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Clipping Anfip ÍNDICE Mão do MP pesa sobre o bispo ................................................................................................................2 INSS tem que reconhecer período de serviço temporário, diz Justiça ..............................................3 Uma crise em câmera lenta (Artigo) ........................................................................................................3 Rombo da previdência de servidores em SP atinge R$ 7,7 bilhões ..................................................4 O xis da questão do mensalão (Editorial) ...............................................................................................5 O paraíso não é aqui - Eliane Catanhede...............................................................................................6 Obama quer mais impostos para os ricos ..............................................................................................7 Alta voltagem - Direto da Fonte - Sônia Racy ........................................................................................8 Investimentos em infraestrutura de redes terão isenção de PIS e Cofins.........................................8 O real (quem diria) não é mais aquele (Artigo) ......................................................................................9 Origem, causas e impacto da crise (Artigo) .........................................................................................10 Impostômetro já alcança R$ 1 trilhão ....................................................................................................13 Governo adia debate sobre novo imposto ............................................................................................13 Caso Dirceu arquivado.............................................................................................................................14 Justiça suspende obras em Guarulhos .................................................................................................15 Governo desiste de novo imposto e adia debate sobre recursos para saúde ................................15 Prorrogação da DRU ameaça contas do FAT......................................................................................17 PMDB mostra as suas armas .................................................................................................................18 PSD filia o presidente da 3ª central sindical .........................................................................................19 Partido segue grandes e se organiza em diretórios ............................................................................20 Lula articula reforma política com aliados.............................................................................................21 Volta de nova CPMF é descartada ........................................................................................................21 Projetos anticorrupção estão parados há mais de 15 anos no Congresso .....................................23 PMDB ficará contra PT sobre regulação da mídia ..............................................................................23 Dólar fecha a R$ 1,709 ............................................................................................................................24 Selic pode cair até 10% ...........................................................................................................................25 Governo grego admite risco de falência ...............................................................................................26 Pela 1ª vez no ano, dólar supera R$ 1,70 ............................................................................................27 Contradições na Eurolândia - Celso Ming ............................................................................................28 O divórcio entre salários e produtividade (2) ........................................................................................29 Mantega critica falta de sintonia na zona do euro ...............................................................................30 Crise das dívidas soberanas atinge bancos da França ......................................................................31 Sem ajuda, Grécia só tem dinheiro até outubro ..................................................................................32

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Clipping Anfip

ÍNDICE

Mão do MP pesa sobre o bispo ................................................................................................................ 2

INSS tem que reconhecer período de serviço temporário, diz Justiça .............................................. 3

Uma crise em câmera lenta (Artigo) ........................................................................................................ 3

Rombo da previdência de servidores em SP atinge R$ 7,7 bilhões .................................................. 4

O xis da questão do mensalão (Editorial) ............................................................................................... 5

O paraíso não é aqui - Eliane Catanhede ............................................................................................... 6

Obama quer mais impostos para os ricos .............................................................................................. 7

Alta voltagem - Direto da Fonte - Sônia Racy ........................................................................................ 8

Investimentos em infraestrutura de redes terão isenção de PIS e Cofins ......................................... 8

O real (quem diria) não é mais aquele (Artigo) ...................................................................................... 9

Origem, causas e impacto da crise (Artigo) ......................................................................................... 10

Impostômetro já alcança R$ 1 trilhão .................................................................................................... 13

Governo adia debate sobre novo imposto ............................................................................................ 13

Caso Dirceu arquivado ............................................................................................................................. 14

Justiça suspende obras em Guarulhos ................................................................................................. 15

Governo desiste de novo imposto e adia debate sobre recursos para saúde ................................ 15

Prorrogação da DRU ameaça contas do FAT...................................................................................... 17

PMDB mostra as suas armas ................................................................................................................. 18

PSD filia o presidente da 3ª central sindical ......................................................................................... 19

Partido segue grandes e se organiza em diretórios ............................................................................ 20

Lula articula reforma política com aliados ............................................................................................. 21

Volta de nova CPMF é descartada ........................................................................................................ 21

Projetos anticorrupção estão parados há mais de 15 anos no Congresso ..................................... 23

PMDB ficará contra PT sobre regulação da mídia .............................................................................. 23

Dólar fecha a R$ 1,709 ............................................................................................................................ 24

Selic pode cair até 10% ........................................................................................................................... 25

Governo grego admite risco de falência ............................................................................................... 26

Pela 1ª vez no ano, dólar supera R$ 1,70 ............................................................................................ 27

Contradições na Eurolândia - Celso Ming ............................................................................................ 28

O divórcio entre salários e produtividade (2) ........................................................................................ 29

Mantega critica falta de sintonia na zona do euro ............................................................................... 30

Crise das dívidas soberanas atinge bancos da França ...................................................................... 31

Sem ajuda, Grécia só tem dinheiro até outubro .................................................................................. 32

CORREIO BRAZILIENSE - DF | POLÍTICA

RECEITA FEDERAL DO BRASIL 13/09/2011 Imagem 1

Mão do MP pesa sobre o bispo

O Ministério Público Federal em São Paulo (MPF-SP) denunciou, ontem, o bispo Edir Macedo - mandachuva da TV Record e fundador da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) - e mais três dirigentes da entidade religiosa. Todos são acusados de envolvimento com os crimes de formação de quadrilha, estelionato, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e falsidade ideológica. De acordo com a denúncia, o grupo oferecia "falsas promessas e ameaças de que o socorro espiritual e econômico somente alcançaria aqueles que se sacrificassem economicamente pela Igreja".

Caberá à Justiça Federal decidir entre abrir uma ação penal contra os denunciados ou arquivar a denúncia encaminhada pelo MPF. De acordo com o documento, assinado pelo procurador da República Sílvio Luís Martins de Oliveira, o grupo montou um esquema para lavar dinheiro da Iurd por meio de uma casa de câmbio em São Paulo, que remetia recursos de forma irregular para os Estados Unidos. O documento aponta que, além de Edir Macedo, o ex-deputado federal João Batista Ramos da Silva, o bispo Paulo Roberto Gomes da Conceição e a diretora financeira Alba Maria Silva da Costa faziam parte da suposta quadrilha.

O procurador detalha que somente uma parte do que a Igreja Universal arrecada com os fiéis é declarada à Receita Federal,

embora a Iurd disponha de imunidade tributária. A denúncia descreve que, de 2003 a 2006, a entidade declarou ter recebido R$ 5 bilhões em doações, mas, segundo o documento, testemunhas apontam que o valor declarado é bem menor do que a realidade. "É o que afirmou o ex-diretor da Iurd e ex-vereador na cidade do Rio de Janeiro Waldir Abrão em um instrumento particular de declaração registrado por ele em um cartório do Rio de Janeiro em 18 de novembro de 2009, seis dias antes de morrer em circunstâncias ainda não completamente esclarecidas", destaca o MPF.

Abrão lavrou um documento, acompanhado de um advogado e de testemunhas, no qual afirmou que a Igreja Universal depositava, em suas contas oficiais, somente 10% do dízimo arrecadado. O ex-diretor afirma que o restante, segundo consta da denúncia, era passado a doleiros, que remetiam os valores para o Uruguai e para paraísos fiscais.

Fachada

A denúncia relata ainda que o esquema milionário de envio de recursos para o exterior foi feito a partir da criação de empresas de fachada. Segundo o procurador Sílvio de Oliveira, o dinheiro foi usado para "a aquisição de diversos meios de comunicação, usados como plataforma para arrebanhar fiéis".

"Assim foi que valores doados por fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, em sua maioria pessoas humildes e de escassos recursos financeiros, sofreram uma espúria engenharia financeira para, ao fim, se converterem em participações societárias de integrantes da Iurd em empresas de radiodifusão e telecomunicações, certamente um destino totalmente ignorado pelos crentes e pela Receita Federal, bem como absolutamente incompatível com os objetivos de uma entidade que se apresenta como religiosa perante a Sociedade e o Estado", afirma o procurador.

A Justiça Estadual paulista já havia aceitado uma denúncia contra Edir Macedo, em 2009, mas o processo acabou remetido para a Justiça Federal, uma vez que ficou constatada a suposta prática de crimes federais.

A Igreja Universal informa que os advogados da entidade ainda não receberam denúncia. "Tudo indica, pelo que a mídia está veiculando, que se tratam das mesmas acusações de sempre contra os dirigentes da Igreja Universal do Reino de Deus, que sempre se mostraram inverídicas", defende-se, em nota.

Cassação

Além de denunciar quatro integrantes da Igreja Universal, o procurador da República Silvio Luís Martins de Oliveira enviou uma cópia da documentação à área cível da Procuradoria da República em São Paulo, pedindo que seja analisada a possibilidade de cassação da imunidade tributária da Iurd. Segundo o MPF, há indícios de que a remessa de dinheiro para o exterior tenha ocorrido desde o começo da década de 1990. O procurador, no entanto, só ofereceu denúncia contra os atos ilegais ocorridos entre 1999 e 2005, uma vez que o crime de lavagem de dinheiro ainda não estava tipificado na legislação brasileira.

EXTRA - RJ | ECONOMIA

SEGURIDADE SOCIAL 13/09/2011

INSS tem que reconhecer período de serviço temporário, diz Justiça

7ª Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2 Região (TRF-2), que abrange os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, determinou que o INSS reconheça o tempo de contribuição de uma servidora que trabalhou como temporária na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) entre junho de 1972 e fevereiro de 1976. Dessa forma, a Previdência Social, de acordo com a decisão, terá que recalcular o benefício considerando esses três anos e sete meses de trabalho

temporário e pagar os valores atrasados com correção monetária.

O INSS, por meio da Advocacia-Geral da União (AGU), alegou que a beneficiária deveria ser classificada como autônoma e que, por isso, teria que contribuir para a Previdência Social. Mas o juiz federal Marcello Granado, relator do caso, lembrou que a própria AGU emitiu, em 1973, um parecer defendendo que o poder público recolhesse para o INSS a parte do

empregador relativa aos prestadores de serviço com carteira assinada, garantindo o direito à autora da ação.

O GLOBO | OPINIÃO

SEGURIDADE SOCIAL 13/09/2011

Uma crise em câmera lenta (Artigo)

RODRIGO BOTERO MONTOYA

Estão se acumulando de forma preocupante as consequências de desequilíbrios macroeconômicos persistentes num conjunto de países industrializados. Até agora, nenhum dos problemas nacionais se reveste de características catastróficas. Sua importância relativa depende da respectiva capacidade para desestabilizar a economia mundial, seja pelo efeito de contágio, seja por constituir um grave risco sistêmico.

A incapacidade que demonstraram os organismos multilaterais de responder com eficácia e celeridade ante situações pontuais de menor tamanho contribui para criar um clima de incerteza que imprime volatilidade aos mercados financeiros. O que se percebe é a insatisfação generalizada com a liderança internacional e o descontentamento com os efeitos sociais de uma crise que se desenvolve em câmera lenta.

A vacilação das autoridades da zona do euro para implementar o resgate financeiro da Grécia colocou em xeque a viabilidade da união monetária, na ausência de uma política fiscal comum entre países com economias heterogêneas. O que não se quis reconhecer de maneira explícita é a impossibilidade de a Grécia pagar toda sua dívida soberana. A questão a decidir é a forma como se deve distribuir o custo de uma reestruturação de passivos entre os credores da dívida. A reticência que manifestam Angela Merkel e Nicolas Sarkozy para aceitar essa realidade está relacionada ao impacto que teria a reestruturação da dívida grega sobre os grandes credores - quer dizer, os bancos comerciais alemães e franceses. Mas, tratando-se de um país pequeno, sofrendo as consequências de sua própria irresponsabilidade fiscal, a crise econômica da Grécia não deveria constituir um problema de dimensões mundiais.

Algo semelhante pode-se afirmar a respeito das dificuldades que a Itália está experimentando, não obstante sua condição de membro do G8, o clube das grandes nações industrializadas. Por um lado, Silvio Berlusconi se encarregou de projetar a

imagem da Itália como um país desprovido de um governo sério. No que diz respeito à credibilidade financeira, uma piada perversa sustenta que, para entender por que é tão deficiente o manejo da economia italiana, basta abrir a lista telefônica de Roma para constatar a proliferação de sobrenomes argentinos.

O que constitui uma ameaça sistêmica é a percepção de que a economia americana anda à deriva, sobretudo quando isto coincide com a turbulência europeia. Um grupo lunático conseguiu levar os Estados Unidos à beira da suspensão de pagamentos. O Tea Party é um movimento de protesto populista, motivado pelo rechaço da modernidade, pelo fundamentalismo evangélico e o convencimento de que um presidente americano que não seja anglo-saxão e branco carece de legitimidade.

Seus integrantes questionam a teoria da evolução, propõem medidas punitivas contra os imigrantes ilegais, depreciam os homossexuais e combatem o direito da mulher de receber serviços de saúde sexual e reprodutiva. Estimulam o racismo, a xenofobia e a intolerância.

Um elemento central de sua missão é o desmantelamento do sistema de Seguridade Social e proteção aos trabalhadores erguidos por Franklin Roosevelt durante a Grande Depressão dos anos 30.

Um programa dessa natureza conduz a alienar as minorias e setores da população cujo apoio é necessário para ganhar uma eleição. Falta pouco mais de um ano para que esse grupo de extremistas conduza os republicanos a um descalabro eleitoral.

Enquanto se cumpre esse ciclo, é previsível que continuem utilizando sua capacidade de obstrução parlamentar para erodir a governabilidade dos Estados Unidos e frustrar qualquer esforço para reativar a economia americana.

RODRIGO BOTERO MONTOYA é economista e foi ministro da Fazenda da Colômbia.

O ESTADO DE S. PAULO - SP | ECONOMIA E NEGÓCIOS

SEGURIDADE SOCIAL 13/09/2011

Rombo da previdência de servidores em SP atinge R$ 7,7 bilhões

O valor, do ano passado, representa crescimento de 7,6% em relação a 2009, segundo anuário do Ministério da Previdência

Edna Simão - O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA

O rombo da previdência dos servidores públicos do Estado de São Paulo atingiu R$ 7,717 bilhões no ano passado, o que representa crescimento de 7,6% em relação a 2009, segundo anuário do Ministério da Previdência. As despesas com pensões e aposentadorias chegaram a R$ 15,167 bilhões, valor bem superior à arrecadação de contribuições dos trabalhadores (R$ 7,449 bilhões). Em dezembro de 2010, o Estado de São Paulo tinha 407.186 inativos e pensionistas em sua folha de pagamento.

Para tentar minimizar o impacto das aposentadorias e pensões dos servidores nas contas públicas, o governador tucano Geraldo Alckmin quer emplacar o fundo de Previdência Complementar para seus funcionários. Com isso, a ideia é fixar o teto de aposentadoria do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), atualmente de R$ 3.691,74, também para os inativos e pensionistas do Estado. Com isso, quem quiser receber valor superior terá de contribuir para o fundo de Previdência Complementar. A proposta precisa ser aprovada pela Assembleia Legislativa.

O regime de previdência de São Paulo é semelhante ao da União. A diferença entre a contribuição e as despesas com pagamento é custeada pelo orçamento, o que acaba limitando investimentos em outras áreas. A criação do fundo visa equilibrar as contas da previdência no longo prazo até o fim do ano.

Esse foi o limite dado pelo Ministério da Previdência Social para não confiscar o chamado Certificado de Regularização Previdenciária (CRP). Sem ele, o Estado não recebe transferências voluntárias e fica proibido de fazer empréstimos.

O diretor-presidente da SPPrev, Carlos Henrique Flory, explicou que o fundo de Previdência Complementar do servidor de

São Paulo terá algumas diferenças do da União, que depende da aprovação do Congresso.Por exemplo, serão criados vários fundos para atender às várias carreiras como o Judiciário. Além disso, a alíquota máxima de contribuição patronal será de 7,5%. Ele disse ainda que, apesar do elevado déficit, o Estado tem capacidade de pagamento. Pelo relatório do Tesouro Nacional, o governo estadual compromete apenas 38,57% de sua Receita Corrente Líquida com pessoal. O limite permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal é 49%.

Royalties. O Estado do Rio de Janeiro registrou déficit no regime próprio de previdência de R$ 5,388 bilhões no ano passado. O o presidente do Rio Previdência, Gustavo Barbosa, ressaltou que, atualmente, grande parte dessa despesa é coberta pelos royalties do petróleo. Ele admite que para o longo prazo está estudando alternativas para a sustentabilidade para impedir um agravamento das contas do governo.

"Estamos estudando medidas estruturais para o regime", disse Barbosa. O governo do Estado do Rio gasta 27,33% da RCL com folha de pagamento.

O ESTADO DE S. PAULO - SP | NOTAS E INFORMAÇÕES

SERVIDOR PÚBLICO 13/09/2011

O xis da questão do mensalão (Editorial)

Com o término, na quinta-feira passada, do prazo para os réus do mensalão apresentarem suas alegações finais no processo aberto contra eles em 2007, que o STF deverá julgar no próximo ano, vieram a público os argumentos graças aos quais pretendem ser absolvidos os mais notórios protagonistas do escândalo de suborno de deputados federais para favorecer o presidente Lula, no seu primeiro mandato. É o caso dos integrantes do "núcleo principal da quadrilha", conforme a denúncia formulada pelo então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza - e ratificada em sua quase totalidade pelo seu sucessor, Roberto Gurgel.

Reconduzido pela presidente Dilma Rousseff para um novo período no cargo, Gurgel corroborou, por exemplo, a conclusão de Souza, segundo a qual o então ministro e depois deputado cassado José Dirceu foi o "chefe da quadrilha" que arquitetou e conduziu, a partir do PT, o esquema de compra de apoios ao governo Lula no Congresso Nacional. Dos 40 réus originais, um (o ex-deputado José Janene, do PP) faleceu, outro (o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira) foi excluído do processo em troca de prestação de serviços comunitários e dois foram exonerados, por falta de provas, pelo atual procurador: o ex-ministro Luiz Gushiken e um irmão do tesoureiro do PL, Antonio Lamas.

Os advogados de Dirceu reiteraram, nas razões finais, que inexiste no processo algo "que possa sequer sugerir" que o seu cliente interferisse ou mesmo estivesse a par do que se passava na administração ou com as finanças do partido do qual já tinha sido presidente, no período que esteve à frente da Casa Civil. "Todas as provas", escreveram os criminalistas que o defendem, "mostram que (o ex-tesoureiro) Delúbio Soares atuava com independência". Eles consideram "completamente descabida" a versão de que Dirceu tivesse qualquer vínculo com o publicitário Marcos Valério, tido como o operador do mensalão. Caberá ao STF, a começar do relator da ação, ministro Joaquim Barbosa, acolher ou rejeitar à luz dos autos essas negativas aparentemente implausíveis.

Se fossem ao menos verossímeis, o procurador-geral Gurgel não teria endossado com tamanha convicção o juízo do predecessor sobre o dirigente petista. É bem verdade que Delúbio chamou a si a responsabilidade exclusiva pelos negócios do partido com Marcos Valério. Mas é o que se espera de qualquer pezzonovante mafioso conhecedor do implacável código de conduta da organização. Já o então deputado e presidente da legenda, José Genoino, tenta se distanciar dos suspeitos empréstimos tomados em 2003 por Delúbio no Banco Rural e no BMG, no valor de R$ 2,4 milhões, em benefício de companheiros e dos novos amigos do governo Lula.

A defesa de Genoino, para quem os empréstimos se destinavam a "fazer frente ao verdadeiro caos financeiro vivenciado pelos diretórios regionais do PT", afirma que ele assinou os papéis apenas "por condição estatutária". Por esse inconvincente

raciocínio, "a legalidade, a viabilidade e o cabimento das transações" não eram da alçada do titular do partido, sendo o seu autógrafo "requisito meramente formal para a execução do empréstimo". Genoino, assim como Dirceu e Delúbio, foram denunciados por formação de quadrilha e corrupção ativa. Marcos Valério responde ainda por lavagem de dinheiro, peculato e evasão de divisas.

O seu advogado pergunta como pode o seu cliente ser condenado por supostamente intermediar o financiamento do esquema, sem que estejam em julgamento "as condutas dos interessados no suporte político "comprado" (presidente Lula, seus ministros e seu partido) e dos beneficiários financeiros (partidos políticos da base aliada)". Assinala ser esse "um raríssimo caso de versão acusatória de crime" que deixa mandantes e beneficiários em segundo plano, "alguns, inclusive, de fora da imputação, embora mencionados na narrativa, como o próprio presidente Lula". Esse sempre foi o xis da questão: a tentativa de Lula de fazer crer que ignorava o esquema por completo - cego, surdo e mudo como os macaquinhos da metáfora.

FOLHA DE S. PAULO - SP | OPINIÃO

TRIBUTOS - CONTRIBUIÇÕES E IMPOSTOS 13/09/2011

O paraíso não é aqui - Eliane Catanhede

BRASÍLIA - A classe média vai ao paraíso: às compras nos EUA.

Também, pudera. Um casaco que aqui custa R$ 800 sai por US$ 200 (menos de R$ 400) lá. Uma blusa de seda, R$ 500 aqui, US$ 60 lá. Um macacão de bebê, R$100 aqui, US$ 10 lá. Bons lençóis, R$ 600 aqui, US$ 50 lá. Eletrônicos? Nem se fala.

A diferença é tão grande que as passagens saem de graça. Então, vai a família inteira -pai, mãe, filhos adultos, crianças, netos. Na volta, as malas enormes e empilhadas são um espanto.

Segundo o BC, os brasileiros deixaram US$ 2,2 bi no exterior em julho. Conforme a Folha, estão em terceiro lugar no ranking de viajantes que mais gastam nos EUA, só atrás dos ricos japoneses e britânicos e sem contar os vizinhos do Canadá e do México. Cada brasuca gasta nos "States", aquecendo a economia e gerando emprego no país dos outros, uma média de US$ 5.918, 250% a mais que em 2003.

Não são exatamente "turistas", mas, sim, consumidores. Muitos não viajam mais para passear, conhecer, visitar. Desembarcam direto em lojas, outlets, shoppings "caros", ruas farofeiras ou descoladas.

Não se culpem os brasileiros, porque é legítimo que queiram (queiramos) comprar mais, melhor e mais barato. A revoada consumista é resultado do dólar baixo (ou melhor, do real supervalorizado), dos preços internos exorbitantes, do excesso de impostos/taxas/contribuições. Além da ganância.

E ainda me vêm com essa história de recriação da CPMF?

Depois das manifestações no Sete de Setembro em Brasília, começa a mobilização na internet para novos atos pelo país no dia 20. No Rio, por exemplo, será na emblemática Cinelândia. O grito de guerra é "abaixo a corrupção". Mas bem que poderia evoluir para "abaixo a corrupção, os impostos astronômicos, os maiores juros do planeta".

Parece mais saudável do que voar o tempo todo para Miami.

[email protected]

O GLOBO | ECONOMIA

TRIBUTOS - CONTRIBUIÇÕES E IMPOSTOS 13/09/2011

Obama quer mais impostos para os ricos

Proposta prevê limites para deduções no IR de quem ganha mais de US$200 mil anuais

WASHINGTON. O presidente americano, Barack Obama, quer que os mais ricos arquem com os custos do pacote de US$447 bilhões que visa à criação de empregos. A Casa Branca enviou ontem uma proposta ao Congresso que prevê o fim de deduções fiscais para os mais ricos, além da suspensão de subsídios para a indústria petrolífera. Com isso, estima uma receita de US$467 bilhões ao longo de dez anos. As medidas entrariam em vigor em 1º de janeiro de 2013, quando a Casa Branca espera que as duas maiores alíquotas do Imposto de Renda passem dos atuais 33% e 35% para 36% e 39,6%, como resultado do fim dos cortes de impostos do governo Bush.

A mudança nas deduções fiscais afetaria aqueles com renda anual superior a US$200 mil ou US$250 mil, no caso de famílias (cerca de R$28 mil mensais). O texto estabelece o limite de 28% para deduções nessa faixa de renda. Ou seja, para cada US$100 que o contribuinte apresentar como dedutível do imposto, ele só poderia abater US$28. Isso incluiria pagamentos de hipoteca e doações para instituições de caridade.

Segundo o diretor de Orçamento da Casa Branca, Jack Lew, só essa medida renderia US$400 bilhões para os cofres do governo.

- Este é o projeto de lei que o Congresso precisa aprovar: sem jogos, sem política, sem atrasos - disse Obama. - Não podemos mais arcar com esses jogos políticos. Vamos fazer algo. Vamos colocar este país trabalhando de novo.

O projeto de lei também visa a arrecadar US$18 bilhões ao taxar como renda comum o ganho de administradores de fundos de private equity e de quem investe em imóveis, que se baseia no lucro. Essa renda hoje é taxada como ganho de capital.

Já a indústria de petróleo e gás arcaria com US$40 bilhões em novos impostos na próxima década, explicou Lew. A proposta enviada ao Congresso reduz as deduções permitidas para as empresas do setor.

Já cerca de US$3 bilhões viriam da mudança nas regras de depreciação para jatos corporativos. Estas seguiriam aquelas das empresas aéreas comerciais.

- Temos de decidir quais são nossas prioridades - disse Obama. - Manter os benefícios fiscais para as petrolíferas ou colocar professores trabalhando de novo? Devemos manter as isenções fiscais de milionários e bilionários ou investir em educação, tecnologia e infraestrutura, coisas que vão nos ajudar a, no futuro, ultrapassar outros países em inovação, educação e construção?

A oposição, no entanto, já deu a entender que a proposta enfrentará dificuldades no Congresso. Michael Steel, porta-voz do presidente da Câmara, John Boehner, afirmou em nota que o texto contém medidas que já foram rejeitadas anteriormente e que a proposta não reflete um espírito bipartidário. Já o deputado republicano Eric Cantor afirmou se opor à mudança na taxação dos ganhos de administradores de private equity e investidores em imóveis. Ele disse que a regra atual estimula os investidores a arriscarem seu capital "para que criemos empregos".

- Não estamos brincando aqui, as pessoas estão sem emprego - disse Obama. - As empresas têm dificuldade para ficar abertas, e a economia mundial enfrenta incertezas, na Europa e no Oriente Médio. Alguns eventos podem estar fora de nosso controle, mas isso é algo que podemos controlar. (Com Bloomberg News e agências internacionais)

O ESTADO DE S. PAULO - SP | CADERNO 2

TRIBUTOS - CONTRIBUIÇÕES E IMPOSTOS 13/09/2011 Imagem 1

Alta voltagem - Direto da Fonte - Sônia Racy

Tensão no Encontro Nacional dos Agentes do Setor Elétrico, em outubro. É o que promete a Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia. A entidade alega que impostos e encargos - cerca de R$ 18 bilhões em 2011 - diminuem

a capacidade competitiva das empresas nacionais. No ranking mundial, somente Itália e Eslováquia cobram mais pela energia.

O evento terá, na plateia, ministros de Estado e representantes de entidades do setor e da Aneel.

O GLOBO | ECONOMIA

TRIBUTOS - CONTRIBUIÇÕES E IMPOSTOS 13/09/2011

Investimentos em infraestrutura de redes terão isenção de PIS e Cofins

Segundo ministro, custo será reduzido em 10% e renúncia fiscal será de R$4 bi

Lino Rodrigues [email protected]

Paulo Justus [email protected]

SÃO PAULO. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, anunciou ontem a desoneração das contribuições de PIS/Cofins para investimentos em infraestrutura de redes de telecomunicações no país. O projeto, que ainda será apreciado pela presidente Dilma Rousseff, é mais uma bondade do governo para reduzir a carga tributária e incentivar as operadoras de telefonia a investirem na expansão da oferta de serviços, principalmente de banda larga. A isenção atingirá desde a compra de equipamentos de fibra ótica até as obras de construção civil. Segundo Bernardo, a medida representará queda de 10% nos custos das empresas e renúncia fiscal de R$4 bilhões até 2014.

- Esperamos que nos próximos dias o projeto passe a vigorar - disse Bernardo, que acredita que o benefício se dará por medida provisória.

Além dos 10%, existe a possibilidade de desoneração ainda maior no caso da utilização de equipamentos beneficiados pelo Processo Produtivo Básico (PPB), que reduz Tributos de produtos com conteúdo nacional. Segundo Bernardo, o governo

deve continuar adotando medidas como as desonerações anunciadas ontem para incentivar a expansão dos serviços de banda larga e TV por assinatura no país. O objetivo é mais que dobrar até 2015 o número de acessos à banda larga, dos atuais 14,4 milhões para 40 milhões, e de TV paga, de 16% para 32% dos domicílios do país.

Bernardo, que participou ontem da abertura do 13ª edição do Futurecom, que reúne empresas do setor de telecomunicações, disse que a criação do "Regime Especial para Construção de Redes" deve antecipar os investimentos em infraestrutura - estimados em R$70 bilhões nos próximos quatro anos - em R$20 bilhões até 2012. Para ter acesso ao benefício, porém, o governo exigirá contrapartidas: as operadoras terão de investir em redes também no interior.

- As empresas terão também que construir redes em cidades menores - disse o ministro.

VALOR ECONÔMICO -SP | FINANÇAS

TRIBUTOS - CONTRIBUIÇÕES E IMPOSTOS 13/09/2011

O real (quem diria) não é mais aquele (Artigo)

As moedas não flutuam, elas mergulham em diferentes proporções. A frase consta de um discurso do financista Clayde Harrison, e ilustra bem o comportamento do real e de outras moedas.

O gráfico abaixo mostra o comportamento do dólar comercial da mínima do ano, registrada em 26 de julho, a R$ 1,537, menor preço desde janeiro de 1999, até o fechamento de ontem, quando a divisa encerrou a R$ 1,708, maior cotação desde dezembro de 2010.

É fato que o dólar sobe no mundo todo em função dessa nova turnê da crise iniciada em 2008. No entanto, cabe ressaltar que o real está entre as moedas que mais perdeu para o dólar.

Nos oito dias seguidos de valorização o preço do dólar comercial subiu 7,49%. Nesse mesmo período o dólar só subiu mais ante o franco suíço, mas, nesse caso, um evento mais que atípico aconteceu com o franco: o governo instituiu um piso para a moeda.

Dólar: de R$ 1,537 para R$ 1,708 em apenas 40 dias

No caso do real, as explicações são muitas e todas têm sua validade. Comprar real foi ficando cada vez mais arriscado. Primeiro foram os impostos e prazos mínimos aos ingressos externos, depois a limitação deposição vendida no mercado à

vista e a restrição à "aposta" de valorização no mercado futuro.

A isso somou-se uma disparada na aversão ao risco e uma guinada da política monetária, que já leva investidores a pensar em Selic de um dígito em algum momento de 2012.

Focando a atenção nos últimos dias, o economista-sênior para a América Latina da empresa de análises de mercado 4Cast, Pedro Tuesta, avalia que a questão envolvendo o real passa pela preocupação com "funding". Ou seja, os agentes estão preocupados com a possibilidade de os bancos cessarem a concessão de crédito em função dessa crise na Europa, por isso estão preferindo reduzir a alavancagem e ficar com o dinheiro em caixa.

A questão agora não é crédito soberano na Europa. Não é a insolvência da Grécia ou qualquer outro país. Mas sim o que acontecerá com o setor financeiro europeu e por extensão mundial caso um default vire realidade. Como os bancos vão lidar com essas perdas e, no campo intangível, como convencer os acionistas a capitalizar as instituições novamente.

Não por acaso assistimos a um mergulho nas cotações das ações de bancos europeus (algumas instituições com quedas superiores a 50% no ano). E a um aumento nas taxas no mercado interbancário da zona do euro. Os bancos estão receosos de emprestar uns aos outros e está mais caro tomar funding em dólares. Algo que ilustra bem a explicação do economista da 4Cast.

Mudando o enfoque, o sócio da consultoria Global Financial Advisor, Miguel Daoud, tem uma explicação bem simples para toda essa movimentação no câmbio.

Partindo da cláusula pétrea de que mercado financeiro existe para se ganhar dinheiro, não importa se os preços sobem ou descem, Daoud avalia que os investidores chegaram à conclusão de que não dava mais para ganhar dinheiro com o dólar indo para baixo (seja por canetadas do governo, piora de humor global ou razões técnicas). Então, o jeito é ganhar dinheiro com o dólar indo para cima. Fica a dúvida sobre até quando vai essa "brincadeira".

Ontem, o dólar comercial subiu 1,78%, para R$ 1,708. Esse foi o maior ganho diário desde 6 de maio de 2010, quando o preço subiu 2,83%. Na máxima o preço foi a R$ 1,729, alta de 2,49%.

Tal puxada de preço pode nos levar a imaginar que o exportador, que vinha "sofrendo" ou reclamando de dólar a R$ 1,50, vai

aproveitar a taxa e internar recursos que mantém exterior. Tal movimento poderia conter essa alta do dólar.

No entanto, a dinâmica não é tão linear assim. O diretor da Pioneer Corretora, João Medeiros, explica que esse dólar a R$ 1,70 não é garantia de que o exportador vá trazer seus dólares.

Segundo Medeiros, tem de existir o mínimo de previsibilidade no mercado para que essas operações sejam feitas, algo que não existe neste momento.

"O exportador prefere vender moeda a R$ 1,54 com tendência a vender a R$ 1,70 sem tendência", explica.

O risco aqui é achar que vendeu bem a R$ 1,70, mas ver o dólar a ir a R$ 2,0 amanhã, por exemplo, em função de algum evento inesperado. "Quem tem caixa e serenidade espera", resume Medeiros.

No mercado futuro, o estrangeiro comprou mais contratos de dólar futuro. O estoque estava em US$ 1,6 bilhão.

Mas a posição líquida segue pró-real, em função de US$ 13,9 bilhões vendidos em cupom cambial (DDI - juro em dólar).

Na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), o dólar para outubro subia 1,69%, a R$ 1,714 antes do ajuste final. O preço máximo foi de R$ 1,738. Pela análise gráfica, o R$ 1,75 é objetivo final do canal de alta.

Eduardo Campos é repórter

E-mail [email protected]

VALOR ECONÔMICO -SP | ESPECIAL

TRIBUTOS - CONTRIBUIÇÕES E IMPOSTOS 13/09/2011

Origem, causas e impacto da crise (Artigo)

Por José Luis Oreiro

A crise financeira de 2008 foi a maior da história do capitalismo desde a grande depressão de 1929. Começou nos Estados Unidos após o colapso da bolha especulativa no mercado imobiliário, alimentada pela enorme expansão de crédito bancário e potencializada pelo uso de novos instrumentos financeiros, a crise financeira se espalhou pelo mundo todo em poucos meses. O evento detonador da crise foi a falência do banco de investimento Lehman Brothers no dia 15 de setembro de 2008, após a recusa do Federal Reserve (Fed, banco central americano) em socorrer a instituição. Essa atitude do Fed teve um impacto tremendo sobre o estado de confiança dos mercados financeiros, rompendo a convenção dominante de que a autoridade monetária norte-americana iria socorrer todas as instituições financeiras afetadas pelo estouro da bolha especulativa no mercado imobiliário.

O rompimento dessa convenção produziu pânico entre as instituições financeiras, o que resultou num aumento significativo da sua preferência pela liquidez, principalmente no caso dos bancos comerciais. O aumento da procura pela liquidez detonou um processo de venda de ativos financeiros em larga escala, levando a um processo Minskiano de "deflação de ativos", com queda súbita e violenta dos preços dos ativos financeiros, e contração do crédito bancário para transações comerciais e industriais. A "evaporação do crédito" resultou numa rápida e profunda queda da produção industrial e do comércio internacional em todo o mundo.

Com efeito, no último trimestre de 2008 a produção industrial dos países desenvolvidos experimentou uma redução bastante significativa, apresentando, em alguns casos, uma queda de mais de 10 pontos base com respeito ao último trimestre de 2007. Mesmo os países em desenvolvimento, que não possuíam problemas como seus sistemas financeiros, como o Brasil, também constataram uma fortíssima queda na produção industrial e no Produto Interno Bruto (PIB). De fato, no caso brasileiro, a produção industrial caiu quase 30% no último trimestre de 2008 e o PIB apresentou uma contração anualizada de 14% durante

esse período.

As bolhas e a fragilidade financeira nasceram do capitalismo neoliberal adotado a partir dos anos 70.

Os governos dos países desenvolvidos responderam a essa crise por meio do uso de políticas fiscal e monetária expansionistas. O Fed reduziu a taxa de juros de curto prazo para 0% e aumentou o seu balanço em cerca de 300% para proporcionar liquidez para os mercados financeiros nos EUA. Políticas similares foram adotadas pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Banco do Japão. Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama conseguiu aprovar uma expansão fiscal de quase US$ 800 bilhões para estimular a demanda agregada. Na área do euro, os governos foram liberados das amarras fiscais do Tratado de Maastricht, sendo autorizados a aumentar os déficits fiscais além dos limites impostos pelo Tratado em consideração. Esforços similares foram realizados no Reino Unido e nos países em desenvolvimento.

Na China, por exemplo, o governo aumentou o investimento público - fundamentalmente em infraestrutura - em mais de US$ 500 bilhões com o intuito de manter uma elevada taxa de crescimento econômico. No Brasil, a expansão fiscal começou antes da expansão monetária devido a um "comprometimento irracional" do Banco Central (BC) com um regime de metas de inflação muito rígido. Nesse contexto, o governo Lula aprovou um pacote de estímulo fiscal no fim de 2008, constituído de aumento do investimento público, redução de impostos e aumento do salário mínimo e do seguro desemprego. A redução da taxa de juros

começou apenas em janeiro de 2009, após o colapso da produção industrial e da disseminação de rumores quanto a possível demissão do presidente do BC. Como resultado da demora no relaxamento na política monetária, o PIB declinou 0,7% em 2009.

Apesar da forte queda da produção industrial e do PIB tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento, a severidade da crise de 2008 ficou muito aquém dos resultados catastróficos verificados na década de 1930. No fim de 2009, a economia americana começou a apresentar sinais positivos de recuperação, apontando para um crescimento modesto em 2010. França e Alemanha saíram da recessão técnica em meados de 2009, o mesmo ocorrendo com o Reino Unido no último trimestre desse ano.

Os países em desenvolvimento tiveram um desempenho econômico muito superior ao dos países desenvolvidos durante a crise. O crescimento econômico da China foi de 8,5% em 2009, mostrando uma pequena redução com respeito a 2008, quando a economia cresceu 9%. A performance econômica da Índia também foi boa. Após uma expansão de 7,3% do PIB em 2008, o crescimento foi reduzido para 5,4% em 2009. A performance econômica do Brasil durante a crise não foi tão boa como a da China e da Índia. Após um crescimento robusto de 5,1% em 2008, o PIB caiu 0,7% em 2009. Em 2010, contudo, a economia brasileira apresentou uma forte recuperação, apresentando um crescimento econômico superior a 7%. Entre os Brics, apenas a Rússia apresentou uma queda forte do nível de atividade econômica.

O regime de crescimento "wage-led" foi substituído por um "finance-led".

Com efeito, o PIB da Rússia caiu 7,5% em 2009, após um crescimento de 5,6% em 2008.

A intensidade da crise financeira de 2008 coloca duas questões fundamentais para os economistas e formuladores de política econômica. A primeira questão se refere às origens da crise. A segunda se refere às consequências dessa crise para a economia mundial. Sobre essas questões se formou uma "sabedoria convencional", a qual será detalhada na sequência, mas que apresenta respostas essencialmente incorretas para as mesmas.

No que se refere à primeira questão a "sabedoria convencional" afirma que a crise financeira de 2008 foi apenas o resultado de uma regulação financeira inadequada, combinada com uma política monetária muito frouxa conduzida pelo Fed durante a administração Greenspan. Se assim for, então não será necessária a implementação de políticas que revertam a tendência ao aumento da desigualdade na distribuição de renda nos países desenvolvidos, verificada nos últimos 30 anos. Uma mudança limitada na regulação financeira e a redefinição do regime de metas de inflação de maneira a incluir a estabilização dos preços dos ativos financeiros como um dos objetivos da política monetária, por intermédio de uma espécie de "regra de Taylor ampliada", seria suficiente para evitar uma nova crise financeira no futuro.

No que se refere à segunda questão, a "sabedoria convencional" estabelece que a crise de 2008 foi apenas um desvio temporário no curso normal de eventos (um momento Minsky), de tal forma que, no futuro próximo, as economias capitalistas irão retomar a trajetória de crescimento observada antes da crise. O crescimento mundial poderá ser novamente puxado pela expansão de crédito nos Estados Unidos e a política econômica poderá voltar a ser conduzida com base no assim denominado "novo consenso macroeconômico", o qual estabelece que o objetivo fundamental, se não o único, da política macroeconômica é a estabilidade da taxa de inflação.

A crise financeira de 2008 não foi apenas o resultado da combinação perversa entre desregulação financeira e política monetária frouxa. Essas são apenas as causas próximas da crise. Mas existe uma causa mais fundamental, qual seja: o padrão de capitalismo adotado nos Estados Unidos e na Europa a partir do final da década de 1970, o qual pode ser chamado de "capitalismo neoliberal". Entre 1950 e 1973, as economias capitalistas avançadas vivenciaram uma "época de ouro" de crescimento econômico, no qual a distribuição pessoal e funcional da renda era progressivamente mais equitativa, a taxa de acumulação de capital era mantida em patamares elevados devido à existência de um ambiente macroeconômico estável (inflação baixa, juros baixos, taxas de câmbio estáveis) e forte expansão da demanda agregada. Além disso, a taxa de desemprego era inferior a 4% da força de trabalho em quase todos os países desenvolvidos (exceto, curiosamente, nos Estados Unidos). Durante esse período, os mercados financeiros eram pesadamente regulados, a movimentação de capitais

entre as fronteiras nacionais era bastante restrita, as taxas de câmbio eram fixas com respeito ao dólar americano e os salários reais cresciam aproximadamente ao mesmo ritmo da produtividade do trabalho.

A combinação entre estabilidade macroeconômica, crescimento acelerado e baixo desemprego permitia que os governos dos países desenvolvidos operassem com baixos déficits fiscais e uma dívida pública reduzida como proporção do PIB. O "Estado do Bem-Estar Social" não representava um fardo para as contas públicas.

Esse "capitalismo socialmente regulado" apresentava um regime de crescimento do tipo "wage-led", ou seja, um regime no qual o crescimento dos salários reais (num ritmo igual à produtividade do trabalho) permitia uma forte expansão da demanda de consumo, a qual induzia as firmas a realizar um volume elevado de investimentos na ampliação de capacidade produtiva, ao mesmo tempo em que mantinha as pressões inflacionárias relativamente contidas devido à estabilidade do custo unitário do trabalho.

Com o colapso do Sistema de Bretton Woods e os choques do petróleo em 1973 e 1979, o ambiente macroeconômico muda radicalmente e o mundo desenvolvido passa a conviver com o fenômeno da "estagflação". Esse ambiente macroeconômico permitiu o ressurgimento daquelas doutrinas liberais.

Após a eleição de Margareth Thatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos Estados Unidos, as políticas econômicas nos países desenvolvidos foram progressivamente pautadas pelos motes da desregulação, privatização e redução de impostos. Os mercados financeiros foram liberalizados, os controles de capitais foram abolidos nos países desenvolvidos e os impostos

foram reduzidos, principalmente sobre os mais ricos. Os sindicatos de trabalhadores foram deliberadamente enfraquecidos pelas políticas adotadas por Reagan e Thatcher, registrando-se uma forte redução da filiação sindical da força de trabalho.

O resultado macroeconômico desse novo "padrão de capitalismo" foi uma crescente desigualdade na distribuição funcional e pessoal da renda, a medida que os salários passaram a crescer num ritmo bem inferior ao da produtividade do trabalho e o sistema tributário perdeu, em vários países, o seu caráter progressivo. O aumento da concentração de renda e o crescimento anêmico dos salários reais foi o responsável pela perda do dinamismo endógeno dos gastos de consumo, notadamente nos Estados Unidos, os quais passaram a depender cada vez mais do aumento do endividamento das famílias para a sua sustentação a médio e longo prazo.

Nesse contexto, a desregulação dos mercados financeiros tornou-se funcional, uma vez que a mesma permitiu um aumento considerável da elasticidade da oferta de crédito bancário, viabilizando assim o crescimento do endividamento das famílias, necessário para a sustentação da expansão dos gastos de consumo. O aumento extraordinário do crédito bancário resultou num processo cumulativo de aumento dos preços dos ativos reais e financeiros, permitindo assim a sustentação de posturas financeiras cada vez mais frágeis (especulativa e Ponzi) por parte das famílias, empresas e bancos.

O regime de crescimento "wage-led" fora substituído por um regime "finance-led". Daqui se segue que no "capitalismo neoliberal" as bolhas e a fragilidade financeira não são "anomalias" no sistema, mas parte integrante do seu modus operandi.

No que se refere à tese de que a crise de 2008 seria apenas um desvio temporário da trajetória de crescimento de longo prazo das economias capitalistas, os eventos ocorridos depois de 2009 parecem apontar claramente para a falsidade dessa conjectura.

Com efeito, a crise de 2008 não foi apenas um "curto circuito" na máquina capitalista, o qual poderia ser corrigido por intermédio da intervenção do Estado no "mecanismo de ignição" das economias capitalistas. Isso porque o regime de crescimento do tipo "finance-led" teve como contrapartida uma elevação significativa do endividamento do setor privado nos anos anteriores a crise de 2008.

Considerando apenas os países da área do euro, constatamos que entre 1997 e 2008, a dívida das empresas não financeiras passou de 250% para 280% do PIB, o endividamento dos bancos aumentou de 190% para 250% do PIB e o endividamento das famílias aumentou em quase 50%.

Após o colapso do Lehman Brothers o setor privado nos países desenvolvidos iniciou um processo de "deflação de dívidas", no qual a "propensão a poupar" dos agentes privados é aumentada com o intuito de permitir uma redução do estoque de endividamento. Esse aumento da propensão a poupar do setor privado atuou no sentido de anular (parcialmente) o efeito sobre a produção e o emprego do aumento dos déficits fiscais.

O resultado combinado do aumento da propensão a poupar do setor privado e redução da poupança do setor público foi uma pequena recuperação do nível de atividade econômica e uma "socialização na prática" de parcela considerável da dívida privada, transferida agora para o setor público. Essa "socialização das dívidas privadas" é uma das causas da crise fiscal da área do Euro, a qual, na ausência de uma monetização parcial do endividamento do setor público dos países por ela afetados, irá resultar em vários anos de contração fiscal, retardando assim a recuperação econômica do mundo desenvolvido. A perspectiva para os países da área do Euro (e em menor medida para os Estados Unidos) é de vários anos de estagnação econômica.

Em suma, a crise financeira de 2008 foi o resultado do modus operandi do "capitalismo neoliberal" implantado no final da década de 1970 e os seus efeitos sobre o nível de produção e de emprego nos países desenvolvidos serão duradouros devido

ao elevado endividamento do setor privado, gerado por um regime de crescimento do tipo "finance-led".

José Luís Oreiro

Professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília, diretor da Associação Keynesiana Brasileira e co-editor do livro "The financial crisis: origins and implications", Palgrave Macmillan, 2011. E-mail: [email protected].

Este é o segundo de uma série de artigos feitos por renomados economistas brasileiros e estrangeiros convidados pelo Valor para discutir a crise financeira internacional e avaliar seus possíveis desdobramentos.

CORREIO DO POVO - RS | ECONOMIA

TRIBUTOS - CONTRIBUIÇÕES E IMPOSTOS 13/09/2011

Impostômetro já alcança R$ 1 trilhão

São Paulo - O Impostômetro instalado desde 20 de abril de 2005 na sede da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) atingirá hoje a marca de R$ 1 trilhão de impostos pagos pelos brasileiros este ano. Apesar de ser a maior do mundo, a carga

tributária cresceu ainda mais em 2011 (no primeiro semestre, o aumento foi de 19,4%).

Para registrar esse patamar, a Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) e a ACSP promovem um protesto nacional simultâneo com o objetivo de chamar a atenção da população brasileira para o valor dos impostos, a falta de transparência e a ausência de retorno do governo em serviços como saúde, educação e segurança ao

contribuinte. A ideia é pedir que a União, os estados e os municípios gastem menos e melhor.

CORREIO BRAZILIENSE - DF | POLÍTICA

TRIBUTOS - CONTRIBUIÇÕES E IMPOSTOS 13/09/2011 Imagem 1

Governo adia debate sobre novo imposto

O governo dá cada vez mais sinais de que não vai propor a criação de um novo imposto para a Saúde neste ano. Ontem, depois de participar da reunião de coordenação política no Palácio do Planalto, o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), descartou que a presidente Dilma Rousseff pretenda dar rapidez à discussão do tema.

"O governo federal não tomará nenhuma iniciativa neste ano para criar imposto voltado para o financiamento da área. O que o governo está fazendo bem é destinando recursos para a Saúde, o que já cumpre o que exige a Emenda 29", afirmou Vaccarezza.

O novo líder do governo no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE), assumiu oficialmente o cargo ontem com um desafio

imediato: ajudar o Planalto a conquistar apoio no parlamento a fim de definir uma nova fonte de recursos para a Saúde. Ele defende que a solução a longo prazo é a utilização dos royalties do pré-sal. Mas existe a necessidade de acertar uma alternativa para preencher o hiato de tempo até que o pré-sal comece a render lucros.

Na esteira da opinião de muitos colegas, conforme levantamento publicado pelo Correio no domingo, ele sugere o aumento de impostos para setores que "mais contribuem para a degradação da saúde pública", como álcool, cigarros e acidentes de

trânsito, por meio do Dpvat, e nega que o Planalto esteja tentando criar um tributo específico para a saúde. "Há 17 estados que não cumprem as regras da Emenda 29. De que é preciso dinheiro novo, não tenho dúvida. Mas a presidente tem deixado claro que não é simpática à volta da CPMF e quer que a gente ajude na construção de outra saída", diz.

A legalização dos jogos não é uma possibilidade que agrade ao novo líder. "Esse tema já esteve presente diversas vezes no Congresso, há uma forte divergência dos movimentos das igrejas. A matéria já foi rejeitada no segundo governo Lula", explica.

O Palácio do Planalto vai precisar do apoio de Pimentel também para aprovar a prorrogação da Desvinculação das Receitas da União (DRU). O texto está paralisado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara devido aos pedidos de vista de parlamentares da oposição e de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Para não perder o prazo - a DRU expira em 31 de dezembro -, o governo tenta fazer com que o texto seja apreciado em uma comissão do Senado, manobra que recebe a chancela de Pimentel. "Cada parlamentar tem a iniciativa constitucional para apresentar o projeto. O governo apresentou os números, mostrando que é necessária essa continuidade da DRU", afirma.

CORREIO BRAZILIENSE - DF | POLÍTICA

CONTAS PUBLICAS 13/09/2011

Caso Dirceu arquivado

A reunião de setembro do Conselho de Ética Pública da Presidência da República (CEP-PR) terminou ontem com o arquivamento da denúncia de um suposto tráfico de influencia comandando pelo ex-ministro José Dirceu, que, segundo reportagem da revista Veja, mantinha encontros com políticos em Brasília, incluindo o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e o presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli. "São somente dois cidadãos visitando um outro cidadão", justificou Sepúlveda Pertence, que lidera o conselho.

Com exceção da suspeita de irregularidade no Ministério dos Transportes envolvendo Luiz Antonio Pagot, ex-diretor-geral do Dnit, as demais denúncias analisadas pelo grupo foram arquivadas por falta de provas. A conclusão do relatório sobre o caso de Pagot foi adiada porque o conselho recebeu novos documentos do Tribunal de Contas da União (TCU).

Na saída da reunião, Pertence disse que não houve discussão sobre o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi, que pegou caronas particulares em jatinho de uma empresa de agronegócio, conforme noticiou o Correio. A representação contra o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, por causa de supostas caronas em aeronaves de empresários está entre as engavetadas.

CORREIO BRAZILIENSE - DF | BRASIL

CONTAS PUBLICAS 13/09/2011 Imagem 1

Justiça suspende obras em Guarulhos

A Justiça Federal determinou, ontem, a imediata suspensão das obras de construção do terminal remoto de passageiros do Aeroporto Internacional de Guarulhos, na grande São Paulo. De acordo com a decisão, tomada em caráter liminar pela juíza Louise Borer, da 6ª Vara Federal de Guarulhos, não há motivos para que a obra, estimada em R$ 87,75 milhões, seja feita sem licitação. Segundo a Infraero, o empreendimento foi contratado em regime emergencial para evitar colapso no fluxo de passageiros durante a Copa do Mundo de 2014.

Na decisão, a juíza critica a forma como a empresa Delta Construções S/A foi contratada para transformar o antigo hangar da Vasp, companhia que faliu, em um terminal remoto para passageiros. "Está claro que a urgência alegada não é fato excepcional, e não se origina de caso fortuito, de uma situação de calamidade pública, nada disso. É uma necessidade pública já existente há anos, que só agora se visa atender com pressa, com urgência, alegando-se prejuízos à população se não realizada a obra em 180 dias", destaca a magistrada.

A liminar foi concedida a pedido do Ministério Público Federal (MPF), que, no fim de agosto, entrou com uma ação civil pública para impedir a construção do terminal. A juíza fixou multa de R$ 100 mil por dia caso a Infraero não cumpra a decisão. Na liminar, Louise Borer também proíbe a estatal de transferir qualquer quantia para a empreiteira até o julgamento definitivo do caso.

Segundo a juíza, a não realização de licitação abre um perigoso precedente, com risco de que, no futuro, sejam realizadas contratações arbitrárias com base "em fabricadas urgências".

A previsão da Infraero é de que a nova estrutura tenha capacidade para receber até 5,5 milhões de passageiros por ano. Além da obra que terá de ser interrompida, a estatal pretende fazer do hangar da Transbrasil, que também faliu, um outro terminal remoto. A expectativa é de que o edital para a licitação dessa segunda obra seja publicado ainda este ano, com previsão de entrega até maio do ano que vem.

Em nota, a Infraero destacou "que está ciente da liminar e que vai tomar as medidas jurídicas adequadas para assegurar a manutenção das obras".

O ESTADO DE S. PAULO - SP |

CONTAS PUBLICAS 13/09/2011

Governo desiste de novo imposto e adia debate sobre recursos para saúde

Sob ameaça de derrota no Congresso e de desgaste entre a classe média, Planalto abre mão de recriar taxa nos moldes da antiga CPMF e agora vai tentar empurrar para o ano que vem a discussão sobre a Emenda 29, que amplia os gastos no setor

Rafael Moraes Moura e Karla Mendes / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

Diante do cenário de derrota no Congresso e preocupada em ficar associada a uma medida impopular no segmento no qual se julga bem avaliada - a classe média -, a presidente Dilma Rousseff abandonou o patrocínio de um novo imposto para a saúde e empurrou para 2012 a busca por fontes de receita para compensar a regulamentação da Emenda 29. A alternativa que tem uma "simpatia maior" dos parlamentares, segundo o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), é o aumento do financiamento da saúde com mais dinheiro dos royalties do petróleo.

"O governo federal não tomará nenhuma iniciativa neste ano para criar imposto voltado para o financiamento da área de saúde", disse ontem o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), depois de participar da reunião de

coordenação política no Palácio do Planalto. "O que o governo está fazendo bem é destinando recursos para a saúde, o que já cumpre o que exige a Emenda 29. O governo federal já está arcando com sua responsabilidade." A votação da Emenda 29, que fixa porcentuais a ser investidos pela União, pelos Estados e pelos municípios, está marcada para o dia 28 deste mês na Câmara dos Deputados. Ela prevê ainda a criação de um imposto para a saúde, de 0,01% - a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) era de 0,38% e foi derrubada em dezembro de 2007 pelo Senado. Os partidos vão retirar do texto a previsão de cálculo do imposto, o que, na prática, impede a criação.

Segundo Vaccarezza, o governo liberou o voto de sua bancada de apoio no Congresso. "É preciso tomar uma série de ações para melhorar a gestão, e nós estamos tomando. Depois de tudo isso, lá no futuro vamos discutir com a sociedade se isso é suficiente para dar atendimento de qualidade", afirmou.

Royalties. Na mesma direção, o presidente da Câmara disse que efetivamente "não há clima no País para aumento de imposto e carga tributária" para captar recursos direcionados à área da saúde. Segundo Marco Maia, estão sendo discutidas outras fontes para esse fim, a exemplo de soluções envolvendo os royalties do petróleo.

A proposta para os royalties do petróleo deverá ser apresentada até amanhã pela área econômica do governo, conforme promessa feita pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, aos principais líderes aliados na Câmara e no Senado, no dia 31 de agosto.

A ideia, defendida por senadores e deputados, destina parte dos royalties de poços ainda não licitados para o financiamento da saúde. Com isso, haveria dinheiro para o setor já a partir do ano que vem. Isso evita ter de esperar a produção do pré-sal, o que deverá começar a ocorrer daqui a cinco ou mais anos.

De acordo com Marco Maia, no dia 20 será realizada audiência pública com o ministro da Saúde e especialistas da área. "O tema que mais mexe com os parlamentares é o dos royalties do petróleo. A proposta que temos é que os royalties possam ser distribuídos entre todos os municípios de forma equânime e o recurso possa ser utilizado para áreas como saúde, educação, saneamento. Portanto, pode ser que, por sua relevância, a área da saúde receba um volume maior de recursos", disse Marco Maia.

PONTOS-CHAVE

A novela do imposto para a saúde

Contra a vontade

No final de agosto, o presidente da Câmara, Marco Maia, propôs antecipar a votação da Emenda 29, mesmo contra a vontade do governo

"Presente de grego"

Em seguida, Dilma, ao falar sobre a discussão da emenda, disse que aprovar mais despesas sem indicar a fonte é "presente de grego"

Novo imposto

À exceção do PT, todos os partidos defendem a aprovação da emenda sem a criação do novo imposto, batizado de Contribuição Social da Saúde (CSS)

O ESTADO DE S. PAULO - SP | NACIONAL

CONTAS PUBLICAS 13/09/2011

Prorrogação da DRU ameaça contas do FAT

Mecanismo que libera o uso pelo governo de 20% de todas as receitas do Orçamento tiraria [br]R$ 11,6 bilhões do fundo

Lu Aiko Otta e Iuri Dantas / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

O Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) poderá fechar suas contas no vermelho em 2012, caso a Desvinculação de Receitas da União (DRU) seja prorrogada, como quer o governo. Esse mecanismo retira 20% de todas as receitas "carimbadas" e autoriza que elas sejam utilizadas em qualquer outro setor no qual o governo considere mais adequado.

No caso, a DRU tiraria R$ 11,6 bilhões do fundo, cujo orçamento em 2012 é de R$ 58 bilhões. Até agora, o único déficit registrado na história do FAT, de R$ 1,8 bilhão, ocorreu em 2009, em meio à crise internacional.

O FAT só perderá esses recursos se o governo conseguir aprovar, ainda este ano, uma emenda à Constituição alongando a vigência da DRU, que acaba em 31 de dezembro de 2011. A proposta, que já está no Congresso Nacional, prevê que o mecanismo só seja extinto no fim de 2015.

O governo alega que a DRU é necessária para dar ao Executivo maior margem de manobra sobre o Orçamento da União, que é fortemente "engessado" por causa do alto volume de receitas que já são, por lei, "carimbadas" para finalidades específicas.

Há dúvida, porém, se a presidente Dilma Rousseff conseguirá que sua turbulenta base de apoio no Legislativo, que tem se mostrado tão incerta em recentes votações, aprove a emenda até o fim do ano.

A proposta já se transformou num instrumento de expressão de insatisfações da base em relação ao governo. Caso a proposta seja rejeitada, isso representará uma mudança importante nas finanças públicas. Com nomes diferentes, a DRU está em vigor ininterruptamente desde o Plano Real, de 1994.

"Fizemos o nosso orçamento para 2012 sem a DRU, porque ela só vigora até o fim deste ano", explicou o presidente do Conselho Deliberativo do FAT (Codefat), Luigi Nese.

"A conta está mais ou menos equilibrada. Por isso, se a DRU for prorrogada nós teremos déficit operacional", avisa. O valor do rombo ainda não foi calculado, segundo explicou.

Opções. Ele acrescentou que, caso a emenda do governo seja finalmente aprovada, será necessário refazer o orçamento do FAT. As despesas do fundo com o pagamento de seguro-desemprego e abono salarial estão em alta, segundo Nese, em virtude do crescimento dos empregos formais no País - que acarretam consigo o aumento, também, desses benefícios.

"Havendo déficit operacional, há duas opções: ou pegamos recursos do Tesouro ou utilizamos parte do patrimônio do fundo", explicou o presidente do Codefat. O patrimônio se constitui de recursos que estão em poder de bancos oficiais - que, por sua vez, os utilizam para financiar, por exemplo, investimentos na área de habitação.

Na dúvida quanto à existência ou não da DRU no ano que vem, o Ministério do Planejamento enviou a proposta do Orçamento da União de 2012 ao Congresso sem contar com as desvinculações. Um conjunto de receitas e despesas ficará em suspenso, condicionado à aprovação da emenda no Congresso.

Para o consultor de Orçamento da Câmara dos Deputados José Cosentino Tavares, a ausência da DRU não criará grande transtorno para o governo.

"Logo que foi criada, a DRU era importante e pegava até os recursos transferidos para Estados e municípios", comentou. "Mas, com o tempo, foram criadas muitas exceções." Saúde, educação e transferências constitucionais a governadores e prefeitos ficaram de fora da DRU, de forma que o efeito prático do mecanismo já não é tão importante. "Precisa perguntar para quem defende a DRU para que a querem tanto."

Lobby. Parlamentares ligados a áreas de segurança pública e de aposentados atuam nos bastidores para brecar a prorrogação da desvinculação. Segundo o deputado Fernando Francischini, coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Segurança Pública, o governo não tem capacidade de gerir os recursos do Orçamento, como visto na execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

> Contas

R$ 11,6 bi é quanto a DRU tiraria do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) caso seja aprovada

R$ 58 bi é o orçamento do FAT para 2012

R$ 1,8 bi foi o único déficit registrado na história do FAT, em 2009, em meio à crise internacional

31 de dezembro é o prazo para que o governo consiga aprovar no Congresso a prorrogação da vigência da DRU

CORREIO BRAZILIENSE - DF | POLÍTICA

POLITICA 13/09/2011 Imagem 1

PMDB mostra as suas armas

É um PMDB ainda insatisfeito na relação com o governo da presidente Dilma Rousseff que tentará fazer do fórum nacional do partido, marcado para a próxima quinta-feira, uma demonstração de força e uma base de lançamento da estratégia para as eleições municipais de 2012.

A estrela do encontro será o vice-presidente Michel Temer, que vive uma tardia lua de mel com a presidente Dilma, ao finalmente angariar espaço nas decisões políticas do governo. A participação maior de Temer, contudo, não tem se traduzido automaticamente em melhoria na posição do PMDB frente ao governo, avaliam companheiros de sigla.

"Há uma série de demandas represadas que passam, sim, pela questão de cargos no segundo escalão e liberação de emendas parlamentares, mas culminam na falta de espaço para o partido em meio ao processo decisório do governo", diz um parlamentar peemedebista. Nessa ótica, a clara aproximação observada entre Dilma e Temer é vista apenas como uma sinalização para possíveis avanços futuros para o partido, como integrante do governo. "No mais, a relação está como sempre esteve, as reclamações são as mesmas", afirma o político.

O foco do encontro será a disputa pelas prefeituras de todo o país em 2012. A intenção é destacar as "caras novas" da legenda, como o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e a aposta do partido para São Paulo, o deputado Gabriel Chalita, que ingressou no PMDB este ano com o passaporte para ser candidato a prefeito da capital paulista. Para aplaudi-los, o PMDB está mobilizando 2 mil pessoas e aproveitando a presença de prefeitos em Brasília em busca de recursos orçamentários.

A dimensão do encontro deixa clara também a disposição da legenda em adotar uma tática mais agressiva nas eleições do próximo ano. "O PMDB já perdeu bancada no Congresso nas últimas eleições. Se encolher também no número de prefeituras, será hora de repensar as alianças firmadas pela legenda", analisa o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Chapas

O discurso do deputado dá o tom da postura do partido na batalha pelas prefeituras. A formação de alianças terá como prioridade as candidaturas próprias da legenda. Haverá pouco espaço para ceder nas vagas principais em chapas formadas com outros partidos.

A ordem é evitar tratar de 2014 e concentrar as discussões em 2012, quando o PMDB espera continuar à frente do PT em número de prefeituras. Daí, a importância de apresentar o deputado Gabriel Chalita com toda a pompa e circunstância. A ideia é criar uma onda capaz de tornar a candidatura irreversível e mostrar aos petistas que não é nada pessoal nem contra a aliança entre os dois partidos, uma vez que 2014 não estará em discussão. Pelo menos, essa é a expectativa da cúpula partidária.

Os temas escolhidos para as palestras programadas para o fórum mostram também um PMDB mais voltado para uma pauta própria do que para o papel de reforço na agenda legislativa do Palácio do Planalto. O presidente da Frente Parlamentar da Saúde, deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), fará uma defesa acirrada da aprovação do projeto que regulamenta a Emenda 29 sem a criação de uma fonte de recursos que dê sustentação ao aumento de despesas que possivelmente decorrerá da nova legislação. Na argumentação de Perondi, há dinheiro suficiente para bancar os novos gastos, desde que se diminuam despesas com políticas hoje consideradas como estrelas do governo Dilma, como o Minha Casa, Minha Vida 2.

VALOR ECONÔMICO -SP | POLÍTICA

POLITICA 13/09/2011

PSD filia o presidente da 3ª central sindical

Por João Villaverde | De Brasília

O Partido Social Democrata (PSD) nasce com um importante trunfo no movimento sindical: Ricardo Patah, o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), a terceira maior central sindical do país, anuncia hoje sua filiação ao partido. Responsável por um orçamento que deve atingir R$ 30 milhões neste ano, e representante de pouco mais de mil sindicatos, a UGT foi a única das seis maiores centrais que permaneceu neutra nas eleições presidenciais do ano passado - as outras cinco declararam apoio à candidatura da presidente Dilma Rousseff (PT). Depois de filiar presidentes de associações comerciais em vários Estados do País, o partido agora fecha com a central sindical melhor representada entre os comerciários.

A união entre o presidente do PSD e o líder da UGT gerou um outro resultado simbólico. O presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais da Bahia, Edson Pimenta, anuncia hoje a troca partidária e sindical. Pimenta, que desde o início do ano cumpre mandato em Brasília como deputado federal pelo PCdoB, preencherá a ficha de filiação ao PSD ao mesmo tempo que transfere sua federação da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) para a UGT.

A filiação de Patah, hoje, encerra um longo período de negociações entre o líder sindical e o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que será o presidente do PSD. As sondagens de Kassab começaram em dezembro do ano passado, mas o primeiro convite foi feito em abril deste ano, quando os dois se encontraram na prefeitura. A reunião foi intermediada por Luiz Antônio de Medeiros, que acabara de assumir o cargo de secretário-adjunto de Trabalho no município. Medeiros foi fundador da Força Sindical, em 1991, central em que Patah servia de tesoureiro até o início de 2007, quando saiu para fundar a UGT.

Kassab venceu uma disputa que envolveu também o PTB e o PMDB. Amigo de Michel Temer, presidente de honra do PMDB, Patah manteve reuniões com o atual vice-presidente da República ao longo do primeiro semestre. O sindicalista também recebeu convite de Campos Machado, presidente do PTB em São Paulo, em reunião que ocorreu na UGT no início de junho.

A ideia de "construir" um partido novo foi central para a decisão de Ricardo Patah. Foi essa a avaliação vendida por Kassab ao presidente da UGT na penúltima reunião que tiveram, há duas semanas, na sede da entidade em São Paulo.

"Somos radicais de centro", disse Kassab naquela oportunidade, referindo-se ao perfil do PSD. O prefeito ofereceu a Patah um cargo na executiva nacional do partido e também deu a UGT a gestão do futuro instituto do partido. Quando Patah comentou do interesse da central em ver José Francisco, presidente da UGT no Pará e primeiro suplente a deputado estadual como titular na Assembleia Legislativa do Estado, Kassab não titubeou. Ligou ao governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), e passou a ligação a Patah. Na conversa, Jatene afirmou que "aquilo não era um problema".

A decisão foi tomada em reunião realizada na quinta-feira da semana passada, na casa de Kassab em São Paulo. O prefeito estava acompanhado de Guilherme Afif Domingos, vice-governador do Estado, e de Alfredo Cotait, secretário de Relações Internacionais da prefeitura. Cotait também é vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), interlocutora de Patah há anos - Patah é presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, entidade que representa 470 mil trabalhadores no Estado.

São os comerciários a principal categoria representada pela UGT. Além do sindicato em São Paulo, a UGT representa também a categoria na cidade do Rio de Janeiro (315 mil trabalhadores) e nos Estados do Paraná (505 mil comerciários) e da Bahia (300 mil trabalhadores). A central também representa o Sindicato dos Trabalhadores na Construção Pesada do Rio, que comanda a greve dos operários na reforma do Maracanã.

Entre abril de 2008, quando o repasse federal de recursos oriundos do imposto sindical começou, e o fim do ano passado, a UGT embolsou R$ 41 milhões - o terceiro maior orçamento, atrás apenas da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Força Sindical. Neste ano, a UGT deve receber cerca de R$ 21 milhões no reparte do imposto sindical. Os recursos representam cerca de 70% do orçamento total da entidade.

Em nota que será distribuída hoje entre os dirigentes da UGT, Patah afirma que a central "não pertence a nenhum partido

político", e que "a UGT continuará a manter amplas, respeitosas e solidárias relações com todas as organizações partidárias". A entidade conta com três vice-presidentes ligados a partidos - Davi Zaia, secretário do Trabalho no Estado de São Paulo, é o presidente do PPS no Estado; Roberto Santiago é deputado federal pelo PV paulista; e Salim Reis, vice-prefeito de Carapicuíba (SP), é presidente do DEM na cidade.

VALOR ECONÔMICO -SP | POLÍTICA

POLITICA 13/09/2011

Partido segue grandes e se organiza em diretórios

Por Cristian Klein | De São Paulo

Associado à imagem de seu idealizador, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o PSD nascerá com uma organização partidária mais semelhante a legendas grandes, como PT, PMDB e PSDB, do que às médias e pequenas, nas quais proliferam comissões provisórias que facilitam o domínio por um único cacique político ou uma oligarquia deles.

Em 23 das 26 unidades da Federação onde está sendo criado, o PSD será constituído por diretórios, com executivas eleitas e mandatos fixos. Apenas em três - Amapá, Maranhão e Pará - a sigla começa com comissões provisórias. O Rio Grande do Sul é o único Estado onde Gilberto Kassab ainda não encontrou nomes para liderar o partido.

Os idealizadores do PSD ainda aguardam do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o registro de criação do partido.

A organização em diretórios, em tese, diminui as chances de Kassab se tornar uma espécie de dono do partido.

"Essa foi a orientação que recebi do próprio Kassab e do Saulo [Queiroz, secretário-geral]: que o partido se constitua de forma autônoma. O diretório é a segurança jurídica e política para quem quer aderir lá na base", diz o advogado do partido, Admar Gonzaga.

Mais da metade das executivas estaduais das siglas brasileiras são comissões provisórias, que podem ser dissolvidas a qualquer momento pela direção nacional.

O PT, com nenhuma, e o PMDB, com apenas duas, são os que têm menos. PV e PR, com comissões em todos os Estados, estão entre os campeões deste ranking, geralmente associado a uma maior ou menor democracia no interior dos partidos.

"São partidos mais cartoriais, de gaveta, que podem destituir os órgãos de direção estaduais com uma canetada. O PSD não terá isso, a não ser que haja uma justificativa plausível", afirma Gonzaga, citando entre as possibilidades a desobediência a diretrizes partidárias, os desvios éticos ou o "péssimo desempenho eleitoral".

Nos municípios, porém, o PSD está sendo constituído essencialmente por comissões provisórias. Caso esse modelo prevaleça, terá um perfil mais parecido com PSDB e DEM do que com PT e PMDB.

VALOR ECONÔMICO -SP | POLÍTICA

POLITICA 13/09/2011

Lula articula reforma política com aliados

Por Cristiane Agostine | De São Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou ontem que continuará à frente das articulações com partidos da base governista sobre o projeto de reforma política em tramitação no Congresso. Lula reuniu-se com parlamentares do PT, convocou uma reunião para sexta-feira com a cúpula do PSB, PCdoB e PDT e disse que conversará nos próximos dias com o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), para negociar propostas como financiamento público de campanha e voto em lista.

Na sede do Instituto Lula, em São Paulo, o ex-presidente reuniu-se por cerca de duas horas com o relator do projeto de reforma política na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), e lideranças do PT. Segundo o presidente da Fundação Perseu Abramo, Nilmário Miranda, Lula busca convergência em temas polêmicos. "Quando Lula era presidente, tinha limitações para discutir sobre a reforma política porque havia posições antagônicas na base governista. Ele não queria afetar a governabilidade. Dilma agora tem os mesmos constrangimentos e fala genericamente sobre essa reforma. Lula não. Ele não tem que gerenciar a governabilidade", comentou Miranda, ex-ministro de Lula. "Ele é um agente político".

Participaram do encontro os deputados Ricardo Berzoini (SP) e Érika Kokay (DF), que integram a comissão temática na Câmara, o vice-presidente da Perseu Abramo, Elói Pietá, e os ex-ministros Paulo Vanucchi e Luiz Dulci. Lula falou sobre o financiamento público de campanha e o voto em lista ordenada pelos partidos. Sobre este tema, elogiou o sistema proporcional mistro proposto pelo relator, que mescla o voto em lista com o voto direto.

Durante a reunião, Lula informou os petistas sobre a convocação de um encontro com os presidentes do PSB, PCdoB e PDT em um hotel de São Paulo.

Nos oito meses que se passaram desde o fim de seu mandato, o ex-presidente tem demonstrado influência no Congresso, em decisões do governo e no PT. Um dos exemplos recente se deu no fim do mês passado, quando o petista reuniu-se na sede de seu instituto com o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, e o ministro da Educação, Fernando Haddad para debater a implementação do piso nacional do magistério. Na conversa, pediu informações sobre o motivo de o piso ainda não ter entrado em vigor. Naquele dia, Lula conversou também com quatro pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo, na tentativa de emplacar a candidatura de Haddad em 2012.

O GLOBO | O PAÍS

POLITICA 13/09/2011

Volta de nova CPMF é descartada

Governo liberará aliados para votar Emenda 29, da Saúde, e diz que melhorará gestão do setor

Chico de Gois [email protected]

Catarina Alencastro [email protected]

BRASÍLIA

O governo não vai defender a aprovação de um tributo para financiamento exclusivo da Saúde, ao menos este ano. Antes de pensar em novo imposto, o governo se propõe agora a melhorar a gestão da Saúde. Em reunião da coordenação de governo, ontem, no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff, ministros e líderes no Congresso também decidiram liberar as bancadas governistas para votar como quiserem a regulamentação da Emenda 29. A votação está prevista para o próximo dia 28, na Câmara.

O texto principal, aprovado desde junho de 2008, cria a Contribuição Social para a Saúde (CSS), nos moldes da antiga CPMF. Mas há um acordo entre praticamente todos os partidos para aprovar um destaque apresentado pelo DEM, que elimina o artigo prevendo taxação de 0,1% sobre movimentações financeiras. Sem esse artigo, o novo tributo se torna inviável. É para essa votação que o governo vai liberar os aliados.

Embora tenha dito, em entrevista exibida domingo pelo "Fantástico", da TV Globo, que são necessários mais recursos para uma Saúde de qualidade, Dilma não quer arcar com o ônus político de criar um tributo. Ao "Fantástico", Dilma afirmou que a população foi contrária à antiga CPMF porque os recursos não foram direcionados exclusivamente para a Saúde, como deveria ter ocorrido.

- Não terá nenhuma iniciativa do governo neste ano para imposto, como está se discutindo. O que o governo federal já está fazendo bem é destinando recursos para a Saúde. Já cumpre o que exige a Emenda 29 - disse o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), ao final da reunião de coordenação no Planalto.

Segundo Vaccarezza, o governo está tranquilo sobre a votação da Emenda 29. Ele afirmou que o governo já cumpre a sua parte, aumentando anualmente os gastos em Saúde, o que não ocorre com alguns estados e municípios. Antes de defender novo imposto, disse o líder, o Planalto vai trabalhar para melhorar a gestão:

- Tem que se tomar uma série de ações para melhorar a gestão, e estamos tomando. A principal vai ser o cartão da Saúde (Cartão SUS), que vai melhorar bastante. Depois de tudo isso, lá no futuro, vamos discutir com a sociedade se, cumprindo a Emenda 29 e com estados e municípios cumprindo suas obrigações, os recursos são suficientes para dar um atendimento de qualidade e universal para a Saúde - afirmou Vaccarezza.

O Cartão SUS prevê a informatização do sistema, de forma a permitir prontuários eletrônicos para os usuários e maior controle sobre os procedimentos realizados pelos hospitais e conveniados.

Estados maquiam orçamentos, diz líder

Os governadores, se desejarem um tributo para o setor, precisarão brigar pela aprovação da CSS. Pressão que também não deve ocorrer, devido ao desgaste político que a medida causaria. Os governadores tentam um consenso sobre essa questão, mas estão divididos.

Vaccarezza lembrou que governos estaduais estão maquiando seus orçamentos, na tentativa de demonstrar que aplicam em Saúde os 12% de suas receitas correntes, como já estabelece a Emenda 29 desde sua aprovação, em setembro de 2000. A regulamentação que será votada agora estabelece regras mais rigorosas para a aplicação correta do percentual:

- Alguns estão maquiando o seu orçamento, a sua execução orçamentária, colocando como gastos de Saúde o que não são gastos de Saúde. Isso (a regulamentação) vai significar um pouco de recursos a mais.

Após sua primeira reunião de coordenação como novo líder do governo no Congresso, o senador José Pimentel (PT-CE) desconversou ao ser perguntado sobre a criação de um imposto para custear a Saúde. Mas frisou que a Saúde, depois que perdeu a CPMF, precisa de mais recursos:

- Inegavelmente, foram retirados R$40 bilhões, e precisamos de mais recursos. Mas também há 17 estados que não cumprem o que a Constituição estabelece em termos de gastos com Saúde.

A execução do Orçamento da União para a Saúde, porém, cresce ano a ano, apesar do fim da CPMF, que deixou de ser cobrada em janeiro de 2008.

O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), voltou a afirmar ontem que a Casa não deve aprovar novo imposto. Esse diagnóstico ajudou o governo a desistir de comprar briga com os deputados e insistir na CSS.

COLABOROU Geralda Doca

oglobo.com.br/pais

O GLOBO | O PAÍS

POLITICA 13/09/2011

Projetos anticorrupção estão parados há mais de 15 anos no Congresso

Levantamento é da Frente Parlamentar Mista de Combate à Corrupção

Juliana Castro [email protected]

Enquanto a população vai às ruas em passeatas contra a corrupção, deputados e senadores resistem à ideia de colocar em pauta os mais de cem projetos anticorrupção que tramitam nas duas Casas. Das 102 propostas engavetadas no Congresso, 21 estão prontas para ir a plenário. Algumas permanecem paradas há mais de 15 anos. Há ainda 17 projetos que foram arquivados.

O levantamento, atualizado até maio deste ano, foi feito pela Frente Parlamentar Mista de Combate à Corrupção. Os projetos foram classificados em 13 categorias. No total, 51 textos dizem respeito a leis para impor maior rigor no combate à corrupção (aumentando penas, ampliando prazos de prescrição ou tornando inafiançáveis os crimes) e maior transparência em gastos públicos (incluindo cartões corporativos) e campanhas eleitorais.

Entre os projetos engavetados estão o que cria varas para julgar ações de improbidade administrativa, o que tipifica o crime de enriquecimento ilícito de funcionário público, o que torna hediondos e passíveis de prisão temporária os crimes de peculato, corrupções passiva e ativa e o que extingue o foro privilegiado para deputado federal e senador.

O GLOBO | O PAÍS

POLITICA 13/09/2011

PMDB ficará contra PT sobre regulação da mídia

Peemedebistas aprovarão, em encontro partidário esta semana, texto com defesa da liberdade de imprensa

Maria Lima [email protected]

BRASÍLIA. Duas semanas depois da realização do Congresso Nacional do PT - no qual foi aprovada resolução a favor da regulação da mídia -, o segundo maior partido da base do governo, o PMDB, decidiu adotar posição oposta. Os peemedebistas pretendem aprovar, no fórum nacional que realizarão nesta quinta-feira, um texto com a defesa intransigente da liberdade de imprensa e contra qualquer regulação. O partido vai reafirmar também sua posição contra a criação de um novo imposto para financiar a Saúde.

Segundo o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, deputado Eliseu Padilha (RS), que cuida da parte programática, o PMDB vai condenar a criação de qualquer imposto ou aumento de carga tributária para custear a Saúde na votação da

Emenda 29, e também contra qualquer regulação da mídia:

- O documento, certamente, trará uma manifestação clara sobre mídia, a favor da liberdade de imprensa e contra qualquer restrição, constrangimento ou o que leve a mídia a ser submetida a uma prévia avaliação. Regulação de mídia não se incorpora às práticas das modernas democracias - disse Padilha.

No encontro de quinta-feira, o partido do vice-presidente Michel Temer vai dar o pontapé na campanha para a eleição municipal. Haverá grande destaque para as candidaturas de Gabriel Chalita, em São Paulo, e de Eduardo Paes, no Rio. O PMDB quer reforçar a candidatura de Chalita, como forma de reagir às investidas do ex-presidente Lula para tirá-lo da disputa em São Paulo em favor do seu candidato: o ministro da Educação, Fernando Haddad.

O fórum nacional é resultado da peregrinação que o presidente do PMDB, senador Waldir Raup (RO), fez a todos os estados para fazer uma costura prévia das alianças para as eleições do ano que vem. Ele apresentará um documento prévio para ser debatido nas instâncias regionais. O documento será fechado em congresso nacional do partido no final do ano e ditará o comportamento do PMDB até a eleição municipal.

- Vamos reunir a Executiva antes para definir algumas bandeiras para o partido. O Lula, no encontro com o Chalita, até incentivou sua candidatura, disse que ele tem potencial. Quem sabe ele não apoia o Chalita? Não perderia um ministro (Haddad) e ganharia um prefeito - afirmou Raupp.

Em 24 capitais, PMDB já tem candidatos a prefeito

As candidaturas do PMDB em 24 capitais já estão definidas. Só falta fechar Goiânia e Porto Alegre. No caso de São Paulo, Chalita foi designado estrategicamente para fazer uma palestra sobre "Educação emancipadora", em contraponto a seu concorrente no campo governista. Raupp disse que as diferenças entre os dois começarão a aparecer ao longo da campanha. Ele negou qualquer possibilidade de renúncia, pretendida por Lula.

Em pesquisas internas, Chalita aparece com 9% de intenções de votos antes de começar a campanha, contra 2% de Haddad mesmo com o apoio de Lula. No evento de quinta-feira, Chalita fará palestra sobre Educação, e Eduardo Paes, sobre Segurança.

- Não tem essa possibilidade de eu renunciar. Sou uma aposta do PMDB, estou filiando muitos jovens, e já apareço em todas as inserções do partido a partir de ontem (domingo). Vamos ver se o Haddad vai ser mesmo meu adversário. O PT tem todo direito de lançar um candidato. Mas haverá uma relação de elegância, espero, porque somos os dois partidos da base. Esse fórum vai dar um destaque grande a mim e ao Eduardo Paes, porque representamos as duas principais capitais, Rio e São Paulo - disse Chalita.

A presidente Dilma Rousseff foi convidada por Raupp para o coquetel de encerramento do fórum, mas ainda não confirmou presença.

CORREIO BRAZILIENSE - DF | ECONOMIA

ECONOMIA 13/09/2011 Imagem 1

Dólar fecha a R$ 1,709

Depois de um longo período ladeira abaixo e de provocar enormes estragos na indústria nacional, o dólar recuperou o fôlego e superou, pela primeira vez neste ano, R$ 1,70. Parte da força da moeda norte-americana decorreu do pessimismo com a economia mundial e do fantasma de um calote na Grécia. Temendo o pior, os investidores buscaram proteção na divisa e em títulos do Tesouro dos Estados Unidos com vencimento em 10 anos, considerados ativos mais seguros em tempos de crise. Assim, o dólar encerrou as negociações de ontem com alta de 1,93%, cotado a R$ 1,709 - a oitava valorização seguida e o nível mais elevado desde 17 de dezembro de 2010. Foi o maior avanço da moeda em um único dia nos últimos 16 meses. No

mês, o dólar acumula alta de 7,34% e, no ano, de 2,58%.

O medo que tomou conta do mercado levou empresas e bancos brasileiros, que, juntos, têm dívida externa de US$ 232,2 bilhões, a comprar dólares para se protegerem. "Todos correram para fazer hedge, um seguro contra oscilações bruscas de preços. As empresas e os bancos que devem em dólar precisam ter esse tipo de operação para não arcarem com prejuízos inesperados", explicou José Roberto Carreira, economista da Fair Corretora.

Importados

O Banco Central, por sua vez, botou o pé no freio e diminuiu as intervenções no mercado. A média diária de compras de dólares caiu cerca de 80% nos primeiros dias de setembro quando comparado a julho e agosto. O BC sabe que, se comprar demais a divisa norte-americana, pode estimular uma alta ainda maior e pressionar a inflação. Mas, para Carreira, não há com o que se preocupar. Um dólar entre R$ 1,75 e R$ 1,80 não gera peso extra sobre os preços da economia, além de ser um bom nível para as indústrias, que têm reclamado da valorização do real, do excesso de importados no país e da perda de competitividade no exterior. "A inflação só sentirá a arrancada do dólar se a cotação bater em R$ 2,30", calculou.

Mário Paiva, analista da Corretora BGC Liquidez, avaliou que a tendência de alta da moeda norte-americana é de curto prazo. Ele argumentou que a divisa disparou porque, além de toda a aversão ao risco, há escassez de dólares. As medidas do BC, taxando as apostas dos bancos a favor da valorização do real, secaram o fluxo de recursos estrangeiros para o país. Segundo ele, com as limitações, os investidores inverteram as posições e passaram a acreditar na valorização do dólar.

CORREIO BRAZILIENSE - DF | ECONOMIA

ECONOMIA 13/09/2011

Selic pode cair até 10%

O mercado refez todas as projeções para a taxa básica de juros (Selic), a inflação e o crescimento neste ano e em 2012. Depois da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de agosto, na qual a Selic caiu de 12,50% para 12% ao ano, surpreendendo os analistas, os economistas se viram obrigados a rever seus números. O boletim semanal Focus, pesquisa do Banco Central que reúne as estimativas dos principais analistas do país, trouxe queda na previsão da taxa básica no fim do ano: de 12,38% para 11%. Em 2012, o ajuste foi de 11,88% para 11%.

Mesmo com o mantra do BC, de que o recrudescimento da crise internacional reduzirá as pressões inflacionárias que corroem o orçamento das famílias, sobretudo as mais pobres, os analistas elevaram as expectativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para o sistema de metas do governo. Para este ano, passaram de 6,38% para 6,45%. Em relação a 2012, as projeções pularam de 5,32% para 5,40%. "O grande desafio da autoridade monetária é a inflação deste ano. Não pode, de jeito nenhum, deixar o IPCA estourar o teto da meta, de 6,5%. O ano que vem ainda está longe para previsões mais precisas. Muita coisa pode mudar", ponderou Rossano Oltramari, analista-chefe da Corretora XP Investimento.

Na avaliação de Jason Vieira, economista da Corretora Cruzeiro do Sul, o Banco Central está dando pouca importância às expectativas do mercado. "O BC deveria ficar mais preocupado", disse, pois as projeções dos analistas acabam alimentando a inflação. Ele reconheceu, porém, que os juros continuarão baixando. "No meu cenário, serão mais duas quedas de 0,5 ponto percentual", afirmou. Mauro Schneider, economista-chefe do Banif, acrescentou: "A Selic baixará até os 10% nas primeiras reuniões do Copom de 2012". Já as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) caíram de 3,67% para 3,56%, em 2011, e de 3,84% para 3,80% no próximo ano. (VM)

O ESTADO DE S. PAULO - SP | ECONOMIA E NEGÓCIOS

ECONOMIA 13/09/2011

Governo grego admite risco de falência

Caso não receba uma nova parcela de 8 bilhões de euros relativa ao empréstimo de 110 bilhões de euros até outubro, autoridades afirma que país pode quebrar

Andrei Netto - O Estado de S.Paulo

CORRESPONDENTE / PARIS

O governo da Grécia confirmou ontem que está de fato ameaçado de falência. E, caso não receba ajuda externa, o fim da linha está próximo: outubro. O anúncio foi feito por ninguém menos que o vice-ministro de Finanças do país, Filippos Sachinidis, em entrevista à grega TV Mega.

As declarações visam a pressionar o Parlamento do país e a opinião pública a aceitarem os novos ajustes, no valor de ? 2 bilhões, exigidos pela União Europeia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Sachinidis assegurou que o Estado grego ainda estaria preparado para enfrentar o próximo mês, mas não garantiu além disso. "Nós temos margem de manobra até outubro. Tentaremos fazer com que o Estado possa continuar a funcionar sem problemas", declarou.

A entrevista também visava aos parceiros europeus, que ainda seguram uma nova parcela de ? 8 bilhões relativa ao empréstimo de ? 110 bilhões concedido em maio de 2010.

No fim de semana, o governo grego anunciou a adoção de novos impostos para cobrir a queda de 2 bilhões nas receitas do país, disseram duas autoridades seniores do FMI com conhecimento do assunto.

Representantes da troica, o grupo formado por União Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e FMI, retornam ao país nesta semana para avaliar as contas públicas e analisar se Atenas está fazendo todos os esforços necessários para fazer recuar seu déficit público e seu nível de endividamento.

Na semana passada, os representantes da troica interromperam as negociações, em Atenas, e deixaram o país em meio a discordâncias.

Ontem, o comissário europeu de Finanças, Olli Rehn, elogiou a iniciativa do primeiro-ministro grego, George Papandreou, que no fim de semana elevou a carga tributária para enfrentar a falta de liquidez.

Ainda no fim de semana, o ministro da Economia da Alemanha, Philipp Rösler, afirmou que a falência grega não é mais um tabu na Europa. Ontem, ele voltou a público, em entrevista ao jornal Die Welt, com um discurso mais complacente. "A Alemanha quer que a Grécia continue membro da zona do euro", afirmou Rösler. No entanto, o ministro ponderou que a ajuda ao país não é automática, e depende do programa de reestruturação em curso em Atenas. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Socorro

O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou a aprovação de uma tranche de EUR 3,98 bilhões de seu programa de crédito para Portugal.

O ESTADO DE S. PAULO - SP | ECONOMIA E NEGÓCIOS

ECONOMIA 13/09/2011

Pela 1ª vez no ano, dólar supera R$ 1,70

Investidores temem calote da dívida grega e fogem para a moeda americana; alta em 2011 atinge 3% e já há quem projete efeito na inflação

Leandro Modé

Pela primeira vez em 2011, o dólar encerrou um dia valendo mais de R$ 1,70. Em meio às tensões provocadas pela crise europeia, a moeda americana teve a sétima valorização em oito sessões e fechou a segunda-feira cotada a R$ 1,715, alta de 2,02%. No ano, acumula avanço de 3,06% ante o real.

Ninguém se arrisca a dizer que a tendência de subida veio para ficar - depende da própria evolução da crise. Mas uma coisa é certa: por ora, o cenário em que a moeda poderia se aproximar de R$ 1,50, que tanto preocupava o governo, está descartado.

O desconforto causado pela forte valorização da moeda já leva alguns analistas a pedir mudança de atitude do Banco Central (BC), que continua comprando dólares no mercado. "Já era para ter parado (de comprar)", disse Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria. "O BC tem de se preparar para começar a vender."

Segundo ele, o BC adquiriu cerca de US$ 4,5 bilhões em agosto. Em setembro, porém, o ritmo diminuiu. Nos dias 1 e 2, a média diária de compras segundo o próprio BC foi de US$ 36,5 milhões, ante US$ 83 milhões na última semana de agosto.

O temor de especialistas como Blanche é o efeito que o câmbio mais desvalorizado pode ter na inflação, que já está pressionada. O dólar mais caro afeta os preços dos importados.

Nas contas dos analistas da Tendências, se o dólar permanecer na faixa de R$ 1,70, a estimativa para o IPCA de 2011 vai para 6,81%, ante 6,60% no cenário com a moeda em R$ 1,60. IPCA é o índice oficial de inflação, cuja meta anual é de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos para cima ou para baixo.

O vice-presidente de Tesouraria do Banco WestLB, Ures Folchini, aponta quatro razões para a recente valorização da moeda americana. A primeira é uma mudança cada vez mais evidente no chamado mix de política econômica do governo Dilma, que privilegia o crescimento em detrimento da inflação na meta.

É por isso que o BC já teria iniciado, há duas semanas, uma sequência de quedas do juro básico (Selic), de 12,50% para 12% ao ano. O segundo fator diz respeito às ações do governo para conter a alta do real ante o dólar.

O terceiro ponto é um movimento de empresas de remeter dinheiro para as matrizes no exterior. Por fim - razão que preponderou ontem -, a crise europeia. "Hoje (ontem) há clara aversão ao risco", afirmou.

Crise sem fim. O medo dos investidores cresceu no fim de semana por causa dos rumores de que a Grécia poderia decretar um calote de sua dívida pública, o que agravaria ainda mais a crise na zona do euro. Se a Grécia não honrar seus compromissos, haverá impacto no sistema bancário, que tem pesada exposição a títulos gregos. Como não há estimativa confiável do tamanho dessa exposição, teme-se que, em breve, a região volte a viver um cenário semelhante ao de 2008: o chamado credit crunch.

Em outras palavras, bancos param de emprestar para outros bancos com medo de não receber o dinheiro de volta. Com isso, interrompe-se o crédito e trava-se a atividade econômica.

Ontem, as bolsas europeias tiveram expressivas quedas. No Brasil e nos EUA, a tensão arrefeceu depois de o Financial Times informar que a China estuda comprar bônus da Itália, outro país sob pressão. O Índice Bovespa perdeu 0,17%. Nos EUA, o Índice Dow Jones subiu 0,63%.

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ECONOMIA 13/09/2011

Contradições na Eurolândia - Celso Ming

Contradições na Eurolândia

Pior que a crise europeia são as inconsistências entre o que dizem e fazem - e mesmo só entre o que dizem - os dirigentes. Assim, vão tropeçando em contradições e em omissões. As duas últimas mostram que não há em quem confiar.

Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou documento em que advertia que os bancos europeus deveriam reforçar seu capital em ao menos 200 bilhões de euros para enfrentar a deterioração dos seus ativos. Em seguida, a própria diretora-gerente do FMI, a francesa Christine Lagarde, corroborou o alerta. No entanto, sábado, a mesma Lagarde veio a público e desmentiu o que ela e o FMI tinham sustentado.

Não ficou claro quem errou e por quê. Mas não é difícil imaginar o que aconteceu. Todas as recomendações de segurança bancária exigem a marcação a mercado dos títulos que estão no balanço dos bancos. E a marcação a mercado aponta para forte desvalorização de uma penca de títulos de dívida da zona do euro, especialmente de Grécia, Portugal, Irlanda, Itália e Espanha. Mas as autoridades não querem admitir que esses títulos já não valem o que está nos contratos. Isso implicaria aceitar desastres ou quase desastres em série.

O primeiro é o balanço irrealista do Banco Central Europeu (BCE) que, desde maio de 2010, comprou 143 bilhões de euros em títulos de dívida do bloco.

Segundo, a deterioração dos balanços de boa parte dos bancos europeus e a admissão de que os tais testes de estresse a que foram submetidos há somente dois meses não passaram de um bom teatro.

E, terceiro, se é verdade que a quebra (default) da Grécia está por um fio, o mesmo serve para o equilíbrio patrimonial dos bancos credores. E isso não vale só para os bancos gregos. Vale também para os outros credores de títulos dos países em perigo. Em ambiente de perda crescente de credibilidade, o contágio é inevitável.

É por isso que - relatou nesse fim de semana a revista Der Spiegel - o governo de Berlim tem um plano B para salvar os bancos alemães, dando razão à versão do FMI que pede o reforço do capital dos bancos. E, se os bancos alemães precisam de mais capital, por que não os demais?

A outra inconsistência dos dirigentes foi revelada pela demissão de Jürgen Stark, representante da Alemanha na direção do BCE. Desta vez, a razão real não pôde ser ocultada: Stark saiu por discordar abertamente da atual política do BCE de recompra no mercado secundário de títulos de países do euro. É a segunda demissão em cinco meses. Em abril saiu Axel Weber, que também desistiu de se candidatar à presidência do BCE, com cuja política não concordava.

O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, argumenta que recomprar títulos é essencial para garantir o futuro do euro, por dar mercado para títulos rejeitados e permitir a redução dos juros que esses países terão de pagar. Fora isso, adverte que essas operações não produzem inflação.

Mas essa política produz dois efeitos adversos. O primeiro é a concessão de aval disfarçado do BCE para títulos soberanos. O segundo, o aprofundamento do chamado risco moral, por sustentar rombos orçamentários ilegais de um punhado de países do euro.

Nesse ambiente carregado de contradições e de perda de credibilidade, o mercado financeiro responde como pode. Além da queda geral do valor dos títulos dos países da periferia do euro, vai derrubando as cotações dos bancos europeus.

CONFIRA

Apenas nos primeiros oito dias úteis de setembro (até ontem), a cotação do dólar em reais subiu 7,6%, produzindo correspondente desvalorização do real. Ou seja, o primeiro efeito da deterioração das condições externas sobre a economia brasileira não foi desinflação; deve ser, ao contrário, mais inflação, a que é produzida com o aumento dos preços em reais dos produtos importados.

Mais exportações

As receitas com exportações de 2011 até sexta-feira acumulam US$ 173,5 bilhões. O total do ano poderá ultrapassar os US$ 270 bilhões.

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ECONOMIA 13/09/2011

O divórcio entre salários e produtividade (2)

Nada mais desejável para um país do que ganhos crescentes de remuneração. É o que está ocorrendo no Brasil. Os sindicatos laborais estão tirando proveito de uma demanda interna que ainda está aquecida combinada com uma clara falta de mão de obra.

Grande parte dos pleitos sindicais vem sendo atendida. Para os metalúrgicos do ABC, as empresas concederam aumento real de salários de 5% para os próximos dois anos. Para os metalúrgicos do Paraná, a Renault acertou aumentos reais de 2,5%, 3% e 3,5% para o período de 2001 a 2013, mais Participação nos Lucros e Resultados (PLR) de R$ 12 mil, R$ 15 mil e R$ 18 mil, além de um abono anual de R$ 5 mil, reajustável. Os metalúrgicos de São José dos Campos conseguiram aumento salarial de 10,8%, além do atendimento de várias cláusulas sociais.

Aumentos elevados são sempre bem-vindos quando acompanhados de ganhos de produtividade. Esse não é o caso, em especial, no setor manufatureiro. Um estudo realizado pelo Banco Central indicou que, entre 2007 e 2010, o salário real da economia em geral cresceu 11%, enquanto a produtividade aumentou apenas 3%. O abismo é colossal e está se agravando. Os dados referentes ao primeiro semestre de 2011 para a indústria paulista revelam que a folha de salários aumentou 3,5% em termos reais, enquanto a produtividade subiu apenas 0,1% (fonte: Fiesp).

Esse descasamento é preocupante. Quando ocorre, as empresas são forçadas a aumentar os preços, a reduzir o lucro ou a diminuir a produção. Vários ramos do setor manufatureiro vêm enfrentando forte pressão dos concorrentes (interna e externamente), não havendo espaço para aumento de preços. Para eles têm sobrado as alternativas de reduzir o lucro ou desacelerar a produção.

Uma análise dos balanços das cem maiores empresas industriais mostrou que, em 2010, a lucratividade ficou estável em relação a 2009, que foi um ano de recessão. Ao retirar desse grupo a Petrobrás e a Vale, o lucro médio caiu 1,4% (fonte: Valor-Data). A persistir nessa trajetória, isso comprometerá os investimentos futuros e a geração de empregos.

É verdade que o Brasil continua a bola da vez no cenário mundial. Os americanos e europeus estão com inveja do que ocorre nestas bandas. Mas o quadro está mudando, dando sinais de desaceleração. De julho a agosto de 2011, os estoques indesejáveis subiram de 6,5% para 9,5%. É intrigante ver que muitas das empresas que concederam aumentos generosos (em especial as montadoras) estão reduzindo a produção e concedendo folgas e férias antecipadas aos seus funcionários.

O crescimento do emprego também perde fôlego. Nos últimos dois meses foram gerados cerca de 340 mil empregos, ante 430 mil no mesmo período de 2010 - ou seja, 26% a menos. No setor manufatureiro, a redução do ritmo foi de 40%. O emprego industrial para 2011 deve crescer apenas 0,5%, bem abaixo dos 3,5% observados em 2010.

Com um quadro desse tipo, fica difícil entender a razão de reajustes tão elevados nas negociações coletivas e bem acima da inflação, que já está altíssima.

Teriam essas empresas uma margem de lucro tão grande que lhes permite aumentar as remunerações - impunemente - acima da produtividade? Ou estariam elas num beco sem saída por causa da forte escassez de mão de obra?

Se for o primeiro caso, elas poderão sobreviver enquanto durar a gordura. Se for o segundo, elas comprometerão o próprio quadro geral do emprego, porque, historicamente, primeiro, desaquece a indústria; depois, o comércio e serviços; e, por fim, o mercado de trabalho. Já há sinais de redução do ritmo de crescimento do emprego no varejo e nos serviços, assim como nas prefeituras e nos Estados.

Tudo isso é uma sugestão para ter mais realismo nas negociações salariais, pois em 2011 podemos estar gestando sérios problemas para 2012.

PROFESSOR DA FEA-USP, MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, É PRESIDENTE DO CONSELHO DE EMPREGO E RELAÇÕES DO TRABALHO DA FECOMÉRCIO DE SÃO PAULO. SITE: WWW.JOSEPASTORE.COM.BR

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ECONOMIA 13/09/2011

Mantega critica falta de sintonia na zona do euro

Para ministro da Fazenda, os países da região têm instrumentos para controlar a crise, mas precisam decidir ""qual é o caminho que vão trilhar""

Beatriz Abreu / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, criticou a falta de sintonia entre os países da União Europeia e o estado de letargia dos líderes do continente pelo agravamento da crise da Grécia, que abalou os mercados ontem, mais uma vez, diante do risco de calote e suspensão dos pagamentos.

"Uma maior sintonia entre os países da União Europeia facilitaria a definição das ações dos governos europeus", afirmou o ministro. "A situação está se agravando devido a essa falta de sintonia entre os líderes." Ele foi cauteloso, evitou falar em calote, mas não escondeu sua preocupação. Lembrou que em 2008 (na crise do subprime, nos Estados Unidos) "todo mundo aprendeu que não se deve deixar um banco quebrar". "Imagina um país!", alertou.

Na crise financeira dos Estados Unidos, que ainda impacta a economia mundial, o governo americano não salvou e deixou o banco Lehman Brothers quebrar, arrastando todo o mercado financeiro mundial.

Na avaliação sobre a situação financeira internacional que apresentou à presidente Dilma Rousseff durante reunião de coordenação política, ele garantiu que os líderes europeus têm condições e instrumentos para salvar a Grécia. "Eles têm todos os instrumentos para controlar a situação. Há o fundo que foi criado para socorrer os países e a própria ação do Banco Central Europeu", insistiu Mantega.

Ele considera, porém, que a situação é grave e "a cada dia que passa fica pior". Os líderes europeus, disse o ministro, têm que decidir "qual é o caminho que vão trilhar". Ele defende uma solução organizada que explicite, por exemplo, "quem vai capitalizar os bancos", se o Banco Central Europeu vai emitir novos bônus ou não, se será feito um alongamento da dívida grega. "Eles precisam agir", disse.

Na entrevista à Agência Estado, o ministro focou a questão bancária e reconheceu que o agravamento da crise na Grécia pode provocar maior volatilidade nos mercados e maiores dificuldades para os bancos fecharem suas posições no chamado mercado interbancário. Nesses momentos de crise de confiança, como a que acontece na Grécia, a ausência de solução provoca uma escassez de recursos. "Os mercados secam", comentou. Por isso, defendeu que se um banco tiver dificuldades, os governos "da França, Alemanha, Itália" e de qualquer outro país "têm que garantir" a solvência da instituição.

Precipitação

O ministro Guida Mantega atribuiu o agravamento da crise na zona do euro à decisão dos governos de retirarem "muito rapidamente" as medidas de estímulo à atividade econômica.

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ECONOMIA 13/09/2011

Crise das dívidas soberanas atinge bancos da França

Ações do grupo Société Générale, dono de um banco na Grécia, caíram ao seu menor valor em 20 anos

Andrei Netto - O Estado de S.Paulo

CORRESPONDENTE / PARIS

O sistema financeiro da França é o novo epicentro de todas as dúvidas nas bolsas de valores da Europa. Ontem, em mais um dia de turbulência provocada pelos crescentes rumores sobre a falência da Grécia, alguns dos maiores bancos do país voltaram a despencar na avaliação dos investidores. Ao longo do dia, o francês Société Générale atingiu seu menor valor em mais de 20 anos. Grandes detentores de títulos das dívidas soberanas grega, espanhola e italiana, os bancos franceses agora também são acossados por agências de rating como Moody""s.

A contaminação indireta da França pela crise das dívidas soberanas que se espalha pela Europa se cristalizou, mas não da forma como se imaginava. Há um mês, rumores sobre o rebaixamento da nota do país por agências de rating se mostraram falsos. Agora, as instituições financeiras sofrem com o temor de falta de liquidez. A onda de pânico arrastou o maior banco do país, o BNP Paribas. Seus títulos perderam ontem 12,35% do valor, uma queda de 52,3% nas últimas 52 semanas.

O fenômeno foi seguido pelos outros dois mais importantes bancos do país. Crédit Agricole perdeu 10,64%, somando um recuo de 55,95% no apanhado de um ano. A instituição que mais preocupa, entretanto, é o Société Générale, terceiro maior da França, que ontem fechou em queda de 10,75%. Cada uma de suas ações foi negociada a ? 15,5 - seu mais baixo valor desde 1991. Em 2007, cada ação do banco valia ? 143,7. Só nas últimas 52 semanas, sua desvalorização chega a um recorde: 64,5%.

A explicação para a crise de confiança no sistema francês não está na saúde das contas do país - que estão no vermelho, mas em condições bem melhores que a de grandes vizinhos, como Reino Unido, Itália e Espanha. O problema é o envolvimento dos três bancos com títulos da dívida soberana da Grécia. Juntos, BNP Paribas, Crédit Agricole e Société Générale somam ? 8,15 bilhões em obrigações emitidas por Atenas. Crédit Agricole e Société Générale enfrentam um risco adicional: são donos dos bancos gregos Emporiki e Geniki, ameaçados de falência.

Não bastasse, os três bancos têm exposições recordes em outros dois países implicados pela crise das dívidas soberanas: Itália e Espanha.

Só o BNP Paribas tem ? 24,1 bilhões em obrigações emitidas por Roma. Ao todo, os três bancos somam ? 54,45 bilhões em títulos dos três países em crise. Por essas razões, a expectativa dos investidores é de que a agência Moody""s anuncie o rebaixamento das notas das três instituições até quinta-feira. Hoje seus títulos são classificados entre Aa1 e Aa2 - entre um e dois níveis abaixo da nota máxima, AAA.

Em queda

12,35% foi a perda de valor dos títulos do BNP Paribas ontem EUR15,5 foi o preço das ações do Société Générale, o valor mais baixo desde 1991

O GLOBO | ECONOMIA

ECONOMIA 13/09/2011

Sem ajuda, Grécia só tem dinheiro até outubro

TURBULÊNCIA GLOBAL: Situação grega ocupa pauta de reunião do gabinete de Dilma Rousseff. Brasil teme calote

Atenas pressiona por 2a- parcela do pacote de socorro. Par analistas, quebra do país custaria até G 3 trilhões aos bancos

Do El País* [email protected]

ATENAS, MADRI e BRUXELAS. O vice-ministro de Finanças da Grécia, Filippos Sachinidis, disse ontem que o país só tem capital para se financiar até outubro. Segundo ele, é crucial que a Grécia receba a próxima parcela de empréstimos prevista no acordo acertado com a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). A declaração confirma comentários que vinham sendo feitos nas últimas semanas por autoridades gregas em condições de anonimato.

- Temos definitivamente espaço de manobra até outubro - disse Sachinidis em entrevista à rede de TV Mega, respondendo a perguntas sobre por quanto tempo o governo seria capaz de pagar salários e aposentadorias. - Estamos tentando garantir que o Estado possa continuar a operar sem problemas.

A pressão grega ocorre num momento em que o país vem sendo criticado por não conseguir cumprir as metas fiscais, estabelecidas como condições para o recebimento da segunda etapa do pacote de ajuda. Na semana passada, credores ameaçaram reter o pagamento de 8 bilhões em empréstimos. O país vive um processo agudo de empobrecimento, e as medidas de austeridade ameaçam empurrar a Grécia para uma recessão, dificultando a recuperação econômica.

Calote teria forte impacto em bancos alemães e franceses

Ontem, o Ministério de Finanças grego informou que o déficit do governo central cresceu 23% em termos anuais nos primeiros oito meses do ano. Apesar disso, segundo o órgão, o volume total ainda estaria dentro da meta. O rombo no Orçamento entre janeiro e agosto cresceu para 18,101 bilhões, ante 14,813 bilhões no mesmo período do ano passado. Mas o rombo foi menor que a meta revisada de 18,974 bilhões para os primeiros oito meses do ano, segundo o Ministério.

Economistas e políticos começaram a tornar públicos os cálculos sobre os custos e riscos de uma decretação de moratória por parte da Grécia. Uma das consequências imediatas seria a necessidade que os bancos europeus teriam de se recapitalizar, em especial as instituições com papéis da dívida soberana grega, em sua maioria bancos franceses e alemães. Segundo o economista-chefe do banco dinamarquês Saxo Bank, Steen Jakobsen, "esse número está em 2 trilhões, mas já há quem estime 3 trilhões".

- A Grécia poderia sair do euro. E, com ela, mais uma ou duas outras nações - defendeu Jakobsen.

O economista acrescentou que Espanha e Portugal estão fazendo o dever de casa:

- A Itália seria o país mais vulnerável nessas condições - disse, acrescentando que é daí que decorre o "caos" e o "medo" que se espalham pelos mercados financeiros.

Seus cálculos mostram que o pesado endividamento e o baixo crescimento econômico da Itália fazem com que sua dívida se torne insustentável.

Ontem, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente da Comissão Europeia (CE), José Manuel Durão Barroso, voltaram a destacar que a reforma do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef) deveria ser ratificada por todos os membros da zona do euro antes do fim do mês. Merkel e Barroso fizeram uma reunião a portas fechadas em Berlim. Após o encontro, o porta-voz do governo alemão, Georg Streiter, disse que ambos os líderes defenderam que os 17 membros da zona do euro aprovem a flexibilização do Feef nas próximas semanas.

- A chanceler e o presidente da CE destacaram que o processo de ratificação da ampliação do fundo deveria ser concluído até o fim de setembro - disse Streiter.

Para autoridade da UE, é essencial sanear bancos

Já o vice-comissário europeu de Concorrência, Joaquín Almunia, disse ontem que, sem bancos saneados, a economia não

pode funcionar, referindo-se à exposição de instituições importantes de Alemanha e França à crise da dívida soberana.

- Ainda não resolvemos a crise da dívida soberana que começou na Grécia no início do ano passado. Deram-se muitos passos para reforçar a governança da União Econômica e Monetária, estão introduzindo mais rigor na vigilância fiscal e na evolução do endividamento público dos países membros. Mas a realidade nos diz que temos que ir mais fundo. É preciso aprovar, espero que nos próximos dias, o pacote de governança econômica e fiscal que a Comissão aprovou há meses - disse.

A situação da Grécia entrou ontem na pauta da reunião de coordenação política do governo da presidente Dilma Rousseff. Segundo a avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, a situação grega é "muito grave", e um calote poderá arrastar outras economias europeias.

- O governo considera a situação da Grécia muito perigosa - disse o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), que participou a reunião. - Se a Grécia entrar em default poderá levar outros países (da zona do euro).

(*) Com agências internacionais