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GUIA PARA PAIS E ROTEIRO DE TREINAMENTO DE PLH 1 LINCOOL Língua e Cultura, a revista eletrônica sobre PLH | n o 0 | Dezembro de 2015 Brasil em Mente Guia para pais e responsáveis e roteiro de treinamento para professores como medidas de apoio às iniciativas de PLH Graziela Santos Helen R. Santos-Underdahl Nota sobre as autoras Graziela Santos é professora de inglês da oitava série na Francis Hammond Middle school e professora de português na Associação Brasileira de Cultura e Educação (ABRACE) em Alexandria, Virginia, EUA. Contato: [email protected] Helen R. Santos-Underdahl está montando um grupo de PLH com outras mães brasileiras da região de Denver, Colorado, Estados Unidos. Contato: [email protected].

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GUIA PARA PAIS E ROTEIRO DE TREINAMENTO DE PLH 1

LINCOOL – Língua e Cultura, a revista eletrônica sobre PLH | no 0 | Dezembro de 2015

Brasil em Mente

Guia para pais e responsáveis e roteiro de treinamento para professores

como medidas de apoio às iniciativas de PLH

Graziela Santos

Helen R. Santos-Underdahl

Nota sobre as autoras

Graziela Santos é professora de inglês da oitava série na Francis Hammond Middle school

e professora de português na Associação Brasileira de Cultura e Educação (ABRACE) em

Alexandria, Virginia, EUA.

Contato: [email protected]

Helen R. Santos-Underdahl está montando um grupo de PLH com outras mães brasileiras

da região de Denver, Colorado, Estados Unidos.

Contato: [email protected].

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LINCOOL – Língua e Cultura, a revista eletrônica sobre PLH | no 0 | Dezembro de 2015

Brasil em Mente

Resumo

O presente trabalho visa a elaboração de propostas que possam ser úteis à Associação Brasileira de

Cultura Educação (ABRACE), uma organização que oferece programas de cultura e educação para filhos

de imigrantes brasileiros e suas famílias na região de Washington D.C., EUA. O material está dividido em

duas partes: um guia para os responsáveis pelos brasileirinhos e um roteiro de treinamento simplificado

para professores envolvidos com PLH (Português como Língua de Herança). O objetivo do guia é

sensibilizar pais e responsáveis sobre a importância da preservação da língua/cultura de herança por meio

de informações baseadas em estudos e discussões de pessoas envolvidas com PLH. Seu formato não é

acadêmico e disponibiliza material de referência e dicas de como as famílias podem incentivar os

brasileirinhos no processo de assimilação de identidade cultural intrínseco ao ensino de língua de herança.

A outra proposta é o desenvolvimento de um roteiro de treinamento simplificado para professores. A

elaboração do material foi baseada na experiência adquirida na ABRACE. As sugestões feitas no guia

podem ser úteis para outras iniciativas que trabalham com língua/cultura de herança e desejam despertar

maior envolvimento dos pais ou responsáveis pelos alunos. Da mesma forma, outras organizações que

trabalham com PLH podem refletir sobre o treinamento de educadores e aproveitar algumas das propostas

constantes do roteiro para orientar professores e despertar neles o encantamento pela causa, o que poderia

ainda resultar em menor rotatividade de profissionais que parece ser comum a algumas iniciativas.

Palavras-chaves: Cultura de herança; Língua de herança; PLH; Brasileirinhos; Guia para pais e

responsáveis; Roteiro de treinamento de professores.

Guia para pais e responsáveis e roteiro de treinamento para professores

como medidas de apoio às iniciativas de PLH

O presente trabalho foi desenvolvido a partir da experiência em sala de aula e de tópicos

identificados em fóruns de discussão com profissionais que trabalham com PLH. O objetivo é

propor duas medidas que possam ser úteis para a Associação Brasileira de Cultura e Educação

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(ABRACE). As medidas poderão ser consideradas também por outras iniciativas com

necessidades semelhantes, conforme exposto por diversos grupos de educadores nos fóruns

mencionados anteriormente.

A primeira proposta é a elaboração de um guia para pais e responsáveis pelos

brasileirinhos em programas de PLH. O guia deverá ser baseado em estudos e pareceres de

profissionais que acumulam experiências pedagógicas aplicáveis ao ensino de língua de herança.

A vantagem é que seu formato permite o esclarecimento de algumas ideias equivocadas

percebidas pelos profissionais de PLH quando interagem com os pais e familiares dos

brasileirinhos sem que haja um confronto direto de ideias. Os responsáveis ganham o tempo de

reflexão e a carga teórica básica necessários para a tomada de decisões que refletem na forma

como cada aluno de PLH se identifica com o aprendizado da língua portuguesa e assimilação da

cultura brasileira.

A segunda proposta é o desenvolvimento de um roteiro de treinamento para professores

que pode conter temas fixos semestrais, como reflexões sobre PLH, bem como propostas de

solução de conflitos comuns em sala (por exemplo; como incentivar o aluno a usar o português

em vez da língua local para se comunicar com os colegas de sala). A proposta é que o

treinamento seja feito em forma de ‘minicursos’ de no máximo uma hora de duração

aproveitando parte do tempo das reuniões mensais que duram duas horas ou mais. Os minicursos

poderão ser organizados por professores da iniciativa com o apoio da coordenadoria pedagógica.

Profissionais externos também podem ser convidados a ministrar cursos com temas mais

específicos. Um tema que nos parece pertinente é ‘técnicas de correção em sala’, que

acreditamos ser um assunto tão importante quanto minimizado pela maioria das instituições. Um

roteiro de treinamento simplificado pode servir de combustível ou vitamina para manter

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professores mais seguros para lidar com as questões em sala de aula e, principalmente, mais

motivados a buscar conhecimento formal nas áreas em que se percebem mais necessitados.

Objetivo geral

Facilitar a atuação da ABRACE como iniciativa de educação e cultura que poderá oferecer mais

benefícios à comunidade brasileira à medida que seus parceiros internos (professores) e externos

(pais e responsáveis) estejam mais preparados diante das especificidades do ensino do PLH.

Objetivos específicos

– Elaborar materiais de suporte para professores, pais e demais envolvidos com o PLH;

– Sensibilizar os pais para a necessidade e importância da exposição/inserção/preservação da

língua/cultura de herança; – Facilitar a oportunidade para que a comunidade tome decisões bem

informadas e diminua os efeitos de ideias equivocadas ou estereotipadas mantidas por membros

dentro das comunidades.

Discussão

Guia

Interessamo-nos em montar este guia para os pais e responsáveis pelos brasileirinhos com

o objetivo de facilitar a tomada de decisões no que diz respeito às dinâmicas familiares que têm

influência sobre a formação da identidade cultural das crianças e adolescentes que vivem no

exterior. Quando o comportamento da família é muito permeado por ideias equivocadas com

relação ao bilinguismo e muito estereotipadas com relação à cultura brasileira, a aquisição da

língua e da cultura pode ser comprometida. Neste sentido, o guia pode ser grande aliado da

iniciativa, porque materializa um processo de conscientização, que sensibiliza famílias durante

uma reunião/apresentação e pode ser guardado para referência posterior. A ideia é apresentar tais

aspectos em uma reunião de início do semestre com os pais e responsáveis e revisitar os pontos

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mais importantes ao longo do período. O formato é de no máximo três páginas, com ilustrações e

informações de referência.

Para a montagem desse material, consideramos o pressuposto que a língua materna é um

dos principais componentes étnicos que pode sofrer impacto com a assimilação de uma nova

cultura. Com a experiência da imigração, a língua de herança, considerada como um marcador de

identidade de alta visibilidade, pode, a partir da segunda geração, apresentar dificuldades na

comunicação.

Como primeiro ponto chave em uma família que os pais falam línguas diferentes, é

importante perceber que ainda existem muitas discussões sobre a importância de crianças filhos

de imigrantes adquirirem duas línguas desde o início da infância. Encontramos o mito de que a

aquisição da língua do país em que se está inserido implica na perda da língua de herança.

O autor Fishman (1971) afirma que, “do ponto de vista da linguística, a coexistência entre

múltiplas línguas é perfeitamente possível desde que se assegure o papel social que cada uma

dessas línguas desempenha no cotidiano das pessoas”. Por isso, é tão importante que as crianças

entendam e vejam na prática como o uso da língua portuguesa faz sentido na vida delas. Por

exemplo, quando brincam com primos no Brasil, assistem algum programa de televisão

brasileiro ou leem revistas em quadrinhos.

Eleger o português, de forma consistente, como língua primordial no espaço familiar

seria a maneira mais eficiente de contribuir para o desenvolvimento da competência

comunicativa na língua de herança; com os pais mantendo perseverança em se expressar sempre

em português, espera-se que os filhos naturalmente adotem essa língua na comunicação

intrafamiliar.

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O uso do português em casa pode atender, na verdade, a duas necessidades: o desejo de

assegurar a manutenção da identidade brasileira, de manter o vínculo com a terra de origem,

deixando aberta a possibilidade de retorno e a garantia de preservar a interação paterno-materna

na dinâmica das relações interpessoais no contexto familiar. Nesse sentido, é através do uso do

português que os pais vinculam a escolha linguística à necessidade de pertencimento a uma

identidade nacional. Percebe-se que, ao deixar que o inglês assuma o espaço da casa, não

somente os filhos vão perder o domínio da língua de herança, mas os pais podem perder também

na troca de discursos mais íntimos.

Para um segundo ponto chave, que busca enfatizar a questão de herança, tanto de língua

como de cultura, Paulo Freire possui ótimas concepções de indivíduo e mundo. Embora a obra

de Freire não possua uma estrutura teórica academicista, pelo fato de ter vivido e experimentado

várias formas de expressão da opressão, ele formula sua crítica educacional a partir de uma

análise dos modos pelos quais as ideologias dominantes estão encravadas nas regras, nos

procedimentos das instituições e sistemas.

O homem é um sujeito de relações. A palavra ‘existir’ já contém em si mesma a ideia de

comunicação, de poder de transcendência, de discernimento, de nuances de julgamento crítico. O

indivíduo é, então, capaz de tomar distância, de objetivar o mundo e objetivar a si mesmo através

do ato de conhecer. Pelo ato de conhecer, o homem pode criar sua consciência de mundo,

construir sentidos, significações e símbolos. Tendo como característica a ação-reflexão, o ato de

conhecer permite ao homem tomar consciência de sua qualidade de sujeito. Ao tomar

consciência de si mesmo, ele estabelece uma relação dialética entre sua liberdade e os problemas

que a limitam. Assim, seu papel não pode ser resumido à passividade, a uma intervenção

acidental e incompleta com o mundo.

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Em terceiro ponto chave, conectando a questão do existir com comunicação, entende-se

que preservar a língua de herança influi na formação pessoal e entendimento do subsistir. Assim

como não devemos resumir nosso papel à passividade, a interação em português em casa deve

ser consciente e constante.

Freire (1993) argumenta que o homem não se reduz aos limites do tempo e do espaço. As

raízes não devem transformar-se num problema de desenvolvimento. O indivíduo é sujeito por

vocação, o que lhe permite ultrapassar os limites do tempo e se lançar num domínio que lhe é

exclusivo: construir sua história e sua cultura. Como um ser da práxis, ele emerge da natureza

para transformá-la. Pela sua capacidade de discernimento ele é impulsionado a tomar consciência

de sua temporalidade e de sua transcendência. Não nos reduzindo, assim, aos limites do tempo e

do espaço, devemos sempre cultivar mais do que somente a língua, mas também fortemente a

cultura como um todo.

Bem como o ser humano possui a capacidade de construir sua história e sua cultura, cabe

às gerações familiares antigas cultivarem a herança, que inclui, entre muitos aspectos, a língua.

Entende-se que a educação se inicia em casa, com a família, e, de acordo com a autora

Elvira Souza Lima (2010), educar é ensinar a criança a conhecer e a cuidar de seu corpo, de sua

saúde, formar hábitos e, neste sentido, a rotina é bastante valiosa. Educar é auxiliar a criança na

exploração de seu ambiente: o espaço em que estão os objetos que a rodeiam, suas características

e seus usos; os elementos que compõem a natureza: plantas, animais, a terra, o sol, as nuvens, a

areia, a água; os elementos que compõem a cidade: as casas, as pracinhas, os carros, as ruas, as

carroças. Educar é ir mostrando para a criança a transformação das coisas realizadas através do

trabalho do homem: o cultivo da terra, as plantações, a construção das casas, a manufatura dos

objetos, o preparo da alimentação... Educar é colaborar com a criança na aprendizagem e

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domínio da linguagem falada e escrita, ouvindo-a, estimulando-a a contar histórias e fatos que

ela vivencia, mostrando-lhe os usos da escrita, como letreiros de ônibus, indicações de trânsito,

cartas, bilhetes, cartazes, informações nas embalagens e rótulos de produtos comerciais, lendo

histórias, deixando que ela manuseie jornais, livros e revistas etc. É ensinar à criança conceitos e

conteúdos de história, geografia, matemática, ciências. O que, hoje em dia, é feito geralmente na

escola.

Entre todos esses pontos citados acima, a importância de vivenciá-los em casa torna-se

duplamente desafiadora (ou interessante) quando se necessita experimentá-los em um contexto

que engloba uma língua dominante e uma de herança.

A criança nasce e cresce em um grupo e é através do contato com as pessoas e as coisas

que existem neste grupo que ela aprenderá muito sobre si própria e sobre o que a rodeia. Por este

motivo, é muito importante, desde seu nascimento, ter a língua portuguesa existente neste grupo

que a rodeia e a faz pertencer. Além do núcleo familiar, a participação em uma organização

comunitária, onde a criança pode conviver com outras crianças que também são bilíngues, lhe dá

o senso de pertencer a mais um grupo além da família. As visitas ao Brasil também dão a esta

preservação da língua de herança muito sentido: quando a criança visita familiares que somente

falam português e ela consegue se comunicar, brincar e se expressar, esta aprendizagem torna-se

uma realidade do dia-a-dia, em vez de uma situação distante e fictícia.

A criança começa a aprender desde que nasce e vai aprender muitas coisas em seus

primeiros anos de vida. Alguma coisa aprenderá sozinha, mais cedo ou mais tarde, como andar.

Outras, como falar, aprenderá através da vivência com outras pessoas.

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Outras, ainda, só aprenderá se for ensinada. Todavia, toda aprendizagem será afetada pelas

condições do meio em que a criança se encontra e das relações que ela estabelece com os outros

seres humanos. Ela entra em relação com tudo e todos que compõem o seu meio.

Estas relações são a sua família, ou seja, aquelas pessoas com as quais ela vive junto – a

mãe, o pai, a avó, o padrasto, os irmãos, as irmãs, uma tia, um primo. E também as outras

pessoas, tais como parentes, amigos da família, vizinhos, os comerciantes do bairro, o pessoal da

escola.

Quando a criança vive em uma realidade onde estas relações acontecem em dois países,

os esforços devem também ser em dobro, para que ela entenda a importância em manter sua

língua de herança viva e ativa. A criança também se relaciona com os objetos, as coisas que

existem neste meio, tanto na sua casa como nos outros ambientes em que ela vai, como a rua, o

mercado, a escola. A cultura constitui os valores das pessoas, as regras que organizam o seu

meio.

Nos primeiros anos de sua vida a criança vai passar por uma série de mudanças: de

bebezinho que depende do adulto para tudo, ela vai crescer, dominar seu corpo, sentando,

engatinhando, andando, vai aprender a falar, tornando-se cada vez mais independente e capaz de

realizar muitas coisas por si só. À medida que vai crescendo, explorando o ambiente, mantendo

contato com as outras pessoas, ela vai mudando, desenvolvendo suas potencialidades e

demonstrando preferências marcantes. Tendo em vista todas estas mudanças no desenvolvimento

da criança, podemos entender melhor o progresso da sua linguagem e a complexidade existente

nela.

É importante lembrarmos aqui que cada criança tem um ritmo de desenvolvimento e

crescimento. Isto quer dizer que não há uma idade exata para cada coisa acontecer: alguns bebês

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começam a engatinhar mais cedo, outros mais tarde. O mesmo acontece com o andar e com o

falar. Também é importante ressaltar aqui que a criança que escuta duas línguas em casa pode

iniciar a fala mais tarde, o que não significa um atraso, mas uma dupla assimilação que será

transformada em grandes vantagens para este ser bilíngue.

Da mesma forma que as crianças não se desenvolvem exatamente no mesmo ritmo,

também elas apresentam diferenças individuais desde muito pequeninas. Podem gostar mais

desta ou daquela atividade, desta ou daquela comida. Por isso, é importante observar para ver

quais são as preferências, os interesses, o ritmo da criança e, na medida do possível, respeitá-los.

O desenvolvimento da criança dependerá, igualmente, da possibilidade de exploração do

ambiente, de expressar suas emoções, de ter contato com várias coisas e pessoas, e de estabelecer

relações afetivas. Dependerá, em suma, de executar e exercitar tudo que é próprio de seu período

de desenvolvimento, o que lhe permitirá sentir-se segura, desenvolver sua autonomia,

constituindo-se como indivíduo. Também temos que ter a sensibilidade em preservar ambientes

relacionados ao país que vive e ao que origina a língua de herança.

A criança, quando começa a falar, repete muitas vezes a mesma palavra e, mais tarde um

pouco, a mesma pergunta. Já em sua língua de herança, pode confundir as duas línguas, mas com

o tempo pode chegar a fazer a dissociação de ambas. Muitas vezes a criança se entrega a

brincadeiras com outras crianças que são um verdadeiro exercício de linguagem: elas

desenvolvem a linguagem brincando com as palavras, os sons, lidando com significados,

procurando modificá-los em relação a cada palavra e assim por diante. Devemos aproveitar esta

vantagem em relação ao imaginário infantil e explorar as possibilidades de aprender brincando.

Algumas sugestões práticas:

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1. Estabeleça relações afetivas com as crianças através da língua, tais como usando algum

apelido carinhoso em português, que só a mamãe ou o papai usam;

2. Deixe aberta a possibilidade do retorno, informando as oportunidades de brincar em

português com os primos no Brasil e, no caso de crianças mais velhas, a opção de estudar e/ou

trabalhar no Brasil se desejar;

3. Mantenha o português em todos os momentos. Se as crianças observarem que o pai

e/ou mãe não usam palavras em inglês para comunicar-se com elas, provavelmente irão seguir

este exemplo quando falarem com os pais que falam português;

4. Vamos conectar o existir com a comunicação, preservando não somente a língua, mas

também a cultura. Cozinhar receitas brasileiras com as crianças pode ser uma exploração que

abrange palavras, diversão e cultura;

5. Ofereça um ambiente com opções de leitura, escrita, jogos e filmes em português.

Para finalizar, segue um exemplo de formato de guia a ser entregue aos pais e responsáveis na

reunião de início de semestre.

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Roteiro

Primeiro Minicurso - Conceitos básicos sobre ensino-aprendizagem de línguas e onde o

PLH se encaixa + reflexões sobre as especificidades do PLH e perfil do brasileirinho

Segundo Minicurso - Reflexões sobre abordagens linguísticas => comunicativa x

gramatical + reflexões sobre estudos de práticas pedagógicas para ensino infantil e infanto-

juvenil.

Terceiro Minicurso - Ideias para atividades lúdicas e artísticas em sala de aula e

introdução ao conceito de conscientização fonológica

Quarto Minicurso - Reflexões sobre receptividade e tipos de correção em sala

A proposta do roteiro de treinamento para os professores surgiu da necessidade pessoal

de uma das autoras, que, embora tivesse experiência em sala de aula e desejo de trabalhar dentro

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da comunidade brasileira na região de DC, não tinha nenhum conhecimento das especificidades

do ensino de PLH. A oportunidade de estudar mais formalmente sobre o tema e de compartilhar

ideias com pessoas que também trabalham na área surgiu um ano após o início de suas atividades

com os brasileirinhos dentro da ABRACE.

Essa situação, de desconhecimento específico de PLH, é natural dentro das comunidades

por dois principais motivos. O primeiro é o fato dos estudos sobre ensino-aprendizagem de

português como língua de herança serem recentes e, assim, ainda não amplamente difundidos.

Isso leva ao segundo motivo, que é o número reduzido de pessoas com o perfil pronto de

professor de PLH no contexto de comunidade de expatriados. Valdés (2001) afirma que “Há

também uma demanda crítica por recrutamento de professores, preparo do professor antes de sua

atuação e desenvolvimento do professor que já trabalha [com língua de herança]” .

Em entrevista à Lista Comunidade PLE, disponível em http://www.siple.org.br, Almeida

Filho (2014) afirmou que o “PLH é uma situação distintiva de língua segunda” e que “um

verdadeiro currículo de PLH ainda está por vir à luz”. Ainda segundo Almeida Filho, o perfil do

professor de PLH “deve aliar a formação de professores para séries iniciais e para o ensino

fundamental a uma formação específica, se possível, formalizada e reflexiva no ensino do PLE”.

Contudo, as autoras entendem que esse perfil pode ser ampliado com a aquisição de

conhecimento específico ao ensino da língua de herança, já que a mesma tem mostrado

demandar um alto grau de sensibilidade do professor e da comunidade como um todo para

questões diversas, que vão da identidade dos brasileirinhos, passam por abordagens e

metodologias de ensino e incluem a necessidade de promover oportunidades de uso autêntico da

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língua como proposto no método de avaliação de vitalidade da língua de herança COD1.

De acordo com o que foi apresentado até o momento, não é difícil imaginar que as

iniciativas que trabalham com PLH nem sempre contem com um número confortável de

professores de perfil condizente com suas necessidades. Com o objetivo de oferecer alternativas

frente ao contingente reduzido de colaboradores, a proposta do roteiro é aproveitar o fato de que

todo mês a ABRACE já faz reuniões pedagógicas com seus professores que levam duas horas ou

mais. Temas como programação de atividades e eventos, avaliações, prazos, formatos de planos

de aula etc. são discutidos nesses encontros.

Todos os assuntos são pertinentes e necessários ao bom funcionamento da área

pedagógica e da iniciativa como um todo. A proposta do roteiro, entretanto, sugere que a

organização se beneficiará se metade do período das reuniões for dedicada a minicursos que

busquem aprimorar o perfil e capacitar os profissionais de que dispõe. As autoras acreditam que

mais trocas de experiências e sugestões metodológicas podem ser essenciais para que os

professores compartilhem e, possivelmente, sanem inseguranças com relação ao seu modo de dar

aula e, com isso, tornem-se verdadeiros aliados da iniciativa.

Uma abordagem que incentive a troca de experiência deve ser uma constante nos

minicursos, assim, professores que têm conhecimento em uma área específica podem colaborar

mais ativamente com o curso enquanto aqueles que se beneficiarão mais com o conteúdo se

sentirão mais à vontade para expressarem dúvidas e pedir sugestões.

O primeiro minicurso proposto é mais abrangente. A conversa pode ser iniciada a partir

do questionamento das diferenças entre Língua Estrangeira (LE), Língua Materna (L1), Segunda

Língua (L2) e Língua de Herança (LH). Os propagadores da língua de herança precisam ter em

1 Capacidade, Oportunidade e Desejo como forma de medir a vitalidadde das línguas de herança nos Estados

Unidos, conforme proposto por Bianco e Peyton (2014).

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mente conceitos básicos das principais modalidades de ensino e aprendizagem de línguas para

que consigam situar seu próprio papel na comunidade e perceber o quão específica é a situação

da língua de herança, uma vez que, embora incorpore elementos das demais modalidades, tem

necessidades muito específicas. É preciso levar em conta questões complexas que vão desde a

pouca oferta de material desenvolvido para o uso em iniciativas de PLH até questões de

identidade do público-alvo. O responsável por coordenar o minicurso poderá fazer uma breve

explanação sobre conceitos básicos e diferenças entre LE, L1, L2 e LH para que, mais adiante,

consiga destacar pontos positivos e negativos que o aprendiz de LH tem em relação aos demais.

Com base nisso, será possível propor o preparo de aulas com de material mais autêntico, por

exemplo, para que a cultura que se planeja transmitir, no caso a brasileira, seja retratada de forma

adaptada à necessidade do brasileirinho, a qual é diferente da necessidade em que se baseiam os

autores de livros didáticos de PL2 ou PLE. O entendimento inicial das nomenclaturas em questão

pode fazer diferença nas abordagens escolhidas pela organização, no planejamento das aulas e

nas dinâmicas e metodologias aplicadas em sala.

Na segunda parte do curso, devem ser abordadas questões de identidade que busquem

traçar melhor o perfil do brasileirinho que frequenta a ABRACE, bem como tipo de material a

ser explorado nas aulas, aspectos culturais e de diversidade de regiões do Brasil, forma de

apresentar a língua e a cultura de herança. Valdés (2001) afirma que:

Embora, em um primeiro momento, pareça relativamente simples ensinar uma

língua na qual alguém já tem uma bagagem, quando olhamos mais de perto a

tarefa acaba sendo complexa. Falantes de língua de herança variam muito em

suas características de origem, proficiência linguística e atitude com relação à

sua língua e cultura de herança. Além do mais, não temos ainda conhecimento e

experiência de apoio. (Valdés, 2001, p.13)

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Portanto, é preciso ter em mente que um consenso sobre o perfil do brasileirinho ainda é

algo distante, talvez impossível de ser alcançado. Ainda assim, o levantamento de hipóteses e a

identificação de pontos comuns a determinado grupo ou faixa etária poderá nortear o

planejamento pedagógico e justificar a necessidade das discussões propostas no primeiro curso.

Os professores devem sair da reunião, no mínimo, com questionamentos sobre o que torna um

indivíduo herdeiro de uma língua cultura e como fazer para que o brasileirinho se sinta à vontade

na própria identidade bi/multicultural e crie ou mantenha o interesse pelo patrimônio cultural que

está herdando.

No segundo minicurso, os professores podem discutir ou receber orientação sobre a

abordagem gramatical x abordagem comunicativa do ensino do português como língua de

herança, de acordo com a faixa etária e nível de fluência média dos grupos de alunos. Essa

discussão influenciará diretamente a forma do professor planejar e executar suas aulas.

Santos e Almeida Filho (2014) afirmam que “A aprendizagem das regras gramaticais é

vista como uma forma de se minimizar a ocorrência de erros”. Em geral, a abordagem gramatical

tem por objetivo a sistematização da língua para facilitar a organização e montagem da fala e da

escrita em conformidade com as regras formais e desejadas para o registro culto da língua.

Entretanto, se demasiada atenção for dispensada à correção gramatical, a produção oral e a

capacidade comunicativa podem ficar prejudicadas. Em 1989, Edge apud Vieira (2010) afirma

que, quanto mais dermos ênfase à correção, mais os aprendizes evitarão usar a língua por medo

de errarem:

Aprender uma língua significa mais que aprender muitos pedaços de formas

linguísticas, e a única maneira de aprender a se comunicar em uma língua é

realmente se comunicando nessa língua. Deveria sempre haver espaço em

nossas aulas para somente encorajarmos a fluência. Se não fizermos isto,

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estaremos acabando com o desejo dos aprendizes de se comunicarem e com a

chance de eles aprenderem. (Edge, 1989, p.19)

A ABRACE é estruturada de forma a oferecer aos brasileirinhos um ambiente para

educação e inserção na cultura de herança. Nas turmas infantis, a apresentação da estrutura da

língua e de vocabulário é feita de forma lúdica com música e brincadeiras. Todavia, as turmas de

brasileirinhos na fase infanto-juvenil têm aumentado consideravelmente nos últimos anos.

Com o foco neste público, reflexões e referências sobre o volume das abordagens

gramatical ou comunicativa fazem-se necessárias. A atenção à gramática tende a aumentar na

medida que a faixa etária e maturidade linguística do aluno aumentam. É preciso, entretanto,

estipular quais os níveis máximos e realísticos de abordagem gramatical que o projeto de duas

horas semanais de exposição à língua de herança pode suportar e quais medidas podem ser

tomadas para instrumentalizar as famílias que desejam oferecer níveis mais elaborados de

competência em língua portuguesa. A ABRACE, aliás, já oferece um projeto de biblioteca que

atende parte desta demanda por expansão de sua proposta inicial. A discussão da abordagem

linguística deve ser feita com os professores para que os mesmos tenham formas de orientar os

pais quando solicitados.

Ainda nesse encontro, teorias de embasamento para práticas pedagógicas podem ser

apresentadas de forma sucinta e direcionada para as faixas etárias presentes na iniciativa.

Com essa exposição, espera-se que os educadores façam escolhas cada vez mais

conscientes diante da grande oferta de material disponível na internet, em bibliotecas e na

própria iniciativa.

O terceiro minicurso aproveita o fato de abordagens e práticas pedagógicas já terem sido

consideradas nos cursos anteriores e direcionadas conforme as demandas de cada faixa etária e

visa dar espaço para a troca de experiências entre os profissionais da iniciativa com o apoio e

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orientação do responsável pela coordenação pedagógica. Nessa ocasião, professores podem

compartilhar ideias de brincadeiras, músicas e atividades que já utilizaram em sala ou que

desejam utilizar, mas para as quais ainda sentem que precisam de orientações específicas de

acordo com cada proposta.

Além do compartilhamento de experiências entre os professores, eles poderão também se

beneficiar do estudo sobre o desenvolvimento da Consciência Fonológica proposto por Jennings-

Winterle & Lessa (2014), que pode auxiliar os professores a refletir sobre formas de ajudar os

alunos no contexto informal do ensino de PLH. Este estudo oferece ideias práticas do uso de

músicas e dinâmicas em sala de aula para despertar as habilidades da Consciência Fonológica,

descritas como:

consciência da palavra (reconhecer quantas palavras há numa frase e

como tais unidades funcionam carregadas de significados), consciência

silábica (reconhecer que palavras podem ser divididas em partes menores

e que estas podem ser combinadas), consciência de rima (entender,

reconhecer e produzir rimas) e consciência fonética (som) (isolar

começos e fins de palavras, dividir e misturar, substituir sons e formar

uma palavra totalmente diferente).Tais habilidades podem ser sintetizadas

em 4 ações: dividir, combinar, deletar e substituir.

(Jennings-Winterle & Lessa, 2014, p.13)

Essa parte do minicurso não pretende munir os professores de todo o aparato e técnicas

para desenvolvimento da Consciência Fonológica dos alunos no contexto da ABRACE, mas

despertar o interesse do educador para os estudos na área, os quais podem ampliar o repertório de

práticas em sala que ajudam o aluno de PLH a desenvolver a própria oralidade e fluência de

forma mais natural.

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O quarto minicurso é sobre técnicas de correção de erros em sala de aula. A experiência

das autoras em sala as faz defender que o modo como os alunos são corrigidos tem grande

influência no desejo e volume de expressão na língua que se aprende. Este pensamento está de

acordo com Marote & Derruo (1998) quando afirmam que:

Após a alfabetização, a postura do professor deve manter-se a mesma: ampliar e

enriquecer o vocabulário da criança a partir do repertório já adquirido. E isso,

sem criticar, sem corrigir e, sobretudo, sem inibir a criança por seus ‘erros’. Se

ela empregou uma variedade inadequada ou mesmo se cometeu um desvio ou

uma impropriedade, a conduta mais cientificamente correta é perguntar a ela ou

à classe se não há, por acaso, “uma outra maneira de dizer aquilo”, “uma outra

palavra para exprimir aquela ideia”. Perguntar, esperar, incentivar a responder e,

só se ninguém tiver nada a dizer, introduzir a forma mais adequada. A regra é: o

professor deve se apagar.

Reiteremos, aqui, tudo aquilo que já dissemos sobre o filtro afetivo que permeia

e influencia todas as situações e atividades escolares. Motivação alta, muita

autoconfiança e pouca ou nenhuma ansiedade facilitarão muito aquele ambiente

de participação em sala de aula que propicia a interação verbal professor-

aluno/aluno-aluno, favorecendo a troca de experiências e, de contrapeso, a

ampliação e enriquecimento do vocabulário e repertório. (Marote & Derruo,

1998, p. 114-115)

Vieira (2010) estuda a receptividade de alunos no contexto de estudo de inglês como

língua estrangeira com relação às correções, que podem ser “on the spot (falar diretamente ao

aluno o que foi errado, no momento do erro) ou correção posterior (corrigir o grupo todo depois

das atividades ou no fim da aula).” Outras definições de técnicas de correção de erros em sala de

aula foram apresentadas e avaliadas por Carazzai & Santin, são elas; correção explícita,

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reformulação, sinais metalinguísticos, elicitação e repetição também no contexto ensino de

inglês como língua estrangeira. Os estudos citados e vários outros podem ser apresentados aos

professores da ABRACE em um minicurso que visa incentivar a prática de observação da

receptividade dos alunos frente às situações de correção. A partir da maior consciência desta

receptividade, os professores poderão adaptar suas práticas às necessidades individuais de seus

alunos, dando-lhes a oportunidade de se sentirem seguros em sala e desenvolver melhor suas

habilidades orais. As reflexões dos professores podem, inclusive, dar início ao estudo de práticas

de correção voltada para o aluno de PLH, que, conforme discutido anteriormente no presente

trabalho, tem tantas especificidades e pode ser especialmente vulnerável a questões de cunho

emocional envolvidas no processo de assimilação da língua e cultura de herança.

Outros cursos como, gramática da língua portuguesa para professores (principalmente

para os responsáveis por alfabetização) ou contação de histórias também podem ser oferecidos

em forma de minicursos ou cursos extras, conforme a necessidade e conveniência da ABRACE.

O objetivo dos cursos e minicursos propostos nesse trabalho não é substituir cursos mais

aprofundados e de carga teórica mais consistente. Mas, sim, mostrar aos professores,

principalmente aos menos experientes, o quão amplo é o impacto de sua atuação dentro e fora de

sala e o quantas teorias, técnicas e abordagens podem ser adquiridas como forma de ampliar o

conhecimento e melhorar a capacitação para atuação dentro de iniciativas de PLH.

Conclusão

Embora o guia para os pais e o roteiro de treinamento para os professores não tenham a

pretensão de solucionar questões inerentes à novidade do PLH, entendemos que podem ser meios

da ABRACE e, possivelmente, outras organizações aumentarem suas chances de se manterem

consistentes dentro das comunidades de brasileiros. As autoras acreditam que a apresentação do

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guia aos responsáveis pelos alunos os tornará aliados mais conscientes de seu papel na

descoberta da identidade dos brasileirinhos e que o treinamento dos professores, em forma de

minicursos, poderá melhorar a consistência do trabalho em sala e resultar no maior engajamento

dos profissionais e menor evasão dos mesmos. Pais e responsáveis estarão com o pensamento

mais aproximado daquele que move a iniciativa e os professores serão os facilitadores utilizando

métodos concretos e de acordo com as necessidades do PLH e os brasileirinhos terão mais

motivos para permanecerem em um ambiente que passa a ter cada vez mais sentido em suas

vidas.

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