licitação e contrato - de como fazer

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LICITAÇÃO E CONTRATO CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO. ANULAÇÃO* Mandado de Segurança n. 48.8290/800 – São Paulo Impetrante: F. Andreis & Cia Ltda. Impetrado: Governador do Estado Assistente Litisconsorcial: Fazenda do Estado de São Paulo Mandado de Segurança – Invalidação de ato administrativo – Anulação de licitação pública – Impugnação mandamental ao recurso, que envolveria ataque ao ato administrativo anterior – Arguição de decadência rejeitada – Alegação de ilegitimidade de parte passiva ad causam repelida – Vícios formais no edital de licitação – Obrigatoriedade de regulamentação prévia dos serviços a conceder – Subjetividade dos critérios de análise das propostas de metodologia executiva e operacional – Violação de princípios legais – Poderdever de a Administração anular seus próprios atos – Decisão administrativa que não se reveste de ilegalidade – Segurança denegada ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Mandado de Segurança n. 43.8290/800, da Comarca de São Paulo, em que é impetrante F. Andreis & Cia Ltda., sendo impetrado Governador do Estado de São Paulo. Acordam, em Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por maioria de votos, adotado o relatório de fls., rejeitar a argüição de decadência e, à unanimidade de votos, no mérito, denegar a segurança, de conformidade com o voto do relator, que fica fazendo parte integrante julgado. Custas na forma da lei. Participam do julgamento os Desembargadores Dirceu de Mello (Presidente, sem voto), Fortes Barbosa, Flávio Pinheiro, Paulo Shintate, Viseu Júnior, Oetterer Guedes e o relator Márcio Bonilha (vencidos na preliminar), e Ângelo Gallucci, Fonseca Tavares, Franciulli Netto, Luiz Tâmbara, Mohamed Amaro, Denser de Sá, José Cardinale, Dante Busana, Álvaro Lazzarini, Gentil Leite, José Osório, Cuba dos Santos, Djalma Lofrano, Nelson Schiesari, Cunha Bueno, Nigro Conceição, Ney Almada e Yussef Cahali (vencedores). São Paulo, 7 de abril de 1999 DIRCEU DE MELLO, Presidente MÁRCIO BONILHA, Relator VOTO Insurgese a impetrante contra o ato administrativo da Secretaria dos Transportes, que declarou a nulidade do procedimento da licitação instaurado para a outorga de concessão dos serviços transportes hidroviários de navegação interior das travessias de passageiros, veículos e cargas do Estado, investindo, porém, formalmente, contra o ato do Sr. Governador do Estado, que rejeitou o pedido formulado pela concorrente, mantendo a deliberação que fora objeto da irresignação recursal. Contudo, ao ver do relator, vencido nesse tema preliminar, o despacho proferido no Processo n. ST739/94 publicado no Diário Oficial do Estado, de 18 de março de 1997 contra o qual, na

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  • 12/06/2015 LicitaoeContrato

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    LICITAOECONTRATO

    CONCESSODESERVIOPBLICO.ANULAO*

    MandadodeSeguranan.48.8290/800SoPaulo

    Impetrante:F.Andreis&CiaLtda.

    Impetrado:GovernadordoEstado

    AssistenteLitisconsorcial:FazendadoEstadodeSoPaulo

    Mandado de Segurana Invalidao de ato administrativo Anulao de licitao pblica Impugnao mandamental ao recurso, que envolveria ataque ao ato administrativo anterior ArguiodedecadnciarejeitadaAlegaodeilegitimidadedepartepassivaadcausamrepelidaVcios formaisnoeditalde licitaoObrigatoriedadede regulamentaoprviadosserviosaconceder Subjetividade dos critrios de anlise das propostas de metodologia executiva eoperacionalViolaodeprincpios legaisPoderdeverdeaAdministraoanularseusprpriosatosDecisoadministrativaquenoserevestedeilegalidadeSeguranadenegada

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos estes autos de Mandado de Segurana n. 43.8290/800, daComarcadeSoPaulo,emqueimpetranteF.Andreis&CiaLtda.,sendoimpetradoGovernadordoEstadodeSoPaulo.

    Acordam,emrgoEspecialdoTribunaldeJustiadoEstadodeSoPaulo,pormaioriadevotos,adotadoorelatriodefls.,rejeitaraargiodedecadnciae,unanimidadedevotos,nomrito,denegar a segurana, de conformidade com o voto do relator, que fica fazendo parte integrantejulgado.Custasnaformadalei.

    Participam do julgamento os Desembargadores Dirceu de Mello (Presidente, sem voto), FortesBarbosa,FlvioPinheiro,PauloShintate,ViseuJnior,OettererGuedeseorelatorMrcioBonilha(vencidos na preliminar), e ngelo Gallucci, Fonseca Tavares, Franciulli Netto, Luiz Tmbara,MohamedAmaro,DenserdeS,JosCardinale,DanteBusana,lvaroLazzarini,GentilLeite,JosOsrio,CubadosSantos,DjalmaLofrano,NelsonSchiesari,CunhaBueno,NigroConceio,NeyAlmadaeYussefCahali(vencedores).

    SoPaulo,7deabrilde1999

    DIRCEUDEMELLO,Presidente

    MRCIOBONILHA,Relator

    VOTO

    InsurgeseaimpetrantecontraoatoadministrativodaSecretariadosTransportes,quedeclarouanulidadedoprocedimentodalicitaoinstauradoparaaoutorgadeconcessodosserviostransporteshidroviriosdenavegaointeriordastravessiasdepassageiros,veculosecargasdoEstado,investindo,porm,formalmente,contraoatodoSr.GovernadordoEstado,querejeitouopedidoformuladopelaconcorrente,mantendoadeliberaoqueforaobjetodairresignaorecursal.

    Contudo,aoverdorelator,vencidonessetemapreliminar,odespachoproferidonoProcesson. ST739/94 publicado no Dirio Oficial do Estado, de 18 de maro de 1997 contra o qual, na

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    realidade, se volta a impetrante, pleiteando sua invalidao, no era passvel de exame delegalidade,pelaviamandamental,nadatadaimpetraoem24desetembrode1997,porquantojultrapassadooprazodecadencialde120dias,aqueserefereoartigo18daLein.1.533,de31dedezembrode1951,quedisciplinaomandadodesegurana.

    Seoato acoimadode ilegal o doSecretrio dosTransportes, comose infere, nitidamentedostermos da longa petio inicial, sem margem de dvida, de h muito havia expirado o prazodecadencialmencionado,noseaproveitandoaimpetrantedaocorrnciadaefetivainterposioderecurso,emtempohbil,contraoatoimpugnado,precipuamente,pelasingelarazodequenoseconcedeu efeito suspensivo, na considerao de que no se revestia o caso em exame decondies emergenciais que caracterizassem relevante interesse pblico, como se v dadeliberaodefls.

    Nessecontexto,nochegouasersuspensaaeficciadoatodeclaratriodenulidadedalicitao,nada justificando a dilatao no tempo do incio da contagem do prazo legal de decadncia,consoantebemrealou,nesseparticular,aautoridadeapontadacomocoatora.

    Comose sabe, no "o conhecimentooficiosodoato quedevemarcar o incio doprazoparaaimpetrao, mas sim o momento em que se tornou apto a produzir seus efeitos lesivos aoimpetrante.Seoatoirrecorrvelouapenaspassvelderecursosemefeitosuspensivo,contarseo prazo da publicao ou da intimao pessoal do interessado se admite recurso com efeitosuspensivo,contarsedotrminodoprazoparaorecurso(senofoiinterposto)oudaintimaodo julgamento finaldo recurso (se interposto regularmente).Observamos,porm,queopedidodereconsiderao, na via administrativa, no interrompe o prazo para a impetrao da segurana(STF,Smulan.430),salvosealeilhederefeitosuspensivo",oqueinocorreunahiptesevertente(Hely Lopes Meirelles, Mandado de segurana e ao popular, 6. ed., So Paulo: Revista dosTribunais,p.27).

    Apropsito,aSmulan.430doPretrioExcelsoassimdispe:

    "Pedidodereconsideraonaviaadministrativanointerrompeoprazoparaomandadodesegurana."

    Igualmente,noosuspende(RSTJ22/213STJRT672/201RTFR157/379RJTJERG140/137).

    Nessesentido,ocolendoSupremoTribunalFederal"considerourazovelaopiniodetribunallocaldequeorecursoadministrativocomefeitoapenasdevolutivonointerrompenemsuspendeoprazodedecadncia do direito impetrao" (cf. TheotonioNegro,Cdigo deProcessoCivil, 27. ed.,SoPaulo:Saraiva,nota7aoart.18,p.1.105).

    O recurso administrativo previsto na matria no conta com efeito suspensivo, salvo motivaoespecficadaautoridadecompetente,emquadroderazesde interessepblico,que inocorreunahoptese pendente (Lei n. 8.666/93, art. 109, 2), de sorte que no era mais suscetvel deinterrupooususpensooprazoconcernente invocaoda tutelamandamental,em relaodecisoadministrativarelativadecretaodainvalidadedalicitaoempauta.

    Contudo, esse ponto de vista pessoal no veio a ser adotado pela nobre maioria, sob oentendimentodeque,atquesejajulgadoorecursohierrquico(enomeropedidodereconsiderao,dondeafastadaaSmulan.430doSTF),nofluioprazodecadencialinerenteimpetraodowrit.

    Nesseraciocnio,otermoinicialdoprazodecadencialcomeaafluirdaintimaodadecisofinalno procedimento administrativo, o queafasta a arguiodedecadncia, na hiptese versadanosautos,tantomaisque,semaefetividadedogravame,aparteaindanodispederequisitobsicoparaoexercciododireitojurisdio.

    Em suma, prevaleceu o entendimento de que "a interposio de recurso administrativo cabvel,tenhaounoefeitosuspensivo,relegaoinciodoprazodecadencialparaapsoseujulgamento",naesteiradadiretriz jurisprudencialaque referemosprecedentessobreaquesto,mencionadospor Theotonio Negro (Cdigo de Processo Civil e legislao processual em vigor, 27. ed., SoPaulo:Saraiva,

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    p.1.105).

    Definida a questo prejudicial da decadncia, subsiste, em tema preliminar, a arguio deilegitimidade passiva ad causam, em relao ao Sr. Governador do Estado, que, todavia, pelasrazesqueinformaramarejeiodadecadnciadopedidomandamental,arigor,ficouprejudicada.

    De qualquer modo, questionandose, tambm, a deciso tomada no procedimento recursal, nombitoadministrativo,hqueseconcluirquenoprocedeopedidodeextinodoprocessosemjulgamentodomrito,aessettuloformuladopelaautoridadeimpetrada.

    No mrito, cabe assinalar que a empresa impetrante pretende a decretao da nulidade do atoadministrativo anulatrio da licitao pblica que teve por objeto a concesso dos "servios detravessia martima interior do Estado de So Paulo", que fora autorizada pelo Secretrio dosTransportes, em 25 de maro de 1994, que constituiu Comisso Especial para o respectivojulgamento.

    A nica proponente foi a empresa impetrante, considerada habilitada, e cuja proposta veio a seracolhida, sobrevindo a propositura de ao popular, com fundamento em pretensa lesividade aoscofres pblicos e de flagrante ilegalidade no edital da concorrncia pblica, o que justificou adeterminaodemanifestaodaConsultoriaJurdica,feitapeloentoSecretriodosTransportes,AntnioMrcioMeiraRibeiro,em11dejunhode1994,soboGovernoFleury.

    Com base nos pronunciamentos daConsultoria Jurdica e da Assessoria Tcnica, no sentido dequelicitaoteriaprosseguidoaoarrepiodaLein. 8.666/1993, aps apontadas irregularidades no edital que no foram sanadas, indicadas ascircunstnciasnamanifestaodefls.,oentoSecretriodosTransportesresolveuanular"oeditaldelicitaodaConcorrnciaPblica001/94,tendoporobjetoaoutorgadeconcessodosserviosde travessia litornea,bemcomo todososprocedimentoseatossubseqentes", jnapendnciade ao popular, na qual sobreveio o decreto extintivo do feito, precisamente, pela verificao danova deliberao administrativa, que invalidara o certame, tornando prejudicado o objeto da aomencionada.

    Sucede que, tendo sido ajuizado mandado de segurana anterior, acabou sendo invalidada adecisoadministrativaoriginria,por inobservnciadoprincpiododireitodedefesa,porsentenaconfirmadaemgraudeapelao.

    Mas,aoapreciaradefesaopostapelaoraimpetrante,oSecretriodeTransportesPlnioAssmannresolveu anular o referido procedimento licitatrio, j na gesto da Administrao Mrio Covas,pelasrazesenunciadasnadecisodefls.,naconsideraodafaltadeprviaregulamentaodosservios de travessia litornea, em desacordo com o disposto no artigo 119 da ConstituioEstadual,artigo1daLein.7.835/1991eartigo40incisosIeVIIeseu2,itemIV,c.c.artigo55,incisosI,IIeVII,daLein.8.666/93.

    OsaspectosjurdicosabordadosnoparecerAJGn. 415/97, aprovado pelo AssessorChefe, no mbito do Governo do Estado, a que se referiuexpressamente a deciso que manteve a declarao de nulidade do procedimento licitatrio,abrangem os tpicos concernentes obrigatoriedade de regulamentao prvia dos servios aconceder subjetividade dos critrios de anlise das propostas de metodologia executiva eoperacionaleaopoderdeverdeaAdministraoPblicaanularseusprpriosatos.

    Apreciandoessesvciosquemotivaramaposioadotadapelaautoridade impetrada,pelaordemenunciada nas informaes, cabe, em primeiro lugar, ressaltar que a falha correspondente ausncia de prvia regulamentao dos servios pblicos a serem concedidos, no obstante aargumentao deduzida pela impetrante, que se reporta inexistncia de exigncia legal e aoentendimento doutrinrio no sentido de que a regulamentao questionada deva ocorrer antes dainstaurao do processo licitatrio, para integrar as normas que o regem, na verdade encerraargumentaotautolgica,"vistonoseconceberregulamentaoquenosejaprviaemrelaoaosatosaquesedevaaplicar".

    Nessepasso,induvidosoqueosserviosconcedidosoupermitidosficarosempresujeitos

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    regulamentaoefiscalizaodoPoderPblico,comodispeclaramenteotextoconstitucionalestadual(art.119,CE),oqueexplicaanecessidadedequeoregulamentosejadoconhecimentodoslicitantes,mesmoporqueserianomnimoestranhvelquearegulamentaodosserviosconcedidosfosseprovidenciadaapsalicitaoouemfaseposteriorda

    celebraodocontrato,deixandodefigurarnoeditalrespectivo.

    A propsito, lio antiga, sempre atual, de Hely Lopes Meirelles, bem esclarece a questo, aocuidardocontratodeconcessodeserviopblico:

    "Sendoaconcessoumcontratoadministrativodecolaborao,como,ficasujeitoatodasasimposiesdaAdministraoparaosajustesdessanatureza,especialmenteautorizaoporlei,regulamentaopor decreto e escolha do concessionrio em concorrncia. A leiapenasautorizaaconcessoedelimitaaamplitudedo contratoa serfirmado o regulamento estabelece as condies de execuo doservio o contrato consubstancia a transferncia da execuo doservio,pordelegao,aoconcessionrio,vencedordaconcorrncia.Ocontratohdeobservarostermosdalei,doregulamentoedoeditaldalicitao, sob pena de se expor nulidade" (Licitao e contratoadministrativo,8.ed.,SoPaulo:RevistadosTribunais,p.292293).

    Evidentemente, no seria possvel a celebraode contrato, comobedincia s suas regras, emdecorrncia de concesso, na hiptese de falta de prvia regulamentao dos servios a seremconcedidos.

    No se trata, como se afirmou com propriedade, na manifestao da Assessoria Jurdica doGovernoderegulamentarumaconcessoantesqueelaexista."obrigaodopoderconcedenteeditar normas regulamentares claras, transparentes e abrangentes sobre a forma deoperacionalizao dos servios e sobre as etapas e instrumentos dos processos fiscalizatrio,interventivoepunitivo".

    NapreleosemprevaliosadeHelyLopesMeirelles,"asclusulasprincipaisasereminsertasnocontrato de concesso, alm de outras peculiares ao caso, so as que indiquem e delimitem oobjeto,modoeformadaprestaodoservioqueasseguremoservioadequadoquedisponhamsobreafiscalizao,reversoeencampao,fixandooscritriosdeindenizaoqueestabeleamo incio, termoou condiodeprorrogaodo contrato quedelimitemas reas deprestaodeservio, os poderes e regalias para sua execuo que estabeleam o valor do investimento e omodo de integralizao do capital que forneam os critrios para a determinao do custo doservioeconseqentefixaoerevisodastarifas,nabasedeumajustaerazovelretribuiodocapital(...)."(Direitoadministrativobrasileiro,24.ed.,SoPaulo:Malheiros,1999,p.347348).

    Ora, no edital questionado, houve previso de regulamentao dos servios aps a outorga daconcesso (clusulas 36, alnea a e 49), sem a precisa definio do objeto de licitao,previamente, como se impunha na espcie, ocorrendo violao aos princpios que regem aslicitaes,dentreosquaisosrelativosaojulgamentoobjetivoeigualdadeentreosconcorrentes.

    Semaprviaregulamentao,nohfalaremclareza,precisoedefiniodoobjetodalicitao,comosucedenashiptesessimilarestrazidasacotejopelaautoridadeimpetrada.

    Em segundo lugar, deparase tambm com o vcio de ausncia de objetividade nos critrios deanlisedapropostademetodologiaexecutivaeoperacional,estabelecidosnoedital.

    Naavaliaodestametodologia,indispensvelaobservnciadecritriosrigorosamenteobjetivos,queseprestamnosparaaorientaodosinteressadosnaapresentaodaspropostas,comoparabaseseguradeexamepelaAdministrao,nojulgamentooportuno.Osparmetrosdevemsercertos, objetivos, determinados, devem constar do edital e da prvia regulamentao do servio,sobpenade infringnciaaoartigo30,pargrafo8,daLein.8.666/1993,comosucedeunocasovertente(itens10.12e10.13doedital).

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    Oscritriosencartadosnoitem10.15doeditalnocorrespondemaoscritriosreclamadosparaaapreciao objetiva das propostas, o que poderia at mesmo alijar a impetrante do certame,afetandooprincpiodaimpessoalidade,aqueserefereotextoconstitucional(art.37,n.XXI,CR)eospreceitosdaLeidasLicitaes(arts.3,4,ns.IX,IVeVII,e2,n.III,almdoart.55,ns.IeII,daLein.8.666/1993).

    Somaseaessesvciosformaisaexignciaeditalciadeconstituiodeempresaconcessionria,pelaadjudicatria,apsojulgamentodalicitao,quetraduzilegalidade,tendoemcontaque,noconsensodadoutrina,umadascaractersticasdocontratoadministrativoapeculiaridadedeserintuitupersonae,poisexigeapessoadocontratoparasuaexecuo,cabendolembrar,nesseponto,quealegislaoquedisciplinavaalicitaoempautaerasilentesobreamatria.

    ApenascomoadventodaLeiFederaln.8.987,de13de fevereirode1995,que ficou"facultadoao poder concedente, desde que previsto no edital, no interesse do servio a ser concedido,determinar que o licitante vencedor, no caso de consrcio, se constitua em empresa antes dacelebraodocontrato".

    Alis, seria inusitado permitir a contratao com terceiro, que no participou da licitao, ao seadmitir que a concessionria ser constituda pela adjudicatria, isto , com empresa que noparticipou do certame, especialmente quando no se trata de caso de consrcio, mas deconcorrenteindividual,participantedeformaisolada.

    bvioquenose ignoraapossibilidadedecriaodadenominadaspecialpurposecompanysociedadedeobjetoexclusivo,aquealudiua impetrante,criaoaliengena,que,eventualmente,podeseradmitidaemnossodireito,mas,nombitodaregnciadasleisadministrativascogentes,devemser respeitadasasnormasexpressasdenossa legislao, dadaaposioprivilegiadadoEstado,noscontratosadministrativos,caracterizadosporfisionomiainteiramentepeculiar.

    Apropsito,JosCretellaJniorassinala:

    "Nos contratos administrativos o Estado fica em posio privilegiada,vistoqueseacham,emjogo, finsde interessepblico"(Das licitaespblicas,7.ed.,RiodeJaneiro:Forense,p.261).

    Nessetpico,cabelembrarodispostonoartigo50daLein.8.666/1993,queassimestabelece:

    "A Administrao no poder celebrar o contrato com preterio daordem de classificao das propostas ou com terceiros estranhos aoprocedimentolicitatrio,sobpenadenulidade".

    Portanto, em razo dos vcios mencionados, o Governo do Estado, bem amparado no parecerjurdicodesuaAssessoria,efirmenosargumentosexpendidosemsuasinformaes,cujastesesjurdicassoadotadas,legitimamenteinvalidouoprocedimentolicitatrioemexame.

    Podia fazlo, nos termos do princpio consubstanciado no entendimento jurisprudencial firmadopelo Pretrio Excelso (Smula n. 473), sob a gide das exigncias do interesse pblico e dapreservaodaordemjurdica,pelocrivodalegalidade.

    "A anulao da licitao, por basearse em ilegalidade no seuprocedimento, pode ser feita em qualquer fase e a qualquer tempo,antes da assinatura do contrato, desde que a Administrao ou oJudicirio verifique e aponte a infringncia lei ou ao edital", comoesclarece o insigne Hely Lopes Meirelles, com remisso a julgadosnesse sentido (Direito administrativo brasileiro, 24. ed., So Paulo:Malheiros,1999,p.282).

    A anulao opera efeitos ex tunc, retroagindo s origens do ato anulado, sabido que o ato ilegalno gera conseqncias jurdicas vlidas, nemproduz direitos e obrigaes entre as partes, nosujeitandoaAdministraoaqualquerindenizao,"poisoPoderPblicotemodeverdevelarpelalegitimidadedeseusatosedecorrigiras ilegalidadesdepuradas invalidandooato ilegtimo,para

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    queoutrosepratiqueregularmente"(RDA40/324,52/248RT212/164,219/119).

    Por conseguinte, a despeito do louvvel empenho dialticomanifestado pelo digno representanteprocessualda impetranteedaexcelnciadopareceremquearrimasuapretensomandamental,reconhecidaasuperioridadejurdicadasmanifestaesdaautoridadeimpetrada,nasinformaesenopareceradministrativoemquese funda, impeseadenegaodowrit,comodesacolhimentodopronunciamentodadoutaProcuradoriaGeraldeJustia.

    Nestestermos,semembargodorespeitvelpontodevistadadoutaProcuradoriaGeraldeJustia,denegaseasegurana,repelidasaspreliminares.

    DIRCEUDEMELLO,Presidente

    MRCIOBONILHA,Relator

    VOTO

    DeclaraodeVotoVencedor

    1. Adoto o relatrio de fls. e acompanho o eminenteRelator para denegar a segurana. Em quepese o volume das alegaes, o fulcro da questo posta em discusso pode ser resumido emquatro aspectos essenciais, a saber: da necessidade de regulamentao prvia dos servios aserem concedidos da ausncia de objetividade na anlise das propostas da impossibilidade deconstituio de empresa concessionria para a execuo do contrato e, da possibilidade de aAdministraoPblicaanularseusprpriosatos.

    2. A concesso de servio pblico, como cedio, submetese a normas regulamentares e anormas contratuais. As primeiras so as que interessam ao caso em testilha, ou seja, as quedisciplinam omodo e a forma de prestao do servio, de sorte que so denominadas tambmcomo "leis do servio", conforme o ensinamento de clssico Hely Lopes Meirelles (Direitoadministrativobrasileiro,19.ed.,SoPaulo:Malheiros,p.340).mister ressaltarqueasnormasregulamentares esto includas entre as clusulas principais do contrato administrativo deconcesso,poisneledevemserinseridos,dentreoutros,oobjeto,omodoeaformadeprestaodoservio.Daseconcluiqueasleisdoserviohodeantecederoprpriocontratodeconcesso.Eseassim,invlidaaclusulan.49doanexoVdoedital,porassimdispor,verbis:

    "OPoderConcedente,decorridos90(noventa)dias,contadosdo inciodas travessias pela concessionria, far publicar o regulamentoespecfico da concesso e constituir uma comisso deacompanhamento e fiscalizao das obras e dos servios, de carteropinativo, composta por representantes, em igual nmero, do PoderLegislativo,doPoderExecutivoedosusurios".

    sabido que as clusulas regulamentares podem ser alteradas unilateralmente pelaAdministrao, o que, todavia, no permite se conclua pela desnecessidade de prviaregulamentao,aocontrrio,pois,datesesustentadapelaimpetrante,datavenia.Aceitarseessatese implicar o reconhecimento da validade de um certame de objeto indefinido, inadequado disputaentrelicitantesdealgoaindadesconhecido.

    3.Comrelaoaoscritriosparajulgamentodaspropostas,patenteanecessidadedeadoodecritriosobjetivos. "Oessencialqueseestabeleamasbasesdo julgamento,apontandoqualofator ou fatores preponderantes, e, quando possvel, se lhes atribuam valores ou pesos quepermitam a quantificaomatemtica das vantagens ofertadas, demodo a afastar aomximo osubjetivismodadeciso"(HelyLopesMeirelles,ob.cit.,p.275).Imperioso,portanto,oprincpiodojulgamentoobjetivo.

    Demais, como intuitivo, a j apontada falta de regulamentao conduz ao subjetivismo dojulgamento, circunstncia que no passou despercebida pela Procuradora do EstadoAssessora,emseuparecer,aoanotarque"em faceda inexistnciade regulamentaoprviadosserviosaseremconcedidos,vriosaspectosquedeveriamestarregradosedefinidosficaramaoalvedriodos

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    licitantes,aseremapresentadosnapropostademetodologiaexecutivaeoperacional".Confirase,arespeito,ositensns.10.12e10.13doedital.

    Nem se diga que o critrio de julgamento ficou limitado ao menor preo, pois este " usual nacontrataodeobrassingelas,deserviosquedispensamespecializao,nacomprademateriaisougnerospadronizados,porque,nessescasos,oqueaAdministraoprocurasimplesmenteavantagemeconmica"(HelyLopesMeirelles,ob.cit.,p.273).No,comefeito,ocasodosautos.

    4.Noquedizrespeitoconstituiodeumaempresaconcessionriaparaaexecuodocontrato, importanteressaltarqueoprocedimento licitatrio foi regidopelaLeiFederaln.8.666/1993,quenopreviaaexecuodosserviosporterceiro,sendocertoqueafaltadeprevisonodensejo sua prtica, pois, como sabido, Administrao permitido fazer somente o que a leidetermina, ao contrrio do administrado, que pode fazer tudo o que a lei no probe. Ora, aAdministraoPblicaregidapeloprincpiodalegalidade,entreoutros,hojealadocondiodeprincpio constitucional administrativo (art. 37, caput, da CF). verdade, porm, que a partir davigncia da Lei Federal n. 8.987/1995, especificamente em razo do disposto em seu artigo 20,facultouseaopoderconcedente,desdequeprevistonoeditaleatendidoo interessedoservioaserconcedido,determinarqueo licitantevencedorseconstituaemempresaantesdacelebraodocontrato,pormsesetratardeconsrcio.Taldisposionoseaplicaaocasodosautos,pordois motivos: primeiro porque a licitao em questo regida por lei anterior (Lei Federal n.8.666/1993)e,segundo,porqueavencedoraparticipoudocertameisoladamente,nosecuidando,ento, de consrcio. Prevalece, nessas condies, a execuo pessoal, tratandose de contratoadministrativointuitupersonae.

    5.Porderradeiro,"aanulaodosatosadministrativospelaprpriaAdministraoconstituiaformanormaldeinvalidaodeatividadeilegtimadoPoderPblico.EssafaculdadeassentanopoderdeautotuteladoEstado.umajustiainterna,exercidapelasautoridadesadministrativasemdefesadainstituioedalegalidadedeseusatos."(HelyLopesMeirelles,ob.cit.,p.190).Ademais,noqueinteressaaqui,eissofoibemressaltadopelorelator,emseuvoto,aanulaodalicitaopodeserfeitaemqualquerfaseeaqualquertempo,antesdaassinaturadocontrato,tendoemcontaopoderquedetmaAdministraodevelarporseusprpriosatos.NessesentidoaSmulan.473doSTF,assimredigida.

    6. Ante todo o exposto, em que pese o douto entendimento do ilustrado patrono da impetrante,fundandose em parecer do professor Geraldo Ataliba, prestigiado que foi, outrossim, pela doutaProcuradora de Justia oficiante, denego a segurana. Sem condenao em honorrios deadvogado,eisqueincabveisnaespcie(Smulan.512doSTF).Custas,exlege.

    SoPaulo,9dejunhode1999

    NELSONSCHIESARI

    INCIO