língua portuguesa, de ciência - ulisboa.ptªncia... · portuguesa à escala mundial, com relevo...
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"Língua portuguesa,língua de ciência"
i A 2 i Conferência Internacionalsobre o Futuro da Língua Portuguesano Sistema Mundial retoma os
grandes temas que ocuparam a i a
Conferência, realizada em Brasília
em 2010, para avaliar os progressosalcançados e o que falta fazer emrelação a cada um. São esses temas a
implantação do português nas orga-nizações internacionais; a promoçãodo ensino da língua; a entrada emvigor do acordo ortográfico; e, de
modo mais geral, a difusão da línguaportuguesa à escala mundial, comrelevo para as numerosas comuni-dades emigrantes que formam a di-áspora do português em ambientes
aíoglotas. A estes temas, de evidente
importância e complexidade, foi
este ano adicionado um outro, espe-cífico da 2- Conferência: a promoçãodo português como língua da ciênciae da inovação.
A escolha deste tópico temsuscitado algumas perguntas,previsíveis e pertinentes no seu
pragmatismo, que convergem no
seguinte: num mundo cada vez
mais globalizado, em que a língua-franca da comunicação é o inglês e
em que o conhecimento tem de ser
produzido e transmitido em línguainglesa, sob pena de ficar ignoradoe sem influência, que sentido faz
promover movimentos que remamcontra essa corrente? Que eficiência
poderá ter uma descoberta alcan-
çada, por exemplo, por uma equipade médicos portugueses, se não for
publicada em revista internacional
e, já se vê, redigida em inglês? Mais
ainda, que hipóteses teria essa des-coberta de ser validada interpores e
acolhida pela comunidade científicainternacional como genuína e útil?Em outro plano, como não concor-dar com as escolas portuguesas queoferecem o seu ensino em línguainglesa, dessa forma captando alu-nos estrangeiros, ao mesmo tempoque habilitam os portugueses a
encarar prosseguimentos de estudo
e trabalho no estrangeiro, sem
penosas adaptações linguísticas?Finalmente, teria um reputado críti-co como Harold Bloom escrito sobre
Fernando Pessoa, se não tivesse tidoacesso às traduções dos seus poemaspara inglês e a alguns estudos nessa
mesma língua, já que os originaisportugueses de Pessoa lhe passamao lado, assim como a maior parteda literatura crítica pessoana?
No mundo em que vivemos, o
inglês é sem contestação a prin-cipal Língua ativa na produção deciência, cultura e conhecimentoe é também a principal línguapassiva de estudo e aquisição deconhecimento. Um cientista ouum estudante que não soubesse leringlês ficaria singularmente limita-do nas suas fontes de informação,com consequências perigosas paraa qualidade e a atualidade da sua
formação.A 2S Conferência não vai contra
essas evidências, nem as ignora. Maschama simplesmente a atenção paraque o inglês não é, nem deve servisto, como a única língua de ciên-cia: outras grandes línguas de cultu-ra, entre elas o português, possuemlongas literaturas científicas que,em certos domínios, constituem
incontornável referência internacio-nal e não poderiam ser substituídas
por traduções sem perda de rigor,de significação e de capacidadecriativa. Isto é particularmenteverdade quando se trata do estudodessas próprias línguas e das váriasliteraturas e culturas que as usamcomo veículo preferencial - estudo
que, mesmo quando produzido emoutra língua, exige do estudioso umprofundo conhecimento da língua -
objecto, para perceber o que nela
não está aparente - e para não dizerbanalidades. No caso da língua por-tuguesa, facilmente se reconhece o
papel instrumental que tem desem-
penhado, historicamente e na mais
recente atualidade, no desenvolvi-mento de domínios científicos comoa medicina tropical, a geografiahumana e a antropologia, as ciências
da terra, os sectores energéticos e
outras atrvidades económicas, de
modo semelhante alimentadas porcontactos triangulares no Atlântico
Sul; a literatura pertinente nesses
domínios científicos continua a só
ter vantagens em ser veiculada em
português. Há que ter em mente quenão é só no mundo em que a línguainglesa é dominante que se passamas coisas; também há, entre os ou-tros, um mundo emergente de pa-íses que comunicam em portuguêse que não devem precisar de outra
língua para as trocas de conheci-mento que entre si efetuam.
Internacionalização não é sinóni-mo de exportação para o mundo
anglo-saxónico. Além do muito quese pode fazer pelo reconhecimentointernacional da língua portuguesasem sair dos países lusofalantes, a
intercomunicação entre os respeti-vos agentes culturais e produtorescientíficos e industriais contém umgenuíno elemento internacionali-
zante.E contém dificuldades de fun-
cionamento que são superáveis, seforem reconhecidas. Nem tudo foifeito ainda, pelos países que falam
português, para apresentarem umaface de unidade linguística frenteao resto do mundo: por exemplo,são possíveis aperfeiçoamentosonde os ensinantes de portuguêscomo língua estrangeira compe-tem, em vez de coincidirem; porexemplo, é possível, havendo desejodisso, criar mecanismos estáveisde harmonização terminológica,que evitem uma deriva há mui-to diagnosticada: um confrontorealizado entre cerca de mil termosde informática correntes no Brasil e
outros tantos correntes em Portugalrevelou coincidência em poucomais de 200 termos. Como esteconfronto foi realizado há mais deuma década, pode recear-se que a
dispersão terminológica seja hojeainda mais acentuada entre os dois
países, em domínios de ponta.Finalmente, nenhuma língua
é suporte neutro para os produtosculturais que nela são criados. Aoescolher a língua em que escreve-mos, estamos também a escolheruma literatura científica em quedesejamos ser acolhidos, os autores
que preferimos, as terminologias eestilos de exposição nela consagra-dos e que adotamos. Se escolhemosescrever ciência em inglês, difícilse torna não adotarmos tambémprogramas de pesquisa própriosdessa língua e, com eles, importar-mos como centrais à nossa atividadepreocupações que nasceram emquadros culturais onde prevalecemrelações que não são as nossas.
IVO CASTRO
28 de setembro de 2013
A reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros da Comunidade de Países de Lín-
gua Portuguesa (CPLP) que se seguirá à II Conferência internacional sobre o Futuroda Língua Portuguesa no Sistema Mundial, a 29 e 30 de outubro, deverá aprovaro chamado 'Plano de Ação de Lisboa', foi revelado na conferência de imprensa de
apresentação da conferência, a 20 de setembro. Na foto (esq./dir.) Ivo Castro, Pre-sidente da Comissão Científica da conferência, Ana Paula Laborinho, Presidente doCamões, IP, Murade Murargy, Secretário-executivo da CPLP, e Rui Aleixo, represen-tante do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal.
II CONFERÊNCIA LÍNGUA PORTUGUESA NO SISTEMA GLOBAL
O futuro Planode Ação de Lisboa
1 A II Conferência Internacionalsobre O Futuro da LínguaPortuguesa no Sistema Mundial'decorre, a 29 e 30 de outubro ,
na Reitoria e na Faculdade deLetras da Universidade de Lisboa,com numerosos especialistas dos
países lusófonos, procurando dar
sequência ao plano de Brasília.Um programa vastíssimo que se
inicia com um painel que trataprecisamente do Plano de Ação de
Brasília com Oliveira Encoge, EmirSuaiden, Cláudia Silva, Lourençodo Rosário e Eugênio AnacoretaCorreia, com coordenação deGilvan Miiller de Oliveira, no dia
29, às 10. Logo de seguida, às 12,a conferência de abertura, porAntónio Correia e Silva, ministrodo Ensino Superior Ciência e
Inovação de Cabo Verde. Seguemse sessões com os temas "Ciênciae inovação", coordenada por InêsDuarte; "Diversidade linguística:Políticas", por Perpétua Gonçalves;"Portal do Professor de PortuguêsLíngua Estrangeira" , por Edleise
Mendes; "Políticas de Língua naGaliza", por Ivo de Castro; "Ensinoe Formação", por João Costa;"Os Vocabulários OrtográficosNacionais e o Vocabulário
Ortográfico Comum" , por GilvanMiiller de Oliveira; "Educação e
Desenvolvimento", por Manuel
Brito Semedo; ou "Ensino de
Língua" , por Madalena Arroja; .
E ainda comunicações livres
(moderador entre parêntesis )
sobre "Formação de Professores-Instrumentos e Estruturas" (MárioFilipe), "Política, Media e Cultura"(Mário Coutinho), "Leitura e
Escrita no Ensino da Língua"(Helena Buescu), "Tecnologiasno Ensino e na Ciência" (EmirSuaiden), "Ensino de LínguaPortuguesa como Língua NãoMaterna "(Ana Maria Brito),"Ensino de Língua Portuguesa naChina" (Ana Paula Laborinho)ou "Formação de Professores"
(Maria Helena Ançã). As palestrasde encerramento ficam ao cargode Eduardo Marcai Grilo e Jucá
Ferreira, da secretaria de Culturado Município de São Paulo.Estarão presentes nas cerimóniasde abertura e encerramentoo reitor da Universidade de
Lisboa, o secretário executivoda CPLP, ministro da Educaçãoe Ciência, o secretário de Estadodas Comunidades Portuguesas, o
presidente da Comissão Científica,o presidente da Comissão
Organizadora e o representante daPresidência da CPLP.
Nos dias 31 de outubro e 1 de
novembro, decorrem reuniõesde articulação, na sede da CPLP
(Palácio Penaflel, em Lisboa), com
representantes dos países membrosda CPLP, com o fim de redigir umdocumento que constituirá o Planode Ação de Lisboa. Tal como acon-teceu com o Plano de Brasília, estedocumento servirá para nortear as
políticas de língua dos oito paíseslusófonos nos próximos três anos.Ver programa completa no site doJL (jornaldeletras.sapo.pt) .11.