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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias - Português

Ensino Médio, 1º Ano

A elipse na sequência do texto e a manutenção de um tópico textual.

COMPONENTE CURRICULAR: Língua Portuguesa

Ensino Médio, 1º Ano

TÓPICO: A elipse na sequência do texto e a manutenção de um tópico textual

LÍNGUA PORTUGUESA, 1º Ano do Ensino MédioA elipse na sequência do texto e a manutenção de um tópico textual

Na aula de hoje, estudaremos um tipo particular de recurso coesivo capaz de

fazer a articulação de sucessivos segmentos do texto. Estamos nos referindo à

ELIPSE, por esse motivo, o tópico da nossa aula recebe o título:

A elipse na sequência do texto e a manutenção de um tópico textual.


É bom lembrar que ...

Em muitas gramáticas a elipse se faz presente no conteúdo figuras de

linguagem (abordagem mais voltada para o estilo e o apagamento).

Em nossa aula, trataremos a elipse sob a perspectiva textual, isto é, como

recurso coesivo.


Primeiramente, o que vem a ser um texto coeso?

Dizemos que um texto é coeso quando ele apresenta uma sequência em que

se reconhece continuidade, interligação de suas partes resultando numa

unidade de sentido. Para conseguir tal efeito, recorremos a alguns

procedimentos como a repetição, a substituição, a seleção lexical e a conexão

sintático-semântica.


Em nossa aula, trataremos de um dos recursos da substituição chamado

elipse.

Diz-se que ocorre coesão por elipse quando algum elemento do texto é

substituído por Ø (zero) em algum dos contextos em que deveria ocorrer:

Exemplo:

- Paulo vai conosco ao cinema?

- Ø (= Paulo) Vai. Ø (= conosco ao cinema)


Como vimos, a pergunta anterior foi respondida com apenas uma palavra,

capaz de recuperar todas as outras que faltaram. Nesse caso, evitou-se a

prolixidade de repetir as mesmas palavras da pergunta, o que tornaria a

resposta extensa, cansativa e repetitiva, vejamos:

- Paulo vai conosco ao cinema?

-Sim, Paulo vai conosco ao cinema.

Esse tipo de resposta compromete o andamento do texto, tem-se a

impressão de que “o texto não flui, está amarrado”. Podemos dizer que a

elipse tem exatamente a função de fazer o texto fluir, progredir para seu final.


Segundo Antunes (2005, p. 119):

“ (...) a elipse é considerada, na perspectiva do texto, uma espécie de

reiteração, sem contar com outros efeitos que ela provoca, como a concisão e

a leveza de estilo”.


Para que a elipse possa ser usada sem prejuízo de sentido, é preciso que o

termo oculto possa ser facilmente depreendido pelas referências do contexto.

Veja:

Maria chegou cedo ao trabalho hoje. (Maria) Já conseguiu resolver todas as

pendências e ainda teve tempo para conversar com o chefe.

Pelo próprio contexto sabemos que, quando se afirma, “ Já conseguiu

resolver todas as pendências e ainda teve tempo para conversar com o

chefe”, trata-se de Maria.


Para você compreender melhor a elipse, leia o trecho abaixo:

Em certo dia de data incerta, um galo velho e uma galinha nova

encontraram-se no fundo de um quintal e, entre uma bicada e outra,

trocaram impressões sobre como o mundo estava mudado. O galo, porém,

fez

questão de frisar que sempre Ø vivera bem, Ø tivera muitas galinhas em sua

vida sentimental e agora, velho e cansado, Ø esperava calmamente o fim de

seus dias.

Nos espaços onde vemos Ø, temos como sujeito o galo, que por conta da

elipse foi reiterado, evitando repetições desnecessárias. Do contrário, veja

como teria ficado o texto:


Analisem:

Em certo dia de data incerta, um galo velho e uma galinha nova

encontraram-se no fundo de um quintal e, entre uma bicada e outra,

trocaram impressões sobre como o mundo estava mudado. O galo, porém, fez

questão de frisar que sempre ele vivera bem, ele tivera muitas galinhas em sua

vida sentimental e agora, velho e cansado, ele esperava calmamente o fim de

seus dias.


O importante durante a produção textual é saber onde usar a elipse, visando

a não prejudicar a continuidade e a manutenção do tópico textual. O fio

condutor do texto precisa ser mantido, garantindo assim a coesão.


O sujeito oculto como instrumento da elipse

Observe o exemplo abaixo:

O Náutico lutou muito, mas não passou do empate com o time da casa.

O sujeito de “passou” é “o Náutico”, que aparece oculto na 2ª oração.

Assim, o uso de sujeito oculto é uma forma de assegurar a elipse e garantir a

coesão das sentenças linguísticas.


A vírgula como instrumento da elipse

Observe o exemplo abaixo:

O menino fica em casa, a menina, não.

Como vimos acima, o uso da vírgula marca elipse nos verbos. No caso,

houve elipse do verbo “ficar”.


Observação

A elipse só deve ser realizada durante a produção textual se o próprio texto

fornecer pistas suficientes para o leitor recuperar facilmente os elementos

suprimidos. A todo instante, na qualidade de produtores, devemos pensar no

(s) nosso (s) leitor (es). Ser competente na produção escrita requer cuidados

com o entendimento do(s) leitor (es).


Competência textual

Para que se consiga a competência textual, é preciso prática na análise e

produção. O simples fato de saber produzir sentenças com sujeito oculto

não garante essa competência . É preciso saber avaliar o efeito de sentido

provocado pela continuidade ou progressão textual com ou sem o

apagamento de uma expressão.


Portanto, durante a produção textual é necessário examinar o que melhor

garante a continuidade do texto: se uma elipse, um pronome ou a repetição

de uma palavra. Nesse sentido, uma elipse inadequada pode resultar numa

ambiguidade, como podemos constatar no exemplo retirado de Antunes

(2005, p. 123), observem: “As mulheres devem evitar o uso de produtos de

higiene feminina perfumados, pois Ø podem causar irritação (...). É

recomendável também não usar roupas justas, pois assim Ø permite uma

boa ventilação (...) o que reduz as chances de infecção.”


Agora, após todas as informações apresentadas e explicadas, é chegado o

momento de avaliar o que você construiu com relação ao conteúdo estudado.

Seguem os exercícios avaliativos, os quais você deve fazer na escola para,

posteriormente, avaliar sua aprendizagem. Boa sorte!


Leia o texto abaixo e responda as questões que seguem:

O Sonâmbulo

1 Certo indivíduo, conhecido como vivedor, aboletou-se, no caminho de sua

2 vida, no solar dum homem bonacheirão e abastado, que lhe abrira as portas para

3 um descanso ligeiro. Nos primeiros dias, o dono suportou galhardamente o

4 hóspede, oferecendo-lhe o melhor trato, fornecendo-lhe a melhor cama, o melhor

5 vinho, os melhores charutos. Passada, porém, a primeira quinzena, começou a

6 pensar em um meio, que não fosse grosseiro, de livrar-se do importuno, e achou-o.

7 Tinham os dois acabado de almoçar e repousavam, lendo jornais e fumando

8 “havanas”, à sombra das árvores. De repente, o hospedeiro recosta-se pesadamente

9 na cadeira, cerra os olhos, deixa cair a folha e o charuto, simulando um sono

10 profundo. E, como em sonho, principia a falar: “Vejam só: que maçada! Esse


11 cavalheiro vem, aloja-se em minha casa, come, bebe, fuma, diverte-se, e nada de

12 entender que sua presença já me está sendo desagradável! Será possível que ele

13 não compreenda isso?” – E, soltando um suspiro, pulou da cadeira, esfregando

14 os olhos: “Que diabo! É eu dormir depois do almoço, vêm-me logo os

15 pesadelos. E que sonho mau tive eu! Parece até que falei alto, não?” – E o

16 outro, que de cenho cerrado, prestava atenção a tudo: “É exato; você esteve por

17 aí falando; e eu, como vi que se tratava de cousas de sonho, procurei não ouvir

18 para não ser indiscreto. As palavras dos homens só têm valor, mesmo, quando

19 eles as proferem acordados”. – E o hóspede continuou na casa por mais três anos

20 e quatro meses, isto é, até a transferência da propriedade, comendo do melhor

21 prato, dormindo na melhor cama, bebendo do melhor vinho, fumando os

22 melhores charutos .

Humberto de Campos


01- Identifique no texto lido onde se encontram as elipses:

a) do termo ele. (linha 5)

b) da expressão os dois. (linha 7)

c) da expressão o hospedeiro. (linha 9)

d) da expressão o seguinte. (linha 10)

e) do termo ele. (linha 11)

f) do termo ele. (linha 13)

g)da expressão e dizendo o seguinte (linha 14)

h) do termo disse. (linha 16)


02. Se fôssemos comparar a impressão que cada uma das personagens

causa ao leitor, diríamos que o dono da casa apresenta-se como uma pessoa de extrema bondade, sem energia e tímido; já o hóspede, diferentemente, é

um: a) homem cruel, desavergonhado e ridículo.

b) parasita ousado, espertalhão e cínico. c) sujeito indiscreto, audacioso e estúpido.

d) aproveitador audacioso, introvertido e deselegante. e) aproveitador barato, calculista e perspicaz.

03. Pelo texto percebemos que o estratagema a que recorreu o dono da casa para livrar-se do hóspede importuno foi:

a) elegante e despretensioso. b) inteligente e criterioso. c) audacioso e eficaz. d) ingênuo e cômico.

e) danoso e eficiente.


04. A palavra galhardamente (L. 03) significa:

a) disfarçadamente b) equivocadamente c) com impetuosidade d) gentilmente e) oportunamente

05. “... procurei não ouvir para não ser indiscreto” (L. 17). Essa passagem revela, do hóspede, seu/sua:

a) inconformismo. b) indiscrição. c) intrepidez. d) conformismo. e) cinismo.


06- Indique no espaço aberto pelos colchetes a palavra omitida:

a) O Luís foi à ópera, onde [ ] encontrou os amigos.

b) A final da Liga dos Campeões foi muito bem disputada, ao contrário do que aconteceu na [ ] anterior.

c) – Ela quer aquele pão com presunto?- [ ] Quer

d) Maria foi à rua comprar leite, [ ] batatas e , [ ] farinha.


07- Produção textual

Produza um parágrafo dissertativo sobre a importância da família na escola.

Nele, lembre-se de recorrer à elipse como recurso coesivo. Destaque o local

dela (a linha) e no final do parágrafo informe a qual palavra a (s) elipse (s)

pertenceu / pertenceram. Boa produção!


Bibliografia consultada

ABAURRE, Maria Luiza M; ABAURRE, Maria Bernadete M; PONTARA Marcela.Português: contexto, interlocução e sentido. São Paulo: Moderna, 2008.

ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo:Parábola Editorial, 2005. ___________________. Muito além da gramática. Por um ensino de línguassem pedras no caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

OLIVEIRA, Luciano Amaral. Coisas que todo professor de português precisasaber – a teoria na prática. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.


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