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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA A formação contínua de professores de matemática no contexto de um grupo de trabalho colaborativo: sentidos e significados que fazem da leitura e escrita em educação matemática MARIA DO CARMO COSTA MACIEL Orientadora: Profª. Dra. Celi Aparecida Espasandin Lopes Dissertação apresentada ao Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática, da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. SÃO PAULO 2013

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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

A formação contínua de professores de matemática no

contexto de um grupo de trabalho colaborativo: sentidos e

significados que fazem da leitura e escrita em educação

matemática

MARIA DO CARMO COSTA MACIEL

Orientadora: Profª. Dra. Celi Aparecida Espasandin Lopes

Dissertação apresentada ao Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática, da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática.

SÃO PAULO

2013

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA

UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

M139f Maciel, Maria do Carmo Costa

A formação contínua de professores de matemática no contexto de um grupo de trabalho colaborativo: sentidos e significados que fazem da leitura e escrita em educação matemática / Maria do Carmo Costa Maciel. -- São Paulo; SP: [s.n], 2013.

202 p. : il. : 30 cm.

Orientadora: Celi Aparecida Espasandin Lopes Dissertação (mestrado) - Programa de Pós-Graduação em

Ensino de Ciências e Matemática, Universidade Cruzeiro do Sul.

1. Ensino de matemática – Formação continuada 2. Formaçãocontinuada de professores 3. Processo de ensino-aprendizagem 4. Matemática – Ensino fundamental 5. Leitura e escrita- Matemática I. Lopes, Celi Aparecida Espasandin II. Universidade Cruzeiro do Sul. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática. III. Título.

CDU: 51:37(043.3)

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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

A Formação contínua de professores de Matemática no

contexto de um grupo de trabalho colaborativo: sentidos

e significados que fazem da leitura e escrita em

Educação Matemática

Maria do Carmo Costa Maciel

Dissertação de mestrado defendida e aprovada

pela Banca Examinadora em 29/11/2013.

BANCA EXAMINADORA:

Profª. Dra. Celi Aparecida Espasandin Lopes

Universidade Cruzeiro do Sul

Presidente

Profª. Dra. Maria Delourdes Maciel

Universidade Cruzeiro do Sul

Profa. Dra. Anna Regina Lanner de Moura

Faculdade de Educação da Unicamp

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Aos meus pais, Álvaro Costa (in memorian) e

Raimunda Ernestina Costa.

A Domício Magalhães Maciel e aos nossos filhos

Abigail, Tiago e Pedro.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, força suprema do universo que comanda com amor e

sabedoria a nossa existência.

Aos meus pais, Álvaro Costa (in memoriam) e Raimunda Ernestina

Costa pelas orientações, dedicação que me proporcionou uma

formação de firmeza e coragem para seguir e alcançar os objetivos

que sempre me proponho, enfrentando as adversidades com

confiança e crença que o bom trabalho tem sempre boas

compensações.

A Domício Magalhães Maciel pelo auxílio e colaboração,

contribuindo para a realização desse trabalho; aos filhos, Abigail,

Tiago e Pedro Costa Maciel, pelo carinho e pelo apoio principalmente

no período de separação que nos levou ao fortalecimento dos laços

afetivos e nos ensinaram que renúncia, sacrifício, dedicação e

saudade podem ser mais leves quando temos como alicerce de vida

o amor que nos une como família.

Aos irmãos Maria Dalva Costa e Raimundo Nonato Costa por terem

contribuído para o desiderato desse desafio.

Aos colegas Luzinete Mendonça e Manoel dos Santos Costa pelo

incentivo e ajuda para alcançar o fim dessa jornada.

Aos meus amigos e companheiros da tarefa espírita pela ajuda,

incentivo e confiança em todos os momentos que me estimulavam

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pela conversa fraterna e pelas orações, acreditando que chegaria ao

final vitorioso dessa árdua batalha.

Aos benfeitores espirituais pelo auxílio, desde o início, desse

projeto, nos momentos de desânimo quando a tristeza invadia o meu

íntimo e sentia o amparo dos abnegados companheiros que me

renovavam a fé e esperança.

Aos amigos que caminharam juntamente comigo, aos do grupo de

pesquisa nas salas de aula, nos grupo de estudo, aos professores

que estiveram conosco no grupo de trabalho colaborativo quando na

nossa pesquisa, ao Gestor que me acompanhou com incentivo o

andamento dessa pesquisa, a todos os professores, supervisores,

enfim, a todos da escola-campo que contribuíram para concretização

desse trabalho.

Aos professores e teóricos que me inspiraram a ampliação de novos

conhecimentos. À professora Celi Espasandin Lopes, minha

orientadora, por sua orientação, confiança desde o início de minha

pesquisa, além de ter proporcionado momentos de aprendizado e

estímulo.

A todos que tive oportunidade de conhecer, de compartilhar trocas,

estabelecendo laços próximos de amizade: aos auxiliares da

secretaria, da cantina, à supervisora de português.

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“EM SÍNTESE, O PODER DA PALAVRA EM NOSSA VIDA É FUNDAMENTAL, E, SE OBSERVARMOS A REAÇÃO DE NOSSAS AFIRMAÇÕES E ATOS,

DESCOBRIREMOS QUE ELES NÃO RETORNARÃO JAMAIS VAZIOS, MAS REPLETOS DO MATERIAL EMITIDO.”

HAMMED (PSICOGRAFIA DE FRANCISCO DO ESPÍRITO SANTO NETO)

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MACIEL, M. C. C. A formação contínua de professores de matemática no contexto de um grupo de trabalho colaborativo: sentidos e significados que fazem da leitura e escrita em educação matemática. 2013. 202 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática)–Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2013.

RESUMO

Esta pesquisa objetivou contribuir para a produção do conhecimento em torno da

formação inicial e continuada do professor de Matemática, com foco na leitura e

escrita narrativas, num contexto de grupo colaborativo. A partir de uma revisão

bibliográfica, abordam-se os diversos aspectos da formação de professores:

histórico, cultural, social e profissional. Ressalta-se o movimento reflexivo do

professor como base para um desenvolvimento autônomo, mas compartilhado.

Dessa forma apresenta-se o grupo de trabalho colaborativo, como um ambiente de

aprendizagem para o professor que deseja refletir sobre a sua prática, com foco na

leitura e escrita. Foi realizada uma pesquisa de campo no período de um semestre,

dentro da modalidade de estudo de caso etnográfico com a participação de três

professores de Matemática do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental numa escola

pública de São Luís do Maranhão, para responder a seguinte questão de pesquisa:

Que usos (sentidos/significados) professores fazem da leitura e escrita narrativas no

ensino de Matemática no Ensino Fundamental quando discutem, nesta perspectiva,

num contexto de grupo colaborativo? No desenvolvimento da observação

participante, busca-se apreender o significado de formação continuada e de grupo

de trabalho colaborativo, bem como a importância dos processos de escrita e

leituras na aprendizagem de Matemática pelos professores participantes do grupo

formado. Para a organização dessa pesquisa realizou-se entrevistas

semiestruturadas e questionários fechados com os professores que formaram o

grupo de trabalho Colaborativo. Organizou-se diários, tanto pela pesquisadora, como

pelos professores, com o fim de narrar observações e as discussões ocorridas nos

encontros. Fez-se também pesquisa documental para conhecer melhor a escola e

seu contexto. Os resultados indicaram a importância de novas alternativas de

práticas pedagógicas, centradas na escrita e leitura, bem como a potencialidade de

participar de um grupo colaborativo que, para os professores participantes da

pesquisa foi inovador. Há que se estimular mais essas práticas que potencializam

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um aprendizado mais significativo por parte dos alunos tornando-os mais críticos

enquanto aprendem. Da parte dos professores, fica a contribuição de que refletir,

sobretudo com os pares, narrando suas práticas e resultados em sala de aula, de

forma oral ou escrita, pode trazer um diferencial para sua docência, enquanto

pessoa e profissional.

Palavras-chave: Grupo de trabalho colaborativo, Leitura e escrita em aulas de

matemática, Formação continuada.

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MACIEL, M. C. C. A the training of teachers of mathematics in the context of a collaborative working group: meanings and meanings that make reading and writing in mathematics education. 2013. 202 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática)–Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2013.

ABSTRACT

This research aims to contribute to the production of knowledge around the initial and

continuing training of mathematics teachers, focusing on reading and writing in a

collaborative group setting. From a literature review, addressed to the various

aspects of teacher education: historical, cultural, social and professional. Emphasis

was placed on the movement of the reflective teacher as a basis for autonomous

development, but shared. Thus presented the group collaborative work, as a learning

environment for teachers who want to reflect on their practice, focusing on reading

and writing. There was a field research in one semester, in study of ethnographic

case with the participation of three math teachers of 6th to 9th grade in elementary

school, at a public school in São Luís-Maranhão. In the development of participant

observation, seek to grasp the significance of continuing education and workgroup

collaboration, as well as the importance of reading and writing processes in the

learning of mathematics by teachers participating in the group formed. To organize

this research we conducted semi-structured interviews and questionnaires with

closed teachers who formed the working group Collaborative. Were organized daily,

both by the researcher, as teachers, in order to narrate the observations and

discussions held at the meetings. There was also documentary research to better

understand the school and its context. We conclude from the research that teachers

were not aware about the use of reading and writing in math classes. The results

indicated the importance of new alternative pedagogical practices, focusing on

reading and writing, as well as the capability to participate in a collaborative group

that, for teachers participating in the research was innovative. We must encourage

more of these practices that enhance the learning more meaningful for the students

making them more critical while learning. The respect of teachers is the contribution

that reflect, especially with peers, narrating their practices and outcomes in the

classroom, oral or written, can bring a difference to their teaching, as a person and

professional.

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Keywords: Workgroup collaboration, Reading and writing in math classes,

Continuing education.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANFOPE Associação Nacional de Formação Profissional dos Docentes

CEFAM Centro de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério

EB Educação Básica

EJA Educação de Jovens e Adultos

EM Educação Matemática

ES Educação Superior

GPPEM Grupo de Pesquisa e Produção em Educação Matemática

IES Instituição de Ensino Superior

UFMA Universidade Federal do Maranhão

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 15

CAPÍTULO I – A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA: A

PESQUISA, A EVOLUÇÃO NO CAMPO DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E O

PENSAR ATUAL DOS EDUCADORES MATEMÁTICOS........................................ 19

1.1 Um levantamento sobre o interesse dos pesquisadores em relação

à formação de professores de matemática num âmbito da

formação docente ....................................................................................... 20

1.2 Os Caminhos da educação na formação docente no Brasil: um

destaque para a formação do professor de matemática ......................... 28

1.3 O que se pensa hoje sobre formação e as práticas reflexivas do

professor de matemática ........................................................................... 35

CAPÍTULO II – A FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR DE

MATEMÁTICA: UM PROCESSO DE REFLEXÃO COLETIVA E NARRAÇÃO

ESCRITA A PARTIR DA TEORIA E PRÁTICA ........................................................ 43

2.1 A formação continuada a partir da formação dos grupos de

trabalho colaborativo ................................................................................. 43

2.1.1 A formação continuada nos grupos de trabalho colaborativo a

partir da narração escritas e reflexivas .................................................... 58

2.1.2 O desenvolvimento profissional a partir da participação em grupos

de trabalho colaborativo ............................................................................ 61

2.1.3 Algumas experiências de grupo de trabalho colaborativo ..................... 64

2.2 A prática e reflexões na construção de saberes do professor: um

processo mais que individual ................................................................... 68

2.3 A escrita e a leitura como fonte de narrativas e reflexão do

professor em sua prática em aulas de matemática ................................. 78

2.3.1 A linguagem como atividade e sua implicação nos processos da

educação matemática ................................................................................ 81

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2.3.2 A narração como forma de expressão da reflexão da prática

docente em aulas de matemática .............................................................. 82

2.3.3 O uso do potencial da escrita e leitura na formação docente ................ 84

CAPÍTULO III – TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ................................................. 101

3.1 O campo de pesquisa ............................................................................... 101

3.2 Participantes da pesquisa ....................................................................... 103

3.3 Fundamentando o estudo de caso .......................................................... 105

3.3.1 A construção dos dados .......................................................................... 107

3.4 Os mapas conceituais e os diários instrumentos de reflexão e

aprendizagem da matemática .................................................................. 110

3.4.1 Os mapas conceituais .............................................................................. 111

3.4.2 Os diários matemáticos ............................................................................... 115

CAPÍTULO 4 – NARRANDO OS ENCONTROS DO GRUPO

COLABORATIVO: REFLEXÃO, FORMAÇÃO EM COLABORAÇÃO ................... 119

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 139

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 149

ANEXOS ................................................................................................................. 155

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INTRODUÇÃO

Ao longo de minha carreira profissional em que fui contratada por alguma

rede municipal de ensino público para ministrar palestras, cursos de atualização,

conjuntos de ações denominadas de formação continuada, deparei-me muitas vezes

com certo desconhecimento de alguns conteúdos conceituais e metodológicos

matemáticos por parte dos professores que, apesar de terem graduação na área

específica de sua atuação docente, apresentavam problemas nesses quesitos. Em

alguns casos, havia professores leigos também.

Aqueles momentos, por trazerem a oportunidade da reflexão sobre a própria

prática, além de novas aquisições de conteúdos específicos e metodológicos,

constituíram-se numa formação continuada, que de acordo com Lima (2002, p. 244),

que definiu “formação continuada como “o processo de articulação entre o trabalho

docente, o conhecimento e o desenvolvimento do professor, como possibilidade de

uma postura reflexiva dinamizada pela práxis”.

Em vários momentos, sentia-me angustiada por observar toda uma situação

que refletia uma formação inicial deficitária ou inexistente (no caso dos leigos). Na

posição de educadora, tinha como obrigação, a partir de então, oferecer para os

professores conhecimentos novos e momentos de reflexões que os levassem a

modificar sua prática pedagógica em sala de aula.

Foi a partir dessas situações que me motivei a estudar essa temática com

muito interesse. Isso tornou-se para mim um incômodo ainda maior quando,

pesquisando para a elaboração de monografia do curso de Especialização em

Metodologia do Ensino Superior, na Universidade Federal do Maranhão (UFMA),

estudando avaliação institucional, deparei-me com a avaliação da docência e

observei a relação da formação do professor formador e o professor da educação

básica na sua prática docente, que é analisada por Gonçalves (2006). A isso foi

acrescida a questão curricular do projeto pedagógico do curso de Licenciatura em

Matemática da UFMA.

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Os próprios professores, naqueles eventos de formação, sob minha

orientação, reclamavam que não tinham tido uma boa formação inicial e que

estavam aprendendo muito naquela “capacitação”. As dúvidas iam desde o quê

ensinar ao como ensinar. Fato que mostra claramente que, em uma formação

continuada, os professores, em muitos casos, necessitam da formação inicial da

qual não se apropriaram quando fizeram seus cursos em instituição de ensino

superior (IES). Naquelas formações, eles aprendiam Matemática que não

aprenderam na sua graduação, ou mesmo no fazer docente enquanto professor

graduado ou leigo.

Pensando nisso, passei a refletir a cerca do papel da pesquisa sobre a

formação e desenvolvimento do professor. Entendo que a pesquisa é fundamental

no desenvolvimento dos docentes, pois, conforme Gonçalves (2006, p. 56), “é a

pesquisa que vai redimensionar a prática e as teorias do docente, revitalizando e

produzindo os saberes da ação pedagógica”. Mas a relação entre professor

formador e os futuros professores se faz distante, pois a academia nem sempre se

abre para as produções dos professores da Educação Básica (EB). Há um

descrédito com relação às produções que são resultados de experiências vividas por

eles. Zeichner (1998) se refere a este distanciamento da academia, com relação a

escolas, asseverando que estas situações interferem de forma negativa na formação

continuada dos professores, pois é a partir dessas produções, frutos da discussão

coletiva que o professor poderá rever conceitos e caminhar para ser um profissional

autônomo no exercício da docência.

Kilpatrick (1996) afirma que a função primeira da Educação Matemática é a

formação do professor associada à ampliação de seus conhecimentos. Dessa forma,

vemos que a formação continuada situa o professor na sua proposta de ser social,

resgatando o seu papel de protagonista da ação de ensinar e aprender.

Considero que a formação continuada envolve tanto os saberes adquiridos

na formação inicial quanto uma nova troca de saberes de forma reflexiva. Com essa

proposta o professor se identifica em a sua prática indo para além do professor

pesquisador.

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Muito se tem pesquisado sobre a formação dos professores. Passos, Nardi e

Arruda (2007, p. 6, grifo nosso) fizeram uma revisão bibliográfica de 51 artigos sobre

formação continuada, no período 1996-2005, e constataram as temáticas mais

frequentes nessa área, como seguem:

- 31% convergem sua discussão para a formação inicial;

- 12% apresentam questões relativas à profissionalização, o desenvolvimento e a prática profissional;

- 12% tem como foco os ambientes virtuais, a introdução da informática, a mediação via internet, vinculando-os à formação de professor;

- 10% deles discutem a formação de professores como um todo, sem caracterizar sua pesquisa como situada na formação inicial ou continuada;

- 4% deixam claro o posicionamento de pesquisas convergindo para a formação continuada.

A formação continuada como prática reflexiva pode acontecer de diversas

formas e as consequências disso na prática docente são ainda pouco estudadas,

como mostrou o estudo de Passos, Nardi e Arrruda (2007). Isso me dá uma forte

motivação para contribuir sobre a formação continuada de professores que ensinam

Matemática, sobretudo no que diz respeito à seguinte pergunta de pesquisa: Que

usos (sentidos/significados) professores fazem da leitura e escrita de

narrativas para o ensino de Matemática no Ensino Fundamental quando

discutem, nesta perspectiva, num contexto de grupo colaborativo?

Objetivando contribuir para a produção do conhecimento em torno da

formação inicial e continuada do professor de Matemática das séries finais do EF,

com foco na leitura e escrita narrativas, num contexto de grupo colaborativo, esse

trabalho está dividido em 4 partes: 2 capítulos que fundamentam a pesquisa e 2 que

tratam do processo da pesquisa e da análise dos dados coletados a partir da

fundamentação teórica.

No capítulo 1, busco uma aproximação do que já foi escrito sobre a

formação de professores de Matemática: a pesquisa, a evolução no campo da

Educação Matemática e o pensar atual dos educadores matemáticos. Neste

capítulo, o interesse sobre a pesquisa em formação docente de modo histórico, em

particular a do professor de Matemática, é ressaltado. Em seguida, apresento como

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ocorreu a evolução dessa pesquisa no âmbito geral, mas direcionando para a área

de Educação Matemática. Por último, descrevo como os pesquisadores percebem a

formação docente e o desenvolvimento profissional.

No capítulo 2, apresento a formação continuada do professor de

matemática: um processo de reflexão coletiva e narração escrita a partir da teoria e

prática. Ressalto, nesse capítulo, a formação contínua do professor de Matemática a

partir dos processos de reflexão e narração escrita de sua prática pedagógica.

Destaco a importância da escrita e o seu potencial na formação continuada do

professor e as formações dos grupos de trabalhos colaborativos para esse fim.

No capítulo 3, descrevo a metodologia de pesquisa que foi qualitativa na

modalidade de estudo de caso etnográfico. No capítulo 4, analiso os dados

coletados na pesquisa de campo realizada em uma escola de Ensino Fundamental

de São Luís-Ma, local em que se constituiu um grupo de trabalho colaborativo com

três professores de Matemática e mais a pesquisadora.

Penso que esse trabalho possa contribuir com os processos contínuos de

formação docente na área de Educação Matemática

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CAPÍTULO I – A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA:

A PESQUISA, A EVOLUÇÃO NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

MATEMÁTICA E O PENSAR ATUAL DOS EDUCADORES

MATEMÁTICOS

Quanto à formação de professores de Matemática, considero como

referência a sua atuação docente, fazendo uma relação entre a sua prática e os

saberes oriundos da sua formação inicial que os leva a questionar e refletir sobre

estes saberes, a partir de suas atuações como professores de Matemática.

A formação de professores de Matemática me leva a pensar sobre as suas

relações com seus alunos, os cenários de aprendizagem em que estão inseridos,

seus posicionamentos como educadores, as suas práticas com relação à pesquisa e

também a forma de como melhor trabalhar os conceitos e o conhecimento

matemático quando de suas atuações nas aulas de Matemática.

Ao longo do tempo enquanto educadora percebi, nas IES e nas escolas de

EB, a preocupação daqueles que estão à frente dos programas de pesquisa e

principalmente da educação, em melhor organizar planos de ação que mobilizem de

forma conjunta uma melhor formação desses pares, visando a uma boa qualificação

docente, de forma crítica, proporcionando-lhes oportunidades de crescerem

profissionalmente, ao incentivá-los a serem professores reflexivos e

conscientizando-os sobre a investigação da sua prática, tendo como base a

pesquisa e o cenário de investigação.

Neste capítulo, busco desvelar o interesse dos pesquisadores em relação à

formação de professores de Matemática. Trato da preocupação dessa área no

sentindo de dar ao professor de Matemática subsídios para um trabalho pedagógico

mais significativo. Nele o interesse sobre a pesquisa em formação docente, de modo

histórico, em particular a do professor de Matemática, é ressaltada. Em seguida,

apresento como se deu a evolução dessa pesquisa no âmbito geral, mas

direcionando para a área de Educação Matemática. Por último, descrevo como os

pesquisadores percebem a formação docente e o desenvolvimento profissional.

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1.1 Um levantamento sobre o interesse dos pesquisadores em relação à

formação de professores de matemática num âmbito da formação docente

Uma das preocupações que justificou esta pesquisa foi o interesse dos

pesquisadores sobre a formação de professores de Matemática. Vejamos a seguir,

em primeiro lugar, como se deu a formação em relação ao professor de modo geral

e depois em relação ao professor de Matemática.

André (2009) nos coloca a par da produção acadêmica dos pós–graduandos

em educação, no que se refere à formação docente, no período de 1990 a 2000. A

autora faz uma análise sobre as dissertações e teses defendidas nesse período.

Percebemos que houve um interesse maior por esse tema: a formação de

professores. A partir dos dados coletados, tem-se que:

Nos anos de 1990, eram 6% do total de trabalhos da área de educação que abordavam o tema; nos anos 2000, o percentual passa a 14%. A maior mudança observada no período foi no foco das pesquisas: de1990 a 1998, a grande maioria dos estudos (72%) se debruçava sobre os cursos de formação inicial, já nos anos 2000, a maior incidência (41%) estava na temática da identidade e profissionalização docente (ANDRÉ, 2009, p. 41).

Esta amostragem leva a uma preocupação de muitos pesquisadores

envolvidos com estudos dessa abordagem em contribuir, em somar forças com

outros pesquisadores e educadores que militam em se aprofundar neste tema.

Há uma ênfase em estabelecer uma relação muito próxima entre a

Educação, a pesquisa, e o conhecimento, viabilizando a manutenção da elaboração

de pesquisas e publicações das sociedades acadêmicas. Segundo Charlot (2006

apud ANDRÉ, 2009, p. 43), “é preciso registrar a memória da pesquisa em

educação, o que requer a elaboração de sínteses interativas da produção científica,

para que se evite a dispersão, a repetição de temas e metodologias [...].”.

Esses registros são de fundamental importância, tanto para o

reconhecimento do trabalho produzido, quanto da sua utilização no futuro por outros

pesquisadores que estejam envolvidos com esse tema. Chamamos a atenção para a

análise dessas publicações. Tendo essa preocupação é que André (2009, p. 44) nos

fornece várias informações sobre trabalhos feitos a partir de várias metodologias.

Segundo o autor, “as pesquisas classificadas como formação inicial são as que

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focalizam os cursos de licenciatura, pedagogia ou normal de nível médio ou

superior”.

Alguns trabalhos relatam experiências, outros são pesquisas que advêm de

um longo processo investigativo. Pontuando essas considerações, Imbernón (2002

apud ANDRÉ, 2009) esclarece que é na sua formação inicial que o professor forma

sua base teórica-prática para se especializar pedagogicamente. Concordamos com

o autor, pois, de fato, a formação inicial é o momento em que os docentes devem

assimilar um conhecimento didático – pedagógico envolvendo saberes que venham

utilizar quando da atuação na prática com seus alunos.

Fazendo um balanço sobre o interesse neste tema, André (2009) afirma que,

no período de sua pesquisa, houve um aumento, em 5 anos, da ordem de 5%, no

interesse pelos programas de pós-graduação. Segundo a autora, no Brasil, houve a

seguinte distribuição percentual de produções sobre formação de professores, com

destaque para a região Sudeste, onde há mais programas de pós-graduação:

Região Sudeste – 54%; região Sul – 25%; regiões Norte e Nordeste – 12%; e região

Centro-Oeste – 9%.

Verificamos que as pesquisas abrem espaços para saber como andam

essas versões sobre a formação docente. São a partir destas que as dúvidas vão se

dissipando e abrindo espaço para contribuir, de alguma forma, na assimilação de

novos conhecimentos. Partindo das informações da autora, consideramos enfático

destacar o andamento progressivo em termos de publicações nesta abordagem.

Segundo André (2009, p. 48),

[...] de 1990 a 1998 foram defendidas 6.244 dissertações e teses das quais 410 (6%) tratam do tema formação de professores. Nos cinco anos seguintes, a produção total da área passou para 8.280 das quais 1.184 (14%) abordam o tema formação de professores.

Muitas mudanças vão ocorrendo e estas se deram pela “chegada ao Brasil

dos escritos de Maurice Tardif sobre saberes docentes e o aumento da produção

internacional sobre profissionalização docente motivada principalmente pelas

reformas educativas dos anos 1980” (ANDRÉ, 2009, p. 49). Isto vem comprovar a

influência que os pesquisadores de lugares distantes trazem para o nosso país,

como também que a formação docente é tema de estudo que abrange vários

segmentos do mundo e nações.

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Em 2000, é perceptível o interesse em saber o pensamento, as práticas e as

concepções dos professores. O docente passa a ser ouvido. Já se observava nos

anos de 1990, um olhar reflexivo sobre essas questões, pois a pesquisa vai

caminhando para outra imagem, na qual o professor é visto não como uma mera

personagem, mas como o protagonista de um cenário, em um contexto em que

pensa no passado e no que se pode pensar sobre mudanças futuras. André (2009,

p. 49) nos diz que “os processos reflexivos, que na década de 1990 despontavam

como referenciais promissores na formação dos docentes firmaram-se

definitivamente, nos anos de 2000”.

Os programas para formação docente dão oportunidades para que

professores pesquisadores, educadores e pedagogos, possam interagir com

conhecimento em uma visão ampla, havendo entre ambos uma troca de saberes

que oportuniza um processo reflexivo sobre os panoramas investigativos em seus

ambientes de aprendizagem. Destacamos o pensamento de André (2009, p. 49)

quando nos diz que “a mudança foi, portanto, significativa e pode ser explicada pela

promulgação da lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1996, que

estabelece o nível superior como necessário para o exercício da docência [...]“. Sob

essa análise denota-se que o cenário educativo estava tendo uma visão de que

seria necessário buscar alternativas para mudar esse contexto, e a referência seria a

qualificação do professor mediante um processo de adesão nas políticas de ensino,

primando pela qualidade do docente. Para isso foi criado o projeto Centro de

Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (CEFAM), nos anos 1990, que teve uma

atuação marcante de caráter contínuo. Neste mesmo período, os cursos de

licenciatura foram alvo de investigação, especialmente no que se refere às

disciplinas dos cursos de formação inicial. Foram vários trabalhos produzidos num

total de 109, segundo André (2009, p. 49), sobre as disciplinas específicas e

pedagógicas:

[...] faltaram estudos que investigassem as articulações entre elas. Nos anos mais recentes, a relação entre disciplinas pedagógicas e específicas ainda não se constitui objeto sistemático de pesquisa, mas surgem estudos sobre interdisciplinaridade tanto na licenciatura, quanto no magistério do ensino médio, nos projetos e nas práticas de formação continuada.

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Esses estudos e pesquisas mostram que os cursos de formação inicial nas

IES precisam passar por modificações para melhor preparar os futuros professores

que irão atuar na EB.

Pensar em formação continuada nos leva a questionar sobre o

conhecimento teórico–pedagógico do formador que nos permite avaliar a sua

atuação quando da sua atividade docente. Sua atuação depende de como ensinar e

como estimular seus alunos a entenderem os conceitos matemáticos. As relações

entre as disciplinas específicas e pedagógicas no curso de Matemática são pontos a

serem considerados importantes para o andamento dos cursos de graduação.

Assim, o interesse sobre a investigação em relação aos cursos de

licenciatura é o inicio de uma observação de como estariam sendo conduzidas as

propostas curriculares e a ação dos formadores com os futuros professores. O foco

em relação às pesquisas mais recentes sobre a formação docente se restringe ao

professor, sua identidade, saberes e práticas deste. Segundo André (2009, p. 51),

“aproximar-se das práticas dos professores, adentrar o cotidiano de seu trabalho é,

sem dúvida, imprescindível para pensar, com eles, as melhores formas de atuação

na busca de uma educação de qualidade para todos”.

Consideramos ser importante ampliar conhecimentos sobre a formação

docente. Entendemos que esta relação se dá numa visão contínua, mas

percebemos que a formação inicial tem uma relação com a continuidade da

docência, daí ser importante um estudo sobre as adversidades da formação inicial.

André (2009, p. 51), nos diz que “diminui o número de investigações sobre a

formação inicial, o que causa preocupação”. Talvez isto se dê em virtude de muitos

não saberem identificar o que seria o início da formação docente talvez por não

terem observado que a formação inicial reflete-se na formação docente que é

contínua.

Segundo André (2009, p. 51-52), “pouco sabemos sobre qual a organização

curricular mais adequada, quais as práticas de ensino mais eficazes e que formas de

gestão propiciam uma formação de qualidade”. Acreditamos que uma formação de

qualidade acontecerá à medida que houver consciência do que deve ser feito, e que

direção seguir.

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Consideramos, neste momento, destacar resultados sobre pesquisa que

relaciona a formação de professores na área de Matemática. Segundo Fiorentini et

al. (2002) que estudaram sobre 25 anos de pesquisas de formação de professores,

há várias publicações que mostram como foram essa preocupação com formação

docente dos professores de Matemática. Destacamos aqueles que se situam no

contexto desta dissertação. Segundo esses autores,

A Educação Matemática parece também refletir uma tendência mundial que reconhece o professor como elemento fundamental nos processos de mudança educacional e curricular, o qual, em face das novas e mutantes demandas sociais do mundo globalizado, necessita, permanentemente, atualizar-se (FIORENTINI et al., 2002, p. 139).

O destaque que a Educação Matemática (EM) tem nessas pesquisas pode

ser percebida a partir dessa citação, pois, de forma interna e externa, auxilia o

resgate desse professor no ambiente de aprendizagem em que ele atua. A bagagem

que esta área de conhecimento traz, contribui para todos estes segmentos de

pesquisa, uma vez que aborda uma nova visão de como trabalhar o ensino de

Matemática, seus conceitos sua linguagem e sua leitura, com base em outras e

novas ferramentas de ensino. Para isso, o professor precisa aderir a uma nova

formação dentro de uma análise global.

São várias as pesquisas sobre a formação inicial e continuada. Fiorentini et

al. (2002, 142) apresentam um quadro com 112 trabalhos, em que destacam: sobre

formação inicial – formação, pensamento e prática de formadores (4 publicações);

sobre formação continuada – investiga a própria prática do formador (3 publicações);

grupos ou práticas colaborativas (14 publicações); investigação e evolução

profissional do professor (13 publicações). Neste quadro o destaque às

considerações desses temas, com relação aos saberes desses professores de

Matemática, Gonçalves (2000 apud FIORENTINI et al., 2002, p. 147) esclarece que

“quanto aos saberes relativos a como formar professores de Matemática constatou

que estes foram adquiridos a partir da prática e, para alguns, a partir da experiência

anterior como professores do Ensino Fundamental e Médio”. Esses estudos

apresentam um esclarecimento sobre como está se dando a formação desses

professores e de que forma contribuir para a melhoria desta realidade a partir de

uma análise de conjunto, discutindo e dando sugestões nos encontros nacionais e

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internacionais de pesquisadores e educadores matemáticos, especialmente aqueles

que realmente se preocupam com os destinos da educação em nosso país.

Fiorentini et al. (2002) consideram que a Formação Inicial é sumamente

importante, pois esta se liga, de fato, a formação contínua. Destacamos as

explicações de Gomes (1999 apud FIORENTINI et al., 2002, p. 148) acerca da

vivência diante da formação inicial, em situações com leitura de textos relativos à

Matemática: “a forma como se realiza a leitura do texto matemático nas aulas do

curso de licenciatura, tendo verificado que há pouca leitura com compreensão e

interpretação”. Constata-se que realmente os futuros professores saem da formação

inicial sem terem feito uma discussão sobre leituras nas aulas de Matemática.

Quando discutimos a importância dessa competência do professor, são várias as

sugestões: textos narrativos, diários de campo, diários reflexivos ou diários

matemáticos, mapas conceituais, portfólios e outros instrumentos que envolvem a

leitura em Matemática.

Com relação aos estudos de modelos, programas, propostas e projetos de

formação continuada, temos a destacar o trabalho de Carvalho (1999, apud

FIORENTINI et al., 2002, p. 149), que “buscou construir com os professores, sob a

mediação de mapas conceituais, um modelo de desenvolver uma educação crítica

para o consumo utilizando vídeos veiculados pela mídia”. Por meio desse trabalho,

constamos que estes professores se predispuseram a fazer uma reflexão no âmbito

cognitivo e metacognitivo sobre os conceitos matemáticos e sua relação com outros

ambientes.

A respeito dos “estudos sobre a própria experiência do formador em

formação continuada”, Fiorentini et al. (2002, p. 151) citam os trabalhos de Floriani

(1989), Gazzeta (1989) e Floriani (1997), os quais revelam que “embora, sob o ponto

de vista formativo, consideramos positiva a tentativa desses autores de procurar

sistematizar e refletir suas próprias experiências de formadores de professores do

ponto de vista teórico e metodológico”. Estes trabalhos são oportunos nesta

temática, pois observa-se a importância do formador para a formação desses

professores.

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Já sobre os grupos ou práticas colaborativas, as pesquisas, em sua maioria,

foram produzidas já no final dos anos 90. Fiorentini et al. (2002, p. 152), destacam

entre estas a de Moura (1984) e Borges (1988), Araújo (1998) e Nacarato (2000) que

concluíram com seus trabalhos que o professor poderia “a partir de um trabalho de

parceria entre pesquisador e professores, se transformar de aplicador de materiais

prontos a produtor de seu próprio material para sala de aula, constituindo-se em um

profissional reflexivo sobre sua própria prática”. Os autores afirmam em suas

conclusões que ocorreram mudanças que foram percebidas por estes estudos e

destacam que “os professores tornaram-se mais reflexivos em suas práticas;

buscaram melhores condições profissionais; tornaram-se produtores de seus

próprios materiais, geraram novas práticas e promoveram mudanças de concepção

de Matemática”.

Sobre os grupos de trabalho colaborativo, percebemos uma nova forma de

trabalhar a formação contínua de professores, pois essa reflexão sinaliza de forma

colaborativa as experiências de cada um por meio de suas narrativas, sejam estas

orais ou escritas.

A partir de 1975 já se começa a ver a prática docente e o docente com um

novo olhar, na perspectiva da constituição do professor a partir de sua própria

prática. Desse modo, pontuamos o trabalho de Klusener (1988 apud FIORENTINI et

al., 2002) que estudou como se deu o processo de conscientização do professor.

Nesse caso, o professor além de se preocupar com as mudanças de suas práticas

profissionais em relação à sua docência, também precisa se inteirar do seu

crescimento profissional, pois esse é um ponto preponderante nos âmbitos atuais e

que nos reporta a EM.

Consideramos ainda trabalhos sobre a formação inicial em que são

destacados problemas nos cursos de licenciatura em Matemática que tratam das

dificuldades existentes entre a realidade escolar e a teoria com relação à prática do

professor que irá atuar na docência. Neste ponto, ressaltamos que

[...] sem uma formação teórico–prática em Educação Matemática, os formadores que lecionam disciplinas específicas tendem a se restringir a uma abordagem técnico-formal dos conteúdos que ensinam, pois não adquirem formação para explorar e problematizar outras dimensões (FIORENTINI et al., 2002, p. 154).

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De fato, uma vivência teórico-prática do formador tem influência na sua

atuação quando da aplicabilidade dos conhecimentos da disciplina que trabalha com

os futuros professores. Para a EB, essa lacuna que se apresenta na formação

desses formadores acaba interferindo na ação destes quando lecionam as

disciplinas específicas do Curso de Matemática; pois se restringem a uma

abordagem técnico-formal, influenciando seus alunos a reproduzirem o que veem

em sua futura prática docente.

São várias alternativas buscadas para melhoria dos entraves com relação à

formação docente. Entre estas, destacamos a formação de grupos de estudo nas

IES. Sobre esta alternativa destacamos Souza Junior (2000) e Guérios (2000)

citados por Fiorentini et al. (2002), que concluem que os professores se reúnem

pensando em mudanças pedagógicas. Concordamos com os autores, pois os

participantes desses grupos realmente ajudam uns aos outros com uma visão

coletiva para vencer os obstáculos e os desafios diários de suas práticas. Dessa

forma, consideramos ser a EM um campo aberto para estudos e pesquisas, pois

este dá oportunidade para discutir e refletir sobre as indagações da formação

docente.

Ao longo desses 25 anos estudados já percebemos uma grande mudança

com relação aos estudos e pesquisas sobre a formação docente, em especial a

formação continuada. É importante salientar que as experiências realizadas no

período de 1970 a 1980 foram de formar professores no sentido de uma melhor

qualificação pedagógica. Isto veio a se modificar a partir da década de 1990 quando

estudos internacionais apontaram para um professor reflexivo (FIORENTINI et al.,

2002). A partir dos novos paradigmas é que se apresentam novos estudos dentro de

um caráter colaborativo.

Através de todo esse estudo observamos que o professor que investiga a

própria prática enfrenta um desafio com ele mesmo, com a escola e com as IES, em

relação a sua formação inicial e o formador, pois o leva a repensar sobre os novos

instrumentos que potencializam sua ação docente. Este processo envolve vários

atores no contexto do ambiente de aprendizagem, pois é um novo professor que

resgata sua identidade para vivenciar novos paradigmas na história da educação.

Defendemos que a formação do professor é um processo que abrange toda uma

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história de vida, todo um caminho que advém de um passado e que precisa ser visto

como um processo renovador, principalmente para a EM.

Acreditamos que as mudanças e as reformulações das políticas

educacionais irão contribuir para outros professores que estarão no futuro militando

no campo da docência e da pesquisa. Consideramos que as pesquisas poderão

contribuir para a melhoria do ensino de Matemática e das outras disciplinas.

Vejamos, a seguir, como se deu a evolução do pensamento em relação à formação

docente com destaque para a formação do professor de Matemática.

1.2 Os Caminhos da educação na formação docente no Brasil: um destaque

para a formação do professor de matemática

A formação Docente no Brasil leva a rever os caminhos de uma Educação

que foi se dando à medida que os programas de estudo, ensino e pesquisa foram

tendo espaço nas academias, nos institutos de ensino e nas escolas.

Assim, buscamos também estabelecer uma relação entre os formadores,

aqueles que são formados, as conquistas e desafios oriundos de contribuições de

várias gerações, com linguagem e pensamentos adversos, mas que, mesmo sob

ideias às vezes contraditórias, contribuiu para uma educação reprodutiva ou

libertadora em que o conhecimento resgata impressões do pensamento e o homem

que faz a história passe a vivê-la como o agente desse conhecimento desde suas

origens que através do tempo e leva a formular novos conceitos para um futuro

cheio de desafios e descobertas. Desse modo, entendemos ser importante destacar,

segundo Gomes (2006, p. 47), que:

[...] nas últimas décadas a formação de professores no Brasil e no resto do mundo tem sido motivo de grandes interrogações devido às várias mudanças sociais, políticas e econômicas. A necessidade de adequar a formação dos professores a uma realidade que submetida a um constante processo de inovação, bem como os avanços ocorridos nas ciências que fundamentam a educação, geraram novas propostas educacionais e currículos que tiveram bastante destaque em décadas anteriores hoje são repensados e modificados.

A formação docente, e aqueles que estão à frente desta, demonstram

preocupaçao em estruturar uma proposta que atinja a realidade de cada um, haja

vista que a formação de professores é um campo que precisa abranger mais

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estudos e pesquisas, no sentido de esclarecer melhor o que significa de fato uma

formação, seja inicial ou contínua. São vários educadores que se envolvem e

estudaram essa temática; Gomes (2006) cita alguns, como Moysés (1994), Pereira

(2000) e Fiorentini (2003).

Alguns estudos partiram de vários movimentos oriundos da Europa, como o

Movimento da Matemática Moderna. Com base em pesquisas Gomes (2006, p. 48)

afirma que

Até o final da década de 1970 e início dos anos 1980, o tema sobre a formação do professor passou a ser destaque em todo o país, em conferências e seminários de educação, principalmente por estar sendo discutidas na época as reformulações dos cursos de Pedagogia e das Licenciaturas.

Esses momentos podem ser vistos como início de grandes mudanças para a

educação, pelas inovações que são aderidas, à medida que se abrem espaços para

que todos participem dando suas contribuições, objetivando a compreensão do que

seja de fato a formação docente, particularmente no âmbito da EM. Todavia, nos

anos de 1970 o professor foi influenciado fortemente pela psicologia

comportamental. Gomes (2006, p. 48) considera que

Os métodos de treinamento utilizados na formação docente daquela época apontavam para investigações experimentais traduzindo enfoque técnico e funcionalista que passaram ser rejeitados a partir de movimentos de oposição, no final da década de 1970. Influenciada pelos estudos de caráter filosófico e sociológico, a educação é assumida como uma prática social, com caracteres políticos e econômicos.

Entendemos que ao longo dos tempos que seguiram essa década, o

professor veio deixando de ser um técnico para ser um educador.

Inicialmente, a formação de professores dava-se de forma técnica, baseada

em experimentos sem fundamentos em estudos e observações, um repassar de

conhecimentos de quem conduzia; os professores eram meros reprodutores. “Neste

contexto, a prática do professor assumiu um papel transformador da educação

desencadeando novas ideias para o ensino e formação docente” (GOMES, 2006, p.

49).

Neste ponto, observa-se que a tentativa de trabalhar essa formação

baseada em métodos instrumentais levou esses formadores educadores, estudiosos

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dessa área, a perceberem que os resultados não conduziam à perspectiva desejada.

A partir daí, foram em busca de alternativas que, de fato, pudesse levar o professor

a uma reflexão que respondesse aos seus anseios e ao seu papel como educador.

Sendo assim, o professor passaria a assumir o seu verdadeiro papel, se vendo com

um novo perfil e se colocando em um ambiente favorável a sua aprendizagem como

mediador, e não mais como repassador dos saberes, mas construtor e reconstrutor

de seus saberes.

Considerando isso, entendemos que houve mudanças com relação à

formação docente em nosso país. Especificamos aquelas com base no caráter

político e pedagógico que foram se dando à medida que grandes pedagogos e

educadores matemáticos que contribuíram com suas reflexões. Nesta época, a

formação desses profissionais sofreu várias mudanças, pois como nos diz Gomes

(2006), a mudança do enfoque na formação de professores representou um

movimento brasileiro buscando a superação da ditadura militar. Essa superação é

destacada pelas pesquisas, que apesar de um número pequeno de estudos,

Modesto (2002, p. 12), nos informa que

[...] a pesquisa sobre formação de professores tem crescido quantitativa e qualitativamente nos últimos quinze anos. Inicialmente centradas no professor em formação, as preocupações tratadas pela literatura foram ampliadas seus escopos, incluindo exames sobre a formação inicial e forçando, cada vez mais, a necessidade de formação continuada dos professores em serviço. Portanto, a pesquisa sobre a formação de professores deve ser percebida como uma necessidade indiscutível.

Consideramos que os avanços que vêm ocorrendo sobre os estudos que

abordam a formação de professores instigam aqueles que se envolvem com a

pesquisa a buscarem alternativas no sentido de colaborar com uma reformulação de

pensamentos sobre a formação que se inicia e a formação que continua desses

pares, pois são vários os desafios que estes se deparam no ambiente da sala de

aula: desde o que ensinar e como ensinar, aprender o novo, e como se organizar

para as mudanças que surgem no âmbito do ensino.

Como a formação inicial é uma referência para a formação continuada há,

segundo Modesto (2002), uma necessidade de ocorrer uma melhor formação de

professores e esta vai se dando na medida da sua atuação, ou seja, na sua prática.

É ponto essencial que professores se reformem em bases sólidas de estudo

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efetivando reflexões através de mudanças que devem ser repensadas. São várias as

pesquisas feitas que apontam como urgência a melhoria da atuação e da formação

de professores.

É interessante, agora, partirmos para compreender como se deu, no

contexto do Brasil, a formação docente. As práticas docentes foram tendo influência

da pedagogia e do saber tradicional de caráter religioso e normativo devido à forte

presença de religiosos neste meio. Foi já no início dos anos 1960, que as mudanças

culturais influenciaram as mudanças pedagógicas.

Segundo Tardif, Lessard e Gauthier (2000, p. 222), “a atenção incidia no

docente que assumia a figura de um mestre dominador, responsável por transmitir

um saber que possuía, mas que não produzia”; para esses autores, algumas

práticas ainda são percebidas hoje em alguns centros de formação. Com o

surgimento da Escola Nova, esta já se depara com outra realidade, no qual o saber

científico deixa de ser evidenciado, e este movimento que se apresenta no século

XX, vem nos mostrar um docente com um conhecimento mais abrangente, ou seja,

uma nova visão de um docente que agora precisa abranger uma cultura mais geral,

com as relações centradas nos estudantes. Neste ponto, o professor passa a ser um

mediador do saber, não mais aquele docente passivo diante dos desafios de sua

prática, mas um instigador da aprendizagem.

Nos anos 1980, já se percebe um panorama com relação à educação e à

carreira docente, em que os docentes são vistos de forma diferente. Segundo Tardif,

Lessard, Gauthier (2000, p. 223), “os anos 1980 viram a expansão da teoria crítica

que permitiu ultrapassar a visão tecnicista e os limites das teorias críticas

reproducionistas”. Essas mudanças se cruzaram com a pedagogia do conhecimento,

e essas teorias foram pontos de referência à propagação das teorias críticas. Com

relação às práticas pedagógicas, muda-se a visão da escola; percebe-se uma

relação mais próxima entre educação e sociedade, e, mediante essa perspectiva, a

escola passa a assumir um novo papel: de agente ligado à transformação do

sistema de produção. Estas mudanças interferem nas práticas e nas ações docente.

Os anos 1980 se deparam com contribuições que já vinham desde as

décadas anteriores. O pesquisador e estudioso Tardif, embora não sendo brasileiro,

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traz para nós contribuições importantes nesta abordagem de estudo e nos esclarece

os vários momentos, mediante fatos que estiveram presentes no percurso desta

temática. Todo esse processo com relação à formação docente apresenta as

interferências do sistema político da época que engloba o período da ditadura. A

busca pela identidade dos professores ocorre neste processo, ou seja, pela

“democratização da sociedade”. Nessa época, os professores passam a fazer uso

de espaços coletivos e passam a ser mais reconhecidos “como um agente capaz de

circular dentro do complexo escolar” (TARDIF; LESSARD; GAUTHIER, 2000, p.

224).

Com a identidade profissional e o resgate deste professor no ambiente

educacional, desenvolve-se um melhor ensino e uma aprendizagem significativa que

não se restringe somente ao aluno, mas principalmente ao professor, o mediador do

conhecimento.

Seguindo no tempo, compete esclarecimentos a vários pontos que

acreditamos serem importantes, saindo dos contextos anteriores e se aproximando

dos anos 1990. Evidenciamos neste período um choque de duas correntes

pedagógicas: “uma educação tecnológica neoliberal e uma educação crítica e

libertadora” (TARDIF; LESSARD; GAUTHIER, 2000, p. 224).

As mudanças ocorridas no mercado de trabalho exigem novas experiências

de mão de obra e estes especialistas na área de educação, se estendendo à

formação docente. Cabe enfatizar o que apontam esses autores sobre essas

questões: “O saber torna-se um produto de consumo oferecido pela escola, a

procura de formação faz-se cada vez mais dirigida e controlada pela mídia e

Marketing” (TARDIF; LESSARD; GAUTHIER, 2000, p. 224).

É um panorama já bem diferente dos anteriores, pois havia outra proposta

de ensino, outro docente e um cenário de aprendizagem que agora nos mostra outra

escola. O docente neste período precisa ser criativo e buscar a sua autonomia tendo

como apoio o seu saber prático que, de certa forma, é um saber que advém de sua

formação inicial, e que, como especialista na área de Matemática, apresenta várias

lacunas, o que não o torna preparado para enfrentar os desafios de sala de aula,

como também não o torna competente no enfrentamento das adversidades oriundas

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do contexto educacional. Essa defasagem sobre a formação inicial do professor é

uma questão cultural, que vem desde a organização curricular das IES e dos

programas de estágio supervisionado.

Concordamos com Tardif, Lessard e Gauthier (2000) que consideram que o

professor precisa desempenhar sua função com criatividade e autonomia, apoiando-

se num saber prático o que não é necessariamente sinônimo de competência. Essas

colocações tornam mais evidentes as ilações que se percebe quanto às falhas sobre

como direcionar esta abordagem e os futuros erros sobre a formação desse docente,

a começar pelas propostas curriculares e pelo preparo dos formadores das IES.

Conforme os autores supracitados:

Atualmente, sob a égide da Associação Nacional de Formação Profissional dos Docentes (ANFOPE), os professores brasileiros definiram alguns princípios de orientação da formação com vista a assegurar uma prática comum nacional respeitando a diversidade dos cursos, de instituições e das regiões. Considerando como “profissional em educação” aquele que conduz o trabalho pedagógico tendo recebido uma formação adequada para esse fim, a ANFOPE traçou os principais eixos desta base comum que pode ser resumida da seguinte maneira:

- Formação pedagógica inicial centrada em primeiro lugar no ensino em oposição ao especialista: formar um docente capaz de compreender a realidade sócio-educativa globalmente a fim de poder agir de forma criativa e crítica.

- Formação teórica de qualidade: assegurar ao docente uma capacidade de análise crítica da sua realidade que inclui uma perspectiva psicossocial, filosófica sociológica e historiográfica adequada. Sem querer formar teóricos, os programas devem fornecer os elementos teóricos, necessários à prática docente.

- Interdisciplinaridade: assegurar a interrelação necessária entre as disciplinas, os seus conteúdos e métodos de forma a fornecer uma visão de conjunto da realidade numa perspectiva da totalidade dos conhecimentos.

- Articulação entre a prática social e a reflexiva teórica: todas as disciplinas devem assegurar uma perspectiva científica de curiosidade, e descoberta e de pesquisa em contexto, deixando de lado o aspecto exclusivamente livresco.

- Democratização da sociedade e da escola: a instituição escolar deve contribuir para o processo sócio-histórico da participação social na construção de novas relações de poder. A solidariedade, a camaradagem, o debate e o confronto das ideias e das práticas devem prevalecer sobre as práticas tradicionais de centrismo e autoritarismo para a tomada de decisão.

- Avaliação a partir do discurso e das práticas cotidianas: mecanismos de avaliação interna centrados na prática docente devem ser desenvolvidos de forma a assegurar congruência entre as práticas diárias e os quadros teóricos adotados pela instituição (TARDIF; LESSARD; GAUTHIER, 2000, p. 225).

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Este quadro resume os princípios básicos para assegurar uma formação

docente igualitária para todos os profissionais de educação. Mesmo executando

suas atividades em ambientes de aprendizagem diferentes, professores e

formadores devem buscar orientações que os estimulem a trabalhar de forma

coerente as bases do conhecimento teórico-prático pedagógico. Basicamente nos

traz propostas de uma unidade de ações, que levarão a estabelecer metas partindo

para um único objetivo: melhorar a formação docente dos professores de uma forma

geral, social, cultural e emocional.

Através de um processo avaliativo das práticas desses professores, vamos

ao encontro de desenvolver outras propostas e, assim, contribuir de forma conjunta

para a melhoria da formação desses professores.

A proposta de criação de uma organização nacional única para a formação

docente relaciona-se à formação contínua que se enquadra a uma obrigatoriedade

do indivíduo que atua na docência, do estado e da sociedade. Acredita-se que essa

organização seria um ponto de referência para que todos que se envolvam com

essa proposta se organizassem de forma que pudessem discutir novas propostas

que motivassem um estudo mais aprofundado da formação docente.

São várias as mudanças sugeridas na reforma educacional que envolve o

aluno, mas todas elas apresentam relações com a visão proposta para o educador;

dentre estas destacamos a que acreditamos ser mais abrangente: “concentrar-se no

desenvolvimento da capacidade do aluno de usar os conhecimentos recém-

adquiridos em situações significativas e reais da vida” (ZEICHNER, 2003, p. 36).

Estas propostas abrangeram todo o mundo, mas muitas decisões, relacionadas às

escolas, foram descentralizadas. Segundo ele,

[...] este processo de descentralização faz parte da agenda neoliberal mais ampla, para levar os sistemas educacionais a atenderem melhor as necessidades da economia global, e tem sido associado com muita frequência a cortes nos recursos e à implantação de novos sistemas nacionais de avaliação (ZEICHNER, 2003, p. 37).

Por trás das intenções avaliativas transparece um descaso pela formação

docente. As implementações educacionais fazem dos professores meros

implementadores de ações alheias à sala de aula. Assim, os professores precisam

resgatar sua autonomia como profissionais da educação de uma geração que deseja

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um ensino diferente por se importar em refletir sobre sua prática docente. Há uma

tendência muito forte nesse sentido, pois, nos últimos vinte anos, deu-se uma

grande explosão com relação a publicações sobre a formação de professores. As

publicações apontam para uma tendência em que os educadores se assumam como

“agentes reflexivos, com um papel importante na determinação do que se passa nas

salas de aula e nas escolas e na assunção da responsabilidade por seu próprio

desenvolvimento profissional” (ZEICHNER, 2003, p. 41). Para finalizar as reflexões

sobre a formação docente e o desenvolvimento profissional apresentamos a seguir

um estudo sobre isso.

1.3 O que se pensa hoje sobre formação e as práticas reflexivas do

professor de matemática

Nas práticas docentes, especificando as relações entre o trabalho orientado

pela pura transmissão e aquele que com o tempo se renovou pela pesquisa,

percebemos um grande avanço, pois os estudos, basicamente na pesquisa, trazem-

nos várias contribuições que nos permitem verificar a atuação de todos que almejam

mudanças através de novos conhecimentos que ajustem a formação docente nas

expectativas vigentes do ensino, em especial na educação.

As concepções de prática, ensino, formação e aprendizagem, que envolvem

o professor devem ser revistas, pois sendo diferenciadas proporcionam a

internalização e a conscientização do professor e os seus saberes. Freire (1987, p.

18 apud CUNHA, 1989, p. 31) nos esclarece com relação aos professores que

[...] reduzimos o ato de conhecer o crescimento existente a uma mera transferência deste conhecimento. E o professor se torna exatamente o especialista em transferir conhecimento. Então, ele perde algumas das qualidades necessárias, indispensáveis, requeridas na produção do conhecimento, assim como no conhecer e conhecimento existente. Algumas destas qualidades são, por exemplo, a ação, a reflexão crítica, a curiosidade, o questionamento exigente, a inquietação, a incerteza – todas estas virtudes indispensáveis ao sujeito cognoscente.

Partindo dessas orientações percebemos que o crescimento do professor

basicamente se relaciona com os seus saberes, saberes estes construídos e

reconstruídos diariamente, tendo como fonte diretora o conhecimento refletido e

questionado, o conhecimento que foi fornecido por alguém. Mas de que forma?

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Como ter acesso a ele? Como levá-lo a uma análise investigativa? São indagações

que nós, professores, necessitamos fazer para que construamos uma ação reflexiva

na prática diária. Sobre essas questões dos saberes que entendemos ser importante

destacar, quando nos reportamos à formação docente, Gonçalves (2006, p. 32) nos

esclarece que “o trabalho docente compreende três dimensões básicas relativas aos

saberes profissionais: a ético-política, a emocional-afetiva e a cognitiva.” Essas

dimensões destacam um professor que se forma em todos os aspectos, não

somente como um profissional da educação, mas como um educador que abrange

de forma reflexiva e autônoma seu planejamento e prática diária. Contudo, ele deve

se associar a outros pares, buscar acesso a uma instituição formadora para dar

continuidade a sua formação.

Dessa forma, estabelecendo uma relação entre a formação docente,

formação inicial e a formação contínua; atentamos para o pensamento de Modesto

(2002, p. 11) ao dizer que

A formação inicial sozinha não dá conta de toda a tarefa de formar professores: é preciso cada vez mais se promover uma formação permanente que não termine com a formação inicial, nos cursos de licenciatura, mas que vá além disto, que prossiga ao longo do desenvolvimento profissional do professor, como formação continuada em serviço.

Essa formação vai acontecendo à medida que os professores de Matemática

vão efetivando reflexões sobre seus saberes. Isto ocorre de forma individual dele

para com ele. Nestes momentos, na sua prática docente, ocorre a cognição

(reflexão) e a metacognição (reflexão crítica), mas essa formação pode ocorrer com

seus pares, como acontece nos grupos colaborativos. Este processo de reflexão

pode ocorrer em encontros, seminários, pois a formação docente nada mais é que

etapas de troca de saberes com todos que se relacionam no mesmo ambiente de

aprendizagem. Convém lembrar que formação contínua nada mais é do que a ação

docente através da construção e reconstrução de saberes.

São muitas discussões sobre a problemática com relação à formação de

professores, e esta análise tem uma relação bem estreita com a pesquisa, pois o

fato de o professor ter interesse em dinamizar suas práticas vai ao encontro de um

professor pesquisador, não só no âmbito estreito da sala de aula, mas na forma de

pensar e aderir às mudanças, do pensar em algo diferente, mas, sobretudo, de

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desejar e buscar alternativas na ampliação de seus saberes através do

conhecimento e do estudo dele mesmo sobre sua relação com seus pares por meio

de trocas narrativas e reflexões. Não se constrói uma educação de modo solitário,

não se altera os programas de pós-graduação de forma individual, mas de forma

conjunta e participativa.

Sobre os questionamentos que estão sendo colocados em foco, há de vários

teóricos que esclarecem “a discussão sobre a epistemologia da prática e a formação

do profissional reflexivo, capaz de encontrar respostas aos dilemas que o exercício

profissional impõe e que não estão prescritas nas teorias e técnicas, é amplamente

debatida” (CUNHA; PRADO, 2007, p. 273). São oportunas para todos que se

envolvem no trabalho docente tais colocações, pois ainda é necessário buscar

alternativas que mobilizem intervir nestas questões, uma vez que a formação do

professor deve almejar um docente que questione as suas ações pedagógicas de

modo a partir para a ação reflexiva. Desejamos um professor reflexivo, mas é

necessário dar oportunidade para que realmente isto aconteça e que também este

professor vá ao encontro de buscar alternativas para intervir a partir de seus

questionamentos.

Zeichner (apud CUNHA; PRADO, 2007, p. 273), afirma “que os professores

produzem, em suas práticas, uma riqueza de conhecimentos que precisa ser

considerada no processo de aperfeiçoamento do trabalho e da escola [...].” Essas

produções são ações vividas em suas práticas, se apresentam como riqueza de

saber, pois são os professores e alunos coparticipantes dessas ações. Percebemos

ser uma preocupação de todos que se envolvem com a pesquisa e na pesquisa

levantar situações que, de alguma forma, interfiram na percepção de muitos e na

apreciação de todos que se envolvem nessas relações entre a ação docente,

formação docente e pesquisa. Essas são questões que para muitos ainda são vistas

como de difícil acesso no mundo que envolve a pesquisa e o pesquisador.

Neste momento, é importante esclarecer o que seria, de fato, compreender a

pesquisa e a ação, da pesquisa, na formação docente. Pensando nisso Cunha e

Prado (2007, p. 277) nos diz:

A pesquisa supõe uma intencionalidade, um sentido de direção, um objetivo que mobiliza a reflexão. Acreditamos que há professores que produzem

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conhecimentos e saberes pedagógicos na sala de aula e com seus pares na escola e não são professores/as pesquisadores/as, a despeito de poderem produzir mais do que professores que escolhem intencionalmente ser pesquisadores/as. A diferença entre um/a professor/a que produz conhecimento e saberes e mantém uma postura interessada e um/a professor/a–pesquisador/a é que o primeiro muitas vezes não sabe ou não quer manejar os instrumentos e sistematizar sua produção de forma que seu conhecimento possa ser reconhecido como pesquisa.

Da forma como estão explicadas essas diferenças, é bom observar para o

entendimento sobre como se conduz cada situação, e considerar às mudanças e ser

receptivo, pois o conhecimento avança em todos os segmentos acadêmicos.

Para que o professor mude ou aprimore os rumos de sua formação é

necessário estabelecer elos de parceria com a academia, produzindo propostas

colaborativas imbricadas por seus casos de ensino mediante experiências de seus

pares. Estes autores afirmam que “é possível associar pesquisa e docência. Essas

pesquisas constroem e reconstroem conhecimentos e saberes, atribuindo sentido e

ressignificando a prática, num movimento que proporciona realização pessoal e

desenvolvimento profissional”.

Nesta abordagem, os estudos e pesquisas foram se diversificando à medida

que todos se envolveram na temática em busca de novas alternativas para

diversificar o ensino ainda centrado no professor e não no aluno. Umas das

alternativas seria o desenvolvimento de um docente reflexivo sobre sua própria

prática. Neste ponto, temos as colocações de Zeichner (2003, p. 41) que nos diz:

O conceito de educador como agente reflexivo parece reconhecer a expertise que há na prática dos bons professores, aquilo que Donald Schön (1993) denominou “conhecimento na ação”. Na perspectiva do professor individual, isso significa que o processo de compreensão e aperfeiçoamento da prática docente deve partir da reflexão sobre a experiência individual e que o tipo de conhecimento inteiramente derivado da experiência alheia empobrece.

Desta forma observa-se que o processo de aprendizagem do ensino para o

professor, o seu reconhecimento como educador vai prosseguindo por toda a sua

carreira na docência; é um compromisso que se firma com ele, com seus alunos,

com as instituições onde tua e com as IES, juntamente com seus formadores. É

oportuno enfatizar que

Ao adotar o conceito de ensino reflexivo, muitas vezes há um compromisso, por parte dos formadores de professores, de ajudar os educadores potenciais a internalizar, durante o treinamento inicial, a disposição e a

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capacidade de estudar o seu ensino e melhorar durante toda a carreira (ZEICNHER, 2003, p. 42).

As observações do autor são muito oportunas, devido àqueles que se

envolvem com a formação dos futuros professores precisarem aderir a novos

saberes que os direcionem a uma visão, de fato, do que seria um educador que

exercita sua prática de forma crítica e reflexiva. Há, sim, tentativas com base nos

programas de estudos e pesquisa em oferecer orientações que venham a ajudar as

IES para trabalhar a formação docente aliada à pesquisa, dentro de um caráter

reflexivo, mas Zeichner (2003, p. 43) nos afirma que:

Apesar da retórica que cerca o esforço para preparar professores mais reflexivos e analíticos acerca de sua atividade profissional, na realidade, a formação reflexiva de professores contribuiu muito pouco para fomentar o desenvolvimento genuíno do educador e para valorizar o seu papel na reforma educacional.

Isto se dá a partir da formação inicial que ocorre sem um processo de

reflexão. A preocupação primeira é repassar conhecimentos técnicos e por último os

saberes pedagógicos. É importante rever o currículo dos cursos de graduação que

são responsáveis pela orientação de formar professores. “A formação reflexiva do

professor solapou de muitas maneiras a tentativa explicitamente emancipadora dos

formadores de educadores” (ZEICHNER, 2003, p. 43). São muitos os que se

preocupam em estudar esta temática, orientando-se pelas suas publicações.

Segundo ele, “o que falta, nessa concepção de ensino reflexivo, é uma noção de

como as teorias práticas que residem nas práticas do educador (conhecimento na

ação) hão de contribuir com o processo de desenvolvimento do professor”. É um

questionamento que os formadores devem se fazer juntamente com aqueles que

organizam e estão à frente destes, pois as mudanças estão a acontecer, os

processos que movem a educação não param e o ensino renova-se e dessa feita a

aprendizagem sofre alterações para os atores que vivenciam este processo. Então,

é importante ressaltar que

Os professores não podem restringir sua atenção apenas à sala de aula, deixando que outros determinem o contexto mais amplo e os objetivos do ensino. Eles devem assumir ativamente a responsabilidade pelas metas com que estão comprometidos e pelo contexto social em que essas metas podem prosperar (SCHEFFLER, 1968 apud ZEICHNER, 2003, p. 44).

Essas colocações nos permitem afirmar que ser um professor reflexivo,

aquele que busca questionar as suas ações em sala, que firma consigo mesmo uma

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meta de melhoria pedagógica, permitindo-se através de um diagnóstico aprender

para aprender, é de fato um educador, que no seu processo de reflexão não se

limita somente a um cenário de aprendizagem que é a sala de aula, mas sim o

ambiente onde desempenha a sua ação, como participante junto com seus pares em

estudos colaborativos para que aprenda a dinamizar as suas aulas. É importante o

seu discurso, este deve ser diversificado e único. Sobre isto, Zeichner (2003, p. 45)

diz que “a maior parte do discurso sobre o ensino reflexivo dá pouca ênfase à

reflexão como uma prática social, na qual grupos de educadores apoiem e

sustentam o crescimento de cada um de seus membros”.

Esse discurso deve abranger de forma coletiva os anseios de todos os

pares, pois o crescimento do professor se dá de forma conjunta e em parceria. É

neste ponto que consideramos ser o professor aquele que desenvolve uma ação

social em sua escola quando este se envolve em todos os seus segmentos. Dessa

forma, reconhece o seu ambiente, está presente nas atividades da escola, enfim é

um agente do saber, um participante como cidadão. Dessa maneira, a formação do

professor engloba todo um contexto de mudanças.

Essa formação reflexiva é usada abrangendo uma só conotação, pois é uma

formação que deseja atingir esse docente em toda a sua abrangência, e neste

espaço voltamos às sugestões de Zeichner (2003, p. 46) ao afirmar que

A formação reflexiva do professor que estimule o desenvolvimento genuíno do educador só deve ser apoiada se estiver vinculada à luta por mais justiça social e se contribuir de algum modo para estreitar a brecha na qualidade da educação à disposição dos alunos de diferentes estratos.

Entendemos que a formação docente não se resume somente às ações no

seu cenário de aprendizagem, mas na sua ação como cidadão, formar um indivíduo

que irá vivenciar momentos de aprendizagem diariamente. Acreditamos que seja

necessária uma ação direta no sentido da melhoria da formação docente em todos os

níveis e, para que isto de fato ocorra, é necessário que sejam utilizados instrumentos

que ajudem no sentido de desenvolver a capacidade reflexiva dos docentes. E sobre o

uso e a escolha desses instrumentos, Zeichner (2003, p. 49) conclui que:

Um dos grandes problemas na educação de professores, em todo o mundo, são os instrumentos utilizados para desenvolver a capacidade reflexiva dos docentes – pesquisa–ação, diários, estudos de caso, portfólios de ensino etc - pois são encarados como fins em si, não como meios para atingir objetivos defensáveis, com base educacional e moral.

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Para que se dê essa reflexão e o professor entenda que ela seja necessária

para seu desenvolvimento profissional, deve-se orientá-lo de forma a compreender

que escrever é uma ação de pensar sobre sua forma de conduzir o seu fazer. A

escrita é uma ferramenta que irá contribuir para dinamizar e redirecionar sua prática,

e terá influência em todos os caracteres, tanto afetivos, emocionais, com relação à

Matemática e a compreensão dos conceitos, e de forma cognitiva e metacognitiva

levará o professor a trabalhar de forma planejada suas atividades, despertando a

sua criatividade atuando nas relações interpessoais entre ele, seus pares e o aluno.

Este irá construir mediante seus saberes, e sua proposta diferenciada, outro cenário

de aprendizagem, em que este atua como um educador, o mediador do

conhecimento, aquele que investiga e questiona as suas ações, partindo dos

saberes adquiridos, indo ao encontro de outros construídos em parceria com todos

que participam com sua proposta de ser um protagonista. Acreditamos ser este o

caminho para que um docente venha a se tornar um professor reflexivo. Zeichner

(2003, p. 51) nos informa ainda com relação à formação docente, que

Atualmente, em várias partes do mundo, enfrentamos uma situação em que o discurso sobre os professores proclama autonomia, mais poder e profissionalização, ao passo que as condições materiais da atividade docente (o salário, o tamanho das classes, a disponibilidade de material curricular etc), seu status sua autoestima não fazem senão se deteriorar.

Concordamos com as reflexões desse autor, pois é de lamentar que os

professores que militam no exercício tanto da EB como do ensino superior não

tenham o reconhecimento da sua carreira no magistério, onde as políticas

educacionais não efetivam uma ação social que possa dar o devido valor a esse

profissional. Talvez essa seja uma das razões que leva os pares ao desestímulo, até

mesmo chegar ao descrédito de sua capacidade.

Independente da desvalorização, o professor deve se sentir estimulado a

continuar seu processo de atuação docente. Esse processo pode muito bem ser

potencializado se o docente buscar refletir sobre sua prática e, em particular, se o

faz socializando com seus pares suas narrativas de vida em sala de aula, traduzindo

essa narrativa em produções escritas que podem contribuir para a formação

contínua de seus pares. É o que tratamos no capítulo a seguir para subsidiar mais

ainda as reflexões sobre os processos que ocorrem em um grupo de trabalho

colaborativo como o que foi criado para essa pesquisa.

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CAPÍTULO II – A FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR DE

MATEMÁTICA: UM PROCESSO DE REFLEXÃO COLETIVA E

NARRAÇÃO ESCRITA A PARTIR DA TEORIA E PRÁTICA

Ao fazer referência à formação do professor de Matemática, refletimos sobre

como este professor pode se adequar aos desafios em sua docência. Mediante

essas indagações, questionamos como ele se percebe neste contexto: ensino,

aprendizagem, sobre o que ensinar e como ensinar. E qual seria a sua postura em

sua prática ao buscar a pesquisa como forma de refletir sobre as suas ações em

sala de aula, como estabelece essas relações entre a comunicação e a linguagem e

como se efetiva esse vínculo com sua prática. O professor contribuirá muito na sua

profissão fazendo uma boa relação entre o conceito e sua escrita e leitura a partir de

uma específica linguagem Matemática, contribuindo com o seu aluno na construção

de forma autônoma, mas colaborativa, de seu conhecimento. Nesse caso, a EM vem

a ser um ponto de apoio para orientar estas ações contribuindo para novos

procedimentos que atuam no seu cenário de aprendizagem.

É a partir deste ponto que vemos que o professor precisa estudar e buscar

orientações no sentido de lhe mostrar qual seria a melhor forma de dinamizar a sua

prática. E aí entra em cena o apoio das IES e das escolas no sentido de auxiliar

estes pares a construir novas metas de ação em suas práticas pedagógicas, dentro

de uma visão coletiva, utilizando novas ferramentas que possibilitem uma

reconstrução de novos saberes, tentando colaborar com todos neste sentido. O

objetivo é ver como isso se dá a partir da constituição de um grupo de trabalho

colaborativo.

2.1 A formação continuada a partir da formação dos grupos de trabalho

colaborativo

Escrever sobre formação de professores pressupõe estabelecer uma análise

a partir da sua história de vida, de suas vivências com base na construção e

reconstrução de seus saberes em suas práticas docentes, mediante um processo

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investigativo, que influencia no seu cenário de aprendizagem. Assim, segundo

Tardif, Lessard e Gauthier (2000, p. 220),

[...] a observação da trajetória profissional dos docentes apoiada pelo testemunho da história de vida indica claramente que a construção da sua identidade profissional se apóia sobre outros modos de apreensão da realidade que não são aquelas que privilegiam a razão instrumental e a racionalidade técnica científica.

Percebe-se que há uma relação entre o crescimento do professor como

profissional e a sua identidade, sua vivência panorâmica de suas origens, sua

história de vida. Este crescimento do professor como profissional se dá à medida

que este resgata a sua identidade dentro de uma visão histórica, social e cultural.

Quando ele procura se conhecer, estabelece em suas atividades novos princípios

que lhe permitem estar em interação entre o que viveu e o que se propõe a construir

de novo, resgatando para si a sua proposta de educador, pois ocorre um processo

de análise que o leva a rever os seus processos afetivos e a sua autoestima.

Quando o professor deseja transpor essas barreiras, ele começa a se adaptar às

novas realidades, dando início a um novo processo de intervenção que se dá de

forma positiva junto àqueles que possuem vínculos afetivos e profissionais. Tardif,

Lessard e Gauthier (2000, p. 220) afirmam que

[...] as intervenções desses atores sociais, as suas decisões e os seus juízos em situação de reflexão na ação, revelam elementos construídos na práxis, ou melhor ainda, saberes de experiência como componente indissociáveis da heterogeneidade dos conhecimentos na base da profissão.

De fato, se o professor questiona sobre o que faz e como faz, este sai do

seu narcisismo reflexivo e começa a ver o ensino, aprendizagem, os alunos e o seu

saber oriundo de sua formação inicial e continuada, com um novo olhar,

estabelecendo dessa forma uma conexão entre o ambiente em que atua e a maneira

de como ele se vê neste ambiente.

Sobre essa questão, Freitas et al. (2009, p. 34) nos esclarecem que “é

preciso retirar o professor do seu narcisismo reflexivo e reinseri-lo no coletivo

escolar, este último com legitimidade para discutir o desempenho daquele em uma

perspectiva construtivista”. Desse modo, enfocamos o grupo de trabalho colaborativo

que estimula os professores a tornarem-se pesquisadores de suas práticas, como

também colaboradores do crescimento didático–pedagógico de seus pares, e abre

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espaço para estes tornarem-se professores reflexivos. E é através dessas relações

que percebemos uma maior interação entre escola, professores e academia, tendo

como objetivo a ação reflexiva, ou seja, mudanças no processo de ensinar, do

aprender nas práticas docentes.

Pensando na importância dos grupos de professores com trabalho

colaborativo, é importante notar que sua constituição e desenvolvimento, em geral,

se dão de modo lento, com possibilidades de avanços e retrocessos, apesar de os

membros considerarem muito importante a formação desses grupos (FERREIRA;

MIORIM, 2003). Esses grupos de trabalho colaborativo em pesquisa tem as

seguintes características:

A participação é voluntária e todos os envolvidos desejam crescer profissionalmente e buscam autonomia profissional;

Há um forte desejo de compartilhar saberes e experiências, reservando, para isso, um tempo livre para participar do grupo;

Há momentos, durantes os encontros, para bate-papo informal, reciprocidade afetiva, confraternização e comentários sobre experiências e episódios da prática escolar ocorridos durante a semana;

Os participantes sentem-se à vontade para expressar livremente o que pensam e sentem e estão dispostos a ouvir críticas e a mudar;

A confiança e o respeito mútuo são essenciais ao bom relacionamento do grupo;

Os participantes tenham oportunidade de produzir e sistematizar conhecimentos através de estudos investigativos sobre a prática de cada um, resultando, desse processo, a produção de textos escritos, os quais possam ser publicados e socializados aos demais professores [...]

Há reciprocidade de aprendizagem. [...] (FIORENTINI, 2004, p.59).

O trabalho colaborativo difere do cooperativo no sentido de que no

cooperativo o envolvimento é desigual, pois segundo Ferreira e Miorim (2003, p. 3)

“a autonomia e o poder de decisão são diferenciados, uma vez que a forma de

participação não é igual para todos”.

Consideramos importante enfatizar que, segundo Jahn e Healy (2008, p. 16),

a colaboração e a cooperação são duas ações que diferem os grupos: “Na

cooperação, as operações conjuntas podem estar todas planejadas previamente. Já

na colaboração o plano de trabalho não pode ser rígido e predefinido

completamente”. É preciso que nestes grupos haja um espírito de liderança,

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assessorado por companheirismo e laços afetivos para que estes não venham a

privilegiar somente pela colaboração. Há, portanto, um ponto de destaque nos

grupos de trabalho colaborativo como as relações que acontecem entre seus

componentes, em que estas se generalizam pelos mesmos objetivos, e Hargreaves

(1998 apud COSTA, 2008, p. 176), neste ponto, esclarece que há duas formas de

colaboração: a colaboração espontânea e a colaboração forçada. Segundo o autor,

[...] ocorre colaboração espontânea quando a iniciativa da participação vem dos próprios elementos da equipe, ao passo que a colaboração é forçada quando obtida por imposição de superiores da instituição, que tem poder sobre os participantes do grupo.

Mediante essas explicações, é importante sugerir àqueles que desejam

aderir a este tipo de atividade que reflitam se realmente se sentem à vontade de

efetivar novos rumos em suas práticas docentes, pois fazer parte desses grupos é

se predispor a colaborar com todos e consigo mesmo.

Para Hernández (2003 apud FIORENTINI, 2004, p. 56), quanto a

desenvolver um grupo de trabalho colaborativo: “é criar sinergia que permite não

apenas a aprendizagem compartilhada, mas também a geração de um

conhecimento novo, na medida em que é nutrida de vozes e de posições

diferenciadas que contribuem para a melhoria da prática”. Concordamos com o

autor, pois, se entre os participantes do grupo não for criada, pelo convívio, uma

relação de confiança que leve a uma troca que gere uma ideia de cumplicidade e

companheirismo, o objetivo do grupo deixa de existir, é dessa forma deixa de ser

colaborativo para ser apenas cooperativo.

Há também na caracterização dos grupos de trabalhos colaborativos, três

formas relevantes de trabalho colaborativo: “coordenação, cooperação e

colaboração”. Nacarato et al. (2003) expõem a diferenciação dessas formas:

- A coordenação, [...] seria a relação entre alguns que mandam e outros que obedecem, sendo que os últimos nem sempre tem em emente as metas como um todo, executando apenas parte das tarefas.

- Na cooperação, as pessoas cooperam umas com as outras, estando envolvidas em executar tarefas e realizar ações de seu interesse, mas sem que tenha autonomia e poder de decisão sobre elas.

- A colaboração, por sua vez, envolve maior reciprocidade e equidade e a tomada de decisão é conjunta, envolvendo parceria voluntária e estabelecimento de metas comuns.

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Diante desses esclarecimentos, observamos uma estrutura para a criação e

o funcionamento de um grupo colaborativo, pois não é só estar por estar no grupo,

mas sim ter o comprometimento dentro de uma proposta de trabalho abrindo

espaços para atividades que leve seus componentes a um processo de mudanças

desde o início até mesmo nos momentos de incertezas de alguns.

Não é fácil mudar uma realidade, transformar pensamentos que estão

arraigados, presos a propostas ultrapassadas, considerando que todos que se

propõem a participar desses grupos têm o desejo de serem professores, pois

professam uma formação continuada com base em novos padrões de conhecimento.

O convívio e as relações que vão se dando com todos, trazem novas perspectivas

para a inovação da prática, como também proposta de que cada um alcance o seu

ideal.

Alguns autores apresentam reflexões aproximadas sobre os coletivos de

professores que trabalham de forma colaborativa na área da matemática. As

relações de colaboração entre os professores que participam desses grupos

ocorrem de forma construtiva e processual. Entendemos que o significado de

colaboração nesses coletivos diz respeito a:

[...] um trabalhar junto (colaborar), no sentido de que, ao ajudar, você também me ajudou, colaborou comigo mesma. Nossas vozes são enunciadas do lugar que cada um ocupa, mas todos trabalhamos juntos, somos ajudados, ajudamo-nos e ajudamos os outros (PINTO, 2002 apud NACARATO et al., 2003, p.17).

Consideramos também que no estudo da matemática a construção de

grupos coletivos de professores para discutirem conteúdos e estratégias

pedagógicas para melhor desenvolver as atividades de ensino é fundamental para “o

crescimento profissional, porque há uma força de grupo que impulsiona cada sujeito

para um desenvolvimento pessoal e grupal. A união dos sujeitos em torno de

objetivos comuns é vital para o avanço do grupo como um todo” (GONÇALVEZ,

2000, p. 261).

Importa destacar que grupo de trabalho coletivo de professores é um espaço

privilegiado para o processo de reflexão dos professores, de modo que o diálogo

sobre os conteúdos e a troca sobre a experiência de sala de aula possibilita o

processo de contínua formação profissional, embora que não seja formalizada na

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academia. Contribui também para fomentar a necessidade de uma formação

especializada e, muitas vezes, também, para possibilitar o rompimento de possíveis

isolamentos existentes entre os professores. Por isso, concordamos com Souza

Júnior (2000, p. 287) quando afirma que “o trabalho coletivo possibilita a criação ou

consolidação de um espaço de busca de autonomia e de emancipação coletiva dos

professores”.

Constamos mediante esses autores, quando abordamos sobre os grupos de

trabalho colaborativo, a preocupação com relação aos objetivos e os resultados que

são obtidos pelos participantes do grupo. Estes resultados vão se dando de

imediato, primeiro com relação à autonomia desse professor sobre a sua prática e

suas atividades didáticas e metodológicas com relação a seus alunos e o seu

contato didático. À medida que estabelece este vínculo com o grupo de trabalho

colaborativo, este profissional vai se percebendo como parte integrante desse

contexto, de forma dependente, vendo o conhecimento como ponte de ligação entre

ele, seus pares e o seu cenário de aprendizagem.

É muito importante para a pesquisa educacional, para as instituições de

ensino tanto da EB como das IES, a existência desses grupos e Pontes; Menezes

(2010, p. 6) vem esclarecer sobre dois pontos importantes que se relacionam a

esses grupos, que diz respeito à forma como se dá a sua criação e desenvolvimento.

Assim, “as relações de colaboração podem ser espontâneas, se tem origem nos

professores e voluntárias se resultam da sua livre vontade e são orientadas para o

desenvolvimento de finalidades comuns.” Litte (1990 apud PONTE; MENEZES,

2010, p. 6) também analisa as formas de colaboração que se dão entre os docentes

e propõe quatro categorias.

- narrar e procurar ideias – “no narrar e procurar ideias, as interações entre os professores são de simples oportunidade, uma vez que a intenção fundamental é colher novas ideias, em breve trocas de histórias, informais e esporádicas”.

- ajuda e apoio – “na ajuda e apoio os professores mais esperam de outros colegas ajuda para a resolução de um caso difícil, através de uma técnica precisa”.

- partilha – “a partilha tem lugar através do intercâmbio de materiais, métodos, ideias e opiniões”.

- trabalho em co-propriedade – “decorre de encontros entre professores, firmados na responsabilidade partilhada para o trabalho de ensinar

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(interdependência), na ideia de uma autonomia coletiva, no apoio às iniciativas e liderança dos professores no que respeita à prática profissional e na afiliação ao grupo, fundadas no trabalho profissional (LITTLE, 1990, p. 519)”.

Através dessas considerações observamos que os grupos de trabalho colaborativo devem apresentar uma estrutura básica para execução e organização de suas atividades mediante propostas e sugestões de seus participantes.

Neste caso, destacamos os princípios básicos para a formação do grupo.

Segundo Fiorentini (2004, p. 52), todo grupo que tenha esse caráter colaborativo

deve primar pela “voluntariedade, identidade e espontaneidade [...]. A vontade de

querer trabalhar junto com outros professores, de desejar fazer parte de um

determinado grupo, é algo que deve vir do interior de cada um”. De fato, o professor

ao se aproximar do grupo não o fará por uma obrigatoriedade, já que sua

participação surge de uma necessidade de rever seus valores de cidadão que atua

em uma sociedade onde necessita ampliar seus conhecimentos, rever a sua prática,

associar e sociabilizar novos paradigmas que propiciem mudanças na sua ação

docente.

Segundo Fiorentini (2004, p. 53),

[...] as relações no grupo tendem a ser espontâneas quando partem dos próprios professores, enquanto grupo social, e evoluem a partir da própria comunidade, não sendo portanto reguladas externamente embora possam ser apoiadas administrativamente ou mediadas/assessorada por agentes externos.

Santos (2000 apud PONTE; MENEZES, 2010, p. 7), nos diz,

Este trabalho de colaboração existe por decisão expressa dos seus membros, não tendo de nenhuma forma sido imposto por qualquer órgão superior da escola, ou qualquer estrutura do sistema. Surge como resposta a um problema partilhado por todos os seus membros. [...] Existe, deste modo, uma motivação interna sentida por todas.

Concordamos com esses autores, pois os participantes do grupo vão se

aproximando e se envolvendo de acordo com a necessidade de rever e repensar

sobre as situações vividas em sala de aula: a relação professor-aluno, com seus

pares, a melhoria de aprendizagem de seus alunos, índices de reprovação, evasão,

mas principalmente a melhoria da prática de cada um que vai se dando dentro de

um ângulo de reflexão e narrativas de vários casos vividos por eles no percurso da

docência.

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Segundo Ponte e Menezes (2010, p. 7-8), “o significado das coisas emerge

como consequência da interação social que cada um mantém com o seu próximo

(fonte de significado)”. Do mesmo modo, “as interações entre estes profissionais são

geradoras de uma compreensão mais profunda das próprias práticas, através da

reflexão sobre estas, podendo ter efeitos sobre a ação diária dos professores.”

Concluímos, assim, que os grupos de trabalho colaborativo têm uma abrangência na

atuação do professor que participa deste, pois propicia de forma integral a mudança

deste na sua ação docente. Há uma interação social, cultural e ética de todos, pois

cada participante, mediante a sua participação e atuação resgata a sua identidade

como ser social e profissional devido ambos apresentarem histórias de vida,

experiências que os levaram a buscar respostas bem como sugestões para

perseverarem nesta proposta de ser um professor educador.

Os professores buscam reforço profissional na colaboração com colegas em

função da falta de subsídios que as ciências aplicadas à educação deveriam dar

(PONTE; MENEZES, 2010). A preocupação em se estabelecer um espaço para que

se dê esse compartilhar entre professores e pesquisadores visando a uma

participação de todos, leva-nos a pensar que a escola seria um local propício, pois a

[...] negociação, o compartilhar de experiências deveria fazer parte do âmbito da própria escola. Mas, se isso não for possível, há como buscar espaço para esse tipo de trabalho. É possível, também que a constituição de grupos colaborativos extrapole os limites da escola e envolva professores de diferentes escolas e diferentes níveis de atuação (JARAMILLO; FREITAS; NACARATO, 2005, p. 181, apud LOPES; NACARATO, 2009, p. 30).

Um ponto importante sobre a criação e funcionamento desses grupos é a

necessidade de serem flexíveis, ou seja, estarem abertos para reverem novos

acordos, novas ideias, que vão surgindo sobre como trabalhar questões que

envolvam essas relações entre professor, educação básica e academia, pois dessa

forma é possível quebrar esse paradigma de distanciamento entre professores das

IES, professores da EB e a pesquisa educacional, ou seja, essas adversidades que

se percebem no campo do conhecimento (ZEICHNER, 1998). Mediante o

funcionamento desses grupos haverá a abertura para novas pesquisas, novos

experimentos de estudo bem como proporcionará um espaço mais aberto para as

pesquisas educacionais.

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A relação desses grupos com as instituições de ensino superior, em

particular com os grupos de pesquisa dos Programas de Pós-Graduação, dá-se pela

segurança e apoio que recebem dos pesquisadores. A presença do pesquisador é

importante e isso é mais um estímulo para os outros. Segundo Ferreira (2008, p.

190), “o papel de pesquisador desenvolvido no grupo colaborativo, foi extremamente

integrador, pois para expor sua atuação na escola, nos encontros científicos dos

quais participou, cada elemento aprendeu muito”. As reflexões sobre os grupos de

trabalho colaborativo nos leva a perceber que a pesquisa já atingiu um espaço

amplo nas instituições de ensino, e tende a crescer, mas para isso é necessário um

envolvimento maior de professores, formadores e as IES.

Fiorentini (2004, p. 57) afirma, a respeito da manutenção de um grupo de

trabalho colaborativo, que “o apoio mútuo, entre os membros do grupo é

fundamental para a sobrevivência de ambiente colaborativo”. Isto é verdade, pois à

medida que vai se dando esse contato entre todos do grupo, vão-se estreitando os

laços e uma relação de companheirismo em que as dificuldades são compartilhadas

com um apoio que se dá de várias formas. Este autor nos afirma que

[...] a coerência, a consistência e a qualidade da investigação do professor sobre o seu trabalho docente não residem, necessariamente, na filiação e seguimento rigoroso de um determinado enquadramento teórico–metodológico, mas em uma atitude cuidadosa, organizada, ética, reflexiva e crítica de privilegiar seu objeto de estudo, tentando contemplar os múltiplos aspectos do fenômeno educativo e de seus protagonistas, buscando, para isso, os aportes que melhor convém ao caso (FIORENTINI, 2004, p. 71).

De fato, pois a investigação implica em uma reflexão dos pares, e esta

investigação deve primar pela necessidade de melhoria do professor. Se essa

reflexão acontece de forma coletiva terá resultados satisfatórios, pois o grupo de

trabalho colaborativo é uma comunidade que se aproxima pelos mesmos ideais e

objetivos em que o alvo é a melhoria da aprendizagem do aluno e o crescimento

profissional do professor. Fiorentini (2004, p. 71), esclarece

[...] o trabalho colaborativo e a pesquisa colaborativa, entre professores de diferentes instituições e níveis de ensino, tem surgido no mundo inteiro como uma resposta às mudanças sociais, políticas, culturais e tecnológicas que estão ocorrendo em escala mundial. Mudanças essas que colocam em xeque as formas tradicionais de educação e desenvolvimento profissional de professores e de produção de conhecimento.

Diante dessas reflexões, consideramos a atuação dos grupos de trabalho

colaborativo no âmbito de qualquer instituição de ensino um espaço para avaliação

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das atividades e prática dos professores e discussões, visando a novas mudanças

na aprendizagem dos alunos, das relações professor-aluno, ocasionando uma

abertura para ampliação a novos conhecimentos não só na área de atuação

docente, mas uma interação com as outras áreas de conhecimento. Essa melhoria

da qualidade do ensino vai ocorrendo à medida que os pares compartilham suas

dúvidas e suas conquistas e, dessa forma, o ensino se interliga à formação crítica e

reflexiva dos professores da EB como das IES, tendo a pesquisa como ligação

interna e externa que assessora a atuação desses grupos, construídos através de

pensamentos diversos ocasionando um elo de credibilidade. Esses grupos não só

compartilham ideias, mas produzem resultados para a comunidade através de

publicações que são resultados de uma longa jornada de experiências e troca de

saberes. Acreditamos que será dessa forma que a pesquisa educacional terá na

comunidade acadêmica um ponto de referência ocasionando uma quebra de

paradigmas.

As experiências dos grupos de trabalho colaborativo nos levam a perceber

novas formas de se fazer pesquisa de construir e reconstruir as relações entre a

linguagem verbal e discursiva estabelecendo uma ação de comunicabilidade entre

seus atores. E dessa forma estabelecendo entre as escolas; as universidades,

professores e formadores outra perspectiva de se trabalhar a educação. Segundo

Mizukami (2006, p. 10),

[...] a importância de construção de comunidades de aprendizagem nas escolas e nas universidades e comunidades que envolvam professores das escolas e formadores da universidade de forma a propiciar processos de desenvolvimento profissionais mais apropriados à profissão docente.

Convém destacar, pelo esclarecimento dessa autora, que os grupos de

trabalho colaborativo têm um caráter comunitário, pois essas relações acontecem

mediante trocas que estabelecem uma estabilidade de crescimento profissional,

entre aqueles que são formados e os que se formam. Com esse caráter de

comunidade nos grupos, percebem-se contatos de forma direta ou indireta entre a

academia e as escolas e, consequentemente, esse distanciamento entre essas

instituições vão deixando de ocorrer, segundo Grossman e Wineburg (2000, p. 14

apud MIZUKAMI, 2006, p. 13)

O desafio, ao se criar comunidade intelectual de professores no local de trabalho, é o de construir as duas metas simultaneamente, manter um foco

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no aluno ao mesmo tempo em que criar uma estrutura para que professores se engajem como aprendizes das disciplinas que lecionam.

Observamos nessas explicações um fator de vital importância para esses

grupos que seria as relações entre aluno, professor e a diversidade de aprendizado

entre eles, pois, à medida que os professores questionam a sua prática isso reflete

na sua ação pedagógica, no seu ideário, no seu contato didático com esses atores,

pois, a partir desse momento, estabelece-se uma conexão entre o desenvolvimento

profissional desses pares, além do resgate da identidade histórica de todos que

atuam nesses grupos. Segundo Nacarato et al. (2003, p. 2), numa pesquisa sobre

formação de professores de Matemática,

[...] o levantamento feito no estudo mostrou ser ainda o campo de pesquisa, ligado a formação continuada do professor a partir da prática profissional, um terreno um pouco explorado, sendo os estudos que envolvem grupos colaborativos e projetos de parceria entre formadores de professores e professores uma possibilidade de compreensão da constituição profissional do professor.

Concordamos com essas colocações, pois ainda é restrito o estudo e a

pesquisa sobre a formação de professores, relacionando os grupos de trabalhos

colaborativos, devido não se firmar essa parceria de fato entre as IES, e os futuros

professores que saem das universidades para atuarem na EB. É preocupante o

descaso também das políticas educacionais no sentido de não haver um incentivo a

respeito de diversificar programas de estudos ou pesquisa que venha a dar suporte

aos programas de pós-graduação.

Esses grupos, quando funcionam nas escolas, oferecem um ponto de apoio

para os professores como incentivo levando a uma integração e envolvimento de

todo o corpo docente e pedagógico da instituição. Fazemos essa ressalva, pois o

grupo do qual participamos em vários momentos chegou a mobilizar e envolver os

outros segmentos dessa escola. Do ponto de vista do desenvolvimento profissional,

o agrupamento de pequenos grupos é uma poderosa ideia que gera mudança,

principalmente se surgirem de forma espontânea (PONTE; MENEZES, 2010).

De fato, por esses grupos estarem funcionando nas escolas, ocasionam um

trabalho de apoio mais coeso, devido a todos estarem compartilhando o mesmo

ambiente, vivendo os mesmos problemas e se deparando com desafios idênticos. É

fator preponderante entre aqueles que participam desses grupos a organização

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desde o local de encontros, temas a serem abordados, registros das discussões e

narrativas. Pois são nesses momentos que estarão se efetivando troca de ideias,

sugestões e, consequentemente, a reflexão de cada um. Desse modo,

[...] a discussão em torno desta ideia num grupo profissional que trabalha organizado em instituições escolares, e que tem necessidade de estabelecer cadeias de relações com outros agentes educativos visando objetivos comuns só ganha proeminência por individualismo ser ainda, em muitos países, a característica dominante da profissão (PONTE; MENEZES, 2010, p. 9).

Acreditamos que os grupos, sendo aderidos dessa forma, no espaço da

escola, terão mais abertura a um entrosamento, propiciando uma liberdade de ações

tanto com relação ao conhecimento, quanto nas relações profissionais. Mesmo

tendo cada um o seu perfil, eles almejam repensar sobre a prática e se tornarem de

fato um professor pesquisador.

A vantagem da participação de professores nos grupos de trabalho

colaborativo gera novos interesses sobre a formulação do conhecimento científico

para a comunidade acadêmica. É por meio dessa troca que eles contribuem para o

seu crescimento profissional; desse modo é que o professor vai se identificando e se

descobrindo como agente do conhecimento. Vale então destacar que “dessa

maneira é importante a análise do próprio professor dos desafios e das experiências

vividas que poderiam ter influenciado as mudanças, enfatizando a sua percepção do

que ocorreu e ocorre com ele” (POLETTINI, 1999, p. 250).

Consideramos importantes estas afirmações, pois o professor desde a sua

formação inicial até a continuada, que vem a ser a sua atuação na prática docente,

está revendo formas diferenciadas de suas experiências que não foram bem

elaboradas devido a um conhecimento basicamente direcionado ao conteúdo, com

características teóricas desprovido de uma ênfase pedagógica, cheio de lacunas

ocasionado pelo despreparo dos seus formadores. Mas essas experiências são

válidas, pois funcionam como início a novos questionamentos centrados em saberes

técnicos, mesmo estando distantes do prisma didático pedagógico. Conforme

Gonçalves (2006, p. 56),

[...] quando falamos em desenvolvimento sob uma nova cultura profissional, em conhecimento profissional, estamos nos posicionando frente a uma atitude de constante aprendizado por parte do docente, sobretudo de aprendizagem associada à ideia de um trabalho reflexivo e investigativo

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realizado, sobretudo, em grupo. Assim, podemos afirmar que, se um professor reflete individualmente ou em grupo tem uma atitude investigativa, procura ler e busca compreender o que leu, é um docente diferenciado com grande possibilidade de se desenvolver profissionalmente.

É oportuna a visão de Gonçalves (2006), pois ele faz uma relação entre o

professor, a sua ação reflexiva e a forma de como se dá essa reflexão. De certa

forma, o foco leva a uma participação individual mesmo que este pensar se

interiorize no professor, mas quando este estende suas dúvidas a outros pares se

torna mais próximo de repensar sobre o novo que para ele é um desafio. Na troca

que se dá com os pares é que se percebe que nenhuma mudança ocorre em caráter

individual, mas de forma coletiva e colaborativa, em especial através da cooperação.

Vale ressaltar que esse caráter reflexivo pode abranger a academia, em especial ao

formador dos futuros professores. Posicionamo-nos a afirmar que, se esses grupos

fossem organizados ainda na graduação, seria um ponto de apoio e incentivo com

inferência positiva quando estivessem em atividade docente. É basicamente essa a

nossa visão de educação tendo por base uma política aberta ao conhecimento, à

liberdade de pensar e discutir de forma autônoma os interesses que serão os

mesmos para todos.

Dando continuidade a essas questões, que com certeza levam a uma

compreensão mais enfática sobre ação e reflexão da prática do professor, a sua

formação inicial e continuada, bem como as relações que se dá com a academia e

seus formadores, convém citar Zeichner e Liston (1987 apud GONÇALVES, 2006, p.

59) que nos diz: “fica difícil modificar certas rotinas presentes no processo de

formação inicial pela quase inexistência de uma formação pedagógica de alguns

formadores de professores.” Concordamos com ambos os autores, pois essas

mudanças levam tempo para amadurecerem dentro de uma instituição já permeada

por uma política de ensino estruturada com base em currículos ultrapassados

distante de uma cultura social política educacional distante de uma perspectiva

progressista.

Neste espaço de reflexão, consideramos oportuno citar as impressões de

Kilpatrick (1996, p.1) quando nos diz que: “os educadores matemáticos universitários

precisam trabalhar junto com os matemáticos e com professores em sala de aula no

desenvolvimento da teoria e da prática.” É imprescindível essa relação de troca, pois

abre espaços para um estudo e pesquisa de maior credibilidade e aprofundamento.

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Através de leituras e da visão enfática da pesquisa nesta abordagem

destacam-se várias experiências que envolvem professores de diversos campos do

saber. Ressaltamos a colocação de Ferreira (2008, p. 153):

Foge a ideia, passada por alguns estudos, de que o grupo é um espaço pouco estruturado, sem metas bem definidas e objetivos claros de estudo. No caso em pauta, as atividades envolviam estudo, leitura, testes, dentre outras; os participantes buscavam uma meta específica e empenharam-se em alcançá-la de modo persistente e esforçado.

Percebemos nestas colocações uma impressão de sugestões sobre a real

função dos grupos de trabalho colaborativo, as metas a serem atingidas que

envolvem objetivos centralizados na prática do professor. A atuação desses grupos

em qualquer espaço nos leva a entender a validade de uma constante troca de

saberes que vai se dando de forma natural, pois a principal alavanca que vigora

nesses grupos é a melhoria da prática pedagógica de todos numa reflexão conjunta

dos problemas que são enfrentados nos ambientes de aprendizagem. A partir daí,

seguimos com os esclarecimentos de Ferreira (2008, p. 152) que nos afirma: “Os

grupos tem como meta comum o propósito de conhecer melhor a cultura de sala de

aula e, mais especificamente, a prática pedagógica.” Assim,

[...] elementos como: o questionamento, a reflexão individual e coletiva, o confronto entre as próprias e a dos colegas, bem como os aportes teóricos e as investigações desenvolvidas nas universidades e nas escolas, são propiciados pela participação de um grupo colaborativo (FERREIRA, 2008, p. 155).

Consideramos o crescimento profissional do professor a partir das

mudanças que advêm na sua prática, das descobertas de novos instrumentos

metodológicos, da adesão para novos ambientes de aprendizagem, a

conscientização de uma avaliação desmistificadora e, principalmente, da mudança

do professor que sai do seu narcisismo reflexivo para uma visão reflexiva dentro de

uma abrangência cognitiva e metacognitiva. Sobre isso, Ferreira (2008, p. 164)

afirma que “entendemos que a aprendizagem é o motor do desenvolvimento

profissional e da mudança. Aprender é alterar, ampliar, rever, avançar em relação

aos próprios saberes, à própria forma de aprender e à prática pedagógica”.

Consideramos que a abrangência de ideias e trocas de saberes traz

condições de gerenciar, de forma satisfatória, as diversidades que vêm a acorrer no

âmbito do ensino e aprendizagem, tanto do professor quanto do aluno, pois o

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conhecimento não tem fronteiras e deve ser visto a partir de uma visão crítica e em

processo de renovação.

Segundo Ferreira (2008, p. 176)

[...] um grupo colaborativo pode ser estabelecido quando se constitui uma equipe de professores e investigadores profissionais. Neste caso, existe a vantagem de múltiplos olhares sobre a situação educacional o que, como consequência, permite que se produzam quadros interpretativos consistentes sobre a questão investigada.

Consideramos que se há a investigação é porque se pensa em pesquisa,

dessa forma estabelece-se um elo entre o pensar, o refletir no que se deseja mudar,

essas ações se exteriorizam à medida que vai se estabelecendo essa troca de

experiências, levando a se reconstruir de forma conjunta a partir das narrações

destes um novo pensar sobre a prática e a formação desses professores.

Retomando as impressões de Ferreira (2008, p. 176), este esclarece que:

Em relação à atuação dos elementos no grupo de trabalho colaborativo, eles argumentam que é natural a existência de diferentes papéis a desempenhar em uma equipe, sem que isso espelhe necessariamente desigualdade entre os membros: essa diversidade ocorre como consequência dos objetivos do trabalho a ser desenvolvido.

Acreditamos de fato que essas diferenças servem de estímulo para o

processo de crescimento dos que desejam fazer parte desses grupos, pois formam

de fato uma equipe uma comunidade. Dessa forma, os professores continuam a

estabelecer este elo com a academia, que se firma de grande valia para o

reconhecimento e ampliação de seus saberes; no caso, o pesquisador, que funciona

como o idealizador, o incentivador, será a ponte entre esses professores, academia,

saberes e a pesquisa. E o grupo formado será dos que desejam de fato alcançar um

espaço de conquistas, onde o aprender é o vínculo que os levam a remanejarem as

suas práticas docentes. Com base em todas essas colocações, é importante

destacar um ponto sobre a pesquisa, os grupos de trabalho colaborativo e a

abordagem de pesquisa que se enquadram neste espaço de aprendizagem: a

pesquisa qualitativa é a que melhor se adapta a essa abordagem de estudo, pois

está ligada a um processo formativo e aciona vários caracteres que são importantes

na formação do professor. A seguir uma reflexão sobre a relevância da narração

escrita no âmbito dos grupos de trabalho colaborativo.

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2.1.1 A formação continuada nos grupos de trabalho colaborativo a partir da

narração escritas e reflexivas

Há uma preocupação com relação a um novo professor que a sociedade

necessita e idealiza, e os programas de pós–graduação, através de um amplo

trabalho de pesquisa que buscam alcançar esses desafios esclarecendo de forma

precisa à comunidade acadêmica sobre outra realidade educacional de mundo.

Nesse contexto, o professor precisa rever o seu verdadeiro papel, permitindo-se uma

análise sucinta de como deve ser feita essa intervenção na sua área de atuação,

refazendo os seus conceitos e vendo o conhecimento de forma crítica e

transformadora, desempenhando para a sociedade o seu papel de educador, não

mais de um missionário do saber, nem um profissional liberal dentro de uma

educação bancária, mas como um indivíduo que faz parte de um projeto o qual ele

executa e que aciona seus saberes em beneficio de uma educação. Dessa forma,

ele faz parte da criação e execução desse processo de reconstrução do

conhecimento, dessa relação professor/aluno que precisa acontecer de forma

conjunta, participativa e colaborativa.

A educação é uma ação que envolve o professor em todos os aspectos:

político, emocional, afetivo e de conhecimento. Por isso, o professor precisa

compartilhar essas ações para que o seu crescimento ocorra de forma global, ou

seja, do interior para o exterior. Desse modo, sua participação é imprescindível

quando se articula de forma interativa, narrando suas experiências imbricadas de

sentimentos e emoções que se encontram adormecidas. E, por meio expressivo,

seja de forma verbal ou escrita, ele cria laços de autonomia com seus pares e todo o

grupo de trabalho colaborativo. São memórias vividas num passado guardadas no

tempo, mas que ressurgem com emoções de quem busca novos horizontes.

Segundo Cunha (1997, p. 2),

[...] quando uma pessoa relata os fatos vividos por ela mesma, percebe-se que reconstrói a trajetória percorrida dando-lhe novos significados. Assim, a narrativa não é verdade literal dos fatos, mas, antes, é a representação que deles faz o sujeito e, dessa forma, pode ser transformadora da própria realidade.

Mediante este diálogo que estabelece a confiança de um compartilhar com o

outro os seus conflitos que se dão em sala de aula, os desafios lhes levará a

grandes descobertas. Cunha (1997, p. 2) nos adverte sobre as narrativas na

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pesquisa, que consideramos oportuno destacar pelo fato de estarmos utilizando

essa metodologia em nossa pesquisa. Essa autora nos faz pensar que “a narrativa

provoca mudanças na forma como as pessoas compreendem a si próprias e aos

outros”. De fato, quando os professores se expressam nestes momentos, colocando

sua linguagem verbal ou escrita, de forma expressiva, suas experiências vividas

anteriormente, ou atuais, refletem em todos, levando-os a se verem uns nos outros.

Essas narrativas estão interligadas a todo grupo de trabalho colaborativo e

vemos ser importante relacioná-las com o pensamento de Cunha (1997, p. 2)

quando nos afirma que

[...] é preciso que o sujeito esteja disposto a analisar criticamente a si próprio, a separar olhares enviezadamente afetivos presentes na caminhada, a pôr em dúvida crenças e preconceitos, enfim, a des-construir seu processo histórico para melhor poder compreendê-lo.

Essa é a proposta do grupo de trabalho colaborativo, permitir que esse

sujeito se olhe como parte de uma história e que reconstrua seus saberes. Que se

veja como ser coletivo em que a sua participação sendo voluntária o levará a se

conduzir em diversas situações como parte de uma proposta do professor que se

forma e se reforma sempre. No grupo de trabalho colaborativo, os professores

narram suas experiências e refletem sobre situações de ensino que, segundo

Mizukami (2006), é uma forte ferramenta de organização do processo reflexivo do

professor.

Importantes relações devem ser construídas com todos, pois estas refletem

os resultados que vão se dando a cada encontro, devido à necessidade de os

professores exteriorizarem as dificuldades que surgem; que enfrentam em sala de

aula. Referindo-nos a esses grupos, cabe destacar a visão de Shulman (1999, p. 38,

apud MIZUKAMI, 2006, p. 10) sobre casos de ensino em que vemos como parte de

destaque no grupo de trabalho colaborativo: “a utilização de casos de ensino como

uma unidade de análise reflexiva ajudaria na organização do processo de reflexão”.

Os casos de ensino se baseiam em narrativas dos professores com conotações

reflexivas que envolvem sequências de pensamentos, ideias que se cruzam, e se

ajustam, para que mais adiante ocorra uma unificação de novas propostas, visando

à melhoria da práxis de todos, pois atuando nos grupos todos possuem liberdade de

se expressar e expor seu pensamento e sugestões. Sobre os casos de ensino no

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contexto do grupo colaborativo, pode-se afirmar, segundo Mizukami (2006, p. 10),

que “os casos teriam sua função quando se lida com raciocínio, discurso e memória

profissional”. Essa autora traz, nesse sentido, a seguinte contribuição de Shulman

(1996, p. 208 apud MIZUKAMI, 2006, p. 10):

Nós não apresentamos a partir da experiência: nós aprendemos pensando nossa experiência. Um caso toma material bruto de experiência de primeira ordem e coloca-se narrativamente em experiência de segunda ordem. Um caso é uma versão relembrada, recontada, re-experenciada e refletida de experiência direta. O processo de relembrar, recontar, e refletir é o processo de aprender pela experiência.

A partir dos momentos dos encontros há uma explosão de ideias que situa o

professor como parte de um corpo, em que a vontade de buscar novos espaços o

leva à compreensão de que a construção do conhecimento depende de cada um,

pois ele ainda precisa se lapidar saindo do seu narcisismo de experiências, que

estão ultrapassadas, para outra expectativa que é de resgatar os valores que

movem a educação e a sua proposta como professor pesquisador. Vendo a

formação inicial como um ponto de partida para essas reflexões, pois é a experiência

primeira de cada um do grupo. O professor deve se sentir à vontade para discutir e

rever suas práticas, novas teorias e cenários de aprendizagem para a docência.

Nesses espaços de aprendizagem para o professor, há uma troca de erros e acertos

e só se constrói uma aprendizagem coletiva mediante as situações vividas em sala

de aula com ele e seus alunos. Essas situações são, para todos, um desafio que os

conduz em novas propostas para melhoria do ideário pedagógico. De outro modo,

A prática do ensino, sob visão da narrativa, é vista como construída por professores ao contarem e viverem história em suas salas de aula. História de ensino são em parte histórias pessoais formadas pelo conhecimento e valores, sentimentos e propósitos do professor individual. São também histórias coletivas configuradas pelas tradições de escolarização no ambiente que o professor trabalha o contexto social, cultural histórico no qual as histórias são vividas e as regras e os padrões de discurso que tornam possíveis formas particulares de contar histórias (ELBAZ-LUWISCH, 2002, p. 405 apud MIZUKAMI, 2006, p. 11).

A narrativa desses professores leva-os a relembrar fatos e acontecimentos

que servem de incentivo e significado para o seu crescimento como educador.

Quando o professor narra os fatos de sua caminhada, revê no tempo momentos em

que o sentimento afetivo embarga a sua história, pois todo professor tem uma

história que foi construída e se encontra guardada no tempo e em sua memória que

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surgiu por experiências vividas em várias etapas, desde a sua formação inicial até o

momento dos desafios de estar em sala de aula.

Segundo Cunha (1997, p. 3), “a prática com esta experiência tem mostrado

o quanto temos dificuldade de falar ou escrever sobre o vivido. [...]. O discurso

construído sobre esse diálogo é que torna possível transformá-lo numa situação

profundamente pedagógica”. Então, consideramos importantes essas relações, pois

a linguagem tem uma relação com o discurso daquele que narra suas experiências.

Os casos de ensino, que são narrações dos professores, são importantes,

pois desenvolvem a autocrítica e situa este professor no seu ambiente de trabalho

na realidade escolar. “A utilização de casos de ensino pode permitir o

desenvolvimento de processos reflexivos em diferentes momentos e níveis de

ensino” (MIZUKAMI, 2006, p. 10).

As consequências desses processos são os mais diversos: modifica-se o

currículo, discute-se um novo planejamento, uma nova proposta de aprendizagem,

percebe-se a avaliação da aprendizagem com novas perspectivas, surgem outros

instrumentos para uma nova leitura com relação à compreensão dos conceitos

matemáticos, despertando outra forma de ver e fazer pesquisa, dando abertura a

novas propostas e novos desafios para a nossa educação. Os grupos de trabalho

colaborativo muito contribuem para o desenvolvimento profissional do docente que

ensina Matemática. No item a seguir tratamos dessa questão.

2.1.2 O desenvolvimento profissional a partir da participação em grupos de

trabalho colaborativo

É importante notar que, conceitualmente, o desenvolvimento profissional

está fortemente vinculado à formação de professores, já que se dá na prática a

construção de muitos saberes docentes, como diz Lopes (2003, p. 230 apud

NACARATO et al., 2003, p. 13): “o conhecimento profissional dos professores

resultam da interação teoria e prática, é pessoal e manifesta-se especialmente na

ação”. E quando essas relações acontecem de forma conjunta por meio de

narrativas, ocorrendo no percurso de suas atividades, os professores se reportam a

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situações de ensino que envolvem dúvidas, levando-os a enfrentar os desafios com

desenvoltura.

Guérios (2002, p. 17 apud NACARATO et al., 2003, p. 13) se apoia em

pesquisadores internacionais para chegar à seguinte concepção de formação:

[...] o movimento contínuo de elaboração interior que ocorre no âmago da experiencialidade de cada ser humano em sua interação com o mundo, com os programas oficiais, com os conhecimentos institucionalizados e com outros sujeitos.

A partir desse conceito, Guérios (2002 apud NACARATO et al., 2003, p. 13)

chega ao seguinte conceito de desenvolvimento profissional:

Movimento interior protagonizado pelo professor, em sua experiencialidade no trabalho cotidiano, o qual resulta de um processo contínuo de busca permanente de aperfeiçoamento pessoal e profissional e de renovação de seu fazer pedagógico. Ou seja, é um movimento, que se dá em um continum, em que há rupturas e nem recomeço.

Há nesses relatos a repercussão de programas e pesquisas que podem

conduzir estudos sobre as diversas problemáticas que envolvem a formação inicial e

continuada de professores. São essas informações a partir de experiências e

estudos, que permitem perceber uma visão mais ampla do que seja a atuação de

grupos de trabalhos colaborativos que relacionam a formação inicial e os saberes

apreendidos, a formação continuada de professores e a atuação dos formadores,

bem como as relações entre as instituições formadoras dos futuros professores.

Esses grupos auxiliam na reflexão de todos no sentido de os levarem a uma visão

conjunta da necessidade de melhoria do processo ensino aprendizagem.

Heargreaves (1998, p. 277 apud NACARATO et al., 2003, p. 14) nos afirma:

“a colaboração transformou-se num metaparadigma educativa e organizacional da

idade pós-moderna’’. Isso se dá por duas razões: uma pelo “princípio articulador da

ação, do planejamento, da cultura do desenvolvimento, da organização e da

investigação” e outra por ser uma “resposta produtiva a um mundo no qual os

problemas são imprevisíveis, as soluções são pouco claras e as exigências e

expectativas se intensificam”.

É fácil perceber que o professor, quando da sua ação docente, no sentido de

refletir sua prática, considera-se parte de um contexto onde irá contribuir com seus

argumentos e sugestões, indo ao encontro dos mesmos objetivos. E, notadamente,

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os grupos de trabalho colaborativo dão essa abertura para todos os pares irem em

busca de novos espaços para discutirem e conhecerem novas propostas que os

ajudem como mediadores no campo de ampliação e reconstrução de saberes, seu e

de seus alunos. Mas é preciso ação e determinação para que os resultados venham

a surgir, pois esses resultados irão contribuir para a melhoria do aprendizado desses

atores.

Estabelecendo uma relação entre prática, saberes construídos e revistos na

prática docente é que destacamos o pensamento de Tardif, Lessard e Gauthier

(2000, p. 233): “os docentes produzem saberes específicos no decorrer de suas

práxis educativas, e que não são simples mediadores dos saberes produzidos pelos

outros, permite aprofundar o debate sobre a identidade profissional destes atores

sociais.”

Dentro dessa visão que é vai se dando o crescimento dos professores em

todos os ângulos, pois, juntos, discutem sobre seus saberes, e se veem a

abandonar a tradicionalidade do ensino e não centralizam mais sua prática somente

em um dos atores, mas sim em vários atores: professor, aluno. O aluno, a partir de

então, tem uma participação atuante na ação e construção do conhecimento.

Sobre o conceito de desenvolvimento profissional, Ponte (1998, 2009, apud

PONTE; MENEZES, 2010, p. 4) nos diz que

O conceito de desenvolvimento profissional é muito mais amplo e complexo do que o de formação. A formação, em regra geral, inspira-se no modelo escolar e assume a forma de cursos de duração curta. Por seu turno, o desenvolvimento profissional corre em períodos de tempo bastantes apreciáveis e assume formas diversificadas, como projetos, trocas de experiências leituras ou reflexões.

Concordamos com essas colocações e acrescentamos que é nos grupos de

trabalhos colaborativos que vão ocorrendo, de fato, várias mudanças na atuação

docente desse ator, que abrangem desde o seu desenvolvimento profissional até a

sua formação efetivando-se concomitantemente uma mudança que reflete em todos

os caracteres do seu campo de ação. Como exemplo, apresentamos algumas

experiências de grupos de trabalho colaborativo.

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2.1.3 Algumas experiências de grupo de trabalho colaborativo

Referente aos grupos de trabalho colaborativos destacamos o Grupo de

Sábado (GdS)1. Os professores são atraídos pela necessidade de reverem suas

ações em sala de aula visando a um novo pensar reflexivo quando das relações com

seus pares.

Estabelecendo uma comparação entre as várias citações já feitas sobre grupos

de trabalho colaborativo e nos reportando ao GdS, constato uma particularidade: são

profissionais vindos de instituições diferenciadas, com realidades contextuais distintas.

Isto torna mais significativa a ação conjunta desses professores. Fiorentini e Cristovão

(2006, p. 14, grifo do autor), neste ponto, afirmam que

[...] oriundos de comunidades diferentes e com interesses diversos, esses profissionais tinham em comum a prática pedagógica em Matemática. O que os unia, entretanto, não era propriamente suas semelhança, mas as diferenças. Diferenças essas não concedidas como carências ou deficiências, mas como excedente de visão (de um grupo em relação ao outro.

Para Bakhtin (2000, p. 45), o excedente de visão de um grupo em relação ao

outro contém, em germe, a forma acabada do outro cujo desabrochar requer uma

complementação do horizonte sem lhe tirar a originalidade. Para o autor, a nossa

identificação com o outro permite ver o mundo através de seu sistema de valores, da

forma como ele o concebe. Para que isso ocorra “devo colocar-me em seu lugar, e

depois, de volta ao meu lugar, completar seu horizonte com tudo o que se descobre

do lugar que ocupo, fora dele”.

Essas colocações levam a perceber as relações interpessoais que vão

ocorrendo entre os que atuam nesses grupos. É um germe, uma sintonia com base

no desejo de crescer, que ocupa um espaço de forma diferenciada, pois são sujeitos

com aptidões e visões diferentes, mas que anseiam, em comum, ser um professor

com uma visão ampla, abertos a críticas e às mudanças. Esse germe que se

centraliza em uma troca de saberes contagia a todos, pois desabrocham

pensamentos adormecidos que os levam a narrarem pelo incentivo suas histórias

1 O GdS formou-se em 1999 congregando de um lado, professores de Matemática de escolas públicas e particulares da região de Campinas (SP) interessados em refletir, ler, investigar sobre a prática docente de Matemática nas escolas e, de outro, alguns acadêmicos (professores universitários, mestrandos e doutorandos) interessados em investigar o processo de formação

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das ações pedagógicas vividas, dessa forma vai se estabelecendo uma confiança

em atingir o objetivo em comum.

Segundo Fiorentini e Cristovão (2006), grupos distintos de parceiros têm o

seu excedente de visão sobre o outro grupo, considerando as experiências obtidas

de sua própria prática profissional. Observamos nesse ponto que os professores já

apresentam, no bojo de seus conhecimentos, uma bagagem sobre suas

experiências anteriores, e isto atua como referência às ações reflexivas no grupo. É

importante frisar o aspecto motivacional que deve estar presente nos grupos para

que todos direcionem de forma ampla o desejo de crescer como profissional. É a

partir dos vários momentos de reflexões, que professores vão levando ao

conhecimento da comunidade acadêmica os seus resultados, percebe-se um

crescimento e um amadurecimento de propostas que irão servir como ponto de

incentivo para outros. Para Fiorentini e Cristovão (2006, p. 15),

[...] essa motivação foi também influenciada pelas experiências e estudos desenvolvidos durante os anos 90, em todo mundo, os quais mostravam que as transformações da prática escolar e o desenvolvimento profissional do professor não acontecem a partir de teorias e do saber científico - acadêmico nem de cursos de 40 horas por mais organizados e motivacionais que estes possam ser – mas a partir da reflexão e problematização da própria prática; principalmente, a partir do estudo e compreensão dos problemas e desafios da prática docente nas escolas.

Contudo, se não houver uma motivação centrada no desejo de mudanças, o

grupo não dinamiza às propostas as quais se vinculam. Pelo processo chamado por

Fullan e Hargreaves (1997 apud FIORENTINI; CRISTOVÃO, 2006, p. 16) de

profissionalidade interativa “os próprios docentes constroem e desenvolvem, a partir

da reflexão e investigação da própria prática, sua cultura profissional”.

Consideramos oportuno destacar alguns depoimentos desses professores

do GdS, que nos mostram a veracidade dos resultados que se percebe no professor

que reflete sobre a sua prática docente, conforme Fiorentini e Cristovão (2006, p.

19):

[...] a discussão teórica, a discussão sobre os problemas de sala e algumas soluções encontradas por diferentes professores eram extremamente agradáveis, estimulantes e davam uma cor toda especial ao trabalho diário, às vezes muito árduo (Helena).

continuada e de desenvolvimento profissional de professores em um contexto colaborativo de reflexão e investigação sobre a prática (FIORENTINI; CRISTOVÃO, 2006, p, 14).

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O mais importante de tudo foi a discussão [do grupo]. Porque aprendi a olhar o que fiz com um outro olhar, num outro tempo, e vi as coisas diferentes naquilo; aprendi que aquilo tinha valor [E isso] me ajudava a ser uma profissional melhor (JULIANA apud PINTO, 2002, p.133).

A partir dessas impressões citadas esses professores, de fato, estão

repensando sobre seus saberes fazendo uma reflexão sobre suas ações

pedagógicas. Consideramos que, quando os pares narram suas experiências, ou

mesmo quando escrevem, tornam mais fácil esse processo interior de reflexão. Isto

se observa pela fala de um dos integrantes do GdS?

Escrever é difícil. É frequentemente difícil colocar as ideias no papel, ainda que elas pareçam claras e lógicas quando pensamos ou falamos sobre elas anteriormente. [...] Essas dificuldades se originam do fato de que escrever não é apenas comunicar resultados definitivos de uma análise, escrever em si é uma forma de análise. É uma continuação do processo de análise sob uma restrição mais severa, porque precisamos dar contorno e forma aos nossos pensamentos interiores [...] (FIORENTINI; CRISTOVÃO, 2006, p. 21).

Conforme Fiorentini e Cristovão (2006), a dificuldade de escrever se dá por

que a escrita é o resultado de uma análise decorrente do aprofundamento da

reflexão. Para esses autores, quando o professor relata suas experiências aos seus

pares, aprende e ensina. O aprendizado ocorre à medida que precise organizar seu

pensamento para narrar sua experiência e o ensino ocorre devido ter que (re)

significar seus saberes quando escuta a narrativa do colega. Segundo Clandini

(1993, p. 1 apud FIORENTINI; CRISTOVÃO, 2006, p. 30)?

Quando nós ouvimos as histórias dos outros e contamos a nossa própria, nós aprendemos a dar sentido às nossas práticas pedagógicas como expressões do nosso conhecimento prático pessoal que é o conhecimento experiencial que estava incorporado em nós como pessoas e foi representado em nossas práticas pedagógicas e em nossas vidas.

Concordamos com os relatos desses pares que servem de reflexão e levam

a tornarem mais autônomos em suas atividades docentes. Isso é corroborado pelo

pesquisador Jimenez (2002 apud FIORENTINI; JIMENEZ, 2003, p. 9), também

membro do GdS:

Um fato interessante a destacar é que os professores, ao refletirem e narrarem suas experiências e episódios de aulas, para o Grupo, mobilizam e problematizam também os saberes dos outros, de modo que outras situações análogas são trazidas e discutidas a partir daquela colocada/relatada inicialmente. Muitas destas histórias orais de aula depois se transformam em histórias escritas que geram um segundo momento de reflexão para o professor que as escreve e para os colegas que participam do encontro.

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Esta ação ocorre neste grupo e deve se fazer presente em todos os outros,

pois é dessa maneira que, de fato, o grupo é colaborativo. Consideramos essa

atividade, esse momento de encontro, como um estágio de aprendizagem para o

professor, momentos em que todos avaliam suas atuações e suas práticas, o que é

necessário mudar, como executar essas mudanças, e quais seriam os caminhos a

seguir. Observamos que sozinho fica mais difícil vencer esses obstáculos, mas

buscando pela vivência do outro fica mais fácil aderir a novas propostas e enfrentar

os desafios que vão surgindo diariamente no contexto de seu ambiente ou fora dele.

O professor será outro, antes e depois de sua aula, à medida que deseja aderir às

mudanças que a sua ação de mediador do conhecimento se torna visível para todos.

Há também uma experiência interessante apresentada por Maciel, Braga e

Olanda (2008) que narram sua experiência do Grupo de Pesquisa e Produção em

Educação Matemática (GPPEM) formado por um docente da Universidade Federal

do Maranhão e mais duas docentes da EB, cujos resultados foram os seguintes:

O ponto de partida, geralmente, é para os professores uma dificuldade a ser superada, como por exemplo, o “novo” na sala de aula; então, com a colaboração do Grupo, essas dificuldades foram aos poucos sendo amenizadas;

Os professores que desenvolveram experiências em sala de aula passaram a registrá-las para serem lidas e discutidas pelo Grupo, o qual os incentivou a escreverem no formato de artigos;

Com base nos artigos e reflexão partiu-se para publicação dos mesmos em anais;

O GPPEM conta com o apoio do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Maranhão que aprovou o Projeto de Pesquisa no âmbito da universidade (MACIEL; BRAGA; OLANDA, 2008, p. 6).

Seguimos então para apresentar a nossa pesquisa de campo que muito

contribuiu para a formação tanto dos professores envolvidos, quanto para a

formação da pesquisadora.

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2.2 A prática e reflexões na construção de saberes do professor: um

processo mais que individual

A relação entre teoria e a prática no exercício docente se dá à medida que o

professor estabelece momentos de reflexão sobre o seu papel na ação docente. A

pesquisa faz o elo entre esses dois elementos da prática pedagógica do educador

que atua como intermediador do conhecimento no processo educativo. Neste

contexto, observa-se que o professor assume a função de protagonista e mobiliza

sua experiência para a sua prática diária em sala de aula; daí ser importante ele

perceber a sua trajetória e um novo papel no processo educativo.

Sair de um currículo cartesiano, “tradicional, baseado em componentes

objetivos, conteúdos e métodos” que “obedece a definições obsoletas de objetivos

de uma sociedade conservadora” para um currículo dinâmico “que reflete o momento

sociocultural e a prática educativa nele inserida” (D’AMBROSIO, 2012, p. 73-81)

significa para o professor não ser mais o transmissor e o repassador de conteúdos

de conhecimentos em um paradigma repetitivo, mas sim aquele que abre espaço

para aprender renovando os seus saberes; dessa forma reflete sobre como ele deve

gerenciar a sua prática e renovar-se para novos paradigmas, utilizando para isso

novos instrumentos que irão proporcionar uma troca de saberes entre o professor

que se reforma e os alunos que atuam como sujeitos desse processo educacional.

Dessa forma, o professor desempenha um novo papel na sociedade

contemporânea, pois segundo o autor, “o novo papel do professor será de gerenciar,

de facilitar o processo de aprendizagem e, naturalmente, de interagir com o aluno na

produção e na crítica de novos conhecimentos, e isso é essencialmente o que

justifica a pesquisa.”

Esta nova visão para o professor o encaminha para um status de ser um

educador. Quando ele questiona, reflete e observa sua própria prática, torna-se um

novo personagem do processo ensino aprendizagem, diferente daquele tradicional.

Neste espaço crítico em que se processa a reflexão, bem como a relação entre

teoria e prática, ele se torna um pesquisador de sua própria prática. Desse modo,

temos um professor pesquisador que pode contribuir no seu espaço de trabalho

educativo.

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O papel do professor, a sua importância na atuação docente como também

a sua relação na escola, o seu discurso e a sua Linguagem se transformam, pois a

pesquisa é fator preponderante na relação teoria e a prática.

Segundo D’Ambrosio (2012, p. 74), “nenhuma teoria é final, assim como

nenhuma prática é definitiva, e não há teoria e prática desvinculadas”. Por isso,

consideramos a formação do professor, no âmbito da escola, ser importante para

alargar a sua proposta de educador e protagonista do processo da aprendizagem.

Sua formação inicial obsoleta e defasada o leva a ampliar seus conhecimentos a

partir da prática, renovando seus saberes e percebendo-se como parte desse

processo de mudança.

Isso faz pensar em um novo personagem que se envolve com novas metas

e novos processos, abrindo espaço para novas ideias e tendo como aliada a EM que

preconiza a pesquisa como meio de levar o professor a se formar como um futuro

formador independente, vendo-se como um novo professor assessorado por novas

teorias. É neste momento que se percebe o professor sendo o educador, saindo da

zona de conforto para a zona de risco (SKOVSMOSE, 2000), levando-o a mudanças

no contexto de sua formação, saindo do paradigma dos exercícios (zona do

conforto) e indo para a zona de risco que o leva a mudança de suas ações

pedagógicas. Percebe-se uma mudança no cenário do ensino e aprendizagem, pois

assim surge um novo professor: um professor reflexivo.

D’Ambrosio (2012, p. 74) nos esclarece que “o grande desafio para a

educação é pôr em prática hoje o que vai servir para o amanhã”. Esta sentença leva

a pensar em ideias e mudanças, pois o professor traz de sua formação inicial uma

bagagem teórico-prática superficial, identificada quando do exercício da docência.

Entretanto, é na vivência que ele abrirá espaço para novas experiências permitindo

construir e reconstruir novos saberes que o leva a uma prática diversificada, distante

da zona de conforto, conectada a novos instrumentos para uso em sala de aula

mobilizando-o em um novo cenário de aprendizagem e investigação de sua prática

(SKOVSMOSE, 2000). É dessa forma que se dá a formação continuada, onde

saberes articulados precisam ser revistos por meio de um diagnóstico individual e

coletivo, pois a formação continuada do professor não se dá somente de forma

individual, mas também de uma forma colaborativa e coletiva, pois se traduzem em

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momentos de tomadas de decisões que envolvem professores e os seus alunos,

significando um trabalho de parceria que atrai vários segmentos da escola, como

também da academia, que engloba estudo, pesquisa atuação e determinação, cujo

objetivo é o crescimento do professor como profissional e o foco é o aluno que, de

forma direta, está envolvido neste processo de mudanças.

Neste contexto, a escrita pode conduzir o professor de Matemática a novas

ações cognitivas e metacognitivas em um processo de troca com seus pares em que

a ansiedade e experiência se cruzam construindo um campo de afetividade entre

esses atores que participam desse processo, visando à afetividade e à

aprendizagem dos alunos em relação à Matemática. Acreditamos que os cenários

para investigação (SKOVSMOSE, 2000) estão intrinsecamente ligados à formação

do professor e se relaciona efetivamente à pesquisa, pois induz a descoberta tanto

da parte do professor quanto da parte do aluno, fazendo com que o professor esteja

presente em vários momentos nas atividades e atitudes daquele que o levará

também a construir de forma autônoma e colaborativa o seu conhecimento, tendo

como apoio o raciocínio matemático.

Sobre esta nova postura do professor com relação à pesquisa e a EM é que

Kilpatrick (1996, p. 99) nos esclarece: “a formação de professores continua sendo a

função maior da EM, paralelamente à busca do conhecimento sólido para ser

aplicado”. Consideramos, de fato, que essa relação advém de todo um processo

histórico, pois o professor não atingirá os resultados positivos no processo de sua

formação se não estiver intrinsecamente ligado à pesquisa. Pensando nisso, cabe a

reflexão sobre o papel da pesquisa sobre a formação e desenvolvimento do

professor.

Entendemos que a pesquisa é fundamental no desenvolvimento dos

docentes, pois conforme Gonçalves (2006, p. 56), “é a pesquisa que vai

redimensionar a prática e as teorias do docente, revitalizando e produzindo os

saberes da ação pedagógica”. Desse modo, ele se envolve como um professor que

tem a teoria como base para uma nova prática. Assim, ele se torna um professor

reflexivo. É que o professor efetiva de forma crítica o seu processo de crescimento,

de forma oral ou escrita, revendo o seu papel na sala de aula, na escola, se

contrapondo aos paradigmas tradicionais. E isto vai acontecendo à medida que ele

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se vê como formador e organizador de sua formação como agente crítico do

conhecimento.

D’Ambrosio (2012, p. 77) sintetiza as qualidades de um bom professor em

três categorias: “1. Emocional/afetiva; 2. Política; 3. Conhecimentos”. São três

etapas que se encontram interligadas e que acompanham a caminhada desse ator

protagonista da docência que marcha na construção e reconstrução de novos

saberes. Existe uma relação entre seu discurso, sua linguagem, enfim, com sua

proposta política e a afetividade que vem a desenvolver com o seu aluno e a

Matemática. O conhecimento dos conceitos matemáticos engloba um professor

educador; um cidadão que sai de um espaço de saberes através de sua experiência,

para possibilitar uma reflexão crítica que proporciona uma projeção no sentindo de

um novo conjunto de ideias ajudando-o a se formar a partir de sua docência.

A Educação é uma ação política e esta não se distancia da proposta do

professor, pois reflete na e sobre sua formação, levando-o para o campo dos

saberes através de suas experiências, melhorando a sua formação e sua relação

com a prática pedagógica e o seu crescimento profissional. Neste contexto, Cunha

(1989, p. 29) nos esclarece que, “a ideia de que o educador se educa na prática da

educação é fundamental para reorientar a pesquisa e a ação daqueles que se

envolvem com a área”. Percebemos pelas considerações da autora que a formação

continuada ocorre à medida que o professor se vê como educador, vindo a se tornar

um pesquisador da sua própria ação docente.

Neste espaço, é oportuno estabelecer uma relação entre o educador e o

professor que questiona as suas ações didáticas em momentos de debates com

seus pares, onde ele narra as suas experiências, esclarece as suas dúvidas e

constrói novas expectativas junto com outros professores. É o grupo de trabalho

colaborativo em ação. Isto vai se dando como se fossem memórias guardadas no

tempo que se exteriorizam de forma dinâmica e criativa. É um ambiente de

aprendizagem no qual todos se veem como aprendizes. São reflexões de um sujeito

que fala sobre a sua prática buscando mudanças na sua formação, a partir do

envolvimento com outros atores, como seus pares, seu alunos, e a escola como

instituição gerenciadora do conhecimento.

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Sobre essas questões, Cunha (1997, p. 3) nos diz: “não basta dizer que o

professor tem de ensinar partindo das experiências do aluno se os programas que

pensam sua formação não os colocarem, também, como sujeitos de sua própria

história”. É o professor que através do seu cenário constrói a sua performance e

através de suas narrativas junto a outros companheiros, ele vai resgatando a sua

origem como pessoa e educador, inteirando-se da sua identidade com base em suas

referências pessoais, reorganizando sua proposta educativa dentro de uma

perspectiva criativa, dinamizando o seu currículo no âmbito de sua proposta de

professor pesquisador.

Pensando na importância do papel da escrita e leitura na formação do

professor de Matemática, consideramos fator preponderante o envolvimento das IES

na abertura de espaços para que o professor participe como pesquisador de sua

prática atuando, não só como agente reflexivo nas atividades docentes no espaço

da sala de aula, mas como aquele que estuda, narra suas experiências e as leva ao

conhecimento da sociedade, em especial a academia, quando da sua pesquisa

educacional. É dessa forma que se abre espaço para que o professor se conheça e

se reconheça como um pesquisador e para que a pesquisa na educação venha a

ser o foco de resgate de sua identidade como educador. A escrita do professor

narrando suas memórias docentes tem sido muito estimulada internacionalmente,

pelo fato de que escrevendo eles se tornam autores de sua formação e

desenvolvimento (LOPES; NACARATO, 2009).

Esse processo de formação, a partir da reflexão crítica e narrativa a partir da

escrita e leitura, nem sempre é natural ou habitual nos cursos de licenciatura, pois

segundo Gonçalves (2006, p. 19), “a formação e o desenvolvimento profissional não

tem sido trabalhados nos cursos de formação inicial de forma articulada. Primeiro

dá-se a formação inicial, depois se trabalha a formação continuada”. Segundo o

autor, essa formação articulada se daria visando a um conhecimento estruturado a

partir de uma relação entre a teoria e a prática que estaria presente, quando da

atuação do licenciado como professor.

Pesquisas mostram, em relação à formação dos professores, que muitos

conhecimentos são buscados por eles quando já em exercício docente e, nesse

caso, eles buscam soluções coletivas continuamente. Fiorentini e Nacarato (2005

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apud FURKOTTER; MORELATTI; FAUSTINO, 2007, p. 4) ajudam a entender esse

processo quando ressaltam que na formação inicial alguns aportes teóricos “não são

oferecidos aos professores, mas buscados à medida que forem necessários e

possam contribuir para a compreensão e a construção coletiva de alternativas de

solução dos problemas da prática docente nas escolas”. Consideramos que seja

necessário estabelecer uma relação entre esses dois momentos que são para o

futuro professor estágios de aprendizado que o levarão a perceber a educação como

um parâmetro na execução de suas ações de ser um professor que busca, através

de sua formação, repensar de forma crítica sobre a nova dinâmica de ensinar.

Neste pensamento, destacamos Tardif, Lessard e Gauthier (2000, p. 220)

que dizem que “qualquer que seja o ponto de partida das diversas posições, a

reforma da profissão e a reforma dos programas de formação entram em cena, o

que leva indiscutivelmente à questão dos saberes de base da prática docente”.

Partindo da análise desses autores, que se faz necessário refazer o trato de como

se desenvolve e se percebe os programas para a formação de professores que

atuam em especial na EB. Sobre isso Ibernón (1994, p. 50 apud GONÇALVES,

2006, p. 26), considera que

[...] [os docentes formadores] deveriam proporcionar condições aos futuros professores de serem capazes de analisar, criticar e refletir de uma forma sistemática sobre sua prática docente com objetivo de conseguir uma transformação escolar e social, e uma melhoria na qualidade do ensinar e de inovar.

Atualmente, a partir das novas propostas das IES e dos programas de pós-

graduação que contribuem apoiando a formação de grupos colaborativos pode-se

construir um novo olhar para a educação. Partindo das sugestões de Mizukami

(1996 apud PEREZ, 1999), a reflexão oferece-lhes a oportunidade de se

conscientizar sobre as crenças, valores e suposições subjacentes à sua prática.

Possibilita também autoavaliarem sua atuação no alcance de metas estabelecidas e

lhes permite articular suas próprias compreensões e a reconhecê-las em seu

desenvolvimento pessoal. Concordamos com a autora, pois o professor precisa

tratar das adversidades que se reportam à sua prática de forma conjunta,

constituindo assim um trabalho entre pares (GONÇALVES, 2006). A partir desse

apoio, o professor estará se preparando para novos desafios que vão surgindo

possibilitando-lhe a se ver como cidadão que se forma e se reforma para que no

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ambiente de sala de aula, sinta-se aberto a novas conquistas, como nos diz Freire

(2002, apud GONÇALVES, 2006, p. 23): “quem forma se forma e re-forma ao formar

e quem é formado forma-se e forma ao ser formado... quem ensina aprende ao

ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Nesse contexto, tanto o docente

formador quanto o docente que está a se formar, estabelecem entre si troca de

saberes que são articulados mediante a teoria e a prática.

Segundo Fiorentini e Lorenzato (2006, p. 49), até 1990, os estudos sobre os

saberes apresentados pelos docentes eram de baixo nível em relação à

compreensão e domínio do conhecimento matemático a ser ensinado e que um dos

estudos que tem sido relevantes nas ultimas décadas é o “estudo de alguns

programas de formação continuada ou permanente”. E a vivência de toda essa

bagagem adquirida na formação inicial se dará quando da atuação do professor em

sala. Neste caso, referimo-nos a EB, pois é nesse espaço que ele vai se deparar

com o desafio de ser professor, um cidadão que está se formando quando executa a

sua prática em sala de aula numa nova e longa jornada que o levará a enfrentar os

desafios como reflexões que proporcionam um contínuo refazer da prática

pedagógica.

A formação desse professor, segundo Cunha (1989, p. 29) “depende da

concepção que se tem de educação e do seu papel na sociedade desejada”, e isto

deve ser considerado nas propostas dos cursos de formação inicial, pois este

professor que atuará neste espaço de mudanças tem uma história de vida que

acompanha o seu novo perfil para a educação. Sua cultura e seus valores éticos

interferem de forma ativa na sua proposta de contribuir para a melhoria da educação

no país e na escola.

Preocupado com a contribuição da academia na formação do professor,

Zeichner (1998, p. 217) nos chama atenção sobre a importância da pesquisa

educacional e essa relação professor e academia quando nos diz que “há muitas

coisas que precisam ser feitas para reestruturar a relação social, política e

econômica da produção do conhecimento”. No entanto, a relação entre professor

formador e os futuros professores se faz distante, pois a academia nem sempre se

abre para as produções dos professores da Educação Básica. Há um descrédito

com relação às produções que são resultados de experiências vividas por eles. O

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autor se refere a este distanciamento da academia com relação às escolas,

asseverando que estas situações interferem de forma negativa na formação

continuada dos professores. Isto é muito importante para que o professor se sinta

valorizado em suas atividades docentes como na sua formação, pois a pesquisa em

qualquer ângulo de análise tem relação direta com seu crescimento profissional.

D`Ambrosio (2012, p. 86) corrobora com Zeichner (1998) quando afirma que

“o professor na sala de aula efetivamente contribui, mesmo que sua pesquisa seja

olhada com desdém e às vezes até não seja reconhecida pelos acadêmicos”.

Consideramos este ponto significativo, pois é no seu ambiente de trabalho que o

professor aprende a se tornar um pesquisador. São nessas relações vividas no

contexto da sala de aula que são construídas histórias que vem a se tornarem

experiências que tomam corpo de relatos vividos e experenciados por estes

professores.

Segundo Gonçalves (2006, p. 25), essa relação entre a formação docente e

sua atuação profissional acontece por que “o desenvolvimento profissional do

professor se dá na sua prática docente, na sua ação individual, nos movimentos de

ação coletiva, nas reflexões sobre a prática e nas pesquisas que têm como objeto de

estudo seu trabalho docente”. À medida que vai se dando essa relação professor da

EB, pesquisa e academia aflora-se no professor a confiança de se sentir capaz e

valorizado como aquele que contribui com seu conhecimento para um novo legado

para a escola que atua como também aquele que investiga a sua prática

pedagógica. Prosseguindo com o pensamento do autor, ele cita que

[...] é nesse processo e nesses percursos que o professor constrói sua competência profissional que, segundo Imbernón (1994, p. 28), é entendida como constituída de “habilidades profissionais, as quais, além da capacidade de trabalhar em grupo, se vai interiorizando no pensamento teórico e prático do docente por distintas vias, entre elas a formação a partir da próprias experiências (GONÇALVES, 2006, p. 25),

Acreditamos ser de forma conjunta e colaborativa que conseguiremos atingir

a meta da valorização do professor saindo da visão de repassador do conhecimento

para o professor que passará a ter um novo papel de agente mediador desse

conhecimento.

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Quando D`Ambrosio (2012) se refere à ação do bom professor, vemos uma

relação com a formação deste professor, e esta abordagem é um desafio para o

futuro de uma sociedade, como também para a EM, que funciona como um elo para

novos pressupostos e paradigmas no sentido de esclarecer sobre esta temática,

abrindo espaços para novas abordagens em relação à formação do professor e a

sua atuação no contexto da Educação Matemática.

Todas essas considerações podem servir como um norte que levará o

professor de Matemática a buscar seu crescimento profissional, a renovar sua

prática, sua atuação em sala de aula a partir do momento que vê a pesquisa como

meta para que aconteça sua formação continuada. Mas essa formação vai mais

além, através de sua participação em programas de qualificação docente e grupos

de pesquisa colaborativos que o levará a se ver como professor que articula e

questiona os seus saberes, em particular aqueles oriundos de sua formação inicial,

compreendendo que a sua formação é um processo contínuo.

Tudo isto o levará a perceber novas formas de trabalhar os conceitos

matemáticos, conscientizando-se que a pesquisa educacional é um dos momentos

também que se relaciona à sua formação, de forma a melhorar a sua prática. Sobre

isso, Bicudo (1992, p. 7 apud FIORENTINI; LORENZATO, 2006, p. 74) afirma que

“quando o professor de Matemática interroga o que faz ao estar-com-seus-alunos na

sala de aula de Matemática e persegue sua interrogação de modo sistemático e

rigoroso, está realizando pesquisa.” A pesquisa não seria uma regra para formação

do professor, nem uma receita para sua atuação em sala de aula, mas sim o ponto

chave desde sua formação inicial e, principalmente, na sua formação continuada,

que são os vários momentos vividos em sala de aula.

Os momentos em sala se constituem em um enfrentamento para o professor

e são esses desafios que o levam a buscar novas formas de intervir e redimensionar

sua prática. São nesses momentos de indecisões, que ele busca repensar sobre o

que foi feito, e o que precisa ser reconstruído. Momento em que se inicia seu

processo investigativo sobre suas ações direcionando-o a analisar dilemas,

dificuldades e potencialidades que emergem de suas práticas pedagógicas. É dessa

forma que percebemos essa relação intrínseca entre pesquisar e refletir sobre todo

esse contexto de atividades e propostas no ambiente de aprendizagem, e no papel

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desse professor, como ator participativo desse processo. São momentos de

decisões do professor de como ele se vê, e qual seria a tomada de decisão que

compete somente a ele buscar como alternativas que o leve a ação e reflexão de

sua proposta pedagógica. E são várias as situações com que este professor se

depara. Sobre isso Ponte (2008, p. 2) nos diz que:

Na sua prática quotidiana os profissionais da educação defrontam-se com uma grande variedade de problemas, muitos dos quais de grande complexidade. Basta pensar em problemas como: o insucesso dos alunos relativamente a objetivos de aprendizagem curricular e até os objetivos básicos de socialização, e enculturação; a desadequação dos currículos; em relação às necessidades dos públicos a que se destinam; o modo ineficaz e desgastante como funcionam as instituições educativas; a incompreensão de grande parte da sociedade, a começar pelos meios de comunicação social, para as condições adversas em que trabalha a educação.

Esses desafios que os professores encontram em sua prática exercem um

sinal de alerta de que é hora de investigar, sobretudo efetivar uma análise de como

está se dando suas intervenções em sala de aula, que atitudes devem ser

repensadas. Ponte (2008, p. 2) sobre isso ainda nos esclarece que:

A investigação dos profissionais sobre a sua prática pode ser importante por várias as razões. Antes de mais, ela contribui para o esclarecimento e resolução dos problemas, além disso, proporciona o desenvolvimento profissional dos respectivos actores e ajuda a melhorar as organizações em que eles se inserem; e, em certos casos pode ainda contribuir para o desenvolvimento da cultura profissional nesse campo de prática e até para o conhecimento da sociedade em geral.

Concordamos com Ponte (2008), pois acreditamos ser dessa forma que o

professor conseguirá ultrapassar os obstáculos que advêm quando está inserido no

contexto de uma instituição de ensino, em especial na sala de aula que é o seu

primeiro espaço de troca de saberes. Devido às controvérsias enfrentadas, às

mudanças no panorama educacional, questões de ordem social e cultural, existe a

necessidade de ver o cenário de trabalho com um novo olhar, mas um olhar crítico,

desejando contribuir para as mudanças que devem ser realizadas mediante um

processo investigativo dele, com seus pares.

As relações entre pesquisa e prática se interligam com um objetivo: a

construção de um novo conhecimento, tendo como eixo a troca de saberes. O

objetivo dessa relação é não tornar o professor um pesquisador profissional, mas

habilitá-lo para o uso da investigação como ferramenta de enfrentamento aos

problemas diários da prática pedagógica (PONTE, 2008).

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A partir dessas considerações constatamos que investigar é refletir de uma

forma abrangente sobre o que fazer, como fazer, de forma que este pensar leve a

uma ação conjunta e colaborativa. Então, quem investiga, relaciona e repensa,

busca soluções, que precisam ir ao encontro de uma necessidade visando à

melhoria de uma aprendizagem, primeiro para o professor e consequentemente para

os alunos. Assim, podemos dizer que:

A experiência ou a prática quando são produzidas com certa rigorosidade metódica, tornam-se formadoras, pois possibilitam ao professor aprender com o trabalho docente. Ao ensinar, o docente aprende e, no ato de ensinar, produz outras relações, aparecendo outros significados que ajudam o professor a rever a experiência inicial (FREIRE, 1999, p. 25 apud GONÇALVES, 2006, p. 142).

Esta análise leva à percepção da influência na formação inicial e das

práticas trabalhadas pelo formador quando nas IES e a influência dessas práticas na

ação investigativa desses futuros professores, quando da formação continuada, pois

esses saberes oriundos da sua formação inicial servem de ponte para as tomadas

de decisões que os levam a aderir outras etapas de ação-reflexão.

Quando é feita referência à escrita e às leituras no contexto da

aprendizagem dos professores, estabelece-se um elo entre pesquisa, investigação

direcionada a uma prática reflexiva do professor. Os professores devem ser

estimulados a essa prática e são incentivados por parte de alguns programas de

pós-graduação, que envolvendo professores da EB, estimulam a prática da narração

escrita, contribuindo assim para estimular os processos metacognitivos na formação

contínua de professores.

2.3 A escrita e a leitura como fonte de narrativas e reflexão do professor em

sua prática em aulas de matemática

A formação do professor que articula em seu cenário os conceitos da

Matemática se apresenta com várias lacunas. E são muitas variáveis que estão

envolvidas nesta temática; dentre elas, destacamos: dificuldades de interpretar e

compreender os conceitos matemáticos, falta de reflexão nas suas práticas

docentes, descontextualização na abordagem de seus saberes, conhecimentos

desprovidos de uma riqueza didática etc.

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Enfim, há um perfil de professor que defende um caráter conteudístico e se

faz distante de outras perspectivas que dinamiza a forma de como se relaciona com

a Matemática, suas relações afetivas comunicativas e linguísticas com os alunos e

os conceitos matemáticos. Isto impede a construção com os alunos de outro cenário

de aprendizagem. Falta-lhe o estabelecimento de uma relação de parceria, em que

se busca efetivar uma nova proposta de ensino com abordagens diferenciadas,

vindo a resgatar uma nova proposta histórico-metodológica para essa ciência.

Mas nem todos que participam do sistema de ensino nas escolas, no caso

os professores da EB, se motivam a aderirem a essas propostas que nos permitem

resgatar uma Matemática com novos conceitos, outras abordagens que a torna mais

significativa para uma diversificação de novos saberes. Sobre essa questão do

resgate da Matemática, que se sabe ter relação com sua história, diz D’Ambrosio

(2012, p. 25), “não se pode entender o conhecimento sem se atentar para o ciclo

completo do conhecimento, desde sua geração, organização intelectual e social,

transmissão, expropriação, institucionalização e difusão”.

Concordamos com esta visão por entendermos que há uma relação entre os

processos históricos da Matemática e o conhecimento matemático, pois essa ciência

abrange uma linha de pensamentos que vem de gerações que ontem, por meio de

lutas e conflitos, criaram espaços para que hoje pudéssemos dar continuidade

através da criação de outros paradigmas e organizar novas metas de pesquisa para

que aconteça o resgate desse legado histórico que se dá entre Matemática e o seu

conhecimento, que vem se ampliando à medida que a EM se infiltra nas IES e nos

programas de pós-graduação.

Alguns professores veem o ensino como um meio técnico de repasse dos

conteúdos atende-se a um método de ensino repetitivo, memorístico, que prioriza

classificação através de um processo avaliativo que não alcança os objetivos

maiores da educação que seria o aprendizado do aluno. Este tipo de processo

ensino-aprendizagem, sem estar integrado com uma avaliação formativa, ocorre de

uma forma que distancia os meios e os fins, descaracterizando as competências e

habilidades dos alunos, vendo os resultados alcançados por estes como meros

apontamentos sem nenhum valor afetivo e representativo de uma real aprendizagem

(MACIEL, 2003).

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Desse modo, consideramos ideal que o professor de Matemática diversifique

seus saberes e amplie seus conhecimentos para que aconteça na aprendizagem um

entendimento do que seja o seu papel, envolvendo-se em grupos que o auxilie a

discutir a sua prática, rever conceitos e intermediar saberes. Sobre isto, afirma

Polettini (1999, p. 255) que “a ideia de que as concepções, conscientes ou

inconscientes, a respeito da Matemática e do seu ensino, desempenham um papel

significativo na prática do professor e tem sido considerada”. Observa-se pelas

colocações da autora que o professor ainda não sabe interpretar aquilo que está

buscando conhecer; falta um olhar deste sobre o cerne daquilo que lhe parece

duvidoso.

É perceptível a importância de enfatizar sobre a necessidade de o professor

ser um pesquisador de suas ações no seu ambiente de aprendizagem, sendo aquele

investiga para questionar e refletir em busca de soluções, que diversifiquem a sua

prática em sala com seus alunos. Retornamos às considerações de Polettini (1999,

p. 255) sobre essas questões, quando afirma: “o conhecimento e crenças do

professor sobre a Matemática e o ensino e a aprendizagem da Matemática parecem

ser fortemente influenciados por suas experiências prévias como estudante de

Matemática.”

Por meio dessas colocações, percebemos que essa forma de trabalhar os

conceitos matemáticos através por meio de uma cultura que vem se arrastando há

tempos, um projeto anterior que vem perdurando através de uma reprodução que

dificulta o professor a mudar a sua atuação no contexto educacional, tanto

acadêmico e em especial na EB, o leva a criar uma desvantagem com relação a ele

e a Matemática; abrindo várias lacunas e, consequentemente não motiva seus

alunos a assimilarem esses conceitos que são repassados de uma forma que não

desperta a criatividade, por não dinamizar a sua prática.

Pensando nisto, há a necessidade de mudanças desse professor para que

se adapte aos novos paradigmas que se reportam ao ensino da Matemática e a

recapitulação de uma forma dialética e crítica de seus conceitos. Para isso é

necessário que haja “mudanças que ocorram à medida que ele se torna mais

consciente de como resolver problemas e a que custo, quando expõe sua prática ao

escrutínio crítico” (POLETTINI, 1999, p. 256). Concordamos com a autora, pois as

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mudanças vão ocorrendo com este professor à medida que se abrem espaços para

investigar a sua prática, buscando alternativas onde se percebe uma reflexão crítica.

Nestes dois momentos ocorre a cognição e a metacognição que irão se justapor em

sua aprendizagem como educador e oferecer meios de viabilizar outros instrumentos

que o ajude a concretizar essa ação reflexiva que ocorre com ele, a Matemática e

com a aprendizagem da Matemática.

Esse processo de reflexão se traduz a partir do uso da linguagem. Uma

linguagem que pode ser a própria atividade do sujeito que atua em seu contexto, de

modo emancipativo ou não, como uma ferramenta de comunicação.

2.3.1 A linguagem como atividade e sua implicação nos processos da

educação matemática

O homem para se desenvolver utiliza uma linguagem própria que traduz seu

próprio fazer e o modo característico de circular socialmente no meio em que vive.

Esta visão traduz um dos modos de entender a linguagem. Desse modo, a

linguagem é a própria realidade vivida pelo ser que se relaciona no meio habitual.

Segundo Gracia (2004 apud VILELA; MENDES, 2011, p. 8)

A linguagem não é um simples veículo para expressar nossas ideias, nem uma simples roupagem para vestir nosso pensamento quando o manifestamos publicamente. Ela é a própria condição do nosso pensamento e, para entender esse último, temos que nos concentrar nas características da linguagem em vez de contemplar o suposto mundo interior de nossas ideias. Nosso conhecimento não se radica nas ideias que dele fazemos; ele se abriga, sim, nos enunciados que a linguagem nos permite construir para representar o mundo.

Assim, o significado das coisas depende do contexto e do “jogo de

linguagem de que participam” (VILELA; MENDES, 2011, p. 13). Essas autoras,

baseando-se na filosofia de Wittgenstein, diferenciam quando a linguagem é

utilizada de forma normativa ou de forma descritiva. Dizer que azul é uma cor,

estamos normatizando ou definindo o que significa a palavra “azul”. No entanto, ao

dizer que algo é azul, estamos descrevendo uma coisa. Matematicamente, a palavra

“triângulo” pode ser usada para sintetizar um conceito geométrico, mas em outro

contexto pode ter outro significado como aquele relacionado a relações amorosas.

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Podemos também perceber, baseados em Bakhtin, a relação da linguagem

com a ideologia. Para esse filósofo,

[...] linguagem e pensamento constituem uma unidade; assim, a língua não é apenas a manifestação externa do pensamento, mas é aquilo que o torna possível, residindo aí o caráter constitutivo da linguagem: a língua é um processo e não um produto (VILELA; MENDES, 2011, p. 17)

Já o filósofo Foucault contribui nessa discussão sobre o uso da linguagem

quando releva a função do discurso relacionado à luta de poderes. Usar a linguagem

de forma discursiva possibilita uma fuga ao todo harmonioso que uma comunicação

que tem fundo ideológico produz. Em processo do ensino de Matemática, na

perspectiva discursiva, “o estudante precisa aprender a falar sobre, a buscar pistas

na fala do professor, dada a posição que é conferida a este no discurso pedagógico,

e a dar as repostas que são requeridas, tanto oralmente como no registro escrito”

(VILELA; MENDES, 2011, p. 22). Vejamos, a seguir, a linguagem como forma de

comunicação do processo reflexivo do sujeito, e em particular, do professor de

Matemática.

2.3.2 A narração como forma de expressão da reflexão da prática docente em

aulas de matemática

Destacamos neste ponto, ser a escrita, na formação de professores que

atuam no contexto da aprendizagem, uma ferramenta que funciona como

instrumento de reflexão de sua prática, pois articula para o professor novas formas

para a sua aprendizagem na construção e reconstrução de outros saberes. Sobre

isto consideramos o pensamento de Freitas e Fiorentini (2008, p. 139) que, nos

esclarecem o seguinte:

Verificamos que os futuros professores de Matemática apresentam dificuldades em colocar no papel suas reflexões e seus pensamentos, o que leva a supor que os cursos de graduação em Matemática pouco enfatizam e exploram as interações mediadas pela escrita discursiva.

Essas dificuldades são históricas, considerando o mito de que a Matemática

é uma ciência que só se expressa algebricamente, de modo formal. Mas quando os

professores se encontram e discutem suas práticas percebem a necessidade de

escrever sobre o que vivem no exercício da docência. Seguem algumas

considerações de um professor sobre a ideia de escrever sobre sua prática,

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registradas em Pinto (2002, p. 100): “Me pareceu que a ideia de escrever veio

quando você falou daquele livro dos professores portugueses. Acho que aquele livro

motivou num pouco o grupo a escrever, e foi lançada a ideia: e se fizéssemos

alguma coisa parecida?”

Foi, portanto, a partir de um livro que o professor se motivou a escrever, e

destacamos isso, pois acreditamos ser oportuna essa ocorrência em um grupo de

trabalho colaborativo de professores.

Escrever é uma dinâmica discursiva que move a criatividade e estimula o

professor a reconstruir os conceitos matemáticos a partir da criticidade de seus

saberes.

Novamente reportando a Pinto (2002, p. 129), destacamos a fala de uma

professora com relação a sua experiência: “Quando era aluna, fui muito estimulada a

escrever e a ler. Sempre fui estimulada para leitura, mesmo em casa, pois minha

mãe sempre me dava livros de presente! Ler sempre foi uma coisa que gostei muito

de fazer!” Pela fala dessa professora vemos que o fato de já ter tido contato com a

leitura facilitou o uso da escrita em sua prática pedagógica.

Devido a essas dificuldades que o professor enfrenta em utilizar tal

ferramenta, ou seja, utilizar a escrita quando aluno no curso de graduação, torna

para ele um ponto que o limita em interagir com esse recurso quando atua como

professor, pois nas IES o ensino ainda possui um caráter técnico, e o professor tem

dificuldade em sair do técnico formal, para o ensino informal. Com relação ao uso da

escrita por esses futuros professores, quando nos cursos de graduação, Brito (2003,

p. 176 apud FREITAS; FIORENTINI, 2008, p. 139) advertem

[...] que as dificuldades não advém da falta de uma capacidade genérica da redação ou mesmo de leitura, mas sim do modo como estes estudantes interagem e convivem com os objetos da cultura letrada, em particular com as formas de produção do conhecimento formal.

De fato, os conhecimentos repassados para estes tem um fundo técnico

formal que dificulta essa relação dialética do professor com o pensamento. Dessa

forma, ele não apresenta uma linha discursiva que o leve a desenvolver outra

dimensão de pensamento. E ainda cabe ressaltar que os formadores desses

professores não apresentam um preparo que o conduza a trabalhar nessa linha de

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pensamento; mesmo porque não são todas as IES que direcionam a formação

docente na perspectiva da Educação. Sobre estas questões Kilpatrick (1996, p. 1)

aborda o seguinte: “do lado profissional, a Educação Matemática deve

inevitavelmente preocupar-se com a aplicação do conhecimento especializado para

auxiliar os estudantes e os professores que são seus clientes”. A posição do autor é

precisa e coerente, pois a formação de nossos professores precisa atingir um caráter

que envolva uma visão de educador, um professor que assimile, durante sua

formação, uma visão da Matemática como ciência, uma prática investigativa e a

pesquisa como foco de ensino.

A formação inicial deve ser voltada para a criticidade e desenvolvimento de

uma produção escrita do que os conteúdos levam a pensar. Sobre essa questão

Freitas e Fiorentini (2008, p. 140) nos diz:

Identificamos nos cursos de formação de professores de Matemática a carência de uma escrita discursiva, compreensiva e interpretativa – aquela que não procura apenas perceber logicamente o que se escreve, mas também busca explorar os múltiplos significados das ideias Matemáticas.

Consideramos que os programas de formação docente precisam, em caráter

de urgência. refazer suas propostas curriculares, organizar e executar um

planejamento que atinja as expectativas desses professores em todos os aspectos,

social, cultural, emocional, político e conhecimento dentro de um patamar de

qualidade visando preparar um professor reflexivo e pesquisador de sua prática. A

seguir como explorar a escrita e a leitura na formação contínua do professor de

Matemática.

2.3.3 O uso do potencial da escrita e leitura na formação docente

A linguagem tem influenciado muitos que se envolvem no contexto do ensino

e aprendizagem em várias áreas do ensino. É uma abordagem que se vincula a EM

como referência a outra forma de melhor efetivar um processo de comunicação com

aqueles que de forma direta ou indireta estão atuando nas relações interpessoais e

também na formação de professores. É uma abordagem que funciona como

metodologia que viabiliza para ambos, professor e aluno, um processo dinâmico de

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interação entre o conhecimento matemático e os conceitos da Matemática que são

abordados pelo professor.

A escrita e a leitura e o seu uso como foco de estudo, que abrange a

dinâmica da atuação docente em caráter discursivo ou narrativo, apresentam vários

estudos, e citados por alguns autores que se destacam em problematizar essa

ferramenta como um recurso que sendo usado pelo professor pode trazer resultados

satisfatórios abrangendo um novo ensino da Matemática e uma nova aprendizagem

dos conceitos matemáticos, tanto com relação ao professor como aos alunos.

Vejamos o que pensam alguns pesquisadores sobre isso, segundo Freitas e

Fiorentini (2008, p. 140):

– Larrosa (2002) que considera o par ‘experiência e sentido’, na perspectiva de que as palavras são reveladoras de sentidos que estimulam a subjetividade;

– Bruner (1997) discute ‘a história e o argumento’ como modos que se diferenciam na organização da experiência e na construção da realidade.

– Powell (2001) e Powell e Bairral (2006) nos dizem ‘as reflexões sobre as experiências Matemáticas mediadas pela escrita podem levar os alunos a pensarem criticamente sobre suas próprias ideias’;

– Oliveira (1995, p 154) destaca que a escrita é favorecedora da construção ‘consciência metalinguística’. Segundo essa autora, pela escrita ‘o sujeito pode refletir e construir conhecimento explícito e a consciência metacognitiva’.

Segundo Larrosa (2002 apud FREITAS; FIORENTINI, 2008, p. 3), as

palavras são determinantes dos nossos pensamentos. De outro modo

Pensar é, sobretudo, dar sentido ao que se somos e fazemos e ao que nos acontece, estendendo mais esses esclarecimentos destacamos: [...] parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar, parar para sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece , aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência dar-se tempo e espaço.

Estes relatos lembram as impressões, os resultados que vão se dando com

aqueles que participam e se envolvem com a escrita, no caso a escrita discursiva;

quando utilizada nos momentos de narração do professor, este se expressa de

forma verbal, mas ao se expressar na escrita, envolve pensamentos e sentimentos

que se manifestam pelas emoções vividas. Escrever é fazer um retrospecto de

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ideias, e o ato de escrever é uma atividade que estimula no professor a arte de criar

e recriar novas relações com a Matemática; é retornar no tempo, reviver um

momento que ficou guardado na memória e o tempo. São suas memórias que

surgem como capítulos de uma história onde o principal protagonista é ele mesmo.

Quando há uma conexão de idéias entre quem escreve e o que lê, ocorre um elo

afetivo; é neste momento que a escrita envolve esses atores. Segundo Kramer

(2000, p. 115 apud FREITAS; FIORENTINI, 2008, p. 141), a leitura e escrita

desencadeiam um processo de humanização e segue afirmando que

[...] trabalhando com leitura, escrita e formação, o horizonte precisa ser humanização, resgate da experiência humana, conquista da capacidade de ler e escrever o mundo e a história coletiva, de expressar–se, criar, mudar, de reescrevê-lo numa outra direção e com outro sentido.

É impressionante a influência que tem a escrita na formação dos sujeitos

com relação às mudanças que esta ferramenta possibilita a ambos: reflexão como

assimilar e processar esse conhecimento aprendido; expressar e se relacionar uns

com os outros na relação professor/aluno se torna um processo de cumplicidade. O

uso da leitura e escrita pelo professor alarga horizontes, como trabalhar os conceitos

da Matemática de forma reflexiva, em que o pensamento ligado à criatividade

proporciona uma proximidade com a Matemática, deixando de ocorrer a inibição

naqueles que atuam como atores na compreensão do conhecimento matemático.

Seria um dado positivo para os futuros professores com relação à sua

formação acadêmica, consequentemente à formação contínua, se tivessem acesso

ao uso da escrita quando na academia, pois seria uma forma de alargar seus

saberes contribuindo para uma visão do que seja o estudo da Matemática e o seu

ensino.

A escrita como um recurso para o professor pode levá-lo a melhor atuação

no seu crescimento profissional em todos os campos da pesquisa. As narrativas

desses professores, que ocorrem por meio de uma linguagem, originadas dos

momentos de discussões em grupos que estudam e investigam a suas práticas,

podem ser registradas pela escrita. Segundo Freitas e Fiorentini (2008, p. 141),

O futuro professor de Matemática, em conveniência com as diversas formas de expressar pensamento e ideias por meio da linguagem tanto oral como escrita, simbólica, tecnológica e pictórica ao longo de sua formação, poderá

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perceber que aquele que usa a língua não é o primeiro falante que rompeu pela primeira vez o eterno silêncio de um mundo mudo.

Através dessas colocações verificamos que o professor de Matemática não

teria dificuldades se desde o início de sua formação, ele tivesse acesso a outras

formas de pensamento, que não fosse a formal. Consideramos ser importante esta

relação leitura e escrita nas aulas de Matemática com a pesquisa que este professor

fará em todos os momentos quando utilizar essa ferramenta. Já que esses

processos que abrangem a escrita e leitura estabelecem um elo entre a ação do

professor em direcionar de outra forma suas ações em sala de aula. Ressaltamos as

possibilidades da utilização da escrita na formação dos futuros professores

posiciona-os como investigadores desenvolvendo potencialidades que os levarão a

terem condições de utilizar a comunicação, principalmente a escrita, desde a

graduação e efetivamente quando da atuação como professor na EB.

Consideramos que formar professores é oferecer oportunidades para que

estes se descubram como construtor de um conhecimento, participante de uma ação

que envolve várias mudanças, mudanças essas nos campos social e cultural.

A trajetória de todo professor é construída e reconstruída à medida que este

vai mudando sua atuação docente, e esta acontece pelos fatores criativos que este

vai apresentando, e em parceria com o incentivo e orientações de professores

pesquisadores que anteriormente foram seus formadores.

Considero oportuno destacar o pensamento de Kilpatrick (1996, p. 1) quando

nos afirma: “os educadores matemáticos universitários precisam trabalhar junto com

os matemáticos e com os professores em sala de aula no desenvolvimento da teoria

e da prática”. Realmente é fundamental esta interação entre estes segmentos, pois

dessa forma podemos ter um trabalho de renovações contínuas na formação desse

professor; mas já se percebe quando da criação e execução dos grupos de estudo e

pesquisa, em especial os grupos de trabalho colaborativo.

São diversas situações de desafios que se apresentam aos professores,

seja na EB ou na Educação Superior (ES), sobre como melhor trabalhar os

conceitos matemáticos, e proporcionar aos alunos, não momentos de aprendizagem,

mas desafios em que a Matemática é mostrada como uma ciência dinâmica e

diversificada.

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Em todos os momentos da ação docente, quando se vê necessária a

reflexão sobre como ensinar e de que forma minimizar as dificuldades que os alunos

enfrentam, para acompanhar diariamente as explicações do professor, geralmente

instituições de ensino colocam-se à parte.

O ensino nas escolas se rotula em âmbito seletivo levando o discente à

repetência em virtude dos resultados insatisfatórios na aprendizagem dos conceitos

matemáticos. Dessa forma, os resultados avaliativos são indesejáveis,

marginalizando o discente com relação ao aprender e compreender a Matemática.

A EM nos dá espaço para essas reflexões trazendo no seu bojo abertura

para renovar nossas concepções sobre a Matemática e resgatar o professor, não

como o que transmite o conhecimento, mas aquele que intermedeia o conhecimento.

Nesse contexto, a escrita tem sua importância dentro do ensino/aprendizagem na

Matemática e tem se apresentado como uma forte tendência que envolve

educandos e educadores, bem como pesquisadores. Ela possibilita que o professor

questione como está articulando os conceitos com a linguagem Matemática. Neste

sentido, convém destacamos o pensamento de Oliveira (1995, p. 154 apud

FREITAS; FIORENTINI, 2008, p.140) sobre o favorecimento da escrita à formação

docente: “o sujeito pode refletir e construir conhecimento explícito e a consciência

metacognitiva, pela possibilidade de verificação do discurso escrito enquanto

produto de pensamento de objetivação da experiência pessoal”. Consideramos ser

este um meio para possibilitar a formação do professor, mesmo que este não tenha

tido acesso a ela quando da sua formação inicial, mas a formação contínua é para

reconstruir, renovar os saberes que precisam ser reelaborados.

Powell e Bairral (2006) esclarecem que a reflexão sobre a Matemática que

estão aprendendo leva os discentes a importantes avanços cognitivos e afetivos. É

neste momento, que se dá a comunicação entre o professor e o aluno através da

linguagem, não conectada por símbolos, mas por uma representação visual

expressando o pensamento matemático de cada um. Esse é um recurso pouco

utilizado nas aulas de Matemática, mas segundo os autores, a escrita é um auxiliar

no enriquecimento do vocabulário e ainda ajuda os alunos a contextualizar sua

compressão Matemática.

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Se a Matemática e os seus conceitos não são bem compreendidos e

interpretados pelos alunos, é devido à forma como são abordados pelo professor,

muitas vezes sem a participação deles, implicando na visão estática e desmotivante

dessa disciplina de acesso a poucos. Isto ocorre por não haver uma relação reflexiva

do professor sobre a sua prática, mesmo existindo ações investigativas nas

universidades que podem servir de incentivo a mudanças em sua prática. Mesmo

vivenciando várias experiências, esse protagonista da educação precisa abrir

espaços a caminho de novos desafios.

O ato de escrever é um processo de reconstruir ideias Matemáticas, pois

quem escreve estabelece laços afetivos com a Matemática através de uma reflexão

e uma reflexão crítica, que leva à construção de um processo metacognitivo. É neste

momento que se dá a matematização2, pois segundo Powell e Bairral (2006) é um

processo construtivo fortalecido pela interação pessoa/grupo. De fato, nessa

interação é que se constrói de forma participativa o conhecimento e,

consequentemente, a autonomia dos alunos.

Nos modelos tradicionais de ensino da Matemática são raras as situações

em que se observa a utilização de recursos que levem os alunos a efetivar reflexões

sobre o ensino da Matemática; parece que o que estes pensam não faz parte do

contexto de seu aprendizado. Há uma necessidade de sair desse ensino

memorístico tornando-o mais acessível estabelecendo uma relação mais próxima

com esta ciência, saindo da visão intelectual, passiva, de que a Matemática, em

termos de aprendizagem, seria privilégio de poucos.

Os professores que utilizam a escrita no contexto de suas práticas e que,

junto a esta perspectiva, atuam em grupos de estudo e pesquisa, em especial nos

grupos de trabalho colaborativo, conseguem aderir à outra linguagem de como

trabalhar os conceitos matemáticos e dinamizar os conhecimentos que esta oferece.

Pois junto com seus pares discute as dificuldades que surgem, e trocam sugestões

que os ajudam a buscar soluções.

2 “Matematizar é um processo natural, inerente a todo o ser humano que deve ser desenvolvido à medida que este tome consciência de um evento ou acontecimento matemático e construa para ele diferentes formas de convencimento” (POWELL; BAIRRAL, 2006, p. 15).

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Mas escrever nem sempre é fácil. A dificuldade decorre por ser a escrita um

aprofundamento da reflexão, como relatam Fiorentini e Cristovão (2006, p. 21) num

trecho de uma produção de uma das integrantes do GdS:

Escrever é difícil. É frequentemente difícil colocar as ideias no papel, ainda que elas pareçam claras e lógicas quando pensamos ou falamos anteriormente [...] Essas dificuldades se originam do fato de que escrever não é apenas comunicar resultados definitivos de uma análise, escrever em si é uma forma de análise. É uma continuação do processo de análise sob uma restrição mais severa, porque precisamos dar contorno e forma aos nossos pensamentos interiores...

Neste pequeno texto, observa-se como as palavras são conduzidas; o

reflexo do pensamento se interioriza nas palavras escritas de forma expressiva. O

GdS é um exemplo de um trabalho colaborativo onde os seus participantes, através

da escrita de cunho narrativo, relacionam-se por meio da escrita discursiva.

Continuando com o pensamento de Fiorentini e Cristovão (2006, p, 51):

Considerando que a escrita favorece a reflexão e contribui para o desenvolvimento cognitivo e também a expressão do próprio pensamento, ler e escrever não são apenas tarefas escolares. Essas habilidades transcendem o espaço escolar, proporcionando liberdade de criação, de expressão de pensamento e de transformação.

Concordamos com os autores, pois a escrita desenvolve todo um potencial

de quem escreve e, gradativamente, vai havendo uma motivação para mudar. A

escrita libera a emotividade e a criatividade, pois há uma relação entre o que se lê e

o que se escreve. Sobre o processo de trabalho colaborativo do GdS, cabe ressaltar

que

Um fato interessante a destacar é que os professores, ao refletirem e narrarem suas experiências e episódios de aulas, para o Grupo, mobilizam e problematizam também os saberes dos outros, de modo que outras situações análogas são trazidas e discutidas a partir daquela colocada/relatada inicialmente. Muitas destas histórias orais da aula se transformam em histórias escritas que geram um segundo momento de reflexão para o professor que as escreve e para os colegas que participam do encontro (JIMENEZ, 2002 apud FIORENTINI; JIMENEZ, 2003, p. 9).

As reflexões motivam a busca de mudanças. São estas que interferem na

formação dos professores de Matemática e caracterizam a formação continuada

destes. Afirmamos que as transformações na postura de um docente não ocorrem

de forma individual, e esta sofre influência de muitos fatores: o ambiente escolar

onde atua este professor, a sua identidade profissional, sua história de vida e

principalmente a maneira como este articula seus saberes; todos estes fatores estão

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inseridos na sua formação contínua; formação de um docente que articula, critica e

traz justificativas para as relações diárias com o ensino, os conceitos e o

conhecimento matemático. Dessa forma, não se justifica em um período de

mudanças, em todos os segmentos educacionais, seja da ES ou da EB, nos

depararmos com currículos e planos de estudo sem fundamentações oriundas da

EM.

A aula continua a ser o contato primeiro do professor, através de seu

discurso; com sua linguagem ele se comunica com o seu ambiente de

aprendizagem. Mas esta linguagem precisa ter um significado para que alcance todo

este cenário. E um recurso que introduz esses significados na prática do professor é

a escrita. Powell e Bairral (2006, p. 50) dizem que “há alguns anos educadores e

matemáticos têm explorado a ligação entre a escrita e a Matemática, particularmente

a escrita como suporte no aprendizado”. A conscientização de que a escrita

influencia na aprendizagem da Matemática partiu de estudos que comprovaram que

o raciocínio matemático precisa estar relacionado com uma reflexão para que se

processe a autonomia do conhecimento.

Nestes apontamentos, Powell; Bairral (2006, p. 51) colocam que “os

indivíduos devem ter oportunidades para analisar seu processo de pensamento, os

significados construídos e as formas de raciocínio matemático presentes”. Esta

capacidade vai sendo construída por uma análise que vai acontecendo à medida

que estabelece a ação do pensamento com o conhecimento. Em continuidade com o

posicionamento desses com relação ao uso e os resultados que a escrita

proporciona àqueles que as utilizam como recurso para que haja uma compreensão

nas abordagens do conhecimento matemático. Vejamos o que falam esses autores:

A escritura pode emergir de um contexto reflexivo de caráter mais livre, expressivo e individualizado, e que a cognição Matemática deve ser inserida num contexto de produção que vá além da expressividade, ou seja, que envolva reflexão crítica e preconize processos colaborativos de diferentes dimensões e de tomada de consciência sobre as experiências individuais ou coletivas (POWELL; BAIRRAL, 2006, p. 53).

Essa relação da escrita com a Matemática estabelece um critério de

percepção e reflexão com o que está se escrevendo e a forma como esses

conceitos eram vistos e são reconstruídos a partir de agora. Escrever é uma ação

que reporta à criatividade do indivíduo e esse desenvolvimento é um processo crítico

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dos preceitos da Matemática. A organização dessas ideias é que dão origem às

narrativas dos professores. Consideramos essas narrativas como uma investigação

destes sobre suas atividades docentes. Sobre essas relações de produção de textos

e narrativas, especificando a escrita em Matemática em que as ideias se organizam

para a compreensão daquilo que se pensa, Pinto (2002, p.146) apresenta um extrato

do pensamento de um de seus sujeitos de sua pesquisa:

Escrever na Matemática era algo que a pessoa precisava escrever muito e bem detalhado. Assim é que fui aprendendo!! Mas também aprendia porque sempre pedi que outros lessem, uma prática que já estava aprendendo com aquele grupo onde era sempre assim: Mas isso que você disse aqui pode ser isso, isso, aquilo...É um aprendizado. Quando sozinha comecei a elaborar questões, quase já não errava em alguns conceitos: errava ao expor as informações. Também trabalhei muitas atividades nas quais os alunos acabaram entendendo outra coisa, porque eu também não estava sendo clara! Acho que, hoje ao elaborar uma questão, já sou um pouco mais cuidadosa, já erro menos! Cláudia.

Essas narrativas mostram como um professor estabelece entre ele e a

escrita uma relação com o pensamento e a proposta do fazer. Isto vai acontecendo

gradativamente, pois percebe que é necessário repensar, por em ação suas ideias,

ouvir as sugestões, refletir sobre elas e se observar. A partir daí, repassar de forma

discursiva aquilo que deseja. Este processo de autoafirmação é um ponto

característico do grupo de trabalho colaborativo, que dá um suporte ao outro

contribuindo para um crescimento comum.

Escrever talvez não seja um hábito comum dos professores de Matemática,

por isso se torna difícil, pois não articulam, em suas atividades docentes, o uso

desse instrumento. Dessa forma é um desafio para o professor aderir a essa

abordagem em suas práticas. Nota-se que dar início à proposta de escrever é uma

ação que acontece de formas diferentes para cada um; há uma identificação ou uma

disposição de ideias que se combinam ou se chocam mediante a vontade, do desejo

de dar o pontapé para o início. Por isso que o professor que executa e refaz a sua

prática por meio de uma ação reflexiva, e neste processo identifica-se com a escrita,

consegue, com mais facilidade, identificar seus erros e buscar os acertos. A escrita

em Matemática desenvolve a cognição, e este recurso propicia reflexões críticas de

forma individual e coletiva. Através da escrita discursiva associam-se alguns

princípios importantes os quais destacamos, segundo Powell e Bairral (2006, p. 55):

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Desenvolver uma forma de ação coletiva que intervenha qualitativamente na formação do professorado e do alunado e contribua com transformações no ensino.

Ao utilizarmos a reflexão crítica como estratégia para desenvolver, mediante a escrita, a cognição Matemática, desejamos desenvolver diferentes ações docentes e discentes de âmbito metacognitivo.

A produção da escrita é uma forma da prática social em um contexto sociocultural. Assim, esperamos que, a partir das interações estabelecidas em cada cenário, presencial ou virtual, os indivíduos possam desafiar estruturas e instituições sociais e políticas mais amplas.

Na formação docente, em especial, consideramos teoria e prática campos mutuamente constituídos e dialeticamente relacionados.

Há diversos tipos de escrita que são utilizadas de acordo com o momento, o

que se deseja escrever, seja quem escreve ou aqueles que terão acesso à leitura

desses escritos. Assim, a escrita livre e suas finalidades, onde se constata que é

uma ferramenta preponderante na melhoria do desempenho da Matemática

(POWELL; BAIRRAL, 2006). O estudo desses autores, tendo como referência os

alunos, considerou que a escrita livre serviria como ferramenta numa disciplina de

Matemática em uma universidade.

De fato a escrita é uma ferramenta que abrange o estudo analítico de um

processo de aprendizagem, no caso nos referimos à Matemática, tendo como

referência a pesquisa. Pode ser usada em vários momentos de atuação do

professor. Requer um rigor com relação a um planejamento de estratégia para

adequá-la nos moldes dos conceitos e conteúdos abordados. Pois a escrita é um

meio de comunicação e está presente principalmente nas relações entre professor e

aluno nos momentos de atuação deste com a Matemática.

O ato de comunicar-se do professor pode ser discursivo ou

instrumentalizador das relações com seu aluno. Sobre isto Smole e Diniz (2012, p. 1)

consideram que:

Se os educandos são encorajados a se comunicar matematicamente com seus colegas, com o educador ou com os pais eles têm oportunidade para explorar, organizar, e conectar seus pensamentos, novos conhecimentos e diferentes pontos de vista sobre o mesmo assunto.

Neste ponto, destacamos as orientações de Vilela e Mendes (2011, p. 14)

sobre o uso e as relações da linguagem com a escrita:

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A linguagem passa a ser investigada enquanto constituída dos elementos dos nossos conhecimentos e, por isso, pode ser tomada como eixo de investigação. Ela é, num movimento de mão dupla, um critério de inteligibilidade, traz uma lógica para ver o mundo e, ainda pode ser reveladora, porque expressa o que é importante numa forma de vida; ela dá indícios das características culturais de uma comunidade.

Essa relação nos mostra que a linguagem é a leitura do pensamento e que a

ação de escrever é a manifestação característica do pensamento linguístico de um

grupo.

Considera-se, então, ser a comunicação o ponto de equilíbrio entre a

linguagem e a escrita, pois quem escreve se comunica e estabelece uma

apropriação de uma linguagem que vai se dando de forma natural. Dessa forma,

conclui-se que “escrever sobre Matemática ajuda na aprendizagem dos alunos de

muitas formas, encorajando reflexão, clareando ideias, e agindo como com um

catalizador para as discussões em grupo” (SMOLE; DINIZ, 2012, p. 3). A escrita é

uma forma de comunicação, há uma combinação de ação e pensamento entre quem

escreve e quem lê; nestes momentos se dá a comunicação.

A linguagem escrita nas aulas de Matemática já vem sendo utilizada por

docentes desde a década de 80 como resultado de movimentos no campo da

pedagogia americana. Com relação ao uso da linguagem escrita Santos (2009, p.

129), fala que

a linguagem escrita nas aulas de Matemática atua como mediadora integrando as experiências individuais e coletivas na busca da construção e apropriação de conceitos abstratos estudados. Além disso, cria oportunidades para o resgate da autoestima para alunos, professores e para as interações da sala de aula. Esse processo favorece a transparência de emoções e afetividade, não só de aspectos negativos, como o medo, a frustração e a tristeza, mas também da coragem, do sucesso, da alegria e do humor.

De fato, a escrita interfere integralmente na formação do docente e do

discente; influencia o comportamento deste que se faz mais seguro com ele e com

os outros, com relação com a Matemática; desenvolve sua autoestima; torna-se

autônomo em suas ações, pois adquire segurança com relação ao conhecimento

matemático. Remetente a este processo linguístico, convém ressaltar a relação que

se faz entre a leitura e o seu resultado que vem a ser textos dentro da linha da EM e

sobre isto, Fonseca e Cardoso (2009, p. 63) nos dizem:

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[...] quando nos propomos a identificar possibilidades de relação entre atividade de Matemática e práticas de leitura, ocorre-nos (especialmente a nós, professores de Matemática), a preocupação com a leitura de enunciados de questões e de problemas matemáticos, além da leitura dos textos didáticos que abordam conteúdos escolares de Matemática.

É surpreendente com a potencialidade da escrita, pois a sua presença na

prática daqueles que se envolvem com o conhecimento matemático é fundamental,

uma vez que se praticarmos o hábito da leitura estamos a desenvolver aptidões para

a prática da escrita, organizando este processo de reflexão cognitiva e

metacognitiva, e trabalhando o raciocínio matemático.

Todavia, nem sempre isso é fácil para todos e a falta da prática da escrita

dificulta a aprendizagem. Segundo Carrasco (2001, apud FONSECA; CARDOSO,

2009, p. 65):

A dificuldade de ler e escrever em linguagem Matemática, onde aparece uma abundância de símbolos, impede muitas pessoas de compreenderem o conteúdo do que está escrito, de dizerem o que sabem de Matemática e por ainda fazerem Matemática.

Esta dificuldade ocorre pelo fato de não termos na formação inicial a leitura e

a escrita no curso de licenciatura e isto ocasiona um bloqueio sobre como direcionar,

organizar e estruturar o pensamento matemático.

Convém lembrar que as dificuldades existentes quando se trabalha leitura e

escrita na Matemática advêm pela questão de não termos o conhecimento de como

utilizá-las. Na formação de professores e no curso de Matemática, essas questões

não são abordadas ou são desconsideradas para a formação do futuro docente. É

importante uma formação didática desse professor e a leitura em Matemática

apresenta um caráter didático que ajuda esse professor a rever sua prática e efetivar

de forma diferenciada o seu contexto quando tratar do conhecimento matemático.

Vale lembrar a necessidade das mudanças quando da atuação do professor

na sala de aula, no seu cenário de aprendizagem, pois o seu discurso como

professor é fundamental nessa interação professor/ aluno se a escrita e a leitura em

suas aulas for de uso corriqueiro. Necessária se faz uma reflexão sobre o que há no

texto apresentado pelo aluno. Assim:

O conhecimento matemático formalizado precisa, necessariamente, ser transformado para se tornar passível de ser ensinado/ aprendido; ou seja, a obra e o pensamento do matemático teórico não são passíveis de

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comunicação direta aos alunos. Essa consideração implica rever a ideia que persiste na escola de ver nos objetivos de ensino cópias fiéis dos objetos de ciência (BRASIL, 1997, p. 26).

O professor, nesta interação com os conceitos matemáticos, saindo da zona

de conforto e indo para a zona de risco (SKOVSMOSE, 2000) intermedeia o ensino

desses conceitos com o uso da escrita e leitura. Dessa forma, a sua proposta de

pensar e fazer a diferença terá influência no currículo da Matemática e no ambiente

que executa a sua prática, ou seja, todo o ambiente sofrerá sua influência.

A Educação Matemática que atua na formação docente de forma ampla, que

através da pesquisa nos mostra as vantagens em ter acesso a esses novos

paradigmas metodológicos, permite entender as mudanças no contexto educacional,

no que diz respeito às novas formas de pesquisa, às mudanças curriculares para a

formação dos professores de Matemática, às propostas das IES e nas escolas da

EB e com relação à formação contínua desses professores. Neste pensamento é

que reportamos às relações que se darão entre o professor que atua e o aluno que

interage nestes ambientes onde se processa o ensino aprendizagem. Sobre estas

questões Lopes e Nacarato (2009, p. 34) nos esclarecem:

Nesse contexto de escrita é fundamental que os alunos tenham a possibilidade de comunicar suas ideias, socializar e compartilhar seus textos. Cabe ao professor o papel central de ser o mediador desse processo e, principalmente, intervir adequadamente para que os alunos possam avançar no processo de escrita.

Concordamos com Lopes e Nacarato (2009) e consideramos que mesmo

que o professor não tenha um conhecimento prévio da escrita e não tiver habilidade

para relacioná-la com a leitura em Matemática em sua prática, a formação contínua

pode oferecer oportunidades para que reconstrua novos saberes, refazendo a sua

ação pedagógica tendo como sujeito dessa mudança o seu aluno. No contexto da

sala de aula, pode-se iniciar um treino com a leitura, através dos textos de

Matemática que se tem nos livros didáticos e sobre isto Fonseca e Cardoso (2009, p.

65) pontuam o seguinte:

[...] entre os textos que abordam conteúdos de Matemática, devemos dar especial destaque àqueles que, escritos na lousa ou reproduzidos em mimeógrafos ou fotocópia, são produzidos pelos próprios professores e apresentam conteúdo proveniente de seus momentos de formação e de sua experiência pedagógica.

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Concordamos com essas autoras, pois quando o professor utiliza em suas

aulas uma produção textual feita por ele, ou mesmo pelo aluno, para trabalhar o

conteúdo a abordar, constitui um significado mais próximo do que foi pensado,

refletido e questionado. As produções textuais do professor apresentam um

significado de vivência da sua experiência anterior com a Matemática neste novo

cenário de aprendizagem. São diversas as formas de escrita que podem ser usadas

para trabalhar os conceitos da Matemática; são mudanças de paradigmas que

modificam a simbologia da Matemática. Vejamos o que nos diz Santos (2009, p.

131) sobre isto: “Ao converterem para a escrita em prosa a simbologia usual em

Matemática, tantas vezes permeada de ‘hieróglifos’ e abreviações, os estudantes

aprofundam-se nos procedimentos e significados que permeiam o tema em

questão”.

Com o uso da escrita em sala de aula através de um cenário investigativo

ocorre uma mudança de paradigmas saindo do processo simbólico da Matemática,

deixando de interpretar significados dos símbolos na Matemática, para traduzir e

interpretar de forma significativa os conceitos abordados. Escrever textos narrativos

ou em prosa ou mesmo forma poética caracterizando o pensamento matemático,

expondo a compreensão é um exercício que leva ambos a rever todo o contexto das

atividades realizadas anteriormente.

O processo da escrita, a ação de escrever, expressar o pensamento

matemático através da escrita estimula o professor a interferir no seu ambiente de

aprendizagem, a rever a forma de planejar suas aulas, a ter um contato mais

próximo com a Matemática, a estruturar de forma adequada o currículo da matéria,

tendo como orientação os princípios que norteiam essa ferramenta, que é a

Educação Matemática, que oferece a esses professores da EB orientações que os

estimulam e orientam sobre a melhor direção a tomar, como e de que forma

viabilizar esse recurso em suas aulas.

Atualmente há vários estudos e pesquisas desenvolvidas nesta temática;

existe uma preocupação dos pedagogos e educadores matemáticos em fornecer

orientações que despertem naqueles que se envolvem na área da EM sobre novas

temáticas, abordagens diferenciadas que precisam ter acesso nas instituições de

ensino, nas escolas da EB. Nos congressos, em encontros de estudantes de pós-

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graduação de mestrado e doutorado e em seminários são discutidas situações neste

campo de ensino, com sugestões sobre como dinamizar o ensino e a aprendizagem

da Matemática.

Consideramos ser a escrita do professor um recurso que o prepara no

enfrentamento quando da sua formação contínua, e sobre isso, Lopes e Nacarato

(2009, p. 44) esclarecem que

O professor necessita de espaço para compartilhar suas escritas com os pares. Quando elas acontecem num curso de graduação ou em projetos de formação continuada, o formador tem um papel fundamental para o incentivo e a valorização dessa atividade.

Ocorrendo o conhecimento e a prática dessa ferramenta desde os cursos de

graduação, o professor adquire domínio de como utilizar a escrita no momento que

estiver atuando na prática docente. Ressaltamos que atuando nos grupos de

trabalho colaborativo estes professores estarão junto com os pares a trabalhar a

escrita em suas narrativas, enfatizando os casos de ensino. E sobre esses grupos,

dizem Lopes e Nacarato (2009, p. 44) que “os grupos de trabalho vêm se revelando

como espaços promissores para este tipo de escrita”. É no grupo de trabalho que

através da escrita narramos nossas experiências e ouvimos dos outros. Destacamos

novamente sobre a escrita do aluno e do professor. Ambas interagem ocasionando

um momento de reflexão, pois:

tanto a escrita do aluno quanto a do professor constitui importante ferramenta para se repensar os programas de formação docente . Ela dá indícios de como os alunos pensam e produzem Matemática na sala de aula e de como os professores trabalham seus saberes profissionais (LOPES; NACARATO, 2009, p. 44).

Não há dúvidas de que tanto a escrita dos alunos quanto a dos professores

funcionam como mola propulsora para que se concretize o aprendizado de ambos,

ocasionando a melhoria do ensino da Matemática. Lopes e Nacarato (2009, p. 34)

dizem que

A ação de escrever permite que ele tenha tempo para pensar, processar seus raciocínios, corrigir, rever o que escreveu e reestruturar sua escrita. Enfim, há todo um movimento reflexivo, por parte do escritor, sobre sua própria aprendizagem.

Concordamos com as autoras, pois quando o aluno escreve, ele processa o

seu entendimento, a forma como ele vê o que o professor ensinou; ocorre neste

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momento uma reflexão ou uma reflexão crítica. É dessa forma que o aluno constrói o

seu conhecimento matemático e vem a se tornar, gradativamente, um sujeito

autônomo sobre aquilo que reflete.

É importante, neste contexto da escrita, fazer uma ressalva sobre os

cenários de aprendizagem e Skovsmose (2008, p. 21 apud LOPES; NACARATO,

2009, p. 38) vem nos esclarecer sobre a influência desses cenários no

ensino/aprendizagem dos conceitos da Matemática Dessa forma, esse autor afirma:

Os cenários para investigação, criados para as aulas de Matemática, nessa perspectiva, geralmente são constituídos de dois momentos: um no pequeno grupo, em que os alunos discutem entre si e registram as estratégias individuais e as do grupo, e um no coletivo da classe, em que esses registros são discutidos.

Concordamos com o autor, pois um cenário de investigação é algo

imprescindível no contexto de uma sala de aula, pois se configura como o ponto

chave para o dinamismo ao estudo da Matemática e revisão dos seus conceitos de

forma colaborativa e, consequentemente, aprimorar os conhecimentos dessa

ciência. A escolha de um bom cenário de aprendizagem proporciona um ensino

diversificado e a escrita pontua para um ensino de qualidade. Para Skovsmose

(2000, p. 6),

Um cenário para investigação é aquele que convida os alunos a formularem questões e procurarem explicações. O convite é simbolizado pelo “O que acontece se... T” do professor. O aceite dos alunos ao convite é simbolizado por seus ‘Sim, o que acontece se... T’. Dessa forma, os alunos se envolvem no processo de exploração. O ‘Por que isto... ?’ do professor representa um desafio e os ‘Sim, por que isto... T’ dos alunos indica que eles estão encarando o desafio e que estão procurando explicações. Quando os alunos assumem o processo de exploração e explicação, o cenário para investigação passa a constituir um novo ambiente de aprendizagem. No cenário para investigação, os alunos são responsáveis pelo processo.

O cenário de investigação, portanto, está intrinsecamente ligado ao cenário

de aprendizagem e estes dois momentos são criados pelo professor que está

basicamente ligado a sua ação de comunicação dentro de uma linguagem coerente

e um discurso acessível a todos. O ensino da Matemática, aliada a EM, vence os

conflitos, dinamiza o raciocínio matemático, torna o aluno detentor de seu

conhecimento, leva-o a estabelecer uma reflexão crítica com relação à Matemática,

seus conceitos e paradigmas; e este reencontro se dá por meio da escrita, da escrita

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discursiva. Essas relações entre a escrita e os conceitos matemáticos nortearam

nossa metodologia de pesquisa, como mostra o capítulo que segue.

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CAPÍTULO III – TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

Esta pesquisa realizou-se junto a um grupo de professores de uma escola

pública do Ensino Fundamental de São Luís no estado do Maranhão. Buscamos

analisar qualitativamente, a partir de um estudo de caso etnográfico, o movimento de

três professores ao constituírem um grupo com perspectivas de trabalho

colaborativo.

Apresentamos, então, nesse capítulo, os percursos metodológicos da

pesquisa. A escola é contextualizada e os participantes do grupo de trabalho

colaborativo formado são apresentados. Tratamos também da fundamentação

teórica da metodologia do estudo de caso empregado e refletimos sobre os mapas

conceituais e os diários, instrumentos utilizados em sala de aula pelos professores

em decorrência das discussões sobre o uso da escrita e leitura em aula de

matemática, realizadas pelo grupo.

3.1 O campo de pesquisa

A escola Unidade Integrada Desembargador Sarney está localizada em São

Luís-MA, na Rua Hermetério Leitão, 171, Bairro do São Francisco CEP: 65076-420,

Fone: 3268-1235.

Autorizada e reconhecida pelo Conselho Estadual de Educação diante da

resolução primeira a quarta 146/88 e de quinta a oitava 306/93, é mantida pelo

Governo do Maranhão, Secretaria de Estado da Educação.

A escola tem um Projeto Político Pedagógico (PPP) que funciona desde

2009 com reformulação em 2011. Entretanto, em 2012, a escola assumiu novas

diretrizes em relação à Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Esta tem como objetivo geral, conforme seu PPP, “garantir a aprendizagem

significativa, atuando e participando efetivamente com os alunos, criando condições

para que possam se desenvolver como cidadãos pensantes e agentes de

transformação” (MARANHÃO, 2008, p. 6).

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A escola originou-se de um desejo da comunidade do São Francisco de ter

um local próprio para a educação de seus filhos. Tarefa este que contou com a

união dos moradores junto às forças políticas da época.

A Unidade Integrada Desembargador Sarney abriu suas portas à

comunidade em 10 de março de 1967 e foi inaugurada em 10 de abril de 1967.

Consta no seu PPP que a partir de 1985 foi reformada com a ampliação de seis

salas e outras dependências, possibilitando o aumento de matrículas. Com o apoio

da Secretaria de Educação e Coordenadoria de Ensino de Primeiro Grau, consta

ainda no PPP, que desde o ano de 1967, essa escola desenvolveu suas atividades

atendendo, anualmente, em torno de 1400 alunos, desde o pré-escolar até o

supletivo. Atualmente a escola dispõe de uma estrutura física adequada para

atender sua clientela, estando assim discriminada: 10 salas de aula, 01 sala de

vídeo (equipado com som, com: 03 Tvs, 04 vídeos, 04 datas-show, 01 máquina de

Xerox e 01 câmera filmadora), 01 biblioteca, 01 sala de direção, 01 secretaria, 01

sala de professor, 01 cozinha, 07 banheiros, 01 consultório odontológico, 01

laboratório de informática, 02 depósitos e 02 pátios onde se desenvolvem atividades

recreativas e socioculturais.

Seu quadro de funcionários é formado por 01 Gestor Geral, 03

Coordenadores Pedagógicos, 06 de apoio, 31 Agentes Administrativos, 11

operacionais e 80 professores com horário funcionando em três turnos.

Os cursos que funcionam são: Ensino Fundamental Regular (do 6º ao 9º

anos), Educação Especial e Educação de Jovens e Adultos, nos seguintes horários:

pela manhã: 7h10min às 11h40min; 13h30min às 18h30min; 19h às 22h.

No ano de 2012, a escola tinha7 turmas do EJA com 40 alunos cada uma,

sendo: 5 turmas de 1º série e 2 turmas de 2º série do Ensino Médio.

Possuía pela manhã 10 turmas do Ensino fundamental – duas do 6º ano,

duas do 7º ano, três do 8º ano e três do 9º ano - e o EJA (1ª e 2ª etapa do Ensino

Médio).

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Possui também material pedagógico específico (jogos, recursos didáticos

etc.). No laboratório de informática há 19 computadores com kits multimídia

instalados como scanner e impressora.

A cozinha possui todos os equipamentos necessários para suas atividades:

material de limpeza e os utilizados para as refeições dos alunos.

A escola organiza as formações continuadas e estas são lavradas em ata e

todo o corpo de professores participa.

Regularmente os professores recebem cursos de atualização e o perfil dos

professores que ministram essas capacitações são os que atuam na área da

educação, com mestrado ou doutorado.

Com relação às expectativas das capacitações, segundo o Gestor Geral,

estas alcançaram mudanças pelo próprio relato das coordenadoras. “E os resultados

tem sido bons, pois a escola tornou-se mais atrativa para o aluno, acredito que estes

percebem o valor da escola”.

Segue, então, a apresentação dos professores que aderiram à nossa

pesquisa.

3.2 Participantes da pesquisa

Para darmos início à nossa pesquisa de campo, fomos à escola para

conversar com o diretor com a proposta de fazermos a referida pesquisa no

estabelecimento dirigido por ele.

Apresentamos a proposta e esta foi aceita. Ele nos esclareceu que iria ter

uma reunião com os professores e nesta oportunidade lhes colocaria a proposta.

Depois, tivemos o retorno que os professores aderiram à ideia.

Três professores de Matemática participaram da pesquisa com o objetivo de

discutirmos as possibilidades de inserção da leitura e escrita nas aulas de

Matemática.

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O perfil profissional dos professores participantes da pesquisa são os

seguintes:

O professor A é graduado em Ciências Econômicas e licenciado em

Matemática. No período da pesquisa foi professor do 8º e 9º anos do Ensino

Fundamental. Tem mais de 10 anos de magistério e sempre atuou em todas as

séries finais do Ensino Fundamental da rede pública de ensino. Não participou da

formação de professores nos dois últimos anos e nunca ouviu falar em grupo de

trabalho colaborativo. Até 2011, nunca havia trabalhado com processos de leitura e

escrita em sala de aula. Ele também leciona na EJA.

O professor B é licenciado em Matemática e Mestre em Matemática

Aplicada. Durante o período de realização da pesquisa lecionou para os 7º e 8º anos

do Ensino Fundamental. Tem mais de 15 anos no magistério, atuando nos níveis de

EF, EM e Educação Superior. Na Educação Básica, atuou somente em escolas

públicas. Atualmente, é também professor efetivo de universidade pública. Participa

constantemente de atividades de formação continuada. Já ouviu falar em grupos de

trabalho colaborativo e já teve oportunidade de participar de um. Até o momento de

se inserir neste grupo ele nunca discutiu ou trabalhou com processos de leitura e

escrita em sala de aula.

Referindo-nos à atuação do grupo de trabalho colaborativo, o Gestor Geral

nos disse:

No começo o prof. B não estava comprometido com a escola e não tinha opção para resolver esse problema, pois as coisas externas estavam atraindo mais o professor do que a escola. Mas com os encontros do grupo, observei que despertou algo nele que me parece que a escola não tinha como oferecer. Foi um trabalho diferente com ideias diferentes que fez com que ele conciliasse as coisas externas à escola com o trabalho na escola.

A professora C é licenciada em Matemática e em Letras. No período de

desenvolvimento desta pesquisa, ministrou aulas no 6º ano do Ensino Fundamental.

Ela tem mais de 15 anos de magistério, atuando em todas as séries finais do Ensino

Fundamental, sempre em escolas públicas. Participou quando possível de formação

contínua e nunca ouviu falar em grupo de trabalho colaborativo. Até se inserir neste

projeto de pesquisa, ela nunca havia trabalhado com leitura e escrita em suas aulas

de Matemática. Ela também é professora de Língua Portuguesa no Ensino Médio.

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O grupo se formou com poucos professores, no entanto, dado o objetivo da

pesquisa, em focar na compreensão de como se dá a formação de professores

centrada na leitura e escrita no contexto de um grupo de trabalho colaborativo, não

nos preocupamos com a quantidade, relevando os aspectos qualitativos do

processo, conforme nos assevera Goldenberg (2009, p. 14) com relação à pesquisa

qualitativa: “Na pesquisa qualitativa a preocupação não é com a representatividade

numérica do grupo, mas com o aprofundamento da compreensão de um grupo

social, de uma organização, de uma instituição, de uma trajetória etc.”

No geral, sobre o grupo de trabalho colaborativo, o Gestor Geral nos falou:

[...] estou gostando, os professores estão empenhados, e estão acontecendo mudanças em sala de aula. Estou achando uma boa ação com a criação desse grupo, senti resultados sim, os professores estão faltando menos, vejo mais participação, criaram mais confiabilidade no aluno e estes estão apostando mais na escola.

Considerando que optamos pela modalidade estudo de caso, discorremos a

seguir sobre ela.

3.3 Fundamentando o estudo de caso

O estudo de caso tem a riqueza de explorar uma situação específica de

modo a aprofundá-la e, na medida da leitura do leitor, torná-la geral ou

representativa de uma situação mais ampla, o que pode trazer relação com a sua

experiência (LUDKE; ANDRÉ, 1986; LAVILLE; DIONNE, 1999).

Destacamos cinco características do estudo de caso, segundo Bogdan e

Biklen (1982 apud LUDKE; ANDRÉ, 1986), para nos basear no processo

metodológico de ações na pesquisa e na construção da coleta de dados, bem como

seus instrumentos:

a) “Tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o

pesquisador como seu principal instrumento” - de fato temos contato

direto com o campo, a escola, pois é um ambiente o qual já conhecemos

em momentos anteriores à pesquisa, onde efetivamos um projeto de

intervenção: Matemática ao alcance de todos que deu origem a um

artigo, relato de experiência, apresentado em 2010, no Congresso

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Internacional de Ensino da Matemática, em Canoas-RS. Nós nos

envolvemos semanalmente, de forma intensiva e investigativa, com o

campo, na relação com o grupo de trabalho colaborativo formado no

bojo da pesquisa e o corpo pedagógico da escola. Wolcoot (1975 apud

LUDKE; ANDRÉ, 1986) esclarece que a pessoa que escreve a

etnografia deve ter tido ela mesma uma experiência direta com a

situação de estudo, e vemos isso ser importante, pois já tivemos em

outros momentos vivenciados situações em outras escolas com outros

professores. Esse contato direto com o campo tem nos proporcionado

reflexões em todos os ângulos de nossa pesquisa. A escola na qual a

efetivamos funcionou para nós como laboratório onde diariamente

elaboramos novos saberes em parceria com seu corpo docente e

discente, pois percebemos que nossos encontros se refletiram

principalmente sobre as práticas dos professores, em suas salas de

aulas, como no âmbito geral desta escola.

b) “Os dados coletados são predominantemente descritivos”- A cada

encontro produzimos os diários de campo que funcionaram como

instrumentos de coleta de dados. Nestes diários destacamos os

momentos de discussões e propostas dos professores de como se

conduzir nos momentos de adversidades pedagógicas com os quais se

deparavam. Mantivemos contato estreito com os professores e as

situações vividas por eles. E nestes momentos eles descreveram,

através de narrativas, de forma verbal ou escrita, os acontecimentos

vividos em sala. A escrita, através dos diários escritos pelos alunos

durante as aulas e os diários dos professores, bem como a oralidade

nos encontros do grupo foi fonte de relação entre o pesquisador e os

professores.

c) “A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto”.

d) “O “significado” que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de

atenção especial pelo pesquisador” - como pesquisadora buscamos

analisar as dificuldades do professor participante do grupo colaborativo,

sua vivência na escola campo. Tentamos entender em qual ótica se

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baseia suas práticas pedagógicas a partir deles mesmos, e como se deu

sua formação até o momento da pesquisa. Quando das narrativas deles,

em nossos encontros, percebemos o significado desta troca de

experiências que se dá à medida que se busca novos desafios a partir

das dúvidas, indo ao encontro dos acertos; esclarecendo-nos uns com

os outros, ouvindo a fala do outro e intermediando de forma afetiva

novas propostas, abrindo novos caminhos norteadores de novas formas

de trabalho a partir de um novo planejar, com o nosso incentivo e a

confiança que estávamos construindo em cada encontro. Não estivemos

presentes em sala de aula com os professores, permanentemente, mas

é como se estivéssemos atuando junto com eles, pois esses momentos

foram repassados por eles em reuniões e serviram de reflexão para nós

do grupo.

d) “A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo” – O foco é o

grupo de trabalho colaborativo e à medida que os encontros aconteciam

estabelecemos discussões sobre diversas situações ocorridas na

semana e então anotamos para posterior análise de como o grupo de

trabalho colaborativo contribui para as dificuldades individuais de cada

participante. Suas conquistas foram trazidas de forma animadora

imbricadas de novas expectativas ao desejarem acertar

3.3.1 A construção dos dados

Entendemos o estudo de caso como sendo cabível à nossa pesquisa, pois,

de modo descritivo, atendeu a uma etapa importante da mesma, que segundo Ludke

e André (1986, p. 19) é “retratar a realidade de forma completa e profunda”. Isso se

deu a partir de uma observação participante, que é “uma estratégia de campo que

combina simultaneamente a análise documental, a entrevista de respondentes e

informantes, a participação e a observação direta e a introspecção” (DENZIN, 1978

apud LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 28).

No desenvolvimento da observação, buscamos apreender o significado de

formação continuada e de grupo de trabalho colaborativo, bem como a importância

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dos processos de escrita e leituras na aprendizagem de matemática pelos

professores participantes do grupo formado. A partir de um cronograma de

encontros realizamos nossa pesquisa de campo, junto aos professores que

formaram o grupo de trabalho colaborativo. A nossa pesquisa foi realizada no

período de fevereiro a novembro de 2012, junto a esse grupo que se dispôs a

colaborar com a nossa pesquisa na condição de informantes. A realização dos

encontros com o grupo colaborativo foi uma estratégia metodológica da nossa

pesquisa, de modo que a cada encontro as discussões produziam dados para o

estudo de caso anteriormente definido. Apresentamos a seguir, o quadro número 01

que informa os meses e dias de realização destes encontros.

MÊS DIAS

FEVEREIRO 14 e 17

MARÇO 06, 14 e 27

ABRIL 10, 17 e 24

MAIO 8 e 22

JUNHO 12 e 19

AGOSTO 14, 21 e 28

SETEMBRO 4, 6., 11, 18 e 25

OUTUBRO 2, 9, 16, 21 e 30

NOVEMBRO 06 e 08

Quadro 1 - Período de realização dos encontros com o grupo colaborativo, destacando meses e dias do ano de 2012

Nessa perspectiva, revelamos o andamento de nossas atividades,

basicamente em nossos encontros, a partir dos diários de bordo, nos quais por meio

da escrita expressamos as ideias, sugestões e os diálogos que foram se dando em

função de nossas discussões realizadas nas reuniões. As fontes de informações

foram os relatos dos professores quando de suas narrativas relativas aos momentos

vividos em sala de aula. Através da escrita e à medida que escreviam ou relatavam

suas situações em sala de aula, repassamos para o diário de bordo as nossas

memórias, as recordações dos momentos de uma história que se viveu e que

estávamos compartilhando, nestes encontros com os professores. Relatando nossas

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experiências anteriores e a partir dos encontros nos reportamos a estabelecer novos

rumos para novas etapas.

No processo da pesquisa, os professores fizeram seus diários de bordo

(como são nomeados na discussão dos dados) sobre as inovações realizadas em

sala, fazendo uso da leitura e escrita, e discutiram as suas impressões nas reuniões

do grupo. As impressões também foram colocadas em entrevista e no diário de

bordo.

Da parte da pesquisadora, todas as observações realizadas durante as

reuniões do grupo, quando da presença na escola, as conversas de corredor ou em

salas de aulas dos professores sujeitos da pesquisa foram transcritas em seu diário

que na discussão dos dados é chamado de Diário da Pesquisadora.

O que vivenciamos “ontem” serviu de estímulo para um “novo recomeço”. A

busca em explicar o que acontece com os professores, faz-nos lembrar casos de

ensino, nossa história de vida.

A pesquisa teve início a partir da organização, estrutura e atuação do grupo

de trabalho colaborativo, a partir da “voluntariedade, identidade, e a espontaneidade”

(HARGREAVES, 1998 apud FIORENTINI, 2004, p. 52).

Essas características foram princípios norteadores para a dinâmica da ação

colaborativa, pois os grupos são formados por pessoas com experiências diferentes,

mas com um objetivo comum: buscar alternativas para dinamizar a prática de sala

de aula. Segundo Hargreaves (1998 apud FIORENTINI, 2004), a vontade de querer

trabalhar juntos com os outros professores, de desejar fazer parte de um

determinado grupo é algo que deve vir do interior de cada um.

Consideramos também importante deixar evidente que interagir e participar

de um grupo de trabalho colaborativo não é de caráter obrigatório, mas deve partir

de cada um de forma espontânea, pela necessidade de buscar e conhecer uma

nova realidade, uma visão de um professor pesquisador. Sua participação deve ser

voluntária, ele é que vai ao encontro desse espaço de aprendizado e troca de

saberes. Há, nestes grupos, uma relação de cumplicidade construída pela confiança

e a vontade de ser um educador, um novo professor que se questiona e reflete suas

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práticas de forma crítica. Nos chama atenção, quando dos encontros, observar como

o grupo se mostra solidário nos momentos de dúvidas, um ouvindo o outro.

No processo da pesquisa, incentivamos o uso do diário matemático e dos

mapas conceituais nas. Os professores do grupo também refletiram em seus diários

de bordo sobre as experiências didáticas relativas ao uso da escrita e da leitura na

aula de matemática e nos apresentaram. Essas reflexões serviram de base para

discutirmos sobre as suas impressões a respeito dessa prática. Também fizeram uso

do mapa conceitual relatamos suas reflexões sobre esse uso. A seguir, discorremos

teoricamente sobre esses instrumentos.

3.4 Os mapas conceituais e os diários instrumentos de reflexão e

aprendizagem da matemática

No processo da aprendizagem, tendo como ferramenta a escrita, quando no

trabalho com os conceitos matemáticos, podemos utilizar vários modelos de escrita,

a saber: os diários ou memórias, cartas, portfolios, textos narrativos em prosa e em

versos, e os mapas conceituais.

Devemos fazer uma relação desses recursos com a linguagem e a

matemática. Consideremos a visão de Oliveira (2008, p. 139), que nos diz:

[...] no processo de aprendizagem da matemática configura-se um misto de linguagem corrente e linguagem matemática utilizadas alternadamente, num processo que não ocorre sem dificuldades. Por parte do aluno, é necessário que ele se apoie em significados referenciais na formação dos conceitos matemáticos para a apropriação de uma linguagem específica; quanto ao professor, ele deve utilizar, de maneira e nos momentos mais adequados

uma ou outra linguagem conforme seja necessário.

Observa-se que o aprendizado em matemática está relacionado com a

forma de como se trata os conceitos matemáticos, e como se organiza o cenário

investigativo, mas é preciso que o professor esteja atento ao uso da linguagem

fazendo, quando necessário, essa relação entre a linguagem corrente e a linguagem

matemática; dessa forma o aluno se sentirá motivado a esta nova maneira de

contextualizar o conhecimento matemático.

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A seguir, vamos nos reportar aos diários e aos mapas conceituais, pois

foram dois instrumentos que utilizamos em nossa pesquisa.

3.4.1 Os mapas conceituais

Sobre os mapas conceituais Santos (2009, p. 133) nos diz que eles:

[...] foram concebidos para apoiar abordagens de instrução que tenham como objetivo aumentar a aprendizagem significativa. A noção de aprendizagem significativa, em oposição à aprendizagem ‘memorística’, supõe que o indivíduo opte por relacionar os novos conhecimentos com as proposições e conceitos relevantes que já conhece.

O uso desses mapas atua como um roteiro para revermos aquilo que foi

compreendido e o que falta rever, dentro de um padrão de organização e síntese. A

autora continua:

Os mapas conceituais têm por objetivo representar relações significativas entre conceitos, na forma de proposições. Servem para tornar claras, tanto aos professores quanto aos alunos, ideias – chave em que se devem pautar para uma tarefa de aprendizagem específica (SANTOS, 2009, p. 133).

Esse recurso, que viabiliza o uso da escrita para o professor, pode servir

como instrumento de avaliação, pois, por meio deste mapa, o aluno retrata da forma

como ele compreendeu os conceitos abordados pelo professor. Segundo Maciel

(2003, p. 86),

Este tipo de instrumento permite avaliar o poder de síntese do aluno, assim como o seu entendimento sobre o assunto por ele apresentado, além de revelar aspectos afetivos do aluno com relação ao seu processo de aprendizagem de Matemática. Também auxilia no desenvolvimento da sua metacognição.

Para Santos (1997, p. 19 apud MACIEL, 2003, p. 85) o mapa conceitual

[...] é uma representação visual em que o indivíduo (ou um grupo de pessoas) mostra através do uso de palavras, desenhos e outros símbolos o que percebe (percebem) em sua mente (ou suas mentes) sobre um determinado tema ou assunto central.

Vemos aqui a influência em trabalhar com mapas conceituais nas aulas de

matemáticas, a partir do envolvimento dos alunos quando das conexões que

interligam o pensamento de todos. Por isso, sugere-se também que na sua

construção sejam produzidos em grupo para acontecer a interação de todos nas

discussões e troca de ideias (MACIEL, 2003).

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O uso desse recurso serve de apoio ao professor para diversificar suas

aulas e o seu uso constantemente leva o aluno ao exercício da cognição e a

metacognição construindo saberes de forma diferenciada. Estes processos de

escrever caracterizam as ações do aluno com a matemática e na sua elaboração

emerge um raciocínio, um processo de discussão e de trocas de conhecimentos.

Sobre isso, Santos (2009, p. 134) nos fala:

A elaboração de mapas conceituais é uma técnica para exteriorizar conceitos e proposições. O grau de precisão com que os mapas conceituais representam os conceitos conhecidos, ou a gama de relações entre eles (e que se pode expressar como proposições), é ainda objeto de conjecturas.

Realmente a forma como se organiza estes mapas retrata como o aluno está

compreendendo o que foi abordado, tanto é que os mapas são diferentes uns dos

outros. Reforçamos ser importante que, concluída a tarefa de fazer os mapas, os

grupos o apresentem para uma discussão e a percepção de todos a partir deste

recurso, e o que foi entendido ou não no conteúdo abordado.

Utilizar a escrita no contexto matemático é um desafio para os professores,

pois muitos alunos apresentaram bloqueios em aprimorar e absorver esses

conhecimentos matemáticos. No que diz respeito aos mapas conceituais, é

imprescindível que o professor, antes de propor aos alunos, apresente-lhes alguns

para que estes não criem obstáculos nos resultados para eles, com relação ao

manuseio desse recurso (MACIEL, 2003).

Os mapas conceituais que são construídos juntamente com textos

identificam a escrita como um recurso que aprimora a compreensão dos conceitos

matemáticos. Este recurso mobiliza na sua construção a escrita e leitura, e o uso

constante nas aulas proporciona maior familiaridade com a matemática. É um

instrumento que caracteriza o desenvolvimento e a criatividade na matemática, em

que estabelece relações de confiança com a sua aplicação. Pelo fato de esse

recurso ter um caráter sintético e avaliativo, ele favorece uma aprendizagem

significativa3. Sobre isto, Santos (2009, p. 134) argumenta que

3 “Ausubel et al. (1978), ao analisar a interação entre professor, aluno e conhecimento no contexto escolar, identificaram duas formas de aprendizagem: mecânica e significativa. A aprendizagem significativa ocorre quando o indivíduo consegue relacionar, de forma não arbitrária e não literal, o conteúdo a ser aprendido com aquilo que ele já sabe, conseguindo, assim, generalizar e expressar

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Tendo em vista que uma aprendizagem significativa se produz mais facilmente quando os novos conceitos ou significados conceituais são englobados por outros mais amplos, ou quando se percebe que um dado conceito constitui uma generalização de outros já conhecidos, é interessante que a organização do mapa obedeça uma estrutura hierárquica.

Concordamos com este posicionamento, e reafirmamos que o uso dos

mapas conceituais é uma forma de levar o aluno a processar de maneira organizada

os conceitos matemáticos aprendidos durante as aulas, de rever por meio de uma

reflexão como organizar cada conceito, estabelecendo as relações entre o

conhecimento e a escrita por meio de uma leitura de pensamento. Tendo um caráter

avaliativo estes viabilizam para o professor de que forma os alunos estão

assimilando estes conceitos e como os processa quando pensam a matemática

(MACIEL, 2003).

É notório afirmarmos que elaborar mapas conceituais é uma técnica de

exteriorizar conceitos do assunto abordado pelo professor. No processo de

elaboração desses mapas vamos desenvolvendo outras relações, novos conceitos e

outras relações conceituais. Neste ponto, Santos (2009, p. 134) assevera:

Estudantes e professores notam frequentemente que é durante a elaboração de mapas conceituais que se reconhecem novas relações e, portanto, novos significados (ou pelo menos, significados que eles não possuíam conscientemente antes de elaborar o mapa).

O uso da leitura e escrita para o ensino da matemática oferece para os

professores momentos de enriquecimento em suas práticas, pois são situações que

caracterizam sua formação continuada. O uso da linguagem nos conceitos

matemáticos desenvolve nestes, habilidades e potencialidades que levam a

identificação com a matemática. No contexto da avaliação, ressaltamos o

pensamento de Santos (1997, p. ii-iii apud SANTOS, 2009, p. 140), quando se refere

à linguagem e escrita nas aulas de matemática:

[...] é preciso ter coragem de romper com as concepções e crenças que nós professores reforçamos de avaliação como produto final do processo ensino/aprendizagem [...] Sabemos também que, na prática, apenas o conteúdo efetivamente cobrado pelo (a) professor (a) em provas e/ ou testes irá determinar o que o (a) julgará importante saber sobre e/ ou memorizar

esse conteúdo com sua própria linguagem. Quando não consegue estabelecer esse relacionamento e formular essa generalização, diz-se que houve aprendizagem mecânica ou seja, o indivíduo só consegue expressar as ideias repetindo as mesmas palavras, memorizadas de forma arbitrária e literal, sem ter, de fato, assimilado os conteúdos envolvidos” (LEMOS, 2005, p. 42).

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em matemática. Portanto, precisamos refletir sobre as informações que nossas atividades de avaliação comunicam aos alunos da turma.

Diante de todas essas considerações, verificamos que a linguagem expressa

uma leitura de pensamento e a escrita ajuda a desenvolver no aluno uma afetividade

com a matemática e com os professores.

Desenvolver a linguagem em matemática é sem dúvida estabelecer um foco

de comunicabilidade, é reescrever as memórias especificando momentos,

destacando sentimentos. Dessa forma, as narrativas estão imbricadas na escrita

dando colorido espaço para sonhos e também para as fantasias, enfim narrar é

expressar pensamentos, por isso, os mapas conceituais são de fato uma narração

onde se combina expectativas, vontade e, sobretudo, o sentimento de fazer e

sempre lembrar: eu posso, eu sou capaz e ir adiante. Neste ponto, ressaltamos o

pensamento de Passos (2009, p. 134) quando diz que

o reconhecimento da escrita nas aulas de matemática como importante no ensino, no processo de ensiná-la, é bastante promissor”, seguimos adiante novamente ressaltando o que nos fala Passos.”Como referi anteriormente, quando uma pessoa relata os fatos vividos por ela mesma, por exemplo, em uma aula de matemática, o professor ou a professora poderá perceber como o aluno reconstruiu a trajetória percorrida para compreender o significado de um determinado conceito. Giroux e McLaren (1993, p. 26) chamaram a atenção para a importância da linguagem, pois é por meio dela que, ao mesmo tempo, nomeamos a experiência e agimos, como resultado dessa interpretação.

Concordamos com a visão dessa autora, pois todos esses recursos que

movimentam a escrita caracteriza a linguagem como vínculo de comunicação de

caráter discursivo e narrativo.

Quando dos planejamentos das situações de ensino, os professores

elaboraram os mapas conceituais no grupo e os desenvolveram em sala de aula,

refletindo depois no grupo (ANEXO A, alguns mapas construídos no grupo e levados

para introduzir no processo ensino-aprendizagem). Em entrevista e diários essas

reflexões são colocadas.

A seguir, discutiremos outro instrumento de escrita usada na pesquisa por

nós, os professores do grupo colaborativo, e seus alunos.

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3.4.2 Os diários matemáticos

São várias denominações que este recurso recebe, tais como: diários ou

memórias, diário de bordo, diário reflexivo ou diários matemáticos (MACIEL, 2003).

O uso dos diários funciona no tratamento da prática do professor como um

recurso para verificar como está se dando as ações dos alunos com relação aos

conteúdos abordados. Neste ponto, os diários feitos pelos alunos servem de eixo de

referência para repensá-lo de como reconstruir e refazer novas atividades. O uso do

diário também se relaciona ao cenário de investigação que o professor está

trabalhando.

Segundo Maciel (2003, p. 84)

Este tipo de atividade pode ser feita no final do semestre, do bimestre, no final de uma unidade ou mesmo no final de uma aula. Visam a evidenciar e desenvolver de forma harmoniosa os aspectos emocionais e intelectuais de cada aluno. Também ajuda a desenvolver a metacognição do estudante, pois ele reflete sobre as impressões sentidas e aquisições de conhecimentos matemáticos no decorrer das aulas.

Segundo Santos (1997, p. 24 apud MACIEL, 2003, p. 84), os alunos devem

ser iniciados nesse recurso reflexivo, a partir de perguntas metacognitivas como:

O que mais te marcou nas aulas de Matemática deste bimestre; O que mais você gostou das aulas do mês de abril? O que você não gostou do que estudamos em Matemática neste semestre? Faça um resumo com os conceitos estudados na aula de hoje.

Entretanto, é importante o cuidado com a aplicação desse recurso, pois

pode, em alguns casos, causar desestímulos ao aluno como mostra a fala de alunos,

segundo Pironel (2002, p. 107 apud MACIEL, 2003, p. 84):

Não acho interessante não, porque eu vou colocar minhas dúvidas, mas depois eu vou embora e minhas dúvidas vão ficar lá no diário. Eu não gostei dos diários interativos, pois são vários alunos e o professor não consegue ler todos. E é um pouco cansativo, porque não dá tempo de escrever na aula e tem que escrever em casa.

Em contraposição a essas falas, temos também essas:

O diário vem a ser uma nova autoavaliação, só que diária, é, mais uma vez, um lugar onde podemos expressar o que estamos sentindo, nossas dúvidas e nossas expectativas; Pode ser muito produtivo que o aluno descreva diariamente como foi sua aula, podendo até responder questionamentos propostos pelo professor. (PIRONEL, 2002, p. 108 apud MACIEL, 2003, p. 85).

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O diário que pode ser chamado de “matemáticos” (Rodríguez, 1997a apud

MACIEL, 2003) é um exercício onde alunos refletem de forma crítica como estão

assimilando os conceitos matemáticos. Além de ser um espaço para reflexões,

possibilita o desencadeamento de reflexões.

Vencer os entraves em sala de aula e do uso da escrita pode ajudar esse

processo. A matemática está ligada a uma cultura que se envolve a resultados

primando pela quantidade, mas os educadores matemáticos orientam para o

entendimento de registros dentro de uma linguagem escrita. Desse modo ela deixa

de ser estritamente técnica e formal para ser apresentada por uma linguagem

expressiva. Acreditamos ser válido registrar as impressões que nos mostra as

relações da escrita com o pensamento.

A escrita é um veículo de comunicação entre os indivíduos, resgata a

linguagem e as relações entre os saberes. Todos esses instrumentos utilizados nos

mostram o crescimento do indivíduo enquanto sujeitos que se relacionam em um

ambiente, sujeitos de diferentes identidades. Não há comando no mundo das ideias,

mas liberdade de pensar e de agir, e, neste processo, se dá o aprendizado de todos

que aceitam o desafio de serem educadores.

Esse processo de escrever também é muito importante para o professor em

sua formação docente. Se o faz em grupo de modo colaborativo ele ganha e

contribui para com os pares em sua formação também.

Finalizamos esse capitulo esclarecendo que a escrita e leitura estabelece entre

os professores uma análise investigativa sobre a prática docente em sala com os seus

alunos e com os seus pares. Quando este processo ocorre em conjunto, no caso, no

contexto de um grupo colaborativo, possibilita rever experiências que servem de

reflexão, crítica, onde estas irão intervir para novas mudanças na atuação docente.

Dessa forma, quando estes professores escrevem, associam ideias e narram

experiências estabelecendo uma troca de saberes que irão contribuir ao enfrentamento

de desafios que surgem no contexto do ensino-aprendizagem da matemática.

Entendemos ser a escrita um recuso facilitador na aprendizagem desses professores

quando no trato com os conceitos matemáticos, possibilitando mudanças no cenário de

aprendizagem nas relações com a matemática e seus alunos.

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Sendo o grupo de trabalho colaborativo um novo cenário investigativo para o

professor, torna-se um ponto de referência de discussões e troca de saberes.

No capítulo seguinte, buscamos narrar, de modo analítico, como se deu o

processo de reflexão no grupo colaborativo.

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CAPÍTULO 4 – NARRANDO OS ENCONTROS DO GRUPO

COLABORATIVO: REFLEXÃO, FORMAÇÃO EM COLABORAÇÃO

No dia 03/02/12, iniciamos as atividades na escola Desembargador Sarney,

às 8h. Fizemos uma palestra sobre a escrita e a leitura na prática pedagógica.

Esclarecemos a importância da relação professor com aluno e o seu papel com

relação à abordagem dos conteúdos em sala de aula.

Discutimos, na ocasião, a importância da escrita e da leitura na formação

dos alunos e ressaltamos a Educação Matemática, dirigindo-nos, em particular, aos

professores de Matemática quanto a uma abordagem diferenciada dos conteúdos.

Esclarecemos que os processos cognitivos e metacognitivos geram possibilidades

significativas para o desenvolvimento do aluno no que se refere à leitura e à escrita.

Na sequência, apresentamos aos professores as potencialidades dos

instrumentos que valorizam a escrita, como o diário reflexivo, diário matemático ou

diário de bordo, as cartas, portfólios, textos narrativos e mapas conceituais.

Nesse mesmo dia, realizamos um encontro apenas com os professores de

matemática que iriam se inserir no nosso projeto de pesquisa para formar um grupo

de trabalho colaborativo.

Durante a reunião, esclarecemos os objetivos da pesquisa e o papel que

cada um assumiria no grupo de trabalho. Para isso, apresentamos as experiências

positivas ressaltadas em Ferreira e Miorim (2003), Fiorentini (2004), Fiorentini e

Lorenzato (2006) e Maciel, Braga e Olanda (2008). Organizamos um cronograma

dos encontros do grupo, definindo que nos reuniríamos quinzenalmente, das 11h às

11h50min, nas terças-feiras.

No primeiro encontro do grupo foram discutidas todas as questões

abordadas durante a palestra do primeiro dia em que estivemos na escola. O Prof. A

explicitou que queria entender melhor os conceitos de cognição e metacognição.

Discutimos sobre as atividades que o grupo desenvolveria e o Prof. B assinalou

sobre as possíveis dificuldades que teriam, já que nunca haviam trabalhado com a

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escrita nas aulas de Matemática. Também, não haviam abordado tal temática nas

formações continuadas que tinham participado, embora que, pelo Prof. B, isso era

uma realidade comum a todos os professores participantes.

O Prof. A, no final do encontro, declarou que iria propor aos alunos que

escrevessem sobre a matemática e as dificuldades que tinham com essa disciplina.

O Prof. B iria fazer uma discussão verbal sobre o ensino da matemática nas

séries anteriores.

A Profa. C iria organizar umas questões para propor aos alunos, visando

formar um perfil dos alunos sobre sua relação com a matemática (ANEXO B).

Essas atividades pensadas pelos professores se constituíram em uma

sondagem sobre a receptividade dos alunos quanto aos processos de escrita e

leitura na aprendizagem matemática e iria norteá-los quanto à implementação dessa

prática em suas aulas

No segundo encontro, o Prof. A trouxe alguns escritos de seus alunos e

apresentou-se animado com os registros feitos por eles. Essa ação deste professor

incentivou que os colegas também desenvolvessem trabalhos de escrita em suas

aulas.

O Prof. A, em resposta a um diário de um aluno, que coloca um sonho de se

empregar, dizendo que tudo dependia dele, o professor deu o seguinte feedback:

“Continue com esse objetivo e você vai conseguir vencer. Como você falou, depende

de você e eu estou aqui para te ajudar.”

No encontro seguinte, a Profa. C trouxe o questionário (ANEXO B), cujo

objetivo foi criar uma proximidade com seus alunos. A sugestão da professora foi

discutida no grupo e ela desenvolveu com os seus alunos. As questões do

questionário já tinham sido propostas para o grupo num encontro anterior.

Neste mesmo encontro, o Prof. B nos trouxe os resultados de seus alunos

sobre a redação proposta, destacando as dificuldades deles em relação à escrita

que, para ele, seria um limitador na realização da atividade. Ele verificou que os

alunos tinham dificuldades em se expressar, questionando como seria a escrita, se

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apresentavam essa dificuldade. Entretanto, valorizou essa metodologia dizendo que

os alunos falaram sobre os seus sentimentos em relação à matemática e à

educação.

O Prof. A percebeu que este momento da escrita se configura para os

alunos como aquele em que podem se expressar, de modo crítico, buscando se

aproximar mais da disciplina, do professor, valorizando suas preferências, exaltando

suas emoções e afetividade, resgatando sua autoestima (SANTOS, 2009).

A Profa. C no encontro seguinte nos disse que estava se vendo como uma

nova professora e que isto estava se refletindo em suas aulas. Percebia também o

diferencial que o grupo estava tendo nessa mudança, tanto de sua parte como de

seus alunos. Em uma entrevista, ela se manifestou como segue

Para mim houve mudanças na minha prática de forma mais produtiva e dinâmica. Por parte dos alunos eu percebi um envolvimento com relação aos conteúdos, mais em relação com as aulas de matemática, de certa forma eu achei que melhorou o rendimento de algumas turmas. Essa minha experiência com este grupo de trabalho colaborativo, esses momentos que a gente discutia nossas dificuldades trouxe para mim muitas reflexões sobre o meu fazer pedagógico e, houve mudança na minha prática, e a minha relação com os alunos de certa forma melhorou.

A proposição da escrita e leitura em suas aulas, subsidiada pela contribuição

reflexiva do grupo, fez com que a Profa. C observasse mudanças em sua própria

prática pedagógica, pois, a partir do olhar próprio e do outro, o seu fazer pedagógico

foi questionado, surgindo assim ideias de melhoria (FIORENTINI; CRISTOVAO,

2006). Em relação aos seus alunos, observou melhoria na sua aprendizagem, bem

como na sua motivação para participarem de suas aulas. Os alunos foram

estimulados a exercerem sua metacognição como consequência no

desenvolvimento de uma autonomia (POWELL; BAIRRAL, 2006).

Dos encontros, surgiu a sugestão da intercalação da História da Matemática

nas aulas, mas não sabiam como fazer. O grupo sugeriu que isto fosse feito de

forma que os alunos se sentissem atraídos para as aulas. O grupo chegou à

conclusão que seria mais prazeroso para os alunos assistirem a um filme. Escolheu-

se o filme “O Pato Donald no país da Matemática” com a proposição de que os

alunos assistissem e comentassem na sala, fazendo uma relação entre a

matemática e a sua história, estabelecendo um paralelo entre essa história e os

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conteúdos já abordados e aqueles observados no filme. Para o grupo, essa seria

uma motivação para o trabalho com a escrita, pois os alunos se sentiriam motivados

e atraídos com relação à Matemática e poderiam perceber seu percurso histórico.

Após essa atividade com os alunos, numa reunião do grupo, os professores

falaram sobre a experiência, destacando a dificuldade de expressão por parte dos

alunos, mas acharam bom. Entretanto, segundo eles, foi bom ter usado o filme,

como introdução para percepção sobre a contribuição que a História da Matemática

traz para a aprendizagem dos conceitos matemáticos.

Nesse mesmo encontro, o Prof. A nos deu várias sugestões. Estava com

receios em trabalhar com a escrita em suas aulas. Tinha conversado com uma

colega de outra escola e essa lhe apresentou o livro “Alice no País dos Números”

(FRABETTI, 2009). Levou para o grupo pensar em sua utilização. “Como iríamos

fazer isso? Seria trabalhar os textos, mas como relacionar com os conteúdos

matemáticos?” Decidiu-se que fariam, a partir dos primeiros capítulos do livro, um

ensaio para trabalhar a escrita e leitura. (Diário da Pesquisadora – 27/03/12).

O Prof. B lembrou que estavam com o trabalho atrasado sobre os conteúdos

matemáticos e o livro não tinha relação com o conteúdos daquele momento, mas

decidiram fazer a atividade considerando a importância de desenvolver nos alunos a

leitura e a escrita.

Os alunos seriam divididos em grupos para ler capítulos do livro e fazer a

atividade de reflexão, seguida de uma escrita a partir dela.

Em outro encontro, discutimos como foram as atividades em sala na

semana. Os professores estavam animados. Percebi uma nova expectativa em

relação à prática pedagógica. Manifestaram as dificuldades em os alunos

compreenderem os conteúdos matemáticos e retornamos a falar do uso da escrita,

já que as reflexões eram sempre oportunas. Foram colocados alguns resultados

sobre o uso do livro “Alice no País dos Números”.

De acordo com o Prof. B:

Foi proposta nas turmas dos 7º e 8º anos a leitura do primeiro capítulo – Matemática não serve para nada – do livro Alice nos País dos números. No geral, os alunos se identificam com o texto, no início foca-se na ideia que a

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Matemática não é tão importante, como diz o tema: não serve para nada. Durante o desenvolvimento da leitura notou-se a contradição do início da leitura com os exemplos de várias aplicabilidades da Matemática e a conclusão do trabalho foi o foco principal: que é o despertar para a importância do estudo da Matemática.

Após a experiência, comecei a praticar mais a leitura durante as aulas utilizando, principalmente, o próprio livro texto. Isso está fazendo com que o livro deixe de ser apenas para uso de exercícios e sim para o entendimento do mesmo.

Sobre essa experiência, a Profa. C, afirmou:

Trabalhar com textos na disciplina de Matemática está sendo uma experiência nova ao longo desses anos de magistério.

No dia treze de abril de 2012, no Centro de Ensino Desembargador ‘José Sarney’, nas 5ª séries ‘A’ e ‘B’, trabalhei o texto: ‘A matemática não serve para nada’, com o objetivo de leitura e produção textual.

Em um determinado momento um aluno, perguntou se a aula era de Português ou Matemática. Respondi fazendo-o entender da importância do ato de ler. Depois da leitura do texto deu-se início a redação das produções: poemas ou resumos. As minhas expectativas foram satisfatórias por ter obtido resultados positivos.

Essa experiência trouxe motivações tanto para os professores quanto para

os alunos, pois consideraram uma inovação. O livro-texto passou a ser mais usado

como motivação para a aprendizagem a partir da leitura (FONSECA; CARDOSO,

2009). Os professores passaram a ver mais resultados na aprendizagem com essa

prática. Nesse contexto, professor e aluno interagiram mais e a socialização de

ideias foi propiciada, com a intermediação do professor (LOPES; NACARATO;

2009).

Para subsidiar a compreensão da potencialidade do uso da escrita reflexiva

propusemos a discussão sobre as narrativas dos professores, pensando em até que

ponto elas poderiam contribuir com eles no processo pedagógico. Sugerimos, então,

o texto da Cunha (1997) (ANEXO C). Estes aceitaram, e então partimos para esse

desafio.

Durante as discussões sobre o texto, os professores ponderaram que narrar

as situações que viviam com os alunos durante a semana era para todos de grande

valia, pois são momentos vistos como apoio e incentivo a todos e que serve de

acréscimo e ponto de apoio para a melhoria da prática docente. Fizemos uma leitura

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compartilhada com discussões e sugestões que nos levaram a refletir pensando nos

momentos vividos em sala de aula.

O Prof. A disse que até avaliar estava difícil pois os alunos não tinham

motivação para estudar e todos os professores ratificavam essa situação.

Esclarecemos que esse momento do grupo iria ajudá-los a buscar novos caminhos,

novas soluções inclusive com a ajuda desse texto.

Os professores afirmaram que a proposta estava sendo produtiva para eles,

pois era um bom ensaio no uso da leitura e escrita, levando em conta que o texto da

Cunha (1997) revelou para eles a importância da leitura e as narrativas da docência,

destacando o valor dessas para todo o grupo, pois à medida que os alunos faziam

sua leitura em sala, eles também faziam no grupo. O Prof. A disse: “que bom ter

encontrado com a colega e ter visto o livro e achar que seria bom para o grupo”.

Consideramos um grande passo iniciar a leitura nas aulas de Matemática e,

pelas colocações dos professores, no grupo, em suas narrativas e nos diários de

bordo, estava claro que estávamos buscando juntos novas propostas. Nesse

processo, os professores se sentiam à vontade para falar de suas experiências e

satisfeito em ouvir a dos outros, como a Prof. A nos disse: “aqui eu falo e me

escutam”.

Os professores repassaram as considerações sobre o livro “Alice no País

dos Números” usado em sala (FRABETTI, 2009). Não foi feita a conclusão, devido

nem todos terem finalizado o trabalho. A Profa. C comentou sobre as atividades com

leitura e escrita afirmando que: “Analisando as produções observei que o nível

interpretativo melhorou em relação à primeira produção”. No dia 09/06, antes de

iniciar a atividade, a Profa. C fez a seguinte pergunta: - “O que você achou de

trabalhar com texto na disciplina de Matemática? A maioria dos alunos achou boa a

metodologia aplicada, uma vez que contribui para o desenvolvimento da leitura e da

escrita”.

Segue uma produção de uma aluna dessa Professora:

Poema de Alunos da Profa. C 11/05/2012

Um problema para muitos, Mas vale a pena aprender.

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Ela está no nosso dia a dia E faz bem a gente conhecer. Somar, subtrair, multiplicar e Dividir. Tudo isso quero aprender. A Matemática é nossa amiga Vamos todos entender. Gosto da disciplina, Pois me ajudará a vencer Eu gosto de matemática. Matemática não é só adição. Também é subtração. E também divisão. Que eu gosto de montão. E também dou o maior bolão. Para a multiplicação. Matemática não é ruim não. Na verdade é uma coisa boa para estudar. Para se formar. E depois trabalhar. Matemática não é ruim. **************************** A matemática é nossa amiga Ela nos ajuda a fazer diversas coisas Como contar, medir, somar, subtrair, dividir. Isso e muitas coisas mais e isso é só um pedaço Da grande História da Matemática. Sem falar que existe um trabalho Que tudo isso é muito difícil você Ter que somar, subtrair, dividir, contar Sem falar da dificuldade de carregar Isso tudinho só com você ou mais Alguns amigos, o trabalho se chama Montador de imóveis e auditórios E só isso que eu tenho a falar Tchau galera... Nós nos vemos por aí...

A reflexão expressa nessas produções indica uma escrita transacional

(POWELL; BAIRRAL, 2006) denotando uma compreensão de conteúdos e afinidade

com a disciplina e uma relação muito próxima do aluno com seu dia a dia. A

emotividade é aflorada nesse processo (SANTOS, 2009). O aprendiz pensa sobre o

proposto, com possibilidade de rever a escrita e refletir sobre o que aprendeu

(LOPES; NACARATO, 2009).

No último encontro do primeiro semestre, avaliamos o nosso trabalho. Os

professores acharam que esses encontros estavam auxiliando-os na organização e

no planejamento de suas aulas. O Prof. B relatou o resultado que o trabalho com a

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leitura lhe trouxe, pois depois disto ele decidiu fazer uma atividade avaliativa, como

aponta em seu diário desse dia: “Outra atividade desenvolvida em sala de aula foi a

avaliação da aula ministrada em relação à consistência didática e a aprendizagem

dos alunos.”. Seria um processo de avaliação.

Esse professor também sugeriu uma feira cultural de matemática com os

temas de ensino a serem trabalhados em sala de aula “com o objetivo principal de

confeccionar e elaborar materiais para iniciar a criação do laboratório de matemática

na escola”.

A Profa. C nos disse que já poderíamos trabalhar em agosto as situações de

ensino. Os colegas concordaram. O Prof. A apresentou a proposta de introduzir

leitura e escrita de forma regular nas aulas de matemática. Ela seria como uma

forma de melhorar suas aulas, pois considerava uma nova abordagem para trabalhar

os conceitos matemáticos. Essa experiência em sala de aula, a meu ver, tem tudo

para dar certo, embora ainda tenhamos muitas dificuldades.

No primeiro encontro do 2º. semestre, acontecido no dia 14 de agosto de

2012, os professores comentaram sobre as atividades realizadas pelo grupo no

1º.semestre. Fizeram um balanço e concluíram que precisávamos prosseguir, pois,

com os encontros, assim teríamos outra forma de relacionar e trabalhar os conceitos

matemáticos. Fizeram uma avaliação do processo de implantar a escrita e a leitura

em aulas de matemática e sobre as reuniões do grupo de trabalho colaborativo.

Em relação aos pontos negativos, o tempo foi considerado pouco, pois

tínhamos apenas 50 minutos para a reunião. Outro ponto considerado por eles foi

que nem todos os alunos fazem os diários. Atentamos que isso é muito comum nos

trabalhos com diários (MACIEL, 2003), e argumentamos que apesar das dificuldades

iniciais, considerando nunca terem utilizado esse recurso, a escrita e a leitura

poderiam ajudá-los em suas aulas.

Com relação aos pontos positivos da avaliação manifestaram que tínhamos

agora um local de reunião: a sala de vídeo, com mais tempo para as discussões.

Enviamos por e-mail e pedimos que os professores lessem o artigo

“Desafios e potencialidades da escrita na formação docente em Matemática” de

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Freitas e Fiorentini (2008) para discutirmos no próximo encontro (ANEXO D). Na

reunião do grupo, discutimos o conteúdo do texto e os professores expressaram que

o conteúdo do texto auxiliava-os a entender a escrita com uma forma de pesquisa.

Essa leitura motivou-os a socializar ideias sobre como iniciarmos a situação de

ensino, ou seja, já poderíamos começar a fazer o planejamento de suas etapas.

No encontro seguinte, no dia 21 de agosto de 2012, iniciamos a reunião,

animados, com novas expectativas. O Prof. A no seu diário escreve: “Uma análise

preliminar deu para notar, embora o tempo curto, que alguns alunos que gostam de

escrever começaram a interagir mais nas aulas e aumentaram suas curiosidades

sobre os assuntos”. E o professor nos coloca com relação ao tempo: “tenho certeza

de que conseguiremos um bom resultado na ideia que a leitura e a escrita poderão

proporcionar um entendimento maior pelo conteúdo ministrado”. Esta visão do

professor talvez se deva ao fato da leitura seguida da discussão do texto.

Na reunião seguinte, começamos a pensar no planejamento das situações

de ensino. Sugerimos que cada um pensasse e nos trouxessem sugestões de como

organizar as atividades, além de apontar dificuldades quanto ao embasamento

teórico ou metodológico. Ficou acertado que as ideias sistematizadas no grupo

seriam levadas para implementação em sala no encontro seguinte as impressões

dos resultados seriam discutidas no grupo. Cada um iria escrever um texto sobre

como iria abordar essa situação de ensino dentro das propostas já conhecidas,

quanto ao uso da escrita e leitura, e aí no grupo iríamos receber as contribuições

dos colegas. Essas impressões deveriam estar, também, no diário de bordo. Os

professores sugeriram que, apesar de terem tido, em fevereiro, as orientações sobre

mapas conceituais, enviássemos por e-mail mais informações sobre este recurso no

sentido de eles lerem e decidirem se poderia utilizá-lo na situação de ensino. Neste

mesmo dia, ao término do encontro enviamos os slides trabalhados com eles sobre

os Mapas Conceituais, em fevereiro, e modelos de mapas também vistos

anteriormente. Tudo por e-mail.

No encontro seguinte, no dia 28 de agosto de 2012, os professores

discutiram como iriam proceder para a execução das atividades de ensino e falaram

que conteúdos iriam trabalhar. Enfatizamos que iríamos trabalhar a escrita. O Prof. A

nos sugeriu que usássemos a História da Matemática. Então o grupo, neste

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processo de discussão, chegou a seguinte conclusão: iríamos pesquisar textos que

tratássem da História dos conteúdos matemáticos a serem abordados e os alunos

fariam leituras desses textos.

O Prof. A colocou para o grupo como iria proceder as suas atividades:

dividiria a turma em grupos e estes fariam a leitura dos dois textos, depois iriam

comentar sobre o que leram. Na sequência, escreveriam os textos, como poesia,

textos narrativos ou musicais, como preferissem, com relação aos dois textos já

lidos. Depois iriam apresentar para o grupo, e, no segundo momento, fariam os

mapas conceituais em grupo. Esse professor, no EJA, se propôs a trabalhar

Equação do primeiro grau e descreveu para o grupo como iria executar essa tarefa.

Na outra turma iria trabalhar de outra forma. É claro que usaria a escrita, mas teria

outro procedimento. Nesse sentido, afirmou: “para isso, Maria do Carmo, eu gostaria

de ler algo que me ajude nisto, algum texto que me oriente”

Sugerimos o texto “A escrita de diários em aulas de Matemática: espaço de

formação e aprendizagem” de Pontes (2007) (ANEXO E). Estávamos com esse texto

na pasta. Ele deu uma olhada e concordou em utilizá-lo como leitura para ajudá-lo

na sua proposta de trabalho. O texto foi copiado para todos os outros professores

para que no próximo encontro efetivássemos um estudo sobre ele. Dois outros

textos foram selecionados para leitura, ambos extraídos do livro didático

“Matemática: Pensar e Descobrir” de Giovanni e Giovanni Júnior (2010, p. 33-146),

O primeiro foi “Equação” e o segundo, “A linguagem das Equações”. Outro texto

selecionado, a partir de busca na internet, foi “A origem das Equações do 1 Grau”

(MATEMATIQUÊS, 2013), conforme apresentado no Anexo F.

O Prof. A nos pediu que o acompanhasse no primeiro dia de sua atividade.

Nós acatamos a ideia e participamos da aula do professor quando ele trabalhou com

Mapas Conceituais.

Sobre essa experiência, o professor nos colocou que:

Poucos alunos fizeram o mapa conceitual. Houve grande resistência para aplicação da metodologia, e os que fizeram não apresentaram a compreensão esperada da leitura dos mapas, embora eu veja que com mais aplicações e uma insistência da metodologia os resultados possam melhorar (PROF. A).

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Sobre a situação de ensino, o Prof. A relatou, em entrevista, que

Escolhido o conteúdo, foram selecionados textos sobre o mesmo e aplicados em sala de aula para leitura, um dos textos se referia à história das equações do primeiro grau: “A Origem das Equações do Primeiro Grau” de Amintas Paiva Afonso, e o texto sobre equações do primeiro grau do livro texto. Após a leitura, pedimos que os alunos retirassem do texto suas curiosidades ou dúvidas. Depois foi pedido que construíssem textos: narrativos, poéticos. Depois, tiradas as dúvidas e curiosidades foi pedido que elaborassem os mapas Conceituais e apresentassem para a turma. Este procedimento foi executado no EJA. No nono ano o procedimento ocorreu da seguinte forma: no início deste período, comecei com o conteúdo de Equação do segundo grau, sendo que foi iniciado com uma leitura sobre o tema e sua importância no cotidiano. Foi também exposto no texto o Teorema de Bhaskara; após esta explanação foi colocado exemplos de problemas envolvendo esse conteúdo e as maneiras de resolvê-lo; Depois de vários exercícios envolvendo o teorema de Baskara foi pedido que os alunos fizessem o mapa conceitual e que nesse mapa colocassem o significado dos principais fatores que constituem as resoluções das equações, como o significado do descriminante (delta) e das raízes; Depois foi passada uma bateria de exercícios para aplicar o conhecimento. Mesmo após os exercícios foi constatada uma grande deficiência no que se refere à percepção de como iniciar as resoluções e também de montar as equações de segundo Grau. Foi necessário nova intervenção teórica e um paralelo com a equação do primeiro grau, como subsídio para resolução das equações. Como resultado, vejo que os mapas conceituais contribuíram de forma positiva para o aprendizado, embora a falta de conteúdo-base de conhecimento matemático gere uma barreira quase intransponível dada à capacidade cognitiva dos alunos, que ao longo do tempo escolar não foi trabalhada de forma significativa.

Essa situação de ensino realizada foi discutida no grupo e para o Prof. A

Após a execução do projeto com os alunos, o grupo Colaborativo se reuniu para debater sobre suas experiências. Comparando os pontos positivos e negativos, foi constatado que a maioria dos alunos não atingiu o grau esperado conforme o planejamento das atividades. Foi comum, no grupo, que o tempo das mesmas e adequação desta nova metodologia de trabalho criaram uma barreira no processo de ensino e aprendizagem. Embora exista uma perspectiva que, com mais persistência nesse método, os resultados poderão ser ampliados. Uma das principais causas do não aproveitamento satisfatório se deu principalmente pela falta de interesse dos alunos em seguir o programa, entretanto, cabe ressaltar que essa falta não é em relação ao projeto e sim devido à deficiência socioeducativa dos educandos.

As dificuldades iniciais com essa metodologia foram consideradas pelo Prof.

A, como inovadora. Entendemos que esse processo é estimulador, pois proporciona

aos alunos e até mesmo ao professor articular criticamente sobre o que lhes

apresentam. Essas situações podem conduzir ambos, professor e aluno, a

enveredarem pelo novo, desafiador, suscitando diversos pontos de vista sobre o

mesmo assunto (SMOLE; DINIZ, 2012). Sobre a dificuldade da implementação do

uso do mapa conceitual, devemos observar que os alunos nem sempre irão aderir

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de pronto a essa proposta, mas a continuidade da proposição e apresentação de

alguns mapas pelo professor irá ajudar nessa adesão (MACIEL, 2003).

O Prof. B iria trabalhar os Polinômios e a sua forma seria a seguinte: os

alunos fariam a leitura de um histórico sobre os polinômios, contido no livro texto,

então fariam suas produções textuais; mas esse professor gostaria de usar, logo

após, um recurso que complementasse a leitura, haja vista, segundo ele, que os

alunos estavam com muita dificuldade. Então, este professor colocou para o grupo

sua sugestão: no primeiro momento fariam as leituras e depois as produções dos

textos. Os alunos utilizariam o recurso que iríamos juntos preparar, no grupo, e

depois eles iriam comentar sobre o uso desse recurso e, por último, iriam apresentar

as produções textuais. O recurso escolhido pelo Prof. B foi o algeplan4. No 7º ano,

ele iria trabalhar a leitura e produção de textos e o conteúdo seria números

Racionais. Nestas turmas, ele não usaria textos históricos extra-livro.

Sobre essa situação de ensino ele nos falou que

Após uma autoavaliação da turma na primeira aula de polinômio verifiquei que o entendimento dos alunos não foi muito consistente devido à abstração natural do assunto. No encontro semanal do grupo Colaborativo solicitei uma sugestão de um texto referente ao assunto pré-citado. Prontamente a professora Maria do Carmo trouxe o texto a “História dos Polinômios” (GUIMARÃES, 2008 – ANEXO G) o qual foi sugerido em sala de aula das turmas sétima A e B. Durante os encontros do grupo com os colegas e a Profa. Maria do Carmo, colocávamos as nossas impressões atuais em relação às turmas e a maneira que trabalhávamos os conteúdos, seguidas das propostas a serem trabalhadas em sala de aula. Uma das coisas que abstraímos foi a maneira de planejarmos as aulas, passando em alternativas como essa de textos relacionados com o assunto, construções de material didático, no caso: o algeplan que construímos utilizando o EVA, e os mapas conceituais construídos no grupo, além de outros. Assim, para realização do projeto, apresentávamos o assunto através do livro texto ou de um texto complementar, no caso na nossa situação de ensino utilizamos o texto “A História dos Polinômios”, pois levamos essa ideia para o grupo e foi aceito em trabalharmos dessa forma, no caso eu e o Prof. A. Solicitamos aos alunos que apresentassem o resultado na forma de textos narrativos,

4 O “jogo” Algeplan é formado por 40 peças/figuras geométricas dos seguintes tipos: Quadrados: Quatro quadrados grandes de lados x, x > 0, representando cada um deles o elemento/expressão do tipo X2, quatro quadrados médios de lados y (com y < x), representando cada um deles um elemento/expressão do tipo Y2, e doze pequenos de lados 1, a unidade (representando o elemento/expressão do tipo 1=12). Total de quadrados: 20. Retângulos: Quatro retângulos de lados x e y (representando cada um o elemento/expressão do tipo xy), oito retângulos de lados x e 1 (representando cada um elemento/expressão do tipo x = x.1) e oito de lados y e 1 (representando cada o elemento y = y.1). Total de retângulos: 20. O objetivo principal do uso do “Algeplan”, como mencionado, é relacionar figuras geométricas planas (quadrados e retângulos) com expressões algébricas do primeiro e segundo graus, monômios e polinômios, resolução de equações do primeiro grau e fatoração de trinômios do segundo grau (FANTI et al., 2008).

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poemas paródias ou outra forma de expressão que caracterizasse a escrita. O conteúdo que escolhemos para trabalhar a situação de ensino foi polinômios. Pois os alunos estavam apresentando dificuldades em acompanhar principalmente as operações. E foi pensado da seguinte forma: foi sugerido no grupo que focássemos a história da matemática e então fomos pesquisar um texto que tratasse da história dos polinômios, trouxemos para o grupo e foi aceito.

Elaboramos as seguintes etapas

- Distribuímos os alunos em grupos para que fizessem a leitura do texto “A História dos Polinômios” e depois a leitura do livro-texto. Foi feito isto para que os alunos construíssem uma produção textual: texto narrativo, poético, paródia, etc.

No encontro seguinte fomos para a sala de vídeo para apresentação aos alunos do recurso ALGEPLAN em slides. Toda a explicação foi dada de como trabalhar este recurso; antes nós assimilamos o uso no grupo. Depois os alunos em grupo foram manipulando as peças para compreender: termos semelhantes, as operações e fatoração. Foram feitas várias atividades.

No encontro seguinte, na sala de aula, os alunos foram dando suas impressões sobre as atividades com o ALGEPLAN e foram unânimes em nos dizer sobre como foi diferente a aula com este recurso; para eles, com essas peças, fica mais fácil entender os polinômios. Partimos, então, para a próxima etapa que seria a apresentação das produções textos pelos alunos; particularmente gostamos do resultado, pois nossa avaliação foi diferente das outras. Consideramos que trabalhar dessa forma ajuda o aluno a descobrir o interesse pela matemática.

No 7° ano trabalhamos o conteúdo dos números Racionais e procedemos da seguinte forma:

1. Distribuímos os alunos em grupo

2. Orientamos que individualmente fizessem uma leitura do livro texto sobre o conteúdo e depois discutissem no grupo e levassem suas impressões para o grupão.

3. Utilizando a escrita fizessem produções textuais como: textos narrativos, poesias, paródias ou outros gêneros que relacionasse o conteúdo à escrita.

4. Foram feitas a leitura e apresentação pelos grupos e, como incentivo, premiamos aqueles que mais se destacaram.

5. Acreditamos que foi produtiva esta atividade em virtude do empenho de vários alunos. Até porque muitos utilizaram a música, no caso o estilo rap, que é o que eles gostam. Preferimos organizar nossas atividades de ensino de forma diferente para cada turma, pois cada uma delas apresentam particularidades diferentes (PROF. B).

Após a realização dessa atividade, o professor nos relatou como foi a

discussão no grupo e os benefícios alcançados:

Eu trouxe para o grupo as impressões que ocorreram durante todo o período da aplicabilidade da situação de ensino e para mim que nunca tinha trabalhado dessa forma foi uma experiência que levarei como professor para a outra escola onde irei trabalhar no próximo ano letivo, inclusive o

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material que construímos no grupo vou tentar resgatar para levar para e escola a qual irei trabalhar no novo ano letivo. Gostaria de ressaltar que foi uma surpresa para o grupo quando disse que iria trabalhar os mapas conceituais de forma diferente e disse: aguarde a surpresa! Foi assim, junto com os alunos e quando trouxe para o grupo, todos foram unânimes, inclusive a pesquisadora, de que é sempre bom fazer a diferença. E ISSO AI VALEU A EXPERIÊNCIA. PENA QUE NÃO POSSO LEVAR VOCÊ PRA ESCOLA. VOCÊ PROFESSORA COLABORADORA, ONDE VOCÊ CHEGA FAZ ACONTECER, ALIÁS NÓS FIZEMOS ACONTECER, POIS JUNTOS APRENDEMOS MUITO (sic).

O resultado foi que os alunos tiveram com o recurso, conseguiram fazer uma ligação do que seria um polinômio. Tiveram uma noção mais prática da geometria, pois trabalhamos a geometria articulada à álgebra.

Com relação à escrita a partir do texto e em contato com o algeplan redigiram uma produção textual mais densa. Se fosse dado sem este método, se não tivesse sido organizado a situação de ensino assim discutida, feita de forma planejada, talvez eles não tivessem condições de construir dessa forma (PROF. B).

O Prof. B caracterizou a experiência com a leitura e escrita como algo

dinamizador da aprendizagem e promete levar em frente essa metodologia. Tanto o

uso da escrita e leitura como a participação no grupo colaborativo. As conclusões a

que chegou esse professor confirma o benefício do reconhecimento da escrita nas

aulas de matemática (PASSOS, 2009), bem como a contribuição do grupo de

trabalho colaborativo na formação continuada do professor (LOPES; NACARATO,

2009).

O Prof. B nos esclareceu que foi muito bom usar este recurso. Foi uma

revisão das operações com polinômios. Disse ele que os alunos, ao perguntar-lhes

sobre a metodologia, manifestaram que não sabiam que podia trabalhar esse

assunto de forma tão diferente. Os alunos estavam motivados. “Pra mim foi algo

também diferente”, ainda segundo o Prof. B.

A Profa. C nos trouxe a sua sugestão: como estava trabalhando medidas e

depois iria para o estudo de polígonos, então iria trabalhar os dois juntos. Pensou,

assim, o seu procedimento: faria a leitura do assunto a partir do livro texto com os

alunos e estes iriam depois comentar o que leram. Ela usaria recursos, como

barbante, para explicar sobre medidas e outros recursos para os polígonos, mas não

tinha ideia sobre as figuras geométricas; então sugerimos o Tangram e o Geoplano,

sendo acatada por ela e o grupo.

A seguir, ela nos conta como foi a atividade:

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A aplicabilidade das atividades desenvolvidas antes do contato com o grupo Colaborativo se desenvolveu a partir da exploração do conteúdo e às vezes a leitura de textos. Hoje, com as informações levantadas no grupo o meu fazer pedagógico teve inovações: leitura de textos diversificados, produção textual, diário de bordo, mapas Conceituais, e o uso de recursos didáticos que eu não conhecia: o geoplano, o tangram, o mapa conceitual, possibilitando um trabalho mais dinâmico, diferente.

Ao trabalhar as áreas das figuras geométricas (retângulo, triângulo e quadrado), o planejamento deu-se mediante uma reflexão baseada na interdisciplinaridade.

Diante disso, o trabalho se processou da seguinte maneira:

1- leitura do livro didático

2- Identificação dos segmentos utilizando-se barbante na construção das figuras geométricas.

3- Uso do geoplano para representar as figuras e aplicação das áreas das mesmas.

4- Utilização do tangram na formação de gravuras.

5- A construção do Mapa Conceitual para compreensão do assunto abordado, tendo um caráter de síntese e revisão do conteúdo já abordado.

Neste contexto, utilizaram-se gravuras da Tarsila do Amaral (ANEXO H) para que o aluno fizesse uma relação, entre a Matemática e a Arte, como mostra a concepção Cubista (PROF. C).

Ela explica como foi a discussão no grupo sobre essa atividade:

A questão do planejamento foi levado ao grupo colaborativo que se fundamentou nos relatos do fazer pedagógico. Levantei a questão do aprendizado no campo das figuras geométricas relacionando com a Arte de Tarsila do Amaral.

O grupo, por sua vez, achou interessante essa metodologia, sendo que a pesquisadora foi além das observações, nos sugerindo que trabalhasse o conteúdo utilizando outros recursos didáticos como o geoplano no cálculo das áreas e perímetro dessas figuras geométricas, o Tangram na construção, formação de figuras diversificadas.

A utilização desses recursos me ajudou a desenvolver um trabalho de qualidade, diferente, mesmo assim proporcionou reavaliar minha prática pedagógica com inovações e atitudes num conhecimento mais dinâmico e lúdico, haja vista que anteriormente meu trabalho baseava-se na exploração do conteúdo, atrelado ao livro didático.

Planejamento de Ensino:

Para trabalhar o conteúdo polígonos organizamos da seguinte forma:

- Disposição dos alunos em circulo

- Exposição do Conteúdo anterior

- Construção de figuras geométricas

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- Leitura do livro didático

- Recursos utilizados para trabalhar esse conteúdo: Barbante, lã, geoplano, mapa conceitual, tangram, gravuras de Tarsila do Amaral.

Contextualizando a Matemática e a Arte utilizou-se algumas gravuras da Arte da Tarsila para que o aluno lesse e relacionasse o que ambas têm em comum. Nesse contexto focalizou-se o movimento Cubista numa temática interdisciplinar.

O objetivo de todo esse trabalho proporcionou um conhecimento amplo de leitura para o aluno e como resultados alcançados foram a participação, o desempenho nos trabalhos propostos (PROF. C).

Essas atividades em que se explorou a escrita e leitura foram muito

inusitadas tanto para a professora como para os alunos. O trabalho da professora,

refletido no grupo, proporcionou-lhe um ampliar de seu conhecimento profissional

(NACARATO et al., 2003; FIORENTINI; CRISTOVÃO, 2006; PONTE; MENEZES,

2010) e os alunos aprenderam. Houve mais participação dos alunos, pela motivação

ao desenvolvimento da metacognição com consequência na elevação da autonomia

(POWELL; BAIRRAL, 2006). Essa professora utilizou todos os recursos sugeridos no

grupo, que antes ainda não tinha utilizado em aulas de matemática. Ela mesma

destaca as suas impressões sobre essa situação de ensino no âmbito do grupo

colaborativo:

A leitura e a escrita no meu ponto de vista não atribuem somente a questão de Língua Portuguesa, todavia deveriam ser aplicadas em todas as disciplinas como um meio de incentivo à prática da leitura e ao mesmo tempo aperfeiçoamento a leitura do alunado. O grupo Colaborativo durante esses meses de trabalho na Escola Desembargador Sarney se posicionou como parceiro colocando-se à disposição para ajudar no que era preciso. Houve interesse em ler e produzir por parte dos alunos; os diários, quando eu esquecia eles lembravam, mas foi pouco, por não terem o hábito de escrever. No primeiro dia, quando começamos, eles me disseram: a senhora não é professora de português (PROF. C).

A Prof. C verificou um aumento do interesse na leitura e escrita dos alunos e

assume essa prática como uma que deve ser adotada por professores de outras

áreas. Conseguiu intermediar esse processo oferecendo uma diversidade de formas

de se expressar e compartilhar conhecimentos aos alunos (LOPES, NACARATO,

2009). Aqui destacamos um extrato do diário de uma aluna da Profa. C sobre a aula:

a aula de hoje foi muito diferente. A professora levou a gente para o meio da sala e começou a dar a sua aula, explicando o que era um polígono e falou quantos lados tem as figuras; depois ela pediu que, usando o geoplano um aluno fizesse um polígono de 3 lados e um outro aluno uma figura de 6 lados.

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Ressalta-se aqui que todo o material didático utilizado nas atividades de

ensino foi elaborado no grupo.

O Prof. A num encontro disse que estava gostando, mas que os alunos

tinham dificuldade de interpretar o que liam e disse que estava trabalhando com os

mapas. A Profa. C já tinha trabalhado as medidas e feito a leitura dos textos sobre o

tangram e o geoplano. Estava muito animada com o que estava fazendo.

Terminamos esse encontro, no dia 4 de outubro de 2012, em clima de animação e

companheirismo. Essa é umas das vantagens da participação em grupo colaborativo

(FIORENTINI, 2004).

Em outra oportunidade de encontro, no dia 4 de outubro de 2012,

comentamos sobre o texto de D’Ambrosio (2012), intitulado: “O que faz um bom

professor”. Tivemos alguns posicionamentos. A Profa. C nos disse que este texto o

início da sua carreira, pois quando ela começou no magistério não tinha expectativa

de ser professora, mas depois foi mudando e hoje, atualmente, ela se vê uma outra

professora. O Prof. A nos disse: “às vezes, a gente pensa que tudo que esta ai é

uma utopia, mas com o tempo se percebe que pode não ser”. A Profa. C se referiu

ao trabalho em sala e disse que já estava usando o geoplano e estava indo tudo

bem, mas ela gostaria de detalhar tudo quando estivesse pronto seu texto e aí ela

iria ler para todos.

Participamos de várias aulas com os professores e assistimos a

apresentação dos mapas conceituais na turma do EJA, a apresentação e a

aplicação do geoplano, os momentos das apresentações dos textos produzidos

pelos alunos. Sempre fomos a convite dos professores do grupo para ver como

estava acontecendo o processo de inovação de suas práticas. A Profa. C nos disse

que já estava no final e pediu que fôssemos a sua sala, pois ela estaria encerrando

com o mapa e iria premiar os alunos que mais se destacaram nessas atividades.

Fomos até a sala e ficamos um tempo. Os alunos receberam o prêmio que foi uma

barra de chocolate. Utilizamos essa motivação extrínseca para motivar os alunos,

sem deixar de levar em conta a motivação intrínseca, conforme Maciel (2003).

Estivemos com o Prof. A na turma do EJA para mostrar junto com ele o

mapa conceitual para os alunos, mas no dia da apresentação dos mapas pelos os

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alunos eu não pudemos estar presente. Entretanto, conversamos com os alunos no

próximo encontro do grupo e tivemos algumas impressões como a que segue:

“quando lemos o texto depois da aula lembramos mais alguma coisa que não

tínhamos entendido na aula. Depois que eu fiz o mapa eu consegui com mais

facilidade resolver os exercícios (ALUNO DO PROF. A).

Nos encontros finais, os professores apresentaram os resultados e como

procederam com os trabalhos deles. O trabalho da Profa. C, envolvendo as medidas

e os polígonos, teve resultados satisfatórios e ela disse: “Eu fiz uma relação entre a

atividade das medidas com o barbante e o reconhecimento das figuras poligonais.

Deixo os detalhes para vocês lerem no meu texto”

O Prof. B relatou no grupo que os alunos ficaram motivados com o algeplan

e responderam com melhor qualidade aos problemas envolvendo polinômios.

Segundo o professor, os alunos ficaram surpresos como pedacinhos de Eva

poderiam fazer melhorar a compreensão do conteúdo.

O Prof. A informou ao grupo que no EJA apenas alguns alunos se

sobressaíram com o mapa conceitual. Entretanto no 9º, no trabalho com equação do

segundo grau, a leitura e a escrita e o uso do mapa conceitual foi mais produtivo,

pois “fiz uma intervenção teórica e um paralelo com a equação do primeiro grau,

como subsídio para resolução das equações.” No texto narrativo isso é mais

detalhado.

No último encontro, no dia 8 de novembro de 2012, fizemos uma reunião de

avaliação e despedida do grupo. Ficamos com saudade, pois vivenciar tais

momentos foi muito gratificante pelo aprendizado, desafios e muita troca. Já

sentíamos falta dos momentos que vivenciamos, histórias, tristezas, ansiedades,

motivação e desmotivação, sentimentos que nos levaram a grandes mudanças.

Foram e somos 4 (quatro). Construímos um elo de confiança e amizade. Houve

momentos de desânimo, cansaço e até de desistência desses professores que

iniciam sua jornada de trabalho desde às 7h, terminando às 12h e partem depois

para outra escola, mas apesar de tudo, lá estavam os três, nos esperando nos

corredores da escola, nos procurando; nunca foi preciso chamá-los.

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Percebemos que o grupo colaborativo não se restringia somente à sala de

vídeo, mas também à sala de professores, na cantina, no pátio, nos corredores, na

secretaria. Sempre era um momento de trocas.

Comunicávamos-nos por email, telefone, por mensagem (celular), trocando

informações e nas terças-feiras lá estávamos juntos, uns chegando e outros vindo,

sempre com uma novidade diferente.

Em conversa com o Diretor da Escola, soube que o Prof. B estava faltando

muito e que por isso a direção queria pedir sua substituição, mas a sua participação

no grupo interferiu de forma positiva, levando o diretor a engavetar o pedido oficial

de remoção.

Foram momentos de solidariedade e trocas de saberes que nos fizeram

sentir como os professores que desejam aprender, crescer, ser diferentes.

No final dessa jornada não foi só pesquisadora, que se apresentou. Houve

uma pessoa que cresceu, caminhou para frente em meio a tantas histórias,

narrativas imbricadas de sentimentos e desafios.

Esses professores nos fizeram perceber como é desafiante estar em sala de

aula e como é confiante associar um ensino ao professor que deseja ser diferente e

que almeja mudar a sua praticar, renovar ideias para reconstrução de novos

saberes.

Mesmo enfrentando dificuldades quando escreviam e expressavam seus

pensamentos, todos se empenhavam, pois desejavam fazer o melhor, sempre.

Finalizamos esse capitulo esclarecendo que a escrita e leitura estabelece

entre os professores uma análise investigativa sobre a prática docente em sala com

os seus alunos e com os seus pares. Quando este processo ocorre em conjunto, no

caso, no contexto de um grupo colaborativo possibilita rever experiências que

servem de reflexão, crítica, onde estas irão intervir para novas mudanças na atuação

docente.

Dessa forma, quando estes professores escrevem, associam ideias e

narram experiências estabelecendo uma troca de saberes certamente contribuirão

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para o enfrentamento de desafios que surgem no contexto do ensino-aprendizagem

da matemática. Entendemos ser a escrita um recuso facilitador na aprendizagem

desses professores quando no trato com os conceitos matemáticos, possibilitando

mudanças no cenário de aprendizagem nas relações com a matemática e seus

alunos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência que vivenciamos, enquanto docente no Ensino Fundamental e

Superior, cheia de adversidades com relação à formação de professores de

matemática, e as conclusões, em vários momentos, a partir de conversas com

professores dessa disciplina, mostrou-nos o quanto se precisa melhorar com relação

a esta temática que nos leva a compreender, com propriedade, esta realidade que

vive o professor nas escolas, sua relação com a academia, com seus pares, com a

sua formação e, de certa forma, com a sua prática nas aulas de matemática.

A forma que vem se dando a formação desses professores, não o inclui em

um plano de mudanças, não abrange caracteres formativos que dê a este professor

oportunidades de refletir através da pesquisa, e sobre a pesquisa, de que ele é o

sujeito que move o ensino e a aprendizagem quando exerce a sua docência.

Atualmente, a formação de professores é um tema de relevância nas IES e

possui destaque nos programas de pós-graduação através das pesquisas

elaboradas por pedagogos e professores das diversas áreas de ensino, em

particular, os educadores matemáticos. Esses programas atuam com muito interesse

e publicam os resultados de suas pesquisas em anais de eventos científicos, livros e

periódicos. Apesar de que em algumas IES a pesquisa sobre esta temática não tem

abertura para um estudo mais apurado, isto, no entanto, não interfere na

preocupação de alguns especialistas em levar em frente novos esclarecimentos que

devem ocorrer para que haja uma tomada de decisão sobre como melhor adequar

as mudanças relativas à formação de professores. A Educação, em especial na área

da Educação Matemática, esclarece-nos sobre o papel das IES e das Escolas para

uma conscientização da influência que tem a formação desses professores para

uma educação e um ensino de qualidade, oferecendo a estes, meios para aderirem

ao estudo e à pesquisa que seriam o ponto de partida para o início de novas

medidas de melhorias em relação ao resgate de sua identidade.

Sabemos que o sistema de ensino legitima modelos de ações nesta temática

que não ficam claros para muitos que estão envolvidos em alguma proposta de

como formar melhor os professores. A formação de professores, particularmente a

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dos de matemática, não se limita a regras, nem a formas de planos e estratégias,

mas a articulações que devem envolver vários segmentos da Educação Matemática

a partir de uma reflexão crítica de saberes que contribua para que o ensino da

matemática seja visto com outro olhar, conscientizando outras instâncias,

principalmente o Sistema de Ensino, a sociedade, os pesquisadores, os pedagogos

e os educadores em geral, sobre a melhoria desse professor que não deve mais ser

visto como um profissional da Educação, mas sim como o protagonista da

Educação.

A forma de como vem se dando e como é trabalhada a formação de

professores, em algumas instituições, merece uma observação, pois distorce o

sentido prioritário do que seja considerada uma formação continuada de professores

que almejam uma autonomia profissional.

Diante dessa demanda de ações articuladas, é que buscamos novas

propostas para que se dinamize a formação junto com a prática desses professores,

motivando-os a outra proposta de ensino. É nesse ponto que consideramos a escrita

e a leitura como ferramentas importantes para que esses pares trabalhem de forma

diferenciada os conceitos matemáticos, permitindo que entre ele e o aluno se

estabeleça um elo de confiabilidade e afetividade que minimize os distúrbios de

aprendizagem que vão ocorrendo com esses alunos à medida que estes vão

perdendo o estímulo por se acreditarem incapazes de compreender os conceitos

matemáticos. Desse modo, vai-se legitimando uma nova forma de o professor

abordar os conceitos matemáticos, dando eficácia a uma aprendizagem significativa

por parte dos alunos, estimulando o formador a refletir sobre a sua prática saindo do

seu narcisismo reflexivo para uma forma dinâmica de se relacionar com a

matemática, os seus conceitos e seus pares.

Se o professor não busca melhorar a sua prática, em consequência, não

consegue acompanhar as mudanças que surgem, pois renovar e reconstruir saberes

são fatores preponderantes para sua formação como educador. O professor que

estuda se renova de forma individual, mas, para melhor se formar, é necessário

buscar a pesquisa como apoio e ter como base o conhecimento, haja vista ser ele

um sujeito que compartilha saberes e precisa de uma boa formação para ter

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condições de aderir às mudanças sociais, culturais e intelectuais para ser um

cidadão crítico, um professor reflexivo.

Convém ressaltar a influência do formador desses professores quando da

formação inicial, como também os currículos das IES, os planos de ação articulados

na academia com relação à maneira como são formados esses futuros professores.

A formação tradicional interfere de forma negativa, condicionando este professor ao

individualismo, e a um ensino memorístico e repetitivo da matemática, levando os

alunos à evasão, ao fracasso escolar, à reprovação, bem como ao desestímulo em

acreditarem na incapacidade de compreender a matemática, desestimulando tanto

alunos quanto professores. Consideramos que o professor, quando atua de forma

descomprometida no contexto do ensino, vê-se preso a paradigmas ultrapassados, a

um ensino cartesiano desmotivado de brilho e significados. E as implicações disto é

a distorção do objetivo de educador, dificultando o desenvolvimento do aluno e o seu

desenvolvimento profissional como educador.

Pensando nisso a área de Educação Matemática viabiliza orientações que

contribuem para a formação desses professores. O professor deve ser um

pesquisador de sua prática, no sentindo de mudar o cenário de aprendizagem. Na

busca de estratégias que auxiliem o professor na docência, recomendamos o uso da

leitura e escrita feitos em âmbito reflexivo, desenvolvem aspectos cognitivos e

metacognitivos através de sua participação em grupos que vão interagir por meio de

discussões e sugestões, e também através das experiências vividas por cada um.

Neste ambiente de aprendizagem, ele se estimula a novas ações e

estratégias em sala de aula e, com seus pares, desenvolve formas cooperativas de

se ajudarem através das narrativas de suas experiências vividas no contexto da sala

de aula. Referimo-nos aos Grupos de Trabalho Colaborativo, que vêm a ser um novo

ambiente de aprendizagem para o professor.

Na trajetória sobre a formação de professores nos deparamos com vários

conceitos que desenvolvem pensamentos, ideias equivocadas sobre como formar

esses futuros professores, quais metas acionar que possam mobilizar as IES e seus

formadores, e, principalmente, as Instituições de EB para que juntos possam

contribuir para novas aquisições que levem outros segmentos a aderirem propostas

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que estimulem novas mudanças ao aluno que ingressa nas universidades, ao

estudante de graduação que busca, neste período, respostas às dúvidas mediante

conhecimentos adquiridos, e, ao futuro professor que, através de saberes oriundos

dessa formação inicial, ingressa nas escolas da Educação Básica com expectativas

de ser um bom professor, mas se encontra despreparado para o enfrentamento

desse desafio, qual seja, o de ser um educador, um professor reflexivo.

Quando nos referimos ao grupo de trabalho colaborativo, pensamos em um

ambiente, uma nova metodologia de trabalho onde professores se encontram para

juntos socializarem conhecimentos, construírem novos saberes, reconstruírem

outros saberes, a partir de suas experiências vividas nos caminhos da docência e de

suas narrativas, numa expectativa de colaboração e cooperação. Logo, o objetivo

desenvolver, entre eles, novas perspectivas em suas práticas, tendo como fonte

gerenciadora a pesquisa, estimulando-os assim a serem de fato professores

reflexivos. Neste novo ambiente de aprendizagem, o professor é a principal

personagem, pois é estimulado a trabalhar a autoestima, a desenvolver a confiança

mútua, em um ambiente de colaboração. No grupo de Trabalho Colaborativo,

precisamos atentar para as diferenças entre o que seja colaborar e cooperar. Na

cooperação, as decisões são diferenciadas e seguem uma direção; já no

colaborativo os professores narram suas experiências e todos refletem sobre as

dificuldades e mudanças. Há momentos de avaliação e autoavaliação de suas

práticas diárias em sala de aula, no intuito de ajudar professor a caminhar para sua

autonomia, principalmente a autonomia do conhecimento, buscando uma nova visão

sobre os conceitos matemáticos.

Junto a esses processos de refletir sobre como está se dando a sua prática,

as dúvidas e os conflitos, surgem a escrita e a leitura que vêm como suporte para

estes professores no direcionamento de suas narrativas visando à construção de

sujeitos autônomos e emancipados, por se tornarem, a partir daí, professores

críticos e participativos, além de profissionais conscientes enquanto aprendizes.

Para contribuir com este trabalho buscamos orientações na área da

Educação Matemática, pois esta tem dado informações de grande valia, com base

em uma vasta referência bibliográfica e uma rica literatura, que nos possibilitasse

adquirir subsídios de onde buscar estudar, pesquisar e avaliar de que forma vem se

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dando ao longo dos tempos a formação de professores de matemática. Percebemos

a relevância que está sendo dada a esta temática nas escolas, nas IES, nos

programas de pós-graduação, basicamente com relação ao discurso, com relação à

comunicação, à linguagem apropriada no trato dos conceitos matemáticos. A

abordagem nas salas de aula, a observação e a avaliação desse professor com

relação aos seus saberes, tanto no grupo colaborativo ou no contexto da sala de

aula. Em EM abre espaço para, através da pesquisa nessa área, trabalhar em

publicações, esclarecendo a comunidade acadêmica e os educadores matemáticos,

em especial. As pesquisas publicadas são relatos de experiência desses

professores, artigos nos quais percebemos que pesquisadores estudantes estão

envolvidos, visando a novas propostas.

Sobre os grupos de trabalho colaborativo, a forma de atuação do professor

deve ser voluntária, pois deve partir dele a necessidade de compartilhar seus

saberes e experiências vividas. À medida que o grupo se encontra, vai-se

estabelecendo entre eles confiança e respeito, e gerando, assim, uma reciprocidade

de troca de conhecimentos, pois, além das trocas, vai ocorrendo, através do estudo,

uma sistematização de informações por parte de todos. Em alguns grupos desse

porte, tem-se produções escritas por eles. Nesses grupos, com o tempo de convívio,

vão-se estabelecendo laços de amizade a partir de uma troca que leva à

reciprocidade e à aprendizagem. São nestes momentos que a escrita e a leitura vêm

nos dar suporte à consolidação desses grupos com suas narrativas verbais ou

escritas. Neste ambiente de aprendizagem, com nova metodologia para rever os

conceitos matemáticos, é que o professor desenvolve os processos cognitivos e

metacognitivos com relação ao ensino da matemática contribuindo para o ensino e

aprendizagem da disciplina.

Na escola campo onde fizemos a pesquisa, organizamos um grupo de

Trabalho Colaborativo com 3 professores de matemática do E.F. Para isso, nós nos

reuníamos uma vez por semana. No início nosso tempo era de 50 minutos, depois

passamos para uma hora, pois os professores viram a necessidade de aumentar o

tempo. Conforme já dissemos, nossas reuniões objetivavam, através de discussões

e sugestões, refletir sobre as práticas em sala de aula. Traziam as narrativas, por

meio dos diários escritos por eles e pelos alunos, e suas narrativas orais, vividas

durante a semana, quando da utilização dos instrumentos: mapas conceituais,

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textos, diários matemáticos que mobilizavam o uso da escrita e da leitura. Nos

encontros os professores comentavam suas dúvidas sobre esta nova maneira de

discutir as suas práticas, pois o uso da leitura e da escrita em aulas de matemática

não tinha sido usado por eles, até então. A experiência com o grupo de trabalho

colaborativo também era inovadora para eles.

Essa pesquisa nos mostrou, em relação à formação dos professores de

Matemática, que muitos conhecimentos são buscados por eles quando já em

exercício docente e, nesse caso, eles buscam soluções coletivas continuamente. A

formação inicial dos professores não oferece conhecimentos teóricos satisfatórios.

Em geral, os professores não param para refletir juntos sobre as mudanças da

prática de cada um. Fato se dá por não encontrarem ou conhecerem este espaço

para discutirem esses conflitos e adversidades encontradas, não só na sala de aula

e na escola, suas deficiências de formação refletem na sala de aula gerando

dificuldades ao aluno no aprendizado que o leve a autonomia crítica do seu

conhecimento. Desse modo, não se mostram à vontade para se avaliarem no

sentido de reverem novas adaptações em sua pedagogia de ensino, que o levaria a

uma aprendizagem para ele e para o seu aluno. Nas reuniões programadas do

grupo colaborativo e nas entrevistas com os professores desta pesquisa,

constatamos que foram válidas as situações de ensino aplicadas por eles, apesar

das dificuldades encontradas. Inicialmente, expressaram que teriam dificuldades na

implementação da escrita e leitura nas aulas de Matemática e que os alunos tinham

dificuldade de se expressar. Entretanto, a partir dos primeiros registros dos alunos

foi percebida a validade dessa metodologia, pois os alunos falaram sobre os seus

sentimentos em relação à matemática e à educação. Esses professores passaram a

perceber que o momento da escrita se constitui um espaço de expressão crítica,

possibilitando uma aproximação maior dos alunos com a Matemática, além de

expressarem suas preferências, emoções e afetividade em relação ao processo

educacional em que estão inseridos.

Com essa experiência, os professores do grupo passaram a ver a escrita e

leitura como possibilidade de mudança na sua prática docente e também na do

discente, considerando o caráter inovador de tal prática. As leituras, as discussões

no grupo e experiências na sala de aula a partir daí ajudam-lhes a compreender a

importância da leitura e escrita nas aulas de Matemática, apesar de identificarem as

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dificuldades de expressão dos seus alunos. Perceberam com essa proposta

metodológica que os alunos conseguem avançar com mais propriedade na

compreensão dos conhecimentos matemáticos, pois ela dinamiza a aprendizagem,

envolve mais os alunos nas atividades.

Consideramos que houve uma implementação pelos professores de

buscarem novas metas. Muitas vezes eles tentam, mas falta incentivo para isso.

Este que era o nosso objetivo diário: incentivá-los – o que não ocorria antes da

estarem no grupo. Mas acreditamos que de alguma forma, juntos, contribuímos para

a revisão de seus saberes, práticas metodológicas e a autoavaliação de cada um.

Percebemos um professor mais estimulado no seu ambiente de sala de aula,

um clima de confiança entre eles e os outros segmentos da escola, uma motivação

intrínseca, ainda que alunos apresentem receios pela matemática. Esperamos que o

professor, à medida que busque refletir sobre suas práticas a partir de sua

dedicação, interesse e esforço, isto possa se expandir para os outros pares do

contexto escolar e os seus alunos primando para uma aprendizagem com novos

significados. A falta de um trabalho colaborativo e cooperativo causa uma dificuldade

para que o professor exerça a docência de modo reflexivo e mais produtivo, e

caminhe para sua autonomia como educador. Esse longo caminho é de muito

trabalho e grandes desafios.

Portanto, a formação do professor deve ser um foco de análise para as IES,

pois cabe a ela gerenciar de forma mais aberta esta questão, já que o professor

precisa ser reconhecido e valorizado. A escola deve rever os valores que englobam

uma educação de qualidade, um ensino que estimule os alunos. Entendemos que o

professor tem influência direta nas mudanças, pois somente por um processo de

reflexão é que teremos novas perspectivas para as mudanças, e o aluno será o

sujeito desse processo que mudará o rumo do que seja o conhecimento junto com o

professor.

Sendo assim, podemos afirmar que o grupo de trabalho colaborativo é um

dos espaços coletivos de formação continuada, pois leva os professores a se

desenvolverem de forma crítica e se tornarem professores mais reflexivos. As

escolas devem considerar que o professor e o aluno estão juntos nessa longa

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caminhada. Sugerimos, portanto, que o professor seja mais estimulado e, para isso,

a escola deve abrir espaço para que este se forme dentro de um caráter de

valorização de suas experiências. A escola deve primar por este espaço, revendo as

relações com a academia motivando o professor a ser um pesquisador de suas

práticas. Caso este queira publicar suas experiências, que estas sejam vistas com

respeitabilidade pela academia e que tenham investimentos que proporcionem o

incentivo à pesquisa.

Formar professores é uma responsabilidade que envolve vários segmentos

da educação, mas é a escola e as IES que possuem o maior encargo nesta

temática. E com certeza a escola virá a crescer com o seu destaque neste papel de

gestora, primando por uma educação de qualidade com professores que se

preparam, desejando ampliar saberes e compartilhar suas experiências.

Acreditamos que a formação de professores deve ocorrer em vários

momentos e em vários segmentos de ensino e principalmente através de relações

interpessoais que vão se dando nos grupos de trabalho colaborativo. A formação

que acontece de forma colaborativa com os pares, centrada na escrita e na leitura,

proporciona uma troca enriquecedora de saberes, uma troca de saberes, pois, à

medida que os professores melhor se formam, as escolas e os programas de pós-

graduação vão interferindo nesta temática no âmbito da pesquisa. Estas mudanças

não são utopias. São de fato renovações que vão se processando e se precisa

acompanhar esse ritmo, mesmo que o professor ainda se veja inserido em

paradigmas repetitivos de um ensino memorístico, de se encontrar neste contexto

classificatório e seletivo que ainda o leva a retroceder às novas ideias e

pensamentos.

Concluímos esse trabalho sugerindo novas maneiras de formar professores

de matemática, pois eles são capazes de buscar novos métodos de ensinar a

matemática, de assimilar novos saberes, e, consequentemente, terão condições de

avaliar suas práticas a partir de uma reflexão.

Vimos que, para que haja mudanças na formação dos professores de

Matemática, é preciso que estes revejam uma nova forma de trabalhar os conceitos

matemáticos, que busquem novas maneiras de ensinar, que se vejam como sujeitos

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que estão sempre aprendendo, desejando renovar as suas práticas, através de sua

autoavaliação, observando o aluno com outro olhar.

Para haver mudanças em nossas ações precisamos aderir ao movimento de

renovações que correspondem à mudança de nossas ações, mas em meio a isso

devemos verificar essa forma intrínseca de mudança que buscamos. O que

realmente desejamos com essas mudanças: melhor ensinar? Compartilhar saberes

com os pares e os alunos? Aprender a aprender, ensinar para aprender a ensinar?

De fato é importante nos perguntar quais rumos deveremos seguir, e o que

almejamos com a nossa formação? Estes momentos de reflexão cabem a todos que

militam com a docência e, principalmente, àqueles que estão envolvidos na área da

Educação Matemática.

Esta pesquisa pode contribuir para esse processo reflexivo na medida em

que discute a formação continuada de professores e, particularmente, uma

experiência com a inserção atividades de escrita e leitura em sala de aula de

Matemática, subsidiadas pela discussão de seus resultados no grupo colaborativo.

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ANEXOS

ANEXO A – Mapas conceituais trabalhados pelos professores pré

elaborados no grupo

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ANEXO B – Questionário: perfil dos alunos

Universidade Cruzeiro do Sul

Mestranda Maria do Carmo Costa Maciel

Programa de pós-graduação – Orientadora: Profª. Drª Celi Espasandin Lopes

Escola Desembargador Sarney

Coleta de dados

Profª C.

06/03/2012

Questionário: perfil dos alunos

Quem sou?

1. Nome:

2. Idade:

3. Endereço:

4. Meu pai:

5. Minha mãe:

6. Meus avós:

7. Que profissão gostaria de exercer?

8. Qual disciplina que mais gosta?

9. Qual seu esporte favorito?

10. Que tipo de programa você mais gosta de assistir?

11. Você gosta de ler? Que tipo de leitura?

12. Qual é o seu melhor amigo?

13. Deixe uma frase sobre o estudo da Matemática em sua vida.

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ANEXO C – Conta-me agora!: as narrativas como alternativas

pedagógicas na pesquisa e no ensino

CUNHA, Maria Isabel da. Conta-me agora!: as narrativas como alternativas pedagógicas na pesquisa e no ensino. Revista da Faculdade de Educação, São Paulo, v. 23, n. 1-2, jan. 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-25551997000100010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em : 6 abr. 2012.

Resumo:

Trata-se de uma reflexão sobre as narrativas como instrumental educativo, tanto na

pesquisa como no ensino. Recupera-se o sentido das narrativas e parte-se do

pressuposto de que, trabalhar com elas na pesquisa e/ou no ensino é partir para

construção/desconstrução das experiências do professor. Defende-se a ideia que as

narrativas provocam mudanças na forma como as pessoas compreendem a si

próprias e aos outros e, por este motivo, são, também importantes estratégias

formadoras de consciência numa perspectiva emancipadora. Explora-se a dupla

vertente de possibilidades no campo: a investigação da narrativa usada no ensino e

na pesquisa que usa a narrativa.

Palavras-chave: Narrativas; Pesquisa qualitativa; Ensino com pesquisa.

“- São as minha memórias, dona Benta.

- Que memórias, Emília?

- As memórias que o Visconde começou e eu estou concluindo. Neste momento

estou contando o que se passou comigo em Hollywood, com a Shirley Temple, o

anjinho e o sabugo. É um ensaio duma fita para a Paramount.

- Emília! exclamou dona Benta. Você quer nos tapear. Em memórias, a gente só

conta a verdade, o que houve, o que se passou. Você nunca esteve em Hollywood,

nem conhece a Shirley. Como então se põe a inventar tudo isso?

- Minhas memórias, explicou Emília, são diferentes de todas as outras. Eu conto o

que houve e o que deveria haver[...]”.

(Monteiro Lobato, 1950, p.129)

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As inúmeras pesquisas qualitativas que se desenvolvem no Brasil, em

especial na área de educação de professores, mostram que a teorização sobre esta

metodologia vem crescendo, acompanhada de uma significativa prática

investigatória. São importantes as recentes contribuições neste sentido, em especial

as de Haguette (1987), Ludke & André (1986), André (1995), Fazenda (1992 e

1995), Minayo (1994) e tantas outras. Foram elas as principais responsáveis pela

difusão e construção de um referencial teórico hoje presente na maioria das

dissertações, teses e pesquisas educacionais brasileiras.

Já é tempo, entretanto, de que os pesquisadores que se dedicam ao

processo de investigação qualitativa reflitam sobre sua própria experiência e a façam

acompanhar das trajetórias da investigação, como muitas das autoras acima citadas

vêm fazendo. Esta é a nossa intenção ao abordar este tema, já que as reflexões

aqui pontuadas são fruto de atividades de pesquisa e de ensino.

Constantemente temos usado o expediente das narrativas, tanto em

situações de pesquisa como de ensino e observado os processos vividos pelos

envolvidos.

Inicialmente tínhamos a perspectiva de que as narrativas constituíam a mais

fidedigna descrição dos fatos e era esta fidedignidade que estaria "garantindo"

consistência à pesquisa. Logo nos apercebemos que as apreensões que constituem

as narrativas dos sujeitos são a sua representação da realidade e, como tal, estão

prenhes de significados e reinterpretações. Conseguimos, ainda, perceber que,

antes disto ser um problema, era o cerne da pesquisa sócio-antropológica pois,

como explicitam Berger & Luckmann, as análises tem particular importância para a

sociologia do conhecimento porque revelam as mediações existentes entre

universos macroscópicos de significação, objetivados por uma sociedade, e os

modos pelos quais estes universos são subjetivamente reais para os indivíduos

(1985, p.109).

O fato da pessoa destacar situações, suprimir episódios, reforçar influências,

negar etapas, lembrar e esquecer, tem muitos significados e estas aparentes

contradições podem ser exploradas com fins pedagógicos.

Tanto nas situações de ensino como nas de pesquisa, é preciso estar

atento a este aspecto. Dependendo dos objetivos do investigador, discutir com os

sujeitos das narrativas o perfil de sua narração pode ser um exercício intensamente

interessante, capaz de explorar compreensões e sentimentos antes não percebidos,

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esclarecedores dos fatos investigados. Ferrer (1995, p.166) alerta que a narração do

conhecimento outorga compreensão da realidade [...]pois o escrito explica a vida. A

autora ressalta a importância das narrativas escritas uma vez que elas são mais

disciplinadoras do discurso e porque, muitas vezes, a linguagem escrita libera, com

maior força que a oral, a compreensão nas determinações e limites.

Em pesquisa temos usado principalmente a linguagem oral. Entretanto, no

ensino, na utilização de memoriais - que podem ser excelentes materiais de

pesquisa - são usuais os relatos escritos. Sua análise mostra que toda a construção

do conhecimento sobre si mesmo supõe a construção de relações tanto consigo

quanto com os outros.

Quando uma pessoa relata os fatos vividos por ela mesma, percebe-se que

reconstroi a trajetória percorrida dando-lhe novos significados. Assim, a narrativa

não é a verdade literal dos fatos, mas antes, é a representação que deles faz o

sujeito e, dessa forma, pode ser transformadora da própria realidade.

Esta compreensão é fundamental para aqueles que se dedicam a análise de

depoimentos, relatos e recuperações históricas, especialmente porque a estes se

agregam as interpretações do próprio pesquisador, numa montagem que precisa ser

dialógica para poder efetivamente acontecer.

Trabalhar com narrativas na pesquisa e/ou no ensino é partir para a

desconstrução/construção das próprias experiências tanto do professor/pesquisador

como dos sujeitos da pesquisa e/ou do ensino. Exige que a relação dialógica se

instale criando uma cumplicidade de dupla descoberta. Ao mesmo tempo em que se

descobre no outro, os fenômenos revelam-se em nós.

Outro aspecto muito importante é de que o trabalho com as narrativas é

profundamente formativo. Como bem expressa Ferrer, compartir a historicidade

narrativa e a expressão biográfica dos fatos percorridos se converte em um

elemento catártico de desalienação individual e coletiva, que permite situar-se desde

uma nova posição no mundo (1995, p.178).

Esta compreensão, provavelmente, é que tem feito a pesquisa qualitativa

tornar-se, mesmo sem a intenção precípua de fazer uma intervenção, em uma

alternativa de formação. Ao mesmo tempo em que o sujeito organiza suas ideias

para o relato - quer escrito, quer oral - ele reconstroi sua experiência de forma

reflexiva e, portanto, acaba fazendo uma autoanálise que lhe cria novas bases de

compreensão de sua própria prática.

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A narrativa provoca mudanças na forma como as pessoas compreendem a

si próprias e aos outros. Tomando-se distância do momento de sua produção, é

possível, ao "ouvir" a si mesmo ou ao "ler" seu escrito, que o produtor da narrativa

seja capaz, inclusive, de ir teorizando a própria experiência. Este pode ser um

processo profundamente emancipatório em que o sujeito aprende a produzir sua

própria formação, autodeterminando a sua trajetória. É claro que esta possibilidade

requer algumas condições. É preciso que o sujeito esteja disposto a analisar

criticamente a si próprio, a separar olhares enviezadamente afetivos presentes na

caminhada, a por em dúvida crenças e preconceitos, enfim, a desconstruir seu

processo histórico para melhor poder compreendê-lo.

É importante, também, entender a relação dialética que se estabelece entre

narrativa e experiência. Foi preciso algum tempo para construirmos a ideia de que

assim como a experiência produz o discurso, este também produz a experiência. Há

um processo dialético nesta relação que provoca mútuas influências.

Giroux e McLaren (1993) chamaram a atenção de que, a importância da

linguagem está no fato de que é através dela que, ao mesmo tempo, nomeamos a

experiência e agimos, como resultado desta interpretação. Dizem eles: Apenas

quando podemos nomear nossas experiências - dar voz a nosso próprio mundo e

afirmar a nós mesmos como agentes sociais ativos, com vontade e um propósito -

podemos começar a transformar o significado daquelas experiências, ao examinar

criticamente os pressupostos sobre os quais elas estão construídas (p.26).

A trajetória da pesquisa qualitativa confirma o fato de que tanto o relato da

realidade produz a história como ele mesmo produz a realidade. As pessoas vão

contando suas experiências, crenças e expectativas e, ao mesmo tempo, vão

anunciando novas possibilidades, intenções e projetos. Ás vezes, torna-se até difícil

separar o vivido do que está por viver. Experiência e narrativa se imbricam e se

tornam parte da expressão de vida de um sujeito. É por isso que se pode afirmar que

a escrita sobre uma realidade pode afetar esta mesma realidade, pois assim como

são os pensamentos que orientam a ação racional, a narração conduzirá ao

desempenho de fatos vitais. Novamente recorrendo à Ferrer destacamos a sua

afirmação de que a vida se vive para poder contá-la (alguns povos a cantam) ao

mesmo tempo em que criamos nossos contos para dar sentido à vida (1995, p.188).

Usar narrativas como instrumento de formação de professores tem sido um

expediente bem sucedido. Não basta dizer que o professor tem de ensinar partindo

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das experiências do aluno se os programas que pensam sua formação não os

colocarem, também, como sujeitos de sua própria história.

O professor constrói sua performance a partir de inúmeras referências. Entre

elas estão sua história familiar, sua trajetória escolar e acadêmica, sua convivência

com o ambiente de trabalho, sua inserção cultural no tempo e no espaço. Provocar

que ele organize narrativas destas referências é fazê-lo viver um processo

profundamente pedagógico, em que sua condição existencial é o ponto de partida

para a construção de seu desempenho na vida e na profissão. Através da narrativa

ele vai descobrindo os significados que tem atribuído aos fatos que viveu e, assim,

vai reconstruindo a compreensão que tem de si mesmo. Na perspectiva de Kenski, o

narrado é praticamente uma reconceitualização do passado a partir do momento

presente... (1994 p.48) e esta condição qualifica a reflexão contextualizada, aquela

que re-significa o vivido. Shor, em diálogo com Freire (1987, p.20), reforça esta

perspectiva afirmando que, constantemente, pesquisa as palavras faladas e escritas

dos estudantes para saber o que eles sabem, o que eles querem e como eles vivem

[...] porque as suas falas e seus textos são um acesso privilegiado a suas

consciências.

Estas reflexões favorecem a percepção de que a produção de narrativas

serve, ao mesmo tempo, como procedimento de pesquisa e como alternativa de

formação. Ela permite o desvendar de elementos quase misteriosos por parte do

próprio sujeito da narração que, muitas vezes, nunca havia sido estimulado e

expressar organizadamente seus pensamentos.

A prática com esta experiência tem mostrado o quanto temos dificuldade de

falar e/ou escrever sobre o vivido. Parece que a trajetória cultural da escola é

embotadora desta habilidade e o individualismo social estimulado nos dias de hoje

também não favorece este exercício. Além disso, a construção da ideia de que o

saber cotidiano distancia-se do conhecimento científico, também foi responsável

pela não exploração desta histórica forma de construir informações. Greenne (1995,

p.84), abordando a formação docente e refletindo sobre esta situação afirma que,

frequentemente, o professor é tratado como se não tivera vida própria, como se não

tivera corpo, uma linguagem, uma história ou uma interioridade... Sua biografia

pessoal foi esquecida, assim como as diferentes maneiras com as quais expressa a

si mesmo através da linguagem, dos horizontes que percebe, as perspectivas com

as quais olha o mundo.

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A perspectiva de trabalhar com as narrativas tem o propósito de fazer a

pessoa tornar-se visível para ela mesma. O sistema social conscientemente envolve

as pessoas numa espiral de ação sem reflexão. Fazemos as coisas porque todos

fazem, porque nos disseram que assim é que se age, porque a mídia estimula e os

padrões sociais aplaudem. Acabamos agindo sobre o ponto de vista do outro,

abrindo mão da nossa própria identidade, da nossa liberdade de ver e agir sobre o

mundo, da nossa capacidade de entender e significar por nós mesmos. Para o

educador esta perspectiva é fatal, porque não só ele se torna vítima destes

tentáculos, como não consegue estimular seus discípulos a que se definam a si

mesmos como indivíduos.

É preciso recuperar a condição da racionalidade prática tão bem explicitado

por Pérez Gomez para dizer que o professor tem de ser o sujeito da análise que faz

de seu próprio cotidiano, implicando a imersão consciente do homem no mundo de

sua experiência, num mundo carregado de conotações, valores, intercâmbios

simbólicos, correspondências afetivas, interesses sociais e cenários políticos (1992,

p.103).

Mas não se trata apenas de um conhecimento implícito na atividade prática.

Trata-se, sim, de um diálogo entre a prática vivida e as construções teóricas

formuladas nesta e sobre estas vivências. É a ideia de reflexão-ação, tão bem

explicitada pelo autor anteriormente mencionado, que pode tornar-se num dos

melhores instrumentos de aprendizagem. O discurso construído sobre esse diálogo

é que torna possível transformá-lo numa situação profundamente pedagógica. A

linguagem, aí, é uma poderosa aliada da formação.

Por isso, quando estabelecemos que os parâmetros da pesquisa qualitativa

se adequam melhor a uma investigação, definimos, também, que as narrativas

passam a ser a principal matéria prima deste trabalho. O que vamos descobrindo,

porém, ao longo do processo, é que as narrativas não são meras descrições da

realidade, elas são, especialmente, produtoras de conhecimentos que, ao mesmo

tempo em que se fazem veículos, constroem os condutores. Connelly & Clandinin

dizem que a razão principal do uso das narrativas na pesquisa em educação é que

os seres humanos são organismos contadores de histórias, organismos que

individual e socialmente, vivem vidas contadas... por isso, o estudo das narrativas

são o estudo da forma como os sujeitos experimentam o mundo (1995, p.11).

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Narrativas: ensino e pesquisa

A princípio parece haver duas grandes vertentes de trabalho neste

campo: a pesquisa que usa a narrativa e a investigação da narrativa usada no

ensino. Portanto, as narrativas podem ser tanto um fenômeno que se investiga

como um método de investigação.

Para fins de ensino, especialmente na perspectiva das propostas de

produção do conhecimento, que tem o educando como um ser socialmente situado,

é bastante recomendada e experimentada a produção e a investigação das

narrativas dos sujeitos, como ponto de partida ou de chegada da análise do objeto

de conhecimento.

A mais divulgada maneira de trabalhar com as narrativas no âmbito do

ensino e da formação de professores tem sido a chamada história de vida ou

memória pedagógica. No campo educacional tem-se privilegiado esta perspectiva

que se revela, também, pela produção de memoriais para concursos para o

magistério, resultando em livros e artigos. As contribuições estrangeiras, no campo

da sociologia da educação, tais como Goodson (1988), Huberman (1988), Pinar

(1988), Nóvoa (1991,1992) e outros, influenciaram educadores brasileiros a

escreverem sobre o assunto, entre os quais destacam-se Rocha (1988), Soares

(1991) e Kenski (1994).

O uso didático da memória pedagógica e/ou história de vida tem se

revelado num interessante instrumento de formação. Esta proposta tem sido a

principal alternativa metodológica para a concretização dos pressupostos teóricos de

um processo ensino-aprendizagem que tenha o sujeito e a cultura como ponto

básico de referência. Diferentemente das situações de pesquisa, não é tanto o

produto das narrativas o que mais interessa nesta circunstância, mas o processo de

produção pelo qual vive o sujeito. Nelas vale explorar, como sugestão de categorias,

aquelas que a sociologia e a psicologia já nos ajudaram a construir: de quem é a voz

que fala, de onde se dá esta fala, em que circunstâncias ela é produzida, quais e

porque são as suas revelações, quais e por que são as suas ocultações etc.

Usar a linguagem como uma pedagogia significa ensinar aos estudantes a

ler criticamente tanto a palavra quanto o mundo, com uma consciência da

codificação cultural e da produção ideológica envolvida nas várias dimensões da

vida social... Ler o mundo e a palavra significa compreender os códigos culturais e

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genéricos que nos permitem construir palavras para formar uma história (Giroux &

Maclaren, 1993. cit. p. 33).

O uso das narrativas com objetivo pedagógico não tem a perspectiva

terapêutica e, preferencialmente, não deve aproximar-se deste caráter.

Evidentemente que a recuperação histórica dos sujeitos mexe com emoções, com

sentimentos, com perdas, com alegrias. O trato destes dados narrativos, na sala de

aula, precisa, entretanto, ser canalizado para os objetivos a que se propõem, ou

seja, o reconhecimento e a reflexão do sujeito sobre si mesmo para melhor

reconhecer-se como profissional educador. Basicamente é usar a ideia de Bosi

(1987, p.48) para quem o passado não é o antecedente do presente, é sua fonte.

O principal objetivo em explorá-lo é ajudar os estudantes e os professores a

problematizar a especificidade histórica da produção de suas próprias posições de

sujeitos e os modos de sociabilidade que construíram nas contradições de suas

trajetórias.

Já no campo da pesquisa, as narrativas tem sido usadas como um

instrumental de coleta de dados. Se é verdade que o homem é um ser contador de

histórias como acima foi dito, a investigação de caráter qualitativo tem tido o mérito

de explorar e organizar este potencial humano, produzindo conhecimento

sistematizado através dele. É certo que o importante, na investigação, é ouvir a

história do interpelado, para quem são dirigidas as questões investigatórias. Mas

também é fundamental lembrar que numa provocadora entrevista não diretiva

disposta a reconstruir histórias, fatalmente haverá a interferência de quem ouve,

especialmente na reinterpretação de significados, o que mostra que uma narrativa

acaba sempre sendo um processo cultural, pois tanto depende de quem a produz

como depende de para quem ela se destina. De alguma forma, a investigação que

usa narrativas pressupõe um processo coletivo de mútua explicação em que a

vivência do investigador se imbrica na do investigado.

A explicitação desta complexa simbiose, acoplada ao necessário

distanciamento reflexivo do objeto próprio da pesquisa requer do pesquisador de

narrativas certa desenvoltura intelectual que lhe garanta o rigor, sem deixar de

perceber o entrelaçado de relações. Não deixa de ser um jogo, em que cada jogador

tem uma posição. O êxito da partida dependerá da habilidade com que cada um

exercerá o seu papel, mesmo entendendo que é o coletivo que produzirá o intento

de chegada.

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Na pesquisa também é fundamental entender a relação dialética entre teoria

e realidade, pois é neste espaço que se percebe que a investigação que usa

narrativas é, ao mesmo tempo, investigação e formação. Ao mesmo tempo em que

a realidade informa a teoria esta, por sua vez, a antecede e permite percebê-la,

reformulá-la, dar conta dela, num processo sem fim de distanciamento e

aproximação (Minayo, 1994, p.92.). Este movimento precisa estar presente na

prática investigativa que utiliza as narrativas como fonte de conhecimento. É

importante não aprisioná-las, a priori, em categorias teóricas pré-definidas, por que

este procedimento seria fortemente cerceador do relato espontâneo. Ao mesmo

tempo, entretanto, não há como deixar de identificar formulações teóricas no

discurso dos sujeitos e, também, nas estruturas cognitivas e afetivas dos seus

interlocutores.

Esta posição reforça a ideia de Larrosa quando afirma que o sentido do que

somos depende das histórias que contamos e das que contamos a nós mesmos [...],

em particular das construções narrativas nas quais cada um de nós é, ao mesmo

tempo, o autor, o narrador e o personagem principal (1994, p.48). Parece ser este o

mesmo sentido dado por Santos a sua afirmação de que todo o conhecimento é

autobiográfico (1987, p.52).

Retomando as palavras de Larrosa, é importante ressaltar sua afirmação de

que o sujeito pedagógico ou, se quisermos, a produção pedagógica do sujeito, já

não é analisada apenas do ponto de vista da objetivação, mas também, da

subjetivação [...] isto é, do ponto de vista de como as práticas pedagógicas medeiam

certas relações determinadas da pessoa consigo mesma. Aqui os sujeitos não são

posicionados como objetos silenciosos, mas como sujeitos confessantes; não em

relação a uma verdade sobre si mesmo que lhes é imposta de fora, mas em relação

a uma verdade sobre si mesmos que eles mesmos devem contribuir ativamente para

produzir (1994, p.54).

São estas premissas que dão suporte às pesquisas que usam narrativas que

lhes atribuem qualificação e riqueza. Talvez sejam elas oportunidades ímpares de

integrar investigação e formação no mesmo processo que se caracteriza,

fundamentalmente, pela intencionalidade de realizar uma reconfiguração de

saberes, em que teoria e prática, realidade e intenção, sujeito e objeto se tornem

uma só possibilidade.

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Provavelmente, a vivência com o uso de narrativas no ensino e na pesquisa,

muitas outras coisas vão elucidar. Cabe é ficar alerta, com uma disposição

investigativa sobre os próprios processos de investigação. Cabe, ainda, pensar que

viver a história e entender as nossas próprias narrativas poderá ser o melhor

exercício de construção do conhecimento sobre este tema. É a isso que estamos

nos propondo!

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ANEXO D – Desafios e potencialidades da escrita na formação docente em matemática

FREITAS, Maria Teresa Menezes; FIORENTINI, Dario. Desafios e potencialidades da escrita na formação docente em matemática. Disponível em: <http://www.ufrrj.br/emanped/paginas/conteudo_producoes/docs_29/desafios.pdf>. Acesso em: 1 out. 2012.

Introdução

Este artigo relata parte de uma pesquisa de doutorado que teve como objeto

de estudo o processo de formação de professores ocorrido a partir da disciplina

"Geometria Plana e Desenho Geométrico" ministrada na Licenciatura em

Matemática da Unicamp. Essa disciplina diferenciou-se por fazer uso de diferentes

recursos comunicativos, em especial da escrita discursiva.

A investigação foi organizada a partir da seguinte hipótese de trabalho: a

escrita discursiva e reflexiva – isto é, não estritamente simbólica ou formal – pode

potencializar o desenvolvimento profissional do professor de Matemática. A imersão

nesse ambiente de formação docente trouxe vestígios para responder às seguintes

questões de investigação: Que contribuições a inserção de diferentes formas de

comunicação - especialmente a escrita - em uma disciplina de conteúdo específico

(Geometria) traz à formação e ao desenvolvimento profissional do professor de

Matemática? Como acontece, nesse processo, a constituição da identidade

profissional?

Neste texto, apresentamos, inicialmente, uma breve discussão teórica sobre o

papel e o lugar da escrita na formação docente. A seguir, trazemos alguns detalhes

sobre o processo metodológico da pesquisa. Em continuidade, apresentamos a

narrativa de formação de um dos protagonistas que participou da referida disciplina;

finalmente, algumas conclusões relativas à importância da escrita discursiva e

reflexiva na formação docente.

A Escrita na Formação Docente

O potencial formativo da escrita discursiva vem sendo, há algum tempo,

destacado e investigado junto às disciplinas didático-pedagógicas, sobretudo

quando se utilizam e se exploram com estagiários registros de campo (FREITAS,

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2000). Para Bogdan e Biklen (1999, p. 150), essas notas se constituem não apenas

em "relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiencia e pensa no

decurso da recolha e refletindo sobre os dados de um estudo qualitativo", mas

também oferecem elementos para a auto-reflexão do formando e do formador;

permitem, além disso, a intervenção problematizadora do formador sobre as

concepções, crenças e saberes dos futuros professores sobre a Matemática e seu

processo de ensino e aprendizagem.

Se, de um lado, em Freitas (2000) evidencia-se o potencial formativo da

escrita, de outro, verificamos que os futuros professores de Matemática apresentam

dificuldade em colocar no papel suas reflexões e seus pensamentos, o que leva a

supor que os cursos de graduação em Matemática pouco enfatizam e exploram as

interações mediadas pela escrita discursiva.

Os primeiros depoimentos obtidos dos licenciandos participantes do presente

estudo sinalizavam a confirmação de tal conjectura:

[...] a gente não tem este costume aqui na Faculdade. O pessoal que tem é de fora, trouxe de fora e pelo menos neste curso não tem, a gente não

escreve muito. (FS, Ejun03)5.

[...] há uma certa cultura que existe dentro da faculdade de Matemática de que a nossa linguagem, para quem pretende fazer Matemática, tem que ser totalmente formalizada... (FF, Ejul03).

Esses depoimentos parecem indicar que a dificuldade dos alunos em

estabelecer uma comunicação escrita compreensiva, durante a licenciatura, pode

ser consequência de uma prática que prioriza a escrita técnica e formal em

detrimento da escrita reflexiva, discursiva e narrativa sobre aquilo que se aprende e

ensina.

Em relação à leitura e à escrita de estudantes universitários, Britto (2003)

argumenta que as dificuldades "não advêm da falta de uma capacidade genérica da

redação ou mesmo de leitura, mas sim do modo como estes estudantes interagem e

convivem com os objetos da cultura letrada, em particular com as formas de

produção do conhecimento formal" (p. 176).

Esse quadro problemático reforça o nosso propósito de investigar o que e

como acontece, durante a formação do futuro professor, quando nas disciplinas de

Matemática se passa também a privilegiar um processo de escrita reflexiva.

5 Licenciando (FS) em Matemática da Unicamp - trecho de entrevista concedida em junho/2003.

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Saber argumentar, dialogar e comunicar, de maneira clara e compreensível,

por via oral, escrita e videográfica6 são competências que vêm adquirindo cada vez

mais importância na formação profissional dos futuros professores. Essas diferentes

formas de comunicação se complementam e é imprescindível, sobretudo no

contexto atual da sociedade do conhecimento e da informação, a utilização

articulada das mesmas.

Os cursos de formação matemática do professor, entretanto, continuam a

desenvolver uma prática de ensino em que se destaca a oralidade como forma de

comunicação. A escrita, quando aparece, apresenta-se acentuadamente técnica e

formal.

Essa linguagem, de um lado, pode ajudar na sistematização lógica do

conhecimento matemático, mas, de outro, pouco contribui para a exploração e

problematização dos conceitos que estão sendo ensinados e aprendidos. A

Licenciatura em Matemática, conforme o depoimento de um licenciando da Unicamp,

continua ainda sendo marcada por uma tradição de pouca leitura e pouca escrita,

priorizando um tipo de linguagem que, por ser técnica, inibe aquele que escreve,

impedindo, assim, que exponha suas ideias com maior flexibilidade e crítica:

...talvez a falta de costume de escrever, mesmo. A gente escreve muito pouco por causa do curso, nas disciplinas de Matemática são pouquíssimas as vezes que a gente escreve... A escrita ajuda muito na hora de traduzir esse pensamento técnico que valoriza muito mais a interpretação. Muitas vezes eu escrevendo e tal, eu percebi coisas que eu não teria percebido se eu tivesse só feito uma demonstração só com símbolos... [Ejul03].

Identificamos, assim, nos cursos de formação de professores de Matemática,

a carência de uma escrita discursiva, compreensiva e interpretativa — aquela que

não procura apenas perceber logicamente o que se escreve, mas também busca

explorar os múltiplos significados das ideias matemáticas.

Nós, entretanto, evidenciamos a exploração intencional da leitura e da escrita,

no processo de ensinar e aprender Matemática na Licenciatura, como uma forma

potencial que amplia o poder de compreensão e reflexão dos futuros professores

sobre Matemática enquanto objeto de ensino e aprendizagem, assim promovendo a

constituição pessoal e profissional do futuro professor de Matemática. Esta,

inclusive, é nossa hipótese investigativa de trabalho, a qual nos leva a delimitar

6 Por "videográfica" entende-se a comunicação mediada preponderantemente pela imagem (figuras, vídeo, construções dinâmicas apresentadas na tela do computador).

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como foco de estudo o papel da escrita discursiva/narrativa na formação docente em

Matemática.

Teoricamente, este estudo encontra apoio, primeiramente, nas ideias de

Larrosa (2001), sobretudo em relação à sua concepção de educação a partir do par

“experiência e sentido”. Segundo ele, “as palavras produzem sentido, criam

realidades e, às vezes, funcionam como potentes mecanismos de subjetivação”

(p.2).

Outros autores também associam experiência com aprendizagem. Essa

associação, entretanto, estabelece um vínculo profundo com a capacidade de

reflexão do homem sobre a experiência, para que ela assuma um caráter não

passageiro, mas comprometido.

Kramer (2000), por exemplo, distingue vivência (reação a choques) de

experiência (vivido que é pensado, narrado):

na vivência, a ação se esgota no momento de sua realização (por isso é finita); na experiência, a ação é contada a um outro, lida pelo outro, compartilhada, se tornando infinita. Esse caráter de permanência, de ir além do tempo vivido e de ser coletiva, constitui a experiência (p.113).

Para Brumer (1997), há dois modos de funcionamento cognitivo que dizem

respeito a maneiras diferentes de ordenar a experiência e construir a realidade.

Segundo ele, “esforços para reduzir um modo ao outro ou para ignorar um às custas

do outro inevitavelmente deixam de captar a rica diversidade do pensamento” (p.11).

Associados a esses tipos diferentes de funcionamento cognitivo, encontram-se a

“história” e o “argumento”. O primeiro refere-se à forma discursiva ou narrativa de

expressão e o segundo, à comunicação por meio de símbolos e procedimentos

formais da lógica Matemática. Ambos, a seu modo, desempenham um papel

importante na atribuição de significados para a experiência.

Para Powell (2001), a reflexão sobre as experiências matemáticas, mediada

pela escrita, pode levar os alunos a pensarem criticamente sobre suas próprias

idéias, desencadeando um processo metacognitivo.

Nessa mesma perspectiva, Oliveira (1995) acredita que a escrita constitui um

suporte material da língua que favorece a consciência metalinguística. Por meio da

escrita, “o sujeito pode refletir e construir conhecimento explícito e a consciência

metacognitiva, pela possibilidade de verificação do discurso escrito enquanto

produto de pensamento, de objetivação da experiência pessoal” (p.154).

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Essa consciência metalinguística e metacognitiva em constituição pode ser

percebida na seguinte reflexão de um de nossos sujeitos de pesquisa:

revisar me fazia pensar se o que eu estava escrevendo fazia sentido, se a ideia geral estava boa e me fazia pensar de novo. Sempre, ao rever, eu encontrava - foram raras as vezes que eu não encontrei - coisas que eu poderia acrescentar ou alguma coisa que eu poderia retirar ou alguma coisa que eu poderia reescrever deixando mais claro e muitas coisas que eu entendia melhor quando eu estava relendo [...]; me fazia entender muitas vezes coisas que, talvez, não estivessem muito claras para mim ou que estavam claras, mas eu interpretava de uma outra maneira mais interessante ou chegava a outras possibilidades para a mesma coisa [Ejul03].

Retomando Larrosa (2001), compartilhamos com ele a ideia de que "as

palavras determinam nosso pensamento porque não pensamos com pensamentos,

mas com palavras" (p. 02). Pensar é, sobretudo, dar sentido ao que somos e ao que

nos acontece.

Em suas palavras, a experiência, ou seja, a possibilidade de que algo nos

aconteça ou nos toque, requer

parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço (p. 3).

Um dos componentes fundamentais da experiência, para Larrosa (2001), é

sua potencialidade formativa. A experiência é "aquilo que 'nos passa', ou que nos

toca, ou que nos acontece, e ao passar-nos forma e nos transforma. Somente o

sujeito da experiência está, portanto, aberto a sua própria transformação" (p. 6).

O sentido de experiência, nesta perspectiva, ressalta a sensibilidade inerente

a esses momentos que não são apenas vividos, mas que possuem a potencialidade

de mobilizar ideias, crenças e valores que fazem com que o indivíduo se posicione e

(re)signifique seu modo de agir e pensar, caracterizando assim o aspecto formador.

A concepção de formação, associada ao conceito de experiência desses

autores, parece pôr em xeque os processos de ensino de Matemática que

privilegiam apenas sua leitura e escrita técnica e formal. Para haver experiência

autenticamente formativa, com base nessa concepção, o ensino da Matemática teria

que contemplar uma prática exploratória, comunicativa e intersubjetiva, privilegiando

a produção de sentidos sobre o que se ensina e aprende. O contexto experiencial de

produção de ideias e sentidos pode tornar-se mais próximo daquele em que irá atuar

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posteriormente, seja na condição de professor escolar, seja na de professor de

professores.

Kramer (2000, p.115), além disso, destaca o processo de humanização que

pode ser desencadeado pela mediação da leitura e da escrita:

trabalhando com leitura, escrita e formação, o horizonte precisa ser humanização, resgate da experiência humana, conquista da capacidade de ler e escrever o mundo e a história coletiva, de expressar-se, criar, mudar, de reescrevê-lo numa outra direção e com outro sentido.

A preocupação, nessa perspectiva, está em oferecer aos alunos a capacidade

não apenas de resolver problemas, mas também de produzir e comunicar

significados sobre a Matemática enquanto linguagem, pensamento e instrumento

sociocultural de comunicação, leitura e compreensão do mundo.

Consideramos que a oportunidade de se expressar de outras formas

apresenta-se como um convite ao futuro professor para expor os significados e as

diferentes versões do seu modo de compreender e fazer compreender a

Matemática, deixando vir à tona o seu pensar, com as características adquiridas ao

longo de sua história. E, assim, o futuro professor de Matemática, em convivência

com as diversas formas de expressar o pensamento e ideias por meio da linguagem

tanto oral como escrita, simbólica, tecnológica e pictórica, ao longo de sua formação,

poderá perceber que “aquele que usa a língua não é o primeiro falante que rompeu

pela primeira vez o eterno silêncio de um mundo mudo. Ele pode contar não apenas

com o sistema da língua que utiliza, mas também a existência dos enunciados

anteriores” (BAKHTIN, 1986, p.69).

A escrita, nessa perspectiva, não teria o papel de conformar o futuro

profissional a modelos já estabelecidos, mas, ao contrário, traria à formação a

possibilidade de criação e a multiplicidade de visões e diálogos que possam abrir

caminhos para a atuação do profissional num mundo cada vez mais dinâmico e

efêmero.

Tendo em vista a possibilidade de contribuição da escrita no contexto de

formação, colocamo-nos na posição de investigadores curiosos e instigados a

compreender as potencialidades formativas da utilização de modos diversos de

comunicação, em especial a escrita, em um Curso de Licenciatura de Matemática.

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Caminho investigativo – procedimentos metodológicos

Nossa pesquisa, desde seu início, clamava por um processo interativo entre

pesquisador e participantes. Portanto, a abordagem qualitativa e interpretativa de

pesquisa revelava-se a mais apropriada para o caso. Assim, pretendendo analisar e

compreender a experiência que vivenciávamos, buscamos apoio teórico-

metodológico em Clandinin e Connelly, que nos revelaram os detalhes e os

caminhos da pesquisa narrativa.

Clandinin e Connelly (2000), apoiando-se nas ideias de Dewey, escolheram

os termos posição, continuidade e interação para dar suporte à pesquisa narrativa e

observam ainda que, quando o processo narrativo se inicia, a pesquisa narrativa

“pulsa com movimentos para trás e para frente através do tempo e ao longo de um

continum de considerações sociais e pessoais” (p.66). Assim, esses pesquisadores

advogam que a educação e os estudos educacionais se dão em forma de

experiência e criam o espaço tridimensional da pesquisa narrativa. A primeira

dimensão seria a temporalidade, envolvendo passado, presente e futuro. A segunda

corresponderia às interações pessoais e sociais. A terceira refere-se ao lugar ou

cenário onde acontece a trama a ser narrada. Esta metáfora de espaço

tridimensional da pesquisa narrativa criada por Clandinin e Connelly apresenta

alguma semelhança com a noção de chronotope7 de Bakhtin (1988). Para este, o

“tempo” e o “espaço” parecem essenciais para a compreensão do conhecimento

advindo de uma experiência. E associa o termo chronotope “à ligação intrínseca das

relações temporais e espaciais que são artisticamente expressas na literatura”

(BAKHTIN, 1988, p.84).

Assim, apoiados em Clandinin e Connelly e em Larrossa, mergulhamos na

experiência que investigávamos e, junto com os protagonistas, fizemos parte do

movimento vivido por eles, deixando-nos levar por seus caminhos. Neste contexto

de pesquisa, a narrativa passou a ser, de um lado, objeto de estudo, pois as

histórias narradas tornaram-se alvo de nossas análises, e, de outro, método, pois

também seriam por meio da narrativa que exporíamos as análises, tornando públicos

os significados da experiência investigada. Nesse sentido, foi necessário pensar

sobre a experiência levando em conta três dimensões: temporal (passado - presente

- futuro); pessoal-social; e posicional (lugar).

7 O termo cunhado por Bakhtin a partir da Teoria da Relatividade de Einstein, para expressar a inseparabilidade entre tempo e espaço, sendo o tempo a quarta dimensão do espaço.

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Nesse movimento instaurado, para melhor compreender os processos de vir a

ser professor dos participantes, tendo a escrita discursiva como mediação da

aprendizagem dos conceitos geométricos, fez-se necessário também nos

compreender. Assim, foi necessário reviver na memória momentos do passado,

relacionando-os com o momento vivido no presente e perspectivando possíveis

futuros para os participantes.

Acompanhamos a turma da disciplina Geometria do primeiro semestre de

2003 e, na impossibilidade de acompanhar a todos, selecionamos quatro

protagonistas da turma para reviver e contar suas histórias em diferentes momentos

do tempo por meio de autobiografias, entrevistas e conversas presenciais e virtuais.

Para compreender o movimento de desenvolvimento pessoal e profissional

dos protagonistas da pesquisa e construir suas narrativas de formação, muitas horas

foram dedicadas à organização e leitura dos textos e registros de campo, produzidos

ao longo do primeiro semestre de 2003 e também nos dois anos subsequentes.

Neste artigo, apresentamos a narrativa de formação de apenas um desses

protagonistas.

Fred Smith e seus caminhos de escrita e docência

A Matemática, para Fred, era algo que o atraía, embora não fosse sua

primeira opção profissional. A possibilidade de “ser professor” veio devagar, quase

por acaso: Não tive tantos impulsos para escolher essa profissão (Eml/FS8). Isso lhe

custou algumas reprovações no início do curso de Licenciatura e a transferência

para outra turma na qual encontrou colegas interessados pela profissão docente: Foi

aí que eu comecei a ter contato com alunos que entraram no curso de Matemática

somente para serem professores, sem contar os que já lecionavam[...] e começou a

passar pela minha cabeça a idéia de dar aula (Abf/FS9).

O olhar para si e também para o outro, ao escrever um pouco de sua história,

levou FS a perceber o momento e as razões que o fizeram mudar de rumo. O

contato com colegas motivados pela profissão docente e o fato de alguns deles já

estarem nela inseridos propiciaram a FS um novo olhar para o futuro e, assim, após

dois anos apenas me dedicando à universidade, achei que estava na hora de entrar

realmente em sala de aula como professor (Abf/FS).

8 Trecho de e-mail enviado em 08/08/2005.

9 Trecho da autobiografia produzida para PEMES I/2004).

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Movido pela ideia de ser professor, e aliado a uma vontade e a uma causa

nobre, Fred buscou apoio e, após um bom tempo de discussões, conversas com

políticos, entrevistas em rádios e jornais..., conseguiu, com mais alguns colegas,

montar um cursinho comunitário e gratuito para pessoas carentes. E o cursinho

acabou sendo um sucesso (inclusive com vários aprovados) e adorei a experiência

com os alunos (Abf/FS).

Parece que, ao olhar o outro - colega de curso já atuante na profissão

docente -, FS identifica-se com ele, mas acrescenta uma perspectiva social para sua

atuação. Esse redimensionamento para ocupar seu lugar, acrescentando o que lhe

faz sentido, nos remete a Bakhtin (2000), quando este faz alusão ao excedente de

visão de cada um em relação ao outro:

Devo identificar-me com o outro e ver o mundo através de seu sistema de valores, tal como ele o vê; devo colocar-me em seu lugar, e depois, de volta ao meu lugar, completar seu horizonte com tudo que se descobre do lugar que ocupo, fora dele; devo emoldurá-lo, criar-lhe um ambiente que o acabe, mediante o excedente de minha visão, de meu saber, de meu desejo e de meu sentimento. (p.45).

A forma de FS ver o mundo parece tê-lo impulsionado a oferecer

oportunidades para aqueles que delas necessitam, o que explica sua luta para

conseguir apoio para o oferecimento de um cursinho destinado a alunos carentes.

As primeiras aulas na disciplina GPDG com a professora Sandra lhe

causaram expectativa e ansiedade, talvez pela proposta pouco comum no contexto

das disciplinas de Matemática: No começo, na primeira aula, a gente não tem noção.

Então a gente fica imaginando, eu e os outros, a gente achou que ia ser bem difícil

(E1/FS10).

Tempos depois, ao refletir sobre a experiência vivida, FS redimensionou sua

primeira impressão: No final, a gente viu que foi exatamente o contrário. Foi uma das

matérias mais fáceis em termos de nota. A ideia não era estar reprovando ninguém e

tal. E foram muito legais as atividades (E1/FS).

Contrapondo-se à facilidade relacionada à obtenção de nota, FS destaca a

compreensão do conteúdo adquirida com as atividades desenvolvidas:

contribuíram desde a compreensão da matéria mesmo. Era às vezes uma coisa que a gente sabia, mas não tinha esse contato,..., várias coisas, ...regrinhas, teoremas, a gente sabia de cor porque tem que saber, mas a gente não sabia muito bem da onde veio. Aí foi bem interessante as aulas nesse sentido (E1/FS).

10

Trecho da entrevista (E1/FS) realizada em jun2003.

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Nesse contexto da disciplina, em que a compreensão ocupou um lugar de

destaque, FS reconhece o papel mediador da escrita no processo de produção de

sentido sobre o que aprendia:

Acho que quando você tem que escrever um texto, aí é que você vê se está sabendo realmente. Porque você tem que explicar tudo certinho. Às vezes você sabe para você, mas não sabe como passar isso daí. Então eu acho que quando você está escrevendo um texto facilita a sua compreensão. (E1/FS).

Compartilhar com a turma ou interagir com colegas sobre as atividades (de

laboratório ou do projeto) e as ideias veiculadas durante a disciplina foram práticas

formativas para FS:

A fala de um com o outro trazia muito beneficio, às vezes a D.R. ficava brava se a gente estava fazendo alguma coisa e tal, falando de outra coisa. Mas, é que eu acho fundamental que a gente deveria sempre ter um tempinho para conversar com os outros sobre a atividade, falar sobre a atividade (E1/FS).

Essa observação de FS nos remete às "Conversas Matemáticas" citadas por

D'Ambrosio B. (2002), quando esta observa que, na interação com o outro, o

pensamento de cada um recebe ajustes e modificações para adequar-se à

construção das ideias surgidas no contexto interativo.

no esforço para colocar suas ideias aos colegas, os alunos expõem seu conhecimento de forma pura e profunda. Percebe-se também que no caso de uma conversa genuína, a construção de cada aluno participante é modificada durante a interação (p.19).

Para FS, a oralidade e a escrita são meios importantes de expressão de

pensamentos e ideias, e o estilo inerente a cada modalidade parece fazer a

diferença para a comunicabilidade. Percebe que nas várias esferas sociais em que

transita e no próprio curso de Matemática emergiram formas discursivas diversas

que complementam a produção de significados. Reconhece que, ao explicar uma

ideia a alguém que não possui domínio formal do assunto, a forma discursiva –

textual ou oral - desponta como possibilidade de comunicação e entendimento:

Acho que são dois momentos que ajudam. A parte da escrita e a hora que você está falando para alguém também eu acho que é bem importante. Quando você passa para o papel e quando você vai tentar explicar para alguém, principalmente se alguém não viu aquilo lá. [...] faltou na aula. Então você vai ter que explicar. Já é totalmente diferente de você só mostrar e fazer a demonstração. Você colocar no papel explicando um texto assim, ou falando para a pessoa, já muda bastante (E1/FS).

A comunicação para o outro, em uma linguagem não apenas técnica e formal,

nas aulas de Matemática, foi considerada contributiva para sua formação, sobretudo

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a escrita de uma carta sobre a explicação de uma tarefa, para alguém com pouco ou

nenhum domínio de Matemática, solicitada na disciplina:

AH! É isso que é legal! Porque aí você acaba fazendo um texto, que todo mundo entenda e falando do seu jeito, explicando a parte da Matemática, só que do seu jeito, do jeito que você entendeu e você tenta explicar de uma maneira mais fácil para a pessoa. Você não pode simplesmente fazer o que a gente está acostumado, uma matemática pura, fazer demonstração...

Isso devia ser aplicado com alunos, não só de Faculdade,... no ensino médio também.

Na afirmação explicando a parte da Matemática só que do seu jeito, FS

destaca os diferentes gêneros de discurso (Bakhtin, 2000) que são ou podem ser

mobilizados nas diversas esferas da prática social para facilitar a compreensão entre

as pessoas.

FS revelou que a escrita, no ambiente escolar, sempre havia sido, para ele,

imposta e pouco prazerosa. Porém, as tarefas desenvolvidas na disciplina

mobilizaram suas reminiscências com a escrita, evocando uma experiência

interessante ocorrida fora do ambiente escolar:

A única experiência que eu tive mais a ver com a escrita, porque eu quis, foi quando estávamos escrevendo uns episódios que aconteceram lá no bairro. Tem uma turma que estávamos vinte anos juntos e a gente começou tentar escrever a história sobre a turma.

Foi bem legal! Eu adorei!

Aparentemente não tem nada a ver com a matemática... [Mas] quando você parava para pensar sobre o assunto você estava relembrando de coisas que normalmente você não lembrava. (E1/FS).

Os acontecimentos recentemente vividos, que incluíram a escrita discursiva

em forma de texto na disciplina de Geometria, trouxeram a FS outras lembranças

que, narradas, produziram outros significados e relações que podem não ser

imediatamente percebidos. Ao dizer aparentemente não tem nada a ver com a

Matemática, FS parece já assumir que a escrita discursiva faz parte da Matemática,

tomando consciência dessa aproximação.

O envolvimento na disciplina de Prática de Ensino e Estágio Supervisionado

no ano subsequente àquele em que cursara GPDG levou FS a reconhecer que,

apesar de sempre ter gostado de escrever, havia interrompido esta prática de escrita

discursiva em forma de texto explicativo, nos últimos tempos: Eu tinha parado de

escrever durante uns três anos. Eu não tinha escrito mais nada (E2/FS11). A

11

Entrevista - E2/FS - em 26/11/2004

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consciência da retomada da escrita o fez notar que o processo de escrita provoca

reflexões que reavivam ideias que parecem adormecidas. Além disso, a prática de

escrita ressaltou para FS a importância de dar voz e ouvidos aos seus alunos:

[...] a retomada da escrita aconteceu na aula da Sandra. E uma coisa muito interessante que aconteceu foi com a matéria com o Dario. Que ele pediu para eu fazer um diário reflexivo e eu nunca tive a ideia de fazer alguma coisa desse tipo. Então o que acontecia: eu assistia às aulas no dia da semana, refletia sobre aquelas aulas e nisso eu fui percebendo que eu tinha todas as ideias na cabeça só que quando você coloca no papel você põe de uma forma organizada e consegue refletir sobre o que você escreveu e então você consegue ter novas ideias a partir daquilo lá e eu achei muito interessante isso. A gente vai percebendo coisas que na hora você não percebe.

As coisas que os alunos falam e esse tipo de coisa que passa desapercebido... (E2/FS).

Fred, ao escrever sobre a prática de ensino de Matemática, percebeu, de um

lado, que a escrita promove a tomada de consciência de seus conhecimentos e

crenças acerca do ensino e da aprendizagem da Matemática, desencadeando,

assim, processos metacognitivos: Você consegue refletir sobre o que você escreveu;

por outro lado, notou também que a escrita provoca um processo de produção de

novos sentidos sobre o que acontece na prática: Você consegue ter novas ideias a

partir daquilo lá [...] A gente vai percebendo coisas que na hora você não percebe.

Após realizar a disciplina GPDG e o Estágio, Fred foi assumindo cada vez

mais intensamente a docência, de modo que seu tempo foi quase todo ocupado com

suas responsabilidades de professor e estudante. Por isso, foram poucos os nossos

contatos presenciais, além das duas entrevistas agendadas. Porém, os contatos

virtuais via correio eletrônico, totalizaram 61 até meados de agosto de 2005.

Identificando-se progressivamente com a sua imagem de professor, Fred

envaidece-se com algumas conquistas que parecem estimular sua confiança para

atuar na profissão:

Participei de um processo seletivo para professores na melhor escola de Campinas, [...] e que foi composto de duas fases: prova e aula teste. Fiquei muito contente, pois muita gente daqui do IMECC estava participando e eu fiquei em primeiro lugar... (Eml/FS).

O sucesso de FS nesse processo seletivo para professores deve-se, em

grande parte, às oportunidades de interação ao longo de sua trajetória de formação.

Avalia, entretanto, que falta, ao futuro professor, conhecer mais a realidade escolar,

sobretudo suas necessidades didático-pedagógicas: A gente começa a dar aula sem

antes ter uma ideia do que as escolas querem do professor. Além disso, pondera

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que a vivência do modelo tradicional de ensino privilegiado nas disciplinas de

Matemática da licenciatura mais prejudica que ajuda a futura prática docente:

O pessoal quer dar aula para o ensino médio como eles veem a aula do IMECC, por exemplo. A aula é tradicionalíssima... Você vai à lousa e escreve mal escrito, mal organizado na lousa. Coloca a definição, demonstra tudo e não está nem aí com o aluno (E2/FS).

A multiplicidade de aspectos que compõem a constituição do professor tende

a ser enriquecida à medida que se estabelecem interações diversas com os outros e

consigo mesmo, de modo a intensificar o potencial reflexivo e crítico dos envolvidos

no processo. A mediação envolvendo a escrita do professor e do aluno ajuda a

promover o diálogo e as interações em sala de aula, bem como o processo de

produção e negociação de significados. De fato, nas disciplinas em que a escrita se

fez presente, percebeu-se que o professor necessariamente ouve seu aluno pela

leitura de sua escrita e este, por sua vez, ouve o professor quando propõe e dá

retorno às tarefas realizadas, em especial, quando a dinâmica deste diálogo

extrapola os limites herméticos da linguagem formal.

Aos poucos, a ideia de aliar a escrita de textos ao ensino de Matemática foi se

fortalecendo no pensamento de Fred e, ao referir-se ao futuro, revela um sonho:

Falando já em planos, eu penso em escrever um livro de Matemática “Com –

Textos” (Através de textos). A interlocução com os alunos e as experiências que FS

possuía, até então, como professor e como aluno, levaram-no a perceber a

necessidade de incluir mais textos explicativos nos livros de Matemática:

Eu descobri com os alunos que eles têm a necessidade disso daí, e eles gostariam. Porque na verdade a apostila de matemática e o livro de matemática não explicam nada. Colocam definição, fórmulas e fórmulas...

E eu estava com a ideia de escrever alguma coisa através de textos.

Então eu fiquei já este ano inteiro conversando com os alunos para ver o que eles acham de cada matéria. Como é que faz para explicar melhor... e tal. (E2/FS)

As interações estabelecidas, ao longo de sua trajetória de formação, vêm

contribuindo para despertar novas ideias sobre o ensino e a aprendizagem da

Matemática. Dentre outros espaços ou momentos de formação, FS destaca ter

trabalhado com geometria e com o computador. Vivenciar na formação a inserção de

tecnologia e outras mediações de ensino de Matemática tende a oferecer ao futuro

professor maior credibilidade e confiança no uso desses recursos:

a gente percebeu que se aprende muito mais trabalhar geometria com o computador. Você trabalhar qualquer tópico de Matemática com o

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computador. Outra coisa: trabalhar qualquer tópico de Matemática, não necessariamente com o computador, mas com outros... Por exemplo: calculadora, calculadora gráfica, alguma coisa desse tipo. Trabalhar qualquer conteúdo de Matemática através de resolução de problemas, aulas investigativas e através da reflexão mesmo e reflexão por escrito (E2FS).

Dando continuidade a sua graduação FS participou de outras disciplinas,

entre elas Prática de Ensino de Matemática e Estágio Supervisionado – PEMES, em

que a prática da escrita também fora enfatizada. Embora, em ambas, a reflexão se

apresente com muita proeminência, percebeu uma diferença em relação ao papel da

escrita: Acho que a atividade da reflexão é uma coisa muito importante e se não

fosse a matéria da Sandra a gente estaria na matéria do Dario, a gente teria o

contato com essa reflexão, mas não iria estar entendendo o porquê. Enquanto uma

escrita se voltava para o ato de aprender e tratar a Matemática em si (GPDG), a

outra (PEMES) priorizava a prática escolar do ensino da matemática e as relações

didático-pedagógicas:

A gente ia fazer aquilo lá de uma forma... Até poderia entender. Só que a gente ia pensar o seguinte. A gente está fazendo um texto refletindo sobre coisas diferentes do conteúdo matemático. Sobre relacionamento, por exemplo, ou escola com professor e... essas coisas. Só que lá com a Sandra a gente viu que os tópicos de Matemática, a gente fazendo uma reflexão por escrito, a gente consegue entender mais e transmitir melhor.

A gente consegue ver outras áreas. Mas no conteúdo de Matemática a gente percebeu que isso funciona (E2FS).

Fred, quando diz: [...] a gente teria contato com essa reflexão, mas não iria

estar entendendo, parece admitir que, embora reconheça a importância da reflexão

escrita sobre a prática pedagógica em Matemática, sente que a reflexão escrita

sobre os conteúdos matemáticos, na formação inicial, também é essencial à

formação do professor, pois estabelece outras relações fundamentais com o

conteúdo e pode contribuir para que o futuro professor também venha a implementar

a prática da escrita com seus alunos, quando estão aprendendo Matemática na

escola. Em síntese, essas duas formas de refletir por escrito foram importantes para

sua formação, pois uma complementava a outra.

O envolvimento da escrita discursiva nas disciplinas de PEMES abriu espaço

para a reflexão sobre a prática da docência e, em especial, sobre o professor de

Matemática, minimizando um dos problemas, na formação de professores,

relacionados à dicotomia entre teoria e prática.

Em síntese, esse pequeno trailer da história de formação de FS traz imagens

de um jovem muito comunicativo, que, embora não almejasse como primeira opção

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a carreira docente, foi levado a mudar de rumo pelas interações estabelecidas – com

colegas, professores e a escrita – ao longo de seu caminho, passando a reconhecer-

se e identificar-se como professor de Matemática que reflete e almeja contribuir para

a transformação social. Na sua trajetória de formação de professor de Matemática,

identificou e valorizou, ora de modo implícito, ora explícito, os diferentes papéis que

a escrita pode assumir tanto no processo de educação matemática de seus alunos,

quanto em seu próprio desenvolvimento profissional.

Remates na tecedura de histórias de formação

A inserção da escrita discursiva em diferentes momentos da formação e o

lembrar e narrar por escrito (ou oralmente) histórias da trajetória formativa

experienciada pelos protagonistas da pesquisa contribuíram para que se

desenvolvessem profissionalmente, tornando-se agenciadores de suas reflexões e

autores de suas imagens e conceitos. Além disso, pôde-se evidenciar que a

experiência discente com a escrita discursiva sobre a Matemática, na formação

inicial, influenciou a prática futura dos professores, pois estes passaram também a

explorá-la didático-pedagogicamente com seus alunos.

A organização, por escrito, dos pensamentos e ideias permitia aos (futuros)

professores que seus conhecimentos docentes, às vezes ditos como tácitos, fossem

identificados, problematizados e (re)significados.

A busca de um estilo mais apropriado para expressar-se de forma

compreensível, nos textos escritos, colocou em evidência diferentes gêneros

discursivos. Isso ajudou a promover a própria compreensão e a do “outro” - aluno ou

professor -, evidenciando a importância de se dar voz e ouvidos ao interlocutor

durante o processo de produção e negociação de significados.

A liberdade de pensamento instaurada pela prática da escrita permitiu e

propiciou que muitos dos protagonistas (re)significassem seu modo de atuar e

organizar o trabalho pedagógico, empenhando-se para que a liberdade de

expressão no ambiente de ensino-aprendizagem ocorresse em suas aulas. As

narrativas de formação oportunizaram, entre outras contribuições da inserção da

escrita no contexto de formação de professores de Matemática, o incentivo ao

desenvolvimento da capacidade de análise durante a investigação, elucidando

serem a escrita e a análise elementos indissociáveis.

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Embora ciente da exígua porcentagem de futuros professores que têm a

oportunidade de vivenciar, em sua formação inicial, experiências que promovam a

reflexão por meio de linguagem escrita discursiva e reflexiva em disciplinas de

conteúdo específico de Matemática, consideramos que as evidências deste estudo

configuram-se como um convite para que outras pesquisas se dediquem a investigar

a importância e o papel da escrita aliada à Matemática não só no ensino superior,

como também no ensino fundamental e médio.

Referências bibliográficas

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______. The Dialogic Imagination. 6. ed. Austin: University of Texas Press, 1988.

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BRITTO, L. P. L. Contra o consenso: cultura, escrita, educação e participação. Campinas: Mercado de Letras, 2003.

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ANEXO E – A escrita de diários em aulas de matemática: espaço de

formação e aprendizagem

PONTES, R. C. M. A escrita de diários em aulas de Matemática: espaço de formação e aprendizagem In: CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL, 16., 2007, Campinas. Anais... Campinas, 2007. Disponível em: <http://www.alb.com.br/anais16/sem15dpf/sm15ss05_01.pdf>. Acesso em: 14 nov. 2012.

Esse texto pretende socializar uma experiência realizada com alunos do

segundo segmento do Ensino Fundamental, envolvendo a escrita discursiva em

aulas de matemática. Por meio de registros escritos em diários e produções de

diferentes gêneros textuais, os alunos demonstram conhecimento e envolvimento

com a matemática. É possível afirmar que esta prática com a escrita possui extenso

potencial, pois tem revelado muito acerca do conhecimento do aluno sobre a

matemática e surpreendentemente sobre a prática docente, permitindo ao professor

refletir sobre suas concepções, ou seja, também apresenta contribuições para a

formação do professor quando proporciona uma reflexão crítica sobre o texto

produzido pelo aluno, vinculada à postura didático-pedagógica.

A importância e o papel da escrita discursiva no ensino da matemática

Há algum tempo, pensar em práticas de leitura e escrita discursiva na escola

era pensar em aulas de Língua Portuguesa, pois esta disciplina sempre foi o espaço

formal para se exercitar essas habilidades. Tais habilidades, tão imprescindíveis

para a formação de qualquer pessoa, denotam uma dimensão que vai além de

pensá-las como um fim em si mesma, limitada a responsabilidade de apenas uma

área do conhecimento. Os alunos aprendem lendo e escrevendo, de modo que a

escrita discursiva precisa ser mais utilizada, exercitada e privilegiada por todas as

disciplinas escolares. Ela retrata a identidade de cada indivíduo, uma relação das

suas ideias e com o mundo. Práticas de escrita infelizmente não são comuns em

aulas de Matemática. O fato de a matemática possuir sua própria linguagem,

numérica ou algébrica, acarreta um abandono do ato de escrita discursiva nessas

aulas, o que por um lado torna a linguagem matemática admirada pela sua

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praticidade; por outro, pode comprometer uma habilidade importante na formação do

cidadão. A apropriação dessa linguagem simbólica matemática não é tarefa fácil, os

obstáculos algébricos encontrados pelos alunos, por exemplo, muitas vezes se

encontram na própria linguagem algébrica (KLÜSENER, 1998). A escrita discursiva

pode ser um meio de buscar significados para esses símbolos, pois possibilita

substituir termos matemáticos por outros de sua própria linguagem.

Segundo Duval (apud MORETTI, 2002):

Oferecer ao aluno a oportunidade de praticar matemática em diferentes contextos, neste caso, convertendo a linguagem simbólica praticada durante as aulas para a escrita discursiva, permite uma diversidade de representações, ampliando assim as capacidades cognitivas do sujeito (p. 348)

Diante da importância da escrita discursiva na aprendizagem, pergunto

como proporcionar tais momentos também em aulas de Matemática? Quais as

potencialidades que o trabalho com a atividade de escrita pode provocar e aflorar no

aluno na disciplina de matemática e como viabilizá-las? Foi pensando nessas

questões que resolvi proporcionar aos meus alunos momentos de escrita discursiva

na aprendizagem de Matemática.

A utilização de diários em aulas de matemática

Propus a produção de um “Diário de Matemática”, o qual cada um levá-lo-ia

para casa e faria registros sobre sua aprendizagem daquele dia, escrevendo sobre

suas dúvidas, os caminhos utilizados na aprendizagem do assunto estudado e suas

descobertas.

No início, a proposta não agradou muito, os alunos questionavam: “escrever

em matemática?”. As primeiras escritas eram breves e pouco significativas. Escrever

era uma obrigação, uma atividade a mais. Foram necessárias muitas intervenções e

reescrituras até que os textos começassem a tomar forma e representar algum

significado para a aprendizagem matemática e também um para o próprio aluno,

levando-o a perceber o diário como espaço para essa aprendizagem; como

momento que possibilita refletir sobre o que realmente aprendeu, reconhecendo que

a hora de escrever é a de perceber a coerência de suas ideias e de checar sua

aprendizagem. Considerando que a Matemática advém de uma cultura de

valorização de resultados e não do registro e do resgate dos mecanismos de

pensamento e também privilegia uma escrita técnica e formal:

[...] a representação verbal do pensamento do aluno capturada em seu texto é precisamente o que nós raramente temos acesso quando alunos

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meramente reagem a deveres de casa mecânicos ou problemas propostos. (POWELL, 2001; p. 76)

Esses “pensamentos escritos” apresentam características que variam de

acordo com as experiências do aluno e dependem do tipo de aula promovida pelo

professor. A escrita nesses diários, em alguns momentos, apresentou características

menos expressivas e mais impessoais, mostrando-se como um veículo para declarar

conhecimento matemático. O registro abaixo, da aluna Fernanda, evidencia essa

característica, quando relata como trabalhamos com o cálculo de áreas de

Polígonos:

Continuamos a ver como calcular a área de algumas figuras geométricas. Aprendemos que a base para o cálculo de área é o retângulo e o paralelogramo, então precisamos “transformar” os outros quadriláteros em formas semelhantes às suas. Vimos que 2 triângulos encaixados lado a lado podem formar um paralelogramo da mesma maneira que a do retângulo, ou seja, multiplicamos a base pela altura, fazemos isso também com o triângulo, mas temos que dividir por 2, pois existem 2 triângulos formando esse paralelogramo. Com o trapézio procedemos de maneira semelhante: 2 trapézios juntos formam um paralelogramo, portanto nesse também multiplicamos base por altura, porém existem 2 bases a maior (B) e a menor (b), então temos que somá-las e depois multiplicar pela altura, dividindo, em seguida, por 2, pois são 2 trapézios como no triângulo, ficando a fórmula: ( B + b ). h /2 → h = altura. No losango utilizamos o retângulo como base: se traçarmos as 2 diagonais do losango a maior (D) e a menor (d), teremos 4 pequenos triângulos, que encaixados em torno de outro losango formarão um retângulo. Observamos, então, que a diagonal maior é igual à base e a diagonal menor à altura, basta, simplesmente, multiplicarmos D. d e dividir por 2, por conta da formação do retângulo. Fizemos atividades sobre isso, dando valores de área em cm 2 e m 2. (Registro da aluna Fernanda, diário da 8ªsérie, 2005)

De acordo com as caracterizações propostas por Powell (2006), identifico o

texto escrito por Fernanda como uma “escrita produto”, que incide mais na

matemática. Na “escrita expressiva”, o tipo de registro produzido revela mais o

falante, sendo um ponto de partida para a aprendizagem, um pensar alto, um fluir de

ideias, como revela esse trecho do registro:

A primeira vista calcular a área de um círculo parecia o mesmo que calcular o comprimento da circunferência, mas não é. Depois é que percebi que para achar a área usamos o raio, e para calcular o comprimento usamos o diâmetro: 2πr ou πd. (Registro da aluna Bruna, diário de 7ª série, 2005)

Nesse caso, a aluna mostra que escrever a fórmula para o comprimento da

circunferência como πd, parece favorecer a diferenciação para a fórmula da área do

círculo, contrariando o que comumente aparece nos livros didáticos. Comecei, então,

a perceber a riqueza do material que possuía, os Diários tornaram-se instrumentos

riquíssimos para detectar como estava ocorrendo a aprendizagem dos meus alunos,

como eles se relacionavam com o conhecimento matemático, mas sobretudo

revelou-se também como um espelho das aulas e de minha atuação como

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professora, possibilitando, em muitos momentos, rever minha linguagem e as

estratégias que utilizava, além de perceber o sentimento dos alunos em relação às

nossas aulas. Dentre os muitos aspectos revelados pelas escritas dos alunos,

alguns necessitam ser aqui pontuados. O primeiro fato que chamou atenção foi, no

início, que muitos registros eram escritos pelos alunos em 3ª pessoa: “a professora

ensinou que....”, “hoje ela mostrou...”. Analisando esses registros e refletindo sobre

eles, pude perceber o quanto eu era a personagem principal no cenário das aulas e

precisava diminuir meu espaço para deixar que os alunos pudessem atuar mais. Os

trechos a seguir, retirados de diferentes diários de classes, evidenciam esse fato:

[...] começamos a aula com a professora corrigindo a tarefa, depois ela explicou por que o três se chama cubo e o dois se chama quadrado no expoente das potências.. [...] a professora nos mostrou como traçar a altura nos diferentes triângulos com régua e compasso[...] [...] hoje ela explicou sobre frações...depois ela explicou sobre simplificação de frações[...] [...] depois a professora leu o 2º problema das histórias de Malba Tahan, que ficou de tarefa. [...].

Foi por meio de registros como estes que fiz uma real leitura de minha

prática. Ler expressões como as que destaquei me fizeram perceber minhas falhas e

buscar um caminho mais cuidadoso para planejar minhas aulas, mais do que

conhecer como os alunos pensavam a Matemática, os registros possibilitaram a

regulação das minhas atitudes, tornaram-se a princípio uma referência em minha

formação profissional e pessoal.

Escrever significa interferir no processo, deixar-se marcar pelos traços do vivido e da própria escrita, reescrever textos e ser leitor de textos escritos e da história pessoal e coletiva, marcando-a, compartilhando-a, mudando-a, inscrevendo nela novos sentidos... O que faz de uma escrita uma experiência é o fato de que tanto quem escreve quanto quem lê enraízam-se numa corrente, constituindo-se com ela, aprendendo com o ato mesmo de escrever ou com a escrita do outro, formando-se”. (KRAMER, 2000 p. 114 ).

Pude perceber, então, como o espaço destinado à escrita, na escola,

deveria fundamentar-se também na ideia desse duplo potencial, como forte

instrumento para a formação de ambos, professor e aluno, leitor e escritor. Outra

observação foi em relação às diferentes interpretações que faziam de minha fala;

como às vezes uma palavra mal colocada ou como as experiências pessoais

interferem na interpretação, provocando diferentes significações, como demonstra o

registro da aluna Natasha:

[...] como ficaria, se traçada a altura nos seguintes triângulos: Triângulo retângulo: a altura chega ao meio Triângulo perpendicular: a altura chega exatamente ao ângulo de 90°. Triângulo obtusângulo: a altura fica fora. (registro da aluna Natasha, diário da 7ª série, 2003)

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A aluna se refere ao triângulo acutângulo – equilátero – com a nomenclatura

de retângulo e quando escreve: “chega ao meio” quer explicar que o ortocentro é um

ponto no centro desse triângulo. Também usa outro termo ao se referir ao triângulo

retângulo: “triângulo perpendicular” e não utiliza novamente o termo ortocentro

quando diz que coincide com o ângulo de 90°. Com o triângulo obtusângulo ela

também quis dizer que o ortocentro fica fora dele. Lendo esse registro, pude

perceber que deveria ser mais cuidadosa com o vocabulário utilizado durante as

aulas.

Com relação ao conhecimento matemático do aluno, ficou evidente o quanto

os registros escritos revelam lacunas e dificuldades de aprendizagem em

matemática, desde erros conceituais como também a própria dificuldade de escrever

sobre matemática, sendo esta última uma forte maneira de exercitar e enriquecer o

vocabulário matemático. Falar sobre, implica na utilização de termos e expressões

muitas vezes desconhecidos ou esquecidos pelos alunos, como o caso de uma

aluna que “inventou” uma nomenclatura para substituir a palavra denominador em

seu texto a fim de explicar a redução de frações a um denominador comum em uma

equação de coeficientes fracionários: “[...] após dividirmos o m.m.c. pelo compositor,

o resultado multiplicamos pelo número de cima [...]”.

Pensar sobre o que se escreve, articular essa escrita com o seu

conhecimento e com as dúvidas que surgem durante essa tarefa, adicionado ao fato

de tornar claro para o leitor suas ideias, torna-se uma tarefa trabalhosa e complexa.

Mas este exercício pode gerar aprendizagens muito significativas aos alunos. Muitas

vezes o texto era retomado nesse sentido, sugerindo ao aluno: o que você precisa

mudar em seu texto para que uma pessoa que não esteve presente durante a aula

possa compreender o que escreveu? Segundo POWELL (2001), a escrita em aulas

de matemática promove além do resgate do pensamento, a reflexão e organização

de ideias:

[...] refletir e refletir criticamente nas experiências matemáticas da escrita de um aluno pressupõe um aprendiz ativo, não um passivo. Essa ação acoplada ao caráter revelador da escrita reflexiva indica que a escrita pode influenciar significativamente a cognição e a metacognição de um aluno. (p. 77)

Foi pensando na escrita como veículo de aprendizagem, e nas múltiplas

potencialidades que esta atividade propicia que muitas outras práticas também

foram alteradas dentro do espaço de sala de aula, outras propostas de atividades

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envolvendo a escrita discursiva foram vivenciadas e todas confirmaram a

importância desse trabalho.

A escrita ultrapassa os diários para tornar-se um meio de avaliar...

No momento que o enfoque era o estudo da Equação do 2º grau, propus aos

alunos que, utilizando-se de todo conhecimento praticado em classe e outros que

pudessem pesquisar, eles deveriam criar, individualmente ou em dupla, um poema,

uma história em quadrinhos, uma música, um jogo, um diálogo criativo que

expusesse seus conhecimentos. Pensar a avaliação dentro dessa abordagem pode

fornecer ao professor informações de como está ocorrendo a aprendizagem e o

diagnóstico do nível de compreensão dos alunos nos determinados assuntos. A

aprendizagem de alguns conceitos matemáticos e suas relações ficam evidentes no

poema criado pela aluna Luana:

“Equação do 2º grau” Luana Moraes Argentieri Se eu tiver dois coeficientes completa não serei, pois para ser completa de três coeficientes precisarei. O Coeficiente “a” sempre aparecerá, pois o x² ele acompanhará. O coeficiente “b” pode aparecer ele é um número que parceiro do x vai ser. O coeficiente “c” sozinho vai aparecer pois de nenhum x companheiro ele vai ser. Completa ou Incompleta há vários modos de resolver usar a formula de “Bhaskara” ou produto e soma das raízes, posso escolher.

Da simplicidade do poema da aluna Luana Moraes Argentieri, podemos

destacar alguns aspectos de sua aprendizagem: diferencia equações completas e

incompletas e seus coeficientes, reconhece e descreve os coeficientes, define uma

equação do 2º grau através da expressão “sempre aparecerá” (necessidade do x²) e

também cita duas formas de resolução dentre as estudadas. Para POWELL (2006),

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esse processo analítico de desenvolvimento da escrita é, para o professor uma fonte

de avaliação do aprendizado do aluno.

Os alunos produziram diferentes tipos de textos. A maneira como procuram

tratar os conteúdos matemáticos, os conceitos que mobilizam, a habilidade em

articular conhecimento e compreensão, bem como o gênero textual escolhido e seus

conhecimentos de construção deste tipo de texto, são alguns aspectos analisados

nas produções dos alunos.

Os textos produzidos trouxeram uma nova experiência em avaliar o

conhecimento matemático do aluno e revelaram quanta criatividade surge quando

podem exercitar suas mais variadas habilidades. Mostraram o amplo papel da

escrita na construção do saber matemático, subsidiando o resgate do pensamento,

permitindo refletir sobre sua aprendizagem.

Para SANTOS (1997), os instrumentos e as estratégias utilizadas para

avaliar o conhecimento e o raciocínio do aluno devem ser variados e aplicados em

vários momentos do processo educativo. O uso de uma variedade de instrumentos

vai oferecer ao professor, ao aluno, aos pais e à comunidade escolar um retrato

mais fidedigno do que está ocorrendo em termos de raciocínio e aprendizagem

matemática do aluno.

Podemos considerar também o tema, Equação de 2º grau, como favorável

às produções, por tratar-se de um assunto que os alunos costumam apreciar muito.

Um gênero muito particular escolhido foi um texto bíblico adaptado pelos

alunos, unindo aspecto emocional e intelectual.

Bíblia Matemática Livro das Equações – Cap. 23 Salmo da Equação do 2º grau Renan Gonzáles Vítor S. Fedel A raiz é a solução e nada me faltará. Pensar me faz na potenciação, leva-me mansamente ao valor de delta. Responda-me a raiz quadrada, guia-me pelas contas de Bhaskara, pelo número da solução. Ainda que não resolvesse por produto e soma, não temeria mal algum, porque a solução está comigo. O teu delta e a tua fórmula me consolam. Prepara uma conta com as minhas dificuldades, mas lembra-me da fórmula e a facilidade me transborda. Certamente que a fórmula, o produto e a soma das raízes me seguirão por todos os dias da minha vida e resolverei na escola as equações por longos e longos dias.

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A criatividade do Salmo da Equação do 2º foi surpreendente, mesmo por

que de maneira inusitada eles utilizaram adequadamente conceitos e vocabulários

matemáticos.

Considerações Finais

O trabalho com a escrita em qualquer área do conhecimento deve

considerar que os alunos aprendem lendo e escrevendo sobre situações reais de

seu conhecimento. Isso traz significação para o conteúdo de aprendizagem e para o

próprio ato da escrita, evitando que não se torne mais um momento de escrever por

obrigação. O diário mostrou o uso da língua como importante ferramenta para o

registro dos momentos vivenciados durante as aulas, para observar as diferentes

interpretações dos alunos, para compartilhar ideias, dúvidas, hipóteses.

A descoberta do potencial de contribuição dos diários para a formação do

professor, talvez tenha sido a mais significativa durante essa trajetória, mesmo

porque na literatura de educação matemática encontramos relatos dessas

contribuições apenas em diários de professores e não de alunos como relata essa

experiência.

Analisando o trabalho na perspectiva dos registros de representação e

recorrendo a hipótese formulada por Duval (apud Moretti, 2002), referente à

capacidade de mobilizar simultaneamente ao menos dois registros de representação

com propriedades diferentes, demonstrando assim a compreensão de conteúdos

matemáticos, nesse caso, a produção escrita sendo conversão da linguagem

matemática utilizada convencionalmente caracteriza-se com um segundo meio de

declarar conhecimento. Os poemas revelaram essa outra forma de representação,

envolvendo os conteúdos e utilizando-se de poesia, sonoridade, ludicidade e

significado.

Permeando todo esse trabalho e as reflexões realizadas durante esse longo

caminho, não poderia deixar de relatar as contribuições das discussões realizadas

no GdS1, desde o processo de produção do texto “A escrita no processo de

aprender matemática” (PONTES, R.C.M. et.al). Quando integrei o grupo, já realizava

o trabalho com os Diários de Matemática, mas o trabalho colaborativo realizado

através das leituras, elaboração e aplicação de atividades realizadas em sala de

aulas, seguidas das discussões com o grupo e posterior escrita, mostraram-me

direções e caminhos que trouxeram novos olhares para esse trabalho. A

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investigação sobre a própria prática, tão discutida e vivenciada pelo grupo com

certeza contribuiu para essa “escuta sensível” e os diários tornaram-se veículos para

ouvir o aluno e refletir sobre as práticas e concepções de educação. Há muito tempo

alguns pesquisadores da Educação concebem os educadores como capazes de

refletir sobre a própria atuação e produzir conhecimentos profissionais a partir da

prática, assim podemos rever a nossa forma de ensinar, introduzindo atividades que

possam fazer a diferença na sala de aula. Talvez esta experiência pode mostrar o

quanto novas práticas muito podem revelar acerca do conhecimento do aluno e do

professor, de maneira agradável e produtiva.

________________________________________________

1 O Grupo de Sábado (GdS) é um grupo de pesquisa e estudos sobre a prática escolar em educação matemática, que se reúne quinzenalmente na FE/UNICAMP, tendo um trabalho colaborativo entre professores da educação básica e acadêmicos da universidade.

BIBLIOGRAFIA:

BORUCHOVITCH, Evely. Revista Tecnologia Educacional, v.22. Jan/Abr. p. 22-28, 1983.

KRAMER, S. Escrita, experiência e formação: múltiplas possibilidades de criação de escrita. Linguagens, espaços e tempos no ensinar e aprender. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. p. 105-121.

KLÜSENER, R. et al. Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. 2. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1999.

MORETTI, Méricles T. O papel dos registros de representação na aprendizagem de matemática. Contrapontos, v. 2, n. 6, p. 343-362, 2002.

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SANTOS, Vânia M. P. Avaliação de aprendizagem e raciocínio em matemática: métodos alternativos. Rio de Janeiro: Instituto de Matemática da UFRJ, 1997.

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ANEXO F– A Origem das Equações do 1º Grau

MATEMATIQUÊS. A Origem das Equações do 1º Grau. 2013. Disponível em: <http://www.matematiques.com.br/conteudo.php?id=582>. Acesso em: 12 nov. 2013.

“Assim como o Sol empalidece as estrelas com o seu brilho, um homem inteligente eclipsa a glória de outro homem nos concursos populares, resolvendo os problemas que este lhe propõe”. François Viète

Este texto da Índia antiga fala de um passa tempo muito popular dos

matemáticos hindus da época: a solução de quebra-cabeças em competições

públicas, em que um competidor propunha problemas para outro resolver.

Era muito difícil a Matemática nesse período. Sem nenhum sinal, sem

nenhuma variável, somente alguns poucos sábios eram capazes de resolver os

problemas, usando muitos artifícios e trabalhosas construções geométricas.

Hoje, temos a linguagem exata para representar qualquer quebra-cabeça ou

problema.

Basta traduzi-los para o idioma da Álgebra: a equação.

Equação é uma maneira de resolver situações nas quais surgem valores

desconhecidos quando se tem uma igualdade. A palavra “equação” vem do latim

equatione, equacionar, que quer dizer igualar, pesar, igualar em peso. E a origem

primeira da palavra “equação” vem do árabe adala, que significa “ser igual a“, de

novo a idéia de igualdade. Por serem desconhecidos, esses valores são

representados por letras. Por isso na língua portuguesa existe uma expressão muito

usada: “o x da questão”. Ela é utilizada quando temos um problema dentro de uma

determinada situação. Matematicamente, dizemos que esse x é o valor que não se

conhece.

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A primeira referência a equações de que se têm notícias consta do papiro de

Rhind, um dos documentos egípcios mais antigos que tratam de matemática, escrito

há mais ou menos 4000 anos.

Como os egípcios não utilizavam a notação algébrica, os métodos de

solução de uma equação eram complexos e cansativos.

Os gregos resolviam equações através de Geometria.

Mas foram os árabes que, cultivando a Matemática dos gregos, promoveram

um acentuado progresso na resolução de equações. Para representar o valor

desconhecido em uma situação matemática, ou seja, em uma equação, os árabes

chamavam o valor desconhecido em uma situação matemática de “coisa”. Em árabe,

a palavra “coisa” era pronunciada como xay. Daí surge o x como tradução

simplificada de palavra “coisa” em árabe.

No trabalho dos árabes, destaca-se o de Al-Khowarizmi (século IX), que

resolveu e discutiu equações de vários tipos.

Al-Khowarizmi é considerado o matemático árabe de maior expressão do

século IX. Ele escreveu dois livros que desempenharam importante papel na história

da Matemática. Num deles, Sobre a arte hindu de calcular, Al-Khowarizmi faz uma

exposição completa dos numerais hindus. O outro, considerado o seu livro mais

importante, Al-jabr wa’l mugãbalah, contém uma exposição clara e sistemática sobre

resolução de equações.

As equações ganharam importância a partir do momento em que passaram

a ser escritas com símbolos matemáticos e letras. O primeiro a fazer isso foi o

francês François Viète, no final do século XVI. Por esse motivo é chamado “pai da

Álgebra”.

Viète também foi o primeiro a estudar as propriedades das equações através

de expressões gerais como ax + b = 0. Graças a Viète os objetos de estudo da

Matemática deixaram de ser somente problemas numéricos sobre preços das

coisas, idade das pessoas ou medidas dos lados das figuras, e passaram a englobar

também as próprias expressões algébricas.

A partir desse momento, as equações começaram a ser interpretadas como

as entendemos atualmente: equação, o idioma da álgebra.

Atualmente as equações são usadas, entre outras coisas, para determinar o

lucro de uma firma, para calcular a taxa de uma aplicação financeira, para fazer a

previsão do tempo, etc.

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E devido à evolução dos estudos das equações, podemos utilizar outras

variáveis, letras, para representar o valor desconhecido, ou seja, o que se quer

descobrir em uma equação.

Hoje, chamamos o termo desconhecido de incógnita, que é uma palavra

originária do latim incognitu, que também quer dizer “coisa desconhecida”. A

incógnita é um símbolo que está ocupando o lugar de um elemento desconhecido

em uma equação.

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ANEXO G – Capítulo 4 – Polinômios

4.1 A História dos Polinômios

Ao longo da história da humanidade, um dos problemas mais fascinantes

entre os matemáticos antigos era o de resolver equações polinomiais. Para que

valores de x, por exemplo, seria satisfeita a equação:

x² - 5x + 6 = 0?

. A solução de equações do 2º grau creditadas ao hindu Báskara é na

verdade, de autoria de Sridahara, do século XI, também hindu. Os hindus

participaram com um grande papel na matemática, junto aos árabes, uma vez que

uma das grandes potências da matemática, a Grécia antiga, estagnou-se em suas

pesquisas durante à invasão de seu território pelo Império Romano. Uma das

grandes discussões matemáticas registradas na história é a ocorrida entre os

matemáticos italianos Girolamo Cardano e Nicoló Fontana, mais conhecido como

Tartaglia (Tartaglia traduzido a português significa “gago”, apelido dado ao

matemático devido aos seus distúrbios de fala) em meados do século XVI. Naquela

época eram comuns publicações anuais de matemática, nos quais as mentes

brilhantes da Europa propunham desafios a outros matemáticos. Publicações essas

que faziam crescer o nome de muitos matemáticos que conhecemos historicamente

hoje, como Newton, irmãos Bernouilli, Leibniz, entre outros.

A história diz que no início do século XVI o matemático Scipione del Ferro

descobriu uma solução para a equações do tipo x³ + px + q = 0, porém faleceu antes

de publicá-la. Seu discípulo, Antonio Fior, conhecia o método e resolveu publicar em

uma dessas edições anuais o desafio, a fim de engrandecer seu nome perante os

matemáticos contemporâneos. O desafio constava em dar as soluções numéricas de

equações do tipo que del Ferro havia estudado.

O matemático Tartaglia, um humilde matemático de origem pobre, aceitou o

desafio e respondia todos com respostas diretas e precisas a respeito das raízes,

porém não revelava seu método de obtenção das mesmas. Por mais que Fior

ousava desafiar Tartaglia, a resposta vinha sempre com precisão por parte do

matemático com distúrbio de fala.

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Para finalizar a humilhação para cima de Fior, Tartaglia propôs um desafio

ao mesmo que era de resolver equações do tipo: x³ + n.x² +px + q = 0. Ao

matemático Fior, que não tinha méritos o suficiente para responder ao desafio,

restou aceitar a humilhação perante todos os matemáticos contemporâneos.

Nesta mesma época, Girolamo Cardano, também italiano, estava

escrevendo um trabalho de Álgebra, e solicitou a Tartaglia que revelasse o método

de resolução das equações do 3º grau para que fosse publicado, com os devidos

créditos, no seu livro. Tartaglia recusou, alegando que iria publicar ele mesmo o

método. Cardano era conhecido por sua “falsidade”, mas mesmo assim conseguiu

convencer (sob juras de que seria devidamente creditado) o matemático Tartaglia a

revelar a solução. Quebrando sua promessa, em meados do século, surgiu a

publicação Ars Magna contendo a solução das equações do 3º grau sem menção

alguma ao seu conterrâneo.

Com a solução de equações cúbicas conhecida, um grande problema na

matemática surgiu (refira-se à introdução histórica dada aos Números Complexos no

capítulo 1 deste livro) quando os matemáticos pararam para analisar melhor a

solução de Cardano-Tartaglia para equações do 3º grau: x³ = a.x + b.

A solução vinda do matemático italiano dizia que:

X= 3

32

3

32

322322

abbabb

Até o momento não era tido como algo matematicamente verdadeiro a raiz

quadrada de números negativos, de modo que equações como x³ = 15.x + 4, não

apresentassem soluções de interpretação matemática concreta, uma vez que de

acordo com a solução de Tartaglia:

33 12121212 x

Desta forma criou-se em paralelo ao estudo das equações algébricas polinomiais, o

estudo dos Números Complexos.

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ANEXO H – Gravuras da Tarsila do Amaral