfetos através de bactérias. Além disso, em
condições ambientais favoráveis, complexos processos biológicos transformam o sulfeto
de hidrogênio em ácido sulfúrico, causando sérios danos às tubulações de concreto,
devido a corrosão.
Durante a aplicação do aditivo, o percentual de redução de sulfeto, na lagoa anaeróbia 1,
foi de 5%, em relação ao valor médio, anterior à aplicação do aditivo. Na lagoa anaeróbia
2, houve um aumento de 3%.’(Ver Tabela 4.3 e 4.4).
Análise Físico-Química do
Gás Sulfídrico e Sulfeto
Lagoa A1
0
1
2
3
4
jul-04 ago-04 set-04 out-04 nov-04 dez-04 jan-05 fev-05 mar-05 abr-05 mai-05 jun-05
Coletas das Amostras (médias mensais)
Gá
s S
ulf
ídri
co
(m
gH
2S
/L)
Su
lfe
to (
mg
S-2
/L)
Gás Sulfídrico
Sulfeto
Figura 4.12 – Valores médios mensais de Gás Sulfídrico e Sulfeto na Lagoa A1.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005.
81
Análise Físico-Química do
Gás Sulfídrico e Sulfeto
Lagoa A2
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
1,40
1,60
jul-04 ago-04 set-04 out-04 nov-04 dez-04 jan-05 fev-05 mar-05 abr-05 mai-05 jun-05
Coletas das Amostras (médias mensais)
Gás S
ulf
ídri
co
(mg
H2S
/L)
Su
lfeto
(m
gS
-2/L
)
Gás Sulfídrico
Sulfeto
Figura 4.13 – Valores médios mensais de Gás Sulfídrico e Sulfeto na Lagoa A2.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2004/2005.
k) Temperatura
Infelizmente, não se dispõe de dados de temperatura anteriores à aplicação do aditivo,
para se comparar com os dados obtidos posteriormente.
As temperaturas nas lagoas anaeróbias 1 e 2, referentes a valores mín., máx., e médio,
respectivamente, são:
Anaeróbia 1 – 27°C (mín.), 33°C (máx.), e 29,7°C médio
Anaeróbia 2 – 27°C (mín.), 33°C (máx.) e 30,1°C médio.
Os valores de temperatura foram determinados usando-se um termômetro com
sensibilidade de 0,5°C. As medidas foram realizadas pela manhã – (11:00h) e no período
da tarde – (16:00h), na superfície das lagoas A1 e A2.
A temperatura do meio tem uma grande influência nas taxas de reprodução e
estabilização, o que faz com que locais de clima favorável (temperatura elevada), como
82
no Brasil, se tornem propícios para lagoas anaeróbias (VON SPERLING, 1996b). (Ver
Figura 4.14).
Análise Físico da
Temperatura
27,00
28,00
29,00
30,00
31,00
32,00
33,00
fev-05 mar-05 abr-05 mai-05 jun-05
Coletas das Amostras (médias mensais)
Valo
res d
e
Tem
pera
tura
°C
Lagoa A1
Lagoa A2
Figura 4.14 – Valores médios mensais de Temperatura.
ETE Malvas, Juazeiro do Norte – Ceará. 2005.
83
5.0 CONCLUSÕES
Os dados obtidos permitem concluir o seguinte:
a) O problema do mau cheiro presente na área da ETE é conseqüência do
assoreamento das lagoas anaeróbias 1 e 2, o qual foi constatado na batimetria
realizada em fevereiro/05. Com a diminuição da profundidade útil da lagoa, houve
um aumento da transferência de gás sulfídrico para a atmosfera. Durante a
aplicação do aditivo, o mau cheiro foi sendo reduzido gradativamente, devido a
alta taxa de microrganismos presentes, que passaram a utilizar outro aceptor de
elétrons, no lugar do sulfato.
b) Com relação à redução de coliformes termotolerantes, a eficiência das lagoas, após
o uso dos aditivos biológicos, foi de 99,99%.
c) As reduções de DBO5 e DQO permaneceram praticamente as mesmas nos dois
períodos, com um pequeno aumento na redução da DQO, durante a aplicação do
aditivo.
d) Uma descarga não controlada de esgotos industriais no sistema de esgotamento
sanitário da cidade, ocorrida no mês de abril/2005, resultou na elevação de vários
parâmetros, alterando, assim, os valores médios dos mesmos no período de
aplicação do aditivo.
e) Desde o início da aplicação do aditivo, vem-se reduzindo os maus odores
provocados pelo gás sulfídrico oriundos das lagoas. Com isto, as reclamações da
população que reside próxima as lagoas, tem-se reduzido significativamente.
f) Embora tenham ocorrido alguns resultados positivos como conseqüência da
aplicação dos aditivos biológicos, o curto período da pesquisa não é suficiente para
84
chegar-se a conclusões definitivas sobre a sua eficiência, havendo necessidade de
mais estudos, por períodos mais longos, sobre sua utilização.
6.0 RECOMENDAÇÕES
Recomenda-se, para trabalhos futuros:
a) Estudar o uso conjunto da aplicação de aditivos biológicos nas lagoas anaeróbias,
com a criação de peixes na lagoa de maturação;
b) Realizar pesquisas envolvendo a produção de proteínas e/ou polissacarídeos
através da remoção (por flotação) das algas produzidas;
c) Estudar uma modificação na entrada das lagoas anaeróbias, a fim de evitar as
zonas mortas existentes.
d) Estudar, por um período mais longo, a melhoria do tratamento de esgotos em
lagoas de estabilização, com o uso de aditivos biológicos.
e) Verificar o potencial de poluição ambiental, da carga de esgoto industrial, lançada
diariamente no sistema de lagoas de estabilização.
f) Avaliar a possibilidade do reúso das águas residuárias tratadas, provenientes do
sistema de lagoas de estabilização de Juazeiro do Norte/Ceará.
g) Estudar os possíveis impactos ambientais causados pela aplicação de aditivos
biológicos em corpos hídricos. (entorno).
85
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