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O notável sociólogo urbano Robert Park certa vez escreveu que a cidade é: “a tentativa mais consistente do homem e a mais bem sucedida como um todo para refazer o mundo em que vive o mais próximo de seu desejo íntimo. Mas, se a cidade é o mundo que o homem criou, é o mundo no qual ele está doravante condenado a viver. Assim, indiretamente, e sem qualquer clareza da natureza de sua tarefa, fazendo a cidade o homem refez a si mesmo 1 ”. Se Park estiver certo, então a questão sobre qual tipo de cidade queremos não pode estar divorciada da questão sobre qual tipo de pessoas desejamos ser, quais tipos de relações sociais buscamos, qual relação nutrimos com a natureza, qual modo de vida desejamos. Isto se assemelha com a concepção de Lefebvre sobre o direito à cidade não “como um simples direito de visita ou como um retorno às cidades tradicionais”, mas “como um direito à vida urbana transformado e renovado” 2 . O direito à cidade está, por isso, além de um direito ao acesso àquilo que já existe: é um direito de mudar a cidade mais de acordo com o nosso desejo íntimo. A liberdade para nos fazermos e nos refazermos, assim como nossas cidades, é um dos mais preciosos, ainda que dos mais negligenciados, dos nossos direitos humanos. Mas, sendo que, como Park adverte, até agora faltamos com qualquer sentido de clareza sobre a natureza de nossa tarefa, devemos primeiramente refletir sobre como fomos feitos e refeitos, através da história, por um processo urbano impulsionado para frente por poderosas forças sociais. O ritmo e a escala assustadores do processo de urbanização nos últimos cem anos significam, por exemplo, que fomos refeitos muitas vezes sem saber por quê, como ou para quê. Isso tem contribuído para o bem-estar humano? Tem isso nos feito pessoas melhores ou nos deixado pender em um mundo de anomia e alienação, ódio e frustração? Transformamo-nos em meras mônadas arremessadas de lá para cá num mar urbano? E o que podemos agora fazer com as imensas concentrações de riqueza e privilégios em nossas cidades naquilo que até as Nações Unidas retratam como um “planeta de favelas” em explosão 3 . A grande questão, certamente, é para onde ir a partir daqui. Existe alguma via para exercitar esse precioso direito à cidade que Park insinua e Lefebvre advoga? Remendar com resultados é inútil. O que tudo isto faz, como Engels certa vez notou, é girar em falso: uma favela é varrida daqui apenas para reaparecer noutro lugar qualquer. Se nos opomos ao nosso estado corrente, então o único caminho radical adiante é confrontar os processos básicos que geram esse estado 4 . Isto reivindica uma densa análise. Quero aqui me concentrar em um macro processo particular que tem sido esquecido muito frequentemente, justamente por ser tão macro. Isto é o que chamo “o problema do capital excedente”. Ele atua assim: os capitalistas começam o dia com um certo montante de dinheiro e terminam o dia com um maior. No dia A LIBERDADE DA CIDADE David Harvey Tradução de: Anselmo Alfredo * Tatiana Schor ** Cássio Arruda Boechat *** GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 26, pp. 09 - 17, 2009 * Professor Doutor do Departamento de Geografia da FFLCH/USP. E-mail: [email protected] ** Docente do depto. de Geografia da Universidade Federal do Amazonas. E-mail: [email protected] *** Doutorando do depto. de Geografia da FFLCH/USP. E-mail: [email protected]

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O notável sociólogo urbano Robert Parkcerta vez escreveu que a cidade é:

“a tentativa mais consistente do homem e amais bem sucedida como um todo para refazero mundo em que vive o mais próximo de seudesejo íntimo. Mas, se a cidade é o mundo queo homem criou, é o mundo no qual ele estádoravante condenado a viver. Assim,indiretamente, e sem qualquer clareza danatureza de sua tarefa, fazendo a cidade ohomem refez a si mesmo1”.

Se Park estiver certo, então a questãosobre qual tipo de cidade queremos não podeestar divorciada da questão sobre qual tipo depessoas desejamos ser, quais tipos de relaçõessociais buscamos, qual relação nutrimos com anatureza, qual modo de vida desejamos. Isto seassemelha com a concepção de Lefebvre sobre odireito à cidade não “como um simples direito devisita ou como um retorno às cidades tradicionais”,mas “como um direito à vida urbana transformadoe renovado” 2. O direito à cidade está, por isso,além de um direito ao acesso àquilo que já existe:é um direito de mudar a cidade mais de acordocom o nosso desejo íntimo. A liberdade para nosfazermos e nos refazermos, assim como nossascidades, é um dos mais preciosos, ainda que dosmais negligenciados, dos nossos direitoshumanos. Mas, sendo que, como Park adverte,até agora faltamos com qualquer sentido declareza sobre a natureza de nossa tarefa,devemos primeiramente refletir sobre comofomos feitos e refeitos, através da história, porum processo urbano impulsionado para frente por

poderosas forças sociais. O ritmo e a escalaassustadores do processo de urbanização nosúltimos cem anos significam, por exemplo, quefomos refeitos muitas vezes sem saber por quê,como ou para quê. Isso tem contribuído para obem-estar humano? Tem isso nos feito pessoasmelhores ou nos deixado pender em um mundode anomia e alienação, ódio e frustração?Transformamo-nos em meras mônadasarremessadas de lá para cá num mar urbano? Eo que podemos agora fazer com as imensasconcentrações de riqueza e privilégios em nossascidades naquilo que até as Nações Unidasretratam como um “planeta de favelas” emexplosão3.

A grande questão, certamente, é paraonde ir a partir daqui. Existe alguma via paraexercitar esse precioso direito à cidade que Parkinsinua e Lefebvre advoga? Remendar comresultados é inútil. O que tudo isto faz, comoEngels certa vez notou, é girar em falso: umafavela é varrida daqui apenas para reaparecernoutro lugar qualquer. Se nos opomos ao nossoestado corrente, então o único caminho radicaladiante é confrontar os processos básicos quegeram esse estado4. Isto reivindica uma densaanálise.

Quero aqui me concentrar em um macroprocesso particular que tem sido esquecido muitofrequentemente, justamente por ser tão macro.Isto é o que chamo “o problema do capitalexcedente”. Ele atua assim: os capitalistascomeçam o dia com um certo montante dedinheiro e terminam o dia com um maior. No dia

A LIBERDADE DA CIDADEDavid Harvey

Tradução de: Anselmo Alfredo *Tatiana Schor **

Cássio Arruda Boechat ***

GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 26, pp. 09 - 17, 2009

* Professor Doutor do Departamento de Geografia da FFLCH/USP. E-mail: [email protected]** Docente do depto. de Geografia da Universidade Federal do Amazonas. E-mail: [email protected]

*** Doutorando do depto. de Geografia da FFLCH/USP. E-mail: [email protected]

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seguinte eles levantam e têm de decidir o quefazer com o dinheiro extra que eles ganharam nodia anterior. Eles encaram um dilema faustiano:reinvestir para ter ainda mais dinheiro ouconsumir o excedente. As leis coercitivas dacompetição os forçam a reinvestir porque, sealguém não reinveste, então, outro seguramenteo fará. Para permanecer um capitalista, algumexcedente deve ser reinvestido para fazer aindamais excedente.

A política do capitalismo é dirigida pelanecessidade de encontrar terrenos lucrativos paraa absorção de capital excedente. Se há umaescassez de trabalho e os salários são muito altos,então ou o trabalho existente tem de serdisciplinado (desemprego tecnologicamenteinduzido ou uma dura crítica contra o poder daclasse trabalhadora organizada são dois dosprincipais métodos) ou força de trabalho frescatem de ser encontrada (pela imigração,exportação de capital ou proletarização). Se nãohá poder de compra suficiente no mercado, entãonovos mercados devem ser encontrados pelaexpansão do comércio exterior, promovendonovos produtos e modos de vida, criando novosinstrumentos de crédito e gastos estatais comdívida financiada. Se a taxa de lucro é muito baixa,então a regulação estatal das “ruínas dacompetição”, a monopolização (fusões eaquisições) e as exportações de capital às frescaspastagens proporcionam a saída. E, se nada dissofor possível, então os capitalistas se defrontamcom uma condição de crise na qual muito de seucapital será desvalorizado. A crise toma forma deum excedente de capital que não pode serdisponibilizado. E quando o capital fica ocioso,normalmente o trabalho faz o mesmo5.

A urbanização proporciona um caminhopara resolver o problema do capital excedente.Considere o caso da Paris do Segundo Império. Acrise de 1848 foi uma das primeiras crisesexplícitas de capital excedente e foi extensiva àEuropa. Ela at ingiu Paris de maneiraparticularmente forte e, com capital nãoempregado, o resultado foi uma revoluçãoabort iva por parte dos trabalhadoresdesempregados e daqueles utópicos que viam

uma república socialista como antídoto à ganânciae à desigualdade capitalistas. Mas a burguesia,revidando violentamente contra osrevolucionários, não poderia resolver a crise e oresultado foi a ascensão ao poder de NapoleãoBonaparte, que se autoproclamou imperador em1852. Para sobreviver politicamente, o imperadorsabia que deveria lidar com o problema do capitalexcedente e fez isso anunciando um vastoprograma de investimento infraestrutural tantointerno quanto no exterior. No exterior, istosignificou a construção de estradas de ferroatravés da Europa e descendo ao Oriente, bemcomo apoio para obras grandiosas como o Canalde Suez. Internamente, significou consolidar arede ferroviária, construir portos e ancoradouros.Mas, acima de tudo, significou reconfigurar ainfraestrutura urbana de Paris. Ele trouxeHaussmann a Paris para assumir as obras públicasem 1853.

Haussmann compreendeu claramente quesua missão era ajudar a resolver o problema docapital excedente e do desemprego pela via daurbanização. A reconstrução de Paris absorveuenormes quantidades de trabalho e de capital paraos padrões da época e, junto com uma supressãoautoritária das aspirações da força de trabalhoparisiense, foi um veículo fundamental deestabilização social. Haussmann valeu-se dosplanos utópicos (dos fourieanos e saint-simonianos) de remodelar Paris que haviam sidodebatidos na década de 1840, mas com umagrande diferença. Ele transformou a escala à qualo processo urbano foi imaginado. Quando oarquiteto Hittorf mostrou a Haussmann seusplanos para um novo boulevard, Haussmannjogou-os de volta dizendo, “não é amplo osuficiente... você o tem em 40 metros de largurae eu o quero em 120”. Haussmann pensou nacidade como um todo numa escala maisgrandiosa, anexou os subúrbios, redesenhoubairros inteiros (tal como Les Halles), mais doque apenas fragmentos e pedaços do tecidourbano. Ele mudou a cidade por atacado mais doque a varejo. Para fazer isto, precisou de novasinstituições financeiras e de instrumentos decrédito. O que ele fez de fato foi ajudar a resolvero problema do capital excedente estabelecendo

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um sistema keynesiano de melhoramentosurbanos infraestruturais com dívidas financiadas.O sistema funcionou muito bem por uns quinzeanos. Mas então quebrou em 1868. Haussmannfoi tirado do poder, Napoleão III em desesperofoi à guerra contra a Alemanha de Bismarck eperdeu e, no vácuo que se seguiu, levantou-se aComuna de Paris, um dos mais revolucionáriosepisódios na história urbana do capitalismo. Oproblema do capital excedente não se extinguesob o capitalismo, ele tem apenas soluçõestemporárias, mas com grandes impactosirreversíveis sobre a vida urbana (os boulevardesde Haussmann dominam Paris até hoje) 6.

Indo agora um pouco adiante, até 1942nos Estados Unidos. O problema dadisponibilidade de capital excedente que pareceutão intratável nos anos de 1930 (e o desempregoque com ele veio) foi temporariamente resolvidopela enorme mobilização para o esforço de guerra.Mas todos estavam temerosos a respeito do queaconteceria após a guerra. Politicamente asituação era perigosa. O governo federal estava,na verdade, real izando uma economianacionalizada e estava em aliança com a UniãoSoviética comunista. Todos sabemos da históriasubsequente às políticas do McCarthismo (sinaisabundantes delas estavam presentes em 1942).Mas o que dizer sobre o problema do capitalexcedente? Naquele ano apareceu uma extensaavaliação dos esforços de Haussmann em umarevista de arquitetura. Documentou-se emdetalhe aquilo que ele havia feito que era tãoimpressionante e tentou-se uma análise de seuserros. O artigo foi de ninguém menos que RobertMoses, que, após a II Guerra Mundial, fez a todaa região metropolitana de Nova Iorque o queHaussman fez a Paris. Ou seja, Moses mudou aescala de pensamento sobre o processo urbanoe através do sistema (dívida financiada) deautoestradas e transformações infraestruturais,através da suburbanização e da total re-engenharia da região metropolitana, usou oprocesso urbano como um caminho para resolvero problema da absorção do capital excedente.Esse processo, quando abrangeu toda a nação,como o foi em todos os maiores centrosmetropolitanos dos Estados Unidos (ainda outra

transformação de escala), teve um papel crucialna estabilização do capitalismo global após a 2ª.Guerra Mundial. Tal projeto teve êxito até o fimdos anos 60 quando, como ocorreu comHaussmann, um diferente tipo de crise começoua se desdobrar até que Moses caísse das graçase suas soluções parecessem inapropriadas einaceitáveis. Mas os subúrbios haviam sidoconstruídos e a radical transformação no modode vida que isto sinalizou teve todo tipo deconsequências sociais, levando, por exemplo, aprimeira onda de feministas a proclamar osubúrbio e o seu modo de vida como o locus detodos os seus principais descontentamentos7.

Agora mais adiante, para a nossaconjuntura atual. O capitalismo internacional temestado em uma montanha russa de crises equebradeiras regionais (Leste e Sudeste da Ásiaem 1997-8; Rússia em 1998; Argentina em 2001,etc.), mas até agora evitou uma quebra globalainda que diante de um problema crônico deexcedente de capital disponível8. Qual tem sido opapel da urbanização na estabilização destasituação? Nos Estados Unidos se aceita asabedoria de que o mercado imobiliário foi umimportante estabilizador da economia desde pelomenos o ano 2000 (após a quebra da altatecnologia no final da década de 1990). Eleabsorveu diretamente uma grande parte docapital excedente quando a rápida inflação depreços de ativos imobiliários sustentados por umapródiga onda de refinanciamentos de hipotecasa históricas baixas taxas de juros impulsionou omercado interno de bens de consumo e deserviços. A urbanização da China nos últimos vinteanos foi ainda mais importante. Seu ritmo cresceuenormemente após a breve recessão em 1997ou próximo disso, de tal modo que a Chinaabsorveu quase metade do suprimento decimento de todo o mundo desde 2000. Asconsequências para a economia global foramsignificativas: o Chile cresce por causa dademanda de cobre, a Austrália prospera e mesmoo Brasil e a Argentina se recuperam em parte porcausa da força da demanda da China pormatérias-primas. Mais de 100 cidades cresceramvertiginosamente acima da marca de um milhãode habitantes na China e várias estão rumando

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para o nível de 10 milhões e vastos projetos infra-estruturais estão transformando a paisagem9–novamente, tudo financiado por dívidas. É aurbanização da China o principal estabilizador docapitalismo global? A resposta tem de ser um simparcial. Mas a China é apenas o epicentro de umprocesso de urbanização que se tornou agoragenuinamente global em parte através daimpressionante integração global dos mercadosfinanceiros que usam sua flexibilidade para osprojetos urbanos financiados por dívidas, desdeDubai até São Paulo e de Mumbai até Hong Konge Londres. O banco central chinês, por exemplo,tem sido ativo no mercado de hipoteca secundárioderivado do boom de refinanciamento nos EUAenquanto Goldman Sachs foi fortemente envolvidono surgimento do mercado imobiliário em Mumbaie o capital de Hong Kong foi investido emBaltimore. Novamente, estamos olhando aquipara uma outra transformação em escala, umaque torna difícil de compreender que o que podeestar ocorrendo globalmente é em princípiosimilar aos processos que Haussmann conduziucom tanta destreza na Paris do Segundo Império.A urbanização, concluo, é um veículo primordialpara absorção do excedente em escalasgeográficas sempre crescentes.

Mas que tipo de urbanização é esta e quaissuas consequências para o caráter humano? Epor quais meios e por quem esta transformaçãode escala tem sido realizada? No caso de Paris,podemos claramente ver as figuras de NapoleãoIII e seus muitos assessores, bem como deHaussmann e dos novos gênios do do crédito (osirmãos Pereire) na vanguarda. Mas para ondeolhamos hoje?

Voltemos por um momento para olharpara o final da revolução urbana de Moses nosEstados Unidos. Ele ajudou, a um preço, aestabilizar com sucesso o capitalismo global porduas décadas. A inundação de investimentosnos subúrbios e a integração da economianacional pelo sistema interestadual de viasexpressas transformaram radicalmente ageografia do sistema urbano dos EUA. Ascidades centrais, o núcleo tradicional dasatividades produtivas, foram deixadas para trás.

A cidade de Nova Iorque perdeu postos deemprego para os subúrbios e para o Sul e Oeste(a indústria de vestuário mudou-se para asCarolinas antes, posteriormente indo para oMéxico e agora para a China). As cidadescentrais mais ant igas tornaram-se terrasdesgastadas, centros de desemprego e pobrezacrescentes e de minorias rad ica lmenteimpactadas. A economia foi bem, mas ascidades centrais não. O resultado foi odesenrolar de uma distinta “crise urbana” nosanos de 1960 em meio ao boom da “idade deouro” do pós-guerra. Inquietude social, irromperde vio lências, movimentos urbanosrevolucionários, tudo culminando no levanteintracidades em escala nacional de 1968, nodespertar* do assassinato de Martin Luther King.Foram os sinais chave desta aflição urbana10.

O governo federal financiou um esforçomaciço para resolver a crise urbana. Fundosfluíram para as cidades impactadas e umprograma público de emprego, amplamente,mas não somente, nas mãos dos governosmunicipais, foi destinado para aliviar a pobrezae a injustiça racial e trazer as cidades centraisde volta à vida. Na cidade de Nova Iorque, oempoderamento das minorias raciais e dossindicatos municipais veio de mãos dadas como aumento dos gastos nos serviços municipais(educação e saúde). A isto a cidade adicionousua própria caridade, tendo descoberto, com aajuda dos invest idores bancários, muitoscaminhos para aumentar o endividamento. Acidade fez o que Haussmann de fato fez: usounotas de antecipação de impostos (empréstimoscontra receitas futuras estimadas) para financiaro orçamento corrente. Ao mesmo tempo, aadministração da cidade teve um complicadorelacionamento com os construtores urbanos,os grandes f inanciadores e emprei teirasespeculativas. Por um lado, ela ajudou-os comtodo t ipo de subs ídios (provave lmentelubrificado com subornos para os políticos esindicatos de construção), mas, por outro, aorganização dos bairros e os fortes sindicatosmunicipais colocaram barreiras políticas aosprojetos da indústria da construção. Um boom

* No texto in the wake que, ao mesmo tempo, significa velório, dando um duplo sentido ao texto N.T.

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especulat ivo da construção (que incluiu odesastre f inanceiro chamado World TradeCenter) no fim dos anos 1960 precarizou aindamais o mercado imobiliário de Nova Iorque.

O desastre bateu em 1973. A recessãoglobal começou globalmente no setor imobiliáriocausando sérias dificuldades nas instituiçõesfinanceiras com amplos interesses nos REITS(Trustes de Invest imento na PropriedadeImobiliária), muitos dos quais entraram emcolapso. O mercado imobiliário não poderia maisabsorver o capital excedente. O governo federal,em dificuldades financeiras devido à década das“armas e manteiga”, estratégia para enfrentaruma guerra contra a pobreza interna e uma guerramilitar no Vietnã, perdeu o controle internacionalassim como o interno sobre suas finanças. Osistema de Bretton Woods que haviafundamentado a ordem financeira internacionalentrou em colapso e uma crise fiscal foi geradainternamente com o surgimento de inflação edesemprego. A resposta de Washington foiimediata. No Discurso do Estado da União (Stateof the Union Address), de 1973, o presidenteNixon assegurou à nação que a crise urbana haviaacabado, com o que simplesmente quis dizer quea ajuda às cidades centrais seria cortada. Arecessão e a quebra do mercado imobiliárioatingiram as receitas de impostos arrecadadosna cidade de Nova Iorque. Um governo municipaljá fortemente endividado teve de emprestar aindamais para cobrir suas contas. Mas, em março de1975, os banqueiros investidores de Nova Iorquerecusaram-se a financiar e comercializar a dívidada cidade forçando-a a enfrentar a bancarrota11.

A má administração f inanceira e aavareza dos sindicatos municipais foramamplamente culpadas pela imprensa capitalista.Enquanto houve mais do que um grão deverdade em ambas as rec lamações, osinvestidores bancários [investment bankers]encorajavam havia tempos a cidade a tomarempréstimos, desde que isto fosse um grandenegócio para eles e que as dificuldades no setorimobiliário e a drenagem de decentes empregosdo setor privado da área central da cidade nãofossem feitas pela administração da cidade. A

principal questão é por que os investidoresbancários se recusaram a emprestar e assimarriscaram levar à bancarrota aquilo que atéentão era um dos maiores orçamentos do setorpúblico no mundo com potenciais consequênciascatastróficas para o sistema financeiro global(o chanceler da Alemanha Ocidental apelou paraque Washington não deixasse a cidade ir àbancarrota por receio de um colapso total nosistema financeiro).

As respostas a essa questão sãocomplicadas. Para começar, havia mais do queuma insinuação de racismo na decisão, uma vezque o establishment financeiro branco (comooposto a Leonard Bernstein, que deu umaelegante festa para os Panteras Negras)claramente tinha receio da ascensão do podernegro na cidade. A recessão e a crise fiscalproporcionaram uma oportunidade para pôr issoem xeque, enfatizando quem é que realmentesegurava as alças da bolsa e do poder. Emsegundo lugar, os f inanc iadores estavamreceosos do poder dos sindicatos municipais ede sua habilidade para forçar pagamentofavorável e pacotes de benefícios a seusmembros. Em terceiro, eles se opuseram aosgastos municipais em serviços tais comoeducação gratuita (incluindo à UniversidadeMunicipal de Nova Iorque comaproximadamente 330.000 estudantes) assimcomo à expansão de emprego nas áreas desaúde, transporte e saneamento. Em quartolugar, o poder das organizações de comunidadeem deter amplos projetos de construção (o lugarque mais tarde se tornou o Battery Park Cityesteve em luta desde a metade dos anos 1960)foi considerado uma séria barreira às suasambições. Finalmente, o setor financeiro estavaele mesmo em dificuldade com o colapso domercado imobiliário e com o do REITS.

O poder de classe das elites financeirasestava ameaçado e elas necessitavam encontrarum caminho para restabelecer sua posição. Osgrandes financiadores e políticos, tais como osirmãos Rockfeller, indubitavelmente amavamsua cidade. Eles apenas queriam refazê-la maissegundo seus próprios desejos ínt imos e

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assegurar a riqueza e o poder deles mesmosao fazer tal mudança. A crise fiscal de 1975 foivista e capturada por eles como a grandeoportunidade de fazer exatamente isso.

O que se pôs em movimento em 1975 foium processo de refazer a cidade de Nova Iorqueque teve sua plena fluidez na administraçãoBloomberg após 2001. Toda a ilha de Manhattanse tornou virtualmente um condomínio fechadopara os ultrarricos, para os maiorais dos serviçosfinanceiros (como o diretor do Goldman Sachsque neste ano recebeu um bônus de US$ 52milhões), para os diretores dos fundos deinvestimentos de alto risco (o mais importanterecebeu compensação pessoal de mais de US$250 milhões em 2005), para os capitalistasfinanceiros e comerciantes transnacionais, paraos magnatas da mídia, estrelas dos esportes edo cinema, para instituições culturais (como oMoMA, cultivado tão assiduamente por NelsonRockfeller durante os anos 1970 como parte desua cruzada pessoal para civilizar a cidade pelacultura). A cidade de Nova Iorque se transformounum destino turístico que foi sistematicamentevendido ao resto do mundo como um lugar quedeve ser visto (incluindo agora, certamente, omórbido local onde o fracasso financeiro WorldTrade Center de David Rockfeller uma vez esteve).Os bairros, antes tristes e pobres em relação àManhattan, estão também agora sentindo o calordos empreendimentos à medida que grandesprojetos são estendidos sobre o Brooklin, oQueens e, até mesmo, o Bronx.

Mas tudo isto pareceria um sonho nosnegros dias de 1975. A cidade, sem nenhum outrolugar para ir, apelou para o governo federalfinanceiramente sem grana, mas o presidenteGerald Ford, ansioso por exibir suas credenciaisconservadoras face a uma reunião de movimentosque logo passou a ser conhecida comoReaganismo e rodeado por assessores financeiros(como o ultraconservador Secretário do TesouroWillian Simon, que, quando era uma liderança naárea financeira nos anos 1960, encabeçara oencorajamento da cidade de Nova Iorque aoendividamento) e assessores políticos (como ogrande urbanista Donald Rumsfeld, como chefe

do grupo Ford), disse “não” (“De Ford para acidade: Morra” disse a manchete do jornal). Acidade foi condenada como não sendo capaz depagar sua força de trabalho e as suas contas demanutenção. A solução a que se chegou atravésde tensas negociações entre investidoresbancários e o governador do estado de NovaIorque (com o prefeito como crescenteparticipantes nominal) foi de primeiro estabelecero que foi denominado Corporação de AssistênciaMunicipal (MAC), depois suplantada pelo Conselhode Controle de Emergência Financeira (EFCB).

O governo da cidade perdeu o controle deseu orçamento. A estrutura que emergiu foisimples. Os rendimentos de impostos fluíram parao “Big MAC” ou para o EFCB e qualquer sobra dopagamento integral às instituições financeiras eraentão dado à cidade para custear seus serviços.Cortes catastróficos no emprego municipalseguiram (assim como cortes no pagamento enos benefícios) e a entrega de serviços da cidadeem educação, saúde, saneamento e transportefoi severamente reduzida. Os Rockfellersconseguiram um de seus objetivos-chave: aimposição da tutoria sobre a UniversidadeMunicipal de Nova Iorque (por que, diziam eles,deveriam os nova-iorquinos pagar por tal sistemade universidade de massa e gratuito enquantoChicago não tinha nenhum, convenientementeesquecendo quantos futuros vencedores dePrêmios Nobel foram nutridos através do sistemada cidade). Os sindicatos municipais perderammuito de seu poder. As associações decomunidade foram disciplinadas (o local doBattery Park City rapidamente tornou-sedisponível). A democrática cidade de Nova Iorquefoi de fato deposta e a ascensão do poder negrofoi reprimida pelo golpe financeiro que em seuspormenores foi tão efetivo em termos econômicoscomo o foi o golpe militar de 1973 no Chile12.

Mas os investidores bancários tambémprecisavam refazer a cidade numa imagemdiferente e a maior questão era como e com oquê. Eles tinham uma vantagem externa. A subidado preço do petróleo após a guerra árabe-israelense de 1973 pôs vasta quantidade depetrodólares à disposição dos Estados do Golfo.

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Sabemos agora que os EUA estavam sepreparando para invadir a Arábia Saudita em 1973no sentido de ocupar os poços de petróleo e trazero preço do petróleo para baixo. Não sabemos oquão sérios eram estes planos, mas sabemos queo embaixador dos EUA na Arábia Sauditanegociava um acordo de que os petrodólaresseriam todos reciclados através dos bancos deinvestimento de Nova Iorque. O poder imperialdos EUA arranjava a parte do leão nos negóciosglobais do serviço financeiro para a cidade de NovaIorque. Essa indústria (vinculada ao suporte legalnecessário e serviços de informação) cresceu paraalém de toda proporção e propiciou uma fortebase econômica para a cidade, assim como umgrande meio para uma elite da política econômicarestabelecer e confirmar seu poder de classe 13.

Porém, a elite dos negócios político-econômicos precisava de algo mais. Elesreconheceram que a indústria manufatureiraestava com problemas e buscaram reconstruir acidade de Nova Iorque como um destino turístico(este foi o famoso momento do “eu (amo) NovaIorque”, logomarca e campanha publicitária) epara este fim cultivaram o que mais tarde setornou conhecido como as “indústrias culturais”do teatro, museus e artes gráficas. Eles buscaramreerguer o tradicional papel de Nova Iorque comoum centro de mídia. Mas aqui eles se defrontaramcom uma contradição. Os cortes nos serviçosmunicipais fizeram da Nova Iorque dos finais dos1970 e 1980 um meio urbano difícil e mesmoperigoso. A onda de crime e a epidemia do crackque emergiram em resposta ao ataque sobre aclasse trabalhadora de Nova Iorque e a supressãodo poder negro militaram contra a realização dosobjetivos da elite financeira. Tampouco a classetrabalhadora de Nova Iorque sucumbiu sem umabatalha. Greves deixaram lixo apodrecendo nasruas, a manutenção do metrô se deteriorou e ossindicatos da polícia e dos bombeiros lançaramuma campanha da “Cidade do Medo” queenfatizou os perigos da falta de segurança nacidade aos turistas. A resposta foi reinventar ogoverno urbano como “governança” – como umaparceria entre a administração da cidade e quempoderia de fato bancar [stakeholders] o futuroda cidade, a parte crucial destes sendo os

parceiros dos negócios do centro da cidade, aindústria de turismo, os juros da propriedadeprivada e (onde fosse apropriado) setores dotrabalho (sindicatos da construção em particular).A estratégia foi assegurar Manhattan através dagentrificação, serviços superiores, repressãopolicial (que alcançou um alto ponto com orevanchismo da administração Giul iani) eempreendimentos imobiliários de luxo enquantose deixava os bairros deteriorados (ainda deixa-se muito do Bronx destruir-se em chamas numaonda de proprietár ios incendiar iamenteinspirados) 14.

Nada disso ocorreu sem luta. Mas essareformulação do processo urbano da cidade deNova Iorque foi um momento pioneiro naquilo quese tornou uma estratégia global que se assentavaem dois princípios básicos. Primeiro, no caso deum conflito entre o bem-estar de uma populaçãoe a taxa de retorno dos bancos investidores estaúltima deve ser privilegiada. Isto se tornou o credodas estratégias de ajustamento estrutural doFundo Monetário Internacional (FMI), após 1982,quando a administração Reagan, inicialmenteinteressada em abolir o FMI como inconsistentecom o princípio neoliberal dos mercados livres,reinventou-o no sentido de dar caução à criseirrompida no México, que foi o receptor de todosaqueles empréstimos de petrodólares dos bancosde investimentos de Nova Iorque nos anos de1970. A vantagem de dar empréstimos a países,observou naquele momento o banqueiro líderWalter Wriston, é que os países não podemdesaparecer. O FMI se tornou o instrumento-chave para proteger os bancos de investimentosde Nova Iorque de uma insolvência mexicana. Apopulação empobrecida do México foi forçada apagar para socorrer os banqueiros de NovaIorque, do mesmo modo que os cidadãos nova-iorquinos foram espremidos pelo EFCB. O segundoprincípio é de que governos (de qualquer naipe)devem dedicar-se à criação de um bom clima denegócios. Para fazer isso devem integrar negóciosno governo em um novo sistema de governança.Isto também se tornou o mantra tanto do FMIcomo do Banco Mundial em seus negóciosinternacionais. Mas novamente atingimos a regrade ouro, que em caso de conflito entre o bem-

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16 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 26, 2009 HARVEY, D.

estar da população e a criação de um bom climade negócios, então o último deve ser privilegiado.A justificativa é que uma “ascensão da maré erguetodos os navios” não obstante o quão raro istoassim seja. Em realidade, a abertura das portasaos livres fluxos financeiros mais facilmente criaum tsunami especulativo que se quebra sobre apaisagem econômica destruindo todos os barcos(como no Leste e Sudeste da Ásia em 1997-8 ouna Argentina em 2001) e, ao se retirar, deixa paratrás cenas de total devastação social15.

Mas, retomemos, o ímpeto inicial paratoda esta reestruturação urbana foi para a elitepolítico-econômica da cidade de Nova Iorque,como representada pr imeiramente pelosbanqueiros investidores, para restaurar eassegurar seu poder num momento em que ocapita l excedente fo i ameaçado com adesvalorização. Se a assim chamada crise fiscalda cidade de Nova Iorque foi um epicentro-chave para a transformação político-econômicaem direção ao neoliberalismo, as ondas dechoque foram globais. A revolução neoliberal,na forma de f inancei r ização de tudo,acompanhada por ajustamentos estruturais(através das privatizações, do disciplinamentodas forças de trabalho e da retirada do Estadoda provisão social), a abertura dos mercadosglobais e a criação de bons climas de negócioem todo lugar, varreu o mundo todo. O poderde classe tem sido restaurado pelas ou dado àsnovas elites ricas (como na Rússia e na China)16.As cidades têm cada vez mais se tornadocidades “de fragmentos fortificados”. A cidadeestá em todo lugar:

“dividindo-se em diferentes partes separadas,com a aparência de formação de muitos‘microestados’. Os bairros ricos equipados comtodos os tipos de serviços, tais como escolasexclusivas, campos de golfe, quadras de tênise polícia privada patrulhando a área 24 horas,permeados por ocupações ilegais onde a águaé disponível apenas nas fontes públicas, semserviço de saneamento existente, a eletricidadeé pirateada por uns poucos privilegiados, asruas se tornam correntes de lama quandochove e onde o compartilhamento da casa é a

norma. Cada fragmento parece viver efuncionar autonomamente, segurando firmeaquilo que se conseguiu agarrar na luta diáriapela sobrevivência”17.

Mesmo as assim chamadas cidades“globais” do capitalismo avançado são divididasentre as elites financeiras e as grandes faixas detrabalhadores mal-remunerados dos serviçosmesclados aos marginalizados e desempregados.Na cidade de Nova Iorque, durante anos do boomda década de 1990, as receitas médias deManhattan subiram em uma pesada taxa de quase12%, mas aquelas nos bairros caíram entre 2 e4%. As cidades sempre foram lugares dedesenvolvimentos geográficos desiguais (às vezesde um tipo totalmente benevolente e excitante),mas as diferenças agora se proliferam e seintensificam de um modo negativo e até mesmopatológico que inevitavelmente lança sementesde um conflito civil. A luta contemporânea paraabsorver o capital excedente em uma fasefrenética da construção da cidade (basta olhar ocrescimento das linhas do horizonte de Xangai,Mumbai, São Paulo e da Cidade do México)contrasta dramaticamente com um planetamutante de favelas que proliferam. São essascidades aquela combinação de nosso desejoíntimo? Constroem elas o tipo de pessoas quequeremos ser? São essas as relações com anatureza a que nós aspiramos?

Estas são as cidades neoliberais que ocapital construiu na sua tentativa desesperadade absorver os excedentes que ele mesmo cria.Dentre tais cidades, vemos “a completude daliberdade para aqueles cuja renda, lazer esegurança não se precisa realçar e uma merapitada de liberdade para o povo que pode emvão tentar fazer uso de seus direitos democráticospara ganhar abrigo do poder dos detentores dapropriedade” 18. A l iberdade da cidade foiapropriada por uma elite financeira da classecapitalista em seu próprio interesse. Tem aindaque ser contraposta pelos movimentos populares.É ainda muito tarde para imaginar tal possibilidade?Podem os movimentos sociais urbanos emergiremcomo sendo da cidade mais do que de fragmentosperdidos da cidade? Se sim, então uma condição

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A liberdade da cidade, pp. 09 - 17 17

para o sucesso de tais movimentos é confrontar oproblema do capital excedente em sua raiz. E istosignifica, muito simplesmente, que a acumulaçãode capital não pode continuar sua trajetóriacorrente, abstratamente determinar nossos

1. Park, R. On Social Control and CollectiveBehavior. Chicago, Chicago University Press, p.3.

2 Lefebvre, H. Writing on Cities. Oxford, Blackwell,1996, p.158.

3. Davis, M. Planet of Slums. Londres, Verso, 2006.

4. Engels, F. The Condition of the Working Class inEngland. Nova Iorque, Oxford University Press,1999 edition.; Harvey, D. Social Justice and theCity. Londres, Edward Arnold, 1973.

5. A teoria geral de tudo isso pode ser encontradaem Harvey, D. The Limits to Capital. Londres,Verso, edição de 2006.

6. A explicação precedente é baseada em Harvey,D. Paris, Capital of Modernity. Nova Iorque,Routledge, 2003.

7. Moses, R. “What Happened to Haussmann”. In:Architectural Forum, 77, 1942, p. 1-10; Caro,R. The Power Broker: Robert Moses and theFall of New York. Nova Iorque, Vintage, 1975.

8. Brenner, R. The Boom and the Bubble: The USin the World Economy. Londres, Verso, 2003.

9. Cf. Harvey, D. A Brief History of Neoliberalism.Oxford, Oxford University Press, 2005, capítulo5.

10.Kerner Commission. Report of the NationalAdvisory Commission on Civ il Disorders .Washington, Government Printing Office, 1968.

11.Ferretti, F. The Year The Big Apple Went Bust.Nova Iorque, Putnam, 1976; Tabb, W. The LongDefault: Nova Iorque City and the Urban FiscalCrisis. Nova Iorque, Monthly Review Press, 1982.

12.Desenvolvi esta ideia mais amplamente emHARVEY, D. A Brief History of Neoliberalism, op.cit, capítulo 2.

13.Alvarez, L. “Britain Says US Planned to Seize Oilin ’73 Crisis”. In: New York Times, 4 de janeiro de2004, A6: Gowan, P. The Global Gamble:Washington’s Faustian Bid for World Dominance.Londres, Verso, 1999.

14.Smith, N. The New Urban Frontier: Gentrificationand the Revanchist City. Nova Iorque, Routledge,1996.

15.Wade R. and Veneroso, F. “The Asian Crisis: theHigh Debt Model Versus the Wall Street-Treasury-IMF Complex”. In: New Left Review, 228, 1998,3-23: Petras, J. and Veltmeyer, H. System inCrisis: The Dynamics of Free Market Capitalism.Londres, Zed Books, 2003.

16.Esta é a principal tese de Harvey D. A Brief Historyof Neoliberalism, op.cit.

17.Balbo, M. citado em National Research Council,Cities Transformed: Demographic Change and ItsImplications in the Developing World. Washington,D.C., The National Academies Press, 2003, p.379.

18.Polanyi, K. The Great Transformation. Boston,Beacon Press, 1954, p. 257.

destinos e fortunas, ditar quem e o que somos e oque nossas cidades devem ser. Vale a pena lutarpelo direito à cidade. Ele deveria ser consideradoinalienável. A liberdade da cidade ainda está paraser encontrada.

Notas

Trabalho enviado em Agosto de 2009Trabalho aceito em Setembro de 2009