lingua brasileira e outras historias - orlandi

19
5/10/2018 LinguaBrasileiraeOutrasHistorias-Orlandi-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 1/19 Dad'os Ioternacionais de Catalogacao na Publicacao (CIP) O rl an di , Eni P. L ing ua b ra si le ira e o ut ra s hi st 6r ia s - D is cur so s abr e a li ng ua e ensino no Brasil / Eni P. O rl an di : C am pi na s, E di to ra RG, 2009. Bibliografia. I SB N 9 78 -8 5- 61 62 2- ~2 -1 1 . L i ng ui st ic a - Teo ri a l in gi li st ic a 2 . A na li se d o d is cu rs o 3 . Lin gu ag em e H is tor ia 4 . Text o - c om un ic aca o e scr it a I. Titulo ' II. Autora CDD -410 - 301.2 - 001.543 [ od ic es p ar a catalogo sistematico: 1. Linguistica - Teoria linguistica 410 2 . A n al is e d o d is cu rs o 4 10 3 . L in gu ag em e H isto ri a 3 01 .2 4 . T ex to - c or nu ni ca ca o e sc ri ta 0 01 .5 43 Discurso sobre a lingua e ensino no Brasil 2001

Upload: karina1rodriguez

Post on 10-Jul-2015

344 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 1/19

Dad'os Ioternacionais de Catalogacao na Publicacao (CIP)

Orlandi, Eni P.

Lingua brasi le ira e outras hist6rias - Discurso sabre a lingua

e ensino no Brasil / Eni P. Orlandi: Campinas, Editora RG,

2009.

Bibliografia.

ISBN 978-85-61622- ~2-1

1.Linguistica - Teoria lingilistica 2. Analise do discurso

3. Linguagem e Historia 4 . Texto - comunicacao escrita I.Titulo '

II.Autora

CDD -410

- 301.2

- 001.543

[odices para catalogo sistematico:

1. Linguistica - Teoria linguistica 410

2.Analise do discurso 410

3. Linguagem e Historia 301.24. Texto - cornunicacao escrita 001.543

D iscurso sob re a lingua e ensino no B ras il

2001

Page 2: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 2/19

A LiNGUA PORTUGUESA,

o BRASIL, A LUSOFONIA,

A MUNDIALIZA<;AO LINGUiSTICAUM NOVO OLHAR PARA A POLlTlCA EXTERIOR BRASILElRA:

LINGOiSTICA E CULTURAL23

ensar a mundializas:ao guando se trata de lingua nao e pensar a

padronizacao em ~ala mundial, mas, ao contrario, a possibilidade

de apreender a ~~de, a ~~tip_licid3!-de de sentidos que aipodem existir. Para isso nao podemos deixar aehdo, ao pensar a lingua,

Page 3: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 3/19

ras feitas por brasileiros, de dicionarios, de programas de ensino e de

desenvolvimento da literatura - dando-nos uma fisionomia linguistica

e literaria pr6prias. Com nossos instrumentos intelectuais, organizamos

nossa sociedade, organizamos nossas instituicoes, e adquirimos, em

nossa soberania, uma feicao, uma identidade linguistica que permite que

digamos que escrevemos como se fala no Brasil e nao como se escreve

tim Portugal (como propunha Macedo Soares).

Face a Portugal, 0Brasil e urn novo espaco de comunicacao (S. Au-I roux, 1994) que se elabora com seus pr6prios instrumentos. Temos nossos

instrumentos lingiiisticos, temos nossa lingua nacional, temos nossos

mestres. Entre eles, urn dos maiores: Machado de Assis. Sem esquecer

Julio Ribeiro nosso "primeiro gramatico" (1881). Urn pais livre, com

sua hist6ria, sua lingua, sua literatura, sua vida social organizada, suas

instituicoes, sua escrita.

Dizer que assim elaboramos nossa lingua nacional nao significa

reduzir a importancia do enorme contato entre as diferentes linguas

brasileiras com as quais convivemos em territ6rio nacional: em torno

de 180 llnguas indigenas e diferentes falares africanos, assim como 0

contato c o m aslinguas dos imigrantes e as de fronteiras. A pluralidade,

a riqueza Iinguistica e cultural no Brasil e nossa _a de nascenca,

politicamente significada, junto it nossa biodiversidade. Nem por isso

deixamos de ter, como em qualquer pals, dada a relacao da lingua com

L 0 Estado, urpa unidade ideal. ,!Jnidade ideal e diversidade concreta se

conjugam na constituicao do pais.

"f - E e a partir dai que podemos pensar uusofonia24, nao como algo

homogeneo e estabilizado mas como algo extremamente h~..!erogeneo,

instavel mas tambem se representando, na diferenca, como tendo uma

Lunidade ideal:aquela em que nos representamos, face as Iinguas euro-

peias, como fazendo parte dos grupos que falam linguas romanicas, uma

delas, 0brasileiro, que sefilia ao portugues. E isto nos da uma perspectiva

hist6rica interessante, em nossa ambiguidade: somos urn pais em que

convivemos cotidianamente com linguas indigenas e ao mesmo tempo

somos falantes de uma lingua latina, uma lingua que se inscreve na

hist6ria europeia, atraves da filiacao ao portugues.

Penso que esta e a maneira mais interessante, moderna, atual de..pensar~ofonia, nao em relacao ao passado e a colonizacao mas ao futuro

e it ml,ldan!;9:a que a ve como lugar da multiplicidade, da riqueza p e r adiversidade - aqui falei do Brasil mas e preciso pensar ai todos os paisesde colonizacao portuguesa - pela diversidade, repito, linguistica e cultu-

24. Em capitulo posterior, farei a cr itica it nocao de lusofonia , quando esta nOyi io

filia-se a sentidos herd ados da colonizacao.

ral. 0 que a enriquece. Sao contribuicoes fundamentais em urn 11IUIH!O

em que a violencia e 0 desentendimento se fazem sobre urn imaginario

extremamente padronizado e cheio de pre-construidos, de pre-couceitosl

que nada tern a ver com nossas diferencas reais, politica e historicamcnu;

fundamentadas, significadas.

Logicismo e Sociologismo

M. E..echeuxe F. Gadet (1977) deslocam a reflexao sobre a linguagem

deuma posicao metafisica para uma pQ_siyal:tmal~alis.!a,constituindo uma

semanticaatenta ao real da lingua e da hist6ria e que nos permite sair do

discurso estrito da filosofia marxista da linguagem (D.Maldidier, 1990).Eles

afirmam a necessidade de considerar 0que e propriamente linguistico forado logicismo, de urn lado, e do sociologismo, de outro, fazendo irromper

a nocao de sujeito como uma questao incontornavel, ao mesmo tempo

em que propoe uma de-subjetivacao da teoria da linguagem. Para eles, a

inclusao do sujeito, da hist6ria, da sociedade nao se reduz a urn apendice

de uma reflexao feita pela linguistica ou pelas oiencias sociais. As formas

de reflexao estabelecidas na oposicao estrita - e nao na contradicao - entre

logicismo e sociologisrno mantem, segundo os autores, 0 simb6lico fora

do alcance do politico. AP1:opo_s_ta_dainoya~aoJe6ricaneste~entido e.a.de

~lhaca_coptradic;aQ e 0 confronto dosimbolico.com 0 politico.

Como podemos compreender esta contradicao a partir do politico?

o logicismo (ou formalismo) se opoe ao sociologismo (e ao historicis-mo)por meio dos termos da antiga oposicao entre natureza e con~enc;a~.

Dizem Gadet e Pecheux (idem) que onde 0 logicismo procura umversais

(escolasticos, racionalistas), 0sociologismo faz aparecer uma dispersao

e uma alteridade no espaco e no tempo. Onde 0 logicismo enuncia leis

e constr6i uma teoria gramatical, 0 sociologismo efetua uma descricao,

fazendo urn estudo empirista dos dados.De acordo com a perspectiva tratada por M. Pecheux e Gadet (ibid)

o n6 da corrente logicista esta nas evidencias juridicas, morais e tecno-

l6gicas do humanismo burgues classico. Dai as tentativas de formali-

zacao das relacoes juridicas, nos projetos sempre renovados da lingua

universal e na organizacao de metodos para a gestae automatica das

classificacoes de todos os generos, A relacao da corrente sociologista it

politic a parece ser cornpletamente diferent~. Ela se desenvolve~ depois

da Guerra Fria, nos Estados Unidos, e depois na Europa, essencialmente

sobre dois terrenos: 0 primeiro e constituido pela evolucao do que se

convencionou chamar Terceiro Mundo, com a transformacao parcial do

colonialismo classico em neo-colonialismo. E 0Terceiro Mundo traz aquestao do desvio cientifico e tecnico, a ser resolvida. E neste quadro quese colocam as questoes sociolinguisticas domultilinguismo e da politica

Page 4: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 4/19

ling.iiisti~a, visan~o ~lanifi~ar a instauracao e estandardizacao das linguas

n~CI?naIS suscetiveis de mtegrar e veicular os elementos cientifico-

tecmcos. 0 segundo fenomeno, ainda segundo estes mesmos autores

co?cerne 0 dese~volvimento das contradicoes escolares, sobretudo do~

palse~ desenvolvidos, mas nao s6 deles, corn as diferentes forrnas de es-

colarizacao das massas abrindo para a questao dita do "fracas so escolar"

que atmge os des-herdados por causa de sua origem socio-economica

Nest~ perspect.iv~ a sociol.ingtiistica se pro poe contribuir para resolver o~desvios e s~pnmlr as desigualdades, retomando sern criticar, as forrnas

~ , O ? as quais ,~modo, de produ~ao capitalista representa suas pr6priasdificuldades . Isto e 0 humamsmo reforrnista que se apresenta com

suas boas intencoes.

Nas duas tendencias, a logicista e a sociologista, vemos uma divisao do

trab~lho: de urn lado, 0 ideal humanista de uma difusao universal da demo-

cracia, das ~ienciase das tecnicas; de outro, a tarefa de remediar resistencias

externas e internas que esta difusao encontra. A chave dessa divisao e denature~a P?litica. Em uma, 0politico e apagado porque nao se fala do sociale do hlst~n~o. Na outra ele e apagado, falando-se do social e do hist6rico.

O.logicismo recobre a questao do Estado considerando as determina-90esJuri?ico-politicas inscritas no seu funcionamento como se se tratasse

de_rropnedades psico16gicas e morais inerentes a uma natureza humana

~t11~ersale e~e~a; e 0 sociologismo recobre a questao do Estado subs-

htu~n?Oa a~ahse d~s relacoes de producao por uma teoria das relacoes

SOCI.aISue e na reahdade uma psico-sociologia das relacoes interindivi-

duais (status, prest~gio, atitude, motivacao etc), trabalhando com relacoes

de parentesco, de idade, de sexo, de raca, de nivel cultural etc.

oMuitilingiiismo e sua representaeaoo Bras}l e urn pais mult~lingiie como acontece com os paises em ge-

r~l. TambeI_llcomo todo pais, como dissemos acima, 0Brasil tern a sual~ngua ofic~al,.ao lado das muitas linguas indigenas, falares regionais,

linguas de imigracao etc. '

~o final do seculo XX e no inicio do XXI temos assistido a urn recru-

desclment~ do discurso.sobre a ling_ua,ou sobre as linguas. Sob a ideologia

do cul~ahs.mo - que liga automaticamente lingua e cultura -, prioriza-se

? multilinguismo e aspopula90es min?ritirias, ou assim chamadas, passam

a :EI:enteciacena, opacificando 0 conceito de Estado e a questao da unidade,

~lem ~ISSO,com a globalizacao, e a implementacao das novas tecnolo-

?Ias, ~a urn desenvolvimento enorme das tecnologias da escrita e urn

mvestrmento forte na quantidade de informacao, que circula abundan-

t~~ent~ P?r. todo ~ugar.Com isso pretende-se apagarem-se diferencassocio-historicas, simular 0 acesso ao conhecimento a todos e visa-se

162

expandir a potencialidade: das multiplas linguas. Es~a e uma ilus.ao q~epode ser tratada no duplo efeito ideol6gico da 16g1cae da soclOlog

Ja

que enunciamos acima. Efeito que esta muito yres:nte no~ estudos

sociolingiiisticos e pragmaticos que tratam da situacao das linguas na

contemporaneidade. .Na realidade estamos observando, hoje, urn amplo desenvolvi-

ment~ do sociol~gismo. E nesta posic;:ao,nas relacoes intemacionais,

praJ;ica-s.e0 "relativismo" cu~tural.e Ji.n.giiistico, aceita»do-se, ~orno eprQPrisd0deologia doj1Jlm~mo (deaitsta, todas as culturas e lmguas,

enquanto, em outro lugar, aqJlele que se sustenta oa.es~tura de ~oder

qtlefealmente decide, somos dominados pelo monolmgihsmci .dalingua

d.Q_ppder,0 ingles. Porque este tern as ~eais con~iy6es de se ,~mpor,d~se instrumentar, de circular, de concrenzar relacoes entre os falantes

de diferentes lugares do rnundo. E mesmo se pensarmos ~m tenno~ na-

cionais, de urn pais com suas diferentes ltnguas, percebe-se .que ha urn

"reconhecimento" irnaginario das diferentes linguas mas prattca-se, com

o ~io do conhecimento institucionali,zado, um~ lingua, a Iingua nacio-

Qal,_aparatada pelo Estado para ser a llngua oficial. Pode~se ate.mesmo

fazer com que muitas linguas sejam faladas, sejam aprendtdas, clrcul~m.

Mas 0 que significa falar essas linguas face a lingua nacional? Teriam

estes falantes 0 estatuto de cidadaos, ou apenas 0de "usuarios"?A mudanca dessa situac;:aonao e uma questao de "atitude", de "boa

vontade", e uma questao te6rico-politica que demanda deslocamentos

na ideologia e na historia. . . "Se, com 0 EstadolNac;:ao as nocoes que mobthzamos e de lingua

oficial, lingua nacional e cidadania, hoje, na sociedad!e de Mercado, fa-

lamos em usuaries, em multiplas linguas (multilingiiismo), em.falares,

em d!ialetos,em multiculturalismo, em comunidades (e nao socledade).

Se antes deviamos abandonar 0falar local, a lingua materna, pela nocao

de unidade, a nacional, hoje nos fragmentamos em falares locais, difi-

cilmente visiveis, pouco conhecidos (nao gramatizados), enq~anto do

outro lado, flui livremente, sustentado por uma enorme quantidade de

instrumentos lingtiisticos, ecom toda a visibilidade, e apoio tecnologi-

co, a lingua (franca) "universal" da comunicacao e do conheclmen~o:_0

ingles. Lingua dominante nao so do espaco digital, 0espaco da multtdao

de usuaries. 9 gy e se apresenta como universa} ~ju~~mer;tt~.o que resulta

~oder dominante. E pois um~ questao politica sllen~lada:_ ,o sociologismo, com a globahzac;:ao,toma a forma do contront0 da lln-

gua minoritaria com a lingua nacional. E a ilusao que ela recobre e a de que

estariamos resolvendo 0 problema da cidadania no "reconhecimento" das

multiplas linguas. Na realidade, isso ja esta ultrapassado poisjaentr~)lJnessa

equacao (a da lingua local e a lingua nacional) uma outra determ1l1ant:c:a

16 3

Page 5: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 5/19

~/

\

lingua trans-nacional. E istonao e algo acidental que sepossa resolver por

urn gesto dapropria vontade: e algo estruturante das relacoes linguisticas (de

poder) na sociedade de mercado, na mundializacao, E urn fato politico.E, C?g lO e proprio ao sociologi~mo,~ss~s£~o<:lO 11111ltic.Yltur(!lis-

mo/multilinguismo ao se mostrar como uma forma de defesa dawino-

ria_s,acaba por sustentar na verdade 0dominio da lingua trans-nacional.

A partir desse jogo, a contradicao com que nos defrontamos nao e mals

locallnacional mas historico/universal.Nao basta portanto que os linguistas ou 0Estado brasileiro se empenhe

em lima politica de linguas que fale de minorias, de multilinguismo, de

r 1 - 1 patr.imonio linguistico. Sao formas de pensar as relacoes entre linguas, do,1" contato entre elas que se inscrevem, na maior parte das vezes, nisso que

acabamos de colocar como a ilusao do sociologismo, com seu imaginario,

E que se perdem em iniciativas que trabalham com mudanca de atitude,

com projetos de escolaridade que se sustentam em frageis pressupostos

"comunitaristas", como se se pudesse dispor da lingua a sua vontade.

}- Se nao nos submetemos ao sentido ultrapassado de lusofonia _ que

acentua 0 carater homogeneo da lingua e e heranca da colonizacao _

podemos nos colocar frente a nossa soberania linguistica com nossasI multiplas determinacoes na historia de nossa relacao com as linguas que

, - ; 5 aqui se falam, e as que se falam no mundo, posicao que coloca 0Brasil

~ : ~ • . '~ \ < " 1 inscrito no real de sua historia e de forma independente nas relacoes

,} intemacionais. 0 que nos da forca, enquanto parte desse campo, para

enfrentarmos a imposicao de uma lingua franca da ciencia, da tecnologia,

da cultura, dapolitica que nos despe a todos de nossas diferencas e nossa

I particularidades socio-historicas e politicas, abolindo 0 universalismo

hist6rico. E e este universalismo que devemos praticar, reconhecendo no

outro homem 0que somos, "admitindo" as diferencas, sendo diferentes.

\

E nao uma massa homogenea, sem determinacoes concretas, historicas

e simbolicas. Tomar estas determinacoes em conta e lidar com a insta-bilidade, a diferenca e a heterogeneidade.

\. . . . . .

A promocao da lingua

De urn ponto de vista pratico, podemos dizer que seria interessante' 1 pensarem-se projetos de promocao da nossa lingua tanto enquanto escrita_ como oral. Sern, no entanto, deixar de considerar que 0 que estamos

I falando da lingua portuguesa, ou da lusofonia, nao deve ignorar que ela

representa urn campo multilingue onde muitas outras 1i:'lg~s, como a

~e.ira ~constituem sua diferenca. -

Do ponto devista da lingua oral seria interessante, via digital, a criacao

, de grandes corpora eletronicos, com as diferencas, dos diferentes espacosde comunicacao que representamos, ai inscritas.

164

Quanto a lingua escrita, poder-se-iam implementar programas qlle

divulguem textos sobre a lingua portuguesa e as que a ela sc l i g ; ! 1 1 1

historicamente, 0 conhecimento linguistico produzido sobre elas, assiOi

como sobre a producao de conhecimento escrito nessas linguas. Corn

isto estar-se-ia fazendo frente ao processo de hegemonia do ingles como'

lingua franca da ciencia.

E fundamental, quanto a.isso g~ prod~~ao intelectual em lingua

ortuguesa, e nas que constituem seu campo multilingue, ganhe visibili-dade porque e toda uma ide_plogiade ciencia que passa pela lingua com

a qual 0 conhecimento e.produzido e que tern feito com que a producao

cientifica, no.nosso.cssc.espectttco, orocsiteira,nao-se lUlponna com a

importancia que lhecompete e 0 senti do que the e proprio. Ficamos assim

dependentes de traducoes que na maior parte das vezes silenciam aspectos

mais importantes porque nao sao facilmente lisiveis (sobretudo quando

se trata de descoberta ou de uma forma de conhecimento particular).

Nao sao pois so aspectos linguisticos e culturais que se perdem quando

nao conseguimos promover nossa lingua mas tambem, e creio mesmo,

primordialmente, aspectos cientificos e tecnol6gicos que, na atualidade,

sao a moeda de troca entre paises e continentes.Dessa perspectiva e que podemos apontar alguns principios:

1.AQ()lit!£~ < 1 9 a.msil a re_spei!Q_: lg portuglles, nas relacoes com outros

paises, ~ve se b_asearnum principio geral de multilinguismo. Isto para

qualquer nivel de consideracao,

a) no plano das relacoes cotidianas, por exemplo, e importante ampliar

as condicoes para que mais pessoas tenham condicoes de falar brasileiro,

ligando isso a vida cultural brasileira, em qualquer nivel, assim como'

a vida brasileira em geral (aqui ha que se pensar inclusive no turismode lazer).

b) no plano das relacoes politicas regionais, no sentido de amp liar acapacidade de falar (e escrever) brasileiro nas populacoes des paises vizi-

nhos da America do SuI. Neste espaco tem papel decisivo 0Mercosuf.

c) no plano das relacoes globais, no sentido de ampliar a capacidade

de falar (e escrever) portugues e as linguas de seu campo muItilingiie

em paises europeus, e de outros continentes, inclusive Ievando em conta

que eles ja tiveram ou tern contato hist6rico com a lingua portuguesa e

com as outras que constituem 0 seu campo multilingue.

d) no plano das relacoes pr6prias do mundo da ciencia, para que a

producao cientifica possa se dizer em nossa lingua, produzindo assimos seus efeitos.

e) no plano das relacoes relativas as tecnologias da informacao, Ouseja, nas relacoes via internet.

165

Page 6: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 6/19

II. Isto leva a pensar num conjunto de acoes possiveis ligadas ao modo

de fazer com que mais pessoas possam entrar em contato e aprender 0

portugues, 0 brasileiro e as outras de seu campo, com qualidade e demodo interessado.

~ " - ' " " " ( ' ~ L . . - , \ L '\" ("-'\ \:: \J I Ja como uma iniciativa atual, 0 Presidente da Republica, Luiz Inacio

Lula da Silva eo primeiro ministro de Portugal, Jose Socrates, divulgaram

no dia 13 de outubro de 2007, na cidade do Porto, declaracao conjunta

que contempla diversos itens de interesse educacional. Os dois principais

sao a criacao, no Brasi], do Instituto Machado deAssis, e a promocao da

lingua portuguesalbrasileira na era digital.

A exemplo de paises como Portugal, Espanha, Alemanha, que mantem

Institutos de prornocao de seus idiomas em outros continentes - Camoes,

Cervantes, Goethe, respectivamente - 0Brasil pretende difundir a cultura

e a lingua brasileira, fora do espaco lus6fono, com 0 Instituto Machado

deAssis. Alem do MEC, que tem como ministro Fernando Haddad, serao

parceiros 0Ministerio das Relacoes Exteriores e a Academia Brasileira

de Letras. A comissao responsavel pela estruturacao do Instituto estasendo presidida pelo professor Godofredo de Oliveira Neto, diretor do

Departamento de Politicas do Ensino Superior. Paralelamente, 0Brasil

instalou a Comissao de Lingua Portuguesa, COLIP, com a atribuicao

de estruturar 0 Instituto. Ela conta com um conjunto de representativos

estudiosos do idioma no Brasil , entre os quais me encontro.

Esta Comissao, segundo 0 decreto de sua criacao pelo MEC, alem de

apresentar propostas de promocao intemacional do Brasil por meio de

politicas govemamentais em coordenacao com 0Ministerio das Relacoes

Exteriores, devera implementar acoes que visem a producao de acoes cul-

turais que promovam a identidade e representacao do Brasil lingiiistico.

No discurso oficial temos : Considerando que a promocao da linguaportuguesa e as linguas que formam este campo multilingiie e de todo 0

multiple patrimonio linguistico do pais e uma questao do Estado Brasileiro

e de sua Soberania Nacionaill;Considerando que e urgente a democratiza-

yao do acesso da populacao aoprocesso de ensino-aprendizagem da lingua

portuguesa para 0efetivo desempenho das praticas sociais da escrita e da

leitura, bem como aos materiais de lingua escrita; Considerando que a lingua

e uma pratica inserida em contexte hist6rico-social e cultural e a escola uma

instituicao que deve levar em conta a realidade em que atua, internamente,

a Comissao criada pelo MEC, deve promover 0 ensino-aprendizagem de

leitura e escrita em lingua portuguesa que responda as exigencias para uma

real inclusao do cidadao na sociedade,propor as diretrizes para a formacaoinicial e continuada de professores de lingua portuguesa; fomentar a pes-

quisa e a producao de materiais que estejam em harmonia com a realidade

linguistica dos alunos e que deem suporte adequado para oensino ciaIingua;

trabalhar com as manifestacoes dos falantes nao-escolarizados incluindo-se

suas formas de escrita com vistas ao desenvolvimento de sua relacao com ,,I

lingua;estimular programas para equipar as escolas com bibliotecas, labora-

t6rios de pesquisas audio-visuais e de novas tecnologias, com 0objetivo de

manter 0 aluno em estreita e continua convivencia com grande quantidade

e variedade de materiais de linguagem, e outras acoes que promovam 0

dominio da lingua pela populacao em ampla escala.

Em relacao a era digital, foi enfatizado que, no campo da lingua por-

tuguesa, deve-se implementar urn espaco do idioma na era digital. Brasil

e Portugal sublinharam 0potencial do desenvolvimento de programas de

educacao a distancia, bibliotecas digitais, producao de DVDs e capacita-cao deprofessores pelo uso detecnicas modernas de comunicacao. Ainda

em relacao as relacoes entre Brasil e Portugal, marcou-se uma reuniao

para tratar diequestoes como 0 reconhecimento de diplomas brasileiros

e portugueses, avaliacao e certificacao, livro didatico e Comunidade dos

Paises de Lingua Portuguesa (CPLP).

No que concerne a questao digital e interessante referir 0 Seminariorealizado em Sao Paulo, com 0tema 0Livro Digital, em que ficou definido

que uma prime ira versao sera lancada em seis meses, utilizando 0formato

Daisy ja escolhido por 30 paises. 0objetivo, como explicou 0coordenador

do Plano Nacional do Livro e Leitura, GalenoAmorim, e ampliar 0acessotanto de deficientes visuais como analfabetos funcionais e analfabetos ab-

solutos a leitura, Alem do acesso via internet 0projeto preve que as obras

possam ser "lidas" em CDs domesticos au em carros.

A criacao de uma instituicao como 0 Instituto Machado de Assis no

Brasil e uma acao que pode, definitivamente, mudar a direcao das praticas

ligadas a questao da nossa Iingua. Pois ele passa a ter uma responsabi-

lidade sobre 0 conjunto das acoes e assim pode melhor acompanha-lase leva-las a born termo.

Alem disso, nao podemos esquecer que desde a chamada "descoberta"

do Brasil entramos em urn processo de historicizacao de nossa lingua

e, nos diferentes passos dados, nas diferentes etapas, na direcao da ins-

titucionalizacao de nossa lingua oficial, a criacao de urn nosso Institute

da lingua e urn passo definidor e definitivo em relacao a legitimidade e

a soberania de nos sa lingua nacional.

Algumas sugestoesNesse sentido, algumas acoes futuras interessantes seriam:

a) dar consistencia e continuidade as instituicoes brasileiras no ex-terior que tratam da presenca da cultura brasileira no mundo. Elas 11:]0

tern tide ate aqui 0 papel que uma politica de arnpliacao das rcla,;tk~

Page 7: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 7/19

culturais, e tambem da lingua, deveria ter. Estas instituicoes precisariam

ser equipadas de modo qualificado com instrumentos como bibliotecas,

cursos de qualidade e perrnanentes.

b) Diante do quadro atual, uma acao importante, com a quai 0 Insti-

tuto Machado de Assis poderia comecar suas atividades, seria fazer urn

levantamento rigoroso das acoes brasileiras no exterior, de todo tipo,

hoje existentes, para se saber a verdadeira dimensao do que se faz e das

lacunas que estas acoes tern hoje.

c) Em seguida seria preciso fazer urn plano de acao que levasse acorrecao dos rumos diante das dificuldades das acoes atuais e ampliacao

destas acoes, levando em conta as novas instrumentacoes tecnologicas

hoje existentes.

d) os planos futuros deveriam incluir:

1.Apoio forte a projetos de elaboracao e edicao de livros de qualidade

para ensino de portugues para estrangeiros.

2. Este t ipo de acao deve ser acompanhado de uma poli tica editorial

que leve a publicacao e circulacao mais expressiva de obras em nossa

lingua no mundo, de modo que as pessoas interessadas tivessem urn

contato mais facil com obras significativas do Brasil e assim dessem

mais consistencia ao seu dominic da lingua. Isto exige urn envolvimentodo governo no auxil io a ampliacao da distribuicao do livro brasileiro

no exterior, e a participacao do mercado do livro em feiras importante

pelo mundo.

3. Urn acao de medio e longo prazo importante e a criacao em todo 0

mundo, principalmente nos paises que tern relacoes mais estreitas com 0

Brasil no plano comercial e cientifico, de leitorados de portugues/brasi-

leiro em universidade importantes. Estes programas poderiam envolver

programas de brasileiros como leitores num paisestrangeiro, e recebendo

leitores da lingua do outro pais no Brasil. Isto colocaria a questao do

ensino da nossa lingua no exterior de uma maneira bern mais qualificada.

Isto envolve uma acao brasileira no sentido de apoiar a criacao de cursosde Iingua ou de cultura brasileira em paises e em universidades em que

estes cursos nao existem. Deste modo amplia-se a presence do Brasil (sua

cuhura em geral), da lingua e da producao cientifica 'brasileira. Pois tanto

diretamente nos cursos a producao brasileira poderia chegar a leitores de

outros paises, na nossa lingua, assim como isto colocaria em circulacao

o pensamento brasileiro, e assim 0Brasil passaria a ter uma presenca

mais permanente e mais influente.

4. Desenvolvimento de acoes que coloquem a disposicao de outros pa-ises de modo permanente a producao cultural brasileira (musica, cinema,

pintura, literatura, etc). Nestas acoes devem estar previstas publicacoes

em nossa lingua ou bilingues, em que uma das linguas seja a nossa.

5. Apoio a programacao da TV brasileira no exterior, COlli PI'ol',I':1

macae ligada ao ensino da lingua, em canais adequados, por assin.uurn.

Seria interessante criar urn born programa de ensino de nossa llngun IHII:I

estrangeiros, via televisao. Nesta mesma direcao seria importanrc criar

programas com qualidade de ensino para estrangeiros a distancia lIS:U \(10

os recursos da Internet. A Unicamp tern um Software livre, para ensino

a distancia, que e usado por mais de 30 paises no mundo.6. Desenvolvimento de material em nossa lingua em sites acessaveis

por pessoas de todo 0 mundo. Estes sites poderiam ter desde inforrna-coes simples sobre 0Brasil ate conteudos mais sofisticados, incluindo a

producao cultural e cientifica brasileira.

Dessa maneira, 0Brasil poderia representar-se, em sua soberania, com

sua cultura e sua lingua, nao s6 constituindo sua identidade para dentro,

em relacao ao seu extenso territ6rio, como para fora, na relacao com

os diferentes paises, de modo enriquecedor e consistente 25. Seria esta

uma forma do Brasil ter uma posicao clara e refletida face ao processo

de mundializacao.

25. No momenta em que estou publicando este livro, 0 Instituto Machado de Assis

deixou ha muito de ser assunto tratado na Colip. Por outro lado, i ns tituicoes

govemamentais, que tra tam da questao da l ingua, estao investindo no Acordo

Ortograf ico, fazendo urn alarido enorme (0 que se silencia com isso?). Desde

o inicio, minha posicao e contra 0Acordo por considera-Io inutil, dispendioso

e, sobretudo, desnecessario historicamente. A Africa e urn outre mundo, com

suas particularidades, tanto na relacao Estado/Lingua/Nacao, assim como.no seu

enfrentamento da reorganizacao das sociedades, que e uma prerrogativa atual, de

acordo com sua hist6ria. Politicamente, sao parcos e magros em sentido os ganhos

que 0Brasi l poder ia vir a ter .E , em urn mundo em que a lusofoniaja nao tern mais

assegurados seus efeitos (cf. 0 prox imo cap itulo) . Nao se fala mais no Insti tu te

Machado deAssis, este sim, uma Instituicao que daria peso e representatividade ao

Brasil e ao nosso patrimonio linguistico. Material. A lingua rEM materialidade.

168

Page 8: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 8/19

PROCESSO DE DESCOLONIZA<;AOLINGUiSTICA E "LUSOFONIA,,26

Tomando a perspectiva discursiva, podemos iniciar esta reflexao

afirmando que a lingua nao e una, a lingua nao e uma, as linguasmudam, as linguas entram em contato, desaparecem, se criam

novas, estao sempre em movimento. Mas as linguas nao sao objetos ete-

reos. Sao fato social, hist6rico, sao praticadas, funcionam em condicoes

determinadas, tern materialidade, fazem hist6ria. As praticas simb6licas,

que sao as linguas, funcionam pelo politico. Relacoes de poder regem

Page 9: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 9/19

realidade, aqui, forca contomos enunciativos diferenciados. Essa diferenca

setoma cada vez mais uma diferenca de linguas - relacao palavra/palavra - e

naode palavra/coisa. Dai resulta todo urn trabalho sobre a lingua, de classifi-

cacao, de organizacao, de definicoes em dicionarios. 0 portugues acaba por

estabelecer, no Brasil, outra relacao palavra/coisa, na construcao discursiva

doreferente. Produz-se entao urnespaco de interpretacao comdeslizamentos,

efeitos metaforicos, transferencias, que historicizam a lingua, pelos processos

de memoria em seus deslocamentos no/do Brasil. Estamos diante de mate-

rialidades discursivas que produzem efeitos de sentidos diferentes, em outro

processo dememoria que nao e mais a portuguesa. Configura-se assim uma

situacao discursiva II. Deu-se a ruptura, estabeleceu-se a diferenca, Entao,

em urn movimento de saber paralelo ao anterior, a construcao discursiva do

referente cede lugar a distincao, a classificacao. Mas ja hiuma ruptura em

relacao ao que se dava na chegada dos portugueses com sua memoria, pois

ja estamos em uma outra realidade lingufstico-historica, Essas condicoes

favorecem assim 0que se chama 0processo de gramatizacao de nossa Iin-

gua. A gramatizacao da lingua em nosso territorio produz uma representacao

autoctone da relacao do falante com sua lingua e propicia as condicoes para

seu ensino. Temos enta~ uma lingua em sua realidade historica, politica,

social. Praticada e refletida. Politicamente representada.

A unidade e variedades da lingua praticada aqui nao refere mais 0

portugues do Brasil ao de Portugal, mas a sua unidade e variedades

existentes no Brasil . Muda 0 regime de universalidade da lfngua que

passa a ter sua referencia no Brasil , na convivencia de povos de linguas

diferentes (a indigena, a africana, a de imigracao etc) aqui, em urn novo

espaco de comunicacao (S. Auroux, 1994). A isto e que denominamos

histericizacao da lingua.

Este fato da historicizacao da lingua concorre para 0que trataremos

aqui como ,processo de descolonizacao Iingiiistica que pode ser definido

como esse imaginario no qual se da tambem urn acontecimento linguis-

t ico desta vez sustentado no fato de que a lingua faz sentido em relacaoa sujeitos nao mais submetidos a urn poder que impoe uma lingua sobre

sujeitos de uma outra sociedade, de urn outro Estado, de uma outra Nacao.

Se, na colonizacao, 0 lugar de memoria pelo qual se significa a lingua

e seus falantes e Portugal, no processo de descolonizacao esta posicao

se inverte e 0 lugar de significacao e deste lado do Atlantico com sua

memoria local, a do Brasil. A descolonizacao, assim como a colonizacao,

tern a ver com 0modo como as sociedades se estruturam politicamente

em relacao aos paises, aos Estados, as Nacoes, as tribos. Isto e, tanto a

colonizacao como a descolonizacao sao fatos da relacao entre a unidade

necessaria e a diversidade concreta em urn mesmo territorio, na consti-

tuicao de uma sociedade, de uma nacao, de urn Estado.

17 2

Se assim e , em nosso caso, de colonizacao portuguese (c :uI'II lilt"

refiro aos varies paises de colonizacao portuguesa), assim COllin Iti', II

processo de colonizacao ha 0 de descolonizacao (E. Orlandi, .'00 I )

com suas condicoes que, ernbora diversas, marcam este acontccimvuto

linguistico que e 0 da historicizacao de sua lingua de acordo COrti Sl!lH;

condicoes e as condicoes em que funciona sua memoria linguisti 'a,

Assim, pensamos que, em consequencia, tambem a nocao de lusofonia

deve ser redefinida.Evocaremos alguns aspectos da colonizacao portuguesa no Brasil que

afetam a questao da lingua e em seguida das condicoes da descolonizacao

linguistica e das que marcam urn deslocamento da nocao de lusofonia.

Iniciaremos lembrando urn processo especifico de descolonizacao lin-

guistica que e a gramatizacao das linguas submetidas ao processo de

colonizacao, que mencionamos acima.Agramatizacao, ou melhor, a endogramatizacao (Auroux, idem) torna

visivel a historicizacao da lingua e pode ser urn instrumento no processo

de descolonizacao. Em consequencia.jiodemos falar que a relacao do

portugues (de Portugal) e dobrasileiro e uma relacao de mudanca e nao de

variacao (cf. E.Orlandi, 2006, aqui mesmo, p.57), assim como podemos

elaborar a necessidade de sepensar a nocao da mudanca fora e para alem

das teorias que ainda estao atadas a nocao de mudanca do seculo XIX.

Ou seja, 0que proponho e que se descolonizem tambem as teorias.

A colonizaeao portuguesa no Brasil

Pela analise de materiais como os Relatos de missionarios e viajantes

que frequentaram 0 Brasil desde os inicios de sua formacao, e, mais

tarde, os naturalistas, podemos entrever 0 modo como representam e

instrumentalizam a lingua no periodo colonial. Vemos, nesses materiais,

como se inicia ai uma forma de conhecimento colonizador que significa

de acordo com 0projeto civilizatorio europeu estabelecendo ao mesmo

tempo urn discurso sobre 0 Brasil e os brasileiros.Como fica a questao da lingua nestas condicoes? Como se sabe, para

termos uma lingua nacional, no momenta historico em que 0Brasil esta

subjugado por Portugal, 0 processo colonizador instala seu poder de

dominacao desqualificando 0 numero enorme das outras linguas que

aqui se falavam. Da-se assim 0 confronto entre 0 Portugues e as varias

linguas aqui existentes, representadas historicamente pelo Tupi.

Na distincao que factoentre 0que tenho chamado de lingua imagina-

ria e a lingua fluida (aqui mesmo p. 5), pude mostrar (E. Orlandi, 1985,

1990) como ha varios modos de producao da lingua imaginaria e incluo

entre elas a Lingua Geral, 0 Tupi-Jesuitico, lingua de colonizacao. Os

missionaries colonizaram 0tupi sob 0modelo do latim, a fim de instalar

17 3

Page 10: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 10/19

a catequese, cujo sentido vai em muitas e variadas direcoes, estabelecen-

do seu poder de controle sobre os indios assim como seu poder frente

ao governo portugues. Essa lingua, que foi falada em todo 0 territ6rio

nacional macicamente no seculo XVIl e XVIII, adquiriu .um estatuto de

lingua de uso geral. Mas jamais 0de lingua nacional ou oficial. Seja por

regulamentacoes, seja por modos de relacao estabe1ecida com esta lingua,

seja pelo discurso estabelecido sobre ela e que a significa.

Como disse (E. Orlandi, 1990),0 modelo rnissionario da colonizacao

das Ifnguas era 0 latim e, atraves dele, 0 das linguas europeias, ociden-tais. Os relatos dos missionarios, ao tomarem como modelo 0 latim e

as Ifnguas ocidentais que dai derivam, incompreendem as Ifnguas com

que se defrontam no seu trabalho missionario e apresentam estas linguas

de forma ancilar, servil as Ifnguas europeias, apagando tudo aquilo que,

nelas, e especifico e caracteriza sua propria ordem. Alem disso, sao

incapazes de apreender sua historicidade.

Quanto aos viajantes da epoca, como dissemos em capitulo anterior, a

imagem da lingua que eles produzem nao difere muito da dos missiona-

rios, ainda que suas finalidades sejam um pouco diferentes no imediato:

trata-se, no seu caso, de construir um conhecimento com finalidades nao

religiosas, mais "objetivo", sem deixar, e claro, de ter seus parametresnos padroes europeus.

Podemos enfim acrescentar 0 interesse e a producao de conhecimento

dos naturalistas no inicio do seculo XIX. Ja nao se trata mais de produzir

relatos mas monografias, ou relatos que mais se aproximam de relatorios

com suas observacoes que se escrevem como descricoes e nao mais

narrativas. Eles viajam para recensear 0patrimonio universal: descrever,

detenninar, tornar disponivel 0conhecimento e localizacao das diferentes

especies, avaliar suas qualidades naturais para seu uso. E a construcaodas bases de dados que ficarao entao disponiveis.

Em geral, esses "conhecimentos" produzidos pelos Relatos dos

missionaries e dos viajantes do periodo colonial sao 0 inicio de um co-nhecimento regrado em sua observacao, em seu metodo que e a cienciaque se explicitara no seculo XIX, ou mesmo antes, se pensarmos nas

Consideracoes de De Gerando.

Como podemos observar, sao iniciativas de estrangeiros sobre 0

Brasil.

Elementos para 0processo de descolonizaeao: a gramatizaeao

da lingua pelos brasileirros

Nossos autores comecam a trabalhar sistematicamente nossa lingua,

no seculo XIX. Nao mais teremos de ir a Portugal para aprende-la, e,

mais do que isso, poderemos estudar em nossas proprias gramaticas,

174

Pr6prias: escritas por brasileiros para brasileiros. Falando dl' Iilhil: 1;1,1

maticais (Julio Ribeiro, 1881) e nao mais submetidos a uma g;IIII~II' IIIii

estabelecida para a lingua portuguesa universal'. Universal aqui :'111'1\1 II~!I

a lingua uma, a lingua da colonizacao, a de PortugaL ,

o seculo XIX caracteriza-se, como dissemos emcapitulos all te! uH l.l::,

em relacao it questao da lingua, pelo periodo de sua gramatizacao, kiLl

de brasileiros para brasileiros.Certamente sao momentos muito diferentes de nossahistoria, 0de hojc,

eo de entao.A gramatizacao da lingua esta determinadahistoricamente pclasua relacao com a conjuntura socio-politica, com seus falantes e com as

Instituicoes. Como era isso no seculo XIX? Ja temos nossa independencia

e as diferencas que se foram constituindo desde 0 inicio da colonizacao,

ganham forca e lugar para se representarem. Epoca em que autores como

Julio Ribeiro (autor deA Carne) toma a palavra do gramatico para consti-

tuir-se emblematicamente no primeiro autor de gramatica no Brasil. 0que

Ihe da essa posicao ~ claro que empiricamente haoutros autores, alguns

que ja conhecemos e outros de quem nem sabemos 0 nome - e 0 fato dele

inaugurar uma discursividade e uma posicao critica face aos gramaticos

portugueses na producao que faz parte do processo colonizador, agora nap

mais sob 0governo portugues. Quando se trata do simbolico, sabemos queos processos de dominacao sao diversificados e e dificil reconhecer, darvisibilidade a seus modos de funcionamento, e limita-los. Dai vem a enor-

me importancia de nosso processo de gramatizacao - endogramatizacao

(S. Auroux, idem) - no seculo XIX, produzido por nossos gramaticos em

consonancia com nossos literatos, na fabricacao de nossa lingua, nossas

instituicoes da lingua, nossa sociedade.Os brasileiros institucionalizam assim esse conhecimento que

permitira que eles digam que sabem a sua Hngua. Desta perspectiva,

a gramatica (e seu ensino) e 0 lugar em que os gramaticos brasileiros

assumem a autoridade de dizer que lingua e essa e "como" e essa lin-

gua, autorizando-se (-nos) em relacao it singularidade do portugues doBrasil. Os brasileiros nesse momento estao produzindo um processo de

descolonizacao: a legitimacao da lingua brasileira.

A unidade do Estado, repito, se materializa na e pelas instituicoes, A

construcao daunidade da lingua, de um saber sobre ela e os meios de seu

ensino (criacao de escolas e seus programas) ocupam urn lugar primordial

na construcao dessa unidade. A gramatica e um Lugarde construcao e de

representacao da nossa identidade e da nossa unidade (Lingua/Nacao/

Estado) brasileira, atraves do seu conhecimento e de seu ensino.

Nossos gramaticos participam da construcao do Estado brasileiro

distinto de um apendice de Portugal. Nesse memento, e preciso que se

trabalhem de maneira articulada a constituicao da lingua enquanto lin-

175

Page 11: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 11/19

gua nacional, a producao de objetos/instrumentos para 0 conhecimento

que a sociedade dela tem, assim como sabre aqueles que a praticam (os

cidadaos). Esta-se organizando a sociedade brasileira, suas instituicoes,

seus sujeitos.

A gramatizacao - junto a producao literaria - legitima ao mesmo

tempo a relacao dos brasileiros com a escrita. Temos uma lingua, uma

gramatica e sujeitos brasileiros de nossa escrita. Com a funcao autor

dos gramaticos (e os 1etrados, os historiadores, os politicos brasileiros,

etc), 0 seculo XIX e, entre outras coisas, um momenta intelectual quedefine em que direcao pensar a lingua, suas instituicoes e seus sujeitos,

assim como a escrita.

Com a Independencia, em 1822, 0 Estado brasileiro se estabelece de

pleno direito e a relacao trabalhada corn a lingua ja faz parte do processo

de descolonizacao. Pela reivindicacao, no parlamento, em 1826, para que

os diplomas dos medicos fossem redigidos em "linguagem brasileira",

ja se comeca a nomear nossa lingua com 0 nome de "brasileira". Mas

esta e uma questao polemica. 0 nome da lingua.

Nos anos seguintes e com a aproximacao daRepublica, tanto a questao

do Estado quanto a da lingua brasileira tomam uma forma mais precisa.

A relacao entre lingua, sujeito e Estado esta fortemente implantada.o pais, seu saber, seu sujeito politico social e suas instituicoes se

individualizaram, Trata-se do que eu estou chamando de processo de

descolonizacao do Brasil.

o Gramatico e0Linguista:

o Estado intervem no Processo de Descolonizacao

No seculo XX Brasil e Portugal sao dois Estados dirferentes.

A relacao dos brasileiros e do Brasil com sua lingua nacional esta

institucionalizada, e a sociedade brasileira se organiza face a suas ne-

cessidades de representacao cientifica. As faculdades sao criadas pois

a insti tuicao escola adquire sua maturidade. Quanto ao conhecimentosobre a lingua, representado nas gramaticas, ja nao e necessario para dar

forma a identidade [ingufstica brasileira, mas somente para mante-la em

sua configuracao. A gramatica passa a ser urn instrumento linguistico

para distinguir os brasileiros que conhecem a lingua corretamente e

aqueles que nao a conlhecem. Cresce a funcao da norma. Surgern entao

numerosas gramaticas. Trata-se de outro memento, em que a gramatica

adquire outras determinacoes, novos sentidos polit icos em outra con-

juntura social.

Como ja referimos, ° Estado brasileiro, institui uma comissao que, apart ir de um seu decreto, estabelece a NGB (Norma Gramatical Brasi-

leira, 1959; L. Baldini, 1999)). A NGB estabelece a Ihomogeneidade de

uma terminologia desautorizando as diferentes posicoes dos gralll;'11 il'O."I,

Com a NGB (E. Orlandi, 1997),0 Estado brasileiro administra a r~I;I~'f'll)

insti tucional do brasileiro com a lingua nacional, via gramatica. pel:!

uniformizacao da terminologia. 0 gramatico nao pode senao segui-Ia

e a funcao autor do saber sobre a lingua se desloca para 0 linguista. I~

este que dara sua caucao ao saber gramatica], ao saber a lingua. Mas 6 ()

Estado que tem autoridade sobre ela. 0 gramatico por seu lado assume

uma funcao de guardiao da norma gramatical, Seu conhecimento, na

parti lha entre quem conhece e quem nao conhece a lingua, divide 0queesta e o que nao esta conforme a norma. Distingue nao mais brasileiros eportugueses mas brasileiros e brasileiros. Ternes um Estado, temos uma

lingua naciona], mas alguns brasileitos a tern mais que outros. E este 0

modo de existencia da lingua nacional no capitalismo.

o processo de descolonizacao dLamais urn passo no modo como 0

Estado institucionaliza a relacao dos falantes com a lingua. Isso nao

impede que, face a relacao a norma, funcione a ideologia, aqui e la,

sobretudo nas escolas, produzindo 0 imaginario da preservacao da pu-

reza da lingua. E, na ambiguidade da memoria, em que ressoam ecos

da colonizacao, inclusive professores deslizam para a representacao

de que a lingua verdadeira, pura e a lingua portuguesa de Portugal e 0brasileiro e um portugues mal falado. No entanto, insistimos, 0 Brasil ja

e um pais linguisticamente descolonizado. Embora restem, sempre, os

efeitos ideologicos da colonizacao quando as condicoes os favorecerem

(E. Orlandi, ibidem).

Algumas reflexoes sobre a lingua portuguesa e a lusofonia

no mundo contemporaneo

Nao podemos pensar a questao da lingua portuguesa no mundo

contemporaneo, via colonizacao, sem pensar os paises colonizados

por Portugal em que sobressai, ao lade do Brasil, a Africa. Do mesmo

modo, e inc1uindo os paises africanos que importa pensar a descoloni-zacao Iinguistica e a necessidade de se redefinir 0 que se tem chamado

"lusofonia".

Nao temos exatamente respo~tas quando se trata de pensar a relacao

entre nossos paises, na relacao AfricaIBrasil . Mas temos 0 encaminha-

mento de algumas reflexoes.

Ja de inicio podemos perguntar se ha a1go como a gramatizacao, a

endogramatizacao, ou seja, gramaticas feitas por autores locais, que se

tenha dado tambem nos paises africanos de lingua de colonizacao por-

tuguesa e em que condicoes isso se deu e para que linguas.

Isso desloca um pouco as relacoes de traba1ho que se tern estabeleci-

do ate hoje entre estudos do portugues e das linguas africanas no Brasil

177

Page 12: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 12/19

e na Africa e que observam sobretudo as relacoes entre as linguas no

Brasil e as linguas africanas em suas "influencias" mutuas, atraves do

portugues.

Urn segundo ponto que gostariamos de colocar e que sem duvida

tambem e preciso considerar 0 fato de que tanto 0 Brasil como a Africa

sofremlsofreram 0 processo de colonizacao e nisto esta talvez urn ponto

comum a ser considerado. Que resistencias isso produziu aqui e la? Seria

preciso especificar e refletir sobre estas formas de resistencia Iinguistica

e a configuracao das relacoes multi lingiies em ambos os paises,o espaco de comunicacao africano e tao ou mais heterogeneo que 0

nosso do ponto de vista do contato, da articulacao de linguas. Quais as

possibil idades de se estabelecer uma relacao atraves doportugues e que

seja urn portugues historicizado em territ6rio africano com as marcas das

linguas com as quais convive? E interessante pensar-se essa relacao? NoBrasil, sem duvida, isto e muito relevante, pois podemos falar em lingua

brasileira, prenhe destas relacoes.

o que significa a resistencia linguistica em solo africano? E diferentenos diferentes paises? 0 fato de que a relacao com 0Estado difere produz

diferencas irnportantes nos processos de individualizacao da lingua em

suas formas sociais? .Essas questoes que coloco nao sao questoes ret6ricas mas sao ques-

toes que nos tern ocupado quando reflletimos sobre a situacao linguistica

brasileira e que servem para que eu encaminhe urn primeiro comentario

geral: parafraseando Ernesto Guevara (do filme Diario de motocicletai,

que assim se expressava sobre a America Latina, dizendo: deixemos de

estar diante de racas e linguas incertas e distintas para constituirmos uma

raca mestica em sua pujanca - eu diria de nossa relacao com a Africa,

deixemos de estar diante de racas e linguas incertas e distintas para procu-

rarmos encontrar nossas particularidades historico-linguisticas, culturais

e sociais. Se ideais de liberdade deram, imaginariamente e pelas relacoes

depoder, aos EUA, a sua dominancia em urn mundo em que, em nome da

liberdade,justificam-se guerras crueis, se 0tema da igualdade esgotou-se

em uma experiencia como a sovietica que nao conseguiu chegar ao que

havia sido idealizado, se a experiencia da fraternidade da-se nos parcos

resultados que tern a oferecer 0positivismo (e seus cultos a ciencia que

se transmudam em moralismo), talvez esteja na relacao contradit6ria

entre liberdade, igualdade, fratemidade alguma chance de sairmos de

situacoes em que nao nos permitem significar. Relacao contradit6ria esta

que e 0pr6prio desta situacao que estou expondo a partir da observacao

do processo de descolonizacao. Do mesmo modo talvez seja na tensao

continua entre unidade e diversidade que esteja a possibilidade de cons-

truirmos algo comum. Urn processo de descolonizacao. Ai a referencia

17 8

n~o e mais 0 passado, a busca da unidade, mas 0 presenile c :If; 1I(1!Nrl~'

diferencas no modo como elas se organizam.

Desse modo, penso que a necessidade que tivemos de C~IISIIIIII

uma unidade tern como pressuposto a colonizacao, e sem duvida 1I0SS;1

sensibilidade as diferencas vern da necessidade do processo de descolo-

nizacao seja ele qual for. Isto e, certamente se dara na Africa de modo

diferente do Brasil, mas estamos diante da mesma realidade de paises

que resultam de processos de colonizacao e a lingua ai desempenha Ulll

papel primordial, se pensamos a descolonizacaoCom efeito, e ai vern urn segundo comentario, a questao da lusofonia

deve significar na dires;ao da descolonizacao. Para isto temos de redefini-

laoEla seria 0sintoma deuma hist6ria de dominacao que encontrou suas

resistencias e que hoje se apresenta em urn quadro absolutamente dife-

rente do que se deu no periodo colonial. A nocao de lusofonia se aplica

a situas;?es de dominio das linguas sob a colonizacao, Assim, a palavra

lusofonia preserva a nocao de homogeneidade e alimenta 0 repertorio da

colonizacao, referido a Portugal, 0 Luso e 0 Portugues. Nada temos a

ver com isso. Precisamos, com a descolonizacao, realcar nossa unidade

em nossas diferencas: hist6ricas, linguisticas, culturais, sociais, nacio-

nais e de relacoes internacionais. 0 que e preciso e tomar visiveis estas

diferencas. Falamos diferente. As relacoes entre nossas linguas formam

urn intrincado quadro de distincoes e transformacoes. E esta e nossa re-

alidade linguistica atual. Nao ha uma unidade homogenea que se possa

chamar de lusofonia. Ela pode ser 0pretexto para nos compreendermos

em nossas singularidades. Ao inves de trabalharmos urn imaginario de

u~idade linguistica que e heranca da colonizacao, elaboremos nossas

diferencas concretas no sentido de enriquecermos nossas relacoes enos

reforcarmos em nossos processos de descolonizacao.

omundo de hoje, diz Godelier (2007), saiu de tres evolucoes maiores,entre ~las a que se da no p6s-guerra, isto e, depois da Segunda Guerra

Mundial, nos anos de 1950. Depois de seculos de dorninacao, mas tam-

bern de multiplos atos de resistencia da parte das populacoes submetidasa essa dominacao, assistimos a decomposicao e ao desaparecimento mais

ou menos rapido, mais ou menos violento, dos imperios coloniais das

~otencias e~ropeias. Nao e 0caso do Brasil, que ja havia se independen-

tizado no seculo XIX, como pudemos ver, mas de muitos outros paises,

De todo modo, 0que acontece e que os paises se tornaram independen-

tes, mas nao puderam se organizar a part ir de suas hist6rias ancestrais.

Encontraram-se em urn mundo ja organizado que lhes impunha seu qua-

dro de vida: 0mundo capitalista, °mundo comunista e 0 terceiro mundo.Do mesmo modo, 0jogo de poder entre linguas ja estava esbocado. E

o ingles ja se propunha como a lingua internacional. A ocidentalizacao

17 9

Page 13: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 13/19

ja nao se chama colonizacao e logo passou a se chamar mundializacao

(globalizacao), Com suas intrincadas relacoes economicas e sua divisaoentre 0norte e 0sul. Jogo complicado de integracao e segmentacao. Jogo

de Poder. Mundo dos comunitarismos, dos culturalismos, dos multitudo,

dos individualismos, dos acordos bilaterais, Quanto mais se esforca em

se ter urn mundo homogeneizado no plano economico, mais se assiste amultiplicacao de novos Estados-nacao e a reafirmacao das identidades

locais, etnicas, religiosas ou outras, inclusive linguisticas. Quanto mais sefala em universalidade mais se assiste a todas as formas de preconceito, de

segregacao, de violenciasimbolica ou nao. Alem de repensar a lusofonia

devemos desmundializar a reflexao, desmundializar 0 cientista.

o que significa nesta "nova" conjuntura ter uma lingua nacional?

Ter sua gramatica? Ter seus linguistas? Estaea questao que nos ocupa

hoje.

Assim, eu concluiria, afirmando que ja nao cabe falar em lusofonia,

mas em refletirmos sobre a situacao de diversidade linguistica com que

se apresentam hoje os paises de colonizacao portuguesa. Estamos em urn

campo multilingue saido (nos dois sentidos: de partida e de afastamen-

to) da dominacao da lingua portuguesa dos lusos. E esta situacao queprecisa ser refletida. A situacao da lingua portuguesa hoje nao cabe mais

Page 14: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 14/19

oNOME DA LiNGUA QUE FALAMOS,

o CONHECIMENTO SOBRE A LiNGUA

QUETEMOS

Falamos em Lingua Brasileira ao longo deste livro. Sabendo que

sao muitas as polemicas levantadas por esta denominacao. Ja foi

questao posta oficialmente, ja foi discussao de encontros, ja foi

proposta em Parlamento. E jamais foi retida como tal. No entanto, emuito comum, na Franca, por exemplo, que, em conversas, nos falem

Page 15: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 15/19

- e sem fim.Nao ha duvida, a historia caminha em linha reta. Quem pode

duvidar disto? 0 latim deu 0portugues enos falamos 0portugues com

algumas variantes. E a historia acaba ai. Nada mais muda. So varia.

E quem conhece esta lingua? Os bons professores de portugues, cla-

ro, e os lingii istas que sao verdadeiros cientistas com seus argumentos

verdadeiros, incapazes de falha, objetivos, claros e distintos, que tudo

explicam. Os positivistas. Estes que "sabem" que nao existe ideologia,

que a lingua e um sistema perfeito, completo, incapaz de falha. E que a

gente sabe onde comeca e onde termina. Com certeza. E, se ainda naosabemos, ainda vamos chegar laoCaminhamos para isto.

E ai eu perguntaria: quem sao os sujeitos desta lingua? Ja sabemos

que sao os tais brasileiros puros, que falam a lingua verdadeira, isto e, 0portugues com suas variacoes,

Estes sujeitos nao existem nem poderiam existir.

Porque, como sabemos, a lingua nao e um sistema perfeito, ela e

sujeita a falhas e esta ai nao urn seu defeito mas uma sua qualidade. A

que permite que haja mudanca, que os sujeitos, no furo da ideologia,

ressoem suas singularidades na historia, produzindo outros sentidos, em

novas discursividades, na abertura da lingua, que nao se fecha. Sujeito

e sentido, assim como as linguas estao sempre em movimento. Isto nao

querendo dizer que nao haja instituicoes, modos de controle e limites.Sao estas as conjunturas da historia.

Deixamos assim 0 tom de ironia com que iniciamos este ultimo ca-

pitulo enos voltamos para as questoes teoricas, questoes de metoda e a

questao politica que nao se ausenta nunc a quando a questao e a lingua,a identidade, a historia.

Na realidade, 0que e preciso dizer e que, neste l ivro, procurei justa-

mente mostrar que ha um acumulo de conhecimentos produzidos sobre a

lingua em nossa historia, assim como haum acumulo de conhecimento so-

bre diferentes teorias que ja nos permitem nos instalar em nosso momento

para repensar a questao de nossa lingua. E isto ja esta acontecendo.

Nao posso deixar de chamar a atencao para 0 fato de que a funda-mentacao em metodos e teorias bem dimensionadas e absolutamente

necessaria para nao se cair, quando se fala em lingua, nacao, Estado, e

nas suas representacoes, nos riscos de urn nacionalismo exacerbado seja

por urna posicao romantica ou, pior ainda, por teorias que sustentam e

se sustentam em urn poder totalitario, 0 tipo de pesquisa que realizamos

nada mais e que um procedimento metodologico para a construcao de um

arquivo. Este sobre e da lingua brasileira, analisando minuciosamente 0

discurso sobre a lingua, 0 discurso dos gramaticos em sua producao de

gramaticas ou de ensaios, de anotacoes ou outra forma de escritos, assimcomo a producao de linguistas.

190

Nosso objetivo e claro: a partir de estudos e pesquisas que nos kV:l11I

a refletir sobre a historia de nossas ideias sobre lingua e sobre a propri; \

historia da lingua, nos situarmos com inteligencia e propriedade face aos

desafios do mundo atual.

Nao cairmos na facilidade do discurso da mundializacao sem, no

entanto, menosprezar a forca da ideologia deste discurso. E a ideologia

como sabemos, para 0 analista de discurso, e uma pratica.

A diferenca das posicoes comunitaristas, multiculturalistas, essencia-

listas, vemos a identidade como um movimento na hist6ria, resultandoassim de processos de identificacao. Entre eles esta a producao de urn

conhecimento sobre a lingua e a representacao que dai resulta relacio-

nando os sujeitos a ela. Sujeitos que vivem em uma sociedade tomada

pela historia. Logo, tambem em movimento.

Na quarta capa de meu livro Terra it Vista! Esta reproduzido um

recorte de uma formulacao que faco no corpo do livro e que acho pro-

pria para pensar nossa posicao, no mundo, frente a ciencia, a lingua, ~t

identidade:

"Assim, se 0 brasileiro deve observar sua historia necessariamente

atraves do discurso europeu, uma abordagem critica deve lhe permi-

tir atingir 0 lugar da producao desses efeitos de sentido para que ele

possa compreender 0 deslocamento que preside a producao de sua

identidade (...) E para que 0 analista possa compreender esse pro-

cesso, e1etem de tomar uma posicao face a historia das ciencias".

Pois refletir sobre a maneira como construimos um saber sobre a

lingua, como tenho dito, repetidas vezes, faz parte da constituicao da

propria l ingua e orienta uma relacao com ela. Assim, a tomada de posi-

~ao face a historia da ciencia, exige nosso esforco em conhecer, refletir

e compreender essa nossa historia, frequentando nossos especialistas

que fundaram discursividades ou desenvolveram reflexoes que nos

dao urn impulso nessa hist6ria enos situam frente a ela. Isto nos ajudaa compreender porque nos identificamos (ou nao) com este ou aquelc

autor, esta ou aquela ideia, esta ou aquela posicao face a(s) gramaticats)

e quanto a(s) lingua(s). E ensina a ver a gramatica nao apenas como urn

conjunto organizado de coercoes mas como um objeto historico, parte

de nossa memoria intelectual. ,

Mas nao apenas isso. E desejavel tambem que esse impulso nos leve a

vislumbrar novas possibilidades, novas conceptualizacoes na construcao

de novos objetos de saber e de nossa pratica.

Neste livro, mostramos como a propria nocao de "instrumentos" lin

guisticos, nos paises donorte, que compreende inicialmente a gramat i,'a

I'll

Page 16: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 16/19

e 0dicionario, pode ser alargada, deve mesmo, quando se trata de paises

que passaram pelo processo de colonizacao e de descolonizacao. Nesse

caso, ensaios sobre a lingua, relatos, escritos como "varia", "procelarias",

ou prefacios, anotacoes etc sao tambem instrumentos linguisticos, Assim

como nocoes como lingua nacional, ou mudanca etc podem significar

de maneiras muito diferentes. Nao e necessario imobilizar, ou nos imo-

bil izarmos, em nocoes estreitas que ja nao dizem 0 real da nossa lingua

ou do nosso saber sobre ela.

Para dar urn exemplo, a nocao de "acontecimento linguistico" (E.Orlandi, 1993) que exploro e desenvolvo neste l ivro de modo inciden-

tal, a partir da reflexao de J. Guilhaumou (1998), e uma nocao rica emconsequencias e que ainda demanda uma maior reflexao, se a pensarmos

justamente, nao ligada as questoes que ele desenvolve mas ao aconteci-

mento discursivo da colonizacao,

Em seu trabalho, e nos que realiza com Denise Maldidier, J. Guilhau-

mou aproxima historia e linguistica para tratar a questao do acontecimen-

t030• Para ele 0 estudo das denominacoes e igualmente central no estudo

do acontecimento discursivo. 0 nome e 0primeiro modo de estabilizar

e de individualizar 0 acontecimento. Com a nocao de acontecimento

discursivo, J. Guilhaumou (idem) faz ver que 0 acontecimento historicoe inseparavel da discursivizacao do referente. Eu diria mesmo que a

historia e inseparavel da construcao discursiva do referente.

Como diz S. Branca (Xerox, sid), "em seguida a Foucault e a M.

Pecheux, pesquisadores como Denise Maldidier e J. Guilhaumou elabo-

raram procedimentos de observacao de textos politicos ligando inovacoes

de linguagem (fundadas nas possibilidades morfo-sintaticas da lingua)

e transformacoes politicas". 0 exemplo mais conhecido e 0 do slogan

revolucionario "Pao e Liberdade", urn acontecimento discursivo "Iigando

urn concreto (0 pao) reivindicacao tradicional do povo e uma palavra

abstrata do vocabulario politico "a liberdade"".

Ou, se olhamos pelo outro lado, como P. Henry (idem), os fatos re-clamam sentidos e e no modo como damos sentidos que esta a historia.Ou ainda, como M. Pecheux, a lingua, para significar, se inscreve na

historia. Construcao discursiva da realidade, textualizacao do politico.

Este e 0 nosso campo de reflexao aliando saber linguistico e constituicaoda nossa lingua, em urn movimento da historia,

Pensar, como propus (E. Orlandi, 1993),0 acontecimento linguistico

da colonizacao, nos leva a aprofundar 0 que pensamos da relacao do

simbolico com 0politico.

W Nan esquecamos dos fortes trabalhos de M. Pecheux sobre a materialidade da

1111) , .1111t'

I I 1 1 ( )~ ' i i( J de cstrutura e a de acontecimento (1997).

E assim, desse modo, que vejo que a questao posta para a reflcxuo

sobre a lingua pelo processo de colonizacao e de descolonizacao abrc 1I 111

espaco enorme para nossas teorizacoes e nossa forma de pensar a nossa

lingua. Em que temos de cunhar nossos instrumentos teoricos, nossos

procedimentos dando forma a nossas ideias. Produzindo desta vez unI

novo acontecimento. Este, cientifico.

Observe-se, por outro lado, que aqui neste livro tratei fundamental-

mente da lingua nacional, deixando a margem uma reflexao tambem

bastante expressiva que podemos fazer da relacao com a lingua materna.Principalmente se pensamos que nosso pais, como tantos outros, aco-

lhe muitos sujeitos diferenciados por suas diferentes linguas maternas

(indigena, africana, de imigrantes de varias origens, das fronteiras). E

certamente nao e uma questao pouco importante pensar as ligacoes sutis,delicadas e complexas da lingua materna com a lingua nacionaL Mas

esta e uma outra historia, para outro livro.Quanto a questao que coloco no inicio deste ultimo capitulo, ela

e irrespondivel, ou pelo menos, imprevisivel. Porque trata-se de uma

denominacao, como qualquer outra. E nao depende so do que nos diz

o conhecimento sobre a nossa lingua. Mesmo que ja haja pesquisas

avancadas mostrando que 0 que temos na relacao com 0 portugues saomudancas (C. Galves, 2001), urn nome depende nao so de argumentos

que tragam a marc a da objetividade da ciencia mas depende de uma

conjuntura historica mais ampla historica e politi ca. Precisa se constituir

em urn acontecimento discursivo politicamente significado. Em suma, euma questao de poder. Sao as instancias de poder que podem nomear a

lingua, oficialmente. Questao de poder, questao de identidade, questao

de memoria e, portanto, de ideologia e de inconsciente.

Isto significa que, mais uma vez, e aqui eu parafrasearia M. Kundera

(apud M. Pecheux, 1981), que "0 nome da lingua (ele diz metafora)

merece que se lute por ela".

Porque pensar 0nome da lingua e tomar em conta a historia do saberproduzido sobre ela, e conhecer a historia da propria lingua em sua praticae funcionamento, e analisar as injuncoes da conjuntura politica e social,

e apreender a constituicao de seu sujeito, dando mais urn passo no saber

da historia das ideias no BrasiL E e desse modo que tanto especialistas

da linguagem assim como os que a praticam e osque praticam seu ensino

podem tomar uma posicao frente a historia da ciencia no conjunto de

relacoes que atualmente se articulam no chamado mundo "globalizado",

em que 0 lugar que as linguas ocupam e decisivo.

192 19 \

Page 17: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 17/19

Alves, R. (1979) Protestantismo e Repressiio. Sao Paulo: Atica.

Auroux, S. (1992) A Revoluciio Tecnologica da Gramatizaciio. Campinas:

Ed. Unicamp.

_~ -:' (1994) "A Hiperlingua e a Extemalidade da Referencia",In: Gestos de Leitura. Orlandi, Eni P., Campinas: Ed. Unicamp.

Page 18: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 18/19

__ --,-,-- . ( s/d, Xerox) "La notion d' e venement linguistique a-t-

elle une pertinence pour lhistoire des idees linguistiques?"

Branco, C. C. (1862) Estrelas Funestas. Lisboa: Livraria Chardon.

Breal, M. (2005) Melanges de mythologie et de linguistique (J 882),

Introduction de G. Bergonioux, Limoges: Lemhart-Lucas.

Camoes, L.Y. de (1572) Os Lusiadas. Lisboa.

Chevalier, J-C. e Delesalle, S. (1986) La Linguistique, la grammaire et

l'ecole (1760-1914). Paris: Armand Colin.

Chomsky, N. (1965) Aspects of the Theory of Syntax. Cambridge, MA:

MIT Press.

Condillac, E. (1746) "Essai sur I'originedes connaissances humaines. Corpus

general des philosophes francais". T. XXXII , voLl, Paris, 1947.

De Alencastro, L.F. (2000) 0Trato dos Viventes. Sao Paulo: Companhia

das Letras.

Dosse, F. (2007) Historia do Estruturalismo, 2 vols., Edusc.

Ducrot,O. e Todorov , T. (1972) Dictionnaire Encyclopedique des sciences

du langage Paris: Seuil.

Eca de Queir6s, (1876) 0 Crime do Padre Amaro, Lisboa.

Femao Lopes (1915) Cronica del Rei D. Joiio I.Lisboa.Foucault, M. (l975) L 'Ordre du discours. Paris: Seuil.Freire de Souza, S.0movimento dos Sentidos sobre linguas estrangeiras

no Brasil: Discurso, Historia e Educacdo. Tese de Doutorado,

Campinas: Unicamp/IEL, 2004.

Freire, J.R.Bessa (2001) "A representacao da escola em urn mito

indigena" In: Teias, ana 2, n° 3. Rio de Janeiro: UERJ.

Goncalves Dias, (1944) Obras Poeticas. Rio de Janeiro.

Gil Vicente (1852) Obras de Gil Vicente. Lisboa.

J. Guilhaumou (1998) L 'avenement des portes paroles de laRepublique.

Lille: P.U.L.

___ .,----_---,--.(1989) La langue politique et la Revolution Francaise.

Paris: Meridiens, Klincksieck,Guimaraes, E. (2003) Producdo e Circulacdo do Conhecimento: Politlca,

Ciencia, Divulgaciio. Campinas: Pontes.

Haroche, C. (1992) Querer Dizer; Poder Dizer. Sao Paulo: Hucitec.

Henry, P.(1984) "L'Histoire n'existe pas?". In: Actes du Cheiron,

Europeian Society for the History of the Behavioral and Social

Sciences. 'Frad. Bras. "A Hist6ria Existe?". In: Gestos de Leitura,

Unicamp, 1997, 2a.ed.

Herculando, A. (1876), Eurico 0Presbitero. Lisboa.

Lecourt, D. (1995) "Le conformisme dans la recherche scientifique et

technique". In: L 'Americanisation de la recherche, L 'Aventure

Humaine, n°2, junho de 1995, pp53/57. Paris: PUF.

198

Lobato, j[_uciaM.P. et alii (1975) Analises Lingidsticas. Petropolis: VO/,(;S"

Lopes, E. (1976) Fundamentos da lingiiistica Contempordnea. SaD

Paulo: Cultrix.

Mariani, B. (2005) A Colonizaciio Lingulstica. Campinas: Pontes.Marques, M.H. Duarte (1976) Estudos Semdnticos. Rio de Janeiro: Grifo.

Mattoso Camara Jr., J. (1967) "0 Estruturahsmo Lingiiistico". In:

"Estruturalismo", Tempo Brasileiro; 15/16, Rio de Janeiro.

_~ . (1972) Dispersos. Selecao e Introducao de Carlos

Eduardo Falcao Uchoa. Rio de Janeiro: FGY.Maurer, T. H. (1952) "Introducao, ao trabalho de W. N. Hawkins, A

Fonologia da Lingua Uaiuai". In: Boletim, 157. Faculdade de

Filosofia, Ciencias e Letras. "Etnografia de Tupi-guarani", 25.

Naro, A.J. (org.) (a 976) Tendencias Atuais da Lingiiistica e da Filologia

no Brasil. Rio de Janeiro: Liv Francisco Alves Editora.

Normand, Cl. (1978) "Langue/Parole: constitution et enjeu dune

opposition". In: Langages, 49. Paris: Larousse.

Oliveira e Silva, G. M. de e Scherre, M. M.P. (orgs.) (1996) Padroes

Sociolingiiisticos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro Ltda.

Orlandi, Eni P.(1985) "Lingua Fluida e Lingua imaginaria", Seminario

IEL. '__ ~ "(1986) 0Que e Lingiiistica. Sao Paulo: Brasiliense.

_~ ~'. (1987) "Ilusoes da/na Linguagem". In: Foucault Vivo,Halo Tronca (org.) Campinas: Pontes.

______ . (1990) Terra a Vista. Sao Paulo: Cortez, Campinas:Unicamp.

______ . ( 1992) "Les Ameriques et les Europeens: un clivage

de sens ou La danse des gramaires". In: Cahiers de Praxematique.Montpellier: Univ. Paul Valery,

______ ,.(1993) "Lingua Brasileira". In: Anais daAbralin. SaoPaulo: SBPC, pp 41152.

______ ,.(1996) Interpretaciio, Petr6polis: Vozes.______ . (2001) Discurso e Texto Campinas: Pontes.

______ ,.(1997) "0Estado, AGramatica, AAutoria". In: Relatos4. Campinas: DL, IEL, Unicamp,

______ . (2002) "Ir ao Congresso: Fazer a Hist6ria das Ideias

Linguisticas?". In: Institucionalizaciio dos Estudos da Linguagem,Campinas: Pontes.

______ . (2002) Lingua e Conhecimento Lingidstico. Sao Paulo:Cortez.

______ . (2006) "L'Ordre des mots et l 'hyperlangue bresiliennc".

In: serninario na Univ. de Paris VII. Paris: Projeto Historia das

Ideias Linguisticas.

19<)

Page 19: Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi

5/10/2018 Lingua Brasileira e Outras Historias - Orlandi - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lingua-brasileira-e-outras-historias-orlandi 19/19

Orlandi, Eni P. (2007) "On the notion of structure and structuralism

in Brazil", apresentacao em plenaria publicada em History of

Linguistics 2002.E. Guimaraes e D. L. Pessoa de Barros (Orgs.),

Amsterda: John Benjamins.

Oliveira F. de (2007) Gramatica da Linguagem Portuguesa (1536).

Ediciio Critica, semidiplomatica e anastatica por Amadeu Torres

e Carlos Assunciio com um estudo introdutorio do Prof Eugenio

Coseriu. Centro de Estudos em Letras, Universidade de Tras-os-

Montes e Alto Douro.Pacheco da Silva Jr, M. (1878) Historia da Lingua Portugueza. Rio de

Janeiro: Typ. A vapor de D. M. Hazlett.

_----,:- . e Lameira de Andrade (1887) Grammatica da Lingua

Portugueza. Rio de Janeiro: Francisco Alves.

Paul, H. (1880/1983) Prinnzipien Der Sprachgestchicte/ Principios

Fundamentais de Historia da Lingua. Lisboa: Fundacao Calouste

Gulbenkian.

Pecheux, Michel. (1969) Analyse Authomatique du Discours . Paris:

Dunod.

·(1981) "Lire L' archive aujourdhui". Paris-St. Cloud:---.,,---------,-

Archives etDocuments. Trad. Bras. "Ler 0Arquivo Hoje". In: Gestosde Leitura. Campinas: Unicamp.

______ . (1981) La Langue Introuvable. Paris: Maspero.

. (1997) 0Discurso - Estrutura ouAcontecimento. Trad.------:---: _ _

Bras. ErriP. Orlandi Campinas: Pontes.

. (1982) "Delimitations, retournements et deplacements",------:-:--

In: L 'Homme et la societe, pp. 63-64. Paris.

Pereira, E. C. (1940) Gramatica Expositiva. Sao Paulo: Cia. Ed. Nacional.

Perini, M. (1976) A Gramatica Gerativa. Belo Horizonte: Vigilia.

Pontes, E. (1972) Estrutura do Verbono Portugues Coloquial. Petropolis:

Vozes.

. (1973) Verbos Auxi liaresem

Portugues. Petropolis:Vozes.-~~---:--

Pottier, B.et alii (1973) Le Langage. Paris: Denoel. '

Puech, C. (2001) Structuralisme in Encyclopedia Universalis. Paris:

Albin Michel, 2 eel.

·e Chiss (2000) "Saussurisme et Structuralisme Dans-~~------:--

les Annees 60-70 en France". In: Historiographia Lingiiistica.

Amsterda: John Benjamins.

_____ ~. (1995) "La Linguistique Structurale, Du Discourts

de Fondation a l 'Emergence Disciplinaire". In: Langages. Paris:

Larousse.

·( 2000) "Saussure: reception et heritage". In: Modeles------

Linguistiques, Tome XX. Fasc. 1, Paris.

200

· (1992) "La 'vie serniologique'". In: Langav:», 1(1 (-----:::-----c::-----c:--

Paris: Larousse.

· e Chiss (1998) "De l 'emergence d isc ip lin air c ;') Iii--:-:-:-----:--:--

didactisat ion des savoirs linguistiques: le tournant des annccs ()()

et ses suites". In: Langue Francaise. Paris: Larousse.

Payer, M. O. (t999) Memoria da Lingua. Imigraciio e Nacionalidadc,

Tese de Doutorado. Campinas: IEL, Unicamp.

Ribeiro, Joao (1933) Lingua Nacional: notas aproveitaveis. Sao Paulo:

Cia. Ed. Nacional.· (1927) Curiosidades Verbaes (Estudos applicaveis II

-~-::--~--

lingua nacional). Sao Paulo: Melhoramentos.

Ribeiro, Julio. (1881) Grammatica Portugueza. Sao Paulo: Jorge Seckler.

Said Ali. (1908) Dificuldades da Lingua Portuguesa. Rio de Janeiro:

Livraria Academica.

·(I923) Gramatica Elementar da Lingua Portuguesa.- - - - - : = - - - = - - - = - - - - - = -

Sao Paulo: Melhoramentos.

· (931) Gramatica Historica da Lingua Portuguesa.- - - - - : = - - - = - - - = - - - - - = -

Sao Paulo: Melhoramentos.

Saussure, F. de (1969) Cours de Linguistique Generate, por Ch. Bally e

A. Sechehaye. Paris: Payot.Seriot , P. e Tabouret-Keller, A. (2004) "Le Discours sur la langue sous

les regimes autoritaires". UNIL, Cahiers de l'ILSL, 17 .

Silva Neto, S. da (1950) Introduciio ao estudo da lingua portuguesa no

Brasil. Rio de Janeiro: Presenca/Mlitl, Rio de Janeiro .

· (1966) "Prefacio" ao livro de Said Ali Dificuldades---:--=--:---::::

da Lingua Portuguesa. Rio de Janeiro: Livraria Academica.

Souza, T. C. C. de (1994) Discurso e Oralidade: um estudo em lingua

indigena (Bakairi). Tese de Doutorado. Campinas: DLlIEL,

Unicamp,

Tarallo, F. (1990) Tempos Lingiiisticos - itinerario historico da lingua

portuguesa. Sao Paulo: Atica.Vidos, B. E. (1963) Manual de Lingilistica Romdnica. Madri: Aguilar.

Weinreich, D., Labov, W . e Herzog, M. 1.(2006) Fundamentos para uma

Teoria da Mudanca Lingiiistica. Sao Paulo: Parabola. Trad. Bras.

de M. Bagno e introducao de c.A. Faraco.

Revistas

Littera, nOs3, 5, 9 e14;

Significaciio, nOs1 e 2;

Tempo Brasileiro, nOs15/16 e 32;

Revista de Cultura Vozes, nOs2, 7 e 8;

Revista Brasileira de Lingiiistica, nOs1,2,3,4 e 5.

201