liane dos anjos - usp · aponta, por parte dos estudiosos da classificação, para a necessidade de...

291
LIANE DOS ANJOS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO NA FILOSOFIA E NA BIBLIOTECONOMIA: UMA VISÃO HISTÓRICO-CONCEITUAL CRÍTICA COM ENFOQUE NOS CONCEITOS DE CLASSE, DE CATEGORIA E DE FACETA Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Área de Concentração Cultura e Informação, Linha de Pesquisa Acesso à Informação, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do Título de Doutor em Ciência da Informação, sob a orientação da Prof a . Dr a . Johanna W. Smit. SÃO PAULO 2008

Upload: others

Post on 29-Oct-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de

LIANE DOS ANJOS

SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO DO CONHECIMENTO NA FILOSOFIA E NA BIBLIOTECONOMIA UMA VISAtildeO HISTOacuteRICO-CONCEITUAL CRIacuteTICA COM ENFOQUE NOS CONCEITOS DE CLASSE DE CATEGORIA E DE FACETA

Tese apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia da Informaccedilatildeo Aacuterea de Concentraccedilatildeo Cultura e Informaccedilatildeo Linha de Pesquisa Acesso agrave Informaccedilatildeo da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes da Universidade de Satildeo Paulo como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Doutor em Ciecircncia da Informaccedilatildeo sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Johanna W Smit

SAtildeO PAULO 2008

FOLHA DE APROVACcedilAtildeO

LIANE DOS ANJOS

SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO DO CONHECIMENTO NA FILOSOFIA E NA BIBLIOTECONOMIA UMA VISAtildeO HISTOacuteRICO-CONCEITUAL CRIacuteTICA COM ENFOQUE NOS CONCEITOS DE CLASSE

DE CATEGORIA E DE FACETA

Tese aprovada como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Doutor em Ciecircncia da Informaccedilatildeo do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Ciecircncia da Informaccedilatildeo da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes da Universidade de Satildeo Paulo sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Johanna Wilhelmina Smit

Orientador ____________________________________________ Profa Dra Johanna Wilhelmina Smit Departamento de Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Satildeo Paulo

Para o meu Deus presenccedila

Para a minha matildee Maria e o meu pai Francisco (in memorian)

heranccedila Para os meus netos

Alice e Joaquim esperanccedila

AGRADECIMENTOS

Este trabalho eacute fruto de uma comunhatildeo de esforccedilos incentivos atenccedilotildees carinhos desapegos renuacutencias entendimentos generosidades por parte daqueles que

sempre se fazem presentes e por isso devo muitos agradecimentos

Agrave minha orientadora pela compreensatildeo e acompanhamento constantes

Agraves professoras Anna Maria Marques Cintra e Maria de Faacutetima Gonccedilalves Moreira Taacutelamo por suas sugestotildees providenciais quando da qualificaccedilatildeo

Ao professor Ulf Gregor Baranow pela pertinecircncia de suas colocaccedilotildees que mostram um jeito diferente de ver condiccedilatildeo necessaacuteria para continuar a ver

A todos os professores do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia da Informaccedilatildeo e aos colegas de doutorado um profundo reconhecimento

Ao Wilson meu companheiro e aos meus filhos noras e genro Daniel (Adriana) Leticia (Alexandre) e Renato (Flaacutevia) por estarmos juntos neste caminho

Agrave querida amiga e profissional competente Liliana Luisa Pizzolato que tantas coisas me disse e muito auxiliou na organizaccedilatildeo dos alfarraacutebios desta pesquisa

Agrave Suzana Silveira Pereira que natildeo sabe como esta amizade foi importante para o bom teacutermino desta pesquisa

Agraves amigas bibliotecaacuterias Elayne Schloumlgel Maacutercia Regina Wellner e Regina Campos Rocha que pacientemente acompanharam este processo de reflexatildeo pelo prazer

de nossas conversas e a todos os profissionais do Sistema de Bibliotecas da UFPR pela atenccedilatildeo dispensada nas minhas buscas bibliograacuteficas e pelo esforccedilo conjunto

para propiciar o meu afastamento para a realizaccedilatildeo desta tese

Um carinho especial ao mestre yogue Adilson B Pagan com quem a cada dia eu aprendo mais em relaccedilatildeo a forccedila concentraccedilatildeo equiliacutebrio determinaccedilatildeo e a

respeito do que deve ser

Aos amigos queridos Laisy e Kiko Mocircnica e Claacuteudio Tacircnia e Iwan Valderez e Roberto pela delicadeza de nossa convivecircncia

Antes do Nome

Natildeo me importa a palavra esta corriqueira

Quero eacute o esplecircndido caos de onde emerge a sintaxe

os siacutetios escuros onde nasce o lsquodersquo o lsquoaliaacutesrsquo

o lsquoorsquo o lsquoporeacutemrsquo e o lsquoquersquo esta incompreensiacutevel

muleta que me apoacuteia

Quem entender a linguagem entende Deus

cujo Filho eacute Verbo Morre quem entender

A palavra eacute disfarce de uma coisa mais grave surda-muda

foi inventada para ser calada

Em momentos de graccedila infrequentiacutessimos

se poderaacute apanhaacute-la um peixe vivo com a matildeo

Puro susto e terror

Adeacutelia Prado

RESUMO

A anaacutelise dos sistemas de classificaccedilatildeo do conhecimento na Filosofia e na Biblioteconomia sob um ponto de vista histoacuterico-conceitual criacutetico com enfoque nos conceitos de classe categoria e faceta foi desenvolvida a partir dos objetivos especiacuteficos de acompanhar e delinear a trajetoacuteria das classificaccedilotildees dos saberes (classes) e dos seres (categorias) agrave luz da Filosofia averiguar as possiacuteveis influecircncias que as classificaccedilotildees filosoacuteficas historicamente exerceram sobre as classificaccedilotildees bibliograacuteficas tradicionais e verificar de que modo os conceitos especiacuteficos de categoria de classe e de faceta tecircm sido definidos no acircmbito das classificaccedilotildees biblioteconocircmicas tradicionais Trata-se de uma pesquisa do tipo exploratoacuterio-descritivo embasada na literatura pertinente oriunda de ambas as aacutereas do conhecimento em questatildeo A partir do levantamento bibliograacutefico construiu-se o referencial teoacuterico conduzindo agrave objetivaccedilatildeo anaacutelise discussatildeo e o aprofundamento do objeto Eacute possiacutevel afirmar que tanto os princiacutepios das classificaccedilotildees filosoacuteficas em relaccedilatildeo aos saberes e em relaccedilatildeo aos seres quanto as proacuteprias classificaccedilotildees que dividem os saberes e os seres apresentam-se como construtos destinados a conhecer e disciplinar o conhecimento do ser e do saber A influecircncia das classificaccedilotildees filosoacuteficas sobre as classificaccedilotildees bibliograacuteficas reside no fato de que as classificaccedilotildees bibliograacuteficas satildeo adaptaccedilotildees das classificaccedilotildees do conhecimento ou das ciecircncias As bibliograacuteficas frequentemente utilizam termos originaacuterios das filosoacuteficas ressignificando-os e transformando-os em ferramentas Em siacutentese pode-se afirmar que a partir da Filosofia absorvida em explicaccedilotildees teoacutericas ateacute a Biblioteconomia preocupada com soluccedilotildees instrumentais e aplicativas (pragmaacuteticas) os esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica propostos tem se beneficiado da aproximaccedilatildeo dessas duas aacutereas de conhecimento A revisatildeo conceitual com respeito agraves noccedilotildees de classe categoria e faceta aponta por parte dos estudiosos da Classificaccedilatildeo para a necessidade de um cuidado maior no desenho no planejamento e na estruturaccedilatildeo de sistemas de classificaccedilatildeo na modificaccedilatildeo e especificaccedilatildeo de tabelas de classificaccedilatildeo e ateacute de linguagens de indexaccedilatildeo com vista agrave sua adequaccedilatildeo e relevacircncia As contribuiccedilotildees daiacute resultantes delineadas numa perspectiva funcional-instrumental poderatildeo ajudar os profissionais a reconsiderar os seus sistemas de ideacuteias e procedimentos em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de linguagens de indexaccedilatildeo e agrave classificaccedilatildeo habitual de documentos Caberaacute agrave Ciecircncia da Informaccedilatildeo avanccedilar na fundamentaccedilatildeo teoacuterica do seu campo de aplicaccedilatildeo discutindo criticamente a sua base conceitual atenta agraves praacuteticas de uso em voga na Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo com relaccedilatildeo a termos e conceitos O estudo valida as hipoacuteteses inicialmente levantadas determinando que a consistecircncia terminoloacutegica de termos como categoria classe ou faceta contribui para aperfeiccediloar a operacionalizaccedilatildeo do processamento do conhecimento em Ciecircncia da Informaccedilatildeo e que aos esquemas categoriais natildeo cabe um valor neutro uma vez que sempre favoreceram uma determinada concepccedilatildeo de mundo em que pese a sua natureza objetivamente pragmaacutetica Por fim apresentam-se algumas perspectivas decorrentes da investigaccedilatildeo selecionando-se questotildees relevantes e de interesse para futuras pesquisas

Palavras-chave Categoria Classe Faceta Classificaccedilatildeo Teoria da Classificaccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Conhecimento Biblioteconomia Ciecircncia da Informaccedilatildeo

ABSTRACT

The analysis of knowledge classification systems in Philosophy and Librarianship by a critical historical-conceptual point of view with an approach in the concepts of class category and facet was developed from specific objectives to accompany and outline the path of knowledge (classes) and beings (categories) classification in relation to Philosophy to investigate the possible influences that the philosophical classification historically exerted on traditional bibliographical classifications and to verify in which way the specific concept of category class and facet have been defined in the ambit of traditional librarianship classifications This research is of exploratory-descriptive type based upon pertinent literature resulting from both areas of knowledge in discussion From the studied bibliographical material a theoretical reference was built leading to objectivation analysis discussion and a profound study of the object Itrsquos possible to affirm that even the principles of philosophical classifications in relation to knowledge and beings as well as the classifications that divide knowledge and beings are presented as constructs purposed to understand and to train the information of beings and knowledge The influence of philosophical classifications on bibliographical classification is settled by bibliographical classifications which are adaptations of knowledge or science The bibliographical ones frequently utilize terms originated from philosophical that are modified and transformed into tools In synthesis it may be stated that from Philosophy absorbed in theoretical explanations even Librarianship worried with instrumental and application (pragmatic) solutions the proposed plans of bibliographical classifications have been beneficiated from the approximation of this two areas of knowledge The conceptual review in relation to notions of class category and facet needs a better attention in design planning and in the structuring of classification systems as pointed out by experts on Classification in the modification and specification of classification tables and also indexation languages aiming its adequacy and significance The resulting contributions outlined by a functional-instrumental perspective would help professionals to reconsider their systems of ideas and procedures in relation to construction and evaluation of indexation languages and regular classification of documents The information science will be responsible to develop theory fundamentation of its application field discussing critically its conceptual basis with attention to the practices in use by Librarianship and Documentation in relation to terms and concepts The study validates the hypothesis initially described determining that the terminological consistency of terms as category class or facet contribute to improve the operacionalization of knowledge processing in Information Science and that to category schemes it doesnrsquot fit a neuter value since that always favored a certain conception of the world in which predominates its pragmatic nature As result of the investigation some perspectives are presented selecting questions of extreme relevancy and interest for future researches

Key-words Category Class Facet Classification Classification Theory Knowledge Organization Librarianship Information Science

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE ARISTOacuteTELES 44 QUADRO 2 - CLASSIFICACcedilAtildeO ESCOLAacuteSTICA ROMANA 46 QUADRO 3 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE ROGER BACON (1266) - INGLATERRA 47 QUADRO 4 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HUARTE DE SAN JUAN (1575) - ESPANHA 50 QUADRO 5 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE DESCARTES (1647) - FRANCcedilA 53 QUADRO 6 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE FRANCIS BACON (1605) - INGLATERRA 56 QUADRO 7 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HOBBES (1651) - INGLATERRA 58 QUADRO 8 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE LOCKE (1690) - INGLATERRA 59 QUADRO 9 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE LEIBNIZ (1701) - ALEMANHA 60 QUADRO 10 - DIDEROT drsquoALEMBERT E A SISTEMATIZACcedilAtildeO DA ENCICLOPEacuteDIE

(1751) - FRANCcedilA 63 QUADRO 11 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HEGEL (1817) - ALEMANHA 65 QUADRO 12 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE AMPEgraveRE (1834) - FRANCcedilA 66 QUADRO 13 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE COMTE (1842) - FRANCcedilA 69 QUADRO 14 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE SPENCER (1864) - INGLATERRA 70 QUADRO 15 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HARRIS (1870) - ESTADOS UNIDOS 71 QUADRO 16 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE WUNDT (1889) - ALEMANHA 72 QUADRO 17 - NIacuteVEIS DE OBJETOS GERAIS DE ACORDO COM HARTMANN E

FEIBLEMAN 75 QUADRO 18 - NIacuteVEIS DE OBJETOS GERAIS DE ACORDO COM GOPINATH 77 QUADRO 19 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES 79 QUADRO 20 - DIVISAtildeO DAS CIEcircNCIAS NAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS

SABERES 80 QUADRO 21 - DISCIPLINAS BAacuteSICAS (ORIGINAIS) DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS

DOS SABERES CLASSES 82 QUADRO 22 - CATEGORIAS GRAMATICAIS SEGUNDO AS CATEGORIAS ARISTOTEacuteLICAS 92 QUADRO 23 - DIVISAtildeO KANTIANA DOS JUIacuteZOS E DAS CATEGORIAS 104 QUADRO 24 - CATEGORIAS DE RENOUVIER (1854) - FRANCcedilA 108 QUADRO 25 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES 123 QUADRO 26 - CATEGORIAS FUNDAMENTAIS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS

SERES 125 QUADRO 27 - A NOCcedilAtildeO DE CATEGORIA NAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS

SERES 126 QUADRO 28 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL DE DEWEY 171 QUADRO 29 - EXEMPLO DA APLICACcedilAtildeO DA NOCcedilAtildeO DE CATEGORIA E DE FACETA

NA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL DE DEWEY 173

QUADRO 30 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL UNIVERSAL 177 QUADRO 31 - SIacuteMBOLOS DA NOTACcedilAtildeO DA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL UNIVERSAL

NA ORDEM EM QUE PARECEM NO ESQUEMA 181 QUADRO 32 - CLASSES PRINCIPAIS DA PRIMEIRA TABELA DE CUTTER 184 QUADRO 33 - CLASSES PRINCIPAIS DA SEXTA TABELA DE CUTTER 184 QUADRO 34 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DA BIBLIOTECA DO

CONGRESSO 188 QUADRO 35 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DE ASSUNTOS DE BROWN 194 QUADRO 36 - CATEGORIAS FUNDAMENTAIS DE RANGANATHAN 200 QUADRO 37 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DOS DOIS PONTOS DE

RANGANATHAN 206 QUADRO 38 - SINOPSES VERTICAL E HORIZONTAL DO ESQUEMA DE BLISS 214 QUADRO 39 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO BC2 (1977) 215 QUADRO 40 - FOacuteRMULAS DE FACETAS OU DE CATEGORIAS DE ACORDO COM

OS RESPECTIVOS AUTORES 223 QUADRO 41 - CLASSES PRINCIPAIS DOS ESQUEMAS GERAIS DE CLASSIFICACcedilAtildeO

BIBLIOGRAacuteFICA 224 QUADRO 42 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES BIBLIOGRAacuteFICAS CLAacuteSSICAS 226 QUADRO 43 - CARACTERIacuteSTICAS DE CATEGORIAS DE ESTRUTURA GRADUADA 240 QUADRO 44 - CARACTERIacuteSTICAS DAS CATEGORIAS 244 QUADRO 45 - NOCcedilOtildeES AMBIGUAS E INSATISFATOacuteRIAS DE FACETAS 250

LISTA DE SIGLAS

AFNOR - Association Franccedilaise de Normalisation ALA - American Library Association BBK - Bibliograficeskaja i Biblioteknaja Klassifikacija BC - Bibliographic Classification BCA - Bliss Classification Association BSC - Brow Subject Classification CC - Colon Classification CDD - Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey CDU - Classificaccedilatildeo Decimal Universal CRG - Classification Research Group DDC - Dewey Decimal Classification DRTC - Documentation Research and Training Centre EC - Expansive Classification EampC - Extensions and Corrections EPC - Editorial Policy Committee FID - International Federation for Information and DocumentationFederaccedilatildeo International de Documentaccedilatildeo FIDCR - International Federation for Information and DocumentationClassification Research IASLIC - Indian Association of Special Librariesd and Information Centres IBBD - Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentaccedilatildeo IBICT - Instituto Brasileirode Informaccedilatildeo em Ciecircncia e Tecnologia ICC - Information Coding Classification IFLA - International Federation of Library Associations and InstitutionsFederaccedilatildeo Internacional de Associaccedilotildees de Bibliotecaacuterios e Instituiccedilotildees IIB - International Institute of Bibliography INSDOC - Indian National Scientific Documentation Centre IPB - International Peace Bureau ISKO - International Society for Knowledge Organization ISO - International Organization for Standardization KO - Knowledge Organization LC - Library of Congress LCC - Library Congress Classification LISA - Library and Information Science Abstract MARC - Bibliografic Machine-Readable Cataloguing MRF - Master Reference File OCLC - Online Computer Library Center PMEST - Personality matter energy space e time RBU - Repertoire Bibliographique UniverselRepertoacuterio Bibliograacutefico Universal UCL - Univesity College London UDC - Universal Decimal Classification UDCC - Universal Decimal Classification Consortium Unesco - United Nations Educational Scientific and Cultural OrganizationOrganizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 13 2 DA CLASSIFICACcedilAtildeO Agrave ORGANIZACcedilAtildeO DO CONHECIMENTO UMA VISAtildeO PRELIMINAR DA SUA TRANSITORIEDADE E RELATIVIDADE 22 3 DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS 41 31 CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES CLASSES 41 311 Antiguidade Grega e Idade Meacutedia 42 312 Idade Moderna Seacuteculos XVI XVII e XVIII 48 313 Idade Contemporacircnea Seacuteculos XIX e XX 64 314 Quadros-Siacutentese das Classificaccedilotildees Filosoacuteficas dos Saberes 78 32 CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES CATEGORIAS 83 321 Antiguidade Grega e Idade Meacutedia 89 322 Idade Moderna Seacuteculos XVI XVII e XVIII 97 323 Idade Contemporacircnea Seacuteculos XIX e XX 106 324 Quadros-Siacutentese das Classificaccedilotildees Filosoacuteficas dos Seres 121 33 CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS CONCEITOS DE CLASSE E DE CATEGORIA 128 4 DAS CLASSIFICACcedilOtildeES BIBLIOGRAacuteFICAS 131 41 TEORIA DA CLASSIFICACcedilAtildeO 141 42 CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL DE DEWEY (CDD - 1876) 163 421 Histoacuteria 163 422 Princiacutepios 164 423 Construccedilatildeo 169 424 Revisatildeo 173 43 CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL UNIVERSAL (CDU - 1905) 174 431 Histoacuteria 175 432 Princiacutepios 177 433 Construccedilatildeo 178 434 Revisatildeo 182 44 CLASSIFICACcedilAtildeO EXPANSIVA (EC - 1891) 183 441 Histoacuteria 183 442 Princiacutepios 183 443 Construccedilatildeo 183 45 CLASSIFICACcedilAtildeO DA BIBLIOTECA DO CONGRESSO (LCC - 1902) 185 451 Histoacuteria 185 452 Princiacutepios 187 453 Construccedilatildeo 188 454 Revisatildeo 189

46 CLASSIFICACcedilAtildeO DE ASSUNTOS DE BROWN (BSC - 1906) 190 461 Histoacuteria 190 462 Princiacutepios 190 463 Construccedilatildeo 193 464 Revisatildeo 196 47 CLASSIFICACcedilAtildeO DOS DOIS PONTOS (CC - 1933) 196 471 Histoacuteria 196 472 Princiacutepios 198 473 Construccedilatildeo 203 474 Revisatildeo 207 48 CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA (BC - 1935) 208 481 Histoacuteria 208 482 Princiacutepios 209 483 Construccedilatildeo 213 484 Revisatildeo 216 49 CLASSIFICACcedilAtildeO POR FACETAS 217 410 QUADROS-SIacuteNTESE DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 223 5 CLASSIFICACcedilOtildeES BIBLIOGRAacuteFICAS CONCEITOS DE CLASSE DE CATEGORIA E DE FACETA 228 6 CONCLUSAtildeO 253 7 PERSPECTIVAS 260 REFEREcircNCIAS 261 BIBLIOGRAFIA 277

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Conhecer e pensar natildeo eacute chegar a uma verdade absolutamente certa

mas dialogar com a incerteza Morin

O fato de na literatura teacutecnica da aacuterea de Biblioteconomia as noccedilotildees de

classe de categoria e de faceta serem muitas vezes usadas indistintamente

dificulta a sua caracterizaccedilatildeo comprovando que os respectivos conceitos natildeo satildeo

facilmente acessiacuteveis quanto ao seu conteuacutedo Daiacute a necessidade de trazer luz

maior para a caracterizaccedilatildeo e o entendimento desses conceitos

O que se pretende designar ao fazer referecircncia a categorias classes ou

facetas

Eacute possiacutevel estabelecer claramente por que e de que maneira os conceitos de

classe de categoria e de faceta satildeo uacuteteis nas aacutereas de Biblioteconomia e Ciecircncia da

Informaccedilatildeo

Na procura de referecircncias e fundamentos filosoacuteficos1 no estudo e resgate de

outras eacutepocas existe a tentativa - inscrita no desejo e na necessidade - de buscar

suporte para preencher lacunas entre os conhecimentos e de compreender melhor

os conceitos que possibilitam ordenar o mundo

Respeitando por ora a terminologia de classe de categoria e de faceta tal

como enunciada pela literatura pode-se dizer que a noccedilatildeo de categoria desde

Platatildeo e Aristoacuteteles ateacute o presente tem sido usada como uma ferramenta de base

intelectual para analisar a existecircncia e a capacidade de mudanccedila das coisas2 e dos

fenocircmenos (BARITEacute 2000 p 4)

1 No presente contexto a Filosofia fornece a fundamentaccedilatildeo teoacuterica para a criacutetica do saber e experiecircncia no trato dos problemas do conhecimento e da classificaccedilatildeo das ciecircncias Observar como a ciecircncia vem sendo tratada e estruturada ao longo do tempo nas classificaccedilotildees filosoacuteficas do conhecimento auxilia a entender a ordenaccedilatildeo do conhecimento por exemplo por meio de classificaccedilotildees bibliograacuteficas

2 Coisa tanto no discurso comum quanto no filosoacutefico esse termo tem dois significados 1 geneacuterico designando qualquer objeto ou termo real ou irreal mental ou fiacutesico um termo qualquer de um ato humano qualquer um objeto qualquer com que se deva tratar 2 especiacutefico denotando os objetos naturais enquanto tais tambeacutem chamados de ldquocorposrdquo (ABBAGNANO 2003 p 149) Neste estudo o termo corresponde agrave primeira acepccedilatildeo

14

Necessaacuterio salientar que a noccedilatildeo de categoria tatildeo antiga quanto a noccedilatildeo de

Loacutegica3 mesmo que intuitivamente sempre presidiu a operaccedilatildeo de classificaccedilatildeo e

ordenaccedilatildeo do conhecimento

Entende-se por Teoria da Classificaccedilatildeo em Biblioteconomia o conjunto de

proposiccedilotildees e princiacutepios desenvolvidos em associaccedilatildeo com a praacutetica manifestando

o seu conteuacutedo como uma disciplina intelectual o que pode ser entendido como o

corpo inteiro de generalizaccedilotildees (sistema de postulados) princiacutepios (convencionais) e

regras de procedimentos (relacionamentos) desenvolvidos para um campo de

conhecimento e que buscam descrever e elucidar a natureza ou comportamento do

fenocircmeno da classificaccedilatildeo estabelecer sistemas classificatoacuterios com o objetivo de

construir conjuntos temaacuteticos para recuperaccedilatildeo e determinar as condiccedilotildees formais a

que qualquer classificaccedilatildeo bibliograacutefica deve obedecer (teorias satildeo em sentido

geral narrativas que predizem organizam ou alteram visotildees de mundo dependendo

da instacircncia epistecircmica e frequentemente carregam com elas uma metateoria e

metodologia impliacutecita como no caso das regras de procedimentos)4

3 Aristoacuteteles foi o primeiro que estudou essa disciplina a qual define sem dar nome como ciecircncia da demonstraccedilatildeo e do saber demonstrativo Eacute soacute nos comentadores de Aristoacuteteles que o termo Loacutegica empregado em sentido restrito como sinocircnimo de Dialeacutetica eacute introduzido como nome da doutrina cujo cerne se encontrava em Analiacuteticos de Aristoacuteteles ou seja a teoria do silogismo e da demonstraccedilatildeo Boeacutecio daacute o nome de Loacutegica ao conjunto de doutrinas contidas no Organon de Aristoacuteteles somado agrave Isagoge de Porfiacuterio Durante toda a Idade Meacutedia o estudo da Isagoge seguida pelo Organon (na ordem Categorias De Interpretatione Primeiros analiacuteticos Segundos analiacuteticos Toacutepicos Refutaccedilatildeo dos sofistas) constitui uma das sete artes liberais a Dialeacutetica ou Loacutegica No iniacutecio do seacuteculo XVII Francis Bacon com Novum Organum efetua uma reforma radical da Loacutegica concebida exclusivamente como metodologia cientiacutefica geral e transforma-a em instrumento de investigaccedilatildeo cientiacutefica Com isso a antiga noccedilatildeo de Loacutegica muda completamente Durante os seacuteculos XVII XVIII e XIX Loacutegica passa a ser o nome de uma seacuterie heterogecircnea de disciplinas filosoacuteficas ministradas nas escolas Hoje a Loacutegica segue duas direccedilotildees diferentes de investigaccedilatildeo loacutegica Loacutegica matemaacutetica e Loacutegica formal analiacutetica Essa uacuteltima com tendecircncia a tornar-se parte da Semioacutetica ou teoria geral dos signos (ABBAGNANO 2003 p 624-630) 4 Falando especificamente sobre Teoria da Classificaccedilatildeo Mai (2002 p 474) afirma que uma teoria ideal de classificaccedilatildeo que seguisse uma linha de pensamento neutra objetiva e positivista deveria estar apta a recomendar como um conjunto de documentos deveria ser organizado e predizer as consequecircncias da organizaccedilatildeo A teoria deveria aleacutem disso ser aplicada a todas as espeacutecies de diferentes conjuntos usuaacuterios e tipos de documentos Flyvbjerg (2001 p 38-39 apud TENNIS 2008 p 105) embasado em suas leituras de Hubert Dreyfus e Pierre Bourdieu aponta as seis caracteriacutesticas de uma teoria ideal - Expliacutecita A teoria necessita estar dispostadesenhada de forma tatildeo detalhada que qualquer ser humano racional seja capaz de entendecirc-la A teoria natildeo deve possibilitar recorrer a interpretaccedilotildees ou intuiccedilotildees - Universal A teoria deve se aplicar a todas as eacutepocas e lugares - Abstrata A teoria natildeo deve necessitar de referecircncias a exemplos concretos - Discreta A teoria deve ser formulada com elementos de contexto-independente natildeo pode se referir a interesses tradiccedilotildees instituiccedilotildees etc humanos - Sistemaacutetica A teoria deve constituir um todo no qual os elementos de contexto-independente satildeo relacionados por meio de leis ou regras - Completa e predita A teoria deve ser completa ou seja deve cobrir o domiacutenio inteiro e deve ser predita ou seja a teoria deve prever e especificar as propriedades dos elementos (FLYVBJERG 2001)

15

Shiyali Ramamrita Ranganathan (1892-1972) matemaacutetico e bibliotecaacuterio

indiano pensador influente no campo da classificaccedilatildeo biblioteconocircmica (ao partir de

uma abordagem analiacutetica de facetas) desenvolveu na deacutecada de 1930 a Teoria da

Classificaccedilatildeo Facetada tambeacutem chamada de Teoria Dinacircmica da Classificaccedilatildeo ou

Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo aplicando de acordo com Moss (1964 p 296-301)

os princiacutepios aristoteacutelicos agrave Documentaccedilatildeo sem no entanto reconhecer esse fato

As cinco categorias nas quais Ranganathan baseou seu sistema de

classificaccedilatildeo tecircm sido representadas pela sigla em inglecircs PMEST personality

matter energy space e time Atente-se para a semelhanccedila das categorias

aristoteacutelicas substacircncia qualidade quantidade relaccedilatildeo espaccedilo tempo accedilatildeo

paixatildeo estado e haacutebito

Nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas a categorizaccedilatildeo de modo natildeo expliacutecito

aparece com Dewey (1851-1931) e nomeadamente com Ranganathan que

introduziu a noccedilatildeo de categoria para classificar conceitos A sua ideacuteia de dividir os

assuntos em categorias e tambeacutem em facetas que seraacute enfocada em toacutepico

especial dentro deste estudo (cf subseccedilatildeo 47) tem sido considerada uma marcante

contribuiccedilatildeo agrave Teoria da Classificaccedilatildeo

Em Teoria da Classificaccedilatildeo utilizam-se os termos classe categoria e faceta

situando-os na base de toda organizaccedilatildeo loacutegica do conhecimento e da construccedilatildeo

de linguagens de indexaccedilatildeo

As categorias podem ser consideradas como fundamento nem sempre

visiacutevel de qualquer sistema organizacional do conhecimento

Os sistemas de classificaccedilatildeo tecircm um valor intriacutenseco (MANN 1962) mesmo

para aqueles que natildeo estatildeo familiarizados com eles fornecendo informaccedilotildees

sugestotildees e esquemas dos assuntos o que permite acessar determinadas

informaccedilotildees O pesquisador que pretende estudar um tema para a sua tese pode

encontrar o assunto devidamente esboccedilado num sistema de classificaccedilatildeo O

estudante de Histoacuteria por exemplo encontraraacute na classe de Histoacuteria a cronologia

histoacuterica de cada paiacutes com as datas e os acontecimentos mais importantes Os

esquemas de classificaccedilatildeo revelam-se excelentes fontes com dados natildeo

forccedilosamente de rigorosa exatidatildeo mas de grande previsibilidade possibilitando a

visatildeo do todo e das partes

16

Os atuais esquemas ldquoclassificatoacuteriosrdquo de Organizaccedilatildeo do Conhecimento tais

como terminologias ontologias taxonomias tesauros mapas conceituais entre outros5

recorrem sem necessariamente assumi-lo agrave Teoria da Classificaccedilatildeo (pois essa eacute

indispensaacutevel para qualquer tipo de organizaccedilatildeo do conhecimento) e tambeacutem agrave

categorizaccedilatildeo mas empregam terminologia diversa natildeo sendo objeto deste estudo

As discussotildees ateacute a deacutecada de 1960 relativamente agrave Teoria da Classificaccedilatildeo

giravam em torno da convicccedilatildeo de que se estava organizando o proacuteprio

conhecimento em outras palavras a realidade Os sistemas de classificaccedilatildeo

claacutessicos deviam representar o conjunto dos conhecimentos humanos de tal maneira

que tornassem clara a importacircncia relativa de cada assunto dentro de uma estrutura

hieraacuterquica Privilegiava-se o conhecimento universal em detrimento do

conhecimento especializado Foi somente a partir da segunda metade do seacuteculo XX

e mais incisivamente a partir da deacutecada de 1970 que se comeccedila a perceber a

realidade como um construto social que se apoacuteia em larga medida nos discursos

sobre ela proferidos e legitimados por esta ou aquela comunidade O conhecimento

passa entatildeo a ser organizado pelos mesmos esquemas gerais de classificaccedilatildeo

(ampliados e atualizados) procurando-se representaacute-lo enquanto especiacutefico a uma

dada aacuterea do saber ou seja buscando cobrir novos campos de conhecimento

resultantes de sua ramificaccedilatildeo

5 Esquemas para a organizaccedilatildeo do conhecimento ou Instrumentos para representaccedilatildeo da informaccedilatildeo a) a Terminologia eacute um conjunto de termos proacuteprios ou relativos a um determinado campo do conhecimento ou a uma aacuterea de especialidade (BARITEacute 1997 p 145) b) a Ontologia originou-se na Metafiacutesica e eacute atualmente desenvolvida pela Inteligecircncia Artificial onde tenta representar os relacionamentos dos elementos de um dado domiacutenio desde os meta-niacuteveis aos proacuteprios objetos tendo como finalidade o compartilhamento e a reutilizaccedilatildeo do conhecimento c) a Taxonomia surgiu como meacutetodo de classificaccedilatildeo nas Ciecircncias Naturais para nomear descrever e classificar os seres vivos e depois passou a designar instrumentos para a Organizaccedilatildeo da Informaccedilatildeo em ambientes eletrocircnicos e virtuais de um domiacutenio d) o Tesauro nasceu da noccedilatildeo de Tesauro Linguiacutestico e de contribuiccedilotildees das Classificaccedilotildees Facetadas com a pretensatildeo de abranger preferencialmente uma aacuterea do conhecimento e tem o controle do vocabulaacuterio e o estabelecimento da rede paradigmaacutetica como principais recursos para a transferecircncia da informaccedilatildeo e) o Mapa conceitual surgiu na aacuterea da Educaccedilatildeo como meacutetodo de aprendizagem e depois de passar por um processo de adaptaccedilatildeo propocircs-se a guiar a navegaccedilatildeo em ambientes de hipermiacutedia Os Tesauros (especializados) nasceram para atender agrave demanda gerada pelo aumento dos perioacutedicos especializados A ontologia a taxonomia e os mapas conceituais nasceram para atender ao fluxo de informaccedilotildees em ambientes eletrocircnicos e virtuais Todos esses instrumentos partiram de aplicaccedilotildees distintas das que satildeo aplicadas hoje contudo tecircm mais ou menos os mesmos objetivos - organizar a informaccedilatildeo para que possa ser utilizada Outros instrumentos seriam as redes semacircnticas os topic maps e a proacutepria web semacircntica apenas para citar algumas das vaacuterias formas de tratar a informaccedilatildeo no contexto virtual (TEIXEIRA 2006) O entendimento da visatildeo dos filoacutesofos sobre esses esquemasInstrumentos merece discussotildees detalhadas por causa da sua influecircncia na Ciecircncia da Informaccedilatildeo no entanto natildeo eacute objetivo desta tese

17

Os procedimentos de organizaccedilatildeo do conhecimento - o processo de

classificaccedilatildeo6 - que possibilitam a organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo tecircm se intensificado

frente agrave massa documentaacuteria inserida regularmente nos acervos das bibliotecas

Essa situaccedilatildeo exige o aperfeiccediloamento constante dos instrumentos de organizaccedilatildeo

do conhecimento - mormente esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica - para o

acesso e recuperaccedilatildeo

Examinar conceitualmente as noccedilotildees de classe de categoria e de faceta sob

uma perspectiva funcional instrumental pragmaacutetica tentando esclarecer as

caracteriacutesticas essenciais dessas noccedilotildees no contexto dos sistemas de classificaccedilatildeo

bibliograacutefica constitui tema relevante para auxiliar na revisatildeo de ideacuteias e

procedimentos em relaccedilatildeo agraves linguagens de indexaccedilatildeo e agrave classificaccedilatildeo habitual de

documentos

A presente tese tem como objetivo geral analisar criticamente os principais

sistemas de classificaccedilatildeo do conhecimento selecionados da Filosofia e da

Biblioteconomia numa visatildeo histoacuterico-conceitual com enfoque nos conceitos de

classe de categoria e de faceta

Com este estudo pretende-se atingir os seguintes objetivos especiacuteficos

a) acompanhar e delinear a trajetoacuteria das classificaccedilotildees dos saberes

(classes) e das classificaccedilotildees dos seres (categorias) agrave luz da Filosofia7

b) averiguar as possiacuteveis influecircncias que as classificaccedilotildees filosoacuteficas

historicamente exerceram sobre as classificaccedilotildees bibliograacuteficas

tradicionais

c) verificar de que modo os conceitos de categoria de classe e de faceta tecircm

sido definidos no acircmbito das classificaccedilotildees biblioteconocircmicas

tradicionais

6 Accedilatildeo e efeito de estabelecer classes agrupadas estrutural ou hierarquicamente dentro de um conjunto Eacute uma representaccedilatildeo do real portanto uma abstraccedilatildeo 7 A distinccedilatildeo entre classes de saberes e categorias de seres seraacute tratada na seccedilatildeo 2 especificamente na paacutegina 22

18

Para a Ciecircncia da Informaccedilatildeo8 a noccedilatildeo de categoria nascida na Filosofia e

introduzida na Biblioteconomia por Ranganathan eacute de importacircncia fundamental para

a estruturaccedilatildeo da informaccedilatildeo As doutrinas ou teorias sobre as categorias nos

sistemas filosoacuteficos constituem campo que permanece ainda pouco explorado Aleacutem

disso a sua anaacutelise vecirc-se dificultada pelas diferenccedilas de acepccedilatildeo dos termos entre

os filoacutesofos

8 Em 1945 Vannevar Bush publicou artigo intitulado As we may think a respeito do problema da informaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia Nesse escrito ele fala do efeito da associaccedilatildeo de conceitos ou palavras na organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo - padratildeo seguido pelo ceacuterebro humano para transformar informaccedilatildeo em conhecimento jaacute que o homem pensa por associaccedilatildeo de conceitos Por causa desses fatos afirma Barreto (2006) que V Bush pode ser considerado o precursor da Ciecircncia da Informaccedilatildeo e 1945 a sua data fundadora Contudo em 1934 Paul Otlet enquanto fundador da Documentaccedilatildeo discutiu essa questatildeo podendo ser considerado o verdadeiro precursor da Ciecircncia da Informaccedilatildeo Bush somente tratou a caracteriacutestica tecnoloacutegica da associaccedilatildeo de ideacuteias (GRUPO TEMMA) Dias (2000 2002a 2002b) em vaacuterios escritos usando argumentaccedilatildeo de resgate histoacuterico considera que a expressatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo pode ser usada em dois sentidos um restrito e outro amplo No sentido restrito (de uso universal) a Ciecircncia da Informaccedilatildeo eacute uma especialidade que tem procurado achar um diferencial na sua relaccedilatildeo com a Biblioteconomia participando de um campo mais geral do conhecimento que abriga a Biblioteconomia a proacutepria Ciecircncia da Informaccedilatildeo e outras especialidades - ela seria a disciplina interessada nas questotildees da informaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica ldquoNesse sentido a Ciecircncia da Informaccedilatildeo deve entatildeo ser entendida como a evoluccedilatildeo do conceito de Biblioteconomia especializadardquo tendo por alvo a informaccedilatildeo especializada e seus usuaacuterios (DIAS 2002a p 89-90) No sentido amplo (largamente usado no Brasil) a Ciecircncia da Informaccedilatildeo eacute percebida como um campo ou aacuterea do saber como o todo que abriga vaacuterias especialidades (Biblioteconomia Arquivologia Documentaccedilatildeo e a proacutepria Ciecircncia da Informaccedilatildeo em seu sentido restrito) - ela seria o campo interessado nos problemas de acesso agrave informaccedilatildeo Dias (2000) atribui a origem da utilizaccedilatildeo da expressatildeo nesse sentido geneacuterico ao fato de assim ser utilizada na tabela de aacutereas do conhecimento do Conselho Nacional do Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) por exemplo Grande aacuterea Ciecircncias Sociais AplicadasAacuterea Ciecircncia da InformaccedilatildeoSubaacuterea Biblioteconomia Especialidade Organizaccedilatildeo da Informaccedilatildeo Smit Taacutelamo e Kobashi (2003 2004) em uma reflexatildeo sobre a constituiccedilatildeo do campo cientiacutefico da Ciecircncia da Informaccedilatildeo identificam que a aacuterea se afirmou na interdisciplinaridade e entendem que o termo Ciecircncia da Informaccedilatildeo impotildee-se como um significante agrave procura do seu significado - um campo em permanente definiccedilatildeo Analisando a terminologia da aacuterea de Ciecircncia da Informaccedilatildeo (as denominaccedilotildees servem de referecircncia para a determinaccedilatildeo do vocabulaacuterio de uma especialidade) que justapotildee termos oriundos da Biblioteconomia e da Documentaccedilatildeo termos oriundos de outras aacutereas do conhecimento (termos importados noccedilotildees emprestadas) e termos do senso comum verificaram que boa parte das noccedilotildees sedimentadas pela aacuterea se refere a procedimentos praacuteticos tais como classificaccedilatildeo resumo anaacutelise documentaacuteria oriundos da Biblioteconomia Sentido restrito ou amplo o fato eacute que existe um viacutenculo essencial da Ciecircncia da Informaccedilatildeo com a Biblioteconomia - aacutereas que se relacionam conceitual e historicamente - evidente na quase totalidade das escolas de Biblioteconomia que pelo mundo vecircm sendo renomeadas de escolas de Ciecircncia da Informaccedilatildeo ou vecircm acrescentando Ciecircncia da Informaccedilatildeo ao antigo nome A adoccedilatildeo do novo nome soacute pode ser entendida no sentido amplo do termo Ciecircncia da Informaccedilatildeo segundo Dias (2002a p 94-95) que ainda alerta para o que parece ser uma tentativa de extermiacutenio de todo o grupo terminoloacutegico associado ao termo biblioteca ou seja bibliotecaacuterio biblioteconomia entre outros Salienta poreacutem que a terminologia acaba por ressurgir com vigor no contexto digital onde a expressatildeo biblioteca digital consagra-se como expressatildeo do conceito de coleccedilatildeo de recursos eletrocircnicos Assim sendo a Ciecircncia da Informaccedilatildeo constitue aacuterea que carece de uma linguagem de especialidade proacutepria (condiccedilatildeo imprescindiacutevel para se impor no ambiente da pesquisa acadecircmica) que se enuncia formalmente como objeto teoacuterico que carece de construccedilatildeo conceitual e que diante da falta de um sistema conceitual explicitado os termos utilizados pela aacuterea natildeo remetem a conceitos (SMIT TAacuteLAMO KOBASHI 2004) Mesmo assim eacute possiacutevel dizer que a especificidade da Ciecircncia da Informaccedilatildeo envolve a sua capacidade de transitar pelas diversas aacutereas do conhecimento de produzir conhecimentos que perpassam suas fronteiras atenta para a forma como a Biblioteconomia e a Documentaccedilatildeo tecircm formulado e empregado termos e conceitos para poder avanccedilar

19

Este estudo levanta as seguintes hipoacuteteses

a) a busca pela consistecircncia terminoloacutegica de termos como categoria

classe ou faceta contribuiraacute para aperfeiccediloar a operacionalizaccedilatildeo do

processamento do conhecimento em Ciecircncia da Informaccedilatildeo b) os esquemas categoriais subjacentes agraves classificaccedilotildees bibliograacuteficas

natildeo tecircm valor neutro jaacute que favorecem uma determinada concepccedilatildeo

de mundo sendo construiacutedos com objetivos pragmaacuteticos portanto a

elaboraccedilatildeo de classificaccedilotildees (classe categoria faceta) deve ser

encarada com rigor pois afeta a maneira como se processam as

informaccedilotildees

A pesquisa eacute do tipo exploratoacuterio-descritivo com caraacuteter de revisatildeo de literatura

Estabelecidos os objetivos que orientaram o estudo foram realizadas buscas

bibliograacuteficas em bases de dados internacionais e nacionais Wilson Library Literature

and Information Science Full Text Library and Information Science Abstract (LISA) The

Philosopherrsquos Index Teses do Instituto Brasileiro de Informaccedilatildeo em Ciecircncia Tecnologia

(IBICT) Portal da Capes entre outras Foram consultados cataacutelogos de diversas

bibliotecas nacionais A partir daiacute foram selecionados livros e artigos de perioacutedicos

pertinentes ao tema em questatildeo Posteriormente foram localizados e obtidos materiais

bibliograacuteficos para leitura Dessa maneira foi possiacutevel a objetivaccedilatildeo a anaacutelise a

discussatildeo e o aprofundamento dos traccedilos significantes do objeto que permitiram a

elaboraccedilatildeo da conclusatildeo Ressalta-se que as traduccedilotildees das citaccedilotildees em liacutengua

estrangeira satildeo na maioria dos casos indicadas no texto com a frase ldquotraduccedilatildeo livre

da autorardquo apresentando em rodapeacute as respectivas citaccedilotildees no idioma original com o

intuito de facilitar a leitura e de presevar a fidedignidade das informaccedilotildees

A estrutura da pesquisa proporciona o desenvolvimento do tema visando

alcanccedilar os objetivos propostos Assim apoacutes a seccedilatildeo 1 Introduccedilatildeo direcionada

para a construccedilatildeo da ideacuteia principal e dos meios para viabilizaacute-la a seccedilatildeo 2 traccedila um

percurso da classificaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo do conhecimento e apresenta algumas

caracteriacutesticas gerais das classificaccedilotildees das ciecircncias tambeacutem chamadas de

classificaccedilotildees filosoacuteficas9 A seccedilatildeo 3 recupera parte da rica histoacuteria dos principais

sistemas filosoacuteficos de organizaccedilatildeo do conhecimento apresentando um panorama

9 As classificaccedilotildees filosoacuteficas ldquosatildeo as criadas pelos filoacutesofos com a finalidade de definir esquematizar e hierarquizar o conhecimento preocupados com a ordem das ciecircncias ou a ordem das coisasrdquo (PIEDADE 1983 p 60)

20

das classificaccedilotildees das ciecircncias em Platatildeo Aristoacuteteles Cassiodoro Roger Bacon

Huarte Descartes Francis Bacon Hobbes Locke Leibniz Diderot e drsquoAlembert

Hegel Ampegravere Comte Spencer Harris e Wundt A sistematizaccedilatildeo do saber que se

pretende (procurando apontar indiacutecios da existecircncia de influecircncia das classificaccedilotildees

filosoacuteficas sobre as classificaccedilotildees bibliograacuteficas tradicionais10) teve origem na

Antiguidade Claacutessica quando todos os saberes e ciecircncias particulares estavam

integrados em uma ciecircncia uacutenica a Filosofia A classificaccedilatildeo dos saberes e suas

subdivisotildees - estabelecidas dentro da Filosofia - perduraram ateacute a Idade Meacutedia Soacute a

partir do Renascimento (seacuteculos XV e XVI) principalmente a partir de Francis Bacon

que se daacute iniacutecio agraves modernas classificaccedilotildees das ciecircncias ou classificaccedilotildees filosoacuteficas

e das classificaccedilotildees bibliograacuteficas hoje consideradas tradicionais Ainda na seccedilatildeo 3

busca-se conhecer e compreender as investigaccedilotildees relativas a categorias

sobretudo as noccedilotildees formuladas na Filosofia por alguns dos estudiosos de

categorias que mais contribuiacuteram para a reflexatildeo acerca das classificaccedilotildees

bibliograacuteficas (Platatildeo Aristoacuteteles Kant Foucault) possibilitando com o auxiacutelio desse

conhecimento especiacutefico uma anaacutelise do referido conceito aleacutem de sua

contextualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica Os autores

que embasaram a elaboraccedilatildeo desta seccedilatildeo aleacutem dos proacuteprios filoacutesofos e seus

comentadores foram Garcia Morente (1952) Ferrater Mora (1971) Kedrov (1974)

Piedade (1983) Gopinath (2001) Mazip (2001) Abbagnano (2003) Pombo (2006)

entre outros que forneceram os elementos necessaacuterios para o entendimento das

diferentes noccedilotildees de categoria no decorrer da Histoacuteria da Filosofia

A seccedilatildeo 4 estaacute concentrada na histoacuteria construccedilatildeo princiacutepios e revisatildeo dos

sistemas claacutessicos de classificaccedilatildeo bibliograacutefica11 (Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey

Classificaccedilatildeo Expansiva de Cutter Classificaccedilatildeo da Biblioteca do Congresso em

Washington Classificaccedilatildeo Decimal Universal Classificaccedilatildeo de Assuntos de Brown

Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos de Ranganathan e Classificaccedilatildeo Bibliograacutefica de

Bliss) com enfoque nas noccedilotildees de classe de categoria e de faceta Aqui tentou-se

apontar os indiacutecios da influecircncia das classificaccedilotildees filosoacuteficas sobre as

classificaccedilotildees bibliograacuteficas Para tanto aleacutem dos proacuteprios esquemas de

10 A influecircncia das classificaccedilotildees filosoacuteficas sobre as classificaccedilotildees bibliograacuteficas permeia as seccedilotildees 2 e 3 11 As classificaccedilotildees bibliograacuteficas satildeo sistemas destinados a servir de base agrave organizaccedilatildeo e localizaccedilatildeo de documentos e para ordenar cataacutelogos e bibliografias

21

classificaccedilatildeo bibliograacutefica contou-se com o apoio teoacuterico de Grolier (1962) Foskett

(1973a) Dahlberg (1978 1979a 1993) Piedade (1983) Perreault (1991) Maniez

(1993) San Segundo Manuel (1996) McIlwaine (2000) Broughton (2004) e Batley

(2005) entre outros

A seccedilatildeo 5 estaacute direcionada para a elaboraccedilatildeo do corpus teoacuterico dos conceitos

de classe de categoria e de faceta na Teoria da Classificaccedilatildeo com a intenccedilatildeo de

explorar discutir e se possiacutevel esclarecer a noccedilatildeo de categoria procurando esboccedilar

um conceito de classe de categoria e de faceta no acircmbito da Teoria da

Classificaccedilatildeo para as Classificaccedilotildees Bibliograacuteficas Claacutessicas Os autores que

fundamentaram a anaacutelise dos termos foram Mills (1960) Grolier (1962 1976)

Dobrowolski (1964) Foskett (1972) Piedade (1983) Dahlberg (1992) Iyer (1995)

Maniez (1999) e Bariteacute (2000) Aleacutem de dicionaacuterios e glossaacuterios como Thompson

(1943) Elsevierrsquos (1973) Harrod (1977) Keenan (1996) Bariteacute (1997) Menezes

Cunha e Heemann (2004) entre outros

A Conclusatildeo seccedilatildeo 6 constitui a siacutentese do que emergiu do texto da proacutepria

tese ao longo do estudo Em linhas gerais eacute possiacutevel afirmar que tanto os

princiacutepios das classificaccedilotildees filosoacuteficas em relaccedilatildeo aos seres (categorias) e em

relaccedilatildeo aos saberes (classes) quanto agraves proacuteprias classificaccedilotildees filosoacuteficas que

dividem os seres e os saberes apresentam-se como construtos humanos

elaborados precipuamente com a intenccedilatildeo de conhecer e disciplinar o

conhecimento do ser e do saber Evidenciou-se que as classificaccedilotildees

bibliograacuteficas em grande parte satildeo adaptaccedilotildees de classificaccedilotildees filosoacuteficas

(utilizando as divisotildees das ciecircncias e empregando termos primeiramente

pensados pelos filoacutesofos poreacutem ressignificados com objetivos pragmaacuteticos) Na

revisatildeo conceitual das noccedilotildees de classe de categoria e de faceta atentou-se agrave

aplicaccedilatildeo especiacutefica dos termos nos sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica

enquanto sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento mostrando que tanto a

Biblioteconomia como a Ciecircncia da Informaccedilatildeo estatildeo envolvidas nessa discussatildeo

interdisciplinar E finalmente na seccedilatildeo 7 Perspectivas apresentam-se algumas

questotildees decorrentes da investigaccedilatildeo que poderatildeo ser de interesse para futuras

pesquisas

22

2 DA CLASSIFICACcedilAtildeO Agrave ORGANIZACcedilAtildeO DO CONHECIMENTO UMA VISAtildeO PRELIMINAR DA SUA TRANSITORIEDADE E RELATIVIDADE

A maioria das pessoas eacute subjetiva para consigo proacutepria e objetiva para com os demais por vezes terrivelmente objetiva -

mas o importante eacute ser-se objetivo para consigo proacuteprio e subjetivo para com todos os outros

Kierkegaard

O conceito de organizaccedilatildeo do conhecimento eacute um dos mais antigos com o

qual o homem convive Kedrov (1974 v 1 p 7) um estudioso da classificaccedilatildeo das

ciecircncias define-o como

la unificacioacuten de todos los conocimientos en un sistema uacutenico en el cual se reflejam la loacutegica del objeto de estuacutedio y las concepciones generales sobre el mundo y su conocimiento por el hombre

Jaacute Tennis (2008 p 103) um estudioso da Teoria da Classificaccedilatildeo

Biblioteconocircmica entende por organizaccedilatildeo do conhecimento o processo de ordenar

e representar documentos O autor com o propoacutesito de comparaccedilatildeo define tambeacutem

organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo como o processo de ordenar e representar informaccedilatildeo

(que compreende documentos e outras entidades consideradas informaccedilatildeo)

Os sistemas de classificaccedilatildeo criados pelos filoacutesofos com o objetivo de

ordenar as ciecircncias e hierarquizar o conhecimento tiveram origem remota na

observaccedilatildeo e estudo dos fenocircmenos do Universo e satildeo conhecidos como

classificaccedilotildees filosoacuteficas metafiacutesicas do conhecimento ou ainda classificaccedilotildees das

ciecircncias (PIEDADE 1983 p 61)

As classificaccedilotildees permitem ao homem identificar tempo e espaccedilo reconhecer

entes e fatos estabelecer semelhanccedilas e diferenccedilas agrupar e separar seres e

saberes enfim ordenar tudo que o rodeia para se orienta no mundo

No mundo antigo existia uma soacute ciecircncia a Filosofia12 que era de fato natildeo soacute

o suporte das ciecircncias mas ldquoardquo ciecircncia porque pretendia abranger todo o

conhecimento

As classificaccedilotildees bibliograacuteficas se originaram a partir das classificaccedilotildees

filosoacuteficas (de orientaccedilatildeo metafiacutesica) Platatildeo em A Repuacuteblica (2006 livro VII p 267-

305) ao se referir agraves ciecircncias especiacuteficas que constituiacuteam o curriacuteculo do filoacutesofo

12 De Platatildeo ateacute hoje a Filosofia tem sido natildeo soacute interpretaccedilatildeo do mundo mas projeto de transformaccedilatildeo do homem quer dizer Poliacutetica Eacutetica Pedagogia

23

(Aritmeacutetica Geometria Astronomia e Muacutesica) salientava que o estudo dessas

ciecircncias devia levar obrigatoriamente ao entendimento dos seus pontos comuns do

seu parentesco percebendo-se as razotildees pelas quais estatildeo interligadas e o seu

desenvolvimento apresentando aiacute a exigecircncia da formaccedilatildeo do que ele mesmo

chamou de Ciecircncia Primeira Aristoacuteteles nomeou essa mesma Ciecircncia de Filosofia

Primeira Portanto a Metafiacutesica como entendida por Platatildeo e Aristoacuteteles era a

Ciecircncia ou Filosofia Primeira no sentido de fornecer a todas as outras ciecircncias o

fundamento comum isto eacute ter como objeto o objeto de todas as outras ciecircncias e

como princiacutepio um princiacutepio que condicionava a validade de todos os demais Por

essa pretensatildeo de prioridade que a define inclusive a Metafiacutesica pressupotildee uma

situaccedilatildeo cultural determinada em que o saber jaacute se organizou e se dividiu em

diversas ciecircncias relativamente independentes e capazes de exigir a determinaccedilatildeo

de suas inter-relaccedilotildees e sua integraccedilatildeo com base num fundamento comum Essa

era a situaccedilatildeo na Atenas do seacuteculo IV aC graccedilas agrave obra de Platatildeo e dos seus

disciacutepulos que contribuiacuteram vigorosamente para o desenvolvimento da Matemaacutetica

da Fiacutesica da Eacutetica e da Poliacutetica

Andronico de Rodes (diretor da escola peripateacutetica no seacuteculo I aC) foi o

responsaacutevel por coletar e reunir de modo sistemaacutetico no ano 86 aC alguns escritos

sem nome de Aristoacuteteles O nome casual embora pertinente de Metafiacutesica isto eacute

livros que vecircm depois da Fiacutesica atribuiacutedo ao lugar que coube aos textos presta-se a

expressar a natureza da Metafiacutesica porquanto vai aleacutem da Fiacutesica que eacute a primeira

das ciecircncias particulares para chegar ao fundamento comum em que todas as

ciecircncias se baseiam e determinar o lugar que cabe a cada uma na hierarquia do

saber Isso parece explicar senatildeo a origem pelo menos a repercussatildeo que esse

nome teve A Metafiacutesica passou a implicar assim uma enciclopeacutedia das ciecircncias

um inventaacuterio completo e exaustivo de todas as ciecircncias em suas relaccedilotildees de

coordenaccedilatildeo e subordinaccedilatildeo A Metafiacutesica apresentou-se ao longo da histoacuteria sob

trecircs maneiras fundamentais

a) teoloacutegica a que objetiva o ser mais elevado e perfeito superior a

todos e do qual todos os outros provecircm (Plotino Hegel)

b) ontoloacutegica a que estuda os caracteres fundamentais do ser os que

todo ser tem e natildeo pode deixar de ter (Aristoacuteteles drsquoAlembert)

c) gnosioloacutegica a que estuda as maneiras ou princiacutepios cognitivos que

por serem constituintes da razatildeo humana condicionam todo saber e

toda ciecircncia (Bacon Kant)

24

Na Filosofia contemporacircnea a Metafiacutesica atua na questatildeo do significado de

existecircncia na linguagem das diversas ciecircncias e na questatildeo das relaccedilotildees entre as

diversas ciecircncias e das investigaccedilotildees sobre objetos que incidem nos pontos de

intersecccedilatildeo ou de encontro entre elas (ABBAGNANO 2003 p 660-667)

Segundo Olga Pombo (2006) agrave classificaccedilatildeo dos saberes (de orientaccedilatildeo

gnosioloacutegica) corresponde o problema da classificaccedilatildeo das ciecircncias como tentativa

de dar o quadro completo de todas as disciplinas cientiacuteficas e de fixar as suas

relaccedilotildees de coordenaccedilatildeo e subordinaccedilatildeo ou de dividir em classes as distintas

disciplinas procedendo a uma ordenaccedilatildeo por unidades que apresentam uma

caracteriacutestica comum estabelecendo certa coextensatildeo entre elas ou ainda

simplesmente dividir as ciecircncias segundo os seus objetos ou meacutetodos de pesquisa

Essa questatildeo sempre interessou aos filoacutesofos que desde Platatildeo e Aristoacuteteles

buscam pensar a ciecircncia e os seus produtos (cf subseccedilatildeo 31) Enquanto agrave

classificaccedilatildeo dos seres (de orientaccedilatildeo ontoloacutegica) corresponde o problema da

classificaccedilatildeo nas ciecircncias como tentativa de explicar a realidade segmentando-a em

categorias o que desde Platatildeo e Aristoacuteteles vem sendo de fundamental importacircncia

para loacutegicos e cientistas de aacutereas que procedem agraves classificaccedilotildees taxonocircmicas13

como a Botacircnica e a Zoologia tipoloacutegicas como a Psicologia geoloacutegicas

antropoloacutegicas socioloacutegicas entre outras (cf subseccedilatildeo 32) Seguindo esse raciociacutenio

pode-se dizer que agrave classificaccedilatildeo dos livros (de orientaccedilatildeo bibliograacutefica) corresponde

o problema da organizaccedilatildeo por assunto dos livros nas estantes e a geraccedilatildeo de

iacutendices que decircm acesso aos livros o que se constitui em objeto de estudo da Teoria

da Classificaccedilatildeo a qual fundamenta todos os possiacuteveis sistemas de classificaccedilatildeo

bibliograacutefica (cf subseccedilatildeo 41)

Natildeo se propotildee nesta pesquisa uma discussatildeo a respeito da distinccedilatildeo entre

informaccedilatildeo e conhecimento que aliaacutes eacute discutiacutevel porque relativa mas natildeo se pode

deixar de apontar que as classificaccedilotildees bibliograacuteficas pressupotildeem a classificaccedilatildeo e

portanto a organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo que representam assuntos tratados nos

documentos aproximando-se assim os universos das classificaccedilotildees bibliograacuteficas e

os universos das classificaccedilotildees filosoacuteficas

13 Relativo a taxinomia Taxinomia [Do gr Taacutexis ordem arranjo ltverbo gr taacutessein arrumar ordenar] Sf 1 Ciecircncia da classificaccedilatildeo 2 Biol Sistemaacutetica (FERREIRA 1999 p 1932)

25

O proacuteprio conceito de organizaccedilatildeo do conhecimento traz impliacutecita a

impossibilidade de uma teoria geral de organizaccedilatildeo sistematizaccedilatildeo e classificaccedilatildeo

universal do conhecimento Isso se deve em essecircncia aos limites espaccedilo-temporais

de uma classificaccedilatildeo de caraacuteter geral do conhecimento tanto sob o ponto de vista

teoacuterico quanto praacutetico encontrando-se a proacutepria classificaccedilatildeo impregnada de um

caraacuteter provisoacuterio Deve-se tambeacutem agrave estruturaccedilatildeo da realidade e do conhecimento

- a qual se modifica segundo as distintas concepccedilotildees de mundo daqueles que a

realizam - ou seja realidade e conhecimento tambeacutem dependem do espaccedilo e do

tempo Atribui-se ainda ao determinismo intriacutenseco que existe nas proacuteprias

estruturas classificatoacuterias que faz com que elas sigam muito mais paracircmetros

sociais determinados do que uma concepccedilatildeo teoacuterica - ou seja eacute o social que

importa Consequentemente um traccedilo comum a todas as classificaccedilotildees eacute o seu

caraacuteter efecircmero pois estatildeo sempre sujeitas as numerosas concepccedilotildees e mudanccedilas

que as estruturam e delimitam Foucault (1981) em As Palavras e as Coisas afirma

que ao repartir e classificar as coisas elas se alteram jaacute que satildeo reconheciacuteveis de

acordo com a ordem que as relaciona Com essa posiccedilatildeo ele reafirma o caraacuteter

provisoacuterio e relativo das classificaccedilotildees - como construtos sociais

A ideacuteia da impossibilidade de uma classificaccedilatildeo perduraacutevel do conhecimento

(em sentido espaccedilo-temporal e determinista - a classificaccedilatildeo dos saberes e dos

seres reproduz somente a classificaccedilatildeo do homem em acircmbito geograacutefico e temporal)

foi postulada por Durkheim14 e Mauss15 (1901 p 69) ao afirmarem que as classes

sociais determinam as estruturas da classificaccedilatildeo do universo das coisas e

considerarem que as classificaccedilotildees dependem da organizaccedilatildeo e das condiccedilotildees

sociais em que elas surgem - ideacuteia tambeacutem compartilhada por Kedrov (1974) Eacute na

sociedade portanto que se desenvolve o pensamento classificatoacuterio Nesse sentido

as primeiras categorias sobre as quais se fundamentam as classificaccedilotildees satildeo

categorias sociais - satildeo elas que presidem a reparticcedilatildeo loacutegica das coisas Durkheim

(1973) parte das categorias aristoteacutelicas do entendimento humano - noccedilotildees de

14 David Eacutemile Durkhein (1858-1917) pensador francecircs considerado o fundador da Sociologia como ciecircncia independente (1887) foi muito influenciado pelas ideacuteias do psicoacutelogo Wilhelm Wundt Fundou o perioacutedico LAnneacutee Sociologique (1896) 15 Marcel Mauss (1872-1950) socioacutelogo e antropoacutelogo francecircs considerado o pai da Antropologia francesa Sobrinho de Durkheim Mauss fundou o Instituto de Etnologia da Universidade de Paris (1925) Sucedeu o tio como editor da revista LAnneacutee Sociologique (1898-1913)

26

tempo de espaccedilo de gecircnero de nuacutemero de causa de substacircncia de

personalidade entre outras as quais devem estar presentes em qualquer sociedade

uma vez que constituem os fundamentos do conhecimento isto eacute os sentimentos

as emoccedilotildees os juiacutezos os valores e enfim tudo aquilo que condiciona qualquer

pensamento ou representaccedilatildeo relativamente agrave vida humana

Leacutevi-Strauss16 (1976) que criou no seacuteculo XX as teses da moderna

Antropologia sustenta um posicionamento similar ao salientar o caraacuteter ao mesmo

16 Claude Leacutevi-Strauss (1908 - aos 100 anos em novembro de 2008 permanece na ativa) antropoacutelogo e filoacutesofo belga que ultrapassa fronteiras disciplinares e desfaz barreiras entre ciecircncias e artes aplicando o meacutetodo estruturalista (com base no pensamento linguiacutestico de Saussure) a todas as manifestaccedilotildees ou fenocircmenos culturais Segundo Carvalho (2008) o conceito de estrutura reorganiza o mundo dos acontecimentos a ordem vivida os processos histoacutericos que satildeo propriedade do real Os homens natildeo percebem esses processos mantendo-os recalcados e inconscientes Essa estrutura tem duas faces razatildeo e sensibilidade como Jano (deus do panteatildeo romano que eacute representado por dois rostos em oposiccedilatildeo um que olha para frente outro para traacutes) Assim por mais que se queira fragmentar a existecircncia ela resiste e busca rejuntar os seus pedaccedilos religar propor novos sentidos agrave realidade Os mitos (linguagens da imaginaccedilatildeo) solucionam contradiccedilotildees invertem a relaccedilatildeo natureza-cultura e a sequecircncia presente-passado-futuro Leacutevi-Strauss (apud CARVALHO 2008) afirma que ldquoos mitos sempre querem dizer a mesma coisa Natildeo satildeo especiacuteficos de nenhuma sociedade dessa ou daquela populaccedilatildeo Satildeo respostas irocircnicas ou desencantadas para problemas intemporais Constituem portanto patrimocircnio universal da culturardquo A inspiraccedilatildeo de Leacutevi-Strauss para as estruturas veio da linguiacutestica Para Leacutevi-Strauss as sociedades organizam-se como se fossem frases ou modos de falar que podem ser diferentes entre si mas obedecem a um mesmo coacutedigo ou sistema universal Essa concepccedilatildeo foi revolucionaacuteria pois rompia para sempre a tradicional dicotomia entre natureza e cultura O estruturalismo refutou a oposiccedilatildeo entre esses termos ao mostrar como a cultura eacute uma produccedilatildeo - e natildeo uma negaccedilatildeo - da natureza Leacutevi-Strauss ensinou Sociologia na Universidade de Satildeo Paulo de 1934 a 1937 e entre 1938 e 1939 empreendeu uma expediccedilatildeo pelo interior do Brasil (como integrante da missatildeo francesa) visitando grupos indiacutegenas Obras importantes As Estruturas Elementares do Parentesco (1949) A Vida Familiar e Social dos Iacutendios Nhambiquara (1948) Raccedila e Histoacuteria (1952) Tristes Troacutepicos (1955) Antropologia Estrutural (1958) O Totemismo Hoje (1962) O Pensamento Selvagem (1962) O Cru e o Cozido (1964) Do Mel agraves Cinzas (1967) As Origens das Maneiras agrave Mesa (1968) e O Homem Nu (1971) (MAZIP 2001 p 334-336) Nos anos 1960 o estruturalismo tornou-se um modismo global com adeptos em outras aacutereas do conhecimento como o psicanalista Jacques Lacan o socioacutelogo Louis Althusser e o criacutetico literaacuterio Roland Barthes Mas o clima de contestaccedilatildeo generalizada que marcou aqueles anos culminando com o movimento estudantil de maio de 1968 na Franccedila atingiu tambeacutem a onda estruturalista Jovens pensadores entre eles o filoacutesofo e historiador Michel Foucault abandonaram os seus viacutenculos com essa linha de pensamento questionando o determinismo das estruturas e tambeacutem a possibilidade de estudaacute-las com o distanciamento e a objetividade exigida por seus adeptos Na Antropologia a corrente poacutes-estruturalista critica a propensatildeo do estruturalismo para as generalizaccedilotildees em detrimento do conhecimento das especificidades

27

tempo socioloacutegico e relativo das classificaccedilotildees na obra La Penseacutee Sauvage17 (O

Pensamento Selvagem) na qual analisa o processo classificatoacuterio (totemismo) do

chamado homem primitivo Considera que a classificaccedilatildeo do homem primitivo natildeo eacute

hieraacuterquica18 como satildeo os modelos classificatoacuterios do pensamento ocidental (embora

tenha uma estrutura vertical que liga o geral ao especiacutefico e o abstrato ao concreto)

Observa que a loacutegica que rege a vida e o pensamento das sociedades primitivas eacute a

que implica um sistema de oposiccedilatildeo (altobaixo ceacuteuterra dianoite pazguerra)

operando por pares de contrastes - estrutura dualista impliacutecita em todos os grupos

humanos ainda que natildeo explicitamente formulada - exigindo a separaccedilatildeo dos

diferentes e natildeo a subordinaccedilatildeo Propotildee como modelo de pensamento o pensamento

no estado selvagem - aquele natildeo cultivado ou domesticado que possibilita o ponto de

vista do sentido19 a teoria do sensiacutevel - confirmando a sua ideacuteia de inviabilidade e

artificialidade dos sistemas classificatoacuterios vigentes na sociedade ocidental que estariam

carregados de sistemas de valores e estruturariam a realidade de modo inconsistente e

artificial como a hieraacuterquica e se reportariam a um esquema e classificaccedilatildeo da

realidade em nuacutemero finito e limitado de classes Adverte que o modo de pensar na

modernidade eacute totalizante e almeja esgotar o real por meio de classes dadas em

nuacutemero finito e nesse sentido as classificaccedilotildees ao filtrar e aprisionar o real acabam

prolongando essa accedilatildeo ateacute alcanccedilar um niacutevel depois do qual natildeo eacute possiacutevel classificar

senatildeo soacute nomear (LEVI-STRAUSS 1976 cap 7)

Com efeito os sistemas classificatoacuterios situam-se em niacutevel de linguagem

poreacutem satildeo coacutedigos criados e definidos com o objetivo de sempre expressar sentido

Resultam da estruturaccedilatildeo da realidade (no tempo e no espaccedilo) elaborada de modo

artificial com objetivos (teoacutericos praacuteticos e teoacuterico-praacuteticos) determinados

17 A partir dessa obra publicada em 1962 com a intenccedilatildeo de fazer uma ldquoontologia da classificaccedilatildeordquo - compreender e esclarecer o processo classificatoacuterio em sociedade - Leacutevi-Strauss propotildee o estudo da Psicologia Infantil como maneira de verificar como as crianccedilas adquirem a habilidade de classificar 18 As classificaccedilotildees hieraacuterquicas de inclusatildeo ou subordinaccedilatildeo que introduzem um sistema de valores na proacutepria classificaccedilatildeo provecircm das classificaccedilotildees filosoacuteficas e das classificaccedilotildees bibliograacuteficas do seacuteculo XIX que estatildeo embasadas em princiacutepios empiacutericos ou de utilidade e satildeo testadas e avaliadas somente por sua praticidade e aplicabilidade 19 Na terminologia de Leacutevi-Strauss conceito eacute ideacuteia substancial matizada por nove categorias qualidade quantidade relaccedilatildeo accedilatildeo paixatildeo lugar tempo posiccedilatildeo e haacutebito (MAZIP 2001 p 336)

28

Piaget20 em suas pesquisas psicoloacutegicas e epistemoloacutegicas a respeito da

existecircncia de uma classificaccedilatildeo das coisas constata que a mente humana natildeo

possui um modelo preacute-fabricado da realidade e observa que o modelo acaba sendo

o senso comum21 a opiniatildeo puacuteblica (opiniotildees compartilhadas com outros seres

humanos) ou seja tanto a classificaccedilatildeo como o mundo real satildeo construccedilotildees

Piaget observa que no curso do desenvolvimento cognitivo nos primeiros

meses de vida a crianccedila estabelece relaccedilotildees cognitivas bem como adquire a

habilidade de classificar por intermeacutedio da matildee Soacute quando a crianccedila se torna capaz

de aplicar uma loacutegica elementar a vaacuterios domiacutenios de conhecimento (entre seis e

nove anos aproximadamente) eacute que ela adquire um pensamento loacutegico-formal Em uma crianccedila de mais de sete anos que ordena espontaneamente cartotildees de formas e de cores diferentes pode-se observar que ela realiza simultaneamente agrave classificaccedilotildees e seriaccedilotildees Ela reuacutene [] os cartotildees de mesma forma e de mesma cor ordenando-os em ordem de grandeza Uma dessas operaccedilotildees implica entatildeo a outra (MONTANGERO MAURICE-NAVILLE 1998 p 199)

A partir dessa idade a crianccedila procede a uma classificaccedilatildeo coordenada em

um sistema conjunto e as relaccedilotildees estabelecidas - que satildeo a base da classificaccedilatildeo -

estaratildeo todas elas impregnadas de valor pois eacute a loacutegica que dota a classificaccedilatildeo

de fatores tais como reuniatildeo ordenaccedilatildeo inclusatildeo exclusatildeo interseccedilatildeo e

complementaridade por exemplo entre outros

Segundo Montangero e Maurice-Naville (1998 p 199) em seu uacuteltimo trabalho

com Garcia22 Piaget propunha-se a elaborar uma loacutegica das significaccedilotildees definindo

ou considerando a princiacutepio a noccedilatildeo de significaccedilatildeo como o instrumento da

compreensatildeo por oposiccedilatildeo agrave extensatildeo de classes e subclasses O autor analisa as

significaccedilotildees em vaacuterios niacuteveis os dos predicados os dos objetos os das accedilotildees e

operaccedilotildees e os dos enunciados As significaccedilotildees dos predicados ou propriedades

de um mesmo objeto satildeo ligadas entre si e satildeo esses predicados conjuntos que

constituem o objeto

20 Jean Piaget (1896-1980) filoacutesofo e psicoacutelogo suiacuteccedilo adepto da filosofia psicoloacutegica e do positivismo loacutegico em sua teoria psicogeneacutetica (a mais conhecida concepccedilatildeo construtivista da formaccedilatildeo da inteligecircncia) explica como o indiviacuteduo desde o seu nascimento constroacutei o conhecimento (MAZIP 2001 p 373) 21 O que acaba acarretando dificuldades principalmente no trato das chamadas Ciecircncias Sociais pois como diz Piaget (1967 p 24) a Sociologia tal como a Psicologia tem ldquoo triste privileacutegio de tratar de mateacuterias de que todos se julgam competentesrdquo 22 PIAGET J GARCIA R Vers une logique des significations Genegraveve Murionde 1987

29

Quanto agrave significaccedilatildeo do objeto Piaget reconhece que ela eacute aquilo que se pode

fazer (rolaacute-lo balanccedilaacute-lo submetecirc-lo a caacutelculos etc) e aquilo que lhe confere os seus

predicados ou qualidades (reconstituiccedilotildees e relaccedilotildees estabelecidas pelo sujeito)

Portanto as significaccedilotildees satildeo constituiacutedas por seu resultado e datildeo lugar a inferecircncias

suscetiacuteveis de verdade ou de falsidade ou seja a uma loacutegica das significaccedilotildees

Segundo Piaget o emprego de toda significaccedilatildeo supotildee a noccedilatildeo de certas

implicaccedilotildees e conduz a essas Diversos elementos podem ser ligados pelas

implicaccedilotildees significantes os predicados por exemplo as propriedades de um mesmo

objeto (pesado e preto) uma propriedade do objeto e um esquema (suspenso e

desencadear um balanccedilo) uma accedilatildeo e o seu resultado ou ainda duas accedilotildees entre si

(colocar dentro e retirar) e enfim duas operaccedilotildees ou dois enunciados

A noccedilatildeo de implicaccedilatildeo significante eacute desenvolvida pela primeira vez em Fazer

e Compreender23 Nesse trabalho Piaget formula a hipoacutetese de que o caraacuteter mais

geral dos estados conscientes desde as tomadas de consciecircncia elementares -

ligadas aos objetivos e resultados das accedilotildees - ateacute as conceituaccedilotildees de niacuteveis

superiores eacute o de exprimir significaccedilotildees e ligaacute-las por um modo de conexatildeo

chamado implicaccedilatildeo significante Esse termo significante natildeo leva a uma distinccedilatildeo

saussuriana entre significante (forma do signo) e significado (conteuacutedo cognitivo) ele

quer dizer que a implicaccedilatildeo em jogo liga duas significaccedilotildees e as enriquece por esse

fato (o fato de ser uma ligaccedilatildeo fundamental) Piaget ao fazer da crianccedila o seu

objeto de investigaccedilatildeo e constatar que o ceacuterebro humano carece de um modelo de

realidade com o qual comparar experiecircncias demonstra (na praacutetica) que

classificaccedilotildees satildeo construtos

Considerando-se as ponderaccedilotildees anteriores pode-se dizer que toda

classificaccedilatildeo seja ela classificaccedilatildeo filosoacutefica seja ela classificaccedilatildeo bibliograacutefica

parte de uma abstraccedilatildeo24 e eacute unicamente uma operaccedilatildeo de simplificaccedilatildeo e

relativizaccedilatildeo Essa relatividade que alguns autores como Foucault chamam de

arbitrariedade25 estaacute impliacutecita em toda operaccedilatildeo mental e em todo o acircmbito da

23 PIAGET J Reacuteussir et comprendre Paris PUF 1974 24 O termo abstraccedilatildeo vem do verbo abstrair que significa separar pelo pensamento A abstraccedilatildeo consiste em separar qualidades quantidades propriedades que existem nas coisas singulares percebidas e organizaacute-las em ideacuteias gerais que natildeo possuem objetos determinados 25 Para efeito deste estudo arbitraacuterio tem sentido de natildeo ser absoluto de ser independente de lei ou regra o que implica uma possibilidade de escolha

30

linguagem pois as classificaccedilotildees satildeo condicionadas por certo ponto de vista e certo

objetivo o que determina o seu caraacuteter de relatividade Os sistemas de classificaccedilatildeo

reproduzem as estruturas soacuteciopoliacuteticas-econocircmicas-culturais do universo do qual

fazem parte e participam da mesma loacutegica herdada da Antiguidade que as

determina26

Cabe concordar com Grolier (1982 p 19) quando afirma que a classificaccedilatildeo eacute

um artefato cultural que depende natildeo somente dos paracircmetros culturais mas

tambeacutem dos poliacuteticos dos econocircmicos e das condiccedilotildees sociais entre outros

A partir desses postulados eacute possiacutevel perceber as limitaccedilotildees inerentes agraves

classificaccedilotildees e considerar a organizaccedilatildeo do conhecimento como um construto tanto

artificial (aquele que se constroacutei se combina na reflexatildeo epistemoloacutegica que tem

acompanhado o desenvolvimento das ciecircncias) como tambeacutem um construto natural

(aquele que se assume naturalmente pertencente ao senso comum ao conhecimento

vulgar)

Dahlberg (1993 p 1) observa que o sentido que se daacute ao novo conceito de

organizaccedilatildeo do conhecimento proveacutem do conceito de classificaccedilatildeo das ciecircncias No

acircmbito da Documentaccedilatildeo o termo classificaccedilatildeo tende a cair em desuso ele foi

substituiacutedo por organizaccedilatildeo do conhecimento jaacute que esse apresenta maior

amplitude temaacutetica Pode-se apreciar essa mudanccedila em 1992 no perioacutedico

International Classification (fundado em 1974) e sua nova denominaccedilatildeo Knowledge

Organization (KO) Nota-se que a essecircncia dos conceitos de organizaccedilatildeo do

conhecimento e classificaccedilatildeo das ciecircncias natildeo foi alterada O que ocorreu foi uma

mudanccedila de nome uma escolha lexical uma ampliaccedilatildeo do escopo mas natildeo uma

alteraccedilatildeo de objetivos Segundo Tennis (2008 p 103) a organizaccedilatildeo do

conhecimento eacute o campo de pesquisa interessado no design estudo e criacutetica dos

processos de organizaccedilatildeo e representaccedilatildeo de documentos que a sociedade

percebe como dignos de preservaccedilatildeo

A relaccedilatildeo do homem com o conhecimento experimentada desde a Segunda

Guerra Mundial (explosatildeo documentaacuteria) e sobretudo depois dos anos 1970

(informatizaccedilatildeo) eacute radicalmente nova Migrou-se da aplicaccedilatildeo de saberes estaacuteveis

que constituiacuteam um segundo plano de atividade para a aprendizagem permanente

26 Cf Foucault na subseccedilatildeo 323

31

contiacutenua de um conhecimento que passou a se projetar em primeiro plano exigindo

maior adequaccedilatildeo agilidade exatidatildeo e facilidade dos sistemas de classificaccedilatildeo

bibliograacutefica e melhores soluccedilotildees pragmaacuteticas para resolver problemas praacuteticos

complexos em termos teoacutericos e conceituais simples Os pesquisadores e

estudiosos da organizaccedilatildeo do conhecimento que privilegiam uma instacircncia

epistecircmica pragmaacutetica tecircm dado explicaccedilotildees opostas agraves daqueles que privilegiam

uma instacircncia racionalista sobre o significado da realidade e como se procede para

conhececirc-la (TENNIS 2008 p 103) Conveacutem fazer referecircncia ao entendimento de

epistemologia que para Tennis (2008 p 103) eacute ldquocomo noacutes conhecemosrdquo Ela eacute uma

ferramenta usada para apresentar uma criacutetica ao senso comum e para saber o que

estaacute presente na classificaccedilatildeo indexaccedilatildeo e outros sistemas de organizaccedilatildeo do

conhecimento Em organizaccedilatildeo do conhecimento a visatildeo de realidade eacute ditada pela

instacircncia epistecircmica (pragmaacutetica positivista empirista racionalista realista etc) que

reflete pressupostos sobre linguagem e expressa a espeacutecie de conhecimento que

pode ser criado como esse conhecimento pode ser reunido e como pode ser

apresentado A instacircncia que ainda prevalece e que pode se chamar de enfoque do

senso comum para linguagem e representaccedilatildeo do conhecimento obscurece a

complexidade e a variedade presente na representaccedilatildeo e ordenaccedilatildeo do

conhecimento No caso da organizaccedilatildeo do conhecimento existe preocupaccedilatildeo com

instacircncias epistecircmicas isto eacute como trabalhar em harmonia com as nossas

concepccedilotildees de realidade e o que elas significam comparando-as com outras

concepccedilotildees e significados

Ateacute este ponto de maneira ainda preliminar trata-se das classificaccedilotildees que

por ora aguardando a discussatildeo posterior satildeo associadas a um conceito muitas

vezes intuitivo de reuniatildeo Como exemplo no que pode ser caracterizado como um

racionalismo pragmaacutetico cita-se Ranganathan ao afirmar que todas as categorias de

assuntos podem ser reduzidas a cinco Ranganathan projeta um esquema (de modo

racionalista) firmemente postulado em categorias vinculando o status ontoloacutegico do

seu PMEST a um status pragmaacutetico (embasado sobre um propoacutesito uacutetil e natildeo sobre

um realismo racional) (TENNIS 2008 p 108) Segundo Rorty27 (1982 1999 apud

TENNIS 2008 p 108) a instacircncia da qual fala Ranganathan natildeo eacute uma instacircncia

27 RORTY R Consequences of pragmatism Minneapolis University of Minesota Press 1982 RORTY R Philosophy and social hope New York Penguin Books 1999

32

estritamente racionalista poreacutem praacutetica se natildeo uma instacircncia epistecircmica neo-

pragmaacutetica aquela que estaacute preocupada com a utilidade (ldquojuiacutezo finalrdquo para

Ranganathan) e menos com a realidade ou a verdade Hjoslashrland (2003) tem se

dedicado a identificar escolas de pensamento epistecircmico em organizaccedilatildeo do

conhecimento No que diz respeito agraves classificaccedilotildees bibliograacuteficas considera como

sendo representantes do Racionalismo as anaacutelises facetadas construiacutedas sobre

divisotildees loacutegicas e lsquoeternas e imutaacuteveis categoriasrsquo como por exemplo

Ranganathan Bliss2 entre outras De acordo com Miksa (1980) a CDD tem

ampliado o uso desse enfoque Como representante do Historicismo os sistemas

embasados no desenvolvimento do conhecimento como por exemplo a CDD que

distribui assuntos por disciplinas Como representante do Pragmatismo os sistemas

embasados na lsquogarantia culturalrsquo ou lsquoclassificaccedilatildeo criacuteticarsquo como por exemplo a

classificaccedilatildeo dos enciclopedistas franceses a dos marxistas entre outros

Nos anos 1980 associada ao termo globalizaccedilatildeo surge a expressatildeo

sociedade da informaccedilatildeo para descrever o estaacutegio de uma sociedade poacutes-industrial

ligada a tecnologias emergentes da microeletrocircnica e da telecomunicaccedilatildeo com o

objetivo de processar reunir e transferir dados

A Unesco em Relatoacuterio de 2005 preocupada em diferenciar os conceitos de

sociedade da informaccedilatildeo e sociedade do conhecimento alerta que a Sociedade da

Informaccedilatildeo eacute aquela limitada com base apenas em avanccedilos tecnoloacutegicos ininterruptos

que satildeo responsaacuteveis por uma massa de dados indistintos para aqueles que natildeo tecircm

as competecircncias necessaacuterias para beneficiarem-se dessas informaccedilotildees Jaacute a

Sociedade do Conhecimento eacute aquela que contribui para o bem-estar e a realizaccedilatildeo

dos indiviacuteduos e das comunidades pois tem dimensotildees culturais eacuteticas e poliacuteticas

Portanto deve-se encorajar o desenvolvimento da Sociedade do Conhecimento

garantindo acesso agrave informaccedilatildeo28 e liberdade de expressatildeo para todos De acordo com

Barreto (2005) ldquoa Sociedade da Informaccedilatildeo eacute uma utopia de realizaccedilatildeo tecnoloacutegica a

do Conhecimento eacute uma esperanccedila de realizaccedilatildeo do saberrdquo Entretanto a utopia se

encontra em ambas as sociedades mas nesta pesquisa privilegia-se a Sociedade do

Conhecimento e a consequente organizaccedilatildeo do conhecimento na ldquoesperanccedila de

realizaccedilatildeo do saberrdquo segundo as palavras de Barreto

28 De acordo com o Relatoacuterio somente 11 da populaccedilatildeo mundial tem acesso a internet e 90 dos conectados vivem em paiacuteses industrializados (UNESCO 2005)

33

De acordo com o pensamento de Pombo (2006) toda classificaccedilatildeo das

ciecircncias apresenta algumas caracteriacutesticas gerais

a) supotildee um agente classificador (filoacutesofo cientista epistemoacutelogo educador

enciclopedista tal como Platatildeo Aristoacuteteles Cassiodoro Huarte Bacon

Hegel Ampegravere Comte Spencer Wundt)

b) supotildee um princiacutepio de classificaccedilatildeo que poderaacute ser o fim a que as

ciecircncias se propotildeem (Aristoacuteteles) a ordem histoacuterica da sua constituiccedilatildeo e

progressiva diferenciaccedilatildeo (Comte) a natureza dos objetos estudados

(Ampegravere) as faculdades humanas mobilizadas (Huarte Bacon Diderot e

drsquoAlembert)

c) persegue um objetivo teoacuterico-praacutetico que acaba por determinar a sua

estrutura indo do puro interesse especulativo (Platatildeo Aristoacuteteles) agrave

determinaccedilatildeo de um programa de estudos (Cassiodoro) agrave orientaccedilatildeo

normativa da atividade cientiacutefica (Huarte Bacon Comte) ateacute mesmo agrave

organizaccedilatildeo de uma enciclopeacutedia (Diderot e drsquoAlembert) ou agrave organizaccedilatildeo

de uma biblioteca (Leibniz)

d) eacute exercida sobre um conjunto finito de elementos a totalidade das ciecircncias

constituiacutedas numa determinada eacutepoca ou nela jaacute previsiacuteveis (Comte

Spencer Wundt) No entanto algumas preveem mecanismos de abertura

a ciecircncias ainda natildeo constituiacutedas (Ampegravere)

e) eacute aplicada sobre um domiacutenio da realidade (estrutura preacute-existente) e

constroacutei-se no contexto das classificaccedilotildees anteriores do mesmo domiacutenio

ou seja integra-se na histoacuteria das classificaccedilotildees das ciecircncias ao longo da

qual os domiacutenios e as divisotildees podem ser modificados ou completados e

novos criteacuterios de classificaccedilatildeo podem ser acrescentados

f) conta com um esquema concreto que permite a execuccedilatildeo das operaccedilotildees

necessaacuterias agrave classificaccedilatildeo tanto em termos da constituiccedilatildeo de uma

nomenclatura adequada aos diferentes arranjos disciplinares propostos

(Ampegravere) como em termos da produccedilatildeo de sistemas diagramaacuteticos de

articulaccedilatildeo das ciecircncias sendo que esses sistemas podem apresentar-se

como uma estrutura hieraacuterquica uma aacutervore um quadro sistemaacutetico uma

figura geomeacutetrica entre outros

Com relaccedilatildeo aos tipos fundamentais de classificaccedilatildeo Pombo (2006) distingue

a) as que se baseiam em uma lei elementar da loacutegica - a dicotomia -

34

quer dizer na presenccedila ou ausecircncia de uma determinada

propriedade que permite distinguir conjuntos de objetos de seres ou

de ideacuteias que tecircm uma caracteriacutestica comum (utilizam um meacutetodo

classificatoacuterio em que cada uma das divisotildees natildeo conteacutem mais de

dois termos - distinguindo entre o elemento positivo e o negativo - e

cuja criaccedilatildeo se deve a Aristoacuteteles)

b) as que se baseiam em uma propriedade ou qualidade designada

como diferenccedila especiacutefica ou caracteriacutestica de divisatildeo (utilizam um

meacutetodo classificatoacuterio em que cada uma das divisotildees pode gerar

subdivisotildees sucessivas que se movem do geral para o especiacutefico

desconsiderando o princiacutepio de oposiccedilatildeo que se pode chamar de

conjuntos subordinados29 tambeacutem cada divisatildeo resultante da

aplicaccedilatildeo de uma soacute caracteriacutestica pode conter inuacutemeros conjuntos

que se pode chamar de conjuntos coordenados30)

Um exemplar das classificaccedilotildees que se baseiam em uma lei elementar da

loacutegica a dicotomia - uma primeira representaccedilatildeo arborescente31 da ideacuteia de

classificaccedilatildeo - foi apresentada pela primeira vez por Porfiacuterio32 que utilizou o

princiacutepio de oposiccedilatildeo de Platatildeo e de Aristoacuteteles ao escrever a sua ceacutelebre

introduccedilatildeo (Eisagoge) de caraacuteter pedagoacutegico agrave loacutegica de Aristoacuteteles A obra

Introductio in Praedicamenta (Introduccedilatildeo agraves Categorias) - nome da traduccedilatildeo latina

feita por Boeacutecio (475480-524) o seu principal tradutor e comentador - sistematiza a

noccedilatildeo de espeacutecie dentro da classificaccedilatildeo aristoteacutelica de gecircnero Descreve cinco

princiacutepios filosoacuteficos interligados por uma loacutegica de sucessiva subordinaccedilatildeo numa

verdadeira aacutervore taxonocircmica (os princiacutepios orientam as subdivisotildees das

29 Exemplo (PIEDADE 1983 p 27) Ciecircncias Puras Matemaacutetica Aritmeacutetica Nuacutemeros Decimais 30 Exemplo (PIEDADE 1983 p 27) Ciecircncias Puras Matemaacutetica Fiacutesica Quiacutemica Botacircnica Zoologia 31 Ainda que como observa Umberto Eco (1983 p 63 apud POMBO 2006) a Eisagoge de Porfiacuterio natildeo recorra a qualquer representaccedilatildeo icocircnica ela sugere claramente a imagem de aacutervore (ECO U LrsquoAntiporfirio In VATTIMO G ROVATTI P (Ed) Il pensiero debole Milano Feltrinelli 1983 p 52-80) 32 Porfiacuterio (234-310) filoacutesofo neoplatocircnico o disciacutepulo mais importante do filoacutesofo romano Plotino (204-270) foi quem consolidou seis seacuteculos depois de Aristoacuteteles (384-322 aC) os princiacutepios loacutegicos da classificaccedilatildeo de Aristoacuteteles e desempenhou um papel preponderante na evoluccedilatildeo do pensamento no fim da Antiguidade e durante toda Idade Meacutedia Entre as obras mais importantes que chegaram aos nossos dias estatildeo as Eneacuteadas (301) e Eisagoge (MAZIP 2001 p 88-89)

35

classificaccedilotildees filosoacuteficas cientiacuteficas e parcialmente as classificaccedilotildees bibliograacuteficas)

denominados predicaacuteveis ou categoremas 1 Geacutenero (grego geacutenos latim genus) 2

Espeacutecie (grego eicircdos latim species) 3 Diferenccedila (grego diaphoraacute latim differentia)

4 Propriedade ou Proacuteprio (grego iacutedion latim proprium) e 5 Acidente (grego

symbebekoacutes latim accidens)

Piedade (1983 p 23-24) esclarece que Gecircnero eacute um conjunto de coisas ou ideacuteias que podem ser divididas em dois ou mais grupos ou espeacutecies Espeacutecies satildeo os vaacuterios grupos resultantes da divisatildeo de um gecircnero por determinada caracteriacutestica [] Diferenccedila eacute a qualidade que distingue as espeacutecies qualidade ou atributo que somado aos proacuteprios do gecircnero distingue as espeacutecies [] Propriedade ou proacuteprio eacute a qualidade comum a todos os membros de um gecircnero poreacutem que natildeo lhes eacute exclusiva [] Acidente eacute uma qualidade que pode ou natildeo se manifestar nos vaacuterios membros de um mesmo gecircnero e aparece acidentalmente

Complementando pode-se dizer o seguinte

a) gecircnero eacute todo grupo ou conjunto inicial de objetos que se dividem em

subgrupos subconjuntos ou espeacutecies o grupo mais amplo a que o

sujeito pode pertencer o conjunto de objetos que possuem um

determinado nuacutemero de caracteriacutesticas em comum (o homem pertence

ao gecircnero animal e uma rosa ao gecircnero vegetal) e que satildeo divisiacuteveis

em dois ou mais grupos ou espeacutecies de acordo com a presenccedila ou

ausecircncia de certas caracteriacutesticas

b) espeacutecie acrescentada por Porfiacuterio aos predicaacuteveis de Aristoacuteteles satildeo

grupos ou conjuntos derivados ou subgrupos subconjuntos resultantes

da divisatildeo de um gecircnero por determinada caracteriacutestica e constitui a

siacutentese do gecircnero e da diferenccedila (o homem eacute um animal racional)

possui uma diferenccedila que a distingue de seu gecircnero proacuteximo ou seja o

irracional

c) diferenccedila eacute a caracteriacutestica que atribuiacuteda ao gecircnero permite situar o

sujeito relativamente aos subgrupos ou subconjuntos em que se divide

o gecircnero eacute a qualidade que outros natildeo possuem (o homem eacute um

animal racional pertence portanto ao gecircnero animal mas o fato de

pensar o distingue especificamente dos demais animais)

36

d) proacuteprio ou propriedade e acidente satildeo atributos que natildeo fazem parte da

essecircncia do sujeito pois natildeo dizem o que ele eacute todavia o proacuteprio

guarda em relaccedilatildeo agravequela essecircncia uma dependecircncia necessaacuteria eacute a

qualidade comum a todos os membros de um gecircnero ainda que natildeo

exclusiva (ldquoo riso eacute proacuteprio do homemrdquo - o riso eacute inerente ao conceito de

homem Todos os homens riem mas natildeo soacute os homens alguns animais

tambeacutem ldquoriemrdquo) jaacute o acidente pode ou natildeo pertencer ao sujeito pode ou

natildeo se manifestar nos vaacuterios membros de um mesmo gecircnero ligando-

se a eles de modo acidental contingente natildeo proacuteprio e podendo ser

afirmado de outros tipos de sujeitos (ldquohomem de estatura altardquo - a altura

pode ou natildeo estar presente no conceito de homem Todos os homens

possuem estatura mas soacute alguns satildeo altos)

O interessante da classificaccedilatildeo dicotocircmica eacute que uma ideacuteia pode funcionar

como gecircnero ou como espeacutecie e ainda como gecircnero e espeacutecie dependendo do seu

lugar na hierarquia da divisatildeo Daiacute as denominaccedilotildees summum genus (gecircnero

supremo) para o primeiro gecircnero e infima species (espeacutecie inferior) para a uacuteltima

subdivisatildeo

A partir da Eisagoge e em ligaccedilatildeo estrita com a visatildeo de Porfiacuterio dos

conceitos de Aristoacuteteles foi produzida na Idade Meacutedia europeacuteia uma construccedilatildeo

metafoacuterica conhecida por aacutervore de Porfiacuterio (arbol porphyriana) que ilustra a sua

classificaccedilatildeo loacutegica da substacircncia Nela os conceitos de Porfiacuterio satildeo apresentados

como subordinando-se logicamente partindo do geral ao particular da maior

extensatildeo agrave maior compreensatildeo O texto teve uma profunda influecircncia na Filosofia

medieval europeacuteia transformou-se num texto obrigatoacuterio nas escolas e

universidades medievais como manual de introduccedilatildeo ao estudo da loacutegica

aristoteacutelica e inspirou diversos filoacutesofos medievais como Pedro Abelardo Tomaacutes de

Aquino e Guilherme de Ockham e diversas obras com o nome Isagoge chegando

mesmo a designar genericamente a introduccedilatildeo ao estudo da filosofia aristoteacutelica A

arbol porphyriana deu iniacutecio ao nominalismo que animou a Filosofia Medieval por

dez seacuteculos (de 476 a 1492) originando diversas representaccedilotildees arborescentes33 e

eacute uma espeacutecie de antecessora das classificaccedilotildees dos seres - das modernas

classificaccedilotildees taxonocircmicas No que concerne agrave classificaccedilatildeo das ciecircncias - saberes

33 Toda a classificaccedilatildeo arborescente eacute redutiacutevel agrave dicotomia

37

a aacutervore de Porfiacuterio daacute origem a classificaccedilotildees fortemente dicotocircmicas (Ampegravere)

Grosso modo ela pode ser assim esquematizada

Substacircncia - Pode ser corpoacuterea ou incorpoacuterea

Corpo (substacircncia corpoacuterea) - Pode ser animado ou inanimado

Vivente (corpo animado) - Pode ser sensiacutevel ou natildeo sensiacutevel

Animal (vivente sensiacutevel) - Pode ser racional ou irracional

Racional (animal racional) - Ser humano o homem e suas

variedades Soacutecrates Platatildeo Aristoacuteteles entre outros

A aacutervore de Porfiacuterio apresenta de modo didaacutetico a relaccedilatildeo entre gecircnero e

espeacutecie no entanto eacute um modelo insuficiente quanto aos princiacutepios de construccedilatildeo

da classificaccedilatildeo porque embora ele demonstre o mecanismo da passagem do

gecircnero agrave espeacutecie natildeo mostra o processo de divisatildeo da espeacutecie ou seja ignora as

relaccedilotildees entre as espeacutecies34 e natildeo expliciacuteta o criteacuterio utilizado na divisatildeo - o que

acabou gerando nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas sistemas rigorosamente

enumerativos e nominalistas

A classificaccedilatildeo parte de um gecircnero substacircncia por exemplo e verticaliza

sucessivamente de acordo com a presenccedila ou natildeo das caracteriacutesticas tomadas

como base de divisatildeo corpo vida razatildeo homem ateacute chegar a um conceito

individual como Platatildeo

A arbor porphyriana era utilizada como ferramenta conceitual na discussatildeo de

problemas filosoacuteficos para os quais era uacutetil o recurso a uma estruturaccedilatildeo

hierarquizada de conceitos tais como na discussatildeo da hierarquia de conceitos em

seus aspectos epistemoloacutegicos e ontoloacutegicos

Quanto agraves classificaccedilotildees com base na diferenccedila especiacutefica ou caracteriacutestica de

divisatildeo a dificuldade eacute proporcional ao nuacutemero de possibilidades de classificar que

eacute condizente com o nuacutemero de caracteriacutesticas possiacuteveis de serem empregadas

como base da divisatildeo ou seja das inuacutemeras propriedades que podem

desempenhar a funccedilatildeo de diferenccedila especiacutefica A escolha de uma ou outra

34 Os antigos consideravam a divisatildeo dicotocircmica - que nada mais eacute que um caso particular de divisatildeo classificatoacuteria - como a uacutenica divisatildeo pura do ponto de vista loacutegico e com certeza foi sobre esse tipo de divisatildeo que estabeleceram as suas teorias Simplificaram assim o seu trabalho e puderam negligenciar o problema das relaccedilotildees entre os conjuntos derivados ou espeacutecies quer dizer entre aqueles subgrupos subconjuntos ou espeacutecies que derivam de um mesmo gecircnero inicial e natildeo fizeram avanccedilar o conhecimento nessa aacuterea que permaneceu ateacute o seacuteculo XVIII como no tempo de Aristoacuteteles

38

propriedade resultaraacute em diferentes ordenaccedilotildees da realidade e consequentemente

na elaboraccedilatildeo de classificaccedilotildees sob pontos de vista diversos (PIEDADE 1983

POMBO 2006)

Uma vez que a classificaccedilatildeo se faz a partir da reuniatildeo das semelhanccedilas

existentes entre as realidades (objetos ou ideacuteias) a classificar e que essa reuniatildeo

pode ser feita sob diferentes pontos de vista coloca-se a questatildeo da naturalidade ou

artificialidade (arbitrariedade) da classificaccedilatildeo Nas classificaccedilotildees naturais as

caracteriacutesticas ou propriedades que permitem a aproximaccedilatildeo satildeo inerentes

inseparaacuteveis do objeto ou ideacuteia a classificar (Animais Racionais em Homens e

Mulheres - caracteriacutestica o Sexo) enquanto nas classificaccedilotildees artificiais as

propriedades ou caracteriacutesticas seriam ocasionais acidentais e variaacuteveis (Homens

em Altos e Baixos - caracteriacutestica a Altura)

Segundo Piedade (1983 p 18) a classificaccedilatildeo artificial eacute uma classificaccedilatildeo

menos perene por se fundamentar em caracteriacutesticas superficiais que natildeo

representam relaccedilotildees verdadeiras enquanto a classificaccedilatildeo natural seraacute tatildeo mais

natural quanto maior for o nuacutemero das qualidades imutaacuteveis comuns aos membros

de suas classes

Importante ressaltar contudo que o mundo natural em razatildeo da sua

diversidade e permeabilidade natildeo cabe em estruturas classificatoacuterias

Segundo Pombo (2006 p 8) ldquono mundo da vida haacute uma plasticidade uma

diversidade um tecido excessivo de imperceptiacuteveis lsquonuancesrsquo que eacute irredutiacutevel ao frio

procedimento da divisatildeo em classesrdquo

Pode-se mesmo dizer que nenhuma classificaccedilatildeo natural eacute possiacutevel que

todas implicam algum tipo de artifiacutecio enredado em sua proacutepria base conceitual o

que significa estabelecer classes e suas respectivas fronteiras sem considerar as

nuances que ligam os saberes e os seres entre si

Essa questatildeo da naturalidade ou artificialidade da classificaccedilatildeo foi decisiva na

histoacuteria da classificaccedilatildeo em Histoacuteria Natural no seacuteculo XVIII ligada principalmente a

Lineu (Systema Naturae 1736 e Genera Plantarum 1737)35 e Buffon (Histoire

35 Obras em que Lineu defendia a constituiccedilatildeo de um sistema natural de classificaccedilatildeo das plantas fundado nas suas convicccedilotildees da existecircncia de formas imutaacuteveisestaacuteveis na natureza e nas ideacuteias (divisotildees loacutegicas) de classe gecircnero e espeacutecie para identificar caracteres essenciais

39

Naturelle 1749)36 e chegou agraves classificaccedilotildees pragmaacuteticas bibliograacuteficas no seacuteculo

XIX A sistemaacutetica naturalista mobilizou toda a histoacuteria da classificaccedilatildeo das ciecircncias

no seacuteculo XIX e filoacutesofos como Diderot37 Comte Ampegravere Peirce que

reconheceram o seu caraacuteter exemplar Tanto as classificaccedilotildees dos saberes quanto

as classificaccedilotildees dos seres satildeo classificaccedilotildees reais isto eacute apresentam em algum

grau um criteacuterio de naturalidade e enquanto tal natildeo escapam agraves irregularidades de

que soacute as classificaccedilotildees ideais estariam isentas segundo Pombo (2006 p 11)

Relativamente agraves classificaccedilotildees embasadas na caracteriacutestica ou princiacutepio de

divisatildeo deve-se empregar consistente e exaustivamente uma caracteriacutestica de cada

vez para subdividir todos os membros de uma classe ou categoria (saberes ou seres)

antes de aplicar outro princiacutepio de divisatildeo sejam elas classificaccedilotildees essencialistas

sejam morfoloacutegicas sejam geneacuteticas ou sejam pragmaacuteticas como segue

a) classificaccedilotildees essencialistas - tomam o indiviacuteduo como base do espaccedilo

classificatoacuterio (saberes procedimentos combinados de maneira a reunir os

caracteres comuns agraves diferentes ciecircncias por exemplo o fim a que se

propotildeem as ciecircncias em Aristoacuteteles seres determinam os caracteres

comuns aos elementos de uma mesma espeacutecie)

b) classificaccedilotildees estruturais ou morfoloacutegicas - captam a estrutura o plano

arquitetonico das relaccedilotildees (saberes procedimentos combinados de

modo estrutural tomando por base articulaccedilotildees ou determinaccedilotildees internas

agraves proacuteprias ciecircncias por exemplo as faculdades cognitivas que nelas satildeo

mobilizadas Bacon ou Diderot seres elegem como princiacutepio a existecircncia

de relaccedilotildees constantes entre as propriedades comuns aos elementos de

uma mesma espeacutecie e se aplicam mais diretamente agrave Mineralogia e

Cristalografia)

36 Buffon considerava impossiacutevel a constituiccedilatildeo de um sistema geral natildeo soacute para a Histoacuteria Natural como tambeacutem para qualquer dos seus ramos pela impossibilidade do arranjo tudo compreender pela ordenaccedilatildeo necessariamente arbitraacuteria ou artificial dentro das classes gecircneros e espeacutecies pelo modo como a natureza passa de uma espeacutecie a outra por nuances imperceptiacuteveis pelo grande nuacutemero de espeacutecies intermediaacuterias e meio-objetos que natildeo se sabe onde colocar e que comprometem o projeto de um sistema geral Para Buffon a classificaccedilatildeo mais natural eacute aquela em que os objetos da Histoacuteria Natural satildeo julgados pelas relaccedilotildees que o homem estabelece com eles - uacutenica forma de unificar a multiplicidade de seres (POMBO 2006 p 9) 37 Segundo Olga Pombo (2006 p 9) no periacuteodo em que Diderot esteve preso em Vincennes dedicou-se ao estudo da Histoire Naturelle de seu amigo Buffon e dali extraiu suas ideacuteias 1 Todas as classificaccedilotildees transportam consigo alguma arbitrariedade 2 O homem eacute o princiacutepio organizador de toda classificaccedilatildeo dos saberes e dos seres

40

c) classificaccedilotildees evolutivas ou geneacuteticas - adotam um ponto de vista

evolutivo considerando realizaccedilotildees que se sucedem no tempo (saberes

procedimentos combinados de maneira geneacutetica tomando as ciecircncias na

sua progressiva diferenciaccedilatildeo Comte seres aquelas que se constroem

pela escolha de uma dimensatildeo dominante na natureza evolutiva

relativamente agrave qual eacute determinado o lugar dos objetos classificados por

exemplo na teoria da evoluccedilatildeo para a Biologia ou no grau de

desenvolvimento das nebulosas para a Astronomia)

d) classificaccedilotildees pragmaacuteticas - correspondem a uma soluccedilatildeo extriacutenseca isto

eacute agrave opccedilatildeo pelo criteacuterio do uso (saberes procedimentos combinados

tendo em vista a constituiccedilatildeo de um programa de estudos Cassiodoro a

compilaccedilatildeo de uma enciclopeacutedia Diderot a organizaccedilatildeo de uma

biblioteca Leibniz) (POMBO 2006 p 9-11)

Nas classificaccedilotildees pragmaacuteticas a escolha das caracteriacutesticas que serviratildeo de

base para a divisatildeo e a escolha da ordem em que seratildeo aplicadas depende do

objetivo do uso que se pretende dar agrave classificaccedilatildeo

Eacute no contexto da classificaccedilatildeo bibliograacutefica que a classificaccedilatildeo pragmaacutetica

ocupa o seu lugar privilegiado A diferenccedila entre as classificaccedilotildees das ciecircncias (cuja

anaacutelise estaacute detalhada na seccedilatildeo 3) e as classificaccedilotildees bibliograacuteficas (cuja anaacutelise

estaacute detalhada na seccedilatildeo 4) reside no caraacuteter especulativo das primeiras (sistemas

teoacutericos gerais sem a pretenccedilatildeo de detalhamento) em oposiccedilatildeo ao caraacuteter funcional

das segundas (esquemas praacuteticos minuciosamente elaborados)

41

3 DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS

Quando deparares com uma contradiccedilatildeo faze uma distinccedilatildeo Adaacutegio Escolaacutetico

Nesta seccedilatildeo satildeo tratadas as classificaccedilotildees filosoacuteficas dos saberes (classes)

assim como as classificaccedilotildees filosoacuteficas dos seres (categorias) desde a Antiguidade

Grega ateacute a Idade Contemporacircnea Para facilitar o entendimento apresenta tambeacutem

quadros-siacutentese desenvolvidos a partir da sistematizaccedilatildeo do estudo

31 CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES CLASSES

Tanto o termo quanto o processo de classificaccedilatildeo comeccedilaram com os gregos

que a usaram com o propoacutesito de tentar organizar os saberes para formar o quadro de

conhecimentos da eacutepoca e tentar conhecer os seres para formar definiccedilotildees conceitos

dos objetos das ciecircncias

Para Platatildeo conhecer significava tanto organizar saberes em sua classe

correta quanto colocar coisas e seres em sua categoria certa tudo de acordo com a

sua permanecircncia ou regularidade maneira ideal e essecircncia Aristoacuteteles em sua

loacutegica mostrava que conhecer consistia em formar e aplicar conceitos formular juiacutezos

e relacionaacute-los entre si lidar com conceitos universais e tambeacutem aplicar esses

conceitos a cada coisa individual (saber consistia em ser detentor de muitos

conceitos) Aristoacuteteles analisou em detalhes os processos pelos quais se podem

identificar coisas e ocorrecircncias comeccedilando com um grupo de objetos eliminando

entatildeo todos os membros do grupo exceto aquele uacutenico designado para ser usado

por apresentar propriedades especiacuteficas natildeo contidas nos outros Assim comeccedilando

com o gecircnero podia-se chegar ao indiviacuteduo ou espeacutecie pela enumeraccedilatildeo de

propriedades que especificavam diferenccedilas entre uma espeacutecie e outra Esse modo de

divisatildeo eacute ainda utilizado nas chamadas ciecircncias classificatoacuterias dos seres

especialmente na Zoologia e Botacircnica nas quais de modo geral podem-se agrupar

animais e plantas individualmente ao comeccedilar com uma categoria tal como

42

vertebrados e pela divisatildeo sobre uma base sucessiva de caracteriacutesticas chegar a

uma seacuterie de subcategorias como mamiacuteferos - primatas - antropoacuteides - chimpanzeacutes

Esse tipo de processo classificatoacuterio provou ser de grande valor para o

desenvolvimento dessas ciecircncias e a descriccedilatildeo de espeacutecies individuais eacute ainda eacute

utilizada ressaltando os traccedilos que diferenciam um objeto de outro A descriccedilatildeo de

objetos individuais pode beneficiar-se desse processo a partir do estudo das suas

similaridades e diferenccedilas com o fim de chegar a uma concepccedilatildeo segundo a qual

esses objetos se parecem e aleacutem disso propiciar um conhecimento mais consistente

e mais aprofundado

Sistemas de classificaccedilatildeo filosoacuteficos comeccedilaram remotamente como campos do

conhecimento desenvolvidos e organizados principalmente de acordo com as diferentes

habilidades naturais do ser humano o que significa que segmentavam a realidade em

disciplinas fundamentais Eram disciplinas fundamentais porque se referiam agraves maiores

agregaccedilotildees da ciecircncia e portanto correspondiam agraves classes Uma tal classificaccedilatildeo

tinha como finalidade dar uma espeacutecie de ldquoquadro ordenado de todo o realrdquo

Um mesmo conjunto de objetos ou ideacuteias pode ser classificado de diferentes

maneiras para diferentes propoacutesitos praacutetico intelectual entretenimento e espiritual Os

filoacutesofos usam vaacuterios princiacutepios para dividir e hierarquizar o conhecimento (em classes)

311 Antiguidade Grega e Idade Meacutedia38

O mundo antigo era essencialmente miacutetico Os filoacutesofos gregos foram os

primeiros no mundo ocidental que tentaram descobrir a origem do Universo com o

auxiacutelio da razatildeo ainda que aceitando os deuses e a existecircncia de mitos

Trezentos anos antes do nascimento de Aristoacuteteles (384 aC) a origem do

mundo e a essecircncia da realidade jaacute suscitavam uma seacuterie de teorias entre profundos

pensadores e conhecedores de Fiacutesica Matemaacutetica Astronomia e Ciecircncias da 38 Considera-se neste estudo como Antiguidade Grega o periacuteodo que vai do seacuteculo VI aC quando a Greacutecia atinge uma relativa estabilidade poliacutetica com a democracia de Cliacutestenes e a organizaccedilatildeo da polis ateacute o seacuteculo V quando se inicia a Idade Meacutedia Esse periacuteodo histoacuterico compreende o tempo decorrido entre os anos 476 aC e 1492 quer dizer desde o fim do Impeacuterio Romano do Ocidente ateacute a descoberta da Ameacuterica (MAZIP 2001 p 98-100)

43

Natureza em geral estabelecidos com escolas e disciacutepulos Tales de Mileto

Anaximandro Anaxiacutemenes Pitaacutegoras Heraacuteclito Parmecircnides Zenatildeo Empeacutedocles

Leucipo Demoacutecrito e Anaxaacutegoras (MAZIP 2001 p23-35)

A Filosofia florescera na polis grega principalmente na polis Atenas porque

alguns poucos cidadatildeos protegidos pelas instituiccedilotildees e livres dos cuidados com a

sobrevivecircncia e a guerra podiam dedicar-se a refletir debater e ensinar E seraacute a

partir da concepccedilatildeo e da sistematizaccedilatildeo do saber na Greacutecia claacutessica que seratildeo

construiacutedos os sistemas de classificaccedilatildeo das ciecircncias ocidentais

Quando Platatildeo39 na Repuacuteblica divide o conhecimento em Fiacutesica (que

representa as percepccedilotildees sensiacuteveis) Eacutetica (que representa a vontade o desejo) e

Loacutegica (que representa a razatildeo) segundo Sayers (1955a p 69-92) ele estaria se

imortalizando como o primeiro filoacutesofo a classificar as ciecircncias

A seguir vem Aristoacuteteles40 que propotildee a divisatildeo (tritocircnica) do conhecimento

39 Ariacutestocles Platatildeo (427-347 aC) filoacutesofo grego fundador da Academia (387 aC) permaneceu em sua direccedilatildeo e laacute ensinou ateacute sua morte aos oitenta anos Movido por uma propensatildeo natural agrave Matemaacutetica - advertia sempre os possiacuteveis alunos com a inscriccedilatildeo de que ali natildeo deveria entrar quem natildeo soubesse Geometria - criou o platonismo doutrina caracterizada principalmente pela teoria das ideacuteias e dos nuacutemeros (arqueacutetipos universais modelos incorpoacutereos e eternos - as ideacuteias - que subsistiriam independentemente de seus reflexos passageiros e apenas aproximados suas coacutepias imperfeitas e transitoacuterias - os objetos particulares e concretos a realidade concreta) e pela preocupaccedilatildeo com os temas eacuteticos com base no conhecimento das verdades essenciais que determinam a realidade visando toda meditaccedilatildeo filosoacutefica ao conhecimento do Bem conhecimento esse que supunha suficiente para a implantaccedilatildeo da justiccedila entre os estados e entre os homens O seu pensamento foi absorvido pelo cristianismo primitivo dominando a filosofia cristatilde antiga e medieval e junto com seu mestre e amigo Soacutecrates e o disciacutepulo Aristoacuteteles lanccedilou os alicerces sobre os quais se assentariam as bases de toda a filosofia ocidental Em sua famosa obra Republica (livros I a X data provaacutevel entre 387 e 365 aC) estabelece o que seria a educaccedilatildeo ideal Muacutesica e Ginaacutestica para formar indiviacuteduos fortes e capazes de defender a paacutetria Matemaacutetica e Filosofia para formar indiviacuteduos dignos de dirigir o Estado (ARISTOacuteTELES 1978 p VII-VIII SANTOS 1964 p 1367-1375) 40 Aristoacuteteles (384-322 aC) essencialmente filoacutesofo das ciecircncias grego de Estagira (donde ser dito o Estagirita) autor do mais antigo conjunto de trabalhos cientiacuteficos que resistiu fisicamente ateacute nosso tempo Pelo rigor de sua metodologia pela amplitude dos campos em que atuou e por seu empenho em considerar todas as manifestaccedilotildees do conhecimento humano como ramos de um mesmo tronco foi o primeiro pesquisador cientiacutefico no sentido atual do termo Inicialmente praticou Medicina em Estagira antes de ir para Atenas (367 aC) onde passou a estudar Filosofia durante vinte anos como disciacutepulo de Platatildeo ateacute 343 aC quando foi chamado agrave corte de Filipe da Macedocircnia para encarregar-se da educaccedilatildeo do seu filho Alexandre Voltou a Atenas (337 aC) e laacute proacuteximo ao templo de Apolo Liceano abriu o Liceu (334 aC) dominado pelo espiacuterito de observaccedilatildeo e a tendecircncia classificatoacuteria tiacutepicas da investigaccedilatildeo naturalista Passou a dedicar-se ao ensino e agrave elaboraccedilatildeo da maior parte de suas obras que resultaram de notas para cursos e conferecircncias Aristoacuteteles escreveu obras que podem-se classificar em especulativas Fiacutesica Tratado das Plantas Histoacuteria dos Animais Tratado da Alma Parva Naturalia e Metafiacutesica praacuteticas Economia Eacutetica e Poliacutetica e poieacuteticas Poieacutetica Retoacuterica Loacutegica ou Organon (ARISTOacuteTELES 1978 p v-xxiv MAZIP 2001 p 50-66)

44

(segundo o objeto acerca do qual os saberes versam) em trecircs filosofias ou ciecircncias

teoacutericas (especulativas ou contemplativas) praacuteticas (normativas ou da praacutexis - accedilatildeo

humana) e poieacuteticas ou produtivas (artes e teacutecnicas ou relativas agrave produccedilatildeo

fabricaccedilatildeo e agraves teacutecnicas) em funccedilatildeo ao que dizem os verbos gregos de uso erudito

theorein (= especular) praacutettein (= praticar) poiein (= criar) e technaacuteo (= fabricar) e

portanto de acordo com as trecircs distintas operaccedilotildees agraves quais se dedicam as ciecircncias

e que satildeo exercidas pelos homens - pensar agir e produzir Dessa maneira

conseguiu abranger todo conhecimento da eacutepoca sendo a grande siacutentese do

conhecimento do povo grego As classes resultantes podem ainda adequar-se agrave

maioria dos assuntos hoje reconhecidos (quadro 1)

TEOacuteRICAS Pensar

PRAacuteTICAS Agir

POIEacuteTICAS Produzir

Teologia (Filosofia Primeira

Metafiacutesica)

Fiacutesica (Filosofia Natural

Fiacutesica Quiacutemica Botacircnica)

Matemaacutetica

Eacutetica (Moral)

Economia

Poliacutetica

Dialeacutetica

Retoacuterica

Poeacutetica

Medicina

Ginaacutestica

Gramaacutetica

Muacutesica

QUADRO 1 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE ARISTOacuteTELES FONTE a autora

Em primeiro lugar as ciecircncias teoacutericas estudam o objeto em tudo o que ele eacute

sob o ponto de vista constitutivo (formal) Limitadas agrave tarefa de conhecer pensam e

se encarregam da verdade das coisas (Filosofia Primeira) da natureza (Filosofia

Natural) do movimento (Fiacutesica) e da quantidade (Matemaacuteticas) As ciecircncias praacuteticas

estabelecem regras de conduta e tecircm por objeto a accedilatildeo enquanto as poieacuteticas se

ocupando da estrutura que os objetos deveratildeo assumir para poderem operar

adequadamente apontam os meios para produzir as obras Para Aristoacuteteles das

trecircs filosofias teoacutericas a primeira era a Teologia por lidar com os seres mais dignos

Precedia a Fiacutesica e a Matemaacutetica sendo mais universal do que elas Nessa

classificaccedilatildeo natildeo se encontra a Loacutegica porque para Aristoacuteteles ela natildeo seria parte

integrante da Ciecircncia e da Filosofia mas apenas um instrumento (organon) que

essas utilizam em sua construccedilatildeo

45

A classificaccedilatildeo tritocircnica de Aristoacuteteles (ciecircncias Teoacutericas Praacuteticas e

Produtivas) juntamente com a classificaccedilatildeo tritocircnica de Platatildeo (Fiacutesica Eacutetica e

Loacutegica) que tanto os epicuristas quanto os estoacuteicos se encarregaram de disceminar

influenciaratildeo a classificaccedilatildeo dos conhecimentos que se formularaacute na Idade Meacutedia

No fim da Idade Antiga e iniacutecio da Idade Meacutedia as filosofias da Greacutecia decadente

preparam no contexto poliacutetico do Impeacuterio Romano o advento do cristianismo A

dominaccedilatildeo das polis gregas pelo Impeacuterio Romano e o fim desse em razatildeo das grandes

migraccedilotildees de tribos nocircmades e guerreiras provenientes do norte da Europa (que se

apoderam paulatinamente de todo o Impeacuterio Romano) acarretam o recolhimento em si

mesmo (cada indiviacuteduo a partir dessa eacutepoca indefeso e isolado deve preocupar-se em

continuar vivo e conseguir o seu sustento) e uma fuga e negaccedilatildeo do mundo terreno

para uma valorizaccedilatildeo extra-terrena insuflada pela Igreja Catoacutelica que o cristianismo

levaraacute agraves uacuteltimas consequecircncias com a ldquoinvenccedilatildeordquo de outro mundo ao qual se teria

acesso depois da morte O ecircxito histoacuterico do cristianismo e a alianccedila da Igreja Catoacutelica

com as instituiccedilotildees feudais determinam a submissatildeo da razatildeo agrave feacute da Filosofia agrave

Teologia A igreja amparada pela nobreza ergue conventos e escolas redutos de

oraccedilatildeo estudos e seguranccedila onde desenvolve-se uma Filosofia de consolaccedilatildeo e

transcendecircncia (MAZIP 2001 p 99 ENCICLOPEacuteDIA MIRADOR INTERNACIONAL

1983 v 9 p 4604) Ao longo da Idade Meacutedia sob a oacutetica do cristianismo (catolicismo)

elaborarar-se-aacute nova concepccedilatildeo e classificaccedilatildeo dos conhecimentos que afetaraacute em

larga medida a organizaccedilatildeo das disciplinas do ensino com a subordinaccedilatildeo de todas as

ciecircncias agrave Teologia princiacutepio que se refletiraacute mais tarde nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas

da Idade Moderna

Servindo de ponte entre a cultura grega e a literatura latina dos primoacuterdios da Idade Meacutedia citam-se Flaacutevio Magno Aureacutelio Cassiodoro (485-580) filoacutesofo teoacutelogo

historiador estadista e educador romano e Boeacutecio (seu disciacutepulo e amigo)

chamados os uacuteltimos romanos pela contribuiccedilatildeo que deram ao resgatar a cultura

claacutessica Proveniente da aristocracia Cassiodoro ocupou altos cargos no reino

ostrogodo estabelecido na peniacutensula logo depois da desintegraccedilatildeo do Impeacuterio

Romano do Ocidente Foi um dos grandes nomes do pensamento escolaacutestico e seus

livros serviram de texto nas escolas eclesiaacutesticas do iniacutecio da Idade Meacutedia Entre

eles Institutiones Divinarum et Saecularium Litterarum (543-555) que aleacutem de tratar

de problemas de Teologia apresentava no livro II De Artibus ac Disciplinis

Liberalium Litterarum um compecircndio das sete artes liberais - onde as ciecircncias

46

estavam agrupadas em Trivium Artes ou Ciecircncias Sermoniais (ciecircncias da palavra

precursoras do que mais tarde seratildeo as ciecircncias humanas) Gramaacutetica Dialeacutetica e

Retoacuterica e Quatrivium Ciecircncias Reais (ciecircncias das coisas precursoras do que

mais tarde seratildeo as ciecircncias exatas) Geometria Aritmeacutetica Astronomia e Muacutesica -

que se tornou um verdadeiro manual nos mosteiros Essa obra ao lado de um

manual de ortografia latina De Orthographia e do tratado Liber de Anima (538)

inspirado em Santo Agostinho exerceu profunda influecircncia em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo

da Idade Meacutedia O ensino nas escolas de 395 a 1453 baseou-se nos conceitos da

Trilogia grega e na divisatildeo das ciecircncias apresentada por Cassiodoro As disciplinas

estudadas naquela eacutepoca dividiam-se em dois grupos o Trivium e o Quatrivium que

compunham as sete disciplinas (profanas) preparatoacuterias para os estudos superiores

Teologia (ciecircncia divina) e Filosofia (ciecircncia auxiliar da Teologia) (GOPINATH 2001

PIEDADE 1983 SAN SEGUNDO MANUEL1996)

Essa divisatildeo ou classificaccedilatildeo das ciecircncias (quadro 2) iraacute influenciar a

classificaccedilatildeo bibliograacutefica empregada pelo meacutedico naturalista suiacuteccedilo Konrad von

Gesner em 1545 na qual pretende conciliar a tradiccedilatildeo escolaacutestica41 e as inovaccedilotildees

da Renascenccedila

TRIVIUM QUATRIVIUM ESTUDOS SUPERIORES

Gramaacutetica Geometria Teologia

Dialeacutetica Aritmeacutetica Metafiacutesica

Retoacuterica Astronomia Eacutetica

Muacutesica Histoacuteria

QUADRO 2 - CLASSIFICACcedilAtildeO ESCOLAacuteSTICA ROMANA FONTE A autora com base em Gopinath (2001 p 61)

Na Antiguidade e na Idade Meacutedia a pesquisa cientiacutefica e a Filosofia

constituiacuteam uma unidade A Filosofia era de fato natildeo soacute o suporte das ciecircncias

mas a Ciecircncia ao abranger a Matemaacutetica a Fiacutesica e a Metafiacutesica

41 Entende-se em geral por Escolaacutestica o ensino teoloacutegico-filosoacutefico da doutrina aristoteacutelico-tomista ministrado nas escolas de conventos e catedrais e tambeacutem nas universidades europeacuteias da Idade Meacutedia e do Renascimento Como sistema filosoacutefico e teoloacutegico a Escolaacutestica tentou resolver a partir do dogma religioso e mediante um meacutetodo especulativo problemas como a relaccedilatildeo entre feacute e razatildeo desejo e pensamento a oposiccedilatildeo entre realismo e nominalismo e a probabilidade da existecircncia de Deus

47

No seacuteculo XIII Baixa Idade Meacutedia as escolas eclesiaacutesticas conventuais

catedraliacutecias convertem-se em universidades (a primeira surge em Paris em 1215)

construindo curriacuteculos embasados no Trivium e no Quatrivium e reunindo na

Teologia cristatilde que pairava acima das outras disciplinas todas as aacutereas do saber

O filoacutesofo franciscano e naturalista inglecircs Roger Bacon (1214-1294) projetou

uma obra enciclopeacutedica - a serviccedilo da religiatildeo e da Igreja Catoacutelica Em 1266 o Papa

Clemente VI que era seu amigo solicitou-lhe uma coacutepia Como a obra estava

somente na cabeccedila de Bacon este escreveu um esboccedilo chamado Opus maius

(obra maior) seguido por um Opus minus e um Opus tertium onde expocircs a ideacuteia

que tinha de conhecimento e estabeleceu uma classificaccedilatildeo das ciecircncias

influenciada pelas classificaccedilotildees escolaacutesticas (derivadas da classificaccedilatildeo de

Aristoacuteteles) e pela divisatildeo triacuteplice dos estoacuteicos e epicuristas (KEDROV 1974 v 1 p

67 STOumlRIG 2008 p 228) dividindo o conhecimento em quatro grupos

fundamentais (quadro 3)

FIacuteSICA FILOLOGIA MATEMAacuteTICA EacuteTICA

Oacutetica Gramaacutetica Aritmeacutetica Metafiacutesica

Astronomia Loacutegica Geometria Teologia

Alquimia Retoacuterica Mecacircnica Moral

Agricultura Muacutesica

Medicina Arquitetura

Ciecircncias

Experimentais

QUADRO 3 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE ROGER BACON (1266) - INGLATERRA FONTE a autora

O sistema classificatoacuterio de Roger Bacon ultrapassa as fronteiras da

Escolaacutestica Medieval e surge como um precursor das Ciecircncias Naturais que na

Renascenccedila exigiram uma nova sistematizaccedilatildeo dos conhecimentos

Nos seacuteculos XIV e XV natildeo havia unidade poliacutetica na Europa A sociedade era

composta de propriedades isoladas defendida por castelos e feudos com vida

proacutepria e povos de diversas origens (miscigenaccedilatildeo de romanos gregos e baacuterbaros)

No seacuteculo XVI os Estados Nacionais vatildeo dar iniacutecio a unidades poliacuteticas sociais

econocircmicas e tambeacutem religiosas com o advento do protestantismo (os Estados

Nacionais passam a ter tambeacutem a sua religiatildeo proacutepria) A curiosidade cientiacutefica e o

contato com povos receacutem-conquistados acarreta novos questionamentos o

48

interesse dos saacutebios pela Antiguidade faz renascer os estudos de Filologia e a

preocupaccedilatildeo de determinar e estudar as fontes dos documentos

Entre 1440 e 1450 a invenccedilatildeo42 em Moguacutencia por Johann Gutenberg da

tipografia (McMURTRIE 1997 p 184) facilitaria a multiplicaccedilatildeo fiel dos

documentos

312 Idade Moderna Seacuteculos XVI XVII e XVIII43

No seacuteculo XVI a Renascenccedila assinala o fim da Idade Meacutedia e o iniacutecio da Idade

Moderna Vaacuterios acontecimentos marcam profundamente a histoacuteria da humanidade a

partir de fatos ocorridos na Europa ao longo do seacuteculo descobertas cientiacuteficas na aacuterea

da Astronomia refutam verdades consideradas absolutas a Filosofia conquista

autonomia em relaccedilatildeo agrave Teologia o desenvolvimento da Medicina e do Direito

Romano faz sentir a necessidade de textos merecedores de creacutedito pois no periacuteodo

anterior esse aspecto havia sido negligenciado (os textos sofriam adaptaccedilotildees e

arranjos) Lutero (1520) divide a cristandade e Henrique VIII rompe com Roma um

Deus homem e o proacuteprio homem tornam-se fonte de inspiraccedilatildeo artiacutestica em lugar do

sagrado quando pintores e escultores plasmam deuses gregos e heroacuteis aleacutem de

santos arquitetos constroem museus e bibliotecas aleacutem de templos e palaacutecios as

expediccedilotildees portuguesas e espanholas abrem novas rotas comerciais e fazem contato

com civilizaccedilotildees desconhecidas provocando mudanccedilas culturais e histoacutericas No

seacuteculo XVI o centro da reflexatildeo filosoacutefica eacute o homem e as suas possibilidades

Interessante destacar que no seacuteculo XV ainda natildeo existia um estudo botacircnico ou

zooloacutegico realmente independente e que esta seraacute a contribuiccedilatildeo do seacuteculo XVI quando

a ciecircncia se volta para a natureza e o corpo humano (ainda que novas ciecircncias como a

Botacircnica Zoologia Anatomia Fisiologia Patologia Quiacutemica entre outras soacute tenhatildeo

42 A invenccedilatildeo da impressatildeo com tipos moacuteveis foi o acontecimento mais marcante do seacuteculo XV e talvez o mais importante da histoacuteria da cultura humana Para uma visatildeo dos muacuteltiplos efeitos da cultura impressa na vida intelectual do Ocidente e particularmente para um panorama do surgimento da ciecircncia moderna cf Eisenstein (1998) Eacute necessaacuterio ter em conta as modificaccedilotildees acarretadas pela imprensa que pela primeira vez permitu preservar intactos o texto de autores e o trabalho de desenhistas e artistas em centenas de coacutepias de determinado livro possibilitando o uso de informaccedilotildees registradas 43 A Filosofia chamada Moderna abrange os seacuteculos XVI XVII e XVIII periacuteodo que caracteriza o decliacutenio do poder temporal da Igreja Catoacutelica Romana a definiccedilatildeo das naccedilotildees europeacuteias a discussatildeo do poder absoluto dos soberanos a eleiccedilatildeo de governos constitucionais o descobrimento da Ameacuterica e o surgimento da burguesia O interesse principal dos grandes sistemas filosoacuteficos do periacuteodo de Bacon e Descartes a Kant permaneceraacute direcionado para os problemas filosoacuteficos tradicionais o ser a natureza Deus o conhecimento a alma a liberdade e a lei (MAZIP 2001)

49

emergido no seacuteculo XIX) Eacute portanto na Renascenccedila que esse processo de

fragmentaccedilatildeo da ciecircncia filosoacutefica anteriormente indivisiacutevel tem sua origem O problema

das classificaccedilotildees das ciecircncias assim como o das classificaccedilotildees bibliograacuteficas

intensifica-se

No seacuteculo XVI destacam-se as classificaccedilotildees de Konrad von Gesner (1516-

1565) Franccedilois Grude - tambeacutem conhecido como senhor da Croix du Maine (1552-

1592) e de Juan Huarte de San Juan - mais conhecido por Huarte (1529-1591) Gesner na segunda parte de sua obra Bibliotheca Universalis (Zurich 1545-1548)

denominada Pandectarum ordena as disciplinas em Sermonizantes (1 Gramaacutetica 2

Dialeacutetica 3 Retoacuterica) Necessaacuterias (4 Poeacutetica) Matemaacuteticas (5 Aritmeacutetica) Preparatoacuterias

(6 Geometria 7 Muacutesica 8 Astronomia 9 Astrologia) Adorno (10 Histoacuteria 11

Geografia) Artes e Ciecircncias (12 Artes Adivinhatoacuterias 13 Belas Artes e Mecacircnica) Artes

e Ciecircncias Substantivas (14 Fiacutesica 15 Metafiacutesica 16 Eacutetica 17 Economia) e

Substantivas (18 Poliacutetica 19 Jurisprudecircncia 20 Medicina 21 Teologia Cristatilde) com

subdivisotildees Grudeacute denominado La Croix Du Maine bibliotecaacuterio e biblioacutegrafo francecircs

propotildee um esquema classificatoacuterio para a Biblioteca Real da Franccedila em 1583 durante

o reinado de Henrique III articulado em 107 subclasses agrupadas em sete classes

principais Coisas Sagradas Artes e Ciecircncias Universo Gecircnero Humano Homens

Ilustres na Guerra Obras Criadas por Deus e Obras Diversas Huarte de San Juan

psicoacutelogo meacutedico e filoacutesofo espanhol em 1575 escreveu o seu famoso Examen de

Ingenios para las Ciecircncias44 considerando as trecircs faculdades (capacidades

subjetivas) representativas do psiquismo - memoacuteria (capacidade de dispor dos

conhecimentos passados) entendimento ou razatildeo (referencial de orientaccedilatildeo do

homem em todos os campos em que seja possiacutevel a indagaccedilatildeo ou a investigaccedilatildeo e

nesse sentido diz-se que a razatildeo eacute uma faculdade proacutepria do homem que o

distingue dos animais) e imaginaccedilatildeo (capacidade de evocar ou produzir imagens

independentemente da presenccedila do objeto a que se referem) Huarte propotildee sua

proacutepria lista de saberes ou disciplinas (quadro 4) de grande transcendecircncia

posterior (no seacuteculo XVII com Francis Bacon e no seacuteculo XVIII com os

enciclopedistas Diderot e drsquoAlembert) retomada no decorrer deste estudo Essa

44 Obra perseguida pela Inquisiccedilatildeo que figurou no Index das obras proibidas e segundo Mariela Szirko (autora que escreveu as notas preliminares da ediccedilatildeo em formato de perioacutedico de 1995) eacute possiacutevel ver aiacute o germe da obra de Miguel de Cervantes com o seu talentoso fidalgo Don Quixote de La Mancha pois o ldquoengenhoso fidalgordquo o seu perfil psicoloacutegico e outras ideacuteias ali expostas provecircm dos conceitos de Huarte de San Juan digno precursor do cognitivismo

50

estruturaccedilatildeo do intelecto humano determina tambeacutem o fundamento de sistemas de

classificaccedilatildeo bibliograacutefica

O sistema compreende

a) Artes e Ciecircncias guias aquelas que referenciam o ser humano no tempo e

no espaccedilo e satildeo adquiridas atraveacutes da memoacuteria45 (Histoacuteria e suas

divisotildees)

b) Artes e Ciecircncias que satildeo dependentes da razatildeo (Filosofia e suas divisotildees

Teologia e as Ciecircncias Experimentais)

c) Artes e Ciecircncias que brotam da imaginaccedilatildeo (Poesia e suas divisotildees)

(HUARTE DE SAN JUAN 1995)

MEMOacuteRIA RAZAtildeO IMAGINACcedilAtildeO

Histoacuteria e suas divisotildees Filosofia e suas divisotildees Poesia e suas divisotildees

QUADRO 4 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HUARTE DE SAN JUAN (1575) - ESPANHA FONTE a autora

A divisatildeo de Huarte de San Juan contudo natildeo eacute riacutegida pois ele observa por

exemplo que la teoacuterica de la teologiacutea pertenece al entendimiento y el predicar que es su praacutectica a la imaginativa (1995 cap X) [] la teoacuterica de las leyes pertenece a la memoacuteria y el abogar y juzgar que es su praacutectica al entendimiento y el gobernar una repuacuteblica a la imaginativa (1995 cap XI) e [] la teoacuterica de la medicina parte della pertenece a la memoacuteria y parte al entendimiento y la praacutectica a la imaginativa (1995 cap XII)

Ressalte-se que Huarte de San Juan considera diversos aspectos

estabeleccedilendo distinccedilatildeo entre por exemplo Medicina Teoacuterica e Medicina Praacutetica

Teologia Teoacuterica e Teologia Escolaacutestica Direito Teoacuterico e Direito Praacutetico

encontrando-se cada uma destas disciplinas em uma divisatildeo diferente46

45 A ars memoriae (arte da memoacuteria) tatildeo importante ateacute a Idade Meacutedia (com base nos princiacutepios gerais da mnemocircnica e nas teacutecnicas antigas de recordaccedilatildeo) considerava que o saber da totalidade seria acessiacutevel graccedilas agrave capacidade de armazenamento sistemaacutetico em lugares da memoacuteria e de construccedilatildeo de relaccedilotildees Como se a memoacuteria pudesse assim transformar-se em espelho da totalidade do mundo Espelho porque natildeo se tratava de uma elaboraccedilatildeo mas de uma reflexatildeo no sentido de fazer da memoacuteria o reflexo do mundo exterior com todas as suas forccedilas e leis

46 Somente trezentos anos mais tarde em 1834 eacute que Ampegravere (cf subseccedilatildeo 313) tenta determinar as caracteriacutesticas distintivas para a classificaccedilatildeo das ciecircncias considerando natildeo soacute a natureza das ciecircncias agrave qual elas se relacionam mas tambeacutem os pontos de vista sob os quais essas aacutereas de conhecimento podem ser consideradas recebendo assim posiccedilotildees especiais nas subdivisotildees de seu plano (AMPEgraveRE 1834 part 1 preacuteface)

51

Huarte de San Juan eacute a grande figura da classificaccedilatildeo do conhecimento na

Renascenccedila espanhola por sua nova concepccedilatildeo e organizaccedilatildeo das ciecircncias Essa

classificaccedilatildeo representou avanccedilo sob o ponto de vista cientiacutefico (partindo de um princiacutepio

subjetivo do conhecimento) em relaccedilatildeo agrave classificaccedilatildeo medieval do Trivium e Quatrivium

(baseando sua classificaccedilatildeo no objeto do conhecimento que era a natureza)

Uma das conquistas mais significativas da Renascenccedila como dito

anteriormente foi a separaccedilatildeo entre Filosofia e Teologia aleacutem da volta ao

pensamento dos claacutessicos gregos e dos progressos no estudo da natureza

O pensamento do seacuteculo XVII caracteriza-se por assegurar agrave ciecircncia a plena

autonomia a respeito da Teologia e da Filosofia como tambeacutem por uma confianccedila

absoluta no meacutetodo O saber agora natildeo mais estava guardado nas biacuteblias em latim

que tinham que ser interpretadas pelos estudiosos da igreja ele se encerrava cada

vez mais no vocabulaacuterio teacutecnico das ciecircncias que teria que ser interpretado pelos

novos especialistas A partir do racionalismo de Reneacute Descartes (1596-1650) -

segundo o qual a uacutenica coisa que indubitavelmente existe eacute o eu pensante o

ldquopenso logo existordquo (cogito ergo sum) - o corpo se separa do espiacuterito A alma como

pensamento pode ser pensada sem extensatildeo porque a extensatildeo natildeo lhe eacute

essencial enquanto o corpo tem como essecircncia a extensatildeo Com esse pensamento

se reduz a Fiacutesica agrave Geometria a qualidade agrave quantidade e o proacuteprio movimento a

uma sucessatildeo de pontos Tudo acontece conforme as leis matemaacuteticas eacute o

matematismo da existecircncia Esse dualismo entre corpo e alma funda a grande

controveacutersia da Filosofia desde entatildeo (SANTOS 1964 p 1458-1459) Empregando

o termo pensamento (do latim cogitatio) ou o termo ideacuteia a essecircncia da Filosofia

Moderna eacute idealista

Alguns dos filoacutesofos mais importantes que se preocuparam com a

classificaccedilatildeo das ciecircncias no seacuteculo XVII foram os empiristas (assim chamados por

abrirem espaccedilo para a ciecircncia junto agrave Filosofia valorizando a experiecircncia como fonte

de conhecimento) que tecircm nos ingleses Francis Bacon Hobbes e Locke o seu

quadro mais representativo e os racionalistas (para quem eacute a razatildeo tomada em si

mesma sem apoio da experiecircncia sensiacutevel a fonte do conhecimento verdadeiro)

52

que tecircm no francecircs Descartes o seu maior representante47 Para o racionalismo idealista o modelo perfeito de conhecimento verdadeiro eacute

a Matemaacutetica que depende exclusivamente do uso da razatildeo e usa a percepccedilatildeo

sensiacutevel (para construir figuras geomeacutetricas por exemplo) sob o controle da

atividade do intelecto (CHAUIacute 2005) Observa-se que desde Descartes existe um

impulso de esvaziamento do conhecimento fornecido pela imaginaccedilatildeo (Literatura) e

uma criacutetica da confianccedila nas imagens mentais que se depositam na memoacuteria

(Histoacuteria) O que se configura segundo Ricoeur (2008) num problema para um ser

que eacute fundamentalmente ldquocondiccedilatildeo histoacutericardquo

A classificaccedilatildeo cartesiana das ciecircncias revela-se na maneira de Descartes48

distribuir os temas nos seus livros como em geral percebe-se nos demais filoacutesofos

que procederam a alguma classificaccedilatildeo das ciecircncias Particularmente nesse caso a

obra Princiacutepios de Filosofia (Principia Philosophiae 1644) apresenta um elenco de

disciplinas filosoacuteficas Aleacutem disso a divisatildeo cartesiana pode inferir-se da carta do

autor a Picot - tradutor de Princiacutepios de Filosofia que verteu o texto do latim ao

47 Para esclarecer melhor conveacutem dizer que tanto empiristas como racionalistas usam a razatildeo Mas enquanto os primeiros - atitude realista - usam a razatildeo limitando-a ao conhecimento empiacuterico apenas os racionalistas ao exaltaacute-la - atitude idealista - admitem que ela seja um meio de conhecimento da coisa-em-si No realismo o conhecimento emana por assim dizer das coisas ao homem ou seja a realidade da coisa vem primeiro e o conhecimento vem depois ao ponto de filoacutesofos antigos (epicuristas do seacuteculo III aC) considerarem que das coisas saiacuteam pequenas imagens -iacutedolos como eles chamavam - que vinham ferir o sujeito Em contrapartida o idealismo considera o conhecimento como uma atividade que vai do sujeito agraves coisas como uma atividade elaboradora de conceitos ao fim de cuja elaboraccedilatildeo surge a realidade da coisa Para o idealismo a realidade da coisa aparece no fim do processo eacute a uacuteltima escala da atividade do sujeito pensante aquela que finaliza a construccedilatildeo da realidade mesma das coisas (GARCIA MORENTE 1952 p 143-158) Como pode-se observar os dois pontos de vista (o realista e o idealista) satildeo diametralmente opostos mas tanto o racionalismo cartesiano e o empirismo inglecircs que correspondem agrave ascensatildeo econocircmica e social da burguesia agrave Revoluccedilatildeo Industrial confluem no enciclopedismo que prepara e torna possiacutevel sob o ponto de vista ideoloacutegico a Revoluccedilatildeo Francesa 48 Reneacute Descartes (latinizado como Renatus Cartesius) (1596-1650) filoacutesofo e matemaacutetico (algebrista e geocircmetra por excelecircncia) francecircs foi o criador do Cartesianismo Doutrina caracterizada pelo racionalismo idealista (necessidade de encontrar fundamentos seguros para o saber) e pela instituiccedilatildeo de um meacutetodo loacutegico para construir o pensamento cientiacutefico como garantia da obtenccedilatildeo da verdade Rompeu com a filosofia aristoteacutelica e foi um dos principais precursores dos iluministas De 1628 a 1637 concentrou-se na produccedilatildeo da sua obra mais importante o ceacutelebre tratado Discours de la Meacutethode pour bien Conduire sa Raison et Chercher la Veriteacute dans les Sciences (1637) mais conhecido como Discurso do Meacutetodo enunciando o seu programa de pesquisa filosoacutefica no qual recomendava que as ciecircncias fiacutesicas adotassem o mesmo meacutetodo dedutivo usado pelos geocircmetras para demonstrar os seus teoremas partir das verdades mais simples e evidentes e encadeaacute-las logicamente ateacute alcanccedilar raciociacutenios mais complexos A sua obra revolucionou a matemaacutetica (unificou a Aritmeacutetica a Aacutelgebra e a Geometria e criou a Geometria Analiacutetica) e abriu caminho para todo o avanccedilo das ciecircncias experimentais nos seacuteculos XVII e XVIII Eacute considerado o filoacutesofo que individualmente mais contribuiu para o progresso das ciecircncias exatas (CHAUIacute 2005 GARCIA MORENTE 1952)

53

francecircs - carta que foi publicada em 1647 como prefaacutecio da traduccedilatildeo49 Daiacute

resultou a seguinte classificaccedilatildeo das ciecircncias (quadro 5)

3 4 5

Mecacircnica Medicina Moral

2

Fiacutesica

(Matemaacuteticas)

1

Metafiacutesica (Teologia)

QUADRO 5 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE DESCARTES (1647) - FRANCcedilA FONTE a autora

Descartes classifica as ciecircncias quanto agrave sabedoria ou grau de clareza e

nitidez de ideacuteias que eacute possiacutevel atingir em cada uma A ciecircncia para ele pode ser

comparada a uma aacutervore a Metafiacutesica (substacircncia criadora - Deus) eacute a raiz a Fiacutesica

(Matemaacutetica) eacute o tronco e os trecircs principais ramos satildeo a Mecacircnica a Medicina e a

Moral esses formando as trecircs aplicaccedilotildees do nosso conhecimento humano que satildeo

o mundo exterior o corpo humano e a conduta de vida Ainda que a integraccedilatildeo de

todas as disciplinas cientiacuteficas e filosoacuteficas seja uma tocircnica cartesiana Descartes

natildeo ofereceu uma divisatildeo clara das disciplinas

49 E dividi tal livro em quatro partes sendo que a primeira conteacutem os princiacutepios do conhecimento que eacute o que se pode chamar de Primeira Filosofia ou entatildeo Metafiacutesica Eis porque para a sua boa compreensatildeo conveacutem ler antes as Meditaccedilotildees que escrevi sobre o mesmo assunto As trecircs outras partes abrangem o que haacute de mais geral na Fiacutesica isto eacute a explicaccedilatildeo das primeiras leis ou princiacutepios da natureza e a maneira pela qual os ceacuteus as estrelas fixas os planetas os cometas e geralmente todo o universo estatildeo compostos e ordenados Depois em particular a natureza desta terra e do ar da aacutegua do fogo do iacutematilde e de todas as qualidades que se notam nesses corpos como a luz o calor a gravidade e outras semelhantes por meio do que penso haver comeccedilado a explicar por ordem toda a Filosofia A fim de conduzir tal desiacutegnio ateacute o fim eu deveria de imediato explicar da mesma maneira a natureza de cada um dos outros corpos os minerais as plantas os animais e principalmente o homem depois enfim tratar exatamente da Medicina da Moral e das Mecacircnicas Era o que urgia que eu fizesse para dar aos homens um corpo todo inteiro de Filosofia (Prefaacutecio da ediccedilatildeo em francecircs de Princiacutepios da Filosofia) (ENCICLOPEacuteDIA SIMPOZIO Versatildeo em portuguecircs do original em esperanto Copyright 1997 Cap 2 Descartes meacutetodo e teoria do conhecimento 3686y066 sect 3 Divisatildeo e classificaccedilatildeo cartesiana das ciecircncias n 100 Disponiacutevel em lthttpwwwsimpozioufscbrFramehtmgt Acesso em 10 jan 2008)

54

Para o empirismo realista caracteriacutestica marcante da Filosofia inglesa as

ciecircncias nascem do haacutebito de associar ideacuteias como consequecircncia da repeticcedilatildeo de

experiecircncias (o aumento do volume ou da dimensatildeo dos corpos submetidos ao calor

faz concluir que ldquoo calor eacute a causa da dilataccedilatildeo dos corposrdquo por exemplo) que visa agrave

universalidade (CHAUIacute 2005)

No final do seacuteculo XVI e iniacutecio do seacuteculo XVII Francis Bacon50 dedica-se agrave

questatildeo do meacutetodo e ao estudo do conhecimento Destacou-se com uma obra de

tradiccedilatildeo empirista em que o papel da ciecircncia51 (beneacutefico para o homem) seria

restabelecer o imperium hominis (impeacuterio do homem) sobre as coisas O

conhecimento cientiacutefico para Bacon tinha por finalidade servir o homem e dar-lhe

poder sobre a natureza - ideal iniciado pela ciecircncia e pela poliacutetica da Renascenccedila que

50 Francis Bacon (1561-1626) filoacutesofo e cientista inglecircs conhecido como o profeta da era industrial considerado o precursor do empirismo moderno (doutrina ou corrente filosoacutefica segundo a qual a experiecircncia sensiacutevel eacute a uacutenica fonte vaacutelida de conhecimento criteacuterio de verdade - pois eacute ela que determina o valor e o sentido da atividade racional - defende que as teorias cientiacuteficas devem ser embasadas na observaccedilatildeo do mundo e natildeo na intuiccedilatildeo ou feacute e que o modelo de conhecimento verdadeiro eacute dado pelas ciecircncias experimentais como a Fiacutesica e a Quiacutemica) cujas propostas tiveram uma poderosa influecircncia no desenvolvimento da ciecircncia no seacuteculo XVII na Europa e para a fundaccedilatildeo em 1660 em Londres da Royal Society O lema da Royal Society ldquoNullius in Verbardquo afirma a vontade de estabelecer a verdade no domiacutenio das disciplinas cientiacuteficas baseando-se somente na experiecircncia e jamais na autoridade de um indiviacuteduo Bacon tinha um projeto enciclopeacutedico planejava fazer uma ampla reorganizaccedilatildeo do conhecimento a que chamou Instauratio Magna (Grande Instauraccedilatildeo - obra ambiciosa e inacabada) que se propunha a restaurar ou reconstruir o saber todo o conhecimento humano a partir de seus verdadeiros fundamentos permitindo o progresso das ciecircncias e suas aplicaccedilotildees praacuteticas visando ao bem-estar do homem e ao seu domiacutenio sobre a natureza que se acreditava haver ele perdido com a queda de Adatildeo O plano compreendia seis partes e a primeira (De Dignitate et Augmentis Scientiarum que apareceu em 1623 eacute a versatildeo latina aumentada do trabalho anterior The Advancement of Learning publicado em 1605 e considerado a primeira obra filosoacutefica realmente importante publicada na Inglaterra) promoveria uma classificaccedilatildeo completa das ciecircncias existentes Uma divisatildeo das ciecircncias uma sistematizaccedilatildeo minuciosa de todo o conhecimento humano a primeira depois de Aristoacuteteles Como parte segunda do projeto da Instauratio Magna aparece em 1620 Novum Organum (obra mais famosa de Bacon assim intitulada em alusatildeo ao Organon de Aristoacuteteles) que apresentava no livro II o pensamento indutivo embasado na experiecircncia e na experimentaccedilatildeo - nuacutecleo da filosofia da ciecircncia de Bacon - o primeiro a formular o princiacutepio da induccedilatildeo cientiacutefica Bacon tinha a convicccedilatildeo de que havia inventado um meacutetodo que levaria os homens aleacutem das fronteiras conhecidas Na dedicatoacuteria do seu livro The Advancement of Learning para o Rei Jaime I Bacon recorre a uma metaacutefora ao assinalar que o seu meacutetodo permitia a passagem do conhecimento para aleacutem das Colunas de Heacutercules (o estreito de Gibraltar) que simbolizavam para os antigos os limites da possibilidade da exploraccedilatildeo humana Significava romper com o aristotelismo e passar a um oceano sem limites para o avanccedilo do conhecimento (BACON 1973 MAZIP 2001) 51 Em meados do seacuteculo XVII o cientista irlandecircs Robert Boyle (1627-1691) - que explorava as propriedades do uacutenico gaacutes conhecido na eacutepoca o ar - passa a simbolizar uma era de profunda transiccedilatildeo na histoacuteria com um peacute no passado preacute-cientiacutefico e outro no futuro marcando o iniacutecio da ciecircncia moderna Nessa era a distinccedilatildeo entre Alquimia e Quiacutemica ou tambeacutem entre Astrologia e Astronomia estava apenas comeccedilando Na Inglaterra junto a outros intelectuais e filoacutesofos naturais criou uma sociedade chamada Coleacutegio Invisiacutevel (Invisible College) onde eram debatidas as novidades cientiacuteficas (o clima poliacutetico da Inglaterra agrave eacutepoca natildeo era propiacutecio agrave liberdade de pensamento) Essa sociedade seria em 1660 chamada de Royal Society (Sociedade Real) uma das instituiccedilotildees cientiacuteficas mais prestigiosas do mundo

55

abrangia a enciclopeacutedia das ciecircncias O seu lema ldquosaber eacute poderrdquo valoriza o saber

instrumental aquele que permite dominar a natureza Para Bacon a filosofia verdadeira

natildeo eacute apenas a ciecircncia das coisas divinas e humanas eacute tambeacutem algo praacutetico O

sistema originalmente desenvolvido por Bacon em 1605 derivou portanto de uma

visatildeo de mundo que considerava o homem como o ponto central do universo e

tentou organizar a estrutura do conhecimento a ldquoordem das coisasrdquo em torno do

entendimento humano O esquema de Bacon foi construiacutedo sobre asserccedilotildees

epistemoloacutegicas subjetivas e racionais

Nos tratados The Advancement of Learning (1605) dezoito anos depois

publicado sob o tiacutetulo latino De Dignitate et Augmentis (1623) Bacon afirma que trecircs

fontes mentais distintas emanam do homem Memoacuteria Imaginaccedilatildeo e Razatildeo e suas

divisotildees do conhecimento estavam embasadas sobre os tipos de conhecimento

emanados de cada uma das trecircs fontes mentais (quadro 6)

a) ciecircncias da memoacuteria ou histoacutericas compreendendo a Histoacuteria civil e a

natural que registram (memoacuteria) os dados de fato

b) ciecircncias da imaginaccedilatildeo da fantasia ou poeacuteticas abarcando a Poesia definida

como imitaccedilatildeo arbitraacuteria da Histoacuteria - elaboraccedilatildeo imaginativa desses dados

c) ciecircncias da razatildeo ou filosoacuteficas abrangendo a Teologia sagrada ou

revelada a Filosofia natural e a Antropologia - conhecimento racional de

Deus do homem e da natureza (BACON 1973)

O princiacutepio usado para dividir o conhecimento natildeo se baseou no objeto do

conhecimento mas no sujeito que conhece52 O criteacuterio subjetivo e arbitraacuterio (cf nota

25) adotado por Bacon (quadro 6) representou na eacutepoca verdadeiro progresso em

relaccedilatildeo agraves primeiras classificaccedilotildees53 Conveacutem destacar que o princiacutepio se propagou

a partir da classificaccedilatildeo baconiana e continua sendo usado ateacute hoje

52 Para Bacon os sentidos humanos funcionam como portais para a mente As impressotildees recebidas por meio dos sentidos podem ser processadas pela mente em um de trecircs modos possiacuteveis no modo Memoacuteria pode-se fixar enumerar e registrar as percepccedilotildees no modo Imaginaccedilatildeo pode-se criar representaccedilotildees fantasiosas das percepccedilotildees e no modo Razatildeo pode-se analisar e classificar as percepccedilotildees 53 ldquoPresentemente um esquema que implique o intelecto humano exercitando suas diversas faculdades isoladamente e que arbitrariamente distribua o campo do conhecimento entre seus trecircs principais ramos estaacute cometendo uma violecircncia contra o nosso conceito de unidade orgacircnica do conhecimentordquo (OLIVEIRA 1980 p 27)

56

Em 1605 trinta anos depois de Huarte Francis Bacon ao mesmo tempo em

que daacute continuidade agraves ideacuteias do filoacutesofo espanhol apoiando-se nas suas divisotildees e

invertendo as duas uacuteltimas categorias baseia-se tambeacutem no Trivium e no Quatrivium

de Cassiodoro

FACULDADES MENTAIS

MEMOacuteRIA IMAGINACcedilAtildeO RAZAtildeO

Classes

Histoacuteria (Ciecircncia da Memoacuteria)

Histoacuteria Natural (Natureza)

Histoacuteria Civil (Sociedade)

Geografia

Poesia (Ciecircncia da Fantasia)

Narrativa

Dramaacutetica

Paraboacutelica

Belas Artes

Filosofia (Ciecircncia da Razatildeo)

Divina (Teologia)

Natural (Praacutetica Especulativa)

Humana (Corpo Alma Social)

Matemaacuteticas

(Ciecircncias Experimentais)

QUADRO 6 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE FRANCIS BACON (1605) - INGLATERRA FONTE a autora

O esquema principal foi desenvolvido em numerosas subdivisotildees poreacutem aqui

se encontram as principais Nessa classificaccedilatildeo Histoacuteria tem um sentido particular

radical significando todo o conhecimento jaacute acumulado pela humanidade enquanto

todas as disciplinas incluiacutedas na Poesia satildeo consideradas ldquocrendicesrdquo ou ldquofalsa

Histoacuteriardquo

De todos os precursores da ciecircncia moderna a figura mais significativa sem

duacutevida sob o ponto de vista da magnitude da sua contribuiccedilatildeo agrave classificaccedilatildeo

bibliograacutefica eacute a de Bacon O seu sistema filosoacutefico serviu de fundamento para a

construccedilatildeo de vaacuterios instrumentos destinados agrave organizaccedilatildeo do conhecimento como

a Encyclopeacutedie de Diderot e drsquoAlembert e vaacuterias classificaccedilotildees bibliograacuteficas como a

de Harris (1870) - que estaacute descrita na sequecircncia cronoloacutegica dessa subseccedilatildeo - e as

que satildeo detalhadas na seccedilatildeo 4 e suas subseccedilotildees a de Dewey (1876) que adapta o

esquema ao seu sistema decimal a Classificaccedilatildeo da Biblioteca do Congresso dos

Estados Unidos (1902) e a de Otlet (1905) que vai sofrer as influecircncias de Dewey e

de Bacon A utilizaccedilatildeo da sequecircncia que vai das Matemaacuteticas via Fiacutesica e Quiacutemica agrave

Fisiologia e que finalmente chega agrave Sociologia pode ser tambeacutem observada e

traccedilada nos sistemas de Brown (1906) Ranganathan (1933) e Bliss (1935)

57

Desse modo o esquema tornou-se uma das maiores influecircncias nas

classificaccedilotildees bibliograacuteficas servindo de base para a estrutura de novos esquemas

gerais de classificaccedilatildeo apesar de natildeo ter sido elaborado com uma finalidade

pragmaacutetica ou seja a de organizar materiais ou informaccedilatildeo em bibliotecas Parte-se

da teoria porque a praacutetica eacute muito variaacutevel

Hobbes54 deu seguimento agrave classificaccedilatildeo das ciecircncias de Francis Bacon

impregnando-a de um princiacutepio mais objetivo frente ao subjetivismo de Bacon ou

seja com Hobbes segundo Kedrov (1974 v 1 p 75) passa-se das classificaccedilotildees

construiacutedas com base em um princiacutepio subjetivo para as construiacutedas em cima de um

princiacutepio objetivo Principal criador do materialismo mecanicista Hobbes reduz o

pensamento a um tipo de sensaccedilatildeo e o homem a uma estrutura mecacircnica o que se

reflete na sua classificaccedilatildeo das ciecircncias (quadro 7)

Hobbes considera que haacute duas modalidades de conhecimento a primeira eacute a

dos fatos e baseia-se na sensaccedilatildeo e na memoacuteria e a segunda eacute a das

consequecircncias ou das causas e baseia-se no entendimento ou razatildeo Estabelece

por isso dois tipos principais de ciecircncias segundo o meacutetodo ou a maneira de estudar

o conhecimento as indutivas com base na experiecircncia ou seja aquelas que

estudam os fenocircmenos da natureza independentes do homem (Fiacutesica) e as

dedutivas com base na razatildeo ou seja aquelas que conhecem os objetos por suas

causas mediante a deduccedilatildeo (Geometria Poliacutetica Esteacutetica) Essa divisatildeo das

ciecircncias baseia-se em um princiacutepio subjetivo do meacutetodo de conhecimento (indutivo

dedutivo) poreacutem se combina com o princiacutepio objetivo de considerar as

caracteriacutesticas dos objetos

54 Thomas Hobbes (1588-1679) filoacutesofo inglecircs empirista nominalista racionalista e materialista foi um dos mestres da filosofia poliacutetica inglesa e se interessava tambeacutem pela filosofia da ciecircncia Para ele a verdadeira ciecircncia funda-se no meacutetodo matemaacutetico - pensar eacute ldquocalcularrdquo com palavras assim como a Aritmeacutetica calcula com nuacutemeros e tanto o corpo quanto o espiacuterito satildeo regidos por leis rigorosamente causais O seu pensamento exerceu profunda influecircncia no pensamento de Rousseau e Kant e nos enciclopedistas Em 1651 Hobbes publica em Londres a sua obra maacutexima Leviathan or Matter Form and Power of a Commonwealth Ecclesiastical and Civil (Leviatatilde ou Mateacuteria Forma e Poder de uma Comunidade Eclesiaacutestica e Civil) em que expotildee a sua classificaccedilatildeo e a sua filosofia poliacutetica defendendo a conveniecircncia da manutenccedilatildeo do contrato social para impor uma limitaccedilatildeo ao instinto de conservaccedilatildeo do homem isto eacute aos seus direitos jaacute que para ele o homem eacute um lobo para o homem (homo homini lupus) ou seja o homem em estado natural eacute um inimigo do homem (bellum omnium contra omnes) Dessa forma propotildee a monarquia absoluta na qual o soberano concentra em suas matildeos o poder e a razatildeo como forma de defesa dos indiviacuteduos e realiza assim o ideal almejado Eacute oportuno lembrar que as teorias do direito divino perderam definitivamente a forccedila depois da Revoluccedilatildeo Francesa e da independecircncia dos Estados Unidos e que as ideacuteias de Hobbes influenciaram as concepccedilotildees de Estado dos seacuteculos XVIII e XIX (MAZIP 2001 SANTOS 1964)

58

De acordo com San Segundo Manuel (1996 p 57-58) Hobbes estrutura as

ciecircncias em uma sucessatildeo segundo uma ordem de tracircnsito na descriccedilatildeo dos fatos -

princiacutepio objetivo - ou seja a ordenaccedilatildeo se apoacuteia na transiccedilatildeo do conhecimento

sensiacutevel ao abstrato dos fatos agrave sua explicaccedilatildeo teoacuterica dos corpos privados de

sensaccedilotildees agravequeles que as possuem Haacute ainda outras transiccedilotildees apoiadas em um

princiacutepio subjetivo como a sequecircncia do natural ao civil entre outros

Histoacuteria (registro do conhecimento dos fatos)

Histoacuteria Natural (trata dos fenocircmenos da natureza)

Histoacuteria Civil (trata dos fenocircmenos da vida social)

Filosofia (ciecircncia da consequecircncia - trata do conhecimento teoacuterico das consequecircncias de uma afirmaccedilatildeo)

Filosofia Natural (trata das propriedades dos corpos naturais)

Filosofia Civil (trata das propriedades dos corpos poliacuteticos)

Filosofia Mecacircnica (trata da qualidade quantidade e movimento dos corpos)

Filosofia Primeira (trata dos corpos da Filosofia Mecacircnica ainda natildeo determinados)

Matemaacuteticas (trata dos corpos da Filosofia Mecacircnica jaacute determinados)

Geometria (determinada por uma figura)

Aritmeacutetica (determina quantidades continuas)

Astronomia (determina a quantidade e o movimento dos corpos coacutesmicos)

Geografia (determina a quantidade e o movimento da Terra)

Fiacutesica (estuda os aspectos qualitativos das coisas - as consequecircncias da qualidade)

Meteorologia (estuda as qualidades dos corpos transitoacuterios)

Astrologia (estuda as qualidades dos corpos constantes)

Mineralogia (estuda os efeitos dos minerais e metais)

Botacircnica (estuda os efeitos das plantas)

Zoologia (estuda as propriedades dos animais em geral inclusive as propriedades dos

sentidos)

Oacutetica (relativa agrave vista)

Muacutesica (relativa ao ouvido)

Poesia (relativa agrave linguagem emocional)

Retoacuterica (relativa agrave linguagem convincente)

Loacutegica (relativa agrave linguagem racional)

Eacutetica (relativa agraves paixotildees dos homens)

Esteacutetica (relativa agrave ciecircncia da arte e do belo)

Poliacutetica (relativa ao Estado e ao Direito)

QUADRO 7 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HOBBES (1651) - INGLATERRA FONTE a autora com base em Vickery (1975 p 152) San Segundo Manuel (1996 p 57-58) e Gopinath (2001 p 65)

59

Locke55 continua de certo modo a linha traccedilada por Bacon e Hobbes e

aponta ainda que de maneira incipiente para uma classificaccedilatildeo embasada em um

princiacutepio objetivo suplantando o princiacutepio das capacidades do homem

Reconhece duas classes de ciecircncias segundo a divisatildeo dos objetos do

conhecimento (quadro 8) as reais (naturais - aquelas que se ocupam dos primeiros

objetos de conhecimento as coisas mesmas enquanto cognosciacuteveis os fenocircmenos da

natureza como a Fiacutesica a Quiacutemica e a Biologia onde se encontra a Medicina com a

qual o autor mais se ocupou e metafiacutesicas - aquelas que se ocupam dos fenocircmenos da

alma como a Filosofia e a Teologia) e as ideais (praacuteticas - aquelas cujo objeto eacute a accedilatildeo

do homem enquanto dependente do homem para alcanccedilar objetivos bons uacuteteis e

finalmente atingir a felicidade como a Matemaacutetica a Eacutetica e as Artes e semioacuteticas -

aquelas que estudam os caminhos por meio dos quais se comunica o conhecimento

adquirido nas ciecircncias anteriores como a Loacutegica a Linguiacutestica e a Antropologia)

CIEcircNCIAS REAIS CIEcircNCIAS IDEAIS

Ciecircncias Naturais Ciecircncias Metafiacutesicas Ciecircncias Praacuteticas Ciecircncias Semioacuteticas

Fiacutesica

Filosofia Natural

Quiacutemica

Teologia Natural

Biologia (Medicina)

Filosofia

Teologia

Matemaacutetica

Eacutetica ou Filosofia

Praacutetica

(Artes Mecacircnicas e

Belas Artes)

Loacutegica

Linguiacutestica

Gecircnero de Vida

(similar agrave Antropologia)

QUADRO 8 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE LOCKE (1690) - INGLATERRA FONTE a autora

55 John Locke (1632-1704) filoacutesofo empirista e cientista inglecircs (pertencia agrave Royal Society) um dos mentores do liberalismo eacute o iniciador da teoria do conhecimento propriamente dita porque se propotildee a analisar o processo de produccedilatildeo do conhecimento a origem das ideacuteias e dos discursos e a capacidade do sujeito cognoscente em relaccedilatildeo aos objetos que ele pode conhecer Eacute considerado o pai do Iluminismo por defender a ideacuteia de uma monarquia hipoteacutetica que garantisse as liberdades individuais sob o comando de um soberano esclarecido e pregar a liberdade como essecircncia da soberania poliacutetica Tornou-se colaborador do cientista Robert Boyle (1627-1691) um dos membros fundadores da Royal Society e da Quiacutemica moderna que introduziu o conceito de aacutetomo e elementos quiacutemicos - o que foi um avanccedilo em relaccedilatildeo agrave alquimia que dominou a Idade Meacutedia e agrave concepccedilatildeo de Aristoacuteteles dos quatro elementos Para Locke o homem ao nascer natildeo possui qualquer ideacuteia e a sua mente eacute como uma taacutebula rasa Tudo o que o homem sabe existir eacute dado pelas sensaccedilotildees e percepccedilotildees portanto pela experiecircncia Por conseguinte as ideacuteias universais natildeo correspondem agrave realidade mas satildeo nomes instituiacutedos por convenccedilatildeo para organizar pensamentos e discursos Assim por exemplo natildeo existe ldquoa corrdquo mas objetos coloridos tais como percebidos - ldquoa corrdquo eacute um nome geral com que a razatildeo organiza as sensaccedilotildees visuais Por isso se diz que Locke eacute um nominalista Em sua obra capital terminada em 1666 e publicada em 1689 An Essay Concerning Human Understanding (Ensaio sobre o entendimento humano) seguindo o seu gosto pela regra experimental - seus princiacutepios empiristas - propocircs a experiecircncia (por meio dos sentidos) como fonte do conhecimento que depois se desenvolveria por esforccedilo da razatildeo - ideacuteia que permeia toda a sua divisatildeo das ciecircncias no uacuteltimo capiacutetulo do ensaio ldquoDa divisatildeo das ciecircnciasrdquo (CHAUIacute 2005 MAZIP 2001 GARCIA MORENTE 1952)

60

A concepccedilatildeo de conhecimento de Locke exerceu grande influecircncia no seacuteculo

XVIII e serviu de inspiraccedilatildeo junto com os postulados de Bacon para os

enciclopedistas franceses Voltaire Diderot e drsquoAlembert

Sempre com novas interpretaccedilotildees e releituras a divisatildeo aristoteacutelica do

conhecimento permaneceu influenciando classificaccedilotildees como a usada pelo filoacutesofo

alematildeo Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) que por volta de 1676 desempenhou

tarefas de bibliotecaacuterio-chefe em Hannover e elaborou56 um esquema modelo (com

base na Filosofia teoacuterica de Aristoacuteteles) para uma biblioteca real cujas classes

(quadro 9) aparecem como cacircnone das disciplinas do conhecimento O seu

esquema classificatoacuterio compreendia

CLASSES

THEOLOGIA (Biacuteblica Ecclesiastica Dogmaacutetica Practica)

JURISPRUDENTIA (Ius naturae et gentium Jus Romanum et alia jura antiqua Jus Ecclesiasticum

humanum seu Canonicum Jus feudale et publicum Varia jura recentiora)

MEDICINA (Hygiastica et Diaetetica Pathologia cum Semeiotica Pharmaceutica Chirurgica)

PHILOSOPHIA INTELLECTUALIS (Theoretica Loacutegica Metaphysica Pneumaacutetica Practica Ethica

et Politica)

PHILOSOPHIA RERUM IMAGINATIONIS seu MATHEMATICA (Mathesis pura ubi Arithmetica

Aacutelgebra Geometria Musica Astronomia cum Geographia generali Oacuteptica

Gnomonica Mechanica bellica Naacuteutica Architectonica Opificiaria omnigena a vi

imaginationis pendentia)

PHILOSOPHIA RERUM SENSIBILIUM seu PHISICA (Phisica massarum et similarum quo pertinet

etiam Chymia de aqua igne salibus etc Regni mineralis Regni vegetabilis

quorsum Agricultura Regni animalis quorsum Anatomica quoque Oeconomica

et opificiaria artificiis physicis nitentia)

PHILOSOPHIA seu RES LINGUARUM (Grammatica et Lexica Rhetorica ubi Epistolae Orationes

etc Peeumltica Critica)

HISTORIA CIVILES (Universalis Geographia Juc Genealogica et Heraldica Historia Graeca et

Romana cum antiquitatibus Historia medii aevi a ruiacutena Imperii Romani per

Barbaros ad saeculum superius (XVI) Historia nostri temporis et saeculi

superioris et nostri Historiae gentium Historiae variarum rerum hoc et vitae

saltem remissive)

QUADRO 9 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE LEIBNIZ (1701) - ALEMANHA FONTE San Segundo Manuel (1996 p 61)

56 De 1701 a 1704 redigiu os Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano que soacute foram publicados em 1765 no qual elabora uma teoria do conhecimento e defende a existecircncia de ideacuteias inatas (MAZIP 2001 p 188)

61

Aleacutem da divisatildeo das ciecircncias eacute importante destacar que Leibniz se envolveu

profundamente na possibilidade tentativa e projeto de uma liacutengua perfeita de uma

linguagem universal que se expressaria de maneira simboacutelica Essa ideacuteia teraacute reflexos

diretos ainda que natildeo assumidos pelos responsaacuteveis nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas

do final do seacuteculo XIX Como salienta San Segundo Manuel (1996 p 59) uma

linguagem universal com notaccedilatildeo57 simboacutelica tem sido a ideacuteia perseguida (com o

emprego da CDU) para abordar a anaacutelise de conteuacutedo de toda produccedilatildeo cientiacutefica

mundial Agraves ideacuteias de Leibniz de uma linguagem internacional da ciecircncia com uma

notaccedilatildeo numeacuterica que permitisse a inclusatildeo de qualquer ciecircncia nesse conjunto e que

produzisse e possibilitasse a enciclopeacutedia universal do conhecimento recorreraacute Otlet

para defender a CDU como linguagem universal da ciecircncia com notaccedilatildeo numeacuterica Isso

permitiria compilar um arquivo universal do conhecimento que Otlet denominaria

Repertoacuterio Bibliograacutefico Universal (RBU) (cf subseccedilatildeo 43) Tambeacutem Dewey recorreraacute agrave

ideacuteia de notaccedilatildeo numeacuterica ao propor o uso de nuacutemeros decimais (cf subseccedilatildeo 42)

Cabe mencionar que nem Dewey nem Otlet estabelecera uma ligaccedilatildeo direta entre as

ideacuteias da linguagem da classificaccedilatildeo e da enciclopeacutedia de Leibniz e seus sistemas

classificatoacuterios apesar das semelhanccedilas Como mencionado Leibniz procurava uma

caracteriacutestica universal um tipo de linguagem conceitual para a expressatildeo combinatoacuteria

de quaisquer conceitos e assuntos existentes no mundo Assim eventual e

possivelmente o pensamento de Leibniz influenciou Ranganathan que segundo

Dahlberg (1979b p 356) encontrou o novo tipo de matemaacutetica ldquoqualitativaldquo que Leibniz

buscava ao tentar analisar os assuntos encontrados nos livros e documentos (dividindo-

os em seus elementos constituintes) e formalizar os enunciados a respeito dos

assuntos encontrados por meio de sua ldquofoacutermula de facetasrdquo (cf subseccedilotildees 41 e 47)

Conveacutem lembrar que Dewey propocircs uma reforma ortograacutefica do inglecircs

(CACALY 1997 p 183) e que Otlet (1934 p 430-431) afirmou textualmente ser a

linguagem o princiacutepio ordenador do conhecimento Em resumo tanto Dewey quanto

Otlet de modos muito diferentes tinham clareza a respeito da importacircncia da

linguagem para a classificaccedilatildeo

57 A notaccedilatildeo da classificaccedilatildeo eacute uma atividade semioacutetica porque eacute construiacuteda sobre um sistema semioacutetico - a linguagem - e o significado dela mesma (o termo do assunto) eacute um significante simboacutelico em niacutevel de linguagem A classificaccedilatildeo aleacutem disso eacute complicada pelo fato de se basear em anaacutelises e descriccedilotildees de conhecimento registrado que eacute interpretado por classificadores e indexadores humanos para que o assunto - a sua interpretaccedilatildeo e as suas combinaccedilotildees - sejam significantes na recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo

62

O humanismo renascentista somado agraves descobertas cientiacuteficas do seacuteculo XVII

preparou os acircnimos para uma grande mudanccedila da sociedade caracterizada pela

ilimitada confianccedila na natureza humana agrave luz da razatildeo

No seacuteculo XVIII o Iluminismo58 privilegia as viagens as pesquisas e os

empreendimentos cientiacuteficos que se vecircem incentivados pelas cortes e governos Satildeo

criadas academias de ciecircncias em Londres (1665) Paris (1666) Berlim (1700) Satildeo

Petersburgo (1724) entre outras A ciecircncia passa a ocupar o primeiro lugar na

hierarquia das atividades humanas A Fiacutesica cuja primeira sistematizaccedilatildeo se encontra

na obra Princiacutepios Matemaacuteticos de Filosofia Natural de 1687 de Newton eacute acatada

pelos iluministas como a ciecircncia matildee ou como a ldquoverdadeirardquo Filosofia As pesquisas de

Boyle encaminham a Quiacutemica agrave sua organizaccedilatildeo como ciecircncia positiva enquanto a

obra de Buffon e de outros naturalistas assinalam tambeacutem grande desenvolvimento

para as ciecircncias bioloacutegicas Desenvolvem-se novas disciplinas e surgem descobertas e

invenccedilotildees revolucionaacuterias como a maacutequina a vapor (Watt) o tear mecacircnico

(Cartwrigth) o tear automaacutetico (Arkwight) a bateria eleacutetrica (Galvani) o termocircmetro

centiacutegrado (Celsius) maacutequina de fiar (Hargreaves) pilha voltaica (Volta) prensa

hidraacuteulica (Bramah) vacina antivarioacutelica (Jenner) gaacutes de iluminaccedilatildeo (Murdock e

Lebon) litografia (Senefelder) decomposiccedilatildeo da aacutegua (Lavoisier) oxigecircnio (Priestley)

cloro (Scheele) planeta Urano (Herschel) entre outros (ABBAGNANO 2003 p 534-

536 MAZIP 2001 p 199-200) O Iluminismo deu outro significado ao livro na

sociedade o livro passou gradativamente a perder o status de objeto sagrado e a

adquirir o sentido de objeto de consumo as publicaccedilotildees em liacutengua vulgar multiplicaram-

se o gosto pela leitura espalhou-se e as relaccedilotildees entre o pensamento erudito e o

acesso agrave informaccedilatildeo modificaram-se A organizaccedilatildeo do conhecimento comeccedila a

despertar o interesse pela criaccedilatildeo de sistemas de classificaccedilatildeo competentes para

sistematizar esse conhecimento que passa a ser uma necessidade Ateacute entatildeo natildeo se

vinculava a importacircncia do livro agrave questatildeo do acesso agrave informaccedilatildeo

58 Por Iluminismo ou ldquoseacuteculo das luzesrdquo entende-se comumente o periacuteodo que vai dos uacuteltimos dececircnios do seacuteculo XVII periacuteodo setecentista aos uacuteltimos dececircnios do seacuteculo XVIII movimento intelectual e espiritual mais do que um sistema filosoacutefico embasado no primado da razatildeo e da ciecircncia como possibilidade humana de atingir um conhecimento universal Portanto caracterizado pela ilimitada confianccedila na natureza humana e na mudanccedila da sociedade agrave luz da razatildeo O Iluminismo por um lado adota a feacute cartesiana na razatildeo mas por outro lado estende a criacutetica racional a todo e qualquer campo do conhecimento Natildeo mais aquela razatildeo individualista do seacuteculo de Descartes mas uma razatildeo social (ABBAGNANO 2003 p 534-537 MAZIP 2001 p 412-413) O nome se explica porque os filoacutesofos da eacutepoca acreditavam estar iluminando a verdade e as mentes das pessoas O movimento impulsionou o capitalismo e a sociedade moderna

63

Para os iluministas a razatildeo eacute a medida de todas as coisas no universo em

contraposiccedilatildeo agrave feacute Acreditam que o uso criacutetico da razatildeo somado ao compromisso

de utilizar a razatildeo e os resultados que ela pode obter nos vaacuterios campos de

pesquisa para melhorar a vida individual e social do homem eacute capaz de eliminar as

miseacuterias do mundo por meio da educaccedilatildeo da lei da poliacutetica e da economia No

entanto consideram sem interesse tudo o que estaacute fora da experiecircncia e sem valor

os afetos os instintos e a imaginaccedilatildeo

O compromisso com a felicidade ou bem-estar do gecircnero humano e as

concepccedilotildees iluministas de toleracircncia e de progresso constituiacuteram a substacircncia de

empreendimentos como a Enciclopeacutedia - siacutembolo do saber universal meta da

humanidade no seacuteculo XVIII - que tomaram para si a tarefa da luta contra o

preconceito e a ignoracircncia Assim em 1750 cento e cinquenta anos depois de

Bacon os filoacutesofos iluministas Denis Diderot (1713-1784) e Jean le Rond

drsquoAlembert (1717-1783) utilizam a classificaccedilatildeo ou esquema de Bacon baseando-

se naqueles mesmos princiacutepios subjetivos (faculdades humanas da Memoacuteria

Imaginaccedilatildeo e Razatildeo) poreacutem mudam a ordem para Memoacuteria Razatildeo e Imaginaccedilatildeo

na sistematizaccedilatildeo (quadro 10) da sua volumosa Enciclopeacutedia

SISTEMA FIGURATIVO DO CONHECIMENTO HUMANO

MEMOacuteRIA RAZAtildeO IMAGINACcedilAtildeO

Ramos do conhecimento

Histoacuteria Filosofia Poesia

Sagrada Metafiacutesica Geral

Narrativa

Eclesiaacutestica Ciecircncia de Deus

Drama

Civil Ciecircncia dos Homens

Alegorias

Natural Ciecircncia Natural

QUADRO 10 - DIDEROT drsquoALEMBERT E A SISTEMATIZACcedilAtildeO DA ENCYCLOPEacuteDIE (1751) - FRANCcedilA FONTE a autora

A Enciclopeacutedia ou Dicionaacuterio Racional das Ciecircncias das Artes e dos Ofiacutecios

(Encyclopeacutedie ou Dictionnaire Raisonneacute des Sciences des Arts et des Meacutetiers

64

1751-1780)59 reunia o conhecimento e o pensamento filosoacutefico da eacutepoca

introduzia a noccedilatildeo de conhecimento cientiacutefico preparava ideologicamente a

Revoluccedilatildeo Francesa e induzia agrave compreensatildeo das transformaccedilotildees antes

articulada com a modificaccedilatildeo da natureza e a partir do seacuteculo XVIII com a soluccedilatildeo

dos problemas praacuteticos (CARVALHO 1999 p 25-27)

A importacircncia da Encyclopeacutedie aleacutem do jaacute dito e do fato de ela ser a primeira

enciclopeacutedia alfabeacutetica das ciecircncias o que para a eacutepoca significou uma maior

democratizaccedilatildeo do saber estaacute na nova concepccedilatildeo das ciecircncias que comeccedilam a se

difundir seguindo uma ordem alfabeacutetica preocupada com a exposiccedilatildeo sistemaacutetica e

detalhada de todas as ciecircncias e natildeo tanto em estabelecer uma estrutura

hieraacuterquica pois dAlembert estava consciente assim como Leibniz tambeacutem estava

dos perigos da fragmentaccedilatildeo e estilhaccedilamento das ciecircncias constatando que as

ciecircncias formam grupos diferentes e desunidos

313 Idade Contemporacircnea Seacuteculos XIX e XX60

Baseando-se na natureza dos fenocircmenos as classificaccedilotildees das ciecircncias no

seacuteculo XIX tornam-se positivistas61 determinadas por razotildees teoacutericas especulativas

buscando maior compreensatildeo das relaccedilotildees entre os saberes das novas conexotildees

interdisciplinares por causa dos grandes descobrimentos nas ciecircncias O surgimento

de numerosas ciecircncias de transiccedilatildeo (aquelas que surgem no limite entre duas ou mais

59 A diferenccedila entre uma classificaccedilatildeo enciclopeacutedica e uma classificaccedilatildeo filosoacutefica das ciecircncias eacute que uma enciclopeacutedia pressupotildee a tentativa de dar o quadro completo de todas as disciplinas cientiacuteficas e de fixar de modo definitivo as suas relaccedilotildees de coordenaccedilatildeo e subordinaccedilatildeo enquanto uma classificaccedilatildeo filosoacutefica das ciecircncias tem soacute o intento mais modesto de dividir as ciecircncias em grupos segundo a afinidade dos seus objetos ou dos seus instrumentos de pesquisa 60 Convencionou-se chamar Idade Contemporacircnea o periacuteodo compreendido entre a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) e os dias atuais 61 Positivismo em sentido geral eacute a doutrina filosoacutefica que explica o real em termos cientiacuteficos (MAZIP 2001 p 428) Em sentido especiacutefico eacute a doutrina e a escola fundadas por Auguste Comte (1798-1857) que aleacutem de compreender uma teoria da ciecircncia eacute tambeacutem uma reforma da sociedade e uma religiatildeo Caracteriza-se como afirmaccedilatildeo social das ciecircncias experimentais e romantizaccedilatildeo da ciecircncia Associa uma interpretaccedilatildeo das ciecircncias e uma classificaccedilatildeo do conhecimento a uma eacutetica humana afastando radicalmente o saber teoloacutegico ou o metafiacutesico Positivismo eacute a visatildeo de que o inqueacuterito cientiacutefico seacuterio natildeo deveria procurar causas uacuteltimas que derivem de alguma fonte externa mas sim confinar-se ao estudo de relaccedilotildees existentes entre fatos que satildeo diretamente acessiacuteveis pela observaccedilatildeo reduzindo assim a Filosofia agrave Ciecircncia (SANTOS 1964 p 1480-1481) O positivismo teve grande repercussatildeo na segunda metade do seacuteculo XIX ampliando o empirismo e tendendo para a construccedilatildeo de uma Filosofia da Ciecircncia mas perdeu influecircncia no seacuteculo XX entre outras correntes de pensamento para o estruturalismo No Brasil o positivismo teve ampla aceitaccedilatildeo nas escolas de Direito nos Ciacuterculos Militares e no Movimento Republicano No Rio de Janeiro Benjamim Constant (1837-1891) fundou em 1876 a Sociedade Positivista e Miguel Lemos (1854-1917) e Teixeira Mendes (1855-1927) a Igreja Positivista

65

ciecircncias como a Termodinacircmica nascida entre a Mecacircnica e a Fiacutesica a

Eletroquiacutemica entre a Quiacutemica e a Fiacutesica a Bioquiacutemica entre a Quiacutemica e a Biologia

e outras) somado ao grande desenvolvimento ocorrido nas ciecircncias sociais a partir

das teorias de Comte e nas ciecircncias bioloacutegicas a partir de Darwin culminou na

necessidade de maior compreensatildeo e diferenciaccedilatildeo rigorosa entre as ciecircncias

(KEDROV 1974 v 1 p 21) Eacute assim que com influentes pensadores como Hegel

Ampegravere Comte Spencer e Wundt a classificaccedilatildeo das ciecircncias constitui-se no

problema central da filosofia das ciecircncias (PIEDADE 1983 GOPINATH 2001

POMBO 2006) tentando conciliar o utilitarismo com o positivismo

O sistema de classificaccedilatildeo de Hegel62 aparece como uma consequecircncia de seu

sistema filosoacutefico ou seja a classificaccedilatildeo emanada do seu pensamento natildeo derivava

de uma ideacuteia de desenvolvimento da natureza senatildeo do espiacuterito como criador da

natureza O seu sistema eacute especulativo tritocircnico com base na Loacutegica dialeacutetica ou

especulativa (entendendo-se por dialeacutetica a siacutentese dos opostos) e apresenta trecircs

partes principais 1 a ideacuteia-em-si estudo da fase teoacuterica do absoluto do ser do natildeo-ser

e do vir-a-ser (Ontologia Teologia Epistemologia) 2 ideacuteia fora de si estudo da

natureza (Mecacircnica Fiacutesica Biologia) e 3 ideacuteia-em-si e para-si estudo do espiacuterito

(subjetivo desenvolve-se mediante a Psicologia objetivo desenvolve-se mediante a

Histoacuteria e absoluto manifesta-se na Arte na Religiatildeo e na Filosofia) (quadro 11)

1 Ideacuteia-em-si

2 Ideacuteia fora de si

3 Ideacuteia-em-si e para-si

ABSOLUTO (Begriff - Conceito)

NATUREZA (Wesen ndash Essecircncia)

ESPIacuteRITO (Sein - Ser)

Ontologia Teologia

Epistemologia

Mecacircnica Fiacutesica

Biologia

Subjetivas Psicologia Objetivas Histoacuteria Absolutas Artes Religiatildeo Filosofia (Direito Eacutetica)

QUADRO 11 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HEGEL (1817) - ALEMANHA FONTE a autora com base em Gopinath (2001 p 63) e Mazip (2001 p 251-257)

62 Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) filoacutesofo representante do idealismo alematildeo A sua obra serviu de base para a maior parte das tendecircncias filosoacuteficas e ideoloacutegicas posteriores como o marxismo o existencialismo e a fenomenologia Em sua obra mais sistemaacutetica Compecircndio Enciclopeacutedico das Ciecircncias Filosoacuteficas de 1817 estabeleceu uma classificaccedilatildeo para as ciecircncias (MAZIP 2001 SANTOS 1964)

66

Para Hegel o saber cientiacutefico era um saber ou um conhecimento conceitual e

as conexotildees internas agraves ciecircncias eram ideais

Ampegravere63 propotildee uma classificaccedilatildeo analiacutetica de todo o conhecimento humano

com base no criteacuterio dicotocircmico (de oposiccedilatildeo) Dividiu as ciecircncias primeiramente em

dois reinos (quadro 12) ciecircncias cosmoloacutegicas - relativas ao mundo fiacutesico e agrave natureza

e ciecircncias nooloacutegicas (denominaccedilatildeo criada por ele em 1834) - relativas ao espiacuterito

CIEcircNCIAS COSMOLOacuteGICAS (NATUREZA) CIEcircNCIAS NOOLOacuteGICAS (ESPIacuteRITO)

Ciecircncias Matemaacuteticas

Ciecircncias Fiacutesicas

Ciecircncias Naturais

Ciecircncias Meacutedicas

Ciecircncias Filosoacuteficas (Psicologia Ontologia Eacutetica)

Ciecircncias Nooteacutecnicas (Artes Literatura)

Ciecircncias Etnoloacutegicas (Etnologia Arqueologia Histoacuteria)

Ciecircncias Poliacuteticas

QUADRO 12 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE AMPEgraveRE (1834) - FRANCcedilA FONTE a autora

Continuou Ampegravere a subdividir dicotomicamente os reinos em dois sub-reinos

e esses novamente subdivididos resultaram em oito classes de ciecircncias

Prosseguindo chegou a dezesseis subclasses de ciecircncias Depois trinta e duas

ciecircncias de primeira ordem e na sequecircncia sessenta e quatro ciecircncias de segunda

ordem Finalmente cento e vinte e oito ciecircncias de terceira ordem64 Essa

classificaccedilatildeo corresponde a um sistema das ciecircncias muito complexo Segundo

Gimeno Perelloacute (2002 p 13) Ampegravere reivindica para as Ciecircncias Humanas ou

Normativas frente agraves Ciecircncias Fiacutesicas ou Naturais o predomiacutenio na escala cientiacutefica

que o positivismo lhes negara Distinguiu com respeito ao seu conteuacutedo as

Ciecircncias da Natureza das do Espiacuterito de sorte que de acordo com os seus

respectivos meacutetodos as Ciecircncias Naturais devem explicar-se e as Ciecircncias do

Espiacuterito compreender-se

63 Andreacute-Marie Ampegravere (1775-1836) fiacutesico francecircs cujos estudos constituiacuteram o fundamento da eletrodinacircmica Foi o primeiro a usar o termo corrente eleacutetrica Em sua homenagem a unidade de medida de intensidade da corrente eleacutetrica (ampegravere siacutembolo A) no Sistema Internacional de Medidas leva seu nome No final da vida dedicou-se a classificar todo o conhecimento humano em sua obra (inacabada) Ensaio sobre a Filosofia das Ciecircncias (Essai sur la Philosophie des Sciences ou Exposition Analytique drsquoune Classification Naturelle de Toutes les Connaissances Humaines 1834-1843) (ABBAGNANO 2003 p 140-141 SANTOS 1964 p 1503) 64 ENCICLOPEacuteDIA SIMPOZIO Versatildeo em portuguecircs do original em esperanto Copyright 1997 Cap 2 Divisatildeo e classificaccedilatildeo das ciecircncias 2211y349 sect 4 Gecircneros de ciecircncias naturais morais e similares n 393 A classificaccedilatildeo em ciecircncias cosmoloacutegicas e nooloacutegicas Disponiacutevel em lthttpwwwsimpozioufscbrFramehtmgt Acesso em 10 jan 2008

67

Durante algum tempo somente a primeira divisatildeo que separa o grupo dos

objetos reais dos ideais destacou-se e foi amplamente aceita sendo diversas vezes

reestruturada com outros termos por exemplo como distinccedilatildeo entre ciecircncias

naturais e culturais ou ainda ciecircncias naturais (aquelas que visam conhecer

causalmente o objeto que permanece no entanto externo e tecircm caraacuteter

generalizante) e ciecircncias do espiacuterito (aquelas que visam compreender o objeto

homem e tecircm caraacuteter individualizante) Consequentemente quaisquer que sejam as

denominaccedilotildees e suas justificativas a divisatildeo acaba por destacar a vocaccedilatildeo proacutepria

de cada grupo de objetos os ideais e os reais

Como se pode observar no seacuteculo XIX as propostas de classificaccedilatildeo foram

numerosas Entretanto a classificaccedilatildeo de Comte foi a que maior polecircmica causou

exercendo larga influecircncia nos mais variados ciacuterculos do pensamento europeu

enquanto vinculada agrave doutrina sobre o conhecimento e sobre a natureza do

pensamento cientiacutefico que valorizava as ciecircncias naturais e as suas aplicaccedilotildees praacuteticas

Em 1830 Comte65 agrave medida que critica duramente as classificaccedilotildees do

conhecimento segundo ele calcadas no subjetivismo ou nas faculdades do espiacuterito

porque as divisotildees que propotildeem natildeo satildeo irredutiacuteveis66 propotildee uma classificaccedilatildeo

das ciecircncias utilitaacuteria embasada na classificaccedilatildeo dos fenocircmenos porque acredita

65 Auguste-Isidore-Marie-Franccedilois Comte (1798-1857) filoacutesofo francecircs criador do positivismo social e de sua maacutexima o amor por princiacutepio a ordem por base e o progresso por fim (lema inscrito na Bandeira do Brasil) Filosofia seguida por muitos fiacutesicos da sua eacutepoca e posteriores que atribuiacutea agrave ciecircncia o papel uacutenico de constataccedilatildeo dos fatos e pesquisa das leis e das relaccedilotildees entre os fatos Criou tambeacutem uma nova disciplina que chamou Fiacutesica Social ou Sociologia (termo por ele cunhado) Duas ideacuteias baacutesicas orientam o seu pensar os fenocircmenos sociais como os de caraacuteter fiacutesico tambeacutem obedecem a leis e todo conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico deve ter por finalidade o aperfeiccediloamento moral e poliacutetico do homem Quando procura conhecer fenocircmenos psicoloacutegicos o espiacuterito positivo deve visar agraves relaccedilotildees imutaacuteveis presentes neles - como quando trata de fenocircmenos fiacutesicos como o movimento ou a massa soacute assim conseguiria realmente explicaacute-los O espiacuterito positivo para Comte instaura as ciecircncias como investigaccedilatildeo do real do certo e indubitaacutevel do precisamente determinado e do uacutetil Nos domiacutenios do social e do poliacutetico o estaacutegio positivo do espiacuterito humano marcaraacute a passagem do poder espiritual para as matildeos dos saacutebios e cientistas e do poder material para o controle dos industriais Comte como forma de divulgar o conjunto do seu sistema e sua classificaccedilatildeo das ciecircncias publica as obras Curso de Filosofia Positiva (Cours de Philosophie Positive 1830-1842) e Discurso sobre o Espiacuterito Positivo (Discours sur lrsquoEsprit Positif 1844) (ABBAGNANO 2003 COMTE 1973) 66 Na classificaccedilatildeo proposta por Comte ao contraacuterio cada escala faz intervir um elemento irredutiacutevel nos precedentes Eacute assim que a Mecacircnica introduz a ideacuteia de movimento que natildeo estaacute incluiacuteda na noccedilatildeo das matemaacuteticas que se referem apenas agraves quantidades Do mesmo modo a Biologia introduz a ideacuteia de vida que nenhuma das ciecircncias precedentes comporta Comte acreditava num princiacutepio mais rigoroso que consistia em classificar as ciecircncias segundo sua complexidade crescente e a sua generalidade decrescente Princiacutepio vaacutelido que instaurou uma nova ordem das ciecircncias ainda que a relaccedilatildeo se tenha tornado anacrocircnica A Psicologia reduzida ao plano meramente bioloacutegico como o fez Comte natildeo considerou o psiquismo como um fenocircmeno especiacutefico

68

que a classificaccedilatildeo deve provir do proacuteprio estudo dos objetos a serem classificados

sendo determinada pelas afinidades reais do encadeamento natural apresentado por

eles (COMTE 1973 p 28) Com efeito Comte parte de um ponto de vista loacutegico o

ponto de vista do objeto a classificar Nessa primeira divisatildeo em seis ciecircncias

fundamentais a Matemaacutetica estaria na base do edifiacutecio cientiacutefico constituindo-se em

fundamento e instrumento das demais ciecircncias - instrumento sem o domiacutenio do qual

natildeo era possiacutevel ter acesso agraves demais cinco ciecircncias fundamentais - que seguiriam

uma hierarquia histoacuterica e dogmaacutetica cientiacutefica e loacutegica Matemaacutetica Astronomia

Fiacutesica Quiacutemica Biologia e Sociologia Segundo Comte (1973) as ciecircncias

classificam-se de acordo com a maior ou menor simplicidade de seus respectivos

objetos Satildeo a complexidade crescente e a generalidade decrescente que permitem

estabelecer a sua sequecircncia As Matemaacuteticas apresentam o maior grau de

generalidade e estudam a realidade mais simples e indeterminada A Astronomia

acrescenta a forccedila ao puramente quantitativo estudando as massas dotadas de

forccedila e atraccedilatildeo A Fiacutesica soma a qualidade ao quantitativo e agraves forccedilas ocupando-se

do calor da luz etc que seriam forccedilas qualitativamente diferentes A Quiacutemica trata

de mateacuterias qualitativamente distintas A Biologia ocupa-se dos fenocircmenos vitais

nos quais a mateacuteria bruta eacute enriquecida pela organizaccedilatildeo Finalmente a Sociologia

estuda a sociedade onde os seres vivos se unem por laccedilos independentes de seus

organismos Para Comte a totalizaccedilatildeo do saber somente poderia ser alcanccedilada por

meio da Sociologia Mais tarde acrescenta agrave sua classificaccedilatildeo a Moral que se

encarrega da doutrina e da conduta eacutetica Depois dessa estruturaccedilatildeo sucessiva das

ciecircncias passou a analisar cada uma desenvolvendo diferenccedilas e ligaccedilotildees entre

elas Pode-se dizer que aleacutem de elaborar uma classificaccedilatildeo pela qual se integravam

as ciecircncias da eacutepoca a grande particularidade da classificaccedilatildeo de Comte residia no

princiacutepio de coordenaccedilatildeo entre as ciecircncias Por exemplo as ciecircncias que tratam dos

corpos orgacircnicos apresentam-se coordenadas em Estrutura e Classificaccedilatildeo dos

seres vivos Fisiologia Vegetal e Fisiologia Animal enquanto as ciecircncias que tratam

dos corpos inorgacircnicos se mostram coordenadas em ciecircncias que se referem ao

fenocircmeno do Universo (Astronomia) ciecircncias que se referem ao fenocircmeno terrestre

(Fiacutesica) e ciecircncias que se referem ao fenocircmeno quiacutemico (Quiacutemica)

69

Sob outro ponto de vista Comte distingue duas espeacutecies de ciecircncias as

abstratas (fundamentais) ou gerais que estudam as leis que regem as diferentes

classes de fenocircmenos (independente dos seres concretos em que se realizam) e as

concretas (derivadas) particulares descritivas que consistem na aplicaccedilatildeo dessas

leis aos diferentes seres existentes considerados em sua complexidade concreta

Segundo Kedrov (1974 v 1 p 192) Comte parte das ciecircncias mais simples

fundamentais abstratas e independentes para as mais complexas dependentes e

derivadas (quadro 13)

CIEcircNCIAS ABSTRATAS FUNDAMENTAIS

1 2 3 4 5 6 7

Matemaacuteticas (Aritmeacutetica Geometria Aacutelgebra)

Astronomia (Geomeacutetrica Mecacircnica)

Fiacutesica (Termologia

Acuacutestica Oacutetica

Eletrocircnica)

Quiacutemica (Orgacircnica Inorgacircnica)

Biologia (Fisiologia)

Fiacutesica Social (Sociologia)

Moral (Filosofia)

CIEcircNCIAS CONCRETAS DERIVADAS

1 2 3 4 5 6 7

Engenharia Mecacircnica

Geologia Tecnologia Medicina Agricultura Botacircnica Zoologia

Antropologia

Sociologia Direito

Economia Poliacutetica Histoacuteria

Geografia Humana

Arqueologia

Psicologia Loacutegica Esteacutetica

Cosmologia Psicologia racional ou filosoacutefica Teologia racional

ou filosoacutefica

QUADRO 13 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE COMTE (1842) - FRANCcedilA FONTE a autora com base em Gopinath (2001 p 64) e Comte (1973 p 95-98)

Para facilitar o uso da sua foacutermula hieraacuterquica Comte (1973 p 97)

recomendava quando natildeo se tem necessidade duma grande precisatildeo enciclopeacutedica agrupar os termos dois a dois de maneira a reduzi-los a trecircs pares um inicial matemaacutetico-astronocircmico outro final bioloacutegico-socioloacutegico separados e reunidos pelo par intermediaacuterio fiacutesico-quiacutemico

70

Spencer67 retomou a distinccedilatildeo (ciecircncias abstratas e concretas) ao propor a

sua classificaccedilatildeo visando substituir a de Comte na qual se espelhou e a qual

criticou Segundo o princiacutepio do abstrato ao concreto dividiu todas as ciecircncias em

abstratas (Loacutegica formal e Matemaacutetica) que estudam as maneiras sob as quais os

fenocircmenos aparecem abstrato-concretas (Mecacircnica Fiacutesica e Quiacutemica) que

estudam os elementos dos fenocircmenos agrupados e da mesma natureza e

concretas (Astronomia Mineralogia Geologia Biologia Psicologia e Sociologia) que

estudam o conjunto dos fenocircmenos (quadro 14)

1 2 3 4 5

CIEcircNCIAS ABSTRATAS

Loacutegica (Filosofia)

CIEcircNCIAS ABSTRATAS Matemaacutetica

CIEcircNCIAS ABSTRATO-

CONCRETAS Mecacircnica

CIEcircNCIAS ABSTRATO-

CONCRETAS Fiacutesica

CIEcircNCIAS ABSTRATO-

CONCRETAS Quiacutemica

6 7 8 9 10

CIEcircNCIAS CONCRETAS

Astronomia

CIEcircNCIAS CONCRETAS

Mineralogia (Geologia)

CIEcircNCIAS CONCRETAS

Biologia

CIEcircNCIAS CONCRETAS

Psicologia

CIEcircNCIAS CONCRETAS

Sociologia

QUADRO 14 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE SPENCER (1864) - INGLATERRA FONTE a autora

Spencer estava preocupado natildeo somente em expor o elemento essencial de

todos os fenocircmenos a unidade de todos os modos de mateacuteria mas principalmente

em estabelecer relaccedilotildees entre esses elementos e as forccedilas que os produzem e

distinguem

67 Herbert Spencer (1820-1903) ) engenheiro e filoacutesofo socialista inglecircs profundo admirador da obra de Charles Darwin criou a expressatildeo sobrevivecircncia do mais apto e em sua obra procurou aplicar as leis da evoluccedilatildeo a todos os niacuteveis da atividade humana Eacute considerado o pai do darwinismo social e do positivismo evolucionista Antecipou-se a Darwin na formulaccedilatildeo do princiacutepio da seleccedilatildeo natural Com Spencer o evolucionismo daacute um salto quantitativo pois passa a ser aplicado a toda a natureza inclusive agrave formaccedilatildeo do cosmo O princiacutepio geral do evolucionismo eacute ldquoa funccedilatildeo cria o oacutergatildeordquo as necessidades ambientais e vitais forccedilam os seres vivos a adaptaccedilotildees oportunas criando oacutergatildeos adaptados a funccedilotildees que a luta pela vida exige As leis da evoluccedilatildeo aplicam-se tambeacutem agrave vida psiacutequica dos homens ciecircncia moral leis e religiatildeo resultam de necessidades vitais como a luta pela vida e a adaptaccedilatildeo ao meio A vida social eacute governada pela mesma lei as civilizaccedilotildees primitivas foram evoluindo da poligamia politeiacutesmo e violecircncia para a monogamia monoteiacutesmo direito e organizaccedilatildeo culminando com a Arte e a Filosofia (ABBAGNANO 2003 p 777 MAZIP 2001 p 289) A ideacuteia de uma sequecircncia evolucionaacuteria para a classificaccedilatildeo das ciecircncias eacute exposta como resultado de seus estudos de classificaccedilatildeo na obra The Classification of Science de 1864 (HUCKABY 1972)

71

Harris68 profundo admirador de Francis Bacon em 1870 inverte e amplia as

divisotildees da classificaccedilatildeo de Bacon e suas sequecircncias adaptando-as ao seu esquema

de classificaccedilatildeo com notaccedilatildeo usado para a organizaccedilatildeo do cataacutelogo e dos livros da St

Louis Public Library School Esse esquema era conhecido como Baconiano Inverso ou

Baconiano Invertido e tinha como classes principais as assinaladas no quadro 15

FACULDADES MENTAIS

RAZAtildeO IMAGINACcedilAtildeO MEMOacuteRIA

Classes

Ciecircncia Arte Histoacuteria

Filosofia Belas Artes Geografia e Viagens

Religiatildeo Poesia Histoacuteria Civil

Ciecircncias Sociais e Poliacuteticas Ficccedilatildeo Biografia

Ciecircncias Naturais e Aplicadas Miscelacircnea Literaacuteria Miscelacircnea

QUADRO 15 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HARRIS (1870) - ESTADOS UNIDOS FONTE a autora

Wundt69 simplificou a classificaccedilatildeo de Spencer reduzindo-a a dois grupos

apenas o das ciecircncias formais (ciecircncias puras - que atendem aos caracteres formais

dos objetos) e o das ciecircncias reais (que satildeo da experiecircncia - subdivididas em ciecircncias

da natureza e ciecircncias do espiacuterito em que as fenomenoloacutegicas estudam os fenocircmenos

os processos as sistemaacuteticas tratam dos objetos e as geneacuteticas oriundas dos grupos

anteriores examinam as relaccedilotildees entre os processos e os objetos e se encarregam da

pesquisa) A sua divisatildeo das ciecircncias eacute semelhante agrave de Spencer (ciecircncias abstratas e

68 William Torrey Harris (1835-1909) filoacutesofo e educador que revolucionou a educaccedilatildeo americana com os seus escritos e por seu proacuteprio exemplo como administrador escolar Era superintendente do sistema escolar puacuteblico de St Louis - o primeiro sistema no paiacutes a experienciar a ideacuteia de educaccedilatildeo como meio de alcanccedilar o progresso social e moral da civilizaccedilatildeo (MAZIP 2001) Harris pode ser considerado um iluminista julgava que a razatildeo era capaz de eliminar as causas da infelicidade e da miseacuteria por meio da lei da educaccedilatildeo e do progresso material 69 Para Wilhelm Max Wundt (1832-1920) meacutedico filoacutesofo e psicoacutelogo positivista alematildeo considerado como fundador da Psicologia Experimental com seus estudos sobre os conteuacutedos mentais tanto pela experimentaccedilatildeo quanto pela auto-observaccedilatildeo a classificaccedilatildeo das ciecircncias constituiacutea-se no problema central da Filosofia das ciecircncias Acreditava que a vida mental era fruto da experiecircncia e natildeo de ideacuteas inatas e que os fenocircmenos mentais do presente se baseavam em experiecircncias passadas antecipando de certa forma o construtivismo Deu o primeiro curso de Psicologia Cientiacutefica (1862) disciplina ateacute entatildeo considerada um ramo da Filosofia e por isso guiada pela anaacutelise racional Escreveu a obra System der Philosophie (1889) na qual apresentou a sua divisatildeo das ciecircncias e procurou definir para a Psicologia um lugar como disciplina independente e capaz de estabelecer ligaccedilatildeo entre as ciecircncias naturais e as sociais (SANTOS 1964)

72

concretas) e na subdivisatildeo eacute semelhante agrave de Ampegravere (ciecircncias da natureza e do

espiacuterito) Como se pode observar no quadro 16 Wundt introduziu na sua divisatildeo das

ciecircncias (ciecircncias puras e ciecircncias experimentais) outras dicotomias (ciecircncias da

natureza e ciecircncias do espiacuterito) para subdividir os grupos principais das ciecircncias

CIEcircNCIAS FORMAIS CIEcircNCIAS REAIS

PURAS (tratam de relaccedilotildees abstratas)

EXPERIMENTAIS (tratam de relaccedilotildees concretas)

(Loacutegica)

Matemaacuteticas

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

CIEcircNCIAS DO ESPIacuteRITO

FENOMENOLOacuteGICAS Fiacutesica Quiacutemica Biologia Astrofiacutesica Geofiacutesica Fisiologia

FENOMENOLOacuteGICAS Psicologia

GENEacuteTICAS Cosmologia Geologia Embriologia Filogecircnese

GENEacuteTICAS Histoacuteria

SISTEMAacuteTICAS Astronomia Geografia Histoacuteria Natural Mineralogia Zoologia Botacircnica

SISTEMAacuteTICAS Direito Economia Poliacutetica

QUADRO 16 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE WUNDT (1889) - ALEMANHA FONTE a autora com base em Vickery (1975 p 176-177)

Wundt tratou a Ciecircncia e a Filosofia como conhecimentos totalmente

separados Dividiu a Filosofia em Doutrina do Conhecimento e Doutrina dos

Princiacutepios (subdividida em Metafiacutesica geral e Metafiacutesica especial) Torna a subdividir

a Metafiacutesica especial em Filosofia da Natureza70 e Filosofia do Espiacuterito Wundt 70 De acordo com Wundt somente eacute adequado atribuir o termo Metafiacutesica Especial ao estudo da natureza quando essa for vista apenas sob o ponto de vista metafiacutesico Mas quando for vista nos demais aspectos poderaacute ser uma Filosofia da Natureza mas natildeo mais uma Metafiacutesica Especial (ENCICLOPEacuteDIA SIMPOZIO Versatildeo em portuguecircs do original em esperanto Copyright 1997 Cap 2 Divisatildeo e classificaccedilatildeo das ciecircncias 2211y349 sect 4 Gecircneros de ciecircncias naturais morais e similares n 398 A classificaccedilatildeo das ciecircncias de Wundt Disponiacutevel em lthttpwwwsimpozioufscbr Framehtmgt Acesso em 10 jan 2008)

73

retoma assim na divisatildeo Metafiacutesica geral e Metafiacutesica especial uma classificaccedilatildeo

que vinha de Wolff e na divisatildeo Filosofia da natureza e Filosofia do espiacuterito uma

divisatildeo prevista por Ampegravere

A distinccedilatildeo entre ciecircncias formais (ciecircncias que contecircm asserccedilotildees analiacuteticas)

e ciecircncias reais ou factuais (ciecircncias que contecircm asserccedilotildees sinteacuteticas) eacute ainda

largamente aceita pois como interpreta Carnap (WIENER 1953 p 128) essa

classificaccedilatildeo deixa intacta a unidade da ciecircncia pois as ciecircncias formais natildeo tecircm

absolutamente objeto satildeo sistemas de asserccedilotildees auxiliares sem objeto e sem

conteuacutedo Essas palavras de Carnap explicam-se tendo em mente que natildeo se pode

dar hoje um caraacuteter absoluto ou rigoroso agrave distinccedilatildeo entre as vaacuterias ciecircncias pois

toda divisatildeo das ciecircncias natildeo eacute definitiva atende soacute a uma necessidade praacutetica e

portanto provisoacuteria ou seja depende do estado atual de desenvolvimento das

disciplinas isoladas Frequentemente os maiores avanccedilos estatildeo na interseccedilatildeo de

aacutereas ateacute entatildeo tratadas separadamente Essas classificaccedilotildees das ciecircncias

aparecem como resposta agrave constituiccedilatildeo de novos ramos fundamentais do

conhecimento cientiacutefico como a Biologia e as primeiras ciecircncias pode-se dizer

verdadeiramente humanas a Sociologia (em Comte e Spencer) e a Psicologia (em

Comte Spencer e Wundt)

No final do seacuteculo XIX sob o princiacutepio geral do materialismo dialeacutetico

propondo uma utilizaccedilatildeo materialista do princiacutepio de subordinaccedilatildeo das ciecircncias

acontece a contribuiccedilatildeo de Friedrich Engels (1820-1895) e Karl Marx (1818-1883)

para a classificaccedilatildeo das ciecircncias

Para Marx (1976 p 100-101) a produccedilatildeo de ideacuteias das representaccedilotildees e da

consciecircncia estaacute diretamente ligada agrave atividade material (as suas categorias natildeo satildeo

mais que a expressatildeo teoacuterica das relaccedilotildees de produccedilatildeo) Os sentidos proporcionam

um conhecimento imediato e objetivo das coisas mas a validade do conhecimento

consiste na sua utilidade O conhecimento tem valor enquanto possibilita agir A

accedilatildeo ou praacutexis eacute anterior ao conhecimento ou teoria e soacute seraacute plena quando virar

74

atividade transformadora do meio social Sob essa oacutetica criou o meacutetodo dialeacutetico71

cientiacutefico aplicaacutevel tambeacutem ao problema da classificaccedilatildeo das ciecircncias pois as leis

fundamentais da dialeacutetica materialista atuam em todos os setores da vida (MAZIP

2001 p 279) Marx construiu um sistema geral de conhecimentos embasado na

ideacuteia de desenvolvimento do mundo seguindo uma ordem de subordinaccedilatildeo das

ciecircncias 1) ldquociecircncias naturaisrdquo depois a relaccedilatildeo do homem com a natureza o

trabalho do trabalho industrial surge a teacutecnica e a tecnologia a que correspondem

2) ldquociecircncias teacutecnicasrdquo aiacute entram as forccedilas produtivas da sociedade de base

econocircmica gerando 3) ldquociecircncias econocircmicasrdquo a partir das quais aparecem os ramos

da superestrutura ideoloacutegica da sociedade tais como a superestrutura poliacutetica

juriacutedica e outras A Filosofia ocupa um lugar agrave parte ao encarregar-se das leis do

pensamento e das leis do mundo

As novas formulaccedilotildees teoacutericas a respeito das classificaccedilotildees das ciecircncias iratildeo

determinar as modernas classificaccedilotildees bibliograacuteficas que surgem no final do seacuteculo

XIX princiacutepio do seacuteculo XX como seraacute enfocado na seccedilatildeo 472

No seacuteculo XX o problema da classificaccedilatildeo das ciecircncias ao mesmo tempo em

que perde o estatuto de centralidade no interior da Filosofia das Ciecircncias faz

emergir uma preocupaccedilatildeo com niacuteveis de realidade

Muitos filoacutesofos atraveacutes do tempo tecircm apontado que a realidade eacute

estruturada em uma seacuterie de niacuteveis integrados tais como o fiacutesico o bioloacutegico o

71 A dialeacutetica que aparece no pensamento de Marx surge como uma tentativa de superaccedilatildeo da dicotomia da separaccedilatildeo entre o sujeito e o objeto No entanto a dialeacutetica surgiu na histoacuteria do pensamento humano muito antes de Marx Em suas primeiras versotildees a dialeacutetica foi entendida ainda na Greacutecia antiga como a arte do diaacutelogo a arte de conversar Soacutecrates emprega esse conceito para desenvolver a sua filosofia Platatildeo utiliza abundantemente a dialeacutetica em seus diaacutelogos A verdade eacute atingida pela relaccedilatildeo de diaacutelogo que pressupotildee minimamente duas instacircncias mas ateacute aqui o diaacutelogo acontece sob um princiacutepio de identidade entre os iguais Poreacutem segundo Mazip (2001) eacute a dialeacutetica de Marx construccedilatildeo loacutegica do meacutetodo materialista histoacuterico que fundamenta o pensamento marxista como possibilidade teoacuterica (instrumento loacutegico) de interpretaccedilatildeo da realidade visatildeo de mundo e praacutexis Na busca de um caminho epistemoloacutegico ou de um caminho que fundamentasse o conhecimento para a interpretaccedilatildeo da realidade histoacuterica e social que o desafiava Marx conferiu agrave dialeacutetica um caraacuteter materialista e histoacuterico Para o materialismo dialeacutetico-marxista as ideacuteias devem ser compreendidas dentro de um contexto histoacuterico vivido pela comunidade dos seres humanos 72 A tiacutetulo de esclarecimento pois natildeo faz parte desta anaacutelise conveacutem dizer que a concepccedilatildeo marxista das ciecircncias acarretaraacute no seacuteculo XX a proposta de classificaccedilatildeo das ciecircncias de Vladimir Ylyich Ulianov vulgo Lenin (1870-1924) que culminaraacute com a Classificaccedilatildeo Bibliograacutefica da antiga Uniatildeo Sovieacutetica (URRS) a Bibliograficeskaja i Biblioteknaja Klassifikacija (BBK) aprovada em 1959 uma das grandes classificaccedilotildees bibliograacuteficas gerais que aleacutem de ser o sistema nacional russo de classificaccedilatildeo difundiu-se pelos antigos paiacuteses socialistas (SAN SEGUNDO MANUEL 1996)

75

mental e o cultural e que cada niacutevel funciona como uma base para o aparecimento

ou a emergecircncia de niacuteveis mais complexos Teorias73 mais detalhadas de niacuteveis

foram desenvolvidas por Nicolai Hartmann74 e James K Feibleman (quadro 17) as

quais tecircm sido consideradas como uma fonte para estruturar princiacutepios em

classificaccedilotildees bibliograacuteficas pelo Classification Research Group (CRG)75 e por

Ingetraut Dahlberg (GNOLI POLI 2004)

N HARTMANN N HARTMANN J K FEIBLEMAN

OBJETOS GERAIS - GENERAL OBJECTS

Inorgacircnico Mateacuteria e Energia Cosmos e Terra

Fiacutesico-Quiacutemico

Orgacircnico Seres vivos (plantas animais)

Bioloacutegico

Psiacutequico Seres vivos (homem)

Psicoloacutegico

Intelectual Organizaccedilatildeo dos seres vivos (sociedade)

Antropoloacutegico

QUADRO 17 - NIacuteVEIS DE OBJETOS GERAIS DE ACORDO COM HARTMANN E FEIBLEMAN FONTE Gopinath (2001 p 57)

73 Tecircm a funccedilatildeo de auxiliar o movimento do pensar sobre as entidades do mundo e de suas relaccedilotildees 74 Filoacutesofo contemporacircneo que na obra Elementos de uma Metafiacutesica do Conhecimento de 1921 ressalta como o conhecimento natildeo cria o seu objeto mas eacute uma relaccedilatildeo entre seres que preacute-existem independentemente dessa relaccedilatildeo Para N Hartmann o problema do conhecimento supotildee e implica um problema do ser Ao estudo desse problema consagrou o trabalho Os Fundamentos da Ontologia de 1935 75 O CRG (para a histoacuteria da criaccedilatildeo do CRG cf FOSKETT D J The Classification Research Group 1952-1962 Libri Munchen v 12 n 2 p 127-138 1962) formado no Reino Unido em 1952 tem sido um dos contribuintes mais significativos agrave teoria e pesquisa da classificaccedilatildeo a partir da uacuteltima metade do seacuteculo XX O trabalho teoacuterico do Grupo envolve o estudo da anaacutelise por facetas operadores relacionais e a teoria dos niacuteveis integrativos (base de um novo enfoque para a classificaccedilatildeo) O CRG opocircs agrave abordagem tradicional [top-down] de cima para baixo da classificaccedilatildeo na qual aacutereas do conhecimento satildeo predeterminadas e estatildeo subdivididas em seus elementos constituintes uma abordagem [bottom-up] de baixo para cima para a classificaccedilatildeo na qual primeiramente juntam-se os elementos individuais (os conceitos) para entatildeo determinar as aacutereas de conhecimento que lhes datildeo forma (AUSTIN 1969a SPITERI 1995)

76

Gopinath (2001 p 58) sugere adotar a anaacutelise de niacuteveis (fiacutesico bioloacutegico

psicoloacutegico e antropoloacutegico) e sua possiacutevel aplicaccedilatildeo a um esquema e classificaccedilatildeo

geral embasados nos fenocircmenos76 e natildeo nas disciplinas (como formulado

primeiramente por Derek Austin em 1969 e examinado em detalhes pelo CRG que

aponta tanto benefiacutecios como problemas na aplicaccedilatildeo da teoria dos niacuteveis

integrativos para classificaccedilotildees bibliograacuteficas77) pois de acordo com o autor haacute

duas espeacutecies de realidade uma delas estabelecida pelos niacuteveis dos seres (fiacutesico

bioloacutegico) incluindo o homem e uma outra estabelecida pelos niacuteveis (psicoloacutegico

antropoloacutegico) que o homem cria atraveacutes da sua necessidade inata de interagir com

o ser em todas as formas e maneiras Assim os elementos dos conceitos

constituiacutedos por essas duas realidades fundamentais satildeo produtos da mente

(subjetiva) e produtos da forma (concreta) Na maioria das vezes os conceitos satildeo a

mescla de ambos sendo que a forma na visatildeo de Gopinath eacute dominante na

capacidade para categorizar todo conceito

76 Fenocircmeno o mesmo que aparecircncia Nesse sentido o fenocircmeno eacute a aparecircncia sensiacutevel que se contrapotildee agrave realidade podendo ser considerado manifestaccedilatildeo desta ou que se contrapotildee ao fato do qual pode ser considerado idecircntico Eacute esse o sentido que essa palavra normalmente assume na linguagem comum sendo tambeacutem o significado encontrado em Bacon Descartes Leibniz Hobbes A partir de Husserl fenocircmeno comeccedilou a indicar natildeo soacute o que aparece ou se manifesta ao homem em condiccedilotildees particulares mas tambeacutem aquilo que aparece ou se manifesta em si mesmo como eacute em si na sua essecircncia (ABBAGNANO 2003 p 436-437 LALANDE 19-- p 467) Para Kant fenocircmeno eacute tudo o que eacute ldquopossiacutevel objeto de experiecircnciardquo tudo que aparece no tempo ou no espaccedilo e que manifesta as relaccedilotildees determinadas pelas categorias 77 Derek Austin (1969b) tenta precisar as origens da teoria dos niacuteveis integrativos mencionando que elas poderiam estar tanto no Positivismo de Comte (cf subseccedilatildeo 313) quanto nos Primeiros Princiacutepios de Herbert Spencer (cf subseccedilatildeo 313) Nos anos 30 do seacuteculo XX o bioquiacutemico Joseph Needham introduziu a teoria dos niacuteveis integrativos nas suas conferecircncias e embora fossem conhecidas vaacuterias interpretaccedilotildees da teoria (como a de A B Novikoff e a de H Spencer) o CRG decidiu adotar a de Needham e a de Feibleman (FEIBLEMAN 1965 1985) O CRG interpretou a teoria baseando-se na ideacuteia de que o mundo das coisas desenvolve-se do simples para o complexo pela acumulaccedilatildeo de propriedades novas e divergentes e que ateacute certo ponto ocorrem mudanccedilas que transformam a lsquoentidadersquo de um membro de um grupo ou classe em um membro de um grupo novo A nova entidade passa a ter propriedades caracteriacutesticas do novo niacutevel de organizaccedilatildeo e a se comportar de uma maneira completamente nova (FOSKETT D J 1962 p 136) D J Foskett (1978) utilizando o exemplo de uma bicicleta afirma que ela eacute mais do que um mero amontoado de peccedilas (seacuterie de partes) de accedilo borracha etc porque quando os elementos satildeo reunidos em um determinado conjunto de conexotildees uma nova entidade emerge O que parece existir por traacutes da noccedilatildeo de niacuteveis integrativos eacute a ideacuteia de que as entidades se desenvolvem do simples ao complexo por acreacutescimo de propriedades que em certo ponto transformaratildeo a entidade velha em um objeto novo com novas propriedades (HUCKABY 1972 p 99) De algum modo essa teoria advoga um desenvolvimento evolucionaacuterio das entidades (ver nota 67) A diferenccedila estaacute na ordem proposta pelos niacuteveis integrativos e aquela sugerida no seacuteculo XIX por Comte e Spencer a primeira eacute construiacuteda sobre uma ordenaccedilatildeo ascendente das entidades enquanto que a uacuteltima eacute construiacuteda sobre uma ordenaccedilatildeo descendente Na teoria dos niacuteveis integrativos determina-se o que uma entidade eacute somente a partir da construccedilatildeo ou desenvolvimento de suas partes

77

As categorias tecircm uma habilidade ou capacidade estruturante - elas natildeo

somente elaboram toda a estrutura das unidades de conhecimento mas tambeacutem

fornecem ao mesmo tempo o esqueleto os muacutesculos e tendotildees para essa

estrutura (GOPINATH 2001 p 58)

Quando novos ou mais niacuteveis ontoloacutegicos satildeo acrescentados ao estudo

Gopinath (2001 p 57-59) refere-se em especial aos quatro niacuteveis de objetos gerais

(fiacutesico bioloacutegico psicoloacutegico e antropoloacutegico) que se combinam (tecircm em comum) no

fato de que somente uma parte de todas as coisas se manifesta na realidade (outra

parte permanece encoberta) e estes niacuteveis podem ser suplementados em ambas as

direccedilotildees Em direccedilatildeo ao topo ou seja agrave ldquomateacuteriardquo e ldquoenergiardquo as quais podem ser

consideradas como objetos derivados do niacutevel ldquocosmosrdquo e especialmente ldquoterrardquo

onde se pode reconhecer uma realidade outra isto eacute a existecircncia de um niacutevel de

ldquoformas e estruturasrdquo que precedem o niacutevel inorgacircnico-fiacutesico e em direccedilatildeo agrave base

ou seja ao espiacuterito pois o homem tambeacutem reconhece niacutevel sem objeto material

algum contendo as chamadas realidades invisiacuteveis do espiacuterito (quadro 18)

NIacuteVEIS AacuteREAS DE CONHECIMENTO OBJETOS GERAIS InorgacircnicoFiacutesico Matemaacutetica Formas puras e proporccedilotildees

(formas e dimensotildees dos objetos matemaacuteticos)

InorgacircnicoFiacutesico Fiacutesico-Quiacutemica

Mateacuteria pura e Energia (aacutetomos compostos forccedilas)

Mateacuteria agregada em movimento (corpos coacutesmicos terra)

OrgacircnicoBioloacutegico Bioloacutegica Seres animados seres natildeo-inteligentes (micro-organismos plantas animais)

PsiacutequicoPsicoloacutegico Psicoloacutegica

Seres animados seres inteligentes (seres individuais)

IntelectualAntropoloacutegico Antropoloacutegica Seres inteligentes ldquoagregadosrdquo (sociedades humanas)

Produtos materiais (o que eacute produzido ou fabricado o que se destina a ser vendido aos consumidores produccedilatildeo de bens e de serviccedilos) Produtos intelectuais (ciecircncia informaccedilatildeo documentos notiacutecias)

EspiritualAntropoloacutegico Antropoloacutegica Produtos espirituais (linguagem trabalhos artiacutesticos e metafiacutesicos)

QUADRO 18 - NIacuteVEIS DE OBJETOS GERAIS DE ACORDO COM GOPINATH FONTE a autora com base em Gopinath (2001 p 57)

Qualquer divisatildeo das ciecircncias natildeo eacute definitiva mas provisoacuteria qualquer

classificaccedilatildeo depende da fase atual de desenvolvimento de cada disciplina cujos

78

avanccedilos muitas vezes tecircm se originado da soluccedilatildeo de problemas que se encontram

nas fronteiras entre aacutereas ateacute entatildeo tratadas separadamente

Eacute possiacutevel afirmar que tanto os filoacutesofos como qualquer pessoa necessitam

classificar - eacute da natureza humana classificar - pois a vida gira em torno de sistemas

de classificaccedilatildeo ou seja diante da complexidade dos objetos a variedade de

sistemas se mostra natildeo como prejuiacutezo mas como ganho Todos gastam grande

parte dos seus dias fazendo algum trabalho de classificaccedilatildeo e usando uma seacuterie de

classificaccedilotildees ad hoc (dadas para um propoacutesito particular) Separa-se a louccedila suja

da limpa a roupa para lavar branca da de cor a correspondecircncia importante para

ser respondida das banais e assim por diante Qualquer parte da casa escola ou

trabalho revela algum sistema de classificaccedilatildeo que estaacute embutido numa sequecircncia

de tarefas cotidianas e praacuteticas Quando se precisa armazenar ou recuperar algo a

ordem se impotildee (BOWKER STAR 2000)

Nas subseccedilotildees 314 e 33 o conceito de classe nas classificaccedilotildees filosoacuteficas

dos saberes seraacute sintetizado a fim de contribuir para o entendimento de classe para

as classificaccedilotildees bibliograacuteficas chamadas ldquoclaacutessicasrdquo ou ldquotradicionaisrdquo

314 Quadros-Siacutentese das Classificaccedilotildees Filosoacuteficas dos Saberes Tanto os princiacutepios que embasaram as classtificaccedilotildees filosoacuteficas dos saberes

(quadro 19) quanto as proacuteprias classificaccedilotildees dos saberes das ciecircncias (quadros 20 e

21) dividindo o conhecimento em disciplinas ou aacutereas de estudo refletem a trajetoacuteria do

pensamento filosoacutefico e parecem indicar que a humanidade teraacute que enfrentar e resolver

questotildees fundamentais em diversas aacutereas do conhecimento (Astronomia Filosofia

Psicologia Sociologia Medicina Antropologia Geneacutetica entre outras) e sob diversos

princiacutepios nos proacuteximos anos do seacuteculo XXI a respeito do homem (Como surgiu Quais

satildeo seus antepassados Qual o princiacutepio unificador do gecircnero humano) e de seus

atributos razatildeo (Como funciona o ceacuterebro) linguagem (Qual eacute o mecanismo da

comunicaccedilatildeo humana) psicologia (O inconsciente humano existe) sociedade (Como

conseguir a subsistecircncia da sociedade no tempo) poliacutetica (Qual eacute o modelo de

representaccedilatildeo ideal) espiritualidade (Qual eacute a essecircncia do homem) eacutetica (Quais satildeo

os paracircmetros que devem reger as accedilotildees humanas) liberdade e privacidade (Como

sobreviver mentalmente e garantir a individualidade num mundo de apelos pressotildees e

chantagens automatizado e controlador) e a respeito do universo (Como comeccedilou e

quanto tempo duraraacute Existem outros modos de vida no universo)

79

PERIacuteODO FILOacuteSOFO PRINCIacutePIOS

Seacutec IV aC Platatildeo Triacuteplice divisatildeo com base no platonismo teoria das ideacuteias e dos nuacutemeros (mente matemaacutetica) o Mito da Caverna como concepccedilatildeo de conhecimento preocupaccedilatildeo eacutetica (poliacutetica e esteacutetica) e discurso ou saber demonstrativo - Princiacutepio subjetivo o fim a que as ciecircncias se propotildeem

Seacutec IV aC Aristoacuteteles Triacuteplice divisatildeo com base nas trecircs operaccedilotildees a que se dedicam os homens Pensar Agir e Produzir- Princiacutepio subjetivo o homem e suas operaccedilotildees e o fim a que as ciecircncias se propotildeem

Seacutec VI Cassiodoro Trivium e Quatrivium (sete artes liberais) com base nas Palavras e nas Coisas- Princiacutepio objetivo a natureza

1266 R Bacon Quaacutedrupla divisatildeo influenciada pelas classificaccedilotildees escolaacutesticas (derivadas de Aristoacuteteles) e pela divisatildeo triacuteplice estoacuteica e epicurista - Princiacutepio objetivo a natureza

1575 Huarte Triacuteplice divisatildeo com base nas (trecircs) faculdades humanas mobilizadas na aquisiccedilatildeo de conhecimento Memoacuteria Razatildeo Imaginaccedilatildeo (o entendimento humano eacute o princiacutepio organizador da estrutura do conhecimento) - Princiacutepio subjetivo o homem e suas capacidades

1605 F Bacon Triacuteplice divisatildeo com base nas (trecircs) faculdades humanas mobilizadas na aquisiccedilatildeo de conhecimento Memoacuteria Imaginaccedilatildeo Razatildeo (o entendimento humano eacute o princiacutepio organizador da estrutura do conhecimento e a classificaccedilatildeo eacute construiacuteda sobre asserccedilotildees epistemoloacutegicas subjetivas e racionais que derivaram de uma visatildeo de mundo que via o homem como o centro do universo) - Princiacutepio subjetivo o homem e suas capacidades

1647 Descartes Triacuteplice divisatildeo com base no grau de sabedoria ou clareza de ideacuteias que o homem pode atingir em cada ciecircncia (raiz tronco galhos) - Princiacutepio subjetivo o homem e suas capacidades

1651 Hobbes Classificaccedilatildeo embasada no materialismo mecanicista- Princiacutepio objetivo parte do conhecimento sensiacutevel ao abstrato dos fatos concretos agrave teoria - Princiacutepio subjetivo sequecircncia do natural ao civil

1690 Locke Classificaccedilatildeo embasada no empirismo a experiecircncia como fonte de conhecimento que depois se desenvolve pelo esforccedilo da razatildeo - Suplanta o princiacutepio das capacidades humanas e divide as ciecircncias segundo seu objeto em reais e ideais

1701 Leibniz Classificaccedilatildeo com base na Fiacutesica Teoacuterica aristoteacutelica- Princiacutepio objetivo classes aparecem como cacircnone das disciplinas do conhecimento

1751 Diderot e drsquoAlembert

Triacuteplice divisatildeo com base nas (trecircs) faculdades humanas mobilizadas na aquisiccedilatildeo de conhecimento Memoacuteria Razatildeo Imaginaccedilatildeo (Classificaccedilatildeo baconiana invertida o entendimento humano eacute o princiacutepio organizador da estrutura do conhecimento) - Princiacutepio subjetivo o homem e suas capacidades

1817 Hegel Triacuteplice divisatildeo com base na Loacutegica Dialeacutetica A classificaccedilatildeo emana do espiacuterito criador da natureza- Princiacutepio subjetivo a siacutentese dos opostos

1834 Ampegravere Classificaccedilatildeo dicotocircmica embasada nos reinos da natureza e do espiacuterito- Princiacutepio subjetivo a oposiccedilatildeo - Princiacutepio objetivo divide as ciecircncias de acordo com a natureza do seu objeto em ciecircncias da natureza e ciecircncias do espiacuterito

1842 Comte Triacuteplice divisatildeo com base na classificaccedilatildeo dos fenocircmenos e na ordem histoacuterica da sua constituiccedilatildeo e progressiva diferenciaccedilatildeo- Principio objetivo fundamental de coordenaccedilatildeo parte das ciecircncias mais simples fundamentais para as mais complexas e derivadas

1864 Spencer Triacuteplice divisatildeo com base na classificaccedilatildeo dos fenocircmenos- Princiacutepio objetivo fundamental de coordenaccedilatildeo parte das ciecircncias abstratas para as concretas

1889 Wundt Classificaccedilatildeo com base na distinccedilatildeo entre ciecircncias formais e ciecircncias reais Como as ciecircncias formais natildeo tecircm objeto (satildeo sistemas de asserccedilotildees auxiliares sem objeto e sem conteuacutedo) essa classificaccedilatildeo deixa intacta a unidade da ciecircncia - Princiacutepio objetivo fundamental de coordenaccedilatildeo do abstrato ao concreto

QUADRO 19 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES FONTE a autora

80

PERIacuteODO FILOacuteSOFO DIVISAtildeO DAS CIEcircNCIAS Seacuteculo IV aC

Platatildeo 427-347 aC

Fiacutesica Eacutetica Loacutegica

Seacuteculo IV aC

Aristoacuteteles 384-322 aC

Filosofia Teoacuterica ou Especulativa Teologia Fiacutesica Matemaacutetica Filosofia Praacutetica Eacutetica Economia Poliacutetica Filosofia Poieacutetica ou Produtiva Dialeacutetica Retoacuterica Poeacutetica Medicina Ginaacutestica Gramaacutetica (aqui encontra-se a Filologia em sua acepccedilatildeo mais geral como destinada a estudar e perpetuar atraveacutes das manifestaccedilotildees linguiacutesticas dos autores claacutessicos o grego pois falado por pessoas incultas acreditavam que tendia a corromper-se) Muacutesica

Seacuteculo VI

Cassiodoro 485-580

Trivium Ciecircncias Sermoniais Gramaacutetica (Filologia como um problema filosoacutefico da origem da linguagem Em Roma a Gramaacutetica continua a integrar a Filosofia e os filoacutelogos exercem a criacutetica literaacuteria) Dialeacutetica (Loacutegica) Retoacuterica Quatrivium Ciecircncias Reais Geometria Aritmeacutetica Astronomia Muacutesica

Seacuteculo XIII (1266)

R Bacon 1214-1294

Fiacutesica Oacutetica Astronomia Alquimia Agricultura Medicina Ciecircncias Experimentais Filologia Gramaacutetica Loacutegica Retoacuterica Matemaacuteticas Aritmeacutetica Geometria Mecacircnica Muacutesica Arquitetura Eacutetica Metafiacutesica Teologia Moral

Seacuteculo XVI (1575)

Huarte 1529-1591

Artes e Ciecircncias da Memoacuteria Histoacuteria (Histoacuteria Natural Histoacuteria Civil) Artes e Ciecircncias da Razatildeo Filosofia Artes e Ciecircncias da Imaginaccedilatildeo Poesia (Narrativa Dramaacutetica Paraboacutelica)

Seacuteculo XVII (1605)

F Bacon 1561-1626

Ciecircncias da Memoacuteria Histoacuteria (Histoacuteria Natural Histoacuteria Civil) Geografia Ciecircncias da Imaginaccedilatildeo Poesia (Narrativa Dramaacutetica Paraboacutelica) Belas Artes Ciecircncias da Razatildeo Filosofia (Divina = Teologia Natural Humana) Matemaacutetica

Seacuteculo XVII (1647)

Descartes 1596-1650

Metafiacutesica (Teologia) Fiacutesica (Matemaacuteticas) Mecacircnica Medicina Moral

Seacuteculo XVII (1651)

Hobbes 1588-1679

Histoacuteria Histoacuteria Natural Histoacuteria Civil Filosofia Filosofia Natural Filosofia Civil Filosofia Mecacircnica (Filosofia Primeira Matemaacuteticas Aritmeacutetica Geometria Astronomia Geografia) Fiacutesica Meteorologia Astrologia Mineralogia Botacircnica Zoologia Oacutetica Muacutesica Poesia Retoacuterica Loacutegica Eacutetica Esteacutetica Poliacutetica

Seacuteculo XVII (1690)

Locke 1632-1704

Ciecircncias Reais Naturais Fiacutesica Filosofia Natural Quiacutemica Teologia Natural Biologia (Medicina) Metafiacutesicas Filosofia Teologia Ciecircncias Ideais Praacuteticas Matemaacutetica Eacutetica ou Filosofia Praacutetica (Artes Mecacircnicas Belas Artes) Semioacuteticas Loacutegica Linguiacutestica Gecircnero de Vida (similar a Antropologia)

QUADRO 20 - DIVISAtildeO DAS CIEcircNCIAS NAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES continua

81

PERIacuteODO FILOacuteSOFO DIVISAtildeO DAS CIEcircNCIAS

Seacuteculo XVIII (1701)

Leibniz 1646-1716

Teologia Jurisprudecircncia Medicina Filosofia Matemaacutetica Fiacutesica Linguagem Histoacuteria

Seacuteculo XVIII (1751)

Diderot 1713-1784 drsquoAlembert 1717-1783

Histoacuteria (Sagrada Eclesiaacutestica Civil Natural) Filosofia (Metafiacutesica Geral Ciecircncia de Deus Ciecircncia dos Homens Ciecircncia Natural) Poesia (Narrativa Drama Alegorias)

Seacuteculo XIX (1817)

Hegel 1770-1831

Ciecircncias do Absoluto Ontologia Teologia Epistemologia Ciecircncias da Natureza Mecacircnica Fiacutesica Biologia Ciecircncias do Espiacuterito Subjetivas Psicologia Objetivas Histoacuteria Absolutas Arte Religiatildeo Filosofia (Direito Eacutetica)

Seacuteculo XIX (1834)

Ampegravere 1775-1836

Ciecircncias Cosmoloacutegicas Ciecircncias Matemaacuteticas Ciecircncias Fiacutesicas Ciecircncias Naturais Ciecircncias Meacutedicas Ciecircncias Nooloacutegicas Ciecircncias Filosoacuteficas Ciecircncias Nooteacutecnias Ciecircncias Etnoloacutegicas Ciecircncias Poliacuteticas

Seacuteculo XIX (1842)

Comte 1798-1857

Ciecircncias Abstratas Fundamentais Matemaacutetica (Aritmeacutetica Geometria Aacutelgebra) Astronomia (Geomeacutetrica Mecacircnica) Fiacutesica (Termologia Acuacutestica Oacutetica Eletrocircnica) Quiacutemica (Orgacircnica Inorgacircnica) Biologia (Fisiologia) Fiacutesica Social (similar agrave Sociologia) Moral Ciecircncias Concretas Derivadas Engenharias Mecacircnica Geologia Tecnologia Medicina Agricultura Botacircnica Zoologia Antropologia Sociologia Direito Economia Poliacutetica Histoacuteria Geografia humana Arqueologia Psicologia Loacutegica Esteacutetica Cosmologia racional ou filosoacutefica Psicologia racional ou filosoacutefica Teologia racional ou filosoacutefica

Seacuteculo XIX (1864)

Spencer 1820-1903

Ciecircncias Abstratas Loacutegica formal Matemaacutetica Ciecircncias Abstrato-concretas Mecacircnica Fiacutesica Quiacutemica Ciecircncias Concretas Astronomia Mineralogia (Geologia) Biologia Psicologia Sociologia

Seacuteculo XX (1889)

Wundt 1832-1920

Ciecircncias Formais Loacutegica Matemaacutetica Ciecircncias Reais Natureza Fenomenoloacutegicas Fiacutesica Quiacutemica Biologia Geneacuteticas Cosmologia Geologia Embriologia Filogecircnese Sistemaacuteticas Astronomia Geografia Histoacuteria Natural (ZoolBot) Espiacuterito Fenomenoloacutegicas Psicologia Geneacuteticas Histoacuteria Sistemaacuteticas Direito Economia Poliacutetica

QUADRO 20 - DIVISAtildeO DAS CIEcircNCIAS NAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES conclusatildeo

FONTE a autora

82

IV aC IV aC VI XIII XVI XVII XVII XVII XVII XVII XVIII XIX XIX XIX XIX XX Platatildeo

Aristoacuteteles Cassiodoro

R Bacon (1266)

Huarte (1575)

F Bacon(1605)

Descartes(1647)

Hobbes(1651)

Locke(1690)

Leibniz (1701)

Diderot edrsquoAlembert (1751)

Hegel(1817)

Ampeacutere(1834)

Comte(1842)

Spencer (1864)

Wundt (1889)

C TEOacuteRICAS TRIVIUM TRIVIUM MEMOacuteRIA MEMOacuteRIA FATOS REAIS

TEOacuteRICAS MEMOacuteRIA ABSOLUTO ABSTRATAS ABSTRATAS FORMAIS

Fiacutes Teol Gram Filol Histoacuteria Histoacuteria Metafiacutesica Histoacuteria Fiacutesica Teologia Histoacuteria Ontologia Matemaacutetica Loacutegica Formal

Loacutegica

Fiacutes Dial Gram Natural Natural Teologia Natural Quiacutemica Jurisprud Sagrada Teologia Astronomia Matemaacutetica Matemaacutetica Mats Retoacuter Loacuteg Civil Civil Civil Biologia Medicina Eclesiaacutestica Epistemol Fiacutesica Retoacuter Geografia Filosofia Civil Quiacutemica Filosofia Matemaacutetica Natural Biologia Teologia Fiacutesica Fiacutesica Social Linguagem Moral Histoacuteria C PRAacuteTICAS QUATRIVIUM QUATRiVIUM RAZAtildeO IMAGINACcedilAtildeO IDEAIS RAZAtildeO NATUREZA COSMOLOacuteGICAS

(Natureza) CONCRETAS ABSTRATO-

CONCRETAS REAIS Natureza

Eacutetica Eacutetica Geom Mat Filosofia Poesia Fiacutesica Fiacutesica Matemaacutetica Filosofia Mecacircnica Mats Engenharia Mecacircnica FiacutesQuiacuteBiol Econ Arit Aritmeacutet Narrativa Mats Meteorol Eacutetica Metafiacutes Fiacutesica Fiacutesica Mecacircnica Fiacutesica CosmoGeol Pol Astron Geom Dramaacutetica Astrologia Deus Biologia C Naturais Geologia Quiacutemica AstrGeogr Muacutes Mec Paraboacutelica Mineralogia Loacutegica Homem C Meacutedicas Tecnologia Hist Natural Muacutes Belas Artes Botacircnica Linguiacutestica Natural Medicina Arquit Zoologia Antropolog Sociologia Eacutetica Oacutetica Psicologia Metaf Muacutesica Teol Poesia Mor Retoacuterica Loacutegica Eacutetica Esteacutetica Poliacutetica C POEacuteTICAS IMAGINACcedilAtildeO RAZAtildeO Oacutetica IMAGINACcedilAtildeO ESPIacuteRITO NOOLOacuteGICAS

(Espiacuterito) CONCRETAS REAIS

Espiacuterito Loacuteg Dial Fiacutes Poesia Filosofia Mecacircnica Muacutesica Poesia Psicologia Filosofia Astronomia Psicologia Retoacuter Oacutetic Narrativa Divina Medicina Eacutetica Narrativa Histoacuteria Nooteacutecnias Mineralogia Histoacuteria Poeacutet Astron Dramaacutetica Natural Moral Poesia Drama Arte Etnoloacutegicas Geologia Direito Medi Alquim Paraboacutelica Humana Alegorias Religiatildeo Poliacuteticas Biologia Economia Ginaacutest Agron Matemaacuteticas Filosofia Psicologia Poliacutetica Gram Meacuted Sociologia Muacutes C Exper

QUADRO 21 - DISCIPLINAS BAacuteSICAS (ORIGINAIS) DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES CLASSES FONTE a autora

83

A partir dos quadros-siacutentese das classificaccedilotildees filosoacuteficas dos saberes

(classes) eacute possiacutevel constatar a predominacircncia de alguns princiacutepios e caracteriacutesticas

que desde o sistema de organizaccedilatildeo das filosofias (ciecircncias) de Aristoacuteteles

permanecem inspirando e influenciando os sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica

como a presenccedila de

a) agente classificador (filoacutesofo ou outros)

b) princiacutepio classificatoacuterio (o fim a que as ciecircncias se prepotildeem em Airstoacuteteles

as trecircs faculdades humanas envolvidas no ato de conhecer em Huarte de

San Juan F Bacon Diderot e drsquoAlembert entre outros)

c) conjunto de elementos (ciecircncias) constituiacutedos na eacutepoca da classificaccedilatildeo ou

nela jaacute previacutesiveis (Comte Spencer Wundt)

d) mecanismos que possibilitam a inserccedilatildeo de novas ciecircncias ainda natildeo

constituiacutedas (Ampeacutere)

e) fio condutor jaacute que toda classificaccedilatildeo constroiacute-se no contexto das

classificaccedilotildees anteriores do mesmo domiacutenio (existe uma histoacuteria de

integraccedilatildeo nas classificaccedilotildees das ciecircncias ao longo da qual os domiacutenios e

as divisotildees78 podem ser modificados e novos criteacuterios acrescentados)

f) esquema classificatoacuterio concreto (estrutura hieraacuterquica quadro aacutervore

figura geomeacutetica) que permite a execuccedilatildeo das operaccedilotildees

Observa-se poreacutem que a rigor soacute eacute possiacutevel falar em classificaccedilotildees

cientiacuteficas a partir da Idade Moderna especificamente a partir do Renascimento

com o aparecimento das Ciecircncias Naturais como ciecircncia sistemaacutetica (seacutec XVIII)79

32 CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES CATEGORIAS O conhecimento em geral pressupotildee uma teacutecnica para a verificaccedilatildeo de um

objeto qualquer Por teacutecnica de verificaccedilatildeo costuma-se entender qualquer

procedimento que possibilite a descriccedilatildeo o caacutelculo ou a previsatildeo controlaacutevel de um

78 Classes que podem ser definidas como divisotildees de um sistema ou quadro de classificaccedilatildeo correspondendo cada divisatildeo a uma tentativa de organizar os saberes para formar o panorama dos conhecimentos de uma eacutepoca 79 As Ciecircncias Naturais constituem o primeiro sistema cientiacutefico por excelecircncia e eacute o seu objeto de conhecimento o primeiro a estabelecer por conseguinte um sistema de classificaccedilatildeo sendo a Botacircnica e a Zoologia (seacutec XIX) as disciplinas que criaram ainda incipientes no Renascimento um sistema de classificaccedilatildeo como meacutetodo de estudo da natureza mediante o agrupamento hieraacuterquico de plantas e animais com base nas relaccedilotildees entre organismos Essa atividade classificatoacuteria da Ciecircncia Natural se converte posteriormente em disciplina cientiacutefica proacutepria (ESTEBAN NAVARRO 1995 p 43-71)

84

objeto (teacutecnica nesse sentido eacute o uso normal de um oacutergatildeo do sentido tanto quanto a

operaccedilatildeo com instrumentos) e por objeto deve-se entender qualquer entidade fato

coisa realidade ou propriedade

Como procedimento de verificaccedilatildeo qualquer operaccedilatildeo cognitiva visa a um objeto

e tende a instaurar com ele uma relaccedilatildeo da qual venha a emergir uma caracteriacutestica

efetiva deste Portanto segundo Abbagnano (2003 p 174-183) as vaacuterias

interpretaccedilotildees de conhecimento ao longo da histoacuteria da Filosofia podem ser

consideradas interpretaccedilotildees dessa relaccedilatildeo e resumir-se em duas alternativas na

primeira essa relaccedilatildeo eacute de identidade ou semelhanccedila (entende-se por semelhanccedila

uma identidade parcial) e a operaccedilatildeo cognitiva eacute um procedimento de identificaccedilatildeo do

objeto para representaacute-lo na segunda a relaccedilatildeo cognitiva eacute uma apresentaccedilatildeo do

objeto e a operaccedilatildeo cognitiva eacute um procedimento de transcendecircncia

A primeira interpretaccedilatildeo - conhecimento como operaccedilatildeo de identificaccedilatildeo - pode

ser dividida em duas fases distintas na primeira fase o conhecimento eacute considerado

retrato ou imagem do objeto e a identidade ou a semelhanccedila com o objeto eacute entendida

como identidade ou semelhanccedila dos elementos do conhecimento com os elementos do

objeto por exemplo dos conceitos ou das representaccedilotildees com as coisas na segunda

fase o conhecimento tem com o objeto a mesma relaccedilatildeo que um mapa tem com a

paisagem que representa ou seja a semelhanccedila restringe-se agrave ordem dos respectivos

elementos e a operaccedilatildeo de conhecer natildeo consiste em reproduzir o objeto mas em

reproduzir as relaccedilotildees constitutivas do proacuteprio objeto a ordem dos elementos

A primeira fase constitui a maneira como a doutrina do conhecimento surgiu no

mundo antigo ou seja como identificaccedilatildeo Satildeo representantes dessa interpretaccedilatildeo o

preacute-socraacutetico Heraacuteclito os atomistas Anaxaacutegoras e Empeacutedocles Platatildeo e Aristoacuteteles

o poacutes-socraacutetico Epicuro Plotino o patriacutestico - padre da Igreja - Santo Agostinho os

escolaacutesticos Santo Alberto Santo Tomaacutes de Aquino e Satildeo Boaventura os

renascentistas Nicolau de Cusa Giordano Bruno e Campanella e os pitagoacutericos

fundadores da nova ciecircncia Copeacuternico Kepler e Galileu

Na Filosofia Moderna a doutrina de que conhecer eacute uma operaccedilatildeo de

identificaccedilatildeo assume trecircs modos principais segundo se considere que essa operaccedilatildeo

eacute realizada mediante

a) a criaccedilatildeo que o sujeito faz do objeto o idealismo romacircntico e as suas

ramificaccedilotildees afirmam a tese de que conhecer significa produzir ou criar o

objeto ou seja reconhece-se no objeto a manifestaccedilatildeo do sujeito

85

podendo-se considerar como representantes dessa tese os

filoacutesofos contemporacircneos Fichte Schelling Hegel entre outros

b) a consciecircncia o espiritualismo moderno em todas as suas

manifestaccedilotildees considera o conhecer como uma relaccedilatildeo interna da

consciecircncia (sentido iacutentimo introspecccedilatildeo intuiccedilatildeo) consigo mesma

isto eacute o sujeito natildeo pode conhecer o que eacute diferente dele o uacutenico

conhecimento verdadeiro eacute o que ele tem de si mesmo e o objeto eacute a

proacutepria consciecircncia ou uma manifestaccedilatildeo da consciecircncia sendo essa

a interpretaccedilatildeo dos filoacutesofos Schopenhauer Bergson e Husserl entre

outros

c) a linguagem o positivismo loacutegico transfere para a linguagem na qual

reconhece a operaccedilatildeo cognitiva propriamente dita a doutrina do

caraacuteter identificador dessa operaccedilatildeo Wittgenstein na obra Tractatus80

(1994) compartilha dessa interpretaccedilatildeo quando reconhece que deve

haver algo de idecircntico na imagem e no objeto representado para que

aquela possa ser a imagem deste A segunda fase da doutrina do conhecimento como identificaccedilatildeo nasce com a

Filosofia Moderna com Descartes que continua a conceber a ideacuteia como imagem

da coisa poreacutem nela jaacute aparece a identidade da ordem das ideacuteias com a ordem dos

objetos conhecidos O princiacutepio cartesiano de que a ideacuteia eacute o uacutenico objeto imediato

do conhecimento e que por isso a existecircncia da ideacuteia no pensamento nada diz

acerca da existecircncia do objeto representado punha em crise a doutrina do conhecer

como identificaccedilatildeo com o objeto pois nesse caso o objeto eacute claramente

inalcanccedilaacutevel Malebranche Spinoza Locke e Leibniz embora natildeo neguem o caraacuteter

de semelhanccedila ou de imagem dos elementos cognitivos entendem conhecimento

como identidade com a ordem objetiva O seu objeto eacute essa ordem e o conhecer eacute a

operaccedilatildeo que tende a identificar a ordem

Kant admite que a ordem objetiva das coisas tem como modelo as condiccedilotildees do

conhecimento as categorias satildeo consideradas por Kant como ldquoconceitos que

prescrevem leis aos fenocircmenos por conseguinte agrave natureza como o conjunto de todos

os fenocircmenosrdquo (KANT 1974 p 95) Os fenocircmenos natildeo sendo objetos em si mesmos

mas representaccedilotildees de objetos precisam ser pensados e assim estar submetidos agraves

80 A primeira ediccedilatildeo do Tractatus Logico-Philosophicus eacute de 1921

86

condiccedilotildees do pensamento que satildeo as categorias Desse ponto de vista conhecer natildeo eacute

uma operaccedilatildeo de assimilaccedilatildeo ou de identificaccedilatildeo mas de siacutentese Nessa perspectiva o

entendimento (independente da experiecircncia e por meio de um conjunto de elementos -

as chamadas categorias a priori) organiza as percepccedilotildees (intuiccedilotildees transformando

conhecimento sensiacutevel em conhecimento intelectual ou em conceitos)

A segunda interpretaccedilatildeo - conhecimento como operaccedilatildeo de transcendecircncia -

aparece pela primeira vez com os estoacuteicos que chamavam de evidentes as coisas

que se manifestam por si mesmas ao conhecimento como por exemplo ser dia ou

ser noite Satildeo representantes dessa interpretaccedilatildeo os escolaacutesticos do uacuteltimo periacuteodo

Duns Scot Ockham os filoacutesofos modernos Hobbes Berkeley Hume Kant e o

contemporacircneo Heidegger entre outros Hume considera que toda operaccedilatildeo

cognoscitiva eacute uma operaccedilatildeo de conexatildeo entre as ideacuteias (independentemente da sua

existecircncia real) Esse conceito do conhecimento como operaccedilatildeo de conexatildeo que

nada tem a ver com a identificaccedilatildeo com o objeto eacute chamado por Kant de operaccedilatildeo de

siacutentese ldquoPor siacutentese entendo no sentido mais amplo a accedilatildeo de acrescentar diversas

representaccedilotildees umas agraves outras e de compreender a sua multiplicidade num

conhecimentordquo (KANT 1974 p 70) O conceito de conhecimento como operaccedilatildeo de

relacionar-se com o objeto e portanto tambeacutem como processo pelo qual o objeto se

apresenta foi adotado pela Fenomenologia contemporacircnea e suas diversas correntes

Para Husserl Nicolai Hartmann e Heidegger o conhecimento eacute um processo de

transcendecircncia - conhecer eacute um modo de ser de transcender do sujeito para o mundo

- em que todas as manifestaccedilotildees do conhecer (observar perceber determinar

interpretar discutir negar afirmar) pressupotildeem a relaccedilatildeo do homem com o mundo e

soacute satildeo possiacuteveis com base nessa relaccedilatildeo

A exemplificaccedilatildeo dada ateacute aqui objetiva mostrar os vaacuterios pontos de vista que

com suas variadas expressotildees continuam influentes e satildeo responsaacuteveis na Filosofia

Contemporacircnea pela Epistemologia (estudo da origem e do valor do conhecimento

humano) (ABBAGNANO 2003 MAZIP 2001 VITA 1964)

A classificaccedilatildeo dos seres estaacute ligada desde Platatildeo agrave capacidade dos

conceitos de fornecer ldquoverdaderdquo seguranccedila estabilidade frente a um mundo

fenomecircnico e transitoacuterio em que a uacutenica coisa permanente eacute a mudanccedila Esta seccedilatildeo

apresenta as noccedilotildees de categoria de alguns filoacutesofos como Platatildeo (precursor das

classificaccedilotildees filosoacuteficas dos seres) Aristoacuteteles (autor da mais importante obra sobre

categorias) Kant (responsaacutevel pelo novo paradigma no qual o sujeito do

conhecimento eacute a razatildeo universal natildeo mais se referindo ao ser mas ao conhecer

87

para designar os conceitos) Foucault (estudioso da ordem das coisas) entre outros

Em relaccedilatildeo agrave classificaccedilatildeo dos saberes (classes) considerados como disciplinas do

conhecimento descritos na subseccedilatildeo 314 a classificaccedilatildeo dos seres (categorias)

remete agrave noccedilatildeo de princiacutepio de divisatildeo

O interesse pelas categorias isto eacute a tentativa de organizar o ldquodeterminadordquo

nasce com a primeira maneira de saber humano e mesmo Aristoacuteteles observa na

Metafiacutesica (1973) que eacute proacuteprio do saber comum ordenar as coisas o que significa

distingui-las portanto determinaacute-las Estabelecer certas distinccedilotildees eacute algo que se

impotildee a todo pensamento que tenta sistematizar a variedade encontrada no mundo Eacute

do senso comum81 observar que as coisas individuais unem-se em espeacutecies ou tipos

81 O conceito filosoacutefico de senso comum surge no seacuteculo XVIII e representa a reaccedilatildeo ideoloacutegica da burguesia contra a irracionalidade do ancien regime (SMITH N Commun sense Radical Philosophy London 1974 v 7 p 15 apud SANTOS 1989 p 36) O significado filosoacutefico de senso comum (de caraacuteter praacutetico prudente) aparece ligado ao projeto poliacutetico de ascensatildeo ao poder de uma classe Natural portanto que chegado ao poder o conceito de senso comum tenha sido desvalorizado como superficial e ilusoacuterio Eacute contra o senso comum que as ciecircncias sociais nascem no seacuteculo XIX Poreacutem ao contraacuterio das ciecircncias naturais (de caraacuteter segregador elitista) que construiacutedas contra o senso comum sempre o recusaram as ciecircncias sociais nunca deixaram de manter com o senso comum uma relaccedilatildeo complexa e ambiacutegua Em Um Discurso sobre as Ciecircncias (1987) Boaventura de Sousa Santos socioacutelogo portuguecircs procura demonstrar que a ciecircncia moderna se encontra em crise vivendo uma fase de transiccedilatildeo paradigmaacutetica Em Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna (1989) chama ciecircncia poacutes-moderna a esse novo paradigma e procura definir o perfil teoacuterico da forma de conhecimento da ciecircncia poacutes-moderna Alerta ainda para o processo de distanciamento do discurso cientiacutefico da ciecircncia moderna em relaccedilatildeo ao discurso do senso comum ao discurso esteacutetico ou ao discurso religioso Processo que adquiriiu expressatildeo filosoacutefica no seacuteculo XVII com Bacon Locke Hobbes e Descartes e tem se aprofundado como parte integrante do desenvolvimento das ciecircncias de tal maneira que a estranheza se reproduz no proacuteprio interior da comunidade cientiacutefica uma vez que as crescentes especializaccedilotildees tornam impossiacutevel ao cientista (natildeo apenas ao cidadatildeo comum) compreender a ciecircncia enquanto praacutetica social do conhecimento Na ciecircncia moderna a ruptura epistemoloacutegica simboliza o salto qualitativo do conhecimento do senso comum para o conhecimento cientiacutefico na ciecircncia poacutes-moderna o salto mais importante eacute o que eacute dado do conhecimento cientiacutefico para o conhecimento do senso comum O conhecimento cientiacutefico poacutes-moderno soacute se realiza enquanto tal agrave medida que se converte em senso comum Agrave luz de vaacuterias consideraccedilotildees Santos (1989 p 31-45) conclui que se caminha para uma nova configuraccedilatildeo de conhecimento que sendo praacutetica natildeo deixe de ser esclarecida e sendo saacutebia natildeo deixe de estar democraticamente distribuiacuteda para uma nova relaccedilatildeo entre a ciecircncia e o senso comum uma relaccedilatildeo em que qualquer deles eacute feito do outro uma relaccedilatildeo de dupla ruptura epistemoloacutegica (que os discursos se falem e atenuem o desnivelamento que os separa) uma relaccedilatildeo que transforme o senso comum tornando-o mais esclarecido e transforme a ciecircncia tornando-a mais prudente para uma nova forma de superar a dicotomia contemplaccedilatildeoaccedilatildeo que desde a filosofia grega tem dominado o pensamento ocidental contaminando a ciecircncia moderna pois se sabe desde Bacon e Descartes que a ciecircncia moderna ao pretender conhecer o mundo natildeo para o contemplar mas para o dominar e transformar apresenta uma racionalidade instrumental e para um novo equiliacutebrio entre adaptaccedilatildeo (sociedade de consumo e tecnologias que geram dependecircncia) e criatividade (liberdade de accedilatildeo e fruiccedilatildeo que geram a preservaccedilatildeo da identidade pessoal e social) Santos (1987 p 56 1989 p 40) chega assim a uma caracterizaccedilatildeo alternativa do senso comum mais positiva que supera o etnocentrismo cientiacutefico ldquoO senso comum faz coincidir causa e intenccedilatildeo subjaz-lhe uma visatildeo do mundo assente na accedilatildeo e no princiacutepio da criatividade e das responsabilidades individuais O senso comum eacute praacutetico e pragmaacutetico reproduz-se colado agraves trajetoacuterias e agraves experiecircncias de vida de um dado grupo social e nessa correspondecircncia se afirma de confianccedila e daacute seguranccedila O senso comum eacute transparente e evidente desconfia da opacidade dos objetos tecnoloacutegicos e do esoterismo do conhecimento em nome do princiacutepio da igualdade do acesso ao discurso agrave competecircncia cognitiva e agrave competecircncia linguiacutestica O senso comum eacute superficial porque desdenha das estruturas que estatildeo para aleacutem da consciecircncia mas por isso mesmo eacute exiacutemio em captar a profundidade horizontal das relaccedilotildees conscientes entre pessoas e entre pessoas e coisas O senso comum eacute indisciplinar e imetoacutedico natildeo resulta de uma praacutetica especificamente orientada para o produzir reproduz-se espontaneamente no suceder quotidiano da vida Por ultimo o senso comum eacute retoacuterico e metaforico natildeo ensina persuaderdquo

88

e que ateacute coisas especificamente diferentes ainda obedecem a classificaccedilotildees

geneacutericas

O termo categoria utilizado normalmente para significar caraacuteter espeacutecie

ou natureza tem origem remota no termo grego kategoriacutea (Κατηγοριαι que

passou para o latim Categoriae) e pertence agrave famiacutelia tendo a mesma raiz do

verbo grego ldquokategoreinrdquo que significava originalmente ldquoacusarrdquo ldquoatribuirrdquo

ldquocensurarrdquo ldquofalar contra algueacutemrdquo no sentido de responsabilizar algo ou algueacutem

em oposiccedilatildeo ao vocaacutebulo ldquodefesardquo ou ldquolouvorrdquo e com o tempo sofreu diferentes

interpretaccedilotildees ldquoatribuirrdquo ldquoenunciarrdquo ldquoexprimirrsquo ldquodeclararrdquo ldquodenominarrdquo

ldquorevelarrdquo ldquomanifestarrdquo ldquohierarquizarrdquo ldquocaracterizarrdquo ldquoclassificarrdquo ldquomostrarrdquo

ldquoexprimirrdquo ldquoprecisarrdquo ldquoafirmarrdquo ldquodeclararrdquo ldquopredicarrdquo entre outros Como

observado historicamente o sentido do vocaacutebulo desde os tempos de Platatildeo

sempre variou de acordo com a eacutepoca e o autor como qualquer vocaacutebulo Nas

subseccedilotildees 324 e 33 o conceito de categoria na Filosofia eacute retomado com a

intenccedilatildeo de sistematizar esses conceitos a fim de oferecer uma contribuiccedilatildeo agrave

conceituaccedilatildeo de categoria nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas

Aristoacuteteles foi o primeiro a usar o termo kategoriacutea em sentido teacutecnico no seu

tratado Categorias Eacute traduzido em portuguecircs por predicado ou atributo sinocircnimos

entre si segundo a autoridade do Dicionaacuterio Contemporacircneo da Liacutengua Portuguesa

(AULETE 1986 p 211) Existe entretanto na literatura teacutecnica uma tendecircncia para distinguir atributo

de predicado enquanto atributo diz respeito agraves coisas diretamente predicado

reporta-se agraves expressotildees

Parece que Porfiacuterio resolve essa questatildeo ao dizer ldquoPorque como as coisas satildeo

assim satildeo as expressotildees que primeiro as exprimemrdquo (KNEALE KNEALE 1980 p 29)

O mesmo significado com que as categorias expressam os diversos modos de

enunciaccedilatildeo e por conseguinte os distintos modos de ser encontra-se exatamente no

termo predicamento82 conexo por sua vez com ldquopraedicarerdquo (predicar enunciar

82 Do latim predicamentum proposto por Boeacutecio (480-524) para traduzir o termo aristoteacutelico kathegoreia (categoria) As categorias satildeo praedicamenta tambeacutem gecircneros supremos das coisas Boeacutecio redigiu traduccedilotildees latinas adaptaccedilotildees e comentaacuterios gregos a respeito de Aristoacuteteles que contribuiacuteram muito para criar uma liacutengua filosoacutefica latina teacutecnica e precisa ao longo de toda a Idade Meacutedia Legou aos sucessores definiccedilotildees uacuteteis na discussatildeo de problemas filosoacuteficos entre eles define predicaccedilatildeo por essecircncia - predicaccedilatildeo de um elemento essencial - por exemplo Soacutecrates eacute homem e predicaccedilatildeo por participaccedilatildeo - predicaccedilatildeo de um elemento acidental - por exemplo Soacutecrates eacute alto (FERRATER MORA 1971 v 1 p 266 MAZIP 2001 p 100-102)

89

dizer)

radas por Aristoacuteteles no primeiro livro da

Metafiacutesica (LAROUSSE 1867 v 3 p 575)

321 A

(por incluir outras ciecircncias) se dividiriam em

subcla

rticipa junto com todos os outros

objetos de sua categoria de uma Ideacuteia Perfeita84

Na Filosofia Ocidental foram os pitagoacutericos (seacuteculo VI aC) mais ou menos

duzentos anos antes do nascimento de Aristoacuteteles (384 aC) os primeiros que

propuseram uma tabela de categorias - um meacutetodo de categorizaccedilatildeo em que cada

nuacutecleo categorial era concebido como a relaccedilatildeo de dois termos opostos por meio da

nomeaccedilatildeo do princiacutepio de oposiccedilatildeo Os pitagoacutericos consideravam os contraacuterios como

os princiacutepios das coisas e por isso nomearam vinte categorias arranjadas em pares de

opostos (o determinado e o indeterminado o par e o impar a unidade e a pluralidade a

direita e a esquerda o macho e a fecircmea o repouso e o movimento a reta e a curva a luz

e a sombra o bem e o mal o quadrado e a figura irregular) As categorias pitagoacutericas

sobreviveram ateacute hoje porque foram regist

ntiguidade Grega e Idade Meacutedia

Sob o ponto de vista histoacuterico o primeiro significado de que se tem registro

atribuiacutedo agraves categorias desponta com Platatildeo (seacuteculo V aC) que confere agraves

categorias um significado realista e objetivo considerando-as gecircneros supremos ou

seja as ideacuteias83 que satildeo os modelos das coisas Essas ideacuteias (modelos)

correspondem agraves categorias que ele chama de gecircneros e que se dividem em

espeacutecies (subcategorias) Totalmente diferente portanto do significado tambeacutem

realista atribuiacutedo por Platatildeo agraves classes considerando-as como os ramos das

ciecircncias - resultado da divisatildeo do conhecimento (saber) da eacutepoca em diversas

ciecircncias (saberes) relativamente independentes Essas ciecircncias especiacuteficas

corresponderiam agraves classes que

sses (cf subseccedilatildeo 311)

De acordo com a Teoria das Ideacuteias discutida no diaacutelogo Feacutedon (PLATAtildeO

1972) o mundo concreto percebido pelos sentidos eacute a reproduccedilatildeo do mundo das

ideacuteias na qual cada objeto concreto que existe pa

83 Na terminologia ontoloacutegica de Platatildeo ideacuteia eacute ldquoessecircncia do realrdquo (MAZIP 2001 p 46) As ideacuteias natildeo satildeo pois no sentido platocircnico representaccedilotildees intelectuais formas abstratas do pensamento satildeo realidades objetivas modelos e arqueacutetipos eternos de que as coisas visiacuteveis satildeo coacutepias imperfeitas e

rvore

fugazes Assim a ideacuteia de homem eacute o homem abstrato perfeito e universal de que os indiviacuteduos humanos satildeo imitaccedilotildees transitoacuterias e defeituosas 84 Por exemplo uma aacutervore O que faz com que determinada aacutervore seja ela mesma ou seja uma aacutervore - e natildeo outra coisa - desde o estaacutegio de semente ateacute morrer e o que faz com que ela seja tatildeo aacute

90

Platatildeo faz empalidecer as divindades em favor de uma transparecircncia conceitual ele

mina o poder dos deuses agrave medida que as ideacuteias passam a significar o poder-conhecer e

natildeo mais sinalizam os desiacutegnios do Olimpo Ao conferir realidade agraves ideacuteias Platatildeo legitima

o estatuto ontoloacutegico da teoria e daacute iniacutecio ao caminho da ciecircncia que possibilita por sua

vez o ceticismo filosoacutefico O que sustenta o filosofar em Platatildeo eacute o problema de teoria e

praacutexis do qual resulta uma correspondecircncia entre a realidade e o discurso por meio das

categorias (o ser o repouso o movimento a identidade ou igualdade e a diferenccedila ou

alteridade em Platatildeo 1972 - O Sofista) ou lsquogecircneros supremosrsquo que soacute satildeo possiacuteveis como

linguagem porque nelas o conceito eacute fixado e ao mesmo tempo altera-se na diversidade

semacircntico-pragmaacutetica do seu emprego Por isso com uma fisionomia mais definida o

discurso em relaccedilatildeo a categoria assume um significado que natildeo poderia ter existido na

filosofia precedente sem o rompimento com o universo socraacutetico

Este estudo parte do princiacutepio de que categorias para Platatildeo satildeo as ideacuteias

perfeitas das coisas objetos ou fenocircmenos em que a reuniatildeo de cada objeto

concreto com outros da mesma ordem com a mesma caracteriacutestica participariam

de uma ideacuteia um gecircnero supremo uma ideacuteia guia uma categoria propriamente dita

Assim em Platatildeo categoria eacute um princiacutepio de organizaccedilatildeo (ideacuteia que aglutina) natildeo

no sentido de iniacutecio mas no sentido de ldquoideacuteia que guiardquo a ordenaccedilatildeo do mundo Aristoacuteteles (seacuteculo IV aC) ldquotraz as ideacuteias do ceacuteu agrave terrardquo rejeita o mundo separado

das ideacuteias platocircnicas e funde o mundo sensiacutevel e o inteligiacutevel no conceito da substacircncia

Para Aristoacuteteles as ideacuteias natildeo podem ser a substacircncia das coisas porque existem fora

delas e ao contraacuterio de Platatildeo a explicaccedilatildeo da realidade encontra-se na proacutepria realidade

A estrutura do ser em geral foi um problema que sempre preocupou

Aristoacuteteles Predicados ou atributos coisas ou expressotildees a palavra categoria

(κατηγορια significa justamente predicado) parece cobrir de maneira razoaacutevel os

termos relacionados no capiacutetulo IV do tratado das Categorias (Praedicamenta) e

pelo menos os nove uacuteltimos (quantidade qualidade relaccedilatildeo lugar tempo accedilatildeo

paixatildeo estado e haacutebito) funcionam como predicados ou atributos da substacircncia85

nto outra de outra espeacutecie com caracteriacutesticas tatildeo diferentes eacute a sua participaccedilatildeo na Ideacuteia de Aacutervore

a partir da sua existecircncia e do nosso conhecimento dela c) quanto ao tempo a

quae sua impermanecircncia deve-se ao fato de a aacutervore ser uma paacutelida representaccedilatildeo da Ideacuteia de Aacutervore 85 Na terminologia metafiacutesica de Aristoacuteteles substacircncia ldquoessecircncia que tem a existecircncia em si e por si mesma Admite complementaccedilatildeo categorial Por exemplo a ideacuteia substancial de ldquogenterdquo absorve categorias muita (quantidade) paciente (qualidade) corre (accedilatildeo) etcrdquo (MAZIP 2001 p 56) Portanto aquilo que se pode dizer que algo ldquoeacuterdquo O que eacute o ser que existe O que eacute isto Homem flor etc A substacircncia eacute primeira ou anterior a todos os predicados a) no que se refere ao conceito porque todos os acidentes se referem agrave substacircncia e natildeo podem existir sem ela Afirma-se que algo (ou seja uma substacircncia) eacute belo grande proacuteximo b) no que se refere ao conhecimento soacute podemos dizer de uma pessoa que estaacute proacutexima distante parada ou em movimento

91

que tambeacutem podem ser entendidos como uma lista de diferentes tipos de coisas ou

expressotildees que podem ser afirmadas a respeito do ser86

Esta doutrina apesar de apresentar suas categorias de maneira isolada

baseia-se na relaccedilatildeo sujeito-predicado e o que as categorias visavam era tornar

possiacutevel a montagem das proposiccedilotildees87 - que se compotildeem de sujeitos e predicados

(HAMELIN 1931 p 87)

A correspondecircncia entre a realidade e o discurso por meio das proposiccedilotildees

categoriais eacute a base da loacutegica de Aristoacuteteles para quem os motivos linguiacutesticos ou

linguiacutestico-loacutegicos combinaram-se aos ontoloacutegicos na interpretaccedilatildeo das categorias

(FERRATER MORA 1971 p 265) Na doutrina de Aristoacuteteles a uma interpretaccedilatildeo

semacircntica na qual categorias satildeo os tipos de enunciados que indicam os diversos

modos de dizer (designar uma coisa) soma-se uma interpretaccedilatildeo ontoloacutegica em que

as categorias satildeo os modos de atribuiccedilatildeo de um predicado a um sujeito

Considerando-se que tal atribuiccedilatildeo se faz mediante a afirmaccedilatildeo ldquoeacuterdquo as categorias

tambeacutem podem ser chamadas de significaccedilatildeo do verbo ser ou predicados

fundamentais das coisas (existir eacute ser uma coisa de certa categoria)

substacircncia existiu existe e existiraacute como suporte dos acidentes d) quanto ao ser os acidentes natildeo podem existir fora da substacircncia 86 Nas palavras de Aristoacuteteles ldquoCada uma das coisas ditas sem nenhuma complexatildeo significa ou substacircncia ou quantidade ou qualidade ou relaccedilatildeo ou onde ou quando ou estar-em-uma-posiccedilatildeo ou ter ou fazer ou sofrer Numa palavra substacircncia eacute por exemplo homem cavalo e eacute quantidade por exemplo dois cocircvados trecircs cocircvados e qualidade por exemplo branco e gramatical e relaccedilatildeo metade maior e onde no Liceu na Aacutegora e quando ontem antes estar-em-uma-posiccedilatildeo estaacute deitado estaacute sentado e ter estaacute calccedilado estaacute armado e fazer por exemplo cortar queimar e sofrer ser cortado ser queimadordquo (ARISTOacuteTELES 2005 p 77 1b25) Na terminologia loacutegica de Aristoacuteteles satildeo categorias ou acidentes da substacircncia 1) qualidade (como) aquilo em virtude do qual se diz de algo que eacute tal e qual Ana eacute uma menina educada Francisco fala bem 2) quantidade (quanto) aquilo que eacute divisiacutevel ou mensuraacutevel os convidados se empanturraram de salgadinhos As crianccedilas brincaram demais 3) relaccedilatildeo (com o que se relaciona) nexo viacutenculo enlace dependecircncia Felipe eacute professor vive na casa da matildee e trabalha numa escola proacutexima 4) espaccedilo ou lugar (onde) situaccedilatildeo colocaccedilatildeo ubiquaccedilatildeo Construiacuteram um edifiacutecio proacuteximo Roberto nasceu na rua do futuro 5) tempo (quando) presente passado futuro anterioridade e posterioridade Alberto chegaraacute depois Aquele casal morou muitos anos na Franccedila 6) accedilatildeo (fazer agir) reflete a passagem substancial do repouso ao movimento Atividade Dinamismo Processo Eu trabalho de segunda a sexta Os vizinhos andam meia hora todos os dias 7) paixatildeo (sofrer um efeito) passividade ausecircncia de accedilatildeo Todos noacutes sofremos diante da miseacuteria Eacute difiacutecil suportar agressotildees 8) estado ou posiccedilatildeo (estar em uma situaccedilatildeo) existecircncia situada vinculada ou partilhada Estado do ser Joatildeo eacute professor Maria estaacute preocupada Ele e ela natildeo se datildeo A menina viajou 9) haacutebito (ter) condiccedilatildeo costume accedilatildeo repetida do sujeito Meus pais residem na Rua do Sol Meus amigos vatildeo frequentemente ao cinema Joatildeo eacute saudaacutevel Ela anda armada 87 Proposiccedilatildeo expressatildeo verbal de uma operaccedilatildeo mental frequentemente chamada de juiacutezo Foi formulada pela primeira vez por Aristoacuteteles para quem o conjunto dos termos (nome e verbo) do discurso declarativo corresponde a um pensamento inerente ao ser verdadeiro ou falso (ABBAGNANO 2003 p801) Esta categorizaccedilatildeo deixa muito claro o que se deve entender por categoria princiacutepio de organizaccedilatildeo ordenaccedilatildeo ou subdivisatildeo

92

As correspondecircncias entre as categorias gramaticais e as categorias aristoteacutelicas

aparecem (quadro 22) na obra do Pe Leme e Lopes88 (1956 apud PIEDADE 1983)

CATEGORIAS GRAMATICAIS CATEGORIAS ARISTOTEacuteLICAS Substantivo sujeito Substacircncia

Adjetivo qualitativo Qualidade

Adjetivo quantitativo Quantidade

Pronome relativo adjunto adnominal Relaccedilatildeo

Verbo na voz ativa Accedilatildeo

Verbo na voz passiva Paixatildeo

Adveacuterbio de lugar Lugar

Adveacuterbio de tempo Duraccedilatildeo

Adveacuterbio de modo Maneira de ser

QUADRO 22 - CATEGORIAS GRAMATICAIS SEGUNDO AS CATEGORIAS ARISTOTEacuteLICAS FONTE Piedade (1983 p 20)

Particularmente no que tange agrave concepccedilatildeo de linguagem Aristoacuteteles revigora

o significado do predicado da qualidade da riqueza do movimento das categorias

delineadas pela liacutengua grega

O encaminhamento ontoloacutegico das categorias pode ser observado no registro

que o dicionaacuterio de Ferrater Mora (1971 v 1 p 264 Traduccedilatildeo livre da autora) faz a

respeito da questatildeo

No tratado sobre as categorias Aristoacuteteles divide as expressotildees em expressotildees sem enlace - como lsquohomemrsquo lsquoeacute vencedorrsquo - e expressotildees com enlace - como lsquoo homem corrersquo lsquoo homem eacute vencedorrsquo As expressotildees sem enlace natildeo afirmam nem negam nada por si mesmas mas apenas ligadas a outras expressotildees No entanto as expressotildees sem enlace ou termos uacuteltimos e natildeo-analisaacuteveis se agrupam em categorias

A mesma passagem na traduccedilatildeo de Joseacute Veriacutessimo Teixeira da Mata

(ARISTOacuteTELES 2005 p 76 1a16) traz a seguinte interpretaccedilatildeo

Das coisas que satildeo ditas umas satildeo ditas segundo complexatildeo outras sem complexatildeo Por exemplo satildeo ditas segundo complexatildeo estas homem corre homem vence e satildeo por exemplo sem complexatildeo as seguintes homem boi corre vence

ldquoExpressotildees sem enlacerdquo ou ldquocoisas ditas sem complexatildeordquo para Aristoacuteteles

ldquocategoriasrdquo satildeo palavras simples ldquosem ligaccedilatildeordquo natildeo combinadas com outras

88 LOPES F L Introduccedilatildeo agrave filosofia Rio de Janeiro Agir 1956

93

presentes no pensamento e na linguagem e que indicam o que uma coisa eacute estaacute ou

faz quando aplicada Esta eacute uma interpretaccedilatildeo linguiacutestica (semacircntica) de categorias

fundamentada em vaacuterios textos do filoacutesofo

Observa-se claramente que Aristoacuteteles formulou um conceito de categoria

distinto de todos os anteriores Poreacutem o que esse conceito formulado de modo

original tem em comum com os anteriores eacute implicar ele tambeacutem um princiacutepio de

organizaccedilatildeo89

Pode-se entender que as palavras sem ligaccedilatildeo umas com as outras

significam por si mesmas mas nada afirmam pois eacute pela complexidade da

combinaccedilatildeo delas entre si que acontece a afirmaccedilatildeo

Em vaacuterias passagens dispersas em vaacuterias obras (Poliacutetica De Anima

Metafiacutesica Categorias) torna-se evidente que soacute se pode conhecer bem as coisas

compostas decompondo-as e levando a anaacutelise ateacute os seus elementos mais

simples

Eacute a noccedilatildeo de categoria que junta os semelhantes e separa os diferentes

Nesse sentido as categorias pertencem ao plano do real e do ontoloacutegico poreacutem

excluem os conceitos de verdade e falsidade pois estes pertencem ao juiacutezo e natildeo

ao simples conceito jaacute que natildeo podem ser encontrados nas coisas fora do espiacuterito

O falso e o verdadeiro seriam nessa perspectiva um outro modo de se explicitar o

ser desconsiderando o esquema das categorias

Para Aristoacuteteles as categorias apresentam duas propriedades loacutegicas a

extensatildeo (conjunto de objetos designados por um termo como por exemplo o termo

homem para designar todo o conjunto de seres humanos) e a compreensatildeo ou

intensatildeo (conjunto de propriedades ou caracteriacutesticas designadas por um termo

como por exemplo o termo homem para designar as propriedades animal

vertebrado mamiacutefero biacutepede e racional) Quanto maior a extensatildeo de um termo

menor sua compreensatildeo e quanto maior a compreensatildeo menor a extensatildeo

(CHAUIacute 2005 p 107-108) Essa distinccedilatildeo permitiu classificar os termos em gecircnero

(termos de maior extensatildeo) e espeacutecie (termos de menor extensatildeo)

Aristoacuteteles observa ainda que as categorias tecircm que preencher no miacutenimo

duas espeacutecies de condiccedilotildees

89 Para melhor compreensatildeo ver exemplos na nota 86 e na subseccedilatildeo 321

94

a) formal o nuacutemero de categorias eacute finito (finito ao determinar um certo

nuacutemero de categorias para dar conta da realidade que se pretende

conhecer ou organizar) a sua seccedilatildeo eacute vazia (forma vazia de conteuacutedo) e

sua uniatildeo eacute o universo

b) material todo indiviacuteduo de uma categoria tem que pertencer somente a

uma categoria isto eacute jamais deve pertencer a outra categoria

As condiccedilotildees inicialmente estabelecidas por Aristoacuteteles para as categorias

ver-se-atildeo posteriormente apropriadas pela Teoria da Classificaccedilatildeo para as classes

Portanto a Teoria da Classificaccedilatildeo ao afirmar que a lista de classes (e natildeo das

categorias) deve ser completa isto eacute deve oferecer a possibilidade de colocar cada

resposta em uma das classes da lista e a de que as classes devem ser mutuamente

exclusivas isto eacute natildeo ter a possibilidade de colocar determinada resposta em mais

de uma classe estaacute confirmando para as classes condiccedilotildees estabelecidas por

Aristoacuteteles para as categorias

Aristoacuteteles denomina categorias ou predicamentos as diferentes maneiras de

afirmar-se algo de um sujeito os diversos conjuntos mais gerais90 de predicados

aplicaacuteveis a qualquer objeto as diferentes categorias de predicados que se podem

atribuir a um sujeito qualquer um dos modos fundamentais do ser que pode ser

afirmado na predicaccedilatildeo

Categorias natildeo satildeo portanto para Aristoacuteteles espeacutecies do gecircnero ser mas

gecircneros supremos ou primeiras divisotildees do ser91 Condicionam ontologicamente

toda a compreensatildeo que o sujeito tem da realidade As categorias natildeo constituem

uma mera estrutura de conceitos mas satildeo elas proacuteprias conceitos reais que

produzem conceitos reais e que guiam a sua deduccedilatildeo ou seja as categorias satildeo

conceitos originais ou baacutesicos de todos os outros As categorias como que designam

os diferentes pontos de vista possiacuteveis sob os quais uma coisa pode ser

considerada Todas as categorias se articulam com a substacircncia constituindo os

vaacuterios sentidos e seacuterie de atributos da substacircncia poreacutem diferem umas das outras

por causa das diferentes relaccedilotildees que mantecircm com a substacircncia primeira Desse

modo as substacircncias (homem gato cadeira etc) sempre se apresentam matizadas

90 Nos escritos de Aristoacuteteles pode-se detectar que ldquocategoriasrdquo diferem de ldquoclassesrdquo principalmente por serem uacuteltimas mais elevadas ou fundamentais 91 Suprema rerum genera

95

por acidentes que datildeo lugar aos conceitos Assim refere-se a seres ou objetos

grandes ou pequenos proacuteximos ou distantes parados ou em movimento amaacuteveis

ou agressivos relacionados entre si ou isolados

Do dito anteriormente pode-se inferir que categorias satildeo grupos de termos de

alta generalizaccedilatildeo uma vez que elas ainda natildeo se encontram lsquoaplicadasrsquo e que o

conhecimento das categorias deve resultar em uma maior capacidade de anaacutelise dos

elementos e argumentos do discurso

Ryle (1975 p 29) afirma que ldquoAristoacuteteles pensava que a sua lista de categorias

era uma lista de quecircrdquo Observando que a palavra categoria significava o que a atual

palavra predicado significa partilhando toda a falta de precisatildeo e a ambiguidade desse

substantivo em portuguecircs A lista de Aristoacuteteles pretendia ser uma lista dos tipos uacuteltimos

de predicados (proposiccedilotildees simples) Essa noccedilatildeo de categoria como determinaccedilatildeo do

real predicaccedilatildeo pertencente ao proacuteprio ser e da qual o intelecto deve utilizar-se para

conhecer o ser e revelaacute-lo em palavras durou muito tempo e por muito tempo as escolas

filosoacuteficas ou os filoacutesofos soacute discordaram quanto ao nuacutemero ou agrave distinccedilatildeo das

categorias Assim os estoacuteicos refletindo acerca do conhecimento humano reduzem as

categorias ao nuacutemero de quatro substacircncia qualidade modo da coisa ou de ser e

relaccedilatildeo - provavelmente uma derivaccedilatildeo das categorias aristoteacutelicas (ABBAGNANO

2003 p 122 FERRATER MORA 1971 v 1 p 266) Ressurge aqui o conceito de

categoria como ldquoprinciacutepio de divisatildeordquo - princiacutepio racional comum que se persegue para as

classificaccedilotildees bibliograacuteficas claacutessicas

Os epicuristas elaboraram tambeacutem um sistema categoacuterico que continha dez

categorias em dois versos hexaacutemetros (verso grego ou latino)

Intervalla viae connexus pondera plagas

Concursus motus ordo positure figura

mas que natildeo coincidiam com as categorias de Aristoacuteteles (ENCICLOPEDIA VNIVERSAL

ILVSTRADA 1970 v 12 p 530)

Os platocircnicos posteriores retornaram aos cinco gecircneros supremos de Platatildeo

(o ser o movimento o repouso ou estabilidade a identidade ou o mesmo e a

diferenccedila ou o outro) considerando-os como gecircneros do ser Plotino (205-270)

distingue dez gecircneros supremos os do mundo inteligiacutevel (a substacircncia o repouso o

movimento a identidade e a diferenccedila) e os do mundo sensiacutevel (a substacircncia a

relaccedilatildeo a quantidade a qualidade e o movimento) Mais tarde Plotino propotildee

reduzir as quatro uacuteltimas categorias agrave de relaccedilatildeo e assim as categorias do mundo

96

sensiacutevel ficam reduzidas a duas a substacircncia e a relaccedilatildeo (LAROUSSE 1867 v 3

p 576)

Observa-se que a partir de Aristoacuteteles a doutrina das categorias trilha o caminho

de sucessivas reelaboraccedilotildees metafiacutesicas de acordo com o modo de conceber o ser

A influecircncia da classificaccedilatildeo aristoteacutelica dos seres no acircmbito das classificaccedilotildees

bibliograacuteficas claacutessicas faz-se notar de modo mais incisivo na classificaccedilatildeo de

Ranganathan que em seu sistema incluiu categorias seguindo o modelo aristoteacutelico

assunto tratado na subseccedilatildeo 47

Na Idade Meacutedia os escolaacutesticos passaram a dividir os predicamentos de acordo

com a lista aristoteacutelica - com algumas variantes e aprofundamento Agrave doutrina do

fundamento real das categorias (que vigorava na eacutepoca) Guilherme de Ockham (latim

Occam 1285-1349) contrapocircs o nominalismo92 - que significou - um ataque aos

fundamentos da Escolaacutestica93 e um sinal do iniacutecio de novos tempos - que defendia o

caraacuteter puramente verbal das categorias para o qual elas natildeo passam de signos das

coisas (ABBAGNANO 2003 p 122) Esse ponto de vista equivale a considerar as

categorias como simples nomes signos ldquosimplesrdquo dotados da capacidade de serem

predicados de vaacuterias coisas ou nomes que se referem a grupos de objetos

O pensamento de Ockham caracteriza-se por um empirismo radical soacute existe o

que pode ser captado pelos sentidos Soacute o objeto individual eacute real Todas as maneiras de

especulaccedilatildeo metafiacutesica devem ser rejeitadas A realidade consiste em objetos distintos

que natildeo partilham nenhuma natureza comum (a menos que isso se decirc por convenccedilatildeo)

Para Ockham natildeo existem essecircncias comuns a vaacuterias coisas porque na realidade haacute

apenas indiviacuteduos (MAZIP 2001 p 123-124) Assim como a essecircncia natildeo se distingue

da existecircncia a substacircncia natildeo pode ser considerada como se fosse uma categoria

separada Ockham sustenta que natildeo haacute em nenhuma parte uma localidade ou uma

temporalidade mas apenas um onde e um quando existe respectivamente apenas um

como e um quanto mas natildeo qualidade e quantidade Na realidade natildeo haacute relaccedilatildeo como

algo autocircnomo mas apenas as coisas relacionadas A relaccedilatildeo existe somente na cabeccedila

92 Nominalismo corrente da Escolaacutestica Medieval tambeacutem chamada conceptualismo (doutrina das palavras) pelos historiadores oitocentistas da Filosofia Medieval segundo o qual os universais natildeo existem nem no mundo das coisas nem no pensamento Dessa negaccedilatildeo total de qualquer realidade universal deriva a negaccedilatildeo da realidade das categorias Leibniz dizia que ldquosatildeo nominalistas todos os que acreditam que aleacutem das substacircncias singulares soacute existem os nomes puros e portanto eliminam a realidade das coisas abstratas e universaisrdquo (ABBAGNANO 2003 p 122 715) 93 Cf nota 41

97

dos homens Natildeo haacute uma grande quantidade apenas muitas coisas Admitir uma relaccedilatildeo

aleacutem das coisas relacionadas uma grande quantidade aleacutem das muitas coisas eacute uma

inuacutetil duplicaccedilatildeo ou multiplicaccedilatildeo contradiz o fundamento de toda loacutegica e de toda

ciecircncia a saber natildeo admitir nada mais quando algo bastar para o esclarecimento Esse

princiacutepio formulado como nunca empregue pressuposiccedilotildees argumentos ou essecircncias

mais do que o necessaacuterio para o esclarecimento foi adotado como a ldquonavalha de

Ockhamrdquo na metodologia da Ciecircncia e da Filosofia (FERRATER MORA 1971 v 1 p

266 STOumlRIG 2008 p 232)

Ockham define os predicamentos como termos de primeira intensatildeo incluindo

neles principalmente substacircncia qualidade e relaccedilatildeo e interpreta os sistemas

categoriais como o de Aristoacuteteles sob o ponto de vista do seu nominalismo o que

significa que natildeo satildeo as coisas objetos ideacuteias fenocircmenos seres que satildeo

classificados e compreendidos mas apenas os signos as palavras e os nomes que

lhes satildeo atribuiacutedos

A consequecircncia do nominalismo de Ockham foi o rompimento do viacutenculo

entre Teologia e Filosofia emudecendo o diaacutelogo entre feacute e saber Essa cisatildeo

atravessa toda a cultura moderna

322 Idade Moderna Seacuteculos XVI XVII e XVIII

No final do seacuteculo XVI Francis Bacon (1561-1626)94 em sua obra De

Augmentis Scientiarum (1623 v 4) nomina as suas categorias em Maius Minus

Multum Paucum Idem Diversum Potentia Actus Habitus Privatio Totum Partes

Agens Patiens Motus Quies Ens Non Ens (CENTRO DI STUDI FILOSOFICI DI

GALLARATE 1957 p 941) No seacuteculo XVII surgem duas grandes correntes filosoacuteficas o racionalismo

representado por Spinoza e Leibniz e o empirismo por Hobbes Locke e Hume

representantes da Filosofia Moderna preacute-kantiana

Baruch Spinoza (1632-1677) sugere na Eacutetica (Ethica 1660-1663) trecircs

determinaccedilotildees fundamentais substacircncia atributo e modo95 (MAZIP 2001 p170-173)

94 Cf subseccedilatildeo 312 95 Terminologia de Spinoza substacircncia eacute aquilo que eacute em si e que eacute concebido por si aquilo cujo conceito natildeo precisa do conceito de nenhuma outra coisa para ser formado Deus attributo eacute aquilo que a mente apreende da substacircncia como constitutivo da sua essecircncia relativo a Deus e modo eacute aquilo que eacute relativo agrave substacircncia e que mesmo subsistindo em outra coisa soacute eacute pensado por meio da substacircncia as criaturas (MAZIP 2001 p 173)

98

Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) defende a existecircncia dos primeiros

princiacutepios ou seja de ideacuteias inatas96 e distingue duas coisas na substacircncia - apesar de

admitir que o homem natildeo possui nenhuma ideacuteia clara da substacircncia em geral o que soacute

se torna possiacutevel por intermeacutedio de ferramentas ou instrumentos como o microscoacutepio -

os atributos ou predicados e o sujeito comum desses predicados e apresenta uma lista

de seis categorias sendo a primeira a proacutepria substacircncia seguida por quantidade

qualidade accedilatildeo paixatildeo e relaccedilatildeo (Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano

1701-1704) Leibniz defende a existecircncia de ideacuteias inatas ou primeiros princiacutepios que

natildeo podem provir da experiecircncia porque tecircm uma necessidade absoluta da qual

carecem os conhecimentos empiacutericos (MAZIP 2001 p 190)

Thomas Hobbes (1588-1679) desenvolve no Leviatatilde (Leviathan 1651) uma

concepccedilatildeo de mundo que vecirc nas categorias mateacuteria (uacutenica substacircncia) extensatildeo (o

ser da mateacuteria se revela na sua extensatildeo) e movimento (causa do devir do vir-a-ser

da progressatildeo no seio da realidade corpoacuterea pois espaccedilo e tempo natildeo passam de

reflexos subjetivos do movimento) os uacutenicos princiacutepios explicativos do real

(CENTRO DI STUDI FILOSOFICI 1957 p 938-950 MAZIP 2001 p 173-175)

John Locke (1632-1704) elabora importante teoria do conhecimento na obra

Ensaio sobre o Entendimento Humano (Essay Concerning Human Understanding

1689) cuja reflexatildeo tem por objetivo saber qual eacute a essecircncia qual a origem qual o

alcance do conhecimento humano Nessa obra Locke elege trecircs tipos fundamentais

de ideacuteias complexas ou de categorias fundamentais substacircncia modo e relaccedilatildeo (ao

designar a relaccedilatildeo97 como categoria pode-se dizer que comparece aqui

explicitamente e pela primeira vez o conceito de categoria como funcionalidade

96 Terminologia de Leibniz ldquoIdeacuteias inatas Primeiros princiacutepios que natildeo podem provir da experiecircncia porque tecircm uma necessidade absoluta que os conhecimentos empiacutericos natildeo tecircm de identidade de natildeo-contradiccedilatildeo e de razatildeo suficienterdquo (MAZIP 2001 p 191) Para Leibniz (1980 p 160) ldquoo espiacuterito observa um certo nuacutemero de ideacuteias simples - as quais sendo consideradas como pertencentes a uma soacute coisa satildeo designadas por um soacute termo quando satildeo reunidas em um soacute sujeito - satildeo constantemente associadas e combinadasrdquo 97 As relaccedilotildees entre os conceitos de objetos reais ou imaginaacuterios de um dado contexto de conhecimento satildeo de natureza diversa Segundo Maria Luiza de Almeida Campos (2001 f 130) a relaccedilatildeo categorial aparece na Teoria do Conceito como relaccedilatildeo formal-categorial na Teoria da Classificaccedilatildeo Facetada como categoria e na Ontologia Formal como Teoria dos Universais Nessas trecircs teorias a noccedilatildeo de categoria se coloca como um elemento agregador que reuacutene em um grande agrupamento os objetos por sua natureza O entendimento das relaccedilotildees entre os objetos a elaboraccedilatildeo de estruturas conceituais tais como relaccedilatildeo categorial relaccedilatildeo hieraacuterquica relaccedilatildeo partitiva relaccedilatildeo entre categorias e relaccedilatildeo de equivalecircncia encontram-se detalhadas em CAMPOS Maria Luiza Campos Linguagem documentaacuteria teorias que fundamentam sua elaboraccedilatildeo Niteroacutei Eduff 2001

99

pois eacute o sujeito humano ativo que produz as relaccedilotildees) Ao nascer a alma natildeo tem

nenhuma ideacuteia O conhecimento humano comeccedila com a experiecircncia sensiacutevel e eacute

condicionado por ela Por intermeacutedio do processo cognitivo de anaacutelise e siacutentese as

ideacuteias (sinais das coisas) simples (casa flor) combinam-se em ideacuteias complexas

(cor odor) que se transformam em ideacuteias abstratas (homem beleza) Em Locke a

relaccedilatildeo eacute viacutenculo entre as impressotildees e as ideacuteias e a categoria se converte em

funccedilatildeo do pensamento (CENTRO DI STUDI FILOSOFICI 1957 p 938-950

MAZIP 2001 p 176-178)

David Hume (1711-1776) em Investigaccedilatildeo Acerca do Entendimento Humano

(Enquiry Concerning Human Understanding 1748) partindo do princiacutepio de que soacute

se pode observar os fenocircmenos e de que o mecanismo iacutentimo do real natildeo eacute passiacutevel

de experiecircncia afirma que as relaccedilotildees satildeo exteriores aos seus termos ou seja se

as relaccedilotildees natildeo podem ser observadas natildeo pertencem aos objetos As relaccedilotildees satildeo

apenas modos pelos quais se passa de um objeto a outro de um termo a outro de

uma ideacuteia particular a outra simples passagens externas que permitem associar os

termos a partir de princiacutepios98 Hume considera categorias (princiacutepios ou leis

universais que guiam a imaginaccedilatildeo) de substacircncia e de causalidade (relaccedilatildeo de

causa e efeito) como produtos da subjetividade empiacuterica ou seja a relaccedilatildeo de

causa e efeito natildeo pode ser conhecida a priori pelo simples exame dos conceitos

implicados na relaccedilatildeo mas somente pela experiecircncia Diante de um objeto novo por

exemplo eacute impossiacutevel descobrir as suas causas e os seus efeitos pois o nexo

causal tem valor subjetivo (ARANHA MARTINS 2003 p 133) Ainda que em Hume

se possa falar de distinccedilatildeo categorial o criteacuterio de distinccedilatildeo eacute dado pelos tipos

fundamentais de qualidade associativa em que uma ideacuteia de determinada coisa faz

introduzir naturalmente uma outra As qualidades ou princiacutepios dos quais nasce

essa associaccedilatildeo em virtude da qual a mente torna-se portadora e transmissora de

uma outra ideacuteia satildeo trecircs semelhanccedila contiguidade - continuidade no tempo e no

espaccedilo - e causalidade - causa e efeito (MAZIP 2001 p 181-188)

98 Na terminologia de Hume substacircncia coleccedilatildeo de ideacuteias simples reunidas pela imaginaccedilatildeo e designadas com nome especial com o qual podemos evocaacute-las para noacutes mesmos e para os outros causalidade relaccedilotildees que nascem da experiecircncia bastante problemaacuteticas em razatildeo da sua origem incerta e do seu valor subjetivo (a fantasia associa a ferida agrave dor em decorrecircncia do nexo entre elas) pois as ideacuteias dependem das impressotildees e natildeo as impressotildees das ideacuteias contiguidade a fantasia associa o sino ao campanaacuterio por causa da proximidade espacial dos dois e semelhanccedila relaccedilotildees que procedem do simples exame das ideacuteias e que conferem certeza nexo entre as ideacuteias simples e as impressotildees simples e entre as ideacuteias complexas e as impressotildees originais (MAZIP 2001 p 186-188)

100

Entre os filoacutesofos modernos a mais importante contribuiccedilatildeo eacute a de Immanuel Kant99 (1724-1804) Como observado anteriormente a filosofia de Kant floresce em

uma eacutepoca de grande progresso cientiacutefico Todas essas transformaccedilotildees fazem com

que o autor indague o porquecirc da Metafiacutesica (considerada a matildee de todas as

ciecircncias - a melhor representante do saber assim como o conhecimento metafiacutesico

compreendido como exerciacutecio de delimitaccedilatildeo da razatildeo) natildeo demonstrar avanccedilos

significativos apenas limitando-se a anaacutelises que natildeo satildeo mais que desdobramento

de conceitos Kant considera que a Metafiacutesica se pauta unicamente em

conhecimentos a priori isto eacute em ideacuteias que se datildeo apenas no entendimento e que

independem da experiecircncia (emperia) satildeo conhecimentos puros sem a

comprovaccedilatildeo empiacuterica que caracteriza os conhecimentos a posteriori aqueles cujo

conteuacutedo se pode adquirir pela experiecircncia Kant defende a existecircncia desses

conhecimentos a priori afirmando que satildeo possiacuteveis e demonstraacuteveis pelas

matemaacuteticas Assim mesmo que natildeo se possua materialmente um triacircngulo (que

serviria para verificar conceitos pela experiecircncia) eacute possiacutevel saber

aprioristicamente que a soma de seus acircngulos internos eacute sempre 180 graus Por

essa razatildeo Kant propotildee elevar a Metafiacutesica ao status de grande ciecircncia Para tanto

pretende dotar a Metafiacutesica do rigor dos procedimentos das Ciecircncias Matemaacuteticas

importando-lhes o fundamento matemaacutetico do qual compartilha a Geometria

Euclidiana e a Fiacutesica Newtoniana todas jaacute plenamente constituiacutedas no seu tempo

Desse modo tambeacutem a Metafiacutesica poderia participar do ritmo de progresso das

outras ciecircncias (KAHLMEYER-MERTENS 2001)

Atento agrave confusatildeo conceitual a respeito da natureza do conhecimento

humano Kant sabia que o mundo que tinha agora de ser classificado era o mundo

dos conceitos e dos conceitos natildeo em relaccedilatildeo ao seu conteuacutedo material o que natildeo

teria mudado em nada a classificaccedilatildeo aristoteacutelica das categorias mas os conceitos

como tais enquanto maneiras a priori do conhecimento representando as funccedilotildees

99 Filoacutesofo e idealista alematildeo criador do kantismo doutrina caracterizada principalmente pela intenccedilatildeo de determinar os limites o alcance e o valor da razatildeo concluindo pela reduccedilatildeo do campo do conhecimento racional aos objetos de experiecircncia possiacutevel o que significava a negaccedilatildeo da possibilidade de conhecimento racional dos objetos da Metafiacutesica e da Religiatildeo Autor de trecircs obras criacuteticas Criacutetica da Razatildeo Pura (Kritik der reinen Vernunft 1781-1785) que investiga os limites da sensibilidade e da razatildeo a partir da formulaccedilatildeo ldquoo que posso conhecerrdquo Criacutetica da Razatildeo Praacutetica (1788) que trata do problema ldquoo que devo fazerrdquo investigando a esfera da Moral e Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo (1790) que busca responder a questatildeo ldquoo que eacute liacutecito esperarrdquo em siacutentese aos dois movimentos anteriores Kant influenciou decisivamente escolas filosoacuteficas como o Idealismo alematildeo (MAZIP 2001 p 218-236)

101

essenciais do pensamento discursivo A ideacuteia geral de Kant eacute que soacute se pode ter o

sentido do mundo pela imposiccedilatildeo de alguma estrutura originariamente de dentro da

mente para escolher entre categorias pela compreensatildeo ou visatildeo de conjunto de

substacircncias em relaccedilotildees causais

Kant ao examinar na obra Criacutetica da Razatildeo Pura as condiccedilotildees nas quais o

conhecimento racional eacute possiacutevel e se eacute possiacutevel uma ldquorazatildeo purardquo independente

dos dados fornecidos pela experiecircncia cria um meacutetodo conhecido como criticismo

kantiano100 Natildeo concorda com os empiristas (tudo que se conhece vem dos

sentidos da experiecircncia) nem com os racionalistas (tudo quanto se pensa vem do

proacuteprio homem) e estabelece um novo paradigma no qual o sujeito do conhecimento

eacute a razatildeo universal e natildeo uma subjetividade pessoal e psicoloacutegica

Na concepccedilatildeo kantiana a razatildeo aparece como

a) estrutura vazia uma forma pura sem conteuacutedos

b) inata existe a priori vem antes da experiecircncia e natildeo depende dela

c) universal a mesma para todos os seres humanos e em qualquer tempo e

espaccedilo

O conhecimento eacute constituiacutedo de mateacuteria - as proacuteprias coisas - e de forma -

os homens Ou seja para conhecer as coisas precisa-se da experiecircncia sensiacutevel

que fornece a mateacuteria (os conteuacutedos) do conhecimento para a razatildeo e esta fornece

a forma (universal e necessaacuteria) do conhecimento (anterior a qualquer experiecircncia)

Entretanto eacute o espiacuterito graccedilas agraves estruturas a priori que constroacutei a ordem do

universo (ARANHA MARTINS 2003 CHAUIacute 2005)

Pode-se dizer que para Kant as categorias natildeo existem como realidade externa

satildeo antes formas que o sujeito potildee nas coisas Quando se observa a natureza e se afirma

que uma coisa lsquoeacute istorsquo ou lsquotal coisa eacute causa de outrarsquo tem-se de um lado coisas que se

percebem pelos sentidos mas de outro algo lhes escapa isto eacute as categorias As

categorias natildeo vecircm da experiecircncia mas satildeo postas pelo proacuteprio sujeito cognoscente A

100 Em uma acepccedilatildeo estrita histoacuterica a palavra criticismo designa a filosofia particularmente a gnoseologia de Kant Muitos dos seus conceitos fundamentais tecircm passado ao leacutexico filosoacutefico universal mas os seus sentidos natildeo podem ser compreendidos a partir de uma interpretaccedilatildeo cotidiana dos termos senatildeo em conexatildeo com o edifiacutecio doutrinal inteiro criacutetica exerciacutecio de delimitaccedilatildeo de um objeto razatildeo faculdade que todos os homens possuem e que permite que eles sejam capazes de entender conhecer julgar etc puro natildeo possuir nada que natildeo seja proacuteprio nada que lhe tenha sido agregado em um momento posterior Assim Criacutetica da Razatildeo Pura eacute o exerciacutecio de descoberta dos limites dessa faculdade que permite ao homem conhecer julgar etc (KAHLMEYER-MERTENS 2001)

102

razatildeo e o sujeito do conhecimento detecircm as estruturas espaciais temporais quantitativas

qualitativas causais etc que permitem o conhecer racional e verdadeiro O conhecimento

experimental eacute composto do que se recebe por impressotildees e do que a proacutepria faculdade de

conhecer de si mesma tira de tais impressotildees (KANT 1974) A razatildeo por meio do

entendimento organiza os conteuacutedos empiacutericos - as percepccedilotildees - e essa organizaccedilatildeo eacute

que permite a transformaccedilatildeo das percepccedilotildees (sons cores imagens) em conhecimentos

intelectuais ou em conceitos Ou seja satildeo as propriedades espaciais e temporais do

homem que permitem percepccedilotildees (de lugares coisas situaccedilotildees) e experiecircncias (da

passagem do tempo e da continuidade descontinuidade simultaneidade e repeticcedilatildeo dos

acontecimentos) Eacute essa organizaccedilatildeo espaccedilo-temporal dos objetos do conhecimento que eacute

inata universal e necessaacuteria Por isso eacute que em Kant o entendimento eacute anterior agrave

experiecircncia e independente dela pois os conteuacutedos empiacutericos satildeo organizados por um

conjunto de elementos as chamadas categorias a priori e eacute com elas que o sujeito do

conhecimento formula os conceitos e eacute soacute a partir dessas estruturas que as ciecircncias satildeo

possiacuteveis e vaacutelidas Para Kant esse eacute o uacutenico modo de conhecimento real e capaz de

promover o progresso da Metafiacutesica enquanto ciecircncia

Para Kant (1974) as categorias condiccedilotildees indispensaacuteveis do pensamento

comum e cientiacutefico natildeo descrevem a realidade mas tornam possiacutevel dar conta dela

ou seja garantem a possibilidade de conhecimento empiacuterico Em Kant torna-se

expliacutecita aquela estrutura jaacute presente na Filosofia Moderna na qual a realidade

transcende o conhecer e necessita conceber o conhecer como procedente do sujeito

produto deste Consequentemente as categorias cessam de ser a revelaccedilatildeo da

estrutura da realidade como na Filosofia greco-medieval e nas escolas filosoacuteficas ateacute

o iniacutecio do seacuteculo XVIII (Kant nega o realismo da concepccedilatildeo claacutessica) e passam a ser

ldquoconceitos fundamentais do entendimento101 puro102 que prescrevem leis aos

101 [] ldquoo entendimento natildeo eacute um poder de intuiccedilatildeo [] eacute um conhecimento mediante conceitos natildeo intuitivo mas discursivordquo (KANT 1974 p 66)

102 Dado que puro em Kant significa natildeo misturado com o diverso que proveacutem da intuiccedilatildeo empiacuterica o puro preexiste agrave captaccedilatildeo do objeto por parte do sujeito cognoscente assim o puro eacute a priori O domiacutenio do puro diz respeito agraves condiccedilotildees de possibilidade de todo o objeto (de experiecircncia) cognosciacutevel pelo entendimento e nesse sentido preciso eacute transcendental (MAZIP 2001 p 67) Os conceitos puros da razatildeo aqui considerados satildeo ideacuteias transcendentais Satildeo conceitos da razatildeo pura porque consideram todo conhecimento experimental como determinado por uma totalidade absoluta das condiccedilotildees Natildeo satildeo formados arbitrariamente mas satildeo dados pelo contraacuterio pela proacutepria natureza da razatildeo e referem-se necessariamente tambeacutem a todo o uso do entendimento (VANCOURT 1980) As categorias fazem parte portanto do momento transcendental do conhecimento permitindo uma verificaccedilatildeo da verdade como verdade transcendental - questatildeo fundamental da Filosofia

103

fenocircmenosrdquo (palavra que etimologicamente significa o que aparece) -

Stammbegriffe des reinen Verstandes103 - (KANT 1974 p 95) isto eacute modos pelos

quais se manifesta a atividade do intelecto que consiste essencialmente em ordenar

diversas representaccedilotildees a respeito de uma representaccedilatildeo comum isto eacute em julgar -

apoiando-se nas espeacutecies de juiacutezos104 As categorias satildeo portanto as formas em que

o juiacutezo se explica Conceitos de um objeto em geral ldquoas categorias [] natildeo satildeo

senatildeo justamente funccedilotildees para julgar [] as categorias devem surgir somente no

entendimento independentemente da sensibilidaderdquo (KANT 1974 p 87)

Considerando que para Kant a atividade do intelecto consiste em emitir

julgamentos e que julgar significa sobrepor agrave experiecircncia condiccedilotildees universalizantes

(categorias) na sua tabela (que Kant chamava de taacutebua) as categorias satildeo

formuladas paralelamente aos juiacutezos que podem ser considerados sob quatro

pontos de vista da quantidade da qualidade da relaccedilatildeo e da modalidade Para

cada um desses pontos de vista satildeo possiacuteveis trecircs tipos de juiacutezos105 que

correspondem a trecircs tipos de categorias (quadro 23) que funcionam como

constitutivas aprioriacutesticas dos objetos por isso de constituiccedilatildeo ideal

103 Conceitos fundamentais do entendimento puro 104 Um juiacutezo eacute uma conexatildeo entre representaccedilotildees que eacute feita conforme uma categoria seguindo uma regra que eacute igual para todos os sujeitos e que confere objetividade agravequilo a que se uniu na percepccedilatildeo (KANT 1974 p 88) Como visto o termo juiacutezo em Kant aleacutem do sentido especiacutefico - uma faculdade de julgar (afirmar ou negar a conveniecircncia de um predicado em relaccedilatildeo ao sujeito) - quando aplicado refere-se ao entendimento a um modo de conhecer de pensar um objeto 105 A divisatildeo kantiana dos juiacutezos segundo esquemas loacutegicos (pontos de vista) 1) da quantidade universais aqueles que natildeo admitem exceccedilotildees satildeo o resultado da reflexatildeo sobre a experiecircncia mediante categorias todos os curitibanos satildeo paranaenses particulares aqueles que se aplicam a alguns sujeitos alguns paranaenses satildeo torcedores do Coritiba Futebol Clube singulares aqueles que se aplicam a um soacute elemento Daniel eacute professor 2) da qualidade afirmativos Liliana eacute bibliotecaacuteria negativos Letiacutecia natildeo eacute bibliotecaacuteria infinitos ou indefinidos a alma eacute natildeo-mortal 3) da relaccedilatildeo categoacutericos aqueles expliacutecitos e absolutos Meu pai eacute um homem determinado hipoteacuteticos aqueles que formulam uma tese provisoacuteria sujeita a comprovaccedilatildeo dependem de alguma condiccedilatildeo os glutotildees normalmente satildeo bons cozinheiros disjuntivos aqueles que apresentam alternacircncia Wilson mora em Curitiba ou Antonina 4) da modalidade problemaacuteticos aqueles que satildeo apenas possiacuteveis ou parcialmente verdadeiros nada acrescentam ao conteuacutedo os franceses geralmente satildeo mal humorados assertivos aqueles assegurados como verdadeiros ou falsos mas que natildeo excluem a possibilidade loacutegica de uma contradiccedilatildeo nada acrescentam ao conteuacutedo Ligia natildeo eacute sincera apodiacutecticos aqueles absolutos necessaacuterios sem reacuteplica possiacutevel nada acrescentam ao conteuacutedo o oxigecircnio eacute fundamental a vida

104

PONTOS DE VISTA JUIacuteZOS CATEGORIAS Quantidade Universais Totalidade

(amplitude do sujeito) Particulares Multiplicidade

Singulares Unidade

Qualidade Afirmativos Ser

(qualidade da ligaccedilatildeo) Negativos Natildeo-ser

Indefinidos Limitaccedilatildeo

Relaccedilatildeo Categoacutericos Substacircncia-inerecircncia

(entre sujeito e predicado) Hipoteacuteticos Causalidade-dependecircncia

Disjuntivos Comunhatildeo-reciprocidade

Modalidade Problemaacuteticos Possibilidade-impossibilidade

(modo da formulaccedilatildeo) Assertivos Realidade-irrealidade

Apodiacutecticos Necessidade-contingecircncia

QUADRO 23 - DIVISAtildeO KANTIANA DOS JUIacuteZOS E DAS CATEGORIAS FONTE a autora com base em Kant (1974 p 67 71)

A taacutebua106 que encerra quatro grupos de categorias (concepccedilotildees puras do

entendimento) eacute deduzida de um uacutenico princiacutepio comum a saber do poder de julgar

(da faculdade do juiacutezo) e compreende

1 Categorias da quantidade (unidade pluralidade totalidade) 2 Categorias da qualidade (realidade negaccedilatildeo limitaccedilatildeo) 3 Categorias da relaccedilatildeo (inerecircncia e subsistecircncia (substantia et accidens) Causalidade e dependecircncia (causa e efeito) Comunidade (accedilatildeo reciacuteproca entre agente e paciente) e 4 Categorias da modalidade (possibilidade - impossibilidade Existecircncia - natildeo-ser Necessidade - contingecircncia) (KANT 1974 p 71)

A operaccedilatildeo transcendental (subjetiva) do entendimento e da razatildeo eacute a que

unifica as categorias

Quanto agraves caracteriacutesticas das categorias pode-se dizer que cada categoria

age segundo um princiacutepio proacuteprio (por exemplo a categoria da Causalidade-

dependecircncia age segundo o princiacutepio de que ldquotodas as mudanccedilas se processam

segundo a lei do nexo causalrdquo) as categorias e os princiacutepios que regulam o seu uso

106 Acerca da tabela das categorias de Kant (1974 p 74) observa-se que - em cada classe o nuacutemero de categorias eacute sempre igual a trecircs - a terceira categoria surge sempre da ligaccedilatildeo da segunda com a primeira de sua classe (a totalidade eacute a multiplicidade considerada como unidade a limitaccedilatildeo eacute a realidade ligada com a negaccedilatildeo a comunidade eacute a causalidade de uma substacircncia em determinaccedilatildeo reciacuteproca com outra substacircncia e a necessidade eacute a existecircncia dada pela proacutepria possibilidade) - as conexotildees satildeo pensadas como coordenadas e natildeo como subordinadas umas agraves outras de modo que se determinem entre si natildeo unilateralmente como numa seacuterie mas reciprocamente como num agregado

105

natildeo satildeo produtos da experiecircncia mas condiccedilotildees a priori de qualquer experiecircncia

pois no que diz respeito agrave forma do pensamento eacute somente por meio delas que a

experiecircncia se torna possiacutevel as categorias e os princiacutepios aplicam-se aos

fenocircmenos e natildeo agraves coisas em si as categorias em si mesmas natildeo constituem

conhecimento satildeo formas vazias e incapazes de dar origem ao conceito de algum

objeto Necessitam ser determinadas aplicadas para serem validadas

A categoria natildeo tem para o conhecimento das coisas nenhum outro uso

aleacutem da sua aplicaccedilatildeo a objetos da experiecircncia possiacutevel Portanto natildeo se pode

pensar nenhum objeto senatildeo mediante categorias natildeo se pode conhecer nenhum

objeto pensado senatildeo mediante intuiccedilotildees que correspondam agravequeles conceitos Satildeo

os conceitos que tornam possiacutevel a experiecircncia Logo segundo Kant as categorias

possuem por parte do entendimento os fundamentos da possibilidade de toda

experiecircncia em geral (KANT 1974 p 95-98)

Haacute na concepccedilatildeo kantiana de categorias o encaminhamento para a

concepccedilatildeo instrumental das categorias Pois as categorias satildeo tratadas por Kant e

pela escola kantiana como simples instrumentos da razatildeo pura totalmente

independentes dos fenocircmenos e da proacutepria intuiccedilatildeo gerados pela imaginaccedilatildeo

Portanto Kant retoma o termo natildeo mais se referindo ao ser mas ao conhecer107

para designar os conceitos ou princiacutepios a priori que fornecem a estrutura necessaacuteria

para que o entendimento possa perceber ou conceber aquilo que eacute dado pela

experiecircncia isto eacute as categorias natildeo se referem mais ao objeto a ser conhecido

mas ao entendimento como faculdade de conhecimento daiacute serem definidas como

conceitos fundamentais a priori do entendimento puro Ao concluir essa anaacutelise kantiana acerca das categorias registra-se que ela

pode ser entendida como uma observaccedilatildeo aos princiacutepios loacutegicos de classificaccedilatildeo

elaborados por Aristoacuteteles - a classificaccedilatildeo dicotocircmica - que em diversos niacuteveis

desempenhou atraveacutes dos seacuteculos um importante papel na determinaccedilatildeo dos

princiacutepios dos sistemas tradicionais de classificaccedilatildeo bibliograacutefica

107 Com relaccedilatildeo ao conhecer pensando em termos de organizaccedilatildeo do conhecimento para a Ciecircncia da Informaccedilatildeo Dahlberg (1978 p 28) pondera que todo conhecimento da realidade eacute incerto e duvidoso pois haacute um mundo desconhecido ao qual soacute se tem acesso parcial pela subjetividade A questatildeo se eacute possiacutevel coincidir estruturas cognitivas e estruturas reais eacute respondida pela ciecircncia cognitiva e pelas bases bioloacutegicas (aliadas agrave evoluccedilatildeo) da compreensatildeo humana

106

323 Idade Contemporacircnea Seacuteculos XIX e XX

Na Filosofia Contemporacircnea encontram-se tanto a retomada da concepccedilatildeo

claacutessica e da concepccedilatildeo kantiana de categoria quanto novas generalizaccedilotildees

relativamente ao seu significado

A concepccedilatildeo claacutessica de categoria como forma ou determinaccedilatildeo do ser eacute

retomada pelo Idealismo Romacircntico alematildeo e em especial por Hegel (1770-1831)

Essa concepccedilatildeo tambeacutem eacute retomada pelos representantes da Fenomenologia e em

especial por Husserl (1859-1938) e Nicolai Hartmann (1882-1950) entre outros

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) na obra Wissenschaft der

Logik (1812) distingue trecircs categorias fundamentais que se subdividem segundo

triacuteades sucessivas 1) ser (quantidade qualidade medida) essecircncia (fundamento

fenocircmeno realidade) e conceito (conceito objetivo conceito subjetivo ideacuteia) As

categorias satildeo para ele ldquodeterminaccedilotildees do desenvolvimento dialeacuteticordquo um

desenvolvimento que comeccedila no ser e culmina na Filosofia Categorias constituem

ldquodeterminaccedilotildees do pensamentordquo que satildeo simultaneamente as determinaccedilotildees da

realidade (pela identidade por ele reformulada entre realidade e razatildeo) Em todo

caso trata-se de correlacionar formas de ser com formas de pensar Contudo a

uacutenica categoria que Hegel reconhece eacute a proacutepria realidade-pensamento uma

consciecircncia da proacutepria realidade Essa teoria do eu-consciecircncia como uacutenica

categoria permaneceu como lugar-comum de todas as formas de idealismo

romacircntico (ABBAGNANO 2003 p 122 FERRATER MORA 1971 v 1 p 267

VERBO 1963-76 v 4 p 1526) Essa concepccedilatildeo eacute retomada tambeacutem por Nicolai

Hartmann (1882-1950) que considera as categorias como as estruturas necessaacuterias ao

ser em si Tais estruturas permitem a estratificaccedilatildeo do mundo real em uma seacuterie de

planos (Der Aufbau der realen Welt Grundriss der allgemeinen Kategorienlehre

1940 A construccedilatildeo do mundo real esboccedilo sobre a teoria geral das categorias) Para

Hartmann existem categorias fundamentais (pertencem a todos os planos do ser)

que satildeo as categorias modais e se referem somente agraves formas do ser (possibilidade

realidade necessidade) existem as categorias elementares ou bipolares (tecircm

caraacuteter estrutural e se apresentam aos pares agrave maneira de termos conexos

contrapostos) que Hartmann agrupa em doze pares de opostos (princiacutepio-concreto

estrutura-modo forma-mateacuteria interno-externo determinaccedilatildeo-dependecircncia

qualidade-quantidade unidade-multiplicidade acordo-desacordo oposiccedilatildeo-

107

dimensatildeo discreccedilatildeo-continuidade substrato-relaccedilatildeo elemento-estrutura) e se

referem agraves oposiccedilotildees e categorias do real que determinam os caracteres da

realidade efetiva e que se dividem em quatro grupos correspondentes ao princiacutepio

do valor ao princiacutepio da crenccedila ao princiacutepio da planificaccedilatildeo e ao princiacutepio da

dependecircncia Hartmann salienta que todas as taacutebuas categoriais que possam ser

formuladas somente representam uma tentativa pois correspondem ao estado do

problema num dado momento natildeo podendo pretender ser um sistema

(ABBAGNANO 2003 p 123 FERRATER MORA 1971 v 1 p 269 STOumlRIG 2008

p 495 VITA 1964 p 110)

A concepccedilatildeo kantiana que define as categorias como ldquodeterminaccedilotildees do

pensamentordquo eacute retomada pelos representantes do Neocriticismo ou Neokantismo108

e em especial por Renouvier (1815-1903) e Cohen (1842-1918) entre outros

Charles Renouvier (1815-1903) define categorias como sendo leis primaacuterias e

irredutiacuteveis do conhecimento relaccedilotildees fundamentais que determinam a forma do

conhecer as noccedilotildees a priori isto eacute independentes da experiecircncia que ao exprimirem

relaccedilotildees gerais permitem organizar e pensar a experiecircncia e formam-se segundo

oposiccedilotildees dialeacuteticas de termos correlativos que mutuamente se implicam Na obra

Ensaio de Criacutetica Geral (Essais de Critique Geacuteneacuterale 1854) Renouvier parte de um

quadro de nove categorias relaccedilatildeo nuacutemero posiccedilatildeo sucessatildeo qualidade porvir ou

devir causalidade finalidade e personalidade e a cada uma faz corresponder uma

tese uma antiacutetese e uma siacutentese (quadro 24) Esse filoacutesofo francecircs que encabeccedila o

Neocriticismo Contemporacircneo para quem a realidade eacute uma construccedilatildeo do espiacuterito

considerou fundamental a categoria relaccedilatildeo (consciecircncia eacute relaccedilatildeo) e definiu as

demais categorias como determinaccedilotildees e especificaccedilotildees da relaccedilatildeo (ABBAGNANO

2003 p 122 ENCICLOPEacuteDIA VNIVERSAL ILVSTRADA 1970 v 12 p 532

VERBO 1963-1976 v 4 p 1524-1528)

108 Neocriticismo Movimento de lsquoretorno a Kantrsquo iniciado na Alemanha em meados do seacuteculo passado e que deu origem a algumas das mais importantes manifestaccedilotildees da Filosofia Contemporacircnea Na Alemanha a corrente neocriticista foi constituiacuteda pela escola de Marburgo agrave qual pertenceram entre outros H Cohen P Natorp e E Cassirer e agrave qual tambeacutem se vincula o francecircs C Renouvier (ABBAGNANO 2003 p 710)

108

CATEGORIAS TESE ANTITESE SIacuteNTESE Relaccedilatildeo Distinccedilatildeo Identificaccedilatildeo Determinaccedilatildeo

Nuacutemero Unidade Pluralidade Totalidade

Posiccedilatildeo Ponto Espaccedilo Extensatildeo

Sucessatildeo Instante Tempo Duraccedilatildeo

Qualidade Diferenta Gecircnero Espeacutecie

Porvir Respeito Natildeo-respeito Mudanza

Causalidade Ato Potecircncia Forccedila

Finalidade Estado Tendecircncia Paixatildeo

Personalidade Ser Natildeo-ser Conciencia

QUADRO 24 - CATEGORIAS DE RENOUVIER (1854) - FRANCcedilA FONTE Larousse (1867 v 3 p 577)

O propoacutesito de tal quadro natildeo parece ser tanto o de estabelecer um conjunto

das determinaccedilotildees pelas quais se rege o conhecimento como o de solucionar

dilemas metafiacutesicos A tendecircncia ao primado da noccedilatildeo ontoloacutegica de categoria

afirma-se nos trabalhos posteriores desse autor sobretudo quando ele reduz o

quadro agraves categorias de relaccedilatildeo de posiccedilatildeo e de personalidade Hermann Cohen (1842-1918) definiu categorias como elementos do pensar

puro e considerou como categoria fundamental a de Sistema porque a unidade do

objeto eacute uma unidade sistemaacutetica (Logik der reinen Erkenntnis Loacutegica do

Conhecimento Puro) Cohen admite que categorias satildeo condiccedilotildees para pensar

poreacutem condiccedilotildees loacutegicas necessaacuterias de tal sorte que em uacuteltimo caso natildeo se sabe

se pertencem ou natildeo realmente ao objeto enquanto que para Paul Natorp (1854-

1924) categorias satildeo funccedilotildees loacutegicas fundamentais (ABBAGNANO 2003 p 122

FERRATER MORA 1971 v 1 p 267)

Em algumas outras correntes da Filosofia Contemporacircnea como por

exemplo no Empirismo Loacutegico as categorias satildeo consideradas regras

convencionais que regem o uso dos conceitos Assim por exemplo Gilbert Ryle

(1900-1976) representante da geraccedilatildeo de filoacutesofos britacircnicos influenciados pelas

teorias de Wittgenstein em relaccedilatildeo agrave linguagem na obra The Concept of Mind de

1949 (obra criacutetica da noccedilatildeo de que a mente eacute distinta do corpo e eacute tambeacutem uma

rejeiccedilatildeo agrave teoria de Descartes) chama de tipo ou categoria loacutegica de um conceito o

conjunto de modos nos quais por convenccedilatildeo eacute liacutecito utilizar o termo respectivo

109

(RYLE 1949) No entendimento de Ryle (1975 p 29-41) lsquoproposiccedilatildeo categorialrsquo ou

lsquopalavra categorialrsquo eacute uma proposiccedilatildeo semacircntica de primeira espeacutecie que afirma

alguma coisa acerca do tipo loacutegico (categoria) de um fator ou de um conjunto de

fatores fornecendo informaccedilatildeo acerca da natureza das coisas Alguns tipos

(categorias) por ele reconhecidos foram qualidade estado substacircncia e nuacutemero

Segundo Abbagnano (2003 p 123-124) no que diz respeito agrave definiccedilatildeo de

categoria de Ryle essa eacute certamente a noccedilatildeo menos dogmaacutetica e mais geral de categoria que a filosofia propocircs ateacute hoje mas ainda conteacutem certo dogmatismo pois limita as categorias agraves jaacute estabelecidas pelo uso linguiacutestico comum negando implicitamente a validade de qualquer nova proposta

Mais contemporaneamente a ciecircncia cognitiva por meio da Biologia da

Cogniccedilatildeo preconiza que o mundo do domiacutenio cognitivo (da experiecircncia) do ser

humano estaacute acoplado a um mundo que ele vivencia como contendo regularidades

que resultam da sua histoacuteria bioloacutegica e social ou seja da sua tradiccedilatildeo bioloacutegica

(universal) e da sua cultura (local) O mundo que o homem produz eacute sempre uma

mistura de regularidade e mutabilidade tiacutepica da experiecircncia humana A bagagem

que os seres humanos tecircm em comum eacute uma tradiccedilatildeo bioloacutegica que comeccedilou com

a origem da vida e se prolonga ateacute hoje Por causa da heranccedila bioloacutegica comum

tecircm-se os fundamentos de um mundo comum e natildeo parece estranho que para

todos os seres humanos o ceacuteu seja azul e que o sol nasccedila a cada dia Das heranccedilas

linguiacutesticas diferentes surgem todas as diferenccedilas de mundos culturais que os

homens podem viver e que dentro dos limites bioloacutegicos podem ser tatildeo diversas

quanto as diversas culturas Todo conhecer humano pertence a um desses mundos

e eacute sempre vivido numa tradiccedilatildeo cultural O estudo e a tentativa de explicaccedilatildeo dos

fenocircmenos cognitivos fazem parte da tradiccedilatildeo da ciecircncia No entanto essa eacute uma

explicaccedilatildeo singular pois mostra que ao pretender conhecer o conhecer o homem

se encontra com o seu proacuteprio ser numa circularidade cognitiva (MATURANA

VARELA 2001 p 263-266)109 Portanto o mundo que cada um vecirc eacute um mundo e

natildeo o mundo onde um ponto de vista eacute o resultado de um acoplamento estrutural no

domiacutenio experiencial tatildeo vaacutelido quanto outro mesmo que o outro pareccedila menos

109 Segundo Maturana e Varela (2001 p 268) a Biologia mostra que a unicidade do ser humano seu patrimocircnio exclusivo estaacute num acoplamento estrutural social em que a linguagem tem um duplo papel Por um lado gerar regularidades como a do fenocircmeno da identidade cultural Por outro produzir a reflexibilidade que conduz ao ato de ver sob uma perspectiva mais ampla ou seja conduz ao ato de ampliar o domiacutenio cognitivo reflexivo de cada um pelo raciociacutenio

110

desejaacutevel Caberaacute pois a busca de uma perspectiva mais abrangente de um

domiacutenio experiencial em que o outro tambeacutem tenha lugar e no qual se possa

construir um mundo conjunto

Os novos enfoques teoacutericos permitem superar a visatildeo idealiacutestica kantiana

acerca da formaccedilatildeo do conhecimento do mundo quando afirma que ele se daacute por

meio de formas perceptivas a priori

No seacuteculo XX Foucault110 afirma que as classificaccedilotildees se caracterizam por

natildeo ser duradouras qualquer ordem caduca e a ordenaccedilatildeo nunca responde a

criteacuterios satisfatoacuterios e sim a distribuiccedilotildees provisoacuterias e precaacuterias que levam muitas

vezes a classificaccedilotildees e categorizaccedilotildees exoacuteticas Dessa maneira a classificaccedilatildeo e

ordenaccedilatildeo do conhecimento se apresenta meramente como uma ficccedilatildeo uacutetil

elaborada pelo homem Com Foucault se estabelece uma projeccedilatildeo de futuro -

posiccedilatildeo mais moderna Ele torna aparente o pensamento complexo faz emergir a

complexidade das palavras e das coisas

Para Foucault os discursos enquanto praacuteticas que obedecem a regras tecircm

um sentido uma dimensatildeo de acontecimento histoacuterico e social Dito isso em As

Palavras e as Coisas (1981) o que Foucault faz eacute observar a maneira como a

cultura reflete relaccedilotildees de similaridade ou equivalecircncia que justificam as palavras as

categorias as classificaccedilotildees a proximidade das coisas como a cultura estabelece o

quadro dos seus parentescos e a ordem segundo a qual eacute preciso percorrecirc-los O

filoacutesofo entende que reunir semelhanccedilas e distinguir diferenccedilas satildeo operaccedilotildees

110 Michel Paul Foucault (1926-1984) pensador estruturalista e psicoacutelogo francecircs Com a sua tese de doutorado na Sorbonne Folie et Deacuteraison Histoire de la Folie agrave lAcircge Classique (1961) firmou-se como filoacutesofo e passou a lecionar Histoacuteria do Pensamento no Collegravege de France (1970) A 1ordf ediccedilatildeo da obra Les Mots et les Choses (As Palavras e as Coisas) eacute de 1966 As suas obras situam-se dentro de uma Filosofia do Conhecimento As suas teorias que estabelecem um nexo entre saber poder e sujeito romperam com as concepccedilotildees modernas desses termos motivo pelo qual eacute considerado por certos autores um poacutes-moderno Ao contraacuterio da tradiccedilatildeo moderna pela qual o saber antecede o poder para ele a verdade natildeo se encontra separada do poder antes eacute o poder que gera o saber Propotildee entatildeo o processo genealoacutegico pelo qual busca descobrir como a verdade tem sido produzida no ambito das relaccedilotildees de poder (estuda principalmente o poder disciplinar) e com isso abre novos campos no estudo da Histoacuteria e da Epistemologia Para ele o poder estaacute disseminado em uma rede de instituiccedilotildees disciplinares Satildeo as proacuteprias pessoas nas suas relaccedilotildees reciacuteprocas - pai amigo professor meacutedico [bibliotecaacuterio] - que baseando-se no discurso constituiacutedo fazem o poder circular Cabe agrave genealogia investigar como e por que esses discursos se formam que poderes estatildeo na origem deles ou seja como o poder produz o saber O poder natildeo eacute considerado como algo que um indiviacuteduo cede a um outro (concepccedilatildeo contratual juriacutedico-poliacutetica) mas sim como uma relaccedilatildeo de forccedilas Ao ser relaccedilatildeo o poder estaacute em todas as partes uma pessoa estaacute atravessada por relaccedilotildees de poder e natildeo pode ser considerada independente delas Para Foucault o poder natildeo somente reprime mas tambeacutem produz efeitos de verdade e saber constituindo verdades praacuteticas e subjetividades

111

precisas exatas refletidas que determinam uma coerecircncia e necessitam da

aplicaccedilatildeo de um criteacuterio preacutevio Criteacuterio que ao repartir e classificar as coisas altera

a ordem interna dessas - ordem que eacute anterior ao conhecimento Como as coisas

satildeo reconheciacuteveis de acordo com a ordem que as relaciona nada mais pragmaacutetico

[] nada mais tateante nada mais empiacuterico (ao menos na aparecircncia) que a instauraccedilatildeo de uma ordem entre as coisas nada que exija um olhar mais atento uma linguagem mais fiel e melhor modulada nada que requeira com maior insistecircncia que se deixe conduzir pela proliferaccedilatildeo das qualidades e das formas (FOUCAULT 1981 p 9)

Do pensamento de Foucault depreende-se que a ordem claacutessica das coisas as determina e que o acesso a outra ordem das coisas se configura em uma total transgressatildeo

A proximidade de coisas sem relaccedilatildeo eacute estranha soacute sendo possiacutevel esse encontro na palavra escrita na linguagem O pensamento para operar ordenar agrupar por similitude separar a diferenccedila classificar necessita de um solo epistemoloacutegico onde segundo Foucault (1981 p 7) ldquoa linguagem se entrecruza com o espaccedilordquo111

Para estabelecer uma ordem eacute necessaacuteria uma definiccedilatildeo dos conceitos112 em relaccedilatildeo aos quais poderatildeo aparecer as semelhanccedilas e as diferenccedilas Para Foucault (1981 p 10) ldquoa ordem eacute ao mesmo tempo aquilo que se oferece nas coisas como sua lei interiorrdquo aquilo que soacute aparece (portanto existe) por meio de uma atenccedilatildeo cuidadosa de uma linguagem A ordem aparece segundo as culturas e segundo as eacutepocas

Natildeo se pode conhecer a ordem das coisas lsquona sua natureza isoladamentersquo mas sim descobrindo aquela que eacute a mais simples em seguida aquela que eacute a mais proacutexima para que se possa aceder necessariamente a partir daiacute ateacute as coisas mais complexas (FOUCAULT 1981 p 68) A ordem pode ser ao mesmo tempo necessaacuteria e natural - em relaccedilatildeo ao pensamento e arbitraacuteria em relaccedilatildeo agraves coisas jaacute que uma mesma coisa segundo a maneira como a consideramos pode ser colocada num ponto ou noutro da ordem (FOUCAULT 1981 p 69)

111 Pois o homem diante do desconhecido seja de um ser ou de um saber reage por aproximaccedilatildeo procura em sua memoacuteria o traccedilo de significaccedilatildeo ldquoaquele recorte de conteuacutedordquo (ECO 1998 p 55) jaacute presente em sua enciclopeacutedia pessoal que parece dar conta das caracteriacutesticas do novo objeto ou seja o homem vasculha em busca de uma definiccedilatildeo Nesse processo de apreensatildeo ele vai criando associaccedilotildees estabelecendo relaccedilotildees tentando organizar a sua experiecircncia numa determinada ordem 112 Inicialmente imaginava-se que as regras e os princiacutepios que regulavam a formaccedilatildeo de conceitos estavam no proacuteprio sujeito e este os enunciava simplesmente A subjetividade do indiviacuteduo seria a matriz geradora de ideacuteias conceitos valores Segundo Foucault o que acontece eacute o contraacuterio - eacute o discurso que constitui a fonte do sentido e o lugar da dispersatildeo do sujeito Ele cita como exemplo o discurso meacutedico do seacuteculo XIX que eacute determinado por um feixe de relaccedilotildees em constante jogo e orientado pelo ldquostatusrdquo do meacutedico pela ocupaccedilatildeo do seu lugar institucional assim como pelo seu posicionamento como sujeito que percebe observa descreve enfim prescreve o que deve ser feito A verdade como produzida no mundo natildeo existe sem poder ou fora do poder Cada sociedade tem seu regime de verdade isto eacute os tipos de discursos que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros (FOUCAULT 1981)

112

O que teve grandes consequecircncias para o pensamento ocidental ou seja o

semelhante que fora durante muito tempo categoria fundamental do saber - ao

mesmo tempo forma e conteuacutedo do conhecimento - acha-se dissociado numa

anaacutelise feita em termos de identidade e de diferenccedila A comparaccedilatildeo que eacute reportada

agrave ordem natildeo tem mais como papel revelar a ordenaccedilatildeo do mundo ela se faz

segundo a ordem do pensamento e vai naturalmente do simples ao complexo

De acordo com Foucault (1981 prefaacutecio) os homens tecircm um solo

epistemoloacutegico que usam para fazer as suas classificaccedilotildees eacute isso que produz as

categorias que empregam Relativamente agraves categorias particulares Foucault diz

que satildeo mitos resultantes do sistema de classificaccedilatildeo que empregam Esse sistema

eacute histoacuterico a priori Histoacuterico porque eacute produto da histoacuteria e ele eacute a priori porque

antecede os modos nos quais os homens classificam o mundo

Pode-se inferir que as vaacuterias classificaccedilotildees usadas pelos homens satildeo

construccedilotildees condicionadas por eventos dependentes historicamente e que as

categorias dividem o conhecimento de determinada maneira porque pressupotildeem um

sistema de classificaccedilatildeo que eacute usado para produzi-las Eacute justamente pelo fato de ser

pressuposto que ele eacute chamado a priori - o sistema precede o processo de

classificaccedilatildeo Categorias entatildeo satildeo o resultado da aplicaccedilatildeo de um sistema Num

certo sentido o sistema eacute como um conjunto de criteacuterios que Foucault chama de

regras que equivalem na Teoria da Classificaccedilatildeo a um conjunto de criteacuterios de

divisatildeo denominados categorias

Categorias tornam possiacutevel ldquonomear falar pensarrdquo (FOUCAULT 1981 p 9)

Natildeo existe uma sentenccedila nem existe nenhum pensamento que possam ser

formados sem depender de categorias Elas funcionam como padrotildees ou

procedimentos estabelecidos A marca de uma categoria e do mundo inteiro que se

tem construiacutedo sobre elas eacute que a cada categoria pode ser assinalado um

significado preciso e um conteuacutedo demonstraacutevel Elas satildeo divisiacuteveis e agrupaacuteveis de

acordo com os nomes que designam as suas similaridades e as suas diferenccedilas

Elas satildeo maneiras pelas quais se organiza o mundo (FOUCAULT 1981 prefaacutecio)

Para Foucault (1981 p 175) natildeo teria sido possiacutevel falar e

consequentemente nomear se no acircmago mesmo das coisas antes de toda

113

representaccedilatildeo a natureza natildeo tivesse sido contiacutenua113 A condiccedilatildeo de possibilidade

da linguagem assim como da classificaccedilatildeo reside exatamente nesse contiacutenuo onde

as coisas e as palavras se entrecruzam Para que um nome comum seja possiacutevel eacute

preciso que haja entre as coisas alguma semelhanccedila que permita aos elementos

significantes aparecerem ao longo das representaccedilotildees

As categorias natildeo seratildeo simplesmente convenccedilotildees arbitraacuterias poderatildeo corresponder (se natildeo forem estabelecidas corretamente) a regiotildees que existem distintamente sobre essa superfiacutecie ininterrupta da natureza seratildeo regiotildees mais vastas mas tatildeo reais quanto os indiviacuteduos (FOUCAULT 1981 p 161)

Foucault tem um entendimento muito particular da extensatildeo do termo

categoria Ele natildeo estaacute se referindo como Aristoacuteteles e tantos outros filoacutesofos a um

grupo pequeno muito geral ao contraacuterio aponta uma rede muito mais vasta Ele fala

de catildeo de homem etc como categoria O importante eacute perceber que se as

categorias forem entendidas de modo amplo como faz Foucault seraacute

significativamente diferente daquela compreensatildeo que contempla apenas as

categorias mais gerais (GRACIA 2001 p 8) Entretanto pensar em termos de

categorias gerais natildeo eacute a uacutenica maneira de entender categorias como demonstra

Foucault Outros modos de entendecirc-las seriam como propriedade das coisas (visatildeo

realista) como palavra ou entidade linguiacutestica em que o significado da categoria natildeo eacute

nada mais do que a palavra catildeo (visatildeo nominalista) ou como conceito que eacute expresso

pelo termo ou expressatildeo Categorias natildeo satildeo essas palavras ou conceitos mas o que

eacute expresso pelas palavras e pelo pensamento por intermeacutedio de conceitos - um modo

de ordenar as coisas Para Foucault os sistemas que produzem as categorias por meio das quais se vecirc

o mundo natildeo satildeo particulares mas gerais e satildeo revelados no discurso antes do que na

consciecircncia Portanto como resultado de sistemas categorias natildeo satildeo pessoais

(criaccedilotildees de pessoas individualmente) mas certamente arbitraacuterias porque satildeo

convencionadas socialmente114 Assim categorias satildeo inventadas satildeo modos que os

homens inventam para pensar a respeito do mundo Muito do que Foucault diz sugere

113 Nossas ideacuteias gerais diz Bufon lsquosatildeo relativas a uma escala contiacutenua de objetos [] quanto mais aumentarmos o nuacutemero de divisotildees das produccedilotildees naturais mais nos aproximaremos da verdade visto que natildeo existe realmente na natureza senatildeo indiviacuteduos e que os gecircneros as ordens as classes soacute existem na nossa imaginaccedilatildeo (BUFON Discours sur la maniegravere de traiter lrsquohistoire naturelle In Oeuvres completes t 4 p 35-36 apud FOUCAULT 1981 p 161-162) 114 Cf nota 25

114

que natildeo somente categorias mas tambeacutem os sistemas que satildeo usados para produzi-

las satildeo inventados Da argumentaccedilatildeo de Foucault pode-se inferir que classes e

categorias satildeo necessaacuterias mas arbitraacuterias ou necessariamente arbitraacuterias construtos

humanos elaborados para ordenar a compreensatildeo do mundo Segundo Gracia (2001) Foucault natildeo fala abertamente o que ldquoinventadardquo

significa poreacutem ao reiterar o uso do termo ele parece estar colocando em

discussatildeo que o caraacuteter inventado das categorias deve minar a sua validade

universal Daiacute talvez o fato dos seus muitos disciacutepulos usarem o termo construiacuteda

em vez de inventada

Pode-se dizer que para Foucault (1981) categorias satildeo os produtos de

sistemas de classificaccedilatildeo historicamente condicionados Satildeo conceitos (inventados

ou construiacutedos) a partir dos quais se pensa sobre o mundo e a sua funccedilatildeo eacute

primeiramente epistecircmica

Para pensar a respeito da Episteme da Cultura Ocidental e a Informaccedilatildeo (que daacute

nome a uma era a um periacuteodo histoacuterico) promove-se uma reflexatildeo retomando Foucault

(1981) em As Palavras e as Coisas no seacuteculo XVI no interior da Renascenccedila

trazendo-o ateacute o seacuteculo XXI (ainda que Foucault tenha morrido em 1984) para observar

como eacute que o saber se transforma no que se chama informaccedilatildeo Essa reflexatildeo eacute feita

em conjunto com o pensamento de Solange Puntel Mostafa (1996 p 36-42) estudiosa

da Filosofia da Educaccedilatildeo e da Epistemologia da Biblioteconomia

O pensamento do seacuteculo XVI eacute relacional vecirc ainda estabelecerem-se os

parentescos as semelhanccedilas e as afinidades sem a mediaccedilatildeo do conceito a

linguagem e as coisas se entrecruzam o pensamento eacute maacutegico miacutestico (os astros

explicam o comportamento as linhas da matildeo explicam o destino) a hierarquia eacute

analoacutegica existe um sistema global de correspondecircncias (a terra e o ceacuteu o

microcosmo e o macrocosmo) no qual a apresentaccedilatildeo de similitudes eacute uma praacutetica

infinita tudo se relaciona com tudo e a limitaccedilatildeo vem da finitude do mundo A

compilaccedilatildeo de documentos eacute feita pela repeticcedilatildeo de palavras jaacute escritas ou ditas

conhecer eacute comentar (somente no seacuteculo XVIII eacute que ocorre uma mudanccedila de valor e

sentido quando o olhar se torna esmiuccedilador e as palavras mais exatas e neutras)

Existe tambeacutem muita curiosidade em relaccedilatildeo agraves plantas e animais exoacuteticos exibidos

em festas e torneios o que representava um novo modo de vincular as coisas ao

mesmo tempo ao olhar e ao discurso - os jardins e os zooloacutegicos satildeo o livro ordenado

das estruturas o espaccedilo em que se combinam os caracteres e se desdobram as

115

classificaccedilotildees No seacuteculo XVI a divisatildeo entre o que o indiviacuteduo vecirc o que os outros

veem e transmitem o que o indiviacuteduo imagina o que os outros imaginam ou creem -

essa triparticcedilatildeo ldquoentre a Observaccedilatildeo o Documento e a Faacutebula natildeo existiardquo

(FOUCAULT 1981 p 143) A razatildeo eacute que no seacuteculo XVI e ateacute meados do seacuteculo

XVII ldquoos signos faziam parte das coisas ao passo que no seacuteculo XVIII eles se tornam

modos de representaccedilatildeordquo (FOUCAULT 1981 p 143) De acordo com essa visatildeo no

seacuteculo XVI todo ser trazia uma marca (frequentemente visiacutevel) que servia para

identificaacute-lo individualizaacute-lo e por extensatildeo agrave espeacutecie Assim uma espeacutecie caccedilava agrave

noite outra habitava a aacutegua etc As palavras natildeo representam as coisas natildeo existem

por si soacutes eram parte das coisas as suas marcas e sinais Natildeo existe ainda uma

organizaccedilatildeo alfabeacutetica dos livros - que soacute vai aparecer no seacuteculo XVII pois pensar em

ordem alfabeacutetica eacute pensar no ser da linguagem Ordem alfabeacutetica eacute construto

arbitrariedade ordem construiacuteda La Croix Du Maine (cf subseccedilatildeo 312) concebe em

1583 ao mesmo tempo uma Enciclopeacutedia e uma Biblioteca na qual os textos seriam

dispostos segundo ldquoas figuras da vizinhanccedila do parentesco da analogia e da

subordinaccedilatildeo prescritas pelo proacuteprio mundordquo (FOUCAULT 1981 p 54)

A partir do seacuteculo XVII o signo passa a fazer parte da anaacutelise das

representaccedilotildees por meio das similitudes e das diferenccedilas ou seja toda

denominaccedilatildeo se deve fazer por relaccedilatildeo com todas as outras denominaccedilotildees

possiacuteveis ldquoConhecer aquilo que pertence propriamente a um indiviacuteduo eacute ter diante

de si a classificaccedilatildeo ou a possibilidade de classificar o conjunto dos outrosrdquo

(FOUCAULT 1981 p 159) O que ele eacute - a sua identidade - e aquilo que marca o

que ele eacute definem-se pelo que resta das diferenccedilas ldquoUm animal ou uma planta natildeo

eacute aquilo que eacute indicado - ou traiacutedo - pelo estigma que se descobre impresso nele eacute

aquilo que os outros natildeo satildeo soacute existe em si mesmo no limite daquilo que dele se

distinguerdquo (FOUCAULT 1981 p 159) Marcando a transiccedilatildeo entre a episteme do

seacuteculo XVI (embasada na analogia) e a episteme do seacuteculo XVII (dominada pelo

estudo do conhecimento pela questatildeo do meacutetodo pelas relaccedilotildees entre Ciecircncia e

Filosofia e por duas grandes correntes filosoacuteficas o Racionalismo e o Empirismo)

eis Dom Quixote personagem miacutetico que vive a ruptura onde terminam os jogos da

semelhanccedila e da correspondecircncia dos signos e onde comeccedilam novas relaccedilotildees -

siacutembolo da ruptura no universo do conhecimento porque aquilo que se lecirc natildeo

corresponde mais agravequilo que se vecirc Lendo o mundo para demonstrar os livros ele se

surpreende com a inexistecircncia da concordacircncia dos signos com o real (FOUCAULT

116

1981 p 60-64) Eacute um mundo em que a linguagem natildeo alcanccedila mais as coisas O

seacuteculo do Barroco com seus desvios lsquoilusionistasrsquo cujo parentesco da semelhanccedila

com a ilusatildeo faz com que a similitude natildeo seja mais a forma do saber provoca uma

ruptura As palavras e as coisas separam-se nascendo entre elas a representaccedilatildeo

(o signo o sentido o significado o referente) Eacute tempo das palavras representarem

as coisas natildeo porque se assemelhem a elas mas porque por meio delas pode-se

distingui-las ldquoPor mais que se diga o que se vecirc o que se vecirc natildeo condiz com o que

se dizrdquo (FOUCAULT 1981 p 85) Entatildeo a linguagem do saber muda de fisionomia

Eacute aiacute que se comeccedila a pensar a natureza como uma coleccedilatildeo de realidades

classificaacuteveis ou como um encadeamento linear de acontecimentos que satildeo causas

e efeitos uns dos outros Assim a Matemaacutetica a Fiacutesica a Cosmologia ou a Axiologia

estabelecem-se no quadro de uma organizaccedilatildeo que se reflete na classificaccedilatildeo de

elementos de realidade na Gramaacutetica das palavras e dos signos Enraizadas numa

visatildeo estaacutetica da realidade as ciecircncias ordenam os fatos em dois planos espaccedilo em

que se distribuem e tempo em que se encadeiam mutuamente

Pode-se observar que a mania da classificaccedilatildeo manifestada no discurso

cientiacutefico tambeacutem se exprime nas tentativas de organizaccedilatildeo da existecircncia coletiva

como por exemplo na construccedilatildeo de uma lsquocidade idealrsquo por Nicolas Ledoux

arquiteto utopista do seacuteculo XVII que se dedicou em sua cidade Salinas de Cal em

Arc e Senans a um trabalho de ordenador de espaccedilo a partir de regras de

classificaccedilatildeo (GUEDEZ 1977 p 38-39) Otlet tambeacutem planejou uma cidade no

litoral belga que foi destruiacuteda durante a guerra O aparecimento do Racionalismo

permite superar a magia e a supersticcedilatildeo dando lugar agrave natureza na ordem cientiacutefica

Eacute neste seacuteculo que toda semelhanccedila e analogia cartesianas se submetem ao crivo

da (anaacutelise) comparaccedilatildeo de modo que natildeo eacute mais possiacutevel que tudo se relacione

com tudo A partir do seacuteculo XVII uma enumeraccedilatildeo completa eacute possiacutevel e as coisas

vatildeo se assemelhando ateacute o ponto em que acumuladas as diferenccedilas o semelhante

se rompe A enumeraccedilatildeo exaustiva e a capacidade de apontar em cada passo a

passagem para o seguinte permite conhecer com mais certeza somente a

enumeraccedilatildeo pode permitir qualquer que seja a questatildeo a que o ser se aplique ter

sobre ela um julgamento verdadeiro e certo (DESCARTES Regulae 1996 VII p

110) Agraves palavras natildeo compete mais ser a marca da verdade e sim traduzi-las se

puderem A linguagem entra na sua era de transparecircncia e neutralidade quando

ldquoconhecer eacute discernirrdquo (FOUCAULT 1981 p 71) Para Mostafa (1996 p 38) ldquoestaacute

117

aberto o caminho para a taxonomia para a classificaccedilatildeo do seacuteculo seguinterdquo

O seacuteculo XVIII (Idade Claacutessica ou Iluminismo) caracteriza a eacutepoca da

classificaccedilatildeo e dos acervos Eacute o seacuteculo das Luzes que recolhe e unifica a heranccedila

do racionalismo e do empirismo instituindo os direitos supremos da razatildeo humana e

exigindo a sua realizaccedilatildeo concreta por meio de conquistas sociais que se

materializam na Constituiccedilatildeo dos Direitos do Homem e na Revoluccedilatildeo Francesa O

Iluminismo (cf nota 58) inicia-se sobre trecircs linguagens novas Gramaacutetica Geral

Anaacutelise das Riquezas e Histoacuteria Natural Ateacute entatildeo a linguagem se pretendia

repeticcedilatildeo da realidade ela era o proacuteprio mundo As palavras eram as coisas como o

logos (razatildeo) platocircnico que refletia na sua disposiccedilatildeo a harmonia do cosmos e

como o projeto enciclopeacutedico na aurora do seacuteculo XVIII ainda procura lsquoreconstituirrsquo

pelo encadeamento das palavras e pela sua disposiccedilatildeo no espaccedilo a proacutepria ordem

do mundo Esse eacute o seacuteculo que recorre agrave Aacutelgebra como meacutetodo universal quando

se trata de ordenar as naturezas simples e constitui taxonomias quando se trata de

pocircr ordem em naturezas complexas Eacute o responsaacutevel por dar uma amplitude e uma

precisatildeo ateacute entatildeo insuspeitadas agraves Ciecircncias da Vida (desenvolvem-se novas

disciplinas como a Embriologia a Histologia a Geologia e a Paleontologia) O saber

jaacute acumulado da heranccedila aristoteacutelica do peso do cartesianismo e do prestiacutegio de

Newton soma-se agrave aperfeiccediloamentos teacutecnicos (como a invenccedilatildeo do microscoacutepio) agrave

importacircncia das Ciecircncias Fiacutesicas com o seu modelo de racionalidade

experimentaccedilatildeo observaccedilatildeo caacutelculo e anaacutelise que teria conduzido (inicialmente por

meio do cartesianismo da racionalidade mecacircnica) agrave descoberta da racionalidade

do ser vivo A aquisiccedilatildeo do conhecimento e a ordem do mundo natildeo comeccedilam mais

com as ideacuteias mas com as coisas aparece a possibilidade de classificar (natildeo os

textos mas) os seres vivos - uns segundo Lineu (toda a natureza eacute capaz de entrar

numa taxonomia) outros como Buffon (a natureza eacute muito rica e diversa para

ajustar-se a quadro tatildeo riacutegido) Haacute a oposiccedilatildeo entre os que creem na imobilidade da

natureza - como Lineu - e os que como Diderot pressentem o poder de criaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da vida115 Flora e fauna ganham espaccedilos abertos claros e distintos

115 O texto Le Recircve de drsquoAlembert de Diderot (escrito em 1769 posto em circulaccedilatildeo pela Correspondance Litteacuteraire em 1782 publicado em 1831) bem antes de Darwin debate o evolucionismo Transparece um jogo de forccedilas onde de um lado as Ciecircncias da Vida (mecanicistas) e a Teologia (ora apoiando-se ora contestando-se) sob a influecircncia de Descartes manteriam a Idade Claacutessica proacutexima de seu iniacutecio do outro lado as Ciecircncias da Vida (intuitivas) e a natildeo-Religiatildeo (ambas em cumplicidade) como sob a influecircncia de Diderot a atrairiam em direccedilatildeo ao seacuteculo XIX

118

jardins botacircnicos herbaacuterios coleccedilotildees gabinetes de exposiccedilatildeo (verdadeiros

documentos expostos ao olhar classificatoacuterio do homem oitocentista) Surgem os

primeiros esforccedilos de uma Agronomia as grandes viagens de pesquisa ou de

exploraccedilatildeo traduzem-se em descriccedilotildees desenhos e espeacutecimes e ocorre ainda a

valorizaccedilatildeo eacutetica da natureza ldquono coraccedilatildeo do seacuteculo XVIII Rousseau herborizardquo

(FOUCAULT 1981 p 140) O livro torna-se o herbaacuterio das estruturas vegetais No

seacuteculo XVIII embora natildeo se possa saber e dizer senatildeo em um espaccedilo taxonocircmico

de visibilidade daiacute o conhecimento taxonocircmico ter sido mais rico e mais coerente na

ordem botacircnica que na ordem zooloacutegica a Botacircnica ainda natildeo existe enquanto

ciecircncia da vida nem a Biologia O visiacutevel eacute tematizado pela histoacuteria que

necessariamente se torna uma histoacuteria da natureza uma Histoacuteria Natural que

possibilita ldquover o que se poderaacute dizer mas que natildeo se poderia dizer depois nem ver

a distacircncia se as coisas e as palavras distintas umas das outras natildeo se

comunicassem desde o iniacutecio numa representaccedilatildeordquo (FOUCAULT 1981 p 144)

Lineu (1707-1778) propotildee agrave Histoacuteria Natural uma ordem descritiva que permite agrave

estrutura que foi filtrada e limitada do visiacutevel transcrever-se na linguagem De acordo

com ele a descriccedilatildeo de qualquer animal ou vegetal deve seguir os seguintes

passos nome teoria gecircnero espeacutecie atributos uso e por fim litteraria Ele coloca

em uacuteltimo lugar como um apecircndice a descriccedilatildeo das crenccedilas e tradiccedilotildees das figuras

poeacuteticas enfim toda a linguagem depositada pelo tempo sobre as coisas Coloca em

primeiro lugar o proacuteprio animal ou planta que aparece com suas caracteriacutesticas mas

no interior de uma seacuterie linear de elementos - nomes - que recorta a representaccedilatildeo

do animal ou da planta segundo um modo manifesto e universal Ele pretendia que a

ordem da descriccedilatildeo reproduzisse o proacuteprio animal a proacutepria planta que o animal ou

planta passasse por inteiro para o discurso que a recolhe e classifica A partir de

Cuvier (final de seacuteculo) ainda que a definiccedilatildeo da identidade das espeacutecies continue

atrelada agraves diferenccedilas esta surgiraacute natildeo mais de estruturas mas de conjuntos

orgacircnicos e seus sistemas - esqueleto respiraccedilatildeo circulaccedilatildeo - que se constituiratildeo

em objeto das Ciecircncias Naturais Ateacute o fim do seacuteculo XVIII a vida natildeo existe apenas

seres vivos Ela eacute uma categoria de classificaccedilatildeo e como todas as categorias

relativa aos criteacuterios que se fixarem Tambeacutem como todas as outras exposta a

imprecisotildees quando se trata de fixar-lhe as fronteiras

119

No fim do seacuteculo XVIII referindo-se a Kant Foucault afirma

laacute onde se tratava de estabelecer as relaccedilotildees de identidade e de distinccedilatildeo sobre o fundo contiacutenuo das similitudes ele faz surgir o problema inverso da siacutentese do diverso No mesmo movimento a questatildeo criacutetica se volta do conceito ao juiacutezo da existecircncia do gecircnero (obtida pela anaacutelise das representaccedilotildees) agrave possibilidade de ligar as representaccedilotildees entre si do direito de nomear ao fundamento da atribuiccedilatildeo da articulaccedilatildeo nominal agrave proposiccedilatildeo mesma e ao verbo ser que a estabelece Ela se acha entatildeo absolutamente generalizada Em vez de valer somente a propoacutesito das relaccedilotildees entre a natureza e a natureza humana ela interroga a possibilidade mesma de todo conhecimento (FOUCAULT 1981 p 177-178)

Ao longo do seacuteculo XIX a vida torna-se objeto de conhecimento e o homem

emerge na Histoacuteria como concebida hoje quando parte dos seres estaacute catalogada e

classificada Eacute nesse periacuteodo que a representaccedilatildeo vai se dar na forma de acervos

bibliograacuteficos (reunidos em arquivos bibliotecas e museus) porque os escritos

chegaram a uma tal densidade que era preciso dispocirc-los em espaccedilos proacuteprios e

ordenados Eacute quando em razatildeo da imensa reorganizaccedilatildeo do saber uma verdadeira

redistribuiccedilatildeo da episteme ocidental surgem as Ciecircncias Humanas (a Histoacuteria Natural

passa a Biologia a Anaacutelise das Riquezas passa a Economia e a Reflexatildeo sobre a

Linguagem passa a Filologia) O homem do seacuteculo XIX quer entender o ser do homem

e funda uma episteme para tanto Sociologia Psicologia Economia Biologia a

proacutepria Filosofia volta-se para o ser do homem na Fenomenologia O seacuteculo XIX

segundo Mostafa (1996 p 41) eacute talvez o mais conhecido porque o homem foi

liberado desde entatildeo para pensar em si proacuteprio (Durkheim pensa o homem como um

fato social Comte pensa um homem positivo Marx pensa um homem histoacuterico

Weber pensa um homem compreensivo) Eacute um tempo em que o homem se encontra

abrigado e sistematicamente estudado como na deacutecada de 20 do seacuteculo XX quando

Freud escreve as suas descobertas a respeito do mais iacutentimo do ser do homem

A humanidade aparece tardiamente na episteme ocidental e tem uma presenccedila

passageira surgindo e desaparecendo em seguida No seu lugar novas figuras

preenchem os espaccedilos Informaccedilatildeo Ciberneacutetica Roboacutetica Ciecircncia da Computaccedilatildeo

Ciecircncia da Informaccedilatildeo Sistemas de Recuperaccedilatildeo da Informaccedilatildeo etc Nasce o saber

sem sujeito cujo nome eacute Informaccedilatildeo Mostafa (1996 p 41) cita Karl Popper ldquoo

conhecimento em sentido objetivo eacute conhecimento sem conhecedor eacute conhecimento

sem sujeito que conheccedilardquo Portanto o seacuteculo XX vai lidar com a informaccedilatildeo que

passa a ser o problema a ser investigado e eacute agora sujeito da Histoacuteria Assim como o

seacuteculo XVII lidou com o mostruaacuterio medieval do fantaacutestico o seacuteculo XVIII com o

120

quadro classificatoacuterio das espeacutecies vegetal e animal e o seacuteculo XIX com as seacuteries e

hierarquias das tabelas bibliograacuteficas decimais o seacuteculo XX natildeo lida mais apenas com

registro e recuperaccedilatildeo mas com um grande texto um hipertexto Eacute o proacuteprio homem

que se deposita num outro suporte que ele chama de Inteligecircncia Artificial Essa

trajetoacuteria fez com que as coisas jaacute natildeo sejam mais percebidas descritas

enunciadas caracterizadas e classificadas da mesma maneira pois a rede

conceitual que lhes cria o espaccedilo de existecircncia se modificou

Trata-se de uma nova episteme no coraccedilatildeo do seacuteculo XXI ldquoeacute como se a

informaccedilatildeo morasse em todos os lugares ou fosse a morada de todos os deusesrdquo

(MOSTAFA 1996 p 42) O ser do homem passa a ser o ser da informaccedilatildeo em que o

ser do homem se esvanece restando apenas a sua lembranccedila por meio da linguagem

dos metadados dos coacutedigos dos conhecimentos que produz enfim da informaccedilatildeo

A aacuterea da Ciecircncia da Informaccedilatildeo tem sido muito eficiente em representar o

conhecimento com linguagens116 como sistemas de classificaccedilatildeo gerais (CDD CDU

LCC CC BC) especializados tesauros dicionaacuterios glossaacuterios vocabulaacuterios

controlados cabeccedilalhos de assunto palavras-chave entre outros Mas o

conhecimento da representaccedilatildeo que eacute o conhecimento teoacuterico ou epistemoloacutegico da

representaccedilatildeo enquanto relaccedilatildeo do pensamento com o real eacute minimizado A

importacircncia dessa questatildeo para a aacuterea eacute de acordo com Gonzalez de Gomez

(1993 p 217-222) entender que o paradigma da informaccedilatildeo eacute o paradigma da

linguagem Na deacutecada de 70 do seacuteculo XX as primeiras discussotildees sobre

informaccedilatildeo diziam que esta era algo dado na estrutura do mundo (o solo

epistemoloacutegico era ontoloacutegico da ordem do ser no mundo) depois evoluiu para a

compreensatildeo de que a informaccedilatildeo era como uma imagem a informaccedilatildeo soacute era

enquanto representaccedilatildeo (o solo era a consciecircncia tudo se resolvia no pensamento)

soacute mais recente eacute que surge a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo como linguagem como

texto como escrita (o solo eacute a linguagem e o seu sistema de significados onde a

informaccedilatildeo em sua investidura semioacutetica manifesta-se como autocircnoma) A aacuterea da

Informaccedilatildeo trabalha fundamentalmente com linguagem com palavras com textos e

a relaccedilatildeo entre texto e classificador eacute naturalmente uma relaccedilatildeo dialeacutetica Por

exemplo

116 Linguagens documentaacuterias (LD) satildeo sistemas de signos que visam agrave uniformizaccedilatildeo do uso da linguagem de especialidade proporcionando uma representaccedilatildeo padronizada do conteuacutedo informacional bem como uma recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo mais pertinente

121

o livro de Fernando Gabeira O Que eacute isso Companheiro foi indexado no Brasil como lsquobiografiarsquo na Biblioteca do Congresso nos Estados Unidos o primeiro assunto indexado eacute o nome do embaixador norteamericano seguido de um termo como lsquoguerrilharsquo o bibliotecaacuterio brasileiro olha o Brasil e natildeo vecirc lsquosequestrorsquo nem embaixador nem guerrilha Na Franccedila o livro foi indexado como lsquoBrasil - periacuteodo 1964-1974 - revoluccedilatildeo - narrativa pessoalrsquo (MOSTAFA 1996 p 44)

Apesar das teses do saber sem sujeito o homem existe faz histoacuteria e lecirc

segundo as suas crenccedilas o seu conhecimento a sua ideologia enfim segundo a

sua consciecircncia possiacutevel A Biblioteconomia e a Ciecircncia da Informaccedilatildeo falam por

meio de coacutedigos classificaccedilotildees tesauros etc e por isso Gonzalez de Gomez

(1993) adverte que eacute preciso perceber de que modo a aacuterea olha esse objeto

chamado informaccedilatildeo A informaccedilatildeo eacute sempre olhada pelos profissionais da aacuterea por

intermeacutedio de uma linguagem documentaacuteria natural ou controlada - eacute esse recorte

que a distingue de outras aacutereas Outro aspecto importante diz respeito ao poder da

linguagem o poder do significado da imposiccedilatildeo de sentido Nas anaacutelises foucaultianas

toda vontade de verdade eacute vontade de poder O poder disciplinar o poder que as

disciplinas exercem umas sobre as outras eacute tambeacutem jogo de poder As aacutereas de

conhecimento como discursos que fabricam os seus objetos e as praacuteticas de que falam

(falas satildeo atos fundadores - quando falamos sobre as coisas do mundo noacutes as

constituiacutemos - as coisas do mundo soacute tecircm significado quando interpretadas pela

linguagem) brigam pela verdade do mundo ou seja brigam por poder O poder que

agora natildeo eacute o outro do saber mas o poder que eacute exercido em e por meio de relaccedilotildees

mediadas por informaccedilatildeo A classificaccedilatildeo produz verdades Natildeo apenas representa o

conhecimento mas faz nascer o conhecimento numa certa direccedilatildeo separando aacutereas

aproximando outras escondendo relaccedilotildees fazendo aparecer outras Assim como os

cataacutelogos as classificaccedilotildees satildeo dispositivos de interpelaccedilatildeo (MOSTAFA 2005)

324 Quadros-Siacutentese das Classificaccedilotildees Filosoacuteficas dos Seres

Filoacutesofos cientistas e pesquisadores em geral partem dos mais variados

princiacutepios de acordo com as suas doutrinas filosoacuteficas para classificar os objetos das

ciecircncias (quadro 25) e estatildeo sempre envolvidos na tarefa de propor novas

categorias (quadro 26) isto eacute novos instrumentos conceituais (quadro 27) de

investigaccedilatildeo e de expressatildeo linguiacutestica

122

Com os quadros-siacutentese das classsificaccedilotildees filosoacuteficas dos seres (categorias)

eacute possiacutevel constatar que desde Platatildeo segundo a concepccedilatildeo epistemoloacutegica

vigoram dois princiacutepios quanto agrave essecircncia das categorias princiacutepio realista e

objetivista e princiacutepio idealista e aprioriacutestico Historicamente iniciou-se a teoria das

categorias com o primeiro princiacutepio quer em Platatildeo (summum genus) quer em

Aristoacuteteles (kategoria) como determinaccedilotildees da realidade conceitos que servem para

conhecer a proacutepria realidade Com Kant a teoria das categorias ganha uma nova

elaboraccedilatildeo dessa vez idealista e apriorista como conceitos puros do entendimento

condiccedilotildees de ligaccedilatildeo que o espiacuterito estabelece entre as coisas

A Epistemologia Contemporacircnea natildeo mais se ocupa de constituir uma tabela

das categorias pois passa a conceber o pensamento como virtualidade

(independente das estruturas linguiacutesticas) como ldquosistema abertordquo (expressatildeo de

Hartmann) que natildeo pode constituir-se numa rede ldquoestranguladorardquo do pensamento

(HARTMANN 1940)

123

PERIacuteODO FILOacuteSOFO PRINCIacutePIOS427-347 aCSeacuteculo IV aC

Platatildeo Platatildeo admite a existecircncia de ideacuteias inatas Eacute a alma com as suas trecircs faculdades (racional passional apetitiva) o princiacutepio das ideacuteias das categorias O idealismo platocircnico separava as ideacuteias e as coisas considerava os fenocircmenos como aparecircncia ilusoacuteria e as ideacuteias como conhecimento verdadeiro O princiacutepio (realista) da doutrina do fundamento real das categorias eacute aquele que confere realidade agraves ideacuteias e faz corresponder a realidade e o discurso

384-322 aCSeacuteculo IV aC

Aristoacuteteles Aristoacuteteles defende o princiacutepio que todo conhecimento proveacutem das sensaccedilotildees As categorias satildeo obtidas por uma espeacutecie de percepccedilatildeo intelectual Nada haacute no entendimento que antes natildeo tenha estado nos sentidos A alma para ele era uma tabula rasa em que nada estaacute escrito A substacircncia eacute o ser por excelecircncia eacute o indiviacuteduo que se apresenta como siacutentese de todas as determinaccedilotildees Essas determinaccedilotildees essenciais da realidade formam as suas dez categorias Aristoacuteteles buscava nas essecircncias (universais) a razatildeo das coisas e dos fatos supondo-as no interior das coisas une as ideacuteias e as coisas e defende o princiacutepio da correspondecircncia entre a realidade e o discurso por meio das proposiccedilotildees categoriais ldquoExpressotildees sem enlacerdquo ou ldquocoisas ditas sem complexatildeordquo para Aristoacuteteles ldquocategoriasrdquo satildeo palavras simples ldquosem ligaccedilatildeordquo natildeo combinadas com outras presentes no pensamento e na linguagem e que indicam o que uma coisa eacute estaacute ou faz quando aplicada O que esse conceito bem diferente tem em comum com os anteriores eacute implicar ele tambeacutem um princiacutepio de organizaccedilatildeo Pode-se dizer que Aristoacuteteles deduziu as categorias sob o ponto de vista loacutegico-gramatical

205-270 Seacuteculo III

Plotino Em Plotino o aspecto ontoloacutegico da teoria prevalece sobre o aspecto semacircntico Seguindo em parte Platatildeo Plotino admite que os gecircneros satildeo distintos entre si poreacutem pertencem agrave Unidade Suprema (satildeo como partes ou elementos dela) o Ser o ldquoUmrdquo o Ente o Absoluto eacute o que constitui o fundamento e o princiacutepio comum das categorias

1285-1349Seacuteculo XIV

Ockham Ockham se caracteriza por um empirismo radical soacute existe o que pode ser captado pelos sentidos soacute o objeto individual eacute real e apenas haacute indiviacuteduos Defendia o princiacutepio do caraacuteter puramente verbal das categorias

1561-1626Seacuteculo XVII

F Bacon Em Bacon vigora o princiacutepio racional que objetiva descobrir a causa (princiacutepio constitutivo dos entes) das coisas naturais pois saber verdadeiramente eacute saber pelas causas

1588-1679Seacuteculo XVII

Hobbes Para Hobbes a sensaccedilatildeo eacute o uacutenico fundamento (princiacutepio) de todo conhecer

1632-1677Seacuteculo XVII

Spinoza Spinoza defende o princiacutepio racional de determinaccedilatildeo da Substacircncia (substacircncia finita pensante e substacircncia infinita) em que atributo eacute extensatildeo (da substacircncia) e modo eacute acidente (da substacircncia)

1632-1704Seacuteculo XVII

Locke Locke acredita no princiacutepio racional de distinccedilatildeo entre ideacuteias simples e ideacuteias complexas prega que frente agrave ideacuteias simples o sujeito humano eacute passivo porquanto soacute se torna ativo ao estabelecer relaccedilatildeo ou seja entrar em contato com ideacuteias complexas Primeira vez que aparece na Filosofia o conceito de categoria como funcionalidade Para Locke natildeo existem ideacuteias inatas porque contradizem a experiecircncia e natildeo podem ser averiguadas ou fundamentadas O nexo causal eacute o uacutenico viacutenculo que existe entre as coisas e as sensaccedilotildees que se tecircm delas Consequentemente a causalidade eacute o uacutenico caminho para o conhecimento enquanto a existecircncia eacute a uacutenica realidade captada pelo conhecimento mediante a causalidade

1646-1716Seacuteculo XVIII

Leibniz Em Leibniz vigora o princiacutepio racional de ideacuteias inatas primeiros princiacutepios que natildeo podem provir da experiecircncia porque tecircm uma necessidade do absoluto que os conhecimentos empiacutericos natildeo tecircm princiacutepio de identidade ideacuteias inatas (todo ser eacute igual a si mesmo) princiacutepio de natildeo-contradiccedilatildeo ideacuteias inatas que governam as verdades de razatildeo - necessaacuterias (um ser natildeo pode ser senatildeo ele) e princiacutepio de razatildeo suficiente ideacuteias inatas que governam as verdades de fato - contingentes (tudo o que acontece natildeo acontece necessariamente e nem pelo arbiacutetrio de algueacutem mas por um motivo razoaacutevel que a justifica plenamente mesmo que natildeo o conheccedilamos

QUADRO 25 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES continua

124

1711-1776Seacuteculo XVIII

Hume Em Hume atua o princiacutepio da subjetividade empiacuterica segundo o qual se pode observar os fenocircmenos mas o seu mecanismo iacutentimo natildeo eacute passiacutevel de experiecircncia e as relaccedilotildees entre os objetos como natildeo podem ser observadas natildeo pertencem aos objetos

1724-1804Seacuteculo XIX

Kant Na loacutegica kantiana as categorias satildeo deduzidas do uacutenico princiacutepio comum da faculdade do juiacutezo (deduccedilatildeo trascendental) Com Kant o mundo a ser classificado era o mundo dos conceitos enquanto formas a priori do conhecimento O sujeito do conhecimento eacute a razatildeo universal e natildeo uma subjetividade pessoal e psicoloacutegica As categorias natildeo mais se referem ao ser mas ao conhecer A realidade transcende o conhecer e necessita conceber o conhecer como procedente do sujeito produto deste As categorias cessam de ser a revelaccedilatildeo da estrutura da realidade como na Filosofia Greco-Medieval ateacute o seacuteculo XVIII Kant nega o realismo da concepccedilatildeo claacutessica e afirma o idealismo da concepccedilatildeo que considera as categorias como conceitos fundamentais do entendimento puro que prescrevem leis aos fenocircmenos Kant natildeo se refere ao ser mas ao conhecer As categorias natildeo se referem mais ao objeto a ser conhecido mas ao entendimento como faculdade de conhecimento Pode-se dizer que Kant deduziu as categorias sob o ponto de vista totalmente loacutegico

1770-1831Seacuteculo XIX

Hegel Em Hegel predomina o princiacutepio da ldquorealidade- pensamentordquo (consciecircncia da realidade) Forma e conceito se correspondem As formas de ser (ontoloacutegicas) se correlacionam com as formas de pensar (conceitos) Na loacutegica de Hegel as categorias satildeo deduzidas da atividade pura do espiacuterito

1815-1903Seacuteculo XX

Renouvier A proposta de Renouvier eacute mostrar que o conjunto das relaccedilotildees categoriais natildeo eacute soacute uma maneira de pensar o mundo mas tambeacutem um modo do pensamento averiguar e descobrir acerca da constituiccedilatildeo uacuteltima do real e que a formaccedilatildeo das categorias se deve agraves oposiccedilotildees dialeacuteticas de termos correlativos que mutuamente se implicam

1882-1950Seacuteculo XX

N Hartmann Para Hartmann satildeo quatro os princiacutepios que regem as categorias de validez segundo o qual as categorias determinam incondicionalmente os seus elementos concretos de coerecircncia segundo o qual as categorias se encontram somente na estrutura do estrato categorial de estratificaccedilatildeo que afirma que as categorias do estrato inferior se acham sempre contidas nas do estrato superior e natildeo o inverso e o de dependecircncia para o qual as categorias superiores dependem das inferiores Esses princiacutepios produzem categorias comuns ao ser real e ao ser ideal Hartmann alude tambeacutem agrave modificaccedilatildeo ou flexatildeo das categorias nos estratos particulares do universo

1900-1976Seacuteculo XX

Ryle Ryle embasado no Empirismo loacutegico propotildee-se a classificar os seres sob o ponto de vista (princiacutepio) loacutegico-gramatical (semacircntico) indicando que o modo como pode aplicar-se o criteacuterio categorial aos termos da linguagem eacute o modo como um termo pode converter-se em princiacutepio de coleccedilatildeo (coleta) de certos outros termos com o intuito de fornecer informaccedilatildeo acerca da natureza das coisas

1926-1984Seacuteculo XX

Foucault Para Foucault eacute a relaccedilatildeo entre as palavras e as coisas traccedilo distintivo de cada episteme (entendendo-se por episteme o periacuteodo histoacuterico especiacutefico uacutenico incomunicaacutevel e independente dos demais que estabelece uma relaccedilatildeo especiacutefica entre palavras e coisas) o princiacutepio responsaacutevel pelo estabelecimento de categorias

QUADRO 25 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES conclusatildeo

FONTE a autora

125

PERIacuteODO FILOacuteSOFO CATEGORIAS427-347 aC Platatildeo 5 Ser Repouso Movimento Identidade (igualdade idecircntico) Diferenccedila (alteridade distinto)384-322 aC Aristoacuteteles 10 Substacircncia Qualidade Quantidade Relaccedilatildeo Lugar Tempo Accedilatildeo Paixatildeo Posiccedilatildeo Haacutebito205-270 Plotino 5 Ser Movimento Repouso (estabilidade) Identidade (o mesmo) Diferenccedila (o outro)1285-1349 Ockham 3 Substacircncia Qualidade Relaccedilatildeo1561-1626 F Bacon 18 Nove pares de categorias 1 Maius Minus 2 Multum Paucum 3 Idem Diversum 4 Potentia Actus 5 Habitus Privatio 6

Totum Partes 7 Agens Patiens 8 Motus Quies 9 Ens Non Ens 1588-1679 Hobbes 3 Mateacuteria Extensatildeo Movimento1632-1677 Spinoza 3 Substacircncia Atributo Modo1632-1704 Locke 3 Substacircncia Modo Relaccedilatildeo1646-1716 Leibniz 6 Substacircncia Quantidade Qualidade Accedilatildeo Paixatildeo Relaccedilatildeo1711-1776 Hume 3 Substacircncia Causalidade Qualidade Associativa (semelhanccedila continuidade no tempo e no espaccedilo causa e efeito)1724-1804 Kant 12 Quatro grupos de trecircs categorias cada 1 Quantidade (unidade pluralidade totalidade) 2 Qualidade (realidade negaccedilatildeo

limitaccedilatildeo) 3 Relaccedilatildeo (inerecircncia causalidade comunidade) 4 Modalidade (possibilidade existecircncia necessidade) 1770-1831 Hegel 3 Ser (quantidade qualidade medida) Essecircncia (fundamento fenocircmeno realidade) Conceito (objetivo subjetivo ideacuteia) 1815-1903 Renouvier 9 Relaccedilatildeo Nuacutemero Extensatildeo (posiccedilatildeo) Duraccedilatildeo (sucessatildeo) Qualidade Devir (porvir) Causalidade (forccedila) Finalidade

Personalidade 1882-1950 N Hartmann 19 Trecircs grupos 1 Modais (Possibilidade Realidade Necessidade) 2 Elementares Bipolares ou de Oposiccedilatildeo (princiacutepio-concreto

estrutura-modo forma-mateacuteria interno-externo determinaccedilatildeo-dependecircncia qualidade-quantidade unidade-multiplicidade acordo-desacordo oposiccedilatildeo-dimensatildeo discreccedilatildeo-continuidade substrato-relaccedilatildeo elemento-estrutura) 3 Do Real Validez (valor) Coerecircncia (crenccedila) Estratificaccedilatildeo (planificaccedilatildeo) Dependecircncia

1900-1976 Ryle 4 Qualidade Estado Substacircncia Nuacutemero1926-1984 Foucault Foucault tem um entendimento muito particular (amplo) da extensatildeo do termo categoria Ele natildeo se refere a um grupo pequeno de

categorias ao contraacuterio aponta uma rede muito vasta catildeo homem etc A loacutegica de Foucault natildeo eacute uma loacutegica que o leve a estabelecer categorias universais

QUADRO 26 - CATEGORIAS FUNDAMENTAIS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES FONTE a autora

126

PERIacuteODO FILOacuteSOFO O QUE Eacute CATEGORIA427-347 aCSeacuteculo IV aC

Platatildeo Ideacuteia perfeita das coisas objetos ou fenocircmenos em que a reuniatildeo de cada objeto concreto com outro da mesma ordem com a mesma caracteriacutestica participam de uma Ideacuteia um Gecircnero supremo uma Ideacuteia-modelo uma Ideacuteia-guia um princiacutepio de organizaccedilatildeo uma Ideacuteia-que-guia a ordenaccedilatildeo do mundo

384-322 aCSeacuteculo IV aC

Aristoacuteteles Determinaccedilatildeo do serNuma interpretaccedilatildeo linguiacutestica ou semacircntica modo de enunciaccedilatildeo (trata-se de falar do ser e de analisar os modos como eacute possiacutevel falar acerca do que eacute) predicado ou atributo da substacircncia possiacuteveis grupos de respostas a certos tipos de perguntas expressatildeo ou termo sem enlace ou complexatildeo Numa concepccedilatildeo ontoloacutegica distinto modo de ser (como o ser aparece) Gecircnero supremo ou Primeira divisatildeo do ser Numa combinaccedilatildeo das duas interpretaccedilotildees linguiacutestica-loacutegica e ontoloacutegica conceito original ou baacutesico de todos os outros conceito ou termo de alta generalizaccedilatildeo - uma vez que natildeo se encontra ldquoaplicadordquo - e que ao ser aplicado funciona como princiacutepio de divisatildeo Determinaccedilatildeo do real predicaccedilatildeo pertencente ao proacuteprio ser e da qual o intelecto deve utilizar-se para conhecer o ser e revelaacute-lo em palavras pois categoria eacute conceito real que guia a deduccedilatildeo de conceitos reais dando algum contorno agrave realidade sensiacutevel Para Aristoacuteteles existir eacute ser uma coisa de certa categoria

205-270 Seacuteculo III

Plotino Determinaccedilatildeo do serGecircnero supremo determinaccedilatildeo do real predicaccedilatildeo pertencente ao proacuteprio ser e da qual o intelecto deve utilizar-se para conhecer o ser e revelaacute-lo em palavras

1285-1349Seacuteculo XIV

Ockham Termo de primeira intensatildeo simples nome signo das coisas dotado da capacidade de ser predicado de vaacuterias coisas ou nome que se refere a grupos de objetos

1561-1626Seacuteculo XVII

Bacon Possibilidade de formulaccedilatildeo de uma identidade dos entes e das coisas naturais a partir da aplicaccedilatildeo do modelo dicotocircmico de divisatildeo (criteacuterio de oposiccedilatildeo)

1588-1679Seacuteculo XVII

Hobbes Explicaccedilatildeo do real

1632-1677Seacuteculo XVII

Spinoza Determinaccedilatildeo do Ser Absoluto

1632-1704Seacuteculo XVIII

Locke Determinaccedilatildeo do pensamentoFunccedilatildeo do pensamento tipo fundamental de ideacuteia complexa

1646-1716Seacuteculo XVIII

Leibniz Ideacuteia simples sem complexatildeo designada por um soacute termo que pode ser combinada e associada

1711-1776Seacuteculo XVIII

Hume Determinaccedilatildeo do pensamentoProduto da subjetividade empiacuterica

QUADRO 27 - A NOCcedilAtildeO DE CATEGORIA NAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES continua

127

1724-1804Seacuteculo XIX

Kant Determinaccedilatildeo do pensamento Condiccedilatildeo da validazde objetiva do conhecimentoConhecimento puro forma que o sujeito potildee nas coisas estrutura (a priori) que permite o conhecer racional e verdadeiro Conceito puro do entendimento as categorias satildeo constitutivas isto eacute constituem o objeto do conhecimento e permitem portanto um saber da Natureza e uma verificaccedilatildeo da Verdade Conceito fundamental mediante o qual se torna possiacutevel o conhecimento da realidade fenomecircnica posto que das coisas em si natildeo se pode saber nada racionalmente Categorias satildeo conceitos que prescrevem leis aos fenocircmenos

1770-1831Seacuteculo XIX

Hegel Determinaccedilatildeo do pensamento e simultacircneamente determinaccedilatildeo da realidade (pela formulaccedilatildeo de uma identidade entre realidade e razatildeo) Forma de ser e forma de pensar Determinaccedilatildeo do ser e determinaccedilatildeo do pensamento ldquoMomentordquo do Absoluto Determinaccedilatildeo do desenvolvimento dialeacutetico - o desenvolvimento dialeacutetico comeccedila no ser que eacute a determinaccedilatildeo ou categoria mais ldquopobrerdquo e culmina na Filosofia que eacute o ldquosupremordquo da evoluccedilatildeo

1815-1903Seacuteculo XX

Renouvier Elemento principal da representaccedilatildeo Noccedilatildeo abstrata que exprime relaccedilotildees de ordem geralLei primaacuteria e irredutiacutevel do conhecimento relaccedilatildeo fundamental que determina a forma do conhecer noccedilatildeo a priori isto eacute independente da experiecircncia que ao exprimir relaccedilotildees gerais permite organizar e pensar a experiecircncia

1882-1950Seacuteculo XX

N Hartmann Determinaccedilatildeo do serForma do ser Fundamento unitaacuterio de todo o mundo real Estrutura necessaacuteria ao ser em si que permite a estratificaccedilatildeo do mundo real numa seacuterie de planos Para Hartmann conhecer eacute captar alguma coisa que existe antes de todo o conhecimento e independentemente dele Consequentemente categorias satildeo fundamentos estruturais do mundo real princiacutepios constitutivos do ser e soacute podem ser referidas ao ser

1900-1976Seacuteculo XX

Ryle Regra convencional que rege o uso dos conceitosTipo ou categoria loacutegica de um conceito eacute o conjunto de modos nos quais por convenccedilatildeo eacute liacutecito utilizar o termo respectivo (noccedilatildeo mais geral e menos dogmaacutetica que a Filosofia tem proposto)

1926-1984Seacuteculo XX

Foucault Conceito (inventado ou construiacutedo) a partir do qual se pensa sobre o mundo e sua funccedilatildeo eacute primeiramente epistecircmica Categoria eacute produto de sistema de classificaccedilatildeo historicamente condicionado e funciona como padratildeo ou procedimento estabelecido A marca de uma categoria e do mundo inteiro que se tem construiacutedo acerca delas eacute que a cada categoria pode ser assinalado um significado preciso e um conteuacutedo demonstraacutevel Eacute a maneira pela qual se organiza o mundo

QUADRO 27 - A NOCcedilAtildeO DE CATEGORIA NAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES conclusatildeo FONTE a autora

128

33 CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS CONCEITOS DE CLASSE E DE CATEGORIA

Nessa subseccedilatildeo os conceitos de classe e de categoria dentro das

classificaccedilotildees filosoacuteficas demostram o pensamento da autora desta tese com base

na literatura pertinente a qual propriciou uma valiosa reflexatildeo sobre o tema

Embora o conceito de classe jaacute estivesse presente no pensamento loacutegico

medieval esse termo soacute comeccedilou a ser usado no seacuteculo XIX sobretudo por obra

dos loacutegicos preocupados com o problema da quantificaccedilatildeo da Loacutegica

(ABBAGNANO 2003 p 146) Nesse sentido pode-se definir uma classe pela

enumeraccedilatildeo dos membros que a compotildeem (definiccedilatildeo extensiva) ou indicando a

propriedade comum a todos os seus membros (definiccedilatildeo intensiva) como quando se

fala do gecircnero humano ou dos habitantes de Brasiacutelia A definiccedilatildeo intensiva eacute

considerada fundamental porque a extensiva pode ser reduzida a ela sem que

ocorra o inverso Sob esse ponto de vista as classes satildeo extensotildees de predicados

isto eacute totalidades abertas que podem ser continuamente enriquecidas Classe eacute

pois o conceito que permite classificar ordenar e distribuir os objetos de acordo com

a sua extensatildeo e a sua compreensatildeo A noccedilatildeo de classe confunde-se de certo

modo com a noccedilatildeo de totalidade uma vez que a classe eacute o todo em relaccedilatildeo aos

objetos que nele se acham incluiacutedos e do qual fazem parte como a vida em relaccedilatildeo

agrave humanidade ou o ser em relaccedilatildeo agrave vida As classes que sob esse ponto de vista

distinguem-se da totalidade satildeo conceitos abstratos e universais embora os objetos

que nelas se incluam possam ser entidades sensiacuteveis ou particulares Classe eacute um

conceito consagrado que engloba ou compreende um conjunto ou coleccedilatildeo de

objetos que apresentam ao menos um elemento comum Classes satildeo um arranjo

de coisas que se percebem como relacionadas e semelhantes entre si formando

grupos separados por linhas demarcatoacuterias niacutetidas Esses grupos acham-se

coordenados ou subordinados uns aos outros formando hierarquias ou oposiccedilotildees

As relaccedilotildees que mantecircm entre si permitem considerar alguns como dominantes

outros como dominados e ainda outros como independentes

O termo categoria derivado do verbo grego categorein (enunciar) expressa

os diversos modos de enunciaccedilatildeo uma vez que sempre de alguma maneira

enunciam o ser e os distintos modos de ser O mesmo significado encontra-se no

termo predicamento derivado do latim praedicare (predicar enunciar) Em Filosofia

as categorias designam noccedilotildees loacutegicas que refletem as propriedades essenciais os

aspectos e as relaccedilotildees mais gerais entre os fenocircmenos reais Elas representam

129

tambeacutem conceitos superiores gecircneros supremos divisotildees uacuteltimas preacute-

estabelecidas conceitos fundamentais tambeacutem chamados conceitos primitivos ou

conceitos-tronco por natildeo serem inferiores ou sub-conceitos de uma unidade mais

elevada Acima delas estaacute unicamente o ser ou o conjunto de sujeitos super-

categoria da qual participam as categorias como originaacuterios modos de ser

determinaccedilotildees primordiais do ser ou predicados do sujeito As categorias

fundamentam as diversas ordens e sempre expressam o peculiar da ordem

correspondente Ao longo da histoacuteria as categorias tiveram uma aplicaccedilatildeo direta na

classificaccedilatildeo dos seres mas podem igualmente se aplicar agraves classes na

classificaccedilatildeo dos saberes

Assim como as definiccedilotildees oriundas da Filosofia satildeo inuacutemeras e com

divergecircncias conceituais as possiacuteveis influecircncias dos conceitos filosoacuteficos de classe

e categoria tambeacutem geram divergecircncias conceituais na Teoria da Classificaccedilatildeo

como as noccedilotildees descritas na seccedilatildeo 5

Gracia (2001) observa que Platatildeo - ao pensar que existem algumas

categorias imutaacuteveis independentes da histoacuteria e do pensamento humano

(ultrarrealismo platocircnico) - Aristoacuteteles - ao sustentar que as coisas tecircm naturezas

as quais estabelecem o que elas satildeo (realismo moderado) - e Kant - que faz valer as

categorias soacute para a coisa como fenocircmeno poreacutem natildeo para a coisa em si pois a

realidade transcende o conhecer (idealismo transcendental) - natildeo concebem (como

Foucault) que categorias satildeo invenccedilotildees resultantes de sistemas de classificaccedilatildeo ou

a priori historicamente dependentes Portanto qualquer que seja o seu impacto -

loacutegico-ontoloacutegico transcendental dialeacutetico pragmaacutetico fenomenoloacutegico

fenomenoloacutegico-ontoloacutegico - as categorias tratadas como questatildeo filosoacutefica

representam a relaccedilatildeo do dizer e do ser das palavras e das coisas do real e do

imaginaacuterio do natural e do histoacuterico encaradas em toda a riqueza do seu sentido

Como observado categoria eacute um termo com diversos significados

dependendo do conceito de realidade que cada doutrina filosoacutefica assume em seu

iniacutecio A explicaccedilatildeo do termo mostra tambeacutem que as categorias estatildeo iacutentimamente

ligadas ao juiacutezo no qual se daacute a predicaccedilatildeo (eacute no juiacutezo que se encontram

abundantes modos de predicar e de ser) e foram primeiro Aristoacuteteles e depois Kant

aqueles que deram maior relevacircncia a essa questatildeo

Como diversos outros termos filosoacuteficos originariamente teacutecnicos o termo

categoria entrou na linguagem corrente em que eacute frequentemente utilizado para

130

designar as diferentes espeacutecies (os vaacuterios grupos resultantes da divisatildeo de um

gecircnero por determinada caracteriacutestica) do mesmo gecircnero (conjunto de coisas ou

ideacuteias que pode ser dividido em duas ou mais espeacutecies) ou seja para indicar tanto o

conteuacutedo como o princiacutepio de divisatildeo Portanto de uma maneira natildeo-teacutecnica

entende-se por categorias os conceitos gerais com os quais um indiviacuteduo (ou um

grupo de indiviacuteduos) tem o haacutebito de relacionar os seus pensamentos e os seus

juiacutezos ou seja noccedilotildees gerais segundo as quais um espiacuterito costuma julgar

raciocinar e classificar

As diferentes acepccedilotildees do termo categoria derivam do sentido e do valor que

eacute atribuiacutedo ao termo em relaccedilatildeo sobretudo ao ponto de vista sob o qual o assunto eacute

tratado Disso resulta que natildeo se pode estabelecer um uacutenico acircmbito categorial mas

que ao contraacuterio haacute uma multiplicidade de grupos categoriais (determinados com

base em diversos criteacuterios) que na histoacuteria da Filosofia vatildeo-se desenvolvendo tal

como sistematizado nos quadro 25 e 26

As noccedilotildees de categoria propostas pela Filosofia tecircm sido em geral noccedilotildees

dogmaacuteticas (opiniatildeo ou crenccedila fundamental de uma escola filosoacutefica) A noccedilatildeo

utilizada pelo Empirismo Loacutegico que considera as categorias ldquoregras convencionais

que regem o uso dos conceitosrdquo (ABBAGNANO 2003 p 123) eacute certamente a mais

instrumental Nessa concepccedilatildeo Ryle (1949 p 4) entende categoria loacutegica de um

conceito como ldquoo conjunto de modos nos quais por convenccedilatildeo eacute permitido utilizar o

termo respectivordquo o que implica dizer que Ryle formula o conceito de categoria como

o de um instrumento conceitual que funciona como princiacutepio de divisatildeo

O resgate histoacuterico das classificaccedilotildees filosoacuteficas dos saberes e dos seres

permitiu constatar que os conceitos de classe e categoria tecircm passado ao leacutexico

filosoacutefico universal mas os seus sentidos natildeo podem ser compreendidos a partir de

uma interpretaccedilatildeo comum dos termos senatildeo em conexatildeo com doutrinas e escolas

filosoacuteficas especiacuteficas

131

4 DAS CLASSIFICACcedilOtildeES BIBLIOGRAacuteFICAS

Depois de longo estudo do assunto torna-se evidente que pela proacutepria natureza das coisas eacute impossiacutevel em teoria uma classificaccedilatildeo perfeita

e qualquer sistema soacute pode ser satisfatoacuterio na praacutetica para aqueles que admitem essa dificuldade inerente e se conformam com ela por

saberem que um sistema sem problemas eacute impossiacutevel existir

Dewey

A classificaccedilatildeo em sentido lato eacute o meio pelo qual a nossa mente identifica um

objeto dado e distingue-o de outro inconsciente ou conscientemente O livro do

Gecircnesis conta que o mundo se originou do caos quando Deus dividiu a luz das

trevas (ALA 1980 p 146) Assim a ideacuteia de classificaccedilatildeo literalmente ato ou

efeito de classificar eacute mostrada como a origem e a essecircncia do mundo A

preocupaccedilatildeo de ordenar as informaccedilotildees ou os conhecimentos ou seus suportes

juntando-os por grupos ou classes que guardam certa afinidade para localizaacute-los

dentro de um conjunto mais amplo na essecircncia significa um processo mental pelo

qual se agregam coisas pelos graus de semelhanccedilas e separam-se de acordo com as

suas diferenccedilas A classificaccedilatildeo entendida como processo mental de agrupamento de elementos portadores de caracteriacutesticas comuns e capazes de ser reconhecidos como uma entidade ou conceito constitui uma das fases fundamentais do pensar humano (CAMPOS A 1973 p 15)

A habilidade para classificar eacute seguramente uma faculdade fundamental sem

a qual nenhum organismo vivo pode funcionar adequadamente Pode-se por

exemplo distinguir coisas comestiacuteveis daquelas improacuteprias para consumo ou

animais que satildeo (ou podem ser) perigosos daqueles que satildeo mansos Todos

passam a vida fazendo constantemente distinccedilatildeo entre coisas similares e coisas

diferentes ao mesmo tempo em que as agrupam em grandes classes ou em

subclasses menores e percebem relaccedilotildees entre as diferentes classes e subclasses

Desde que o conhecimento humano passou a ser registrado em suportes

duraacuteveis e coletado em repositoacuterios existe a necessidade de arranjar os documentos

de tal maneira que registros com as mesmas ou similares caracteriacutesticas possam ser

encontrados juntos Consequentemente uma coleccedilatildeo de documentos soacute pode ser

considerada uma biblioteca quando arranjada num padratildeo sistemaacutetico Em sentido

geral toda organizaccedilatildeo de documentos seja por autor seja por tiacutetulo seja por

assunto ou seja por forma fiacutesica eacute embasada em alguma espeacutecie de classificaccedilatildeo

132

mas em sentido restrito somente ordenaccedilatildeo sistemaacutetica de documentos (ou de suas

representaccedilotildees) por assunto eacute comumente entendida como sendo o propoacutesito da

classificaccedilatildeo bibliograacutefica

Eacute importante distinguir entre trecircs significados diferentes mas

interrelacionados do termo classificaccedilatildeo na praacutetica biblioteconocircmica primeiro eacute o

sistema de classificaccedilatildeo ou o esquema de classificaccedilatildeo (chamado simplesmente de

Classificaccedilatildeo) segundo eacute o ato de classificar ou de atribuir um coacutedigo de

classificaccedilatildeo ao documento para indicar o seu assunto ou conteuacutedo terceiro eacute o

arranjo fiacutesico do documento nas estantes e a representaccedilatildeo do documento no

cataacutelogo classificado Com relaccedilatildeo ao primeiro significado (obviamente fundamental

em virtude do qual os outros dois existem) a Federaccedilatildeo Internacional de

Documentaccedilatildeo (FID) afirma por classificaccedilatildeo eacute entendido qualquer meacutetodo de criar

relaccedilotildees geneacutericas ou outras entre unidades semacircnticas individuais apesar do

grau de hierarquia do sistema e tambeacutem aqueles sistemas que aplicam meacutetodos

mecanizados de pesquisa documental em conexatildeo com os meacutetodos tradicionais117

(ALAhellip 1980 p 146 Traduccedilatildeo livre da autora)

Enquanto o processo classificatoacuterio faz parte da condiccedilatildeo humana a

classificaccedilatildeo bibliograacutefica eacute uma sequecircncia de conceitos planejados para serem

aplicados agrave organizaccedilatildeo de acervos de bibliotecas para que livros possam ser

recuperados de modo eficaz e eficiente ou seja uma aplicaccedilatildeo pragmaacutetica do

princiacutepio classificatoacuterio no contexto das unidades e sistemas de informaccedilatildeo

Grande parte da realidade estaacute preacute-classificada por assim dizer Entre os

elementos distinguem-se de maneira corrente o ar a aacutegua a terra e o fogo divide-

se o Direito em Direito Puacuteblico e Direito Privado a Terra em cinco continentes os

seres vivos em animais e vegetais e assim por diante Essas divisotildees devem-se

tanto agrave convenccedilatildeo social como agrave razatildeo poreacutem tecircm a seu favor a forccedila do consenso

As classificaccedilotildees bibliograacuteficas incorporam muito tanto da classificaccedilatildeo

convencionada socialmente como da classificaccedilatildeo operaccedilatildeo loacutegica que consiste em

fazer uma distinccedilatildeo da realidade muacuteltipla em grupos conjuntos classes categorias

segundo o criteacuterio de semelhanccedila ou diferenccedila

117 ldquoby classification is meant any method creating relations generic or other between individual semantic units regardless of the degree of hierarchy contained in the systems and of whether those systems will be applied in connection with traditional or more or less mechanized methods of document searchingrdquo (ALAhellip 1980 p 146)

133

Antecedendo o discurso acerca das classificaccedilotildees biblioteconocircmicas conveacutem

ressaltar o pensamento de um autor que acredita que as classificaccedilotildees do

conhecimento sempre refletem a eacutepoca da sua elaboraccedilatildeo com os seus problemas

meacutetodos de estudo visotildees de mundo suas teorias seus interesses uma

organizaccedilatildeo do conhecimento adaptada agrave tecircmpera filosoacutefica dos gregos natildeo se

adaptaria agraves cosmologias mitoloacutegicas da Babilocircnia agrave vida impetuosa da Renascenccedila

ou ao industrializado seacuteculo XIX Quanto mais adaptada agrave determinada eacutepoca for

uma classificaccedilatildeo menos adequada seraacute para qualquer outra (VICKERY 1975

p 147 Traduccedilatildeo livre da autora)118 A essa visatildeo acrescenta-se um extrato do

pensamento de Ranganathan que evidencia a sua visatildeo metafiacutesica para a

epistemologia e a organizaccedilatildeo do conhecimento

Um esquema enumerativo com uma fundaccedilatildeo superficial pode ser favoraacutevel e

mesmo econocircmico para um sistema fechado de conhecimento Por exemplo tal

esquema trabalharaacute bem para a Greacutecia Antiga ou a Filosofia Indiana porque ambos

tecircm se tornado cristalizados e fixos haacute muito tempo [] O que distingue o universo

do conhecimento corrente eacute que ele eacute um continuum dinacircmico Ele eacute sempre

crescente novos ramos podem brotar de qualquer de seus infinitos pontos a

qualquer tempo eles satildeo desconhecidos no presente Eles natildeo podem portanto ser

enumerados aqui e agora natildeo podem ser antecipados suas filiaccedilotildees podem ser

determinadas somente apoacutes eles aparecerem (RANGANATHAN 1951 p 87

Traduccedilatildeo livre da autora)

Para Ranganathan o desenvolvimento do conhecimento em vez de estar

enraizado na pesquisa concreta e no trabalho especializado dos seres humanos

baseava-se na vida abstrata dos homens Ranganathan acreditava no conhecimento

intuitivo em classificadores intuitivos e na noccedilatildeo de que a ideacuteia era separada da

palavra na linguagem natural e algumas vezes poderia natildeo ser expressa na

ldquolinguagem natural mas poderia ainda ser experienciada na consciecircncia individualrdquo

Ele escreveu sobre simbolismo indiano para assumir que ldquonatildeo expresso facilmente

senatildeo inexpresso em palavrasrdquo (RANGANATHAN 1951 p 27) Ranganathan

possuiacutea a visatildeo de que a linguagem classificatoacuteria que ele tinha desenvolvido era

118 ldquoAn organisation of knowledge which fits the philosophical temper of the Greeks does not suit the mythological cosmologies of Babylon the rushing life of the Renaissance or the industrialised nineteenth century Indeed the better fitted a classification is to a given epoch the less suitable will it be for any other epochrdquo (VICKERY 1975 p 147)

134

capaz de articular ideacuteias que natildeo poderiam ser denotadas em linguagem natural

Na Antiguidade aleacutem das classificaccedilotildees dos conhecimentos existiam tambeacutem

classificaccedilotildees bibliograacuteficas Segundo Shera (1957) a organizaccedilatildeo de coleccedilotildees de

livros teve origem nos trabalhos filosoacuteficos de entatildeo Contudo classificaccedilotildees

filosoacuteficas e classificaccedilotildees bibliograacuteficas satildeo diferentes Na classificaccedilatildeo filosoacutefica

nenhuma fronteira particular da aacuterea do conhecimento eacute geralmente especificada e

reconhecida ao passo que na classificaccedilatildeo bibliograacutefica as aacutereas especiacuteficas do

conhecimento satildeo identificadas e reconhecidas Hulme119 (1950 apud VICKERY

1975 p 164) salienta que as funccedilotildees das classificaccedilotildees filosoacuteficas e bibliograacuteficas satildeo

distintas a bibliograacutefica lsquomapeia a literatura e natildeo a ciecircnciarsquo a divisatildeo e coordenaccedilatildeo

das classes na classificaccedilatildeo bibliograacutefica lsquoeacute determinada principalmente em linhas

formais e natildeo filosoacuteficasrsquo nas bibliograacuteficas lsquoo interesse natildeo era a razatildeo mas fatos

revelados pela garantia literaacuteriarsquo a bibliograacutefica era lsquoo esboccedilo de aacutereas preacute-existentes

na literaturarsquo e a sua correspondecircncia com uma ordem filosoacutefica natildeo conferia

consistecircncia aos esquemas jaacute que natildeo era garantia de exatidatildeo e finalmente que

existe um conflito entre garantia literaacuteria e classificaccedilatildeo loacutegica pois os conteuacutedos dos

livros nem sempre se ajustam agraves classificaccedilotildees

Interessante notar nas citaccedilotildees natildeo se fala em objetivos institucionais e

puacuteblico-alvo que tambeacutem determinam uma loacutegica para a classificaccedilatildeo

O fato dos registros humanos refletirem um padratildeo de pensamento complexo

semelhante aos seus processos mentais levou segundo Shera (1957) agrave suposiccedilatildeo

de que a classificaccedilatildeo filosoacutefica seria aplicaacutevel aos livros Esse pressuposto foi

vaacutelido enquanto o volume de informaccedilatildeo registrada era pequeno e as publicaccedilotildees

consistiam em monografias Com o desenvolvimento dos registros do conhecimento

e a sua crescente complexidade e especializaccedilatildeo um sistema de classificaccedilatildeo

filosoacutefico torna-se improacuteprio para uso em biblioteca Toda essa problemaacutetica

encobria a real necessidade de uma classificaccedilatildeo de assuntos para a classificaccedilatildeo

dos livros

Sabe-se que as bibliotecas da Babilocircnia Greacutecia e Roma tiveram os seus

acervos organizados ainda que os vestiacutegios dos seus sistemas de classificaccedilatildeo

sejam escassos

119 HULME E W Principles of book classification London 1950

135

Uma das primeiras classificaccedilotildees da qual se tem informaccedilatildeo foi a realizada

por Caliacutemaco (320-240 aC) poeta e bibliotecaacuterio que confeccionou o cataacutelogo da

Biblioteca de Alexandria entre os anos 260 e 240 aC O seu esquema classificatoacuterio

organizou cerca de 500 mil volumes da Biblioteca dos Ptolomeus A coleccedilatildeo contava

dois iacutendices um de autores e outro de tiacutetulos O iacutendice de tiacutetulos apresentava uma

distribuiccedilatildeo temaacutetica composta das seguintes classes

1 Filosofia (Geometria e Medicina)

2 Jurisprudecircncia

3 Histoacuteria

4 Oratoacuteria

5 Poeacutetica (Eacutepica traacutegica cocircmica e ditiracircmbica)

6 Escritos de coisas vaacuterias (SERRAI 1977 p 49)

A biblioteca de Alexandria foi a primeira com aspiraccedilotildees universais e com a

sua comunidade de estudiosos tornou-se o protoacutetipo das universidades da era

moderna definindo uma nova concepccedilatildeo a respeito do valor do conhecimento

Na histoacuteria da classificaccedilatildeo (especialmente antes da ascensatildeo das

bibliotecas) as obras que tratam das classificaccedilotildees bibliograacuteficas dizem muito pouco

aleacutem da menccedilatildeo agraves suas classes principais Mas classificaccedilotildees bibliograacuteficas satildeo

para recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo recuperaccedilatildeo que parece quase impossiacutevel se natildeo

haacute constituintes de tais sistemas de tipo mais granulado mais subdividido do que as

mencionadas classes principais

A questatildeo que se coloca acerca dos conceitos de classe e categoria eacute a

seguinte como as classes principais satildeo subdivididas O uso de uma coleccedilatildeo

bibliograacutefica estaacute vinculado a um plano de subordinaccedilatildeo - quanto maior o nuacutemero de

categorias e sub-categorias maior a fragmentaccedilatildeo Assim uma lista longa precisa

ser categorizada para fornecer uma previsatildeo a respeito do universo por ela

abrangido Uma lista menor pode ateacute ser alfabeacutetica e capaz de ser memorizada

(mnemocircnica) Essa evidecircncia parece indicar que ateacute prova em contraacuterio a ideacuteia

geral de categorias mesmo que de maneira rudimentar eacute fundamental para qualquer

teoria e praacutetica de subordinaccedilatildeo Categorias em geral e o conceito de subordinaccedilatildeo

satildeo condiccedilotildees para a introduccedilatildeo de uma hierarquia120

120 O objeto desta tese eacute a Teoria da Classificaccedilatildeo e as classificaccedilotildees bibliograacuteficas Natildeo se ignora que ocorrem frequentemente adaptaccedilotildees a contextos e objetivos particulares e que a decisatildeo por uma categoria ou outra (no entendimento de Foucault) pode ser ditada por razotildees pragmaacuteticas mas nem por isto deixa de ser uma decisatildeo de categorizaccedilatildeo

136

O problema da subordinaccedilatildeo das classes principais segundo Perreault (1991

p 134) pode ser resolvido de duas maneiras a) pelo desenho de um plano de

subdivisatildeo ou b) pela divisatildeo das classes principais originais em classes menores

O autor supotildee o plano a relativamente ad hoc (para um propoacutesito particular de uso

exclusivo segundo um ponto de vista) cronoloacutegico em uma classe principal

geograacutefico em outra etc enquanto o plano b significa algo consagrado tal como a

classe uacutenica ldquoReligiatildeordquo vindo a ser dividida pela denominaccedilatildeo das diferentes

religiotildees ou a classe uacutenica ldquoPoesiardquo sendo dividida por gecircneros poeacuteticos

Dahlberg121 (1974 p 70 apud PERREAULT 1991 p 139-140) lembra que

Gesner utilizou padrotildees conceituais em que a mesma aacuterea geograacutefica eacute

similarmente dividida nas classes principais de Geografia e Histoacuteria mas que de

qualquer maneira desde aquela eacutepoca esse uso da preacute-combinaccedilatildeo natildeo eacute

qualificado como autecircntica categorizaccedilatildeo geral

Contudo pode-se argumentar que se uma classificaccedilatildeo bibliograacutefica foi

aplicada a uma coleccedilatildeo de livros sem expectativa de crescimento (expansatildeo) seria

inuacutetil estabelecer mecanismos para garantir uniformidade na reproduccedilatildeo dos mesmos

princiacutepios em documentos adicionais para a biblioteca No entanto a falta desse

mecanismo natildeo significa segundo Perreault (1991 p 140) que a ordem conceitual

de uma classificaccedilatildeo enumerativa natildeo manifeste a ideacuteia de categoria geral apesar de

rudimentar A enumeraccedilatildeo eacute uma maneira rudimentar de categorizaccedilatildeo (muito

rudimentar porque o criteacuterio utilizado para categorizar estaacute ausente)

Otlet (1934 p 379) considera a classificaccedilatildeo bibliograacutefica a ordem

ininterrupta numa seacuterie linear uacutenica em que todos os termos ocupam uns em

relaccedilatildeo aos outros um lugar designado por um signo (termo nome letra nuacutemero ou

qualquer siacutembolo) arranjado sistematicamente

Piedade (1983 p 60) numa concepccedilatildeo tradicional afirma que ldquoas

classificaccedilotildees bibliograacuteficas satildeo sistemas destinados a servir de base agrave organizaccedilatildeo

do conhecimento nas estantes em cataacutelogos em bibliografias etcrdquo Dessa maneira

com a aplicaccedilatildeo de determinado sistema de classificaccedilatildeo pode-se reunir e agrupar

os documentos segundo o assunto sobre que versam122

121 DAHLBERG I Grundlagen universaler Wissensordnung Pullach bei Muumlnchen Verl Dokumentation 1974 122 A complexidade crescente do meio ambiente gera uma aparente complexidade no pensamento humano pois o ceacuterebro opera com uma capacidade limitada de memoacuteria e a sua habilidade faz com que processe poucos signos simultaneamente Assim o processo de classificaccedilatildeo fornece um modem para compatibilizar a abordagem serial do ceacuterebro e a complexidade do ambiente informacional (GOPINATH 2001 p 16)

137

As classificaccedilotildees bibliograacuteficas podem ter caraacuteter geral universal ou

enciclopeacutedico quando se propotildeem a ordenar todos os campos do conhecimento

humano (classificaccedilotildees gerais) ou caraacuteter especiacutefico local quando abrangem

apenas um campo ou disciplina desse conhecimento (classificaccedilotildees especializadas)

De acordo com Ranganathan (1944) classificaccedilatildeo eacute uma liacutengua franca para

processar e usar conhecimento

O conhecimento pelo mundo inteiro estaacute sendo diversificado ao longo de uma

linha e sintetizado ao longo de outra em um fluxo quase contiacutenuo em meios de

comunicaccedilatildeo variados Uma liacutengua franca com etimologia e semacircntica jaacute fixadas e

uma sintaxe capaz de organizaacute-la e evidenciaacute-la eacute indispensaacutevel principalmente em

uma ordem de filiaccedilatildeo uacutetil Quer o leitor saiba ou natildeo a liacutengua estaacute envolvida na

uacuteltima demanda do leitor comum Esse processo eacute conhecido como uma

necessidade imperativa por aqueles que o servem A liacutengua eacute tatildeo necessaacuteria para

organizar contribuiccedilotildees ao conhecimento de todos os tipos que seriam expressas

em liacutenguas diversas para estabelecer contato entre elas e os leitores na medida de

suas atividades e especificidades A liacutengua de classificaccedilatildeo eacute a uacutenica liacutengua franca

que responde a essa finalidade123 (RANGANATHAN 1944 p 21-22 Traduccedilatildeo livre

da autora)

Tema recorrente quando se trata de classificaccedilatildeo bibliograacutefica eacute a questatildeo das

inuacutemeras adaptaccedilotildees dos esquemas de classificaccedilatildeo Parece que de modo geral a

maioria das bibliotecas mais cedo ou mais tarde acabam adaptando o sistema

originalmente escolhido Explica-se a maioria dos classificadores e indexadores ao

acompanhar o estado atual dos assuntos (tendo em mente o usuaacuterio do sistema e a

missatildeo da instituiccedilatildeo - que satildeo sempre uacutenicos) vecirc-se no papel de estudiosos e

criacuteticos da classificaccedilatildeo o que inexoravelmente acarreta uma interferecircncia maior

ou menor a ser feita para adaptar essas classificaccedilotildees e linguagens agraves solicitaccedilotildees

dos usuaacuterios e agrave evoluccedilatildeo nos saberes no conhecimento

123 ldquoKnowledge all over the world is being diversified along one line and synthesized along another in a continuous almost bewildering flux in varied media A lingua franca with fixed etymology and semantics and a syntax capable of marshalling and presenting it all in most helpful filiatory order is indispensable Whether he knows it or not it is involved in the least demand of the most ordinary reader It is known by those who serve him to be an imperative necessity It is needed so to organize contributions to knowledge of all kinds expressed in diverse languages as to establish contact between them and the readers in the measure of their activity and specificity Classificatory language is the only lingua franca answering the purposerdquo (RANGANATHAN 1944 p 21-22)

138

A morosidade na atualizaccedilatildeo e tambeacutem a rigidez dos sistemas tradicionais de

classificaccedilatildeo bibliograacutefica ocasionaram uma reaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo em muitos setores da

moderna Biblioteconomia sobretudo na americana Eacute quando se tenta criar linguagens

de indexaccedilatildeo meramente alfabeacuteticas prescindindo de qualquer classificaccedilatildeo Poreacutem

logo se percebe o equiacutevoco e as listas alfabeacuteticas de assunto passaram a utilizar

dispositivos classificatoacuterios sempre mais complexos ateacute que se chegou agrave estrutura

sofisticada dos atuais tesauros chamados por Grolier (1976) de classificaccedilotildees

disfarccediladas A reabilitaccedilatildeo do processo classificatoacuterio ocorreu a partir da reformulaccedilatildeo e

constante atualizaccedilatildeo de alguns sistemas tradicionais tendo como base a Moderna

Teoria da Classificaccedilatildeo124 (cf subseccedilatildeo 41) Percebeu-se que natildeo havia razatildeo para

desperdiccedilar toda a riqueza de conteuacutedo e de estruturas que as classificaccedilotildees claacutessicas

acumularam durante deacutecadas ou seja lembrou-se de novo que a classificaccedilatildeo eacute

necessaacuteria e proporciona previsibilidade agrave exploraccedilatildeo do universo bibliograacutefico

Nas subseccedilotildees 31 e 32 discutiu-se o conceito de classe e categoria na

Filosofia Os mesmos termos satildeo discutidos nas subseccedilotildees da seccedilatildeo 4 sob a oacutetica

da Teoria da Classificaccedilatildeo

As classificaccedilotildees bibliograacuteficas baseiam-se prioritariamente nas

classificaccedilotildees do conhecimento observa-se poreacutem que as consideraccedilotildees de ordem

praacutetica tecircm primazia sobre alguns princiacutepios filosoacuteficos o que significa a exclusatildeo de

outros princiacutepios filosoacuteficos (na Teoria da Classificaccedilatildeo o objetivo metafiacutesico eacute

classificar o universo do conhecimento para localizar depois ou seja a essecircncia eacute

pragmaacutetica acesso e recuperaccedilatildeo de documentos e informaccedilotildees) A praticidade das

classificaccedilotildees bibliograacuteficas estaacute vinculada a criteacuterios e requisitos que determinam a

adequaccedilatildeo e utilidade do sistema Os conceitos fundamentais de todo sistema de

classificaccedilatildeo bibliograacutefica geral compotildeem-se de a) classes gerais fundamentais ou baacutesicas satildeo todos os campos temaacuteticos

em toda a sua extensatildeo isto eacute as divisotildees do conhecimento humano a

que se aplicam subdivisotildees devem ser flexiacuteveis e expansivas para suportar

a inclusatildeo de novos conceitos

124 A Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo tambeacutem chamada de Teoria Dinacircmica da Classificaccedilatildeo e de Teoria da Classificaccedilatildeo Facetada foi desenvolvida por Ranganathan nos anos 30 do seacuteculo XX (cf subseccedilatildeo 41)

139

b) subdivisotildees ou facetas satildeo aspectos particulares de um assunto ou

objeto vistos sob determinado ponto de vista satildeo termos geneacutericos que

denotam os aspectos baacutesicos de um assunto simples como tambeacutem

os elementos isolados de um assunto composto (manifestaccedilotildees das

categorias elementos simples reunidos por determinada caracteriacutestica)

que podem se entrelaccedilar para constituir novos conceitos por meio de

relaccedilotildees previstas pelo sistema e devem ter uma estrutura que

proceda do geral para o particular ou seja uma ordem loacutegica

sistemaacutetica e compreensiacutevel

c) divisotildees auxiliares satildeo as que permitem a sistematizaccedilatildeo segundo a

forma lugar tempo e outras

d) notaccedilatildeo satildeo signos (nuacutemeros letras sinais cores e outros) que

representam os nomes das categorias classes e subdivisotildees - devem ser

flexiacuteveis e manejaacuteveis

e) signos de relaccedilatildeo (alguns sistemas os utilizam) satildeo os que representam as

relaccedilotildees por sinais de pontuaccedilatildeo (+ etc) e devem permitir

combinaccedilotildees de distintos acircmbitos conceituais

f) iacutendice alfabeacutetico remete agrave notaccedilatildeo na estrutura classificatoacuteria e facilita o

uso pois localiza rapidamente um assunto dentro do esquema

sistematizado

Os conceitos tecircm sido operacionalizados isto eacute tecircm servido como instrumentos

nos sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica tradicionais Cabe ressaltar que as

categorias devem tambeacutem ser reconhecidas como conceito fundamental de todo o

sistema de classificaccedilatildeo bibliograacutefica tendo em vista o que foi explanado na seccedilatildeo 2

Iyer (1995 p 12) com base em estudos relativos agrave formaccedilatildeo de conceitos de

Dahlberg observa que categorias satildeo ldquounidades de conhecimentordquo que

compreendem afirmaccedilotildees necessaacuterias e verificaacuteveis (caracteriacutesticas) sobre um

referente representadas por uma designaccedilatildeo (expressatildeo verbal)

Bariteacute (2000 p 5) entende categorias como abstraccedilotildees simplificadas muito

mais que classes e que com a forccedila de instrumentos intelectuais satildeo usadas por

estudiosos da classificaccedilatildeo para investigar e descobrir certas regularidades de objetos

do mundo fiacutesico material e ideal e para representar noccedilotildees Essa representaccedilatildeo eacute

feita para organizar logicamente sistemas de conceitos suficientes para a

organizaccedilatildeo do conhecimento em termos gerais e classificaccedilatildeo de documentos em

140

termos especiacuteficos Da mesma maneira como categorias expressam regularidades

forccedilosamente tambeacutem constituem estruturas conceituais com certa estabilidade e

permanecircncia (embora o resultado da sua aplicaccedilatildeo aos diferentes objetos possa ser

variaacutevel) capazes de expressar-se em qualquer objeto entidade ou ser real ou ideal

Conveacutem salientar que os princiacutepios de subdivisatildeo (categorias) estabelecidos

embora expressem regularidades satildeo relativos e determinados historicamente e por

necessidades pragmaacuteticas

Na revisatildeo de literatura da aacuterea especializada de Biblioteconomia confirma-se

que em uma ampla aplicaccedilatildeo de categorias existe concordacircncia entre autores tais

como em Mills (1960 p 13-14) conceito geral que vai do mais concreto ao mais

abstrato de aplicaccedilatildeo universal que pode ser empregado para reunir outros

conceitos Langridge (1977 p 36) as classes mais gerais dos fenocircmenos Wersig e

Neveling (1976 p 123-124) uma classe de generalidade muito alta Buonocore

(1976) uma faceta geral aplicada a muitos dos campos de assunto Piedade (1983

p 19) ldquocategorias satildeo as maiores classes de fenocircmenos as classes mais gerais que

podem ser formadasrdquo e Bariteacute (2000 p 8) toda categoria eacute altamente generalista

Bariteacute (2000 p 5) acredita na impossibilidade de caracterizar categorias na Teoria

da Classificaccedilatildeo tomando por empreacutestimo definiccedilotildees provenientes da Filosofia

Ontologia ou Metafiacutesica125 Mas as duas acepccedilotildees de categoria provenientes da

Filosofia (classe mais geral ou princiacutepio de divisatildeo) aparecem igualmente na Ciecircncia

da Informaccedilatildeo

As definiccedilotildees apresentadas no paraacutegrafo anterior evidenciam que haacute

diferentes conceituaccedilotildees de categoria em curso e que a distinccedilatildeo entre os conceitos

de classe e categoria natildeo eacute nada consensual e natildeo estaacute clara126

As definiccedilotildees de categoria mencionadas satildeo importantes como ponto de

partida conceitual para organizar discursos cientiacuteficos especiacuteficos Pois quando o

termo eacute conceituado na Teoria da Classificaccedilatildeo fica claro que os autores citados

tecircm uma concepccedilatildeo puramente instrumental da noccedilatildeo de categoria ainda que natildeo

cheguem a especificar o fato de que categorias satildeo noccedilotildees extremamente simples

(sem complexatildeo como diria Aristoacuteteles) expressotildees de natureza abstrata oriundas

125 Ainda que na Filosofia as categorias aristoteacutelicas e kantianas tenham outros fundamentos e outras finalidades a Biblioteconomia e a Ciecircncia da Informaccedilatildeo se apropriam do conceito de categoria como criteacuterio de divisatildeo 126 Os conceitos de classe e categoria na Filosofia foram discutidos na subseccedilatildeo 33

141

de criteacuterios de divisatildeo e portanto de caraacuteter instrumental127 Ou seja as duas aacutereas

Filosofia (teoria das categorias) e Biblioteconomia (Teoria da Classificaccedilatildeo)

coincidem na acepccedilatildeo de categoria Ao constatar essa proximidade salienta-se que

essa proximidade natildeo eacute assumida afirmada ou explorada pela Teoria da

Classificaccedilatildeo que no entanto utiliza conceitos oriundos da Filosofia

Dentro da Teoria da Classificaccedilatildeo categorias satildeo apenas relevantes como

instrumentos de anaacutelise e organizaccedilatildeo de objetos fenocircmenos e conhecimentos

Embora guardem as suas essecircncias ontoloacutegicas eacute nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas

que as categorias satildeo de interesse natildeo como elementos de especulaccedilatildeo metafiacutesica

o que eacute oacutebvio mas como niacuteveis de anaacutelises aplicados para estruturar o

conhecimento humano como tambeacutem para estruturar as suas maiores abstraccedilotildees

representativas - os conceitos

A categorizaccedilatildeo pressupotildee a divisatildeodistribuiccedilatildeo de conceitos em categorias por

meio da anaacutelise de facetas128 Broughton (2004 p 296) para exemplificar um tipo de

classificaccedilatildeo que eacute muitas vezes chamado de categorizaccedilatildeo faz menccedilatildeo aos sistemas

de classificaccedilatildeo (Reader Interest Classification) muito gerais adotados por algumas

bibliotecas puacuteblicas da Inglaterra na deacutecada de 1980 preferencialmente agraves

classificaccedilatildeoes bibliograacuteficas tradicionais Esses sistemas normalmente consistiam de

25 categorias retiradas de temas sociais e de lazer (hobbies viagens esportes) sem

subdivisatildeo alguma e usavam cores para codificaccedilatildeo dos livros em lugar da notaccedilatildeo

A seguir discorre-se a respeito da Teoria da Classificaccedilatildeo e analisam-se os

diferentes sistemas claacutessicos de classificaccedilatildeo bibliograacutefica neles atentando-se

particularmente para a operacionalizaccedilatildeo dos conceitos de classe e categoria tal

como expostos ateacute aqui e introduzindo o conceito de faceta na discussatildeo

41 TEORIA DA CLASSIFICACcedilAtildeO

Ingetraut Dahlberg foi uma das pioneiras na organizaccedilatildeo do conhecimento e

testemunha contemporacircnea do desenvolvimento da organizaccedilatildeo do conhecimento

127 Aristoacuteteles atesta o caraacuteter instrumental das categorias quando as considera como categorias mais linguiacutesticas do que loacutegicas No tratado das Categorias Aristoacuteteles apresenta dez categorias baacutesicas para classificar tudo o que existe as quais revelam tanto a sua visatildeo ontoloacutegica do mundo (categorias loacutegicas - o ser) quanto a sua visatildeo semacircntica (categorias linguiacutesticas - o dizer) 128 A anaacutelise por facetas corresponde a designar termos em facetas apropriadas dentro dum assunto tanto na construccedilatildeo de um esquema de classificaccedilatildeo quanto na determinaccedilatildeo do conteuacutedo dum uacutenico documento na praacutetica classificatoacuteria (BROUGHTON 2004 p 300)

142

no Alemanha Iniciou a sua carreira no Instituto Gmelin como uma compiladora de

bibliografias para o Centro de Documentaccedilatildeo de Energia Atocircmica (na eacutepoca parte

do Instituto) Fundou a Society for Classification (1977) a International Society for

Knowledge Organization (1989) mais conhecida por ISKO e o perioacutedico International

Classification (1974) que em 1993 passa a chamar-se Knowledge Organization (KO)

Segundo Dahlberg (1979b p 352-353) soacute muito recentemente a ldquoarte de classificarrdquo

tatildeo antiga quanto o homem adquiriu uma base teoacuterica consistente que permite

presumir que ela progrediu do status de arte para o de ciecircncia Nessa trajetoacuteria ela

foi aplicada ao conhecimento de maneiras diversas e sempre segundo alguma ideacuteia

preacute-concebida que acabou marcando os arranjos ldquosistemaacuteticosrdquo que entraram na

composiccedilatildeo dos trabalhos dos filoacutesofos Ateacute o seacuteculo XV natildeo era costume construir sistemas para a classificaccedilatildeo das ciecircncias como um fim em si mesmo

Provavelmente soacute com o advento da Imprensa - que possibilitou a publicaccedilatildeo de

esquemas destinados a mostrar as relaccedilotildees entre as ciecircncias conhecidas - eacute que

teve iniacutecio o ldquomovimentordquo de elaboraccedilatildeo de sistemas de classificaccedilatildeo O mais

conhecido foi o de Francis Bacon que como parte do seu projeto enciclopeacutedico

publicou em 1605 um plano de classificaccedilatildeo das ciecircncias existentes (cf subseccedilatildeo

312) Entretanto essa arte natildeo foi chamada de classificaccedilatildeo ateacute o seacuteculo XVIII

Somente a partir daiacute o termo classificaccedilatildeo passou a ser utilizado com o sentido de

ldquoplano para a classificaccedilatildeo das ciecircncias e dos livrosrdquo Foi principalmente no seacuteculo

XIX que a elaboraccedilatildeo de esquemas de classificaccedilatildeo tornou-se um hobby para cada

filoacutesofo e tambeacutem para alguns cientistas como por exemplo Ampegravere (cf subseccedilatildeo

313) Inspirados nesses trabalhos filosoacuteficos os bibliotecaacuterios passaram a construir

novos sistemas para a organizaccedilatildeo do conteuacutedo das suas coleccedilotildees de livros Essa

maneira de elaborar sistemas com base em acerto e erro com fundamento em

alguma ideacuteia intuitiva sobre divisotildees e prioridades no arranjo (primeiramente

hierarquias e subordinaccedilotildees e finalmente auxiliares) era tida como Teoria da

Classificaccedilatildeo ateacute recentemente Uma combinaccedilatildeo de fatores129 torna o periacuteodo apoacutes 1876 vital no

desenvolvimento da classificaccedilatildeo bibliograacutefica Um dos mais importantes estudiosos

129 O grande interesse em Educaccedilatildeo a explosatildeo do Conhecimento e a feacute moderna na Ciecircncia e no Meacutetodo tornaram o final do seacuteculo XIX princiacutepio do XX um tempo particularmente feacutertil na Histoacuteria dos sistemas de classificaccedilatildeo enciclopeacutedica (Dewey 1876 o Instituto Internacional de Bibliografia (IIB) de Otlet e La Fontaine 1895 e CDU 1905 EC 1891 LCC 1902 BSC1906 Colon 1933 BC 1935 e depois entre 1940 e 1953)

143

foi Dewey (1851-1931) que trouxe o problema do arranjo de livros por assunto para

dentro da praacutetica biblioteconocircmica Dewey natildeo somente publicou a primeira ediccedilatildeo

do seu esquema Dewey Decimal Classification (1876) como tambeacutem ajudou a fundar

a American Library Association e o Library Bureau e foi o primeiro editor do Library

Journal Na discussatildeo do desenvolvimento da Teoria da Classificaccedilatildeo eacute inevitaacutevel

iniciar desse ponto pois Dewey e muitos dos seus sucessores foram os que

desenvolveram as atuais classificaccedilotildees fazendo avanccedilar a pesquisa dos esquemas

praacuteticos e dando consistecircncia agrave teoria

O conhecimento dos esquemas e das ideacuteias subjacentes a eles facilita a

compreensatildeo e a comparaccedilatildeo Eacute uacutetil para se conhecer o propoacutesito de cada um

desses autores na compilaccedilatildeo do seu esquema

a) Dewey (Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey - CDD) porque uma classificaccedilatildeo

era necessaacuteria

b) Otlet e La Fontaine (Classificaccedilatildeo Decimal Universal - CDU) para

classificar detalhadamente documentos em fichas e relacionar assuntos

c) Herbert Putnanm (em 1899 o entatildeo diretor da Biblioteca do Congresso

Putnanm decide reorganizar e reclassificar a coleccedilatildeo optando pela

formulaccedilatildeo de novo esquema um sistema proacuteprio para a Biblioteca

Classificaccedilatildeo da Biblioteca do Congresso - LCC com base no sistema

de Cutter Classificaccedilatildeo Expansiva - EC e impregnado portanto dos

seus criteacuterios classificatoacuterios) para arranjar dois milhotildees de livros Brown

(Brown Subject Classification Classificaccedilatildeo de Assuntos - BSC) para

obter um esquema ldquoinglecircsrdquo Bliss (Bibliographic Classification -

Classificaccedilatildeo Bibliograacutefica de Bliss - BC) para demonstrar as suas teorias

de classificaccedilatildeo Ranganathan (Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos - CC)

em razatildeo da grande insatisfaccedilatildeo com todos os outros esquemas (FLA

1996 p 11)

As ideacuteias que formam a base da teoria e praacutetica da classificaccedilatildeo

biblioteconocircmica podem ser vistas em termos de princiacutepios conjunto de postulados

144

e de leis da Biblioteconomia bem como na perspectiva do universo de assuntos da

sua representaccedilatildeo130 e da necessidade dos usuaacuterios

O primeiro bibliotecaacuterio a observar a diversidade dos pontos de vista sob os

quais se pode considerar uma certa aacuterea de conhecimento na discussatildeo da teoria

que fundamenta o seu plano foi Henry Evelyn Bliss (1870-1955)131 Bliss acreditava

totalmente na necessidade de fundaccedilotildees filosoacuteficas e acadecircmicas na classificaccedilatildeo

bibliograacutefica Natildeo era suficiente que o esquema de classificaccedilatildeo bibliograacutefica

pudesse ser uacutetil de uma maneira instrumental e praacutetica para organizar livros nas

prateleiras das bibliotecas tal esquema devia tambeacutem ter valor educacional Ele

pensava que embora nenhum indiviacuteduo pudesse ser dono e senhor de todo

130 A representaccedilatildeo do conhecimento pode ser classificada segundo Brachman (1979 p 3-50) em quatro niacuteveis loacutegico (niacutevel de formalizaccedilatildeo - objetiva uma verdadeira accedilatildeo do pensar sem preocupaccedilatildeo com a semacircntica dos conceitos e de suas relaccedilotildees) epistemoloacutegico (niacutevel da estruturaccedilatildeo - introduz a noccedilatildeo geneacuterica de um conceito) ontoloacutegico (niacutevel da significaccedilatildeo - restringe o nuacutemero de possibilidades de interpretaccedilatildeo do conceito dentro de um dado conceito e pretende representar o conteuacutedo do conceito) e conceitual (niacutevel da interpretaccedilatildeo - apresenta uma interpretaccedilatildeo definida dos conceitos em determinado domiacutenio) Baseando-se nessa classificaccedilatildeo M L Campos (2001 f 49-52) salienta que na Ciecircncia da Informaccedilatildeo pode-se considerar a Teoria da Classificaccedilatildeo entre o niacutevel epistemoloacutegico e o niacutevel ontoloacutegico porque apesar dela natildeo pretender chegar agrave definiccedilatildeo dos conceitos de um dado domiacutenio (natildeo tem diretrizes para a formulaccedilatildeo de definiccedilotildees) ela deteacutem um formalismo que permitepossibilita a representaccedilatildeo do conhecimento visando agrave organizaccedilatildeo de documentos e agrave recuperaccedilatildeo de informaccedilatildeo Poli (1996 1997) procurou fazer uma distinccedilatildeo entre o enfoque ontoloacutegico e epistemoloacutegico do conhecimento Ontologia em seu significado filosoacutefico (natildeo confundir com esquemas homocircnimos para tratamento da informaccedilatildeo semacircntica por maacutequina) refere-se agrave natureza das coisas conhecidas especialmente em termos de categorias gerais agraves quais as coisas podem pertencer Questotildees como subdivisatildeo de classes em tipos e partes ou o reconhecimento de que determinado conceito consiste de um processo ou de uma entidade estaacutetica satildeo ontoloacutegicas Enquanto epistemologia se refere a como os seres humanos conhecem o mundo por meio dos seus oacutergatildeos do sentido e como eles processam conhecimento de acordo com categorias inatas e adquiridas socialmente Portanto o conhecimento eacute tanto epistemoloacutegico quanto ontoloacutegico porque ele transita pela percepccedilatildeo humana a sua verdadeira natureza mas tambeacutem se refere aos objetos reais do mundo sendo detentor de alguma estrutura intriacutenseca Entretanto segundo Gnoli (2008 p 139) autores em organizaccedilatildeo do conhecimento enfatizam na maioria das vezes um ou outro enfoque por exemplo as classes principais da CDD seguem uma sequecircncia epistemoloacutegica (retornando a F Bacon) as classes principais da CDU satildeo tambeacutem epistemoloacutegicas (derivaram da CDD) as classes principais da BC se baseiam numa suposta sequecircncia natural de crescente especificidade e complexidade dos objetos conhecidos e por essa razatildeo eacute fundamentalmente ontoloacutegica Desse modo para o autor parece que nas fundaccedilotildees filosoacuteficas da Organizaccedilatildeo do Conhecimento haacute duas grandes escolas constituindo correntes totalmente independentes e ele sugere que alguma reconciliaccedilatildeo entre essas correntes deveria ser buscada Afinal de acordo com Hjoslashrland e Hartel (2003 apud Gnoli 2008 p 140) ldquoo conhecimento humano eacute tanto um produto do proacuteprio mundo quanto dos interesses e capacidades dos homensrdquo (HJOslashRLAND HARTEL 2003) 131 Bliss fez a criacutetica do racionalismo baconiano de Dewey natildeo acreditava no argumento de Dewey de que natildeo tinha importacircncia onde no esquema um assunto estaacute colocado contanto que ele seja eficientemente indexado descreveu a ordem Baconiana Invertida como natildeo-filosoacutefica e natildeo-praacutetica porque as principais ciecircncias se tornaram separadas e ldquodeturpadasrdquo e criticou a notaccedilatildeo como sendo natildeo-econocircmica e complexa (BLISS 1939 p 205) Trabalhando no quadro filosoacutefico-cientiacutefico-positivista do iniacutecio do seacuteculo XX o seu enfoque consistia em construir classes principais sobre consensos escolares e acadecircmicos

145

conhecimento a classificaccedilatildeo poderia dar ao indiviacuteduo uma visatildeo geral de todo o

mundo das ideacuteias Aleacutem do esquema da BC Bliss publicou em 1929 a obra The

Organization of Knowledge and the System of Sciences (A Organizaccedilatildeo do

Conhecimento e o Sistema das Ciecircncias)132 e em 1933 The Organization of

Knowledge in Libraries (A Organizaccedilatildeo do Conhecimento nas Bibliotecas)133 nas

quais demonstrando preocupaccedilatildeo com os fundamentos filosoacuteficos da classificaccedilatildeo

empreende uma pesquisa criacutetica do que ele chama de classificaccedilotildees bibliograacuteficas

estabelecidas e tenta combinar o conhecimento filosoacutefico com a necessidade

pragmaacutetica de uma biblioteca de arranjar os livros nas estantes Bliss contribuiu com

a Teoria da Classificaccedilatildeo natildeo soacute ao colocar a classificaccedilatildeo bibliograacutefica novamente

em contato com os princiacutepios filosoacuteficos da classificaccedilatildeo (os fundamentos

conceituais da formaccedilatildeo divisatildeo e particcedilatildeo de classes) mas tambeacutem ao

proporcionar a Ranganathan por meio da leitura dos seus livros ldquoa mais feacutertil das

inspiraccedilotildeesrdquo (DAHLBERG 1979b p 354-355)

Ranganathan (1892-1972) em seu livro Prolegomena to Library Classification

(1937) menciona o fato dizendo que certa vez natildeo podendo conciliar o sono

lembrou-se do conselho dado por um amigo de ler para distrair-se Resolveu ler

Bliss pois possuiacutea os trecircs livros mas ateacute entatildeo natildeo tivera tempo de lecirc-los Ao entrar

em contato por intermeacutedio das ideacuteias de Bliss com a perspectiva de elaborar uma

base teoacuterica para sistemas de classificaccedilatildeo sentiu-se estimulado a providenciar uma

teoria e uma linguagem uacutenica para a sua Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos (publicada

em 1933) que havia sido elaborada apenas sobre bases intuitivas

Consequentemente em 1937 Ranganathan elabora uma seacuterie de regras e

desenvolve um sistema de cacircnones e postulados e desses extrai princiacutepios e

distingue processos para estabelecer uma conduta uniforme na formaccedilatildeo de

representaccedilatildeo de qualquer conceito e assunto existente em niacutevel teoacuterico tornando-

se o pai da Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo Como se pode constatar o enfoque

analiacutetico-combinatoacuterio (ldquomatemaacutetico-qualitativordquo) ranganathiano da classificaccedilatildeo

similar ao de Leibniz (cf subseccedilatildeo 312) diferenciava-se dos adotados pelas

classificaccedilotildees bibliograacuteficas anteriores Ranganathan inspirado nos escritos de

132 Neste livro Bliss analisa os diversos sistemas de classificaccedilatildeo filosoacutefica especialmente os de Comte Spencer e Wundt 133 Neste livro Bliss estuda os sistemas gerais de classificaccedilatildeo bibliograacutefica refletindo sobre o princiacutepio compteano de graduaccedilatildeo na especialidade

146

Bliss expocircs ideacuteias que podem ser vistas como o desenvolvimento de ideacuteias

gradualmente tratadas na CDD (com suas listas separadas de conceitos recorrentes

nas tabelas) e na CDU para reformular a Teoria da Classificaccedilatildeo

Desenvolver uma teoria geral dinacircmica de classificaccedilatildeo era a intenccedilatildeo de

Ranganathan em suas quatro obras baacutesicas The Five Laws of Library Science

(1931) Prolegomena to Library Classification (1937) Elements of Library

Classification (1945) Philosophy of Library Classification (1951) aleacutem da proacutepria

Colon Classification (1933) publicadas pela Madras Library Association Desde

entatildeo a Teoria Dinacircmica da Classificaccedilatildeo tambeacutem chamada de Teoria da

Classificaccedilatildeo Facetada ou de Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo vem sendo

continuamente desenvolvida (NEELAMEGHAN 1970 v 5 p 148)

A sua obra The Five Laws of Library Science enuncia um conjunto unificado

de leis fundamentais que forma a base para a derivaccedilatildeo (por deduccedilatildeo) de todos os

princiacutepios e de todas as atividades relacionadas agrave aacuterea de Biblioteconomia Pode ser

sintetizada em Cinco Leis 1) Os livros satildeo para serem usados 2) a cada leitor o seu

livro 3) a cada livro o seu leitor 4) poupe o tempo do leitor e 5) a Biblioteca eacute um

organismo em crescimento Vale mencionar que as leis formuladas por

Ranganathan em 1928 formam a base do sistema de classificaccedilatildeo por ele

publicado em 1933 (NEELAMEGHAN 1970 v 5 p 147) Quando Ranganathan de

acordo com Vicentini (1972 p 113) estabeleceu as suas Cinco Leis foi o primeiro a

elevar a Biblioteconomia ao niacutevel de ciecircncia

Ranganathan diferencia-se por introduzir pela primeira vez nas discussotildees da

classificaccedilatildeo bibliograacutefica uma terminologia teacutecnica na qual por exemplo ideacuteia

isolada (Isolate Idea) eacute uma ideacuteia ou complexo-de-ideacuteias adaptadas para formar um

componente de um assunto mas em si mesma ela natildeo eacute considerada um assunto

(como por exemplo Bacteacuteria denota um isolado mas se o conceito for ajustado

para ser um componente de assunto funciona como unidade combinatoacuteria formando

ou especificando um assunto como Doenccedilas do corpo humano causadas por

bacteacuteria) assim isolados satildeo os vaacuterios conceitos presentes nos assuntos antes

desses conceitos serem reunidos em facetas faceta (facet) eacute um termo geneacuterico

usado para denotar algum componente um assunto baacutesico sozinho (Agricultura) ou

algum componente de um assunto baacutesico (Cultivo de arroz) ou ainda o componente

isolado em um assunto composto (Radiaccedilatildeo Eletromagneacutetica na Radiaccedilatildeo Fiacutesica

em que Radiaccedilatildeo Eletromagneacutetica eacute o isolado e Radiaccedilatildeo Fiacutesica eacute o assunto

147

baacutesico)134 categoria fundamental (fundamental category) eacute cada faceta isolada

considerada como sendo a manifestaccedilatildeo de uma das cinco categorias ou ideacuteias

fundamentais personalidade mateacuteria energia espaccedilo e tempo conhecidas pela

sigla PMEST135 Nesse sentido categorias satildeo um conjunto de noccedilotildees a partir das

quais conceitos satildeo classificados por intermeacutedio de anaacutelise por facetas focos satildeo os

isolados comuns depois de serem agrupados em facetas e anaacutelise por facetas eacute a

teacutecnica de separar os vaacuterios elementos de um assunto complexo em relaccedilatildeo a um

conjunto de conceitos fundamentais abstratos

Segundo Antony Charles Foskett (1972 p 338 Traduccedilatildeo livre da autora)

Ranganathan definiu anaacutelise por faceta como processo mental pelo qual as

possiacuteveis sequecircncias de caracteriacutesticas que formam a base da classificaccedilatildeo de um

assunto podem ser enumeradas e a medida exata na qual os atributos relacionados

ocorrem no assunto eacute determinada Facetas satildeo inerentes ao assunto136

Bryan C Vickery (1960) em uma contribuiccedilatildeo para o CRG afirmou que uma

classificaccedilatildeo facetada eacute uma lista de termos padronizados para serem usados na

descriccedilatildeo dos assuntos dos documentos (Ranganathan demonstrou que o nuacutemero

de assuntos especiacuteficos que podem ser selecionados numa classificaccedilatildeo eacute

134 Vickery (1980 p 212) referindo-se agraves classificaccedilotildees especializadas considera cada faceta de qualquer assunto assim como cada divisatildeo de uma faceta como uma manifestaccedilatildeo de uma das cinco categorias fundamentais 135 O Postulado das Categorias eacute o princiacutepio normativo adotado para a organizaccedilatildeo (divisatildeo) do Universo de Assuntos em Personalidade [P] aquilo que Ranganathan dizia ser indefiniacutevel como por exemplo nuacutemeros equaccedilotildees bibliotecas liacutenguas etc Ou seja a essecircncia de um assunto os objetos de estudo de uma determinada disciplina tipos ou espeacutecies partes ou orgatildeos de entidades Por exemplo Personalidade na Medicina satildeo os oacutergatildeos do corpo humano na Botacircnica os vegetais na Literatura as vaacuterias liacutenguas na Biblioteconomia os tipos de bibliotecas etc Mateacuteria [M] eacute a manifestaccedilatildeo de duas espeacutecies mateacuteria e propriedade como por exemplo mesa de madeira com tampo oval Ou seja todo o tipo de material e substacircncia de que satildeo feitas as coisas Por exemplo na Medicina satildeo o sangue os tecidos etc na Biblioteconomia satildeo os livros os perioacutedicos os cds etc Energia [E] eacute a manifestaccedilatildeo de uma accedilatildeo de qualquer espeacutecie como por exemplo processo operaccedilatildeo teacutecnica Ou seja a accedilatildeo e a reaccedilatildeo o tratamento a atividade o problema etc Por exemplo na Medicina satildeo os tratamentos na Botacircnica eacute a Morfologia na Biblioteconomia satildeo os serviccedilos Espaccedilo [S] eacute a manifestaccedilatildeo de lugar como por exemplo paiacuteses cidades superfiacutecies etc Ou seja divisatildeo geograacutefica o lugar onde se passa o fato Tempo [T] eacute a manifestaccedilatildeo de ideacuteias isoladas de tempo comum como por exemplo seacuteculos anos dia noite veratildeo etc Ou seja a divisatildeo cronoloacutegica a eacutepoca da realizaccedilatildeo de um fato A respeito da pergunta que Ranganathan (1967 p 396) se faz ldquoPor que as ideacuteias fundamentais postuladas satildeo em nuacutemero de cincordquo ele mesmo responde ldquotrabalhar com base em cinco ideacuteias fundamentais produziu resultados satisfatoacuterios nos vinte uacuteltimos anosrdquo 136 ldquohellipthe mental process by which the possible trains of characteristics which can form the basis of classification of a subject are enumerated and the exact measure in which the attributes concerned are incident in the subject are determined Facets are inherent in the subjectrdquo (FOSKETT A C 1972 p 338)

148

potencialmente infinito) e mostra em seus escritos a relaccedilatildeo da anaacutelise por facetas

com a anaacutelise geral da informaccedilatildeo

Portanto pode-se considerar anaacutelise por facetas como procedimento loacutegico de

anaacutelise e organizaccedilatildeo de campos conceituais (assuntos) para determinar quais

caracteriacutesticas satildeo mais apropriadas para dividir assuntos relacionando-os agraves cinco

categorias ou facetas fundamentais pelas quais uma classe principal pode ser dividida

Entre as diversas ideacuteias novas e a quantidade de novos conceitos137 criados

por Ranganathan encontram-se trecircs efetivas contribuiccedilotildees para a Modena Teoria da

Classificaccedilatildeo como a seguir detalhado (DAHLBERG 1979b p 357-358

NEELAMEGHAN 1970 v 5 p 150-160 RANGANATHAN 1967)

a) primeira contribuiccedilatildeo distribuiccedilatildeo por planos

b) segunda contribuiccedilatildeo enfoque analiacutetico-sinteacutetico para a identificaccedilatildeo

dos assuntos

c) terceira contribuiccedilatildeo princiacutepios para sequecircncia uacutetil

137 Terminologia de Ranganathan Assunto Baacutesico eacute um nome geneacuterico para denotar cada assunto principal ou qualquer assunto baacutesico natildeo principal de um dos cinco grupos 1 Assunto Baacutesico Canocircnico (Canonical) eacute uma divisatildeo tradicional de um assunto principal (exemplo R1 Loacutegica R2 Epistemologia R3 Metafiacutesica R5 Esteacutetica em R Filosofia) 2 Assunto Baacutesico Especial (Specials) eacute o assunto de um estudo que de alguma maneira especial foi restringido (exemplo L9C Medicina Infantil) 3 Assunto Baacutesico Descontextualizado (Environmented) eacute a entidade no estudo de um assunto principal presente num contexto que natildeo eacute o seu (exemplo S9Y55 Psicologia de uma pessoa estranha ao meio natural do grupo) 4 Assunto Baacutesico do Sistema (Systems) eacute o assunto de um estudo exposto de acordo com uma escola particular de pensamento diferente daquela privilegiada pelo sistema (exemplo LB Medicina Ayurveacutedica) 5 Assunto Baacutesico Composto (Compound) eacute um assunto baacutesico formado pela combinaccedilatildeo de dois ou mais assuntos dos quatro grupos acima mencionados (exemplo LB-9UA3-9C Medicina infantil tropical ayurveacutedica) (NEELAMEGHAN 1970 v 5 p 149-151 Traduccedilatildeo livre da autora) Ideacuteia (Idea) um produto do pensamento da reflexatildeo e da imaginaccedilatildeo que passou pelo intelecto integrando com a ajuda da Loacutegica uma seleccedilatildeo proveniente da percepccedilatildeo diretamente apreendida pela intuiccedilatildeo e depositada na memoacuteria Assunto (Subject) um corpo sistematizado de ideacuteias que incide de forma coerente em um campo especializado Renque e Cadeia (Array and Chain) satildeo produzidos pela adiccedilatildeo de uma caracteriacutestica (para Ranganathan caracteriacutestica eacute atributo e de acordo com Kumar (1981 p 14) um atributo eacute uma propriedade qualidade ou uma medida quantitativa de uma entidade) a um assunto baacutesico ou a uma ideacuteia isolada Renques satildeo conjuntos formados a partir de uma uacutenica caracteriacutestica de divisatildeo formando seacuteries horizontais Por exemplo Rosa Margarida e Violeta satildeo elementos do conjunto Flores Ornamentais o qual eacute formado pela caracteriacutestica de divisatildeo - tipos de flores ornamentais Cadeias satildeo seacuteries verticais de conceitos em que cada conceito tem uma caracteriacutestica a mais ou a menos conforme a cadeia seja ascendente ou descendente Por exemplo Rosa eacute um tipo de Flor Ornamental que por sua vez eacute um tipo de Flor Modos de Formaccedilatildeo dos Assuntos Dissecaccedilatildeo eacute o corte de um universo de entidades em partes que tenham posiccedilatildeo coordenada de modo que as partes (lacircminas) enfileiradas formem um renque Laminaccedilatildeo eacute a superposiccedilatildeo de facetas que acontece quando uma ou mais ideacuteias isoladas que pertencem a universos diferentes satildeo laminadas em cima de uma faceta ou assunto baacutesico formando um assunto composto Desnudaccedilatildeo eacute a diminuiccedilatildeo progressiva da extensatildeo e o aumento da intensatildeo de um assunto baacutesico ou de um isolado o que permite a formaccedilatildeo de cadeias Agregaccedilatildeo eacute a reuniatildeo de dois ou mais assuntos baacutesicos ou compostos e de isolados formando um assunto complexo e Superposiccedilatildeo eacute a superposiccedilatildeo de dois ou mais isolados que pertencem ao mesmo universo de isolados (RANGANATHAN 1967)

149

A primeira das trecircs contribuiccedilotildees diz respeito agrave introduccedilatildeo de trecircs planos

distintos de trabalho com base nos diversos niacuteveis nos quais trabalham os

classificacionistas e os classificadores

a) o plano da ideacuteia

b) o plano verbal

c) o plano notacional

O plano da ideacuteia corresponde ao niacutevel das ideacuteias e dos conceitos e divide o

Universo das Ideacuteias do Conhecimento ou dos Assuntos em um conjunto de assuntos

principais mutuamente exclusivos e totalmente exaustivos partindo do pressuposto de

que nenhum assunto principal pode ser expresso com os termos de outros assuntos

principais na tabela Pode-se dizer entatildeo que assunto principal eacute aquele que

representa as maiores aacutereas do conhecimento como Medicina Fiacutesica etc

O plano verbal equivale ao niacutevel da expressatildeo verbal dos conceitos presentes

nos assuntos que podem variar segundo a liacutengua utilizada Nesse plano eacute

necessaacuterio nomear os assuntos usar terminologia padronizada atender aos

cacircnones do contexto da enumeraccedilatildeo e da predominacircncia

O plano notacional refere-se ao niacutevel da fixaccedilatildeo dos conceitos em formas

abstratas tais como sinais letras e nuacutemeros Necessita de um sistema notacional

nuacutemeros de classificaccedilatildeo linguagem classificatoacuteria base da notaccedilatildeo combinaccedilatildeo

de diacutegitos diacutegito indicador notaccedilatildeo mista uso de diacutegitos mnemocircnicos extrapolaccedilatildeo

em renques interpolaccedilatildeo em renques (arrays uma fileira ou uma seacuterie de focos138

coordenados com base no mesmo princiacutepio de divisatildeo) interpolaccedilatildeo em cadeia

hospitalidade entre facetas etc

Segundo Dahlberg (1979b p 357) a distinccedilatildeo em trecircs niacuteveis tem o meacuterito de

evidenciar o objeto da Teoria da Classificaccedilatildeo que desde Ranganathan eacute o

conceito uacutenico (expressatildeo da linguagem natural que corresponde ao plano verbal) e

a sua capacidade de combinaccedilatildeo para representar (por meio da notaccedilatildeo em uma

forma semioacutetica) o conhecimento que o homem tem do mundo

A segunda contribuiccedilatildeo de Ranganathan agrave Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo eacute

a do seu enfoque analiacutetico-sinteacutetico para a identificaccedilatildeo dos assuntos Dahlberg

(1979b p 357) afirma que esse enfoque exige para a classificaccedilatildeo de cada

138 A palavra foco vem do latim focus (singular focus e plural foci) significa ponto de convergecircncia ponto para o que converge a atenccedilatildeo

150

documento uma anaacutelise do seu conteuacutedo em termos de elementos (conceitos) que

compotildeem as chamadas facetas e uma siacutentese desses elementos em expressotildees

combinatoacuterias Esse processo segue a foacutermula de facetas que serve para a

representaccedilatildeo dos assuntos e a ordenaccedilatildeo dos conceitos de uma disciplina em

classes formais de acordo com as categorias existentes nessa disciplina

A terceira contribuiccedilatildeo de Ranganathan foi a elaboraccedilatildeo de princiacutepios para

orientar a escolha da sequecircncia das facetas ou seja organizar os elementos das

facetas - princiacutepios para sequecircncia uacutetil - tambeacutem considerados como instrumento

para avaliaccedilatildeo de sistemas de classificaccedilatildeo (DAHLBERG 1979b p 358)139

Observa-se que Ranganathan desenvolveu um sistema complexo que aleacutem

das contribuiccedilotildees anteriormente mencionadas compreendia a Colon Classification

(modelo para um novo sistema universal de classificaccedilatildeo facetada) e os

Prolegomena (coacutedigos e regulamentaccedilotildees para a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo)

ressaltando para a Biblioteconomia e para a Ciecircncia da Informaccedilatildeo sua visatildeo

holiacutestica responsaacutevel pela criaccedilatildeo do seu Universo do Conhecimento140 e sua

representaccedilatildeo que revolucionou a Iacutendia a Ciecircncia da Informaccedilatildeo e a Teoria da

139 Segundo Piedade (1983 p 83-84) para que se atinja a sequecircncia uacutetil Ranganathan introduziu os seguintes princiacutepios

1 Cacircnone de extensatildeo decrescente (Canon of decreasing extension) a classe geral deve preceder as classes especiais 2 Princiacutepio da concreccedilatildeo crescente (Principle of increasing concreteness) a classe mais abstrata precede a mais concreta 3 Princiacutepio da posteridade na evoluccedilatildeo (Principle of later in evolution) segue-se a ordem da evoluccedilatildeo 4 Princiacutepio da posteridade no tempo (Principle of later in time) segue-se a ordem cronoloacutegica 5 Princiacutepio da contiguidade espacial (Principle of spatial contiguity) as aacutereas geograacuteficas devem ser ordenadas de acordo com a proximidade 6 Cacircnone de consistecircncia na sequecircncia (Canon of consistent sequence) quando os mesmos temas surgem em mais de um ponto da classificaccedilatildeo devem ser ordenados do mesmo modo 7 Princiacutepio da sequecircncia canocircnica (Principle of canonical sequence) quando natildeo haacute outro princiacutepio a seguir prefere-se a ordem tradicional 8 Princiacutepio da complexidade crescente (Principle of increasing complexity) os temas mais simples devem vir antes dos mais complexos ldquoQuando nenhum dos cacircnones e princiacutepios precedentes pode ser aplicado Ranganathan aconselha recorrer agraves Cinco Leis da Biblioteconomia de sua autoria que [] determinam que a biblioteca deve servir exatamente exaustivamente e rapidamente ao leitor com o menor esforccedilo e o menor desperdiacutecio de recursos humanosrdquo (PIEDADE 1983 p 84) 140 Universo do Conhecimento ldquoeacute a soma total em um dado momento do conhecimento acumulado Ele estaacute em desenvolvimento contiacutenuo Diferentes domiacutenios do Universo do Conhecimento satildeo desenvolvidos por diferentes meacutetodos O Meacutetodo Cientiacutefico eacute um dos meacutetodos reconhecidos de desenvolvimento O Meacutetodo Cientiacutefico eacute caracterizado pelo movimento em espiralrdquo (RANGANATHAN 1963 p 359)

151

Classificaccedilatildeo141 Ranganathan em virtude do volume de informaccedilatildeo cientiacutefica e

tecnoloacutegica entendia que o Universo do Conhecimento eacute dinacircmico e contiacutenuo e

procurou identificar os vaacuterios fatores responsaacuteveis pelo crescimento do

conhecimento destacando o desenvolvimento da induacutestria da informaccedilatildeo

(SEPUacuteLVEDA 1996) Essa questatildeo do Universo do Conhecimento apresenta um

inegaacutevel forte cunho filosoacutefico mas eacute sempre tratada por Ranganathan com o

cuidado e a preocupaccedilatildeo de relacionar a questatildeo filosoacutefica com a questatildeo

pragmaacutetica da classificaccedilatildeo bibliograacutefica Segundo M L Campos (2001 f 60-69)

para explicar o movimento do ato de conhecer e a sua influecircncia nos sistemas de

classificaccedilatildeo Ranganathan apresenta a Espiral do Universo do Conhecimento (que

propicia o ato de perceber os fatos que ocorrem no mundo fenomecircnico) e para

destacar a ligaccedilatildeo entre a produccedilatildeo de conhecimento e os esquemas de

classificaccedilatildeo apresenta tambeacutem a Espiral do Desenvolvimento de Assuntos (que

possibilita verificar a relaccedilatildeo entre o ato de perceber os fatos e a produccedilatildeo de

conhecimento que no caso eacute conhecimento registrado)142

Na visatildeo de Gopinath (1992 editorial) Ranganathan soacute conseguiu impactar

tanto a Ciecircncia da Informaccedilatildeo por causa da sua visatildeo holiacutestica

141 De acordo com Sepuacutelveda (1996) e Gopinath (2001) a gecircnese do pensar de Ranganathan foi fruto de sua visatildeo holiacutestica do Universo sob influecircncia da Cultura Bracircmane (demonstrada nos planos ideacional verbal e ideacional em parte de suas Cinco Leis da Biblioteconomia e na definiccedilatildeo da Colon Classification) da Cultura Chinesa (demonstrada na sua definiccedilatildeo de Universo do Conhecimento da Espiral de Desenvolvimento de Assunto e do Meacutetodo) e da Astrologia (demonstrada em sua divisatildeo do Universo do Conhecimento em quadrantes e no desenvolvimento de conceitos como Ascendente Descendente Fundo do Ceacuteu e Meio Ceacuteu etc) 142 Para maiores informaccedilotildees em relaccedilatildeo a essa questatildeo ver RANGANATHAN S R The five laws of library science Bombay Asia Publishing House 1963 449 p RANGANATHAN S R Prolegomena to library classification Bombay Asia Publishing House 1967 640 p e CAMPOS M L de A A organizaccedilatildeo de unidades do conhecimento em hiperdocumentos o modelo conceitual como um espaccedilo comunicacional para a realizaccedilatildeo da autoria 2001 186 f Tese (Doutorado em Ciecircncia da Informaccedilatildeo) - Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia da Informaccedilatildeo do Convecircnio CNPqIBICT Escola de Comunicaccedilatildeo Universidade Federal do Rio de Janeiro 2001

152

Ranganathan tinha uma visatildeo holiacutestica do seu trabalho Ele acreditava que qualquer parte do trabalho pertence a um todo sistemaacutetico e integrado Natildeo somente desenvolveu um corpo de conhecimentos regulou praacuteticas criou um sistema de administraccedilatildeo assim como tambeacutem promoveu sua visatildeo holiacutestica Desse modo ele expressou sua visatildeo do Holismo143

A presenccedila do holismo nas classes principais da CC eacute proposital e utilitaacuteria

representando a triacuteade Satyam Shivam Sundaram (GOPINATH 2001 p 90)

Satya (sacircnscrito verdade) eacute Shiva (sacircnscrito Deus) que eacute Sundara (sacircnscrito

beleza) Verdade beleza e divindade satildeo os supremos valores da Iacutendia desde a

Antiguidade e servem para guiar os homens em suas vidas

Depois da Segunda Guerra Mundial a Colon e os Prolegomena passaram a

ser mais difundidos particularmente na Inglaterra onde na deacutecada de 1940 com o

iniacutecio do desenvolvimento dos tesauros surge o Thesaurofacet144 As discussotildees

continuaram e questotildees relacionadas com ordenaccedilatildeo de termos ou frases para

expressar o assunto contido nos documentos se propagaram inclusive no interior de

sistemas de indexaccedilatildeo como no sistema de indexaccedilatildeo por linguagem livre

denominado PRECIS de Austin145

A partir da deacutecada de 1960 ao se considerar as estruturas classificatoacuterias sob

o ponto de vista analiacutetico (muito mais flexiacutevel em relaccedilatildeo ao hierarquizado que

vigorava ateacute entatildeo) percebe-se a necessidade de especificar explicar aclarar os

elementos categoriais dos sistemas de classificaccedilatildeo facetados - que elaboram

facetas com base em categorias de conceitos Nesse ponto um estudo deve ser

mencionado como texto fundamental em relaccedilatildeo agraves categorias utilizadas na

Documentaccedilatildeo o relatoacuterio Eacutetude sur les Cateacutegories Geacuteneacuterales Applicables aux 143 Holismo (do grego holos todo) eacute uma variante da Doutrina da Evoluccedilatildeo que consiste na inversatildeo da hipoacutetese mecanicista e em considerar que os fenocircmenos bioloacutegicos (quer se trate de seres humanos ou outros organismos) natildeo dependem dos fenocircmenos fiacutesico-quiacutemicos mas o contraacuterio O termo foi usado pela primeira vez em 1927 por Jan Smuts primeiro-ministro da Aacutefrica do Sul no seu livro Holism and Evolution como a tendecircncia da natureza a formar atraveacutes de evoluccedilatildeo criativa o todo que eacute maior do que a soma de suas partes Karl Popper em 1944 na obra Poverty of Historicism denominou Holismo a tendecircncia dos historiadores em sustentar que o organismo social assim como o bioloacutegico eacute algo mais que a simples soma dos seus membros e eacute tambeacutem algo mais que a simples soma das relaccedilotildees existentes entre os membros (ABBAGNANO 2003 p 512) Ao longo da histoacuteria o princiacutepio do holismo foi discutido por diversos filoacutesofos contudo o primeiro que o instituiu para a ciecircncia foi Comte (1798-1857) ao pensar a importacircncia do espiacuterito de conjunto (ou de siacutentese) sobre o espiacuterito de detalhes (ou de anaacutelise) para uma compreensatildeo adequada da ciecircncia em si e de seu valor para o conjunto da existecircncia humana 144 AITCHISON J et al Thesaurofacet a thesaurus and faceted classification for engineering and related subjects Whetstone (Leicester) The Electric Co 1969 145 AUSTIN D An indexing manual for PRECIS International Classification Frankfurt v 1 n 2 p 91-94 1974

153

Classifications et Codifications Documentaires (Estudo das Categorias Gerais

Aplicaacuteveis agraves Classificaccedilotildees e Codificaccedilotildees Documentaacuterias) elaborado por Eacuteric de

Grolier em 1962 para atender uma solicitaccedilatildeo da Unesco146 Grolier (1962 p 12)

na introduccedilatildeo do seu livro salienta que o documento apresentado tem caraacuteter

incompleto e provisoacuterio pois apesar da sua redaccedilatildeo ter demandado dois anos as

suas falhas podem ser em parte atribuiacutedas ao assunto vasto agrave evoluccedilatildeo muito

raacutepida nos uacuteltimos anos nesse domiacutenio agraves numerosas pesquisas em andamento em

diferentes paiacuteses e agrave dificuldade de localizaccedilatildeo dos respectivos documentos Grolier

reconhece desde o iniacutecio da pesquisa que entre os problemas existentes para o

estabelecimento de uma classificaccedilatildeo enciclopeacutedica haacute aqueles da construccedilatildeo de

uma ldquolinguagem comumrdquo uma espeacutecie de ldquointerliacutenguardquo para as maacutequinas destinadas

agrave pesquisa de informaccedilotildees e aqueles da constituiccedilatildeo de uma ldquoliacutengua auxiliar

internacionalrdquo uma ldquolinguagem universalrdquo uma ldquometaliacutenguardquo para o tratamento da

informaccedilatildeo147 O autor apresenta uma coleccedilatildeo de categorias gerais dos mais

importantes sistemas de classificaccedilatildeo universal (considera a Colon o uacuteltimo sistema

de classificaccedilatildeo enciclopeacutedica de certa importacircncia internacional) e de alguns

sistemas especializados Observa-se a seguir que as propostas de classificaccedilatildeo

posteriores a Colon procuram adotar criteacuterios pragmaacuteticos mais do que filosoacuteficos

para fundamentar as suas categorias Grolier (1962 p 65-148) agrupa as

classificaccedilotildees especializadas segundo uma ordem geograacutefica

146 A intenccedilatildeo da Unesco era que Grolier por meio da observaccedilatildeo das numerosas e diferentes codificaccedilotildees e classificaccedilotildees existentes nos diversos domiacutenios do conhecimento chegasse a uma proposta normalizada de classificaccedilatildeo e a categorias suficientemente gerais para serem aplicadas agraves classificaccedilotildees A raacutepida evoluccedilatildeo depois da II Guerra Mundial dos meacutetodos de pesquisa de informaccedilatildeo (recuperaccedilatildeo de informaccedilatildeo) com o desenvolvimento de sistemas utilizando meios mecacircnicos eletro-mecacircnicos (cartotildees perfurados) depois eletrocircnicos (computadores) conduziu a transformaccedilotildees na estrutura das classificaccedilotildees documentaacuterias O que segundo Grolier (1962 introduction) levou agrave elaboraccedilatildeo de um grande nuacutemero de novos coacutedigos geralmente independentes uns dos outros criados cada um em funccedilatildeo das necessidades proacuteprias de um Organismo particular de Documentaccedilatildeo Esses sistemas foram construiacutedos de uma maneira totalmente empiacuterica sob influecircncia de condiccedilotildees comuns que pode-se dizer lhes foram impostas pelas novas ldquomaacutequinasrdquo (tecnologias) para a pesquisa de documentos e de informaccedilotildees contidas nos documentos assim como para um certo nuacutemero de procedimentos de utilizaccedilatildeo quase geral como por exemplo a decomposiccedilatildeo de assuntos complexos em fatores simples a passagem das classificaccedilotildees fortemente hierarquizadas aos sistemas vagamente hierarquizados e a conscientizaccedilatildeo da necessidade de natildeo mais se restringir a expressar os termos elementares que servem agrave anaacutelise dos documentos mas expressar tambeacutem as relaccedilotildees entre eles 147 Hoje se sabe que o projeto de uma interliacutengua foi abandonado diante da impossibilidade da sua concretizaccedilatildeo Pode-se afirmar que quaisquer que sejam as opccedilotildees natildeo haacute como escapar da diversidade de categorizaccedilatildeo dos conteuacutedos do mundo

154

Na Franccedila entre outras relata a experiecircncia de Tchakhotine Dobrowolski

Desaubliaux Cordonnier e Pagegraves Serge Tchakhotine (russo residente na Franccedila

aluno de Pavlov) em seu livro Organizaccedilatildeo Racional da Pesquisa Cientiacutefica

(1938)148 desenvolve um meacutetodo embasado na teoria dos reflexos condicionados

para explicar o seu princiacutepio de noccedilotildees fundamentais (categorias) aplicado agrave

Biologia noccedilotildees morfoloacutegicas quiacutemicas funcionais normais funcionais patoloacutegicas

etc (GROLIER 1962 p 66 181) Z Dobrowolski (engenheiro polonecircs que

trabalhava em Paris no Serviccedilo de Documentaccedilatildeo do Escritoacuterio Central do Institut

International de la Soudure em 1942-1943) elabora uma classificaccedilatildeo facetada - por

categorias - grupos de rubricas por combustiacuteveis usados na Soldagem (material

procedimentos aplicaccedilotildees produtos problemas gerais propriedades estudo e

controle induacutestrias e organismos) na qual utiliza constantemente o signo de relaccedilatildeo

( ) emprestado da CDU (GROLIER 1962 p 67) Robert Desaubliaux elabora por

volta de 1942-1943 uma codificaccedilatildeo para a documentaccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Carrel

noccedilotildees reunidas em grupos e repartidas em grandes divisotildees para tratar dos

estudos demograacuteficos do Institut National drsquoEacutetudes Deacutemographiques meio fiacutesico o

homem e as comunidades humanas Empregava subdivisotildees comuns aplicaacuteveis a

cada domiacutenio determinado sob o termo modalidades (GROLIER 1962 p 68) Por

sua vez Geacuterard Cordonnier constroacutei um novo esquema enciclopeacutedico entre 1944 e

1945 que previa que noccedilotildees complexas natildeo seriam introduzidas diretamente na

classificaccedilatildeo pelo fato de elas se originarem de vaacuterios pontos de vista (GROLIER

1962 p 72) Cordonnier segundo Grolier (1962 p 61) foi o responsaacutevel pela

popularizaccedilatildeo de uma seacuterie de categorias (expostas na Conferecircncia de Dorking em

1957) organismos e serviccedilos pessoas indiviacuteduos corpos materiais diversos accedilotildees

diversas conceitos intelectuais formas documentaacuterias e tempo Como nenhuma

classificaccedilatildeo enciclopeacutedica se desenvolve espontaneamente as ideacuteias de

Cordonnier inspiraram Robert Pagegraves que no fim dos anos 40 do seacuteculo passado

elabora um ldquocoacutedigo de anaacuteliserdquo o coacutedigo Pagegraves um leacutexico alfa-numeacuterico que

comporta 22 categorias de noccedilotildees privilegiando as relaccedilotildees sintaacuteticas entre os

elementos (uniatildeo intersecccedilatildeo subordinaccedilatildeo etc) que ligam as categorias

148 TCHAKHOTINE S Organisation rationnelle de la recherche scientifique Paris Hermann 1938

155

a ciecircncia conhecimento cientiacutefico ou similar

b aspecto de multiplicidade organizaccedilatildeo caracterizaccedilatildeo

c indiviacuteduo elemento

d seres e propriedades loacutegico-matemaacuteticas

e fatos e propriedades fiacutesico-quiacutemicas

f domiacutenio das ciecircncias naturais

g seres vivos

i conduta ou processo

j fenocircmenos sociais

k aspectos pragmaacuteticos

l comunicaccedilatildeo

m operaccedilotildees teacutecnicas fiacutesico-quiacutemicas

n operaccedilotildees teacutecnicas bioloacutegicas

o praacutetica social

p prazer e arte

r metafiacutesica

s espaccedilo

t tempo

v regulamentos

w propriedades

y relaccedilotildees

z negaccedilatildeo (GROLIER 1962 p 73-79)

Outras propostas relacionam niacuteveis de abordagem crescentes e decrescentes

de um assunto (por exemplo energia nuclear escala corpuscular nuclear atocircmica e

molecular macroscoacutepica)

Grolier (1962 p 86-96) daacute um destaque especial aos trabalhos de Jean-

Claude Gardin pela influecircncia que tem no desenvolvimento das pesquisas em

recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo149 ao propor substituir os termos da linguagem natural

comumente empregados para a descriccedilatildeo dos objetos (muito vagos e pouco

normalizados) por coacutedigos compactos (coacutedigos que variam com o domiacutenio

149 Segundo Grolier (1962 p 91-92) Gardin passa do estaacutegio das anaacutelises bibliograacuteficas do conteuacutedo para o estaacutegio das anaacutelises conceituais dos documentos que reuacutenem os termos em categorias Como exemplo em uma primeira etapa Gardin distingue trecircs categorias para as anaacutelises de textos funccedilatildeo processo e modo retendo ao final somente duas categorias funccedilatildeo e modo

156

abordado que constituiacuteam uma espeacutecie de gramaacutetica - de categorias - para fazer a

representaccedilatildeo mais adequada dos fatos e objetos observados)

Na Inglaterra Grolier (1962 p 98) cita entre outros o trabalho de J E L

Farradane que baseando-se na pesquisa de alguns psicoacutelogos (Vinacke Isaacs e

Miller) distingue relaccedilotildees obtidas pela correlaccedilatildeo de duas seacuteries de caracteristicas

1 Relaccedilotildees acerca da natureza (temporais natildeo-temporais fixas ou permanentes) e

2 Relaccedilotildees acerca da necessidade de distinccedilatildeo (co-existecircncia natildeo-precisada

precisada) para falar de nove categorias co-presentes comparadas associadas

equivalentes derivadas do meio separadas passiacuteveis de ser substituiacutedas por que

demonstram accedilatildeo sobre e que demonstram relaccedilatildeo causal de dependecircncia

funcional Grolier (1962 p 96) menciona tambeacutem o trabalho referente agraves categorias

realizado pelo CRG que na deacutecada de 1950 embora tivesse a intenccedilatildeo de elaborar

uma classificaccedilatildeo enciclopeacutedica acaba por produzir apenas sistemas especializados

que adotam o meacutetodo de anaacutelise por facetas de Ranganathan mas natildeo as suas

categorias fundamentais As categorias propostas por D J Foskett Vickery Kyle

Langridge Coates150 integrantes do CRG variam conforme o domiacutenio focalizado

constituindo-se em propostas de separaccedilotildees artificiais

Douglas J Foskett (um dos primeiros a introduzir na Inglaterra as ideacuteias de

Ranganathan) autor da obra Library Classification and Field Knowledge (1958) eacute o

criador de vaacuterias classificaccedilotildees especializadas ldquopor facetasrdquo Como exemplo pode-

se citar a da Metal Box Company (produtos partes materiais operaccedilotildees e um

conjunto de subdivisotildees comuns que podem ser aplicadas a qualquer parte do

esquema) e a mais importante sobre Seguranccedila e Sauacutede Ocupacional para a qual

propotildee as categorias

B Agentes fiacutesicos e fenocircmenos naturais

C-G Substacircncias

150 O CRG de Londres (criado em 1952) teve entre seus membros D Austin (Inglaterra) K G B Bakewell (Inglaterra) V Broughton (Inglaterra) P F Broxis (Inglaterra) EJ Coates (EUA) I Dahlberg (Alemanha) S Datta (Inglaterra) A S Desai (Iacutendia) R A Fairthorne (Inglaterra) J E L Farradane (Canadaacute) D J Foskett (Inglaterra) V Horsnell (EUA) H G Koerner (Alemanha) D W Langridge (Inglaterra) I C McIlwaine (Inglaterra) A J Mayne (Inglaterra) J Mills (Inglaterra) J Metcalfe (Austraacutelia) F L Miksa (Estados Unidos) A Neelameghan (India) T Oker-Blom (Finlacircndia) J M Perrault (Estados Unidos) P A Richmond (EUA) M J Roberts (Inglaterra) A Sandison (Inglaterra) J Sorenson (Dinamarca) A P Srivastava (India) P Steen Larsen (Dinamarca) J Toman (Tchecoslovaacutequia) L F Spiteri (Canadaacute) B C Vickery (Inglaterra) E Wahlin (Sueacutecia) A J Wells (Inglaterra) M Whitrow (Inglaterra) (CLASSIFICATION RESEARCH GROUP Bullettin n 11 Journal of Documentation London v 34 n 1 p 21-50 Mar1978)

157

H-J Locais equipamentos processos e operaccedilotildees

K Organizaccedilatildeo de trabalho e estrutura industrial

L Fogo e explosotildees

M N Patologia

P Fisiologia e Psicologia

Q Teacutecnicas de pesquisa

R Prevenccedilatildeo meacutedica e tratamento

S Teacutecnicas de seguranccedila e higiene

T Equipamento de proteccedilatildeo individual

V Organizaccedilatildeo de seguranccedila e higiene

W Categorias de pessoas

X Induacutestrias

Y Aspectos particulares

Z Generalidades (GROLIER 1962 p 99-100)

Vickery em sua obra Classification and Indexing in Science (primeira ediccedilatildeo

de 1958) elabora trecircs esquemas de classificaccedilatildeo especializada Para a

Classificaccedilatildeo das Ciecircncias do Solo enumera oito categorias tipos de solo estrutura

constituintes originais do solo propriedades processos naturais intervindo no solo

operaccedilotildees sobre o solo teacutecnicas de laboratoacuterio e generalidades (GROLIER 1962 p

100) Contrariamente a D J Foskett que natildeo utiliza nenhum sinal de relaccedilatildeo (os

seus siacutembolos se combinam diretamente entre eles) Vickery emprega a barra

obliacutequa ( ) significando relaccedilatildeo e mais particularmente influecircncia ou efeito

(GROLIER 1962 p 100-101) Barbara Kyle em 1955 dedica-se a trabalhar em

uma classificaccedilatildeo das Ciecircncias Sociais Contrariamente ao coacutedigo de Pagegraves que se

destinava agrave anaacutelise dos conceitos contidos nos documentos a classificaccedilatildeo de Kyle

era uma classificaccedilatildeo bibliograacutefica em niacutevel bastante superficial de acordo com

Grolier (1962 p 101-102)

Nos Estados Unidos de maneira geral os trabalhos seguem a mesma linha

dos anteriores destacando categorias - grandes grupos de caracteriacutesticas relativas

aos temas dos assuntos estudados - e algumas vezes fazendo distinccedilotildees entre os

tipos de relaccedilotildees existentes entre as categorias Grolier (1962 p 108-144) refere-se

aos trabalhos de Mooers Perry Patent Office Luhn e Mortimer Taube O meacutetodo de

descritores de Calvin Mooers configura-se em um dicionaacuterio de noccedilotildees criado em

1947 no qual cada documento corresponde uma lista de descritores visando

158

caracterizar o documento Os trabalhos de J W Perry para a Western Reserve

University como a classificaccedilatildeo feita para a American Society for Metals reuacutene a

literatura metaluacutergica por

a) processos e propriedades

b) materiais

c) atributos comuns

Perry em colaboraccedilatildeo com Kent produz em 1954 um meacutetodo de anaacutelises

codificadas com base na anaacutelise semacircntica de ldquotermos complexosrdquo gerando ldquotermos

individuaisrdquo As pesquisas do U S Patent Office a partir de 1950 direcionam-se ao

desenvolvimento de um sistema de classificaccedilatildeo de uma metaliacutengua que Simon M

Newman o seu criador nomeia de ldquoRuly Englishrdquo uma linguagem sem ambiguidade

para solucionar problemas linguiacutesticos com os quais o Patent Office tinha que lidar

Essa metaliacutengua compreende seis categorias de elementos

a) raiacutezes e qualificativos

b) sufixos modulantes

c) prefixos de quantificaccedilatildeo

d) conceitos de inter-relaccedilotildees

e) nomes de interfixos

f) nomes de rubricas (itens)

Das pesquisas de Hans Peter Luhn (orientadas para a IBM) destaca-se a

compilaccedilatildeo de dicionaacuterios de conceitos muito semelhante ao tesauro O seu ldquomeacutetodo

de tesaurordquo foi considerado uma renovaccedilatildeo do Thesaurus of English Words and

Phrases de 1852 de Peter Mark Roget e do seu uso na Documentaccedilatildeo Mortimer

Taube popularizou sob o nome unitermos (palavras tiacutepicas tiradas dos tiacutetulos ou dos

textos de documentos sem ao menos eliminar os sinocircnimos) a partir de 1952 um

meacutetodo de indexaccedilatildeo em fichas por pontos de vista que em seu princiacutepio eacute

semelhante aos descritores de Mooers mas que natildeo faz uso de categorias Ainda

nos Estados Unidos Perreault (1969 p 119-148 apud DAHLBERG 1979b p

360)151 desenvolveu em 1962 um esquema filosoacutefico de cerca de 108

relacionadores Esses relacionadores eram destinados a servir como elementos

sintaacuteticos juntamente com os elementos de qualquer sistema de classificaccedilatildeo

151 PERRAULT J M Towards a theory for the UDC London C Bingley 1969

159

Para Dahlberg (1979b p 360) o coroamento de todos esses movimentos

(inclusive dos citados por Grolier) acontece na Conferecircncia sobre Fatores Relacionais

em Classificaccedilatildeo organizada por Perreault em Maryland em junho de 1966 a qual

recebeu contribuiccedilotildees de muitos dos autores jaacute mencionados inclusive de

Ranganathan152 Nessa ocasiatildeo D Soergel apresentou um trabalho chamado Some

Remarks on Information Languages their Analysis and Comparison contendo um

estudo enciclopeacutedico e as correlaccedilotildees de todos os tipos de indicaccedilatildeo de

relacionamento Contudo nenhuma soluccedilatildeo foi encontrada nessa conferecircncia para os

problemas de relaccedilotildees conceituais restando a frase emblemaacutetica de Grolier Ainda

necessitamos mais pesquisas pronunciada na ocasiatildeo (PERREAULT 1966 p 396)

Ao estabelecer relaccedilotildees entre a estrutura formal da liacutengua e as linguagens

documentaacuterias Grolier (1962 p 149-164) afirma que as uacuteltimas se inspiram nas

primeiras Ao observar tipos de categorias linguiacutesticas discutidas por linguistas em

vaacuterios eventos (como satildeo definidas categorias classes de palavras categorias

verbais categorias de pessoa etc) Grolier levanta questotildees de semacircntica (leacutexico e

classificaccedilatildeo ideoloacutegica) de relaccedilotildees (entre categorias fixadas pelas liacutenguasrsquo e

concepccedilotildees do mundo) de tipologia das liacutenguas (classificaccedilatildeo genealoacutegica) de

evoluccedilatildeo (da linguagem como mecanismo para a transmissatildeo da informaccedilatildeo) entre

outras O relatoacuterio de Grolier infelizmente natildeo teve continuidade apesar da

repercusatildeo que alcanccedilou nos trabalhos posteriores das deacutecadas de 1960 a 1990

As pesquisas relativas agrave organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo do iniacutecio

dos anos 60 ao fim dos anos 70 do seacuteculo XX diminuiram drasticamente na maioria

das instituiccedilotildees em razatildeo principalmente da crenccedila na indexaccedilatildeo automaacutetica e da

rapidez e barateamento do processamento de dados por computador No iniacutecio dos

anos 80 do seacuteculo XX com o aumento vertiginoso de documentos comeccedilou a se

notar uma insatisfaccedilatildeo crescente com a maacute qualidade da informaccedilatildeo obtida por

intermeacutedio de muitas bases de dados

Com pesquisas destinadas agrave obtenccedilatildeo de melhores resultados na

recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo como construccedilatildeo de tesauros construccedilatildeo de

classificaccedilotildees facetadas aplicaccedilatildeo da teoria do conceito (DAHLBERG 1974) e da

152 PERREAULT J M (Ed) Proceedings of the International Symposium on Relational Factors in Classification 1966 Maryland Information Storage and Retrieval Elmsford NY v 3 n 4 p 177-410 1967

160

teoria dos niacuteveis integrativos153 atingiu-se melhor compreensatildeo da natureza dos

conceitos154 por conseguinte das categorias as quais os conceitos pertencem

Dahlberg (1979b p 361) no que pode ser visto como um movimento de

aproximaccedilatildeo com as categorias filosoacuteficas considera categorias como sendo ldquoum

instrumento intelectual para a organizaccedilatildeo de conceitos natildeo soacute em uma

sistematizaccedilatildeo geral dos elementos do conhecimento mas tambeacutem em qualquer

uma de suas aacutereasrdquo e distingue as seguintes objetos fenocircmenos processos

propriedades relaccedilotildees dimensotildees bem como combinaccedilotildees entre elas

Com a utilizaccedilatildeo do enfoque da teoria das categorias (natildeo mais um enfoque

dedutivo que divide o universo do conhecimento em disciplinas ou um enfoque

indutivo que constroacutei linguagens de descritores que constituem os tesauros mas um

enfoque relacional que parte de um aspecto categorial formal) aplicam-se os

princiacutepios de organizaccedilatildeo de conceitos agrave construccedilatildeo e agrave utilizaccedilatildeo de sistemas de

153 A aplicaccedilatildeo da teoria dos niacuteveis integrativos (cf nota 77) para a classificaccedilatildeo parece que suscitou mais perguntas do que respostas e levantou uma seacuterie de problemas e de discussotildees interessantes como para citar alguns a determinaccedilatildeo do sistema de lugar-uacutenico [one-place] (repetindo-se as criacuteticas feitas agrave Subject Classification de James Duff Brown de que seu sistema de classificaccedilatildeo de lsquolugar-uacutenicorsquo natildeo permitia interpretaccedilatildeo ponto de vista etc) que pode eliminar inteiramente certos aspectos do assunto a acomodaccedilatildeo de assuntos convencionais que podem muitas vezes atravessar diversos niacuteveis integrativos (como a aacuterea de Histoacuteria por exemplo que eacute composta de elementos integrativos Antropologia Arqueologia Filosofia Sociologia etc que satildeo por sua vez compostos pelos seus proacuteprios niacuteveis integrativos) e a relaccedilatildeo das partes com o todo que natildeo eacute igual para todas as entidades (uma comissatildeo por exemplo eacute um todo mas os seus membros satildeo tambeacutem parte da mesma espeacutecie lsquohumanarsquo o que os torna intercambiaacuteveis por assim dizer e jaacute o todo bicicleta tambeacutem como exemplo natildeo eacute constituiacutedo de um nuacutemero de sub-unidades similares que podem ser intercambiaacuteveis) Richmond (1965 p 44) acredita que os conjuntos de niacuteveis integrativos satildeo o segundo plano de antigos sistemas de classificaccedilatildeo hieraacuterquica (os princiacutepios teoacutericos de separaccedilatildeo em niacuteveis embasados em suas partes satildeo encontrados igualmente em sistemas tradicionais como a CDD onde disciplinas satildeo separadas em suas partes componentes) e estaacute convencida de que a teoria dos niacuteveis integrativos eacute similar agrave classificaccedilatildeo facetada jaacute que ambos os sistemas envolvem uma forma de raciociacutenio indutivo no qual classes satildeo inferidas de agregados particulares Este raciociacutenio da parte para o todo envolve um lsquosaltorsquo indutivo Este salto forccedila os classificadores a definir um assunto baseando-se em seus elementos constituintes O benefiacutecio da aplicaccedilatildeo da teoria dos niacuteveis integrativos para a Teoria da Classificaccedilatildeo eacute que o processo de classificaccedilatildeo por niacuteveis requer uma anaacutelise e descriccedilatildeo exatas de cada passo do processo o que quer dizer que o salto indutivo teraacute de ser definido na sua composiccedilatildeo fator por fator Consequentemente a teoria daacute validade e meacutetodo para uma abordagem indutiva [bottom-up] de baixo para cima da classificaccedilatildeo De acordo com Spiteri (1995) o significado da teoria eacute talvez que ela muniu o CRG com novo reforccedilo na crenccedila de que aacutereas de conhecimento somente podem ser determinadas apoacutes anaacutelises de sua composiccedilatildeo (a posteriori) e natildeo aacutereas preacute-determinadas de conhecimento e entatildeo decidir como separaacute-las em suas partes componentes (a priori) 154 A teoria do conceito implica em considerar os conceitos ldquosiacutenteses rotuladas de enunciados verdadeiros sobre objetos do pensamentordquo (DAHLBERG 1979b p 361) ou seja para Dahlberg (1979a) o conceito eacute a unidade de conhecimento que compreende afirmaccedilotildees necessaacuterias e verificaacuteveis sobre um referente representado por uma designaccedilatildeo A autora considera que cada enunciado verdadeiro representa um elemento do conceito e define a formaccedilatildeo dos conceitos como a reuniatildeo e compilaccedilatildeo de enunciados verdadeiros a respeito de determinado objeto processo que denomina de ldquoanaacutelise do conceitordquo

161

classificaccedilatildeo podendo-se afirmar que a Teoria da Classificaccedilatildeo hoje reconhece o

conceito como elemento material dos sistemas de classificaccedilatildeo e a categoria como

elemento essencial para correta alocaccedilatildeo dos termos

A Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo eacute capaz de explicar uma quantidade de

fatores anteriormente desconhecidos ou conhecidos apenas intuitivamente e com

isso aperfeiccediloar de modo geral os sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica

Em deacutecadas recentes do seacuteculo XX Dahlberg tem pesquisado sobre as

fundaccedilotildees teoacutericas e conceituais da organizaccedilatildeo do conhecimento de uma

perspectiva filosoacutefica ontoloacutegica Um enfoque epistemoloacutegico tem sido difundido pela

anaacutelise de domiacutenio de Hjorland a Albrechtsen Noccedilotildees desenvolvidas na Filosofia da

Ciecircncia como os niacuteveis integrativos de Hartmann ou a teoria da complexidade de

Morin podem resultar em meacutetodos uacuteteis para o arranjo de fenocircmenos conhecidos

em sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento Com referecircncia a um esquema geral

de classificaccedilatildeo sempre haveraacute a necessidade de algum esquema geral ao menos

como dispositivo de ligaccedilatildeo entre sistemas embasados em diferentes

epistemologias Consequentemente a necessidade de pesquisas ontoloacutegicas em

organizaccedilatildeo do conhecimento estaacute longe de se tornar obsoleta

Recentemente a ISKO que eacute a primeira Sociedade Internacional de Estudos

dedicada agrave teoria e agrave praacutetica da organizaccedilatildeo do conhecimento no seu nono

Congresso155 Internacional em Viena em julho de 2006 deixou bem claro que havia

uma necessidade de dar uma definiccedilatildeo conjuntacompartilhada para o campo de

organizaccedilatildeo do conhecimento Segundo McIlwaine e Mitchell (2008 preface p 79-

81) enquanto a maioria dos membros da ISKO proveem da Biblioteconomia e da

Ciecircncia da Informaccedilatildeo o interesse na organizaccedilatildeo do conhecimento natildeo estaacute

limitado a esses campos Na realidade contribuem para a KO e para os encontros

da ISKO representantes de aacutereas de pesquisa e aplicaccedilatildeo interdisciplinares aleacutem de

representantes da Biblioteconomia e da Ciecircncia da Informaccedilatildeo A agitaccedilatildeo

provocada pelo grande interesse por parte das disciplinas do campo da organizaccedilatildeo

do conhecimento tem causado alguma confusatildeo sobre o significado de organizaccedilatildeo

do conhecimento e suas relaccedilotildees com outros campos tais como ldquogestatildeo do

conhecimentordquo

155 Congressos da ISKO 1 Darmstadt 1990 2 Madras 1992 3 Copenhagen 1994 4 Washington 1996 5 Lilla 1998 6 Toronto 2000 7 Granada 2002 8 Londres 2004 9 Viena 2006 10 Montreal 2008 11 Roma 2010

162

Um nuacutemero especial do perioacutedico KO (KNOWLEDGEhellip 2008) foi idealizado

para explorar a definiccedilatildeo do campo interdisciplinar da organizaccedilatildeo do conhecimento

por meio de perspectivas histoacutericas e contemporacircneas A um grupo de autores da

comunidade ISKO que jaacute completou meio seacuteculo de pesquisa no campo foram

endereccediladas questotildees como

O que eacute organizaccedilatildeo do conhecimento

Quais satildeo os significados de ldquodocumentordquo ldquoinformaccedilatildeordquo e ldquoconhecimentordquo em

organizaccedilatildeo do conhecimento

Quais satildeo as questotildees definitivas na organizaccedilatildeo do conhecimento

Que campos tecircm interesse nas questotildees definitivas da organizaccedilatildeo do

conhecimento

Quais epistemologias teorias e metodologias satildeo relevantes no campo da

organizaccedilatildeo do conhecimento

Quais satildeo algumas questotildees de pesquisa atuais em organizaccedilatildeo do

conhecimento

Quais satildeo as futuras questotildees de pesquisa em organizaccedilatildeo do

conhecimento

Que relacionamentos satildeo especiacuteficos da organizaccedilatildeo do conhecimento

Que satildeo sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento

O nuacutemero especial comeccedilou com uma reuniatildeo realizada em dezembro de

2007 conduzida por Dahlberg criadora do perioacutedico KO Dahlberg tem uma histoacuteria

de envolvimento pessoal com o campo - atuou em organizaccedilotildees internacionais como

a FIDCR UDC International Organization for Standardization (ISO) Unesco e

trabalhou com classificaccedilatildeo na Alemanha e com automaccedilatildeo de bibliotecas nos

Estados Unidos Na reuniatildeo Dahlberg discutiu a adoccedilatildeo de knowledge organization

(do alematildeo Wissensorganisation) como um termo para descrever a ISKO e suas

atividades e o perioacutedico Dahlberg tambeacutem discutiu a genesis do Information

Coding Classification (ICC) um sistema de classificaccedilatildeo inteiramente facetado que

ela desenvolveu e tambeacutem compartilhou sua visatildeo sobre a possibilidade da

organizaccedilatildeo do conhecimento ser vista como disciplina

163

42 CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL DE DEWEY (CDD - 1876)

A histoacuteria os princiacutepios a construccedilatildeo e a revisatildeo da Dewey Decimal

Classification (CDD) Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey (CDD) satildeo tratados nas

subseccedilotildees que seguem

421 Histoacuteria

Melvil[le Louis Kossuth] Dewey (1851-1931) produziu em 1873 uma tese

quando procurava um sistema para organizar os livros da Biblioteca do Amherst

College (uma instituiccedilatildeo meacutedia e desconhecida cuja biblioteca se assemelhava -

se eacute que se permite a comparaccedilatildeo - com as bibliotecas puacuteblicas municipais

brasileiras com caraacuteter de biblioteca puacuteblica e escolar) onde trabalhava como

student-assistant O Esquema foi publicado em 1876156 anonimamente como um

panfleto (A Classification and Subject Index for Cataloguing and Arranging the

Books and Pamphlets of a Library) pelo College mas com copyright sob o nome

Dewey A segunda ediccedilatildeo em 1883 apareceu sob o proacuteprio nome e o sistema de

classificaccedilatildeo decimal157 torna-se oficialmente em 1931 Dewey Decimal

Classfication (DDC) Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey (CDD) popularmente

conhecida por Dewey ou CDD O desenvolvimento da CDD ateacute a deacutecima quarta

ediccedilatildeo representou um registro progressivo de uma rota poliacutetica clara e bem

sucedida que Dewey manteve durante toda sua vida sob riacutegido controle (apoacutes sua

morte em 1931 passa aos cuidados da fundaccedilatildeo Lake Placid Club com o apoio

da LC) Tinha como objetivo ser uma ferramenta um instrumento de feiccedilatildeo praacutetica

e de faacutecil aplicaccedilatildeo para responder agraves necessidades pragmaacuteticas de organizaccedilatildeo

do conhecimento de um tipo de biblioteca que visava o livre acesso dos usuaacuterios e

156 Nesse mesmo ano em Filadeacutelfia foi criada a American Library Association (ALA) e o peroacutedico Library Journal 157 O sistema decimal natildeo comeccedila com Dewey sua existecircncia eacute muito anterior cabendo a La Croix Du Maine a primazia da sua aplicaccedilatildeo em 1583 (cf subseccedilatildeo 312) quando apresenta seu esquema decimal a Henrique III da Inglaterra para organizar a Biblioteca Real da Franccedila de 10 mil volumes que seriam acomodados em 100 lsquocaixasrsquo ou estantes cada uma contendo 100 livros (SAYERS 1955a) Entretanto essa classificaccedilatildeo decimal estava limitada somente agraves estantes dos livros O fiacutesico Ampegravere (cf subseccedilatildeo 313) em 1834 utilizou o princiacutepio decimal para a sua classificaccedilatildeo loacutegica das ciecircncias Ele teve a ideacuteia de empregar uma notaccedilatildeo decimal na qual cada nuacutemero era considerado como um siacutembolo classificador A Biblioteca Nacional da Franccedila chegou a considerar a ideacuteia de adaptar essa notaacutevel classificaccedilatildeo para substituir o antigo sistema que vinha adotando haacute dois seacuteculos

164

a raacutepida localizaccedilatildeo dos materiais bibliograacuteficos nas estantes A grande

popularidade do esquema se deve a vaacuterios fatores principalmente porque ele era o

esquema certo no lugar certo (FLA 1966 MANIEZ 1993 PAZIN 1973 SAN

SEGUNDO MANUEL 1996 SOUZA 1952)

422 Princiacutepios

O bibliotecaacuterio e teoacuterico da classificaccedilatildeo norteamericana Melvil Dewey foi

acima de tudo um pragmaacutetico cujos interesses abrangiam natildeo somente a gerecircncia

da biblioteca mas tambeacutem outros esquemas de melhoramentos relacionados agrave vida

simboacutelica e intelectual que incluiacuteam o desejo de simplificar a ortografia do inglecircs e

introduzir o Sistema Meacutetrico de Pesos e Medidas Mas mesmo o esquema de

classificaccedilatildeo criado pelo pragmaacutetico Dewey teve de repousar sobre alguma visatildeo

filosoacutefica e ideoloacutegica do conhecimento (RAFFERTY 2001 p 184) Dewey natildeo

tinha obviamente a intenccedilatildeo de fazer uma classificaccedilatildeo cientiacutefica ou filosoacutefica do

conhecimento como a de Aristoacuteteles Francis Bacon e Locke (cf subseccedilotildees 311 e

312) No entanto inspirou-se nas classificaccedilotildees do conhecimento propostas pelos

filoacutesofos assim como reconheceu a influecircncia da classificaccedilatildeo de Harris (cf subseccedilatildeo

313)158 predecessoras da CDD (DOBROWOLSKI 1962 p 46) estudadas por

Dewey que tambeacutem se dedicou aos esquemas de arranjo decimal (mais

relacionados na eacutepoca com a numeraccedilatildeo de armaacuterios estantes e prateleiras do que

com livros) como o de La Croix Du Maine (1583) e o de Nathaniel B Schurtleff

158 Ao examinar (quadro 15) as classes principais da classificaccedilatildeo de Harris (1870) detentor de uma soacutelida formaccedilatildeo filosoacutefica que produziu o primeiro esquema lsquobaconiano invertidorsquo baseando suas classes principais naquelas desenvolvidas por Francis Bacon (1605) que foi um seguidor do pensamento de Huarte (1575) nota-se que satildeo semelhantes agraves de Dewey (quadro 28) ampliadas O que pode levar a conclusatildeo de que a obra de Bacon realmente serviu de base pelo menos parcialmente para a classificaccedilatildeo de Dewey que em 1876 por sua vez passa a embasar a Classificaccedilatildeo Decimal Universal Esse exemplo de sequecircncia histoacuterica natildeo tem outro objetivo senatildeo o de demonstrar a permanecircncia de certas estruturas loacutegicas do pensamento humano herdadas do passado fundamentalmente vaacutelidas como a distribuiccedilatildeo e classificaccedilatildeo estrutural dos vaacuterios domiacutenios do conhecimento humano Porque se a inspiraccedilatildeo de Dewey originaacuteria do esquema de Harris nunca foi posta em duacutevida (assumida pelo proacuteprio Dewey) a influecircncia de Bacon sobre Harris tem sido questionada por Goossens (1982 p 8) um estudioso das classificaccedilotildees que afirma que a base teoacuterica da classificaccedilatildeo de Harris depende do sistema hegeliano e natildeo do de Bacon Para provar seu ponto de vista cita Leidecker (1945) Comaroni (1969) e Graziano (1959) que postulam essa influecircncia De acordo com Goossens a triacuteade de Hegel conceito essecircncia e ser (cf subseccedilatildeo 313) pode ser transportada agraves nove divisotildees da classificaccedilatildeo de Dewey como segue conceito corresponde agraves classes 100 200 e 300 essecircncia agraves classes 400 500 e 600 e ser agraves classes 700 800 e 900 Parece que certa ou equivocada essa interpretaccedilatildeo a classificaccedilatildeo de Dewey estava imbuiacuteda da tradiccedilatildeo e da sustentaccedilatildeo teoacuterica cientiacutefica e filosoacutefica que propiciou sua projeccedilatildeo e desenvolvimento

165

(1856)159 Em um artigo publicado em 1920 no Library Journal Dewey menciona

que ao visitar cinquenta bibliotecas ficou admirado com a ineficiecircncia duplicidade do

trabalho de classificaccedilatildeo e desperdiacutecio de tempo e dinheiro em reclassificaccedilotildees

lsquonecessaacuteriasrsquo devido ao uso do sistema de localizaccedilatildeo fixa e natildeo um sistema no qual

o livro seria lsquonumeradorsquo de acordo com a classe agrave qual pertence hoje e pertenceraacute no

futuro160

Dewey pretendia sim fazer um esquema pragmaacutetico (o Pragmatismo161 era um

dos traccedilos fortes da CDD poreacutem sabendo dos riscos de confusatildeo derivados do

mesmo o autor introduziu em suas tabelas principais e auxiliares notas explicativas

para facilitar seu emprego) para arranjo e localizaccedilatildeo de livros apropriado a uma

biblioteca geral Para atingir seu objetivo buscou no plano teacutecnico da notaccedilatildeo o

sistema decimal e no plano psicoloacutegico do usuaacuterio os siacutembolos conhecidos mais

simples (a numeraccedilatildeo de base dez eacute parte do universo familiar do ser humano) os

159 Schurtleff de quem Dewey parece ter copiado a ideacuteia da notaccedilatildeo decimal publicou em 1856 em Boston o trabalho A Decimal System for the Arrangement and Administration of Libraries no qual expotildee o seu esquema de classificaccedilatildeo decimal utilizado na Boston Public Library propondo a utilizaccedilatildeo de dez pequenas salas com dez estantes cada sendo as salas e as estantes numeradas de um a dez Portanto apesar do esquema estar embasado no uso da divisatildeo por dez ele ainda era um sistema de localizaccedilatildeo fixa e a notaccedilatildeo natildeo parecia nada como uma classificaccedilatildeo decimal (BROUGHTON 2004 p 178) 160 Antes da CDD na maioria das bibliotecas os livros eram divididos em um pequeno nuacutemero de categorias em cujo interior cada obra ocupava um lugar fixo segundo seu registro ou data de aquisiccedilatildeo O nuacutemero de classificaccedilatildeo correspondia a sala armaacuterio ou estante Dewey introduziu a ideacuteia de se usar uma notaccedilatildeo para os assuntos em seu esquema e aplicar esta notaccedilatildeo aos livros e natildeo agraves prateleiras A notaccedilatildeo de Dewey permitiu a localizaccedilatildeo relativa dos livros Como o nuacutemero de classificaccedilatildeo passou a significar o assunto do livro ao inveacutes da estante onde o assunto estava localizado natildeo havia a necessidade de re-etiquetar livros ou re-classificar estantes quando livros fossem movidos Passou a existir uma sequecircncia uacutenica constantemente remanejada onde livros antigos podiam ser removidos novos inseridos mas a ordem geral natildeo era afetada e um livro uma vez classificado poderia reter seu nuacutemero de classificaccedilatildeo pela vida inteira O uso de nada mais do que numerais araacutebicos natildeo era usual naquele tempo A maioria dos esquemas de arranjo usava uma combinaccedilatildeo de numerais araacutebicos letras e numerais romanos com o tipo de caracter sendo trocado a cada passo da divisatildeo da classificaccedilatildeo ou para indicar a prateleira e a posiccedilatildeo do livro (LANDAU 1958 p 101-103 FOSKETT A C 1973 p 203-205) Dewey com seu conjunto de caracteres uacutenicos seu ponto decimal sua sequecircncia numeacuterica ininterrupta sua progressiva subordinaccedilatildeo mostrada pela notaccedilatildeo decimal e a faacutecil inserccedilatildeo de novos toacutepicos - ideacuteias realmente revolucionaacuterias - muito mais do que uma classificaccedilatildeo demonstrou um conceito pois ateacute entatildeo as bibliotecas se contentavam em repartir os livros em um pequeno nuacutemero de categorias 161 Pragmatismo esse termo foi introduzido na Filosofia em 1878 (considerada a data de nascimento do Pragmatismo) por um relatoacuterio de W James a Califoacuternia Union em que ele se referia agrave doutrina exposta por Peirce no ensaio intitulado Como tornar claras nossas Ideacuteias (1878) Na obra What Pragmatism Is (1905) Peirce distingue um Pragmatismo Metodoloacutegico que eacute substancialmente uma teoria do significado que evidencia o caraacuteter instrumental e operacional de todos os instrumentos do conhecer e um Pragmatismo Metafiacutesico que eacute uma teoria da realidade (verdade) que tem entre as suas teses a que consiste em reduzir verdade a utilidade e que procura evidenciar a dependecircncia de todos os aspectos do conhecimento em relaccedilatildeo as exigecircncias da accedilatildeo (ABBAGNANO 2003 p 784-785)

166

algarismos araacutebicos como decimais para classificar por assunto todo o

conhecimento humano impresso (na eacutepoca era costume arranjar os livros por ordem

alfabeacutetica formato cor ou data de aquisiccedilatildeo) o que demonstra que Dewey no plano

loacutegico apostava na expressividade da notaccedilatildeo decimal uniforme assim 723 significa

Arquitetura egiacutepcia dentro do quadro Arquitetura (73) e no contexto Belas Artes (7)

(MANIEZ 1993 p 74)

Sayers (1955a) historiou a classificaccedilatildeo e apontou para a natureza construiacuteda

das ordens do conhecimento mesmo quando ele se referia aos praacuteticos sistemas de

classificaccedilatildeo bibliograacutefica Baseando-se nas ideacuteias de Sayers pode-se dizer que as

classes principais e a ordem em que elas aparecem dentro dos esquemas

tradicionais de classificaccedilatildeo bibliograacutefica satildeo sempre construiacutedas produto de uma

visatildeo de mundo particular do seu criador que em niacutevel das ideacuteias reflete e reforccedila

as estruturas e o momento soacutecio-poliacutetico e histoacuterico da sociedade material do seu

tempo Os esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica como todas as outras

construccedilotildees sociais tambeacutem mudam ao longo do tempo sendo influenciados e

influenciando sistemas dentro dos quais operam Portanto o tratamento de

disciplinas e assuntos estaacute sujeito a transformaccedilotildees diacrocircnicas ou seja

transformaccedilotildees causadas por sua evoluccedilatildeo no tempo162 Bibliotecaacuterios enfatizam a

natureza pragmaacutetica dos esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica em geral mas

Pragmatismo eacute um termo escorregadio Ele eacute algumas vezes definido como aquilo

que eacute bom ou aquilo que funciona mas um enfoque criacutetico pode perguntar para

162 Um exemplo do que eacute classificado e do que natildeo eacute e como isso pode mudar com o tempo pode ser visto no tratamento dado pela CDD aos trabalhos de ficccedilatildeo usando indicadores histoacutericos e geograacuteficos Essa praacutetica natildeo comeccedilou com o intuito de analisar o assunto de ficccedilatildeo e conferir significado por meio da notaccedilatildeo Anaacutelise e classificaccedilatildeo de ficccedilatildeo tecircm tido historicamente uma relaccedilatildeo pobre mas em anos recentes isto tem mudado pois sistemas de recuperaccedilatildeo inovadores tais como Bookhouse e Book Forager (httpwwwbranching-outnetforager) tentam tratar as questotildees de significado e anaacutelise de assunto na ficccedilatildeo Essa mudanccedila de atitude no que diz respeito agrave ficccedilatildeo por bibliotecaacuterios e especialistas em recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo estaacute ligada ao tratamento mais generalista da ficccedilatildeo dentro da academia e da sociedade contemporacircnea ocidental (RAFFERTY 2001 p183) Nesta o interesse da ficccedilatildeo natildeo se explica somente pelos teoacutericos influenciados pela teoria poacutes-estruturalista que tecircm encorajado uma epistemologia generalista mas tambeacutem por que ler romance por prazer natildeo eacute mais considerado moralmente perigoso ou perda de tempo em uma sociedade capitalista que encoraja o lazer e os produtos de lazer A ficccedilatildeo tem valores econocircmicos e ideoloacutegicos no capitalismo contemporacircneo Bibliotecaacuterios estatildeo cada vez mais interessados em sistemas de recuperaccedilatildeo de informaccedilatildeo que facilitem o acesso agrave leitura de ficccedilatildeo e a encorajam talvez influenciados pelos sofisticados instrumentos de recuperaccedilatildeo implementados por livrarias online como a Amazoncom um endereccedilo eletrocircnico comercial que investe em informaccedilatildeo (informaccedilatildeo bibliograacutefica) e interpretaccedilatildeo (criacuteticas dos leitores) para fins econocircmicos O tratamento da ficccedilatildeo em bibliotecas espelha amplamente o tratamento da ficccedilatildeo na sociedade e influencia a sociedade como um todo por meio da educaccedilatildeo dos usuaacuterios das bibliotecas

167

quem eacute bom e para quem funciona O Pragmatismo estaacute muitas vezes preocupado

em manter o status quo em contrapartida pode divulgar uma determinada nova

ideologia por meio de decisotildees sobre classes principais divisotildees subdivisotildees e a

ordem dos assuntos

Sayers (1955b p 113) argumenta que o esquema de Dewey natildeo se baseou

em nenhuma ordem moderna de estudos nem representa ldquoo consenso moderno ou

a ordem na qual humanistas arranjam as ciecircncias e os estudos mais importantesrdquo

Nota-se que tanto Sayers como Dewey natildeo mencionaram que consenso ou uma

visatildeo teacutecnica das relaccedilotildees entre assuntos existe e deveria ser a base para organizar

artefatos materiais dentro dos quais o conhecimento reside na forma de textos

escritos A avaliaccedilatildeo de Sayers estava preocupada somente com a questatildeo de como

era atualizada a ordem do conhecimento

Mesmo um esquema de classificaccedilatildeo pragmaacutetico assenta-se sobre uma visatildeo

filosoacutefica do conhecimento A CDD tem sido criticada pelo seu ponto de vista

determinado culturalmente por exemplo Cristianismo eacute privilegiado na classe

Religiatildeo Esquecem-se de que a CDD eacute ideoloacutegica como todas as classificaccedilotildees satildeo

e neste sentido eacute um dos inuacutemeros discursos que ordenam e regulam a sociedade

O sistema eacute significativo pela sua popularidade e durabilidade Operando em

bibliotecas ele tanto impotildee como legitima a sua visatildeo de mundo particular quanto eacute

ao mesmo tempo um instrumento de dominaccedilatildeo e de capacitaccedilatildeo habilita usuaacuterios

a acessar documentos sem mediaccedilatildeo mas impotildee aos usuaacuterios a necessidade de

entender e pesquisar o conhecimento em documentos a partir dos pontos de vista

do sistema Essa qualidade ldquofaces-de-Janordquo163 eacute compartilhada com todos os

esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica

A ideologia da CDD estaacute relacionada ao Racionalismo Pragmatismo e senso

comum a sua visatildeo de mundo eacute ocidentalizada (e mais do que isto

norteamericana) ideal e positivista e a sua ordem do conhecimento atua em escala

global disseminada pelas bibliotecas como uma ferramenta de recuperaccedilatildeo da

informaccedilatildeo

163 Jano era o porteiro do ceacuteu Era ele que abria o ano cujo seu primeiro mecircs ateacute hoje o relembra Como divindade guardiatilde das portas era geralmente apresentado com duas faces pois todas as portas voltam-se para dois lados Os templos dedicados a Jano em Roma eram numerosos e as portas principais dos templos em tempo de guerra permaneciam abertas e em tempo de paz eram fechadas Em toda a histoacuteria romana poreacutem as portas soacute foram fechadas duas vezes uma no reinado de Numa e outra no reinado de Augusto (BULFINCH 1999 p 17)

168

O esquema de Dewey indica alguns dos princiacutepios da Teoria da Classificaccedilatildeo

que foram racionalizados mais tarde (tal como os princiacutepios do geral-antes-do-

especiacutefico da integridade dos nuacutemeros da maior especificidade da pureza da

notaccedilatildeo e da ecircnfase na praacutetica) mas que eram embasados principalmente no senso

comum (em interpretaccedilotildees preacute-cientiacuteficas ou quase-cientiacuteficas acerca da realidade)

do qual Dewey tinha uma total consciecircncia chegando mesmo a sustentar que ldquonatildeo

sacrificava a utilidade a fim de forccedilar os assuntos no leito decimal de Procustordquo164

(FOSKETT A C 1973 p 206) e que ldquoem todos os lugares verdade e teoria

filosoacuteficas tecircm produzido algo praacuteticordquo (MILLS 1960 p 58) Dewey natildeo parece ter

sido um grande teoacuterico mas foi um dos mais eneacutergicos fortes e inovadores homens

da sua geraccedilatildeo Somando-se ao seu trabalho na classificaccedilatildeo foi tambeacutem o

primeiro redator-chefe do Library Journal (1876) foi membro fundador da American

Library Association (1876) e um pioneiro da educaccedilatildeo bibliotecaacuteria ao fundar a

primeira escola de Biblioteconomia dos Estados Unidos (Columbia University) em

1887 (FOSKETT A C 1973 p 203) O que parece estar em curso com Dewey eacute

uma transiccedilatildeo das classificaccedilotildees embasadas na Filosofia para as classificaccedilotildees

pragmaacuteticas - ecircnfase na estrutura classificatoacuteria hieraacuterquica - o que sugere que o

classificador deve observar cada passo da cadeia para se certificar de todos os

passos relevantes Ele foi um inovador soube observar e pensar as circunstacircncias

do processo de classificaccedilatildeo e prever o seu desenvolvimento bem como praticar a

classificaccedilatildeo transformando-a em disciplina

A sugestatildeo de que existe uma base filosoacutefica no esquema tem sido

amplamente debatida e essa visatildeo (do presente) de acordo com alguns autores

parece forccedilada isto eacute tem sido imposta sobre um passado (amplamente

documentado) que jamais sacrificou a utilidade ou a funcionalidade da praacutetica em

funccedilatildeo da teoria enquanto outros pesquisadores sustentam a visatildeo da forte influecircncia

que as classificaccedilotildees das ciecircncias particularmente a de Huarte e a de Francis Bacon

tiveram sobre o esquema de Dewey

164 Procusto eacute um personagem mitoloacutegico que ldquovivia como bandoleiro na estrada que vai de Meacutegara a Atenas Possuiacutea dois leitos um grande e um pequeno Quando aprisionava os viandantes fazia deitarem os pequenos no leito grande e os altos no leito menor E para que chegassem a servir no leito cortava os peacutes de uns e estirava violentamente os outros com o que os matavardquo (GUIMARAtildeES 1999 p 264)

169

Eric de Grolier (1976 p 356) comenta o fato do sistema de Classificaccedilatildeo

Decimal de Dewey ter sido a princiacutepio condicionado pela cultura dos colleges165

(cujas bibliotecas apresentavam um misto de caraacuteter de biblioteca puacuteblica e escolar)

o que suscitou muitas controveacutersias No entanto apesar de todas as criacuteticas que

teoricamente justificadas poreacutem na praacutetica inoperantes denunciavam os seus

defeitos (nacionalismo manifesto em razatildeo de ao lugar preponderante reservado

aos temas relativos aos Estados Unidos caraacuteter arbitraacuterio de certas separaccedilotildees

como Linguiacutestica e Literatura Histoacuteria e Ciecircncias Sociais Liacutenguas e outras e falta de

idoneidade na sistematizaccedilatildeo com respeito ao estado dos conhecimentos

cientiacuteficos) o sistema que tambeacutem estava imbuiacutedo da cultura filosoacutefica estendeu-se

rapidamente na maioria das bibliotecas puacuteblicas e escolares166

Pode-se definir a CDD originalmente como um esquema enumerativo que

tem incorporado com os anos muitas caracteriacutesticas analiacutetico-sinteacuteticas

423 Construccedilatildeo

Um dos mais importantes aspectos do sucesso de Dewey na CDD foi mostrar

como o uso da divisatildeo decimal baacutesica que tem como base trecircs diacutegitos e subdivisatildeo

extensiva poderia proporcionar uma sequecircncia sistemaacutetica de assuntos detalhados

que refletiriam ou espelhariam essa maneira de classificaccedilatildeo e qual seria portanto

165 Uma instituiccedilatildeo de ensino superior que oferece programas de graduaccedilatildeo normalmente de dois a quatro anos de duraccedilatildeo que confere o grau de bachareacuteu em artes ou ciecircncias O termo ldquocollegerdquo pode tambeacutem ser usado em sentido geral para se referir a uma instituiccedilatildeo de ensino poacutes secundaacuterio (GLOSSARY OF TERMS Disponiacutevel emlthttpwwweducationusastategovgraduate glossaryhtmgt Acesso em 23 de novembro de 2007 Traduccedilatildeo livre da autora) Portanto o College uma instituiccedilatildeo imbuiacuteda totalmente da cultura americana tem por caracteriacutestica oferecer programas baacutesicos de graduaccedilatildeo de caraacuteter geral preferencialmente de dois anos 166 Haacute que se ter em conta que a CDD nasceu em um periacuteodo histoacuterico de grande desenvolvimento quando depois da Guerra Civil (1861-1865) o paiacutes recebe vinte milhotildees de imigrantes e surge uma grande induacutestria americana fundamentada no trabalho desses imigrantes Esses fatos acarretaram entre os imigrantes a formaccedilatildeo de grandes fortunas de um lado e de bolsotildees de pobreza de outro Foi nesse contexto que se deu a grande proliferaccedilatildeo de bibliotecas puacuteblicas e a elaboraccedilatildeo de um sistema de classificaccedilatildeo que recorria aos valores da sociedade americana Turner (1988 p77) tambeacutem acusa o predomiacutenio da ideologia americana ao dizer que a CDD eacute ldquopartidaacuteria dos americanos dos brancos dos anglo-saxotildees dos protestantes da classe meacutediardquo o que pode ainda ser estendido a conceitos como liberal e capitalista que se de um lado dava sustentaccedilatildeo aos conhecimentos na CDD por outro limitava a sua universalidade Poreacutem aqui cabe a ressalva de que as criacuteticas vaacutelidas no passado como a de ser um esquema excessivamente proacute-ocidente com ecircnfase nos Estados Unidos e na Histoacuteria americana na Religiatildeo cristatilde no tratamento desigual das disciplinas etc natildeo satildeo mais vaacutelidas pois os editores pouco a pouco eliminaram a tendenciosidade do esquema haacute um acompanhamento meticuloso das Religiotildees natildeo-cristatildes e as disciplinas tecircm recebido igual atenccedilatildeo quanto ao seu desenvolvimento O que permanece eacute a rigidez do sistema numeacuterico que obriga os editores quando tentam fazer coincidir as divisotildees do sistema com a fragmentaccedilatildeo da realidade a multiplicar o nuacutemero de divisotildees e a aumentar o iacutendice

170

o arranjo dos livros ou outros documentos tais como fichas catalograacuteficas num

padratildeo que seria reconhecido pelo especialista em qualquer assunto como

correspondendo agrave maneira pela qual ele pensava em relaccedilatildeo ao seu assunto O

campo do conhecimento avanccedila em complexidade e o que os especialistas

escrevem consiste muito mais de discussotildees de relaccedilotildees e interconexotildees que

subsistem entre entidades do que de meras descriccedilotildees das entidades Desse modo

tornou-se evidente a necessidade de um esquema de hierarquias167 de termos que

fosse mais do que uma imitaccedilatildeo da relaccedilatildeo gecircnero-espeacutecie Dewey compreendeu

que esse problema existia e providenciou tanto elementos de siacutentese quanto de

anaacutelises em suas tabelas168 Esse processo acarretou avanccedilos no processo

classificatoacuterio das classificaccedilotildees subsequentes

Essencialmente a CDD eacute uma classificaccedilatildeo com base no conhecimento

estruturada hierarquicamente consistindo de uma seacuterie de dez classes principais

que correspondem a disciplinas tradicionais ou aacutereas de estudo subdivididas

sucessivamente O desenvolvimento eacute ilimitado Quanto aos princiacutepios de divisatildeo

parecem provir da loacutegica da tradiccedilatildeo e da praacutetica Eacute por meio dessas subdivisotildees

que se forja quando necessaacuterio a inserccedilatildeo de novos assuntos os quais em outras

estruturas (tesauros por exemplo) teriam um tipo de relaccedilatildeo natildeo-hieraacuterquica

podendo mesmo ser considerados se for o caso como termos equivalentes Em

consequecircncia disso as classes principais que determinam todas as sub-classes de

niacutevel inferior partem de uma fragmentaccedilatildeo do saber (em disciplinas) comumente

admitida pelos especialistas da eacutepoca (proveniente de um meacutetodo rigoroso de

investigaccedilatildeo e de teorizaccedilatildeo) e natildeo de pontos de vista particulares sobre o universo

nem de uma fragmentaccedilatildeo natural da realidade tal como esta aparece

A respeito da macroestrutura da CDD pode-se dizer que Dewey

aparentemente natildeo deu uma grande contribuiccedilatildeo ao estabelecer a ordem (quadro

28) das suas classes principais (seguiu o consenso cientiacutefico e educacional do

Amherst College concebido no seacuteculo XIX) com as humanidades (Filosofia

167 Hierarquia eacute um conjunto de classes que mostram as suas relaccedilotildees de subordinaccedilatildeo e de superordenaccedilatildeo A subordinaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo de uma classe com a classe que a conteacutem exemplo a classe poodles eacute subordinada a classe catildees ou seja a relaccedilatildeo de um termo especiacutefico com um termo geneacuterico A superordenaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo de uma classe com outra classe nela contida exemplo a classe gatos eacute superordenada a classe gatos siamezes ou seja a relaccedilatildeo de um termo geneacuterico com um termo especiacutefico 168 As tabelas da CDD constituem uma ferramenta de trabalho amplamente documentada por inuacutemeras notas Segundo Maniez (1993 p 75) ldquomuitas mais do que a maioria dos tesaurosrdquo

171

Teologia Sociologia Linguagem Literatura Histoacuteria e outras) dispersas em vaacuterios

lugares a Linguagem e a Literatura amplamente separadas e todas as Ciecircncias

matemaacuteticas fiacutesicas e bioloacutegicas reduzidas a uma classe assim como Medicina

Engenharia Agricultura Administraccedilatildeo Tecnologia e Induacutestria Contudo conseguir

uma ordem satisfatoacuteria de classes principais eacute notoriamente difiacutecil ou impossiacutevel

(principalmente com o desenvolvimento das disciplinas ldquointerdisciplinaresrdquo) Cabe

dizer que na eacutepoca de sua criaccedilatildeo sendo o arcabouccedilo conceitual cientiacutefico mais

limitado do que eacute hoje o esquema disponiacutevel para a inclusatildeo de novos conceitos

natildeo permitia agraves vezes uma estruturaccedilatildeo hieraacuterquica rigorosa de acordo com uma

visatildeo mais moderna da ciecircncia e do conhecimento em geral

1876 (1ordfed) 1995 (20ordfed) 2003 (22ordfed)

000 Generalidades

100 Filosofia

200 Religiatildeo

300 Sociologia

400 Filologia

500 Ciecircncias Naturais

600 Artes Praacuteticas

700 Belas Artes

800 Literatura

900 Histoacuteria

000 Generalidades

100 Filosofia e Psicologia

200 Religiatildeo

300 Ciecircncias Sociais

400 Liacutenguas

500 Ciecircncias Naturais e Matemaacuteticas

600 Tecnologia (Ciecircncias Aplicadas)

700 Artes

800 Literatura

900 Geografia e Histoacuteria

000 Ciecircncia da Computaccedilatildeo

Informaccedilatildeo e Trabalhos Gerais

100 Filosofia e Psicologia

200 Religiatildeo

300 Ciecircncias Sociais

400 Liacutenguas

500 Ciecircncia

600 Tecnologia

700 Artes e Recreaccedilatildeo

800 Literatura

900 Histoacuteria e Geografia

QUADRO 28 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL DE DEWEY FONTE Dewey (1876 1995 2003)

A numeraccedilatildeo de base dez que pouco a pouco se havia imposto desde a

antiguidade estabeleceu-se para contar natildeo para ordenar como bem lembra

Maniez (1993 p 73) As antigas classificaccedilotildees do saber propunham como a

Retoacuterica antiga para todas as mateacuterias a divisatildeo tritocircnica (em trecircs partes) das quais

resultavam classes em nuacutemero variaacutevel que podiam se adequar agrave maioria dos

assuntos hoje reconhecidos Aristoacuteteles e Bacon entre outros tambeacutem utilizaram a

divisatildeo tritocircnica do conhecimento com base nas grandes faculdades mentais

humanas a aacutervore de Porfiacuterio (cf seccedilatildeo 2) usa um modelo dicotocircmico que eacute a

172

divisatildeo de cada conjunto em dois enquanto a classificaccedilatildeo do ser em Aristoacuteteles169

alcanccedila o nuacutemero de dez categorias ou atributos

A rigidez do sistema numeacuterico que obriga a deixar lugares vagos no esquema

tambeacutem dificulta fazer as divisotildees do esquema coincidir com a fragmentaccedilatildeo da

realidade Nota-se em alguns pontos da CDD principalmente nas tabelas como a de

subdivisotildees padratildeo170 (facetas comuns)171 entre outras e na Classe 400 - Liacutenguas

800 - Literatura e 900 - Histoacuteria desde a primeira ediccedilatildeo uma estrutura de facetas

Nesses casos ocorre uma manifestaccedilatildeo das categorias jaacute que satildeo elas que

ordenam os termos por meio de anaacutelise por facetas

Segundo A C Foskett (1973 p 206) Dewey natildeo percebeu a verdadeira

importacircncia desse fato cabendo a Ranganathan cerca de cinquenta anos mais tarde

tornar expliacutecito e generalizado o princiacutepio que se acha impliacutecito nesse exemplo bem

como em muitos outros aspectos Por exemplo (utilizando Dewey 22th ed 2003) a

obra Enciclopeacutedia Tecnoloacutegica do Seacuteculo XX ao ser analisada revela o que segue

Anaacutelise do conceito Tecnologia - seacuteculo XX - enciclopeacutedia

600 -0904 03

(classe) (auxiliar comum ou faceta) (auxiliar comum ou faceta)

Em que 600 - classe (Tecnologia)

-0904 - auxiliar comum ou faceta de tempo (seacuteculo XX)

03 - auxiliar comum ou faceta de tipo bibliograacutefico (enciclopeacutedia)

A notaccedilatildeo de acordo com as regras previstas por Dewey eacute 6090403 Nesse

exemplo pode-se observar como o 09 da subdivisatildeo padratildeo (Tabela I) age como um

indicador de faceta sinalizando a introduccedilatildeo de outra parte (novo aspecto ou faceta)

de um assunto complexo

A aplicaccedilatildeo da noccedilatildeo de categoria e faceta aparece de maneira clara na CDD

com a possibilidade conforme exemplo demonstrado a seguir mediante o emprego

de uma letra de permitir que a categoria ou faceta (liacutengua) escolhida ou favorecida

169 Cf nota 86 170 As subdivisotildees de forma (form subdivisions) foram renomeadas subdivisotildees padratildeo (standard subdivisions) na deacutecima seacutetima ediccedilatildeo quando ocorre uma revitalizaccedilatildeo no esquema 171 No Dewey o zero eacute algumas vezes descrito como um indicador de faceta De fato ele age como um indicador de faceta sinalizando a introduccedilatildeo de alguma nova subdivisatildeo de um assunto complexo

173

pelo classificador seja intercalada no iniacutecio da sequumlecircncia (quadro 29)

030 Obras enciclopeacutedicas gerais 9 Tratamento histoacuterico geograacutefico de pessoas

Classificar obras enciclopeacutedicas em liacutenguas especiacuteficas em 031-039 031-039 Em liacutenguas especiacuteficas Classificar aqui as enciclopeacutedias especiacuteficas e as obras sobre elas

Arrumar pela liacutengua em que foi originalmente escrita como abaixo mas para destacar a importacircncia local e compor um nuacutemero menor

para enciplopeacutedias numa liacutengua especiacutefica coloque-as em primeiro lugar com o emprego de uma letra ou outro siacutembolo Por exemplo Enciclopeacutedias em espanhol 03E (precedendo 031)

QUADRO 29 - EXEMPLO DA APLICACcedilAtildeO DA NOCcedilAtildeO DE CATEGORIA E DE FACETA NA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL DE DEWEY FONTE Dewey 1995 v2 p 55

Pode-se dizer que o sistema conteacutem mil classes divididas em dez classes

principais e que a sua ordem de dez classes principais eacute provavelmente a mais

familiar e tem afetado o modo pelo qual a maioria dos bibliotecaacuterios (e

possivelmente dos usuaacuterios) pensam em relaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo dos assuntos

Categoria natildeo eacute um conceito explicitado por Dewey apesar de estar presente

como jaacute mencionado tanto no esquema como nas tabelas como na de subdivisotildees

comuns (padratildeo) (Tabela 1) aacutereas geograacuteficas periacuteodos histoacutericos e pessoas

(Tabela 2) literaturas individuais e gecircneros literaacuterios especiacuteficos (Tabela 3) grupos

raciais e eacutetnicos (Tabela 4) e liacutenguas (Tabela 6)

424 Revisatildeo

O Editorial Office da CDD estaacute localizado na Biblioteca do Congresso dos

Estados Unidos - LC172 - desde 1972 permitindo melhor monitoramento das tendecircncias

e consequente inclusatildeo de novos toacutepicos o que significa a manutenccedilatildeo da garantia

literaacuteria173 que eacute parte essencial do aperfeiccediloamento de qualquer esquema Esse

suporte institucional eacute indubitavelmente uma das razotildees para o seu sucesso A

manutenccedilatildeo formal e a revisatildeo da classificaccedilatildeo eacute responsabilidade do Editorial

Policy Committee (EPC) O EPC inclui representantes do Online Computer Library

Center (OCLC) da LC da American Library Association (ALA) e do UK Chartered

172 Interessante notar que a maior interessada e ateacute mesmo responsaacutevel por boa parte da modernizaccedilatildeo da CDD desde a deacutecima quinta ediccedilatildeo tem sido a LC 173 Garantia literaacuteria (literary warrant) eacute o princiacutepio que requer que as classes nos sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica sejam embasadas em assuntos da literatura publicada preferencialmente sendo derivado de uma visatildeo filosoacutefica do conhecimento Essa loacutegica eacute demonstrada na LCC onde tradicionalmente classes satildeo criadas somente para acomodar itens na coleccedilatildeo da Biblioteca do Congresso (BROUGHTON 2004 p 303)

174

Institute of Library and Information Professionals mas tambeacutem conta com membros

representantes dos diversos tipos de bibliotecas que usam a CDD A CDD eacute

atualizada a cada sete anos e a sua versatildeo impressa estaacute agora na 22 ed A ediccedilatildeo

completa eacute publicada em quatro volumes v 1 Introduccedilatildeo manual e tabelas

auxiliares v 2 Esquemas 000-599 v 3 Esquemas 600-999 e v 4 Iacutendice relativo

(ONLINE 2007) Atualmente o OCLC publica a classificaccedilatildeo e manteacutem o WorldCat

uma base de dados de 54 milhotildees de registros com dados da CDD Esses dados estatildeo

disponiacuteveis em formato eletrocircnico desde 1993 Os produtos eletrocircnicos incluindo a

versatildeo em CD Dewey for Windows agora sendo substituiacutedo pela WebDewey o

equivalente online tecircm sido desenvolvidos para explorar todo o potencial dos novos

formatos (BATLEY 2005 p 27 BROUGHTON 2004 p 176-177 ONLINE 2007)

Registra-se ainda que a notaccedilatildeo da CDD (aleacutem da notaccedilatildeo da LCC) aparece em

todos os registros catalogados pela LC desde 1930 e desde 1971 em benefiacutecio da

normalizaccedilatildeo internacional a LC (FOSKETT A C 1973 p 212) adota-a para os

registros no sistema MARC174 - supremo reconhecimento

A classificaccedilatildeo de Dewey continua muito popular graccedilas a sua facilidade e

simplicidade de emprego em contraposiccedilatildeo agraves classificaccedilotildees consideradas mais

complexas como a Classificaccedilatildeo Decimal Universal (CDU) e a Classificaccedilatildeo de Dois

Pontos (CC) O que parece provar que no domiacutenio das aplicaccedilotildees profissionais os

fundamentos teoacutericos e o rigor loacutegico contam menos que a eficaacutecia e a simplicidade

da praacutetica Segundo A C Foskett (1973 p 207) o proacuteprio Dewey escreveu

ldquomesmo que as decisotildees tomadas natildeo tenham sido as melhores possiacuteveis todas as

finalidades praacuteticas estatildeo atendidasrdquo

43 CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL UNIVERSAL (CDU - 1905)

A histoacuteria e aplicaccedilatildeo os princiacutepios a construccedilatildeo e a revisatildeo da Universal

Decimal Classification (UDC) Classificaccedilatildeo Decimal Universal (CDU) satildeo tratados

nas subseccedilotildees que seguem

174 Bibliographic Machine-Readable Cataloging (MARC) Um registro MARC eacute um registro catalograacutefico legiacutevel por maacutequina - o que significa que um computador pode ler e interpretar dados em registros catalogados Um registro catalograacutefico eacute um registro bibliograacutefico ou a informaccedilatildeo tradicionalmente mostrada em fichas (WHAT is a 2007)

175

431 Histoacuteria

Paul Otlet (1869-1944) reconhecido pelo seu trabalho desenvolvido no

campo da bibliografia em Ciecircncias Sociais175 respeitado nos ciacuterculos da Ciecircncia da

Informaccedilatildeo como um pioneiro na recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo e aclamado como um

antecipador da teoria do hipertexto e o seu colega Henri La Fontaine (1854-1943)

ganhador do Precircmio Nobel da Paz em 1913 e dedicado ao International Peace

Bureau (IPB) - a mais antiga federaccedilatildeo internacional para a paz no mundo (1891)

foram os fundadores do International Institute of Bibliography (IIB) mais tarde FID

Os dois advogados belgas conceberam a ideacuteia de organizar um repertoacuterio

bibliograacutefico universal isto eacute uma bibliografia de todos os trabalhos publicados em

qualquer lugar do mundo desde a invenccedilatildeo da imprensa - um projeto que somente

foi possiacutevel cem anos atraacutes As ideacuteias e praacuteticas enlaccediladas pelo termo

documentaccedilatildeo introduzido por Otlet e La Fontaine para descrever o trabalho do IIB

175 No fim do seacuteculo XIX sob a influecircncia do positivismo de Comte havia uma primazia da Sociologia entre as ciecircncias e essas encontravam-se impregnadas de um caraacuteter positivo e documentaacuterio o que transparece nas ideacuteias de Otlet e na nova ciecircncia a Documentaccedilatildeo (atividade e conceito cunhado por Otlet em 1904 que tinha como meta reunir documentos escritos imagens esquemas mapas tabelas entre outros) O livro para Otlet configurava-se em um disseminador inadequado do conhecimento se natildeo fosse decomposto em itens de informaccedilatildeo registrados em separado e recompostos de diferentes formas para uma comunicaccedilatildeo mais efetiva e uso mais apropriado Boyd Rayward (2001 apud RAFFERTY 2001 p188) tem argumentado que Otlet era motivado por uma visatildeo utoacutepica e emancipatoacuteria do que o mundo poderia se tornar se houvesse maior e mais efetivo acesso internacional ao conhecimento e se as forccedilas intelectuais e poliacuteticas no mundo fossem coordenadas de acordo com planos que se relacionavam com a criaccedilatildeo e operaccedilatildeo de instituiccedilotildees internacionais construiacutedas nos moldes da Liga das Naccedilotildees as quais poderiam se comunicar e trabalhar juntas para a paz Otlet estava interessado em capturar o sentido essencial dos documentos e as suas relaccedilotildees porque acreditava que o povo natildeo tinha tempo para ler enorme proliferaccedilatildeo de informaccedilatildeo e que podia ser ajudado se estivesse conectado a uma maciccedila bibliografia de sumaacuterios dos conteuacutedos dos documentos Ele era suficientemente positivista para acreditar que nos documentos a despeito de erros e opiniotildees jaz o cerne da verdade na forma de fatos e eram os fatos que ele estava interessado em identificar e representar Ele imaginava a sua linguagem classificatoacuteria sendo usada para representar os fatos encontrados no documento original Os siacutembolos da CDU estariam formando uma linguagem cientiacutefica que acabaria com as ambiguidades e complexidades da linguagem natural (RAYWARD 2001) Entre os teoacutericos da classificaccedilatildeo Otlet e Ranganathan estavam particularmente interessados na notaccedilatildeo da classificaccedilatildeo como praacutetica significante Para Otlet (socialista e pacifista europeu do seacuteculo XIX) o foco estava na comunicaccedilatildeo intersubjetiva traduccedilatildeo comunicaccedilatildeo e compreensatildeo das linguagens humanas a fim de facilitar o entendimento internacional Ranganathan (matemaacutetico influenciado pela cultura hindu e pela filosofia metafiacutesica) via tambeacutem a possibilidade da notaccedilatildeo servir como linguagem internacional mas aleacutem disso estava interessado na traduccedilatildeo da linguagem privada da consciecircncia individual e a partir dessa consciecircncia como tornar-se um com o mundo para alcanccedilar uma linguagem simboacutelica sinteacutetica e pura O foco estava na possibilidade de produzir signos que significassem aspectos da consciecircncia individual natildeo apenas significados por meio da linguagem Eacute interessante notar que o projeto da CDU foi desenvolvido aproximadamente no mesmo periacuteodo histoacuterico em que se iniciaram as discussotildees do enfoque analiacutetico filosoacutefico da linguagem de Bertrand Russell e Ludwig Wittgenstein

176

constitui de acordo com Rayward (1997 p 289) parodiando Focault uma nova

formaccedilatildeo discursiva numa eacutepoca em que a terminologia hoje proacutepria da Ciecircncia da

Informaccedilatildeo natildeo estava em uso O interesse inicial em construir essa bibliografia

partiu do conceito que Otlet e La Fontaine tinham sobre o estado de desorganizaccedilatildeo

da literatura em Ciecircncias Sociais Esse vasto projeto necessitava de uma ferramenta

eficiente de recuperaccedilatildeo de informaccedilatildeo Para tanto procuraram um sistema para a

organizaccedilatildeo de assuntos da sua bibliografia pois o arranjo alfabeacutetico nem foi

cogitado para empreendimento de tal envergadura

Na busca por orientaccedilatildeo para desenvolver as entradas dos assuntos

tomaram conhecimento da CDD entatildeo na sua quinta ediccedilatildeo (1894) O propoacutesito

original era usar uma versatildeo da CDD modificada e expandida para organizar a

bibliografia universal (McILWAINE 2000 p 1) Estudando o sistema ao mesmo

tempo em que ficaram impressionados com a riqueza do material natildeo encontraram

na CDD exatamente o que procuravam e com autorizaccedilatildeo do proacuteprio Dewey

realizaram alteraccedilotildees e adiccedilotildees (uso de um enfoque facetado para possibilitar

empreender anaacutelises de assunto altamente detalhadas) para criar o que foi a 1ordf

ediccedilatildeo da CDU176 (quadro 30)

176 O resultado desse trabalho foi publicado pelo IIB sediado em Bruxelas em 1905 sob o tiacutetulo de Manuel du Reacutepertoire Bibliographique Universel e em 1907 surgiu a reimpressatildeo dessa ediccedilatildeo do Repertoacuterio em forma de cataacutelogo sistemaacutetico (SAN SEGUNDO MANUEL 1996 BATLEY 2005 p 81) Embora o Instituto que se tornou conhecido como FID tivesse que abandonar o cataacutelogo em fichas que incluiacutea mais de 12 milhotildees de entradas por volta de 1921 o legado de Otlet e La Fontaine continua nas formas materiais do esquema de Classificaccedilatildeo CDU e da Federaccedilatildeo Internacional de Associaccedilotildees de Bibliotecaacuterios e Bibliotecas (IFLA) que opera como uma organizaccedilatildeo internacional promovendo a cooperaccedilatildeo e encorajando o estudo a pesquisa e o desenvolvimento da Biblioteconomia e da Ciecircncia da Informaccedilatildeo A partir de 1992 a CDU deixou de ser controlada pela FID e passou a ser administrada pelo Universal Decimal Classification Consortiom (UDCC) da qual a FID continuou fazendo parte aceitando apenas correccedilotildees e expansotildees na liacutengua inglesa (liacutengua oficial do Consoacutercio) francesa e alematilde No entanto com a extinsatildeo da FID (2000-2001) a IFLA assume a responsabilidade pelo Consoacutercio CDU o qual possibilita o acesso e a utilizaccedilatildeo da Tabela de Classificaccedilatildeo Decimal Universal pelas bibliotecas ao redor do mundo e pelas bibliotecas brasileiras por intermeacutedio do IBICT

177

1927-1933 (2ordf ed) 2003 (pocket ed)

0 Generalidades

1 Filosofia

2 Religiatildeo

3 Ciecircncias Sociais

4 Filologia

5 Ciecircncias Naturais

6 Ciecircncias Aplicadas

7 Belas Artes e Esportes

8 Literatura

9 Histoacuteria e Geografia

0 Generalidades

1 Filosofia (incluindo Psicologia)

2 Religiatildeo

3 Ciecircncias Sociais

4 [vazio apoacutes realocaccedilatildeo de Filologia

atualmente em desenvolvimento]

5 Ciecircncia

6 Tecnologia

7 Artes (incluindo Recreaccedilatildeo e Esportes)

8 Liacutengua e Literatura

9 Geografia Histoacuteria Biografia

QUADRO 30 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL UNIVERSAL FONTE CDU 1927-1933 (Conteacutem aproximadamente 40000 subdivisotildees) UDC 2003 (Versatildeo abreviada tambeacutem conhecida como abridget edition com aproximadamente 4000 classes)

A CDU desde o comeccedilo convergia para uma classificaccedilatildeo muito detalhada

destinada agrave compilaccedilatildeo de uma bibliografia de material fugidio natildeo meramente um

dispositivo para ordenar documentos em estantes Cedo indicadores de facetas foram

adotados e sobrou pouco dos conceitos originais de Dewey como o niacutevel dos trecircs diacutegitos

432 Princiacutepios

Adotada a mesma base do esquema de Dewey no iniacutecio do seacuteculo XX a

CDU de 1905 tambeacutem se propunha a classificar todos os campos do

conhecimento sendo construiacuteda sob os princiacutepios da divisatildeo cientiacutefica do

conhecimento No entanto com objetivos mais ambiciosos ela apresenta uma

mudanccedila em relaccedilatildeo agrave primeira classificaccedilatildeo

aumento da capacidade de siacutentese ou seja possibilidade de representar assuntos complexos e de classes diferentes por meio de mecanismos de combinaccedilatildeo incorporaccedilatildeo do princiacutepio de anaacutelise por facetas princiacutepio que permite uma anaacutelise multidimensional dos assuntos (TAacuteLAMO KOBASHI LARA 1995 p 55)

A macroorganizaccedilatildeo da CDU funda-se na organizaccedilatildeo loacutegico-hieraacuterquica de

suas unidades A delimitaccedilatildeo de classes de assuntos eacute feita a partir de pontos de

vista determinados (CINTRA 1994 p 41) O esquema da CDU eacute portanto muito

mais flexiacutevel do que um esquema somente enumerativo

178

A CDU eacute a uacutenica entre os esquemas tradicionais que natildeo foi originalmente

planejada como uma ferramenta para arranjar uma coleccedilatildeo fiacutesica de documentos

nas prateleiras das bibliotecas ou para organizar um cataacutelogo de fichas e mais do

que isso para reunir documentos sobre o mesmo assunto - princiacutepio monograacutefico de

Otlet Como consequecircncia as decisotildees que eram tomadas a respeito da estrutura e

funccedilatildeo da classificaccedilatildeo naquele tempo colocavam ecircnfase no seu uso como uma

ferramenta de recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo ldquoO pensamento de Otlet natildeo se

direcionava para a organizaccedilatildeo dos livros nas estantes (esse assunto ocupa uma

uacutenica paacutegina no lsquoTratadorsquo) mas agrave organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo seu acesso e

principalmente o estabelecimento de relaccedilotildees entre os dados informacionais

visando o uso da informaccedilatildeordquo (TAacuteLAMO et al 2002) Portanto gerar um sistema de

relacionamento entre os documentos em razatildeo dos assuntos presentes neles -

semente da ideacuteia do uso de descritores - foi a sua grande contribuiccedilatildeo somada agrave

habilidade de tornar possiacutevel descriccedilotildees muito detalhadas de assuntos

particularmente de assuntos complexos mesmo que isso tenha sido conseguido agraves

expensas da simplicidade da notaccedilatildeo de acordo com Broughton (2004 p 207) Fla

(1966 p 14) e Robredo e Cunha (1994 p 211)

433 Construccedilatildeo

Adaptaccedilatildeo do sistema de Dewey a CDU retoma as classes principais da CDD

(reflete disciplinas tradicionais) e a sua notaccedilatildeo decimal A Classificaccedilatildeo de estrutura

hieraacuterquica segue uma ordem sistemaacutetica que parte do geral para o particular do

todo para a parte do gecircnero para a espeacutecie etc poreacutem se afasta do modelo

original

a) por um sistema de subdivisatildeo muito mais avanccedilado que permite

anaacutelises das mateacuterias em profundidade chegando a um niacutevel de

detalhamento como no exemplo 69161341rsquo32rsquo28 = utilizaccedilatildeo de

vidro que contenha oacutexidos de siliacutecio de potaacutessio e de caacutelcio na

construccedilatildeo (UDC 2003)

b) pela importacircncia maior da sintaxe uma vez que na CDD jaacute existiam

possibilidades de construccedilatildeo graccedilas agraves subdivisotildees comuns que satildeo

retomadas pela CDU por meio de signos especiais que autorizam

toda uma seacuterie de procedimentos sintaacuteticos que multiplicam as

possibilidades de combinaccedilotildees (estrutura facetada) como no

179

exemplo 63486588 = marketing e vendas da produccedilatildeo de vinhos -

ou 65886348 (6348 vinhedos e 6588 marketing e vendas)

(UDC 2003)

c) por inovaccedilotildees na subdivisatildeo e na notaccedilatildeo pois a subdivisatildeo jaacute natildeo eacute

rigorosamente decimal e sim praticada em razatildeo da necessidade

como por exemplo 0182 = propriedades mecacircnicas (divisatildeo

analiacutetica da metalurgia) 66971 = alumiacutenio (iacutendice principal) assim

669710182 = propriedades mecacircnicas do alumiacutenio (UDC

2003)

Em resumo a CDU conserva uma estrutura monohieraacuterquica para os iacutendices

principais mas tanto a importacircncia atribuiacuteda aos iacutendices secundaacuterios quanto as

facilidades de siacutenteses conduzem a uma construccedilatildeo mista monohieraacuterquica para o

essencial e analiacutetico-sinteacutetica na utilizaccedilatildeo de facetas para as chamadas divisotildees

analiacuteticas e para as divisotildees comuns A principal inovaccedilatildeo reside na possibilidade de

formar novos assuntos pela coordenaccedilatildeo de vaacuterios iacutendices o que aproxima a CDU

das linguagens combinatoacuterias Juntando ao iacutendice principal o sufixo apropriado

compotildee-se livremente um novo iacutendice e essa combinaccedilatildeo que organiza um nuacutemero

consideraacutevel de iacutendices virtuais economiza iacutendices reais nas tabelas177 Poreacutem a

CDU ainda estaacute muito longe da estrutura de um tesauro longe inclusive do iacutendice da

CDD mas parece que para o Consoacutercio responsaacutevel pela CDU o papel do iacutendice eacute

secundaacuterio e a ecircnfase eacute dada na recuperaccedilatildeo pelas tabelas (BATLEY 2005 p 103

BROUGTON 2004 p 211 DUBUC 1973 p 84 MANIEZ 1993 p 87-89) A primeira divisatildeo em dez classes principais reflete amplamente o seu

parentesco com a CDD sendo que a maior mudanccedila em relaccedilatildeo agrave CDD eacute reunir

Liacutengua e Literatura na Classe 8 deixando a Classe 4 vazia178 Haacute poreacutem uma

importante diferenccedila entre os dois esquemas enquanto a CDD eacute perfeitamente

adequada para classificaccedilotildees gerais pois natildeo tem profundidade de cobertura para

toacutepicos especializados a CDU permite uma classificaccedilatildeo mais detalhada com a

incorporaccedilatildeo de muitas caracteriacutesticas de classificaccedilatildeo facetada com o uso

177 As Tabelas Sistemaacuteticas (Systematic Tables) contecircm as classes principais da classificaccedilatildeo e um grande nuacutemero de tabelas auxiliares O Iacutendice possibilita a localizaccedilatildeo de um toacutepico a verificaccedilatildeo do contexto apropriado e a consulta a vaacuterias notas explanaccedilotildees e instruccedilotildees Inclui tambeacutem muitos exemplos de combinaccedilatildeo 178 A Classe 4 pode vir a ser ocupada no futuro pela Medicina uma classe muito ampla que estaacute atualmente sendo extensamente revisada (httpwwwudccorg 2006 BROUGHTON 2004 p 209)

180

extensivo de siacutenteses para criar notaccedilotildees para assuntos compostos eacute essa

caracteriacutestica que torna a CDU desejaacutevel para coleccedilotildees especializadas

A CDU eacute um excelente exemplo de um tipo de esquema de classificaccedilatildeo

conhecido como analiacutetico-sinteacutetico - um esquema no qual um assunto complexo

pode ser fragmentado (analisado) em suas partes constituintes e um nuacutemero de

classificaccedilatildeo preciso pode ser construiacutedo (sintetizado) das notaccedilotildees das diferentes

partes Por exemplo (utilizando a Universal Decimal Classification Pocket Edition

2003) a obra A Girafa na Arte e na Histoacuteria ao ser analisada revela o que segue

Anaacutelise do conceito girafa - Arte - Histoacuteria

Nuacutemero da CDU 5997354 7 94

(classe) (classe) (classe)

Nuacutemero de classificaccedilatildeo 5997354794 na qual o sinal de relaccedilatildeo () eacute

utilizado para unir conceitos em relaccedilatildeo muacutetua

Em contraste com uma classificaccedilatildeo enumerativa (na qual somente os

nuacutemeros de classificaccedilatildeo que estatildeo listados satildeo vaacutelidos) o esquema analiacutetico-

sinteacutetico permite que novas classes sejam criadas pelo classificador O nuacutemero

potencial de classes eacute consequentemente muito maior do que aquele listado nos

esquemas ou planos impressos179

A notaccedilatildeo180 usada na CDU eacute expressiva e emprega numerais araacutebicos que

podem ser reunidos (quadro 31) por sinais de pontuaccedilatildeo siacutembolos auxiliares

considerados um conjunto de facetas comuns e indicadores de facetas os quais

permitem fazer siacutenteses - significar os relacionamentos entre conceitos - e relacionar

de diversas formas os nuacutemeros usados nas tabelas para construir nuacutemeros de

classificaccedilatildeo mais complexos e precisos (BATLEY 2005 McILWAINE 2000)

179 Entretanto a CDU permanece sendo uma classificaccedilatildeo hierarquizada e enumerativa como todas as classificaccedilotildees claacutessicas 180 A operaccedilatildeo de classificar com as tabelas da CDU deve comeccedilar por assinalar o nuacutemero da classe temaacutetica e acrescentar se necessaacuterio os auxiliares segundo o criteacuterio geral da CDU ou seja do mais geral ao mais particular ponto de vista lugar tempo forma idioma e todos os demais auxiliares de menor envergadura

181

DENOMINACcedilAtildeO E EMPREGO SIacuteMBOLO TABELA Adiccedilatildeo (o mais (+) coordena ou liga dois assuntos (conceitos)

distintos (separados no esquema) - eacute usado preferencialmente ao

() soacute quando dois assuntos satildeo tratados independentemente no

mesmo documento Ele visa ampliar com mais precisatildeo cada

elemento do assunto A sua intercalaccedilatildeo ocorre antes do primeiro

nuacutemero sozinho)

+ (Tabelas 1a e 1b)

Extensatildeo consecutiva (a barra obliacutequa () reuacutene nuacutemeros da

CDU que ocupam lugares sucessivos Onde o sinal de mais

reuacutene classes adjacentes a barra obliacutequa pode ser usada em seu

lugar A sua intercalaccedilatildeo ocorre tambeacutem antes do primeiro

nuacutemero sozinho)

(Tabelas 1a e 1b)

Nuacutemero simples sem siacutembolos

Relaccedilatildeo (o dois pontos () une dois nuacutemerosconceitos e denota

alguma relaccedilatildeo geral entre eles Eacute o mais comum dispositivo de

ligaccedilatildeo ou siacutentese na CDU e tambeacutem o mais impreciso)

(Tabelas 1a e 1b)

Igualdade (auxiliares comuns sistemaacuteticas de Liacutengua) =hellip (Tabela 1c)

Parecircntese zero (auxiliares comuns sistemaacuteticas de Forma) (0) (Tabela 1d)

Parecircntese (auxiliares comuns sistemaacuteticas de Lugar) (19) (Tabela 1e)

Parecircntese igualdade (auxiliares comuns sistemaacuteticas de Raccedila

grupos eacutetnicos e nacionalidade)

(= hellip) (Tabela 1f)

Aspas (auxiliares comuns sistemaacuteticas de Tempo) ldquohelliprdquo (Tabela 1g)

Coacutedigos natildeo-CDU etc AZ (Tabela 1h)

Traccedilo zero (auxiliares de caracteriacutesticas gerais)

Traccedilo zero trecircs (auxiliares comuns de materiais)

Traccedilo zero cinco (auxiliares comuns de pessoas)

-0 hellip

(Tabela 1k)

Traccedilo (auxiliares especiais) -19

Ponto zero zero (auxiliares comuns de ponto de vista) 00

Apoacutestrofo (concentraccedilatildeo ou fusatildeo de conceitos) lsquo

QUADRO 31 - SIacuteMBOLOS DA NOTACcedilAtildeO DA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL UNIVERSAL NA ORDEM EM QUE APARECEM NO ESQUEMA FONTE a autora NOTA Os sinais de ligaccedilatildeo da CDU satildeo a chave que a habilita a organizar coleccedilotildees especializadas Eles provecircm o classificador com uma ferramenta poderosa com a qual descrever assuntos em detalhes Satildeo os sinais de ligaccedilatildeo que aproximam a CDU dos esquemas de classificaccedilatildeo facetados e transformam o continuum da classificaccedilatildeo de enumerativa a facetada

Segundo Grolier (1976 p 344 Traduccedilatildeo livre da autora) as tabelas auxiliares

constituem uma inovaccedilatildeo mais consideraacutevel na teacutecnica taxonocircmica que tudo o que

se devia a Dewey O princiacutepio de classificaccedilatildeo segundo os pontos de vista e o

estabelecimento de relaccedilotildees entre os pontos simples para formar iacutendices que

correspondam a mateacuterias complexas que com frequecircncia poreacutem erroneamente se

atribui a Ranganathan e a sua Classificaccedilatildeo Facetada estaacute integralmente no artigo

182

de Otlet de 1896181

Pode-se dizer que eacute tambeacutem a partir das tabelas auxiliares (divisotildees

analiacuteticas) - liacutengua forma lugar nacionalidade tempo entre outros auxiliares

especiais - que emerge a noccedilatildeo de faceta como uma manifestaccedilatildeo das categorias

Os responsaacuteveis pelos sistemas de classificaccedilatildeo normalmente sugerem uma

ordem padratildeo para nomear assuntos com base em categorias Desse modo

McILWAINE (2000) recomenda na construccedilatildeo da notaccedilatildeo na CDU a aplicaccedilatildeo da

seacuterie coisa - espeacutecie - parte - material - propriedade - processo - operaccedilatildeo - agente -

espaccedilo - tempo

434 Revisatildeo

Hoje todas as ediccedilotildees e traduccedilotildees do esquema satildeo controladas pelo

Universal Decimal Classification Consortium (UDCC) (httpwwwudccorg) A

versatildeo eletrocircnica autorizada da classificaccedilatildeo estaacute sediada na base de dados em

Haia (Holanda) e eacute conhecida como Master Reference File (MRF) Ela conteacutem cerca

de 65000 classes que satildeo a base para a publicaccedilatildeo de traduccedilotildees pelos membros

do Consoacutercio Cada paiacutes tem o seu proacuteprio comitecirc nacional da CDU que se reportam

ao de Haia No Brasil em 1974 foi criado o Instituto Brasileiro de Bibliografia e

Documentaccedilatildeo (IBBD) e a Comissatildeo Brasileira da CDU vinculada ao IBBD A partir

de 1976 o IBBD passou a ser denominado IBICT Em 2007 o IBICT no intuito de

atualizar essa ferramenta que eacute a CDU publica a segunda ediccedilatildeo padratildeo-

internacional em liacutengua portuguesa (UDC Consortium 2007)

O esquema tem crescido por decisotildees ad hoc Alteraccedilotildees ao esquema e

novos planos de trabalho satildeo publicados anualmente no boletim da CDU Extensions

and Corrections to the UDC mais conhecida pela sigla EampC (BATLEY 2005

BROUGHTON 2004)

Observa-se que a estrutura principal dos esquemas gerais de organizaccedilatildeo do

conhecimento como CDD e CDU natildeo mudou muito desde 1850 O que muda e

aumenta satildeo as subclasses dentro da estrutura

181 OTLET P Sur la structure des nombres classificateurs Bulletin de lrsquoInstitut International de Bibliographie La Haye v 1 p 230-243 1895-1896

183

44 CLASSIFICACcedilAtildeO EXPANSIVA (EC -1891)

A histoacuteria e aplicaccedilatildeo os princiacutepios e a construccedilatildeo da Expansive

Classification (EC) Classificaccedilatildeo Expansiva de Charles Ammi Cutter satildeo tratados

nas subseccedilotildees que seguem

441 Histoacuteria

Sob a influecircncia da CDD (considerada inadequada e natildeo-aplicaacutevel a

determinados tipos de biblioteca) e embasado em sua experecircncia (necessidade que as

bibliotecas tinham de dispor de um esquema classificatoacuterio de conformidade com o

nuacutemero de obras que possuiacuteam) Charles Ammi Cutter (1837-1903) bibliotecaacuterio

erudito norteamericano deu iniacutecio em 1880 agrave implantaccedilatildeo de um sistema proacuteprio na

organizaccedilatildeo dos documentos da Biblioteca do Athenaeum de Boston Em 1891 sob o

tiacutetulo Expansive Classification (EC)182 Classificaccedilatildeo Expansiva Cutter publica a

primeira ediccedilatildeo (expansatildeo) do esquema (SAN SEGUNDO MANUEL1996 p 86)

442 Princiacutepios

Cutter elabora as suas dez classes principais tomando como base o sistema de

Bacon apenas de modo invertido Eacute uma classificaccedilatildeo do tipo filosoacutefico e natildeo do tipo

praacutetico sendo considerada como a mais erudita das classificaccedilotildees Eacute um sistema que

segue a ideacuteia evolucionista na disposiccedilatildeo geral de suas classes as quais procuram

sempre seguir a ordem natural das coisas e acontecimentos Cada aspecto de cada

assunto aparece na mesma ordem que segundo a teoria evolucionista teria aparecido

na criaccedilatildeo vai do simples para o complexo Como exemplo cita-se a Zoologia que vai

dos protozoaacuterios para os primatas terminando com a Antropologia (MANN 1962 p 97

SOUZA J S 1952 p 70)

443 Construccedilatildeo

A ideacuteia baacutesica do sistema consiste em uma organizaccedilatildeo de extensatildeo

crescente (expansiva) com sete tabelas classificatoacuterias separadas A primeira delas

(quadro 32) eacute muito simples e soacute aplicaacutevel a pequenas bibliotecas ela consiste em

dez classes e natildeo compreende subdivisotildees

182 CUTTER C A Expansive classification Boston [sn] 1891 A expressatildeo classificaccedilatildeo expansiva adveacutem dos diversos esquemas desenvolvidos gradualmente para dar conta das diversas fases de desenvolvimento da biblioteca

184

CLASSES AcircMBITO A Obras gerais e de referecircncia B Filosofia e Religiatildeo E Ciecircncias histoacutericas F Histoacuteria G Geografia e Viagens H Ciecircncias Sociais L Ciecircncias e Artes Belas Artes X Filologia (com notaccedilatildeo auxiliar a indicar a liacutengua a que o assunto se refere) Y Literatura (com notaccedilatildeo auxiliar a indicar a liacutengua e o gecircnero)

Ex YY - Literatura norteamericana em liacutengua inglesa YYP - Poesia norteamericana em liacutengua inglesa

YF Ficccedilatildeo QUADRO 32 - CLASSES PRINCIPAIS DA PRIMEIRA TABELA DE CUTTER FONTE Phillips (1961 p 84)

A sexta tabela ou expansatildeo (quadro 33) eacute a mais completa conteacutem vinte e seis divisotildees (classes) e apresenta numerosas subdivisotildees (os seis primeiros sistemas foram publicados juntos em Boston com um iacutendice relativo comum sob o tiacutetulo Expansive Classification the First Six Classification em 1893) Cutter morreu quando estava terminando a sua seacutetima tabela em 1903 e as classes jaacute concluiacutedas foram publicadas sob a supervisatildeo do seu filho W P Cutter (MIKSA 1980 p 169-170 PENNA 1960 p 172 SAN SEGUNDO MANUEL1996 p 87-88)

CLASSES AcircMBITO A Obras gerais B Filosofia Religiatildeo C Cristianismo Judaiacutesmo D Ciecircncias Histoacutericas E Bibliografia F Histoacuteria G Geografia Viagens H Ciecircncias Sociais I Sociologia J Administraccedilatildeo Puacuteblica Governo etc K Legislaccedilatildeo L Ciecircncias Artes M Histoacuteria Natural N Botacircnica O Zoologia P Vertebrados Q Medicina R Artes Aplicadas Tecnologia S Construccedilotildees Engenharia Edificaccedilatildeo T Ofiacutecios Manufaturas U Arte Ciecircncias Militares V Atletismo Arte Recreativa W Belas Artes X Linguagem Y Literatura Z Arte do Livro Bibliografia Biblioteconomia

QUADRO 33 - CLASSES PRINCIPAIS DA SEXTA TABELA DE CUTTER FONTE San Segundo Manuel (1996 p 87-88)

185

A notaccedilatildeo da EC183 eacute breve e simples consiste no emprego de letras do

alfabeto latino fazendo uso de maiuacutesculas para as classes principais e para as

subdivisotildees empregam-se letras maiuacutesculas de tamanho mais reduzido as quais

seguindo um desenvolvimento mnemocircnico satildeo as proacuteprias iniciais dos termos em

inglecircs Existem subdivisotildees de forma (19) e auxiliares de lugar cujas notaccedilotildees satildeo

numeacutericas e servem para fazer subdivisotildees nas aacutereas de Geografia Histoacuteria Liacutengua

e Literatura e outras Por exemplo o assunto ldquoBibliografia dos museus brasileirosrdquo

ao ser analisado revela o que segue

Anaacutelise do conceito Museus - Brasil - Bibliografia

Siacutembolos da EC A (Obras gerais) 99 2

(classe) (auxiliar de lugar) (subdivisatildeo de forma)

AM (Museus)

(subdivisatildeo da classe A)

Notaccedilatildeo AM992

Levando em consideraccedilatildeo que F representa Histoacuteria W Pintura e 83 os

Estados Unidos a notaccedilatildeo F83 aplica-se agrave Histoacuteria dos Estados Unidos e WP83 agrave

pintura norteamericana

Da mesma maneira como na CDD a noccedilatildeo de categoria emerge por meio das

subdivisotildees de forma e dos auxiliares comuns

A grande transcendecircncia desse sistema aleacutem do seu valor histoacuterico e de

haver sido projetado para bibliotecas pequenas e escolares estaacute no seu emprego na

Biblioteca do Congresso (LC) jaacute que exerceu grande influecircncia na Classificaccedilatildeo da

Biblioteca do Congresso (LCC) cujas classes principais satildeo muito similares agraves do

sistema de Cutter

45 CLASSIFICACcedilAtildeO DA BIBLIOTECA DO CONGRESSO (LCC - 1902)

A histoacuteria os princiacutepios a construccedilatildeo e a revisatildeo da Classificaccedilatildeo da

Biblioteca do Congresso satildeo tratados nas subseccedilotildees que seguem

451 Histoacuteria

A Library of Congress (LC) a Biblioteca do Congresso foi fundada por ato do

Congresso americano em janeiro de 1802 (com uma coleccedilatildeo de 740 livros

adquiridos pelo Senador Samuel Dexter nos anos anteriores) e em abril o 183 O esquema conta com um iacutendice alfabeacutetico que remete agrave notaccedilatildeo

186

bibliotecaacuterio John Beckley estava apto a publicar o primeiro cataacutelogo no qual o

arranjo das estantes era por tamanho

Em 1812 uma abordagem de assunto foi aplicada pela primeira vez agrave

coleccedilatildeo a classificaccedilatildeo usada sendo a da Library Company of Philadelphia uma

biblioteca de pesquisa independente Essa classificaccedilatildeo baseou-se numa adaptaccedilatildeo

do sistema de Bacon usado na Encyclopeacutedie de Diderot e drsquoAlembert A LC usava

somente 18 das 31 classes principais da Philadelphia e cada classe de livros era

subdividida por tamanho e arranjada alfabeticamente Em 1814 a LC foi incendiada

pelos britacircnicos e a maioria da coleccedilatildeo perdida Thomas Jefferson oferece ao

Congresso a sua coleccedilatildeo organizada por um sistema proacuteprio de 44 classes

principais novamente embasada na classificaccedilatildeo de BacondrsquoAlembert e em 1815 o

Congresso compra a coleccedilatildeo O desenvolvimento da Library of Congress Classification

(LCC) Classificaccedilatildeo da Biblioteca do Congresso pode ser traccedilado desde o final do

seacuteculo XIX mais precisamente a partir de 1897 quando se comeccedilou a discutir um

plano de reorganizaccedilatildeo de todo o acervo da LC tendo em vista a construccedilatildeo da

nova biblioteca Em 1899 Herbert Putman (novo bibliotecaacuterio da LC) e equipe

encarregados do projeto consideraram a adoccedilatildeo de um novo esquema

classificatoacuterio jaacute que na eacutepoca estavam disponiacuteveis sistemas classificatoacuterios

bibliograacuteficos em adiccedilatildeo a esquemas filosoacuteficos como o de Bacon Os esquemas

considerados foram Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey Classificaccedilatildeo Expansiva de

Cutter e o Esquema Halle de Hartwig (Hartwigrsquos Halle Schema utilizado na biblioteca

da universidade alematilde de Halle) Dessas diferentes possibilidades a Classificaccedilatildeo

Expansiva de Cutter foi escolhida por ser a mais apropriada para as necessidades

do Congresso e porque Cutter mostrou mais disposiccedilatildeo do que os outros dois

compiladores a fazer modificaccedilotildees em seu sistema para acomodar a Library of

Congress A CDD foi rejeitada sob o argumento de que era um lsquosistema limitado e

feito para acomodar a notaccedilatildeo e natildeo a notaccedilatildeo se acomodar agrave classificaccedilatildeorsquo Em

1901 uma decisatildeo eacute tomada e o objetivo inicial eacute mudado de ldquoencontrar a melhor

soluccedilatildeo para a coleccedilatildeo e natildeo criar uma nova classificaccedilatildeordquo para ldquodesenvolver um

novo sistema de classificaccedilatildeo especificamente para a LCrdquo Estaacute claro um seacuteculo

mais tarde que a Classificaccedilatildeo Expansiva teve uma consideraacutevel influecircncia no novo

esquema - principalmente na ordem das classes - e que a nova classificaccedilatildeo teve

ampla difusatildeo (BROUGHTON 2004 p 144)

A LCC eacute incomum entre os esquemas gerais porque ela foi originalmente

187

concebida para uma biblioteca uacutenica184 sem expectativa de vir a ser usada em

qualquer outra Entretanto desde as guerras mundiais principalmente desde a

Segunda Guerra Mundial muitas bibliotecas americanas decidiram mudar para a LCC

alegando a sua crescente popularidade entre bibliotecas universitaacuterias e de colleges

Um forte fator na decisatildeo de adaptar as suas coleccedilotildees a uma nova classificaccedilatildeo foi

tambeacutem a possibilidade de fazer uso do serviccedilo de fichas da LC evitando o trabalho de

recatalogaccedilatildeo dos livros nas diferentes bibliotecas Houve um esforccedilo para mostrar que

a mudanccedila se justificava natildeo soacute pelo aspecto praacutetico dos custos mas tambeacutem por ser

teoricamente aceitaacutevel e rigorosa Com o tempo transformou-se num dos trecircs

esquemas dominantes no mundo ocidental A fragilidade do esquema estaacute na carecircncia

de alguma conexatildeo maior entre as classes natildeo haacute facetas comuns nem iacutendice geral

Isso costuma ser superado pelo bibliotecaacuterio que usa a Lista de Cabeccedilalhos de

Assunto da LC uma praacutetica frequentemente inevitaacutevel poreacutem natildeo muito segura

A LCC eacute mais aplicada a grandes coleccedilotildees de bibliotecas universitaacuterias e

nacionais ainda que ela seja a escolha preferida de inuacutemeras bibliotecas puacuteblicas ou

escolares principalmente nos Estados Unidos sendo largamente utilizada nos Estados

Unidos Canadaacute Austraacutelia e Gratilde-Bretanha

452 Princiacutepios

Eacute difiacutecil discernir qualquer princiacutepio teoacuterico na LCC a despeito dela

apresentar algumas caracteriacutesticas distintas eacute uacutenica por ser uma classificaccedilatildeo

desenvolvida tendo somente uma coleccedilatildeo em mente e eacute fundamentada na maior

coleccedilatildeo de livros do mundo Eacute evidente que ela natildeo almeja uma organizaccedilatildeo

sistemaacutetica do saber Pretende tatildeo somente ser uma ferramenta para uma

organizaccedilatildeo praacutetica das obras da LC - primazia da praacutetica sobre a sistematizaccedilatildeo A

sua estrutura eacute ditada pela organizaccedilatildeo da biblioteca e natildeo por consideraccedilotildees

teoacutericas Esse aspecto pragmaacutetico retoma o ideaacuterio de Dewey Isso significa que na

LCC as consideraccedilotildees satildeo em relaccedilatildeo a grupos de livros e natildeo a grupos de

assuntos ou seja existe a primazia dos livros sobre as disciplinas Tal fato eacute visiacutevel

na construccedilatildeo das tabelas da LCC A ordem alfabeacutetica eacute usada excessivamente o

que eacute um reflexo da preocupaccedilatildeo americana com palavras em oposiccedilatildeo agrave

classificaccedilatildeo de conceitos (relembrando a corrente do nominalismo) e eacute uma

184 A LC biblioteca que congrega dois grandes objetivos ser a Biblioteca Nacional e a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos

188

desvantagem particularmente no uso de tecnologias A LCC estaacute frequentemente

mais preocupada com localizaccedilatildeo nas estantes e natildeo com classificaccedilatildeo ou

recuperaccedilatildeo de informaccedilatildeo

453 Construccedilatildeo

O esquema segue aproximadamente as classes principais de Cutter exceto

para Artes que se encontra no meio do esquema em vez de no fim Pouca atenccedilatildeo

eacute dada agrave ordem das classes principais visto que a LC eacute completamente

departamentalizada Cada classe eacute trabalhada separadamente a vantagem eacute que o

esquema acomoda bem literatura de imaginaccedilatildeo (ficccedilatildeo) e as necessidades

potenciais de usuaacuterios boa para grandes bibliotecas com poderosas coleccedilotildees

Observa-se que as criacuteticas os problemas de construccedilatildeo e necessidades de

adaptaccedilatildeo para muitas bibliotecas que tecircm adotado a LCC satildeo irrelevantes para a

LC tendo em vista que o esquema foi concebido para determinada biblioteca

A LCC conta com 21 classes principais que vatildeo de A a Z (quadro 34) e a

sequecircncia de ordenaccedilatildeo da LC iniciada pelas Humanidades seguida das Ciecircncias

Sociais reflete naturalmente a sua origem de especialidade em legislaccedilatildeo e aacutereas afins

Quando a LC incorporou a coleccedilatildeo pessoal do presidente Thomas Jefferson depois do

incecircndio expandiu o seu acervo para Artes Ciecircncia e Tecnologia

A General Works B Philosophy Psychology Religion C Auxiliary Sciences of History D History (General) and History of Europe E History America (General) F History America (EEUU) G Geography Anthropology Recreation H Social Sciences J Political Science K Law L Education M Music and Books on Music N Fine Arts P Language and Literature Q Science R Medicine S Agriculture T Technology U Military Science V Naval Science Z Bibliography Library Science Information

Resources (General) QUADRO 34 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DA BIBLIOTECA DO CONGRESSO FONTE Batley (2005 p 60-69)

189

Segundo vaacuterios autores entre eles Maniez (1993 p 114) Penna (1960 p

174) San Segundo Manuel (1996 p 93) e Serrai (1977 p 281) a LCC eacute efetiva

expansiva e permite grande atualizaccedilatildeo Poreacutem as suas classes desde a sua

criaccedilatildeo estatildeo impregnadas de valores conceitos e toacutepicos americanos (o que

coloca os Estados Unidos no centro do universo185) ela eacute pouco sistemaacutetica e o seu

esquema enumerativo resulta em rigidez e falta de hospitalidade O sistema estaacute

composto de classificaccedilotildees especiacuteficas para cada mateacuteria e entre elas natildeo existe

conexatildeo A independecircncia de cada grupo temaacutetico geral eacute grande pois desde o

projeto primitivo equipes especializadas trabalham isoladamente (o que explica o

fraco grau de inter-relacionamaento entre classes) e publicam suas tabelas de modo

totalmente independente As vaacuterias classes do esquema devem ser consideradas

separadamente como um esquema individual mas com a ampla garantia literaacuteria

(literary warrant) de todos Assim um assunto (disciplina classe) pode estar sendo

publicado em sua deacutecima ediccedilatildeo enquanto outros estariam em suas terceiras ou

quartas ediccedilotildees

Cabe frisar que natildeo se trata de um sistema classificatoacuterio conjunto e unitaacuterio

ao contraacuterio eacute um conjunto ou seacuterie de classificaccedilotildees amplas e especiais que natildeo

constituem em consequecircncia um compecircndio de disciplinas do conhecimento ou

seja o sistema eacute composto de classificaccedilotildees especiacuteficas para cada disciplina entre

as quais natildeo existem interconexotildees Inclusive as divisotildees (de forma) que trazem de

modo subjacente a noccedilatildeo de faceta e de categoria satildeo proacuteprias de cada classe o

que torna o esquema muito volumoso

454 Revisatildeo

A Cataloging Services Division da LC eacute responsaacutevel pela manutenccedilatildeo e

administraccedilatildeo geral da classificaccedilatildeo sendo uma enorme publicaccedilatildeo multi-volumes -

volumes individuais que satildeo atualizados quando necessaacuterio Em 2002 surgiu a

Classweb uma versatildeo online da LCC que convive com a versatildeo impressa

Alteraccedilotildees e adiccedilotildees agrave classificaccedilatildeo satildeo documentadas no Cataloging Services

Bulletin e incorporadas na Classweb (httpwwwlocgov)

185 A CDD padece do mesmo mal

190

46 CLASSIFICACcedilAtildeO DE ASSUNTOS DE BROWN (BSC - 1906)

A histoacuteria os princiacutepios a construccedilatildeo e a revisatildeo da Brown

Subject Classification (BSC) Classificaccedilatildeo de Assuntos de Brown satildeo tratados nas

subseccedilotildees que seguem

461 Histoacuteria

A Classificaccedilatildeo de Brown foi primeiramente publicada em 1906 e representou

a culminacircncia de um interesse que datava do iniacutecio de 1890 quando o bibliotecaacuterio

britacircnico James Duff Brown (1861-1914) estava preparando a introduccedilatildeo do sistema

de livre-acesso em Clerkenwell Brown fez duas tentativas antes de compilar a

Brown Subject Classification (Classificaccedilatildeo de Assuntos ou Classificaccedilatildeo Temaacutetica)

Em 1894 a Quinn-Brown Classification foi publicada em colaboraccedilatildeo com John

Henry Quinn seguida pela Adjustable Classification (Classificaccedilatildeo Ajustaacutevel ou

Adaptaacutevel) em 1898 A uacuteltima foi desenvolvida a partir do esquema Quinn-Brown e

as classes principais e divisotildees visavam tatildeo somente atender as necessidades das

pequenas bibliotecas municipais da Inglaterra (LANDAU 1958 p 292)

Stewart (1914 p 239-242) fala da preocupaccedilatildeo de Brown em 1897 com a

grande perda de eficiecircncia das bibliotecas em razatildeo da inadequaccedilatildeo dos arranjos de

livros existentes A classificaccedilatildeo de Dewey tornava-se cada vez mais popular

embora houvesse reclamaccedilotildees que o esquema dava excessiva ou inapropriada

proeminecircncia agraves caracteriacutesticas e feitos americanos Brown decidiu construir um

esquema simples loacutegico e praacutetico que viesse ao encontro das necessidades das

bibliotecas britacircnicas de todos os tipos e tamanhos (BROWN 1906 Preface)

462 Princiacutepios A Classificaccedilatildeo de Assuntos surgiu como uma reaccedilatildeo ao esquema de

classificaccedilatildeo de Dewey Iniciou portanto a partir de uma negaccedilatildeo A ideacuteia principal eacute

que os assuntos (as classes) satildeo concretos As subdivisotildees de um assunto satildeo

aspectos desse concretismo (primazia do que eacute concreto) e satildeo tratadas numa

combinaccedilatildeo de esquemas principais e tabelas categoriais o que permite o uso de

indicador de faceta (+) para ligar dois assuntos coordenados A ideacuteia de tabelas

categoriais estaacute sintonizada com a Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo (cf subseccedilatildeo 41)

ou seja com a ideacuteia de conferir autonomia ao classificador para fazer as combinaccedilotildees

do que ele considera ser os assuntos O grande problema estaacute na carecircncia de meacutetodos

191

de combinaccedilatildeo autorizados A ideacuteia de Brown de divisotildees artificiais entre assuntos

teoria e aplicaccedilatildeo eacute uma das maiores deficiecircncias do esquema

Brown natildeo defendeu qualquer teoria para o seu esquema de classificaccedilatildeo mas

defendia certos princiacutepios de classificaccedilatildeo razatildeo pela qual natildeo deve ser totalmente

ignorado no estudo da Classificaccedilatildeo

a) colocaccedilatildeo da teoria antes da praacutetica pela disposiccedilatildeo das ciecircncias

junto da qual elas derivam

b) inclusatildeo de toacutepicos que permeiam todo o conhecimento na classe

Generalidade por exemplo Educaccedilatildeo A100 e Loacutegica e Matemaacutetica

A400 satildeo consideradas ciecircncias que estatildeo presentes no

conhecimento em geral e precedem as ciecircncias que satildeo aplicaccedilotildees

dessas

c) teoria do lugar uacutenico (one place theory) a qual recomenda que

somente um lugar deve existir para um assunto assim o nuacutemero para

cafeacute no iacutendice eacute E917 e esta notaccedilatildeo deve reunir tudo o que se

relaciona a cafeacute natildeo importando ponto de vista forma ou outra

qualificaccedilatildeo186

d) uma tabela de categorias (detalahada a seguir) e formas para a

subdivisatildeo dos assuntos

e) um iacutendice de lugar uacutenico com uma chave alfabeacutetica separada para

as tabelas categoriais

f) classificaccedilatildeo de livros de assuntos compostos (vaacuterios assuntos) pela

reuniatildeo das classes por meio do sinal de adiccedilatildeo (+) por exemplo

Loacutegica e Retoacuterica A300 + M170

g) a sequecircncia das classes principais segue a ordem do agrupamento

mais amplo ou geneacuterico 1 Mateacuteria 2 Vida 3 Mente e 4 Registro

Na introduccedilatildeo do seu esquema Brown relata que rdquocada classe eacute arranjada

tanto quanto possiacutevel for mantecirc-la em uma ordem sistemaacutetica de progressatildeo

cientifica enquanto aplicaccedilotildees diretamente derivadas de uma ciecircncia ou outra base

186 Foi com base nesse princiacutepio que Brown afirmou que todos os trabalhos relativos a um assunto simples deviam permanecer juntos e justapostos a outros trabalhos livros ou toacutepicos a ele relacionados Estava convencido de que as principais divisotildees do esquema de classificaccedilatildeo satildeo suscetiacuteveis de muitas mudanccedilas mas o assunto especiacutefico natildeo deve mudar assumindo portanto no seu esquema a relatividade dos sistemas de classificaccedilatildeo Esse novo meacutetodo de uniatildeo de todos os aspectos de um assunto em um lugar possibilitou a negaccedilatildeo do meacutetodo da classificaccedilatildeo feita por especialistas

192

teoacuterica satildeo embasadas naquela ciecircncia ou baserdquo As palavras significativas satildeo ldquotanto

quanto possiacutevel for mantecirc-lardquo (BROWN 1906 Introduction p 11) pois Brown deixa

de lado todas as outras consideraccedilotildees para preservar essa progressatildeo cientiacutefica

Muacutesica segue Acuacutestica extintores de incecircndio e equipamentos para fogo

tornam-se uma divisatildeo de Calor sateacutelites satildeo derivados da Meteorologia enquanto

briga de buacutefalo e corrida de cachorro satildeo partes da Biologia Brown sofreu criacuteticas

por levar essa teoria a extremos mas eacute inegaacutevel o valor dos seus princiacutepios agrave

classificaccedilatildeo

As falhas mais seacuterias na subdivisatildeo de classes satildeo a inutilidade da ordem em

Ciecircncia Poliacutetica e Social a rejeiccedilatildeo de um consenso na construccedilatildeo da classe

Generalidade e o arranjo alfabeacutetico de Poesia Drama e Ensaios

A notaccedilatildeo consiste de letras capitais A-X seguidas por nuacutemeros 000-999 Um

sinal de pontuaccedilatildeo () age como um dispositivo de separaccedilatildeo

A tabela categorial consiste de uma lista de formas fases pontos de vista e

qualificadores para as subdivisotildees de assuntos Os seus nuacutemeros vatildeo de 0

(Generalidades) a 975 (Ocidente) e Brown alega que ela se aplica mais ou menos a

todo assunto ou subdivisatildeo de um assunto Para Butcher (1971 p 369) esse

procedimento eacute confuso ambiacuteguo impreciso e desnorteante pois muitos nuacutemeros

categoriais satildeo supeacuterfluos na praacutetica e natildeo podem ser razoavelmente combinados

com alguns nuacutemeros de assuntos enquanto existe o perigo de adicionar de maneira

prematura partes componentes ou elementos em uma composiccedilatildeo quando o passo

fundamental na divisatildeo ainda natildeo foi feito Outra desvantagem da tabela eacute que em

alguns casos mais do que um nuacutemero categorial eacute necessaacuterio Isso leva a notaccedilotildees

confusas e longas

Brown tentou construir um esquema de classificaccedilatildeo que reunisse tudo

relativo a um assunto em um lugar constante ou infaliacutevel Por causa desse princiacutepio

a rede de relaccedilotildees eacute relegada a uma significaccedilatildeo secundaacuteria e a chance de distribuir

relaccedilotildees no iacutendice eacute pequena O iacutendice da BSC registra todas as palavras dos

assuntos que ocorrem nas tabelas e muitos sinocircnimos Tambeacutem age como um guia

para alguns toacutepicos natildeo-numerados tais como eventos histoacutericos em paiacuteses de

regime monaacuterquico O criteacuterio essencial para usar o iacutendice de Brown eacute conhecer o

seu ponto de vista a respeito do princiacutepio de subordinaccedilatildeo universal como por

exemplo Arquitetura ser um assunto concreto tangiacutevel soacutelido fiacutesico material real

precedido pela Matemaacutetica

193

Natildeo haacute literalmente recursos mnemocircnicos no esquema de Brown e a ajuda

da memoacuteria deriva principalmente de caracteriacutesticas sinteacuteticas tais como nuacutemeros

categoriais e de paiacuteses (nacionais)

Segundo Butcher (1971 p 369) natildeo seria absurdo dizer que a BSC reflete as

limitaccedilotildees da abordagem de Brown para a classificaccedilatildeo bibliograacutefica Ele era

essencialmente um homem praacutetico com uma tendecircncia agrave improvisaccedilatildeo e possuidor

de uma determinaccedilatildeo poderosa para resolver qualquer problema que despertasse a

sua atenccedilatildeo O seu envolvimento no campo da classificaccedilatildeo emanou de

consideraccedilotildees praacuteticas e ele acreditava que os pontos que ele advogava isto eacute

localizaccedilatildeo uacutenica aproximccedilatildeo da teoria com a sua aplicaccedilatildeo e um iacutendice simples

livraria os bibliotecaacuterios das dificuldades associadas ao arranjo de livros

Pode-se dizer que Brown em alguma medida foi bem sucedido em alguma

medida em seu tempo desenvolveu uma classificaccedilatildeo bibliograacutefica sistemaacutetica

tentou simplificar o trabalho profissional da classificaccedilatildeo de livros demonstrou a

possibilidade de caracteriacutesticas sinteacuteticas promoveu uma efetiva notaccedilatildeo mista e

focou a sua atenccedilatildeo na necessidade de esquemas que respeitassem o consenso

comum e o obedecessem Apesar de o esquema estar fortemente influenciado pelo

pensamento intelectual do periacuteodo a enumeraccedilatildeo limitada de compostos (partes

combinadas) antecipou o desenvolvimento da anaacutelise em facetas e revelou uma

tentativa de agrupamento contribuindo com novos meacutetodos de organizaccedilatildeo para a

Teoria da Classificaccedilatildeo

463 Construccedilatildeo

Na construccedilatildeo do seu esquema Brown foi guiado pela experiecircncia praacutetica que

ele ganhou na preparaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo dos esquemas Quinn-Brown e Ajustaacutevel mas

eacute provaacutevel que ele tenha sido influenciado pelo esquema de Dewey e pelos escritos

de Paul Otlet sobre classificaccedilatildeo

A ordem das classes principais eacute embasada em MATEacuteRIA VIDA MENTE e

REGISTRO (Matter Life Mind Record) ou seja o esquema de Brown agrupa os termos

pelas categorias conceituais ldquoMateacuteria e Forccedilardquo ldquoVidardquo ldquoMenterdquo ldquoRegistrordquo e ordena-os de

maneira a mostrar suas relaccedilotildees geneacutericas Com esse procedimento Brown pretende

colocar cada tema o mais proacuteximo possiacutevel da ciecircncia que o fundamenta (SAN

SEGUNDO MANUEL 1996 p 93) Tal esquema tem como base evitar a designaccedilatildeo de

um lugar concreto para cada livro (como faz a classificaccedilatildeo decimal) o que eacute substituiacutedo

por uma certa ordem de classes e uma certa ordem loacutegica (quadro 35)

194

TABLE OF MAIN CLASSES

ORDEM DE CLASSES ORDEM LOacuteGICA A Generalia Generalidade B-D Physical Science MATTER AND FORCE Ciecircncias Fiacutesicas MATEacuteRIA E FORCcedilA E-F Biological Science LIacuteFE Ciecircncias Bioloacutegicas VIDA G-H Ethnological and Medical Science Ciecircncias Meacutedicas e Etnoloacutegicas I Economic Biology and Domestic Arts Biologia Econocircmica e Artes Domeacutesticas J-K Philosophy and Religion MIND Filosofia e Religiatildeo MENTE L Social and Political Science Ciecircncias Sociais e Poliacuteticas M Language and Literature RECORD Liacutengua e Literatura REGISTRO N Literary Forms Gecircneros Literaacuterios O-W History Geography Histoacuteria Geografia X Biography Biografia

QUADRO 35 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DE ASSUNTOS DE BROWN FONTE Landau (1958 p 292) Butcher (1971 p 368)

A notaccedilatildeo das classes principais eacute alfabeacutetica de A a X exceccedilatildeo agrave letra Y e agrave Z

que natildeo satildeo usadas A subdivisatildeo dessas classes eacute numeacuterica de 000 a 999 (PHILLIPS

1961 p 124) Por exemplo

Manual da Constituiccedilatildeo de 1918

Ciecircncias Sociais e Poliacuteticas L (classe principal)

Constituiccedilotildees 202 (subdivisatildeo da classe principal L)

Manual 3 (subdivisatildeo de forma)

1918 sa (subdivisatildeo cronoloacutegica)

Notaccedilatildeo L2023sa

As classes compreendidas entre O e W ou seja a Histoacuteria e a Geografia satildeo

representadas acrescentando-se o nuacutemero 10 para indicar Histoacuteria e o 23 para indicar

Geografia Existem ainda subdivisotildees geograacuteficas com uma notaccedilatildeo alfanumeacutercia por

exemplo

Geografia da Europa

O-W (classes principais de Histoacuteria e Geografia)

Q000 (subdivisatildeo geograacutefica Europa)

195

23 (Geografia)

Notaccedilatildeo Q00023

Histoacuteria da Inglaterra de 1900

O-W (classes principais de Histoacuteria e Geografia)

U301 (subdivisatildeo geograacutefica Inglaterra)

10 (Histoacuteria)

ri(subdivisatildeo cronoloacutegica 1900)

Notaccedilatildeo U30110ri

Observa-se no quadro 35 que para Brown categorias satildeo macroestruturas

utilizadas na agregaccedilatildeo das classes principais da BSC Satildeo onze classes principais

distribuiacutedas segundo quatro categorias Mateacuteria e Forccedila (representadas pela Fiacutesica)

Vida (representada pelas Ciecircncias Bioloacutegicas) Mente (representada pela Filosofia

Religiatildeo Ciecircncias Sociais e Poliacuteticas) e Registro (representado por Liacutengua

Literatura Formas Literaacuterias Histoacuteria Geografia e Biografia) A base do sistema da

BSC segue a ordem do aparecimento das coisas no tempo a Mateacuteria e a Forccedila geram

a Vida essa produz Inteligecircncia e a Inteligecircncia o Registro dos fatos (PHILLIPS 1961

p 110-111) Em 1651 na classificaccedilatildeo filosoacutefica dos seres de Hobbes havia uma

loacutegica desse tipo segundo a qual o ser da mateacuteria (Mateacuteria e Forccedila) se revela na sua

extensatildeo (Vida ou realidade do corpo e da mente) e no seu movimento (Registro ou

espaccedilo e tempo como reflexos do movimento)

Esse conceito de categoria coincide com antigos conceitos filosoacuteficos (cf nota

90) O que Brown chama de categoria pode ser considerado como uma agregaccedilatildeo

particular de grandes classes Percebe-se que Brow equipara o conceito de categoria

ao de classe maior

Embora prevaleccedilam as consideraccedilotildees de ordem praacutetica e utilitaacuteria (cf

Butcher p 192 193194) pode-se dizer que a sequecircncia de ordenaccedilatildeo do esquema

de classificaccedilatildeo de Brown estaacute na mesma linha de raciociacutenio que embasou o

esquema de Dewey Inicia pelas Ciecircncias Fiacutesicas e Bioloacutegicas seguidas das

Ciecircncias Humanas e Sociais terminando nos Registros do conhecimento ou seja

nas diferentes maneiras de expressatildeo humana Assim sendo o que acaba por

justificar a introduccedilatildeo de Brown na discussatildeo das classificaccedilotildees bibliograacuteficas

claacutessicas eacute a semelhanccedila com o sistema de Dewey ou seja o pragmatismo

196

464 Revisatildeo

A Classificaccedilatildeo de Brown teve trecircs ediccedilotildees a primeira em 1906 a segunda

ediccedilatildeo do esquema revisada por Brown foi publicada logo apoacutes a sua morte em

1914 e a terceira ediccedilatildeo editada por J D Stewart apareceu em 1939 e incluiacutea

mudanccedilas e alteraccedilotildees sugeridas por bibliotecaacuterios de vaacuterias instituiccedilotildees do Reino

Unido que ainda usavam o esquema

A Classificaccedilatildeo de Assuntos desapareceu como classificaccedilatildeo praacutetica mesmo

nas bibliotecas em que foi introduzida pelo proacuteprio Brown Natildeo houve qualquer

interesse em escrever uma Teoria da Classificaccedilatildeo que fornecesse a base de

qualquer meacutetodo escolhido por Brown para o seu esquema

Eacute interessante notar que um esquema desenhado para uso praacutetico

permanece de interesse principalmente para propoacutesitos teoacutericos ou acadecircmicos

47 CLASSIFICACcedilAtildeO DOS DOIS PONTOS (CC - 1933)

A histoacuteria os princiacutepios a construccedilatildeo e a revisatildeo da Colon Classification

(CC) Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos satildeo tratados nas subseccedilotildees que seguem

471 Histoacuteria

A Colon Classification (CC) ou Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos elaborada por

Shiyali Ramamrita Ranganathan (1892-1972) quando retorna agrave India depois do

periacuteodo de estudos com Berwick Sayers na Inglaterra estudos fundamentados na

Teoria da Classificaccedilatildeo que tinha por suporte a loacutegica aristoteacutelica constitui o primeiro

sistema de classificaccedilatildeo bibliograacutefica geral embasado no princiacutepio analiacutetico-sinteacutetico

(esquema facetado ou de anaacutelise187 por facetas) o que significou uma revoluccedilatildeo na

construccedilatildeo de esquemas classificatoacuterios tornando-se um marco histoacuterico na Teoria da

Classificaccedilatildeo A CC foi primeiramente concebida em 1924 e publicada em 1933 pela

Madras Library Association Por volta dos anos 50 do seacuteculo XX Ranganathan obteacutem

o reconhecimento internacional para o seu sistema de classificaccedilatildeo Segundo Satija e

Singh (1993 preface) no iniacutecio de sua implantaccedilatildeo houve uma total rejeiccedilatildeo da

classificaccedilatildeo facetada por parte dos Estados Unidos mas ao longo do tempo

verificou-se que a anaacutelise por facetas passou a exercer uma influecircncia consideraacutevel

187 O uso do termo anaacutelise eacute um substituto para o uso do antigo termo divisatildeo porque divisatildeo implica a quebra de uma entidade elementar enquanto o termo anaacutelise tem uma conotaccedilatildeo de grande extensatildeo e pode ser aplicado ao estudo de entidades complexas

197

natildeo soacute nas revisotildees e modernizaccedilotildees da CDD como tambeacutem na teoria e praacutetica da

classificaccedilatildeo na Gratilde-Bretanha Ruacutessia China Yugoslaacutevia Dinamarca entre outros Na

Iacutendia a CC eacute de fato o sistema de classificaccedilatildeo nacional

O CRG declarou que iniciava para a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo a era da

classificaccedilatildeo facetada (CLASSIFICATION 1955 p 262-268)

A CC natildeo era um esquema derivado hierarquicamente mas um conjunto de

tabelas independentes que podiam ser usadas em combinaccedilatildeo para subdividir os

assuntos A diferenccedila baacutesica entre uma classificaccedilatildeo facetada e uma meramente

enumerativa eacute que na facetada os termos satildeo enumerados listados detalhados

especificados catalogados como termos elementares e natildeo satildeo combinados formando

termos complexos para inserccedilatildeo nas listas do esquema (FOSKETT A C1972)

A fim de encontrar uma base teoacuterica para a escolha e sequecircncia de facetas

no esquema Ranganathan encontrou a soluccedilatildeo ao relacionar o termo facetas a um

conjunto de noccedilotildees abstratas fundamentais que chamou de categorias time space

energy matter e personality (PMEST)188 Cada faceta de uma classe baacutesica eacute

considerada como uma manifestaccedilatildeo concreta de uma dessas categorias Natildeo haacute

duacutevida de que essas categorias fundamentais satildeo facilmente identificaacuteveis em

alguns assuntos e particularmente em Ciecircncia e Tecnologia Desafortunadamente

natildeo eacute tatildeo faacutecil a sua aplicaccedilatildeo nas Ciecircncias Sociais e nas Humanidades189 O CRG

188 Conforme Vickery (1958 apud GROLIER 1962 p 49) pode-se identificar a categoria personalidade agrave ideacuteia de substacircncia aristoteacutelica Para Grolier no entanto em personalidade satildeo tratados os objetos de estudo de uma disciplina determinada tal como eles servem comumente de base agrave divisatildeo tradicional dessa disciplina ou como a CC considera como mais praacutetica Segundo o seu ponto de vista a personalidade natildeo eacute assim considerada como tendo valor teoacuterico mas como constituindo uma simples etiqueta colocada sobre as caracteriacutesticas das coisas de modo mais ou menos arbitraacuterio para constituir as divisotildees hieraacuterquicas de primeiro niacutevel numa classificaccedilatildeo que procura exprimir diferentes pontos de vista mas que admite como indispensaacutevel a existecircncia de uma ordem fixa e imutaacutevel entre os seus elementos Segundo Grolier as divisotildees sob personalidade nas diversas classes principais da CC mostram que se trata apenas de uma racionalizaccedilatildeo a posteriori de um meacutetodo absolutamente praacutetico (GROLIER 1962 p49) A categoria energia trata geralmente de problemas e accedilotildees diferentemente manifestadas conforme as classes de assunto em que ocorrem por exemplo em Mecacircnica diz respeito ao movimento ao equiliacutebrio agrave vibraccedilatildeo jaacute em Astronomia refere-se agrave cronologia geodeacutesia cosmogonia entre outras Em Fiacutesica diz respeito a problemas como por exemplo radiaccedilatildeo propagaccedilatildeo dispersatildeo etc A terceira categoria geral eacute mateacuteria e diz respeito aos materiais de construccedilatildeo constituiccedilatildeo como por exemplo a mateacuteria de que satildeo feitas as esculturas em Artes ou os instrumentos na Muacutesica As categorias tempo e espaccedilo tratam respectivamente de divisotildees temporais e geograacuteficas tanto distribuiacutedas pelas classes de assunto como fazendo parte de uma tabela em separado 189 A faceta tempo eacute para divisatildeo cronoloacutegica a faceta espaccedilo eacute para divisatildeo geograacutefica e podem ser encontradas virtualmente em todos os sistemas de classificaccedilatildeo Energia e mateacuteria natildeo satildeo tatildeo facilmente identificaacuteveis em alguns assuntos e personalidade tem causado mais dificuldades e controveacutersias do que qualquer outra categoria fundamental Para Ranganathan eacute a mais importante categoria eacute aquela que conteacutem os termos que atribuem agrave classe a sua identidade no campo do conhecimento

198

tem tentado seguir uma abordagem mais pragmaacutetica para providenciar uma

ferramenta mais poderosa para a anaacutelise de assuntos para a classificaccedilatildeo de

documentos e para a estrateacutegia de busca na recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo (FOSKETT

A C 1972 p 338-346)

A maior limitaccedilatildeo agrave CC eacute que ela natildeo eacute utilizada em muitas bibliotecas Isso eacute

verdade ainda que ela tenha sido testada primeiro em milhares de volumes da

Madras University Library e seja usada em muitas bibliotecas governamentais da

Iacutendia As razotildees de acordo com Batley (2005 p 111) podem ser em primeiro lugar

a CDD a CDU e a LCC os esquemas mais utilizados tecircm se mostrado

perfeitamente adequados para coleccedilotildees gerais de bibliotecas pois tecircm cobertura

compreensiva satildeo relativamente faacuteceis de usar e providenciam uma ordem

satisfatoacuteria de materiais nas estantes e em segundo natildeo muitas bibliotecas

estariam dispostas a enfrentar a enorme tarefa de re-classificar suas coleccedilotildees jaacute

que as classificaccedilotildees facetadas surgem depois de as bibliotecas terem adotado a

CDD a CDU ou a LCC para organizar os seus materiais Aleacutem das razotildees

apresentadas eacute possiacutevel que a pouca utilizaccedilatildeo da CC se deva agrave sua complexidade

mas principalmente agrave sua origem (por ser a Iacutendia um paiacutes perifeacuterico)190

472 Princiacutepios

Para Ranganathan de acordo com Gopinath (2001 p 83-90) a classificaccedilatildeo

e os sistemas de classificaccedilatildeo natildeo eram somente teacutecnicas mas tambeacutem e sempre

estruturas teoacutericas com implicaccedilotildees filosoacuteficas Ele mostrou ao mundo que a

classificaccedilatildeo eacute a base da organizaccedilatildeo do conhecimento e que essa organizaccedilatildeo eacute

importante para a recuperaccedilatildeo de informaccedilatildeo

Na deacutecada de 1930 do seacuteculo passado Ranganathan desenvolveu a Teoria

da Classificaccedilatildeo Facetada tambeacutem chamada de Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo

(cf subseccedilatildeo 41) explicitando os princiacutepios utilizados na elaboraccedilatildeo da

Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos (esquema confeccionado tendo em mente o acervo

da Biblioteca da Universidade de Madras na Iacutendia) Ranganathan foi o primeiro no

acircmbito da Classificaccedilatildeo a apresentar as bases teoacutericas de um sistema de

classificaccedilatildeo Na realidade ele elabora denso trabalho teoacuterico para explicar a

190 Ranganathan acreditava que o grande salto da Iacutendia passar de paiacutes em desenvolvimento para desenvolvido soacute poderia ser possiacutevel pela utilizaccedilatildeo de Informaccedilatildeo uacutetil Informaccedilatildeo uacutetil para ele era aquela recuperada de conformidade com a necessidade do solicitante

199

construccedilatildeo da Tabela e ainda apresenta uma teoria soacutelida e fundamentada que

confere agrave Classificaccedilatildeo Bibliograacutefica o status de disciplina independente

(RANGANATHAN 1957)

Kumar (1981 p 409) pesquisador indiano da Classificaccedilatildeo afirma que

Ranganathan se beneficiou dos trabalhos de Cutter Hulme Brown Sayers Bliss

entre outros principalmente pela oportunidade que teve de melhorar a sua teoria ao

experimentaacute-la por um periacuteodo de quarenta anos Periacuteodo no qual elaborou uma

classificaccedilatildeo formulou uma teoria aplicou essa teoria agrave classificaccedilatildeo testou a sua

teoria com a ajuda de princiacutepios normativos produziu uma terminologia teacutecnica

proacutepria e natildeo hesitou em adotaacute-la Pode-se mesmo dizer que a base bramacircnica e

matemaacutetica de Ranganathan forneceu-lhe uma mente clara e loacutegica capaz de

sistematizar o estudo e a praacutetica da Classificaccedilatildeo

Pode-se dizer tambeacutem que Ranganathan ao perceber que a Classificaccedilatildeo

Decimal de Dewey apesar de muito utilizada estava sempre passando por

alteraccedilotildees e adaptaccedilotildees e verificar que esse sistema natildeo dispunha de um ldquolugarrdquo

para os novos assuntos considerou a CDD191 ao propor uma reformulaccedilatildeo da

Teoria da Classificaccedilatildeo a partir da qual foi possiacutevel libertar a classificaccedilatildeo da rigidez

do pensamento e sugerir um instrumento potencialmente flexiacutevel e capaz de

otimizar a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo

A CC eacute uma classificaccedilatildeo universal como a CDD Mas nela a unidade

semacircntica de base natildeo eacute mais o assunto eacute o conceito (chamado de ldquoisoladordquo dentro

da linguagem da CC) As tabelas dessa classificaccedilatildeo satildeo entatildeo listas de conceitos

Os termos das listas satildeo hierarquizados e cada conceito eacute expresso por um termo

linguiacutestico e por um iacutendice alfanumeacuterico Isso constitui uma primeira classificaccedilatildeo

aquela dos termos-conceitos que eacute do tipo tradicional e integrado ao sistema (agraves

tabelas das facetas por domiacutenio) Essa classificaccedilatildeo dos assuntos constitui a

verdadeira classificaccedilatildeo em facetas da CC do tipo analiacutetico-sinteacutetica Para

Ranganathan essa expressatildeo significa que os documentos satildeo desde o iniacutecio

analisados em facetas segundo as categorias da sigla PMEST pois os assuntos satildeo

sintetizados graccedilas agrave sintaxe e agrave notaccedilatildeo

191 Exemplos de textos em que Ranganathan compara os dois sistemas de classificaccedilatildeo RANGANATHAN S R Decimal and Colon Classification reviewed in perspective In ALL INDIA LIBRARY CONFERENCE 6 Proceedingshellip 1944 p 52-56 e RANGANATHAN S R Fine art in the Decimal and Colon classification In ALL INDIA LIBRARY CONFERENCE 6 Proceedingshellip 1944 p 80-82

200

A CC eacute publicada em um volume contendo listas de isolados comuns classes

principais e suas subdivisotildees (subclasses) e um iacutendice A sua ordem de citaccedilatildeo inicia

pela faceta mais concreta (a faceta que eacute citada primeiro determinaraacute o lugar do livro

na estante) e eacute controlada pela foacutermula192 PMEST (Personalidade + Mateacuteria +

Energia + Espaccedilo + Tempo)193 Na CC cada faceta eacute introduzida pela marca de pontuaccedilatildeo distintiva (quadro

36) que separa os iacutendices elementares assinalando a troca de categoria ou faceta e

ajudando a fragmentar a notaccedilatildeo que desse modo torna-se mais faacutecil de memorizar

CATEGORIAS FUNDAMENTAIS

SIacuteMBOLOS DE CONEXAtildeO SIacuteMBOLOS PARA AS FACETAS

Personalidade viacutergula [P]

Mateacuteria ponto e viacutergula [M]

Energia dois pontos [E]

Espaccedilo ponto [S]

Tempo lsquo apoacutestrofe [T]

QUADRO 36 - CATEGORIAS FUNDAMENTAIS DE RANGANATHAN FONTE Batley (2005 p 114) Harrod (1977 p 358) NOTA o sinal dois pontos (colon em inglecircs) deu o seu nome agrave CC

192 Ranganathan no iniacutecio de uma longa pesquisa visando racionalizar e reduzir ao essencial as leis de funcionamento da linguagem natural tentando adaptar a sua foacutermula sumaacuteria agrave complexidade dos assuntos reais estava convencido de ter descoberto a lsquosintaxe absolutarsquo de enunciaccedilatildeo dos assuntos Essa sintaxe de acordo com Maniez (1999 p 253) levou Ranganathan a recorrer a um arsenal de regras e de exceccedilotildees obscuras e complicadas que comprometem as promessas de simplicidade da foacutermula Ranganathan postula que cada faceta de todo assunto assim como cada divisatildeo de uma faceta deve ser considerada como a manifestaccedilatildeo de uma das cinco categorias fundamentais ou de um dos cinco aspectos da realidade A faceta Personalidade eacute sempre precedida da indicaccedilatildeo de um domiacutenio ou de uma disciplina destinada a situar o contexto do documento e que traacutes o nome de faceta principal Grosso modo em outros termos encontram-se aqui novamente os elementos principais de uma proposiccedilatildeo gramatical sujeito ou objeto (Personalidade) verbo (Energia) complemento determinante (Mateacuteria) complementos de tempo e de lugar (Espaccedilo e Tempo) 193 Para maior precisatildeo eacute bom lembrar concordando com Maniez (1999) que o equivalente das facetas Espaccedilo e Tempo da CC jaacute existia na CDD e na CDU sob o nome de lsquodivisotildees comunsrsquo e que os iacutendices correspondentes poderiam ser reunidos ao iacutendice principal sob a forma de sufixos O princiacutepio de uma combinaccedilatildeo de iacutendices na formulaccedilatildeo de um assunto natildeo era novo em 1924 Mas essencialmente essas classificaccedilotildees eram do tipo enumerativo e os seus iacutendices principais eram fixos e preacute-coordenados Algumas diferenccedilas entre essas linguagens classificatoacuterias enquanto o iacutendice da CDD eacute tirado de uma lista fechada de assuntos potenciais o da CC eacute composto de iacutendices elementares segundo um esquema de facetas preacute-estabelecido enquanto a especificidade do assunto eacute obtida na CDD por uma seacuterie de subdivisotildees que a cada etapa restringe o seu espaccedilo na CC ela eacute expressa pela combinaccedilatildeo de termos escolhidos como em uma frase da linguagem natural

201

Classificadores familiarizados com a CC podem reconhecer o tipo de faceta

ao longo da construccedilatildeo da notaccedilatildeo Isso eacute muito importante porque o mesmo

siacutembolo particularmente o mesmo nuacutemero pode significar coisas diferentes em

diferentes facetas Por exemplo 4 significa Desenho na faceta energia de

Engenharia mas o nuacutemero 4 eacute um conceito diferente na faceta lugar em que 4

significa Aacutesia (com o ponto introduzindo a faceta lugar e o 4 representando Aacutesia)

(BATLEY 2005 p 115)

Eacute muito raro que todas as cinco facetas sejam usadas na classificaccedilatildeo do

mesmo trabalho Entretanto frequentemente dois ou mais niacuteveis da faceta

personalidade satildeo necessaacuterios Para construir uma notaccedilatildeo o classificador deve

procurar os conceitos no iacutendice alfabeacutetico O iacutendice indica em quais classes

principais (domiacutenios de base) ocorrem esses conceitos que permitem esclarecer a

faceta principal e que tambeacutem frequentemente indica quais facetas aplicar ao

conceito Dessa maneira o classificador combina os elementos usando a foacutermula

PMEST e fazendo uso da pontuaccedilatildeo apropriada para introduzir as vaacuterias facetas

dependendo da ecircnfase do trabalho e das necessidades da coleccedilatildeo194

Por exemplo ao procurar o termo fogo (fire) no iacutendice encontra-se o sequinte

Fogo (fire) E [E] 2131 J KZ L [E] 4 [2P] 91 Y[E] 4351 381

Argila referataacuteria (fire clay) H2 [P] 3311

Grisu (fire damp = gaacutes inflamaacutevel contido nas minas de carvatildeo e que encerra

quantidades variaacuteveis de metano) HZ [E] 41

Seguro contra fogo (fire insurance) X [P] 8191

Lareira (fire place) NA [P3] 2 to 9 [P4] 94

A partir do iacutendice e consultando as tabelas chega-se agrave seguinte interpretaccedilatildeo

O fogo aparece na faceta energia em Quiacutemica (E) com o nuacutemero de

classificaccedilatildeo 2131 (Quiacutemica-Fiacutesica) resultando na notaccedilatildeo E2131

O fogo aparece como uma causa de doenccedila em Agricultura Zootecnia e

Medicina sendo encontrado na faceta de personalidade de segundo ciclo depois de

doenccedila resultando na notaccedilatildeo J491 para Agricultura KZ491 para Zootecnia e

194 Por exemplo na seacutetima ediccedilatildeo da CC (1989) o domiacutenio Educaccedilatildeo conta com mais ou menos duzentos (200) termos sob a faceta Personalidade e com mais ou menos sessenta (60) sob cada uma das facetas Mateacuteria e Energia A reparticcedilatildeo dos termos eacute assegurada pelo sistema o que evita para o indexador as dificuldades de interpretaccedilatildeo Poreacutem como bem salienta Maniez (1999 p 253) observa-se que essa reparticcedilatildeo eacute largamente empiacuterica

202

L491 para Medicina

O fogo aparece duas vezes em Sociologia na faceta de energia Y4351

designa o fogo como causa da miseacuteria enquanto Y381 designa o fogo como um

elemento usado para cozinhas aquecer etc

O argila refrataacuteria aparece na faceta personalidade de Petrologia como uma

forma de rocha resultando na notaccedilatildeo H23311

O gaacutes inflamaacutevel grisu aparece na faceta energia em Mineraccedilatildeo resultando

na notaccedilatildeo HZ41

O seguro contra incecircndio eacute um ramo de seguros em Economia resultando na

notaccedilatildeo X8191

A lareira eacute um componente que aparece no quarto niacutevel de personalidade em

Arquitetura podendo estar subordinado a qualquer um dos tipos de edifiacutecios

enumerados no terceiro niacutevel como lareiras em casas em preacutedios etc resultando

na notaccedilatildeo NA394

As subdivisotildees das classes canocircnicas195 satildeo formuladas com notaccedilatildeo

alfanumeacuterica por exemplo

R Filosofia

R1 Loacutegica

R111 Loacutegica Indutiva

R112 Loacutegica Dedutiva

R2 Epistemologia

Uma vez localizado o assunto de um documento na tabela das classes

principais ou gerais pode-se delimitaacute-lo mediante a combinaccedilatildeo de categorias que

aplicadas iratildeo assinalar as facetas A categoria personalidade eacute equivalente agrave

substacircncia aristoteacutelica ou seja a primeira atribuiccedilatildeo do ser Para Aristoacuteteles o ser se

diz em uma pluralidade de sentidos e esses sentidos do ser eacute que satildeo denominados

categorias Ranganathan recorre agrave concepccedilatildeo aristoteacutelica e agrave tradiccedilatildeo das antigas

195 Cannonical class esse termo em inglecircs corresponde agrave subdivisatildeo tradicional de cada classe principal Eacute a classe estrito senso segundo os cacircnones

203

escolas Mimansa e Prabhakara196 para extrair daiacute a foacutermula que permite agrupar

itens do conhecimento (categorias fundamentais)

A ordem de citaccedilatildeo dos conceitos para formaccedilatildeo dos siacutembolos de

classificaccedilatildeo dos assuntos compostos eacute proacutepria de cada classe principal -

basicamente a ordem do PMEST - mas um assunto pode necessitar de uma

mesma categoria mais de uma vez o que constitui os (levels)197 e os ciclos

(rounds)198

A metodologia analiacutetico-sinteacutetica proporciona grande hospitalidade permitindo

a inclusatildeo de novos temas e tambeacutem maior autonomia ao classificador

473 Construccedilatildeo

A estrutura da CC parte de uma tabela de aacutereas principais que inclui as

disciplinas tradicionais que podem ser divididas em facetas por meio das categorias 196 A ideacuteia de classificaccedilatildeo na antiga Iacutendia teve iniacutecio com a Escola Mimansa (do sacircnscrito indagaccedilatildeo ou reflexatildeo profunda) fundada no seacuteculo V aC Essa escola produziu dois sistemas ou interpretaccedilotildees a de Kumarila Bhatta (aproximadamente 700 dC) e a de Prabhakara (650-720 dC) filoacutesofos indianos vinculados agrave Escola Mimansa e famosos por suas teses Examinavam os textos sagrados (mantras ou versos e bramanas ou interpretaccedilotildees) organizavam debatiam e determinavam as regras e os sentidos dos rituais e das reflexotildees e indagaccedilotildees (DASGUPTA 1949 p 156 PRABHAKARA 2008) O meacutetodo de apresentaccedilatildeo da Mimansa consistia de ldquocinco momentosrdquo estabelecia-se a questatildeo exprimia-se a duacutevida ou verificava-se a caracteriacutestica que a questatildeo comportava desenvolvia-se um ponto de vista ou estabeleciam-se conexotildees possiacuteveis refutavam-se definitivamente aqueles pontos de vista ou conexotildees que natildeo condiziam e chegava-se agrave conclusatildeo resultado ou produto final A Mimansa distinguia as diferentes classes de mantras segundo os ritmos (sons) e as palavras que lhes eram proacuteprios e dividia os Mimansasutras em doze assuntos que eram na maioria das vezes divididos novamente pelo nuacutemero quatro Kumarila Bhatta dividia o saber em duas categorias uma positiva (substacircncia qualidade accedilatildeo universalidade) e outra negativa (negaccedilatildeo a priori negaccedilatildeo a posteriori negaccedilatildeo absoluta negaccedilatildeo reciacuteproca) enquanto Prabhakara utilizava soacute categorias positivas para organizar o conhecimento como substacircncia qualidade accedilatildeo universalidade ineacutercia potecircncia similaridade e nuacutemero A sistematizaccedilatildeo do conhecimento com base nas categorias era criteacuterio predominante no pensamento indiano Serrai (1977 p 18) afirma que existe uma grande afinidade entre as categorias da Escola Mimansa e as categorias do bibliotecaacuterio indiano Ranganathan que elabora seu sistema classificatoacuterio fundamentando-se em cinco categorias (personalidade mateacuteria energia espaccedilo e tempo) Pode-se dizer que o pensamento originaacuterio do antigo Oriente proveniente seja da Iacutendia seja da China incidiu na cultura ocidental influenciando as classificaccedilotildees filosoacuteficas (Francis Bacon em suas obras faz numerosas referecircncias agrave cultura chinesa como manufatura do papel fabricaccedilatildeo da porcelana caracteres da escrita etc) e por meio dessas as classificaccedilotildees bibliograacuteficas (a classificaccedilatildeo de Dewey esteve imbuiacuteda do sistema baconiano) pensamento corroborado por San Segundo Manuel (1996 p 35-36) Quanto agrave influecircncia das filosofias chinesa e indiana na obra de Ranganathan recomenda-se a leitura da dissertaccedilatildeo de Fernando Antonio Sepuacutelveda sobre a Gecircnese do pensamento de Ranganathan (Rio de Janeiro IBICT 1996) 197 Configura niacutevel uma segunda apariccedilatildeo seguida de uma mesma categoria Assim no exemplo O [P] [P2] [P3] o [P2] e o [P3] satildeo segundo e terceiro niacuteveis da categoria personalidade 198 Confira ciclo a segunda apariccedilatildeo de uma categoria depois de ter sido introduzida alguma categoria de outro tipo Assim no exemplo S[P][E] [2P] o [2P] eacute o segundo ciclo da categoria personalidade

204

A notaccedilatildeo geralmente eacute hieraacuterquica e compreende 26 letras maiuacuteculas e 23 letras

minuacutesculas do alfabeto latino nuacutemeros araacutebicos de 0 a 9 letras gregas (delta para

Misticismo e sigma para Ciecircncias Sociais) e sinais graacuteficos somando cerca de

setenta caracteres

A organizaccedilatildeo baacutesica da CC eacute a das classes principais Mais de cento e

cinquenta classes principais satildeo postuladas (por conveniecircncia a maioria dos autores

referem-se a vinte e seis) Elas podem ter subdivisotildees em forma de divisotildees

canocircnicas divisotildees sistecircmicas divisotildees especiais e divisotildees contextuais O plano

geral do esquema adota um formato tripartite

1 Ciecircncias Naturais A Ciecircncias B Matemaacuteticas C Fiacutesica D

Engenharia E Quiacutemica F Tecnologia G Biologia H Geologia I

Botacircnica J Agricultura K Zoologia L Medicina M Artes Uacuteteis ou

Aplicadas

2 Humanidades ∆ Misticismo e Experiecircncia Espiritual N Belas Artes O

Literatura P Linguiacutestica Q Religiatildeo R Filosofia S Psicologia

3 Ciecircncias Sociais sum Ciecircncias Sociais T Educaccedilatildeo U Geografia V

Histoacuteria W Ciecircncias Poliacuteticas X Economia Y Sociologia Z Direito

O sistema baseou-se na Classificaccedilatildeo Veacutedica e nos filoacutesofos ocidentais mais

particularmente na classificaccedilatildeo das ciecircncias de Comte As estruturas veacutedicas estatildeo

refletidas em sua base numeacuterica O mundo dos Vedas eacute dharma artha kama e

moksha (GOPINATH 2001 p 86-87)

Na Filosofia Indiana os principais sistemas filosoacuteficos do hinduiacutesmo

consideram que uma entidade viva especialmente aquela que estiver utilizando um

corpo humano deve ter por objetivo alcanccedilar trecircs metas na vida dharma (do

sacircnscrito retidatildeo ou conduta correta - a lei a moral e os bons costumes) artha (do

sacircnscrito riqueza ou desenvolvimento econocircmico advindo do trabalho em suas mais

diversas concepccedilotildees - recursos materiais) e kama (do sacircnscrito desejo em sentido

amplo - alma - e em sentido restrito - corpo) Portanto dharma deve empenhar-se

em artha para satisfazer kama e assim atingir moksha que representa a salvaccedilatildeo

Moksha refere-se em geral agrave libertaccedilatildeo do ciclo do renascimento e da morte e eacute

considerada como a meta primordial aquela que esta aleacutem das trecircs primeiras

destinada agravequeles que jaacute estatildeo livres das atividades mundanas

A loacutegica subjacente a esses purusharthas (do sacircnscrito objetivos da alma

humana) torna-se evidente quando se considera as premissas baacutesicas do hinduiacutesmo

205

a) o homem eacute um aspecto de Deus - eacute Deus na criaccedilatildeo da realidade objetiva

b) a natureza primordial do homem eacute seguir a lei dos vedas de acordo com as

normas prescritas para a casta a qual o indiviacuteduo pertence para obter a

salvaccedilatildeo a libertaccedilatildeo do eu e alcanccedilar Deus

c) o homem deve experienciar os rigores da vida na busca dos bens e

confortos materiais e na satisfaccedilatildeo das suas paixotildees visando sempre ao

equiliacutebrio e a moderaccedilatildeo para atender ao propoacutesito da sua criaccedilatildeo

(JAYARAM 2008)

Observa-se que Ranganathan inicia a ordenaccedilatildeo das classes principais por

Ciecircncias e Tecnologia representando as aacutereas do conhecimento de cunho teoacuterico e

aplicado (artha) Em consequecircncia de sua formaccedilatildeo religiosa destaca o Misticismo

a Religiatildeo e a Filosofia (dharma) Segue com as Humanidades e as Ciecircncias Sociais

(kama) como demonstra o quadro 37

Ranganathan concebeu o esboccedilo da CC e adotou o esquema para a coleccedilatildeo

da Biblioteca da Universidade de Madras antes de estabelecer qualquer teoria

subjacente ao esquema ou seja estabeleceu um novo meacutetodo para a organizaccedilatildeo

do esquema de classificaccedilatildeo - meacutetodo facetado - sem mencionar tudo o que veio a

especificar em sua teoria mais tarde depois da publicaccedilatildeo do esquema

A abordagem ranganathiana da classificaccedilatildeo era completamente diferente de

todas as anteriores A intuiccedilatildeo genial de Ranganathan foi conceber uma alternativa

ao modelo hieraacuterquico riacutegido das grandes classificaccedilotildees bibliograacuteficas

principalmente a CDD e a LCC Embora se pudesse perceber uma abordagem

analiacutetica e combinatoacuteria nos sistemas de Dewey (especialmente por meio da

influecircncia determinante particularmente enfatizada expliacutecita ou visiacutevel na CDU de

Otlet e La Fontaine) de Cutter de Brown e de Bliss o sistema de Ranganathan

diferia dos outros A principal razatildeo disso eacute o fato de que ele natildeo usava classes preacute-

estabelecidas e prontas agraves quais os tiacutetulos tinham de ser relacionados mas criava

classes de assuntos somente no instante em que um livro era analisado segundo os

elementos conceituais do seu assunto e sintetizado de acordo com foacutermulas de

facetas aplicadas agraves disciplinas Isso significa segundo Dahlberg (1979b p 356)

que o nuacutemero de classes pode acabar sendo igual ao nuacutemero de livros pois dois

livros soacute podem ser considerados como pertencentes a uma soacute e mesma classe se

sua siacutentese for igual

206

ORDEM DE CLASSES (7ordf Ediccedilatildeo de 1973) Z Generalidades 1 Universo do conhecimento 2 Biblioteconomia 3 Bibliologia 4 Jornalismo 5 Publicidade 6 Museologia 7 Sistemologia 8 Gestatildeo 9b Carreira 9c Metrologia 9d Normalizaccedilatildeo 9f Euriacutestica 9g Avaliaccedilatildeo 9p Comunicaccedilatildeo 9q Simbolismo 9s Informaacutetica A Ciecircncias Naturais BZ Matemaacutetica e Fiacutesica BZZ Matemaacutetica Pura B Matemaacuteticas BT Estatiacutestica BV Ciberneacutetica BXZ Astronomia e Astrofiacutesica BX Astronomia BZ Astrofiacutesica CZ Fiacutesica Teoacuterica C Fiacutesica CV Fiacutesica Espacial DZ Engenharia e Tecnologia D Engenharia DT Desenho Industrial EZ Quiacutemica Teoacuterica E Quiacutemica F Tecnologia Quiacutemica GZ Biologia Teoacuterica G Biologia GV Microbiologia GWA Biologia Molecular GWB Biofiacutesica GX Bioquiacutemica HZ Geologia Teoacuterica H Geologia HV Geofiacutesica

HWT Geoquiacutemica HX Geologia Mineral IZ Botacircnica Teoacuterica I Botacircnica JZ Agronomia J Agricultura JX Floresta KZ Zoologia Teoacuterica K Zoologia KX Medicina Veterinaacuteria LZ Medicina Teoacuterica L Medicina LU5 Sauacutede Puacuteblica LU6 Hospitais LU7 Sanatoacuterios LX Farmaacutecia LYX Medicina Legal M Artes Aplicadas MZ Humanidades e Ciecircncias Sociais MZZ Ciecircncias Sociais Aplicadas ∆ Experiecircncia Espiritual e Misticismo NZ Belas Artes e Literatura N Belas Artes OZ Liacutengua O Literatura P Linguiacutestica QZ Religiatildeo e Filosofia QZZ Religiatildeo e Moral Q Religiatildeo RZ Filosofia Geral R Filosofia SZ Ciecircncias do Comportamento SZZ Psicologia da Educaccedilatildeo S Psicologia sum Ciecircncias Sociais T Educaccedilatildeo UZ Histoacuteria-Geografia U Geografia V Histoacuteria VX Fontes Histoacutericas W Ciecircncia Poliacutetica WX Geopoliacutetica X Economia XX Economia de Empresas Y Sociologia YX Serviccedilo Social Z Direito

QUADRO 37 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DOS DOIS PONTOS DE RANGANATHAN FONTE Maniez (1993 p 105) San Segundo Manuel (1996 p 104-105)

Todos os modernos esquemas de classificaccedilatildeo satildeo ateacute certo ponto

facetados visto que eles providenciam tabelas auxiliares de nuacutemeros para divisotildees

relativas ao tempo e ao espaccedilo soacute para citar um exemplo Evidencia-se a tendecircncia

crescente ao estudo e uso de esquemas de classificaccedilatildeo que permitam ou

possibilitem ao classificador construir uma notaccedilatildeo para um livro em particular

207

Nas palavras de Dahlberg (1977 p 43) parece realmente que as ideacuteias e as

contribuiccedilotildees de Ranganathan natildeo tecircm sido substituiacutedas ateacute agora por nenhuma

melhor Elas natildeo foram ainda suficientemente discutidas em todos os lugares e houve

pouco interesse por sua adoccedilatildeo pelo mundo afora (traduccedilatildeo livre da autora)199 Dahlberg parece ter razatildeo quanto ao interesse despertado pelas ideacuteias de

Ranganathan No entanto eacute preciso registrar que o interesse pelas grandes

classificaccedilotildees facetadas tem diminuiacutedo muito depois da expansatildeo da documentaccedilatildeo

informatizada e eacute significativo que a CC natildeo tenha conseguido ser implantada

depois de mais de meio seacuteculo provavelmente por ser um sistema complexo de

difiacutecil aplicaccedilatildeo no Ocidente dada a sua loacutegica totalizadora a sua visatildeo holiacutestica o

fato de ter surgido no chamado Terceiro Mundo e principalmente por representar

mais uma metodologia para a classificaccedilatildeo do conhecimento jaacute produzido e a ser

produzido do que uma racionalizaccedilatildeo e mapeamento a priori do conhecimento jaacute

produzido Uma das distinccedilotildees entre os sistemas ocidentais de classificaccedilatildeo

bibliograacutefica e o sistema indiano de Ranganathan estaacute na visatildeo evolucionista (EC)

positivista (CDD e BC) e pragmaacutetica (LCC) embasada na proacutepria dinacircmica da

coleccedilatildeo ou seja os sistemas ocidentais fundamentam-se na ideacuteia de um mundo do

conhecimento pronto e acabado que entende a expansatildeo a partir das mesmas

bases originais e portanto vinculados a uma visatildeo de progresso e a um

pensamento determinista e a priori - positivista

474 Revisatildeo

Ranganathan durante a sua vida publicou seis ediccedilotildees da Classificaccedilatildeo dos

Dois Pontos a primeira em 1933 (depois de o esquema ter sido testado na Biblioteca

da Universidade de Madras) e a sexta em 1960 A uacuteltima ediccedilatildeo da CC CC7 foi

publicada em 1987 e segundo A C Foskett (1996 p 323) aleacutem de conter muitos

erros tem crescido em complexidade o que soacute tem dificultado ainda mais a sua

aceitaccedilatildeo por parte das grandes bibliotecas As atualizaccedilotildees satildeo escassas e desde

a morte de Ranganathan em 1972 o desenvolvimento da CC estaacute confiado ao

Documentation Research and Training Centre (DRTC) de Bangalore (FOSKETT A

199 ldquoIt does indeed appear that Ranganathanrsquos ideas and contributions have thus far not been replaced by any better ones In fact they have not as yet been discussed everywhere and there has been little movement towards their adoption throughout the worldrdquo

208

C 1996 p 316) O DRTC foi estabelecido em janeiro de 1962 como uma divisatildeo do

Indian Statistical Institute (ISI)200 (httpwwwiskoiorgdoccolonhtm)

48 CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA (BC - 1935)

A histoacuteria os princiacutepios a construccedilatildeo e a revisatildeo da Bibliographic Classification

(BC) Classificaccedilatildeo Bibliograacutefica satildeo tratados nas subseccedilotildees que seguem

481 Histoacuteria

Em 1910 a proposta de um esquema de classificaccedilatildeo bibliograacutefica sob o tiacutetulo Classification of Libraries with Simple Notation Mnemonics and Alternatives eacute publicada no Library Journal (v 35 p 351-358) pelo norteamericano Henry Evelyn Bliss (1870-1955) O esquema vinha sendo aplicado desde 1902 na Biblioteca do College of the City of New York na qual o estudioso exercia o cargo de bibliotecaacuterio (1891-1940) Mais tarde em 1935 (dois anos depois da CC) o esquema foi publicado de modo resumido sob o tiacutetulo A System of Bibliographic Classification Entre 1940 e 1953 foram publicados os quatro volumes da primeira ediccedilatildeo completa das tabelas Bibliographic Classification Extended by Systematic Auxiliary Schedules for Composite Specification and Notation Essa versatildeo da Classificaccedilatildeo anteriormente conhecida como Bibliographic Classification (BC) eacute hoje chamada de BC1 Bliss dedicou os uacuteltimos anos da sua vida agrave concepccedilatildeo de uma nova versatildeo que passaria a ser denominada BC2 ou Bliss Como Ranganathan Bliss fez da sua vida uma reflexatildeo contiacutenua a respeito de classificaccedilatildeo mantendo tambeacutem a carreira de bibliotecaacuterio Aleacutem do esquema completo publicou duas obras teoacutericas soacutelidas acerca da organizaccedilatildeo do conhecimento (cf subseccedilatildeo 41) O trabalho concernente a uma nova e completamente revisada ediccedilatildeo da BC1 incorporando os avanccedilos da anaacutelise loacutegica por facetas iniciada por Ranganathan e desenvolvida pelo CRG na Gratilde-Bretanha comeccedilou no iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo XX com a formaccedilatildeo da Bliss Classification Association (BCA)201 200 Logo depois da independecircncia o Governo da Iacutendia criou o ISI em 1947 No mesmo ano o seu Comitecirc de Documentaccedilatildeo foi formado tendo como presidente Ranganathan Houve uma necessidade premente de serviccedilos de documentaccedilatildeo para dar suporte ao trabalho dos laboratoacuterios nacionais que estavam sendo criados Em 1950 o entatildeo diretor do Laboratoacuterio Nacional de Fiacutesica Dr K S Krishnan e o professor Ranganathan foram autorizados a negociar com a UNESCO ajuda na criaccedilatildeo do Indian National Scientific Documentation Centre (INSDOC) finalmente criado em 1951 Por volta de 1955 as atividades de pesquisa dos laboratoacuterios nacionais haviam acelerado de maneira vertiginosa e bibliotecas especializadas para apoiar essas atividades de pesquisa estavam comeccedilando a estabelecer-se em algumas dessas instituiccedilotildees Consequentemente o tempo parecia estar maduro para a formaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo de bibliotecas especializadas Assim nasceu a Indian Association of Special Libraries and Information Centres (IASLIC) lthttpdrtcisibangacin DRTChistoryhtmlgt 201 Organizaccedilatildeo sem fins lucrativos com membros espalhados pelo mundo e revisotildees radicais da BC1 que acabaram por produzir um esquema completamente novo a BC2

209

em 1967 (BLISS CLASSIFICATION ASSOCIATION 2008 PIEDADE 1983 p 182 SAN SEGUNDO MANUEL 1996 p 96 103)

482 Princiacutepios

A BC1 eacute apontada como o sistema que apresenta um dos melhores desenvolvimentos de classes encontrados em classificaccedilotildees bibliograacuteficas De acordo com vaacuterios autores como A C Foskett (1973 p 109 251) Piedade (1983 p 183) Maniez (1993 p 131) Rafferty (2001 p 185-186) San Segundo Manuel (1996 p 100) Sayers (1955b p 190) entre outros Bliss acreditava que a ordem das classes principais era a mais importante caracteriacutestica dos esquemas de classificaccedilatildeo Bliss (1939 p 205) natildeo acreditava no argumento de Dewey de que natildeo tem importacircncia onde no esquema um assunto estaacute colocado contanto que esteja eficientemente indexado Entre as razotildees para o seu descontentamento com os esquemas existentes descreveu a ordem baconiana invertida como natildeo-filosoacutefica e natildeo-praacutetica (porque separa e ldquodeturpardquo as principais ciecircncias) e citou o fato de as ldquosuas principais divisotildees e subdivisotildees serem demasiadamente arbitraacuterias e natildeo-autecircnticasrdquo (BLISS 1939 p 309) Para Bliss (1939 p 37) existia uma ordem de conhecimento que era natural e autecircntica e essa autenticidade dependia do consenso acadecircmico e que portanto o conhecimento devia ser organizado em consonacircncia com o consenso cientiacutefico e educacional (relativamente estaacutevel) que tende a se transformar em teoria e sistema (conhecimento mais consolidado e estaacutevel no geral e crescente no detalhe) com conceitos mais precisos e definidos De acordo com Sayers (1955b p 190) Bliss embasava o seu esquema em uma aceitaccedilatildeo inquestionaacutevel das convenccedilotildees acadecircmicas estabelecidas no Ocidente de noccedilotildees a respeito da ordem202 verdadeira e de princiacutepios de organizaccedilatildeo hieraacuterquica Bliss entendia que a ordem das classes principais assim como a ordem lsquocertarsquo das coisas eacute determinada pelo uso que os profissionais dos diversos ramos do conhecimento fazem da ordem Eacute a ordem das coisas que dirige a estrutura dos

202 Bliss estabeleceu princiacutepios de classificaccedilatildeo no que diz respeito agrave ordem 1 que a ordem das coisas pode ser estabelecida 2 que a ordem das coisas eacute a base da classificaccedilatildeo do conhecimento 3 que a ordem eacute determinada pelo uso e pela utilidade que tem para pensadores e trabalhadores nos vaacuterios ramos do conhecimento (SAYERS 1955b p 189) Pode-se argumentar que a principal limitaccedilatildeo desses princiacutepios eacute que para Bliss eles eram absolutos e naturais e natildeo relativos e historicamente determinados Pois o conhecimento e a sua representaccedilatildeo eacute sempre um produto do sistema simboacutelico dentro do qual ele opera Segundo Rafferty (2001 p 186) a visatildeo positivista e otimista de Bliss estava plena de feacute na ideacuteia de que estabilidade e ordem se desenvolveriam a partir do conhecimento universal e do estudo objetivo o que talvez seja mais difiacutecil para o mundo poacutes-estruturalista poacutes-Segunda Guerra Mundial sociedade ocidental estar confiante que as ciecircncias e o conhecimento caminharatildeo para um consenso cientiacutefico e educacional que se tornaraacute mais dominante mais permanente e universal

210

esquemas de classificaccedilatildeo e no final aquilo que disciplina o senso comum Ele se refere agrave ordem das classes principais na maioria dos seus princiacutepios

a) consenso implica que natildeo existe unanimidade em relaccedilatildeo agrave localizaccedilatildeo das classes que pode variar segundo o consenso cientiacutefico-educacional203 e a concepccedilatildeo de ciecircncia nos vaacuterios acircmbitos os quais supotildeem cada um uma sistematizaccedilatildeo proacutepria

b) reuniatildeo de assuntos correlatos significa manter juntos os assuntos que tecircm um relacionamento forte um com outro ou seja ordenar todas as classes segundo um criteacuterio de proximidade temaacutetica (geralmente esse princiacutepio estaacute junto com o de subordinaccedilatildeo do especiacutefico ao geneacuterico ainda que Bliss algumas vezes natildeo respeite esse uacuteltimo princiacutepio)

c) gradaccedilatildeo em especialidade204 significa mais do que simplesmente listar assuntos do geral ao especiacutefico em um dado contexto refere-se a uma espeacutecie de progressatildeo de dependecircncia de tal maneira que cada nova disciplina derive tanto quanto possiacutevel da disciplina precedente

d) localizaccedilatildeo alternativa pretende conferir flexibilidade ao sistema

203 Apesar de considerar o ldquoconsenso cientiacuteficordquo incompleto e temporaacuterio reconhecer visotildees alternativas sobre a localizaccedilatildeo de alguns assuntos e providenciar alternativas de colocaccedilatildeo para os assuntos Bliss considerava vital que um esquema de classificaccedilatildeo para o conhecimento registrado refletisse a estrutura do saber como os cientistas filoacutesofos e educadores a reconheciam e ensinavam Infelizmente a estrutura do conhecimento se modifica e o proacuteprio Bliss reconhecia que a ordem muda o que ele parece natildeo ter reconhecido eacute a velocidade com que esse processo pode ocorrer (FOSKETT A C 1973 p 109) A BC eacute o primeiro esquema geral de classificaccedilatildeo com essa caracteriacutestica de dividir o conhecimento em campos de especializaccedilatildeo seguidos pelo ensino e pela praacutetica Em geral a BC combina as vantagens de uma coordenaccedilatildeo clara e satisfatoacuteria de classes com uma visatildeo pragmaacutetica para atender as necessidades praacuteticas da classificaccedilatildeo de livros (MILLS 1960) 204 Segundo Maniez (1993 p 130) para conseguir essa difiacutecil progressatildeo Bliss inspirou-se na teoria de Comte (cf subseccedilatildeo 313) sobre a progressatildeo das ciecircncias (da mais simples a mais complexa) e provavelmente na teoria dos niacuteveis integrativos (o universo eacute formado pela acumulaccedilatildeo de vaacuterios niacuteveis de organizaccedilatildeo de complexidade crescente) Ver tambeacutem nota 77 Bliss usava subordinaccedilatildeo no sentido de - divisatildeo por especialidade Isso significa que ainda que um nuacutemero de toacutepicos pudesse ser igualmente importante alguns poderiam ser vistos como mais especializados do que outros (MILLS BROUGHTON 1977 p 50-51) Desse modo assuntos dependentes deveriam seguir os assuntos dos quais eles dependessem A listagem das classes principais na BC tem sido muito admirada apesar de tal subordinaccedilatildeo falhar nas Ciecircncias Sociais Por exemplo nas Ciecircncias Naturais (assumidamente fundamentado nas ideacuteias de Comte e de Spencer) a Quiacutemica segue a Fiacutesica na lista das classes principais agrave qual recorre para a explicaccedilatildeo dos seus fenocircmenos e eacute seguida pela Astronomia que necessita para as investigaccedilotildees do Cosmos de conhecimentos derivados da Fiacutesica e da Quiacutemica segue-se a Geologia que estuda soacute um planeta a Terra e eacute consequentemente uma especializaccedilatildeo da Astronomia O que resultou no seguinte esquema preliminar A Filosofia e Ciecircncia Geral BD Ciecircncias Fiacutesicas EG Ciecircncias da Vida HI Ciecircncias do Homem JZ Ciecircncias Sociais Para Batley (2005 p 116-117) a classificaccedilatildeo tem meacuterito como uma teoria mas eacute difiacutecil ser sustentada em uma expressatildeo linear de disciplinas ou assuntos

211

permitindo colocar um tema em dois lugares princiacutepio contraacuterio agrave padronizaccedilatildeo e ao seu proacuteprio princiacutepio (a) acima de consenso cientiacutefico (por exemplo a Aeronaacuteutica pode ser colocada na Fiacutesica classe BT ou em Artes aplicadas classe UK Histoacuteria Econocircmica pode ser localizada em Histoacuteria Geral ou em Economia - o classificador decide qual localizaccedilatildeo seria melhor levando em consideraccedilatildeo as necessidades da sua biblioteca)

e) brevidade da notaccedilatildeo significa que a notaccedilatildeo deve ser sinteacutetica mnemocircnica expressiva e sistemaacutetica Por exemplo Bliss constroacutei a sua notaccedilatildeo de tal maneira que a maioria dos itens natildeo precisa de mais de trecircs diacutegitos utiliza duas letras para representar as classes principais e emprega sistematizaccedilatildeo enumerativa205 e natildeo hieraacuterquica privilegiando a brevidade agraves expensas da expressividade

Tendo em mente que o conhecimento e a sua representaccedilatildeo satildeo sempre produtos do sistema dentro do qual eles operam poder-se-ia argumentar que a maior ou principal limitaccedilatildeo desses princiacutepios eacute que para Bliss eles eram absolutos e naturais e natildeo relativos e historicamente determinados Bliss pretendia demonstrar que se uma classificaccedilatildeo bibliograacutefica reflete a ordem natural da realidade objetiva as mudanccedilas draacutesticas para acomodar o progresso dos conhecimentos natildeo seratildeo muito necessaacuterias e afirmava que todos os estudantes poderiam compreender claramente a ordem das classes principais da BC e as implicaccedilotildees por traacutes dela Bliss foi um dos raros classificadores capazes de dizer que um esquema de classificaccedilatildeo representava a organizaccedilatildeo do conhecimento e foi tambeacutem um dos poucos que enunciaram uma teoria para o esquema de classificaccedilatildeo criado mais tarde por ele Um esquema de classificaccedilatildeo representa uma determinada maneira de organizaccedilatildeo do conhecimento Cabe ressaltar que em 1934 Otlet publicou o Manual de Documentaccedilatildeo no qual ele natildeo enunciava propriamente uma teoria da classificaccedilatildeo mas chamava a atenccedilatildeo para a importacircncia do relacionamento entre assuntos introduzindo um sistema de relaccedilotildees no esquema de Dewey (ou seja concebendo a CDU conforme foi discutido na subseccedilatildeo 43) Esse sistema de relaccedilotildees aleacutem de representar a organizaccedilatildeo do conhecimento passa tambeacutem a figurar nos esquemas de classificaccedilatildeo criados

205 Bliss reconhecia a necessidade de certas formas de siacutentese mas era hostil agrave ideacuteia da anaacutelise e siacutentese completa de Ranganathan Portanto o seu esquema pode ser encarado como a uacuteltima das classificaccedilotildees enumerativas apesar de conter tabelas sistemaacuteticas (FOSKETT A C 1973 p 108-109)

212

posteriormente como salientado por Grolier (1976) Para A C Foskett (1973 p 251 260) a BC1 padecia do fato de ser

predominantemente a obra de um soacute homem A sua sistematizaccedilatildeo com base na antiga tradiccedilatildeo filosoacutefica com o seu esquema indutivo-dedutivo de acordo com o sistema filosoacutefico de Comte e mesmo com ideacuteias teoricamente fundamentadas acarretava na praacutetica resultados insatisfatoacuterios Para Dahlberg (1979b) a contribuiccedilatildeo real de Bliss para a Teoria da Classificaccedilatildeo foi ter aproximado novamente a classificaccedilatildeo bibliograacutefica dos princiacutepios filosoacuteficos da classificaccedilatildeo e tentado combinar o conhecimento filosoacutefico sobre classificaccedilatildeo com a necessidade de colocar em estantes os livros de uma biblioteca Tanto A C Foskett (1973) quanto Dahlberg (1979b) concordam que as ideacuteias que Bliss desenvolveu acerca da teoria do arranjo sistemaacutetico notaccedilatildeo e outros aspectos da classificaccedilatildeo exerceram profunda influecircncia teoacuterica na obra Prolegomena de Ranganathan (1967)

A BC2 utiliza a teoria de anaacutelise por facetas derivada das cinco categorias originais de Ranganathan (PMEST) disso resultando um conjunto de treze categorias padratildeo reconhecidas (thing - kind - part - property - material - process - operation - patient - product - by-product - agent - space - time) (coisa - tipo - parte - propriedade - material - processo - operaccedilatildeo - paciente - produto - por produto - agente - espaccedilo - tempo) que satildeo usadas para anaacutelise e organizaccedilatildeo dos termos Em adiccedilatildeo uma ordem de citaccedilatildeo padratildeo que possibilita a combinaccedilatildeo entre as categorias tem sido tambeacutem desenvolvida (com base em princiacutepios de progressatildeo do geral ao especiacutefico) o que aumenta a densidade dos termos a ordem pragmaacutetica derivada da garantia literaacuteria e favorece o arranjo dos documentos A principal caracteriacutestica da BC2 eacute que a ordem das classes principais baseia-se em princiacutepios teoacutericos meticulosamente discutidos e explicitados como o princiacutepio de graduaccedilatildeo (gradation) suplementado pelo princiacutepio dos niacuteveis integrativos (integrative levels) desenvolvido por Feibleman e outros Cada classe principal e toda subclasse (em qualquer niacutevel) satildeo totalmente facetadas isto eacute o vocabulaacuterio eacute organizado e rigorosamente definido em categorias compreensiacuteveis

As disciplinas Biologia Humana e Medicina206 por exemplo estatildeo organizadas pelas facetas tipos de seres humanos partes do corpo humano sistemas do corpo humano processos nos seres humanos accedilotildees sobre os seres humanos e agentes das accedilotildees Uma ordem de citaccedilatildeo consistente eacute sempre

206 Medicina eacute definida como ldquoo estudo e o tratamento dos processos bioloacutegicos humanosrdquo - derivando daiacute a ordem de citaccedilatildeo dentro da disciplina

213

observada tornando a posiccedilatildeo de qualquer classe composta altamente previsiacutevel A ordem de citaccedilatildeo em Medicina para o assunto ldquoenfermagem para crianccedilas viacutetimas de cacircncerrdquo ficaria (tipo de ser humano sob a oacutetica da Medicina) Pediatria - (processo) PatoloacutegicoCacircncer - (accedilatildeo sobre) Enfermagem Esse exemplo reflete a ordem de citaccedilatildeo padratildeo na qual para qualquer assunto a primeira faceta citada eacute aquela que reflete o propoacutesito do assunto (definindo o produto final) seguida pelas facetas tipo parte processo accedilatildeo agente sempre nessa ordem A ordem manteacutem o geral-antes-do-especiacutefico No exemplo dado HMY Enfermagem em geral vem antes de HQE Cacircncer em geral que vem antes de HXO Pediatria em geral O assunto Crianccedilas - Cacircncer - Enfermagem eacute representado por HXO QEM Y Observa-se que a letra inicial para essa classe (H) eacute ignorada quando da combinaccedilatildeo de subclasses e que a notaccedilatildeo eacute totalmente facetada e sinteacutetica A base notacional eacute ampla - 35 caracteres (19 AZ) e eacute tambeacutem ordinal pura isto eacute ela natildeo tem a pretensatildeo (tarefa impossiacutevel) de refletir a hierarquia Essas caracteriacutesticas produzem nuacutemeros de classificaccedilatildeo excepcionalmente breves em relaccedilatildeo agrave sua especificidade (nuacutemero de conceitos compostos que definem a classe) Por exemplo um item que trata de ldquoCuidados com idosos na residecircnciardquo eacute colocado primeiramente na categoria pacientes e entatildeo em uma subcategoria operaccedilatildeo Na classe Assistecircncia Social (Q) o nuacutemero de classificaccedilatildeo representando essa classe composta eacute QLV EL Q Assistecircncia Social QEL Cuidados na residecircncia QLV Pessoas Idosas

Para adicionar mais detalhes como por exemplo ldquoempreacutestimo bibliotecaacuterio para idosos em tratamento residencialrdquo combina-se Q Assistecircncia Social QEL Cuidados na residecircncia QEP X Empreacutestimo bibliotecaacuterio QLV Pessoas Idosas

Resultando a classificaccedilatildeo QLV EPX L que representa exatamente o assunto Observa-se que eacute difiacutecil encontrar algum outro esquema geral que chegue a esse grau de especificidade sem aumentar significativamente a sua notaccedilatildeo Nenhum siacutembolo aleacutem de nuacutemeros e letras satildeo necessaacuterios na BC2

483 Construccedilatildeo

O sistema de Bliss parte de duas sinopses (quadro 38) uma concisa e outra geral expondo duas dimensotildees da ordem das ciecircncias relaccedilotildees de subordinaccedilatildeo (vertical) e de coordenaccedilatildeo (horizontal)

214

DIVISAtildeO DO CONHECIMENTO EM QUATRO GRANDES CLASSES CLASSES CIEcircNCIA FILOSOFIA HISTOacuteRIA TECNOLOGIA E ARTE Ciecircncia Princiacutepios de Histoacuteria da em geral Fil e Ciecircncia Filosofia CIEcircNCIAS ABSTRATAS E MEacuteTODOS GERAIS Matemaacuteticas Loacutegica Ciecircncias Aplicadas CIEcircNCIAS NATURAIS FIacuteSICAS Fiacutesica Fil da Natureza Histoacuteria da F Tecnologia e Eng F Quiacutemica Histoacuteria da Q Tecnologia e Eng Q CIEcircNCIAS NATURAIS ESPECIALIZADAS E HISTOacuteRIA NATURAL DESCRITIVA Astronomia Cosmologia Geologia Geologia Histoacuterica Geologia Econ Geografia Geografia Econ Metereologia CIEcircNCIAS BIOLOacuteGICAS Biologia Filosofia da Vida Botacircnica Zoologia CIEcircNCIAS ANTROPOLOacuteGICAS Antropologia Fil da Vida H Hdo ConhVida HumanidC MeacutedHig Arqueologia CIEcircNCIAS PSICOLOacuteGICAS Psicologia Geral Filosofia Mental Psicologia Apl Psic Individual Psic Social Filosofia Social Psiquiatria Educaccedilatildeo CIEcircNCIAS SOCIAIS Sociologia Histoacuteria SocPol Ciecircncia Soc Apl Etnologia Religiatildeo Teologia Histoacuteria das Rel Atividade Ecles Mitologia Moral Eacutetica Eacutetica Aplicada Ciecircncia Pol Fil Poliacutetica Governo Jurisprudecircncia Fil do D Histoacuteria do Direito Praacutetica do Direito Economia Fil da E Histoacuteria Econocircmica Economia Induacutestria Comeacutercio ARTES Histoacuteria das Artes Teacutecnicas das Artes Artes industriais Belas Artes Muacutesica Filologia Linguiacutestica e Liacutenguas Literatura Retoacuterica Oratoacuteria Drama e Teatro

QUADRO 38 - SINOPSES VERTICAL E HORIZONTAL DO ESQUEMA DE BLISS FONTE San Segundo Manuel (1996 p 97-98)

O esquema baseia a sua ordenaccedilatildeo em classes que reuacutenem a totalidade do conhecimento sendo que o proacuteprio sistema do conhecimento constitui uma unidade com base na ordem da natureza (ordem na qual estaacute implicada a ideacuteia de evoluccedilatildeo fundamentada na ordem cientiacutefica e pedagoacutegica ou seja no modo em que os especialistas

215

supotildeem que o seu conhecimento seja organizado) Bliss mostra os diferentes aspectos de cada aacuterea do conhecimento de maneira diagramaacutetica isto eacute divide cada disciplina a partir de quatro pontos de vista filosoacutefico cientiacutefico histoacuterico e tecnoloacutegicoartiacutestico e trata de conciliar o ponto de vista teoacuterico e o ponto de vista praacutetico ou biblioteconocircmico procurando natildeo distinguir entre a classificaccedilatildeo do conhecimento ou filosoacutefica e a classificaccedilatildeo bibliograacutefica207 De acordo com essa sinopse do conhecimento estabelece-se uma divisatildeo linear de vinte e seis classes principais (quadro 39) representada por uma notaccedilatildeo alfabeacutetica (letras maiuacutesculas do alfabeto latino A-Z)

1-9 Universo do Conhecimento Comunicaccedilotildees A Filosofia (incluindo Loacutegica Matemaacutetica Estatiacutestica Ciecircncia Ciecircncia e Tecnologia) B Fiacutesica (incluindo Tecnologia com base em Fiacutesica) C Quiacutemica (incluindo Ciecircncia e Tecnologia de Materiais) D Astronomia (incluindo Ciecircncias Espaciais Ciecircncias da Terra Geofiacutesica Geologia

Hidrologia Metereologia Geografia Regional e Sistemaacutetica) E Biologia (incluindo Microbiologia) F Botacircnica G Zoologia H Antropologia (incluindo Biologia Humana Ciecircncias da Sauacutede Medicina) I Psicologia J Educaccedilatildeo K Ciecircncias Sociais (incluindo Sociologia Antropologia Social Costumes Folclore

Etnografia Ecologia Viagens e Descriccedilotildees) L Histoacuteria (incluindo Biografia Estudos Histoacutericos Auxiliares Arqueologia Histoacuteria por

assunto Histoacuteria por periacuteodo) M Europa (incluindo Geografia e Histoacuteria social-poliacutetica e nacional) N Ameacuterica (incluindo Geografia e Histoacuteria social-poliacutetica e nacional) O AO Austraacutelia OH Aacutesia OS Aacutefrica P Religiatildeo (incluindo Teologia Sistemas religiosos Religiotildees Antigas Religiotildees

Modernas Ocultismo Moral e Eacutetica) Q Assistecircncia Social e Administraccedilatildeo (incluindo Serviccedilo Social Necessidades humanas) R Ciecircncia Poliacutetica (incluindo Administraccedilatildeo Puacuteblica) S Direito (incluindo Jurisprudecircncia e Lei) T Economia (incluindo Sistemas Econocircmicos Administraccedilatildeo de Empresas) U Tecnologia (pouca tecnologia cientiacutefica) Artes Uacuteteis Utilitaacuteria Industrial e Tecnoloacutegica

(incluindo Agricultura e Criaccedilatildeo de animais Tecnologia de Mineraccedilatildeo Engenharia e Produccedilatildeo Tecnoloacutegica Ciecircncias Materiais e Tecnologia Tecnologias com base na Fiacutesica Tecnologia de Construccedilatildeo Engenharia Civil Arquitetura Engenharia de Sauacutede Puacuteblica Tecnologia de Transportes Ciecircncia e Tecnologia Militar Tecnologias outras por produto Alimento Vestuaacuterio Moradia Artes Recreativas)

V Arte Belas Artes (incluindo Estilos de Arte Arquitetura como Arte Artes Plaacutesticas Escultura Ceracircmica Artes Graacuteficas Pintura Desenho Artes Decorativas Muacutesica Arte de Expressatildeo)

W Filologia Liacutengua e Literatura (incluindo Linguiacutestica Liacutenguas Individuais e suas Literaturas Literatura Geral e Comparada)

Z Religiatildeo Ocultismo Moral QUADRO 39 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO BC2 (1977) FONTE Piedade (1983 p 185-186) Maniez (1993 p 130) San Segundo Manuel (1996 p 99)

207 Apesar disso segundo Dahlberg (1979 p 355) ele de modo geral procedia a uma rearrumaccedilatildeo das aacutereas visando agrave brevidade da notaccedilatildeo e a um arranjo mais faacutecil dos livros nas estantes

216

A BC1 conta com sete esquemas auxiliares para subdividir as classes principais

segundo as facetas forma (nuacutemeros araacutebicos) lugar (letras minuacutesculas) liacutengua (letras

maiuacutesculas precedidas de uma viacutergula) periacuteodos histoacutericos (letras maiuacutesculas

precedidas de uma viacutergula)208 filologia (letras e nuacutemeros araacutebicos) trabalhos de

filoacutesofos (letras e nuacutemeros araacutebicos) e biografias especiacuteficas de personagens histoacutericos

(letras maiuacutesculas precedidas de viacutergula) Esse conjunto de categorias forma a base da

anaacutelise por facetas do sistema

484 Revisatildeo

O grande impacto da Classificaccedilatildeo de Bliss aconteceu com a nova ediccedilatildeo da

Bibliographic Classification a BC2 A nova e revisada ediccedilatildeo foi iniciada por Jack

Mills e tem sido produzida em 22 partes compreendendo um ou dois assuntos por

volume (um iacutendice minucioso A-Z acompanha cada volume no qual assuntos podem

ser localizados via qualquer parte do todo) O primeiro volume foi publicado em

1977209 A publicaccedilatildeo estaacute agora sob os cuidados de K G Saur e revisotildees tecircm sido

promovidas em alguns volumes da BC2 visando manter a atualidade dos assuntos

A BCA hoje existe para promover o desenvolvimento e uso da BC2 com a

responsabilidade da publicaccedilatildeo das alteraccedilotildees oficiais do esquema via boletim anual

denominado Bliss Classification Bulletin que natildeo soacute possibilita o contato e a troca de

experiecircncias entre usuaacuterios como tambeacutem indica a direccedilatildeo e as tendecircncias do

esquema (BATLEY 2005 p 116 BLISS CLASSIFICATION ASSOCIATION 2008)

O esquema praticamente natildeo eacute utilizado na Ameacuterica nativa de Bliss mas a sua

implementaccedilatildeo tem se concentrado entre as bibliotecas acadecircmicas e especializadas

do Reino Unido e do Commonwealth Pelo fato de ser o uacutenico sistema que apresenta

uma classe principal dedicada agrave Assitecircncia Social (Q - Social Welfare) a primeira

ediccedilatildeo BC1 foi amplamente adotada por muitas bibliotecas especializadas em

Assistecircncia Social no Reino Unido A segunda ediccedilatildeo BC2 eacute o uacutenico esquema geral

construiacutedo sob os princiacutepios da classificaccedilatildeo facetada publicado no Ocidente

208 Na BC2 Mills trataraacute de distinguir a notaccedilatildeo de tempo da de liacutengua (SAN SEGUNDO MANUEL 1996 p 101)

209 MILLS J BROUGHTON V (Ed) Bliss Bibliographic Classification London Butterworth 1977-

217

49 CLASSIFICACcedilAtildeO POR FACETAS

A ideacuteia de representar o conteuacutedo temaacutetico dos documentos a partir dos seus

aspectos constituintes remonta a Kaiser210 precursor da classificaccedilatildeo facetada de

Ranganathan (RODRIGUEZ 1984)

Para Kaiser todo assunto eacute composto de duas categorias baacutesicas o

concreto aquilo que realmente existe do proacuteprio assunto e o processo accedilatildeo que

incide em cima do assunto modificando-o isto eacute alterando o concreto que pode

sofrer vaacuterios processos os quais especificam o concreto Assim por exemplo

Concreto processo

Biblioteca - administraccedilatildeo

Biblioteca - informatizaccedilatildeo

Biblioteca - organizaccedilatildeo

O processo depende do concreto soacute existe se houver um concreto a sua

funccedilatildeo eacute a de subdivisatildeo dos assuntos A combinaccedilatildeo entre concreto e processo foi

denominada por Kaiser de enunciado Os concretos podem ser moacuteveis (caneta)

imoacuteveis (planeta Terra) e abstratos (educaccedilatildeo) Os processos satildeo condiccedilotildees

estaacuteticas ou dinacircmicas dos concretos Na concepccedilatildeo de Kaiser agraves duas categorias

poderiam ser acrescentados paiacuteses como um concreto imoacutevel especial (subdivisatildeo

por paiacuteses) o que resultaria em trecircs categorias o concreto o processo e o lugar

sendo o concreto logicamente a mais importante (RODRIGUEZ 1984)

Eacute possiacutevel observar que as ideacuteias de Kaiser tanto no que diz respeito agrave

categoria do concreto como agrave categoria do processo influenciaram Ranganathan no

estabelecimento das categorias personalidade e energia respectivamente

210 Julius Kaiser (1868-1927) bibliotecaacuterio norteamericano atuou profissionalmente no Philadelphia Commercial Museum e na Engineering Societiesrsquos Library entre outras corporaccedilotildees Kaiser em sua obra Systematic Indexing (1911) como ressalta Tocircrres (2000) ldquoconsiderou que a indexaccedilatildeo poderia possibilitar o agrupamento de assuntos semelhantes desde que a informaccedilatildeo fosse representada segundo expressotildees construiacutedas artificialmente com base em uma foacutermula preacute-estabelecidardquo e propocircs para a praacutetica da indexaccedilatildeo alfabeacutetica de assuntos a utilizaccedilatildeo da subordinaccedilatildeo de concretos e processos como subdivisatildeo o que segundo A C Foskett (1973a p 50) foi ldquoa primeira tentativa de busca de uma soluccedilatildeo judiciosa e coerente para o problema da ordem de importacircncia sendo ainda vaacutelidas e uacuteteis em muitos casosrdquo Kaiser estabeleceu algumas regras e procedimentos para a formaccedilatildeo dos enunciados (selecionar o que eacute importante para o objetivo que se tem respeitar a especificidade do documento trabalhar cada item separadamente atenccedilatildeo aos nomes concretos evitar inversotildees preposiccedilotildees e plural e testar a precisatildeo de cada enunciado tanto do ponto de vista do indexador quanto do usuaacuterio do iacutendice) e apresentou em sua proposta as bases essenciais para o tratamento temaacutetico facetado pois ele contempla as dimensotildees estaacutetica e dinacircmica do conteuacutedo (RODRIGUEZ 1984)

218

As classificaccedilotildees facetadas como o modelo ranganathiano (cf subseccedilatildeo 47)

natildeo pararam de suscitar depois de meio seacuteculo estudos criacuteticos aprofundamentos

e inovaccedilotildees notadamente dos ingleses reunidos no CRG

Classificaccedilotildees facetadas dependem em siacutentese da junccedilatildeo apropriada de

componentes notacionais para especificar um assunto - componentes do assunto

que reunidos de modo compatiacutevel satildeo normalmente chamados facetas - vem daiacute

esquemas de classificaccedilatildeo facetada tambeacutem chamados na terminologia teacutecnica

esquemas de classificaccedilatildeo analiacutetico-sinteacutetica O nome teacutecnico reflete as duas

maiores atividades envolvidas na aplicaccedilatildeo da classificaccedilatildeo facetada anaacutelise de um

assunto em facetas e siacutenteses de facetas para criar uma notaccedilatildeo (HUNTER 2002)

A teoria da classificaccedilatildeo facetada de Ranganathan baseia-se no argumento

de que em vez de tentar listar todos os assuntos em detalhes uma classificaccedilatildeo

deveria primeiramente identificar classes principais ou disciplinas da mesma

maneira como os esquemas enumerativos Entatildeo no interior de cada classe

principal ou disciplina seria necessaacuterio enumerar ou listar somente conceitos

baacutesicos Os assuntos em sua grande maioria satildeo compostos o que significa que

satildeo formados de duas ou mais facetas Essas facetas ou elementos de um assunto

podem ser especiacuteficas para aquele assunto ou comuns para todos os assuntos

Facetas comuns para todos os assuntos tecircm sido exploradas tambeacutem nas seccedilotildees da

CDD e CDU (lugar tempo forma de apresentaccedilatildeo etc)211

Um esquema de classificaccedilatildeo facetada natildeo lista assuntos em detalhes como

um esquema enumerativo em vez disso ele providencia uma caixa de ferramentas

211 Exemplo de classificaccedilatildeo utilizando dois tipos de esquema (enumerativo e facetado) para o assunto ldquoDesign de submarino nos Estados Unidos no seacuteculo XXrdquo Usando um esquema enumerativo o classificador pode comeccedilar verificando o iacutendice No esquema da CDD haacute inuacutemeras entradas sob submarinos incluindo desenho em 62381257 O proacuteximo passo eacute dirigir-se ao lugar apropriado nas tabelas e verificar se instruccedilotildees foram providenciadas (sobre como adicionar os conceitos de Estados Unidos e seacuteculo XX) para a notaccedilatildeo listada Em 6238121-8129 o classificador eacute instruiacutedo sobre como especificar design de um tipo especiacutefico de manufaturado (adicionar nuacutemeros seguindo 62382 que eacute como o nuacutemero listado no iacutendice foi construiacutedo) mas natildeo especifica como as subdivisotildees standard de lugar e tempo satildeo adicionadas ao nuacutemero base Presume-se que elas devem ser precedidas por um uacutenico zero Lugar (0973) e tempo (0904) podem agora ser adicionadas ao nuacutemero base 6238125709730904 Usando um esquema facetado o classificador pode primeiro analisar um assunto em seus componentes isolados o conceito central (submarino - que corresponde agrave faceta personalidade) processo (design) lugar (Estados Unidos) e tempo (seacuteculo XX) Em seguida podem ser consultados o iacutendice e as tabelas do esquema com a finalidade de descobrir a notaccedilatildeo para cada um desses conceitos Esses elementos notacionais podem entatildeo ser combinados para formar a notaccedilatildeo completa Na 6ordf ediccedilatildeo da CC D5254 submarino (D eacute a classe principal Engenharia 5254 representa submarino) 4 Desenho na classe D (Engenharia) 73 Estados Unidos N seacuteculo XX A notaccedilatildeo completa incluindo os siacutembolos de relaccedilatildeo eacute D5254473rsquoN (BATLEY 2005 p 112-113)

219

a partir da qual uma notaccedilatildeo para qualquer assunto pode ser construiacuteda

Ranganathan (1960 p 12) usava como analogia um conjunto Meccano (marca

comercial surgida em 1908 que comercializava modelos em miniatura de maacutequinas

para montar) Sayers (1955a p 206) descreveu as tabelas da CC como partes de

um ldquoconjunto mecacircnico que pelo uso de porcas e parafusos podia ser usado para

muitas construccedilotildees diferentesrdquo Batley (2005 p 113) menciona que uma analogia

mais familiar hoje em dia poderia ser talvez o Lego (peccedilas individuais que podem

ser acopladas para formar estruturas sofisticadas)

Em suma a Teoria da Classificaccedilatildeo hoje talvez tenha encampado aos seus

significados metafoacutericos (a aacutervore de Porfiacuterio as raiacutezes e ramos hieraacuterquicos dos

sistemas Baconianos invertidos o conjunto Meccano da classificaccedilatildeo Colon o

brinquedo Lego) labyrinths networks nodes links e discursos de colaboraccedilatildeo

complementaccedilatildeo e intertextualidade crescentes que dominam a teoria do hipertexto

Teoacutericos da classificaccedilatildeo estatildeo contribuindo para o desenvolvimento do hipertexto e

da internet explorando o papel e a influecircncia dos esquemas de classificaccedilatildeo

tradicionais em sistemas de informaccedilatildeo contemporacircneos e especulando sobre a sua

funccedilatildeo em desenvolvimentos futuros212

212 Haacute bibliotecaacuterios cientistas da informaccedilatildeo mas tambeacutem filoacutesofos socioacutelogos linguistas arquitetos de informaccedilatildeo webdesigners etc discutindo problemas aparentemente diferentes entretanto um olhar treinado pode ver muitas conexotildees e similaridades Pessoas usando diferentes enfoques infelizmente tambeacutem usam diferentes terminologias algumas vezes falhando em perceber que elas estatildeo falando sobre problemas anaacutelogos uma situaccedilatildeo paradoxal como o proacuteprio objetivo da Organizaccedilatildeo do Conhecimento ser o de prover acesso agrave informaccedilatildeo por meio de linguagens padronizadas Mas essa variedade eacute tambeacutem uma riqueza para o campo que impregnado de suas origens documentaacuterias vecirc-se envolvido na discussatildeo interdisciplinar O escopo da Organizaccedilatildeo do Conhecimento eacute mais amplo do que a classificaccedilatildeo e a indexaccedilatildeo tradicionais de documentos bibliograacuteficos A vasta experiecircncia acumulada pelas bibliotecas tem produzido ferramentas sofisticadas como regras de catalogaccedilatildeo sistemas de classificaccedilatildeo e interfaces de busca online que podem ter resultados uacuteteis quando aplicados aos novos ldquoportadoresrdquo de informaccedilatildeo como hipertexto multimiacutedia e documentos digitais (o proacuteprio uso da internet como instrumento de obtenccedilatildeo de informaccedilotildees seria de pouca expressatildeo sem o desenvolvimento de ferramentas de busca mais avanccediladas as quais desempenham evidentes funccedilotildees de filtragem e em casos como o Google aspiram a uma credibilidade decorrente da utilizaccedilatildeo de paracircmetros objetivos embasados na suposta relevacircncia que os proacuteprios usuaacuterios da internet atribuem agrave informaccedilatildeo) Jaacute um objeto de museu ou um monumento requerem elementos adicionais de informaccedilatildeo natildeo considerados nas ferramentas bibliograacuteficas padratildeo Assim parece que alguma unificaccedilatildeo desses meacutetodos e formatos seria desejaacutevel no futuro (GNOLI 2008 p 137-138) De fato o CRG (1978 p 23) tem apontado o que Austin chamou de ldquosiacutendrome do prato chinecircsrdquo o que significa que classificar um livro sobre pratos chineses eacute essencialmente diferente de classificar os proacuteprios pratos O tratamento bibliograacutefico adiciona dimensotildees que estatildeo refletidas nos coacutedigos de catalogaccedilatildeo e nos esquemas de classificaccedilatildeo para o fenocircmeno tratado como caracteriacutesticas fiacutesicas do suporte (capa tamanho da folha estilo de impressatildeo ilustraccedilatildeo) enfoque disciplinar e teoacuterico adotado pelo autor do texto entre outras dimensotildees Tambeacutem deve-se considerar que os livros contecircm descriccedilotildees de objetos em relaccedilatildeo a outros

220

Na Iacutendia o DRTC desenvolve e aprofunda a teoria de Ranganathan Ele tem

formado teoacutericos renomados Bhattacharyya Gopinath Iyer Neelameghan213

A vantagem citada pelos especialistas e defensores do enfoque totalmente

facetado para a classificaccedilatildeo como Batley (2005 p 113) e Broughton (2004 p

252) eacute que ela eacute o melhor caminho para fornecer detalhamento precisatildeo e

regularidade no conhecimento Esquemas enumerativos tecircm uma obsolescecircncia

natural (enumeram o estado do conhecimento no tempo das suas publicaccedilotildees e tecircm

que ser constantemente revisados e atualizados para acomodar novos assuntos)

Esquemas facetados podem frequentemente acomodar novos assuntos (requerem

menos revisotildees em razatildeo das suas estruturas menos riacutegidas e assuntos novos

podem ser acomodados pela simples extensatildeo das tabelas)

Vickery (1963) defende o esquema analiacutetico-sinteacutetico apresentado como a

melhor adaptaccedilatildeo agraves exigecircncias de uma classificaccedilatildeo moderna flexibilidade forte

expressividade simplicidade Mas sem criticar explicitamente a CC recusa a

ambiccedilatildeo de uma foacutermula universal de descriccedilatildeo de assuntos que seria aplicaacutevel agrave

Medicina agrave Psicologia e agrave Linguiacutestica tanto quanto agrave Metalurgia ou agrave Ciecircncia dos

Solos Para o CRG o meacutetodo das facetas eacute tatildeo melhor adaptaacutevel a uma indexaccedilatildeo

de qualidade quanto menor for o domiacutenio de aplicaccedilatildeo e ele recomenda sobretudo a

construccedilatildeo daquilo que chama os ldquoesquemas especiaisrdquo Diferente da CC a lista das facetas do CRG natildeo eacute fornecida a priori dentro de

uma foacutermula imutaacutevel ela deve ser pesquisada de maneira pragmaacutetica para um

exame detalhado da documentaccedilatildeo relevante do domiacutenio a tratar Entretanto o

iniacutecio eacute tambeacutem igualmente ao da CC o de trazer para uma anaacutelise conceitual o

nuacutemero teoricamente ilimitado dos termos do domiacutenio a um nuacutemero restrito de

ldquocategorias fundamentaisrdquo Outra diferenccedila importante tem um aspecto

predominantemente paradigmaacutetico na concepccedilatildeo das facetas Observa-se que na

213 Eacute assim que Bhattacharyya concebeu em 1979 o sistema de indexaccedilatildeo em cadeia POPSI (Postulate-Based Permuted Subject Index - Indexaccedilatildeo de Assuntos Baseada em Postulado Permutado) inspirado na CC O sistema de facetas eacute conservado mas considerado como uma ferramenta de estruturaccedilatildeo semacircntica e completado por uma sintaxe As quatro categorias elementares lembram de perto as facetas da CC mas satildeo dessa vez claramente definidas (BHATTACHARYYA 1979) a) disciplina substitui a faceta de base da CC b) entidade (aproxima-se de Personalidade) designa todo objeto identificaacutevel c) accedilatildeo (no lugar de Energia) eacute dividida em accedilatildeo reflexiva (self action) por exemplo respirar e accedilatildeo externa (external action) por exemplo comer d) propriedade (aproxima-se de Mateacuteria) compreende os atributos das entidades ou das accedilotildees (inteligecircncia densidade eficaacutecia) Dessa forma POPSI abandona a rigidez formal da CC por uma sintaxe simples e eficaz

221

CC Ranganathan privilegia o sintagmaacutetico com a sua foacutermula PMEST Vickery

(1963) ao contraacuterio procura estabelecer experimentalmente as categorias

fundamentais de um domiacutenio restrito natildeo a partir de uma lista de assuntos

representativos mas a partir de uma lista de conceitos a semacircntica tem prioridade

sobre a sintaxe O autor aconselha coletar centenas de termos representativos da

literatura do domiacutenio e consultar para cada termo um dicionaacuterio de definiccedilotildees

Sabe-se que a definiccedilatildeo dos dicionaacuterios de liacutengua liga cada termo a uma

categoria mais geral de conceito por exemplo gato a animal fruto a aacutervore correr a

ir lento a maneira de se conduzir etc Pode-se ainda ir mais longe e de aproximaccedilatildeo

em aproximaccedilatildeo chegar agrave noccedilatildeo mais geral que natildeo pode ser encontrada espeacutecie de

plataforma superior intransponiacutevel que se pode chamar de ldquoprimitivasrdquo ou ldquocategorias

fundamentaisrdquo entidade estado accedilatildeo tempo espaccedilo quantidade

Esse meacutetodo de construccedilatildeo sob medida das facetas tem a vantagem de natildeo

impor um esquema a priori e de permitir discernir melhor a natureza das categorias

fundamentais obtidas indo do especiacutefico ao geneacuterico ateacute o niacutevel mais elevado de

generalidade Pode-se montarconstruir uma lista de categorias sejam elas

universais sejam locais

Uma lista de ldquocategorias universaisrdquo assim como uma ldquoordem padratildeo de

citaccedilatildeordquo foram propostas pelo CRG como candidatas agrave estandardizaccedilatildeo todo (objeto

do assunto ou produto final) tipos partes materiais propriedades processos

operaccedilotildees e agentes aos quais podem ser acrescentados espaccedilo e tempo bem

como forma de apresentaccedilatildeo (FOSKETT A C 1996 p 158) Pode-se tambeacutem citar

a norma Regravegles drsquoEacutetablissent decircs Thesaurus Monolingues (ASSOCIATION 1981)

da Association Franccedilaise de Normalisation (AFNOR) que fornece regras para a

construccedilatildeo de tesauros monolingues e que oficializou a possibilidade de adaptar aos

tesauros a teacutecnica das facetas fornecendo uma ferramenta de trabalho para analisar

os campos semacircnticos e para determinar as relaccedilotildees entre os conceitos que esses

campos carregam A norma na seccedilatildeo 57 (Eacutetablissement decircs Relations) explica

como agrupar descritores e propotildee a escolha entre temas e facetas214 A noccedilatildeo de

tema (inexistente na norma) eacute ilustrada pelas disciplinas Quanto agraves categorias

fundamentais eacute pela sua enumeraccedilatildeo processos (ativo) fenocircmeno (passivo) 214 A norma Z-47-100 considera os dois meacutetodos de reagrupamento incompatiacuteveis entre si se bem que como demonstra Maniez (1999 p 258-259) diferentes criteacuterios comuns agrave mesma classe podem perfeitamente se conjugar Consequentemente como acentua Michele Hudon (1994 p 85) pode-se optar por uma terceira soluccedilatildeo a mixagem dos dois meacutetodos

222

propriedades pessoas materiais ferramentas ou equipamentos que pode se

chegar a uma concepccedilatildeo mais clara de facetas que segundo a norma satildeo os niacuteveis

superiores de uma hierarquizaccedilatildeo de conceitos obtida pela anaacutelise progressiva do

especiacutefico ao geneacuterico (ASSOCIATION 1987)215 ou seja pela aplicaccedilatildeo do

pensamento indutivo Essas categorias oferecem uma ferramenta simples e

universal de classificaccedilatildeo de conceitos e satildeo tambeacutem perfeitamente adaptaacuteveis agrave

divisatildeo loacutegica gecircneroespeacutecie pela simples razatildeo de que elas provecircm de uma

operaccedilatildeo inversa (do particular ao geral) A definiccedilatildeo abstrata eacute mais delicada como cada vez que se atinge um niacutevel

elevado de generalizaccedilatildeo Quer sejam ferramentas de estruturaccedilatildeo do

conhecimento quer sejam gecircneros primitivos semacircnticos as categorias ldquodizemrdquo dos

conceitos universais do niacutevel superior de generalizaccedilatildeo Pode-se optar por designar

os termos de ldquofacetas fundamentaisrdquo ou ldquofacetas categoriaisrdquo

As facetas de domiacutenios especiais segundo Vickery (1963) perdem em

universalidade o que ganham em especificidade quanto mais as categorias satildeo

especializadas menos elas satildeo universais

O CRG tem tido muito trabalho com a questatildeo da ordem de combinaccedilatildeo das

facetas a qual eacute abordada com a mesma preocupaccedilatildeo pragmaacutetica adotada para tratar

das categorias fundamentais Vickery (1963) entre outros propocircs o princiacutepio de uma

ordem de sucessatildeo que iria dos objetos e dos meios de accedilatildeo aos resultados esperados

(quadro 39) Para o CRG eacute suficiente que a ordem estabelecida seja constantemente

respeitada Essa ordem sintagmaacutetica das facetas tem um duplo objetivo

a) permite uma melhor legibilidade das foacutermulas de indexaccedilatildeo e evita as

ambiguidades criadas frequentemente pela aleatoriedade ou incerteza

de descritores

b) assegura graccedilas agrave notaccedilatildeo (iacutendices e marcas de facetas) o

reagrupamento das obras (de um domiacutenio particular) e dos resumos

descritivos (nos fichaacuterios) em funccedilatildeo da proximidade dos assuntos

Nos sistemas de classificaccedilatildeo facetados existem vaacuterias foacutermulas que podem

ajudar a determinar as facetas representadas em um esquema de classificaccedilatildeo e a

ordem na qual elas satildeo apresentadas A ordem de citaccedilatildeo eacute uacutetil para providenciar

uma visatildeo geral da foacutermula de faceta conforme exemplificado no quadro 40

215 ldquoce sont les niveaux supeacuterieurs drsquoune hieacuterarchisation des concepts obtenue par reacuteduction progressive du speacutecifique au geacuteneacuteriquerdquo

223

FOacuteRMULA DE FACETAS OU CATEGORIAS AUTORES Concreto - Processo Kaiser 1911

Coisa - Parte - Material - Accedilatildeo - Agente Coates 1960

Personalidade - Mateacuteria - Energia - Espaccedilo - Tempo Ranganathan 1960

Substacircncia produto organismo - Parte oacutergatildeo estrutura - Propriedade (qualidade) e Medida (quantidade) - Objeto da accedilatildeo mateacuteria bruta - Accedilatildeo operaccedilatildeo processo atividade - Agente ferramenta - Propriedade geral processo operaccedilatildeo - Espaccedilo - Tempo Coisa - Parte - Propriedade - Processo - Operaccedilatildeo - Agente - Espaccedilo - Tempo

Vickery 1963 Vickery 1975

Coisa - Espeacutecie - Parte - Material - Propriedade - Processo - Operaccedilatildeo - Agente ferramenta - Propriedade geral processo operaccedilatildeo - Espaccedilo - Tempo

McIlwaine 2000

QUADRO 40 - FOacuteRMULAS DE FACETAS OU DE CATEGORIAS DE ACORDO COM OS RESPECTIVOS AUTORES FONTE Vickery (1963 1975) Batley (2005 p 121)

Pode-se observar que algumas facetas satildeo claramente mais complexas do

que outras mas de modo geral todas partem do especiacutefico (coisa substacircncia

personalidade objeto do assunto ou produto final) para o geral (espaccedilo e tempo)

Algumas das facetas podem ser modificadas de acordo com as necessidades de

uma coleccedilatildeo particular ou grupo de usuaacuterios

410 QUADROS-SIacuteNTESE DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA

Os esquemas gerais de classificaccedilatildeo (tradicionais) existentes elaborados de

alguma maneira para uma eacutepoca e cultura determinada e especialmente para

bibliotecas acadecircmicas nacionais e puacuteblicas tecircm sido como demonstram as suas

histoacuterias convencional e confiaacutevel devido a resistecircncia agrave mudanccedila (CDD) erudito e

filosoacutefico em razatildeo da sua ideacuteia de expansatildeo estar fundamentada no pensamento

evolucionista (EC) satisfatoacuterio em razatildeo da obtenccedilatildeo de resultados frente a

singularidades impossiacuteveis (CDU) praacutetico em razatildeo das soluccedilotildees simples para todo

tipo de problemas (LCC) loacutegico e individual em razatildeo de ser o produto da reflexatildeo e

opiniatildeo de um homem (BSC) coerente e sistematizado em razatildeo das regras expliacutecitas

que atraem aqueles que buscam a ldquoperfeiccedilatildeordquo num esquema bibliograacutefico (CC) e

ilusoacuterio em razatildeo da busca de consenso entre opiniotildees abalizadas o que tem produzido

uma visatildeo de conhecimento de modo geral natildeo-aceitaacutevel (BC) (quadro 41 e 42)

224

SEacuteCULO XIX SEacuteCULO XX HARRIS (1870)

12 classes

DEWEY (CDD 1876-2003)

10 classes

CUTTER (EC 1891-1893)

26 classes

OTLETLA FONTAINE

(CDU 1905-2003) 10 classes

LCC (LCC 1902-) 21 classes

BROWN (BSC 1906-1939)

11 classes

RANGANATHAN (CC 1933-1973)

26 classes

BLISS (BC1-1935BC2-1977)

26 classes RAZAtildeO RAZAtildeO MENTE RAZAtildeO

000 Generalidades (CCompCInf)

A Obras Gerais 0 Generalidades (GlInforOrg)

A Obras Gerais A Generalidade Z Generalidades

Filosofia 100 Filosofia (FilPsicologia)

B FilosofiaRelig D Hist Ecles

1 Filosofia (FilPsicologia)

B FilosofiaPsicReligiatildeo J-K FilosofiaReligiatildeo

R Filosofia AFilosofiaLoacutegMatEstatCiecircnciaC e Tecnol

S Psicologia I Psicologia MZ MisticismoEspirit Religiatildeo 200 Religiatildeo C Religiatildeo Cristatilde 2 Religiatildeo Q Religiatildeo PRelOculMoralEacutetica

Z ReligOcultMoral Ciecircncias Sociais Ciecircncias Poliacuteticas

300 Sociologia (Ciecircncias Sociais)

H CSociais I Sociologia

3 Ciecircncias Sociais

H Ciecircncias Sociais L Ciecircncias SocPol Y Sociologia K Ciecircncias Sociais Descriccedilotildees e Viagens

J GovernoPol J Ciecircncia Poliacutetica W Ciecircncias Poliacuteticas R C PolAd Puacutebl X Economia T EconomiaAd Empr K LegislDireito K Direito S Direito L Educaccedilatildeo T Educaccedilatildeo J Educaccedilatildeo MATEacuteRIA E FORCcedilA CiecircnciasNaturais Ciecircncias Aplicadas

500 Ciecircncias Naturais (Ciecircncias)

L Ciecircncias M HistNatural

5 Ciecircncias (Ciecircncias Naturais)

Q Ciecircncia B-DCiecircncias Fiacutesicas A Ciecircncias DAstronomiaCEspacC da Terra

B Matemaacutetica C Fiacutesica B Fiacutesica S Engenharia D Engenharia E Quiacutemica C Quiacutemica VIDA 600 Artes Praacuteticas

(C AplicTecnologia) R Artes Uacuteteis T Manufaturas

6 Ciecircncias Aplicadas (Tecnologia)

I Artes Domeacutesticas Biologia Econocircmica

M Artes Uacuteteis U TecnologiaArtes UacuteteisArtes Recreativas

E-F C Bioloacutegicas G Biologia E Biologia H Geologia

QUADRO 41 - CLASSES PRINCIPAIS DOS ESQUEMAS GERAIS DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA continua FONTE a autora

225

N Botacircnica I Botacircnica F Botacircnica S Agricultura J Agricultura O Zoologia KZ Zoologia G Zoologia P Antropologia

Q Medicina R Medicina G-H MedicinaEtnol L Medicina

H Antropologia

T Tecnologia FTecnologia U Ciecircncia Militar V Ciecircncia Naval

IMAGINACcedilAtildeO IMAGINACcedilAtildeO MEMOacuteRIARegistro IMAGINACcedilAtildeO

M Muacutesica Belas Artes 700 Belas Artes

(ArtesRecreaccedilatildeo) W Belas Artes V Arte-RecrEsp TeatroMuacutesica

7 Belas-Artes (ArtesRecrEspor)

N Belas Artes N Belas Artes

V ArtesBelas Artes

Poesia 400 Filologia

(Liacutenguas) X Liacutengua 4 Filologia

(vazio) P LiacutenguaLiteratura M LiacutenguaLiteratura P Linguiacutestica

W FilolLiacutenguaLiter

Miscelacircnea Literaacuteria 800 Literatura Y Literatura 8 LiacutenguaLiteratura N Gecircneros Literaacuter O Literatura Ficccedilatildeo YF FicccedilatildeoFicccedilatildeo

MEMOacuteRIA MEMOacuteRIA MEMOacuteRIARegistro MEMOacuteRIA

Histoacuteria 900 Histoacuteria (HistoacuteriaGeografia)

F Histoacuteria 9 Histoacuteria C HistoacuteriaCiecircncias Aux O-W HistoacuteriaGeogr V Histoacuteria L Histoacuteria

DHist Geral e da Europa EHistoacuteria Ameacuterica (Geral) FHistoacuteria Ameacuterica (EUA) ZBibliogrBibliotRecInf GeografiaViagens GeogrViagens G GeogrViagem 9 Geografia GGeogrAntropRecreaccedil

U Geografia

Histoacuteria Civil Biografia Biografia E Biografia 9 Biografia X Biografia Miscelacircnea Z Arte do Livro

QUADRO 41 - CLASSES PRINCIPAIS DOS ESQUEMAS GERAIS DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA conclusatildeo FONTE a autora

226

ANO CLASSIFICACcedilAtildeO PRINCIacutePIOS GERAIS 1876 Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey

(CDD) Hieraacuterquica geralracionalismo baconiano rege a divisatildeo notaccedilatildeo decimal pura integridade dos nuacutemeros divisatildeo do conhecimento em 9 classes principais (campos do saber - disciplinas baacutesicas) e 1 classe generalidades subdivisatildeo das classes principais em mateacuterias ecircnfase na praacutetica

1905-1907

Classificaccedilatildeo Decimal Universal (CDU)

Hieraacuterquica universalnotaccedilatildeo natildeo rigorosamente decimal mas mista praticada em funccedilatildeo da necessidade integridade dos nuacutemeros divisatildeo do conhecimento em classes principais (9 campos do saber - disciplinas baacutesicas - e 1 classe reservada para generalidades subdivisotildees mais avanccediladas das classes principais que as da CDD permitindo uma anaacutelise mais detalhada dos assuntos importacircncia da sintaxe - uso de procedimentos sintaacuteticos que multiplicam as possibilidades de combinaccedilotildees

1891 Classificaccedilatildeo Expansiva de Cutter(EC)

Erudita e filosoacuteficaa ideacuteia baacutesica do sistema consiste de uma organizaccedilatildeo de extensatildeo crescente com vaacuterias tabelas classificatoacuterias separadas divisatildeo geral das classes segue a ideacuteia evolucionista

1902 Classificaccedilatildeo da Biblioteca do Congresso (LCC)

Primazia dos livros sobre os assuntos primazia da praacutetica sobre a sistematizaccedilatildeo primazia das palavras (excesso de ordem alfabeacutetica) primazia da garantia literaacuteria primazia da demanda potencial

1906 Classificaccedilatildeo de Assuntos de Brown (BSC)

Primazia do concreto (ideacuteia de que os assuntos satildeo concretos)disposiccedilatildeo das ciecircncias junto da qual elas derivam teoria do ldquolugar uacutenicordquo que recomenda que soacute um lugar deve existir para um assunto subdivisotildees de um assunto tratadas em tabelas categoriais Sequecircncia das classes principais segue a ordem do agrupamento mais amplo Mateacuteria Vida Mente Registro

1933 Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos de Ranganathan (CC)

Esquema facetado segue uma ordem loacutegica consistente de cinco facetas ou categorias Personality Matter Energy Space Time (PMEST) que eacute a base para a construccedilatildeo de todo o esquema sintaxe rigorosa composta de foacutermulas de classificaccedilatildeo dos temas utilizando a classe principal da mateacuteria ou disciplina a sequecircncia PMEST e as vezes os ciclos e os niacuteveis notaccedilatildeo liberada do esquema decimal a CC utiliza amplamente as possibilidades dos siacutembolos alfanumeacutericos e siacutembolos de conexatildeo para indicar os conceitos de cada faceta

1935 Classificaccedilatildeo Bibliograacutefica de Bliss (BC)

Enfoque facetado que trabalha no quadro filosoacutefico-cientiacutefico-positivista do iniacutecio do seacuteculo XX a ordem das coisas e portanto das classes principais pode ser estabelecida a ordem das coisas eacute a base da classificaccedilatildeo do conhecimento (a ordem das classes principais segue a gradaccedilatildeo por especialidade) a ordem das coisas eacute determinada pelo uso e pela utilidade que tem para os pesquisadores nos vaacuterios ramos do conhecimento (consenso dos especialistas - base da ordenaccedilatildeo por disciplinas) niacuteveis integrativos brevidade da notaccedilatildeo

QUADRO 42 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES BIBLIOGRAacuteFICAS CLAacuteSSICAS FONTE a autora

227

Com o estudo sucinto dos esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica mais

consagrados constatou-se

a) a inovaccedilatildeo promovida pelo sistema de Dewey ao abarcar o conjunto do

saber com a ajuda de uma divisatildeo hieraacuterquica constante de base dez

b) o avanccedilo da CDU que retomando as classes principais e a notaccedilatildeo

decimal da CDD permitiu anaacutelises mais aprofundadas das mateacuterias

(assuntos)

c) a criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo por Cutter de um sistema filosoacutefico erudito que

seguindo a ideacuteia evolucionista na disposiccedilatildeo geral das classes visava dotar

as bibliotecas de um sistema classificatoacuterio expansivo (de acordo com o

tamanho da coleccedilatildeo)

d) a originalidade da LCC e a sua influecircncia crescente alavancada pela

histoacuteria e pela forccedila de atraccedilatildeo norteamericana

e) a tentativa do sistema de Brown de simplificar o trabalho da classificaccedilatildeo

de promover um grande agrupamento (categorias - nos moldes das

classificaccedilotildees filosoacuteficas) e de antecipar o desenvolvimento da anaacutelise em

facetas

f) a grande contribuiccedilatildeo do sistema de Ranganathan agrave organizaccedilatildeo do

conhecimento ao dotar a Biblioteconomia de fundamentos racionais

(postulados regras e princiacutepios) e constatar que as mateacuterias mais

complexas sempre podem ser reduzidas por meio de anaacutelises a cinco

categorias fundamentais

g) a profunda reflexatildeo teoacuterica de Bliss que gerou um corpus de princiacutepios e a

influecircncia reciacuteproca perceptiacutevel na evoluccedilatildeo das teorias de Bliss e

Ranganathan

228

5 CLASSIFICACcedilOtildeES BIBLIOGRAacuteFICAS CONCEITOS DE CLASSE DE CATEGORIA E DE FACETA

Conhecemos o mundo de maneiras diferentes a partir de posisionamentos diferentes e cada uma dessas maneiras na qual conhecemos produz

estruturas ou representaccedilotildees oude fato ldquorealidadesrdquo diferentes Agrave medida que ficamos mais adultos (pelo menos na cultura ocidental) nos

tornamos cada vez mais haacutebeis em ver o mesmo conjunto de eventos a partir de muacuteltiplas perspectivas ou posicionamentos e a admitir os resultados

como por assim dizer mundos possiacuteveis alternativos Jerome Bruner

Nesta seccedilatildeo consolida-se o corpus teoacuterico por meio da explicitaccedilatildeo de

diferentes noccedilotildees que no decorrer do estudo encontram-se sugeridas constatadas

inferidas ou ateacute mesmo negadas tendo por base a descriccedilatildeo e anaacutelise de

classificaccedilotildees A intenccedilatildeo eacute explorar discutir e se possiacutevel esclarecer termos

A afirmaccedilatildeo de que a imprecisatildeo conceitual que se manifesta na definiccedilatildeo216

e no uso de noccedilotildees essenciais agrave Teoria da Classificaccedilatildeo acaba por comprometer

tanto o rigor teoacuterico quanto a eficaacutecia das aplicaccedilotildees demonstra a preocupaccedilatildeo de

esclarecer a terminologia e se baseia no pressuposto de que a classificaccedilatildeo de seres

ou de saberes exige aleacutem da observaccedilatildeo do real que discerne caracteriacutesticas e da

percepccedilatildeo que capta essecircncias a compreensatildeo das relaccedilotildees entre as coisas ou

objetos de suas similitudes e diferenccedilas exige aleacutem da definiccedilatildeo em niacutevel lexical a

noccedilatildeo (adotada ou construiacuteda) em niacutevel conceitual requer ainda aleacutem da anaacutelise e

interpretaccedilatildeo dos objetos individualmente a generalizaccedilatildeo dos termos e dos conceitos

que os representam

Eacute certo que ocorre uma certa frouxidatildeoflutuaccedilatildeo epistemoloacutegica pela falta de

uma reflexatildeo global coerente como apontado por Albrechtsen e Hjoslashrland (1994) ao se

referirem agrave Ciecircncia da Informaccedilatildeo quando afirmam que apesar de uma literatura

abundante ela permanece ateacute o presente em niacutevel teoacuterico com falhas e os seus

fundamentos incertos

O modo como se daacute o conhecimento e a formaccedilatildeo dos conceitos eacute assunto

que desde a Antiguidade grega instiga a curiosidade humana provocando

discussotildees filosoacuteficas e cientiacuteficas

O conhecimento em suas diversas formas tem sido visto desde a

Renascenccedila como representaccedilatildeo da realidade independente do conhecedor em

216 Para Aristoacuteteles ldquouma definiccedilatildeo eacute uma frase que significa a essecircncia de uma coisardquo (ARISTOacuteTELES 1973 p 13)

229

que a mente funciona como um espelho da natureza Consequentemente nesse

modelo quando se estuda o modo como o conhecimento ocorre isto eacute quando se

faz ciecircncia cognitiva a subjetividade eacute preterida (com a alegaccedilatildeo de que poderia

comprometer a exatidatildeo cientiacutefica) em favor da objetividade Essa posiccedilatildeo teoacuterica

denominada representacionismo ainda hoje subsiste como um marco

epistemoloacutegico Em oposiccedilatildeo a essa corrente surge na deacutecada de 1960 uma teoria

bioloacutegica da compreensatildeo humana a Biologia da Cogniccedilatildeo exposta na obra A Aacutervore

do Conhecimento dos bioacutelogos e neurocientistas Maturana e Varela (2001) A tese

central eacute a de que os seres humanos constroem o mundo em que vivem e satildeo

construiacutedos por ele num processo incessante e interativo Assim o homem eacute

influenciado e modificado pelo que vecirc e sente Conhece-se e aprende-se vivendo e

vive-se conhecendo e aprendendo Portanto toda experiecircncia cognitiva inclui aquele

que conhece

Para os fundamentos teoacutericos da Classificaccedilatildeo entender o que satildeo e como

se formam os conceitos eacute essencial uma vez que as classificaccedilotildees bibliograacuteficas

satildeo feitas de conceitos217 Essas unidades de conhecimento que reuacutenem termo

(signo) e conteuacutedo (significado) sob um uacutenico vocaacutebulo configuram-se em um

amaacutelgama dos elementos lexical e semacircntico

Segundo Bariteacute (1997 p 36 Traduccedilatildeo livre da autora) conceito eacute uma

abstraccedilatildeo ou noccedilatildeo que se refere a uma unidade de conhecimento

independentemente da sua expressatildeo linguiacutestica e compreende o conjunto dos seus

traccedilos essenciais O conceito enquanto representaccedilatildeo simboacutelica estaacute na base da

Teoria da Classificaccedilatildeo e da Terminologia pois eacute o elemento indivisiacutevel que permite

representar o conhecimento contido nos documentos e organizar os enunciados

correspondentes agrave ideacuteia que se tem de qualquer coisa218

Para Shera219 (apud ALVARENGA 2006 p 87)

217 As classificaccedilotildees bibliograacuteficas antigamente eram feitas de termos Soacute recentemente percebeu-se que era importante trabalhar com conceitos essa evoluccedilatildeo Maria Luiza Campos deixa muito clara no livro Linguagem documentaacuteria teorias que fundamentam sua elaboraccedilatildeo Niteroacutei Eduff 2001 218 ldquoabstraccioacuten o nocioacuten que refiere a una unidad de conocimiento independiente de su expresioacuten linguiacutestica y comprende el conjunto de sus rasgos esenciales El concepto en tanto representacioacuten simboacutelica estaacute en la base de la Teoriacutea de la Clasificacioacuten y de la Terminologia pues es el elemento indivisible que permite representar el conocimiento contenido en los documentos y organizar los enunciados correspondientes a la idea que se tiene de cualquier cosardquo 219 SHERA J H Pattern structure and conceptualization in classification In INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION FOR INFORMATION RETRIEVAL Proceedingshellip London ASLIB 1957 p 3

230

Um conceito eacute uma rede de padrotildees de inferecircncias associaccedilotildees e relacionamentos que satildeo predicados ou ditos de outra forma trazidos em cena atraveacutes do ato da categorizaccedilatildeo [hellip] a cristalizaccedilatildeo ou formalizaccedilatildeo do pensamento inferencial nascida da percepccedilatildeo sensorial condicionada pela operaccedilatildeo do ceacuterebro humano e delineada pela experiecircncia humana Ela repousa na fundamentaccedilatildeo de todo pensamento mas ela eacute pragmaacutetica e instrumental Eacute permanente e efecircmera Permanente porque sem ela a cogniccedilatildeo eacute impossiacutevel efecircmera porque ela pode ser rejeitada quando sua utilidade eacute esgotada

O ato de classificar ou de categorizar as unidades de pensamento e as

relaccedilotildees entre elas como estatildeo registradas nos documentos e em conformidade

com o pensamento do usuaacuterio eacute o grande desafio dos classificadores

Os sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento passaram ao longo do seacuteculo

XX de classificaccedilotildees de assuntos preacute-definidos a classificaccedilotildees analiacutetico-sinteacuteticas

de assuntos potenciais No caso passou-se de listas de conceitos de unidades preacute-

compostas agrave combinaccedilatildeo de unidades elementares

A distinccedilatildeo entre assuntos e conceitos (como se eles andassem separados)

natildeo eacute clara pois um conceito pode ele mesmo ser constituiacutedo da mateacuteria de um

assunto Embora tanto um conceito como um assunto sejam a representaccedilatildeo mental

de um elemento da realidade pensado na ausecircncia dessa realidade o que distingue

o conceito do assunto eacute o seu estatuto sociolinguiacutestico e o seu estatuto cognitivo

(MANIEZ 1999 p 257) De um lado os conceitos veiculados por um grupo social

satildeo as unidades de pensamento passadas pelas mentalidades e pela liacutengua do

grupo recebidas do passado e afianccediladas pelos dicionaacuterios Elas fazem parte da

liacutengua Ao contraacuterio os assuntos como os discursos satildeo produtos da atividade

linguiacutestica da palavra O nuacutemero de conceitos eacute limitado poreacutem o dos assuntos

potenciais eacute infinito

Pode-se dizer que o conceito eacute apanhado pelo espiacuterito que se apodera dele

como de um objeto elementar - o suficiente para assegurar comparaccedilotildees Por

oposiccedilatildeo ao assunto que eacute em geral composto

[] para a teoria semioacutetica o termo conceito pode ser mantido no sentido de denominaccedilatildeo (cuja significaccedilatildeo eacute explicitada pela definiccedilatildeo) A explicitaccedilatildeo dos conceitos por definiccedilotildees sucessivas torna-se entatildeo a principal preocupaccedilatildeo de qualquer construccedilatildeo metalinguiacutestica do teoacuterico [] (GREIMAS [1979] p 70)

A Linguistica daacute ldquoo nome de conceito a toda representaccedilatildeo simboacutelica de

natureza verbal que tem uma significaccedilatildeo geral conveniente e toda uma seacuterie de

objetos concretos que possuem propriedades comunsrdquo (DUBOIS1991 p135)

Colocar ordem na nebulosa dos conceitos remete a classificaacute-los E partindo

231

do princiacutepio que o conceito eacute um objeto mental o meacutetodo aplicado a todo o objeto

consiste em se interrogar acerca das suas caracteriacutesticas essenciais e permanentes

A anaacutelise teoacuterica dos conceitos eacute um domiacutenio de pesquisa interdisciplinar que se

encontra com os filoacutesofos os linguistas os psicoacutelogos e os cientistas cognitivos

Sem querer aprofundar essa questatildeo citam-se paracircmetros esboccedilados por Maniez

(1999 p 258) o qual afirma que todo conceito pode ser caracterizado por - seu

estatuto terminoloacutegico (Que termo Que liacutengua Que niacutevel de especializaccedilatildeo) e -

seu estatuto semacircntico (Qual definiccedilatildeo Qual campo semacircntico Qual categoria

fundamental Quais relaccedilotildees de vizinhanccedila Qual grau de abstraccedilatildeo) A partir

desses criteacuterios pode-se visualizar seja uma seacuterie de classificaccedilotildees unidimensionais

dos conceitos seja um banco de dados conceituais que reteacutem o todo ou parte

desses criteacuterios seja uma classificaccedilatildeo pluridimensional220

Os conceitos de classe categoria e faceta satildeo trabalhados na sequecircncia

lembrando que satildeo de interesse especiacutefico dos estudiosos da Classificaccedilatildeo como jaacute

mencionado Poreacutem eacute certo que os classificadores e indexadores tecircm de assumir o

papel de estudiosos da classificaccedilatildeo visto que existem dificuldades de representar e

atualizar os assuntos para atender agraves expectativas dos usuaacuterios Desse modo

verifica-se como os conceitos satildeo enunciados no acircmbito das classificaccedilotildees

biblioteconocircmicas tradicionais

O termo classe apresenta diversas significaccedilotildees na linguagem corrente Fala-

se de classes sociais classes de pessoas ou produtos que se diferenciam por sua

qualidade classes escolares classes de viagens entre inuacutemeras outras

Os cataacutelogos comerciais e as listas telefocircnicas satildeo um exemplo tiacutepico de

classificaccedilatildeo na vida diaacuteria atualizando o termo classe que lhe daacute origem os grupos

de semelhantes satildeo dispostos em uma ordem loacutegica que facilita a orientaccedilatildeo no

conjunto dos produtos em questatildeo

220 Modelo de classificaccedilatildeo de objetos que tem parentesco com a classificaccedilatildeo facetada de assuntos em que cada campo exprime uma dimensatildeo comum a todos os elementos Assim as dimensotildees de um repertoacuterio de pessoas poderiam ser sobrenome prenome endereccedilo coacutedigo postal + cidade (cada um desses criteacuterios admite somente um valor por objeto) Esse meacutetodo eacute simples expressivo e econocircmico e oferece como outra vantagem o benefiacutecio do socorro do computador para a classificaccedilatildeo A ordem de sucessatildeo dos campos pode ser fixada por exemplo do geral para o particular coacutedigo postal endereccedilo sobrenome prenome Isso significa que eacute permitido classificar a base em funccedilatildeo da ordem escolhida para os diferentes campos A teacutecnica classificatoacuteria de uma classificaccedilatildeo pluridimensional natildeo eacute nada mais que uma forma abreviada de uma classificaccedilatildeo hieraacuterquica em que criteacuterios comuns a todos os elementos da classe satildeo utilizados nos diferentes niacuteveis de divisatildeo Agrave classificaccedilatildeo mono hieraacuterquica (vertical) sucede uma classificaccedilatildeo poli hieraacuterquica

232

Na linguagem do cotidiano o conceito de classe eacute usado a todo instante

Quando se quer definir um conceito nomeiam-se natildeo soacute a classe agrave qual ele

pertence como tambeacutem as caracteriacutesticas que o distinguem dos outros conceitos da

mesma classe Segundo Dobrowolski (1964 p 8) a definiccedilatildeo lsquoParis eacute a capital da

Franccedilarsquo mostra que Paris pertence agrave classe das capitais O fato de Paris ser a capital

da Franccedila eacute um caractere que distingue essa cidade de todas as outras capitais

Considerando-se os princiacutepios de classificaccedilatildeo documentaacuteria segundo

Dobrowolski (1964 p 7) o termo classe somente pode ser usado para designar um

conjunto de unidades221 que apresentam uma caracteriacutestica comum a partir da qual o

conjunto adquire o caraacuteter de classe As unidades a serem classificadas podem ser de

coisas de pessoas de fenocircmenos de termos ou conceitos abstratos etc O elemento

de ligaccedilatildeo entre as unidades de uma mesma classe pode ser constituiacutedo pela

coexistecircncia por uma semelhanccedila formal por um objetivo comum por elos de

organizaccedilatildeo pela uniatildeo no tempo ou no espaccedilo entre outros Classe portanto pode

ser cada grupo de unidades que apresentam ao menos uma caracteriacutestica em comum

ou cada uma das divisotildees principais de um sistema esquema ou quadro de

classificaccedilatildeo representando cada divisatildeo principal uma aacuterea do conhecimento As

caracteriacutesticas comuns a todas as unidades de uma classe ou caracteres de classe

formam a compreensatildeo da classe (exemplo os caracteres comuns ao ferro ao cobre

ao zinco e a outros corpos pertencentes agrave classe de metais definem a compreensatildeo do

conceito lsquometalrsquo) enquanto todas as unidades que apresentam determinadas

caracteriacutesticas formam a extensatildeo da classe (exemplo todos os corpos que

apresentam as caracteriacutesticas dos metais) Eacute o elemento de ligaccedilatildeo222 (o que as

unidades da classe tecircm em comum) entre as unidades de uma classe dada que decide

tanto a compreensatildeo da classe como sua extensatildeo Eacute a partir da definiccedilatildeo das

caracteriacutesticas comuns (exemplo aos metais) que a extensatildeo da classe eacute estabelecida

considerando que todas as unidades que tenham essas caracteriacutesticas pertenccedilam agrave

uacutenica e mesma classe As unidades de uma classe dada podem ter uma denominaccedilatildeo

geneacuterica e uma denominaccedilatildeo individual diz-se que o oxigecircnio eacute um gaacutes gaacutes eacute a

denominaccedilatildeo geneacuterica do oxigecircnio (DOBROWOLSKI 1964 p 8) 221 As unidades a serem classificadas podem ser de seres (todo ente vivo e animado o que ou aquilo que se potildee como existente) ou de saberes (termos conceitos assuntos disciplinas do conhecimento) 222 O elemento de ligaccedilatildeo entre as unidades de uma mesma classe pode ser constituiacutedo pela coexistecircncia por uma semelhanccedila formal por um objetivo comum pela uniatildeo temporal ou espacial por determinados laccedilos de organizaccedilatildeo entre outros

233

Piedade (1983 p 19) considera que ldquoclasse eacute um conjunto de coisas ou

ideacuteias que possuem um ou vaacuterios atributos predicados ou qualidades em comumrdquo

Classe de acordo com Bariteacute (1997 p 29-30) pode ser um conjunto de

conceitos ou elementos definidos pelo fato de possuir ao menos uma propriedade ou

uma caracteriacutestica em comum223 ou ainda cada uma das divisotildees principais em que

se manifesta um sistema ou quadro de classificaccedilatildeo correspondendo cada divisatildeo

principal agrave uma disciplina ampla224

Definiccedilotildees similares aparecem no dicionaacuterio de Keenan (1996 p 23) grupo

de conceitos ou objetos reunidos por alguma caracteriacutestica comum225 ou ainda as

maiores subdivisotildees de um esquema de classificaccedilatildeo226 nos glossaacuterios de Harrod

(1977 p 195) um conjunto ou grupo de conceitos ou de objetos reunidos por

algum tipo de similaridade a que os unifica227 de Menezes Cunha e Heemann

(2004 p 16) ldquoconjunto de objetos ou conceitos que possuem uma ou mais

caracteriacutesticas comunsrdquo de Thompson (1943 p 29) uma divisatildeo de um esquema

de classificaccedilatildeo sob a qual satildeo agrupados assuntos que tecircm caracteriacutesticas

comuns228 e da UnB (GLOSSAacuteRIO 2007) ldquogrupo de elementos que tecircm no

miacutenimo uma caracteriacutestica em comumrdquo Essa similaridade eacute chamada de

caracteriacutestica da classificaccedilatildeo Portanto numa seacuterie ou num conjunto uma classe

consiste na reuniatildeo de todas as coisas que satildeo semelhantes em essecircncias ou

caracteriacutesticas ou propriedades ou relaccedilotildees pelas quais ela eacute definida

Encontram-se tambeacutem em glossaacuterios de Ciecircncia da Informaccedilatildeo definiccedilotildees

que submetem classe agrave categoria Por exemplo ldquoA subdivision of a categoryrdquo (uma

subdivisatildeo de uma categoria) (ELSEVIERrsquoS 1973 p 94) ou ainda ldquoa major division

of a categoryrdquo (a maior divisatildeo de uma categoria) (HARROD 1977 p 195)

Uma classe pode resultar da divisatildeo do universo de conhecimentos de uma

determinada aacuterea ou campo disciplinar divisatildeo feita de acordo com as caracteriacutesticas 223 conjunto de conceptos o elementos definidos por el hecho de poseer al menos un rasgo o una caracteriacutestica en comuacutenrdquo 224 ldquocada una de las divisiones principales en que se despliega un sistema o cuadro de clasificacioacuten correspondiendo cada divisioacuten principal a una disciplina ampliardquo 225 ldquogroup of concepts or things assembled by some common characteristicrdquo 226 ldquothe major subdivisions of a classification eacutechemerdquo 227 ldquoa group of concepts or of things assembled by some likeness which unifies themrdquo 228 ldquoa division of a classification scheme under which are grouped subjects that have common characteristicsrdquo

234

intriacutensecas ou fundamentais de cada conceito nomeando conjuntos mutuamente

exclusivos poreacutem o conceito de classe natildeo se aplica somente agraves aacutereas do conhecimento

A divisatildeo da classe principal229 em classes menores deve esgotar a classe

que ela divide de maneira que a soma das extensotildees das classes seja igual agrave

extensatildeo da classe principal A extensatildeo da classe seraacute mais restrita que a da

classe principal enquanto que aparecendo sob uma forma mais definida a sua

compreensatildeo seraacute mais rica que a compreensatildeo da classe principal

Para decompor uma classe escolhe-se entre as caracteriacutesticas dessa classe

a que apresentar a maior variedade de formas ou que melhor corresponder aos

objetivos de quem estaacute elaborando a classficaccedilatildeo A essa caracteriacutestica230 chama-

se base de divisatildeo porque a variedade das suas formas permite agrupar as

unidades da classe principal em classes particulares de extensatildeo inferior (por

exemplo para classificar um objeto pode-se tomar por base de divisatildeo a mateacuteria de

que ele eacute feito a sua cor a sua forma etc Essas caracteriacutesticas distinguem os

objetos e podem ser tomadas por base de divisatildeo)

Segundo Mills (1960 p 8 Traduccedilatildeo livre da autora) a divisatildeo de um assunto

eacute influenciada pela aplicaccedilatildeo de um Princiacutepio de Divisatildeo (ou Caracteriacutestica como eacute

frequentemente chamado pelos bibliotecaacuterios) para produzir subclasses nas quais

aquele princiacutepio estaacute manifesto em modos ou graus variados Por exemplo a classe

Literatura eacute dividida pela caracteriacutestica por Liacutengua para obter subclasses como

Literatura Inglesa Literatura Francesa etc231

A classificaccedilatildeo tem sempre um fim uacutetil em funccedilatildeo do qual se decide a escolha

da base de divisatildeo da sua progressatildeo e do grau de ramificaccedilatildeo da classificaccedilatildeo

A uniatildeo e a divisatildeo constituem-se num fenocircmeno bilateral satildeo duas faces de

uma operaccedilatildeo uacutenica de classificaccedilatildeo pois natildeo pode existir na classificaccedilatildeo

agregaccedilatildeo sem desagregaccedilatildeo Eacute a uacutenica e mesma operaccedilatildeo vista sob dois acircngulos

diferentes divisatildeo-uniatildeo

Frequentemente encontra-se uma classe Generalidade nas classificaccedilotildees

229 Classe Principal eacute a principal divisatildeo de um esquema de classificaccedilatildeo por exemplo nas classificaccedilotildees claacutessicas as disciplinas do conhecimento 230 Caracteriacutestica eacute aquilo que caracteriza ou distingue eacute a qualidade ou atributo escolhido para servir de base agrave classificaccedilatildeo ou agrave divisatildeo 231 ldquodivision of a subject is affected by applying a Principle of Division (or Characteristic as it is often called by librarians) to produce subclasses in which that principle is manifested in varying ways or degrees For example the class Literature is divided by the characteristic of Language to obtain subclasses such as English Literature French Literature etcrdquo

235

Depois de estabelecidas as classes mais importantes sobra um pequeno nuacutemero de

unidades tatildeo variadas que renderiam uma divisatildeo extremamente particularizada natildeo

completamente definida desprovida de valor praacutetico imediato a classe

Generalidade que se torna assim uma espeacutecie de lugar de tracircnsito para os novos

elementos do conjunto que ainda natildeo encontraram o seu proacuteprio lugar nas

classificaccedilotildees Ou cuja especificidade natildeo eacute reconhecida como eacute o caso da

Biblioteconomia que estaacute em Generalidades na CDD CDU entre outras

classificaccedilotildees Nem sempre a questatildeo eacute transitoacuteria De todo modo a classe

Generalidades eacute aquela que melhor demonstra o aspecto pragmaacutetico - e relativo - de

qualquer sistema de classificaccedilatildeo

As regras ou recomendaccedilotildees como por exemplo a das classes serem

mutuamente exclusivas existem para atender agrave principal finalidade da classificaccedilatildeo

que eacute organizar para recuperar evitando a dispersatildeo de informaccedilatildeo que poderia ser

incluiacuteda em outra classe

O termo caracteriacutestica em Teoria da Classificaccedilatildeo significa qualidade ou

atributo232 de um objeto escolhido para servir de base ou de princiacutepio de divisatildeo a uma

classificaccedilatildeo233 (BARITEacute 1997 p 27-28) Eacute portanto uma propriedade234 distintiva

pela qual uma classe eacute definida em um esquema de classificaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo de uma caracteriacutestica pode ser exaustiva ou seletiva em funccedilatildeo

do que se almeja alcanccedilar com o sistema de classificaccedilatildeo mas eacute de fundamental

importacircncia que o seu emprego seja consistente

232 Atributo aquilo que eacute proacuteprio de um ser (FERREIRA 1999 p 72) 233 ldquocualidad o atributo de un objeto escogido para servir de base o de principio de divisioacuten a una clasificacioacutenrdquo 234 Propriedade qualidade de proacuteprio qualidade especial particularidade (FERREIRA 1999 p 533)

236

Para Angulo Marcial235 (1996 apud MENEZES CUNHA HEEMANN 2004 p

15) caracteriacutestica eacute uma ldquopropriedade ou atributo que distingue conceitos classes

categorias ou facetas e permite separaacute-los agrupaacute-los ou estabelecer uma ordem de

precedecircnciardquo

Depois que Ranganathan elaborou a CC na qual introduziu entre outros

novos termos o termo faceta esse termo ficou sendo nos modernos estudos sobre

Teoria da Classificaccedilatildeo o substituto do termo caracteriacutestica Na realidade os dois

termos significam os diferentes aspectos dos assuntos e podem caso considerado

pertinente ser erigidos em princiacutepio de divisatildeo Eric De Grolier (1962 p15) registrou uma seacuterie de definiccedilotildees e tentativas de

precisatildeo terminoloacutegica (cf subseccedilatildeo 41) mas afirmou que natildeo havia uma definiccedilatildeo

conclusiva soacutelida no campo da Classificaccedilatildeo para o termo categoria Sua

afirmativa continua vaacutelida pois satildeo vaacuterias as definiccedilotildees encontradas para o referido

termo Foi Ranganathan ao utilizar pela primeira vez o conceito extraiacutedo da Filosofia

e aplicado agrave Teoria da Classificaccedilatildeo quem elaborou um conceito de categoria

condizente com a complexidade do ato de classificar Cada faceta de um assunto

assim como cada divisatildeo de uma faceta eacute considerada como uma manifestaccedilatildeo de

uma das cinco categorias fundamentais Portanto na Moderna Teoria da

Classificaccedilatildeo categorias satildeo os grupos de conceitos nos quais termos satildeo

ordenadosclassificados por meio de anaacutelises por facetas

Grolier (1962 p 15-16) encontrou na literatura da aacuterea o que ele afirma ser

uma lamentaacutevel confusatildeo (une assez regrettable confusion) O termo categoria pode

ser tomado tanto no sentido amplo e geral - a que fez Wildhack

(CLASSIFICATION 1957 p 105 apud GROLIER 1962 p 171) e tornou-o

sinocircnimo de lsquoponto de vistarsquo segundo o qual se pode dividir um assunto quanto

como sinocircnimo de faceta (termo em voga proposto por Ranganathan) - que Foskett

(CLASSIFICATION 1957 p 115 apud GROLIER 1962 p 171) adotou e cuja

lsquoanaacutelise por facetasrsquo consistiria em uma anaacutelise de conjunto de um assunto lsquosob um

certo nuacutemero de facetas ou categorias das coisasrsquo no interior de cada categoria as

rubricas enumeradas comportariam todas a mesma relaccedilatildeo confrontadas com o

assunto em seu conjunto236 O termo categoria tambeacutem eacute utilizado com o sentido de 235 AcircNGULO MARCIAL N Manual de tecnologia y recursos de la informacioacuten Meacutexico Instituto Politeacutecnico Nacional 1996 236 Farradane (CLASSIFICATION 1957 p 65 apud GROLIER 1962 p 171) assimila a mesma noccedilatildeo de faceta e categorias de D J Foskett ldquoagrupamentos de conceitos similares em categorias de substantivos ou facetasrdquo

237

conceitos gerais (acepccedilatildeo adotada pelo Vocabulaire de la Philosophie de Lalande)

Essa acepccedilatildeo estaacute proacutexima da adotada no Glossary and Subject Index237 que

define categoria como conceito de um alto grau de generalidade que tem um largo

domiacutenio de aplicaccedilatildeo que pode ser utilizado para agrupar outros conceitos Vickery

(1953 p 54 apud GROLIER 1962 p 16)238 apresentando uma definiccedilatildeo utilizada por L

Wood entende por categorias conceituais os conceitos de alto grau de generalidade que

tecircm amplo domiacutenio de aplicaccedilatildeo elaborados pelo pensamento se referindo direta ou

indiretamente ao conhecimento empiacuterico e utilizados pelo pensamento para interpretar

esse conhecimento Segundo Grolier na terminologia mais especializada de

Ranganathan o termo categoria fundamental eacute utilizado segundo um sentido particular no

qual cada faceta de um assunto qualquer como tambeacutem cada divisatildeo de uma faceta eacute

considerada como uma manifestaccedilatildeo de uma das cinco categorias fundamentais

(RANGANATHAN 1957 p 160 apud GROLIER 1962 p16)239 Essa concepccedilatildeo sem

duacutevida nenhuma ligada agraves tradiccedilotildees filosoacuteficas ou miacutesticas em Ranganathan surge

ligada tambeacutem a uma preocupaccedilatildeo praacutetica de lsquoassegurar uma sequecircncia uniformersquo de

facetas nos diferentes assuntos Na pesquisa apesar de compilar diversas noccedilotildees do

termo categoria Grolier natildeo adota especificamente uma ou apenas uma

Pode-se dizer que a categoria eacute um conceito complexo cuja compreensatildeo

exige que ele seja comparado240 agraves noccedilotildees de caracteriacutestica classe e faceta para

as devidas distinccedilotildees pois apesar das noccedilotildees serem frequentemente confundidas

na literatura elas satildeo diferentes

Permanece uma espeacutecie de enfoque provisoacuterio do conceito de categoria na

Teoria da Classificaccedilatildeo apesar de Ranganathan ter pretendido estabelecer o seu

enfoque definitivo

237 Glossary and Subject Iacutendex est une eacutedition reviseacutee et augmenteacutee drsquoun glossaire drsquoabord preacutesenteacute agrave la All-India Library Conference en 1953 mais qui nrsquoest ni suffisamment complet ni suffisamment critique Le secretariat hindou du Comiteacute FIDCA agrave lrsquoInsdoc de New Delhi a publieacute un document multigraphieacute (s d) intitule ldquoIndian Standards Glossary for Classification Termsrdquo baseacute sur la terminologie de S R Ranganathan (Annals of Library Science n 5 1958 p 76-112) (Cf GROLIER 1962 p 170-171) 238 VICKERY B C Systematic subject indexing Journal of Documentation London v 9 n 1 p 54 Mar 1953 239 RANGANATHAN S R Colon classification v 1 Basic classification 5th ed Madras Madras Library Association 1957 (Madras Library Association Public Series 22) 240 Natildeo existe a possibilidade de trabalhar com definiccedilatildeo sem o auxiacutelio da comparaccedilatildeo Para definir satildeo necessaacuterios pelo menos dois termos

238

Categorias satildeo ferramentas usadas para reunir dividir e representar conceitos

de acordo com a caracteriacutestica intriacutenseca fundamental ou aspecto dominante de

cada conceito com a finalidade de organizar esses conceitos para proceder agrave

organizaccedilatildeo do conhecimento Esse caraacuteter instrumental utilizado para descrever

certas regularidades do mundo material aparece jaacute nas categorias aristoteacutelicas

Como as categorias expressam regularidades forccedilosamente tambeacutem constituem

estruturas conceituais com certa estabilidade e permanecircncia - embora o resultado da

sua aplicaccedilatildeo aos diferentes objetos possa ser variaacutevel Enquanto cada categoria

(princiacutepio de divisatildeo) corresponde a um niacutevel de anaacutelise especiacutefico e parcial a ser

aplicado sobre um objeto cada faceta eacute o resultado da aplicaccedilatildeo desse niacutevel de anaacutelise

especiacutefico sobre um objeto Portanto uma faceta corresponde a um aspecto do objeto

visto sob determinado acircngulo Exemplificando no conceito Biblioteca a faceta tipos de

biblioteca faz parte da categoria tipo Os focos (Bibliotecas Puacuteblicas Bibliotecas

Escolares Bibliotecas Especializadas) que integram uma faceta surgem da aplicaccedilatildeo

de um criteacuterio ou princiacutepio de divisatildeo a um conceito ou cabeccedilalho Seguindo essa

concepccedilatildeo pode-se definir categorias como instrumentos intelectuais que satildeo

usados por estudiosos da classificaccedilatildeo para investigar regularidades de objetos do

mundo fiacutesico e ideal e para representar noccedilotildees Essa anaacutelise e representaccedilatildeo satildeo

feitas com vistas a organizar logicamente sistemas de conceitos suficientes para a

organizaccedilatildeo do conhecimento em termos gerais e anaacutelises de assunto ou

classificaccedilatildeo de documentos em termos especiacuteficos

A partir de um ponto de vista que combina o enfoque tradicional (claacutessico) e o

contemporacircneo a respeito de classificaccedilatildeo em geral e categorizaccedilatildeo em particular

Hemalata Iyer241 adverte que a organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo envolve a estruturaccedilatildeo

do conhecimento seja por filoacutesofos seja por bibliotecaacuterios e que estruturar eacute uma

maneira de legitimar domiacutenios na comunicaccedilatildeo e na educaccedilatildeo

Iyer (1995)242 salienta que o conhecimento em si natildeo tem estrutura que eacute

imposta primeiramente pelos filoacutesofos a partir da divisatildeo do conhecimento em 241 Iyer eacute pesquisadora docente do Department of Information Studies na Albany University de New York (interessada em organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo desenvolvimento de competecircncias para o gerenciamento de recursos audiovisuais controle de vocabulaacuterio rede mundial como recurso auxiliar para a pesquisa metadados e teoria da classificaccedilatildeo) membro do DRTC e coordenadora regional durante alguns anos da International Society for Knowledge Organization (ISKO) Escreveu o livro Classificatory Structures concepts relations and representations (1995) no qual examina especialmente estruturas do conhecimento do ponto de vista de vaacuterias perspectivas disciplinares (Hemalata Iyer Disponiacutevel em lthttpwwwalbanyeduccifaculty-staffiyerhtmlgt Acesso em 10 maio 2008) 242 Nesta tese realizou-se uma traduccedilatildeo livre do texto de Iyer (1995)

239

disciplinas e que os bibliotecaacuterios utilizam essa divisatildeo do conhecimento em

disciplinas como base para a organizaccedilatildeo do conhecimento registrado em

bibliotecas Em um enfoque considerado contemporacircneo a pesquisadora parte do

pressuposto de que disciplinas satildeo tambeacutem sistemas sociais que sofrem influecircncias

histoacutericas e culturais que podem afetar o seu desenvolvimento Iyer ressalta tambeacutem

que as categorias usadas na classificaccedilatildeo bibliograacutefica ou biblioteconocircmica foram

originalmente aplicadas agrave classificaccedilatildeo de disciplinas e natildeo agrave classificaccedilatildeo de

conceitos e aponta como problemas para o emprego dos princiacutepios da classificaccedilatildeo

aristoteacutelica agrave elaboraccedilatildeo de categorias aplicaacuteveis nos sistemas de documentaccedilatildeo

contemporacircneos os seguintes fatos na atividade documentaacuteria um conceito pode

transitar por vaacuterias disciplinas pois natildeo tem definiccedilatildeo determinada na atividade

documentaacuteria adotam-se limites riacutegidos entre as categorias e na atividade

documentaacuteria a formaccedilatildeo dos conceitos baseia-se no pressuposto de que o mundo

real eacute estruturado em grupos hieraacuterquicos que compartilham propriedades que lhes

satildeo inerentes Contudo pondera que a utilidade das categorias estaacute em fornecer

criteacuterios para a formaccedilatildeo de agrupamentos necessaacuterios a determinados objetivos

Iyer (1995) entende que os conceitos possibilitam obter informaccedilatildeo

suplementar aleacutem daquela obtida pela observaccedilatildeo (da coisa em si) e pela audiccedilatildeo

(do termo) - base dos sistemas hieraacuterquicos As categorias permitem a ordenaccedilatildeo e

consequentemente concedem estabilidade ao mundo da percepccedilatildeo segmentando

e agrupando os objetos em formas uacuteteis (toda coisa ou ideacuteia que nos chega eacute

automaticamente comparada com outra que conhecemos numa tentativa de

compreendecirc-la de modo que nos seja uacutetil) Para exemplificar Iyer (1995) refere-se a

um ldquolaptoprdquo que pode simultaneamente ser agrupado como uma pequena caixa

um processador de palavras um dispositivo de comunicaccedilatildeo ou um brinquedo

dependendo do enfoque e do uso que se faraacute do objeto naquele momento A autora

observa que a classificaccedilatildeo eacute em um niacutevel elementar embasada (e limitada pela)

na similaridade enquanto os conceitos dentro de uma categoria satildeo o resultado de

relaccedilotildees muacutetuas (propriedades comuns usadas para relacionar conceitos ou ajudar a

definir uma categoria como se um animal tiver nadadeiras e quelras provavelmente

seraacute colocado na categoria peixe) Esse enfoque tradicional de categorias (que

compreende categorias naturais relativamente estaacuteveis e que parecem ser comuns

a todo ser humano - universais) originou-se na teoria aristoteacutelica De acordo com

esse paradigma categorias naturais seriam aquelas oacutebvias que reproduzem

especialmente a evoluccedilatildeo bioloacutegica como espeacutecies gecircnero e famiacutelia natildeo admitindo

240

portanto interpretaccedilotildees soacutecio-culturais diversas

Iyer menciona tambeacutem novos enfoques que se diferenciam do paradigma

tradicional como o enfoque de Wittgenstein (categorias podem ser formadas

fundamentadas prioritariamente na semelhanccedila de famiacutelia e natildeo nas definiccedilotildees) e o

da teoria da psicoacuteloga Eleanor Rosch desenvolvida na deacutecada de 1970 cujas

pesquisas em Psicologia continuaram avanccedilando na uacuteltima deacutecada do seacuteculo XX e

culminando com a ldquoproposta dos protoacutetiposrdquo O princiacutepio fundamental da proposta

dos protoacutetipos eacute a rede de propriedades inter-relacionadas que conectam conceitos

na maioria das categorias e a perspectiva de verificar que alguns exemplares

definem melhor uma categoria do que outros (a truta eacute um exemplo melhor da

categoria peixe do que o pargo) numa clara conformaccedilatildeo de uma estrutura

graduada (quadro 43) e de limites tecircnues entre os membros das categorias

1 As categorias de estrutura graduada natildeo apresentam qualquer propriedade inerente ou natural como as categorias tradicionais categorias taxonocircmicas podem ser observadas sem complicaccedilatildeo peixes satildeo claramente diferentes de paacutessaros mas outros tipos de categorias natildeo admitem representaccedilatildeo simples como ldquoO que poderia definir as propriedades de rosardquo

2 Todos os membros de categorias de estrutura graduada natildeo satildeo semelhantes e a estrutura categorial eacute determinada por uma graduaccedilatildeo ou tipologia na qual alguns membros satildeo mais acertados que outros carro eacute um representante melhor ou mais tiacutepico de transporte mecanizado do que um balatildeo dirigiacutevel ou uma esteira rolante Mas uma categoria tiacutepica eacute tambeacutem uma questatildeo de perspectiva

3 A estrutura categorial graduada eacute assimeacutetrica o que leva a um enfoque ecoloacutegico e comportamental de categorizaccedilatildeo as pessoas classificam objetos em categorias de acordo com a sua caracterizaccedilatildeo

4 As categorias de estrutura graduada satildeo instaacuteveis por definiccedilatildeo continuamente redefinidas de acordo com o enfoque o contexto e a sua utilizaccedilatildeo De modo geral reuacutenem-se objetos de acordo com objetivos pragmaacuteticos Por exemplo uma categoria cujos itens satildeo roupas escova de dentes lacircmina de barbear e passaporte parece totalmente sem sentido (nenhum desses objetos pertence exclusivamente a essa categoria) as suas propriedades natildeo satildeo similares (atendem a diferentes objetivos e pertencem a diferentes categorias) e obviamente essas categorias natildeo estatildeo de acordo com as exigecircncias do paradigma tradicional (de apresentar obrigatoriamente as mesmas propriedades) Entretanto quando as propriedades satildeo reunidas como itens de uma lsquoviagem de negoacuteciosrsquo a categoria pode ser rapida e claramente identificada

5 As categorias de estrutura graduada natildeo satildeo parte de uma estrutura que define o universo do conhecimento mas sim de uma estrutura que concede subsiacutedios para o pensar e para o agrupamento pontual por associaccedilatildeo Esse enfoque eacute especialmente interessante quando se pensa nos usuaacuterios em busca de informaccedilatildeo e no modo como eles categorizam conceitos de maneira a expressar as suas necessidades de informaccedilatildeo Por exemplo quando um usuaacuterio pesquisa pela categoria classificaccedilatildeo pode ser que esteja interessado somente nas ferramentas utilizadas para organizar informaccedilatildeo (como os sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica tradicionais CDD CDU LCC CC) ou em Filosofia Psicologia Ciecircncia Cognitiva relacionadas agrave classificaccedilatildeo o que eacute significativamente diferente Atento a essa questatildeo Richard Sweeney Halsey (1989 p 89 apud IYER 1995 p 45) nota que ldquoo desafio mais excitante na Teoria da Classificaccedilatildeo seraacute aprender como relacionar a estrutura conceitual de textos graacuteficos e dados e a estrutura cognitiva de usuaacuterios e da alteraccedilatildeo de suas percepccedilotildees atraveacutes do tempordquo

QUADRO 43 - CARACTERIacuteSTICAS DE CATEGORIAS DE ESTRUTURA GRADUADA FONTE Iyer (1995 p 43-45)

241

O que sustenta o paradigma de estrutura graduada eacute a ideacuteia de que

elementos de uma categoria podem ser ordenados do exemplar tiacutepico mais

representativo ao menos representativo e que as fronteiras entre as categorias

podem ser nebulosas (eacute natural e tiacutepico que temas sejam colocados em categorias

de acordo com a sua utilidade243)

Como a classificaccedilatildeo eacute um processo realizado por seres humanos eacute correto

pensar que as caracteriacutesticas dos objetos natildeo satildeo as uacutenicas determinantes do

processo Necessidades especiacuteficas da comunidade interessada e aspectos

ambientais sociais educacionais e culturais de quem procede agrave classificaccedilatildeo

tambeacutem contribuem para a definiccedilatildeo de categorias e a classificaccedilatildeo dos seus

243 Pode-se estabelecer uma associaccedilatildeo entre o paradigma da estrutura graduada e a loacutegica difusa ou loacutegica nebulosa (fuzzy logic) O conceito de fuzzy logic (FL) foi concebido pelo matemaacutetico americano Lotfi Zadeh professor da Universidade da Califoacuternia em Berkeley na deacutecada de 1960 e apresentado como uma metodologia de processamento de dados pela definiccedilatildeo parcial do conjunto de membros em vez da distinccedilatildeo entre membros e natildeo-membros do conjunto (ZADEH 1965) Na teoria claacutessica dos conjuntos um determinado elemento do domiacutenio em questatildeo pertence ou natildeo pertence ao referido conjunto (loacutegica binaacuteria herdada de Aristoacuteteles que formou a base do pensamento loacutegico ocidental classificando as afirmaccedilotildees como verdadeiras ou falsas) Na teoria dos conjuntos nebulosos (fuzzy set) na qual se baseia a FL existe um grau de pertinecircncia de cada elemento a um determinado conjunto (loacutegica difusa que estabelece que algo pode coexistir com o seu oposto afirmando que muitas experiecircncias humanas natildeo podem ser classificadas simplesmente como verdadeiras ou falsas o que geraria respostas incompletas e insatisfatoacuterias) Por exemplo apresentado um caracter pode se afirmar sem duacutevida se esse caracter pertence ou natildeo-pertence ao conjunto dos caractere A E I O U Poreacutem respostas agraves questotildees eacute aquele homem alto ou baixo A renda do cliente eacute alta meacutedia ou baixa A taxa de risco para determinado empreendimento eacute grande ou pequena Demonstram que entre a certeza de ser e a certeza de natildeo ser existem infinitos graus de incertezas A FL trata das imperfeiccedilotildees intriacutensicas agrave informaccedilatildeo representada em uma linguagem natural Os pesquisadores Zadeh Klir e Yuan (1996) argumentam que as pessoas natildeo exigem precisatildeo ou informaccedilotildees numeacutericas e que elas satildeo capazes de exercer um controle adaptativo alto Se controladores de feedback fossem programados para aceitar ruiacutedos e entradas imprecisas seriam muito mais eficazes e talvez mais faacuteceis de serem implementados De modo objetivo pode-se definir FL como sendo uma ferramenta capaz de capturar informaccedilotildees vagas em geral descritas em uma linguagem natural e convertecirc-las para um formato numeacuterico de faacutecil manipulaccedilatildeo pelos computadores atuais A FL estaacute fundamentada em palavras e natildeo em nuacutemeros ou seja os valores ldquoverdadesrdquo satildeo expressos linguisticamente (exemplo de modificadores vaacutelidos que alteram a variaacutevel temperatura fria morna e quente muito pouco natildeo muito mais ou menos etc) A FL tambeacutem pode ser definida como a loacutegica que suporta os modos de raciociacutenio que satildeo aproximados em vez de exatos como o homem estaacute naturalmente acostumado a trabalhar (ZADEH KLIR YUAN 1996) Nesse contexto a FL eacute uma metodologia de controle de resoluccedilatildeo-de-problemas que se presta agrave implementaccedilatildeo em sistemas que vatildeo desde mricro-controladores ateacute as grandes redes multi-canal PC ou estaccedilotildees-de-trabalho embasadas em sistemas de aquisiccedilatildeo e controle de dados A FL pode ser implementada em hardward software ou uma combinaccedilatildeo de ambos e fornece um modo simples de chegar a uma conclusatildeo definitiva embasado em informaccedilotildees vagas ambiacuteguas imprecisas barulhentas ou incompletas O enfoque da FL para controlar problemas imita uma pessoa que vai tomar decisotildees soacute que de modo muito mais raacutepido Usa uma linguagem imprecisa mas muito descritiva para lidar com a entrada de dados semelhante a um operador humano Pode-se dizer que a FL foi concebida como um meacutetodo melhor para a organizaccedilatildeo triagem classificaccedilatildeo e tratamento dos dados mas provou ser uma excelente opccedilatildeo para muitas aplicaccedilotildees a sistemas de controle de dados uma vez que mimetiza (imita) a loacutegica humana de controle (FUZZY 2006) A FL eacute muito robusta e capaz de aceitar tanto a intervenccedilatildeo do operador quanto a entrada dos dados e uma vez implementada funciona regularmente com pouca ou nenhuma necessidade de adaptaccedilatildeo

242

membros - interferindo no ato de incluir tomate na categoria vegetais ou na categoria

frutas segundo Iyer (1995)

De acordo com Bariteacute (1997 p 29 Traduccedilatildeo livre da autora) categoria na

Teoria da Classificaccedilatildeo e na Classificaccedilatildeo do Conhecimento eacute uma concepccedilatildeo

abstrata de tatildeo alta generalidade que pode ser perceptiacutevel em qualquer ser

substacircncia ou objeto cuja essecircncia pode ser analisada a partir de uma perspectiva

semacircntica metafiacutesica ou ontoloacutegica [] cada modo forma ou classe fundamental

do ser na qual podem agrupar-se outros conhecimentos de valor acessoacuterio244

Segundo Marisa Braumlscher Medeiros no Glossaacuterio Geral de Ciecircncia da

Informaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia (2007) categoria significa um conceito

amplo de aplicaccedilatildeo geral utilizado para agrupar conceitos mais especiacuteficos com a

qual concorda Harrod no The Librariansrsquo Glossary (1977 p 173) um conceito de

alta generalidade e larga aplicaccedilatildeo que pode ser usado para agrupar outros

conceitos245

Para Cavalcanti246 (1978 apud MENEZES CUNHA HEEMANN 2004 p 16)

categorias satildeo ldquoclasses que resultam da divisatildeo do universo de conhecimentos de

acordo com as caracteriacutesticas intriacutensecas ou fundamentais de cada conceitordquo

Como se pode constatar categoria representa um termo com vaacuterios

significados considerado por alguns como sinocircnimo de faceta ou como um conceito

de alta generalizaccedilatildeo e larga aplicaccedilatildeo que pode ser usado para agrupar outros

conceitos ou ainda como uma classe descritiva de coisas enquanto outros o

consideram como manifestaccedilatildeo de uma classificaccedilatildeo natural um agrupamento

loacutegico de registros associados ou uma classe ou divisatildeo formada com o propoacutesito

de atender a uma dada classificaccedilatildeo

Tendo em vista os diversos conceitos apresentados entende-se que cada

categoria corresponde a um ponto de vista (um modo de ver) de acordo com o qual

244 ldquoconcepcioacuten abstracta de tan alta generalidad que puede ser perceptible en cualquier ser sustancia u objeto cuya esencia puede analizarse desde una perspectiva semaacutentica metafiacutesica u ontoloacutegica [hellip] cada modo forma o clase fundamental del ser en la cual pueden agruparse otros conocimientos de valor accesoriohelliprdquo 245 a concept of high generality and wide application which can be used to group other conceptsrdquo 246 Cavalcanti C R Indexaccedilatildeo e tesauro metodologia amp teacutecnicas Brasiacutelia ABDF 1978

243

um assunto pode ser dividido um criteacuterio247 de divisatildeo que tem a finalidade de

formar um agrupamento loacutegico concreto e pragmaacutetico de documentos associados

Dito de outra maneira cada criteacuterio de divisatildeo utilizado para agrupar objetos seres

ou conhecimentos (seres ou saberes) visando a uma determinada classificaccedilatildeo a

estabelecer uma ordem - pode configurar uma categoria

O uso de categorias facilita o processo das anaacutelises de assunto e sua

simbolizaccedilatildeo visto que elas ajudam a estabelecer prioridades entre os diversos

assuntos de um documento assim como a estabelecer um arranjo hieraacuterquico

adequado para compor siacutembolos classificatoacuterios O uso de categorias segundo

Bariteacute (2000 p 6) demanda um quadro de referecircncia que possibilita a aplicaccedilatildeo

Categorias necessitam de um objeto de estudo para serem aplicadas O objeto pode

ser qualquer coisa entidade ser ou fenocircmeno que admita anaacutelises como algo

autocircnomo individual Tudo o que existe ou acontece no Universo qualifica-se para

estudo e o que tambeacutem ocorre com o conhecimento expresso nos documentos

Na tentativa de explicar a noccedilatildeo de categoria busca-se respaldo em Bariteacute

(2000) para proceder agrave anaacutelise de suas caracteriacutesticas mais evidentes conforme

mostra o quadro 44

Na realidade o nuacutemero de categorias que um estudioso da classificaccedilatildeo eacute

capaz de estabelecer para o seu trabalho deve aumentar inversamente ao grau de

generalidade de aplicaccedilatildeo O fato de algumas categorias serem altamente

generalizaacuteveis natildeo implica segundo Bariteacute (2000) que sob quaisquer circunstacircncias

elas devam ser usadas Haacute aacutereas de conhecimento onde a aplicaccedilatildeo de certas

categorias natildeo eacute uacutetil Toda disciplina tem a sua proacutepria estrutura conceitual que preacute-

molda categorias a serem usadas para a sua organizaccedilatildeo interna A CC eacute

expressiva nesse sentido levando-se em conta que a foacutermula faceta raramente

forma a sequecircncia completa PMEST

247 Criteacuterio aquilo que serve de base para apreciaccedilatildeo comparaccedilatildeo ou julgamento

244

CARACTERIacuteSTICAS COMENTAacuteRIOS Cada categoria eacute uma uacutenica subdivisatildeo Oferece uma visatildeo fragmentaacuteria ou parcial da realidade isto eacute divide o todo

e como resultado o conjunto de categorias selecionadas deve providenciar uma representaccedilatildeo a mais completa possiacutevel do objeto

Cada categoria implica um niacutevel especiacutefico de anaacutelise Eacute uma abstraccedilatildeo e dado o seu caraacuteter instrumental e funcional a seleccedilatildeo de uma categoria sempre parte de um ponto de vista seja ele dado seja criado seja estabelecido

Categorias satildeo niacuteveis de anaacutelises externos ao objeto Satildeo elementos autocircnomos natildeo compotildeem o objeto satildeo aplicados sobre ele Sua natureza instrumental torna as categorias iguais a equipamentos de laboratoacuterio usados por qualquer cientista em sua aacuterea especiacutefica

Categorias satildeo mutuamente exludentes Providencia informaccedilatildeo fragmentaacuteria da realidade de um objeto envolvendo cada setor exclusiva e excludentemente anulando qualquer possibilidade de interseccedilatildeo entre o niacutevel de anaacutelise de uma categoria com o mesmo niacutevel de anaacutelise de outra categoria

Toda categoria eacute altamente generalista Satildeo conceitos de alta generalizaccedilatildeo e larga aplicaccedilatildeo presume-se que categorias de maior generalizaccedilatildeo como por exemplo Espaccedilo e Tempo possam ser denominadas facetas e aparecem nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas como auxiliares comuns Tipos seria tambeacutem uma categoria aplicaacutevel em larga escala a todas as disciplinas e aacutereas do conhecimento

Toda categoria pode admitir com referecircncia a um objeto niacuteveis variados de subdivisatildeo

Satildeo niacuteveis de subdivisatildeo conhecidos tecnicamente como caracteriacutestica faceta ou atributo por meio dos quais um conceito ou objeto eacute subdividido Assim se para o conceito Ameacuterica do Sul eacute aplicada a caracteriacutestica ldquopor paiacutesesrdquo eacute possiacutevel obter uma seacuterie com os nomes de todos os estados situados nesse continente Eles satildeo termos frequentemente usados indistintamente como sinocircnimos (mas natildeo o satildeo) Embora seja verdade que a caracteriacutestica tambeacutem sugere um certo niacutevel de anaacutelise de um objeto o seu espaccedilo estaacute sempre envolto numa esfera mais compreensiva do que aquela da categoria

QUADRO 44 - CARACTERIacuteSTICAS DAS CATEGORIAS FONTE a autora com base em Bariteacute (2000 p 4-10) e em seus comentaacuterios

245

O termo faceta integrou-se ao vocabulaacuterio teoacuterico da Classificaccedilatildeo mas a

definiccedilatildeo do termo varia segundo os autores o que se configura num problema

Jacques Maniez (1999) mostra que as dificuldades remontam ao fundador da teoria

das facetas Ranganathan que escolheu um termo de sentido metafoacuterico do

vocabulaacuterio corrente um termo ambiacuteguo Maniez (1999 p 249) defende o uso mais

rigoroso do termo e a sua utilidade que faccedila claramente a divisatildeo entre a

classificaccedilatildeo dos conceitos e a classificaccedilatildeo dos assuntos

Quanto agrave noccedilatildeo propriamente dita a faceta eacute apresentada como o aporte

teoacuterico mais importante deste seacuteculo em Teoria da Classificaccedilatildeo Desde 1955 o

grupo de pesquisa CRG sustenta que a classificaccedilatildeo por facetas deve ser a base de

todos os meacutetodos de pesquisa de informaccedilatildeo e em 1994 Yan Xiao (1994) afirmava

que a teoria de Ranganathan comporta todos os tratados constitutivos ou

componentes daquilo que Kuhn chama de um novo paradigma (KUHN 1976)248

uma vez que a teoria tem renovado e revolucionado o conceito de organizaccedilatildeo do

saber

Muitos autores concordam que a multiplicidade de interpretaccedilotildees do termo

faceta eacute uma consequecircncia do fato de o termo ter sido emprestado do vocabulaacuterio

corrente249 e das vaacuterias propostas teoacutericas que se seguiram Ranganathan emprega

um termo existente250 na linguagem corrente e acrescenta uma nova acepccedilatildeo - que

se quer especializada - agraves significaccedilotildees anteriores

Faceta eacute um traccedilo comum agrave todos os elementos de uma classe Ela constitui

um criteacuterio de julgamento que se aplica a uma categoria Ela eacute um valor Por

exemplo a categoria Sexo comporta geralmente dois valores [FM] ao passo que

outras categorias necessitam de inuacutemeros valores Por exemplo a categoria

Vontade necessita da ajuda de conceitos como voluntaacuteria hesitante incapaz

248 Em Epistemologia Kuhn colocou em moda o termo paradigma para designar um corpo de ideacuteias e de teorias coerentes uma forma de abordar um campo cientiacutefico 249 Aliaacutes a ausecircncia de uma efetiva linguagem de especialidade da Ciecircncia da Informaccedilatildeo determina em larga medida a fragilidade da aacuterea e a consequente falta de visibilidade e reconhecimento acadecircmicos tatildeo bem explicitada no texto de Johanna Smit Maria de Faacutetima Taacutelamo e Nair Kobashi ldquoA determinaccedilatildeo do campo cientiacutefico da Ciecircncia da Informaccedilatildeordquo submetido ao Encontro Nacional de Pesquisa em Ciecircncia da Informaccedilatildeo (Enancib) de Belo Horizonte em 2003 250 O termo faceta designa por metaacutefora um aspecto uma face de uma realidade complexa vista sob um acircngulo particular faceta de um objeto (concreto ou abstrato) de uma personalidade Mas tambeacutem eacute percebido como uma caracteriacutestica contrastante notadamente com as caracteriacutesticas vizinhas iguais agraves faces de um poliedro que satildeo limitadas por arestas (exemplo constante nos dicionaacuterios e enciclopeacutedias de cunho geral)

246

indecisa obstinada Assim mesmo a um niacutevel baacutesico ou comum do termo faceta eacute

uma ferramenta de classificaccedilatildeo por menos que ela designe uma categoria e natildeo

um traccedilo individual

Essa anaacutelise terminoloacutegica sumaacuteria eacute suficiente para fazer pressentir que a

diversidade e a riqueza das significaccedilotildees correntes ameaccedilam comprometer qualquer

acepccedilatildeo especifica da palavra em Ciecircncia da Informaccedilatildeo Porque ficando no niacutevel

da linguagem comum pode-se afirmar legitimamente que as classes principais da

classificaccedilatildeo de Dewey satildeo as facetas do saber que a Pedagogia eacute uma faceta do

ensino que os campos de uma referecircncia bibliograacutefica satildeo as facetas do

documento que cada descritor de uma foacutermula de indexaccedilatildeo eacute uma faceta do

assunto E nesse caso a questatildeo a ser colocada natildeo seria mais O que eacute uma

linguagem documentaacuteria de facetas Mas Qual linguagem documentaacuteria natildeo eacute uma

linguagem de facetas

A despeito do raacutepido crescimento e larga popularidade mundial da abordagem

facetada na Teoria da Classificaccedilatildeo Grolier (1965 p 12) por exemplo sustenta que o

conceito de faceta natildeo eacute a panaceacuteia que algumas pessoas pensam que deveria ser

Quando uma noccedilatildeo de uma linguagem documentaacuteria parece fraacutegil eacute

frequentemente uacutetil recorrer agrave Terminologia Porque as linguagens documentaacuterias

natildeo satildeo outra coisa que tentativas de controle e de normalizaccedilatildeo das liacutenguas

humanas com o intuito de facilitar a busca de informaccedilotildees251

Segundo a uacuteltima ediccedilatildeo da CC (1989) faceta eacute um termo geneacuterico que designa

um elemento de um assunto composto Isso mostra que para Ranganathan as facetas

satildeo as caracteriacutesticas dos assuntos e remetem ao postulado das cinco categorias

fundamentais (PMEST) todo elemento de um assunto pertence necessariamente a

uma das cinco - e somente cinco - categorias fundamentais Muitos outros autores em

particular Hjoslashrland (1997 p 73) criticaram a concepccedilatildeo idealista que essa lei implica

apresentada como a expressatildeo de uma ldquosintaxe absolutardquo de uma realidade mental

inerente Tambeacutem criticaacutevel parece a fluidez a ambiguidade semacircntica que envolve

essas categorias donde mal se percebe a sua natureza exata Se tempo e espaccedilo satildeo

manifestaccedilotildees de natureza sintaacutetica as trecircs outras facetas parecem suspensas entre

categorias sintaacuteticas e categorias semacircnticas

251 A Linguagem Documentaacuteria natildeo eacute linguagem da ciecircncia do usuaacuterio ou do sistema eacute a compatibilizaccedilatildeo das trecircs A Linguagem Documentaacuteria segundo Cintra (2002) eacute um tipo de Metalinguagem

247

Permanece a duacutevida trata-se de ferramenta de enunciaccedilatildeo classificaccedilatildeo de

assuntos ou de anaacutelise e classificaccedilatildeo de conceitos Natildeo haacute nenhuma razatildeo pensar

que as categorias conceituais que se estruturam fora do contexto de determinada

representaccedilatildeo de mundo coincidem com as correlaccedilotildees diversas que ligam os

conceitos de um assunto Soacute um forte grau de aproximaccedilatildeo permite reuni-los dentro

de uma mesma categoria

Ao longo do caminho foram encontradas numerosas definiccedilotildees A renomada

Terminologie de la Documentation da Unesco (WERSIG NEVELING 1976) retorna

agrave noccedilatildeo de faceta e a reconduz agravequela de caracteriacutestica de uma classe aspecto sob

o qual um grupo de conceitos pode ser considerado como tendo qualquer coisa de

geral em comum252 com o que parece concordar Broughton (2004 p 299)253 um

grupo de termos dentro de um campo de assunto produzido por um princiacutepio de

divisatildeo geral254

Bariteacute (1997 p 57) respeitado pesquisador docente da aacuterea de Tratamento

da Informaccedilatildeo da Universidade da Repuacuteblica Oriental do Uruguai aproxima a noccedilatildeo

de faceta agrave de subclasse conjunto total de subdivisotildees de um conceito ou classe

derivadas do mesmo princiacutepio de divisatildeo255 Essa noccedilatildeo eacute compartilhada pelo

Elsevierrsquos Dictionary of Library Science Information and Documentation (1973 p

164) o total de subdivisotildees produzidas por uma caracteriacutestica de divisatildeo256 e pelo

The Librarianrsquos Glossary compilado por Harrod (1977 p 319) a totalidade das

divisotildees produzidas quando um assunto eacute dividido de acordo com uma caracteriacutestica

uacutenica257 252 ldquoaspect sous lequel un groupe de concepts peut ecirctre considereacute comme ayant quelque chose de geacuteneacuteral en comunldquo 253 Vanda Broughton eacute docente senior da School of Library Archive and Information Studies no University College London (UCL) em Londres e autora de livros e artigos sobre o desenvolvimento da Teoria da Classificaccedilatildeo classificaccedilatildeo facetada e as suas aplicaccedilotildees particularmente em meio digital desde 1972 quando foi indicada para ser tambeacutem pesquisadora responsaacutevel pelo projeto de revisatildeo da Bliss Bibliographic Classification 2nd ediccedilatildeo (BC2) Aleacutem dessas atribuiccedilotildees Broughton eacute editora colaboradora da editora associada da CDU (tem ajudado a introduzir um enfoque facetado na CDU com a revisatildeo da classe Religiatildeo e vaacuterios auxiliares sistemaacuteticos) membro do CRG (tem pesquisado o uso de vocabulaacuterios facetados em meios digitais) e presidente do Capiacutetulo da ISKO para a Gratilde-Bretanha (BROUGHTON Disponiacutevel em lthttpwwwuclacukslaisvanda-broughtongt Acesso em 10 jun 2008) 254 ldquoa group of terms within a subject field produced by one broad principle of divisionrdquo 255 ldquoconjunto total de subdivisiones de un concepto o clase derivadas del mismo principio de divisioacutenrdquo 256 ldquothe total of subdivisions produced by one characteristic of divisionrdquo 257 ldquothe whole group of divisions produced when a subject is divided according to a single characteristicrdquo

248

Aitchison e Gilchrist (1992 p 71) especialistas em tesauros facetados

encontram semelhanccedila entre faceta e criteacuterio de divisatildeo divisatildeo utilizando uma soacute

caracteriacutestica a cada vez para produzir grupos homogecircneos que se excluem

mutuamente258

No Concise Dictionary of Library and Information Science Keenan (1996 p

30) assemelha a noccedilatildeo de faceta agravequela de categoria fundamental categoria classe

ou palavras organizadas por uma caracteriacutestica fundamental das proacuteprias palavras e

natildeo por uma disciplina associada agraves palavras259

Outras definiccedilotildees satildeo ainda mais imprecisas como aquela de Lancaster

(LANCASTER 1986 p 36) teoacuterico de linguagens documentaacuterias reagrupamento de

termos da mesma natureza260 ou aquela do Thesaurus de lrsquoEacuteducation da Unesco

(UNESCO-BIE 1991) pequeno grupo que reuacutene conceitos vizinhos261 A banalizaccedilatildeo teoacuterica do termo traduz-se muito frequentemente em praacutetica

quando determinado tesauro coloca sob o termo de facetas natildeo importa qual

reagrupamento empiacuterico sem levar em conta o melhor uso do termo em conformidade

com o uso do procedimento ou a explicitaccedilatildeo do criteacuterio de subdivisatildeo adotado

Em favor de uma concepccedilatildeo mais estrita do termo recorre-se a Maniez (1999)

para levantar noccedilotildees ambiacuteguas e insatisfatoacuterias conforme mostra o quadro 45

Vaacuterios autores veem faceta como aspecto de um objeto sob determinado

acircngulo (MANIEZ 1997) um aspecto particular de um assunto ou sequecircncia de

caracteriacutesticas (FOSKETT A C 1972 p 338-346) aspecto de um assunto

complexo embasado numa determinada caracteriacutestica (GLOSSAacuteRIO de

Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo 2002) Outros a entendem como a totalidade de

isolados [] os quais satildeo enumerados juntos numa lista como possiacuteveis

manifestaccedilotildees de uma categoria fundamental particular262 (INDIAN 1964 p 72)

manifestaccedilatildeo de uma categoria dentro de un campo do conhecimento [hellip] um dos

258 ldquodivision utilisant une seule caracteacuteristique agrave la fois pour produire des groupes homogegravenes qui srsquoexcluent mutuellementrdquo 259 ldquocategory or class or words organized by a fundamental characteristic of the words themselves and not by the discipline associated with the wordsrdquo 260 ldquoregroupement de termes de mecircme naturerdquo 261 ldquopetit groupe rassemblant des concepts voisinsrdquo 262 ldquothe totality of the isolates [] which are enumerated together in a schedule as possible manifestation of a particular fundamental categoryrdquo

249

aspectos de uma mateacuteria ou disciplina que reuacutene em seu interior um grupo de

conceitos que tecircm um atributo em comum263 (BARITEacute 1997 p 57) todo assunto

tem um ou mais aspectos que correspondem agrave caracteriacutestica usada como base de

divisatildeo Agrave soma total de divisotildees de cada aspecto pode-se chamar de faceta264

(PALMER WELLS 1951 p 31) e qualquer grupo de conceitos que tecircm

caracteriacutesticas comuns constituindo uma categoriardquo (MEDEIROS apud

GLOSSAacuteRIO 2007)265

Como se pode constatar por meio das noccedilotildees jaacute descritas existem diferenccedilas

de conceitos acerca dos termos categoria classe e faceta As tentativas de definiccedilatildeo

encontradas ao longo do estudo abrem caminho para uma concepccedilatildeo mais estrita

dos termos fixando limites razoaacuteveis para o seu emprego nos sistemas de

classificaccedilatildeo bibliograacutefica

Caracteriacutestica eacute uma propriedade das coisas um atributo ou qualidade de um

objeto categoria eacute um criteacuterio de divisatildeo na maioria das vezes com base nas

carateriacutesticas do objeto mas natildeo necessariamente

263 ldquomanifestacioacuten de una categoriacutea dentro de un campo del conocimiento [hellip] uno de los aspectos de una materia o disciplina que reuacutene en su seno a un grupo de conceptos que tienen un atributo en comuacutenrdquo 264 ldquoevery subject has one or more aspects which correspond to the characteristics used as a basis for division The sum total of the divisions of each aspect we shall call a facetrdquo 265 MEDEIROS M B B Categoria e faceta In GLOSSAacuteRIO geral de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Universidade de Brasiacutelia Departamento de Ciecircncia da Informaccedilatildeo e Documentaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcidunbbr123M0011000asp txtID_PRINCIPAL=123gtAcesso em 12 jan 2007

250

FACETA COMENTAacuteRIOS

Faceta e sub-classe Ao confundir faceta com sub-classe nega-se a especificidade e a utilidade do conceito de facetas Lancaster propocircs a tiacutetulo de exemplo dividir os termos relativos agraves bibliotecas em quatro facetas gecircneros de bibliotecas material de biblioteca serviccedilos e outros termos De fato como atesta a uacuteltima classe nela cabe tudo trata-se de um reagrupamento empiacuterico que natildeo utiliza um criteacuterio de divisatildeo loacutegico

Faceta e criteacuterio de divisatildeo O meacutetodo de divisatildeo loacutegica consiste em escolher um criteacuterio aplicaacutevel a todos os elementos de uma classe e apto a gerar uma seacuterie de subclasses notadamente contrastantes as classificaccedilotildees tradicionais do tipo mono-hieraacuterquico privilegiam a cada niacutevel de divisatildeo um soacute criteacuterio Ao contraacuterio as classificaccedilotildees pluridimensionais do tipo poli-hieraacuterquico cumulam e coordenam ao primeiro niacutevel de divisatildeo vaacuterios criteacuterios comuns Como a CC protoacutetipo das classificaccedilotildees facetadas eacute pluridimensional ela estaacute tentando aproximar a noccedilatildeo de faceta da noccedilatildeo de criteacuterio de divisatildeo loacutegica e de fazer do esquema pluridimensional um modelo geral Essa concepccedilatildeo apresenta uma reflexatildeo e um efeito loacutegico maior O modelo pluridimensional natildeo pode se aplicar com todo rigor agraves facetas de conceitos pois se de um lado dita as categorias fundamentais as quais natildeo satildeo mais do que pontos de vista acerca de conceitos mas sobre conjunto de conceitos por outro lado refere-se agraves classes contrastantes de niacutevel superior

Faceta e categoria fundamental Uma observaccedilatildeo de insuficiecircncia pode ser atribuiacuteda agrave definiccedilatildeo da Association (1987 p 126) Traduccedilatildeo livre da autora) que conveacutem bem agraves facetas de conceitos mas mal agravequelas de assuntos categoria de noccedilotildees da mesma natureza ou expressas sob o mesmo ponto de vista como fenocircmeno processo propriedade e instrumento permitindo um reagrupamento de noccedilotildees independentemente do assunto tratado266

Facetas e sintaxe de enunciado dos assuntos O esquema analiacutetico-sinteacutetico das facetas implica necessariamente uma sintaxe assegurada com frequecircncia por uma ordem de sucessatildeo rigorosa Esta conduz alguns autores a qualificar de sistema facetado todas as linguagens classificatoacuterias que utilizam procedimentos sintaacuteticos Assim Iyer (1995 p 105-109) coloca nos sistemas facetados a CDU pelo fato de que ela permite combinar ou coordenar vaacuterios iacutendices Para Maniez (1999) aleacutem da noccedilatildeo de faceta ser largamente independente de uma funccedilatildeo sintaacutetica proacutepria as facetas de um domiacutenio do saber tem um valor sintaacutetico faliacutevel

QUADRO 45 - NOCcedilOtildeES AMBIacuteGUAS E INSATISFATOacuteRIAS DE FACETAS FONTE a autora com base em Maniez (1999 p 249-262) e em seus comentaacuterios

266 ldquocateacutegorie de notions de mecircme nature ou exprimeacutees drsquoun mecircme point de vue telle que pheacutenomegravene processus proprieacuteteacute outil permettant un regroupement des notions indeacutependamment des disciplines traiteacuteesrdquo

251

Classe faz parte de uma construccedilatildeo racional e sistemaacutetica de uma linguagem de classificaccedilatildeo que natildeo soacute agrupa ou junta uma coleccedilatildeo de sub-classes separadas grupos de conceitos ou coisas por uma caracteriacutestica comum mas tambeacutem estabelece relaccedilotildees loacutegicas padronizadas entre elas Uma classe designa um conjunto de caracteriacutesticas (propriedades) comuns consagradas Eacute explicativa convencional reuacutene objetos concretos e nem sempre estaacute lexicalizada (por exemplo ave domeacutestica - ave natildeo-domeacutestica = classe natildeo-lexicalizada) Classes podem ser tanto conjunto de elementos ou conceitos definidos pelo fato de apresentarem uma ou mais caracteriacutesticas em comum quanto cada uma das disciplinas que resultam da divisatildeo do universo de conhecimentos Grosso modo as disciplinas constituem as maiores subdivisotildees de um esquema claacutessico de classificaccedilatildeo bibliograacutefica Servem para classificar de acordo com um sistema de classificaccedilatildeo e seguem uma ordem canocircnica Nela todos os membros tecircm traccedilos inerentes que natildeo foram atribuiacutedos pelo classificador e que constituem caracteriacutesticas comuns consagradas

Categoria natildeo faz parte de uma construccedilatildeo riacutegida e consagrada que segue padrotildees preacute-estabelecidos Ela eacute aplicada a uma coleccedilatildeo de assuntos isolados Eacute pragmaacutetica e mais operacional reuacutene mas natildeo explica apenas descreve267 Eacute um criteacuterio compreensivo ou descritivo das coisas Designa uma propriedade em estado puro natildeo-aplicada Nomeia agrupamentos de termos elaborados de acordo com um ponto de vista Categoria se inventa (aspecto pragmaacutetico) e se constroacutei agrupando elementos sob um determinado ponto de vista Eacute mais livre autocircnoma Eacute um criteacuterio de divisatildeo estabelecido a partir de uma proposta classificatoacuteria especiacutefica particular usado para reunir os grupos conforme as suas semelhanccedilas Estabelecer categorias (grupos de conceitos) de uma aacuterea do conhecimento eacute ter a visatildeo do todo eacute levantar o seu sistema conceitual para a partir daiacute por meio de anaacutelises por facetas proceder a uma ordenaccedilatildeo sistemaacutetica de conceitos (termos) Quando desenvolvidas de acordo com a natureza dos conceitos satildeo denominadas facetas Categoria (natildeo-aplicada) ou faceta (aplicada) eacute um niacutevel de anaacutelise especiacutefico e parcial de um objeto Aristoacuteteles chamou de categorias ou predicamentos os 10 gecircneros supremos (ideacuteias que se tem das coisas) Ranganathan chamou de categorias ou facetas fundamentais os cinco aspectos da realidade

Facetas satildeo todas as classes produzidas quando um assunto eacute dividido por uma e somente uma caracteriacutestica Classes em um esquema de classificaccedilatildeo satildeo

267 Por ser sempre descritiva e nunca explicativa nas Linguagens Documentaacuterias eacute importante observar onde a categorizaccedilatildeo cabe ou entra e como ela se expressa

252

representadas por termos Assim de acordo com esse entendimento uma faceta eacute um termo de uma lista na qual cada termo encontra-se em relaccedilatildeo ao assunto do qual ele eacute uma parte em posiccedilatildeo de igualdade Uma faceta pode consistir de termos que se referem a entidades como elementos em Quiacutemica ou gratildeos na Agricultura a formas de entidades como liacutequida soacutelida gasosa a operaccedilotildees realizadas sobre entidades como combustatildeo fundiccedilatildeo colheita a ferramentas utilizadas para operaccedilotildees como microscoacutepios maacutequinas de raio-X impressoras a estados do ser como sauacutede e doenccedila etc Ranganathan relaciona faceta a um conjunto de noccedilotildees abstratas fundamentais - as categorias PMEST - considerando cada faceta de uma classe baacutesica como uma manifestaccedilatildeo concreta de uma dessas categorias Grolier (1974 p 77) vecirc na teoria de Ranganathan a simples racionalizaccedilatildeo a posteriori de uma praacutetica preacute-existente sob o disfarce de uma teoria geral268 Assim sendo pode-se dizer que faceta eacute cada um dos aspectos particulares pelos quais se considera um objeto isto eacute um aspecto de um assunto visto sob determinado acircngulo uma possiacutevel manifestaccedilatildeo de uma categoria particular o resultado da aplicaccedilatildeo de uma categoria e finalmente a materializaccedilatildeo de um criteacuterio de divisatildeo

Levando em consideraccedilatildeo a Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo (cf subseccedilatildeo 41) entende-se classe como um conjunto cujos membros compartilham alguma caracteriacutestica comum agraves vezes usada como um sinocircnimo para classe principal que eacute uma das primeiras divisotildees dos esquemas de classificaccedilatildeo As classes principais normalmente correspondem agraves tradicionais disciplinas acadecircmicas (tais como Fiacutesica Medicina Filosofia) ou outras importantes aacutereas de interesse ou atividade (Bibliografia Ciecircncia Naval) E considera-se categoria como um criteacuterio de divisatildeo geral que resultaraacute em grupos dentro dos quais os termos satildeo ordenados por meio de anaacutelises por facetas Ainda para a Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo as categorias geralmente reconhecidas satildeo coisa tipo parte material propriedade processo operaccedilatildeo agente espaccedilo e tempo embora outras sejam encontradas em disciplinas particulares Considera-se faceta como um grupo de termos contidos em um campo de assunto produzido por um princiacutepio de divisatildeo geral Exemplificando na classe Medicina ou no campo de assunto Sauacutede a faceta tipos de doenccedila faz parte da categoria tipo a faceta partes do corpo faz parte da categoria parte a faceta meacutetodos de tratamento faz parte da categoria meacutetodo e assim sucessivamente

268 ldquola simple rationalisation a posteriori drsquoune pratique preacuteexistante sous le deacuteguisement drsquoune theacuteorie geacuteneacuteralerdquo

253

6 CONCLUSAtildeO

Sentimos que mesmo depois de serem respondidas todas as questotildees cientiacuteficas possiacuteveis

os problemas da vida permanecem completamente intactos Wittgenstein

Seria despropositado e repetitivo reproduzir todas as conclusotildees alcanccediladas

ao longo de cada uma das seccedilotildees desta tese em especial a que trata do

acompanhamento e delineamento da trajetoacuteria das classificaccedilotildees dos saberes

(classes) e das classificaccedilotildees dos seres (categorias) agrave luz da Filosofia e sua

comparaccedilatildeo com os sitemas de classificaccedilatildeo bibliograacuteficas Oportuno poreacutem seria

tentar formular uma siacutentese geral do que emerge do texto como um todo

Todos os filoacutesofos citados estavam em busca do entendimento do ser Mas a

questatildeo era mais ampla e na tentativa de explicar o ser (categorias) eles

encontraram o saber (classes) No desejo de facilitar essa compreensatildeo ou mesmo

tornaacute-la mais didaacutetica foram cada um a seu modo criando transformando

inventando recriando e modificando conceitos que influenciados pela visatildeo de cada

um sobre o ser e o saber continuam sujeitos ao emprego teacutecnico e ao uso popular

A classificaccedilatildeo dos saberes (classes) como sistema divide o conhecimento em

aacutereas ou disciplinas tradicionais de acordo com os mais variados princiacutepios mas uma

vez estabelecidas fixadas as classes principais a operaccedilatildeo a ser feita para introduzir

novas aacutereas eacute a de ldquosimplesrdquo inserccedilatildeo enquanto a classificaccedilatildeo dos seres

(categorias) funcionando tambeacutem como um meacutetodo traduz-se em um conjunto

limitado de categorias escolhidas que abre espaccedilo a identidades e diferenccedilas e

remete agrave operaccedilatildeo de anaacutelise das propriedades de conceitos agrave noccedilatildeo de princiacutepio de

divisatildeo

A partir de Aristoacuteteles o processo de classificaccedilatildeo dos saberes e dos seres

embasa os sistemas enciclopeacutedicos de classificaccedilatildeo bibliograacutefica que tendem no

iniacutecio a utilizar indistintamente o conceito de classe e de categoria aplicando-os

como noccedilatildeo de classe que se estratifica em gecircnero e espeacutecie ateacute chegar agrave

substacircncia Esse procedimento se altera gradativamente principalmente por

influecircncia de Kant quando a noccedilatildeo de categoria (antes descriccedilatildeo agora

possibilidade de explicaccedilatildeo da realidade) passa a privilegiar as propriedades dos

fenocircmenos e objetos Portanto Kant retoma o processo e estabelece um novo

254

paradigma natildeo mais se referindo ao ser mas ao conhecer para designar os

conceitos ou princiacutepios a priori que fornecem a estrutura necessaacuteria para que o

entendimento possa perceber ou conceber aquilo que eacute dado Tal mudanccedila de

paradigma reflete-se na organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo o que talvez explique a

relativizaccedilatildeo das classificaccedilotildees bibliograacuteficas Com o decorrer do tempo as noccedilotildees

de categoria e classe passam a ser complementares Eacute quando os sistemas de

classificaccedilatildeo passam a operar simultaneamente com classes (aacutereas de

conhecimento) e com categorias (anaacutelises especiacuteficas e parciais do conteuacutedo dos

documentos)

O resgate histoacuterico das classificaccedilotildees filosoacuteficas dos saberes e dos seres

permitiu constatar que os conceitos de classe e categoria tecircm passado ao leacutexico

filosoacutefico universal mas os seus sentidos natildeo podem ser compreendidos a partir de

uma interpretaccedilatildeo comum dos termos senatildeo em conexatildeo com doutrinas e escolas

filosoacuteficas especiacuteficas

A classificaccedilatildeo os sistemas e os meacutetodos de classificaccedilatildeo natildeo satildeo apenas

teacutecnicas mas essencialmente estruturas teoacutericas com implicaccedilotildees filosoacuteficas A

mente humana natildeo possui um modelo preacute-fabricado de realidade o que significa

que tanto a classificaccedilatildeo como o mundo real satildeo construccedilotildees A classificaccedilatildeo

produz ldquoverdadesrdquo natildeo apenas representa o conhecimento mas faz nascer o

conhecimento

Tanto os princiacutepios que embasaram as classificaccedilotildees filosoacuteficas dos seres

(categorias) e dos saberes (classes) quanto as proacuteprias classificaccedilotildees

dividindo os seres em categorias e os saberes em classes disciplinares satildeo

construtos humanos elaborados primeiramente com a intenccedilatildeo de conhecer e

disciplinar o conhecimento do ser e do saber que refletem a trajetoacuteria do

pensamento filosoacutefico e indicam sempre preocupaccedilotildees fundamentais nas

diversas aacutereas do conhecimento

A influecircncia das classificaccedilotildees filosoacuteficas de caraacuteter especulativo sobre as

classificaccedilotildees bibliograacuteficas de caraacuteter funcional reside no fato de que as

classificaccedilotildees bibliograacuteficas natildeo deixam de ser adaptaccedilotildees das classificaccedilotildees do

conhecimento As classificaccedilotildees bibliograacuteficas utilizam termos originalmente das

filosoacuteficas ressignificando-os e transformando-os em ferramentas que necessitam

na maioria das vezes ser adaptadas para se adequarem agraves especificidades da

classificaccedilatildeo pretendida Visotildees filosoacuteficas como niacuteveis integratrivos ou

255

complexidade satildeo empregadas nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas como princiacutepios

estruturantes Distinccedilotildees entre classificaccedilatildeo filosoacutefica ou do conhecimento e

classificaccedilatildeo bibliograacutefica satildeo desnecessaacuterias pois conhecimento eacute virtualmente

sinocircnimo de conhecimento em literatura

Inspirada nas classificaccedilotildees filosoacuteficas a Biblioteconomia constroacutei sistemas

para a organizaccedilatildeo do conteuacutedo das suas coleccedilotildees de livros

As classificaccedilotildees bibliograacuteficas de modo geral tecircm por suporte a loacutegica

aristoteacutelica e os princiacutepios de um dos precursores da ciecircncia moderna Francis

Bacon O seu sistema filosoacutefico serviu de fundamento para a construccedilatildeo de vaacuterios

instrumentos destinados agrave organizaccedilatildeo do conhecimento como a Encyclopeacutedie de

Diderot e drsquoAlembert e vaacuterias classificaccedilotildees bibliograacuteficas como as de Harris

Dewey Otlet Cutter e outros Com Dewey ocorrre uma transiccedilatildeo das classificaccedilotildees

embasadas na Filosofia para as classificaccedilotildees pragmaacuteticas com ecircnfase na estrutura

classificatoacuteria hieraacuterquica enumerativa Bliss aproximou novamente a classificaccedilatildeo

bibliograacutefica da classificaccedilatildeo filosoacutefica ao combinar os princiacutepios compteanos com a

necessidade pragmaacutetica de colocar livros nas estantes de bibliotecas Da mesma

maneira Ranganathan elabora o primeiro sistema de classificaccedilatildeo bibliograacutefica geral

com base no princiacutepio analiacutetico-sinteacutetico ou anaacutelise por facetas o que significou uma

revoluccedilatildeo na construccedilatildeo de esquemas classificatoacuterios e um marco histoacuterico na Teoria

da Classificaccedilatildeo abrindo caminho para o desenvolvimento de sistemas de

organizaccedilatildeo do conhecimento que sucederam agraves classificaccedilotildees ou seja os tesauros

A filosofia da Biblioteconomia pode ser caracterizada como positivista

enraizada em uma interpretaccedilatildeo otimista de ciecircncia e sociedade No seacuteculo XIX

tendia-se a manifestar a visatildeo de que o progresso seria inevitaacutevel se o conhecimento

se tornasse acessiacutevel Durante esse periacuteodo as soluccedilotildees de organizaccedilatildeo do

conhecimento tomaram a forma de sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica de larga-

escala que eram descritos como geral ou universal Esses esquemas classificatoacuterios

foram construiacutedos dentro de um quadro filosoacutefico positivista que via o homem como

o foco central do universo que acreditava no progresso gerado pela ciecircncia e

pesquisa e que privilegiava a documentaccedilatildeo escrita sobre outras formas de

documentaccedilatildeo Os esquemas incorporaram ao mesmo tempo o mapeamento de

todo o conhecimento visando representar a ordem das coisas em relaccedilatildeo ao ideal e

o mapeamento de todo o conhecimento visando organizar os livros nas estantes em

relaccedilatildeo agrave rotina do dia a dia nas bibliotecas Eacute a partir dessa eacutepoca que surge a

256

preocupaccedilatildeo com os assuntos e a informaccedilatildeo contida nos livros As classificaccedilotildees

eram produto tanto da razatildeo quanto de uma visatildeo pragmaacutetica e funcionalista Muitas

vezes enfatizou-se o propoacutesito praacutetico de esquemas de classificaccedilatildeo ignorando-se

que toda classificaccedilatildeo eacute construiacuteda sobre um sistema de conhecimento Por

exemplo a CDU foi construiacuteda sobre a ordem das classes principais desenvolvidas

por Dewey as quais por sua vez embasaram-se na representaccedilatildeo racionalista das

ordens do conhecimento de Francis Bacon Estudiosos e pesquisadores da Teoria

da Classificaccedilatildeo tendem a adotar uma visatildeo francamente ambivalente sobre o

relacionamento de sistemas de classificaccedilatildeo filosoacuteficos e bibliograacuteficos de

conhecimento Argumentam que sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica satildeo

construiacutedos sobre fundaccedilotildees filosoacuteficas mas enfatizam a funccedilatildeo pragmaacutetica da

classificaccedilatildeo biblioteconocircmica Mas a despeito dessa ambivalecircncia todos os

esquemas de classificaccedilatildeo tradicionais satildeo construiacutedos sobre sistemas de

conhecimento claramente identificaacuteveis o que evidencia que determinada visatildeo de

mundo se encontra subentendida na estrutura de cada um dos esquemas que

disciplinam a epistemologia

As classes principais dentro dos esquemas tradicionais de classificaccedilatildeo

bibliograacutefica - natildeo importando se satildeo construiacutedas com o objetivo de simplificar e

facilitar o livre acesso dos usuaacuterios ao conhecimento em documentos habilitando-o

a localizar documentos especiacuteficos - sempre estabelecem o ponto de vista

epistemoloacutegico mundial sobre o qual o esquema estaacute construiacutedo o que se configura

numa praacutetica ou um exerciacutecio de poder ideologia e dominaccedilatildeo Esquemas de

classificaccedilatildeo satildeo sempre construtos ideoloacutegicos formaccedilotildees ideais mais do que

representativas do mundo natural produtos de uma determinada visatildeo de mundo

historicamente construiacutedos e contingentes isto eacute eventuais ou temporaacuterios que

escolhem determinam regulamentam que assuntos privilegiar e que assuntos

subordinar o que em termos sociais mais amplos tecircm consequecircncias porque

bibliotecas satildeo instituiccedilotildees primaacuterias de aprendizado e de aculturaccedilatildeo

Em siacutentese pode-se dizer que na trajetoacuteria a partir da Filosofia absorvida em

explicaccedilotildees teoacutericas ateacute a Biblioteconomia preocupada com soluccedilotildees instrumentais

e aplicativas (pragmaacuteticas) os esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica propostos

tem se beneficiado da aproximaccedilatildeo dessas duas aacutereas de conhecimento A

Biblioteconomia e a Ciecircncia da Informaccedilatildeo falam por meio de coacutedigos

classificaccedilotildees tesauros etc e por isso a informaccedilatildeo eacute sempre vista pelos

257

profissionais dessas aacutereas por meio de linguagens documentaacuterias naturais ou

controladas um dos recortes que as distinguem de outras aacutereas

Verificar como os conceitos de categoria de classe e de faceta satildeo

enunciados no acircmbito das classificaccedilotildees biblioteconocircmicas tradicionais faz emergir as

nuances das noccedilotildees Procurar clarear noccedilotildees conduz a complicar aquilo que parece

simples e a arriscar forjar distinccedilotildees aparentemente bizarras Uma dificuldade estaacute na

escolha original de termos (categoria e faceta) vagos e comuns para que a

especificidade da sua acepccedilatildeo documentaacuteria seja notadamente percebida Outra

dificuldade eacute a ambiguidade das noccedilotildees elas mesmas ferramentas de anaacutelise e siacutentese

conceituais Uma terceira dificuldade diz respeito agrave diversidade das entidades

documentaacuterias agraves quais se aplicam essas ferramentas assuntos conceitos e objetos

De qualquer maneira natildeo existe a pretensatildeo de fechar os conceitos

estudados pois sempre haveraacute a possibilidade de escolha face agraves variaccedilotildees que

ocorrem naturalmente de acordo com a eacutepoca e o autor como acontece com

qualquer vocaacutebulo e face agraves variaccedilotildees que se esforccedilam na tentativa de procurar um

qualificativo que precise a especificidade dos termos em Classificaccedilatildeo Como

tambeacutem haveraacute a possibilidade de providenciar uma definiccedilatildeo geral muito ampla que

se aplique a todos os empregos do campo da Ciecircncia da Informaccedilatildeo ou de dar uma

definiccedilatildeo especiacutefica para cada um dos usos particulares

Os termos de modo geral apresentam diversos significados Na Teoria da

Classificaccedilatildeo classe eacute usado para designar uma seacuterie ou um conjunto de unidades

que apresentam uma caracteriacutestica semelhante a partir da qual o conjunto adquire o

caraacuteter de classe A divisatildeo (ou grupo) oriunda da ramificaccedilatildeo de uma classe

principal eacute chamada de subclasse Categorias satildeo altamente generalistas no

sentido de que podem ser aplicadas a todas as classes enquanto que as classes

natildeo se aplicam agraves categorias Na visatildeo simplificada de que categorias satildeo caminhos

ou modos fundamentais pelos quais a informaccedilatildeo eacute construiacuteda ela comeccedila a ser

entendida como uma divisatildeo altamente geral de conceito e objeto Deve-se salientar

qualquer interpretaccedilatildeo dada agraves categorias deve levar em conta a evoluccedilatildeo do

pensamento de Aristoacuteteles a respeito a ideacuteia geral de categorias mesmo que de

maneira rudimentar eacute fundamental para qualquer teoria e praacutetica de subordinaccedilatildeo a

noccedilatildeo de categoria mesmo que intuitivamente sempre presidiu a operaccedilatildeo de

classificaccedilatildeo e ordenaccedilatildeo do conhecimento e o entendimento e a operacionalizaccedilatildeo

da noccedilatildeo de categoria resultam em uma opccedilatildeo um princiacutepio de divisatildeo

258

Muitos autores ingleses pensam que agrave teoria das facetas faltou um

movimento decisivo na histoacuteria da CC enquanto os franceses veem na teoria de

Ranganathan simplesmente a teorizaccedilatildeo de uma praacutetica Ao mesmo tempo que

declina o interesse pelas classificaccedilotildees facetadas (exceccedilatildeo ao uso de facetas na

organizaccedilatildeo de tesauros) aumenta o reconhecimento pelas classificaccedilotildees

tradicionais que veem o seu uso intensificado com a certeza a respeito da

necessidade de classificaccedilotildees nos mais diferentes ambientes de informaccedilatildeo atuais

como a internet

Haacute um processo real de enriquecimento do conteuacutedo dos conceitos quando

os termos caem no movimento evolutivo da reflexatildeo adquirindo uma densidade que

ateacute entatildeo inexistente A revisatildeo conceitual com respeito agraves noccedilotildees de classe

categoria e faceta aponta por parte dos estudiosos da Classificaccedilatildeo para a

necessidade de um cuidado maior no desenho no planejamento e na estruturaccedilatildeo

de sistemas de classificaccedilatildeo na modificaccedilatildeo e especificaccedilatildeo de tabelas de

classificaccedilatildeo e ateacute de linguagens de indexaccedilatildeo com vista agrave sua adequaccedilatildeo e

relevacircncia Entende-se que as contribuiccedilotildees daiacute resultantes delineadas numa

perspectiva funcional-instrumental poderatildeo ajudar os profissionais a reconsiderar os

seus sistemas de ideacuteias e procedimentos em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de

linguagens de indexaccedilatildeo e agrave classificaccedilatildeo habitual de documentos Parece loacutegico que depois de dececircnios de empregos variados e algumas vezes

discordantes a significaccedilatildeo dos termos apresentasse a tendecircncia a se estabilizar pois

a introduccedilatildeo dos termos e das noccedilotildees de categoria e de faceta na construccedilatildeo e

avaliaccedilatildeo de linguagens de indexaccedilatildeo (confecccedilatildeo de tesauros) assim como os

esforccedilos dos organismos de normalizaccedilatildeo tecircm contribuiacutedo para esclarecer a questatildeo

Os termos continuam sujeitos ao emprego teacutecnico e ao uso popular e

tambeacutem aos autores que os aplicam a todo procedimento semacircntico de

reagrupamento de noccedilotildees Seria recomendaacutevel fazer uso dos termos teacutecnicos com

discernimento e parcimocircnia e principalmente com precisatildeo conceitual Mas no jogo

incessante no qual se empregam as palavras e os conceitos pelos sujeitos falantes

eacute sempre o uso dominante da palavra que acaba por fazer a lei e o sentido o que

contribui para fragilizar uma aacuterea que carece de linguagem de especialidade Agrave

Ciecircncia da Informaccedilatildeo cabe avanccedilar na fundamentaccedilatildeo teoacuterica do seu campo de

aplicaccedilatildeo discutindo criticamente a sua base conceitual atenta agraves praacuteticas de uso

em voga na Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo com relaccedilatildeo a termos e conceitos

259

Deve-se acrescentar ainda um ponto positivo em contraponto agrave pouca

consistecircncia terminoloacutegica que estaacute presente em muitos projetos de organizaccedilatildeo da

informaccedilatildeo a do ganho que se tem quando se explicitam os criteacuterios utilizados para

agrupar ou dividir determinados conceitos ou seja a explicitaccedilatildeo das categorias A

explicitaccedilatildeo de criteacuterios ressalta a relatividade de qualquer organizaccedilatildeo da

informaccedilatildeo mas ao mesmo tempo confere ao usuaacuterio condiccedilotildees para entender

porque a informaccedilatildeo foi organizada de uma maneira e natildeo de outra Assim como a

relatividade do produto da classificaccedilatildeo deve ser assumida esse fato representa um

ganho para o usuaacuterio que passa a ter condiccedilotildees para avaliar o produto isto eacute a

informaccedilatildeo organizada jaacute que os criteacuterios utilizados lhe foram comunicados

Com a firme convicccedilatildeo de que uma noccedilatildeo ou conceito tem que ser definido

para ser operacionalizado este estudo permitiu a formulaccedilatildeo dos seguintes

conceitos de classe de categoria e de faceta dentro da Teoria da Classificaccedilatildeo para

as Classificaccedilotildees Bibliograacuteficas Tradicionais Classe eacute um conjunto cujos membros

compartilham alguma caracteriacutestica comum tambeacutem eacute cada uma das divisotildees

principais de um sistema esquema ou quadro de classificaccedilatildeo correspondendo

cada divisatildeo a uma disciplina do conhecimento agraves vezes o termo eacute usado como

sinocircnimo de classe principal Categoria eacute hipoacutetese de organizaccedilatildeo e expressatildeo

uma vez que natildeo se encontra aplicada eacute criteacuterio de divisatildeo que resultaraacute em grupos

dentro dos quais os termos satildeo ordenados por meio de anaacutelise por facetas Faceta eacute

um grupo de termos contidos em um campo de assunto produzido por um criteacuterio de

divisatildeo ou seja pela aplicaccedilatildeo de uma categoria

As hipoacuteteses levantadas foram validadas podendo-se concluir que a busca

pela consistecircncia terminoloacutegica de termos como categoria classe ou faceta contribui

para aperfeiccediloar a operacionalizaccedilatildeo do processamento do conhecimento em

Ciecircncia da Informaccedilatildeo e que os esquemas categoriais nas classificaccedilotildees

bibliograacuteficas natildeo tecircm valor neutro jaacute que favorecem uma concepccedilatildeo de mundo e

satildeo construiacutedos com objetivos pragmaacuteticos portanto a elaboraccedilatildeo de classificaccedilotildees

(classe categoria faceta) deve ser encarada com rigor pois afeta a maneira como

se processam as informaccedilotildees

Escolhas sobre ordem sobre que assuntos privilegiar e que assuntos ignorar

satildeo sempre escolhas ideoloacutegicas produtos de uma visatildeo de mundo particular e

tambeacutem representam um jogo de poder que eacute exercido em e por meio de relaccedilotildees

mediadas por informaccedilatildeo

260

7 PERSPECTIVAS

- Esmerar-se em separar tudo de tudo eacute algo natildeo somente discordante como tambeacutem eacute prova de desconhecimento das musas e da filosofia

- Eacute a mais radical maneira de todas as outras pois a razatildeo nos vem da ligaccedilatildeo muacutetua entre as figuras

Platatildeo Diaacutelogo de O Sofista

Parece ser produtivo parar e com base na literatura e na reflexatildeo pensar o

campo da Organizaccedilatildeo do Conhecimento de uma perspectiva mais geral e entatildeo

formular algumas questotildees relevantes e de interesse para futuras pesquisas

Princiacutepios de organizaccedilatildeo do conhecimento podem ser estendidos a um

escopo mais amplo incluindo hipertexto multimiacutedia objetos de museus e

monumentos

Enfoques ontoloacutegicos e epistemoloacutegicos podem ser reconciliados

Alguma fundaccedilatildeo ontoloacutegica de organizaccedilatildeo do conhecimento pode ser

identificada

Disciplinas deveriam continuar a ser a base estrutural da organizaccedilatildeo do

conhecimento

O ponto de vista da garantia literaacuteria pode ser identificado

A organizaccedilatildeo do conhecimento pode ser adaptada agraves necessidades das

coleccedilotildees locais

Como a organizaccedilatildeo do conhecimento pode proceder em relaccedilatildeo agraves

mudanccedilas no conhecimento

Como os sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento podem representar todas

as dimensotildees listadas acima

Como sofwares e formatos podem ser aprimorados para melhor atender agraves

necessidades dos sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento

Quem pode fazer organizaccedilatildeo do conhecimento profissionais da informaccedilatildeo

autores ou usuaacuterios Quem organiza o conhecimento

261

REFEREcircNCIAS

ABBAGNANO N Dicionaacuterio de filosofia Traduccedilatildeo da 1ordf ed brasileira coordenada e revista por Alfredo Bosi Revisatildeo da traduccedilatildeo e traduccedilatildeo dos novos textos Ivone Castilho Benedetti 4 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

AITCHISON J GILCHRIST A Construire un thesaurus Paris ADBS Eacuteditions 1992 ALA world encyclopedia of library and information services Chicago American Library Association 1980

ALBRECHTSEN H HJOslashRLAND B Information seeking and knowledge organization the presentation of a new book Knowledge Organization Wuumlrzburg v 24 n 3 p 136-144 1994

ALVARENGA L Organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo nas bibliotecas digitais In NAVES M M L KURAMOTO H Organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo princiacutepios e tendecircncias Brasiacutelia Briquet de Lemos 2006 Cap 6 p 76-98

AMPEgraveRE A M Essai sur la philosophie des sciences ou exposition analytique dacuteune classification naturelle de toutes les connaissanges humaines Paris Eacuteditions du Bachelier Imprimeur-Libraire pour les Sciences 1834 Part 1

ARANHA M L A MARTINS M H P Filosofando introduccedilatildeo agrave filosofia 3 ed revista Satildeo Paulo Moderna 2003

ARISTOacuteTELES Categorias Traduccedilatildeo do grego claacutessico introduccedilatildeo e notas feitas por Joseacute Veriacutessimo Teixeira da Mata Goiacircnia Ed UFG Alternativa 2005

ARISTOacuteTELES Toacutepicos Dos argumentos sofiacutesticos Seleccedilatildeo de textos de Joseacute Ameacuterico Motta Pessanha traduccedilotildees de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versatildeo inglesa de W A Pickard Satildeo Paulo Abril 1978 (Os Pensadores)

ARISTOacuteTELES Toacutepicos Dos argumentos sofiacutesticos Metafiacutesica Eacutetica a Nicocircmaco Poeacutetica Satildeo Paulo Abril Cultural 1973 (Os Pensadores v 4)

ASSOCIATION FRANCcedilAISE DE NORMALISATION AFNOR Z-47-100 regravegles drsquoeacutetablissement des theacutesaurus monolinguumles Paris La Deacutefense 1981

ASSOCIATION FRANCcedilAISE DE NORMALISATION AFNOR vocabulaire de la documentation 2 ed Paris La Deacutefense 1987

AULETE C Dicionaacuterio contemporacircneo da liacutengua portuguesa 5 ed Rio de Janeiro Delta 1986

AUSTIN D An indexing manual for PRECIS International Classification Frankfurt v 1 n 2 p 91-94 1974

AUSTIN D The new general faceted classification Catalogue amp Index London n 14 p 11-13 1969b

262

AUSTIN D Prospects for a new general classification Journal of Librarianship London v 1 n 3 p 149-169 1969a

AITCHISON J et al Thesaurofacet a thesaurus and faceted classification for engineering and related subjects Whetstone (Leicester) The Electric Co 1969

BACON F Novum Organum Satildeo Paulo Abril Cultural 1973 (Os Pensadores)

BARITEacute M G Glosario sobre organizacioacuten y representacioacuten del conocimiento clasificacioacuten indizacioacuten terminologiacutea Montevideo CSIC Indice 1997

BARITEacute M G The notion of ldquocategoryrdquo its implications in subject analysis and in the construction and evaluation of indexing languages Knowledge Organization Wuumlrzburg v 27 n 12 p 4-10 2000

BARRETO A A E assim nasceu a ciecircncia da informaccedilatildeo 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwlistasibictbrpipermailbib_virtual2005-june001480htmlgt Acesso em 20 maio 2006

BATLEY S Classification in theory and practice Oxford (UK) Chandos 2005

BHATTACHARYYA G POPSI its fundamentals and procedure based on a general theory of subject indexing languages Library Science with a Slant to Documentation Bangalore v 16 n 1 p 1-34 1979

BLISS H E The organization of knowledge in libraries and the subject approach to books 2nd ed New York Wilson 1939

BLISS CLASSIFICATION ASSOCIATION About the Bliss Bibliographic Classification Disponiacutevel em lthttpwwwblissclassificationorgukgt Acesso em 10 maio 2008

BOWKER G C STAR S L Sorting things out classification and its consequences Cambridge Mit Press 2000

BRACHMAN R J On the epistemological status of semantic networks In FINDER N V (Ed) Associative Networks representation and use of knowledge by components New York Academic Press 1979 p 3-50

BROUGHTON V Essential classification London Facet 2004

BROUGHTON V Faceted classification as a basis for knowledge organization in a digital environment the Bliss Bibliographic Classification as a model for vocabulary management and the creation of multidimensional knowledge structures In INTERNATIONAL ISKO CONFERENCE 7th July 2002 Granada Challenges in knowledge representation and organization for the 21st century Wuumlrzburg Ergon 2002 p 135-142 Disponiacutevel em lthttpwwwuclacukfatkspaper2htmgt Acesso em 12 maio 2008

BROWN J D Subject Classification London Library Supply 1906 Preface Introduction

263

BULFINCH T O livro de ouro da mitologia (a idade da faacutebula) histoacuterias de deuses e heroacuteis 5 ed Rio de Janeiro Ediouro 1999

BUONOCORE D Diccionario de bibliotecologiacutea 2 ed aum Buenos Aires Marymar 1976

BUTCHER S J Brown Classification In KENT A LANCOUR H (Ed) Encyclopedia of Library and Information Science New York Marcel Dekker 1971 v 3 p 367-371

CACALY S (Org) Dictionnaire encyclopeacutedique de lrsquoinformation et de la documentation Paris Nathan 1997

CAMPOS A T O nascer de uma utopia ainda e sempre o problema da classificaccedilatildeo bibliograacutefica Revista de biblioteconomia de Brasiacutelia v 1 n 1 p 15-19 janjun 1973

CAMPOS M L A Linguagem documentaacuteria teorias que fundamentam sua elaboraccedilatildeo Niteroacutei Eduff 2001

CAMPOS M L A A organizaccedilatildeo de unidades do conhecimento em hiperdocumentos o modelo conceitual como um espaccedilo comunicacional para a realizaccedilatildeo da autoria 2001 186 f Tese (Doutorado em Ciecircncia da Informaccedilatildeo) - Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia da Informaccedilatildeo do Convecircnio CNPqIBICT Escola de Comunicaccedilatildeo Universidade Federal do Rio de Janeiro 2001

CARVALHO E A E assim se passaram 100 anos Marccedilo de 2008 [professor titular de Antropologia da PUC-SP] Disponiacutevel em lthttpwwwiecomplexcombr uploadsEassimsepassaram100anospagdawebhtmgt Acesso em 10 jun 2008

CARVALHO K Travessia das letras Rio de Janeiro Casa da Palavra 1999

CENTRO DI STUDI FILOSOFICI DI GALLARATE Enciclopedia filosofica Venezia Istituto per la Collaborazione Culturale 1957

CHAUIacute M S Convite agrave filosofia Satildeo Paulo Aacutetica 2005

CINTRA A M M et al Para entender as linguagens documentaacuterias Satildeo Paulo Poacutelis 1994

CINTRA A M M et al Para entender as linguagens documentaacuterias 2 ed rev e ampl Satildeo Paulo Poacutelis 2002 92 p (Coleccedilatildeo Palavra-Chave 4)

CLASSIFICATION RESEARCH GROUP CRG Bulletin 11 Journal of Documentation London v 34 n 1 p 21-50 Mar 1978

CLASSIFICATION RESEARCH GROUP The need for a faceted classification as the basis of all methods of information retrieval Library Association Record London n 57 n 7 p 262-268 1955 Republished in Proceedings of the International Study Conference on Classification for Information Retrieval 1st May 1957 Dorking London ASLIB 1957 p 137-147

264

COMTE A Curso de filosofia positiva Discurso sobre o espiacuterito positivo Catecismo positivista Satildeo Paulo Abril Cultural 1973 (Os Pensadores v 33)

CUTTER C A Expansive classification Boston [sn] 1891

DAHLBERG I O futuro das linguagens de indexaccedilatildeo In CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979a v 1 p 323-334

DAHLBERG I Major development in classification Advances in Librarianship New York n 7 p 41-103 1977

DAHLBERG I Ontical structures and universal classification Banglore Sarada Ranganathan Endowment 1978

DAHLBERG I A referent-oriented analytical concept theory of INTERCONCEPT International Classification Frankfurt v 5 n 3 p 142-151 1978

DAHLBERG I Teoria da classificaccedilatildeo ontem e hoje In CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979b v 1 p 352-376 Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitidahlbergteoriadahlberg_teoriahtmgt Acesso em 20 abr 2005

DAHLBERG I Teoria do conceito Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 7 n 2 p 11-107 1978

DAHLBERG I Why knowledge organization Reasons for international classificationrsquos change of name Knowledge Organization Wuumlrzburg v 20 n 1 p 1 1993

DAHLBERG I Zur Theorie des Begriffs (Towards a theory of the concept) International Classification Frankfurt v 1 n 1 p 12-19 1974

DASGUPTA S N A history of indian philosophy Cambridge Cambridge University Press 1949

DESCARTES R Regulae ad Directionem Ingenii In ADAN C TANERRY P [Ed] Oeuvres completes ed revue et augmenteacutee par B Rochot et P Costabel Paris Vrin 1996 v VII

DEWEY M Dewey Decimal Classification Centennial 1876-1976 Facsiacutemile 1876 Produced by Suzanne Shell Lesley Halamek and PG Distributed Proofreaders reprinted by Forest Press and Division Lake Placid Educational Foundation 2007

DEWEY M Sistema de Clasificacioacuten Decimal Dewey Disentildeado originalmente por Melvil Dewey Traduccioacuten de la edicioacuten 20 em ingleacutes Traducido bajo la direccioacuten general de Octavio G Rojas L y la direccioacuten teacutecnica de Margarita Amaya de Heredia 20 ed Santafeacute de Bogotaacute Rojas Eberhard 1995

265

DEWEY M Dewey decimal classification and relative index 22nd ed Dublin OCLC Forest Press 2003 4 v

DIAS E W Biblioteconomia e ciecircncia da informaccedilatildeo natureza e relaccedilotildees In Perspectivas em Ciecircncia da Informaccedilatildeo Belo Horizonte v 5 n especial p 67-80 2000

DIAS E W O especiacutefico da ciecircncia da informaccedilatildeo In AQUINO M de A (Org) O campo da ciecircncia da informaccedilatildeo gecircnese conexotildees e especificidades Joatildeo Pessoa Editora UniversitaacuteriaUFPB 2002a

DIAS E W Ensino e pesquisa em ciecircncia da informaccedilatildeo DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 3 n 5 out 2002b Disponiacutevel em httpwwwdgzorgbrout02Art_02htm Acesso em 12 abrl 2008

DOBROWOLSKI Z Eacutetude sur la construction des systegravemes de classification Preacuteface drsquoEric de Grolier Paris Gauthier-Villars 1964

DUBOIS J et al Dicionaacuterio de linguiacutestica Satildeo Paulo Cultrix 1991

DUBUC R La classification deacutecimale universelle Paris Gauthier-Villars 1973

DURKHEIM Eacute As regras do meacutetodo socioloacutegico e outros textos In COMTE A DURKNHEIM Eacute Curso de filosofia positiva Satildeo Paulo Abril Cultural 1973 (Coleccedilatildeo Os Pensadores v 33)

DURKHEIM Eacute MAUSS M De quelques formes primitives de classification Anne Sociologique Paris v 1 p 8-62 1901-1902

ECO U Kant e o ornitorrinco Rio de Janeiro Record 1998

EISENSTEIN E L A revoluccedilatildeo da cultura impressa os primoacuterdios da Europa moderna Traduccedilatildeo Osvaldo Biato revisatildeo teacutecnica Rodolfo Ilari e Mayumi Denise Senoi Ilari Satildeo Paulo Aacutetica 1998

ELSEVIERrsquoS Dictionary of Library Science information and documentation In six languages EnglishAmerican-French-Spanish-Italian-Dutch and German Compiled and arranged on an English alphabetical basis by W E Clason Amsterdam Elsevier 1973

ENCICLOPEacuteDIA MIRADOR INTERNACIONAL Satildeo Paulo Encyclopaedia Britannica do Brasil 1983 v 9

ENCICLOPEacuteDIA SIMPOZIO Versatildeo em portuguecircs do original em esperanto Copyright 1997 Cap 2 Descartes meacutetodo e teoria do conhecimento 3686y066 sect 3 Divisatildeo e classificaccedilatildeo cartesiana das ciecircncias n 100 Disponiacutevel em lthttpwwwsimpozioufscbrFramehtmgt Acesso em 10 jan 2008

ENCICLOPEDIA VNIVERSAL ILVSTRADA evropeo-americana Bilbao Espasa-Calpe 1970

266

ESTEBAN NAVARRO M A Los lenguajes documentales ante el paso de la organizacioacuten de la realidad y el saber a la organizacioacuten del conocimiento Scire Zaragoza v 1 n 2 p 43-71 juldic 1995

FEIBLEMAN J K The integrative levels in nature In KYLE B (Ed) Focus on information and communication London ASLIB 1965 p 27-41

FEIBLEMAN J K Theory of integrative levels In CHAN L M et al Theory of subject analysis Littleton Libraries Unlimited 1985 p 136-142

FERRATER MORA J Diccionario de filosofiacutea Buenos Aires Sudamericana 1971 2 v

FERREIRA A B de H Novo Aureacutelio seacuteculo XXI o dicionaacuterio da liacutengua portuguesa 3 ed rev ampl Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999

FLA K D Theory of classification an examination guidebook London Clive Bingley 1966

FOSKETT A C A abordagem temaacutetica da informaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Antonio Agenor Briquet de Lemos Satildeo Paulo Poliacutegono Brasiacutelia Ed UnB 1973

FOSKETT A C Facet analysis In KENT A LANCOUR H (Ed) Encyclopedia of library and information science New York Marcel Dekker 1972 v 8 p 338-346

FOSKETT A C The subject approach to information 5th ed London Clive Bingley 1996 Chapter 18

FOSKETT D J The Classification Research Group 1952-1962 Libri Munchen v 12 n 2 p 127-138 1962

FOSKETT D J The theory of integrative levels and its relevance to the design of information systems ASLIB Proceedings London v 30 n 6 p 202-208 1978

FOUCAULT M As palavras e as coisas uma arqueologia das ciecircncias humanas Traduccedilatildeo Salma Tannus Muchail 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1981

GARCIA MORENTE M Lecciones preliminares de filosofia 5 ed Buenos Aires Editorial Losada 1952

GIMENO PERELLOacute J De las clasificaciones ilustradas al paradigma de la transdisciplinariedad El Catoblepas Revista Criacutetica del Presente n 10 dic 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwnoduloorgec2002n010p13htmgt Acesso em 3 mar 2008

GLOSSAacuteRIO de Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo Programa Sociedade da Informaccedilatildeo do Brasil GT-UMBTCAIDDL0025 Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpportalfustsocinfoorgbrDocsDocs20contribuicoes20dos20SUBGTSGT-UNBTCAIDDL0025docgt Acesso em 12 jan 2007

267

GLOSSAacuteRIO geral de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Universidade de Brasiacutelia Departamento de Ciecircncia da Informaccedilatildeo e Documentaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcidunbbr 123M0011000asptxtID_PRINCIPAL=123gt Acesso em 12 jan 2007

GLOSSARY OF TERMS Disponiacutevel emlthttpwwweducationusastategovgraduate glossaryhtmgt Acesso em 23 de novembro de 2007

GNOLI C Ten long-term research question in knowledge organization Knowledge Organization Frankfurt v 35 n 23 p 137-149 2008

GNOLI C POLI R Levels of reality and levels of representation Knowledge Organization Wuumlrzburg v 31 n 3 p 151-160 2004

GONZALEZ DE GOMEZ M N Da representaccedilatildeo do conhecimento ao conhecimento da representaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 22 n 3 p 217-222 1993

GOOSSENS J Origins and development of the universal decimal classification International Forum on Information and Documentation The Hague v 7 n 2 p 7-10 1982

GOPINATH M A Ranganathans perspectives and achievements Library Science in India New Delhi v 19 n 3 1992 Editorial

GOPINATH M A Lectures on conceptual knowledge processing Bangalore Sarada Ranganathan Endowment for Library Science 2001

GRACIA J J E Are categories invented or discovered A response to Foucault The Review of Metaphysics Washington n 55 p 3-20 Sept 2001

GREIMAS A J COURTES J Dicionaacuterio de semioacutetica Satildeo Paulo Cultrix [1979]

GROLIER E Classifications as cultural artifacts In UNIVERSAL CLASSIFICATION 1st JunJul1982 Augsburg Subject analisys and ordering systems INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION RESEARCH 4th JunJul1982 Augsburg Proceedingshellip ANNUAL CONFERENCE OF GESELLSCHAFT FUumlR KLASSIFIKATION 6th JunJul1982 Augsburg Annalshellip Frankfurt Indeks Verlag 1982-1983 London ASLIB 1982 v 2 p 19-34

GROLIER E Current trends in theory and practice of classification In INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION RESEARCH 2nd 1965 Copenhagen Proceedings Copenhagen Munksgaard 1965 p 9-14

GROLIER E Eacutetude sur les cateacutegories geacuteneacuterales aplicables aux classifications et codifications documentaires Paris UNESCO 1962

GROLIER E La clasificacioacuten cien antildeos despueacutes de Dewey Boletiacuten de la Unesco Paris v 30 n 6 p 320-329 novdic 1976

268

GROLIER E Le systegraveme des sciences et lrsquoeacutevolution du savoir In _____ Les fondements de la classification des savoirs Munich Verlag Dokumentation 1974 p 20-119

GUEDEZ A Foucault Traduccedilatildeo de Edson Braga de Souza Satildeo Paulo Melhoramentos Ed da Universidade de Satildeo Paulo 1977

GUIMARAtildeES R Dicionaacuterio da mitologia grega Satildeo Paulo Cultrix 1999

HAMELIN O Le systegraveme drsquoAristote Paris Feacutelix Alcan 1931

HARROD L M (Comp) The librariansrsquo glossary of terms used in librarianship documentation and the book crafts and reference book 4th ed rev London Andre Deutsch 1977

HARTMANN N Der Aufbau der realen Welt Grundiss der allgemeinen Kategorienlehre Berlin Walter de Gruyter1940

HJOslashRLAND B Fundamentals of knowledge organization In FRIacuteAS J A CRIacuteSPULO T (Ed) Tendencias de investigacioacuten en organizacioacuten del conocimiento Salamanca Ediciones Universidad de Salamanca 2003 p 83-116

HJOslashRLAND B Information seeking and subject representation London Greenwod Press 1997

HJOslashRLAND B HARTEL J Ontological epistemological and sociological dimensions of domains Knowledge Organization Wuumlrzburg v 30 p 239-245 2003

HUARTE DE SAN JUAN J H de Examen de ingenious para las ciecircncias Electroneurobiologia Madrid v 3 n 2 p 1-322 1995 (Notas preliminares por Mariela Szirko) Disponiacutevel em lthttpelectroneubiosecytgovarindex2htmgt Acesso em 20 jan 2007

HUCKABY S A S An enquiry into the theory of integrative levels as the basis for a generalized classification scheme Journal of Documentation London v 28 n 2 p 97-106 1972

HUDON M Le theacutesaurus conception elaboration gestion Montreacuteal ASTED 1994

HUNTER E J Classification made simple 2nd ed Aldershot Ashgate 2002

INDIAN standard glossary of classification terms New Delhi Indian Standards Institution (ISI) 1964

INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION FOR INFORMATION RETRIEVAL 1st May 1957 Dorking London ASLIB 1957

IYER H Classificatory structures concepts relations and representation Frankfurt Main Indeks Verlag 1995

269

JAYARAM V Purusharthas or the four aims of human life Disponiacutevel em lthttpwwwhinduwebsitecomhinduismh_aimsaspgt Acesso em 29 set 2008

KAHLMEYER-MERTENS R S Interpretaccedilatildeo da ldquociecircncia de todos os princiacutepios da sensibilidade a priorirdquo na criacutetica da razatildeo pura de Immanuel Kant Tempo da Ciecircncia Revista de Ciecircncias Sociais e Humanas Toledo v8 n 16 p 35-44 2001 Disponiacutevel emlthttpwww conscienciaorg critica_da_ razao_puraroberto shtmlgt Acesso em 30 nov 2007

KEDROV B N Clasificacioacuten de las ciencias Moscuacute Editorial Progreso 1974 2 v

KEENAN S Concise dictionary of library and information science London Bowker Saur 1996

KNEALE M KNEALE W O desenvolvimento da loacutegica 2 ed Lisboa Calouste Gulbenkian 1980

KNOWLEDGE ORGANIZATION Wuumlrzburg v 35 n 23 2008 Special Issue What is knowledge organization

KUHN T S Estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas Satildeo Paulo Perspectiva 1976

KUMAR K Theory of classification 2nd ed New Delhi Vikas Publishing House 1981

LALANDE A Vocabulaacuterio - teacutecnico e criacutetico - da filosofia Porto Reacutes [19--]

LANCASTER F W Vocabulary control for information retrieval Arlington Virginia Information Resources Press 1986

LANDAU T (Ed) Encyclopaedia of librarianship London Bowes amp Bowes 1958

LANGRIDGE D Classificaccedilatildeo abordagem para estudantes de biblioteconomia Rio de Janeiro Interciecircncia 1977

LAROUSSE P Grand dictionnaire universel du XIXe siegraveclehellip Paris Administration du Grand Dictionnaire Universel 1867

LEacuteVI-STRAUSS C O pensamento selvagem Traduccedilatildeo de Maria Celeste da Costa e Souza e Almir de Oliveira Aguiar 2 ed Satildeo Paulo Ed Nacional 1976

McILWAINE I C The Universal Decimal Classification a guide to its use The Hague UDC Consortium 2000

McILWAINE I C MITCHELL J S Preface to special issue Knowledge Organization Wuumlrzburg v 35 n 23 p 79-81 2008

McMURTRIE D O livro impressatildeo e fabrico 3 ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1997

MANIEZ J Des classifications aux theacutesaurus du bom usage des facettes Documentaliste - Sciences de lrsquoInformation Paris v 36 n 4-5 p 249-262 1999

270

MANIEZ J Los lenguajes documentales y de clasificacioacuten concepcioacuten construccioacuten y utilizacioacuten en los sistemas documentales Traduccioacuten del franceacutes Francisco Javier Aacutelvarez Garciacutea Juan Francisco Herranz Navarra Margarita Ramiacuterez Reyes Madrid Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez 1993

MANIEZ J Variations sur le thegraveme des facettes In DENTZER-TATIN C Mosaiumlque quelques facettes de lrsquoinformation Paris ADBS 1997 p 17-42

MANN M Catalogaccedilatildeo e classificaccedilatildeo de livros Rio de Janeiro Ed Fundo de Cultura 1962

MATURANA H R VARELA F J A aacutervore do conhecimento as bases bioloacutegicas da compreensatildeo humana Traduccedilatildeo Humberto Mariotti e Lia Diskin Satildeo Paulo Palas Athena 2001

MAZIP V Histoacuteria da filosofia ocidental vida obras pensamento e terminologia especiacutefica dos filoacutesofos Satildeo Paulo EPU 2001

MEDEIROS M B B Categoria e faceta In GLOSSAacuteRIO geral de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Universidade de Brasiacutelia Departamento de Ciecircncia da Informaccedilatildeo e Documentaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcidunbbr123M0011000asptxtID_ PRINCIPAL=123gt Acesso em 12 jan 2007

MENEZES E M CUNHA M V da HEEMANN V M Glossaacuterio de anaacutelise documentaacuteria Londrina ABECIN 2004

MIKSA F L Cutter Charles Ammi In ALA world encyclopedia of library and information services Chicago American Library Association 1980 p 168-170

MILLS J A modern outline of library classification London Chapman and Hall 1960

MILLS J BROUGHTON V Bliss Bibliographic Classification introduction and auxiliary schedules 2nd ed London Butterworths 1977

MONTANGERO J MAURICE-NAVILLE D Piaget ou a inteligecircncia em evoluccedilatildeo Porto Alegre ArtMed 1998

MOSS R Categories and relations origins of two classification theories American Documentation Washington DC v 15 n 4 p 296-301 Oct 1964

MOSTAFA S P Ciecircncia da informaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com outras aacutereas Palestra proferida em Mariacutelia [sd] In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL Disponiacutevel em lthttpwwwmariliaunespbrHomeExtensaoCEDHUMtexto03pdfgt Acesso em 12 out 2005

MOSTAFA S P Filosofando sobre a area de informaccedilatildeo In SIMPOacuteSIO BRASIL SUL DE INFORMACcedilAtildeO Assumindo um novo paradigma acervo versus informaccedilatildeo 1996 Londrina Anais do Londrina UEL 1996 v 1 p 31-45

271

NEELAMEGHAN A Theory of classification KENT A LANCOUR H (Ed) Encyclopedia of library and Information science New York Marcel Dekker 1970 v 5 p 147-174

OLIVEIRA R M S Classificaccedilatildeo decimal universal origem estrutura situaccedilatildeo atual Brasiacutelia ABDF INL 1980

OTLET P Sur la structure des nombres classificateurs Bulletin de lrsquoInstitut International de Bibliographie La Haye v 1 p 230-243 1895-1896

OTLET P Traiteacute de Documentation le livre sur le livre Bruxelles Editiones Mundaneum 1934

PALMER B I WELLS A J The fundamentals of library classification London George Allen amp Unwin 1951

PAZIN R A A P Introduccedilatildeo agrave classificaccedilatildeo (manual para estudantes de Biblioteconomia) Curitiba UFPR 1973

PENNA C V Catalogacioacuten y clasificacioacuten de libros Buenos Aires Kapelusz 1960

PERREAULT J M An essay on the Prehistory of general categories T Jefferson (Dedicated to Eric de Grolier on his 80th Birthday) International Classification Frankfurt v 18 n 3 p 134-142 1991

PERREAULT J M (Ed) Proceedings of the International Symposium on Relational Factors in Classification 1966 Maryland Jun 1966 Information Storage and Retrieval Elmsford NY v 3 n 4 p 177-410 1967

PERREAULT J M Towards a theory for the UDC London C Bingley 1969

PHILLIPS W H A primer book classification London Association of Assistant Librarians 1961

PIAGET J Logique et connaissance scientifique Paris Gallimard 1967

PIAGET J Reacuteussir et comprendre Paris PUF 1974

PIAGET J GARCIA R Vers une logique des significations Genegraveve Murionde 1987

PIEDADE M A R Introduccedilatildeo agrave teoria da classificaccedilatildeo 2 ed rev e aum Rio de Janeiro Interciecircncia 1983

PLATAtildeO A Repuacuteblica [ou sobre a justiccedila diaacutelogo poliacutetico] Tiacutetulo original Politeacuteia Traduccedilatildeo Anna Lia Amaral de Almeida Prado revisatildeo teacutecnica e introduccedilatildeo Roberto Bolzani Filho Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

272

POLI R Framing ontology In CORAZZON R (Ed) Ontology a resource guide for philosophers Disponiacutevel em lthttpwwwformalontologyiitessaysframingpdfgt Acesso em 8 ago 2008 1996

POLI R Ontology for knowledge organization In GREEN R (Ed) Knowledge organization and change Proceedings of the fourth International ISKO Conference Jul 1996 Washigton DC Wuumlrzburg Ergon 1996 p 313-319

POMBO O Apontamentos sobre o conceito de epistemologia e o enquadramento categorial da diversidade de concepccedilotildees de ciecircncia Disponiacutevel em lthttpcfculfculpttextosdisponiveishtmgt Acesso em 20 nov 2006

PRABHAKARA Britannica online enciclopeacutedia Disponiacutevel em lthttpwwwbritannicacomEBcheckedtopic473542Prabhakaragt Acesso em 17 out 2008

RAFFERTY P The representation of knowledge in library classification schemes Knowledge Organization Wuumlrzburg v 28 n 4 p 180-191 2001

RANGANATHAN S R Colon Classification 6th ed Bombay Bombay Asia Publishing House 1960

RANGANATHAN SR The five laws of library science Bombay Asia Publishing House 1963

RANGANATHAN S R Library Classification fundamentals and procedures Bangalore Sarada Ranganathan Endowment for Library Science 1944

RANGANATHAN S R Library classification as a discipline opening address In THE INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION AND INFORMATION RETRIEVAL May 1957 Dorking Bulletin [Classification Research Group] London ASLIB 1957 p 2

RANGANATHAN S R Philosophy of library classification Copenhagen Ejnar Munksgaard 1951

RANGANATHAN S R Prolegomena to library classification Madras Madras Library Association 1937

RANGANATHAN S R Prolegomena to library classification Assisted by M A Gopinath 3rd ed London Asia Publishing House 1967

RAYWARD W B The case of Paul Otlet pioneer of Information Science internationalist visionary reflections on bibliography Disponiacutevel em lthttpwww alexialisuiucedugslispeoplefacultyfac_papersraywardrayward2htmlgt Acesso em 20 Jun 2001

RICHMOND P A Contribution toward a new generalized theory of classification In CLASSIFICATION RESEARCH INTERNATIONAL STUDY 2nd 1965 Copenhagen Proceedingshellip Copenhagen Munksgaard 1965 p 39-54

273

RICOEUR P A memoacuteria a histoacuteria o esquecimento Traduccedilatildeo de Alain Franccedilois Campinas Editora da Unicamp 2008

ROBREDO J CUNHA M B da Documentaccedilatildeo de hoje e de amanhatilde uma aborgagem informatizada da Biblioteconomia e dos sistemas de informaccedilatildeo Satildeo Paulo Global 1994

RODRIGUEZ R D Kaiserrsquos systematic indexing Library Resources amp Technical Services Chicago v 28 n 2 p 163-174 AprJun 1984

RYLE G Expressotildees sistematicamente enganadoras e outros ensaios In RYLE et al Ensaios Satildeo Paulo Abril Cultural 1975 p 29-41 (Os Pensadores v 52)

RYLE G The concept of mind Chicago The University Chicago Press 1949

SAN SEGUNDO MANUEL R Sistemas de organizacioacuten del conocimiento la organizacioacuten del conocimiento en las bibliotecas espantildeolas Madrid Universidad Carlos III 1996 (Coleccioacuten Monografiacuteas 15)

SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma ciecircncia poacutes-moderna 3 ed Rio de Janeiro Graal 1989 Cap 2 Ciecircncia e senso comum p 31-45

SANTOS B de S Um discurso sobre as ciecircncias Porto Afrontamento 1987

SANTOS M F dos Dicionaacuterio de filosofia e ciecircncias culturais 2 ed Satildeo Paulo Matese 1964

SATIJA M P SINGH A Bibliography of library classification 1930-1993 New Delhi MD Publications 1993

SAYERS W C B An introduction to library classification 9th ed London Grafton 1955a

SAYERS W C B A manual of classification for librarians and bibliographers 3rd rev ed London Grafton 1955b

SEPUacuteLVEDA F A M A gecircnese do pensar em Ranganathan um olhar sobre as culturas que o influenciaram Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombiti sepulvedaindexhtmgt Acesso em 24 maio 2006 (Pesquisa apresentada originalmente como Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Ciecircncia da Informaccedilatildeo - Universidade Federal do Rio de Janeiro 1996)

SERRAI A Le classificazioni idee e materiali per una teoria e per una storia Firenze Leo Olschki 1977

SHERA J H Padratildeo estrutura e conceituaccedilatildeo na classificaccedilatildeo [1957] Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitisheraindexhtmgt Acesso em 23 abr 2006

274

SMIT J W TAacuteLAMO M F G M KOBASHI N Y A determinaccedilatildeo do campo cientiacutefico da informaccedilatildeo uma abordagem terminoloacutegica DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 5 n 1 p 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrgt Acesso em 15 maio 2006

SOUZA J S Classificaccedilatildeo sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica 2 ed Satildeo Paulo Martins 1952

SPITERI L The Classification Research Group and the theory of integrative levels The Katharine Sharp Review 1995 Disponiacutevel em lthttpalexialisiucedu review summer1995spiterihtmlgt Acesso em 8 out 2005

STEWART J D Memoir by James Douglas Stewart Library Association Record London n 16 p 239-242 May 1914

STOumlRIG H J Histoacuteria geral da filosofia Revisatildeo geral de Edgar Orth Petroacutepolis Vozes 2008

TAacuteLAMO M F G M KOBASHI N Y LARA M L G Vamos perseguir a informaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo n 4 p 52-57 setdez 1995

TAacuteLAMO M F G M et al Otlet o criador de estruturas informacionais pela paz mundial In CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA DOCUMENTACcedilAtildeO E CIEcircNCIA DA INFORMACcedilAtildeO 20 junho de 2002 Fortaleza Trabalho apresentado ao Fortaleza 2002 1 CD-ROM

TCHAKHOTINE S Organisation rationnelle de la recherche scientifique Paris Hermann 1938

TEIXEIRA J Instrumentos para representaccedilatildeo da informaccedilatildeo tesauro ontologia taxonomia e mapas conceituais Satildeo Paulo 2006 57 f Monografia (Trabalho de Conclusatildeo de Curso) - Departamento de Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo Escola de Comunicaccedilotildees e Artes Universidade de Satildeo Paulo 2006

TENNIS J T Epistemology theory and methodology in knowledge organization Knowledge Organization Wuumlrzburg v 35 n 23 p 102-112 2008

THOMPSON E H (Dir) ALA glossary of library terms with a selection of terms in related fields Chicago American Library Association 1943

UDC Universal Decimal Classification London British Standards Institution 2003 (Pocket edition)

UDC CONSORTIUM Classificaccedilatildeo Decimal Universal tabelas sistemaacuteticas Segunda Ediccedilatildeo-Padratildeo Internacional em Liacutengua Portuguesa Traduccedilatildeo de Odilon Pereira da Silva Revisatildeo de Faacutetima Ganim Brasiacutelia IBICT 2007 2 v (Publicaccedilatildeo UDC P053)

275

UNESCO Knowledge versus information societies UNESCO report takes stock of the difference 2005 Disponiacutevel em lthttpportalunescoorgenevphp-URL_ID= 30586ampURL_DO=DO_TOPICampURL_SECTION=201htmgt Acesso em 8 abr 2007

UNESCO-BIE Theacutesaurus de lrsquoeacuteducation Paris Unesco 1991

VANCOURT R Kant Traduccedilatildeo do francecircs por A Pinto Ribeiro Lisboa Ediccedilotildees 70 1980

VERBO Enciclopeacutedia Luso-Brasileira de Cultura Lisboa Editorial Verbo 1963-1976

VICENTINI A L C Ranganathan filoacutesofo da classificaccedilatildeo cientista da biblioteconomiacutea Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 1 n 2 p 113-114 juldez 1972

VICKERY B C La classification agrave facettes Paris Gauthier-Villars 1963

VICKERY B C Classification and indexing in science 3rd ed rev compl rev London Butterworths 1958

VICKERY B C Classification and indexing in science 3rd ed London Butterworths 1975

VICKERY B C Faceted classification a guide to the construction and use of special schemes London ASLIB 1960

VICKERY B C Classificaccedilatildeo e indexaccedilatildeo nas ciecircncias Traduccedilatildeo Maria Christina Giratildeo Pirolla Rio de Janeiro BNGBrasilart 1980

VITA L W Introduccedilatildeo agrave filosofia Satildeo Paulo Melhoramentos 1964

WHAT is a MARC record and whyrsquos it important Disponiacutevel em lthttpwwwlocgov marcumbum01to06htmlgt Acesso em 10 abr 2007

WERSIG G NEVELING U Terminologiacutee de la documentation (en cinq langue) Paris Unesco 1976

WIENER P P (Ed) Readings in philosophy of science introduction to the foundations and cultural aspects of the sciences New York Charles Scribners Sons 1953

WITTGENSTEIN Ludwig Tractatus logico-philosophicus Satildeo Paulo Edusp 1994

XIAO Y Faceted classification a consideration of its features as a paradigm of knowledge organization Knowledge Organization Wuumlrzburg v 21 n 2 p 64-68 1994

ZADEH L A Fuzzy sets Information and Control New York v8 n3 p 338-353 Jun 1965

276

ZADEH L A KLIR G J YUAN B Fuzzy sets fuzzy logic and fuzzy systems selected papers River Edge World Scientific Press 1996 (Advances in Fuzzy Systems v 6)

277

BIBLIOGRAFIA

AITCHISON J A classification as a source for a thesaurus the Bibliographic Classification of H E Bliss as a source of thesaurus terms and structure Journal of Documentation London v 42 n 3 p 160-181 Sept1986

ARTEcircNCIO L M Princiacutepios de categorizaccedilatildeo nas linguagens documentaacuterias Satildeo Paulo 2007 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Ciecircncia da Informaccedilatildeo) - Escola de Comunicaccedilatildeo e Artes Universidade de Satildeo Paulo

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 13789 terminologia - princiacutepios e meacutetodos - elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de normas de terminologia Rio de Janeiro mar 1997

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 13790 terminologia - princiacutepios e meacutetodos - harmonizaccedilatildeo de conceitos e termos Rio de Janeiro mar 1997

AUSTIN D The theory of integrative levels reconsidered as the basis of a general classification In CLASSIFICATION RESEARCH GROUP (Ed) Classification and information control London Library Association 1969 p 81-95

AUSTIN D DALE P Diretrizes para o estabelecimento de tesauros monoliacutenguumles Brasiacutelia IBICTSENAI 1993

BAKHTIN M Marxismo e filosofia da linguagem problemas fundamentais do meacutetodo socioloacutegico na ciecircncia da linguagem 11 ed Satildeo Paulo Hucitec 2004

BARATIN M JACOB C O poder das bibliotecas Rio de Janeiro UFRJ 2000 Cap Ler para escrever navegaccedilotildees alexandrinas

BARBOSA A P Teoria e praacutetica dos sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica Rio de Janeiro IBBD 1969

BARITEacute M G Organizacioacuten del conocimiento un nuevo marco teoacuterico-conceptual en Bibliotecologiacutea y Documentacioacuten In CARRARA K (Org) Educaccedilatildeo universidade e pesquisa Mariacutelia UNESP Mariacutelia Publicaccedilotildees Satildeo Paulo FAPESP 2001

BARRETO A A A questatildeo da informaccedilatildeo Satildeo Paulo em Perspectiva Satildeo Paulo v 8 n 4 p 3-8 1994

BARRETO A A As tecnoutopias do saber redes interligando o conhecimento Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrdez05Art_01htmgt Acesso em 5 abr 2007

BARROS L A Curso baacutesico de terminologia Satildeo Paulo EDUSP 2004

BASTOS Z P S M Melvil Dewey sua vida e sua obra In CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979 v 1 p 168-189

278

BEGHTOL C Knowledge domains multidisciplinarity and bibliographic classification systems Knowlede Organization Wuumlrzburg v25 n frac12 p 1-12 1998

BELL D O advento da sociedade poacutes-industrial Satildeo Paulo Cultrix 1973 Cap 3 As dimensotildees do conhecimento

BHATTACHARYYA G GANGANATHAN S R From knowledge organization to library classification In COLLOQUE DrsquoOTTAWA Conceptual of the classification of knowledge = Les fondements de la classification des savoirs Acteshellip 1971 Munchen Verlag Dokumentation 1974 p 119-144

BINDING C TUDHOPE D Integrating faceted structure into the search process In INTERNATIONAL ISKO CONFERENCE 8th July 2004 London Knowledge organization and the global information society Wuumlrzburg Ergon 2004 p 67-72

BROUGHTON V LANE H Classification schemes revisited applications to web indexing and searching In THOMAS A SHEARER J Internet searching and indexing the subject approach New York Haworth Press 2000 p 143-155

BUDD J M Knowledge and knowing in library and information science a philosophical framework Lanham Md Scarecrow Press 2001

BURKE P Uma histoacuteria social do conhecimento de Gutenberg a Diderot Traduccedilatildeo Pliacutenio Dentzien Rio de Janeiro J Zahar 2003

CABREacute M T La terminologia teoria metodologiacutea aplicaciones Proacutelogo de J C Sager Barcelona Editorial AntaacutertidaEmpuacuteries 1993

CABREacute M T La terminologiacutea hoy concepciones tendencias y aplicaciones Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 24 n 3 1995

CABREacute M T Terminologie et linguistique la theacuteorie des portes Terminologies Nouvelles Bruxelles n 21 p 10-15 2000

CAMPOS A T Linguagens documentaacuterias Revista de biblioteconomia de Brasiacutelia Brasiacutelia v 14 n 1 p 85-88 janjun 1986

CAMPOS A T O processo classificatoacuterio como fundamento das linguagens de indexaccedilatildeo Revista de biblioteconomia de Brasiacutelia Brasiacutelia v 6 n 1 p1-8 janjun 1978

CAMPOS A T A teoria das classificaccedilotildees analiacutetico-sinteacuteticas ou facetadas e a sua influecircncia sobre a reforma da Classificaccedilatildeo Decimal Universal (CDU) Revista de biblioteconomia de Brasiacutelia v 3 n 1 p23-36 janjun 1975

CAMPOS M L A As cinco leis da biblioteconomia e o exerciacutecio profissional Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitimluizaindexhtmgt Acesso em 5 abr 2007

279

CAMPOS M L A Modelizaccedilatildeo de domiacutenios de conhecimento uma investigaccedilatildeo de princiacutepios fundamentais Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 33 n 1 p 22-32 janabr 2004

CAMPOS M L A Perspectivas para o estudo da aacuterea de representaccedilatildeo da informaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 25 n 2 p 224-227 1995

CAMPOS M L A A problemaacutetica da compatibilizaccedilatildeo terminoloacutegica e a integraccedilatildeo de ontologias o papel das definiccedilotildees conceituais In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIEcircNCIA DA INFORMACcedilAtildeO (ENANCIB) 6 2005 Florianoacutepolis Anais Florianoacutepolis UFSC 2005 1 CD-ROM

CAMPOS M L A CAMPOS M L M SOUZA R F Organizaccedilatildeo de unidades de conhecimento em hiperdocumentos o modelo conceitual como espaccedilo comunicacional para realizaccedilatildeo da autoria Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 32 n 2 p 7-16 maioago 2003

CAMPOS M L A GOMES H E Organizaccedilatildeo de domiacutenios do conhecimento e os princiacutepios ranganathianos Perspectiva em Ciecircncia da Informaccedilatildeo Belo Horizonte v 8 n 2 p 150-163 juldez 2003

CAMPOS M L A GOMES H E Princiacutepios de organizaccedilatildeo e representaccedilatildeo do conhecimento na construccedilatildeo de hiperdocumentos DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 6 dez 2005 Disponiacutevel em lthttpwww dgzorgbrgt Acesso em 20 jun 2007

CAMPOS M L A GOMES H E Tesauro e normalizaccedilatildeo terminoloacutegica o termo como base para intercacircmbio de informaccedilotildees DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 5 n 6 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrgt Acesso em 30 abr 2007

CAVALCANTI C R Indexaccedilatildeo amp tesauro metodologia e teacutecnicas Ed preliminar Brasiacutelia ABDF 1978

CDU Clasificacioacuten Decimal Universal Edicioacuten abreviada espantildeola 6 ed rev y actual Madrid Aenor 1992

CDU Classification Deacutecimale Universellehellip 2nd ed Bruxelles IIB 1927-1933 3 v

CHAN L COMAROMI J P SAJITA M P Dewey Decimal Classification a practical guide Albany NY Forest 1996

CHAN V Ranganathan ahead of his century Disponiacutevel em lthttpwwwslaisubc cacourseslibr517winter2000Group7gt Acesso em 29 set 2007 (Coursework at School of Library and Archival Studies University of British Columbia)

CHATTERJEE A CHOUDHURY G G UDC International medium edition English text A critical appraisal International Classification Frankfurt v 13 n 3 1986

CHAUI M S Filosofia Satildeo Paulo Editora Aacutetica 2001

280

CHAUIacute M S Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia dos preacute-socraacuteticos a Aristoacuteteles 2 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002 2 v

CHAUMIER J Le traitement linguistique de lrsquoinformation documentaire Paris Enterprise Moderne drsquoEacutedition 1978

CINTRA A M M Elementos de linguumliacutestica para estudos de indexaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 12 n 1 p 5-22 1983

CLASSIFICATION theory In THE NEW encyclopaedia britannica 15 ed Chicago Encyclopaedia Britannica 1974 Macropaedia v 4 p 691-694

COMARONI J P History of the Dewey Decimal Classification Michigan University 1969

CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA set 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979 2 v

CURRAacuteS E Tesauros linguagens terminoloacutegicas Traduccedilatildeo de Antocircnio Felipe Correcirca da Costa Brasiacutelia IBICT 1995

DAHLBERG I Fundamentos teoacuterico-conceituais da classificaccedilatildeo Revista de biblioteconomia de Brasiacutelia v 5 n 1 p 9-21 janjun 1978

DAHLBERG I Knowledge organization and terminology philosophical and linguistic bases International Classification Frankfurt v 19 n 2 p 65-71 1992

DAHLBERG I Knowledge organization its scope and possibilities Knowledge Organization Wuumlrzburg v 20 n 4 p 211-222 1993

DATTA S A organizaccedilatildeo de conceitos para recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 6 n 1 p 17-28 1977

DERRIDA J Forma e significaccedilatildeo In A escritura eacute a diferenccedila 2 ed Satildeo Paulo Perspectiva 1995 (Debates n 49)

DEWEY M A classification and subject iacutendex for cataloguing and arranging the books and pamphlets of a library (Dewey Decimal Classification) Project Gutemberg EBook Dewey Decimal Classification 2004 Disponiacutevel em lthttpwww classicistraniericom english12511251312513-h12513-hhtmgt Acesso em 8 maio 2007

DEWEY DECIMAL CLASSIFICATION 22nd ed Dublin OCLC 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwoclcorggt Acesso em 20 out 2006

DODEBEI V L D Tesauro linguagens de representaccedilatildeo da memoacuteria documentaacuteria Niteroacutei Intertexto Rio de Janeiro Interciecircncias 2002

DUBUC R Manual praacutectico de terminologia 3 ed corr atual Traduccedilatildeo de Ileana Cabrera Santiago de Chile Unioacuten LatinaRil Ed 1999

281

DURKHEIM Eacute MAUSS M Clasificaciones primitivas y otros ensayos de antropologia positiva Edicioacuten de Manuel Delgado Ruiz y Alberto Loacutepez Bargados Barcelona Ariel 1996

ECO U O signo Lisboa Presenccedila 1990

ECO U Sobre os espelhos e outros ensaios Rio de Janeiro Nova Fronteira1989

EGAN M E Cataacutelogo sistemaacutetico princiacutepios baacutesicos e utilizaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Maria Neile Teles Landau Brasiacutelia Ed da UnB 1969

ELLIS D FORD N In search of the unknown user indexing hypertext and the World Wide Web Journal of Documentation London v 54 n 1 p 28-47 1998

ESTEBAN NAVARRO M A Fundamentos epistemoloacutegicos de la clasificacioacuten documental Scire Zaragoza v 1 n 1 p 81-101 enejun 1995

FENSEL D et al OIL an ontology infrastructure for the semantica web IEEE Intelligent Systems their Applications New York p 38-45 MarApr 2001

FERNANDEZ R P Classificaccedilatildeo um processo fundamental da natureza humana In CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979 v 1 p 254-268

FEIBLEMAN J K Theory of integrative levels British Journal for the Philosophy of Science Edinburgh v 5 p 59-66 1954

FLYVBJERG B Making social science matter why social inquiry fails and how it can succeed again Cambridge Cambridge University Press 2001

FONSECA E N da Apogeu e decliacutenio das classificaccedilotildees bibliograacuteficas Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitineryindexhtmgt Acesso em 14 nov 2005 FOSKETT A C The future of faceted classification In MALTBY R M MALTBY A (Ed) The future of classification Aldershot Gower 2000 p 69-80

FOSKETT D J Classification and integrative levels In FOSKETT D J PALMER B I (Ed) The Sayers memorial volume London Library Association 1961

FOUCAULT M A arqueologia do saber 7 ed Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 2005

FUZZY logic Stanford Encyclopedia of Philosophy Stanford University First published Sept 032002 revision July 2006 Disponiacutevel em lthttpplatostanfordeduentrieslogic-fuzzy gt Acesso em 14 out 2008

GAARDER J O mundo de Sofia romance da histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 1997

282

GALVAtildeO M C B Construccedilatildeo de conceitos no campo da ciecircncia da informaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 27 n 1 p 46-52 janabr 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sciarttextamppid=S0100- 19651998000100006 amplng=esampnrm=isoamptlng=esgt Acesso em 10 ago 2006

GARCIA MORENTE M Fundamentos de filosofia liccedilotildees preliminares 8 ed Satildeo Paulo Mestre Jou 1980

GARDIN J C Document analysis and linguistic theory Journal of Documentation London v 29 n 2 p 137-168 1973

GARDIN J C Elementos para descriccedilatildeo de leacutexicos documentaacuterios Bulletin des Bibliothegraveques de France Paris p 171-182 1966 Traduccedilatildeo livre para uso didaacutetico Disponiacutevel em lthttpinfobservatorioincubadorafapesp brportalLDIItxt_roteirosgt Acesso em 20 jun 2007

GARDIN J C Free classifications and faceted classifications In INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION RESEARCH 2nd 1965 Copenhagen Proceedingshellip Copenhaguen Munksgaard 1965 p 161-168

GARDIN J C Semantic analysis procedures in the sciences of man Social Science Information London n 8 p 17-42 1969

GIL F Classificaccedilotildees In ENCICLOPEacuteDIA Einaudi Lisboa Imprensa Nacional Casa da Moeda 2000 p 90-110

GILCHRIST A Thesauri taxonomies and ontologies - an etymological note Journal of Documentation London v 59 n 1 p 7-18 2003

GNOLI C Progress in synthetic classification towards unique definition of concepts In INTERNATIONAL SEMINAR ON THE UNIVERSAL DECIMAL CLASSIFICATION EXTENSIONS AND CORRECTIONS TO THE UDC 29th Jun 2007 The Hague Information access for the global community Pre-print of the paper published in Extensions amp Corrections to the UDC n 29 2007

GOEDERT W Facet classification in online retrieval International Classification Frankfurt v 18 n 2 p 98-105 1991

GOMES H E Classificaccedilatildeo tesauro e terminologia fundamentos comuns Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombititertuliatertuliahtmgt Acesso em 19 maio 2005

GOMES H E Organizaccedilatildeo do conhecimento e sistemas de classificaccedilatildeo Brasiacutelia IBICT 1996

GOMES H E et al Manual de elaboraccedilatildeo de tesauros monoliacutenguumles Brasiacutelia CNPqPNBU 1990

283

GOMES H E CAMPOS M L A Tesauro e normalizaccedilatildeo terminoloacutegica o termo como base para intercacircmbio de informaccedilotildees DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 5 n 6 dez 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzeroorgdez04 Art_02htmgt Acesso em 27 maio 2005

GOMES H E CAMPOS M L A MOTTA D F Tutorial para elaboraccedilatildeo de Tesauros 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombititesaurogt Acesso em 4 ago 2005

GOMPERZ T Pensadores griegos Traduccedilatildeo do alematildeo por Karl Koumlrner Asuncioacuten (PA) Guarania 1959 v 1

GRAZIANO E E Hegelrsquos philosophy as the basis for the decimal classification schedule Libri International Journal of Library Information Systems Munchen n 9 p 45-52 1959

HEGENBERG L Definiccedilotildees Satildeo Paulo CultrixEd da Universidade de Satildeo Paulo 1974

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISOR 704 principes et meacutethodes de la terminologie Genegraveve 1987

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISOR 860 unificiation internationale des notions et des termes Genegraveve 1968

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISOR 919 guide pour lrsquoelaboration des vocabulaires systeacutemathiques Genegraveve 1969

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISO 1087 terminology - vocabulary Genegraveve May 1990

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISO 1087-1 terminology - vocabulary Genegraveve 1990

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISOR 1149 preacutesentation des vocabulaires systeacutematiques multilinguumles Genegraveve 1969

THE INFORMATION SOCIETY FOR THE INFORMATION AGE (ASISampT) ASISampT 2008 Annual Meeting (AM08 2008) People transforming information - information transforming people Columbus (Ohio) Oct 2008 Proceedingshellip Disponiacutevel em lthttpwwwasisorgindexhtmlgt Acesso em 13 mar 2008

KANT I Criacutetica da razatildeo pura e outros textos filosoacuteficos Seleccedilatildeo de Marilena de Souza Chauiacute Berlinck Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Os Pensadores v 25)

KAULA P N Repensando os conceitos no estudo da classificaccedilatildeo Baseado no artigo submetido agrave 4 Conferecircncia sobre Pesquisa em Classificaccedilatildeo Augsburg Alemanha Ocidental de 20 de junho a 2 de julho de 1982 Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitikaulaindexhtmgt Acesso em 5 dez 2006

284

KENT R E Organizing conceptual knowledge online metadata interoperability and faceted classification In INTERNATIONAL ISKO CONFERENCE 5th Aug 1998 Lille Structures and relations in knowledge organization Wuumlrzburg Ergon Verlag 1998

KOBASHI N Y Anaacutelise documentaacuteria e representaccedilatildeo da informaccedilatildeo Informare Rio de Janeiro v 2 n 2 p 5-27 1996

KOBASHI N Y Fundamentos semacircnticos e pragmaacuteticos da construccedilatildeo de instrumentos de representaccedilatildeo da informaccedilatildeo Datagramazero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 8 p 1-10 2007

KOBASHI N Y Organizaccedilatildeo do Conhecimento e representaccedilatildeo da Informaccedilatildeo Informare Rio de Janeiro v 2 n 2 p 5-27 1997

KOBASHI N Y SMIT J W TAacuteLAMO M F G M A funccedilatildeo da terminologia na construccedilatildeo da Ciecircncia da Informaccedilatildeo DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 2 n 2 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrgt Acesso em 18 dez 2007

KOBASHI N Y TAacuteLAMO M F G M Informaccedilatildeo fenocircmeno e objeto de estudo da sociedade contemporacircnea Transinformaccedilatildeo Campinas v 15 n 3 (Ed especial) p 7-21 2003

KRIEGER M G FINATTO M J B Introduccedilatildeo agrave terminologia teoria e praacutetica Satildeo Paulo Contexto 2004

LALANDE A Vocabulaacuterio teacutecnico e criacutetico da filosofia 3 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999

LANCASTER F W Indexaccedilatildeo e resumos teoria e praacutetica Brasiacutelia Briquet de Lemos 1993

LARA M L G A CDU ante as demais linguagens documentaacuterias e outros sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento In SIMPOacuteSIO ESTADO ATUAL E PERSPECTIVAS DA CDU 11996 Brasiacutelia Organizaccedilatildeo do conhecimento e sistemas de classificaccedilatildeo Brasiacutelia IBICT 1996

LARA M L G Diferenccedilas conceituais sobre termos e definiccedilotildees e implicaccedilotildees na organizaccedilatildeo da linguagem documentaacuteria Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 33 n 2 p 91-96 maioago 2004

LARA M L G Dos sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica agraves search engines (I) e (II) Satildeo Paulo APB 2002 (Ensaios APB)

LARA M L G Linguagem documentaacuteria e terminologia Transinformaccedilatildeo Campinas v 16 n 3 2004 Disponiacutevel em lthttprevistas puc-campinasedubr transinfo viewarticlephpid=72gt Acesso em 1 maio 2006

285

LARA M L G Novas relaccedilotildees entre terminologia e ciecircncia da informaccedilatildeo na perspectiva de um conceito contemporacircneo da informaccedilatildeo DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 7 2006 Disponiacutevel em lthttpwww dgzorgbrgt Acesso em 5 nov 2007

LARA M L G O processo de construccedilatildeo da informaccedilatildeo documentaacuteria e o processo de conhecimento Perspectivas em Ciecircncia da Informaccedilatildeo Belo Horizonte v 7 n 2 p 127-139 juldez 2002

LARA M L G A representaccedilatildeo documentaacuteria em jogo a significaccedilatildeo 1993 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Ciecircncia da Informaccedilatildeo) - Escola de Comunicaccedilotildees e Artes Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1993

LARA M L G Uma teoria terminoloacutegica para um conceito contemporacircneo de informaccedilatildeo documentaacuteria In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIEcircNCIA DA INFORMACcedilAtildeO (ENANCIB) 6 2005 Florianoacutepolis Anais Florianoacutepolis UFSC 2005 1 CD-ROM

LARA M L G A terminologia como instrumento para a construccedilatildeo de ferramentas semacircnticas In CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTACcedilAtildeO 20 Anais Fortaleza 2002 1 CD-ROM

LARA M L G O unicoacuternio (o rinoceronte o ornitorrinco) a anaacutelise documentaacuteria e a linguagem documentaacuteria DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 2 n 6 dez 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrgt Acesso em 1 maio 2006

LEIDECKER K F The debt of Melvil Dewey to William Torrey Harris Library Quaterly Chicago v 15 n 1 1945

LEMAITRE S O Hinduiacutesmo Satildeo Paulo Famboyant 1958

McILWAINE I C BUXTON A Guia para utilizaccedilatildeo da CDU um guia introdutoacuterio para o uso e aplicaccedilatildeo da Classificaccedilatildeo Decimal Universal Brasiacutelia MCTCNPqIBICT 1998

MAI J E Is classification theory possible Rethinking classification research In INTERNATIONAL ISKO CONFERENCE 7th July 2002 Granada Challenges in knowledge representation and organization for the 21st century Wuumlrzburg Ergon 2002 p 472-478

MANIEZ J Les langages documentaires et classificatoires Paris Eacuteditions drsquoOrganisation 1987

MAPLE A Faceted access a review of the literature Disponiacutevel em lthttpwww-sulstanfordedudeptsmusicmlatestBCCBCC-Historical95WGF AM2htmlgt Acesso em 9 fev 2008

MARCO F J G (Ed) Organizacioacuten del conocimiento en sistemas de informacioacuten y documentacioacuten Zaragoza Libreriacutea General 1995

286

MARX K Miseacuteria da filosofia Satildeo Paulo Grijalbo 1976

MATURANA H R Cogniccedilatildeo ciecircncia e vida cotidiana Belo Horizonte Ed UFMG 2001

MENOU M GUINCHAT C Introduccedilatildeo geral agraves ciecircncias e teacutecnicas da informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo Brasiacutelia IBICT 1994

MILLS J Attention please for BC2 International Classification Frankfurt v 10 p 24-28 1983

MILLS J Classifying by Bliss Library Association Records London n 52 p 370-372 1950

MILLS J The Universal Decimal Classification New Brunswick Rutgers the State University 1964

MIKSA F L The DDC the universe of knowledge and the post-modern library Albany Forest Press 1998

MITCHELL Joan S DDC 22 an introduction International Cataloguing and Bibliographic Control London v 33 n 2 p 27-31 AprJun 2004

MOREIRO GONZAacuteLES J A El contenido de los documentos textuales su anaacutelisis y representacioacuten mediante El lenguaje natural Somonte (ES) Ediciones Trea 2004

MORENO FERNAacuteNDEZ L M Una vez maacutes la CDU no es un thesaurus Documentacioacuten de las Ciencias de la Informacioacuten Madrid v 15 p 67-81 1992

MORIN E Introduccedilatildeo ao pensamento complexo 2 Ed Lisboa Instituto Piaget 1990

MORIN E O meacutetodo 3 o conhecimento do conhecimento Porto Alegre Sulina 1999

MORIN E A religaccedilatildeo dos saberes o desafio do seacuteculo XXI Traduccedilatildeo e notas Flaacutevia Nascimento 5 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2005

MORIN E LE MOIGNE J L A inteligecircncia da complexidade Satildeo Paulo Petroacutepolis 2000

MOSTAFA S P Epistemologia da biblioteconomia 1985 Tese (Doutorado em Filosofia da Educaccedilatildeo) - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo 1985

ONLINE COMPUTER LIBRARY CENTER (OCLC) Disponiacutevel em lthttpwwwoclc orggt e lthttpwwwoclcorgamericalatinaptdefaulthtmgt Acesso em 20 fev 2007

OTLET P Documentos e documentaccedilatildeo (introduccedilatildeo ao trabalho do Congresso Mundial da Documentaccedilatildeo Universal realizado em Paris em 1937) Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitiotletindexhtmgt Acesso em 14 abr2005

287

PARROCHIA D Classifications histoire et problegravemes formels Bulletin de la Socieacuteteacute Francophone de Classification Paris n 10 mar 1998

PERRAULT J M Categories and relators a new schema for the replacement of the non-significant relation symbol the Colon in the UDC by a letter code Knowledge Organization Wuumlrzbug v 21 n 4 p 189-198 1994 (Reprinted from Revue Internationals de la Documentation v 4 1965)

PIAGET J A situaccedilatildeo das ciecircncias do homem no sistema das ciecircncias Traduccedilatildeo de Isabel Cardigos dos reis Amadora Bertrand1970

PLATAtildeO Diaacutelogos o banquete Feacutedon sofista poliacutetico Traduccedilotildees de Joseacute Cavalcante de Souza (O Banquete) Jorge Paleikat e Joatildeo Cruz Costa (Feacutedon Sofista Poliacutetico) Satildeo Paulo Abril Cultural 1972 (Os Pensadores 3)

POLLITT S The application of the Dewey Decimal Classification in a view-based searching OPAC In STRUCTURES and relationships in knowledge organization Wuumlrzburg Ergon Verlag 1998 POLLITT S Interactive information retrieval based on faceted classification using views In INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION RESEARCH 6th Jun 1997 London Knowledge organization for information retrieval The Hague International Federation for Information and Documentation (FID) 1997 p 51-56 Disponiacutevel em lthttpwwwhudacukschoolscedardorking htmgt Acesso em 12 mar 2008

POMBO O Da classificaccedilatildeo dos seres agrave classificaccedilatildeo dos saberes Disponiacutevel em lthttpcfculfculpttextosdisponiveishtmgt Acesso em 10 nov 2006

PORFIacuteRIO Isagoge introduccedilatildeo agraves Categorias de Aristoacuteteles Traduccedilatildeo introduccedilatildeo e comentaacuterios de Bento Silva Santos Satildeo Paulo Attar Editorial 2002

RANGANATHAN S R The Colon Classification New Brunswick The State University 1965

RANGANATHAN S R Elements of library classification based on lectures delivered at the University of Bombay in December 1944 Poona N K Publishing House 1945

RAYWARD W B The origins of informations science and International Insttitute of BibliographyInternational Federation for Information and Documentation (FID) Journal of the American Society for Information Science (JASIS) New York v 48 n 4 p 289-300 1997

RIVIER A Construction decircs langages drsquoindexation aspects theacuteoriques Documentaliste - Sciences de lrsquoInformation Paris v 27 n 6 p 263-274 1990

RORISSA A IYER H Theories of cognition and image categorization what category labels reveal about basic level theory Journal of the American Society for Information Science and Tecnology (JASIST) New York v 59 n 9 p 1383-1392 2008

288

SANDER S La teoriacutea decimal de la clasificacioacuten de Mevil Dewey Documentacioacuten de las Ciencias de la Informacioacuten Madrid n 20 p 113-129 1997

SANTAELLA L Matrizes da linguagem e do pensamento Satildeo Paulo Iluminuras 2001

SATIJA M P Classification some fundamentals some myths some realities Knowledge Organization Wuumlrzburg v 24 n1 p 18-23 1997

SATIJA M P Classification some fundamentals some myths some realities [part 2] Knowledge Organization Wuumlrzburg v 25 n12 p 32-35 1998

SATIJA M P The future and revision of colon classification Knowledge Organization Wuumlrzburg v 25 n12 p 32-35 1998

SATIJA M P Use of colon classification International Classification Frankfurt v 13 n2 p 88-92 1986

SAYERS W C B MALTBY A M A manual of classification for librarians 4th

ed London Andre Deutsch 1967

SCHREINER H B Consideraccedilotildees histoacutericas acerca do valor das classificaccedilotildees bibliograacuteficas In CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979 v 1 p 190-207 Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombiti schreinerindexhtmgt Acesso em 23 abr 2006

SHERA J H EGAN Margaret E Cataacutelogo sistemaacutetico princiacutepios baacutesicos e utilizaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Maria Neile Teles Landau Brasiacutelia Editora Universitaacuteria de Brasiacutelia 1969 174 p (Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo 1)

SLYPE G V Lenguajes de indizacioacuten concepcioacuten construccioacuten y utilizacioacuten en los sistemas documentales Traduccioacuten del franceacutes Pedro Hiacutepola Feacutelix de Moya Madrid Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez 1991

SMIT J W (Org) Anaacutelise documentaacuteria a anaacutelise da siacutentese Brasiacutelia IBICT 1987

SMIT J W A organizaccedilatildeo e o acesso agrave informaccedilatildeo na sociedade do conhecimento Texto no prelo a ser publicado em livro organizado pela Profa Dra Maria Helena Toledo Costa de Barros da UnespMariacutelia

SMIT J W TAacuteLAMO M F G M KOBASHI N Y Categorias Material para uso didaacutetico

SMIT J W TAacuteLAMO M F G M KOBASHI N Y A determinaccedilatildeo do campo cientiacutefico da ciecircncia da informaccedilatildeo uma abordagem terminoloacutegica In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIEcircNCIA DA INFORMACcedilAtildeO (ENANCIB) 5 2003 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) 2003

289

SOERGEL D The many uses of classification enriched thesauri as knowledge sources In ASIS SIGCR CLASSIFICATION RESEARCH WORKSHOP 12th 2001 Washington DC Disponiacutevel em lthttpwwwdsoergelcomcvB78pdfgt Acesso em 10 out 2007

SOERGEL D The representation of Knowledge Organization Structure (KOS) data a multiplicity of standards Paper presented at the JCDL 2001 NKOS Workshop Roanoke VA 2001-6-28 Disponiacutevel em lthttpwwwdsoergelcomgt Acesso em 10 out 2007

SOERGEL D The rise of ontologies or the reinvention of classification Journal of the American Society for Information Science v 50 n 12 p 1119-1120 Sept 1999 Disponiacutevel em lthttpwwwdsoergelcomgt Acesso em 18 out 2007

SOERGEL D The structure of taxonomies facets and hierarchy Presentation at practical taxonomies New York Nov 2002 Disponiacutevel em lthttpwww dsoergelcomgt [PowerPoint] Acesso em 18 out 2007

SOUSA R T B de Classificaccedilatildeo em arquiviacutestica trajetoacuteria e apropriaccedilatildeo de um conceito 2004 237 f Tese (Doutorado em Histoacuteria) - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria Social Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas Universidade de Satildeo Paulo 2004

SOUZA R F Aacutereas do conhecimento DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 5 n 2 abr 2004 Disponiacutevel em lthttpwww dgzorgbrabr04Art02htmgt Acesso em 5 abr 2007

SOUZA R F Classificaccedilatildeo - um processo fundamental da natureza humana In CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979 v 1 p 254-267

SOUZA R F A classificaccedilatildeo como interface da Internet DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 1 n 2 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrgt Acesso em 12 out 2007

SOUZA R F Organizaccedilatildeo do conhecimento em uma estrutura classificatoacuteria no contexto da indexaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo Informare Rio de Janeiro v 2 n 2 p 37-49 1996

SOUZA R F MANASFI C V Organizaccedilatildeo do conhecimento em uma estrutura classificatoacuteria no contexto da indexaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo um relato de pesquisa Informare Rio de Janeiro v 2 n 2 p 37-49 juldez 1996

SOUZA S D CDU como entender e utilizar a Ediccedilatildeo-Padratildeo Internacional em Liacutengua Portuguesa 3 ed rev e ampl Brasiacutelia Thesaurus 2004 STAR S L Grounded classification grounded theory and faceted classification Library Trends how classifications work problems and challenges in an electronic age Champaing v 47 n 2 1998 p 218-232

290

SVENONIUS E The intellectual foundation of information organization Cambridge MA The MIT Press 2000

SVENONIUS E Use of classification in online retrieval Library Resources amp Technical Services Chicago v 27 n 1 p 76-80 1983

SWEENEY R The internacional use of the Dewey Decimal Classification International Cataloguing and Bibliographic Control London v 24 n 4 p 61-64 OctDec 1995

TAacuteLAMO M F G M A definiccedilatildeo semacircntica para a elaboraccedilatildeo de glossaacuterios In SMIT J W (Org) Anaacutelise documentaacuteria a anaacutelise da siacutentese Brasiacutelia IBICT 1987 p 88-98

TAacuteLAMO M F G M Estrutura e operaccedilatildeo do dicionaacuterio In COELHO T Dicionaacuterio criacutetico de poliacutetica cultural 2 ed Satildeo Paulo Iluminuras 1999 p17-22

TAacuteLAMO M F G M LENZI L F Terminologia e documentaccedilatildeo a relaccedilatildeo solidaacuteria das organizaccedilotildees do conhecimento e da informaccedilatildeo no domiacutenio da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 7 p 3 2006 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrgt Acesso em 14 ago 2007

TAacuteLAMO M F G M LARA M G L KOBASHI N Y A contribuiccedilatildeo da terminologia para a elaboraccedilatildeo de linguagens documentaacuterias Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 21 n 3 p 197-200 1992

TAacuteLAMO M F G M et al Informaccedilatildeo do tratamento ao acesso e utilizaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo v 1 n 1 p 7-14 setdez 1994

TENNIS J T Experientialist epistemology and classification theory embodied and dimensional classification Knowledge Organization Wuumlrzburg v 32 n 2 p 79-92 2005

TURNER C Organizing information principles and practice London C Bingley 1988

TOcircRRES L M C das Sistematizaccedilatildeo da sintaxe de cabeccedilalho de assunto 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitilecylecyhtmgt Acesso em 20 maio 2007

TRENDLENBURG F A Historische Beitraumlge zur Philosophie Berlin 1846 Bd 1 Geschichte der Kategorienlehre

UDC CONSORTIUM CDU Ediccedilatildeo-Padratildeo Internacional em Liacutengua Portuguesa Brasiacutelia IBICT 1997

VALE E do Linguagens de indexaccedilatildeo In SMIT J W (Org) Anaacutelise documentaacuteria a anaacutelise da siacutentese Brasiacutelia IBICT 1987 p 11-26

VICKERY B C Faceted classification LondonAslib 1960

Ficha catalograacutefica elaborada por Liliana Luisa Pizzolato CRB 3939ordf Regiatildeo

Anjos Liane Sistemas de classificaccedilatildeo do conhecimento na filosofia e na biblioteconomia uma visatildeo histoacuterico- conceitual criacutetica com enfoque nos conceitos de classe categoria e faceta Liane dos Anjos ndash Satildeo Paulo 2008 290 p Tese (Doutorado) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia da Informaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo 1 Teoria da classificaccedilatildeo 2 Organizaccedilatildeo do conhecimento 3 Categoria I Smit Johanna W II Tiacutetulo CDD 02542 CDU 02542

  • LIANE DOS ANJOS
  • SAtildeO PAULO
  • FOLHA DE APROVACcedilAtildeO
    • Personalidade
    • Mateacuteria
    • Energia
    • Espaccedilo
    • Tempo
Page 2: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de

FOLHA DE APROVACcedilAtildeO

LIANE DOS ANJOS

SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO DO CONHECIMENTO NA FILOSOFIA E NA BIBLIOTECONOMIA UMA VISAtildeO HISTOacuteRICO-CONCEITUAL CRIacuteTICA COM ENFOQUE NOS CONCEITOS DE CLASSE

DE CATEGORIA E DE FACETA

Tese aprovada como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Doutor em Ciecircncia da Informaccedilatildeo do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Ciecircncia da Informaccedilatildeo da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes da Universidade de Satildeo Paulo sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Johanna Wilhelmina Smit

Orientador ____________________________________________ Profa Dra Johanna Wilhelmina Smit Departamento de Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Satildeo Paulo

Para o meu Deus presenccedila

Para a minha matildee Maria e o meu pai Francisco (in memorian)

heranccedila Para os meus netos

Alice e Joaquim esperanccedila

AGRADECIMENTOS

Este trabalho eacute fruto de uma comunhatildeo de esforccedilos incentivos atenccedilotildees carinhos desapegos renuacutencias entendimentos generosidades por parte daqueles que

sempre se fazem presentes e por isso devo muitos agradecimentos

Agrave minha orientadora pela compreensatildeo e acompanhamento constantes

Agraves professoras Anna Maria Marques Cintra e Maria de Faacutetima Gonccedilalves Moreira Taacutelamo por suas sugestotildees providenciais quando da qualificaccedilatildeo

Ao professor Ulf Gregor Baranow pela pertinecircncia de suas colocaccedilotildees que mostram um jeito diferente de ver condiccedilatildeo necessaacuteria para continuar a ver

A todos os professores do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia da Informaccedilatildeo e aos colegas de doutorado um profundo reconhecimento

Ao Wilson meu companheiro e aos meus filhos noras e genro Daniel (Adriana) Leticia (Alexandre) e Renato (Flaacutevia) por estarmos juntos neste caminho

Agrave querida amiga e profissional competente Liliana Luisa Pizzolato que tantas coisas me disse e muito auxiliou na organizaccedilatildeo dos alfarraacutebios desta pesquisa

Agrave Suzana Silveira Pereira que natildeo sabe como esta amizade foi importante para o bom teacutermino desta pesquisa

Agraves amigas bibliotecaacuterias Elayne Schloumlgel Maacutercia Regina Wellner e Regina Campos Rocha que pacientemente acompanharam este processo de reflexatildeo pelo prazer

de nossas conversas e a todos os profissionais do Sistema de Bibliotecas da UFPR pela atenccedilatildeo dispensada nas minhas buscas bibliograacuteficas e pelo esforccedilo conjunto

para propiciar o meu afastamento para a realizaccedilatildeo desta tese

Um carinho especial ao mestre yogue Adilson B Pagan com quem a cada dia eu aprendo mais em relaccedilatildeo a forccedila concentraccedilatildeo equiliacutebrio determinaccedilatildeo e a

respeito do que deve ser

Aos amigos queridos Laisy e Kiko Mocircnica e Claacuteudio Tacircnia e Iwan Valderez e Roberto pela delicadeza de nossa convivecircncia

Antes do Nome

Natildeo me importa a palavra esta corriqueira

Quero eacute o esplecircndido caos de onde emerge a sintaxe

os siacutetios escuros onde nasce o lsquodersquo o lsquoaliaacutesrsquo

o lsquoorsquo o lsquoporeacutemrsquo e o lsquoquersquo esta incompreensiacutevel

muleta que me apoacuteia

Quem entender a linguagem entende Deus

cujo Filho eacute Verbo Morre quem entender

A palavra eacute disfarce de uma coisa mais grave surda-muda

foi inventada para ser calada

Em momentos de graccedila infrequentiacutessimos

se poderaacute apanhaacute-la um peixe vivo com a matildeo

Puro susto e terror

Adeacutelia Prado

RESUMO

A anaacutelise dos sistemas de classificaccedilatildeo do conhecimento na Filosofia e na Biblioteconomia sob um ponto de vista histoacuterico-conceitual criacutetico com enfoque nos conceitos de classe categoria e faceta foi desenvolvida a partir dos objetivos especiacuteficos de acompanhar e delinear a trajetoacuteria das classificaccedilotildees dos saberes (classes) e dos seres (categorias) agrave luz da Filosofia averiguar as possiacuteveis influecircncias que as classificaccedilotildees filosoacuteficas historicamente exerceram sobre as classificaccedilotildees bibliograacuteficas tradicionais e verificar de que modo os conceitos especiacuteficos de categoria de classe e de faceta tecircm sido definidos no acircmbito das classificaccedilotildees biblioteconocircmicas tradicionais Trata-se de uma pesquisa do tipo exploratoacuterio-descritivo embasada na literatura pertinente oriunda de ambas as aacutereas do conhecimento em questatildeo A partir do levantamento bibliograacutefico construiu-se o referencial teoacuterico conduzindo agrave objetivaccedilatildeo anaacutelise discussatildeo e o aprofundamento do objeto Eacute possiacutevel afirmar que tanto os princiacutepios das classificaccedilotildees filosoacuteficas em relaccedilatildeo aos saberes e em relaccedilatildeo aos seres quanto as proacuteprias classificaccedilotildees que dividem os saberes e os seres apresentam-se como construtos destinados a conhecer e disciplinar o conhecimento do ser e do saber A influecircncia das classificaccedilotildees filosoacuteficas sobre as classificaccedilotildees bibliograacuteficas reside no fato de que as classificaccedilotildees bibliograacuteficas satildeo adaptaccedilotildees das classificaccedilotildees do conhecimento ou das ciecircncias As bibliograacuteficas frequentemente utilizam termos originaacuterios das filosoacuteficas ressignificando-os e transformando-os em ferramentas Em siacutentese pode-se afirmar que a partir da Filosofia absorvida em explicaccedilotildees teoacutericas ateacute a Biblioteconomia preocupada com soluccedilotildees instrumentais e aplicativas (pragmaacuteticas) os esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica propostos tem se beneficiado da aproximaccedilatildeo dessas duas aacutereas de conhecimento A revisatildeo conceitual com respeito agraves noccedilotildees de classe categoria e faceta aponta por parte dos estudiosos da Classificaccedilatildeo para a necessidade de um cuidado maior no desenho no planejamento e na estruturaccedilatildeo de sistemas de classificaccedilatildeo na modificaccedilatildeo e especificaccedilatildeo de tabelas de classificaccedilatildeo e ateacute de linguagens de indexaccedilatildeo com vista agrave sua adequaccedilatildeo e relevacircncia As contribuiccedilotildees daiacute resultantes delineadas numa perspectiva funcional-instrumental poderatildeo ajudar os profissionais a reconsiderar os seus sistemas de ideacuteias e procedimentos em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de linguagens de indexaccedilatildeo e agrave classificaccedilatildeo habitual de documentos Caberaacute agrave Ciecircncia da Informaccedilatildeo avanccedilar na fundamentaccedilatildeo teoacuterica do seu campo de aplicaccedilatildeo discutindo criticamente a sua base conceitual atenta agraves praacuteticas de uso em voga na Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo com relaccedilatildeo a termos e conceitos O estudo valida as hipoacuteteses inicialmente levantadas determinando que a consistecircncia terminoloacutegica de termos como categoria classe ou faceta contribui para aperfeiccediloar a operacionalizaccedilatildeo do processamento do conhecimento em Ciecircncia da Informaccedilatildeo e que aos esquemas categoriais natildeo cabe um valor neutro uma vez que sempre favoreceram uma determinada concepccedilatildeo de mundo em que pese a sua natureza objetivamente pragmaacutetica Por fim apresentam-se algumas perspectivas decorrentes da investigaccedilatildeo selecionando-se questotildees relevantes e de interesse para futuras pesquisas

Palavras-chave Categoria Classe Faceta Classificaccedilatildeo Teoria da Classificaccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Conhecimento Biblioteconomia Ciecircncia da Informaccedilatildeo

ABSTRACT

The analysis of knowledge classification systems in Philosophy and Librarianship by a critical historical-conceptual point of view with an approach in the concepts of class category and facet was developed from specific objectives to accompany and outline the path of knowledge (classes) and beings (categories) classification in relation to Philosophy to investigate the possible influences that the philosophical classification historically exerted on traditional bibliographical classifications and to verify in which way the specific concept of category class and facet have been defined in the ambit of traditional librarianship classifications This research is of exploratory-descriptive type based upon pertinent literature resulting from both areas of knowledge in discussion From the studied bibliographical material a theoretical reference was built leading to objectivation analysis discussion and a profound study of the object Itrsquos possible to affirm that even the principles of philosophical classifications in relation to knowledge and beings as well as the classifications that divide knowledge and beings are presented as constructs purposed to understand and to train the information of beings and knowledge The influence of philosophical classifications on bibliographical classification is settled by bibliographical classifications which are adaptations of knowledge or science The bibliographical ones frequently utilize terms originated from philosophical that are modified and transformed into tools In synthesis it may be stated that from Philosophy absorbed in theoretical explanations even Librarianship worried with instrumental and application (pragmatic) solutions the proposed plans of bibliographical classifications have been beneficiated from the approximation of this two areas of knowledge The conceptual review in relation to notions of class category and facet needs a better attention in design planning and in the structuring of classification systems as pointed out by experts on Classification in the modification and specification of classification tables and also indexation languages aiming its adequacy and significance The resulting contributions outlined by a functional-instrumental perspective would help professionals to reconsider their systems of ideas and procedures in relation to construction and evaluation of indexation languages and regular classification of documents The information science will be responsible to develop theory fundamentation of its application field discussing critically its conceptual basis with attention to the practices in use by Librarianship and Documentation in relation to terms and concepts The study validates the hypothesis initially described determining that the terminological consistency of terms as category class or facet contribute to improve the operacionalization of knowledge processing in Information Science and that to category schemes it doesnrsquot fit a neuter value since that always favored a certain conception of the world in which predominates its pragmatic nature As result of the investigation some perspectives are presented selecting questions of extreme relevancy and interest for future researches

Key-words Category Class Facet Classification Classification Theory Knowledge Organization Librarianship Information Science

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE ARISTOacuteTELES 44 QUADRO 2 - CLASSIFICACcedilAtildeO ESCOLAacuteSTICA ROMANA 46 QUADRO 3 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE ROGER BACON (1266) - INGLATERRA 47 QUADRO 4 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HUARTE DE SAN JUAN (1575) - ESPANHA 50 QUADRO 5 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE DESCARTES (1647) - FRANCcedilA 53 QUADRO 6 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE FRANCIS BACON (1605) - INGLATERRA 56 QUADRO 7 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HOBBES (1651) - INGLATERRA 58 QUADRO 8 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE LOCKE (1690) - INGLATERRA 59 QUADRO 9 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE LEIBNIZ (1701) - ALEMANHA 60 QUADRO 10 - DIDEROT drsquoALEMBERT E A SISTEMATIZACcedilAtildeO DA ENCICLOPEacuteDIE

(1751) - FRANCcedilA 63 QUADRO 11 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HEGEL (1817) - ALEMANHA 65 QUADRO 12 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE AMPEgraveRE (1834) - FRANCcedilA 66 QUADRO 13 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE COMTE (1842) - FRANCcedilA 69 QUADRO 14 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE SPENCER (1864) - INGLATERRA 70 QUADRO 15 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HARRIS (1870) - ESTADOS UNIDOS 71 QUADRO 16 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE WUNDT (1889) - ALEMANHA 72 QUADRO 17 - NIacuteVEIS DE OBJETOS GERAIS DE ACORDO COM HARTMANN E

FEIBLEMAN 75 QUADRO 18 - NIacuteVEIS DE OBJETOS GERAIS DE ACORDO COM GOPINATH 77 QUADRO 19 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES 79 QUADRO 20 - DIVISAtildeO DAS CIEcircNCIAS NAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS

SABERES 80 QUADRO 21 - DISCIPLINAS BAacuteSICAS (ORIGINAIS) DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS

DOS SABERES CLASSES 82 QUADRO 22 - CATEGORIAS GRAMATICAIS SEGUNDO AS CATEGORIAS ARISTOTEacuteLICAS 92 QUADRO 23 - DIVISAtildeO KANTIANA DOS JUIacuteZOS E DAS CATEGORIAS 104 QUADRO 24 - CATEGORIAS DE RENOUVIER (1854) - FRANCcedilA 108 QUADRO 25 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES 123 QUADRO 26 - CATEGORIAS FUNDAMENTAIS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS

SERES 125 QUADRO 27 - A NOCcedilAtildeO DE CATEGORIA NAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS

SERES 126 QUADRO 28 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL DE DEWEY 171 QUADRO 29 - EXEMPLO DA APLICACcedilAtildeO DA NOCcedilAtildeO DE CATEGORIA E DE FACETA

NA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL DE DEWEY 173

QUADRO 30 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL UNIVERSAL 177 QUADRO 31 - SIacuteMBOLOS DA NOTACcedilAtildeO DA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL UNIVERSAL

NA ORDEM EM QUE PARECEM NO ESQUEMA 181 QUADRO 32 - CLASSES PRINCIPAIS DA PRIMEIRA TABELA DE CUTTER 184 QUADRO 33 - CLASSES PRINCIPAIS DA SEXTA TABELA DE CUTTER 184 QUADRO 34 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DA BIBLIOTECA DO

CONGRESSO 188 QUADRO 35 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DE ASSUNTOS DE BROWN 194 QUADRO 36 - CATEGORIAS FUNDAMENTAIS DE RANGANATHAN 200 QUADRO 37 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DOS DOIS PONTOS DE

RANGANATHAN 206 QUADRO 38 - SINOPSES VERTICAL E HORIZONTAL DO ESQUEMA DE BLISS 214 QUADRO 39 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO BC2 (1977) 215 QUADRO 40 - FOacuteRMULAS DE FACETAS OU DE CATEGORIAS DE ACORDO COM

OS RESPECTIVOS AUTORES 223 QUADRO 41 - CLASSES PRINCIPAIS DOS ESQUEMAS GERAIS DE CLASSIFICACcedilAtildeO

BIBLIOGRAacuteFICA 224 QUADRO 42 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES BIBLIOGRAacuteFICAS CLAacuteSSICAS 226 QUADRO 43 - CARACTERIacuteSTICAS DE CATEGORIAS DE ESTRUTURA GRADUADA 240 QUADRO 44 - CARACTERIacuteSTICAS DAS CATEGORIAS 244 QUADRO 45 - NOCcedilOtildeES AMBIGUAS E INSATISFATOacuteRIAS DE FACETAS 250

LISTA DE SIGLAS

AFNOR - Association Franccedilaise de Normalisation ALA - American Library Association BBK - Bibliograficeskaja i Biblioteknaja Klassifikacija BC - Bibliographic Classification BCA - Bliss Classification Association BSC - Brow Subject Classification CC - Colon Classification CDD - Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey CDU - Classificaccedilatildeo Decimal Universal CRG - Classification Research Group DDC - Dewey Decimal Classification DRTC - Documentation Research and Training Centre EC - Expansive Classification EampC - Extensions and Corrections EPC - Editorial Policy Committee FID - International Federation for Information and DocumentationFederaccedilatildeo International de Documentaccedilatildeo FIDCR - International Federation for Information and DocumentationClassification Research IASLIC - Indian Association of Special Librariesd and Information Centres IBBD - Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentaccedilatildeo IBICT - Instituto Brasileirode Informaccedilatildeo em Ciecircncia e Tecnologia ICC - Information Coding Classification IFLA - International Federation of Library Associations and InstitutionsFederaccedilatildeo Internacional de Associaccedilotildees de Bibliotecaacuterios e Instituiccedilotildees IIB - International Institute of Bibliography INSDOC - Indian National Scientific Documentation Centre IPB - International Peace Bureau ISKO - International Society for Knowledge Organization ISO - International Organization for Standardization KO - Knowledge Organization LC - Library of Congress LCC - Library Congress Classification LISA - Library and Information Science Abstract MARC - Bibliografic Machine-Readable Cataloguing MRF - Master Reference File OCLC - Online Computer Library Center PMEST - Personality matter energy space e time RBU - Repertoire Bibliographique UniverselRepertoacuterio Bibliograacutefico Universal UCL - Univesity College London UDC - Universal Decimal Classification UDCC - Universal Decimal Classification Consortium Unesco - United Nations Educational Scientific and Cultural OrganizationOrganizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 13 2 DA CLASSIFICACcedilAtildeO Agrave ORGANIZACcedilAtildeO DO CONHECIMENTO UMA VISAtildeO PRELIMINAR DA SUA TRANSITORIEDADE E RELATIVIDADE 22 3 DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS 41 31 CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES CLASSES 41 311 Antiguidade Grega e Idade Meacutedia 42 312 Idade Moderna Seacuteculos XVI XVII e XVIII 48 313 Idade Contemporacircnea Seacuteculos XIX e XX 64 314 Quadros-Siacutentese das Classificaccedilotildees Filosoacuteficas dos Saberes 78 32 CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES CATEGORIAS 83 321 Antiguidade Grega e Idade Meacutedia 89 322 Idade Moderna Seacuteculos XVI XVII e XVIII 97 323 Idade Contemporacircnea Seacuteculos XIX e XX 106 324 Quadros-Siacutentese das Classificaccedilotildees Filosoacuteficas dos Seres 121 33 CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS CONCEITOS DE CLASSE E DE CATEGORIA 128 4 DAS CLASSIFICACcedilOtildeES BIBLIOGRAacuteFICAS 131 41 TEORIA DA CLASSIFICACcedilAtildeO 141 42 CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL DE DEWEY (CDD - 1876) 163 421 Histoacuteria 163 422 Princiacutepios 164 423 Construccedilatildeo 169 424 Revisatildeo 173 43 CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL UNIVERSAL (CDU - 1905) 174 431 Histoacuteria 175 432 Princiacutepios 177 433 Construccedilatildeo 178 434 Revisatildeo 182 44 CLASSIFICACcedilAtildeO EXPANSIVA (EC - 1891) 183 441 Histoacuteria 183 442 Princiacutepios 183 443 Construccedilatildeo 183 45 CLASSIFICACcedilAtildeO DA BIBLIOTECA DO CONGRESSO (LCC - 1902) 185 451 Histoacuteria 185 452 Princiacutepios 187 453 Construccedilatildeo 188 454 Revisatildeo 189

46 CLASSIFICACcedilAtildeO DE ASSUNTOS DE BROWN (BSC - 1906) 190 461 Histoacuteria 190 462 Princiacutepios 190 463 Construccedilatildeo 193 464 Revisatildeo 196 47 CLASSIFICACcedilAtildeO DOS DOIS PONTOS (CC - 1933) 196 471 Histoacuteria 196 472 Princiacutepios 198 473 Construccedilatildeo 203 474 Revisatildeo 207 48 CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA (BC - 1935) 208 481 Histoacuteria 208 482 Princiacutepios 209 483 Construccedilatildeo 213 484 Revisatildeo 216 49 CLASSIFICACcedilAtildeO POR FACETAS 217 410 QUADROS-SIacuteNTESE DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 223 5 CLASSIFICACcedilOtildeES BIBLIOGRAacuteFICAS CONCEITOS DE CLASSE DE CATEGORIA E DE FACETA 228 6 CONCLUSAtildeO 253 7 PERSPECTIVAS 260 REFEREcircNCIAS 261 BIBLIOGRAFIA 277

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Conhecer e pensar natildeo eacute chegar a uma verdade absolutamente certa

mas dialogar com a incerteza Morin

O fato de na literatura teacutecnica da aacuterea de Biblioteconomia as noccedilotildees de

classe de categoria e de faceta serem muitas vezes usadas indistintamente

dificulta a sua caracterizaccedilatildeo comprovando que os respectivos conceitos natildeo satildeo

facilmente acessiacuteveis quanto ao seu conteuacutedo Daiacute a necessidade de trazer luz

maior para a caracterizaccedilatildeo e o entendimento desses conceitos

O que se pretende designar ao fazer referecircncia a categorias classes ou

facetas

Eacute possiacutevel estabelecer claramente por que e de que maneira os conceitos de

classe de categoria e de faceta satildeo uacuteteis nas aacutereas de Biblioteconomia e Ciecircncia da

Informaccedilatildeo

Na procura de referecircncias e fundamentos filosoacuteficos1 no estudo e resgate de

outras eacutepocas existe a tentativa - inscrita no desejo e na necessidade - de buscar

suporte para preencher lacunas entre os conhecimentos e de compreender melhor

os conceitos que possibilitam ordenar o mundo

Respeitando por ora a terminologia de classe de categoria e de faceta tal

como enunciada pela literatura pode-se dizer que a noccedilatildeo de categoria desde

Platatildeo e Aristoacuteteles ateacute o presente tem sido usada como uma ferramenta de base

intelectual para analisar a existecircncia e a capacidade de mudanccedila das coisas2 e dos

fenocircmenos (BARITEacute 2000 p 4)

1 No presente contexto a Filosofia fornece a fundamentaccedilatildeo teoacuterica para a criacutetica do saber e experiecircncia no trato dos problemas do conhecimento e da classificaccedilatildeo das ciecircncias Observar como a ciecircncia vem sendo tratada e estruturada ao longo do tempo nas classificaccedilotildees filosoacuteficas do conhecimento auxilia a entender a ordenaccedilatildeo do conhecimento por exemplo por meio de classificaccedilotildees bibliograacuteficas

2 Coisa tanto no discurso comum quanto no filosoacutefico esse termo tem dois significados 1 geneacuterico designando qualquer objeto ou termo real ou irreal mental ou fiacutesico um termo qualquer de um ato humano qualquer um objeto qualquer com que se deva tratar 2 especiacutefico denotando os objetos naturais enquanto tais tambeacutem chamados de ldquocorposrdquo (ABBAGNANO 2003 p 149) Neste estudo o termo corresponde agrave primeira acepccedilatildeo

14

Necessaacuterio salientar que a noccedilatildeo de categoria tatildeo antiga quanto a noccedilatildeo de

Loacutegica3 mesmo que intuitivamente sempre presidiu a operaccedilatildeo de classificaccedilatildeo e

ordenaccedilatildeo do conhecimento

Entende-se por Teoria da Classificaccedilatildeo em Biblioteconomia o conjunto de

proposiccedilotildees e princiacutepios desenvolvidos em associaccedilatildeo com a praacutetica manifestando

o seu conteuacutedo como uma disciplina intelectual o que pode ser entendido como o

corpo inteiro de generalizaccedilotildees (sistema de postulados) princiacutepios (convencionais) e

regras de procedimentos (relacionamentos) desenvolvidos para um campo de

conhecimento e que buscam descrever e elucidar a natureza ou comportamento do

fenocircmeno da classificaccedilatildeo estabelecer sistemas classificatoacuterios com o objetivo de

construir conjuntos temaacuteticos para recuperaccedilatildeo e determinar as condiccedilotildees formais a

que qualquer classificaccedilatildeo bibliograacutefica deve obedecer (teorias satildeo em sentido

geral narrativas que predizem organizam ou alteram visotildees de mundo dependendo

da instacircncia epistecircmica e frequentemente carregam com elas uma metateoria e

metodologia impliacutecita como no caso das regras de procedimentos)4

3 Aristoacuteteles foi o primeiro que estudou essa disciplina a qual define sem dar nome como ciecircncia da demonstraccedilatildeo e do saber demonstrativo Eacute soacute nos comentadores de Aristoacuteteles que o termo Loacutegica empregado em sentido restrito como sinocircnimo de Dialeacutetica eacute introduzido como nome da doutrina cujo cerne se encontrava em Analiacuteticos de Aristoacuteteles ou seja a teoria do silogismo e da demonstraccedilatildeo Boeacutecio daacute o nome de Loacutegica ao conjunto de doutrinas contidas no Organon de Aristoacuteteles somado agrave Isagoge de Porfiacuterio Durante toda a Idade Meacutedia o estudo da Isagoge seguida pelo Organon (na ordem Categorias De Interpretatione Primeiros analiacuteticos Segundos analiacuteticos Toacutepicos Refutaccedilatildeo dos sofistas) constitui uma das sete artes liberais a Dialeacutetica ou Loacutegica No iniacutecio do seacuteculo XVII Francis Bacon com Novum Organum efetua uma reforma radical da Loacutegica concebida exclusivamente como metodologia cientiacutefica geral e transforma-a em instrumento de investigaccedilatildeo cientiacutefica Com isso a antiga noccedilatildeo de Loacutegica muda completamente Durante os seacuteculos XVII XVIII e XIX Loacutegica passa a ser o nome de uma seacuterie heterogecircnea de disciplinas filosoacuteficas ministradas nas escolas Hoje a Loacutegica segue duas direccedilotildees diferentes de investigaccedilatildeo loacutegica Loacutegica matemaacutetica e Loacutegica formal analiacutetica Essa uacuteltima com tendecircncia a tornar-se parte da Semioacutetica ou teoria geral dos signos (ABBAGNANO 2003 p 624-630) 4 Falando especificamente sobre Teoria da Classificaccedilatildeo Mai (2002 p 474) afirma que uma teoria ideal de classificaccedilatildeo que seguisse uma linha de pensamento neutra objetiva e positivista deveria estar apta a recomendar como um conjunto de documentos deveria ser organizado e predizer as consequecircncias da organizaccedilatildeo A teoria deveria aleacutem disso ser aplicada a todas as espeacutecies de diferentes conjuntos usuaacuterios e tipos de documentos Flyvbjerg (2001 p 38-39 apud TENNIS 2008 p 105) embasado em suas leituras de Hubert Dreyfus e Pierre Bourdieu aponta as seis caracteriacutesticas de uma teoria ideal - Expliacutecita A teoria necessita estar dispostadesenhada de forma tatildeo detalhada que qualquer ser humano racional seja capaz de entendecirc-la A teoria natildeo deve possibilitar recorrer a interpretaccedilotildees ou intuiccedilotildees - Universal A teoria deve se aplicar a todas as eacutepocas e lugares - Abstrata A teoria natildeo deve necessitar de referecircncias a exemplos concretos - Discreta A teoria deve ser formulada com elementos de contexto-independente natildeo pode se referir a interesses tradiccedilotildees instituiccedilotildees etc humanos - Sistemaacutetica A teoria deve constituir um todo no qual os elementos de contexto-independente satildeo relacionados por meio de leis ou regras - Completa e predita A teoria deve ser completa ou seja deve cobrir o domiacutenio inteiro e deve ser predita ou seja a teoria deve prever e especificar as propriedades dos elementos (FLYVBJERG 2001)

15

Shiyali Ramamrita Ranganathan (1892-1972) matemaacutetico e bibliotecaacuterio

indiano pensador influente no campo da classificaccedilatildeo biblioteconocircmica (ao partir de

uma abordagem analiacutetica de facetas) desenvolveu na deacutecada de 1930 a Teoria da

Classificaccedilatildeo Facetada tambeacutem chamada de Teoria Dinacircmica da Classificaccedilatildeo ou

Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo aplicando de acordo com Moss (1964 p 296-301)

os princiacutepios aristoteacutelicos agrave Documentaccedilatildeo sem no entanto reconhecer esse fato

As cinco categorias nas quais Ranganathan baseou seu sistema de

classificaccedilatildeo tecircm sido representadas pela sigla em inglecircs PMEST personality

matter energy space e time Atente-se para a semelhanccedila das categorias

aristoteacutelicas substacircncia qualidade quantidade relaccedilatildeo espaccedilo tempo accedilatildeo

paixatildeo estado e haacutebito

Nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas a categorizaccedilatildeo de modo natildeo expliacutecito

aparece com Dewey (1851-1931) e nomeadamente com Ranganathan que

introduziu a noccedilatildeo de categoria para classificar conceitos A sua ideacuteia de dividir os

assuntos em categorias e tambeacutem em facetas que seraacute enfocada em toacutepico

especial dentro deste estudo (cf subseccedilatildeo 47) tem sido considerada uma marcante

contribuiccedilatildeo agrave Teoria da Classificaccedilatildeo

Em Teoria da Classificaccedilatildeo utilizam-se os termos classe categoria e faceta

situando-os na base de toda organizaccedilatildeo loacutegica do conhecimento e da construccedilatildeo

de linguagens de indexaccedilatildeo

As categorias podem ser consideradas como fundamento nem sempre

visiacutevel de qualquer sistema organizacional do conhecimento

Os sistemas de classificaccedilatildeo tecircm um valor intriacutenseco (MANN 1962) mesmo

para aqueles que natildeo estatildeo familiarizados com eles fornecendo informaccedilotildees

sugestotildees e esquemas dos assuntos o que permite acessar determinadas

informaccedilotildees O pesquisador que pretende estudar um tema para a sua tese pode

encontrar o assunto devidamente esboccedilado num sistema de classificaccedilatildeo O

estudante de Histoacuteria por exemplo encontraraacute na classe de Histoacuteria a cronologia

histoacuterica de cada paiacutes com as datas e os acontecimentos mais importantes Os

esquemas de classificaccedilatildeo revelam-se excelentes fontes com dados natildeo

forccedilosamente de rigorosa exatidatildeo mas de grande previsibilidade possibilitando a

visatildeo do todo e das partes

16

Os atuais esquemas ldquoclassificatoacuteriosrdquo de Organizaccedilatildeo do Conhecimento tais

como terminologias ontologias taxonomias tesauros mapas conceituais entre outros5

recorrem sem necessariamente assumi-lo agrave Teoria da Classificaccedilatildeo (pois essa eacute

indispensaacutevel para qualquer tipo de organizaccedilatildeo do conhecimento) e tambeacutem agrave

categorizaccedilatildeo mas empregam terminologia diversa natildeo sendo objeto deste estudo

As discussotildees ateacute a deacutecada de 1960 relativamente agrave Teoria da Classificaccedilatildeo

giravam em torno da convicccedilatildeo de que se estava organizando o proacuteprio

conhecimento em outras palavras a realidade Os sistemas de classificaccedilatildeo

claacutessicos deviam representar o conjunto dos conhecimentos humanos de tal maneira

que tornassem clara a importacircncia relativa de cada assunto dentro de uma estrutura

hieraacuterquica Privilegiava-se o conhecimento universal em detrimento do

conhecimento especializado Foi somente a partir da segunda metade do seacuteculo XX

e mais incisivamente a partir da deacutecada de 1970 que se comeccedila a perceber a

realidade como um construto social que se apoacuteia em larga medida nos discursos

sobre ela proferidos e legitimados por esta ou aquela comunidade O conhecimento

passa entatildeo a ser organizado pelos mesmos esquemas gerais de classificaccedilatildeo

(ampliados e atualizados) procurando-se representaacute-lo enquanto especiacutefico a uma

dada aacuterea do saber ou seja buscando cobrir novos campos de conhecimento

resultantes de sua ramificaccedilatildeo

5 Esquemas para a organizaccedilatildeo do conhecimento ou Instrumentos para representaccedilatildeo da informaccedilatildeo a) a Terminologia eacute um conjunto de termos proacuteprios ou relativos a um determinado campo do conhecimento ou a uma aacuterea de especialidade (BARITEacute 1997 p 145) b) a Ontologia originou-se na Metafiacutesica e eacute atualmente desenvolvida pela Inteligecircncia Artificial onde tenta representar os relacionamentos dos elementos de um dado domiacutenio desde os meta-niacuteveis aos proacuteprios objetos tendo como finalidade o compartilhamento e a reutilizaccedilatildeo do conhecimento c) a Taxonomia surgiu como meacutetodo de classificaccedilatildeo nas Ciecircncias Naturais para nomear descrever e classificar os seres vivos e depois passou a designar instrumentos para a Organizaccedilatildeo da Informaccedilatildeo em ambientes eletrocircnicos e virtuais de um domiacutenio d) o Tesauro nasceu da noccedilatildeo de Tesauro Linguiacutestico e de contribuiccedilotildees das Classificaccedilotildees Facetadas com a pretensatildeo de abranger preferencialmente uma aacuterea do conhecimento e tem o controle do vocabulaacuterio e o estabelecimento da rede paradigmaacutetica como principais recursos para a transferecircncia da informaccedilatildeo e) o Mapa conceitual surgiu na aacuterea da Educaccedilatildeo como meacutetodo de aprendizagem e depois de passar por um processo de adaptaccedilatildeo propocircs-se a guiar a navegaccedilatildeo em ambientes de hipermiacutedia Os Tesauros (especializados) nasceram para atender agrave demanda gerada pelo aumento dos perioacutedicos especializados A ontologia a taxonomia e os mapas conceituais nasceram para atender ao fluxo de informaccedilotildees em ambientes eletrocircnicos e virtuais Todos esses instrumentos partiram de aplicaccedilotildees distintas das que satildeo aplicadas hoje contudo tecircm mais ou menos os mesmos objetivos - organizar a informaccedilatildeo para que possa ser utilizada Outros instrumentos seriam as redes semacircnticas os topic maps e a proacutepria web semacircntica apenas para citar algumas das vaacuterias formas de tratar a informaccedilatildeo no contexto virtual (TEIXEIRA 2006) O entendimento da visatildeo dos filoacutesofos sobre esses esquemasInstrumentos merece discussotildees detalhadas por causa da sua influecircncia na Ciecircncia da Informaccedilatildeo no entanto natildeo eacute objetivo desta tese

17

Os procedimentos de organizaccedilatildeo do conhecimento - o processo de

classificaccedilatildeo6 - que possibilitam a organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo tecircm se intensificado

frente agrave massa documentaacuteria inserida regularmente nos acervos das bibliotecas

Essa situaccedilatildeo exige o aperfeiccediloamento constante dos instrumentos de organizaccedilatildeo

do conhecimento - mormente esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica - para o

acesso e recuperaccedilatildeo

Examinar conceitualmente as noccedilotildees de classe de categoria e de faceta sob

uma perspectiva funcional instrumental pragmaacutetica tentando esclarecer as

caracteriacutesticas essenciais dessas noccedilotildees no contexto dos sistemas de classificaccedilatildeo

bibliograacutefica constitui tema relevante para auxiliar na revisatildeo de ideacuteias e

procedimentos em relaccedilatildeo agraves linguagens de indexaccedilatildeo e agrave classificaccedilatildeo habitual de

documentos

A presente tese tem como objetivo geral analisar criticamente os principais

sistemas de classificaccedilatildeo do conhecimento selecionados da Filosofia e da

Biblioteconomia numa visatildeo histoacuterico-conceitual com enfoque nos conceitos de

classe de categoria e de faceta

Com este estudo pretende-se atingir os seguintes objetivos especiacuteficos

a) acompanhar e delinear a trajetoacuteria das classificaccedilotildees dos saberes

(classes) e das classificaccedilotildees dos seres (categorias) agrave luz da Filosofia7

b) averiguar as possiacuteveis influecircncias que as classificaccedilotildees filosoacuteficas

historicamente exerceram sobre as classificaccedilotildees bibliograacuteficas

tradicionais

c) verificar de que modo os conceitos de categoria de classe e de faceta tecircm

sido definidos no acircmbito das classificaccedilotildees biblioteconocircmicas

tradicionais

6 Accedilatildeo e efeito de estabelecer classes agrupadas estrutural ou hierarquicamente dentro de um conjunto Eacute uma representaccedilatildeo do real portanto uma abstraccedilatildeo 7 A distinccedilatildeo entre classes de saberes e categorias de seres seraacute tratada na seccedilatildeo 2 especificamente na paacutegina 22

18

Para a Ciecircncia da Informaccedilatildeo8 a noccedilatildeo de categoria nascida na Filosofia e

introduzida na Biblioteconomia por Ranganathan eacute de importacircncia fundamental para

a estruturaccedilatildeo da informaccedilatildeo As doutrinas ou teorias sobre as categorias nos

sistemas filosoacuteficos constituem campo que permanece ainda pouco explorado Aleacutem

disso a sua anaacutelise vecirc-se dificultada pelas diferenccedilas de acepccedilatildeo dos termos entre

os filoacutesofos

8 Em 1945 Vannevar Bush publicou artigo intitulado As we may think a respeito do problema da informaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia Nesse escrito ele fala do efeito da associaccedilatildeo de conceitos ou palavras na organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo - padratildeo seguido pelo ceacuterebro humano para transformar informaccedilatildeo em conhecimento jaacute que o homem pensa por associaccedilatildeo de conceitos Por causa desses fatos afirma Barreto (2006) que V Bush pode ser considerado o precursor da Ciecircncia da Informaccedilatildeo e 1945 a sua data fundadora Contudo em 1934 Paul Otlet enquanto fundador da Documentaccedilatildeo discutiu essa questatildeo podendo ser considerado o verdadeiro precursor da Ciecircncia da Informaccedilatildeo Bush somente tratou a caracteriacutestica tecnoloacutegica da associaccedilatildeo de ideacuteias (GRUPO TEMMA) Dias (2000 2002a 2002b) em vaacuterios escritos usando argumentaccedilatildeo de resgate histoacuterico considera que a expressatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo pode ser usada em dois sentidos um restrito e outro amplo No sentido restrito (de uso universal) a Ciecircncia da Informaccedilatildeo eacute uma especialidade que tem procurado achar um diferencial na sua relaccedilatildeo com a Biblioteconomia participando de um campo mais geral do conhecimento que abriga a Biblioteconomia a proacutepria Ciecircncia da Informaccedilatildeo e outras especialidades - ela seria a disciplina interessada nas questotildees da informaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica ldquoNesse sentido a Ciecircncia da Informaccedilatildeo deve entatildeo ser entendida como a evoluccedilatildeo do conceito de Biblioteconomia especializadardquo tendo por alvo a informaccedilatildeo especializada e seus usuaacuterios (DIAS 2002a p 89-90) No sentido amplo (largamente usado no Brasil) a Ciecircncia da Informaccedilatildeo eacute percebida como um campo ou aacuterea do saber como o todo que abriga vaacuterias especialidades (Biblioteconomia Arquivologia Documentaccedilatildeo e a proacutepria Ciecircncia da Informaccedilatildeo em seu sentido restrito) - ela seria o campo interessado nos problemas de acesso agrave informaccedilatildeo Dias (2000) atribui a origem da utilizaccedilatildeo da expressatildeo nesse sentido geneacuterico ao fato de assim ser utilizada na tabela de aacutereas do conhecimento do Conselho Nacional do Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) por exemplo Grande aacuterea Ciecircncias Sociais AplicadasAacuterea Ciecircncia da InformaccedilatildeoSubaacuterea Biblioteconomia Especialidade Organizaccedilatildeo da Informaccedilatildeo Smit Taacutelamo e Kobashi (2003 2004) em uma reflexatildeo sobre a constituiccedilatildeo do campo cientiacutefico da Ciecircncia da Informaccedilatildeo identificam que a aacuterea se afirmou na interdisciplinaridade e entendem que o termo Ciecircncia da Informaccedilatildeo impotildee-se como um significante agrave procura do seu significado - um campo em permanente definiccedilatildeo Analisando a terminologia da aacuterea de Ciecircncia da Informaccedilatildeo (as denominaccedilotildees servem de referecircncia para a determinaccedilatildeo do vocabulaacuterio de uma especialidade) que justapotildee termos oriundos da Biblioteconomia e da Documentaccedilatildeo termos oriundos de outras aacutereas do conhecimento (termos importados noccedilotildees emprestadas) e termos do senso comum verificaram que boa parte das noccedilotildees sedimentadas pela aacuterea se refere a procedimentos praacuteticos tais como classificaccedilatildeo resumo anaacutelise documentaacuteria oriundos da Biblioteconomia Sentido restrito ou amplo o fato eacute que existe um viacutenculo essencial da Ciecircncia da Informaccedilatildeo com a Biblioteconomia - aacutereas que se relacionam conceitual e historicamente - evidente na quase totalidade das escolas de Biblioteconomia que pelo mundo vecircm sendo renomeadas de escolas de Ciecircncia da Informaccedilatildeo ou vecircm acrescentando Ciecircncia da Informaccedilatildeo ao antigo nome A adoccedilatildeo do novo nome soacute pode ser entendida no sentido amplo do termo Ciecircncia da Informaccedilatildeo segundo Dias (2002a p 94-95) que ainda alerta para o que parece ser uma tentativa de extermiacutenio de todo o grupo terminoloacutegico associado ao termo biblioteca ou seja bibliotecaacuterio biblioteconomia entre outros Salienta poreacutem que a terminologia acaba por ressurgir com vigor no contexto digital onde a expressatildeo biblioteca digital consagra-se como expressatildeo do conceito de coleccedilatildeo de recursos eletrocircnicos Assim sendo a Ciecircncia da Informaccedilatildeo constitue aacuterea que carece de uma linguagem de especialidade proacutepria (condiccedilatildeo imprescindiacutevel para se impor no ambiente da pesquisa acadecircmica) que se enuncia formalmente como objeto teoacuterico que carece de construccedilatildeo conceitual e que diante da falta de um sistema conceitual explicitado os termos utilizados pela aacuterea natildeo remetem a conceitos (SMIT TAacuteLAMO KOBASHI 2004) Mesmo assim eacute possiacutevel dizer que a especificidade da Ciecircncia da Informaccedilatildeo envolve a sua capacidade de transitar pelas diversas aacutereas do conhecimento de produzir conhecimentos que perpassam suas fronteiras atenta para a forma como a Biblioteconomia e a Documentaccedilatildeo tecircm formulado e empregado termos e conceitos para poder avanccedilar

19

Este estudo levanta as seguintes hipoacuteteses

a) a busca pela consistecircncia terminoloacutegica de termos como categoria

classe ou faceta contribuiraacute para aperfeiccediloar a operacionalizaccedilatildeo do

processamento do conhecimento em Ciecircncia da Informaccedilatildeo b) os esquemas categoriais subjacentes agraves classificaccedilotildees bibliograacuteficas

natildeo tecircm valor neutro jaacute que favorecem uma determinada concepccedilatildeo

de mundo sendo construiacutedos com objetivos pragmaacuteticos portanto a

elaboraccedilatildeo de classificaccedilotildees (classe categoria faceta) deve ser

encarada com rigor pois afeta a maneira como se processam as

informaccedilotildees

A pesquisa eacute do tipo exploratoacuterio-descritivo com caraacuteter de revisatildeo de literatura

Estabelecidos os objetivos que orientaram o estudo foram realizadas buscas

bibliograacuteficas em bases de dados internacionais e nacionais Wilson Library Literature

and Information Science Full Text Library and Information Science Abstract (LISA) The

Philosopherrsquos Index Teses do Instituto Brasileiro de Informaccedilatildeo em Ciecircncia Tecnologia

(IBICT) Portal da Capes entre outras Foram consultados cataacutelogos de diversas

bibliotecas nacionais A partir daiacute foram selecionados livros e artigos de perioacutedicos

pertinentes ao tema em questatildeo Posteriormente foram localizados e obtidos materiais

bibliograacuteficos para leitura Dessa maneira foi possiacutevel a objetivaccedilatildeo a anaacutelise a

discussatildeo e o aprofundamento dos traccedilos significantes do objeto que permitiram a

elaboraccedilatildeo da conclusatildeo Ressalta-se que as traduccedilotildees das citaccedilotildees em liacutengua

estrangeira satildeo na maioria dos casos indicadas no texto com a frase ldquotraduccedilatildeo livre

da autorardquo apresentando em rodapeacute as respectivas citaccedilotildees no idioma original com o

intuito de facilitar a leitura e de presevar a fidedignidade das informaccedilotildees

A estrutura da pesquisa proporciona o desenvolvimento do tema visando

alcanccedilar os objetivos propostos Assim apoacutes a seccedilatildeo 1 Introduccedilatildeo direcionada

para a construccedilatildeo da ideacuteia principal e dos meios para viabilizaacute-la a seccedilatildeo 2 traccedila um

percurso da classificaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo do conhecimento e apresenta algumas

caracteriacutesticas gerais das classificaccedilotildees das ciecircncias tambeacutem chamadas de

classificaccedilotildees filosoacuteficas9 A seccedilatildeo 3 recupera parte da rica histoacuteria dos principais

sistemas filosoacuteficos de organizaccedilatildeo do conhecimento apresentando um panorama

9 As classificaccedilotildees filosoacuteficas ldquosatildeo as criadas pelos filoacutesofos com a finalidade de definir esquematizar e hierarquizar o conhecimento preocupados com a ordem das ciecircncias ou a ordem das coisasrdquo (PIEDADE 1983 p 60)

20

das classificaccedilotildees das ciecircncias em Platatildeo Aristoacuteteles Cassiodoro Roger Bacon

Huarte Descartes Francis Bacon Hobbes Locke Leibniz Diderot e drsquoAlembert

Hegel Ampegravere Comte Spencer Harris e Wundt A sistematizaccedilatildeo do saber que se

pretende (procurando apontar indiacutecios da existecircncia de influecircncia das classificaccedilotildees

filosoacuteficas sobre as classificaccedilotildees bibliograacuteficas tradicionais10) teve origem na

Antiguidade Claacutessica quando todos os saberes e ciecircncias particulares estavam

integrados em uma ciecircncia uacutenica a Filosofia A classificaccedilatildeo dos saberes e suas

subdivisotildees - estabelecidas dentro da Filosofia - perduraram ateacute a Idade Meacutedia Soacute a

partir do Renascimento (seacuteculos XV e XVI) principalmente a partir de Francis Bacon

que se daacute iniacutecio agraves modernas classificaccedilotildees das ciecircncias ou classificaccedilotildees filosoacuteficas

e das classificaccedilotildees bibliograacuteficas hoje consideradas tradicionais Ainda na seccedilatildeo 3

busca-se conhecer e compreender as investigaccedilotildees relativas a categorias

sobretudo as noccedilotildees formuladas na Filosofia por alguns dos estudiosos de

categorias que mais contribuiacuteram para a reflexatildeo acerca das classificaccedilotildees

bibliograacuteficas (Platatildeo Aristoacuteteles Kant Foucault) possibilitando com o auxiacutelio desse

conhecimento especiacutefico uma anaacutelise do referido conceito aleacutem de sua

contextualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica Os autores

que embasaram a elaboraccedilatildeo desta seccedilatildeo aleacutem dos proacuteprios filoacutesofos e seus

comentadores foram Garcia Morente (1952) Ferrater Mora (1971) Kedrov (1974)

Piedade (1983) Gopinath (2001) Mazip (2001) Abbagnano (2003) Pombo (2006)

entre outros que forneceram os elementos necessaacuterios para o entendimento das

diferentes noccedilotildees de categoria no decorrer da Histoacuteria da Filosofia

A seccedilatildeo 4 estaacute concentrada na histoacuteria construccedilatildeo princiacutepios e revisatildeo dos

sistemas claacutessicos de classificaccedilatildeo bibliograacutefica11 (Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey

Classificaccedilatildeo Expansiva de Cutter Classificaccedilatildeo da Biblioteca do Congresso em

Washington Classificaccedilatildeo Decimal Universal Classificaccedilatildeo de Assuntos de Brown

Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos de Ranganathan e Classificaccedilatildeo Bibliograacutefica de

Bliss) com enfoque nas noccedilotildees de classe de categoria e de faceta Aqui tentou-se

apontar os indiacutecios da influecircncia das classificaccedilotildees filosoacuteficas sobre as

classificaccedilotildees bibliograacuteficas Para tanto aleacutem dos proacuteprios esquemas de

10 A influecircncia das classificaccedilotildees filosoacuteficas sobre as classificaccedilotildees bibliograacuteficas permeia as seccedilotildees 2 e 3 11 As classificaccedilotildees bibliograacuteficas satildeo sistemas destinados a servir de base agrave organizaccedilatildeo e localizaccedilatildeo de documentos e para ordenar cataacutelogos e bibliografias

21

classificaccedilatildeo bibliograacutefica contou-se com o apoio teoacuterico de Grolier (1962) Foskett

(1973a) Dahlberg (1978 1979a 1993) Piedade (1983) Perreault (1991) Maniez

(1993) San Segundo Manuel (1996) McIlwaine (2000) Broughton (2004) e Batley

(2005) entre outros

A seccedilatildeo 5 estaacute direcionada para a elaboraccedilatildeo do corpus teoacuterico dos conceitos

de classe de categoria e de faceta na Teoria da Classificaccedilatildeo com a intenccedilatildeo de

explorar discutir e se possiacutevel esclarecer a noccedilatildeo de categoria procurando esboccedilar

um conceito de classe de categoria e de faceta no acircmbito da Teoria da

Classificaccedilatildeo para as Classificaccedilotildees Bibliograacuteficas Claacutessicas Os autores que

fundamentaram a anaacutelise dos termos foram Mills (1960) Grolier (1962 1976)

Dobrowolski (1964) Foskett (1972) Piedade (1983) Dahlberg (1992) Iyer (1995)

Maniez (1999) e Bariteacute (2000) Aleacutem de dicionaacuterios e glossaacuterios como Thompson

(1943) Elsevierrsquos (1973) Harrod (1977) Keenan (1996) Bariteacute (1997) Menezes

Cunha e Heemann (2004) entre outros

A Conclusatildeo seccedilatildeo 6 constitui a siacutentese do que emergiu do texto da proacutepria

tese ao longo do estudo Em linhas gerais eacute possiacutevel afirmar que tanto os

princiacutepios das classificaccedilotildees filosoacuteficas em relaccedilatildeo aos seres (categorias) e em

relaccedilatildeo aos saberes (classes) quanto agraves proacuteprias classificaccedilotildees filosoacuteficas que

dividem os seres e os saberes apresentam-se como construtos humanos

elaborados precipuamente com a intenccedilatildeo de conhecer e disciplinar o

conhecimento do ser e do saber Evidenciou-se que as classificaccedilotildees

bibliograacuteficas em grande parte satildeo adaptaccedilotildees de classificaccedilotildees filosoacuteficas

(utilizando as divisotildees das ciecircncias e empregando termos primeiramente

pensados pelos filoacutesofos poreacutem ressignificados com objetivos pragmaacuteticos) Na

revisatildeo conceitual das noccedilotildees de classe de categoria e de faceta atentou-se agrave

aplicaccedilatildeo especiacutefica dos termos nos sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica

enquanto sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento mostrando que tanto a

Biblioteconomia como a Ciecircncia da Informaccedilatildeo estatildeo envolvidas nessa discussatildeo

interdisciplinar E finalmente na seccedilatildeo 7 Perspectivas apresentam-se algumas

questotildees decorrentes da investigaccedilatildeo que poderatildeo ser de interesse para futuras

pesquisas

22

2 DA CLASSIFICACcedilAtildeO Agrave ORGANIZACcedilAtildeO DO CONHECIMENTO UMA VISAtildeO PRELIMINAR DA SUA TRANSITORIEDADE E RELATIVIDADE

A maioria das pessoas eacute subjetiva para consigo proacutepria e objetiva para com os demais por vezes terrivelmente objetiva -

mas o importante eacute ser-se objetivo para consigo proacuteprio e subjetivo para com todos os outros

Kierkegaard

O conceito de organizaccedilatildeo do conhecimento eacute um dos mais antigos com o

qual o homem convive Kedrov (1974 v 1 p 7) um estudioso da classificaccedilatildeo das

ciecircncias define-o como

la unificacioacuten de todos los conocimientos en un sistema uacutenico en el cual se reflejam la loacutegica del objeto de estuacutedio y las concepciones generales sobre el mundo y su conocimiento por el hombre

Jaacute Tennis (2008 p 103) um estudioso da Teoria da Classificaccedilatildeo

Biblioteconocircmica entende por organizaccedilatildeo do conhecimento o processo de ordenar

e representar documentos O autor com o propoacutesito de comparaccedilatildeo define tambeacutem

organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo como o processo de ordenar e representar informaccedilatildeo

(que compreende documentos e outras entidades consideradas informaccedilatildeo)

Os sistemas de classificaccedilatildeo criados pelos filoacutesofos com o objetivo de

ordenar as ciecircncias e hierarquizar o conhecimento tiveram origem remota na

observaccedilatildeo e estudo dos fenocircmenos do Universo e satildeo conhecidos como

classificaccedilotildees filosoacuteficas metafiacutesicas do conhecimento ou ainda classificaccedilotildees das

ciecircncias (PIEDADE 1983 p 61)

As classificaccedilotildees permitem ao homem identificar tempo e espaccedilo reconhecer

entes e fatos estabelecer semelhanccedilas e diferenccedilas agrupar e separar seres e

saberes enfim ordenar tudo que o rodeia para se orienta no mundo

No mundo antigo existia uma soacute ciecircncia a Filosofia12 que era de fato natildeo soacute

o suporte das ciecircncias mas ldquoardquo ciecircncia porque pretendia abranger todo o

conhecimento

As classificaccedilotildees bibliograacuteficas se originaram a partir das classificaccedilotildees

filosoacuteficas (de orientaccedilatildeo metafiacutesica) Platatildeo em A Repuacuteblica (2006 livro VII p 267-

305) ao se referir agraves ciecircncias especiacuteficas que constituiacuteam o curriacuteculo do filoacutesofo

12 De Platatildeo ateacute hoje a Filosofia tem sido natildeo soacute interpretaccedilatildeo do mundo mas projeto de transformaccedilatildeo do homem quer dizer Poliacutetica Eacutetica Pedagogia

23

(Aritmeacutetica Geometria Astronomia e Muacutesica) salientava que o estudo dessas

ciecircncias devia levar obrigatoriamente ao entendimento dos seus pontos comuns do

seu parentesco percebendo-se as razotildees pelas quais estatildeo interligadas e o seu

desenvolvimento apresentando aiacute a exigecircncia da formaccedilatildeo do que ele mesmo

chamou de Ciecircncia Primeira Aristoacuteteles nomeou essa mesma Ciecircncia de Filosofia

Primeira Portanto a Metafiacutesica como entendida por Platatildeo e Aristoacuteteles era a

Ciecircncia ou Filosofia Primeira no sentido de fornecer a todas as outras ciecircncias o

fundamento comum isto eacute ter como objeto o objeto de todas as outras ciecircncias e

como princiacutepio um princiacutepio que condicionava a validade de todos os demais Por

essa pretensatildeo de prioridade que a define inclusive a Metafiacutesica pressupotildee uma

situaccedilatildeo cultural determinada em que o saber jaacute se organizou e se dividiu em

diversas ciecircncias relativamente independentes e capazes de exigir a determinaccedilatildeo

de suas inter-relaccedilotildees e sua integraccedilatildeo com base num fundamento comum Essa

era a situaccedilatildeo na Atenas do seacuteculo IV aC graccedilas agrave obra de Platatildeo e dos seus

disciacutepulos que contribuiacuteram vigorosamente para o desenvolvimento da Matemaacutetica

da Fiacutesica da Eacutetica e da Poliacutetica

Andronico de Rodes (diretor da escola peripateacutetica no seacuteculo I aC) foi o

responsaacutevel por coletar e reunir de modo sistemaacutetico no ano 86 aC alguns escritos

sem nome de Aristoacuteteles O nome casual embora pertinente de Metafiacutesica isto eacute

livros que vecircm depois da Fiacutesica atribuiacutedo ao lugar que coube aos textos presta-se a

expressar a natureza da Metafiacutesica porquanto vai aleacutem da Fiacutesica que eacute a primeira

das ciecircncias particulares para chegar ao fundamento comum em que todas as

ciecircncias se baseiam e determinar o lugar que cabe a cada uma na hierarquia do

saber Isso parece explicar senatildeo a origem pelo menos a repercussatildeo que esse

nome teve A Metafiacutesica passou a implicar assim uma enciclopeacutedia das ciecircncias

um inventaacuterio completo e exaustivo de todas as ciecircncias em suas relaccedilotildees de

coordenaccedilatildeo e subordinaccedilatildeo A Metafiacutesica apresentou-se ao longo da histoacuteria sob

trecircs maneiras fundamentais

a) teoloacutegica a que objetiva o ser mais elevado e perfeito superior a

todos e do qual todos os outros provecircm (Plotino Hegel)

b) ontoloacutegica a que estuda os caracteres fundamentais do ser os que

todo ser tem e natildeo pode deixar de ter (Aristoacuteteles drsquoAlembert)

c) gnosioloacutegica a que estuda as maneiras ou princiacutepios cognitivos que

por serem constituintes da razatildeo humana condicionam todo saber e

toda ciecircncia (Bacon Kant)

24

Na Filosofia contemporacircnea a Metafiacutesica atua na questatildeo do significado de

existecircncia na linguagem das diversas ciecircncias e na questatildeo das relaccedilotildees entre as

diversas ciecircncias e das investigaccedilotildees sobre objetos que incidem nos pontos de

intersecccedilatildeo ou de encontro entre elas (ABBAGNANO 2003 p 660-667)

Segundo Olga Pombo (2006) agrave classificaccedilatildeo dos saberes (de orientaccedilatildeo

gnosioloacutegica) corresponde o problema da classificaccedilatildeo das ciecircncias como tentativa

de dar o quadro completo de todas as disciplinas cientiacuteficas e de fixar as suas

relaccedilotildees de coordenaccedilatildeo e subordinaccedilatildeo ou de dividir em classes as distintas

disciplinas procedendo a uma ordenaccedilatildeo por unidades que apresentam uma

caracteriacutestica comum estabelecendo certa coextensatildeo entre elas ou ainda

simplesmente dividir as ciecircncias segundo os seus objetos ou meacutetodos de pesquisa

Essa questatildeo sempre interessou aos filoacutesofos que desde Platatildeo e Aristoacuteteles

buscam pensar a ciecircncia e os seus produtos (cf subseccedilatildeo 31) Enquanto agrave

classificaccedilatildeo dos seres (de orientaccedilatildeo ontoloacutegica) corresponde o problema da

classificaccedilatildeo nas ciecircncias como tentativa de explicar a realidade segmentando-a em

categorias o que desde Platatildeo e Aristoacuteteles vem sendo de fundamental importacircncia

para loacutegicos e cientistas de aacutereas que procedem agraves classificaccedilotildees taxonocircmicas13

como a Botacircnica e a Zoologia tipoloacutegicas como a Psicologia geoloacutegicas

antropoloacutegicas socioloacutegicas entre outras (cf subseccedilatildeo 32) Seguindo esse raciociacutenio

pode-se dizer que agrave classificaccedilatildeo dos livros (de orientaccedilatildeo bibliograacutefica) corresponde

o problema da organizaccedilatildeo por assunto dos livros nas estantes e a geraccedilatildeo de

iacutendices que decircm acesso aos livros o que se constitui em objeto de estudo da Teoria

da Classificaccedilatildeo a qual fundamenta todos os possiacuteveis sistemas de classificaccedilatildeo

bibliograacutefica (cf subseccedilatildeo 41)

Natildeo se propotildee nesta pesquisa uma discussatildeo a respeito da distinccedilatildeo entre

informaccedilatildeo e conhecimento que aliaacutes eacute discutiacutevel porque relativa mas natildeo se pode

deixar de apontar que as classificaccedilotildees bibliograacuteficas pressupotildeem a classificaccedilatildeo e

portanto a organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo que representam assuntos tratados nos

documentos aproximando-se assim os universos das classificaccedilotildees bibliograacuteficas e

os universos das classificaccedilotildees filosoacuteficas

13 Relativo a taxinomia Taxinomia [Do gr Taacutexis ordem arranjo ltverbo gr taacutessein arrumar ordenar] Sf 1 Ciecircncia da classificaccedilatildeo 2 Biol Sistemaacutetica (FERREIRA 1999 p 1932)

25

O proacuteprio conceito de organizaccedilatildeo do conhecimento traz impliacutecita a

impossibilidade de uma teoria geral de organizaccedilatildeo sistematizaccedilatildeo e classificaccedilatildeo

universal do conhecimento Isso se deve em essecircncia aos limites espaccedilo-temporais

de uma classificaccedilatildeo de caraacuteter geral do conhecimento tanto sob o ponto de vista

teoacuterico quanto praacutetico encontrando-se a proacutepria classificaccedilatildeo impregnada de um

caraacuteter provisoacuterio Deve-se tambeacutem agrave estruturaccedilatildeo da realidade e do conhecimento

- a qual se modifica segundo as distintas concepccedilotildees de mundo daqueles que a

realizam - ou seja realidade e conhecimento tambeacutem dependem do espaccedilo e do

tempo Atribui-se ainda ao determinismo intriacutenseco que existe nas proacuteprias

estruturas classificatoacuterias que faz com que elas sigam muito mais paracircmetros

sociais determinados do que uma concepccedilatildeo teoacuterica - ou seja eacute o social que

importa Consequentemente um traccedilo comum a todas as classificaccedilotildees eacute o seu

caraacuteter efecircmero pois estatildeo sempre sujeitas as numerosas concepccedilotildees e mudanccedilas

que as estruturam e delimitam Foucault (1981) em As Palavras e as Coisas afirma

que ao repartir e classificar as coisas elas se alteram jaacute que satildeo reconheciacuteveis de

acordo com a ordem que as relaciona Com essa posiccedilatildeo ele reafirma o caraacuteter

provisoacuterio e relativo das classificaccedilotildees - como construtos sociais

A ideacuteia da impossibilidade de uma classificaccedilatildeo perduraacutevel do conhecimento

(em sentido espaccedilo-temporal e determinista - a classificaccedilatildeo dos saberes e dos

seres reproduz somente a classificaccedilatildeo do homem em acircmbito geograacutefico e temporal)

foi postulada por Durkheim14 e Mauss15 (1901 p 69) ao afirmarem que as classes

sociais determinam as estruturas da classificaccedilatildeo do universo das coisas e

considerarem que as classificaccedilotildees dependem da organizaccedilatildeo e das condiccedilotildees

sociais em que elas surgem - ideacuteia tambeacutem compartilhada por Kedrov (1974) Eacute na

sociedade portanto que se desenvolve o pensamento classificatoacuterio Nesse sentido

as primeiras categorias sobre as quais se fundamentam as classificaccedilotildees satildeo

categorias sociais - satildeo elas que presidem a reparticcedilatildeo loacutegica das coisas Durkheim

(1973) parte das categorias aristoteacutelicas do entendimento humano - noccedilotildees de

14 David Eacutemile Durkhein (1858-1917) pensador francecircs considerado o fundador da Sociologia como ciecircncia independente (1887) foi muito influenciado pelas ideacuteias do psicoacutelogo Wilhelm Wundt Fundou o perioacutedico LAnneacutee Sociologique (1896) 15 Marcel Mauss (1872-1950) socioacutelogo e antropoacutelogo francecircs considerado o pai da Antropologia francesa Sobrinho de Durkheim Mauss fundou o Instituto de Etnologia da Universidade de Paris (1925) Sucedeu o tio como editor da revista LAnneacutee Sociologique (1898-1913)

26

tempo de espaccedilo de gecircnero de nuacutemero de causa de substacircncia de

personalidade entre outras as quais devem estar presentes em qualquer sociedade

uma vez que constituem os fundamentos do conhecimento isto eacute os sentimentos

as emoccedilotildees os juiacutezos os valores e enfim tudo aquilo que condiciona qualquer

pensamento ou representaccedilatildeo relativamente agrave vida humana

Leacutevi-Strauss16 (1976) que criou no seacuteculo XX as teses da moderna

Antropologia sustenta um posicionamento similar ao salientar o caraacuteter ao mesmo

16 Claude Leacutevi-Strauss (1908 - aos 100 anos em novembro de 2008 permanece na ativa) antropoacutelogo e filoacutesofo belga que ultrapassa fronteiras disciplinares e desfaz barreiras entre ciecircncias e artes aplicando o meacutetodo estruturalista (com base no pensamento linguiacutestico de Saussure) a todas as manifestaccedilotildees ou fenocircmenos culturais Segundo Carvalho (2008) o conceito de estrutura reorganiza o mundo dos acontecimentos a ordem vivida os processos histoacutericos que satildeo propriedade do real Os homens natildeo percebem esses processos mantendo-os recalcados e inconscientes Essa estrutura tem duas faces razatildeo e sensibilidade como Jano (deus do panteatildeo romano que eacute representado por dois rostos em oposiccedilatildeo um que olha para frente outro para traacutes) Assim por mais que se queira fragmentar a existecircncia ela resiste e busca rejuntar os seus pedaccedilos religar propor novos sentidos agrave realidade Os mitos (linguagens da imaginaccedilatildeo) solucionam contradiccedilotildees invertem a relaccedilatildeo natureza-cultura e a sequecircncia presente-passado-futuro Leacutevi-Strauss (apud CARVALHO 2008) afirma que ldquoos mitos sempre querem dizer a mesma coisa Natildeo satildeo especiacuteficos de nenhuma sociedade dessa ou daquela populaccedilatildeo Satildeo respostas irocircnicas ou desencantadas para problemas intemporais Constituem portanto patrimocircnio universal da culturardquo A inspiraccedilatildeo de Leacutevi-Strauss para as estruturas veio da linguiacutestica Para Leacutevi-Strauss as sociedades organizam-se como se fossem frases ou modos de falar que podem ser diferentes entre si mas obedecem a um mesmo coacutedigo ou sistema universal Essa concepccedilatildeo foi revolucionaacuteria pois rompia para sempre a tradicional dicotomia entre natureza e cultura O estruturalismo refutou a oposiccedilatildeo entre esses termos ao mostrar como a cultura eacute uma produccedilatildeo - e natildeo uma negaccedilatildeo - da natureza Leacutevi-Strauss ensinou Sociologia na Universidade de Satildeo Paulo de 1934 a 1937 e entre 1938 e 1939 empreendeu uma expediccedilatildeo pelo interior do Brasil (como integrante da missatildeo francesa) visitando grupos indiacutegenas Obras importantes As Estruturas Elementares do Parentesco (1949) A Vida Familiar e Social dos Iacutendios Nhambiquara (1948) Raccedila e Histoacuteria (1952) Tristes Troacutepicos (1955) Antropologia Estrutural (1958) O Totemismo Hoje (1962) O Pensamento Selvagem (1962) O Cru e o Cozido (1964) Do Mel agraves Cinzas (1967) As Origens das Maneiras agrave Mesa (1968) e O Homem Nu (1971) (MAZIP 2001 p 334-336) Nos anos 1960 o estruturalismo tornou-se um modismo global com adeptos em outras aacutereas do conhecimento como o psicanalista Jacques Lacan o socioacutelogo Louis Althusser e o criacutetico literaacuterio Roland Barthes Mas o clima de contestaccedilatildeo generalizada que marcou aqueles anos culminando com o movimento estudantil de maio de 1968 na Franccedila atingiu tambeacutem a onda estruturalista Jovens pensadores entre eles o filoacutesofo e historiador Michel Foucault abandonaram os seus viacutenculos com essa linha de pensamento questionando o determinismo das estruturas e tambeacutem a possibilidade de estudaacute-las com o distanciamento e a objetividade exigida por seus adeptos Na Antropologia a corrente poacutes-estruturalista critica a propensatildeo do estruturalismo para as generalizaccedilotildees em detrimento do conhecimento das especificidades

27

tempo socioloacutegico e relativo das classificaccedilotildees na obra La Penseacutee Sauvage17 (O

Pensamento Selvagem) na qual analisa o processo classificatoacuterio (totemismo) do

chamado homem primitivo Considera que a classificaccedilatildeo do homem primitivo natildeo eacute

hieraacuterquica18 como satildeo os modelos classificatoacuterios do pensamento ocidental (embora

tenha uma estrutura vertical que liga o geral ao especiacutefico e o abstrato ao concreto)

Observa que a loacutegica que rege a vida e o pensamento das sociedades primitivas eacute a

que implica um sistema de oposiccedilatildeo (altobaixo ceacuteuterra dianoite pazguerra)

operando por pares de contrastes - estrutura dualista impliacutecita em todos os grupos

humanos ainda que natildeo explicitamente formulada - exigindo a separaccedilatildeo dos

diferentes e natildeo a subordinaccedilatildeo Propotildee como modelo de pensamento o pensamento

no estado selvagem - aquele natildeo cultivado ou domesticado que possibilita o ponto de

vista do sentido19 a teoria do sensiacutevel - confirmando a sua ideacuteia de inviabilidade e

artificialidade dos sistemas classificatoacuterios vigentes na sociedade ocidental que estariam

carregados de sistemas de valores e estruturariam a realidade de modo inconsistente e

artificial como a hieraacuterquica e se reportariam a um esquema e classificaccedilatildeo da

realidade em nuacutemero finito e limitado de classes Adverte que o modo de pensar na

modernidade eacute totalizante e almeja esgotar o real por meio de classes dadas em

nuacutemero finito e nesse sentido as classificaccedilotildees ao filtrar e aprisionar o real acabam

prolongando essa accedilatildeo ateacute alcanccedilar um niacutevel depois do qual natildeo eacute possiacutevel classificar

senatildeo soacute nomear (LEVI-STRAUSS 1976 cap 7)

Com efeito os sistemas classificatoacuterios situam-se em niacutevel de linguagem

poreacutem satildeo coacutedigos criados e definidos com o objetivo de sempre expressar sentido

Resultam da estruturaccedilatildeo da realidade (no tempo e no espaccedilo) elaborada de modo

artificial com objetivos (teoacutericos praacuteticos e teoacuterico-praacuteticos) determinados

17 A partir dessa obra publicada em 1962 com a intenccedilatildeo de fazer uma ldquoontologia da classificaccedilatildeordquo - compreender e esclarecer o processo classificatoacuterio em sociedade - Leacutevi-Strauss propotildee o estudo da Psicologia Infantil como maneira de verificar como as crianccedilas adquirem a habilidade de classificar 18 As classificaccedilotildees hieraacuterquicas de inclusatildeo ou subordinaccedilatildeo que introduzem um sistema de valores na proacutepria classificaccedilatildeo provecircm das classificaccedilotildees filosoacuteficas e das classificaccedilotildees bibliograacuteficas do seacuteculo XIX que estatildeo embasadas em princiacutepios empiacutericos ou de utilidade e satildeo testadas e avaliadas somente por sua praticidade e aplicabilidade 19 Na terminologia de Leacutevi-Strauss conceito eacute ideacuteia substancial matizada por nove categorias qualidade quantidade relaccedilatildeo accedilatildeo paixatildeo lugar tempo posiccedilatildeo e haacutebito (MAZIP 2001 p 336)

28

Piaget20 em suas pesquisas psicoloacutegicas e epistemoloacutegicas a respeito da

existecircncia de uma classificaccedilatildeo das coisas constata que a mente humana natildeo

possui um modelo preacute-fabricado da realidade e observa que o modelo acaba sendo

o senso comum21 a opiniatildeo puacuteblica (opiniotildees compartilhadas com outros seres

humanos) ou seja tanto a classificaccedilatildeo como o mundo real satildeo construccedilotildees

Piaget observa que no curso do desenvolvimento cognitivo nos primeiros

meses de vida a crianccedila estabelece relaccedilotildees cognitivas bem como adquire a

habilidade de classificar por intermeacutedio da matildee Soacute quando a crianccedila se torna capaz

de aplicar uma loacutegica elementar a vaacuterios domiacutenios de conhecimento (entre seis e

nove anos aproximadamente) eacute que ela adquire um pensamento loacutegico-formal Em uma crianccedila de mais de sete anos que ordena espontaneamente cartotildees de formas e de cores diferentes pode-se observar que ela realiza simultaneamente agrave classificaccedilotildees e seriaccedilotildees Ela reuacutene [] os cartotildees de mesma forma e de mesma cor ordenando-os em ordem de grandeza Uma dessas operaccedilotildees implica entatildeo a outra (MONTANGERO MAURICE-NAVILLE 1998 p 199)

A partir dessa idade a crianccedila procede a uma classificaccedilatildeo coordenada em

um sistema conjunto e as relaccedilotildees estabelecidas - que satildeo a base da classificaccedilatildeo -

estaratildeo todas elas impregnadas de valor pois eacute a loacutegica que dota a classificaccedilatildeo

de fatores tais como reuniatildeo ordenaccedilatildeo inclusatildeo exclusatildeo interseccedilatildeo e

complementaridade por exemplo entre outros

Segundo Montangero e Maurice-Naville (1998 p 199) em seu uacuteltimo trabalho

com Garcia22 Piaget propunha-se a elaborar uma loacutegica das significaccedilotildees definindo

ou considerando a princiacutepio a noccedilatildeo de significaccedilatildeo como o instrumento da

compreensatildeo por oposiccedilatildeo agrave extensatildeo de classes e subclasses O autor analisa as

significaccedilotildees em vaacuterios niacuteveis os dos predicados os dos objetos os das accedilotildees e

operaccedilotildees e os dos enunciados As significaccedilotildees dos predicados ou propriedades

de um mesmo objeto satildeo ligadas entre si e satildeo esses predicados conjuntos que

constituem o objeto

20 Jean Piaget (1896-1980) filoacutesofo e psicoacutelogo suiacuteccedilo adepto da filosofia psicoloacutegica e do positivismo loacutegico em sua teoria psicogeneacutetica (a mais conhecida concepccedilatildeo construtivista da formaccedilatildeo da inteligecircncia) explica como o indiviacuteduo desde o seu nascimento constroacutei o conhecimento (MAZIP 2001 p 373) 21 O que acaba acarretando dificuldades principalmente no trato das chamadas Ciecircncias Sociais pois como diz Piaget (1967 p 24) a Sociologia tal como a Psicologia tem ldquoo triste privileacutegio de tratar de mateacuterias de que todos se julgam competentesrdquo 22 PIAGET J GARCIA R Vers une logique des significations Genegraveve Murionde 1987

29

Quanto agrave significaccedilatildeo do objeto Piaget reconhece que ela eacute aquilo que se pode

fazer (rolaacute-lo balanccedilaacute-lo submetecirc-lo a caacutelculos etc) e aquilo que lhe confere os seus

predicados ou qualidades (reconstituiccedilotildees e relaccedilotildees estabelecidas pelo sujeito)

Portanto as significaccedilotildees satildeo constituiacutedas por seu resultado e datildeo lugar a inferecircncias

suscetiacuteveis de verdade ou de falsidade ou seja a uma loacutegica das significaccedilotildees

Segundo Piaget o emprego de toda significaccedilatildeo supotildee a noccedilatildeo de certas

implicaccedilotildees e conduz a essas Diversos elementos podem ser ligados pelas

implicaccedilotildees significantes os predicados por exemplo as propriedades de um mesmo

objeto (pesado e preto) uma propriedade do objeto e um esquema (suspenso e

desencadear um balanccedilo) uma accedilatildeo e o seu resultado ou ainda duas accedilotildees entre si

(colocar dentro e retirar) e enfim duas operaccedilotildees ou dois enunciados

A noccedilatildeo de implicaccedilatildeo significante eacute desenvolvida pela primeira vez em Fazer

e Compreender23 Nesse trabalho Piaget formula a hipoacutetese de que o caraacuteter mais

geral dos estados conscientes desde as tomadas de consciecircncia elementares -

ligadas aos objetivos e resultados das accedilotildees - ateacute as conceituaccedilotildees de niacuteveis

superiores eacute o de exprimir significaccedilotildees e ligaacute-las por um modo de conexatildeo

chamado implicaccedilatildeo significante Esse termo significante natildeo leva a uma distinccedilatildeo

saussuriana entre significante (forma do signo) e significado (conteuacutedo cognitivo) ele

quer dizer que a implicaccedilatildeo em jogo liga duas significaccedilotildees e as enriquece por esse

fato (o fato de ser uma ligaccedilatildeo fundamental) Piaget ao fazer da crianccedila o seu

objeto de investigaccedilatildeo e constatar que o ceacuterebro humano carece de um modelo de

realidade com o qual comparar experiecircncias demonstra (na praacutetica) que

classificaccedilotildees satildeo construtos

Considerando-se as ponderaccedilotildees anteriores pode-se dizer que toda

classificaccedilatildeo seja ela classificaccedilatildeo filosoacutefica seja ela classificaccedilatildeo bibliograacutefica

parte de uma abstraccedilatildeo24 e eacute unicamente uma operaccedilatildeo de simplificaccedilatildeo e

relativizaccedilatildeo Essa relatividade que alguns autores como Foucault chamam de

arbitrariedade25 estaacute impliacutecita em toda operaccedilatildeo mental e em todo o acircmbito da

23 PIAGET J Reacuteussir et comprendre Paris PUF 1974 24 O termo abstraccedilatildeo vem do verbo abstrair que significa separar pelo pensamento A abstraccedilatildeo consiste em separar qualidades quantidades propriedades que existem nas coisas singulares percebidas e organizaacute-las em ideacuteias gerais que natildeo possuem objetos determinados 25 Para efeito deste estudo arbitraacuterio tem sentido de natildeo ser absoluto de ser independente de lei ou regra o que implica uma possibilidade de escolha

30

linguagem pois as classificaccedilotildees satildeo condicionadas por certo ponto de vista e certo

objetivo o que determina o seu caraacuteter de relatividade Os sistemas de classificaccedilatildeo

reproduzem as estruturas soacuteciopoliacuteticas-econocircmicas-culturais do universo do qual

fazem parte e participam da mesma loacutegica herdada da Antiguidade que as

determina26

Cabe concordar com Grolier (1982 p 19) quando afirma que a classificaccedilatildeo eacute

um artefato cultural que depende natildeo somente dos paracircmetros culturais mas

tambeacutem dos poliacuteticos dos econocircmicos e das condiccedilotildees sociais entre outros

A partir desses postulados eacute possiacutevel perceber as limitaccedilotildees inerentes agraves

classificaccedilotildees e considerar a organizaccedilatildeo do conhecimento como um construto tanto

artificial (aquele que se constroacutei se combina na reflexatildeo epistemoloacutegica que tem

acompanhado o desenvolvimento das ciecircncias) como tambeacutem um construto natural

(aquele que se assume naturalmente pertencente ao senso comum ao conhecimento

vulgar)

Dahlberg (1993 p 1) observa que o sentido que se daacute ao novo conceito de

organizaccedilatildeo do conhecimento proveacutem do conceito de classificaccedilatildeo das ciecircncias No

acircmbito da Documentaccedilatildeo o termo classificaccedilatildeo tende a cair em desuso ele foi

substituiacutedo por organizaccedilatildeo do conhecimento jaacute que esse apresenta maior

amplitude temaacutetica Pode-se apreciar essa mudanccedila em 1992 no perioacutedico

International Classification (fundado em 1974) e sua nova denominaccedilatildeo Knowledge

Organization (KO) Nota-se que a essecircncia dos conceitos de organizaccedilatildeo do

conhecimento e classificaccedilatildeo das ciecircncias natildeo foi alterada O que ocorreu foi uma

mudanccedila de nome uma escolha lexical uma ampliaccedilatildeo do escopo mas natildeo uma

alteraccedilatildeo de objetivos Segundo Tennis (2008 p 103) a organizaccedilatildeo do

conhecimento eacute o campo de pesquisa interessado no design estudo e criacutetica dos

processos de organizaccedilatildeo e representaccedilatildeo de documentos que a sociedade

percebe como dignos de preservaccedilatildeo

A relaccedilatildeo do homem com o conhecimento experimentada desde a Segunda

Guerra Mundial (explosatildeo documentaacuteria) e sobretudo depois dos anos 1970

(informatizaccedilatildeo) eacute radicalmente nova Migrou-se da aplicaccedilatildeo de saberes estaacuteveis

que constituiacuteam um segundo plano de atividade para a aprendizagem permanente

26 Cf Foucault na subseccedilatildeo 323

31

contiacutenua de um conhecimento que passou a se projetar em primeiro plano exigindo

maior adequaccedilatildeo agilidade exatidatildeo e facilidade dos sistemas de classificaccedilatildeo

bibliograacutefica e melhores soluccedilotildees pragmaacuteticas para resolver problemas praacuteticos

complexos em termos teoacutericos e conceituais simples Os pesquisadores e

estudiosos da organizaccedilatildeo do conhecimento que privilegiam uma instacircncia

epistecircmica pragmaacutetica tecircm dado explicaccedilotildees opostas agraves daqueles que privilegiam

uma instacircncia racionalista sobre o significado da realidade e como se procede para

conhececirc-la (TENNIS 2008 p 103) Conveacutem fazer referecircncia ao entendimento de

epistemologia que para Tennis (2008 p 103) eacute ldquocomo noacutes conhecemosrdquo Ela eacute uma

ferramenta usada para apresentar uma criacutetica ao senso comum e para saber o que

estaacute presente na classificaccedilatildeo indexaccedilatildeo e outros sistemas de organizaccedilatildeo do

conhecimento Em organizaccedilatildeo do conhecimento a visatildeo de realidade eacute ditada pela

instacircncia epistecircmica (pragmaacutetica positivista empirista racionalista realista etc) que

reflete pressupostos sobre linguagem e expressa a espeacutecie de conhecimento que

pode ser criado como esse conhecimento pode ser reunido e como pode ser

apresentado A instacircncia que ainda prevalece e que pode se chamar de enfoque do

senso comum para linguagem e representaccedilatildeo do conhecimento obscurece a

complexidade e a variedade presente na representaccedilatildeo e ordenaccedilatildeo do

conhecimento No caso da organizaccedilatildeo do conhecimento existe preocupaccedilatildeo com

instacircncias epistecircmicas isto eacute como trabalhar em harmonia com as nossas

concepccedilotildees de realidade e o que elas significam comparando-as com outras

concepccedilotildees e significados

Ateacute este ponto de maneira ainda preliminar trata-se das classificaccedilotildees que

por ora aguardando a discussatildeo posterior satildeo associadas a um conceito muitas

vezes intuitivo de reuniatildeo Como exemplo no que pode ser caracterizado como um

racionalismo pragmaacutetico cita-se Ranganathan ao afirmar que todas as categorias de

assuntos podem ser reduzidas a cinco Ranganathan projeta um esquema (de modo

racionalista) firmemente postulado em categorias vinculando o status ontoloacutegico do

seu PMEST a um status pragmaacutetico (embasado sobre um propoacutesito uacutetil e natildeo sobre

um realismo racional) (TENNIS 2008 p 108) Segundo Rorty27 (1982 1999 apud

TENNIS 2008 p 108) a instacircncia da qual fala Ranganathan natildeo eacute uma instacircncia

27 RORTY R Consequences of pragmatism Minneapolis University of Minesota Press 1982 RORTY R Philosophy and social hope New York Penguin Books 1999

32

estritamente racionalista poreacutem praacutetica se natildeo uma instacircncia epistecircmica neo-

pragmaacutetica aquela que estaacute preocupada com a utilidade (ldquojuiacutezo finalrdquo para

Ranganathan) e menos com a realidade ou a verdade Hjoslashrland (2003) tem se

dedicado a identificar escolas de pensamento epistecircmico em organizaccedilatildeo do

conhecimento No que diz respeito agraves classificaccedilotildees bibliograacuteficas considera como

sendo representantes do Racionalismo as anaacutelises facetadas construiacutedas sobre

divisotildees loacutegicas e lsquoeternas e imutaacuteveis categoriasrsquo como por exemplo

Ranganathan Bliss2 entre outras De acordo com Miksa (1980) a CDD tem

ampliado o uso desse enfoque Como representante do Historicismo os sistemas

embasados no desenvolvimento do conhecimento como por exemplo a CDD que

distribui assuntos por disciplinas Como representante do Pragmatismo os sistemas

embasados na lsquogarantia culturalrsquo ou lsquoclassificaccedilatildeo criacuteticarsquo como por exemplo a

classificaccedilatildeo dos enciclopedistas franceses a dos marxistas entre outros

Nos anos 1980 associada ao termo globalizaccedilatildeo surge a expressatildeo

sociedade da informaccedilatildeo para descrever o estaacutegio de uma sociedade poacutes-industrial

ligada a tecnologias emergentes da microeletrocircnica e da telecomunicaccedilatildeo com o

objetivo de processar reunir e transferir dados

A Unesco em Relatoacuterio de 2005 preocupada em diferenciar os conceitos de

sociedade da informaccedilatildeo e sociedade do conhecimento alerta que a Sociedade da

Informaccedilatildeo eacute aquela limitada com base apenas em avanccedilos tecnoloacutegicos ininterruptos

que satildeo responsaacuteveis por uma massa de dados indistintos para aqueles que natildeo tecircm

as competecircncias necessaacuterias para beneficiarem-se dessas informaccedilotildees Jaacute a

Sociedade do Conhecimento eacute aquela que contribui para o bem-estar e a realizaccedilatildeo

dos indiviacuteduos e das comunidades pois tem dimensotildees culturais eacuteticas e poliacuteticas

Portanto deve-se encorajar o desenvolvimento da Sociedade do Conhecimento

garantindo acesso agrave informaccedilatildeo28 e liberdade de expressatildeo para todos De acordo com

Barreto (2005) ldquoa Sociedade da Informaccedilatildeo eacute uma utopia de realizaccedilatildeo tecnoloacutegica a

do Conhecimento eacute uma esperanccedila de realizaccedilatildeo do saberrdquo Entretanto a utopia se

encontra em ambas as sociedades mas nesta pesquisa privilegia-se a Sociedade do

Conhecimento e a consequente organizaccedilatildeo do conhecimento na ldquoesperanccedila de

realizaccedilatildeo do saberrdquo segundo as palavras de Barreto

28 De acordo com o Relatoacuterio somente 11 da populaccedilatildeo mundial tem acesso a internet e 90 dos conectados vivem em paiacuteses industrializados (UNESCO 2005)

33

De acordo com o pensamento de Pombo (2006) toda classificaccedilatildeo das

ciecircncias apresenta algumas caracteriacutesticas gerais

a) supotildee um agente classificador (filoacutesofo cientista epistemoacutelogo educador

enciclopedista tal como Platatildeo Aristoacuteteles Cassiodoro Huarte Bacon

Hegel Ampegravere Comte Spencer Wundt)

b) supotildee um princiacutepio de classificaccedilatildeo que poderaacute ser o fim a que as

ciecircncias se propotildeem (Aristoacuteteles) a ordem histoacuterica da sua constituiccedilatildeo e

progressiva diferenciaccedilatildeo (Comte) a natureza dos objetos estudados

(Ampegravere) as faculdades humanas mobilizadas (Huarte Bacon Diderot e

drsquoAlembert)

c) persegue um objetivo teoacuterico-praacutetico que acaba por determinar a sua

estrutura indo do puro interesse especulativo (Platatildeo Aristoacuteteles) agrave

determinaccedilatildeo de um programa de estudos (Cassiodoro) agrave orientaccedilatildeo

normativa da atividade cientiacutefica (Huarte Bacon Comte) ateacute mesmo agrave

organizaccedilatildeo de uma enciclopeacutedia (Diderot e drsquoAlembert) ou agrave organizaccedilatildeo

de uma biblioteca (Leibniz)

d) eacute exercida sobre um conjunto finito de elementos a totalidade das ciecircncias

constituiacutedas numa determinada eacutepoca ou nela jaacute previsiacuteveis (Comte

Spencer Wundt) No entanto algumas preveem mecanismos de abertura

a ciecircncias ainda natildeo constituiacutedas (Ampegravere)

e) eacute aplicada sobre um domiacutenio da realidade (estrutura preacute-existente) e

constroacutei-se no contexto das classificaccedilotildees anteriores do mesmo domiacutenio

ou seja integra-se na histoacuteria das classificaccedilotildees das ciecircncias ao longo da

qual os domiacutenios e as divisotildees podem ser modificados ou completados e

novos criteacuterios de classificaccedilatildeo podem ser acrescentados

f) conta com um esquema concreto que permite a execuccedilatildeo das operaccedilotildees

necessaacuterias agrave classificaccedilatildeo tanto em termos da constituiccedilatildeo de uma

nomenclatura adequada aos diferentes arranjos disciplinares propostos

(Ampegravere) como em termos da produccedilatildeo de sistemas diagramaacuteticos de

articulaccedilatildeo das ciecircncias sendo que esses sistemas podem apresentar-se

como uma estrutura hieraacuterquica uma aacutervore um quadro sistemaacutetico uma

figura geomeacutetrica entre outros

Com relaccedilatildeo aos tipos fundamentais de classificaccedilatildeo Pombo (2006) distingue

a) as que se baseiam em uma lei elementar da loacutegica - a dicotomia -

34

quer dizer na presenccedila ou ausecircncia de uma determinada

propriedade que permite distinguir conjuntos de objetos de seres ou

de ideacuteias que tecircm uma caracteriacutestica comum (utilizam um meacutetodo

classificatoacuterio em que cada uma das divisotildees natildeo conteacutem mais de

dois termos - distinguindo entre o elemento positivo e o negativo - e

cuja criaccedilatildeo se deve a Aristoacuteteles)

b) as que se baseiam em uma propriedade ou qualidade designada

como diferenccedila especiacutefica ou caracteriacutestica de divisatildeo (utilizam um

meacutetodo classificatoacuterio em que cada uma das divisotildees pode gerar

subdivisotildees sucessivas que se movem do geral para o especiacutefico

desconsiderando o princiacutepio de oposiccedilatildeo que se pode chamar de

conjuntos subordinados29 tambeacutem cada divisatildeo resultante da

aplicaccedilatildeo de uma soacute caracteriacutestica pode conter inuacutemeros conjuntos

que se pode chamar de conjuntos coordenados30)

Um exemplar das classificaccedilotildees que se baseiam em uma lei elementar da

loacutegica a dicotomia - uma primeira representaccedilatildeo arborescente31 da ideacuteia de

classificaccedilatildeo - foi apresentada pela primeira vez por Porfiacuterio32 que utilizou o

princiacutepio de oposiccedilatildeo de Platatildeo e de Aristoacuteteles ao escrever a sua ceacutelebre

introduccedilatildeo (Eisagoge) de caraacuteter pedagoacutegico agrave loacutegica de Aristoacuteteles A obra

Introductio in Praedicamenta (Introduccedilatildeo agraves Categorias) - nome da traduccedilatildeo latina

feita por Boeacutecio (475480-524) o seu principal tradutor e comentador - sistematiza a

noccedilatildeo de espeacutecie dentro da classificaccedilatildeo aristoteacutelica de gecircnero Descreve cinco

princiacutepios filosoacuteficos interligados por uma loacutegica de sucessiva subordinaccedilatildeo numa

verdadeira aacutervore taxonocircmica (os princiacutepios orientam as subdivisotildees das

29 Exemplo (PIEDADE 1983 p 27) Ciecircncias Puras Matemaacutetica Aritmeacutetica Nuacutemeros Decimais 30 Exemplo (PIEDADE 1983 p 27) Ciecircncias Puras Matemaacutetica Fiacutesica Quiacutemica Botacircnica Zoologia 31 Ainda que como observa Umberto Eco (1983 p 63 apud POMBO 2006) a Eisagoge de Porfiacuterio natildeo recorra a qualquer representaccedilatildeo icocircnica ela sugere claramente a imagem de aacutervore (ECO U LrsquoAntiporfirio In VATTIMO G ROVATTI P (Ed) Il pensiero debole Milano Feltrinelli 1983 p 52-80) 32 Porfiacuterio (234-310) filoacutesofo neoplatocircnico o disciacutepulo mais importante do filoacutesofo romano Plotino (204-270) foi quem consolidou seis seacuteculos depois de Aristoacuteteles (384-322 aC) os princiacutepios loacutegicos da classificaccedilatildeo de Aristoacuteteles e desempenhou um papel preponderante na evoluccedilatildeo do pensamento no fim da Antiguidade e durante toda Idade Meacutedia Entre as obras mais importantes que chegaram aos nossos dias estatildeo as Eneacuteadas (301) e Eisagoge (MAZIP 2001 p 88-89)

35

classificaccedilotildees filosoacuteficas cientiacuteficas e parcialmente as classificaccedilotildees bibliograacuteficas)

denominados predicaacuteveis ou categoremas 1 Geacutenero (grego geacutenos latim genus) 2

Espeacutecie (grego eicircdos latim species) 3 Diferenccedila (grego diaphoraacute latim differentia)

4 Propriedade ou Proacuteprio (grego iacutedion latim proprium) e 5 Acidente (grego

symbebekoacutes latim accidens)

Piedade (1983 p 23-24) esclarece que Gecircnero eacute um conjunto de coisas ou ideacuteias que podem ser divididas em dois ou mais grupos ou espeacutecies Espeacutecies satildeo os vaacuterios grupos resultantes da divisatildeo de um gecircnero por determinada caracteriacutestica [] Diferenccedila eacute a qualidade que distingue as espeacutecies qualidade ou atributo que somado aos proacuteprios do gecircnero distingue as espeacutecies [] Propriedade ou proacuteprio eacute a qualidade comum a todos os membros de um gecircnero poreacutem que natildeo lhes eacute exclusiva [] Acidente eacute uma qualidade que pode ou natildeo se manifestar nos vaacuterios membros de um mesmo gecircnero e aparece acidentalmente

Complementando pode-se dizer o seguinte

a) gecircnero eacute todo grupo ou conjunto inicial de objetos que se dividem em

subgrupos subconjuntos ou espeacutecies o grupo mais amplo a que o

sujeito pode pertencer o conjunto de objetos que possuem um

determinado nuacutemero de caracteriacutesticas em comum (o homem pertence

ao gecircnero animal e uma rosa ao gecircnero vegetal) e que satildeo divisiacuteveis

em dois ou mais grupos ou espeacutecies de acordo com a presenccedila ou

ausecircncia de certas caracteriacutesticas

b) espeacutecie acrescentada por Porfiacuterio aos predicaacuteveis de Aristoacuteteles satildeo

grupos ou conjuntos derivados ou subgrupos subconjuntos resultantes

da divisatildeo de um gecircnero por determinada caracteriacutestica e constitui a

siacutentese do gecircnero e da diferenccedila (o homem eacute um animal racional)

possui uma diferenccedila que a distingue de seu gecircnero proacuteximo ou seja o

irracional

c) diferenccedila eacute a caracteriacutestica que atribuiacuteda ao gecircnero permite situar o

sujeito relativamente aos subgrupos ou subconjuntos em que se divide

o gecircnero eacute a qualidade que outros natildeo possuem (o homem eacute um

animal racional pertence portanto ao gecircnero animal mas o fato de

pensar o distingue especificamente dos demais animais)

36

d) proacuteprio ou propriedade e acidente satildeo atributos que natildeo fazem parte da

essecircncia do sujeito pois natildeo dizem o que ele eacute todavia o proacuteprio

guarda em relaccedilatildeo agravequela essecircncia uma dependecircncia necessaacuteria eacute a

qualidade comum a todos os membros de um gecircnero ainda que natildeo

exclusiva (ldquoo riso eacute proacuteprio do homemrdquo - o riso eacute inerente ao conceito de

homem Todos os homens riem mas natildeo soacute os homens alguns animais

tambeacutem ldquoriemrdquo) jaacute o acidente pode ou natildeo pertencer ao sujeito pode ou

natildeo se manifestar nos vaacuterios membros de um mesmo gecircnero ligando-

se a eles de modo acidental contingente natildeo proacuteprio e podendo ser

afirmado de outros tipos de sujeitos (ldquohomem de estatura altardquo - a altura

pode ou natildeo estar presente no conceito de homem Todos os homens

possuem estatura mas soacute alguns satildeo altos)

O interessante da classificaccedilatildeo dicotocircmica eacute que uma ideacuteia pode funcionar

como gecircnero ou como espeacutecie e ainda como gecircnero e espeacutecie dependendo do seu

lugar na hierarquia da divisatildeo Daiacute as denominaccedilotildees summum genus (gecircnero

supremo) para o primeiro gecircnero e infima species (espeacutecie inferior) para a uacuteltima

subdivisatildeo

A partir da Eisagoge e em ligaccedilatildeo estrita com a visatildeo de Porfiacuterio dos

conceitos de Aristoacuteteles foi produzida na Idade Meacutedia europeacuteia uma construccedilatildeo

metafoacuterica conhecida por aacutervore de Porfiacuterio (arbol porphyriana) que ilustra a sua

classificaccedilatildeo loacutegica da substacircncia Nela os conceitos de Porfiacuterio satildeo apresentados

como subordinando-se logicamente partindo do geral ao particular da maior

extensatildeo agrave maior compreensatildeo O texto teve uma profunda influecircncia na Filosofia

medieval europeacuteia transformou-se num texto obrigatoacuterio nas escolas e

universidades medievais como manual de introduccedilatildeo ao estudo da loacutegica

aristoteacutelica e inspirou diversos filoacutesofos medievais como Pedro Abelardo Tomaacutes de

Aquino e Guilherme de Ockham e diversas obras com o nome Isagoge chegando

mesmo a designar genericamente a introduccedilatildeo ao estudo da filosofia aristoteacutelica A

arbol porphyriana deu iniacutecio ao nominalismo que animou a Filosofia Medieval por

dez seacuteculos (de 476 a 1492) originando diversas representaccedilotildees arborescentes33 e

eacute uma espeacutecie de antecessora das classificaccedilotildees dos seres - das modernas

classificaccedilotildees taxonocircmicas No que concerne agrave classificaccedilatildeo das ciecircncias - saberes

33 Toda a classificaccedilatildeo arborescente eacute redutiacutevel agrave dicotomia

37

a aacutervore de Porfiacuterio daacute origem a classificaccedilotildees fortemente dicotocircmicas (Ampegravere)

Grosso modo ela pode ser assim esquematizada

Substacircncia - Pode ser corpoacuterea ou incorpoacuterea

Corpo (substacircncia corpoacuterea) - Pode ser animado ou inanimado

Vivente (corpo animado) - Pode ser sensiacutevel ou natildeo sensiacutevel

Animal (vivente sensiacutevel) - Pode ser racional ou irracional

Racional (animal racional) - Ser humano o homem e suas

variedades Soacutecrates Platatildeo Aristoacuteteles entre outros

A aacutervore de Porfiacuterio apresenta de modo didaacutetico a relaccedilatildeo entre gecircnero e

espeacutecie no entanto eacute um modelo insuficiente quanto aos princiacutepios de construccedilatildeo

da classificaccedilatildeo porque embora ele demonstre o mecanismo da passagem do

gecircnero agrave espeacutecie natildeo mostra o processo de divisatildeo da espeacutecie ou seja ignora as

relaccedilotildees entre as espeacutecies34 e natildeo expliciacuteta o criteacuterio utilizado na divisatildeo - o que

acabou gerando nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas sistemas rigorosamente

enumerativos e nominalistas

A classificaccedilatildeo parte de um gecircnero substacircncia por exemplo e verticaliza

sucessivamente de acordo com a presenccedila ou natildeo das caracteriacutesticas tomadas

como base de divisatildeo corpo vida razatildeo homem ateacute chegar a um conceito

individual como Platatildeo

A arbor porphyriana era utilizada como ferramenta conceitual na discussatildeo de

problemas filosoacuteficos para os quais era uacutetil o recurso a uma estruturaccedilatildeo

hierarquizada de conceitos tais como na discussatildeo da hierarquia de conceitos em

seus aspectos epistemoloacutegicos e ontoloacutegicos

Quanto agraves classificaccedilotildees com base na diferenccedila especiacutefica ou caracteriacutestica de

divisatildeo a dificuldade eacute proporcional ao nuacutemero de possibilidades de classificar que

eacute condizente com o nuacutemero de caracteriacutesticas possiacuteveis de serem empregadas

como base da divisatildeo ou seja das inuacutemeras propriedades que podem

desempenhar a funccedilatildeo de diferenccedila especiacutefica A escolha de uma ou outra

34 Os antigos consideravam a divisatildeo dicotocircmica - que nada mais eacute que um caso particular de divisatildeo classificatoacuteria - como a uacutenica divisatildeo pura do ponto de vista loacutegico e com certeza foi sobre esse tipo de divisatildeo que estabeleceram as suas teorias Simplificaram assim o seu trabalho e puderam negligenciar o problema das relaccedilotildees entre os conjuntos derivados ou espeacutecies quer dizer entre aqueles subgrupos subconjuntos ou espeacutecies que derivam de um mesmo gecircnero inicial e natildeo fizeram avanccedilar o conhecimento nessa aacuterea que permaneceu ateacute o seacuteculo XVIII como no tempo de Aristoacuteteles

38

propriedade resultaraacute em diferentes ordenaccedilotildees da realidade e consequentemente

na elaboraccedilatildeo de classificaccedilotildees sob pontos de vista diversos (PIEDADE 1983

POMBO 2006)

Uma vez que a classificaccedilatildeo se faz a partir da reuniatildeo das semelhanccedilas

existentes entre as realidades (objetos ou ideacuteias) a classificar e que essa reuniatildeo

pode ser feita sob diferentes pontos de vista coloca-se a questatildeo da naturalidade ou

artificialidade (arbitrariedade) da classificaccedilatildeo Nas classificaccedilotildees naturais as

caracteriacutesticas ou propriedades que permitem a aproximaccedilatildeo satildeo inerentes

inseparaacuteveis do objeto ou ideacuteia a classificar (Animais Racionais em Homens e

Mulheres - caracteriacutestica o Sexo) enquanto nas classificaccedilotildees artificiais as

propriedades ou caracteriacutesticas seriam ocasionais acidentais e variaacuteveis (Homens

em Altos e Baixos - caracteriacutestica a Altura)

Segundo Piedade (1983 p 18) a classificaccedilatildeo artificial eacute uma classificaccedilatildeo

menos perene por se fundamentar em caracteriacutesticas superficiais que natildeo

representam relaccedilotildees verdadeiras enquanto a classificaccedilatildeo natural seraacute tatildeo mais

natural quanto maior for o nuacutemero das qualidades imutaacuteveis comuns aos membros

de suas classes

Importante ressaltar contudo que o mundo natural em razatildeo da sua

diversidade e permeabilidade natildeo cabe em estruturas classificatoacuterias

Segundo Pombo (2006 p 8) ldquono mundo da vida haacute uma plasticidade uma

diversidade um tecido excessivo de imperceptiacuteveis lsquonuancesrsquo que eacute irredutiacutevel ao frio

procedimento da divisatildeo em classesrdquo

Pode-se mesmo dizer que nenhuma classificaccedilatildeo natural eacute possiacutevel que

todas implicam algum tipo de artifiacutecio enredado em sua proacutepria base conceitual o

que significa estabelecer classes e suas respectivas fronteiras sem considerar as

nuances que ligam os saberes e os seres entre si

Essa questatildeo da naturalidade ou artificialidade da classificaccedilatildeo foi decisiva na

histoacuteria da classificaccedilatildeo em Histoacuteria Natural no seacuteculo XVIII ligada principalmente a

Lineu (Systema Naturae 1736 e Genera Plantarum 1737)35 e Buffon (Histoire

35 Obras em que Lineu defendia a constituiccedilatildeo de um sistema natural de classificaccedilatildeo das plantas fundado nas suas convicccedilotildees da existecircncia de formas imutaacuteveisestaacuteveis na natureza e nas ideacuteias (divisotildees loacutegicas) de classe gecircnero e espeacutecie para identificar caracteres essenciais

39

Naturelle 1749)36 e chegou agraves classificaccedilotildees pragmaacuteticas bibliograacuteficas no seacuteculo

XIX A sistemaacutetica naturalista mobilizou toda a histoacuteria da classificaccedilatildeo das ciecircncias

no seacuteculo XIX e filoacutesofos como Diderot37 Comte Ampegravere Peirce que

reconheceram o seu caraacuteter exemplar Tanto as classificaccedilotildees dos saberes quanto

as classificaccedilotildees dos seres satildeo classificaccedilotildees reais isto eacute apresentam em algum

grau um criteacuterio de naturalidade e enquanto tal natildeo escapam agraves irregularidades de

que soacute as classificaccedilotildees ideais estariam isentas segundo Pombo (2006 p 11)

Relativamente agraves classificaccedilotildees embasadas na caracteriacutestica ou princiacutepio de

divisatildeo deve-se empregar consistente e exaustivamente uma caracteriacutestica de cada

vez para subdividir todos os membros de uma classe ou categoria (saberes ou seres)

antes de aplicar outro princiacutepio de divisatildeo sejam elas classificaccedilotildees essencialistas

sejam morfoloacutegicas sejam geneacuteticas ou sejam pragmaacuteticas como segue

a) classificaccedilotildees essencialistas - tomam o indiviacuteduo como base do espaccedilo

classificatoacuterio (saberes procedimentos combinados de maneira a reunir os

caracteres comuns agraves diferentes ciecircncias por exemplo o fim a que se

propotildeem as ciecircncias em Aristoacuteteles seres determinam os caracteres

comuns aos elementos de uma mesma espeacutecie)

b) classificaccedilotildees estruturais ou morfoloacutegicas - captam a estrutura o plano

arquitetonico das relaccedilotildees (saberes procedimentos combinados de

modo estrutural tomando por base articulaccedilotildees ou determinaccedilotildees internas

agraves proacuteprias ciecircncias por exemplo as faculdades cognitivas que nelas satildeo

mobilizadas Bacon ou Diderot seres elegem como princiacutepio a existecircncia

de relaccedilotildees constantes entre as propriedades comuns aos elementos de

uma mesma espeacutecie e se aplicam mais diretamente agrave Mineralogia e

Cristalografia)

36 Buffon considerava impossiacutevel a constituiccedilatildeo de um sistema geral natildeo soacute para a Histoacuteria Natural como tambeacutem para qualquer dos seus ramos pela impossibilidade do arranjo tudo compreender pela ordenaccedilatildeo necessariamente arbitraacuteria ou artificial dentro das classes gecircneros e espeacutecies pelo modo como a natureza passa de uma espeacutecie a outra por nuances imperceptiacuteveis pelo grande nuacutemero de espeacutecies intermediaacuterias e meio-objetos que natildeo se sabe onde colocar e que comprometem o projeto de um sistema geral Para Buffon a classificaccedilatildeo mais natural eacute aquela em que os objetos da Histoacuteria Natural satildeo julgados pelas relaccedilotildees que o homem estabelece com eles - uacutenica forma de unificar a multiplicidade de seres (POMBO 2006 p 9) 37 Segundo Olga Pombo (2006 p 9) no periacuteodo em que Diderot esteve preso em Vincennes dedicou-se ao estudo da Histoire Naturelle de seu amigo Buffon e dali extraiu suas ideacuteias 1 Todas as classificaccedilotildees transportam consigo alguma arbitrariedade 2 O homem eacute o princiacutepio organizador de toda classificaccedilatildeo dos saberes e dos seres

40

c) classificaccedilotildees evolutivas ou geneacuteticas - adotam um ponto de vista

evolutivo considerando realizaccedilotildees que se sucedem no tempo (saberes

procedimentos combinados de maneira geneacutetica tomando as ciecircncias na

sua progressiva diferenciaccedilatildeo Comte seres aquelas que se constroem

pela escolha de uma dimensatildeo dominante na natureza evolutiva

relativamente agrave qual eacute determinado o lugar dos objetos classificados por

exemplo na teoria da evoluccedilatildeo para a Biologia ou no grau de

desenvolvimento das nebulosas para a Astronomia)

d) classificaccedilotildees pragmaacuteticas - correspondem a uma soluccedilatildeo extriacutenseca isto

eacute agrave opccedilatildeo pelo criteacuterio do uso (saberes procedimentos combinados

tendo em vista a constituiccedilatildeo de um programa de estudos Cassiodoro a

compilaccedilatildeo de uma enciclopeacutedia Diderot a organizaccedilatildeo de uma

biblioteca Leibniz) (POMBO 2006 p 9-11)

Nas classificaccedilotildees pragmaacuteticas a escolha das caracteriacutesticas que serviratildeo de

base para a divisatildeo e a escolha da ordem em que seratildeo aplicadas depende do

objetivo do uso que se pretende dar agrave classificaccedilatildeo

Eacute no contexto da classificaccedilatildeo bibliograacutefica que a classificaccedilatildeo pragmaacutetica

ocupa o seu lugar privilegiado A diferenccedila entre as classificaccedilotildees das ciecircncias (cuja

anaacutelise estaacute detalhada na seccedilatildeo 3) e as classificaccedilotildees bibliograacuteficas (cuja anaacutelise

estaacute detalhada na seccedilatildeo 4) reside no caraacuteter especulativo das primeiras (sistemas

teoacutericos gerais sem a pretenccedilatildeo de detalhamento) em oposiccedilatildeo ao caraacuteter funcional

das segundas (esquemas praacuteticos minuciosamente elaborados)

41

3 DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS

Quando deparares com uma contradiccedilatildeo faze uma distinccedilatildeo Adaacutegio Escolaacutetico

Nesta seccedilatildeo satildeo tratadas as classificaccedilotildees filosoacuteficas dos saberes (classes)

assim como as classificaccedilotildees filosoacuteficas dos seres (categorias) desde a Antiguidade

Grega ateacute a Idade Contemporacircnea Para facilitar o entendimento apresenta tambeacutem

quadros-siacutentese desenvolvidos a partir da sistematizaccedilatildeo do estudo

31 CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES CLASSES

Tanto o termo quanto o processo de classificaccedilatildeo comeccedilaram com os gregos

que a usaram com o propoacutesito de tentar organizar os saberes para formar o quadro de

conhecimentos da eacutepoca e tentar conhecer os seres para formar definiccedilotildees conceitos

dos objetos das ciecircncias

Para Platatildeo conhecer significava tanto organizar saberes em sua classe

correta quanto colocar coisas e seres em sua categoria certa tudo de acordo com a

sua permanecircncia ou regularidade maneira ideal e essecircncia Aristoacuteteles em sua

loacutegica mostrava que conhecer consistia em formar e aplicar conceitos formular juiacutezos

e relacionaacute-los entre si lidar com conceitos universais e tambeacutem aplicar esses

conceitos a cada coisa individual (saber consistia em ser detentor de muitos

conceitos) Aristoacuteteles analisou em detalhes os processos pelos quais se podem

identificar coisas e ocorrecircncias comeccedilando com um grupo de objetos eliminando

entatildeo todos os membros do grupo exceto aquele uacutenico designado para ser usado

por apresentar propriedades especiacuteficas natildeo contidas nos outros Assim comeccedilando

com o gecircnero podia-se chegar ao indiviacuteduo ou espeacutecie pela enumeraccedilatildeo de

propriedades que especificavam diferenccedilas entre uma espeacutecie e outra Esse modo de

divisatildeo eacute ainda utilizado nas chamadas ciecircncias classificatoacuterias dos seres

especialmente na Zoologia e Botacircnica nas quais de modo geral podem-se agrupar

animais e plantas individualmente ao comeccedilar com uma categoria tal como

42

vertebrados e pela divisatildeo sobre uma base sucessiva de caracteriacutesticas chegar a

uma seacuterie de subcategorias como mamiacuteferos - primatas - antropoacuteides - chimpanzeacutes

Esse tipo de processo classificatoacuterio provou ser de grande valor para o

desenvolvimento dessas ciecircncias e a descriccedilatildeo de espeacutecies individuais eacute ainda eacute

utilizada ressaltando os traccedilos que diferenciam um objeto de outro A descriccedilatildeo de

objetos individuais pode beneficiar-se desse processo a partir do estudo das suas

similaridades e diferenccedilas com o fim de chegar a uma concepccedilatildeo segundo a qual

esses objetos se parecem e aleacutem disso propiciar um conhecimento mais consistente

e mais aprofundado

Sistemas de classificaccedilatildeo filosoacuteficos comeccedilaram remotamente como campos do

conhecimento desenvolvidos e organizados principalmente de acordo com as diferentes

habilidades naturais do ser humano o que significa que segmentavam a realidade em

disciplinas fundamentais Eram disciplinas fundamentais porque se referiam agraves maiores

agregaccedilotildees da ciecircncia e portanto correspondiam agraves classes Uma tal classificaccedilatildeo

tinha como finalidade dar uma espeacutecie de ldquoquadro ordenado de todo o realrdquo

Um mesmo conjunto de objetos ou ideacuteias pode ser classificado de diferentes

maneiras para diferentes propoacutesitos praacutetico intelectual entretenimento e espiritual Os

filoacutesofos usam vaacuterios princiacutepios para dividir e hierarquizar o conhecimento (em classes)

311 Antiguidade Grega e Idade Meacutedia38

O mundo antigo era essencialmente miacutetico Os filoacutesofos gregos foram os

primeiros no mundo ocidental que tentaram descobrir a origem do Universo com o

auxiacutelio da razatildeo ainda que aceitando os deuses e a existecircncia de mitos

Trezentos anos antes do nascimento de Aristoacuteteles (384 aC) a origem do

mundo e a essecircncia da realidade jaacute suscitavam uma seacuterie de teorias entre profundos

pensadores e conhecedores de Fiacutesica Matemaacutetica Astronomia e Ciecircncias da 38 Considera-se neste estudo como Antiguidade Grega o periacuteodo que vai do seacuteculo VI aC quando a Greacutecia atinge uma relativa estabilidade poliacutetica com a democracia de Cliacutestenes e a organizaccedilatildeo da polis ateacute o seacuteculo V quando se inicia a Idade Meacutedia Esse periacuteodo histoacuterico compreende o tempo decorrido entre os anos 476 aC e 1492 quer dizer desde o fim do Impeacuterio Romano do Ocidente ateacute a descoberta da Ameacuterica (MAZIP 2001 p 98-100)

43

Natureza em geral estabelecidos com escolas e disciacutepulos Tales de Mileto

Anaximandro Anaxiacutemenes Pitaacutegoras Heraacuteclito Parmecircnides Zenatildeo Empeacutedocles

Leucipo Demoacutecrito e Anaxaacutegoras (MAZIP 2001 p23-35)

A Filosofia florescera na polis grega principalmente na polis Atenas porque

alguns poucos cidadatildeos protegidos pelas instituiccedilotildees e livres dos cuidados com a

sobrevivecircncia e a guerra podiam dedicar-se a refletir debater e ensinar E seraacute a

partir da concepccedilatildeo e da sistematizaccedilatildeo do saber na Greacutecia claacutessica que seratildeo

construiacutedos os sistemas de classificaccedilatildeo das ciecircncias ocidentais

Quando Platatildeo39 na Repuacuteblica divide o conhecimento em Fiacutesica (que

representa as percepccedilotildees sensiacuteveis) Eacutetica (que representa a vontade o desejo) e

Loacutegica (que representa a razatildeo) segundo Sayers (1955a p 69-92) ele estaria se

imortalizando como o primeiro filoacutesofo a classificar as ciecircncias

A seguir vem Aristoacuteteles40 que propotildee a divisatildeo (tritocircnica) do conhecimento

39 Ariacutestocles Platatildeo (427-347 aC) filoacutesofo grego fundador da Academia (387 aC) permaneceu em sua direccedilatildeo e laacute ensinou ateacute sua morte aos oitenta anos Movido por uma propensatildeo natural agrave Matemaacutetica - advertia sempre os possiacuteveis alunos com a inscriccedilatildeo de que ali natildeo deveria entrar quem natildeo soubesse Geometria - criou o platonismo doutrina caracterizada principalmente pela teoria das ideacuteias e dos nuacutemeros (arqueacutetipos universais modelos incorpoacutereos e eternos - as ideacuteias - que subsistiriam independentemente de seus reflexos passageiros e apenas aproximados suas coacutepias imperfeitas e transitoacuterias - os objetos particulares e concretos a realidade concreta) e pela preocupaccedilatildeo com os temas eacuteticos com base no conhecimento das verdades essenciais que determinam a realidade visando toda meditaccedilatildeo filosoacutefica ao conhecimento do Bem conhecimento esse que supunha suficiente para a implantaccedilatildeo da justiccedila entre os estados e entre os homens O seu pensamento foi absorvido pelo cristianismo primitivo dominando a filosofia cristatilde antiga e medieval e junto com seu mestre e amigo Soacutecrates e o disciacutepulo Aristoacuteteles lanccedilou os alicerces sobre os quais se assentariam as bases de toda a filosofia ocidental Em sua famosa obra Republica (livros I a X data provaacutevel entre 387 e 365 aC) estabelece o que seria a educaccedilatildeo ideal Muacutesica e Ginaacutestica para formar indiviacuteduos fortes e capazes de defender a paacutetria Matemaacutetica e Filosofia para formar indiviacuteduos dignos de dirigir o Estado (ARISTOacuteTELES 1978 p VII-VIII SANTOS 1964 p 1367-1375) 40 Aristoacuteteles (384-322 aC) essencialmente filoacutesofo das ciecircncias grego de Estagira (donde ser dito o Estagirita) autor do mais antigo conjunto de trabalhos cientiacuteficos que resistiu fisicamente ateacute nosso tempo Pelo rigor de sua metodologia pela amplitude dos campos em que atuou e por seu empenho em considerar todas as manifestaccedilotildees do conhecimento humano como ramos de um mesmo tronco foi o primeiro pesquisador cientiacutefico no sentido atual do termo Inicialmente praticou Medicina em Estagira antes de ir para Atenas (367 aC) onde passou a estudar Filosofia durante vinte anos como disciacutepulo de Platatildeo ateacute 343 aC quando foi chamado agrave corte de Filipe da Macedocircnia para encarregar-se da educaccedilatildeo do seu filho Alexandre Voltou a Atenas (337 aC) e laacute proacuteximo ao templo de Apolo Liceano abriu o Liceu (334 aC) dominado pelo espiacuterito de observaccedilatildeo e a tendecircncia classificatoacuteria tiacutepicas da investigaccedilatildeo naturalista Passou a dedicar-se ao ensino e agrave elaboraccedilatildeo da maior parte de suas obras que resultaram de notas para cursos e conferecircncias Aristoacuteteles escreveu obras que podem-se classificar em especulativas Fiacutesica Tratado das Plantas Histoacuteria dos Animais Tratado da Alma Parva Naturalia e Metafiacutesica praacuteticas Economia Eacutetica e Poliacutetica e poieacuteticas Poieacutetica Retoacuterica Loacutegica ou Organon (ARISTOacuteTELES 1978 p v-xxiv MAZIP 2001 p 50-66)

44

(segundo o objeto acerca do qual os saberes versam) em trecircs filosofias ou ciecircncias

teoacutericas (especulativas ou contemplativas) praacuteticas (normativas ou da praacutexis - accedilatildeo

humana) e poieacuteticas ou produtivas (artes e teacutecnicas ou relativas agrave produccedilatildeo

fabricaccedilatildeo e agraves teacutecnicas) em funccedilatildeo ao que dizem os verbos gregos de uso erudito

theorein (= especular) praacutettein (= praticar) poiein (= criar) e technaacuteo (= fabricar) e

portanto de acordo com as trecircs distintas operaccedilotildees agraves quais se dedicam as ciecircncias

e que satildeo exercidas pelos homens - pensar agir e produzir Dessa maneira

conseguiu abranger todo conhecimento da eacutepoca sendo a grande siacutentese do

conhecimento do povo grego As classes resultantes podem ainda adequar-se agrave

maioria dos assuntos hoje reconhecidos (quadro 1)

TEOacuteRICAS Pensar

PRAacuteTICAS Agir

POIEacuteTICAS Produzir

Teologia (Filosofia Primeira

Metafiacutesica)

Fiacutesica (Filosofia Natural

Fiacutesica Quiacutemica Botacircnica)

Matemaacutetica

Eacutetica (Moral)

Economia

Poliacutetica

Dialeacutetica

Retoacuterica

Poeacutetica

Medicina

Ginaacutestica

Gramaacutetica

Muacutesica

QUADRO 1 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE ARISTOacuteTELES FONTE a autora

Em primeiro lugar as ciecircncias teoacutericas estudam o objeto em tudo o que ele eacute

sob o ponto de vista constitutivo (formal) Limitadas agrave tarefa de conhecer pensam e

se encarregam da verdade das coisas (Filosofia Primeira) da natureza (Filosofia

Natural) do movimento (Fiacutesica) e da quantidade (Matemaacuteticas) As ciecircncias praacuteticas

estabelecem regras de conduta e tecircm por objeto a accedilatildeo enquanto as poieacuteticas se

ocupando da estrutura que os objetos deveratildeo assumir para poderem operar

adequadamente apontam os meios para produzir as obras Para Aristoacuteteles das

trecircs filosofias teoacutericas a primeira era a Teologia por lidar com os seres mais dignos

Precedia a Fiacutesica e a Matemaacutetica sendo mais universal do que elas Nessa

classificaccedilatildeo natildeo se encontra a Loacutegica porque para Aristoacuteteles ela natildeo seria parte

integrante da Ciecircncia e da Filosofia mas apenas um instrumento (organon) que

essas utilizam em sua construccedilatildeo

45

A classificaccedilatildeo tritocircnica de Aristoacuteteles (ciecircncias Teoacutericas Praacuteticas e

Produtivas) juntamente com a classificaccedilatildeo tritocircnica de Platatildeo (Fiacutesica Eacutetica e

Loacutegica) que tanto os epicuristas quanto os estoacuteicos se encarregaram de disceminar

influenciaratildeo a classificaccedilatildeo dos conhecimentos que se formularaacute na Idade Meacutedia

No fim da Idade Antiga e iniacutecio da Idade Meacutedia as filosofias da Greacutecia decadente

preparam no contexto poliacutetico do Impeacuterio Romano o advento do cristianismo A

dominaccedilatildeo das polis gregas pelo Impeacuterio Romano e o fim desse em razatildeo das grandes

migraccedilotildees de tribos nocircmades e guerreiras provenientes do norte da Europa (que se

apoderam paulatinamente de todo o Impeacuterio Romano) acarretam o recolhimento em si

mesmo (cada indiviacuteduo a partir dessa eacutepoca indefeso e isolado deve preocupar-se em

continuar vivo e conseguir o seu sustento) e uma fuga e negaccedilatildeo do mundo terreno

para uma valorizaccedilatildeo extra-terrena insuflada pela Igreja Catoacutelica que o cristianismo

levaraacute agraves uacuteltimas consequecircncias com a ldquoinvenccedilatildeordquo de outro mundo ao qual se teria

acesso depois da morte O ecircxito histoacuterico do cristianismo e a alianccedila da Igreja Catoacutelica

com as instituiccedilotildees feudais determinam a submissatildeo da razatildeo agrave feacute da Filosofia agrave

Teologia A igreja amparada pela nobreza ergue conventos e escolas redutos de

oraccedilatildeo estudos e seguranccedila onde desenvolve-se uma Filosofia de consolaccedilatildeo e

transcendecircncia (MAZIP 2001 p 99 ENCICLOPEacuteDIA MIRADOR INTERNACIONAL

1983 v 9 p 4604) Ao longo da Idade Meacutedia sob a oacutetica do cristianismo (catolicismo)

elaborarar-se-aacute nova concepccedilatildeo e classificaccedilatildeo dos conhecimentos que afetaraacute em

larga medida a organizaccedilatildeo das disciplinas do ensino com a subordinaccedilatildeo de todas as

ciecircncias agrave Teologia princiacutepio que se refletiraacute mais tarde nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas

da Idade Moderna

Servindo de ponte entre a cultura grega e a literatura latina dos primoacuterdios da Idade Meacutedia citam-se Flaacutevio Magno Aureacutelio Cassiodoro (485-580) filoacutesofo teoacutelogo

historiador estadista e educador romano e Boeacutecio (seu disciacutepulo e amigo)

chamados os uacuteltimos romanos pela contribuiccedilatildeo que deram ao resgatar a cultura

claacutessica Proveniente da aristocracia Cassiodoro ocupou altos cargos no reino

ostrogodo estabelecido na peniacutensula logo depois da desintegraccedilatildeo do Impeacuterio

Romano do Ocidente Foi um dos grandes nomes do pensamento escolaacutestico e seus

livros serviram de texto nas escolas eclesiaacutesticas do iniacutecio da Idade Meacutedia Entre

eles Institutiones Divinarum et Saecularium Litterarum (543-555) que aleacutem de tratar

de problemas de Teologia apresentava no livro II De Artibus ac Disciplinis

Liberalium Litterarum um compecircndio das sete artes liberais - onde as ciecircncias

46

estavam agrupadas em Trivium Artes ou Ciecircncias Sermoniais (ciecircncias da palavra

precursoras do que mais tarde seratildeo as ciecircncias humanas) Gramaacutetica Dialeacutetica e

Retoacuterica e Quatrivium Ciecircncias Reais (ciecircncias das coisas precursoras do que

mais tarde seratildeo as ciecircncias exatas) Geometria Aritmeacutetica Astronomia e Muacutesica -

que se tornou um verdadeiro manual nos mosteiros Essa obra ao lado de um

manual de ortografia latina De Orthographia e do tratado Liber de Anima (538)

inspirado em Santo Agostinho exerceu profunda influecircncia em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo

da Idade Meacutedia O ensino nas escolas de 395 a 1453 baseou-se nos conceitos da

Trilogia grega e na divisatildeo das ciecircncias apresentada por Cassiodoro As disciplinas

estudadas naquela eacutepoca dividiam-se em dois grupos o Trivium e o Quatrivium que

compunham as sete disciplinas (profanas) preparatoacuterias para os estudos superiores

Teologia (ciecircncia divina) e Filosofia (ciecircncia auxiliar da Teologia) (GOPINATH 2001

PIEDADE 1983 SAN SEGUNDO MANUEL1996)

Essa divisatildeo ou classificaccedilatildeo das ciecircncias (quadro 2) iraacute influenciar a

classificaccedilatildeo bibliograacutefica empregada pelo meacutedico naturalista suiacuteccedilo Konrad von

Gesner em 1545 na qual pretende conciliar a tradiccedilatildeo escolaacutestica41 e as inovaccedilotildees

da Renascenccedila

TRIVIUM QUATRIVIUM ESTUDOS SUPERIORES

Gramaacutetica Geometria Teologia

Dialeacutetica Aritmeacutetica Metafiacutesica

Retoacuterica Astronomia Eacutetica

Muacutesica Histoacuteria

QUADRO 2 - CLASSIFICACcedilAtildeO ESCOLAacuteSTICA ROMANA FONTE A autora com base em Gopinath (2001 p 61)

Na Antiguidade e na Idade Meacutedia a pesquisa cientiacutefica e a Filosofia

constituiacuteam uma unidade A Filosofia era de fato natildeo soacute o suporte das ciecircncias

mas a Ciecircncia ao abranger a Matemaacutetica a Fiacutesica e a Metafiacutesica

41 Entende-se em geral por Escolaacutestica o ensino teoloacutegico-filosoacutefico da doutrina aristoteacutelico-tomista ministrado nas escolas de conventos e catedrais e tambeacutem nas universidades europeacuteias da Idade Meacutedia e do Renascimento Como sistema filosoacutefico e teoloacutegico a Escolaacutestica tentou resolver a partir do dogma religioso e mediante um meacutetodo especulativo problemas como a relaccedilatildeo entre feacute e razatildeo desejo e pensamento a oposiccedilatildeo entre realismo e nominalismo e a probabilidade da existecircncia de Deus

47

No seacuteculo XIII Baixa Idade Meacutedia as escolas eclesiaacutesticas conventuais

catedraliacutecias convertem-se em universidades (a primeira surge em Paris em 1215)

construindo curriacuteculos embasados no Trivium e no Quatrivium e reunindo na

Teologia cristatilde que pairava acima das outras disciplinas todas as aacutereas do saber

O filoacutesofo franciscano e naturalista inglecircs Roger Bacon (1214-1294) projetou

uma obra enciclopeacutedica - a serviccedilo da religiatildeo e da Igreja Catoacutelica Em 1266 o Papa

Clemente VI que era seu amigo solicitou-lhe uma coacutepia Como a obra estava

somente na cabeccedila de Bacon este escreveu um esboccedilo chamado Opus maius

(obra maior) seguido por um Opus minus e um Opus tertium onde expocircs a ideacuteia

que tinha de conhecimento e estabeleceu uma classificaccedilatildeo das ciecircncias

influenciada pelas classificaccedilotildees escolaacutesticas (derivadas da classificaccedilatildeo de

Aristoacuteteles) e pela divisatildeo triacuteplice dos estoacuteicos e epicuristas (KEDROV 1974 v 1 p

67 STOumlRIG 2008 p 228) dividindo o conhecimento em quatro grupos

fundamentais (quadro 3)

FIacuteSICA FILOLOGIA MATEMAacuteTICA EacuteTICA

Oacutetica Gramaacutetica Aritmeacutetica Metafiacutesica

Astronomia Loacutegica Geometria Teologia

Alquimia Retoacuterica Mecacircnica Moral

Agricultura Muacutesica

Medicina Arquitetura

Ciecircncias

Experimentais

QUADRO 3 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE ROGER BACON (1266) - INGLATERRA FONTE a autora

O sistema classificatoacuterio de Roger Bacon ultrapassa as fronteiras da

Escolaacutestica Medieval e surge como um precursor das Ciecircncias Naturais que na

Renascenccedila exigiram uma nova sistematizaccedilatildeo dos conhecimentos

Nos seacuteculos XIV e XV natildeo havia unidade poliacutetica na Europa A sociedade era

composta de propriedades isoladas defendida por castelos e feudos com vida

proacutepria e povos de diversas origens (miscigenaccedilatildeo de romanos gregos e baacuterbaros)

No seacuteculo XVI os Estados Nacionais vatildeo dar iniacutecio a unidades poliacuteticas sociais

econocircmicas e tambeacutem religiosas com o advento do protestantismo (os Estados

Nacionais passam a ter tambeacutem a sua religiatildeo proacutepria) A curiosidade cientiacutefica e o

contato com povos receacutem-conquistados acarreta novos questionamentos o

48

interesse dos saacutebios pela Antiguidade faz renascer os estudos de Filologia e a

preocupaccedilatildeo de determinar e estudar as fontes dos documentos

Entre 1440 e 1450 a invenccedilatildeo42 em Moguacutencia por Johann Gutenberg da

tipografia (McMURTRIE 1997 p 184) facilitaria a multiplicaccedilatildeo fiel dos

documentos

312 Idade Moderna Seacuteculos XVI XVII e XVIII43

No seacuteculo XVI a Renascenccedila assinala o fim da Idade Meacutedia e o iniacutecio da Idade

Moderna Vaacuterios acontecimentos marcam profundamente a histoacuteria da humanidade a

partir de fatos ocorridos na Europa ao longo do seacuteculo descobertas cientiacuteficas na aacuterea

da Astronomia refutam verdades consideradas absolutas a Filosofia conquista

autonomia em relaccedilatildeo agrave Teologia o desenvolvimento da Medicina e do Direito

Romano faz sentir a necessidade de textos merecedores de creacutedito pois no periacuteodo

anterior esse aspecto havia sido negligenciado (os textos sofriam adaptaccedilotildees e

arranjos) Lutero (1520) divide a cristandade e Henrique VIII rompe com Roma um

Deus homem e o proacuteprio homem tornam-se fonte de inspiraccedilatildeo artiacutestica em lugar do

sagrado quando pintores e escultores plasmam deuses gregos e heroacuteis aleacutem de

santos arquitetos constroem museus e bibliotecas aleacutem de templos e palaacutecios as

expediccedilotildees portuguesas e espanholas abrem novas rotas comerciais e fazem contato

com civilizaccedilotildees desconhecidas provocando mudanccedilas culturais e histoacutericas No

seacuteculo XVI o centro da reflexatildeo filosoacutefica eacute o homem e as suas possibilidades

Interessante destacar que no seacuteculo XV ainda natildeo existia um estudo botacircnico ou

zooloacutegico realmente independente e que esta seraacute a contribuiccedilatildeo do seacuteculo XVI quando

a ciecircncia se volta para a natureza e o corpo humano (ainda que novas ciecircncias como a

Botacircnica Zoologia Anatomia Fisiologia Patologia Quiacutemica entre outras soacute tenhatildeo

42 A invenccedilatildeo da impressatildeo com tipos moacuteveis foi o acontecimento mais marcante do seacuteculo XV e talvez o mais importante da histoacuteria da cultura humana Para uma visatildeo dos muacuteltiplos efeitos da cultura impressa na vida intelectual do Ocidente e particularmente para um panorama do surgimento da ciecircncia moderna cf Eisenstein (1998) Eacute necessaacuterio ter em conta as modificaccedilotildees acarretadas pela imprensa que pela primeira vez permitu preservar intactos o texto de autores e o trabalho de desenhistas e artistas em centenas de coacutepias de determinado livro possibilitando o uso de informaccedilotildees registradas 43 A Filosofia chamada Moderna abrange os seacuteculos XVI XVII e XVIII periacuteodo que caracteriza o decliacutenio do poder temporal da Igreja Catoacutelica Romana a definiccedilatildeo das naccedilotildees europeacuteias a discussatildeo do poder absoluto dos soberanos a eleiccedilatildeo de governos constitucionais o descobrimento da Ameacuterica e o surgimento da burguesia O interesse principal dos grandes sistemas filosoacuteficos do periacuteodo de Bacon e Descartes a Kant permaneceraacute direcionado para os problemas filosoacuteficos tradicionais o ser a natureza Deus o conhecimento a alma a liberdade e a lei (MAZIP 2001)

49

emergido no seacuteculo XIX) Eacute portanto na Renascenccedila que esse processo de

fragmentaccedilatildeo da ciecircncia filosoacutefica anteriormente indivisiacutevel tem sua origem O problema

das classificaccedilotildees das ciecircncias assim como o das classificaccedilotildees bibliograacuteficas

intensifica-se

No seacuteculo XVI destacam-se as classificaccedilotildees de Konrad von Gesner (1516-

1565) Franccedilois Grude - tambeacutem conhecido como senhor da Croix du Maine (1552-

1592) e de Juan Huarte de San Juan - mais conhecido por Huarte (1529-1591) Gesner na segunda parte de sua obra Bibliotheca Universalis (Zurich 1545-1548)

denominada Pandectarum ordena as disciplinas em Sermonizantes (1 Gramaacutetica 2

Dialeacutetica 3 Retoacuterica) Necessaacuterias (4 Poeacutetica) Matemaacuteticas (5 Aritmeacutetica) Preparatoacuterias

(6 Geometria 7 Muacutesica 8 Astronomia 9 Astrologia) Adorno (10 Histoacuteria 11

Geografia) Artes e Ciecircncias (12 Artes Adivinhatoacuterias 13 Belas Artes e Mecacircnica) Artes

e Ciecircncias Substantivas (14 Fiacutesica 15 Metafiacutesica 16 Eacutetica 17 Economia) e

Substantivas (18 Poliacutetica 19 Jurisprudecircncia 20 Medicina 21 Teologia Cristatilde) com

subdivisotildees Grudeacute denominado La Croix Du Maine bibliotecaacuterio e biblioacutegrafo francecircs

propotildee um esquema classificatoacuterio para a Biblioteca Real da Franccedila em 1583 durante

o reinado de Henrique III articulado em 107 subclasses agrupadas em sete classes

principais Coisas Sagradas Artes e Ciecircncias Universo Gecircnero Humano Homens

Ilustres na Guerra Obras Criadas por Deus e Obras Diversas Huarte de San Juan

psicoacutelogo meacutedico e filoacutesofo espanhol em 1575 escreveu o seu famoso Examen de

Ingenios para las Ciecircncias44 considerando as trecircs faculdades (capacidades

subjetivas) representativas do psiquismo - memoacuteria (capacidade de dispor dos

conhecimentos passados) entendimento ou razatildeo (referencial de orientaccedilatildeo do

homem em todos os campos em que seja possiacutevel a indagaccedilatildeo ou a investigaccedilatildeo e

nesse sentido diz-se que a razatildeo eacute uma faculdade proacutepria do homem que o

distingue dos animais) e imaginaccedilatildeo (capacidade de evocar ou produzir imagens

independentemente da presenccedila do objeto a que se referem) Huarte propotildee sua

proacutepria lista de saberes ou disciplinas (quadro 4) de grande transcendecircncia

posterior (no seacuteculo XVII com Francis Bacon e no seacuteculo XVIII com os

enciclopedistas Diderot e drsquoAlembert) retomada no decorrer deste estudo Essa

44 Obra perseguida pela Inquisiccedilatildeo que figurou no Index das obras proibidas e segundo Mariela Szirko (autora que escreveu as notas preliminares da ediccedilatildeo em formato de perioacutedico de 1995) eacute possiacutevel ver aiacute o germe da obra de Miguel de Cervantes com o seu talentoso fidalgo Don Quixote de La Mancha pois o ldquoengenhoso fidalgordquo o seu perfil psicoloacutegico e outras ideacuteias ali expostas provecircm dos conceitos de Huarte de San Juan digno precursor do cognitivismo

50

estruturaccedilatildeo do intelecto humano determina tambeacutem o fundamento de sistemas de

classificaccedilatildeo bibliograacutefica

O sistema compreende

a) Artes e Ciecircncias guias aquelas que referenciam o ser humano no tempo e

no espaccedilo e satildeo adquiridas atraveacutes da memoacuteria45 (Histoacuteria e suas

divisotildees)

b) Artes e Ciecircncias que satildeo dependentes da razatildeo (Filosofia e suas divisotildees

Teologia e as Ciecircncias Experimentais)

c) Artes e Ciecircncias que brotam da imaginaccedilatildeo (Poesia e suas divisotildees)

(HUARTE DE SAN JUAN 1995)

MEMOacuteRIA RAZAtildeO IMAGINACcedilAtildeO

Histoacuteria e suas divisotildees Filosofia e suas divisotildees Poesia e suas divisotildees

QUADRO 4 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HUARTE DE SAN JUAN (1575) - ESPANHA FONTE a autora

A divisatildeo de Huarte de San Juan contudo natildeo eacute riacutegida pois ele observa por

exemplo que la teoacuterica de la teologiacutea pertenece al entendimiento y el predicar que es su praacutectica a la imaginativa (1995 cap X) [] la teoacuterica de las leyes pertenece a la memoacuteria y el abogar y juzgar que es su praacutectica al entendimiento y el gobernar una repuacuteblica a la imaginativa (1995 cap XI) e [] la teoacuterica de la medicina parte della pertenece a la memoacuteria y parte al entendimiento y la praacutectica a la imaginativa (1995 cap XII)

Ressalte-se que Huarte de San Juan considera diversos aspectos

estabeleccedilendo distinccedilatildeo entre por exemplo Medicina Teoacuterica e Medicina Praacutetica

Teologia Teoacuterica e Teologia Escolaacutestica Direito Teoacuterico e Direito Praacutetico

encontrando-se cada uma destas disciplinas em uma divisatildeo diferente46

45 A ars memoriae (arte da memoacuteria) tatildeo importante ateacute a Idade Meacutedia (com base nos princiacutepios gerais da mnemocircnica e nas teacutecnicas antigas de recordaccedilatildeo) considerava que o saber da totalidade seria acessiacutevel graccedilas agrave capacidade de armazenamento sistemaacutetico em lugares da memoacuteria e de construccedilatildeo de relaccedilotildees Como se a memoacuteria pudesse assim transformar-se em espelho da totalidade do mundo Espelho porque natildeo se tratava de uma elaboraccedilatildeo mas de uma reflexatildeo no sentido de fazer da memoacuteria o reflexo do mundo exterior com todas as suas forccedilas e leis

46 Somente trezentos anos mais tarde em 1834 eacute que Ampegravere (cf subseccedilatildeo 313) tenta determinar as caracteriacutesticas distintivas para a classificaccedilatildeo das ciecircncias considerando natildeo soacute a natureza das ciecircncias agrave qual elas se relacionam mas tambeacutem os pontos de vista sob os quais essas aacutereas de conhecimento podem ser consideradas recebendo assim posiccedilotildees especiais nas subdivisotildees de seu plano (AMPEgraveRE 1834 part 1 preacuteface)

51

Huarte de San Juan eacute a grande figura da classificaccedilatildeo do conhecimento na

Renascenccedila espanhola por sua nova concepccedilatildeo e organizaccedilatildeo das ciecircncias Essa

classificaccedilatildeo representou avanccedilo sob o ponto de vista cientiacutefico (partindo de um princiacutepio

subjetivo do conhecimento) em relaccedilatildeo agrave classificaccedilatildeo medieval do Trivium e Quatrivium

(baseando sua classificaccedilatildeo no objeto do conhecimento que era a natureza)

Uma das conquistas mais significativas da Renascenccedila como dito

anteriormente foi a separaccedilatildeo entre Filosofia e Teologia aleacutem da volta ao

pensamento dos claacutessicos gregos e dos progressos no estudo da natureza

O pensamento do seacuteculo XVII caracteriza-se por assegurar agrave ciecircncia a plena

autonomia a respeito da Teologia e da Filosofia como tambeacutem por uma confianccedila

absoluta no meacutetodo O saber agora natildeo mais estava guardado nas biacuteblias em latim

que tinham que ser interpretadas pelos estudiosos da igreja ele se encerrava cada

vez mais no vocabulaacuterio teacutecnico das ciecircncias que teria que ser interpretado pelos

novos especialistas A partir do racionalismo de Reneacute Descartes (1596-1650) -

segundo o qual a uacutenica coisa que indubitavelmente existe eacute o eu pensante o

ldquopenso logo existordquo (cogito ergo sum) - o corpo se separa do espiacuterito A alma como

pensamento pode ser pensada sem extensatildeo porque a extensatildeo natildeo lhe eacute

essencial enquanto o corpo tem como essecircncia a extensatildeo Com esse pensamento

se reduz a Fiacutesica agrave Geometria a qualidade agrave quantidade e o proacuteprio movimento a

uma sucessatildeo de pontos Tudo acontece conforme as leis matemaacuteticas eacute o

matematismo da existecircncia Esse dualismo entre corpo e alma funda a grande

controveacutersia da Filosofia desde entatildeo (SANTOS 1964 p 1458-1459) Empregando

o termo pensamento (do latim cogitatio) ou o termo ideacuteia a essecircncia da Filosofia

Moderna eacute idealista

Alguns dos filoacutesofos mais importantes que se preocuparam com a

classificaccedilatildeo das ciecircncias no seacuteculo XVII foram os empiristas (assim chamados por

abrirem espaccedilo para a ciecircncia junto agrave Filosofia valorizando a experiecircncia como fonte

de conhecimento) que tecircm nos ingleses Francis Bacon Hobbes e Locke o seu

quadro mais representativo e os racionalistas (para quem eacute a razatildeo tomada em si

mesma sem apoio da experiecircncia sensiacutevel a fonte do conhecimento verdadeiro)

52

que tecircm no francecircs Descartes o seu maior representante47 Para o racionalismo idealista o modelo perfeito de conhecimento verdadeiro eacute

a Matemaacutetica que depende exclusivamente do uso da razatildeo e usa a percepccedilatildeo

sensiacutevel (para construir figuras geomeacutetricas por exemplo) sob o controle da

atividade do intelecto (CHAUIacute 2005) Observa-se que desde Descartes existe um

impulso de esvaziamento do conhecimento fornecido pela imaginaccedilatildeo (Literatura) e

uma criacutetica da confianccedila nas imagens mentais que se depositam na memoacuteria

(Histoacuteria) O que se configura segundo Ricoeur (2008) num problema para um ser

que eacute fundamentalmente ldquocondiccedilatildeo histoacutericardquo

A classificaccedilatildeo cartesiana das ciecircncias revela-se na maneira de Descartes48

distribuir os temas nos seus livros como em geral percebe-se nos demais filoacutesofos

que procederam a alguma classificaccedilatildeo das ciecircncias Particularmente nesse caso a

obra Princiacutepios de Filosofia (Principia Philosophiae 1644) apresenta um elenco de

disciplinas filosoacuteficas Aleacutem disso a divisatildeo cartesiana pode inferir-se da carta do

autor a Picot - tradutor de Princiacutepios de Filosofia que verteu o texto do latim ao

47 Para esclarecer melhor conveacutem dizer que tanto empiristas como racionalistas usam a razatildeo Mas enquanto os primeiros - atitude realista - usam a razatildeo limitando-a ao conhecimento empiacuterico apenas os racionalistas ao exaltaacute-la - atitude idealista - admitem que ela seja um meio de conhecimento da coisa-em-si No realismo o conhecimento emana por assim dizer das coisas ao homem ou seja a realidade da coisa vem primeiro e o conhecimento vem depois ao ponto de filoacutesofos antigos (epicuristas do seacuteculo III aC) considerarem que das coisas saiacuteam pequenas imagens -iacutedolos como eles chamavam - que vinham ferir o sujeito Em contrapartida o idealismo considera o conhecimento como uma atividade que vai do sujeito agraves coisas como uma atividade elaboradora de conceitos ao fim de cuja elaboraccedilatildeo surge a realidade da coisa Para o idealismo a realidade da coisa aparece no fim do processo eacute a uacuteltima escala da atividade do sujeito pensante aquela que finaliza a construccedilatildeo da realidade mesma das coisas (GARCIA MORENTE 1952 p 143-158) Como pode-se observar os dois pontos de vista (o realista e o idealista) satildeo diametralmente opostos mas tanto o racionalismo cartesiano e o empirismo inglecircs que correspondem agrave ascensatildeo econocircmica e social da burguesia agrave Revoluccedilatildeo Industrial confluem no enciclopedismo que prepara e torna possiacutevel sob o ponto de vista ideoloacutegico a Revoluccedilatildeo Francesa 48 Reneacute Descartes (latinizado como Renatus Cartesius) (1596-1650) filoacutesofo e matemaacutetico (algebrista e geocircmetra por excelecircncia) francecircs foi o criador do Cartesianismo Doutrina caracterizada pelo racionalismo idealista (necessidade de encontrar fundamentos seguros para o saber) e pela instituiccedilatildeo de um meacutetodo loacutegico para construir o pensamento cientiacutefico como garantia da obtenccedilatildeo da verdade Rompeu com a filosofia aristoteacutelica e foi um dos principais precursores dos iluministas De 1628 a 1637 concentrou-se na produccedilatildeo da sua obra mais importante o ceacutelebre tratado Discours de la Meacutethode pour bien Conduire sa Raison et Chercher la Veriteacute dans les Sciences (1637) mais conhecido como Discurso do Meacutetodo enunciando o seu programa de pesquisa filosoacutefica no qual recomendava que as ciecircncias fiacutesicas adotassem o mesmo meacutetodo dedutivo usado pelos geocircmetras para demonstrar os seus teoremas partir das verdades mais simples e evidentes e encadeaacute-las logicamente ateacute alcanccedilar raciociacutenios mais complexos A sua obra revolucionou a matemaacutetica (unificou a Aritmeacutetica a Aacutelgebra e a Geometria e criou a Geometria Analiacutetica) e abriu caminho para todo o avanccedilo das ciecircncias experimentais nos seacuteculos XVII e XVIII Eacute considerado o filoacutesofo que individualmente mais contribuiu para o progresso das ciecircncias exatas (CHAUIacute 2005 GARCIA MORENTE 1952)

53

francecircs - carta que foi publicada em 1647 como prefaacutecio da traduccedilatildeo49 Daiacute

resultou a seguinte classificaccedilatildeo das ciecircncias (quadro 5)

3 4 5

Mecacircnica Medicina Moral

2

Fiacutesica

(Matemaacuteticas)

1

Metafiacutesica (Teologia)

QUADRO 5 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE DESCARTES (1647) - FRANCcedilA FONTE a autora

Descartes classifica as ciecircncias quanto agrave sabedoria ou grau de clareza e

nitidez de ideacuteias que eacute possiacutevel atingir em cada uma A ciecircncia para ele pode ser

comparada a uma aacutervore a Metafiacutesica (substacircncia criadora - Deus) eacute a raiz a Fiacutesica

(Matemaacutetica) eacute o tronco e os trecircs principais ramos satildeo a Mecacircnica a Medicina e a

Moral esses formando as trecircs aplicaccedilotildees do nosso conhecimento humano que satildeo

o mundo exterior o corpo humano e a conduta de vida Ainda que a integraccedilatildeo de

todas as disciplinas cientiacuteficas e filosoacuteficas seja uma tocircnica cartesiana Descartes

natildeo ofereceu uma divisatildeo clara das disciplinas

49 E dividi tal livro em quatro partes sendo que a primeira conteacutem os princiacutepios do conhecimento que eacute o que se pode chamar de Primeira Filosofia ou entatildeo Metafiacutesica Eis porque para a sua boa compreensatildeo conveacutem ler antes as Meditaccedilotildees que escrevi sobre o mesmo assunto As trecircs outras partes abrangem o que haacute de mais geral na Fiacutesica isto eacute a explicaccedilatildeo das primeiras leis ou princiacutepios da natureza e a maneira pela qual os ceacuteus as estrelas fixas os planetas os cometas e geralmente todo o universo estatildeo compostos e ordenados Depois em particular a natureza desta terra e do ar da aacutegua do fogo do iacutematilde e de todas as qualidades que se notam nesses corpos como a luz o calor a gravidade e outras semelhantes por meio do que penso haver comeccedilado a explicar por ordem toda a Filosofia A fim de conduzir tal desiacutegnio ateacute o fim eu deveria de imediato explicar da mesma maneira a natureza de cada um dos outros corpos os minerais as plantas os animais e principalmente o homem depois enfim tratar exatamente da Medicina da Moral e das Mecacircnicas Era o que urgia que eu fizesse para dar aos homens um corpo todo inteiro de Filosofia (Prefaacutecio da ediccedilatildeo em francecircs de Princiacutepios da Filosofia) (ENCICLOPEacuteDIA SIMPOZIO Versatildeo em portuguecircs do original em esperanto Copyright 1997 Cap 2 Descartes meacutetodo e teoria do conhecimento 3686y066 sect 3 Divisatildeo e classificaccedilatildeo cartesiana das ciecircncias n 100 Disponiacutevel em lthttpwwwsimpozioufscbrFramehtmgt Acesso em 10 jan 2008)

54

Para o empirismo realista caracteriacutestica marcante da Filosofia inglesa as

ciecircncias nascem do haacutebito de associar ideacuteias como consequecircncia da repeticcedilatildeo de

experiecircncias (o aumento do volume ou da dimensatildeo dos corpos submetidos ao calor

faz concluir que ldquoo calor eacute a causa da dilataccedilatildeo dos corposrdquo por exemplo) que visa agrave

universalidade (CHAUIacute 2005)

No final do seacuteculo XVI e iniacutecio do seacuteculo XVII Francis Bacon50 dedica-se agrave

questatildeo do meacutetodo e ao estudo do conhecimento Destacou-se com uma obra de

tradiccedilatildeo empirista em que o papel da ciecircncia51 (beneacutefico para o homem) seria

restabelecer o imperium hominis (impeacuterio do homem) sobre as coisas O

conhecimento cientiacutefico para Bacon tinha por finalidade servir o homem e dar-lhe

poder sobre a natureza - ideal iniciado pela ciecircncia e pela poliacutetica da Renascenccedila que

50 Francis Bacon (1561-1626) filoacutesofo e cientista inglecircs conhecido como o profeta da era industrial considerado o precursor do empirismo moderno (doutrina ou corrente filosoacutefica segundo a qual a experiecircncia sensiacutevel eacute a uacutenica fonte vaacutelida de conhecimento criteacuterio de verdade - pois eacute ela que determina o valor e o sentido da atividade racional - defende que as teorias cientiacuteficas devem ser embasadas na observaccedilatildeo do mundo e natildeo na intuiccedilatildeo ou feacute e que o modelo de conhecimento verdadeiro eacute dado pelas ciecircncias experimentais como a Fiacutesica e a Quiacutemica) cujas propostas tiveram uma poderosa influecircncia no desenvolvimento da ciecircncia no seacuteculo XVII na Europa e para a fundaccedilatildeo em 1660 em Londres da Royal Society O lema da Royal Society ldquoNullius in Verbardquo afirma a vontade de estabelecer a verdade no domiacutenio das disciplinas cientiacuteficas baseando-se somente na experiecircncia e jamais na autoridade de um indiviacuteduo Bacon tinha um projeto enciclopeacutedico planejava fazer uma ampla reorganizaccedilatildeo do conhecimento a que chamou Instauratio Magna (Grande Instauraccedilatildeo - obra ambiciosa e inacabada) que se propunha a restaurar ou reconstruir o saber todo o conhecimento humano a partir de seus verdadeiros fundamentos permitindo o progresso das ciecircncias e suas aplicaccedilotildees praacuteticas visando ao bem-estar do homem e ao seu domiacutenio sobre a natureza que se acreditava haver ele perdido com a queda de Adatildeo O plano compreendia seis partes e a primeira (De Dignitate et Augmentis Scientiarum que apareceu em 1623 eacute a versatildeo latina aumentada do trabalho anterior The Advancement of Learning publicado em 1605 e considerado a primeira obra filosoacutefica realmente importante publicada na Inglaterra) promoveria uma classificaccedilatildeo completa das ciecircncias existentes Uma divisatildeo das ciecircncias uma sistematizaccedilatildeo minuciosa de todo o conhecimento humano a primeira depois de Aristoacuteteles Como parte segunda do projeto da Instauratio Magna aparece em 1620 Novum Organum (obra mais famosa de Bacon assim intitulada em alusatildeo ao Organon de Aristoacuteteles) que apresentava no livro II o pensamento indutivo embasado na experiecircncia e na experimentaccedilatildeo - nuacutecleo da filosofia da ciecircncia de Bacon - o primeiro a formular o princiacutepio da induccedilatildeo cientiacutefica Bacon tinha a convicccedilatildeo de que havia inventado um meacutetodo que levaria os homens aleacutem das fronteiras conhecidas Na dedicatoacuteria do seu livro The Advancement of Learning para o Rei Jaime I Bacon recorre a uma metaacutefora ao assinalar que o seu meacutetodo permitia a passagem do conhecimento para aleacutem das Colunas de Heacutercules (o estreito de Gibraltar) que simbolizavam para os antigos os limites da possibilidade da exploraccedilatildeo humana Significava romper com o aristotelismo e passar a um oceano sem limites para o avanccedilo do conhecimento (BACON 1973 MAZIP 2001) 51 Em meados do seacuteculo XVII o cientista irlandecircs Robert Boyle (1627-1691) - que explorava as propriedades do uacutenico gaacutes conhecido na eacutepoca o ar - passa a simbolizar uma era de profunda transiccedilatildeo na histoacuteria com um peacute no passado preacute-cientiacutefico e outro no futuro marcando o iniacutecio da ciecircncia moderna Nessa era a distinccedilatildeo entre Alquimia e Quiacutemica ou tambeacutem entre Astrologia e Astronomia estava apenas comeccedilando Na Inglaterra junto a outros intelectuais e filoacutesofos naturais criou uma sociedade chamada Coleacutegio Invisiacutevel (Invisible College) onde eram debatidas as novidades cientiacuteficas (o clima poliacutetico da Inglaterra agrave eacutepoca natildeo era propiacutecio agrave liberdade de pensamento) Essa sociedade seria em 1660 chamada de Royal Society (Sociedade Real) uma das instituiccedilotildees cientiacuteficas mais prestigiosas do mundo

55

abrangia a enciclopeacutedia das ciecircncias O seu lema ldquosaber eacute poderrdquo valoriza o saber

instrumental aquele que permite dominar a natureza Para Bacon a filosofia verdadeira

natildeo eacute apenas a ciecircncia das coisas divinas e humanas eacute tambeacutem algo praacutetico O

sistema originalmente desenvolvido por Bacon em 1605 derivou portanto de uma

visatildeo de mundo que considerava o homem como o ponto central do universo e

tentou organizar a estrutura do conhecimento a ldquoordem das coisasrdquo em torno do

entendimento humano O esquema de Bacon foi construiacutedo sobre asserccedilotildees

epistemoloacutegicas subjetivas e racionais

Nos tratados The Advancement of Learning (1605) dezoito anos depois

publicado sob o tiacutetulo latino De Dignitate et Augmentis (1623) Bacon afirma que trecircs

fontes mentais distintas emanam do homem Memoacuteria Imaginaccedilatildeo e Razatildeo e suas

divisotildees do conhecimento estavam embasadas sobre os tipos de conhecimento

emanados de cada uma das trecircs fontes mentais (quadro 6)

a) ciecircncias da memoacuteria ou histoacutericas compreendendo a Histoacuteria civil e a

natural que registram (memoacuteria) os dados de fato

b) ciecircncias da imaginaccedilatildeo da fantasia ou poeacuteticas abarcando a Poesia definida

como imitaccedilatildeo arbitraacuteria da Histoacuteria - elaboraccedilatildeo imaginativa desses dados

c) ciecircncias da razatildeo ou filosoacuteficas abrangendo a Teologia sagrada ou

revelada a Filosofia natural e a Antropologia - conhecimento racional de

Deus do homem e da natureza (BACON 1973)

O princiacutepio usado para dividir o conhecimento natildeo se baseou no objeto do

conhecimento mas no sujeito que conhece52 O criteacuterio subjetivo e arbitraacuterio (cf nota

25) adotado por Bacon (quadro 6) representou na eacutepoca verdadeiro progresso em

relaccedilatildeo agraves primeiras classificaccedilotildees53 Conveacutem destacar que o princiacutepio se propagou

a partir da classificaccedilatildeo baconiana e continua sendo usado ateacute hoje

52 Para Bacon os sentidos humanos funcionam como portais para a mente As impressotildees recebidas por meio dos sentidos podem ser processadas pela mente em um de trecircs modos possiacuteveis no modo Memoacuteria pode-se fixar enumerar e registrar as percepccedilotildees no modo Imaginaccedilatildeo pode-se criar representaccedilotildees fantasiosas das percepccedilotildees e no modo Razatildeo pode-se analisar e classificar as percepccedilotildees 53 ldquoPresentemente um esquema que implique o intelecto humano exercitando suas diversas faculdades isoladamente e que arbitrariamente distribua o campo do conhecimento entre seus trecircs principais ramos estaacute cometendo uma violecircncia contra o nosso conceito de unidade orgacircnica do conhecimentordquo (OLIVEIRA 1980 p 27)

56

Em 1605 trinta anos depois de Huarte Francis Bacon ao mesmo tempo em

que daacute continuidade agraves ideacuteias do filoacutesofo espanhol apoiando-se nas suas divisotildees e

invertendo as duas uacuteltimas categorias baseia-se tambeacutem no Trivium e no Quatrivium

de Cassiodoro

FACULDADES MENTAIS

MEMOacuteRIA IMAGINACcedilAtildeO RAZAtildeO

Classes

Histoacuteria (Ciecircncia da Memoacuteria)

Histoacuteria Natural (Natureza)

Histoacuteria Civil (Sociedade)

Geografia

Poesia (Ciecircncia da Fantasia)

Narrativa

Dramaacutetica

Paraboacutelica

Belas Artes

Filosofia (Ciecircncia da Razatildeo)

Divina (Teologia)

Natural (Praacutetica Especulativa)

Humana (Corpo Alma Social)

Matemaacuteticas

(Ciecircncias Experimentais)

QUADRO 6 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE FRANCIS BACON (1605) - INGLATERRA FONTE a autora

O esquema principal foi desenvolvido em numerosas subdivisotildees poreacutem aqui

se encontram as principais Nessa classificaccedilatildeo Histoacuteria tem um sentido particular

radical significando todo o conhecimento jaacute acumulado pela humanidade enquanto

todas as disciplinas incluiacutedas na Poesia satildeo consideradas ldquocrendicesrdquo ou ldquofalsa

Histoacuteriardquo

De todos os precursores da ciecircncia moderna a figura mais significativa sem

duacutevida sob o ponto de vista da magnitude da sua contribuiccedilatildeo agrave classificaccedilatildeo

bibliograacutefica eacute a de Bacon O seu sistema filosoacutefico serviu de fundamento para a

construccedilatildeo de vaacuterios instrumentos destinados agrave organizaccedilatildeo do conhecimento como

a Encyclopeacutedie de Diderot e drsquoAlembert e vaacuterias classificaccedilotildees bibliograacuteficas como a

de Harris (1870) - que estaacute descrita na sequecircncia cronoloacutegica dessa subseccedilatildeo - e as

que satildeo detalhadas na seccedilatildeo 4 e suas subseccedilotildees a de Dewey (1876) que adapta o

esquema ao seu sistema decimal a Classificaccedilatildeo da Biblioteca do Congresso dos

Estados Unidos (1902) e a de Otlet (1905) que vai sofrer as influecircncias de Dewey e

de Bacon A utilizaccedilatildeo da sequecircncia que vai das Matemaacuteticas via Fiacutesica e Quiacutemica agrave

Fisiologia e que finalmente chega agrave Sociologia pode ser tambeacutem observada e

traccedilada nos sistemas de Brown (1906) Ranganathan (1933) e Bliss (1935)

57

Desse modo o esquema tornou-se uma das maiores influecircncias nas

classificaccedilotildees bibliograacuteficas servindo de base para a estrutura de novos esquemas

gerais de classificaccedilatildeo apesar de natildeo ter sido elaborado com uma finalidade

pragmaacutetica ou seja a de organizar materiais ou informaccedilatildeo em bibliotecas Parte-se

da teoria porque a praacutetica eacute muito variaacutevel

Hobbes54 deu seguimento agrave classificaccedilatildeo das ciecircncias de Francis Bacon

impregnando-a de um princiacutepio mais objetivo frente ao subjetivismo de Bacon ou

seja com Hobbes segundo Kedrov (1974 v 1 p 75) passa-se das classificaccedilotildees

construiacutedas com base em um princiacutepio subjetivo para as construiacutedas em cima de um

princiacutepio objetivo Principal criador do materialismo mecanicista Hobbes reduz o

pensamento a um tipo de sensaccedilatildeo e o homem a uma estrutura mecacircnica o que se

reflete na sua classificaccedilatildeo das ciecircncias (quadro 7)

Hobbes considera que haacute duas modalidades de conhecimento a primeira eacute a

dos fatos e baseia-se na sensaccedilatildeo e na memoacuteria e a segunda eacute a das

consequecircncias ou das causas e baseia-se no entendimento ou razatildeo Estabelece

por isso dois tipos principais de ciecircncias segundo o meacutetodo ou a maneira de estudar

o conhecimento as indutivas com base na experiecircncia ou seja aquelas que

estudam os fenocircmenos da natureza independentes do homem (Fiacutesica) e as

dedutivas com base na razatildeo ou seja aquelas que conhecem os objetos por suas

causas mediante a deduccedilatildeo (Geometria Poliacutetica Esteacutetica) Essa divisatildeo das

ciecircncias baseia-se em um princiacutepio subjetivo do meacutetodo de conhecimento (indutivo

dedutivo) poreacutem se combina com o princiacutepio objetivo de considerar as

caracteriacutesticas dos objetos

54 Thomas Hobbes (1588-1679) filoacutesofo inglecircs empirista nominalista racionalista e materialista foi um dos mestres da filosofia poliacutetica inglesa e se interessava tambeacutem pela filosofia da ciecircncia Para ele a verdadeira ciecircncia funda-se no meacutetodo matemaacutetico - pensar eacute ldquocalcularrdquo com palavras assim como a Aritmeacutetica calcula com nuacutemeros e tanto o corpo quanto o espiacuterito satildeo regidos por leis rigorosamente causais O seu pensamento exerceu profunda influecircncia no pensamento de Rousseau e Kant e nos enciclopedistas Em 1651 Hobbes publica em Londres a sua obra maacutexima Leviathan or Matter Form and Power of a Commonwealth Ecclesiastical and Civil (Leviatatilde ou Mateacuteria Forma e Poder de uma Comunidade Eclesiaacutestica e Civil) em que expotildee a sua classificaccedilatildeo e a sua filosofia poliacutetica defendendo a conveniecircncia da manutenccedilatildeo do contrato social para impor uma limitaccedilatildeo ao instinto de conservaccedilatildeo do homem isto eacute aos seus direitos jaacute que para ele o homem eacute um lobo para o homem (homo homini lupus) ou seja o homem em estado natural eacute um inimigo do homem (bellum omnium contra omnes) Dessa forma propotildee a monarquia absoluta na qual o soberano concentra em suas matildeos o poder e a razatildeo como forma de defesa dos indiviacuteduos e realiza assim o ideal almejado Eacute oportuno lembrar que as teorias do direito divino perderam definitivamente a forccedila depois da Revoluccedilatildeo Francesa e da independecircncia dos Estados Unidos e que as ideacuteias de Hobbes influenciaram as concepccedilotildees de Estado dos seacuteculos XVIII e XIX (MAZIP 2001 SANTOS 1964)

58

De acordo com San Segundo Manuel (1996 p 57-58) Hobbes estrutura as

ciecircncias em uma sucessatildeo segundo uma ordem de tracircnsito na descriccedilatildeo dos fatos -

princiacutepio objetivo - ou seja a ordenaccedilatildeo se apoacuteia na transiccedilatildeo do conhecimento

sensiacutevel ao abstrato dos fatos agrave sua explicaccedilatildeo teoacuterica dos corpos privados de

sensaccedilotildees agravequeles que as possuem Haacute ainda outras transiccedilotildees apoiadas em um

princiacutepio subjetivo como a sequecircncia do natural ao civil entre outros

Histoacuteria (registro do conhecimento dos fatos)

Histoacuteria Natural (trata dos fenocircmenos da natureza)

Histoacuteria Civil (trata dos fenocircmenos da vida social)

Filosofia (ciecircncia da consequecircncia - trata do conhecimento teoacuterico das consequecircncias de uma afirmaccedilatildeo)

Filosofia Natural (trata das propriedades dos corpos naturais)

Filosofia Civil (trata das propriedades dos corpos poliacuteticos)

Filosofia Mecacircnica (trata da qualidade quantidade e movimento dos corpos)

Filosofia Primeira (trata dos corpos da Filosofia Mecacircnica ainda natildeo determinados)

Matemaacuteticas (trata dos corpos da Filosofia Mecacircnica jaacute determinados)

Geometria (determinada por uma figura)

Aritmeacutetica (determina quantidades continuas)

Astronomia (determina a quantidade e o movimento dos corpos coacutesmicos)

Geografia (determina a quantidade e o movimento da Terra)

Fiacutesica (estuda os aspectos qualitativos das coisas - as consequecircncias da qualidade)

Meteorologia (estuda as qualidades dos corpos transitoacuterios)

Astrologia (estuda as qualidades dos corpos constantes)

Mineralogia (estuda os efeitos dos minerais e metais)

Botacircnica (estuda os efeitos das plantas)

Zoologia (estuda as propriedades dos animais em geral inclusive as propriedades dos

sentidos)

Oacutetica (relativa agrave vista)

Muacutesica (relativa ao ouvido)

Poesia (relativa agrave linguagem emocional)

Retoacuterica (relativa agrave linguagem convincente)

Loacutegica (relativa agrave linguagem racional)

Eacutetica (relativa agraves paixotildees dos homens)

Esteacutetica (relativa agrave ciecircncia da arte e do belo)

Poliacutetica (relativa ao Estado e ao Direito)

QUADRO 7 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HOBBES (1651) - INGLATERRA FONTE a autora com base em Vickery (1975 p 152) San Segundo Manuel (1996 p 57-58) e Gopinath (2001 p 65)

59

Locke55 continua de certo modo a linha traccedilada por Bacon e Hobbes e

aponta ainda que de maneira incipiente para uma classificaccedilatildeo embasada em um

princiacutepio objetivo suplantando o princiacutepio das capacidades do homem

Reconhece duas classes de ciecircncias segundo a divisatildeo dos objetos do

conhecimento (quadro 8) as reais (naturais - aquelas que se ocupam dos primeiros

objetos de conhecimento as coisas mesmas enquanto cognosciacuteveis os fenocircmenos da

natureza como a Fiacutesica a Quiacutemica e a Biologia onde se encontra a Medicina com a

qual o autor mais se ocupou e metafiacutesicas - aquelas que se ocupam dos fenocircmenos da

alma como a Filosofia e a Teologia) e as ideais (praacuteticas - aquelas cujo objeto eacute a accedilatildeo

do homem enquanto dependente do homem para alcanccedilar objetivos bons uacuteteis e

finalmente atingir a felicidade como a Matemaacutetica a Eacutetica e as Artes e semioacuteticas -

aquelas que estudam os caminhos por meio dos quais se comunica o conhecimento

adquirido nas ciecircncias anteriores como a Loacutegica a Linguiacutestica e a Antropologia)

CIEcircNCIAS REAIS CIEcircNCIAS IDEAIS

Ciecircncias Naturais Ciecircncias Metafiacutesicas Ciecircncias Praacuteticas Ciecircncias Semioacuteticas

Fiacutesica

Filosofia Natural

Quiacutemica

Teologia Natural

Biologia (Medicina)

Filosofia

Teologia

Matemaacutetica

Eacutetica ou Filosofia

Praacutetica

(Artes Mecacircnicas e

Belas Artes)

Loacutegica

Linguiacutestica

Gecircnero de Vida

(similar agrave Antropologia)

QUADRO 8 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE LOCKE (1690) - INGLATERRA FONTE a autora

55 John Locke (1632-1704) filoacutesofo empirista e cientista inglecircs (pertencia agrave Royal Society) um dos mentores do liberalismo eacute o iniciador da teoria do conhecimento propriamente dita porque se propotildee a analisar o processo de produccedilatildeo do conhecimento a origem das ideacuteias e dos discursos e a capacidade do sujeito cognoscente em relaccedilatildeo aos objetos que ele pode conhecer Eacute considerado o pai do Iluminismo por defender a ideacuteia de uma monarquia hipoteacutetica que garantisse as liberdades individuais sob o comando de um soberano esclarecido e pregar a liberdade como essecircncia da soberania poliacutetica Tornou-se colaborador do cientista Robert Boyle (1627-1691) um dos membros fundadores da Royal Society e da Quiacutemica moderna que introduziu o conceito de aacutetomo e elementos quiacutemicos - o que foi um avanccedilo em relaccedilatildeo agrave alquimia que dominou a Idade Meacutedia e agrave concepccedilatildeo de Aristoacuteteles dos quatro elementos Para Locke o homem ao nascer natildeo possui qualquer ideacuteia e a sua mente eacute como uma taacutebula rasa Tudo o que o homem sabe existir eacute dado pelas sensaccedilotildees e percepccedilotildees portanto pela experiecircncia Por conseguinte as ideacuteias universais natildeo correspondem agrave realidade mas satildeo nomes instituiacutedos por convenccedilatildeo para organizar pensamentos e discursos Assim por exemplo natildeo existe ldquoa corrdquo mas objetos coloridos tais como percebidos - ldquoa corrdquo eacute um nome geral com que a razatildeo organiza as sensaccedilotildees visuais Por isso se diz que Locke eacute um nominalista Em sua obra capital terminada em 1666 e publicada em 1689 An Essay Concerning Human Understanding (Ensaio sobre o entendimento humano) seguindo o seu gosto pela regra experimental - seus princiacutepios empiristas - propocircs a experiecircncia (por meio dos sentidos) como fonte do conhecimento que depois se desenvolveria por esforccedilo da razatildeo - ideacuteia que permeia toda a sua divisatildeo das ciecircncias no uacuteltimo capiacutetulo do ensaio ldquoDa divisatildeo das ciecircnciasrdquo (CHAUIacute 2005 MAZIP 2001 GARCIA MORENTE 1952)

60

A concepccedilatildeo de conhecimento de Locke exerceu grande influecircncia no seacuteculo

XVIII e serviu de inspiraccedilatildeo junto com os postulados de Bacon para os

enciclopedistas franceses Voltaire Diderot e drsquoAlembert

Sempre com novas interpretaccedilotildees e releituras a divisatildeo aristoteacutelica do

conhecimento permaneceu influenciando classificaccedilotildees como a usada pelo filoacutesofo

alematildeo Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) que por volta de 1676 desempenhou

tarefas de bibliotecaacuterio-chefe em Hannover e elaborou56 um esquema modelo (com

base na Filosofia teoacuterica de Aristoacuteteles) para uma biblioteca real cujas classes

(quadro 9) aparecem como cacircnone das disciplinas do conhecimento O seu

esquema classificatoacuterio compreendia

CLASSES

THEOLOGIA (Biacuteblica Ecclesiastica Dogmaacutetica Practica)

JURISPRUDENTIA (Ius naturae et gentium Jus Romanum et alia jura antiqua Jus Ecclesiasticum

humanum seu Canonicum Jus feudale et publicum Varia jura recentiora)

MEDICINA (Hygiastica et Diaetetica Pathologia cum Semeiotica Pharmaceutica Chirurgica)

PHILOSOPHIA INTELLECTUALIS (Theoretica Loacutegica Metaphysica Pneumaacutetica Practica Ethica

et Politica)

PHILOSOPHIA RERUM IMAGINATIONIS seu MATHEMATICA (Mathesis pura ubi Arithmetica

Aacutelgebra Geometria Musica Astronomia cum Geographia generali Oacuteptica

Gnomonica Mechanica bellica Naacuteutica Architectonica Opificiaria omnigena a vi

imaginationis pendentia)

PHILOSOPHIA RERUM SENSIBILIUM seu PHISICA (Phisica massarum et similarum quo pertinet

etiam Chymia de aqua igne salibus etc Regni mineralis Regni vegetabilis

quorsum Agricultura Regni animalis quorsum Anatomica quoque Oeconomica

et opificiaria artificiis physicis nitentia)

PHILOSOPHIA seu RES LINGUARUM (Grammatica et Lexica Rhetorica ubi Epistolae Orationes

etc Peeumltica Critica)

HISTORIA CIVILES (Universalis Geographia Juc Genealogica et Heraldica Historia Graeca et

Romana cum antiquitatibus Historia medii aevi a ruiacutena Imperii Romani per

Barbaros ad saeculum superius (XVI) Historia nostri temporis et saeculi

superioris et nostri Historiae gentium Historiae variarum rerum hoc et vitae

saltem remissive)

QUADRO 9 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE LEIBNIZ (1701) - ALEMANHA FONTE San Segundo Manuel (1996 p 61)

56 De 1701 a 1704 redigiu os Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano que soacute foram publicados em 1765 no qual elabora uma teoria do conhecimento e defende a existecircncia de ideacuteias inatas (MAZIP 2001 p 188)

61

Aleacutem da divisatildeo das ciecircncias eacute importante destacar que Leibniz se envolveu

profundamente na possibilidade tentativa e projeto de uma liacutengua perfeita de uma

linguagem universal que se expressaria de maneira simboacutelica Essa ideacuteia teraacute reflexos

diretos ainda que natildeo assumidos pelos responsaacuteveis nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas

do final do seacuteculo XIX Como salienta San Segundo Manuel (1996 p 59) uma

linguagem universal com notaccedilatildeo57 simboacutelica tem sido a ideacuteia perseguida (com o

emprego da CDU) para abordar a anaacutelise de conteuacutedo de toda produccedilatildeo cientiacutefica

mundial Agraves ideacuteias de Leibniz de uma linguagem internacional da ciecircncia com uma

notaccedilatildeo numeacuterica que permitisse a inclusatildeo de qualquer ciecircncia nesse conjunto e que

produzisse e possibilitasse a enciclopeacutedia universal do conhecimento recorreraacute Otlet

para defender a CDU como linguagem universal da ciecircncia com notaccedilatildeo numeacuterica Isso

permitiria compilar um arquivo universal do conhecimento que Otlet denominaria

Repertoacuterio Bibliograacutefico Universal (RBU) (cf subseccedilatildeo 43) Tambeacutem Dewey recorreraacute agrave

ideacuteia de notaccedilatildeo numeacuterica ao propor o uso de nuacutemeros decimais (cf subseccedilatildeo 42)

Cabe mencionar que nem Dewey nem Otlet estabelecera uma ligaccedilatildeo direta entre as

ideacuteias da linguagem da classificaccedilatildeo e da enciclopeacutedia de Leibniz e seus sistemas

classificatoacuterios apesar das semelhanccedilas Como mencionado Leibniz procurava uma

caracteriacutestica universal um tipo de linguagem conceitual para a expressatildeo combinatoacuteria

de quaisquer conceitos e assuntos existentes no mundo Assim eventual e

possivelmente o pensamento de Leibniz influenciou Ranganathan que segundo

Dahlberg (1979b p 356) encontrou o novo tipo de matemaacutetica ldquoqualitativaldquo que Leibniz

buscava ao tentar analisar os assuntos encontrados nos livros e documentos (dividindo-

os em seus elementos constituintes) e formalizar os enunciados a respeito dos

assuntos encontrados por meio de sua ldquofoacutermula de facetasrdquo (cf subseccedilotildees 41 e 47)

Conveacutem lembrar que Dewey propocircs uma reforma ortograacutefica do inglecircs

(CACALY 1997 p 183) e que Otlet (1934 p 430-431) afirmou textualmente ser a

linguagem o princiacutepio ordenador do conhecimento Em resumo tanto Dewey quanto

Otlet de modos muito diferentes tinham clareza a respeito da importacircncia da

linguagem para a classificaccedilatildeo

57 A notaccedilatildeo da classificaccedilatildeo eacute uma atividade semioacutetica porque eacute construiacuteda sobre um sistema semioacutetico - a linguagem - e o significado dela mesma (o termo do assunto) eacute um significante simboacutelico em niacutevel de linguagem A classificaccedilatildeo aleacutem disso eacute complicada pelo fato de se basear em anaacutelises e descriccedilotildees de conhecimento registrado que eacute interpretado por classificadores e indexadores humanos para que o assunto - a sua interpretaccedilatildeo e as suas combinaccedilotildees - sejam significantes na recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo

62

O humanismo renascentista somado agraves descobertas cientiacuteficas do seacuteculo XVII

preparou os acircnimos para uma grande mudanccedila da sociedade caracterizada pela

ilimitada confianccedila na natureza humana agrave luz da razatildeo

No seacuteculo XVIII o Iluminismo58 privilegia as viagens as pesquisas e os

empreendimentos cientiacuteficos que se vecircem incentivados pelas cortes e governos Satildeo

criadas academias de ciecircncias em Londres (1665) Paris (1666) Berlim (1700) Satildeo

Petersburgo (1724) entre outras A ciecircncia passa a ocupar o primeiro lugar na

hierarquia das atividades humanas A Fiacutesica cuja primeira sistematizaccedilatildeo se encontra

na obra Princiacutepios Matemaacuteticos de Filosofia Natural de 1687 de Newton eacute acatada

pelos iluministas como a ciecircncia matildee ou como a ldquoverdadeirardquo Filosofia As pesquisas de

Boyle encaminham a Quiacutemica agrave sua organizaccedilatildeo como ciecircncia positiva enquanto a

obra de Buffon e de outros naturalistas assinalam tambeacutem grande desenvolvimento

para as ciecircncias bioloacutegicas Desenvolvem-se novas disciplinas e surgem descobertas e

invenccedilotildees revolucionaacuterias como a maacutequina a vapor (Watt) o tear mecacircnico

(Cartwrigth) o tear automaacutetico (Arkwight) a bateria eleacutetrica (Galvani) o termocircmetro

centiacutegrado (Celsius) maacutequina de fiar (Hargreaves) pilha voltaica (Volta) prensa

hidraacuteulica (Bramah) vacina antivarioacutelica (Jenner) gaacutes de iluminaccedilatildeo (Murdock e

Lebon) litografia (Senefelder) decomposiccedilatildeo da aacutegua (Lavoisier) oxigecircnio (Priestley)

cloro (Scheele) planeta Urano (Herschel) entre outros (ABBAGNANO 2003 p 534-

536 MAZIP 2001 p 199-200) O Iluminismo deu outro significado ao livro na

sociedade o livro passou gradativamente a perder o status de objeto sagrado e a

adquirir o sentido de objeto de consumo as publicaccedilotildees em liacutengua vulgar multiplicaram-

se o gosto pela leitura espalhou-se e as relaccedilotildees entre o pensamento erudito e o

acesso agrave informaccedilatildeo modificaram-se A organizaccedilatildeo do conhecimento comeccedila a

despertar o interesse pela criaccedilatildeo de sistemas de classificaccedilatildeo competentes para

sistematizar esse conhecimento que passa a ser uma necessidade Ateacute entatildeo natildeo se

vinculava a importacircncia do livro agrave questatildeo do acesso agrave informaccedilatildeo

58 Por Iluminismo ou ldquoseacuteculo das luzesrdquo entende-se comumente o periacuteodo que vai dos uacuteltimos dececircnios do seacuteculo XVII periacuteodo setecentista aos uacuteltimos dececircnios do seacuteculo XVIII movimento intelectual e espiritual mais do que um sistema filosoacutefico embasado no primado da razatildeo e da ciecircncia como possibilidade humana de atingir um conhecimento universal Portanto caracterizado pela ilimitada confianccedila na natureza humana e na mudanccedila da sociedade agrave luz da razatildeo O Iluminismo por um lado adota a feacute cartesiana na razatildeo mas por outro lado estende a criacutetica racional a todo e qualquer campo do conhecimento Natildeo mais aquela razatildeo individualista do seacuteculo de Descartes mas uma razatildeo social (ABBAGNANO 2003 p 534-537 MAZIP 2001 p 412-413) O nome se explica porque os filoacutesofos da eacutepoca acreditavam estar iluminando a verdade e as mentes das pessoas O movimento impulsionou o capitalismo e a sociedade moderna

63

Para os iluministas a razatildeo eacute a medida de todas as coisas no universo em

contraposiccedilatildeo agrave feacute Acreditam que o uso criacutetico da razatildeo somado ao compromisso

de utilizar a razatildeo e os resultados que ela pode obter nos vaacuterios campos de

pesquisa para melhorar a vida individual e social do homem eacute capaz de eliminar as

miseacuterias do mundo por meio da educaccedilatildeo da lei da poliacutetica e da economia No

entanto consideram sem interesse tudo o que estaacute fora da experiecircncia e sem valor

os afetos os instintos e a imaginaccedilatildeo

O compromisso com a felicidade ou bem-estar do gecircnero humano e as

concepccedilotildees iluministas de toleracircncia e de progresso constituiacuteram a substacircncia de

empreendimentos como a Enciclopeacutedia - siacutembolo do saber universal meta da

humanidade no seacuteculo XVIII - que tomaram para si a tarefa da luta contra o

preconceito e a ignoracircncia Assim em 1750 cento e cinquenta anos depois de

Bacon os filoacutesofos iluministas Denis Diderot (1713-1784) e Jean le Rond

drsquoAlembert (1717-1783) utilizam a classificaccedilatildeo ou esquema de Bacon baseando-

se naqueles mesmos princiacutepios subjetivos (faculdades humanas da Memoacuteria

Imaginaccedilatildeo e Razatildeo) poreacutem mudam a ordem para Memoacuteria Razatildeo e Imaginaccedilatildeo

na sistematizaccedilatildeo (quadro 10) da sua volumosa Enciclopeacutedia

SISTEMA FIGURATIVO DO CONHECIMENTO HUMANO

MEMOacuteRIA RAZAtildeO IMAGINACcedilAtildeO

Ramos do conhecimento

Histoacuteria Filosofia Poesia

Sagrada Metafiacutesica Geral

Narrativa

Eclesiaacutestica Ciecircncia de Deus

Drama

Civil Ciecircncia dos Homens

Alegorias

Natural Ciecircncia Natural

QUADRO 10 - DIDEROT drsquoALEMBERT E A SISTEMATIZACcedilAtildeO DA ENCYCLOPEacuteDIE (1751) - FRANCcedilA FONTE a autora

A Enciclopeacutedia ou Dicionaacuterio Racional das Ciecircncias das Artes e dos Ofiacutecios

(Encyclopeacutedie ou Dictionnaire Raisonneacute des Sciences des Arts et des Meacutetiers

64

1751-1780)59 reunia o conhecimento e o pensamento filosoacutefico da eacutepoca

introduzia a noccedilatildeo de conhecimento cientiacutefico preparava ideologicamente a

Revoluccedilatildeo Francesa e induzia agrave compreensatildeo das transformaccedilotildees antes

articulada com a modificaccedilatildeo da natureza e a partir do seacuteculo XVIII com a soluccedilatildeo

dos problemas praacuteticos (CARVALHO 1999 p 25-27)

A importacircncia da Encyclopeacutedie aleacutem do jaacute dito e do fato de ela ser a primeira

enciclopeacutedia alfabeacutetica das ciecircncias o que para a eacutepoca significou uma maior

democratizaccedilatildeo do saber estaacute na nova concepccedilatildeo das ciecircncias que comeccedilam a se

difundir seguindo uma ordem alfabeacutetica preocupada com a exposiccedilatildeo sistemaacutetica e

detalhada de todas as ciecircncias e natildeo tanto em estabelecer uma estrutura

hieraacuterquica pois dAlembert estava consciente assim como Leibniz tambeacutem estava

dos perigos da fragmentaccedilatildeo e estilhaccedilamento das ciecircncias constatando que as

ciecircncias formam grupos diferentes e desunidos

313 Idade Contemporacircnea Seacuteculos XIX e XX60

Baseando-se na natureza dos fenocircmenos as classificaccedilotildees das ciecircncias no

seacuteculo XIX tornam-se positivistas61 determinadas por razotildees teoacutericas especulativas

buscando maior compreensatildeo das relaccedilotildees entre os saberes das novas conexotildees

interdisciplinares por causa dos grandes descobrimentos nas ciecircncias O surgimento

de numerosas ciecircncias de transiccedilatildeo (aquelas que surgem no limite entre duas ou mais

59 A diferenccedila entre uma classificaccedilatildeo enciclopeacutedica e uma classificaccedilatildeo filosoacutefica das ciecircncias eacute que uma enciclopeacutedia pressupotildee a tentativa de dar o quadro completo de todas as disciplinas cientiacuteficas e de fixar de modo definitivo as suas relaccedilotildees de coordenaccedilatildeo e subordinaccedilatildeo enquanto uma classificaccedilatildeo filosoacutefica das ciecircncias tem soacute o intento mais modesto de dividir as ciecircncias em grupos segundo a afinidade dos seus objetos ou dos seus instrumentos de pesquisa 60 Convencionou-se chamar Idade Contemporacircnea o periacuteodo compreendido entre a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) e os dias atuais 61 Positivismo em sentido geral eacute a doutrina filosoacutefica que explica o real em termos cientiacuteficos (MAZIP 2001 p 428) Em sentido especiacutefico eacute a doutrina e a escola fundadas por Auguste Comte (1798-1857) que aleacutem de compreender uma teoria da ciecircncia eacute tambeacutem uma reforma da sociedade e uma religiatildeo Caracteriza-se como afirmaccedilatildeo social das ciecircncias experimentais e romantizaccedilatildeo da ciecircncia Associa uma interpretaccedilatildeo das ciecircncias e uma classificaccedilatildeo do conhecimento a uma eacutetica humana afastando radicalmente o saber teoloacutegico ou o metafiacutesico Positivismo eacute a visatildeo de que o inqueacuterito cientiacutefico seacuterio natildeo deveria procurar causas uacuteltimas que derivem de alguma fonte externa mas sim confinar-se ao estudo de relaccedilotildees existentes entre fatos que satildeo diretamente acessiacuteveis pela observaccedilatildeo reduzindo assim a Filosofia agrave Ciecircncia (SANTOS 1964 p 1480-1481) O positivismo teve grande repercussatildeo na segunda metade do seacuteculo XIX ampliando o empirismo e tendendo para a construccedilatildeo de uma Filosofia da Ciecircncia mas perdeu influecircncia no seacuteculo XX entre outras correntes de pensamento para o estruturalismo No Brasil o positivismo teve ampla aceitaccedilatildeo nas escolas de Direito nos Ciacuterculos Militares e no Movimento Republicano No Rio de Janeiro Benjamim Constant (1837-1891) fundou em 1876 a Sociedade Positivista e Miguel Lemos (1854-1917) e Teixeira Mendes (1855-1927) a Igreja Positivista

65

ciecircncias como a Termodinacircmica nascida entre a Mecacircnica e a Fiacutesica a

Eletroquiacutemica entre a Quiacutemica e a Fiacutesica a Bioquiacutemica entre a Quiacutemica e a Biologia

e outras) somado ao grande desenvolvimento ocorrido nas ciecircncias sociais a partir

das teorias de Comte e nas ciecircncias bioloacutegicas a partir de Darwin culminou na

necessidade de maior compreensatildeo e diferenciaccedilatildeo rigorosa entre as ciecircncias

(KEDROV 1974 v 1 p 21) Eacute assim que com influentes pensadores como Hegel

Ampegravere Comte Spencer e Wundt a classificaccedilatildeo das ciecircncias constitui-se no

problema central da filosofia das ciecircncias (PIEDADE 1983 GOPINATH 2001

POMBO 2006) tentando conciliar o utilitarismo com o positivismo

O sistema de classificaccedilatildeo de Hegel62 aparece como uma consequecircncia de seu

sistema filosoacutefico ou seja a classificaccedilatildeo emanada do seu pensamento natildeo derivava

de uma ideacuteia de desenvolvimento da natureza senatildeo do espiacuterito como criador da

natureza O seu sistema eacute especulativo tritocircnico com base na Loacutegica dialeacutetica ou

especulativa (entendendo-se por dialeacutetica a siacutentese dos opostos) e apresenta trecircs

partes principais 1 a ideacuteia-em-si estudo da fase teoacuterica do absoluto do ser do natildeo-ser

e do vir-a-ser (Ontologia Teologia Epistemologia) 2 ideacuteia fora de si estudo da

natureza (Mecacircnica Fiacutesica Biologia) e 3 ideacuteia-em-si e para-si estudo do espiacuterito

(subjetivo desenvolve-se mediante a Psicologia objetivo desenvolve-se mediante a

Histoacuteria e absoluto manifesta-se na Arte na Religiatildeo e na Filosofia) (quadro 11)

1 Ideacuteia-em-si

2 Ideacuteia fora de si

3 Ideacuteia-em-si e para-si

ABSOLUTO (Begriff - Conceito)

NATUREZA (Wesen ndash Essecircncia)

ESPIacuteRITO (Sein - Ser)

Ontologia Teologia

Epistemologia

Mecacircnica Fiacutesica

Biologia

Subjetivas Psicologia Objetivas Histoacuteria Absolutas Artes Religiatildeo Filosofia (Direito Eacutetica)

QUADRO 11 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HEGEL (1817) - ALEMANHA FONTE a autora com base em Gopinath (2001 p 63) e Mazip (2001 p 251-257)

62 Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) filoacutesofo representante do idealismo alematildeo A sua obra serviu de base para a maior parte das tendecircncias filosoacuteficas e ideoloacutegicas posteriores como o marxismo o existencialismo e a fenomenologia Em sua obra mais sistemaacutetica Compecircndio Enciclopeacutedico das Ciecircncias Filosoacuteficas de 1817 estabeleceu uma classificaccedilatildeo para as ciecircncias (MAZIP 2001 SANTOS 1964)

66

Para Hegel o saber cientiacutefico era um saber ou um conhecimento conceitual e

as conexotildees internas agraves ciecircncias eram ideais

Ampegravere63 propotildee uma classificaccedilatildeo analiacutetica de todo o conhecimento humano

com base no criteacuterio dicotocircmico (de oposiccedilatildeo) Dividiu as ciecircncias primeiramente em

dois reinos (quadro 12) ciecircncias cosmoloacutegicas - relativas ao mundo fiacutesico e agrave natureza

e ciecircncias nooloacutegicas (denominaccedilatildeo criada por ele em 1834) - relativas ao espiacuterito

CIEcircNCIAS COSMOLOacuteGICAS (NATUREZA) CIEcircNCIAS NOOLOacuteGICAS (ESPIacuteRITO)

Ciecircncias Matemaacuteticas

Ciecircncias Fiacutesicas

Ciecircncias Naturais

Ciecircncias Meacutedicas

Ciecircncias Filosoacuteficas (Psicologia Ontologia Eacutetica)

Ciecircncias Nooteacutecnicas (Artes Literatura)

Ciecircncias Etnoloacutegicas (Etnologia Arqueologia Histoacuteria)

Ciecircncias Poliacuteticas

QUADRO 12 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE AMPEgraveRE (1834) - FRANCcedilA FONTE a autora

Continuou Ampegravere a subdividir dicotomicamente os reinos em dois sub-reinos

e esses novamente subdivididos resultaram em oito classes de ciecircncias

Prosseguindo chegou a dezesseis subclasses de ciecircncias Depois trinta e duas

ciecircncias de primeira ordem e na sequecircncia sessenta e quatro ciecircncias de segunda

ordem Finalmente cento e vinte e oito ciecircncias de terceira ordem64 Essa

classificaccedilatildeo corresponde a um sistema das ciecircncias muito complexo Segundo

Gimeno Perelloacute (2002 p 13) Ampegravere reivindica para as Ciecircncias Humanas ou

Normativas frente agraves Ciecircncias Fiacutesicas ou Naturais o predomiacutenio na escala cientiacutefica

que o positivismo lhes negara Distinguiu com respeito ao seu conteuacutedo as

Ciecircncias da Natureza das do Espiacuterito de sorte que de acordo com os seus

respectivos meacutetodos as Ciecircncias Naturais devem explicar-se e as Ciecircncias do

Espiacuterito compreender-se

63 Andreacute-Marie Ampegravere (1775-1836) fiacutesico francecircs cujos estudos constituiacuteram o fundamento da eletrodinacircmica Foi o primeiro a usar o termo corrente eleacutetrica Em sua homenagem a unidade de medida de intensidade da corrente eleacutetrica (ampegravere siacutembolo A) no Sistema Internacional de Medidas leva seu nome No final da vida dedicou-se a classificar todo o conhecimento humano em sua obra (inacabada) Ensaio sobre a Filosofia das Ciecircncias (Essai sur la Philosophie des Sciences ou Exposition Analytique drsquoune Classification Naturelle de Toutes les Connaissances Humaines 1834-1843) (ABBAGNANO 2003 p 140-141 SANTOS 1964 p 1503) 64 ENCICLOPEacuteDIA SIMPOZIO Versatildeo em portuguecircs do original em esperanto Copyright 1997 Cap 2 Divisatildeo e classificaccedilatildeo das ciecircncias 2211y349 sect 4 Gecircneros de ciecircncias naturais morais e similares n 393 A classificaccedilatildeo em ciecircncias cosmoloacutegicas e nooloacutegicas Disponiacutevel em lthttpwwwsimpozioufscbrFramehtmgt Acesso em 10 jan 2008

67

Durante algum tempo somente a primeira divisatildeo que separa o grupo dos

objetos reais dos ideais destacou-se e foi amplamente aceita sendo diversas vezes

reestruturada com outros termos por exemplo como distinccedilatildeo entre ciecircncias

naturais e culturais ou ainda ciecircncias naturais (aquelas que visam conhecer

causalmente o objeto que permanece no entanto externo e tecircm caraacuteter

generalizante) e ciecircncias do espiacuterito (aquelas que visam compreender o objeto

homem e tecircm caraacuteter individualizante) Consequentemente quaisquer que sejam as

denominaccedilotildees e suas justificativas a divisatildeo acaba por destacar a vocaccedilatildeo proacutepria

de cada grupo de objetos os ideais e os reais

Como se pode observar no seacuteculo XIX as propostas de classificaccedilatildeo foram

numerosas Entretanto a classificaccedilatildeo de Comte foi a que maior polecircmica causou

exercendo larga influecircncia nos mais variados ciacuterculos do pensamento europeu

enquanto vinculada agrave doutrina sobre o conhecimento e sobre a natureza do

pensamento cientiacutefico que valorizava as ciecircncias naturais e as suas aplicaccedilotildees praacuteticas

Em 1830 Comte65 agrave medida que critica duramente as classificaccedilotildees do

conhecimento segundo ele calcadas no subjetivismo ou nas faculdades do espiacuterito

porque as divisotildees que propotildeem natildeo satildeo irredutiacuteveis66 propotildee uma classificaccedilatildeo

das ciecircncias utilitaacuteria embasada na classificaccedilatildeo dos fenocircmenos porque acredita

65 Auguste-Isidore-Marie-Franccedilois Comte (1798-1857) filoacutesofo francecircs criador do positivismo social e de sua maacutexima o amor por princiacutepio a ordem por base e o progresso por fim (lema inscrito na Bandeira do Brasil) Filosofia seguida por muitos fiacutesicos da sua eacutepoca e posteriores que atribuiacutea agrave ciecircncia o papel uacutenico de constataccedilatildeo dos fatos e pesquisa das leis e das relaccedilotildees entre os fatos Criou tambeacutem uma nova disciplina que chamou Fiacutesica Social ou Sociologia (termo por ele cunhado) Duas ideacuteias baacutesicas orientam o seu pensar os fenocircmenos sociais como os de caraacuteter fiacutesico tambeacutem obedecem a leis e todo conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico deve ter por finalidade o aperfeiccediloamento moral e poliacutetico do homem Quando procura conhecer fenocircmenos psicoloacutegicos o espiacuterito positivo deve visar agraves relaccedilotildees imutaacuteveis presentes neles - como quando trata de fenocircmenos fiacutesicos como o movimento ou a massa soacute assim conseguiria realmente explicaacute-los O espiacuterito positivo para Comte instaura as ciecircncias como investigaccedilatildeo do real do certo e indubitaacutevel do precisamente determinado e do uacutetil Nos domiacutenios do social e do poliacutetico o estaacutegio positivo do espiacuterito humano marcaraacute a passagem do poder espiritual para as matildeos dos saacutebios e cientistas e do poder material para o controle dos industriais Comte como forma de divulgar o conjunto do seu sistema e sua classificaccedilatildeo das ciecircncias publica as obras Curso de Filosofia Positiva (Cours de Philosophie Positive 1830-1842) e Discurso sobre o Espiacuterito Positivo (Discours sur lrsquoEsprit Positif 1844) (ABBAGNANO 2003 COMTE 1973) 66 Na classificaccedilatildeo proposta por Comte ao contraacuterio cada escala faz intervir um elemento irredutiacutevel nos precedentes Eacute assim que a Mecacircnica introduz a ideacuteia de movimento que natildeo estaacute incluiacuteda na noccedilatildeo das matemaacuteticas que se referem apenas agraves quantidades Do mesmo modo a Biologia introduz a ideacuteia de vida que nenhuma das ciecircncias precedentes comporta Comte acreditava num princiacutepio mais rigoroso que consistia em classificar as ciecircncias segundo sua complexidade crescente e a sua generalidade decrescente Princiacutepio vaacutelido que instaurou uma nova ordem das ciecircncias ainda que a relaccedilatildeo se tenha tornado anacrocircnica A Psicologia reduzida ao plano meramente bioloacutegico como o fez Comte natildeo considerou o psiquismo como um fenocircmeno especiacutefico

68

que a classificaccedilatildeo deve provir do proacuteprio estudo dos objetos a serem classificados

sendo determinada pelas afinidades reais do encadeamento natural apresentado por

eles (COMTE 1973 p 28) Com efeito Comte parte de um ponto de vista loacutegico o

ponto de vista do objeto a classificar Nessa primeira divisatildeo em seis ciecircncias

fundamentais a Matemaacutetica estaria na base do edifiacutecio cientiacutefico constituindo-se em

fundamento e instrumento das demais ciecircncias - instrumento sem o domiacutenio do qual

natildeo era possiacutevel ter acesso agraves demais cinco ciecircncias fundamentais - que seguiriam

uma hierarquia histoacuterica e dogmaacutetica cientiacutefica e loacutegica Matemaacutetica Astronomia

Fiacutesica Quiacutemica Biologia e Sociologia Segundo Comte (1973) as ciecircncias

classificam-se de acordo com a maior ou menor simplicidade de seus respectivos

objetos Satildeo a complexidade crescente e a generalidade decrescente que permitem

estabelecer a sua sequecircncia As Matemaacuteticas apresentam o maior grau de

generalidade e estudam a realidade mais simples e indeterminada A Astronomia

acrescenta a forccedila ao puramente quantitativo estudando as massas dotadas de

forccedila e atraccedilatildeo A Fiacutesica soma a qualidade ao quantitativo e agraves forccedilas ocupando-se

do calor da luz etc que seriam forccedilas qualitativamente diferentes A Quiacutemica trata

de mateacuterias qualitativamente distintas A Biologia ocupa-se dos fenocircmenos vitais

nos quais a mateacuteria bruta eacute enriquecida pela organizaccedilatildeo Finalmente a Sociologia

estuda a sociedade onde os seres vivos se unem por laccedilos independentes de seus

organismos Para Comte a totalizaccedilatildeo do saber somente poderia ser alcanccedilada por

meio da Sociologia Mais tarde acrescenta agrave sua classificaccedilatildeo a Moral que se

encarrega da doutrina e da conduta eacutetica Depois dessa estruturaccedilatildeo sucessiva das

ciecircncias passou a analisar cada uma desenvolvendo diferenccedilas e ligaccedilotildees entre

elas Pode-se dizer que aleacutem de elaborar uma classificaccedilatildeo pela qual se integravam

as ciecircncias da eacutepoca a grande particularidade da classificaccedilatildeo de Comte residia no

princiacutepio de coordenaccedilatildeo entre as ciecircncias Por exemplo as ciecircncias que tratam dos

corpos orgacircnicos apresentam-se coordenadas em Estrutura e Classificaccedilatildeo dos

seres vivos Fisiologia Vegetal e Fisiologia Animal enquanto as ciecircncias que tratam

dos corpos inorgacircnicos se mostram coordenadas em ciecircncias que se referem ao

fenocircmeno do Universo (Astronomia) ciecircncias que se referem ao fenocircmeno terrestre

(Fiacutesica) e ciecircncias que se referem ao fenocircmeno quiacutemico (Quiacutemica)

69

Sob outro ponto de vista Comte distingue duas espeacutecies de ciecircncias as

abstratas (fundamentais) ou gerais que estudam as leis que regem as diferentes

classes de fenocircmenos (independente dos seres concretos em que se realizam) e as

concretas (derivadas) particulares descritivas que consistem na aplicaccedilatildeo dessas

leis aos diferentes seres existentes considerados em sua complexidade concreta

Segundo Kedrov (1974 v 1 p 192) Comte parte das ciecircncias mais simples

fundamentais abstratas e independentes para as mais complexas dependentes e

derivadas (quadro 13)

CIEcircNCIAS ABSTRATAS FUNDAMENTAIS

1 2 3 4 5 6 7

Matemaacuteticas (Aritmeacutetica Geometria Aacutelgebra)

Astronomia (Geomeacutetrica Mecacircnica)

Fiacutesica (Termologia

Acuacutestica Oacutetica

Eletrocircnica)

Quiacutemica (Orgacircnica Inorgacircnica)

Biologia (Fisiologia)

Fiacutesica Social (Sociologia)

Moral (Filosofia)

CIEcircNCIAS CONCRETAS DERIVADAS

1 2 3 4 5 6 7

Engenharia Mecacircnica

Geologia Tecnologia Medicina Agricultura Botacircnica Zoologia

Antropologia

Sociologia Direito

Economia Poliacutetica Histoacuteria

Geografia Humana

Arqueologia

Psicologia Loacutegica Esteacutetica

Cosmologia Psicologia racional ou filosoacutefica Teologia racional

ou filosoacutefica

QUADRO 13 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE COMTE (1842) - FRANCcedilA FONTE a autora com base em Gopinath (2001 p 64) e Comte (1973 p 95-98)

Para facilitar o uso da sua foacutermula hieraacuterquica Comte (1973 p 97)

recomendava quando natildeo se tem necessidade duma grande precisatildeo enciclopeacutedica agrupar os termos dois a dois de maneira a reduzi-los a trecircs pares um inicial matemaacutetico-astronocircmico outro final bioloacutegico-socioloacutegico separados e reunidos pelo par intermediaacuterio fiacutesico-quiacutemico

70

Spencer67 retomou a distinccedilatildeo (ciecircncias abstratas e concretas) ao propor a

sua classificaccedilatildeo visando substituir a de Comte na qual se espelhou e a qual

criticou Segundo o princiacutepio do abstrato ao concreto dividiu todas as ciecircncias em

abstratas (Loacutegica formal e Matemaacutetica) que estudam as maneiras sob as quais os

fenocircmenos aparecem abstrato-concretas (Mecacircnica Fiacutesica e Quiacutemica) que

estudam os elementos dos fenocircmenos agrupados e da mesma natureza e

concretas (Astronomia Mineralogia Geologia Biologia Psicologia e Sociologia) que

estudam o conjunto dos fenocircmenos (quadro 14)

1 2 3 4 5

CIEcircNCIAS ABSTRATAS

Loacutegica (Filosofia)

CIEcircNCIAS ABSTRATAS Matemaacutetica

CIEcircNCIAS ABSTRATO-

CONCRETAS Mecacircnica

CIEcircNCIAS ABSTRATO-

CONCRETAS Fiacutesica

CIEcircNCIAS ABSTRATO-

CONCRETAS Quiacutemica

6 7 8 9 10

CIEcircNCIAS CONCRETAS

Astronomia

CIEcircNCIAS CONCRETAS

Mineralogia (Geologia)

CIEcircNCIAS CONCRETAS

Biologia

CIEcircNCIAS CONCRETAS

Psicologia

CIEcircNCIAS CONCRETAS

Sociologia

QUADRO 14 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE SPENCER (1864) - INGLATERRA FONTE a autora

Spencer estava preocupado natildeo somente em expor o elemento essencial de

todos os fenocircmenos a unidade de todos os modos de mateacuteria mas principalmente

em estabelecer relaccedilotildees entre esses elementos e as forccedilas que os produzem e

distinguem

67 Herbert Spencer (1820-1903) ) engenheiro e filoacutesofo socialista inglecircs profundo admirador da obra de Charles Darwin criou a expressatildeo sobrevivecircncia do mais apto e em sua obra procurou aplicar as leis da evoluccedilatildeo a todos os niacuteveis da atividade humana Eacute considerado o pai do darwinismo social e do positivismo evolucionista Antecipou-se a Darwin na formulaccedilatildeo do princiacutepio da seleccedilatildeo natural Com Spencer o evolucionismo daacute um salto quantitativo pois passa a ser aplicado a toda a natureza inclusive agrave formaccedilatildeo do cosmo O princiacutepio geral do evolucionismo eacute ldquoa funccedilatildeo cria o oacutergatildeordquo as necessidades ambientais e vitais forccedilam os seres vivos a adaptaccedilotildees oportunas criando oacutergatildeos adaptados a funccedilotildees que a luta pela vida exige As leis da evoluccedilatildeo aplicam-se tambeacutem agrave vida psiacutequica dos homens ciecircncia moral leis e religiatildeo resultam de necessidades vitais como a luta pela vida e a adaptaccedilatildeo ao meio A vida social eacute governada pela mesma lei as civilizaccedilotildees primitivas foram evoluindo da poligamia politeiacutesmo e violecircncia para a monogamia monoteiacutesmo direito e organizaccedilatildeo culminando com a Arte e a Filosofia (ABBAGNANO 2003 p 777 MAZIP 2001 p 289) A ideacuteia de uma sequecircncia evolucionaacuteria para a classificaccedilatildeo das ciecircncias eacute exposta como resultado de seus estudos de classificaccedilatildeo na obra The Classification of Science de 1864 (HUCKABY 1972)

71

Harris68 profundo admirador de Francis Bacon em 1870 inverte e amplia as

divisotildees da classificaccedilatildeo de Bacon e suas sequecircncias adaptando-as ao seu esquema

de classificaccedilatildeo com notaccedilatildeo usado para a organizaccedilatildeo do cataacutelogo e dos livros da St

Louis Public Library School Esse esquema era conhecido como Baconiano Inverso ou

Baconiano Invertido e tinha como classes principais as assinaladas no quadro 15

FACULDADES MENTAIS

RAZAtildeO IMAGINACcedilAtildeO MEMOacuteRIA

Classes

Ciecircncia Arte Histoacuteria

Filosofia Belas Artes Geografia e Viagens

Religiatildeo Poesia Histoacuteria Civil

Ciecircncias Sociais e Poliacuteticas Ficccedilatildeo Biografia

Ciecircncias Naturais e Aplicadas Miscelacircnea Literaacuteria Miscelacircnea

QUADRO 15 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HARRIS (1870) - ESTADOS UNIDOS FONTE a autora

Wundt69 simplificou a classificaccedilatildeo de Spencer reduzindo-a a dois grupos

apenas o das ciecircncias formais (ciecircncias puras - que atendem aos caracteres formais

dos objetos) e o das ciecircncias reais (que satildeo da experiecircncia - subdivididas em ciecircncias

da natureza e ciecircncias do espiacuterito em que as fenomenoloacutegicas estudam os fenocircmenos

os processos as sistemaacuteticas tratam dos objetos e as geneacuteticas oriundas dos grupos

anteriores examinam as relaccedilotildees entre os processos e os objetos e se encarregam da

pesquisa) A sua divisatildeo das ciecircncias eacute semelhante agrave de Spencer (ciecircncias abstratas e

68 William Torrey Harris (1835-1909) filoacutesofo e educador que revolucionou a educaccedilatildeo americana com os seus escritos e por seu proacuteprio exemplo como administrador escolar Era superintendente do sistema escolar puacuteblico de St Louis - o primeiro sistema no paiacutes a experienciar a ideacuteia de educaccedilatildeo como meio de alcanccedilar o progresso social e moral da civilizaccedilatildeo (MAZIP 2001) Harris pode ser considerado um iluminista julgava que a razatildeo era capaz de eliminar as causas da infelicidade e da miseacuteria por meio da lei da educaccedilatildeo e do progresso material 69 Para Wilhelm Max Wundt (1832-1920) meacutedico filoacutesofo e psicoacutelogo positivista alematildeo considerado como fundador da Psicologia Experimental com seus estudos sobre os conteuacutedos mentais tanto pela experimentaccedilatildeo quanto pela auto-observaccedilatildeo a classificaccedilatildeo das ciecircncias constituiacutea-se no problema central da Filosofia das ciecircncias Acreditava que a vida mental era fruto da experiecircncia e natildeo de ideacuteas inatas e que os fenocircmenos mentais do presente se baseavam em experiecircncias passadas antecipando de certa forma o construtivismo Deu o primeiro curso de Psicologia Cientiacutefica (1862) disciplina ateacute entatildeo considerada um ramo da Filosofia e por isso guiada pela anaacutelise racional Escreveu a obra System der Philosophie (1889) na qual apresentou a sua divisatildeo das ciecircncias e procurou definir para a Psicologia um lugar como disciplina independente e capaz de estabelecer ligaccedilatildeo entre as ciecircncias naturais e as sociais (SANTOS 1964)

72

concretas) e na subdivisatildeo eacute semelhante agrave de Ampegravere (ciecircncias da natureza e do

espiacuterito) Como se pode observar no quadro 16 Wundt introduziu na sua divisatildeo das

ciecircncias (ciecircncias puras e ciecircncias experimentais) outras dicotomias (ciecircncias da

natureza e ciecircncias do espiacuterito) para subdividir os grupos principais das ciecircncias

CIEcircNCIAS FORMAIS CIEcircNCIAS REAIS

PURAS (tratam de relaccedilotildees abstratas)

EXPERIMENTAIS (tratam de relaccedilotildees concretas)

(Loacutegica)

Matemaacuteticas

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

CIEcircNCIAS DO ESPIacuteRITO

FENOMENOLOacuteGICAS Fiacutesica Quiacutemica Biologia Astrofiacutesica Geofiacutesica Fisiologia

FENOMENOLOacuteGICAS Psicologia

GENEacuteTICAS Cosmologia Geologia Embriologia Filogecircnese

GENEacuteTICAS Histoacuteria

SISTEMAacuteTICAS Astronomia Geografia Histoacuteria Natural Mineralogia Zoologia Botacircnica

SISTEMAacuteTICAS Direito Economia Poliacutetica

QUADRO 16 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE WUNDT (1889) - ALEMANHA FONTE a autora com base em Vickery (1975 p 176-177)

Wundt tratou a Ciecircncia e a Filosofia como conhecimentos totalmente

separados Dividiu a Filosofia em Doutrina do Conhecimento e Doutrina dos

Princiacutepios (subdividida em Metafiacutesica geral e Metafiacutesica especial) Torna a subdividir

a Metafiacutesica especial em Filosofia da Natureza70 e Filosofia do Espiacuterito Wundt 70 De acordo com Wundt somente eacute adequado atribuir o termo Metafiacutesica Especial ao estudo da natureza quando essa for vista apenas sob o ponto de vista metafiacutesico Mas quando for vista nos demais aspectos poderaacute ser uma Filosofia da Natureza mas natildeo mais uma Metafiacutesica Especial (ENCICLOPEacuteDIA SIMPOZIO Versatildeo em portuguecircs do original em esperanto Copyright 1997 Cap 2 Divisatildeo e classificaccedilatildeo das ciecircncias 2211y349 sect 4 Gecircneros de ciecircncias naturais morais e similares n 398 A classificaccedilatildeo das ciecircncias de Wundt Disponiacutevel em lthttpwwwsimpozioufscbr Framehtmgt Acesso em 10 jan 2008)

73

retoma assim na divisatildeo Metafiacutesica geral e Metafiacutesica especial uma classificaccedilatildeo

que vinha de Wolff e na divisatildeo Filosofia da natureza e Filosofia do espiacuterito uma

divisatildeo prevista por Ampegravere

A distinccedilatildeo entre ciecircncias formais (ciecircncias que contecircm asserccedilotildees analiacuteticas)

e ciecircncias reais ou factuais (ciecircncias que contecircm asserccedilotildees sinteacuteticas) eacute ainda

largamente aceita pois como interpreta Carnap (WIENER 1953 p 128) essa

classificaccedilatildeo deixa intacta a unidade da ciecircncia pois as ciecircncias formais natildeo tecircm

absolutamente objeto satildeo sistemas de asserccedilotildees auxiliares sem objeto e sem

conteuacutedo Essas palavras de Carnap explicam-se tendo em mente que natildeo se pode

dar hoje um caraacuteter absoluto ou rigoroso agrave distinccedilatildeo entre as vaacuterias ciecircncias pois

toda divisatildeo das ciecircncias natildeo eacute definitiva atende soacute a uma necessidade praacutetica e

portanto provisoacuteria ou seja depende do estado atual de desenvolvimento das

disciplinas isoladas Frequentemente os maiores avanccedilos estatildeo na interseccedilatildeo de

aacutereas ateacute entatildeo tratadas separadamente Essas classificaccedilotildees das ciecircncias

aparecem como resposta agrave constituiccedilatildeo de novos ramos fundamentais do

conhecimento cientiacutefico como a Biologia e as primeiras ciecircncias pode-se dizer

verdadeiramente humanas a Sociologia (em Comte e Spencer) e a Psicologia (em

Comte Spencer e Wundt)

No final do seacuteculo XIX sob o princiacutepio geral do materialismo dialeacutetico

propondo uma utilizaccedilatildeo materialista do princiacutepio de subordinaccedilatildeo das ciecircncias

acontece a contribuiccedilatildeo de Friedrich Engels (1820-1895) e Karl Marx (1818-1883)

para a classificaccedilatildeo das ciecircncias

Para Marx (1976 p 100-101) a produccedilatildeo de ideacuteias das representaccedilotildees e da

consciecircncia estaacute diretamente ligada agrave atividade material (as suas categorias natildeo satildeo

mais que a expressatildeo teoacuterica das relaccedilotildees de produccedilatildeo) Os sentidos proporcionam

um conhecimento imediato e objetivo das coisas mas a validade do conhecimento

consiste na sua utilidade O conhecimento tem valor enquanto possibilita agir A

accedilatildeo ou praacutexis eacute anterior ao conhecimento ou teoria e soacute seraacute plena quando virar

74

atividade transformadora do meio social Sob essa oacutetica criou o meacutetodo dialeacutetico71

cientiacutefico aplicaacutevel tambeacutem ao problema da classificaccedilatildeo das ciecircncias pois as leis

fundamentais da dialeacutetica materialista atuam em todos os setores da vida (MAZIP

2001 p 279) Marx construiu um sistema geral de conhecimentos embasado na

ideacuteia de desenvolvimento do mundo seguindo uma ordem de subordinaccedilatildeo das

ciecircncias 1) ldquociecircncias naturaisrdquo depois a relaccedilatildeo do homem com a natureza o

trabalho do trabalho industrial surge a teacutecnica e a tecnologia a que correspondem

2) ldquociecircncias teacutecnicasrdquo aiacute entram as forccedilas produtivas da sociedade de base

econocircmica gerando 3) ldquociecircncias econocircmicasrdquo a partir das quais aparecem os ramos

da superestrutura ideoloacutegica da sociedade tais como a superestrutura poliacutetica

juriacutedica e outras A Filosofia ocupa um lugar agrave parte ao encarregar-se das leis do

pensamento e das leis do mundo

As novas formulaccedilotildees teoacutericas a respeito das classificaccedilotildees das ciecircncias iratildeo

determinar as modernas classificaccedilotildees bibliograacuteficas que surgem no final do seacuteculo

XIX princiacutepio do seacuteculo XX como seraacute enfocado na seccedilatildeo 472

No seacuteculo XX o problema da classificaccedilatildeo das ciecircncias ao mesmo tempo em

que perde o estatuto de centralidade no interior da Filosofia das Ciecircncias faz

emergir uma preocupaccedilatildeo com niacuteveis de realidade

Muitos filoacutesofos atraveacutes do tempo tecircm apontado que a realidade eacute

estruturada em uma seacuterie de niacuteveis integrados tais como o fiacutesico o bioloacutegico o

71 A dialeacutetica que aparece no pensamento de Marx surge como uma tentativa de superaccedilatildeo da dicotomia da separaccedilatildeo entre o sujeito e o objeto No entanto a dialeacutetica surgiu na histoacuteria do pensamento humano muito antes de Marx Em suas primeiras versotildees a dialeacutetica foi entendida ainda na Greacutecia antiga como a arte do diaacutelogo a arte de conversar Soacutecrates emprega esse conceito para desenvolver a sua filosofia Platatildeo utiliza abundantemente a dialeacutetica em seus diaacutelogos A verdade eacute atingida pela relaccedilatildeo de diaacutelogo que pressupotildee minimamente duas instacircncias mas ateacute aqui o diaacutelogo acontece sob um princiacutepio de identidade entre os iguais Poreacutem segundo Mazip (2001) eacute a dialeacutetica de Marx construccedilatildeo loacutegica do meacutetodo materialista histoacuterico que fundamenta o pensamento marxista como possibilidade teoacuterica (instrumento loacutegico) de interpretaccedilatildeo da realidade visatildeo de mundo e praacutexis Na busca de um caminho epistemoloacutegico ou de um caminho que fundamentasse o conhecimento para a interpretaccedilatildeo da realidade histoacuterica e social que o desafiava Marx conferiu agrave dialeacutetica um caraacuteter materialista e histoacuterico Para o materialismo dialeacutetico-marxista as ideacuteias devem ser compreendidas dentro de um contexto histoacuterico vivido pela comunidade dos seres humanos 72 A tiacutetulo de esclarecimento pois natildeo faz parte desta anaacutelise conveacutem dizer que a concepccedilatildeo marxista das ciecircncias acarretaraacute no seacuteculo XX a proposta de classificaccedilatildeo das ciecircncias de Vladimir Ylyich Ulianov vulgo Lenin (1870-1924) que culminaraacute com a Classificaccedilatildeo Bibliograacutefica da antiga Uniatildeo Sovieacutetica (URRS) a Bibliograficeskaja i Biblioteknaja Klassifikacija (BBK) aprovada em 1959 uma das grandes classificaccedilotildees bibliograacuteficas gerais que aleacutem de ser o sistema nacional russo de classificaccedilatildeo difundiu-se pelos antigos paiacuteses socialistas (SAN SEGUNDO MANUEL 1996)

75

mental e o cultural e que cada niacutevel funciona como uma base para o aparecimento

ou a emergecircncia de niacuteveis mais complexos Teorias73 mais detalhadas de niacuteveis

foram desenvolvidas por Nicolai Hartmann74 e James K Feibleman (quadro 17) as

quais tecircm sido consideradas como uma fonte para estruturar princiacutepios em

classificaccedilotildees bibliograacuteficas pelo Classification Research Group (CRG)75 e por

Ingetraut Dahlberg (GNOLI POLI 2004)

N HARTMANN N HARTMANN J K FEIBLEMAN

OBJETOS GERAIS - GENERAL OBJECTS

Inorgacircnico Mateacuteria e Energia Cosmos e Terra

Fiacutesico-Quiacutemico

Orgacircnico Seres vivos (plantas animais)

Bioloacutegico

Psiacutequico Seres vivos (homem)

Psicoloacutegico

Intelectual Organizaccedilatildeo dos seres vivos (sociedade)

Antropoloacutegico

QUADRO 17 - NIacuteVEIS DE OBJETOS GERAIS DE ACORDO COM HARTMANN E FEIBLEMAN FONTE Gopinath (2001 p 57)

73 Tecircm a funccedilatildeo de auxiliar o movimento do pensar sobre as entidades do mundo e de suas relaccedilotildees 74 Filoacutesofo contemporacircneo que na obra Elementos de uma Metafiacutesica do Conhecimento de 1921 ressalta como o conhecimento natildeo cria o seu objeto mas eacute uma relaccedilatildeo entre seres que preacute-existem independentemente dessa relaccedilatildeo Para N Hartmann o problema do conhecimento supotildee e implica um problema do ser Ao estudo desse problema consagrou o trabalho Os Fundamentos da Ontologia de 1935 75 O CRG (para a histoacuteria da criaccedilatildeo do CRG cf FOSKETT D J The Classification Research Group 1952-1962 Libri Munchen v 12 n 2 p 127-138 1962) formado no Reino Unido em 1952 tem sido um dos contribuintes mais significativos agrave teoria e pesquisa da classificaccedilatildeo a partir da uacuteltima metade do seacuteculo XX O trabalho teoacuterico do Grupo envolve o estudo da anaacutelise por facetas operadores relacionais e a teoria dos niacuteveis integrativos (base de um novo enfoque para a classificaccedilatildeo) O CRG opocircs agrave abordagem tradicional [top-down] de cima para baixo da classificaccedilatildeo na qual aacutereas do conhecimento satildeo predeterminadas e estatildeo subdivididas em seus elementos constituintes uma abordagem [bottom-up] de baixo para cima para a classificaccedilatildeo na qual primeiramente juntam-se os elementos individuais (os conceitos) para entatildeo determinar as aacutereas de conhecimento que lhes datildeo forma (AUSTIN 1969a SPITERI 1995)

76

Gopinath (2001 p 58) sugere adotar a anaacutelise de niacuteveis (fiacutesico bioloacutegico

psicoloacutegico e antropoloacutegico) e sua possiacutevel aplicaccedilatildeo a um esquema e classificaccedilatildeo

geral embasados nos fenocircmenos76 e natildeo nas disciplinas (como formulado

primeiramente por Derek Austin em 1969 e examinado em detalhes pelo CRG que

aponta tanto benefiacutecios como problemas na aplicaccedilatildeo da teoria dos niacuteveis

integrativos para classificaccedilotildees bibliograacuteficas77) pois de acordo com o autor haacute

duas espeacutecies de realidade uma delas estabelecida pelos niacuteveis dos seres (fiacutesico

bioloacutegico) incluindo o homem e uma outra estabelecida pelos niacuteveis (psicoloacutegico

antropoloacutegico) que o homem cria atraveacutes da sua necessidade inata de interagir com

o ser em todas as formas e maneiras Assim os elementos dos conceitos

constituiacutedos por essas duas realidades fundamentais satildeo produtos da mente

(subjetiva) e produtos da forma (concreta) Na maioria das vezes os conceitos satildeo a

mescla de ambos sendo que a forma na visatildeo de Gopinath eacute dominante na

capacidade para categorizar todo conceito

76 Fenocircmeno o mesmo que aparecircncia Nesse sentido o fenocircmeno eacute a aparecircncia sensiacutevel que se contrapotildee agrave realidade podendo ser considerado manifestaccedilatildeo desta ou que se contrapotildee ao fato do qual pode ser considerado idecircntico Eacute esse o sentido que essa palavra normalmente assume na linguagem comum sendo tambeacutem o significado encontrado em Bacon Descartes Leibniz Hobbes A partir de Husserl fenocircmeno comeccedilou a indicar natildeo soacute o que aparece ou se manifesta ao homem em condiccedilotildees particulares mas tambeacutem aquilo que aparece ou se manifesta em si mesmo como eacute em si na sua essecircncia (ABBAGNANO 2003 p 436-437 LALANDE 19-- p 467) Para Kant fenocircmeno eacute tudo o que eacute ldquopossiacutevel objeto de experiecircnciardquo tudo que aparece no tempo ou no espaccedilo e que manifesta as relaccedilotildees determinadas pelas categorias 77 Derek Austin (1969b) tenta precisar as origens da teoria dos niacuteveis integrativos mencionando que elas poderiam estar tanto no Positivismo de Comte (cf subseccedilatildeo 313) quanto nos Primeiros Princiacutepios de Herbert Spencer (cf subseccedilatildeo 313) Nos anos 30 do seacuteculo XX o bioquiacutemico Joseph Needham introduziu a teoria dos niacuteveis integrativos nas suas conferecircncias e embora fossem conhecidas vaacuterias interpretaccedilotildees da teoria (como a de A B Novikoff e a de H Spencer) o CRG decidiu adotar a de Needham e a de Feibleman (FEIBLEMAN 1965 1985) O CRG interpretou a teoria baseando-se na ideacuteia de que o mundo das coisas desenvolve-se do simples para o complexo pela acumulaccedilatildeo de propriedades novas e divergentes e que ateacute certo ponto ocorrem mudanccedilas que transformam a lsquoentidadersquo de um membro de um grupo ou classe em um membro de um grupo novo A nova entidade passa a ter propriedades caracteriacutesticas do novo niacutevel de organizaccedilatildeo e a se comportar de uma maneira completamente nova (FOSKETT D J 1962 p 136) D J Foskett (1978) utilizando o exemplo de uma bicicleta afirma que ela eacute mais do que um mero amontoado de peccedilas (seacuterie de partes) de accedilo borracha etc porque quando os elementos satildeo reunidos em um determinado conjunto de conexotildees uma nova entidade emerge O que parece existir por traacutes da noccedilatildeo de niacuteveis integrativos eacute a ideacuteia de que as entidades se desenvolvem do simples ao complexo por acreacutescimo de propriedades que em certo ponto transformaratildeo a entidade velha em um objeto novo com novas propriedades (HUCKABY 1972 p 99) De algum modo essa teoria advoga um desenvolvimento evolucionaacuterio das entidades (ver nota 67) A diferenccedila estaacute na ordem proposta pelos niacuteveis integrativos e aquela sugerida no seacuteculo XIX por Comte e Spencer a primeira eacute construiacuteda sobre uma ordenaccedilatildeo ascendente das entidades enquanto que a uacuteltima eacute construiacuteda sobre uma ordenaccedilatildeo descendente Na teoria dos niacuteveis integrativos determina-se o que uma entidade eacute somente a partir da construccedilatildeo ou desenvolvimento de suas partes

77

As categorias tecircm uma habilidade ou capacidade estruturante - elas natildeo

somente elaboram toda a estrutura das unidades de conhecimento mas tambeacutem

fornecem ao mesmo tempo o esqueleto os muacutesculos e tendotildees para essa

estrutura (GOPINATH 2001 p 58)

Quando novos ou mais niacuteveis ontoloacutegicos satildeo acrescentados ao estudo

Gopinath (2001 p 57-59) refere-se em especial aos quatro niacuteveis de objetos gerais

(fiacutesico bioloacutegico psicoloacutegico e antropoloacutegico) que se combinam (tecircm em comum) no

fato de que somente uma parte de todas as coisas se manifesta na realidade (outra

parte permanece encoberta) e estes niacuteveis podem ser suplementados em ambas as

direccedilotildees Em direccedilatildeo ao topo ou seja agrave ldquomateacuteriardquo e ldquoenergiardquo as quais podem ser

consideradas como objetos derivados do niacutevel ldquocosmosrdquo e especialmente ldquoterrardquo

onde se pode reconhecer uma realidade outra isto eacute a existecircncia de um niacutevel de

ldquoformas e estruturasrdquo que precedem o niacutevel inorgacircnico-fiacutesico e em direccedilatildeo agrave base

ou seja ao espiacuterito pois o homem tambeacutem reconhece niacutevel sem objeto material

algum contendo as chamadas realidades invisiacuteveis do espiacuterito (quadro 18)

NIacuteVEIS AacuteREAS DE CONHECIMENTO OBJETOS GERAIS InorgacircnicoFiacutesico Matemaacutetica Formas puras e proporccedilotildees

(formas e dimensotildees dos objetos matemaacuteticos)

InorgacircnicoFiacutesico Fiacutesico-Quiacutemica

Mateacuteria pura e Energia (aacutetomos compostos forccedilas)

Mateacuteria agregada em movimento (corpos coacutesmicos terra)

OrgacircnicoBioloacutegico Bioloacutegica Seres animados seres natildeo-inteligentes (micro-organismos plantas animais)

PsiacutequicoPsicoloacutegico Psicoloacutegica

Seres animados seres inteligentes (seres individuais)

IntelectualAntropoloacutegico Antropoloacutegica Seres inteligentes ldquoagregadosrdquo (sociedades humanas)

Produtos materiais (o que eacute produzido ou fabricado o que se destina a ser vendido aos consumidores produccedilatildeo de bens e de serviccedilos) Produtos intelectuais (ciecircncia informaccedilatildeo documentos notiacutecias)

EspiritualAntropoloacutegico Antropoloacutegica Produtos espirituais (linguagem trabalhos artiacutesticos e metafiacutesicos)

QUADRO 18 - NIacuteVEIS DE OBJETOS GERAIS DE ACORDO COM GOPINATH FONTE a autora com base em Gopinath (2001 p 57)

Qualquer divisatildeo das ciecircncias natildeo eacute definitiva mas provisoacuteria qualquer

classificaccedilatildeo depende da fase atual de desenvolvimento de cada disciplina cujos

78

avanccedilos muitas vezes tecircm se originado da soluccedilatildeo de problemas que se encontram

nas fronteiras entre aacutereas ateacute entatildeo tratadas separadamente

Eacute possiacutevel afirmar que tanto os filoacutesofos como qualquer pessoa necessitam

classificar - eacute da natureza humana classificar - pois a vida gira em torno de sistemas

de classificaccedilatildeo ou seja diante da complexidade dos objetos a variedade de

sistemas se mostra natildeo como prejuiacutezo mas como ganho Todos gastam grande

parte dos seus dias fazendo algum trabalho de classificaccedilatildeo e usando uma seacuterie de

classificaccedilotildees ad hoc (dadas para um propoacutesito particular) Separa-se a louccedila suja

da limpa a roupa para lavar branca da de cor a correspondecircncia importante para

ser respondida das banais e assim por diante Qualquer parte da casa escola ou

trabalho revela algum sistema de classificaccedilatildeo que estaacute embutido numa sequecircncia

de tarefas cotidianas e praacuteticas Quando se precisa armazenar ou recuperar algo a

ordem se impotildee (BOWKER STAR 2000)

Nas subseccedilotildees 314 e 33 o conceito de classe nas classificaccedilotildees filosoacuteficas

dos saberes seraacute sintetizado a fim de contribuir para o entendimento de classe para

as classificaccedilotildees bibliograacuteficas chamadas ldquoclaacutessicasrdquo ou ldquotradicionaisrdquo

314 Quadros-Siacutentese das Classificaccedilotildees Filosoacuteficas dos Saberes Tanto os princiacutepios que embasaram as classtificaccedilotildees filosoacuteficas dos saberes

(quadro 19) quanto as proacuteprias classificaccedilotildees dos saberes das ciecircncias (quadros 20 e

21) dividindo o conhecimento em disciplinas ou aacutereas de estudo refletem a trajetoacuteria do

pensamento filosoacutefico e parecem indicar que a humanidade teraacute que enfrentar e resolver

questotildees fundamentais em diversas aacutereas do conhecimento (Astronomia Filosofia

Psicologia Sociologia Medicina Antropologia Geneacutetica entre outras) e sob diversos

princiacutepios nos proacuteximos anos do seacuteculo XXI a respeito do homem (Como surgiu Quais

satildeo seus antepassados Qual o princiacutepio unificador do gecircnero humano) e de seus

atributos razatildeo (Como funciona o ceacuterebro) linguagem (Qual eacute o mecanismo da

comunicaccedilatildeo humana) psicologia (O inconsciente humano existe) sociedade (Como

conseguir a subsistecircncia da sociedade no tempo) poliacutetica (Qual eacute o modelo de

representaccedilatildeo ideal) espiritualidade (Qual eacute a essecircncia do homem) eacutetica (Quais satildeo

os paracircmetros que devem reger as accedilotildees humanas) liberdade e privacidade (Como

sobreviver mentalmente e garantir a individualidade num mundo de apelos pressotildees e

chantagens automatizado e controlador) e a respeito do universo (Como comeccedilou e

quanto tempo duraraacute Existem outros modos de vida no universo)

79

PERIacuteODO FILOacuteSOFO PRINCIacutePIOS

Seacutec IV aC Platatildeo Triacuteplice divisatildeo com base no platonismo teoria das ideacuteias e dos nuacutemeros (mente matemaacutetica) o Mito da Caverna como concepccedilatildeo de conhecimento preocupaccedilatildeo eacutetica (poliacutetica e esteacutetica) e discurso ou saber demonstrativo - Princiacutepio subjetivo o fim a que as ciecircncias se propotildeem

Seacutec IV aC Aristoacuteteles Triacuteplice divisatildeo com base nas trecircs operaccedilotildees a que se dedicam os homens Pensar Agir e Produzir- Princiacutepio subjetivo o homem e suas operaccedilotildees e o fim a que as ciecircncias se propotildeem

Seacutec VI Cassiodoro Trivium e Quatrivium (sete artes liberais) com base nas Palavras e nas Coisas- Princiacutepio objetivo a natureza

1266 R Bacon Quaacutedrupla divisatildeo influenciada pelas classificaccedilotildees escolaacutesticas (derivadas de Aristoacuteteles) e pela divisatildeo triacuteplice estoacuteica e epicurista - Princiacutepio objetivo a natureza

1575 Huarte Triacuteplice divisatildeo com base nas (trecircs) faculdades humanas mobilizadas na aquisiccedilatildeo de conhecimento Memoacuteria Razatildeo Imaginaccedilatildeo (o entendimento humano eacute o princiacutepio organizador da estrutura do conhecimento) - Princiacutepio subjetivo o homem e suas capacidades

1605 F Bacon Triacuteplice divisatildeo com base nas (trecircs) faculdades humanas mobilizadas na aquisiccedilatildeo de conhecimento Memoacuteria Imaginaccedilatildeo Razatildeo (o entendimento humano eacute o princiacutepio organizador da estrutura do conhecimento e a classificaccedilatildeo eacute construiacuteda sobre asserccedilotildees epistemoloacutegicas subjetivas e racionais que derivaram de uma visatildeo de mundo que via o homem como o centro do universo) - Princiacutepio subjetivo o homem e suas capacidades

1647 Descartes Triacuteplice divisatildeo com base no grau de sabedoria ou clareza de ideacuteias que o homem pode atingir em cada ciecircncia (raiz tronco galhos) - Princiacutepio subjetivo o homem e suas capacidades

1651 Hobbes Classificaccedilatildeo embasada no materialismo mecanicista- Princiacutepio objetivo parte do conhecimento sensiacutevel ao abstrato dos fatos concretos agrave teoria - Princiacutepio subjetivo sequecircncia do natural ao civil

1690 Locke Classificaccedilatildeo embasada no empirismo a experiecircncia como fonte de conhecimento que depois se desenvolve pelo esforccedilo da razatildeo - Suplanta o princiacutepio das capacidades humanas e divide as ciecircncias segundo seu objeto em reais e ideais

1701 Leibniz Classificaccedilatildeo com base na Fiacutesica Teoacuterica aristoteacutelica- Princiacutepio objetivo classes aparecem como cacircnone das disciplinas do conhecimento

1751 Diderot e drsquoAlembert

Triacuteplice divisatildeo com base nas (trecircs) faculdades humanas mobilizadas na aquisiccedilatildeo de conhecimento Memoacuteria Razatildeo Imaginaccedilatildeo (Classificaccedilatildeo baconiana invertida o entendimento humano eacute o princiacutepio organizador da estrutura do conhecimento) - Princiacutepio subjetivo o homem e suas capacidades

1817 Hegel Triacuteplice divisatildeo com base na Loacutegica Dialeacutetica A classificaccedilatildeo emana do espiacuterito criador da natureza- Princiacutepio subjetivo a siacutentese dos opostos

1834 Ampegravere Classificaccedilatildeo dicotocircmica embasada nos reinos da natureza e do espiacuterito- Princiacutepio subjetivo a oposiccedilatildeo - Princiacutepio objetivo divide as ciecircncias de acordo com a natureza do seu objeto em ciecircncias da natureza e ciecircncias do espiacuterito

1842 Comte Triacuteplice divisatildeo com base na classificaccedilatildeo dos fenocircmenos e na ordem histoacuterica da sua constituiccedilatildeo e progressiva diferenciaccedilatildeo- Principio objetivo fundamental de coordenaccedilatildeo parte das ciecircncias mais simples fundamentais para as mais complexas e derivadas

1864 Spencer Triacuteplice divisatildeo com base na classificaccedilatildeo dos fenocircmenos- Princiacutepio objetivo fundamental de coordenaccedilatildeo parte das ciecircncias abstratas para as concretas

1889 Wundt Classificaccedilatildeo com base na distinccedilatildeo entre ciecircncias formais e ciecircncias reais Como as ciecircncias formais natildeo tecircm objeto (satildeo sistemas de asserccedilotildees auxiliares sem objeto e sem conteuacutedo) essa classificaccedilatildeo deixa intacta a unidade da ciecircncia - Princiacutepio objetivo fundamental de coordenaccedilatildeo do abstrato ao concreto

QUADRO 19 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES FONTE a autora

80

PERIacuteODO FILOacuteSOFO DIVISAtildeO DAS CIEcircNCIAS Seacuteculo IV aC

Platatildeo 427-347 aC

Fiacutesica Eacutetica Loacutegica

Seacuteculo IV aC

Aristoacuteteles 384-322 aC

Filosofia Teoacuterica ou Especulativa Teologia Fiacutesica Matemaacutetica Filosofia Praacutetica Eacutetica Economia Poliacutetica Filosofia Poieacutetica ou Produtiva Dialeacutetica Retoacuterica Poeacutetica Medicina Ginaacutestica Gramaacutetica (aqui encontra-se a Filologia em sua acepccedilatildeo mais geral como destinada a estudar e perpetuar atraveacutes das manifestaccedilotildees linguiacutesticas dos autores claacutessicos o grego pois falado por pessoas incultas acreditavam que tendia a corromper-se) Muacutesica

Seacuteculo VI

Cassiodoro 485-580

Trivium Ciecircncias Sermoniais Gramaacutetica (Filologia como um problema filosoacutefico da origem da linguagem Em Roma a Gramaacutetica continua a integrar a Filosofia e os filoacutelogos exercem a criacutetica literaacuteria) Dialeacutetica (Loacutegica) Retoacuterica Quatrivium Ciecircncias Reais Geometria Aritmeacutetica Astronomia Muacutesica

Seacuteculo XIII (1266)

R Bacon 1214-1294

Fiacutesica Oacutetica Astronomia Alquimia Agricultura Medicina Ciecircncias Experimentais Filologia Gramaacutetica Loacutegica Retoacuterica Matemaacuteticas Aritmeacutetica Geometria Mecacircnica Muacutesica Arquitetura Eacutetica Metafiacutesica Teologia Moral

Seacuteculo XVI (1575)

Huarte 1529-1591

Artes e Ciecircncias da Memoacuteria Histoacuteria (Histoacuteria Natural Histoacuteria Civil) Artes e Ciecircncias da Razatildeo Filosofia Artes e Ciecircncias da Imaginaccedilatildeo Poesia (Narrativa Dramaacutetica Paraboacutelica)

Seacuteculo XVII (1605)

F Bacon 1561-1626

Ciecircncias da Memoacuteria Histoacuteria (Histoacuteria Natural Histoacuteria Civil) Geografia Ciecircncias da Imaginaccedilatildeo Poesia (Narrativa Dramaacutetica Paraboacutelica) Belas Artes Ciecircncias da Razatildeo Filosofia (Divina = Teologia Natural Humana) Matemaacutetica

Seacuteculo XVII (1647)

Descartes 1596-1650

Metafiacutesica (Teologia) Fiacutesica (Matemaacuteticas) Mecacircnica Medicina Moral

Seacuteculo XVII (1651)

Hobbes 1588-1679

Histoacuteria Histoacuteria Natural Histoacuteria Civil Filosofia Filosofia Natural Filosofia Civil Filosofia Mecacircnica (Filosofia Primeira Matemaacuteticas Aritmeacutetica Geometria Astronomia Geografia) Fiacutesica Meteorologia Astrologia Mineralogia Botacircnica Zoologia Oacutetica Muacutesica Poesia Retoacuterica Loacutegica Eacutetica Esteacutetica Poliacutetica

Seacuteculo XVII (1690)

Locke 1632-1704

Ciecircncias Reais Naturais Fiacutesica Filosofia Natural Quiacutemica Teologia Natural Biologia (Medicina) Metafiacutesicas Filosofia Teologia Ciecircncias Ideais Praacuteticas Matemaacutetica Eacutetica ou Filosofia Praacutetica (Artes Mecacircnicas Belas Artes) Semioacuteticas Loacutegica Linguiacutestica Gecircnero de Vida (similar a Antropologia)

QUADRO 20 - DIVISAtildeO DAS CIEcircNCIAS NAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES continua

81

PERIacuteODO FILOacuteSOFO DIVISAtildeO DAS CIEcircNCIAS

Seacuteculo XVIII (1701)

Leibniz 1646-1716

Teologia Jurisprudecircncia Medicina Filosofia Matemaacutetica Fiacutesica Linguagem Histoacuteria

Seacuteculo XVIII (1751)

Diderot 1713-1784 drsquoAlembert 1717-1783

Histoacuteria (Sagrada Eclesiaacutestica Civil Natural) Filosofia (Metafiacutesica Geral Ciecircncia de Deus Ciecircncia dos Homens Ciecircncia Natural) Poesia (Narrativa Drama Alegorias)

Seacuteculo XIX (1817)

Hegel 1770-1831

Ciecircncias do Absoluto Ontologia Teologia Epistemologia Ciecircncias da Natureza Mecacircnica Fiacutesica Biologia Ciecircncias do Espiacuterito Subjetivas Psicologia Objetivas Histoacuteria Absolutas Arte Religiatildeo Filosofia (Direito Eacutetica)

Seacuteculo XIX (1834)

Ampegravere 1775-1836

Ciecircncias Cosmoloacutegicas Ciecircncias Matemaacuteticas Ciecircncias Fiacutesicas Ciecircncias Naturais Ciecircncias Meacutedicas Ciecircncias Nooloacutegicas Ciecircncias Filosoacuteficas Ciecircncias Nooteacutecnias Ciecircncias Etnoloacutegicas Ciecircncias Poliacuteticas

Seacuteculo XIX (1842)

Comte 1798-1857

Ciecircncias Abstratas Fundamentais Matemaacutetica (Aritmeacutetica Geometria Aacutelgebra) Astronomia (Geomeacutetrica Mecacircnica) Fiacutesica (Termologia Acuacutestica Oacutetica Eletrocircnica) Quiacutemica (Orgacircnica Inorgacircnica) Biologia (Fisiologia) Fiacutesica Social (similar agrave Sociologia) Moral Ciecircncias Concretas Derivadas Engenharias Mecacircnica Geologia Tecnologia Medicina Agricultura Botacircnica Zoologia Antropologia Sociologia Direito Economia Poliacutetica Histoacuteria Geografia humana Arqueologia Psicologia Loacutegica Esteacutetica Cosmologia racional ou filosoacutefica Psicologia racional ou filosoacutefica Teologia racional ou filosoacutefica

Seacuteculo XIX (1864)

Spencer 1820-1903

Ciecircncias Abstratas Loacutegica formal Matemaacutetica Ciecircncias Abstrato-concretas Mecacircnica Fiacutesica Quiacutemica Ciecircncias Concretas Astronomia Mineralogia (Geologia) Biologia Psicologia Sociologia

Seacuteculo XX (1889)

Wundt 1832-1920

Ciecircncias Formais Loacutegica Matemaacutetica Ciecircncias Reais Natureza Fenomenoloacutegicas Fiacutesica Quiacutemica Biologia Geneacuteticas Cosmologia Geologia Embriologia Filogecircnese Sistemaacuteticas Astronomia Geografia Histoacuteria Natural (ZoolBot) Espiacuterito Fenomenoloacutegicas Psicologia Geneacuteticas Histoacuteria Sistemaacuteticas Direito Economia Poliacutetica

QUADRO 20 - DIVISAtildeO DAS CIEcircNCIAS NAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES conclusatildeo

FONTE a autora

82

IV aC IV aC VI XIII XVI XVII XVII XVII XVII XVII XVIII XIX XIX XIX XIX XX Platatildeo

Aristoacuteteles Cassiodoro

R Bacon (1266)

Huarte (1575)

F Bacon(1605)

Descartes(1647)

Hobbes(1651)

Locke(1690)

Leibniz (1701)

Diderot edrsquoAlembert (1751)

Hegel(1817)

Ampeacutere(1834)

Comte(1842)

Spencer (1864)

Wundt (1889)

C TEOacuteRICAS TRIVIUM TRIVIUM MEMOacuteRIA MEMOacuteRIA FATOS REAIS

TEOacuteRICAS MEMOacuteRIA ABSOLUTO ABSTRATAS ABSTRATAS FORMAIS

Fiacutes Teol Gram Filol Histoacuteria Histoacuteria Metafiacutesica Histoacuteria Fiacutesica Teologia Histoacuteria Ontologia Matemaacutetica Loacutegica Formal

Loacutegica

Fiacutes Dial Gram Natural Natural Teologia Natural Quiacutemica Jurisprud Sagrada Teologia Astronomia Matemaacutetica Matemaacutetica Mats Retoacuter Loacuteg Civil Civil Civil Biologia Medicina Eclesiaacutestica Epistemol Fiacutesica Retoacuter Geografia Filosofia Civil Quiacutemica Filosofia Matemaacutetica Natural Biologia Teologia Fiacutesica Fiacutesica Social Linguagem Moral Histoacuteria C PRAacuteTICAS QUATRIVIUM QUATRiVIUM RAZAtildeO IMAGINACcedilAtildeO IDEAIS RAZAtildeO NATUREZA COSMOLOacuteGICAS

(Natureza) CONCRETAS ABSTRATO-

CONCRETAS REAIS Natureza

Eacutetica Eacutetica Geom Mat Filosofia Poesia Fiacutesica Fiacutesica Matemaacutetica Filosofia Mecacircnica Mats Engenharia Mecacircnica FiacutesQuiacuteBiol Econ Arit Aritmeacutet Narrativa Mats Meteorol Eacutetica Metafiacutes Fiacutesica Fiacutesica Mecacircnica Fiacutesica CosmoGeol Pol Astron Geom Dramaacutetica Astrologia Deus Biologia C Naturais Geologia Quiacutemica AstrGeogr Muacutes Mec Paraboacutelica Mineralogia Loacutegica Homem C Meacutedicas Tecnologia Hist Natural Muacutes Belas Artes Botacircnica Linguiacutestica Natural Medicina Arquit Zoologia Antropolog Sociologia Eacutetica Oacutetica Psicologia Metaf Muacutesica Teol Poesia Mor Retoacuterica Loacutegica Eacutetica Esteacutetica Poliacutetica C POEacuteTICAS IMAGINACcedilAtildeO RAZAtildeO Oacutetica IMAGINACcedilAtildeO ESPIacuteRITO NOOLOacuteGICAS

(Espiacuterito) CONCRETAS REAIS

Espiacuterito Loacuteg Dial Fiacutes Poesia Filosofia Mecacircnica Muacutesica Poesia Psicologia Filosofia Astronomia Psicologia Retoacuter Oacutetic Narrativa Divina Medicina Eacutetica Narrativa Histoacuteria Nooteacutecnias Mineralogia Histoacuteria Poeacutet Astron Dramaacutetica Natural Moral Poesia Drama Arte Etnoloacutegicas Geologia Direito Medi Alquim Paraboacutelica Humana Alegorias Religiatildeo Poliacuteticas Biologia Economia Ginaacutest Agron Matemaacuteticas Filosofia Psicologia Poliacutetica Gram Meacuted Sociologia Muacutes C Exper

QUADRO 21 - DISCIPLINAS BAacuteSICAS (ORIGINAIS) DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES CLASSES FONTE a autora

83

A partir dos quadros-siacutentese das classificaccedilotildees filosoacuteficas dos saberes

(classes) eacute possiacutevel constatar a predominacircncia de alguns princiacutepios e caracteriacutesticas

que desde o sistema de organizaccedilatildeo das filosofias (ciecircncias) de Aristoacuteteles

permanecem inspirando e influenciando os sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica

como a presenccedila de

a) agente classificador (filoacutesofo ou outros)

b) princiacutepio classificatoacuterio (o fim a que as ciecircncias se prepotildeem em Airstoacuteteles

as trecircs faculdades humanas envolvidas no ato de conhecer em Huarte de

San Juan F Bacon Diderot e drsquoAlembert entre outros)

c) conjunto de elementos (ciecircncias) constituiacutedos na eacutepoca da classificaccedilatildeo ou

nela jaacute previacutesiveis (Comte Spencer Wundt)

d) mecanismos que possibilitam a inserccedilatildeo de novas ciecircncias ainda natildeo

constituiacutedas (Ampeacutere)

e) fio condutor jaacute que toda classificaccedilatildeo constroiacute-se no contexto das

classificaccedilotildees anteriores do mesmo domiacutenio (existe uma histoacuteria de

integraccedilatildeo nas classificaccedilotildees das ciecircncias ao longo da qual os domiacutenios e

as divisotildees78 podem ser modificados e novos criteacuterios acrescentados)

f) esquema classificatoacuterio concreto (estrutura hieraacuterquica quadro aacutervore

figura geomeacutetica) que permite a execuccedilatildeo das operaccedilotildees

Observa-se poreacutem que a rigor soacute eacute possiacutevel falar em classificaccedilotildees

cientiacuteficas a partir da Idade Moderna especificamente a partir do Renascimento

com o aparecimento das Ciecircncias Naturais como ciecircncia sistemaacutetica (seacutec XVIII)79

32 CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES CATEGORIAS O conhecimento em geral pressupotildee uma teacutecnica para a verificaccedilatildeo de um

objeto qualquer Por teacutecnica de verificaccedilatildeo costuma-se entender qualquer

procedimento que possibilite a descriccedilatildeo o caacutelculo ou a previsatildeo controlaacutevel de um

78 Classes que podem ser definidas como divisotildees de um sistema ou quadro de classificaccedilatildeo correspondendo cada divisatildeo a uma tentativa de organizar os saberes para formar o panorama dos conhecimentos de uma eacutepoca 79 As Ciecircncias Naturais constituem o primeiro sistema cientiacutefico por excelecircncia e eacute o seu objeto de conhecimento o primeiro a estabelecer por conseguinte um sistema de classificaccedilatildeo sendo a Botacircnica e a Zoologia (seacutec XIX) as disciplinas que criaram ainda incipientes no Renascimento um sistema de classificaccedilatildeo como meacutetodo de estudo da natureza mediante o agrupamento hieraacuterquico de plantas e animais com base nas relaccedilotildees entre organismos Essa atividade classificatoacuteria da Ciecircncia Natural se converte posteriormente em disciplina cientiacutefica proacutepria (ESTEBAN NAVARRO 1995 p 43-71)

84

objeto (teacutecnica nesse sentido eacute o uso normal de um oacutergatildeo do sentido tanto quanto a

operaccedilatildeo com instrumentos) e por objeto deve-se entender qualquer entidade fato

coisa realidade ou propriedade

Como procedimento de verificaccedilatildeo qualquer operaccedilatildeo cognitiva visa a um objeto

e tende a instaurar com ele uma relaccedilatildeo da qual venha a emergir uma caracteriacutestica

efetiva deste Portanto segundo Abbagnano (2003 p 174-183) as vaacuterias

interpretaccedilotildees de conhecimento ao longo da histoacuteria da Filosofia podem ser

consideradas interpretaccedilotildees dessa relaccedilatildeo e resumir-se em duas alternativas na

primeira essa relaccedilatildeo eacute de identidade ou semelhanccedila (entende-se por semelhanccedila

uma identidade parcial) e a operaccedilatildeo cognitiva eacute um procedimento de identificaccedilatildeo do

objeto para representaacute-lo na segunda a relaccedilatildeo cognitiva eacute uma apresentaccedilatildeo do

objeto e a operaccedilatildeo cognitiva eacute um procedimento de transcendecircncia

A primeira interpretaccedilatildeo - conhecimento como operaccedilatildeo de identificaccedilatildeo - pode

ser dividida em duas fases distintas na primeira fase o conhecimento eacute considerado

retrato ou imagem do objeto e a identidade ou a semelhanccedila com o objeto eacute entendida

como identidade ou semelhanccedila dos elementos do conhecimento com os elementos do

objeto por exemplo dos conceitos ou das representaccedilotildees com as coisas na segunda

fase o conhecimento tem com o objeto a mesma relaccedilatildeo que um mapa tem com a

paisagem que representa ou seja a semelhanccedila restringe-se agrave ordem dos respectivos

elementos e a operaccedilatildeo de conhecer natildeo consiste em reproduzir o objeto mas em

reproduzir as relaccedilotildees constitutivas do proacuteprio objeto a ordem dos elementos

A primeira fase constitui a maneira como a doutrina do conhecimento surgiu no

mundo antigo ou seja como identificaccedilatildeo Satildeo representantes dessa interpretaccedilatildeo o

preacute-socraacutetico Heraacuteclito os atomistas Anaxaacutegoras e Empeacutedocles Platatildeo e Aristoacuteteles

o poacutes-socraacutetico Epicuro Plotino o patriacutestico - padre da Igreja - Santo Agostinho os

escolaacutesticos Santo Alberto Santo Tomaacutes de Aquino e Satildeo Boaventura os

renascentistas Nicolau de Cusa Giordano Bruno e Campanella e os pitagoacutericos

fundadores da nova ciecircncia Copeacuternico Kepler e Galileu

Na Filosofia Moderna a doutrina de que conhecer eacute uma operaccedilatildeo de

identificaccedilatildeo assume trecircs modos principais segundo se considere que essa operaccedilatildeo

eacute realizada mediante

a) a criaccedilatildeo que o sujeito faz do objeto o idealismo romacircntico e as suas

ramificaccedilotildees afirmam a tese de que conhecer significa produzir ou criar o

objeto ou seja reconhece-se no objeto a manifestaccedilatildeo do sujeito

85

podendo-se considerar como representantes dessa tese os

filoacutesofos contemporacircneos Fichte Schelling Hegel entre outros

b) a consciecircncia o espiritualismo moderno em todas as suas

manifestaccedilotildees considera o conhecer como uma relaccedilatildeo interna da

consciecircncia (sentido iacutentimo introspecccedilatildeo intuiccedilatildeo) consigo mesma

isto eacute o sujeito natildeo pode conhecer o que eacute diferente dele o uacutenico

conhecimento verdadeiro eacute o que ele tem de si mesmo e o objeto eacute a

proacutepria consciecircncia ou uma manifestaccedilatildeo da consciecircncia sendo essa

a interpretaccedilatildeo dos filoacutesofos Schopenhauer Bergson e Husserl entre

outros

c) a linguagem o positivismo loacutegico transfere para a linguagem na qual

reconhece a operaccedilatildeo cognitiva propriamente dita a doutrina do

caraacuteter identificador dessa operaccedilatildeo Wittgenstein na obra Tractatus80

(1994) compartilha dessa interpretaccedilatildeo quando reconhece que deve

haver algo de idecircntico na imagem e no objeto representado para que

aquela possa ser a imagem deste A segunda fase da doutrina do conhecimento como identificaccedilatildeo nasce com a

Filosofia Moderna com Descartes que continua a conceber a ideacuteia como imagem

da coisa poreacutem nela jaacute aparece a identidade da ordem das ideacuteias com a ordem dos

objetos conhecidos O princiacutepio cartesiano de que a ideacuteia eacute o uacutenico objeto imediato

do conhecimento e que por isso a existecircncia da ideacuteia no pensamento nada diz

acerca da existecircncia do objeto representado punha em crise a doutrina do conhecer

como identificaccedilatildeo com o objeto pois nesse caso o objeto eacute claramente

inalcanccedilaacutevel Malebranche Spinoza Locke e Leibniz embora natildeo neguem o caraacuteter

de semelhanccedila ou de imagem dos elementos cognitivos entendem conhecimento

como identidade com a ordem objetiva O seu objeto eacute essa ordem e o conhecer eacute a

operaccedilatildeo que tende a identificar a ordem

Kant admite que a ordem objetiva das coisas tem como modelo as condiccedilotildees do

conhecimento as categorias satildeo consideradas por Kant como ldquoconceitos que

prescrevem leis aos fenocircmenos por conseguinte agrave natureza como o conjunto de todos

os fenocircmenosrdquo (KANT 1974 p 95) Os fenocircmenos natildeo sendo objetos em si mesmos

mas representaccedilotildees de objetos precisam ser pensados e assim estar submetidos agraves

80 A primeira ediccedilatildeo do Tractatus Logico-Philosophicus eacute de 1921

86

condiccedilotildees do pensamento que satildeo as categorias Desse ponto de vista conhecer natildeo eacute

uma operaccedilatildeo de assimilaccedilatildeo ou de identificaccedilatildeo mas de siacutentese Nessa perspectiva o

entendimento (independente da experiecircncia e por meio de um conjunto de elementos -

as chamadas categorias a priori) organiza as percepccedilotildees (intuiccedilotildees transformando

conhecimento sensiacutevel em conhecimento intelectual ou em conceitos)

A segunda interpretaccedilatildeo - conhecimento como operaccedilatildeo de transcendecircncia -

aparece pela primeira vez com os estoacuteicos que chamavam de evidentes as coisas

que se manifestam por si mesmas ao conhecimento como por exemplo ser dia ou

ser noite Satildeo representantes dessa interpretaccedilatildeo os escolaacutesticos do uacuteltimo periacuteodo

Duns Scot Ockham os filoacutesofos modernos Hobbes Berkeley Hume Kant e o

contemporacircneo Heidegger entre outros Hume considera que toda operaccedilatildeo

cognoscitiva eacute uma operaccedilatildeo de conexatildeo entre as ideacuteias (independentemente da sua

existecircncia real) Esse conceito do conhecimento como operaccedilatildeo de conexatildeo que

nada tem a ver com a identificaccedilatildeo com o objeto eacute chamado por Kant de operaccedilatildeo de

siacutentese ldquoPor siacutentese entendo no sentido mais amplo a accedilatildeo de acrescentar diversas

representaccedilotildees umas agraves outras e de compreender a sua multiplicidade num

conhecimentordquo (KANT 1974 p 70) O conceito de conhecimento como operaccedilatildeo de

relacionar-se com o objeto e portanto tambeacutem como processo pelo qual o objeto se

apresenta foi adotado pela Fenomenologia contemporacircnea e suas diversas correntes

Para Husserl Nicolai Hartmann e Heidegger o conhecimento eacute um processo de

transcendecircncia - conhecer eacute um modo de ser de transcender do sujeito para o mundo

- em que todas as manifestaccedilotildees do conhecer (observar perceber determinar

interpretar discutir negar afirmar) pressupotildeem a relaccedilatildeo do homem com o mundo e

soacute satildeo possiacuteveis com base nessa relaccedilatildeo

A exemplificaccedilatildeo dada ateacute aqui objetiva mostrar os vaacuterios pontos de vista que

com suas variadas expressotildees continuam influentes e satildeo responsaacuteveis na Filosofia

Contemporacircnea pela Epistemologia (estudo da origem e do valor do conhecimento

humano) (ABBAGNANO 2003 MAZIP 2001 VITA 1964)

A classificaccedilatildeo dos seres estaacute ligada desde Platatildeo agrave capacidade dos

conceitos de fornecer ldquoverdaderdquo seguranccedila estabilidade frente a um mundo

fenomecircnico e transitoacuterio em que a uacutenica coisa permanente eacute a mudanccedila Esta seccedilatildeo

apresenta as noccedilotildees de categoria de alguns filoacutesofos como Platatildeo (precursor das

classificaccedilotildees filosoacuteficas dos seres) Aristoacuteteles (autor da mais importante obra sobre

categorias) Kant (responsaacutevel pelo novo paradigma no qual o sujeito do

conhecimento eacute a razatildeo universal natildeo mais se referindo ao ser mas ao conhecer

87

para designar os conceitos) Foucault (estudioso da ordem das coisas) entre outros

Em relaccedilatildeo agrave classificaccedilatildeo dos saberes (classes) considerados como disciplinas do

conhecimento descritos na subseccedilatildeo 314 a classificaccedilatildeo dos seres (categorias)

remete agrave noccedilatildeo de princiacutepio de divisatildeo

O interesse pelas categorias isto eacute a tentativa de organizar o ldquodeterminadordquo

nasce com a primeira maneira de saber humano e mesmo Aristoacuteteles observa na

Metafiacutesica (1973) que eacute proacuteprio do saber comum ordenar as coisas o que significa

distingui-las portanto determinaacute-las Estabelecer certas distinccedilotildees eacute algo que se

impotildee a todo pensamento que tenta sistematizar a variedade encontrada no mundo Eacute

do senso comum81 observar que as coisas individuais unem-se em espeacutecies ou tipos

81 O conceito filosoacutefico de senso comum surge no seacuteculo XVIII e representa a reaccedilatildeo ideoloacutegica da burguesia contra a irracionalidade do ancien regime (SMITH N Commun sense Radical Philosophy London 1974 v 7 p 15 apud SANTOS 1989 p 36) O significado filosoacutefico de senso comum (de caraacuteter praacutetico prudente) aparece ligado ao projeto poliacutetico de ascensatildeo ao poder de uma classe Natural portanto que chegado ao poder o conceito de senso comum tenha sido desvalorizado como superficial e ilusoacuterio Eacute contra o senso comum que as ciecircncias sociais nascem no seacuteculo XIX Poreacutem ao contraacuterio das ciecircncias naturais (de caraacuteter segregador elitista) que construiacutedas contra o senso comum sempre o recusaram as ciecircncias sociais nunca deixaram de manter com o senso comum uma relaccedilatildeo complexa e ambiacutegua Em Um Discurso sobre as Ciecircncias (1987) Boaventura de Sousa Santos socioacutelogo portuguecircs procura demonstrar que a ciecircncia moderna se encontra em crise vivendo uma fase de transiccedilatildeo paradigmaacutetica Em Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna (1989) chama ciecircncia poacutes-moderna a esse novo paradigma e procura definir o perfil teoacuterico da forma de conhecimento da ciecircncia poacutes-moderna Alerta ainda para o processo de distanciamento do discurso cientiacutefico da ciecircncia moderna em relaccedilatildeo ao discurso do senso comum ao discurso esteacutetico ou ao discurso religioso Processo que adquiriiu expressatildeo filosoacutefica no seacuteculo XVII com Bacon Locke Hobbes e Descartes e tem se aprofundado como parte integrante do desenvolvimento das ciecircncias de tal maneira que a estranheza se reproduz no proacuteprio interior da comunidade cientiacutefica uma vez que as crescentes especializaccedilotildees tornam impossiacutevel ao cientista (natildeo apenas ao cidadatildeo comum) compreender a ciecircncia enquanto praacutetica social do conhecimento Na ciecircncia moderna a ruptura epistemoloacutegica simboliza o salto qualitativo do conhecimento do senso comum para o conhecimento cientiacutefico na ciecircncia poacutes-moderna o salto mais importante eacute o que eacute dado do conhecimento cientiacutefico para o conhecimento do senso comum O conhecimento cientiacutefico poacutes-moderno soacute se realiza enquanto tal agrave medida que se converte em senso comum Agrave luz de vaacuterias consideraccedilotildees Santos (1989 p 31-45) conclui que se caminha para uma nova configuraccedilatildeo de conhecimento que sendo praacutetica natildeo deixe de ser esclarecida e sendo saacutebia natildeo deixe de estar democraticamente distribuiacuteda para uma nova relaccedilatildeo entre a ciecircncia e o senso comum uma relaccedilatildeo em que qualquer deles eacute feito do outro uma relaccedilatildeo de dupla ruptura epistemoloacutegica (que os discursos se falem e atenuem o desnivelamento que os separa) uma relaccedilatildeo que transforme o senso comum tornando-o mais esclarecido e transforme a ciecircncia tornando-a mais prudente para uma nova forma de superar a dicotomia contemplaccedilatildeoaccedilatildeo que desde a filosofia grega tem dominado o pensamento ocidental contaminando a ciecircncia moderna pois se sabe desde Bacon e Descartes que a ciecircncia moderna ao pretender conhecer o mundo natildeo para o contemplar mas para o dominar e transformar apresenta uma racionalidade instrumental e para um novo equiliacutebrio entre adaptaccedilatildeo (sociedade de consumo e tecnologias que geram dependecircncia) e criatividade (liberdade de accedilatildeo e fruiccedilatildeo que geram a preservaccedilatildeo da identidade pessoal e social) Santos (1987 p 56 1989 p 40) chega assim a uma caracterizaccedilatildeo alternativa do senso comum mais positiva que supera o etnocentrismo cientiacutefico ldquoO senso comum faz coincidir causa e intenccedilatildeo subjaz-lhe uma visatildeo do mundo assente na accedilatildeo e no princiacutepio da criatividade e das responsabilidades individuais O senso comum eacute praacutetico e pragmaacutetico reproduz-se colado agraves trajetoacuterias e agraves experiecircncias de vida de um dado grupo social e nessa correspondecircncia se afirma de confianccedila e daacute seguranccedila O senso comum eacute transparente e evidente desconfia da opacidade dos objetos tecnoloacutegicos e do esoterismo do conhecimento em nome do princiacutepio da igualdade do acesso ao discurso agrave competecircncia cognitiva e agrave competecircncia linguiacutestica O senso comum eacute superficial porque desdenha das estruturas que estatildeo para aleacutem da consciecircncia mas por isso mesmo eacute exiacutemio em captar a profundidade horizontal das relaccedilotildees conscientes entre pessoas e entre pessoas e coisas O senso comum eacute indisciplinar e imetoacutedico natildeo resulta de uma praacutetica especificamente orientada para o produzir reproduz-se espontaneamente no suceder quotidiano da vida Por ultimo o senso comum eacute retoacuterico e metaforico natildeo ensina persuaderdquo

88

e que ateacute coisas especificamente diferentes ainda obedecem a classificaccedilotildees

geneacutericas

O termo categoria utilizado normalmente para significar caraacuteter espeacutecie

ou natureza tem origem remota no termo grego kategoriacutea (Κατηγοριαι que

passou para o latim Categoriae) e pertence agrave famiacutelia tendo a mesma raiz do

verbo grego ldquokategoreinrdquo que significava originalmente ldquoacusarrdquo ldquoatribuirrdquo

ldquocensurarrdquo ldquofalar contra algueacutemrdquo no sentido de responsabilizar algo ou algueacutem

em oposiccedilatildeo ao vocaacutebulo ldquodefesardquo ou ldquolouvorrdquo e com o tempo sofreu diferentes

interpretaccedilotildees ldquoatribuirrdquo ldquoenunciarrdquo ldquoexprimirrsquo ldquodeclararrdquo ldquodenominarrdquo

ldquorevelarrdquo ldquomanifestarrdquo ldquohierarquizarrdquo ldquocaracterizarrdquo ldquoclassificarrdquo ldquomostrarrdquo

ldquoexprimirrdquo ldquoprecisarrdquo ldquoafirmarrdquo ldquodeclararrdquo ldquopredicarrdquo entre outros Como

observado historicamente o sentido do vocaacutebulo desde os tempos de Platatildeo

sempre variou de acordo com a eacutepoca e o autor como qualquer vocaacutebulo Nas

subseccedilotildees 324 e 33 o conceito de categoria na Filosofia eacute retomado com a

intenccedilatildeo de sistematizar esses conceitos a fim de oferecer uma contribuiccedilatildeo agrave

conceituaccedilatildeo de categoria nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas

Aristoacuteteles foi o primeiro a usar o termo kategoriacutea em sentido teacutecnico no seu

tratado Categorias Eacute traduzido em portuguecircs por predicado ou atributo sinocircnimos

entre si segundo a autoridade do Dicionaacuterio Contemporacircneo da Liacutengua Portuguesa

(AULETE 1986 p 211) Existe entretanto na literatura teacutecnica uma tendecircncia para distinguir atributo

de predicado enquanto atributo diz respeito agraves coisas diretamente predicado

reporta-se agraves expressotildees

Parece que Porfiacuterio resolve essa questatildeo ao dizer ldquoPorque como as coisas satildeo

assim satildeo as expressotildees que primeiro as exprimemrdquo (KNEALE KNEALE 1980 p 29)

O mesmo significado com que as categorias expressam os diversos modos de

enunciaccedilatildeo e por conseguinte os distintos modos de ser encontra-se exatamente no

termo predicamento82 conexo por sua vez com ldquopraedicarerdquo (predicar enunciar

82 Do latim predicamentum proposto por Boeacutecio (480-524) para traduzir o termo aristoteacutelico kathegoreia (categoria) As categorias satildeo praedicamenta tambeacutem gecircneros supremos das coisas Boeacutecio redigiu traduccedilotildees latinas adaptaccedilotildees e comentaacuterios gregos a respeito de Aristoacuteteles que contribuiacuteram muito para criar uma liacutengua filosoacutefica latina teacutecnica e precisa ao longo de toda a Idade Meacutedia Legou aos sucessores definiccedilotildees uacuteteis na discussatildeo de problemas filosoacuteficos entre eles define predicaccedilatildeo por essecircncia - predicaccedilatildeo de um elemento essencial - por exemplo Soacutecrates eacute homem e predicaccedilatildeo por participaccedilatildeo - predicaccedilatildeo de um elemento acidental - por exemplo Soacutecrates eacute alto (FERRATER MORA 1971 v 1 p 266 MAZIP 2001 p 100-102)

89

dizer)

radas por Aristoacuteteles no primeiro livro da

Metafiacutesica (LAROUSSE 1867 v 3 p 575)

321 A

(por incluir outras ciecircncias) se dividiriam em

subcla

rticipa junto com todos os outros

objetos de sua categoria de uma Ideacuteia Perfeita84

Na Filosofia Ocidental foram os pitagoacutericos (seacuteculo VI aC) mais ou menos

duzentos anos antes do nascimento de Aristoacuteteles (384 aC) os primeiros que

propuseram uma tabela de categorias - um meacutetodo de categorizaccedilatildeo em que cada

nuacutecleo categorial era concebido como a relaccedilatildeo de dois termos opostos por meio da

nomeaccedilatildeo do princiacutepio de oposiccedilatildeo Os pitagoacutericos consideravam os contraacuterios como

os princiacutepios das coisas e por isso nomearam vinte categorias arranjadas em pares de

opostos (o determinado e o indeterminado o par e o impar a unidade e a pluralidade a

direita e a esquerda o macho e a fecircmea o repouso e o movimento a reta e a curva a luz

e a sombra o bem e o mal o quadrado e a figura irregular) As categorias pitagoacutericas

sobreviveram ateacute hoje porque foram regist

ntiguidade Grega e Idade Meacutedia

Sob o ponto de vista histoacuterico o primeiro significado de que se tem registro

atribuiacutedo agraves categorias desponta com Platatildeo (seacuteculo V aC) que confere agraves

categorias um significado realista e objetivo considerando-as gecircneros supremos ou

seja as ideacuteias83 que satildeo os modelos das coisas Essas ideacuteias (modelos)

correspondem agraves categorias que ele chama de gecircneros e que se dividem em

espeacutecies (subcategorias) Totalmente diferente portanto do significado tambeacutem

realista atribuiacutedo por Platatildeo agraves classes considerando-as como os ramos das

ciecircncias - resultado da divisatildeo do conhecimento (saber) da eacutepoca em diversas

ciecircncias (saberes) relativamente independentes Essas ciecircncias especiacuteficas

corresponderiam agraves classes que

sses (cf subseccedilatildeo 311)

De acordo com a Teoria das Ideacuteias discutida no diaacutelogo Feacutedon (PLATAtildeO

1972) o mundo concreto percebido pelos sentidos eacute a reproduccedilatildeo do mundo das

ideacuteias na qual cada objeto concreto que existe pa

83 Na terminologia ontoloacutegica de Platatildeo ideacuteia eacute ldquoessecircncia do realrdquo (MAZIP 2001 p 46) As ideacuteias natildeo satildeo pois no sentido platocircnico representaccedilotildees intelectuais formas abstratas do pensamento satildeo realidades objetivas modelos e arqueacutetipos eternos de que as coisas visiacuteveis satildeo coacutepias imperfeitas e

rvore

fugazes Assim a ideacuteia de homem eacute o homem abstrato perfeito e universal de que os indiviacuteduos humanos satildeo imitaccedilotildees transitoacuterias e defeituosas 84 Por exemplo uma aacutervore O que faz com que determinada aacutervore seja ela mesma ou seja uma aacutervore - e natildeo outra coisa - desde o estaacutegio de semente ateacute morrer e o que faz com que ela seja tatildeo aacute

90

Platatildeo faz empalidecer as divindades em favor de uma transparecircncia conceitual ele

mina o poder dos deuses agrave medida que as ideacuteias passam a significar o poder-conhecer e

natildeo mais sinalizam os desiacutegnios do Olimpo Ao conferir realidade agraves ideacuteias Platatildeo legitima

o estatuto ontoloacutegico da teoria e daacute iniacutecio ao caminho da ciecircncia que possibilita por sua

vez o ceticismo filosoacutefico O que sustenta o filosofar em Platatildeo eacute o problema de teoria e

praacutexis do qual resulta uma correspondecircncia entre a realidade e o discurso por meio das

categorias (o ser o repouso o movimento a identidade ou igualdade e a diferenccedila ou

alteridade em Platatildeo 1972 - O Sofista) ou lsquogecircneros supremosrsquo que soacute satildeo possiacuteveis como

linguagem porque nelas o conceito eacute fixado e ao mesmo tempo altera-se na diversidade

semacircntico-pragmaacutetica do seu emprego Por isso com uma fisionomia mais definida o

discurso em relaccedilatildeo a categoria assume um significado que natildeo poderia ter existido na

filosofia precedente sem o rompimento com o universo socraacutetico

Este estudo parte do princiacutepio de que categorias para Platatildeo satildeo as ideacuteias

perfeitas das coisas objetos ou fenocircmenos em que a reuniatildeo de cada objeto

concreto com outros da mesma ordem com a mesma caracteriacutestica participariam

de uma ideacuteia um gecircnero supremo uma ideacuteia guia uma categoria propriamente dita

Assim em Platatildeo categoria eacute um princiacutepio de organizaccedilatildeo (ideacuteia que aglutina) natildeo

no sentido de iniacutecio mas no sentido de ldquoideacuteia que guiardquo a ordenaccedilatildeo do mundo Aristoacuteteles (seacuteculo IV aC) ldquotraz as ideacuteias do ceacuteu agrave terrardquo rejeita o mundo separado

das ideacuteias platocircnicas e funde o mundo sensiacutevel e o inteligiacutevel no conceito da substacircncia

Para Aristoacuteteles as ideacuteias natildeo podem ser a substacircncia das coisas porque existem fora

delas e ao contraacuterio de Platatildeo a explicaccedilatildeo da realidade encontra-se na proacutepria realidade

A estrutura do ser em geral foi um problema que sempre preocupou

Aristoacuteteles Predicados ou atributos coisas ou expressotildees a palavra categoria

(κατηγορια significa justamente predicado) parece cobrir de maneira razoaacutevel os

termos relacionados no capiacutetulo IV do tratado das Categorias (Praedicamenta) e

pelo menos os nove uacuteltimos (quantidade qualidade relaccedilatildeo lugar tempo accedilatildeo

paixatildeo estado e haacutebito) funcionam como predicados ou atributos da substacircncia85

nto outra de outra espeacutecie com caracteriacutesticas tatildeo diferentes eacute a sua participaccedilatildeo na Ideacuteia de Aacutervore

a partir da sua existecircncia e do nosso conhecimento dela c) quanto ao tempo a

quae sua impermanecircncia deve-se ao fato de a aacutervore ser uma paacutelida representaccedilatildeo da Ideacuteia de Aacutervore 85 Na terminologia metafiacutesica de Aristoacuteteles substacircncia ldquoessecircncia que tem a existecircncia em si e por si mesma Admite complementaccedilatildeo categorial Por exemplo a ideacuteia substancial de ldquogenterdquo absorve categorias muita (quantidade) paciente (qualidade) corre (accedilatildeo) etcrdquo (MAZIP 2001 p 56) Portanto aquilo que se pode dizer que algo ldquoeacuterdquo O que eacute o ser que existe O que eacute isto Homem flor etc A substacircncia eacute primeira ou anterior a todos os predicados a) no que se refere ao conceito porque todos os acidentes se referem agrave substacircncia e natildeo podem existir sem ela Afirma-se que algo (ou seja uma substacircncia) eacute belo grande proacuteximo b) no que se refere ao conhecimento soacute podemos dizer de uma pessoa que estaacute proacutexima distante parada ou em movimento

91

que tambeacutem podem ser entendidos como uma lista de diferentes tipos de coisas ou

expressotildees que podem ser afirmadas a respeito do ser86

Esta doutrina apesar de apresentar suas categorias de maneira isolada

baseia-se na relaccedilatildeo sujeito-predicado e o que as categorias visavam era tornar

possiacutevel a montagem das proposiccedilotildees87 - que se compotildeem de sujeitos e predicados

(HAMELIN 1931 p 87)

A correspondecircncia entre a realidade e o discurso por meio das proposiccedilotildees

categoriais eacute a base da loacutegica de Aristoacuteteles para quem os motivos linguiacutesticos ou

linguiacutestico-loacutegicos combinaram-se aos ontoloacutegicos na interpretaccedilatildeo das categorias

(FERRATER MORA 1971 p 265) Na doutrina de Aristoacuteteles a uma interpretaccedilatildeo

semacircntica na qual categorias satildeo os tipos de enunciados que indicam os diversos

modos de dizer (designar uma coisa) soma-se uma interpretaccedilatildeo ontoloacutegica em que

as categorias satildeo os modos de atribuiccedilatildeo de um predicado a um sujeito

Considerando-se que tal atribuiccedilatildeo se faz mediante a afirmaccedilatildeo ldquoeacuterdquo as categorias

tambeacutem podem ser chamadas de significaccedilatildeo do verbo ser ou predicados

fundamentais das coisas (existir eacute ser uma coisa de certa categoria)

substacircncia existiu existe e existiraacute como suporte dos acidentes d) quanto ao ser os acidentes natildeo podem existir fora da substacircncia 86 Nas palavras de Aristoacuteteles ldquoCada uma das coisas ditas sem nenhuma complexatildeo significa ou substacircncia ou quantidade ou qualidade ou relaccedilatildeo ou onde ou quando ou estar-em-uma-posiccedilatildeo ou ter ou fazer ou sofrer Numa palavra substacircncia eacute por exemplo homem cavalo e eacute quantidade por exemplo dois cocircvados trecircs cocircvados e qualidade por exemplo branco e gramatical e relaccedilatildeo metade maior e onde no Liceu na Aacutegora e quando ontem antes estar-em-uma-posiccedilatildeo estaacute deitado estaacute sentado e ter estaacute calccedilado estaacute armado e fazer por exemplo cortar queimar e sofrer ser cortado ser queimadordquo (ARISTOacuteTELES 2005 p 77 1b25) Na terminologia loacutegica de Aristoacuteteles satildeo categorias ou acidentes da substacircncia 1) qualidade (como) aquilo em virtude do qual se diz de algo que eacute tal e qual Ana eacute uma menina educada Francisco fala bem 2) quantidade (quanto) aquilo que eacute divisiacutevel ou mensuraacutevel os convidados se empanturraram de salgadinhos As crianccedilas brincaram demais 3) relaccedilatildeo (com o que se relaciona) nexo viacutenculo enlace dependecircncia Felipe eacute professor vive na casa da matildee e trabalha numa escola proacutexima 4) espaccedilo ou lugar (onde) situaccedilatildeo colocaccedilatildeo ubiquaccedilatildeo Construiacuteram um edifiacutecio proacuteximo Roberto nasceu na rua do futuro 5) tempo (quando) presente passado futuro anterioridade e posterioridade Alberto chegaraacute depois Aquele casal morou muitos anos na Franccedila 6) accedilatildeo (fazer agir) reflete a passagem substancial do repouso ao movimento Atividade Dinamismo Processo Eu trabalho de segunda a sexta Os vizinhos andam meia hora todos os dias 7) paixatildeo (sofrer um efeito) passividade ausecircncia de accedilatildeo Todos noacutes sofremos diante da miseacuteria Eacute difiacutecil suportar agressotildees 8) estado ou posiccedilatildeo (estar em uma situaccedilatildeo) existecircncia situada vinculada ou partilhada Estado do ser Joatildeo eacute professor Maria estaacute preocupada Ele e ela natildeo se datildeo A menina viajou 9) haacutebito (ter) condiccedilatildeo costume accedilatildeo repetida do sujeito Meus pais residem na Rua do Sol Meus amigos vatildeo frequentemente ao cinema Joatildeo eacute saudaacutevel Ela anda armada 87 Proposiccedilatildeo expressatildeo verbal de uma operaccedilatildeo mental frequentemente chamada de juiacutezo Foi formulada pela primeira vez por Aristoacuteteles para quem o conjunto dos termos (nome e verbo) do discurso declarativo corresponde a um pensamento inerente ao ser verdadeiro ou falso (ABBAGNANO 2003 p801) Esta categorizaccedilatildeo deixa muito claro o que se deve entender por categoria princiacutepio de organizaccedilatildeo ordenaccedilatildeo ou subdivisatildeo

92

As correspondecircncias entre as categorias gramaticais e as categorias aristoteacutelicas

aparecem (quadro 22) na obra do Pe Leme e Lopes88 (1956 apud PIEDADE 1983)

CATEGORIAS GRAMATICAIS CATEGORIAS ARISTOTEacuteLICAS Substantivo sujeito Substacircncia

Adjetivo qualitativo Qualidade

Adjetivo quantitativo Quantidade

Pronome relativo adjunto adnominal Relaccedilatildeo

Verbo na voz ativa Accedilatildeo

Verbo na voz passiva Paixatildeo

Adveacuterbio de lugar Lugar

Adveacuterbio de tempo Duraccedilatildeo

Adveacuterbio de modo Maneira de ser

QUADRO 22 - CATEGORIAS GRAMATICAIS SEGUNDO AS CATEGORIAS ARISTOTEacuteLICAS FONTE Piedade (1983 p 20)

Particularmente no que tange agrave concepccedilatildeo de linguagem Aristoacuteteles revigora

o significado do predicado da qualidade da riqueza do movimento das categorias

delineadas pela liacutengua grega

O encaminhamento ontoloacutegico das categorias pode ser observado no registro

que o dicionaacuterio de Ferrater Mora (1971 v 1 p 264 Traduccedilatildeo livre da autora) faz a

respeito da questatildeo

No tratado sobre as categorias Aristoacuteteles divide as expressotildees em expressotildees sem enlace - como lsquohomemrsquo lsquoeacute vencedorrsquo - e expressotildees com enlace - como lsquoo homem corrersquo lsquoo homem eacute vencedorrsquo As expressotildees sem enlace natildeo afirmam nem negam nada por si mesmas mas apenas ligadas a outras expressotildees No entanto as expressotildees sem enlace ou termos uacuteltimos e natildeo-analisaacuteveis se agrupam em categorias

A mesma passagem na traduccedilatildeo de Joseacute Veriacutessimo Teixeira da Mata

(ARISTOacuteTELES 2005 p 76 1a16) traz a seguinte interpretaccedilatildeo

Das coisas que satildeo ditas umas satildeo ditas segundo complexatildeo outras sem complexatildeo Por exemplo satildeo ditas segundo complexatildeo estas homem corre homem vence e satildeo por exemplo sem complexatildeo as seguintes homem boi corre vence

ldquoExpressotildees sem enlacerdquo ou ldquocoisas ditas sem complexatildeordquo para Aristoacuteteles

ldquocategoriasrdquo satildeo palavras simples ldquosem ligaccedilatildeordquo natildeo combinadas com outras

88 LOPES F L Introduccedilatildeo agrave filosofia Rio de Janeiro Agir 1956

93

presentes no pensamento e na linguagem e que indicam o que uma coisa eacute estaacute ou

faz quando aplicada Esta eacute uma interpretaccedilatildeo linguiacutestica (semacircntica) de categorias

fundamentada em vaacuterios textos do filoacutesofo

Observa-se claramente que Aristoacuteteles formulou um conceito de categoria

distinto de todos os anteriores Poreacutem o que esse conceito formulado de modo

original tem em comum com os anteriores eacute implicar ele tambeacutem um princiacutepio de

organizaccedilatildeo89

Pode-se entender que as palavras sem ligaccedilatildeo umas com as outras

significam por si mesmas mas nada afirmam pois eacute pela complexidade da

combinaccedilatildeo delas entre si que acontece a afirmaccedilatildeo

Em vaacuterias passagens dispersas em vaacuterias obras (Poliacutetica De Anima

Metafiacutesica Categorias) torna-se evidente que soacute se pode conhecer bem as coisas

compostas decompondo-as e levando a anaacutelise ateacute os seus elementos mais

simples

Eacute a noccedilatildeo de categoria que junta os semelhantes e separa os diferentes

Nesse sentido as categorias pertencem ao plano do real e do ontoloacutegico poreacutem

excluem os conceitos de verdade e falsidade pois estes pertencem ao juiacutezo e natildeo

ao simples conceito jaacute que natildeo podem ser encontrados nas coisas fora do espiacuterito

O falso e o verdadeiro seriam nessa perspectiva um outro modo de se explicitar o

ser desconsiderando o esquema das categorias

Para Aristoacuteteles as categorias apresentam duas propriedades loacutegicas a

extensatildeo (conjunto de objetos designados por um termo como por exemplo o termo

homem para designar todo o conjunto de seres humanos) e a compreensatildeo ou

intensatildeo (conjunto de propriedades ou caracteriacutesticas designadas por um termo

como por exemplo o termo homem para designar as propriedades animal

vertebrado mamiacutefero biacutepede e racional) Quanto maior a extensatildeo de um termo

menor sua compreensatildeo e quanto maior a compreensatildeo menor a extensatildeo

(CHAUIacute 2005 p 107-108) Essa distinccedilatildeo permitiu classificar os termos em gecircnero

(termos de maior extensatildeo) e espeacutecie (termos de menor extensatildeo)

Aristoacuteteles observa ainda que as categorias tecircm que preencher no miacutenimo

duas espeacutecies de condiccedilotildees

89 Para melhor compreensatildeo ver exemplos na nota 86 e na subseccedilatildeo 321

94

a) formal o nuacutemero de categorias eacute finito (finito ao determinar um certo

nuacutemero de categorias para dar conta da realidade que se pretende

conhecer ou organizar) a sua seccedilatildeo eacute vazia (forma vazia de conteuacutedo) e

sua uniatildeo eacute o universo

b) material todo indiviacuteduo de uma categoria tem que pertencer somente a

uma categoria isto eacute jamais deve pertencer a outra categoria

As condiccedilotildees inicialmente estabelecidas por Aristoacuteteles para as categorias

ver-se-atildeo posteriormente apropriadas pela Teoria da Classificaccedilatildeo para as classes

Portanto a Teoria da Classificaccedilatildeo ao afirmar que a lista de classes (e natildeo das

categorias) deve ser completa isto eacute deve oferecer a possibilidade de colocar cada

resposta em uma das classes da lista e a de que as classes devem ser mutuamente

exclusivas isto eacute natildeo ter a possibilidade de colocar determinada resposta em mais

de uma classe estaacute confirmando para as classes condiccedilotildees estabelecidas por

Aristoacuteteles para as categorias

Aristoacuteteles denomina categorias ou predicamentos as diferentes maneiras de

afirmar-se algo de um sujeito os diversos conjuntos mais gerais90 de predicados

aplicaacuteveis a qualquer objeto as diferentes categorias de predicados que se podem

atribuir a um sujeito qualquer um dos modos fundamentais do ser que pode ser

afirmado na predicaccedilatildeo

Categorias natildeo satildeo portanto para Aristoacuteteles espeacutecies do gecircnero ser mas

gecircneros supremos ou primeiras divisotildees do ser91 Condicionam ontologicamente

toda a compreensatildeo que o sujeito tem da realidade As categorias natildeo constituem

uma mera estrutura de conceitos mas satildeo elas proacuteprias conceitos reais que

produzem conceitos reais e que guiam a sua deduccedilatildeo ou seja as categorias satildeo

conceitos originais ou baacutesicos de todos os outros As categorias como que designam

os diferentes pontos de vista possiacuteveis sob os quais uma coisa pode ser

considerada Todas as categorias se articulam com a substacircncia constituindo os

vaacuterios sentidos e seacuterie de atributos da substacircncia poreacutem diferem umas das outras

por causa das diferentes relaccedilotildees que mantecircm com a substacircncia primeira Desse

modo as substacircncias (homem gato cadeira etc) sempre se apresentam matizadas

90 Nos escritos de Aristoacuteteles pode-se detectar que ldquocategoriasrdquo diferem de ldquoclassesrdquo principalmente por serem uacuteltimas mais elevadas ou fundamentais 91 Suprema rerum genera

95

por acidentes que datildeo lugar aos conceitos Assim refere-se a seres ou objetos

grandes ou pequenos proacuteximos ou distantes parados ou em movimento amaacuteveis

ou agressivos relacionados entre si ou isolados

Do dito anteriormente pode-se inferir que categorias satildeo grupos de termos de

alta generalizaccedilatildeo uma vez que elas ainda natildeo se encontram lsquoaplicadasrsquo e que o

conhecimento das categorias deve resultar em uma maior capacidade de anaacutelise dos

elementos e argumentos do discurso

Ryle (1975 p 29) afirma que ldquoAristoacuteteles pensava que a sua lista de categorias

era uma lista de quecircrdquo Observando que a palavra categoria significava o que a atual

palavra predicado significa partilhando toda a falta de precisatildeo e a ambiguidade desse

substantivo em portuguecircs A lista de Aristoacuteteles pretendia ser uma lista dos tipos uacuteltimos

de predicados (proposiccedilotildees simples) Essa noccedilatildeo de categoria como determinaccedilatildeo do

real predicaccedilatildeo pertencente ao proacuteprio ser e da qual o intelecto deve utilizar-se para

conhecer o ser e revelaacute-lo em palavras durou muito tempo e por muito tempo as escolas

filosoacuteficas ou os filoacutesofos soacute discordaram quanto ao nuacutemero ou agrave distinccedilatildeo das

categorias Assim os estoacuteicos refletindo acerca do conhecimento humano reduzem as

categorias ao nuacutemero de quatro substacircncia qualidade modo da coisa ou de ser e

relaccedilatildeo - provavelmente uma derivaccedilatildeo das categorias aristoteacutelicas (ABBAGNANO

2003 p 122 FERRATER MORA 1971 v 1 p 266) Ressurge aqui o conceito de

categoria como ldquoprinciacutepio de divisatildeordquo - princiacutepio racional comum que se persegue para as

classificaccedilotildees bibliograacuteficas claacutessicas

Os epicuristas elaboraram tambeacutem um sistema categoacuterico que continha dez

categorias em dois versos hexaacutemetros (verso grego ou latino)

Intervalla viae connexus pondera plagas

Concursus motus ordo positure figura

mas que natildeo coincidiam com as categorias de Aristoacuteteles (ENCICLOPEDIA VNIVERSAL

ILVSTRADA 1970 v 12 p 530)

Os platocircnicos posteriores retornaram aos cinco gecircneros supremos de Platatildeo

(o ser o movimento o repouso ou estabilidade a identidade ou o mesmo e a

diferenccedila ou o outro) considerando-os como gecircneros do ser Plotino (205-270)

distingue dez gecircneros supremos os do mundo inteligiacutevel (a substacircncia o repouso o

movimento a identidade e a diferenccedila) e os do mundo sensiacutevel (a substacircncia a

relaccedilatildeo a quantidade a qualidade e o movimento) Mais tarde Plotino propotildee

reduzir as quatro uacuteltimas categorias agrave de relaccedilatildeo e assim as categorias do mundo

96

sensiacutevel ficam reduzidas a duas a substacircncia e a relaccedilatildeo (LAROUSSE 1867 v 3

p 576)

Observa-se que a partir de Aristoacuteteles a doutrina das categorias trilha o caminho

de sucessivas reelaboraccedilotildees metafiacutesicas de acordo com o modo de conceber o ser

A influecircncia da classificaccedilatildeo aristoteacutelica dos seres no acircmbito das classificaccedilotildees

bibliograacuteficas claacutessicas faz-se notar de modo mais incisivo na classificaccedilatildeo de

Ranganathan que em seu sistema incluiu categorias seguindo o modelo aristoteacutelico

assunto tratado na subseccedilatildeo 47

Na Idade Meacutedia os escolaacutesticos passaram a dividir os predicamentos de acordo

com a lista aristoteacutelica - com algumas variantes e aprofundamento Agrave doutrina do

fundamento real das categorias (que vigorava na eacutepoca) Guilherme de Ockham (latim

Occam 1285-1349) contrapocircs o nominalismo92 - que significou - um ataque aos

fundamentos da Escolaacutestica93 e um sinal do iniacutecio de novos tempos - que defendia o

caraacuteter puramente verbal das categorias para o qual elas natildeo passam de signos das

coisas (ABBAGNANO 2003 p 122) Esse ponto de vista equivale a considerar as

categorias como simples nomes signos ldquosimplesrdquo dotados da capacidade de serem

predicados de vaacuterias coisas ou nomes que se referem a grupos de objetos

O pensamento de Ockham caracteriza-se por um empirismo radical soacute existe o

que pode ser captado pelos sentidos Soacute o objeto individual eacute real Todas as maneiras de

especulaccedilatildeo metafiacutesica devem ser rejeitadas A realidade consiste em objetos distintos

que natildeo partilham nenhuma natureza comum (a menos que isso se decirc por convenccedilatildeo)

Para Ockham natildeo existem essecircncias comuns a vaacuterias coisas porque na realidade haacute

apenas indiviacuteduos (MAZIP 2001 p 123-124) Assim como a essecircncia natildeo se distingue

da existecircncia a substacircncia natildeo pode ser considerada como se fosse uma categoria

separada Ockham sustenta que natildeo haacute em nenhuma parte uma localidade ou uma

temporalidade mas apenas um onde e um quando existe respectivamente apenas um

como e um quanto mas natildeo qualidade e quantidade Na realidade natildeo haacute relaccedilatildeo como

algo autocircnomo mas apenas as coisas relacionadas A relaccedilatildeo existe somente na cabeccedila

92 Nominalismo corrente da Escolaacutestica Medieval tambeacutem chamada conceptualismo (doutrina das palavras) pelos historiadores oitocentistas da Filosofia Medieval segundo o qual os universais natildeo existem nem no mundo das coisas nem no pensamento Dessa negaccedilatildeo total de qualquer realidade universal deriva a negaccedilatildeo da realidade das categorias Leibniz dizia que ldquosatildeo nominalistas todos os que acreditam que aleacutem das substacircncias singulares soacute existem os nomes puros e portanto eliminam a realidade das coisas abstratas e universaisrdquo (ABBAGNANO 2003 p 122 715) 93 Cf nota 41

97

dos homens Natildeo haacute uma grande quantidade apenas muitas coisas Admitir uma relaccedilatildeo

aleacutem das coisas relacionadas uma grande quantidade aleacutem das muitas coisas eacute uma

inuacutetil duplicaccedilatildeo ou multiplicaccedilatildeo contradiz o fundamento de toda loacutegica e de toda

ciecircncia a saber natildeo admitir nada mais quando algo bastar para o esclarecimento Esse

princiacutepio formulado como nunca empregue pressuposiccedilotildees argumentos ou essecircncias

mais do que o necessaacuterio para o esclarecimento foi adotado como a ldquonavalha de

Ockhamrdquo na metodologia da Ciecircncia e da Filosofia (FERRATER MORA 1971 v 1 p

266 STOumlRIG 2008 p 232)

Ockham define os predicamentos como termos de primeira intensatildeo incluindo

neles principalmente substacircncia qualidade e relaccedilatildeo e interpreta os sistemas

categoriais como o de Aristoacuteteles sob o ponto de vista do seu nominalismo o que

significa que natildeo satildeo as coisas objetos ideacuteias fenocircmenos seres que satildeo

classificados e compreendidos mas apenas os signos as palavras e os nomes que

lhes satildeo atribuiacutedos

A consequecircncia do nominalismo de Ockham foi o rompimento do viacutenculo

entre Teologia e Filosofia emudecendo o diaacutelogo entre feacute e saber Essa cisatildeo

atravessa toda a cultura moderna

322 Idade Moderna Seacuteculos XVI XVII e XVIII

No final do seacuteculo XVI Francis Bacon (1561-1626)94 em sua obra De

Augmentis Scientiarum (1623 v 4) nomina as suas categorias em Maius Minus

Multum Paucum Idem Diversum Potentia Actus Habitus Privatio Totum Partes

Agens Patiens Motus Quies Ens Non Ens (CENTRO DI STUDI FILOSOFICI DI

GALLARATE 1957 p 941) No seacuteculo XVII surgem duas grandes correntes filosoacuteficas o racionalismo

representado por Spinoza e Leibniz e o empirismo por Hobbes Locke e Hume

representantes da Filosofia Moderna preacute-kantiana

Baruch Spinoza (1632-1677) sugere na Eacutetica (Ethica 1660-1663) trecircs

determinaccedilotildees fundamentais substacircncia atributo e modo95 (MAZIP 2001 p170-173)

94 Cf subseccedilatildeo 312 95 Terminologia de Spinoza substacircncia eacute aquilo que eacute em si e que eacute concebido por si aquilo cujo conceito natildeo precisa do conceito de nenhuma outra coisa para ser formado Deus attributo eacute aquilo que a mente apreende da substacircncia como constitutivo da sua essecircncia relativo a Deus e modo eacute aquilo que eacute relativo agrave substacircncia e que mesmo subsistindo em outra coisa soacute eacute pensado por meio da substacircncia as criaturas (MAZIP 2001 p 173)

98

Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) defende a existecircncia dos primeiros

princiacutepios ou seja de ideacuteias inatas96 e distingue duas coisas na substacircncia - apesar de

admitir que o homem natildeo possui nenhuma ideacuteia clara da substacircncia em geral o que soacute

se torna possiacutevel por intermeacutedio de ferramentas ou instrumentos como o microscoacutepio -

os atributos ou predicados e o sujeito comum desses predicados e apresenta uma lista

de seis categorias sendo a primeira a proacutepria substacircncia seguida por quantidade

qualidade accedilatildeo paixatildeo e relaccedilatildeo (Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano

1701-1704) Leibniz defende a existecircncia de ideacuteias inatas ou primeiros princiacutepios que

natildeo podem provir da experiecircncia porque tecircm uma necessidade absoluta da qual

carecem os conhecimentos empiacutericos (MAZIP 2001 p 190)

Thomas Hobbes (1588-1679) desenvolve no Leviatatilde (Leviathan 1651) uma

concepccedilatildeo de mundo que vecirc nas categorias mateacuteria (uacutenica substacircncia) extensatildeo (o

ser da mateacuteria se revela na sua extensatildeo) e movimento (causa do devir do vir-a-ser

da progressatildeo no seio da realidade corpoacuterea pois espaccedilo e tempo natildeo passam de

reflexos subjetivos do movimento) os uacutenicos princiacutepios explicativos do real

(CENTRO DI STUDI FILOSOFICI 1957 p 938-950 MAZIP 2001 p 173-175)

John Locke (1632-1704) elabora importante teoria do conhecimento na obra

Ensaio sobre o Entendimento Humano (Essay Concerning Human Understanding

1689) cuja reflexatildeo tem por objetivo saber qual eacute a essecircncia qual a origem qual o

alcance do conhecimento humano Nessa obra Locke elege trecircs tipos fundamentais

de ideacuteias complexas ou de categorias fundamentais substacircncia modo e relaccedilatildeo (ao

designar a relaccedilatildeo97 como categoria pode-se dizer que comparece aqui

explicitamente e pela primeira vez o conceito de categoria como funcionalidade

96 Terminologia de Leibniz ldquoIdeacuteias inatas Primeiros princiacutepios que natildeo podem provir da experiecircncia porque tecircm uma necessidade absoluta que os conhecimentos empiacutericos natildeo tecircm de identidade de natildeo-contradiccedilatildeo e de razatildeo suficienterdquo (MAZIP 2001 p 191) Para Leibniz (1980 p 160) ldquoo espiacuterito observa um certo nuacutemero de ideacuteias simples - as quais sendo consideradas como pertencentes a uma soacute coisa satildeo designadas por um soacute termo quando satildeo reunidas em um soacute sujeito - satildeo constantemente associadas e combinadasrdquo 97 As relaccedilotildees entre os conceitos de objetos reais ou imaginaacuterios de um dado contexto de conhecimento satildeo de natureza diversa Segundo Maria Luiza de Almeida Campos (2001 f 130) a relaccedilatildeo categorial aparece na Teoria do Conceito como relaccedilatildeo formal-categorial na Teoria da Classificaccedilatildeo Facetada como categoria e na Ontologia Formal como Teoria dos Universais Nessas trecircs teorias a noccedilatildeo de categoria se coloca como um elemento agregador que reuacutene em um grande agrupamento os objetos por sua natureza O entendimento das relaccedilotildees entre os objetos a elaboraccedilatildeo de estruturas conceituais tais como relaccedilatildeo categorial relaccedilatildeo hieraacuterquica relaccedilatildeo partitiva relaccedilatildeo entre categorias e relaccedilatildeo de equivalecircncia encontram-se detalhadas em CAMPOS Maria Luiza Campos Linguagem documentaacuteria teorias que fundamentam sua elaboraccedilatildeo Niteroacutei Eduff 2001

99

pois eacute o sujeito humano ativo que produz as relaccedilotildees) Ao nascer a alma natildeo tem

nenhuma ideacuteia O conhecimento humano comeccedila com a experiecircncia sensiacutevel e eacute

condicionado por ela Por intermeacutedio do processo cognitivo de anaacutelise e siacutentese as

ideacuteias (sinais das coisas) simples (casa flor) combinam-se em ideacuteias complexas

(cor odor) que se transformam em ideacuteias abstratas (homem beleza) Em Locke a

relaccedilatildeo eacute viacutenculo entre as impressotildees e as ideacuteias e a categoria se converte em

funccedilatildeo do pensamento (CENTRO DI STUDI FILOSOFICI 1957 p 938-950

MAZIP 2001 p 176-178)

David Hume (1711-1776) em Investigaccedilatildeo Acerca do Entendimento Humano

(Enquiry Concerning Human Understanding 1748) partindo do princiacutepio de que soacute

se pode observar os fenocircmenos e de que o mecanismo iacutentimo do real natildeo eacute passiacutevel

de experiecircncia afirma que as relaccedilotildees satildeo exteriores aos seus termos ou seja se

as relaccedilotildees natildeo podem ser observadas natildeo pertencem aos objetos As relaccedilotildees satildeo

apenas modos pelos quais se passa de um objeto a outro de um termo a outro de

uma ideacuteia particular a outra simples passagens externas que permitem associar os

termos a partir de princiacutepios98 Hume considera categorias (princiacutepios ou leis

universais que guiam a imaginaccedilatildeo) de substacircncia e de causalidade (relaccedilatildeo de

causa e efeito) como produtos da subjetividade empiacuterica ou seja a relaccedilatildeo de

causa e efeito natildeo pode ser conhecida a priori pelo simples exame dos conceitos

implicados na relaccedilatildeo mas somente pela experiecircncia Diante de um objeto novo por

exemplo eacute impossiacutevel descobrir as suas causas e os seus efeitos pois o nexo

causal tem valor subjetivo (ARANHA MARTINS 2003 p 133) Ainda que em Hume

se possa falar de distinccedilatildeo categorial o criteacuterio de distinccedilatildeo eacute dado pelos tipos

fundamentais de qualidade associativa em que uma ideacuteia de determinada coisa faz

introduzir naturalmente uma outra As qualidades ou princiacutepios dos quais nasce

essa associaccedilatildeo em virtude da qual a mente torna-se portadora e transmissora de

uma outra ideacuteia satildeo trecircs semelhanccedila contiguidade - continuidade no tempo e no

espaccedilo - e causalidade - causa e efeito (MAZIP 2001 p 181-188)

98 Na terminologia de Hume substacircncia coleccedilatildeo de ideacuteias simples reunidas pela imaginaccedilatildeo e designadas com nome especial com o qual podemos evocaacute-las para noacutes mesmos e para os outros causalidade relaccedilotildees que nascem da experiecircncia bastante problemaacuteticas em razatildeo da sua origem incerta e do seu valor subjetivo (a fantasia associa a ferida agrave dor em decorrecircncia do nexo entre elas) pois as ideacuteias dependem das impressotildees e natildeo as impressotildees das ideacuteias contiguidade a fantasia associa o sino ao campanaacuterio por causa da proximidade espacial dos dois e semelhanccedila relaccedilotildees que procedem do simples exame das ideacuteias e que conferem certeza nexo entre as ideacuteias simples e as impressotildees simples e entre as ideacuteias complexas e as impressotildees originais (MAZIP 2001 p 186-188)

100

Entre os filoacutesofos modernos a mais importante contribuiccedilatildeo eacute a de Immanuel Kant99 (1724-1804) Como observado anteriormente a filosofia de Kant floresce em

uma eacutepoca de grande progresso cientiacutefico Todas essas transformaccedilotildees fazem com

que o autor indague o porquecirc da Metafiacutesica (considerada a matildee de todas as

ciecircncias - a melhor representante do saber assim como o conhecimento metafiacutesico

compreendido como exerciacutecio de delimitaccedilatildeo da razatildeo) natildeo demonstrar avanccedilos

significativos apenas limitando-se a anaacutelises que natildeo satildeo mais que desdobramento

de conceitos Kant considera que a Metafiacutesica se pauta unicamente em

conhecimentos a priori isto eacute em ideacuteias que se datildeo apenas no entendimento e que

independem da experiecircncia (emperia) satildeo conhecimentos puros sem a

comprovaccedilatildeo empiacuterica que caracteriza os conhecimentos a posteriori aqueles cujo

conteuacutedo se pode adquirir pela experiecircncia Kant defende a existecircncia desses

conhecimentos a priori afirmando que satildeo possiacuteveis e demonstraacuteveis pelas

matemaacuteticas Assim mesmo que natildeo se possua materialmente um triacircngulo (que

serviria para verificar conceitos pela experiecircncia) eacute possiacutevel saber

aprioristicamente que a soma de seus acircngulos internos eacute sempre 180 graus Por

essa razatildeo Kant propotildee elevar a Metafiacutesica ao status de grande ciecircncia Para tanto

pretende dotar a Metafiacutesica do rigor dos procedimentos das Ciecircncias Matemaacuteticas

importando-lhes o fundamento matemaacutetico do qual compartilha a Geometria

Euclidiana e a Fiacutesica Newtoniana todas jaacute plenamente constituiacutedas no seu tempo

Desse modo tambeacutem a Metafiacutesica poderia participar do ritmo de progresso das

outras ciecircncias (KAHLMEYER-MERTENS 2001)

Atento agrave confusatildeo conceitual a respeito da natureza do conhecimento

humano Kant sabia que o mundo que tinha agora de ser classificado era o mundo

dos conceitos e dos conceitos natildeo em relaccedilatildeo ao seu conteuacutedo material o que natildeo

teria mudado em nada a classificaccedilatildeo aristoteacutelica das categorias mas os conceitos

como tais enquanto maneiras a priori do conhecimento representando as funccedilotildees

99 Filoacutesofo e idealista alematildeo criador do kantismo doutrina caracterizada principalmente pela intenccedilatildeo de determinar os limites o alcance e o valor da razatildeo concluindo pela reduccedilatildeo do campo do conhecimento racional aos objetos de experiecircncia possiacutevel o que significava a negaccedilatildeo da possibilidade de conhecimento racional dos objetos da Metafiacutesica e da Religiatildeo Autor de trecircs obras criacuteticas Criacutetica da Razatildeo Pura (Kritik der reinen Vernunft 1781-1785) que investiga os limites da sensibilidade e da razatildeo a partir da formulaccedilatildeo ldquoo que posso conhecerrdquo Criacutetica da Razatildeo Praacutetica (1788) que trata do problema ldquoo que devo fazerrdquo investigando a esfera da Moral e Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo (1790) que busca responder a questatildeo ldquoo que eacute liacutecito esperarrdquo em siacutentese aos dois movimentos anteriores Kant influenciou decisivamente escolas filosoacuteficas como o Idealismo alematildeo (MAZIP 2001 p 218-236)

101

essenciais do pensamento discursivo A ideacuteia geral de Kant eacute que soacute se pode ter o

sentido do mundo pela imposiccedilatildeo de alguma estrutura originariamente de dentro da

mente para escolher entre categorias pela compreensatildeo ou visatildeo de conjunto de

substacircncias em relaccedilotildees causais

Kant ao examinar na obra Criacutetica da Razatildeo Pura as condiccedilotildees nas quais o

conhecimento racional eacute possiacutevel e se eacute possiacutevel uma ldquorazatildeo purardquo independente

dos dados fornecidos pela experiecircncia cria um meacutetodo conhecido como criticismo

kantiano100 Natildeo concorda com os empiristas (tudo que se conhece vem dos

sentidos da experiecircncia) nem com os racionalistas (tudo quanto se pensa vem do

proacuteprio homem) e estabelece um novo paradigma no qual o sujeito do conhecimento

eacute a razatildeo universal e natildeo uma subjetividade pessoal e psicoloacutegica

Na concepccedilatildeo kantiana a razatildeo aparece como

a) estrutura vazia uma forma pura sem conteuacutedos

b) inata existe a priori vem antes da experiecircncia e natildeo depende dela

c) universal a mesma para todos os seres humanos e em qualquer tempo e

espaccedilo

O conhecimento eacute constituiacutedo de mateacuteria - as proacuteprias coisas - e de forma -

os homens Ou seja para conhecer as coisas precisa-se da experiecircncia sensiacutevel

que fornece a mateacuteria (os conteuacutedos) do conhecimento para a razatildeo e esta fornece

a forma (universal e necessaacuteria) do conhecimento (anterior a qualquer experiecircncia)

Entretanto eacute o espiacuterito graccedilas agraves estruturas a priori que constroacutei a ordem do

universo (ARANHA MARTINS 2003 CHAUIacute 2005)

Pode-se dizer que para Kant as categorias natildeo existem como realidade externa

satildeo antes formas que o sujeito potildee nas coisas Quando se observa a natureza e se afirma

que uma coisa lsquoeacute istorsquo ou lsquotal coisa eacute causa de outrarsquo tem-se de um lado coisas que se

percebem pelos sentidos mas de outro algo lhes escapa isto eacute as categorias As

categorias natildeo vecircm da experiecircncia mas satildeo postas pelo proacuteprio sujeito cognoscente A

100 Em uma acepccedilatildeo estrita histoacuterica a palavra criticismo designa a filosofia particularmente a gnoseologia de Kant Muitos dos seus conceitos fundamentais tecircm passado ao leacutexico filosoacutefico universal mas os seus sentidos natildeo podem ser compreendidos a partir de uma interpretaccedilatildeo cotidiana dos termos senatildeo em conexatildeo com o edifiacutecio doutrinal inteiro criacutetica exerciacutecio de delimitaccedilatildeo de um objeto razatildeo faculdade que todos os homens possuem e que permite que eles sejam capazes de entender conhecer julgar etc puro natildeo possuir nada que natildeo seja proacuteprio nada que lhe tenha sido agregado em um momento posterior Assim Criacutetica da Razatildeo Pura eacute o exerciacutecio de descoberta dos limites dessa faculdade que permite ao homem conhecer julgar etc (KAHLMEYER-MERTENS 2001)

102

razatildeo e o sujeito do conhecimento detecircm as estruturas espaciais temporais quantitativas

qualitativas causais etc que permitem o conhecer racional e verdadeiro O conhecimento

experimental eacute composto do que se recebe por impressotildees e do que a proacutepria faculdade de

conhecer de si mesma tira de tais impressotildees (KANT 1974) A razatildeo por meio do

entendimento organiza os conteuacutedos empiacutericos - as percepccedilotildees - e essa organizaccedilatildeo eacute

que permite a transformaccedilatildeo das percepccedilotildees (sons cores imagens) em conhecimentos

intelectuais ou em conceitos Ou seja satildeo as propriedades espaciais e temporais do

homem que permitem percepccedilotildees (de lugares coisas situaccedilotildees) e experiecircncias (da

passagem do tempo e da continuidade descontinuidade simultaneidade e repeticcedilatildeo dos

acontecimentos) Eacute essa organizaccedilatildeo espaccedilo-temporal dos objetos do conhecimento que eacute

inata universal e necessaacuteria Por isso eacute que em Kant o entendimento eacute anterior agrave

experiecircncia e independente dela pois os conteuacutedos empiacutericos satildeo organizados por um

conjunto de elementos as chamadas categorias a priori e eacute com elas que o sujeito do

conhecimento formula os conceitos e eacute soacute a partir dessas estruturas que as ciecircncias satildeo

possiacuteveis e vaacutelidas Para Kant esse eacute o uacutenico modo de conhecimento real e capaz de

promover o progresso da Metafiacutesica enquanto ciecircncia

Para Kant (1974) as categorias condiccedilotildees indispensaacuteveis do pensamento

comum e cientiacutefico natildeo descrevem a realidade mas tornam possiacutevel dar conta dela

ou seja garantem a possibilidade de conhecimento empiacuterico Em Kant torna-se

expliacutecita aquela estrutura jaacute presente na Filosofia Moderna na qual a realidade

transcende o conhecer e necessita conceber o conhecer como procedente do sujeito

produto deste Consequentemente as categorias cessam de ser a revelaccedilatildeo da

estrutura da realidade como na Filosofia greco-medieval e nas escolas filosoacuteficas ateacute

o iniacutecio do seacuteculo XVIII (Kant nega o realismo da concepccedilatildeo claacutessica) e passam a ser

ldquoconceitos fundamentais do entendimento101 puro102 que prescrevem leis aos

101 [] ldquoo entendimento natildeo eacute um poder de intuiccedilatildeo [] eacute um conhecimento mediante conceitos natildeo intuitivo mas discursivordquo (KANT 1974 p 66)

102 Dado que puro em Kant significa natildeo misturado com o diverso que proveacutem da intuiccedilatildeo empiacuterica o puro preexiste agrave captaccedilatildeo do objeto por parte do sujeito cognoscente assim o puro eacute a priori O domiacutenio do puro diz respeito agraves condiccedilotildees de possibilidade de todo o objeto (de experiecircncia) cognosciacutevel pelo entendimento e nesse sentido preciso eacute transcendental (MAZIP 2001 p 67) Os conceitos puros da razatildeo aqui considerados satildeo ideacuteias transcendentais Satildeo conceitos da razatildeo pura porque consideram todo conhecimento experimental como determinado por uma totalidade absoluta das condiccedilotildees Natildeo satildeo formados arbitrariamente mas satildeo dados pelo contraacuterio pela proacutepria natureza da razatildeo e referem-se necessariamente tambeacutem a todo o uso do entendimento (VANCOURT 1980) As categorias fazem parte portanto do momento transcendental do conhecimento permitindo uma verificaccedilatildeo da verdade como verdade transcendental - questatildeo fundamental da Filosofia

103

fenocircmenosrdquo (palavra que etimologicamente significa o que aparece) -

Stammbegriffe des reinen Verstandes103 - (KANT 1974 p 95) isto eacute modos pelos

quais se manifesta a atividade do intelecto que consiste essencialmente em ordenar

diversas representaccedilotildees a respeito de uma representaccedilatildeo comum isto eacute em julgar -

apoiando-se nas espeacutecies de juiacutezos104 As categorias satildeo portanto as formas em que

o juiacutezo se explica Conceitos de um objeto em geral ldquoas categorias [] natildeo satildeo

senatildeo justamente funccedilotildees para julgar [] as categorias devem surgir somente no

entendimento independentemente da sensibilidaderdquo (KANT 1974 p 87)

Considerando que para Kant a atividade do intelecto consiste em emitir

julgamentos e que julgar significa sobrepor agrave experiecircncia condiccedilotildees universalizantes

(categorias) na sua tabela (que Kant chamava de taacutebua) as categorias satildeo

formuladas paralelamente aos juiacutezos que podem ser considerados sob quatro

pontos de vista da quantidade da qualidade da relaccedilatildeo e da modalidade Para

cada um desses pontos de vista satildeo possiacuteveis trecircs tipos de juiacutezos105 que

correspondem a trecircs tipos de categorias (quadro 23) que funcionam como

constitutivas aprioriacutesticas dos objetos por isso de constituiccedilatildeo ideal

103 Conceitos fundamentais do entendimento puro 104 Um juiacutezo eacute uma conexatildeo entre representaccedilotildees que eacute feita conforme uma categoria seguindo uma regra que eacute igual para todos os sujeitos e que confere objetividade agravequilo a que se uniu na percepccedilatildeo (KANT 1974 p 88) Como visto o termo juiacutezo em Kant aleacutem do sentido especiacutefico - uma faculdade de julgar (afirmar ou negar a conveniecircncia de um predicado em relaccedilatildeo ao sujeito) - quando aplicado refere-se ao entendimento a um modo de conhecer de pensar um objeto 105 A divisatildeo kantiana dos juiacutezos segundo esquemas loacutegicos (pontos de vista) 1) da quantidade universais aqueles que natildeo admitem exceccedilotildees satildeo o resultado da reflexatildeo sobre a experiecircncia mediante categorias todos os curitibanos satildeo paranaenses particulares aqueles que se aplicam a alguns sujeitos alguns paranaenses satildeo torcedores do Coritiba Futebol Clube singulares aqueles que se aplicam a um soacute elemento Daniel eacute professor 2) da qualidade afirmativos Liliana eacute bibliotecaacuteria negativos Letiacutecia natildeo eacute bibliotecaacuteria infinitos ou indefinidos a alma eacute natildeo-mortal 3) da relaccedilatildeo categoacutericos aqueles expliacutecitos e absolutos Meu pai eacute um homem determinado hipoteacuteticos aqueles que formulam uma tese provisoacuteria sujeita a comprovaccedilatildeo dependem de alguma condiccedilatildeo os glutotildees normalmente satildeo bons cozinheiros disjuntivos aqueles que apresentam alternacircncia Wilson mora em Curitiba ou Antonina 4) da modalidade problemaacuteticos aqueles que satildeo apenas possiacuteveis ou parcialmente verdadeiros nada acrescentam ao conteuacutedo os franceses geralmente satildeo mal humorados assertivos aqueles assegurados como verdadeiros ou falsos mas que natildeo excluem a possibilidade loacutegica de uma contradiccedilatildeo nada acrescentam ao conteuacutedo Ligia natildeo eacute sincera apodiacutecticos aqueles absolutos necessaacuterios sem reacuteplica possiacutevel nada acrescentam ao conteuacutedo o oxigecircnio eacute fundamental a vida

104

PONTOS DE VISTA JUIacuteZOS CATEGORIAS Quantidade Universais Totalidade

(amplitude do sujeito) Particulares Multiplicidade

Singulares Unidade

Qualidade Afirmativos Ser

(qualidade da ligaccedilatildeo) Negativos Natildeo-ser

Indefinidos Limitaccedilatildeo

Relaccedilatildeo Categoacutericos Substacircncia-inerecircncia

(entre sujeito e predicado) Hipoteacuteticos Causalidade-dependecircncia

Disjuntivos Comunhatildeo-reciprocidade

Modalidade Problemaacuteticos Possibilidade-impossibilidade

(modo da formulaccedilatildeo) Assertivos Realidade-irrealidade

Apodiacutecticos Necessidade-contingecircncia

QUADRO 23 - DIVISAtildeO KANTIANA DOS JUIacuteZOS E DAS CATEGORIAS FONTE a autora com base em Kant (1974 p 67 71)

A taacutebua106 que encerra quatro grupos de categorias (concepccedilotildees puras do

entendimento) eacute deduzida de um uacutenico princiacutepio comum a saber do poder de julgar

(da faculdade do juiacutezo) e compreende

1 Categorias da quantidade (unidade pluralidade totalidade) 2 Categorias da qualidade (realidade negaccedilatildeo limitaccedilatildeo) 3 Categorias da relaccedilatildeo (inerecircncia e subsistecircncia (substantia et accidens) Causalidade e dependecircncia (causa e efeito) Comunidade (accedilatildeo reciacuteproca entre agente e paciente) e 4 Categorias da modalidade (possibilidade - impossibilidade Existecircncia - natildeo-ser Necessidade - contingecircncia) (KANT 1974 p 71)

A operaccedilatildeo transcendental (subjetiva) do entendimento e da razatildeo eacute a que

unifica as categorias

Quanto agraves caracteriacutesticas das categorias pode-se dizer que cada categoria

age segundo um princiacutepio proacuteprio (por exemplo a categoria da Causalidade-

dependecircncia age segundo o princiacutepio de que ldquotodas as mudanccedilas se processam

segundo a lei do nexo causalrdquo) as categorias e os princiacutepios que regulam o seu uso

106 Acerca da tabela das categorias de Kant (1974 p 74) observa-se que - em cada classe o nuacutemero de categorias eacute sempre igual a trecircs - a terceira categoria surge sempre da ligaccedilatildeo da segunda com a primeira de sua classe (a totalidade eacute a multiplicidade considerada como unidade a limitaccedilatildeo eacute a realidade ligada com a negaccedilatildeo a comunidade eacute a causalidade de uma substacircncia em determinaccedilatildeo reciacuteproca com outra substacircncia e a necessidade eacute a existecircncia dada pela proacutepria possibilidade) - as conexotildees satildeo pensadas como coordenadas e natildeo como subordinadas umas agraves outras de modo que se determinem entre si natildeo unilateralmente como numa seacuterie mas reciprocamente como num agregado

105

natildeo satildeo produtos da experiecircncia mas condiccedilotildees a priori de qualquer experiecircncia

pois no que diz respeito agrave forma do pensamento eacute somente por meio delas que a

experiecircncia se torna possiacutevel as categorias e os princiacutepios aplicam-se aos

fenocircmenos e natildeo agraves coisas em si as categorias em si mesmas natildeo constituem

conhecimento satildeo formas vazias e incapazes de dar origem ao conceito de algum

objeto Necessitam ser determinadas aplicadas para serem validadas

A categoria natildeo tem para o conhecimento das coisas nenhum outro uso

aleacutem da sua aplicaccedilatildeo a objetos da experiecircncia possiacutevel Portanto natildeo se pode

pensar nenhum objeto senatildeo mediante categorias natildeo se pode conhecer nenhum

objeto pensado senatildeo mediante intuiccedilotildees que correspondam agravequeles conceitos Satildeo

os conceitos que tornam possiacutevel a experiecircncia Logo segundo Kant as categorias

possuem por parte do entendimento os fundamentos da possibilidade de toda

experiecircncia em geral (KANT 1974 p 95-98)

Haacute na concepccedilatildeo kantiana de categorias o encaminhamento para a

concepccedilatildeo instrumental das categorias Pois as categorias satildeo tratadas por Kant e

pela escola kantiana como simples instrumentos da razatildeo pura totalmente

independentes dos fenocircmenos e da proacutepria intuiccedilatildeo gerados pela imaginaccedilatildeo

Portanto Kant retoma o termo natildeo mais se referindo ao ser mas ao conhecer107

para designar os conceitos ou princiacutepios a priori que fornecem a estrutura necessaacuteria

para que o entendimento possa perceber ou conceber aquilo que eacute dado pela

experiecircncia isto eacute as categorias natildeo se referem mais ao objeto a ser conhecido

mas ao entendimento como faculdade de conhecimento daiacute serem definidas como

conceitos fundamentais a priori do entendimento puro Ao concluir essa anaacutelise kantiana acerca das categorias registra-se que ela

pode ser entendida como uma observaccedilatildeo aos princiacutepios loacutegicos de classificaccedilatildeo

elaborados por Aristoacuteteles - a classificaccedilatildeo dicotocircmica - que em diversos niacuteveis

desempenhou atraveacutes dos seacuteculos um importante papel na determinaccedilatildeo dos

princiacutepios dos sistemas tradicionais de classificaccedilatildeo bibliograacutefica

107 Com relaccedilatildeo ao conhecer pensando em termos de organizaccedilatildeo do conhecimento para a Ciecircncia da Informaccedilatildeo Dahlberg (1978 p 28) pondera que todo conhecimento da realidade eacute incerto e duvidoso pois haacute um mundo desconhecido ao qual soacute se tem acesso parcial pela subjetividade A questatildeo se eacute possiacutevel coincidir estruturas cognitivas e estruturas reais eacute respondida pela ciecircncia cognitiva e pelas bases bioloacutegicas (aliadas agrave evoluccedilatildeo) da compreensatildeo humana

106

323 Idade Contemporacircnea Seacuteculos XIX e XX

Na Filosofia Contemporacircnea encontram-se tanto a retomada da concepccedilatildeo

claacutessica e da concepccedilatildeo kantiana de categoria quanto novas generalizaccedilotildees

relativamente ao seu significado

A concepccedilatildeo claacutessica de categoria como forma ou determinaccedilatildeo do ser eacute

retomada pelo Idealismo Romacircntico alematildeo e em especial por Hegel (1770-1831)

Essa concepccedilatildeo tambeacutem eacute retomada pelos representantes da Fenomenologia e em

especial por Husserl (1859-1938) e Nicolai Hartmann (1882-1950) entre outros

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) na obra Wissenschaft der

Logik (1812) distingue trecircs categorias fundamentais que se subdividem segundo

triacuteades sucessivas 1) ser (quantidade qualidade medida) essecircncia (fundamento

fenocircmeno realidade) e conceito (conceito objetivo conceito subjetivo ideacuteia) As

categorias satildeo para ele ldquodeterminaccedilotildees do desenvolvimento dialeacuteticordquo um

desenvolvimento que comeccedila no ser e culmina na Filosofia Categorias constituem

ldquodeterminaccedilotildees do pensamentordquo que satildeo simultaneamente as determinaccedilotildees da

realidade (pela identidade por ele reformulada entre realidade e razatildeo) Em todo

caso trata-se de correlacionar formas de ser com formas de pensar Contudo a

uacutenica categoria que Hegel reconhece eacute a proacutepria realidade-pensamento uma

consciecircncia da proacutepria realidade Essa teoria do eu-consciecircncia como uacutenica

categoria permaneceu como lugar-comum de todas as formas de idealismo

romacircntico (ABBAGNANO 2003 p 122 FERRATER MORA 1971 v 1 p 267

VERBO 1963-76 v 4 p 1526) Essa concepccedilatildeo eacute retomada tambeacutem por Nicolai

Hartmann (1882-1950) que considera as categorias como as estruturas necessaacuterias ao

ser em si Tais estruturas permitem a estratificaccedilatildeo do mundo real em uma seacuterie de

planos (Der Aufbau der realen Welt Grundriss der allgemeinen Kategorienlehre

1940 A construccedilatildeo do mundo real esboccedilo sobre a teoria geral das categorias) Para

Hartmann existem categorias fundamentais (pertencem a todos os planos do ser)

que satildeo as categorias modais e se referem somente agraves formas do ser (possibilidade

realidade necessidade) existem as categorias elementares ou bipolares (tecircm

caraacuteter estrutural e se apresentam aos pares agrave maneira de termos conexos

contrapostos) que Hartmann agrupa em doze pares de opostos (princiacutepio-concreto

estrutura-modo forma-mateacuteria interno-externo determinaccedilatildeo-dependecircncia

qualidade-quantidade unidade-multiplicidade acordo-desacordo oposiccedilatildeo-

107

dimensatildeo discreccedilatildeo-continuidade substrato-relaccedilatildeo elemento-estrutura) e se

referem agraves oposiccedilotildees e categorias do real que determinam os caracteres da

realidade efetiva e que se dividem em quatro grupos correspondentes ao princiacutepio

do valor ao princiacutepio da crenccedila ao princiacutepio da planificaccedilatildeo e ao princiacutepio da

dependecircncia Hartmann salienta que todas as taacutebuas categoriais que possam ser

formuladas somente representam uma tentativa pois correspondem ao estado do

problema num dado momento natildeo podendo pretender ser um sistema

(ABBAGNANO 2003 p 123 FERRATER MORA 1971 v 1 p 269 STOumlRIG 2008

p 495 VITA 1964 p 110)

A concepccedilatildeo kantiana que define as categorias como ldquodeterminaccedilotildees do

pensamentordquo eacute retomada pelos representantes do Neocriticismo ou Neokantismo108

e em especial por Renouvier (1815-1903) e Cohen (1842-1918) entre outros

Charles Renouvier (1815-1903) define categorias como sendo leis primaacuterias e

irredutiacuteveis do conhecimento relaccedilotildees fundamentais que determinam a forma do

conhecer as noccedilotildees a priori isto eacute independentes da experiecircncia que ao exprimirem

relaccedilotildees gerais permitem organizar e pensar a experiecircncia e formam-se segundo

oposiccedilotildees dialeacuteticas de termos correlativos que mutuamente se implicam Na obra

Ensaio de Criacutetica Geral (Essais de Critique Geacuteneacuterale 1854) Renouvier parte de um

quadro de nove categorias relaccedilatildeo nuacutemero posiccedilatildeo sucessatildeo qualidade porvir ou

devir causalidade finalidade e personalidade e a cada uma faz corresponder uma

tese uma antiacutetese e uma siacutentese (quadro 24) Esse filoacutesofo francecircs que encabeccedila o

Neocriticismo Contemporacircneo para quem a realidade eacute uma construccedilatildeo do espiacuterito

considerou fundamental a categoria relaccedilatildeo (consciecircncia eacute relaccedilatildeo) e definiu as

demais categorias como determinaccedilotildees e especificaccedilotildees da relaccedilatildeo (ABBAGNANO

2003 p 122 ENCICLOPEacuteDIA VNIVERSAL ILVSTRADA 1970 v 12 p 532

VERBO 1963-1976 v 4 p 1524-1528)

108 Neocriticismo Movimento de lsquoretorno a Kantrsquo iniciado na Alemanha em meados do seacuteculo passado e que deu origem a algumas das mais importantes manifestaccedilotildees da Filosofia Contemporacircnea Na Alemanha a corrente neocriticista foi constituiacuteda pela escola de Marburgo agrave qual pertenceram entre outros H Cohen P Natorp e E Cassirer e agrave qual tambeacutem se vincula o francecircs C Renouvier (ABBAGNANO 2003 p 710)

108

CATEGORIAS TESE ANTITESE SIacuteNTESE Relaccedilatildeo Distinccedilatildeo Identificaccedilatildeo Determinaccedilatildeo

Nuacutemero Unidade Pluralidade Totalidade

Posiccedilatildeo Ponto Espaccedilo Extensatildeo

Sucessatildeo Instante Tempo Duraccedilatildeo

Qualidade Diferenta Gecircnero Espeacutecie

Porvir Respeito Natildeo-respeito Mudanza

Causalidade Ato Potecircncia Forccedila

Finalidade Estado Tendecircncia Paixatildeo

Personalidade Ser Natildeo-ser Conciencia

QUADRO 24 - CATEGORIAS DE RENOUVIER (1854) - FRANCcedilA FONTE Larousse (1867 v 3 p 577)

O propoacutesito de tal quadro natildeo parece ser tanto o de estabelecer um conjunto

das determinaccedilotildees pelas quais se rege o conhecimento como o de solucionar

dilemas metafiacutesicos A tendecircncia ao primado da noccedilatildeo ontoloacutegica de categoria

afirma-se nos trabalhos posteriores desse autor sobretudo quando ele reduz o

quadro agraves categorias de relaccedilatildeo de posiccedilatildeo e de personalidade Hermann Cohen (1842-1918) definiu categorias como elementos do pensar

puro e considerou como categoria fundamental a de Sistema porque a unidade do

objeto eacute uma unidade sistemaacutetica (Logik der reinen Erkenntnis Loacutegica do

Conhecimento Puro) Cohen admite que categorias satildeo condiccedilotildees para pensar

poreacutem condiccedilotildees loacutegicas necessaacuterias de tal sorte que em uacuteltimo caso natildeo se sabe

se pertencem ou natildeo realmente ao objeto enquanto que para Paul Natorp (1854-

1924) categorias satildeo funccedilotildees loacutegicas fundamentais (ABBAGNANO 2003 p 122

FERRATER MORA 1971 v 1 p 267)

Em algumas outras correntes da Filosofia Contemporacircnea como por

exemplo no Empirismo Loacutegico as categorias satildeo consideradas regras

convencionais que regem o uso dos conceitos Assim por exemplo Gilbert Ryle

(1900-1976) representante da geraccedilatildeo de filoacutesofos britacircnicos influenciados pelas

teorias de Wittgenstein em relaccedilatildeo agrave linguagem na obra The Concept of Mind de

1949 (obra criacutetica da noccedilatildeo de que a mente eacute distinta do corpo e eacute tambeacutem uma

rejeiccedilatildeo agrave teoria de Descartes) chama de tipo ou categoria loacutegica de um conceito o

conjunto de modos nos quais por convenccedilatildeo eacute liacutecito utilizar o termo respectivo

109

(RYLE 1949) No entendimento de Ryle (1975 p 29-41) lsquoproposiccedilatildeo categorialrsquo ou

lsquopalavra categorialrsquo eacute uma proposiccedilatildeo semacircntica de primeira espeacutecie que afirma

alguma coisa acerca do tipo loacutegico (categoria) de um fator ou de um conjunto de

fatores fornecendo informaccedilatildeo acerca da natureza das coisas Alguns tipos

(categorias) por ele reconhecidos foram qualidade estado substacircncia e nuacutemero

Segundo Abbagnano (2003 p 123-124) no que diz respeito agrave definiccedilatildeo de

categoria de Ryle essa eacute certamente a noccedilatildeo menos dogmaacutetica e mais geral de categoria que a filosofia propocircs ateacute hoje mas ainda conteacutem certo dogmatismo pois limita as categorias agraves jaacute estabelecidas pelo uso linguiacutestico comum negando implicitamente a validade de qualquer nova proposta

Mais contemporaneamente a ciecircncia cognitiva por meio da Biologia da

Cogniccedilatildeo preconiza que o mundo do domiacutenio cognitivo (da experiecircncia) do ser

humano estaacute acoplado a um mundo que ele vivencia como contendo regularidades

que resultam da sua histoacuteria bioloacutegica e social ou seja da sua tradiccedilatildeo bioloacutegica

(universal) e da sua cultura (local) O mundo que o homem produz eacute sempre uma

mistura de regularidade e mutabilidade tiacutepica da experiecircncia humana A bagagem

que os seres humanos tecircm em comum eacute uma tradiccedilatildeo bioloacutegica que comeccedilou com

a origem da vida e se prolonga ateacute hoje Por causa da heranccedila bioloacutegica comum

tecircm-se os fundamentos de um mundo comum e natildeo parece estranho que para

todos os seres humanos o ceacuteu seja azul e que o sol nasccedila a cada dia Das heranccedilas

linguiacutesticas diferentes surgem todas as diferenccedilas de mundos culturais que os

homens podem viver e que dentro dos limites bioloacutegicos podem ser tatildeo diversas

quanto as diversas culturas Todo conhecer humano pertence a um desses mundos

e eacute sempre vivido numa tradiccedilatildeo cultural O estudo e a tentativa de explicaccedilatildeo dos

fenocircmenos cognitivos fazem parte da tradiccedilatildeo da ciecircncia No entanto essa eacute uma

explicaccedilatildeo singular pois mostra que ao pretender conhecer o conhecer o homem

se encontra com o seu proacuteprio ser numa circularidade cognitiva (MATURANA

VARELA 2001 p 263-266)109 Portanto o mundo que cada um vecirc eacute um mundo e

natildeo o mundo onde um ponto de vista eacute o resultado de um acoplamento estrutural no

domiacutenio experiencial tatildeo vaacutelido quanto outro mesmo que o outro pareccedila menos

109 Segundo Maturana e Varela (2001 p 268) a Biologia mostra que a unicidade do ser humano seu patrimocircnio exclusivo estaacute num acoplamento estrutural social em que a linguagem tem um duplo papel Por um lado gerar regularidades como a do fenocircmeno da identidade cultural Por outro produzir a reflexibilidade que conduz ao ato de ver sob uma perspectiva mais ampla ou seja conduz ao ato de ampliar o domiacutenio cognitivo reflexivo de cada um pelo raciociacutenio

110

desejaacutevel Caberaacute pois a busca de uma perspectiva mais abrangente de um

domiacutenio experiencial em que o outro tambeacutem tenha lugar e no qual se possa

construir um mundo conjunto

Os novos enfoques teoacutericos permitem superar a visatildeo idealiacutestica kantiana

acerca da formaccedilatildeo do conhecimento do mundo quando afirma que ele se daacute por

meio de formas perceptivas a priori

No seacuteculo XX Foucault110 afirma que as classificaccedilotildees se caracterizam por

natildeo ser duradouras qualquer ordem caduca e a ordenaccedilatildeo nunca responde a

criteacuterios satisfatoacuterios e sim a distribuiccedilotildees provisoacuterias e precaacuterias que levam muitas

vezes a classificaccedilotildees e categorizaccedilotildees exoacuteticas Dessa maneira a classificaccedilatildeo e

ordenaccedilatildeo do conhecimento se apresenta meramente como uma ficccedilatildeo uacutetil

elaborada pelo homem Com Foucault se estabelece uma projeccedilatildeo de futuro -

posiccedilatildeo mais moderna Ele torna aparente o pensamento complexo faz emergir a

complexidade das palavras e das coisas

Para Foucault os discursos enquanto praacuteticas que obedecem a regras tecircm

um sentido uma dimensatildeo de acontecimento histoacuterico e social Dito isso em As

Palavras e as Coisas (1981) o que Foucault faz eacute observar a maneira como a

cultura reflete relaccedilotildees de similaridade ou equivalecircncia que justificam as palavras as

categorias as classificaccedilotildees a proximidade das coisas como a cultura estabelece o

quadro dos seus parentescos e a ordem segundo a qual eacute preciso percorrecirc-los O

filoacutesofo entende que reunir semelhanccedilas e distinguir diferenccedilas satildeo operaccedilotildees

110 Michel Paul Foucault (1926-1984) pensador estruturalista e psicoacutelogo francecircs Com a sua tese de doutorado na Sorbonne Folie et Deacuteraison Histoire de la Folie agrave lAcircge Classique (1961) firmou-se como filoacutesofo e passou a lecionar Histoacuteria do Pensamento no Collegravege de France (1970) A 1ordf ediccedilatildeo da obra Les Mots et les Choses (As Palavras e as Coisas) eacute de 1966 As suas obras situam-se dentro de uma Filosofia do Conhecimento As suas teorias que estabelecem um nexo entre saber poder e sujeito romperam com as concepccedilotildees modernas desses termos motivo pelo qual eacute considerado por certos autores um poacutes-moderno Ao contraacuterio da tradiccedilatildeo moderna pela qual o saber antecede o poder para ele a verdade natildeo se encontra separada do poder antes eacute o poder que gera o saber Propotildee entatildeo o processo genealoacutegico pelo qual busca descobrir como a verdade tem sido produzida no ambito das relaccedilotildees de poder (estuda principalmente o poder disciplinar) e com isso abre novos campos no estudo da Histoacuteria e da Epistemologia Para ele o poder estaacute disseminado em uma rede de instituiccedilotildees disciplinares Satildeo as proacuteprias pessoas nas suas relaccedilotildees reciacuteprocas - pai amigo professor meacutedico [bibliotecaacuterio] - que baseando-se no discurso constituiacutedo fazem o poder circular Cabe agrave genealogia investigar como e por que esses discursos se formam que poderes estatildeo na origem deles ou seja como o poder produz o saber O poder natildeo eacute considerado como algo que um indiviacuteduo cede a um outro (concepccedilatildeo contratual juriacutedico-poliacutetica) mas sim como uma relaccedilatildeo de forccedilas Ao ser relaccedilatildeo o poder estaacute em todas as partes uma pessoa estaacute atravessada por relaccedilotildees de poder e natildeo pode ser considerada independente delas Para Foucault o poder natildeo somente reprime mas tambeacutem produz efeitos de verdade e saber constituindo verdades praacuteticas e subjetividades

111

precisas exatas refletidas que determinam uma coerecircncia e necessitam da

aplicaccedilatildeo de um criteacuterio preacutevio Criteacuterio que ao repartir e classificar as coisas altera

a ordem interna dessas - ordem que eacute anterior ao conhecimento Como as coisas

satildeo reconheciacuteveis de acordo com a ordem que as relaciona nada mais pragmaacutetico

[] nada mais tateante nada mais empiacuterico (ao menos na aparecircncia) que a instauraccedilatildeo de uma ordem entre as coisas nada que exija um olhar mais atento uma linguagem mais fiel e melhor modulada nada que requeira com maior insistecircncia que se deixe conduzir pela proliferaccedilatildeo das qualidades e das formas (FOUCAULT 1981 p 9)

Do pensamento de Foucault depreende-se que a ordem claacutessica das coisas as determina e que o acesso a outra ordem das coisas se configura em uma total transgressatildeo

A proximidade de coisas sem relaccedilatildeo eacute estranha soacute sendo possiacutevel esse encontro na palavra escrita na linguagem O pensamento para operar ordenar agrupar por similitude separar a diferenccedila classificar necessita de um solo epistemoloacutegico onde segundo Foucault (1981 p 7) ldquoa linguagem se entrecruza com o espaccedilordquo111

Para estabelecer uma ordem eacute necessaacuteria uma definiccedilatildeo dos conceitos112 em relaccedilatildeo aos quais poderatildeo aparecer as semelhanccedilas e as diferenccedilas Para Foucault (1981 p 10) ldquoa ordem eacute ao mesmo tempo aquilo que se oferece nas coisas como sua lei interiorrdquo aquilo que soacute aparece (portanto existe) por meio de uma atenccedilatildeo cuidadosa de uma linguagem A ordem aparece segundo as culturas e segundo as eacutepocas

Natildeo se pode conhecer a ordem das coisas lsquona sua natureza isoladamentersquo mas sim descobrindo aquela que eacute a mais simples em seguida aquela que eacute a mais proacutexima para que se possa aceder necessariamente a partir daiacute ateacute as coisas mais complexas (FOUCAULT 1981 p 68) A ordem pode ser ao mesmo tempo necessaacuteria e natural - em relaccedilatildeo ao pensamento e arbitraacuteria em relaccedilatildeo agraves coisas jaacute que uma mesma coisa segundo a maneira como a consideramos pode ser colocada num ponto ou noutro da ordem (FOUCAULT 1981 p 69)

111 Pois o homem diante do desconhecido seja de um ser ou de um saber reage por aproximaccedilatildeo procura em sua memoacuteria o traccedilo de significaccedilatildeo ldquoaquele recorte de conteuacutedordquo (ECO 1998 p 55) jaacute presente em sua enciclopeacutedia pessoal que parece dar conta das caracteriacutesticas do novo objeto ou seja o homem vasculha em busca de uma definiccedilatildeo Nesse processo de apreensatildeo ele vai criando associaccedilotildees estabelecendo relaccedilotildees tentando organizar a sua experiecircncia numa determinada ordem 112 Inicialmente imaginava-se que as regras e os princiacutepios que regulavam a formaccedilatildeo de conceitos estavam no proacuteprio sujeito e este os enunciava simplesmente A subjetividade do indiviacuteduo seria a matriz geradora de ideacuteias conceitos valores Segundo Foucault o que acontece eacute o contraacuterio - eacute o discurso que constitui a fonte do sentido e o lugar da dispersatildeo do sujeito Ele cita como exemplo o discurso meacutedico do seacuteculo XIX que eacute determinado por um feixe de relaccedilotildees em constante jogo e orientado pelo ldquostatusrdquo do meacutedico pela ocupaccedilatildeo do seu lugar institucional assim como pelo seu posicionamento como sujeito que percebe observa descreve enfim prescreve o que deve ser feito A verdade como produzida no mundo natildeo existe sem poder ou fora do poder Cada sociedade tem seu regime de verdade isto eacute os tipos de discursos que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros (FOUCAULT 1981)

112

O que teve grandes consequecircncias para o pensamento ocidental ou seja o

semelhante que fora durante muito tempo categoria fundamental do saber - ao

mesmo tempo forma e conteuacutedo do conhecimento - acha-se dissociado numa

anaacutelise feita em termos de identidade e de diferenccedila A comparaccedilatildeo que eacute reportada

agrave ordem natildeo tem mais como papel revelar a ordenaccedilatildeo do mundo ela se faz

segundo a ordem do pensamento e vai naturalmente do simples ao complexo

De acordo com Foucault (1981 prefaacutecio) os homens tecircm um solo

epistemoloacutegico que usam para fazer as suas classificaccedilotildees eacute isso que produz as

categorias que empregam Relativamente agraves categorias particulares Foucault diz

que satildeo mitos resultantes do sistema de classificaccedilatildeo que empregam Esse sistema

eacute histoacuterico a priori Histoacuterico porque eacute produto da histoacuteria e ele eacute a priori porque

antecede os modos nos quais os homens classificam o mundo

Pode-se inferir que as vaacuterias classificaccedilotildees usadas pelos homens satildeo

construccedilotildees condicionadas por eventos dependentes historicamente e que as

categorias dividem o conhecimento de determinada maneira porque pressupotildeem um

sistema de classificaccedilatildeo que eacute usado para produzi-las Eacute justamente pelo fato de ser

pressuposto que ele eacute chamado a priori - o sistema precede o processo de

classificaccedilatildeo Categorias entatildeo satildeo o resultado da aplicaccedilatildeo de um sistema Num

certo sentido o sistema eacute como um conjunto de criteacuterios que Foucault chama de

regras que equivalem na Teoria da Classificaccedilatildeo a um conjunto de criteacuterios de

divisatildeo denominados categorias

Categorias tornam possiacutevel ldquonomear falar pensarrdquo (FOUCAULT 1981 p 9)

Natildeo existe uma sentenccedila nem existe nenhum pensamento que possam ser

formados sem depender de categorias Elas funcionam como padrotildees ou

procedimentos estabelecidos A marca de uma categoria e do mundo inteiro que se

tem construiacutedo sobre elas eacute que a cada categoria pode ser assinalado um

significado preciso e um conteuacutedo demonstraacutevel Elas satildeo divisiacuteveis e agrupaacuteveis de

acordo com os nomes que designam as suas similaridades e as suas diferenccedilas

Elas satildeo maneiras pelas quais se organiza o mundo (FOUCAULT 1981 prefaacutecio)

Para Foucault (1981 p 175) natildeo teria sido possiacutevel falar e

consequentemente nomear se no acircmago mesmo das coisas antes de toda

113

representaccedilatildeo a natureza natildeo tivesse sido contiacutenua113 A condiccedilatildeo de possibilidade

da linguagem assim como da classificaccedilatildeo reside exatamente nesse contiacutenuo onde

as coisas e as palavras se entrecruzam Para que um nome comum seja possiacutevel eacute

preciso que haja entre as coisas alguma semelhanccedila que permita aos elementos

significantes aparecerem ao longo das representaccedilotildees

As categorias natildeo seratildeo simplesmente convenccedilotildees arbitraacuterias poderatildeo corresponder (se natildeo forem estabelecidas corretamente) a regiotildees que existem distintamente sobre essa superfiacutecie ininterrupta da natureza seratildeo regiotildees mais vastas mas tatildeo reais quanto os indiviacuteduos (FOUCAULT 1981 p 161)

Foucault tem um entendimento muito particular da extensatildeo do termo

categoria Ele natildeo estaacute se referindo como Aristoacuteteles e tantos outros filoacutesofos a um

grupo pequeno muito geral ao contraacuterio aponta uma rede muito mais vasta Ele fala

de catildeo de homem etc como categoria O importante eacute perceber que se as

categorias forem entendidas de modo amplo como faz Foucault seraacute

significativamente diferente daquela compreensatildeo que contempla apenas as

categorias mais gerais (GRACIA 2001 p 8) Entretanto pensar em termos de

categorias gerais natildeo eacute a uacutenica maneira de entender categorias como demonstra

Foucault Outros modos de entendecirc-las seriam como propriedade das coisas (visatildeo

realista) como palavra ou entidade linguiacutestica em que o significado da categoria natildeo eacute

nada mais do que a palavra catildeo (visatildeo nominalista) ou como conceito que eacute expresso

pelo termo ou expressatildeo Categorias natildeo satildeo essas palavras ou conceitos mas o que

eacute expresso pelas palavras e pelo pensamento por intermeacutedio de conceitos - um modo

de ordenar as coisas Para Foucault os sistemas que produzem as categorias por meio das quais se vecirc

o mundo natildeo satildeo particulares mas gerais e satildeo revelados no discurso antes do que na

consciecircncia Portanto como resultado de sistemas categorias natildeo satildeo pessoais

(criaccedilotildees de pessoas individualmente) mas certamente arbitraacuterias porque satildeo

convencionadas socialmente114 Assim categorias satildeo inventadas satildeo modos que os

homens inventam para pensar a respeito do mundo Muito do que Foucault diz sugere

113 Nossas ideacuteias gerais diz Bufon lsquosatildeo relativas a uma escala contiacutenua de objetos [] quanto mais aumentarmos o nuacutemero de divisotildees das produccedilotildees naturais mais nos aproximaremos da verdade visto que natildeo existe realmente na natureza senatildeo indiviacuteduos e que os gecircneros as ordens as classes soacute existem na nossa imaginaccedilatildeo (BUFON Discours sur la maniegravere de traiter lrsquohistoire naturelle In Oeuvres completes t 4 p 35-36 apud FOUCAULT 1981 p 161-162) 114 Cf nota 25

114

que natildeo somente categorias mas tambeacutem os sistemas que satildeo usados para produzi-

las satildeo inventados Da argumentaccedilatildeo de Foucault pode-se inferir que classes e

categorias satildeo necessaacuterias mas arbitraacuterias ou necessariamente arbitraacuterias construtos

humanos elaborados para ordenar a compreensatildeo do mundo Segundo Gracia (2001) Foucault natildeo fala abertamente o que ldquoinventadardquo

significa poreacutem ao reiterar o uso do termo ele parece estar colocando em

discussatildeo que o caraacuteter inventado das categorias deve minar a sua validade

universal Daiacute talvez o fato dos seus muitos disciacutepulos usarem o termo construiacuteda

em vez de inventada

Pode-se dizer que para Foucault (1981) categorias satildeo os produtos de

sistemas de classificaccedilatildeo historicamente condicionados Satildeo conceitos (inventados

ou construiacutedos) a partir dos quais se pensa sobre o mundo e a sua funccedilatildeo eacute

primeiramente epistecircmica

Para pensar a respeito da Episteme da Cultura Ocidental e a Informaccedilatildeo (que daacute

nome a uma era a um periacuteodo histoacuterico) promove-se uma reflexatildeo retomando Foucault

(1981) em As Palavras e as Coisas no seacuteculo XVI no interior da Renascenccedila

trazendo-o ateacute o seacuteculo XXI (ainda que Foucault tenha morrido em 1984) para observar

como eacute que o saber se transforma no que se chama informaccedilatildeo Essa reflexatildeo eacute feita

em conjunto com o pensamento de Solange Puntel Mostafa (1996 p 36-42) estudiosa

da Filosofia da Educaccedilatildeo e da Epistemologia da Biblioteconomia

O pensamento do seacuteculo XVI eacute relacional vecirc ainda estabelecerem-se os

parentescos as semelhanccedilas e as afinidades sem a mediaccedilatildeo do conceito a

linguagem e as coisas se entrecruzam o pensamento eacute maacutegico miacutestico (os astros

explicam o comportamento as linhas da matildeo explicam o destino) a hierarquia eacute

analoacutegica existe um sistema global de correspondecircncias (a terra e o ceacuteu o

microcosmo e o macrocosmo) no qual a apresentaccedilatildeo de similitudes eacute uma praacutetica

infinita tudo se relaciona com tudo e a limitaccedilatildeo vem da finitude do mundo A

compilaccedilatildeo de documentos eacute feita pela repeticcedilatildeo de palavras jaacute escritas ou ditas

conhecer eacute comentar (somente no seacuteculo XVIII eacute que ocorre uma mudanccedila de valor e

sentido quando o olhar se torna esmiuccedilador e as palavras mais exatas e neutras)

Existe tambeacutem muita curiosidade em relaccedilatildeo agraves plantas e animais exoacuteticos exibidos

em festas e torneios o que representava um novo modo de vincular as coisas ao

mesmo tempo ao olhar e ao discurso - os jardins e os zooloacutegicos satildeo o livro ordenado

das estruturas o espaccedilo em que se combinam os caracteres e se desdobram as

115

classificaccedilotildees No seacuteculo XVI a divisatildeo entre o que o indiviacuteduo vecirc o que os outros

veem e transmitem o que o indiviacuteduo imagina o que os outros imaginam ou creem -

essa triparticcedilatildeo ldquoentre a Observaccedilatildeo o Documento e a Faacutebula natildeo existiardquo

(FOUCAULT 1981 p 143) A razatildeo eacute que no seacuteculo XVI e ateacute meados do seacuteculo

XVII ldquoos signos faziam parte das coisas ao passo que no seacuteculo XVIII eles se tornam

modos de representaccedilatildeordquo (FOUCAULT 1981 p 143) De acordo com essa visatildeo no

seacuteculo XVI todo ser trazia uma marca (frequentemente visiacutevel) que servia para

identificaacute-lo individualizaacute-lo e por extensatildeo agrave espeacutecie Assim uma espeacutecie caccedilava agrave

noite outra habitava a aacutegua etc As palavras natildeo representam as coisas natildeo existem

por si soacutes eram parte das coisas as suas marcas e sinais Natildeo existe ainda uma

organizaccedilatildeo alfabeacutetica dos livros - que soacute vai aparecer no seacuteculo XVII pois pensar em

ordem alfabeacutetica eacute pensar no ser da linguagem Ordem alfabeacutetica eacute construto

arbitrariedade ordem construiacuteda La Croix Du Maine (cf subseccedilatildeo 312) concebe em

1583 ao mesmo tempo uma Enciclopeacutedia e uma Biblioteca na qual os textos seriam

dispostos segundo ldquoas figuras da vizinhanccedila do parentesco da analogia e da

subordinaccedilatildeo prescritas pelo proacuteprio mundordquo (FOUCAULT 1981 p 54)

A partir do seacuteculo XVII o signo passa a fazer parte da anaacutelise das

representaccedilotildees por meio das similitudes e das diferenccedilas ou seja toda

denominaccedilatildeo se deve fazer por relaccedilatildeo com todas as outras denominaccedilotildees

possiacuteveis ldquoConhecer aquilo que pertence propriamente a um indiviacuteduo eacute ter diante

de si a classificaccedilatildeo ou a possibilidade de classificar o conjunto dos outrosrdquo

(FOUCAULT 1981 p 159) O que ele eacute - a sua identidade - e aquilo que marca o

que ele eacute definem-se pelo que resta das diferenccedilas ldquoUm animal ou uma planta natildeo

eacute aquilo que eacute indicado - ou traiacutedo - pelo estigma que se descobre impresso nele eacute

aquilo que os outros natildeo satildeo soacute existe em si mesmo no limite daquilo que dele se

distinguerdquo (FOUCAULT 1981 p 159) Marcando a transiccedilatildeo entre a episteme do

seacuteculo XVI (embasada na analogia) e a episteme do seacuteculo XVII (dominada pelo

estudo do conhecimento pela questatildeo do meacutetodo pelas relaccedilotildees entre Ciecircncia e

Filosofia e por duas grandes correntes filosoacuteficas o Racionalismo e o Empirismo)

eis Dom Quixote personagem miacutetico que vive a ruptura onde terminam os jogos da

semelhanccedila e da correspondecircncia dos signos e onde comeccedilam novas relaccedilotildees -

siacutembolo da ruptura no universo do conhecimento porque aquilo que se lecirc natildeo

corresponde mais agravequilo que se vecirc Lendo o mundo para demonstrar os livros ele se

surpreende com a inexistecircncia da concordacircncia dos signos com o real (FOUCAULT

116

1981 p 60-64) Eacute um mundo em que a linguagem natildeo alcanccedila mais as coisas O

seacuteculo do Barroco com seus desvios lsquoilusionistasrsquo cujo parentesco da semelhanccedila

com a ilusatildeo faz com que a similitude natildeo seja mais a forma do saber provoca uma

ruptura As palavras e as coisas separam-se nascendo entre elas a representaccedilatildeo

(o signo o sentido o significado o referente) Eacute tempo das palavras representarem

as coisas natildeo porque se assemelhem a elas mas porque por meio delas pode-se

distingui-las ldquoPor mais que se diga o que se vecirc o que se vecirc natildeo condiz com o que

se dizrdquo (FOUCAULT 1981 p 85) Entatildeo a linguagem do saber muda de fisionomia

Eacute aiacute que se comeccedila a pensar a natureza como uma coleccedilatildeo de realidades

classificaacuteveis ou como um encadeamento linear de acontecimentos que satildeo causas

e efeitos uns dos outros Assim a Matemaacutetica a Fiacutesica a Cosmologia ou a Axiologia

estabelecem-se no quadro de uma organizaccedilatildeo que se reflete na classificaccedilatildeo de

elementos de realidade na Gramaacutetica das palavras e dos signos Enraizadas numa

visatildeo estaacutetica da realidade as ciecircncias ordenam os fatos em dois planos espaccedilo em

que se distribuem e tempo em que se encadeiam mutuamente

Pode-se observar que a mania da classificaccedilatildeo manifestada no discurso

cientiacutefico tambeacutem se exprime nas tentativas de organizaccedilatildeo da existecircncia coletiva

como por exemplo na construccedilatildeo de uma lsquocidade idealrsquo por Nicolas Ledoux

arquiteto utopista do seacuteculo XVII que se dedicou em sua cidade Salinas de Cal em

Arc e Senans a um trabalho de ordenador de espaccedilo a partir de regras de

classificaccedilatildeo (GUEDEZ 1977 p 38-39) Otlet tambeacutem planejou uma cidade no

litoral belga que foi destruiacuteda durante a guerra O aparecimento do Racionalismo

permite superar a magia e a supersticcedilatildeo dando lugar agrave natureza na ordem cientiacutefica

Eacute neste seacuteculo que toda semelhanccedila e analogia cartesianas se submetem ao crivo

da (anaacutelise) comparaccedilatildeo de modo que natildeo eacute mais possiacutevel que tudo se relacione

com tudo A partir do seacuteculo XVII uma enumeraccedilatildeo completa eacute possiacutevel e as coisas

vatildeo se assemelhando ateacute o ponto em que acumuladas as diferenccedilas o semelhante

se rompe A enumeraccedilatildeo exaustiva e a capacidade de apontar em cada passo a

passagem para o seguinte permite conhecer com mais certeza somente a

enumeraccedilatildeo pode permitir qualquer que seja a questatildeo a que o ser se aplique ter

sobre ela um julgamento verdadeiro e certo (DESCARTES Regulae 1996 VII p

110) Agraves palavras natildeo compete mais ser a marca da verdade e sim traduzi-las se

puderem A linguagem entra na sua era de transparecircncia e neutralidade quando

ldquoconhecer eacute discernirrdquo (FOUCAULT 1981 p 71) Para Mostafa (1996 p 38) ldquoestaacute

117

aberto o caminho para a taxonomia para a classificaccedilatildeo do seacuteculo seguinterdquo

O seacuteculo XVIII (Idade Claacutessica ou Iluminismo) caracteriza a eacutepoca da

classificaccedilatildeo e dos acervos Eacute o seacuteculo das Luzes que recolhe e unifica a heranccedila

do racionalismo e do empirismo instituindo os direitos supremos da razatildeo humana e

exigindo a sua realizaccedilatildeo concreta por meio de conquistas sociais que se

materializam na Constituiccedilatildeo dos Direitos do Homem e na Revoluccedilatildeo Francesa O

Iluminismo (cf nota 58) inicia-se sobre trecircs linguagens novas Gramaacutetica Geral

Anaacutelise das Riquezas e Histoacuteria Natural Ateacute entatildeo a linguagem se pretendia

repeticcedilatildeo da realidade ela era o proacuteprio mundo As palavras eram as coisas como o

logos (razatildeo) platocircnico que refletia na sua disposiccedilatildeo a harmonia do cosmos e

como o projeto enciclopeacutedico na aurora do seacuteculo XVIII ainda procura lsquoreconstituirrsquo

pelo encadeamento das palavras e pela sua disposiccedilatildeo no espaccedilo a proacutepria ordem

do mundo Esse eacute o seacuteculo que recorre agrave Aacutelgebra como meacutetodo universal quando

se trata de ordenar as naturezas simples e constitui taxonomias quando se trata de

pocircr ordem em naturezas complexas Eacute o responsaacutevel por dar uma amplitude e uma

precisatildeo ateacute entatildeo insuspeitadas agraves Ciecircncias da Vida (desenvolvem-se novas

disciplinas como a Embriologia a Histologia a Geologia e a Paleontologia) O saber

jaacute acumulado da heranccedila aristoteacutelica do peso do cartesianismo e do prestiacutegio de

Newton soma-se agrave aperfeiccediloamentos teacutecnicos (como a invenccedilatildeo do microscoacutepio) agrave

importacircncia das Ciecircncias Fiacutesicas com o seu modelo de racionalidade

experimentaccedilatildeo observaccedilatildeo caacutelculo e anaacutelise que teria conduzido (inicialmente por

meio do cartesianismo da racionalidade mecacircnica) agrave descoberta da racionalidade

do ser vivo A aquisiccedilatildeo do conhecimento e a ordem do mundo natildeo comeccedilam mais

com as ideacuteias mas com as coisas aparece a possibilidade de classificar (natildeo os

textos mas) os seres vivos - uns segundo Lineu (toda a natureza eacute capaz de entrar

numa taxonomia) outros como Buffon (a natureza eacute muito rica e diversa para

ajustar-se a quadro tatildeo riacutegido) Haacute a oposiccedilatildeo entre os que creem na imobilidade da

natureza - como Lineu - e os que como Diderot pressentem o poder de criaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da vida115 Flora e fauna ganham espaccedilos abertos claros e distintos

115 O texto Le Recircve de drsquoAlembert de Diderot (escrito em 1769 posto em circulaccedilatildeo pela Correspondance Litteacuteraire em 1782 publicado em 1831) bem antes de Darwin debate o evolucionismo Transparece um jogo de forccedilas onde de um lado as Ciecircncias da Vida (mecanicistas) e a Teologia (ora apoiando-se ora contestando-se) sob a influecircncia de Descartes manteriam a Idade Claacutessica proacutexima de seu iniacutecio do outro lado as Ciecircncias da Vida (intuitivas) e a natildeo-Religiatildeo (ambas em cumplicidade) como sob a influecircncia de Diderot a atrairiam em direccedilatildeo ao seacuteculo XIX

118

jardins botacircnicos herbaacuterios coleccedilotildees gabinetes de exposiccedilatildeo (verdadeiros

documentos expostos ao olhar classificatoacuterio do homem oitocentista) Surgem os

primeiros esforccedilos de uma Agronomia as grandes viagens de pesquisa ou de

exploraccedilatildeo traduzem-se em descriccedilotildees desenhos e espeacutecimes e ocorre ainda a

valorizaccedilatildeo eacutetica da natureza ldquono coraccedilatildeo do seacuteculo XVIII Rousseau herborizardquo

(FOUCAULT 1981 p 140) O livro torna-se o herbaacuterio das estruturas vegetais No

seacuteculo XVIII embora natildeo se possa saber e dizer senatildeo em um espaccedilo taxonocircmico

de visibilidade daiacute o conhecimento taxonocircmico ter sido mais rico e mais coerente na

ordem botacircnica que na ordem zooloacutegica a Botacircnica ainda natildeo existe enquanto

ciecircncia da vida nem a Biologia O visiacutevel eacute tematizado pela histoacuteria que

necessariamente se torna uma histoacuteria da natureza uma Histoacuteria Natural que

possibilita ldquover o que se poderaacute dizer mas que natildeo se poderia dizer depois nem ver

a distacircncia se as coisas e as palavras distintas umas das outras natildeo se

comunicassem desde o iniacutecio numa representaccedilatildeordquo (FOUCAULT 1981 p 144)

Lineu (1707-1778) propotildee agrave Histoacuteria Natural uma ordem descritiva que permite agrave

estrutura que foi filtrada e limitada do visiacutevel transcrever-se na linguagem De acordo

com ele a descriccedilatildeo de qualquer animal ou vegetal deve seguir os seguintes

passos nome teoria gecircnero espeacutecie atributos uso e por fim litteraria Ele coloca

em uacuteltimo lugar como um apecircndice a descriccedilatildeo das crenccedilas e tradiccedilotildees das figuras

poeacuteticas enfim toda a linguagem depositada pelo tempo sobre as coisas Coloca em

primeiro lugar o proacuteprio animal ou planta que aparece com suas caracteriacutesticas mas

no interior de uma seacuterie linear de elementos - nomes - que recorta a representaccedilatildeo

do animal ou da planta segundo um modo manifesto e universal Ele pretendia que a

ordem da descriccedilatildeo reproduzisse o proacuteprio animal a proacutepria planta que o animal ou

planta passasse por inteiro para o discurso que a recolhe e classifica A partir de

Cuvier (final de seacuteculo) ainda que a definiccedilatildeo da identidade das espeacutecies continue

atrelada agraves diferenccedilas esta surgiraacute natildeo mais de estruturas mas de conjuntos

orgacircnicos e seus sistemas - esqueleto respiraccedilatildeo circulaccedilatildeo - que se constituiratildeo

em objeto das Ciecircncias Naturais Ateacute o fim do seacuteculo XVIII a vida natildeo existe apenas

seres vivos Ela eacute uma categoria de classificaccedilatildeo e como todas as categorias

relativa aos criteacuterios que se fixarem Tambeacutem como todas as outras exposta a

imprecisotildees quando se trata de fixar-lhe as fronteiras

119

No fim do seacuteculo XVIII referindo-se a Kant Foucault afirma

laacute onde se tratava de estabelecer as relaccedilotildees de identidade e de distinccedilatildeo sobre o fundo contiacutenuo das similitudes ele faz surgir o problema inverso da siacutentese do diverso No mesmo movimento a questatildeo criacutetica se volta do conceito ao juiacutezo da existecircncia do gecircnero (obtida pela anaacutelise das representaccedilotildees) agrave possibilidade de ligar as representaccedilotildees entre si do direito de nomear ao fundamento da atribuiccedilatildeo da articulaccedilatildeo nominal agrave proposiccedilatildeo mesma e ao verbo ser que a estabelece Ela se acha entatildeo absolutamente generalizada Em vez de valer somente a propoacutesito das relaccedilotildees entre a natureza e a natureza humana ela interroga a possibilidade mesma de todo conhecimento (FOUCAULT 1981 p 177-178)

Ao longo do seacuteculo XIX a vida torna-se objeto de conhecimento e o homem

emerge na Histoacuteria como concebida hoje quando parte dos seres estaacute catalogada e

classificada Eacute nesse periacuteodo que a representaccedilatildeo vai se dar na forma de acervos

bibliograacuteficos (reunidos em arquivos bibliotecas e museus) porque os escritos

chegaram a uma tal densidade que era preciso dispocirc-los em espaccedilos proacuteprios e

ordenados Eacute quando em razatildeo da imensa reorganizaccedilatildeo do saber uma verdadeira

redistribuiccedilatildeo da episteme ocidental surgem as Ciecircncias Humanas (a Histoacuteria Natural

passa a Biologia a Anaacutelise das Riquezas passa a Economia e a Reflexatildeo sobre a

Linguagem passa a Filologia) O homem do seacuteculo XIX quer entender o ser do homem

e funda uma episteme para tanto Sociologia Psicologia Economia Biologia a

proacutepria Filosofia volta-se para o ser do homem na Fenomenologia O seacuteculo XIX

segundo Mostafa (1996 p 41) eacute talvez o mais conhecido porque o homem foi

liberado desde entatildeo para pensar em si proacuteprio (Durkheim pensa o homem como um

fato social Comte pensa um homem positivo Marx pensa um homem histoacuterico

Weber pensa um homem compreensivo) Eacute um tempo em que o homem se encontra

abrigado e sistematicamente estudado como na deacutecada de 20 do seacuteculo XX quando

Freud escreve as suas descobertas a respeito do mais iacutentimo do ser do homem

A humanidade aparece tardiamente na episteme ocidental e tem uma presenccedila

passageira surgindo e desaparecendo em seguida No seu lugar novas figuras

preenchem os espaccedilos Informaccedilatildeo Ciberneacutetica Roboacutetica Ciecircncia da Computaccedilatildeo

Ciecircncia da Informaccedilatildeo Sistemas de Recuperaccedilatildeo da Informaccedilatildeo etc Nasce o saber

sem sujeito cujo nome eacute Informaccedilatildeo Mostafa (1996 p 41) cita Karl Popper ldquoo

conhecimento em sentido objetivo eacute conhecimento sem conhecedor eacute conhecimento

sem sujeito que conheccedilardquo Portanto o seacuteculo XX vai lidar com a informaccedilatildeo que

passa a ser o problema a ser investigado e eacute agora sujeito da Histoacuteria Assim como o

seacuteculo XVII lidou com o mostruaacuterio medieval do fantaacutestico o seacuteculo XVIII com o

120

quadro classificatoacuterio das espeacutecies vegetal e animal e o seacuteculo XIX com as seacuteries e

hierarquias das tabelas bibliograacuteficas decimais o seacuteculo XX natildeo lida mais apenas com

registro e recuperaccedilatildeo mas com um grande texto um hipertexto Eacute o proacuteprio homem

que se deposita num outro suporte que ele chama de Inteligecircncia Artificial Essa

trajetoacuteria fez com que as coisas jaacute natildeo sejam mais percebidas descritas

enunciadas caracterizadas e classificadas da mesma maneira pois a rede

conceitual que lhes cria o espaccedilo de existecircncia se modificou

Trata-se de uma nova episteme no coraccedilatildeo do seacuteculo XXI ldquoeacute como se a

informaccedilatildeo morasse em todos os lugares ou fosse a morada de todos os deusesrdquo

(MOSTAFA 1996 p 42) O ser do homem passa a ser o ser da informaccedilatildeo em que o

ser do homem se esvanece restando apenas a sua lembranccedila por meio da linguagem

dos metadados dos coacutedigos dos conhecimentos que produz enfim da informaccedilatildeo

A aacuterea da Ciecircncia da Informaccedilatildeo tem sido muito eficiente em representar o

conhecimento com linguagens116 como sistemas de classificaccedilatildeo gerais (CDD CDU

LCC CC BC) especializados tesauros dicionaacuterios glossaacuterios vocabulaacuterios

controlados cabeccedilalhos de assunto palavras-chave entre outros Mas o

conhecimento da representaccedilatildeo que eacute o conhecimento teoacuterico ou epistemoloacutegico da

representaccedilatildeo enquanto relaccedilatildeo do pensamento com o real eacute minimizado A

importacircncia dessa questatildeo para a aacuterea eacute de acordo com Gonzalez de Gomez

(1993 p 217-222) entender que o paradigma da informaccedilatildeo eacute o paradigma da

linguagem Na deacutecada de 70 do seacuteculo XX as primeiras discussotildees sobre

informaccedilatildeo diziam que esta era algo dado na estrutura do mundo (o solo

epistemoloacutegico era ontoloacutegico da ordem do ser no mundo) depois evoluiu para a

compreensatildeo de que a informaccedilatildeo era como uma imagem a informaccedilatildeo soacute era

enquanto representaccedilatildeo (o solo era a consciecircncia tudo se resolvia no pensamento)

soacute mais recente eacute que surge a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo como linguagem como

texto como escrita (o solo eacute a linguagem e o seu sistema de significados onde a

informaccedilatildeo em sua investidura semioacutetica manifesta-se como autocircnoma) A aacuterea da

Informaccedilatildeo trabalha fundamentalmente com linguagem com palavras com textos e

a relaccedilatildeo entre texto e classificador eacute naturalmente uma relaccedilatildeo dialeacutetica Por

exemplo

116 Linguagens documentaacuterias (LD) satildeo sistemas de signos que visam agrave uniformizaccedilatildeo do uso da linguagem de especialidade proporcionando uma representaccedilatildeo padronizada do conteuacutedo informacional bem como uma recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo mais pertinente

121

o livro de Fernando Gabeira O Que eacute isso Companheiro foi indexado no Brasil como lsquobiografiarsquo na Biblioteca do Congresso nos Estados Unidos o primeiro assunto indexado eacute o nome do embaixador norteamericano seguido de um termo como lsquoguerrilharsquo o bibliotecaacuterio brasileiro olha o Brasil e natildeo vecirc lsquosequestrorsquo nem embaixador nem guerrilha Na Franccedila o livro foi indexado como lsquoBrasil - periacuteodo 1964-1974 - revoluccedilatildeo - narrativa pessoalrsquo (MOSTAFA 1996 p 44)

Apesar das teses do saber sem sujeito o homem existe faz histoacuteria e lecirc

segundo as suas crenccedilas o seu conhecimento a sua ideologia enfim segundo a

sua consciecircncia possiacutevel A Biblioteconomia e a Ciecircncia da Informaccedilatildeo falam por

meio de coacutedigos classificaccedilotildees tesauros etc e por isso Gonzalez de Gomez

(1993) adverte que eacute preciso perceber de que modo a aacuterea olha esse objeto

chamado informaccedilatildeo A informaccedilatildeo eacute sempre olhada pelos profissionais da aacuterea por

intermeacutedio de uma linguagem documentaacuteria natural ou controlada - eacute esse recorte

que a distingue de outras aacutereas Outro aspecto importante diz respeito ao poder da

linguagem o poder do significado da imposiccedilatildeo de sentido Nas anaacutelises foucaultianas

toda vontade de verdade eacute vontade de poder O poder disciplinar o poder que as

disciplinas exercem umas sobre as outras eacute tambeacutem jogo de poder As aacutereas de

conhecimento como discursos que fabricam os seus objetos e as praacuteticas de que falam

(falas satildeo atos fundadores - quando falamos sobre as coisas do mundo noacutes as

constituiacutemos - as coisas do mundo soacute tecircm significado quando interpretadas pela

linguagem) brigam pela verdade do mundo ou seja brigam por poder O poder que

agora natildeo eacute o outro do saber mas o poder que eacute exercido em e por meio de relaccedilotildees

mediadas por informaccedilatildeo A classificaccedilatildeo produz verdades Natildeo apenas representa o

conhecimento mas faz nascer o conhecimento numa certa direccedilatildeo separando aacutereas

aproximando outras escondendo relaccedilotildees fazendo aparecer outras Assim como os

cataacutelogos as classificaccedilotildees satildeo dispositivos de interpelaccedilatildeo (MOSTAFA 2005)

324 Quadros-Siacutentese das Classificaccedilotildees Filosoacuteficas dos Seres

Filoacutesofos cientistas e pesquisadores em geral partem dos mais variados

princiacutepios de acordo com as suas doutrinas filosoacuteficas para classificar os objetos das

ciecircncias (quadro 25) e estatildeo sempre envolvidos na tarefa de propor novas

categorias (quadro 26) isto eacute novos instrumentos conceituais (quadro 27) de

investigaccedilatildeo e de expressatildeo linguiacutestica

122

Com os quadros-siacutentese das classsificaccedilotildees filosoacuteficas dos seres (categorias)

eacute possiacutevel constatar que desde Platatildeo segundo a concepccedilatildeo epistemoloacutegica

vigoram dois princiacutepios quanto agrave essecircncia das categorias princiacutepio realista e

objetivista e princiacutepio idealista e aprioriacutestico Historicamente iniciou-se a teoria das

categorias com o primeiro princiacutepio quer em Platatildeo (summum genus) quer em

Aristoacuteteles (kategoria) como determinaccedilotildees da realidade conceitos que servem para

conhecer a proacutepria realidade Com Kant a teoria das categorias ganha uma nova

elaboraccedilatildeo dessa vez idealista e apriorista como conceitos puros do entendimento

condiccedilotildees de ligaccedilatildeo que o espiacuterito estabelece entre as coisas

A Epistemologia Contemporacircnea natildeo mais se ocupa de constituir uma tabela

das categorias pois passa a conceber o pensamento como virtualidade

(independente das estruturas linguiacutesticas) como ldquosistema abertordquo (expressatildeo de

Hartmann) que natildeo pode constituir-se numa rede ldquoestranguladorardquo do pensamento

(HARTMANN 1940)

123

PERIacuteODO FILOacuteSOFO PRINCIacutePIOS427-347 aCSeacuteculo IV aC

Platatildeo Platatildeo admite a existecircncia de ideacuteias inatas Eacute a alma com as suas trecircs faculdades (racional passional apetitiva) o princiacutepio das ideacuteias das categorias O idealismo platocircnico separava as ideacuteias e as coisas considerava os fenocircmenos como aparecircncia ilusoacuteria e as ideacuteias como conhecimento verdadeiro O princiacutepio (realista) da doutrina do fundamento real das categorias eacute aquele que confere realidade agraves ideacuteias e faz corresponder a realidade e o discurso

384-322 aCSeacuteculo IV aC

Aristoacuteteles Aristoacuteteles defende o princiacutepio que todo conhecimento proveacutem das sensaccedilotildees As categorias satildeo obtidas por uma espeacutecie de percepccedilatildeo intelectual Nada haacute no entendimento que antes natildeo tenha estado nos sentidos A alma para ele era uma tabula rasa em que nada estaacute escrito A substacircncia eacute o ser por excelecircncia eacute o indiviacuteduo que se apresenta como siacutentese de todas as determinaccedilotildees Essas determinaccedilotildees essenciais da realidade formam as suas dez categorias Aristoacuteteles buscava nas essecircncias (universais) a razatildeo das coisas e dos fatos supondo-as no interior das coisas une as ideacuteias e as coisas e defende o princiacutepio da correspondecircncia entre a realidade e o discurso por meio das proposiccedilotildees categoriais ldquoExpressotildees sem enlacerdquo ou ldquocoisas ditas sem complexatildeordquo para Aristoacuteteles ldquocategoriasrdquo satildeo palavras simples ldquosem ligaccedilatildeordquo natildeo combinadas com outras presentes no pensamento e na linguagem e que indicam o que uma coisa eacute estaacute ou faz quando aplicada O que esse conceito bem diferente tem em comum com os anteriores eacute implicar ele tambeacutem um princiacutepio de organizaccedilatildeo Pode-se dizer que Aristoacuteteles deduziu as categorias sob o ponto de vista loacutegico-gramatical

205-270 Seacuteculo III

Plotino Em Plotino o aspecto ontoloacutegico da teoria prevalece sobre o aspecto semacircntico Seguindo em parte Platatildeo Plotino admite que os gecircneros satildeo distintos entre si poreacutem pertencem agrave Unidade Suprema (satildeo como partes ou elementos dela) o Ser o ldquoUmrdquo o Ente o Absoluto eacute o que constitui o fundamento e o princiacutepio comum das categorias

1285-1349Seacuteculo XIV

Ockham Ockham se caracteriza por um empirismo radical soacute existe o que pode ser captado pelos sentidos soacute o objeto individual eacute real e apenas haacute indiviacuteduos Defendia o princiacutepio do caraacuteter puramente verbal das categorias

1561-1626Seacuteculo XVII

F Bacon Em Bacon vigora o princiacutepio racional que objetiva descobrir a causa (princiacutepio constitutivo dos entes) das coisas naturais pois saber verdadeiramente eacute saber pelas causas

1588-1679Seacuteculo XVII

Hobbes Para Hobbes a sensaccedilatildeo eacute o uacutenico fundamento (princiacutepio) de todo conhecer

1632-1677Seacuteculo XVII

Spinoza Spinoza defende o princiacutepio racional de determinaccedilatildeo da Substacircncia (substacircncia finita pensante e substacircncia infinita) em que atributo eacute extensatildeo (da substacircncia) e modo eacute acidente (da substacircncia)

1632-1704Seacuteculo XVII

Locke Locke acredita no princiacutepio racional de distinccedilatildeo entre ideacuteias simples e ideacuteias complexas prega que frente agrave ideacuteias simples o sujeito humano eacute passivo porquanto soacute se torna ativo ao estabelecer relaccedilatildeo ou seja entrar em contato com ideacuteias complexas Primeira vez que aparece na Filosofia o conceito de categoria como funcionalidade Para Locke natildeo existem ideacuteias inatas porque contradizem a experiecircncia e natildeo podem ser averiguadas ou fundamentadas O nexo causal eacute o uacutenico viacutenculo que existe entre as coisas e as sensaccedilotildees que se tecircm delas Consequentemente a causalidade eacute o uacutenico caminho para o conhecimento enquanto a existecircncia eacute a uacutenica realidade captada pelo conhecimento mediante a causalidade

1646-1716Seacuteculo XVIII

Leibniz Em Leibniz vigora o princiacutepio racional de ideacuteias inatas primeiros princiacutepios que natildeo podem provir da experiecircncia porque tecircm uma necessidade do absoluto que os conhecimentos empiacutericos natildeo tecircm princiacutepio de identidade ideacuteias inatas (todo ser eacute igual a si mesmo) princiacutepio de natildeo-contradiccedilatildeo ideacuteias inatas que governam as verdades de razatildeo - necessaacuterias (um ser natildeo pode ser senatildeo ele) e princiacutepio de razatildeo suficiente ideacuteias inatas que governam as verdades de fato - contingentes (tudo o que acontece natildeo acontece necessariamente e nem pelo arbiacutetrio de algueacutem mas por um motivo razoaacutevel que a justifica plenamente mesmo que natildeo o conheccedilamos

QUADRO 25 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES continua

124

1711-1776Seacuteculo XVIII

Hume Em Hume atua o princiacutepio da subjetividade empiacuterica segundo o qual se pode observar os fenocircmenos mas o seu mecanismo iacutentimo natildeo eacute passiacutevel de experiecircncia e as relaccedilotildees entre os objetos como natildeo podem ser observadas natildeo pertencem aos objetos

1724-1804Seacuteculo XIX

Kant Na loacutegica kantiana as categorias satildeo deduzidas do uacutenico princiacutepio comum da faculdade do juiacutezo (deduccedilatildeo trascendental) Com Kant o mundo a ser classificado era o mundo dos conceitos enquanto formas a priori do conhecimento O sujeito do conhecimento eacute a razatildeo universal e natildeo uma subjetividade pessoal e psicoloacutegica As categorias natildeo mais se referem ao ser mas ao conhecer A realidade transcende o conhecer e necessita conceber o conhecer como procedente do sujeito produto deste As categorias cessam de ser a revelaccedilatildeo da estrutura da realidade como na Filosofia Greco-Medieval ateacute o seacuteculo XVIII Kant nega o realismo da concepccedilatildeo claacutessica e afirma o idealismo da concepccedilatildeo que considera as categorias como conceitos fundamentais do entendimento puro que prescrevem leis aos fenocircmenos Kant natildeo se refere ao ser mas ao conhecer As categorias natildeo se referem mais ao objeto a ser conhecido mas ao entendimento como faculdade de conhecimento Pode-se dizer que Kant deduziu as categorias sob o ponto de vista totalmente loacutegico

1770-1831Seacuteculo XIX

Hegel Em Hegel predomina o princiacutepio da ldquorealidade- pensamentordquo (consciecircncia da realidade) Forma e conceito se correspondem As formas de ser (ontoloacutegicas) se correlacionam com as formas de pensar (conceitos) Na loacutegica de Hegel as categorias satildeo deduzidas da atividade pura do espiacuterito

1815-1903Seacuteculo XX

Renouvier A proposta de Renouvier eacute mostrar que o conjunto das relaccedilotildees categoriais natildeo eacute soacute uma maneira de pensar o mundo mas tambeacutem um modo do pensamento averiguar e descobrir acerca da constituiccedilatildeo uacuteltima do real e que a formaccedilatildeo das categorias se deve agraves oposiccedilotildees dialeacuteticas de termos correlativos que mutuamente se implicam

1882-1950Seacuteculo XX

N Hartmann Para Hartmann satildeo quatro os princiacutepios que regem as categorias de validez segundo o qual as categorias determinam incondicionalmente os seus elementos concretos de coerecircncia segundo o qual as categorias se encontram somente na estrutura do estrato categorial de estratificaccedilatildeo que afirma que as categorias do estrato inferior se acham sempre contidas nas do estrato superior e natildeo o inverso e o de dependecircncia para o qual as categorias superiores dependem das inferiores Esses princiacutepios produzem categorias comuns ao ser real e ao ser ideal Hartmann alude tambeacutem agrave modificaccedilatildeo ou flexatildeo das categorias nos estratos particulares do universo

1900-1976Seacuteculo XX

Ryle Ryle embasado no Empirismo loacutegico propotildee-se a classificar os seres sob o ponto de vista (princiacutepio) loacutegico-gramatical (semacircntico) indicando que o modo como pode aplicar-se o criteacuterio categorial aos termos da linguagem eacute o modo como um termo pode converter-se em princiacutepio de coleccedilatildeo (coleta) de certos outros termos com o intuito de fornecer informaccedilatildeo acerca da natureza das coisas

1926-1984Seacuteculo XX

Foucault Para Foucault eacute a relaccedilatildeo entre as palavras e as coisas traccedilo distintivo de cada episteme (entendendo-se por episteme o periacuteodo histoacuterico especiacutefico uacutenico incomunicaacutevel e independente dos demais que estabelece uma relaccedilatildeo especiacutefica entre palavras e coisas) o princiacutepio responsaacutevel pelo estabelecimento de categorias

QUADRO 25 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES conclusatildeo

FONTE a autora

125

PERIacuteODO FILOacuteSOFO CATEGORIAS427-347 aC Platatildeo 5 Ser Repouso Movimento Identidade (igualdade idecircntico) Diferenccedila (alteridade distinto)384-322 aC Aristoacuteteles 10 Substacircncia Qualidade Quantidade Relaccedilatildeo Lugar Tempo Accedilatildeo Paixatildeo Posiccedilatildeo Haacutebito205-270 Plotino 5 Ser Movimento Repouso (estabilidade) Identidade (o mesmo) Diferenccedila (o outro)1285-1349 Ockham 3 Substacircncia Qualidade Relaccedilatildeo1561-1626 F Bacon 18 Nove pares de categorias 1 Maius Minus 2 Multum Paucum 3 Idem Diversum 4 Potentia Actus 5 Habitus Privatio 6

Totum Partes 7 Agens Patiens 8 Motus Quies 9 Ens Non Ens 1588-1679 Hobbes 3 Mateacuteria Extensatildeo Movimento1632-1677 Spinoza 3 Substacircncia Atributo Modo1632-1704 Locke 3 Substacircncia Modo Relaccedilatildeo1646-1716 Leibniz 6 Substacircncia Quantidade Qualidade Accedilatildeo Paixatildeo Relaccedilatildeo1711-1776 Hume 3 Substacircncia Causalidade Qualidade Associativa (semelhanccedila continuidade no tempo e no espaccedilo causa e efeito)1724-1804 Kant 12 Quatro grupos de trecircs categorias cada 1 Quantidade (unidade pluralidade totalidade) 2 Qualidade (realidade negaccedilatildeo

limitaccedilatildeo) 3 Relaccedilatildeo (inerecircncia causalidade comunidade) 4 Modalidade (possibilidade existecircncia necessidade) 1770-1831 Hegel 3 Ser (quantidade qualidade medida) Essecircncia (fundamento fenocircmeno realidade) Conceito (objetivo subjetivo ideacuteia) 1815-1903 Renouvier 9 Relaccedilatildeo Nuacutemero Extensatildeo (posiccedilatildeo) Duraccedilatildeo (sucessatildeo) Qualidade Devir (porvir) Causalidade (forccedila) Finalidade

Personalidade 1882-1950 N Hartmann 19 Trecircs grupos 1 Modais (Possibilidade Realidade Necessidade) 2 Elementares Bipolares ou de Oposiccedilatildeo (princiacutepio-concreto

estrutura-modo forma-mateacuteria interno-externo determinaccedilatildeo-dependecircncia qualidade-quantidade unidade-multiplicidade acordo-desacordo oposiccedilatildeo-dimensatildeo discreccedilatildeo-continuidade substrato-relaccedilatildeo elemento-estrutura) 3 Do Real Validez (valor) Coerecircncia (crenccedila) Estratificaccedilatildeo (planificaccedilatildeo) Dependecircncia

1900-1976 Ryle 4 Qualidade Estado Substacircncia Nuacutemero1926-1984 Foucault Foucault tem um entendimento muito particular (amplo) da extensatildeo do termo categoria Ele natildeo se refere a um grupo pequeno de

categorias ao contraacuterio aponta uma rede muito vasta catildeo homem etc A loacutegica de Foucault natildeo eacute uma loacutegica que o leve a estabelecer categorias universais

QUADRO 26 - CATEGORIAS FUNDAMENTAIS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES FONTE a autora

126

PERIacuteODO FILOacuteSOFO O QUE Eacute CATEGORIA427-347 aCSeacuteculo IV aC

Platatildeo Ideacuteia perfeita das coisas objetos ou fenocircmenos em que a reuniatildeo de cada objeto concreto com outro da mesma ordem com a mesma caracteriacutestica participam de uma Ideacuteia um Gecircnero supremo uma Ideacuteia-modelo uma Ideacuteia-guia um princiacutepio de organizaccedilatildeo uma Ideacuteia-que-guia a ordenaccedilatildeo do mundo

384-322 aCSeacuteculo IV aC

Aristoacuteteles Determinaccedilatildeo do serNuma interpretaccedilatildeo linguiacutestica ou semacircntica modo de enunciaccedilatildeo (trata-se de falar do ser e de analisar os modos como eacute possiacutevel falar acerca do que eacute) predicado ou atributo da substacircncia possiacuteveis grupos de respostas a certos tipos de perguntas expressatildeo ou termo sem enlace ou complexatildeo Numa concepccedilatildeo ontoloacutegica distinto modo de ser (como o ser aparece) Gecircnero supremo ou Primeira divisatildeo do ser Numa combinaccedilatildeo das duas interpretaccedilotildees linguiacutestica-loacutegica e ontoloacutegica conceito original ou baacutesico de todos os outros conceito ou termo de alta generalizaccedilatildeo - uma vez que natildeo se encontra ldquoaplicadordquo - e que ao ser aplicado funciona como princiacutepio de divisatildeo Determinaccedilatildeo do real predicaccedilatildeo pertencente ao proacuteprio ser e da qual o intelecto deve utilizar-se para conhecer o ser e revelaacute-lo em palavras pois categoria eacute conceito real que guia a deduccedilatildeo de conceitos reais dando algum contorno agrave realidade sensiacutevel Para Aristoacuteteles existir eacute ser uma coisa de certa categoria

205-270 Seacuteculo III

Plotino Determinaccedilatildeo do serGecircnero supremo determinaccedilatildeo do real predicaccedilatildeo pertencente ao proacuteprio ser e da qual o intelecto deve utilizar-se para conhecer o ser e revelaacute-lo em palavras

1285-1349Seacuteculo XIV

Ockham Termo de primeira intensatildeo simples nome signo das coisas dotado da capacidade de ser predicado de vaacuterias coisas ou nome que se refere a grupos de objetos

1561-1626Seacuteculo XVII

Bacon Possibilidade de formulaccedilatildeo de uma identidade dos entes e das coisas naturais a partir da aplicaccedilatildeo do modelo dicotocircmico de divisatildeo (criteacuterio de oposiccedilatildeo)

1588-1679Seacuteculo XVII

Hobbes Explicaccedilatildeo do real

1632-1677Seacuteculo XVII

Spinoza Determinaccedilatildeo do Ser Absoluto

1632-1704Seacuteculo XVIII

Locke Determinaccedilatildeo do pensamentoFunccedilatildeo do pensamento tipo fundamental de ideacuteia complexa

1646-1716Seacuteculo XVIII

Leibniz Ideacuteia simples sem complexatildeo designada por um soacute termo que pode ser combinada e associada

1711-1776Seacuteculo XVIII

Hume Determinaccedilatildeo do pensamentoProduto da subjetividade empiacuterica

QUADRO 27 - A NOCcedilAtildeO DE CATEGORIA NAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES continua

127

1724-1804Seacuteculo XIX

Kant Determinaccedilatildeo do pensamento Condiccedilatildeo da validazde objetiva do conhecimentoConhecimento puro forma que o sujeito potildee nas coisas estrutura (a priori) que permite o conhecer racional e verdadeiro Conceito puro do entendimento as categorias satildeo constitutivas isto eacute constituem o objeto do conhecimento e permitem portanto um saber da Natureza e uma verificaccedilatildeo da Verdade Conceito fundamental mediante o qual se torna possiacutevel o conhecimento da realidade fenomecircnica posto que das coisas em si natildeo se pode saber nada racionalmente Categorias satildeo conceitos que prescrevem leis aos fenocircmenos

1770-1831Seacuteculo XIX

Hegel Determinaccedilatildeo do pensamento e simultacircneamente determinaccedilatildeo da realidade (pela formulaccedilatildeo de uma identidade entre realidade e razatildeo) Forma de ser e forma de pensar Determinaccedilatildeo do ser e determinaccedilatildeo do pensamento ldquoMomentordquo do Absoluto Determinaccedilatildeo do desenvolvimento dialeacutetico - o desenvolvimento dialeacutetico comeccedila no ser que eacute a determinaccedilatildeo ou categoria mais ldquopobrerdquo e culmina na Filosofia que eacute o ldquosupremordquo da evoluccedilatildeo

1815-1903Seacuteculo XX

Renouvier Elemento principal da representaccedilatildeo Noccedilatildeo abstrata que exprime relaccedilotildees de ordem geralLei primaacuteria e irredutiacutevel do conhecimento relaccedilatildeo fundamental que determina a forma do conhecer noccedilatildeo a priori isto eacute independente da experiecircncia que ao exprimir relaccedilotildees gerais permite organizar e pensar a experiecircncia

1882-1950Seacuteculo XX

N Hartmann Determinaccedilatildeo do serForma do ser Fundamento unitaacuterio de todo o mundo real Estrutura necessaacuteria ao ser em si que permite a estratificaccedilatildeo do mundo real numa seacuterie de planos Para Hartmann conhecer eacute captar alguma coisa que existe antes de todo o conhecimento e independentemente dele Consequentemente categorias satildeo fundamentos estruturais do mundo real princiacutepios constitutivos do ser e soacute podem ser referidas ao ser

1900-1976Seacuteculo XX

Ryle Regra convencional que rege o uso dos conceitosTipo ou categoria loacutegica de um conceito eacute o conjunto de modos nos quais por convenccedilatildeo eacute liacutecito utilizar o termo respectivo (noccedilatildeo mais geral e menos dogmaacutetica que a Filosofia tem proposto)

1926-1984Seacuteculo XX

Foucault Conceito (inventado ou construiacutedo) a partir do qual se pensa sobre o mundo e sua funccedilatildeo eacute primeiramente epistecircmica Categoria eacute produto de sistema de classificaccedilatildeo historicamente condicionado e funciona como padratildeo ou procedimento estabelecido A marca de uma categoria e do mundo inteiro que se tem construiacutedo acerca delas eacute que a cada categoria pode ser assinalado um significado preciso e um conteuacutedo demonstraacutevel Eacute a maneira pela qual se organiza o mundo

QUADRO 27 - A NOCcedilAtildeO DE CATEGORIA NAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES conclusatildeo FONTE a autora

128

33 CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS CONCEITOS DE CLASSE E DE CATEGORIA

Nessa subseccedilatildeo os conceitos de classe e de categoria dentro das

classificaccedilotildees filosoacuteficas demostram o pensamento da autora desta tese com base

na literatura pertinente a qual propriciou uma valiosa reflexatildeo sobre o tema

Embora o conceito de classe jaacute estivesse presente no pensamento loacutegico

medieval esse termo soacute comeccedilou a ser usado no seacuteculo XIX sobretudo por obra

dos loacutegicos preocupados com o problema da quantificaccedilatildeo da Loacutegica

(ABBAGNANO 2003 p 146) Nesse sentido pode-se definir uma classe pela

enumeraccedilatildeo dos membros que a compotildeem (definiccedilatildeo extensiva) ou indicando a

propriedade comum a todos os seus membros (definiccedilatildeo intensiva) como quando se

fala do gecircnero humano ou dos habitantes de Brasiacutelia A definiccedilatildeo intensiva eacute

considerada fundamental porque a extensiva pode ser reduzida a ela sem que

ocorra o inverso Sob esse ponto de vista as classes satildeo extensotildees de predicados

isto eacute totalidades abertas que podem ser continuamente enriquecidas Classe eacute

pois o conceito que permite classificar ordenar e distribuir os objetos de acordo com

a sua extensatildeo e a sua compreensatildeo A noccedilatildeo de classe confunde-se de certo

modo com a noccedilatildeo de totalidade uma vez que a classe eacute o todo em relaccedilatildeo aos

objetos que nele se acham incluiacutedos e do qual fazem parte como a vida em relaccedilatildeo

agrave humanidade ou o ser em relaccedilatildeo agrave vida As classes que sob esse ponto de vista

distinguem-se da totalidade satildeo conceitos abstratos e universais embora os objetos

que nelas se incluam possam ser entidades sensiacuteveis ou particulares Classe eacute um

conceito consagrado que engloba ou compreende um conjunto ou coleccedilatildeo de

objetos que apresentam ao menos um elemento comum Classes satildeo um arranjo

de coisas que se percebem como relacionadas e semelhantes entre si formando

grupos separados por linhas demarcatoacuterias niacutetidas Esses grupos acham-se

coordenados ou subordinados uns aos outros formando hierarquias ou oposiccedilotildees

As relaccedilotildees que mantecircm entre si permitem considerar alguns como dominantes

outros como dominados e ainda outros como independentes

O termo categoria derivado do verbo grego categorein (enunciar) expressa

os diversos modos de enunciaccedilatildeo uma vez que sempre de alguma maneira

enunciam o ser e os distintos modos de ser O mesmo significado encontra-se no

termo predicamento derivado do latim praedicare (predicar enunciar) Em Filosofia

as categorias designam noccedilotildees loacutegicas que refletem as propriedades essenciais os

aspectos e as relaccedilotildees mais gerais entre os fenocircmenos reais Elas representam

129

tambeacutem conceitos superiores gecircneros supremos divisotildees uacuteltimas preacute-

estabelecidas conceitos fundamentais tambeacutem chamados conceitos primitivos ou

conceitos-tronco por natildeo serem inferiores ou sub-conceitos de uma unidade mais

elevada Acima delas estaacute unicamente o ser ou o conjunto de sujeitos super-

categoria da qual participam as categorias como originaacuterios modos de ser

determinaccedilotildees primordiais do ser ou predicados do sujeito As categorias

fundamentam as diversas ordens e sempre expressam o peculiar da ordem

correspondente Ao longo da histoacuteria as categorias tiveram uma aplicaccedilatildeo direta na

classificaccedilatildeo dos seres mas podem igualmente se aplicar agraves classes na

classificaccedilatildeo dos saberes

Assim como as definiccedilotildees oriundas da Filosofia satildeo inuacutemeras e com

divergecircncias conceituais as possiacuteveis influecircncias dos conceitos filosoacuteficos de classe

e categoria tambeacutem geram divergecircncias conceituais na Teoria da Classificaccedilatildeo

como as noccedilotildees descritas na seccedilatildeo 5

Gracia (2001) observa que Platatildeo - ao pensar que existem algumas

categorias imutaacuteveis independentes da histoacuteria e do pensamento humano

(ultrarrealismo platocircnico) - Aristoacuteteles - ao sustentar que as coisas tecircm naturezas

as quais estabelecem o que elas satildeo (realismo moderado) - e Kant - que faz valer as

categorias soacute para a coisa como fenocircmeno poreacutem natildeo para a coisa em si pois a

realidade transcende o conhecer (idealismo transcendental) - natildeo concebem (como

Foucault) que categorias satildeo invenccedilotildees resultantes de sistemas de classificaccedilatildeo ou

a priori historicamente dependentes Portanto qualquer que seja o seu impacto -

loacutegico-ontoloacutegico transcendental dialeacutetico pragmaacutetico fenomenoloacutegico

fenomenoloacutegico-ontoloacutegico - as categorias tratadas como questatildeo filosoacutefica

representam a relaccedilatildeo do dizer e do ser das palavras e das coisas do real e do

imaginaacuterio do natural e do histoacuterico encaradas em toda a riqueza do seu sentido

Como observado categoria eacute um termo com diversos significados

dependendo do conceito de realidade que cada doutrina filosoacutefica assume em seu

iniacutecio A explicaccedilatildeo do termo mostra tambeacutem que as categorias estatildeo iacutentimamente

ligadas ao juiacutezo no qual se daacute a predicaccedilatildeo (eacute no juiacutezo que se encontram

abundantes modos de predicar e de ser) e foram primeiro Aristoacuteteles e depois Kant

aqueles que deram maior relevacircncia a essa questatildeo

Como diversos outros termos filosoacuteficos originariamente teacutecnicos o termo

categoria entrou na linguagem corrente em que eacute frequentemente utilizado para

130

designar as diferentes espeacutecies (os vaacuterios grupos resultantes da divisatildeo de um

gecircnero por determinada caracteriacutestica) do mesmo gecircnero (conjunto de coisas ou

ideacuteias que pode ser dividido em duas ou mais espeacutecies) ou seja para indicar tanto o

conteuacutedo como o princiacutepio de divisatildeo Portanto de uma maneira natildeo-teacutecnica

entende-se por categorias os conceitos gerais com os quais um indiviacuteduo (ou um

grupo de indiviacuteduos) tem o haacutebito de relacionar os seus pensamentos e os seus

juiacutezos ou seja noccedilotildees gerais segundo as quais um espiacuterito costuma julgar

raciocinar e classificar

As diferentes acepccedilotildees do termo categoria derivam do sentido e do valor que

eacute atribuiacutedo ao termo em relaccedilatildeo sobretudo ao ponto de vista sob o qual o assunto eacute

tratado Disso resulta que natildeo se pode estabelecer um uacutenico acircmbito categorial mas

que ao contraacuterio haacute uma multiplicidade de grupos categoriais (determinados com

base em diversos criteacuterios) que na histoacuteria da Filosofia vatildeo-se desenvolvendo tal

como sistematizado nos quadro 25 e 26

As noccedilotildees de categoria propostas pela Filosofia tecircm sido em geral noccedilotildees

dogmaacuteticas (opiniatildeo ou crenccedila fundamental de uma escola filosoacutefica) A noccedilatildeo

utilizada pelo Empirismo Loacutegico que considera as categorias ldquoregras convencionais

que regem o uso dos conceitosrdquo (ABBAGNANO 2003 p 123) eacute certamente a mais

instrumental Nessa concepccedilatildeo Ryle (1949 p 4) entende categoria loacutegica de um

conceito como ldquoo conjunto de modos nos quais por convenccedilatildeo eacute permitido utilizar o

termo respectivordquo o que implica dizer que Ryle formula o conceito de categoria como

o de um instrumento conceitual que funciona como princiacutepio de divisatildeo

O resgate histoacuterico das classificaccedilotildees filosoacuteficas dos saberes e dos seres

permitiu constatar que os conceitos de classe e categoria tecircm passado ao leacutexico

filosoacutefico universal mas os seus sentidos natildeo podem ser compreendidos a partir de

uma interpretaccedilatildeo comum dos termos senatildeo em conexatildeo com doutrinas e escolas

filosoacuteficas especiacuteficas

131

4 DAS CLASSIFICACcedilOtildeES BIBLIOGRAacuteFICAS

Depois de longo estudo do assunto torna-se evidente que pela proacutepria natureza das coisas eacute impossiacutevel em teoria uma classificaccedilatildeo perfeita

e qualquer sistema soacute pode ser satisfatoacuterio na praacutetica para aqueles que admitem essa dificuldade inerente e se conformam com ela por

saberem que um sistema sem problemas eacute impossiacutevel existir

Dewey

A classificaccedilatildeo em sentido lato eacute o meio pelo qual a nossa mente identifica um

objeto dado e distingue-o de outro inconsciente ou conscientemente O livro do

Gecircnesis conta que o mundo se originou do caos quando Deus dividiu a luz das

trevas (ALA 1980 p 146) Assim a ideacuteia de classificaccedilatildeo literalmente ato ou

efeito de classificar eacute mostrada como a origem e a essecircncia do mundo A

preocupaccedilatildeo de ordenar as informaccedilotildees ou os conhecimentos ou seus suportes

juntando-os por grupos ou classes que guardam certa afinidade para localizaacute-los

dentro de um conjunto mais amplo na essecircncia significa um processo mental pelo

qual se agregam coisas pelos graus de semelhanccedilas e separam-se de acordo com as

suas diferenccedilas A classificaccedilatildeo entendida como processo mental de agrupamento de elementos portadores de caracteriacutesticas comuns e capazes de ser reconhecidos como uma entidade ou conceito constitui uma das fases fundamentais do pensar humano (CAMPOS A 1973 p 15)

A habilidade para classificar eacute seguramente uma faculdade fundamental sem

a qual nenhum organismo vivo pode funcionar adequadamente Pode-se por

exemplo distinguir coisas comestiacuteveis daquelas improacuteprias para consumo ou

animais que satildeo (ou podem ser) perigosos daqueles que satildeo mansos Todos

passam a vida fazendo constantemente distinccedilatildeo entre coisas similares e coisas

diferentes ao mesmo tempo em que as agrupam em grandes classes ou em

subclasses menores e percebem relaccedilotildees entre as diferentes classes e subclasses

Desde que o conhecimento humano passou a ser registrado em suportes

duraacuteveis e coletado em repositoacuterios existe a necessidade de arranjar os documentos

de tal maneira que registros com as mesmas ou similares caracteriacutesticas possam ser

encontrados juntos Consequentemente uma coleccedilatildeo de documentos soacute pode ser

considerada uma biblioteca quando arranjada num padratildeo sistemaacutetico Em sentido

geral toda organizaccedilatildeo de documentos seja por autor seja por tiacutetulo seja por

assunto ou seja por forma fiacutesica eacute embasada em alguma espeacutecie de classificaccedilatildeo

132

mas em sentido restrito somente ordenaccedilatildeo sistemaacutetica de documentos (ou de suas

representaccedilotildees) por assunto eacute comumente entendida como sendo o propoacutesito da

classificaccedilatildeo bibliograacutefica

Eacute importante distinguir entre trecircs significados diferentes mas

interrelacionados do termo classificaccedilatildeo na praacutetica biblioteconocircmica primeiro eacute o

sistema de classificaccedilatildeo ou o esquema de classificaccedilatildeo (chamado simplesmente de

Classificaccedilatildeo) segundo eacute o ato de classificar ou de atribuir um coacutedigo de

classificaccedilatildeo ao documento para indicar o seu assunto ou conteuacutedo terceiro eacute o

arranjo fiacutesico do documento nas estantes e a representaccedilatildeo do documento no

cataacutelogo classificado Com relaccedilatildeo ao primeiro significado (obviamente fundamental

em virtude do qual os outros dois existem) a Federaccedilatildeo Internacional de

Documentaccedilatildeo (FID) afirma por classificaccedilatildeo eacute entendido qualquer meacutetodo de criar

relaccedilotildees geneacutericas ou outras entre unidades semacircnticas individuais apesar do

grau de hierarquia do sistema e tambeacutem aqueles sistemas que aplicam meacutetodos

mecanizados de pesquisa documental em conexatildeo com os meacutetodos tradicionais117

(ALAhellip 1980 p 146 Traduccedilatildeo livre da autora)

Enquanto o processo classificatoacuterio faz parte da condiccedilatildeo humana a

classificaccedilatildeo bibliograacutefica eacute uma sequecircncia de conceitos planejados para serem

aplicados agrave organizaccedilatildeo de acervos de bibliotecas para que livros possam ser

recuperados de modo eficaz e eficiente ou seja uma aplicaccedilatildeo pragmaacutetica do

princiacutepio classificatoacuterio no contexto das unidades e sistemas de informaccedilatildeo

Grande parte da realidade estaacute preacute-classificada por assim dizer Entre os

elementos distinguem-se de maneira corrente o ar a aacutegua a terra e o fogo divide-

se o Direito em Direito Puacuteblico e Direito Privado a Terra em cinco continentes os

seres vivos em animais e vegetais e assim por diante Essas divisotildees devem-se

tanto agrave convenccedilatildeo social como agrave razatildeo poreacutem tecircm a seu favor a forccedila do consenso

As classificaccedilotildees bibliograacuteficas incorporam muito tanto da classificaccedilatildeo

convencionada socialmente como da classificaccedilatildeo operaccedilatildeo loacutegica que consiste em

fazer uma distinccedilatildeo da realidade muacuteltipla em grupos conjuntos classes categorias

segundo o criteacuterio de semelhanccedila ou diferenccedila

117 ldquoby classification is meant any method creating relations generic or other between individual semantic units regardless of the degree of hierarchy contained in the systems and of whether those systems will be applied in connection with traditional or more or less mechanized methods of document searchingrdquo (ALAhellip 1980 p 146)

133

Antecedendo o discurso acerca das classificaccedilotildees biblioteconocircmicas conveacutem

ressaltar o pensamento de um autor que acredita que as classificaccedilotildees do

conhecimento sempre refletem a eacutepoca da sua elaboraccedilatildeo com os seus problemas

meacutetodos de estudo visotildees de mundo suas teorias seus interesses uma

organizaccedilatildeo do conhecimento adaptada agrave tecircmpera filosoacutefica dos gregos natildeo se

adaptaria agraves cosmologias mitoloacutegicas da Babilocircnia agrave vida impetuosa da Renascenccedila

ou ao industrializado seacuteculo XIX Quanto mais adaptada agrave determinada eacutepoca for

uma classificaccedilatildeo menos adequada seraacute para qualquer outra (VICKERY 1975

p 147 Traduccedilatildeo livre da autora)118 A essa visatildeo acrescenta-se um extrato do

pensamento de Ranganathan que evidencia a sua visatildeo metafiacutesica para a

epistemologia e a organizaccedilatildeo do conhecimento

Um esquema enumerativo com uma fundaccedilatildeo superficial pode ser favoraacutevel e

mesmo econocircmico para um sistema fechado de conhecimento Por exemplo tal

esquema trabalharaacute bem para a Greacutecia Antiga ou a Filosofia Indiana porque ambos

tecircm se tornado cristalizados e fixos haacute muito tempo [] O que distingue o universo

do conhecimento corrente eacute que ele eacute um continuum dinacircmico Ele eacute sempre

crescente novos ramos podem brotar de qualquer de seus infinitos pontos a

qualquer tempo eles satildeo desconhecidos no presente Eles natildeo podem portanto ser

enumerados aqui e agora natildeo podem ser antecipados suas filiaccedilotildees podem ser

determinadas somente apoacutes eles aparecerem (RANGANATHAN 1951 p 87

Traduccedilatildeo livre da autora)

Para Ranganathan o desenvolvimento do conhecimento em vez de estar

enraizado na pesquisa concreta e no trabalho especializado dos seres humanos

baseava-se na vida abstrata dos homens Ranganathan acreditava no conhecimento

intuitivo em classificadores intuitivos e na noccedilatildeo de que a ideacuteia era separada da

palavra na linguagem natural e algumas vezes poderia natildeo ser expressa na

ldquolinguagem natural mas poderia ainda ser experienciada na consciecircncia individualrdquo

Ele escreveu sobre simbolismo indiano para assumir que ldquonatildeo expresso facilmente

senatildeo inexpresso em palavrasrdquo (RANGANATHAN 1951 p 27) Ranganathan

possuiacutea a visatildeo de que a linguagem classificatoacuteria que ele tinha desenvolvido era

118 ldquoAn organisation of knowledge which fits the philosophical temper of the Greeks does not suit the mythological cosmologies of Babylon the rushing life of the Renaissance or the industrialised nineteenth century Indeed the better fitted a classification is to a given epoch the less suitable will it be for any other epochrdquo (VICKERY 1975 p 147)

134

capaz de articular ideacuteias que natildeo poderiam ser denotadas em linguagem natural

Na Antiguidade aleacutem das classificaccedilotildees dos conhecimentos existiam tambeacutem

classificaccedilotildees bibliograacuteficas Segundo Shera (1957) a organizaccedilatildeo de coleccedilotildees de

livros teve origem nos trabalhos filosoacuteficos de entatildeo Contudo classificaccedilotildees

filosoacuteficas e classificaccedilotildees bibliograacuteficas satildeo diferentes Na classificaccedilatildeo filosoacutefica

nenhuma fronteira particular da aacuterea do conhecimento eacute geralmente especificada e

reconhecida ao passo que na classificaccedilatildeo bibliograacutefica as aacutereas especiacuteficas do

conhecimento satildeo identificadas e reconhecidas Hulme119 (1950 apud VICKERY

1975 p 164) salienta que as funccedilotildees das classificaccedilotildees filosoacuteficas e bibliograacuteficas satildeo

distintas a bibliograacutefica lsquomapeia a literatura e natildeo a ciecircnciarsquo a divisatildeo e coordenaccedilatildeo

das classes na classificaccedilatildeo bibliograacutefica lsquoeacute determinada principalmente em linhas

formais e natildeo filosoacuteficasrsquo nas bibliograacuteficas lsquoo interesse natildeo era a razatildeo mas fatos

revelados pela garantia literaacuteriarsquo a bibliograacutefica era lsquoo esboccedilo de aacutereas preacute-existentes

na literaturarsquo e a sua correspondecircncia com uma ordem filosoacutefica natildeo conferia

consistecircncia aos esquemas jaacute que natildeo era garantia de exatidatildeo e finalmente que

existe um conflito entre garantia literaacuteria e classificaccedilatildeo loacutegica pois os conteuacutedos dos

livros nem sempre se ajustam agraves classificaccedilotildees

Interessante notar nas citaccedilotildees natildeo se fala em objetivos institucionais e

puacuteblico-alvo que tambeacutem determinam uma loacutegica para a classificaccedilatildeo

O fato dos registros humanos refletirem um padratildeo de pensamento complexo

semelhante aos seus processos mentais levou segundo Shera (1957) agrave suposiccedilatildeo

de que a classificaccedilatildeo filosoacutefica seria aplicaacutevel aos livros Esse pressuposto foi

vaacutelido enquanto o volume de informaccedilatildeo registrada era pequeno e as publicaccedilotildees

consistiam em monografias Com o desenvolvimento dos registros do conhecimento

e a sua crescente complexidade e especializaccedilatildeo um sistema de classificaccedilatildeo

filosoacutefico torna-se improacuteprio para uso em biblioteca Toda essa problemaacutetica

encobria a real necessidade de uma classificaccedilatildeo de assuntos para a classificaccedilatildeo

dos livros

Sabe-se que as bibliotecas da Babilocircnia Greacutecia e Roma tiveram os seus

acervos organizados ainda que os vestiacutegios dos seus sistemas de classificaccedilatildeo

sejam escassos

119 HULME E W Principles of book classification London 1950

135

Uma das primeiras classificaccedilotildees da qual se tem informaccedilatildeo foi a realizada

por Caliacutemaco (320-240 aC) poeta e bibliotecaacuterio que confeccionou o cataacutelogo da

Biblioteca de Alexandria entre os anos 260 e 240 aC O seu esquema classificatoacuterio

organizou cerca de 500 mil volumes da Biblioteca dos Ptolomeus A coleccedilatildeo contava

dois iacutendices um de autores e outro de tiacutetulos O iacutendice de tiacutetulos apresentava uma

distribuiccedilatildeo temaacutetica composta das seguintes classes

1 Filosofia (Geometria e Medicina)

2 Jurisprudecircncia

3 Histoacuteria

4 Oratoacuteria

5 Poeacutetica (Eacutepica traacutegica cocircmica e ditiracircmbica)

6 Escritos de coisas vaacuterias (SERRAI 1977 p 49)

A biblioteca de Alexandria foi a primeira com aspiraccedilotildees universais e com a

sua comunidade de estudiosos tornou-se o protoacutetipo das universidades da era

moderna definindo uma nova concepccedilatildeo a respeito do valor do conhecimento

Na histoacuteria da classificaccedilatildeo (especialmente antes da ascensatildeo das

bibliotecas) as obras que tratam das classificaccedilotildees bibliograacuteficas dizem muito pouco

aleacutem da menccedilatildeo agraves suas classes principais Mas classificaccedilotildees bibliograacuteficas satildeo

para recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo recuperaccedilatildeo que parece quase impossiacutevel se natildeo

haacute constituintes de tais sistemas de tipo mais granulado mais subdividido do que as

mencionadas classes principais

A questatildeo que se coloca acerca dos conceitos de classe e categoria eacute a

seguinte como as classes principais satildeo subdivididas O uso de uma coleccedilatildeo

bibliograacutefica estaacute vinculado a um plano de subordinaccedilatildeo - quanto maior o nuacutemero de

categorias e sub-categorias maior a fragmentaccedilatildeo Assim uma lista longa precisa

ser categorizada para fornecer uma previsatildeo a respeito do universo por ela

abrangido Uma lista menor pode ateacute ser alfabeacutetica e capaz de ser memorizada

(mnemocircnica) Essa evidecircncia parece indicar que ateacute prova em contraacuterio a ideacuteia

geral de categorias mesmo que de maneira rudimentar eacute fundamental para qualquer

teoria e praacutetica de subordinaccedilatildeo Categorias em geral e o conceito de subordinaccedilatildeo

satildeo condiccedilotildees para a introduccedilatildeo de uma hierarquia120

120 O objeto desta tese eacute a Teoria da Classificaccedilatildeo e as classificaccedilotildees bibliograacuteficas Natildeo se ignora que ocorrem frequentemente adaptaccedilotildees a contextos e objetivos particulares e que a decisatildeo por uma categoria ou outra (no entendimento de Foucault) pode ser ditada por razotildees pragmaacuteticas mas nem por isto deixa de ser uma decisatildeo de categorizaccedilatildeo

136

O problema da subordinaccedilatildeo das classes principais segundo Perreault (1991

p 134) pode ser resolvido de duas maneiras a) pelo desenho de um plano de

subdivisatildeo ou b) pela divisatildeo das classes principais originais em classes menores

O autor supotildee o plano a relativamente ad hoc (para um propoacutesito particular de uso

exclusivo segundo um ponto de vista) cronoloacutegico em uma classe principal

geograacutefico em outra etc enquanto o plano b significa algo consagrado tal como a

classe uacutenica ldquoReligiatildeordquo vindo a ser dividida pela denominaccedilatildeo das diferentes

religiotildees ou a classe uacutenica ldquoPoesiardquo sendo dividida por gecircneros poeacuteticos

Dahlberg121 (1974 p 70 apud PERREAULT 1991 p 139-140) lembra que

Gesner utilizou padrotildees conceituais em que a mesma aacuterea geograacutefica eacute

similarmente dividida nas classes principais de Geografia e Histoacuteria mas que de

qualquer maneira desde aquela eacutepoca esse uso da preacute-combinaccedilatildeo natildeo eacute

qualificado como autecircntica categorizaccedilatildeo geral

Contudo pode-se argumentar que se uma classificaccedilatildeo bibliograacutefica foi

aplicada a uma coleccedilatildeo de livros sem expectativa de crescimento (expansatildeo) seria

inuacutetil estabelecer mecanismos para garantir uniformidade na reproduccedilatildeo dos mesmos

princiacutepios em documentos adicionais para a biblioteca No entanto a falta desse

mecanismo natildeo significa segundo Perreault (1991 p 140) que a ordem conceitual

de uma classificaccedilatildeo enumerativa natildeo manifeste a ideacuteia de categoria geral apesar de

rudimentar A enumeraccedilatildeo eacute uma maneira rudimentar de categorizaccedilatildeo (muito

rudimentar porque o criteacuterio utilizado para categorizar estaacute ausente)

Otlet (1934 p 379) considera a classificaccedilatildeo bibliograacutefica a ordem

ininterrupta numa seacuterie linear uacutenica em que todos os termos ocupam uns em

relaccedilatildeo aos outros um lugar designado por um signo (termo nome letra nuacutemero ou

qualquer siacutembolo) arranjado sistematicamente

Piedade (1983 p 60) numa concepccedilatildeo tradicional afirma que ldquoas

classificaccedilotildees bibliograacuteficas satildeo sistemas destinados a servir de base agrave organizaccedilatildeo

do conhecimento nas estantes em cataacutelogos em bibliografias etcrdquo Dessa maneira

com a aplicaccedilatildeo de determinado sistema de classificaccedilatildeo pode-se reunir e agrupar

os documentos segundo o assunto sobre que versam122

121 DAHLBERG I Grundlagen universaler Wissensordnung Pullach bei Muumlnchen Verl Dokumentation 1974 122 A complexidade crescente do meio ambiente gera uma aparente complexidade no pensamento humano pois o ceacuterebro opera com uma capacidade limitada de memoacuteria e a sua habilidade faz com que processe poucos signos simultaneamente Assim o processo de classificaccedilatildeo fornece um modem para compatibilizar a abordagem serial do ceacuterebro e a complexidade do ambiente informacional (GOPINATH 2001 p 16)

137

As classificaccedilotildees bibliograacuteficas podem ter caraacuteter geral universal ou

enciclopeacutedico quando se propotildeem a ordenar todos os campos do conhecimento

humano (classificaccedilotildees gerais) ou caraacuteter especiacutefico local quando abrangem

apenas um campo ou disciplina desse conhecimento (classificaccedilotildees especializadas)

De acordo com Ranganathan (1944) classificaccedilatildeo eacute uma liacutengua franca para

processar e usar conhecimento

O conhecimento pelo mundo inteiro estaacute sendo diversificado ao longo de uma

linha e sintetizado ao longo de outra em um fluxo quase contiacutenuo em meios de

comunicaccedilatildeo variados Uma liacutengua franca com etimologia e semacircntica jaacute fixadas e

uma sintaxe capaz de organizaacute-la e evidenciaacute-la eacute indispensaacutevel principalmente em

uma ordem de filiaccedilatildeo uacutetil Quer o leitor saiba ou natildeo a liacutengua estaacute envolvida na

uacuteltima demanda do leitor comum Esse processo eacute conhecido como uma

necessidade imperativa por aqueles que o servem A liacutengua eacute tatildeo necessaacuteria para

organizar contribuiccedilotildees ao conhecimento de todos os tipos que seriam expressas

em liacutenguas diversas para estabelecer contato entre elas e os leitores na medida de

suas atividades e especificidades A liacutengua de classificaccedilatildeo eacute a uacutenica liacutengua franca

que responde a essa finalidade123 (RANGANATHAN 1944 p 21-22 Traduccedilatildeo livre

da autora)

Tema recorrente quando se trata de classificaccedilatildeo bibliograacutefica eacute a questatildeo das

inuacutemeras adaptaccedilotildees dos esquemas de classificaccedilatildeo Parece que de modo geral a

maioria das bibliotecas mais cedo ou mais tarde acabam adaptando o sistema

originalmente escolhido Explica-se a maioria dos classificadores e indexadores ao

acompanhar o estado atual dos assuntos (tendo em mente o usuaacuterio do sistema e a

missatildeo da instituiccedilatildeo - que satildeo sempre uacutenicos) vecirc-se no papel de estudiosos e

criacuteticos da classificaccedilatildeo o que inexoravelmente acarreta uma interferecircncia maior

ou menor a ser feita para adaptar essas classificaccedilotildees e linguagens agraves solicitaccedilotildees

dos usuaacuterios e agrave evoluccedilatildeo nos saberes no conhecimento

123 ldquoKnowledge all over the world is being diversified along one line and synthesized along another in a continuous almost bewildering flux in varied media A lingua franca with fixed etymology and semantics and a syntax capable of marshalling and presenting it all in most helpful filiatory order is indispensable Whether he knows it or not it is involved in the least demand of the most ordinary reader It is known by those who serve him to be an imperative necessity It is needed so to organize contributions to knowledge of all kinds expressed in diverse languages as to establish contact between them and the readers in the measure of their activity and specificity Classificatory language is the only lingua franca answering the purposerdquo (RANGANATHAN 1944 p 21-22)

138

A morosidade na atualizaccedilatildeo e tambeacutem a rigidez dos sistemas tradicionais de

classificaccedilatildeo bibliograacutefica ocasionaram uma reaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo em muitos setores da

moderna Biblioteconomia sobretudo na americana Eacute quando se tenta criar linguagens

de indexaccedilatildeo meramente alfabeacuteticas prescindindo de qualquer classificaccedilatildeo Poreacutem

logo se percebe o equiacutevoco e as listas alfabeacuteticas de assunto passaram a utilizar

dispositivos classificatoacuterios sempre mais complexos ateacute que se chegou agrave estrutura

sofisticada dos atuais tesauros chamados por Grolier (1976) de classificaccedilotildees

disfarccediladas A reabilitaccedilatildeo do processo classificatoacuterio ocorreu a partir da reformulaccedilatildeo e

constante atualizaccedilatildeo de alguns sistemas tradicionais tendo como base a Moderna

Teoria da Classificaccedilatildeo124 (cf subseccedilatildeo 41) Percebeu-se que natildeo havia razatildeo para

desperdiccedilar toda a riqueza de conteuacutedo e de estruturas que as classificaccedilotildees claacutessicas

acumularam durante deacutecadas ou seja lembrou-se de novo que a classificaccedilatildeo eacute

necessaacuteria e proporciona previsibilidade agrave exploraccedilatildeo do universo bibliograacutefico

Nas subseccedilotildees 31 e 32 discutiu-se o conceito de classe e categoria na

Filosofia Os mesmos termos satildeo discutidos nas subseccedilotildees da seccedilatildeo 4 sob a oacutetica

da Teoria da Classificaccedilatildeo

As classificaccedilotildees bibliograacuteficas baseiam-se prioritariamente nas

classificaccedilotildees do conhecimento observa-se poreacutem que as consideraccedilotildees de ordem

praacutetica tecircm primazia sobre alguns princiacutepios filosoacuteficos o que significa a exclusatildeo de

outros princiacutepios filosoacuteficos (na Teoria da Classificaccedilatildeo o objetivo metafiacutesico eacute

classificar o universo do conhecimento para localizar depois ou seja a essecircncia eacute

pragmaacutetica acesso e recuperaccedilatildeo de documentos e informaccedilotildees) A praticidade das

classificaccedilotildees bibliograacuteficas estaacute vinculada a criteacuterios e requisitos que determinam a

adequaccedilatildeo e utilidade do sistema Os conceitos fundamentais de todo sistema de

classificaccedilatildeo bibliograacutefica geral compotildeem-se de a) classes gerais fundamentais ou baacutesicas satildeo todos os campos temaacuteticos

em toda a sua extensatildeo isto eacute as divisotildees do conhecimento humano a

que se aplicam subdivisotildees devem ser flexiacuteveis e expansivas para suportar

a inclusatildeo de novos conceitos

124 A Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo tambeacutem chamada de Teoria Dinacircmica da Classificaccedilatildeo e de Teoria da Classificaccedilatildeo Facetada foi desenvolvida por Ranganathan nos anos 30 do seacuteculo XX (cf subseccedilatildeo 41)

139

b) subdivisotildees ou facetas satildeo aspectos particulares de um assunto ou

objeto vistos sob determinado ponto de vista satildeo termos geneacutericos que

denotam os aspectos baacutesicos de um assunto simples como tambeacutem

os elementos isolados de um assunto composto (manifestaccedilotildees das

categorias elementos simples reunidos por determinada caracteriacutestica)

que podem se entrelaccedilar para constituir novos conceitos por meio de

relaccedilotildees previstas pelo sistema e devem ter uma estrutura que

proceda do geral para o particular ou seja uma ordem loacutegica

sistemaacutetica e compreensiacutevel

c) divisotildees auxiliares satildeo as que permitem a sistematizaccedilatildeo segundo a

forma lugar tempo e outras

d) notaccedilatildeo satildeo signos (nuacutemeros letras sinais cores e outros) que

representam os nomes das categorias classes e subdivisotildees - devem ser

flexiacuteveis e manejaacuteveis

e) signos de relaccedilatildeo (alguns sistemas os utilizam) satildeo os que representam as

relaccedilotildees por sinais de pontuaccedilatildeo (+ etc) e devem permitir

combinaccedilotildees de distintos acircmbitos conceituais

f) iacutendice alfabeacutetico remete agrave notaccedilatildeo na estrutura classificatoacuteria e facilita o

uso pois localiza rapidamente um assunto dentro do esquema

sistematizado

Os conceitos tecircm sido operacionalizados isto eacute tecircm servido como instrumentos

nos sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica tradicionais Cabe ressaltar que as

categorias devem tambeacutem ser reconhecidas como conceito fundamental de todo o

sistema de classificaccedilatildeo bibliograacutefica tendo em vista o que foi explanado na seccedilatildeo 2

Iyer (1995 p 12) com base em estudos relativos agrave formaccedilatildeo de conceitos de

Dahlberg observa que categorias satildeo ldquounidades de conhecimentordquo que

compreendem afirmaccedilotildees necessaacuterias e verificaacuteveis (caracteriacutesticas) sobre um

referente representadas por uma designaccedilatildeo (expressatildeo verbal)

Bariteacute (2000 p 5) entende categorias como abstraccedilotildees simplificadas muito

mais que classes e que com a forccedila de instrumentos intelectuais satildeo usadas por

estudiosos da classificaccedilatildeo para investigar e descobrir certas regularidades de objetos

do mundo fiacutesico material e ideal e para representar noccedilotildees Essa representaccedilatildeo eacute

feita para organizar logicamente sistemas de conceitos suficientes para a

organizaccedilatildeo do conhecimento em termos gerais e classificaccedilatildeo de documentos em

140

termos especiacuteficos Da mesma maneira como categorias expressam regularidades

forccedilosamente tambeacutem constituem estruturas conceituais com certa estabilidade e

permanecircncia (embora o resultado da sua aplicaccedilatildeo aos diferentes objetos possa ser

variaacutevel) capazes de expressar-se em qualquer objeto entidade ou ser real ou ideal

Conveacutem salientar que os princiacutepios de subdivisatildeo (categorias) estabelecidos

embora expressem regularidades satildeo relativos e determinados historicamente e por

necessidades pragmaacuteticas

Na revisatildeo de literatura da aacuterea especializada de Biblioteconomia confirma-se

que em uma ampla aplicaccedilatildeo de categorias existe concordacircncia entre autores tais

como em Mills (1960 p 13-14) conceito geral que vai do mais concreto ao mais

abstrato de aplicaccedilatildeo universal que pode ser empregado para reunir outros

conceitos Langridge (1977 p 36) as classes mais gerais dos fenocircmenos Wersig e

Neveling (1976 p 123-124) uma classe de generalidade muito alta Buonocore

(1976) uma faceta geral aplicada a muitos dos campos de assunto Piedade (1983

p 19) ldquocategorias satildeo as maiores classes de fenocircmenos as classes mais gerais que

podem ser formadasrdquo e Bariteacute (2000 p 8) toda categoria eacute altamente generalista

Bariteacute (2000 p 5) acredita na impossibilidade de caracterizar categorias na Teoria

da Classificaccedilatildeo tomando por empreacutestimo definiccedilotildees provenientes da Filosofia

Ontologia ou Metafiacutesica125 Mas as duas acepccedilotildees de categoria provenientes da

Filosofia (classe mais geral ou princiacutepio de divisatildeo) aparecem igualmente na Ciecircncia

da Informaccedilatildeo

As definiccedilotildees apresentadas no paraacutegrafo anterior evidenciam que haacute

diferentes conceituaccedilotildees de categoria em curso e que a distinccedilatildeo entre os conceitos

de classe e categoria natildeo eacute nada consensual e natildeo estaacute clara126

As definiccedilotildees de categoria mencionadas satildeo importantes como ponto de

partida conceitual para organizar discursos cientiacuteficos especiacuteficos Pois quando o

termo eacute conceituado na Teoria da Classificaccedilatildeo fica claro que os autores citados

tecircm uma concepccedilatildeo puramente instrumental da noccedilatildeo de categoria ainda que natildeo

cheguem a especificar o fato de que categorias satildeo noccedilotildees extremamente simples

(sem complexatildeo como diria Aristoacuteteles) expressotildees de natureza abstrata oriundas

125 Ainda que na Filosofia as categorias aristoteacutelicas e kantianas tenham outros fundamentos e outras finalidades a Biblioteconomia e a Ciecircncia da Informaccedilatildeo se apropriam do conceito de categoria como criteacuterio de divisatildeo 126 Os conceitos de classe e categoria na Filosofia foram discutidos na subseccedilatildeo 33

141

de criteacuterios de divisatildeo e portanto de caraacuteter instrumental127 Ou seja as duas aacutereas

Filosofia (teoria das categorias) e Biblioteconomia (Teoria da Classificaccedilatildeo)

coincidem na acepccedilatildeo de categoria Ao constatar essa proximidade salienta-se que

essa proximidade natildeo eacute assumida afirmada ou explorada pela Teoria da

Classificaccedilatildeo que no entanto utiliza conceitos oriundos da Filosofia

Dentro da Teoria da Classificaccedilatildeo categorias satildeo apenas relevantes como

instrumentos de anaacutelise e organizaccedilatildeo de objetos fenocircmenos e conhecimentos

Embora guardem as suas essecircncias ontoloacutegicas eacute nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas

que as categorias satildeo de interesse natildeo como elementos de especulaccedilatildeo metafiacutesica

o que eacute oacutebvio mas como niacuteveis de anaacutelises aplicados para estruturar o

conhecimento humano como tambeacutem para estruturar as suas maiores abstraccedilotildees

representativas - os conceitos

A categorizaccedilatildeo pressupotildee a divisatildeodistribuiccedilatildeo de conceitos em categorias por

meio da anaacutelise de facetas128 Broughton (2004 p 296) para exemplificar um tipo de

classificaccedilatildeo que eacute muitas vezes chamado de categorizaccedilatildeo faz menccedilatildeo aos sistemas

de classificaccedilatildeo (Reader Interest Classification) muito gerais adotados por algumas

bibliotecas puacuteblicas da Inglaterra na deacutecada de 1980 preferencialmente agraves

classificaccedilatildeoes bibliograacuteficas tradicionais Esses sistemas normalmente consistiam de

25 categorias retiradas de temas sociais e de lazer (hobbies viagens esportes) sem

subdivisatildeo alguma e usavam cores para codificaccedilatildeo dos livros em lugar da notaccedilatildeo

A seguir discorre-se a respeito da Teoria da Classificaccedilatildeo e analisam-se os

diferentes sistemas claacutessicos de classificaccedilatildeo bibliograacutefica neles atentando-se

particularmente para a operacionalizaccedilatildeo dos conceitos de classe e categoria tal

como expostos ateacute aqui e introduzindo o conceito de faceta na discussatildeo

41 TEORIA DA CLASSIFICACcedilAtildeO

Ingetraut Dahlberg foi uma das pioneiras na organizaccedilatildeo do conhecimento e

testemunha contemporacircnea do desenvolvimento da organizaccedilatildeo do conhecimento

127 Aristoacuteteles atesta o caraacuteter instrumental das categorias quando as considera como categorias mais linguiacutesticas do que loacutegicas No tratado das Categorias Aristoacuteteles apresenta dez categorias baacutesicas para classificar tudo o que existe as quais revelam tanto a sua visatildeo ontoloacutegica do mundo (categorias loacutegicas - o ser) quanto a sua visatildeo semacircntica (categorias linguiacutesticas - o dizer) 128 A anaacutelise por facetas corresponde a designar termos em facetas apropriadas dentro dum assunto tanto na construccedilatildeo de um esquema de classificaccedilatildeo quanto na determinaccedilatildeo do conteuacutedo dum uacutenico documento na praacutetica classificatoacuteria (BROUGHTON 2004 p 300)

142

no Alemanha Iniciou a sua carreira no Instituto Gmelin como uma compiladora de

bibliografias para o Centro de Documentaccedilatildeo de Energia Atocircmica (na eacutepoca parte

do Instituto) Fundou a Society for Classification (1977) a International Society for

Knowledge Organization (1989) mais conhecida por ISKO e o perioacutedico International

Classification (1974) que em 1993 passa a chamar-se Knowledge Organization (KO)

Segundo Dahlberg (1979b p 352-353) soacute muito recentemente a ldquoarte de classificarrdquo

tatildeo antiga quanto o homem adquiriu uma base teoacuterica consistente que permite

presumir que ela progrediu do status de arte para o de ciecircncia Nessa trajetoacuteria ela

foi aplicada ao conhecimento de maneiras diversas e sempre segundo alguma ideacuteia

preacute-concebida que acabou marcando os arranjos ldquosistemaacuteticosrdquo que entraram na

composiccedilatildeo dos trabalhos dos filoacutesofos Ateacute o seacuteculo XV natildeo era costume construir sistemas para a classificaccedilatildeo das ciecircncias como um fim em si mesmo

Provavelmente soacute com o advento da Imprensa - que possibilitou a publicaccedilatildeo de

esquemas destinados a mostrar as relaccedilotildees entre as ciecircncias conhecidas - eacute que

teve iniacutecio o ldquomovimentordquo de elaboraccedilatildeo de sistemas de classificaccedilatildeo O mais

conhecido foi o de Francis Bacon que como parte do seu projeto enciclopeacutedico

publicou em 1605 um plano de classificaccedilatildeo das ciecircncias existentes (cf subseccedilatildeo

312) Entretanto essa arte natildeo foi chamada de classificaccedilatildeo ateacute o seacuteculo XVIII

Somente a partir daiacute o termo classificaccedilatildeo passou a ser utilizado com o sentido de

ldquoplano para a classificaccedilatildeo das ciecircncias e dos livrosrdquo Foi principalmente no seacuteculo

XIX que a elaboraccedilatildeo de esquemas de classificaccedilatildeo tornou-se um hobby para cada

filoacutesofo e tambeacutem para alguns cientistas como por exemplo Ampegravere (cf subseccedilatildeo

313) Inspirados nesses trabalhos filosoacuteficos os bibliotecaacuterios passaram a construir

novos sistemas para a organizaccedilatildeo do conteuacutedo das suas coleccedilotildees de livros Essa

maneira de elaborar sistemas com base em acerto e erro com fundamento em

alguma ideacuteia intuitiva sobre divisotildees e prioridades no arranjo (primeiramente

hierarquias e subordinaccedilotildees e finalmente auxiliares) era tida como Teoria da

Classificaccedilatildeo ateacute recentemente Uma combinaccedilatildeo de fatores129 torna o periacuteodo apoacutes 1876 vital no

desenvolvimento da classificaccedilatildeo bibliograacutefica Um dos mais importantes estudiosos

129 O grande interesse em Educaccedilatildeo a explosatildeo do Conhecimento e a feacute moderna na Ciecircncia e no Meacutetodo tornaram o final do seacuteculo XIX princiacutepio do XX um tempo particularmente feacutertil na Histoacuteria dos sistemas de classificaccedilatildeo enciclopeacutedica (Dewey 1876 o Instituto Internacional de Bibliografia (IIB) de Otlet e La Fontaine 1895 e CDU 1905 EC 1891 LCC 1902 BSC1906 Colon 1933 BC 1935 e depois entre 1940 e 1953)

143

foi Dewey (1851-1931) que trouxe o problema do arranjo de livros por assunto para

dentro da praacutetica biblioteconocircmica Dewey natildeo somente publicou a primeira ediccedilatildeo

do seu esquema Dewey Decimal Classification (1876) como tambeacutem ajudou a fundar

a American Library Association e o Library Bureau e foi o primeiro editor do Library

Journal Na discussatildeo do desenvolvimento da Teoria da Classificaccedilatildeo eacute inevitaacutevel

iniciar desse ponto pois Dewey e muitos dos seus sucessores foram os que

desenvolveram as atuais classificaccedilotildees fazendo avanccedilar a pesquisa dos esquemas

praacuteticos e dando consistecircncia agrave teoria

O conhecimento dos esquemas e das ideacuteias subjacentes a eles facilita a

compreensatildeo e a comparaccedilatildeo Eacute uacutetil para se conhecer o propoacutesito de cada um

desses autores na compilaccedilatildeo do seu esquema

a) Dewey (Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey - CDD) porque uma classificaccedilatildeo

era necessaacuteria

b) Otlet e La Fontaine (Classificaccedilatildeo Decimal Universal - CDU) para

classificar detalhadamente documentos em fichas e relacionar assuntos

c) Herbert Putnanm (em 1899 o entatildeo diretor da Biblioteca do Congresso

Putnanm decide reorganizar e reclassificar a coleccedilatildeo optando pela

formulaccedilatildeo de novo esquema um sistema proacuteprio para a Biblioteca

Classificaccedilatildeo da Biblioteca do Congresso - LCC com base no sistema

de Cutter Classificaccedilatildeo Expansiva - EC e impregnado portanto dos

seus criteacuterios classificatoacuterios) para arranjar dois milhotildees de livros Brown

(Brown Subject Classification Classificaccedilatildeo de Assuntos - BSC) para

obter um esquema ldquoinglecircsrdquo Bliss (Bibliographic Classification -

Classificaccedilatildeo Bibliograacutefica de Bliss - BC) para demonstrar as suas teorias

de classificaccedilatildeo Ranganathan (Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos - CC)

em razatildeo da grande insatisfaccedilatildeo com todos os outros esquemas (FLA

1996 p 11)

As ideacuteias que formam a base da teoria e praacutetica da classificaccedilatildeo

biblioteconocircmica podem ser vistas em termos de princiacutepios conjunto de postulados

144

e de leis da Biblioteconomia bem como na perspectiva do universo de assuntos da

sua representaccedilatildeo130 e da necessidade dos usuaacuterios

O primeiro bibliotecaacuterio a observar a diversidade dos pontos de vista sob os

quais se pode considerar uma certa aacuterea de conhecimento na discussatildeo da teoria

que fundamenta o seu plano foi Henry Evelyn Bliss (1870-1955)131 Bliss acreditava

totalmente na necessidade de fundaccedilotildees filosoacuteficas e acadecircmicas na classificaccedilatildeo

bibliograacutefica Natildeo era suficiente que o esquema de classificaccedilatildeo bibliograacutefica

pudesse ser uacutetil de uma maneira instrumental e praacutetica para organizar livros nas

prateleiras das bibliotecas tal esquema devia tambeacutem ter valor educacional Ele

pensava que embora nenhum indiviacuteduo pudesse ser dono e senhor de todo

130 A representaccedilatildeo do conhecimento pode ser classificada segundo Brachman (1979 p 3-50) em quatro niacuteveis loacutegico (niacutevel de formalizaccedilatildeo - objetiva uma verdadeira accedilatildeo do pensar sem preocupaccedilatildeo com a semacircntica dos conceitos e de suas relaccedilotildees) epistemoloacutegico (niacutevel da estruturaccedilatildeo - introduz a noccedilatildeo geneacuterica de um conceito) ontoloacutegico (niacutevel da significaccedilatildeo - restringe o nuacutemero de possibilidades de interpretaccedilatildeo do conceito dentro de um dado conceito e pretende representar o conteuacutedo do conceito) e conceitual (niacutevel da interpretaccedilatildeo - apresenta uma interpretaccedilatildeo definida dos conceitos em determinado domiacutenio) Baseando-se nessa classificaccedilatildeo M L Campos (2001 f 49-52) salienta que na Ciecircncia da Informaccedilatildeo pode-se considerar a Teoria da Classificaccedilatildeo entre o niacutevel epistemoloacutegico e o niacutevel ontoloacutegico porque apesar dela natildeo pretender chegar agrave definiccedilatildeo dos conceitos de um dado domiacutenio (natildeo tem diretrizes para a formulaccedilatildeo de definiccedilotildees) ela deteacutem um formalismo que permitepossibilita a representaccedilatildeo do conhecimento visando agrave organizaccedilatildeo de documentos e agrave recuperaccedilatildeo de informaccedilatildeo Poli (1996 1997) procurou fazer uma distinccedilatildeo entre o enfoque ontoloacutegico e epistemoloacutegico do conhecimento Ontologia em seu significado filosoacutefico (natildeo confundir com esquemas homocircnimos para tratamento da informaccedilatildeo semacircntica por maacutequina) refere-se agrave natureza das coisas conhecidas especialmente em termos de categorias gerais agraves quais as coisas podem pertencer Questotildees como subdivisatildeo de classes em tipos e partes ou o reconhecimento de que determinado conceito consiste de um processo ou de uma entidade estaacutetica satildeo ontoloacutegicas Enquanto epistemologia se refere a como os seres humanos conhecem o mundo por meio dos seus oacutergatildeos do sentido e como eles processam conhecimento de acordo com categorias inatas e adquiridas socialmente Portanto o conhecimento eacute tanto epistemoloacutegico quanto ontoloacutegico porque ele transita pela percepccedilatildeo humana a sua verdadeira natureza mas tambeacutem se refere aos objetos reais do mundo sendo detentor de alguma estrutura intriacutenseca Entretanto segundo Gnoli (2008 p 139) autores em organizaccedilatildeo do conhecimento enfatizam na maioria das vezes um ou outro enfoque por exemplo as classes principais da CDD seguem uma sequecircncia epistemoloacutegica (retornando a F Bacon) as classes principais da CDU satildeo tambeacutem epistemoloacutegicas (derivaram da CDD) as classes principais da BC se baseiam numa suposta sequecircncia natural de crescente especificidade e complexidade dos objetos conhecidos e por essa razatildeo eacute fundamentalmente ontoloacutegica Desse modo para o autor parece que nas fundaccedilotildees filosoacuteficas da Organizaccedilatildeo do Conhecimento haacute duas grandes escolas constituindo correntes totalmente independentes e ele sugere que alguma reconciliaccedilatildeo entre essas correntes deveria ser buscada Afinal de acordo com Hjoslashrland e Hartel (2003 apud Gnoli 2008 p 140) ldquoo conhecimento humano eacute tanto um produto do proacuteprio mundo quanto dos interesses e capacidades dos homensrdquo (HJOslashRLAND HARTEL 2003) 131 Bliss fez a criacutetica do racionalismo baconiano de Dewey natildeo acreditava no argumento de Dewey de que natildeo tinha importacircncia onde no esquema um assunto estaacute colocado contanto que ele seja eficientemente indexado descreveu a ordem Baconiana Invertida como natildeo-filosoacutefica e natildeo-praacutetica porque as principais ciecircncias se tornaram separadas e ldquodeturpadasrdquo e criticou a notaccedilatildeo como sendo natildeo-econocircmica e complexa (BLISS 1939 p 205) Trabalhando no quadro filosoacutefico-cientiacutefico-positivista do iniacutecio do seacuteculo XX o seu enfoque consistia em construir classes principais sobre consensos escolares e acadecircmicos

145

conhecimento a classificaccedilatildeo poderia dar ao indiviacuteduo uma visatildeo geral de todo o

mundo das ideacuteias Aleacutem do esquema da BC Bliss publicou em 1929 a obra The

Organization of Knowledge and the System of Sciences (A Organizaccedilatildeo do

Conhecimento e o Sistema das Ciecircncias)132 e em 1933 The Organization of

Knowledge in Libraries (A Organizaccedilatildeo do Conhecimento nas Bibliotecas)133 nas

quais demonstrando preocupaccedilatildeo com os fundamentos filosoacuteficos da classificaccedilatildeo

empreende uma pesquisa criacutetica do que ele chama de classificaccedilotildees bibliograacuteficas

estabelecidas e tenta combinar o conhecimento filosoacutefico com a necessidade

pragmaacutetica de uma biblioteca de arranjar os livros nas estantes Bliss contribuiu com

a Teoria da Classificaccedilatildeo natildeo soacute ao colocar a classificaccedilatildeo bibliograacutefica novamente

em contato com os princiacutepios filosoacuteficos da classificaccedilatildeo (os fundamentos

conceituais da formaccedilatildeo divisatildeo e particcedilatildeo de classes) mas tambeacutem ao

proporcionar a Ranganathan por meio da leitura dos seus livros ldquoa mais feacutertil das

inspiraccedilotildeesrdquo (DAHLBERG 1979b p 354-355)

Ranganathan (1892-1972) em seu livro Prolegomena to Library Classification

(1937) menciona o fato dizendo que certa vez natildeo podendo conciliar o sono

lembrou-se do conselho dado por um amigo de ler para distrair-se Resolveu ler

Bliss pois possuiacutea os trecircs livros mas ateacute entatildeo natildeo tivera tempo de lecirc-los Ao entrar

em contato por intermeacutedio das ideacuteias de Bliss com a perspectiva de elaborar uma

base teoacuterica para sistemas de classificaccedilatildeo sentiu-se estimulado a providenciar uma

teoria e uma linguagem uacutenica para a sua Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos (publicada

em 1933) que havia sido elaborada apenas sobre bases intuitivas

Consequentemente em 1937 Ranganathan elabora uma seacuterie de regras e

desenvolve um sistema de cacircnones e postulados e desses extrai princiacutepios e

distingue processos para estabelecer uma conduta uniforme na formaccedilatildeo de

representaccedilatildeo de qualquer conceito e assunto existente em niacutevel teoacuterico tornando-

se o pai da Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo Como se pode constatar o enfoque

analiacutetico-combinatoacuterio (ldquomatemaacutetico-qualitativordquo) ranganathiano da classificaccedilatildeo

similar ao de Leibniz (cf subseccedilatildeo 312) diferenciava-se dos adotados pelas

classificaccedilotildees bibliograacuteficas anteriores Ranganathan inspirado nos escritos de

132 Neste livro Bliss analisa os diversos sistemas de classificaccedilatildeo filosoacutefica especialmente os de Comte Spencer e Wundt 133 Neste livro Bliss estuda os sistemas gerais de classificaccedilatildeo bibliograacutefica refletindo sobre o princiacutepio compteano de graduaccedilatildeo na especialidade

146

Bliss expocircs ideacuteias que podem ser vistas como o desenvolvimento de ideacuteias

gradualmente tratadas na CDD (com suas listas separadas de conceitos recorrentes

nas tabelas) e na CDU para reformular a Teoria da Classificaccedilatildeo

Desenvolver uma teoria geral dinacircmica de classificaccedilatildeo era a intenccedilatildeo de

Ranganathan em suas quatro obras baacutesicas The Five Laws of Library Science

(1931) Prolegomena to Library Classification (1937) Elements of Library

Classification (1945) Philosophy of Library Classification (1951) aleacutem da proacutepria

Colon Classification (1933) publicadas pela Madras Library Association Desde

entatildeo a Teoria Dinacircmica da Classificaccedilatildeo tambeacutem chamada de Teoria da

Classificaccedilatildeo Facetada ou de Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo vem sendo

continuamente desenvolvida (NEELAMEGHAN 1970 v 5 p 148)

A sua obra The Five Laws of Library Science enuncia um conjunto unificado

de leis fundamentais que forma a base para a derivaccedilatildeo (por deduccedilatildeo) de todos os

princiacutepios e de todas as atividades relacionadas agrave aacuterea de Biblioteconomia Pode ser

sintetizada em Cinco Leis 1) Os livros satildeo para serem usados 2) a cada leitor o seu

livro 3) a cada livro o seu leitor 4) poupe o tempo do leitor e 5) a Biblioteca eacute um

organismo em crescimento Vale mencionar que as leis formuladas por

Ranganathan em 1928 formam a base do sistema de classificaccedilatildeo por ele

publicado em 1933 (NEELAMEGHAN 1970 v 5 p 147) Quando Ranganathan de

acordo com Vicentini (1972 p 113) estabeleceu as suas Cinco Leis foi o primeiro a

elevar a Biblioteconomia ao niacutevel de ciecircncia

Ranganathan diferencia-se por introduzir pela primeira vez nas discussotildees da

classificaccedilatildeo bibliograacutefica uma terminologia teacutecnica na qual por exemplo ideacuteia

isolada (Isolate Idea) eacute uma ideacuteia ou complexo-de-ideacuteias adaptadas para formar um

componente de um assunto mas em si mesma ela natildeo eacute considerada um assunto

(como por exemplo Bacteacuteria denota um isolado mas se o conceito for ajustado

para ser um componente de assunto funciona como unidade combinatoacuteria formando

ou especificando um assunto como Doenccedilas do corpo humano causadas por

bacteacuteria) assim isolados satildeo os vaacuterios conceitos presentes nos assuntos antes

desses conceitos serem reunidos em facetas faceta (facet) eacute um termo geneacuterico

usado para denotar algum componente um assunto baacutesico sozinho (Agricultura) ou

algum componente de um assunto baacutesico (Cultivo de arroz) ou ainda o componente

isolado em um assunto composto (Radiaccedilatildeo Eletromagneacutetica na Radiaccedilatildeo Fiacutesica

em que Radiaccedilatildeo Eletromagneacutetica eacute o isolado e Radiaccedilatildeo Fiacutesica eacute o assunto

147

baacutesico)134 categoria fundamental (fundamental category) eacute cada faceta isolada

considerada como sendo a manifestaccedilatildeo de uma das cinco categorias ou ideacuteias

fundamentais personalidade mateacuteria energia espaccedilo e tempo conhecidas pela

sigla PMEST135 Nesse sentido categorias satildeo um conjunto de noccedilotildees a partir das

quais conceitos satildeo classificados por intermeacutedio de anaacutelise por facetas focos satildeo os

isolados comuns depois de serem agrupados em facetas e anaacutelise por facetas eacute a

teacutecnica de separar os vaacuterios elementos de um assunto complexo em relaccedilatildeo a um

conjunto de conceitos fundamentais abstratos

Segundo Antony Charles Foskett (1972 p 338 Traduccedilatildeo livre da autora)

Ranganathan definiu anaacutelise por faceta como processo mental pelo qual as

possiacuteveis sequecircncias de caracteriacutesticas que formam a base da classificaccedilatildeo de um

assunto podem ser enumeradas e a medida exata na qual os atributos relacionados

ocorrem no assunto eacute determinada Facetas satildeo inerentes ao assunto136

Bryan C Vickery (1960) em uma contribuiccedilatildeo para o CRG afirmou que uma

classificaccedilatildeo facetada eacute uma lista de termos padronizados para serem usados na

descriccedilatildeo dos assuntos dos documentos (Ranganathan demonstrou que o nuacutemero

de assuntos especiacuteficos que podem ser selecionados numa classificaccedilatildeo eacute

134 Vickery (1980 p 212) referindo-se agraves classificaccedilotildees especializadas considera cada faceta de qualquer assunto assim como cada divisatildeo de uma faceta como uma manifestaccedilatildeo de uma das cinco categorias fundamentais 135 O Postulado das Categorias eacute o princiacutepio normativo adotado para a organizaccedilatildeo (divisatildeo) do Universo de Assuntos em Personalidade [P] aquilo que Ranganathan dizia ser indefiniacutevel como por exemplo nuacutemeros equaccedilotildees bibliotecas liacutenguas etc Ou seja a essecircncia de um assunto os objetos de estudo de uma determinada disciplina tipos ou espeacutecies partes ou orgatildeos de entidades Por exemplo Personalidade na Medicina satildeo os oacutergatildeos do corpo humano na Botacircnica os vegetais na Literatura as vaacuterias liacutenguas na Biblioteconomia os tipos de bibliotecas etc Mateacuteria [M] eacute a manifestaccedilatildeo de duas espeacutecies mateacuteria e propriedade como por exemplo mesa de madeira com tampo oval Ou seja todo o tipo de material e substacircncia de que satildeo feitas as coisas Por exemplo na Medicina satildeo o sangue os tecidos etc na Biblioteconomia satildeo os livros os perioacutedicos os cds etc Energia [E] eacute a manifestaccedilatildeo de uma accedilatildeo de qualquer espeacutecie como por exemplo processo operaccedilatildeo teacutecnica Ou seja a accedilatildeo e a reaccedilatildeo o tratamento a atividade o problema etc Por exemplo na Medicina satildeo os tratamentos na Botacircnica eacute a Morfologia na Biblioteconomia satildeo os serviccedilos Espaccedilo [S] eacute a manifestaccedilatildeo de lugar como por exemplo paiacuteses cidades superfiacutecies etc Ou seja divisatildeo geograacutefica o lugar onde se passa o fato Tempo [T] eacute a manifestaccedilatildeo de ideacuteias isoladas de tempo comum como por exemplo seacuteculos anos dia noite veratildeo etc Ou seja a divisatildeo cronoloacutegica a eacutepoca da realizaccedilatildeo de um fato A respeito da pergunta que Ranganathan (1967 p 396) se faz ldquoPor que as ideacuteias fundamentais postuladas satildeo em nuacutemero de cincordquo ele mesmo responde ldquotrabalhar com base em cinco ideacuteias fundamentais produziu resultados satisfatoacuterios nos vinte uacuteltimos anosrdquo 136 ldquohellipthe mental process by which the possible trains of characteristics which can form the basis of classification of a subject are enumerated and the exact measure in which the attributes concerned are incident in the subject are determined Facets are inherent in the subjectrdquo (FOSKETT A C 1972 p 338)

148

potencialmente infinito) e mostra em seus escritos a relaccedilatildeo da anaacutelise por facetas

com a anaacutelise geral da informaccedilatildeo

Portanto pode-se considerar anaacutelise por facetas como procedimento loacutegico de

anaacutelise e organizaccedilatildeo de campos conceituais (assuntos) para determinar quais

caracteriacutesticas satildeo mais apropriadas para dividir assuntos relacionando-os agraves cinco

categorias ou facetas fundamentais pelas quais uma classe principal pode ser dividida

Entre as diversas ideacuteias novas e a quantidade de novos conceitos137 criados

por Ranganathan encontram-se trecircs efetivas contribuiccedilotildees para a Modena Teoria da

Classificaccedilatildeo como a seguir detalhado (DAHLBERG 1979b p 357-358

NEELAMEGHAN 1970 v 5 p 150-160 RANGANATHAN 1967)

a) primeira contribuiccedilatildeo distribuiccedilatildeo por planos

b) segunda contribuiccedilatildeo enfoque analiacutetico-sinteacutetico para a identificaccedilatildeo

dos assuntos

c) terceira contribuiccedilatildeo princiacutepios para sequecircncia uacutetil

137 Terminologia de Ranganathan Assunto Baacutesico eacute um nome geneacuterico para denotar cada assunto principal ou qualquer assunto baacutesico natildeo principal de um dos cinco grupos 1 Assunto Baacutesico Canocircnico (Canonical) eacute uma divisatildeo tradicional de um assunto principal (exemplo R1 Loacutegica R2 Epistemologia R3 Metafiacutesica R5 Esteacutetica em R Filosofia) 2 Assunto Baacutesico Especial (Specials) eacute o assunto de um estudo que de alguma maneira especial foi restringido (exemplo L9C Medicina Infantil) 3 Assunto Baacutesico Descontextualizado (Environmented) eacute a entidade no estudo de um assunto principal presente num contexto que natildeo eacute o seu (exemplo S9Y55 Psicologia de uma pessoa estranha ao meio natural do grupo) 4 Assunto Baacutesico do Sistema (Systems) eacute o assunto de um estudo exposto de acordo com uma escola particular de pensamento diferente daquela privilegiada pelo sistema (exemplo LB Medicina Ayurveacutedica) 5 Assunto Baacutesico Composto (Compound) eacute um assunto baacutesico formado pela combinaccedilatildeo de dois ou mais assuntos dos quatro grupos acima mencionados (exemplo LB-9UA3-9C Medicina infantil tropical ayurveacutedica) (NEELAMEGHAN 1970 v 5 p 149-151 Traduccedilatildeo livre da autora) Ideacuteia (Idea) um produto do pensamento da reflexatildeo e da imaginaccedilatildeo que passou pelo intelecto integrando com a ajuda da Loacutegica uma seleccedilatildeo proveniente da percepccedilatildeo diretamente apreendida pela intuiccedilatildeo e depositada na memoacuteria Assunto (Subject) um corpo sistematizado de ideacuteias que incide de forma coerente em um campo especializado Renque e Cadeia (Array and Chain) satildeo produzidos pela adiccedilatildeo de uma caracteriacutestica (para Ranganathan caracteriacutestica eacute atributo e de acordo com Kumar (1981 p 14) um atributo eacute uma propriedade qualidade ou uma medida quantitativa de uma entidade) a um assunto baacutesico ou a uma ideacuteia isolada Renques satildeo conjuntos formados a partir de uma uacutenica caracteriacutestica de divisatildeo formando seacuteries horizontais Por exemplo Rosa Margarida e Violeta satildeo elementos do conjunto Flores Ornamentais o qual eacute formado pela caracteriacutestica de divisatildeo - tipos de flores ornamentais Cadeias satildeo seacuteries verticais de conceitos em que cada conceito tem uma caracteriacutestica a mais ou a menos conforme a cadeia seja ascendente ou descendente Por exemplo Rosa eacute um tipo de Flor Ornamental que por sua vez eacute um tipo de Flor Modos de Formaccedilatildeo dos Assuntos Dissecaccedilatildeo eacute o corte de um universo de entidades em partes que tenham posiccedilatildeo coordenada de modo que as partes (lacircminas) enfileiradas formem um renque Laminaccedilatildeo eacute a superposiccedilatildeo de facetas que acontece quando uma ou mais ideacuteias isoladas que pertencem a universos diferentes satildeo laminadas em cima de uma faceta ou assunto baacutesico formando um assunto composto Desnudaccedilatildeo eacute a diminuiccedilatildeo progressiva da extensatildeo e o aumento da intensatildeo de um assunto baacutesico ou de um isolado o que permite a formaccedilatildeo de cadeias Agregaccedilatildeo eacute a reuniatildeo de dois ou mais assuntos baacutesicos ou compostos e de isolados formando um assunto complexo e Superposiccedilatildeo eacute a superposiccedilatildeo de dois ou mais isolados que pertencem ao mesmo universo de isolados (RANGANATHAN 1967)

149

A primeira das trecircs contribuiccedilotildees diz respeito agrave introduccedilatildeo de trecircs planos

distintos de trabalho com base nos diversos niacuteveis nos quais trabalham os

classificacionistas e os classificadores

a) o plano da ideacuteia

b) o plano verbal

c) o plano notacional

O plano da ideacuteia corresponde ao niacutevel das ideacuteias e dos conceitos e divide o

Universo das Ideacuteias do Conhecimento ou dos Assuntos em um conjunto de assuntos

principais mutuamente exclusivos e totalmente exaustivos partindo do pressuposto de

que nenhum assunto principal pode ser expresso com os termos de outros assuntos

principais na tabela Pode-se dizer entatildeo que assunto principal eacute aquele que

representa as maiores aacutereas do conhecimento como Medicina Fiacutesica etc

O plano verbal equivale ao niacutevel da expressatildeo verbal dos conceitos presentes

nos assuntos que podem variar segundo a liacutengua utilizada Nesse plano eacute

necessaacuterio nomear os assuntos usar terminologia padronizada atender aos

cacircnones do contexto da enumeraccedilatildeo e da predominacircncia

O plano notacional refere-se ao niacutevel da fixaccedilatildeo dos conceitos em formas

abstratas tais como sinais letras e nuacutemeros Necessita de um sistema notacional

nuacutemeros de classificaccedilatildeo linguagem classificatoacuteria base da notaccedilatildeo combinaccedilatildeo

de diacutegitos diacutegito indicador notaccedilatildeo mista uso de diacutegitos mnemocircnicos extrapolaccedilatildeo

em renques interpolaccedilatildeo em renques (arrays uma fileira ou uma seacuterie de focos138

coordenados com base no mesmo princiacutepio de divisatildeo) interpolaccedilatildeo em cadeia

hospitalidade entre facetas etc

Segundo Dahlberg (1979b p 357) a distinccedilatildeo em trecircs niacuteveis tem o meacuterito de

evidenciar o objeto da Teoria da Classificaccedilatildeo que desde Ranganathan eacute o

conceito uacutenico (expressatildeo da linguagem natural que corresponde ao plano verbal) e

a sua capacidade de combinaccedilatildeo para representar (por meio da notaccedilatildeo em uma

forma semioacutetica) o conhecimento que o homem tem do mundo

A segunda contribuiccedilatildeo de Ranganathan agrave Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo eacute

a do seu enfoque analiacutetico-sinteacutetico para a identificaccedilatildeo dos assuntos Dahlberg

(1979b p 357) afirma que esse enfoque exige para a classificaccedilatildeo de cada

138 A palavra foco vem do latim focus (singular focus e plural foci) significa ponto de convergecircncia ponto para o que converge a atenccedilatildeo

150

documento uma anaacutelise do seu conteuacutedo em termos de elementos (conceitos) que

compotildeem as chamadas facetas e uma siacutentese desses elementos em expressotildees

combinatoacuterias Esse processo segue a foacutermula de facetas que serve para a

representaccedilatildeo dos assuntos e a ordenaccedilatildeo dos conceitos de uma disciplina em

classes formais de acordo com as categorias existentes nessa disciplina

A terceira contribuiccedilatildeo de Ranganathan foi a elaboraccedilatildeo de princiacutepios para

orientar a escolha da sequecircncia das facetas ou seja organizar os elementos das

facetas - princiacutepios para sequecircncia uacutetil - tambeacutem considerados como instrumento

para avaliaccedilatildeo de sistemas de classificaccedilatildeo (DAHLBERG 1979b p 358)139

Observa-se que Ranganathan desenvolveu um sistema complexo que aleacutem

das contribuiccedilotildees anteriormente mencionadas compreendia a Colon Classification

(modelo para um novo sistema universal de classificaccedilatildeo facetada) e os

Prolegomena (coacutedigos e regulamentaccedilotildees para a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo)

ressaltando para a Biblioteconomia e para a Ciecircncia da Informaccedilatildeo sua visatildeo

holiacutestica responsaacutevel pela criaccedilatildeo do seu Universo do Conhecimento140 e sua

representaccedilatildeo que revolucionou a Iacutendia a Ciecircncia da Informaccedilatildeo e a Teoria da

139 Segundo Piedade (1983 p 83-84) para que se atinja a sequecircncia uacutetil Ranganathan introduziu os seguintes princiacutepios

1 Cacircnone de extensatildeo decrescente (Canon of decreasing extension) a classe geral deve preceder as classes especiais 2 Princiacutepio da concreccedilatildeo crescente (Principle of increasing concreteness) a classe mais abstrata precede a mais concreta 3 Princiacutepio da posteridade na evoluccedilatildeo (Principle of later in evolution) segue-se a ordem da evoluccedilatildeo 4 Princiacutepio da posteridade no tempo (Principle of later in time) segue-se a ordem cronoloacutegica 5 Princiacutepio da contiguidade espacial (Principle of spatial contiguity) as aacutereas geograacuteficas devem ser ordenadas de acordo com a proximidade 6 Cacircnone de consistecircncia na sequecircncia (Canon of consistent sequence) quando os mesmos temas surgem em mais de um ponto da classificaccedilatildeo devem ser ordenados do mesmo modo 7 Princiacutepio da sequecircncia canocircnica (Principle of canonical sequence) quando natildeo haacute outro princiacutepio a seguir prefere-se a ordem tradicional 8 Princiacutepio da complexidade crescente (Principle of increasing complexity) os temas mais simples devem vir antes dos mais complexos ldquoQuando nenhum dos cacircnones e princiacutepios precedentes pode ser aplicado Ranganathan aconselha recorrer agraves Cinco Leis da Biblioteconomia de sua autoria que [] determinam que a biblioteca deve servir exatamente exaustivamente e rapidamente ao leitor com o menor esforccedilo e o menor desperdiacutecio de recursos humanosrdquo (PIEDADE 1983 p 84) 140 Universo do Conhecimento ldquoeacute a soma total em um dado momento do conhecimento acumulado Ele estaacute em desenvolvimento contiacutenuo Diferentes domiacutenios do Universo do Conhecimento satildeo desenvolvidos por diferentes meacutetodos O Meacutetodo Cientiacutefico eacute um dos meacutetodos reconhecidos de desenvolvimento O Meacutetodo Cientiacutefico eacute caracterizado pelo movimento em espiralrdquo (RANGANATHAN 1963 p 359)

151

Classificaccedilatildeo141 Ranganathan em virtude do volume de informaccedilatildeo cientiacutefica e

tecnoloacutegica entendia que o Universo do Conhecimento eacute dinacircmico e contiacutenuo e

procurou identificar os vaacuterios fatores responsaacuteveis pelo crescimento do

conhecimento destacando o desenvolvimento da induacutestria da informaccedilatildeo

(SEPUacuteLVEDA 1996) Essa questatildeo do Universo do Conhecimento apresenta um

inegaacutevel forte cunho filosoacutefico mas eacute sempre tratada por Ranganathan com o

cuidado e a preocupaccedilatildeo de relacionar a questatildeo filosoacutefica com a questatildeo

pragmaacutetica da classificaccedilatildeo bibliograacutefica Segundo M L Campos (2001 f 60-69)

para explicar o movimento do ato de conhecer e a sua influecircncia nos sistemas de

classificaccedilatildeo Ranganathan apresenta a Espiral do Universo do Conhecimento (que

propicia o ato de perceber os fatos que ocorrem no mundo fenomecircnico) e para

destacar a ligaccedilatildeo entre a produccedilatildeo de conhecimento e os esquemas de

classificaccedilatildeo apresenta tambeacutem a Espiral do Desenvolvimento de Assuntos (que

possibilita verificar a relaccedilatildeo entre o ato de perceber os fatos e a produccedilatildeo de

conhecimento que no caso eacute conhecimento registrado)142

Na visatildeo de Gopinath (1992 editorial) Ranganathan soacute conseguiu impactar

tanto a Ciecircncia da Informaccedilatildeo por causa da sua visatildeo holiacutestica

141 De acordo com Sepuacutelveda (1996) e Gopinath (2001) a gecircnese do pensar de Ranganathan foi fruto de sua visatildeo holiacutestica do Universo sob influecircncia da Cultura Bracircmane (demonstrada nos planos ideacional verbal e ideacional em parte de suas Cinco Leis da Biblioteconomia e na definiccedilatildeo da Colon Classification) da Cultura Chinesa (demonstrada na sua definiccedilatildeo de Universo do Conhecimento da Espiral de Desenvolvimento de Assunto e do Meacutetodo) e da Astrologia (demonstrada em sua divisatildeo do Universo do Conhecimento em quadrantes e no desenvolvimento de conceitos como Ascendente Descendente Fundo do Ceacuteu e Meio Ceacuteu etc) 142 Para maiores informaccedilotildees em relaccedilatildeo a essa questatildeo ver RANGANATHAN S R The five laws of library science Bombay Asia Publishing House 1963 449 p RANGANATHAN S R Prolegomena to library classification Bombay Asia Publishing House 1967 640 p e CAMPOS M L de A A organizaccedilatildeo de unidades do conhecimento em hiperdocumentos o modelo conceitual como um espaccedilo comunicacional para a realizaccedilatildeo da autoria 2001 186 f Tese (Doutorado em Ciecircncia da Informaccedilatildeo) - Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia da Informaccedilatildeo do Convecircnio CNPqIBICT Escola de Comunicaccedilatildeo Universidade Federal do Rio de Janeiro 2001

152

Ranganathan tinha uma visatildeo holiacutestica do seu trabalho Ele acreditava que qualquer parte do trabalho pertence a um todo sistemaacutetico e integrado Natildeo somente desenvolveu um corpo de conhecimentos regulou praacuteticas criou um sistema de administraccedilatildeo assim como tambeacutem promoveu sua visatildeo holiacutestica Desse modo ele expressou sua visatildeo do Holismo143

A presenccedila do holismo nas classes principais da CC eacute proposital e utilitaacuteria

representando a triacuteade Satyam Shivam Sundaram (GOPINATH 2001 p 90)

Satya (sacircnscrito verdade) eacute Shiva (sacircnscrito Deus) que eacute Sundara (sacircnscrito

beleza) Verdade beleza e divindade satildeo os supremos valores da Iacutendia desde a

Antiguidade e servem para guiar os homens em suas vidas

Depois da Segunda Guerra Mundial a Colon e os Prolegomena passaram a

ser mais difundidos particularmente na Inglaterra onde na deacutecada de 1940 com o

iniacutecio do desenvolvimento dos tesauros surge o Thesaurofacet144 As discussotildees

continuaram e questotildees relacionadas com ordenaccedilatildeo de termos ou frases para

expressar o assunto contido nos documentos se propagaram inclusive no interior de

sistemas de indexaccedilatildeo como no sistema de indexaccedilatildeo por linguagem livre

denominado PRECIS de Austin145

A partir da deacutecada de 1960 ao se considerar as estruturas classificatoacuterias sob

o ponto de vista analiacutetico (muito mais flexiacutevel em relaccedilatildeo ao hierarquizado que

vigorava ateacute entatildeo) percebe-se a necessidade de especificar explicar aclarar os

elementos categoriais dos sistemas de classificaccedilatildeo facetados - que elaboram

facetas com base em categorias de conceitos Nesse ponto um estudo deve ser

mencionado como texto fundamental em relaccedilatildeo agraves categorias utilizadas na

Documentaccedilatildeo o relatoacuterio Eacutetude sur les Cateacutegories Geacuteneacuterales Applicables aux 143 Holismo (do grego holos todo) eacute uma variante da Doutrina da Evoluccedilatildeo que consiste na inversatildeo da hipoacutetese mecanicista e em considerar que os fenocircmenos bioloacutegicos (quer se trate de seres humanos ou outros organismos) natildeo dependem dos fenocircmenos fiacutesico-quiacutemicos mas o contraacuterio O termo foi usado pela primeira vez em 1927 por Jan Smuts primeiro-ministro da Aacutefrica do Sul no seu livro Holism and Evolution como a tendecircncia da natureza a formar atraveacutes de evoluccedilatildeo criativa o todo que eacute maior do que a soma de suas partes Karl Popper em 1944 na obra Poverty of Historicism denominou Holismo a tendecircncia dos historiadores em sustentar que o organismo social assim como o bioloacutegico eacute algo mais que a simples soma dos seus membros e eacute tambeacutem algo mais que a simples soma das relaccedilotildees existentes entre os membros (ABBAGNANO 2003 p 512) Ao longo da histoacuteria o princiacutepio do holismo foi discutido por diversos filoacutesofos contudo o primeiro que o instituiu para a ciecircncia foi Comte (1798-1857) ao pensar a importacircncia do espiacuterito de conjunto (ou de siacutentese) sobre o espiacuterito de detalhes (ou de anaacutelise) para uma compreensatildeo adequada da ciecircncia em si e de seu valor para o conjunto da existecircncia humana 144 AITCHISON J et al Thesaurofacet a thesaurus and faceted classification for engineering and related subjects Whetstone (Leicester) The Electric Co 1969 145 AUSTIN D An indexing manual for PRECIS International Classification Frankfurt v 1 n 2 p 91-94 1974

153

Classifications et Codifications Documentaires (Estudo das Categorias Gerais

Aplicaacuteveis agraves Classificaccedilotildees e Codificaccedilotildees Documentaacuterias) elaborado por Eacuteric de

Grolier em 1962 para atender uma solicitaccedilatildeo da Unesco146 Grolier (1962 p 12)

na introduccedilatildeo do seu livro salienta que o documento apresentado tem caraacuteter

incompleto e provisoacuterio pois apesar da sua redaccedilatildeo ter demandado dois anos as

suas falhas podem ser em parte atribuiacutedas ao assunto vasto agrave evoluccedilatildeo muito

raacutepida nos uacuteltimos anos nesse domiacutenio agraves numerosas pesquisas em andamento em

diferentes paiacuteses e agrave dificuldade de localizaccedilatildeo dos respectivos documentos Grolier

reconhece desde o iniacutecio da pesquisa que entre os problemas existentes para o

estabelecimento de uma classificaccedilatildeo enciclopeacutedica haacute aqueles da construccedilatildeo de

uma ldquolinguagem comumrdquo uma espeacutecie de ldquointerliacutenguardquo para as maacutequinas destinadas

agrave pesquisa de informaccedilotildees e aqueles da constituiccedilatildeo de uma ldquoliacutengua auxiliar

internacionalrdquo uma ldquolinguagem universalrdquo uma ldquometaliacutenguardquo para o tratamento da

informaccedilatildeo147 O autor apresenta uma coleccedilatildeo de categorias gerais dos mais

importantes sistemas de classificaccedilatildeo universal (considera a Colon o uacuteltimo sistema

de classificaccedilatildeo enciclopeacutedica de certa importacircncia internacional) e de alguns

sistemas especializados Observa-se a seguir que as propostas de classificaccedilatildeo

posteriores a Colon procuram adotar criteacuterios pragmaacuteticos mais do que filosoacuteficos

para fundamentar as suas categorias Grolier (1962 p 65-148) agrupa as

classificaccedilotildees especializadas segundo uma ordem geograacutefica

146 A intenccedilatildeo da Unesco era que Grolier por meio da observaccedilatildeo das numerosas e diferentes codificaccedilotildees e classificaccedilotildees existentes nos diversos domiacutenios do conhecimento chegasse a uma proposta normalizada de classificaccedilatildeo e a categorias suficientemente gerais para serem aplicadas agraves classificaccedilotildees A raacutepida evoluccedilatildeo depois da II Guerra Mundial dos meacutetodos de pesquisa de informaccedilatildeo (recuperaccedilatildeo de informaccedilatildeo) com o desenvolvimento de sistemas utilizando meios mecacircnicos eletro-mecacircnicos (cartotildees perfurados) depois eletrocircnicos (computadores) conduziu a transformaccedilotildees na estrutura das classificaccedilotildees documentaacuterias O que segundo Grolier (1962 introduction) levou agrave elaboraccedilatildeo de um grande nuacutemero de novos coacutedigos geralmente independentes uns dos outros criados cada um em funccedilatildeo das necessidades proacuteprias de um Organismo particular de Documentaccedilatildeo Esses sistemas foram construiacutedos de uma maneira totalmente empiacuterica sob influecircncia de condiccedilotildees comuns que pode-se dizer lhes foram impostas pelas novas ldquomaacutequinasrdquo (tecnologias) para a pesquisa de documentos e de informaccedilotildees contidas nos documentos assim como para um certo nuacutemero de procedimentos de utilizaccedilatildeo quase geral como por exemplo a decomposiccedilatildeo de assuntos complexos em fatores simples a passagem das classificaccedilotildees fortemente hierarquizadas aos sistemas vagamente hierarquizados e a conscientizaccedilatildeo da necessidade de natildeo mais se restringir a expressar os termos elementares que servem agrave anaacutelise dos documentos mas expressar tambeacutem as relaccedilotildees entre eles 147 Hoje se sabe que o projeto de uma interliacutengua foi abandonado diante da impossibilidade da sua concretizaccedilatildeo Pode-se afirmar que quaisquer que sejam as opccedilotildees natildeo haacute como escapar da diversidade de categorizaccedilatildeo dos conteuacutedos do mundo

154

Na Franccedila entre outras relata a experiecircncia de Tchakhotine Dobrowolski

Desaubliaux Cordonnier e Pagegraves Serge Tchakhotine (russo residente na Franccedila

aluno de Pavlov) em seu livro Organizaccedilatildeo Racional da Pesquisa Cientiacutefica

(1938)148 desenvolve um meacutetodo embasado na teoria dos reflexos condicionados

para explicar o seu princiacutepio de noccedilotildees fundamentais (categorias) aplicado agrave

Biologia noccedilotildees morfoloacutegicas quiacutemicas funcionais normais funcionais patoloacutegicas

etc (GROLIER 1962 p 66 181) Z Dobrowolski (engenheiro polonecircs que

trabalhava em Paris no Serviccedilo de Documentaccedilatildeo do Escritoacuterio Central do Institut

International de la Soudure em 1942-1943) elabora uma classificaccedilatildeo facetada - por

categorias - grupos de rubricas por combustiacuteveis usados na Soldagem (material

procedimentos aplicaccedilotildees produtos problemas gerais propriedades estudo e

controle induacutestrias e organismos) na qual utiliza constantemente o signo de relaccedilatildeo

( ) emprestado da CDU (GROLIER 1962 p 67) Robert Desaubliaux elabora por

volta de 1942-1943 uma codificaccedilatildeo para a documentaccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Carrel

noccedilotildees reunidas em grupos e repartidas em grandes divisotildees para tratar dos

estudos demograacuteficos do Institut National drsquoEacutetudes Deacutemographiques meio fiacutesico o

homem e as comunidades humanas Empregava subdivisotildees comuns aplicaacuteveis a

cada domiacutenio determinado sob o termo modalidades (GROLIER 1962 p 68) Por

sua vez Geacuterard Cordonnier constroacutei um novo esquema enciclopeacutedico entre 1944 e

1945 que previa que noccedilotildees complexas natildeo seriam introduzidas diretamente na

classificaccedilatildeo pelo fato de elas se originarem de vaacuterios pontos de vista (GROLIER

1962 p 72) Cordonnier segundo Grolier (1962 p 61) foi o responsaacutevel pela

popularizaccedilatildeo de uma seacuterie de categorias (expostas na Conferecircncia de Dorking em

1957) organismos e serviccedilos pessoas indiviacuteduos corpos materiais diversos accedilotildees

diversas conceitos intelectuais formas documentaacuterias e tempo Como nenhuma

classificaccedilatildeo enciclopeacutedica se desenvolve espontaneamente as ideacuteias de

Cordonnier inspiraram Robert Pagegraves que no fim dos anos 40 do seacuteculo passado

elabora um ldquocoacutedigo de anaacuteliserdquo o coacutedigo Pagegraves um leacutexico alfa-numeacuterico que

comporta 22 categorias de noccedilotildees privilegiando as relaccedilotildees sintaacuteticas entre os

elementos (uniatildeo intersecccedilatildeo subordinaccedilatildeo etc) que ligam as categorias

148 TCHAKHOTINE S Organisation rationnelle de la recherche scientifique Paris Hermann 1938

155

a ciecircncia conhecimento cientiacutefico ou similar

b aspecto de multiplicidade organizaccedilatildeo caracterizaccedilatildeo

c indiviacuteduo elemento

d seres e propriedades loacutegico-matemaacuteticas

e fatos e propriedades fiacutesico-quiacutemicas

f domiacutenio das ciecircncias naturais

g seres vivos

i conduta ou processo

j fenocircmenos sociais

k aspectos pragmaacuteticos

l comunicaccedilatildeo

m operaccedilotildees teacutecnicas fiacutesico-quiacutemicas

n operaccedilotildees teacutecnicas bioloacutegicas

o praacutetica social

p prazer e arte

r metafiacutesica

s espaccedilo

t tempo

v regulamentos

w propriedades

y relaccedilotildees

z negaccedilatildeo (GROLIER 1962 p 73-79)

Outras propostas relacionam niacuteveis de abordagem crescentes e decrescentes

de um assunto (por exemplo energia nuclear escala corpuscular nuclear atocircmica e

molecular macroscoacutepica)

Grolier (1962 p 86-96) daacute um destaque especial aos trabalhos de Jean-

Claude Gardin pela influecircncia que tem no desenvolvimento das pesquisas em

recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo149 ao propor substituir os termos da linguagem natural

comumente empregados para a descriccedilatildeo dos objetos (muito vagos e pouco

normalizados) por coacutedigos compactos (coacutedigos que variam com o domiacutenio

149 Segundo Grolier (1962 p 91-92) Gardin passa do estaacutegio das anaacutelises bibliograacuteficas do conteuacutedo para o estaacutegio das anaacutelises conceituais dos documentos que reuacutenem os termos em categorias Como exemplo em uma primeira etapa Gardin distingue trecircs categorias para as anaacutelises de textos funccedilatildeo processo e modo retendo ao final somente duas categorias funccedilatildeo e modo

156

abordado que constituiacuteam uma espeacutecie de gramaacutetica - de categorias - para fazer a

representaccedilatildeo mais adequada dos fatos e objetos observados)

Na Inglaterra Grolier (1962 p 98) cita entre outros o trabalho de J E L

Farradane que baseando-se na pesquisa de alguns psicoacutelogos (Vinacke Isaacs e

Miller) distingue relaccedilotildees obtidas pela correlaccedilatildeo de duas seacuteries de caracteristicas

1 Relaccedilotildees acerca da natureza (temporais natildeo-temporais fixas ou permanentes) e

2 Relaccedilotildees acerca da necessidade de distinccedilatildeo (co-existecircncia natildeo-precisada

precisada) para falar de nove categorias co-presentes comparadas associadas

equivalentes derivadas do meio separadas passiacuteveis de ser substituiacutedas por que

demonstram accedilatildeo sobre e que demonstram relaccedilatildeo causal de dependecircncia

funcional Grolier (1962 p 96) menciona tambeacutem o trabalho referente agraves categorias

realizado pelo CRG que na deacutecada de 1950 embora tivesse a intenccedilatildeo de elaborar

uma classificaccedilatildeo enciclopeacutedica acaba por produzir apenas sistemas especializados

que adotam o meacutetodo de anaacutelise por facetas de Ranganathan mas natildeo as suas

categorias fundamentais As categorias propostas por D J Foskett Vickery Kyle

Langridge Coates150 integrantes do CRG variam conforme o domiacutenio focalizado

constituindo-se em propostas de separaccedilotildees artificiais

Douglas J Foskett (um dos primeiros a introduzir na Inglaterra as ideacuteias de

Ranganathan) autor da obra Library Classification and Field Knowledge (1958) eacute o

criador de vaacuterias classificaccedilotildees especializadas ldquopor facetasrdquo Como exemplo pode-

se citar a da Metal Box Company (produtos partes materiais operaccedilotildees e um

conjunto de subdivisotildees comuns que podem ser aplicadas a qualquer parte do

esquema) e a mais importante sobre Seguranccedila e Sauacutede Ocupacional para a qual

propotildee as categorias

B Agentes fiacutesicos e fenocircmenos naturais

C-G Substacircncias

150 O CRG de Londres (criado em 1952) teve entre seus membros D Austin (Inglaterra) K G B Bakewell (Inglaterra) V Broughton (Inglaterra) P F Broxis (Inglaterra) EJ Coates (EUA) I Dahlberg (Alemanha) S Datta (Inglaterra) A S Desai (Iacutendia) R A Fairthorne (Inglaterra) J E L Farradane (Canadaacute) D J Foskett (Inglaterra) V Horsnell (EUA) H G Koerner (Alemanha) D W Langridge (Inglaterra) I C McIlwaine (Inglaterra) A J Mayne (Inglaterra) J Mills (Inglaterra) J Metcalfe (Austraacutelia) F L Miksa (Estados Unidos) A Neelameghan (India) T Oker-Blom (Finlacircndia) J M Perrault (Estados Unidos) P A Richmond (EUA) M J Roberts (Inglaterra) A Sandison (Inglaterra) J Sorenson (Dinamarca) A P Srivastava (India) P Steen Larsen (Dinamarca) J Toman (Tchecoslovaacutequia) L F Spiteri (Canadaacute) B C Vickery (Inglaterra) E Wahlin (Sueacutecia) A J Wells (Inglaterra) M Whitrow (Inglaterra) (CLASSIFICATION RESEARCH GROUP Bullettin n 11 Journal of Documentation London v 34 n 1 p 21-50 Mar1978)

157

H-J Locais equipamentos processos e operaccedilotildees

K Organizaccedilatildeo de trabalho e estrutura industrial

L Fogo e explosotildees

M N Patologia

P Fisiologia e Psicologia

Q Teacutecnicas de pesquisa

R Prevenccedilatildeo meacutedica e tratamento

S Teacutecnicas de seguranccedila e higiene

T Equipamento de proteccedilatildeo individual

V Organizaccedilatildeo de seguranccedila e higiene

W Categorias de pessoas

X Induacutestrias

Y Aspectos particulares

Z Generalidades (GROLIER 1962 p 99-100)

Vickery em sua obra Classification and Indexing in Science (primeira ediccedilatildeo

de 1958) elabora trecircs esquemas de classificaccedilatildeo especializada Para a

Classificaccedilatildeo das Ciecircncias do Solo enumera oito categorias tipos de solo estrutura

constituintes originais do solo propriedades processos naturais intervindo no solo

operaccedilotildees sobre o solo teacutecnicas de laboratoacuterio e generalidades (GROLIER 1962 p

100) Contrariamente a D J Foskett que natildeo utiliza nenhum sinal de relaccedilatildeo (os

seus siacutembolos se combinam diretamente entre eles) Vickery emprega a barra

obliacutequa ( ) significando relaccedilatildeo e mais particularmente influecircncia ou efeito

(GROLIER 1962 p 100-101) Barbara Kyle em 1955 dedica-se a trabalhar em

uma classificaccedilatildeo das Ciecircncias Sociais Contrariamente ao coacutedigo de Pagegraves que se

destinava agrave anaacutelise dos conceitos contidos nos documentos a classificaccedilatildeo de Kyle

era uma classificaccedilatildeo bibliograacutefica em niacutevel bastante superficial de acordo com

Grolier (1962 p 101-102)

Nos Estados Unidos de maneira geral os trabalhos seguem a mesma linha

dos anteriores destacando categorias - grandes grupos de caracteriacutesticas relativas

aos temas dos assuntos estudados - e algumas vezes fazendo distinccedilotildees entre os

tipos de relaccedilotildees existentes entre as categorias Grolier (1962 p 108-144) refere-se

aos trabalhos de Mooers Perry Patent Office Luhn e Mortimer Taube O meacutetodo de

descritores de Calvin Mooers configura-se em um dicionaacuterio de noccedilotildees criado em

1947 no qual cada documento corresponde uma lista de descritores visando

158

caracterizar o documento Os trabalhos de J W Perry para a Western Reserve

University como a classificaccedilatildeo feita para a American Society for Metals reuacutene a

literatura metaluacutergica por

a) processos e propriedades

b) materiais

c) atributos comuns

Perry em colaboraccedilatildeo com Kent produz em 1954 um meacutetodo de anaacutelises

codificadas com base na anaacutelise semacircntica de ldquotermos complexosrdquo gerando ldquotermos

individuaisrdquo As pesquisas do U S Patent Office a partir de 1950 direcionam-se ao

desenvolvimento de um sistema de classificaccedilatildeo de uma metaliacutengua que Simon M

Newman o seu criador nomeia de ldquoRuly Englishrdquo uma linguagem sem ambiguidade

para solucionar problemas linguiacutesticos com os quais o Patent Office tinha que lidar

Essa metaliacutengua compreende seis categorias de elementos

a) raiacutezes e qualificativos

b) sufixos modulantes

c) prefixos de quantificaccedilatildeo

d) conceitos de inter-relaccedilotildees

e) nomes de interfixos

f) nomes de rubricas (itens)

Das pesquisas de Hans Peter Luhn (orientadas para a IBM) destaca-se a

compilaccedilatildeo de dicionaacuterios de conceitos muito semelhante ao tesauro O seu ldquomeacutetodo

de tesaurordquo foi considerado uma renovaccedilatildeo do Thesaurus of English Words and

Phrases de 1852 de Peter Mark Roget e do seu uso na Documentaccedilatildeo Mortimer

Taube popularizou sob o nome unitermos (palavras tiacutepicas tiradas dos tiacutetulos ou dos

textos de documentos sem ao menos eliminar os sinocircnimos) a partir de 1952 um

meacutetodo de indexaccedilatildeo em fichas por pontos de vista que em seu princiacutepio eacute

semelhante aos descritores de Mooers mas que natildeo faz uso de categorias Ainda

nos Estados Unidos Perreault (1969 p 119-148 apud DAHLBERG 1979b p

360)151 desenvolveu em 1962 um esquema filosoacutefico de cerca de 108

relacionadores Esses relacionadores eram destinados a servir como elementos

sintaacuteticos juntamente com os elementos de qualquer sistema de classificaccedilatildeo

151 PERRAULT J M Towards a theory for the UDC London C Bingley 1969

159

Para Dahlberg (1979b p 360) o coroamento de todos esses movimentos

(inclusive dos citados por Grolier) acontece na Conferecircncia sobre Fatores Relacionais

em Classificaccedilatildeo organizada por Perreault em Maryland em junho de 1966 a qual

recebeu contribuiccedilotildees de muitos dos autores jaacute mencionados inclusive de

Ranganathan152 Nessa ocasiatildeo D Soergel apresentou um trabalho chamado Some

Remarks on Information Languages their Analysis and Comparison contendo um

estudo enciclopeacutedico e as correlaccedilotildees de todos os tipos de indicaccedilatildeo de

relacionamento Contudo nenhuma soluccedilatildeo foi encontrada nessa conferecircncia para os

problemas de relaccedilotildees conceituais restando a frase emblemaacutetica de Grolier Ainda

necessitamos mais pesquisas pronunciada na ocasiatildeo (PERREAULT 1966 p 396)

Ao estabelecer relaccedilotildees entre a estrutura formal da liacutengua e as linguagens

documentaacuterias Grolier (1962 p 149-164) afirma que as uacuteltimas se inspiram nas

primeiras Ao observar tipos de categorias linguiacutesticas discutidas por linguistas em

vaacuterios eventos (como satildeo definidas categorias classes de palavras categorias

verbais categorias de pessoa etc) Grolier levanta questotildees de semacircntica (leacutexico e

classificaccedilatildeo ideoloacutegica) de relaccedilotildees (entre categorias fixadas pelas liacutenguasrsquo e

concepccedilotildees do mundo) de tipologia das liacutenguas (classificaccedilatildeo genealoacutegica) de

evoluccedilatildeo (da linguagem como mecanismo para a transmissatildeo da informaccedilatildeo) entre

outras O relatoacuterio de Grolier infelizmente natildeo teve continuidade apesar da

repercusatildeo que alcanccedilou nos trabalhos posteriores das deacutecadas de 1960 a 1990

As pesquisas relativas agrave organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo do iniacutecio

dos anos 60 ao fim dos anos 70 do seacuteculo XX diminuiram drasticamente na maioria

das instituiccedilotildees em razatildeo principalmente da crenccedila na indexaccedilatildeo automaacutetica e da

rapidez e barateamento do processamento de dados por computador No iniacutecio dos

anos 80 do seacuteculo XX com o aumento vertiginoso de documentos comeccedilou a se

notar uma insatisfaccedilatildeo crescente com a maacute qualidade da informaccedilatildeo obtida por

intermeacutedio de muitas bases de dados

Com pesquisas destinadas agrave obtenccedilatildeo de melhores resultados na

recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo como construccedilatildeo de tesauros construccedilatildeo de

classificaccedilotildees facetadas aplicaccedilatildeo da teoria do conceito (DAHLBERG 1974) e da

152 PERREAULT J M (Ed) Proceedings of the International Symposium on Relational Factors in Classification 1966 Maryland Information Storage and Retrieval Elmsford NY v 3 n 4 p 177-410 1967

160

teoria dos niacuteveis integrativos153 atingiu-se melhor compreensatildeo da natureza dos

conceitos154 por conseguinte das categorias as quais os conceitos pertencem

Dahlberg (1979b p 361) no que pode ser visto como um movimento de

aproximaccedilatildeo com as categorias filosoacuteficas considera categorias como sendo ldquoum

instrumento intelectual para a organizaccedilatildeo de conceitos natildeo soacute em uma

sistematizaccedilatildeo geral dos elementos do conhecimento mas tambeacutem em qualquer

uma de suas aacutereasrdquo e distingue as seguintes objetos fenocircmenos processos

propriedades relaccedilotildees dimensotildees bem como combinaccedilotildees entre elas

Com a utilizaccedilatildeo do enfoque da teoria das categorias (natildeo mais um enfoque

dedutivo que divide o universo do conhecimento em disciplinas ou um enfoque

indutivo que constroacutei linguagens de descritores que constituem os tesauros mas um

enfoque relacional que parte de um aspecto categorial formal) aplicam-se os

princiacutepios de organizaccedilatildeo de conceitos agrave construccedilatildeo e agrave utilizaccedilatildeo de sistemas de

153 A aplicaccedilatildeo da teoria dos niacuteveis integrativos (cf nota 77) para a classificaccedilatildeo parece que suscitou mais perguntas do que respostas e levantou uma seacuterie de problemas e de discussotildees interessantes como para citar alguns a determinaccedilatildeo do sistema de lugar-uacutenico [one-place] (repetindo-se as criacuteticas feitas agrave Subject Classification de James Duff Brown de que seu sistema de classificaccedilatildeo de lsquolugar-uacutenicorsquo natildeo permitia interpretaccedilatildeo ponto de vista etc) que pode eliminar inteiramente certos aspectos do assunto a acomodaccedilatildeo de assuntos convencionais que podem muitas vezes atravessar diversos niacuteveis integrativos (como a aacuterea de Histoacuteria por exemplo que eacute composta de elementos integrativos Antropologia Arqueologia Filosofia Sociologia etc que satildeo por sua vez compostos pelos seus proacuteprios niacuteveis integrativos) e a relaccedilatildeo das partes com o todo que natildeo eacute igual para todas as entidades (uma comissatildeo por exemplo eacute um todo mas os seus membros satildeo tambeacutem parte da mesma espeacutecie lsquohumanarsquo o que os torna intercambiaacuteveis por assim dizer e jaacute o todo bicicleta tambeacutem como exemplo natildeo eacute constituiacutedo de um nuacutemero de sub-unidades similares que podem ser intercambiaacuteveis) Richmond (1965 p 44) acredita que os conjuntos de niacuteveis integrativos satildeo o segundo plano de antigos sistemas de classificaccedilatildeo hieraacuterquica (os princiacutepios teoacutericos de separaccedilatildeo em niacuteveis embasados em suas partes satildeo encontrados igualmente em sistemas tradicionais como a CDD onde disciplinas satildeo separadas em suas partes componentes) e estaacute convencida de que a teoria dos niacuteveis integrativos eacute similar agrave classificaccedilatildeo facetada jaacute que ambos os sistemas envolvem uma forma de raciociacutenio indutivo no qual classes satildeo inferidas de agregados particulares Este raciociacutenio da parte para o todo envolve um lsquosaltorsquo indutivo Este salto forccedila os classificadores a definir um assunto baseando-se em seus elementos constituintes O benefiacutecio da aplicaccedilatildeo da teoria dos niacuteveis integrativos para a Teoria da Classificaccedilatildeo eacute que o processo de classificaccedilatildeo por niacuteveis requer uma anaacutelise e descriccedilatildeo exatas de cada passo do processo o que quer dizer que o salto indutivo teraacute de ser definido na sua composiccedilatildeo fator por fator Consequentemente a teoria daacute validade e meacutetodo para uma abordagem indutiva [bottom-up] de baixo para cima da classificaccedilatildeo De acordo com Spiteri (1995) o significado da teoria eacute talvez que ela muniu o CRG com novo reforccedilo na crenccedila de que aacutereas de conhecimento somente podem ser determinadas apoacutes anaacutelises de sua composiccedilatildeo (a posteriori) e natildeo aacutereas preacute-determinadas de conhecimento e entatildeo decidir como separaacute-las em suas partes componentes (a priori) 154 A teoria do conceito implica em considerar os conceitos ldquosiacutenteses rotuladas de enunciados verdadeiros sobre objetos do pensamentordquo (DAHLBERG 1979b p 361) ou seja para Dahlberg (1979a) o conceito eacute a unidade de conhecimento que compreende afirmaccedilotildees necessaacuterias e verificaacuteveis sobre um referente representado por uma designaccedilatildeo A autora considera que cada enunciado verdadeiro representa um elemento do conceito e define a formaccedilatildeo dos conceitos como a reuniatildeo e compilaccedilatildeo de enunciados verdadeiros a respeito de determinado objeto processo que denomina de ldquoanaacutelise do conceitordquo

161

classificaccedilatildeo podendo-se afirmar que a Teoria da Classificaccedilatildeo hoje reconhece o

conceito como elemento material dos sistemas de classificaccedilatildeo e a categoria como

elemento essencial para correta alocaccedilatildeo dos termos

A Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo eacute capaz de explicar uma quantidade de

fatores anteriormente desconhecidos ou conhecidos apenas intuitivamente e com

isso aperfeiccediloar de modo geral os sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica

Em deacutecadas recentes do seacuteculo XX Dahlberg tem pesquisado sobre as

fundaccedilotildees teoacutericas e conceituais da organizaccedilatildeo do conhecimento de uma

perspectiva filosoacutefica ontoloacutegica Um enfoque epistemoloacutegico tem sido difundido pela

anaacutelise de domiacutenio de Hjorland a Albrechtsen Noccedilotildees desenvolvidas na Filosofia da

Ciecircncia como os niacuteveis integrativos de Hartmann ou a teoria da complexidade de

Morin podem resultar em meacutetodos uacuteteis para o arranjo de fenocircmenos conhecidos

em sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento Com referecircncia a um esquema geral

de classificaccedilatildeo sempre haveraacute a necessidade de algum esquema geral ao menos

como dispositivo de ligaccedilatildeo entre sistemas embasados em diferentes

epistemologias Consequentemente a necessidade de pesquisas ontoloacutegicas em

organizaccedilatildeo do conhecimento estaacute longe de se tornar obsoleta

Recentemente a ISKO que eacute a primeira Sociedade Internacional de Estudos

dedicada agrave teoria e agrave praacutetica da organizaccedilatildeo do conhecimento no seu nono

Congresso155 Internacional em Viena em julho de 2006 deixou bem claro que havia

uma necessidade de dar uma definiccedilatildeo conjuntacompartilhada para o campo de

organizaccedilatildeo do conhecimento Segundo McIlwaine e Mitchell (2008 preface p 79-

81) enquanto a maioria dos membros da ISKO proveem da Biblioteconomia e da

Ciecircncia da Informaccedilatildeo o interesse na organizaccedilatildeo do conhecimento natildeo estaacute

limitado a esses campos Na realidade contribuem para a KO e para os encontros

da ISKO representantes de aacutereas de pesquisa e aplicaccedilatildeo interdisciplinares aleacutem de

representantes da Biblioteconomia e da Ciecircncia da Informaccedilatildeo A agitaccedilatildeo

provocada pelo grande interesse por parte das disciplinas do campo da organizaccedilatildeo

do conhecimento tem causado alguma confusatildeo sobre o significado de organizaccedilatildeo

do conhecimento e suas relaccedilotildees com outros campos tais como ldquogestatildeo do

conhecimentordquo

155 Congressos da ISKO 1 Darmstadt 1990 2 Madras 1992 3 Copenhagen 1994 4 Washington 1996 5 Lilla 1998 6 Toronto 2000 7 Granada 2002 8 Londres 2004 9 Viena 2006 10 Montreal 2008 11 Roma 2010

162

Um nuacutemero especial do perioacutedico KO (KNOWLEDGEhellip 2008) foi idealizado

para explorar a definiccedilatildeo do campo interdisciplinar da organizaccedilatildeo do conhecimento

por meio de perspectivas histoacutericas e contemporacircneas A um grupo de autores da

comunidade ISKO que jaacute completou meio seacuteculo de pesquisa no campo foram

endereccediladas questotildees como

O que eacute organizaccedilatildeo do conhecimento

Quais satildeo os significados de ldquodocumentordquo ldquoinformaccedilatildeordquo e ldquoconhecimentordquo em

organizaccedilatildeo do conhecimento

Quais satildeo as questotildees definitivas na organizaccedilatildeo do conhecimento

Que campos tecircm interesse nas questotildees definitivas da organizaccedilatildeo do

conhecimento

Quais epistemologias teorias e metodologias satildeo relevantes no campo da

organizaccedilatildeo do conhecimento

Quais satildeo algumas questotildees de pesquisa atuais em organizaccedilatildeo do

conhecimento

Quais satildeo as futuras questotildees de pesquisa em organizaccedilatildeo do

conhecimento

Que relacionamentos satildeo especiacuteficos da organizaccedilatildeo do conhecimento

Que satildeo sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento

O nuacutemero especial comeccedilou com uma reuniatildeo realizada em dezembro de

2007 conduzida por Dahlberg criadora do perioacutedico KO Dahlberg tem uma histoacuteria

de envolvimento pessoal com o campo - atuou em organizaccedilotildees internacionais como

a FIDCR UDC International Organization for Standardization (ISO) Unesco e

trabalhou com classificaccedilatildeo na Alemanha e com automaccedilatildeo de bibliotecas nos

Estados Unidos Na reuniatildeo Dahlberg discutiu a adoccedilatildeo de knowledge organization

(do alematildeo Wissensorganisation) como um termo para descrever a ISKO e suas

atividades e o perioacutedico Dahlberg tambeacutem discutiu a genesis do Information

Coding Classification (ICC) um sistema de classificaccedilatildeo inteiramente facetado que

ela desenvolveu e tambeacutem compartilhou sua visatildeo sobre a possibilidade da

organizaccedilatildeo do conhecimento ser vista como disciplina

163

42 CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL DE DEWEY (CDD - 1876)

A histoacuteria os princiacutepios a construccedilatildeo e a revisatildeo da Dewey Decimal

Classification (CDD) Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey (CDD) satildeo tratados nas

subseccedilotildees que seguem

421 Histoacuteria

Melvil[le Louis Kossuth] Dewey (1851-1931) produziu em 1873 uma tese

quando procurava um sistema para organizar os livros da Biblioteca do Amherst

College (uma instituiccedilatildeo meacutedia e desconhecida cuja biblioteca se assemelhava -

se eacute que se permite a comparaccedilatildeo - com as bibliotecas puacuteblicas municipais

brasileiras com caraacuteter de biblioteca puacuteblica e escolar) onde trabalhava como

student-assistant O Esquema foi publicado em 1876156 anonimamente como um

panfleto (A Classification and Subject Index for Cataloguing and Arranging the

Books and Pamphlets of a Library) pelo College mas com copyright sob o nome

Dewey A segunda ediccedilatildeo em 1883 apareceu sob o proacuteprio nome e o sistema de

classificaccedilatildeo decimal157 torna-se oficialmente em 1931 Dewey Decimal

Classfication (DDC) Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey (CDD) popularmente

conhecida por Dewey ou CDD O desenvolvimento da CDD ateacute a deacutecima quarta

ediccedilatildeo representou um registro progressivo de uma rota poliacutetica clara e bem

sucedida que Dewey manteve durante toda sua vida sob riacutegido controle (apoacutes sua

morte em 1931 passa aos cuidados da fundaccedilatildeo Lake Placid Club com o apoio

da LC) Tinha como objetivo ser uma ferramenta um instrumento de feiccedilatildeo praacutetica

e de faacutecil aplicaccedilatildeo para responder agraves necessidades pragmaacuteticas de organizaccedilatildeo

do conhecimento de um tipo de biblioteca que visava o livre acesso dos usuaacuterios e

156 Nesse mesmo ano em Filadeacutelfia foi criada a American Library Association (ALA) e o peroacutedico Library Journal 157 O sistema decimal natildeo comeccedila com Dewey sua existecircncia eacute muito anterior cabendo a La Croix Du Maine a primazia da sua aplicaccedilatildeo em 1583 (cf subseccedilatildeo 312) quando apresenta seu esquema decimal a Henrique III da Inglaterra para organizar a Biblioteca Real da Franccedila de 10 mil volumes que seriam acomodados em 100 lsquocaixasrsquo ou estantes cada uma contendo 100 livros (SAYERS 1955a) Entretanto essa classificaccedilatildeo decimal estava limitada somente agraves estantes dos livros O fiacutesico Ampegravere (cf subseccedilatildeo 313) em 1834 utilizou o princiacutepio decimal para a sua classificaccedilatildeo loacutegica das ciecircncias Ele teve a ideacuteia de empregar uma notaccedilatildeo decimal na qual cada nuacutemero era considerado como um siacutembolo classificador A Biblioteca Nacional da Franccedila chegou a considerar a ideacuteia de adaptar essa notaacutevel classificaccedilatildeo para substituir o antigo sistema que vinha adotando haacute dois seacuteculos

164

a raacutepida localizaccedilatildeo dos materiais bibliograacuteficos nas estantes A grande

popularidade do esquema se deve a vaacuterios fatores principalmente porque ele era o

esquema certo no lugar certo (FLA 1966 MANIEZ 1993 PAZIN 1973 SAN

SEGUNDO MANUEL 1996 SOUZA 1952)

422 Princiacutepios

O bibliotecaacuterio e teoacuterico da classificaccedilatildeo norteamericana Melvil Dewey foi

acima de tudo um pragmaacutetico cujos interesses abrangiam natildeo somente a gerecircncia

da biblioteca mas tambeacutem outros esquemas de melhoramentos relacionados agrave vida

simboacutelica e intelectual que incluiacuteam o desejo de simplificar a ortografia do inglecircs e

introduzir o Sistema Meacutetrico de Pesos e Medidas Mas mesmo o esquema de

classificaccedilatildeo criado pelo pragmaacutetico Dewey teve de repousar sobre alguma visatildeo

filosoacutefica e ideoloacutegica do conhecimento (RAFFERTY 2001 p 184) Dewey natildeo

tinha obviamente a intenccedilatildeo de fazer uma classificaccedilatildeo cientiacutefica ou filosoacutefica do

conhecimento como a de Aristoacuteteles Francis Bacon e Locke (cf subseccedilotildees 311 e

312) No entanto inspirou-se nas classificaccedilotildees do conhecimento propostas pelos

filoacutesofos assim como reconheceu a influecircncia da classificaccedilatildeo de Harris (cf subseccedilatildeo

313)158 predecessoras da CDD (DOBROWOLSKI 1962 p 46) estudadas por

Dewey que tambeacutem se dedicou aos esquemas de arranjo decimal (mais

relacionados na eacutepoca com a numeraccedilatildeo de armaacuterios estantes e prateleiras do que

com livros) como o de La Croix Du Maine (1583) e o de Nathaniel B Schurtleff

158 Ao examinar (quadro 15) as classes principais da classificaccedilatildeo de Harris (1870) detentor de uma soacutelida formaccedilatildeo filosoacutefica que produziu o primeiro esquema lsquobaconiano invertidorsquo baseando suas classes principais naquelas desenvolvidas por Francis Bacon (1605) que foi um seguidor do pensamento de Huarte (1575) nota-se que satildeo semelhantes agraves de Dewey (quadro 28) ampliadas O que pode levar a conclusatildeo de que a obra de Bacon realmente serviu de base pelo menos parcialmente para a classificaccedilatildeo de Dewey que em 1876 por sua vez passa a embasar a Classificaccedilatildeo Decimal Universal Esse exemplo de sequecircncia histoacuterica natildeo tem outro objetivo senatildeo o de demonstrar a permanecircncia de certas estruturas loacutegicas do pensamento humano herdadas do passado fundamentalmente vaacutelidas como a distribuiccedilatildeo e classificaccedilatildeo estrutural dos vaacuterios domiacutenios do conhecimento humano Porque se a inspiraccedilatildeo de Dewey originaacuteria do esquema de Harris nunca foi posta em duacutevida (assumida pelo proacuteprio Dewey) a influecircncia de Bacon sobre Harris tem sido questionada por Goossens (1982 p 8) um estudioso das classificaccedilotildees que afirma que a base teoacuterica da classificaccedilatildeo de Harris depende do sistema hegeliano e natildeo do de Bacon Para provar seu ponto de vista cita Leidecker (1945) Comaroni (1969) e Graziano (1959) que postulam essa influecircncia De acordo com Goossens a triacuteade de Hegel conceito essecircncia e ser (cf subseccedilatildeo 313) pode ser transportada agraves nove divisotildees da classificaccedilatildeo de Dewey como segue conceito corresponde agraves classes 100 200 e 300 essecircncia agraves classes 400 500 e 600 e ser agraves classes 700 800 e 900 Parece que certa ou equivocada essa interpretaccedilatildeo a classificaccedilatildeo de Dewey estava imbuiacuteda da tradiccedilatildeo e da sustentaccedilatildeo teoacuterica cientiacutefica e filosoacutefica que propiciou sua projeccedilatildeo e desenvolvimento

165

(1856)159 Em um artigo publicado em 1920 no Library Journal Dewey menciona

que ao visitar cinquenta bibliotecas ficou admirado com a ineficiecircncia duplicidade do

trabalho de classificaccedilatildeo e desperdiacutecio de tempo e dinheiro em reclassificaccedilotildees

lsquonecessaacuteriasrsquo devido ao uso do sistema de localizaccedilatildeo fixa e natildeo um sistema no qual

o livro seria lsquonumeradorsquo de acordo com a classe agrave qual pertence hoje e pertenceraacute no

futuro160

Dewey pretendia sim fazer um esquema pragmaacutetico (o Pragmatismo161 era um

dos traccedilos fortes da CDD poreacutem sabendo dos riscos de confusatildeo derivados do

mesmo o autor introduziu em suas tabelas principais e auxiliares notas explicativas

para facilitar seu emprego) para arranjo e localizaccedilatildeo de livros apropriado a uma

biblioteca geral Para atingir seu objetivo buscou no plano teacutecnico da notaccedilatildeo o

sistema decimal e no plano psicoloacutegico do usuaacuterio os siacutembolos conhecidos mais

simples (a numeraccedilatildeo de base dez eacute parte do universo familiar do ser humano) os

159 Schurtleff de quem Dewey parece ter copiado a ideacuteia da notaccedilatildeo decimal publicou em 1856 em Boston o trabalho A Decimal System for the Arrangement and Administration of Libraries no qual expotildee o seu esquema de classificaccedilatildeo decimal utilizado na Boston Public Library propondo a utilizaccedilatildeo de dez pequenas salas com dez estantes cada sendo as salas e as estantes numeradas de um a dez Portanto apesar do esquema estar embasado no uso da divisatildeo por dez ele ainda era um sistema de localizaccedilatildeo fixa e a notaccedilatildeo natildeo parecia nada como uma classificaccedilatildeo decimal (BROUGHTON 2004 p 178) 160 Antes da CDD na maioria das bibliotecas os livros eram divididos em um pequeno nuacutemero de categorias em cujo interior cada obra ocupava um lugar fixo segundo seu registro ou data de aquisiccedilatildeo O nuacutemero de classificaccedilatildeo correspondia a sala armaacuterio ou estante Dewey introduziu a ideacuteia de se usar uma notaccedilatildeo para os assuntos em seu esquema e aplicar esta notaccedilatildeo aos livros e natildeo agraves prateleiras A notaccedilatildeo de Dewey permitiu a localizaccedilatildeo relativa dos livros Como o nuacutemero de classificaccedilatildeo passou a significar o assunto do livro ao inveacutes da estante onde o assunto estava localizado natildeo havia a necessidade de re-etiquetar livros ou re-classificar estantes quando livros fossem movidos Passou a existir uma sequecircncia uacutenica constantemente remanejada onde livros antigos podiam ser removidos novos inseridos mas a ordem geral natildeo era afetada e um livro uma vez classificado poderia reter seu nuacutemero de classificaccedilatildeo pela vida inteira O uso de nada mais do que numerais araacutebicos natildeo era usual naquele tempo A maioria dos esquemas de arranjo usava uma combinaccedilatildeo de numerais araacutebicos letras e numerais romanos com o tipo de caracter sendo trocado a cada passo da divisatildeo da classificaccedilatildeo ou para indicar a prateleira e a posiccedilatildeo do livro (LANDAU 1958 p 101-103 FOSKETT A C 1973 p 203-205) Dewey com seu conjunto de caracteres uacutenicos seu ponto decimal sua sequecircncia numeacuterica ininterrupta sua progressiva subordinaccedilatildeo mostrada pela notaccedilatildeo decimal e a faacutecil inserccedilatildeo de novos toacutepicos - ideacuteias realmente revolucionaacuterias - muito mais do que uma classificaccedilatildeo demonstrou um conceito pois ateacute entatildeo as bibliotecas se contentavam em repartir os livros em um pequeno nuacutemero de categorias 161 Pragmatismo esse termo foi introduzido na Filosofia em 1878 (considerada a data de nascimento do Pragmatismo) por um relatoacuterio de W James a Califoacuternia Union em que ele se referia agrave doutrina exposta por Peirce no ensaio intitulado Como tornar claras nossas Ideacuteias (1878) Na obra What Pragmatism Is (1905) Peirce distingue um Pragmatismo Metodoloacutegico que eacute substancialmente uma teoria do significado que evidencia o caraacuteter instrumental e operacional de todos os instrumentos do conhecer e um Pragmatismo Metafiacutesico que eacute uma teoria da realidade (verdade) que tem entre as suas teses a que consiste em reduzir verdade a utilidade e que procura evidenciar a dependecircncia de todos os aspectos do conhecimento em relaccedilatildeo as exigecircncias da accedilatildeo (ABBAGNANO 2003 p 784-785)

166

algarismos araacutebicos como decimais para classificar por assunto todo o

conhecimento humano impresso (na eacutepoca era costume arranjar os livros por ordem

alfabeacutetica formato cor ou data de aquisiccedilatildeo) o que demonstra que Dewey no plano

loacutegico apostava na expressividade da notaccedilatildeo decimal uniforme assim 723 significa

Arquitetura egiacutepcia dentro do quadro Arquitetura (73) e no contexto Belas Artes (7)

(MANIEZ 1993 p 74)

Sayers (1955a) historiou a classificaccedilatildeo e apontou para a natureza construiacuteda

das ordens do conhecimento mesmo quando ele se referia aos praacuteticos sistemas de

classificaccedilatildeo bibliograacutefica Baseando-se nas ideacuteias de Sayers pode-se dizer que as

classes principais e a ordem em que elas aparecem dentro dos esquemas

tradicionais de classificaccedilatildeo bibliograacutefica satildeo sempre construiacutedas produto de uma

visatildeo de mundo particular do seu criador que em niacutevel das ideacuteias reflete e reforccedila

as estruturas e o momento soacutecio-poliacutetico e histoacuterico da sociedade material do seu

tempo Os esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica como todas as outras

construccedilotildees sociais tambeacutem mudam ao longo do tempo sendo influenciados e

influenciando sistemas dentro dos quais operam Portanto o tratamento de

disciplinas e assuntos estaacute sujeito a transformaccedilotildees diacrocircnicas ou seja

transformaccedilotildees causadas por sua evoluccedilatildeo no tempo162 Bibliotecaacuterios enfatizam a

natureza pragmaacutetica dos esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica em geral mas

Pragmatismo eacute um termo escorregadio Ele eacute algumas vezes definido como aquilo

que eacute bom ou aquilo que funciona mas um enfoque criacutetico pode perguntar para

162 Um exemplo do que eacute classificado e do que natildeo eacute e como isso pode mudar com o tempo pode ser visto no tratamento dado pela CDD aos trabalhos de ficccedilatildeo usando indicadores histoacutericos e geograacuteficos Essa praacutetica natildeo comeccedilou com o intuito de analisar o assunto de ficccedilatildeo e conferir significado por meio da notaccedilatildeo Anaacutelise e classificaccedilatildeo de ficccedilatildeo tecircm tido historicamente uma relaccedilatildeo pobre mas em anos recentes isto tem mudado pois sistemas de recuperaccedilatildeo inovadores tais como Bookhouse e Book Forager (httpwwwbranching-outnetforager) tentam tratar as questotildees de significado e anaacutelise de assunto na ficccedilatildeo Essa mudanccedila de atitude no que diz respeito agrave ficccedilatildeo por bibliotecaacuterios e especialistas em recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo estaacute ligada ao tratamento mais generalista da ficccedilatildeo dentro da academia e da sociedade contemporacircnea ocidental (RAFFERTY 2001 p183) Nesta o interesse da ficccedilatildeo natildeo se explica somente pelos teoacutericos influenciados pela teoria poacutes-estruturalista que tecircm encorajado uma epistemologia generalista mas tambeacutem por que ler romance por prazer natildeo eacute mais considerado moralmente perigoso ou perda de tempo em uma sociedade capitalista que encoraja o lazer e os produtos de lazer A ficccedilatildeo tem valores econocircmicos e ideoloacutegicos no capitalismo contemporacircneo Bibliotecaacuterios estatildeo cada vez mais interessados em sistemas de recuperaccedilatildeo de informaccedilatildeo que facilitem o acesso agrave leitura de ficccedilatildeo e a encorajam talvez influenciados pelos sofisticados instrumentos de recuperaccedilatildeo implementados por livrarias online como a Amazoncom um endereccedilo eletrocircnico comercial que investe em informaccedilatildeo (informaccedilatildeo bibliograacutefica) e interpretaccedilatildeo (criacuteticas dos leitores) para fins econocircmicos O tratamento da ficccedilatildeo em bibliotecas espelha amplamente o tratamento da ficccedilatildeo na sociedade e influencia a sociedade como um todo por meio da educaccedilatildeo dos usuaacuterios das bibliotecas

167

quem eacute bom e para quem funciona O Pragmatismo estaacute muitas vezes preocupado

em manter o status quo em contrapartida pode divulgar uma determinada nova

ideologia por meio de decisotildees sobre classes principais divisotildees subdivisotildees e a

ordem dos assuntos

Sayers (1955b p 113) argumenta que o esquema de Dewey natildeo se baseou

em nenhuma ordem moderna de estudos nem representa ldquoo consenso moderno ou

a ordem na qual humanistas arranjam as ciecircncias e os estudos mais importantesrdquo

Nota-se que tanto Sayers como Dewey natildeo mencionaram que consenso ou uma

visatildeo teacutecnica das relaccedilotildees entre assuntos existe e deveria ser a base para organizar

artefatos materiais dentro dos quais o conhecimento reside na forma de textos

escritos A avaliaccedilatildeo de Sayers estava preocupada somente com a questatildeo de como

era atualizada a ordem do conhecimento

Mesmo um esquema de classificaccedilatildeo pragmaacutetico assenta-se sobre uma visatildeo

filosoacutefica do conhecimento A CDD tem sido criticada pelo seu ponto de vista

determinado culturalmente por exemplo Cristianismo eacute privilegiado na classe

Religiatildeo Esquecem-se de que a CDD eacute ideoloacutegica como todas as classificaccedilotildees satildeo

e neste sentido eacute um dos inuacutemeros discursos que ordenam e regulam a sociedade

O sistema eacute significativo pela sua popularidade e durabilidade Operando em

bibliotecas ele tanto impotildee como legitima a sua visatildeo de mundo particular quanto eacute

ao mesmo tempo um instrumento de dominaccedilatildeo e de capacitaccedilatildeo habilita usuaacuterios

a acessar documentos sem mediaccedilatildeo mas impotildee aos usuaacuterios a necessidade de

entender e pesquisar o conhecimento em documentos a partir dos pontos de vista

do sistema Essa qualidade ldquofaces-de-Janordquo163 eacute compartilhada com todos os

esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica

A ideologia da CDD estaacute relacionada ao Racionalismo Pragmatismo e senso

comum a sua visatildeo de mundo eacute ocidentalizada (e mais do que isto

norteamericana) ideal e positivista e a sua ordem do conhecimento atua em escala

global disseminada pelas bibliotecas como uma ferramenta de recuperaccedilatildeo da

informaccedilatildeo

163 Jano era o porteiro do ceacuteu Era ele que abria o ano cujo seu primeiro mecircs ateacute hoje o relembra Como divindade guardiatilde das portas era geralmente apresentado com duas faces pois todas as portas voltam-se para dois lados Os templos dedicados a Jano em Roma eram numerosos e as portas principais dos templos em tempo de guerra permaneciam abertas e em tempo de paz eram fechadas Em toda a histoacuteria romana poreacutem as portas soacute foram fechadas duas vezes uma no reinado de Numa e outra no reinado de Augusto (BULFINCH 1999 p 17)

168

O esquema de Dewey indica alguns dos princiacutepios da Teoria da Classificaccedilatildeo

que foram racionalizados mais tarde (tal como os princiacutepios do geral-antes-do-

especiacutefico da integridade dos nuacutemeros da maior especificidade da pureza da

notaccedilatildeo e da ecircnfase na praacutetica) mas que eram embasados principalmente no senso

comum (em interpretaccedilotildees preacute-cientiacuteficas ou quase-cientiacuteficas acerca da realidade)

do qual Dewey tinha uma total consciecircncia chegando mesmo a sustentar que ldquonatildeo

sacrificava a utilidade a fim de forccedilar os assuntos no leito decimal de Procustordquo164

(FOSKETT A C 1973 p 206) e que ldquoem todos os lugares verdade e teoria

filosoacuteficas tecircm produzido algo praacuteticordquo (MILLS 1960 p 58) Dewey natildeo parece ter

sido um grande teoacuterico mas foi um dos mais eneacutergicos fortes e inovadores homens

da sua geraccedilatildeo Somando-se ao seu trabalho na classificaccedilatildeo foi tambeacutem o

primeiro redator-chefe do Library Journal (1876) foi membro fundador da American

Library Association (1876) e um pioneiro da educaccedilatildeo bibliotecaacuteria ao fundar a

primeira escola de Biblioteconomia dos Estados Unidos (Columbia University) em

1887 (FOSKETT A C 1973 p 203) O que parece estar em curso com Dewey eacute

uma transiccedilatildeo das classificaccedilotildees embasadas na Filosofia para as classificaccedilotildees

pragmaacuteticas - ecircnfase na estrutura classificatoacuteria hieraacuterquica - o que sugere que o

classificador deve observar cada passo da cadeia para se certificar de todos os

passos relevantes Ele foi um inovador soube observar e pensar as circunstacircncias

do processo de classificaccedilatildeo e prever o seu desenvolvimento bem como praticar a

classificaccedilatildeo transformando-a em disciplina

A sugestatildeo de que existe uma base filosoacutefica no esquema tem sido

amplamente debatida e essa visatildeo (do presente) de acordo com alguns autores

parece forccedilada isto eacute tem sido imposta sobre um passado (amplamente

documentado) que jamais sacrificou a utilidade ou a funcionalidade da praacutetica em

funccedilatildeo da teoria enquanto outros pesquisadores sustentam a visatildeo da forte influecircncia

que as classificaccedilotildees das ciecircncias particularmente a de Huarte e a de Francis Bacon

tiveram sobre o esquema de Dewey

164 Procusto eacute um personagem mitoloacutegico que ldquovivia como bandoleiro na estrada que vai de Meacutegara a Atenas Possuiacutea dois leitos um grande e um pequeno Quando aprisionava os viandantes fazia deitarem os pequenos no leito grande e os altos no leito menor E para que chegassem a servir no leito cortava os peacutes de uns e estirava violentamente os outros com o que os matavardquo (GUIMARAtildeES 1999 p 264)

169

Eric de Grolier (1976 p 356) comenta o fato do sistema de Classificaccedilatildeo

Decimal de Dewey ter sido a princiacutepio condicionado pela cultura dos colleges165

(cujas bibliotecas apresentavam um misto de caraacuteter de biblioteca puacuteblica e escolar)

o que suscitou muitas controveacutersias No entanto apesar de todas as criacuteticas que

teoricamente justificadas poreacutem na praacutetica inoperantes denunciavam os seus

defeitos (nacionalismo manifesto em razatildeo de ao lugar preponderante reservado

aos temas relativos aos Estados Unidos caraacuteter arbitraacuterio de certas separaccedilotildees

como Linguiacutestica e Literatura Histoacuteria e Ciecircncias Sociais Liacutenguas e outras e falta de

idoneidade na sistematizaccedilatildeo com respeito ao estado dos conhecimentos

cientiacuteficos) o sistema que tambeacutem estava imbuiacutedo da cultura filosoacutefica estendeu-se

rapidamente na maioria das bibliotecas puacuteblicas e escolares166

Pode-se definir a CDD originalmente como um esquema enumerativo que

tem incorporado com os anos muitas caracteriacutesticas analiacutetico-sinteacuteticas

423 Construccedilatildeo

Um dos mais importantes aspectos do sucesso de Dewey na CDD foi mostrar

como o uso da divisatildeo decimal baacutesica que tem como base trecircs diacutegitos e subdivisatildeo

extensiva poderia proporcionar uma sequecircncia sistemaacutetica de assuntos detalhados

que refletiriam ou espelhariam essa maneira de classificaccedilatildeo e qual seria portanto

165 Uma instituiccedilatildeo de ensino superior que oferece programas de graduaccedilatildeo normalmente de dois a quatro anos de duraccedilatildeo que confere o grau de bachareacuteu em artes ou ciecircncias O termo ldquocollegerdquo pode tambeacutem ser usado em sentido geral para se referir a uma instituiccedilatildeo de ensino poacutes secundaacuterio (GLOSSARY OF TERMS Disponiacutevel emlthttpwwweducationusastategovgraduate glossaryhtmgt Acesso em 23 de novembro de 2007 Traduccedilatildeo livre da autora) Portanto o College uma instituiccedilatildeo imbuiacuteda totalmente da cultura americana tem por caracteriacutestica oferecer programas baacutesicos de graduaccedilatildeo de caraacuteter geral preferencialmente de dois anos 166 Haacute que se ter em conta que a CDD nasceu em um periacuteodo histoacuterico de grande desenvolvimento quando depois da Guerra Civil (1861-1865) o paiacutes recebe vinte milhotildees de imigrantes e surge uma grande induacutestria americana fundamentada no trabalho desses imigrantes Esses fatos acarretaram entre os imigrantes a formaccedilatildeo de grandes fortunas de um lado e de bolsotildees de pobreza de outro Foi nesse contexto que se deu a grande proliferaccedilatildeo de bibliotecas puacuteblicas e a elaboraccedilatildeo de um sistema de classificaccedilatildeo que recorria aos valores da sociedade americana Turner (1988 p77) tambeacutem acusa o predomiacutenio da ideologia americana ao dizer que a CDD eacute ldquopartidaacuteria dos americanos dos brancos dos anglo-saxotildees dos protestantes da classe meacutediardquo o que pode ainda ser estendido a conceitos como liberal e capitalista que se de um lado dava sustentaccedilatildeo aos conhecimentos na CDD por outro limitava a sua universalidade Poreacutem aqui cabe a ressalva de que as criacuteticas vaacutelidas no passado como a de ser um esquema excessivamente proacute-ocidente com ecircnfase nos Estados Unidos e na Histoacuteria americana na Religiatildeo cristatilde no tratamento desigual das disciplinas etc natildeo satildeo mais vaacutelidas pois os editores pouco a pouco eliminaram a tendenciosidade do esquema haacute um acompanhamento meticuloso das Religiotildees natildeo-cristatildes e as disciplinas tecircm recebido igual atenccedilatildeo quanto ao seu desenvolvimento O que permanece eacute a rigidez do sistema numeacuterico que obriga os editores quando tentam fazer coincidir as divisotildees do sistema com a fragmentaccedilatildeo da realidade a multiplicar o nuacutemero de divisotildees e a aumentar o iacutendice

170

o arranjo dos livros ou outros documentos tais como fichas catalograacuteficas num

padratildeo que seria reconhecido pelo especialista em qualquer assunto como

correspondendo agrave maneira pela qual ele pensava em relaccedilatildeo ao seu assunto O

campo do conhecimento avanccedila em complexidade e o que os especialistas

escrevem consiste muito mais de discussotildees de relaccedilotildees e interconexotildees que

subsistem entre entidades do que de meras descriccedilotildees das entidades Desse modo

tornou-se evidente a necessidade de um esquema de hierarquias167 de termos que

fosse mais do que uma imitaccedilatildeo da relaccedilatildeo gecircnero-espeacutecie Dewey compreendeu

que esse problema existia e providenciou tanto elementos de siacutentese quanto de

anaacutelises em suas tabelas168 Esse processo acarretou avanccedilos no processo

classificatoacuterio das classificaccedilotildees subsequentes

Essencialmente a CDD eacute uma classificaccedilatildeo com base no conhecimento

estruturada hierarquicamente consistindo de uma seacuterie de dez classes principais

que correspondem a disciplinas tradicionais ou aacutereas de estudo subdivididas

sucessivamente O desenvolvimento eacute ilimitado Quanto aos princiacutepios de divisatildeo

parecem provir da loacutegica da tradiccedilatildeo e da praacutetica Eacute por meio dessas subdivisotildees

que se forja quando necessaacuterio a inserccedilatildeo de novos assuntos os quais em outras

estruturas (tesauros por exemplo) teriam um tipo de relaccedilatildeo natildeo-hieraacuterquica

podendo mesmo ser considerados se for o caso como termos equivalentes Em

consequecircncia disso as classes principais que determinam todas as sub-classes de

niacutevel inferior partem de uma fragmentaccedilatildeo do saber (em disciplinas) comumente

admitida pelos especialistas da eacutepoca (proveniente de um meacutetodo rigoroso de

investigaccedilatildeo e de teorizaccedilatildeo) e natildeo de pontos de vista particulares sobre o universo

nem de uma fragmentaccedilatildeo natural da realidade tal como esta aparece

A respeito da macroestrutura da CDD pode-se dizer que Dewey

aparentemente natildeo deu uma grande contribuiccedilatildeo ao estabelecer a ordem (quadro

28) das suas classes principais (seguiu o consenso cientiacutefico e educacional do

Amherst College concebido no seacuteculo XIX) com as humanidades (Filosofia

167 Hierarquia eacute um conjunto de classes que mostram as suas relaccedilotildees de subordinaccedilatildeo e de superordenaccedilatildeo A subordinaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo de uma classe com a classe que a conteacutem exemplo a classe poodles eacute subordinada a classe catildees ou seja a relaccedilatildeo de um termo especiacutefico com um termo geneacuterico A superordenaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo de uma classe com outra classe nela contida exemplo a classe gatos eacute superordenada a classe gatos siamezes ou seja a relaccedilatildeo de um termo geneacuterico com um termo especiacutefico 168 As tabelas da CDD constituem uma ferramenta de trabalho amplamente documentada por inuacutemeras notas Segundo Maniez (1993 p 75) ldquomuitas mais do que a maioria dos tesaurosrdquo

171

Teologia Sociologia Linguagem Literatura Histoacuteria e outras) dispersas em vaacuterios

lugares a Linguagem e a Literatura amplamente separadas e todas as Ciecircncias

matemaacuteticas fiacutesicas e bioloacutegicas reduzidas a uma classe assim como Medicina

Engenharia Agricultura Administraccedilatildeo Tecnologia e Induacutestria Contudo conseguir

uma ordem satisfatoacuteria de classes principais eacute notoriamente difiacutecil ou impossiacutevel

(principalmente com o desenvolvimento das disciplinas ldquointerdisciplinaresrdquo) Cabe

dizer que na eacutepoca de sua criaccedilatildeo sendo o arcabouccedilo conceitual cientiacutefico mais

limitado do que eacute hoje o esquema disponiacutevel para a inclusatildeo de novos conceitos

natildeo permitia agraves vezes uma estruturaccedilatildeo hieraacuterquica rigorosa de acordo com uma

visatildeo mais moderna da ciecircncia e do conhecimento em geral

1876 (1ordfed) 1995 (20ordfed) 2003 (22ordfed)

000 Generalidades

100 Filosofia

200 Religiatildeo

300 Sociologia

400 Filologia

500 Ciecircncias Naturais

600 Artes Praacuteticas

700 Belas Artes

800 Literatura

900 Histoacuteria

000 Generalidades

100 Filosofia e Psicologia

200 Religiatildeo

300 Ciecircncias Sociais

400 Liacutenguas

500 Ciecircncias Naturais e Matemaacuteticas

600 Tecnologia (Ciecircncias Aplicadas)

700 Artes

800 Literatura

900 Geografia e Histoacuteria

000 Ciecircncia da Computaccedilatildeo

Informaccedilatildeo e Trabalhos Gerais

100 Filosofia e Psicologia

200 Religiatildeo

300 Ciecircncias Sociais

400 Liacutenguas

500 Ciecircncia

600 Tecnologia

700 Artes e Recreaccedilatildeo

800 Literatura

900 Histoacuteria e Geografia

QUADRO 28 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL DE DEWEY FONTE Dewey (1876 1995 2003)

A numeraccedilatildeo de base dez que pouco a pouco se havia imposto desde a

antiguidade estabeleceu-se para contar natildeo para ordenar como bem lembra

Maniez (1993 p 73) As antigas classificaccedilotildees do saber propunham como a

Retoacuterica antiga para todas as mateacuterias a divisatildeo tritocircnica (em trecircs partes) das quais

resultavam classes em nuacutemero variaacutevel que podiam se adequar agrave maioria dos

assuntos hoje reconhecidos Aristoacuteteles e Bacon entre outros tambeacutem utilizaram a

divisatildeo tritocircnica do conhecimento com base nas grandes faculdades mentais

humanas a aacutervore de Porfiacuterio (cf seccedilatildeo 2) usa um modelo dicotocircmico que eacute a

172

divisatildeo de cada conjunto em dois enquanto a classificaccedilatildeo do ser em Aristoacuteteles169

alcanccedila o nuacutemero de dez categorias ou atributos

A rigidez do sistema numeacuterico que obriga a deixar lugares vagos no esquema

tambeacutem dificulta fazer as divisotildees do esquema coincidir com a fragmentaccedilatildeo da

realidade Nota-se em alguns pontos da CDD principalmente nas tabelas como a de

subdivisotildees padratildeo170 (facetas comuns)171 entre outras e na Classe 400 - Liacutenguas

800 - Literatura e 900 - Histoacuteria desde a primeira ediccedilatildeo uma estrutura de facetas

Nesses casos ocorre uma manifestaccedilatildeo das categorias jaacute que satildeo elas que

ordenam os termos por meio de anaacutelise por facetas

Segundo A C Foskett (1973 p 206) Dewey natildeo percebeu a verdadeira

importacircncia desse fato cabendo a Ranganathan cerca de cinquenta anos mais tarde

tornar expliacutecito e generalizado o princiacutepio que se acha impliacutecito nesse exemplo bem

como em muitos outros aspectos Por exemplo (utilizando Dewey 22th ed 2003) a

obra Enciclopeacutedia Tecnoloacutegica do Seacuteculo XX ao ser analisada revela o que segue

Anaacutelise do conceito Tecnologia - seacuteculo XX - enciclopeacutedia

600 -0904 03

(classe) (auxiliar comum ou faceta) (auxiliar comum ou faceta)

Em que 600 - classe (Tecnologia)

-0904 - auxiliar comum ou faceta de tempo (seacuteculo XX)

03 - auxiliar comum ou faceta de tipo bibliograacutefico (enciclopeacutedia)

A notaccedilatildeo de acordo com as regras previstas por Dewey eacute 6090403 Nesse

exemplo pode-se observar como o 09 da subdivisatildeo padratildeo (Tabela I) age como um

indicador de faceta sinalizando a introduccedilatildeo de outra parte (novo aspecto ou faceta)

de um assunto complexo

A aplicaccedilatildeo da noccedilatildeo de categoria e faceta aparece de maneira clara na CDD

com a possibilidade conforme exemplo demonstrado a seguir mediante o emprego

de uma letra de permitir que a categoria ou faceta (liacutengua) escolhida ou favorecida

169 Cf nota 86 170 As subdivisotildees de forma (form subdivisions) foram renomeadas subdivisotildees padratildeo (standard subdivisions) na deacutecima seacutetima ediccedilatildeo quando ocorre uma revitalizaccedilatildeo no esquema 171 No Dewey o zero eacute algumas vezes descrito como um indicador de faceta De fato ele age como um indicador de faceta sinalizando a introduccedilatildeo de alguma nova subdivisatildeo de um assunto complexo

173

pelo classificador seja intercalada no iniacutecio da sequumlecircncia (quadro 29)

030 Obras enciclopeacutedicas gerais 9 Tratamento histoacuterico geograacutefico de pessoas

Classificar obras enciclopeacutedicas em liacutenguas especiacuteficas em 031-039 031-039 Em liacutenguas especiacuteficas Classificar aqui as enciclopeacutedias especiacuteficas e as obras sobre elas

Arrumar pela liacutengua em que foi originalmente escrita como abaixo mas para destacar a importacircncia local e compor um nuacutemero menor

para enciplopeacutedias numa liacutengua especiacutefica coloque-as em primeiro lugar com o emprego de uma letra ou outro siacutembolo Por exemplo Enciclopeacutedias em espanhol 03E (precedendo 031)

QUADRO 29 - EXEMPLO DA APLICACcedilAtildeO DA NOCcedilAtildeO DE CATEGORIA E DE FACETA NA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL DE DEWEY FONTE Dewey 1995 v2 p 55

Pode-se dizer que o sistema conteacutem mil classes divididas em dez classes

principais e que a sua ordem de dez classes principais eacute provavelmente a mais

familiar e tem afetado o modo pelo qual a maioria dos bibliotecaacuterios (e

possivelmente dos usuaacuterios) pensam em relaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo dos assuntos

Categoria natildeo eacute um conceito explicitado por Dewey apesar de estar presente

como jaacute mencionado tanto no esquema como nas tabelas como na de subdivisotildees

comuns (padratildeo) (Tabela 1) aacutereas geograacuteficas periacuteodos histoacutericos e pessoas

(Tabela 2) literaturas individuais e gecircneros literaacuterios especiacuteficos (Tabela 3) grupos

raciais e eacutetnicos (Tabela 4) e liacutenguas (Tabela 6)

424 Revisatildeo

O Editorial Office da CDD estaacute localizado na Biblioteca do Congresso dos

Estados Unidos - LC172 - desde 1972 permitindo melhor monitoramento das tendecircncias

e consequente inclusatildeo de novos toacutepicos o que significa a manutenccedilatildeo da garantia

literaacuteria173 que eacute parte essencial do aperfeiccediloamento de qualquer esquema Esse

suporte institucional eacute indubitavelmente uma das razotildees para o seu sucesso A

manutenccedilatildeo formal e a revisatildeo da classificaccedilatildeo eacute responsabilidade do Editorial

Policy Committee (EPC) O EPC inclui representantes do Online Computer Library

Center (OCLC) da LC da American Library Association (ALA) e do UK Chartered

172 Interessante notar que a maior interessada e ateacute mesmo responsaacutevel por boa parte da modernizaccedilatildeo da CDD desde a deacutecima quinta ediccedilatildeo tem sido a LC 173 Garantia literaacuteria (literary warrant) eacute o princiacutepio que requer que as classes nos sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica sejam embasadas em assuntos da literatura publicada preferencialmente sendo derivado de uma visatildeo filosoacutefica do conhecimento Essa loacutegica eacute demonstrada na LCC onde tradicionalmente classes satildeo criadas somente para acomodar itens na coleccedilatildeo da Biblioteca do Congresso (BROUGHTON 2004 p 303)

174

Institute of Library and Information Professionals mas tambeacutem conta com membros

representantes dos diversos tipos de bibliotecas que usam a CDD A CDD eacute

atualizada a cada sete anos e a sua versatildeo impressa estaacute agora na 22 ed A ediccedilatildeo

completa eacute publicada em quatro volumes v 1 Introduccedilatildeo manual e tabelas

auxiliares v 2 Esquemas 000-599 v 3 Esquemas 600-999 e v 4 Iacutendice relativo

(ONLINE 2007) Atualmente o OCLC publica a classificaccedilatildeo e manteacutem o WorldCat

uma base de dados de 54 milhotildees de registros com dados da CDD Esses dados estatildeo

disponiacuteveis em formato eletrocircnico desde 1993 Os produtos eletrocircnicos incluindo a

versatildeo em CD Dewey for Windows agora sendo substituiacutedo pela WebDewey o

equivalente online tecircm sido desenvolvidos para explorar todo o potencial dos novos

formatos (BATLEY 2005 p 27 BROUGHTON 2004 p 176-177 ONLINE 2007)

Registra-se ainda que a notaccedilatildeo da CDD (aleacutem da notaccedilatildeo da LCC) aparece em

todos os registros catalogados pela LC desde 1930 e desde 1971 em benefiacutecio da

normalizaccedilatildeo internacional a LC (FOSKETT A C 1973 p 212) adota-a para os

registros no sistema MARC174 - supremo reconhecimento

A classificaccedilatildeo de Dewey continua muito popular graccedilas a sua facilidade e

simplicidade de emprego em contraposiccedilatildeo agraves classificaccedilotildees consideradas mais

complexas como a Classificaccedilatildeo Decimal Universal (CDU) e a Classificaccedilatildeo de Dois

Pontos (CC) O que parece provar que no domiacutenio das aplicaccedilotildees profissionais os

fundamentos teoacutericos e o rigor loacutegico contam menos que a eficaacutecia e a simplicidade

da praacutetica Segundo A C Foskett (1973 p 207) o proacuteprio Dewey escreveu

ldquomesmo que as decisotildees tomadas natildeo tenham sido as melhores possiacuteveis todas as

finalidades praacuteticas estatildeo atendidasrdquo

43 CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL UNIVERSAL (CDU - 1905)

A histoacuteria e aplicaccedilatildeo os princiacutepios a construccedilatildeo e a revisatildeo da Universal

Decimal Classification (UDC) Classificaccedilatildeo Decimal Universal (CDU) satildeo tratados

nas subseccedilotildees que seguem

174 Bibliographic Machine-Readable Cataloging (MARC) Um registro MARC eacute um registro catalograacutefico legiacutevel por maacutequina - o que significa que um computador pode ler e interpretar dados em registros catalogados Um registro catalograacutefico eacute um registro bibliograacutefico ou a informaccedilatildeo tradicionalmente mostrada em fichas (WHAT is a 2007)

175

431 Histoacuteria

Paul Otlet (1869-1944) reconhecido pelo seu trabalho desenvolvido no

campo da bibliografia em Ciecircncias Sociais175 respeitado nos ciacuterculos da Ciecircncia da

Informaccedilatildeo como um pioneiro na recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo e aclamado como um

antecipador da teoria do hipertexto e o seu colega Henri La Fontaine (1854-1943)

ganhador do Precircmio Nobel da Paz em 1913 e dedicado ao International Peace

Bureau (IPB) - a mais antiga federaccedilatildeo internacional para a paz no mundo (1891)

foram os fundadores do International Institute of Bibliography (IIB) mais tarde FID

Os dois advogados belgas conceberam a ideacuteia de organizar um repertoacuterio

bibliograacutefico universal isto eacute uma bibliografia de todos os trabalhos publicados em

qualquer lugar do mundo desde a invenccedilatildeo da imprensa - um projeto que somente

foi possiacutevel cem anos atraacutes As ideacuteias e praacuteticas enlaccediladas pelo termo

documentaccedilatildeo introduzido por Otlet e La Fontaine para descrever o trabalho do IIB

175 No fim do seacuteculo XIX sob a influecircncia do positivismo de Comte havia uma primazia da Sociologia entre as ciecircncias e essas encontravam-se impregnadas de um caraacuteter positivo e documentaacuterio o que transparece nas ideacuteias de Otlet e na nova ciecircncia a Documentaccedilatildeo (atividade e conceito cunhado por Otlet em 1904 que tinha como meta reunir documentos escritos imagens esquemas mapas tabelas entre outros) O livro para Otlet configurava-se em um disseminador inadequado do conhecimento se natildeo fosse decomposto em itens de informaccedilatildeo registrados em separado e recompostos de diferentes formas para uma comunicaccedilatildeo mais efetiva e uso mais apropriado Boyd Rayward (2001 apud RAFFERTY 2001 p188) tem argumentado que Otlet era motivado por uma visatildeo utoacutepica e emancipatoacuteria do que o mundo poderia se tornar se houvesse maior e mais efetivo acesso internacional ao conhecimento e se as forccedilas intelectuais e poliacuteticas no mundo fossem coordenadas de acordo com planos que se relacionavam com a criaccedilatildeo e operaccedilatildeo de instituiccedilotildees internacionais construiacutedas nos moldes da Liga das Naccedilotildees as quais poderiam se comunicar e trabalhar juntas para a paz Otlet estava interessado em capturar o sentido essencial dos documentos e as suas relaccedilotildees porque acreditava que o povo natildeo tinha tempo para ler enorme proliferaccedilatildeo de informaccedilatildeo e que podia ser ajudado se estivesse conectado a uma maciccedila bibliografia de sumaacuterios dos conteuacutedos dos documentos Ele era suficientemente positivista para acreditar que nos documentos a despeito de erros e opiniotildees jaz o cerne da verdade na forma de fatos e eram os fatos que ele estava interessado em identificar e representar Ele imaginava a sua linguagem classificatoacuteria sendo usada para representar os fatos encontrados no documento original Os siacutembolos da CDU estariam formando uma linguagem cientiacutefica que acabaria com as ambiguidades e complexidades da linguagem natural (RAYWARD 2001) Entre os teoacutericos da classificaccedilatildeo Otlet e Ranganathan estavam particularmente interessados na notaccedilatildeo da classificaccedilatildeo como praacutetica significante Para Otlet (socialista e pacifista europeu do seacuteculo XIX) o foco estava na comunicaccedilatildeo intersubjetiva traduccedilatildeo comunicaccedilatildeo e compreensatildeo das linguagens humanas a fim de facilitar o entendimento internacional Ranganathan (matemaacutetico influenciado pela cultura hindu e pela filosofia metafiacutesica) via tambeacutem a possibilidade da notaccedilatildeo servir como linguagem internacional mas aleacutem disso estava interessado na traduccedilatildeo da linguagem privada da consciecircncia individual e a partir dessa consciecircncia como tornar-se um com o mundo para alcanccedilar uma linguagem simboacutelica sinteacutetica e pura O foco estava na possibilidade de produzir signos que significassem aspectos da consciecircncia individual natildeo apenas significados por meio da linguagem Eacute interessante notar que o projeto da CDU foi desenvolvido aproximadamente no mesmo periacuteodo histoacuterico em que se iniciaram as discussotildees do enfoque analiacutetico filosoacutefico da linguagem de Bertrand Russell e Ludwig Wittgenstein

176

constitui de acordo com Rayward (1997 p 289) parodiando Focault uma nova

formaccedilatildeo discursiva numa eacutepoca em que a terminologia hoje proacutepria da Ciecircncia da

Informaccedilatildeo natildeo estava em uso O interesse inicial em construir essa bibliografia

partiu do conceito que Otlet e La Fontaine tinham sobre o estado de desorganizaccedilatildeo

da literatura em Ciecircncias Sociais Esse vasto projeto necessitava de uma ferramenta

eficiente de recuperaccedilatildeo de informaccedilatildeo Para tanto procuraram um sistema para a

organizaccedilatildeo de assuntos da sua bibliografia pois o arranjo alfabeacutetico nem foi

cogitado para empreendimento de tal envergadura

Na busca por orientaccedilatildeo para desenvolver as entradas dos assuntos

tomaram conhecimento da CDD entatildeo na sua quinta ediccedilatildeo (1894) O propoacutesito

original era usar uma versatildeo da CDD modificada e expandida para organizar a

bibliografia universal (McILWAINE 2000 p 1) Estudando o sistema ao mesmo

tempo em que ficaram impressionados com a riqueza do material natildeo encontraram

na CDD exatamente o que procuravam e com autorizaccedilatildeo do proacuteprio Dewey

realizaram alteraccedilotildees e adiccedilotildees (uso de um enfoque facetado para possibilitar

empreender anaacutelises de assunto altamente detalhadas) para criar o que foi a 1ordf

ediccedilatildeo da CDU176 (quadro 30)

176 O resultado desse trabalho foi publicado pelo IIB sediado em Bruxelas em 1905 sob o tiacutetulo de Manuel du Reacutepertoire Bibliographique Universel e em 1907 surgiu a reimpressatildeo dessa ediccedilatildeo do Repertoacuterio em forma de cataacutelogo sistemaacutetico (SAN SEGUNDO MANUEL 1996 BATLEY 2005 p 81) Embora o Instituto que se tornou conhecido como FID tivesse que abandonar o cataacutelogo em fichas que incluiacutea mais de 12 milhotildees de entradas por volta de 1921 o legado de Otlet e La Fontaine continua nas formas materiais do esquema de Classificaccedilatildeo CDU e da Federaccedilatildeo Internacional de Associaccedilotildees de Bibliotecaacuterios e Bibliotecas (IFLA) que opera como uma organizaccedilatildeo internacional promovendo a cooperaccedilatildeo e encorajando o estudo a pesquisa e o desenvolvimento da Biblioteconomia e da Ciecircncia da Informaccedilatildeo A partir de 1992 a CDU deixou de ser controlada pela FID e passou a ser administrada pelo Universal Decimal Classification Consortiom (UDCC) da qual a FID continuou fazendo parte aceitando apenas correccedilotildees e expansotildees na liacutengua inglesa (liacutengua oficial do Consoacutercio) francesa e alematilde No entanto com a extinsatildeo da FID (2000-2001) a IFLA assume a responsabilidade pelo Consoacutercio CDU o qual possibilita o acesso e a utilizaccedilatildeo da Tabela de Classificaccedilatildeo Decimal Universal pelas bibliotecas ao redor do mundo e pelas bibliotecas brasileiras por intermeacutedio do IBICT

177

1927-1933 (2ordf ed) 2003 (pocket ed)

0 Generalidades

1 Filosofia

2 Religiatildeo

3 Ciecircncias Sociais

4 Filologia

5 Ciecircncias Naturais

6 Ciecircncias Aplicadas

7 Belas Artes e Esportes

8 Literatura

9 Histoacuteria e Geografia

0 Generalidades

1 Filosofia (incluindo Psicologia)

2 Religiatildeo

3 Ciecircncias Sociais

4 [vazio apoacutes realocaccedilatildeo de Filologia

atualmente em desenvolvimento]

5 Ciecircncia

6 Tecnologia

7 Artes (incluindo Recreaccedilatildeo e Esportes)

8 Liacutengua e Literatura

9 Geografia Histoacuteria Biografia

QUADRO 30 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL UNIVERSAL FONTE CDU 1927-1933 (Conteacutem aproximadamente 40000 subdivisotildees) UDC 2003 (Versatildeo abreviada tambeacutem conhecida como abridget edition com aproximadamente 4000 classes)

A CDU desde o comeccedilo convergia para uma classificaccedilatildeo muito detalhada

destinada agrave compilaccedilatildeo de uma bibliografia de material fugidio natildeo meramente um

dispositivo para ordenar documentos em estantes Cedo indicadores de facetas foram

adotados e sobrou pouco dos conceitos originais de Dewey como o niacutevel dos trecircs diacutegitos

432 Princiacutepios

Adotada a mesma base do esquema de Dewey no iniacutecio do seacuteculo XX a

CDU de 1905 tambeacutem se propunha a classificar todos os campos do

conhecimento sendo construiacuteda sob os princiacutepios da divisatildeo cientiacutefica do

conhecimento No entanto com objetivos mais ambiciosos ela apresenta uma

mudanccedila em relaccedilatildeo agrave primeira classificaccedilatildeo

aumento da capacidade de siacutentese ou seja possibilidade de representar assuntos complexos e de classes diferentes por meio de mecanismos de combinaccedilatildeo incorporaccedilatildeo do princiacutepio de anaacutelise por facetas princiacutepio que permite uma anaacutelise multidimensional dos assuntos (TAacuteLAMO KOBASHI LARA 1995 p 55)

A macroorganizaccedilatildeo da CDU funda-se na organizaccedilatildeo loacutegico-hieraacuterquica de

suas unidades A delimitaccedilatildeo de classes de assuntos eacute feita a partir de pontos de

vista determinados (CINTRA 1994 p 41) O esquema da CDU eacute portanto muito

mais flexiacutevel do que um esquema somente enumerativo

178

A CDU eacute a uacutenica entre os esquemas tradicionais que natildeo foi originalmente

planejada como uma ferramenta para arranjar uma coleccedilatildeo fiacutesica de documentos

nas prateleiras das bibliotecas ou para organizar um cataacutelogo de fichas e mais do

que isso para reunir documentos sobre o mesmo assunto - princiacutepio monograacutefico de

Otlet Como consequecircncia as decisotildees que eram tomadas a respeito da estrutura e

funccedilatildeo da classificaccedilatildeo naquele tempo colocavam ecircnfase no seu uso como uma

ferramenta de recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo ldquoO pensamento de Otlet natildeo se

direcionava para a organizaccedilatildeo dos livros nas estantes (esse assunto ocupa uma

uacutenica paacutegina no lsquoTratadorsquo) mas agrave organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo seu acesso e

principalmente o estabelecimento de relaccedilotildees entre os dados informacionais

visando o uso da informaccedilatildeordquo (TAacuteLAMO et al 2002) Portanto gerar um sistema de

relacionamento entre os documentos em razatildeo dos assuntos presentes neles -

semente da ideacuteia do uso de descritores - foi a sua grande contribuiccedilatildeo somada agrave

habilidade de tornar possiacutevel descriccedilotildees muito detalhadas de assuntos

particularmente de assuntos complexos mesmo que isso tenha sido conseguido agraves

expensas da simplicidade da notaccedilatildeo de acordo com Broughton (2004 p 207) Fla

(1966 p 14) e Robredo e Cunha (1994 p 211)

433 Construccedilatildeo

Adaptaccedilatildeo do sistema de Dewey a CDU retoma as classes principais da CDD

(reflete disciplinas tradicionais) e a sua notaccedilatildeo decimal A Classificaccedilatildeo de estrutura

hieraacuterquica segue uma ordem sistemaacutetica que parte do geral para o particular do

todo para a parte do gecircnero para a espeacutecie etc poreacutem se afasta do modelo

original

a) por um sistema de subdivisatildeo muito mais avanccedilado que permite

anaacutelises das mateacuterias em profundidade chegando a um niacutevel de

detalhamento como no exemplo 69161341rsquo32rsquo28 = utilizaccedilatildeo de

vidro que contenha oacutexidos de siliacutecio de potaacutessio e de caacutelcio na

construccedilatildeo (UDC 2003)

b) pela importacircncia maior da sintaxe uma vez que na CDD jaacute existiam

possibilidades de construccedilatildeo graccedilas agraves subdivisotildees comuns que satildeo

retomadas pela CDU por meio de signos especiais que autorizam

toda uma seacuterie de procedimentos sintaacuteticos que multiplicam as

possibilidades de combinaccedilotildees (estrutura facetada) como no

179

exemplo 63486588 = marketing e vendas da produccedilatildeo de vinhos -

ou 65886348 (6348 vinhedos e 6588 marketing e vendas)

(UDC 2003)

c) por inovaccedilotildees na subdivisatildeo e na notaccedilatildeo pois a subdivisatildeo jaacute natildeo eacute

rigorosamente decimal e sim praticada em razatildeo da necessidade

como por exemplo 0182 = propriedades mecacircnicas (divisatildeo

analiacutetica da metalurgia) 66971 = alumiacutenio (iacutendice principal) assim

669710182 = propriedades mecacircnicas do alumiacutenio (UDC

2003)

Em resumo a CDU conserva uma estrutura monohieraacuterquica para os iacutendices

principais mas tanto a importacircncia atribuiacuteda aos iacutendices secundaacuterios quanto as

facilidades de siacutenteses conduzem a uma construccedilatildeo mista monohieraacuterquica para o

essencial e analiacutetico-sinteacutetica na utilizaccedilatildeo de facetas para as chamadas divisotildees

analiacuteticas e para as divisotildees comuns A principal inovaccedilatildeo reside na possibilidade de

formar novos assuntos pela coordenaccedilatildeo de vaacuterios iacutendices o que aproxima a CDU

das linguagens combinatoacuterias Juntando ao iacutendice principal o sufixo apropriado

compotildee-se livremente um novo iacutendice e essa combinaccedilatildeo que organiza um nuacutemero

consideraacutevel de iacutendices virtuais economiza iacutendices reais nas tabelas177 Poreacutem a

CDU ainda estaacute muito longe da estrutura de um tesauro longe inclusive do iacutendice da

CDD mas parece que para o Consoacutercio responsaacutevel pela CDU o papel do iacutendice eacute

secundaacuterio e a ecircnfase eacute dada na recuperaccedilatildeo pelas tabelas (BATLEY 2005 p 103

BROUGTON 2004 p 211 DUBUC 1973 p 84 MANIEZ 1993 p 87-89) A primeira divisatildeo em dez classes principais reflete amplamente o seu

parentesco com a CDD sendo que a maior mudanccedila em relaccedilatildeo agrave CDD eacute reunir

Liacutengua e Literatura na Classe 8 deixando a Classe 4 vazia178 Haacute poreacutem uma

importante diferenccedila entre os dois esquemas enquanto a CDD eacute perfeitamente

adequada para classificaccedilotildees gerais pois natildeo tem profundidade de cobertura para

toacutepicos especializados a CDU permite uma classificaccedilatildeo mais detalhada com a

incorporaccedilatildeo de muitas caracteriacutesticas de classificaccedilatildeo facetada com o uso

177 As Tabelas Sistemaacuteticas (Systematic Tables) contecircm as classes principais da classificaccedilatildeo e um grande nuacutemero de tabelas auxiliares O Iacutendice possibilita a localizaccedilatildeo de um toacutepico a verificaccedilatildeo do contexto apropriado e a consulta a vaacuterias notas explanaccedilotildees e instruccedilotildees Inclui tambeacutem muitos exemplos de combinaccedilatildeo 178 A Classe 4 pode vir a ser ocupada no futuro pela Medicina uma classe muito ampla que estaacute atualmente sendo extensamente revisada (httpwwwudccorg 2006 BROUGHTON 2004 p 209)

180

extensivo de siacutenteses para criar notaccedilotildees para assuntos compostos eacute essa

caracteriacutestica que torna a CDU desejaacutevel para coleccedilotildees especializadas

A CDU eacute um excelente exemplo de um tipo de esquema de classificaccedilatildeo

conhecido como analiacutetico-sinteacutetico - um esquema no qual um assunto complexo

pode ser fragmentado (analisado) em suas partes constituintes e um nuacutemero de

classificaccedilatildeo preciso pode ser construiacutedo (sintetizado) das notaccedilotildees das diferentes

partes Por exemplo (utilizando a Universal Decimal Classification Pocket Edition

2003) a obra A Girafa na Arte e na Histoacuteria ao ser analisada revela o que segue

Anaacutelise do conceito girafa - Arte - Histoacuteria

Nuacutemero da CDU 5997354 7 94

(classe) (classe) (classe)

Nuacutemero de classificaccedilatildeo 5997354794 na qual o sinal de relaccedilatildeo () eacute

utilizado para unir conceitos em relaccedilatildeo muacutetua

Em contraste com uma classificaccedilatildeo enumerativa (na qual somente os

nuacutemeros de classificaccedilatildeo que estatildeo listados satildeo vaacutelidos) o esquema analiacutetico-

sinteacutetico permite que novas classes sejam criadas pelo classificador O nuacutemero

potencial de classes eacute consequentemente muito maior do que aquele listado nos

esquemas ou planos impressos179

A notaccedilatildeo180 usada na CDU eacute expressiva e emprega numerais araacutebicos que

podem ser reunidos (quadro 31) por sinais de pontuaccedilatildeo siacutembolos auxiliares

considerados um conjunto de facetas comuns e indicadores de facetas os quais

permitem fazer siacutenteses - significar os relacionamentos entre conceitos - e relacionar

de diversas formas os nuacutemeros usados nas tabelas para construir nuacutemeros de

classificaccedilatildeo mais complexos e precisos (BATLEY 2005 McILWAINE 2000)

179 Entretanto a CDU permanece sendo uma classificaccedilatildeo hierarquizada e enumerativa como todas as classificaccedilotildees claacutessicas 180 A operaccedilatildeo de classificar com as tabelas da CDU deve comeccedilar por assinalar o nuacutemero da classe temaacutetica e acrescentar se necessaacuterio os auxiliares segundo o criteacuterio geral da CDU ou seja do mais geral ao mais particular ponto de vista lugar tempo forma idioma e todos os demais auxiliares de menor envergadura

181

DENOMINACcedilAtildeO E EMPREGO SIacuteMBOLO TABELA Adiccedilatildeo (o mais (+) coordena ou liga dois assuntos (conceitos)

distintos (separados no esquema) - eacute usado preferencialmente ao

() soacute quando dois assuntos satildeo tratados independentemente no

mesmo documento Ele visa ampliar com mais precisatildeo cada

elemento do assunto A sua intercalaccedilatildeo ocorre antes do primeiro

nuacutemero sozinho)

+ (Tabelas 1a e 1b)

Extensatildeo consecutiva (a barra obliacutequa () reuacutene nuacutemeros da

CDU que ocupam lugares sucessivos Onde o sinal de mais

reuacutene classes adjacentes a barra obliacutequa pode ser usada em seu

lugar A sua intercalaccedilatildeo ocorre tambeacutem antes do primeiro

nuacutemero sozinho)

(Tabelas 1a e 1b)

Nuacutemero simples sem siacutembolos

Relaccedilatildeo (o dois pontos () une dois nuacutemerosconceitos e denota

alguma relaccedilatildeo geral entre eles Eacute o mais comum dispositivo de

ligaccedilatildeo ou siacutentese na CDU e tambeacutem o mais impreciso)

(Tabelas 1a e 1b)

Igualdade (auxiliares comuns sistemaacuteticas de Liacutengua) =hellip (Tabela 1c)

Parecircntese zero (auxiliares comuns sistemaacuteticas de Forma) (0) (Tabela 1d)

Parecircntese (auxiliares comuns sistemaacuteticas de Lugar) (19) (Tabela 1e)

Parecircntese igualdade (auxiliares comuns sistemaacuteticas de Raccedila

grupos eacutetnicos e nacionalidade)

(= hellip) (Tabela 1f)

Aspas (auxiliares comuns sistemaacuteticas de Tempo) ldquohelliprdquo (Tabela 1g)

Coacutedigos natildeo-CDU etc AZ (Tabela 1h)

Traccedilo zero (auxiliares de caracteriacutesticas gerais)

Traccedilo zero trecircs (auxiliares comuns de materiais)

Traccedilo zero cinco (auxiliares comuns de pessoas)

-0 hellip

(Tabela 1k)

Traccedilo (auxiliares especiais) -19

Ponto zero zero (auxiliares comuns de ponto de vista) 00

Apoacutestrofo (concentraccedilatildeo ou fusatildeo de conceitos) lsquo

QUADRO 31 - SIacuteMBOLOS DA NOTACcedilAtildeO DA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL UNIVERSAL NA ORDEM EM QUE APARECEM NO ESQUEMA FONTE a autora NOTA Os sinais de ligaccedilatildeo da CDU satildeo a chave que a habilita a organizar coleccedilotildees especializadas Eles provecircm o classificador com uma ferramenta poderosa com a qual descrever assuntos em detalhes Satildeo os sinais de ligaccedilatildeo que aproximam a CDU dos esquemas de classificaccedilatildeo facetados e transformam o continuum da classificaccedilatildeo de enumerativa a facetada

Segundo Grolier (1976 p 344 Traduccedilatildeo livre da autora) as tabelas auxiliares

constituem uma inovaccedilatildeo mais consideraacutevel na teacutecnica taxonocircmica que tudo o que

se devia a Dewey O princiacutepio de classificaccedilatildeo segundo os pontos de vista e o

estabelecimento de relaccedilotildees entre os pontos simples para formar iacutendices que

correspondam a mateacuterias complexas que com frequecircncia poreacutem erroneamente se

atribui a Ranganathan e a sua Classificaccedilatildeo Facetada estaacute integralmente no artigo

182

de Otlet de 1896181

Pode-se dizer que eacute tambeacutem a partir das tabelas auxiliares (divisotildees

analiacuteticas) - liacutengua forma lugar nacionalidade tempo entre outros auxiliares

especiais - que emerge a noccedilatildeo de faceta como uma manifestaccedilatildeo das categorias

Os responsaacuteveis pelos sistemas de classificaccedilatildeo normalmente sugerem uma

ordem padratildeo para nomear assuntos com base em categorias Desse modo

McILWAINE (2000) recomenda na construccedilatildeo da notaccedilatildeo na CDU a aplicaccedilatildeo da

seacuterie coisa - espeacutecie - parte - material - propriedade - processo - operaccedilatildeo - agente -

espaccedilo - tempo

434 Revisatildeo

Hoje todas as ediccedilotildees e traduccedilotildees do esquema satildeo controladas pelo

Universal Decimal Classification Consortium (UDCC) (httpwwwudccorg) A

versatildeo eletrocircnica autorizada da classificaccedilatildeo estaacute sediada na base de dados em

Haia (Holanda) e eacute conhecida como Master Reference File (MRF) Ela conteacutem cerca

de 65000 classes que satildeo a base para a publicaccedilatildeo de traduccedilotildees pelos membros

do Consoacutercio Cada paiacutes tem o seu proacuteprio comitecirc nacional da CDU que se reportam

ao de Haia No Brasil em 1974 foi criado o Instituto Brasileiro de Bibliografia e

Documentaccedilatildeo (IBBD) e a Comissatildeo Brasileira da CDU vinculada ao IBBD A partir

de 1976 o IBBD passou a ser denominado IBICT Em 2007 o IBICT no intuito de

atualizar essa ferramenta que eacute a CDU publica a segunda ediccedilatildeo padratildeo-

internacional em liacutengua portuguesa (UDC Consortium 2007)

O esquema tem crescido por decisotildees ad hoc Alteraccedilotildees ao esquema e

novos planos de trabalho satildeo publicados anualmente no boletim da CDU Extensions

and Corrections to the UDC mais conhecida pela sigla EampC (BATLEY 2005

BROUGHTON 2004)

Observa-se que a estrutura principal dos esquemas gerais de organizaccedilatildeo do

conhecimento como CDD e CDU natildeo mudou muito desde 1850 O que muda e

aumenta satildeo as subclasses dentro da estrutura

181 OTLET P Sur la structure des nombres classificateurs Bulletin de lrsquoInstitut International de Bibliographie La Haye v 1 p 230-243 1895-1896

183

44 CLASSIFICACcedilAtildeO EXPANSIVA (EC -1891)

A histoacuteria e aplicaccedilatildeo os princiacutepios e a construccedilatildeo da Expansive

Classification (EC) Classificaccedilatildeo Expansiva de Charles Ammi Cutter satildeo tratados

nas subseccedilotildees que seguem

441 Histoacuteria

Sob a influecircncia da CDD (considerada inadequada e natildeo-aplicaacutevel a

determinados tipos de biblioteca) e embasado em sua experecircncia (necessidade que as

bibliotecas tinham de dispor de um esquema classificatoacuterio de conformidade com o

nuacutemero de obras que possuiacuteam) Charles Ammi Cutter (1837-1903) bibliotecaacuterio

erudito norteamericano deu iniacutecio em 1880 agrave implantaccedilatildeo de um sistema proacuteprio na

organizaccedilatildeo dos documentos da Biblioteca do Athenaeum de Boston Em 1891 sob o

tiacutetulo Expansive Classification (EC)182 Classificaccedilatildeo Expansiva Cutter publica a

primeira ediccedilatildeo (expansatildeo) do esquema (SAN SEGUNDO MANUEL1996 p 86)

442 Princiacutepios

Cutter elabora as suas dez classes principais tomando como base o sistema de

Bacon apenas de modo invertido Eacute uma classificaccedilatildeo do tipo filosoacutefico e natildeo do tipo

praacutetico sendo considerada como a mais erudita das classificaccedilotildees Eacute um sistema que

segue a ideacuteia evolucionista na disposiccedilatildeo geral de suas classes as quais procuram

sempre seguir a ordem natural das coisas e acontecimentos Cada aspecto de cada

assunto aparece na mesma ordem que segundo a teoria evolucionista teria aparecido

na criaccedilatildeo vai do simples para o complexo Como exemplo cita-se a Zoologia que vai

dos protozoaacuterios para os primatas terminando com a Antropologia (MANN 1962 p 97

SOUZA J S 1952 p 70)

443 Construccedilatildeo

A ideacuteia baacutesica do sistema consiste em uma organizaccedilatildeo de extensatildeo

crescente (expansiva) com sete tabelas classificatoacuterias separadas A primeira delas

(quadro 32) eacute muito simples e soacute aplicaacutevel a pequenas bibliotecas ela consiste em

dez classes e natildeo compreende subdivisotildees

182 CUTTER C A Expansive classification Boston [sn] 1891 A expressatildeo classificaccedilatildeo expansiva adveacutem dos diversos esquemas desenvolvidos gradualmente para dar conta das diversas fases de desenvolvimento da biblioteca

184

CLASSES AcircMBITO A Obras gerais e de referecircncia B Filosofia e Religiatildeo E Ciecircncias histoacutericas F Histoacuteria G Geografia e Viagens H Ciecircncias Sociais L Ciecircncias e Artes Belas Artes X Filologia (com notaccedilatildeo auxiliar a indicar a liacutengua a que o assunto se refere) Y Literatura (com notaccedilatildeo auxiliar a indicar a liacutengua e o gecircnero)

Ex YY - Literatura norteamericana em liacutengua inglesa YYP - Poesia norteamericana em liacutengua inglesa

YF Ficccedilatildeo QUADRO 32 - CLASSES PRINCIPAIS DA PRIMEIRA TABELA DE CUTTER FONTE Phillips (1961 p 84)

A sexta tabela ou expansatildeo (quadro 33) eacute a mais completa conteacutem vinte e seis divisotildees (classes) e apresenta numerosas subdivisotildees (os seis primeiros sistemas foram publicados juntos em Boston com um iacutendice relativo comum sob o tiacutetulo Expansive Classification the First Six Classification em 1893) Cutter morreu quando estava terminando a sua seacutetima tabela em 1903 e as classes jaacute concluiacutedas foram publicadas sob a supervisatildeo do seu filho W P Cutter (MIKSA 1980 p 169-170 PENNA 1960 p 172 SAN SEGUNDO MANUEL1996 p 87-88)

CLASSES AcircMBITO A Obras gerais B Filosofia Religiatildeo C Cristianismo Judaiacutesmo D Ciecircncias Histoacutericas E Bibliografia F Histoacuteria G Geografia Viagens H Ciecircncias Sociais I Sociologia J Administraccedilatildeo Puacuteblica Governo etc K Legislaccedilatildeo L Ciecircncias Artes M Histoacuteria Natural N Botacircnica O Zoologia P Vertebrados Q Medicina R Artes Aplicadas Tecnologia S Construccedilotildees Engenharia Edificaccedilatildeo T Ofiacutecios Manufaturas U Arte Ciecircncias Militares V Atletismo Arte Recreativa W Belas Artes X Linguagem Y Literatura Z Arte do Livro Bibliografia Biblioteconomia

QUADRO 33 - CLASSES PRINCIPAIS DA SEXTA TABELA DE CUTTER FONTE San Segundo Manuel (1996 p 87-88)

185

A notaccedilatildeo da EC183 eacute breve e simples consiste no emprego de letras do

alfabeto latino fazendo uso de maiuacutesculas para as classes principais e para as

subdivisotildees empregam-se letras maiuacutesculas de tamanho mais reduzido as quais

seguindo um desenvolvimento mnemocircnico satildeo as proacuteprias iniciais dos termos em

inglecircs Existem subdivisotildees de forma (19) e auxiliares de lugar cujas notaccedilotildees satildeo

numeacutericas e servem para fazer subdivisotildees nas aacutereas de Geografia Histoacuteria Liacutengua

e Literatura e outras Por exemplo o assunto ldquoBibliografia dos museus brasileirosrdquo

ao ser analisado revela o que segue

Anaacutelise do conceito Museus - Brasil - Bibliografia

Siacutembolos da EC A (Obras gerais) 99 2

(classe) (auxiliar de lugar) (subdivisatildeo de forma)

AM (Museus)

(subdivisatildeo da classe A)

Notaccedilatildeo AM992

Levando em consideraccedilatildeo que F representa Histoacuteria W Pintura e 83 os

Estados Unidos a notaccedilatildeo F83 aplica-se agrave Histoacuteria dos Estados Unidos e WP83 agrave

pintura norteamericana

Da mesma maneira como na CDD a noccedilatildeo de categoria emerge por meio das

subdivisotildees de forma e dos auxiliares comuns

A grande transcendecircncia desse sistema aleacutem do seu valor histoacuterico e de

haver sido projetado para bibliotecas pequenas e escolares estaacute no seu emprego na

Biblioteca do Congresso (LC) jaacute que exerceu grande influecircncia na Classificaccedilatildeo da

Biblioteca do Congresso (LCC) cujas classes principais satildeo muito similares agraves do

sistema de Cutter

45 CLASSIFICACcedilAtildeO DA BIBLIOTECA DO CONGRESSO (LCC - 1902)

A histoacuteria os princiacutepios a construccedilatildeo e a revisatildeo da Classificaccedilatildeo da

Biblioteca do Congresso satildeo tratados nas subseccedilotildees que seguem

451 Histoacuteria

A Library of Congress (LC) a Biblioteca do Congresso foi fundada por ato do

Congresso americano em janeiro de 1802 (com uma coleccedilatildeo de 740 livros

adquiridos pelo Senador Samuel Dexter nos anos anteriores) e em abril o 183 O esquema conta com um iacutendice alfabeacutetico que remete agrave notaccedilatildeo

186

bibliotecaacuterio John Beckley estava apto a publicar o primeiro cataacutelogo no qual o

arranjo das estantes era por tamanho

Em 1812 uma abordagem de assunto foi aplicada pela primeira vez agrave

coleccedilatildeo a classificaccedilatildeo usada sendo a da Library Company of Philadelphia uma

biblioteca de pesquisa independente Essa classificaccedilatildeo baseou-se numa adaptaccedilatildeo

do sistema de Bacon usado na Encyclopeacutedie de Diderot e drsquoAlembert A LC usava

somente 18 das 31 classes principais da Philadelphia e cada classe de livros era

subdividida por tamanho e arranjada alfabeticamente Em 1814 a LC foi incendiada

pelos britacircnicos e a maioria da coleccedilatildeo perdida Thomas Jefferson oferece ao

Congresso a sua coleccedilatildeo organizada por um sistema proacuteprio de 44 classes

principais novamente embasada na classificaccedilatildeo de BacondrsquoAlembert e em 1815 o

Congresso compra a coleccedilatildeo O desenvolvimento da Library of Congress Classification

(LCC) Classificaccedilatildeo da Biblioteca do Congresso pode ser traccedilado desde o final do

seacuteculo XIX mais precisamente a partir de 1897 quando se comeccedilou a discutir um

plano de reorganizaccedilatildeo de todo o acervo da LC tendo em vista a construccedilatildeo da

nova biblioteca Em 1899 Herbert Putman (novo bibliotecaacuterio da LC) e equipe

encarregados do projeto consideraram a adoccedilatildeo de um novo esquema

classificatoacuterio jaacute que na eacutepoca estavam disponiacuteveis sistemas classificatoacuterios

bibliograacuteficos em adiccedilatildeo a esquemas filosoacuteficos como o de Bacon Os esquemas

considerados foram Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey Classificaccedilatildeo Expansiva de

Cutter e o Esquema Halle de Hartwig (Hartwigrsquos Halle Schema utilizado na biblioteca

da universidade alematilde de Halle) Dessas diferentes possibilidades a Classificaccedilatildeo

Expansiva de Cutter foi escolhida por ser a mais apropriada para as necessidades

do Congresso e porque Cutter mostrou mais disposiccedilatildeo do que os outros dois

compiladores a fazer modificaccedilotildees em seu sistema para acomodar a Library of

Congress A CDD foi rejeitada sob o argumento de que era um lsquosistema limitado e

feito para acomodar a notaccedilatildeo e natildeo a notaccedilatildeo se acomodar agrave classificaccedilatildeorsquo Em

1901 uma decisatildeo eacute tomada e o objetivo inicial eacute mudado de ldquoencontrar a melhor

soluccedilatildeo para a coleccedilatildeo e natildeo criar uma nova classificaccedilatildeordquo para ldquodesenvolver um

novo sistema de classificaccedilatildeo especificamente para a LCrdquo Estaacute claro um seacuteculo

mais tarde que a Classificaccedilatildeo Expansiva teve uma consideraacutevel influecircncia no novo

esquema - principalmente na ordem das classes - e que a nova classificaccedilatildeo teve

ampla difusatildeo (BROUGHTON 2004 p 144)

A LCC eacute incomum entre os esquemas gerais porque ela foi originalmente

187

concebida para uma biblioteca uacutenica184 sem expectativa de vir a ser usada em

qualquer outra Entretanto desde as guerras mundiais principalmente desde a

Segunda Guerra Mundial muitas bibliotecas americanas decidiram mudar para a LCC

alegando a sua crescente popularidade entre bibliotecas universitaacuterias e de colleges

Um forte fator na decisatildeo de adaptar as suas coleccedilotildees a uma nova classificaccedilatildeo foi

tambeacutem a possibilidade de fazer uso do serviccedilo de fichas da LC evitando o trabalho de

recatalogaccedilatildeo dos livros nas diferentes bibliotecas Houve um esforccedilo para mostrar que

a mudanccedila se justificava natildeo soacute pelo aspecto praacutetico dos custos mas tambeacutem por ser

teoricamente aceitaacutevel e rigorosa Com o tempo transformou-se num dos trecircs

esquemas dominantes no mundo ocidental A fragilidade do esquema estaacute na carecircncia

de alguma conexatildeo maior entre as classes natildeo haacute facetas comuns nem iacutendice geral

Isso costuma ser superado pelo bibliotecaacuterio que usa a Lista de Cabeccedilalhos de

Assunto da LC uma praacutetica frequentemente inevitaacutevel poreacutem natildeo muito segura

A LCC eacute mais aplicada a grandes coleccedilotildees de bibliotecas universitaacuterias e

nacionais ainda que ela seja a escolha preferida de inuacutemeras bibliotecas puacuteblicas ou

escolares principalmente nos Estados Unidos sendo largamente utilizada nos Estados

Unidos Canadaacute Austraacutelia e Gratilde-Bretanha

452 Princiacutepios

Eacute difiacutecil discernir qualquer princiacutepio teoacuterico na LCC a despeito dela

apresentar algumas caracteriacutesticas distintas eacute uacutenica por ser uma classificaccedilatildeo

desenvolvida tendo somente uma coleccedilatildeo em mente e eacute fundamentada na maior

coleccedilatildeo de livros do mundo Eacute evidente que ela natildeo almeja uma organizaccedilatildeo

sistemaacutetica do saber Pretende tatildeo somente ser uma ferramenta para uma

organizaccedilatildeo praacutetica das obras da LC - primazia da praacutetica sobre a sistematizaccedilatildeo A

sua estrutura eacute ditada pela organizaccedilatildeo da biblioteca e natildeo por consideraccedilotildees

teoacutericas Esse aspecto pragmaacutetico retoma o ideaacuterio de Dewey Isso significa que na

LCC as consideraccedilotildees satildeo em relaccedilatildeo a grupos de livros e natildeo a grupos de

assuntos ou seja existe a primazia dos livros sobre as disciplinas Tal fato eacute visiacutevel

na construccedilatildeo das tabelas da LCC A ordem alfabeacutetica eacute usada excessivamente o

que eacute um reflexo da preocupaccedilatildeo americana com palavras em oposiccedilatildeo agrave

classificaccedilatildeo de conceitos (relembrando a corrente do nominalismo) e eacute uma

184 A LC biblioteca que congrega dois grandes objetivos ser a Biblioteca Nacional e a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos

188

desvantagem particularmente no uso de tecnologias A LCC estaacute frequentemente

mais preocupada com localizaccedilatildeo nas estantes e natildeo com classificaccedilatildeo ou

recuperaccedilatildeo de informaccedilatildeo

453 Construccedilatildeo

O esquema segue aproximadamente as classes principais de Cutter exceto

para Artes que se encontra no meio do esquema em vez de no fim Pouca atenccedilatildeo

eacute dada agrave ordem das classes principais visto que a LC eacute completamente

departamentalizada Cada classe eacute trabalhada separadamente a vantagem eacute que o

esquema acomoda bem literatura de imaginaccedilatildeo (ficccedilatildeo) e as necessidades

potenciais de usuaacuterios boa para grandes bibliotecas com poderosas coleccedilotildees

Observa-se que as criacuteticas os problemas de construccedilatildeo e necessidades de

adaptaccedilatildeo para muitas bibliotecas que tecircm adotado a LCC satildeo irrelevantes para a

LC tendo em vista que o esquema foi concebido para determinada biblioteca

A LCC conta com 21 classes principais que vatildeo de A a Z (quadro 34) e a

sequecircncia de ordenaccedilatildeo da LC iniciada pelas Humanidades seguida das Ciecircncias

Sociais reflete naturalmente a sua origem de especialidade em legislaccedilatildeo e aacutereas afins

Quando a LC incorporou a coleccedilatildeo pessoal do presidente Thomas Jefferson depois do

incecircndio expandiu o seu acervo para Artes Ciecircncia e Tecnologia

A General Works B Philosophy Psychology Religion C Auxiliary Sciences of History D History (General) and History of Europe E History America (General) F History America (EEUU) G Geography Anthropology Recreation H Social Sciences J Political Science K Law L Education M Music and Books on Music N Fine Arts P Language and Literature Q Science R Medicine S Agriculture T Technology U Military Science V Naval Science Z Bibliography Library Science Information

Resources (General) QUADRO 34 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DA BIBLIOTECA DO CONGRESSO FONTE Batley (2005 p 60-69)

189

Segundo vaacuterios autores entre eles Maniez (1993 p 114) Penna (1960 p

174) San Segundo Manuel (1996 p 93) e Serrai (1977 p 281) a LCC eacute efetiva

expansiva e permite grande atualizaccedilatildeo Poreacutem as suas classes desde a sua

criaccedilatildeo estatildeo impregnadas de valores conceitos e toacutepicos americanos (o que

coloca os Estados Unidos no centro do universo185) ela eacute pouco sistemaacutetica e o seu

esquema enumerativo resulta em rigidez e falta de hospitalidade O sistema estaacute

composto de classificaccedilotildees especiacuteficas para cada mateacuteria e entre elas natildeo existe

conexatildeo A independecircncia de cada grupo temaacutetico geral eacute grande pois desde o

projeto primitivo equipes especializadas trabalham isoladamente (o que explica o

fraco grau de inter-relacionamaento entre classes) e publicam suas tabelas de modo

totalmente independente As vaacuterias classes do esquema devem ser consideradas

separadamente como um esquema individual mas com a ampla garantia literaacuteria

(literary warrant) de todos Assim um assunto (disciplina classe) pode estar sendo

publicado em sua deacutecima ediccedilatildeo enquanto outros estariam em suas terceiras ou

quartas ediccedilotildees

Cabe frisar que natildeo se trata de um sistema classificatoacuterio conjunto e unitaacuterio

ao contraacuterio eacute um conjunto ou seacuterie de classificaccedilotildees amplas e especiais que natildeo

constituem em consequecircncia um compecircndio de disciplinas do conhecimento ou

seja o sistema eacute composto de classificaccedilotildees especiacuteficas para cada disciplina entre

as quais natildeo existem interconexotildees Inclusive as divisotildees (de forma) que trazem de

modo subjacente a noccedilatildeo de faceta e de categoria satildeo proacuteprias de cada classe o

que torna o esquema muito volumoso

454 Revisatildeo

A Cataloging Services Division da LC eacute responsaacutevel pela manutenccedilatildeo e

administraccedilatildeo geral da classificaccedilatildeo sendo uma enorme publicaccedilatildeo multi-volumes -

volumes individuais que satildeo atualizados quando necessaacuterio Em 2002 surgiu a

Classweb uma versatildeo online da LCC que convive com a versatildeo impressa

Alteraccedilotildees e adiccedilotildees agrave classificaccedilatildeo satildeo documentadas no Cataloging Services

Bulletin e incorporadas na Classweb (httpwwwlocgov)

185 A CDD padece do mesmo mal

190

46 CLASSIFICACcedilAtildeO DE ASSUNTOS DE BROWN (BSC - 1906)

A histoacuteria os princiacutepios a construccedilatildeo e a revisatildeo da Brown

Subject Classification (BSC) Classificaccedilatildeo de Assuntos de Brown satildeo tratados nas

subseccedilotildees que seguem

461 Histoacuteria

A Classificaccedilatildeo de Brown foi primeiramente publicada em 1906 e representou

a culminacircncia de um interesse que datava do iniacutecio de 1890 quando o bibliotecaacuterio

britacircnico James Duff Brown (1861-1914) estava preparando a introduccedilatildeo do sistema

de livre-acesso em Clerkenwell Brown fez duas tentativas antes de compilar a

Brown Subject Classification (Classificaccedilatildeo de Assuntos ou Classificaccedilatildeo Temaacutetica)

Em 1894 a Quinn-Brown Classification foi publicada em colaboraccedilatildeo com John

Henry Quinn seguida pela Adjustable Classification (Classificaccedilatildeo Ajustaacutevel ou

Adaptaacutevel) em 1898 A uacuteltima foi desenvolvida a partir do esquema Quinn-Brown e

as classes principais e divisotildees visavam tatildeo somente atender as necessidades das

pequenas bibliotecas municipais da Inglaterra (LANDAU 1958 p 292)

Stewart (1914 p 239-242) fala da preocupaccedilatildeo de Brown em 1897 com a

grande perda de eficiecircncia das bibliotecas em razatildeo da inadequaccedilatildeo dos arranjos de

livros existentes A classificaccedilatildeo de Dewey tornava-se cada vez mais popular

embora houvesse reclamaccedilotildees que o esquema dava excessiva ou inapropriada

proeminecircncia agraves caracteriacutesticas e feitos americanos Brown decidiu construir um

esquema simples loacutegico e praacutetico que viesse ao encontro das necessidades das

bibliotecas britacircnicas de todos os tipos e tamanhos (BROWN 1906 Preface)

462 Princiacutepios A Classificaccedilatildeo de Assuntos surgiu como uma reaccedilatildeo ao esquema de

classificaccedilatildeo de Dewey Iniciou portanto a partir de uma negaccedilatildeo A ideacuteia principal eacute

que os assuntos (as classes) satildeo concretos As subdivisotildees de um assunto satildeo

aspectos desse concretismo (primazia do que eacute concreto) e satildeo tratadas numa

combinaccedilatildeo de esquemas principais e tabelas categoriais o que permite o uso de

indicador de faceta (+) para ligar dois assuntos coordenados A ideacuteia de tabelas

categoriais estaacute sintonizada com a Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo (cf subseccedilatildeo 41)

ou seja com a ideacuteia de conferir autonomia ao classificador para fazer as combinaccedilotildees

do que ele considera ser os assuntos O grande problema estaacute na carecircncia de meacutetodos

191

de combinaccedilatildeo autorizados A ideacuteia de Brown de divisotildees artificiais entre assuntos

teoria e aplicaccedilatildeo eacute uma das maiores deficiecircncias do esquema

Brown natildeo defendeu qualquer teoria para o seu esquema de classificaccedilatildeo mas

defendia certos princiacutepios de classificaccedilatildeo razatildeo pela qual natildeo deve ser totalmente

ignorado no estudo da Classificaccedilatildeo

a) colocaccedilatildeo da teoria antes da praacutetica pela disposiccedilatildeo das ciecircncias

junto da qual elas derivam

b) inclusatildeo de toacutepicos que permeiam todo o conhecimento na classe

Generalidade por exemplo Educaccedilatildeo A100 e Loacutegica e Matemaacutetica

A400 satildeo consideradas ciecircncias que estatildeo presentes no

conhecimento em geral e precedem as ciecircncias que satildeo aplicaccedilotildees

dessas

c) teoria do lugar uacutenico (one place theory) a qual recomenda que

somente um lugar deve existir para um assunto assim o nuacutemero para

cafeacute no iacutendice eacute E917 e esta notaccedilatildeo deve reunir tudo o que se

relaciona a cafeacute natildeo importando ponto de vista forma ou outra

qualificaccedilatildeo186

d) uma tabela de categorias (detalahada a seguir) e formas para a

subdivisatildeo dos assuntos

e) um iacutendice de lugar uacutenico com uma chave alfabeacutetica separada para

as tabelas categoriais

f) classificaccedilatildeo de livros de assuntos compostos (vaacuterios assuntos) pela

reuniatildeo das classes por meio do sinal de adiccedilatildeo (+) por exemplo

Loacutegica e Retoacuterica A300 + M170

g) a sequecircncia das classes principais segue a ordem do agrupamento

mais amplo ou geneacuterico 1 Mateacuteria 2 Vida 3 Mente e 4 Registro

Na introduccedilatildeo do seu esquema Brown relata que rdquocada classe eacute arranjada

tanto quanto possiacutevel for mantecirc-la em uma ordem sistemaacutetica de progressatildeo

cientifica enquanto aplicaccedilotildees diretamente derivadas de uma ciecircncia ou outra base

186 Foi com base nesse princiacutepio que Brown afirmou que todos os trabalhos relativos a um assunto simples deviam permanecer juntos e justapostos a outros trabalhos livros ou toacutepicos a ele relacionados Estava convencido de que as principais divisotildees do esquema de classificaccedilatildeo satildeo suscetiacuteveis de muitas mudanccedilas mas o assunto especiacutefico natildeo deve mudar assumindo portanto no seu esquema a relatividade dos sistemas de classificaccedilatildeo Esse novo meacutetodo de uniatildeo de todos os aspectos de um assunto em um lugar possibilitou a negaccedilatildeo do meacutetodo da classificaccedilatildeo feita por especialistas

192

teoacuterica satildeo embasadas naquela ciecircncia ou baserdquo As palavras significativas satildeo ldquotanto

quanto possiacutevel for mantecirc-lardquo (BROWN 1906 Introduction p 11) pois Brown deixa

de lado todas as outras consideraccedilotildees para preservar essa progressatildeo cientiacutefica

Muacutesica segue Acuacutestica extintores de incecircndio e equipamentos para fogo

tornam-se uma divisatildeo de Calor sateacutelites satildeo derivados da Meteorologia enquanto

briga de buacutefalo e corrida de cachorro satildeo partes da Biologia Brown sofreu criacuteticas

por levar essa teoria a extremos mas eacute inegaacutevel o valor dos seus princiacutepios agrave

classificaccedilatildeo

As falhas mais seacuterias na subdivisatildeo de classes satildeo a inutilidade da ordem em

Ciecircncia Poliacutetica e Social a rejeiccedilatildeo de um consenso na construccedilatildeo da classe

Generalidade e o arranjo alfabeacutetico de Poesia Drama e Ensaios

A notaccedilatildeo consiste de letras capitais A-X seguidas por nuacutemeros 000-999 Um

sinal de pontuaccedilatildeo () age como um dispositivo de separaccedilatildeo

A tabela categorial consiste de uma lista de formas fases pontos de vista e

qualificadores para as subdivisotildees de assuntos Os seus nuacutemeros vatildeo de 0

(Generalidades) a 975 (Ocidente) e Brown alega que ela se aplica mais ou menos a

todo assunto ou subdivisatildeo de um assunto Para Butcher (1971 p 369) esse

procedimento eacute confuso ambiacuteguo impreciso e desnorteante pois muitos nuacutemeros

categoriais satildeo supeacuterfluos na praacutetica e natildeo podem ser razoavelmente combinados

com alguns nuacutemeros de assuntos enquanto existe o perigo de adicionar de maneira

prematura partes componentes ou elementos em uma composiccedilatildeo quando o passo

fundamental na divisatildeo ainda natildeo foi feito Outra desvantagem da tabela eacute que em

alguns casos mais do que um nuacutemero categorial eacute necessaacuterio Isso leva a notaccedilotildees

confusas e longas

Brown tentou construir um esquema de classificaccedilatildeo que reunisse tudo

relativo a um assunto em um lugar constante ou infaliacutevel Por causa desse princiacutepio

a rede de relaccedilotildees eacute relegada a uma significaccedilatildeo secundaacuteria e a chance de distribuir

relaccedilotildees no iacutendice eacute pequena O iacutendice da BSC registra todas as palavras dos

assuntos que ocorrem nas tabelas e muitos sinocircnimos Tambeacutem age como um guia

para alguns toacutepicos natildeo-numerados tais como eventos histoacutericos em paiacuteses de

regime monaacuterquico O criteacuterio essencial para usar o iacutendice de Brown eacute conhecer o

seu ponto de vista a respeito do princiacutepio de subordinaccedilatildeo universal como por

exemplo Arquitetura ser um assunto concreto tangiacutevel soacutelido fiacutesico material real

precedido pela Matemaacutetica

193

Natildeo haacute literalmente recursos mnemocircnicos no esquema de Brown e a ajuda

da memoacuteria deriva principalmente de caracteriacutesticas sinteacuteticas tais como nuacutemeros

categoriais e de paiacuteses (nacionais)

Segundo Butcher (1971 p 369) natildeo seria absurdo dizer que a BSC reflete as

limitaccedilotildees da abordagem de Brown para a classificaccedilatildeo bibliograacutefica Ele era

essencialmente um homem praacutetico com uma tendecircncia agrave improvisaccedilatildeo e possuidor

de uma determinaccedilatildeo poderosa para resolver qualquer problema que despertasse a

sua atenccedilatildeo O seu envolvimento no campo da classificaccedilatildeo emanou de

consideraccedilotildees praacuteticas e ele acreditava que os pontos que ele advogava isto eacute

localizaccedilatildeo uacutenica aproximccedilatildeo da teoria com a sua aplicaccedilatildeo e um iacutendice simples

livraria os bibliotecaacuterios das dificuldades associadas ao arranjo de livros

Pode-se dizer que Brown em alguma medida foi bem sucedido em alguma

medida em seu tempo desenvolveu uma classificaccedilatildeo bibliograacutefica sistemaacutetica

tentou simplificar o trabalho profissional da classificaccedilatildeo de livros demonstrou a

possibilidade de caracteriacutesticas sinteacuteticas promoveu uma efetiva notaccedilatildeo mista e

focou a sua atenccedilatildeo na necessidade de esquemas que respeitassem o consenso

comum e o obedecessem Apesar de o esquema estar fortemente influenciado pelo

pensamento intelectual do periacuteodo a enumeraccedilatildeo limitada de compostos (partes

combinadas) antecipou o desenvolvimento da anaacutelise em facetas e revelou uma

tentativa de agrupamento contribuindo com novos meacutetodos de organizaccedilatildeo para a

Teoria da Classificaccedilatildeo

463 Construccedilatildeo

Na construccedilatildeo do seu esquema Brown foi guiado pela experiecircncia praacutetica que

ele ganhou na preparaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo dos esquemas Quinn-Brown e Ajustaacutevel mas

eacute provaacutevel que ele tenha sido influenciado pelo esquema de Dewey e pelos escritos

de Paul Otlet sobre classificaccedilatildeo

A ordem das classes principais eacute embasada em MATEacuteRIA VIDA MENTE e

REGISTRO (Matter Life Mind Record) ou seja o esquema de Brown agrupa os termos

pelas categorias conceituais ldquoMateacuteria e Forccedilardquo ldquoVidardquo ldquoMenterdquo ldquoRegistrordquo e ordena-os de

maneira a mostrar suas relaccedilotildees geneacutericas Com esse procedimento Brown pretende

colocar cada tema o mais proacuteximo possiacutevel da ciecircncia que o fundamenta (SAN

SEGUNDO MANUEL 1996 p 93) Tal esquema tem como base evitar a designaccedilatildeo de

um lugar concreto para cada livro (como faz a classificaccedilatildeo decimal) o que eacute substituiacutedo

por uma certa ordem de classes e uma certa ordem loacutegica (quadro 35)

194

TABLE OF MAIN CLASSES

ORDEM DE CLASSES ORDEM LOacuteGICA A Generalia Generalidade B-D Physical Science MATTER AND FORCE Ciecircncias Fiacutesicas MATEacuteRIA E FORCcedilA E-F Biological Science LIacuteFE Ciecircncias Bioloacutegicas VIDA G-H Ethnological and Medical Science Ciecircncias Meacutedicas e Etnoloacutegicas I Economic Biology and Domestic Arts Biologia Econocircmica e Artes Domeacutesticas J-K Philosophy and Religion MIND Filosofia e Religiatildeo MENTE L Social and Political Science Ciecircncias Sociais e Poliacuteticas M Language and Literature RECORD Liacutengua e Literatura REGISTRO N Literary Forms Gecircneros Literaacuterios O-W History Geography Histoacuteria Geografia X Biography Biografia

QUADRO 35 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DE ASSUNTOS DE BROWN FONTE Landau (1958 p 292) Butcher (1971 p 368)

A notaccedilatildeo das classes principais eacute alfabeacutetica de A a X exceccedilatildeo agrave letra Y e agrave Z

que natildeo satildeo usadas A subdivisatildeo dessas classes eacute numeacuterica de 000 a 999 (PHILLIPS

1961 p 124) Por exemplo

Manual da Constituiccedilatildeo de 1918

Ciecircncias Sociais e Poliacuteticas L (classe principal)

Constituiccedilotildees 202 (subdivisatildeo da classe principal L)

Manual 3 (subdivisatildeo de forma)

1918 sa (subdivisatildeo cronoloacutegica)

Notaccedilatildeo L2023sa

As classes compreendidas entre O e W ou seja a Histoacuteria e a Geografia satildeo

representadas acrescentando-se o nuacutemero 10 para indicar Histoacuteria e o 23 para indicar

Geografia Existem ainda subdivisotildees geograacuteficas com uma notaccedilatildeo alfanumeacutercia por

exemplo

Geografia da Europa

O-W (classes principais de Histoacuteria e Geografia)

Q000 (subdivisatildeo geograacutefica Europa)

195

23 (Geografia)

Notaccedilatildeo Q00023

Histoacuteria da Inglaterra de 1900

O-W (classes principais de Histoacuteria e Geografia)

U301 (subdivisatildeo geograacutefica Inglaterra)

10 (Histoacuteria)

ri(subdivisatildeo cronoloacutegica 1900)

Notaccedilatildeo U30110ri

Observa-se no quadro 35 que para Brown categorias satildeo macroestruturas

utilizadas na agregaccedilatildeo das classes principais da BSC Satildeo onze classes principais

distribuiacutedas segundo quatro categorias Mateacuteria e Forccedila (representadas pela Fiacutesica)

Vida (representada pelas Ciecircncias Bioloacutegicas) Mente (representada pela Filosofia

Religiatildeo Ciecircncias Sociais e Poliacuteticas) e Registro (representado por Liacutengua

Literatura Formas Literaacuterias Histoacuteria Geografia e Biografia) A base do sistema da

BSC segue a ordem do aparecimento das coisas no tempo a Mateacuteria e a Forccedila geram

a Vida essa produz Inteligecircncia e a Inteligecircncia o Registro dos fatos (PHILLIPS 1961

p 110-111) Em 1651 na classificaccedilatildeo filosoacutefica dos seres de Hobbes havia uma

loacutegica desse tipo segundo a qual o ser da mateacuteria (Mateacuteria e Forccedila) se revela na sua

extensatildeo (Vida ou realidade do corpo e da mente) e no seu movimento (Registro ou

espaccedilo e tempo como reflexos do movimento)

Esse conceito de categoria coincide com antigos conceitos filosoacuteficos (cf nota

90) O que Brown chama de categoria pode ser considerado como uma agregaccedilatildeo

particular de grandes classes Percebe-se que Brow equipara o conceito de categoria

ao de classe maior

Embora prevaleccedilam as consideraccedilotildees de ordem praacutetica e utilitaacuteria (cf

Butcher p 192 193194) pode-se dizer que a sequecircncia de ordenaccedilatildeo do esquema

de classificaccedilatildeo de Brown estaacute na mesma linha de raciociacutenio que embasou o

esquema de Dewey Inicia pelas Ciecircncias Fiacutesicas e Bioloacutegicas seguidas das

Ciecircncias Humanas e Sociais terminando nos Registros do conhecimento ou seja

nas diferentes maneiras de expressatildeo humana Assim sendo o que acaba por

justificar a introduccedilatildeo de Brown na discussatildeo das classificaccedilotildees bibliograacuteficas

claacutessicas eacute a semelhanccedila com o sistema de Dewey ou seja o pragmatismo

196

464 Revisatildeo

A Classificaccedilatildeo de Brown teve trecircs ediccedilotildees a primeira em 1906 a segunda

ediccedilatildeo do esquema revisada por Brown foi publicada logo apoacutes a sua morte em

1914 e a terceira ediccedilatildeo editada por J D Stewart apareceu em 1939 e incluiacutea

mudanccedilas e alteraccedilotildees sugeridas por bibliotecaacuterios de vaacuterias instituiccedilotildees do Reino

Unido que ainda usavam o esquema

A Classificaccedilatildeo de Assuntos desapareceu como classificaccedilatildeo praacutetica mesmo

nas bibliotecas em que foi introduzida pelo proacuteprio Brown Natildeo houve qualquer

interesse em escrever uma Teoria da Classificaccedilatildeo que fornecesse a base de

qualquer meacutetodo escolhido por Brown para o seu esquema

Eacute interessante notar que um esquema desenhado para uso praacutetico

permanece de interesse principalmente para propoacutesitos teoacutericos ou acadecircmicos

47 CLASSIFICACcedilAtildeO DOS DOIS PONTOS (CC - 1933)

A histoacuteria os princiacutepios a construccedilatildeo e a revisatildeo da Colon Classification

(CC) Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos satildeo tratados nas subseccedilotildees que seguem

471 Histoacuteria

A Colon Classification (CC) ou Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos elaborada por

Shiyali Ramamrita Ranganathan (1892-1972) quando retorna agrave India depois do

periacuteodo de estudos com Berwick Sayers na Inglaterra estudos fundamentados na

Teoria da Classificaccedilatildeo que tinha por suporte a loacutegica aristoteacutelica constitui o primeiro

sistema de classificaccedilatildeo bibliograacutefica geral embasado no princiacutepio analiacutetico-sinteacutetico

(esquema facetado ou de anaacutelise187 por facetas) o que significou uma revoluccedilatildeo na

construccedilatildeo de esquemas classificatoacuterios tornando-se um marco histoacuterico na Teoria da

Classificaccedilatildeo A CC foi primeiramente concebida em 1924 e publicada em 1933 pela

Madras Library Association Por volta dos anos 50 do seacuteculo XX Ranganathan obteacutem

o reconhecimento internacional para o seu sistema de classificaccedilatildeo Segundo Satija e

Singh (1993 preface) no iniacutecio de sua implantaccedilatildeo houve uma total rejeiccedilatildeo da

classificaccedilatildeo facetada por parte dos Estados Unidos mas ao longo do tempo

verificou-se que a anaacutelise por facetas passou a exercer uma influecircncia consideraacutevel

187 O uso do termo anaacutelise eacute um substituto para o uso do antigo termo divisatildeo porque divisatildeo implica a quebra de uma entidade elementar enquanto o termo anaacutelise tem uma conotaccedilatildeo de grande extensatildeo e pode ser aplicado ao estudo de entidades complexas

197

natildeo soacute nas revisotildees e modernizaccedilotildees da CDD como tambeacutem na teoria e praacutetica da

classificaccedilatildeo na Gratilde-Bretanha Ruacutessia China Yugoslaacutevia Dinamarca entre outros Na

Iacutendia a CC eacute de fato o sistema de classificaccedilatildeo nacional

O CRG declarou que iniciava para a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo a era da

classificaccedilatildeo facetada (CLASSIFICATION 1955 p 262-268)

A CC natildeo era um esquema derivado hierarquicamente mas um conjunto de

tabelas independentes que podiam ser usadas em combinaccedilatildeo para subdividir os

assuntos A diferenccedila baacutesica entre uma classificaccedilatildeo facetada e uma meramente

enumerativa eacute que na facetada os termos satildeo enumerados listados detalhados

especificados catalogados como termos elementares e natildeo satildeo combinados formando

termos complexos para inserccedilatildeo nas listas do esquema (FOSKETT A C1972)

A fim de encontrar uma base teoacuterica para a escolha e sequecircncia de facetas

no esquema Ranganathan encontrou a soluccedilatildeo ao relacionar o termo facetas a um

conjunto de noccedilotildees abstratas fundamentais que chamou de categorias time space

energy matter e personality (PMEST)188 Cada faceta de uma classe baacutesica eacute

considerada como uma manifestaccedilatildeo concreta de uma dessas categorias Natildeo haacute

duacutevida de que essas categorias fundamentais satildeo facilmente identificaacuteveis em

alguns assuntos e particularmente em Ciecircncia e Tecnologia Desafortunadamente

natildeo eacute tatildeo faacutecil a sua aplicaccedilatildeo nas Ciecircncias Sociais e nas Humanidades189 O CRG

188 Conforme Vickery (1958 apud GROLIER 1962 p 49) pode-se identificar a categoria personalidade agrave ideacuteia de substacircncia aristoteacutelica Para Grolier no entanto em personalidade satildeo tratados os objetos de estudo de uma disciplina determinada tal como eles servem comumente de base agrave divisatildeo tradicional dessa disciplina ou como a CC considera como mais praacutetica Segundo o seu ponto de vista a personalidade natildeo eacute assim considerada como tendo valor teoacuterico mas como constituindo uma simples etiqueta colocada sobre as caracteriacutesticas das coisas de modo mais ou menos arbitraacuterio para constituir as divisotildees hieraacuterquicas de primeiro niacutevel numa classificaccedilatildeo que procura exprimir diferentes pontos de vista mas que admite como indispensaacutevel a existecircncia de uma ordem fixa e imutaacutevel entre os seus elementos Segundo Grolier as divisotildees sob personalidade nas diversas classes principais da CC mostram que se trata apenas de uma racionalizaccedilatildeo a posteriori de um meacutetodo absolutamente praacutetico (GROLIER 1962 p49) A categoria energia trata geralmente de problemas e accedilotildees diferentemente manifestadas conforme as classes de assunto em que ocorrem por exemplo em Mecacircnica diz respeito ao movimento ao equiliacutebrio agrave vibraccedilatildeo jaacute em Astronomia refere-se agrave cronologia geodeacutesia cosmogonia entre outras Em Fiacutesica diz respeito a problemas como por exemplo radiaccedilatildeo propagaccedilatildeo dispersatildeo etc A terceira categoria geral eacute mateacuteria e diz respeito aos materiais de construccedilatildeo constituiccedilatildeo como por exemplo a mateacuteria de que satildeo feitas as esculturas em Artes ou os instrumentos na Muacutesica As categorias tempo e espaccedilo tratam respectivamente de divisotildees temporais e geograacuteficas tanto distribuiacutedas pelas classes de assunto como fazendo parte de uma tabela em separado 189 A faceta tempo eacute para divisatildeo cronoloacutegica a faceta espaccedilo eacute para divisatildeo geograacutefica e podem ser encontradas virtualmente em todos os sistemas de classificaccedilatildeo Energia e mateacuteria natildeo satildeo tatildeo facilmente identificaacuteveis em alguns assuntos e personalidade tem causado mais dificuldades e controveacutersias do que qualquer outra categoria fundamental Para Ranganathan eacute a mais importante categoria eacute aquela que conteacutem os termos que atribuem agrave classe a sua identidade no campo do conhecimento

198

tem tentado seguir uma abordagem mais pragmaacutetica para providenciar uma

ferramenta mais poderosa para a anaacutelise de assuntos para a classificaccedilatildeo de

documentos e para a estrateacutegia de busca na recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo (FOSKETT

A C 1972 p 338-346)

A maior limitaccedilatildeo agrave CC eacute que ela natildeo eacute utilizada em muitas bibliotecas Isso eacute

verdade ainda que ela tenha sido testada primeiro em milhares de volumes da

Madras University Library e seja usada em muitas bibliotecas governamentais da

Iacutendia As razotildees de acordo com Batley (2005 p 111) podem ser em primeiro lugar

a CDD a CDU e a LCC os esquemas mais utilizados tecircm se mostrado

perfeitamente adequados para coleccedilotildees gerais de bibliotecas pois tecircm cobertura

compreensiva satildeo relativamente faacuteceis de usar e providenciam uma ordem

satisfatoacuteria de materiais nas estantes e em segundo natildeo muitas bibliotecas

estariam dispostas a enfrentar a enorme tarefa de re-classificar suas coleccedilotildees jaacute

que as classificaccedilotildees facetadas surgem depois de as bibliotecas terem adotado a

CDD a CDU ou a LCC para organizar os seus materiais Aleacutem das razotildees

apresentadas eacute possiacutevel que a pouca utilizaccedilatildeo da CC se deva agrave sua complexidade

mas principalmente agrave sua origem (por ser a Iacutendia um paiacutes perifeacuterico)190

472 Princiacutepios

Para Ranganathan de acordo com Gopinath (2001 p 83-90) a classificaccedilatildeo

e os sistemas de classificaccedilatildeo natildeo eram somente teacutecnicas mas tambeacutem e sempre

estruturas teoacutericas com implicaccedilotildees filosoacuteficas Ele mostrou ao mundo que a

classificaccedilatildeo eacute a base da organizaccedilatildeo do conhecimento e que essa organizaccedilatildeo eacute

importante para a recuperaccedilatildeo de informaccedilatildeo

Na deacutecada de 1930 do seacuteculo passado Ranganathan desenvolveu a Teoria

da Classificaccedilatildeo Facetada tambeacutem chamada de Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo

(cf subseccedilatildeo 41) explicitando os princiacutepios utilizados na elaboraccedilatildeo da

Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos (esquema confeccionado tendo em mente o acervo

da Biblioteca da Universidade de Madras na Iacutendia) Ranganathan foi o primeiro no

acircmbito da Classificaccedilatildeo a apresentar as bases teoacutericas de um sistema de

classificaccedilatildeo Na realidade ele elabora denso trabalho teoacuterico para explicar a

190 Ranganathan acreditava que o grande salto da Iacutendia passar de paiacutes em desenvolvimento para desenvolvido soacute poderia ser possiacutevel pela utilizaccedilatildeo de Informaccedilatildeo uacutetil Informaccedilatildeo uacutetil para ele era aquela recuperada de conformidade com a necessidade do solicitante

199

construccedilatildeo da Tabela e ainda apresenta uma teoria soacutelida e fundamentada que

confere agrave Classificaccedilatildeo Bibliograacutefica o status de disciplina independente

(RANGANATHAN 1957)

Kumar (1981 p 409) pesquisador indiano da Classificaccedilatildeo afirma que

Ranganathan se beneficiou dos trabalhos de Cutter Hulme Brown Sayers Bliss

entre outros principalmente pela oportunidade que teve de melhorar a sua teoria ao

experimentaacute-la por um periacuteodo de quarenta anos Periacuteodo no qual elaborou uma

classificaccedilatildeo formulou uma teoria aplicou essa teoria agrave classificaccedilatildeo testou a sua

teoria com a ajuda de princiacutepios normativos produziu uma terminologia teacutecnica

proacutepria e natildeo hesitou em adotaacute-la Pode-se mesmo dizer que a base bramacircnica e

matemaacutetica de Ranganathan forneceu-lhe uma mente clara e loacutegica capaz de

sistematizar o estudo e a praacutetica da Classificaccedilatildeo

Pode-se dizer tambeacutem que Ranganathan ao perceber que a Classificaccedilatildeo

Decimal de Dewey apesar de muito utilizada estava sempre passando por

alteraccedilotildees e adaptaccedilotildees e verificar que esse sistema natildeo dispunha de um ldquolugarrdquo

para os novos assuntos considerou a CDD191 ao propor uma reformulaccedilatildeo da

Teoria da Classificaccedilatildeo a partir da qual foi possiacutevel libertar a classificaccedilatildeo da rigidez

do pensamento e sugerir um instrumento potencialmente flexiacutevel e capaz de

otimizar a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo

A CC eacute uma classificaccedilatildeo universal como a CDD Mas nela a unidade

semacircntica de base natildeo eacute mais o assunto eacute o conceito (chamado de ldquoisoladordquo dentro

da linguagem da CC) As tabelas dessa classificaccedilatildeo satildeo entatildeo listas de conceitos

Os termos das listas satildeo hierarquizados e cada conceito eacute expresso por um termo

linguiacutestico e por um iacutendice alfanumeacuterico Isso constitui uma primeira classificaccedilatildeo

aquela dos termos-conceitos que eacute do tipo tradicional e integrado ao sistema (agraves

tabelas das facetas por domiacutenio) Essa classificaccedilatildeo dos assuntos constitui a

verdadeira classificaccedilatildeo em facetas da CC do tipo analiacutetico-sinteacutetica Para

Ranganathan essa expressatildeo significa que os documentos satildeo desde o iniacutecio

analisados em facetas segundo as categorias da sigla PMEST pois os assuntos satildeo

sintetizados graccedilas agrave sintaxe e agrave notaccedilatildeo

191 Exemplos de textos em que Ranganathan compara os dois sistemas de classificaccedilatildeo RANGANATHAN S R Decimal and Colon Classification reviewed in perspective In ALL INDIA LIBRARY CONFERENCE 6 Proceedingshellip 1944 p 52-56 e RANGANATHAN S R Fine art in the Decimal and Colon classification In ALL INDIA LIBRARY CONFERENCE 6 Proceedingshellip 1944 p 80-82

200

A CC eacute publicada em um volume contendo listas de isolados comuns classes

principais e suas subdivisotildees (subclasses) e um iacutendice A sua ordem de citaccedilatildeo inicia

pela faceta mais concreta (a faceta que eacute citada primeiro determinaraacute o lugar do livro

na estante) e eacute controlada pela foacutermula192 PMEST (Personalidade + Mateacuteria +

Energia + Espaccedilo + Tempo)193 Na CC cada faceta eacute introduzida pela marca de pontuaccedilatildeo distintiva (quadro

36) que separa os iacutendices elementares assinalando a troca de categoria ou faceta e

ajudando a fragmentar a notaccedilatildeo que desse modo torna-se mais faacutecil de memorizar

CATEGORIAS FUNDAMENTAIS

SIacuteMBOLOS DE CONEXAtildeO SIacuteMBOLOS PARA AS FACETAS

Personalidade viacutergula [P]

Mateacuteria ponto e viacutergula [M]

Energia dois pontos [E]

Espaccedilo ponto [S]

Tempo lsquo apoacutestrofe [T]

QUADRO 36 - CATEGORIAS FUNDAMENTAIS DE RANGANATHAN FONTE Batley (2005 p 114) Harrod (1977 p 358) NOTA o sinal dois pontos (colon em inglecircs) deu o seu nome agrave CC

192 Ranganathan no iniacutecio de uma longa pesquisa visando racionalizar e reduzir ao essencial as leis de funcionamento da linguagem natural tentando adaptar a sua foacutermula sumaacuteria agrave complexidade dos assuntos reais estava convencido de ter descoberto a lsquosintaxe absolutarsquo de enunciaccedilatildeo dos assuntos Essa sintaxe de acordo com Maniez (1999 p 253) levou Ranganathan a recorrer a um arsenal de regras e de exceccedilotildees obscuras e complicadas que comprometem as promessas de simplicidade da foacutermula Ranganathan postula que cada faceta de todo assunto assim como cada divisatildeo de uma faceta deve ser considerada como a manifestaccedilatildeo de uma das cinco categorias fundamentais ou de um dos cinco aspectos da realidade A faceta Personalidade eacute sempre precedida da indicaccedilatildeo de um domiacutenio ou de uma disciplina destinada a situar o contexto do documento e que traacutes o nome de faceta principal Grosso modo em outros termos encontram-se aqui novamente os elementos principais de uma proposiccedilatildeo gramatical sujeito ou objeto (Personalidade) verbo (Energia) complemento determinante (Mateacuteria) complementos de tempo e de lugar (Espaccedilo e Tempo) 193 Para maior precisatildeo eacute bom lembrar concordando com Maniez (1999) que o equivalente das facetas Espaccedilo e Tempo da CC jaacute existia na CDD e na CDU sob o nome de lsquodivisotildees comunsrsquo e que os iacutendices correspondentes poderiam ser reunidos ao iacutendice principal sob a forma de sufixos O princiacutepio de uma combinaccedilatildeo de iacutendices na formulaccedilatildeo de um assunto natildeo era novo em 1924 Mas essencialmente essas classificaccedilotildees eram do tipo enumerativo e os seus iacutendices principais eram fixos e preacute-coordenados Algumas diferenccedilas entre essas linguagens classificatoacuterias enquanto o iacutendice da CDD eacute tirado de uma lista fechada de assuntos potenciais o da CC eacute composto de iacutendices elementares segundo um esquema de facetas preacute-estabelecido enquanto a especificidade do assunto eacute obtida na CDD por uma seacuterie de subdivisotildees que a cada etapa restringe o seu espaccedilo na CC ela eacute expressa pela combinaccedilatildeo de termos escolhidos como em uma frase da linguagem natural

201

Classificadores familiarizados com a CC podem reconhecer o tipo de faceta

ao longo da construccedilatildeo da notaccedilatildeo Isso eacute muito importante porque o mesmo

siacutembolo particularmente o mesmo nuacutemero pode significar coisas diferentes em

diferentes facetas Por exemplo 4 significa Desenho na faceta energia de

Engenharia mas o nuacutemero 4 eacute um conceito diferente na faceta lugar em que 4

significa Aacutesia (com o ponto introduzindo a faceta lugar e o 4 representando Aacutesia)

(BATLEY 2005 p 115)

Eacute muito raro que todas as cinco facetas sejam usadas na classificaccedilatildeo do

mesmo trabalho Entretanto frequentemente dois ou mais niacuteveis da faceta

personalidade satildeo necessaacuterios Para construir uma notaccedilatildeo o classificador deve

procurar os conceitos no iacutendice alfabeacutetico O iacutendice indica em quais classes

principais (domiacutenios de base) ocorrem esses conceitos que permitem esclarecer a

faceta principal e que tambeacutem frequentemente indica quais facetas aplicar ao

conceito Dessa maneira o classificador combina os elementos usando a foacutermula

PMEST e fazendo uso da pontuaccedilatildeo apropriada para introduzir as vaacuterias facetas

dependendo da ecircnfase do trabalho e das necessidades da coleccedilatildeo194

Por exemplo ao procurar o termo fogo (fire) no iacutendice encontra-se o sequinte

Fogo (fire) E [E] 2131 J KZ L [E] 4 [2P] 91 Y[E] 4351 381

Argila referataacuteria (fire clay) H2 [P] 3311

Grisu (fire damp = gaacutes inflamaacutevel contido nas minas de carvatildeo e que encerra

quantidades variaacuteveis de metano) HZ [E] 41

Seguro contra fogo (fire insurance) X [P] 8191

Lareira (fire place) NA [P3] 2 to 9 [P4] 94

A partir do iacutendice e consultando as tabelas chega-se agrave seguinte interpretaccedilatildeo

O fogo aparece na faceta energia em Quiacutemica (E) com o nuacutemero de

classificaccedilatildeo 2131 (Quiacutemica-Fiacutesica) resultando na notaccedilatildeo E2131

O fogo aparece como uma causa de doenccedila em Agricultura Zootecnia e

Medicina sendo encontrado na faceta de personalidade de segundo ciclo depois de

doenccedila resultando na notaccedilatildeo J491 para Agricultura KZ491 para Zootecnia e

194 Por exemplo na seacutetima ediccedilatildeo da CC (1989) o domiacutenio Educaccedilatildeo conta com mais ou menos duzentos (200) termos sob a faceta Personalidade e com mais ou menos sessenta (60) sob cada uma das facetas Mateacuteria e Energia A reparticcedilatildeo dos termos eacute assegurada pelo sistema o que evita para o indexador as dificuldades de interpretaccedilatildeo Poreacutem como bem salienta Maniez (1999 p 253) observa-se que essa reparticcedilatildeo eacute largamente empiacuterica

202

L491 para Medicina

O fogo aparece duas vezes em Sociologia na faceta de energia Y4351

designa o fogo como causa da miseacuteria enquanto Y381 designa o fogo como um

elemento usado para cozinhas aquecer etc

O argila refrataacuteria aparece na faceta personalidade de Petrologia como uma

forma de rocha resultando na notaccedilatildeo H23311

O gaacutes inflamaacutevel grisu aparece na faceta energia em Mineraccedilatildeo resultando

na notaccedilatildeo HZ41

O seguro contra incecircndio eacute um ramo de seguros em Economia resultando na

notaccedilatildeo X8191

A lareira eacute um componente que aparece no quarto niacutevel de personalidade em

Arquitetura podendo estar subordinado a qualquer um dos tipos de edifiacutecios

enumerados no terceiro niacutevel como lareiras em casas em preacutedios etc resultando

na notaccedilatildeo NA394

As subdivisotildees das classes canocircnicas195 satildeo formuladas com notaccedilatildeo

alfanumeacuterica por exemplo

R Filosofia

R1 Loacutegica

R111 Loacutegica Indutiva

R112 Loacutegica Dedutiva

R2 Epistemologia

Uma vez localizado o assunto de um documento na tabela das classes

principais ou gerais pode-se delimitaacute-lo mediante a combinaccedilatildeo de categorias que

aplicadas iratildeo assinalar as facetas A categoria personalidade eacute equivalente agrave

substacircncia aristoteacutelica ou seja a primeira atribuiccedilatildeo do ser Para Aristoacuteteles o ser se

diz em uma pluralidade de sentidos e esses sentidos do ser eacute que satildeo denominados

categorias Ranganathan recorre agrave concepccedilatildeo aristoteacutelica e agrave tradiccedilatildeo das antigas

195 Cannonical class esse termo em inglecircs corresponde agrave subdivisatildeo tradicional de cada classe principal Eacute a classe estrito senso segundo os cacircnones

203

escolas Mimansa e Prabhakara196 para extrair daiacute a foacutermula que permite agrupar

itens do conhecimento (categorias fundamentais)

A ordem de citaccedilatildeo dos conceitos para formaccedilatildeo dos siacutembolos de

classificaccedilatildeo dos assuntos compostos eacute proacutepria de cada classe principal -

basicamente a ordem do PMEST - mas um assunto pode necessitar de uma

mesma categoria mais de uma vez o que constitui os (levels)197 e os ciclos

(rounds)198

A metodologia analiacutetico-sinteacutetica proporciona grande hospitalidade permitindo

a inclusatildeo de novos temas e tambeacutem maior autonomia ao classificador

473 Construccedilatildeo

A estrutura da CC parte de uma tabela de aacutereas principais que inclui as

disciplinas tradicionais que podem ser divididas em facetas por meio das categorias 196 A ideacuteia de classificaccedilatildeo na antiga Iacutendia teve iniacutecio com a Escola Mimansa (do sacircnscrito indagaccedilatildeo ou reflexatildeo profunda) fundada no seacuteculo V aC Essa escola produziu dois sistemas ou interpretaccedilotildees a de Kumarila Bhatta (aproximadamente 700 dC) e a de Prabhakara (650-720 dC) filoacutesofos indianos vinculados agrave Escola Mimansa e famosos por suas teses Examinavam os textos sagrados (mantras ou versos e bramanas ou interpretaccedilotildees) organizavam debatiam e determinavam as regras e os sentidos dos rituais e das reflexotildees e indagaccedilotildees (DASGUPTA 1949 p 156 PRABHAKARA 2008) O meacutetodo de apresentaccedilatildeo da Mimansa consistia de ldquocinco momentosrdquo estabelecia-se a questatildeo exprimia-se a duacutevida ou verificava-se a caracteriacutestica que a questatildeo comportava desenvolvia-se um ponto de vista ou estabeleciam-se conexotildees possiacuteveis refutavam-se definitivamente aqueles pontos de vista ou conexotildees que natildeo condiziam e chegava-se agrave conclusatildeo resultado ou produto final A Mimansa distinguia as diferentes classes de mantras segundo os ritmos (sons) e as palavras que lhes eram proacuteprios e dividia os Mimansasutras em doze assuntos que eram na maioria das vezes divididos novamente pelo nuacutemero quatro Kumarila Bhatta dividia o saber em duas categorias uma positiva (substacircncia qualidade accedilatildeo universalidade) e outra negativa (negaccedilatildeo a priori negaccedilatildeo a posteriori negaccedilatildeo absoluta negaccedilatildeo reciacuteproca) enquanto Prabhakara utilizava soacute categorias positivas para organizar o conhecimento como substacircncia qualidade accedilatildeo universalidade ineacutercia potecircncia similaridade e nuacutemero A sistematizaccedilatildeo do conhecimento com base nas categorias era criteacuterio predominante no pensamento indiano Serrai (1977 p 18) afirma que existe uma grande afinidade entre as categorias da Escola Mimansa e as categorias do bibliotecaacuterio indiano Ranganathan que elabora seu sistema classificatoacuterio fundamentando-se em cinco categorias (personalidade mateacuteria energia espaccedilo e tempo) Pode-se dizer que o pensamento originaacuterio do antigo Oriente proveniente seja da Iacutendia seja da China incidiu na cultura ocidental influenciando as classificaccedilotildees filosoacuteficas (Francis Bacon em suas obras faz numerosas referecircncias agrave cultura chinesa como manufatura do papel fabricaccedilatildeo da porcelana caracteres da escrita etc) e por meio dessas as classificaccedilotildees bibliograacuteficas (a classificaccedilatildeo de Dewey esteve imbuiacuteda do sistema baconiano) pensamento corroborado por San Segundo Manuel (1996 p 35-36) Quanto agrave influecircncia das filosofias chinesa e indiana na obra de Ranganathan recomenda-se a leitura da dissertaccedilatildeo de Fernando Antonio Sepuacutelveda sobre a Gecircnese do pensamento de Ranganathan (Rio de Janeiro IBICT 1996) 197 Configura niacutevel uma segunda apariccedilatildeo seguida de uma mesma categoria Assim no exemplo O [P] [P2] [P3] o [P2] e o [P3] satildeo segundo e terceiro niacuteveis da categoria personalidade 198 Confira ciclo a segunda apariccedilatildeo de uma categoria depois de ter sido introduzida alguma categoria de outro tipo Assim no exemplo S[P][E] [2P] o [2P] eacute o segundo ciclo da categoria personalidade

204

A notaccedilatildeo geralmente eacute hieraacuterquica e compreende 26 letras maiuacuteculas e 23 letras

minuacutesculas do alfabeto latino nuacutemeros araacutebicos de 0 a 9 letras gregas (delta para

Misticismo e sigma para Ciecircncias Sociais) e sinais graacuteficos somando cerca de

setenta caracteres

A organizaccedilatildeo baacutesica da CC eacute a das classes principais Mais de cento e

cinquenta classes principais satildeo postuladas (por conveniecircncia a maioria dos autores

referem-se a vinte e seis) Elas podem ter subdivisotildees em forma de divisotildees

canocircnicas divisotildees sistecircmicas divisotildees especiais e divisotildees contextuais O plano

geral do esquema adota um formato tripartite

1 Ciecircncias Naturais A Ciecircncias B Matemaacuteticas C Fiacutesica D

Engenharia E Quiacutemica F Tecnologia G Biologia H Geologia I

Botacircnica J Agricultura K Zoologia L Medicina M Artes Uacuteteis ou

Aplicadas

2 Humanidades ∆ Misticismo e Experiecircncia Espiritual N Belas Artes O

Literatura P Linguiacutestica Q Religiatildeo R Filosofia S Psicologia

3 Ciecircncias Sociais sum Ciecircncias Sociais T Educaccedilatildeo U Geografia V

Histoacuteria W Ciecircncias Poliacuteticas X Economia Y Sociologia Z Direito

O sistema baseou-se na Classificaccedilatildeo Veacutedica e nos filoacutesofos ocidentais mais

particularmente na classificaccedilatildeo das ciecircncias de Comte As estruturas veacutedicas estatildeo

refletidas em sua base numeacuterica O mundo dos Vedas eacute dharma artha kama e

moksha (GOPINATH 2001 p 86-87)

Na Filosofia Indiana os principais sistemas filosoacuteficos do hinduiacutesmo

consideram que uma entidade viva especialmente aquela que estiver utilizando um

corpo humano deve ter por objetivo alcanccedilar trecircs metas na vida dharma (do

sacircnscrito retidatildeo ou conduta correta - a lei a moral e os bons costumes) artha (do

sacircnscrito riqueza ou desenvolvimento econocircmico advindo do trabalho em suas mais

diversas concepccedilotildees - recursos materiais) e kama (do sacircnscrito desejo em sentido

amplo - alma - e em sentido restrito - corpo) Portanto dharma deve empenhar-se

em artha para satisfazer kama e assim atingir moksha que representa a salvaccedilatildeo

Moksha refere-se em geral agrave libertaccedilatildeo do ciclo do renascimento e da morte e eacute

considerada como a meta primordial aquela que esta aleacutem das trecircs primeiras

destinada agravequeles que jaacute estatildeo livres das atividades mundanas

A loacutegica subjacente a esses purusharthas (do sacircnscrito objetivos da alma

humana) torna-se evidente quando se considera as premissas baacutesicas do hinduiacutesmo

205

a) o homem eacute um aspecto de Deus - eacute Deus na criaccedilatildeo da realidade objetiva

b) a natureza primordial do homem eacute seguir a lei dos vedas de acordo com as

normas prescritas para a casta a qual o indiviacuteduo pertence para obter a

salvaccedilatildeo a libertaccedilatildeo do eu e alcanccedilar Deus

c) o homem deve experienciar os rigores da vida na busca dos bens e

confortos materiais e na satisfaccedilatildeo das suas paixotildees visando sempre ao

equiliacutebrio e a moderaccedilatildeo para atender ao propoacutesito da sua criaccedilatildeo

(JAYARAM 2008)

Observa-se que Ranganathan inicia a ordenaccedilatildeo das classes principais por

Ciecircncias e Tecnologia representando as aacutereas do conhecimento de cunho teoacuterico e

aplicado (artha) Em consequecircncia de sua formaccedilatildeo religiosa destaca o Misticismo

a Religiatildeo e a Filosofia (dharma) Segue com as Humanidades e as Ciecircncias Sociais

(kama) como demonstra o quadro 37

Ranganathan concebeu o esboccedilo da CC e adotou o esquema para a coleccedilatildeo

da Biblioteca da Universidade de Madras antes de estabelecer qualquer teoria

subjacente ao esquema ou seja estabeleceu um novo meacutetodo para a organizaccedilatildeo

do esquema de classificaccedilatildeo - meacutetodo facetado - sem mencionar tudo o que veio a

especificar em sua teoria mais tarde depois da publicaccedilatildeo do esquema

A abordagem ranganathiana da classificaccedilatildeo era completamente diferente de

todas as anteriores A intuiccedilatildeo genial de Ranganathan foi conceber uma alternativa

ao modelo hieraacuterquico riacutegido das grandes classificaccedilotildees bibliograacuteficas

principalmente a CDD e a LCC Embora se pudesse perceber uma abordagem

analiacutetica e combinatoacuteria nos sistemas de Dewey (especialmente por meio da

influecircncia determinante particularmente enfatizada expliacutecita ou visiacutevel na CDU de

Otlet e La Fontaine) de Cutter de Brown e de Bliss o sistema de Ranganathan

diferia dos outros A principal razatildeo disso eacute o fato de que ele natildeo usava classes preacute-

estabelecidas e prontas agraves quais os tiacutetulos tinham de ser relacionados mas criava

classes de assuntos somente no instante em que um livro era analisado segundo os

elementos conceituais do seu assunto e sintetizado de acordo com foacutermulas de

facetas aplicadas agraves disciplinas Isso significa segundo Dahlberg (1979b p 356)

que o nuacutemero de classes pode acabar sendo igual ao nuacutemero de livros pois dois

livros soacute podem ser considerados como pertencentes a uma soacute e mesma classe se

sua siacutentese for igual

206

ORDEM DE CLASSES (7ordf Ediccedilatildeo de 1973) Z Generalidades 1 Universo do conhecimento 2 Biblioteconomia 3 Bibliologia 4 Jornalismo 5 Publicidade 6 Museologia 7 Sistemologia 8 Gestatildeo 9b Carreira 9c Metrologia 9d Normalizaccedilatildeo 9f Euriacutestica 9g Avaliaccedilatildeo 9p Comunicaccedilatildeo 9q Simbolismo 9s Informaacutetica A Ciecircncias Naturais BZ Matemaacutetica e Fiacutesica BZZ Matemaacutetica Pura B Matemaacuteticas BT Estatiacutestica BV Ciberneacutetica BXZ Astronomia e Astrofiacutesica BX Astronomia BZ Astrofiacutesica CZ Fiacutesica Teoacuterica C Fiacutesica CV Fiacutesica Espacial DZ Engenharia e Tecnologia D Engenharia DT Desenho Industrial EZ Quiacutemica Teoacuterica E Quiacutemica F Tecnologia Quiacutemica GZ Biologia Teoacuterica G Biologia GV Microbiologia GWA Biologia Molecular GWB Biofiacutesica GX Bioquiacutemica HZ Geologia Teoacuterica H Geologia HV Geofiacutesica

HWT Geoquiacutemica HX Geologia Mineral IZ Botacircnica Teoacuterica I Botacircnica JZ Agronomia J Agricultura JX Floresta KZ Zoologia Teoacuterica K Zoologia KX Medicina Veterinaacuteria LZ Medicina Teoacuterica L Medicina LU5 Sauacutede Puacuteblica LU6 Hospitais LU7 Sanatoacuterios LX Farmaacutecia LYX Medicina Legal M Artes Aplicadas MZ Humanidades e Ciecircncias Sociais MZZ Ciecircncias Sociais Aplicadas ∆ Experiecircncia Espiritual e Misticismo NZ Belas Artes e Literatura N Belas Artes OZ Liacutengua O Literatura P Linguiacutestica QZ Religiatildeo e Filosofia QZZ Religiatildeo e Moral Q Religiatildeo RZ Filosofia Geral R Filosofia SZ Ciecircncias do Comportamento SZZ Psicologia da Educaccedilatildeo S Psicologia sum Ciecircncias Sociais T Educaccedilatildeo UZ Histoacuteria-Geografia U Geografia V Histoacuteria VX Fontes Histoacutericas W Ciecircncia Poliacutetica WX Geopoliacutetica X Economia XX Economia de Empresas Y Sociologia YX Serviccedilo Social Z Direito

QUADRO 37 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DOS DOIS PONTOS DE RANGANATHAN FONTE Maniez (1993 p 105) San Segundo Manuel (1996 p 104-105)

Todos os modernos esquemas de classificaccedilatildeo satildeo ateacute certo ponto

facetados visto que eles providenciam tabelas auxiliares de nuacutemeros para divisotildees

relativas ao tempo e ao espaccedilo soacute para citar um exemplo Evidencia-se a tendecircncia

crescente ao estudo e uso de esquemas de classificaccedilatildeo que permitam ou

possibilitem ao classificador construir uma notaccedilatildeo para um livro em particular

207

Nas palavras de Dahlberg (1977 p 43) parece realmente que as ideacuteias e as

contribuiccedilotildees de Ranganathan natildeo tecircm sido substituiacutedas ateacute agora por nenhuma

melhor Elas natildeo foram ainda suficientemente discutidas em todos os lugares e houve

pouco interesse por sua adoccedilatildeo pelo mundo afora (traduccedilatildeo livre da autora)199 Dahlberg parece ter razatildeo quanto ao interesse despertado pelas ideacuteias de

Ranganathan No entanto eacute preciso registrar que o interesse pelas grandes

classificaccedilotildees facetadas tem diminuiacutedo muito depois da expansatildeo da documentaccedilatildeo

informatizada e eacute significativo que a CC natildeo tenha conseguido ser implantada

depois de mais de meio seacuteculo provavelmente por ser um sistema complexo de

difiacutecil aplicaccedilatildeo no Ocidente dada a sua loacutegica totalizadora a sua visatildeo holiacutestica o

fato de ter surgido no chamado Terceiro Mundo e principalmente por representar

mais uma metodologia para a classificaccedilatildeo do conhecimento jaacute produzido e a ser

produzido do que uma racionalizaccedilatildeo e mapeamento a priori do conhecimento jaacute

produzido Uma das distinccedilotildees entre os sistemas ocidentais de classificaccedilatildeo

bibliograacutefica e o sistema indiano de Ranganathan estaacute na visatildeo evolucionista (EC)

positivista (CDD e BC) e pragmaacutetica (LCC) embasada na proacutepria dinacircmica da

coleccedilatildeo ou seja os sistemas ocidentais fundamentam-se na ideacuteia de um mundo do

conhecimento pronto e acabado que entende a expansatildeo a partir das mesmas

bases originais e portanto vinculados a uma visatildeo de progresso e a um

pensamento determinista e a priori - positivista

474 Revisatildeo

Ranganathan durante a sua vida publicou seis ediccedilotildees da Classificaccedilatildeo dos

Dois Pontos a primeira em 1933 (depois de o esquema ter sido testado na Biblioteca

da Universidade de Madras) e a sexta em 1960 A uacuteltima ediccedilatildeo da CC CC7 foi

publicada em 1987 e segundo A C Foskett (1996 p 323) aleacutem de conter muitos

erros tem crescido em complexidade o que soacute tem dificultado ainda mais a sua

aceitaccedilatildeo por parte das grandes bibliotecas As atualizaccedilotildees satildeo escassas e desde

a morte de Ranganathan em 1972 o desenvolvimento da CC estaacute confiado ao

Documentation Research and Training Centre (DRTC) de Bangalore (FOSKETT A

199 ldquoIt does indeed appear that Ranganathanrsquos ideas and contributions have thus far not been replaced by any better ones In fact they have not as yet been discussed everywhere and there has been little movement towards their adoption throughout the worldrdquo

208

C 1996 p 316) O DRTC foi estabelecido em janeiro de 1962 como uma divisatildeo do

Indian Statistical Institute (ISI)200 (httpwwwiskoiorgdoccolonhtm)

48 CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA (BC - 1935)

A histoacuteria os princiacutepios a construccedilatildeo e a revisatildeo da Bibliographic Classification

(BC) Classificaccedilatildeo Bibliograacutefica satildeo tratados nas subseccedilotildees que seguem

481 Histoacuteria

Em 1910 a proposta de um esquema de classificaccedilatildeo bibliograacutefica sob o tiacutetulo Classification of Libraries with Simple Notation Mnemonics and Alternatives eacute publicada no Library Journal (v 35 p 351-358) pelo norteamericano Henry Evelyn Bliss (1870-1955) O esquema vinha sendo aplicado desde 1902 na Biblioteca do College of the City of New York na qual o estudioso exercia o cargo de bibliotecaacuterio (1891-1940) Mais tarde em 1935 (dois anos depois da CC) o esquema foi publicado de modo resumido sob o tiacutetulo A System of Bibliographic Classification Entre 1940 e 1953 foram publicados os quatro volumes da primeira ediccedilatildeo completa das tabelas Bibliographic Classification Extended by Systematic Auxiliary Schedules for Composite Specification and Notation Essa versatildeo da Classificaccedilatildeo anteriormente conhecida como Bibliographic Classification (BC) eacute hoje chamada de BC1 Bliss dedicou os uacuteltimos anos da sua vida agrave concepccedilatildeo de uma nova versatildeo que passaria a ser denominada BC2 ou Bliss Como Ranganathan Bliss fez da sua vida uma reflexatildeo contiacutenua a respeito de classificaccedilatildeo mantendo tambeacutem a carreira de bibliotecaacuterio Aleacutem do esquema completo publicou duas obras teoacutericas soacutelidas acerca da organizaccedilatildeo do conhecimento (cf subseccedilatildeo 41) O trabalho concernente a uma nova e completamente revisada ediccedilatildeo da BC1 incorporando os avanccedilos da anaacutelise loacutegica por facetas iniciada por Ranganathan e desenvolvida pelo CRG na Gratilde-Bretanha comeccedilou no iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo XX com a formaccedilatildeo da Bliss Classification Association (BCA)201 200 Logo depois da independecircncia o Governo da Iacutendia criou o ISI em 1947 No mesmo ano o seu Comitecirc de Documentaccedilatildeo foi formado tendo como presidente Ranganathan Houve uma necessidade premente de serviccedilos de documentaccedilatildeo para dar suporte ao trabalho dos laboratoacuterios nacionais que estavam sendo criados Em 1950 o entatildeo diretor do Laboratoacuterio Nacional de Fiacutesica Dr K S Krishnan e o professor Ranganathan foram autorizados a negociar com a UNESCO ajuda na criaccedilatildeo do Indian National Scientific Documentation Centre (INSDOC) finalmente criado em 1951 Por volta de 1955 as atividades de pesquisa dos laboratoacuterios nacionais haviam acelerado de maneira vertiginosa e bibliotecas especializadas para apoiar essas atividades de pesquisa estavam comeccedilando a estabelecer-se em algumas dessas instituiccedilotildees Consequentemente o tempo parecia estar maduro para a formaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo de bibliotecas especializadas Assim nasceu a Indian Association of Special Libraries and Information Centres (IASLIC) lthttpdrtcisibangacin DRTChistoryhtmlgt 201 Organizaccedilatildeo sem fins lucrativos com membros espalhados pelo mundo e revisotildees radicais da BC1 que acabaram por produzir um esquema completamente novo a BC2

209

em 1967 (BLISS CLASSIFICATION ASSOCIATION 2008 PIEDADE 1983 p 182 SAN SEGUNDO MANUEL 1996 p 96 103)

482 Princiacutepios

A BC1 eacute apontada como o sistema que apresenta um dos melhores desenvolvimentos de classes encontrados em classificaccedilotildees bibliograacuteficas De acordo com vaacuterios autores como A C Foskett (1973 p 109 251) Piedade (1983 p 183) Maniez (1993 p 131) Rafferty (2001 p 185-186) San Segundo Manuel (1996 p 100) Sayers (1955b p 190) entre outros Bliss acreditava que a ordem das classes principais era a mais importante caracteriacutestica dos esquemas de classificaccedilatildeo Bliss (1939 p 205) natildeo acreditava no argumento de Dewey de que natildeo tem importacircncia onde no esquema um assunto estaacute colocado contanto que esteja eficientemente indexado Entre as razotildees para o seu descontentamento com os esquemas existentes descreveu a ordem baconiana invertida como natildeo-filosoacutefica e natildeo-praacutetica (porque separa e ldquodeturpardquo as principais ciecircncias) e citou o fato de as ldquosuas principais divisotildees e subdivisotildees serem demasiadamente arbitraacuterias e natildeo-autecircnticasrdquo (BLISS 1939 p 309) Para Bliss (1939 p 37) existia uma ordem de conhecimento que era natural e autecircntica e essa autenticidade dependia do consenso acadecircmico e que portanto o conhecimento devia ser organizado em consonacircncia com o consenso cientiacutefico e educacional (relativamente estaacutevel) que tende a se transformar em teoria e sistema (conhecimento mais consolidado e estaacutevel no geral e crescente no detalhe) com conceitos mais precisos e definidos De acordo com Sayers (1955b p 190) Bliss embasava o seu esquema em uma aceitaccedilatildeo inquestionaacutevel das convenccedilotildees acadecircmicas estabelecidas no Ocidente de noccedilotildees a respeito da ordem202 verdadeira e de princiacutepios de organizaccedilatildeo hieraacuterquica Bliss entendia que a ordem das classes principais assim como a ordem lsquocertarsquo das coisas eacute determinada pelo uso que os profissionais dos diversos ramos do conhecimento fazem da ordem Eacute a ordem das coisas que dirige a estrutura dos

202 Bliss estabeleceu princiacutepios de classificaccedilatildeo no que diz respeito agrave ordem 1 que a ordem das coisas pode ser estabelecida 2 que a ordem das coisas eacute a base da classificaccedilatildeo do conhecimento 3 que a ordem eacute determinada pelo uso e pela utilidade que tem para pensadores e trabalhadores nos vaacuterios ramos do conhecimento (SAYERS 1955b p 189) Pode-se argumentar que a principal limitaccedilatildeo desses princiacutepios eacute que para Bliss eles eram absolutos e naturais e natildeo relativos e historicamente determinados Pois o conhecimento e a sua representaccedilatildeo eacute sempre um produto do sistema simboacutelico dentro do qual ele opera Segundo Rafferty (2001 p 186) a visatildeo positivista e otimista de Bliss estava plena de feacute na ideacuteia de que estabilidade e ordem se desenvolveriam a partir do conhecimento universal e do estudo objetivo o que talvez seja mais difiacutecil para o mundo poacutes-estruturalista poacutes-Segunda Guerra Mundial sociedade ocidental estar confiante que as ciecircncias e o conhecimento caminharatildeo para um consenso cientiacutefico e educacional que se tornaraacute mais dominante mais permanente e universal

210

esquemas de classificaccedilatildeo e no final aquilo que disciplina o senso comum Ele se refere agrave ordem das classes principais na maioria dos seus princiacutepios

a) consenso implica que natildeo existe unanimidade em relaccedilatildeo agrave localizaccedilatildeo das classes que pode variar segundo o consenso cientiacutefico-educacional203 e a concepccedilatildeo de ciecircncia nos vaacuterios acircmbitos os quais supotildeem cada um uma sistematizaccedilatildeo proacutepria

b) reuniatildeo de assuntos correlatos significa manter juntos os assuntos que tecircm um relacionamento forte um com outro ou seja ordenar todas as classes segundo um criteacuterio de proximidade temaacutetica (geralmente esse princiacutepio estaacute junto com o de subordinaccedilatildeo do especiacutefico ao geneacuterico ainda que Bliss algumas vezes natildeo respeite esse uacuteltimo princiacutepio)

c) gradaccedilatildeo em especialidade204 significa mais do que simplesmente listar assuntos do geral ao especiacutefico em um dado contexto refere-se a uma espeacutecie de progressatildeo de dependecircncia de tal maneira que cada nova disciplina derive tanto quanto possiacutevel da disciplina precedente

d) localizaccedilatildeo alternativa pretende conferir flexibilidade ao sistema

203 Apesar de considerar o ldquoconsenso cientiacuteficordquo incompleto e temporaacuterio reconhecer visotildees alternativas sobre a localizaccedilatildeo de alguns assuntos e providenciar alternativas de colocaccedilatildeo para os assuntos Bliss considerava vital que um esquema de classificaccedilatildeo para o conhecimento registrado refletisse a estrutura do saber como os cientistas filoacutesofos e educadores a reconheciam e ensinavam Infelizmente a estrutura do conhecimento se modifica e o proacuteprio Bliss reconhecia que a ordem muda o que ele parece natildeo ter reconhecido eacute a velocidade com que esse processo pode ocorrer (FOSKETT A C 1973 p 109) A BC eacute o primeiro esquema geral de classificaccedilatildeo com essa caracteriacutestica de dividir o conhecimento em campos de especializaccedilatildeo seguidos pelo ensino e pela praacutetica Em geral a BC combina as vantagens de uma coordenaccedilatildeo clara e satisfatoacuteria de classes com uma visatildeo pragmaacutetica para atender as necessidades praacuteticas da classificaccedilatildeo de livros (MILLS 1960) 204 Segundo Maniez (1993 p 130) para conseguir essa difiacutecil progressatildeo Bliss inspirou-se na teoria de Comte (cf subseccedilatildeo 313) sobre a progressatildeo das ciecircncias (da mais simples a mais complexa) e provavelmente na teoria dos niacuteveis integrativos (o universo eacute formado pela acumulaccedilatildeo de vaacuterios niacuteveis de organizaccedilatildeo de complexidade crescente) Ver tambeacutem nota 77 Bliss usava subordinaccedilatildeo no sentido de - divisatildeo por especialidade Isso significa que ainda que um nuacutemero de toacutepicos pudesse ser igualmente importante alguns poderiam ser vistos como mais especializados do que outros (MILLS BROUGHTON 1977 p 50-51) Desse modo assuntos dependentes deveriam seguir os assuntos dos quais eles dependessem A listagem das classes principais na BC tem sido muito admirada apesar de tal subordinaccedilatildeo falhar nas Ciecircncias Sociais Por exemplo nas Ciecircncias Naturais (assumidamente fundamentado nas ideacuteias de Comte e de Spencer) a Quiacutemica segue a Fiacutesica na lista das classes principais agrave qual recorre para a explicaccedilatildeo dos seus fenocircmenos e eacute seguida pela Astronomia que necessita para as investigaccedilotildees do Cosmos de conhecimentos derivados da Fiacutesica e da Quiacutemica segue-se a Geologia que estuda soacute um planeta a Terra e eacute consequentemente uma especializaccedilatildeo da Astronomia O que resultou no seguinte esquema preliminar A Filosofia e Ciecircncia Geral BD Ciecircncias Fiacutesicas EG Ciecircncias da Vida HI Ciecircncias do Homem JZ Ciecircncias Sociais Para Batley (2005 p 116-117) a classificaccedilatildeo tem meacuterito como uma teoria mas eacute difiacutecil ser sustentada em uma expressatildeo linear de disciplinas ou assuntos

211

permitindo colocar um tema em dois lugares princiacutepio contraacuterio agrave padronizaccedilatildeo e ao seu proacuteprio princiacutepio (a) acima de consenso cientiacutefico (por exemplo a Aeronaacuteutica pode ser colocada na Fiacutesica classe BT ou em Artes aplicadas classe UK Histoacuteria Econocircmica pode ser localizada em Histoacuteria Geral ou em Economia - o classificador decide qual localizaccedilatildeo seria melhor levando em consideraccedilatildeo as necessidades da sua biblioteca)

e) brevidade da notaccedilatildeo significa que a notaccedilatildeo deve ser sinteacutetica mnemocircnica expressiva e sistemaacutetica Por exemplo Bliss constroacutei a sua notaccedilatildeo de tal maneira que a maioria dos itens natildeo precisa de mais de trecircs diacutegitos utiliza duas letras para representar as classes principais e emprega sistematizaccedilatildeo enumerativa205 e natildeo hieraacuterquica privilegiando a brevidade agraves expensas da expressividade

Tendo em mente que o conhecimento e a sua representaccedilatildeo satildeo sempre produtos do sistema dentro do qual eles operam poder-se-ia argumentar que a maior ou principal limitaccedilatildeo desses princiacutepios eacute que para Bliss eles eram absolutos e naturais e natildeo relativos e historicamente determinados Bliss pretendia demonstrar que se uma classificaccedilatildeo bibliograacutefica reflete a ordem natural da realidade objetiva as mudanccedilas draacutesticas para acomodar o progresso dos conhecimentos natildeo seratildeo muito necessaacuterias e afirmava que todos os estudantes poderiam compreender claramente a ordem das classes principais da BC e as implicaccedilotildees por traacutes dela Bliss foi um dos raros classificadores capazes de dizer que um esquema de classificaccedilatildeo representava a organizaccedilatildeo do conhecimento e foi tambeacutem um dos poucos que enunciaram uma teoria para o esquema de classificaccedilatildeo criado mais tarde por ele Um esquema de classificaccedilatildeo representa uma determinada maneira de organizaccedilatildeo do conhecimento Cabe ressaltar que em 1934 Otlet publicou o Manual de Documentaccedilatildeo no qual ele natildeo enunciava propriamente uma teoria da classificaccedilatildeo mas chamava a atenccedilatildeo para a importacircncia do relacionamento entre assuntos introduzindo um sistema de relaccedilotildees no esquema de Dewey (ou seja concebendo a CDU conforme foi discutido na subseccedilatildeo 43) Esse sistema de relaccedilotildees aleacutem de representar a organizaccedilatildeo do conhecimento passa tambeacutem a figurar nos esquemas de classificaccedilatildeo criados

205 Bliss reconhecia a necessidade de certas formas de siacutentese mas era hostil agrave ideacuteia da anaacutelise e siacutentese completa de Ranganathan Portanto o seu esquema pode ser encarado como a uacuteltima das classificaccedilotildees enumerativas apesar de conter tabelas sistemaacuteticas (FOSKETT A C 1973 p 108-109)

212

posteriormente como salientado por Grolier (1976) Para A C Foskett (1973 p 251 260) a BC1 padecia do fato de ser

predominantemente a obra de um soacute homem A sua sistematizaccedilatildeo com base na antiga tradiccedilatildeo filosoacutefica com o seu esquema indutivo-dedutivo de acordo com o sistema filosoacutefico de Comte e mesmo com ideacuteias teoricamente fundamentadas acarretava na praacutetica resultados insatisfatoacuterios Para Dahlberg (1979b) a contribuiccedilatildeo real de Bliss para a Teoria da Classificaccedilatildeo foi ter aproximado novamente a classificaccedilatildeo bibliograacutefica dos princiacutepios filosoacuteficos da classificaccedilatildeo e tentado combinar o conhecimento filosoacutefico sobre classificaccedilatildeo com a necessidade de colocar em estantes os livros de uma biblioteca Tanto A C Foskett (1973) quanto Dahlberg (1979b) concordam que as ideacuteias que Bliss desenvolveu acerca da teoria do arranjo sistemaacutetico notaccedilatildeo e outros aspectos da classificaccedilatildeo exerceram profunda influecircncia teoacuterica na obra Prolegomena de Ranganathan (1967)

A BC2 utiliza a teoria de anaacutelise por facetas derivada das cinco categorias originais de Ranganathan (PMEST) disso resultando um conjunto de treze categorias padratildeo reconhecidas (thing - kind - part - property - material - process - operation - patient - product - by-product - agent - space - time) (coisa - tipo - parte - propriedade - material - processo - operaccedilatildeo - paciente - produto - por produto - agente - espaccedilo - tempo) que satildeo usadas para anaacutelise e organizaccedilatildeo dos termos Em adiccedilatildeo uma ordem de citaccedilatildeo padratildeo que possibilita a combinaccedilatildeo entre as categorias tem sido tambeacutem desenvolvida (com base em princiacutepios de progressatildeo do geral ao especiacutefico) o que aumenta a densidade dos termos a ordem pragmaacutetica derivada da garantia literaacuteria e favorece o arranjo dos documentos A principal caracteriacutestica da BC2 eacute que a ordem das classes principais baseia-se em princiacutepios teoacutericos meticulosamente discutidos e explicitados como o princiacutepio de graduaccedilatildeo (gradation) suplementado pelo princiacutepio dos niacuteveis integrativos (integrative levels) desenvolvido por Feibleman e outros Cada classe principal e toda subclasse (em qualquer niacutevel) satildeo totalmente facetadas isto eacute o vocabulaacuterio eacute organizado e rigorosamente definido em categorias compreensiacuteveis

As disciplinas Biologia Humana e Medicina206 por exemplo estatildeo organizadas pelas facetas tipos de seres humanos partes do corpo humano sistemas do corpo humano processos nos seres humanos accedilotildees sobre os seres humanos e agentes das accedilotildees Uma ordem de citaccedilatildeo consistente eacute sempre

206 Medicina eacute definida como ldquoo estudo e o tratamento dos processos bioloacutegicos humanosrdquo - derivando daiacute a ordem de citaccedilatildeo dentro da disciplina

213

observada tornando a posiccedilatildeo de qualquer classe composta altamente previsiacutevel A ordem de citaccedilatildeo em Medicina para o assunto ldquoenfermagem para crianccedilas viacutetimas de cacircncerrdquo ficaria (tipo de ser humano sob a oacutetica da Medicina) Pediatria - (processo) PatoloacutegicoCacircncer - (accedilatildeo sobre) Enfermagem Esse exemplo reflete a ordem de citaccedilatildeo padratildeo na qual para qualquer assunto a primeira faceta citada eacute aquela que reflete o propoacutesito do assunto (definindo o produto final) seguida pelas facetas tipo parte processo accedilatildeo agente sempre nessa ordem A ordem manteacutem o geral-antes-do-especiacutefico No exemplo dado HMY Enfermagem em geral vem antes de HQE Cacircncer em geral que vem antes de HXO Pediatria em geral O assunto Crianccedilas - Cacircncer - Enfermagem eacute representado por HXO QEM Y Observa-se que a letra inicial para essa classe (H) eacute ignorada quando da combinaccedilatildeo de subclasses e que a notaccedilatildeo eacute totalmente facetada e sinteacutetica A base notacional eacute ampla - 35 caracteres (19 AZ) e eacute tambeacutem ordinal pura isto eacute ela natildeo tem a pretensatildeo (tarefa impossiacutevel) de refletir a hierarquia Essas caracteriacutesticas produzem nuacutemeros de classificaccedilatildeo excepcionalmente breves em relaccedilatildeo agrave sua especificidade (nuacutemero de conceitos compostos que definem a classe) Por exemplo um item que trata de ldquoCuidados com idosos na residecircnciardquo eacute colocado primeiramente na categoria pacientes e entatildeo em uma subcategoria operaccedilatildeo Na classe Assistecircncia Social (Q) o nuacutemero de classificaccedilatildeo representando essa classe composta eacute QLV EL Q Assistecircncia Social QEL Cuidados na residecircncia QLV Pessoas Idosas

Para adicionar mais detalhes como por exemplo ldquoempreacutestimo bibliotecaacuterio para idosos em tratamento residencialrdquo combina-se Q Assistecircncia Social QEL Cuidados na residecircncia QEP X Empreacutestimo bibliotecaacuterio QLV Pessoas Idosas

Resultando a classificaccedilatildeo QLV EPX L que representa exatamente o assunto Observa-se que eacute difiacutecil encontrar algum outro esquema geral que chegue a esse grau de especificidade sem aumentar significativamente a sua notaccedilatildeo Nenhum siacutembolo aleacutem de nuacutemeros e letras satildeo necessaacuterios na BC2

483 Construccedilatildeo

O sistema de Bliss parte de duas sinopses (quadro 38) uma concisa e outra geral expondo duas dimensotildees da ordem das ciecircncias relaccedilotildees de subordinaccedilatildeo (vertical) e de coordenaccedilatildeo (horizontal)

214

DIVISAtildeO DO CONHECIMENTO EM QUATRO GRANDES CLASSES CLASSES CIEcircNCIA FILOSOFIA HISTOacuteRIA TECNOLOGIA E ARTE Ciecircncia Princiacutepios de Histoacuteria da em geral Fil e Ciecircncia Filosofia CIEcircNCIAS ABSTRATAS E MEacuteTODOS GERAIS Matemaacuteticas Loacutegica Ciecircncias Aplicadas CIEcircNCIAS NATURAIS FIacuteSICAS Fiacutesica Fil da Natureza Histoacuteria da F Tecnologia e Eng F Quiacutemica Histoacuteria da Q Tecnologia e Eng Q CIEcircNCIAS NATURAIS ESPECIALIZADAS E HISTOacuteRIA NATURAL DESCRITIVA Astronomia Cosmologia Geologia Geologia Histoacuterica Geologia Econ Geografia Geografia Econ Metereologia CIEcircNCIAS BIOLOacuteGICAS Biologia Filosofia da Vida Botacircnica Zoologia CIEcircNCIAS ANTROPOLOacuteGICAS Antropologia Fil da Vida H Hdo ConhVida HumanidC MeacutedHig Arqueologia CIEcircNCIAS PSICOLOacuteGICAS Psicologia Geral Filosofia Mental Psicologia Apl Psic Individual Psic Social Filosofia Social Psiquiatria Educaccedilatildeo CIEcircNCIAS SOCIAIS Sociologia Histoacuteria SocPol Ciecircncia Soc Apl Etnologia Religiatildeo Teologia Histoacuteria das Rel Atividade Ecles Mitologia Moral Eacutetica Eacutetica Aplicada Ciecircncia Pol Fil Poliacutetica Governo Jurisprudecircncia Fil do D Histoacuteria do Direito Praacutetica do Direito Economia Fil da E Histoacuteria Econocircmica Economia Induacutestria Comeacutercio ARTES Histoacuteria das Artes Teacutecnicas das Artes Artes industriais Belas Artes Muacutesica Filologia Linguiacutestica e Liacutenguas Literatura Retoacuterica Oratoacuteria Drama e Teatro

QUADRO 38 - SINOPSES VERTICAL E HORIZONTAL DO ESQUEMA DE BLISS FONTE San Segundo Manuel (1996 p 97-98)

O esquema baseia a sua ordenaccedilatildeo em classes que reuacutenem a totalidade do conhecimento sendo que o proacuteprio sistema do conhecimento constitui uma unidade com base na ordem da natureza (ordem na qual estaacute implicada a ideacuteia de evoluccedilatildeo fundamentada na ordem cientiacutefica e pedagoacutegica ou seja no modo em que os especialistas

215

supotildeem que o seu conhecimento seja organizado) Bliss mostra os diferentes aspectos de cada aacuterea do conhecimento de maneira diagramaacutetica isto eacute divide cada disciplina a partir de quatro pontos de vista filosoacutefico cientiacutefico histoacuterico e tecnoloacutegicoartiacutestico e trata de conciliar o ponto de vista teoacuterico e o ponto de vista praacutetico ou biblioteconocircmico procurando natildeo distinguir entre a classificaccedilatildeo do conhecimento ou filosoacutefica e a classificaccedilatildeo bibliograacutefica207 De acordo com essa sinopse do conhecimento estabelece-se uma divisatildeo linear de vinte e seis classes principais (quadro 39) representada por uma notaccedilatildeo alfabeacutetica (letras maiuacutesculas do alfabeto latino A-Z)

1-9 Universo do Conhecimento Comunicaccedilotildees A Filosofia (incluindo Loacutegica Matemaacutetica Estatiacutestica Ciecircncia Ciecircncia e Tecnologia) B Fiacutesica (incluindo Tecnologia com base em Fiacutesica) C Quiacutemica (incluindo Ciecircncia e Tecnologia de Materiais) D Astronomia (incluindo Ciecircncias Espaciais Ciecircncias da Terra Geofiacutesica Geologia

Hidrologia Metereologia Geografia Regional e Sistemaacutetica) E Biologia (incluindo Microbiologia) F Botacircnica G Zoologia H Antropologia (incluindo Biologia Humana Ciecircncias da Sauacutede Medicina) I Psicologia J Educaccedilatildeo K Ciecircncias Sociais (incluindo Sociologia Antropologia Social Costumes Folclore

Etnografia Ecologia Viagens e Descriccedilotildees) L Histoacuteria (incluindo Biografia Estudos Histoacutericos Auxiliares Arqueologia Histoacuteria por

assunto Histoacuteria por periacuteodo) M Europa (incluindo Geografia e Histoacuteria social-poliacutetica e nacional) N Ameacuterica (incluindo Geografia e Histoacuteria social-poliacutetica e nacional) O AO Austraacutelia OH Aacutesia OS Aacutefrica P Religiatildeo (incluindo Teologia Sistemas religiosos Religiotildees Antigas Religiotildees

Modernas Ocultismo Moral e Eacutetica) Q Assistecircncia Social e Administraccedilatildeo (incluindo Serviccedilo Social Necessidades humanas) R Ciecircncia Poliacutetica (incluindo Administraccedilatildeo Puacuteblica) S Direito (incluindo Jurisprudecircncia e Lei) T Economia (incluindo Sistemas Econocircmicos Administraccedilatildeo de Empresas) U Tecnologia (pouca tecnologia cientiacutefica) Artes Uacuteteis Utilitaacuteria Industrial e Tecnoloacutegica

(incluindo Agricultura e Criaccedilatildeo de animais Tecnologia de Mineraccedilatildeo Engenharia e Produccedilatildeo Tecnoloacutegica Ciecircncias Materiais e Tecnologia Tecnologias com base na Fiacutesica Tecnologia de Construccedilatildeo Engenharia Civil Arquitetura Engenharia de Sauacutede Puacuteblica Tecnologia de Transportes Ciecircncia e Tecnologia Militar Tecnologias outras por produto Alimento Vestuaacuterio Moradia Artes Recreativas)

V Arte Belas Artes (incluindo Estilos de Arte Arquitetura como Arte Artes Plaacutesticas Escultura Ceracircmica Artes Graacuteficas Pintura Desenho Artes Decorativas Muacutesica Arte de Expressatildeo)

W Filologia Liacutengua e Literatura (incluindo Linguiacutestica Liacutenguas Individuais e suas Literaturas Literatura Geral e Comparada)

Z Religiatildeo Ocultismo Moral QUADRO 39 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO BC2 (1977) FONTE Piedade (1983 p 185-186) Maniez (1993 p 130) San Segundo Manuel (1996 p 99)

207 Apesar disso segundo Dahlberg (1979 p 355) ele de modo geral procedia a uma rearrumaccedilatildeo das aacutereas visando agrave brevidade da notaccedilatildeo e a um arranjo mais faacutecil dos livros nas estantes

216

A BC1 conta com sete esquemas auxiliares para subdividir as classes principais

segundo as facetas forma (nuacutemeros araacutebicos) lugar (letras minuacutesculas) liacutengua (letras

maiuacutesculas precedidas de uma viacutergula) periacuteodos histoacutericos (letras maiuacutesculas

precedidas de uma viacutergula)208 filologia (letras e nuacutemeros araacutebicos) trabalhos de

filoacutesofos (letras e nuacutemeros araacutebicos) e biografias especiacuteficas de personagens histoacutericos

(letras maiuacutesculas precedidas de viacutergula) Esse conjunto de categorias forma a base da

anaacutelise por facetas do sistema

484 Revisatildeo

O grande impacto da Classificaccedilatildeo de Bliss aconteceu com a nova ediccedilatildeo da

Bibliographic Classification a BC2 A nova e revisada ediccedilatildeo foi iniciada por Jack

Mills e tem sido produzida em 22 partes compreendendo um ou dois assuntos por

volume (um iacutendice minucioso A-Z acompanha cada volume no qual assuntos podem

ser localizados via qualquer parte do todo) O primeiro volume foi publicado em

1977209 A publicaccedilatildeo estaacute agora sob os cuidados de K G Saur e revisotildees tecircm sido

promovidas em alguns volumes da BC2 visando manter a atualidade dos assuntos

A BCA hoje existe para promover o desenvolvimento e uso da BC2 com a

responsabilidade da publicaccedilatildeo das alteraccedilotildees oficiais do esquema via boletim anual

denominado Bliss Classification Bulletin que natildeo soacute possibilita o contato e a troca de

experiecircncias entre usuaacuterios como tambeacutem indica a direccedilatildeo e as tendecircncias do

esquema (BATLEY 2005 p 116 BLISS CLASSIFICATION ASSOCIATION 2008)

O esquema praticamente natildeo eacute utilizado na Ameacuterica nativa de Bliss mas a sua

implementaccedilatildeo tem se concentrado entre as bibliotecas acadecircmicas e especializadas

do Reino Unido e do Commonwealth Pelo fato de ser o uacutenico sistema que apresenta

uma classe principal dedicada agrave Assitecircncia Social (Q - Social Welfare) a primeira

ediccedilatildeo BC1 foi amplamente adotada por muitas bibliotecas especializadas em

Assistecircncia Social no Reino Unido A segunda ediccedilatildeo BC2 eacute o uacutenico esquema geral

construiacutedo sob os princiacutepios da classificaccedilatildeo facetada publicado no Ocidente

208 Na BC2 Mills trataraacute de distinguir a notaccedilatildeo de tempo da de liacutengua (SAN SEGUNDO MANUEL 1996 p 101)

209 MILLS J BROUGHTON V (Ed) Bliss Bibliographic Classification London Butterworth 1977-

217

49 CLASSIFICACcedilAtildeO POR FACETAS

A ideacuteia de representar o conteuacutedo temaacutetico dos documentos a partir dos seus

aspectos constituintes remonta a Kaiser210 precursor da classificaccedilatildeo facetada de

Ranganathan (RODRIGUEZ 1984)

Para Kaiser todo assunto eacute composto de duas categorias baacutesicas o

concreto aquilo que realmente existe do proacuteprio assunto e o processo accedilatildeo que

incide em cima do assunto modificando-o isto eacute alterando o concreto que pode

sofrer vaacuterios processos os quais especificam o concreto Assim por exemplo

Concreto processo

Biblioteca - administraccedilatildeo

Biblioteca - informatizaccedilatildeo

Biblioteca - organizaccedilatildeo

O processo depende do concreto soacute existe se houver um concreto a sua

funccedilatildeo eacute a de subdivisatildeo dos assuntos A combinaccedilatildeo entre concreto e processo foi

denominada por Kaiser de enunciado Os concretos podem ser moacuteveis (caneta)

imoacuteveis (planeta Terra) e abstratos (educaccedilatildeo) Os processos satildeo condiccedilotildees

estaacuteticas ou dinacircmicas dos concretos Na concepccedilatildeo de Kaiser agraves duas categorias

poderiam ser acrescentados paiacuteses como um concreto imoacutevel especial (subdivisatildeo

por paiacuteses) o que resultaria em trecircs categorias o concreto o processo e o lugar

sendo o concreto logicamente a mais importante (RODRIGUEZ 1984)

Eacute possiacutevel observar que as ideacuteias de Kaiser tanto no que diz respeito agrave

categoria do concreto como agrave categoria do processo influenciaram Ranganathan no

estabelecimento das categorias personalidade e energia respectivamente

210 Julius Kaiser (1868-1927) bibliotecaacuterio norteamericano atuou profissionalmente no Philadelphia Commercial Museum e na Engineering Societiesrsquos Library entre outras corporaccedilotildees Kaiser em sua obra Systematic Indexing (1911) como ressalta Tocircrres (2000) ldquoconsiderou que a indexaccedilatildeo poderia possibilitar o agrupamento de assuntos semelhantes desde que a informaccedilatildeo fosse representada segundo expressotildees construiacutedas artificialmente com base em uma foacutermula preacute-estabelecidardquo e propocircs para a praacutetica da indexaccedilatildeo alfabeacutetica de assuntos a utilizaccedilatildeo da subordinaccedilatildeo de concretos e processos como subdivisatildeo o que segundo A C Foskett (1973a p 50) foi ldquoa primeira tentativa de busca de uma soluccedilatildeo judiciosa e coerente para o problema da ordem de importacircncia sendo ainda vaacutelidas e uacuteteis em muitos casosrdquo Kaiser estabeleceu algumas regras e procedimentos para a formaccedilatildeo dos enunciados (selecionar o que eacute importante para o objetivo que se tem respeitar a especificidade do documento trabalhar cada item separadamente atenccedilatildeo aos nomes concretos evitar inversotildees preposiccedilotildees e plural e testar a precisatildeo de cada enunciado tanto do ponto de vista do indexador quanto do usuaacuterio do iacutendice) e apresentou em sua proposta as bases essenciais para o tratamento temaacutetico facetado pois ele contempla as dimensotildees estaacutetica e dinacircmica do conteuacutedo (RODRIGUEZ 1984)

218

As classificaccedilotildees facetadas como o modelo ranganathiano (cf subseccedilatildeo 47)

natildeo pararam de suscitar depois de meio seacuteculo estudos criacuteticos aprofundamentos

e inovaccedilotildees notadamente dos ingleses reunidos no CRG

Classificaccedilotildees facetadas dependem em siacutentese da junccedilatildeo apropriada de

componentes notacionais para especificar um assunto - componentes do assunto

que reunidos de modo compatiacutevel satildeo normalmente chamados facetas - vem daiacute

esquemas de classificaccedilatildeo facetada tambeacutem chamados na terminologia teacutecnica

esquemas de classificaccedilatildeo analiacutetico-sinteacutetica O nome teacutecnico reflete as duas

maiores atividades envolvidas na aplicaccedilatildeo da classificaccedilatildeo facetada anaacutelise de um

assunto em facetas e siacutenteses de facetas para criar uma notaccedilatildeo (HUNTER 2002)

A teoria da classificaccedilatildeo facetada de Ranganathan baseia-se no argumento

de que em vez de tentar listar todos os assuntos em detalhes uma classificaccedilatildeo

deveria primeiramente identificar classes principais ou disciplinas da mesma

maneira como os esquemas enumerativos Entatildeo no interior de cada classe

principal ou disciplina seria necessaacuterio enumerar ou listar somente conceitos

baacutesicos Os assuntos em sua grande maioria satildeo compostos o que significa que

satildeo formados de duas ou mais facetas Essas facetas ou elementos de um assunto

podem ser especiacuteficas para aquele assunto ou comuns para todos os assuntos

Facetas comuns para todos os assuntos tecircm sido exploradas tambeacutem nas seccedilotildees da

CDD e CDU (lugar tempo forma de apresentaccedilatildeo etc)211

Um esquema de classificaccedilatildeo facetada natildeo lista assuntos em detalhes como

um esquema enumerativo em vez disso ele providencia uma caixa de ferramentas

211 Exemplo de classificaccedilatildeo utilizando dois tipos de esquema (enumerativo e facetado) para o assunto ldquoDesign de submarino nos Estados Unidos no seacuteculo XXrdquo Usando um esquema enumerativo o classificador pode comeccedilar verificando o iacutendice No esquema da CDD haacute inuacutemeras entradas sob submarinos incluindo desenho em 62381257 O proacuteximo passo eacute dirigir-se ao lugar apropriado nas tabelas e verificar se instruccedilotildees foram providenciadas (sobre como adicionar os conceitos de Estados Unidos e seacuteculo XX) para a notaccedilatildeo listada Em 6238121-8129 o classificador eacute instruiacutedo sobre como especificar design de um tipo especiacutefico de manufaturado (adicionar nuacutemeros seguindo 62382 que eacute como o nuacutemero listado no iacutendice foi construiacutedo) mas natildeo especifica como as subdivisotildees standard de lugar e tempo satildeo adicionadas ao nuacutemero base Presume-se que elas devem ser precedidas por um uacutenico zero Lugar (0973) e tempo (0904) podem agora ser adicionadas ao nuacutemero base 6238125709730904 Usando um esquema facetado o classificador pode primeiro analisar um assunto em seus componentes isolados o conceito central (submarino - que corresponde agrave faceta personalidade) processo (design) lugar (Estados Unidos) e tempo (seacuteculo XX) Em seguida podem ser consultados o iacutendice e as tabelas do esquema com a finalidade de descobrir a notaccedilatildeo para cada um desses conceitos Esses elementos notacionais podem entatildeo ser combinados para formar a notaccedilatildeo completa Na 6ordf ediccedilatildeo da CC D5254 submarino (D eacute a classe principal Engenharia 5254 representa submarino) 4 Desenho na classe D (Engenharia) 73 Estados Unidos N seacuteculo XX A notaccedilatildeo completa incluindo os siacutembolos de relaccedilatildeo eacute D5254473rsquoN (BATLEY 2005 p 112-113)

219

a partir da qual uma notaccedilatildeo para qualquer assunto pode ser construiacuteda

Ranganathan (1960 p 12) usava como analogia um conjunto Meccano (marca

comercial surgida em 1908 que comercializava modelos em miniatura de maacutequinas

para montar) Sayers (1955a p 206) descreveu as tabelas da CC como partes de

um ldquoconjunto mecacircnico que pelo uso de porcas e parafusos podia ser usado para

muitas construccedilotildees diferentesrdquo Batley (2005 p 113) menciona que uma analogia

mais familiar hoje em dia poderia ser talvez o Lego (peccedilas individuais que podem

ser acopladas para formar estruturas sofisticadas)

Em suma a Teoria da Classificaccedilatildeo hoje talvez tenha encampado aos seus

significados metafoacutericos (a aacutervore de Porfiacuterio as raiacutezes e ramos hieraacuterquicos dos

sistemas Baconianos invertidos o conjunto Meccano da classificaccedilatildeo Colon o

brinquedo Lego) labyrinths networks nodes links e discursos de colaboraccedilatildeo

complementaccedilatildeo e intertextualidade crescentes que dominam a teoria do hipertexto

Teoacutericos da classificaccedilatildeo estatildeo contribuindo para o desenvolvimento do hipertexto e

da internet explorando o papel e a influecircncia dos esquemas de classificaccedilatildeo

tradicionais em sistemas de informaccedilatildeo contemporacircneos e especulando sobre a sua

funccedilatildeo em desenvolvimentos futuros212

212 Haacute bibliotecaacuterios cientistas da informaccedilatildeo mas tambeacutem filoacutesofos socioacutelogos linguistas arquitetos de informaccedilatildeo webdesigners etc discutindo problemas aparentemente diferentes entretanto um olhar treinado pode ver muitas conexotildees e similaridades Pessoas usando diferentes enfoques infelizmente tambeacutem usam diferentes terminologias algumas vezes falhando em perceber que elas estatildeo falando sobre problemas anaacutelogos uma situaccedilatildeo paradoxal como o proacuteprio objetivo da Organizaccedilatildeo do Conhecimento ser o de prover acesso agrave informaccedilatildeo por meio de linguagens padronizadas Mas essa variedade eacute tambeacutem uma riqueza para o campo que impregnado de suas origens documentaacuterias vecirc-se envolvido na discussatildeo interdisciplinar O escopo da Organizaccedilatildeo do Conhecimento eacute mais amplo do que a classificaccedilatildeo e a indexaccedilatildeo tradicionais de documentos bibliograacuteficos A vasta experiecircncia acumulada pelas bibliotecas tem produzido ferramentas sofisticadas como regras de catalogaccedilatildeo sistemas de classificaccedilatildeo e interfaces de busca online que podem ter resultados uacuteteis quando aplicados aos novos ldquoportadoresrdquo de informaccedilatildeo como hipertexto multimiacutedia e documentos digitais (o proacuteprio uso da internet como instrumento de obtenccedilatildeo de informaccedilotildees seria de pouca expressatildeo sem o desenvolvimento de ferramentas de busca mais avanccediladas as quais desempenham evidentes funccedilotildees de filtragem e em casos como o Google aspiram a uma credibilidade decorrente da utilizaccedilatildeo de paracircmetros objetivos embasados na suposta relevacircncia que os proacuteprios usuaacuterios da internet atribuem agrave informaccedilatildeo) Jaacute um objeto de museu ou um monumento requerem elementos adicionais de informaccedilatildeo natildeo considerados nas ferramentas bibliograacuteficas padratildeo Assim parece que alguma unificaccedilatildeo desses meacutetodos e formatos seria desejaacutevel no futuro (GNOLI 2008 p 137-138) De fato o CRG (1978 p 23) tem apontado o que Austin chamou de ldquosiacutendrome do prato chinecircsrdquo o que significa que classificar um livro sobre pratos chineses eacute essencialmente diferente de classificar os proacuteprios pratos O tratamento bibliograacutefico adiciona dimensotildees que estatildeo refletidas nos coacutedigos de catalogaccedilatildeo e nos esquemas de classificaccedilatildeo para o fenocircmeno tratado como caracteriacutesticas fiacutesicas do suporte (capa tamanho da folha estilo de impressatildeo ilustraccedilatildeo) enfoque disciplinar e teoacuterico adotado pelo autor do texto entre outras dimensotildees Tambeacutem deve-se considerar que os livros contecircm descriccedilotildees de objetos em relaccedilatildeo a outros

220

Na Iacutendia o DRTC desenvolve e aprofunda a teoria de Ranganathan Ele tem

formado teoacutericos renomados Bhattacharyya Gopinath Iyer Neelameghan213

A vantagem citada pelos especialistas e defensores do enfoque totalmente

facetado para a classificaccedilatildeo como Batley (2005 p 113) e Broughton (2004 p

252) eacute que ela eacute o melhor caminho para fornecer detalhamento precisatildeo e

regularidade no conhecimento Esquemas enumerativos tecircm uma obsolescecircncia

natural (enumeram o estado do conhecimento no tempo das suas publicaccedilotildees e tecircm

que ser constantemente revisados e atualizados para acomodar novos assuntos)

Esquemas facetados podem frequentemente acomodar novos assuntos (requerem

menos revisotildees em razatildeo das suas estruturas menos riacutegidas e assuntos novos

podem ser acomodados pela simples extensatildeo das tabelas)

Vickery (1963) defende o esquema analiacutetico-sinteacutetico apresentado como a

melhor adaptaccedilatildeo agraves exigecircncias de uma classificaccedilatildeo moderna flexibilidade forte

expressividade simplicidade Mas sem criticar explicitamente a CC recusa a

ambiccedilatildeo de uma foacutermula universal de descriccedilatildeo de assuntos que seria aplicaacutevel agrave

Medicina agrave Psicologia e agrave Linguiacutestica tanto quanto agrave Metalurgia ou agrave Ciecircncia dos

Solos Para o CRG o meacutetodo das facetas eacute tatildeo melhor adaptaacutevel a uma indexaccedilatildeo

de qualidade quanto menor for o domiacutenio de aplicaccedilatildeo e ele recomenda sobretudo a

construccedilatildeo daquilo que chama os ldquoesquemas especiaisrdquo Diferente da CC a lista das facetas do CRG natildeo eacute fornecida a priori dentro de

uma foacutermula imutaacutevel ela deve ser pesquisada de maneira pragmaacutetica para um

exame detalhado da documentaccedilatildeo relevante do domiacutenio a tratar Entretanto o

iniacutecio eacute tambeacutem igualmente ao da CC o de trazer para uma anaacutelise conceitual o

nuacutemero teoricamente ilimitado dos termos do domiacutenio a um nuacutemero restrito de

ldquocategorias fundamentaisrdquo Outra diferenccedila importante tem um aspecto

predominantemente paradigmaacutetico na concepccedilatildeo das facetas Observa-se que na

213 Eacute assim que Bhattacharyya concebeu em 1979 o sistema de indexaccedilatildeo em cadeia POPSI (Postulate-Based Permuted Subject Index - Indexaccedilatildeo de Assuntos Baseada em Postulado Permutado) inspirado na CC O sistema de facetas eacute conservado mas considerado como uma ferramenta de estruturaccedilatildeo semacircntica e completado por uma sintaxe As quatro categorias elementares lembram de perto as facetas da CC mas satildeo dessa vez claramente definidas (BHATTACHARYYA 1979) a) disciplina substitui a faceta de base da CC b) entidade (aproxima-se de Personalidade) designa todo objeto identificaacutevel c) accedilatildeo (no lugar de Energia) eacute dividida em accedilatildeo reflexiva (self action) por exemplo respirar e accedilatildeo externa (external action) por exemplo comer d) propriedade (aproxima-se de Mateacuteria) compreende os atributos das entidades ou das accedilotildees (inteligecircncia densidade eficaacutecia) Dessa forma POPSI abandona a rigidez formal da CC por uma sintaxe simples e eficaz

221

CC Ranganathan privilegia o sintagmaacutetico com a sua foacutermula PMEST Vickery

(1963) ao contraacuterio procura estabelecer experimentalmente as categorias

fundamentais de um domiacutenio restrito natildeo a partir de uma lista de assuntos

representativos mas a partir de uma lista de conceitos a semacircntica tem prioridade

sobre a sintaxe O autor aconselha coletar centenas de termos representativos da

literatura do domiacutenio e consultar para cada termo um dicionaacuterio de definiccedilotildees

Sabe-se que a definiccedilatildeo dos dicionaacuterios de liacutengua liga cada termo a uma

categoria mais geral de conceito por exemplo gato a animal fruto a aacutervore correr a

ir lento a maneira de se conduzir etc Pode-se ainda ir mais longe e de aproximaccedilatildeo

em aproximaccedilatildeo chegar agrave noccedilatildeo mais geral que natildeo pode ser encontrada espeacutecie de

plataforma superior intransponiacutevel que se pode chamar de ldquoprimitivasrdquo ou ldquocategorias

fundamentaisrdquo entidade estado accedilatildeo tempo espaccedilo quantidade

Esse meacutetodo de construccedilatildeo sob medida das facetas tem a vantagem de natildeo

impor um esquema a priori e de permitir discernir melhor a natureza das categorias

fundamentais obtidas indo do especiacutefico ao geneacuterico ateacute o niacutevel mais elevado de

generalidade Pode-se montarconstruir uma lista de categorias sejam elas

universais sejam locais

Uma lista de ldquocategorias universaisrdquo assim como uma ldquoordem padratildeo de

citaccedilatildeordquo foram propostas pelo CRG como candidatas agrave estandardizaccedilatildeo todo (objeto

do assunto ou produto final) tipos partes materiais propriedades processos

operaccedilotildees e agentes aos quais podem ser acrescentados espaccedilo e tempo bem

como forma de apresentaccedilatildeo (FOSKETT A C 1996 p 158) Pode-se tambeacutem citar

a norma Regravegles drsquoEacutetablissent decircs Thesaurus Monolingues (ASSOCIATION 1981)

da Association Franccedilaise de Normalisation (AFNOR) que fornece regras para a

construccedilatildeo de tesauros monolingues e que oficializou a possibilidade de adaptar aos

tesauros a teacutecnica das facetas fornecendo uma ferramenta de trabalho para analisar

os campos semacircnticos e para determinar as relaccedilotildees entre os conceitos que esses

campos carregam A norma na seccedilatildeo 57 (Eacutetablissement decircs Relations) explica

como agrupar descritores e propotildee a escolha entre temas e facetas214 A noccedilatildeo de

tema (inexistente na norma) eacute ilustrada pelas disciplinas Quanto agraves categorias

fundamentais eacute pela sua enumeraccedilatildeo processos (ativo) fenocircmeno (passivo) 214 A norma Z-47-100 considera os dois meacutetodos de reagrupamento incompatiacuteveis entre si se bem que como demonstra Maniez (1999 p 258-259) diferentes criteacuterios comuns agrave mesma classe podem perfeitamente se conjugar Consequentemente como acentua Michele Hudon (1994 p 85) pode-se optar por uma terceira soluccedilatildeo a mixagem dos dois meacutetodos

222

propriedades pessoas materiais ferramentas ou equipamentos que pode se

chegar a uma concepccedilatildeo mais clara de facetas que segundo a norma satildeo os niacuteveis

superiores de uma hierarquizaccedilatildeo de conceitos obtida pela anaacutelise progressiva do

especiacutefico ao geneacuterico (ASSOCIATION 1987)215 ou seja pela aplicaccedilatildeo do

pensamento indutivo Essas categorias oferecem uma ferramenta simples e

universal de classificaccedilatildeo de conceitos e satildeo tambeacutem perfeitamente adaptaacuteveis agrave

divisatildeo loacutegica gecircneroespeacutecie pela simples razatildeo de que elas provecircm de uma

operaccedilatildeo inversa (do particular ao geral) A definiccedilatildeo abstrata eacute mais delicada como cada vez que se atinge um niacutevel

elevado de generalizaccedilatildeo Quer sejam ferramentas de estruturaccedilatildeo do

conhecimento quer sejam gecircneros primitivos semacircnticos as categorias ldquodizemrdquo dos

conceitos universais do niacutevel superior de generalizaccedilatildeo Pode-se optar por designar

os termos de ldquofacetas fundamentaisrdquo ou ldquofacetas categoriaisrdquo

As facetas de domiacutenios especiais segundo Vickery (1963) perdem em

universalidade o que ganham em especificidade quanto mais as categorias satildeo

especializadas menos elas satildeo universais

O CRG tem tido muito trabalho com a questatildeo da ordem de combinaccedilatildeo das

facetas a qual eacute abordada com a mesma preocupaccedilatildeo pragmaacutetica adotada para tratar

das categorias fundamentais Vickery (1963) entre outros propocircs o princiacutepio de uma

ordem de sucessatildeo que iria dos objetos e dos meios de accedilatildeo aos resultados esperados

(quadro 39) Para o CRG eacute suficiente que a ordem estabelecida seja constantemente

respeitada Essa ordem sintagmaacutetica das facetas tem um duplo objetivo

a) permite uma melhor legibilidade das foacutermulas de indexaccedilatildeo e evita as

ambiguidades criadas frequentemente pela aleatoriedade ou incerteza

de descritores

b) assegura graccedilas agrave notaccedilatildeo (iacutendices e marcas de facetas) o

reagrupamento das obras (de um domiacutenio particular) e dos resumos

descritivos (nos fichaacuterios) em funccedilatildeo da proximidade dos assuntos

Nos sistemas de classificaccedilatildeo facetados existem vaacuterias foacutermulas que podem

ajudar a determinar as facetas representadas em um esquema de classificaccedilatildeo e a

ordem na qual elas satildeo apresentadas A ordem de citaccedilatildeo eacute uacutetil para providenciar

uma visatildeo geral da foacutermula de faceta conforme exemplificado no quadro 40

215 ldquoce sont les niveaux supeacuterieurs drsquoune hieacuterarchisation des concepts obtenue par reacuteduction progressive du speacutecifique au geacuteneacuteriquerdquo

223

FOacuteRMULA DE FACETAS OU CATEGORIAS AUTORES Concreto - Processo Kaiser 1911

Coisa - Parte - Material - Accedilatildeo - Agente Coates 1960

Personalidade - Mateacuteria - Energia - Espaccedilo - Tempo Ranganathan 1960

Substacircncia produto organismo - Parte oacutergatildeo estrutura - Propriedade (qualidade) e Medida (quantidade) - Objeto da accedilatildeo mateacuteria bruta - Accedilatildeo operaccedilatildeo processo atividade - Agente ferramenta - Propriedade geral processo operaccedilatildeo - Espaccedilo - Tempo Coisa - Parte - Propriedade - Processo - Operaccedilatildeo - Agente - Espaccedilo - Tempo

Vickery 1963 Vickery 1975

Coisa - Espeacutecie - Parte - Material - Propriedade - Processo - Operaccedilatildeo - Agente ferramenta - Propriedade geral processo operaccedilatildeo - Espaccedilo - Tempo

McIlwaine 2000

QUADRO 40 - FOacuteRMULAS DE FACETAS OU DE CATEGORIAS DE ACORDO COM OS RESPECTIVOS AUTORES FONTE Vickery (1963 1975) Batley (2005 p 121)

Pode-se observar que algumas facetas satildeo claramente mais complexas do

que outras mas de modo geral todas partem do especiacutefico (coisa substacircncia

personalidade objeto do assunto ou produto final) para o geral (espaccedilo e tempo)

Algumas das facetas podem ser modificadas de acordo com as necessidades de

uma coleccedilatildeo particular ou grupo de usuaacuterios

410 QUADROS-SIacuteNTESE DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA

Os esquemas gerais de classificaccedilatildeo (tradicionais) existentes elaborados de

alguma maneira para uma eacutepoca e cultura determinada e especialmente para

bibliotecas acadecircmicas nacionais e puacuteblicas tecircm sido como demonstram as suas

histoacuterias convencional e confiaacutevel devido a resistecircncia agrave mudanccedila (CDD) erudito e

filosoacutefico em razatildeo da sua ideacuteia de expansatildeo estar fundamentada no pensamento

evolucionista (EC) satisfatoacuterio em razatildeo da obtenccedilatildeo de resultados frente a

singularidades impossiacuteveis (CDU) praacutetico em razatildeo das soluccedilotildees simples para todo

tipo de problemas (LCC) loacutegico e individual em razatildeo de ser o produto da reflexatildeo e

opiniatildeo de um homem (BSC) coerente e sistematizado em razatildeo das regras expliacutecitas

que atraem aqueles que buscam a ldquoperfeiccedilatildeordquo num esquema bibliograacutefico (CC) e

ilusoacuterio em razatildeo da busca de consenso entre opiniotildees abalizadas o que tem produzido

uma visatildeo de conhecimento de modo geral natildeo-aceitaacutevel (BC) (quadro 41 e 42)

224

SEacuteCULO XIX SEacuteCULO XX HARRIS (1870)

12 classes

DEWEY (CDD 1876-2003)

10 classes

CUTTER (EC 1891-1893)

26 classes

OTLETLA FONTAINE

(CDU 1905-2003) 10 classes

LCC (LCC 1902-) 21 classes

BROWN (BSC 1906-1939)

11 classes

RANGANATHAN (CC 1933-1973)

26 classes

BLISS (BC1-1935BC2-1977)

26 classes RAZAtildeO RAZAtildeO MENTE RAZAtildeO

000 Generalidades (CCompCInf)

A Obras Gerais 0 Generalidades (GlInforOrg)

A Obras Gerais A Generalidade Z Generalidades

Filosofia 100 Filosofia (FilPsicologia)

B FilosofiaRelig D Hist Ecles

1 Filosofia (FilPsicologia)

B FilosofiaPsicReligiatildeo J-K FilosofiaReligiatildeo

R Filosofia AFilosofiaLoacutegMatEstatCiecircnciaC e Tecnol

S Psicologia I Psicologia MZ MisticismoEspirit Religiatildeo 200 Religiatildeo C Religiatildeo Cristatilde 2 Religiatildeo Q Religiatildeo PRelOculMoralEacutetica

Z ReligOcultMoral Ciecircncias Sociais Ciecircncias Poliacuteticas

300 Sociologia (Ciecircncias Sociais)

H CSociais I Sociologia

3 Ciecircncias Sociais

H Ciecircncias Sociais L Ciecircncias SocPol Y Sociologia K Ciecircncias Sociais Descriccedilotildees e Viagens

J GovernoPol J Ciecircncia Poliacutetica W Ciecircncias Poliacuteticas R C PolAd Puacutebl X Economia T EconomiaAd Empr K LegislDireito K Direito S Direito L Educaccedilatildeo T Educaccedilatildeo J Educaccedilatildeo MATEacuteRIA E FORCcedilA CiecircnciasNaturais Ciecircncias Aplicadas

500 Ciecircncias Naturais (Ciecircncias)

L Ciecircncias M HistNatural

5 Ciecircncias (Ciecircncias Naturais)

Q Ciecircncia B-DCiecircncias Fiacutesicas A Ciecircncias DAstronomiaCEspacC da Terra

B Matemaacutetica C Fiacutesica B Fiacutesica S Engenharia D Engenharia E Quiacutemica C Quiacutemica VIDA 600 Artes Praacuteticas

(C AplicTecnologia) R Artes Uacuteteis T Manufaturas

6 Ciecircncias Aplicadas (Tecnologia)

I Artes Domeacutesticas Biologia Econocircmica

M Artes Uacuteteis U TecnologiaArtes UacuteteisArtes Recreativas

E-F C Bioloacutegicas G Biologia E Biologia H Geologia

QUADRO 41 - CLASSES PRINCIPAIS DOS ESQUEMAS GERAIS DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA continua FONTE a autora

225

N Botacircnica I Botacircnica F Botacircnica S Agricultura J Agricultura O Zoologia KZ Zoologia G Zoologia P Antropologia

Q Medicina R Medicina G-H MedicinaEtnol L Medicina

H Antropologia

T Tecnologia FTecnologia U Ciecircncia Militar V Ciecircncia Naval

IMAGINACcedilAtildeO IMAGINACcedilAtildeO MEMOacuteRIARegistro IMAGINACcedilAtildeO

M Muacutesica Belas Artes 700 Belas Artes

(ArtesRecreaccedilatildeo) W Belas Artes V Arte-RecrEsp TeatroMuacutesica

7 Belas-Artes (ArtesRecrEspor)

N Belas Artes N Belas Artes

V ArtesBelas Artes

Poesia 400 Filologia

(Liacutenguas) X Liacutengua 4 Filologia

(vazio) P LiacutenguaLiteratura M LiacutenguaLiteratura P Linguiacutestica

W FilolLiacutenguaLiter

Miscelacircnea Literaacuteria 800 Literatura Y Literatura 8 LiacutenguaLiteratura N Gecircneros Literaacuter O Literatura Ficccedilatildeo YF FicccedilatildeoFicccedilatildeo

MEMOacuteRIA MEMOacuteRIA MEMOacuteRIARegistro MEMOacuteRIA

Histoacuteria 900 Histoacuteria (HistoacuteriaGeografia)

F Histoacuteria 9 Histoacuteria C HistoacuteriaCiecircncias Aux O-W HistoacuteriaGeogr V Histoacuteria L Histoacuteria

DHist Geral e da Europa EHistoacuteria Ameacuterica (Geral) FHistoacuteria Ameacuterica (EUA) ZBibliogrBibliotRecInf GeografiaViagens GeogrViagens G GeogrViagem 9 Geografia GGeogrAntropRecreaccedil

U Geografia

Histoacuteria Civil Biografia Biografia E Biografia 9 Biografia X Biografia Miscelacircnea Z Arte do Livro

QUADRO 41 - CLASSES PRINCIPAIS DOS ESQUEMAS GERAIS DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA conclusatildeo FONTE a autora

226

ANO CLASSIFICACcedilAtildeO PRINCIacutePIOS GERAIS 1876 Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey

(CDD) Hieraacuterquica geralracionalismo baconiano rege a divisatildeo notaccedilatildeo decimal pura integridade dos nuacutemeros divisatildeo do conhecimento em 9 classes principais (campos do saber - disciplinas baacutesicas) e 1 classe generalidades subdivisatildeo das classes principais em mateacuterias ecircnfase na praacutetica

1905-1907

Classificaccedilatildeo Decimal Universal (CDU)

Hieraacuterquica universalnotaccedilatildeo natildeo rigorosamente decimal mas mista praticada em funccedilatildeo da necessidade integridade dos nuacutemeros divisatildeo do conhecimento em classes principais (9 campos do saber - disciplinas baacutesicas - e 1 classe reservada para generalidades subdivisotildees mais avanccediladas das classes principais que as da CDD permitindo uma anaacutelise mais detalhada dos assuntos importacircncia da sintaxe - uso de procedimentos sintaacuteticos que multiplicam as possibilidades de combinaccedilotildees

1891 Classificaccedilatildeo Expansiva de Cutter(EC)

Erudita e filosoacuteficaa ideacuteia baacutesica do sistema consiste de uma organizaccedilatildeo de extensatildeo crescente com vaacuterias tabelas classificatoacuterias separadas divisatildeo geral das classes segue a ideacuteia evolucionista

1902 Classificaccedilatildeo da Biblioteca do Congresso (LCC)

Primazia dos livros sobre os assuntos primazia da praacutetica sobre a sistematizaccedilatildeo primazia das palavras (excesso de ordem alfabeacutetica) primazia da garantia literaacuteria primazia da demanda potencial

1906 Classificaccedilatildeo de Assuntos de Brown (BSC)

Primazia do concreto (ideacuteia de que os assuntos satildeo concretos)disposiccedilatildeo das ciecircncias junto da qual elas derivam teoria do ldquolugar uacutenicordquo que recomenda que soacute um lugar deve existir para um assunto subdivisotildees de um assunto tratadas em tabelas categoriais Sequecircncia das classes principais segue a ordem do agrupamento mais amplo Mateacuteria Vida Mente Registro

1933 Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos de Ranganathan (CC)

Esquema facetado segue uma ordem loacutegica consistente de cinco facetas ou categorias Personality Matter Energy Space Time (PMEST) que eacute a base para a construccedilatildeo de todo o esquema sintaxe rigorosa composta de foacutermulas de classificaccedilatildeo dos temas utilizando a classe principal da mateacuteria ou disciplina a sequecircncia PMEST e as vezes os ciclos e os niacuteveis notaccedilatildeo liberada do esquema decimal a CC utiliza amplamente as possibilidades dos siacutembolos alfanumeacutericos e siacutembolos de conexatildeo para indicar os conceitos de cada faceta

1935 Classificaccedilatildeo Bibliograacutefica de Bliss (BC)

Enfoque facetado que trabalha no quadro filosoacutefico-cientiacutefico-positivista do iniacutecio do seacuteculo XX a ordem das coisas e portanto das classes principais pode ser estabelecida a ordem das coisas eacute a base da classificaccedilatildeo do conhecimento (a ordem das classes principais segue a gradaccedilatildeo por especialidade) a ordem das coisas eacute determinada pelo uso e pela utilidade que tem para os pesquisadores nos vaacuterios ramos do conhecimento (consenso dos especialistas - base da ordenaccedilatildeo por disciplinas) niacuteveis integrativos brevidade da notaccedilatildeo

QUADRO 42 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES BIBLIOGRAacuteFICAS CLAacuteSSICAS FONTE a autora

227

Com o estudo sucinto dos esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica mais

consagrados constatou-se

a) a inovaccedilatildeo promovida pelo sistema de Dewey ao abarcar o conjunto do

saber com a ajuda de uma divisatildeo hieraacuterquica constante de base dez

b) o avanccedilo da CDU que retomando as classes principais e a notaccedilatildeo

decimal da CDD permitiu anaacutelises mais aprofundadas das mateacuterias

(assuntos)

c) a criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo por Cutter de um sistema filosoacutefico erudito que

seguindo a ideacuteia evolucionista na disposiccedilatildeo geral das classes visava dotar

as bibliotecas de um sistema classificatoacuterio expansivo (de acordo com o

tamanho da coleccedilatildeo)

d) a originalidade da LCC e a sua influecircncia crescente alavancada pela

histoacuteria e pela forccedila de atraccedilatildeo norteamericana

e) a tentativa do sistema de Brown de simplificar o trabalho da classificaccedilatildeo

de promover um grande agrupamento (categorias - nos moldes das

classificaccedilotildees filosoacuteficas) e de antecipar o desenvolvimento da anaacutelise em

facetas

f) a grande contribuiccedilatildeo do sistema de Ranganathan agrave organizaccedilatildeo do

conhecimento ao dotar a Biblioteconomia de fundamentos racionais

(postulados regras e princiacutepios) e constatar que as mateacuterias mais

complexas sempre podem ser reduzidas por meio de anaacutelises a cinco

categorias fundamentais

g) a profunda reflexatildeo teoacuterica de Bliss que gerou um corpus de princiacutepios e a

influecircncia reciacuteproca perceptiacutevel na evoluccedilatildeo das teorias de Bliss e

Ranganathan

228

5 CLASSIFICACcedilOtildeES BIBLIOGRAacuteFICAS CONCEITOS DE CLASSE DE CATEGORIA E DE FACETA

Conhecemos o mundo de maneiras diferentes a partir de posisionamentos diferentes e cada uma dessas maneiras na qual conhecemos produz

estruturas ou representaccedilotildees oude fato ldquorealidadesrdquo diferentes Agrave medida que ficamos mais adultos (pelo menos na cultura ocidental) nos

tornamos cada vez mais haacutebeis em ver o mesmo conjunto de eventos a partir de muacuteltiplas perspectivas ou posicionamentos e a admitir os resultados

como por assim dizer mundos possiacuteveis alternativos Jerome Bruner

Nesta seccedilatildeo consolida-se o corpus teoacuterico por meio da explicitaccedilatildeo de

diferentes noccedilotildees que no decorrer do estudo encontram-se sugeridas constatadas

inferidas ou ateacute mesmo negadas tendo por base a descriccedilatildeo e anaacutelise de

classificaccedilotildees A intenccedilatildeo eacute explorar discutir e se possiacutevel esclarecer termos

A afirmaccedilatildeo de que a imprecisatildeo conceitual que se manifesta na definiccedilatildeo216

e no uso de noccedilotildees essenciais agrave Teoria da Classificaccedilatildeo acaba por comprometer

tanto o rigor teoacuterico quanto a eficaacutecia das aplicaccedilotildees demonstra a preocupaccedilatildeo de

esclarecer a terminologia e se baseia no pressuposto de que a classificaccedilatildeo de seres

ou de saberes exige aleacutem da observaccedilatildeo do real que discerne caracteriacutesticas e da

percepccedilatildeo que capta essecircncias a compreensatildeo das relaccedilotildees entre as coisas ou

objetos de suas similitudes e diferenccedilas exige aleacutem da definiccedilatildeo em niacutevel lexical a

noccedilatildeo (adotada ou construiacuteda) em niacutevel conceitual requer ainda aleacutem da anaacutelise e

interpretaccedilatildeo dos objetos individualmente a generalizaccedilatildeo dos termos e dos conceitos

que os representam

Eacute certo que ocorre uma certa frouxidatildeoflutuaccedilatildeo epistemoloacutegica pela falta de

uma reflexatildeo global coerente como apontado por Albrechtsen e Hjoslashrland (1994) ao se

referirem agrave Ciecircncia da Informaccedilatildeo quando afirmam que apesar de uma literatura

abundante ela permanece ateacute o presente em niacutevel teoacuterico com falhas e os seus

fundamentos incertos

O modo como se daacute o conhecimento e a formaccedilatildeo dos conceitos eacute assunto

que desde a Antiguidade grega instiga a curiosidade humana provocando

discussotildees filosoacuteficas e cientiacuteficas

O conhecimento em suas diversas formas tem sido visto desde a

Renascenccedila como representaccedilatildeo da realidade independente do conhecedor em

216 Para Aristoacuteteles ldquouma definiccedilatildeo eacute uma frase que significa a essecircncia de uma coisardquo (ARISTOacuteTELES 1973 p 13)

229

que a mente funciona como um espelho da natureza Consequentemente nesse

modelo quando se estuda o modo como o conhecimento ocorre isto eacute quando se

faz ciecircncia cognitiva a subjetividade eacute preterida (com a alegaccedilatildeo de que poderia

comprometer a exatidatildeo cientiacutefica) em favor da objetividade Essa posiccedilatildeo teoacuterica

denominada representacionismo ainda hoje subsiste como um marco

epistemoloacutegico Em oposiccedilatildeo a essa corrente surge na deacutecada de 1960 uma teoria

bioloacutegica da compreensatildeo humana a Biologia da Cogniccedilatildeo exposta na obra A Aacutervore

do Conhecimento dos bioacutelogos e neurocientistas Maturana e Varela (2001) A tese

central eacute a de que os seres humanos constroem o mundo em que vivem e satildeo

construiacutedos por ele num processo incessante e interativo Assim o homem eacute

influenciado e modificado pelo que vecirc e sente Conhece-se e aprende-se vivendo e

vive-se conhecendo e aprendendo Portanto toda experiecircncia cognitiva inclui aquele

que conhece

Para os fundamentos teoacutericos da Classificaccedilatildeo entender o que satildeo e como

se formam os conceitos eacute essencial uma vez que as classificaccedilotildees bibliograacuteficas

satildeo feitas de conceitos217 Essas unidades de conhecimento que reuacutenem termo

(signo) e conteuacutedo (significado) sob um uacutenico vocaacutebulo configuram-se em um

amaacutelgama dos elementos lexical e semacircntico

Segundo Bariteacute (1997 p 36 Traduccedilatildeo livre da autora) conceito eacute uma

abstraccedilatildeo ou noccedilatildeo que se refere a uma unidade de conhecimento

independentemente da sua expressatildeo linguiacutestica e compreende o conjunto dos seus

traccedilos essenciais O conceito enquanto representaccedilatildeo simboacutelica estaacute na base da

Teoria da Classificaccedilatildeo e da Terminologia pois eacute o elemento indivisiacutevel que permite

representar o conhecimento contido nos documentos e organizar os enunciados

correspondentes agrave ideacuteia que se tem de qualquer coisa218

Para Shera219 (apud ALVARENGA 2006 p 87)

217 As classificaccedilotildees bibliograacuteficas antigamente eram feitas de termos Soacute recentemente percebeu-se que era importante trabalhar com conceitos essa evoluccedilatildeo Maria Luiza Campos deixa muito clara no livro Linguagem documentaacuteria teorias que fundamentam sua elaboraccedilatildeo Niteroacutei Eduff 2001 218 ldquoabstraccioacuten o nocioacuten que refiere a una unidad de conocimiento independiente de su expresioacuten linguiacutestica y comprende el conjunto de sus rasgos esenciales El concepto en tanto representacioacuten simboacutelica estaacute en la base de la Teoriacutea de la Clasificacioacuten y de la Terminologia pues es el elemento indivisible que permite representar el conocimiento contenido en los documentos y organizar los enunciados correspondientes a la idea que se tiene de cualquier cosardquo 219 SHERA J H Pattern structure and conceptualization in classification In INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION FOR INFORMATION RETRIEVAL Proceedingshellip London ASLIB 1957 p 3

230

Um conceito eacute uma rede de padrotildees de inferecircncias associaccedilotildees e relacionamentos que satildeo predicados ou ditos de outra forma trazidos em cena atraveacutes do ato da categorizaccedilatildeo [hellip] a cristalizaccedilatildeo ou formalizaccedilatildeo do pensamento inferencial nascida da percepccedilatildeo sensorial condicionada pela operaccedilatildeo do ceacuterebro humano e delineada pela experiecircncia humana Ela repousa na fundamentaccedilatildeo de todo pensamento mas ela eacute pragmaacutetica e instrumental Eacute permanente e efecircmera Permanente porque sem ela a cogniccedilatildeo eacute impossiacutevel efecircmera porque ela pode ser rejeitada quando sua utilidade eacute esgotada

O ato de classificar ou de categorizar as unidades de pensamento e as

relaccedilotildees entre elas como estatildeo registradas nos documentos e em conformidade

com o pensamento do usuaacuterio eacute o grande desafio dos classificadores

Os sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento passaram ao longo do seacuteculo

XX de classificaccedilotildees de assuntos preacute-definidos a classificaccedilotildees analiacutetico-sinteacuteticas

de assuntos potenciais No caso passou-se de listas de conceitos de unidades preacute-

compostas agrave combinaccedilatildeo de unidades elementares

A distinccedilatildeo entre assuntos e conceitos (como se eles andassem separados)

natildeo eacute clara pois um conceito pode ele mesmo ser constituiacutedo da mateacuteria de um

assunto Embora tanto um conceito como um assunto sejam a representaccedilatildeo mental

de um elemento da realidade pensado na ausecircncia dessa realidade o que distingue

o conceito do assunto eacute o seu estatuto sociolinguiacutestico e o seu estatuto cognitivo

(MANIEZ 1999 p 257) De um lado os conceitos veiculados por um grupo social

satildeo as unidades de pensamento passadas pelas mentalidades e pela liacutengua do

grupo recebidas do passado e afianccediladas pelos dicionaacuterios Elas fazem parte da

liacutengua Ao contraacuterio os assuntos como os discursos satildeo produtos da atividade

linguiacutestica da palavra O nuacutemero de conceitos eacute limitado poreacutem o dos assuntos

potenciais eacute infinito

Pode-se dizer que o conceito eacute apanhado pelo espiacuterito que se apodera dele

como de um objeto elementar - o suficiente para assegurar comparaccedilotildees Por

oposiccedilatildeo ao assunto que eacute em geral composto

[] para a teoria semioacutetica o termo conceito pode ser mantido no sentido de denominaccedilatildeo (cuja significaccedilatildeo eacute explicitada pela definiccedilatildeo) A explicitaccedilatildeo dos conceitos por definiccedilotildees sucessivas torna-se entatildeo a principal preocupaccedilatildeo de qualquer construccedilatildeo metalinguiacutestica do teoacuterico [] (GREIMAS [1979] p 70)

A Linguistica daacute ldquoo nome de conceito a toda representaccedilatildeo simboacutelica de

natureza verbal que tem uma significaccedilatildeo geral conveniente e toda uma seacuterie de

objetos concretos que possuem propriedades comunsrdquo (DUBOIS1991 p135)

Colocar ordem na nebulosa dos conceitos remete a classificaacute-los E partindo

231

do princiacutepio que o conceito eacute um objeto mental o meacutetodo aplicado a todo o objeto

consiste em se interrogar acerca das suas caracteriacutesticas essenciais e permanentes

A anaacutelise teoacuterica dos conceitos eacute um domiacutenio de pesquisa interdisciplinar que se

encontra com os filoacutesofos os linguistas os psicoacutelogos e os cientistas cognitivos

Sem querer aprofundar essa questatildeo citam-se paracircmetros esboccedilados por Maniez

(1999 p 258) o qual afirma que todo conceito pode ser caracterizado por - seu

estatuto terminoloacutegico (Que termo Que liacutengua Que niacutevel de especializaccedilatildeo) e -

seu estatuto semacircntico (Qual definiccedilatildeo Qual campo semacircntico Qual categoria

fundamental Quais relaccedilotildees de vizinhanccedila Qual grau de abstraccedilatildeo) A partir

desses criteacuterios pode-se visualizar seja uma seacuterie de classificaccedilotildees unidimensionais

dos conceitos seja um banco de dados conceituais que reteacutem o todo ou parte

desses criteacuterios seja uma classificaccedilatildeo pluridimensional220

Os conceitos de classe categoria e faceta satildeo trabalhados na sequecircncia

lembrando que satildeo de interesse especiacutefico dos estudiosos da Classificaccedilatildeo como jaacute

mencionado Poreacutem eacute certo que os classificadores e indexadores tecircm de assumir o

papel de estudiosos da classificaccedilatildeo visto que existem dificuldades de representar e

atualizar os assuntos para atender agraves expectativas dos usuaacuterios Desse modo

verifica-se como os conceitos satildeo enunciados no acircmbito das classificaccedilotildees

biblioteconocircmicas tradicionais

O termo classe apresenta diversas significaccedilotildees na linguagem corrente Fala-

se de classes sociais classes de pessoas ou produtos que se diferenciam por sua

qualidade classes escolares classes de viagens entre inuacutemeras outras

Os cataacutelogos comerciais e as listas telefocircnicas satildeo um exemplo tiacutepico de

classificaccedilatildeo na vida diaacuteria atualizando o termo classe que lhe daacute origem os grupos

de semelhantes satildeo dispostos em uma ordem loacutegica que facilita a orientaccedilatildeo no

conjunto dos produtos em questatildeo

220 Modelo de classificaccedilatildeo de objetos que tem parentesco com a classificaccedilatildeo facetada de assuntos em que cada campo exprime uma dimensatildeo comum a todos os elementos Assim as dimensotildees de um repertoacuterio de pessoas poderiam ser sobrenome prenome endereccedilo coacutedigo postal + cidade (cada um desses criteacuterios admite somente um valor por objeto) Esse meacutetodo eacute simples expressivo e econocircmico e oferece como outra vantagem o benefiacutecio do socorro do computador para a classificaccedilatildeo A ordem de sucessatildeo dos campos pode ser fixada por exemplo do geral para o particular coacutedigo postal endereccedilo sobrenome prenome Isso significa que eacute permitido classificar a base em funccedilatildeo da ordem escolhida para os diferentes campos A teacutecnica classificatoacuteria de uma classificaccedilatildeo pluridimensional natildeo eacute nada mais que uma forma abreviada de uma classificaccedilatildeo hieraacuterquica em que criteacuterios comuns a todos os elementos da classe satildeo utilizados nos diferentes niacuteveis de divisatildeo Agrave classificaccedilatildeo mono hieraacuterquica (vertical) sucede uma classificaccedilatildeo poli hieraacuterquica

232

Na linguagem do cotidiano o conceito de classe eacute usado a todo instante

Quando se quer definir um conceito nomeiam-se natildeo soacute a classe agrave qual ele

pertence como tambeacutem as caracteriacutesticas que o distinguem dos outros conceitos da

mesma classe Segundo Dobrowolski (1964 p 8) a definiccedilatildeo lsquoParis eacute a capital da

Franccedilarsquo mostra que Paris pertence agrave classe das capitais O fato de Paris ser a capital

da Franccedila eacute um caractere que distingue essa cidade de todas as outras capitais

Considerando-se os princiacutepios de classificaccedilatildeo documentaacuteria segundo

Dobrowolski (1964 p 7) o termo classe somente pode ser usado para designar um

conjunto de unidades221 que apresentam uma caracteriacutestica comum a partir da qual o

conjunto adquire o caraacuteter de classe As unidades a serem classificadas podem ser de

coisas de pessoas de fenocircmenos de termos ou conceitos abstratos etc O elemento

de ligaccedilatildeo entre as unidades de uma mesma classe pode ser constituiacutedo pela

coexistecircncia por uma semelhanccedila formal por um objetivo comum por elos de

organizaccedilatildeo pela uniatildeo no tempo ou no espaccedilo entre outros Classe portanto pode

ser cada grupo de unidades que apresentam ao menos uma caracteriacutestica em comum

ou cada uma das divisotildees principais de um sistema esquema ou quadro de

classificaccedilatildeo representando cada divisatildeo principal uma aacuterea do conhecimento As

caracteriacutesticas comuns a todas as unidades de uma classe ou caracteres de classe

formam a compreensatildeo da classe (exemplo os caracteres comuns ao ferro ao cobre

ao zinco e a outros corpos pertencentes agrave classe de metais definem a compreensatildeo do

conceito lsquometalrsquo) enquanto todas as unidades que apresentam determinadas

caracteriacutesticas formam a extensatildeo da classe (exemplo todos os corpos que

apresentam as caracteriacutesticas dos metais) Eacute o elemento de ligaccedilatildeo222 (o que as

unidades da classe tecircm em comum) entre as unidades de uma classe dada que decide

tanto a compreensatildeo da classe como sua extensatildeo Eacute a partir da definiccedilatildeo das

caracteriacutesticas comuns (exemplo aos metais) que a extensatildeo da classe eacute estabelecida

considerando que todas as unidades que tenham essas caracteriacutesticas pertenccedilam agrave

uacutenica e mesma classe As unidades de uma classe dada podem ter uma denominaccedilatildeo

geneacuterica e uma denominaccedilatildeo individual diz-se que o oxigecircnio eacute um gaacutes gaacutes eacute a

denominaccedilatildeo geneacuterica do oxigecircnio (DOBROWOLSKI 1964 p 8) 221 As unidades a serem classificadas podem ser de seres (todo ente vivo e animado o que ou aquilo que se potildee como existente) ou de saberes (termos conceitos assuntos disciplinas do conhecimento) 222 O elemento de ligaccedilatildeo entre as unidades de uma mesma classe pode ser constituiacutedo pela coexistecircncia por uma semelhanccedila formal por um objetivo comum pela uniatildeo temporal ou espacial por determinados laccedilos de organizaccedilatildeo entre outros

233

Piedade (1983 p 19) considera que ldquoclasse eacute um conjunto de coisas ou

ideacuteias que possuem um ou vaacuterios atributos predicados ou qualidades em comumrdquo

Classe de acordo com Bariteacute (1997 p 29-30) pode ser um conjunto de

conceitos ou elementos definidos pelo fato de possuir ao menos uma propriedade ou

uma caracteriacutestica em comum223 ou ainda cada uma das divisotildees principais em que

se manifesta um sistema ou quadro de classificaccedilatildeo correspondendo cada divisatildeo

principal agrave uma disciplina ampla224

Definiccedilotildees similares aparecem no dicionaacuterio de Keenan (1996 p 23) grupo

de conceitos ou objetos reunidos por alguma caracteriacutestica comum225 ou ainda as

maiores subdivisotildees de um esquema de classificaccedilatildeo226 nos glossaacuterios de Harrod

(1977 p 195) um conjunto ou grupo de conceitos ou de objetos reunidos por

algum tipo de similaridade a que os unifica227 de Menezes Cunha e Heemann

(2004 p 16) ldquoconjunto de objetos ou conceitos que possuem uma ou mais

caracteriacutesticas comunsrdquo de Thompson (1943 p 29) uma divisatildeo de um esquema

de classificaccedilatildeo sob a qual satildeo agrupados assuntos que tecircm caracteriacutesticas

comuns228 e da UnB (GLOSSAacuteRIO 2007) ldquogrupo de elementos que tecircm no

miacutenimo uma caracteriacutestica em comumrdquo Essa similaridade eacute chamada de

caracteriacutestica da classificaccedilatildeo Portanto numa seacuterie ou num conjunto uma classe

consiste na reuniatildeo de todas as coisas que satildeo semelhantes em essecircncias ou

caracteriacutesticas ou propriedades ou relaccedilotildees pelas quais ela eacute definida

Encontram-se tambeacutem em glossaacuterios de Ciecircncia da Informaccedilatildeo definiccedilotildees

que submetem classe agrave categoria Por exemplo ldquoA subdivision of a categoryrdquo (uma

subdivisatildeo de uma categoria) (ELSEVIERrsquoS 1973 p 94) ou ainda ldquoa major division

of a categoryrdquo (a maior divisatildeo de uma categoria) (HARROD 1977 p 195)

Uma classe pode resultar da divisatildeo do universo de conhecimentos de uma

determinada aacuterea ou campo disciplinar divisatildeo feita de acordo com as caracteriacutesticas 223 conjunto de conceptos o elementos definidos por el hecho de poseer al menos un rasgo o una caracteriacutestica en comuacutenrdquo 224 ldquocada una de las divisiones principales en que se despliega un sistema o cuadro de clasificacioacuten correspondiendo cada divisioacuten principal a una disciplina ampliardquo 225 ldquogroup of concepts or things assembled by some common characteristicrdquo 226 ldquothe major subdivisions of a classification eacutechemerdquo 227 ldquoa group of concepts or of things assembled by some likeness which unifies themrdquo 228 ldquoa division of a classification scheme under which are grouped subjects that have common characteristicsrdquo

234

intriacutensecas ou fundamentais de cada conceito nomeando conjuntos mutuamente

exclusivos poreacutem o conceito de classe natildeo se aplica somente agraves aacutereas do conhecimento

A divisatildeo da classe principal229 em classes menores deve esgotar a classe

que ela divide de maneira que a soma das extensotildees das classes seja igual agrave

extensatildeo da classe principal A extensatildeo da classe seraacute mais restrita que a da

classe principal enquanto que aparecendo sob uma forma mais definida a sua

compreensatildeo seraacute mais rica que a compreensatildeo da classe principal

Para decompor uma classe escolhe-se entre as caracteriacutesticas dessa classe

a que apresentar a maior variedade de formas ou que melhor corresponder aos

objetivos de quem estaacute elaborando a classficaccedilatildeo A essa caracteriacutestica230 chama-

se base de divisatildeo porque a variedade das suas formas permite agrupar as

unidades da classe principal em classes particulares de extensatildeo inferior (por

exemplo para classificar um objeto pode-se tomar por base de divisatildeo a mateacuteria de

que ele eacute feito a sua cor a sua forma etc Essas caracteriacutesticas distinguem os

objetos e podem ser tomadas por base de divisatildeo)

Segundo Mills (1960 p 8 Traduccedilatildeo livre da autora) a divisatildeo de um assunto

eacute influenciada pela aplicaccedilatildeo de um Princiacutepio de Divisatildeo (ou Caracteriacutestica como eacute

frequentemente chamado pelos bibliotecaacuterios) para produzir subclasses nas quais

aquele princiacutepio estaacute manifesto em modos ou graus variados Por exemplo a classe

Literatura eacute dividida pela caracteriacutestica por Liacutengua para obter subclasses como

Literatura Inglesa Literatura Francesa etc231

A classificaccedilatildeo tem sempre um fim uacutetil em funccedilatildeo do qual se decide a escolha

da base de divisatildeo da sua progressatildeo e do grau de ramificaccedilatildeo da classificaccedilatildeo

A uniatildeo e a divisatildeo constituem-se num fenocircmeno bilateral satildeo duas faces de

uma operaccedilatildeo uacutenica de classificaccedilatildeo pois natildeo pode existir na classificaccedilatildeo

agregaccedilatildeo sem desagregaccedilatildeo Eacute a uacutenica e mesma operaccedilatildeo vista sob dois acircngulos

diferentes divisatildeo-uniatildeo

Frequentemente encontra-se uma classe Generalidade nas classificaccedilotildees

229 Classe Principal eacute a principal divisatildeo de um esquema de classificaccedilatildeo por exemplo nas classificaccedilotildees claacutessicas as disciplinas do conhecimento 230 Caracteriacutestica eacute aquilo que caracteriza ou distingue eacute a qualidade ou atributo escolhido para servir de base agrave classificaccedilatildeo ou agrave divisatildeo 231 ldquodivision of a subject is affected by applying a Principle of Division (or Characteristic as it is often called by librarians) to produce subclasses in which that principle is manifested in varying ways or degrees For example the class Literature is divided by the characteristic of Language to obtain subclasses such as English Literature French Literature etcrdquo

235

Depois de estabelecidas as classes mais importantes sobra um pequeno nuacutemero de

unidades tatildeo variadas que renderiam uma divisatildeo extremamente particularizada natildeo

completamente definida desprovida de valor praacutetico imediato a classe

Generalidade que se torna assim uma espeacutecie de lugar de tracircnsito para os novos

elementos do conjunto que ainda natildeo encontraram o seu proacuteprio lugar nas

classificaccedilotildees Ou cuja especificidade natildeo eacute reconhecida como eacute o caso da

Biblioteconomia que estaacute em Generalidades na CDD CDU entre outras

classificaccedilotildees Nem sempre a questatildeo eacute transitoacuteria De todo modo a classe

Generalidades eacute aquela que melhor demonstra o aspecto pragmaacutetico - e relativo - de

qualquer sistema de classificaccedilatildeo

As regras ou recomendaccedilotildees como por exemplo a das classes serem

mutuamente exclusivas existem para atender agrave principal finalidade da classificaccedilatildeo

que eacute organizar para recuperar evitando a dispersatildeo de informaccedilatildeo que poderia ser

incluiacuteda em outra classe

O termo caracteriacutestica em Teoria da Classificaccedilatildeo significa qualidade ou

atributo232 de um objeto escolhido para servir de base ou de princiacutepio de divisatildeo a uma

classificaccedilatildeo233 (BARITEacute 1997 p 27-28) Eacute portanto uma propriedade234 distintiva

pela qual uma classe eacute definida em um esquema de classificaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo de uma caracteriacutestica pode ser exaustiva ou seletiva em funccedilatildeo

do que se almeja alcanccedilar com o sistema de classificaccedilatildeo mas eacute de fundamental

importacircncia que o seu emprego seja consistente

232 Atributo aquilo que eacute proacuteprio de um ser (FERREIRA 1999 p 72) 233 ldquocualidad o atributo de un objeto escogido para servir de base o de principio de divisioacuten a una clasificacioacutenrdquo 234 Propriedade qualidade de proacuteprio qualidade especial particularidade (FERREIRA 1999 p 533)

236

Para Angulo Marcial235 (1996 apud MENEZES CUNHA HEEMANN 2004 p

15) caracteriacutestica eacute uma ldquopropriedade ou atributo que distingue conceitos classes

categorias ou facetas e permite separaacute-los agrupaacute-los ou estabelecer uma ordem de

precedecircnciardquo

Depois que Ranganathan elaborou a CC na qual introduziu entre outros

novos termos o termo faceta esse termo ficou sendo nos modernos estudos sobre

Teoria da Classificaccedilatildeo o substituto do termo caracteriacutestica Na realidade os dois

termos significam os diferentes aspectos dos assuntos e podem caso considerado

pertinente ser erigidos em princiacutepio de divisatildeo Eric De Grolier (1962 p15) registrou uma seacuterie de definiccedilotildees e tentativas de

precisatildeo terminoloacutegica (cf subseccedilatildeo 41) mas afirmou que natildeo havia uma definiccedilatildeo

conclusiva soacutelida no campo da Classificaccedilatildeo para o termo categoria Sua

afirmativa continua vaacutelida pois satildeo vaacuterias as definiccedilotildees encontradas para o referido

termo Foi Ranganathan ao utilizar pela primeira vez o conceito extraiacutedo da Filosofia

e aplicado agrave Teoria da Classificaccedilatildeo quem elaborou um conceito de categoria

condizente com a complexidade do ato de classificar Cada faceta de um assunto

assim como cada divisatildeo de uma faceta eacute considerada como uma manifestaccedilatildeo de

uma das cinco categorias fundamentais Portanto na Moderna Teoria da

Classificaccedilatildeo categorias satildeo os grupos de conceitos nos quais termos satildeo

ordenadosclassificados por meio de anaacutelises por facetas

Grolier (1962 p 15-16) encontrou na literatura da aacuterea o que ele afirma ser

uma lamentaacutevel confusatildeo (une assez regrettable confusion) O termo categoria pode

ser tomado tanto no sentido amplo e geral - a que fez Wildhack

(CLASSIFICATION 1957 p 105 apud GROLIER 1962 p 171) e tornou-o

sinocircnimo de lsquoponto de vistarsquo segundo o qual se pode dividir um assunto quanto

como sinocircnimo de faceta (termo em voga proposto por Ranganathan) - que Foskett

(CLASSIFICATION 1957 p 115 apud GROLIER 1962 p 171) adotou e cuja

lsquoanaacutelise por facetasrsquo consistiria em uma anaacutelise de conjunto de um assunto lsquosob um

certo nuacutemero de facetas ou categorias das coisasrsquo no interior de cada categoria as

rubricas enumeradas comportariam todas a mesma relaccedilatildeo confrontadas com o

assunto em seu conjunto236 O termo categoria tambeacutem eacute utilizado com o sentido de 235 AcircNGULO MARCIAL N Manual de tecnologia y recursos de la informacioacuten Meacutexico Instituto Politeacutecnico Nacional 1996 236 Farradane (CLASSIFICATION 1957 p 65 apud GROLIER 1962 p 171) assimila a mesma noccedilatildeo de faceta e categorias de D J Foskett ldquoagrupamentos de conceitos similares em categorias de substantivos ou facetasrdquo

237

conceitos gerais (acepccedilatildeo adotada pelo Vocabulaire de la Philosophie de Lalande)

Essa acepccedilatildeo estaacute proacutexima da adotada no Glossary and Subject Index237 que

define categoria como conceito de um alto grau de generalidade que tem um largo

domiacutenio de aplicaccedilatildeo que pode ser utilizado para agrupar outros conceitos Vickery

(1953 p 54 apud GROLIER 1962 p 16)238 apresentando uma definiccedilatildeo utilizada por L

Wood entende por categorias conceituais os conceitos de alto grau de generalidade que

tecircm amplo domiacutenio de aplicaccedilatildeo elaborados pelo pensamento se referindo direta ou

indiretamente ao conhecimento empiacuterico e utilizados pelo pensamento para interpretar

esse conhecimento Segundo Grolier na terminologia mais especializada de

Ranganathan o termo categoria fundamental eacute utilizado segundo um sentido particular no

qual cada faceta de um assunto qualquer como tambeacutem cada divisatildeo de uma faceta eacute

considerada como uma manifestaccedilatildeo de uma das cinco categorias fundamentais

(RANGANATHAN 1957 p 160 apud GROLIER 1962 p16)239 Essa concepccedilatildeo sem

duacutevida nenhuma ligada agraves tradiccedilotildees filosoacuteficas ou miacutesticas em Ranganathan surge

ligada tambeacutem a uma preocupaccedilatildeo praacutetica de lsquoassegurar uma sequecircncia uniformersquo de

facetas nos diferentes assuntos Na pesquisa apesar de compilar diversas noccedilotildees do

termo categoria Grolier natildeo adota especificamente uma ou apenas uma

Pode-se dizer que a categoria eacute um conceito complexo cuja compreensatildeo

exige que ele seja comparado240 agraves noccedilotildees de caracteriacutestica classe e faceta para

as devidas distinccedilotildees pois apesar das noccedilotildees serem frequentemente confundidas

na literatura elas satildeo diferentes

Permanece uma espeacutecie de enfoque provisoacuterio do conceito de categoria na

Teoria da Classificaccedilatildeo apesar de Ranganathan ter pretendido estabelecer o seu

enfoque definitivo

237 Glossary and Subject Iacutendex est une eacutedition reviseacutee et augmenteacutee drsquoun glossaire drsquoabord preacutesenteacute agrave la All-India Library Conference en 1953 mais qui nrsquoest ni suffisamment complet ni suffisamment critique Le secretariat hindou du Comiteacute FIDCA agrave lrsquoInsdoc de New Delhi a publieacute un document multigraphieacute (s d) intitule ldquoIndian Standards Glossary for Classification Termsrdquo baseacute sur la terminologie de S R Ranganathan (Annals of Library Science n 5 1958 p 76-112) (Cf GROLIER 1962 p 170-171) 238 VICKERY B C Systematic subject indexing Journal of Documentation London v 9 n 1 p 54 Mar 1953 239 RANGANATHAN S R Colon classification v 1 Basic classification 5th ed Madras Madras Library Association 1957 (Madras Library Association Public Series 22) 240 Natildeo existe a possibilidade de trabalhar com definiccedilatildeo sem o auxiacutelio da comparaccedilatildeo Para definir satildeo necessaacuterios pelo menos dois termos

238

Categorias satildeo ferramentas usadas para reunir dividir e representar conceitos

de acordo com a caracteriacutestica intriacutenseca fundamental ou aspecto dominante de

cada conceito com a finalidade de organizar esses conceitos para proceder agrave

organizaccedilatildeo do conhecimento Esse caraacuteter instrumental utilizado para descrever

certas regularidades do mundo material aparece jaacute nas categorias aristoteacutelicas

Como as categorias expressam regularidades forccedilosamente tambeacutem constituem

estruturas conceituais com certa estabilidade e permanecircncia - embora o resultado da

sua aplicaccedilatildeo aos diferentes objetos possa ser variaacutevel Enquanto cada categoria

(princiacutepio de divisatildeo) corresponde a um niacutevel de anaacutelise especiacutefico e parcial a ser

aplicado sobre um objeto cada faceta eacute o resultado da aplicaccedilatildeo desse niacutevel de anaacutelise

especiacutefico sobre um objeto Portanto uma faceta corresponde a um aspecto do objeto

visto sob determinado acircngulo Exemplificando no conceito Biblioteca a faceta tipos de

biblioteca faz parte da categoria tipo Os focos (Bibliotecas Puacuteblicas Bibliotecas

Escolares Bibliotecas Especializadas) que integram uma faceta surgem da aplicaccedilatildeo

de um criteacuterio ou princiacutepio de divisatildeo a um conceito ou cabeccedilalho Seguindo essa

concepccedilatildeo pode-se definir categorias como instrumentos intelectuais que satildeo

usados por estudiosos da classificaccedilatildeo para investigar regularidades de objetos do

mundo fiacutesico e ideal e para representar noccedilotildees Essa anaacutelise e representaccedilatildeo satildeo

feitas com vistas a organizar logicamente sistemas de conceitos suficientes para a

organizaccedilatildeo do conhecimento em termos gerais e anaacutelises de assunto ou

classificaccedilatildeo de documentos em termos especiacuteficos

A partir de um ponto de vista que combina o enfoque tradicional (claacutessico) e o

contemporacircneo a respeito de classificaccedilatildeo em geral e categorizaccedilatildeo em particular

Hemalata Iyer241 adverte que a organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo envolve a estruturaccedilatildeo

do conhecimento seja por filoacutesofos seja por bibliotecaacuterios e que estruturar eacute uma

maneira de legitimar domiacutenios na comunicaccedilatildeo e na educaccedilatildeo

Iyer (1995)242 salienta que o conhecimento em si natildeo tem estrutura que eacute

imposta primeiramente pelos filoacutesofos a partir da divisatildeo do conhecimento em 241 Iyer eacute pesquisadora docente do Department of Information Studies na Albany University de New York (interessada em organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo desenvolvimento de competecircncias para o gerenciamento de recursos audiovisuais controle de vocabulaacuterio rede mundial como recurso auxiliar para a pesquisa metadados e teoria da classificaccedilatildeo) membro do DRTC e coordenadora regional durante alguns anos da International Society for Knowledge Organization (ISKO) Escreveu o livro Classificatory Structures concepts relations and representations (1995) no qual examina especialmente estruturas do conhecimento do ponto de vista de vaacuterias perspectivas disciplinares (Hemalata Iyer Disponiacutevel em lthttpwwwalbanyeduccifaculty-staffiyerhtmlgt Acesso em 10 maio 2008) 242 Nesta tese realizou-se uma traduccedilatildeo livre do texto de Iyer (1995)

239

disciplinas e que os bibliotecaacuterios utilizam essa divisatildeo do conhecimento em

disciplinas como base para a organizaccedilatildeo do conhecimento registrado em

bibliotecas Em um enfoque considerado contemporacircneo a pesquisadora parte do

pressuposto de que disciplinas satildeo tambeacutem sistemas sociais que sofrem influecircncias

histoacutericas e culturais que podem afetar o seu desenvolvimento Iyer ressalta tambeacutem

que as categorias usadas na classificaccedilatildeo bibliograacutefica ou biblioteconocircmica foram

originalmente aplicadas agrave classificaccedilatildeo de disciplinas e natildeo agrave classificaccedilatildeo de

conceitos e aponta como problemas para o emprego dos princiacutepios da classificaccedilatildeo

aristoteacutelica agrave elaboraccedilatildeo de categorias aplicaacuteveis nos sistemas de documentaccedilatildeo

contemporacircneos os seguintes fatos na atividade documentaacuteria um conceito pode

transitar por vaacuterias disciplinas pois natildeo tem definiccedilatildeo determinada na atividade

documentaacuteria adotam-se limites riacutegidos entre as categorias e na atividade

documentaacuteria a formaccedilatildeo dos conceitos baseia-se no pressuposto de que o mundo

real eacute estruturado em grupos hieraacuterquicos que compartilham propriedades que lhes

satildeo inerentes Contudo pondera que a utilidade das categorias estaacute em fornecer

criteacuterios para a formaccedilatildeo de agrupamentos necessaacuterios a determinados objetivos

Iyer (1995) entende que os conceitos possibilitam obter informaccedilatildeo

suplementar aleacutem daquela obtida pela observaccedilatildeo (da coisa em si) e pela audiccedilatildeo

(do termo) - base dos sistemas hieraacuterquicos As categorias permitem a ordenaccedilatildeo e

consequentemente concedem estabilidade ao mundo da percepccedilatildeo segmentando

e agrupando os objetos em formas uacuteteis (toda coisa ou ideacuteia que nos chega eacute

automaticamente comparada com outra que conhecemos numa tentativa de

compreendecirc-la de modo que nos seja uacutetil) Para exemplificar Iyer (1995) refere-se a

um ldquolaptoprdquo que pode simultaneamente ser agrupado como uma pequena caixa

um processador de palavras um dispositivo de comunicaccedilatildeo ou um brinquedo

dependendo do enfoque e do uso que se faraacute do objeto naquele momento A autora

observa que a classificaccedilatildeo eacute em um niacutevel elementar embasada (e limitada pela)

na similaridade enquanto os conceitos dentro de uma categoria satildeo o resultado de

relaccedilotildees muacutetuas (propriedades comuns usadas para relacionar conceitos ou ajudar a

definir uma categoria como se um animal tiver nadadeiras e quelras provavelmente

seraacute colocado na categoria peixe) Esse enfoque tradicional de categorias (que

compreende categorias naturais relativamente estaacuteveis e que parecem ser comuns

a todo ser humano - universais) originou-se na teoria aristoteacutelica De acordo com

esse paradigma categorias naturais seriam aquelas oacutebvias que reproduzem

especialmente a evoluccedilatildeo bioloacutegica como espeacutecies gecircnero e famiacutelia natildeo admitindo

240

portanto interpretaccedilotildees soacutecio-culturais diversas

Iyer menciona tambeacutem novos enfoques que se diferenciam do paradigma

tradicional como o enfoque de Wittgenstein (categorias podem ser formadas

fundamentadas prioritariamente na semelhanccedila de famiacutelia e natildeo nas definiccedilotildees) e o

da teoria da psicoacuteloga Eleanor Rosch desenvolvida na deacutecada de 1970 cujas

pesquisas em Psicologia continuaram avanccedilando na uacuteltima deacutecada do seacuteculo XX e

culminando com a ldquoproposta dos protoacutetiposrdquo O princiacutepio fundamental da proposta

dos protoacutetipos eacute a rede de propriedades inter-relacionadas que conectam conceitos

na maioria das categorias e a perspectiva de verificar que alguns exemplares

definem melhor uma categoria do que outros (a truta eacute um exemplo melhor da

categoria peixe do que o pargo) numa clara conformaccedilatildeo de uma estrutura

graduada (quadro 43) e de limites tecircnues entre os membros das categorias

1 As categorias de estrutura graduada natildeo apresentam qualquer propriedade inerente ou natural como as categorias tradicionais categorias taxonocircmicas podem ser observadas sem complicaccedilatildeo peixes satildeo claramente diferentes de paacutessaros mas outros tipos de categorias natildeo admitem representaccedilatildeo simples como ldquoO que poderia definir as propriedades de rosardquo

2 Todos os membros de categorias de estrutura graduada natildeo satildeo semelhantes e a estrutura categorial eacute determinada por uma graduaccedilatildeo ou tipologia na qual alguns membros satildeo mais acertados que outros carro eacute um representante melhor ou mais tiacutepico de transporte mecanizado do que um balatildeo dirigiacutevel ou uma esteira rolante Mas uma categoria tiacutepica eacute tambeacutem uma questatildeo de perspectiva

3 A estrutura categorial graduada eacute assimeacutetrica o que leva a um enfoque ecoloacutegico e comportamental de categorizaccedilatildeo as pessoas classificam objetos em categorias de acordo com a sua caracterizaccedilatildeo

4 As categorias de estrutura graduada satildeo instaacuteveis por definiccedilatildeo continuamente redefinidas de acordo com o enfoque o contexto e a sua utilizaccedilatildeo De modo geral reuacutenem-se objetos de acordo com objetivos pragmaacuteticos Por exemplo uma categoria cujos itens satildeo roupas escova de dentes lacircmina de barbear e passaporte parece totalmente sem sentido (nenhum desses objetos pertence exclusivamente a essa categoria) as suas propriedades natildeo satildeo similares (atendem a diferentes objetivos e pertencem a diferentes categorias) e obviamente essas categorias natildeo estatildeo de acordo com as exigecircncias do paradigma tradicional (de apresentar obrigatoriamente as mesmas propriedades) Entretanto quando as propriedades satildeo reunidas como itens de uma lsquoviagem de negoacuteciosrsquo a categoria pode ser rapida e claramente identificada

5 As categorias de estrutura graduada natildeo satildeo parte de uma estrutura que define o universo do conhecimento mas sim de uma estrutura que concede subsiacutedios para o pensar e para o agrupamento pontual por associaccedilatildeo Esse enfoque eacute especialmente interessante quando se pensa nos usuaacuterios em busca de informaccedilatildeo e no modo como eles categorizam conceitos de maneira a expressar as suas necessidades de informaccedilatildeo Por exemplo quando um usuaacuterio pesquisa pela categoria classificaccedilatildeo pode ser que esteja interessado somente nas ferramentas utilizadas para organizar informaccedilatildeo (como os sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica tradicionais CDD CDU LCC CC) ou em Filosofia Psicologia Ciecircncia Cognitiva relacionadas agrave classificaccedilatildeo o que eacute significativamente diferente Atento a essa questatildeo Richard Sweeney Halsey (1989 p 89 apud IYER 1995 p 45) nota que ldquoo desafio mais excitante na Teoria da Classificaccedilatildeo seraacute aprender como relacionar a estrutura conceitual de textos graacuteficos e dados e a estrutura cognitiva de usuaacuterios e da alteraccedilatildeo de suas percepccedilotildees atraveacutes do tempordquo

QUADRO 43 - CARACTERIacuteSTICAS DE CATEGORIAS DE ESTRUTURA GRADUADA FONTE Iyer (1995 p 43-45)

241

O que sustenta o paradigma de estrutura graduada eacute a ideacuteia de que

elementos de uma categoria podem ser ordenados do exemplar tiacutepico mais

representativo ao menos representativo e que as fronteiras entre as categorias

podem ser nebulosas (eacute natural e tiacutepico que temas sejam colocados em categorias

de acordo com a sua utilidade243)

Como a classificaccedilatildeo eacute um processo realizado por seres humanos eacute correto

pensar que as caracteriacutesticas dos objetos natildeo satildeo as uacutenicas determinantes do

processo Necessidades especiacuteficas da comunidade interessada e aspectos

ambientais sociais educacionais e culturais de quem procede agrave classificaccedilatildeo

tambeacutem contribuem para a definiccedilatildeo de categorias e a classificaccedilatildeo dos seus

243 Pode-se estabelecer uma associaccedilatildeo entre o paradigma da estrutura graduada e a loacutegica difusa ou loacutegica nebulosa (fuzzy logic) O conceito de fuzzy logic (FL) foi concebido pelo matemaacutetico americano Lotfi Zadeh professor da Universidade da Califoacuternia em Berkeley na deacutecada de 1960 e apresentado como uma metodologia de processamento de dados pela definiccedilatildeo parcial do conjunto de membros em vez da distinccedilatildeo entre membros e natildeo-membros do conjunto (ZADEH 1965) Na teoria claacutessica dos conjuntos um determinado elemento do domiacutenio em questatildeo pertence ou natildeo pertence ao referido conjunto (loacutegica binaacuteria herdada de Aristoacuteteles que formou a base do pensamento loacutegico ocidental classificando as afirmaccedilotildees como verdadeiras ou falsas) Na teoria dos conjuntos nebulosos (fuzzy set) na qual se baseia a FL existe um grau de pertinecircncia de cada elemento a um determinado conjunto (loacutegica difusa que estabelece que algo pode coexistir com o seu oposto afirmando que muitas experiecircncias humanas natildeo podem ser classificadas simplesmente como verdadeiras ou falsas o que geraria respostas incompletas e insatisfatoacuterias) Por exemplo apresentado um caracter pode se afirmar sem duacutevida se esse caracter pertence ou natildeo-pertence ao conjunto dos caractere A E I O U Poreacutem respostas agraves questotildees eacute aquele homem alto ou baixo A renda do cliente eacute alta meacutedia ou baixa A taxa de risco para determinado empreendimento eacute grande ou pequena Demonstram que entre a certeza de ser e a certeza de natildeo ser existem infinitos graus de incertezas A FL trata das imperfeiccedilotildees intriacutensicas agrave informaccedilatildeo representada em uma linguagem natural Os pesquisadores Zadeh Klir e Yuan (1996) argumentam que as pessoas natildeo exigem precisatildeo ou informaccedilotildees numeacutericas e que elas satildeo capazes de exercer um controle adaptativo alto Se controladores de feedback fossem programados para aceitar ruiacutedos e entradas imprecisas seriam muito mais eficazes e talvez mais faacuteceis de serem implementados De modo objetivo pode-se definir FL como sendo uma ferramenta capaz de capturar informaccedilotildees vagas em geral descritas em uma linguagem natural e convertecirc-las para um formato numeacuterico de faacutecil manipulaccedilatildeo pelos computadores atuais A FL estaacute fundamentada em palavras e natildeo em nuacutemeros ou seja os valores ldquoverdadesrdquo satildeo expressos linguisticamente (exemplo de modificadores vaacutelidos que alteram a variaacutevel temperatura fria morna e quente muito pouco natildeo muito mais ou menos etc) A FL tambeacutem pode ser definida como a loacutegica que suporta os modos de raciociacutenio que satildeo aproximados em vez de exatos como o homem estaacute naturalmente acostumado a trabalhar (ZADEH KLIR YUAN 1996) Nesse contexto a FL eacute uma metodologia de controle de resoluccedilatildeo-de-problemas que se presta agrave implementaccedilatildeo em sistemas que vatildeo desde mricro-controladores ateacute as grandes redes multi-canal PC ou estaccedilotildees-de-trabalho embasadas em sistemas de aquisiccedilatildeo e controle de dados A FL pode ser implementada em hardward software ou uma combinaccedilatildeo de ambos e fornece um modo simples de chegar a uma conclusatildeo definitiva embasado em informaccedilotildees vagas ambiacuteguas imprecisas barulhentas ou incompletas O enfoque da FL para controlar problemas imita uma pessoa que vai tomar decisotildees soacute que de modo muito mais raacutepido Usa uma linguagem imprecisa mas muito descritiva para lidar com a entrada de dados semelhante a um operador humano Pode-se dizer que a FL foi concebida como um meacutetodo melhor para a organizaccedilatildeo triagem classificaccedilatildeo e tratamento dos dados mas provou ser uma excelente opccedilatildeo para muitas aplicaccedilotildees a sistemas de controle de dados uma vez que mimetiza (imita) a loacutegica humana de controle (FUZZY 2006) A FL eacute muito robusta e capaz de aceitar tanto a intervenccedilatildeo do operador quanto a entrada dos dados e uma vez implementada funciona regularmente com pouca ou nenhuma necessidade de adaptaccedilatildeo

242

membros - interferindo no ato de incluir tomate na categoria vegetais ou na categoria

frutas segundo Iyer (1995)

De acordo com Bariteacute (1997 p 29 Traduccedilatildeo livre da autora) categoria na

Teoria da Classificaccedilatildeo e na Classificaccedilatildeo do Conhecimento eacute uma concepccedilatildeo

abstrata de tatildeo alta generalidade que pode ser perceptiacutevel em qualquer ser

substacircncia ou objeto cuja essecircncia pode ser analisada a partir de uma perspectiva

semacircntica metafiacutesica ou ontoloacutegica [] cada modo forma ou classe fundamental

do ser na qual podem agrupar-se outros conhecimentos de valor acessoacuterio244

Segundo Marisa Braumlscher Medeiros no Glossaacuterio Geral de Ciecircncia da

Informaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia (2007) categoria significa um conceito

amplo de aplicaccedilatildeo geral utilizado para agrupar conceitos mais especiacuteficos com a

qual concorda Harrod no The Librariansrsquo Glossary (1977 p 173) um conceito de

alta generalidade e larga aplicaccedilatildeo que pode ser usado para agrupar outros

conceitos245

Para Cavalcanti246 (1978 apud MENEZES CUNHA HEEMANN 2004 p 16)

categorias satildeo ldquoclasses que resultam da divisatildeo do universo de conhecimentos de

acordo com as caracteriacutesticas intriacutensecas ou fundamentais de cada conceitordquo

Como se pode constatar categoria representa um termo com vaacuterios

significados considerado por alguns como sinocircnimo de faceta ou como um conceito

de alta generalizaccedilatildeo e larga aplicaccedilatildeo que pode ser usado para agrupar outros

conceitos ou ainda como uma classe descritiva de coisas enquanto outros o

consideram como manifestaccedilatildeo de uma classificaccedilatildeo natural um agrupamento

loacutegico de registros associados ou uma classe ou divisatildeo formada com o propoacutesito

de atender a uma dada classificaccedilatildeo

Tendo em vista os diversos conceitos apresentados entende-se que cada

categoria corresponde a um ponto de vista (um modo de ver) de acordo com o qual

244 ldquoconcepcioacuten abstracta de tan alta generalidad que puede ser perceptible en cualquier ser sustancia u objeto cuya esencia puede analizarse desde una perspectiva semaacutentica metafiacutesica u ontoloacutegica [hellip] cada modo forma o clase fundamental del ser en la cual pueden agruparse otros conocimientos de valor accesoriohelliprdquo 245 a concept of high generality and wide application which can be used to group other conceptsrdquo 246 Cavalcanti C R Indexaccedilatildeo e tesauro metodologia amp teacutecnicas Brasiacutelia ABDF 1978

243

um assunto pode ser dividido um criteacuterio247 de divisatildeo que tem a finalidade de

formar um agrupamento loacutegico concreto e pragmaacutetico de documentos associados

Dito de outra maneira cada criteacuterio de divisatildeo utilizado para agrupar objetos seres

ou conhecimentos (seres ou saberes) visando a uma determinada classificaccedilatildeo a

estabelecer uma ordem - pode configurar uma categoria

O uso de categorias facilita o processo das anaacutelises de assunto e sua

simbolizaccedilatildeo visto que elas ajudam a estabelecer prioridades entre os diversos

assuntos de um documento assim como a estabelecer um arranjo hieraacuterquico

adequado para compor siacutembolos classificatoacuterios O uso de categorias segundo

Bariteacute (2000 p 6) demanda um quadro de referecircncia que possibilita a aplicaccedilatildeo

Categorias necessitam de um objeto de estudo para serem aplicadas O objeto pode

ser qualquer coisa entidade ser ou fenocircmeno que admita anaacutelises como algo

autocircnomo individual Tudo o que existe ou acontece no Universo qualifica-se para

estudo e o que tambeacutem ocorre com o conhecimento expresso nos documentos

Na tentativa de explicar a noccedilatildeo de categoria busca-se respaldo em Bariteacute

(2000) para proceder agrave anaacutelise de suas caracteriacutesticas mais evidentes conforme

mostra o quadro 44

Na realidade o nuacutemero de categorias que um estudioso da classificaccedilatildeo eacute

capaz de estabelecer para o seu trabalho deve aumentar inversamente ao grau de

generalidade de aplicaccedilatildeo O fato de algumas categorias serem altamente

generalizaacuteveis natildeo implica segundo Bariteacute (2000) que sob quaisquer circunstacircncias

elas devam ser usadas Haacute aacutereas de conhecimento onde a aplicaccedilatildeo de certas

categorias natildeo eacute uacutetil Toda disciplina tem a sua proacutepria estrutura conceitual que preacute-

molda categorias a serem usadas para a sua organizaccedilatildeo interna A CC eacute

expressiva nesse sentido levando-se em conta que a foacutermula faceta raramente

forma a sequecircncia completa PMEST

247 Criteacuterio aquilo que serve de base para apreciaccedilatildeo comparaccedilatildeo ou julgamento

244

CARACTERIacuteSTICAS COMENTAacuteRIOS Cada categoria eacute uma uacutenica subdivisatildeo Oferece uma visatildeo fragmentaacuteria ou parcial da realidade isto eacute divide o todo

e como resultado o conjunto de categorias selecionadas deve providenciar uma representaccedilatildeo a mais completa possiacutevel do objeto

Cada categoria implica um niacutevel especiacutefico de anaacutelise Eacute uma abstraccedilatildeo e dado o seu caraacuteter instrumental e funcional a seleccedilatildeo de uma categoria sempre parte de um ponto de vista seja ele dado seja criado seja estabelecido

Categorias satildeo niacuteveis de anaacutelises externos ao objeto Satildeo elementos autocircnomos natildeo compotildeem o objeto satildeo aplicados sobre ele Sua natureza instrumental torna as categorias iguais a equipamentos de laboratoacuterio usados por qualquer cientista em sua aacuterea especiacutefica

Categorias satildeo mutuamente exludentes Providencia informaccedilatildeo fragmentaacuteria da realidade de um objeto envolvendo cada setor exclusiva e excludentemente anulando qualquer possibilidade de interseccedilatildeo entre o niacutevel de anaacutelise de uma categoria com o mesmo niacutevel de anaacutelise de outra categoria

Toda categoria eacute altamente generalista Satildeo conceitos de alta generalizaccedilatildeo e larga aplicaccedilatildeo presume-se que categorias de maior generalizaccedilatildeo como por exemplo Espaccedilo e Tempo possam ser denominadas facetas e aparecem nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas como auxiliares comuns Tipos seria tambeacutem uma categoria aplicaacutevel em larga escala a todas as disciplinas e aacutereas do conhecimento

Toda categoria pode admitir com referecircncia a um objeto niacuteveis variados de subdivisatildeo

Satildeo niacuteveis de subdivisatildeo conhecidos tecnicamente como caracteriacutestica faceta ou atributo por meio dos quais um conceito ou objeto eacute subdividido Assim se para o conceito Ameacuterica do Sul eacute aplicada a caracteriacutestica ldquopor paiacutesesrdquo eacute possiacutevel obter uma seacuterie com os nomes de todos os estados situados nesse continente Eles satildeo termos frequentemente usados indistintamente como sinocircnimos (mas natildeo o satildeo) Embora seja verdade que a caracteriacutestica tambeacutem sugere um certo niacutevel de anaacutelise de um objeto o seu espaccedilo estaacute sempre envolto numa esfera mais compreensiva do que aquela da categoria

QUADRO 44 - CARACTERIacuteSTICAS DAS CATEGORIAS FONTE a autora com base em Bariteacute (2000 p 4-10) e em seus comentaacuterios

245

O termo faceta integrou-se ao vocabulaacuterio teoacuterico da Classificaccedilatildeo mas a

definiccedilatildeo do termo varia segundo os autores o que se configura num problema

Jacques Maniez (1999) mostra que as dificuldades remontam ao fundador da teoria

das facetas Ranganathan que escolheu um termo de sentido metafoacuterico do

vocabulaacuterio corrente um termo ambiacuteguo Maniez (1999 p 249) defende o uso mais

rigoroso do termo e a sua utilidade que faccedila claramente a divisatildeo entre a

classificaccedilatildeo dos conceitos e a classificaccedilatildeo dos assuntos

Quanto agrave noccedilatildeo propriamente dita a faceta eacute apresentada como o aporte

teoacuterico mais importante deste seacuteculo em Teoria da Classificaccedilatildeo Desde 1955 o

grupo de pesquisa CRG sustenta que a classificaccedilatildeo por facetas deve ser a base de

todos os meacutetodos de pesquisa de informaccedilatildeo e em 1994 Yan Xiao (1994) afirmava

que a teoria de Ranganathan comporta todos os tratados constitutivos ou

componentes daquilo que Kuhn chama de um novo paradigma (KUHN 1976)248

uma vez que a teoria tem renovado e revolucionado o conceito de organizaccedilatildeo do

saber

Muitos autores concordam que a multiplicidade de interpretaccedilotildees do termo

faceta eacute uma consequecircncia do fato de o termo ter sido emprestado do vocabulaacuterio

corrente249 e das vaacuterias propostas teoacutericas que se seguiram Ranganathan emprega

um termo existente250 na linguagem corrente e acrescenta uma nova acepccedilatildeo - que

se quer especializada - agraves significaccedilotildees anteriores

Faceta eacute um traccedilo comum agrave todos os elementos de uma classe Ela constitui

um criteacuterio de julgamento que se aplica a uma categoria Ela eacute um valor Por

exemplo a categoria Sexo comporta geralmente dois valores [FM] ao passo que

outras categorias necessitam de inuacutemeros valores Por exemplo a categoria

Vontade necessita da ajuda de conceitos como voluntaacuteria hesitante incapaz

248 Em Epistemologia Kuhn colocou em moda o termo paradigma para designar um corpo de ideacuteias e de teorias coerentes uma forma de abordar um campo cientiacutefico 249 Aliaacutes a ausecircncia de uma efetiva linguagem de especialidade da Ciecircncia da Informaccedilatildeo determina em larga medida a fragilidade da aacuterea e a consequente falta de visibilidade e reconhecimento acadecircmicos tatildeo bem explicitada no texto de Johanna Smit Maria de Faacutetima Taacutelamo e Nair Kobashi ldquoA determinaccedilatildeo do campo cientiacutefico da Ciecircncia da Informaccedilatildeordquo submetido ao Encontro Nacional de Pesquisa em Ciecircncia da Informaccedilatildeo (Enancib) de Belo Horizonte em 2003 250 O termo faceta designa por metaacutefora um aspecto uma face de uma realidade complexa vista sob um acircngulo particular faceta de um objeto (concreto ou abstrato) de uma personalidade Mas tambeacutem eacute percebido como uma caracteriacutestica contrastante notadamente com as caracteriacutesticas vizinhas iguais agraves faces de um poliedro que satildeo limitadas por arestas (exemplo constante nos dicionaacuterios e enciclopeacutedias de cunho geral)

246

indecisa obstinada Assim mesmo a um niacutevel baacutesico ou comum do termo faceta eacute

uma ferramenta de classificaccedilatildeo por menos que ela designe uma categoria e natildeo

um traccedilo individual

Essa anaacutelise terminoloacutegica sumaacuteria eacute suficiente para fazer pressentir que a

diversidade e a riqueza das significaccedilotildees correntes ameaccedilam comprometer qualquer

acepccedilatildeo especifica da palavra em Ciecircncia da Informaccedilatildeo Porque ficando no niacutevel

da linguagem comum pode-se afirmar legitimamente que as classes principais da

classificaccedilatildeo de Dewey satildeo as facetas do saber que a Pedagogia eacute uma faceta do

ensino que os campos de uma referecircncia bibliograacutefica satildeo as facetas do

documento que cada descritor de uma foacutermula de indexaccedilatildeo eacute uma faceta do

assunto E nesse caso a questatildeo a ser colocada natildeo seria mais O que eacute uma

linguagem documentaacuteria de facetas Mas Qual linguagem documentaacuteria natildeo eacute uma

linguagem de facetas

A despeito do raacutepido crescimento e larga popularidade mundial da abordagem

facetada na Teoria da Classificaccedilatildeo Grolier (1965 p 12) por exemplo sustenta que o

conceito de faceta natildeo eacute a panaceacuteia que algumas pessoas pensam que deveria ser

Quando uma noccedilatildeo de uma linguagem documentaacuteria parece fraacutegil eacute

frequentemente uacutetil recorrer agrave Terminologia Porque as linguagens documentaacuterias

natildeo satildeo outra coisa que tentativas de controle e de normalizaccedilatildeo das liacutenguas

humanas com o intuito de facilitar a busca de informaccedilotildees251

Segundo a uacuteltima ediccedilatildeo da CC (1989) faceta eacute um termo geneacuterico que designa

um elemento de um assunto composto Isso mostra que para Ranganathan as facetas

satildeo as caracteriacutesticas dos assuntos e remetem ao postulado das cinco categorias

fundamentais (PMEST) todo elemento de um assunto pertence necessariamente a

uma das cinco - e somente cinco - categorias fundamentais Muitos outros autores em

particular Hjoslashrland (1997 p 73) criticaram a concepccedilatildeo idealista que essa lei implica

apresentada como a expressatildeo de uma ldquosintaxe absolutardquo de uma realidade mental

inerente Tambeacutem criticaacutevel parece a fluidez a ambiguidade semacircntica que envolve

essas categorias donde mal se percebe a sua natureza exata Se tempo e espaccedilo satildeo

manifestaccedilotildees de natureza sintaacutetica as trecircs outras facetas parecem suspensas entre

categorias sintaacuteticas e categorias semacircnticas

251 A Linguagem Documentaacuteria natildeo eacute linguagem da ciecircncia do usuaacuterio ou do sistema eacute a compatibilizaccedilatildeo das trecircs A Linguagem Documentaacuteria segundo Cintra (2002) eacute um tipo de Metalinguagem

247

Permanece a duacutevida trata-se de ferramenta de enunciaccedilatildeo classificaccedilatildeo de

assuntos ou de anaacutelise e classificaccedilatildeo de conceitos Natildeo haacute nenhuma razatildeo pensar

que as categorias conceituais que se estruturam fora do contexto de determinada

representaccedilatildeo de mundo coincidem com as correlaccedilotildees diversas que ligam os

conceitos de um assunto Soacute um forte grau de aproximaccedilatildeo permite reuni-los dentro

de uma mesma categoria

Ao longo do caminho foram encontradas numerosas definiccedilotildees A renomada

Terminologie de la Documentation da Unesco (WERSIG NEVELING 1976) retorna

agrave noccedilatildeo de faceta e a reconduz agravequela de caracteriacutestica de uma classe aspecto sob

o qual um grupo de conceitos pode ser considerado como tendo qualquer coisa de

geral em comum252 com o que parece concordar Broughton (2004 p 299)253 um

grupo de termos dentro de um campo de assunto produzido por um princiacutepio de

divisatildeo geral254

Bariteacute (1997 p 57) respeitado pesquisador docente da aacuterea de Tratamento

da Informaccedilatildeo da Universidade da Repuacuteblica Oriental do Uruguai aproxima a noccedilatildeo

de faceta agrave de subclasse conjunto total de subdivisotildees de um conceito ou classe

derivadas do mesmo princiacutepio de divisatildeo255 Essa noccedilatildeo eacute compartilhada pelo

Elsevierrsquos Dictionary of Library Science Information and Documentation (1973 p

164) o total de subdivisotildees produzidas por uma caracteriacutestica de divisatildeo256 e pelo

The Librarianrsquos Glossary compilado por Harrod (1977 p 319) a totalidade das

divisotildees produzidas quando um assunto eacute dividido de acordo com uma caracteriacutestica

uacutenica257 252 ldquoaspect sous lequel un groupe de concepts peut ecirctre considereacute comme ayant quelque chose de geacuteneacuteral en comunldquo 253 Vanda Broughton eacute docente senior da School of Library Archive and Information Studies no University College London (UCL) em Londres e autora de livros e artigos sobre o desenvolvimento da Teoria da Classificaccedilatildeo classificaccedilatildeo facetada e as suas aplicaccedilotildees particularmente em meio digital desde 1972 quando foi indicada para ser tambeacutem pesquisadora responsaacutevel pelo projeto de revisatildeo da Bliss Bibliographic Classification 2nd ediccedilatildeo (BC2) Aleacutem dessas atribuiccedilotildees Broughton eacute editora colaboradora da editora associada da CDU (tem ajudado a introduzir um enfoque facetado na CDU com a revisatildeo da classe Religiatildeo e vaacuterios auxiliares sistemaacuteticos) membro do CRG (tem pesquisado o uso de vocabulaacuterios facetados em meios digitais) e presidente do Capiacutetulo da ISKO para a Gratilde-Bretanha (BROUGHTON Disponiacutevel em lthttpwwwuclacukslaisvanda-broughtongt Acesso em 10 jun 2008) 254 ldquoa group of terms within a subject field produced by one broad principle of divisionrdquo 255 ldquoconjunto total de subdivisiones de un concepto o clase derivadas del mismo principio de divisioacutenrdquo 256 ldquothe total of subdivisions produced by one characteristic of divisionrdquo 257 ldquothe whole group of divisions produced when a subject is divided according to a single characteristicrdquo

248

Aitchison e Gilchrist (1992 p 71) especialistas em tesauros facetados

encontram semelhanccedila entre faceta e criteacuterio de divisatildeo divisatildeo utilizando uma soacute

caracteriacutestica a cada vez para produzir grupos homogecircneos que se excluem

mutuamente258

No Concise Dictionary of Library and Information Science Keenan (1996 p

30) assemelha a noccedilatildeo de faceta agravequela de categoria fundamental categoria classe

ou palavras organizadas por uma caracteriacutestica fundamental das proacuteprias palavras e

natildeo por uma disciplina associada agraves palavras259

Outras definiccedilotildees satildeo ainda mais imprecisas como aquela de Lancaster

(LANCASTER 1986 p 36) teoacuterico de linguagens documentaacuterias reagrupamento de

termos da mesma natureza260 ou aquela do Thesaurus de lrsquoEacuteducation da Unesco

(UNESCO-BIE 1991) pequeno grupo que reuacutene conceitos vizinhos261 A banalizaccedilatildeo teoacuterica do termo traduz-se muito frequentemente em praacutetica

quando determinado tesauro coloca sob o termo de facetas natildeo importa qual

reagrupamento empiacuterico sem levar em conta o melhor uso do termo em conformidade

com o uso do procedimento ou a explicitaccedilatildeo do criteacuterio de subdivisatildeo adotado

Em favor de uma concepccedilatildeo mais estrita do termo recorre-se a Maniez (1999)

para levantar noccedilotildees ambiacuteguas e insatisfatoacuterias conforme mostra o quadro 45

Vaacuterios autores veem faceta como aspecto de um objeto sob determinado

acircngulo (MANIEZ 1997) um aspecto particular de um assunto ou sequecircncia de

caracteriacutesticas (FOSKETT A C 1972 p 338-346) aspecto de um assunto

complexo embasado numa determinada caracteriacutestica (GLOSSAacuteRIO de

Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo 2002) Outros a entendem como a totalidade de

isolados [] os quais satildeo enumerados juntos numa lista como possiacuteveis

manifestaccedilotildees de uma categoria fundamental particular262 (INDIAN 1964 p 72)

manifestaccedilatildeo de uma categoria dentro de un campo do conhecimento [hellip] um dos

258 ldquodivision utilisant une seule caracteacuteristique agrave la fois pour produire des groupes homogegravenes qui srsquoexcluent mutuellementrdquo 259 ldquocategory or class or words organized by a fundamental characteristic of the words themselves and not by the discipline associated with the wordsrdquo 260 ldquoregroupement de termes de mecircme naturerdquo 261 ldquopetit groupe rassemblant des concepts voisinsrdquo 262 ldquothe totality of the isolates [] which are enumerated together in a schedule as possible manifestation of a particular fundamental categoryrdquo

249

aspectos de uma mateacuteria ou disciplina que reuacutene em seu interior um grupo de

conceitos que tecircm um atributo em comum263 (BARITEacute 1997 p 57) todo assunto

tem um ou mais aspectos que correspondem agrave caracteriacutestica usada como base de

divisatildeo Agrave soma total de divisotildees de cada aspecto pode-se chamar de faceta264

(PALMER WELLS 1951 p 31) e qualquer grupo de conceitos que tecircm

caracteriacutesticas comuns constituindo uma categoriardquo (MEDEIROS apud

GLOSSAacuteRIO 2007)265

Como se pode constatar por meio das noccedilotildees jaacute descritas existem diferenccedilas

de conceitos acerca dos termos categoria classe e faceta As tentativas de definiccedilatildeo

encontradas ao longo do estudo abrem caminho para uma concepccedilatildeo mais estrita

dos termos fixando limites razoaacuteveis para o seu emprego nos sistemas de

classificaccedilatildeo bibliograacutefica

Caracteriacutestica eacute uma propriedade das coisas um atributo ou qualidade de um

objeto categoria eacute um criteacuterio de divisatildeo na maioria das vezes com base nas

carateriacutesticas do objeto mas natildeo necessariamente

263 ldquomanifestacioacuten de una categoriacutea dentro de un campo del conocimiento [hellip] uno de los aspectos de una materia o disciplina que reuacutene en su seno a un grupo de conceptos que tienen un atributo en comuacutenrdquo 264 ldquoevery subject has one or more aspects which correspond to the characteristics used as a basis for division The sum total of the divisions of each aspect we shall call a facetrdquo 265 MEDEIROS M B B Categoria e faceta In GLOSSAacuteRIO geral de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Universidade de Brasiacutelia Departamento de Ciecircncia da Informaccedilatildeo e Documentaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcidunbbr123M0011000asp txtID_PRINCIPAL=123gtAcesso em 12 jan 2007

250

FACETA COMENTAacuteRIOS

Faceta e sub-classe Ao confundir faceta com sub-classe nega-se a especificidade e a utilidade do conceito de facetas Lancaster propocircs a tiacutetulo de exemplo dividir os termos relativos agraves bibliotecas em quatro facetas gecircneros de bibliotecas material de biblioteca serviccedilos e outros termos De fato como atesta a uacuteltima classe nela cabe tudo trata-se de um reagrupamento empiacuterico que natildeo utiliza um criteacuterio de divisatildeo loacutegico

Faceta e criteacuterio de divisatildeo O meacutetodo de divisatildeo loacutegica consiste em escolher um criteacuterio aplicaacutevel a todos os elementos de uma classe e apto a gerar uma seacuterie de subclasses notadamente contrastantes as classificaccedilotildees tradicionais do tipo mono-hieraacuterquico privilegiam a cada niacutevel de divisatildeo um soacute criteacuterio Ao contraacuterio as classificaccedilotildees pluridimensionais do tipo poli-hieraacuterquico cumulam e coordenam ao primeiro niacutevel de divisatildeo vaacuterios criteacuterios comuns Como a CC protoacutetipo das classificaccedilotildees facetadas eacute pluridimensional ela estaacute tentando aproximar a noccedilatildeo de faceta da noccedilatildeo de criteacuterio de divisatildeo loacutegica e de fazer do esquema pluridimensional um modelo geral Essa concepccedilatildeo apresenta uma reflexatildeo e um efeito loacutegico maior O modelo pluridimensional natildeo pode se aplicar com todo rigor agraves facetas de conceitos pois se de um lado dita as categorias fundamentais as quais natildeo satildeo mais do que pontos de vista acerca de conceitos mas sobre conjunto de conceitos por outro lado refere-se agraves classes contrastantes de niacutevel superior

Faceta e categoria fundamental Uma observaccedilatildeo de insuficiecircncia pode ser atribuiacuteda agrave definiccedilatildeo da Association (1987 p 126) Traduccedilatildeo livre da autora) que conveacutem bem agraves facetas de conceitos mas mal agravequelas de assuntos categoria de noccedilotildees da mesma natureza ou expressas sob o mesmo ponto de vista como fenocircmeno processo propriedade e instrumento permitindo um reagrupamento de noccedilotildees independentemente do assunto tratado266

Facetas e sintaxe de enunciado dos assuntos O esquema analiacutetico-sinteacutetico das facetas implica necessariamente uma sintaxe assegurada com frequecircncia por uma ordem de sucessatildeo rigorosa Esta conduz alguns autores a qualificar de sistema facetado todas as linguagens classificatoacuterias que utilizam procedimentos sintaacuteticos Assim Iyer (1995 p 105-109) coloca nos sistemas facetados a CDU pelo fato de que ela permite combinar ou coordenar vaacuterios iacutendices Para Maniez (1999) aleacutem da noccedilatildeo de faceta ser largamente independente de uma funccedilatildeo sintaacutetica proacutepria as facetas de um domiacutenio do saber tem um valor sintaacutetico faliacutevel

QUADRO 45 - NOCcedilOtildeES AMBIacuteGUAS E INSATISFATOacuteRIAS DE FACETAS FONTE a autora com base em Maniez (1999 p 249-262) e em seus comentaacuterios

266 ldquocateacutegorie de notions de mecircme nature ou exprimeacutees drsquoun mecircme point de vue telle que pheacutenomegravene processus proprieacuteteacute outil permettant un regroupement des notions indeacutependamment des disciplines traiteacuteesrdquo

251

Classe faz parte de uma construccedilatildeo racional e sistemaacutetica de uma linguagem de classificaccedilatildeo que natildeo soacute agrupa ou junta uma coleccedilatildeo de sub-classes separadas grupos de conceitos ou coisas por uma caracteriacutestica comum mas tambeacutem estabelece relaccedilotildees loacutegicas padronizadas entre elas Uma classe designa um conjunto de caracteriacutesticas (propriedades) comuns consagradas Eacute explicativa convencional reuacutene objetos concretos e nem sempre estaacute lexicalizada (por exemplo ave domeacutestica - ave natildeo-domeacutestica = classe natildeo-lexicalizada) Classes podem ser tanto conjunto de elementos ou conceitos definidos pelo fato de apresentarem uma ou mais caracteriacutesticas em comum quanto cada uma das disciplinas que resultam da divisatildeo do universo de conhecimentos Grosso modo as disciplinas constituem as maiores subdivisotildees de um esquema claacutessico de classificaccedilatildeo bibliograacutefica Servem para classificar de acordo com um sistema de classificaccedilatildeo e seguem uma ordem canocircnica Nela todos os membros tecircm traccedilos inerentes que natildeo foram atribuiacutedos pelo classificador e que constituem caracteriacutesticas comuns consagradas

Categoria natildeo faz parte de uma construccedilatildeo riacutegida e consagrada que segue padrotildees preacute-estabelecidos Ela eacute aplicada a uma coleccedilatildeo de assuntos isolados Eacute pragmaacutetica e mais operacional reuacutene mas natildeo explica apenas descreve267 Eacute um criteacuterio compreensivo ou descritivo das coisas Designa uma propriedade em estado puro natildeo-aplicada Nomeia agrupamentos de termos elaborados de acordo com um ponto de vista Categoria se inventa (aspecto pragmaacutetico) e se constroacutei agrupando elementos sob um determinado ponto de vista Eacute mais livre autocircnoma Eacute um criteacuterio de divisatildeo estabelecido a partir de uma proposta classificatoacuteria especiacutefica particular usado para reunir os grupos conforme as suas semelhanccedilas Estabelecer categorias (grupos de conceitos) de uma aacuterea do conhecimento eacute ter a visatildeo do todo eacute levantar o seu sistema conceitual para a partir daiacute por meio de anaacutelises por facetas proceder a uma ordenaccedilatildeo sistemaacutetica de conceitos (termos) Quando desenvolvidas de acordo com a natureza dos conceitos satildeo denominadas facetas Categoria (natildeo-aplicada) ou faceta (aplicada) eacute um niacutevel de anaacutelise especiacutefico e parcial de um objeto Aristoacuteteles chamou de categorias ou predicamentos os 10 gecircneros supremos (ideacuteias que se tem das coisas) Ranganathan chamou de categorias ou facetas fundamentais os cinco aspectos da realidade

Facetas satildeo todas as classes produzidas quando um assunto eacute dividido por uma e somente uma caracteriacutestica Classes em um esquema de classificaccedilatildeo satildeo

267 Por ser sempre descritiva e nunca explicativa nas Linguagens Documentaacuterias eacute importante observar onde a categorizaccedilatildeo cabe ou entra e como ela se expressa

252

representadas por termos Assim de acordo com esse entendimento uma faceta eacute um termo de uma lista na qual cada termo encontra-se em relaccedilatildeo ao assunto do qual ele eacute uma parte em posiccedilatildeo de igualdade Uma faceta pode consistir de termos que se referem a entidades como elementos em Quiacutemica ou gratildeos na Agricultura a formas de entidades como liacutequida soacutelida gasosa a operaccedilotildees realizadas sobre entidades como combustatildeo fundiccedilatildeo colheita a ferramentas utilizadas para operaccedilotildees como microscoacutepios maacutequinas de raio-X impressoras a estados do ser como sauacutede e doenccedila etc Ranganathan relaciona faceta a um conjunto de noccedilotildees abstratas fundamentais - as categorias PMEST - considerando cada faceta de uma classe baacutesica como uma manifestaccedilatildeo concreta de uma dessas categorias Grolier (1974 p 77) vecirc na teoria de Ranganathan a simples racionalizaccedilatildeo a posteriori de uma praacutetica preacute-existente sob o disfarce de uma teoria geral268 Assim sendo pode-se dizer que faceta eacute cada um dos aspectos particulares pelos quais se considera um objeto isto eacute um aspecto de um assunto visto sob determinado acircngulo uma possiacutevel manifestaccedilatildeo de uma categoria particular o resultado da aplicaccedilatildeo de uma categoria e finalmente a materializaccedilatildeo de um criteacuterio de divisatildeo

Levando em consideraccedilatildeo a Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo (cf subseccedilatildeo 41) entende-se classe como um conjunto cujos membros compartilham alguma caracteriacutestica comum agraves vezes usada como um sinocircnimo para classe principal que eacute uma das primeiras divisotildees dos esquemas de classificaccedilatildeo As classes principais normalmente correspondem agraves tradicionais disciplinas acadecircmicas (tais como Fiacutesica Medicina Filosofia) ou outras importantes aacutereas de interesse ou atividade (Bibliografia Ciecircncia Naval) E considera-se categoria como um criteacuterio de divisatildeo geral que resultaraacute em grupos dentro dos quais os termos satildeo ordenados por meio de anaacutelises por facetas Ainda para a Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo as categorias geralmente reconhecidas satildeo coisa tipo parte material propriedade processo operaccedilatildeo agente espaccedilo e tempo embora outras sejam encontradas em disciplinas particulares Considera-se faceta como um grupo de termos contidos em um campo de assunto produzido por um princiacutepio de divisatildeo geral Exemplificando na classe Medicina ou no campo de assunto Sauacutede a faceta tipos de doenccedila faz parte da categoria tipo a faceta partes do corpo faz parte da categoria parte a faceta meacutetodos de tratamento faz parte da categoria meacutetodo e assim sucessivamente

268 ldquola simple rationalisation a posteriori drsquoune pratique preacuteexistante sous le deacuteguisement drsquoune theacuteorie geacuteneacuteralerdquo

253

6 CONCLUSAtildeO

Sentimos que mesmo depois de serem respondidas todas as questotildees cientiacuteficas possiacuteveis

os problemas da vida permanecem completamente intactos Wittgenstein

Seria despropositado e repetitivo reproduzir todas as conclusotildees alcanccediladas

ao longo de cada uma das seccedilotildees desta tese em especial a que trata do

acompanhamento e delineamento da trajetoacuteria das classificaccedilotildees dos saberes

(classes) e das classificaccedilotildees dos seres (categorias) agrave luz da Filosofia e sua

comparaccedilatildeo com os sitemas de classificaccedilatildeo bibliograacuteficas Oportuno poreacutem seria

tentar formular uma siacutentese geral do que emerge do texto como um todo

Todos os filoacutesofos citados estavam em busca do entendimento do ser Mas a

questatildeo era mais ampla e na tentativa de explicar o ser (categorias) eles

encontraram o saber (classes) No desejo de facilitar essa compreensatildeo ou mesmo

tornaacute-la mais didaacutetica foram cada um a seu modo criando transformando

inventando recriando e modificando conceitos que influenciados pela visatildeo de cada

um sobre o ser e o saber continuam sujeitos ao emprego teacutecnico e ao uso popular

A classificaccedilatildeo dos saberes (classes) como sistema divide o conhecimento em

aacutereas ou disciplinas tradicionais de acordo com os mais variados princiacutepios mas uma

vez estabelecidas fixadas as classes principais a operaccedilatildeo a ser feita para introduzir

novas aacutereas eacute a de ldquosimplesrdquo inserccedilatildeo enquanto a classificaccedilatildeo dos seres

(categorias) funcionando tambeacutem como um meacutetodo traduz-se em um conjunto

limitado de categorias escolhidas que abre espaccedilo a identidades e diferenccedilas e

remete agrave operaccedilatildeo de anaacutelise das propriedades de conceitos agrave noccedilatildeo de princiacutepio de

divisatildeo

A partir de Aristoacuteteles o processo de classificaccedilatildeo dos saberes e dos seres

embasa os sistemas enciclopeacutedicos de classificaccedilatildeo bibliograacutefica que tendem no

iniacutecio a utilizar indistintamente o conceito de classe e de categoria aplicando-os

como noccedilatildeo de classe que se estratifica em gecircnero e espeacutecie ateacute chegar agrave

substacircncia Esse procedimento se altera gradativamente principalmente por

influecircncia de Kant quando a noccedilatildeo de categoria (antes descriccedilatildeo agora

possibilidade de explicaccedilatildeo da realidade) passa a privilegiar as propriedades dos

fenocircmenos e objetos Portanto Kant retoma o processo e estabelece um novo

254

paradigma natildeo mais se referindo ao ser mas ao conhecer para designar os

conceitos ou princiacutepios a priori que fornecem a estrutura necessaacuteria para que o

entendimento possa perceber ou conceber aquilo que eacute dado Tal mudanccedila de

paradigma reflete-se na organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo o que talvez explique a

relativizaccedilatildeo das classificaccedilotildees bibliograacuteficas Com o decorrer do tempo as noccedilotildees

de categoria e classe passam a ser complementares Eacute quando os sistemas de

classificaccedilatildeo passam a operar simultaneamente com classes (aacutereas de

conhecimento) e com categorias (anaacutelises especiacuteficas e parciais do conteuacutedo dos

documentos)

O resgate histoacuterico das classificaccedilotildees filosoacuteficas dos saberes e dos seres

permitiu constatar que os conceitos de classe e categoria tecircm passado ao leacutexico

filosoacutefico universal mas os seus sentidos natildeo podem ser compreendidos a partir de

uma interpretaccedilatildeo comum dos termos senatildeo em conexatildeo com doutrinas e escolas

filosoacuteficas especiacuteficas

A classificaccedilatildeo os sistemas e os meacutetodos de classificaccedilatildeo natildeo satildeo apenas

teacutecnicas mas essencialmente estruturas teoacutericas com implicaccedilotildees filosoacuteficas A

mente humana natildeo possui um modelo preacute-fabricado de realidade o que significa

que tanto a classificaccedilatildeo como o mundo real satildeo construccedilotildees A classificaccedilatildeo

produz ldquoverdadesrdquo natildeo apenas representa o conhecimento mas faz nascer o

conhecimento

Tanto os princiacutepios que embasaram as classificaccedilotildees filosoacuteficas dos seres

(categorias) e dos saberes (classes) quanto as proacuteprias classificaccedilotildees

dividindo os seres em categorias e os saberes em classes disciplinares satildeo

construtos humanos elaborados primeiramente com a intenccedilatildeo de conhecer e

disciplinar o conhecimento do ser e do saber que refletem a trajetoacuteria do

pensamento filosoacutefico e indicam sempre preocupaccedilotildees fundamentais nas

diversas aacutereas do conhecimento

A influecircncia das classificaccedilotildees filosoacuteficas de caraacuteter especulativo sobre as

classificaccedilotildees bibliograacuteficas de caraacuteter funcional reside no fato de que as

classificaccedilotildees bibliograacuteficas natildeo deixam de ser adaptaccedilotildees das classificaccedilotildees do

conhecimento As classificaccedilotildees bibliograacuteficas utilizam termos originalmente das

filosoacuteficas ressignificando-os e transformando-os em ferramentas que necessitam

na maioria das vezes ser adaptadas para se adequarem agraves especificidades da

classificaccedilatildeo pretendida Visotildees filosoacuteficas como niacuteveis integratrivos ou

255

complexidade satildeo empregadas nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas como princiacutepios

estruturantes Distinccedilotildees entre classificaccedilatildeo filosoacutefica ou do conhecimento e

classificaccedilatildeo bibliograacutefica satildeo desnecessaacuterias pois conhecimento eacute virtualmente

sinocircnimo de conhecimento em literatura

Inspirada nas classificaccedilotildees filosoacuteficas a Biblioteconomia constroacutei sistemas

para a organizaccedilatildeo do conteuacutedo das suas coleccedilotildees de livros

As classificaccedilotildees bibliograacuteficas de modo geral tecircm por suporte a loacutegica

aristoteacutelica e os princiacutepios de um dos precursores da ciecircncia moderna Francis

Bacon O seu sistema filosoacutefico serviu de fundamento para a construccedilatildeo de vaacuterios

instrumentos destinados agrave organizaccedilatildeo do conhecimento como a Encyclopeacutedie de

Diderot e drsquoAlembert e vaacuterias classificaccedilotildees bibliograacuteficas como as de Harris

Dewey Otlet Cutter e outros Com Dewey ocorrre uma transiccedilatildeo das classificaccedilotildees

embasadas na Filosofia para as classificaccedilotildees pragmaacuteticas com ecircnfase na estrutura

classificatoacuteria hieraacuterquica enumerativa Bliss aproximou novamente a classificaccedilatildeo

bibliograacutefica da classificaccedilatildeo filosoacutefica ao combinar os princiacutepios compteanos com a

necessidade pragmaacutetica de colocar livros nas estantes de bibliotecas Da mesma

maneira Ranganathan elabora o primeiro sistema de classificaccedilatildeo bibliograacutefica geral

com base no princiacutepio analiacutetico-sinteacutetico ou anaacutelise por facetas o que significou uma

revoluccedilatildeo na construccedilatildeo de esquemas classificatoacuterios e um marco histoacuterico na Teoria

da Classificaccedilatildeo abrindo caminho para o desenvolvimento de sistemas de

organizaccedilatildeo do conhecimento que sucederam agraves classificaccedilotildees ou seja os tesauros

A filosofia da Biblioteconomia pode ser caracterizada como positivista

enraizada em uma interpretaccedilatildeo otimista de ciecircncia e sociedade No seacuteculo XIX

tendia-se a manifestar a visatildeo de que o progresso seria inevitaacutevel se o conhecimento

se tornasse acessiacutevel Durante esse periacuteodo as soluccedilotildees de organizaccedilatildeo do

conhecimento tomaram a forma de sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica de larga-

escala que eram descritos como geral ou universal Esses esquemas classificatoacuterios

foram construiacutedos dentro de um quadro filosoacutefico positivista que via o homem como

o foco central do universo que acreditava no progresso gerado pela ciecircncia e

pesquisa e que privilegiava a documentaccedilatildeo escrita sobre outras formas de

documentaccedilatildeo Os esquemas incorporaram ao mesmo tempo o mapeamento de

todo o conhecimento visando representar a ordem das coisas em relaccedilatildeo ao ideal e

o mapeamento de todo o conhecimento visando organizar os livros nas estantes em

relaccedilatildeo agrave rotina do dia a dia nas bibliotecas Eacute a partir dessa eacutepoca que surge a

256

preocupaccedilatildeo com os assuntos e a informaccedilatildeo contida nos livros As classificaccedilotildees

eram produto tanto da razatildeo quanto de uma visatildeo pragmaacutetica e funcionalista Muitas

vezes enfatizou-se o propoacutesito praacutetico de esquemas de classificaccedilatildeo ignorando-se

que toda classificaccedilatildeo eacute construiacuteda sobre um sistema de conhecimento Por

exemplo a CDU foi construiacuteda sobre a ordem das classes principais desenvolvidas

por Dewey as quais por sua vez embasaram-se na representaccedilatildeo racionalista das

ordens do conhecimento de Francis Bacon Estudiosos e pesquisadores da Teoria

da Classificaccedilatildeo tendem a adotar uma visatildeo francamente ambivalente sobre o

relacionamento de sistemas de classificaccedilatildeo filosoacuteficos e bibliograacuteficos de

conhecimento Argumentam que sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica satildeo

construiacutedos sobre fundaccedilotildees filosoacuteficas mas enfatizam a funccedilatildeo pragmaacutetica da

classificaccedilatildeo biblioteconocircmica Mas a despeito dessa ambivalecircncia todos os

esquemas de classificaccedilatildeo tradicionais satildeo construiacutedos sobre sistemas de

conhecimento claramente identificaacuteveis o que evidencia que determinada visatildeo de

mundo se encontra subentendida na estrutura de cada um dos esquemas que

disciplinam a epistemologia

As classes principais dentro dos esquemas tradicionais de classificaccedilatildeo

bibliograacutefica - natildeo importando se satildeo construiacutedas com o objetivo de simplificar e

facilitar o livre acesso dos usuaacuterios ao conhecimento em documentos habilitando-o

a localizar documentos especiacuteficos - sempre estabelecem o ponto de vista

epistemoloacutegico mundial sobre o qual o esquema estaacute construiacutedo o que se configura

numa praacutetica ou um exerciacutecio de poder ideologia e dominaccedilatildeo Esquemas de

classificaccedilatildeo satildeo sempre construtos ideoloacutegicos formaccedilotildees ideais mais do que

representativas do mundo natural produtos de uma determinada visatildeo de mundo

historicamente construiacutedos e contingentes isto eacute eventuais ou temporaacuterios que

escolhem determinam regulamentam que assuntos privilegiar e que assuntos

subordinar o que em termos sociais mais amplos tecircm consequecircncias porque

bibliotecas satildeo instituiccedilotildees primaacuterias de aprendizado e de aculturaccedilatildeo

Em siacutentese pode-se dizer que na trajetoacuteria a partir da Filosofia absorvida em

explicaccedilotildees teoacutericas ateacute a Biblioteconomia preocupada com soluccedilotildees instrumentais

e aplicativas (pragmaacuteticas) os esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica propostos

tem se beneficiado da aproximaccedilatildeo dessas duas aacutereas de conhecimento A

Biblioteconomia e a Ciecircncia da Informaccedilatildeo falam por meio de coacutedigos

classificaccedilotildees tesauros etc e por isso a informaccedilatildeo eacute sempre vista pelos

257

profissionais dessas aacutereas por meio de linguagens documentaacuterias naturais ou

controladas um dos recortes que as distinguem de outras aacutereas

Verificar como os conceitos de categoria de classe e de faceta satildeo

enunciados no acircmbito das classificaccedilotildees biblioteconocircmicas tradicionais faz emergir as

nuances das noccedilotildees Procurar clarear noccedilotildees conduz a complicar aquilo que parece

simples e a arriscar forjar distinccedilotildees aparentemente bizarras Uma dificuldade estaacute na

escolha original de termos (categoria e faceta) vagos e comuns para que a

especificidade da sua acepccedilatildeo documentaacuteria seja notadamente percebida Outra

dificuldade eacute a ambiguidade das noccedilotildees elas mesmas ferramentas de anaacutelise e siacutentese

conceituais Uma terceira dificuldade diz respeito agrave diversidade das entidades

documentaacuterias agraves quais se aplicam essas ferramentas assuntos conceitos e objetos

De qualquer maneira natildeo existe a pretensatildeo de fechar os conceitos

estudados pois sempre haveraacute a possibilidade de escolha face agraves variaccedilotildees que

ocorrem naturalmente de acordo com a eacutepoca e o autor como acontece com

qualquer vocaacutebulo e face agraves variaccedilotildees que se esforccedilam na tentativa de procurar um

qualificativo que precise a especificidade dos termos em Classificaccedilatildeo Como

tambeacutem haveraacute a possibilidade de providenciar uma definiccedilatildeo geral muito ampla que

se aplique a todos os empregos do campo da Ciecircncia da Informaccedilatildeo ou de dar uma

definiccedilatildeo especiacutefica para cada um dos usos particulares

Os termos de modo geral apresentam diversos significados Na Teoria da

Classificaccedilatildeo classe eacute usado para designar uma seacuterie ou um conjunto de unidades

que apresentam uma caracteriacutestica semelhante a partir da qual o conjunto adquire o

caraacuteter de classe A divisatildeo (ou grupo) oriunda da ramificaccedilatildeo de uma classe

principal eacute chamada de subclasse Categorias satildeo altamente generalistas no

sentido de que podem ser aplicadas a todas as classes enquanto que as classes

natildeo se aplicam agraves categorias Na visatildeo simplificada de que categorias satildeo caminhos

ou modos fundamentais pelos quais a informaccedilatildeo eacute construiacuteda ela comeccedila a ser

entendida como uma divisatildeo altamente geral de conceito e objeto Deve-se salientar

qualquer interpretaccedilatildeo dada agraves categorias deve levar em conta a evoluccedilatildeo do

pensamento de Aristoacuteteles a respeito a ideacuteia geral de categorias mesmo que de

maneira rudimentar eacute fundamental para qualquer teoria e praacutetica de subordinaccedilatildeo a

noccedilatildeo de categoria mesmo que intuitivamente sempre presidiu a operaccedilatildeo de

classificaccedilatildeo e ordenaccedilatildeo do conhecimento e o entendimento e a operacionalizaccedilatildeo

da noccedilatildeo de categoria resultam em uma opccedilatildeo um princiacutepio de divisatildeo

258

Muitos autores ingleses pensam que agrave teoria das facetas faltou um

movimento decisivo na histoacuteria da CC enquanto os franceses veem na teoria de

Ranganathan simplesmente a teorizaccedilatildeo de uma praacutetica Ao mesmo tempo que

declina o interesse pelas classificaccedilotildees facetadas (exceccedilatildeo ao uso de facetas na

organizaccedilatildeo de tesauros) aumenta o reconhecimento pelas classificaccedilotildees

tradicionais que veem o seu uso intensificado com a certeza a respeito da

necessidade de classificaccedilotildees nos mais diferentes ambientes de informaccedilatildeo atuais

como a internet

Haacute um processo real de enriquecimento do conteuacutedo dos conceitos quando

os termos caem no movimento evolutivo da reflexatildeo adquirindo uma densidade que

ateacute entatildeo inexistente A revisatildeo conceitual com respeito agraves noccedilotildees de classe

categoria e faceta aponta por parte dos estudiosos da Classificaccedilatildeo para a

necessidade de um cuidado maior no desenho no planejamento e na estruturaccedilatildeo

de sistemas de classificaccedilatildeo na modificaccedilatildeo e especificaccedilatildeo de tabelas de

classificaccedilatildeo e ateacute de linguagens de indexaccedilatildeo com vista agrave sua adequaccedilatildeo e

relevacircncia Entende-se que as contribuiccedilotildees daiacute resultantes delineadas numa

perspectiva funcional-instrumental poderatildeo ajudar os profissionais a reconsiderar os

seus sistemas de ideacuteias e procedimentos em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de

linguagens de indexaccedilatildeo e agrave classificaccedilatildeo habitual de documentos Parece loacutegico que depois de dececircnios de empregos variados e algumas vezes

discordantes a significaccedilatildeo dos termos apresentasse a tendecircncia a se estabilizar pois

a introduccedilatildeo dos termos e das noccedilotildees de categoria e de faceta na construccedilatildeo e

avaliaccedilatildeo de linguagens de indexaccedilatildeo (confecccedilatildeo de tesauros) assim como os

esforccedilos dos organismos de normalizaccedilatildeo tecircm contribuiacutedo para esclarecer a questatildeo

Os termos continuam sujeitos ao emprego teacutecnico e ao uso popular e

tambeacutem aos autores que os aplicam a todo procedimento semacircntico de

reagrupamento de noccedilotildees Seria recomendaacutevel fazer uso dos termos teacutecnicos com

discernimento e parcimocircnia e principalmente com precisatildeo conceitual Mas no jogo

incessante no qual se empregam as palavras e os conceitos pelos sujeitos falantes

eacute sempre o uso dominante da palavra que acaba por fazer a lei e o sentido o que

contribui para fragilizar uma aacuterea que carece de linguagem de especialidade Agrave

Ciecircncia da Informaccedilatildeo cabe avanccedilar na fundamentaccedilatildeo teoacuterica do seu campo de

aplicaccedilatildeo discutindo criticamente a sua base conceitual atenta agraves praacuteticas de uso

em voga na Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo com relaccedilatildeo a termos e conceitos

259

Deve-se acrescentar ainda um ponto positivo em contraponto agrave pouca

consistecircncia terminoloacutegica que estaacute presente em muitos projetos de organizaccedilatildeo da

informaccedilatildeo a do ganho que se tem quando se explicitam os criteacuterios utilizados para

agrupar ou dividir determinados conceitos ou seja a explicitaccedilatildeo das categorias A

explicitaccedilatildeo de criteacuterios ressalta a relatividade de qualquer organizaccedilatildeo da

informaccedilatildeo mas ao mesmo tempo confere ao usuaacuterio condiccedilotildees para entender

porque a informaccedilatildeo foi organizada de uma maneira e natildeo de outra Assim como a

relatividade do produto da classificaccedilatildeo deve ser assumida esse fato representa um

ganho para o usuaacuterio que passa a ter condiccedilotildees para avaliar o produto isto eacute a

informaccedilatildeo organizada jaacute que os criteacuterios utilizados lhe foram comunicados

Com a firme convicccedilatildeo de que uma noccedilatildeo ou conceito tem que ser definido

para ser operacionalizado este estudo permitiu a formulaccedilatildeo dos seguintes

conceitos de classe de categoria e de faceta dentro da Teoria da Classificaccedilatildeo para

as Classificaccedilotildees Bibliograacuteficas Tradicionais Classe eacute um conjunto cujos membros

compartilham alguma caracteriacutestica comum tambeacutem eacute cada uma das divisotildees

principais de um sistema esquema ou quadro de classificaccedilatildeo correspondendo

cada divisatildeo a uma disciplina do conhecimento agraves vezes o termo eacute usado como

sinocircnimo de classe principal Categoria eacute hipoacutetese de organizaccedilatildeo e expressatildeo

uma vez que natildeo se encontra aplicada eacute criteacuterio de divisatildeo que resultaraacute em grupos

dentro dos quais os termos satildeo ordenados por meio de anaacutelise por facetas Faceta eacute

um grupo de termos contidos em um campo de assunto produzido por um criteacuterio de

divisatildeo ou seja pela aplicaccedilatildeo de uma categoria

As hipoacuteteses levantadas foram validadas podendo-se concluir que a busca

pela consistecircncia terminoloacutegica de termos como categoria classe ou faceta contribui

para aperfeiccediloar a operacionalizaccedilatildeo do processamento do conhecimento em

Ciecircncia da Informaccedilatildeo e que os esquemas categoriais nas classificaccedilotildees

bibliograacuteficas natildeo tecircm valor neutro jaacute que favorecem uma concepccedilatildeo de mundo e

satildeo construiacutedos com objetivos pragmaacuteticos portanto a elaboraccedilatildeo de classificaccedilotildees

(classe categoria faceta) deve ser encarada com rigor pois afeta a maneira como

se processam as informaccedilotildees

Escolhas sobre ordem sobre que assuntos privilegiar e que assuntos ignorar

satildeo sempre escolhas ideoloacutegicas produtos de uma visatildeo de mundo particular e

tambeacutem representam um jogo de poder que eacute exercido em e por meio de relaccedilotildees

mediadas por informaccedilatildeo

260

7 PERSPECTIVAS

- Esmerar-se em separar tudo de tudo eacute algo natildeo somente discordante como tambeacutem eacute prova de desconhecimento das musas e da filosofia

- Eacute a mais radical maneira de todas as outras pois a razatildeo nos vem da ligaccedilatildeo muacutetua entre as figuras

Platatildeo Diaacutelogo de O Sofista

Parece ser produtivo parar e com base na literatura e na reflexatildeo pensar o

campo da Organizaccedilatildeo do Conhecimento de uma perspectiva mais geral e entatildeo

formular algumas questotildees relevantes e de interesse para futuras pesquisas

Princiacutepios de organizaccedilatildeo do conhecimento podem ser estendidos a um

escopo mais amplo incluindo hipertexto multimiacutedia objetos de museus e

monumentos

Enfoques ontoloacutegicos e epistemoloacutegicos podem ser reconciliados

Alguma fundaccedilatildeo ontoloacutegica de organizaccedilatildeo do conhecimento pode ser

identificada

Disciplinas deveriam continuar a ser a base estrutural da organizaccedilatildeo do

conhecimento

O ponto de vista da garantia literaacuteria pode ser identificado

A organizaccedilatildeo do conhecimento pode ser adaptada agraves necessidades das

coleccedilotildees locais

Como a organizaccedilatildeo do conhecimento pode proceder em relaccedilatildeo agraves

mudanccedilas no conhecimento

Como os sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento podem representar todas

as dimensotildees listadas acima

Como sofwares e formatos podem ser aprimorados para melhor atender agraves

necessidades dos sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento

Quem pode fazer organizaccedilatildeo do conhecimento profissionais da informaccedilatildeo

autores ou usuaacuterios Quem organiza o conhecimento

261

REFEREcircNCIAS

ABBAGNANO N Dicionaacuterio de filosofia Traduccedilatildeo da 1ordf ed brasileira coordenada e revista por Alfredo Bosi Revisatildeo da traduccedilatildeo e traduccedilatildeo dos novos textos Ivone Castilho Benedetti 4 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

AITCHISON J GILCHRIST A Construire un thesaurus Paris ADBS Eacuteditions 1992 ALA world encyclopedia of library and information services Chicago American Library Association 1980

ALBRECHTSEN H HJOslashRLAND B Information seeking and knowledge organization the presentation of a new book Knowledge Organization Wuumlrzburg v 24 n 3 p 136-144 1994

ALVARENGA L Organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo nas bibliotecas digitais In NAVES M M L KURAMOTO H Organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo princiacutepios e tendecircncias Brasiacutelia Briquet de Lemos 2006 Cap 6 p 76-98

AMPEgraveRE A M Essai sur la philosophie des sciences ou exposition analytique dacuteune classification naturelle de toutes les connaissanges humaines Paris Eacuteditions du Bachelier Imprimeur-Libraire pour les Sciences 1834 Part 1

ARANHA M L A MARTINS M H P Filosofando introduccedilatildeo agrave filosofia 3 ed revista Satildeo Paulo Moderna 2003

ARISTOacuteTELES Categorias Traduccedilatildeo do grego claacutessico introduccedilatildeo e notas feitas por Joseacute Veriacutessimo Teixeira da Mata Goiacircnia Ed UFG Alternativa 2005

ARISTOacuteTELES Toacutepicos Dos argumentos sofiacutesticos Seleccedilatildeo de textos de Joseacute Ameacuterico Motta Pessanha traduccedilotildees de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versatildeo inglesa de W A Pickard Satildeo Paulo Abril 1978 (Os Pensadores)

ARISTOacuteTELES Toacutepicos Dos argumentos sofiacutesticos Metafiacutesica Eacutetica a Nicocircmaco Poeacutetica Satildeo Paulo Abril Cultural 1973 (Os Pensadores v 4)

ASSOCIATION FRANCcedilAISE DE NORMALISATION AFNOR Z-47-100 regravegles drsquoeacutetablissement des theacutesaurus monolinguumles Paris La Deacutefense 1981

ASSOCIATION FRANCcedilAISE DE NORMALISATION AFNOR vocabulaire de la documentation 2 ed Paris La Deacutefense 1987

AULETE C Dicionaacuterio contemporacircneo da liacutengua portuguesa 5 ed Rio de Janeiro Delta 1986

AUSTIN D An indexing manual for PRECIS International Classification Frankfurt v 1 n 2 p 91-94 1974

AUSTIN D The new general faceted classification Catalogue amp Index London n 14 p 11-13 1969b

262

AUSTIN D Prospects for a new general classification Journal of Librarianship London v 1 n 3 p 149-169 1969a

AITCHISON J et al Thesaurofacet a thesaurus and faceted classification for engineering and related subjects Whetstone (Leicester) The Electric Co 1969

BACON F Novum Organum Satildeo Paulo Abril Cultural 1973 (Os Pensadores)

BARITEacute M G Glosario sobre organizacioacuten y representacioacuten del conocimiento clasificacioacuten indizacioacuten terminologiacutea Montevideo CSIC Indice 1997

BARITEacute M G The notion of ldquocategoryrdquo its implications in subject analysis and in the construction and evaluation of indexing languages Knowledge Organization Wuumlrzburg v 27 n 12 p 4-10 2000

BARRETO A A E assim nasceu a ciecircncia da informaccedilatildeo 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwlistasibictbrpipermailbib_virtual2005-june001480htmlgt Acesso em 20 maio 2006

BATLEY S Classification in theory and practice Oxford (UK) Chandos 2005

BHATTACHARYYA G POPSI its fundamentals and procedure based on a general theory of subject indexing languages Library Science with a Slant to Documentation Bangalore v 16 n 1 p 1-34 1979

BLISS H E The organization of knowledge in libraries and the subject approach to books 2nd ed New York Wilson 1939

BLISS CLASSIFICATION ASSOCIATION About the Bliss Bibliographic Classification Disponiacutevel em lthttpwwwblissclassificationorgukgt Acesso em 10 maio 2008

BOWKER G C STAR S L Sorting things out classification and its consequences Cambridge Mit Press 2000

BRACHMAN R J On the epistemological status of semantic networks In FINDER N V (Ed) Associative Networks representation and use of knowledge by components New York Academic Press 1979 p 3-50

BROUGHTON V Essential classification London Facet 2004

BROUGHTON V Faceted classification as a basis for knowledge organization in a digital environment the Bliss Bibliographic Classification as a model for vocabulary management and the creation of multidimensional knowledge structures In INTERNATIONAL ISKO CONFERENCE 7th July 2002 Granada Challenges in knowledge representation and organization for the 21st century Wuumlrzburg Ergon 2002 p 135-142 Disponiacutevel em lthttpwwwuclacukfatkspaper2htmgt Acesso em 12 maio 2008

BROWN J D Subject Classification London Library Supply 1906 Preface Introduction

263

BULFINCH T O livro de ouro da mitologia (a idade da faacutebula) histoacuterias de deuses e heroacuteis 5 ed Rio de Janeiro Ediouro 1999

BUONOCORE D Diccionario de bibliotecologiacutea 2 ed aum Buenos Aires Marymar 1976

BUTCHER S J Brown Classification In KENT A LANCOUR H (Ed) Encyclopedia of Library and Information Science New York Marcel Dekker 1971 v 3 p 367-371

CACALY S (Org) Dictionnaire encyclopeacutedique de lrsquoinformation et de la documentation Paris Nathan 1997

CAMPOS A T O nascer de uma utopia ainda e sempre o problema da classificaccedilatildeo bibliograacutefica Revista de biblioteconomia de Brasiacutelia v 1 n 1 p 15-19 janjun 1973

CAMPOS M L A Linguagem documentaacuteria teorias que fundamentam sua elaboraccedilatildeo Niteroacutei Eduff 2001

CAMPOS M L A A organizaccedilatildeo de unidades do conhecimento em hiperdocumentos o modelo conceitual como um espaccedilo comunicacional para a realizaccedilatildeo da autoria 2001 186 f Tese (Doutorado em Ciecircncia da Informaccedilatildeo) - Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia da Informaccedilatildeo do Convecircnio CNPqIBICT Escola de Comunicaccedilatildeo Universidade Federal do Rio de Janeiro 2001

CARVALHO E A E assim se passaram 100 anos Marccedilo de 2008 [professor titular de Antropologia da PUC-SP] Disponiacutevel em lthttpwwwiecomplexcombr uploadsEassimsepassaram100anospagdawebhtmgt Acesso em 10 jun 2008

CARVALHO K Travessia das letras Rio de Janeiro Casa da Palavra 1999

CENTRO DI STUDI FILOSOFICI DI GALLARATE Enciclopedia filosofica Venezia Istituto per la Collaborazione Culturale 1957

CHAUIacute M S Convite agrave filosofia Satildeo Paulo Aacutetica 2005

CINTRA A M M et al Para entender as linguagens documentaacuterias Satildeo Paulo Poacutelis 1994

CINTRA A M M et al Para entender as linguagens documentaacuterias 2 ed rev e ampl Satildeo Paulo Poacutelis 2002 92 p (Coleccedilatildeo Palavra-Chave 4)

CLASSIFICATION RESEARCH GROUP CRG Bulletin 11 Journal of Documentation London v 34 n 1 p 21-50 Mar 1978

CLASSIFICATION RESEARCH GROUP The need for a faceted classification as the basis of all methods of information retrieval Library Association Record London n 57 n 7 p 262-268 1955 Republished in Proceedings of the International Study Conference on Classification for Information Retrieval 1st May 1957 Dorking London ASLIB 1957 p 137-147

264

COMTE A Curso de filosofia positiva Discurso sobre o espiacuterito positivo Catecismo positivista Satildeo Paulo Abril Cultural 1973 (Os Pensadores v 33)

CUTTER C A Expansive classification Boston [sn] 1891

DAHLBERG I O futuro das linguagens de indexaccedilatildeo In CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979a v 1 p 323-334

DAHLBERG I Major development in classification Advances in Librarianship New York n 7 p 41-103 1977

DAHLBERG I Ontical structures and universal classification Banglore Sarada Ranganathan Endowment 1978

DAHLBERG I A referent-oriented analytical concept theory of INTERCONCEPT International Classification Frankfurt v 5 n 3 p 142-151 1978

DAHLBERG I Teoria da classificaccedilatildeo ontem e hoje In CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979b v 1 p 352-376 Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitidahlbergteoriadahlberg_teoriahtmgt Acesso em 20 abr 2005

DAHLBERG I Teoria do conceito Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 7 n 2 p 11-107 1978

DAHLBERG I Why knowledge organization Reasons for international classificationrsquos change of name Knowledge Organization Wuumlrzburg v 20 n 1 p 1 1993

DAHLBERG I Zur Theorie des Begriffs (Towards a theory of the concept) International Classification Frankfurt v 1 n 1 p 12-19 1974

DASGUPTA S N A history of indian philosophy Cambridge Cambridge University Press 1949

DESCARTES R Regulae ad Directionem Ingenii In ADAN C TANERRY P [Ed] Oeuvres completes ed revue et augmenteacutee par B Rochot et P Costabel Paris Vrin 1996 v VII

DEWEY M Dewey Decimal Classification Centennial 1876-1976 Facsiacutemile 1876 Produced by Suzanne Shell Lesley Halamek and PG Distributed Proofreaders reprinted by Forest Press and Division Lake Placid Educational Foundation 2007

DEWEY M Sistema de Clasificacioacuten Decimal Dewey Disentildeado originalmente por Melvil Dewey Traduccioacuten de la edicioacuten 20 em ingleacutes Traducido bajo la direccioacuten general de Octavio G Rojas L y la direccioacuten teacutecnica de Margarita Amaya de Heredia 20 ed Santafeacute de Bogotaacute Rojas Eberhard 1995

265

DEWEY M Dewey decimal classification and relative index 22nd ed Dublin OCLC Forest Press 2003 4 v

DIAS E W Biblioteconomia e ciecircncia da informaccedilatildeo natureza e relaccedilotildees In Perspectivas em Ciecircncia da Informaccedilatildeo Belo Horizonte v 5 n especial p 67-80 2000

DIAS E W O especiacutefico da ciecircncia da informaccedilatildeo In AQUINO M de A (Org) O campo da ciecircncia da informaccedilatildeo gecircnese conexotildees e especificidades Joatildeo Pessoa Editora UniversitaacuteriaUFPB 2002a

DIAS E W Ensino e pesquisa em ciecircncia da informaccedilatildeo DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 3 n 5 out 2002b Disponiacutevel em httpwwwdgzorgbrout02Art_02htm Acesso em 12 abrl 2008

DOBROWOLSKI Z Eacutetude sur la construction des systegravemes de classification Preacuteface drsquoEric de Grolier Paris Gauthier-Villars 1964

DUBOIS J et al Dicionaacuterio de linguiacutestica Satildeo Paulo Cultrix 1991

DUBUC R La classification deacutecimale universelle Paris Gauthier-Villars 1973

DURKHEIM Eacute As regras do meacutetodo socioloacutegico e outros textos In COMTE A DURKNHEIM Eacute Curso de filosofia positiva Satildeo Paulo Abril Cultural 1973 (Coleccedilatildeo Os Pensadores v 33)

DURKHEIM Eacute MAUSS M De quelques formes primitives de classification Anne Sociologique Paris v 1 p 8-62 1901-1902

ECO U Kant e o ornitorrinco Rio de Janeiro Record 1998

EISENSTEIN E L A revoluccedilatildeo da cultura impressa os primoacuterdios da Europa moderna Traduccedilatildeo Osvaldo Biato revisatildeo teacutecnica Rodolfo Ilari e Mayumi Denise Senoi Ilari Satildeo Paulo Aacutetica 1998

ELSEVIERrsquoS Dictionary of Library Science information and documentation In six languages EnglishAmerican-French-Spanish-Italian-Dutch and German Compiled and arranged on an English alphabetical basis by W E Clason Amsterdam Elsevier 1973

ENCICLOPEacuteDIA MIRADOR INTERNACIONAL Satildeo Paulo Encyclopaedia Britannica do Brasil 1983 v 9

ENCICLOPEacuteDIA SIMPOZIO Versatildeo em portuguecircs do original em esperanto Copyright 1997 Cap 2 Descartes meacutetodo e teoria do conhecimento 3686y066 sect 3 Divisatildeo e classificaccedilatildeo cartesiana das ciecircncias n 100 Disponiacutevel em lthttpwwwsimpozioufscbrFramehtmgt Acesso em 10 jan 2008

ENCICLOPEDIA VNIVERSAL ILVSTRADA evropeo-americana Bilbao Espasa-Calpe 1970

266

ESTEBAN NAVARRO M A Los lenguajes documentales ante el paso de la organizacioacuten de la realidad y el saber a la organizacioacuten del conocimiento Scire Zaragoza v 1 n 2 p 43-71 juldic 1995

FEIBLEMAN J K The integrative levels in nature In KYLE B (Ed) Focus on information and communication London ASLIB 1965 p 27-41

FEIBLEMAN J K Theory of integrative levels In CHAN L M et al Theory of subject analysis Littleton Libraries Unlimited 1985 p 136-142

FERRATER MORA J Diccionario de filosofiacutea Buenos Aires Sudamericana 1971 2 v

FERREIRA A B de H Novo Aureacutelio seacuteculo XXI o dicionaacuterio da liacutengua portuguesa 3 ed rev ampl Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999

FLA K D Theory of classification an examination guidebook London Clive Bingley 1966

FOSKETT A C A abordagem temaacutetica da informaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Antonio Agenor Briquet de Lemos Satildeo Paulo Poliacutegono Brasiacutelia Ed UnB 1973

FOSKETT A C Facet analysis In KENT A LANCOUR H (Ed) Encyclopedia of library and information science New York Marcel Dekker 1972 v 8 p 338-346

FOSKETT A C The subject approach to information 5th ed London Clive Bingley 1996 Chapter 18

FOSKETT D J The Classification Research Group 1952-1962 Libri Munchen v 12 n 2 p 127-138 1962

FOSKETT D J The theory of integrative levels and its relevance to the design of information systems ASLIB Proceedings London v 30 n 6 p 202-208 1978

FOUCAULT M As palavras e as coisas uma arqueologia das ciecircncias humanas Traduccedilatildeo Salma Tannus Muchail 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1981

GARCIA MORENTE M Lecciones preliminares de filosofia 5 ed Buenos Aires Editorial Losada 1952

GIMENO PERELLOacute J De las clasificaciones ilustradas al paradigma de la transdisciplinariedad El Catoblepas Revista Criacutetica del Presente n 10 dic 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwnoduloorgec2002n010p13htmgt Acesso em 3 mar 2008

GLOSSAacuteRIO de Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo Programa Sociedade da Informaccedilatildeo do Brasil GT-UMBTCAIDDL0025 Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpportalfustsocinfoorgbrDocsDocs20contribuicoes20dos20SUBGTSGT-UNBTCAIDDL0025docgt Acesso em 12 jan 2007

267

GLOSSAacuteRIO geral de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Universidade de Brasiacutelia Departamento de Ciecircncia da Informaccedilatildeo e Documentaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcidunbbr 123M0011000asptxtID_PRINCIPAL=123gt Acesso em 12 jan 2007

GLOSSARY OF TERMS Disponiacutevel emlthttpwwweducationusastategovgraduate glossaryhtmgt Acesso em 23 de novembro de 2007

GNOLI C Ten long-term research question in knowledge organization Knowledge Organization Frankfurt v 35 n 23 p 137-149 2008

GNOLI C POLI R Levels of reality and levels of representation Knowledge Organization Wuumlrzburg v 31 n 3 p 151-160 2004

GONZALEZ DE GOMEZ M N Da representaccedilatildeo do conhecimento ao conhecimento da representaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 22 n 3 p 217-222 1993

GOOSSENS J Origins and development of the universal decimal classification International Forum on Information and Documentation The Hague v 7 n 2 p 7-10 1982

GOPINATH M A Ranganathans perspectives and achievements Library Science in India New Delhi v 19 n 3 1992 Editorial

GOPINATH M A Lectures on conceptual knowledge processing Bangalore Sarada Ranganathan Endowment for Library Science 2001

GRACIA J J E Are categories invented or discovered A response to Foucault The Review of Metaphysics Washington n 55 p 3-20 Sept 2001

GREIMAS A J COURTES J Dicionaacuterio de semioacutetica Satildeo Paulo Cultrix [1979]

GROLIER E Classifications as cultural artifacts In UNIVERSAL CLASSIFICATION 1st JunJul1982 Augsburg Subject analisys and ordering systems INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION RESEARCH 4th JunJul1982 Augsburg Proceedingshellip ANNUAL CONFERENCE OF GESELLSCHAFT FUumlR KLASSIFIKATION 6th JunJul1982 Augsburg Annalshellip Frankfurt Indeks Verlag 1982-1983 London ASLIB 1982 v 2 p 19-34

GROLIER E Current trends in theory and practice of classification In INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION RESEARCH 2nd 1965 Copenhagen Proceedings Copenhagen Munksgaard 1965 p 9-14

GROLIER E Eacutetude sur les cateacutegories geacuteneacuterales aplicables aux classifications et codifications documentaires Paris UNESCO 1962

GROLIER E La clasificacioacuten cien antildeos despueacutes de Dewey Boletiacuten de la Unesco Paris v 30 n 6 p 320-329 novdic 1976

268

GROLIER E Le systegraveme des sciences et lrsquoeacutevolution du savoir In _____ Les fondements de la classification des savoirs Munich Verlag Dokumentation 1974 p 20-119

GUEDEZ A Foucault Traduccedilatildeo de Edson Braga de Souza Satildeo Paulo Melhoramentos Ed da Universidade de Satildeo Paulo 1977

GUIMARAtildeES R Dicionaacuterio da mitologia grega Satildeo Paulo Cultrix 1999

HAMELIN O Le systegraveme drsquoAristote Paris Feacutelix Alcan 1931

HARROD L M (Comp) The librariansrsquo glossary of terms used in librarianship documentation and the book crafts and reference book 4th ed rev London Andre Deutsch 1977

HARTMANN N Der Aufbau der realen Welt Grundiss der allgemeinen Kategorienlehre Berlin Walter de Gruyter1940

HJOslashRLAND B Fundamentals of knowledge organization In FRIacuteAS J A CRIacuteSPULO T (Ed) Tendencias de investigacioacuten en organizacioacuten del conocimiento Salamanca Ediciones Universidad de Salamanca 2003 p 83-116

HJOslashRLAND B Information seeking and subject representation London Greenwod Press 1997

HJOslashRLAND B HARTEL J Ontological epistemological and sociological dimensions of domains Knowledge Organization Wuumlrzburg v 30 p 239-245 2003

HUARTE DE SAN JUAN J H de Examen de ingenious para las ciecircncias Electroneurobiologia Madrid v 3 n 2 p 1-322 1995 (Notas preliminares por Mariela Szirko) Disponiacutevel em lthttpelectroneubiosecytgovarindex2htmgt Acesso em 20 jan 2007

HUCKABY S A S An enquiry into the theory of integrative levels as the basis for a generalized classification scheme Journal of Documentation London v 28 n 2 p 97-106 1972

HUDON M Le theacutesaurus conception elaboration gestion Montreacuteal ASTED 1994

HUNTER E J Classification made simple 2nd ed Aldershot Ashgate 2002

INDIAN standard glossary of classification terms New Delhi Indian Standards Institution (ISI) 1964

INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION FOR INFORMATION RETRIEVAL 1st May 1957 Dorking London ASLIB 1957

IYER H Classificatory structures concepts relations and representation Frankfurt Main Indeks Verlag 1995

269

JAYARAM V Purusharthas or the four aims of human life Disponiacutevel em lthttpwwwhinduwebsitecomhinduismh_aimsaspgt Acesso em 29 set 2008

KAHLMEYER-MERTENS R S Interpretaccedilatildeo da ldquociecircncia de todos os princiacutepios da sensibilidade a priorirdquo na criacutetica da razatildeo pura de Immanuel Kant Tempo da Ciecircncia Revista de Ciecircncias Sociais e Humanas Toledo v8 n 16 p 35-44 2001 Disponiacutevel emlthttpwww conscienciaorg critica_da_ razao_puraroberto shtmlgt Acesso em 30 nov 2007

KEDROV B N Clasificacioacuten de las ciencias Moscuacute Editorial Progreso 1974 2 v

KEENAN S Concise dictionary of library and information science London Bowker Saur 1996

KNEALE M KNEALE W O desenvolvimento da loacutegica 2 ed Lisboa Calouste Gulbenkian 1980

KNOWLEDGE ORGANIZATION Wuumlrzburg v 35 n 23 2008 Special Issue What is knowledge organization

KUHN T S Estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas Satildeo Paulo Perspectiva 1976

KUMAR K Theory of classification 2nd ed New Delhi Vikas Publishing House 1981

LALANDE A Vocabulaacuterio - teacutecnico e criacutetico - da filosofia Porto Reacutes [19--]

LANCASTER F W Vocabulary control for information retrieval Arlington Virginia Information Resources Press 1986

LANDAU T (Ed) Encyclopaedia of librarianship London Bowes amp Bowes 1958

LANGRIDGE D Classificaccedilatildeo abordagem para estudantes de biblioteconomia Rio de Janeiro Interciecircncia 1977

LAROUSSE P Grand dictionnaire universel du XIXe siegraveclehellip Paris Administration du Grand Dictionnaire Universel 1867

LEacuteVI-STRAUSS C O pensamento selvagem Traduccedilatildeo de Maria Celeste da Costa e Souza e Almir de Oliveira Aguiar 2 ed Satildeo Paulo Ed Nacional 1976

McILWAINE I C The Universal Decimal Classification a guide to its use The Hague UDC Consortium 2000

McILWAINE I C MITCHELL J S Preface to special issue Knowledge Organization Wuumlrzburg v 35 n 23 p 79-81 2008

McMURTRIE D O livro impressatildeo e fabrico 3 ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1997

MANIEZ J Des classifications aux theacutesaurus du bom usage des facettes Documentaliste - Sciences de lrsquoInformation Paris v 36 n 4-5 p 249-262 1999

270

MANIEZ J Los lenguajes documentales y de clasificacioacuten concepcioacuten construccioacuten y utilizacioacuten en los sistemas documentales Traduccioacuten del franceacutes Francisco Javier Aacutelvarez Garciacutea Juan Francisco Herranz Navarra Margarita Ramiacuterez Reyes Madrid Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez 1993

MANIEZ J Variations sur le thegraveme des facettes In DENTZER-TATIN C Mosaiumlque quelques facettes de lrsquoinformation Paris ADBS 1997 p 17-42

MANN M Catalogaccedilatildeo e classificaccedilatildeo de livros Rio de Janeiro Ed Fundo de Cultura 1962

MATURANA H R VARELA F J A aacutervore do conhecimento as bases bioloacutegicas da compreensatildeo humana Traduccedilatildeo Humberto Mariotti e Lia Diskin Satildeo Paulo Palas Athena 2001

MAZIP V Histoacuteria da filosofia ocidental vida obras pensamento e terminologia especiacutefica dos filoacutesofos Satildeo Paulo EPU 2001

MEDEIROS M B B Categoria e faceta In GLOSSAacuteRIO geral de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Universidade de Brasiacutelia Departamento de Ciecircncia da Informaccedilatildeo e Documentaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcidunbbr123M0011000asptxtID_ PRINCIPAL=123gt Acesso em 12 jan 2007

MENEZES E M CUNHA M V da HEEMANN V M Glossaacuterio de anaacutelise documentaacuteria Londrina ABECIN 2004

MIKSA F L Cutter Charles Ammi In ALA world encyclopedia of library and information services Chicago American Library Association 1980 p 168-170

MILLS J A modern outline of library classification London Chapman and Hall 1960

MILLS J BROUGHTON V Bliss Bibliographic Classification introduction and auxiliary schedules 2nd ed London Butterworths 1977

MONTANGERO J MAURICE-NAVILLE D Piaget ou a inteligecircncia em evoluccedilatildeo Porto Alegre ArtMed 1998

MOSS R Categories and relations origins of two classification theories American Documentation Washington DC v 15 n 4 p 296-301 Oct 1964

MOSTAFA S P Ciecircncia da informaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com outras aacutereas Palestra proferida em Mariacutelia [sd] In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL Disponiacutevel em lthttpwwwmariliaunespbrHomeExtensaoCEDHUMtexto03pdfgt Acesso em 12 out 2005

MOSTAFA S P Filosofando sobre a area de informaccedilatildeo In SIMPOacuteSIO BRASIL SUL DE INFORMACcedilAtildeO Assumindo um novo paradigma acervo versus informaccedilatildeo 1996 Londrina Anais do Londrina UEL 1996 v 1 p 31-45

271

NEELAMEGHAN A Theory of classification KENT A LANCOUR H (Ed) Encyclopedia of library and Information science New York Marcel Dekker 1970 v 5 p 147-174

OLIVEIRA R M S Classificaccedilatildeo decimal universal origem estrutura situaccedilatildeo atual Brasiacutelia ABDF INL 1980

OTLET P Sur la structure des nombres classificateurs Bulletin de lrsquoInstitut International de Bibliographie La Haye v 1 p 230-243 1895-1896

OTLET P Traiteacute de Documentation le livre sur le livre Bruxelles Editiones Mundaneum 1934

PALMER B I WELLS A J The fundamentals of library classification London George Allen amp Unwin 1951

PAZIN R A A P Introduccedilatildeo agrave classificaccedilatildeo (manual para estudantes de Biblioteconomia) Curitiba UFPR 1973

PENNA C V Catalogacioacuten y clasificacioacuten de libros Buenos Aires Kapelusz 1960

PERREAULT J M An essay on the Prehistory of general categories T Jefferson (Dedicated to Eric de Grolier on his 80th Birthday) International Classification Frankfurt v 18 n 3 p 134-142 1991

PERREAULT J M (Ed) Proceedings of the International Symposium on Relational Factors in Classification 1966 Maryland Jun 1966 Information Storage and Retrieval Elmsford NY v 3 n 4 p 177-410 1967

PERREAULT J M Towards a theory for the UDC London C Bingley 1969

PHILLIPS W H A primer book classification London Association of Assistant Librarians 1961

PIAGET J Logique et connaissance scientifique Paris Gallimard 1967

PIAGET J Reacuteussir et comprendre Paris PUF 1974

PIAGET J GARCIA R Vers une logique des significations Genegraveve Murionde 1987

PIEDADE M A R Introduccedilatildeo agrave teoria da classificaccedilatildeo 2 ed rev e aum Rio de Janeiro Interciecircncia 1983

PLATAtildeO A Repuacuteblica [ou sobre a justiccedila diaacutelogo poliacutetico] Tiacutetulo original Politeacuteia Traduccedilatildeo Anna Lia Amaral de Almeida Prado revisatildeo teacutecnica e introduccedilatildeo Roberto Bolzani Filho Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

272

POLI R Framing ontology In CORAZZON R (Ed) Ontology a resource guide for philosophers Disponiacutevel em lthttpwwwformalontologyiitessaysframingpdfgt Acesso em 8 ago 2008 1996

POLI R Ontology for knowledge organization In GREEN R (Ed) Knowledge organization and change Proceedings of the fourth International ISKO Conference Jul 1996 Washigton DC Wuumlrzburg Ergon 1996 p 313-319

POMBO O Apontamentos sobre o conceito de epistemologia e o enquadramento categorial da diversidade de concepccedilotildees de ciecircncia Disponiacutevel em lthttpcfculfculpttextosdisponiveishtmgt Acesso em 20 nov 2006

PRABHAKARA Britannica online enciclopeacutedia Disponiacutevel em lthttpwwwbritannicacomEBcheckedtopic473542Prabhakaragt Acesso em 17 out 2008

RAFFERTY P The representation of knowledge in library classification schemes Knowledge Organization Wuumlrzburg v 28 n 4 p 180-191 2001

RANGANATHAN S R Colon Classification 6th ed Bombay Bombay Asia Publishing House 1960

RANGANATHAN SR The five laws of library science Bombay Asia Publishing House 1963

RANGANATHAN S R Library Classification fundamentals and procedures Bangalore Sarada Ranganathan Endowment for Library Science 1944

RANGANATHAN S R Library classification as a discipline opening address In THE INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION AND INFORMATION RETRIEVAL May 1957 Dorking Bulletin [Classification Research Group] London ASLIB 1957 p 2

RANGANATHAN S R Philosophy of library classification Copenhagen Ejnar Munksgaard 1951

RANGANATHAN S R Prolegomena to library classification Madras Madras Library Association 1937

RANGANATHAN S R Prolegomena to library classification Assisted by M A Gopinath 3rd ed London Asia Publishing House 1967

RAYWARD W B The case of Paul Otlet pioneer of Information Science internationalist visionary reflections on bibliography Disponiacutevel em lthttpwww alexialisuiucedugslispeoplefacultyfac_papersraywardrayward2htmlgt Acesso em 20 Jun 2001

RICHMOND P A Contribution toward a new generalized theory of classification In CLASSIFICATION RESEARCH INTERNATIONAL STUDY 2nd 1965 Copenhagen Proceedingshellip Copenhagen Munksgaard 1965 p 39-54

273

RICOEUR P A memoacuteria a histoacuteria o esquecimento Traduccedilatildeo de Alain Franccedilois Campinas Editora da Unicamp 2008

ROBREDO J CUNHA M B da Documentaccedilatildeo de hoje e de amanhatilde uma aborgagem informatizada da Biblioteconomia e dos sistemas de informaccedilatildeo Satildeo Paulo Global 1994

RODRIGUEZ R D Kaiserrsquos systematic indexing Library Resources amp Technical Services Chicago v 28 n 2 p 163-174 AprJun 1984

RYLE G Expressotildees sistematicamente enganadoras e outros ensaios In RYLE et al Ensaios Satildeo Paulo Abril Cultural 1975 p 29-41 (Os Pensadores v 52)

RYLE G The concept of mind Chicago The University Chicago Press 1949

SAN SEGUNDO MANUEL R Sistemas de organizacioacuten del conocimiento la organizacioacuten del conocimiento en las bibliotecas espantildeolas Madrid Universidad Carlos III 1996 (Coleccioacuten Monografiacuteas 15)

SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma ciecircncia poacutes-moderna 3 ed Rio de Janeiro Graal 1989 Cap 2 Ciecircncia e senso comum p 31-45

SANTOS B de S Um discurso sobre as ciecircncias Porto Afrontamento 1987

SANTOS M F dos Dicionaacuterio de filosofia e ciecircncias culturais 2 ed Satildeo Paulo Matese 1964

SATIJA M P SINGH A Bibliography of library classification 1930-1993 New Delhi MD Publications 1993

SAYERS W C B An introduction to library classification 9th ed London Grafton 1955a

SAYERS W C B A manual of classification for librarians and bibliographers 3rd rev ed London Grafton 1955b

SEPUacuteLVEDA F A M A gecircnese do pensar em Ranganathan um olhar sobre as culturas que o influenciaram Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombiti sepulvedaindexhtmgt Acesso em 24 maio 2006 (Pesquisa apresentada originalmente como Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Ciecircncia da Informaccedilatildeo - Universidade Federal do Rio de Janeiro 1996)

SERRAI A Le classificazioni idee e materiali per una teoria e per una storia Firenze Leo Olschki 1977

SHERA J H Padratildeo estrutura e conceituaccedilatildeo na classificaccedilatildeo [1957] Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitisheraindexhtmgt Acesso em 23 abr 2006

274

SMIT J W TAacuteLAMO M F G M KOBASHI N Y A determinaccedilatildeo do campo cientiacutefico da informaccedilatildeo uma abordagem terminoloacutegica DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 5 n 1 p 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrgt Acesso em 15 maio 2006

SOUZA J S Classificaccedilatildeo sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica 2 ed Satildeo Paulo Martins 1952

SPITERI L The Classification Research Group and the theory of integrative levels The Katharine Sharp Review 1995 Disponiacutevel em lthttpalexialisiucedu review summer1995spiterihtmlgt Acesso em 8 out 2005

STEWART J D Memoir by James Douglas Stewart Library Association Record London n 16 p 239-242 May 1914

STOumlRIG H J Histoacuteria geral da filosofia Revisatildeo geral de Edgar Orth Petroacutepolis Vozes 2008

TAacuteLAMO M F G M KOBASHI N Y LARA M L G Vamos perseguir a informaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo n 4 p 52-57 setdez 1995

TAacuteLAMO M F G M et al Otlet o criador de estruturas informacionais pela paz mundial In CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA DOCUMENTACcedilAtildeO E CIEcircNCIA DA INFORMACcedilAtildeO 20 junho de 2002 Fortaleza Trabalho apresentado ao Fortaleza 2002 1 CD-ROM

TCHAKHOTINE S Organisation rationnelle de la recherche scientifique Paris Hermann 1938

TEIXEIRA J Instrumentos para representaccedilatildeo da informaccedilatildeo tesauro ontologia taxonomia e mapas conceituais Satildeo Paulo 2006 57 f Monografia (Trabalho de Conclusatildeo de Curso) - Departamento de Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo Escola de Comunicaccedilotildees e Artes Universidade de Satildeo Paulo 2006

TENNIS J T Epistemology theory and methodology in knowledge organization Knowledge Organization Wuumlrzburg v 35 n 23 p 102-112 2008

THOMPSON E H (Dir) ALA glossary of library terms with a selection of terms in related fields Chicago American Library Association 1943

UDC Universal Decimal Classification London British Standards Institution 2003 (Pocket edition)

UDC CONSORTIUM Classificaccedilatildeo Decimal Universal tabelas sistemaacuteticas Segunda Ediccedilatildeo-Padratildeo Internacional em Liacutengua Portuguesa Traduccedilatildeo de Odilon Pereira da Silva Revisatildeo de Faacutetima Ganim Brasiacutelia IBICT 2007 2 v (Publicaccedilatildeo UDC P053)

275

UNESCO Knowledge versus information societies UNESCO report takes stock of the difference 2005 Disponiacutevel em lthttpportalunescoorgenevphp-URL_ID= 30586ampURL_DO=DO_TOPICampURL_SECTION=201htmgt Acesso em 8 abr 2007

UNESCO-BIE Theacutesaurus de lrsquoeacuteducation Paris Unesco 1991

VANCOURT R Kant Traduccedilatildeo do francecircs por A Pinto Ribeiro Lisboa Ediccedilotildees 70 1980

VERBO Enciclopeacutedia Luso-Brasileira de Cultura Lisboa Editorial Verbo 1963-1976

VICENTINI A L C Ranganathan filoacutesofo da classificaccedilatildeo cientista da biblioteconomiacutea Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 1 n 2 p 113-114 juldez 1972

VICKERY B C La classification agrave facettes Paris Gauthier-Villars 1963

VICKERY B C Classification and indexing in science 3rd ed rev compl rev London Butterworths 1958

VICKERY B C Classification and indexing in science 3rd ed London Butterworths 1975

VICKERY B C Faceted classification a guide to the construction and use of special schemes London ASLIB 1960

VICKERY B C Classificaccedilatildeo e indexaccedilatildeo nas ciecircncias Traduccedilatildeo Maria Christina Giratildeo Pirolla Rio de Janeiro BNGBrasilart 1980

VITA L W Introduccedilatildeo agrave filosofia Satildeo Paulo Melhoramentos 1964

WHAT is a MARC record and whyrsquos it important Disponiacutevel em lthttpwwwlocgov marcumbum01to06htmlgt Acesso em 10 abr 2007

WERSIG G NEVELING U Terminologiacutee de la documentation (en cinq langue) Paris Unesco 1976

WIENER P P (Ed) Readings in philosophy of science introduction to the foundations and cultural aspects of the sciences New York Charles Scribners Sons 1953

WITTGENSTEIN Ludwig Tractatus logico-philosophicus Satildeo Paulo Edusp 1994

XIAO Y Faceted classification a consideration of its features as a paradigm of knowledge organization Knowledge Organization Wuumlrzburg v 21 n 2 p 64-68 1994

ZADEH L A Fuzzy sets Information and Control New York v8 n3 p 338-353 Jun 1965

276

ZADEH L A KLIR G J YUAN B Fuzzy sets fuzzy logic and fuzzy systems selected papers River Edge World Scientific Press 1996 (Advances in Fuzzy Systems v 6)

277

BIBLIOGRAFIA

AITCHISON J A classification as a source for a thesaurus the Bibliographic Classification of H E Bliss as a source of thesaurus terms and structure Journal of Documentation London v 42 n 3 p 160-181 Sept1986

ARTEcircNCIO L M Princiacutepios de categorizaccedilatildeo nas linguagens documentaacuterias Satildeo Paulo 2007 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Ciecircncia da Informaccedilatildeo) - Escola de Comunicaccedilatildeo e Artes Universidade de Satildeo Paulo

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 13789 terminologia - princiacutepios e meacutetodos - elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de normas de terminologia Rio de Janeiro mar 1997

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 13790 terminologia - princiacutepios e meacutetodos - harmonizaccedilatildeo de conceitos e termos Rio de Janeiro mar 1997

AUSTIN D The theory of integrative levels reconsidered as the basis of a general classification In CLASSIFICATION RESEARCH GROUP (Ed) Classification and information control London Library Association 1969 p 81-95

AUSTIN D DALE P Diretrizes para o estabelecimento de tesauros monoliacutenguumles Brasiacutelia IBICTSENAI 1993

BAKHTIN M Marxismo e filosofia da linguagem problemas fundamentais do meacutetodo socioloacutegico na ciecircncia da linguagem 11 ed Satildeo Paulo Hucitec 2004

BARATIN M JACOB C O poder das bibliotecas Rio de Janeiro UFRJ 2000 Cap Ler para escrever navegaccedilotildees alexandrinas

BARBOSA A P Teoria e praacutetica dos sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica Rio de Janeiro IBBD 1969

BARITEacute M G Organizacioacuten del conocimiento un nuevo marco teoacuterico-conceptual en Bibliotecologiacutea y Documentacioacuten In CARRARA K (Org) Educaccedilatildeo universidade e pesquisa Mariacutelia UNESP Mariacutelia Publicaccedilotildees Satildeo Paulo FAPESP 2001

BARRETO A A A questatildeo da informaccedilatildeo Satildeo Paulo em Perspectiva Satildeo Paulo v 8 n 4 p 3-8 1994

BARRETO A A As tecnoutopias do saber redes interligando o conhecimento Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrdez05Art_01htmgt Acesso em 5 abr 2007

BARROS L A Curso baacutesico de terminologia Satildeo Paulo EDUSP 2004

BASTOS Z P S M Melvil Dewey sua vida e sua obra In CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979 v 1 p 168-189

278

BEGHTOL C Knowledge domains multidisciplinarity and bibliographic classification systems Knowlede Organization Wuumlrzburg v25 n frac12 p 1-12 1998

BELL D O advento da sociedade poacutes-industrial Satildeo Paulo Cultrix 1973 Cap 3 As dimensotildees do conhecimento

BHATTACHARYYA G GANGANATHAN S R From knowledge organization to library classification In COLLOQUE DrsquoOTTAWA Conceptual of the classification of knowledge = Les fondements de la classification des savoirs Acteshellip 1971 Munchen Verlag Dokumentation 1974 p 119-144

BINDING C TUDHOPE D Integrating faceted structure into the search process In INTERNATIONAL ISKO CONFERENCE 8th July 2004 London Knowledge organization and the global information society Wuumlrzburg Ergon 2004 p 67-72

BROUGHTON V LANE H Classification schemes revisited applications to web indexing and searching In THOMAS A SHEARER J Internet searching and indexing the subject approach New York Haworth Press 2000 p 143-155

BUDD J M Knowledge and knowing in library and information science a philosophical framework Lanham Md Scarecrow Press 2001

BURKE P Uma histoacuteria social do conhecimento de Gutenberg a Diderot Traduccedilatildeo Pliacutenio Dentzien Rio de Janeiro J Zahar 2003

CABREacute M T La terminologia teoria metodologiacutea aplicaciones Proacutelogo de J C Sager Barcelona Editorial AntaacutertidaEmpuacuteries 1993

CABREacute M T La terminologiacutea hoy concepciones tendencias y aplicaciones Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 24 n 3 1995

CABREacute M T Terminologie et linguistique la theacuteorie des portes Terminologies Nouvelles Bruxelles n 21 p 10-15 2000

CAMPOS A T Linguagens documentaacuterias Revista de biblioteconomia de Brasiacutelia Brasiacutelia v 14 n 1 p 85-88 janjun 1986

CAMPOS A T O processo classificatoacuterio como fundamento das linguagens de indexaccedilatildeo Revista de biblioteconomia de Brasiacutelia Brasiacutelia v 6 n 1 p1-8 janjun 1978

CAMPOS A T A teoria das classificaccedilotildees analiacutetico-sinteacuteticas ou facetadas e a sua influecircncia sobre a reforma da Classificaccedilatildeo Decimal Universal (CDU) Revista de biblioteconomia de Brasiacutelia v 3 n 1 p23-36 janjun 1975

CAMPOS M L A As cinco leis da biblioteconomia e o exerciacutecio profissional Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitimluizaindexhtmgt Acesso em 5 abr 2007

279

CAMPOS M L A Modelizaccedilatildeo de domiacutenios de conhecimento uma investigaccedilatildeo de princiacutepios fundamentais Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 33 n 1 p 22-32 janabr 2004

CAMPOS M L A Perspectivas para o estudo da aacuterea de representaccedilatildeo da informaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 25 n 2 p 224-227 1995

CAMPOS M L A A problemaacutetica da compatibilizaccedilatildeo terminoloacutegica e a integraccedilatildeo de ontologias o papel das definiccedilotildees conceituais In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIEcircNCIA DA INFORMACcedilAtildeO (ENANCIB) 6 2005 Florianoacutepolis Anais Florianoacutepolis UFSC 2005 1 CD-ROM

CAMPOS M L A CAMPOS M L M SOUZA R F Organizaccedilatildeo de unidades de conhecimento em hiperdocumentos o modelo conceitual como espaccedilo comunicacional para realizaccedilatildeo da autoria Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 32 n 2 p 7-16 maioago 2003

CAMPOS M L A GOMES H E Organizaccedilatildeo de domiacutenios do conhecimento e os princiacutepios ranganathianos Perspectiva em Ciecircncia da Informaccedilatildeo Belo Horizonte v 8 n 2 p 150-163 juldez 2003

CAMPOS M L A GOMES H E Princiacutepios de organizaccedilatildeo e representaccedilatildeo do conhecimento na construccedilatildeo de hiperdocumentos DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 6 dez 2005 Disponiacutevel em lthttpwww dgzorgbrgt Acesso em 20 jun 2007

CAMPOS M L A GOMES H E Tesauro e normalizaccedilatildeo terminoloacutegica o termo como base para intercacircmbio de informaccedilotildees DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 5 n 6 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrgt Acesso em 30 abr 2007

CAVALCANTI C R Indexaccedilatildeo amp tesauro metodologia e teacutecnicas Ed preliminar Brasiacutelia ABDF 1978

CDU Clasificacioacuten Decimal Universal Edicioacuten abreviada espantildeola 6 ed rev y actual Madrid Aenor 1992

CDU Classification Deacutecimale Universellehellip 2nd ed Bruxelles IIB 1927-1933 3 v

CHAN L COMAROMI J P SAJITA M P Dewey Decimal Classification a practical guide Albany NY Forest 1996

CHAN V Ranganathan ahead of his century Disponiacutevel em lthttpwwwslaisubc cacourseslibr517winter2000Group7gt Acesso em 29 set 2007 (Coursework at School of Library and Archival Studies University of British Columbia)

CHATTERJEE A CHOUDHURY G G UDC International medium edition English text A critical appraisal International Classification Frankfurt v 13 n 3 1986

CHAUI M S Filosofia Satildeo Paulo Editora Aacutetica 2001

280

CHAUIacute M S Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia dos preacute-socraacuteticos a Aristoacuteteles 2 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002 2 v

CHAUMIER J Le traitement linguistique de lrsquoinformation documentaire Paris Enterprise Moderne drsquoEacutedition 1978

CINTRA A M M Elementos de linguumliacutestica para estudos de indexaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 12 n 1 p 5-22 1983

CLASSIFICATION theory In THE NEW encyclopaedia britannica 15 ed Chicago Encyclopaedia Britannica 1974 Macropaedia v 4 p 691-694

COMARONI J P History of the Dewey Decimal Classification Michigan University 1969

CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA set 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979 2 v

CURRAacuteS E Tesauros linguagens terminoloacutegicas Traduccedilatildeo de Antocircnio Felipe Correcirca da Costa Brasiacutelia IBICT 1995

DAHLBERG I Fundamentos teoacuterico-conceituais da classificaccedilatildeo Revista de biblioteconomia de Brasiacutelia v 5 n 1 p 9-21 janjun 1978

DAHLBERG I Knowledge organization and terminology philosophical and linguistic bases International Classification Frankfurt v 19 n 2 p 65-71 1992

DAHLBERG I Knowledge organization its scope and possibilities Knowledge Organization Wuumlrzburg v 20 n 4 p 211-222 1993

DATTA S A organizaccedilatildeo de conceitos para recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 6 n 1 p 17-28 1977

DERRIDA J Forma e significaccedilatildeo In A escritura eacute a diferenccedila 2 ed Satildeo Paulo Perspectiva 1995 (Debates n 49)

DEWEY M A classification and subject iacutendex for cataloguing and arranging the books and pamphlets of a library (Dewey Decimal Classification) Project Gutemberg EBook Dewey Decimal Classification 2004 Disponiacutevel em lthttpwww classicistraniericom english12511251312513-h12513-hhtmgt Acesso em 8 maio 2007

DEWEY DECIMAL CLASSIFICATION 22nd ed Dublin OCLC 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwoclcorggt Acesso em 20 out 2006

DODEBEI V L D Tesauro linguagens de representaccedilatildeo da memoacuteria documentaacuteria Niteroacutei Intertexto Rio de Janeiro Interciecircncias 2002

DUBUC R Manual praacutectico de terminologia 3 ed corr atual Traduccedilatildeo de Ileana Cabrera Santiago de Chile Unioacuten LatinaRil Ed 1999

281

DURKHEIM Eacute MAUSS M Clasificaciones primitivas y otros ensayos de antropologia positiva Edicioacuten de Manuel Delgado Ruiz y Alberto Loacutepez Bargados Barcelona Ariel 1996

ECO U O signo Lisboa Presenccedila 1990

ECO U Sobre os espelhos e outros ensaios Rio de Janeiro Nova Fronteira1989

EGAN M E Cataacutelogo sistemaacutetico princiacutepios baacutesicos e utilizaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Maria Neile Teles Landau Brasiacutelia Ed da UnB 1969

ELLIS D FORD N In search of the unknown user indexing hypertext and the World Wide Web Journal of Documentation London v 54 n 1 p 28-47 1998

ESTEBAN NAVARRO M A Fundamentos epistemoloacutegicos de la clasificacioacuten documental Scire Zaragoza v 1 n 1 p 81-101 enejun 1995

FENSEL D et al OIL an ontology infrastructure for the semantica web IEEE Intelligent Systems their Applications New York p 38-45 MarApr 2001

FERNANDEZ R P Classificaccedilatildeo um processo fundamental da natureza humana In CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979 v 1 p 254-268

FEIBLEMAN J K Theory of integrative levels British Journal for the Philosophy of Science Edinburgh v 5 p 59-66 1954

FLYVBJERG B Making social science matter why social inquiry fails and how it can succeed again Cambridge Cambridge University Press 2001

FONSECA E N da Apogeu e decliacutenio das classificaccedilotildees bibliograacuteficas Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitineryindexhtmgt Acesso em 14 nov 2005 FOSKETT A C The future of faceted classification In MALTBY R M MALTBY A (Ed) The future of classification Aldershot Gower 2000 p 69-80

FOSKETT D J Classification and integrative levels In FOSKETT D J PALMER B I (Ed) The Sayers memorial volume London Library Association 1961

FOUCAULT M A arqueologia do saber 7 ed Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 2005

FUZZY logic Stanford Encyclopedia of Philosophy Stanford University First published Sept 032002 revision July 2006 Disponiacutevel em lthttpplatostanfordeduentrieslogic-fuzzy gt Acesso em 14 out 2008

GAARDER J O mundo de Sofia romance da histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 1997

282

GALVAtildeO M C B Construccedilatildeo de conceitos no campo da ciecircncia da informaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 27 n 1 p 46-52 janabr 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sciarttextamppid=S0100- 19651998000100006 amplng=esampnrm=isoamptlng=esgt Acesso em 10 ago 2006

GARCIA MORENTE M Fundamentos de filosofia liccedilotildees preliminares 8 ed Satildeo Paulo Mestre Jou 1980

GARDIN J C Document analysis and linguistic theory Journal of Documentation London v 29 n 2 p 137-168 1973

GARDIN J C Elementos para descriccedilatildeo de leacutexicos documentaacuterios Bulletin des Bibliothegraveques de France Paris p 171-182 1966 Traduccedilatildeo livre para uso didaacutetico Disponiacutevel em lthttpinfobservatorioincubadorafapesp brportalLDIItxt_roteirosgt Acesso em 20 jun 2007

GARDIN J C Free classifications and faceted classifications In INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION RESEARCH 2nd 1965 Copenhagen Proceedingshellip Copenhaguen Munksgaard 1965 p 161-168

GARDIN J C Semantic analysis procedures in the sciences of man Social Science Information London n 8 p 17-42 1969

GIL F Classificaccedilotildees In ENCICLOPEacuteDIA Einaudi Lisboa Imprensa Nacional Casa da Moeda 2000 p 90-110

GILCHRIST A Thesauri taxonomies and ontologies - an etymological note Journal of Documentation London v 59 n 1 p 7-18 2003

GNOLI C Progress in synthetic classification towards unique definition of concepts In INTERNATIONAL SEMINAR ON THE UNIVERSAL DECIMAL CLASSIFICATION EXTENSIONS AND CORRECTIONS TO THE UDC 29th Jun 2007 The Hague Information access for the global community Pre-print of the paper published in Extensions amp Corrections to the UDC n 29 2007

GOEDERT W Facet classification in online retrieval International Classification Frankfurt v 18 n 2 p 98-105 1991

GOMES H E Classificaccedilatildeo tesauro e terminologia fundamentos comuns Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombititertuliatertuliahtmgt Acesso em 19 maio 2005

GOMES H E Organizaccedilatildeo do conhecimento e sistemas de classificaccedilatildeo Brasiacutelia IBICT 1996

GOMES H E et al Manual de elaboraccedilatildeo de tesauros monoliacutenguumles Brasiacutelia CNPqPNBU 1990

283

GOMES H E CAMPOS M L A Tesauro e normalizaccedilatildeo terminoloacutegica o termo como base para intercacircmbio de informaccedilotildees DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 5 n 6 dez 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzeroorgdez04 Art_02htmgt Acesso em 27 maio 2005

GOMES H E CAMPOS M L A MOTTA D F Tutorial para elaboraccedilatildeo de Tesauros 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombititesaurogt Acesso em 4 ago 2005

GOMPERZ T Pensadores griegos Traduccedilatildeo do alematildeo por Karl Koumlrner Asuncioacuten (PA) Guarania 1959 v 1

GRAZIANO E E Hegelrsquos philosophy as the basis for the decimal classification schedule Libri International Journal of Library Information Systems Munchen n 9 p 45-52 1959

HEGENBERG L Definiccedilotildees Satildeo Paulo CultrixEd da Universidade de Satildeo Paulo 1974

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISOR 704 principes et meacutethodes de la terminologie Genegraveve 1987

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISOR 860 unificiation internationale des notions et des termes Genegraveve 1968

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISOR 919 guide pour lrsquoelaboration des vocabulaires systeacutemathiques Genegraveve 1969

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISO 1087 terminology - vocabulary Genegraveve May 1990

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISO 1087-1 terminology - vocabulary Genegraveve 1990

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISOR 1149 preacutesentation des vocabulaires systeacutematiques multilinguumles Genegraveve 1969

THE INFORMATION SOCIETY FOR THE INFORMATION AGE (ASISampT) ASISampT 2008 Annual Meeting (AM08 2008) People transforming information - information transforming people Columbus (Ohio) Oct 2008 Proceedingshellip Disponiacutevel em lthttpwwwasisorgindexhtmlgt Acesso em 13 mar 2008

KANT I Criacutetica da razatildeo pura e outros textos filosoacuteficos Seleccedilatildeo de Marilena de Souza Chauiacute Berlinck Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Os Pensadores v 25)

KAULA P N Repensando os conceitos no estudo da classificaccedilatildeo Baseado no artigo submetido agrave 4 Conferecircncia sobre Pesquisa em Classificaccedilatildeo Augsburg Alemanha Ocidental de 20 de junho a 2 de julho de 1982 Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitikaulaindexhtmgt Acesso em 5 dez 2006

284

KENT R E Organizing conceptual knowledge online metadata interoperability and faceted classification In INTERNATIONAL ISKO CONFERENCE 5th Aug 1998 Lille Structures and relations in knowledge organization Wuumlrzburg Ergon Verlag 1998

KOBASHI N Y Anaacutelise documentaacuteria e representaccedilatildeo da informaccedilatildeo Informare Rio de Janeiro v 2 n 2 p 5-27 1996

KOBASHI N Y Fundamentos semacircnticos e pragmaacuteticos da construccedilatildeo de instrumentos de representaccedilatildeo da informaccedilatildeo Datagramazero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 8 p 1-10 2007

KOBASHI N Y Organizaccedilatildeo do Conhecimento e representaccedilatildeo da Informaccedilatildeo Informare Rio de Janeiro v 2 n 2 p 5-27 1997

KOBASHI N Y SMIT J W TAacuteLAMO M F G M A funccedilatildeo da terminologia na construccedilatildeo da Ciecircncia da Informaccedilatildeo DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 2 n 2 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrgt Acesso em 18 dez 2007

KOBASHI N Y TAacuteLAMO M F G M Informaccedilatildeo fenocircmeno e objeto de estudo da sociedade contemporacircnea Transinformaccedilatildeo Campinas v 15 n 3 (Ed especial) p 7-21 2003

KRIEGER M G FINATTO M J B Introduccedilatildeo agrave terminologia teoria e praacutetica Satildeo Paulo Contexto 2004

LALANDE A Vocabulaacuterio teacutecnico e criacutetico da filosofia 3 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999

LANCASTER F W Indexaccedilatildeo e resumos teoria e praacutetica Brasiacutelia Briquet de Lemos 1993

LARA M L G A CDU ante as demais linguagens documentaacuterias e outros sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento In SIMPOacuteSIO ESTADO ATUAL E PERSPECTIVAS DA CDU 11996 Brasiacutelia Organizaccedilatildeo do conhecimento e sistemas de classificaccedilatildeo Brasiacutelia IBICT 1996

LARA M L G Diferenccedilas conceituais sobre termos e definiccedilotildees e implicaccedilotildees na organizaccedilatildeo da linguagem documentaacuteria Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 33 n 2 p 91-96 maioago 2004

LARA M L G Dos sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica agraves search engines (I) e (II) Satildeo Paulo APB 2002 (Ensaios APB)

LARA M L G Linguagem documentaacuteria e terminologia Transinformaccedilatildeo Campinas v 16 n 3 2004 Disponiacutevel em lthttprevistas puc-campinasedubr transinfo viewarticlephpid=72gt Acesso em 1 maio 2006

285

LARA M L G Novas relaccedilotildees entre terminologia e ciecircncia da informaccedilatildeo na perspectiva de um conceito contemporacircneo da informaccedilatildeo DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 7 2006 Disponiacutevel em lthttpwww dgzorgbrgt Acesso em 5 nov 2007

LARA M L G O processo de construccedilatildeo da informaccedilatildeo documentaacuteria e o processo de conhecimento Perspectivas em Ciecircncia da Informaccedilatildeo Belo Horizonte v 7 n 2 p 127-139 juldez 2002

LARA M L G A representaccedilatildeo documentaacuteria em jogo a significaccedilatildeo 1993 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Ciecircncia da Informaccedilatildeo) - Escola de Comunicaccedilotildees e Artes Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1993

LARA M L G Uma teoria terminoloacutegica para um conceito contemporacircneo de informaccedilatildeo documentaacuteria In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIEcircNCIA DA INFORMACcedilAtildeO (ENANCIB) 6 2005 Florianoacutepolis Anais Florianoacutepolis UFSC 2005 1 CD-ROM

LARA M L G A terminologia como instrumento para a construccedilatildeo de ferramentas semacircnticas In CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTACcedilAtildeO 20 Anais Fortaleza 2002 1 CD-ROM

LARA M L G O unicoacuternio (o rinoceronte o ornitorrinco) a anaacutelise documentaacuteria e a linguagem documentaacuteria DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 2 n 6 dez 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrgt Acesso em 1 maio 2006

LEIDECKER K F The debt of Melvil Dewey to William Torrey Harris Library Quaterly Chicago v 15 n 1 1945

LEMAITRE S O Hinduiacutesmo Satildeo Paulo Famboyant 1958

McILWAINE I C BUXTON A Guia para utilizaccedilatildeo da CDU um guia introdutoacuterio para o uso e aplicaccedilatildeo da Classificaccedilatildeo Decimal Universal Brasiacutelia MCTCNPqIBICT 1998

MAI J E Is classification theory possible Rethinking classification research In INTERNATIONAL ISKO CONFERENCE 7th July 2002 Granada Challenges in knowledge representation and organization for the 21st century Wuumlrzburg Ergon 2002 p 472-478

MANIEZ J Les langages documentaires et classificatoires Paris Eacuteditions drsquoOrganisation 1987

MAPLE A Faceted access a review of the literature Disponiacutevel em lthttpwww-sulstanfordedudeptsmusicmlatestBCCBCC-Historical95WGF AM2htmlgt Acesso em 9 fev 2008

MARCO F J G (Ed) Organizacioacuten del conocimiento en sistemas de informacioacuten y documentacioacuten Zaragoza Libreriacutea General 1995

286

MARX K Miseacuteria da filosofia Satildeo Paulo Grijalbo 1976

MATURANA H R Cogniccedilatildeo ciecircncia e vida cotidiana Belo Horizonte Ed UFMG 2001

MENOU M GUINCHAT C Introduccedilatildeo geral agraves ciecircncias e teacutecnicas da informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo Brasiacutelia IBICT 1994

MILLS J Attention please for BC2 International Classification Frankfurt v 10 p 24-28 1983

MILLS J Classifying by Bliss Library Association Records London n 52 p 370-372 1950

MILLS J The Universal Decimal Classification New Brunswick Rutgers the State University 1964

MIKSA F L The DDC the universe of knowledge and the post-modern library Albany Forest Press 1998

MITCHELL Joan S DDC 22 an introduction International Cataloguing and Bibliographic Control London v 33 n 2 p 27-31 AprJun 2004

MOREIRO GONZAacuteLES J A El contenido de los documentos textuales su anaacutelisis y representacioacuten mediante El lenguaje natural Somonte (ES) Ediciones Trea 2004

MORENO FERNAacuteNDEZ L M Una vez maacutes la CDU no es un thesaurus Documentacioacuten de las Ciencias de la Informacioacuten Madrid v 15 p 67-81 1992

MORIN E Introduccedilatildeo ao pensamento complexo 2 Ed Lisboa Instituto Piaget 1990

MORIN E O meacutetodo 3 o conhecimento do conhecimento Porto Alegre Sulina 1999

MORIN E A religaccedilatildeo dos saberes o desafio do seacuteculo XXI Traduccedilatildeo e notas Flaacutevia Nascimento 5 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2005

MORIN E LE MOIGNE J L A inteligecircncia da complexidade Satildeo Paulo Petroacutepolis 2000

MOSTAFA S P Epistemologia da biblioteconomia 1985 Tese (Doutorado em Filosofia da Educaccedilatildeo) - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo 1985

ONLINE COMPUTER LIBRARY CENTER (OCLC) Disponiacutevel em lthttpwwwoclc orggt e lthttpwwwoclcorgamericalatinaptdefaulthtmgt Acesso em 20 fev 2007

OTLET P Documentos e documentaccedilatildeo (introduccedilatildeo ao trabalho do Congresso Mundial da Documentaccedilatildeo Universal realizado em Paris em 1937) Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitiotletindexhtmgt Acesso em 14 abr2005

287

PARROCHIA D Classifications histoire et problegravemes formels Bulletin de la Socieacuteteacute Francophone de Classification Paris n 10 mar 1998

PERRAULT J M Categories and relators a new schema for the replacement of the non-significant relation symbol the Colon in the UDC by a letter code Knowledge Organization Wuumlrzbug v 21 n 4 p 189-198 1994 (Reprinted from Revue Internationals de la Documentation v 4 1965)

PIAGET J A situaccedilatildeo das ciecircncias do homem no sistema das ciecircncias Traduccedilatildeo de Isabel Cardigos dos reis Amadora Bertrand1970

PLATAtildeO Diaacutelogos o banquete Feacutedon sofista poliacutetico Traduccedilotildees de Joseacute Cavalcante de Souza (O Banquete) Jorge Paleikat e Joatildeo Cruz Costa (Feacutedon Sofista Poliacutetico) Satildeo Paulo Abril Cultural 1972 (Os Pensadores 3)

POLLITT S The application of the Dewey Decimal Classification in a view-based searching OPAC In STRUCTURES and relationships in knowledge organization Wuumlrzburg Ergon Verlag 1998 POLLITT S Interactive information retrieval based on faceted classification using views In INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION RESEARCH 6th Jun 1997 London Knowledge organization for information retrieval The Hague International Federation for Information and Documentation (FID) 1997 p 51-56 Disponiacutevel em lthttpwwwhudacukschoolscedardorking htmgt Acesso em 12 mar 2008

POMBO O Da classificaccedilatildeo dos seres agrave classificaccedilatildeo dos saberes Disponiacutevel em lthttpcfculfculpttextosdisponiveishtmgt Acesso em 10 nov 2006

PORFIacuteRIO Isagoge introduccedilatildeo agraves Categorias de Aristoacuteteles Traduccedilatildeo introduccedilatildeo e comentaacuterios de Bento Silva Santos Satildeo Paulo Attar Editorial 2002

RANGANATHAN S R The Colon Classification New Brunswick The State University 1965

RANGANATHAN S R Elements of library classification based on lectures delivered at the University of Bombay in December 1944 Poona N K Publishing House 1945

RAYWARD W B The origins of informations science and International Insttitute of BibliographyInternational Federation for Information and Documentation (FID) Journal of the American Society for Information Science (JASIS) New York v 48 n 4 p 289-300 1997

RIVIER A Construction decircs langages drsquoindexation aspects theacuteoriques Documentaliste - Sciences de lrsquoInformation Paris v 27 n 6 p 263-274 1990

RORISSA A IYER H Theories of cognition and image categorization what category labels reveal about basic level theory Journal of the American Society for Information Science and Tecnology (JASIST) New York v 59 n 9 p 1383-1392 2008

288

SANDER S La teoriacutea decimal de la clasificacioacuten de Mevil Dewey Documentacioacuten de las Ciencias de la Informacioacuten Madrid n 20 p 113-129 1997

SANTAELLA L Matrizes da linguagem e do pensamento Satildeo Paulo Iluminuras 2001

SATIJA M P Classification some fundamentals some myths some realities Knowledge Organization Wuumlrzburg v 24 n1 p 18-23 1997

SATIJA M P Classification some fundamentals some myths some realities [part 2] Knowledge Organization Wuumlrzburg v 25 n12 p 32-35 1998

SATIJA M P The future and revision of colon classification Knowledge Organization Wuumlrzburg v 25 n12 p 32-35 1998

SATIJA M P Use of colon classification International Classification Frankfurt v 13 n2 p 88-92 1986

SAYERS W C B MALTBY A M A manual of classification for librarians 4th

ed London Andre Deutsch 1967

SCHREINER H B Consideraccedilotildees histoacutericas acerca do valor das classificaccedilotildees bibliograacuteficas In CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979 v 1 p 190-207 Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombiti schreinerindexhtmgt Acesso em 23 abr 2006

SHERA J H EGAN Margaret E Cataacutelogo sistemaacutetico princiacutepios baacutesicos e utilizaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Maria Neile Teles Landau Brasiacutelia Editora Universitaacuteria de Brasiacutelia 1969 174 p (Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo 1)

SLYPE G V Lenguajes de indizacioacuten concepcioacuten construccioacuten y utilizacioacuten en los sistemas documentales Traduccioacuten del franceacutes Pedro Hiacutepola Feacutelix de Moya Madrid Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez 1991

SMIT J W (Org) Anaacutelise documentaacuteria a anaacutelise da siacutentese Brasiacutelia IBICT 1987

SMIT J W A organizaccedilatildeo e o acesso agrave informaccedilatildeo na sociedade do conhecimento Texto no prelo a ser publicado em livro organizado pela Profa Dra Maria Helena Toledo Costa de Barros da UnespMariacutelia

SMIT J W TAacuteLAMO M F G M KOBASHI N Y Categorias Material para uso didaacutetico

SMIT J W TAacuteLAMO M F G M KOBASHI N Y A determinaccedilatildeo do campo cientiacutefico da ciecircncia da informaccedilatildeo uma abordagem terminoloacutegica In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIEcircNCIA DA INFORMACcedilAtildeO (ENANCIB) 5 2003 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) 2003

289

SOERGEL D The many uses of classification enriched thesauri as knowledge sources In ASIS SIGCR CLASSIFICATION RESEARCH WORKSHOP 12th 2001 Washington DC Disponiacutevel em lthttpwwwdsoergelcomcvB78pdfgt Acesso em 10 out 2007

SOERGEL D The representation of Knowledge Organization Structure (KOS) data a multiplicity of standards Paper presented at the JCDL 2001 NKOS Workshop Roanoke VA 2001-6-28 Disponiacutevel em lthttpwwwdsoergelcomgt Acesso em 10 out 2007

SOERGEL D The rise of ontologies or the reinvention of classification Journal of the American Society for Information Science v 50 n 12 p 1119-1120 Sept 1999 Disponiacutevel em lthttpwwwdsoergelcomgt Acesso em 18 out 2007

SOERGEL D The structure of taxonomies facets and hierarchy Presentation at practical taxonomies New York Nov 2002 Disponiacutevel em lthttpwww dsoergelcomgt [PowerPoint] Acesso em 18 out 2007

SOUSA R T B de Classificaccedilatildeo em arquiviacutestica trajetoacuteria e apropriaccedilatildeo de um conceito 2004 237 f Tese (Doutorado em Histoacuteria) - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria Social Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas Universidade de Satildeo Paulo 2004

SOUZA R F Aacutereas do conhecimento DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 5 n 2 abr 2004 Disponiacutevel em lthttpwww dgzorgbrabr04Art02htmgt Acesso em 5 abr 2007

SOUZA R F Classificaccedilatildeo - um processo fundamental da natureza humana In CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979 v 1 p 254-267

SOUZA R F A classificaccedilatildeo como interface da Internet DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 1 n 2 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrgt Acesso em 12 out 2007

SOUZA R F Organizaccedilatildeo do conhecimento em uma estrutura classificatoacuteria no contexto da indexaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo Informare Rio de Janeiro v 2 n 2 p 37-49 1996

SOUZA R F MANASFI C V Organizaccedilatildeo do conhecimento em uma estrutura classificatoacuteria no contexto da indexaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo um relato de pesquisa Informare Rio de Janeiro v 2 n 2 p 37-49 juldez 1996

SOUZA S D CDU como entender e utilizar a Ediccedilatildeo-Padratildeo Internacional em Liacutengua Portuguesa 3 ed rev e ampl Brasiacutelia Thesaurus 2004 STAR S L Grounded classification grounded theory and faceted classification Library Trends how classifications work problems and challenges in an electronic age Champaing v 47 n 2 1998 p 218-232

290

SVENONIUS E The intellectual foundation of information organization Cambridge MA The MIT Press 2000

SVENONIUS E Use of classification in online retrieval Library Resources amp Technical Services Chicago v 27 n 1 p 76-80 1983

SWEENEY R The internacional use of the Dewey Decimal Classification International Cataloguing and Bibliographic Control London v 24 n 4 p 61-64 OctDec 1995

TAacuteLAMO M F G M A definiccedilatildeo semacircntica para a elaboraccedilatildeo de glossaacuterios In SMIT J W (Org) Anaacutelise documentaacuteria a anaacutelise da siacutentese Brasiacutelia IBICT 1987 p 88-98

TAacuteLAMO M F G M Estrutura e operaccedilatildeo do dicionaacuterio In COELHO T Dicionaacuterio criacutetico de poliacutetica cultural 2 ed Satildeo Paulo Iluminuras 1999 p17-22

TAacuteLAMO M F G M LENZI L F Terminologia e documentaccedilatildeo a relaccedilatildeo solidaacuteria das organizaccedilotildees do conhecimento e da informaccedilatildeo no domiacutenio da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 7 p 3 2006 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrgt Acesso em 14 ago 2007

TAacuteLAMO M F G M LARA M G L KOBASHI N Y A contribuiccedilatildeo da terminologia para a elaboraccedilatildeo de linguagens documentaacuterias Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 21 n 3 p 197-200 1992

TAacuteLAMO M F G M et al Informaccedilatildeo do tratamento ao acesso e utilizaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo v 1 n 1 p 7-14 setdez 1994

TENNIS J T Experientialist epistemology and classification theory embodied and dimensional classification Knowledge Organization Wuumlrzburg v 32 n 2 p 79-92 2005

TURNER C Organizing information principles and practice London C Bingley 1988

TOcircRRES L M C das Sistematizaccedilatildeo da sintaxe de cabeccedilalho de assunto 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitilecylecyhtmgt Acesso em 20 maio 2007

TRENDLENBURG F A Historische Beitraumlge zur Philosophie Berlin 1846 Bd 1 Geschichte der Kategorienlehre

UDC CONSORTIUM CDU Ediccedilatildeo-Padratildeo Internacional em Liacutengua Portuguesa Brasiacutelia IBICT 1997

VALE E do Linguagens de indexaccedilatildeo In SMIT J W (Org) Anaacutelise documentaacuteria a anaacutelise da siacutentese Brasiacutelia IBICT 1987 p 11-26

VICKERY B C Faceted classification LondonAslib 1960

Ficha catalograacutefica elaborada por Liliana Luisa Pizzolato CRB 3939ordf Regiatildeo

Anjos Liane Sistemas de classificaccedilatildeo do conhecimento na filosofia e na biblioteconomia uma visatildeo histoacuterico- conceitual criacutetica com enfoque nos conceitos de classe categoria e faceta Liane dos Anjos ndash Satildeo Paulo 2008 290 p Tese (Doutorado) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia da Informaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo 1 Teoria da classificaccedilatildeo 2 Organizaccedilatildeo do conhecimento 3 Categoria I Smit Johanna W II Tiacutetulo CDD 02542 CDU 02542

  • LIANE DOS ANJOS
  • SAtildeO PAULO
  • FOLHA DE APROVACcedilAtildeO
    • Personalidade
    • Mateacuteria
    • Energia
    • Espaccedilo
    • Tempo
Page 3: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de

Para o meu Deus presenccedila

Para a minha matildee Maria e o meu pai Francisco (in memorian)

heranccedila Para os meus netos

Alice e Joaquim esperanccedila

AGRADECIMENTOS

Este trabalho eacute fruto de uma comunhatildeo de esforccedilos incentivos atenccedilotildees carinhos desapegos renuacutencias entendimentos generosidades por parte daqueles que

sempre se fazem presentes e por isso devo muitos agradecimentos

Agrave minha orientadora pela compreensatildeo e acompanhamento constantes

Agraves professoras Anna Maria Marques Cintra e Maria de Faacutetima Gonccedilalves Moreira Taacutelamo por suas sugestotildees providenciais quando da qualificaccedilatildeo

Ao professor Ulf Gregor Baranow pela pertinecircncia de suas colocaccedilotildees que mostram um jeito diferente de ver condiccedilatildeo necessaacuteria para continuar a ver

A todos os professores do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia da Informaccedilatildeo e aos colegas de doutorado um profundo reconhecimento

Ao Wilson meu companheiro e aos meus filhos noras e genro Daniel (Adriana) Leticia (Alexandre) e Renato (Flaacutevia) por estarmos juntos neste caminho

Agrave querida amiga e profissional competente Liliana Luisa Pizzolato que tantas coisas me disse e muito auxiliou na organizaccedilatildeo dos alfarraacutebios desta pesquisa

Agrave Suzana Silveira Pereira que natildeo sabe como esta amizade foi importante para o bom teacutermino desta pesquisa

Agraves amigas bibliotecaacuterias Elayne Schloumlgel Maacutercia Regina Wellner e Regina Campos Rocha que pacientemente acompanharam este processo de reflexatildeo pelo prazer

de nossas conversas e a todos os profissionais do Sistema de Bibliotecas da UFPR pela atenccedilatildeo dispensada nas minhas buscas bibliograacuteficas e pelo esforccedilo conjunto

para propiciar o meu afastamento para a realizaccedilatildeo desta tese

Um carinho especial ao mestre yogue Adilson B Pagan com quem a cada dia eu aprendo mais em relaccedilatildeo a forccedila concentraccedilatildeo equiliacutebrio determinaccedilatildeo e a

respeito do que deve ser

Aos amigos queridos Laisy e Kiko Mocircnica e Claacuteudio Tacircnia e Iwan Valderez e Roberto pela delicadeza de nossa convivecircncia

Antes do Nome

Natildeo me importa a palavra esta corriqueira

Quero eacute o esplecircndido caos de onde emerge a sintaxe

os siacutetios escuros onde nasce o lsquodersquo o lsquoaliaacutesrsquo

o lsquoorsquo o lsquoporeacutemrsquo e o lsquoquersquo esta incompreensiacutevel

muleta que me apoacuteia

Quem entender a linguagem entende Deus

cujo Filho eacute Verbo Morre quem entender

A palavra eacute disfarce de uma coisa mais grave surda-muda

foi inventada para ser calada

Em momentos de graccedila infrequentiacutessimos

se poderaacute apanhaacute-la um peixe vivo com a matildeo

Puro susto e terror

Adeacutelia Prado

RESUMO

A anaacutelise dos sistemas de classificaccedilatildeo do conhecimento na Filosofia e na Biblioteconomia sob um ponto de vista histoacuterico-conceitual criacutetico com enfoque nos conceitos de classe categoria e faceta foi desenvolvida a partir dos objetivos especiacuteficos de acompanhar e delinear a trajetoacuteria das classificaccedilotildees dos saberes (classes) e dos seres (categorias) agrave luz da Filosofia averiguar as possiacuteveis influecircncias que as classificaccedilotildees filosoacuteficas historicamente exerceram sobre as classificaccedilotildees bibliograacuteficas tradicionais e verificar de que modo os conceitos especiacuteficos de categoria de classe e de faceta tecircm sido definidos no acircmbito das classificaccedilotildees biblioteconocircmicas tradicionais Trata-se de uma pesquisa do tipo exploratoacuterio-descritivo embasada na literatura pertinente oriunda de ambas as aacutereas do conhecimento em questatildeo A partir do levantamento bibliograacutefico construiu-se o referencial teoacuterico conduzindo agrave objetivaccedilatildeo anaacutelise discussatildeo e o aprofundamento do objeto Eacute possiacutevel afirmar que tanto os princiacutepios das classificaccedilotildees filosoacuteficas em relaccedilatildeo aos saberes e em relaccedilatildeo aos seres quanto as proacuteprias classificaccedilotildees que dividem os saberes e os seres apresentam-se como construtos destinados a conhecer e disciplinar o conhecimento do ser e do saber A influecircncia das classificaccedilotildees filosoacuteficas sobre as classificaccedilotildees bibliograacuteficas reside no fato de que as classificaccedilotildees bibliograacuteficas satildeo adaptaccedilotildees das classificaccedilotildees do conhecimento ou das ciecircncias As bibliograacuteficas frequentemente utilizam termos originaacuterios das filosoacuteficas ressignificando-os e transformando-os em ferramentas Em siacutentese pode-se afirmar que a partir da Filosofia absorvida em explicaccedilotildees teoacutericas ateacute a Biblioteconomia preocupada com soluccedilotildees instrumentais e aplicativas (pragmaacuteticas) os esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica propostos tem se beneficiado da aproximaccedilatildeo dessas duas aacutereas de conhecimento A revisatildeo conceitual com respeito agraves noccedilotildees de classe categoria e faceta aponta por parte dos estudiosos da Classificaccedilatildeo para a necessidade de um cuidado maior no desenho no planejamento e na estruturaccedilatildeo de sistemas de classificaccedilatildeo na modificaccedilatildeo e especificaccedilatildeo de tabelas de classificaccedilatildeo e ateacute de linguagens de indexaccedilatildeo com vista agrave sua adequaccedilatildeo e relevacircncia As contribuiccedilotildees daiacute resultantes delineadas numa perspectiva funcional-instrumental poderatildeo ajudar os profissionais a reconsiderar os seus sistemas de ideacuteias e procedimentos em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de linguagens de indexaccedilatildeo e agrave classificaccedilatildeo habitual de documentos Caberaacute agrave Ciecircncia da Informaccedilatildeo avanccedilar na fundamentaccedilatildeo teoacuterica do seu campo de aplicaccedilatildeo discutindo criticamente a sua base conceitual atenta agraves praacuteticas de uso em voga na Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo com relaccedilatildeo a termos e conceitos O estudo valida as hipoacuteteses inicialmente levantadas determinando que a consistecircncia terminoloacutegica de termos como categoria classe ou faceta contribui para aperfeiccediloar a operacionalizaccedilatildeo do processamento do conhecimento em Ciecircncia da Informaccedilatildeo e que aos esquemas categoriais natildeo cabe um valor neutro uma vez que sempre favoreceram uma determinada concepccedilatildeo de mundo em que pese a sua natureza objetivamente pragmaacutetica Por fim apresentam-se algumas perspectivas decorrentes da investigaccedilatildeo selecionando-se questotildees relevantes e de interesse para futuras pesquisas

Palavras-chave Categoria Classe Faceta Classificaccedilatildeo Teoria da Classificaccedilatildeo Organizaccedilatildeo do Conhecimento Biblioteconomia Ciecircncia da Informaccedilatildeo

ABSTRACT

The analysis of knowledge classification systems in Philosophy and Librarianship by a critical historical-conceptual point of view with an approach in the concepts of class category and facet was developed from specific objectives to accompany and outline the path of knowledge (classes) and beings (categories) classification in relation to Philosophy to investigate the possible influences that the philosophical classification historically exerted on traditional bibliographical classifications and to verify in which way the specific concept of category class and facet have been defined in the ambit of traditional librarianship classifications This research is of exploratory-descriptive type based upon pertinent literature resulting from both areas of knowledge in discussion From the studied bibliographical material a theoretical reference was built leading to objectivation analysis discussion and a profound study of the object Itrsquos possible to affirm that even the principles of philosophical classifications in relation to knowledge and beings as well as the classifications that divide knowledge and beings are presented as constructs purposed to understand and to train the information of beings and knowledge The influence of philosophical classifications on bibliographical classification is settled by bibliographical classifications which are adaptations of knowledge or science The bibliographical ones frequently utilize terms originated from philosophical that are modified and transformed into tools In synthesis it may be stated that from Philosophy absorbed in theoretical explanations even Librarianship worried with instrumental and application (pragmatic) solutions the proposed plans of bibliographical classifications have been beneficiated from the approximation of this two areas of knowledge The conceptual review in relation to notions of class category and facet needs a better attention in design planning and in the structuring of classification systems as pointed out by experts on Classification in the modification and specification of classification tables and also indexation languages aiming its adequacy and significance The resulting contributions outlined by a functional-instrumental perspective would help professionals to reconsider their systems of ideas and procedures in relation to construction and evaluation of indexation languages and regular classification of documents The information science will be responsible to develop theory fundamentation of its application field discussing critically its conceptual basis with attention to the practices in use by Librarianship and Documentation in relation to terms and concepts The study validates the hypothesis initially described determining that the terminological consistency of terms as category class or facet contribute to improve the operacionalization of knowledge processing in Information Science and that to category schemes it doesnrsquot fit a neuter value since that always favored a certain conception of the world in which predominates its pragmatic nature As result of the investigation some perspectives are presented selecting questions of extreme relevancy and interest for future researches

Key-words Category Class Facet Classification Classification Theory Knowledge Organization Librarianship Information Science

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE ARISTOacuteTELES 44 QUADRO 2 - CLASSIFICACcedilAtildeO ESCOLAacuteSTICA ROMANA 46 QUADRO 3 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE ROGER BACON (1266) - INGLATERRA 47 QUADRO 4 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HUARTE DE SAN JUAN (1575) - ESPANHA 50 QUADRO 5 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE DESCARTES (1647) - FRANCcedilA 53 QUADRO 6 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE FRANCIS BACON (1605) - INGLATERRA 56 QUADRO 7 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HOBBES (1651) - INGLATERRA 58 QUADRO 8 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE LOCKE (1690) - INGLATERRA 59 QUADRO 9 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE LEIBNIZ (1701) - ALEMANHA 60 QUADRO 10 - DIDEROT drsquoALEMBERT E A SISTEMATIZACcedilAtildeO DA ENCICLOPEacuteDIE

(1751) - FRANCcedilA 63 QUADRO 11 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HEGEL (1817) - ALEMANHA 65 QUADRO 12 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE AMPEgraveRE (1834) - FRANCcedilA 66 QUADRO 13 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE COMTE (1842) - FRANCcedilA 69 QUADRO 14 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE SPENCER (1864) - INGLATERRA 70 QUADRO 15 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HARRIS (1870) - ESTADOS UNIDOS 71 QUADRO 16 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE WUNDT (1889) - ALEMANHA 72 QUADRO 17 - NIacuteVEIS DE OBJETOS GERAIS DE ACORDO COM HARTMANN E

FEIBLEMAN 75 QUADRO 18 - NIacuteVEIS DE OBJETOS GERAIS DE ACORDO COM GOPINATH 77 QUADRO 19 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES 79 QUADRO 20 - DIVISAtildeO DAS CIEcircNCIAS NAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS

SABERES 80 QUADRO 21 - DISCIPLINAS BAacuteSICAS (ORIGINAIS) DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS

DOS SABERES CLASSES 82 QUADRO 22 - CATEGORIAS GRAMATICAIS SEGUNDO AS CATEGORIAS ARISTOTEacuteLICAS 92 QUADRO 23 - DIVISAtildeO KANTIANA DOS JUIacuteZOS E DAS CATEGORIAS 104 QUADRO 24 - CATEGORIAS DE RENOUVIER (1854) - FRANCcedilA 108 QUADRO 25 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES 123 QUADRO 26 - CATEGORIAS FUNDAMENTAIS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS

SERES 125 QUADRO 27 - A NOCcedilAtildeO DE CATEGORIA NAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS

SERES 126 QUADRO 28 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL DE DEWEY 171 QUADRO 29 - EXEMPLO DA APLICACcedilAtildeO DA NOCcedilAtildeO DE CATEGORIA E DE FACETA

NA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL DE DEWEY 173

QUADRO 30 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL UNIVERSAL 177 QUADRO 31 - SIacuteMBOLOS DA NOTACcedilAtildeO DA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL UNIVERSAL

NA ORDEM EM QUE PARECEM NO ESQUEMA 181 QUADRO 32 - CLASSES PRINCIPAIS DA PRIMEIRA TABELA DE CUTTER 184 QUADRO 33 - CLASSES PRINCIPAIS DA SEXTA TABELA DE CUTTER 184 QUADRO 34 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DA BIBLIOTECA DO

CONGRESSO 188 QUADRO 35 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DE ASSUNTOS DE BROWN 194 QUADRO 36 - CATEGORIAS FUNDAMENTAIS DE RANGANATHAN 200 QUADRO 37 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DOS DOIS PONTOS DE

RANGANATHAN 206 QUADRO 38 - SINOPSES VERTICAL E HORIZONTAL DO ESQUEMA DE BLISS 214 QUADRO 39 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO BC2 (1977) 215 QUADRO 40 - FOacuteRMULAS DE FACETAS OU DE CATEGORIAS DE ACORDO COM

OS RESPECTIVOS AUTORES 223 QUADRO 41 - CLASSES PRINCIPAIS DOS ESQUEMAS GERAIS DE CLASSIFICACcedilAtildeO

BIBLIOGRAacuteFICA 224 QUADRO 42 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES BIBLIOGRAacuteFICAS CLAacuteSSICAS 226 QUADRO 43 - CARACTERIacuteSTICAS DE CATEGORIAS DE ESTRUTURA GRADUADA 240 QUADRO 44 - CARACTERIacuteSTICAS DAS CATEGORIAS 244 QUADRO 45 - NOCcedilOtildeES AMBIGUAS E INSATISFATOacuteRIAS DE FACETAS 250

LISTA DE SIGLAS

AFNOR - Association Franccedilaise de Normalisation ALA - American Library Association BBK - Bibliograficeskaja i Biblioteknaja Klassifikacija BC - Bibliographic Classification BCA - Bliss Classification Association BSC - Brow Subject Classification CC - Colon Classification CDD - Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey CDU - Classificaccedilatildeo Decimal Universal CRG - Classification Research Group DDC - Dewey Decimal Classification DRTC - Documentation Research and Training Centre EC - Expansive Classification EampC - Extensions and Corrections EPC - Editorial Policy Committee FID - International Federation for Information and DocumentationFederaccedilatildeo International de Documentaccedilatildeo FIDCR - International Federation for Information and DocumentationClassification Research IASLIC - Indian Association of Special Librariesd and Information Centres IBBD - Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentaccedilatildeo IBICT - Instituto Brasileirode Informaccedilatildeo em Ciecircncia e Tecnologia ICC - Information Coding Classification IFLA - International Federation of Library Associations and InstitutionsFederaccedilatildeo Internacional de Associaccedilotildees de Bibliotecaacuterios e Instituiccedilotildees IIB - International Institute of Bibliography INSDOC - Indian National Scientific Documentation Centre IPB - International Peace Bureau ISKO - International Society for Knowledge Organization ISO - International Organization for Standardization KO - Knowledge Organization LC - Library of Congress LCC - Library Congress Classification LISA - Library and Information Science Abstract MARC - Bibliografic Machine-Readable Cataloguing MRF - Master Reference File OCLC - Online Computer Library Center PMEST - Personality matter energy space e time RBU - Repertoire Bibliographique UniverselRepertoacuterio Bibliograacutefico Universal UCL - Univesity College London UDC - Universal Decimal Classification UDCC - Universal Decimal Classification Consortium Unesco - United Nations Educational Scientific and Cultural OrganizationOrganizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 13 2 DA CLASSIFICACcedilAtildeO Agrave ORGANIZACcedilAtildeO DO CONHECIMENTO UMA VISAtildeO PRELIMINAR DA SUA TRANSITORIEDADE E RELATIVIDADE 22 3 DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS 41 31 CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES CLASSES 41 311 Antiguidade Grega e Idade Meacutedia 42 312 Idade Moderna Seacuteculos XVI XVII e XVIII 48 313 Idade Contemporacircnea Seacuteculos XIX e XX 64 314 Quadros-Siacutentese das Classificaccedilotildees Filosoacuteficas dos Saberes 78 32 CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES CATEGORIAS 83 321 Antiguidade Grega e Idade Meacutedia 89 322 Idade Moderna Seacuteculos XVI XVII e XVIII 97 323 Idade Contemporacircnea Seacuteculos XIX e XX 106 324 Quadros-Siacutentese das Classificaccedilotildees Filosoacuteficas dos Seres 121 33 CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS CONCEITOS DE CLASSE E DE CATEGORIA 128 4 DAS CLASSIFICACcedilOtildeES BIBLIOGRAacuteFICAS 131 41 TEORIA DA CLASSIFICACcedilAtildeO 141 42 CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL DE DEWEY (CDD - 1876) 163 421 Histoacuteria 163 422 Princiacutepios 164 423 Construccedilatildeo 169 424 Revisatildeo 173 43 CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL UNIVERSAL (CDU - 1905) 174 431 Histoacuteria 175 432 Princiacutepios 177 433 Construccedilatildeo 178 434 Revisatildeo 182 44 CLASSIFICACcedilAtildeO EXPANSIVA (EC - 1891) 183 441 Histoacuteria 183 442 Princiacutepios 183 443 Construccedilatildeo 183 45 CLASSIFICACcedilAtildeO DA BIBLIOTECA DO CONGRESSO (LCC - 1902) 185 451 Histoacuteria 185 452 Princiacutepios 187 453 Construccedilatildeo 188 454 Revisatildeo 189

46 CLASSIFICACcedilAtildeO DE ASSUNTOS DE BROWN (BSC - 1906) 190 461 Histoacuteria 190 462 Princiacutepios 190 463 Construccedilatildeo 193 464 Revisatildeo 196 47 CLASSIFICACcedilAtildeO DOS DOIS PONTOS (CC - 1933) 196 471 Histoacuteria 196 472 Princiacutepios 198 473 Construccedilatildeo 203 474 Revisatildeo 207 48 CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA (BC - 1935) 208 481 Histoacuteria 208 482 Princiacutepios 209 483 Construccedilatildeo 213 484 Revisatildeo 216 49 CLASSIFICACcedilAtildeO POR FACETAS 217 410 QUADROS-SIacuteNTESE DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 223 5 CLASSIFICACcedilOtildeES BIBLIOGRAacuteFICAS CONCEITOS DE CLASSE DE CATEGORIA E DE FACETA 228 6 CONCLUSAtildeO 253 7 PERSPECTIVAS 260 REFEREcircNCIAS 261 BIBLIOGRAFIA 277

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Conhecer e pensar natildeo eacute chegar a uma verdade absolutamente certa

mas dialogar com a incerteza Morin

O fato de na literatura teacutecnica da aacuterea de Biblioteconomia as noccedilotildees de

classe de categoria e de faceta serem muitas vezes usadas indistintamente

dificulta a sua caracterizaccedilatildeo comprovando que os respectivos conceitos natildeo satildeo

facilmente acessiacuteveis quanto ao seu conteuacutedo Daiacute a necessidade de trazer luz

maior para a caracterizaccedilatildeo e o entendimento desses conceitos

O que se pretende designar ao fazer referecircncia a categorias classes ou

facetas

Eacute possiacutevel estabelecer claramente por que e de que maneira os conceitos de

classe de categoria e de faceta satildeo uacuteteis nas aacutereas de Biblioteconomia e Ciecircncia da

Informaccedilatildeo

Na procura de referecircncias e fundamentos filosoacuteficos1 no estudo e resgate de

outras eacutepocas existe a tentativa - inscrita no desejo e na necessidade - de buscar

suporte para preencher lacunas entre os conhecimentos e de compreender melhor

os conceitos que possibilitam ordenar o mundo

Respeitando por ora a terminologia de classe de categoria e de faceta tal

como enunciada pela literatura pode-se dizer que a noccedilatildeo de categoria desde

Platatildeo e Aristoacuteteles ateacute o presente tem sido usada como uma ferramenta de base

intelectual para analisar a existecircncia e a capacidade de mudanccedila das coisas2 e dos

fenocircmenos (BARITEacute 2000 p 4)

1 No presente contexto a Filosofia fornece a fundamentaccedilatildeo teoacuterica para a criacutetica do saber e experiecircncia no trato dos problemas do conhecimento e da classificaccedilatildeo das ciecircncias Observar como a ciecircncia vem sendo tratada e estruturada ao longo do tempo nas classificaccedilotildees filosoacuteficas do conhecimento auxilia a entender a ordenaccedilatildeo do conhecimento por exemplo por meio de classificaccedilotildees bibliograacuteficas

2 Coisa tanto no discurso comum quanto no filosoacutefico esse termo tem dois significados 1 geneacuterico designando qualquer objeto ou termo real ou irreal mental ou fiacutesico um termo qualquer de um ato humano qualquer um objeto qualquer com que se deva tratar 2 especiacutefico denotando os objetos naturais enquanto tais tambeacutem chamados de ldquocorposrdquo (ABBAGNANO 2003 p 149) Neste estudo o termo corresponde agrave primeira acepccedilatildeo

14

Necessaacuterio salientar que a noccedilatildeo de categoria tatildeo antiga quanto a noccedilatildeo de

Loacutegica3 mesmo que intuitivamente sempre presidiu a operaccedilatildeo de classificaccedilatildeo e

ordenaccedilatildeo do conhecimento

Entende-se por Teoria da Classificaccedilatildeo em Biblioteconomia o conjunto de

proposiccedilotildees e princiacutepios desenvolvidos em associaccedilatildeo com a praacutetica manifestando

o seu conteuacutedo como uma disciplina intelectual o que pode ser entendido como o

corpo inteiro de generalizaccedilotildees (sistema de postulados) princiacutepios (convencionais) e

regras de procedimentos (relacionamentos) desenvolvidos para um campo de

conhecimento e que buscam descrever e elucidar a natureza ou comportamento do

fenocircmeno da classificaccedilatildeo estabelecer sistemas classificatoacuterios com o objetivo de

construir conjuntos temaacuteticos para recuperaccedilatildeo e determinar as condiccedilotildees formais a

que qualquer classificaccedilatildeo bibliograacutefica deve obedecer (teorias satildeo em sentido

geral narrativas que predizem organizam ou alteram visotildees de mundo dependendo

da instacircncia epistecircmica e frequentemente carregam com elas uma metateoria e

metodologia impliacutecita como no caso das regras de procedimentos)4

3 Aristoacuteteles foi o primeiro que estudou essa disciplina a qual define sem dar nome como ciecircncia da demonstraccedilatildeo e do saber demonstrativo Eacute soacute nos comentadores de Aristoacuteteles que o termo Loacutegica empregado em sentido restrito como sinocircnimo de Dialeacutetica eacute introduzido como nome da doutrina cujo cerne se encontrava em Analiacuteticos de Aristoacuteteles ou seja a teoria do silogismo e da demonstraccedilatildeo Boeacutecio daacute o nome de Loacutegica ao conjunto de doutrinas contidas no Organon de Aristoacuteteles somado agrave Isagoge de Porfiacuterio Durante toda a Idade Meacutedia o estudo da Isagoge seguida pelo Organon (na ordem Categorias De Interpretatione Primeiros analiacuteticos Segundos analiacuteticos Toacutepicos Refutaccedilatildeo dos sofistas) constitui uma das sete artes liberais a Dialeacutetica ou Loacutegica No iniacutecio do seacuteculo XVII Francis Bacon com Novum Organum efetua uma reforma radical da Loacutegica concebida exclusivamente como metodologia cientiacutefica geral e transforma-a em instrumento de investigaccedilatildeo cientiacutefica Com isso a antiga noccedilatildeo de Loacutegica muda completamente Durante os seacuteculos XVII XVIII e XIX Loacutegica passa a ser o nome de uma seacuterie heterogecircnea de disciplinas filosoacuteficas ministradas nas escolas Hoje a Loacutegica segue duas direccedilotildees diferentes de investigaccedilatildeo loacutegica Loacutegica matemaacutetica e Loacutegica formal analiacutetica Essa uacuteltima com tendecircncia a tornar-se parte da Semioacutetica ou teoria geral dos signos (ABBAGNANO 2003 p 624-630) 4 Falando especificamente sobre Teoria da Classificaccedilatildeo Mai (2002 p 474) afirma que uma teoria ideal de classificaccedilatildeo que seguisse uma linha de pensamento neutra objetiva e positivista deveria estar apta a recomendar como um conjunto de documentos deveria ser organizado e predizer as consequecircncias da organizaccedilatildeo A teoria deveria aleacutem disso ser aplicada a todas as espeacutecies de diferentes conjuntos usuaacuterios e tipos de documentos Flyvbjerg (2001 p 38-39 apud TENNIS 2008 p 105) embasado em suas leituras de Hubert Dreyfus e Pierre Bourdieu aponta as seis caracteriacutesticas de uma teoria ideal - Expliacutecita A teoria necessita estar dispostadesenhada de forma tatildeo detalhada que qualquer ser humano racional seja capaz de entendecirc-la A teoria natildeo deve possibilitar recorrer a interpretaccedilotildees ou intuiccedilotildees - Universal A teoria deve se aplicar a todas as eacutepocas e lugares - Abstrata A teoria natildeo deve necessitar de referecircncias a exemplos concretos - Discreta A teoria deve ser formulada com elementos de contexto-independente natildeo pode se referir a interesses tradiccedilotildees instituiccedilotildees etc humanos - Sistemaacutetica A teoria deve constituir um todo no qual os elementos de contexto-independente satildeo relacionados por meio de leis ou regras - Completa e predita A teoria deve ser completa ou seja deve cobrir o domiacutenio inteiro e deve ser predita ou seja a teoria deve prever e especificar as propriedades dos elementos (FLYVBJERG 2001)

15

Shiyali Ramamrita Ranganathan (1892-1972) matemaacutetico e bibliotecaacuterio

indiano pensador influente no campo da classificaccedilatildeo biblioteconocircmica (ao partir de

uma abordagem analiacutetica de facetas) desenvolveu na deacutecada de 1930 a Teoria da

Classificaccedilatildeo Facetada tambeacutem chamada de Teoria Dinacircmica da Classificaccedilatildeo ou

Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo aplicando de acordo com Moss (1964 p 296-301)

os princiacutepios aristoteacutelicos agrave Documentaccedilatildeo sem no entanto reconhecer esse fato

As cinco categorias nas quais Ranganathan baseou seu sistema de

classificaccedilatildeo tecircm sido representadas pela sigla em inglecircs PMEST personality

matter energy space e time Atente-se para a semelhanccedila das categorias

aristoteacutelicas substacircncia qualidade quantidade relaccedilatildeo espaccedilo tempo accedilatildeo

paixatildeo estado e haacutebito

Nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas a categorizaccedilatildeo de modo natildeo expliacutecito

aparece com Dewey (1851-1931) e nomeadamente com Ranganathan que

introduziu a noccedilatildeo de categoria para classificar conceitos A sua ideacuteia de dividir os

assuntos em categorias e tambeacutem em facetas que seraacute enfocada em toacutepico

especial dentro deste estudo (cf subseccedilatildeo 47) tem sido considerada uma marcante

contribuiccedilatildeo agrave Teoria da Classificaccedilatildeo

Em Teoria da Classificaccedilatildeo utilizam-se os termos classe categoria e faceta

situando-os na base de toda organizaccedilatildeo loacutegica do conhecimento e da construccedilatildeo

de linguagens de indexaccedilatildeo

As categorias podem ser consideradas como fundamento nem sempre

visiacutevel de qualquer sistema organizacional do conhecimento

Os sistemas de classificaccedilatildeo tecircm um valor intriacutenseco (MANN 1962) mesmo

para aqueles que natildeo estatildeo familiarizados com eles fornecendo informaccedilotildees

sugestotildees e esquemas dos assuntos o que permite acessar determinadas

informaccedilotildees O pesquisador que pretende estudar um tema para a sua tese pode

encontrar o assunto devidamente esboccedilado num sistema de classificaccedilatildeo O

estudante de Histoacuteria por exemplo encontraraacute na classe de Histoacuteria a cronologia

histoacuterica de cada paiacutes com as datas e os acontecimentos mais importantes Os

esquemas de classificaccedilatildeo revelam-se excelentes fontes com dados natildeo

forccedilosamente de rigorosa exatidatildeo mas de grande previsibilidade possibilitando a

visatildeo do todo e das partes

16

Os atuais esquemas ldquoclassificatoacuteriosrdquo de Organizaccedilatildeo do Conhecimento tais

como terminologias ontologias taxonomias tesauros mapas conceituais entre outros5

recorrem sem necessariamente assumi-lo agrave Teoria da Classificaccedilatildeo (pois essa eacute

indispensaacutevel para qualquer tipo de organizaccedilatildeo do conhecimento) e tambeacutem agrave

categorizaccedilatildeo mas empregam terminologia diversa natildeo sendo objeto deste estudo

As discussotildees ateacute a deacutecada de 1960 relativamente agrave Teoria da Classificaccedilatildeo

giravam em torno da convicccedilatildeo de que se estava organizando o proacuteprio

conhecimento em outras palavras a realidade Os sistemas de classificaccedilatildeo

claacutessicos deviam representar o conjunto dos conhecimentos humanos de tal maneira

que tornassem clara a importacircncia relativa de cada assunto dentro de uma estrutura

hieraacuterquica Privilegiava-se o conhecimento universal em detrimento do

conhecimento especializado Foi somente a partir da segunda metade do seacuteculo XX

e mais incisivamente a partir da deacutecada de 1970 que se comeccedila a perceber a

realidade como um construto social que se apoacuteia em larga medida nos discursos

sobre ela proferidos e legitimados por esta ou aquela comunidade O conhecimento

passa entatildeo a ser organizado pelos mesmos esquemas gerais de classificaccedilatildeo

(ampliados e atualizados) procurando-se representaacute-lo enquanto especiacutefico a uma

dada aacuterea do saber ou seja buscando cobrir novos campos de conhecimento

resultantes de sua ramificaccedilatildeo

5 Esquemas para a organizaccedilatildeo do conhecimento ou Instrumentos para representaccedilatildeo da informaccedilatildeo a) a Terminologia eacute um conjunto de termos proacuteprios ou relativos a um determinado campo do conhecimento ou a uma aacuterea de especialidade (BARITEacute 1997 p 145) b) a Ontologia originou-se na Metafiacutesica e eacute atualmente desenvolvida pela Inteligecircncia Artificial onde tenta representar os relacionamentos dos elementos de um dado domiacutenio desde os meta-niacuteveis aos proacuteprios objetos tendo como finalidade o compartilhamento e a reutilizaccedilatildeo do conhecimento c) a Taxonomia surgiu como meacutetodo de classificaccedilatildeo nas Ciecircncias Naturais para nomear descrever e classificar os seres vivos e depois passou a designar instrumentos para a Organizaccedilatildeo da Informaccedilatildeo em ambientes eletrocircnicos e virtuais de um domiacutenio d) o Tesauro nasceu da noccedilatildeo de Tesauro Linguiacutestico e de contribuiccedilotildees das Classificaccedilotildees Facetadas com a pretensatildeo de abranger preferencialmente uma aacuterea do conhecimento e tem o controle do vocabulaacuterio e o estabelecimento da rede paradigmaacutetica como principais recursos para a transferecircncia da informaccedilatildeo e) o Mapa conceitual surgiu na aacuterea da Educaccedilatildeo como meacutetodo de aprendizagem e depois de passar por um processo de adaptaccedilatildeo propocircs-se a guiar a navegaccedilatildeo em ambientes de hipermiacutedia Os Tesauros (especializados) nasceram para atender agrave demanda gerada pelo aumento dos perioacutedicos especializados A ontologia a taxonomia e os mapas conceituais nasceram para atender ao fluxo de informaccedilotildees em ambientes eletrocircnicos e virtuais Todos esses instrumentos partiram de aplicaccedilotildees distintas das que satildeo aplicadas hoje contudo tecircm mais ou menos os mesmos objetivos - organizar a informaccedilatildeo para que possa ser utilizada Outros instrumentos seriam as redes semacircnticas os topic maps e a proacutepria web semacircntica apenas para citar algumas das vaacuterias formas de tratar a informaccedilatildeo no contexto virtual (TEIXEIRA 2006) O entendimento da visatildeo dos filoacutesofos sobre esses esquemasInstrumentos merece discussotildees detalhadas por causa da sua influecircncia na Ciecircncia da Informaccedilatildeo no entanto natildeo eacute objetivo desta tese

17

Os procedimentos de organizaccedilatildeo do conhecimento - o processo de

classificaccedilatildeo6 - que possibilitam a organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo tecircm se intensificado

frente agrave massa documentaacuteria inserida regularmente nos acervos das bibliotecas

Essa situaccedilatildeo exige o aperfeiccediloamento constante dos instrumentos de organizaccedilatildeo

do conhecimento - mormente esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica - para o

acesso e recuperaccedilatildeo

Examinar conceitualmente as noccedilotildees de classe de categoria e de faceta sob

uma perspectiva funcional instrumental pragmaacutetica tentando esclarecer as

caracteriacutesticas essenciais dessas noccedilotildees no contexto dos sistemas de classificaccedilatildeo

bibliograacutefica constitui tema relevante para auxiliar na revisatildeo de ideacuteias e

procedimentos em relaccedilatildeo agraves linguagens de indexaccedilatildeo e agrave classificaccedilatildeo habitual de

documentos

A presente tese tem como objetivo geral analisar criticamente os principais

sistemas de classificaccedilatildeo do conhecimento selecionados da Filosofia e da

Biblioteconomia numa visatildeo histoacuterico-conceitual com enfoque nos conceitos de

classe de categoria e de faceta

Com este estudo pretende-se atingir os seguintes objetivos especiacuteficos

a) acompanhar e delinear a trajetoacuteria das classificaccedilotildees dos saberes

(classes) e das classificaccedilotildees dos seres (categorias) agrave luz da Filosofia7

b) averiguar as possiacuteveis influecircncias que as classificaccedilotildees filosoacuteficas

historicamente exerceram sobre as classificaccedilotildees bibliograacuteficas

tradicionais

c) verificar de que modo os conceitos de categoria de classe e de faceta tecircm

sido definidos no acircmbito das classificaccedilotildees biblioteconocircmicas

tradicionais

6 Accedilatildeo e efeito de estabelecer classes agrupadas estrutural ou hierarquicamente dentro de um conjunto Eacute uma representaccedilatildeo do real portanto uma abstraccedilatildeo 7 A distinccedilatildeo entre classes de saberes e categorias de seres seraacute tratada na seccedilatildeo 2 especificamente na paacutegina 22

18

Para a Ciecircncia da Informaccedilatildeo8 a noccedilatildeo de categoria nascida na Filosofia e

introduzida na Biblioteconomia por Ranganathan eacute de importacircncia fundamental para

a estruturaccedilatildeo da informaccedilatildeo As doutrinas ou teorias sobre as categorias nos

sistemas filosoacuteficos constituem campo que permanece ainda pouco explorado Aleacutem

disso a sua anaacutelise vecirc-se dificultada pelas diferenccedilas de acepccedilatildeo dos termos entre

os filoacutesofos

8 Em 1945 Vannevar Bush publicou artigo intitulado As we may think a respeito do problema da informaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia Nesse escrito ele fala do efeito da associaccedilatildeo de conceitos ou palavras na organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo - padratildeo seguido pelo ceacuterebro humano para transformar informaccedilatildeo em conhecimento jaacute que o homem pensa por associaccedilatildeo de conceitos Por causa desses fatos afirma Barreto (2006) que V Bush pode ser considerado o precursor da Ciecircncia da Informaccedilatildeo e 1945 a sua data fundadora Contudo em 1934 Paul Otlet enquanto fundador da Documentaccedilatildeo discutiu essa questatildeo podendo ser considerado o verdadeiro precursor da Ciecircncia da Informaccedilatildeo Bush somente tratou a caracteriacutestica tecnoloacutegica da associaccedilatildeo de ideacuteias (GRUPO TEMMA) Dias (2000 2002a 2002b) em vaacuterios escritos usando argumentaccedilatildeo de resgate histoacuterico considera que a expressatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo pode ser usada em dois sentidos um restrito e outro amplo No sentido restrito (de uso universal) a Ciecircncia da Informaccedilatildeo eacute uma especialidade que tem procurado achar um diferencial na sua relaccedilatildeo com a Biblioteconomia participando de um campo mais geral do conhecimento que abriga a Biblioteconomia a proacutepria Ciecircncia da Informaccedilatildeo e outras especialidades - ela seria a disciplina interessada nas questotildees da informaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica ldquoNesse sentido a Ciecircncia da Informaccedilatildeo deve entatildeo ser entendida como a evoluccedilatildeo do conceito de Biblioteconomia especializadardquo tendo por alvo a informaccedilatildeo especializada e seus usuaacuterios (DIAS 2002a p 89-90) No sentido amplo (largamente usado no Brasil) a Ciecircncia da Informaccedilatildeo eacute percebida como um campo ou aacuterea do saber como o todo que abriga vaacuterias especialidades (Biblioteconomia Arquivologia Documentaccedilatildeo e a proacutepria Ciecircncia da Informaccedilatildeo em seu sentido restrito) - ela seria o campo interessado nos problemas de acesso agrave informaccedilatildeo Dias (2000) atribui a origem da utilizaccedilatildeo da expressatildeo nesse sentido geneacuterico ao fato de assim ser utilizada na tabela de aacutereas do conhecimento do Conselho Nacional do Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) por exemplo Grande aacuterea Ciecircncias Sociais AplicadasAacuterea Ciecircncia da InformaccedilatildeoSubaacuterea Biblioteconomia Especialidade Organizaccedilatildeo da Informaccedilatildeo Smit Taacutelamo e Kobashi (2003 2004) em uma reflexatildeo sobre a constituiccedilatildeo do campo cientiacutefico da Ciecircncia da Informaccedilatildeo identificam que a aacuterea se afirmou na interdisciplinaridade e entendem que o termo Ciecircncia da Informaccedilatildeo impotildee-se como um significante agrave procura do seu significado - um campo em permanente definiccedilatildeo Analisando a terminologia da aacuterea de Ciecircncia da Informaccedilatildeo (as denominaccedilotildees servem de referecircncia para a determinaccedilatildeo do vocabulaacuterio de uma especialidade) que justapotildee termos oriundos da Biblioteconomia e da Documentaccedilatildeo termos oriundos de outras aacutereas do conhecimento (termos importados noccedilotildees emprestadas) e termos do senso comum verificaram que boa parte das noccedilotildees sedimentadas pela aacuterea se refere a procedimentos praacuteticos tais como classificaccedilatildeo resumo anaacutelise documentaacuteria oriundos da Biblioteconomia Sentido restrito ou amplo o fato eacute que existe um viacutenculo essencial da Ciecircncia da Informaccedilatildeo com a Biblioteconomia - aacutereas que se relacionam conceitual e historicamente - evidente na quase totalidade das escolas de Biblioteconomia que pelo mundo vecircm sendo renomeadas de escolas de Ciecircncia da Informaccedilatildeo ou vecircm acrescentando Ciecircncia da Informaccedilatildeo ao antigo nome A adoccedilatildeo do novo nome soacute pode ser entendida no sentido amplo do termo Ciecircncia da Informaccedilatildeo segundo Dias (2002a p 94-95) que ainda alerta para o que parece ser uma tentativa de extermiacutenio de todo o grupo terminoloacutegico associado ao termo biblioteca ou seja bibliotecaacuterio biblioteconomia entre outros Salienta poreacutem que a terminologia acaba por ressurgir com vigor no contexto digital onde a expressatildeo biblioteca digital consagra-se como expressatildeo do conceito de coleccedilatildeo de recursos eletrocircnicos Assim sendo a Ciecircncia da Informaccedilatildeo constitue aacuterea que carece de uma linguagem de especialidade proacutepria (condiccedilatildeo imprescindiacutevel para se impor no ambiente da pesquisa acadecircmica) que se enuncia formalmente como objeto teoacuterico que carece de construccedilatildeo conceitual e que diante da falta de um sistema conceitual explicitado os termos utilizados pela aacuterea natildeo remetem a conceitos (SMIT TAacuteLAMO KOBASHI 2004) Mesmo assim eacute possiacutevel dizer que a especificidade da Ciecircncia da Informaccedilatildeo envolve a sua capacidade de transitar pelas diversas aacutereas do conhecimento de produzir conhecimentos que perpassam suas fronteiras atenta para a forma como a Biblioteconomia e a Documentaccedilatildeo tecircm formulado e empregado termos e conceitos para poder avanccedilar

19

Este estudo levanta as seguintes hipoacuteteses

a) a busca pela consistecircncia terminoloacutegica de termos como categoria

classe ou faceta contribuiraacute para aperfeiccediloar a operacionalizaccedilatildeo do

processamento do conhecimento em Ciecircncia da Informaccedilatildeo b) os esquemas categoriais subjacentes agraves classificaccedilotildees bibliograacuteficas

natildeo tecircm valor neutro jaacute que favorecem uma determinada concepccedilatildeo

de mundo sendo construiacutedos com objetivos pragmaacuteticos portanto a

elaboraccedilatildeo de classificaccedilotildees (classe categoria faceta) deve ser

encarada com rigor pois afeta a maneira como se processam as

informaccedilotildees

A pesquisa eacute do tipo exploratoacuterio-descritivo com caraacuteter de revisatildeo de literatura

Estabelecidos os objetivos que orientaram o estudo foram realizadas buscas

bibliograacuteficas em bases de dados internacionais e nacionais Wilson Library Literature

and Information Science Full Text Library and Information Science Abstract (LISA) The

Philosopherrsquos Index Teses do Instituto Brasileiro de Informaccedilatildeo em Ciecircncia Tecnologia

(IBICT) Portal da Capes entre outras Foram consultados cataacutelogos de diversas

bibliotecas nacionais A partir daiacute foram selecionados livros e artigos de perioacutedicos

pertinentes ao tema em questatildeo Posteriormente foram localizados e obtidos materiais

bibliograacuteficos para leitura Dessa maneira foi possiacutevel a objetivaccedilatildeo a anaacutelise a

discussatildeo e o aprofundamento dos traccedilos significantes do objeto que permitiram a

elaboraccedilatildeo da conclusatildeo Ressalta-se que as traduccedilotildees das citaccedilotildees em liacutengua

estrangeira satildeo na maioria dos casos indicadas no texto com a frase ldquotraduccedilatildeo livre

da autorardquo apresentando em rodapeacute as respectivas citaccedilotildees no idioma original com o

intuito de facilitar a leitura e de presevar a fidedignidade das informaccedilotildees

A estrutura da pesquisa proporciona o desenvolvimento do tema visando

alcanccedilar os objetivos propostos Assim apoacutes a seccedilatildeo 1 Introduccedilatildeo direcionada

para a construccedilatildeo da ideacuteia principal e dos meios para viabilizaacute-la a seccedilatildeo 2 traccedila um

percurso da classificaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo do conhecimento e apresenta algumas

caracteriacutesticas gerais das classificaccedilotildees das ciecircncias tambeacutem chamadas de

classificaccedilotildees filosoacuteficas9 A seccedilatildeo 3 recupera parte da rica histoacuteria dos principais

sistemas filosoacuteficos de organizaccedilatildeo do conhecimento apresentando um panorama

9 As classificaccedilotildees filosoacuteficas ldquosatildeo as criadas pelos filoacutesofos com a finalidade de definir esquematizar e hierarquizar o conhecimento preocupados com a ordem das ciecircncias ou a ordem das coisasrdquo (PIEDADE 1983 p 60)

20

das classificaccedilotildees das ciecircncias em Platatildeo Aristoacuteteles Cassiodoro Roger Bacon

Huarte Descartes Francis Bacon Hobbes Locke Leibniz Diderot e drsquoAlembert

Hegel Ampegravere Comte Spencer Harris e Wundt A sistematizaccedilatildeo do saber que se

pretende (procurando apontar indiacutecios da existecircncia de influecircncia das classificaccedilotildees

filosoacuteficas sobre as classificaccedilotildees bibliograacuteficas tradicionais10) teve origem na

Antiguidade Claacutessica quando todos os saberes e ciecircncias particulares estavam

integrados em uma ciecircncia uacutenica a Filosofia A classificaccedilatildeo dos saberes e suas

subdivisotildees - estabelecidas dentro da Filosofia - perduraram ateacute a Idade Meacutedia Soacute a

partir do Renascimento (seacuteculos XV e XVI) principalmente a partir de Francis Bacon

que se daacute iniacutecio agraves modernas classificaccedilotildees das ciecircncias ou classificaccedilotildees filosoacuteficas

e das classificaccedilotildees bibliograacuteficas hoje consideradas tradicionais Ainda na seccedilatildeo 3

busca-se conhecer e compreender as investigaccedilotildees relativas a categorias

sobretudo as noccedilotildees formuladas na Filosofia por alguns dos estudiosos de

categorias que mais contribuiacuteram para a reflexatildeo acerca das classificaccedilotildees

bibliograacuteficas (Platatildeo Aristoacuteteles Kant Foucault) possibilitando com o auxiacutelio desse

conhecimento especiacutefico uma anaacutelise do referido conceito aleacutem de sua

contextualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica Os autores

que embasaram a elaboraccedilatildeo desta seccedilatildeo aleacutem dos proacuteprios filoacutesofos e seus

comentadores foram Garcia Morente (1952) Ferrater Mora (1971) Kedrov (1974)

Piedade (1983) Gopinath (2001) Mazip (2001) Abbagnano (2003) Pombo (2006)

entre outros que forneceram os elementos necessaacuterios para o entendimento das

diferentes noccedilotildees de categoria no decorrer da Histoacuteria da Filosofia

A seccedilatildeo 4 estaacute concentrada na histoacuteria construccedilatildeo princiacutepios e revisatildeo dos

sistemas claacutessicos de classificaccedilatildeo bibliograacutefica11 (Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey

Classificaccedilatildeo Expansiva de Cutter Classificaccedilatildeo da Biblioteca do Congresso em

Washington Classificaccedilatildeo Decimal Universal Classificaccedilatildeo de Assuntos de Brown

Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos de Ranganathan e Classificaccedilatildeo Bibliograacutefica de

Bliss) com enfoque nas noccedilotildees de classe de categoria e de faceta Aqui tentou-se

apontar os indiacutecios da influecircncia das classificaccedilotildees filosoacuteficas sobre as

classificaccedilotildees bibliograacuteficas Para tanto aleacutem dos proacuteprios esquemas de

10 A influecircncia das classificaccedilotildees filosoacuteficas sobre as classificaccedilotildees bibliograacuteficas permeia as seccedilotildees 2 e 3 11 As classificaccedilotildees bibliograacuteficas satildeo sistemas destinados a servir de base agrave organizaccedilatildeo e localizaccedilatildeo de documentos e para ordenar cataacutelogos e bibliografias

21

classificaccedilatildeo bibliograacutefica contou-se com o apoio teoacuterico de Grolier (1962) Foskett

(1973a) Dahlberg (1978 1979a 1993) Piedade (1983) Perreault (1991) Maniez

(1993) San Segundo Manuel (1996) McIlwaine (2000) Broughton (2004) e Batley

(2005) entre outros

A seccedilatildeo 5 estaacute direcionada para a elaboraccedilatildeo do corpus teoacuterico dos conceitos

de classe de categoria e de faceta na Teoria da Classificaccedilatildeo com a intenccedilatildeo de

explorar discutir e se possiacutevel esclarecer a noccedilatildeo de categoria procurando esboccedilar

um conceito de classe de categoria e de faceta no acircmbito da Teoria da

Classificaccedilatildeo para as Classificaccedilotildees Bibliograacuteficas Claacutessicas Os autores que

fundamentaram a anaacutelise dos termos foram Mills (1960) Grolier (1962 1976)

Dobrowolski (1964) Foskett (1972) Piedade (1983) Dahlberg (1992) Iyer (1995)

Maniez (1999) e Bariteacute (2000) Aleacutem de dicionaacuterios e glossaacuterios como Thompson

(1943) Elsevierrsquos (1973) Harrod (1977) Keenan (1996) Bariteacute (1997) Menezes

Cunha e Heemann (2004) entre outros

A Conclusatildeo seccedilatildeo 6 constitui a siacutentese do que emergiu do texto da proacutepria

tese ao longo do estudo Em linhas gerais eacute possiacutevel afirmar que tanto os

princiacutepios das classificaccedilotildees filosoacuteficas em relaccedilatildeo aos seres (categorias) e em

relaccedilatildeo aos saberes (classes) quanto agraves proacuteprias classificaccedilotildees filosoacuteficas que

dividem os seres e os saberes apresentam-se como construtos humanos

elaborados precipuamente com a intenccedilatildeo de conhecer e disciplinar o

conhecimento do ser e do saber Evidenciou-se que as classificaccedilotildees

bibliograacuteficas em grande parte satildeo adaptaccedilotildees de classificaccedilotildees filosoacuteficas

(utilizando as divisotildees das ciecircncias e empregando termos primeiramente

pensados pelos filoacutesofos poreacutem ressignificados com objetivos pragmaacuteticos) Na

revisatildeo conceitual das noccedilotildees de classe de categoria e de faceta atentou-se agrave

aplicaccedilatildeo especiacutefica dos termos nos sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica

enquanto sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento mostrando que tanto a

Biblioteconomia como a Ciecircncia da Informaccedilatildeo estatildeo envolvidas nessa discussatildeo

interdisciplinar E finalmente na seccedilatildeo 7 Perspectivas apresentam-se algumas

questotildees decorrentes da investigaccedilatildeo que poderatildeo ser de interesse para futuras

pesquisas

22

2 DA CLASSIFICACcedilAtildeO Agrave ORGANIZACcedilAtildeO DO CONHECIMENTO UMA VISAtildeO PRELIMINAR DA SUA TRANSITORIEDADE E RELATIVIDADE

A maioria das pessoas eacute subjetiva para consigo proacutepria e objetiva para com os demais por vezes terrivelmente objetiva -

mas o importante eacute ser-se objetivo para consigo proacuteprio e subjetivo para com todos os outros

Kierkegaard

O conceito de organizaccedilatildeo do conhecimento eacute um dos mais antigos com o

qual o homem convive Kedrov (1974 v 1 p 7) um estudioso da classificaccedilatildeo das

ciecircncias define-o como

la unificacioacuten de todos los conocimientos en un sistema uacutenico en el cual se reflejam la loacutegica del objeto de estuacutedio y las concepciones generales sobre el mundo y su conocimiento por el hombre

Jaacute Tennis (2008 p 103) um estudioso da Teoria da Classificaccedilatildeo

Biblioteconocircmica entende por organizaccedilatildeo do conhecimento o processo de ordenar

e representar documentos O autor com o propoacutesito de comparaccedilatildeo define tambeacutem

organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo como o processo de ordenar e representar informaccedilatildeo

(que compreende documentos e outras entidades consideradas informaccedilatildeo)

Os sistemas de classificaccedilatildeo criados pelos filoacutesofos com o objetivo de

ordenar as ciecircncias e hierarquizar o conhecimento tiveram origem remota na

observaccedilatildeo e estudo dos fenocircmenos do Universo e satildeo conhecidos como

classificaccedilotildees filosoacuteficas metafiacutesicas do conhecimento ou ainda classificaccedilotildees das

ciecircncias (PIEDADE 1983 p 61)

As classificaccedilotildees permitem ao homem identificar tempo e espaccedilo reconhecer

entes e fatos estabelecer semelhanccedilas e diferenccedilas agrupar e separar seres e

saberes enfim ordenar tudo que o rodeia para se orienta no mundo

No mundo antigo existia uma soacute ciecircncia a Filosofia12 que era de fato natildeo soacute

o suporte das ciecircncias mas ldquoardquo ciecircncia porque pretendia abranger todo o

conhecimento

As classificaccedilotildees bibliograacuteficas se originaram a partir das classificaccedilotildees

filosoacuteficas (de orientaccedilatildeo metafiacutesica) Platatildeo em A Repuacuteblica (2006 livro VII p 267-

305) ao se referir agraves ciecircncias especiacuteficas que constituiacuteam o curriacuteculo do filoacutesofo

12 De Platatildeo ateacute hoje a Filosofia tem sido natildeo soacute interpretaccedilatildeo do mundo mas projeto de transformaccedilatildeo do homem quer dizer Poliacutetica Eacutetica Pedagogia

23

(Aritmeacutetica Geometria Astronomia e Muacutesica) salientava que o estudo dessas

ciecircncias devia levar obrigatoriamente ao entendimento dos seus pontos comuns do

seu parentesco percebendo-se as razotildees pelas quais estatildeo interligadas e o seu

desenvolvimento apresentando aiacute a exigecircncia da formaccedilatildeo do que ele mesmo

chamou de Ciecircncia Primeira Aristoacuteteles nomeou essa mesma Ciecircncia de Filosofia

Primeira Portanto a Metafiacutesica como entendida por Platatildeo e Aristoacuteteles era a

Ciecircncia ou Filosofia Primeira no sentido de fornecer a todas as outras ciecircncias o

fundamento comum isto eacute ter como objeto o objeto de todas as outras ciecircncias e

como princiacutepio um princiacutepio que condicionava a validade de todos os demais Por

essa pretensatildeo de prioridade que a define inclusive a Metafiacutesica pressupotildee uma

situaccedilatildeo cultural determinada em que o saber jaacute se organizou e se dividiu em

diversas ciecircncias relativamente independentes e capazes de exigir a determinaccedilatildeo

de suas inter-relaccedilotildees e sua integraccedilatildeo com base num fundamento comum Essa

era a situaccedilatildeo na Atenas do seacuteculo IV aC graccedilas agrave obra de Platatildeo e dos seus

disciacutepulos que contribuiacuteram vigorosamente para o desenvolvimento da Matemaacutetica

da Fiacutesica da Eacutetica e da Poliacutetica

Andronico de Rodes (diretor da escola peripateacutetica no seacuteculo I aC) foi o

responsaacutevel por coletar e reunir de modo sistemaacutetico no ano 86 aC alguns escritos

sem nome de Aristoacuteteles O nome casual embora pertinente de Metafiacutesica isto eacute

livros que vecircm depois da Fiacutesica atribuiacutedo ao lugar que coube aos textos presta-se a

expressar a natureza da Metafiacutesica porquanto vai aleacutem da Fiacutesica que eacute a primeira

das ciecircncias particulares para chegar ao fundamento comum em que todas as

ciecircncias se baseiam e determinar o lugar que cabe a cada uma na hierarquia do

saber Isso parece explicar senatildeo a origem pelo menos a repercussatildeo que esse

nome teve A Metafiacutesica passou a implicar assim uma enciclopeacutedia das ciecircncias

um inventaacuterio completo e exaustivo de todas as ciecircncias em suas relaccedilotildees de

coordenaccedilatildeo e subordinaccedilatildeo A Metafiacutesica apresentou-se ao longo da histoacuteria sob

trecircs maneiras fundamentais

a) teoloacutegica a que objetiva o ser mais elevado e perfeito superior a

todos e do qual todos os outros provecircm (Plotino Hegel)

b) ontoloacutegica a que estuda os caracteres fundamentais do ser os que

todo ser tem e natildeo pode deixar de ter (Aristoacuteteles drsquoAlembert)

c) gnosioloacutegica a que estuda as maneiras ou princiacutepios cognitivos que

por serem constituintes da razatildeo humana condicionam todo saber e

toda ciecircncia (Bacon Kant)

24

Na Filosofia contemporacircnea a Metafiacutesica atua na questatildeo do significado de

existecircncia na linguagem das diversas ciecircncias e na questatildeo das relaccedilotildees entre as

diversas ciecircncias e das investigaccedilotildees sobre objetos que incidem nos pontos de

intersecccedilatildeo ou de encontro entre elas (ABBAGNANO 2003 p 660-667)

Segundo Olga Pombo (2006) agrave classificaccedilatildeo dos saberes (de orientaccedilatildeo

gnosioloacutegica) corresponde o problema da classificaccedilatildeo das ciecircncias como tentativa

de dar o quadro completo de todas as disciplinas cientiacuteficas e de fixar as suas

relaccedilotildees de coordenaccedilatildeo e subordinaccedilatildeo ou de dividir em classes as distintas

disciplinas procedendo a uma ordenaccedilatildeo por unidades que apresentam uma

caracteriacutestica comum estabelecendo certa coextensatildeo entre elas ou ainda

simplesmente dividir as ciecircncias segundo os seus objetos ou meacutetodos de pesquisa

Essa questatildeo sempre interessou aos filoacutesofos que desde Platatildeo e Aristoacuteteles

buscam pensar a ciecircncia e os seus produtos (cf subseccedilatildeo 31) Enquanto agrave

classificaccedilatildeo dos seres (de orientaccedilatildeo ontoloacutegica) corresponde o problema da

classificaccedilatildeo nas ciecircncias como tentativa de explicar a realidade segmentando-a em

categorias o que desde Platatildeo e Aristoacuteteles vem sendo de fundamental importacircncia

para loacutegicos e cientistas de aacutereas que procedem agraves classificaccedilotildees taxonocircmicas13

como a Botacircnica e a Zoologia tipoloacutegicas como a Psicologia geoloacutegicas

antropoloacutegicas socioloacutegicas entre outras (cf subseccedilatildeo 32) Seguindo esse raciociacutenio

pode-se dizer que agrave classificaccedilatildeo dos livros (de orientaccedilatildeo bibliograacutefica) corresponde

o problema da organizaccedilatildeo por assunto dos livros nas estantes e a geraccedilatildeo de

iacutendices que decircm acesso aos livros o que se constitui em objeto de estudo da Teoria

da Classificaccedilatildeo a qual fundamenta todos os possiacuteveis sistemas de classificaccedilatildeo

bibliograacutefica (cf subseccedilatildeo 41)

Natildeo se propotildee nesta pesquisa uma discussatildeo a respeito da distinccedilatildeo entre

informaccedilatildeo e conhecimento que aliaacutes eacute discutiacutevel porque relativa mas natildeo se pode

deixar de apontar que as classificaccedilotildees bibliograacuteficas pressupotildeem a classificaccedilatildeo e

portanto a organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo que representam assuntos tratados nos

documentos aproximando-se assim os universos das classificaccedilotildees bibliograacuteficas e

os universos das classificaccedilotildees filosoacuteficas

13 Relativo a taxinomia Taxinomia [Do gr Taacutexis ordem arranjo ltverbo gr taacutessein arrumar ordenar] Sf 1 Ciecircncia da classificaccedilatildeo 2 Biol Sistemaacutetica (FERREIRA 1999 p 1932)

25

O proacuteprio conceito de organizaccedilatildeo do conhecimento traz impliacutecita a

impossibilidade de uma teoria geral de organizaccedilatildeo sistematizaccedilatildeo e classificaccedilatildeo

universal do conhecimento Isso se deve em essecircncia aos limites espaccedilo-temporais

de uma classificaccedilatildeo de caraacuteter geral do conhecimento tanto sob o ponto de vista

teoacuterico quanto praacutetico encontrando-se a proacutepria classificaccedilatildeo impregnada de um

caraacuteter provisoacuterio Deve-se tambeacutem agrave estruturaccedilatildeo da realidade e do conhecimento

- a qual se modifica segundo as distintas concepccedilotildees de mundo daqueles que a

realizam - ou seja realidade e conhecimento tambeacutem dependem do espaccedilo e do

tempo Atribui-se ainda ao determinismo intriacutenseco que existe nas proacuteprias

estruturas classificatoacuterias que faz com que elas sigam muito mais paracircmetros

sociais determinados do que uma concepccedilatildeo teoacuterica - ou seja eacute o social que

importa Consequentemente um traccedilo comum a todas as classificaccedilotildees eacute o seu

caraacuteter efecircmero pois estatildeo sempre sujeitas as numerosas concepccedilotildees e mudanccedilas

que as estruturam e delimitam Foucault (1981) em As Palavras e as Coisas afirma

que ao repartir e classificar as coisas elas se alteram jaacute que satildeo reconheciacuteveis de

acordo com a ordem que as relaciona Com essa posiccedilatildeo ele reafirma o caraacuteter

provisoacuterio e relativo das classificaccedilotildees - como construtos sociais

A ideacuteia da impossibilidade de uma classificaccedilatildeo perduraacutevel do conhecimento

(em sentido espaccedilo-temporal e determinista - a classificaccedilatildeo dos saberes e dos

seres reproduz somente a classificaccedilatildeo do homem em acircmbito geograacutefico e temporal)

foi postulada por Durkheim14 e Mauss15 (1901 p 69) ao afirmarem que as classes

sociais determinam as estruturas da classificaccedilatildeo do universo das coisas e

considerarem que as classificaccedilotildees dependem da organizaccedilatildeo e das condiccedilotildees

sociais em que elas surgem - ideacuteia tambeacutem compartilhada por Kedrov (1974) Eacute na

sociedade portanto que se desenvolve o pensamento classificatoacuterio Nesse sentido

as primeiras categorias sobre as quais se fundamentam as classificaccedilotildees satildeo

categorias sociais - satildeo elas que presidem a reparticcedilatildeo loacutegica das coisas Durkheim

(1973) parte das categorias aristoteacutelicas do entendimento humano - noccedilotildees de

14 David Eacutemile Durkhein (1858-1917) pensador francecircs considerado o fundador da Sociologia como ciecircncia independente (1887) foi muito influenciado pelas ideacuteias do psicoacutelogo Wilhelm Wundt Fundou o perioacutedico LAnneacutee Sociologique (1896) 15 Marcel Mauss (1872-1950) socioacutelogo e antropoacutelogo francecircs considerado o pai da Antropologia francesa Sobrinho de Durkheim Mauss fundou o Instituto de Etnologia da Universidade de Paris (1925) Sucedeu o tio como editor da revista LAnneacutee Sociologique (1898-1913)

26

tempo de espaccedilo de gecircnero de nuacutemero de causa de substacircncia de

personalidade entre outras as quais devem estar presentes em qualquer sociedade

uma vez que constituem os fundamentos do conhecimento isto eacute os sentimentos

as emoccedilotildees os juiacutezos os valores e enfim tudo aquilo que condiciona qualquer

pensamento ou representaccedilatildeo relativamente agrave vida humana

Leacutevi-Strauss16 (1976) que criou no seacuteculo XX as teses da moderna

Antropologia sustenta um posicionamento similar ao salientar o caraacuteter ao mesmo

16 Claude Leacutevi-Strauss (1908 - aos 100 anos em novembro de 2008 permanece na ativa) antropoacutelogo e filoacutesofo belga que ultrapassa fronteiras disciplinares e desfaz barreiras entre ciecircncias e artes aplicando o meacutetodo estruturalista (com base no pensamento linguiacutestico de Saussure) a todas as manifestaccedilotildees ou fenocircmenos culturais Segundo Carvalho (2008) o conceito de estrutura reorganiza o mundo dos acontecimentos a ordem vivida os processos histoacutericos que satildeo propriedade do real Os homens natildeo percebem esses processos mantendo-os recalcados e inconscientes Essa estrutura tem duas faces razatildeo e sensibilidade como Jano (deus do panteatildeo romano que eacute representado por dois rostos em oposiccedilatildeo um que olha para frente outro para traacutes) Assim por mais que se queira fragmentar a existecircncia ela resiste e busca rejuntar os seus pedaccedilos religar propor novos sentidos agrave realidade Os mitos (linguagens da imaginaccedilatildeo) solucionam contradiccedilotildees invertem a relaccedilatildeo natureza-cultura e a sequecircncia presente-passado-futuro Leacutevi-Strauss (apud CARVALHO 2008) afirma que ldquoos mitos sempre querem dizer a mesma coisa Natildeo satildeo especiacuteficos de nenhuma sociedade dessa ou daquela populaccedilatildeo Satildeo respostas irocircnicas ou desencantadas para problemas intemporais Constituem portanto patrimocircnio universal da culturardquo A inspiraccedilatildeo de Leacutevi-Strauss para as estruturas veio da linguiacutestica Para Leacutevi-Strauss as sociedades organizam-se como se fossem frases ou modos de falar que podem ser diferentes entre si mas obedecem a um mesmo coacutedigo ou sistema universal Essa concepccedilatildeo foi revolucionaacuteria pois rompia para sempre a tradicional dicotomia entre natureza e cultura O estruturalismo refutou a oposiccedilatildeo entre esses termos ao mostrar como a cultura eacute uma produccedilatildeo - e natildeo uma negaccedilatildeo - da natureza Leacutevi-Strauss ensinou Sociologia na Universidade de Satildeo Paulo de 1934 a 1937 e entre 1938 e 1939 empreendeu uma expediccedilatildeo pelo interior do Brasil (como integrante da missatildeo francesa) visitando grupos indiacutegenas Obras importantes As Estruturas Elementares do Parentesco (1949) A Vida Familiar e Social dos Iacutendios Nhambiquara (1948) Raccedila e Histoacuteria (1952) Tristes Troacutepicos (1955) Antropologia Estrutural (1958) O Totemismo Hoje (1962) O Pensamento Selvagem (1962) O Cru e o Cozido (1964) Do Mel agraves Cinzas (1967) As Origens das Maneiras agrave Mesa (1968) e O Homem Nu (1971) (MAZIP 2001 p 334-336) Nos anos 1960 o estruturalismo tornou-se um modismo global com adeptos em outras aacutereas do conhecimento como o psicanalista Jacques Lacan o socioacutelogo Louis Althusser e o criacutetico literaacuterio Roland Barthes Mas o clima de contestaccedilatildeo generalizada que marcou aqueles anos culminando com o movimento estudantil de maio de 1968 na Franccedila atingiu tambeacutem a onda estruturalista Jovens pensadores entre eles o filoacutesofo e historiador Michel Foucault abandonaram os seus viacutenculos com essa linha de pensamento questionando o determinismo das estruturas e tambeacutem a possibilidade de estudaacute-las com o distanciamento e a objetividade exigida por seus adeptos Na Antropologia a corrente poacutes-estruturalista critica a propensatildeo do estruturalismo para as generalizaccedilotildees em detrimento do conhecimento das especificidades

27

tempo socioloacutegico e relativo das classificaccedilotildees na obra La Penseacutee Sauvage17 (O

Pensamento Selvagem) na qual analisa o processo classificatoacuterio (totemismo) do

chamado homem primitivo Considera que a classificaccedilatildeo do homem primitivo natildeo eacute

hieraacuterquica18 como satildeo os modelos classificatoacuterios do pensamento ocidental (embora

tenha uma estrutura vertical que liga o geral ao especiacutefico e o abstrato ao concreto)

Observa que a loacutegica que rege a vida e o pensamento das sociedades primitivas eacute a

que implica um sistema de oposiccedilatildeo (altobaixo ceacuteuterra dianoite pazguerra)

operando por pares de contrastes - estrutura dualista impliacutecita em todos os grupos

humanos ainda que natildeo explicitamente formulada - exigindo a separaccedilatildeo dos

diferentes e natildeo a subordinaccedilatildeo Propotildee como modelo de pensamento o pensamento

no estado selvagem - aquele natildeo cultivado ou domesticado que possibilita o ponto de

vista do sentido19 a teoria do sensiacutevel - confirmando a sua ideacuteia de inviabilidade e

artificialidade dos sistemas classificatoacuterios vigentes na sociedade ocidental que estariam

carregados de sistemas de valores e estruturariam a realidade de modo inconsistente e

artificial como a hieraacuterquica e se reportariam a um esquema e classificaccedilatildeo da

realidade em nuacutemero finito e limitado de classes Adverte que o modo de pensar na

modernidade eacute totalizante e almeja esgotar o real por meio de classes dadas em

nuacutemero finito e nesse sentido as classificaccedilotildees ao filtrar e aprisionar o real acabam

prolongando essa accedilatildeo ateacute alcanccedilar um niacutevel depois do qual natildeo eacute possiacutevel classificar

senatildeo soacute nomear (LEVI-STRAUSS 1976 cap 7)

Com efeito os sistemas classificatoacuterios situam-se em niacutevel de linguagem

poreacutem satildeo coacutedigos criados e definidos com o objetivo de sempre expressar sentido

Resultam da estruturaccedilatildeo da realidade (no tempo e no espaccedilo) elaborada de modo

artificial com objetivos (teoacutericos praacuteticos e teoacuterico-praacuteticos) determinados

17 A partir dessa obra publicada em 1962 com a intenccedilatildeo de fazer uma ldquoontologia da classificaccedilatildeordquo - compreender e esclarecer o processo classificatoacuterio em sociedade - Leacutevi-Strauss propotildee o estudo da Psicologia Infantil como maneira de verificar como as crianccedilas adquirem a habilidade de classificar 18 As classificaccedilotildees hieraacuterquicas de inclusatildeo ou subordinaccedilatildeo que introduzem um sistema de valores na proacutepria classificaccedilatildeo provecircm das classificaccedilotildees filosoacuteficas e das classificaccedilotildees bibliograacuteficas do seacuteculo XIX que estatildeo embasadas em princiacutepios empiacutericos ou de utilidade e satildeo testadas e avaliadas somente por sua praticidade e aplicabilidade 19 Na terminologia de Leacutevi-Strauss conceito eacute ideacuteia substancial matizada por nove categorias qualidade quantidade relaccedilatildeo accedilatildeo paixatildeo lugar tempo posiccedilatildeo e haacutebito (MAZIP 2001 p 336)

28

Piaget20 em suas pesquisas psicoloacutegicas e epistemoloacutegicas a respeito da

existecircncia de uma classificaccedilatildeo das coisas constata que a mente humana natildeo

possui um modelo preacute-fabricado da realidade e observa que o modelo acaba sendo

o senso comum21 a opiniatildeo puacuteblica (opiniotildees compartilhadas com outros seres

humanos) ou seja tanto a classificaccedilatildeo como o mundo real satildeo construccedilotildees

Piaget observa que no curso do desenvolvimento cognitivo nos primeiros

meses de vida a crianccedila estabelece relaccedilotildees cognitivas bem como adquire a

habilidade de classificar por intermeacutedio da matildee Soacute quando a crianccedila se torna capaz

de aplicar uma loacutegica elementar a vaacuterios domiacutenios de conhecimento (entre seis e

nove anos aproximadamente) eacute que ela adquire um pensamento loacutegico-formal Em uma crianccedila de mais de sete anos que ordena espontaneamente cartotildees de formas e de cores diferentes pode-se observar que ela realiza simultaneamente agrave classificaccedilotildees e seriaccedilotildees Ela reuacutene [] os cartotildees de mesma forma e de mesma cor ordenando-os em ordem de grandeza Uma dessas operaccedilotildees implica entatildeo a outra (MONTANGERO MAURICE-NAVILLE 1998 p 199)

A partir dessa idade a crianccedila procede a uma classificaccedilatildeo coordenada em

um sistema conjunto e as relaccedilotildees estabelecidas - que satildeo a base da classificaccedilatildeo -

estaratildeo todas elas impregnadas de valor pois eacute a loacutegica que dota a classificaccedilatildeo

de fatores tais como reuniatildeo ordenaccedilatildeo inclusatildeo exclusatildeo interseccedilatildeo e

complementaridade por exemplo entre outros

Segundo Montangero e Maurice-Naville (1998 p 199) em seu uacuteltimo trabalho

com Garcia22 Piaget propunha-se a elaborar uma loacutegica das significaccedilotildees definindo

ou considerando a princiacutepio a noccedilatildeo de significaccedilatildeo como o instrumento da

compreensatildeo por oposiccedilatildeo agrave extensatildeo de classes e subclasses O autor analisa as

significaccedilotildees em vaacuterios niacuteveis os dos predicados os dos objetos os das accedilotildees e

operaccedilotildees e os dos enunciados As significaccedilotildees dos predicados ou propriedades

de um mesmo objeto satildeo ligadas entre si e satildeo esses predicados conjuntos que

constituem o objeto

20 Jean Piaget (1896-1980) filoacutesofo e psicoacutelogo suiacuteccedilo adepto da filosofia psicoloacutegica e do positivismo loacutegico em sua teoria psicogeneacutetica (a mais conhecida concepccedilatildeo construtivista da formaccedilatildeo da inteligecircncia) explica como o indiviacuteduo desde o seu nascimento constroacutei o conhecimento (MAZIP 2001 p 373) 21 O que acaba acarretando dificuldades principalmente no trato das chamadas Ciecircncias Sociais pois como diz Piaget (1967 p 24) a Sociologia tal como a Psicologia tem ldquoo triste privileacutegio de tratar de mateacuterias de que todos se julgam competentesrdquo 22 PIAGET J GARCIA R Vers une logique des significations Genegraveve Murionde 1987

29

Quanto agrave significaccedilatildeo do objeto Piaget reconhece que ela eacute aquilo que se pode

fazer (rolaacute-lo balanccedilaacute-lo submetecirc-lo a caacutelculos etc) e aquilo que lhe confere os seus

predicados ou qualidades (reconstituiccedilotildees e relaccedilotildees estabelecidas pelo sujeito)

Portanto as significaccedilotildees satildeo constituiacutedas por seu resultado e datildeo lugar a inferecircncias

suscetiacuteveis de verdade ou de falsidade ou seja a uma loacutegica das significaccedilotildees

Segundo Piaget o emprego de toda significaccedilatildeo supotildee a noccedilatildeo de certas

implicaccedilotildees e conduz a essas Diversos elementos podem ser ligados pelas

implicaccedilotildees significantes os predicados por exemplo as propriedades de um mesmo

objeto (pesado e preto) uma propriedade do objeto e um esquema (suspenso e

desencadear um balanccedilo) uma accedilatildeo e o seu resultado ou ainda duas accedilotildees entre si

(colocar dentro e retirar) e enfim duas operaccedilotildees ou dois enunciados

A noccedilatildeo de implicaccedilatildeo significante eacute desenvolvida pela primeira vez em Fazer

e Compreender23 Nesse trabalho Piaget formula a hipoacutetese de que o caraacuteter mais

geral dos estados conscientes desde as tomadas de consciecircncia elementares -

ligadas aos objetivos e resultados das accedilotildees - ateacute as conceituaccedilotildees de niacuteveis

superiores eacute o de exprimir significaccedilotildees e ligaacute-las por um modo de conexatildeo

chamado implicaccedilatildeo significante Esse termo significante natildeo leva a uma distinccedilatildeo

saussuriana entre significante (forma do signo) e significado (conteuacutedo cognitivo) ele

quer dizer que a implicaccedilatildeo em jogo liga duas significaccedilotildees e as enriquece por esse

fato (o fato de ser uma ligaccedilatildeo fundamental) Piaget ao fazer da crianccedila o seu

objeto de investigaccedilatildeo e constatar que o ceacuterebro humano carece de um modelo de

realidade com o qual comparar experiecircncias demonstra (na praacutetica) que

classificaccedilotildees satildeo construtos

Considerando-se as ponderaccedilotildees anteriores pode-se dizer que toda

classificaccedilatildeo seja ela classificaccedilatildeo filosoacutefica seja ela classificaccedilatildeo bibliograacutefica

parte de uma abstraccedilatildeo24 e eacute unicamente uma operaccedilatildeo de simplificaccedilatildeo e

relativizaccedilatildeo Essa relatividade que alguns autores como Foucault chamam de

arbitrariedade25 estaacute impliacutecita em toda operaccedilatildeo mental e em todo o acircmbito da

23 PIAGET J Reacuteussir et comprendre Paris PUF 1974 24 O termo abstraccedilatildeo vem do verbo abstrair que significa separar pelo pensamento A abstraccedilatildeo consiste em separar qualidades quantidades propriedades que existem nas coisas singulares percebidas e organizaacute-las em ideacuteias gerais que natildeo possuem objetos determinados 25 Para efeito deste estudo arbitraacuterio tem sentido de natildeo ser absoluto de ser independente de lei ou regra o que implica uma possibilidade de escolha

30

linguagem pois as classificaccedilotildees satildeo condicionadas por certo ponto de vista e certo

objetivo o que determina o seu caraacuteter de relatividade Os sistemas de classificaccedilatildeo

reproduzem as estruturas soacuteciopoliacuteticas-econocircmicas-culturais do universo do qual

fazem parte e participam da mesma loacutegica herdada da Antiguidade que as

determina26

Cabe concordar com Grolier (1982 p 19) quando afirma que a classificaccedilatildeo eacute

um artefato cultural que depende natildeo somente dos paracircmetros culturais mas

tambeacutem dos poliacuteticos dos econocircmicos e das condiccedilotildees sociais entre outros

A partir desses postulados eacute possiacutevel perceber as limitaccedilotildees inerentes agraves

classificaccedilotildees e considerar a organizaccedilatildeo do conhecimento como um construto tanto

artificial (aquele que se constroacutei se combina na reflexatildeo epistemoloacutegica que tem

acompanhado o desenvolvimento das ciecircncias) como tambeacutem um construto natural

(aquele que se assume naturalmente pertencente ao senso comum ao conhecimento

vulgar)

Dahlberg (1993 p 1) observa que o sentido que se daacute ao novo conceito de

organizaccedilatildeo do conhecimento proveacutem do conceito de classificaccedilatildeo das ciecircncias No

acircmbito da Documentaccedilatildeo o termo classificaccedilatildeo tende a cair em desuso ele foi

substituiacutedo por organizaccedilatildeo do conhecimento jaacute que esse apresenta maior

amplitude temaacutetica Pode-se apreciar essa mudanccedila em 1992 no perioacutedico

International Classification (fundado em 1974) e sua nova denominaccedilatildeo Knowledge

Organization (KO) Nota-se que a essecircncia dos conceitos de organizaccedilatildeo do

conhecimento e classificaccedilatildeo das ciecircncias natildeo foi alterada O que ocorreu foi uma

mudanccedila de nome uma escolha lexical uma ampliaccedilatildeo do escopo mas natildeo uma

alteraccedilatildeo de objetivos Segundo Tennis (2008 p 103) a organizaccedilatildeo do

conhecimento eacute o campo de pesquisa interessado no design estudo e criacutetica dos

processos de organizaccedilatildeo e representaccedilatildeo de documentos que a sociedade

percebe como dignos de preservaccedilatildeo

A relaccedilatildeo do homem com o conhecimento experimentada desde a Segunda

Guerra Mundial (explosatildeo documentaacuteria) e sobretudo depois dos anos 1970

(informatizaccedilatildeo) eacute radicalmente nova Migrou-se da aplicaccedilatildeo de saberes estaacuteveis

que constituiacuteam um segundo plano de atividade para a aprendizagem permanente

26 Cf Foucault na subseccedilatildeo 323

31

contiacutenua de um conhecimento que passou a se projetar em primeiro plano exigindo

maior adequaccedilatildeo agilidade exatidatildeo e facilidade dos sistemas de classificaccedilatildeo

bibliograacutefica e melhores soluccedilotildees pragmaacuteticas para resolver problemas praacuteticos

complexos em termos teoacutericos e conceituais simples Os pesquisadores e

estudiosos da organizaccedilatildeo do conhecimento que privilegiam uma instacircncia

epistecircmica pragmaacutetica tecircm dado explicaccedilotildees opostas agraves daqueles que privilegiam

uma instacircncia racionalista sobre o significado da realidade e como se procede para

conhececirc-la (TENNIS 2008 p 103) Conveacutem fazer referecircncia ao entendimento de

epistemologia que para Tennis (2008 p 103) eacute ldquocomo noacutes conhecemosrdquo Ela eacute uma

ferramenta usada para apresentar uma criacutetica ao senso comum e para saber o que

estaacute presente na classificaccedilatildeo indexaccedilatildeo e outros sistemas de organizaccedilatildeo do

conhecimento Em organizaccedilatildeo do conhecimento a visatildeo de realidade eacute ditada pela

instacircncia epistecircmica (pragmaacutetica positivista empirista racionalista realista etc) que

reflete pressupostos sobre linguagem e expressa a espeacutecie de conhecimento que

pode ser criado como esse conhecimento pode ser reunido e como pode ser

apresentado A instacircncia que ainda prevalece e que pode se chamar de enfoque do

senso comum para linguagem e representaccedilatildeo do conhecimento obscurece a

complexidade e a variedade presente na representaccedilatildeo e ordenaccedilatildeo do

conhecimento No caso da organizaccedilatildeo do conhecimento existe preocupaccedilatildeo com

instacircncias epistecircmicas isto eacute como trabalhar em harmonia com as nossas

concepccedilotildees de realidade e o que elas significam comparando-as com outras

concepccedilotildees e significados

Ateacute este ponto de maneira ainda preliminar trata-se das classificaccedilotildees que

por ora aguardando a discussatildeo posterior satildeo associadas a um conceito muitas

vezes intuitivo de reuniatildeo Como exemplo no que pode ser caracterizado como um

racionalismo pragmaacutetico cita-se Ranganathan ao afirmar que todas as categorias de

assuntos podem ser reduzidas a cinco Ranganathan projeta um esquema (de modo

racionalista) firmemente postulado em categorias vinculando o status ontoloacutegico do

seu PMEST a um status pragmaacutetico (embasado sobre um propoacutesito uacutetil e natildeo sobre

um realismo racional) (TENNIS 2008 p 108) Segundo Rorty27 (1982 1999 apud

TENNIS 2008 p 108) a instacircncia da qual fala Ranganathan natildeo eacute uma instacircncia

27 RORTY R Consequences of pragmatism Minneapolis University of Minesota Press 1982 RORTY R Philosophy and social hope New York Penguin Books 1999

32

estritamente racionalista poreacutem praacutetica se natildeo uma instacircncia epistecircmica neo-

pragmaacutetica aquela que estaacute preocupada com a utilidade (ldquojuiacutezo finalrdquo para

Ranganathan) e menos com a realidade ou a verdade Hjoslashrland (2003) tem se

dedicado a identificar escolas de pensamento epistecircmico em organizaccedilatildeo do

conhecimento No que diz respeito agraves classificaccedilotildees bibliograacuteficas considera como

sendo representantes do Racionalismo as anaacutelises facetadas construiacutedas sobre

divisotildees loacutegicas e lsquoeternas e imutaacuteveis categoriasrsquo como por exemplo

Ranganathan Bliss2 entre outras De acordo com Miksa (1980) a CDD tem

ampliado o uso desse enfoque Como representante do Historicismo os sistemas

embasados no desenvolvimento do conhecimento como por exemplo a CDD que

distribui assuntos por disciplinas Como representante do Pragmatismo os sistemas

embasados na lsquogarantia culturalrsquo ou lsquoclassificaccedilatildeo criacuteticarsquo como por exemplo a

classificaccedilatildeo dos enciclopedistas franceses a dos marxistas entre outros

Nos anos 1980 associada ao termo globalizaccedilatildeo surge a expressatildeo

sociedade da informaccedilatildeo para descrever o estaacutegio de uma sociedade poacutes-industrial

ligada a tecnologias emergentes da microeletrocircnica e da telecomunicaccedilatildeo com o

objetivo de processar reunir e transferir dados

A Unesco em Relatoacuterio de 2005 preocupada em diferenciar os conceitos de

sociedade da informaccedilatildeo e sociedade do conhecimento alerta que a Sociedade da

Informaccedilatildeo eacute aquela limitada com base apenas em avanccedilos tecnoloacutegicos ininterruptos

que satildeo responsaacuteveis por uma massa de dados indistintos para aqueles que natildeo tecircm

as competecircncias necessaacuterias para beneficiarem-se dessas informaccedilotildees Jaacute a

Sociedade do Conhecimento eacute aquela que contribui para o bem-estar e a realizaccedilatildeo

dos indiviacuteduos e das comunidades pois tem dimensotildees culturais eacuteticas e poliacuteticas

Portanto deve-se encorajar o desenvolvimento da Sociedade do Conhecimento

garantindo acesso agrave informaccedilatildeo28 e liberdade de expressatildeo para todos De acordo com

Barreto (2005) ldquoa Sociedade da Informaccedilatildeo eacute uma utopia de realizaccedilatildeo tecnoloacutegica a

do Conhecimento eacute uma esperanccedila de realizaccedilatildeo do saberrdquo Entretanto a utopia se

encontra em ambas as sociedades mas nesta pesquisa privilegia-se a Sociedade do

Conhecimento e a consequente organizaccedilatildeo do conhecimento na ldquoesperanccedila de

realizaccedilatildeo do saberrdquo segundo as palavras de Barreto

28 De acordo com o Relatoacuterio somente 11 da populaccedilatildeo mundial tem acesso a internet e 90 dos conectados vivem em paiacuteses industrializados (UNESCO 2005)

33

De acordo com o pensamento de Pombo (2006) toda classificaccedilatildeo das

ciecircncias apresenta algumas caracteriacutesticas gerais

a) supotildee um agente classificador (filoacutesofo cientista epistemoacutelogo educador

enciclopedista tal como Platatildeo Aristoacuteteles Cassiodoro Huarte Bacon

Hegel Ampegravere Comte Spencer Wundt)

b) supotildee um princiacutepio de classificaccedilatildeo que poderaacute ser o fim a que as

ciecircncias se propotildeem (Aristoacuteteles) a ordem histoacuterica da sua constituiccedilatildeo e

progressiva diferenciaccedilatildeo (Comte) a natureza dos objetos estudados

(Ampegravere) as faculdades humanas mobilizadas (Huarte Bacon Diderot e

drsquoAlembert)

c) persegue um objetivo teoacuterico-praacutetico que acaba por determinar a sua

estrutura indo do puro interesse especulativo (Platatildeo Aristoacuteteles) agrave

determinaccedilatildeo de um programa de estudos (Cassiodoro) agrave orientaccedilatildeo

normativa da atividade cientiacutefica (Huarte Bacon Comte) ateacute mesmo agrave

organizaccedilatildeo de uma enciclopeacutedia (Diderot e drsquoAlembert) ou agrave organizaccedilatildeo

de uma biblioteca (Leibniz)

d) eacute exercida sobre um conjunto finito de elementos a totalidade das ciecircncias

constituiacutedas numa determinada eacutepoca ou nela jaacute previsiacuteveis (Comte

Spencer Wundt) No entanto algumas preveem mecanismos de abertura

a ciecircncias ainda natildeo constituiacutedas (Ampegravere)

e) eacute aplicada sobre um domiacutenio da realidade (estrutura preacute-existente) e

constroacutei-se no contexto das classificaccedilotildees anteriores do mesmo domiacutenio

ou seja integra-se na histoacuteria das classificaccedilotildees das ciecircncias ao longo da

qual os domiacutenios e as divisotildees podem ser modificados ou completados e

novos criteacuterios de classificaccedilatildeo podem ser acrescentados

f) conta com um esquema concreto que permite a execuccedilatildeo das operaccedilotildees

necessaacuterias agrave classificaccedilatildeo tanto em termos da constituiccedilatildeo de uma

nomenclatura adequada aos diferentes arranjos disciplinares propostos

(Ampegravere) como em termos da produccedilatildeo de sistemas diagramaacuteticos de

articulaccedilatildeo das ciecircncias sendo que esses sistemas podem apresentar-se

como uma estrutura hieraacuterquica uma aacutervore um quadro sistemaacutetico uma

figura geomeacutetrica entre outros

Com relaccedilatildeo aos tipos fundamentais de classificaccedilatildeo Pombo (2006) distingue

a) as que se baseiam em uma lei elementar da loacutegica - a dicotomia -

34

quer dizer na presenccedila ou ausecircncia de uma determinada

propriedade que permite distinguir conjuntos de objetos de seres ou

de ideacuteias que tecircm uma caracteriacutestica comum (utilizam um meacutetodo

classificatoacuterio em que cada uma das divisotildees natildeo conteacutem mais de

dois termos - distinguindo entre o elemento positivo e o negativo - e

cuja criaccedilatildeo se deve a Aristoacuteteles)

b) as que se baseiam em uma propriedade ou qualidade designada

como diferenccedila especiacutefica ou caracteriacutestica de divisatildeo (utilizam um

meacutetodo classificatoacuterio em que cada uma das divisotildees pode gerar

subdivisotildees sucessivas que se movem do geral para o especiacutefico

desconsiderando o princiacutepio de oposiccedilatildeo que se pode chamar de

conjuntos subordinados29 tambeacutem cada divisatildeo resultante da

aplicaccedilatildeo de uma soacute caracteriacutestica pode conter inuacutemeros conjuntos

que se pode chamar de conjuntos coordenados30)

Um exemplar das classificaccedilotildees que se baseiam em uma lei elementar da

loacutegica a dicotomia - uma primeira representaccedilatildeo arborescente31 da ideacuteia de

classificaccedilatildeo - foi apresentada pela primeira vez por Porfiacuterio32 que utilizou o

princiacutepio de oposiccedilatildeo de Platatildeo e de Aristoacuteteles ao escrever a sua ceacutelebre

introduccedilatildeo (Eisagoge) de caraacuteter pedagoacutegico agrave loacutegica de Aristoacuteteles A obra

Introductio in Praedicamenta (Introduccedilatildeo agraves Categorias) - nome da traduccedilatildeo latina

feita por Boeacutecio (475480-524) o seu principal tradutor e comentador - sistematiza a

noccedilatildeo de espeacutecie dentro da classificaccedilatildeo aristoteacutelica de gecircnero Descreve cinco

princiacutepios filosoacuteficos interligados por uma loacutegica de sucessiva subordinaccedilatildeo numa

verdadeira aacutervore taxonocircmica (os princiacutepios orientam as subdivisotildees das

29 Exemplo (PIEDADE 1983 p 27) Ciecircncias Puras Matemaacutetica Aritmeacutetica Nuacutemeros Decimais 30 Exemplo (PIEDADE 1983 p 27) Ciecircncias Puras Matemaacutetica Fiacutesica Quiacutemica Botacircnica Zoologia 31 Ainda que como observa Umberto Eco (1983 p 63 apud POMBO 2006) a Eisagoge de Porfiacuterio natildeo recorra a qualquer representaccedilatildeo icocircnica ela sugere claramente a imagem de aacutervore (ECO U LrsquoAntiporfirio In VATTIMO G ROVATTI P (Ed) Il pensiero debole Milano Feltrinelli 1983 p 52-80) 32 Porfiacuterio (234-310) filoacutesofo neoplatocircnico o disciacutepulo mais importante do filoacutesofo romano Plotino (204-270) foi quem consolidou seis seacuteculos depois de Aristoacuteteles (384-322 aC) os princiacutepios loacutegicos da classificaccedilatildeo de Aristoacuteteles e desempenhou um papel preponderante na evoluccedilatildeo do pensamento no fim da Antiguidade e durante toda Idade Meacutedia Entre as obras mais importantes que chegaram aos nossos dias estatildeo as Eneacuteadas (301) e Eisagoge (MAZIP 2001 p 88-89)

35

classificaccedilotildees filosoacuteficas cientiacuteficas e parcialmente as classificaccedilotildees bibliograacuteficas)

denominados predicaacuteveis ou categoremas 1 Geacutenero (grego geacutenos latim genus) 2

Espeacutecie (grego eicircdos latim species) 3 Diferenccedila (grego diaphoraacute latim differentia)

4 Propriedade ou Proacuteprio (grego iacutedion latim proprium) e 5 Acidente (grego

symbebekoacutes latim accidens)

Piedade (1983 p 23-24) esclarece que Gecircnero eacute um conjunto de coisas ou ideacuteias que podem ser divididas em dois ou mais grupos ou espeacutecies Espeacutecies satildeo os vaacuterios grupos resultantes da divisatildeo de um gecircnero por determinada caracteriacutestica [] Diferenccedila eacute a qualidade que distingue as espeacutecies qualidade ou atributo que somado aos proacuteprios do gecircnero distingue as espeacutecies [] Propriedade ou proacuteprio eacute a qualidade comum a todos os membros de um gecircnero poreacutem que natildeo lhes eacute exclusiva [] Acidente eacute uma qualidade que pode ou natildeo se manifestar nos vaacuterios membros de um mesmo gecircnero e aparece acidentalmente

Complementando pode-se dizer o seguinte

a) gecircnero eacute todo grupo ou conjunto inicial de objetos que se dividem em

subgrupos subconjuntos ou espeacutecies o grupo mais amplo a que o

sujeito pode pertencer o conjunto de objetos que possuem um

determinado nuacutemero de caracteriacutesticas em comum (o homem pertence

ao gecircnero animal e uma rosa ao gecircnero vegetal) e que satildeo divisiacuteveis

em dois ou mais grupos ou espeacutecies de acordo com a presenccedila ou

ausecircncia de certas caracteriacutesticas

b) espeacutecie acrescentada por Porfiacuterio aos predicaacuteveis de Aristoacuteteles satildeo

grupos ou conjuntos derivados ou subgrupos subconjuntos resultantes

da divisatildeo de um gecircnero por determinada caracteriacutestica e constitui a

siacutentese do gecircnero e da diferenccedila (o homem eacute um animal racional)

possui uma diferenccedila que a distingue de seu gecircnero proacuteximo ou seja o

irracional

c) diferenccedila eacute a caracteriacutestica que atribuiacuteda ao gecircnero permite situar o

sujeito relativamente aos subgrupos ou subconjuntos em que se divide

o gecircnero eacute a qualidade que outros natildeo possuem (o homem eacute um

animal racional pertence portanto ao gecircnero animal mas o fato de

pensar o distingue especificamente dos demais animais)

36

d) proacuteprio ou propriedade e acidente satildeo atributos que natildeo fazem parte da

essecircncia do sujeito pois natildeo dizem o que ele eacute todavia o proacuteprio

guarda em relaccedilatildeo agravequela essecircncia uma dependecircncia necessaacuteria eacute a

qualidade comum a todos os membros de um gecircnero ainda que natildeo

exclusiva (ldquoo riso eacute proacuteprio do homemrdquo - o riso eacute inerente ao conceito de

homem Todos os homens riem mas natildeo soacute os homens alguns animais

tambeacutem ldquoriemrdquo) jaacute o acidente pode ou natildeo pertencer ao sujeito pode ou

natildeo se manifestar nos vaacuterios membros de um mesmo gecircnero ligando-

se a eles de modo acidental contingente natildeo proacuteprio e podendo ser

afirmado de outros tipos de sujeitos (ldquohomem de estatura altardquo - a altura

pode ou natildeo estar presente no conceito de homem Todos os homens

possuem estatura mas soacute alguns satildeo altos)

O interessante da classificaccedilatildeo dicotocircmica eacute que uma ideacuteia pode funcionar

como gecircnero ou como espeacutecie e ainda como gecircnero e espeacutecie dependendo do seu

lugar na hierarquia da divisatildeo Daiacute as denominaccedilotildees summum genus (gecircnero

supremo) para o primeiro gecircnero e infima species (espeacutecie inferior) para a uacuteltima

subdivisatildeo

A partir da Eisagoge e em ligaccedilatildeo estrita com a visatildeo de Porfiacuterio dos

conceitos de Aristoacuteteles foi produzida na Idade Meacutedia europeacuteia uma construccedilatildeo

metafoacuterica conhecida por aacutervore de Porfiacuterio (arbol porphyriana) que ilustra a sua

classificaccedilatildeo loacutegica da substacircncia Nela os conceitos de Porfiacuterio satildeo apresentados

como subordinando-se logicamente partindo do geral ao particular da maior

extensatildeo agrave maior compreensatildeo O texto teve uma profunda influecircncia na Filosofia

medieval europeacuteia transformou-se num texto obrigatoacuterio nas escolas e

universidades medievais como manual de introduccedilatildeo ao estudo da loacutegica

aristoteacutelica e inspirou diversos filoacutesofos medievais como Pedro Abelardo Tomaacutes de

Aquino e Guilherme de Ockham e diversas obras com o nome Isagoge chegando

mesmo a designar genericamente a introduccedilatildeo ao estudo da filosofia aristoteacutelica A

arbol porphyriana deu iniacutecio ao nominalismo que animou a Filosofia Medieval por

dez seacuteculos (de 476 a 1492) originando diversas representaccedilotildees arborescentes33 e

eacute uma espeacutecie de antecessora das classificaccedilotildees dos seres - das modernas

classificaccedilotildees taxonocircmicas No que concerne agrave classificaccedilatildeo das ciecircncias - saberes

33 Toda a classificaccedilatildeo arborescente eacute redutiacutevel agrave dicotomia

37

a aacutervore de Porfiacuterio daacute origem a classificaccedilotildees fortemente dicotocircmicas (Ampegravere)

Grosso modo ela pode ser assim esquematizada

Substacircncia - Pode ser corpoacuterea ou incorpoacuterea

Corpo (substacircncia corpoacuterea) - Pode ser animado ou inanimado

Vivente (corpo animado) - Pode ser sensiacutevel ou natildeo sensiacutevel

Animal (vivente sensiacutevel) - Pode ser racional ou irracional

Racional (animal racional) - Ser humano o homem e suas

variedades Soacutecrates Platatildeo Aristoacuteteles entre outros

A aacutervore de Porfiacuterio apresenta de modo didaacutetico a relaccedilatildeo entre gecircnero e

espeacutecie no entanto eacute um modelo insuficiente quanto aos princiacutepios de construccedilatildeo

da classificaccedilatildeo porque embora ele demonstre o mecanismo da passagem do

gecircnero agrave espeacutecie natildeo mostra o processo de divisatildeo da espeacutecie ou seja ignora as

relaccedilotildees entre as espeacutecies34 e natildeo expliciacuteta o criteacuterio utilizado na divisatildeo - o que

acabou gerando nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas sistemas rigorosamente

enumerativos e nominalistas

A classificaccedilatildeo parte de um gecircnero substacircncia por exemplo e verticaliza

sucessivamente de acordo com a presenccedila ou natildeo das caracteriacutesticas tomadas

como base de divisatildeo corpo vida razatildeo homem ateacute chegar a um conceito

individual como Platatildeo

A arbor porphyriana era utilizada como ferramenta conceitual na discussatildeo de

problemas filosoacuteficos para os quais era uacutetil o recurso a uma estruturaccedilatildeo

hierarquizada de conceitos tais como na discussatildeo da hierarquia de conceitos em

seus aspectos epistemoloacutegicos e ontoloacutegicos

Quanto agraves classificaccedilotildees com base na diferenccedila especiacutefica ou caracteriacutestica de

divisatildeo a dificuldade eacute proporcional ao nuacutemero de possibilidades de classificar que

eacute condizente com o nuacutemero de caracteriacutesticas possiacuteveis de serem empregadas

como base da divisatildeo ou seja das inuacutemeras propriedades que podem

desempenhar a funccedilatildeo de diferenccedila especiacutefica A escolha de uma ou outra

34 Os antigos consideravam a divisatildeo dicotocircmica - que nada mais eacute que um caso particular de divisatildeo classificatoacuteria - como a uacutenica divisatildeo pura do ponto de vista loacutegico e com certeza foi sobre esse tipo de divisatildeo que estabeleceram as suas teorias Simplificaram assim o seu trabalho e puderam negligenciar o problema das relaccedilotildees entre os conjuntos derivados ou espeacutecies quer dizer entre aqueles subgrupos subconjuntos ou espeacutecies que derivam de um mesmo gecircnero inicial e natildeo fizeram avanccedilar o conhecimento nessa aacuterea que permaneceu ateacute o seacuteculo XVIII como no tempo de Aristoacuteteles

38

propriedade resultaraacute em diferentes ordenaccedilotildees da realidade e consequentemente

na elaboraccedilatildeo de classificaccedilotildees sob pontos de vista diversos (PIEDADE 1983

POMBO 2006)

Uma vez que a classificaccedilatildeo se faz a partir da reuniatildeo das semelhanccedilas

existentes entre as realidades (objetos ou ideacuteias) a classificar e que essa reuniatildeo

pode ser feita sob diferentes pontos de vista coloca-se a questatildeo da naturalidade ou

artificialidade (arbitrariedade) da classificaccedilatildeo Nas classificaccedilotildees naturais as

caracteriacutesticas ou propriedades que permitem a aproximaccedilatildeo satildeo inerentes

inseparaacuteveis do objeto ou ideacuteia a classificar (Animais Racionais em Homens e

Mulheres - caracteriacutestica o Sexo) enquanto nas classificaccedilotildees artificiais as

propriedades ou caracteriacutesticas seriam ocasionais acidentais e variaacuteveis (Homens

em Altos e Baixos - caracteriacutestica a Altura)

Segundo Piedade (1983 p 18) a classificaccedilatildeo artificial eacute uma classificaccedilatildeo

menos perene por se fundamentar em caracteriacutesticas superficiais que natildeo

representam relaccedilotildees verdadeiras enquanto a classificaccedilatildeo natural seraacute tatildeo mais

natural quanto maior for o nuacutemero das qualidades imutaacuteveis comuns aos membros

de suas classes

Importante ressaltar contudo que o mundo natural em razatildeo da sua

diversidade e permeabilidade natildeo cabe em estruturas classificatoacuterias

Segundo Pombo (2006 p 8) ldquono mundo da vida haacute uma plasticidade uma

diversidade um tecido excessivo de imperceptiacuteveis lsquonuancesrsquo que eacute irredutiacutevel ao frio

procedimento da divisatildeo em classesrdquo

Pode-se mesmo dizer que nenhuma classificaccedilatildeo natural eacute possiacutevel que

todas implicam algum tipo de artifiacutecio enredado em sua proacutepria base conceitual o

que significa estabelecer classes e suas respectivas fronteiras sem considerar as

nuances que ligam os saberes e os seres entre si

Essa questatildeo da naturalidade ou artificialidade da classificaccedilatildeo foi decisiva na

histoacuteria da classificaccedilatildeo em Histoacuteria Natural no seacuteculo XVIII ligada principalmente a

Lineu (Systema Naturae 1736 e Genera Plantarum 1737)35 e Buffon (Histoire

35 Obras em que Lineu defendia a constituiccedilatildeo de um sistema natural de classificaccedilatildeo das plantas fundado nas suas convicccedilotildees da existecircncia de formas imutaacuteveisestaacuteveis na natureza e nas ideacuteias (divisotildees loacutegicas) de classe gecircnero e espeacutecie para identificar caracteres essenciais

39

Naturelle 1749)36 e chegou agraves classificaccedilotildees pragmaacuteticas bibliograacuteficas no seacuteculo

XIX A sistemaacutetica naturalista mobilizou toda a histoacuteria da classificaccedilatildeo das ciecircncias

no seacuteculo XIX e filoacutesofos como Diderot37 Comte Ampegravere Peirce que

reconheceram o seu caraacuteter exemplar Tanto as classificaccedilotildees dos saberes quanto

as classificaccedilotildees dos seres satildeo classificaccedilotildees reais isto eacute apresentam em algum

grau um criteacuterio de naturalidade e enquanto tal natildeo escapam agraves irregularidades de

que soacute as classificaccedilotildees ideais estariam isentas segundo Pombo (2006 p 11)

Relativamente agraves classificaccedilotildees embasadas na caracteriacutestica ou princiacutepio de

divisatildeo deve-se empregar consistente e exaustivamente uma caracteriacutestica de cada

vez para subdividir todos os membros de uma classe ou categoria (saberes ou seres)

antes de aplicar outro princiacutepio de divisatildeo sejam elas classificaccedilotildees essencialistas

sejam morfoloacutegicas sejam geneacuteticas ou sejam pragmaacuteticas como segue

a) classificaccedilotildees essencialistas - tomam o indiviacuteduo como base do espaccedilo

classificatoacuterio (saberes procedimentos combinados de maneira a reunir os

caracteres comuns agraves diferentes ciecircncias por exemplo o fim a que se

propotildeem as ciecircncias em Aristoacuteteles seres determinam os caracteres

comuns aos elementos de uma mesma espeacutecie)

b) classificaccedilotildees estruturais ou morfoloacutegicas - captam a estrutura o plano

arquitetonico das relaccedilotildees (saberes procedimentos combinados de

modo estrutural tomando por base articulaccedilotildees ou determinaccedilotildees internas

agraves proacuteprias ciecircncias por exemplo as faculdades cognitivas que nelas satildeo

mobilizadas Bacon ou Diderot seres elegem como princiacutepio a existecircncia

de relaccedilotildees constantes entre as propriedades comuns aos elementos de

uma mesma espeacutecie e se aplicam mais diretamente agrave Mineralogia e

Cristalografia)

36 Buffon considerava impossiacutevel a constituiccedilatildeo de um sistema geral natildeo soacute para a Histoacuteria Natural como tambeacutem para qualquer dos seus ramos pela impossibilidade do arranjo tudo compreender pela ordenaccedilatildeo necessariamente arbitraacuteria ou artificial dentro das classes gecircneros e espeacutecies pelo modo como a natureza passa de uma espeacutecie a outra por nuances imperceptiacuteveis pelo grande nuacutemero de espeacutecies intermediaacuterias e meio-objetos que natildeo se sabe onde colocar e que comprometem o projeto de um sistema geral Para Buffon a classificaccedilatildeo mais natural eacute aquela em que os objetos da Histoacuteria Natural satildeo julgados pelas relaccedilotildees que o homem estabelece com eles - uacutenica forma de unificar a multiplicidade de seres (POMBO 2006 p 9) 37 Segundo Olga Pombo (2006 p 9) no periacuteodo em que Diderot esteve preso em Vincennes dedicou-se ao estudo da Histoire Naturelle de seu amigo Buffon e dali extraiu suas ideacuteias 1 Todas as classificaccedilotildees transportam consigo alguma arbitrariedade 2 O homem eacute o princiacutepio organizador de toda classificaccedilatildeo dos saberes e dos seres

40

c) classificaccedilotildees evolutivas ou geneacuteticas - adotam um ponto de vista

evolutivo considerando realizaccedilotildees que se sucedem no tempo (saberes

procedimentos combinados de maneira geneacutetica tomando as ciecircncias na

sua progressiva diferenciaccedilatildeo Comte seres aquelas que se constroem

pela escolha de uma dimensatildeo dominante na natureza evolutiva

relativamente agrave qual eacute determinado o lugar dos objetos classificados por

exemplo na teoria da evoluccedilatildeo para a Biologia ou no grau de

desenvolvimento das nebulosas para a Astronomia)

d) classificaccedilotildees pragmaacuteticas - correspondem a uma soluccedilatildeo extriacutenseca isto

eacute agrave opccedilatildeo pelo criteacuterio do uso (saberes procedimentos combinados

tendo em vista a constituiccedilatildeo de um programa de estudos Cassiodoro a

compilaccedilatildeo de uma enciclopeacutedia Diderot a organizaccedilatildeo de uma

biblioteca Leibniz) (POMBO 2006 p 9-11)

Nas classificaccedilotildees pragmaacuteticas a escolha das caracteriacutesticas que serviratildeo de

base para a divisatildeo e a escolha da ordem em que seratildeo aplicadas depende do

objetivo do uso que se pretende dar agrave classificaccedilatildeo

Eacute no contexto da classificaccedilatildeo bibliograacutefica que a classificaccedilatildeo pragmaacutetica

ocupa o seu lugar privilegiado A diferenccedila entre as classificaccedilotildees das ciecircncias (cuja

anaacutelise estaacute detalhada na seccedilatildeo 3) e as classificaccedilotildees bibliograacuteficas (cuja anaacutelise

estaacute detalhada na seccedilatildeo 4) reside no caraacuteter especulativo das primeiras (sistemas

teoacutericos gerais sem a pretenccedilatildeo de detalhamento) em oposiccedilatildeo ao caraacuteter funcional

das segundas (esquemas praacuteticos minuciosamente elaborados)

41

3 DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS

Quando deparares com uma contradiccedilatildeo faze uma distinccedilatildeo Adaacutegio Escolaacutetico

Nesta seccedilatildeo satildeo tratadas as classificaccedilotildees filosoacuteficas dos saberes (classes)

assim como as classificaccedilotildees filosoacuteficas dos seres (categorias) desde a Antiguidade

Grega ateacute a Idade Contemporacircnea Para facilitar o entendimento apresenta tambeacutem

quadros-siacutentese desenvolvidos a partir da sistematizaccedilatildeo do estudo

31 CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES CLASSES

Tanto o termo quanto o processo de classificaccedilatildeo comeccedilaram com os gregos

que a usaram com o propoacutesito de tentar organizar os saberes para formar o quadro de

conhecimentos da eacutepoca e tentar conhecer os seres para formar definiccedilotildees conceitos

dos objetos das ciecircncias

Para Platatildeo conhecer significava tanto organizar saberes em sua classe

correta quanto colocar coisas e seres em sua categoria certa tudo de acordo com a

sua permanecircncia ou regularidade maneira ideal e essecircncia Aristoacuteteles em sua

loacutegica mostrava que conhecer consistia em formar e aplicar conceitos formular juiacutezos

e relacionaacute-los entre si lidar com conceitos universais e tambeacutem aplicar esses

conceitos a cada coisa individual (saber consistia em ser detentor de muitos

conceitos) Aristoacuteteles analisou em detalhes os processos pelos quais se podem

identificar coisas e ocorrecircncias comeccedilando com um grupo de objetos eliminando

entatildeo todos os membros do grupo exceto aquele uacutenico designado para ser usado

por apresentar propriedades especiacuteficas natildeo contidas nos outros Assim comeccedilando

com o gecircnero podia-se chegar ao indiviacuteduo ou espeacutecie pela enumeraccedilatildeo de

propriedades que especificavam diferenccedilas entre uma espeacutecie e outra Esse modo de

divisatildeo eacute ainda utilizado nas chamadas ciecircncias classificatoacuterias dos seres

especialmente na Zoologia e Botacircnica nas quais de modo geral podem-se agrupar

animais e plantas individualmente ao comeccedilar com uma categoria tal como

42

vertebrados e pela divisatildeo sobre uma base sucessiva de caracteriacutesticas chegar a

uma seacuterie de subcategorias como mamiacuteferos - primatas - antropoacuteides - chimpanzeacutes

Esse tipo de processo classificatoacuterio provou ser de grande valor para o

desenvolvimento dessas ciecircncias e a descriccedilatildeo de espeacutecies individuais eacute ainda eacute

utilizada ressaltando os traccedilos que diferenciam um objeto de outro A descriccedilatildeo de

objetos individuais pode beneficiar-se desse processo a partir do estudo das suas

similaridades e diferenccedilas com o fim de chegar a uma concepccedilatildeo segundo a qual

esses objetos se parecem e aleacutem disso propiciar um conhecimento mais consistente

e mais aprofundado

Sistemas de classificaccedilatildeo filosoacuteficos comeccedilaram remotamente como campos do

conhecimento desenvolvidos e organizados principalmente de acordo com as diferentes

habilidades naturais do ser humano o que significa que segmentavam a realidade em

disciplinas fundamentais Eram disciplinas fundamentais porque se referiam agraves maiores

agregaccedilotildees da ciecircncia e portanto correspondiam agraves classes Uma tal classificaccedilatildeo

tinha como finalidade dar uma espeacutecie de ldquoquadro ordenado de todo o realrdquo

Um mesmo conjunto de objetos ou ideacuteias pode ser classificado de diferentes

maneiras para diferentes propoacutesitos praacutetico intelectual entretenimento e espiritual Os

filoacutesofos usam vaacuterios princiacutepios para dividir e hierarquizar o conhecimento (em classes)

311 Antiguidade Grega e Idade Meacutedia38

O mundo antigo era essencialmente miacutetico Os filoacutesofos gregos foram os

primeiros no mundo ocidental que tentaram descobrir a origem do Universo com o

auxiacutelio da razatildeo ainda que aceitando os deuses e a existecircncia de mitos

Trezentos anos antes do nascimento de Aristoacuteteles (384 aC) a origem do

mundo e a essecircncia da realidade jaacute suscitavam uma seacuterie de teorias entre profundos

pensadores e conhecedores de Fiacutesica Matemaacutetica Astronomia e Ciecircncias da 38 Considera-se neste estudo como Antiguidade Grega o periacuteodo que vai do seacuteculo VI aC quando a Greacutecia atinge uma relativa estabilidade poliacutetica com a democracia de Cliacutestenes e a organizaccedilatildeo da polis ateacute o seacuteculo V quando se inicia a Idade Meacutedia Esse periacuteodo histoacuterico compreende o tempo decorrido entre os anos 476 aC e 1492 quer dizer desde o fim do Impeacuterio Romano do Ocidente ateacute a descoberta da Ameacuterica (MAZIP 2001 p 98-100)

43

Natureza em geral estabelecidos com escolas e disciacutepulos Tales de Mileto

Anaximandro Anaxiacutemenes Pitaacutegoras Heraacuteclito Parmecircnides Zenatildeo Empeacutedocles

Leucipo Demoacutecrito e Anaxaacutegoras (MAZIP 2001 p23-35)

A Filosofia florescera na polis grega principalmente na polis Atenas porque

alguns poucos cidadatildeos protegidos pelas instituiccedilotildees e livres dos cuidados com a

sobrevivecircncia e a guerra podiam dedicar-se a refletir debater e ensinar E seraacute a

partir da concepccedilatildeo e da sistematizaccedilatildeo do saber na Greacutecia claacutessica que seratildeo

construiacutedos os sistemas de classificaccedilatildeo das ciecircncias ocidentais

Quando Platatildeo39 na Repuacuteblica divide o conhecimento em Fiacutesica (que

representa as percepccedilotildees sensiacuteveis) Eacutetica (que representa a vontade o desejo) e

Loacutegica (que representa a razatildeo) segundo Sayers (1955a p 69-92) ele estaria se

imortalizando como o primeiro filoacutesofo a classificar as ciecircncias

A seguir vem Aristoacuteteles40 que propotildee a divisatildeo (tritocircnica) do conhecimento

39 Ariacutestocles Platatildeo (427-347 aC) filoacutesofo grego fundador da Academia (387 aC) permaneceu em sua direccedilatildeo e laacute ensinou ateacute sua morte aos oitenta anos Movido por uma propensatildeo natural agrave Matemaacutetica - advertia sempre os possiacuteveis alunos com a inscriccedilatildeo de que ali natildeo deveria entrar quem natildeo soubesse Geometria - criou o platonismo doutrina caracterizada principalmente pela teoria das ideacuteias e dos nuacutemeros (arqueacutetipos universais modelos incorpoacutereos e eternos - as ideacuteias - que subsistiriam independentemente de seus reflexos passageiros e apenas aproximados suas coacutepias imperfeitas e transitoacuterias - os objetos particulares e concretos a realidade concreta) e pela preocupaccedilatildeo com os temas eacuteticos com base no conhecimento das verdades essenciais que determinam a realidade visando toda meditaccedilatildeo filosoacutefica ao conhecimento do Bem conhecimento esse que supunha suficiente para a implantaccedilatildeo da justiccedila entre os estados e entre os homens O seu pensamento foi absorvido pelo cristianismo primitivo dominando a filosofia cristatilde antiga e medieval e junto com seu mestre e amigo Soacutecrates e o disciacutepulo Aristoacuteteles lanccedilou os alicerces sobre os quais se assentariam as bases de toda a filosofia ocidental Em sua famosa obra Republica (livros I a X data provaacutevel entre 387 e 365 aC) estabelece o que seria a educaccedilatildeo ideal Muacutesica e Ginaacutestica para formar indiviacuteduos fortes e capazes de defender a paacutetria Matemaacutetica e Filosofia para formar indiviacuteduos dignos de dirigir o Estado (ARISTOacuteTELES 1978 p VII-VIII SANTOS 1964 p 1367-1375) 40 Aristoacuteteles (384-322 aC) essencialmente filoacutesofo das ciecircncias grego de Estagira (donde ser dito o Estagirita) autor do mais antigo conjunto de trabalhos cientiacuteficos que resistiu fisicamente ateacute nosso tempo Pelo rigor de sua metodologia pela amplitude dos campos em que atuou e por seu empenho em considerar todas as manifestaccedilotildees do conhecimento humano como ramos de um mesmo tronco foi o primeiro pesquisador cientiacutefico no sentido atual do termo Inicialmente praticou Medicina em Estagira antes de ir para Atenas (367 aC) onde passou a estudar Filosofia durante vinte anos como disciacutepulo de Platatildeo ateacute 343 aC quando foi chamado agrave corte de Filipe da Macedocircnia para encarregar-se da educaccedilatildeo do seu filho Alexandre Voltou a Atenas (337 aC) e laacute proacuteximo ao templo de Apolo Liceano abriu o Liceu (334 aC) dominado pelo espiacuterito de observaccedilatildeo e a tendecircncia classificatoacuteria tiacutepicas da investigaccedilatildeo naturalista Passou a dedicar-se ao ensino e agrave elaboraccedilatildeo da maior parte de suas obras que resultaram de notas para cursos e conferecircncias Aristoacuteteles escreveu obras que podem-se classificar em especulativas Fiacutesica Tratado das Plantas Histoacuteria dos Animais Tratado da Alma Parva Naturalia e Metafiacutesica praacuteticas Economia Eacutetica e Poliacutetica e poieacuteticas Poieacutetica Retoacuterica Loacutegica ou Organon (ARISTOacuteTELES 1978 p v-xxiv MAZIP 2001 p 50-66)

44

(segundo o objeto acerca do qual os saberes versam) em trecircs filosofias ou ciecircncias

teoacutericas (especulativas ou contemplativas) praacuteticas (normativas ou da praacutexis - accedilatildeo

humana) e poieacuteticas ou produtivas (artes e teacutecnicas ou relativas agrave produccedilatildeo

fabricaccedilatildeo e agraves teacutecnicas) em funccedilatildeo ao que dizem os verbos gregos de uso erudito

theorein (= especular) praacutettein (= praticar) poiein (= criar) e technaacuteo (= fabricar) e

portanto de acordo com as trecircs distintas operaccedilotildees agraves quais se dedicam as ciecircncias

e que satildeo exercidas pelos homens - pensar agir e produzir Dessa maneira

conseguiu abranger todo conhecimento da eacutepoca sendo a grande siacutentese do

conhecimento do povo grego As classes resultantes podem ainda adequar-se agrave

maioria dos assuntos hoje reconhecidos (quadro 1)

TEOacuteRICAS Pensar

PRAacuteTICAS Agir

POIEacuteTICAS Produzir

Teologia (Filosofia Primeira

Metafiacutesica)

Fiacutesica (Filosofia Natural

Fiacutesica Quiacutemica Botacircnica)

Matemaacutetica

Eacutetica (Moral)

Economia

Poliacutetica

Dialeacutetica

Retoacuterica

Poeacutetica

Medicina

Ginaacutestica

Gramaacutetica

Muacutesica

QUADRO 1 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE ARISTOacuteTELES FONTE a autora

Em primeiro lugar as ciecircncias teoacutericas estudam o objeto em tudo o que ele eacute

sob o ponto de vista constitutivo (formal) Limitadas agrave tarefa de conhecer pensam e

se encarregam da verdade das coisas (Filosofia Primeira) da natureza (Filosofia

Natural) do movimento (Fiacutesica) e da quantidade (Matemaacuteticas) As ciecircncias praacuteticas

estabelecem regras de conduta e tecircm por objeto a accedilatildeo enquanto as poieacuteticas se

ocupando da estrutura que os objetos deveratildeo assumir para poderem operar

adequadamente apontam os meios para produzir as obras Para Aristoacuteteles das

trecircs filosofias teoacutericas a primeira era a Teologia por lidar com os seres mais dignos

Precedia a Fiacutesica e a Matemaacutetica sendo mais universal do que elas Nessa

classificaccedilatildeo natildeo se encontra a Loacutegica porque para Aristoacuteteles ela natildeo seria parte

integrante da Ciecircncia e da Filosofia mas apenas um instrumento (organon) que

essas utilizam em sua construccedilatildeo

45

A classificaccedilatildeo tritocircnica de Aristoacuteteles (ciecircncias Teoacutericas Praacuteticas e

Produtivas) juntamente com a classificaccedilatildeo tritocircnica de Platatildeo (Fiacutesica Eacutetica e

Loacutegica) que tanto os epicuristas quanto os estoacuteicos se encarregaram de disceminar

influenciaratildeo a classificaccedilatildeo dos conhecimentos que se formularaacute na Idade Meacutedia

No fim da Idade Antiga e iniacutecio da Idade Meacutedia as filosofias da Greacutecia decadente

preparam no contexto poliacutetico do Impeacuterio Romano o advento do cristianismo A

dominaccedilatildeo das polis gregas pelo Impeacuterio Romano e o fim desse em razatildeo das grandes

migraccedilotildees de tribos nocircmades e guerreiras provenientes do norte da Europa (que se

apoderam paulatinamente de todo o Impeacuterio Romano) acarretam o recolhimento em si

mesmo (cada indiviacuteduo a partir dessa eacutepoca indefeso e isolado deve preocupar-se em

continuar vivo e conseguir o seu sustento) e uma fuga e negaccedilatildeo do mundo terreno

para uma valorizaccedilatildeo extra-terrena insuflada pela Igreja Catoacutelica que o cristianismo

levaraacute agraves uacuteltimas consequecircncias com a ldquoinvenccedilatildeordquo de outro mundo ao qual se teria

acesso depois da morte O ecircxito histoacuterico do cristianismo e a alianccedila da Igreja Catoacutelica

com as instituiccedilotildees feudais determinam a submissatildeo da razatildeo agrave feacute da Filosofia agrave

Teologia A igreja amparada pela nobreza ergue conventos e escolas redutos de

oraccedilatildeo estudos e seguranccedila onde desenvolve-se uma Filosofia de consolaccedilatildeo e

transcendecircncia (MAZIP 2001 p 99 ENCICLOPEacuteDIA MIRADOR INTERNACIONAL

1983 v 9 p 4604) Ao longo da Idade Meacutedia sob a oacutetica do cristianismo (catolicismo)

elaborarar-se-aacute nova concepccedilatildeo e classificaccedilatildeo dos conhecimentos que afetaraacute em

larga medida a organizaccedilatildeo das disciplinas do ensino com a subordinaccedilatildeo de todas as

ciecircncias agrave Teologia princiacutepio que se refletiraacute mais tarde nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas

da Idade Moderna

Servindo de ponte entre a cultura grega e a literatura latina dos primoacuterdios da Idade Meacutedia citam-se Flaacutevio Magno Aureacutelio Cassiodoro (485-580) filoacutesofo teoacutelogo

historiador estadista e educador romano e Boeacutecio (seu disciacutepulo e amigo)

chamados os uacuteltimos romanos pela contribuiccedilatildeo que deram ao resgatar a cultura

claacutessica Proveniente da aristocracia Cassiodoro ocupou altos cargos no reino

ostrogodo estabelecido na peniacutensula logo depois da desintegraccedilatildeo do Impeacuterio

Romano do Ocidente Foi um dos grandes nomes do pensamento escolaacutestico e seus

livros serviram de texto nas escolas eclesiaacutesticas do iniacutecio da Idade Meacutedia Entre

eles Institutiones Divinarum et Saecularium Litterarum (543-555) que aleacutem de tratar

de problemas de Teologia apresentava no livro II De Artibus ac Disciplinis

Liberalium Litterarum um compecircndio das sete artes liberais - onde as ciecircncias

46

estavam agrupadas em Trivium Artes ou Ciecircncias Sermoniais (ciecircncias da palavra

precursoras do que mais tarde seratildeo as ciecircncias humanas) Gramaacutetica Dialeacutetica e

Retoacuterica e Quatrivium Ciecircncias Reais (ciecircncias das coisas precursoras do que

mais tarde seratildeo as ciecircncias exatas) Geometria Aritmeacutetica Astronomia e Muacutesica -

que se tornou um verdadeiro manual nos mosteiros Essa obra ao lado de um

manual de ortografia latina De Orthographia e do tratado Liber de Anima (538)

inspirado em Santo Agostinho exerceu profunda influecircncia em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo

da Idade Meacutedia O ensino nas escolas de 395 a 1453 baseou-se nos conceitos da

Trilogia grega e na divisatildeo das ciecircncias apresentada por Cassiodoro As disciplinas

estudadas naquela eacutepoca dividiam-se em dois grupos o Trivium e o Quatrivium que

compunham as sete disciplinas (profanas) preparatoacuterias para os estudos superiores

Teologia (ciecircncia divina) e Filosofia (ciecircncia auxiliar da Teologia) (GOPINATH 2001

PIEDADE 1983 SAN SEGUNDO MANUEL1996)

Essa divisatildeo ou classificaccedilatildeo das ciecircncias (quadro 2) iraacute influenciar a

classificaccedilatildeo bibliograacutefica empregada pelo meacutedico naturalista suiacuteccedilo Konrad von

Gesner em 1545 na qual pretende conciliar a tradiccedilatildeo escolaacutestica41 e as inovaccedilotildees

da Renascenccedila

TRIVIUM QUATRIVIUM ESTUDOS SUPERIORES

Gramaacutetica Geometria Teologia

Dialeacutetica Aritmeacutetica Metafiacutesica

Retoacuterica Astronomia Eacutetica

Muacutesica Histoacuteria

QUADRO 2 - CLASSIFICACcedilAtildeO ESCOLAacuteSTICA ROMANA FONTE A autora com base em Gopinath (2001 p 61)

Na Antiguidade e na Idade Meacutedia a pesquisa cientiacutefica e a Filosofia

constituiacuteam uma unidade A Filosofia era de fato natildeo soacute o suporte das ciecircncias

mas a Ciecircncia ao abranger a Matemaacutetica a Fiacutesica e a Metafiacutesica

41 Entende-se em geral por Escolaacutestica o ensino teoloacutegico-filosoacutefico da doutrina aristoteacutelico-tomista ministrado nas escolas de conventos e catedrais e tambeacutem nas universidades europeacuteias da Idade Meacutedia e do Renascimento Como sistema filosoacutefico e teoloacutegico a Escolaacutestica tentou resolver a partir do dogma religioso e mediante um meacutetodo especulativo problemas como a relaccedilatildeo entre feacute e razatildeo desejo e pensamento a oposiccedilatildeo entre realismo e nominalismo e a probabilidade da existecircncia de Deus

47

No seacuteculo XIII Baixa Idade Meacutedia as escolas eclesiaacutesticas conventuais

catedraliacutecias convertem-se em universidades (a primeira surge em Paris em 1215)

construindo curriacuteculos embasados no Trivium e no Quatrivium e reunindo na

Teologia cristatilde que pairava acima das outras disciplinas todas as aacutereas do saber

O filoacutesofo franciscano e naturalista inglecircs Roger Bacon (1214-1294) projetou

uma obra enciclopeacutedica - a serviccedilo da religiatildeo e da Igreja Catoacutelica Em 1266 o Papa

Clemente VI que era seu amigo solicitou-lhe uma coacutepia Como a obra estava

somente na cabeccedila de Bacon este escreveu um esboccedilo chamado Opus maius

(obra maior) seguido por um Opus minus e um Opus tertium onde expocircs a ideacuteia

que tinha de conhecimento e estabeleceu uma classificaccedilatildeo das ciecircncias

influenciada pelas classificaccedilotildees escolaacutesticas (derivadas da classificaccedilatildeo de

Aristoacuteteles) e pela divisatildeo triacuteplice dos estoacuteicos e epicuristas (KEDROV 1974 v 1 p

67 STOumlRIG 2008 p 228) dividindo o conhecimento em quatro grupos

fundamentais (quadro 3)

FIacuteSICA FILOLOGIA MATEMAacuteTICA EacuteTICA

Oacutetica Gramaacutetica Aritmeacutetica Metafiacutesica

Astronomia Loacutegica Geometria Teologia

Alquimia Retoacuterica Mecacircnica Moral

Agricultura Muacutesica

Medicina Arquitetura

Ciecircncias

Experimentais

QUADRO 3 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE ROGER BACON (1266) - INGLATERRA FONTE a autora

O sistema classificatoacuterio de Roger Bacon ultrapassa as fronteiras da

Escolaacutestica Medieval e surge como um precursor das Ciecircncias Naturais que na

Renascenccedila exigiram uma nova sistematizaccedilatildeo dos conhecimentos

Nos seacuteculos XIV e XV natildeo havia unidade poliacutetica na Europa A sociedade era

composta de propriedades isoladas defendida por castelos e feudos com vida

proacutepria e povos de diversas origens (miscigenaccedilatildeo de romanos gregos e baacuterbaros)

No seacuteculo XVI os Estados Nacionais vatildeo dar iniacutecio a unidades poliacuteticas sociais

econocircmicas e tambeacutem religiosas com o advento do protestantismo (os Estados

Nacionais passam a ter tambeacutem a sua religiatildeo proacutepria) A curiosidade cientiacutefica e o

contato com povos receacutem-conquistados acarreta novos questionamentos o

48

interesse dos saacutebios pela Antiguidade faz renascer os estudos de Filologia e a

preocupaccedilatildeo de determinar e estudar as fontes dos documentos

Entre 1440 e 1450 a invenccedilatildeo42 em Moguacutencia por Johann Gutenberg da

tipografia (McMURTRIE 1997 p 184) facilitaria a multiplicaccedilatildeo fiel dos

documentos

312 Idade Moderna Seacuteculos XVI XVII e XVIII43

No seacuteculo XVI a Renascenccedila assinala o fim da Idade Meacutedia e o iniacutecio da Idade

Moderna Vaacuterios acontecimentos marcam profundamente a histoacuteria da humanidade a

partir de fatos ocorridos na Europa ao longo do seacuteculo descobertas cientiacuteficas na aacuterea

da Astronomia refutam verdades consideradas absolutas a Filosofia conquista

autonomia em relaccedilatildeo agrave Teologia o desenvolvimento da Medicina e do Direito

Romano faz sentir a necessidade de textos merecedores de creacutedito pois no periacuteodo

anterior esse aspecto havia sido negligenciado (os textos sofriam adaptaccedilotildees e

arranjos) Lutero (1520) divide a cristandade e Henrique VIII rompe com Roma um

Deus homem e o proacuteprio homem tornam-se fonte de inspiraccedilatildeo artiacutestica em lugar do

sagrado quando pintores e escultores plasmam deuses gregos e heroacuteis aleacutem de

santos arquitetos constroem museus e bibliotecas aleacutem de templos e palaacutecios as

expediccedilotildees portuguesas e espanholas abrem novas rotas comerciais e fazem contato

com civilizaccedilotildees desconhecidas provocando mudanccedilas culturais e histoacutericas No

seacuteculo XVI o centro da reflexatildeo filosoacutefica eacute o homem e as suas possibilidades

Interessante destacar que no seacuteculo XV ainda natildeo existia um estudo botacircnico ou

zooloacutegico realmente independente e que esta seraacute a contribuiccedilatildeo do seacuteculo XVI quando

a ciecircncia se volta para a natureza e o corpo humano (ainda que novas ciecircncias como a

Botacircnica Zoologia Anatomia Fisiologia Patologia Quiacutemica entre outras soacute tenhatildeo

42 A invenccedilatildeo da impressatildeo com tipos moacuteveis foi o acontecimento mais marcante do seacuteculo XV e talvez o mais importante da histoacuteria da cultura humana Para uma visatildeo dos muacuteltiplos efeitos da cultura impressa na vida intelectual do Ocidente e particularmente para um panorama do surgimento da ciecircncia moderna cf Eisenstein (1998) Eacute necessaacuterio ter em conta as modificaccedilotildees acarretadas pela imprensa que pela primeira vez permitu preservar intactos o texto de autores e o trabalho de desenhistas e artistas em centenas de coacutepias de determinado livro possibilitando o uso de informaccedilotildees registradas 43 A Filosofia chamada Moderna abrange os seacuteculos XVI XVII e XVIII periacuteodo que caracteriza o decliacutenio do poder temporal da Igreja Catoacutelica Romana a definiccedilatildeo das naccedilotildees europeacuteias a discussatildeo do poder absoluto dos soberanos a eleiccedilatildeo de governos constitucionais o descobrimento da Ameacuterica e o surgimento da burguesia O interesse principal dos grandes sistemas filosoacuteficos do periacuteodo de Bacon e Descartes a Kant permaneceraacute direcionado para os problemas filosoacuteficos tradicionais o ser a natureza Deus o conhecimento a alma a liberdade e a lei (MAZIP 2001)

49

emergido no seacuteculo XIX) Eacute portanto na Renascenccedila que esse processo de

fragmentaccedilatildeo da ciecircncia filosoacutefica anteriormente indivisiacutevel tem sua origem O problema

das classificaccedilotildees das ciecircncias assim como o das classificaccedilotildees bibliograacuteficas

intensifica-se

No seacuteculo XVI destacam-se as classificaccedilotildees de Konrad von Gesner (1516-

1565) Franccedilois Grude - tambeacutem conhecido como senhor da Croix du Maine (1552-

1592) e de Juan Huarte de San Juan - mais conhecido por Huarte (1529-1591) Gesner na segunda parte de sua obra Bibliotheca Universalis (Zurich 1545-1548)

denominada Pandectarum ordena as disciplinas em Sermonizantes (1 Gramaacutetica 2

Dialeacutetica 3 Retoacuterica) Necessaacuterias (4 Poeacutetica) Matemaacuteticas (5 Aritmeacutetica) Preparatoacuterias

(6 Geometria 7 Muacutesica 8 Astronomia 9 Astrologia) Adorno (10 Histoacuteria 11

Geografia) Artes e Ciecircncias (12 Artes Adivinhatoacuterias 13 Belas Artes e Mecacircnica) Artes

e Ciecircncias Substantivas (14 Fiacutesica 15 Metafiacutesica 16 Eacutetica 17 Economia) e

Substantivas (18 Poliacutetica 19 Jurisprudecircncia 20 Medicina 21 Teologia Cristatilde) com

subdivisotildees Grudeacute denominado La Croix Du Maine bibliotecaacuterio e biblioacutegrafo francecircs

propotildee um esquema classificatoacuterio para a Biblioteca Real da Franccedila em 1583 durante

o reinado de Henrique III articulado em 107 subclasses agrupadas em sete classes

principais Coisas Sagradas Artes e Ciecircncias Universo Gecircnero Humano Homens

Ilustres na Guerra Obras Criadas por Deus e Obras Diversas Huarte de San Juan

psicoacutelogo meacutedico e filoacutesofo espanhol em 1575 escreveu o seu famoso Examen de

Ingenios para las Ciecircncias44 considerando as trecircs faculdades (capacidades

subjetivas) representativas do psiquismo - memoacuteria (capacidade de dispor dos

conhecimentos passados) entendimento ou razatildeo (referencial de orientaccedilatildeo do

homem em todos os campos em que seja possiacutevel a indagaccedilatildeo ou a investigaccedilatildeo e

nesse sentido diz-se que a razatildeo eacute uma faculdade proacutepria do homem que o

distingue dos animais) e imaginaccedilatildeo (capacidade de evocar ou produzir imagens

independentemente da presenccedila do objeto a que se referem) Huarte propotildee sua

proacutepria lista de saberes ou disciplinas (quadro 4) de grande transcendecircncia

posterior (no seacuteculo XVII com Francis Bacon e no seacuteculo XVIII com os

enciclopedistas Diderot e drsquoAlembert) retomada no decorrer deste estudo Essa

44 Obra perseguida pela Inquisiccedilatildeo que figurou no Index das obras proibidas e segundo Mariela Szirko (autora que escreveu as notas preliminares da ediccedilatildeo em formato de perioacutedico de 1995) eacute possiacutevel ver aiacute o germe da obra de Miguel de Cervantes com o seu talentoso fidalgo Don Quixote de La Mancha pois o ldquoengenhoso fidalgordquo o seu perfil psicoloacutegico e outras ideacuteias ali expostas provecircm dos conceitos de Huarte de San Juan digno precursor do cognitivismo

50

estruturaccedilatildeo do intelecto humano determina tambeacutem o fundamento de sistemas de

classificaccedilatildeo bibliograacutefica

O sistema compreende

a) Artes e Ciecircncias guias aquelas que referenciam o ser humano no tempo e

no espaccedilo e satildeo adquiridas atraveacutes da memoacuteria45 (Histoacuteria e suas

divisotildees)

b) Artes e Ciecircncias que satildeo dependentes da razatildeo (Filosofia e suas divisotildees

Teologia e as Ciecircncias Experimentais)

c) Artes e Ciecircncias que brotam da imaginaccedilatildeo (Poesia e suas divisotildees)

(HUARTE DE SAN JUAN 1995)

MEMOacuteRIA RAZAtildeO IMAGINACcedilAtildeO

Histoacuteria e suas divisotildees Filosofia e suas divisotildees Poesia e suas divisotildees

QUADRO 4 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HUARTE DE SAN JUAN (1575) - ESPANHA FONTE a autora

A divisatildeo de Huarte de San Juan contudo natildeo eacute riacutegida pois ele observa por

exemplo que la teoacuterica de la teologiacutea pertenece al entendimiento y el predicar que es su praacutectica a la imaginativa (1995 cap X) [] la teoacuterica de las leyes pertenece a la memoacuteria y el abogar y juzgar que es su praacutectica al entendimiento y el gobernar una repuacuteblica a la imaginativa (1995 cap XI) e [] la teoacuterica de la medicina parte della pertenece a la memoacuteria y parte al entendimiento y la praacutectica a la imaginativa (1995 cap XII)

Ressalte-se que Huarte de San Juan considera diversos aspectos

estabeleccedilendo distinccedilatildeo entre por exemplo Medicina Teoacuterica e Medicina Praacutetica

Teologia Teoacuterica e Teologia Escolaacutestica Direito Teoacuterico e Direito Praacutetico

encontrando-se cada uma destas disciplinas em uma divisatildeo diferente46

45 A ars memoriae (arte da memoacuteria) tatildeo importante ateacute a Idade Meacutedia (com base nos princiacutepios gerais da mnemocircnica e nas teacutecnicas antigas de recordaccedilatildeo) considerava que o saber da totalidade seria acessiacutevel graccedilas agrave capacidade de armazenamento sistemaacutetico em lugares da memoacuteria e de construccedilatildeo de relaccedilotildees Como se a memoacuteria pudesse assim transformar-se em espelho da totalidade do mundo Espelho porque natildeo se tratava de uma elaboraccedilatildeo mas de uma reflexatildeo no sentido de fazer da memoacuteria o reflexo do mundo exterior com todas as suas forccedilas e leis

46 Somente trezentos anos mais tarde em 1834 eacute que Ampegravere (cf subseccedilatildeo 313) tenta determinar as caracteriacutesticas distintivas para a classificaccedilatildeo das ciecircncias considerando natildeo soacute a natureza das ciecircncias agrave qual elas se relacionam mas tambeacutem os pontos de vista sob os quais essas aacutereas de conhecimento podem ser consideradas recebendo assim posiccedilotildees especiais nas subdivisotildees de seu plano (AMPEgraveRE 1834 part 1 preacuteface)

51

Huarte de San Juan eacute a grande figura da classificaccedilatildeo do conhecimento na

Renascenccedila espanhola por sua nova concepccedilatildeo e organizaccedilatildeo das ciecircncias Essa

classificaccedilatildeo representou avanccedilo sob o ponto de vista cientiacutefico (partindo de um princiacutepio

subjetivo do conhecimento) em relaccedilatildeo agrave classificaccedilatildeo medieval do Trivium e Quatrivium

(baseando sua classificaccedilatildeo no objeto do conhecimento que era a natureza)

Uma das conquistas mais significativas da Renascenccedila como dito

anteriormente foi a separaccedilatildeo entre Filosofia e Teologia aleacutem da volta ao

pensamento dos claacutessicos gregos e dos progressos no estudo da natureza

O pensamento do seacuteculo XVII caracteriza-se por assegurar agrave ciecircncia a plena

autonomia a respeito da Teologia e da Filosofia como tambeacutem por uma confianccedila

absoluta no meacutetodo O saber agora natildeo mais estava guardado nas biacuteblias em latim

que tinham que ser interpretadas pelos estudiosos da igreja ele se encerrava cada

vez mais no vocabulaacuterio teacutecnico das ciecircncias que teria que ser interpretado pelos

novos especialistas A partir do racionalismo de Reneacute Descartes (1596-1650) -

segundo o qual a uacutenica coisa que indubitavelmente existe eacute o eu pensante o

ldquopenso logo existordquo (cogito ergo sum) - o corpo se separa do espiacuterito A alma como

pensamento pode ser pensada sem extensatildeo porque a extensatildeo natildeo lhe eacute

essencial enquanto o corpo tem como essecircncia a extensatildeo Com esse pensamento

se reduz a Fiacutesica agrave Geometria a qualidade agrave quantidade e o proacuteprio movimento a

uma sucessatildeo de pontos Tudo acontece conforme as leis matemaacuteticas eacute o

matematismo da existecircncia Esse dualismo entre corpo e alma funda a grande

controveacutersia da Filosofia desde entatildeo (SANTOS 1964 p 1458-1459) Empregando

o termo pensamento (do latim cogitatio) ou o termo ideacuteia a essecircncia da Filosofia

Moderna eacute idealista

Alguns dos filoacutesofos mais importantes que se preocuparam com a

classificaccedilatildeo das ciecircncias no seacuteculo XVII foram os empiristas (assim chamados por

abrirem espaccedilo para a ciecircncia junto agrave Filosofia valorizando a experiecircncia como fonte

de conhecimento) que tecircm nos ingleses Francis Bacon Hobbes e Locke o seu

quadro mais representativo e os racionalistas (para quem eacute a razatildeo tomada em si

mesma sem apoio da experiecircncia sensiacutevel a fonte do conhecimento verdadeiro)

52

que tecircm no francecircs Descartes o seu maior representante47 Para o racionalismo idealista o modelo perfeito de conhecimento verdadeiro eacute

a Matemaacutetica que depende exclusivamente do uso da razatildeo e usa a percepccedilatildeo

sensiacutevel (para construir figuras geomeacutetricas por exemplo) sob o controle da

atividade do intelecto (CHAUIacute 2005) Observa-se que desde Descartes existe um

impulso de esvaziamento do conhecimento fornecido pela imaginaccedilatildeo (Literatura) e

uma criacutetica da confianccedila nas imagens mentais que se depositam na memoacuteria

(Histoacuteria) O que se configura segundo Ricoeur (2008) num problema para um ser

que eacute fundamentalmente ldquocondiccedilatildeo histoacutericardquo

A classificaccedilatildeo cartesiana das ciecircncias revela-se na maneira de Descartes48

distribuir os temas nos seus livros como em geral percebe-se nos demais filoacutesofos

que procederam a alguma classificaccedilatildeo das ciecircncias Particularmente nesse caso a

obra Princiacutepios de Filosofia (Principia Philosophiae 1644) apresenta um elenco de

disciplinas filosoacuteficas Aleacutem disso a divisatildeo cartesiana pode inferir-se da carta do

autor a Picot - tradutor de Princiacutepios de Filosofia que verteu o texto do latim ao

47 Para esclarecer melhor conveacutem dizer que tanto empiristas como racionalistas usam a razatildeo Mas enquanto os primeiros - atitude realista - usam a razatildeo limitando-a ao conhecimento empiacuterico apenas os racionalistas ao exaltaacute-la - atitude idealista - admitem que ela seja um meio de conhecimento da coisa-em-si No realismo o conhecimento emana por assim dizer das coisas ao homem ou seja a realidade da coisa vem primeiro e o conhecimento vem depois ao ponto de filoacutesofos antigos (epicuristas do seacuteculo III aC) considerarem que das coisas saiacuteam pequenas imagens -iacutedolos como eles chamavam - que vinham ferir o sujeito Em contrapartida o idealismo considera o conhecimento como uma atividade que vai do sujeito agraves coisas como uma atividade elaboradora de conceitos ao fim de cuja elaboraccedilatildeo surge a realidade da coisa Para o idealismo a realidade da coisa aparece no fim do processo eacute a uacuteltima escala da atividade do sujeito pensante aquela que finaliza a construccedilatildeo da realidade mesma das coisas (GARCIA MORENTE 1952 p 143-158) Como pode-se observar os dois pontos de vista (o realista e o idealista) satildeo diametralmente opostos mas tanto o racionalismo cartesiano e o empirismo inglecircs que correspondem agrave ascensatildeo econocircmica e social da burguesia agrave Revoluccedilatildeo Industrial confluem no enciclopedismo que prepara e torna possiacutevel sob o ponto de vista ideoloacutegico a Revoluccedilatildeo Francesa 48 Reneacute Descartes (latinizado como Renatus Cartesius) (1596-1650) filoacutesofo e matemaacutetico (algebrista e geocircmetra por excelecircncia) francecircs foi o criador do Cartesianismo Doutrina caracterizada pelo racionalismo idealista (necessidade de encontrar fundamentos seguros para o saber) e pela instituiccedilatildeo de um meacutetodo loacutegico para construir o pensamento cientiacutefico como garantia da obtenccedilatildeo da verdade Rompeu com a filosofia aristoteacutelica e foi um dos principais precursores dos iluministas De 1628 a 1637 concentrou-se na produccedilatildeo da sua obra mais importante o ceacutelebre tratado Discours de la Meacutethode pour bien Conduire sa Raison et Chercher la Veriteacute dans les Sciences (1637) mais conhecido como Discurso do Meacutetodo enunciando o seu programa de pesquisa filosoacutefica no qual recomendava que as ciecircncias fiacutesicas adotassem o mesmo meacutetodo dedutivo usado pelos geocircmetras para demonstrar os seus teoremas partir das verdades mais simples e evidentes e encadeaacute-las logicamente ateacute alcanccedilar raciociacutenios mais complexos A sua obra revolucionou a matemaacutetica (unificou a Aritmeacutetica a Aacutelgebra e a Geometria e criou a Geometria Analiacutetica) e abriu caminho para todo o avanccedilo das ciecircncias experimentais nos seacuteculos XVII e XVIII Eacute considerado o filoacutesofo que individualmente mais contribuiu para o progresso das ciecircncias exatas (CHAUIacute 2005 GARCIA MORENTE 1952)

53

francecircs - carta que foi publicada em 1647 como prefaacutecio da traduccedilatildeo49 Daiacute

resultou a seguinte classificaccedilatildeo das ciecircncias (quadro 5)

3 4 5

Mecacircnica Medicina Moral

2

Fiacutesica

(Matemaacuteticas)

1

Metafiacutesica (Teologia)

QUADRO 5 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE DESCARTES (1647) - FRANCcedilA FONTE a autora

Descartes classifica as ciecircncias quanto agrave sabedoria ou grau de clareza e

nitidez de ideacuteias que eacute possiacutevel atingir em cada uma A ciecircncia para ele pode ser

comparada a uma aacutervore a Metafiacutesica (substacircncia criadora - Deus) eacute a raiz a Fiacutesica

(Matemaacutetica) eacute o tronco e os trecircs principais ramos satildeo a Mecacircnica a Medicina e a

Moral esses formando as trecircs aplicaccedilotildees do nosso conhecimento humano que satildeo

o mundo exterior o corpo humano e a conduta de vida Ainda que a integraccedilatildeo de

todas as disciplinas cientiacuteficas e filosoacuteficas seja uma tocircnica cartesiana Descartes

natildeo ofereceu uma divisatildeo clara das disciplinas

49 E dividi tal livro em quatro partes sendo que a primeira conteacutem os princiacutepios do conhecimento que eacute o que se pode chamar de Primeira Filosofia ou entatildeo Metafiacutesica Eis porque para a sua boa compreensatildeo conveacutem ler antes as Meditaccedilotildees que escrevi sobre o mesmo assunto As trecircs outras partes abrangem o que haacute de mais geral na Fiacutesica isto eacute a explicaccedilatildeo das primeiras leis ou princiacutepios da natureza e a maneira pela qual os ceacuteus as estrelas fixas os planetas os cometas e geralmente todo o universo estatildeo compostos e ordenados Depois em particular a natureza desta terra e do ar da aacutegua do fogo do iacutematilde e de todas as qualidades que se notam nesses corpos como a luz o calor a gravidade e outras semelhantes por meio do que penso haver comeccedilado a explicar por ordem toda a Filosofia A fim de conduzir tal desiacutegnio ateacute o fim eu deveria de imediato explicar da mesma maneira a natureza de cada um dos outros corpos os minerais as plantas os animais e principalmente o homem depois enfim tratar exatamente da Medicina da Moral e das Mecacircnicas Era o que urgia que eu fizesse para dar aos homens um corpo todo inteiro de Filosofia (Prefaacutecio da ediccedilatildeo em francecircs de Princiacutepios da Filosofia) (ENCICLOPEacuteDIA SIMPOZIO Versatildeo em portuguecircs do original em esperanto Copyright 1997 Cap 2 Descartes meacutetodo e teoria do conhecimento 3686y066 sect 3 Divisatildeo e classificaccedilatildeo cartesiana das ciecircncias n 100 Disponiacutevel em lthttpwwwsimpozioufscbrFramehtmgt Acesso em 10 jan 2008)

54

Para o empirismo realista caracteriacutestica marcante da Filosofia inglesa as

ciecircncias nascem do haacutebito de associar ideacuteias como consequecircncia da repeticcedilatildeo de

experiecircncias (o aumento do volume ou da dimensatildeo dos corpos submetidos ao calor

faz concluir que ldquoo calor eacute a causa da dilataccedilatildeo dos corposrdquo por exemplo) que visa agrave

universalidade (CHAUIacute 2005)

No final do seacuteculo XVI e iniacutecio do seacuteculo XVII Francis Bacon50 dedica-se agrave

questatildeo do meacutetodo e ao estudo do conhecimento Destacou-se com uma obra de

tradiccedilatildeo empirista em que o papel da ciecircncia51 (beneacutefico para o homem) seria

restabelecer o imperium hominis (impeacuterio do homem) sobre as coisas O

conhecimento cientiacutefico para Bacon tinha por finalidade servir o homem e dar-lhe

poder sobre a natureza - ideal iniciado pela ciecircncia e pela poliacutetica da Renascenccedila que

50 Francis Bacon (1561-1626) filoacutesofo e cientista inglecircs conhecido como o profeta da era industrial considerado o precursor do empirismo moderno (doutrina ou corrente filosoacutefica segundo a qual a experiecircncia sensiacutevel eacute a uacutenica fonte vaacutelida de conhecimento criteacuterio de verdade - pois eacute ela que determina o valor e o sentido da atividade racional - defende que as teorias cientiacuteficas devem ser embasadas na observaccedilatildeo do mundo e natildeo na intuiccedilatildeo ou feacute e que o modelo de conhecimento verdadeiro eacute dado pelas ciecircncias experimentais como a Fiacutesica e a Quiacutemica) cujas propostas tiveram uma poderosa influecircncia no desenvolvimento da ciecircncia no seacuteculo XVII na Europa e para a fundaccedilatildeo em 1660 em Londres da Royal Society O lema da Royal Society ldquoNullius in Verbardquo afirma a vontade de estabelecer a verdade no domiacutenio das disciplinas cientiacuteficas baseando-se somente na experiecircncia e jamais na autoridade de um indiviacuteduo Bacon tinha um projeto enciclopeacutedico planejava fazer uma ampla reorganizaccedilatildeo do conhecimento a que chamou Instauratio Magna (Grande Instauraccedilatildeo - obra ambiciosa e inacabada) que se propunha a restaurar ou reconstruir o saber todo o conhecimento humano a partir de seus verdadeiros fundamentos permitindo o progresso das ciecircncias e suas aplicaccedilotildees praacuteticas visando ao bem-estar do homem e ao seu domiacutenio sobre a natureza que se acreditava haver ele perdido com a queda de Adatildeo O plano compreendia seis partes e a primeira (De Dignitate et Augmentis Scientiarum que apareceu em 1623 eacute a versatildeo latina aumentada do trabalho anterior The Advancement of Learning publicado em 1605 e considerado a primeira obra filosoacutefica realmente importante publicada na Inglaterra) promoveria uma classificaccedilatildeo completa das ciecircncias existentes Uma divisatildeo das ciecircncias uma sistematizaccedilatildeo minuciosa de todo o conhecimento humano a primeira depois de Aristoacuteteles Como parte segunda do projeto da Instauratio Magna aparece em 1620 Novum Organum (obra mais famosa de Bacon assim intitulada em alusatildeo ao Organon de Aristoacuteteles) que apresentava no livro II o pensamento indutivo embasado na experiecircncia e na experimentaccedilatildeo - nuacutecleo da filosofia da ciecircncia de Bacon - o primeiro a formular o princiacutepio da induccedilatildeo cientiacutefica Bacon tinha a convicccedilatildeo de que havia inventado um meacutetodo que levaria os homens aleacutem das fronteiras conhecidas Na dedicatoacuteria do seu livro The Advancement of Learning para o Rei Jaime I Bacon recorre a uma metaacutefora ao assinalar que o seu meacutetodo permitia a passagem do conhecimento para aleacutem das Colunas de Heacutercules (o estreito de Gibraltar) que simbolizavam para os antigos os limites da possibilidade da exploraccedilatildeo humana Significava romper com o aristotelismo e passar a um oceano sem limites para o avanccedilo do conhecimento (BACON 1973 MAZIP 2001) 51 Em meados do seacuteculo XVII o cientista irlandecircs Robert Boyle (1627-1691) - que explorava as propriedades do uacutenico gaacutes conhecido na eacutepoca o ar - passa a simbolizar uma era de profunda transiccedilatildeo na histoacuteria com um peacute no passado preacute-cientiacutefico e outro no futuro marcando o iniacutecio da ciecircncia moderna Nessa era a distinccedilatildeo entre Alquimia e Quiacutemica ou tambeacutem entre Astrologia e Astronomia estava apenas comeccedilando Na Inglaterra junto a outros intelectuais e filoacutesofos naturais criou uma sociedade chamada Coleacutegio Invisiacutevel (Invisible College) onde eram debatidas as novidades cientiacuteficas (o clima poliacutetico da Inglaterra agrave eacutepoca natildeo era propiacutecio agrave liberdade de pensamento) Essa sociedade seria em 1660 chamada de Royal Society (Sociedade Real) uma das instituiccedilotildees cientiacuteficas mais prestigiosas do mundo

55

abrangia a enciclopeacutedia das ciecircncias O seu lema ldquosaber eacute poderrdquo valoriza o saber

instrumental aquele que permite dominar a natureza Para Bacon a filosofia verdadeira

natildeo eacute apenas a ciecircncia das coisas divinas e humanas eacute tambeacutem algo praacutetico O

sistema originalmente desenvolvido por Bacon em 1605 derivou portanto de uma

visatildeo de mundo que considerava o homem como o ponto central do universo e

tentou organizar a estrutura do conhecimento a ldquoordem das coisasrdquo em torno do

entendimento humano O esquema de Bacon foi construiacutedo sobre asserccedilotildees

epistemoloacutegicas subjetivas e racionais

Nos tratados The Advancement of Learning (1605) dezoito anos depois

publicado sob o tiacutetulo latino De Dignitate et Augmentis (1623) Bacon afirma que trecircs

fontes mentais distintas emanam do homem Memoacuteria Imaginaccedilatildeo e Razatildeo e suas

divisotildees do conhecimento estavam embasadas sobre os tipos de conhecimento

emanados de cada uma das trecircs fontes mentais (quadro 6)

a) ciecircncias da memoacuteria ou histoacutericas compreendendo a Histoacuteria civil e a

natural que registram (memoacuteria) os dados de fato

b) ciecircncias da imaginaccedilatildeo da fantasia ou poeacuteticas abarcando a Poesia definida

como imitaccedilatildeo arbitraacuteria da Histoacuteria - elaboraccedilatildeo imaginativa desses dados

c) ciecircncias da razatildeo ou filosoacuteficas abrangendo a Teologia sagrada ou

revelada a Filosofia natural e a Antropologia - conhecimento racional de

Deus do homem e da natureza (BACON 1973)

O princiacutepio usado para dividir o conhecimento natildeo se baseou no objeto do

conhecimento mas no sujeito que conhece52 O criteacuterio subjetivo e arbitraacuterio (cf nota

25) adotado por Bacon (quadro 6) representou na eacutepoca verdadeiro progresso em

relaccedilatildeo agraves primeiras classificaccedilotildees53 Conveacutem destacar que o princiacutepio se propagou

a partir da classificaccedilatildeo baconiana e continua sendo usado ateacute hoje

52 Para Bacon os sentidos humanos funcionam como portais para a mente As impressotildees recebidas por meio dos sentidos podem ser processadas pela mente em um de trecircs modos possiacuteveis no modo Memoacuteria pode-se fixar enumerar e registrar as percepccedilotildees no modo Imaginaccedilatildeo pode-se criar representaccedilotildees fantasiosas das percepccedilotildees e no modo Razatildeo pode-se analisar e classificar as percepccedilotildees 53 ldquoPresentemente um esquema que implique o intelecto humano exercitando suas diversas faculdades isoladamente e que arbitrariamente distribua o campo do conhecimento entre seus trecircs principais ramos estaacute cometendo uma violecircncia contra o nosso conceito de unidade orgacircnica do conhecimentordquo (OLIVEIRA 1980 p 27)

56

Em 1605 trinta anos depois de Huarte Francis Bacon ao mesmo tempo em

que daacute continuidade agraves ideacuteias do filoacutesofo espanhol apoiando-se nas suas divisotildees e

invertendo as duas uacuteltimas categorias baseia-se tambeacutem no Trivium e no Quatrivium

de Cassiodoro

FACULDADES MENTAIS

MEMOacuteRIA IMAGINACcedilAtildeO RAZAtildeO

Classes

Histoacuteria (Ciecircncia da Memoacuteria)

Histoacuteria Natural (Natureza)

Histoacuteria Civil (Sociedade)

Geografia

Poesia (Ciecircncia da Fantasia)

Narrativa

Dramaacutetica

Paraboacutelica

Belas Artes

Filosofia (Ciecircncia da Razatildeo)

Divina (Teologia)

Natural (Praacutetica Especulativa)

Humana (Corpo Alma Social)

Matemaacuteticas

(Ciecircncias Experimentais)

QUADRO 6 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE FRANCIS BACON (1605) - INGLATERRA FONTE a autora

O esquema principal foi desenvolvido em numerosas subdivisotildees poreacutem aqui

se encontram as principais Nessa classificaccedilatildeo Histoacuteria tem um sentido particular

radical significando todo o conhecimento jaacute acumulado pela humanidade enquanto

todas as disciplinas incluiacutedas na Poesia satildeo consideradas ldquocrendicesrdquo ou ldquofalsa

Histoacuteriardquo

De todos os precursores da ciecircncia moderna a figura mais significativa sem

duacutevida sob o ponto de vista da magnitude da sua contribuiccedilatildeo agrave classificaccedilatildeo

bibliograacutefica eacute a de Bacon O seu sistema filosoacutefico serviu de fundamento para a

construccedilatildeo de vaacuterios instrumentos destinados agrave organizaccedilatildeo do conhecimento como

a Encyclopeacutedie de Diderot e drsquoAlembert e vaacuterias classificaccedilotildees bibliograacuteficas como a

de Harris (1870) - que estaacute descrita na sequecircncia cronoloacutegica dessa subseccedilatildeo - e as

que satildeo detalhadas na seccedilatildeo 4 e suas subseccedilotildees a de Dewey (1876) que adapta o

esquema ao seu sistema decimal a Classificaccedilatildeo da Biblioteca do Congresso dos

Estados Unidos (1902) e a de Otlet (1905) que vai sofrer as influecircncias de Dewey e

de Bacon A utilizaccedilatildeo da sequecircncia que vai das Matemaacuteticas via Fiacutesica e Quiacutemica agrave

Fisiologia e que finalmente chega agrave Sociologia pode ser tambeacutem observada e

traccedilada nos sistemas de Brown (1906) Ranganathan (1933) e Bliss (1935)

57

Desse modo o esquema tornou-se uma das maiores influecircncias nas

classificaccedilotildees bibliograacuteficas servindo de base para a estrutura de novos esquemas

gerais de classificaccedilatildeo apesar de natildeo ter sido elaborado com uma finalidade

pragmaacutetica ou seja a de organizar materiais ou informaccedilatildeo em bibliotecas Parte-se

da teoria porque a praacutetica eacute muito variaacutevel

Hobbes54 deu seguimento agrave classificaccedilatildeo das ciecircncias de Francis Bacon

impregnando-a de um princiacutepio mais objetivo frente ao subjetivismo de Bacon ou

seja com Hobbes segundo Kedrov (1974 v 1 p 75) passa-se das classificaccedilotildees

construiacutedas com base em um princiacutepio subjetivo para as construiacutedas em cima de um

princiacutepio objetivo Principal criador do materialismo mecanicista Hobbes reduz o

pensamento a um tipo de sensaccedilatildeo e o homem a uma estrutura mecacircnica o que se

reflete na sua classificaccedilatildeo das ciecircncias (quadro 7)

Hobbes considera que haacute duas modalidades de conhecimento a primeira eacute a

dos fatos e baseia-se na sensaccedilatildeo e na memoacuteria e a segunda eacute a das

consequecircncias ou das causas e baseia-se no entendimento ou razatildeo Estabelece

por isso dois tipos principais de ciecircncias segundo o meacutetodo ou a maneira de estudar

o conhecimento as indutivas com base na experiecircncia ou seja aquelas que

estudam os fenocircmenos da natureza independentes do homem (Fiacutesica) e as

dedutivas com base na razatildeo ou seja aquelas que conhecem os objetos por suas

causas mediante a deduccedilatildeo (Geometria Poliacutetica Esteacutetica) Essa divisatildeo das

ciecircncias baseia-se em um princiacutepio subjetivo do meacutetodo de conhecimento (indutivo

dedutivo) poreacutem se combina com o princiacutepio objetivo de considerar as

caracteriacutesticas dos objetos

54 Thomas Hobbes (1588-1679) filoacutesofo inglecircs empirista nominalista racionalista e materialista foi um dos mestres da filosofia poliacutetica inglesa e se interessava tambeacutem pela filosofia da ciecircncia Para ele a verdadeira ciecircncia funda-se no meacutetodo matemaacutetico - pensar eacute ldquocalcularrdquo com palavras assim como a Aritmeacutetica calcula com nuacutemeros e tanto o corpo quanto o espiacuterito satildeo regidos por leis rigorosamente causais O seu pensamento exerceu profunda influecircncia no pensamento de Rousseau e Kant e nos enciclopedistas Em 1651 Hobbes publica em Londres a sua obra maacutexima Leviathan or Matter Form and Power of a Commonwealth Ecclesiastical and Civil (Leviatatilde ou Mateacuteria Forma e Poder de uma Comunidade Eclesiaacutestica e Civil) em que expotildee a sua classificaccedilatildeo e a sua filosofia poliacutetica defendendo a conveniecircncia da manutenccedilatildeo do contrato social para impor uma limitaccedilatildeo ao instinto de conservaccedilatildeo do homem isto eacute aos seus direitos jaacute que para ele o homem eacute um lobo para o homem (homo homini lupus) ou seja o homem em estado natural eacute um inimigo do homem (bellum omnium contra omnes) Dessa forma propotildee a monarquia absoluta na qual o soberano concentra em suas matildeos o poder e a razatildeo como forma de defesa dos indiviacuteduos e realiza assim o ideal almejado Eacute oportuno lembrar que as teorias do direito divino perderam definitivamente a forccedila depois da Revoluccedilatildeo Francesa e da independecircncia dos Estados Unidos e que as ideacuteias de Hobbes influenciaram as concepccedilotildees de Estado dos seacuteculos XVIII e XIX (MAZIP 2001 SANTOS 1964)

58

De acordo com San Segundo Manuel (1996 p 57-58) Hobbes estrutura as

ciecircncias em uma sucessatildeo segundo uma ordem de tracircnsito na descriccedilatildeo dos fatos -

princiacutepio objetivo - ou seja a ordenaccedilatildeo se apoacuteia na transiccedilatildeo do conhecimento

sensiacutevel ao abstrato dos fatos agrave sua explicaccedilatildeo teoacuterica dos corpos privados de

sensaccedilotildees agravequeles que as possuem Haacute ainda outras transiccedilotildees apoiadas em um

princiacutepio subjetivo como a sequecircncia do natural ao civil entre outros

Histoacuteria (registro do conhecimento dos fatos)

Histoacuteria Natural (trata dos fenocircmenos da natureza)

Histoacuteria Civil (trata dos fenocircmenos da vida social)

Filosofia (ciecircncia da consequecircncia - trata do conhecimento teoacuterico das consequecircncias de uma afirmaccedilatildeo)

Filosofia Natural (trata das propriedades dos corpos naturais)

Filosofia Civil (trata das propriedades dos corpos poliacuteticos)

Filosofia Mecacircnica (trata da qualidade quantidade e movimento dos corpos)

Filosofia Primeira (trata dos corpos da Filosofia Mecacircnica ainda natildeo determinados)

Matemaacuteticas (trata dos corpos da Filosofia Mecacircnica jaacute determinados)

Geometria (determinada por uma figura)

Aritmeacutetica (determina quantidades continuas)

Astronomia (determina a quantidade e o movimento dos corpos coacutesmicos)

Geografia (determina a quantidade e o movimento da Terra)

Fiacutesica (estuda os aspectos qualitativos das coisas - as consequecircncias da qualidade)

Meteorologia (estuda as qualidades dos corpos transitoacuterios)

Astrologia (estuda as qualidades dos corpos constantes)

Mineralogia (estuda os efeitos dos minerais e metais)

Botacircnica (estuda os efeitos das plantas)

Zoologia (estuda as propriedades dos animais em geral inclusive as propriedades dos

sentidos)

Oacutetica (relativa agrave vista)

Muacutesica (relativa ao ouvido)

Poesia (relativa agrave linguagem emocional)

Retoacuterica (relativa agrave linguagem convincente)

Loacutegica (relativa agrave linguagem racional)

Eacutetica (relativa agraves paixotildees dos homens)

Esteacutetica (relativa agrave ciecircncia da arte e do belo)

Poliacutetica (relativa ao Estado e ao Direito)

QUADRO 7 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HOBBES (1651) - INGLATERRA FONTE a autora com base em Vickery (1975 p 152) San Segundo Manuel (1996 p 57-58) e Gopinath (2001 p 65)

59

Locke55 continua de certo modo a linha traccedilada por Bacon e Hobbes e

aponta ainda que de maneira incipiente para uma classificaccedilatildeo embasada em um

princiacutepio objetivo suplantando o princiacutepio das capacidades do homem

Reconhece duas classes de ciecircncias segundo a divisatildeo dos objetos do

conhecimento (quadro 8) as reais (naturais - aquelas que se ocupam dos primeiros

objetos de conhecimento as coisas mesmas enquanto cognosciacuteveis os fenocircmenos da

natureza como a Fiacutesica a Quiacutemica e a Biologia onde se encontra a Medicina com a

qual o autor mais se ocupou e metafiacutesicas - aquelas que se ocupam dos fenocircmenos da

alma como a Filosofia e a Teologia) e as ideais (praacuteticas - aquelas cujo objeto eacute a accedilatildeo

do homem enquanto dependente do homem para alcanccedilar objetivos bons uacuteteis e

finalmente atingir a felicidade como a Matemaacutetica a Eacutetica e as Artes e semioacuteticas -

aquelas que estudam os caminhos por meio dos quais se comunica o conhecimento

adquirido nas ciecircncias anteriores como a Loacutegica a Linguiacutestica e a Antropologia)

CIEcircNCIAS REAIS CIEcircNCIAS IDEAIS

Ciecircncias Naturais Ciecircncias Metafiacutesicas Ciecircncias Praacuteticas Ciecircncias Semioacuteticas

Fiacutesica

Filosofia Natural

Quiacutemica

Teologia Natural

Biologia (Medicina)

Filosofia

Teologia

Matemaacutetica

Eacutetica ou Filosofia

Praacutetica

(Artes Mecacircnicas e

Belas Artes)

Loacutegica

Linguiacutestica

Gecircnero de Vida

(similar agrave Antropologia)

QUADRO 8 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE LOCKE (1690) - INGLATERRA FONTE a autora

55 John Locke (1632-1704) filoacutesofo empirista e cientista inglecircs (pertencia agrave Royal Society) um dos mentores do liberalismo eacute o iniciador da teoria do conhecimento propriamente dita porque se propotildee a analisar o processo de produccedilatildeo do conhecimento a origem das ideacuteias e dos discursos e a capacidade do sujeito cognoscente em relaccedilatildeo aos objetos que ele pode conhecer Eacute considerado o pai do Iluminismo por defender a ideacuteia de uma monarquia hipoteacutetica que garantisse as liberdades individuais sob o comando de um soberano esclarecido e pregar a liberdade como essecircncia da soberania poliacutetica Tornou-se colaborador do cientista Robert Boyle (1627-1691) um dos membros fundadores da Royal Society e da Quiacutemica moderna que introduziu o conceito de aacutetomo e elementos quiacutemicos - o que foi um avanccedilo em relaccedilatildeo agrave alquimia que dominou a Idade Meacutedia e agrave concepccedilatildeo de Aristoacuteteles dos quatro elementos Para Locke o homem ao nascer natildeo possui qualquer ideacuteia e a sua mente eacute como uma taacutebula rasa Tudo o que o homem sabe existir eacute dado pelas sensaccedilotildees e percepccedilotildees portanto pela experiecircncia Por conseguinte as ideacuteias universais natildeo correspondem agrave realidade mas satildeo nomes instituiacutedos por convenccedilatildeo para organizar pensamentos e discursos Assim por exemplo natildeo existe ldquoa corrdquo mas objetos coloridos tais como percebidos - ldquoa corrdquo eacute um nome geral com que a razatildeo organiza as sensaccedilotildees visuais Por isso se diz que Locke eacute um nominalista Em sua obra capital terminada em 1666 e publicada em 1689 An Essay Concerning Human Understanding (Ensaio sobre o entendimento humano) seguindo o seu gosto pela regra experimental - seus princiacutepios empiristas - propocircs a experiecircncia (por meio dos sentidos) como fonte do conhecimento que depois se desenvolveria por esforccedilo da razatildeo - ideacuteia que permeia toda a sua divisatildeo das ciecircncias no uacuteltimo capiacutetulo do ensaio ldquoDa divisatildeo das ciecircnciasrdquo (CHAUIacute 2005 MAZIP 2001 GARCIA MORENTE 1952)

60

A concepccedilatildeo de conhecimento de Locke exerceu grande influecircncia no seacuteculo

XVIII e serviu de inspiraccedilatildeo junto com os postulados de Bacon para os

enciclopedistas franceses Voltaire Diderot e drsquoAlembert

Sempre com novas interpretaccedilotildees e releituras a divisatildeo aristoteacutelica do

conhecimento permaneceu influenciando classificaccedilotildees como a usada pelo filoacutesofo

alematildeo Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) que por volta de 1676 desempenhou

tarefas de bibliotecaacuterio-chefe em Hannover e elaborou56 um esquema modelo (com

base na Filosofia teoacuterica de Aristoacuteteles) para uma biblioteca real cujas classes

(quadro 9) aparecem como cacircnone das disciplinas do conhecimento O seu

esquema classificatoacuterio compreendia

CLASSES

THEOLOGIA (Biacuteblica Ecclesiastica Dogmaacutetica Practica)

JURISPRUDENTIA (Ius naturae et gentium Jus Romanum et alia jura antiqua Jus Ecclesiasticum

humanum seu Canonicum Jus feudale et publicum Varia jura recentiora)

MEDICINA (Hygiastica et Diaetetica Pathologia cum Semeiotica Pharmaceutica Chirurgica)

PHILOSOPHIA INTELLECTUALIS (Theoretica Loacutegica Metaphysica Pneumaacutetica Practica Ethica

et Politica)

PHILOSOPHIA RERUM IMAGINATIONIS seu MATHEMATICA (Mathesis pura ubi Arithmetica

Aacutelgebra Geometria Musica Astronomia cum Geographia generali Oacuteptica

Gnomonica Mechanica bellica Naacuteutica Architectonica Opificiaria omnigena a vi

imaginationis pendentia)

PHILOSOPHIA RERUM SENSIBILIUM seu PHISICA (Phisica massarum et similarum quo pertinet

etiam Chymia de aqua igne salibus etc Regni mineralis Regni vegetabilis

quorsum Agricultura Regni animalis quorsum Anatomica quoque Oeconomica

et opificiaria artificiis physicis nitentia)

PHILOSOPHIA seu RES LINGUARUM (Grammatica et Lexica Rhetorica ubi Epistolae Orationes

etc Peeumltica Critica)

HISTORIA CIVILES (Universalis Geographia Juc Genealogica et Heraldica Historia Graeca et

Romana cum antiquitatibus Historia medii aevi a ruiacutena Imperii Romani per

Barbaros ad saeculum superius (XVI) Historia nostri temporis et saeculi

superioris et nostri Historiae gentium Historiae variarum rerum hoc et vitae

saltem remissive)

QUADRO 9 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE LEIBNIZ (1701) - ALEMANHA FONTE San Segundo Manuel (1996 p 61)

56 De 1701 a 1704 redigiu os Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano que soacute foram publicados em 1765 no qual elabora uma teoria do conhecimento e defende a existecircncia de ideacuteias inatas (MAZIP 2001 p 188)

61

Aleacutem da divisatildeo das ciecircncias eacute importante destacar que Leibniz se envolveu

profundamente na possibilidade tentativa e projeto de uma liacutengua perfeita de uma

linguagem universal que se expressaria de maneira simboacutelica Essa ideacuteia teraacute reflexos

diretos ainda que natildeo assumidos pelos responsaacuteveis nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas

do final do seacuteculo XIX Como salienta San Segundo Manuel (1996 p 59) uma

linguagem universal com notaccedilatildeo57 simboacutelica tem sido a ideacuteia perseguida (com o

emprego da CDU) para abordar a anaacutelise de conteuacutedo de toda produccedilatildeo cientiacutefica

mundial Agraves ideacuteias de Leibniz de uma linguagem internacional da ciecircncia com uma

notaccedilatildeo numeacuterica que permitisse a inclusatildeo de qualquer ciecircncia nesse conjunto e que

produzisse e possibilitasse a enciclopeacutedia universal do conhecimento recorreraacute Otlet

para defender a CDU como linguagem universal da ciecircncia com notaccedilatildeo numeacuterica Isso

permitiria compilar um arquivo universal do conhecimento que Otlet denominaria

Repertoacuterio Bibliograacutefico Universal (RBU) (cf subseccedilatildeo 43) Tambeacutem Dewey recorreraacute agrave

ideacuteia de notaccedilatildeo numeacuterica ao propor o uso de nuacutemeros decimais (cf subseccedilatildeo 42)

Cabe mencionar que nem Dewey nem Otlet estabelecera uma ligaccedilatildeo direta entre as

ideacuteias da linguagem da classificaccedilatildeo e da enciclopeacutedia de Leibniz e seus sistemas

classificatoacuterios apesar das semelhanccedilas Como mencionado Leibniz procurava uma

caracteriacutestica universal um tipo de linguagem conceitual para a expressatildeo combinatoacuteria

de quaisquer conceitos e assuntos existentes no mundo Assim eventual e

possivelmente o pensamento de Leibniz influenciou Ranganathan que segundo

Dahlberg (1979b p 356) encontrou o novo tipo de matemaacutetica ldquoqualitativaldquo que Leibniz

buscava ao tentar analisar os assuntos encontrados nos livros e documentos (dividindo-

os em seus elementos constituintes) e formalizar os enunciados a respeito dos

assuntos encontrados por meio de sua ldquofoacutermula de facetasrdquo (cf subseccedilotildees 41 e 47)

Conveacutem lembrar que Dewey propocircs uma reforma ortograacutefica do inglecircs

(CACALY 1997 p 183) e que Otlet (1934 p 430-431) afirmou textualmente ser a

linguagem o princiacutepio ordenador do conhecimento Em resumo tanto Dewey quanto

Otlet de modos muito diferentes tinham clareza a respeito da importacircncia da

linguagem para a classificaccedilatildeo

57 A notaccedilatildeo da classificaccedilatildeo eacute uma atividade semioacutetica porque eacute construiacuteda sobre um sistema semioacutetico - a linguagem - e o significado dela mesma (o termo do assunto) eacute um significante simboacutelico em niacutevel de linguagem A classificaccedilatildeo aleacutem disso eacute complicada pelo fato de se basear em anaacutelises e descriccedilotildees de conhecimento registrado que eacute interpretado por classificadores e indexadores humanos para que o assunto - a sua interpretaccedilatildeo e as suas combinaccedilotildees - sejam significantes na recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo

62

O humanismo renascentista somado agraves descobertas cientiacuteficas do seacuteculo XVII

preparou os acircnimos para uma grande mudanccedila da sociedade caracterizada pela

ilimitada confianccedila na natureza humana agrave luz da razatildeo

No seacuteculo XVIII o Iluminismo58 privilegia as viagens as pesquisas e os

empreendimentos cientiacuteficos que se vecircem incentivados pelas cortes e governos Satildeo

criadas academias de ciecircncias em Londres (1665) Paris (1666) Berlim (1700) Satildeo

Petersburgo (1724) entre outras A ciecircncia passa a ocupar o primeiro lugar na

hierarquia das atividades humanas A Fiacutesica cuja primeira sistematizaccedilatildeo se encontra

na obra Princiacutepios Matemaacuteticos de Filosofia Natural de 1687 de Newton eacute acatada

pelos iluministas como a ciecircncia matildee ou como a ldquoverdadeirardquo Filosofia As pesquisas de

Boyle encaminham a Quiacutemica agrave sua organizaccedilatildeo como ciecircncia positiva enquanto a

obra de Buffon e de outros naturalistas assinalam tambeacutem grande desenvolvimento

para as ciecircncias bioloacutegicas Desenvolvem-se novas disciplinas e surgem descobertas e

invenccedilotildees revolucionaacuterias como a maacutequina a vapor (Watt) o tear mecacircnico

(Cartwrigth) o tear automaacutetico (Arkwight) a bateria eleacutetrica (Galvani) o termocircmetro

centiacutegrado (Celsius) maacutequina de fiar (Hargreaves) pilha voltaica (Volta) prensa

hidraacuteulica (Bramah) vacina antivarioacutelica (Jenner) gaacutes de iluminaccedilatildeo (Murdock e

Lebon) litografia (Senefelder) decomposiccedilatildeo da aacutegua (Lavoisier) oxigecircnio (Priestley)

cloro (Scheele) planeta Urano (Herschel) entre outros (ABBAGNANO 2003 p 534-

536 MAZIP 2001 p 199-200) O Iluminismo deu outro significado ao livro na

sociedade o livro passou gradativamente a perder o status de objeto sagrado e a

adquirir o sentido de objeto de consumo as publicaccedilotildees em liacutengua vulgar multiplicaram-

se o gosto pela leitura espalhou-se e as relaccedilotildees entre o pensamento erudito e o

acesso agrave informaccedilatildeo modificaram-se A organizaccedilatildeo do conhecimento comeccedila a

despertar o interesse pela criaccedilatildeo de sistemas de classificaccedilatildeo competentes para

sistematizar esse conhecimento que passa a ser uma necessidade Ateacute entatildeo natildeo se

vinculava a importacircncia do livro agrave questatildeo do acesso agrave informaccedilatildeo

58 Por Iluminismo ou ldquoseacuteculo das luzesrdquo entende-se comumente o periacuteodo que vai dos uacuteltimos dececircnios do seacuteculo XVII periacuteodo setecentista aos uacuteltimos dececircnios do seacuteculo XVIII movimento intelectual e espiritual mais do que um sistema filosoacutefico embasado no primado da razatildeo e da ciecircncia como possibilidade humana de atingir um conhecimento universal Portanto caracterizado pela ilimitada confianccedila na natureza humana e na mudanccedila da sociedade agrave luz da razatildeo O Iluminismo por um lado adota a feacute cartesiana na razatildeo mas por outro lado estende a criacutetica racional a todo e qualquer campo do conhecimento Natildeo mais aquela razatildeo individualista do seacuteculo de Descartes mas uma razatildeo social (ABBAGNANO 2003 p 534-537 MAZIP 2001 p 412-413) O nome se explica porque os filoacutesofos da eacutepoca acreditavam estar iluminando a verdade e as mentes das pessoas O movimento impulsionou o capitalismo e a sociedade moderna

63

Para os iluministas a razatildeo eacute a medida de todas as coisas no universo em

contraposiccedilatildeo agrave feacute Acreditam que o uso criacutetico da razatildeo somado ao compromisso

de utilizar a razatildeo e os resultados que ela pode obter nos vaacuterios campos de

pesquisa para melhorar a vida individual e social do homem eacute capaz de eliminar as

miseacuterias do mundo por meio da educaccedilatildeo da lei da poliacutetica e da economia No

entanto consideram sem interesse tudo o que estaacute fora da experiecircncia e sem valor

os afetos os instintos e a imaginaccedilatildeo

O compromisso com a felicidade ou bem-estar do gecircnero humano e as

concepccedilotildees iluministas de toleracircncia e de progresso constituiacuteram a substacircncia de

empreendimentos como a Enciclopeacutedia - siacutembolo do saber universal meta da

humanidade no seacuteculo XVIII - que tomaram para si a tarefa da luta contra o

preconceito e a ignoracircncia Assim em 1750 cento e cinquenta anos depois de

Bacon os filoacutesofos iluministas Denis Diderot (1713-1784) e Jean le Rond

drsquoAlembert (1717-1783) utilizam a classificaccedilatildeo ou esquema de Bacon baseando-

se naqueles mesmos princiacutepios subjetivos (faculdades humanas da Memoacuteria

Imaginaccedilatildeo e Razatildeo) poreacutem mudam a ordem para Memoacuteria Razatildeo e Imaginaccedilatildeo

na sistematizaccedilatildeo (quadro 10) da sua volumosa Enciclopeacutedia

SISTEMA FIGURATIVO DO CONHECIMENTO HUMANO

MEMOacuteRIA RAZAtildeO IMAGINACcedilAtildeO

Ramos do conhecimento

Histoacuteria Filosofia Poesia

Sagrada Metafiacutesica Geral

Narrativa

Eclesiaacutestica Ciecircncia de Deus

Drama

Civil Ciecircncia dos Homens

Alegorias

Natural Ciecircncia Natural

QUADRO 10 - DIDEROT drsquoALEMBERT E A SISTEMATIZACcedilAtildeO DA ENCYCLOPEacuteDIE (1751) - FRANCcedilA FONTE a autora

A Enciclopeacutedia ou Dicionaacuterio Racional das Ciecircncias das Artes e dos Ofiacutecios

(Encyclopeacutedie ou Dictionnaire Raisonneacute des Sciences des Arts et des Meacutetiers

64

1751-1780)59 reunia o conhecimento e o pensamento filosoacutefico da eacutepoca

introduzia a noccedilatildeo de conhecimento cientiacutefico preparava ideologicamente a

Revoluccedilatildeo Francesa e induzia agrave compreensatildeo das transformaccedilotildees antes

articulada com a modificaccedilatildeo da natureza e a partir do seacuteculo XVIII com a soluccedilatildeo

dos problemas praacuteticos (CARVALHO 1999 p 25-27)

A importacircncia da Encyclopeacutedie aleacutem do jaacute dito e do fato de ela ser a primeira

enciclopeacutedia alfabeacutetica das ciecircncias o que para a eacutepoca significou uma maior

democratizaccedilatildeo do saber estaacute na nova concepccedilatildeo das ciecircncias que comeccedilam a se

difundir seguindo uma ordem alfabeacutetica preocupada com a exposiccedilatildeo sistemaacutetica e

detalhada de todas as ciecircncias e natildeo tanto em estabelecer uma estrutura

hieraacuterquica pois dAlembert estava consciente assim como Leibniz tambeacutem estava

dos perigos da fragmentaccedilatildeo e estilhaccedilamento das ciecircncias constatando que as

ciecircncias formam grupos diferentes e desunidos

313 Idade Contemporacircnea Seacuteculos XIX e XX60

Baseando-se na natureza dos fenocircmenos as classificaccedilotildees das ciecircncias no

seacuteculo XIX tornam-se positivistas61 determinadas por razotildees teoacutericas especulativas

buscando maior compreensatildeo das relaccedilotildees entre os saberes das novas conexotildees

interdisciplinares por causa dos grandes descobrimentos nas ciecircncias O surgimento

de numerosas ciecircncias de transiccedilatildeo (aquelas que surgem no limite entre duas ou mais

59 A diferenccedila entre uma classificaccedilatildeo enciclopeacutedica e uma classificaccedilatildeo filosoacutefica das ciecircncias eacute que uma enciclopeacutedia pressupotildee a tentativa de dar o quadro completo de todas as disciplinas cientiacuteficas e de fixar de modo definitivo as suas relaccedilotildees de coordenaccedilatildeo e subordinaccedilatildeo enquanto uma classificaccedilatildeo filosoacutefica das ciecircncias tem soacute o intento mais modesto de dividir as ciecircncias em grupos segundo a afinidade dos seus objetos ou dos seus instrumentos de pesquisa 60 Convencionou-se chamar Idade Contemporacircnea o periacuteodo compreendido entre a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) e os dias atuais 61 Positivismo em sentido geral eacute a doutrina filosoacutefica que explica o real em termos cientiacuteficos (MAZIP 2001 p 428) Em sentido especiacutefico eacute a doutrina e a escola fundadas por Auguste Comte (1798-1857) que aleacutem de compreender uma teoria da ciecircncia eacute tambeacutem uma reforma da sociedade e uma religiatildeo Caracteriza-se como afirmaccedilatildeo social das ciecircncias experimentais e romantizaccedilatildeo da ciecircncia Associa uma interpretaccedilatildeo das ciecircncias e uma classificaccedilatildeo do conhecimento a uma eacutetica humana afastando radicalmente o saber teoloacutegico ou o metafiacutesico Positivismo eacute a visatildeo de que o inqueacuterito cientiacutefico seacuterio natildeo deveria procurar causas uacuteltimas que derivem de alguma fonte externa mas sim confinar-se ao estudo de relaccedilotildees existentes entre fatos que satildeo diretamente acessiacuteveis pela observaccedilatildeo reduzindo assim a Filosofia agrave Ciecircncia (SANTOS 1964 p 1480-1481) O positivismo teve grande repercussatildeo na segunda metade do seacuteculo XIX ampliando o empirismo e tendendo para a construccedilatildeo de uma Filosofia da Ciecircncia mas perdeu influecircncia no seacuteculo XX entre outras correntes de pensamento para o estruturalismo No Brasil o positivismo teve ampla aceitaccedilatildeo nas escolas de Direito nos Ciacuterculos Militares e no Movimento Republicano No Rio de Janeiro Benjamim Constant (1837-1891) fundou em 1876 a Sociedade Positivista e Miguel Lemos (1854-1917) e Teixeira Mendes (1855-1927) a Igreja Positivista

65

ciecircncias como a Termodinacircmica nascida entre a Mecacircnica e a Fiacutesica a

Eletroquiacutemica entre a Quiacutemica e a Fiacutesica a Bioquiacutemica entre a Quiacutemica e a Biologia

e outras) somado ao grande desenvolvimento ocorrido nas ciecircncias sociais a partir

das teorias de Comte e nas ciecircncias bioloacutegicas a partir de Darwin culminou na

necessidade de maior compreensatildeo e diferenciaccedilatildeo rigorosa entre as ciecircncias

(KEDROV 1974 v 1 p 21) Eacute assim que com influentes pensadores como Hegel

Ampegravere Comte Spencer e Wundt a classificaccedilatildeo das ciecircncias constitui-se no

problema central da filosofia das ciecircncias (PIEDADE 1983 GOPINATH 2001

POMBO 2006) tentando conciliar o utilitarismo com o positivismo

O sistema de classificaccedilatildeo de Hegel62 aparece como uma consequecircncia de seu

sistema filosoacutefico ou seja a classificaccedilatildeo emanada do seu pensamento natildeo derivava

de uma ideacuteia de desenvolvimento da natureza senatildeo do espiacuterito como criador da

natureza O seu sistema eacute especulativo tritocircnico com base na Loacutegica dialeacutetica ou

especulativa (entendendo-se por dialeacutetica a siacutentese dos opostos) e apresenta trecircs

partes principais 1 a ideacuteia-em-si estudo da fase teoacuterica do absoluto do ser do natildeo-ser

e do vir-a-ser (Ontologia Teologia Epistemologia) 2 ideacuteia fora de si estudo da

natureza (Mecacircnica Fiacutesica Biologia) e 3 ideacuteia-em-si e para-si estudo do espiacuterito

(subjetivo desenvolve-se mediante a Psicologia objetivo desenvolve-se mediante a

Histoacuteria e absoluto manifesta-se na Arte na Religiatildeo e na Filosofia) (quadro 11)

1 Ideacuteia-em-si

2 Ideacuteia fora de si

3 Ideacuteia-em-si e para-si

ABSOLUTO (Begriff - Conceito)

NATUREZA (Wesen ndash Essecircncia)

ESPIacuteRITO (Sein - Ser)

Ontologia Teologia

Epistemologia

Mecacircnica Fiacutesica

Biologia

Subjetivas Psicologia Objetivas Histoacuteria Absolutas Artes Religiatildeo Filosofia (Direito Eacutetica)

QUADRO 11 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HEGEL (1817) - ALEMANHA FONTE a autora com base em Gopinath (2001 p 63) e Mazip (2001 p 251-257)

62 Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) filoacutesofo representante do idealismo alematildeo A sua obra serviu de base para a maior parte das tendecircncias filosoacuteficas e ideoloacutegicas posteriores como o marxismo o existencialismo e a fenomenologia Em sua obra mais sistemaacutetica Compecircndio Enciclopeacutedico das Ciecircncias Filosoacuteficas de 1817 estabeleceu uma classificaccedilatildeo para as ciecircncias (MAZIP 2001 SANTOS 1964)

66

Para Hegel o saber cientiacutefico era um saber ou um conhecimento conceitual e

as conexotildees internas agraves ciecircncias eram ideais

Ampegravere63 propotildee uma classificaccedilatildeo analiacutetica de todo o conhecimento humano

com base no criteacuterio dicotocircmico (de oposiccedilatildeo) Dividiu as ciecircncias primeiramente em

dois reinos (quadro 12) ciecircncias cosmoloacutegicas - relativas ao mundo fiacutesico e agrave natureza

e ciecircncias nooloacutegicas (denominaccedilatildeo criada por ele em 1834) - relativas ao espiacuterito

CIEcircNCIAS COSMOLOacuteGICAS (NATUREZA) CIEcircNCIAS NOOLOacuteGICAS (ESPIacuteRITO)

Ciecircncias Matemaacuteticas

Ciecircncias Fiacutesicas

Ciecircncias Naturais

Ciecircncias Meacutedicas

Ciecircncias Filosoacuteficas (Psicologia Ontologia Eacutetica)

Ciecircncias Nooteacutecnicas (Artes Literatura)

Ciecircncias Etnoloacutegicas (Etnologia Arqueologia Histoacuteria)

Ciecircncias Poliacuteticas

QUADRO 12 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE AMPEgraveRE (1834) - FRANCcedilA FONTE a autora

Continuou Ampegravere a subdividir dicotomicamente os reinos em dois sub-reinos

e esses novamente subdivididos resultaram em oito classes de ciecircncias

Prosseguindo chegou a dezesseis subclasses de ciecircncias Depois trinta e duas

ciecircncias de primeira ordem e na sequecircncia sessenta e quatro ciecircncias de segunda

ordem Finalmente cento e vinte e oito ciecircncias de terceira ordem64 Essa

classificaccedilatildeo corresponde a um sistema das ciecircncias muito complexo Segundo

Gimeno Perelloacute (2002 p 13) Ampegravere reivindica para as Ciecircncias Humanas ou

Normativas frente agraves Ciecircncias Fiacutesicas ou Naturais o predomiacutenio na escala cientiacutefica

que o positivismo lhes negara Distinguiu com respeito ao seu conteuacutedo as

Ciecircncias da Natureza das do Espiacuterito de sorte que de acordo com os seus

respectivos meacutetodos as Ciecircncias Naturais devem explicar-se e as Ciecircncias do

Espiacuterito compreender-se

63 Andreacute-Marie Ampegravere (1775-1836) fiacutesico francecircs cujos estudos constituiacuteram o fundamento da eletrodinacircmica Foi o primeiro a usar o termo corrente eleacutetrica Em sua homenagem a unidade de medida de intensidade da corrente eleacutetrica (ampegravere siacutembolo A) no Sistema Internacional de Medidas leva seu nome No final da vida dedicou-se a classificar todo o conhecimento humano em sua obra (inacabada) Ensaio sobre a Filosofia das Ciecircncias (Essai sur la Philosophie des Sciences ou Exposition Analytique drsquoune Classification Naturelle de Toutes les Connaissances Humaines 1834-1843) (ABBAGNANO 2003 p 140-141 SANTOS 1964 p 1503) 64 ENCICLOPEacuteDIA SIMPOZIO Versatildeo em portuguecircs do original em esperanto Copyright 1997 Cap 2 Divisatildeo e classificaccedilatildeo das ciecircncias 2211y349 sect 4 Gecircneros de ciecircncias naturais morais e similares n 393 A classificaccedilatildeo em ciecircncias cosmoloacutegicas e nooloacutegicas Disponiacutevel em lthttpwwwsimpozioufscbrFramehtmgt Acesso em 10 jan 2008

67

Durante algum tempo somente a primeira divisatildeo que separa o grupo dos

objetos reais dos ideais destacou-se e foi amplamente aceita sendo diversas vezes

reestruturada com outros termos por exemplo como distinccedilatildeo entre ciecircncias

naturais e culturais ou ainda ciecircncias naturais (aquelas que visam conhecer

causalmente o objeto que permanece no entanto externo e tecircm caraacuteter

generalizante) e ciecircncias do espiacuterito (aquelas que visam compreender o objeto

homem e tecircm caraacuteter individualizante) Consequentemente quaisquer que sejam as

denominaccedilotildees e suas justificativas a divisatildeo acaba por destacar a vocaccedilatildeo proacutepria

de cada grupo de objetos os ideais e os reais

Como se pode observar no seacuteculo XIX as propostas de classificaccedilatildeo foram

numerosas Entretanto a classificaccedilatildeo de Comte foi a que maior polecircmica causou

exercendo larga influecircncia nos mais variados ciacuterculos do pensamento europeu

enquanto vinculada agrave doutrina sobre o conhecimento e sobre a natureza do

pensamento cientiacutefico que valorizava as ciecircncias naturais e as suas aplicaccedilotildees praacuteticas

Em 1830 Comte65 agrave medida que critica duramente as classificaccedilotildees do

conhecimento segundo ele calcadas no subjetivismo ou nas faculdades do espiacuterito

porque as divisotildees que propotildeem natildeo satildeo irredutiacuteveis66 propotildee uma classificaccedilatildeo

das ciecircncias utilitaacuteria embasada na classificaccedilatildeo dos fenocircmenos porque acredita

65 Auguste-Isidore-Marie-Franccedilois Comte (1798-1857) filoacutesofo francecircs criador do positivismo social e de sua maacutexima o amor por princiacutepio a ordem por base e o progresso por fim (lema inscrito na Bandeira do Brasil) Filosofia seguida por muitos fiacutesicos da sua eacutepoca e posteriores que atribuiacutea agrave ciecircncia o papel uacutenico de constataccedilatildeo dos fatos e pesquisa das leis e das relaccedilotildees entre os fatos Criou tambeacutem uma nova disciplina que chamou Fiacutesica Social ou Sociologia (termo por ele cunhado) Duas ideacuteias baacutesicas orientam o seu pensar os fenocircmenos sociais como os de caraacuteter fiacutesico tambeacutem obedecem a leis e todo conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico deve ter por finalidade o aperfeiccediloamento moral e poliacutetico do homem Quando procura conhecer fenocircmenos psicoloacutegicos o espiacuterito positivo deve visar agraves relaccedilotildees imutaacuteveis presentes neles - como quando trata de fenocircmenos fiacutesicos como o movimento ou a massa soacute assim conseguiria realmente explicaacute-los O espiacuterito positivo para Comte instaura as ciecircncias como investigaccedilatildeo do real do certo e indubitaacutevel do precisamente determinado e do uacutetil Nos domiacutenios do social e do poliacutetico o estaacutegio positivo do espiacuterito humano marcaraacute a passagem do poder espiritual para as matildeos dos saacutebios e cientistas e do poder material para o controle dos industriais Comte como forma de divulgar o conjunto do seu sistema e sua classificaccedilatildeo das ciecircncias publica as obras Curso de Filosofia Positiva (Cours de Philosophie Positive 1830-1842) e Discurso sobre o Espiacuterito Positivo (Discours sur lrsquoEsprit Positif 1844) (ABBAGNANO 2003 COMTE 1973) 66 Na classificaccedilatildeo proposta por Comte ao contraacuterio cada escala faz intervir um elemento irredutiacutevel nos precedentes Eacute assim que a Mecacircnica introduz a ideacuteia de movimento que natildeo estaacute incluiacuteda na noccedilatildeo das matemaacuteticas que se referem apenas agraves quantidades Do mesmo modo a Biologia introduz a ideacuteia de vida que nenhuma das ciecircncias precedentes comporta Comte acreditava num princiacutepio mais rigoroso que consistia em classificar as ciecircncias segundo sua complexidade crescente e a sua generalidade decrescente Princiacutepio vaacutelido que instaurou uma nova ordem das ciecircncias ainda que a relaccedilatildeo se tenha tornado anacrocircnica A Psicologia reduzida ao plano meramente bioloacutegico como o fez Comte natildeo considerou o psiquismo como um fenocircmeno especiacutefico

68

que a classificaccedilatildeo deve provir do proacuteprio estudo dos objetos a serem classificados

sendo determinada pelas afinidades reais do encadeamento natural apresentado por

eles (COMTE 1973 p 28) Com efeito Comte parte de um ponto de vista loacutegico o

ponto de vista do objeto a classificar Nessa primeira divisatildeo em seis ciecircncias

fundamentais a Matemaacutetica estaria na base do edifiacutecio cientiacutefico constituindo-se em

fundamento e instrumento das demais ciecircncias - instrumento sem o domiacutenio do qual

natildeo era possiacutevel ter acesso agraves demais cinco ciecircncias fundamentais - que seguiriam

uma hierarquia histoacuterica e dogmaacutetica cientiacutefica e loacutegica Matemaacutetica Astronomia

Fiacutesica Quiacutemica Biologia e Sociologia Segundo Comte (1973) as ciecircncias

classificam-se de acordo com a maior ou menor simplicidade de seus respectivos

objetos Satildeo a complexidade crescente e a generalidade decrescente que permitem

estabelecer a sua sequecircncia As Matemaacuteticas apresentam o maior grau de

generalidade e estudam a realidade mais simples e indeterminada A Astronomia

acrescenta a forccedila ao puramente quantitativo estudando as massas dotadas de

forccedila e atraccedilatildeo A Fiacutesica soma a qualidade ao quantitativo e agraves forccedilas ocupando-se

do calor da luz etc que seriam forccedilas qualitativamente diferentes A Quiacutemica trata

de mateacuterias qualitativamente distintas A Biologia ocupa-se dos fenocircmenos vitais

nos quais a mateacuteria bruta eacute enriquecida pela organizaccedilatildeo Finalmente a Sociologia

estuda a sociedade onde os seres vivos se unem por laccedilos independentes de seus

organismos Para Comte a totalizaccedilatildeo do saber somente poderia ser alcanccedilada por

meio da Sociologia Mais tarde acrescenta agrave sua classificaccedilatildeo a Moral que se

encarrega da doutrina e da conduta eacutetica Depois dessa estruturaccedilatildeo sucessiva das

ciecircncias passou a analisar cada uma desenvolvendo diferenccedilas e ligaccedilotildees entre

elas Pode-se dizer que aleacutem de elaborar uma classificaccedilatildeo pela qual se integravam

as ciecircncias da eacutepoca a grande particularidade da classificaccedilatildeo de Comte residia no

princiacutepio de coordenaccedilatildeo entre as ciecircncias Por exemplo as ciecircncias que tratam dos

corpos orgacircnicos apresentam-se coordenadas em Estrutura e Classificaccedilatildeo dos

seres vivos Fisiologia Vegetal e Fisiologia Animal enquanto as ciecircncias que tratam

dos corpos inorgacircnicos se mostram coordenadas em ciecircncias que se referem ao

fenocircmeno do Universo (Astronomia) ciecircncias que se referem ao fenocircmeno terrestre

(Fiacutesica) e ciecircncias que se referem ao fenocircmeno quiacutemico (Quiacutemica)

69

Sob outro ponto de vista Comte distingue duas espeacutecies de ciecircncias as

abstratas (fundamentais) ou gerais que estudam as leis que regem as diferentes

classes de fenocircmenos (independente dos seres concretos em que se realizam) e as

concretas (derivadas) particulares descritivas que consistem na aplicaccedilatildeo dessas

leis aos diferentes seres existentes considerados em sua complexidade concreta

Segundo Kedrov (1974 v 1 p 192) Comte parte das ciecircncias mais simples

fundamentais abstratas e independentes para as mais complexas dependentes e

derivadas (quadro 13)

CIEcircNCIAS ABSTRATAS FUNDAMENTAIS

1 2 3 4 5 6 7

Matemaacuteticas (Aritmeacutetica Geometria Aacutelgebra)

Astronomia (Geomeacutetrica Mecacircnica)

Fiacutesica (Termologia

Acuacutestica Oacutetica

Eletrocircnica)

Quiacutemica (Orgacircnica Inorgacircnica)

Biologia (Fisiologia)

Fiacutesica Social (Sociologia)

Moral (Filosofia)

CIEcircNCIAS CONCRETAS DERIVADAS

1 2 3 4 5 6 7

Engenharia Mecacircnica

Geologia Tecnologia Medicina Agricultura Botacircnica Zoologia

Antropologia

Sociologia Direito

Economia Poliacutetica Histoacuteria

Geografia Humana

Arqueologia

Psicologia Loacutegica Esteacutetica

Cosmologia Psicologia racional ou filosoacutefica Teologia racional

ou filosoacutefica

QUADRO 13 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE COMTE (1842) - FRANCcedilA FONTE a autora com base em Gopinath (2001 p 64) e Comte (1973 p 95-98)

Para facilitar o uso da sua foacutermula hieraacuterquica Comte (1973 p 97)

recomendava quando natildeo se tem necessidade duma grande precisatildeo enciclopeacutedica agrupar os termos dois a dois de maneira a reduzi-los a trecircs pares um inicial matemaacutetico-astronocircmico outro final bioloacutegico-socioloacutegico separados e reunidos pelo par intermediaacuterio fiacutesico-quiacutemico

70

Spencer67 retomou a distinccedilatildeo (ciecircncias abstratas e concretas) ao propor a

sua classificaccedilatildeo visando substituir a de Comte na qual se espelhou e a qual

criticou Segundo o princiacutepio do abstrato ao concreto dividiu todas as ciecircncias em

abstratas (Loacutegica formal e Matemaacutetica) que estudam as maneiras sob as quais os

fenocircmenos aparecem abstrato-concretas (Mecacircnica Fiacutesica e Quiacutemica) que

estudam os elementos dos fenocircmenos agrupados e da mesma natureza e

concretas (Astronomia Mineralogia Geologia Biologia Psicologia e Sociologia) que

estudam o conjunto dos fenocircmenos (quadro 14)

1 2 3 4 5

CIEcircNCIAS ABSTRATAS

Loacutegica (Filosofia)

CIEcircNCIAS ABSTRATAS Matemaacutetica

CIEcircNCIAS ABSTRATO-

CONCRETAS Mecacircnica

CIEcircNCIAS ABSTRATO-

CONCRETAS Fiacutesica

CIEcircNCIAS ABSTRATO-

CONCRETAS Quiacutemica

6 7 8 9 10

CIEcircNCIAS CONCRETAS

Astronomia

CIEcircNCIAS CONCRETAS

Mineralogia (Geologia)

CIEcircNCIAS CONCRETAS

Biologia

CIEcircNCIAS CONCRETAS

Psicologia

CIEcircNCIAS CONCRETAS

Sociologia

QUADRO 14 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE SPENCER (1864) - INGLATERRA FONTE a autora

Spencer estava preocupado natildeo somente em expor o elemento essencial de

todos os fenocircmenos a unidade de todos os modos de mateacuteria mas principalmente

em estabelecer relaccedilotildees entre esses elementos e as forccedilas que os produzem e

distinguem

67 Herbert Spencer (1820-1903) ) engenheiro e filoacutesofo socialista inglecircs profundo admirador da obra de Charles Darwin criou a expressatildeo sobrevivecircncia do mais apto e em sua obra procurou aplicar as leis da evoluccedilatildeo a todos os niacuteveis da atividade humana Eacute considerado o pai do darwinismo social e do positivismo evolucionista Antecipou-se a Darwin na formulaccedilatildeo do princiacutepio da seleccedilatildeo natural Com Spencer o evolucionismo daacute um salto quantitativo pois passa a ser aplicado a toda a natureza inclusive agrave formaccedilatildeo do cosmo O princiacutepio geral do evolucionismo eacute ldquoa funccedilatildeo cria o oacutergatildeordquo as necessidades ambientais e vitais forccedilam os seres vivos a adaptaccedilotildees oportunas criando oacutergatildeos adaptados a funccedilotildees que a luta pela vida exige As leis da evoluccedilatildeo aplicam-se tambeacutem agrave vida psiacutequica dos homens ciecircncia moral leis e religiatildeo resultam de necessidades vitais como a luta pela vida e a adaptaccedilatildeo ao meio A vida social eacute governada pela mesma lei as civilizaccedilotildees primitivas foram evoluindo da poligamia politeiacutesmo e violecircncia para a monogamia monoteiacutesmo direito e organizaccedilatildeo culminando com a Arte e a Filosofia (ABBAGNANO 2003 p 777 MAZIP 2001 p 289) A ideacuteia de uma sequecircncia evolucionaacuteria para a classificaccedilatildeo das ciecircncias eacute exposta como resultado de seus estudos de classificaccedilatildeo na obra The Classification of Science de 1864 (HUCKABY 1972)

71

Harris68 profundo admirador de Francis Bacon em 1870 inverte e amplia as

divisotildees da classificaccedilatildeo de Bacon e suas sequecircncias adaptando-as ao seu esquema

de classificaccedilatildeo com notaccedilatildeo usado para a organizaccedilatildeo do cataacutelogo e dos livros da St

Louis Public Library School Esse esquema era conhecido como Baconiano Inverso ou

Baconiano Invertido e tinha como classes principais as assinaladas no quadro 15

FACULDADES MENTAIS

RAZAtildeO IMAGINACcedilAtildeO MEMOacuteRIA

Classes

Ciecircncia Arte Histoacuteria

Filosofia Belas Artes Geografia e Viagens

Religiatildeo Poesia Histoacuteria Civil

Ciecircncias Sociais e Poliacuteticas Ficccedilatildeo Biografia

Ciecircncias Naturais e Aplicadas Miscelacircnea Literaacuteria Miscelacircnea

QUADRO 15 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE HARRIS (1870) - ESTADOS UNIDOS FONTE a autora

Wundt69 simplificou a classificaccedilatildeo de Spencer reduzindo-a a dois grupos

apenas o das ciecircncias formais (ciecircncias puras - que atendem aos caracteres formais

dos objetos) e o das ciecircncias reais (que satildeo da experiecircncia - subdivididas em ciecircncias

da natureza e ciecircncias do espiacuterito em que as fenomenoloacutegicas estudam os fenocircmenos

os processos as sistemaacuteticas tratam dos objetos e as geneacuteticas oriundas dos grupos

anteriores examinam as relaccedilotildees entre os processos e os objetos e se encarregam da

pesquisa) A sua divisatildeo das ciecircncias eacute semelhante agrave de Spencer (ciecircncias abstratas e

68 William Torrey Harris (1835-1909) filoacutesofo e educador que revolucionou a educaccedilatildeo americana com os seus escritos e por seu proacuteprio exemplo como administrador escolar Era superintendente do sistema escolar puacuteblico de St Louis - o primeiro sistema no paiacutes a experienciar a ideacuteia de educaccedilatildeo como meio de alcanccedilar o progresso social e moral da civilizaccedilatildeo (MAZIP 2001) Harris pode ser considerado um iluminista julgava que a razatildeo era capaz de eliminar as causas da infelicidade e da miseacuteria por meio da lei da educaccedilatildeo e do progresso material 69 Para Wilhelm Max Wundt (1832-1920) meacutedico filoacutesofo e psicoacutelogo positivista alematildeo considerado como fundador da Psicologia Experimental com seus estudos sobre os conteuacutedos mentais tanto pela experimentaccedilatildeo quanto pela auto-observaccedilatildeo a classificaccedilatildeo das ciecircncias constituiacutea-se no problema central da Filosofia das ciecircncias Acreditava que a vida mental era fruto da experiecircncia e natildeo de ideacuteas inatas e que os fenocircmenos mentais do presente se baseavam em experiecircncias passadas antecipando de certa forma o construtivismo Deu o primeiro curso de Psicologia Cientiacutefica (1862) disciplina ateacute entatildeo considerada um ramo da Filosofia e por isso guiada pela anaacutelise racional Escreveu a obra System der Philosophie (1889) na qual apresentou a sua divisatildeo das ciecircncias e procurou definir para a Psicologia um lugar como disciplina independente e capaz de estabelecer ligaccedilatildeo entre as ciecircncias naturais e as sociais (SANTOS 1964)

72

concretas) e na subdivisatildeo eacute semelhante agrave de Ampegravere (ciecircncias da natureza e do

espiacuterito) Como se pode observar no quadro 16 Wundt introduziu na sua divisatildeo das

ciecircncias (ciecircncias puras e ciecircncias experimentais) outras dicotomias (ciecircncias da

natureza e ciecircncias do espiacuterito) para subdividir os grupos principais das ciecircncias

CIEcircNCIAS FORMAIS CIEcircNCIAS REAIS

PURAS (tratam de relaccedilotildees abstratas)

EXPERIMENTAIS (tratam de relaccedilotildees concretas)

(Loacutegica)

Matemaacuteticas

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

CIEcircNCIAS DO ESPIacuteRITO

FENOMENOLOacuteGICAS Fiacutesica Quiacutemica Biologia Astrofiacutesica Geofiacutesica Fisiologia

FENOMENOLOacuteGICAS Psicologia

GENEacuteTICAS Cosmologia Geologia Embriologia Filogecircnese

GENEacuteTICAS Histoacuteria

SISTEMAacuteTICAS Astronomia Geografia Histoacuteria Natural Mineralogia Zoologia Botacircnica

SISTEMAacuteTICAS Direito Economia Poliacutetica

QUADRO 16 - CLASSIFICACcedilAtildeO DE WUNDT (1889) - ALEMANHA FONTE a autora com base em Vickery (1975 p 176-177)

Wundt tratou a Ciecircncia e a Filosofia como conhecimentos totalmente

separados Dividiu a Filosofia em Doutrina do Conhecimento e Doutrina dos

Princiacutepios (subdividida em Metafiacutesica geral e Metafiacutesica especial) Torna a subdividir

a Metafiacutesica especial em Filosofia da Natureza70 e Filosofia do Espiacuterito Wundt 70 De acordo com Wundt somente eacute adequado atribuir o termo Metafiacutesica Especial ao estudo da natureza quando essa for vista apenas sob o ponto de vista metafiacutesico Mas quando for vista nos demais aspectos poderaacute ser uma Filosofia da Natureza mas natildeo mais uma Metafiacutesica Especial (ENCICLOPEacuteDIA SIMPOZIO Versatildeo em portuguecircs do original em esperanto Copyright 1997 Cap 2 Divisatildeo e classificaccedilatildeo das ciecircncias 2211y349 sect 4 Gecircneros de ciecircncias naturais morais e similares n 398 A classificaccedilatildeo das ciecircncias de Wundt Disponiacutevel em lthttpwwwsimpozioufscbr Framehtmgt Acesso em 10 jan 2008)

73

retoma assim na divisatildeo Metafiacutesica geral e Metafiacutesica especial uma classificaccedilatildeo

que vinha de Wolff e na divisatildeo Filosofia da natureza e Filosofia do espiacuterito uma

divisatildeo prevista por Ampegravere

A distinccedilatildeo entre ciecircncias formais (ciecircncias que contecircm asserccedilotildees analiacuteticas)

e ciecircncias reais ou factuais (ciecircncias que contecircm asserccedilotildees sinteacuteticas) eacute ainda

largamente aceita pois como interpreta Carnap (WIENER 1953 p 128) essa

classificaccedilatildeo deixa intacta a unidade da ciecircncia pois as ciecircncias formais natildeo tecircm

absolutamente objeto satildeo sistemas de asserccedilotildees auxiliares sem objeto e sem

conteuacutedo Essas palavras de Carnap explicam-se tendo em mente que natildeo se pode

dar hoje um caraacuteter absoluto ou rigoroso agrave distinccedilatildeo entre as vaacuterias ciecircncias pois

toda divisatildeo das ciecircncias natildeo eacute definitiva atende soacute a uma necessidade praacutetica e

portanto provisoacuteria ou seja depende do estado atual de desenvolvimento das

disciplinas isoladas Frequentemente os maiores avanccedilos estatildeo na interseccedilatildeo de

aacutereas ateacute entatildeo tratadas separadamente Essas classificaccedilotildees das ciecircncias

aparecem como resposta agrave constituiccedilatildeo de novos ramos fundamentais do

conhecimento cientiacutefico como a Biologia e as primeiras ciecircncias pode-se dizer

verdadeiramente humanas a Sociologia (em Comte e Spencer) e a Psicologia (em

Comte Spencer e Wundt)

No final do seacuteculo XIX sob o princiacutepio geral do materialismo dialeacutetico

propondo uma utilizaccedilatildeo materialista do princiacutepio de subordinaccedilatildeo das ciecircncias

acontece a contribuiccedilatildeo de Friedrich Engels (1820-1895) e Karl Marx (1818-1883)

para a classificaccedilatildeo das ciecircncias

Para Marx (1976 p 100-101) a produccedilatildeo de ideacuteias das representaccedilotildees e da

consciecircncia estaacute diretamente ligada agrave atividade material (as suas categorias natildeo satildeo

mais que a expressatildeo teoacuterica das relaccedilotildees de produccedilatildeo) Os sentidos proporcionam

um conhecimento imediato e objetivo das coisas mas a validade do conhecimento

consiste na sua utilidade O conhecimento tem valor enquanto possibilita agir A

accedilatildeo ou praacutexis eacute anterior ao conhecimento ou teoria e soacute seraacute plena quando virar

74

atividade transformadora do meio social Sob essa oacutetica criou o meacutetodo dialeacutetico71

cientiacutefico aplicaacutevel tambeacutem ao problema da classificaccedilatildeo das ciecircncias pois as leis

fundamentais da dialeacutetica materialista atuam em todos os setores da vida (MAZIP

2001 p 279) Marx construiu um sistema geral de conhecimentos embasado na

ideacuteia de desenvolvimento do mundo seguindo uma ordem de subordinaccedilatildeo das

ciecircncias 1) ldquociecircncias naturaisrdquo depois a relaccedilatildeo do homem com a natureza o

trabalho do trabalho industrial surge a teacutecnica e a tecnologia a que correspondem

2) ldquociecircncias teacutecnicasrdquo aiacute entram as forccedilas produtivas da sociedade de base

econocircmica gerando 3) ldquociecircncias econocircmicasrdquo a partir das quais aparecem os ramos

da superestrutura ideoloacutegica da sociedade tais como a superestrutura poliacutetica

juriacutedica e outras A Filosofia ocupa um lugar agrave parte ao encarregar-se das leis do

pensamento e das leis do mundo

As novas formulaccedilotildees teoacutericas a respeito das classificaccedilotildees das ciecircncias iratildeo

determinar as modernas classificaccedilotildees bibliograacuteficas que surgem no final do seacuteculo

XIX princiacutepio do seacuteculo XX como seraacute enfocado na seccedilatildeo 472

No seacuteculo XX o problema da classificaccedilatildeo das ciecircncias ao mesmo tempo em

que perde o estatuto de centralidade no interior da Filosofia das Ciecircncias faz

emergir uma preocupaccedilatildeo com niacuteveis de realidade

Muitos filoacutesofos atraveacutes do tempo tecircm apontado que a realidade eacute

estruturada em uma seacuterie de niacuteveis integrados tais como o fiacutesico o bioloacutegico o

71 A dialeacutetica que aparece no pensamento de Marx surge como uma tentativa de superaccedilatildeo da dicotomia da separaccedilatildeo entre o sujeito e o objeto No entanto a dialeacutetica surgiu na histoacuteria do pensamento humano muito antes de Marx Em suas primeiras versotildees a dialeacutetica foi entendida ainda na Greacutecia antiga como a arte do diaacutelogo a arte de conversar Soacutecrates emprega esse conceito para desenvolver a sua filosofia Platatildeo utiliza abundantemente a dialeacutetica em seus diaacutelogos A verdade eacute atingida pela relaccedilatildeo de diaacutelogo que pressupotildee minimamente duas instacircncias mas ateacute aqui o diaacutelogo acontece sob um princiacutepio de identidade entre os iguais Poreacutem segundo Mazip (2001) eacute a dialeacutetica de Marx construccedilatildeo loacutegica do meacutetodo materialista histoacuterico que fundamenta o pensamento marxista como possibilidade teoacuterica (instrumento loacutegico) de interpretaccedilatildeo da realidade visatildeo de mundo e praacutexis Na busca de um caminho epistemoloacutegico ou de um caminho que fundamentasse o conhecimento para a interpretaccedilatildeo da realidade histoacuterica e social que o desafiava Marx conferiu agrave dialeacutetica um caraacuteter materialista e histoacuterico Para o materialismo dialeacutetico-marxista as ideacuteias devem ser compreendidas dentro de um contexto histoacuterico vivido pela comunidade dos seres humanos 72 A tiacutetulo de esclarecimento pois natildeo faz parte desta anaacutelise conveacutem dizer que a concepccedilatildeo marxista das ciecircncias acarretaraacute no seacuteculo XX a proposta de classificaccedilatildeo das ciecircncias de Vladimir Ylyich Ulianov vulgo Lenin (1870-1924) que culminaraacute com a Classificaccedilatildeo Bibliograacutefica da antiga Uniatildeo Sovieacutetica (URRS) a Bibliograficeskaja i Biblioteknaja Klassifikacija (BBK) aprovada em 1959 uma das grandes classificaccedilotildees bibliograacuteficas gerais que aleacutem de ser o sistema nacional russo de classificaccedilatildeo difundiu-se pelos antigos paiacuteses socialistas (SAN SEGUNDO MANUEL 1996)

75

mental e o cultural e que cada niacutevel funciona como uma base para o aparecimento

ou a emergecircncia de niacuteveis mais complexos Teorias73 mais detalhadas de niacuteveis

foram desenvolvidas por Nicolai Hartmann74 e James K Feibleman (quadro 17) as

quais tecircm sido consideradas como uma fonte para estruturar princiacutepios em

classificaccedilotildees bibliograacuteficas pelo Classification Research Group (CRG)75 e por

Ingetraut Dahlberg (GNOLI POLI 2004)

N HARTMANN N HARTMANN J K FEIBLEMAN

OBJETOS GERAIS - GENERAL OBJECTS

Inorgacircnico Mateacuteria e Energia Cosmos e Terra

Fiacutesico-Quiacutemico

Orgacircnico Seres vivos (plantas animais)

Bioloacutegico

Psiacutequico Seres vivos (homem)

Psicoloacutegico

Intelectual Organizaccedilatildeo dos seres vivos (sociedade)

Antropoloacutegico

QUADRO 17 - NIacuteVEIS DE OBJETOS GERAIS DE ACORDO COM HARTMANN E FEIBLEMAN FONTE Gopinath (2001 p 57)

73 Tecircm a funccedilatildeo de auxiliar o movimento do pensar sobre as entidades do mundo e de suas relaccedilotildees 74 Filoacutesofo contemporacircneo que na obra Elementos de uma Metafiacutesica do Conhecimento de 1921 ressalta como o conhecimento natildeo cria o seu objeto mas eacute uma relaccedilatildeo entre seres que preacute-existem independentemente dessa relaccedilatildeo Para N Hartmann o problema do conhecimento supotildee e implica um problema do ser Ao estudo desse problema consagrou o trabalho Os Fundamentos da Ontologia de 1935 75 O CRG (para a histoacuteria da criaccedilatildeo do CRG cf FOSKETT D J The Classification Research Group 1952-1962 Libri Munchen v 12 n 2 p 127-138 1962) formado no Reino Unido em 1952 tem sido um dos contribuintes mais significativos agrave teoria e pesquisa da classificaccedilatildeo a partir da uacuteltima metade do seacuteculo XX O trabalho teoacuterico do Grupo envolve o estudo da anaacutelise por facetas operadores relacionais e a teoria dos niacuteveis integrativos (base de um novo enfoque para a classificaccedilatildeo) O CRG opocircs agrave abordagem tradicional [top-down] de cima para baixo da classificaccedilatildeo na qual aacutereas do conhecimento satildeo predeterminadas e estatildeo subdivididas em seus elementos constituintes uma abordagem [bottom-up] de baixo para cima para a classificaccedilatildeo na qual primeiramente juntam-se os elementos individuais (os conceitos) para entatildeo determinar as aacutereas de conhecimento que lhes datildeo forma (AUSTIN 1969a SPITERI 1995)

76

Gopinath (2001 p 58) sugere adotar a anaacutelise de niacuteveis (fiacutesico bioloacutegico

psicoloacutegico e antropoloacutegico) e sua possiacutevel aplicaccedilatildeo a um esquema e classificaccedilatildeo

geral embasados nos fenocircmenos76 e natildeo nas disciplinas (como formulado

primeiramente por Derek Austin em 1969 e examinado em detalhes pelo CRG que

aponta tanto benefiacutecios como problemas na aplicaccedilatildeo da teoria dos niacuteveis

integrativos para classificaccedilotildees bibliograacuteficas77) pois de acordo com o autor haacute

duas espeacutecies de realidade uma delas estabelecida pelos niacuteveis dos seres (fiacutesico

bioloacutegico) incluindo o homem e uma outra estabelecida pelos niacuteveis (psicoloacutegico

antropoloacutegico) que o homem cria atraveacutes da sua necessidade inata de interagir com

o ser em todas as formas e maneiras Assim os elementos dos conceitos

constituiacutedos por essas duas realidades fundamentais satildeo produtos da mente

(subjetiva) e produtos da forma (concreta) Na maioria das vezes os conceitos satildeo a

mescla de ambos sendo que a forma na visatildeo de Gopinath eacute dominante na

capacidade para categorizar todo conceito

76 Fenocircmeno o mesmo que aparecircncia Nesse sentido o fenocircmeno eacute a aparecircncia sensiacutevel que se contrapotildee agrave realidade podendo ser considerado manifestaccedilatildeo desta ou que se contrapotildee ao fato do qual pode ser considerado idecircntico Eacute esse o sentido que essa palavra normalmente assume na linguagem comum sendo tambeacutem o significado encontrado em Bacon Descartes Leibniz Hobbes A partir de Husserl fenocircmeno comeccedilou a indicar natildeo soacute o que aparece ou se manifesta ao homem em condiccedilotildees particulares mas tambeacutem aquilo que aparece ou se manifesta em si mesmo como eacute em si na sua essecircncia (ABBAGNANO 2003 p 436-437 LALANDE 19-- p 467) Para Kant fenocircmeno eacute tudo o que eacute ldquopossiacutevel objeto de experiecircnciardquo tudo que aparece no tempo ou no espaccedilo e que manifesta as relaccedilotildees determinadas pelas categorias 77 Derek Austin (1969b) tenta precisar as origens da teoria dos niacuteveis integrativos mencionando que elas poderiam estar tanto no Positivismo de Comte (cf subseccedilatildeo 313) quanto nos Primeiros Princiacutepios de Herbert Spencer (cf subseccedilatildeo 313) Nos anos 30 do seacuteculo XX o bioquiacutemico Joseph Needham introduziu a teoria dos niacuteveis integrativos nas suas conferecircncias e embora fossem conhecidas vaacuterias interpretaccedilotildees da teoria (como a de A B Novikoff e a de H Spencer) o CRG decidiu adotar a de Needham e a de Feibleman (FEIBLEMAN 1965 1985) O CRG interpretou a teoria baseando-se na ideacuteia de que o mundo das coisas desenvolve-se do simples para o complexo pela acumulaccedilatildeo de propriedades novas e divergentes e que ateacute certo ponto ocorrem mudanccedilas que transformam a lsquoentidadersquo de um membro de um grupo ou classe em um membro de um grupo novo A nova entidade passa a ter propriedades caracteriacutesticas do novo niacutevel de organizaccedilatildeo e a se comportar de uma maneira completamente nova (FOSKETT D J 1962 p 136) D J Foskett (1978) utilizando o exemplo de uma bicicleta afirma que ela eacute mais do que um mero amontoado de peccedilas (seacuterie de partes) de accedilo borracha etc porque quando os elementos satildeo reunidos em um determinado conjunto de conexotildees uma nova entidade emerge O que parece existir por traacutes da noccedilatildeo de niacuteveis integrativos eacute a ideacuteia de que as entidades se desenvolvem do simples ao complexo por acreacutescimo de propriedades que em certo ponto transformaratildeo a entidade velha em um objeto novo com novas propriedades (HUCKABY 1972 p 99) De algum modo essa teoria advoga um desenvolvimento evolucionaacuterio das entidades (ver nota 67) A diferenccedila estaacute na ordem proposta pelos niacuteveis integrativos e aquela sugerida no seacuteculo XIX por Comte e Spencer a primeira eacute construiacuteda sobre uma ordenaccedilatildeo ascendente das entidades enquanto que a uacuteltima eacute construiacuteda sobre uma ordenaccedilatildeo descendente Na teoria dos niacuteveis integrativos determina-se o que uma entidade eacute somente a partir da construccedilatildeo ou desenvolvimento de suas partes

77

As categorias tecircm uma habilidade ou capacidade estruturante - elas natildeo

somente elaboram toda a estrutura das unidades de conhecimento mas tambeacutem

fornecem ao mesmo tempo o esqueleto os muacutesculos e tendotildees para essa

estrutura (GOPINATH 2001 p 58)

Quando novos ou mais niacuteveis ontoloacutegicos satildeo acrescentados ao estudo

Gopinath (2001 p 57-59) refere-se em especial aos quatro niacuteveis de objetos gerais

(fiacutesico bioloacutegico psicoloacutegico e antropoloacutegico) que se combinam (tecircm em comum) no

fato de que somente uma parte de todas as coisas se manifesta na realidade (outra

parte permanece encoberta) e estes niacuteveis podem ser suplementados em ambas as

direccedilotildees Em direccedilatildeo ao topo ou seja agrave ldquomateacuteriardquo e ldquoenergiardquo as quais podem ser

consideradas como objetos derivados do niacutevel ldquocosmosrdquo e especialmente ldquoterrardquo

onde se pode reconhecer uma realidade outra isto eacute a existecircncia de um niacutevel de

ldquoformas e estruturasrdquo que precedem o niacutevel inorgacircnico-fiacutesico e em direccedilatildeo agrave base

ou seja ao espiacuterito pois o homem tambeacutem reconhece niacutevel sem objeto material

algum contendo as chamadas realidades invisiacuteveis do espiacuterito (quadro 18)

NIacuteVEIS AacuteREAS DE CONHECIMENTO OBJETOS GERAIS InorgacircnicoFiacutesico Matemaacutetica Formas puras e proporccedilotildees

(formas e dimensotildees dos objetos matemaacuteticos)

InorgacircnicoFiacutesico Fiacutesico-Quiacutemica

Mateacuteria pura e Energia (aacutetomos compostos forccedilas)

Mateacuteria agregada em movimento (corpos coacutesmicos terra)

OrgacircnicoBioloacutegico Bioloacutegica Seres animados seres natildeo-inteligentes (micro-organismos plantas animais)

PsiacutequicoPsicoloacutegico Psicoloacutegica

Seres animados seres inteligentes (seres individuais)

IntelectualAntropoloacutegico Antropoloacutegica Seres inteligentes ldquoagregadosrdquo (sociedades humanas)

Produtos materiais (o que eacute produzido ou fabricado o que se destina a ser vendido aos consumidores produccedilatildeo de bens e de serviccedilos) Produtos intelectuais (ciecircncia informaccedilatildeo documentos notiacutecias)

EspiritualAntropoloacutegico Antropoloacutegica Produtos espirituais (linguagem trabalhos artiacutesticos e metafiacutesicos)

QUADRO 18 - NIacuteVEIS DE OBJETOS GERAIS DE ACORDO COM GOPINATH FONTE a autora com base em Gopinath (2001 p 57)

Qualquer divisatildeo das ciecircncias natildeo eacute definitiva mas provisoacuteria qualquer

classificaccedilatildeo depende da fase atual de desenvolvimento de cada disciplina cujos

78

avanccedilos muitas vezes tecircm se originado da soluccedilatildeo de problemas que se encontram

nas fronteiras entre aacutereas ateacute entatildeo tratadas separadamente

Eacute possiacutevel afirmar que tanto os filoacutesofos como qualquer pessoa necessitam

classificar - eacute da natureza humana classificar - pois a vida gira em torno de sistemas

de classificaccedilatildeo ou seja diante da complexidade dos objetos a variedade de

sistemas se mostra natildeo como prejuiacutezo mas como ganho Todos gastam grande

parte dos seus dias fazendo algum trabalho de classificaccedilatildeo e usando uma seacuterie de

classificaccedilotildees ad hoc (dadas para um propoacutesito particular) Separa-se a louccedila suja

da limpa a roupa para lavar branca da de cor a correspondecircncia importante para

ser respondida das banais e assim por diante Qualquer parte da casa escola ou

trabalho revela algum sistema de classificaccedilatildeo que estaacute embutido numa sequecircncia

de tarefas cotidianas e praacuteticas Quando se precisa armazenar ou recuperar algo a

ordem se impotildee (BOWKER STAR 2000)

Nas subseccedilotildees 314 e 33 o conceito de classe nas classificaccedilotildees filosoacuteficas

dos saberes seraacute sintetizado a fim de contribuir para o entendimento de classe para

as classificaccedilotildees bibliograacuteficas chamadas ldquoclaacutessicasrdquo ou ldquotradicionaisrdquo

314 Quadros-Siacutentese das Classificaccedilotildees Filosoacuteficas dos Saberes Tanto os princiacutepios que embasaram as classtificaccedilotildees filosoacuteficas dos saberes

(quadro 19) quanto as proacuteprias classificaccedilotildees dos saberes das ciecircncias (quadros 20 e

21) dividindo o conhecimento em disciplinas ou aacutereas de estudo refletem a trajetoacuteria do

pensamento filosoacutefico e parecem indicar que a humanidade teraacute que enfrentar e resolver

questotildees fundamentais em diversas aacutereas do conhecimento (Astronomia Filosofia

Psicologia Sociologia Medicina Antropologia Geneacutetica entre outras) e sob diversos

princiacutepios nos proacuteximos anos do seacuteculo XXI a respeito do homem (Como surgiu Quais

satildeo seus antepassados Qual o princiacutepio unificador do gecircnero humano) e de seus

atributos razatildeo (Como funciona o ceacuterebro) linguagem (Qual eacute o mecanismo da

comunicaccedilatildeo humana) psicologia (O inconsciente humano existe) sociedade (Como

conseguir a subsistecircncia da sociedade no tempo) poliacutetica (Qual eacute o modelo de

representaccedilatildeo ideal) espiritualidade (Qual eacute a essecircncia do homem) eacutetica (Quais satildeo

os paracircmetros que devem reger as accedilotildees humanas) liberdade e privacidade (Como

sobreviver mentalmente e garantir a individualidade num mundo de apelos pressotildees e

chantagens automatizado e controlador) e a respeito do universo (Como comeccedilou e

quanto tempo duraraacute Existem outros modos de vida no universo)

79

PERIacuteODO FILOacuteSOFO PRINCIacutePIOS

Seacutec IV aC Platatildeo Triacuteplice divisatildeo com base no platonismo teoria das ideacuteias e dos nuacutemeros (mente matemaacutetica) o Mito da Caverna como concepccedilatildeo de conhecimento preocupaccedilatildeo eacutetica (poliacutetica e esteacutetica) e discurso ou saber demonstrativo - Princiacutepio subjetivo o fim a que as ciecircncias se propotildeem

Seacutec IV aC Aristoacuteteles Triacuteplice divisatildeo com base nas trecircs operaccedilotildees a que se dedicam os homens Pensar Agir e Produzir- Princiacutepio subjetivo o homem e suas operaccedilotildees e o fim a que as ciecircncias se propotildeem

Seacutec VI Cassiodoro Trivium e Quatrivium (sete artes liberais) com base nas Palavras e nas Coisas- Princiacutepio objetivo a natureza

1266 R Bacon Quaacutedrupla divisatildeo influenciada pelas classificaccedilotildees escolaacutesticas (derivadas de Aristoacuteteles) e pela divisatildeo triacuteplice estoacuteica e epicurista - Princiacutepio objetivo a natureza

1575 Huarte Triacuteplice divisatildeo com base nas (trecircs) faculdades humanas mobilizadas na aquisiccedilatildeo de conhecimento Memoacuteria Razatildeo Imaginaccedilatildeo (o entendimento humano eacute o princiacutepio organizador da estrutura do conhecimento) - Princiacutepio subjetivo o homem e suas capacidades

1605 F Bacon Triacuteplice divisatildeo com base nas (trecircs) faculdades humanas mobilizadas na aquisiccedilatildeo de conhecimento Memoacuteria Imaginaccedilatildeo Razatildeo (o entendimento humano eacute o princiacutepio organizador da estrutura do conhecimento e a classificaccedilatildeo eacute construiacuteda sobre asserccedilotildees epistemoloacutegicas subjetivas e racionais que derivaram de uma visatildeo de mundo que via o homem como o centro do universo) - Princiacutepio subjetivo o homem e suas capacidades

1647 Descartes Triacuteplice divisatildeo com base no grau de sabedoria ou clareza de ideacuteias que o homem pode atingir em cada ciecircncia (raiz tronco galhos) - Princiacutepio subjetivo o homem e suas capacidades

1651 Hobbes Classificaccedilatildeo embasada no materialismo mecanicista- Princiacutepio objetivo parte do conhecimento sensiacutevel ao abstrato dos fatos concretos agrave teoria - Princiacutepio subjetivo sequecircncia do natural ao civil

1690 Locke Classificaccedilatildeo embasada no empirismo a experiecircncia como fonte de conhecimento que depois se desenvolve pelo esforccedilo da razatildeo - Suplanta o princiacutepio das capacidades humanas e divide as ciecircncias segundo seu objeto em reais e ideais

1701 Leibniz Classificaccedilatildeo com base na Fiacutesica Teoacuterica aristoteacutelica- Princiacutepio objetivo classes aparecem como cacircnone das disciplinas do conhecimento

1751 Diderot e drsquoAlembert

Triacuteplice divisatildeo com base nas (trecircs) faculdades humanas mobilizadas na aquisiccedilatildeo de conhecimento Memoacuteria Razatildeo Imaginaccedilatildeo (Classificaccedilatildeo baconiana invertida o entendimento humano eacute o princiacutepio organizador da estrutura do conhecimento) - Princiacutepio subjetivo o homem e suas capacidades

1817 Hegel Triacuteplice divisatildeo com base na Loacutegica Dialeacutetica A classificaccedilatildeo emana do espiacuterito criador da natureza- Princiacutepio subjetivo a siacutentese dos opostos

1834 Ampegravere Classificaccedilatildeo dicotocircmica embasada nos reinos da natureza e do espiacuterito- Princiacutepio subjetivo a oposiccedilatildeo - Princiacutepio objetivo divide as ciecircncias de acordo com a natureza do seu objeto em ciecircncias da natureza e ciecircncias do espiacuterito

1842 Comte Triacuteplice divisatildeo com base na classificaccedilatildeo dos fenocircmenos e na ordem histoacuterica da sua constituiccedilatildeo e progressiva diferenciaccedilatildeo- Principio objetivo fundamental de coordenaccedilatildeo parte das ciecircncias mais simples fundamentais para as mais complexas e derivadas

1864 Spencer Triacuteplice divisatildeo com base na classificaccedilatildeo dos fenocircmenos- Princiacutepio objetivo fundamental de coordenaccedilatildeo parte das ciecircncias abstratas para as concretas

1889 Wundt Classificaccedilatildeo com base na distinccedilatildeo entre ciecircncias formais e ciecircncias reais Como as ciecircncias formais natildeo tecircm objeto (satildeo sistemas de asserccedilotildees auxiliares sem objeto e sem conteuacutedo) essa classificaccedilatildeo deixa intacta a unidade da ciecircncia - Princiacutepio objetivo fundamental de coordenaccedilatildeo do abstrato ao concreto

QUADRO 19 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES FONTE a autora

80

PERIacuteODO FILOacuteSOFO DIVISAtildeO DAS CIEcircNCIAS Seacuteculo IV aC

Platatildeo 427-347 aC

Fiacutesica Eacutetica Loacutegica

Seacuteculo IV aC

Aristoacuteteles 384-322 aC

Filosofia Teoacuterica ou Especulativa Teologia Fiacutesica Matemaacutetica Filosofia Praacutetica Eacutetica Economia Poliacutetica Filosofia Poieacutetica ou Produtiva Dialeacutetica Retoacuterica Poeacutetica Medicina Ginaacutestica Gramaacutetica (aqui encontra-se a Filologia em sua acepccedilatildeo mais geral como destinada a estudar e perpetuar atraveacutes das manifestaccedilotildees linguiacutesticas dos autores claacutessicos o grego pois falado por pessoas incultas acreditavam que tendia a corromper-se) Muacutesica

Seacuteculo VI

Cassiodoro 485-580

Trivium Ciecircncias Sermoniais Gramaacutetica (Filologia como um problema filosoacutefico da origem da linguagem Em Roma a Gramaacutetica continua a integrar a Filosofia e os filoacutelogos exercem a criacutetica literaacuteria) Dialeacutetica (Loacutegica) Retoacuterica Quatrivium Ciecircncias Reais Geometria Aritmeacutetica Astronomia Muacutesica

Seacuteculo XIII (1266)

R Bacon 1214-1294

Fiacutesica Oacutetica Astronomia Alquimia Agricultura Medicina Ciecircncias Experimentais Filologia Gramaacutetica Loacutegica Retoacuterica Matemaacuteticas Aritmeacutetica Geometria Mecacircnica Muacutesica Arquitetura Eacutetica Metafiacutesica Teologia Moral

Seacuteculo XVI (1575)

Huarte 1529-1591

Artes e Ciecircncias da Memoacuteria Histoacuteria (Histoacuteria Natural Histoacuteria Civil) Artes e Ciecircncias da Razatildeo Filosofia Artes e Ciecircncias da Imaginaccedilatildeo Poesia (Narrativa Dramaacutetica Paraboacutelica)

Seacuteculo XVII (1605)

F Bacon 1561-1626

Ciecircncias da Memoacuteria Histoacuteria (Histoacuteria Natural Histoacuteria Civil) Geografia Ciecircncias da Imaginaccedilatildeo Poesia (Narrativa Dramaacutetica Paraboacutelica) Belas Artes Ciecircncias da Razatildeo Filosofia (Divina = Teologia Natural Humana) Matemaacutetica

Seacuteculo XVII (1647)

Descartes 1596-1650

Metafiacutesica (Teologia) Fiacutesica (Matemaacuteticas) Mecacircnica Medicina Moral

Seacuteculo XVII (1651)

Hobbes 1588-1679

Histoacuteria Histoacuteria Natural Histoacuteria Civil Filosofia Filosofia Natural Filosofia Civil Filosofia Mecacircnica (Filosofia Primeira Matemaacuteticas Aritmeacutetica Geometria Astronomia Geografia) Fiacutesica Meteorologia Astrologia Mineralogia Botacircnica Zoologia Oacutetica Muacutesica Poesia Retoacuterica Loacutegica Eacutetica Esteacutetica Poliacutetica

Seacuteculo XVII (1690)

Locke 1632-1704

Ciecircncias Reais Naturais Fiacutesica Filosofia Natural Quiacutemica Teologia Natural Biologia (Medicina) Metafiacutesicas Filosofia Teologia Ciecircncias Ideais Praacuteticas Matemaacutetica Eacutetica ou Filosofia Praacutetica (Artes Mecacircnicas Belas Artes) Semioacuteticas Loacutegica Linguiacutestica Gecircnero de Vida (similar a Antropologia)

QUADRO 20 - DIVISAtildeO DAS CIEcircNCIAS NAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES continua

81

PERIacuteODO FILOacuteSOFO DIVISAtildeO DAS CIEcircNCIAS

Seacuteculo XVIII (1701)

Leibniz 1646-1716

Teologia Jurisprudecircncia Medicina Filosofia Matemaacutetica Fiacutesica Linguagem Histoacuteria

Seacuteculo XVIII (1751)

Diderot 1713-1784 drsquoAlembert 1717-1783

Histoacuteria (Sagrada Eclesiaacutestica Civil Natural) Filosofia (Metafiacutesica Geral Ciecircncia de Deus Ciecircncia dos Homens Ciecircncia Natural) Poesia (Narrativa Drama Alegorias)

Seacuteculo XIX (1817)

Hegel 1770-1831

Ciecircncias do Absoluto Ontologia Teologia Epistemologia Ciecircncias da Natureza Mecacircnica Fiacutesica Biologia Ciecircncias do Espiacuterito Subjetivas Psicologia Objetivas Histoacuteria Absolutas Arte Religiatildeo Filosofia (Direito Eacutetica)

Seacuteculo XIX (1834)

Ampegravere 1775-1836

Ciecircncias Cosmoloacutegicas Ciecircncias Matemaacuteticas Ciecircncias Fiacutesicas Ciecircncias Naturais Ciecircncias Meacutedicas Ciecircncias Nooloacutegicas Ciecircncias Filosoacuteficas Ciecircncias Nooteacutecnias Ciecircncias Etnoloacutegicas Ciecircncias Poliacuteticas

Seacuteculo XIX (1842)

Comte 1798-1857

Ciecircncias Abstratas Fundamentais Matemaacutetica (Aritmeacutetica Geometria Aacutelgebra) Astronomia (Geomeacutetrica Mecacircnica) Fiacutesica (Termologia Acuacutestica Oacutetica Eletrocircnica) Quiacutemica (Orgacircnica Inorgacircnica) Biologia (Fisiologia) Fiacutesica Social (similar agrave Sociologia) Moral Ciecircncias Concretas Derivadas Engenharias Mecacircnica Geologia Tecnologia Medicina Agricultura Botacircnica Zoologia Antropologia Sociologia Direito Economia Poliacutetica Histoacuteria Geografia humana Arqueologia Psicologia Loacutegica Esteacutetica Cosmologia racional ou filosoacutefica Psicologia racional ou filosoacutefica Teologia racional ou filosoacutefica

Seacuteculo XIX (1864)

Spencer 1820-1903

Ciecircncias Abstratas Loacutegica formal Matemaacutetica Ciecircncias Abstrato-concretas Mecacircnica Fiacutesica Quiacutemica Ciecircncias Concretas Astronomia Mineralogia (Geologia) Biologia Psicologia Sociologia

Seacuteculo XX (1889)

Wundt 1832-1920

Ciecircncias Formais Loacutegica Matemaacutetica Ciecircncias Reais Natureza Fenomenoloacutegicas Fiacutesica Quiacutemica Biologia Geneacuteticas Cosmologia Geologia Embriologia Filogecircnese Sistemaacuteticas Astronomia Geografia Histoacuteria Natural (ZoolBot) Espiacuterito Fenomenoloacutegicas Psicologia Geneacuteticas Histoacuteria Sistemaacuteticas Direito Economia Poliacutetica

QUADRO 20 - DIVISAtildeO DAS CIEcircNCIAS NAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES conclusatildeo

FONTE a autora

82

IV aC IV aC VI XIII XVI XVII XVII XVII XVII XVII XVIII XIX XIX XIX XIX XX Platatildeo

Aristoacuteteles Cassiodoro

R Bacon (1266)

Huarte (1575)

F Bacon(1605)

Descartes(1647)

Hobbes(1651)

Locke(1690)

Leibniz (1701)

Diderot edrsquoAlembert (1751)

Hegel(1817)

Ampeacutere(1834)

Comte(1842)

Spencer (1864)

Wundt (1889)

C TEOacuteRICAS TRIVIUM TRIVIUM MEMOacuteRIA MEMOacuteRIA FATOS REAIS

TEOacuteRICAS MEMOacuteRIA ABSOLUTO ABSTRATAS ABSTRATAS FORMAIS

Fiacutes Teol Gram Filol Histoacuteria Histoacuteria Metafiacutesica Histoacuteria Fiacutesica Teologia Histoacuteria Ontologia Matemaacutetica Loacutegica Formal

Loacutegica

Fiacutes Dial Gram Natural Natural Teologia Natural Quiacutemica Jurisprud Sagrada Teologia Astronomia Matemaacutetica Matemaacutetica Mats Retoacuter Loacuteg Civil Civil Civil Biologia Medicina Eclesiaacutestica Epistemol Fiacutesica Retoacuter Geografia Filosofia Civil Quiacutemica Filosofia Matemaacutetica Natural Biologia Teologia Fiacutesica Fiacutesica Social Linguagem Moral Histoacuteria C PRAacuteTICAS QUATRIVIUM QUATRiVIUM RAZAtildeO IMAGINACcedilAtildeO IDEAIS RAZAtildeO NATUREZA COSMOLOacuteGICAS

(Natureza) CONCRETAS ABSTRATO-

CONCRETAS REAIS Natureza

Eacutetica Eacutetica Geom Mat Filosofia Poesia Fiacutesica Fiacutesica Matemaacutetica Filosofia Mecacircnica Mats Engenharia Mecacircnica FiacutesQuiacuteBiol Econ Arit Aritmeacutet Narrativa Mats Meteorol Eacutetica Metafiacutes Fiacutesica Fiacutesica Mecacircnica Fiacutesica CosmoGeol Pol Astron Geom Dramaacutetica Astrologia Deus Biologia C Naturais Geologia Quiacutemica AstrGeogr Muacutes Mec Paraboacutelica Mineralogia Loacutegica Homem C Meacutedicas Tecnologia Hist Natural Muacutes Belas Artes Botacircnica Linguiacutestica Natural Medicina Arquit Zoologia Antropolog Sociologia Eacutetica Oacutetica Psicologia Metaf Muacutesica Teol Poesia Mor Retoacuterica Loacutegica Eacutetica Esteacutetica Poliacutetica C POEacuteTICAS IMAGINACcedilAtildeO RAZAtildeO Oacutetica IMAGINACcedilAtildeO ESPIacuteRITO NOOLOacuteGICAS

(Espiacuterito) CONCRETAS REAIS

Espiacuterito Loacuteg Dial Fiacutes Poesia Filosofia Mecacircnica Muacutesica Poesia Psicologia Filosofia Astronomia Psicologia Retoacuter Oacutetic Narrativa Divina Medicina Eacutetica Narrativa Histoacuteria Nooteacutecnias Mineralogia Histoacuteria Poeacutet Astron Dramaacutetica Natural Moral Poesia Drama Arte Etnoloacutegicas Geologia Direito Medi Alquim Paraboacutelica Humana Alegorias Religiatildeo Poliacuteticas Biologia Economia Ginaacutest Agron Matemaacuteticas Filosofia Psicologia Poliacutetica Gram Meacuted Sociologia Muacutes C Exper

QUADRO 21 - DISCIPLINAS BAacuteSICAS (ORIGINAIS) DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SABERES CLASSES FONTE a autora

83

A partir dos quadros-siacutentese das classificaccedilotildees filosoacuteficas dos saberes

(classes) eacute possiacutevel constatar a predominacircncia de alguns princiacutepios e caracteriacutesticas

que desde o sistema de organizaccedilatildeo das filosofias (ciecircncias) de Aristoacuteteles

permanecem inspirando e influenciando os sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica

como a presenccedila de

a) agente classificador (filoacutesofo ou outros)

b) princiacutepio classificatoacuterio (o fim a que as ciecircncias se prepotildeem em Airstoacuteteles

as trecircs faculdades humanas envolvidas no ato de conhecer em Huarte de

San Juan F Bacon Diderot e drsquoAlembert entre outros)

c) conjunto de elementos (ciecircncias) constituiacutedos na eacutepoca da classificaccedilatildeo ou

nela jaacute previacutesiveis (Comte Spencer Wundt)

d) mecanismos que possibilitam a inserccedilatildeo de novas ciecircncias ainda natildeo

constituiacutedas (Ampeacutere)

e) fio condutor jaacute que toda classificaccedilatildeo constroiacute-se no contexto das

classificaccedilotildees anteriores do mesmo domiacutenio (existe uma histoacuteria de

integraccedilatildeo nas classificaccedilotildees das ciecircncias ao longo da qual os domiacutenios e

as divisotildees78 podem ser modificados e novos criteacuterios acrescentados)

f) esquema classificatoacuterio concreto (estrutura hieraacuterquica quadro aacutervore

figura geomeacutetica) que permite a execuccedilatildeo das operaccedilotildees

Observa-se poreacutem que a rigor soacute eacute possiacutevel falar em classificaccedilotildees

cientiacuteficas a partir da Idade Moderna especificamente a partir do Renascimento

com o aparecimento das Ciecircncias Naturais como ciecircncia sistemaacutetica (seacutec XVIII)79

32 CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES CATEGORIAS O conhecimento em geral pressupotildee uma teacutecnica para a verificaccedilatildeo de um

objeto qualquer Por teacutecnica de verificaccedilatildeo costuma-se entender qualquer

procedimento que possibilite a descriccedilatildeo o caacutelculo ou a previsatildeo controlaacutevel de um

78 Classes que podem ser definidas como divisotildees de um sistema ou quadro de classificaccedilatildeo correspondendo cada divisatildeo a uma tentativa de organizar os saberes para formar o panorama dos conhecimentos de uma eacutepoca 79 As Ciecircncias Naturais constituem o primeiro sistema cientiacutefico por excelecircncia e eacute o seu objeto de conhecimento o primeiro a estabelecer por conseguinte um sistema de classificaccedilatildeo sendo a Botacircnica e a Zoologia (seacutec XIX) as disciplinas que criaram ainda incipientes no Renascimento um sistema de classificaccedilatildeo como meacutetodo de estudo da natureza mediante o agrupamento hieraacuterquico de plantas e animais com base nas relaccedilotildees entre organismos Essa atividade classificatoacuteria da Ciecircncia Natural se converte posteriormente em disciplina cientiacutefica proacutepria (ESTEBAN NAVARRO 1995 p 43-71)

84

objeto (teacutecnica nesse sentido eacute o uso normal de um oacutergatildeo do sentido tanto quanto a

operaccedilatildeo com instrumentos) e por objeto deve-se entender qualquer entidade fato

coisa realidade ou propriedade

Como procedimento de verificaccedilatildeo qualquer operaccedilatildeo cognitiva visa a um objeto

e tende a instaurar com ele uma relaccedilatildeo da qual venha a emergir uma caracteriacutestica

efetiva deste Portanto segundo Abbagnano (2003 p 174-183) as vaacuterias

interpretaccedilotildees de conhecimento ao longo da histoacuteria da Filosofia podem ser

consideradas interpretaccedilotildees dessa relaccedilatildeo e resumir-se em duas alternativas na

primeira essa relaccedilatildeo eacute de identidade ou semelhanccedila (entende-se por semelhanccedila

uma identidade parcial) e a operaccedilatildeo cognitiva eacute um procedimento de identificaccedilatildeo do

objeto para representaacute-lo na segunda a relaccedilatildeo cognitiva eacute uma apresentaccedilatildeo do

objeto e a operaccedilatildeo cognitiva eacute um procedimento de transcendecircncia

A primeira interpretaccedilatildeo - conhecimento como operaccedilatildeo de identificaccedilatildeo - pode

ser dividida em duas fases distintas na primeira fase o conhecimento eacute considerado

retrato ou imagem do objeto e a identidade ou a semelhanccedila com o objeto eacute entendida

como identidade ou semelhanccedila dos elementos do conhecimento com os elementos do

objeto por exemplo dos conceitos ou das representaccedilotildees com as coisas na segunda

fase o conhecimento tem com o objeto a mesma relaccedilatildeo que um mapa tem com a

paisagem que representa ou seja a semelhanccedila restringe-se agrave ordem dos respectivos

elementos e a operaccedilatildeo de conhecer natildeo consiste em reproduzir o objeto mas em

reproduzir as relaccedilotildees constitutivas do proacuteprio objeto a ordem dos elementos

A primeira fase constitui a maneira como a doutrina do conhecimento surgiu no

mundo antigo ou seja como identificaccedilatildeo Satildeo representantes dessa interpretaccedilatildeo o

preacute-socraacutetico Heraacuteclito os atomistas Anaxaacutegoras e Empeacutedocles Platatildeo e Aristoacuteteles

o poacutes-socraacutetico Epicuro Plotino o patriacutestico - padre da Igreja - Santo Agostinho os

escolaacutesticos Santo Alberto Santo Tomaacutes de Aquino e Satildeo Boaventura os

renascentistas Nicolau de Cusa Giordano Bruno e Campanella e os pitagoacutericos

fundadores da nova ciecircncia Copeacuternico Kepler e Galileu

Na Filosofia Moderna a doutrina de que conhecer eacute uma operaccedilatildeo de

identificaccedilatildeo assume trecircs modos principais segundo se considere que essa operaccedilatildeo

eacute realizada mediante

a) a criaccedilatildeo que o sujeito faz do objeto o idealismo romacircntico e as suas

ramificaccedilotildees afirmam a tese de que conhecer significa produzir ou criar o

objeto ou seja reconhece-se no objeto a manifestaccedilatildeo do sujeito

85

podendo-se considerar como representantes dessa tese os

filoacutesofos contemporacircneos Fichte Schelling Hegel entre outros

b) a consciecircncia o espiritualismo moderno em todas as suas

manifestaccedilotildees considera o conhecer como uma relaccedilatildeo interna da

consciecircncia (sentido iacutentimo introspecccedilatildeo intuiccedilatildeo) consigo mesma

isto eacute o sujeito natildeo pode conhecer o que eacute diferente dele o uacutenico

conhecimento verdadeiro eacute o que ele tem de si mesmo e o objeto eacute a

proacutepria consciecircncia ou uma manifestaccedilatildeo da consciecircncia sendo essa

a interpretaccedilatildeo dos filoacutesofos Schopenhauer Bergson e Husserl entre

outros

c) a linguagem o positivismo loacutegico transfere para a linguagem na qual

reconhece a operaccedilatildeo cognitiva propriamente dita a doutrina do

caraacuteter identificador dessa operaccedilatildeo Wittgenstein na obra Tractatus80

(1994) compartilha dessa interpretaccedilatildeo quando reconhece que deve

haver algo de idecircntico na imagem e no objeto representado para que

aquela possa ser a imagem deste A segunda fase da doutrina do conhecimento como identificaccedilatildeo nasce com a

Filosofia Moderna com Descartes que continua a conceber a ideacuteia como imagem

da coisa poreacutem nela jaacute aparece a identidade da ordem das ideacuteias com a ordem dos

objetos conhecidos O princiacutepio cartesiano de que a ideacuteia eacute o uacutenico objeto imediato

do conhecimento e que por isso a existecircncia da ideacuteia no pensamento nada diz

acerca da existecircncia do objeto representado punha em crise a doutrina do conhecer

como identificaccedilatildeo com o objeto pois nesse caso o objeto eacute claramente

inalcanccedilaacutevel Malebranche Spinoza Locke e Leibniz embora natildeo neguem o caraacuteter

de semelhanccedila ou de imagem dos elementos cognitivos entendem conhecimento

como identidade com a ordem objetiva O seu objeto eacute essa ordem e o conhecer eacute a

operaccedilatildeo que tende a identificar a ordem

Kant admite que a ordem objetiva das coisas tem como modelo as condiccedilotildees do

conhecimento as categorias satildeo consideradas por Kant como ldquoconceitos que

prescrevem leis aos fenocircmenos por conseguinte agrave natureza como o conjunto de todos

os fenocircmenosrdquo (KANT 1974 p 95) Os fenocircmenos natildeo sendo objetos em si mesmos

mas representaccedilotildees de objetos precisam ser pensados e assim estar submetidos agraves

80 A primeira ediccedilatildeo do Tractatus Logico-Philosophicus eacute de 1921

86

condiccedilotildees do pensamento que satildeo as categorias Desse ponto de vista conhecer natildeo eacute

uma operaccedilatildeo de assimilaccedilatildeo ou de identificaccedilatildeo mas de siacutentese Nessa perspectiva o

entendimento (independente da experiecircncia e por meio de um conjunto de elementos -

as chamadas categorias a priori) organiza as percepccedilotildees (intuiccedilotildees transformando

conhecimento sensiacutevel em conhecimento intelectual ou em conceitos)

A segunda interpretaccedilatildeo - conhecimento como operaccedilatildeo de transcendecircncia -

aparece pela primeira vez com os estoacuteicos que chamavam de evidentes as coisas

que se manifestam por si mesmas ao conhecimento como por exemplo ser dia ou

ser noite Satildeo representantes dessa interpretaccedilatildeo os escolaacutesticos do uacuteltimo periacuteodo

Duns Scot Ockham os filoacutesofos modernos Hobbes Berkeley Hume Kant e o

contemporacircneo Heidegger entre outros Hume considera que toda operaccedilatildeo

cognoscitiva eacute uma operaccedilatildeo de conexatildeo entre as ideacuteias (independentemente da sua

existecircncia real) Esse conceito do conhecimento como operaccedilatildeo de conexatildeo que

nada tem a ver com a identificaccedilatildeo com o objeto eacute chamado por Kant de operaccedilatildeo de

siacutentese ldquoPor siacutentese entendo no sentido mais amplo a accedilatildeo de acrescentar diversas

representaccedilotildees umas agraves outras e de compreender a sua multiplicidade num

conhecimentordquo (KANT 1974 p 70) O conceito de conhecimento como operaccedilatildeo de

relacionar-se com o objeto e portanto tambeacutem como processo pelo qual o objeto se

apresenta foi adotado pela Fenomenologia contemporacircnea e suas diversas correntes

Para Husserl Nicolai Hartmann e Heidegger o conhecimento eacute um processo de

transcendecircncia - conhecer eacute um modo de ser de transcender do sujeito para o mundo

- em que todas as manifestaccedilotildees do conhecer (observar perceber determinar

interpretar discutir negar afirmar) pressupotildeem a relaccedilatildeo do homem com o mundo e

soacute satildeo possiacuteveis com base nessa relaccedilatildeo

A exemplificaccedilatildeo dada ateacute aqui objetiva mostrar os vaacuterios pontos de vista que

com suas variadas expressotildees continuam influentes e satildeo responsaacuteveis na Filosofia

Contemporacircnea pela Epistemologia (estudo da origem e do valor do conhecimento

humano) (ABBAGNANO 2003 MAZIP 2001 VITA 1964)

A classificaccedilatildeo dos seres estaacute ligada desde Platatildeo agrave capacidade dos

conceitos de fornecer ldquoverdaderdquo seguranccedila estabilidade frente a um mundo

fenomecircnico e transitoacuterio em que a uacutenica coisa permanente eacute a mudanccedila Esta seccedilatildeo

apresenta as noccedilotildees de categoria de alguns filoacutesofos como Platatildeo (precursor das

classificaccedilotildees filosoacuteficas dos seres) Aristoacuteteles (autor da mais importante obra sobre

categorias) Kant (responsaacutevel pelo novo paradigma no qual o sujeito do

conhecimento eacute a razatildeo universal natildeo mais se referindo ao ser mas ao conhecer

87

para designar os conceitos) Foucault (estudioso da ordem das coisas) entre outros

Em relaccedilatildeo agrave classificaccedilatildeo dos saberes (classes) considerados como disciplinas do

conhecimento descritos na subseccedilatildeo 314 a classificaccedilatildeo dos seres (categorias)

remete agrave noccedilatildeo de princiacutepio de divisatildeo

O interesse pelas categorias isto eacute a tentativa de organizar o ldquodeterminadordquo

nasce com a primeira maneira de saber humano e mesmo Aristoacuteteles observa na

Metafiacutesica (1973) que eacute proacuteprio do saber comum ordenar as coisas o que significa

distingui-las portanto determinaacute-las Estabelecer certas distinccedilotildees eacute algo que se

impotildee a todo pensamento que tenta sistematizar a variedade encontrada no mundo Eacute

do senso comum81 observar que as coisas individuais unem-se em espeacutecies ou tipos

81 O conceito filosoacutefico de senso comum surge no seacuteculo XVIII e representa a reaccedilatildeo ideoloacutegica da burguesia contra a irracionalidade do ancien regime (SMITH N Commun sense Radical Philosophy London 1974 v 7 p 15 apud SANTOS 1989 p 36) O significado filosoacutefico de senso comum (de caraacuteter praacutetico prudente) aparece ligado ao projeto poliacutetico de ascensatildeo ao poder de uma classe Natural portanto que chegado ao poder o conceito de senso comum tenha sido desvalorizado como superficial e ilusoacuterio Eacute contra o senso comum que as ciecircncias sociais nascem no seacuteculo XIX Poreacutem ao contraacuterio das ciecircncias naturais (de caraacuteter segregador elitista) que construiacutedas contra o senso comum sempre o recusaram as ciecircncias sociais nunca deixaram de manter com o senso comum uma relaccedilatildeo complexa e ambiacutegua Em Um Discurso sobre as Ciecircncias (1987) Boaventura de Sousa Santos socioacutelogo portuguecircs procura demonstrar que a ciecircncia moderna se encontra em crise vivendo uma fase de transiccedilatildeo paradigmaacutetica Em Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna (1989) chama ciecircncia poacutes-moderna a esse novo paradigma e procura definir o perfil teoacuterico da forma de conhecimento da ciecircncia poacutes-moderna Alerta ainda para o processo de distanciamento do discurso cientiacutefico da ciecircncia moderna em relaccedilatildeo ao discurso do senso comum ao discurso esteacutetico ou ao discurso religioso Processo que adquiriiu expressatildeo filosoacutefica no seacuteculo XVII com Bacon Locke Hobbes e Descartes e tem se aprofundado como parte integrante do desenvolvimento das ciecircncias de tal maneira que a estranheza se reproduz no proacuteprio interior da comunidade cientiacutefica uma vez que as crescentes especializaccedilotildees tornam impossiacutevel ao cientista (natildeo apenas ao cidadatildeo comum) compreender a ciecircncia enquanto praacutetica social do conhecimento Na ciecircncia moderna a ruptura epistemoloacutegica simboliza o salto qualitativo do conhecimento do senso comum para o conhecimento cientiacutefico na ciecircncia poacutes-moderna o salto mais importante eacute o que eacute dado do conhecimento cientiacutefico para o conhecimento do senso comum O conhecimento cientiacutefico poacutes-moderno soacute se realiza enquanto tal agrave medida que se converte em senso comum Agrave luz de vaacuterias consideraccedilotildees Santos (1989 p 31-45) conclui que se caminha para uma nova configuraccedilatildeo de conhecimento que sendo praacutetica natildeo deixe de ser esclarecida e sendo saacutebia natildeo deixe de estar democraticamente distribuiacuteda para uma nova relaccedilatildeo entre a ciecircncia e o senso comum uma relaccedilatildeo em que qualquer deles eacute feito do outro uma relaccedilatildeo de dupla ruptura epistemoloacutegica (que os discursos se falem e atenuem o desnivelamento que os separa) uma relaccedilatildeo que transforme o senso comum tornando-o mais esclarecido e transforme a ciecircncia tornando-a mais prudente para uma nova forma de superar a dicotomia contemplaccedilatildeoaccedilatildeo que desde a filosofia grega tem dominado o pensamento ocidental contaminando a ciecircncia moderna pois se sabe desde Bacon e Descartes que a ciecircncia moderna ao pretender conhecer o mundo natildeo para o contemplar mas para o dominar e transformar apresenta uma racionalidade instrumental e para um novo equiliacutebrio entre adaptaccedilatildeo (sociedade de consumo e tecnologias que geram dependecircncia) e criatividade (liberdade de accedilatildeo e fruiccedilatildeo que geram a preservaccedilatildeo da identidade pessoal e social) Santos (1987 p 56 1989 p 40) chega assim a uma caracterizaccedilatildeo alternativa do senso comum mais positiva que supera o etnocentrismo cientiacutefico ldquoO senso comum faz coincidir causa e intenccedilatildeo subjaz-lhe uma visatildeo do mundo assente na accedilatildeo e no princiacutepio da criatividade e das responsabilidades individuais O senso comum eacute praacutetico e pragmaacutetico reproduz-se colado agraves trajetoacuterias e agraves experiecircncias de vida de um dado grupo social e nessa correspondecircncia se afirma de confianccedila e daacute seguranccedila O senso comum eacute transparente e evidente desconfia da opacidade dos objetos tecnoloacutegicos e do esoterismo do conhecimento em nome do princiacutepio da igualdade do acesso ao discurso agrave competecircncia cognitiva e agrave competecircncia linguiacutestica O senso comum eacute superficial porque desdenha das estruturas que estatildeo para aleacutem da consciecircncia mas por isso mesmo eacute exiacutemio em captar a profundidade horizontal das relaccedilotildees conscientes entre pessoas e entre pessoas e coisas O senso comum eacute indisciplinar e imetoacutedico natildeo resulta de uma praacutetica especificamente orientada para o produzir reproduz-se espontaneamente no suceder quotidiano da vida Por ultimo o senso comum eacute retoacuterico e metaforico natildeo ensina persuaderdquo

88

e que ateacute coisas especificamente diferentes ainda obedecem a classificaccedilotildees

geneacutericas

O termo categoria utilizado normalmente para significar caraacuteter espeacutecie

ou natureza tem origem remota no termo grego kategoriacutea (Κατηγοριαι que

passou para o latim Categoriae) e pertence agrave famiacutelia tendo a mesma raiz do

verbo grego ldquokategoreinrdquo que significava originalmente ldquoacusarrdquo ldquoatribuirrdquo

ldquocensurarrdquo ldquofalar contra algueacutemrdquo no sentido de responsabilizar algo ou algueacutem

em oposiccedilatildeo ao vocaacutebulo ldquodefesardquo ou ldquolouvorrdquo e com o tempo sofreu diferentes

interpretaccedilotildees ldquoatribuirrdquo ldquoenunciarrdquo ldquoexprimirrsquo ldquodeclararrdquo ldquodenominarrdquo

ldquorevelarrdquo ldquomanifestarrdquo ldquohierarquizarrdquo ldquocaracterizarrdquo ldquoclassificarrdquo ldquomostrarrdquo

ldquoexprimirrdquo ldquoprecisarrdquo ldquoafirmarrdquo ldquodeclararrdquo ldquopredicarrdquo entre outros Como

observado historicamente o sentido do vocaacutebulo desde os tempos de Platatildeo

sempre variou de acordo com a eacutepoca e o autor como qualquer vocaacutebulo Nas

subseccedilotildees 324 e 33 o conceito de categoria na Filosofia eacute retomado com a

intenccedilatildeo de sistematizar esses conceitos a fim de oferecer uma contribuiccedilatildeo agrave

conceituaccedilatildeo de categoria nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas

Aristoacuteteles foi o primeiro a usar o termo kategoriacutea em sentido teacutecnico no seu

tratado Categorias Eacute traduzido em portuguecircs por predicado ou atributo sinocircnimos

entre si segundo a autoridade do Dicionaacuterio Contemporacircneo da Liacutengua Portuguesa

(AULETE 1986 p 211) Existe entretanto na literatura teacutecnica uma tendecircncia para distinguir atributo

de predicado enquanto atributo diz respeito agraves coisas diretamente predicado

reporta-se agraves expressotildees

Parece que Porfiacuterio resolve essa questatildeo ao dizer ldquoPorque como as coisas satildeo

assim satildeo as expressotildees que primeiro as exprimemrdquo (KNEALE KNEALE 1980 p 29)

O mesmo significado com que as categorias expressam os diversos modos de

enunciaccedilatildeo e por conseguinte os distintos modos de ser encontra-se exatamente no

termo predicamento82 conexo por sua vez com ldquopraedicarerdquo (predicar enunciar

82 Do latim predicamentum proposto por Boeacutecio (480-524) para traduzir o termo aristoteacutelico kathegoreia (categoria) As categorias satildeo praedicamenta tambeacutem gecircneros supremos das coisas Boeacutecio redigiu traduccedilotildees latinas adaptaccedilotildees e comentaacuterios gregos a respeito de Aristoacuteteles que contribuiacuteram muito para criar uma liacutengua filosoacutefica latina teacutecnica e precisa ao longo de toda a Idade Meacutedia Legou aos sucessores definiccedilotildees uacuteteis na discussatildeo de problemas filosoacuteficos entre eles define predicaccedilatildeo por essecircncia - predicaccedilatildeo de um elemento essencial - por exemplo Soacutecrates eacute homem e predicaccedilatildeo por participaccedilatildeo - predicaccedilatildeo de um elemento acidental - por exemplo Soacutecrates eacute alto (FERRATER MORA 1971 v 1 p 266 MAZIP 2001 p 100-102)

89

dizer)

radas por Aristoacuteteles no primeiro livro da

Metafiacutesica (LAROUSSE 1867 v 3 p 575)

321 A

(por incluir outras ciecircncias) se dividiriam em

subcla

rticipa junto com todos os outros

objetos de sua categoria de uma Ideacuteia Perfeita84

Na Filosofia Ocidental foram os pitagoacutericos (seacuteculo VI aC) mais ou menos

duzentos anos antes do nascimento de Aristoacuteteles (384 aC) os primeiros que

propuseram uma tabela de categorias - um meacutetodo de categorizaccedilatildeo em que cada

nuacutecleo categorial era concebido como a relaccedilatildeo de dois termos opostos por meio da

nomeaccedilatildeo do princiacutepio de oposiccedilatildeo Os pitagoacutericos consideravam os contraacuterios como

os princiacutepios das coisas e por isso nomearam vinte categorias arranjadas em pares de

opostos (o determinado e o indeterminado o par e o impar a unidade e a pluralidade a

direita e a esquerda o macho e a fecircmea o repouso e o movimento a reta e a curva a luz

e a sombra o bem e o mal o quadrado e a figura irregular) As categorias pitagoacutericas

sobreviveram ateacute hoje porque foram regist

ntiguidade Grega e Idade Meacutedia

Sob o ponto de vista histoacuterico o primeiro significado de que se tem registro

atribuiacutedo agraves categorias desponta com Platatildeo (seacuteculo V aC) que confere agraves

categorias um significado realista e objetivo considerando-as gecircneros supremos ou

seja as ideacuteias83 que satildeo os modelos das coisas Essas ideacuteias (modelos)

correspondem agraves categorias que ele chama de gecircneros e que se dividem em

espeacutecies (subcategorias) Totalmente diferente portanto do significado tambeacutem

realista atribuiacutedo por Platatildeo agraves classes considerando-as como os ramos das

ciecircncias - resultado da divisatildeo do conhecimento (saber) da eacutepoca em diversas

ciecircncias (saberes) relativamente independentes Essas ciecircncias especiacuteficas

corresponderiam agraves classes que

sses (cf subseccedilatildeo 311)

De acordo com a Teoria das Ideacuteias discutida no diaacutelogo Feacutedon (PLATAtildeO

1972) o mundo concreto percebido pelos sentidos eacute a reproduccedilatildeo do mundo das

ideacuteias na qual cada objeto concreto que existe pa

83 Na terminologia ontoloacutegica de Platatildeo ideacuteia eacute ldquoessecircncia do realrdquo (MAZIP 2001 p 46) As ideacuteias natildeo satildeo pois no sentido platocircnico representaccedilotildees intelectuais formas abstratas do pensamento satildeo realidades objetivas modelos e arqueacutetipos eternos de que as coisas visiacuteveis satildeo coacutepias imperfeitas e

rvore

fugazes Assim a ideacuteia de homem eacute o homem abstrato perfeito e universal de que os indiviacuteduos humanos satildeo imitaccedilotildees transitoacuterias e defeituosas 84 Por exemplo uma aacutervore O que faz com que determinada aacutervore seja ela mesma ou seja uma aacutervore - e natildeo outra coisa - desde o estaacutegio de semente ateacute morrer e o que faz com que ela seja tatildeo aacute

90

Platatildeo faz empalidecer as divindades em favor de uma transparecircncia conceitual ele

mina o poder dos deuses agrave medida que as ideacuteias passam a significar o poder-conhecer e

natildeo mais sinalizam os desiacutegnios do Olimpo Ao conferir realidade agraves ideacuteias Platatildeo legitima

o estatuto ontoloacutegico da teoria e daacute iniacutecio ao caminho da ciecircncia que possibilita por sua

vez o ceticismo filosoacutefico O que sustenta o filosofar em Platatildeo eacute o problema de teoria e

praacutexis do qual resulta uma correspondecircncia entre a realidade e o discurso por meio das

categorias (o ser o repouso o movimento a identidade ou igualdade e a diferenccedila ou

alteridade em Platatildeo 1972 - O Sofista) ou lsquogecircneros supremosrsquo que soacute satildeo possiacuteveis como

linguagem porque nelas o conceito eacute fixado e ao mesmo tempo altera-se na diversidade

semacircntico-pragmaacutetica do seu emprego Por isso com uma fisionomia mais definida o

discurso em relaccedilatildeo a categoria assume um significado que natildeo poderia ter existido na

filosofia precedente sem o rompimento com o universo socraacutetico

Este estudo parte do princiacutepio de que categorias para Platatildeo satildeo as ideacuteias

perfeitas das coisas objetos ou fenocircmenos em que a reuniatildeo de cada objeto

concreto com outros da mesma ordem com a mesma caracteriacutestica participariam

de uma ideacuteia um gecircnero supremo uma ideacuteia guia uma categoria propriamente dita

Assim em Platatildeo categoria eacute um princiacutepio de organizaccedilatildeo (ideacuteia que aglutina) natildeo

no sentido de iniacutecio mas no sentido de ldquoideacuteia que guiardquo a ordenaccedilatildeo do mundo Aristoacuteteles (seacuteculo IV aC) ldquotraz as ideacuteias do ceacuteu agrave terrardquo rejeita o mundo separado

das ideacuteias platocircnicas e funde o mundo sensiacutevel e o inteligiacutevel no conceito da substacircncia

Para Aristoacuteteles as ideacuteias natildeo podem ser a substacircncia das coisas porque existem fora

delas e ao contraacuterio de Platatildeo a explicaccedilatildeo da realidade encontra-se na proacutepria realidade

A estrutura do ser em geral foi um problema que sempre preocupou

Aristoacuteteles Predicados ou atributos coisas ou expressotildees a palavra categoria

(κατηγορια significa justamente predicado) parece cobrir de maneira razoaacutevel os

termos relacionados no capiacutetulo IV do tratado das Categorias (Praedicamenta) e

pelo menos os nove uacuteltimos (quantidade qualidade relaccedilatildeo lugar tempo accedilatildeo

paixatildeo estado e haacutebito) funcionam como predicados ou atributos da substacircncia85

nto outra de outra espeacutecie com caracteriacutesticas tatildeo diferentes eacute a sua participaccedilatildeo na Ideacuteia de Aacutervore

a partir da sua existecircncia e do nosso conhecimento dela c) quanto ao tempo a

quae sua impermanecircncia deve-se ao fato de a aacutervore ser uma paacutelida representaccedilatildeo da Ideacuteia de Aacutervore 85 Na terminologia metafiacutesica de Aristoacuteteles substacircncia ldquoessecircncia que tem a existecircncia em si e por si mesma Admite complementaccedilatildeo categorial Por exemplo a ideacuteia substancial de ldquogenterdquo absorve categorias muita (quantidade) paciente (qualidade) corre (accedilatildeo) etcrdquo (MAZIP 2001 p 56) Portanto aquilo que se pode dizer que algo ldquoeacuterdquo O que eacute o ser que existe O que eacute isto Homem flor etc A substacircncia eacute primeira ou anterior a todos os predicados a) no que se refere ao conceito porque todos os acidentes se referem agrave substacircncia e natildeo podem existir sem ela Afirma-se que algo (ou seja uma substacircncia) eacute belo grande proacuteximo b) no que se refere ao conhecimento soacute podemos dizer de uma pessoa que estaacute proacutexima distante parada ou em movimento

91

que tambeacutem podem ser entendidos como uma lista de diferentes tipos de coisas ou

expressotildees que podem ser afirmadas a respeito do ser86

Esta doutrina apesar de apresentar suas categorias de maneira isolada

baseia-se na relaccedilatildeo sujeito-predicado e o que as categorias visavam era tornar

possiacutevel a montagem das proposiccedilotildees87 - que se compotildeem de sujeitos e predicados

(HAMELIN 1931 p 87)

A correspondecircncia entre a realidade e o discurso por meio das proposiccedilotildees

categoriais eacute a base da loacutegica de Aristoacuteteles para quem os motivos linguiacutesticos ou

linguiacutestico-loacutegicos combinaram-se aos ontoloacutegicos na interpretaccedilatildeo das categorias

(FERRATER MORA 1971 p 265) Na doutrina de Aristoacuteteles a uma interpretaccedilatildeo

semacircntica na qual categorias satildeo os tipos de enunciados que indicam os diversos

modos de dizer (designar uma coisa) soma-se uma interpretaccedilatildeo ontoloacutegica em que

as categorias satildeo os modos de atribuiccedilatildeo de um predicado a um sujeito

Considerando-se que tal atribuiccedilatildeo se faz mediante a afirmaccedilatildeo ldquoeacuterdquo as categorias

tambeacutem podem ser chamadas de significaccedilatildeo do verbo ser ou predicados

fundamentais das coisas (existir eacute ser uma coisa de certa categoria)

substacircncia existiu existe e existiraacute como suporte dos acidentes d) quanto ao ser os acidentes natildeo podem existir fora da substacircncia 86 Nas palavras de Aristoacuteteles ldquoCada uma das coisas ditas sem nenhuma complexatildeo significa ou substacircncia ou quantidade ou qualidade ou relaccedilatildeo ou onde ou quando ou estar-em-uma-posiccedilatildeo ou ter ou fazer ou sofrer Numa palavra substacircncia eacute por exemplo homem cavalo e eacute quantidade por exemplo dois cocircvados trecircs cocircvados e qualidade por exemplo branco e gramatical e relaccedilatildeo metade maior e onde no Liceu na Aacutegora e quando ontem antes estar-em-uma-posiccedilatildeo estaacute deitado estaacute sentado e ter estaacute calccedilado estaacute armado e fazer por exemplo cortar queimar e sofrer ser cortado ser queimadordquo (ARISTOacuteTELES 2005 p 77 1b25) Na terminologia loacutegica de Aristoacuteteles satildeo categorias ou acidentes da substacircncia 1) qualidade (como) aquilo em virtude do qual se diz de algo que eacute tal e qual Ana eacute uma menina educada Francisco fala bem 2) quantidade (quanto) aquilo que eacute divisiacutevel ou mensuraacutevel os convidados se empanturraram de salgadinhos As crianccedilas brincaram demais 3) relaccedilatildeo (com o que se relaciona) nexo viacutenculo enlace dependecircncia Felipe eacute professor vive na casa da matildee e trabalha numa escola proacutexima 4) espaccedilo ou lugar (onde) situaccedilatildeo colocaccedilatildeo ubiquaccedilatildeo Construiacuteram um edifiacutecio proacuteximo Roberto nasceu na rua do futuro 5) tempo (quando) presente passado futuro anterioridade e posterioridade Alberto chegaraacute depois Aquele casal morou muitos anos na Franccedila 6) accedilatildeo (fazer agir) reflete a passagem substancial do repouso ao movimento Atividade Dinamismo Processo Eu trabalho de segunda a sexta Os vizinhos andam meia hora todos os dias 7) paixatildeo (sofrer um efeito) passividade ausecircncia de accedilatildeo Todos noacutes sofremos diante da miseacuteria Eacute difiacutecil suportar agressotildees 8) estado ou posiccedilatildeo (estar em uma situaccedilatildeo) existecircncia situada vinculada ou partilhada Estado do ser Joatildeo eacute professor Maria estaacute preocupada Ele e ela natildeo se datildeo A menina viajou 9) haacutebito (ter) condiccedilatildeo costume accedilatildeo repetida do sujeito Meus pais residem na Rua do Sol Meus amigos vatildeo frequentemente ao cinema Joatildeo eacute saudaacutevel Ela anda armada 87 Proposiccedilatildeo expressatildeo verbal de uma operaccedilatildeo mental frequentemente chamada de juiacutezo Foi formulada pela primeira vez por Aristoacuteteles para quem o conjunto dos termos (nome e verbo) do discurso declarativo corresponde a um pensamento inerente ao ser verdadeiro ou falso (ABBAGNANO 2003 p801) Esta categorizaccedilatildeo deixa muito claro o que se deve entender por categoria princiacutepio de organizaccedilatildeo ordenaccedilatildeo ou subdivisatildeo

92

As correspondecircncias entre as categorias gramaticais e as categorias aristoteacutelicas

aparecem (quadro 22) na obra do Pe Leme e Lopes88 (1956 apud PIEDADE 1983)

CATEGORIAS GRAMATICAIS CATEGORIAS ARISTOTEacuteLICAS Substantivo sujeito Substacircncia

Adjetivo qualitativo Qualidade

Adjetivo quantitativo Quantidade

Pronome relativo adjunto adnominal Relaccedilatildeo

Verbo na voz ativa Accedilatildeo

Verbo na voz passiva Paixatildeo

Adveacuterbio de lugar Lugar

Adveacuterbio de tempo Duraccedilatildeo

Adveacuterbio de modo Maneira de ser

QUADRO 22 - CATEGORIAS GRAMATICAIS SEGUNDO AS CATEGORIAS ARISTOTEacuteLICAS FONTE Piedade (1983 p 20)

Particularmente no que tange agrave concepccedilatildeo de linguagem Aristoacuteteles revigora

o significado do predicado da qualidade da riqueza do movimento das categorias

delineadas pela liacutengua grega

O encaminhamento ontoloacutegico das categorias pode ser observado no registro

que o dicionaacuterio de Ferrater Mora (1971 v 1 p 264 Traduccedilatildeo livre da autora) faz a

respeito da questatildeo

No tratado sobre as categorias Aristoacuteteles divide as expressotildees em expressotildees sem enlace - como lsquohomemrsquo lsquoeacute vencedorrsquo - e expressotildees com enlace - como lsquoo homem corrersquo lsquoo homem eacute vencedorrsquo As expressotildees sem enlace natildeo afirmam nem negam nada por si mesmas mas apenas ligadas a outras expressotildees No entanto as expressotildees sem enlace ou termos uacuteltimos e natildeo-analisaacuteveis se agrupam em categorias

A mesma passagem na traduccedilatildeo de Joseacute Veriacutessimo Teixeira da Mata

(ARISTOacuteTELES 2005 p 76 1a16) traz a seguinte interpretaccedilatildeo

Das coisas que satildeo ditas umas satildeo ditas segundo complexatildeo outras sem complexatildeo Por exemplo satildeo ditas segundo complexatildeo estas homem corre homem vence e satildeo por exemplo sem complexatildeo as seguintes homem boi corre vence

ldquoExpressotildees sem enlacerdquo ou ldquocoisas ditas sem complexatildeordquo para Aristoacuteteles

ldquocategoriasrdquo satildeo palavras simples ldquosem ligaccedilatildeordquo natildeo combinadas com outras

88 LOPES F L Introduccedilatildeo agrave filosofia Rio de Janeiro Agir 1956

93

presentes no pensamento e na linguagem e que indicam o que uma coisa eacute estaacute ou

faz quando aplicada Esta eacute uma interpretaccedilatildeo linguiacutestica (semacircntica) de categorias

fundamentada em vaacuterios textos do filoacutesofo

Observa-se claramente que Aristoacuteteles formulou um conceito de categoria

distinto de todos os anteriores Poreacutem o que esse conceito formulado de modo

original tem em comum com os anteriores eacute implicar ele tambeacutem um princiacutepio de

organizaccedilatildeo89

Pode-se entender que as palavras sem ligaccedilatildeo umas com as outras

significam por si mesmas mas nada afirmam pois eacute pela complexidade da

combinaccedilatildeo delas entre si que acontece a afirmaccedilatildeo

Em vaacuterias passagens dispersas em vaacuterias obras (Poliacutetica De Anima

Metafiacutesica Categorias) torna-se evidente que soacute se pode conhecer bem as coisas

compostas decompondo-as e levando a anaacutelise ateacute os seus elementos mais

simples

Eacute a noccedilatildeo de categoria que junta os semelhantes e separa os diferentes

Nesse sentido as categorias pertencem ao plano do real e do ontoloacutegico poreacutem

excluem os conceitos de verdade e falsidade pois estes pertencem ao juiacutezo e natildeo

ao simples conceito jaacute que natildeo podem ser encontrados nas coisas fora do espiacuterito

O falso e o verdadeiro seriam nessa perspectiva um outro modo de se explicitar o

ser desconsiderando o esquema das categorias

Para Aristoacuteteles as categorias apresentam duas propriedades loacutegicas a

extensatildeo (conjunto de objetos designados por um termo como por exemplo o termo

homem para designar todo o conjunto de seres humanos) e a compreensatildeo ou

intensatildeo (conjunto de propriedades ou caracteriacutesticas designadas por um termo

como por exemplo o termo homem para designar as propriedades animal

vertebrado mamiacutefero biacutepede e racional) Quanto maior a extensatildeo de um termo

menor sua compreensatildeo e quanto maior a compreensatildeo menor a extensatildeo

(CHAUIacute 2005 p 107-108) Essa distinccedilatildeo permitiu classificar os termos em gecircnero

(termos de maior extensatildeo) e espeacutecie (termos de menor extensatildeo)

Aristoacuteteles observa ainda que as categorias tecircm que preencher no miacutenimo

duas espeacutecies de condiccedilotildees

89 Para melhor compreensatildeo ver exemplos na nota 86 e na subseccedilatildeo 321

94

a) formal o nuacutemero de categorias eacute finito (finito ao determinar um certo

nuacutemero de categorias para dar conta da realidade que se pretende

conhecer ou organizar) a sua seccedilatildeo eacute vazia (forma vazia de conteuacutedo) e

sua uniatildeo eacute o universo

b) material todo indiviacuteduo de uma categoria tem que pertencer somente a

uma categoria isto eacute jamais deve pertencer a outra categoria

As condiccedilotildees inicialmente estabelecidas por Aristoacuteteles para as categorias

ver-se-atildeo posteriormente apropriadas pela Teoria da Classificaccedilatildeo para as classes

Portanto a Teoria da Classificaccedilatildeo ao afirmar que a lista de classes (e natildeo das

categorias) deve ser completa isto eacute deve oferecer a possibilidade de colocar cada

resposta em uma das classes da lista e a de que as classes devem ser mutuamente

exclusivas isto eacute natildeo ter a possibilidade de colocar determinada resposta em mais

de uma classe estaacute confirmando para as classes condiccedilotildees estabelecidas por

Aristoacuteteles para as categorias

Aristoacuteteles denomina categorias ou predicamentos as diferentes maneiras de

afirmar-se algo de um sujeito os diversos conjuntos mais gerais90 de predicados

aplicaacuteveis a qualquer objeto as diferentes categorias de predicados que se podem

atribuir a um sujeito qualquer um dos modos fundamentais do ser que pode ser

afirmado na predicaccedilatildeo

Categorias natildeo satildeo portanto para Aristoacuteteles espeacutecies do gecircnero ser mas

gecircneros supremos ou primeiras divisotildees do ser91 Condicionam ontologicamente

toda a compreensatildeo que o sujeito tem da realidade As categorias natildeo constituem

uma mera estrutura de conceitos mas satildeo elas proacuteprias conceitos reais que

produzem conceitos reais e que guiam a sua deduccedilatildeo ou seja as categorias satildeo

conceitos originais ou baacutesicos de todos os outros As categorias como que designam

os diferentes pontos de vista possiacuteveis sob os quais uma coisa pode ser

considerada Todas as categorias se articulam com a substacircncia constituindo os

vaacuterios sentidos e seacuterie de atributos da substacircncia poreacutem diferem umas das outras

por causa das diferentes relaccedilotildees que mantecircm com a substacircncia primeira Desse

modo as substacircncias (homem gato cadeira etc) sempre se apresentam matizadas

90 Nos escritos de Aristoacuteteles pode-se detectar que ldquocategoriasrdquo diferem de ldquoclassesrdquo principalmente por serem uacuteltimas mais elevadas ou fundamentais 91 Suprema rerum genera

95

por acidentes que datildeo lugar aos conceitos Assim refere-se a seres ou objetos

grandes ou pequenos proacuteximos ou distantes parados ou em movimento amaacuteveis

ou agressivos relacionados entre si ou isolados

Do dito anteriormente pode-se inferir que categorias satildeo grupos de termos de

alta generalizaccedilatildeo uma vez que elas ainda natildeo se encontram lsquoaplicadasrsquo e que o

conhecimento das categorias deve resultar em uma maior capacidade de anaacutelise dos

elementos e argumentos do discurso

Ryle (1975 p 29) afirma que ldquoAristoacuteteles pensava que a sua lista de categorias

era uma lista de quecircrdquo Observando que a palavra categoria significava o que a atual

palavra predicado significa partilhando toda a falta de precisatildeo e a ambiguidade desse

substantivo em portuguecircs A lista de Aristoacuteteles pretendia ser uma lista dos tipos uacuteltimos

de predicados (proposiccedilotildees simples) Essa noccedilatildeo de categoria como determinaccedilatildeo do

real predicaccedilatildeo pertencente ao proacuteprio ser e da qual o intelecto deve utilizar-se para

conhecer o ser e revelaacute-lo em palavras durou muito tempo e por muito tempo as escolas

filosoacuteficas ou os filoacutesofos soacute discordaram quanto ao nuacutemero ou agrave distinccedilatildeo das

categorias Assim os estoacuteicos refletindo acerca do conhecimento humano reduzem as

categorias ao nuacutemero de quatro substacircncia qualidade modo da coisa ou de ser e

relaccedilatildeo - provavelmente uma derivaccedilatildeo das categorias aristoteacutelicas (ABBAGNANO

2003 p 122 FERRATER MORA 1971 v 1 p 266) Ressurge aqui o conceito de

categoria como ldquoprinciacutepio de divisatildeordquo - princiacutepio racional comum que se persegue para as

classificaccedilotildees bibliograacuteficas claacutessicas

Os epicuristas elaboraram tambeacutem um sistema categoacuterico que continha dez

categorias em dois versos hexaacutemetros (verso grego ou latino)

Intervalla viae connexus pondera plagas

Concursus motus ordo positure figura

mas que natildeo coincidiam com as categorias de Aristoacuteteles (ENCICLOPEDIA VNIVERSAL

ILVSTRADA 1970 v 12 p 530)

Os platocircnicos posteriores retornaram aos cinco gecircneros supremos de Platatildeo

(o ser o movimento o repouso ou estabilidade a identidade ou o mesmo e a

diferenccedila ou o outro) considerando-os como gecircneros do ser Plotino (205-270)

distingue dez gecircneros supremos os do mundo inteligiacutevel (a substacircncia o repouso o

movimento a identidade e a diferenccedila) e os do mundo sensiacutevel (a substacircncia a

relaccedilatildeo a quantidade a qualidade e o movimento) Mais tarde Plotino propotildee

reduzir as quatro uacuteltimas categorias agrave de relaccedilatildeo e assim as categorias do mundo

96

sensiacutevel ficam reduzidas a duas a substacircncia e a relaccedilatildeo (LAROUSSE 1867 v 3

p 576)

Observa-se que a partir de Aristoacuteteles a doutrina das categorias trilha o caminho

de sucessivas reelaboraccedilotildees metafiacutesicas de acordo com o modo de conceber o ser

A influecircncia da classificaccedilatildeo aristoteacutelica dos seres no acircmbito das classificaccedilotildees

bibliograacuteficas claacutessicas faz-se notar de modo mais incisivo na classificaccedilatildeo de

Ranganathan que em seu sistema incluiu categorias seguindo o modelo aristoteacutelico

assunto tratado na subseccedilatildeo 47

Na Idade Meacutedia os escolaacutesticos passaram a dividir os predicamentos de acordo

com a lista aristoteacutelica - com algumas variantes e aprofundamento Agrave doutrina do

fundamento real das categorias (que vigorava na eacutepoca) Guilherme de Ockham (latim

Occam 1285-1349) contrapocircs o nominalismo92 - que significou - um ataque aos

fundamentos da Escolaacutestica93 e um sinal do iniacutecio de novos tempos - que defendia o

caraacuteter puramente verbal das categorias para o qual elas natildeo passam de signos das

coisas (ABBAGNANO 2003 p 122) Esse ponto de vista equivale a considerar as

categorias como simples nomes signos ldquosimplesrdquo dotados da capacidade de serem

predicados de vaacuterias coisas ou nomes que se referem a grupos de objetos

O pensamento de Ockham caracteriza-se por um empirismo radical soacute existe o

que pode ser captado pelos sentidos Soacute o objeto individual eacute real Todas as maneiras de

especulaccedilatildeo metafiacutesica devem ser rejeitadas A realidade consiste em objetos distintos

que natildeo partilham nenhuma natureza comum (a menos que isso se decirc por convenccedilatildeo)

Para Ockham natildeo existem essecircncias comuns a vaacuterias coisas porque na realidade haacute

apenas indiviacuteduos (MAZIP 2001 p 123-124) Assim como a essecircncia natildeo se distingue

da existecircncia a substacircncia natildeo pode ser considerada como se fosse uma categoria

separada Ockham sustenta que natildeo haacute em nenhuma parte uma localidade ou uma

temporalidade mas apenas um onde e um quando existe respectivamente apenas um

como e um quanto mas natildeo qualidade e quantidade Na realidade natildeo haacute relaccedilatildeo como

algo autocircnomo mas apenas as coisas relacionadas A relaccedilatildeo existe somente na cabeccedila

92 Nominalismo corrente da Escolaacutestica Medieval tambeacutem chamada conceptualismo (doutrina das palavras) pelos historiadores oitocentistas da Filosofia Medieval segundo o qual os universais natildeo existem nem no mundo das coisas nem no pensamento Dessa negaccedilatildeo total de qualquer realidade universal deriva a negaccedilatildeo da realidade das categorias Leibniz dizia que ldquosatildeo nominalistas todos os que acreditam que aleacutem das substacircncias singulares soacute existem os nomes puros e portanto eliminam a realidade das coisas abstratas e universaisrdquo (ABBAGNANO 2003 p 122 715) 93 Cf nota 41

97

dos homens Natildeo haacute uma grande quantidade apenas muitas coisas Admitir uma relaccedilatildeo

aleacutem das coisas relacionadas uma grande quantidade aleacutem das muitas coisas eacute uma

inuacutetil duplicaccedilatildeo ou multiplicaccedilatildeo contradiz o fundamento de toda loacutegica e de toda

ciecircncia a saber natildeo admitir nada mais quando algo bastar para o esclarecimento Esse

princiacutepio formulado como nunca empregue pressuposiccedilotildees argumentos ou essecircncias

mais do que o necessaacuterio para o esclarecimento foi adotado como a ldquonavalha de

Ockhamrdquo na metodologia da Ciecircncia e da Filosofia (FERRATER MORA 1971 v 1 p

266 STOumlRIG 2008 p 232)

Ockham define os predicamentos como termos de primeira intensatildeo incluindo

neles principalmente substacircncia qualidade e relaccedilatildeo e interpreta os sistemas

categoriais como o de Aristoacuteteles sob o ponto de vista do seu nominalismo o que

significa que natildeo satildeo as coisas objetos ideacuteias fenocircmenos seres que satildeo

classificados e compreendidos mas apenas os signos as palavras e os nomes que

lhes satildeo atribuiacutedos

A consequecircncia do nominalismo de Ockham foi o rompimento do viacutenculo

entre Teologia e Filosofia emudecendo o diaacutelogo entre feacute e saber Essa cisatildeo

atravessa toda a cultura moderna

322 Idade Moderna Seacuteculos XVI XVII e XVIII

No final do seacuteculo XVI Francis Bacon (1561-1626)94 em sua obra De

Augmentis Scientiarum (1623 v 4) nomina as suas categorias em Maius Minus

Multum Paucum Idem Diversum Potentia Actus Habitus Privatio Totum Partes

Agens Patiens Motus Quies Ens Non Ens (CENTRO DI STUDI FILOSOFICI DI

GALLARATE 1957 p 941) No seacuteculo XVII surgem duas grandes correntes filosoacuteficas o racionalismo

representado por Spinoza e Leibniz e o empirismo por Hobbes Locke e Hume

representantes da Filosofia Moderna preacute-kantiana

Baruch Spinoza (1632-1677) sugere na Eacutetica (Ethica 1660-1663) trecircs

determinaccedilotildees fundamentais substacircncia atributo e modo95 (MAZIP 2001 p170-173)

94 Cf subseccedilatildeo 312 95 Terminologia de Spinoza substacircncia eacute aquilo que eacute em si e que eacute concebido por si aquilo cujo conceito natildeo precisa do conceito de nenhuma outra coisa para ser formado Deus attributo eacute aquilo que a mente apreende da substacircncia como constitutivo da sua essecircncia relativo a Deus e modo eacute aquilo que eacute relativo agrave substacircncia e que mesmo subsistindo em outra coisa soacute eacute pensado por meio da substacircncia as criaturas (MAZIP 2001 p 173)

98

Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) defende a existecircncia dos primeiros

princiacutepios ou seja de ideacuteias inatas96 e distingue duas coisas na substacircncia - apesar de

admitir que o homem natildeo possui nenhuma ideacuteia clara da substacircncia em geral o que soacute

se torna possiacutevel por intermeacutedio de ferramentas ou instrumentos como o microscoacutepio -

os atributos ou predicados e o sujeito comum desses predicados e apresenta uma lista

de seis categorias sendo a primeira a proacutepria substacircncia seguida por quantidade

qualidade accedilatildeo paixatildeo e relaccedilatildeo (Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano

1701-1704) Leibniz defende a existecircncia de ideacuteias inatas ou primeiros princiacutepios que

natildeo podem provir da experiecircncia porque tecircm uma necessidade absoluta da qual

carecem os conhecimentos empiacutericos (MAZIP 2001 p 190)

Thomas Hobbes (1588-1679) desenvolve no Leviatatilde (Leviathan 1651) uma

concepccedilatildeo de mundo que vecirc nas categorias mateacuteria (uacutenica substacircncia) extensatildeo (o

ser da mateacuteria se revela na sua extensatildeo) e movimento (causa do devir do vir-a-ser

da progressatildeo no seio da realidade corpoacuterea pois espaccedilo e tempo natildeo passam de

reflexos subjetivos do movimento) os uacutenicos princiacutepios explicativos do real

(CENTRO DI STUDI FILOSOFICI 1957 p 938-950 MAZIP 2001 p 173-175)

John Locke (1632-1704) elabora importante teoria do conhecimento na obra

Ensaio sobre o Entendimento Humano (Essay Concerning Human Understanding

1689) cuja reflexatildeo tem por objetivo saber qual eacute a essecircncia qual a origem qual o

alcance do conhecimento humano Nessa obra Locke elege trecircs tipos fundamentais

de ideacuteias complexas ou de categorias fundamentais substacircncia modo e relaccedilatildeo (ao

designar a relaccedilatildeo97 como categoria pode-se dizer que comparece aqui

explicitamente e pela primeira vez o conceito de categoria como funcionalidade

96 Terminologia de Leibniz ldquoIdeacuteias inatas Primeiros princiacutepios que natildeo podem provir da experiecircncia porque tecircm uma necessidade absoluta que os conhecimentos empiacutericos natildeo tecircm de identidade de natildeo-contradiccedilatildeo e de razatildeo suficienterdquo (MAZIP 2001 p 191) Para Leibniz (1980 p 160) ldquoo espiacuterito observa um certo nuacutemero de ideacuteias simples - as quais sendo consideradas como pertencentes a uma soacute coisa satildeo designadas por um soacute termo quando satildeo reunidas em um soacute sujeito - satildeo constantemente associadas e combinadasrdquo 97 As relaccedilotildees entre os conceitos de objetos reais ou imaginaacuterios de um dado contexto de conhecimento satildeo de natureza diversa Segundo Maria Luiza de Almeida Campos (2001 f 130) a relaccedilatildeo categorial aparece na Teoria do Conceito como relaccedilatildeo formal-categorial na Teoria da Classificaccedilatildeo Facetada como categoria e na Ontologia Formal como Teoria dos Universais Nessas trecircs teorias a noccedilatildeo de categoria se coloca como um elemento agregador que reuacutene em um grande agrupamento os objetos por sua natureza O entendimento das relaccedilotildees entre os objetos a elaboraccedilatildeo de estruturas conceituais tais como relaccedilatildeo categorial relaccedilatildeo hieraacuterquica relaccedilatildeo partitiva relaccedilatildeo entre categorias e relaccedilatildeo de equivalecircncia encontram-se detalhadas em CAMPOS Maria Luiza Campos Linguagem documentaacuteria teorias que fundamentam sua elaboraccedilatildeo Niteroacutei Eduff 2001

99

pois eacute o sujeito humano ativo que produz as relaccedilotildees) Ao nascer a alma natildeo tem

nenhuma ideacuteia O conhecimento humano comeccedila com a experiecircncia sensiacutevel e eacute

condicionado por ela Por intermeacutedio do processo cognitivo de anaacutelise e siacutentese as

ideacuteias (sinais das coisas) simples (casa flor) combinam-se em ideacuteias complexas

(cor odor) que se transformam em ideacuteias abstratas (homem beleza) Em Locke a

relaccedilatildeo eacute viacutenculo entre as impressotildees e as ideacuteias e a categoria se converte em

funccedilatildeo do pensamento (CENTRO DI STUDI FILOSOFICI 1957 p 938-950

MAZIP 2001 p 176-178)

David Hume (1711-1776) em Investigaccedilatildeo Acerca do Entendimento Humano

(Enquiry Concerning Human Understanding 1748) partindo do princiacutepio de que soacute

se pode observar os fenocircmenos e de que o mecanismo iacutentimo do real natildeo eacute passiacutevel

de experiecircncia afirma que as relaccedilotildees satildeo exteriores aos seus termos ou seja se

as relaccedilotildees natildeo podem ser observadas natildeo pertencem aos objetos As relaccedilotildees satildeo

apenas modos pelos quais se passa de um objeto a outro de um termo a outro de

uma ideacuteia particular a outra simples passagens externas que permitem associar os

termos a partir de princiacutepios98 Hume considera categorias (princiacutepios ou leis

universais que guiam a imaginaccedilatildeo) de substacircncia e de causalidade (relaccedilatildeo de

causa e efeito) como produtos da subjetividade empiacuterica ou seja a relaccedilatildeo de

causa e efeito natildeo pode ser conhecida a priori pelo simples exame dos conceitos

implicados na relaccedilatildeo mas somente pela experiecircncia Diante de um objeto novo por

exemplo eacute impossiacutevel descobrir as suas causas e os seus efeitos pois o nexo

causal tem valor subjetivo (ARANHA MARTINS 2003 p 133) Ainda que em Hume

se possa falar de distinccedilatildeo categorial o criteacuterio de distinccedilatildeo eacute dado pelos tipos

fundamentais de qualidade associativa em que uma ideacuteia de determinada coisa faz

introduzir naturalmente uma outra As qualidades ou princiacutepios dos quais nasce

essa associaccedilatildeo em virtude da qual a mente torna-se portadora e transmissora de

uma outra ideacuteia satildeo trecircs semelhanccedila contiguidade - continuidade no tempo e no

espaccedilo - e causalidade - causa e efeito (MAZIP 2001 p 181-188)

98 Na terminologia de Hume substacircncia coleccedilatildeo de ideacuteias simples reunidas pela imaginaccedilatildeo e designadas com nome especial com o qual podemos evocaacute-las para noacutes mesmos e para os outros causalidade relaccedilotildees que nascem da experiecircncia bastante problemaacuteticas em razatildeo da sua origem incerta e do seu valor subjetivo (a fantasia associa a ferida agrave dor em decorrecircncia do nexo entre elas) pois as ideacuteias dependem das impressotildees e natildeo as impressotildees das ideacuteias contiguidade a fantasia associa o sino ao campanaacuterio por causa da proximidade espacial dos dois e semelhanccedila relaccedilotildees que procedem do simples exame das ideacuteias e que conferem certeza nexo entre as ideacuteias simples e as impressotildees simples e entre as ideacuteias complexas e as impressotildees originais (MAZIP 2001 p 186-188)

100

Entre os filoacutesofos modernos a mais importante contribuiccedilatildeo eacute a de Immanuel Kant99 (1724-1804) Como observado anteriormente a filosofia de Kant floresce em

uma eacutepoca de grande progresso cientiacutefico Todas essas transformaccedilotildees fazem com

que o autor indague o porquecirc da Metafiacutesica (considerada a matildee de todas as

ciecircncias - a melhor representante do saber assim como o conhecimento metafiacutesico

compreendido como exerciacutecio de delimitaccedilatildeo da razatildeo) natildeo demonstrar avanccedilos

significativos apenas limitando-se a anaacutelises que natildeo satildeo mais que desdobramento

de conceitos Kant considera que a Metafiacutesica se pauta unicamente em

conhecimentos a priori isto eacute em ideacuteias que se datildeo apenas no entendimento e que

independem da experiecircncia (emperia) satildeo conhecimentos puros sem a

comprovaccedilatildeo empiacuterica que caracteriza os conhecimentos a posteriori aqueles cujo

conteuacutedo se pode adquirir pela experiecircncia Kant defende a existecircncia desses

conhecimentos a priori afirmando que satildeo possiacuteveis e demonstraacuteveis pelas

matemaacuteticas Assim mesmo que natildeo se possua materialmente um triacircngulo (que

serviria para verificar conceitos pela experiecircncia) eacute possiacutevel saber

aprioristicamente que a soma de seus acircngulos internos eacute sempre 180 graus Por

essa razatildeo Kant propotildee elevar a Metafiacutesica ao status de grande ciecircncia Para tanto

pretende dotar a Metafiacutesica do rigor dos procedimentos das Ciecircncias Matemaacuteticas

importando-lhes o fundamento matemaacutetico do qual compartilha a Geometria

Euclidiana e a Fiacutesica Newtoniana todas jaacute plenamente constituiacutedas no seu tempo

Desse modo tambeacutem a Metafiacutesica poderia participar do ritmo de progresso das

outras ciecircncias (KAHLMEYER-MERTENS 2001)

Atento agrave confusatildeo conceitual a respeito da natureza do conhecimento

humano Kant sabia que o mundo que tinha agora de ser classificado era o mundo

dos conceitos e dos conceitos natildeo em relaccedilatildeo ao seu conteuacutedo material o que natildeo

teria mudado em nada a classificaccedilatildeo aristoteacutelica das categorias mas os conceitos

como tais enquanto maneiras a priori do conhecimento representando as funccedilotildees

99 Filoacutesofo e idealista alematildeo criador do kantismo doutrina caracterizada principalmente pela intenccedilatildeo de determinar os limites o alcance e o valor da razatildeo concluindo pela reduccedilatildeo do campo do conhecimento racional aos objetos de experiecircncia possiacutevel o que significava a negaccedilatildeo da possibilidade de conhecimento racional dos objetos da Metafiacutesica e da Religiatildeo Autor de trecircs obras criacuteticas Criacutetica da Razatildeo Pura (Kritik der reinen Vernunft 1781-1785) que investiga os limites da sensibilidade e da razatildeo a partir da formulaccedilatildeo ldquoo que posso conhecerrdquo Criacutetica da Razatildeo Praacutetica (1788) que trata do problema ldquoo que devo fazerrdquo investigando a esfera da Moral e Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo (1790) que busca responder a questatildeo ldquoo que eacute liacutecito esperarrdquo em siacutentese aos dois movimentos anteriores Kant influenciou decisivamente escolas filosoacuteficas como o Idealismo alematildeo (MAZIP 2001 p 218-236)

101

essenciais do pensamento discursivo A ideacuteia geral de Kant eacute que soacute se pode ter o

sentido do mundo pela imposiccedilatildeo de alguma estrutura originariamente de dentro da

mente para escolher entre categorias pela compreensatildeo ou visatildeo de conjunto de

substacircncias em relaccedilotildees causais

Kant ao examinar na obra Criacutetica da Razatildeo Pura as condiccedilotildees nas quais o

conhecimento racional eacute possiacutevel e se eacute possiacutevel uma ldquorazatildeo purardquo independente

dos dados fornecidos pela experiecircncia cria um meacutetodo conhecido como criticismo

kantiano100 Natildeo concorda com os empiristas (tudo que se conhece vem dos

sentidos da experiecircncia) nem com os racionalistas (tudo quanto se pensa vem do

proacuteprio homem) e estabelece um novo paradigma no qual o sujeito do conhecimento

eacute a razatildeo universal e natildeo uma subjetividade pessoal e psicoloacutegica

Na concepccedilatildeo kantiana a razatildeo aparece como

a) estrutura vazia uma forma pura sem conteuacutedos

b) inata existe a priori vem antes da experiecircncia e natildeo depende dela

c) universal a mesma para todos os seres humanos e em qualquer tempo e

espaccedilo

O conhecimento eacute constituiacutedo de mateacuteria - as proacuteprias coisas - e de forma -

os homens Ou seja para conhecer as coisas precisa-se da experiecircncia sensiacutevel

que fornece a mateacuteria (os conteuacutedos) do conhecimento para a razatildeo e esta fornece

a forma (universal e necessaacuteria) do conhecimento (anterior a qualquer experiecircncia)

Entretanto eacute o espiacuterito graccedilas agraves estruturas a priori que constroacutei a ordem do

universo (ARANHA MARTINS 2003 CHAUIacute 2005)

Pode-se dizer que para Kant as categorias natildeo existem como realidade externa

satildeo antes formas que o sujeito potildee nas coisas Quando se observa a natureza e se afirma

que uma coisa lsquoeacute istorsquo ou lsquotal coisa eacute causa de outrarsquo tem-se de um lado coisas que se

percebem pelos sentidos mas de outro algo lhes escapa isto eacute as categorias As

categorias natildeo vecircm da experiecircncia mas satildeo postas pelo proacuteprio sujeito cognoscente A

100 Em uma acepccedilatildeo estrita histoacuterica a palavra criticismo designa a filosofia particularmente a gnoseologia de Kant Muitos dos seus conceitos fundamentais tecircm passado ao leacutexico filosoacutefico universal mas os seus sentidos natildeo podem ser compreendidos a partir de uma interpretaccedilatildeo cotidiana dos termos senatildeo em conexatildeo com o edifiacutecio doutrinal inteiro criacutetica exerciacutecio de delimitaccedilatildeo de um objeto razatildeo faculdade que todos os homens possuem e que permite que eles sejam capazes de entender conhecer julgar etc puro natildeo possuir nada que natildeo seja proacuteprio nada que lhe tenha sido agregado em um momento posterior Assim Criacutetica da Razatildeo Pura eacute o exerciacutecio de descoberta dos limites dessa faculdade que permite ao homem conhecer julgar etc (KAHLMEYER-MERTENS 2001)

102

razatildeo e o sujeito do conhecimento detecircm as estruturas espaciais temporais quantitativas

qualitativas causais etc que permitem o conhecer racional e verdadeiro O conhecimento

experimental eacute composto do que se recebe por impressotildees e do que a proacutepria faculdade de

conhecer de si mesma tira de tais impressotildees (KANT 1974) A razatildeo por meio do

entendimento organiza os conteuacutedos empiacutericos - as percepccedilotildees - e essa organizaccedilatildeo eacute

que permite a transformaccedilatildeo das percepccedilotildees (sons cores imagens) em conhecimentos

intelectuais ou em conceitos Ou seja satildeo as propriedades espaciais e temporais do

homem que permitem percepccedilotildees (de lugares coisas situaccedilotildees) e experiecircncias (da

passagem do tempo e da continuidade descontinuidade simultaneidade e repeticcedilatildeo dos

acontecimentos) Eacute essa organizaccedilatildeo espaccedilo-temporal dos objetos do conhecimento que eacute

inata universal e necessaacuteria Por isso eacute que em Kant o entendimento eacute anterior agrave

experiecircncia e independente dela pois os conteuacutedos empiacutericos satildeo organizados por um

conjunto de elementos as chamadas categorias a priori e eacute com elas que o sujeito do

conhecimento formula os conceitos e eacute soacute a partir dessas estruturas que as ciecircncias satildeo

possiacuteveis e vaacutelidas Para Kant esse eacute o uacutenico modo de conhecimento real e capaz de

promover o progresso da Metafiacutesica enquanto ciecircncia

Para Kant (1974) as categorias condiccedilotildees indispensaacuteveis do pensamento

comum e cientiacutefico natildeo descrevem a realidade mas tornam possiacutevel dar conta dela

ou seja garantem a possibilidade de conhecimento empiacuterico Em Kant torna-se

expliacutecita aquela estrutura jaacute presente na Filosofia Moderna na qual a realidade

transcende o conhecer e necessita conceber o conhecer como procedente do sujeito

produto deste Consequentemente as categorias cessam de ser a revelaccedilatildeo da

estrutura da realidade como na Filosofia greco-medieval e nas escolas filosoacuteficas ateacute

o iniacutecio do seacuteculo XVIII (Kant nega o realismo da concepccedilatildeo claacutessica) e passam a ser

ldquoconceitos fundamentais do entendimento101 puro102 que prescrevem leis aos

101 [] ldquoo entendimento natildeo eacute um poder de intuiccedilatildeo [] eacute um conhecimento mediante conceitos natildeo intuitivo mas discursivordquo (KANT 1974 p 66)

102 Dado que puro em Kant significa natildeo misturado com o diverso que proveacutem da intuiccedilatildeo empiacuterica o puro preexiste agrave captaccedilatildeo do objeto por parte do sujeito cognoscente assim o puro eacute a priori O domiacutenio do puro diz respeito agraves condiccedilotildees de possibilidade de todo o objeto (de experiecircncia) cognosciacutevel pelo entendimento e nesse sentido preciso eacute transcendental (MAZIP 2001 p 67) Os conceitos puros da razatildeo aqui considerados satildeo ideacuteias transcendentais Satildeo conceitos da razatildeo pura porque consideram todo conhecimento experimental como determinado por uma totalidade absoluta das condiccedilotildees Natildeo satildeo formados arbitrariamente mas satildeo dados pelo contraacuterio pela proacutepria natureza da razatildeo e referem-se necessariamente tambeacutem a todo o uso do entendimento (VANCOURT 1980) As categorias fazem parte portanto do momento transcendental do conhecimento permitindo uma verificaccedilatildeo da verdade como verdade transcendental - questatildeo fundamental da Filosofia

103

fenocircmenosrdquo (palavra que etimologicamente significa o que aparece) -

Stammbegriffe des reinen Verstandes103 - (KANT 1974 p 95) isto eacute modos pelos

quais se manifesta a atividade do intelecto que consiste essencialmente em ordenar

diversas representaccedilotildees a respeito de uma representaccedilatildeo comum isto eacute em julgar -

apoiando-se nas espeacutecies de juiacutezos104 As categorias satildeo portanto as formas em que

o juiacutezo se explica Conceitos de um objeto em geral ldquoas categorias [] natildeo satildeo

senatildeo justamente funccedilotildees para julgar [] as categorias devem surgir somente no

entendimento independentemente da sensibilidaderdquo (KANT 1974 p 87)

Considerando que para Kant a atividade do intelecto consiste em emitir

julgamentos e que julgar significa sobrepor agrave experiecircncia condiccedilotildees universalizantes

(categorias) na sua tabela (que Kant chamava de taacutebua) as categorias satildeo

formuladas paralelamente aos juiacutezos que podem ser considerados sob quatro

pontos de vista da quantidade da qualidade da relaccedilatildeo e da modalidade Para

cada um desses pontos de vista satildeo possiacuteveis trecircs tipos de juiacutezos105 que

correspondem a trecircs tipos de categorias (quadro 23) que funcionam como

constitutivas aprioriacutesticas dos objetos por isso de constituiccedilatildeo ideal

103 Conceitos fundamentais do entendimento puro 104 Um juiacutezo eacute uma conexatildeo entre representaccedilotildees que eacute feita conforme uma categoria seguindo uma regra que eacute igual para todos os sujeitos e que confere objetividade agravequilo a que se uniu na percepccedilatildeo (KANT 1974 p 88) Como visto o termo juiacutezo em Kant aleacutem do sentido especiacutefico - uma faculdade de julgar (afirmar ou negar a conveniecircncia de um predicado em relaccedilatildeo ao sujeito) - quando aplicado refere-se ao entendimento a um modo de conhecer de pensar um objeto 105 A divisatildeo kantiana dos juiacutezos segundo esquemas loacutegicos (pontos de vista) 1) da quantidade universais aqueles que natildeo admitem exceccedilotildees satildeo o resultado da reflexatildeo sobre a experiecircncia mediante categorias todos os curitibanos satildeo paranaenses particulares aqueles que se aplicam a alguns sujeitos alguns paranaenses satildeo torcedores do Coritiba Futebol Clube singulares aqueles que se aplicam a um soacute elemento Daniel eacute professor 2) da qualidade afirmativos Liliana eacute bibliotecaacuteria negativos Letiacutecia natildeo eacute bibliotecaacuteria infinitos ou indefinidos a alma eacute natildeo-mortal 3) da relaccedilatildeo categoacutericos aqueles expliacutecitos e absolutos Meu pai eacute um homem determinado hipoteacuteticos aqueles que formulam uma tese provisoacuteria sujeita a comprovaccedilatildeo dependem de alguma condiccedilatildeo os glutotildees normalmente satildeo bons cozinheiros disjuntivos aqueles que apresentam alternacircncia Wilson mora em Curitiba ou Antonina 4) da modalidade problemaacuteticos aqueles que satildeo apenas possiacuteveis ou parcialmente verdadeiros nada acrescentam ao conteuacutedo os franceses geralmente satildeo mal humorados assertivos aqueles assegurados como verdadeiros ou falsos mas que natildeo excluem a possibilidade loacutegica de uma contradiccedilatildeo nada acrescentam ao conteuacutedo Ligia natildeo eacute sincera apodiacutecticos aqueles absolutos necessaacuterios sem reacuteplica possiacutevel nada acrescentam ao conteuacutedo o oxigecircnio eacute fundamental a vida

104

PONTOS DE VISTA JUIacuteZOS CATEGORIAS Quantidade Universais Totalidade

(amplitude do sujeito) Particulares Multiplicidade

Singulares Unidade

Qualidade Afirmativos Ser

(qualidade da ligaccedilatildeo) Negativos Natildeo-ser

Indefinidos Limitaccedilatildeo

Relaccedilatildeo Categoacutericos Substacircncia-inerecircncia

(entre sujeito e predicado) Hipoteacuteticos Causalidade-dependecircncia

Disjuntivos Comunhatildeo-reciprocidade

Modalidade Problemaacuteticos Possibilidade-impossibilidade

(modo da formulaccedilatildeo) Assertivos Realidade-irrealidade

Apodiacutecticos Necessidade-contingecircncia

QUADRO 23 - DIVISAtildeO KANTIANA DOS JUIacuteZOS E DAS CATEGORIAS FONTE a autora com base em Kant (1974 p 67 71)

A taacutebua106 que encerra quatro grupos de categorias (concepccedilotildees puras do

entendimento) eacute deduzida de um uacutenico princiacutepio comum a saber do poder de julgar

(da faculdade do juiacutezo) e compreende

1 Categorias da quantidade (unidade pluralidade totalidade) 2 Categorias da qualidade (realidade negaccedilatildeo limitaccedilatildeo) 3 Categorias da relaccedilatildeo (inerecircncia e subsistecircncia (substantia et accidens) Causalidade e dependecircncia (causa e efeito) Comunidade (accedilatildeo reciacuteproca entre agente e paciente) e 4 Categorias da modalidade (possibilidade - impossibilidade Existecircncia - natildeo-ser Necessidade - contingecircncia) (KANT 1974 p 71)

A operaccedilatildeo transcendental (subjetiva) do entendimento e da razatildeo eacute a que

unifica as categorias

Quanto agraves caracteriacutesticas das categorias pode-se dizer que cada categoria

age segundo um princiacutepio proacuteprio (por exemplo a categoria da Causalidade-

dependecircncia age segundo o princiacutepio de que ldquotodas as mudanccedilas se processam

segundo a lei do nexo causalrdquo) as categorias e os princiacutepios que regulam o seu uso

106 Acerca da tabela das categorias de Kant (1974 p 74) observa-se que - em cada classe o nuacutemero de categorias eacute sempre igual a trecircs - a terceira categoria surge sempre da ligaccedilatildeo da segunda com a primeira de sua classe (a totalidade eacute a multiplicidade considerada como unidade a limitaccedilatildeo eacute a realidade ligada com a negaccedilatildeo a comunidade eacute a causalidade de uma substacircncia em determinaccedilatildeo reciacuteproca com outra substacircncia e a necessidade eacute a existecircncia dada pela proacutepria possibilidade) - as conexotildees satildeo pensadas como coordenadas e natildeo como subordinadas umas agraves outras de modo que se determinem entre si natildeo unilateralmente como numa seacuterie mas reciprocamente como num agregado

105

natildeo satildeo produtos da experiecircncia mas condiccedilotildees a priori de qualquer experiecircncia

pois no que diz respeito agrave forma do pensamento eacute somente por meio delas que a

experiecircncia se torna possiacutevel as categorias e os princiacutepios aplicam-se aos

fenocircmenos e natildeo agraves coisas em si as categorias em si mesmas natildeo constituem

conhecimento satildeo formas vazias e incapazes de dar origem ao conceito de algum

objeto Necessitam ser determinadas aplicadas para serem validadas

A categoria natildeo tem para o conhecimento das coisas nenhum outro uso

aleacutem da sua aplicaccedilatildeo a objetos da experiecircncia possiacutevel Portanto natildeo se pode

pensar nenhum objeto senatildeo mediante categorias natildeo se pode conhecer nenhum

objeto pensado senatildeo mediante intuiccedilotildees que correspondam agravequeles conceitos Satildeo

os conceitos que tornam possiacutevel a experiecircncia Logo segundo Kant as categorias

possuem por parte do entendimento os fundamentos da possibilidade de toda

experiecircncia em geral (KANT 1974 p 95-98)

Haacute na concepccedilatildeo kantiana de categorias o encaminhamento para a

concepccedilatildeo instrumental das categorias Pois as categorias satildeo tratadas por Kant e

pela escola kantiana como simples instrumentos da razatildeo pura totalmente

independentes dos fenocircmenos e da proacutepria intuiccedilatildeo gerados pela imaginaccedilatildeo

Portanto Kant retoma o termo natildeo mais se referindo ao ser mas ao conhecer107

para designar os conceitos ou princiacutepios a priori que fornecem a estrutura necessaacuteria

para que o entendimento possa perceber ou conceber aquilo que eacute dado pela

experiecircncia isto eacute as categorias natildeo se referem mais ao objeto a ser conhecido

mas ao entendimento como faculdade de conhecimento daiacute serem definidas como

conceitos fundamentais a priori do entendimento puro Ao concluir essa anaacutelise kantiana acerca das categorias registra-se que ela

pode ser entendida como uma observaccedilatildeo aos princiacutepios loacutegicos de classificaccedilatildeo

elaborados por Aristoacuteteles - a classificaccedilatildeo dicotocircmica - que em diversos niacuteveis

desempenhou atraveacutes dos seacuteculos um importante papel na determinaccedilatildeo dos

princiacutepios dos sistemas tradicionais de classificaccedilatildeo bibliograacutefica

107 Com relaccedilatildeo ao conhecer pensando em termos de organizaccedilatildeo do conhecimento para a Ciecircncia da Informaccedilatildeo Dahlberg (1978 p 28) pondera que todo conhecimento da realidade eacute incerto e duvidoso pois haacute um mundo desconhecido ao qual soacute se tem acesso parcial pela subjetividade A questatildeo se eacute possiacutevel coincidir estruturas cognitivas e estruturas reais eacute respondida pela ciecircncia cognitiva e pelas bases bioloacutegicas (aliadas agrave evoluccedilatildeo) da compreensatildeo humana

106

323 Idade Contemporacircnea Seacuteculos XIX e XX

Na Filosofia Contemporacircnea encontram-se tanto a retomada da concepccedilatildeo

claacutessica e da concepccedilatildeo kantiana de categoria quanto novas generalizaccedilotildees

relativamente ao seu significado

A concepccedilatildeo claacutessica de categoria como forma ou determinaccedilatildeo do ser eacute

retomada pelo Idealismo Romacircntico alematildeo e em especial por Hegel (1770-1831)

Essa concepccedilatildeo tambeacutem eacute retomada pelos representantes da Fenomenologia e em

especial por Husserl (1859-1938) e Nicolai Hartmann (1882-1950) entre outros

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) na obra Wissenschaft der

Logik (1812) distingue trecircs categorias fundamentais que se subdividem segundo

triacuteades sucessivas 1) ser (quantidade qualidade medida) essecircncia (fundamento

fenocircmeno realidade) e conceito (conceito objetivo conceito subjetivo ideacuteia) As

categorias satildeo para ele ldquodeterminaccedilotildees do desenvolvimento dialeacuteticordquo um

desenvolvimento que comeccedila no ser e culmina na Filosofia Categorias constituem

ldquodeterminaccedilotildees do pensamentordquo que satildeo simultaneamente as determinaccedilotildees da

realidade (pela identidade por ele reformulada entre realidade e razatildeo) Em todo

caso trata-se de correlacionar formas de ser com formas de pensar Contudo a

uacutenica categoria que Hegel reconhece eacute a proacutepria realidade-pensamento uma

consciecircncia da proacutepria realidade Essa teoria do eu-consciecircncia como uacutenica

categoria permaneceu como lugar-comum de todas as formas de idealismo

romacircntico (ABBAGNANO 2003 p 122 FERRATER MORA 1971 v 1 p 267

VERBO 1963-76 v 4 p 1526) Essa concepccedilatildeo eacute retomada tambeacutem por Nicolai

Hartmann (1882-1950) que considera as categorias como as estruturas necessaacuterias ao

ser em si Tais estruturas permitem a estratificaccedilatildeo do mundo real em uma seacuterie de

planos (Der Aufbau der realen Welt Grundriss der allgemeinen Kategorienlehre

1940 A construccedilatildeo do mundo real esboccedilo sobre a teoria geral das categorias) Para

Hartmann existem categorias fundamentais (pertencem a todos os planos do ser)

que satildeo as categorias modais e se referem somente agraves formas do ser (possibilidade

realidade necessidade) existem as categorias elementares ou bipolares (tecircm

caraacuteter estrutural e se apresentam aos pares agrave maneira de termos conexos

contrapostos) que Hartmann agrupa em doze pares de opostos (princiacutepio-concreto

estrutura-modo forma-mateacuteria interno-externo determinaccedilatildeo-dependecircncia

qualidade-quantidade unidade-multiplicidade acordo-desacordo oposiccedilatildeo-

107

dimensatildeo discreccedilatildeo-continuidade substrato-relaccedilatildeo elemento-estrutura) e se

referem agraves oposiccedilotildees e categorias do real que determinam os caracteres da

realidade efetiva e que se dividem em quatro grupos correspondentes ao princiacutepio

do valor ao princiacutepio da crenccedila ao princiacutepio da planificaccedilatildeo e ao princiacutepio da

dependecircncia Hartmann salienta que todas as taacutebuas categoriais que possam ser

formuladas somente representam uma tentativa pois correspondem ao estado do

problema num dado momento natildeo podendo pretender ser um sistema

(ABBAGNANO 2003 p 123 FERRATER MORA 1971 v 1 p 269 STOumlRIG 2008

p 495 VITA 1964 p 110)

A concepccedilatildeo kantiana que define as categorias como ldquodeterminaccedilotildees do

pensamentordquo eacute retomada pelos representantes do Neocriticismo ou Neokantismo108

e em especial por Renouvier (1815-1903) e Cohen (1842-1918) entre outros

Charles Renouvier (1815-1903) define categorias como sendo leis primaacuterias e

irredutiacuteveis do conhecimento relaccedilotildees fundamentais que determinam a forma do

conhecer as noccedilotildees a priori isto eacute independentes da experiecircncia que ao exprimirem

relaccedilotildees gerais permitem organizar e pensar a experiecircncia e formam-se segundo

oposiccedilotildees dialeacuteticas de termos correlativos que mutuamente se implicam Na obra

Ensaio de Criacutetica Geral (Essais de Critique Geacuteneacuterale 1854) Renouvier parte de um

quadro de nove categorias relaccedilatildeo nuacutemero posiccedilatildeo sucessatildeo qualidade porvir ou

devir causalidade finalidade e personalidade e a cada uma faz corresponder uma

tese uma antiacutetese e uma siacutentese (quadro 24) Esse filoacutesofo francecircs que encabeccedila o

Neocriticismo Contemporacircneo para quem a realidade eacute uma construccedilatildeo do espiacuterito

considerou fundamental a categoria relaccedilatildeo (consciecircncia eacute relaccedilatildeo) e definiu as

demais categorias como determinaccedilotildees e especificaccedilotildees da relaccedilatildeo (ABBAGNANO

2003 p 122 ENCICLOPEacuteDIA VNIVERSAL ILVSTRADA 1970 v 12 p 532

VERBO 1963-1976 v 4 p 1524-1528)

108 Neocriticismo Movimento de lsquoretorno a Kantrsquo iniciado na Alemanha em meados do seacuteculo passado e que deu origem a algumas das mais importantes manifestaccedilotildees da Filosofia Contemporacircnea Na Alemanha a corrente neocriticista foi constituiacuteda pela escola de Marburgo agrave qual pertenceram entre outros H Cohen P Natorp e E Cassirer e agrave qual tambeacutem se vincula o francecircs C Renouvier (ABBAGNANO 2003 p 710)

108

CATEGORIAS TESE ANTITESE SIacuteNTESE Relaccedilatildeo Distinccedilatildeo Identificaccedilatildeo Determinaccedilatildeo

Nuacutemero Unidade Pluralidade Totalidade

Posiccedilatildeo Ponto Espaccedilo Extensatildeo

Sucessatildeo Instante Tempo Duraccedilatildeo

Qualidade Diferenta Gecircnero Espeacutecie

Porvir Respeito Natildeo-respeito Mudanza

Causalidade Ato Potecircncia Forccedila

Finalidade Estado Tendecircncia Paixatildeo

Personalidade Ser Natildeo-ser Conciencia

QUADRO 24 - CATEGORIAS DE RENOUVIER (1854) - FRANCcedilA FONTE Larousse (1867 v 3 p 577)

O propoacutesito de tal quadro natildeo parece ser tanto o de estabelecer um conjunto

das determinaccedilotildees pelas quais se rege o conhecimento como o de solucionar

dilemas metafiacutesicos A tendecircncia ao primado da noccedilatildeo ontoloacutegica de categoria

afirma-se nos trabalhos posteriores desse autor sobretudo quando ele reduz o

quadro agraves categorias de relaccedilatildeo de posiccedilatildeo e de personalidade Hermann Cohen (1842-1918) definiu categorias como elementos do pensar

puro e considerou como categoria fundamental a de Sistema porque a unidade do

objeto eacute uma unidade sistemaacutetica (Logik der reinen Erkenntnis Loacutegica do

Conhecimento Puro) Cohen admite que categorias satildeo condiccedilotildees para pensar

poreacutem condiccedilotildees loacutegicas necessaacuterias de tal sorte que em uacuteltimo caso natildeo se sabe

se pertencem ou natildeo realmente ao objeto enquanto que para Paul Natorp (1854-

1924) categorias satildeo funccedilotildees loacutegicas fundamentais (ABBAGNANO 2003 p 122

FERRATER MORA 1971 v 1 p 267)

Em algumas outras correntes da Filosofia Contemporacircnea como por

exemplo no Empirismo Loacutegico as categorias satildeo consideradas regras

convencionais que regem o uso dos conceitos Assim por exemplo Gilbert Ryle

(1900-1976) representante da geraccedilatildeo de filoacutesofos britacircnicos influenciados pelas

teorias de Wittgenstein em relaccedilatildeo agrave linguagem na obra The Concept of Mind de

1949 (obra criacutetica da noccedilatildeo de que a mente eacute distinta do corpo e eacute tambeacutem uma

rejeiccedilatildeo agrave teoria de Descartes) chama de tipo ou categoria loacutegica de um conceito o

conjunto de modos nos quais por convenccedilatildeo eacute liacutecito utilizar o termo respectivo

109

(RYLE 1949) No entendimento de Ryle (1975 p 29-41) lsquoproposiccedilatildeo categorialrsquo ou

lsquopalavra categorialrsquo eacute uma proposiccedilatildeo semacircntica de primeira espeacutecie que afirma

alguma coisa acerca do tipo loacutegico (categoria) de um fator ou de um conjunto de

fatores fornecendo informaccedilatildeo acerca da natureza das coisas Alguns tipos

(categorias) por ele reconhecidos foram qualidade estado substacircncia e nuacutemero

Segundo Abbagnano (2003 p 123-124) no que diz respeito agrave definiccedilatildeo de

categoria de Ryle essa eacute certamente a noccedilatildeo menos dogmaacutetica e mais geral de categoria que a filosofia propocircs ateacute hoje mas ainda conteacutem certo dogmatismo pois limita as categorias agraves jaacute estabelecidas pelo uso linguiacutestico comum negando implicitamente a validade de qualquer nova proposta

Mais contemporaneamente a ciecircncia cognitiva por meio da Biologia da

Cogniccedilatildeo preconiza que o mundo do domiacutenio cognitivo (da experiecircncia) do ser

humano estaacute acoplado a um mundo que ele vivencia como contendo regularidades

que resultam da sua histoacuteria bioloacutegica e social ou seja da sua tradiccedilatildeo bioloacutegica

(universal) e da sua cultura (local) O mundo que o homem produz eacute sempre uma

mistura de regularidade e mutabilidade tiacutepica da experiecircncia humana A bagagem

que os seres humanos tecircm em comum eacute uma tradiccedilatildeo bioloacutegica que comeccedilou com

a origem da vida e se prolonga ateacute hoje Por causa da heranccedila bioloacutegica comum

tecircm-se os fundamentos de um mundo comum e natildeo parece estranho que para

todos os seres humanos o ceacuteu seja azul e que o sol nasccedila a cada dia Das heranccedilas

linguiacutesticas diferentes surgem todas as diferenccedilas de mundos culturais que os

homens podem viver e que dentro dos limites bioloacutegicos podem ser tatildeo diversas

quanto as diversas culturas Todo conhecer humano pertence a um desses mundos

e eacute sempre vivido numa tradiccedilatildeo cultural O estudo e a tentativa de explicaccedilatildeo dos

fenocircmenos cognitivos fazem parte da tradiccedilatildeo da ciecircncia No entanto essa eacute uma

explicaccedilatildeo singular pois mostra que ao pretender conhecer o conhecer o homem

se encontra com o seu proacuteprio ser numa circularidade cognitiva (MATURANA

VARELA 2001 p 263-266)109 Portanto o mundo que cada um vecirc eacute um mundo e

natildeo o mundo onde um ponto de vista eacute o resultado de um acoplamento estrutural no

domiacutenio experiencial tatildeo vaacutelido quanto outro mesmo que o outro pareccedila menos

109 Segundo Maturana e Varela (2001 p 268) a Biologia mostra que a unicidade do ser humano seu patrimocircnio exclusivo estaacute num acoplamento estrutural social em que a linguagem tem um duplo papel Por um lado gerar regularidades como a do fenocircmeno da identidade cultural Por outro produzir a reflexibilidade que conduz ao ato de ver sob uma perspectiva mais ampla ou seja conduz ao ato de ampliar o domiacutenio cognitivo reflexivo de cada um pelo raciociacutenio

110

desejaacutevel Caberaacute pois a busca de uma perspectiva mais abrangente de um

domiacutenio experiencial em que o outro tambeacutem tenha lugar e no qual se possa

construir um mundo conjunto

Os novos enfoques teoacutericos permitem superar a visatildeo idealiacutestica kantiana

acerca da formaccedilatildeo do conhecimento do mundo quando afirma que ele se daacute por

meio de formas perceptivas a priori

No seacuteculo XX Foucault110 afirma que as classificaccedilotildees se caracterizam por

natildeo ser duradouras qualquer ordem caduca e a ordenaccedilatildeo nunca responde a

criteacuterios satisfatoacuterios e sim a distribuiccedilotildees provisoacuterias e precaacuterias que levam muitas

vezes a classificaccedilotildees e categorizaccedilotildees exoacuteticas Dessa maneira a classificaccedilatildeo e

ordenaccedilatildeo do conhecimento se apresenta meramente como uma ficccedilatildeo uacutetil

elaborada pelo homem Com Foucault se estabelece uma projeccedilatildeo de futuro -

posiccedilatildeo mais moderna Ele torna aparente o pensamento complexo faz emergir a

complexidade das palavras e das coisas

Para Foucault os discursos enquanto praacuteticas que obedecem a regras tecircm

um sentido uma dimensatildeo de acontecimento histoacuterico e social Dito isso em As

Palavras e as Coisas (1981) o que Foucault faz eacute observar a maneira como a

cultura reflete relaccedilotildees de similaridade ou equivalecircncia que justificam as palavras as

categorias as classificaccedilotildees a proximidade das coisas como a cultura estabelece o

quadro dos seus parentescos e a ordem segundo a qual eacute preciso percorrecirc-los O

filoacutesofo entende que reunir semelhanccedilas e distinguir diferenccedilas satildeo operaccedilotildees

110 Michel Paul Foucault (1926-1984) pensador estruturalista e psicoacutelogo francecircs Com a sua tese de doutorado na Sorbonne Folie et Deacuteraison Histoire de la Folie agrave lAcircge Classique (1961) firmou-se como filoacutesofo e passou a lecionar Histoacuteria do Pensamento no Collegravege de France (1970) A 1ordf ediccedilatildeo da obra Les Mots et les Choses (As Palavras e as Coisas) eacute de 1966 As suas obras situam-se dentro de uma Filosofia do Conhecimento As suas teorias que estabelecem um nexo entre saber poder e sujeito romperam com as concepccedilotildees modernas desses termos motivo pelo qual eacute considerado por certos autores um poacutes-moderno Ao contraacuterio da tradiccedilatildeo moderna pela qual o saber antecede o poder para ele a verdade natildeo se encontra separada do poder antes eacute o poder que gera o saber Propotildee entatildeo o processo genealoacutegico pelo qual busca descobrir como a verdade tem sido produzida no ambito das relaccedilotildees de poder (estuda principalmente o poder disciplinar) e com isso abre novos campos no estudo da Histoacuteria e da Epistemologia Para ele o poder estaacute disseminado em uma rede de instituiccedilotildees disciplinares Satildeo as proacuteprias pessoas nas suas relaccedilotildees reciacuteprocas - pai amigo professor meacutedico [bibliotecaacuterio] - que baseando-se no discurso constituiacutedo fazem o poder circular Cabe agrave genealogia investigar como e por que esses discursos se formam que poderes estatildeo na origem deles ou seja como o poder produz o saber O poder natildeo eacute considerado como algo que um indiviacuteduo cede a um outro (concepccedilatildeo contratual juriacutedico-poliacutetica) mas sim como uma relaccedilatildeo de forccedilas Ao ser relaccedilatildeo o poder estaacute em todas as partes uma pessoa estaacute atravessada por relaccedilotildees de poder e natildeo pode ser considerada independente delas Para Foucault o poder natildeo somente reprime mas tambeacutem produz efeitos de verdade e saber constituindo verdades praacuteticas e subjetividades

111

precisas exatas refletidas que determinam uma coerecircncia e necessitam da

aplicaccedilatildeo de um criteacuterio preacutevio Criteacuterio que ao repartir e classificar as coisas altera

a ordem interna dessas - ordem que eacute anterior ao conhecimento Como as coisas

satildeo reconheciacuteveis de acordo com a ordem que as relaciona nada mais pragmaacutetico

[] nada mais tateante nada mais empiacuterico (ao menos na aparecircncia) que a instauraccedilatildeo de uma ordem entre as coisas nada que exija um olhar mais atento uma linguagem mais fiel e melhor modulada nada que requeira com maior insistecircncia que se deixe conduzir pela proliferaccedilatildeo das qualidades e das formas (FOUCAULT 1981 p 9)

Do pensamento de Foucault depreende-se que a ordem claacutessica das coisas as determina e que o acesso a outra ordem das coisas se configura em uma total transgressatildeo

A proximidade de coisas sem relaccedilatildeo eacute estranha soacute sendo possiacutevel esse encontro na palavra escrita na linguagem O pensamento para operar ordenar agrupar por similitude separar a diferenccedila classificar necessita de um solo epistemoloacutegico onde segundo Foucault (1981 p 7) ldquoa linguagem se entrecruza com o espaccedilordquo111

Para estabelecer uma ordem eacute necessaacuteria uma definiccedilatildeo dos conceitos112 em relaccedilatildeo aos quais poderatildeo aparecer as semelhanccedilas e as diferenccedilas Para Foucault (1981 p 10) ldquoa ordem eacute ao mesmo tempo aquilo que se oferece nas coisas como sua lei interiorrdquo aquilo que soacute aparece (portanto existe) por meio de uma atenccedilatildeo cuidadosa de uma linguagem A ordem aparece segundo as culturas e segundo as eacutepocas

Natildeo se pode conhecer a ordem das coisas lsquona sua natureza isoladamentersquo mas sim descobrindo aquela que eacute a mais simples em seguida aquela que eacute a mais proacutexima para que se possa aceder necessariamente a partir daiacute ateacute as coisas mais complexas (FOUCAULT 1981 p 68) A ordem pode ser ao mesmo tempo necessaacuteria e natural - em relaccedilatildeo ao pensamento e arbitraacuteria em relaccedilatildeo agraves coisas jaacute que uma mesma coisa segundo a maneira como a consideramos pode ser colocada num ponto ou noutro da ordem (FOUCAULT 1981 p 69)

111 Pois o homem diante do desconhecido seja de um ser ou de um saber reage por aproximaccedilatildeo procura em sua memoacuteria o traccedilo de significaccedilatildeo ldquoaquele recorte de conteuacutedordquo (ECO 1998 p 55) jaacute presente em sua enciclopeacutedia pessoal que parece dar conta das caracteriacutesticas do novo objeto ou seja o homem vasculha em busca de uma definiccedilatildeo Nesse processo de apreensatildeo ele vai criando associaccedilotildees estabelecendo relaccedilotildees tentando organizar a sua experiecircncia numa determinada ordem 112 Inicialmente imaginava-se que as regras e os princiacutepios que regulavam a formaccedilatildeo de conceitos estavam no proacuteprio sujeito e este os enunciava simplesmente A subjetividade do indiviacuteduo seria a matriz geradora de ideacuteias conceitos valores Segundo Foucault o que acontece eacute o contraacuterio - eacute o discurso que constitui a fonte do sentido e o lugar da dispersatildeo do sujeito Ele cita como exemplo o discurso meacutedico do seacuteculo XIX que eacute determinado por um feixe de relaccedilotildees em constante jogo e orientado pelo ldquostatusrdquo do meacutedico pela ocupaccedilatildeo do seu lugar institucional assim como pelo seu posicionamento como sujeito que percebe observa descreve enfim prescreve o que deve ser feito A verdade como produzida no mundo natildeo existe sem poder ou fora do poder Cada sociedade tem seu regime de verdade isto eacute os tipos de discursos que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros (FOUCAULT 1981)

112

O que teve grandes consequecircncias para o pensamento ocidental ou seja o

semelhante que fora durante muito tempo categoria fundamental do saber - ao

mesmo tempo forma e conteuacutedo do conhecimento - acha-se dissociado numa

anaacutelise feita em termos de identidade e de diferenccedila A comparaccedilatildeo que eacute reportada

agrave ordem natildeo tem mais como papel revelar a ordenaccedilatildeo do mundo ela se faz

segundo a ordem do pensamento e vai naturalmente do simples ao complexo

De acordo com Foucault (1981 prefaacutecio) os homens tecircm um solo

epistemoloacutegico que usam para fazer as suas classificaccedilotildees eacute isso que produz as

categorias que empregam Relativamente agraves categorias particulares Foucault diz

que satildeo mitos resultantes do sistema de classificaccedilatildeo que empregam Esse sistema

eacute histoacuterico a priori Histoacuterico porque eacute produto da histoacuteria e ele eacute a priori porque

antecede os modos nos quais os homens classificam o mundo

Pode-se inferir que as vaacuterias classificaccedilotildees usadas pelos homens satildeo

construccedilotildees condicionadas por eventos dependentes historicamente e que as

categorias dividem o conhecimento de determinada maneira porque pressupotildeem um

sistema de classificaccedilatildeo que eacute usado para produzi-las Eacute justamente pelo fato de ser

pressuposto que ele eacute chamado a priori - o sistema precede o processo de

classificaccedilatildeo Categorias entatildeo satildeo o resultado da aplicaccedilatildeo de um sistema Num

certo sentido o sistema eacute como um conjunto de criteacuterios que Foucault chama de

regras que equivalem na Teoria da Classificaccedilatildeo a um conjunto de criteacuterios de

divisatildeo denominados categorias

Categorias tornam possiacutevel ldquonomear falar pensarrdquo (FOUCAULT 1981 p 9)

Natildeo existe uma sentenccedila nem existe nenhum pensamento que possam ser

formados sem depender de categorias Elas funcionam como padrotildees ou

procedimentos estabelecidos A marca de uma categoria e do mundo inteiro que se

tem construiacutedo sobre elas eacute que a cada categoria pode ser assinalado um

significado preciso e um conteuacutedo demonstraacutevel Elas satildeo divisiacuteveis e agrupaacuteveis de

acordo com os nomes que designam as suas similaridades e as suas diferenccedilas

Elas satildeo maneiras pelas quais se organiza o mundo (FOUCAULT 1981 prefaacutecio)

Para Foucault (1981 p 175) natildeo teria sido possiacutevel falar e

consequentemente nomear se no acircmago mesmo das coisas antes de toda

113

representaccedilatildeo a natureza natildeo tivesse sido contiacutenua113 A condiccedilatildeo de possibilidade

da linguagem assim como da classificaccedilatildeo reside exatamente nesse contiacutenuo onde

as coisas e as palavras se entrecruzam Para que um nome comum seja possiacutevel eacute

preciso que haja entre as coisas alguma semelhanccedila que permita aos elementos

significantes aparecerem ao longo das representaccedilotildees

As categorias natildeo seratildeo simplesmente convenccedilotildees arbitraacuterias poderatildeo corresponder (se natildeo forem estabelecidas corretamente) a regiotildees que existem distintamente sobre essa superfiacutecie ininterrupta da natureza seratildeo regiotildees mais vastas mas tatildeo reais quanto os indiviacuteduos (FOUCAULT 1981 p 161)

Foucault tem um entendimento muito particular da extensatildeo do termo

categoria Ele natildeo estaacute se referindo como Aristoacuteteles e tantos outros filoacutesofos a um

grupo pequeno muito geral ao contraacuterio aponta uma rede muito mais vasta Ele fala

de catildeo de homem etc como categoria O importante eacute perceber que se as

categorias forem entendidas de modo amplo como faz Foucault seraacute

significativamente diferente daquela compreensatildeo que contempla apenas as

categorias mais gerais (GRACIA 2001 p 8) Entretanto pensar em termos de

categorias gerais natildeo eacute a uacutenica maneira de entender categorias como demonstra

Foucault Outros modos de entendecirc-las seriam como propriedade das coisas (visatildeo

realista) como palavra ou entidade linguiacutestica em que o significado da categoria natildeo eacute

nada mais do que a palavra catildeo (visatildeo nominalista) ou como conceito que eacute expresso

pelo termo ou expressatildeo Categorias natildeo satildeo essas palavras ou conceitos mas o que

eacute expresso pelas palavras e pelo pensamento por intermeacutedio de conceitos - um modo

de ordenar as coisas Para Foucault os sistemas que produzem as categorias por meio das quais se vecirc

o mundo natildeo satildeo particulares mas gerais e satildeo revelados no discurso antes do que na

consciecircncia Portanto como resultado de sistemas categorias natildeo satildeo pessoais

(criaccedilotildees de pessoas individualmente) mas certamente arbitraacuterias porque satildeo

convencionadas socialmente114 Assim categorias satildeo inventadas satildeo modos que os

homens inventam para pensar a respeito do mundo Muito do que Foucault diz sugere

113 Nossas ideacuteias gerais diz Bufon lsquosatildeo relativas a uma escala contiacutenua de objetos [] quanto mais aumentarmos o nuacutemero de divisotildees das produccedilotildees naturais mais nos aproximaremos da verdade visto que natildeo existe realmente na natureza senatildeo indiviacuteduos e que os gecircneros as ordens as classes soacute existem na nossa imaginaccedilatildeo (BUFON Discours sur la maniegravere de traiter lrsquohistoire naturelle In Oeuvres completes t 4 p 35-36 apud FOUCAULT 1981 p 161-162) 114 Cf nota 25

114

que natildeo somente categorias mas tambeacutem os sistemas que satildeo usados para produzi-

las satildeo inventados Da argumentaccedilatildeo de Foucault pode-se inferir que classes e

categorias satildeo necessaacuterias mas arbitraacuterias ou necessariamente arbitraacuterias construtos

humanos elaborados para ordenar a compreensatildeo do mundo Segundo Gracia (2001) Foucault natildeo fala abertamente o que ldquoinventadardquo

significa poreacutem ao reiterar o uso do termo ele parece estar colocando em

discussatildeo que o caraacuteter inventado das categorias deve minar a sua validade

universal Daiacute talvez o fato dos seus muitos disciacutepulos usarem o termo construiacuteda

em vez de inventada

Pode-se dizer que para Foucault (1981) categorias satildeo os produtos de

sistemas de classificaccedilatildeo historicamente condicionados Satildeo conceitos (inventados

ou construiacutedos) a partir dos quais se pensa sobre o mundo e a sua funccedilatildeo eacute

primeiramente epistecircmica

Para pensar a respeito da Episteme da Cultura Ocidental e a Informaccedilatildeo (que daacute

nome a uma era a um periacuteodo histoacuterico) promove-se uma reflexatildeo retomando Foucault

(1981) em As Palavras e as Coisas no seacuteculo XVI no interior da Renascenccedila

trazendo-o ateacute o seacuteculo XXI (ainda que Foucault tenha morrido em 1984) para observar

como eacute que o saber se transforma no que se chama informaccedilatildeo Essa reflexatildeo eacute feita

em conjunto com o pensamento de Solange Puntel Mostafa (1996 p 36-42) estudiosa

da Filosofia da Educaccedilatildeo e da Epistemologia da Biblioteconomia

O pensamento do seacuteculo XVI eacute relacional vecirc ainda estabelecerem-se os

parentescos as semelhanccedilas e as afinidades sem a mediaccedilatildeo do conceito a

linguagem e as coisas se entrecruzam o pensamento eacute maacutegico miacutestico (os astros

explicam o comportamento as linhas da matildeo explicam o destino) a hierarquia eacute

analoacutegica existe um sistema global de correspondecircncias (a terra e o ceacuteu o

microcosmo e o macrocosmo) no qual a apresentaccedilatildeo de similitudes eacute uma praacutetica

infinita tudo se relaciona com tudo e a limitaccedilatildeo vem da finitude do mundo A

compilaccedilatildeo de documentos eacute feita pela repeticcedilatildeo de palavras jaacute escritas ou ditas

conhecer eacute comentar (somente no seacuteculo XVIII eacute que ocorre uma mudanccedila de valor e

sentido quando o olhar se torna esmiuccedilador e as palavras mais exatas e neutras)

Existe tambeacutem muita curiosidade em relaccedilatildeo agraves plantas e animais exoacuteticos exibidos

em festas e torneios o que representava um novo modo de vincular as coisas ao

mesmo tempo ao olhar e ao discurso - os jardins e os zooloacutegicos satildeo o livro ordenado

das estruturas o espaccedilo em que se combinam os caracteres e se desdobram as

115

classificaccedilotildees No seacuteculo XVI a divisatildeo entre o que o indiviacuteduo vecirc o que os outros

veem e transmitem o que o indiviacuteduo imagina o que os outros imaginam ou creem -

essa triparticcedilatildeo ldquoentre a Observaccedilatildeo o Documento e a Faacutebula natildeo existiardquo

(FOUCAULT 1981 p 143) A razatildeo eacute que no seacuteculo XVI e ateacute meados do seacuteculo

XVII ldquoos signos faziam parte das coisas ao passo que no seacuteculo XVIII eles se tornam

modos de representaccedilatildeordquo (FOUCAULT 1981 p 143) De acordo com essa visatildeo no

seacuteculo XVI todo ser trazia uma marca (frequentemente visiacutevel) que servia para

identificaacute-lo individualizaacute-lo e por extensatildeo agrave espeacutecie Assim uma espeacutecie caccedilava agrave

noite outra habitava a aacutegua etc As palavras natildeo representam as coisas natildeo existem

por si soacutes eram parte das coisas as suas marcas e sinais Natildeo existe ainda uma

organizaccedilatildeo alfabeacutetica dos livros - que soacute vai aparecer no seacuteculo XVII pois pensar em

ordem alfabeacutetica eacute pensar no ser da linguagem Ordem alfabeacutetica eacute construto

arbitrariedade ordem construiacuteda La Croix Du Maine (cf subseccedilatildeo 312) concebe em

1583 ao mesmo tempo uma Enciclopeacutedia e uma Biblioteca na qual os textos seriam

dispostos segundo ldquoas figuras da vizinhanccedila do parentesco da analogia e da

subordinaccedilatildeo prescritas pelo proacuteprio mundordquo (FOUCAULT 1981 p 54)

A partir do seacuteculo XVII o signo passa a fazer parte da anaacutelise das

representaccedilotildees por meio das similitudes e das diferenccedilas ou seja toda

denominaccedilatildeo se deve fazer por relaccedilatildeo com todas as outras denominaccedilotildees

possiacuteveis ldquoConhecer aquilo que pertence propriamente a um indiviacuteduo eacute ter diante

de si a classificaccedilatildeo ou a possibilidade de classificar o conjunto dos outrosrdquo

(FOUCAULT 1981 p 159) O que ele eacute - a sua identidade - e aquilo que marca o

que ele eacute definem-se pelo que resta das diferenccedilas ldquoUm animal ou uma planta natildeo

eacute aquilo que eacute indicado - ou traiacutedo - pelo estigma que se descobre impresso nele eacute

aquilo que os outros natildeo satildeo soacute existe em si mesmo no limite daquilo que dele se

distinguerdquo (FOUCAULT 1981 p 159) Marcando a transiccedilatildeo entre a episteme do

seacuteculo XVI (embasada na analogia) e a episteme do seacuteculo XVII (dominada pelo

estudo do conhecimento pela questatildeo do meacutetodo pelas relaccedilotildees entre Ciecircncia e

Filosofia e por duas grandes correntes filosoacuteficas o Racionalismo e o Empirismo)

eis Dom Quixote personagem miacutetico que vive a ruptura onde terminam os jogos da

semelhanccedila e da correspondecircncia dos signos e onde comeccedilam novas relaccedilotildees -

siacutembolo da ruptura no universo do conhecimento porque aquilo que se lecirc natildeo

corresponde mais agravequilo que se vecirc Lendo o mundo para demonstrar os livros ele se

surpreende com a inexistecircncia da concordacircncia dos signos com o real (FOUCAULT

116

1981 p 60-64) Eacute um mundo em que a linguagem natildeo alcanccedila mais as coisas O

seacuteculo do Barroco com seus desvios lsquoilusionistasrsquo cujo parentesco da semelhanccedila

com a ilusatildeo faz com que a similitude natildeo seja mais a forma do saber provoca uma

ruptura As palavras e as coisas separam-se nascendo entre elas a representaccedilatildeo

(o signo o sentido o significado o referente) Eacute tempo das palavras representarem

as coisas natildeo porque se assemelhem a elas mas porque por meio delas pode-se

distingui-las ldquoPor mais que se diga o que se vecirc o que se vecirc natildeo condiz com o que

se dizrdquo (FOUCAULT 1981 p 85) Entatildeo a linguagem do saber muda de fisionomia

Eacute aiacute que se comeccedila a pensar a natureza como uma coleccedilatildeo de realidades

classificaacuteveis ou como um encadeamento linear de acontecimentos que satildeo causas

e efeitos uns dos outros Assim a Matemaacutetica a Fiacutesica a Cosmologia ou a Axiologia

estabelecem-se no quadro de uma organizaccedilatildeo que se reflete na classificaccedilatildeo de

elementos de realidade na Gramaacutetica das palavras e dos signos Enraizadas numa

visatildeo estaacutetica da realidade as ciecircncias ordenam os fatos em dois planos espaccedilo em

que se distribuem e tempo em que se encadeiam mutuamente

Pode-se observar que a mania da classificaccedilatildeo manifestada no discurso

cientiacutefico tambeacutem se exprime nas tentativas de organizaccedilatildeo da existecircncia coletiva

como por exemplo na construccedilatildeo de uma lsquocidade idealrsquo por Nicolas Ledoux

arquiteto utopista do seacuteculo XVII que se dedicou em sua cidade Salinas de Cal em

Arc e Senans a um trabalho de ordenador de espaccedilo a partir de regras de

classificaccedilatildeo (GUEDEZ 1977 p 38-39) Otlet tambeacutem planejou uma cidade no

litoral belga que foi destruiacuteda durante a guerra O aparecimento do Racionalismo

permite superar a magia e a supersticcedilatildeo dando lugar agrave natureza na ordem cientiacutefica

Eacute neste seacuteculo que toda semelhanccedila e analogia cartesianas se submetem ao crivo

da (anaacutelise) comparaccedilatildeo de modo que natildeo eacute mais possiacutevel que tudo se relacione

com tudo A partir do seacuteculo XVII uma enumeraccedilatildeo completa eacute possiacutevel e as coisas

vatildeo se assemelhando ateacute o ponto em que acumuladas as diferenccedilas o semelhante

se rompe A enumeraccedilatildeo exaustiva e a capacidade de apontar em cada passo a

passagem para o seguinte permite conhecer com mais certeza somente a

enumeraccedilatildeo pode permitir qualquer que seja a questatildeo a que o ser se aplique ter

sobre ela um julgamento verdadeiro e certo (DESCARTES Regulae 1996 VII p

110) Agraves palavras natildeo compete mais ser a marca da verdade e sim traduzi-las se

puderem A linguagem entra na sua era de transparecircncia e neutralidade quando

ldquoconhecer eacute discernirrdquo (FOUCAULT 1981 p 71) Para Mostafa (1996 p 38) ldquoestaacute

117

aberto o caminho para a taxonomia para a classificaccedilatildeo do seacuteculo seguinterdquo

O seacuteculo XVIII (Idade Claacutessica ou Iluminismo) caracteriza a eacutepoca da

classificaccedilatildeo e dos acervos Eacute o seacuteculo das Luzes que recolhe e unifica a heranccedila

do racionalismo e do empirismo instituindo os direitos supremos da razatildeo humana e

exigindo a sua realizaccedilatildeo concreta por meio de conquistas sociais que se

materializam na Constituiccedilatildeo dos Direitos do Homem e na Revoluccedilatildeo Francesa O

Iluminismo (cf nota 58) inicia-se sobre trecircs linguagens novas Gramaacutetica Geral

Anaacutelise das Riquezas e Histoacuteria Natural Ateacute entatildeo a linguagem se pretendia

repeticcedilatildeo da realidade ela era o proacuteprio mundo As palavras eram as coisas como o

logos (razatildeo) platocircnico que refletia na sua disposiccedilatildeo a harmonia do cosmos e

como o projeto enciclopeacutedico na aurora do seacuteculo XVIII ainda procura lsquoreconstituirrsquo

pelo encadeamento das palavras e pela sua disposiccedilatildeo no espaccedilo a proacutepria ordem

do mundo Esse eacute o seacuteculo que recorre agrave Aacutelgebra como meacutetodo universal quando

se trata de ordenar as naturezas simples e constitui taxonomias quando se trata de

pocircr ordem em naturezas complexas Eacute o responsaacutevel por dar uma amplitude e uma

precisatildeo ateacute entatildeo insuspeitadas agraves Ciecircncias da Vida (desenvolvem-se novas

disciplinas como a Embriologia a Histologia a Geologia e a Paleontologia) O saber

jaacute acumulado da heranccedila aristoteacutelica do peso do cartesianismo e do prestiacutegio de

Newton soma-se agrave aperfeiccediloamentos teacutecnicos (como a invenccedilatildeo do microscoacutepio) agrave

importacircncia das Ciecircncias Fiacutesicas com o seu modelo de racionalidade

experimentaccedilatildeo observaccedilatildeo caacutelculo e anaacutelise que teria conduzido (inicialmente por

meio do cartesianismo da racionalidade mecacircnica) agrave descoberta da racionalidade

do ser vivo A aquisiccedilatildeo do conhecimento e a ordem do mundo natildeo comeccedilam mais

com as ideacuteias mas com as coisas aparece a possibilidade de classificar (natildeo os

textos mas) os seres vivos - uns segundo Lineu (toda a natureza eacute capaz de entrar

numa taxonomia) outros como Buffon (a natureza eacute muito rica e diversa para

ajustar-se a quadro tatildeo riacutegido) Haacute a oposiccedilatildeo entre os que creem na imobilidade da

natureza - como Lineu - e os que como Diderot pressentem o poder de criaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da vida115 Flora e fauna ganham espaccedilos abertos claros e distintos

115 O texto Le Recircve de drsquoAlembert de Diderot (escrito em 1769 posto em circulaccedilatildeo pela Correspondance Litteacuteraire em 1782 publicado em 1831) bem antes de Darwin debate o evolucionismo Transparece um jogo de forccedilas onde de um lado as Ciecircncias da Vida (mecanicistas) e a Teologia (ora apoiando-se ora contestando-se) sob a influecircncia de Descartes manteriam a Idade Claacutessica proacutexima de seu iniacutecio do outro lado as Ciecircncias da Vida (intuitivas) e a natildeo-Religiatildeo (ambas em cumplicidade) como sob a influecircncia de Diderot a atrairiam em direccedilatildeo ao seacuteculo XIX

118

jardins botacircnicos herbaacuterios coleccedilotildees gabinetes de exposiccedilatildeo (verdadeiros

documentos expostos ao olhar classificatoacuterio do homem oitocentista) Surgem os

primeiros esforccedilos de uma Agronomia as grandes viagens de pesquisa ou de

exploraccedilatildeo traduzem-se em descriccedilotildees desenhos e espeacutecimes e ocorre ainda a

valorizaccedilatildeo eacutetica da natureza ldquono coraccedilatildeo do seacuteculo XVIII Rousseau herborizardquo

(FOUCAULT 1981 p 140) O livro torna-se o herbaacuterio das estruturas vegetais No

seacuteculo XVIII embora natildeo se possa saber e dizer senatildeo em um espaccedilo taxonocircmico

de visibilidade daiacute o conhecimento taxonocircmico ter sido mais rico e mais coerente na

ordem botacircnica que na ordem zooloacutegica a Botacircnica ainda natildeo existe enquanto

ciecircncia da vida nem a Biologia O visiacutevel eacute tematizado pela histoacuteria que

necessariamente se torna uma histoacuteria da natureza uma Histoacuteria Natural que

possibilita ldquover o que se poderaacute dizer mas que natildeo se poderia dizer depois nem ver

a distacircncia se as coisas e as palavras distintas umas das outras natildeo se

comunicassem desde o iniacutecio numa representaccedilatildeordquo (FOUCAULT 1981 p 144)

Lineu (1707-1778) propotildee agrave Histoacuteria Natural uma ordem descritiva que permite agrave

estrutura que foi filtrada e limitada do visiacutevel transcrever-se na linguagem De acordo

com ele a descriccedilatildeo de qualquer animal ou vegetal deve seguir os seguintes

passos nome teoria gecircnero espeacutecie atributos uso e por fim litteraria Ele coloca

em uacuteltimo lugar como um apecircndice a descriccedilatildeo das crenccedilas e tradiccedilotildees das figuras

poeacuteticas enfim toda a linguagem depositada pelo tempo sobre as coisas Coloca em

primeiro lugar o proacuteprio animal ou planta que aparece com suas caracteriacutesticas mas

no interior de uma seacuterie linear de elementos - nomes - que recorta a representaccedilatildeo

do animal ou da planta segundo um modo manifesto e universal Ele pretendia que a

ordem da descriccedilatildeo reproduzisse o proacuteprio animal a proacutepria planta que o animal ou

planta passasse por inteiro para o discurso que a recolhe e classifica A partir de

Cuvier (final de seacuteculo) ainda que a definiccedilatildeo da identidade das espeacutecies continue

atrelada agraves diferenccedilas esta surgiraacute natildeo mais de estruturas mas de conjuntos

orgacircnicos e seus sistemas - esqueleto respiraccedilatildeo circulaccedilatildeo - que se constituiratildeo

em objeto das Ciecircncias Naturais Ateacute o fim do seacuteculo XVIII a vida natildeo existe apenas

seres vivos Ela eacute uma categoria de classificaccedilatildeo e como todas as categorias

relativa aos criteacuterios que se fixarem Tambeacutem como todas as outras exposta a

imprecisotildees quando se trata de fixar-lhe as fronteiras

119

No fim do seacuteculo XVIII referindo-se a Kant Foucault afirma

laacute onde se tratava de estabelecer as relaccedilotildees de identidade e de distinccedilatildeo sobre o fundo contiacutenuo das similitudes ele faz surgir o problema inverso da siacutentese do diverso No mesmo movimento a questatildeo criacutetica se volta do conceito ao juiacutezo da existecircncia do gecircnero (obtida pela anaacutelise das representaccedilotildees) agrave possibilidade de ligar as representaccedilotildees entre si do direito de nomear ao fundamento da atribuiccedilatildeo da articulaccedilatildeo nominal agrave proposiccedilatildeo mesma e ao verbo ser que a estabelece Ela se acha entatildeo absolutamente generalizada Em vez de valer somente a propoacutesito das relaccedilotildees entre a natureza e a natureza humana ela interroga a possibilidade mesma de todo conhecimento (FOUCAULT 1981 p 177-178)

Ao longo do seacuteculo XIX a vida torna-se objeto de conhecimento e o homem

emerge na Histoacuteria como concebida hoje quando parte dos seres estaacute catalogada e

classificada Eacute nesse periacuteodo que a representaccedilatildeo vai se dar na forma de acervos

bibliograacuteficos (reunidos em arquivos bibliotecas e museus) porque os escritos

chegaram a uma tal densidade que era preciso dispocirc-los em espaccedilos proacuteprios e

ordenados Eacute quando em razatildeo da imensa reorganizaccedilatildeo do saber uma verdadeira

redistribuiccedilatildeo da episteme ocidental surgem as Ciecircncias Humanas (a Histoacuteria Natural

passa a Biologia a Anaacutelise das Riquezas passa a Economia e a Reflexatildeo sobre a

Linguagem passa a Filologia) O homem do seacuteculo XIX quer entender o ser do homem

e funda uma episteme para tanto Sociologia Psicologia Economia Biologia a

proacutepria Filosofia volta-se para o ser do homem na Fenomenologia O seacuteculo XIX

segundo Mostafa (1996 p 41) eacute talvez o mais conhecido porque o homem foi

liberado desde entatildeo para pensar em si proacuteprio (Durkheim pensa o homem como um

fato social Comte pensa um homem positivo Marx pensa um homem histoacuterico

Weber pensa um homem compreensivo) Eacute um tempo em que o homem se encontra

abrigado e sistematicamente estudado como na deacutecada de 20 do seacuteculo XX quando

Freud escreve as suas descobertas a respeito do mais iacutentimo do ser do homem

A humanidade aparece tardiamente na episteme ocidental e tem uma presenccedila

passageira surgindo e desaparecendo em seguida No seu lugar novas figuras

preenchem os espaccedilos Informaccedilatildeo Ciberneacutetica Roboacutetica Ciecircncia da Computaccedilatildeo

Ciecircncia da Informaccedilatildeo Sistemas de Recuperaccedilatildeo da Informaccedilatildeo etc Nasce o saber

sem sujeito cujo nome eacute Informaccedilatildeo Mostafa (1996 p 41) cita Karl Popper ldquoo

conhecimento em sentido objetivo eacute conhecimento sem conhecedor eacute conhecimento

sem sujeito que conheccedilardquo Portanto o seacuteculo XX vai lidar com a informaccedilatildeo que

passa a ser o problema a ser investigado e eacute agora sujeito da Histoacuteria Assim como o

seacuteculo XVII lidou com o mostruaacuterio medieval do fantaacutestico o seacuteculo XVIII com o

120

quadro classificatoacuterio das espeacutecies vegetal e animal e o seacuteculo XIX com as seacuteries e

hierarquias das tabelas bibliograacuteficas decimais o seacuteculo XX natildeo lida mais apenas com

registro e recuperaccedilatildeo mas com um grande texto um hipertexto Eacute o proacuteprio homem

que se deposita num outro suporte que ele chama de Inteligecircncia Artificial Essa

trajetoacuteria fez com que as coisas jaacute natildeo sejam mais percebidas descritas

enunciadas caracterizadas e classificadas da mesma maneira pois a rede

conceitual que lhes cria o espaccedilo de existecircncia se modificou

Trata-se de uma nova episteme no coraccedilatildeo do seacuteculo XXI ldquoeacute como se a

informaccedilatildeo morasse em todos os lugares ou fosse a morada de todos os deusesrdquo

(MOSTAFA 1996 p 42) O ser do homem passa a ser o ser da informaccedilatildeo em que o

ser do homem se esvanece restando apenas a sua lembranccedila por meio da linguagem

dos metadados dos coacutedigos dos conhecimentos que produz enfim da informaccedilatildeo

A aacuterea da Ciecircncia da Informaccedilatildeo tem sido muito eficiente em representar o

conhecimento com linguagens116 como sistemas de classificaccedilatildeo gerais (CDD CDU

LCC CC BC) especializados tesauros dicionaacuterios glossaacuterios vocabulaacuterios

controlados cabeccedilalhos de assunto palavras-chave entre outros Mas o

conhecimento da representaccedilatildeo que eacute o conhecimento teoacuterico ou epistemoloacutegico da

representaccedilatildeo enquanto relaccedilatildeo do pensamento com o real eacute minimizado A

importacircncia dessa questatildeo para a aacuterea eacute de acordo com Gonzalez de Gomez

(1993 p 217-222) entender que o paradigma da informaccedilatildeo eacute o paradigma da

linguagem Na deacutecada de 70 do seacuteculo XX as primeiras discussotildees sobre

informaccedilatildeo diziam que esta era algo dado na estrutura do mundo (o solo

epistemoloacutegico era ontoloacutegico da ordem do ser no mundo) depois evoluiu para a

compreensatildeo de que a informaccedilatildeo era como uma imagem a informaccedilatildeo soacute era

enquanto representaccedilatildeo (o solo era a consciecircncia tudo se resolvia no pensamento)

soacute mais recente eacute que surge a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo como linguagem como

texto como escrita (o solo eacute a linguagem e o seu sistema de significados onde a

informaccedilatildeo em sua investidura semioacutetica manifesta-se como autocircnoma) A aacuterea da

Informaccedilatildeo trabalha fundamentalmente com linguagem com palavras com textos e

a relaccedilatildeo entre texto e classificador eacute naturalmente uma relaccedilatildeo dialeacutetica Por

exemplo

116 Linguagens documentaacuterias (LD) satildeo sistemas de signos que visam agrave uniformizaccedilatildeo do uso da linguagem de especialidade proporcionando uma representaccedilatildeo padronizada do conteuacutedo informacional bem como uma recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo mais pertinente

121

o livro de Fernando Gabeira O Que eacute isso Companheiro foi indexado no Brasil como lsquobiografiarsquo na Biblioteca do Congresso nos Estados Unidos o primeiro assunto indexado eacute o nome do embaixador norteamericano seguido de um termo como lsquoguerrilharsquo o bibliotecaacuterio brasileiro olha o Brasil e natildeo vecirc lsquosequestrorsquo nem embaixador nem guerrilha Na Franccedila o livro foi indexado como lsquoBrasil - periacuteodo 1964-1974 - revoluccedilatildeo - narrativa pessoalrsquo (MOSTAFA 1996 p 44)

Apesar das teses do saber sem sujeito o homem existe faz histoacuteria e lecirc

segundo as suas crenccedilas o seu conhecimento a sua ideologia enfim segundo a

sua consciecircncia possiacutevel A Biblioteconomia e a Ciecircncia da Informaccedilatildeo falam por

meio de coacutedigos classificaccedilotildees tesauros etc e por isso Gonzalez de Gomez

(1993) adverte que eacute preciso perceber de que modo a aacuterea olha esse objeto

chamado informaccedilatildeo A informaccedilatildeo eacute sempre olhada pelos profissionais da aacuterea por

intermeacutedio de uma linguagem documentaacuteria natural ou controlada - eacute esse recorte

que a distingue de outras aacutereas Outro aspecto importante diz respeito ao poder da

linguagem o poder do significado da imposiccedilatildeo de sentido Nas anaacutelises foucaultianas

toda vontade de verdade eacute vontade de poder O poder disciplinar o poder que as

disciplinas exercem umas sobre as outras eacute tambeacutem jogo de poder As aacutereas de

conhecimento como discursos que fabricam os seus objetos e as praacuteticas de que falam

(falas satildeo atos fundadores - quando falamos sobre as coisas do mundo noacutes as

constituiacutemos - as coisas do mundo soacute tecircm significado quando interpretadas pela

linguagem) brigam pela verdade do mundo ou seja brigam por poder O poder que

agora natildeo eacute o outro do saber mas o poder que eacute exercido em e por meio de relaccedilotildees

mediadas por informaccedilatildeo A classificaccedilatildeo produz verdades Natildeo apenas representa o

conhecimento mas faz nascer o conhecimento numa certa direccedilatildeo separando aacutereas

aproximando outras escondendo relaccedilotildees fazendo aparecer outras Assim como os

cataacutelogos as classificaccedilotildees satildeo dispositivos de interpelaccedilatildeo (MOSTAFA 2005)

324 Quadros-Siacutentese das Classificaccedilotildees Filosoacuteficas dos Seres

Filoacutesofos cientistas e pesquisadores em geral partem dos mais variados

princiacutepios de acordo com as suas doutrinas filosoacuteficas para classificar os objetos das

ciecircncias (quadro 25) e estatildeo sempre envolvidos na tarefa de propor novas

categorias (quadro 26) isto eacute novos instrumentos conceituais (quadro 27) de

investigaccedilatildeo e de expressatildeo linguiacutestica

122

Com os quadros-siacutentese das classsificaccedilotildees filosoacuteficas dos seres (categorias)

eacute possiacutevel constatar que desde Platatildeo segundo a concepccedilatildeo epistemoloacutegica

vigoram dois princiacutepios quanto agrave essecircncia das categorias princiacutepio realista e

objetivista e princiacutepio idealista e aprioriacutestico Historicamente iniciou-se a teoria das

categorias com o primeiro princiacutepio quer em Platatildeo (summum genus) quer em

Aristoacuteteles (kategoria) como determinaccedilotildees da realidade conceitos que servem para

conhecer a proacutepria realidade Com Kant a teoria das categorias ganha uma nova

elaboraccedilatildeo dessa vez idealista e apriorista como conceitos puros do entendimento

condiccedilotildees de ligaccedilatildeo que o espiacuterito estabelece entre as coisas

A Epistemologia Contemporacircnea natildeo mais se ocupa de constituir uma tabela

das categorias pois passa a conceber o pensamento como virtualidade

(independente das estruturas linguiacutesticas) como ldquosistema abertordquo (expressatildeo de

Hartmann) que natildeo pode constituir-se numa rede ldquoestranguladorardquo do pensamento

(HARTMANN 1940)

123

PERIacuteODO FILOacuteSOFO PRINCIacutePIOS427-347 aCSeacuteculo IV aC

Platatildeo Platatildeo admite a existecircncia de ideacuteias inatas Eacute a alma com as suas trecircs faculdades (racional passional apetitiva) o princiacutepio das ideacuteias das categorias O idealismo platocircnico separava as ideacuteias e as coisas considerava os fenocircmenos como aparecircncia ilusoacuteria e as ideacuteias como conhecimento verdadeiro O princiacutepio (realista) da doutrina do fundamento real das categorias eacute aquele que confere realidade agraves ideacuteias e faz corresponder a realidade e o discurso

384-322 aCSeacuteculo IV aC

Aristoacuteteles Aristoacuteteles defende o princiacutepio que todo conhecimento proveacutem das sensaccedilotildees As categorias satildeo obtidas por uma espeacutecie de percepccedilatildeo intelectual Nada haacute no entendimento que antes natildeo tenha estado nos sentidos A alma para ele era uma tabula rasa em que nada estaacute escrito A substacircncia eacute o ser por excelecircncia eacute o indiviacuteduo que se apresenta como siacutentese de todas as determinaccedilotildees Essas determinaccedilotildees essenciais da realidade formam as suas dez categorias Aristoacuteteles buscava nas essecircncias (universais) a razatildeo das coisas e dos fatos supondo-as no interior das coisas une as ideacuteias e as coisas e defende o princiacutepio da correspondecircncia entre a realidade e o discurso por meio das proposiccedilotildees categoriais ldquoExpressotildees sem enlacerdquo ou ldquocoisas ditas sem complexatildeordquo para Aristoacuteteles ldquocategoriasrdquo satildeo palavras simples ldquosem ligaccedilatildeordquo natildeo combinadas com outras presentes no pensamento e na linguagem e que indicam o que uma coisa eacute estaacute ou faz quando aplicada O que esse conceito bem diferente tem em comum com os anteriores eacute implicar ele tambeacutem um princiacutepio de organizaccedilatildeo Pode-se dizer que Aristoacuteteles deduziu as categorias sob o ponto de vista loacutegico-gramatical

205-270 Seacuteculo III

Plotino Em Plotino o aspecto ontoloacutegico da teoria prevalece sobre o aspecto semacircntico Seguindo em parte Platatildeo Plotino admite que os gecircneros satildeo distintos entre si poreacutem pertencem agrave Unidade Suprema (satildeo como partes ou elementos dela) o Ser o ldquoUmrdquo o Ente o Absoluto eacute o que constitui o fundamento e o princiacutepio comum das categorias

1285-1349Seacuteculo XIV

Ockham Ockham se caracteriza por um empirismo radical soacute existe o que pode ser captado pelos sentidos soacute o objeto individual eacute real e apenas haacute indiviacuteduos Defendia o princiacutepio do caraacuteter puramente verbal das categorias

1561-1626Seacuteculo XVII

F Bacon Em Bacon vigora o princiacutepio racional que objetiva descobrir a causa (princiacutepio constitutivo dos entes) das coisas naturais pois saber verdadeiramente eacute saber pelas causas

1588-1679Seacuteculo XVII

Hobbes Para Hobbes a sensaccedilatildeo eacute o uacutenico fundamento (princiacutepio) de todo conhecer

1632-1677Seacuteculo XVII

Spinoza Spinoza defende o princiacutepio racional de determinaccedilatildeo da Substacircncia (substacircncia finita pensante e substacircncia infinita) em que atributo eacute extensatildeo (da substacircncia) e modo eacute acidente (da substacircncia)

1632-1704Seacuteculo XVII

Locke Locke acredita no princiacutepio racional de distinccedilatildeo entre ideacuteias simples e ideacuteias complexas prega que frente agrave ideacuteias simples o sujeito humano eacute passivo porquanto soacute se torna ativo ao estabelecer relaccedilatildeo ou seja entrar em contato com ideacuteias complexas Primeira vez que aparece na Filosofia o conceito de categoria como funcionalidade Para Locke natildeo existem ideacuteias inatas porque contradizem a experiecircncia e natildeo podem ser averiguadas ou fundamentadas O nexo causal eacute o uacutenico viacutenculo que existe entre as coisas e as sensaccedilotildees que se tecircm delas Consequentemente a causalidade eacute o uacutenico caminho para o conhecimento enquanto a existecircncia eacute a uacutenica realidade captada pelo conhecimento mediante a causalidade

1646-1716Seacuteculo XVIII

Leibniz Em Leibniz vigora o princiacutepio racional de ideacuteias inatas primeiros princiacutepios que natildeo podem provir da experiecircncia porque tecircm uma necessidade do absoluto que os conhecimentos empiacutericos natildeo tecircm princiacutepio de identidade ideacuteias inatas (todo ser eacute igual a si mesmo) princiacutepio de natildeo-contradiccedilatildeo ideacuteias inatas que governam as verdades de razatildeo - necessaacuterias (um ser natildeo pode ser senatildeo ele) e princiacutepio de razatildeo suficiente ideacuteias inatas que governam as verdades de fato - contingentes (tudo o que acontece natildeo acontece necessariamente e nem pelo arbiacutetrio de algueacutem mas por um motivo razoaacutevel que a justifica plenamente mesmo que natildeo o conheccedilamos

QUADRO 25 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES continua

124

1711-1776Seacuteculo XVIII

Hume Em Hume atua o princiacutepio da subjetividade empiacuterica segundo o qual se pode observar os fenocircmenos mas o seu mecanismo iacutentimo natildeo eacute passiacutevel de experiecircncia e as relaccedilotildees entre os objetos como natildeo podem ser observadas natildeo pertencem aos objetos

1724-1804Seacuteculo XIX

Kant Na loacutegica kantiana as categorias satildeo deduzidas do uacutenico princiacutepio comum da faculdade do juiacutezo (deduccedilatildeo trascendental) Com Kant o mundo a ser classificado era o mundo dos conceitos enquanto formas a priori do conhecimento O sujeito do conhecimento eacute a razatildeo universal e natildeo uma subjetividade pessoal e psicoloacutegica As categorias natildeo mais se referem ao ser mas ao conhecer A realidade transcende o conhecer e necessita conceber o conhecer como procedente do sujeito produto deste As categorias cessam de ser a revelaccedilatildeo da estrutura da realidade como na Filosofia Greco-Medieval ateacute o seacuteculo XVIII Kant nega o realismo da concepccedilatildeo claacutessica e afirma o idealismo da concepccedilatildeo que considera as categorias como conceitos fundamentais do entendimento puro que prescrevem leis aos fenocircmenos Kant natildeo se refere ao ser mas ao conhecer As categorias natildeo se referem mais ao objeto a ser conhecido mas ao entendimento como faculdade de conhecimento Pode-se dizer que Kant deduziu as categorias sob o ponto de vista totalmente loacutegico

1770-1831Seacuteculo XIX

Hegel Em Hegel predomina o princiacutepio da ldquorealidade- pensamentordquo (consciecircncia da realidade) Forma e conceito se correspondem As formas de ser (ontoloacutegicas) se correlacionam com as formas de pensar (conceitos) Na loacutegica de Hegel as categorias satildeo deduzidas da atividade pura do espiacuterito

1815-1903Seacuteculo XX

Renouvier A proposta de Renouvier eacute mostrar que o conjunto das relaccedilotildees categoriais natildeo eacute soacute uma maneira de pensar o mundo mas tambeacutem um modo do pensamento averiguar e descobrir acerca da constituiccedilatildeo uacuteltima do real e que a formaccedilatildeo das categorias se deve agraves oposiccedilotildees dialeacuteticas de termos correlativos que mutuamente se implicam

1882-1950Seacuteculo XX

N Hartmann Para Hartmann satildeo quatro os princiacutepios que regem as categorias de validez segundo o qual as categorias determinam incondicionalmente os seus elementos concretos de coerecircncia segundo o qual as categorias se encontram somente na estrutura do estrato categorial de estratificaccedilatildeo que afirma que as categorias do estrato inferior se acham sempre contidas nas do estrato superior e natildeo o inverso e o de dependecircncia para o qual as categorias superiores dependem das inferiores Esses princiacutepios produzem categorias comuns ao ser real e ao ser ideal Hartmann alude tambeacutem agrave modificaccedilatildeo ou flexatildeo das categorias nos estratos particulares do universo

1900-1976Seacuteculo XX

Ryle Ryle embasado no Empirismo loacutegico propotildee-se a classificar os seres sob o ponto de vista (princiacutepio) loacutegico-gramatical (semacircntico) indicando que o modo como pode aplicar-se o criteacuterio categorial aos termos da linguagem eacute o modo como um termo pode converter-se em princiacutepio de coleccedilatildeo (coleta) de certos outros termos com o intuito de fornecer informaccedilatildeo acerca da natureza das coisas

1926-1984Seacuteculo XX

Foucault Para Foucault eacute a relaccedilatildeo entre as palavras e as coisas traccedilo distintivo de cada episteme (entendendo-se por episteme o periacuteodo histoacuterico especiacutefico uacutenico incomunicaacutevel e independente dos demais que estabelece uma relaccedilatildeo especiacutefica entre palavras e coisas) o princiacutepio responsaacutevel pelo estabelecimento de categorias

QUADRO 25 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES conclusatildeo

FONTE a autora

125

PERIacuteODO FILOacuteSOFO CATEGORIAS427-347 aC Platatildeo 5 Ser Repouso Movimento Identidade (igualdade idecircntico) Diferenccedila (alteridade distinto)384-322 aC Aristoacuteteles 10 Substacircncia Qualidade Quantidade Relaccedilatildeo Lugar Tempo Accedilatildeo Paixatildeo Posiccedilatildeo Haacutebito205-270 Plotino 5 Ser Movimento Repouso (estabilidade) Identidade (o mesmo) Diferenccedila (o outro)1285-1349 Ockham 3 Substacircncia Qualidade Relaccedilatildeo1561-1626 F Bacon 18 Nove pares de categorias 1 Maius Minus 2 Multum Paucum 3 Idem Diversum 4 Potentia Actus 5 Habitus Privatio 6

Totum Partes 7 Agens Patiens 8 Motus Quies 9 Ens Non Ens 1588-1679 Hobbes 3 Mateacuteria Extensatildeo Movimento1632-1677 Spinoza 3 Substacircncia Atributo Modo1632-1704 Locke 3 Substacircncia Modo Relaccedilatildeo1646-1716 Leibniz 6 Substacircncia Quantidade Qualidade Accedilatildeo Paixatildeo Relaccedilatildeo1711-1776 Hume 3 Substacircncia Causalidade Qualidade Associativa (semelhanccedila continuidade no tempo e no espaccedilo causa e efeito)1724-1804 Kant 12 Quatro grupos de trecircs categorias cada 1 Quantidade (unidade pluralidade totalidade) 2 Qualidade (realidade negaccedilatildeo

limitaccedilatildeo) 3 Relaccedilatildeo (inerecircncia causalidade comunidade) 4 Modalidade (possibilidade existecircncia necessidade) 1770-1831 Hegel 3 Ser (quantidade qualidade medida) Essecircncia (fundamento fenocircmeno realidade) Conceito (objetivo subjetivo ideacuteia) 1815-1903 Renouvier 9 Relaccedilatildeo Nuacutemero Extensatildeo (posiccedilatildeo) Duraccedilatildeo (sucessatildeo) Qualidade Devir (porvir) Causalidade (forccedila) Finalidade

Personalidade 1882-1950 N Hartmann 19 Trecircs grupos 1 Modais (Possibilidade Realidade Necessidade) 2 Elementares Bipolares ou de Oposiccedilatildeo (princiacutepio-concreto

estrutura-modo forma-mateacuteria interno-externo determinaccedilatildeo-dependecircncia qualidade-quantidade unidade-multiplicidade acordo-desacordo oposiccedilatildeo-dimensatildeo discreccedilatildeo-continuidade substrato-relaccedilatildeo elemento-estrutura) 3 Do Real Validez (valor) Coerecircncia (crenccedila) Estratificaccedilatildeo (planificaccedilatildeo) Dependecircncia

1900-1976 Ryle 4 Qualidade Estado Substacircncia Nuacutemero1926-1984 Foucault Foucault tem um entendimento muito particular (amplo) da extensatildeo do termo categoria Ele natildeo se refere a um grupo pequeno de

categorias ao contraacuterio aponta uma rede muito vasta catildeo homem etc A loacutegica de Foucault natildeo eacute uma loacutegica que o leve a estabelecer categorias universais

QUADRO 26 - CATEGORIAS FUNDAMENTAIS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES FONTE a autora

126

PERIacuteODO FILOacuteSOFO O QUE Eacute CATEGORIA427-347 aCSeacuteculo IV aC

Platatildeo Ideacuteia perfeita das coisas objetos ou fenocircmenos em que a reuniatildeo de cada objeto concreto com outro da mesma ordem com a mesma caracteriacutestica participam de uma Ideacuteia um Gecircnero supremo uma Ideacuteia-modelo uma Ideacuteia-guia um princiacutepio de organizaccedilatildeo uma Ideacuteia-que-guia a ordenaccedilatildeo do mundo

384-322 aCSeacuteculo IV aC

Aristoacuteteles Determinaccedilatildeo do serNuma interpretaccedilatildeo linguiacutestica ou semacircntica modo de enunciaccedilatildeo (trata-se de falar do ser e de analisar os modos como eacute possiacutevel falar acerca do que eacute) predicado ou atributo da substacircncia possiacuteveis grupos de respostas a certos tipos de perguntas expressatildeo ou termo sem enlace ou complexatildeo Numa concepccedilatildeo ontoloacutegica distinto modo de ser (como o ser aparece) Gecircnero supremo ou Primeira divisatildeo do ser Numa combinaccedilatildeo das duas interpretaccedilotildees linguiacutestica-loacutegica e ontoloacutegica conceito original ou baacutesico de todos os outros conceito ou termo de alta generalizaccedilatildeo - uma vez que natildeo se encontra ldquoaplicadordquo - e que ao ser aplicado funciona como princiacutepio de divisatildeo Determinaccedilatildeo do real predicaccedilatildeo pertencente ao proacuteprio ser e da qual o intelecto deve utilizar-se para conhecer o ser e revelaacute-lo em palavras pois categoria eacute conceito real que guia a deduccedilatildeo de conceitos reais dando algum contorno agrave realidade sensiacutevel Para Aristoacuteteles existir eacute ser uma coisa de certa categoria

205-270 Seacuteculo III

Plotino Determinaccedilatildeo do serGecircnero supremo determinaccedilatildeo do real predicaccedilatildeo pertencente ao proacuteprio ser e da qual o intelecto deve utilizar-se para conhecer o ser e revelaacute-lo em palavras

1285-1349Seacuteculo XIV

Ockham Termo de primeira intensatildeo simples nome signo das coisas dotado da capacidade de ser predicado de vaacuterias coisas ou nome que se refere a grupos de objetos

1561-1626Seacuteculo XVII

Bacon Possibilidade de formulaccedilatildeo de uma identidade dos entes e das coisas naturais a partir da aplicaccedilatildeo do modelo dicotocircmico de divisatildeo (criteacuterio de oposiccedilatildeo)

1588-1679Seacuteculo XVII

Hobbes Explicaccedilatildeo do real

1632-1677Seacuteculo XVII

Spinoza Determinaccedilatildeo do Ser Absoluto

1632-1704Seacuteculo XVIII

Locke Determinaccedilatildeo do pensamentoFunccedilatildeo do pensamento tipo fundamental de ideacuteia complexa

1646-1716Seacuteculo XVIII

Leibniz Ideacuteia simples sem complexatildeo designada por um soacute termo que pode ser combinada e associada

1711-1776Seacuteculo XVIII

Hume Determinaccedilatildeo do pensamentoProduto da subjetividade empiacuterica

QUADRO 27 - A NOCcedilAtildeO DE CATEGORIA NAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES continua

127

1724-1804Seacuteculo XIX

Kant Determinaccedilatildeo do pensamento Condiccedilatildeo da validazde objetiva do conhecimentoConhecimento puro forma que o sujeito potildee nas coisas estrutura (a priori) que permite o conhecer racional e verdadeiro Conceito puro do entendimento as categorias satildeo constitutivas isto eacute constituem o objeto do conhecimento e permitem portanto um saber da Natureza e uma verificaccedilatildeo da Verdade Conceito fundamental mediante o qual se torna possiacutevel o conhecimento da realidade fenomecircnica posto que das coisas em si natildeo se pode saber nada racionalmente Categorias satildeo conceitos que prescrevem leis aos fenocircmenos

1770-1831Seacuteculo XIX

Hegel Determinaccedilatildeo do pensamento e simultacircneamente determinaccedilatildeo da realidade (pela formulaccedilatildeo de uma identidade entre realidade e razatildeo) Forma de ser e forma de pensar Determinaccedilatildeo do ser e determinaccedilatildeo do pensamento ldquoMomentordquo do Absoluto Determinaccedilatildeo do desenvolvimento dialeacutetico - o desenvolvimento dialeacutetico comeccedila no ser que eacute a determinaccedilatildeo ou categoria mais ldquopobrerdquo e culmina na Filosofia que eacute o ldquosupremordquo da evoluccedilatildeo

1815-1903Seacuteculo XX

Renouvier Elemento principal da representaccedilatildeo Noccedilatildeo abstrata que exprime relaccedilotildees de ordem geralLei primaacuteria e irredutiacutevel do conhecimento relaccedilatildeo fundamental que determina a forma do conhecer noccedilatildeo a priori isto eacute independente da experiecircncia que ao exprimir relaccedilotildees gerais permite organizar e pensar a experiecircncia

1882-1950Seacuteculo XX

N Hartmann Determinaccedilatildeo do serForma do ser Fundamento unitaacuterio de todo o mundo real Estrutura necessaacuteria ao ser em si que permite a estratificaccedilatildeo do mundo real numa seacuterie de planos Para Hartmann conhecer eacute captar alguma coisa que existe antes de todo o conhecimento e independentemente dele Consequentemente categorias satildeo fundamentos estruturais do mundo real princiacutepios constitutivos do ser e soacute podem ser referidas ao ser

1900-1976Seacuteculo XX

Ryle Regra convencional que rege o uso dos conceitosTipo ou categoria loacutegica de um conceito eacute o conjunto de modos nos quais por convenccedilatildeo eacute liacutecito utilizar o termo respectivo (noccedilatildeo mais geral e menos dogmaacutetica que a Filosofia tem proposto)

1926-1984Seacuteculo XX

Foucault Conceito (inventado ou construiacutedo) a partir do qual se pensa sobre o mundo e sua funccedilatildeo eacute primeiramente epistecircmica Categoria eacute produto de sistema de classificaccedilatildeo historicamente condicionado e funciona como padratildeo ou procedimento estabelecido A marca de uma categoria e do mundo inteiro que se tem construiacutedo acerca delas eacute que a cada categoria pode ser assinalado um significado preciso e um conteuacutedo demonstraacutevel Eacute a maneira pela qual se organiza o mundo

QUADRO 27 - A NOCcedilAtildeO DE CATEGORIA NAS CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS DOS SERES conclusatildeo FONTE a autora

128

33 CLASSIFICACcedilOtildeES FILOSOacuteFICAS CONCEITOS DE CLASSE E DE CATEGORIA

Nessa subseccedilatildeo os conceitos de classe e de categoria dentro das

classificaccedilotildees filosoacuteficas demostram o pensamento da autora desta tese com base

na literatura pertinente a qual propriciou uma valiosa reflexatildeo sobre o tema

Embora o conceito de classe jaacute estivesse presente no pensamento loacutegico

medieval esse termo soacute comeccedilou a ser usado no seacuteculo XIX sobretudo por obra

dos loacutegicos preocupados com o problema da quantificaccedilatildeo da Loacutegica

(ABBAGNANO 2003 p 146) Nesse sentido pode-se definir uma classe pela

enumeraccedilatildeo dos membros que a compotildeem (definiccedilatildeo extensiva) ou indicando a

propriedade comum a todos os seus membros (definiccedilatildeo intensiva) como quando se

fala do gecircnero humano ou dos habitantes de Brasiacutelia A definiccedilatildeo intensiva eacute

considerada fundamental porque a extensiva pode ser reduzida a ela sem que

ocorra o inverso Sob esse ponto de vista as classes satildeo extensotildees de predicados

isto eacute totalidades abertas que podem ser continuamente enriquecidas Classe eacute

pois o conceito que permite classificar ordenar e distribuir os objetos de acordo com

a sua extensatildeo e a sua compreensatildeo A noccedilatildeo de classe confunde-se de certo

modo com a noccedilatildeo de totalidade uma vez que a classe eacute o todo em relaccedilatildeo aos

objetos que nele se acham incluiacutedos e do qual fazem parte como a vida em relaccedilatildeo

agrave humanidade ou o ser em relaccedilatildeo agrave vida As classes que sob esse ponto de vista

distinguem-se da totalidade satildeo conceitos abstratos e universais embora os objetos

que nelas se incluam possam ser entidades sensiacuteveis ou particulares Classe eacute um

conceito consagrado que engloba ou compreende um conjunto ou coleccedilatildeo de

objetos que apresentam ao menos um elemento comum Classes satildeo um arranjo

de coisas que se percebem como relacionadas e semelhantes entre si formando

grupos separados por linhas demarcatoacuterias niacutetidas Esses grupos acham-se

coordenados ou subordinados uns aos outros formando hierarquias ou oposiccedilotildees

As relaccedilotildees que mantecircm entre si permitem considerar alguns como dominantes

outros como dominados e ainda outros como independentes

O termo categoria derivado do verbo grego categorein (enunciar) expressa

os diversos modos de enunciaccedilatildeo uma vez que sempre de alguma maneira

enunciam o ser e os distintos modos de ser O mesmo significado encontra-se no

termo predicamento derivado do latim praedicare (predicar enunciar) Em Filosofia

as categorias designam noccedilotildees loacutegicas que refletem as propriedades essenciais os

aspectos e as relaccedilotildees mais gerais entre os fenocircmenos reais Elas representam

129

tambeacutem conceitos superiores gecircneros supremos divisotildees uacuteltimas preacute-

estabelecidas conceitos fundamentais tambeacutem chamados conceitos primitivos ou

conceitos-tronco por natildeo serem inferiores ou sub-conceitos de uma unidade mais

elevada Acima delas estaacute unicamente o ser ou o conjunto de sujeitos super-

categoria da qual participam as categorias como originaacuterios modos de ser

determinaccedilotildees primordiais do ser ou predicados do sujeito As categorias

fundamentam as diversas ordens e sempre expressam o peculiar da ordem

correspondente Ao longo da histoacuteria as categorias tiveram uma aplicaccedilatildeo direta na

classificaccedilatildeo dos seres mas podem igualmente se aplicar agraves classes na

classificaccedilatildeo dos saberes

Assim como as definiccedilotildees oriundas da Filosofia satildeo inuacutemeras e com

divergecircncias conceituais as possiacuteveis influecircncias dos conceitos filosoacuteficos de classe

e categoria tambeacutem geram divergecircncias conceituais na Teoria da Classificaccedilatildeo

como as noccedilotildees descritas na seccedilatildeo 5

Gracia (2001) observa que Platatildeo - ao pensar que existem algumas

categorias imutaacuteveis independentes da histoacuteria e do pensamento humano

(ultrarrealismo platocircnico) - Aristoacuteteles - ao sustentar que as coisas tecircm naturezas

as quais estabelecem o que elas satildeo (realismo moderado) - e Kant - que faz valer as

categorias soacute para a coisa como fenocircmeno poreacutem natildeo para a coisa em si pois a

realidade transcende o conhecer (idealismo transcendental) - natildeo concebem (como

Foucault) que categorias satildeo invenccedilotildees resultantes de sistemas de classificaccedilatildeo ou

a priori historicamente dependentes Portanto qualquer que seja o seu impacto -

loacutegico-ontoloacutegico transcendental dialeacutetico pragmaacutetico fenomenoloacutegico

fenomenoloacutegico-ontoloacutegico - as categorias tratadas como questatildeo filosoacutefica

representam a relaccedilatildeo do dizer e do ser das palavras e das coisas do real e do

imaginaacuterio do natural e do histoacuterico encaradas em toda a riqueza do seu sentido

Como observado categoria eacute um termo com diversos significados

dependendo do conceito de realidade que cada doutrina filosoacutefica assume em seu

iniacutecio A explicaccedilatildeo do termo mostra tambeacutem que as categorias estatildeo iacutentimamente

ligadas ao juiacutezo no qual se daacute a predicaccedilatildeo (eacute no juiacutezo que se encontram

abundantes modos de predicar e de ser) e foram primeiro Aristoacuteteles e depois Kant

aqueles que deram maior relevacircncia a essa questatildeo

Como diversos outros termos filosoacuteficos originariamente teacutecnicos o termo

categoria entrou na linguagem corrente em que eacute frequentemente utilizado para

130

designar as diferentes espeacutecies (os vaacuterios grupos resultantes da divisatildeo de um

gecircnero por determinada caracteriacutestica) do mesmo gecircnero (conjunto de coisas ou

ideacuteias que pode ser dividido em duas ou mais espeacutecies) ou seja para indicar tanto o

conteuacutedo como o princiacutepio de divisatildeo Portanto de uma maneira natildeo-teacutecnica

entende-se por categorias os conceitos gerais com os quais um indiviacuteduo (ou um

grupo de indiviacuteduos) tem o haacutebito de relacionar os seus pensamentos e os seus

juiacutezos ou seja noccedilotildees gerais segundo as quais um espiacuterito costuma julgar

raciocinar e classificar

As diferentes acepccedilotildees do termo categoria derivam do sentido e do valor que

eacute atribuiacutedo ao termo em relaccedilatildeo sobretudo ao ponto de vista sob o qual o assunto eacute

tratado Disso resulta que natildeo se pode estabelecer um uacutenico acircmbito categorial mas

que ao contraacuterio haacute uma multiplicidade de grupos categoriais (determinados com

base em diversos criteacuterios) que na histoacuteria da Filosofia vatildeo-se desenvolvendo tal

como sistematizado nos quadro 25 e 26

As noccedilotildees de categoria propostas pela Filosofia tecircm sido em geral noccedilotildees

dogmaacuteticas (opiniatildeo ou crenccedila fundamental de uma escola filosoacutefica) A noccedilatildeo

utilizada pelo Empirismo Loacutegico que considera as categorias ldquoregras convencionais

que regem o uso dos conceitosrdquo (ABBAGNANO 2003 p 123) eacute certamente a mais

instrumental Nessa concepccedilatildeo Ryle (1949 p 4) entende categoria loacutegica de um

conceito como ldquoo conjunto de modos nos quais por convenccedilatildeo eacute permitido utilizar o

termo respectivordquo o que implica dizer que Ryle formula o conceito de categoria como

o de um instrumento conceitual que funciona como princiacutepio de divisatildeo

O resgate histoacuterico das classificaccedilotildees filosoacuteficas dos saberes e dos seres

permitiu constatar que os conceitos de classe e categoria tecircm passado ao leacutexico

filosoacutefico universal mas os seus sentidos natildeo podem ser compreendidos a partir de

uma interpretaccedilatildeo comum dos termos senatildeo em conexatildeo com doutrinas e escolas

filosoacuteficas especiacuteficas

131

4 DAS CLASSIFICACcedilOtildeES BIBLIOGRAacuteFICAS

Depois de longo estudo do assunto torna-se evidente que pela proacutepria natureza das coisas eacute impossiacutevel em teoria uma classificaccedilatildeo perfeita

e qualquer sistema soacute pode ser satisfatoacuterio na praacutetica para aqueles que admitem essa dificuldade inerente e se conformam com ela por

saberem que um sistema sem problemas eacute impossiacutevel existir

Dewey

A classificaccedilatildeo em sentido lato eacute o meio pelo qual a nossa mente identifica um

objeto dado e distingue-o de outro inconsciente ou conscientemente O livro do

Gecircnesis conta que o mundo se originou do caos quando Deus dividiu a luz das

trevas (ALA 1980 p 146) Assim a ideacuteia de classificaccedilatildeo literalmente ato ou

efeito de classificar eacute mostrada como a origem e a essecircncia do mundo A

preocupaccedilatildeo de ordenar as informaccedilotildees ou os conhecimentos ou seus suportes

juntando-os por grupos ou classes que guardam certa afinidade para localizaacute-los

dentro de um conjunto mais amplo na essecircncia significa um processo mental pelo

qual se agregam coisas pelos graus de semelhanccedilas e separam-se de acordo com as

suas diferenccedilas A classificaccedilatildeo entendida como processo mental de agrupamento de elementos portadores de caracteriacutesticas comuns e capazes de ser reconhecidos como uma entidade ou conceito constitui uma das fases fundamentais do pensar humano (CAMPOS A 1973 p 15)

A habilidade para classificar eacute seguramente uma faculdade fundamental sem

a qual nenhum organismo vivo pode funcionar adequadamente Pode-se por

exemplo distinguir coisas comestiacuteveis daquelas improacuteprias para consumo ou

animais que satildeo (ou podem ser) perigosos daqueles que satildeo mansos Todos

passam a vida fazendo constantemente distinccedilatildeo entre coisas similares e coisas

diferentes ao mesmo tempo em que as agrupam em grandes classes ou em

subclasses menores e percebem relaccedilotildees entre as diferentes classes e subclasses

Desde que o conhecimento humano passou a ser registrado em suportes

duraacuteveis e coletado em repositoacuterios existe a necessidade de arranjar os documentos

de tal maneira que registros com as mesmas ou similares caracteriacutesticas possam ser

encontrados juntos Consequentemente uma coleccedilatildeo de documentos soacute pode ser

considerada uma biblioteca quando arranjada num padratildeo sistemaacutetico Em sentido

geral toda organizaccedilatildeo de documentos seja por autor seja por tiacutetulo seja por

assunto ou seja por forma fiacutesica eacute embasada em alguma espeacutecie de classificaccedilatildeo

132

mas em sentido restrito somente ordenaccedilatildeo sistemaacutetica de documentos (ou de suas

representaccedilotildees) por assunto eacute comumente entendida como sendo o propoacutesito da

classificaccedilatildeo bibliograacutefica

Eacute importante distinguir entre trecircs significados diferentes mas

interrelacionados do termo classificaccedilatildeo na praacutetica biblioteconocircmica primeiro eacute o

sistema de classificaccedilatildeo ou o esquema de classificaccedilatildeo (chamado simplesmente de

Classificaccedilatildeo) segundo eacute o ato de classificar ou de atribuir um coacutedigo de

classificaccedilatildeo ao documento para indicar o seu assunto ou conteuacutedo terceiro eacute o

arranjo fiacutesico do documento nas estantes e a representaccedilatildeo do documento no

cataacutelogo classificado Com relaccedilatildeo ao primeiro significado (obviamente fundamental

em virtude do qual os outros dois existem) a Federaccedilatildeo Internacional de

Documentaccedilatildeo (FID) afirma por classificaccedilatildeo eacute entendido qualquer meacutetodo de criar

relaccedilotildees geneacutericas ou outras entre unidades semacircnticas individuais apesar do

grau de hierarquia do sistema e tambeacutem aqueles sistemas que aplicam meacutetodos

mecanizados de pesquisa documental em conexatildeo com os meacutetodos tradicionais117

(ALAhellip 1980 p 146 Traduccedilatildeo livre da autora)

Enquanto o processo classificatoacuterio faz parte da condiccedilatildeo humana a

classificaccedilatildeo bibliograacutefica eacute uma sequecircncia de conceitos planejados para serem

aplicados agrave organizaccedilatildeo de acervos de bibliotecas para que livros possam ser

recuperados de modo eficaz e eficiente ou seja uma aplicaccedilatildeo pragmaacutetica do

princiacutepio classificatoacuterio no contexto das unidades e sistemas de informaccedilatildeo

Grande parte da realidade estaacute preacute-classificada por assim dizer Entre os

elementos distinguem-se de maneira corrente o ar a aacutegua a terra e o fogo divide-

se o Direito em Direito Puacuteblico e Direito Privado a Terra em cinco continentes os

seres vivos em animais e vegetais e assim por diante Essas divisotildees devem-se

tanto agrave convenccedilatildeo social como agrave razatildeo poreacutem tecircm a seu favor a forccedila do consenso

As classificaccedilotildees bibliograacuteficas incorporam muito tanto da classificaccedilatildeo

convencionada socialmente como da classificaccedilatildeo operaccedilatildeo loacutegica que consiste em

fazer uma distinccedilatildeo da realidade muacuteltipla em grupos conjuntos classes categorias

segundo o criteacuterio de semelhanccedila ou diferenccedila

117 ldquoby classification is meant any method creating relations generic or other between individual semantic units regardless of the degree of hierarchy contained in the systems and of whether those systems will be applied in connection with traditional or more or less mechanized methods of document searchingrdquo (ALAhellip 1980 p 146)

133

Antecedendo o discurso acerca das classificaccedilotildees biblioteconocircmicas conveacutem

ressaltar o pensamento de um autor que acredita que as classificaccedilotildees do

conhecimento sempre refletem a eacutepoca da sua elaboraccedilatildeo com os seus problemas

meacutetodos de estudo visotildees de mundo suas teorias seus interesses uma

organizaccedilatildeo do conhecimento adaptada agrave tecircmpera filosoacutefica dos gregos natildeo se

adaptaria agraves cosmologias mitoloacutegicas da Babilocircnia agrave vida impetuosa da Renascenccedila

ou ao industrializado seacuteculo XIX Quanto mais adaptada agrave determinada eacutepoca for

uma classificaccedilatildeo menos adequada seraacute para qualquer outra (VICKERY 1975

p 147 Traduccedilatildeo livre da autora)118 A essa visatildeo acrescenta-se um extrato do

pensamento de Ranganathan que evidencia a sua visatildeo metafiacutesica para a

epistemologia e a organizaccedilatildeo do conhecimento

Um esquema enumerativo com uma fundaccedilatildeo superficial pode ser favoraacutevel e

mesmo econocircmico para um sistema fechado de conhecimento Por exemplo tal

esquema trabalharaacute bem para a Greacutecia Antiga ou a Filosofia Indiana porque ambos

tecircm se tornado cristalizados e fixos haacute muito tempo [] O que distingue o universo

do conhecimento corrente eacute que ele eacute um continuum dinacircmico Ele eacute sempre

crescente novos ramos podem brotar de qualquer de seus infinitos pontos a

qualquer tempo eles satildeo desconhecidos no presente Eles natildeo podem portanto ser

enumerados aqui e agora natildeo podem ser antecipados suas filiaccedilotildees podem ser

determinadas somente apoacutes eles aparecerem (RANGANATHAN 1951 p 87

Traduccedilatildeo livre da autora)

Para Ranganathan o desenvolvimento do conhecimento em vez de estar

enraizado na pesquisa concreta e no trabalho especializado dos seres humanos

baseava-se na vida abstrata dos homens Ranganathan acreditava no conhecimento

intuitivo em classificadores intuitivos e na noccedilatildeo de que a ideacuteia era separada da

palavra na linguagem natural e algumas vezes poderia natildeo ser expressa na

ldquolinguagem natural mas poderia ainda ser experienciada na consciecircncia individualrdquo

Ele escreveu sobre simbolismo indiano para assumir que ldquonatildeo expresso facilmente

senatildeo inexpresso em palavrasrdquo (RANGANATHAN 1951 p 27) Ranganathan

possuiacutea a visatildeo de que a linguagem classificatoacuteria que ele tinha desenvolvido era

118 ldquoAn organisation of knowledge which fits the philosophical temper of the Greeks does not suit the mythological cosmologies of Babylon the rushing life of the Renaissance or the industrialised nineteenth century Indeed the better fitted a classification is to a given epoch the less suitable will it be for any other epochrdquo (VICKERY 1975 p 147)

134

capaz de articular ideacuteias que natildeo poderiam ser denotadas em linguagem natural

Na Antiguidade aleacutem das classificaccedilotildees dos conhecimentos existiam tambeacutem

classificaccedilotildees bibliograacuteficas Segundo Shera (1957) a organizaccedilatildeo de coleccedilotildees de

livros teve origem nos trabalhos filosoacuteficos de entatildeo Contudo classificaccedilotildees

filosoacuteficas e classificaccedilotildees bibliograacuteficas satildeo diferentes Na classificaccedilatildeo filosoacutefica

nenhuma fronteira particular da aacuterea do conhecimento eacute geralmente especificada e

reconhecida ao passo que na classificaccedilatildeo bibliograacutefica as aacutereas especiacuteficas do

conhecimento satildeo identificadas e reconhecidas Hulme119 (1950 apud VICKERY

1975 p 164) salienta que as funccedilotildees das classificaccedilotildees filosoacuteficas e bibliograacuteficas satildeo

distintas a bibliograacutefica lsquomapeia a literatura e natildeo a ciecircnciarsquo a divisatildeo e coordenaccedilatildeo

das classes na classificaccedilatildeo bibliograacutefica lsquoeacute determinada principalmente em linhas

formais e natildeo filosoacuteficasrsquo nas bibliograacuteficas lsquoo interesse natildeo era a razatildeo mas fatos

revelados pela garantia literaacuteriarsquo a bibliograacutefica era lsquoo esboccedilo de aacutereas preacute-existentes

na literaturarsquo e a sua correspondecircncia com uma ordem filosoacutefica natildeo conferia

consistecircncia aos esquemas jaacute que natildeo era garantia de exatidatildeo e finalmente que

existe um conflito entre garantia literaacuteria e classificaccedilatildeo loacutegica pois os conteuacutedos dos

livros nem sempre se ajustam agraves classificaccedilotildees

Interessante notar nas citaccedilotildees natildeo se fala em objetivos institucionais e

puacuteblico-alvo que tambeacutem determinam uma loacutegica para a classificaccedilatildeo

O fato dos registros humanos refletirem um padratildeo de pensamento complexo

semelhante aos seus processos mentais levou segundo Shera (1957) agrave suposiccedilatildeo

de que a classificaccedilatildeo filosoacutefica seria aplicaacutevel aos livros Esse pressuposto foi

vaacutelido enquanto o volume de informaccedilatildeo registrada era pequeno e as publicaccedilotildees

consistiam em monografias Com o desenvolvimento dos registros do conhecimento

e a sua crescente complexidade e especializaccedilatildeo um sistema de classificaccedilatildeo

filosoacutefico torna-se improacuteprio para uso em biblioteca Toda essa problemaacutetica

encobria a real necessidade de uma classificaccedilatildeo de assuntos para a classificaccedilatildeo

dos livros

Sabe-se que as bibliotecas da Babilocircnia Greacutecia e Roma tiveram os seus

acervos organizados ainda que os vestiacutegios dos seus sistemas de classificaccedilatildeo

sejam escassos

119 HULME E W Principles of book classification London 1950

135

Uma das primeiras classificaccedilotildees da qual se tem informaccedilatildeo foi a realizada

por Caliacutemaco (320-240 aC) poeta e bibliotecaacuterio que confeccionou o cataacutelogo da

Biblioteca de Alexandria entre os anos 260 e 240 aC O seu esquema classificatoacuterio

organizou cerca de 500 mil volumes da Biblioteca dos Ptolomeus A coleccedilatildeo contava

dois iacutendices um de autores e outro de tiacutetulos O iacutendice de tiacutetulos apresentava uma

distribuiccedilatildeo temaacutetica composta das seguintes classes

1 Filosofia (Geometria e Medicina)

2 Jurisprudecircncia

3 Histoacuteria

4 Oratoacuteria

5 Poeacutetica (Eacutepica traacutegica cocircmica e ditiracircmbica)

6 Escritos de coisas vaacuterias (SERRAI 1977 p 49)

A biblioteca de Alexandria foi a primeira com aspiraccedilotildees universais e com a

sua comunidade de estudiosos tornou-se o protoacutetipo das universidades da era

moderna definindo uma nova concepccedilatildeo a respeito do valor do conhecimento

Na histoacuteria da classificaccedilatildeo (especialmente antes da ascensatildeo das

bibliotecas) as obras que tratam das classificaccedilotildees bibliograacuteficas dizem muito pouco

aleacutem da menccedilatildeo agraves suas classes principais Mas classificaccedilotildees bibliograacuteficas satildeo

para recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo recuperaccedilatildeo que parece quase impossiacutevel se natildeo

haacute constituintes de tais sistemas de tipo mais granulado mais subdividido do que as

mencionadas classes principais

A questatildeo que se coloca acerca dos conceitos de classe e categoria eacute a

seguinte como as classes principais satildeo subdivididas O uso de uma coleccedilatildeo

bibliograacutefica estaacute vinculado a um plano de subordinaccedilatildeo - quanto maior o nuacutemero de

categorias e sub-categorias maior a fragmentaccedilatildeo Assim uma lista longa precisa

ser categorizada para fornecer uma previsatildeo a respeito do universo por ela

abrangido Uma lista menor pode ateacute ser alfabeacutetica e capaz de ser memorizada

(mnemocircnica) Essa evidecircncia parece indicar que ateacute prova em contraacuterio a ideacuteia

geral de categorias mesmo que de maneira rudimentar eacute fundamental para qualquer

teoria e praacutetica de subordinaccedilatildeo Categorias em geral e o conceito de subordinaccedilatildeo

satildeo condiccedilotildees para a introduccedilatildeo de uma hierarquia120

120 O objeto desta tese eacute a Teoria da Classificaccedilatildeo e as classificaccedilotildees bibliograacuteficas Natildeo se ignora que ocorrem frequentemente adaptaccedilotildees a contextos e objetivos particulares e que a decisatildeo por uma categoria ou outra (no entendimento de Foucault) pode ser ditada por razotildees pragmaacuteticas mas nem por isto deixa de ser uma decisatildeo de categorizaccedilatildeo

136

O problema da subordinaccedilatildeo das classes principais segundo Perreault (1991

p 134) pode ser resolvido de duas maneiras a) pelo desenho de um plano de

subdivisatildeo ou b) pela divisatildeo das classes principais originais em classes menores

O autor supotildee o plano a relativamente ad hoc (para um propoacutesito particular de uso

exclusivo segundo um ponto de vista) cronoloacutegico em uma classe principal

geograacutefico em outra etc enquanto o plano b significa algo consagrado tal como a

classe uacutenica ldquoReligiatildeordquo vindo a ser dividida pela denominaccedilatildeo das diferentes

religiotildees ou a classe uacutenica ldquoPoesiardquo sendo dividida por gecircneros poeacuteticos

Dahlberg121 (1974 p 70 apud PERREAULT 1991 p 139-140) lembra que

Gesner utilizou padrotildees conceituais em que a mesma aacuterea geograacutefica eacute

similarmente dividida nas classes principais de Geografia e Histoacuteria mas que de

qualquer maneira desde aquela eacutepoca esse uso da preacute-combinaccedilatildeo natildeo eacute

qualificado como autecircntica categorizaccedilatildeo geral

Contudo pode-se argumentar que se uma classificaccedilatildeo bibliograacutefica foi

aplicada a uma coleccedilatildeo de livros sem expectativa de crescimento (expansatildeo) seria

inuacutetil estabelecer mecanismos para garantir uniformidade na reproduccedilatildeo dos mesmos

princiacutepios em documentos adicionais para a biblioteca No entanto a falta desse

mecanismo natildeo significa segundo Perreault (1991 p 140) que a ordem conceitual

de uma classificaccedilatildeo enumerativa natildeo manifeste a ideacuteia de categoria geral apesar de

rudimentar A enumeraccedilatildeo eacute uma maneira rudimentar de categorizaccedilatildeo (muito

rudimentar porque o criteacuterio utilizado para categorizar estaacute ausente)

Otlet (1934 p 379) considera a classificaccedilatildeo bibliograacutefica a ordem

ininterrupta numa seacuterie linear uacutenica em que todos os termos ocupam uns em

relaccedilatildeo aos outros um lugar designado por um signo (termo nome letra nuacutemero ou

qualquer siacutembolo) arranjado sistematicamente

Piedade (1983 p 60) numa concepccedilatildeo tradicional afirma que ldquoas

classificaccedilotildees bibliograacuteficas satildeo sistemas destinados a servir de base agrave organizaccedilatildeo

do conhecimento nas estantes em cataacutelogos em bibliografias etcrdquo Dessa maneira

com a aplicaccedilatildeo de determinado sistema de classificaccedilatildeo pode-se reunir e agrupar

os documentos segundo o assunto sobre que versam122

121 DAHLBERG I Grundlagen universaler Wissensordnung Pullach bei Muumlnchen Verl Dokumentation 1974 122 A complexidade crescente do meio ambiente gera uma aparente complexidade no pensamento humano pois o ceacuterebro opera com uma capacidade limitada de memoacuteria e a sua habilidade faz com que processe poucos signos simultaneamente Assim o processo de classificaccedilatildeo fornece um modem para compatibilizar a abordagem serial do ceacuterebro e a complexidade do ambiente informacional (GOPINATH 2001 p 16)

137

As classificaccedilotildees bibliograacuteficas podem ter caraacuteter geral universal ou

enciclopeacutedico quando se propotildeem a ordenar todos os campos do conhecimento

humano (classificaccedilotildees gerais) ou caraacuteter especiacutefico local quando abrangem

apenas um campo ou disciplina desse conhecimento (classificaccedilotildees especializadas)

De acordo com Ranganathan (1944) classificaccedilatildeo eacute uma liacutengua franca para

processar e usar conhecimento

O conhecimento pelo mundo inteiro estaacute sendo diversificado ao longo de uma

linha e sintetizado ao longo de outra em um fluxo quase contiacutenuo em meios de

comunicaccedilatildeo variados Uma liacutengua franca com etimologia e semacircntica jaacute fixadas e

uma sintaxe capaz de organizaacute-la e evidenciaacute-la eacute indispensaacutevel principalmente em

uma ordem de filiaccedilatildeo uacutetil Quer o leitor saiba ou natildeo a liacutengua estaacute envolvida na

uacuteltima demanda do leitor comum Esse processo eacute conhecido como uma

necessidade imperativa por aqueles que o servem A liacutengua eacute tatildeo necessaacuteria para

organizar contribuiccedilotildees ao conhecimento de todos os tipos que seriam expressas

em liacutenguas diversas para estabelecer contato entre elas e os leitores na medida de

suas atividades e especificidades A liacutengua de classificaccedilatildeo eacute a uacutenica liacutengua franca

que responde a essa finalidade123 (RANGANATHAN 1944 p 21-22 Traduccedilatildeo livre

da autora)

Tema recorrente quando se trata de classificaccedilatildeo bibliograacutefica eacute a questatildeo das

inuacutemeras adaptaccedilotildees dos esquemas de classificaccedilatildeo Parece que de modo geral a

maioria das bibliotecas mais cedo ou mais tarde acabam adaptando o sistema

originalmente escolhido Explica-se a maioria dos classificadores e indexadores ao

acompanhar o estado atual dos assuntos (tendo em mente o usuaacuterio do sistema e a

missatildeo da instituiccedilatildeo - que satildeo sempre uacutenicos) vecirc-se no papel de estudiosos e

criacuteticos da classificaccedilatildeo o que inexoravelmente acarreta uma interferecircncia maior

ou menor a ser feita para adaptar essas classificaccedilotildees e linguagens agraves solicitaccedilotildees

dos usuaacuterios e agrave evoluccedilatildeo nos saberes no conhecimento

123 ldquoKnowledge all over the world is being diversified along one line and synthesized along another in a continuous almost bewildering flux in varied media A lingua franca with fixed etymology and semantics and a syntax capable of marshalling and presenting it all in most helpful filiatory order is indispensable Whether he knows it or not it is involved in the least demand of the most ordinary reader It is known by those who serve him to be an imperative necessity It is needed so to organize contributions to knowledge of all kinds expressed in diverse languages as to establish contact between them and the readers in the measure of their activity and specificity Classificatory language is the only lingua franca answering the purposerdquo (RANGANATHAN 1944 p 21-22)

138

A morosidade na atualizaccedilatildeo e tambeacutem a rigidez dos sistemas tradicionais de

classificaccedilatildeo bibliograacutefica ocasionaram uma reaccedilatildeo de rejeiccedilatildeo em muitos setores da

moderna Biblioteconomia sobretudo na americana Eacute quando se tenta criar linguagens

de indexaccedilatildeo meramente alfabeacuteticas prescindindo de qualquer classificaccedilatildeo Poreacutem

logo se percebe o equiacutevoco e as listas alfabeacuteticas de assunto passaram a utilizar

dispositivos classificatoacuterios sempre mais complexos ateacute que se chegou agrave estrutura

sofisticada dos atuais tesauros chamados por Grolier (1976) de classificaccedilotildees

disfarccediladas A reabilitaccedilatildeo do processo classificatoacuterio ocorreu a partir da reformulaccedilatildeo e

constante atualizaccedilatildeo de alguns sistemas tradicionais tendo como base a Moderna

Teoria da Classificaccedilatildeo124 (cf subseccedilatildeo 41) Percebeu-se que natildeo havia razatildeo para

desperdiccedilar toda a riqueza de conteuacutedo e de estruturas que as classificaccedilotildees claacutessicas

acumularam durante deacutecadas ou seja lembrou-se de novo que a classificaccedilatildeo eacute

necessaacuteria e proporciona previsibilidade agrave exploraccedilatildeo do universo bibliograacutefico

Nas subseccedilotildees 31 e 32 discutiu-se o conceito de classe e categoria na

Filosofia Os mesmos termos satildeo discutidos nas subseccedilotildees da seccedilatildeo 4 sob a oacutetica

da Teoria da Classificaccedilatildeo

As classificaccedilotildees bibliograacuteficas baseiam-se prioritariamente nas

classificaccedilotildees do conhecimento observa-se poreacutem que as consideraccedilotildees de ordem

praacutetica tecircm primazia sobre alguns princiacutepios filosoacuteficos o que significa a exclusatildeo de

outros princiacutepios filosoacuteficos (na Teoria da Classificaccedilatildeo o objetivo metafiacutesico eacute

classificar o universo do conhecimento para localizar depois ou seja a essecircncia eacute

pragmaacutetica acesso e recuperaccedilatildeo de documentos e informaccedilotildees) A praticidade das

classificaccedilotildees bibliograacuteficas estaacute vinculada a criteacuterios e requisitos que determinam a

adequaccedilatildeo e utilidade do sistema Os conceitos fundamentais de todo sistema de

classificaccedilatildeo bibliograacutefica geral compotildeem-se de a) classes gerais fundamentais ou baacutesicas satildeo todos os campos temaacuteticos

em toda a sua extensatildeo isto eacute as divisotildees do conhecimento humano a

que se aplicam subdivisotildees devem ser flexiacuteveis e expansivas para suportar

a inclusatildeo de novos conceitos

124 A Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo tambeacutem chamada de Teoria Dinacircmica da Classificaccedilatildeo e de Teoria da Classificaccedilatildeo Facetada foi desenvolvida por Ranganathan nos anos 30 do seacuteculo XX (cf subseccedilatildeo 41)

139

b) subdivisotildees ou facetas satildeo aspectos particulares de um assunto ou

objeto vistos sob determinado ponto de vista satildeo termos geneacutericos que

denotam os aspectos baacutesicos de um assunto simples como tambeacutem

os elementos isolados de um assunto composto (manifestaccedilotildees das

categorias elementos simples reunidos por determinada caracteriacutestica)

que podem se entrelaccedilar para constituir novos conceitos por meio de

relaccedilotildees previstas pelo sistema e devem ter uma estrutura que

proceda do geral para o particular ou seja uma ordem loacutegica

sistemaacutetica e compreensiacutevel

c) divisotildees auxiliares satildeo as que permitem a sistematizaccedilatildeo segundo a

forma lugar tempo e outras

d) notaccedilatildeo satildeo signos (nuacutemeros letras sinais cores e outros) que

representam os nomes das categorias classes e subdivisotildees - devem ser

flexiacuteveis e manejaacuteveis

e) signos de relaccedilatildeo (alguns sistemas os utilizam) satildeo os que representam as

relaccedilotildees por sinais de pontuaccedilatildeo (+ etc) e devem permitir

combinaccedilotildees de distintos acircmbitos conceituais

f) iacutendice alfabeacutetico remete agrave notaccedilatildeo na estrutura classificatoacuteria e facilita o

uso pois localiza rapidamente um assunto dentro do esquema

sistematizado

Os conceitos tecircm sido operacionalizados isto eacute tecircm servido como instrumentos

nos sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica tradicionais Cabe ressaltar que as

categorias devem tambeacutem ser reconhecidas como conceito fundamental de todo o

sistema de classificaccedilatildeo bibliograacutefica tendo em vista o que foi explanado na seccedilatildeo 2

Iyer (1995 p 12) com base em estudos relativos agrave formaccedilatildeo de conceitos de

Dahlberg observa que categorias satildeo ldquounidades de conhecimentordquo que

compreendem afirmaccedilotildees necessaacuterias e verificaacuteveis (caracteriacutesticas) sobre um

referente representadas por uma designaccedilatildeo (expressatildeo verbal)

Bariteacute (2000 p 5) entende categorias como abstraccedilotildees simplificadas muito

mais que classes e que com a forccedila de instrumentos intelectuais satildeo usadas por

estudiosos da classificaccedilatildeo para investigar e descobrir certas regularidades de objetos

do mundo fiacutesico material e ideal e para representar noccedilotildees Essa representaccedilatildeo eacute

feita para organizar logicamente sistemas de conceitos suficientes para a

organizaccedilatildeo do conhecimento em termos gerais e classificaccedilatildeo de documentos em

140

termos especiacuteficos Da mesma maneira como categorias expressam regularidades

forccedilosamente tambeacutem constituem estruturas conceituais com certa estabilidade e

permanecircncia (embora o resultado da sua aplicaccedilatildeo aos diferentes objetos possa ser

variaacutevel) capazes de expressar-se em qualquer objeto entidade ou ser real ou ideal

Conveacutem salientar que os princiacutepios de subdivisatildeo (categorias) estabelecidos

embora expressem regularidades satildeo relativos e determinados historicamente e por

necessidades pragmaacuteticas

Na revisatildeo de literatura da aacuterea especializada de Biblioteconomia confirma-se

que em uma ampla aplicaccedilatildeo de categorias existe concordacircncia entre autores tais

como em Mills (1960 p 13-14) conceito geral que vai do mais concreto ao mais

abstrato de aplicaccedilatildeo universal que pode ser empregado para reunir outros

conceitos Langridge (1977 p 36) as classes mais gerais dos fenocircmenos Wersig e

Neveling (1976 p 123-124) uma classe de generalidade muito alta Buonocore

(1976) uma faceta geral aplicada a muitos dos campos de assunto Piedade (1983

p 19) ldquocategorias satildeo as maiores classes de fenocircmenos as classes mais gerais que

podem ser formadasrdquo e Bariteacute (2000 p 8) toda categoria eacute altamente generalista

Bariteacute (2000 p 5) acredita na impossibilidade de caracterizar categorias na Teoria

da Classificaccedilatildeo tomando por empreacutestimo definiccedilotildees provenientes da Filosofia

Ontologia ou Metafiacutesica125 Mas as duas acepccedilotildees de categoria provenientes da

Filosofia (classe mais geral ou princiacutepio de divisatildeo) aparecem igualmente na Ciecircncia

da Informaccedilatildeo

As definiccedilotildees apresentadas no paraacutegrafo anterior evidenciam que haacute

diferentes conceituaccedilotildees de categoria em curso e que a distinccedilatildeo entre os conceitos

de classe e categoria natildeo eacute nada consensual e natildeo estaacute clara126

As definiccedilotildees de categoria mencionadas satildeo importantes como ponto de

partida conceitual para organizar discursos cientiacuteficos especiacuteficos Pois quando o

termo eacute conceituado na Teoria da Classificaccedilatildeo fica claro que os autores citados

tecircm uma concepccedilatildeo puramente instrumental da noccedilatildeo de categoria ainda que natildeo

cheguem a especificar o fato de que categorias satildeo noccedilotildees extremamente simples

(sem complexatildeo como diria Aristoacuteteles) expressotildees de natureza abstrata oriundas

125 Ainda que na Filosofia as categorias aristoteacutelicas e kantianas tenham outros fundamentos e outras finalidades a Biblioteconomia e a Ciecircncia da Informaccedilatildeo se apropriam do conceito de categoria como criteacuterio de divisatildeo 126 Os conceitos de classe e categoria na Filosofia foram discutidos na subseccedilatildeo 33

141

de criteacuterios de divisatildeo e portanto de caraacuteter instrumental127 Ou seja as duas aacutereas

Filosofia (teoria das categorias) e Biblioteconomia (Teoria da Classificaccedilatildeo)

coincidem na acepccedilatildeo de categoria Ao constatar essa proximidade salienta-se que

essa proximidade natildeo eacute assumida afirmada ou explorada pela Teoria da

Classificaccedilatildeo que no entanto utiliza conceitos oriundos da Filosofia

Dentro da Teoria da Classificaccedilatildeo categorias satildeo apenas relevantes como

instrumentos de anaacutelise e organizaccedilatildeo de objetos fenocircmenos e conhecimentos

Embora guardem as suas essecircncias ontoloacutegicas eacute nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas

que as categorias satildeo de interesse natildeo como elementos de especulaccedilatildeo metafiacutesica

o que eacute oacutebvio mas como niacuteveis de anaacutelises aplicados para estruturar o

conhecimento humano como tambeacutem para estruturar as suas maiores abstraccedilotildees

representativas - os conceitos

A categorizaccedilatildeo pressupotildee a divisatildeodistribuiccedilatildeo de conceitos em categorias por

meio da anaacutelise de facetas128 Broughton (2004 p 296) para exemplificar um tipo de

classificaccedilatildeo que eacute muitas vezes chamado de categorizaccedilatildeo faz menccedilatildeo aos sistemas

de classificaccedilatildeo (Reader Interest Classification) muito gerais adotados por algumas

bibliotecas puacuteblicas da Inglaterra na deacutecada de 1980 preferencialmente agraves

classificaccedilatildeoes bibliograacuteficas tradicionais Esses sistemas normalmente consistiam de

25 categorias retiradas de temas sociais e de lazer (hobbies viagens esportes) sem

subdivisatildeo alguma e usavam cores para codificaccedilatildeo dos livros em lugar da notaccedilatildeo

A seguir discorre-se a respeito da Teoria da Classificaccedilatildeo e analisam-se os

diferentes sistemas claacutessicos de classificaccedilatildeo bibliograacutefica neles atentando-se

particularmente para a operacionalizaccedilatildeo dos conceitos de classe e categoria tal

como expostos ateacute aqui e introduzindo o conceito de faceta na discussatildeo

41 TEORIA DA CLASSIFICACcedilAtildeO

Ingetraut Dahlberg foi uma das pioneiras na organizaccedilatildeo do conhecimento e

testemunha contemporacircnea do desenvolvimento da organizaccedilatildeo do conhecimento

127 Aristoacuteteles atesta o caraacuteter instrumental das categorias quando as considera como categorias mais linguiacutesticas do que loacutegicas No tratado das Categorias Aristoacuteteles apresenta dez categorias baacutesicas para classificar tudo o que existe as quais revelam tanto a sua visatildeo ontoloacutegica do mundo (categorias loacutegicas - o ser) quanto a sua visatildeo semacircntica (categorias linguiacutesticas - o dizer) 128 A anaacutelise por facetas corresponde a designar termos em facetas apropriadas dentro dum assunto tanto na construccedilatildeo de um esquema de classificaccedilatildeo quanto na determinaccedilatildeo do conteuacutedo dum uacutenico documento na praacutetica classificatoacuteria (BROUGHTON 2004 p 300)

142

no Alemanha Iniciou a sua carreira no Instituto Gmelin como uma compiladora de

bibliografias para o Centro de Documentaccedilatildeo de Energia Atocircmica (na eacutepoca parte

do Instituto) Fundou a Society for Classification (1977) a International Society for

Knowledge Organization (1989) mais conhecida por ISKO e o perioacutedico International

Classification (1974) que em 1993 passa a chamar-se Knowledge Organization (KO)

Segundo Dahlberg (1979b p 352-353) soacute muito recentemente a ldquoarte de classificarrdquo

tatildeo antiga quanto o homem adquiriu uma base teoacuterica consistente que permite

presumir que ela progrediu do status de arte para o de ciecircncia Nessa trajetoacuteria ela

foi aplicada ao conhecimento de maneiras diversas e sempre segundo alguma ideacuteia

preacute-concebida que acabou marcando os arranjos ldquosistemaacuteticosrdquo que entraram na

composiccedilatildeo dos trabalhos dos filoacutesofos Ateacute o seacuteculo XV natildeo era costume construir sistemas para a classificaccedilatildeo das ciecircncias como um fim em si mesmo

Provavelmente soacute com o advento da Imprensa - que possibilitou a publicaccedilatildeo de

esquemas destinados a mostrar as relaccedilotildees entre as ciecircncias conhecidas - eacute que

teve iniacutecio o ldquomovimentordquo de elaboraccedilatildeo de sistemas de classificaccedilatildeo O mais

conhecido foi o de Francis Bacon que como parte do seu projeto enciclopeacutedico

publicou em 1605 um plano de classificaccedilatildeo das ciecircncias existentes (cf subseccedilatildeo

312) Entretanto essa arte natildeo foi chamada de classificaccedilatildeo ateacute o seacuteculo XVIII

Somente a partir daiacute o termo classificaccedilatildeo passou a ser utilizado com o sentido de

ldquoplano para a classificaccedilatildeo das ciecircncias e dos livrosrdquo Foi principalmente no seacuteculo

XIX que a elaboraccedilatildeo de esquemas de classificaccedilatildeo tornou-se um hobby para cada

filoacutesofo e tambeacutem para alguns cientistas como por exemplo Ampegravere (cf subseccedilatildeo

313) Inspirados nesses trabalhos filosoacuteficos os bibliotecaacuterios passaram a construir

novos sistemas para a organizaccedilatildeo do conteuacutedo das suas coleccedilotildees de livros Essa

maneira de elaborar sistemas com base em acerto e erro com fundamento em

alguma ideacuteia intuitiva sobre divisotildees e prioridades no arranjo (primeiramente

hierarquias e subordinaccedilotildees e finalmente auxiliares) era tida como Teoria da

Classificaccedilatildeo ateacute recentemente Uma combinaccedilatildeo de fatores129 torna o periacuteodo apoacutes 1876 vital no

desenvolvimento da classificaccedilatildeo bibliograacutefica Um dos mais importantes estudiosos

129 O grande interesse em Educaccedilatildeo a explosatildeo do Conhecimento e a feacute moderna na Ciecircncia e no Meacutetodo tornaram o final do seacuteculo XIX princiacutepio do XX um tempo particularmente feacutertil na Histoacuteria dos sistemas de classificaccedilatildeo enciclopeacutedica (Dewey 1876 o Instituto Internacional de Bibliografia (IIB) de Otlet e La Fontaine 1895 e CDU 1905 EC 1891 LCC 1902 BSC1906 Colon 1933 BC 1935 e depois entre 1940 e 1953)

143

foi Dewey (1851-1931) que trouxe o problema do arranjo de livros por assunto para

dentro da praacutetica biblioteconocircmica Dewey natildeo somente publicou a primeira ediccedilatildeo

do seu esquema Dewey Decimal Classification (1876) como tambeacutem ajudou a fundar

a American Library Association e o Library Bureau e foi o primeiro editor do Library

Journal Na discussatildeo do desenvolvimento da Teoria da Classificaccedilatildeo eacute inevitaacutevel

iniciar desse ponto pois Dewey e muitos dos seus sucessores foram os que

desenvolveram as atuais classificaccedilotildees fazendo avanccedilar a pesquisa dos esquemas

praacuteticos e dando consistecircncia agrave teoria

O conhecimento dos esquemas e das ideacuteias subjacentes a eles facilita a

compreensatildeo e a comparaccedilatildeo Eacute uacutetil para se conhecer o propoacutesito de cada um

desses autores na compilaccedilatildeo do seu esquema

a) Dewey (Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey - CDD) porque uma classificaccedilatildeo

era necessaacuteria

b) Otlet e La Fontaine (Classificaccedilatildeo Decimal Universal - CDU) para

classificar detalhadamente documentos em fichas e relacionar assuntos

c) Herbert Putnanm (em 1899 o entatildeo diretor da Biblioteca do Congresso

Putnanm decide reorganizar e reclassificar a coleccedilatildeo optando pela

formulaccedilatildeo de novo esquema um sistema proacuteprio para a Biblioteca

Classificaccedilatildeo da Biblioteca do Congresso - LCC com base no sistema

de Cutter Classificaccedilatildeo Expansiva - EC e impregnado portanto dos

seus criteacuterios classificatoacuterios) para arranjar dois milhotildees de livros Brown

(Brown Subject Classification Classificaccedilatildeo de Assuntos - BSC) para

obter um esquema ldquoinglecircsrdquo Bliss (Bibliographic Classification -

Classificaccedilatildeo Bibliograacutefica de Bliss - BC) para demonstrar as suas teorias

de classificaccedilatildeo Ranganathan (Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos - CC)

em razatildeo da grande insatisfaccedilatildeo com todos os outros esquemas (FLA

1996 p 11)

As ideacuteias que formam a base da teoria e praacutetica da classificaccedilatildeo

biblioteconocircmica podem ser vistas em termos de princiacutepios conjunto de postulados

144

e de leis da Biblioteconomia bem como na perspectiva do universo de assuntos da

sua representaccedilatildeo130 e da necessidade dos usuaacuterios

O primeiro bibliotecaacuterio a observar a diversidade dos pontos de vista sob os

quais se pode considerar uma certa aacuterea de conhecimento na discussatildeo da teoria

que fundamenta o seu plano foi Henry Evelyn Bliss (1870-1955)131 Bliss acreditava

totalmente na necessidade de fundaccedilotildees filosoacuteficas e acadecircmicas na classificaccedilatildeo

bibliograacutefica Natildeo era suficiente que o esquema de classificaccedilatildeo bibliograacutefica

pudesse ser uacutetil de uma maneira instrumental e praacutetica para organizar livros nas

prateleiras das bibliotecas tal esquema devia tambeacutem ter valor educacional Ele

pensava que embora nenhum indiviacuteduo pudesse ser dono e senhor de todo

130 A representaccedilatildeo do conhecimento pode ser classificada segundo Brachman (1979 p 3-50) em quatro niacuteveis loacutegico (niacutevel de formalizaccedilatildeo - objetiva uma verdadeira accedilatildeo do pensar sem preocupaccedilatildeo com a semacircntica dos conceitos e de suas relaccedilotildees) epistemoloacutegico (niacutevel da estruturaccedilatildeo - introduz a noccedilatildeo geneacuterica de um conceito) ontoloacutegico (niacutevel da significaccedilatildeo - restringe o nuacutemero de possibilidades de interpretaccedilatildeo do conceito dentro de um dado conceito e pretende representar o conteuacutedo do conceito) e conceitual (niacutevel da interpretaccedilatildeo - apresenta uma interpretaccedilatildeo definida dos conceitos em determinado domiacutenio) Baseando-se nessa classificaccedilatildeo M L Campos (2001 f 49-52) salienta que na Ciecircncia da Informaccedilatildeo pode-se considerar a Teoria da Classificaccedilatildeo entre o niacutevel epistemoloacutegico e o niacutevel ontoloacutegico porque apesar dela natildeo pretender chegar agrave definiccedilatildeo dos conceitos de um dado domiacutenio (natildeo tem diretrizes para a formulaccedilatildeo de definiccedilotildees) ela deteacutem um formalismo que permitepossibilita a representaccedilatildeo do conhecimento visando agrave organizaccedilatildeo de documentos e agrave recuperaccedilatildeo de informaccedilatildeo Poli (1996 1997) procurou fazer uma distinccedilatildeo entre o enfoque ontoloacutegico e epistemoloacutegico do conhecimento Ontologia em seu significado filosoacutefico (natildeo confundir com esquemas homocircnimos para tratamento da informaccedilatildeo semacircntica por maacutequina) refere-se agrave natureza das coisas conhecidas especialmente em termos de categorias gerais agraves quais as coisas podem pertencer Questotildees como subdivisatildeo de classes em tipos e partes ou o reconhecimento de que determinado conceito consiste de um processo ou de uma entidade estaacutetica satildeo ontoloacutegicas Enquanto epistemologia se refere a como os seres humanos conhecem o mundo por meio dos seus oacutergatildeos do sentido e como eles processam conhecimento de acordo com categorias inatas e adquiridas socialmente Portanto o conhecimento eacute tanto epistemoloacutegico quanto ontoloacutegico porque ele transita pela percepccedilatildeo humana a sua verdadeira natureza mas tambeacutem se refere aos objetos reais do mundo sendo detentor de alguma estrutura intriacutenseca Entretanto segundo Gnoli (2008 p 139) autores em organizaccedilatildeo do conhecimento enfatizam na maioria das vezes um ou outro enfoque por exemplo as classes principais da CDD seguem uma sequecircncia epistemoloacutegica (retornando a F Bacon) as classes principais da CDU satildeo tambeacutem epistemoloacutegicas (derivaram da CDD) as classes principais da BC se baseiam numa suposta sequecircncia natural de crescente especificidade e complexidade dos objetos conhecidos e por essa razatildeo eacute fundamentalmente ontoloacutegica Desse modo para o autor parece que nas fundaccedilotildees filosoacuteficas da Organizaccedilatildeo do Conhecimento haacute duas grandes escolas constituindo correntes totalmente independentes e ele sugere que alguma reconciliaccedilatildeo entre essas correntes deveria ser buscada Afinal de acordo com Hjoslashrland e Hartel (2003 apud Gnoli 2008 p 140) ldquoo conhecimento humano eacute tanto um produto do proacuteprio mundo quanto dos interesses e capacidades dos homensrdquo (HJOslashRLAND HARTEL 2003) 131 Bliss fez a criacutetica do racionalismo baconiano de Dewey natildeo acreditava no argumento de Dewey de que natildeo tinha importacircncia onde no esquema um assunto estaacute colocado contanto que ele seja eficientemente indexado descreveu a ordem Baconiana Invertida como natildeo-filosoacutefica e natildeo-praacutetica porque as principais ciecircncias se tornaram separadas e ldquodeturpadasrdquo e criticou a notaccedilatildeo como sendo natildeo-econocircmica e complexa (BLISS 1939 p 205) Trabalhando no quadro filosoacutefico-cientiacutefico-positivista do iniacutecio do seacuteculo XX o seu enfoque consistia em construir classes principais sobre consensos escolares e acadecircmicos

145

conhecimento a classificaccedilatildeo poderia dar ao indiviacuteduo uma visatildeo geral de todo o

mundo das ideacuteias Aleacutem do esquema da BC Bliss publicou em 1929 a obra The

Organization of Knowledge and the System of Sciences (A Organizaccedilatildeo do

Conhecimento e o Sistema das Ciecircncias)132 e em 1933 The Organization of

Knowledge in Libraries (A Organizaccedilatildeo do Conhecimento nas Bibliotecas)133 nas

quais demonstrando preocupaccedilatildeo com os fundamentos filosoacuteficos da classificaccedilatildeo

empreende uma pesquisa criacutetica do que ele chama de classificaccedilotildees bibliograacuteficas

estabelecidas e tenta combinar o conhecimento filosoacutefico com a necessidade

pragmaacutetica de uma biblioteca de arranjar os livros nas estantes Bliss contribuiu com

a Teoria da Classificaccedilatildeo natildeo soacute ao colocar a classificaccedilatildeo bibliograacutefica novamente

em contato com os princiacutepios filosoacuteficos da classificaccedilatildeo (os fundamentos

conceituais da formaccedilatildeo divisatildeo e particcedilatildeo de classes) mas tambeacutem ao

proporcionar a Ranganathan por meio da leitura dos seus livros ldquoa mais feacutertil das

inspiraccedilotildeesrdquo (DAHLBERG 1979b p 354-355)

Ranganathan (1892-1972) em seu livro Prolegomena to Library Classification

(1937) menciona o fato dizendo que certa vez natildeo podendo conciliar o sono

lembrou-se do conselho dado por um amigo de ler para distrair-se Resolveu ler

Bliss pois possuiacutea os trecircs livros mas ateacute entatildeo natildeo tivera tempo de lecirc-los Ao entrar

em contato por intermeacutedio das ideacuteias de Bliss com a perspectiva de elaborar uma

base teoacuterica para sistemas de classificaccedilatildeo sentiu-se estimulado a providenciar uma

teoria e uma linguagem uacutenica para a sua Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos (publicada

em 1933) que havia sido elaborada apenas sobre bases intuitivas

Consequentemente em 1937 Ranganathan elabora uma seacuterie de regras e

desenvolve um sistema de cacircnones e postulados e desses extrai princiacutepios e

distingue processos para estabelecer uma conduta uniforme na formaccedilatildeo de

representaccedilatildeo de qualquer conceito e assunto existente em niacutevel teoacuterico tornando-

se o pai da Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo Como se pode constatar o enfoque

analiacutetico-combinatoacuterio (ldquomatemaacutetico-qualitativordquo) ranganathiano da classificaccedilatildeo

similar ao de Leibniz (cf subseccedilatildeo 312) diferenciava-se dos adotados pelas

classificaccedilotildees bibliograacuteficas anteriores Ranganathan inspirado nos escritos de

132 Neste livro Bliss analisa os diversos sistemas de classificaccedilatildeo filosoacutefica especialmente os de Comte Spencer e Wundt 133 Neste livro Bliss estuda os sistemas gerais de classificaccedilatildeo bibliograacutefica refletindo sobre o princiacutepio compteano de graduaccedilatildeo na especialidade

146

Bliss expocircs ideacuteias que podem ser vistas como o desenvolvimento de ideacuteias

gradualmente tratadas na CDD (com suas listas separadas de conceitos recorrentes

nas tabelas) e na CDU para reformular a Teoria da Classificaccedilatildeo

Desenvolver uma teoria geral dinacircmica de classificaccedilatildeo era a intenccedilatildeo de

Ranganathan em suas quatro obras baacutesicas The Five Laws of Library Science

(1931) Prolegomena to Library Classification (1937) Elements of Library

Classification (1945) Philosophy of Library Classification (1951) aleacutem da proacutepria

Colon Classification (1933) publicadas pela Madras Library Association Desde

entatildeo a Teoria Dinacircmica da Classificaccedilatildeo tambeacutem chamada de Teoria da

Classificaccedilatildeo Facetada ou de Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo vem sendo

continuamente desenvolvida (NEELAMEGHAN 1970 v 5 p 148)

A sua obra The Five Laws of Library Science enuncia um conjunto unificado

de leis fundamentais que forma a base para a derivaccedilatildeo (por deduccedilatildeo) de todos os

princiacutepios e de todas as atividades relacionadas agrave aacuterea de Biblioteconomia Pode ser

sintetizada em Cinco Leis 1) Os livros satildeo para serem usados 2) a cada leitor o seu

livro 3) a cada livro o seu leitor 4) poupe o tempo do leitor e 5) a Biblioteca eacute um

organismo em crescimento Vale mencionar que as leis formuladas por

Ranganathan em 1928 formam a base do sistema de classificaccedilatildeo por ele

publicado em 1933 (NEELAMEGHAN 1970 v 5 p 147) Quando Ranganathan de

acordo com Vicentini (1972 p 113) estabeleceu as suas Cinco Leis foi o primeiro a

elevar a Biblioteconomia ao niacutevel de ciecircncia

Ranganathan diferencia-se por introduzir pela primeira vez nas discussotildees da

classificaccedilatildeo bibliograacutefica uma terminologia teacutecnica na qual por exemplo ideacuteia

isolada (Isolate Idea) eacute uma ideacuteia ou complexo-de-ideacuteias adaptadas para formar um

componente de um assunto mas em si mesma ela natildeo eacute considerada um assunto

(como por exemplo Bacteacuteria denota um isolado mas se o conceito for ajustado

para ser um componente de assunto funciona como unidade combinatoacuteria formando

ou especificando um assunto como Doenccedilas do corpo humano causadas por

bacteacuteria) assim isolados satildeo os vaacuterios conceitos presentes nos assuntos antes

desses conceitos serem reunidos em facetas faceta (facet) eacute um termo geneacuterico

usado para denotar algum componente um assunto baacutesico sozinho (Agricultura) ou

algum componente de um assunto baacutesico (Cultivo de arroz) ou ainda o componente

isolado em um assunto composto (Radiaccedilatildeo Eletromagneacutetica na Radiaccedilatildeo Fiacutesica

em que Radiaccedilatildeo Eletromagneacutetica eacute o isolado e Radiaccedilatildeo Fiacutesica eacute o assunto

147

baacutesico)134 categoria fundamental (fundamental category) eacute cada faceta isolada

considerada como sendo a manifestaccedilatildeo de uma das cinco categorias ou ideacuteias

fundamentais personalidade mateacuteria energia espaccedilo e tempo conhecidas pela

sigla PMEST135 Nesse sentido categorias satildeo um conjunto de noccedilotildees a partir das

quais conceitos satildeo classificados por intermeacutedio de anaacutelise por facetas focos satildeo os

isolados comuns depois de serem agrupados em facetas e anaacutelise por facetas eacute a

teacutecnica de separar os vaacuterios elementos de um assunto complexo em relaccedilatildeo a um

conjunto de conceitos fundamentais abstratos

Segundo Antony Charles Foskett (1972 p 338 Traduccedilatildeo livre da autora)

Ranganathan definiu anaacutelise por faceta como processo mental pelo qual as

possiacuteveis sequecircncias de caracteriacutesticas que formam a base da classificaccedilatildeo de um

assunto podem ser enumeradas e a medida exata na qual os atributos relacionados

ocorrem no assunto eacute determinada Facetas satildeo inerentes ao assunto136

Bryan C Vickery (1960) em uma contribuiccedilatildeo para o CRG afirmou que uma

classificaccedilatildeo facetada eacute uma lista de termos padronizados para serem usados na

descriccedilatildeo dos assuntos dos documentos (Ranganathan demonstrou que o nuacutemero

de assuntos especiacuteficos que podem ser selecionados numa classificaccedilatildeo eacute

134 Vickery (1980 p 212) referindo-se agraves classificaccedilotildees especializadas considera cada faceta de qualquer assunto assim como cada divisatildeo de uma faceta como uma manifestaccedilatildeo de uma das cinco categorias fundamentais 135 O Postulado das Categorias eacute o princiacutepio normativo adotado para a organizaccedilatildeo (divisatildeo) do Universo de Assuntos em Personalidade [P] aquilo que Ranganathan dizia ser indefiniacutevel como por exemplo nuacutemeros equaccedilotildees bibliotecas liacutenguas etc Ou seja a essecircncia de um assunto os objetos de estudo de uma determinada disciplina tipos ou espeacutecies partes ou orgatildeos de entidades Por exemplo Personalidade na Medicina satildeo os oacutergatildeos do corpo humano na Botacircnica os vegetais na Literatura as vaacuterias liacutenguas na Biblioteconomia os tipos de bibliotecas etc Mateacuteria [M] eacute a manifestaccedilatildeo de duas espeacutecies mateacuteria e propriedade como por exemplo mesa de madeira com tampo oval Ou seja todo o tipo de material e substacircncia de que satildeo feitas as coisas Por exemplo na Medicina satildeo o sangue os tecidos etc na Biblioteconomia satildeo os livros os perioacutedicos os cds etc Energia [E] eacute a manifestaccedilatildeo de uma accedilatildeo de qualquer espeacutecie como por exemplo processo operaccedilatildeo teacutecnica Ou seja a accedilatildeo e a reaccedilatildeo o tratamento a atividade o problema etc Por exemplo na Medicina satildeo os tratamentos na Botacircnica eacute a Morfologia na Biblioteconomia satildeo os serviccedilos Espaccedilo [S] eacute a manifestaccedilatildeo de lugar como por exemplo paiacuteses cidades superfiacutecies etc Ou seja divisatildeo geograacutefica o lugar onde se passa o fato Tempo [T] eacute a manifestaccedilatildeo de ideacuteias isoladas de tempo comum como por exemplo seacuteculos anos dia noite veratildeo etc Ou seja a divisatildeo cronoloacutegica a eacutepoca da realizaccedilatildeo de um fato A respeito da pergunta que Ranganathan (1967 p 396) se faz ldquoPor que as ideacuteias fundamentais postuladas satildeo em nuacutemero de cincordquo ele mesmo responde ldquotrabalhar com base em cinco ideacuteias fundamentais produziu resultados satisfatoacuterios nos vinte uacuteltimos anosrdquo 136 ldquohellipthe mental process by which the possible trains of characteristics which can form the basis of classification of a subject are enumerated and the exact measure in which the attributes concerned are incident in the subject are determined Facets are inherent in the subjectrdquo (FOSKETT A C 1972 p 338)

148

potencialmente infinito) e mostra em seus escritos a relaccedilatildeo da anaacutelise por facetas

com a anaacutelise geral da informaccedilatildeo

Portanto pode-se considerar anaacutelise por facetas como procedimento loacutegico de

anaacutelise e organizaccedilatildeo de campos conceituais (assuntos) para determinar quais

caracteriacutesticas satildeo mais apropriadas para dividir assuntos relacionando-os agraves cinco

categorias ou facetas fundamentais pelas quais uma classe principal pode ser dividida

Entre as diversas ideacuteias novas e a quantidade de novos conceitos137 criados

por Ranganathan encontram-se trecircs efetivas contribuiccedilotildees para a Modena Teoria da

Classificaccedilatildeo como a seguir detalhado (DAHLBERG 1979b p 357-358

NEELAMEGHAN 1970 v 5 p 150-160 RANGANATHAN 1967)

a) primeira contribuiccedilatildeo distribuiccedilatildeo por planos

b) segunda contribuiccedilatildeo enfoque analiacutetico-sinteacutetico para a identificaccedilatildeo

dos assuntos

c) terceira contribuiccedilatildeo princiacutepios para sequecircncia uacutetil

137 Terminologia de Ranganathan Assunto Baacutesico eacute um nome geneacuterico para denotar cada assunto principal ou qualquer assunto baacutesico natildeo principal de um dos cinco grupos 1 Assunto Baacutesico Canocircnico (Canonical) eacute uma divisatildeo tradicional de um assunto principal (exemplo R1 Loacutegica R2 Epistemologia R3 Metafiacutesica R5 Esteacutetica em R Filosofia) 2 Assunto Baacutesico Especial (Specials) eacute o assunto de um estudo que de alguma maneira especial foi restringido (exemplo L9C Medicina Infantil) 3 Assunto Baacutesico Descontextualizado (Environmented) eacute a entidade no estudo de um assunto principal presente num contexto que natildeo eacute o seu (exemplo S9Y55 Psicologia de uma pessoa estranha ao meio natural do grupo) 4 Assunto Baacutesico do Sistema (Systems) eacute o assunto de um estudo exposto de acordo com uma escola particular de pensamento diferente daquela privilegiada pelo sistema (exemplo LB Medicina Ayurveacutedica) 5 Assunto Baacutesico Composto (Compound) eacute um assunto baacutesico formado pela combinaccedilatildeo de dois ou mais assuntos dos quatro grupos acima mencionados (exemplo LB-9UA3-9C Medicina infantil tropical ayurveacutedica) (NEELAMEGHAN 1970 v 5 p 149-151 Traduccedilatildeo livre da autora) Ideacuteia (Idea) um produto do pensamento da reflexatildeo e da imaginaccedilatildeo que passou pelo intelecto integrando com a ajuda da Loacutegica uma seleccedilatildeo proveniente da percepccedilatildeo diretamente apreendida pela intuiccedilatildeo e depositada na memoacuteria Assunto (Subject) um corpo sistematizado de ideacuteias que incide de forma coerente em um campo especializado Renque e Cadeia (Array and Chain) satildeo produzidos pela adiccedilatildeo de uma caracteriacutestica (para Ranganathan caracteriacutestica eacute atributo e de acordo com Kumar (1981 p 14) um atributo eacute uma propriedade qualidade ou uma medida quantitativa de uma entidade) a um assunto baacutesico ou a uma ideacuteia isolada Renques satildeo conjuntos formados a partir de uma uacutenica caracteriacutestica de divisatildeo formando seacuteries horizontais Por exemplo Rosa Margarida e Violeta satildeo elementos do conjunto Flores Ornamentais o qual eacute formado pela caracteriacutestica de divisatildeo - tipos de flores ornamentais Cadeias satildeo seacuteries verticais de conceitos em que cada conceito tem uma caracteriacutestica a mais ou a menos conforme a cadeia seja ascendente ou descendente Por exemplo Rosa eacute um tipo de Flor Ornamental que por sua vez eacute um tipo de Flor Modos de Formaccedilatildeo dos Assuntos Dissecaccedilatildeo eacute o corte de um universo de entidades em partes que tenham posiccedilatildeo coordenada de modo que as partes (lacircminas) enfileiradas formem um renque Laminaccedilatildeo eacute a superposiccedilatildeo de facetas que acontece quando uma ou mais ideacuteias isoladas que pertencem a universos diferentes satildeo laminadas em cima de uma faceta ou assunto baacutesico formando um assunto composto Desnudaccedilatildeo eacute a diminuiccedilatildeo progressiva da extensatildeo e o aumento da intensatildeo de um assunto baacutesico ou de um isolado o que permite a formaccedilatildeo de cadeias Agregaccedilatildeo eacute a reuniatildeo de dois ou mais assuntos baacutesicos ou compostos e de isolados formando um assunto complexo e Superposiccedilatildeo eacute a superposiccedilatildeo de dois ou mais isolados que pertencem ao mesmo universo de isolados (RANGANATHAN 1967)

149

A primeira das trecircs contribuiccedilotildees diz respeito agrave introduccedilatildeo de trecircs planos

distintos de trabalho com base nos diversos niacuteveis nos quais trabalham os

classificacionistas e os classificadores

a) o plano da ideacuteia

b) o plano verbal

c) o plano notacional

O plano da ideacuteia corresponde ao niacutevel das ideacuteias e dos conceitos e divide o

Universo das Ideacuteias do Conhecimento ou dos Assuntos em um conjunto de assuntos

principais mutuamente exclusivos e totalmente exaustivos partindo do pressuposto de

que nenhum assunto principal pode ser expresso com os termos de outros assuntos

principais na tabela Pode-se dizer entatildeo que assunto principal eacute aquele que

representa as maiores aacutereas do conhecimento como Medicina Fiacutesica etc

O plano verbal equivale ao niacutevel da expressatildeo verbal dos conceitos presentes

nos assuntos que podem variar segundo a liacutengua utilizada Nesse plano eacute

necessaacuterio nomear os assuntos usar terminologia padronizada atender aos

cacircnones do contexto da enumeraccedilatildeo e da predominacircncia

O plano notacional refere-se ao niacutevel da fixaccedilatildeo dos conceitos em formas

abstratas tais como sinais letras e nuacutemeros Necessita de um sistema notacional

nuacutemeros de classificaccedilatildeo linguagem classificatoacuteria base da notaccedilatildeo combinaccedilatildeo

de diacutegitos diacutegito indicador notaccedilatildeo mista uso de diacutegitos mnemocircnicos extrapolaccedilatildeo

em renques interpolaccedilatildeo em renques (arrays uma fileira ou uma seacuterie de focos138

coordenados com base no mesmo princiacutepio de divisatildeo) interpolaccedilatildeo em cadeia

hospitalidade entre facetas etc

Segundo Dahlberg (1979b p 357) a distinccedilatildeo em trecircs niacuteveis tem o meacuterito de

evidenciar o objeto da Teoria da Classificaccedilatildeo que desde Ranganathan eacute o

conceito uacutenico (expressatildeo da linguagem natural que corresponde ao plano verbal) e

a sua capacidade de combinaccedilatildeo para representar (por meio da notaccedilatildeo em uma

forma semioacutetica) o conhecimento que o homem tem do mundo

A segunda contribuiccedilatildeo de Ranganathan agrave Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo eacute

a do seu enfoque analiacutetico-sinteacutetico para a identificaccedilatildeo dos assuntos Dahlberg

(1979b p 357) afirma que esse enfoque exige para a classificaccedilatildeo de cada

138 A palavra foco vem do latim focus (singular focus e plural foci) significa ponto de convergecircncia ponto para o que converge a atenccedilatildeo

150

documento uma anaacutelise do seu conteuacutedo em termos de elementos (conceitos) que

compotildeem as chamadas facetas e uma siacutentese desses elementos em expressotildees

combinatoacuterias Esse processo segue a foacutermula de facetas que serve para a

representaccedilatildeo dos assuntos e a ordenaccedilatildeo dos conceitos de uma disciplina em

classes formais de acordo com as categorias existentes nessa disciplina

A terceira contribuiccedilatildeo de Ranganathan foi a elaboraccedilatildeo de princiacutepios para

orientar a escolha da sequecircncia das facetas ou seja organizar os elementos das

facetas - princiacutepios para sequecircncia uacutetil - tambeacutem considerados como instrumento

para avaliaccedilatildeo de sistemas de classificaccedilatildeo (DAHLBERG 1979b p 358)139

Observa-se que Ranganathan desenvolveu um sistema complexo que aleacutem

das contribuiccedilotildees anteriormente mencionadas compreendia a Colon Classification

(modelo para um novo sistema universal de classificaccedilatildeo facetada) e os

Prolegomena (coacutedigos e regulamentaccedilotildees para a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo)

ressaltando para a Biblioteconomia e para a Ciecircncia da Informaccedilatildeo sua visatildeo

holiacutestica responsaacutevel pela criaccedilatildeo do seu Universo do Conhecimento140 e sua

representaccedilatildeo que revolucionou a Iacutendia a Ciecircncia da Informaccedilatildeo e a Teoria da

139 Segundo Piedade (1983 p 83-84) para que se atinja a sequecircncia uacutetil Ranganathan introduziu os seguintes princiacutepios

1 Cacircnone de extensatildeo decrescente (Canon of decreasing extension) a classe geral deve preceder as classes especiais 2 Princiacutepio da concreccedilatildeo crescente (Principle of increasing concreteness) a classe mais abstrata precede a mais concreta 3 Princiacutepio da posteridade na evoluccedilatildeo (Principle of later in evolution) segue-se a ordem da evoluccedilatildeo 4 Princiacutepio da posteridade no tempo (Principle of later in time) segue-se a ordem cronoloacutegica 5 Princiacutepio da contiguidade espacial (Principle of spatial contiguity) as aacutereas geograacuteficas devem ser ordenadas de acordo com a proximidade 6 Cacircnone de consistecircncia na sequecircncia (Canon of consistent sequence) quando os mesmos temas surgem em mais de um ponto da classificaccedilatildeo devem ser ordenados do mesmo modo 7 Princiacutepio da sequecircncia canocircnica (Principle of canonical sequence) quando natildeo haacute outro princiacutepio a seguir prefere-se a ordem tradicional 8 Princiacutepio da complexidade crescente (Principle of increasing complexity) os temas mais simples devem vir antes dos mais complexos ldquoQuando nenhum dos cacircnones e princiacutepios precedentes pode ser aplicado Ranganathan aconselha recorrer agraves Cinco Leis da Biblioteconomia de sua autoria que [] determinam que a biblioteca deve servir exatamente exaustivamente e rapidamente ao leitor com o menor esforccedilo e o menor desperdiacutecio de recursos humanosrdquo (PIEDADE 1983 p 84) 140 Universo do Conhecimento ldquoeacute a soma total em um dado momento do conhecimento acumulado Ele estaacute em desenvolvimento contiacutenuo Diferentes domiacutenios do Universo do Conhecimento satildeo desenvolvidos por diferentes meacutetodos O Meacutetodo Cientiacutefico eacute um dos meacutetodos reconhecidos de desenvolvimento O Meacutetodo Cientiacutefico eacute caracterizado pelo movimento em espiralrdquo (RANGANATHAN 1963 p 359)

151

Classificaccedilatildeo141 Ranganathan em virtude do volume de informaccedilatildeo cientiacutefica e

tecnoloacutegica entendia que o Universo do Conhecimento eacute dinacircmico e contiacutenuo e

procurou identificar os vaacuterios fatores responsaacuteveis pelo crescimento do

conhecimento destacando o desenvolvimento da induacutestria da informaccedilatildeo

(SEPUacuteLVEDA 1996) Essa questatildeo do Universo do Conhecimento apresenta um

inegaacutevel forte cunho filosoacutefico mas eacute sempre tratada por Ranganathan com o

cuidado e a preocupaccedilatildeo de relacionar a questatildeo filosoacutefica com a questatildeo

pragmaacutetica da classificaccedilatildeo bibliograacutefica Segundo M L Campos (2001 f 60-69)

para explicar o movimento do ato de conhecer e a sua influecircncia nos sistemas de

classificaccedilatildeo Ranganathan apresenta a Espiral do Universo do Conhecimento (que

propicia o ato de perceber os fatos que ocorrem no mundo fenomecircnico) e para

destacar a ligaccedilatildeo entre a produccedilatildeo de conhecimento e os esquemas de

classificaccedilatildeo apresenta tambeacutem a Espiral do Desenvolvimento de Assuntos (que

possibilita verificar a relaccedilatildeo entre o ato de perceber os fatos e a produccedilatildeo de

conhecimento que no caso eacute conhecimento registrado)142

Na visatildeo de Gopinath (1992 editorial) Ranganathan soacute conseguiu impactar

tanto a Ciecircncia da Informaccedilatildeo por causa da sua visatildeo holiacutestica

141 De acordo com Sepuacutelveda (1996) e Gopinath (2001) a gecircnese do pensar de Ranganathan foi fruto de sua visatildeo holiacutestica do Universo sob influecircncia da Cultura Bracircmane (demonstrada nos planos ideacional verbal e ideacional em parte de suas Cinco Leis da Biblioteconomia e na definiccedilatildeo da Colon Classification) da Cultura Chinesa (demonstrada na sua definiccedilatildeo de Universo do Conhecimento da Espiral de Desenvolvimento de Assunto e do Meacutetodo) e da Astrologia (demonstrada em sua divisatildeo do Universo do Conhecimento em quadrantes e no desenvolvimento de conceitos como Ascendente Descendente Fundo do Ceacuteu e Meio Ceacuteu etc) 142 Para maiores informaccedilotildees em relaccedilatildeo a essa questatildeo ver RANGANATHAN S R The five laws of library science Bombay Asia Publishing House 1963 449 p RANGANATHAN S R Prolegomena to library classification Bombay Asia Publishing House 1967 640 p e CAMPOS M L de A A organizaccedilatildeo de unidades do conhecimento em hiperdocumentos o modelo conceitual como um espaccedilo comunicacional para a realizaccedilatildeo da autoria 2001 186 f Tese (Doutorado em Ciecircncia da Informaccedilatildeo) - Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia da Informaccedilatildeo do Convecircnio CNPqIBICT Escola de Comunicaccedilatildeo Universidade Federal do Rio de Janeiro 2001

152

Ranganathan tinha uma visatildeo holiacutestica do seu trabalho Ele acreditava que qualquer parte do trabalho pertence a um todo sistemaacutetico e integrado Natildeo somente desenvolveu um corpo de conhecimentos regulou praacuteticas criou um sistema de administraccedilatildeo assim como tambeacutem promoveu sua visatildeo holiacutestica Desse modo ele expressou sua visatildeo do Holismo143

A presenccedila do holismo nas classes principais da CC eacute proposital e utilitaacuteria

representando a triacuteade Satyam Shivam Sundaram (GOPINATH 2001 p 90)

Satya (sacircnscrito verdade) eacute Shiva (sacircnscrito Deus) que eacute Sundara (sacircnscrito

beleza) Verdade beleza e divindade satildeo os supremos valores da Iacutendia desde a

Antiguidade e servem para guiar os homens em suas vidas

Depois da Segunda Guerra Mundial a Colon e os Prolegomena passaram a

ser mais difundidos particularmente na Inglaterra onde na deacutecada de 1940 com o

iniacutecio do desenvolvimento dos tesauros surge o Thesaurofacet144 As discussotildees

continuaram e questotildees relacionadas com ordenaccedilatildeo de termos ou frases para

expressar o assunto contido nos documentos se propagaram inclusive no interior de

sistemas de indexaccedilatildeo como no sistema de indexaccedilatildeo por linguagem livre

denominado PRECIS de Austin145

A partir da deacutecada de 1960 ao se considerar as estruturas classificatoacuterias sob

o ponto de vista analiacutetico (muito mais flexiacutevel em relaccedilatildeo ao hierarquizado que

vigorava ateacute entatildeo) percebe-se a necessidade de especificar explicar aclarar os

elementos categoriais dos sistemas de classificaccedilatildeo facetados - que elaboram

facetas com base em categorias de conceitos Nesse ponto um estudo deve ser

mencionado como texto fundamental em relaccedilatildeo agraves categorias utilizadas na

Documentaccedilatildeo o relatoacuterio Eacutetude sur les Cateacutegories Geacuteneacuterales Applicables aux 143 Holismo (do grego holos todo) eacute uma variante da Doutrina da Evoluccedilatildeo que consiste na inversatildeo da hipoacutetese mecanicista e em considerar que os fenocircmenos bioloacutegicos (quer se trate de seres humanos ou outros organismos) natildeo dependem dos fenocircmenos fiacutesico-quiacutemicos mas o contraacuterio O termo foi usado pela primeira vez em 1927 por Jan Smuts primeiro-ministro da Aacutefrica do Sul no seu livro Holism and Evolution como a tendecircncia da natureza a formar atraveacutes de evoluccedilatildeo criativa o todo que eacute maior do que a soma de suas partes Karl Popper em 1944 na obra Poverty of Historicism denominou Holismo a tendecircncia dos historiadores em sustentar que o organismo social assim como o bioloacutegico eacute algo mais que a simples soma dos seus membros e eacute tambeacutem algo mais que a simples soma das relaccedilotildees existentes entre os membros (ABBAGNANO 2003 p 512) Ao longo da histoacuteria o princiacutepio do holismo foi discutido por diversos filoacutesofos contudo o primeiro que o instituiu para a ciecircncia foi Comte (1798-1857) ao pensar a importacircncia do espiacuterito de conjunto (ou de siacutentese) sobre o espiacuterito de detalhes (ou de anaacutelise) para uma compreensatildeo adequada da ciecircncia em si e de seu valor para o conjunto da existecircncia humana 144 AITCHISON J et al Thesaurofacet a thesaurus and faceted classification for engineering and related subjects Whetstone (Leicester) The Electric Co 1969 145 AUSTIN D An indexing manual for PRECIS International Classification Frankfurt v 1 n 2 p 91-94 1974

153

Classifications et Codifications Documentaires (Estudo das Categorias Gerais

Aplicaacuteveis agraves Classificaccedilotildees e Codificaccedilotildees Documentaacuterias) elaborado por Eacuteric de

Grolier em 1962 para atender uma solicitaccedilatildeo da Unesco146 Grolier (1962 p 12)

na introduccedilatildeo do seu livro salienta que o documento apresentado tem caraacuteter

incompleto e provisoacuterio pois apesar da sua redaccedilatildeo ter demandado dois anos as

suas falhas podem ser em parte atribuiacutedas ao assunto vasto agrave evoluccedilatildeo muito

raacutepida nos uacuteltimos anos nesse domiacutenio agraves numerosas pesquisas em andamento em

diferentes paiacuteses e agrave dificuldade de localizaccedilatildeo dos respectivos documentos Grolier

reconhece desde o iniacutecio da pesquisa que entre os problemas existentes para o

estabelecimento de uma classificaccedilatildeo enciclopeacutedica haacute aqueles da construccedilatildeo de

uma ldquolinguagem comumrdquo uma espeacutecie de ldquointerliacutenguardquo para as maacutequinas destinadas

agrave pesquisa de informaccedilotildees e aqueles da constituiccedilatildeo de uma ldquoliacutengua auxiliar

internacionalrdquo uma ldquolinguagem universalrdquo uma ldquometaliacutenguardquo para o tratamento da

informaccedilatildeo147 O autor apresenta uma coleccedilatildeo de categorias gerais dos mais

importantes sistemas de classificaccedilatildeo universal (considera a Colon o uacuteltimo sistema

de classificaccedilatildeo enciclopeacutedica de certa importacircncia internacional) e de alguns

sistemas especializados Observa-se a seguir que as propostas de classificaccedilatildeo

posteriores a Colon procuram adotar criteacuterios pragmaacuteticos mais do que filosoacuteficos

para fundamentar as suas categorias Grolier (1962 p 65-148) agrupa as

classificaccedilotildees especializadas segundo uma ordem geograacutefica

146 A intenccedilatildeo da Unesco era que Grolier por meio da observaccedilatildeo das numerosas e diferentes codificaccedilotildees e classificaccedilotildees existentes nos diversos domiacutenios do conhecimento chegasse a uma proposta normalizada de classificaccedilatildeo e a categorias suficientemente gerais para serem aplicadas agraves classificaccedilotildees A raacutepida evoluccedilatildeo depois da II Guerra Mundial dos meacutetodos de pesquisa de informaccedilatildeo (recuperaccedilatildeo de informaccedilatildeo) com o desenvolvimento de sistemas utilizando meios mecacircnicos eletro-mecacircnicos (cartotildees perfurados) depois eletrocircnicos (computadores) conduziu a transformaccedilotildees na estrutura das classificaccedilotildees documentaacuterias O que segundo Grolier (1962 introduction) levou agrave elaboraccedilatildeo de um grande nuacutemero de novos coacutedigos geralmente independentes uns dos outros criados cada um em funccedilatildeo das necessidades proacuteprias de um Organismo particular de Documentaccedilatildeo Esses sistemas foram construiacutedos de uma maneira totalmente empiacuterica sob influecircncia de condiccedilotildees comuns que pode-se dizer lhes foram impostas pelas novas ldquomaacutequinasrdquo (tecnologias) para a pesquisa de documentos e de informaccedilotildees contidas nos documentos assim como para um certo nuacutemero de procedimentos de utilizaccedilatildeo quase geral como por exemplo a decomposiccedilatildeo de assuntos complexos em fatores simples a passagem das classificaccedilotildees fortemente hierarquizadas aos sistemas vagamente hierarquizados e a conscientizaccedilatildeo da necessidade de natildeo mais se restringir a expressar os termos elementares que servem agrave anaacutelise dos documentos mas expressar tambeacutem as relaccedilotildees entre eles 147 Hoje se sabe que o projeto de uma interliacutengua foi abandonado diante da impossibilidade da sua concretizaccedilatildeo Pode-se afirmar que quaisquer que sejam as opccedilotildees natildeo haacute como escapar da diversidade de categorizaccedilatildeo dos conteuacutedos do mundo

154

Na Franccedila entre outras relata a experiecircncia de Tchakhotine Dobrowolski

Desaubliaux Cordonnier e Pagegraves Serge Tchakhotine (russo residente na Franccedila

aluno de Pavlov) em seu livro Organizaccedilatildeo Racional da Pesquisa Cientiacutefica

(1938)148 desenvolve um meacutetodo embasado na teoria dos reflexos condicionados

para explicar o seu princiacutepio de noccedilotildees fundamentais (categorias) aplicado agrave

Biologia noccedilotildees morfoloacutegicas quiacutemicas funcionais normais funcionais patoloacutegicas

etc (GROLIER 1962 p 66 181) Z Dobrowolski (engenheiro polonecircs que

trabalhava em Paris no Serviccedilo de Documentaccedilatildeo do Escritoacuterio Central do Institut

International de la Soudure em 1942-1943) elabora uma classificaccedilatildeo facetada - por

categorias - grupos de rubricas por combustiacuteveis usados na Soldagem (material

procedimentos aplicaccedilotildees produtos problemas gerais propriedades estudo e

controle induacutestrias e organismos) na qual utiliza constantemente o signo de relaccedilatildeo

( ) emprestado da CDU (GROLIER 1962 p 67) Robert Desaubliaux elabora por

volta de 1942-1943 uma codificaccedilatildeo para a documentaccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Carrel

noccedilotildees reunidas em grupos e repartidas em grandes divisotildees para tratar dos

estudos demograacuteficos do Institut National drsquoEacutetudes Deacutemographiques meio fiacutesico o

homem e as comunidades humanas Empregava subdivisotildees comuns aplicaacuteveis a

cada domiacutenio determinado sob o termo modalidades (GROLIER 1962 p 68) Por

sua vez Geacuterard Cordonnier constroacutei um novo esquema enciclopeacutedico entre 1944 e

1945 que previa que noccedilotildees complexas natildeo seriam introduzidas diretamente na

classificaccedilatildeo pelo fato de elas se originarem de vaacuterios pontos de vista (GROLIER

1962 p 72) Cordonnier segundo Grolier (1962 p 61) foi o responsaacutevel pela

popularizaccedilatildeo de uma seacuterie de categorias (expostas na Conferecircncia de Dorking em

1957) organismos e serviccedilos pessoas indiviacuteduos corpos materiais diversos accedilotildees

diversas conceitos intelectuais formas documentaacuterias e tempo Como nenhuma

classificaccedilatildeo enciclopeacutedica se desenvolve espontaneamente as ideacuteias de

Cordonnier inspiraram Robert Pagegraves que no fim dos anos 40 do seacuteculo passado

elabora um ldquocoacutedigo de anaacuteliserdquo o coacutedigo Pagegraves um leacutexico alfa-numeacuterico que

comporta 22 categorias de noccedilotildees privilegiando as relaccedilotildees sintaacuteticas entre os

elementos (uniatildeo intersecccedilatildeo subordinaccedilatildeo etc) que ligam as categorias

148 TCHAKHOTINE S Organisation rationnelle de la recherche scientifique Paris Hermann 1938

155

a ciecircncia conhecimento cientiacutefico ou similar

b aspecto de multiplicidade organizaccedilatildeo caracterizaccedilatildeo

c indiviacuteduo elemento

d seres e propriedades loacutegico-matemaacuteticas

e fatos e propriedades fiacutesico-quiacutemicas

f domiacutenio das ciecircncias naturais

g seres vivos

i conduta ou processo

j fenocircmenos sociais

k aspectos pragmaacuteticos

l comunicaccedilatildeo

m operaccedilotildees teacutecnicas fiacutesico-quiacutemicas

n operaccedilotildees teacutecnicas bioloacutegicas

o praacutetica social

p prazer e arte

r metafiacutesica

s espaccedilo

t tempo

v regulamentos

w propriedades

y relaccedilotildees

z negaccedilatildeo (GROLIER 1962 p 73-79)

Outras propostas relacionam niacuteveis de abordagem crescentes e decrescentes

de um assunto (por exemplo energia nuclear escala corpuscular nuclear atocircmica e

molecular macroscoacutepica)

Grolier (1962 p 86-96) daacute um destaque especial aos trabalhos de Jean-

Claude Gardin pela influecircncia que tem no desenvolvimento das pesquisas em

recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo149 ao propor substituir os termos da linguagem natural

comumente empregados para a descriccedilatildeo dos objetos (muito vagos e pouco

normalizados) por coacutedigos compactos (coacutedigos que variam com o domiacutenio

149 Segundo Grolier (1962 p 91-92) Gardin passa do estaacutegio das anaacutelises bibliograacuteficas do conteuacutedo para o estaacutegio das anaacutelises conceituais dos documentos que reuacutenem os termos em categorias Como exemplo em uma primeira etapa Gardin distingue trecircs categorias para as anaacutelises de textos funccedilatildeo processo e modo retendo ao final somente duas categorias funccedilatildeo e modo

156

abordado que constituiacuteam uma espeacutecie de gramaacutetica - de categorias - para fazer a

representaccedilatildeo mais adequada dos fatos e objetos observados)

Na Inglaterra Grolier (1962 p 98) cita entre outros o trabalho de J E L

Farradane que baseando-se na pesquisa de alguns psicoacutelogos (Vinacke Isaacs e

Miller) distingue relaccedilotildees obtidas pela correlaccedilatildeo de duas seacuteries de caracteristicas

1 Relaccedilotildees acerca da natureza (temporais natildeo-temporais fixas ou permanentes) e

2 Relaccedilotildees acerca da necessidade de distinccedilatildeo (co-existecircncia natildeo-precisada

precisada) para falar de nove categorias co-presentes comparadas associadas

equivalentes derivadas do meio separadas passiacuteveis de ser substituiacutedas por que

demonstram accedilatildeo sobre e que demonstram relaccedilatildeo causal de dependecircncia

funcional Grolier (1962 p 96) menciona tambeacutem o trabalho referente agraves categorias

realizado pelo CRG que na deacutecada de 1950 embora tivesse a intenccedilatildeo de elaborar

uma classificaccedilatildeo enciclopeacutedica acaba por produzir apenas sistemas especializados

que adotam o meacutetodo de anaacutelise por facetas de Ranganathan mas natildeo as suas

categorias fundamentais As categorias propostas por D J Foskett Vickery Kyle

Langridge Coates150 integrantes do CRG variam conforme o domiacutenio focalizado

constituindo-se em propostas de separaccedilotildees artificiais

Douglas J Foskett (um dos primeiros a introduzir na Inglaterra as ideacuteias de

Ranganathan) autor da obra Library Classification and Field Knowledge (1958) eacute o

criador de vaacuterias classificaccedilotildees especializadas ldquopor facetasrdquo Como exemplo pode-

se citar a da Metal Box Company (produtos partes materiais operaccedilotildees e um

conjunto de subdivisotildees comuns que podem ser aplicadas a qualquer parte do

esquema) e a mais importante sobre Seguranccedila e Sauacutede Ocupacional para a qual

propotildee as categorias

B Agentes fiacutesicos e fenocircmenos naturais

C-G Substacircncias

150 O CRG de Londres (criado em 1952) teve entre seus membros D Austin (Inglaterra) K G B Bakewell (Inglaterra) V Broughton (Inglaterra) P F Broxis (Inglaterra) EJ Coates (EUA) I Dahlberg (Alemanha) S Datta (Inglaterra) A S Desai (Iacutendia) R A Fairthorne (Inglaterra) J E L Farradane (Canadaacute) D J Foskett (Inglaterra) V Horsnell (EUA) H G Koerner (Alemanha) D W Langridge (Inglaterra) I C McIlwaine (Inglaterra) A J Mayne (Inglaterra) J Mills (Inglaterra) J Metcalfe (Austraacutelia) F L Miksa (Estados Unidos) A Neelameghan (India) T Oker-Blom (Finlacircndia) J M Perrault (Estados Unidos) P A Richmond (EUA) M J Roberts (Inglaterra) A Sandison (Inglaterra) J Sorenson (Dinamarca) A P Srivastava (India) P Steen Larsen (Dinamarca) J Toman (Tchecoslovaacutequia) L F Spiteri (Canadaacute) B C Vickery (Inglaterra) E Wahlin (Sueacutecia) A J Wells (Inglaterra) M Whitrow (Inglaterra) (CLASSIFICATION RESEARCH GROUP Bullettin n 11 Journal of Documentation London v 34 n 1 p 21-50 Mar1978)

157

H-J Locais equipamentos processos e operaccedilotildees

K Organizaccedilatildeo de trabalho e estrutura industrial

L Fogo e explosotildees

M N Patologia

P Fisiologia e Psicologia

Q Teacutecnicas de pesquisa

R Prevenccedilatildeo meacutedica e tratamento

S Teacutecnicas de seguranccedila e higiene

T Equipamento de proteccedilatildeo individual

V Organizaccedilatildeo de seguranccedila e higiene

W Categorias de pessoas

X Induacutestrias

Y Aspectos particulares

Z Generalidades (GROLIER 1962 p 99-100)

Vickery em sua obra Classification and Indexing in Science (primeira ediccedilatildeo

de 1958) elabora trecircs esquemas de classificaccedilatildeo especializada Para a

Classificaccedilatildeo das Ciecircncias do Solo enumera oito categorias tipos de solo estrutura

constituintes originais do solo propriedades processos naturais intervindo no solo

operaccedilotildees sobre o solo teacutecnicas de laboratoacuterio e generalidades (GROLIER 1962 p

100) Contrariamente a D J Foskett que natildeo utiliza nenhum sinal de relaccedilatildeo (os

seus siacutembolos se combinam diretamente entre eles) Vickery emprega a barra

obliacutequa ( ) significando relaccedilatildeo e mais particularmente influecircncia ou efeito

(GROLIER 1962 p 100-101) Barbara Kyle em 1955 dedica-se a trabalhar em

uma classificaccedilatildeo das Ciecircncias Sociais Contrariamente ao coacutedigo de Pagegraves que se

destinava agrave anaacutelise dos conceitos contidos nos documentos a classificaccedilatildeo de Kyle

era uma classificaccedilatildeo bibliograacutefica em niacutevel bastante superficial de acordo com

Grolier (1962 p 101-102)

Nos Estados Unidos de maneira geral os trabalhos seguem a mesma linha

dos anteriores destacando categorias - grandes grupos de caracteriacutesticas relativas

aos temas dos assuntos estudados - e algumas vezes fazendo distinccedilotildees entre os

tipos de relaccedilotildees existentes entre as categorias Grolier (1962 p 108-144) refere-se

aos trabalhos de Mooers Perry Patent Office Luhn e Mortimer Taube O meacutetodo de

descritores de Calvin Mooers configura-se em um dicionaacuterio de noccedilotildees criado em

1947 no qual cada documento corresponde uma lista de descritores visando

158

caracterizar o documento Os trabalhos de J W Perry para a Western Reserve

University como a classificaccedilatildeo feita para a American Society for Metals reuacutene a

literatura metaluacutergica por

a) processos e propriedades

b) materiais

c) atributos comuns

Perry em colaboraccedilatildeo com Kent produz em 1954 um meacutetodo de anaacutelises

codificadas com base na anaacutelise semacircntica de ldquotermos complexosrdquo gerando ldquotermos

individuaisrdquo As pesquisas do U S Patent Office a partir de 1950 direcionam-se ao

desenvolvimento de um sistema de classificaccedilatildeo de uma metaliacutengua que Simon M

Newman o seu criador nomeia de ldquoRuly Englishrdquo uma linguagem sem ambiguidade

para solucionar problemas linguiacutesticos com os quais o Patent Office tinha que lidar

Essa metaliacutengua compreende seis categorias de elementos

a) raiacutezes e qualificativos

b) sufixos modulantes

c) prefixos de quantificaccedilatildeo

d) conceitos de inter-relaccedilotildees

e) nomes de interfixos

f) nomes de rubricas (itens)

Das pesquisas de Hans Peter Luhn (orientadas para a IBM) destaca-se a

compilaccedilatildeo de dicionaacuterios de conceitos muito semelhante ao tesauro O seu ldquomeacutetodo

de tesaurordquo foi considerado uma renovaccedilatildeo do Thesaurus of English Words and

Phrases de 1852 de Peter Mark Roget e do seu uso na Documentaccedilatildeo Mortimer

Taube popularizou sob o nome unitermos (palavras tiacutepicas tiradas dos tiacutetulos ou dos

textos de documentos sem ao menos eliminar os sinocircnimos) a partir de 1952 um

meacutetodo de indexaccedilatildeo em fichas por pontos de vista que em seu princiacutepio eacute

semelhante aos descritores de Mooers mas que natildeo faz uso de categorias Ainda

nos Estados Unidos Perreault (1969 p 119-148 apud DAHLBERG 1979b p

360)151 desenvolveu em 1962 um esquema filosoacutefico de cerca de 108

relacionadores Esses relacionadores eram destinados a servir como elementos

sintaacuteticos juntamente com os elementos de qualquer sistema de classificaccedilatildeo

151 PERRAULT J M Towards a theory for the UDC London C Bingley 1969

159

Para Dahlberg (1979b p 360) o coroamento de todos esses movimentos

(inclusive dos citados por Grolier) acontece na Conferecircncia sobre Fatores Relacionais

em Classificaccedilatildeo organizada por Perreault em Maryland em junho de 1966 a qual

recebeu contribuiccedilotildees de muitos dos autores jaacute mencionados inclusive de

Ranganathan152 Nessa ocasiatildeo D Soergel apresentou um trabalho chamado Some

Remarks on Information Languages their Analysis and Comparison contendo um

estudo enciclopeacutedico e as correlaccedilotildees de todos os tipos de indicaccedilatildeo de

relacionamento Contudo nenhuma soluccedilatildeo foi encontrada nessa conferecircncia para os

problemas de relaccedilotildees conceituais restando a frase emblemaacutetica de Grolier Ainda

necessitamos mais pesquisas pronunciada na ocasiatildeo (PERREAULT 1966 p 396)

Ao estabelecer relaccedilotildees entre a estrutura formal da liacutengua e as linguagens

documentaacuterias Grolier (1962 p 149-164) afirma que as uacuteltimas se inspiram nas

primeiras Ao observar tipos de categorias linguiacutesticas discutidas por linguistas em

vaacuterios eventos (como satildeo definidas categorias classes de palavras categorias

verbais categorias de pessoa etc) Grolier levanta questotildees de semacircntica (leacutexico e

classificaccedilatildeo ideoloacutegica) de relaccedilotildees (entre categorias fixadas pelas liacutenguasrsquo e

concepccedilotildees do mundo) de tipologia das liacutenguas (classificaccedilatildeo genealoacutegica) de

evoluccedilatildeo (da linguagem como mecanismo para a transmissatildeo da informaccedilatildeo) entre

outras O relatoacuterio de Grolier infelizmente natildeo teve continuidade apesar da

repercusatildeo que alcanccedilou nos trabalhos posteriores das deacutecadas de 1960 a 1990

As pesquisas relativas agrave organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo do iniacutecio

dos anos 60 ao fim dos anos 70 do seacuteculo XX diminuiram drasticamente na maioria

das instituiccedilotildees em razatildeo principalmente da crenccedila na indexaccedilatildeo automaacutetica e da

rapidez e barateamento do processamento de dados por computador No iniacutecio dos

anos 80 do seacuteculo XX com o aumento vertiginoso de documentos comeccedilou a se

notar uma insatisfaccedilatildeo crescente com a maacute qualidade da informaccedilatildeo obtida por

intermeacutedio de muitas bases de dados

Com pesquisas destinadas agrave obtenccedilatildeo de melhores resultados na

recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo como construccedilatildeo de tesauros construccedilatildeo de

classificaccedilotildees facetadas aplicaccedilatildeo da teoria do conceito (DAHLBERG 1974) e da

152 PERREAULT J M (Ed) Proceedings of the International Symposium on Relational Factors in Classification 1966 Maryland Information Storage and Retrieval Elmsford NY v 3 n 4 p 177-410 1967

160

teoria dos niacuteveis integrativos153 atingiu-se melhor compreensatildeo da natureza dos

conceitos154 por conseguinte das categorias as quais os conceitos pertencem

Dahlberg (1979b p 361) no que pode ser visto como um movimento de

aproximaccedilatildeo com as categorias filosoacuteficas considera categorias como sendo ldquoum

instrumento intelectual para a organizaccedilatildeo de conceitos natildeo soacute em uma

sistematizaccedilatildeo geral dos elementos do conhecimento mas tambeacutem em qualquer

uma de suas aacutereasrdquo e distingue as seguintes objetos fenocircmenos processos

propriedades relaccedilotildees dimensotildees bem como combinaccedilotildees entre elas

Com a utilizaccedilatildeo do enfoque da teoria das categorias (natildeo mais um enfoque

dedutivo que divide o universo do conhecimento em disciplinas ou um enfoque

indutivo que constroacutei linguagens de descritores que constituem os tesauros mas um

enfoque relacional que parte de um aspecto categorial formal) aplicam-se os

princiacutepios de organizaccedilatildeo de conceitos agrave construccedilatildeo e agrave utilizaccedilatildeo de sistemas de

153 A aplicaccedilatildeo da teoria dos niacuteveis integrativos (cf nota 77) para a classificaccedilatildeo parece que suscitou mais perguntas do que respostas e levantou uma seacuterie de problemas e de discussotildees interessantes como para citar alguns a determinaccedilatildeo do sistema de lugar-uacutenico [one-place] (repetindo-se as criacuteticas feitas agrave Subject Classification de James Duff Brown de que seu sistema de classificaccedilatildeo de lsquolugar-uacutenicorsquo natildeo permitia interpretaccedilatildeo ponto de vista etc) que pode eliminar inteiramente certos aspectos do assunto a acomodaccedilatildeo de assuntos convencionais que podem muitas vezes atravessar diversos niacuteveis integrativos (como a aacuterea de Histoacuteria por exemplo que eacute composta de elementos integrativos Antropologia Arqueologia Filosofia Sociologia etc que satildeo por sua vez compostos pelos seus proacuteprios niacuteveis integrativos) e a relaccedilatildeo das partes com o todo que natildeo eacute igual para todas as entidades (uma comissatildeo por exemplo eacute um todo mas os seus membros satildeo tambeacutem parte da mesma espeacutecie lsquohumanarsquo o que os torna intercambiaacuteveis por assim dizer e jaacute o todo bicicleta tambeacutem como exemplo natildeo eacute constituiacutedo de um nuacutemero de sub-unidades similares que podem ser intercambiaacuteveis) Richmond (1965 p 44) acredita que os conjuntos de niacuteveis integrativos satildeo o segundo plano de antigos sistemas de classificaccedilatildeo hieraacuterquica (os princiacutepios teoacutericos de separaccedilatildeo em niacuteveis embasados em suas partes satildeo encontrados igualmente em sistemas tradicionais como a CDD onde disciplinas satildeo separadas em suas partes componentes) e estaacute convencida de que a teoria dos niacuteveis integrativos eacute similar agrave classificaccedilatildeo facetada jaacute que ambos os sistemas envolvem uma forma de raciociacutenio indutivo no qual classes satildeo inferidas de agregados particulares Este raciociacutenio da parte para o todo envolve um lsquosaltorsquo indutivo Este salto forccedila os classificadores a definir um assunto baseando-se em seus elementos constituintes O benefiacutecio da aplicaccedilatildeo da teoria dos niacuteveis integrativos para a Teoria da Classificaccedilatildeo eacute que o processo de classificaccedilatildeo por niacuteveis requer uma anaacutelise e descriccedilatildeo exatas de cada passo do processo o que quer dizer que o salto indutivo teraacute de ser definido na sua composiccedilatildeo fator por fator Consequentemente a teoria daacute validade e meacutetodo para uma abordagem indutiva [bottom-up] de baixo para cima da classificaccedilatildeo De acordo com Spiteri (1995) o significado da teoria eacute talvez que ela muniu o CRG com novo reforccedilo na crenccedila de que aacutereas de conhecimento somente podem ser determinadas apoacutes anaacutelises de sua composiccedilatildeo (a posteriori) e natildeo aacutereas preacute-determinadas de conhecimento e entatildeo decidir como separaacute-las em suas partes componentes (a priori) 154 A teoria do conceito implica em considerar os conceitos ldquosiacutenteses rotuladas de enunciados verdadeiros sobre objetos do pensamentordquo (DAHLBERG 1979b p 361) ou seja para Dahlberg (1979a) o conceito eacute a unidade de conhecimento que compreende afirmaccedilotildees necessaacuterias e verificaacuteveis sobre um referente representado por uma designaccedilatildeo A autora considera que cada enunciado verdadeiro representa um elemento do conceito e define a formaccedilatildeo dos conceitos como a reuniatildeo e compilaccedilatildeo de enunciados verdadeiros a respeito de determinado objeto processo que denomina de ldquoanaacutelise do conceitordquo

161

classificaccedilatildeo podendo-se afirmar que a Teoria da Classificaccedilatildeo hoje reconhece o

conceito como elemento material dos sistemas de classificaccedilatildeo e a categoria como

elemento essencial para correta alocaccedilatildeo dos termos

A Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo eacute capaz de explicar uma quantidade de

fatores anteriormente desconhecidos ou conhecidos apenas intuitivamente e com

isso aperfeiccediloar de modo geral os sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica

Em deacutecadas recentes do seacuteculo XX Dahlberg tem pesquisado sobre as

fundaccedilotildees teoacutericas e conceituais da organizaccedilatildeo do conhecimento de uma

perspectiva filosoacutefica ontoloacutegica Um enfoque epistemoloacutegico tem sido difundido pela

anaacutelise de domiacutenio de Hjorland a Albrechtsen Noccedilotildees desenvolvidas na Filosofia da

Ciecircncia como os niacuteveis integrativos de Hartmann ou a teoria da complexidade de

Morin podem resultar em meacutetodos uacuteteis para o arranjo de fenocircmenos conhecidos

em sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento Com referecircncia a um esquema geral

de classificaccedilatildeo sempre haveraacute a necessidade de algum esquema geral ao menos

como dispositivo de ligaccedilatildeo entre sistemas embasados em diferentes

epistemologias Consequentemente a necessidade de pesquisas ontoloacutegicas em

organizaccedilatildeo do conhecimento estaacute longe de se tornar obsoleta

Recentemente a ISKO que eacute a primeira Sociedade Internacional de Estudos

dedicada agrave teoria e agrave praacutetica da organizaccedilatildeo do conhecimento no seu nono

Congresso155 Internacional em Viena em julho de 2006 deixou bem claro que havia

uma necessidade de dar uma definiccedilatildeo conjuntacompartilhada para o campo de

organizaccedilatildeo do conhecimento Segundo McIlwaine e Mitchell (2008 preface p 79-

81) enquanto a maioria dos membros da ISKO proveem da Biblioteconomia e da

Ciecircncia da Informaccedilatildeo o interesse na organizaccedilatildeo do conhecimento natildeo estaacute

limitado a esses campos Na realidade contribuem para a KO e para os encontros

da ISKO representantes de aacutereas de pesquisa e aplicaccedilatildeo interdisciplinares aleacutem de

representantes da Biblioteconomia e da Ciecircncia da Informaccedilatildeo A agitaccedilatildeo

provocada pelo grande interesse por parte das disciplinas do campo da organizaccedilatildeo

do conhecimento tem causado alguma confusatildeo sobre o significado de organizaccedilatildeo

do conhecimento e suas relaccedilotildees com outros campos tais como ldquogestatildeo do

conhecimentordquo

155 Congressos da ISKO 1 Darmstadt 1990 2 Madras 1992 3 Copenhagen 1994 4 Washington 1996 5 Lilla 1998 6 Toronto 2000 7 Granada 2002 8 Londres 2004 9 Viena 2006 10 Montreal 2008 11 Roma 2010

162

Um nuacutemero especial do perioacutedico KO (KNOWLEDGEhellip 2008) foi idealizado

para explorar a definiccedilatildeo do campo interdisciplinar da organizaccedilatildeo do conhecimento

por meio de perspectivas histoacutericas e contemporacircneas A um grupo de autores da

comunidade ISKO que jaacute completou meio seacuteculo de pesquisa no campo foram

endereccediladas questotildees como

O que eacute organizaccedilatildeo do conhecimento

Quais satildeo os significados de ldquodocumentordquo ldquoinformaccedilatildeordquo e ldquoconhecimentordquo em

organizaccedilatildeo do conhecimento

Quais satildeo as questotildees definitivas na organizaccedilatildeo do conhecimento

Que campos tecircm interesse nas questotildees definitivas da organizaccedilatildeo do

conhecimento

Quais epistemologias teorias e metodologias satildeo relevantes no campo da

organizaccedilatildeo do conhecimento

Quais satildeo algumas questotildees de pesquisa atuais em organizaccedilatildeo do

conhecimento

Quais satildeo as futuras questotildees de pesquisa em organizaccedilatildeo do

conhecimento

Que relacionamentos satildeo especiacuteficos da organizaccedilatildeo do conhecimento

Que satildeo sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento

O nuacutemero especial comeccedilou com uma reuniatildeo realizada em dezembro de

2007 conduzida por Dahlberg criadora do perioacutedico KO Dahlberg tem uma histoacuteria

de envolvimento pessoal com o campo - atuou em organizaccedilotildees internacionais como

a FIDCR UDC International Organization for Standardization (ISO) Unesco e

trabalhou com classificaccedilatildeo na Alemanha e com automaccedilatildeo de bibliotecas nos

Estados Unidos Na reuniatildeo Dahlberg discutiu a adoccedilatildeo de knowledge organization

(do alematildeo Wissensorganisation) como um termo para descrever a ISKO e suas

atividades e o perioacutedico Dahlberg tambeacutem discutiu a genesis do Information

Coding Classification (ICC) um sistema de classificaccedilatildeo inteiramente facetado que

ela desenvolveu e tambeacutem compartilhou sua visatildeo sobre a possibilidade da

organizaccedilatildeo do conhecimento ser vista como disciplina

163

42 CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL DE DEWEY (CDD - 1876)

A histoacuteria os princiacutepios a construccedilatildeo e a revisatildeo da Dewey Decimal

Classification (CDD) Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey (CDD) satildeo tratados nas

subseccedilotildees que seguem

421 Histoacuteria

Melvil[le Louis Kossuth] Dewey (1851-1931) produziu em 1873 uma tese

quando procurava um sistema para organizar os livros da Biblioteca do Amherst

College (uma instituiccedilatildeo meacutedia e desconhecida cuja biblioteca se assemelhava -

se eacute que se permite a comparaccedilatildeo - com as bibliotecas puacuteblicas municipais

brasileiras com caraacuteter de biblioteca puacuteblica e escolar) onde trabalhava como

student-assistant O Esquema foi publicado em 1876156 anonimamente como um

panfleto (A Classification and Subject Index for Cataloguing and Arranging the

Books and Pamphlets of a Library) pelo College mas com copyright sob o nome

Dewey A segunda ediccedilatildeo em 1883 apareceu sob o proacuteprio nome e o sistema de

classificaccedilatildeo decimal157 torna-se oficialmente em 1931 Dewey Decimal

Classfication (DDC) Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey (CDD) popularmente

conhecida por Dewey ou CDD O desenvolvimento da CDD ateacute a deacutecima quarta

ediccedilatildeo representou um registro progressivo de uma rota poliacutetica clara e bem

sucedida que Dewey manteve durante toda sua vida sob riacutegido controle (apoacutes sua

morte em 1931 passa aos cuidados da fundaccedilatildeo Lake Placid Club com o apoio

da LC) Tinha como objetivo ser uma ferramenta um instrumento de feiccedilatildeo praacutetica

e de faacutecil aplicaccedilatildeo para responder agraves necessidades pragmaacuteticas de organizaccedilatildeo

do conhecimento de um tipo de biblioteca que visava o livre acesso dos usuaacuterios e

156 Nesse mesmo ano em Filadeacutelfia foi criada a American Library Association (ALA) e o peroacutedico Library Journal 157 O sistema decimal natildeo comeccedila com Dewey sua existecircncia eacute muito anterior cabendo a La Croix Du Maine a primazia da sua aplicaccedilatildeo em 1583 (cf subseccedilatildeo 312) quando apresenta seu esquema decimal a Henrique III da Inglaterra para organizar a Biblioteca Real da Franccedila de 10 mil volumes que seriam acomodados em 100 lsquocaixasrsquo ou estantes cada uma contendo 100 livros (SAYERS 1955a) Entretanto essa classificaccedilatildeo decimal estava limitada somente agraves estantes dos livros O fiacutesico Ampegravere (cf subseccedilatildeo 313) em 1834 utilizou o princiacutepio decimal para a sua classificaccedilatildeo loacutegica das ciecircncias Ele teve a ideacuteia de empregar uma notaccedilatildeo decimal na qual cada nuacutemero era considerado como um siacutembolo classificador A Biblioteca Nacional da Franccedila chegou a considerar a ideacuteia de adaptar essa notaacutevel classificaccedilatildeo para substituir o antigo sistema que vinha adotando haacute dois seacuteculos

164

a raacutepida localizaccedilatildeo dos materiais bibliograacuteficos nas estantes A grande

popularidade do esquema se deve a vaacuterios fatores principalmente porque ele era o

esquema certo no lugar certo (FLA 1966 MANIEZ 1993 PAZIN 1973 SAN

SEGUNDO MANUEL 1996 SOUZA 1952)

422 Princiacutepios

O bibliotecaacuterio e teoacuterico da classificaccedilatildeo norteamericana Melvil Dewey foi

acima de tudo um pragmaacutetico cujos interesses abrangiam natildeo somente a gerecircncia

da biblioteca mas tambeacutem outros esquemas de melhoramentos relacionados agrave vida

simboacutelica e intelectual que incluiacuteam o desejo de simplificar a ortografia do inglecircs e

introduzir o Sistema Meacutetrico de Pesos e Medidas Mas mesmo o esquema de

classificaccedilatildeo criado pelo pragmaacutetico Dewey teve de repousar sobre alguma visatildeo

filosoacutefica e ideoloacutegica do conhecimento (RAFFERTY 2001 p 184) Dewey natildeo

tinha obviamente a intenccedilatildeo de fazer uma classificaccedilatildeo cientiacutefica ou filosoacutefica do

conhecimento como a de Aristoacuteteles Francis Bacon e Locke (cf subseccedilotildees 311 e

312) No entanto inspirou-se nas classificaccedilotildees do conhecimento propostas pelos

filoacutesofos assim como reconheceu a influecircncia da classificaccedilatildeo de Harris (cf subseccedilatildeo

313)158 predecessoras da CDD (DOBROWOLSKI 1962 p 46) estudadas por

Dewey que tambeacutem se dedicou aos esquemas de arranjo decimal (mais

relacionados na eacutepoca com a numeraccedilatildeo de armaacuterios estantes e prateleiras do que

com livros) como o de La Croix Du Maine (1583) e o de Nathaniel B Schurtleff

158 Ao examinar (quadro 15) as classes principais da classificaccedilatildeo de Harris (1870) detentor de uma soacutelida formaccedilatildeo filosoacutefica que produziu o primeiro esquema lsquobaconiano invertidorsquo baseando suas classes principais naquelas desenvolvidas por Francis Bacon (1605) que foi um seguidor do pensamento de Huarte (1575) nota-se que satildeo semelhantes agraves de Dewey (quadro 28) ampliadas O que pode levar a conclusatildeo de que a obra de Bacon realmente serviu de base pelo menos parcialmente para a classificaccedilatildeo de Dewey que em 1876 por sua vez passa a embasar a Classificaccedilatildeo Decimal Universal Esse exemplo de sequecircncia histoacuterica natildeo tem outro objetivo senatildeo o de demonstrar a permanecircncia de certas estruturas loacutegicas do pensamento humano herdadas do passado fundamentalmente vaacutelidas como a distribuiccedilatildeo e classificaccedilatildeo estrutural dos vaacuterios domiacutenios do conhecimento humano Porque se a inspiraccedilatildeo de Dewey originaacuteria do esquema de Harris nunca foi posta em duacutevida (assumida pelo proacuteprio Dewey) a influecircncia de Bacon sobre Harris tem sido questionada por Goossens (1982 p 8) um estudioso das classificaccedilotildees que afirma que a base teoacuterica da classificaccedilatildeo de Harris depende do sistema hegeliano e natildeo do de Bacon Para provar seu ponto de vista cita Leidecker (1945) Comaroni (1969) e Graziano (1959) que postulam essa influecircncia De acordo com Goossens a triacuteade de Hegel conceito essecircncia e ser (cf subseccedilatildeo 313) pode ser transportada agraves nove divisotildees da classificaccedilatildeo de Dewey como segue conceito corresponde agraves classes 100 200 e 300 essecircncia agraves classes 400 500 e 600 e ser agraves classes 700 800 e 900 Parece que certa ou equivocada essa interpretaccedilatildeo a classificaccedilatildeo de Dewey estava imbuiacuteda da tradiccedilatildeo e da sustentaccedilatildeo teoacuterica cientiacutefica e filosoacutefica que propiciou sua projeccedilatildeo e desenvolvimento

165

(1856)159 Em um artigo publicado em 1920 no Library Journal Dewey menciona

que ao visitar cinquenta bibliotecas ficou admirado com a ineficiecircncia duplicidade do

trabalho de classificaccedilatildeo e desperdiacutecio de tempo e dinheiro em reclassificaccedilotildees

lsquonecessaacuteriasrsquo devido ao uso do sistema de localizaccedilatildeo fixa e natildeo um sistema no qual

o livro seria lsquonumeradorsquo de acordo com a classe agrave qual pertence hoje e pertenceraacute no

futuro160

Dewey pretendia sim fazer um esquema pragmaacutetico (o Pragmatismo161 era um

dos traccedilos fortes da CDD poreacutem sabendo dos riscos de confusatildeo derivados do

mesmo o autor introduziu em suas tabelas principais e auxiliares notas explicativas

para facilitar seu emprego) para arranjo e localizaccedilatildeo de livros apropriado a uma

biblioteca geral Para atingir seu objetivo buscou no plano teacutecnico da notaccedilatildeo o

sistema decimal e no plano psicoloacutegico do usuaacuterio os siacutembolos conhecidos mais

simples (a numeraccedilatildeo de base dez eacute parte do universo familiar do ser humano) os

159 Schurtleff de quem Dewey parece ter copiado a ideacuteia da notaccedilatildeo decimal publicou em 1856 em Boston o trabalho A Decimal System for the Arrangement and Administration of Libraries no qual expotildee o seu esquema de classificaccedilatildeo decimal utilizado na Boston Public Library propondo a utilizaccedilatildeo de dez pequenas salas com dez estantes cada sendo as salas e as estantes numeradas de um a dez Portanto apesar do esquema estar embasado no uso da divisatildeo por dez ele ainda era um sistema de localizaccedilatildeo fixa e a notaccedilatildeo natildeo parecia nada como uma classificaccedilatildeo decimal (BROUGHTON 2004 p 178) 160 Antes da CDD na maioria das bibliotecas os livros eram divididos em um pequeno nuacutemero de categorias em cujo interior cada obra ocupava um lugar fixo segundo seu registro ou data de aquisiccedilatildeo O nuacutemero de classificaccedilatildeo correspondia a sala armaacuterio ou estante Dewey introduziu a ideacuteia de se usar uma notaccedilatildeo para os assuntos em seu esquema e aplicar esta notaccedilatildeo aos livros e natildeo agraves prateleiras A notaccedilatildeo de Dewey permitiu a localizaccedilatildeo relativa dos livros Como o nuacutemero de classificaccedilatildeo passou a significar o assunto do livro ao inveacutes da estante onde o assunto estava localizado natildeo havia a necessidade de re-etiquetar livros ou re-classificar estantes quando livros fossem movidos Passou a existir uma sequecircncia uacutenica constantemente remanejada onde livros antigos podiam ser removidos novos inseridos mas a ordem geral natildeo era afetada e um livro uma vez classificado poderia reter seu nuacutemero de classificaccedilatildeo pela vida inteira O uso de nada mais do que numerais araacutebicos natildeo era usual naquele tempo A maioria dos esquemas de arranjo usava uma combinaccedilatildeo de numerais araacutebicos letras e numerais romanos com o tipo de caracter sendo trocado a cada passo da divisatildeo da classificaccedilatildeo ou para indicar a prateleira e a posiccedilatildeo do livro (LANDAU 1958 p 101-103 FOSKETT A C 1973 p 203-205) Dewey com seu conjunto de caracteres uacutenicos seu ponto decimal sua sequecircncia numeacuterica ininterrupta sua progressiva subordinaccedilatildeo mostrada pela notaccedilatildeo decimal e a faacutecil inserccedilatildeo de novos toacutepicos - ideacuteias realmente revolucionaacuterias - muito mais do que uma classificaccedilatildeo demonstrou um conceito pois ateacute entatildeo as bibliotecas se contentavam em repartir os livros em um pequeno nuacutemero de categorias 161 Pragmatismo esse termo foi introduzido na Filosofia em 1878 (considerada a data de nascimento do Pragmatismo) por um relatoacuterio de W James a Califoacuternia Union em que ele se referia agrave doutrina exposta por Peirce no ensaio intitulado Como tornar claras nossas Ideacuteias (1878) Na obra What Pragmatism Is (1905) Peirce distingue um Pragmatismo Metodoloacutegico que eacute substancialmente uma teoria do significado que evidencia o caraacuteter instrumental e operacional de todos os instrumentos do conhecer e um Pragmatismo Metafiacutesico que eacute uma teoria da realidade (verdade) que tem entre as suas teses a que consiste em reduzir verdade a utilidade e que procura evidenciar a dependecircncia de todos os aspectos do conhecimento em relaccedilatildeo as exigecircncias da accedilatildeo (ABBAGNANO 2003 p 784-785)

166

algarismos araacutebicos como decimais para classificar por assunto todo o

conhecimento humano impresso (na eacutepoca era costume arranjar os livros por ordem

alfabeacutetica formato cor ou data de aquisiccedilatildeo) o que demonstra que Dewey no plano

loacutegico apostava na expressividade da notaccedilatildeo decimal uniforme assim 723 significa

Arquitetura egiacutepcia dentro do quadro Arquitetura (73) e no contexto Belas Artes (7)

(MANIEZ 1993 p 74)

Sayers (1955a) historiou a classificaccedilatildeo e apontou para a natureza construiacuteda

das ordens do conhecimento mesmo quando ele se referia aos praacuteticos sistemas de

classificaccedilatildeo bibliograacutefica Baseando-se nas ideacuteias de Sayers pode-se dizer que as

classes principais e a ordem em que elas aparecem dentro dos esquemas

tradicionais de classificaccedilatildeo bibliograacutefica satildeo sempre construiacutedas produto de uma

visatildeo de mundo particular do seu criador que em niacutevel das ideacuteias reflete e reforccedila

as estruturas e o momento soacutecio-poliacutetico e histoacuterico da sociedade material do seu

tempo Os esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica como todas as outras

construccedilotildees sociais tambeacutem mudam ao longo do tempo sendo influenciados e

influenciando sistemas dentro dos quais operam Portanto o tratamento de

disciplinas e assuntos estaacute sujeito a transformaccedilotildees diacrocircnicas ou seja

transformaccedilotildees causadas por sua evoluccedilatildeo no tempo162 Bibliotecaacuterios enfatizam a

natureza pragmaacutetica dos esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica em geral mas

Pragmatismo eacute um termo escorregadio Ele eacute algumas vezes definido como aquilo

que eacute bom ou aquilo que funciona mas um enfoque criacutetico pode perguntar para

162 Um exemplo do que eacute classificado e do que natildeo eacute e como isso pode mudar com o tempo pode ser visto no tratamento dado pela CDD aos trabalhos de ficccedilatildeo usando indicadores histoacutericos e geograacuteficos Essa praacutetica natildeo comeccedilou com o intuito de analisar o assunto de ficccedilatildeo e conferir significado por meio da notaccedilatildeo Anaacutelise e classificaccedilatildeo de ficccedilatildeo tecircm tido historicamente uma relaccedilatildeo pobre mas em anos recentes isto tem mudado pois sistemas de recuperaccedilatildeo inovadores tais como Bookhouse e Book Forager (httpwwwbranching-outnetforager) tentam tratar as questotildees de significado e anaacutelise de assunto na ficccedilatildeo Essa mudanccedila de atitude no que diz respeito agrave ficccedilatildeo por bibliotecaacuterios e especialistas em recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo estaacute ligada ao tratamento mais generalista da ficccedilatildeo dentro da academia e da sociedade contemporacircnea ocidental (RAFFERTY 2001 p183) Nesta o interesse da ficccedilatildeo natildeo se explica somente pelos teoacutericos influenciados pela teoria poacutes-estruturalista que tecircm encorajado uma epistemologia generalista mas tambeacutem por que ler romance por prazer natildeo eacute mais considerado moralmente perigoso ou perda de tempo em uma sociedade capitalista que encoraja o lazer e os produtos de lazer A ficccedilatildeo tem valores econocircmicos e ideoloacutegicos no capitalismo contemporacircneo Bibliotecaacuterios estatildeo cada vez mais interessados em sistemas de recuperaccedilatildeo de informaccedilatildeo que facilitem o acesso agrave leitura de ficccedilatildeo e a encorajam talvez influenciados pelos sofisticados instrumentos de recuperaccedilatildeo implementados por livrarias online como a Amazoncom um endereccedilo eletrocircnico comercial que investe em informaccedilatildeo (informaccedilatildeo bibliograacutefica) e interpretaccedilatildeo (criacuteticas dos leitores) para fins econocircmicos O tratamento da ficccedilatildeo em bibliotecas espelha amplamente o tratamento da ficccedilatildeo na sociedade e influencia a sociedade como um todo por meio da educaccedilatildeo dos usuaacuterios das bibliotecas

167

quem eacute bom e para quem funciona O Pragmatismo estaacute muitas vezes preocupado

em manter o status quo em contrapartida pode divulgar uma determinada nova

ideologia por meio de decisotildees sobre classes principais divisotildees subdivisotildees e a

ordem dos assuntos

Sayers (1955b p 113) argumenta que o esquema de Dewey natildeo se baseou

em nenhuma ordem moderna de estudos nem representa ldquoo consenso moderno ou

a ordem na qual humanistas arranjam as ciecircncias e os estudos mais importantesrdquo

Nota-se que tanto Sayers como Dewey natildeo mencionaram que consenso ou uma

visatildeo teacutecnica das relaccedilotildees entre assuntos existe e deveria ser a base para organizar

artefatos materiais dentro dos quais o conhecimento reside na forma de textos

escritos A avaliaccedilatildeo de Sayers estava preocupada somente com a questatildeo de como

era atualizada a ordem do conhecimento

Mesmo um esquema de classificaccedilatildeo pragmaacutetico assenta-se sobre uma visatildeo

filosoacutefica do conhecimento A CDD tem sido criticada pelo seu ponto de vista

determinado culturalmente por exemplo Cristianismo eacute privilegiado na classe

Religiatildeo Esquecem-se de que a CDD eacute ideoloacutegica como todas as classificaccedilotildees satildeo

e neste sentido eacute um dos inuacutemeros discursos que ordenam e regulam a sociedade

O sistema eacute significativo pela sua popularidade e durabilidade Operando em

bibliotecas ele tanto impotildee como legitima a sua visatildeo de mundo particular quanto eacute

ao mesmo tempo um instrumento de dominaccedilatildeo e de capacitaccedilatildeo habilita usuaacuterios

a acessar documentos sem mediaccedilatildeo mas impotildee aos usuaacuterios a necessidade de

entender e pesquisar o conhecimento em documentos a partir dos pontos de vista

do sistema Essa qualidade ldquofaces-de-Janordquo163 eacute compartilhada com todos os

esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica

A ideologia da CDD estaacute relacionada ao Racionalismo Pragmatismo e senso

comum a sua visatildeo de mundo eacute ocidentalizada (e mais do que isto

norteamericana) ideal e positivista e a sua ordem do conhecimento atua em escala

global disseminada pelas bibliotecas como uma ferramenta de recuperaccedilatildeo da

informaccedilatildeo

163 Jano era o porteiro do ceacuteu Era ele que abria o ano cujo seu primeiro mecircs ateacute hoje o relembra Como divindade guardiatilde das portas era geralmente apresentado com duas faces pois todas as portas voltam-se para dois lados Os templos dedicados a Jano em Roma eram numerosos e as portas principais dos templos em tempo de guerra permaneciam abertas e em tempo de paz eram fechadas Em toda a histoacuteria romana poreacutem as portas soacute foram fechadas duas vezes uma no reinado de Numa e outra no reinado de Augusto (BULFINCH 1999 p 17)

168

O esquema de Dewey indica alguns dos princiacutepios da Teoria da Classificaccedilatildeo

que foram racionalizados mais tarde (tal como os princiacutepios do geral-antes-do-

especiacutefico da integridade dos nuacutemeros da maior especificidade da pureza da

notaccedilatildeo e da ecircnfase na praacutetica) mas que eram embasados principalmente no senso

comum (em interpretaccedilotildees preacute-cientiacuteficas ou quase-cientiacuteficas acerca da realidade)

do qual Dewey tinha uma total consciecircncia chegando mesmo a sustentar que ldquonatildeo

sacrificava a utilidade a fim de forccedilar os assuntos no leito decimal de Procustordquo164

(FOSKETT A C 1973 p 206) e que ldquoem todos os lugares verdade e teoria

filosoacuteficas tecircm produzido algo praacuteticordquo (MILLS 1960 p 58) Dewey natildeo parece ter

sido um grande teoacuterico mas foi um dos mais eneacutergicos fortes e inovadores homens

da sua geraccedilatildeo Somando-se ao seu trabalho na classificaccedilatildeo foi tambeacutem o

primeiro redator-chefe do Library Journal (1876) foi membro fundador da American

Library Association (1876) e um pioneiro da educaccedilatildeo bibliotecaacuteria ao fundar a

primeira escola de Biblioteconomia dos Estados Unidos (Columbia University) em

1887 (FOSKETT A C 1973 p 203) O que parece estar em curso com Dewey eacute

uma transiccedilatildeo das classificaccedilotildees embasadas na Filosofia para as classificaccedilotildees

pragmaacuteticas - ecircnfase na estrutura classificatoacuteria hieraacuterquica - o que sugere que o

classificador deve observar cada passo da cadeia para se certificar de todos os

passos relevantes Ele foi um inovador soube observar e pensar as circunstacircncias

do processo de classificaccedilatildeo e prever o seu desenvolvimento bem como praticar a

classificaccedilatildeo transformando-a em disciplina

A sugestatildeo de que existe uma base filosoacutefica no esquema tem sido

amplamente debatida e essa visatildeo (do presente) de acordo com alguns autores

parece forccedilada isto eacute tem sido imposta sobre um passado (amplamente

documentado) que jamais sacrificou a utilidade ou a funcionalidade da praacutetica em

funccedilatildeo da teoria enquanto outros pesquisadores sustentam a visatildeo da forte influecircncia

que as classificaccedilotildees das ciecircncias particularmente a de Huarte e a de Francis Bacon

tiveram sobre o esquema de Dewey

164 Procusto eacute um personagem mitoloacutegico que ldquovivia como bandoleiro na estrada que vai de Meacutegara a Atenas Possuiacutea dois leitos um grande e um pequeno Quando aprisionava os viandantes fazia deitarem os pequenos no leito grande e os altos no leito menor E para que chegassem a servir no leito cortava os peacutes de uns e estirava violentamente os outros com o que os matavardquo (GUIMARAtildeES 1999 p 264)

169

Eric de Grolier (1976 p 356) comenta o fato do sistema de Classificaccedilatildeo

Decimal de Dewey ter sido a princiacutepio condicionado pela cultura dos colleges165

(cujas bibliotecas apresentavam um misto de caraacuteter de biblioteca puacuteblica e escolar)

o que suscitou muitas controveacutersias No entanto apesar de todas as criacuteticas que

teoricamente justificadas poreacutem na praacutetica inoperantes denunciavam os seus

defeitos (nacionalismo manifesto em razatildeo de ao lugar preponderante reservado

aos temas relativos aos Estados Unidos caraacuteter arbitraacuterio de certas separaccedilotildees

como Linguiacutestica e Literatura Histoacuteria e Ciecircncias Sociais Liacutenguas e outras e falta de

idoneidade na sistematizaccedilatildeo com respeito ao estado dos conhecimentos

cientiacuteficos) o sistema que tambeacutem estava imbuiacutedo da cultura filosoacutefica estendeu-se

rapidamente na maioria das bibliotecas puacuteblicas e escolares166

Pode-se definir a CDD originalmente como um esquema enumerativo que

tem incorporado com os anos muitas caracteriacutesticas analiacutetico-sinteacuteticas

423 Construccedilatildeo

Um dos mais importantes aspectos do sucesso de Dewey na CDD foi mostrar

como o uso da divisatildeo decimal baacutesica que tem como base trecircs diacutegitos e subdivisatildeo

extensiva poderia proporcionar uma sequecircncia sistemaacutetica de assuntos detalhados

que refletiriam ou espelhariam essa maneira de classificaccedilatildeo e qual seria portanto

165 Uma instituiccedilatildeo de ensino superior que oferece programas de graduaccedilatildeo normalmente de dois a quatro anos de duraccedilatildeo que confere o grau de bachareacuteu em artes ou ciecircncias O termo ldquocollegerdquo pode tambeacutem ser usado em sentido geral para se referir a uma instituiccedilatildeo de ensino poacutes secundaacuterio (GLOSSARY OF TERMS Disponiacutevel emlthttpwwweducationusastategovgraduate glossaryhtmgt Acesso em 23 de novembro de 2007 Traduccedilatildeo livre da autora) Portanto o College uma instituiccedilatildeo imbuiacuteda totalmente da cultura americana tem por caracteriacutestica oferecer programas baacutesicos de graduaccedilatildeo de caraacuteter geral preferencialmente de dois anos 166 Haacute que se ter em conta que a CDD nasceu em um periacuteodo histoacuterico de grande desenvolvimento quando depois da Guerra Civil (1861-1865) o paiacutes recebe vinte milhotildees de imigrantes e surge uma grande induacutestria americana fundamentada no trabalho desses imigrantes Esses fatos acarretaram entre os imigrantes a formaccedilatildeo de grandes fortunas de um lado e de bolsotildees de pobreza de outro Foi nesse contexto que se deu a grande proliferaccedilatildeo de bibliotecas puacuteblicas e a elaboraccedilatildeo de um sistema de classificaccedilatildeo que recorria aos valores da sociedade americana Turner (1988 p77) tambeacutem acusa o predomiacutenio da ideologia americana ao dizer que a CDD eacute ldquopartidaacuteria dos americanos dos brancos dos anglo-saxotildees dos protestantes da classe meacutediardquo o que pode ainda ser estendido a conceitos como liberal e capitalista que se de um lado dava sustentaccedilatildeo aos conhecimentos na CDD por outro limitava a sua universalidade Poreacutem aqui cabe a ressalva de que as criacuteticas vaacutelidas no passado como a de ser um esquema excessivamente proacute-ocidente com ecircnfase nos Estados Unidos e na Histoacuteria americana na Religiatildeo cristatilde no tratamento desigual das disciplinas etc natildeo satildeo mais vaacutelidas pois os editores pouco a pouco eliminaram a tendenciosidade do esquema haacute um acompanhamento meticuloso das Religiotildees natildeo-cristatildes e as disciplinas tecircm recebido igual atenccedilatildeo quanto ao seu desenvolvimento O que permanece eacute a rigidez do sistema numeacuterico que obriga os editores quando tentam fazer coincidir as divisotildees do sistema com a fragmentaccedilatildeo da realidade a multiplicar o nuacutemero de divisotildees e a aumentar o iacutendice

170

o arranjo dos livros ou outros documentos tais como fichas catalograacuteficas num

padratildeo que seria reconhecido pelo especialista em qualquer assunto como

correspondendo agrave maneira pela qual ele pensava em relaccedilatildeo ao seu assunto O

campo do conhecimento avanccedila em complexidade e o que os especialistas

escrevem consiste muito mais de discussotildees de relaccedilotildees e interconexotildees que

subsistem entre entidades do que de meras descriccedilotildees das entidades Desse modo

tornou-se evidente a necessidade de um esquema de hierarquias167 de termos que

fosse mais do que uma imitaccedilatildeo da relaccedilatildeo gecircnero-espeacutecie Dewey compreendeu

que esse problema existia e providenciou tanto elementos de siacutentese quanto de

anaacutelises em suas tabelas168 Esse processo acarretou avanccedilos no processo

classificatoacuterio das classificaccedilotildees subsequentes

Essencialmente a CDD eacute uma classificaccedilatildeo com base no conhecimento

estruturada hierarquicamente consistindo de uma seacuterie de dez classes principais

que correspondem a disciplinas tradicionais ou aacutereas de estudo subdivididas

sucessivamente O desenvolvimento eacute ilimitado Quanto aos princiacutepios de divisatildeo

parecem provir da loacutegica da tradiccedilatildeo e da praacutetica Eacute por meio dessas subdivisotildees

que se forja quando necessaacuterio a inserccedilatildeo de novos assuntos os quais em outras

estruturas (tesauros por exemplo) teriam um tipo de relaccedilatildeo natildeo-hieraacuterquica

podendo mesmo ser considerados se for o caso como termos equivalentes Em

consequecircncia disso as classes principais que determinam todas as sub-classes de

niacutevel inferior partem de uma fragmentaccedilatildeo do saber (em disciplinas) comumente

admitida pelos especialistas da eacutepoca (proveniente de um meacutetodo rigoroso de

investigaccedilatildeo e de teorizaccedilatildeo) e natildeo de pontos de vista particulares sobre o universo

nem de uma fragmentaccedilatildeo natural da realidade tal como esta aparece

A respeito da macroestrutura da CDD pode-se dizer que Dewey

aparentemente natildeo deu uma grande contribuiccedilatildeo ao estabelecer a ordem (quadro

28) das suas classes principais (seguiu o consenso cientiacutefico e educacional do

Amherst College concebido no seacuteculo XIX) com as humanidades (Filosofia

167 Hierarquia eacute um conjunto de classes que mostram as suas relaccedilotildees de subordinaccedilatildeo e de superordenaccedilatildeo A subordinaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo de uma classe com a classe que a conteacutem exemplo a classe poodles eacute subordinada a classe catildees ou seja a relaccedilatildeo de um termo especiacutefico com um termo geneacuterico A superordenaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo de uma classe com outra classe nela contida exemplo a classe gatos eacute superordenada a classe gatos siamezes ou seja a relaccedilatildeo de um termo geneacuterico com um termo especiacutefico 168 As tabelas da CDD constituem uma ferramenta de trabalho amplamente documentada por inuacutemeras notas Segundo Maniez (1993 p 75) ldquomuitas mais do que a maioria dos tesaurosrdquo

171

Teologia Sociologia Linguagem Literatura Histoacuteria e outras) dispersas em vaacuterios

lugares a Linguagem e a Literatura amplamente separadas e todas as Ciecircncias

matemaacuteticas fiacutesicas e bioloacutegicas reduzidas a uma classe assim como Medicina

Engenharia Agricultura Administraccedilatildeo Tecnologia e Induacutestria Contudo conseguir

uma ordem satisfatoacuteria de classes principais eacute notoriamente difiacutecil ou impossiacutevel

(principalmente com o desenvolvimento das disciplinas ldquointerdisciplinaresrdquo) Cabe

dizer que na eacutepoca de sua criaccedilatildeo sendo o arcabouccedilo conceitual cientiacutefico mais

limitado do que eacute hoje o esquema disponiacutevel para a inclusatildeo de novos conceitos

natildeo permitia agraves vezes uma estruturaccedilatildeo hieraacuterquica rigorosa de acordo com uma

visatildeo mais moderna da ciecircncia e do conhecimento em geral

1876 (1ordfed) 1995 (20ordfed) 2003 (22ordfed)

000 Generalidades

100 Filosofia

200 Religiatildeo

300 Sociologia

400 Filologia

500 Ciecircncias Naturais

600 Artes Praacuteticas

700 Belas Artes

800 Literatura

900 Histoacuteria

000 Generalidades

100 Filosofia e Psicologia

200 Religiatildeo

300 Ciecircncias Sociais

400 Liacutenguas

500 Ciecircncias Naturais e Matemaacuteticas

600 Tecnologia (Ciecircncias Aplicadas)

700 Artes

800 Literatura

900 Geografia e Histoacuteria

000 Ciecircncia da Computaccedilatildeo

Informaccedilatildeo e Trabalhos Gerais

100 Filosofia e Psicologia

200 Religiatildeo

300 Ciecircncias Sociais

400 Liacutenguas

500 Ciecircncia

600 Tecnologia

700 Artes e Recreaccedilatildeo

800 Literatura

900 Histoacuteria e Geografia

QUADRO 28 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL DE DEWEY FONTE Dewey (1876 1995 2003)

A numeraccedilatildeo de base dez que pouco a pouco se havia imposto desde a

antiguidade estabeleceu-se para contar natildeo para ordenar como bem lembra

Maniez (1993 p 73) As antigas classificaccedilotildees do saber propunham como a

Retoacuterica antiga para todas as mateacuterias a divisatildeo tritocircnica (em trecircs partes) das quais

resultavam classes em nuacutemero variaacutevel que podiam se adequar agrave maioria dos

assuntos hoje reconhecidos Aristoacuteteles e Bacon entre outros tambeacutem utilizaram a

divisatildeo tritocircnica do conhecimento com base nas grandes faculdades mentais

humanas a aacutervore de Porfiacuterio (cf seccedilatildeo 2) usa um modelo dicotocircmico que eacute a

172

divisatildeo de cada conjunto em dois enquanto a classificaccedilatildeo do ser em Aristoacuteteles169

alcanccedila o nuacutemero de dez categorias ou atributos

A rigidez do sistema numeacuterico que obriga a deixar lugares vagos no esquema

tambeacutem dificulta fazer as divisotildees do esquema coincidir com a fragmentaccedilatildeo da

realidade Nota-se em alguns pontos da CDD principalmente nas tabelas como a de

subdivisotildees padratildeo170 (facetas comuns)171 entre outras e na Classe 400 - Liacutenguas

800 - Literatura e 900 - Histoacuteria desde a primeira ediccedilatildeo uma estrutura de facetas

Nesses casos ocorre uma manifestaccedilatildeo das categorias jaacute que satildeo elas que

ordenam os termos por meio de anaacutelise por facetas

Segundo A C Foskett (1973 p 206) Dewey natildeo percebeu a verdadeira

importacircncia desse fato cabendo a Ranganathan cerca de cinquenta anos mais tarde

tornar expliacutecito e generalizado o princiacutepio que se acha impliacutecito nesse exemplo bem

como em muitos outros aspectos Por exemplo (utilizando Dewey 22th ed 2003) a

obra Enciclopeacutedia Tecnoloacutegica do Seacuteculo XX ao ser analisada revela o que segue

Anaacutelise do conceito Tecnologia - seacuteculo XX - enciclopeacutedia

600 -0904 03

(classe) (auxiliar comum ou faceta) (auxiliar comum ou faceta)

Em que 600 - classe (Tecnologia)

-0904 - auxiliar comum ou faceta de tempo (seacuteculo XX)

03 - auxiliar comum ou faceta de tipo bibliograacutefico (enciclopeacutedia)

A notaccedilatildeo de acordo com as regras previstas por Dewey eacute 6090403 Nesse

exemplo pode-se observar como o 09 da subdivisatildeo padratildeo (Tabela I) age como um

indicador de faceta sinalizando a introduccedilatildeo de outra parte (novo aspecto ou faceta)

de um assunto complexo

A aplicaccedilatildeo da noccedilatildeo de categoria e faceta aparece de maneira clara na CDD

com a possibilidade conforme exemplo demonstrado a seguir mediante o emprego

de uma letra de permitir que a categoria ou faceta (liacutengua) escolhida ou favorecida

169 Cf nota 86 170 As subdivisotildees de forma (form subdivisions) foram renomeadas subdivisotildees padratildeo (standard subdivisions) na deacutecima seacutetima ediccedilatildeo quando ocorre uma revitalizaccedilatildeo no esquema 171 No Dewey o zero eacute algumas vezes descrito como um indicador de faceta De fato ele age como um indicador de faceta sinalizando a introduccedilatildeo de alguma nova subdivisatildeo de um assunto complexo

173

pelo classificador seja intercalada no iniacutecio da sequumlecircncia (quadro 29)

030 Obras enciclopeacutedicas gerais 9 Tratamento histoacuterico geograacutefico de pessoas

Classificar obras enciclopeacutedicas em liacutenguas especiacuteficas em 031-039 031-039 Em liacutenguas especiacuteficas Classificar aqui as enciclopeacutedias especiacuteficas e as obras sobre elas

Arrumar pela liacutengua em que foi originalmente escrita como abaixo mas para destacar a importacircncia local e compor um nuacutemero menor

para enciplopeacutedias numa liacutengua especiacutefica coloque-as em primeiro lugar com o emprego de uma letra ou outro siacutembolo Por exemplo Enciclopeacutedias em espanhol 03E (precedendo 031)

QUADRO 29 - EXEMPLO DA APLICACcedilAtildeO DA NOCcedilAtildeO DE CATEGORIA E DE FACETA NA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL DE DEWEY FONTE Dewey 1995 v2 p 55

Pode-se dizer que o sistema conteacutem mil classes divididas em dez classes

principais e que a sua ordem de dez classes principais eacute provavelmente a mais

familiar e tem afetado o modo pelo qual a maioria dos bibliotecaacuterios (e

possivelmente dos usuaacuterios) pensam em relaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo dos assuntos

Categoria natildeo eacute um conceito explicitado por Dewey apesar de estar presente

como jaacute mencionado tanto no esquema como nas tabelas como na de subdivisotildees

comuns (padratildeo) (Tabela 1) aacutereas geograacuteficas periacuteodos histoacutericos e pessoas

(Tabela 2) literaturas individuais e gecircneros literaacuterios especiacuteficos (Tabela 3) grupos

raciais e eacutetnicos (Tabela 4) e liacutenguas (Tabela 6)

424 Revisatildeo

O Editorial Office da CDD estaacute localizado na Biblioteca do Congresso dos

Estados Unidos - LC172 - desde 1972 permitindo melhor monitoramento das tendecircncias

e consequente inclusatildeo de novos toacutepicos o que significa a manutenccedilatildeo da garantia

literaacuteria173 que eacute parte essencial do aperfeiccediloamento de qualquer esquema Esse

suporte institucional eacute indubitavelmente uma das razotildees para o seu sucesso A

manutenccedilatildeo formal e a revisatildeo da classificaccedilatildeo eacute responsabilidade do Editorial

Policy Committee (EPC) O EPC inclui representantes do Online Computer Library

Center (OCLC) da LC da American Library Association (ALA) e do UK Chartered

172 Interessante notar que a maior interessada e ateacute mesmo responsaacutevel por boa parte da modernizaccedilatildeo da CDD desde a deacutecima quinta ediccedilatildeo tem sido a LC 173 Garantia literaacuteria (literary warrant) eacute o princiacutepio que requer que as classes nos sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica sejam embasadas em assuntos da literatura publicada preferencialmente sendo derivado de uma visatildeo filosoacutefica do conhecimento Essa loacutegica eacute demonstrada na LCC onde tradicionalmente classes satildeo criadas somente para acomodar itens na coleccedilatildeo da Biblioteca do Congresso (BROUGHTON 2004 p 303)

174

Institute of Library and Information Professionals mas tambeacutem conta com membros

representantes dos diversos tipos de bibliotecas que usam a CDD A CDD eacute

atualizada a cada sete anos e a sua versatildeo impressa estaacute agora na 22 ed A ediccedilatildeo

completa eacute publicada em quatro volumes v 1 Introduccedilatildeo manual e tabelas

auxiliares v 2 Esquemas 000-599 v 3 Esquemas 600-999 e v 4 Iacutendice relativo

(ONLINE 2007) Atualmente o OCLC publica a classificaccedilatildeo e manteacutem o WorldCat

uma base de dados de 54 milhotildees de registros com dados da CDD Esses dados estatildeo

disponiacuteveis em formato eletrocircnico desde 1993 Os produtos eletrocircnicos incluindo a

versatildeo em CD Dewey for Windows agora sendo substituiacutedo pela WebDewey o

equivalente online tecircm sido desenvolvidos para explorar todo o potencial dos novos

formatos (BATLEY 2005 p 27 BROUGHTON 2004 p 176-177 ONLINE 2007)

Registra-se ainda que a notaccedilatildeo da CDD (aleacutem da notaccedilatildeo da LCC) aparece em

todos os registros catalogados pela LC desde 1930 e desde 1971 em benefiacutecio da

normalizaccedilatildeo internacional a LC (FOSKETT A C 1973 p 212) adota-a para os

registros no sistema MARC174 - supremo reconhecimento

A classificaccedilatildeo de Dewey continua muito popular graccedilas a sua facilidade e

simplicidade de emprego em contraposiccedilatildeo agraves classificaccedilotildees consideradas mais

complexas como a Classificaccedilatildeo Decimal Universal (CDU) e a Classificaccedilatildeo de Dois

Pontos (CC) O que parece provar que no domiacutenio das aplicaccedilotildees profissionais os

fundamentos teoacutericos e o rigor loacutegico contam menos que a eficaacutecia e a simplicidade

da praacutetica Segundo A C Foskett (1973 p 207) o proacuteprio Dewey escreveu

ldquomesmo que as decisotildees tomadas natildeo tenham sido as melhores possiacuteveis todas as

finalidades praacuteticas estatildeo atendidasrdquo

43 CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL UNIVERSAL (CDU - 1905)

A histoacuteria e aplicaccedilatildeo os princiacutepios a construccedilatildeo e a revisatildeo da Universal

Decimal Classification (UDC) Classificaccedilatildeo Decimal Universal (CDU) satildeo tratados

nas subseccedilotildees que seguem

174 Bibliographic Machine-Readable Cataloging (MARC) Um registro MARC eacute um registro catalograacutefico legiacutevel por maacutequina - o que significa que um computador pode ler e interpretar dados em registros catalogados Um registro catalograacutefico eacute um registro bibliograacutefico ou a informaccedilatildeo tradicionalmente mostrada em fichas (WHAT is a 2007)

175

431 Histoacuteria

Paul Otlet (1869-1944) reconhecido pelo seu trabalho desenvolvido no

campo da bibliografia em Ciecircncias Sociais175 respeitado nos ciacuterculos da Ciecircncia da

Informaccedilatildeo como um pioneiro na recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo e aclamado como um

antecipador da teoria do hipertexto e o seu colega Henri La Fontaine (1854-1943)

ganhador do Precircmio Nobel da Paz em 1913 e dedicado ao International Peace

Bureau (IPB) - a mais antiga federaccedilatildeo internacional para a paz no mundo (1891)

foram os fundadores do International Institute of Bibliography (IIB) mais tarde FID

Os dois advogados belgas conceberam a ideacuteia de organizar um repertoacuterio

bibliograacutefico universal isto eacute uma bibliografia de todos os trabalhos publicados em

qualquer lugar do mundo desde a invenccedilatildeo da imprensa - um projeto que somente

foi possiacutevel cem anos atraacutes As ideacuteias e praacuteticas enlaccediladas pelo termo

documentaccedilatildeo introduzido por Otlet e La Fontaine para descrever o trabalho do IIB

175 No fim do seacuteculo XIX sob a influecircncia do positivismo de Comte havia uma primazia da Sociologia entre as ciecircncias e essas encontravam-se impregnadas de um caraacuteter positivo e documentaacuterio o que transparece nas ideacuteias de Otlet e na nova ciecircncia a Documentaccedilatildeo (atividade e conceito cunhado por Otlet em 1904 que tinha como meta reunir documentos escritos imagens esquemas mapas tabelas entre outros) O livro para Otlet configurava-se em um disseminador inadequado do conhecimento se natildeo fosse decomposto em itens de informaccedilatildeo registrados em separado e recompostos de diferentes formas para uma comunicaccedilatildeo mais efetiva e uso mais apropriado Boyd Rayward (2001 apud RAFFERTY 2001 p188) tem argumentado que Otlet era motivado por uma visatildeo utoacutepica e emancipatoacuteria do que o mundo poderia se tornar se houvesse maior e mais efetivo acesso internacional ao conhecimento e se as forccedilas intelectuais e poliacuteticas no mundo fossem coordenadas de acordo com planos que se relacionavam com a criaccedilatildeo e operaccedilatildeo de instituiccedilotildees internacionais construiacutedas nos moldes da Liga das Naccedilotildees as quais poderiam se comunicar e trabalhar juntas para a paz Otlet estava interessado em capturar o sentido essencial dos documentos e as suas relaccedilotildees porque acreditava que o povo natildeo tinha tempo para ler enorme proliferaccedilatildeo de informaccedilatildeo e que podia ser ajudado se estivesse conectado a uma maciccedila bibliografia de sumaacuterios dos conteuacutedos dos documentos Ele era suficientemente positivista para acreditar que nos documentos a despeito de erros e opiniotildees jaz o cerne da verdade na forma de fatos e eram os fatos que ele estava interessado em identificar e representar Ele imaginava a sua linguagem classificatoacuteria sendo usada para representar os fatos encontrados no documento original Os siacutembolos da CDU estariam formando uma linguagem cientiacutefica que acabaria com as ambiguidades e complexidades da linguagem natural (RAYWARD 2001) Entre os teoacutericos da classificaccedilatildeo Otlet e Ranganathan estavam particularmente interessados na notaccedilatildeo da classificaccedilatildeo como praacutetica significante Para Otlet (socialista e pacifista europeu do seacuteculo XIX) o foco estava na comunicaccedilatildeo intersubjetiva traduccedilatildeo comunicaccedilatildeo e compreensatildeo das linguagens humanas a fim de facilitar o entendimento internacional Ranganathan (matemaacutetico influenciado pela cultura hindu e pela filosofia metafiacutesica) via tambeacutem a possibilidade da notaccedilatildeo servir como linguagem internacional mas aleacutem disso estava interessado na traduccedilatildeo da linguagem privada da consciecircncia individual e a partir dessa consciecircncia como tornar-se um com o mundo para alcanccedilar uma linguagem simboacutelica sinteacutetica e pura O foco estava na possibilidade de produzir signos que significassem aspectos da consciecircncia individual natildeo apenas significados por meio da linguagem Eacute interessante notar que o projeto da CDU foi desenvolvido aproximadamente no mesmo periacuteodo histoacuterico em que se iniciaram as discussotildees do enfoque analiacutetico filosoacutefico da linguagem de Bertrand Russell e Ludwig Wittgenstein

176

constitui de acordo com Rayward (1997 p 289) parodiando Focault uma nova

formaccedilatildeo discursiva numa eacutepoca em que a terminologia hoje proacutepria da Ciecircncia da

Informaccedilatildeo natildeo estava em uso O interesse inicial em construir essa bibliografia

partiu do conceito que Otlet e La Fontaine tinham sobre o estado de desorganizaccedilatildeo

da literatura em Ciecircncias Sociais Esse vasto projeto necessitava de uma ferramenta

eficiente de recuperaccedilatildeo de informaccedilatildeo Para tanto procuraram um sistema para a

organizaccedilatildeo de assuntos da sua bibliografia pois o arranjo alfabeacutetico nem foi

cogitado para empreendimento de tal envergadura

Na busca por orientaccedilatildeo para desenvolver as entradas dos assuntos

tomaram conhecimento da CDD entatildeo na sua quinta ediccedilatildeo (1894) O propoacutesito

original era usar uma versatildeo da CDD modificada e expandida para organizar a

bibliografia universal (McILWAINE 2000 p 1) Estudando o sistema ao mesmo

tempo em que ficaram impressionados com a riqueza do material natildeo encontraram

na CDD exatamente o que procuravam e com autorizaccedilatildeo do proacuteprio Dewey

realizaram alteraccedilotildees e adiccedilotildees (uso de um enfoque facetado para possibilitar

empreender anaacutelises de assunto altamente detalhadas) para criar o que foi a 1ordf

ediccedilatildeo da CDU176 (quadro 30)

176 O resultado desse trabalho foi publicado pelo IIB sediado em Bruxelas em 1905 sob o tiacutetulo de Manuel du Reacutepertoire Bibliographique Universel e em 1907 surgiu a reimpressatildeo dessa ediccedilatildeo do Repertoacuterio em forma de cataacutelogo sistemaacutetico (SAN SEGUNDO MANUEL 1996 BATLEY 2005 p 81) Embora o Instituto que se tornou conhecido como FID tivesse que abandonar o cataacutelogo em fichas que incluiacutea mais de 12 milhotildees de entradas por volta de 1921 o legado de Otlet e La Fontaine continua nas formas materiais do esquema de Classificaccedilatildeo CDU e da Federaccedilatildeo Internacional de Associaccedilotildees de Bibliotecaacuterios e Bibliotecas (IFLA) que opera como uma organizaccedilatildeo internacional promovendo a cooperaccedilatildeo e encorajando o estudo a pesquisa e o desenvolvimento da Biblioteconomia e da Ciecircncia da Informaccedilatildeo A partir de 1992 a CDU deixou de ser controlada pela FID e passou a ser administrada pelo Universal Decimal Classification Consortiom (UDCC) da qual a FID continuou fazendo parte aceitando apenas correccedilotildees e expansotildees na liacutengua inglesa (liacutengua oficial do Consoacutercio) francesa e alematilde No entanto com a extinsatildeo da FID (2000-2001) a IFLA assume a responsabilidade pelo Consoacutercio CDU o qual possibilita o acesso e a utilizaccedilatildeo da Tabela de Classificaccedilatildeo Decimal Universal pelas bibliotecas ao redor do mundo e pelas bibliotecas brasileiras por intermeacutedio do IBICT

177

1927-1933 (2ordf ed) 2003 (pocket ed)

0 Generalidades

1 Filosofia

2 Religiatildeo

3 Ciecircncias Sociais

4 Filologia

5 Ciecircncias Naturais

6 Ciecircncias Aplicadas

7 Belas Artes e Esportes

8 Literatura

9 Histoacuteria e Geografia

0 Generalidades

1 Filosofia (incluindo Psicologia)

2 Religiatildeo

3 Ciecircncias Sociais

4 [vazio apoacutes realocaccedilatildeo de Filologia

atualmente em desenvolvimento]

5 Ciecircncia

6 Tecnologia

7 Artes (incluindo Recreaccedilatildeo e Esportes)

8 Liacutengua e Literatura

9 Geografia Histoacuteria Biografia

QUADRO 30 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL UNIVERSAL FONTE CDU 1927-1933 (Conteacutem aproximadamente 40000 subdivisotildees) UDC 2003 (Versatildeo abreviada tambeacutem conhecida como abridget edition com aproximadamente 4000 classes)

A CDU desde o comeccedilo convergia para uma classificaccedilatildeo muito detalhada

destinada agrave compilaccedilatildeo de uma bibliografia de material fugidio natildeo meramente um

dispositivo para ordenar documentos em estantes Cedo indicadores de facetas foram

adotados e sobrou pouco dos conceitos originais de Dewey como o niacutevel dos trecircs diacutegitos

432 Princiacutepios

Adotada a mesma base do esquema de Dewey no iniacutecio do seacuteculo XX a

CDU de 1905 tambeacutem se propunha a classificar todos os campos do

conhecimento sendo construiacuteda sob os princiacutepios da divisatildeo cientiacutefica do

conhecimento No entanto com objetivos mais ambiciosos ela apresenta uma

mudanccedila em relaccedilatildeo agrave primeira classificaccedilatildeo

aumento da capacidade de siacutentese ou seja possibilidade de representar assuntos complexos e de classes diferentes por meio de mecanismos de combinaccedilatildeo incorporaccedilatildeo do princiacutepio de anaacutelise por facetas princiacutepio que permite uma anaacutelise multidimensional dos assuntos (TAacuteLAMO KOBASHI LARA 1995 p 55)

A macroorganizaccedilatildeo da CDU funda-se na organizaccedilatildeo loacutegico-hieraacuterquica de

suas unidades A delimitaccedilatildeo de classes de assuntos eacute feita a partir de pontos de

vista determinados (CINTRA 1994 p 41) O esquema da CDU eacute portanto muito

mais flexiacutevel do que um esquema somente enumerativo

178

A CDU eacute a uacutenica entre os esquemas tradicionais que natildeo foi originalmente

planejada como uma ferramenta para arranjar uma coleccedilatildeo fiacutesica de documentos

nas prateleiras das bibliotecas ou para organizar um cataacutelogo de fichas e mais do

que isso para reunir documentos sobre o mesmo assunto - princiacutepio monograacutefico de

Otlet Como consequecircncia as decisotildees que eram tomadas a respeito da estrutura e

funccedilatildeo da classificaccedilatildeo naquele tempo colocavam ecircnfase no seu uso como uma

ferramenta de recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo ldquoO pensamento de Otlet natildeo se

direcionava para a organizaccedilatildeo dos livros nas estantes (esse assunto ocupa uma

uacutenica paacutegina no lsquoTratadorsquo) mas agrave organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo seu acesso e

principalmente o estabelecimento de relaccedilotildees entre os dados informacionais

visando o uso da informaccedilatildeordquo (TAacuteLAMO et al 2002) Portanto gerar um sistema de

relacionamento entre os documentos em razatildeo dos assuntos presentes neles -

semente da ideacuteia do uso de descritores - foi a sua grande contribuiccedilatildeo somada agrave

habilidade de tornar possiacutevel descriccedilotildees muito detalhadas de assuntos

particularmente de assuntos complexos mesmo que isso tenha sido conseguido agraves

expensas da simplicidade da notaccedilatildeo de acordo com Broughton (2004 p 207) Fla

(1966 p 14) e Robredo e Cunha (1994 p 211)

433 Construccedilatildeo

Adaptaccedilatildeo do sistema de Dewey a CDU retoma as classes principais da CDD

(reflete disciplinas tradicionais) e a sua notaccedilatildeo decimal A Classificaccedilatildeo de estrutura

hieraacuterquica segue uma ordem sistemaacutetica que parte do geral para o particular do

todo para a parte do gecircnero para a espeacutecie etc poreacutem se afasta do modelo

original

a) por um sistema de subdivisatildeo muito mais avanccedilado que permite

anaacutelises das mateacuterias em profundidade chegando a um niacutevel de

detalhamento como no exemplo 69161341rsquo32rsquo28 = utilizaccedilatildeo de

vidro que contenha oacutexidos de siliacutecio de potaacutessio e de caacutelcio na

construccedilatildeo (UDC 2003)

b) pela importacircncia maior da sintaxe uma vez que na CDD jaacute existiam

possibilidades de construccedilatildeo graccedilas agraves subdivisotildees comuns que satildeo

retomadas pela CDU por meio de signos especiais que autorizam

toda uma seacuterie de procedimentos sintaacuteticos que multiplicam as

possibilidades de combinaccedilotildees (estrutura facetada) como no

179

exemplo 63486588 = marketing e vendas da produccedilatildeo de vinhos -

ou 65886348 (6348 vinhedos e 6588 marketing e vendas)

(UDC 2003)

c) por inovaccedilotildees na subdivisatildeo e na notaccedilatildeo pois a subdivisatildeo jaacute natildeo eacute

rigorosamente decimal e sim praticada em razatildeo da necessidade

como por exemplo 0182 = propriedades mecacircnicas (divisatildeo

analiacutetica da metalurgia) 66971 = alumiacutenio (iacutendice principal) assim

669710182 = propriedades mecacircnicas do alumiacutenio (UDC

2003)

Em resumo a CDU conserva uma estrutura monohieraacuterquica para os iacutendices

principais mas tanto a importacircncia atribuiacuteda aos iacutendices secundaacuterios quanto as

facilidades de siacutenteses conduzem a uma construccedilatildeo mista monohieraacuterquica para o

essencial e analiacutetico-sinteacutetica na utilizaccedilatildeo de facetas para as chamadas divisotildees

analiacuteticas e para as divisotildees comuns A principal inovaccedilatildeo reside na possibilidade de

formar novos assuntos pela coordenaccedilatildeo de vaacuterios iacutendices o que aproxima a CDU

das linguagens combinatoacuterias Juntando ao iacutendice principal o sufixo apropriado

compotildee-se livremente um novo iacutendice e essa combinaccedilatildeo que organiza um nuacutemero

consideraacutevel de iacutendices virtuais economiza iacutendices reais nas tabelas177 Poreacutem a

CDU ainda estaacute muito longe da estrutura de um tesauro longe inclusive do iacutendice da

CDD mas parece que para o Consoacutercio responsaacutevel pela CDU o papel do iacutendice eacute

secundaacuterio e a ecircnfase eacute dada na recuperaccedilatildeo pelas tabelas (BATLEY 2005 p 103

BROUGTON 2004 p 211 DUBUC 1973 p 84 MANIEZ 1993 p 87-89) A primeira divisatildeo em dez classes principais reflete amplamente o seu

parentesco com a CDD sendo que a maior mudanccedila em relaccedilatildeo agrave CDD eacute reunir

Liacutengua e Literatura na Classe 8 deixando a Classe 4 vazia178 Haacute poreacutem uma

importante diferenccedila entre os dois esquemas enquanto a CDD eacute perfeitamente

adequada para classificaccedilotildees gerais pois natildeo tem profundidade de cobertura para

toacutepicos especializados a CDU permite uma classificaccedilatildeo mais detalhada com a

incorporaccedilatildeo de muitas caracteriacutesticas de classificaccedilatildeo facetada com o uso

177 As Tabelas Sistemaacuteticas (Systematic Tables) contecircm as classes principais da classificaccedilatildeo e um grande nuacutemero de tabelas auxiliares O Iacutendice possibilita a localizaccedilatildeo de um toacutepico a verificaccedilatildeo do contexto apropriado e a consulta a vaacuterias notas explanaccedilotildees e instruccedilotildees Inclui tambeacutem muitos exemplos de combinaccedilatildeo 178 A Classe 4 pode vir a ser ocupada no futuro pela Medicina uma classe muito ampla que estaacute atualmente sendo extensamente revisada (httpwwwudccorg 2006 BROUGHTON 2004 p 209)

180

extensivo de siacutenteses para criar notaccedilotildees para assuntos compostos eacute essa

caracteriacutestica que torna a CDU desejaacutevel para coleccedilotildees especializadas

A CDU eacute um excelente exemplo de um tipo de esquema de classificaccedilatildeo

conhecido como analiacutetico-sinteacutetico - um esquema no qual um assunto complexo

pode ser fragmentado (analisado) em suas partes constituintes e um nuacutemero de

classificaccedilatildeo preciso pode ser construiacutedo (sintetizado) das notaccedilotildees das diferentes

partes Por exemplo (utilizando a Universal Decimal Classification Pocket Edition

2003) a obra A Girafa na Arte e na Histoacuteria ao ser analisada revela o que segue

Anaacutelise do conceito girafa - Arte - Histoacuteria

Nuacutemero da CDU 5997354 7 94

(classe) (classe) (classe)

Nuacutemero de classificaccedilatildeo 5997354794 na qual o sinal de relaccedilatildeo () eacute

utilizado para unir conceitos em relaccedilatildeo muacutetua

Em contraste com uma classificaccedilatildeo enumerativa (na qual somente os

nuacutemeros de classificaccedilatildeo que estatildeo listados satildeo vaacutelidos) o esquema analiacutetico-

sinteacutetico permite que novas classes sejam criadas pelo classificador O nuacutemero

potencial de classes eacute consequentemente muito maior do que aquele listado nos

esquemas ou planos impressos179

A notaccedilatildeo180 usada na CDU eacute expressiva e emprega numerais araacutebicos que

podem ser reunidos (quadro 31) por sinais de pontuaccedilatildeo siacutembolos auxiliares

considerados um conjunto de facetas comuns e indicadores de facetas os quais

permitem fazer siacutenteses - significar os relacionamentos entre conceitos - e relacionar

de diversas formas os nuacutemeros usados nas tabelas para construir nuacutemeros de

classificaccedilatildeo mais complexos e precisos (BATLEY 2005 McILWAINE 2000)

179 Entretanto a CDU permanece sendo uma classificaccedilatildeo hierarquizada e enumerativa como todas as classificaccedilotildees claacutessicas 180 A operaccedilatildeo de classificar com as tabelas da CDU deve comeccedilar por assinalar o nuacutemero da classe temaacutetica e acrescentar se necessaacuterio os auxiliares segundo o criteacuterio geral da CDU ou seja do mais geral ao mais particular ponto de vista lugar tempo forma idioma e todos os demais auxiliares de menor envergadura

181

DENOMINACcedilAtildeO E EMPREGO SIacuteMBOLO TABELA Adiccedilatildeo (o mais (+) coordena ou liga dois assuntos (conceitos)

distintos (separados no esquema) - eacute usado preferencialmente ao

() soacute quando dois assuntos satildeo tratados independentemente no

mesmo documento Ele visa ampliar com mais precisatildeo cada

elemento do assunto A sua intercalaccedilatildeo ocorre antes do primeiro

nuacutemero sozinho)

+ (Tabelas 1a e 1b)

Extensatildeo consecutiva (a barra obliacutequa () reuacutene nuacutemeros da

CDU que ocupam lugares sucessivos Onde o sinal de mais

reuacutene classes adjacentes a barra obliacutequa pode ser usada em seu

lugar A sua intercalaccedilatildeo ocorre tambeacutem antes do primeiro

nuacutemero sozinho)

(Tabelas 1a e 1b)

Nuacutemero simples sem siacutembolos

Relaccedilatildeo (o dois pontos () une dois nuacutemerosconceitos e denota

alguma relaccedilatildeo geral entre eles Eacute o mais comum dispositivo de

ligaccedilatildeo ou siacutentese na CDU e tambeacutem o mais impreciso)

(Tabelas 1a e 1b)

Igualdade (auxiliares comuns sistemaacuteticas de Liacutengua) =hellip (Tabela 1c)

Parecircntese zero (auxiliares comuns sistemaacuteticas de Forma) (0) (Tabela 1d)

Parecircntese (auxiliares comuns sistemaacuteticas de Lugar) (19) (Tabela 1e)

Parecircntese igualdade (auxiliares comuns sistemaacuteticas de Raccedila

grupos eacutetnicos e nacionalidade)

(= hellip) (Tabela 1f)

Aspas (auxiliares comuns sistemaacuteticas de Tempo) ldquohelliprdquo (Tabela 1g)

Coacutedigos natildeo-CDU etc AZ (Tabela 1h)

Traccedilo zero (auxiliares de caracteriacutesticas gerais)

Traccedilo zero trecircs (auxiliares comuns de materiais)

Traccedilo zero cinco (auxiliares comuns de pessoas)

-0 hellip

(Tabela 1k)

Traccedilo (auxiliares especiais) -19

Ponto zero zero (auxiliares comuns de ponto de vista) 00

Apoacutestrofo (concentraccedilatildeo ou fusatildeo de conceitos) lsquo

QUADRO 31 - SIacuteMBOLOS DA NOTACcedilAtildeO DA CLASSIFICACcedilAtildeO DECIMAL UNIVERSAL NA ORDEM EM QUE APARECEM NO ESQUEMA FONTE a autora NOTA Os sinais de ligaccedilatildeo da CDU satildeo a chave que a habilita a organizar coleccedilotildees especializadas Eles provecircm o classificador com uma ferramenta poderosa com a qual descrever assuntos em detalhes Satildeo os sinais de ligaccedilatildeo que aproximam a CDU dos esquemas de classificaccedilatildeo facetados e transformam o continuum da classificaccedilatildeo de enumerativa a facetada

Segundo Grolier (1976 p 344 Traduccedilatildeo livre da autora) as tabelas auxiliares

constituem uma inovaccedilatildeo mais consideraacutevel na teacutecnica taxonocircmica que tudo o que

se devia a Dewey O princiacutepio de classificaccedilatildeo segundo os pontos de vista e o

estabelecimento de relaccedilotildees entre os pontos simples para formar iacutendices que

correspondam a mateacuterias complexas que com frequecircncia poreacutem erroneamente se

atribui a Ranganathan e a sua Classificaccedilatildeo Facetada estaacute integralmente no artigo

182

de Otlet de 1896181

Pode-se dizer que eacute tambeacutem a partir das tabelas auxiliares (divisotildees

analiacuteticas) - liacutengua forma lugar nacionalidade tempo entre outros auxiliares

especiais - que emerge a noccedilatildeo de faceta como uma manifestaccedilatildeo das categorias

Os responsaacuteveis pelos sistemas de classificaccedilatildeo normalmente sugerem uma

ordem padratildeo para nomear assuntos com base em categorias Desse modo

McILWAINE (2000) recomenda na construccedilatildeo da notaccedilatildeo na CDU a aplicaccedilatildeo da

seacuterie coisa - espeacutecie - parte - material - propriedade - processo - operaccedilatildeo - agente -

espaccedilo - tempo

434 Revisatildeo

Hoje todas as ediccedilotildees e traduccedilotildees do esquema satildeo controladas pelo

Universal Decimal Classification Consortium (UDCC) (httpwwwudccorg) A

versatildeo eletrocircnica autorizada da classificaccedilatildeo estaacute sediada na base de dados em

Haia (Holanda) e eacute conhecida como Master Reference File (MRF) Ela conteacutem cerca

de 65000 classes que satildeo a base para a publicaccedilatildeo de traduccedilotildees pelos membros

do Consoacutercio Cada paiacutes tem o seu proacuteprio comitecirc nacional da CDU que se reportam

ao de Haia No Brasil em 1974 foi criado o Instituto Brasileiro de Bibliografia e

Documentaccedilatildeo (IBBD) e a Comissatildeo Brasileira da CDU vinculada ao IBBD A partir

de 1976 o IBBD passou a ser denominado IBICT Em 2007 o IBICT no intuito de

atualizar essa ferramenta que eacute a CDU publica a segunda ediccedilatildeo padratildeo-

internacional em liacutengua portuguesa (UDC Consortium 2007)

O esquema tem crescido por decisotildees ad hoc Alteraccedilotildees ao esquema e

novos planos de trabalho satildeo publicados anualmente no boletim da CDU Extensions

and Corrections to the UDC mais conhecida pela sigla EampC (BATLEY 2005

BROUGHTON 2004)

Observa-se que a estrutura principal dos esquemas gerais de organizaccedilatildeo do

conhecimento como CDD e CDU natildeo mudou muito desde 1850 O que muda e

aumenta satildeo as subclasses dentro da estrutura

181 OTLET P Sur la structure des nombres classificateurs Bulletin de lrsquoInstitut International de Bibliographie La Haye v 1 p 230-243 1895-1896

183

44 CLASSIFICACcedilAtildeO EXPANSIVA (EC -1891)

A histoacuteria e aplicaccedilatildeo os princiacutepios e a construccedilatildeo da Expansive

Classification (EC) Classificaccedilatildeo Expansiva de Charles Ammi Cutter satildeo tratados

nas subseccedilotildees que seguem

441 Histoacuteria

Sob a influecircncia da CDD (considerada inadequada e natildeo-aplicaacutevel a

determinados tipos de biblioteca) e embasado em sua experecircncia (necessidade que as

bibliotecas tinham de dispor de um esquema classificatoacuterio de conformidade com o

nuacutemero de obras que possuiacuteam) Charles Ammi Cutter (1837-1903) bibliotecaacuterio

erudito norteamericano deu iniacutecio em 1880 agrave implantaccedilatildeo de um sistema proacuteprio na

organizaccedilatildeo dos documentos da Biblioteca do Athenaeum de Boston Em 1891 sob o

tiacutetulo Expansive Classification (EC)182 Classificaccedilatildeo Expansiva Cutter publica a

primeira ediccedilatildeo (expansatildeo) do esquema (SAN SEGUNDO MANUEL1996 p 86)

442 Princiacutepios

Cutter elabora as suas dez classes principais tomando como base o sistema de

Bacon apenas de modo invertido Eacute uma classificaccedilatildeo do tipo filosoacutefico e natildeo do tipo

praacutetico sendo considerada como a mais erudita das classificaccedilotildees Eacute um sistema que

segue a ideacuteia evolucionista na disposiccedilatildeo geral de suas classes as quais procuram

sempre seguir a ordem natural das coisas e acontecimentos Cada aspecto de cada

assunto aparece na mesma ordem que segundo a teoria evolucionista teria aparecido

na criaccedilatildeo vai do simples para o complexo Como exemplo cita-se a Zoologia que vai

dos protozoaacuterios para os primatas terminando com a Antropologia (MANN 1962 p 97

SOUZA J S 1952 p 70)

443 Construccedilatildeo

A ideacuteia baacutesica do sistema consiste em uma organizaccedilatildeo de extensatildeo

crescente (expansiva) com sete tabelas classificatoacuterias separadas A primeira delas

(quadro 32) eacute muito simples e soacute aplicaacutevel a pequenas bibliotecas ela consiste em

dez classes e natildeo compreende subdivisotildees

182 CUTTER C A Expansive classification Boston [sn] 1891 A expressatildeo classificaccedilatildeo expansiva adveacutem dos diversos esquemas desenvolvidos gradualmente para dar conta das diversas fases de desenvolvimento da biblioteca

184

CLASSES AcircMBITO A Obras gerais e de referecircncia B Filosofia e Religiatildeo E Ciecircncias histoacutericas F Histoacuteria G Geografia e Viagens H Ciecircncias Sociais L Ciecircncias e Artes Belas Artes X Filologia (com notaccedilatildeo auxiliar a indicar a liacutengua a que o assunto se refere) Y Literatura (com notaccedilatildeo auxiliar a indicar a liacutengua e o gecircnero)

Ex YY - Literatura norteamericana em liacutengua inglesa YYP - Poesia norteamericana em liacutengua inglesa

YF Ficccedilatildeo QUADRO 32 - CLASSES PRINCIPAIS DA PRIMEIRA TABELA DE CUTTER FONTE Phillips (1961 p 84)

A sexta tabela ou expansatildeo (quadro 33) eacute a mais completa conteacutem vinte e seis divisotildees (classes) e apresenta numerosas subdivisotildees (os seis primeiros sistemas foram publicados juntos em Boston com um iacutendice relativo comum sob o tiacutetulo Expansive Classification the First Six Classification em 1893) Cutter morreu quando estava terminando a sua seacutetima tabela em 1903 e as classes jaacute concluiacutedas foram publicadas sob a supervisatildeo do seu filho W P Cutter (MIKSA 1980 p 169-170 PENNA 1960 p 172 SAN SEGUNDO MANUEL1996 p 87-88)

CLASSES AcircMBITO A Obras gerais B Filosofia Religiatildeo C Cristianismo Judaiacutesmo D Ciecircncias Histoacutericas E Bibliografia F Histoacuteria G Geografia Viagens H Ciecircncias Sociais I Sociologia J Administraccedilatildeo Puacuteblica Governo etc K Legislaccedilatildeo L Ciecircncias Artes M Histoacuteria Natural N Botacircnica O Zoologia P Vertebrados Q Medicina R Artes Aplicadas Tecnologia S Construccedilotildees Engenharia Edificaccedilatildeo T Ofiacutecios Manufaturas U Arte Ciecircncias Militares V Atletismo Arte Recreativa W Belas Artes X Linguagem Y Literatura Z Arte do Livro Bibliografia Biblioteconomia

QUADRO 33 - CLASSES PRINCIPAIS DA SEXTA TABELA DE CUTTER FONTE San Segundo Manuel (1996 p 87-88)

185

A notaccedilatildeo da EC183 eacute breve e simples consiste no emprego de letras do

alfabeto latino fazendo uso de maiuacutesculas para as classes principais e para as

subdivisotildees empregam-se letras maiuacutesculas de tamanho mais reduzido as quais

seguindo um desenvolvimento mnemocircnico satildeo as proacuteprias iniciais dos termos em

inglecircs Existem subdivisotildees de forma (19) e auxiliares de lugar cujas notaccedilotildees satildeo

numeacutericas e servem para fazer subdivisotildees nas aacutereas de Geografia Histoacuteria Liacutengua

e Literatura e outras Por exemplo o assunto ldquoBibliografia dos museus brasileirosrdquo

ao ser analisado revela o que segue

Anaacutelise do conceito Museus - Brasil - Bibliografia

Siacutembolos da EC A (Obras gerais) 99 2

(classe) (auxiliar de lugar) (subdivisatildeo de forma)

AM (Museus)

(subdivisatildeo da classe A)

Notaccedilatildeo AM992

Levando em consideraccedilatildeo que F representa Histoacuteria W Pintura e 83 os

Estados Unidos a notaccedilatildeo F83 aplica-se agrave Histoacuteria dos Estados Unidos e WP83 agrave

pintura norteamericana

Da mesma maneira como na CDD a noccedilatildeo de categoria emerge por meio das

subdivisotildees de forma e dos auxiliares comuns

A grande transcendecircncia desse sistema aleacutem do seu valor histoacuterico e de

haver sido projetado para bibliotecas pequenas e escolares estaacute no seu emprego na

Biblioteca do Congresso (LC) jaacute que exerceu grande influecircncia na Classificaccedilatildeo da

Biblioteca do Congresso (LCC) cujas classes principais satildeo muito similares agraves do

sistema de Cutter

45 CLASSIFICACcedilAtildeO DA BIBLIOTECA DO CONGRESSO (LCC - 1902)

A histoacuteria os princiacutepios a construccedilatildeo e a revisatildeo da Classificaccedilatildeo da

Biblioteca do Congresso satildeo tratados nas subseccedilotildees que seguem

451 Histoacuteria

A Library of Congress (LC) a Biblioteca do Congresso foi fundada por ato do

Congresso americano em janeiro de 1802 (com uma coleccedilatildeo de 740 livros

adquiridos pelo Senador Samuel Dexter nos anos anteriores) e em abril o 183 O esquema conta com um iacutendice alfabeacutetico que remete agrave notaccedilatildeo

186

bibliotecaacuterio John Beckley estava apto a publicar o primeiro cataacutelogo no qual o

arranjo das estantes era por tamanho

Em 1812 uma abordagem de assunto foi aplicada pela primeira vez agrave

coleccedilatildeo a classificaccedilatildeo usada sendo a da Library Company of Philadelphia uma

biblioteca de pesquisa independente Essa classificaccedilatildeo baseou-se numa adaptaccedilatildeo

do sistema de Bacon usado na Encyclopeacutedie de Diderot e drsquoAlembert A LC usava

somente 18 das 31 classes principais da Philadelphia e cada classe de livros era

subdividida por tamanho e arranjada alfabeticamente Em 1814 a LC foi incendiada

pelos britacircnicos e a maioria da coleccedilatildeo perdida Thomas Jefferson oferece ao

Congresso a sua coleccedilatildeo organizada por um sistema proacuteprio de 44 classes

principais novamente embasada na classificaccedilatildeo de BacondrsquoAlembert e em 1815 o

Congresso compra a coleccedilatildeo O desenvolvimento da Library of Congress Classification

(LCC) Classificaccedilatildeo da Biblioteca do Congresso pode ser traccedilado desde o final do

seacuteculo XIX mais precisamente a partir de 1897 quando se comeccedilou a discutir um

plano de reorganizaccedilatildeo de todo o acervo da LC tendo em vista a construccedilatildeo da

nova biblioteca Em 1899 Herbert Putman (novo bibliotecaacuterio da LC) e equipe

encarregados do projeto consideraram a adoccedilatildeo de um novo esquema

classificatoacuterio jaacute que na eacutepoca estavam disponiacuteveis sistemas classificatoacuterios

bibliograacuteficos em adiccedilatildeo a esquemas filosoacuteficos como o de Bacon Os esquemas

considerados foram Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey Classificaccedilatildeo Expansiva de

Cutter e o Esquema Halle de Hartwig (Hartwigrsquos Halle Schema utilizado na biblioteca

da universidade alematilde de Halle) Dessas diferentes possibilidades a Classificaccedilatildeo

Expansiva de Cutter foi escolhida por ser a mais apropriada para as necessidades

do Congresso e porque Cutter mostrou mais disposiccedilatildeo do que os outros dois

compiladores a fazer modificaccedilotildees em seu sistema para acomodar a Library of

Congress A CDD foi rejeitada sob o argumento de que era um lsquosistema limitado e

feito para acomodar a notaccedilatildeo e natildeo a notaccedilatildeo se acomodar agrave classificaccedilatildeorsquo Em

1901 uma decisatildeo eacute tomada e o objetivo inicial eacute mudado de ldquoencontrar a melhor

soluccedilatildeo para a coleccedilatildeo e natildeo criar uma nova classificaccedilatildeordquo para ldquodesenvolver um

novo sistema de classificaccedilatildeo especificamente para a LCrdquo Estaacute claro um seacuteculo

mais tarde que a Classificaccedilatildeo Expansiva teve uma consideraacutevel influecircncia no novo

esquema - principalmente na ordem das classes - e que a nova classificaccedilatildeo teve

ampla difusatildeo (BROUGHTON 2004 p 144)

A LCC eacute incomum entre os esquemas gerais porque ela foi originalmente

187

concebida para uma biblioteca uacutenica184 sem expectativa de vir a ser usada em

qualquer outra Entretanto desde as guerras mundiais principalmente desde a

Segunda Guerra Mundial muitas bibliotecas americanas decidiram mudar para a LCC

alegando a sua crescente popularidade entre bibliotecas universitaacuterias e de colleges

Um forte fator na decisatildeo de adaptar as suas coleccedilotildees a uma nova classificaccedilatildeo foi

tambeacutem a possibilidade de fazer uso do serviccedilo de fichas da LC evitando o trabalho de

recatalogaccedilatildeo dos livros nas diferentes bibliotecas Houve um esforccedilo para mostrar que

a mudanccedila se justificava natildeo soacute pelo aspecto praacutetico dos custos mas tambeacutem por ser

teoricamente aceitaacutevel e rigorosa Com o tempo transformou-se num dos trecircs

esquemas dominantes no mundo ocidental A fragilidade do esquema estaacute na carecircncia

de alguma conexatildeo maior entre as classes natildeo haacute facetas comuns nem iacutendice geral

Isso costuma ser superado pelo bibliotecaacuterio que usa a Lista de Cabeccedilalhos de

Assunto da LC uma praacutetica frequentemente inevitaacutevel poreacutem natildeo muito segura

A LCC eacute mais aplicada a grandes coleccedilotildees de bibliotecas universitaacuterias e

nacionais ainda que ela seja a escolha preferida de inuacutemeras bibliotecas puacuteblicas ou

escolares principalmente nos Estados Unidos sendo largamente utilizada nos Estados

Unidos Canadaacute Austraacutelia e Gratilde-Bretanha

452 Princiacutepios

Eacute difiacutecil discernir qualquer princiacutepio teoacuterico na LCC a despeito dela

apresentar algumas caracteriacutesticas distintas eacute uacutenica por ser uma classificaccedilatildeo

desenvolvida tendo somente uma coleccedilatildeo em mente e eacute fundamentada na maior

coleccedilatildeo de livros do mundo Eacute evidente que ela natildeo almeja uma organizaccedilatildeo

sistemaacutetica do saber Pretende tatildeo somente ser uma ferramenta para uma

organizaccedilatildeo praacutetica das obras da LC - primazia da praacutetica sobre a sistematizaccedilatildeo A

sua estrutura eacute ditada pela organizaccedilatildeo da biblioteca e natildeo por consideraccedilotildees

teoacutericas Esse aspecto pragmaacutetico retoma o ideaacuterio de Dewey Isso significa que na

LCC as consideraccedilotildees satildeo em relaccedilatildeo a grupos de livros e natildeo a grupos de

assuntos ou seja existe a primazia dos livros sobre as disciplinas Tal fato eacute visiacutevel

na construccedilatildeo das tabelas da LCC A ordem alfabeacutetica eacute usada excessivamente o

que eacute um reflexo da preocupaccedilatildeo americana com palavras em oposiccedilatildeo agrave

classificaccedilatildeo de conceitos (relembrando a corrente do nominalismo) e eacute uma

184 A LC biblioteca que congrega dois grandes objetivos ser a Biblioteca Nacional e a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos

188

desvantagem particularmente no uso de tecnologias A LCC estaacute frequentemente

mais preocupada com localizaccedilatildeo nas estantes e natildeo com classificaccedilatildeo ou

recuperaccedilatildeo de informaccedilatildeo

453 Construccedilatildeo

O esquema segue aproximadamente as classes principais de Cutter exceto

para Artes que se encontra no meio do esquema em vez de no fim Pouca atenccedilatildeo

eacute dada agrave ordem das classes principais visto que a LC eacute completamente

departamentalizada Cada classe eacute trabalhada separadamente a vantagem eacute que o

esquema acomoda bem literatura de imaginaccedilatildeo (ficccedilatildeo) e as necessidades

potenciais de usuaacuterios boa para grandes bibliotecas com poderosas coleccedilotildees

Observa-se que as criacuteticas os problemas de construccedilatildeo e necessidades de

adaptaccedilatildeo para muitas bibliotecas que tecircm adotado a LCC satildeo irrelevantes para a

LC tendo em vista que o esquema foi concebido para determinada biblioteca

A LCC conta com 21 classes principais que vatildeo de A a Z (quadro 34) e a

sequecircncia de ordenaccedilatildeo da LC iniciada pelas Humanidades seguida das Ciecircncias

Sociais reflete naturalmente a sua origem de especialidade em legislaccedilatildeo e aacutereas afins

Quando a LC incorporou a coleccedilatildeo pessoal do presidente Thomas Jefferson depois do

incecircndio expandiu o seu acervo para Artes Ciecircncia e Tecnologia

A General Works B Philosophy Psychology Religion C Auxiliary Sciences of History D History (General) and History of Europe E History America (General) F History America (EEUU) G Geography Anthropology Recreation H Social Sciences J Political Science K Law L Education M Music and Books on Music N Fine Arts P Language and Literature Q Science R Medicine S Agriculture T Technology U Military Science V Naval Science Z Bibliography Library Science Information

Resources (General) QUADRO 34 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DA BIBLIOTECA DO CONGRESSO FONTE Batley (2005 p 60-69)

189

Segundo vaacuterios autores entre eles Maniez (1993 p 114) Penna (1960 p

174) San Segundo Manuel (1996 p 93) e Serrai (1977 p 281) a LCC eacute efetiva

expansiva e permite grande atualizaccedilatildeo Poreacutem as suas classes desde a sua

criaccedilatildeo estatildeo impregnadas de valores conceitos e toacutepicos americanos (o que

coloca os Estados Unidos no centro do universo185) ela eacute pouco sistemaacutetica e o seu

esquema enumerativo resulta em rigidez e falta de hospitalidade O sistema estaacute

composto de classificaccedilotildees especiacuteficas para cada mateacuteria e entre elas natildeo existe

conexatildeo A independecircncia de cada grupo temaacutetico geral eacute grande pois desde o

projeto primitivo equipes especializadas trabalham isoladamente (o que explica o

fraco grau de inter-relacionamaento entre classes) e publicam suas tabelas de modo

totalmente independente As vaacuterias classes do esquema devem ser consideradas

separadamente como um esquema individual mas com a ampla garantia literaacuteria

(literary warrant) de todos Assim um assunto (disciplina classe) pode estar sendo

publicado em sua deacutecima ediccedilatildeo enquanto outros estariam em suas terceiras ou

quartas ediccedilotildees

Cabe frisar que natildeo se trata de um sistema classificatoacuterio conjunto e unitaacuterio

ao contraacuterio eacute um conjunto ou seacuterie de classificaccedilotildees amplas e especiais que natildeo

constituem em consequecircncia um compecircndio de disciplinas do conhecimento ou

seja o sistema eacute composto de classificaccedilotildees especiacuteficas para cada disciplina entre

as quais natildeo existem interconexotildees Inclusive as divisotildees (de forma) que trazem de

modo subjacente a noccedilatildeo de faceta e de categoria satildeo proacuteprias de cada classe o

que torna o esquema muito volumoso

454 Revisatildeo

A Cataloging Services Division da LC eacute responsaacutevel pela manutenccedilatildeo e

administraccedilatildeo geral da classificaccedilatildeo sendo uma enorme publicaccedilatildeo multi-volumes -

volumes individuais que satildeo atualizados quando necessaacuterio Em 2002 surgiu a

Classweb uma versatildeo online da LCC que convive com a versatildeo impressa

Alteraccedilotildees e adiccedilotildees agrave classificaccedilatildeo satildeo documentadas no Cataloging Services

Bulletin e incorporadas na Classweb (httpwwwlocgov)

185 A CDD padece do mesmo mal

190

46 CLASSIFICACcedilAtildeO DE ASSUNTOS DE BROWN (BSC - 1906)

A histoacuteria os princiacutepios a construccedilatildeo e a revisatildeo da Brown

Subject Classification (BSC) Classificaccedilatildeo de Assuntos de Brown satildeo tratados nas

subseccedilotildees que seguem

461 Histoacuteria

A Classificaccedilatildeo de Brown foi primeiramente publicada em 1906 e representou

a culminacircncia de um interesse que datava do iniacutecio de 1890 quando o bibliotecaacuterio

britacircnico James Duff Brown (1861-1914) estava preparando a introduccedilatildeo do sistema

de livre-acesso em Clerkenwell Brown fez duas tentativas antes de compilar a

Brown Subject Classification (Classificaccedilatildeo de Assuntos ou Classificaccedilatildeo Temaacutetica)

Em 1894 a Quinn-Brown Classification foi publicada em colaboraccedilatildeo com John

Henry Quinn seguida pela Adjustable Classification (Classificaccedilatildeo Ajustaacutevel ou

Adaptaacutevel) em 1898 A uacuteltima foi desenvolvida a partir do esquema Quinn-Brown e

as classes principais e divisotildees visavam tatildeo somente atender as necessidades das

pequenas bibliotecas municipais da Inglaterra (LANDAU 1958 p 292)

Stewart (1914 p 239-242) fala da preocupaccedilatildeo de Brown em 1897 com a

grande perda de eficiecircncia das bibliotecas em razatildeo da inadequaccedilatildeo dos arranjos de

livros existentes A classificaccedilatildeo de Dewey tornava-se cada vez mais popular

embora houvesse reclamaccedilotildees que o esquema dava excessiva ou inapropriada

proeminecircncia agraves caracteriacutesticas e feitos americanos Brown decidiu construir um

esquema simples loacutegico e praacutetico que viesse ao encontro das necessidades das

bibliotecas britacircnicas de todos os tipos e tamanhos (BROWN 1906 Preface)

462 Princiacutepios A Classificaccedilatildeo de Assuntos surgiu como uma reaccedilatildeo ao esquema de

classificaccedilatildeo de Dewey Iniciou portanto a partir de uma negaccedilatildeo A ideacuteia principal eacute

que os assuntos (as classes) satildeo concretos As subdivisotildees de um assunto satildeo

aspectos desse concretismo (primazia do que eacute concreto) e satildeo tratadas numa

combinaccedilatildeo de esquemas principais e tabelas categoriais o que permite o uso de

indicador de faceta (+) para ligar dois assuntos coordenados A ideacuteia de tabelas

categoriais estaacute sintonizada com a Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo (cf subseccedilatildeo 41)

ou seja com a ideacuteia de conferir autonomia ao classificador para fazer as combinaccedilotildees

do que ele considera ser os assuntos O grande problema estaacute na carecircncia de meacutetodos

191

de combinaccedilatildeo autorizados A ideacuteia de Brown de divisotildees artificiais entre assuntos

teoria e aplicaccedilatildeo eacute uma das maiores deficiecircncias do esquema

Brown natildeo defendeu qualquer teoria para o seu esquema de classificaccedilatildeo mas

defendia certos princiacutepios de classificaccedilatildeo razatildeo pela qual natildeo deve ser totalmente

ignorado no estudo da Classificaccedilatildeo

a) colocaccedilatildeo da teoria antes da praacutetica pela disposiccedilatildeo das ciecircncias

junto da qual elas derivam

b) inclusatildeo de toacutepicos que permeiam todo o conhecimento na classe

Generalidade por exemplo Educaccedilatildeo A100 e Loacutegica e Matemaacutetica

A400 satildeo consideradas ciecircncias que estatildeo presentes no

conhecimento em geral e precedem as ciecircncias que satildeo aplicaccedilotildees

dessas

c) teoria do lugar uacutenico (one place theory) a qual recomenda que

somente um lugar deve existir para um assunto assim o nuacutemero para

cafeacute no iacutendice eacute E917 e esta notaccedilatildeo deve reunir tudo o que se

relaciona a cafeacute natildeo importando ponto de vista forma ou outra

qualificaccedilatildeo186

d) uma tabela de categorias (detalahada a seguir) e formas para a

subdivisatildeo dos assuntos

e) um iacutendice de lugar uacutenico com uma chave alfabeacutetica separada para

as tabelas categoriais

f) classificaccedilatildeo de livros de assuntos compostos (vaacuterios assuntos) pela

reuniatildeo das classes por meio do sinal de adiccedilatildeo (+) por exemplo

Loacutegica e Retoacuterica A300 + M170

g) a sequecircncia das classes principais segue a ordem do agrupamento

mais amplo ou geneacuterico 1 Mateacuteria 2 Vida 3 Mente e 4 Registro

Na introduccedilatildeo do seu esquema Brown relata que rdquocada classe eacute arranjada

tanto quanto possiacutevel for mantecirc-la em uma ordem sistemaacutetica de progressatildeo

cientifica enquanto aplicaccedilotildees diretamente derivadas de uma ciecircncia ou outra base

186 Foi com base nesse princiacutepio que Brown afirmou que todos os trabalhos relativos a um assunto simples deviam permanecer juntos e justapostos a outros trabalhos livros ou toacutepicos a ele relacionados Estava convencido de que as principais divisotildees do esquema de classificaccedilatildeo satildeo suscetiacuteveis de muitas mudanccedilas mas o assunto especiacutefico natildeo deve mudar assumindo portanto no seu esquema a relatividade dos sistemas de classificaccedilatildeo Esse novo meacutetodo de uniatildeo de todos os aspectos de um assunto em um lugar possibilitou a negaccedilatildeo do meacutetodo da classificaccedilatildeo feita por especialistas

192

teoacuterica satildeo embasadas naquela ciecircncia ou baserdquo As palavras significativas satildeo ldquotanto

quanto possiacutevel for mantecirc-lardquo (BROWN 1906 Introduction p 11) pois Brown deixa

de lado todas as outras consideraccedilotildees para preservar essa progressatildeo cientiacutefica

Muacutesica segue Acuacutestica extintores de incecircndio e equipamentos para fogo

tornam-se uma divisatildeo de Calor sateacutelites satildeo derivados da Meteorologia enquanto

briga de buacutefalo e corrida de cachorro satildeo partes da Biologia Brown sofreu criacuteticas

por levar essa teoria a extremos mas eacute inegaacutevel o valor dos seus princiacutepios agrave

classificaccedilatildeo

As falhas mais seacuterias na subdivisatildeo de classes satildeo a inutilidade da ordem em

Ciecircncia Poliacutetica e Social a rejeiccedilatildeo de um consenso na construccedilatildeo da classe

Generalidade e o arranjo alfabeacutetico de Poesia Drama e Ensaios

A notaccedilatildeo consiste de letras capitais A-X seguidas por nuacutemeros 000-999 Um

sinal de pontuaccedilatildeo () age como um dispositivo de separaccedilatildeo

A tabela categorial consiste de uma lista de formas fases pontos de vista e

qualificadores para as subdivisotildees de assuntos Os seus nuacutemeros vatildeo de 0

(Generalidades) a 975 (Ocidente) e Brown alega que ela se aplica mais ou menos a

todo assunto ou subdivisatildeo de um assunto Para Butcher (1971 p 369) esse

procedimento eacute confuso ambiacuteguo impreciso e desnorteante pois muitos nuacutemeros

categoriais satildeo supeacuterfluos na praacutetica e natildeo podem ser razoavelmente combinados

com alguns nuacutemeros de assuntos enquanto existe o perigo de adicionar de maneira

prematura partes componentes ou elementos em uma composiccedilatildeo quando o passo

fundamental na divisatildeo ainda natildeo foi feito Outra desvantagem da tabela eacute que em

alguns casos mais do que um nuacutemero categorial eacute necessaacuterio Isso leva a notaccedilotildees

confusas e longas

Brown tentou construir um esquema de classificaccedilatildeo que reunisse tudo

relativo a um assunto em um lugar constante ou infaliacutevel Por causa desse princiacutepio

a rede de relaccedilotildees eacute relegada a uma significaccedilatildeo secundaacuteria e a chance de distribuir

relaccedilotildees no iacutendice eacute pequena O iacutendice da BSC registra todas as palavras dos

assuntos que ocorrem nas tabelas e muitos sinocircnimos Tambeacutem age como um guia

para alguns toacutepicos natildeo-numerados tais como eventos histoacutericos em paiacuteses de

regime monaacuterquico O criteacuterio essencial para usar o iacutendice de Brown eacute conhecer o

seu ponto de vista a respeito do princiacutepio de subordinaccedilatildeo universal como por

exemplo Arquitetura ser um assunto concreto tangiacutevel soacutelido fiacutesico material real

precedido pela Matemaacutetica

193

Natildeo haacute literalmente recursos mnemocircnicos no esquema de Brown e a ajuda

da memoacuteria deriva principalmente de caracteriacutesticas sinteacuteticas tais como nuacutemeros

categoriais e de paiacuteses (nacionais)

Segundo Butcher (1971 p 369) natildeo seria absurdo dizer que a BSC reflete as

limitaccedilotildees da abordagem de Brown para a classificaccedilatildeo bibliograacutefica Ele era

essencialmente um homem praacutetico com uma tendecircncia agrave improvisaccedilatildeo e possuidor

de uma determinaccedilatildeo poderosa para resolver qualquer problema que despertasse a

sua atenccedilatildeo O seu envolvimento no campo da classificaccedilatildeo emanou de

consideraccedilotildees praacuteticas e ele acreditava que os pontos que ele advogava isto eacute

localizaccedilatildeo uacutenica aproximccedilatildeo da teoria com a sua aplicaccedilatildeo e um iacutendice simples

livraria os bibliotecaacuterios das dificuldades associadas ao arranjo de livros

Pode-se dizer que Brown em alguma medida foi bem sucedido em alguma

medida em seu tempo desenvolveu uma classificaccedilatildeo bibliograacutefica sistemaacutetica

tentou simplificar o trabalho profissional da classificaccedilatildeo de livros demonstrou a

possibilidade de caracteriacutesticas sinteacuteticas promoveu uma efetiva notaccedilatildeo mista e

focou a sua atenccedilatildeo na necessidade de esquemas que respeitassem o consenso

comum e o obedecessem Apesar de o esquema estar fortemente influenciado pelo

pensamento intelectual do periacuteodo a enumeraccedilatildeo limitada de compostos (partes

combinadas) antecipou o desenvolvimento da anaacutelise em facetas e revelou uma

tentativa de agrupamento contribuindo com novos meacutetodos de organizaccedilatildeo para a

Teoria da Classificaccedilatildeo

463 Construccedilatildeo

Na construccedilatildeo do seu esquema Brown foi guiado pela experiecircncia praacutetica que

ele ganhou na preparaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo dos esquemas Quinn-Brown e Ajustaacutevel mas

eacute provaacutevel que ele tenha sido influenciado pelo esquema de Dewey e pelos escritos

de Paul Otlet sobre classificaccedilatildeo

A ordem das classes principais eacute embasada em MATEacuteRIA VIDA MENTE e

REGISTRO (Matter Life Mind Record) ou seja o esquema de Brown agrupa os termos

pelas categorias conceituais ldquoMateacuteria e Forccedilardquo ldquoVidardquo ldquoMenterdquo ldquoRegistrordquo e ordena-os de

maneira a mostrar suas relaccedilotildees geneacutericas Com esse procedimento Brown pretende

colocar cada tema o mais proacuteximo possiacutevel da ciecircncia que o fundamenta (SAN

SEGUNDO MANUEL 1996 p 93) Tal esquema tem como base evitar a designaccedilatildeo de

um lugar concreto para cada livro (como faz a classificaccedilatildeo decimal) o que eacute substituiacutedo

por uma certa ordem de classes e uma certa ordem loacutegica (quadro 35)

194

TABLE OF MAIN CLASSES

ORDEM DE CLASSES ORDEM LOacuteGICA A Generalia Generalidade B-D Physical Science MATTER AND FORCE Ciecircncias Fiacutesicas MATEacuteRIA E FORCcedilA E-F Biological Science LIacuteFE Ciecircncias Bioloacutegicas VIDA G-H Ethnological and Medical Science Ciecircncias Meacutedicas e Etnoloacutegicas I Economic Biology and Domestic Arts Biologia Econocircmica e Artes Domeacutesticas J-K Philosophy and Religion MIND Filosofia e Religiatildeo MENTE L Social and Political Science Ciecircncias Sociais e Poliacuteticas M Language and Literature RECORD Liacutengua e Literatura REGISTRO N Literary Forms Gecircneros Literaacuterios O-W History Geography Histoacuteria Geografia X Biography Biografia

QUADRO 35 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DE ASSUNTOS DE BROWN FONTE Landau (1958 p 292) Butcher (1971 p 368)

A notaccedilatildeo das classes principais eacute alfabeacutetica de A a X exceccedilatildeo agrave letra Y e agrave Z

que natildeo satildeo usadas A subdivisatildeo dessas classes eacute numeacuterica de 000 a 999 (PHILLIPS

1961 p 124) Por exemplo

Manual da Constituiccedilatildeo de 1918

Ciecircncias Sociais e Poliacuteticas L (classe principal)

Constituiccedilotildees 202 (subdivisatildeo da classe principal L)

Manual 3 (subdivisatildeo de forma)

1918 sa (subdivisatildeo cronoloacutegica)

Notaccedilatildeo L2023sa

As classes compreendidas entre O e W ou seja a Histoacuteria e a Geografia satildeo

representadas acrescentando-se o nuacutemero 10 para indicar Histoacuteria e o 23 para indicar

Geografia Existem ainda subdivisotildees geograacuteficas com uma notaccedilatildeo alfanumeacutercia por

exemplo

Geografia da Europa

O-W (classes principais de Histoacuteria e Geografia)

Q000 (subdivisatildeo geograacutefica Europa)

195

23 (Geografia)

Notaccedilatildeo Q00023

Histoacuteria da Inglaterra de 1900

O-W (classes principais de Histoacuteria e Geografia)

U301 (subdivisatildeo geograacutefica Inglaterra)

10 (Histoacuteria)

ri(subdivisatildeo cronoloacutegica 1900)

Notaccedilatildeo U30110ri

Observa-se no quadro 35 que para Brown categorias satildeo macroestruturas

utilizadas na agregaccedilatildeo das classes principais da BSC Satildeo onze classes principais

distribuiacutedas segundo quatro categorias Mateacuteria e Forccedila (representadas pela Fiacutesica)

Vida (representada pelas Ciecircncias Bioloacutegicas) Mente (representada pela Filosofia

Religiatildeo Ciecircncias Sociais e Poliacuteticas) e Registro (representado por Liacutengua

Literatura Formas Literaacuterias Histoacuteria Geografia e Biografia) A base do sistema da

BSC segue a ordem do aparecimento das coisas no tempo a Mateacuteria e a Forccedila geram

a Vida essa produz Inteligecircncia e a Inteligecircncia o Registro dos fatos (PHILLIPS 1961

p 110-111) Em 1651 na classificaccedilatildeo filosoacutefica dos seres de Hobbes havia uma

loacutegica desse tipo segundo a qual o ser da mateacuteria (Mateacuteria e Forccedila) se revela na sua

extensatildeo (Vida ou realidade do corpo e da mente) e no seu movimento (Registro ou

espaccedilo e tempo como reflexos do movimento)

Esse conceito de categoria coincide com antigos conceitos filosoacuteficos (cf nota

90) O que Brown chama de categoria pode ser considerado como uma agregaccedilatildeo

particular de grandes classes Percebe-se que Brow equipara o conceito de categoria

ao de classe maior

Embora prevaleccedilam as consideraccedilotildees de ordem praacutetica e utilitaacuteria (cf

Butcher p 192 193194) pode-se dizer que a sequecircncia de ordenaccedilatildeo do esquema

de classificaccedilatildeo de Brown estaacute na mesma linha de raciociacutenio que embasou o

esquema de Dewey Inicia pelas Ciecircncias Fiacutesicas e Bioloacutegicas seguidas das

Ciecircncias Humanas e Sociais terminando nos Registros do conhecimento ou seja

nas diferentes maneiras de expressatildeo humana Assim sendo o que acaba por

justificar a introduccedilatildeo de Brown na discussatildeo das classificaccedilotildees bibliograacuteficas

claacutessicas eacute a semelhanccedila com o sistema de Dewey ou seja o pragmatismo

196

464 Revisatildeo

A Classificaccedilatildeo de Brown teve trecircs ediccedilotildees a primeira em 1906 a segunda

ediccedilatildeo do esquema revisada por Brown foi publicada logo apoacutes a sua morte em

1914 e a terceira ediccedilatildeo editada por J D Stewart apareceu em 1939 e incluiacutea

mudanccedilas e alteraccedilotildees sugeridas por bibliotecaacuterios de vaacuterias instituiccedilotildees do Reino

Unido que ainda usavam o esquema

A Classificaccedilatildeo de Assuntos desapareceu como classificaccedilatildeo praacutetica mesmo

nas bibliotecas em que foi introduzida pelo proacuteprio Brown Natildeo houve qualquer

interesse em escrever uma Teoria da Classificaccedilatildeo que fornecesse a base de

qualquer meacutetodo escolhido por Brown para o seu esquema

Eacute interessante notar que um esquema desenhado para uso praacutetico

permanece de interesse principalmente para propoacutesitos teoacutericos ou acadecircmicos

47 CLASSIFICACcedilAtildeO DOS DOIS PONTOS (CC - 1933)

A histoacuteria os princiacutepios a construccedilatildeo e a revisatildeo da Colon Classification

(CC) Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos satildeo tratados nas subseccedilotildees que seguem

471 Histoacuteria

A Colon Classification (CC) ou Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos elaborada por

Shiyali Ramamrita Ranganathan (1892-1972) quando retorna agrave India depois do

periacuteodo de estudos com Berwick Sayers na Inglaterra estudos fundamentados na

Teoria da Classificaccedilatildeo que tinha por suporte a loacutegica aristoteacutelica constitui o primeiro

sistema de classificaccedilatildeo bibliograacutefica geral embasado no princiacutepio analiacutetico-sinteacutetico

(esquema facetado ou de anaacutelise187 por facetas) o que significou uma revoluccedilatildeo na

construccedilatildeo de esquemas classificatoacuterios tornando-se um marco histoacuterico na Teoria da

Classificaccedilatildeo A CC foi primeiramente concebida em 1924 e publicada em 1933 pela

Madras Library Association Por volta dos anos 50 do seacuteculo XX Ranganathan obteacutem

o reconhecimento internacional para o seu sistema de classificaccedilatildeo Segundo Satija e

Singh (1993 preface) no iniacutecio de sua implantaccedilatildeo houve uma total rejeiccedilatildeo da

classificaccedilatildeo facetada por parte dos Estados Unidos mas ao longo do tempo

verificou-se que a anaacutelise por facetas passou a exercer uma influecircncia consideraacutevel

187 O uso do termo anaacutelise eacute um substituto para o uso do antigo termo divisatildeo porque divisatildeo implica a quebra de uma entidade elementar enquanto o termo anaacutelise tem uma conotaccedilatildeo de grande extensatildeo e pode ser aplicado ao estudo de entidades complexas

197

natildeo soacute nas revisotildees e modernizaccedilotildees da CDD como tambeacutem na teoria e praacutetica da

classificaccedilatildeo na Gratilde-Bretanha Ruacutessia China Yugoslaacutevia Dinamarca entre outros Na

Iacutendia a CC eacute de fato o sistema de classificaccedilatildeo nacional

O CRG declarou que iniciava para a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo a era da

classificaccedilatildeo facetada (CLASSIFICATION 1955 p 262-268)

A CC natildeo era um esquema derivado hierarquicamente mas um conjunto de

tabelas independentes que podiam ser usadas em combinaccedilatildeo para subdividir os

assuntos A diferenccedila baacutesica entre uma classificaccedilatildeo facetada e uma meramente

enumerativa eacute que na facetada os termos satildeo enumerados listados detalhados

especificados catalogados como termos elementares e natildeo satildeo combinados formando

termos complexos para inserccedilatildeo nas listas do esquema (FOSKETT A C1972)

A fim de encontrar uma base teoacuterica para a escolha e sequecircncia de facetas

no esquema Ranganathan encontrou a soluccedilatildeo ao relacionar o termo facetas a um

conjunto de noccedilotildees abstratas fundamentais que chamou de categorias time space

energy matter e personality (PMEST)188 Cada faceta de uma classe baacutesica eacute

considerada como uma manifestaccedilatildeo concreta de uma dessas categorias Natildeo haacute

duacutevida de que essas categorias fundamentais satildeo facilmente identificaacuteveis em

alguns assuntos e particularmente em Ciecircncia e Tecnologia Desafortunadamente

natildeo eacute tatildeo faacutecil a sua aplicaccedilatildeo nas Ciecircncias Sociais e nas Humanidades189 O CRG

188 Conforme Vickery (1958 apud GROLIER 1962 p 49) pode-se identificar a categoria personalidade agrave ideacuteia de substacircncia aristoteacutelica Para Grolier no entanto em personalidade satildeo tratados os objetos de estudo de uma disciplina determinada tal como eles servem comumente de base agrave divisatildeo tradicional dessa disciplina ou como a CC considera como mais praacutetica Segundo o seu ponto de vista a personalidade natildeo eacute assim considerada como tendo valor teoacuterico mas como constituindo uma simples etiqueta colocada sobre as caracteriacutesticas das coisas de modo mais ou menos arbitraacuterio para constituir as divisotildees hieraacuterquicas de primeiro niacutevel numa classificaccedilatildeo que procura exprimir diferentes pontos de vista mas que admite como indispensaacutevel a existecircncia de uma ordem fixa e imutaacutevel entre os seus elementos Segundo Grolier as divisotildees sob personalidade nas diversas classes principais da CC mostram que se trata apenas de uma racionalizaccedilatildeo a posteriori de um meacutetodo absolutamente praacutetico (GROLIER 1962 p49) A categoria energia trata geralmente de problemas e accedilotildees diferentemente manifestadas conforme as classes de assunto em que ocorrem por exemplo em Mecacircnica diz respeito ao movimento ao equiliacutebrio agrave vibraccedilatildeo jaacute em Astronomia refere-se agrave cronologia geodeacutesia cosmogonia entre outras Em Fiacutesica diz respeito a problemas como por exemplo radiaccedilatildeo propagaccedilatildeo dispersatildeo etc A terceira categoria geral eacute mateacuteria e diz respeito aos materiais de construccedilatildeo constituiccedilatildeo como por exemplo a mateacuteria de que satildeo feitas as esculturas em Artes ou os instrumentos na Muacutesica As categorias tempo e espaccedilo tratam respectivamente de divisotildees temporais e geograacuteficas tanto distribuiacutedas pelas classes de assunto como fazendo parte de uma tabela em separado 189 A faceta tempo eacute para divisatildeo cronoloacutegica a faceta espaccedilo eacute para divisatildeo geograacutefica e podem ser encontradas virtualmente em todos os sistemas de classificaccedilatildeo Energia e mateacuteria natildeo satildeo tatildeo facilmente identificaacuteveis em alguns assuntos e personalidade tem causado mais dificuldades e controveacutersias do que qualquer outra categoria fundamental Para Ranganathan eacute a mais importante categoria eacute aquela que conteacutem os termos que atribuem agrave classe a sua identidade no campo do conhecimento

198

tem tentado seguir uma abordagem mais pragmaacutetica para providenciar uma

ferramenta mais poderosa para a anaacutelise de assuntos para a classificaccedilatildeo de

documentos e para a estrateacutegia de busca na recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo (FOSKETT

A C 1972 p 338-346)

A maior limitaccedilatildeo agrave CC eacute que ela natildeo eacute utilizada em muitas bibliotecas Isso eacute

verdade ainda que ela tenha sido testada primeiro em milhares de volumes da

Madras University Library e seja usada em muitas bibliotecas governamentais da

Iacutendia As razotildees de acordo com Batley (2005 p 111) podem ser em primeiro lugar

a CDD a CDU e a LCC os esquemas mais utilizados tecircm se mostrado

perfeitamente adequados para coleccedilotildees gerais de bibliotecas pois tecircm cobertura

compreensiva satildeo relativamente faacuteceis de usar e providenciam uma ordem

satisfatoacuteria de materiais nas estantes e em segundo natildeo muitas bibliotecas

estariam dispostas a enfrentar a enorme tarefa de re-classificar suas coleccedilotildees jaacute

que as classificaccedilotildees facetadas surgem depois de as bibliotecas terem adotado a

CDD a CDU ou a LCC para organizar os seus materiais Aleacutem das razotildees

apresentadas eacute possiacutevel que a pouca utilizaccedilatildeo da CC se deva agrave sua complexidade

mas principalmente agrave sua origem (por ser a Iacutendia um paiacutes perifeacuterico)190

472 Princiacutepios

Para Ranganathan de acordo com Gopinath (2001 p 83-90) a classificaccedilatildeo

e os sistemas de classificaccedilatildeo natildeo eram somente teacutecnicas mas tambeacutem e sempre

estruturas teoacutericas com implicaccedilotildees filosoacuteficas Ele mostrou ao mundo que a

classificaccedilatildeo eacute a base da organizaccedilatildeo do conhecimento e que essa organizaccedilatildeo eacute

importante para a recuperaccedilatildeo de informaccedilatildeo

Na deacutecada de 1930 do seacuteculo passado Ranganathan desenvolveu a Teoria

da Classificaccedilatildeo Facetada tambeacutem chamada de Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo

(cf subseccedilatildeo 41) explicitando os princiacutepios utilizados na elaboraccedilatildeo da

Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos (esquema confeccionado tendo em mente o acervo

da Biblioteca da Universidade de Madras na Iacutendia) Ranganathan foi o primeiro no

acircmbito da Classificaccedilatildeo a apresentar as bases teoacutericas de um sistema de

classificaccedilatildeo Na realidade ele elabora denso trabalho teoacuterico para explicar a

190 Ranganathan acreditava que o grande salto da Iacutendia passar de paiacutes em desenvolvimento para desenvolvido soacute poderia ser possiacutevel pela utilizaccedilatildeo de Informaccedilatildeo uacutetil Informaccedilatildeo uacutetil para ele era aquela recuperada de conformidade com a necessidade do solicitante

199

construccedilatildeo da Tabela e ainda apresenta uma teoria soacutelida e fundamentada que

confere agrave Classificaccedilatildeo Bibliograacutefica o status de disciplina independente

(RANGANATHAN 1957)

Kumar (1981 p 409) pesquisador indiano da Classificaccedilatildeo afirma que

Ranganathan se beneficiou dos trabalhos de Cutter Hulme Brown Sayers Bliss

entre outros principalmente pela oportunidade que teve de melhorar a sua teoria ao

experimentaacute-la por um periacuteodo de quarenta anos Periacuteodo no qual elaborou uma

classificaccedilatildeo formulou uma teoria aplicou essa teoria agrave classificaccedilatildeo testou a sua

teoria com a ajuda de princiacutepios normativos produziu uma terminologia teacutecnica

proacutepria e natildeo hesitou em adotaacute-la Pode-se mesmo dizer que a base bramacircnica e

matemaacutetica de Ranganathan forneceu-lhe uma mente clara e loacutegica capaz de

sistematizar o estudo e a praacutetica da Classificaccedilatildeo

Pode-se dizer tambeacutem que Ranganathan ao perceber que a Classificaccedilatildeo

Decimal de Dewey apesar de muito utilizada estava sempre passando por

alteraccedilotildees e adaptaccedilotildees e verificar que esse sistema natildeo dispunha de um ldquolugarrdquo

para os novos assuntos considerou a CDD191 ao propor uma reformulaccedilatildeo da

Teoria da Classificaccedilatildeo a partir da qual foi possiacutevel libertar a classificaccedilatildeo da rigidez

do pensamento e sugerir um instrumento potencialmente flexiacutevel e capaz de

otimizar a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo

A CC eacute uma classificaccedilatildeo universal como a CDD Mas nela a unidade

semacircntica de base natildeo eacute mais o assunto eacute o conceito (chamado de ldquoisoladordquo dentro

da linguagem da CC) As tabelas dessa classificaccedilatildeo satildeo entatildeo listas de conceitos

Os termos das listas satildeo hierarquizados e cada conceito eacute expresso por um termo

linguiacutestico e por um iacutendice alfanumeacuterico Isso constitui uma primeira classificaccedilatildeo

aquela dos termos-conceitos que eacute do tipo tradicional e integrado ao sistema (agraves

tabelas das facetas por domiacutenio) Essa classificaccedilatildeo dos assuntos constitui a

verdadeira classificaccedilatildeo em facetas da CC do tipo analiacutetico-sinteacutetica Para

Ranganathan essa expressatildeo significa que os documentos satildeo desde o iniacutecio

analisados em facetas segundo as categorias da sigla PMEST pois os assuntos satildeo

sintetizados graccedilas agrave sintaxe e agrave notaccedilatildeo

191 Exemplos de textos em que Ranganathan compara os dois sistemas de classificaccedilatildeo RANGANATHAN S R Decimal and Colon Classification reviewed in perspective In ALL INDIA LIBRARY CONFERENCE 6 Proceedingshellip 1944 p 52-56 e RANGANATHAN S R Fine art in the Decimal and Colon classification In ALL INDIA LIBRARY CONFERENCE 6 Proceedingshellip 1944 p 80-82

200

A CC eacute publicada em um volume contendo listas de isolados comuns classes

principais e suas subdivisotildees (subclasses) e um iacutendice A sua ordem de citaccedilatildeo inicia

pela faceta mais concreta (a faceta que eacute citada primeiro determinaraacute o lugar do livro

na estante) e eacute controlada pela foacutermula192 PMEST (Personalidade + Mateacuteria +

Energia + Espaccedilo + Tempo)193 Na CC cada faceta eacute introduzida pela marca de pontuaccedilatildeo distintiva (quadro

36) que separa os iacutendices elementares assinalando a troca de categoria ou faceta e

ajudando a fragmentar a notaccedilatildeo que desse modo torna-se mais faacutecil de memorizar

CATEGORIAS FUNDAMENTAIS

SIacuteMBOLOS DE CONEXAtildeO SIacuteMBOLOS PARA AS FACETAS

Personalidade viacutergula [P]

Mateacuteria ponto e viacutergula [M]

Energia dois pontos [E]

Espaccedilo ponto [S]

Tempo lsquo apoacutestrofe [T]

QUADRO 36 - CATEGORIAS FUNDAMENTAIS DE RANGANATHAN FONTE Batley (2005 p 114) Harrod (1977 p 358) NOTA o sinal dois pontos (colon em inglecircs) deu o seu nome agrave CC

192 Ranganathan no iniacutecio de uma longa pesquisa visando racionalizar e reduzir ao essencial as leis de funcionamento da linguagem natural tentando adaptar a sua foacutermula sumaacuteria agrave complexidade dos assuntos reais estava convencido de ter descoberto a lsquosintaxe absolutarsquo de enunciaccedilatildeo dos assuntos Essa sintaxe de acordo com Maniez (1999 p 253) levou Ranganathan a recorrer a um arsenal de regras e de exceccedilotildees obscuras e complicadas que comprometem as promessas de simplicidade da foacutermula Ranganathan postula que cada faceta de todo assunto assim como cada divisatildeo de uma faceta deve ser considerada como a manifestaccedilatildeo de uma das cinco categorias fundamentais ou de um dos cinco aspectos da realidade A faceta Personalidade eacute sempre precedida da indicaccedilatildeo de um domiacutenio ou de uma disciplina destinada a situar o contexto do documento e que traacutes o nome de faceta principal Grosso modo em outros termos encontram-se aqui novamente os elementos principais de uma proposiccedilatildeo gramatical sujeito ou objeto (Personalidade) verbo (Energia) complemento determinante (Mateacuteria) complementos de tempo e de lugar (Espaccedilo e Tempo) 193 Para maior precisatildeo eacute bom lembrar concordando com Maniez (1999) que o equivalente das facetas Espaccedilo e Tempo da CC jaacute existia na CDD e na CDU sob o nome de lsquodivisotildees comunsrsquo e que os iacutendices correspondentes poderiam ser reunidos ao iacutendice principal sob a forma de sufixos O princiacutepio de uma combinaccedilatildeo de iacutendices na formulaccedilatildeo de um assunto natildeo era novo em 1924 Mas essencialmente essas classificaccedilotildees eram do tipo enumerativo e os seus iacutendices principais eram fixos e preacute-coordenados Algumas diferenccedilas entre essas linguagens classificatoacuterias enquanto o iacutendice da CDD eacute tirado de uma lista fechada de assuntos potenciais o da CC eacute composto de iacutendices elementares segundo um esquema de facetas preacute-estabelecido enquanto a especificidade do assunto eacute obtida na CDD por uma seacuterie de subdivisotildees que a cada etapa restringe o seu espaccedilo na CC ela eacute expressa pela combinaccedilatildeo de termos escolhidos como em uma frase da linguagem natural

201

Classificadores familiarizados com a CC podem reconhecer o tipo de faceta

ao longo da construccedilatildeo da notaccedilatildeo Isso eacute muito importante porque o mesmo

siacutembolo particularmente o mesmo nuacutemero pode significar coisas diferentes em

diferentes facetas Por exemplo 4 significa Desenho na faceta energia de

Engenharia mas o nuacutemero 4 eacute um conceito diferente na faceta lugar em que 4

significa Aacutesia (com o ponto introduzindo a faceta lugar e o 4 representando Aacutesia)

(BATLEY 2005 p 115)

Eacute muito raro que todas as cinco facetas sejam usadas na classificaccedilatildeo do

mesmo trabalho Entretanto frequentemente dois ou mais niacuteveis da faceta

personalidade satildeo necessaacuterios Para construir uma notaccedilatildeo o classificador deve

procurar os conceitos no iacutendice alfabeacutetico O iacutendice indica em quais classes

principais (domiacutenios de base) ocorrem esses conceitos que permitem esclarecer a

faceta principal e que tambeacutem frequentemente indica quais facetas aplicar ao

conceito Dessa maneira o classificador combina os elementos usando a foacutermula

PMEST e fazendo uso da pontuaccedilatildeo apropriada para introduzir as vaacuterias facetas

dependendo da ecircnfase do trabalho e das necessidades da coleccedilatildeo194

Por exemplo ao procurar o termo fogo (fire) no iacutendice encontra-se o sequinte

Fogo (fire) E [E] 2131 J KZ L [E] 4 [2P] 91 Y[E] 4351 381

Argila referataacuteria (fire clay) H2 [P] 3311

Grisu (fire damp = gaacutes inflamaacutevel contido nas minas de carvatildeo e que encerra

quantidades variaacuteveis de metano) HZ [E] 41

Seguro contra fogo (fire insurance) X [P] 8191

Lareira (fire place) NA [P3] 2 to 9 [P4] 94

A partir do iacutendice e consultando as tabelas chega-se agrave seguinte interpretaccedilatildeo

O fogo aparece na faceta energia em Quiacutemica (E) com o nuacutemero de

classificaccedilatildeo 2131 (Quiacutemica-Fiacutesica) resultando na notaccedilatildeo E2131

O fogo aparece como uma causa de doenccedila em Agricultura Zootecnia e

Medicina sendo encontrado na faceta de personalidade de segundo ciclo depois de

doenccedila resultando na notaccedilatildeo J491 para Agricultura KZ491 para Zootecnia e

194 Por exemplo na seacutetima ediccedilatildeo da CC (1989) o domiacutenio Educaccedilatildeo conta com mais ou menos duzentos (200) termos sob a faceta Personalidade e com mais ou menos sessenta (60) sob cada uma das facetas Mateacuteria e Energia A reparticcedilatildeo dos termos eacute assegurada pelo sistema o que evita para o indexador as dificuldades de interpretaccedilatildeo Poreacutem como bem salienta Maniez (1999 p 253) observa-se que essa reparticcedilatildeo eacute largamente empiacuterica

202

L491 para Medicina

O fogo aparece duas vezes em Sociologia na faceta de energia Y4351

designa o fogo como causa da miseacuteria enquanto Y381 designa o fogo como um

elemento usado para cozinhas aquecer etc

O argila refrataacuteria aparece na faceta personalidade de Petrologia como uma

forma de rocha resultando na notaccedilatildeo H23311

O gaacutes inflamaacutevel grisu aparece na faceta energia em Mineraccedilatildeo resultando

na notaccedilatildeo HZ41

O seguro contra incecircndio eacute um ramo de seguros em Economia resultando na

notaccedilatildeo X8191

A lareira eacute um componente que aparece no quarto niacutevel de personalidade em

Arquitetura podendo estar subordinado a qualquer um dos tipos de edifiacutecios

enumerados no terceiro niacutevel como lareiras em casas em preacutedios etc resultando

na notaccedilatildeo NA394

As subdivisotildees das classes canocircnicas195 satildeo formuladas com notaccedilatildeo

alfanumeacuterica por exemplo

R Filosofia

R1 Loacutegica

R111 Loacutegica Indutiva

R112 Loacutegica Dedutiva

R2 Epistemologia

Uma vez localizado o assunto de um documento na tabela das classes

principais ou gerais pode-se delimitaacute-lo mediante a combinaccedilatildeo de categorias que

aplicadas iratildeo assinalar as facetas A categoria personalidade eacute equivalente agrave

substacircncia aristoteacutelica ou seja a primeira atribuiccedilatildeo do ser Para Aristoacuteteles o ser se

diz em uma pluralidade de sentidos e esses sentidos do ser eacute que satildeo denominados

categorias Ranganathan recorre agrave concepccedilatildeo aristoteacutelica e agrave tradiccedilatildeo das antigas

195 Cannonical class esse termo em inglecircs corresponde agrave subdivisatildeo tradicional de cada classe principal Eacute a classe estrito senso segundo os cacircnones

203

escolas Mimansa e Prabhakara196 para extrair daiacute a foacutermula que permite agrupar

itens do conhecimento (categorias fundamentais)

A ordem de citaccedilatildeo dos conceitos para formaccedilatildeo dos siacutembolos de

classificaccedilatildeo dos assuntos compostos eacute proacutepria de cada classe principal -

basicamente a ordem do PMEST - mas um assunto pode necessitar de uma

mesma categoria mais de uma vez o que constitui os (levels)197 e os ciclos

(rounds)198

A metodologia analiacutetico-sinteacutetica proporciona grande hospitalidade permitindo

a inclusatildeo de novos temas e tambeacutem maior autonomia ao classificador

473 Construccedilatildeo

A estrutura da CC parte de uma tabela de aacutereas principais que inclui as

disciplinas tradicionais que podem ser divididas em facetas por meio das categorias 196 A ideacuteia de classificaccedilatildeo na antiga Iacutendia teve iniacutecio com a Escola Mimansa (do sacircnscrito indagaccedilatildeo ou reflexatildeo profunda) fundada no seacuteculo V aC Essa escola produziu dois sistemas ou interpretaccedilotildees a de Kumarila Bhatta (aproximadamente 700 dC) e a de Prabhakara (650-720 dC) filoacutesofos indianos vinculados agrave Escola Mimansa e famosos por suas teses Examinavam os textos sagrados (mantras ou versos e bramanas ou interpretaccedilotildees) organizavam debatiam e determinavam as regras e os sentidos dos rituais e das reflexotildees e indagaccedilotildees (DASGUPTA 1949 p 156 PRABHAKARA 2008) O meacutetodo de apresentaccedilatildeo da Mimansa consistia de ldquocinco momentosrdquo estabelecia-se a questatildeo exprimia-se a duacutevida ou verificava-se a caracteriacutestica que a questatildeo comportava desenvolvia-se um ponto de vista ou estabeleciam-se conexotildees possiacuteveis refutavam-se definitivamente aqueles pontos de vista ou conexotildees que natildeo condiziam e chegava-se agrave conclusatildeo resultado ou produto final A Mimansa distinguia as diferentes classes de mantras segundo os ritmos (sons) e as palavras que lhes eram proacuteprios e dividia os Mimansasutras em doze assuntos que eram na maioria das vezes divididos novamente pelo nuacutemero quatro Kumarila Bhatta dividia o saber em duas categorias uma positiva (substacircncia qualidade accedilatildeo universalidade) e outra negativa (negaccedilatildeo a priori negaccedilatildeo a posteriori negaccedilatildeo absoluta negaccedilatildeo reciacuteproca) enquanto Prabhakara utilizava soacute categorias positivas para organizar o conhecimento como substacircncia qualidade accedilatildeo universalidade ineacutercia potecircncia similaridade e nuacutemero A sistematizaccedilatildeo do conhecimento com base nas categorias era criteacuterio predominante no pensamento indiano Serrai (1977 p 18) afirma que existe uma grande afinidade entre as categorias da Escola Mimansa e as categorias do bibliotecaacuterio indiano Ranganathan que elabora seu sistema classificatoacuterio fundamentando-se em cinco categorias (personalidade mateacuteria energia espaccedilo e tempo) Pode-se dizer que o pensamento originaacuterio do antigo Oriente proveniente seja da Iacutendia seja da China incidiu na cultura ocidental influenciando as classificaccedilotildees filosoacuteficas (Francis Bacon em suas obras faz numerosas referecircncias agrave cultura chinesa como manufatura do papel fabricaccedilatildeo da porcelana caracteres da escrita etc) e por meio dessas as classificaccedilotildees bibliograacuteficas (a classificaccedilatildeo de Dewey esteve imbuiacuteda do sistema baconiano) pensamento corroborado por San Segundo Manuel (1996 p 35-36) Quanto agrave influecircncia das filosofias chinesa e indiana na obra de Ranganathan recomenda-se a leitura da dissertaccedilatildeo de Fernando Antonio Sepuacutelveda sobre a Gecircnese do pensamento de Ranganathan (Rio de Janeiro IBICT 1996) 197 Configura niacutevel uma segunda apariccedilatildeo seguida de uma mesma categoria Assim no exemplo O [P] [P2] [P3] o [P2] e o [P3] satildeo segundo e terceiro niacuteveis da categoria personalidade 198 Confira ciclo a segunda apariccedilatildeo de uma categoria depois de ter sido introduzida alguma categoria de outro tipo Assim no exemplo S[P][E] [2P] o [2P] eacute o segundo ciclo da categoria personalidade

204

A notaccedilatildeo geralmente eacute hieraacuterquica e compreende 26 letras maiuacuteculas e 23 letras

minuacutesculas do alfabeto latino nuacutemeros araacutebicos de 0 a 9 letras gregas (delta para

Misticismo e sigma para Ciecircncias Sociais) e sinais graacuteficos somando cerca de

setenta caracteres

A organizaccedilatildeo baacutesica da CC eacute a das classes principais Mais de cento e

cinquenta classes principais satildeo postuladas (por conveniecircncia a maioria dos autores

referem-se a vinte e seis) Elas podem ter subdivisotildees em forma de divisotildees

canocircnicas divisotildees sistecircmicas divisotildees especiais e divisotildees contextuais O plano

geral do esquema adota um formato tripartite

1 Ciecircncias Naturais A Ciecircncias B Matemaacuteticas C Fiacutesica D

Engenharia E Quiacutemica F Tecnologia G Biologia H Geologia I

Botacircnica J Agricultura K Zoologia L Medicina M Artes Uacuteteis ou

Aplicadas

2 Humanidades ∆ Misticismo e Experiecircncia Espiritual N Belas Artes O

Literatura P Linguiacutestica Q Religiatildeo R Filosofia S Psicologia

3 Ciecircncias Sociais sum Ciecircncias Sociais T Educaccedilatildeo U Geografia V

Histoacuteria W Ciecircncias Poliacuteticas X Economia Y Sociologia Z Direito

O sistema baseou-se na Classificaccedilatildeo Veacutedica e nos filoacutesofos ocidentais mais

particularmente na classificaccedilatildeo das ciecircncias de Comte As estruturas veacutedicas estatildeo

refletidas em sua base numeacuterica O mundo dos Vedas eacute dharma artha kama e

moksha (GOPINATH 2001 p 86-87)

Na Filosofia Indiana os principais sistemas filosoacuteficos do hinduiacutesmo

consideram que uma entidade viva especialmente aquela que estiver utilizando um

corpo humano deve ter por objetivo alcanccedilar trecircs metas na vida dharma (do

sacircnscrito retidatildeo ou conduta correta - a lei a moral e os bons costumes) artha (do

sacircnscrito riqueza ou desenvolvimento econocircmico advindo do trabalho em suas mais

diversas concepccedilotildees - recursos materiais) e kama (do sacircnscrito desejo em sentido

amplo - alma - e em sentido restrito - corpo) Portanto dharma deve empenhar-se

em artha para satisfazer kama e assim atingir moksha que representa a salvaccedilatildeo

Moksha refere-se em geral agrave libertaccedilatildeo do ciclo do renascimento e da morte e eacute

considerada como a meta primordial aquela que esta aleacutem das trecircs primeiras

destinada agravequeles que jaacute estatildeo livres das atividades mundanas

A loacutegica subjacente a esses purusharthas (do sacircnscrito objetivos da alma

humana) torna-se evidente quando se considera as premissas baacutesicas do hinduiacutesmo

205

a) o homem eacute um aspecto de Deus - eacute Deus na criaccedilatildeo da realidade objetiva

b) a natureza primordial do homem eacute seguir a lei dos vedas de acordo com as

normas prescritas para a casta a qual o indiviacuteduo pertence para obter a

salvaccedilatildeo a libertaccedilatildeo do eu e alcanccedilar Deus

c) o homem deve experienciar os rigores da vida na busca dos bens e

confortos materiais e na satisfaccedilatildeo das suas paixotildees visando sempre ao

equiliacutebrio e a moderaccedilatildeo para atender ao propoacutesito da sua criaccedilatildeo

(JAYARAM 2008)

Observa-se que Ranganathan inicia a ordenaccedilatildeo das classes principais por

Ciecircncias e Tecnologia representando as aacutereas do conhecimento de cunho teoacuterico e

aplicado (artha) Em consequecircncia de sua formaccedilatildeo religiosa destaca o Misticismo

a Religiatildeo e a Filosofia (dharma) Segue com as Humanidades e as Ciecircncias Sociais

(kama) como demonstra o quadro 37

Ranganathan concebeu o esboccedilo da CC e adotou o esquema para a coleccedilatildeo

da Biblioteca da Universidade de Madras antes de estabelecer qualquer teoria

subjacente ao esquema ou seja estabeleceu um novo meacutetodo para a organizaccedilatildeo

do esquema de classificaccedilatildeo - meacutetodo facetado - sem mencionar tudo o que veio a

especificar em sua teoria mais tarde depois da publicaccedilatildeo do esquema

A abordagem ranganathiana da classificaccedilatildeo era completamente diferente de

todas as anteriores A intuiccedilatildeo genial de Ranganathan foi conceber uma alternativa

ao modelo hieraacuterquico riacutegido das grandes classificaccedilotildees bibliograacuteficas

principalmente a CDD e a LCC Embora se pudesse perceber uma abordagem

analiacutetica e combinatoacuteria nos sistemas de Dewey (especialmente por meio da

influecircncia determinante particularmente enfatizada expliacutecita ou visiacutevel na CDU de

Otlet e La Fontaine) de Cutter de Brown e de Bliss o sistema de Ranganathan

diferia dos outros A principal razatildeo disso eacute o fato de que ele natildeo usava classes preacute-

estabelecidas e prontas agraves quais os tiacutetulos tinham de ser relacionados mas criava

classes de assuntos somente no instante em que um livro era analisado segundo os

elementos conceituais do seu assunto e sintetizado de acordo com foacutermulas de

facetas aplicadas agraves disciplinas Isso significa segundo Dahlberg (1979b p 356)

que o nuacutemero de classes pode acabar sendo igual ao nuacutemero de livros pois dois

livros soacute podem ser considerados como pertencentes a uma soacute e mesma classe se

sua siacutentese for igual

206

ORDEM DE CLASSES (7ordf Ediccedilatildeo de 1973) Z Generalidades 1 Universo do conhecimento 2 Biblioteconomia 3 Bibliologia 4 Jornalismo 5 Publicidade 6 Museologia 7 Sistemologia 8 Gestatildeo 9b Carreira 9c Metrologia 9d Normalizaccedilatildeo 9f Euriacutestica 9g Avaliaccedilatildeo 9p Comunicaccedilatildeo 9q Simbolismo 9s Informaacutetica A Ciecircncias Naturais BZ Matemaacutetica e Fiacutesica BZZ Matemaacutetica Pura B Matemaacuteticas BT Estatiacutestica BV Ciberneacutetica BXZ Astronomia e Astrofiacutesica BX Astronomia BZ Astrofiacutesica CZ Fiacutesica Teoacuterica C Fiacutesica CV Fiacutesica Espacial DZ Engenharia e Tecnologia D Engenharia DT Desenho Industrial EZ Quiacutemica Teoacuterica E Quiacutemica F Tecnologia Quiacutemica GZ Biologia Teoacuterica G Biologia GV Microbiologia GWA Biologia Molecular GWB Biofiacutesica GX Bioquiacutemica HZ Geologia Teoacuterica H Geologia HV Geofiacutesica

HWT Geoquiacutemica HX Geologia Mineral IZ Botacircnica Teoacuterica I Botacircnica JZ Agronomia J Agricultura JX Floresta KZ Zoologia Teoacuterica K Zoologia KX Medicina Veterinaacuteria LZ Medicina Teoacuterica L Medicina LU5 Sauacutede Puacuteblica LU6 Hospitais LU7 Sanatoacuterios LX Farmaacutecia LYX Medicina Legal M Artes Aplicadas MZ Humanidades e Ciecircncias Sociais MZZ Ciecircncias Sociais Aplicadas ∆ Experiecircncia Espiritual e Misticismo NZ Belas Artes e Literatura N Belas Artes OZ Liacutengua O Literatura P Linguiacutestica QZ Religiatildeo e Filosofia QZZ Religiatildeo e Moral Q Religiatildeo RZ Filosofia Geral R Filosofia SZ Ciecircncias do Comportamento SZZ Psicologia da Educaccedilatildeo S Psicologia sum Ciecircncias Sociais T Educaccedilatildeo UZ Histoacuteria-Geografia U Geografia V Histoacuteria VX Fontes Histoacutericas W Ciecircncia Poliacutetica WX Geopoliacutetica X Economia XX Economia de Empresas Y Sociologia YX Serviccedilo Social Z Direito

QUADRO 37 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO DOS DOIS PONTOS DE RANGANATHAN FONTE Maniez (1993 p 105) San Segundo Manuel (1996 p 104-105)

Todos os modernos esquemas de classificaccedilatildeo satildeo ateacute certo ponto

facetados visto que eles providenciam tabelas auxiliares de nuacutemeros para divisotildees

relativas ao tempo e ao espaccedilo soacute para citar um exemplo Evidencia-se a tendecircncia

crescente ao estudo e uso de esquemas de classificaccedilatildeo que permitam ou

possibilitem ao classificador construir uma notaccedilatildeo para um livro em particular

207

Nas palavras de Dahlberg (1977 p 43) parece realmente que as ideacuteias e as

contribuiccedilotildees de Ranganathan natildeo tecircm sido substituiacutedas ateacute agora por nenhuma

melhor Elas natildeo foram ainda suficientemente discutidas em todos os lugares e houve

pouco interesse por sua adoccedilatildeo pelo mundo afora (traduccedilatildeo livre da autora)199 Dahlberg parece ter razatildeo quanto ao interesse despertado pelas ideacuteias de

Ranganathan No entanto eacute preciso registrar que o interesse pelas grandes

classificaccedilotildees facetadas tem diminuiacutedo muito depois da expansatildeo da documentaccedilatildeo

informatizada e eacute significativo que a CC natildeo tenha conseguido ser implantada

depois de mais de meio seacuteculo provavelmente por ser um sistema complexo de

difiacutecil aplicaccedilatildeo no Ocidente dada a sua loacutegica totalizadora a sua visatildeo holiacutestica o

fato de ter surgido no chamado Terceiro Mundo e principalmente por representar

mais uma metodologia para a classificaccedilatildeo do conhecimento jaacute produzido e a ser

produzido do que uma racionalizaccedilatildeo e mapeamento a priori do conhecimento jaacute

produzido Uma das distinccedilotildees entre os sistemas ocidentais de classificaccedilatildeo

bibliograacutefica e o sistema indiano de Ranganathan estaacute na visatildeo evolucionista (EC)

positivista (CDD e BC) e pragmaacutetica (LCC) embasada na proacutepria dinacircmica da

coleccedilatildeo ou seja os sistemas ocidentais fundamentam-se na ideacuteia de um mundo do

conhecimento pronto e acabado que entende a expansatildeo a partir das mesmas

bases originais e portanto vinculados a uma visatildeo de progresso e a um

pensamento determinista e a priori - positivista

474 Revisatildeo

Ranganathan durante a sua vida publicou seis ediccedilotildees da Classificaccedilatildeo dos

Dois Pontos a primeira em 1933 (depois de o esquema ter sido testado na Biblioteca

da Universidade de Madras) e a sexta em 1960 A uacuteltima ediccedilatildeo da CC CC7 foi

publicada em 1987 e segundo A C Foskett (1996 p 323) aleacutem de conter muitos

erros tem crescido em complexidade o que soacute tem dificultado ainda mais a sua

aceitaccedilatildeo por parte das grandes bibliotecas As atualizaccedilotildees satildeo escassas e desde

a morte de Ranganathan em 1972 o desenvolvimento da CC estaacute confiado ao

Documentation Research and Training Centre (DRTC) de Bangalore (FOSKETT A

199 ldquoIt does indeed appear that Ranganathanrsquos ideas and contributions have thus far not been replaced by any better ones In fact they have not as yet been discussed everywhere and there has been little movement towards their adoption throughout the worldrdquo

208

C 1996 p 316) O DRTC foi estabelecido em janeiro de 1962 como uma divisatildeo do

Indian Statistical Institute (ISI)200 (httpwwwiskoiorgdoccolonhtm)

48 CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA (BC - 1935)

A histoacuteria os princiacutepios a construccedilatildeo e a revisatildeo da Bibliographic Classification

(BC) Classificaccedilatildeo Bibliograacutefica satildeo tratados nas subseccedilotildees que seguem

481 Histoacuteria

Em 1910 a proposta de um esquema de classificaccedilatildeo bibliograacutefica sob o tiacutetulo Classification of Libraries with Simple Notation Mnemonics and Alternatives eacute publicada no Library Journal (v 35 p 351-358) pelo norteamericano Henry Evelyn Bliss (1870-1955) O esquema vinha sendo aplicado desde 1902 na Biblioteca do College of the City of New York na qual o estudioso exercia o cargo de bibliotecaacuterio (1891-1940) Mais tarde em 1935 (dois anos depois da CC) o esquema foi publicado de modo resumido sob o tiacutetulo A System of Bibliographic Classification Entre 1940 e 1953 foram publicados os quatro volumes da primeira ediccedilatildeo completa das tabelas Bibliographic Classification Extended by Systematic Auxiliary Schedules for Composite Specification and Notation Essa versatildeo da Classificaccedilatildeo anteriormente conhecida como Bibliographic Classification (BC) eacute hoje chamada de BC1 Bliss dedicou os uacuteltimos anos da sua vida agrave concepccedilatildeo de uma nova versatildeo que passaria a ser denominada BC2 ou Bliss Como Ranganathan Bliss fez da sua vida uma reflexatildeo contiacutenua a respeito de classificaccedilatildeo mantendo tambeacutem a carreira de bibliotecaacuterio Aleacutem do esquema completo publicou duas obras teoacutericas soacutelidas acerca da organizaccedilatildeo do conhecimento (cf subseccedilatildeo 41) O trabalho concernente a uma nova e completamente revisada ediccedilatildeo da BC1 incorporando os avanccedilos da anaacutelise loacutegica por facetas iniciada por Ranganathan e desenvolvida pelo CRG na Gratilde-Bretanha comeccedilou no iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo XX com a formaccedilatildeo da Bliss Classification Association (BCA)201 200 Logo depois da independecircncia o Governo da Iacutendia criou o ISI em 1947 No mesmo ano o seu Comitecirc de Documentaccedilatildeo foi formado tendo como presidente Ranganathan Houve uma necessidade premente de serviccedilos de documentaccedilatildeo para dar suporte ao trabalho dos laboratoacuterios nacionais que estavam sendo criados Em 1950 o entatildeo diretor do Laboratoacuterio Nacional de Fiacutesica Dr K S Krishnan e o professor Ranganathan foram autorizados a negociar com a UNESCO ajuda na criaccedilatildeo do Indian National Scientific Documentation Centre (INSDOC) finalmente criado em 1951 Por volta de 1955 as atividades de pesquisa dos laboratoacuterios nacionais haviam acelerado de maneira vertiginosa e bibliotecas especializadas para apoiar essas atividades de pesquisa estavam comeccedilando a estabelecer-se em algumas dessas instituiccedilotildees Consequentemente o tempo parecia estar maduro para a formaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo de bibliotecas especializadas Assim nasceu a Indian Association of Special Libraries and Information Centres (IASLIC) lthttpdrtcisibangacin DRTChistoryhtmlgt 201 Organizaccedilatildeo sem fins lucrativos com membros espalhados pelo mundo e revisotildees radicais da BC1 que acabaram por produzir um esquema completamente novo a BC2

209

em 1967 (BLISS CLASSIFICATION ASSOCIATION 2008 PIEDADE 1983 p 182 SAN SEGUNDO MANUEL 1996 p 96 103)

482 Princiacutepios

A BC1 eacute apontada como o sistema que apresenta um dos melhores desenvolvimentos de classes encontrados em classificaccedilotildees bibliograacuteficas De acordo com vaacuterios autores como A C Foskett (1973 p 109 251) Piedade (1983 p 183) Maniez (1993 p 131) Rafferty (2001 p 185-186) San Segundo Manuel (1996 p 100) Sayers (1955b p 190) entre outros Bliss acreditava que a ordem das classes principais era a mais importante caracteriacutestica dos esquemas de classificaccedilatildeo Bliss (1939 p 205) natildeo acreditava no argumento de Dewey de que natildeo tem importacircncia onde no esquema um assunto estaacute colocado contanto que esteja eficientemente indexado Entre as razotildees para o seu descontentamento com os esquemas existentes descreveu a ordem baconiana invertida como natildeo-filosoacutefica e natildeo-praacutetica (porque separa e ldquodeturpardquo as principais ciecircncias) e citou o fato de as ldquosuas principais divisotildees e subdivisotildees serem demasiadamente arbitraacuterias e natildeo-autecircnticasrdquo (BLISS 1939 p 309) Para Bliss (1939 p 37) existia uma ordem de conhecimento que era natural e autecircntica e essa autenticidade dependia do consenso acadecircmico e que portanto o conhecimento devia ser organizado em consonacircncia com o consenso cientiacutefico e educacional (relativamente estaacutevel) que tende a se transformar em teoria e sistema (conhecimento mais consolidado e estaacutevel no geral e crescente no detalhe) com conceitos mais precisos e definidos De acordo com Sayers (1955b p 190) Bliss embasava o seu esquema em uma aceitaccedilatildeo inquestionaacutevel das convenccedilotildees acadecircmicas estabelecidas no Ocidente de noccedilotildees a respeito da ordem202 verdadeira e de princiacutepios de organizaccedilatildeo hieraacuterquica Bliss entendia que a ordem das classes principais assim como a ordem lsquocertarsquo das coisas eacute determinada pelo uso que os profissionais dos diversos ramos do conhecimento fazem da ordem Eacute a ordem das coisas que dirige a estrutura dos

202 Bliss estabeleceu princiacutepios de classificaccedilatildeo no que diz respeito agrave ordem 1 que a ordem das coisas pode ser estabelecida 2 que a ordem das coisas eacute a base da classificaccedilatildeo do conhecimento 3 que a ordem eacute determinada pelo uso e pela utilidade que tem para pensadores e trabalhadores nos vaacuterios ramos do conhecimento (SAYERS 1955b p 189) Pode-se argumentar que a principal limitaccedilatildeo desses princiacutepios eacute que para Bliss eles eram absolutos e naturais e natildeo relativos e historicamente determinados Pois o conhecimento e a sua representaccedilatildeo eacute sempre um produto do sistema simboacutelico dentro do qual ele opera Segundo Rafferty (2001 p 186) a visatildeo positivista e otimista de Bliss estava plena de feacute na ideacuteia de que estabilidade e ordem se desenvolveriam a partir do conhecimento universal e do estudo objetivo o que talvez seja mais difiacutecil para o mundo poacutes-estruturalista poacutes-Segunda Guerra Mundial sociedade ocidental estar confiante que as ciecircncias e o conhecimento caminharatildeo para um consenso cientiacutefico e educacional que se tornaraacute mais dominante mais permanente e universal

210

esquemas de classificaccedilatildeo e no final aquilo que disciplina o senso comum Ele se refere agrave ordem das classes principais na maioria dos seus princiacutepios

a) consenso implica que natildeo existe unanimidade em relaccedilatildeo agrave localizaccedilatildeo das classes que pode variar segundo o consenso cientiacutefico-educacional203 e a concepccedilatildeo de ciecircncia nos vaacuterios acircmbitos os quais supotildeem cada um uma sistematizaccedilatildeo proacutepria

b) reuniatildeo de assuntos correlatos significa manter juntos os assuntos que tecircm um relacionamento forte um com outro ou seja ordenar todas as classes segundo um criteacuterio de proximidade temaacutetica (geralmente esse princiacutepio estaacute junto com o de subordinaccedilatildeo do especiacutefico ao geneacuterico ainda que Bliss algumas vezes natildeo respeite esse uacuteltimo princiacutepio)

c) gradaccedilatildeo em especialidade204 significa mais do que simplesmente listar assuntos do geral ao especiacutefico em um dado contexto refere-se a uma espeacutecie de progressatildeo de dependecircncia de tal maneira que cada nova disciplina derive tanto quanto possiacutevel da disciplina precedente

d) localizaccedilatildeo alternativa pretende conferir flexibilidade ao sistema

203 Apesar de considerar o ldquoconsenso cientiacuteficordquo incompleto e temporaacuterio reconhecer visotildees alternativas sobre a localizaccedilatildeo de alguns assuntos e providenciar alternativas de colocaccedilatildeo para os assuntos Bliss considerava vital que um esquema de classificaccedilatildeo para o conhecimento registrado refletisse a estrutura do saber como os cientistas filoacutesofos e educadores a reconheciam e ensinavam Infelizmente a estrutura do conhecimento se modifica e o proacuteprio Bliss reconhecia que a ordem muda o que ele parece natildeo ter reconhecido eacute a velocidade com que esse processo pode ocorrer (FOSKETT A C 1973 p 109) A BC eacute o primeiro esquema geral de classificaccedilatildeo com essa caracteriacutestica de dividir o conhecimento em campos de especializaccedilatildeo seguidos pelo ensino e pela praacutetica Em geral a BC combina as vantagens de uma coordenaccedilatildeo clara e satisfatoacuteria de classes com uma visatildeo pragmaacutetica para atender as necessidades praacuteticas da classificaccedilatildeo de livros (MILLS 1960) 204 Segundo Maniez (1993 p 130) para conseguir essa difiacutecil progressatildeo Bliss inspirou-se na teoria de Comte (cf subseccedilatildeo 313) sobre a progressatildeo das ciecircncias (da mais simples a mais complexa) e provavelmente na teoria dos niacuteveis integrativos (o universo eacute formado pela acumulaccedilatildeo de vaacuterios niacuteveis de organizaccedilatildeo de complexidade crescente) Ver tambeacutem nota 77 Bliss usava subordinaccedilatildeo no sentido de - divisatildeo por especialidade Isso significa que ainda que um nuacutemero de toacutepicos pudesse ser igualmente importante alguns poderiam ser vistos como mais especializados do que outros (MILLS BROUGHTON 1977 p 50-51) Desse modo assuntos dependentes deveriam seguir os assuntos dos quais eles dependessem A listagem das classes principais na BC tem sido muito admirada apesar de tal subordinaccedilatildeo falhar nas Ciecircncias Sociais Por exemplo nas Ciecircncias Naturais (assumidamente fundamentado nas ideacuteias de Comte e de Spencer) a Quiacutemica segue a Fiacutesica na lista das classes principais agrave qual recorre para a explicaccedilatildeo dos seus fenocircmenos e eacute seguida pela Astronomia que necessita para as investigaccedilotildees do Cosmos de conhecimentos derivados da Fiacutesica e da Quiacutemica segue-se a Geologia que estuda soacute um planeta a Terra e eacute consequentemente uma especializaccedilatildeo da Astronomia O que resultou no seguinte esquema preliminar A Filosofia e Ciecircncia Geral BD Ciecircncias Fiacutesicas EG Ciecircncias da Vida HI Ciecircncias do Homem JZ Ciecircncias Sociais Para Batley (2005 p 116-117) a classificaccedilatildeo tem meacuterito como uma teoria mas eacute difiacutecil ser sustentada em uma expressatildeo linear de disciplinas ou assuntos

211

permitindo colocar um tema em dois lugares princiacutepio contraacuterio agrave padronizaccedilatildeo e ao seu proacuteprio princiacutepio (a) acima de consenso cientiacutefico (por exemplo a Aeronaacuteutica pode ser colocada na Fiacutesica classe BT ou em Artes aplicadas classe UK Histoacuteria Econocircmica pode ser localizada em Histoacuteria Geral ou em Economia - o classificador decide qual localizaccedilatildeo seria melhor levando em consideraccedilatildeo as necessidades da sua biblioteca)

e) brevidade da notaccedilatildeo significa que a notaccedilatildeo deve ser sinteacutetica mnemocircnica expressiva e sistemaacutetica Por exemplo Bliss constroacutei a sua notaccedilatildeo de tal maneira que a maioria dos itens natildeo precisa de mais de trecircs diacutegitos utiliza duas letras para representar as classes principais e emprega sistematizaccedilatildeo enumerativa205 e natildeo hieraacuterquica privilegiando a brevidade agraves expensas da expressividade

Tendo em mente que o conhecimento e a sua representaccedilatildeo satildeo sempre produtos do sistema dentro do qual eles operam poder-se-ia argumentar que a maior ou principal limitaccedilatildeo desses princiacutepios eacute que para Bliss eles eram absolutos e naturais e natildeo relativos e historicamente determinados Bliss pretendia demonstrar que se uma classificaccedilatildeo bibliograacutefica reflete a ordem natural da realidade objetiva as mudanccedilas draacutesticas para acomodar o progresso dos conhecimentos natildeo seratildeo muito necessaacuterias e afirmava que todos os estudantes poderiam compreender claramente a ordem das classes principais da BC e as implicaccedilotildees por traacutes dela Bliss foi um dos raros classificadores capazes de dizer que um esquema de classificaccedilatildeo representava a organizaccedilatildeo do conhecimento e foi tambeacutem um dos poucos que enunciaram uma teoria para o esquema de classificaccedilatildeo criado mais tarde por ele Um esquema de classificaccedilatildeo representa uma determinada maneira de organizaccedilatildeo do conhecimento Cabe ressaltar que em 1934 Otlet publicou o Manual de Documentaccedilatildeo no qual ele natildeo enunciava propriamente uma teoria da classificaccedilatildeo mas chamava a atenccedilatildeo para a importacircncia do relacionamento entre assuntos introduzindo um sistema de relaccedilotildees no esquema de Dewey (ou seja concebendo a CDU conforme foi discutido na subseccedilatildeo 43) Esse sistema de relaccedilotildees aleacutem de representar a organizaccedilatildeo do conhecimento passa tambeacutem a figurar nos esquemas de classificaccedilatildeo criados

205 Bliss reconhecia a necessidade de certas formas de siacutentese mas era hostil agrave ideacuteia da anaacutelise e siacutentese completa de Ranganathan Portanto o seu esquema pode ser encarado como a uacuteltima das classificaccedilotildees enumerativas apesar de conter tabelas sistemaacuteticas (FOSKETT A C 1973 p 108-109)

212

posteriormente como salientado por Grolier (1976) Para A C Foskett (1973 p 251 260) a BC1 padecia do fato de ser

predominantemente a obra de um soacute homem A sua sistematizaccedilatildeo com base na antiga tradiccedilatildeo filosoacutefica com o seu esquema indutivo-dedutivo de acordo com o sistema filosoacutefico de Comte e mesmo com ideacuteias teoricamente fundamentadas acarretava na praacutetica resultados insatisfatoacuterios Para Dahlberg (1979b) a contribuiccedilatildeo real de Bliss para a Teoria da Classificaccedilatildeo foi ter aproximado novamente a classificaccedilatildeo bibliograacutefica dos princiacutepios filosoacuteficos da classificaccedilatildeo e tentado combinar o conhecimento filosoacutefico sobre classificaccedilatildeo com a necessidade de colocar em estantes os livros de uma biblioteca Tanto A C Foskett (1973) quanto Dahlberg (1979b) concordam que as ideacuteias que Bliss desenvolveu acerca da teoria do arranjo sistemaacutetico notaccedilatildeo e outros aspectos da classificaccedilatildeo exerceram profunda influecircncia teoacuterica na obra Prolegomena de Ranganathan (1967)

A BC2 utiliza a teoria de anaacutelise por facetas derivada das cinco categorias originais de Ranganathan (PMEST) disso resultando um conjunto de treze categorias padratildeo reconhecidas (thing - kind - part - property - material - process - operation - patient - product - by-product - agent - space - time) (coisa - tipo - parte - propriedade - material - processo - operaccedilatildeo - paciente - produto - por produto - agente - espaccedilo - tempo) que satildeo usadas para anaacutelise e organizaccedilatildeo dos termos Em adiccedilatildeo uma ordem de citaccedilatildeo padratildeo que possibilita a combinaccedilatildeo entre as categorias tem sido tambeacutem desenvolvida (com base em princiacutepios de progressatildeo do geral ao especiacutefico) o que aumenta a densidade dos termos a ordem pragmaacutetica derivada da garantia literaacuteria e favorece o arranjo dos documentos A principal caracteriacutestica da BC2 eacute que a ordem das classes principais baseia-se em princiacutepios teoacutericos meticulosamente discutidos e explicitados como o princiacutepio de graduaccedilatildeo (gradation) suplementado pelo princiacutepio dos niacuteveis integrativos (integrative levels) desenvolvido por Feibleman e outros Cada classe principal e toda subclasse (em qualquer niacutevel) satildeo totalmente facetadas isto eacute o vocabulaacuterio eacute organizado e rigorosamente definido em categorias compreensiacuteveis

As disciplinas Biologia Humana e Medicina206 por exemplo estatildeo organizadas pelas facetas tipos de seres humanos partes do corpo humano sistemas do corpo humano processos nos seres humanos accedilotildees sobre os seres humanos e agentes das accedilotildees Uma ordem de citaccedilatildeo consistente eacute sempre

206 Medicina eacute definida como ldquoo estudo e o tratamento dos processos bioloacutegicos humanosrdquo - derivando daiacute a ordem de citaccedilatildeo dentro da disciplina

213

observada tornando a posiccedilatildeo de qualquer classe composta altamente previsiacutevel A ordem de citaccedilatildeo em Medicina para o assunto ldquoenfermagem para crianccedilas viacutetimas de cacircncerrdquo ficaria (tipo de ser humano sob a oacutetica da Medicina) Pediatria - (processo) PatoloacutegicoCacircncer - (accedilatildeo sobre) Enfermagem Esse exemplo reflete a ordem de citaccedilatildeo padratildeo na qual para qualquer assunto a primeira faceta citada eacute aquela que reflete o propoacutesito do assunto (definindo o produto final) seguida pelas facetas tipo parte processo accedilatildeo agente sempre nessa ordem A ordem manteacutem o geral-antes-do-especiacutefico No exemplo dado HMY Enfermagem em geral vem antes de HQE Cacircncer em geral que vem antes de HXO Pediatria em geral O assunto Crianccedilas - Cacircncer - Enfermagem eacute representado por HXO QEM Y Observa-se que a letra inicial para essa classe (H) eacute ignorada quando da combinaccedilatildeo de subclasses e que a notaccedilatildeo eacute totalmente facetada e sinteacutetica A base notacional eacute ampla - 35 caracteres (19 AZ) e eacute tambeacutem ordinal pura isto eacute ela natildeo tem a pretensatildeo (tarefa impossiacutevel) de refletir a hierarquia Essas caracteriacutesticas produzem nuacutemeros de classificaccedilatildeo excepcionalmente breves em relaccedilatildeo agrave sua especificidade (nuacutemero de conceitos compostos que definem a classe) Por exemplo um item que trata de ldquoCuidados com idosos na residecircnciardquo eacute colocado primeiramente na categoria pacientes e entatildeo em uma subcategoria operaccedilatildeo Na classe Assistecircncia Social (Q) o nuacutemero de classificaccedilatildeo representando essa classe composta eacute QLV EL Q Assistecircncia Social QEL Cuidados na residecircncia QLV Pessoas Idosas

Para adicionar mais detalhes como por exemplo ldquoempreacutestimo bibliotecaacuterio para idosos em tratamento residencialrdquo combina-se Q Assistecircncia Social QEL Cuidados na residecircncia QEP X Empreacutestimo bibliotecaacuterio QLV Pessoas Idosas

Resultando a classificaccedilatildeo QLV EPX L que representa exatamente o assunto Observa-se que eacute difiacutecil encontrar algum outro esquema geral que chegue a esse grau de especificidade sem aumentar significativamente a sua notaccedilatildeo Nenhum siacutembolo aleacutem de nuacutemeros e letras satildeo necessaacuterios na BC2

483 Construccedilatildeo

O sistema de Bliss parte de duas sinopses (quadro 38) uma concisa e outra geral expondo duas dimensotildees da ordem das ciecircncias relaccedilotildees de subordinaccedilatildeo (vertical) e de coordenaccedilatildeo (horizontal)

214

DIVISAtildeO DO CONHECIMENTO EM QUATRO GRANDES CLASSES CLASSES CIEcircNCIA FILOSOFIA HISTOacuteRIA TECNOLOGIA E ARTE Ciecircncia Princiacutepios de Histoacuteria da em geral Fil e Ciecircncia Filosofia CIEcircNCIAS ABSTRATAS E MEacuteTODOS GERAIS Matemaacuteticas Loacutegica Ciecircncias Aplicadas CIEcircNCIAS NATURAIS FIacuteSICAS Fiacutesica Fil da Natureza Histoacuteria da F Tecnologia e Eng F Quiacutemica Histoacuteria da Q Tecnologia e Eng Q CIEcircNCIAS NATURAIS ESPECIALIZADAS E HISTOacuteRIA NATURAL DESCRITIVA Astronomia Cosmologia Geologia Geologia Histoacuterica Geologia Econ Geografia Geografia Econ Metereologia CIEcircNCIAS BIOLOacuteGICAS Biologia Filosofia da Vida Botacircnica Zoologia CIEcircNCIAS ANTROPOLOacuteGICAS Antropologia Fil da Vida H Hdo ConhVida HumanidC MeacutedHig Arqueologia CIEcircNCIAS PSICOLOacuteGICAS Psicologia Geral Filosofia Mental Psicologia Apl Psic Individual Psic Social Filosofia Social Psiquiatria Educaccedilatildeo CIEcircNCIAS SOCIAIS Sociologia Histoacuteria SocPol Ciecircncia Soc Apl Etnologia Religiatildeo Teologia Histoacuteria das Rel Atividade Ecles Mitologia Moral Eacutetica Eacutetica Aplicada Ciecircncia Pol Fil Poliacutetica Governo Jurisprudecircncia Fil do D Histoacuteria do Direito Praacutetica do Direito Economia Fil da E Histoacuteria Econocircmica Economia Induacutestria Comeacutercio ARTES Histoacuteria das Artes Teacutecnicas das Artes Artes industriais Belas Artes Muacutesica Filologia Linguiacutestica e Liacutenguas Literatura Retoacuterica Oratoacuteria Drama e Teatro

QUADRO 38 - SINOPSES VERTICAL E HORIZONTAL DO ESQUEMA DE BLISS FONTE San Segundo Manuel (1996 p 97-98)

O esquema baseia a sua ordenaccedilatildeo em classes que reuacutenem a totalidade do conhecimento sendo que o proacuteprio sistema do conhecimento constitui uma unidade com base na ordem da natureza (ordem na qual estaacute implicada a ideacuteia de evoluccedilatildeo fundamentada na ordem cientiacutefica e pedagoacutegica ou seja no modo em que os especialistas

215

supotildeem que o seu conhecimento seja organizado) Bliss mostra os diferentes aspectos de cada aacuterea do conhecimento de maneira diagramaacutetica isto eacute divide cada disciplina a partir de quatro pontos de vista filosoacutefico cientiacutefico histoacuterico e tecnoloacutegicoartiacutestico e trata de conciliar o ponto de vista teoacuterico e o ponto de vista praacutetico ou biblioteconocircmico procurando natildeo distinguir entre a classificaccedilatildeo do conhecimento ou filosoacutefica e a classificaccedilatildeo bibliograacutefica207 De acordo com essa sinopse do conhecimento estabelece-se uma divisatildeo linear de vinte e seis classes principais (quadro 39) representada por uma notaccedilatildeo alfabeacutetica (letras maiuacutesculas do alfabeto latino A-Z)

1-9 Universo do Conhecimento Comunicaccedilotildees A Filosofia (incluindo Loacutegica Matemaacutetica Estatiacutestica Ciecircncia Ciecircncia e Tecnologia) B Fiacutesica (incluindo Tecnologia com base em Fiacutesica) C Quiacutemica (incluindo Ciecircncia e Tecnologia de Materiais) D Astronomia (incluindo Ciecircncias Espaciais Ciecircncias da Terra Geofiacutesica Geologia

Hidrologia Metereologia Geografia Regional e Sistemaacutetica) E Biologia (incluindo Microbiologia) F Botacircnica G Zoologia H Antropologia (incluindo Biologia Humana Ciecircncias da Sauacutede Medicina) I Psicologia J Educaccedilatildeo K Ciecircncias Sociais (incluindo Sociologia Antropologia Social Costumes Folclore

Etnografia Ecologia Viagens e Descriccedilotildees) L Histoacuteria (incluindo Biografia Estudos Histoacutericos Auxiliares Arqueologia Histoacuteria por

assunto Histoacuteria por periacuteodo) M Europa (incluindo Geografia e Histoacuteria social-poliacutetica e nacional) N Ameacuterica (incluindo Geografia e Histoacuteria social-poliacutetica e nacional) O AO Austraacutelia OH Aacutesia OS Aacutefrica P Religiatildeo (incluindo Teologia Sistemas religiosos Religiotildees Antigas Religiotildees

Modernas Ocultismo Moral e Eacutetica) Q Assistecircncia Social e Administraccedilatildeo (incluindo Serviccedilo Social Necessidades humanas) R Ciecircncia Poliacutetica (incluindo Administraccedilatildeo Puacuteblica) S Direito (incluindo Jurisprudecircncia e Lei) T Economia (incluindo Sistemas Econocircmicos Administraccedilatildeo de Empresas) U Tecnologia (pouca tecnologia cientiacutefica) Artes Uacuteteis Utilitaacuteria Industrial e Tecnoloacutegica

(incluindo Agricultura e Criaccedilatildeo de animais Tecnologia de Mineraccedilatildeo Engenharia e Produccedilatildeo Tecnoloacutegica Ciecircncias Materiais e Tecnologia Tecnologias com base na Fiacutesica Tecnologia de Construccedilatildeo Engenharia Civil Arquitetura Engenharia de Sauacutede Puacuteblica Tecnologia de Transportes Ciecircncia e Tecnologia Militar Tecnologias outras por produto Alimento Vestuaacuterio Moradia Artes Recreativas)

V Arte Belas Artes (incluindo Estilos de Arte Arquitetura como Arte Artes Plaacutesticas Escultura Ceracircmica Artes Graacuteficas Pintura Desenho Artes Decorativas Muacutesica Arte de Expressatildeo)

W Filologia Liacutengua e Literatura (incluindo Linguiacutestica Liacutenguas Individuais e suas Literaturas Literatura Geral e Comparada)

Z Religiatildeo Ocultismo Moral QUADRO 39 - CLASSES PRINCIPAIS DA CLASSIFICACcedilAtildeO BC2 (1977) FONTE Piedade (1983 p 185-186) Maniez (1993 p 130) San Segundo Manuel (1996 p 99)

207 Apesar disso segundo Dahlberg (1979 p 355) ele de modo geral procedia a uma rearrumaccedilatildeo das aacutereas visando agrave brevidade da notaccedilatildeo e a um arranjo mais faacutecil dos livros nas estantes

216

A BC1 conta com sete esquemas auxiliares para subdividir as classes principais

segundo as facetas forma (nuacutemeros araacutebicos) lugar (letras minuacutesculas) liacutengua (letras

maiuacutesculas precedidas de uma viacutergula) periacuteodos histoacutericos (letras maiuacutesculas

precedidas de uma viacutergula)208 filologia (letras e nuacutemeros araacutebicos) trabalhos de

filoacutesofos (letras e nuacutemeros araacutebicos) e biografias especiacuteficas de personagens histoacutericos

(letras maiuacutesculas precedidas de viacutergula) Esse conjunto de categorias forma a base da

anaacutelise por facetas do sistema

484 Revisatildeo

O grande impacto da Classificaccedilatildeo de Bliss aconteceu com a nova ediccedilatildeo da

Bibliographic Classification a BC2 A nova e revisada ediccedilatildeo foi iniciada por Jack

Mills e tem sido produzida em 22 partes compreendendo um ou dois assuntos por

volume (um iacutendice minucioso A-Z acompanha cada volume no qual assuntos podem

ser localizados via qualquer parte do todo) O primeiro volume foi publicado em

1977209 A publicaccedilatildeo estaacute agora sob os cuidados de K G Saur e revisotildees tecircm sido

promovidas em alguns volumes da BC2 visando manter a atualidade dos assuntos

A BCA hoje existe para promover o desenvolvimento e uso da BC2 com a

responsabilidade da publicaccedilatildeo das alteraccedilotildees oficiais do esquema via boletim anual

denominado Bliss Classification Bulletin que natildeo soacute possibilita o contato e a troca de

experiecircncias entre usuaacuterios como tambeacutem indica a direccedilatildeo e as tendecircncias do

esquema (BATLEY 2005 p 116 BLISS CLASSIFICATION ASSOCIATION 2008)

O esquema praticamente natildeo eacute utilizado na Ameacuterica nativa de Bliss mas a sua

implementaccedilatildeo tem se concentrado entre as bibliotecas acadecircmicas e especializadas

do Reino Unido e do Commonwealth Pelo fato de ser o uacutenico sistema que apresenta

uma classe principal dedicada agrave Assitecircncia Social (Q - Social Welfare) a primeira

ediccedilatildeo BC1 foi amplamente adotada por muitas bibliotecas especializadas em

Assistecircncia Social no Reino Unido A segunda ediccedilatildeo BC2 eacute o uacutenico esquema geral

construiacutedo sob os princiacutepios da classificaccedilatildeo facetada publicado no Ocidente

208 Na BC2 Mills trataraacute de distinguir a notaccedilatildeo de tempo da de liacutengua (SAN SEGUNDO MANUEL 1996 p 101)

209 MILLS J BROUGHTON V (Ed) Bliss Bibliographic Classification London Butterworth 1977-

217

49 CLASSIFICACcedilAtildeO POR FACETAS

A ideacuteia de representar o conteuacutedo temaacutetico dos documentos a partir dos seus

aspectos constituintes remonta a Kaiser210 precursor da classificaccedilatildeo facetada de

Ranganathan (RODRIGUEZ 1984)

Para Kaiser todo assunto eacute composto de duas categorias baacutesicas o

concreto aquilo que realmente existe do proacuteprio assunto e o processo accedilatildeo que

incide em cima do assunto modificando-o isto eacute alterando o concreto que pode

sofrer vaacuterios processos os quais especificam o concreto Assim por exemplo

Concreto processo

Biblioteca - administraccedilatildeo

Biblioteca - informatizaccedilatildeo

Biblioteca - organizaccedilatildeo

O processo depende do concreto soacute existe se houver um concreto a sua

funccedilatildeo eacute a de subdivisatildeo dos assuntos A combinaccedilatildeo entre concreto e processo foi

denominada por Kaiser de enunciado Os concretos podem ser moacuteveis (caneta)

imoacuteveis (planeta Terra) e abstratos (educaccedilatildeo) Os processos satildeo condiccedilotildees

estaacuteticas ou dinacircmicas dos concretos Na concepccedilatildeo de Kaiser agraves duas categorias

poderiam ser acrescentados paiacuteses como um concreto imoacutevel especial (subdivisatildeo

por paiacuteses) o que resultaria em trecircs categorias o concreto o processo e o lugar

sendo o concreto logicamente a mais importante (RODRIGUEZ 1984)

Eacute possiacutevel observar que as ideacuteias de Kaiser tanto no que diz respeito agrave

categoria do concreto como agrave categoria do processo influenciaram Ranganathan no

estabelecimento das categorias personalidade e energia respectivamente

210 Julius Kaiser (1868-1927) bibliotecaacuterio norteamericano atuou profissionalmente no Philadelphia Commercial Museum e na Engineering Societiesrsquos Library entre outras corporaccedilotildees Kaiser em sua obra Systematic Indexing (1911) como ressalta Tocircrres (2000) ldquoconsiderou que a indexaccedilatildeo poderia possibilitar o agrupamento de assuntos semelhantes desde que a informaccedilatildeo fosse representada segundo expressotildees construiacutedas artificialmente com base em uma foacutermula preacute-estabelecidardquo e propocircs para a praacutetica da indexaccedilatildeo alfabeacutetica de assuntos a utilizaccedilatildeo da subordinaccedilatildeo de concretos e processos como subdivisatildeo o que segundo A C Foskett (1973a p 50) foi ldquoa primeira tentativa de busca de uma soluccedilatildeo judiciosa e coerente para o problema da ordem de importacircncia sendo ainda vaacutelidas e uacuteteis em muitos casosrdquo Kaiser estabeleceu algumas regras e procedimentos para a formaccedilatildeo dos enunciados (selecionar o que eacute importante para o objetivo que se tem respeitar a especificidade do documento trabalhar cada item separadamente atenccedilatildeo aos nomes concretos evitar inversotildees preposiccedilotildees e plural e testar a precisatildeo de cada enunciado tanto do ponto de vista do indexador quanto do usuaacuterio do iacutendice) e apresentou em sua proposta as bases essenciais para o tratamento temaacutetico facetado pois ele contempla as dimensotildees estaacutetica e dinacircmica do conteuacutedo (RODRIGUEZ 1984)

218

As classificaccedilotildees facetadas como o modelo ranganathiano (cf subseccedilatildeo 47)

natildeo pararam de suscitar depois de meio seacuteculo estudos criacuteticos aprofundamentos

e inovaccedilotildees notadamente dos ingleses reunidos no CRG

Classificaccedilotildees facetadas dependem em siacutentese da junccedilatildeo apropriada de

componentes notacionais para especificar um assunto - componentes do assunto

que reunidos de modo compatiacutevel satildeo normalmente chamados facetas - vem daiacute

esquemas de classificaccedilatildeo facetada tambeacutem chamados na terminologia teacutecnica

esquemas de classificaccedilatildeo analiacutetico-sinteacutetica O nome teacutecnico reflete as duas

maiores atividades envolvidas na aplicaccedilatildeo da classificaccedilatildeo facetada anaacutelise de um

assunto em facetas e siacutenteses de facetas para criar uma notaccedilatildeo (HUNTER 2002)

A teoria da classificaccedilatildeo facetada de Ranganathan baseia-se no argumento

de que em vez de tentar listar todos os assuntos em detalhes uma classificaccedilatildeo

deveria primeiramente identificar classes principais ou disciplinas da mesma

maneira como os esquemas enumerativos Entatildeo no interior de cada classe

principal ou disciplina seria necessaacuterio enumerar ou listar somente conceitos

baacutesicos Os assuntos em sua grande maioria satildeo compostos o que significa que

satildeo formados de duas ou mais facetas Essas facetas ou elementos de um assunto

podem ser especiacuteficas para aquele assunto ou comuns para todos os assuntos

Facetas comuns para todos os assuntos tecircm sido exploradas tambeacutem nas seccedilotildees da

CDD e CDU (lugar tempo forma de apresentaccedilatildeo etc)211

Um esquema de classificaccedilatildeo facetada natildeo lista assuntos em detalhes como

um esquema enumerativo em vez disso ele providencia uma caixa de ferramentas

211 Exemplo de classificaccedilatildeo utilizando dois tipos de esquema (enumerativo e facetado) para o assunto ldquoDesign de submarino nos Estados Unidos no seacuteculo XXrdquo Usando um esquema enumerativo o classificador pode comeccedilar verificando o iacutendice No esquema da CDD haacute inuacutemeras entradas sob submarinos incluindo desenho em 62381257 O proacuteximo passo eacute dirigir-se ao lugar apropriado nas tabelas e verificar se instruccedilotildees foram providenciadas (sobre como adicionar os conceitos de Estados Unidos e seacuteculo XX) para a notaccedilatildeo listada Em 6238121-8129 o classificador eacute instruiacutedo sobre como especificar design de um tipo especiacutefico de manufaturado (adicionar nuacutemeros seguindo 62382 que eacute como o nuacutemero listado no iacutendice foi construiacutedo) mas natildeo especifica como as subdivisotildees standard de lugar e tempo satildeo adicionadas ao nuacutemero base Presume-se que elas devem ser precedidas por um uacutenico zero Lugar (0973) e tempo (0904) podem agora ser adicionadas ao nuacutemero base 6238125709730904 Usando um esquema facetado o classificador pode primeiro analisar um assunto em seus componentes isolados o conceito central (submarino - que corresponde agrave faceta personalidade) processo (design) lugar (Estados Unidos) e tempo (seacuteculo XX) Em seguida podem ser consultados o iacutendice e as tabelas do esquema com a finalidade de descobrir a notaccedilatildeo para cada um desses conceitos Esses elementos notacionais podem entatildeo ser combinados para formar a notaccedilatildeo completa Na 6ordf ediccedilatildeo da CC D5254 submarino (D eacute a classe principal Engenharia 5254 representa submarino) 4 Desenho na classe D (Engenharia) 73 Estados Unidos N seacuteculo XX A notaccedilatildeo completa incluindo os siacutembolos de relaccedilatildeo eacute D5254473rsquoN (BATLEY 2005 p 112-113)

219

a partir da qual uma notaccedilatildeo para qualquer assunto pode ser construiacuteda

Ranganathan (1960 p 12) usava como analogia um conjunto Meccano (marca

comercial surgida em 1908 que comercializava modelos em miniatura de maacutequinas

para montar) Sayers (1955a p 206) descreveu as tabelas da CC como partes de

um ldquoconjunto mecacircnico que pelo uso de porcas e parafusos podia ser usado para

muitas construccedilotildees diferentesrdquo Batley (2005 p 113) menciona que uma analogia

mais familiar hoje em dia poderia ser talvez o Lego (peccedilas individuais que podem

ser acopladas para formar estruturas sofisticadas)

Em suma a Teoria da Classificaccedilatildeo hoje talvez tenha encampado aos seus

significados metafoacutericos (a aacutervore de Porfiacuterio as raiacutezes e ramos hieraacuterquicos dos

sistemas Baconianos invertidos o conjunto Meccano da classificaccedilatildeo Colon o

brinquedo Lego) labyrinths networks nodes links e discursos de colaboraccedilatildeo

complementaccedilatildeo e intertextualidade crescentes que dominam a teoria do hipertexto

Teoacutericos da classificaccedilatildeo estatildeo contribuindo para o desenvolvimento do hipertexto e

da internet explorando o papel e a influecircncia dos esquemas de classificaccedilatildeo

tradicionais em sistemas de informaccedilatildeo contemporacircneos e especulando sobre a sua

funccedilatildeo em desenvolvimentos futuros212

212 Haacute bibliotecaacuterios cientistas da informaccedilatildeo mas tambeacutem filoacutesofos socioacutelogos linguistas arquitetos de informaccedilatildeo webdesigners etc discutindo problemas aparentemente diferentes entretanto um olhar treinado pode ver muitas conexotildees e similaridades Pessoas usando diferentes enfoques infelizmente tambeacutem usam diferentes terminologias algumas vezes falhando em perceber que elas estatildeo falando sobre problemas anaacutelogos uma situaccedilatildeo paradoxal como o proacuteprio objetivo da Organizaccedilatildeo do Conhecimento ser o de prover acesso agrave informaccedilatildeo por meio de linguagens padronizadas Mas essa variedade eacute tambeacutem uma riqueza para o campo que impregnado de suas origens documentaacuterias vecirc-se envolvido na discussatildeo interdisciplinar O escopo da Organizaccedilatildeo do Conhecimento eacute mais amplo do que a classificaccedilatildeo e a indexaccedilatildeo tradicionais de documentos bibliograacuteficos A vasta experiecircncia acumulada pelas bibliotecas tem produzido ferramentas sofisticadas como regras de catalogaccedilatildeo sistemas de classificaccedilatildeo e interfaces de busca online que podem ter resultados uacuteteis quando aplicados aos novos ldquoportadoresrdquo de informaccedilatildeo como hipertexto multimiacutedia e documentos digitais (o proacuteprio uso da internet como instrumento de obtenccedilatildeo de informaccedilotildees seria de pouca expressatildeo sem o desenvolvimento de ferramentas de busca mais avanccediladas as quais desempenham evidentes funccedilotildees de filtragem e em casos como o Google aspiram a uma credibilidade decorrente da utilizaccedilatildeo de paracircmetros objetivos embasados na suposta relevacircncia que os proacuteprios usuaacuterios da internet atribuem agrave informaccedilatildeo) Jaacute um objeto de museu ou um monumento requerem elementos adicionais de informaccedilatildeo natildeo considerados nas ferramentas bibliograacuteficas padratildeo Assim parece que alguma unificaccedilatildeo desses meacutetodos e formatos seria desejaacutevel no futuro (GNOLI 2008 p 137-138) De fato o CRG (1978 p 23) tem apontado o que Austin chamou de ldquosiacutendrome do prato chinecircsrdquo o que significa que classificar um livro sobre pratos chineses eacute essencialmente diferente de classificar os proacuteprios pratos O tratamento bibliograacutefico adiciona dimensotildees que estatildeo refletidas nos coacutedigos de catalogaccedilatildeo e nos esquemas de classificaccedilatildeo para o fenocircmeno tratado como caracteriacutesticas fiacutesicas do suporte (capa tamanho da folha estilo de impressatildeo ilustraccedilatildeo) enfoque disciplinar e teoacuterico adotado pelo autor do texto entre outras dimensotildees Tambeacutem deve-se considerar que os livros contecircm descriccedilotildees de objetos em relaccedilatildeo a outros

220

Na Iacutendia o DRTC desenvolve e aprofunda a teoria de Ranganathan Ele tem

formado teoacutericos renomados Bhattacharyya Gopinath Iyer Neelameghan213

A vantagem citada pelos especialistas e defensores do enfoque totalmente

facetado para a classificaccedilatildeo como Batley (2005 p 113) e Broughton (2004 p

252) eacute que ela eacute o melhor caminho para fornecer detalhamento precisatildeo e

regularidade no conhecimento Esquemas enumerativos tecircm uma obsolescecircncia

natural (enumeram o estado do conhecimento no tempo das suas publicaccedilotildees e tecircm

que ser constantemente revisados e atualizados para acomodar novos assuntos)

Esquemas facetados podem frequentemente acomodar novos assuntos (requerem

menos revisotildees em razatildeo das suas estruturas menos riacutegidas e assuntos novos

podem ser acomodados pela simples extensatildeo das tabelas)

Vickery (1963) defende o esquema analiacutetico-sinteacutetico apresentado como a

melhor adaptaccedilatildeo agraves exigecircncias de uma classificaccedilatildeo moderna flexibilidade forte

expressividade simplicidade Mas sem criticar explicitamente a CC recusa a

ambiccedilatildeo de uma foacutermula universal de descriccedilatildeo de assuntos que seria aplicaacutevel agrave

Medicina agrave Psicologia e agrave Linguiacutestica tanto quanto agrave Metalurgia ou agrave Ciecircncia dos

Solos Para o CRG o meacutetodo das facetas eacute tatildeo melhor adaptaacutevel a uma indexaccedilatildeo

de qualidade quanto menor for o domiacutenio de aplicaccedilatildeo e ele recomenda sobretudo a

construccedilatildeo daquilo que chama os ldquoesquemas especiaisrdquo Diferente da CC a lista das facetas do CRG natildeo eacute fornecida a priori dentro de

uma foacutermula imutaacutevel ela deve ser pesquisada de maneira pragmaacutetica para um

exame detalhado da documentaccedilatildeo relevante do domiacutenio a tratar Entretanto o

iniacutecio eacute tambeacutem igualmente ao da CC o de trazer para uma anaacutelise conceitual o

nuacutemero teoricamente ilimitado dos termos do domiacutenio a um nuacutemero restrito de

ldquocategorias fundamentaisrdquo Outra diferenccedila importante tem um aspecto

predominantemente paradigmaacutetico na concepccedilatildeo das facetas Observa-se que na

213 Eacute assim que Bhattacharyya concebeu em 1979 o sistema de indexaccedilatildeo em cadeia POPSI (Postulate-Based Permuted Subject Index - Indexaccedilatildeo de Assuntos Baseada em Postulado Permutado) inspirado na CC O sistema de facetas eacute conservado mas considerado como uma ferramenta de estruturaccedilatildeo semacircntica e completado por uma sintaxe As quatro categorias elementares lembram de perto as facetas da CC mas satildeo dessa vez claramente definidas (BHATTACHARYYA 1979) a) disciplina substitui a faceta de base da CC b) entidade (aproxima-se de Personalidade) designa todo objeto identificaacutevel c) accedilatildeo (no lugar de Energia) eacute dividida em accedilatildeo reflexiva (self action) por exemplo respirar e accedilatildeo externa (external action) por exemplo comer d) propriedade (aproxima-se de Mateacuteria) compreende os atributos das entidades ou das accedilotildees (inteligecircncia densidade eficaacutecia) Dessa forma POPSI abandona a rigidez formal da CC por uma sintaxe simples e eficaz

221

CC Ranganathan privilegia o sintagmaacutetico com a sua foacutermula PMEST Vickery

(1963) ao contraacuterio procura estabelecer experimentalmente as categorias

fundamentais de um domiacutenio restrito natildeo a partir de uma lista de assuntos

representativos mas a partir de uma lista de conceitos a semacircntica tem prioridade

sobre a sintaxe O autor aconselha coletar centenas de termos representativos da

literatura do domiacutenio e consultar para cada termo um dicionaacuterio de definiccedilotildees

Sabe-se que a definiccedilatildeo dos dicionaacuterios de liacutengua liga cada termo a uma

categoria mais geral de conceito por exemplo gato a animal fruto a aacutervore correr a

ir lento a maneira de se conduzir etc Pode-se ainda ir mais longe e de aproximaccedilatildeo

em aproximaccedilatildeo chegar agrave noccedilatildeo mais geral que natildeo pode ser encontrada espeacutecie de

plataforma superior intransponiacutevel que se pode chamar de ldquoprimitivasrdquo ou ldquocategorias

fundamentaisrdquo entidade estado accedilatildeo tempo espaccedilo quantidade

Esse meacutetodo de construccedilatildeo sob medida das facetas tem a vantagem de natildeo

impor um esquema a priori e de permitir discernir melhor a natureza das categorias

fundamentais obtidas indo do especiacutefico ao geneacuterico ateacute o niacutevel mais elevado de

generalidade Pode-se montarconstruir uma lista de categorias sejam elas

universais sejam locais

Uma lista de ldquocategorias universaisrdquo assim como uma ldquoordem padratildeo de

citaccedilatildeordquo foram propostas pelo CRG como candidatas agrave estandardizaccedilatildeo todo (objeto

do assunto ou produto final) tipos partes materiais propriedades processos

operaccedilotildees e agentes aos quais podem ser acrescentados espaccedilo e tempo bem

como forma de apresentaccedilatildeo (FOSKETT A C 1996 p 158) Pode-se tambeacutem citar

a norma Regravegles drsquoEacutetablissent decircs Thesaurus Monolingues (ASSOCIATION 1981)

da Association Franccedilaise de Normalisation (AFNOR) que fornece regras para a

construccedilatildeo de tesauros monolingues e que oficializou a possibilidade de adaptar aos

tesauros a teacutecnica das facetas fornecendo uma ferramenta de trabalho para analisar

os campos semacircnticos e para determinar as relaccedilotildees entre os conceitos que esses

campos carregam A norma na seccedilatildeo 57 (Eacutetablissement decircs Relations) explica

como agrupar descritores e propotildee a escolha entre temas e facetas214 A noccedilatildeo de

tema (inexistente na norma) eacute ilustrada pelas disciplinas Quanto agraves categorias

fundamentais eacute pela sua enumeraccedilatildeo processos (ativo) fenocircmeno (passivo) 214 A norma Z-47-100 considera os dois meacutetodos de reagrupamento incompatiacuteveis entre si se bem que como demonstra Maniez (1999 p 258-259) diferentes criteacuterios comuns agrave mesma classe podem perfeitamente se conjugar Consequentemente como acentua Michele Hudon (1994 p 85) pode-se optar por uma terceira soluccedilatildeo a mixagem dos dois meacutetodos

222

propriedades pessoas materiais ferramentas ou equipamentos que pode se

chegar a uma concepccedilatildeo mais clara de facetas que segundo a norma satildeo os niacuteveis

superiores de uma hierarquizaccedilatildeo de conceitos obtida pela anaacutelise progressiva do

especiacutefico ao geneacuterico (ASSOCIATION 1987)215 ou seja pela aplicaccedilatildeo do

pensamento indutivo Essas categorias oferecem uma ferramenta simples e

universal de classificaccedilatildeo de conceitos e satildeo tambeacutem perfeitamente adaptaacuteveis agrave

divisatildeo loacutegica gecircneroespeacutecie pela simples razatildeo de que elas provecircm de uma

operaccedilatildeo inversa (do particular ao geral) A definiccedilatildeo abstrata eacute mais delicada como cada vez que se atinge um niacutevel

elevado de generalizaccedilatildeo Quer sejam ferramentas de estruturaccedilatildeo do

conhecimento quer sejam gecircneros primitivos semacircnticos as categorias ldquodizemrdquo dos

conceitos universais do niacutevel superior de generalizaccedilatildeo Pode-se optar por designar

os termos de ldquofacetas fundamentaisrdquo ou ldquofacetas categoriaisrdquo

As facetas de domiacutenios especiais segundo Vickery (1963) perdem em

universalidade o que ganham em especificidade quanto mais as categorias satildeo

especializadas menos elas satildeo universais

O CRG tem tido muito trabalho com a questatildeo da ordem de combinaccedilatildeo das

facetas a qual eacute abordada com a mesma preocupaccedilatildeo pragmaacutetica adotada para tratar

das categorias fundamentais Vickery (1963) entre outros propocircs o princiacutepio de uma

ordem de sucessatildeo que iria dos objetos e dos meios de accedilatildeo aos resultados esperados

(quadro 39) Para o CRG eacute suficiente que a ordem estabelecida seja constantemente

respeitada Essa ordem sintagmaacutetica das facetas tem um duplo objetivo

a) permite uma melhor legibilidade das foacutermulas de indexaccedilatildeo e evita as

ambiguidades criadas frequentemente pela aleatoriedade ou incerteza

de descritores

b) assegura graccedilas agrave notaccedilatildeo (iacutendices e marcas de facetas) o

reagrupamento das obras (de um domiacutenio particular) e dos resumos

descritivos (nos fichaacuterios) em funccedilatildeo da proximidade dos assuntos

Nos sistemas de classificaccedilatildeo facetados existem vaacuterias foacutermulas que podem

ajudar a determinar as facetas representadas em um esquema de classificaccedilatildeo e a

ordem na qual elas satildeo apresentadas A ordem de citaccedilatildeo eacute uacutetil para providenciar

uma visatildeo geral da foacutermula de faceta conforme exemplificado no quadro 40

215 ldquoce sont les niveaux supeacuterieurs drsquoune hieacuterarchisation des concepts obtenue par reacuteduction progressive du speacutecifique au geacuteneacuteriquerdquo

223

FOacuteRMULA DE FACETAS OU CATEGORIAS AUTORES Concreto - Processo Kaiser 1911

Coisa - Parte - Material - Accedilatildeo - Agente Coates 1960

Personalidade - Mateacuteria - Energia - Espaccedilo - Tempo Ranganathan 1960

Substacircncia produto organismo - Parte oacutergatildeo estrutura - Propriedade (qualidade) e Medida (quantidade) - Objeto da accedilatildeo mateacuteria bruta - Accedilatildeo operaccedilatildeo processo atividade - Agente ferramenta - Propriedade geral processo operaccedilatildeo - Espaccedilo - Tempo Coisa - Parte - Propriedade - Processo - Operaccedilatildeo - Agente - Espaccedilo - Tempo

Vickery 1963 Vickery 1975

Coisa - Espeacutecie - Parte - Material - Propriedade - Processo - Operaccedilatildeo - Agente ferramenta - Propriedade geral processo operaccedilatildeo - Espaccedilo - Tempo

McIlwaine 2000

QUADRO 40 - FOacuteRMULAS DE FACETAS OU DE CATEGORIAS DE ACORDO COM OS RESPECTIVOS AUTORES FONTE Vickery (1963 1975) Batley (2005 p 121)

Pode-se observar que algumas facetas satildeo claramente mais complexas do

que outras mas de modo geral todas partem do especiacutefico (coisa substacircncia

personalidade objeto do assunto ou produto final) para o geral (espaccedilo e tempo)

Algumas das facetas podem ser modificadas de acordo com as necessidades de

uma coleccedilatildeo particular ou grupo de usuaacuterios

410 QUADROS-SIacuteNTESE DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA

Os esquemas gerais de classificaccedilatildeo (tradicionais) existentes elaborados de

alguma maneira para uma eacutepoca e cultura determinada e especialmente para

bibliotecas acadecircmicas nacionais e puacuteblicas tecircm sido como demonstram as suas

histoacuterias convencional e confiaacutevel devido a resistecircncia agrave mudanccedila (CDD) erudito e

filosoacutefico em razatildeo da sua ideacuteia de expansatildeo estar fundamentada no pensamento

evolucionista (EC) satisfatoacuterio em razatildeo da obtenccedilatildeo de resultados frente a

singularidades impossiacuteveis (CDU) praacutetico em razatildeo das soluccedilotildees simples para todo

tipo de problemas (LCC) loacutegico e individual em razatildeo de ser o produto da reflexatildeo e

opiniatildeo de um homem (BSC) coerente e sistematizado em razatildeo das regras expliacutecitas

que atraem aqueles que buscam a ldquoperfeiccedilatildeordquo num esquema bibliograacutefico (CC) e

ilusoacuterio em razatildeo da busca de consenso entre opiniotildees abalizadas o que tem produzido

uma visatildeo de conhecimento de modo geral natildeo-aceitaacutevel (BC) (quadro 41 e 42)

224

SEacuteCULO XIX SEacuteCULO XX HARRIS (1870)

12 classes

DEWEY (CDD 1876-2003)

10 classes

CUTTER (EC 1891-1893)

26 classes

OTLETLA FONTAINE

(CDU 1905-2003) 10 classes

LCC (LCC 1902-) 21 classes

BROWN (BSC 1906-1939)

11 classes

RANGANATHAN (CC 1933-1973)

26 classes

BLISS (BC1-1935BC2-1977)

26 classes RAZAtildeO RAZAtildeO MENTE RAZAtildeO

000 Generalidades (CCompCInf)

A Obras Gerais 0 Generalidades (GlInforOrg)

A Obras Gerais A Generalidade Z Generalidades

Filosofia 100 Filosofia (FilPsicologia)

B FilosofiaRelig D Hist Ecles

1 Filosofia (FilPsicologia)

B FilosofiaPsicReligiatildeo J-K FilosofiaReligiatildeo

R Filosofia AFilosofiaLoacutegMatEstatCiecircnciaC e Tecnol

S Psicologia I Psicologia MZ MisticismoEspirit Religiatildeo 200 Religiatildeo C Religiatildeo Cristatilde 2 Religiatildeo Q Religiatildeo PRelOculMoralEacutetica

Z ReligOcultMoral Ciecircncias Sociais Ciecircncias Poliacuteticas

300 Sociologia (Ciecircncias Sociais)

H CSociais I Sociologia

3 Ciecircncias Sociais

H Ciecircncias Sociais L Ciecircncias SocPol Y Sociologia K Ciecircncias Sociais Descriccedilotildees e Viagens

J GovernoPol J Ciecircncia Poliacutetica W Ciecircncias Poliacuteticas R C PolAd Puacutebl X Economia T EconomiaAd Empr K LegislDireito K Direito S Direito L Educaccedilatildeo T Educaccedilatildeo J Educaccedilatildeo MATEacuteRIA E FORCcedilA CiecircnciasNaturais Ciecircncias Aplicadas

500 Ciecircncias Naturais (Ciecircncias)

L Ciecircncias M HistNatural

5 Ciecircncias (Ciecircncias Naturais)

Q Ciecircncia B-DCiecircncias Fiacutesicas A Ciecircncias DAstronomiaCEspacC da Terra

B Matemaacutetica C Fiacutesica B Fiacutesica S Engenharia D Engenharia E Quiacutemica C Quiacutemica VIDA 600 Artes Praacuteticas

(C AplicTecnologia) R Artes Uacuteteis T Manufaturas

6 Ciecircncias Aplicadas (Tecnologia)

I Artes Domeacutesticas Biologia Econocircmica

M Artes Uacuteteis U TecnologiaArtes UacuteteisArtes Recreativas

E-F C Bioloacutegicas G Biologia E Biologia H Geologia

QUADRO 41 - CLASSES PRINCIPAIS DOS ESQUEMAS GERAIS DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA continua FONTE a autora

225

N Botacircnica I Botacircnica F Botacircnica S Agricultura J Agricultura O Zoologia KZ Zoologia G Zoologia P Antropologia

Q Medicina R Medicina G-H MedicinaEtnol L Medicina

H Antropologia

T Tecnologia FTecnologia U Ciecircncia Militar V Ciecircncia Naval

IMAGINACcedilAtildeO IMAGINACcedilAtildeO MEMOacuteRIARegistro IMAGINACcedilAtildeO

M Muacutesica Belas Artes 700 Belas Artes

(ArtesRecreaccedilatildeo) W Belas Artes V Arte-RecrEsp TeatroMuacutesica

7 Belas-Artes (ArtesRecrEspor)

N Belas Artes N Belas Artes

V ArtesBelas Artes

Poesia 400 Filologia

(Liacutenguas) X Liacutengua 4 Filologia

(vazio) P LiacutenguaLiteratura M LiacutenguaLiteratura P Linguiacutestica

W FilolLiacutenguaLiter

Miscelacircnea Literaacuteria 800 Literatura Y Literatura 8 LiacutenguaLiteratura N Gecircneros Literaacuter O Literatura Ficccedilatildeo YF FicccedilatildeoFicccedilatildeo

MEMOacuteRIA MEMOacuteRIA MEMOacuteRIARegistro MEMOacuteRIA

Histoacuteria 900 Histoacuteria (HistoacuteriaGeografia)

F Histoacuteria 9 Histoacuteria C HistoacuteriaCiecircncias Aux O-W HistoacuteriaGeogr V Histoacuteria L Histoacuteria

DHist Geral e da Europa EHistoacuteria Ameacuterica (Geral) FHistoacuteria Ameacuterica (EUA) ZBibliogrBibliotRecInf GeografiaViagens GeogrViagens G GeogrViagem 9 Geografia GGeogrAntropRecreaccedil

U Geografia

Histoacuteria Civil Biografia Biografia E Biografia 9 Biografia X Biografia Miscelacircnea Z Arte do Livro

QUADRO 41 - CLASSES PRINCIPAIS DOS ESQUEMAS GERAIS DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA conclusatildeo FONTE a autora

226

ANO CLASSIFICACcedilAtildeO PRINCIacutePIOS GERAIS 1876 Classificaccedilatildeo Decimal de Dewey

(CDD) Hieraacuterquica geralracionalismo baconiano rege a divisatildeo notaccedilatildeo decimal pura integridade dos nuacutemeros divisatildeo do conhecimento em 9 classes principais (campos do saber - disciplinas baacutesicas) e 1 classe generalidades subdivisatildeo das classes principais em mateacuterias ecircnfase na praacutetica

1905-1907

Classificaccedilatildeo Decimal Universal (CDU)

Hieraacuterquica universalnotaccedilatildeo natildeo rigorosamente decimal mas mista praticada em funccedilatildeo da necessidade integridade dos nuacutemeros divisatildeo do conhecimento em classes principais (9 campos do saber - disciplinas baacutesicas - e 1 classe reservada para generalidades subdivisotildees mais avanccediladas das classes principais que as da CDD permitindo uma anaacutelise mais detalhada dos assuntos importacircncia da sintaxe - uso de procedimentos sintaacuteticos que multiplicam as possibilidades de combinaccedilotildees

1891 Classificaccedilatildeo Expansiva de Cutter(EC)

Erudita e filosoacuteficaa ideacuteia baacutesica do sistema consiste de uma organizaccedilatildeo de extensatildeo crescente com vaacuterias tabelas classificatoacuterias separadas divisatildeo geral das classes segue a ideacuteia evolucionista

1902 Classificaccedilatildeo da Biblioteca do Congresso (LCC)

Primazia dos livros sobre os assuntos primazia da praacutetica sobre a sistematizaccedilatildeo primazia das palavras (excesso de ordem alfabeacutetica) primazia da garantia literaacuteria primazia da demanda potencial

1906 Classificaccedilatildeo de Assuntos de Brown (BSC)

Primazia do concreto (ideacuteia de que os assuntos satildeo concretos)disposiccedilatildeo das ciecircncias junto da qual elas derivam teoria do ldquolugar uacutenicordquo que recomenda que soacute um lugar deve existir para um assunto subdivisotildees de um assunto tratadas em tabelas categoriais Sequecircncia das classes principais segue a ordem do agrupamento mais amplo Mateacuteria Vida Mente Registro

1933 Classificaccedilatildeo dos Dois Pontos de Ranganathan (CC)

Esquema facetado segue uma ordem loacutegica consistente de cinco facetas ou categorias Personality Matter Energy Space Time (PMEST) que eacute a base para a construccedilatildeo de todo o esquema sintaxe rigorosa composta de foacutermulas de classificaccedilatildeo dos temas utilizando a classe principal da mateacuteria ou disciplina a sequecircncia PMEST e as vezes os ciclos e os niacuteveis notaccedilatildeo liberada do esquema decimal a CC utiliza amplamente as possibilidades dos siacutembolos alfanumeacutericos e siacutembolos de conexatildeo para indicar os conceitos de cada faceta

1935 Classificaccedilatildeo Bibliograacutefica de Bliss (BC)

Enfoque facetado que trabalha no quadro filosoacutefico-cientiacutefico-positivista do iniacutecio do seacuteculo XX a ordem das coisas e portanto das classes principais pode ser estabelecida a ordem das coisas eacute a base da classificaccedilatildeo do conhecimento (a ordem das classes principais segue a gradaccedilatildeo por especialidade) a ordem das coisas eacute determinada pelo uso e pela utilidade que tem para os pesquisadores nos vaacuterios ramos do conhecimento (consenso dos especialistas - base da ordenaccedilatildeo por disciplinas) niacuteveis integrativos brevidade da notaccedilatildeo

QUADRO 42 - PRINCIacutePIOS DAS CLASSIFICACcedilOtildeES BIBLIOGRAacuteFICAS CLAacuteSSICAS FONTE a autora

227

Com o estudo sucinto dos esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica mais

consagrados constatou-se

a) a inovaccedilatildeo promovida pelo sistema de Dewey ao abarcar o conjunto do

saber com a ajuda de uma divisatildeo hieraacuterquica constante de base dez

b) o avanccedilo da CDU que retomando as classes principais e a notaccedilatildeo

decimal da CDD permitiu anaacutelises mais aprofundadas das mateacuterias

(assuntos)

c) a criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo por Cutter de um sistema filosoacutefico erudito que

seguindo a ideacuteia evolucionista na disposiccedilatildeo geral das classes visava dotar

as bibliotecas de um sistema classificatoacuterio expansivo (de acordo com o

tamanho da coleccedilatildeo)

d) a originalidade da LCC e a sua influecircncia crescente alavancada pela

histoacuteria e pela forccedila de atraccedilatildeo norteamericana

e) a tentativa do sistema de Brown de simplificar o trabalho da classificaccedilatildeo

de promover um grande agrupamento (categorias - nos moldes das

classificaccedilotildees filosoacuteficas) e de antecipar o desenvolvimento da anaacutelise em

facetas

f) a grande contribuiccedilatildeo do sistema de Ranganathan agrave organizaccedilatildeo do

conhecimento ao dotar a Biblioteconomia de fundamentos racionais

(postulados regras e princiacutepios) e constatar que as mateacuterias mais

complexas sempre podem ser reduzidas por meio de anaacutelises a cinco

categorias fundamentais

g) a profunda reflexatildeo teoacuterica de Bliss que gerou um corpus de princiacutepios e a

influecircncia reciacuteproca perceptiacutevel na evoluccedilatildeo das teorias de Bliss e

Ranganathan

228

5 CLASSIFICACcedilOtildeES BIBLIOGRAacuteFICAS CONCEITOS DE CLASSE DE CATEGORIA E DE FACETA

Conhecemos o mundo de maneiras diferentes a partir de posisionamentos diferentes e cada uma dessas maneiras na qual conhecemos produz

estruturas ou representaccedilotildees oude fato ldquorealidadesrdquo diferentes Agrave medida que ficamos mais adultos (pelo menos na cultura ocidental) nos

tornamos cada vez mais haacutebeis em ver o mesmo conjunto de eventos a partir de muacuteltiplas perspectivas ou posicionamentos e a admitir os resultados

como por assim dizer mundos possiacuteveis alternativos Jerome Bruner

Nesta seccedilatildeo consolida-se o corpus teoacuterico por meio da explicitaccedilatildeo de

diferentes noccedilotildees que no decorrer do estudo encontram-se sugeridas constatadas

inferidas ou ateacute mesmo negadas tendo por base a descriccedilatildeo e anaacutelise de

classificaccedilotildees A intenccedilatildeo eacute explorar discutir e se possiacutevel esclarecer termos

A afirmaccedilatildeo de que a imprecisatildeo conceitual que se manifesta na definiccedilatildeo216

e no uso de noccedilotildees essenciais agrave Teoria da Classificaccedilatildeo acaba por comprometer

tanto o rigor teoacuterico quanto a eficaacutecia das aplicaccedilotildees demonstra a preocupaccedilatildeo de

esclarecer a terminologia e se baseia no pressuposto de que a classificaccedilatildeo de seres

ou de saberes exige aleacutem da observaccedilatildeo do real que discerne caracteriacutesticas e da

percepccedilatildeo que capta essecircncias a compreensatildeo das relaccedilotildees entre as coisas ou

objetos de suas similitudes e diferenccedilas exige aleacutem da definiccedilatildeo em niacutevel lexical a

noccedilatildeo (adotada ou construiacuteda) em niacutevel conceitual requer ainda aleacutem da anaacutelise e

interpretaccedilatildeo dos objetos individualmente a generalizaccedilatildeo dos termos e dos conceitos

que os representam

Eacute certo que ocorre uma certa frouxidatildeoflutuaccedilatildeo epistemoloacutegica pela falta de

uma reflexatildeo global coerente como apontado por Albrechtsen e Hjoslashrland (1994) ao se

referirem agrave Ciecircncia da Informaccedilatildeo quando afirmam que apesar de uma literatura

abundante ela permanece ateacute o presente em niacutevel teoacuterico com falhas e os seus

fundamentos incertos

O modo como se daacute o conhecimento e a formaccedilatildeo dos conceitos eacute assunto

que desde a Antiguidade grega instiga a curiosidade humana provocando

discussotildees filosoacuteficas e cientiacuteficas

O conhecimento em suas diversas formas tem sido visto desde a

Renascenccedila como representaccedilatildeo da realidade independente do conhecedor em

216 Para Aristoacuteteles ldquouma definiccedilatildeo eacute uma frase que significa a essecircncia de uma coisardquo (ARISTOacuteTELES 1973 p 13)

229

que a mente funciona como um espelho da natureza Consequentemente nesse

modelo quando se estuda o modo como o conhecimento ocorre isto eacute quando se

faz ciecircncia cognitiva a subjetividade eacute preterida (com a alegaccedilatildeo de que poderia

comprometer a exatidatildeo cientiacutefica) em favor da objetividade Essa posiccedilatildeo teoacuterica

denominada representacionismo ainda hoje subsiste como um marco

epistemoloacutegico Em oposiccedilatildeo a essa corrente surge na deacutecada de 1960 uma teoria

bioloacutegica da compreensatildeo humana a Biologia da Cogniccedilatildeo exposta na obra A Aacutervore

do Conhecimento dos bioacutelogos e neurocientistas Maturana e Varela (2001) A tese

central eacute a de que os seres humanos constroem o mundo em que vivem e satildeo

construiacutedos por ele num processo incessante e interativo Assim o homem eacute

influenciado e modificado pelo que vecirc e sente Conhece-se e aprende-se vivendo e

vive-se conhecendo e aprendendo Portanto toda experiecircncia cognitiva inclui aquele

que conhece

Para os fundamentos teoacutericos da Classificaccedilatildeo entender o que satildeo e como

se formam os conceitos eacute essencial uma vez que as classificaccedilotildees bibliograacuteficas

satildeo feitas de conceitos217 Essas unidades de conhecimento que reuacutenem termo

(signo) e conteuacutedo (significado) sob um uacutenico vocaacutebulo configuram-se em um

amaacutelgama dos elementos lexical e semacircntico

Segundo Bariteacute (1997 p 36 Traduccedilatildeo livre da autora) conceito eacute uma

abstraccedilatildeo ou noccedilatildeo que se refere a uma unidade de conhecimento

independentemente da sua expressatildeo linguiacutestica e compreende o conjunto dos seus

traccedilos essenciais O conceito enquanto representaccedilatildeo simboacutelica estaacute na base da

Teoria da Classificaccedilatildeo e da Terminologia pois eacute o elemento indivisiacutevel que permite

representar o conhecimento contido nos documentos e organizar os enunciados

correspondentes agrave ideacuteia que se tem de qualquer coisa218

Para Shera219 (apud ALVARENGA 2006 p 87)

217 As classificaccedilotildees bibliograacuteficas antigamente eram feitas de termos Soacute recentemente percebeu-se que era importante trabalhar com conceitos essa evoluccedilatildeo Maria Luiza Campos deixa muito clara no livro Linguagem documentaacuteria teorias que fundamentam sua elaboraccedilatildeo Niteroacutei Eduff 2001 218 ldquoabstraccioacuten o nocioacuten que refiere a una unidad de conocimiento independiente de su expresioacuten linguiacutestica y comprende el conjunto de sus rasgos esenciales El concepto en tanto representacioacuten simboacutelica estaacute en la base de la Teoriacutea de la Clasificacioacuten y de la Terminologia pues es el elemento indivisible que permite representar el conocimiento contenido en los documentos y organizar los enunciados correspondientes a la idea que se tiene de cualquier cosardquo 219 SHERA J H Pattern structure and conceptualization in classification In INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION FOR INFORMATION RETRIEVAL Proceedingshellip London ASLIB 1957 p 3

230

Um conceito eacute uma rede de padrotildees de inferecircncias associaccedilotildees e relacionamentos que satildeo predicados ou ditos de outra forma trazidos em cena atraveacutes do ato da categorizaccedilatildeo [hellip] a cristalizaccedilatildeo ou formalizaccedilatildeo do pensamento inferencial nascida da percepccedilatildeo sensorial condicionada pela operaccedilatildeo do ceacuterebro humano e delineada pela experiecircncia humana Ela repousa na fundamentaccedilatildeo de todo pensamento mas ela eacute pragmaacutetica e instrumental Eacute permanente e efecircmera Permanente porque sem ela a cogniccedilatildeo eacute impossiacutevel efecircmera porque ela pode ser rejeitada quando sua utilidade eacute esgotada

O ato de classificar ou de categorizar as unidades de pensamento e as

relaccedilotildees entre elas como estatildeo registradas nos documentos e em conformidade

com o pensamento do usuaacuterio eacute o grande desafio dos classificadores

Os sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento passaram ao longo do seacuteculo

XX de classificaccedilotildees de assuntos preacute-definidos a classificaccedilotildees analiacutetico-sinteacuteticas

de assuntos potenciais No caso passou-se de listas de conceitos de unidades preacute-

compostas agrave combinaccedilatildeo de unidades elementares

A distinccedilatildeo entre assuntos e conceitos (como se eles andassem separados)

natildeo eacute clara pois um conceito pode ele mesmo ser constituiacutedo da mateacuteria de um

assunto Embora tanto um conceito como um assunto sejam a representaccedilatildeo mental

de um elemento da realidade pensado na ausecircncia dessa realidade o que distingue

o conceito do assunto eacute o seu estatuto sociolinguiacutestico e o seu estatuto cognitivo

(MANIEZ 1999 p 257) De um lado os conceitos veiculados por um grupo social

satildeo as unidades de pensamento passadas pelas mentalidades e pela liacutengua do

grupo recebidas do passado e afianccediladas pelos dicionaacuterios Elas fazem parte da

liacutengua Ao contraacuterio os assuntos como os discursos satildeo produtos da atividade

linguiacutestica da palavra O nuacutemero de conceitos eacute limitado poreacutem o dos assuntos

potenciais eacute infinito

Pode-se dizer que o conceito eacute apanhado pelo espiacuterito que se apodera dele

como de um objeto elementar - o suficiente para assegurar comparaccedilotildees Por

oposiccedilatildeo ao assunto que eacute em geral composto

[] para a teoria semioacutetica o termo conceito pode ser mantido no sentido de denominaccedilatildeo (cuja significaccedilatildeo eacute explicitada pela definiccedilatildeo) A explicitaccedilatildeo dos conceitos por definiccedilotildees sucessivas torna-se entatildeo a principal preocupaccedilatildeo de qualquer construccedilatildeo metalinguiacutestica do teoacuterico [] (GREIMAS [1979] p 70)

A Linguistica daacute ldquoo nome de conceito a toda representaccedilatildeo simboacutelica de

natureza verbal que tem uma significaccedilatildeo geral conveniente e toda uma seacuterie de

objetos concretos que possuem propriedades comunsrdquo (DUBOIS1991 p135)

Colocar ordem na nebulosa dos conceitos remete a classificaacute-los E partindo

231

do princiacutepio que o conceito eacute um objeto mental o meacutetodo aplicado a todo o objeto

consiste em se interrogar acerca das suas caracteriacutesticas essenciais e permanentes

A anaacutelise teoacuterica dos conceitos eacute um domiacutenio de pesquisa interdisciplinar que se

encontra com os filoacutesofos os linguistas os psicoacutelogos e os cientistas cognitivos

Sem querer aprofundar essa questatildeo citam-se paracircmetros esboccedilados por Maniez

(1999 p 258) o qual afirma que todo conceito pode ser caracterizado por - seu

estatuto terminoloacutegico (Que termo Que liacutengua Que niacutevel de especializaccedilatildeo) e -

seu estatuto semacircntico (Qual definiccedilatildeo Qual campo semacircntico Qual categoria

fundamental Quais relaccedilotildees de vizinhanccedila Qual grau de abstraccedilatildeo) A partir

desses criteacuterios pode-se visualizar seja uma seacuterie de classificaccedilotildees unidimensionais

dos conceitos seja um banco de dados conceituais que reteacutem o todo ou parte

desses criteacuterios seja uma classificaccedilatildeo pluridimensional220

Os conceitos de classe categoria e faceta satildeo trabalhados na sequecircncia

lembrando que satildeo de interesse especiacutefico dos estudiosos da Classificaccedilatildeo como jaacute

mencionado Poreacutem eacute certo que os classificadores e indexadores tecircm de assumir o

papel de estudiosos da classificaccedilatildeo visto que existem dificuldades de representar e

atualizar os assuntos para atender agraves expectativas dos usuaacuterios Desse modo

verifica-se como os conceitos satildeo enunciados no acircmbito das classificaccedilotildees

biblioteconocircmicas tradicionais

O termo classe apresenta diversas significaccedilotildees na linguagem corrente Fala-

se de classes sociais classes de pessoas ou produtos que se diferenciam por sua

qualidade classes escolares classes de viagens entre inuacutemeras outras

Os cataacutelogos comerciais e as listas telefocircnicas satildeo um exemplo tiacutepico de

classificaccedilatildeo na vida diaacuteria atualizando o termo classe que lhe daacute origem os grupos

de semelhantes satildeo dispostos em uma ordem loacutegica que facilita a orientaccedilatildeo no

conjunto dos produtos em questatildeo

220 Modelo de classificaccedilatildeo de objetos que tem parentesco com a classificaccedilatildeo facetada de assuntos em que cada campo exprime uma dimensatildeo comum a todos os elementos Assim as dimensotildees de um repertoacuterio de pessoas poderiam ser sobrenome prenome endereccedilo coacutedigo postal + cidade (cada um desses criteacuterios admite somente um valor por objeto) Esse meacutetodo eacute simples expressivo e econocircmico e oferece como outra vantagem o benefiacutecio do socorro do computador para a classificaccedilatildeo A ordem de sucessatildeo dos campos pode ser fixada por exemplo do geral para o particular coacutedigo postal endereccedilo sobrenome prenome Isso significa que eacute permitido classificar a base em funccedilatildeo da ordem escolhida para os diferentes campos A teacutecnica classificatoacuteria de uma classificaccedilatildeo pluridimensional natildeo eacute nada mais que uma forma abreviada de uma classificaccedilatildeo hieraacuterquica em que criteacuterios comuns a todos os elementos da classe satildeo utilizados nos diferentes niacuteveis de divisatildeo Agrave classificaccedilatildeo mono hieraacuterquica (vertical) sucede uma classificaccedilatildeo poli hieraacuterquica

232

Na linguagem do cotidiano o conceito de classe eacute usado a todo instante

Quando se quer definir um conceito nomeiam-se natildeo soacute a classe agrave qual ele

pertence como tambeacutem as caracteriacutesticas que o distinguem dos outros conceitos da

mesma classe Segundo Dobrowolski (1964 p 8) a definiccedilatildeo lsquoParis eacute a capital da

Franccedilarsquo mostra que Paris pertence agrave classe das capitais O fato de Paris ser a capital

da Franccedila eacute um caractere que distingue essa cidade de todas as outras capitais

Considerando-se os princiacutepios de classificaccedilatildeo documentaacuteria segundo

Dobrowolski (1964 p 7) o termo classe somente pode ser usado para designar um

conjunto de unidades221 que apresentam uma caracteriacutestica comum a partir da qual o

conjunto adquire o caraacuteter de classe As unidades a serem classificadas podem ser de

coisas de pessoas de fenocircmenos de termos ou conceitos abstratos etc O elemento

de ligaccedilatildeo entre as unidades de uma mesma classe pode ser constituiacutedo pela

coexistecircncia por uma semelhanccedila formal por um objetivo comum por elos de

organizaccedilatildeo pela uniatildeo no tempo ou no espaccedilo entre outros Classe portanto pode

ser cada grupo de unidades que apresentam ao menos uma caracteriacutestica em comum

ou cada uma das divisotildees principais de um sistema esquema ou quadro de

classificaccedilatildeo representando cada divisatildeo principal uma aacuterea do conhecimento As

caracteriacutesticas comuns a todas as unidades de uma classe ou caracteres de classe

formam a compreensatildeo da classe (exemplo os caracteres comuns ao ferro ao cobre

ao zinco e a outros corpos pertencentes agrave classe de metais definem a compreensatildeo do

conceito lsquometalrsquo) enquanto todas as unidades que apresentam determinadas

caracteriacutesticas formam a extensatildeo da classe (exemplo todos os corpos que

apresentam as caracteriacutesticas dos metais) Eacute o elemento de ligaccedilatildeo222 (o que as

unidades da classe tecircm em comum) entre as unidades de uma classe dada que decide

tanto a compreensatildeo da classe como sua extensatildeo Eacute a partir da definiccedilatildeo das

caracteriacutesticas comuns (exemplo aos metais) que a extensatildeo da classe eacute estabelecida

considerando que todas as unidades que tenham essas caracteriacutesticas pertenccedilam agrave

uacutenica e mesma classe As unidades de uma classe dada podem ter uma denominaccedilatildeo

geneacuterica e uma denominaccedilatildeo individual diz-se que o oxigecircnio eacute um gaacutes gaacutes eacute a

denominaccedilatildeo geneacuterica do oxigecircnio (DOBROWOLSKI 1964 p 8) 221 As unidades a serem classificadas podem ser de seres (todo ente vivo e animado o que ou aquilo que se potildee como existente) ou de saberes (termos conceitos assuntos disciplinas do conhecimento) 222 O elemento de ligaccedilatildeo entre as unidades de uma mesma classe pode ser constituiacutedo pela coexistecircncia por uma semelhanccedila formal por um objetivo comum pela uniatildeo temporal ou espacial por determinados laccedilos de organizaccedilatildeo entre outros

233

Piedade (1983 p 19) considera que ldquoclasse eacute um conjunto de coisas ou

ideacuteias que possuem um ou vaacuterios atributos predicados ou qualidades em comumrdquo

Classe de acordo com Bariteacute (1997 p 29-30) pode ser um conjunto de

conceitos ou elementos definidos pelo fato de possuir ao menos uma propriedade ou

uma caracteriacutestica em comum223 ou ainda cada uma das divisotildees principais em que

se manifesta um sistema ou quadro de classificaccedilatildeo correspondendo cada divisatildeo

principal agrave uma disciplina ampla224

Definiccedilotildees similares aparecem no dicionaacuterio de Keenan (1996 p 23) grupo

de conceitos ou objetos reunidos por alguma caracteriacutestica comum225 ou ainda as

maiores subdivisotildees de um esquema de classificaccedilatildeo226 nos glossaacuterios de Harrod

(1977 p 195) um conjunto ou grupo de conceitos ou de objetos reunidos por

algum tipo de similaridade a que os unifica227 de Menezes Cunha e Heemann

(2004 p 16) ldquoconjunto de objetos ou conceitos que possuem uma ou mais

caracteriacutesticas comunsrdquo de Thompson (1943 p 29) uma divisatildeo de um esquema

de classificaccedilatildeo sob a qual satildeo agrupados assuntos que tecircm caracteriacutesticas

comuns228 e da UnB (GLOSSAacuteRIO 2007) ldquogrupo de elementos que tecircm no

miacutenimo uma caracteriacutestica em comumrdquo Essa similaridade eacute chamada de

caracteriacutestica da classificaccedilatildeo Portanto numa seacuterie ou num conjunto uma classe

consiste na reuniatildeo de todas as coisas que satildeo semelhantes em essecircncias ou

caracteriacutesticas ou propriedades ou relaccedilotildees pelas quais ela eacute definida

Encontram-se tambeacutem em glossaacuterios de Ciecircncia da Informaccedilatildeo definiccedilotildees

que submetem classe agrave categoria Por exemplo ldquoA subdivision of a categoryrdquo (uma

subdivisatildeo de uma categoria) (ELSEVIERrsquoS 1973 p 94) ou ainda ldquoa major division

of a categoryrdquo (a maior divisatildeo de uma categoria) (HARROD 1977 p 195)

Uma classe pode resultar da divisatildeo do universo de conhecimentos de uma

determinada aacuterea ou campo disciplinar divisatildeo feita de acordo com as caracteriacutesticas 223 conjunto de conceptos o elementos definidos por el hecho de poseer al menos un rasgo o una caracteriacutestica en comuacutenrdquo 224 ldquocada una de las divisiones principales en que se despliega un sistema o cuadro de clasificacioacuten correspondiendo cada divisioacuten principal a una disciplina ampliardquo 225 ldquogroup of concepts or things assembled by some common characteristicrdquo 226 ldquothe major subdivisions of a classification eacutechemerdquo 227 ldquoa group of concepts or of things assembled by some likeness which unifies themrdquo 228 ldquoa division of a classification scheme under which are grouped subjects that have common characteristicsrdquo

234

intriacutensecas ou fundamentais de cada conceito nomeando conjuntos mutuamente

exclusivos poreacutem o conceito de classe natildeo se aplica somente agraves aacutereas do conhecimento

A divisatildeo da classe principal229 em classes menores deve esgotar a classe

que ela divide de maneira que a soma das extensotildees das classes seja igual agrave

extensatildeo da classe principal A extensatildeo da classe seraacute mais restrita que a da

classe principal enquanto que aparecendo sob uma forma mais definida a sua

compreensatildeo seraacute mais rica que a compreensatildeo da classe principal

Para decompor uma classe escolhe-se entre as caracteriacutesticas dessa classe

a que apresentar a maior variedade de formas ou que melhor corresponder aos

objetivos de quem estaacute elaborando a classficaccedilatildeo A essa caracteriacutestica230 chama-

se base de divisatildeo porque a variedade das suas formas permite agrupar as

unidades da classe principal em classes particulares de extensatildeo inferior (por

exemplo para classificar um objeto pode-se tomar por base de divisatildeo a mateacuteria de

que ele eacute feito a sua cor a sua forma etc Essas caracteriacutesticas distinguem os

objetos e podem ser tomadas por base de divisatildeo)

Segundo Mills (1960 p 8 Traduccedilatildeo livre da autora) a divisatildeo de um assunto

eacute influenciada pela aplicaccedilatildeo de um Princiacutepio de Divisatildeo (ou Caracteriacutestica como eacute

frequentemente chamado pelos bibliotecaacuterios) para produzir subclasses nas quais

aquele princiacutepio estaacute manifesto em modos ou graus variados Por exemplo a classe

Literatura eacute dividida pela caracteriacutestica por Liacutengua para obter subclasses como

Literatura Inglesa Literatura Francesa etc231

A classificaccedilatildeo tem sempre um fim uacutetil em funccedilatildeo do qual se decide a escolha

da base de divisatildeo da sua progressatildeo e do grau de ramificaccedilatildeo da classificaccedilatildeo

A uniatildeo e a divisatildeo constituem-se num fenocircmeno bilateral satildeo duas faces de

uma operaccedilatildeo uacutenica de classificaccedilatildeo pois natildeo pode existir na classificaccedilatildeo

agregaccedilatildeo sem desagregaccedilatildeo Eacute a uacutenica e mesma operaccedilatildeo vista sob dois acircngulos

diferentes divisatildeo-uniatildeo

Frequentemente encontra-se uma classe Generalidade nas classificaccedilotildees

229 Classe Principal eacute a principal divisatildeo de um esquema de classificaccedilatildeo por exemplo nas classificaccedilotildees claacutessicas as disciplinas do conhecimento 230 Caracteriacutestica eacute aquilo que caracteriza ou distingue eacute a qualidade ou atributo escolhido para servir de base agrave classificaccedilatildeo ou agrave divisatildeo 231 ldquodivision of a subject is affected by applying a Principle of Division (or Characteristic as it is often called by librarians) to produce subclasses in which that principle is manifested in varying ways or degrees For example the class Literature is divided by the characteristic of Language to obtain subclasses such as English Literature French Literature etcrdquo

235

Depois de estabelecidas as classes mais importantes sobra um pequeno nuacutemero de

unidades tatildeo variadas que renderiam uma divisatildeo extremamente particularizada natildeo

completamente definida desprovida de valor praacutetico imediato a classe

Generalidade que se torna assim uma espeacutecie de lugar de tracircnsito para os novos

elementos do conjunto que ainda natildeo encontraram o seu proacuteprio lugar nas

classificaccedilotildees Ou cuja especificidade natildeo eacute reconhecida como eacute o caso da

Biblioteconomia que estaacute em Generalidades na CDD CDU entre outras

classificaccedilotildees Nem sempre a questatildeo eacute transitoacuteria De todo modo a classe

Generalidades eacute aquela que melhor demonstra o aspecto pragmaacutetico - e relativo - de

qualquer sistema de classificaccedilatildeo

As regras ou recomendaccedilotildees como por exemplo a das classes serem

mutuamente exclusivas existem para atender agrave principal finalidade da classificaccedilatildeo

que eacute organizar para recuperar evitando a dispersatildeo de informaccedilatildeo que poderia ser

incluiacuteda em outra classe

O termo caracteriacutestica em Teoria da Classificaccedilatildeo significa qualidade ou

atributo232 de um objeto escolhido para servir de base ou de princiacutepio de divisatildeo a uma

classificaccedilatildeo233 (BARITEacute 1997 p 27-28) Eacute portanto uma propriedade234 distintiva

pela qual uma classe eacute definida em um esquema de classificaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo de uma caracteriacutestica pode ser exaustiva ou seletiva em funccedilatildeo

do que se almeja alcanccedilar com o sistema de classificaccedilatildeo mas eacute de fundamental

importacircncia que o seu emprego seja consistente

232 Atributo aquilo que eacute proacuteprio de um ser (FERREIRA 1999 p 72) 233 ldquocualidad o atributo de un objeto escogido para servir de base o de principio de divisioacuten a una clasificacioacutenrdquo 234 Propriedade qualidade de proacuteprio qualidade especial particularidade (FERREIRA 1999 p 533)

236

Para Angulo Marcial235 (1996 apud MENEZES CUNHA HEEMANN 2004 p

15) caracteriacutestica eacute uma ldquopropriedade ou atributo que distingue conceitos classes

categorias ou facetas e permite separaacute-los agrupaacute-los ou estabelecer uma ordem de

precedecircnciardquo

Depois que Ranganathan elaborou a CC na qual introduziu entre outros

novos termos o termo faceta esse termo ficou sendo nos modernos estudos sobre

Teoria da Classificaccedilatildeo o substituto do termo caracteriacutestica Na realidade os dois

termos significam os diferentes aspectos dos assuntos e podem caso considerado

pertinente ser erigidos em princiacutepio de divisatildeo Eric De Grolier (1962 p15) registrou uma seacuterie de definiccedilotildees e tentativas de

precisatildeo terminoloacutegica (cf subseccedilatildeo 41) mas afirmou que natildeo havia uma definiccedilatildeo

conclusiva soacutelida no campo da Classificaccedilatildeo para o termo categoria Sua

afirmativa continua vaacutelida pois satildeo vaacuterias as definiccedilotildees encontradas para o referido

termo Foi Ranganathan ao utilizar pela primeira vez o conceito extraiacutedo da Filosofia

e aplicado agrave Teoria da Classificaccedilatildeo quem elaborou um conceito de categoria

condizente com a complexidade do ato de classificar Cada faceta de um assunto

assim como cada divisatildeo de uma faceta eacute considerada como uma manifestaccedilatildeo de

uma das cinco categorias fundamentais Portanto na Moderna Teoria da

Classificaccedilatildeo categorias satildeo os grupos de conceitos nos quais termos satildeo

ordenadosclassificados por meio de anaacutelises por facetas

Grolier (1962 p 15-16) encontrou na literatura da aacuterea o que ele afirma ser

uma lamentaacutevel confusatildeo (une assez regrettable confusion) O termo categoria pode

ser tomado tanto no sentido amplo e geral - a que fez Wildhack

(CLASSIFICATION 1957 p 105 apud GROLIER 1962 p 171) e tornou-o

sinocircnimo de lsquoponto de vistarsquo segundo o qual se pode dividir um assunto quanto

como sinocircnimo de faceta (termo em voga proposto por Ranganathan) - que Foskett

(CLASSIFICATION 1957 p 115 apud GROLIER 1962 p 171) adotou e cuja

lsquoanaacutelise por facetasrsquo consistiria em uma anaacutelise de conjunto de um assunto lsquosob um

certo nuacutemero de facetas ou categorias das coisasrsquo no interior de cada categoria as

rubricas enumeradas comportariam todas a mesma relaccedilatildeo confrontadas com o

assunto em seu conjunto236 O termo categoria tambeacutem eacute utilizado com o sentido de 235 AcircNGULO MARCIAL N Manual de tecnologia y recursos de la informacioacuten Meacutexico Instituto Politeacutecnico Nacional 1996 236 Farradane (CLASSIFICATION 1957 p 65 apud GROLIER 1962 p 171) assimila a mesma noccedilatildeo de faceta e categorias de D J Foskett ldquoagrupamentos de conceitos similares em categorias de substantivos ou facetasrdquo

237

conceitos gerais (acepccedilatildeo adotada pelo Vocabulaire de la Philosophie de Lalande)

Essa acepccedilatildeo estaacute proacutexima da adotada no Glossary and Subject Index237 que

define categoria como conceito de um alto grau de generalidade que tem um largo

domiacutenio de aplicaccedilatildeo que pode ser utilizado para agrupar outros conceitos Vickery

(1953 p 54 apud GROLIER 1962 p 16)238 apresentando uma definiccedilatildeo utilizada por L

Wood entende por categorias conceituais os conceitos de alto grau de generalidade que

tecircm amplo domiacutenio de aplicaccedilatildeo elaborados pelo pensamento se referindo direta ou

indiretamente ao conhecimento empiacuterico e utilizados pelo pensamento para interpretar

esse conhecimento Segundo Grolier na terminologia mais especializada de

Ranganathan o termo categoria fundamental eacute utilizado segundo um sentido particular no

qual cada faceta de um assunto qualquer como tambeacutem cada divisatildeo de uma faceta eacute

considerada como uma manifestaccedilatildeo de uma das cinco categorias fundamentais

(RANGANATHAN 1957 p 160 apud GROLIER 1962 p16)239 Essa concepccedilatildeo sem

duacutevida nenhuma ligada agraves tradiccedilotildees filosoacuteficas ou miacutesticas em Ranganathan surge

ligada tambeacutem a uma preocupaccedilatildeo praacutetica de lsquoassegurar uma sequecircncia uniformersquo de

facetas nos diferentes assuntos Na pesquisa apesar de compilar diversas noccedilotildees do

termo categoria Grolier natildeo adota especificamente uma ou apenas uma

Pode-se dizer que a categoria eacute um conceito complexo cuja compreensatildeo

exige que ele seja comparado240 agraves noccedilotildees de caracteriacutestica classe e faceta para

as devidas distinccedilotildees pois apesar das noccedilotildees serem frequentemente confundidas

na literatura elas satildeo diferentes

Permanece uma espeacutecie de enfoque provisoacuterio do conceito de categoria na

Teoria da Classificaccedilatildeo apesar de Ranganathan ter pretendido estabelecer o seu

enfoque definitivo

237 Glossary and Subject Iacutendex est une eacutedition reviseacutee et augmenteacutee drsquoun glossaire drsquoabord preacutesenteacute agrave la All-India Library Conference en 1953 mais qui nrsquoest ni suffisamment complet ni suffisamment critique Le secretariat hindou du Comiteacute FIDCA agrave lrsquoInsdoc de New Delhi a publieacute un document multigraphieacute (s d) intitule ldquoIndian Standards Glossary for Classification Termsrdquo baseacute sur la terminologie de S R Ranganathan (Annals of Library Science n 5 1958 p 76-112) (Cf GROLIER 1962 p 170-171) 238 VICKERY B C Systematic subject indexing Journal of Documentation London v 9 n 1 p 54 Mar 1953 239 RANGANATHAN S R Colon classification v 1 Basic classification 5th ed Madras Madras Library Association 1957 (Madras Library Association Public Series 22) 240 Natildeo existe a possibilidade de trabalhar com definiccedilatildeo sem o auxiacutelio da comparaccedilatildeo Para definir satildeo necessaacuterios pelo menos dois termos

238

Categorias satildeo ferramentas usadas para reunir dividir e representar conceitos

de acordo com a caracteriacutestica intriacutenseca fundamental ou aspecto dominante de

cada conceito com a finalidade de organizar esses conceitos para proceder agrave

organizaccedilatildeo do conhecimento Esse caraacuteter instrumental utilizado para descrever

certas regularidades do mundo material aparece jaacute nas categorias aristoteacutelicas

Como as categorias expressam regularidades forccedilosamente tambeacutem constituem

estruturas conceituais com certa estabilidade e permanecircncia - embora o resultado da

sua aplicaccedilatildeo aos diferentes objetos possa ser variaacutevel Enquanto cada categoria

(princiacutepio de divisatildeo) corresponde a um niacutevel de anaacutelise especiacutefico e parcial a ser

aplicado sobre um objeto cada faceta eacute o resultado da aplicaccedilatildeo desse niacutevel de anaacutelise

especiacutefico sobre um objeto Portanto uma faceta corresponde a um aspecto do objeto

visto sob determinado acircngulo Exemplificando no conceito Biblioteca a faceta tipos de

biblioteca faz parte da categoria tipo Os focos (Bibliotecas Puacuteblicas Bibliotecas

Escolares Bibliotecas Especializadas) que integram uma faceta surgem da aplicaccedilatildeo

de um criteacuterio ou princiacutepio de divisatildeo a um conceito ou cabeccedilalho Seguindo essa

concepccedilatildeo pode-se definir categorias como instrumentos intelectuais que satildeo

usados por estudiosos da classificaccedilatildeo para investigar regularidades de objetos do

mundo fiacutesico e ideal e para representar noccedilotildees Essa anaacutelise e representaccedilatildeo satildeo

feitas com vistas a organizar logicamente sistemas de conceitos suficientes para a

organizaccedilatildeo do conhecimento em termos gerais e anaacutelises de assunto ou

classificaccedilatildeo de documentos em termos especiacuteficos

A partir de um ponto de vista que combina o enfoque tradicional (claacutessico) e o

contemporacircneo a respeito de classificaccedilatildeo em geral e categorizaccedilatildeo em particular

Hemalata Iyer241 adverte que a organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo envolve a estruturaccedilatildeo

do conhecimento seja por filoacutesofos seja por bibliotecaacuterios e que estruturar eacute uma

maneira de legitimar domiacutenios na comunicaccedilatildeo e na educaccedilatildeo

Iyer (1995)242 salienta que o conhecimento em si natildeo tem estrutura que eacute

imposta primeiramente pelos filoacutesofos a partir da divisatildeo do conhecimento em 241 Iyer eacute pesquisadora docente do Department of Information Studies na Albany University de New York (interessada em organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo desenvolvimento de competecircncias para o gerenciamento de recursos audiovisuais controle de vocabulaacuterio rede mundial como recurso auxiliar para a pesquisa metadados e teoria da classificaccedilatildeo) membro do DRTC e coordenadora regional durante alguns anos da International Society for Knowledge Organization (ISKO) Escreveu o livro Classificatory Structures concepts relations and representations (1995) no qual examina especialmente estruturas do conhecimento do ponto de vista de vaacuterias perspectivas disciplinares (Hemalata Iyer Disponiacutevel em lthttpwwwalbanyeduccifaculty-staffiyerhtmlgt Acesso em 10 maio 2008) 242 Nesta tese realizou-se uma traduccedilatildeo livre do texto de Iyer (1995)

239

disciplinas e que os bibliotecaacuterios utilizam essa divisatildeo do conhecimento em

disciplinas como base para a organizaccedilatildeo do conhecimento registrado em

bibliotecas Em um enfoque considerado contemporacircneo a pesquisadora parte do

pressuposto de que disciplinas satildeo tambeacutem sistemas sociais que sofrem influecircncias

histoacutericas e culturais que podem afetar o seu desenvolvimento Iyer ressalta tambeacutem

que as categorias usadas na classificaccedilatildeo bibliograacutefica ou biblioteconocircmica foram

originalmente aplicadas agrave classificaccedilatildeo de disciplinas e natildeo agrave classificaccedilatildeo de

conceitos e aponta como problemas para o emprego dos princiacutepios da classificaccedilatildeo

aristoteacutelica agrave elaboraccedilatildeo de categorias aplicaacuteveis nos sistemas de documentaccedilatildeo

contemporacircneos os seguintes fatos na atividade documentaacuteria um conceito pode

transitar por vaacuterias disciplinas pois natildeo tem definiccedilatildeo determinada na atividade

documentaacuteria adotam-se limites riacutegidos entre as categorias e na atividade

documentaacuteria a formaccedilatildeo dos conceitos baseia-se no pressuposto de que o mundo

real eacute estruturado em grupos hieraacuterquicos que compartilham propriedades que lhes

satildeo inerentes Contudo pondera que a utilidade das categorias estaacute em fornecer

criteacuterios para a formaccedilatildeo de agrupamentos necessaacuterios a determinados objetivos

Iyer (1995) entende que os conceitos possibilitam obter informaccedilatildeo

suplementar aleacutem daquela obtida pela observaccedilatildeo (da coisa em si) e pela audiccedilatildeo

(do termo) - base dos sistemas hieraacuterquicos As categorias permitem a ordenaccedilatildeo e

consequentemente concedem estabilidade ao mundo da percepccedilatildeo segmentando

e agrupando os objetos em formas uacuteteis (toda coisa ou ideacuteia que nos chega eacute

automaticamente comparada com outra que conhecemos numa tentativa de

compreendecirc-la de modo que nos seja uacutetil) Para exemplificar Iyer (1995) refere-se a

um ldquolaptoprdquo que pode simultaneamente ser agrupado como uma pequena caixa

um processador de palavras um dispositivo de comunicaccedilatildeo ou um brinquedo

dependendo do enfoque e do uso que se faraacute do objeto naquele momento A autora

observa que a classificaccedilatildeo eacute em um niacutevel elementar embasada (e limitada pela)

na similaridade enquanto os conceitos dentro de uma categoria satildeo o resultado de

relaccedilotildees muacutetuas (propriedades comuns usadas para relacionar conceitos ou ajudar a

definir uma categoria como se um animal tiver nadadeiras e quelras provavelmente

seraacute colocado na categoria peixe) Esse enfoque tradicional de categorias (que

compreende categorias naturais relativamente estaacuteveis e que parecem ser comuns

a todo ser humano - universais) originou-se na teoria aristoteacutelica De acordo com

esse paradigma categorias naturais seriam aquelas oacutebvias que reproduzem

especialmente a evoluccedilatildeo bioloacutegica como espeacutecies gecircnero e famiacutelia natildeo admitindo

240

portanto interpretaccedilotildees soacutecio-culturais diversas

Iyer menciona tambeacutem novos enfoques que se diferenciam do paradigma

tradicional como o enfoque de Wittgenstein (categorias podem ser formadas

fundamentadas prioritariamente na semelhanccedila de famiacutelia e natildeo nas definiccedilotildees) e o

da teoria da psicoacuteloga Eleanor Rosch desenvolvida na deacutecada de 1970 cujas

pesquisas em Psicologia continuaram avanccedilando na uacuteltima deacutecada do seacuteculo XX e

culminando com a ldquoproposta dos protoacutetiposrdquo O princiacutepio fundamental da proposta

dos protoacutetipos eacute a rede de propriedades inter-relacionadas que conectam conceitos

na maioria das categorias e a perspectiva de verificar que alguns exemplares

definem melhor uma categoria do que outros (a truta eacute um exemplo melhor da

categoria peixe do que o pargo) numa clara conformaccedilatildeo de uma estrutura

graduada (quadro 43) e de limites tecircnues entre os membros das categorias

1 As categorias de estrutura graduada natildeo apresentam qualquer propriedade inerente ou natural como as categorias tradicionais categorias taxonocircmicas podem ser observadas sem complicaccedilatildeo peixes satildeo claramente diferentes de paacutessaros mas outros tipos de categorias natildeo admitem representaccedilatildeo simples como ldquoO que poderia definir as propriedades de rosardquo

2 Todos os membros de categorias de estrutura graduada natildeo satildeo semelhantes e a estrutura categorial eacute determinada por uma graduaccedilatildeo ou tipologia na qual alguns membros satildeo mais acertados que outros carro eacute um representante melhor ou mais tiacutepico de transporte mecanizado do que um balatildeo dirigiacutevel ou uma esteira rolante Mas uma categoria tiacutepica eacute tambeacutem uma questatildeo de perspectiva

3 A estrutura categorial graduada eacute assimeacutetrica o que leva a um enfoque ecoloacutegico e comportamental de categorizaccedilatildeo as pessoas classificam objetos em categorias de acordo com a sua caracterizaccedilatildeo

4 As categorias de estrutura graduada satildeo instaacuteveis por definiccedilatildeo continuamente redefinidas de acordo com o enfoque o contexto e a sua utilizaccedilatildeo De modo geral reuacutenem-se objetos de acordo com objetivos pragmaacuteticos Por exemplo uma categoria cujos itens satildeo roupas escova de dentes lacircmina de barbear e passaporte parece totalmente sem sentido (nenhum desses objetos pertence exclusivamente a essa categoria) as suas propriedades natildeo satildeo similares (atendem a diferentes objetivos e pertencem a diferentes categorias) e obviamente essas categorias natildeo estatildeo de acordo com as exigecircncias do paradigma tradicional (de apresentar obrigatoriamente as mesmas propriedades) Entretanto quando as propriedades satildeo reunidas como itens de uma lsquoviagem de negoacuteciosrsquo a categoria pode ser rapida e claramente identificada

5 As categorias de estrutura graduada natildeo satildeo parte de uma estrutura que define o universo do conhecimento mas sim de uma estrutura que concede subsiacutedios para o pensar e para o agrupamento pontual por associaccedilatildeo Esse enfoque eacute especialmente interessante quando se pensa nos usuaacuterios em busca de informaccedilatildeo e no modo como eles categorizam conceitos de maneira a expressar as suas necessidades de informaccedilatildeo Por exemplo quando um usuaacuterio pesquisa pela categoria classificaccedilatildeo pode ser que esteja interessado somente nas ferramentas utilizadas para organizar informaccedilatildeo (como os sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica tradicionais CDD CDU LCC CC) ou em Filosofia Psicologia Ciecircncia Cognitiva relacionadas agrave classificaccedilatildeo o que eacute significativamente diferente Atento a essa questatildeo Richard Sweeney Halsey (1989 p 89 apud IYER 1995 p 45) nota que ldquoo desafio mais excitante na Teoria da Classificaccedilatildeo seraacute aprender como relacionar a estrutura conceitual de textos graacuteficos e dados e a estrutura cognitiva de usuaacuterios e da alteraccedilatildeo de suas percepccedilotildees atraveacutes do tempordquo

QUADRO 43 - CARACTERIacuteSTICAS DE CATEGORIAS DE ESTRUTURA GRADUADA FONTE Iyer (1995 p 43-45)

241

O que sustenta o paradigma de estrutura graduada eacute a ideacuteia de que

elementos de uma categoria podem ser ordenados do exemplar tiacutepico mais

representativo ao menos representativo e que as fronteiras entre as categorias

podem ser nebulosas (eacute natural e tiacutepico que temas sejam colocados em categorias

de acordo com a sua utilidade243)

Como a classificaccedilatildeo eacute um processo realizado por seres humanos eacute correto

pensar que as caracteriacutesticas dos objetos natildeo satildeo as uacutenicas determinantes do

processo Necessidades especiacuteficas da comunidade interessada e aspectos

ambientais sociais educacionais e culturais de quem procede agrave classificaccedilatildeo

tambeacutem contribuem para a definiccedilatildeo de categorias e a classificaccedilatildeo dos seus

243 Pode-se estabelecer uma associaccedilatildeo entre o paradigma da estrutura graduada e a loacutegica difusa ou loacutegica nebulosa (fuzzy logic) O conceito de fuzzy logic (FL) foi concebido pelo matemaacutetico americano Lotfi Zadeh professor da Universidade da Califoacuternia em Berkeley na deacutecada de 1960 e apresentado como uma metodologia de processamento de dados pela definiccedilatildeo parcial do conjunto de membros em vez da distinccedilatildeo entre membros e natildeo-membros do conjunto (ZADEH 1965) Na teoria claacutessica dos conjuntos um determinado elemento do domiacutenio em questatildeo pertence ou natildeo pertence ao referido conjunto (loacutegica binaacuteria herdada de Aristoacuteteles que formou a base do pensamento loacutegico ocidental classificando as afirmaccedilotildees como verdadeiras ou falsas) Na teoria dos conjuntos nebulosos (fuzzy set) na qual se baseia a FL existe um grau de pertinecircncia de cada elemento a um determinado conjunto (loacutegica difusa que estabelece que algo pode coexistir com o seu oposto afirmando que muitas experiecircncias humanas natildeo podem ser classificadas simplesmente como verdadeiras ou falsas o que geraria respostas incompletas e insatisfatoacuterias) Por exemplo apresentado um caracter pode se afirmar sem duacutevida se esse caracter pertence ou natildeo-pertence ao conjunto dos caractere A E I O U Poreacutem respostas agraves questotildees eacute aquele homem alto ou baixo A renda do cliente eacute alta meacutedia ou baixa A taxa de risco para determinado empreendimento eacute grande ou pequena Demonstram que entre a certeza de ser e a certeza de natildeo ser existem infinitos graus de incertezas A FL trata das imperfeiccedilotildees intriacutensicas agrave informaccedilatildeo representada em uma linguagem natural Os pesquisadores Zadeh Klir e Yuan (1996) argumentam que as pessoas natildeo exigem precisatildeo ou informaccedilotildees numeacutericas e que elas satildeo capazes de exercer um controle adaptativo alto Se controladores de feedback fossem programados para aceitar ruiacutedos e entradas imprecisas seriam muito mais eficazes e talvez mais faacuteceis de serem implementados De modo objetivo pode-se definir FL como sendo uma ferramenta capaz de capturar informaccedilotildees vagas em geral descritas em uma linguagem natural e convertecirc-las para um formato numeacuterico de faacutecil manipulaccedilatildeo pelos computadores atuais A FL estaacute fundamentada em palavras e natildeo em nuacutemeros ou seja os valores ldquoverdadesrdquo satildeo expressos linguisticamente (exemplo de modificadores vaacutelidos que alteram a variaacutevel temperatura fria morna e quente muito pouco natildeo muito mais ou menos etc) A FL tambeacutem pode ser definida como a loacutegica que suporta os modos de raciociacutenio que satildeo aproximados em vez de exatos como o homem estaacute naturalmente acostumado a trabalhar (ZADEH KLIR YUAN 1996) Nesse contexto a FL eacute uma metodologia de controle de resoluccedilatildeo-de-problemas que se presta agrave implementaccedilatildeo em sistemas que vatildeo desde mricro-controladores ateacute as grandes redes multi-canal PC ou estaccedilotildees-de-trabalho embasadas em sistemas de aquisiccedilatildeo e controle de dados A FL pode ser implementada em hardward software ou uma combinaccedilatildeo de ambos e fornece um modo simples de chegar a uma conclusatildeo definitiva embasado em informaccedilotildees vagas ambiacuteguas imprecisas barulhentas ou incompletas O enfoque da FL para controlar problemas imita uma pessoa que vai tomar decisotildees soacute que de modo muito mais raacutepido Usa uma linguagem imprecisa mas muito descritiva para lidar com a entrada de dados semelhante a um operador humano Pode-se dizer que a FL foi concebida como um meacutetodo melhor para a organizaccedilatildeo triagem classificaccedilatildeo e tratamento dos dados mas provou ser uma excelente opccedilatildeo para muitas aplicaccedilotildees a sistemas de controle de dados uma vez que mimetiza (imita) a loacutegica humana de controle (FUZZY 2006) A FL eacute muito robusta e capaz de aceitar tanto a intervenccedilatildeo do operador quanto a entrada dos dados e uma vez implementada funciona regularmente com pouca ou nenhuma necessidade de adaptaccedilatildeo

242

membros - interferindo no ato de incluir tomate na categoria vegetais ou na categoria

frutas segundo Iyer (1995)

De acordo com Bariteacute (1997 p 29 Traduccedilatildeo livre da autora) categoria na

Teoria da Classificaccedilatildeo e na Classificaccedilatildeo do Conhecimento eacute uma concepccedilatildeo

abstrata de tatildeo alta generalidade que pode ser perceptiacutevel em qualquer ser

substacircncia ou objeto cuja essecircncia pode ser analisada a partir de uma perspectiva

semacircntica metafiacutesica ou ontoloacutegica [] cada modo forma ou classe fundamental

do ser na qual podem agrupar-se outros conhecimentos de valor acessoacuterio244

Segundo Marisa Braumlscher Medeiros no Glossaacuterio Geral de Ciecircncia da

Informaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia (2007) categoria significa um conceito

amplo de aplicaccedilatildeo geral utilizado para agrupar conceitos mais especiacuteficos com a

qual concorda Harrod no The Librariansrsquo Glossary (1977 p 173) um conceito de

alta generalidade e larga aplicaccedilatildeo que pode ser usado para agrupar outros

conceitos245

Para Cavalcanti246 (1978 apud MENEZES CUNHA HEEMANN 2004 p 16)

categorias satildeo ldquoclasses que resultam da divisatildeo do universo de conhecimentos de

acordo com as caracteriacutesticas intriacutensecas ou fundamentais de cada conceitordquo

Como se pode constatar categoria representa um termo com vaacuterios

significados considerado por alguns como sinocircnimo de faceta ou como um conceito

de alta generalizaccedilatildeo e larga aplicaccedilatildeo que pode ser usado para agrupar outros

conceitos ou ainda como uma classe descritiva de coisas enquanto outros o

consideram como manifestaccedilatildeo de uma classificaccedilatildeo natural um agrupamento

loacutegico de registros associados ou uma classe ou divisatildeo formada com o propoacutesito

de atender a uma dada classificaccedilatildeo

Tendo em vista os diversos conceitos apresentados entende-se que cada

categoria corresponde a um ponto de vista (um modo de ver) de acordo com o qual

244 ldquoconcepcioacuten abstracta de tan alta generalidad que puede ser perceptible en cualquier ser sustancia u objeto cuya esencia puede analizarse desde una perspectiva semaacutentica metafiacutesica u ontoloacutegica [hellip] cada modo forma o clase fundamental del ser en la cual pueden agruparse otros conocimientos de valor accesoriohelliprdquo 245 a concept of high generality and wide application which can be used to group other conceptsrdquo 246 Cavalcanti C R Indexaccedilatildeo e tesauro metodologia amp teacutecnicas Brasiacutelia ABDF 1978

243

um assunto pode ser dividido um criteacuterio247 de divisatildeo que tem a finalidade de

formar um agrupamento loacutegico concreto e pragmaacutetico de documentos associados

Dito de outra maneira cada criteacuterio de divisatildeo utilizado para agrupar objetos seres

ou conhecimentos (seres ou saberes) visando a uma determinada classificaccedilatildeo a

estabelecer uma ordem - pode configurar uma categoria

O uso de categorias facilita o processo das anaacutelises de assunto e sua

simbolizaccedilatildeo visto que elas ajudam a estabelecer prioridades entre os diversos

assuntos de um documento assim como a estabelecer um arranjo hieraacuterquico

adequado para compor siacutembolos classificatoacuterios O uso de categorias segundo

Bariteacute (2000 p 6) demanda um quadro de referecircncia que possibilita a aplicaccedilatildeo

Categorias necessitam de um objeto de estudo para serem aplicadas O objeto pode

ser qualquer coisa entidade ser ou fenocircmeno que admita anaacutelises como algo

autocircnomo individual Tudo o que existe ou acontece no Universo qualifica-se para

estudo e o que tambeacutem ocorre com o conhecimento expresso nos documentos

Na tentativa de explicar a noccedilatildeo de categoria busca-se respaldo em Bariteacute

(2000) para proceder agrave anaacutelise de suas caracteriacutesticas mais evidentes conforme

mostra o quadro 44

Na realidade o nuacutemero de categorias que um estudioso da classificaccedilatildeo eacute

capaz de estabelecer para o seu trabalho deve aumentar inversamente ao grau de

generalidade de aplicaccedilatildeo O fato de algumas categorias serem altamente

generalizaacuteveis natildeo implica segundo Bariteacute (2000) que sob quaisquer circunstacircncias

elas devam ser usadas Haacute aacutereas de conhecimento onde a aplicaccedilatildeo de certas

categorias natildeo eacute uacutetil Toda disciplina tem a sua proacutepria estrutura conceitual que preacute-

molda categorias a serem usadas para a sua organizaccedilatildeo interna A CC eacute

expressiva nesse sentido levando-se em conta que a foacutermula faceta raramente

forma a sequecircncia completa PMEST

247 Criteacuterio aquilo que serve de base para apreciaccedilatildeo comparaccedilatildeo ou julgamento

244

CARACTERIacuteSTICAS COMENTAacuteRIOS Cada categoria eacute uma uacutenica subdivisatildeo Oferece uma visatildeo fragmentaacuteria ou parcial da realidade isto eacute divide o todo

e como resultado o conjunto de categorias selecionadas deve providenciar uma representaccedilatildeo a mais completa possiacutevel do objeto

Cada categoria implica um niacutevel especiacutefico de anaacutelise Eacute uma abstraccedilatildeo e dado o seu caraacuteter instrumental e funcional a seleccedilatildeo de uma categoria sempre parte de um ponto de vista seja ele dado seja criado seja estabelecido

Categorias satildeo niacuteveis de anaacutelises externos ao objeto Satildeo elementos autocircnomos natildeo compotildeem o objeto satildeo aplicados sobre ele Sua natureza instrumental torna as categorias iguais a equipamentos de laboratoacuterio usados por qualquer cientista em sua aacuterea especiacutefica

Categorias satildeo mutuamente exludentes Providencia informaccedilatildeo fragmentaacuteria da realidade de um objeto envolvendo cada setor exclusiva e excludentemente anulando qualquer possibilidade de interseccedilatildeo entre o niacutevel de anaacutelise de uma categoria com o mesmo niacutevel de anaacutelise de outra categoria

Toda categoria eacute altamente generalista Satildeo conceitos de alta generalizaccedilatildeo e larga aplicaccedilatildeo presume-se que categorias de maior generalizaccedilatildeo como por exemplo Espaccedilo e Tempo possam ser denominadas facetas e aparecem nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas como auxiliares comuns Tipos seria tambeacutem uma categoria aplicaacutevel em larga escala a todas as disciplinas e aacutereas do conhecimento

Toda categoria pode admitir com referecircncia a um objeto niacuteveis variados de subdivisatildeo

Satildeo niacuteveis de subdivisatildeo conhecidos tecnicamente como caracteriacutestica faceta ou atributo por meio dos quais um conceito ou objeto eacute subdividido Assim se para o conceito Ameacuterica do Sul eacute aplicada a caracteriacutestica ldquopor paiacutesesrdquo eacute possiacutevel obter uma seacuterie com os nomes de todos os estados situados nesse continente Eles satildeo termos frequentemente usados indistintamente como sinocircnimos (mas natildeo o satildeo) Embora seja verdade que a caracteriacutestica tambeacutem sugere um certo niacutevel de anaacutelise de um objeto o seu espaccedilo estaacute sempre envolto numa esfera mais compreensiva do que aquela da categoria

QUADRO 44 - CARACTERIacuteSTICAS DAS CATEGORIAS FONTE a autora com base em Bariteacute (2000 p 4-10) e em seus comentaacuterios

245

O termo faceta integrou-se ao vocabulaacuterio teoacuterico da Classificaccedilatildeo mas a

definiccedilatildeo do termo varia segundo os autores o que se configura num problema

Jacques Maniez (1999) mostra que as dificuldades remontam ao fundador da teoria

das facetas Ranganathan que escolheu um termo de sentido metafoacuterico do

vocabulaacuterio corrente um termo ambiacuteguo Maniez (1999 p 249) defende o uso mais

rigoroso do termo e a sua utilidade que faccedila claramente a divisatildeo entre a

classificaccedilatildeo dos conceitos e a classificaccedilatildeo dos assuntos

Quanto agrave noccedilatildeo propriamente dita a faceta eacute apresentada como o aporte

teoacuterico mais importante deste seacuteculo em Teoria da Classificaccedilatildeo Desde 1955 o

grupo de pesquisa CRG sustenta que a classificaccedilatildeo por facetas deve ser a base de

todos os meacutetodos de pesquisa de informaccedilatildeo e em 1994 Yan Xiao (1994) afirmava

que a teoria de Ranganathan comporta todos os tratados constitutivos ou

componentes daquilo que Kuhn chama de um novo paradigma (KUHN 1976)248

uma vez que a teoria tem renovado e revolucionado o conceito de organizaccedilatildeo do

saber

Muitos autores concordam que a multiplicidade de interpretaccedilotildees do termo

faceta eacute uma consequecircncia do fato de o termo ter sido emprestado do vocabulaacuterio

corrente249 e das vaacuterias propostas teoacutericas que se seguiram Ranganathan emprega

um termo existente250 na linguagem corrente e acrescenta uma nova acepccedilatildeo - que

se quer especializada - agraves significaccedilotildees anteriores

Faceta eacute um traccedilo comum agrave todos os elementos de uma classe Ela constitui

um criteacuterio de julgamento que se aplica a uma categoria Ela eacute um valor Por

exemplo a categoria Sexo comporta geralmente dois valores [FM] ao passo que

outras categorias necessitam de inuacutemeros valores Por exemplo a categoria

Vontade necessita da ajuda de conceitos como voluntaacuteria hesitante incapaz

248 Em Epistemologia Kuhn colocou em moda o termo paradigma para designar um corpo de ideacuteias e de teorias coerentes uma forma de abordar um campo cientiacutefico 249 Aliaacutes a ausecircncia de uma efetiva linguagem de especialidade da Ciecircncia da Informaccedilatildeo determina em larga medida a fragilidade da aacuterea e a consequente falta de visibilidade e reconhecimento acadecircmicos tatildeo bem explicitada no texto de Johanna Smit Maria de Faacutetima Taacutelamo e Nair Kobashi ldquoA determinaccedilatildeo do campo cientiacutefico da Ciecircncia da Informaccedilatildeordquo submetido ao Encontro Nacional de Pesquisa em Ciecircncia da Informaccedilatildeo (Enancib) de Belo Horizonte em 2003 250 O termo faceta designa por metaacutefora um aspecto uma face de uma realidade complexa vista sob um acircngulo particular faceta de um objeto (concreto ou abstrato) de uma personalidade Mas tambeacutem eacute percebido como uma caracteriacutestica contrastante notadamente com as caracteriacutesticas vizinhas iguais agraves faces de um poliedro que satildeo limitadas por arestas (exemplo constante nos dicionaacuterios e enciclopeacutedias de cunho geral)

246

indecisa obstinada Assim mesmo a um niacutevel baacutesico ou comum do termo faceta eacute

uma ferramenta de classificaccedilatildeo por menos que ela designe uma categoria e natildeo

um traccedilo individual

Essa anaacutelise terminoloacutegica sumaacuteria eacute suficiente para fazer pressentir que a

diversidade e a riqueza das significaccedilotildees correntes ameaccedilam comprometer qualquer

acepccedilatildeo especifica da palavra em Ciecircncia da Informaccedilatildeo Porque ficando no niacutevel

da linguagem comum pode-se afirmar legitimamente que as classes principais da

classificaccedilatildeo de Dewey satildeo as facetas do saber que a Pedagogia eacute uma faceta do

ensino que os campos de uma referecircncia bibliograacutefica satildeo as facetas do

documento que cada descritor de uma foacutermula de indexaccedilatildeo eacute uma faceta do

assunto E nesse caso a questatildeo a ser colocada natildeo seria mais O que eacute uma

linguagem documentaacuteria de facetas Mas Qual linguagem documentaacuteria natildeo eacute uma

linguagem de facetas

A despeito do raacutepido crescimento e larga popularidade mundial da abordagem

facetada na Teoria da Classificaccedilatildeo Grolier (1965 p 12) por exemplo sustenta que o

conceito de faceta natildeo eacute a panaceacuteia que algumas pessoas pensam que deveria ser

Quando uma noccedilatildeo de uma linguagem documentaacuteria parece fraacutegil eacute

frequentemente uacutetil recorrer agrave Terminologia Porque as linguagens documentaacuterias

natildeo satildeo outra coisa que tentativas de controle e de normalizaccedilatildeo das liacutenguas

humanas com o intuito de facilitar a busca de informaccedilotildees251

Segundo a uacuteltima ediccedilatildeo da CC (1989) faceta eacute um termo geneacuterico que designa

um elemento de um assunto composto Isso mostra que para Ranganathan as facetas

satildeo as caracteriacutesticas dos assuntos e remetem ao postulado das cinco categorias

fundamentais (PMEST) todo elemento de um assunto pertence necessariamente a

uma das cinco - e somente cinco - categorias fundamentais Muitos outros autores em

particular Hjoslashrland (1997 p 73) criticaram a concepccedilatildeo idealista que essa lei implica

apresentada como a expressatildeo de uma ldquosintaxe absolutardquo de uma realidade mental

inerente Tambeacutem criticaacutevel parece a fluidez a ambiguidade semacircntica que envolve

essas categorias donde mal se percebe a sua natureza exata Se tempo e espaccedilo satildeo

manifestaccedilotildees de natureza sintaacutetica as trecircs outras facetas parecem suspensas entre

categorias sintaacuteticas e categorias semacircnticas

251 A Linguagem Documentaacuteria natildeo eacute linguagem da ciecircncia do usuaacuterio ou do sistema eacute a compatibilizaccedilatildeo das trecircs A Linguagem Documentaacuteria segundo Cintra (2002) eacute um tipo de Metalinguagem

247

Permanece a duacutevida trata-se de ferramenta de enunciaccedilatildeo classificaccedilatildeo de

assuntos ou de anaacutelise e classificaccedilatildeo de conceitos Natildeo haacute nenhuma razatildeo pensar

que as categorias conceituais que se estruturam fora do contexto de determinada

representaccedilatildeo de mundo coincidem com as correlaccedilotildees diversas que ligam os

conceitos de um assunto Soacute um forte grau de aproximaccedilatildeo permite reuni-los dentro

de uma mesma categoria

Ao longo do caminho foram encontradas numerosas definiccedilotildees A renomada

Terminologie de la Documentation da Unesco (WERSIG NEVELING 1976) retorna

agrave noccedilatildeo de faceta e a reconduz agravequela de caracteriacutestica de uma classe aspecto sob

o qual um grupo de conceitos pode ser considerado como tendo qualquer coisa de

geral em comum252 com o que parece concordar Broughton (2004 p 299)253 um

grupo de termos dentro de um campo de assunto produzido por um princiacutepio de

divisatildeo geral254

Bariteacute (1997 p 57) respeitado pesquisador docente da aacuterea de Tratamento

da Informaccedilatildeo da Universidade da Repuacuteblica Oriental do Uruguai aproxima a noccedilatildeo

de faceta agrave de subclasse conjunto total de subdivisotildees de um conceito ou classe

derivadas do mesmo princiacutepio de divisatildeo255 Essa noccedilatildeo eacute compartilhada pelo

Elsevierrsquos Dictionary of Library Science Information and Documentation (1973 p

164) o total de subdivisotildees produzidas por uma caracteriacutestica de divisatildeo256 e pelo

The Librarianrsquos Glossary compilado por Harrod (1977 p 319) a totalidade das

divisotildees produzidas quando um assunto eacute dividido de acordo com uma caracteriacutestica

uacutenica257 252 ldquoaspect sous lequel un groupe de concepts peut ecirctre considereacute comme ayant quelque chose de geacuteneacuteral en comunldquo 253 Vanda Broughton eacute docente senior da School of Library Archive and Information Studies no University College London (UCL) em Londres e autora de livros e artigos sobre o desenvolvimento da Teoria da Classificaccedilatildeo classificaccedilatildeo facetada e as suas aplicaccedilotildees particularmente em meio digital desde 1972 quando foi indicada para ser tambeacutem pesquisadora responsaacutevel pelo projeto de revisatildeo da Bliss Bibliographic Classification 2nd ediccedilatildeo (BC2) Aleacutem dessas atribuiccedilotildees Broughton eacute editora colaboradora da editora associada da CDU (tem ajudado a introduzir um enfoque facetado na CDU com a revisatildeo da classe Religiatildeo e vaacuterios auxiliares sistemaacuteticos) membro do CRG (tem pesquisado o uso de vocabulaacuterios facetados em meios digitais) e presidente do Capiacutetulo da ISKO para a Gratilde-Bretanha (BROUGHTON Disponiacutevel em lthttpwwwuclacukslaisvanda-broughtongt Acesso em 10 jun 2008) 254 ldquoa group of terms within a subject field produced by one broad principle of divisionrdquo 255 ldquoconjunto total de subdivisiones de un concepto o clase derivadas del mismo principio de divisioacutenrdquo 256 ldquothe total of subdivisions produced by one characteristic of divisionrdquo 257 ldquothe whole group of divisions produced when a subject is divided according to a single characteristicrdquo

248

Aitchison e Gilchrist (1992 p 71) especialistas em tesauros facetados

encontram semelhanccedila entre faceta e criteacuterio de divisatildeo divisatildeo utilizando uma soacute

caracteriacutestica a cada vez para produzir grupos homogecircneos que se excluem

mutuamente258

No Concise Dictionary of Library and Information Science Keenan (1996 p

30) assemelha a noccedilatildeo de faceta agravequela de categoria fundamental categoria classe

ou palavras organizadas por uma caracteriacutestica fundamental das proacuteprias palavras e

natildeo por uma disciplina associada agraves palavras259

Outras definiccedilotildees satildeo ainda mais imprecisas como aquela de Lancaster

(LANCASTER 1986 p 36) teoacuterico de linguagens documentaacuterias reagrupamento de

termos da mesma natureza260 ou aquela do Thesaurus de lrsquoEacuteducation da Unesco

(UNESCO-BIE 1991) pequeno grupo que reuacutene conceitos vizinhos261 A banalizaccedilatildeo teoacuterica do termo traduz-se muito frequentemente em praacutetica

quando determinado tesauro coloca sob o termo de facetas natildeo importa qual

reagrupamento empiacuterico sem levar em conta o melhor uso do termo em conformidade

com o uso do procedimento ou a explicitaccedilatildeo do criteacuterio de subdivisatildeo adotado

Em favor de uma concepccedilatildeo mais estrita do termo recorre-se a Maniez (1999)

para levantar noccedilotildees ambiacuteguas e insatisfatoacuterias conforme mostra o quadro 45

Vaacuterios autores veem faceta como aspecto de um objeto sob determinado

acircngulo (MANIEZ 1997) um aspecto particular de um assunto ou sequecircncia de

caracteriacutesticas (FOSKETT A C 1972 p 338-346) aspecto de um assunto

complexo embasado numa determinada caracteriacutestica (GLOSSAacuteRIO de

Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo 2002) Outros a entendem como a totalidade de

isolados [] os quais satildeo enumerados juntos numa lista como possiacuteveis

manifestaccedilotildees de uma categoria fundamental particular262 (INDIAN 1964 p 72)

manifestaccedilatildeo de uma categoria dentro de un campo do conhecimento [hellip] um dos

258 ldquodivision utilisant une seule caracteacuteristique agrave la fois pour produire des groupes homogegravenes qui srsquoexcluent mutuellementrdquo 259 ldquocategory or class or words organized by a fundamental characteristic of the words themselves and not by the discipline associated with the wordsrdquo 260 ldquoregroupement de termes de mecircme naturerdquo 261 ldquopetit groupe rassemblant des concepts voisinsrdquo 262 ldquothe totality of the isolates [] which are enumerated together in a schedule as possible manifestation of a particular fundamental categoryrdquo

249

aspectos de uma mateacuteria ou disciplina que reuacutene em seu interior um grupo de

conceitos que tecircm um atributo em comum263 (BARITEacute 1997 p 57) todo assunto

tem um ou mais aspectos que correspondem agrave caracteriacutestica usada como base de

divisatildeo Agrave soma total de divisotildees de cada aspecto pode-se chamar de faceta264

(PALMER WELLS 1951 p 31) e qualquer grupo de conceitos que tecircm

caracteriacutesticas comuns constituindo uma categoriardquo (MEDEIROS apud

GLOSSAacuteRIO 2007)265

Como se pode constatar por meio das noccedilotildees jaacute descritas existem diferenccedilas

de conceitos acerca dos termos categoria classe e faceta As tentativas de definiccedilatildeo

encontradas ao longo do estudo abrem caminho para uma concepccedilatildeo mais estrita

dos termos fixando limites razoaacuteveis para o seu emprego nos sistemas de

classificaccedilatildeo bibliograacutefica

Caracteriacutestica eacute uma propriedade das coisas um atributo ou qualidade de um

objeto categoria eacute um criteacuterio de divisatildeo na maioria das vezes com base nas

carateriacutesticas do objeto mas natildeo necessariamente

263 ldquomanifestacioacuten de una categoriacutea dentro de un campo del conocimiento [hellip] uno de los aspectos de una materia o disciplina que reuacutene en su seno a un grupo de conceptos que tienen un atributo en comuacutenrdquo 264 ldquoevery subject has one or more aspects which correspond to the characteristics used as a basis for division The sum total of the divisions of each aspect we shall call a facetrdquo 265 MEDEIROS M B B Categoria e faceta In GLOSSAacuteRIO geral de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Universidade de Brasiacutelia Departamento de Ciecircncia da Informaccedilatildeo e Documentaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcidunbbr123M0011000asp txtID_PRINCIPAL=123gtAcesso em 12 jan 2007

250

FACETA COMENTAacuteRIOS

Faceta e sub-classe Ao confundir faceta com sub-classe nega-se a especificidade e a utilidade do conceito de facetas Lancaster propocircs a tiacutetulo de exemplo dividir os termos relativos agraves bibliotecas em quatro facetas gecircneros de bibliotecas material de biblioteca serviccedilos e outros termos De fato como atesta a uacuteltima classe nela cabe tudo trata-se de um reagrupamento empiacuterico que natildeo utiliza um criteacuterio de divisatildeo loacutegico

Faceta e criteacuterio de divisatildeo O meacutetodo de divisatildeo loacutegica consiste em escolher um criteacuterio aplicaacutevel a todos os elementos de uma classe e apto a gerar uma seacuterie de subclasses notadamente contrastantes as classificaccedilotildees tradicionais do tipo mono-hieraacuterquico privilegiam a cada niacutevel de divisatildeo um soacute criteacuterio Ao contraacuterio as classificaccedilotildees pluridimensionais do tipo poli-hieraacuterquico cumulam e coordenam ao primeiro niacutevel de divisatildeo vaacuterios criteacuterios comuns Como a CC protoacutetipo das classificaccedilotildees facetadas eacute pluridimensional ela estaacute tentando aproximar a noccedilatildeo de faceta da noccedilatildeo de criteacuterio de divisatildeo loacutegica e de fazer do esquema pluridimensional um modelo geral Essa concepccedilatildeo apresenta uma reflexatildeo e um efeito loacutegico maior O modelo pluridimensional natildeo pode se aplicar com todo rigor agraves facetas de conceitos pois se de um lado dita as categorias fundamentais as quais natildeo satildeo mais do que pontos de vista acerca de conceitos mas sobre conjunto de conceitos por outro lado refere-se agraves classes contrastantes de niacutevel superior

Faceta e categoria fundamental Uma observaccedilatildeo de insuficiecircncia pode ser atribuiacuteda agrave definiccedilatildeo da Association (1987 p 126) Traduccedilatildeo livre da autora) que conveacutem bem agraves facetas de conceitos mas mal agravequelas de assuntos categoria de noccedilotildees da mesma natureza ou expressas sob o mesmo ponto de vista como fenocircmeno processo propriedade e instrumento permitindo um reagrupamento de noccedilotildees independentemente do assunto tratado266

Facetas e sintaxe de enunciado dos assuntos O esquema analiacutetico-sinteacutetico das facetas implica necessariamente uma sintaxe assegurada com frequecircncia por uma ordem de sucessatildeo rigorosa Esta conduz alguns autores a qualificar de sistema facetado todas as linguagens classificatoacuterias que utilizam procedimentos sintaacuteticos Assim Iyer (1995 p 105-109) coloca nos sistemas facetados a CDU pelo fato de que ela permite combinar ou coordenar vaacuterios iacutendices Para Maniez (1999) aleacutem da noccedilatildeo de faceta ser largamente independente de uma funccedilatildeo sintaacutetica proacutepria as facetas de um domiacutenio do saber tem um valor sintaacutetico faliacutevel

QUADRO 45 - NOCcedilOtildeES AMBIacuteGUAS E INSATISFATOacuteRIAS DE FACETAS FONTE a autora com base em Maniez (1999 p 249-262) e em seus comentaacuterios

266 ldquocateacutegorie de notions de mecircme nature ou exprimeacutees drsquoun mecircme point de vue telle que pheacutenomegravene processus proprieacuteteacute outil permettant un regroupement des notions indeacutependamment des disciplines traiteacuteesrdquo

251

Classe faz parte de uma construccedilatildeo racional e sistemaacutetica de uma linguagem de classificaccedilatildeo que natildeo soacute agrupa ou junta uma coleccedilatildeo de sub-classes separadas grupos de conceitos ou coisas por uma caracteriacutestica comum mas tambeacutem estabelece relaccedilotildees loacutegicas padronizadas entre elas Uma classe designa um conjunto de caracteriacutesticas (propriedades) comuns consagradas Eacute explicativa convencional reuacutene objetos concretos e nem sempre estaacute lexicalizada (por exemplo ave domeacutestica - ave natildeo-domeacutestica = classe natildeo-lexicalizada) Classes podem ser tanto conjunto de elementos ou conceitos definidos pelo fato de apresentarem uma ou mais caracteriacutesticas em comum quanto cada uma das disciplinas que resultam da divisatildeo do universo de conhecimentos Grosso modo as disciplinas constituem as maiores subdivisotildees de um esquema claacutessico de classificaccedilatildeo bibliograacutefica Servem para classificar de acordo com um sistema de classificaccedilatildeo e seguem uma ordem canocircnica Nela todos os membros tecircm traccedilos inerentes que natildeo foram atribuiacutedos pelo classificador e que constituem caracteriacutesticas comuns consagradas

Categoria natildeo faz parte de uma construccedilatildeo riacutegida e consagrada que segue padrotildees preacute-estabelecidos Ela eacute aplicada a uma coleccedilatildeo de assuntos isolados Eacute pragmaacutetica e mais operacional reuacutene mas natildeo explica apenas descreve267 Eacute um criteacuterio compreensivo ou descritivo das coisas Designa uma propriedade em estado puro natildeo-aplicada Nomeia agrupamentos de termos elaborados de acordo com um ponto de vista Categoria se inventa (aspecto pragmaacutetico) e se constroacutei agrupando elementos sob um determinado ponto de vista Eacute mais livre autocircnoma Eacute um criteacuterio de divisatildeo estabelecido a partir de uma proposta classificatoacuteria especiacutefica particular usado para reunir os grupos conforme as suas semelhanccedilas Estabelecer categorias (grupos de conceitos) de uma aacuterea do conhecimento eacute ter a visatildeo do todo eacute levantar o seu sistema conceitual para a partir daiacute por meio de anaacutelises por facetas proceder a uma ordenaccedilatildeo sistemaacutetica de conceitos (termos) Quando desenvolvidas de acordo com a natureza dos conceitos satildeo denominadas facetas Categoria (natildeo-aplicada) ou faceta (aplicada) eacute um niacutevel de anaacutelise especiacutefico e parcial de um objeto Aristoacuteteles chamou de categorias ou predicamentos os 10 gecircneros supremos (ideacuteias que se tem das coisas) Ranganathan chamou de categorias ou facetas fundamentais os cinco aspectos da realidade

Facetas satildeo todas as classes produzidas quando um assunto eacute dividido por uma e somente uma caracteriacutestica Classes em um esquema de classificaccedilatildeo satildeo

267 Por ser sempre descritiva e nunca explicativa nas Linguagens Documentaacuterias eacute importante observar onde a categorizaccedilatildeo cabe ou entra e como ela se expressa

252

representadas por termos Assim de acordo com esse entendimento uma faceta eacute um termo de uma lista na qual cada termo encontra-se em relaccedilatildeo ao assunto do qual ele eacute uma parte em posiccedilatildeo de igualdade Uma faceta pode consistir de termos que se referem a entidades como elementos em Quiacutemica ou gratildeos na Agricultura a formas de entidades como liacutequida soacutelida gasosa a operaccedilotildees realizadas sobre entidades como combustatildeo fundiccedilatildeo colheita a ferramentas utilizadas para operaccedilotildees como microscoacutepios maacutequinas de raio-X impressoras a estados do ser como sauacutede e doenccedila etc Ranganathan relaciona faceta a um conjunto de noccedilotildees abstratas fundamentais - as categorias PMEST - considerando cada faceta de uma classe baacutesica como uma manifestaccedilatildeo concreta de uma dessas categorias Grolier (1974 p 77) vecirc na teoria de Ranganathan a simples racionalizaccedilatildeo a posteriori de uma praacutetica preacute-existente sob o disfarce de uma teoria geral268 Assim sendo pode-se dizer que faceta eacute cada um dos aspectos particulares pelos quais se considera um objeto isto eacute um aspecto de um assunto visto sob determinado acircngulo uma possiacutevel manifestaccedilatildeo de uma categoria particular o resultado da aplicaccedilatildeo de uma categoria e finalmente a materializaccedilatildeo de um criteacuterio de divisatildeo

Levando em consideraccedilatildeo a Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo (cf subseccedilatildeo 41) entende-se classe como um conjunto cujos membros compartilham alguma caracteriacutestica comum agraves vezes usada como um sinocircnimo para classe principal que eacute uma das primeiras divisotildees dos esquemas de classificaccedilatildeo As classes principais normalmente correspondem agraves tradicionais disciplinas acadecircmicas (tais como Fiacutesica Medicina Filosofia) ou outras importantes aacutereas de interesse ou atividade (Bibliografia Ciecircncia Naval) E considera-se categoria como um criteacuterio de divisatildeo geral que resultaraacute em grupos dentro dos quais os termos satildeo ordenados por meio de anaacutelises por facetas Ainda para a Moderna Teoria da Classificaccedilatildeo as categorias geralmente reconhecidas satildeo coisa tipo parte material propriedade processo operaccedilatildeo agente espaccedilo e tempo embora outras sejam encontradas em disciplinas particulares Considera-se faceta como um grupo de termos contidos em um campo de assunto produzido por um princiacutepio de divisatildeo geral Exemplificando na classe Medicina ou no campo de assunto Sauacutede a faceta tipos de doenccedila faz parte da categoria tipo a faceta partes do corpo faz parte da categoria parte a faceta meacutetodos de tratamento faz parte da categoria meacutetodo e assim sucessivamente

268 ldquola simple rationalisation a posteriori drsquoune pratique preacuteexistante sous le deacuteguisement drsquoune theacuteorie geacuteneacuteralerdquo

253

6 CONCLUSAtildeO

Sentimos que mesmo depois de serem respondidas todas as questotildees cientiacuteficas possiacuteveis

os problemas da vida permanecem completamente intactos Wittgenstein

Seria despropositado e repetitivo reproduzir todas as conclusotildees alcanccediladas

ao longo de cada uma das seccedilotildees desta tese em especial a que trata do

acompanhamento e delineamento da trajetoacuteria das classificaccedilotildees dos saberes

(classes) e das classificaccedilotildees dos seres (categorias) agrave luz da Filosofia e sua

comparaccedilatildeo com os sitemas de classificaccedilatildeo bibliograacuteficas Oportuno poreacutem seria

tentar formular uma siacutentese geral do que emerge do texto como um todo

Todos os filoacutesofos citados estavam em busca do entendimento do ser Mas a

questatildeo era mais ampla e na tentativa de explicar o ser (categorias) eles

encontraram o saber (classes) No desejo de facilitar essa compreensatildeo ou mesmo

tornaacute-la mais didaacutetica foram cada um a seu modo criando transformando

inventando recriando e modificando conceitos que influenciados pela visatildeo de cada

um sobre o ser e o saber continuam sujeitos ao emprego teacutecnico e ao uso popular

A classificaccedilatildeo dos saberes (classes) como sistema divide o conhecimento em

aacutereas ou disciplinas tradicionais de acordo com os mais variados princiacutepios mas uma

vez estabelecidas fixadas as classes principais a operaccedilatildeo a ser feita para introduzir

novas aacutereas eacute a de ldquosimplesrdquo inserccedilatildeo enquanto a classificaccedilatildeo dos seres

(categorias) funcionando tambeacutem como um meacutetodo traduz-se em um conjunto

limitado de categorias escolhidas que abre espaccedilo a identidades e diferenccedilas e

remete agrave operaccedilatildeo de anaacutelise das propriedades de conceitos agrave noccedilatildeo de princiacutepio de

divisatildeo

A partir de Aristoacuteteles o processo de classificaccedilatildeo dos saberes e dos seres

embasa os sistemas enciclopeacutedicos de classificaccedilatildeo bibliograacutefica que tendem no

iniacutecio a utilizar indistintamente o conceito de classe e de categoria aplicando-os

como noccedilatildeo de classe que se estratifica em gecircnero e espeacutecie ateacute chegar agrave

substacircncia Esse procedimento se altera gradativamente principalmente por

influecircncia de Kant quando a noccedilatildeo de categoria (antes descriccedilatildeo agora

possibilidade de explicaccedilatildeo da realidade) passa a privilegiar as propriedades dos

fenocircmenos e objetos Portanto Kant retoma o processo e estabelece um novo

254

paradigma natildeo mais se referindo ao ser mas ao conhecer para designar os

conceitos ou princiacutepios a priori que fornecem a estrutura necessaacuteria para que o

entendimento possa perceber ou conceber aquilo que eacute dado Tal mudanccedila de

paradigma reflete-se na organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo o que talvez explique a

relativizaccedilatildeo das classificaccedilotildees bibliograacuteficas Com o decorrer do tempo as noccedilotildees

de categoria e classe passam a ser complementares Eacute quando os sistemas de

classificaccedilatildeo passam a operar simultaneamente com classes (aacutereas de

conhecimento) e com categorias (anaacutelises especiacuteficas e parciais do conteuacutedo dos

documentos)

O resgate histoacuterico das classificaccedilotildees filosoacuteficas dos saberes e dos seres

permitiu constatar que os conceitos de classe e categoria tecircm passado ao leacutexico

filosoacutefico universal mas os seus sentidos natildeo podem ser compreendidos a partir de

uma interpretaccedilatildeo comum dos termos senatildeo em conexatildeo com doutrinas e escolas

filosoacuteficas especiacuteficas

A classificaccedilatildeo os sistemas e os meacutetodos de classificaccedilatildeo natildeo satildeo apenas

teacutecnicas mas essencialmente estruturas teoacutericas com implicaccedilotildees filosoacuteficas A

mente humana natildeo possui um modelo preacute-fabricado de realidade o que significa

que tanto a classificaccedilatildeo como o mundo real satildeo construccedilotildees A classificaccedilatildeo

produz ldquoverdadesrdquo natildeo apenas representa o conhecimento mas faz nascer o

conhecimento

Tanto os princiacutepios que embasaram as classificaccedilotildees filosoacuteficas dos seres

(categorias) e dos saberes (classes) quanto as proacuteprias classificaccedilotildees

dividindo os seres em categorias e os saberes em classes disciplinares satildeo

construtos humanos elaborados primeiramente com a intenccedilatildeo de conhecer e

disciplinar o conhecimento do ser e do saber que refletem a trajetoacuteria do

pensamento filosoacutefico e indicam sempre preocupaccedilotildees fundamentais nas

diversas aacutereas do conhecimento

A influecircncia das classificaccedilotildees filosoacuteficas de caraacuteter especulativo sobre as

classificaccedilotildees bibliograacuteficas de caraacuteter funcional reside no fato de que as

classificaccedilotildees bibliograacuteficas natildeo deixam de ser adaptaccedilotildees das classificaccedilotildees do

conhecimento As classificaccedilotildees bibliograacuteficas utilizam termos originalmente das

filosoacuteficas ressignificando-os e transformando-os em ferramentas que necessitam

na maioria das vezes ser adaptadas para se adequarem agraves especificidades da

classificaccedilatildeo pretendida Visotildees filosoacuteficas como niacuteveis integratrivos ou

255

complexidade satildeo empregadas nas classificaccedilotildees bibliograacuteficas como princiacutepios

estruturantes Distinccedilotildees entre classificaccedilatildeo filosoacutefica ou do conhecimento e

classificaccedilatildeo bibliograacutefica satildeo desnecessaacuterias pois conhecimento eacute virtualmente

sinocircnimo de conhecimento em literatura

Inspirada nas classificaccedilotildees filosoacuteficas a Biblioteconomia constroacutei sistemas

para a organizaccedilatildeo do conteuacutedo das suas coleccedilotildees de livros

As classificaccedilotildees bibliograacuteficas de modo geral tecircm por suporte a loacutegica

aristoteacutelica e os princiacutepios de um dos precursores da ciecircncia moderna Francis

Bacon O seu sistema filosoacutefico serviu de fundamento para a construccedilatildeo de vaacuterios

instrumentos destinados agrave organizaccedilatildeo do conhecimento como a Encyclopeacutedie de

Diderot e drsquoAlembert e vaacuterias classificaccedilotildees bibliograacuteficas como as de Harris

Dewey Otlet Cutter e outros Com Dewey ocorrre uma transiccedilatildeo das classificaccedilotildees

embasadas na Filosofia para as classificaccedilotildees pragmaacuteticas com ecircnfase na estrutura

classificatoacuteria hieraacuterquica enumerativa Bliss aproximou novamente a classificaccedilatildeo

bibliograacutefica da classificaccedilatildeo filosoacutefica ao combinar os princiacutepios compteanos com a

necessidade pragmaacutetica de colocar livros nas estantes de bibliotecas Da mesma

maneira Ranganathan elabora o primeiro sistema de classificaccedilatildeo bibliograacutefica geral

com base no princiacutepio analiacutetico-sinteacutetico ou anaacutelise por facetas o que significou uma

revoluccedilatildeo na construccedilatildeo de esquemas classificatoacuterios e um marco histoacuterico na Teoria

da Classificaccedilatildeo abrindo caminho para o desenvolvimento de sistemas de

organizaccedilatildeo do conhecimento que sucederam agraves classificaccedilotildees ou seja os tesauros

A filosofia da Biblioteconomia pode ser caracterizada como positivista

enraizada em uma interpretaccedilatildeo otimista de ciecircncia e sociedade No seacuteculo XIX

tendia-se a manifestar a visatildeo de que o progresso seria inevitaacutevel se o conhecimento

se tornasse acessiacutevel Durante esse periacuteodo as soluccedilotildees de organizaccedilatildeo do

conhecimento tomaram a forma de sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica de larga-

escala que eram descritos como geral ou universal Esses esquemas classificatoacuterios

foram construiacutedos dentro de um quadro filosoacutefico positivista que via o homem como

o foco central do universo que acreditava no progresso gerado pela ciecircncia e

pesquisa e que privilegiava a documentaccedilatildeo escrita sobre outras formas de

documentaccedilatildeo Os esquemas incorporaram ao mesmo tempo o mapeamento de

todo o conhecimento visando representar a ordem das coisas em relaccedilatildeo ao ideal e

o mapeamento de todo o conhecimento visando organizar os livros nas estantes em

relaccedilatildeo agrave rotina do dia a dia nas bibliotecas Eacute a partir dessa eacutepoca que surge a

256

preocupaccedilatildeo com os assuntos e a informaccedilatildeo contida nos livros As classificaccedilotildees

eram produto tanto da razatildeo quanto de uma visatildeo pragmaacutetica e funcionalista Muitas

vezes enfatizou-se o propoacutesito praacutetico de esquemas de classificaccedilatildeo ignorando-se

que toda classificaccedilatildeo eacute construiacuteda sobre um sistema de conhecimento Por

exemplo a CDU foi construiacuteda sobre a ordem das classes principais desenvolvidas

por Dewey as quais por sua vez embasaram-se na representaccedilatildeo racionalista das

ordens do conhecimento de Francis Bacon Estudiosos e pesquisadores da Teoria

da Classificaccedilatildeo tendem a adotar uma visatildeo francamente ambivalente sobre o

relacionamento de sistemas de classificaccedilatildeo filosoacuteficos e bibliograacuteficos de

conhecimento Argumentam que sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica satildeo

construiacutedos sobre fundaccedilotildees filosoacuteficas mas enfatizam a funccedilatildeo pragmaacutetica da

classificaccedilatildeo biblioteconocircmica Mas a despeito dessa ambivalecircncia todos os

esquemas de classificaccedilatildeo tradicionais satildeo construiacutedos sobre sistemas de

conhecimento claramente identificaacuteveis o que evidencia que determinada visatildeo de

mundo se encontra subentendida na estrutura de cada um dos esquemas que

disciplinam a epistemologia

As classes principais dentro dos esquemas tradicionais de classificaccedilatildeo

bibliograacutefica - natildeo importando se satildeo construiacutedas com o objetivo de simplificar e

facilitar o livre acesso dos usuaacuterios ao conhecimento em documentos habilitando-o

a localizar documentos especiacuteficos - sempre estabelecem o ponto de vista

epistemoloacutegico mundial sobre o qual o esquema estaacute construiacutedo o que se configura

numa praacutetica ou um exerciacutecio de poder ideologia e dominaccedilatildeo Esquemas de

classificaccedilatildeo satildeo sempre construtos ideoloacutegicos formaccedilotildees ideais mais do que

representativas do mundo natural produtos de uma determinada visatildeo de mundo

historicamente construiacutedos e contingentes isto eacute eventuais ou temporaacuterios que

escolhem determinam regulamentam que assuntos privilegiar e que assuntos

subordinar o que em termos sociais mais amplos tecircm consequecircncias porque

bibliotecas satildeo instituiccedilotildees primaacuterias de aprendizado e de aculturaccedilatildeo

Em siacutentese pode-se dizer que na trajetoacuteria a partir da Filosofia absorvida em

explicaccedilotildees teoacutericas ateacute a Biblioteconomia preocupada com soluccedilotildees instrumentais

e aplicativas (pragmaacuteticas) os esquemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica propostos

tem se beneficiado da aproximaccedilatildeo dessas duas aacutereas de conhecimento A

Biblioteconomia e a Ciecircncia da Informaccedilatildeo falam por meio de coacutedigos

classificaccedilotildees tesauros etc e por isso a informaccedilatildeo eacute sempre vista pelos

257

profissionais dessas aacutereas por meio de linguagens documentaacuterias naturais ou

controladas um dos recortes que as distinguem de outras aacutereas

Verificar como os conceitos de categoria de classe e de faceta satildeo

enunciados no acircmbito das classificaccedilotildees biblioteconocircmicas tradicionais faz emergir as

nuances das noccedilotildees Procurar clarear noccedilotildees conduz a complicar aquilo que parece

simples e a arriscar forjar distinccedilotildees aparentemente bizarras Uma dificuldade estaacute na

escolha original de termos (categoria e faceta) vagos e comuns para que a

especificidade da sua acepccedilatildeo documentaacuteria seja notadamente percebida Outra

dificuldade eacute a ambiguidade das noccedilotildees elas mesmas ferramentas de anaacutelise e siacutentese

conceituais Uma terceira dificuldade diz respeito agrave diversidade das entidades

documentaacuterias agraves quais se aplicam essas ferramentas assuntos conceitos e objetos

De qualquer maneira natildeo existe a pretensatildeo de fechar os conceitos

estudados pois sempre haveraacute a possibilidade de escolha face agraves variaccedilotildees que

ocorrem naturalmente de acordo com a eacutepoca e o autor como acontece com

qualquer vocaacutebulo e face agraves variaccedilotildees que se esforccedilam na tentativa de procurar um

qualificativo que precise a especificidade dos termos em Classificaccedilatildeo Como

tambeacutem haveraacute a possibilidade de providenciar uma definiccedilatildeo geral muito ampla que

se aplique a todos os empregos do campo da Ciecircncia da Informaccedilatildeo ou de dar uma

definiccedilatildeo especiacutefica para cada um dos usos particulares

Os termos de modo geral apresentam diversos significados Na Teoria da

Classificaccedilatildeo classe eacute usado para designar uma seacuterie ou um conjunto de unidades

que apresentam uma caracteriacutestica semelhante a partir da qual o conjunto adquire o

caraacuteter de classe A divisatildeo (ou grupo) oriunda da ramificaccedilatildeo de uma classe

principal eacute chamada de subclasse Categorias satildeo altamente generalistas no

sentido de que podem ser aplicadas a todas as classes enquanto que as classes

natildeo se aplicam agraves categorias Na visatildeo simplificada de que categorias satildeo caminhos

ou modos fundamentais pelos quais a informaccedilatildeo eacute construiacuteda ela comeccedila a ser

entendida como uma divisatildeo altamente geral de conceito e objeto Deve-se salientar

qualquer interpretaccedilatildeo dada agraves categorias deve levar em conta a evoluccedilatildeo do

pensamento de Aristoacuteteles a respeito a ideacuteia geral de categorias mesmo que de

maneira rudimentar eacute fundamental para qualquer teoria e praacutetica de subordinaccedilatildeo a

noccedilatildeo de categoria mesmo que intuitivamente sempre presidiu a operaccedilatildeo de

classificaccedilatildeo e ordenaccedilatildeo do conhecimento e o entendimento e a operacionalizaccedilatildeo

da noccedilatildeo de categoria resultam em uma opccedilatildeo um princiacutepio de divisatildeo

258

Muitos autores ingleses pensam que agrave teoria das facetas faltou um

movimento decisivo na histoacuteria da CC enquanto os franceses veem na teoria de

Ranganathan simplesmente a teorizaccedilatildeo de uma praacutetica Ao mesmo tempo que

declina o interesse pelas classificaccedilotildees facetadas (exceccedilatildeo ao uso de facetas na

organizaccedilatildeo de tesauros) aumenta o reconhecimento pelas classificaccedilotildees

tradicionais que veem o seu uso intensificado com a certeza a respeito da

necessidade de classificaccedilotildees nos mais diferentes ambientes de informaccedilatildeo atuais

como a internet

Haacute um processo real de enriquecimento do conteuacutedo dos conceitos quando

os termos caem no movimento evolutivo da reflexatildeo adquirindo uma densidade que

ateacute entatildeo inexistente A revisatildeo conceitual com respeito agraves noccedilotildees de classe

categoria e faceta aponta por parte dos estudiosos da Classificaccedilatildeo para a

necessidade de um cuidado maior no desenho no planejamento e na estruturaccedilatildeo

de sistemas de classificaccedilatildeo na modificaccedilatildeo e especificaccedilatildeo de tabelas de

classificaccedilatildeo e ateacute de linguagens de indexaccedilatildeo com vista agrave sua adequaccedilatildeo e

relevacircncia Entende-se que as contribuiccedilotildees daiacute resultantes delineadas numa

perspectiva funcional-instrumental poderatildeo ajudar os profissionais a reconsiderar os

seus sistemas de ideacuteias e procedimentos em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de

linguagens de indexaccedilatildeo e agrave classificaccedilatildeo habitual de documentos Parece loacutegico que depois de dececircnios de empregos variados e algumas vezes

discordantes a significaccedilatildeo dos termos apresentasse a tendecircncia a se estabilizar pois

a introduccedilatildeo dos termos e das noccedilotildees de categoria e de faceta na construccedilatildeo e

avaliaccedilatildeo de linguagens de indexaccedilatildeo (confecccedilatildeo de tesauros) assim como os

esforccedilos dos organismos de normalizaccedilatildeo tecircm contribuiacutedo para esclarecer a questatildeo

Os termos continuam sujeitos ao emprego teacutecnico e ao uso popular e

tambeacutem aos autores que os aplicam a todo procedimento semacircntico de

reagrupamento de noccedilotildees Seria recomendaacutevel fazer uso dos termos teacutecnicos com

discernimento e parcimocircnia e principalmente com precisatildeo conceitual Mas no jogo

incessante no qual se empregam as palavras e os conceitos pelos sujeitos falantes

eacute sempre o uso dominante da palavra que acaba por fazer a lei e o sentido o que

contribui para fragilizar uma aacuterea que carece de linguagem de especialidade Agrave

Ciecircncia da Informaccedilatildeo cabe avanccedilar na fundamentaccedilatildeo teoacuterica do seu campo de

aplicaccedilatildeo discutindo criticamente a sua base conceitual atenta agraves praacuteticas de uso

em voga na Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo com relaccedilatildeo a termos e conceitos

259

Deve-se acrescentar ainda um ponto positivo em contraponto agrave pouca

consistecircncia terminoloacutegica que estaacute presente em muitos projetos de organizaccedilatildeo da

informaccedilatildeo a do ganho que se tem quando se explicitam os criteacuterios utilizados para

agrupar ou dividir determinados conceitos ou seja a explicitaccedilatildeo das categorias A

explicitaccedilatildeo de criteacuterios ressalta a relatividade de qualquer organizaccedilatildeo da

informaccedilatildeo mas ao mesmo tempo confere ao usuaacuterio condiccedilotildees para entender

porque a informaccedilatildeo foi organizada de uma maneira e natildeo de outra Assim como a

relatividade do produto da classificaccedilatildeo deve ser assumida esse fato representa um

ganho para o usuaacuterio que passa a ter condiccedilotildees para avaliar o produto isto eacute a

informaccedilatildeo organizada jaacute que os criteacuterios utilizados lhe foram comunicados

Com a firme convicccedilatildeo de que uma noccedilatildeo ou conceito tem que ser definido

para ser operacionalizado este estudo permitiu a formulaccedilatildeo dos seguintes

conceitos de classe de categoria e de faceta dentro da Teoria da Classificaccedilatildeo para

as Classificaccedilotildees Bibliograacuteficas Tradicionais Classe eacute um conjunto cujos membros

compartilham alguma caracteriacutestica comum tambeacutem eacute cada uma das divisotildees

principais de um sistema esquema ou quadro de classificaccedilatildeo correspondendo

cada divisatildeo a uma disciplina do conhecimento agraves vezes o termo eacute usado como

sinocircnimo de classe principal Categoria eacute hipoacutetese de organizaccedilatildeo e expressatildeo

uma vez que natildeo se encontra aplicada eacute criteacuterio de divisatildeo que resultaraacute em grupos

dentro dos quais os termos satildeo ordenados por meio de anaacutelise por facetas Faceta eacute

um grupo de termos contidos em um campo de assunto produzido por um criteacuterio de

divisatildeo ou seja pela aplicaccedilatildeo de uma categoria

As hipoacuteteses levantadas foram validadas podendo-se concluir que a busca

pela consistecircncia terminoloacutegica de termos como categoria classe ou faceta contribui

para aperfeiccediloar a operacionalizaccedilatildeo do processamento do conhecimento em

Ciecircncia da Informaccedilatildeo e que os esquemas categoriais nas classificaccedilotildees

bibliograacuteficas natildeo tecircm valor neutro jaacute que favorecem uma concepccedilatildeo de mundo e

satildeo construiacutedos com objetivos pragmaacuteticos portanto a elaboraccedilatildeo de classificaccedilotildees

(classe categoria faceta) deve ser encarada com rigor pois afeta a maneira como

se processam as informaccedilotildees

Escolhas sobre ordem sobre que assuntos privilegiar e que assuntos ignorar

satildeo sempre escolhas ideoloacutegicas produtos de uma visatildeo de mundo particular e

tambeacutem representam um jogo de poder que eacute exercido em e por meio de relaccedilotildees

mediadas por informaccedilatildeo

260

7 PERSPECTIVAS

- Esmerar-se em separar tudo de tudo eacute algo natildeo somente discordante como tambeacutem eacute prova de desconhecimento das musas e da filosofia

- Eacute a mais radical maneira de todas as outras pois a razatildeo nos vem da ligaccedilatildeo muacutetua entre as figuras

Platatildeo Diaacutelogo de O Sofista

Parece ser produtivo parar e com base na literatura e na reflexatildeo pensar o

campo da Organizaccedilatildeo do Conhecimento de uma perspectiva mais geral e entatildeo

formular algumas questotildees relevantes e de interesse para futuras pesquisas

Princiacutepios de organizaccedilatildeo do conhecimento podem ser estendidos a um

escopo mais amplo incluindo hipertexto multimiacutedia objetos de museus e

monumentos

Enfoques ontoloacutegicos e epistemoloacutegicos podem ser reconciliados

Alguma fundaccedilatildeo ontoloacutegica de organizaccedilatildeo do conhecimento pode ser

identificada

Disciplinas deveriam continuar a ser a base estrutural da organizaccedilatildeo do

conhecimento

O ponto de vista da garantia literaacuteria pode ser identificado

A organizaccedilatildeo do conhecimento pode ser adaptada agraves necessidades das

coleccedilotildees locais

Como a organizaccedilatildeo do conhecimento pode proceder em relaccedilatildeo agraves

mudanccedilas no conhecimento

Como os sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento podem representar todas

as dimensotildees listadas acima

Como sofwares e formatos podem ser aprimorados para melhor atender agraves

necessidades dos sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento

Quem pode fazer organizaccedilatildeo do conhecimento profissionais da informaccedilatildeo

autores ou usuaacuterios Quem organiza o conhecimento

261

REFEREcircNCIAS

ABBAGNANO N Dicionaacuterio de filosofia Traduccedilatildeo da 1ordf ed brasileira coordenada e revista por Alfredo Bosi Revisatildeo da traduccedilatildeo e traduccedilatildeo dos novos textos Ivone Castilho Benedetti 4 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

AITCHISON J GILCHRIST A Construire un thesaurus Paris ADBS Eacuteditions 1992 ALA world encyclopedia of library and information services Chicago American Library Association 1980

ALBRECHTSEN H HJOslashRLAND B Information seeking and knowledge organization the presentation of a new book Knowledge Organization Wuumlrzburg v 24 n 3 p 136-144 1994

ALVARENGA L Organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo nas bibliotecas digitais In NAVES M M L KURAMOTO H Organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo princiacutepios e tendecircncias Brasiacutelia Briquet de Lemos 2006 Cap 6 p 76-98

AMPEgraveRE A M Essai sur la philosophie des sciences ou exposition analytique dacuteune classification naturelle de toutes les connaissanges humaines Paris Eacuteditions du Bachelier Imprimeur-Libraire pour les Sciences 1834 Part 1

ARANHA M L A MARTINS M H P Filosofando introduccedilatildeo agrave filosofia 3 ed revista Satildeo Paulo Moderna 2003

ARISTOacuteTELES Categorias Traduccedilatildeo do grego claacutessico introduccedilatildeo e notas feitas por Joseacute Veriacutessimo Teixeira da Mata Goiacircnia Ed UFG Alternativa 2005

ARISTOacuteTELES Toacutepicos Dos argumentos sofiacutesticos Seleccedilatildeo de textos de Joseacute Ameacuterico Motta Pessanha traduccedilotildees de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versatildeo inglesa de W A Pickard Satildeo Paulo Abril 1978 (Os Pensadores)

ARISTOacuteTELES Toacutepicos Dos argumentos sofiacutesticos Metafiacutesica Eacutetica a Nicocircmaco Poeacutetica Satildeo Paulo Abril Cultural 1973 (Os Pensadores v 4)

ASSOCIATION FRANCcedilAISE DE NORMALISATION AFNOR Z-47-100 regravegles drsquoeacutetablissement des theacutesaurus monolinguumles Paris La Deacutefense 1981

ASSOCIATION FRANCcedilAISE DE NORMALISATION AFNOR vocabulaire de la documentation 2 ed Paris La Deacutefense 1987

AULETE C Dicionaacuterio contemporacircneo da liacutengua portuguesa 5 ed Rio de Janeiro Delta 1986

AUSTIN D An indexing manual for PRECIS International Classification Frankfurt v 1 n 2 p 91-94 1974

AUSTIN D The new general faceted classification Catalogue amp Index London n 14 p 11-13 1969b

262

AUSTIN D Prospects for a new general classification Journal of Librarianship London v 1 n 3 p 149-169 1969a

AITCHISON J et al Thesaurofacet a thesaurus and faceted classification for engineering and related subjects Whetstone (Leicester) The Electric Co 1969

BACON F Novum Organum Satildeo Paulo Abril Cultural 1973 (Os Pensadores)

BARITEacute M G Glosario sobre organizacioacuten y representacioacuten del conocimiento clasificacioacuten indizacioacuten terminologiacutea Montevideo CSIC Indice 1997

BARITEacute M G The notion of ldquocategoryrdquo its implications in subject analysis and in the construction and evaluation of indexing languages Knowledge Organization Wuumlrzburg v 27 n 12 p 4-10 2000

BARRETO A A E assim nasceu a ciecircncia da informaccedilatildeo 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwlistasibictbrpipermailbib_virtual2005-june001480htmlgt Acesso em 20 maio 2006

BATLEY S Classification in theory and practice Oxford (UK) Chandos 2005

BHATTACHARYYA G POPSI its fundamentals and procedure based on a general theory of subject indexing languages Library Science with a Slant to Documentation Bangalore v 16 n 1 p 1-34 1979

BLISS H E The organization of knowledge in libraries and the subject approach to books 2nd ed New York Wilson 1939

BLISS CLASSIFICATION ASSOCIATION About the Bliss Bibliographic Classification Disponiacutevel em lthttpwwwblissclassificationorgukgt Acesso em 10 maio 2008

BOWKER G C STAR S L Sorting things out classification and its consequences Cambridge Mit Press 2000

BRACHMAN R J On the epistemological status of semantic networks In FINDER N V (Ed) Associative Networks representation and use of knowledge by components New York Academic Press 1979 p 3-50

BROUGHTON V Essential classification London Facet 2004

BROUGHTON V Faceted classification as a basis for knowledge organization in a digital environment the Bliss Bibliographic Classification as a model for vocabulary management and the creation of multidimensional knowledge structures In INTERNATIONAL ISKO CONFERENCE 7th July 2002 Granada Challenges in knowledge representation and organization for the 21st century Wuumlrzburg Ergon 2002 p 135-142 Disponiacutevel em lthttpwwwuclacukfatkspaper2htmgt Acesso em 12 maio 2008

BROWN J D Subject Classification London Library Supply 1906 Preface Introduction

263

BULFINCH T O livro de ouro da mitologia (a idade da faacutebula) histoacuterias de deuses e heroacuteis 5 ed Rio de Janeiro Ediouro 1999

BUONOCORE D Diccionario de bibliotecologiacutea 2 ed aum Buenos Aires Marymar 1976

BUTCHER S J Brown Classification In KENT A LANCOUR H (Ed) Encyclopedia of Library and Information Science New York Marcel Dekker 1971 v 3 p 367-371

CACALY S (Org) Dictionnaire encyclopeacutedique de lrsquoinformation et de la documentation Paris Nathan 1997

CAMPOS A T O nascer de uma utopia ainda e sempre o problema da classificaccedilatildeo bibliograacutefica Revista de biblioteconomia de Brasiacutelia v 1 n 1 p 15-19 janjun 1973

CAMPOS M L A Linguagem documentaacuteria teorias que fundamentam sua elaboraccedilatildeo Niteroacutei Eduff 2001

CAMPOS M L A A organizaccedilatildeo de unidades do conhecimento em hiperdocumentos o modelo conceitual como um espaccedilo comunicacional para a realizaccedilatildeo da autoria 2001 186 f Tese (Doutorado em Ciecircncia da Informaccedilatildeo) - Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia da Informaccedilatildeo do Convecircnio CNPqIBICT Escola de Comunicaccedilatildeo Universidade Federal do Rio de Janeiro 2001

CARVALHO E A E assim se passaram 100 anos Marccedilo de 2008 [professor titular de Antropologia da PUC-SP] Disponiacutevel em lthttpwwwiecomplexcombr uploadsEassimsepassaram100anospagdawebhtmgt Acesso em 10 jun 2008

CARVALHO K Travessia das letras Rio de Janeiro Casa da Palavra 1999

CENTRO DI STUDI FILOSOFICI DI GALLARATE Enciclopedia filosofica Venezia Istituto per la Collaborazione Culturale 1957

CHAUIacute M S Convite agrave filosofia Satildeo Paulo Aacutetica 2005

CINTRA A M M et al Para entender as linguagens documentaacuterias Satildeo Paulo Poacutelis 1994

CINTRA A M M et al Para entender as linguagens documentaacuterias 2 ed rev e ampl Satildeo Paulo Poacutelis 2002 92 p (Coleccedilatildeo Palavra-Chave 4)

CLASSIFICATION RESEARCH GROUP CRG Bulletin 11 Journal of Documentation London v 34 n 1 p 21-50 Mar 1978

CLASSIFICATION RESEARCH GROUP The need for a faceted classification as the basis of all methods of information retrieval Library Association Record London n 57 n 7 p 262-268 1955 Republished in Proceedings of the International Study Conference on Classification for Information Retrieval 1st May 1957 Dorking London ASLIB 1957 p 137-147

264

COMTE A Curso de filosofia positiva Discurso sobre o espiacuterito positivo Catecismo positivista Satildeo Paulo Abril Cultural 1973 (Os Pensadores v 33)

CUTTER C A Expansive classification Boston [sn] 1891

DAHLBERG I O futuro das linguagens de indexaccedilatildeo In CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979a v 1 p 323-334

DAHLBERG I Major development in classification Advances in Librarianship New York n 7 p 41-103 1977

DAHLBERG I Ontical structures and universal classification Banglore Sarada Ranganathan Endowment 1978

DAHLBERG I A referent-oriented analytical concept theory of INTERCONCEPT International Classification Frankfurt v 5 n 3 p 142-151 1978

DAHLBERG I Teoria da classificaccedilatildeo ontem e hoje In CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979b v 1 p 352-376 Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitidahlbergteoriadahlberg_teoriahtmgt Acesso em 20 abr 2005

DAHLBERG I Teoria do conceito Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 7 n 2 p 11-107 1978

DAHLBERG I Why knowledge organization Reasons for international classificationrsquos change of name Knowledge Organization Wuumlrzburg v 20 n 1 p 1 1993

DAHLBERG I Zur Theorie des Begriffs (Towards a theory of the concept) International Classification Frankfurt v 1 n 1 p 12-19 1974

DASGUPTA S N A history of indian philosophy Cambridge Cambridge University Press 1949

DESCARTES R Regulae ad Directionem Ingenii In ADAN C TANERRY P [Ed] Oeuvres completes ed revue et augmenteacutee par B Rochot et P Costabel Paris Vrin 1996 v VII

DEWEY M Dewey Decimal Classification Centennial 1876-1976 Facsiacutemile 1876 Produced by Suzanne Shell Lesley Halamek and PG Distributed Proofreaders reprinted by Forest Press and Division Lake Placid Educational Foundation 2007

DEWEY M Sistema de Clasificacioacuten Decimal Dewey Disentildeado originalmente por Melvil Dewey Traduccioacuten de la edicioacuten 20 em ingleacutes Traducido bajo la direccioacuten general de Octavio G Rojas L y la direccioacuten teacutecnica de Margarita Amaya de Heredia 20 ed Santafeacute de Bogotaacute Rojas Eberhard 1995

265

DEWEY M Dewey decimal classification and relative index 22nd ed Dublin OCLC Forest Press 2003 4 v

DIAS E W Biblioteconomia e ciecircncia da informaccedilatildeo natureza e relaccedilotildees In Perspectivas em Ciecircncia da Informaccedilatildeo Belo Horizonte v 5 n especial p 67-80 2000

DIAS E W O especiacutefico da ciecircncia da informaccedilatildeo In AQUINO M de A (Org) O campo da ciecircncia da informaccedilatildeo gecircnese conexotildees e especificidades Joatildeo Pessoa Editora UniversitaacuteriaUFPB 2002a

DIAS E W Ensino e pesquisa em ciecircncia da informaccedilatildeo DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 3 n 5 out 2002b Disponiacutevel em httpwwwdgzorgbrout02Art_02htm Acesso em 12 abrl 2008

DOBROWOLSKI Z Eacutetude sur la construction des systegravemes de classification Preacuteface drsquoEric de Grolier Paris Gauthier-Villars 1964

DUBOIS J et al Dicionaacuterio de linguiacutestica Satildeo Paulo Cultrix 1991

DUBUC R La classification deacutecimale universelle Paris Gauthier-Villars 1973

DURKHEIM Eacute As regras do meacutetodo socioloacutegico e outros textos In COMTE A DURKNHEIM Eacute Curso de filosofia positiva Satildeo Paulo Abril Cultural 1973 (Coleccedilatildeo Os Pensadores v 33)

DURKHEIM Eacute MAUSS M De quelques formes primitives de classification Anne Sociologique Paris v 1 p 8-62 1901-1902

ECO U Kant e o ornitorrinco Rio de Janeiro Record 1998

EISENSTEIN E L A revoluccedilatildeo da cultura impressa os primoacuterdios da Europa moderna Traduccedilatildeo Osvaldo Biato revisatildeo teacutecnica Rodolfo Ilari e Mayumi Denise Senoi Ilari Satildeo Paulo Aacutetica 1998

ELSEVIERrsquoS Dictionary of Library Science information and documentation In six languages EnglishAmerican-French-Spanish-Italian-Dutch and German Compiled and arranged on an English alphabetical basis by W E Clason Amsterdam Elsevier 1973

ENCICLOPEacuteDIA MIRADOR INTERNACIONAL Satildeo Paulo Encyclopaedia Britannica do Brasil 1983 v 9

ENCICLOPEacuteDIA SIMPOZIO Versatildeo em portuguecircs do original em esperanto Copyright 1997 Cap 2 Descartes meacutetodo e teoria do conhecimento 3686y066 sect 3 Divisatildeo e classificaccedilatildeo cartesiana das ciecircncias n 100 Disponiacutevel em lthttpwwwsimpozioufscbrFramehtmgt Acesso em 10 jan 2008

ENCICLOPEDIA VNIVERSAL ILVSTRADA evropeo-americana Bilbao Espasa-Calpe 1970

266

ESTEBAN NAVARRO M A Los lenguajes documentales ante el paso de la organizacioacuten de la realidad y el saber a la organizacioacuten del conocimiento Scire Zaragoza v 1 n 2 p 43-71 juldic 1995

FEIBLEMAN J K The integrative levels in nature In KYLE B (Ed) Focus on information and communication London ASLIB 1965 p 27-41

FEIBLEMAN J K Theory of integrative levels In CHAN L M et al Theory of subject analysis Littleton Libraries Unlimited 1985 p 136-142

FERRATER MORA J Diccionario de filosofiacutea Buenos Aires Sudamericana 1971 2 v

FERREIRA A B de H Novo Aureacutelio seacuteculo XXI o dicionaacuterio da liacutengua portuguesa 3 ed rev ampl Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999

FLA K D Theory of classification an examination guidebook London Clive Bingley 1966

FOSKETT A C A abordagem temaacutetica da informaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Antonio Agenor Briquet de Lemos Satildeo Paulo Poliacutegono Brasiacutelia Ed UnB 1973

FOSKETT A C Facet analysis In KENT A LANCOUR H (Ed) Encyclopedia of library and information science New York Marcel Dekker 1972 v 8 p 338-346

FOSKETT A C The subject approach to information 5th ed London Clive Bingley 1996 Chapter 18

FOSKETT D J The Classification Research Group 1952-1962 Libri Munchen v 12 n 2 p 127-138 1962

FOSKETT D J The theory of integrative levels and its relevance to the design of information systems ASLIB Proceedings London v 30 n 6 p 202-208 1978

FOUCAULT M As palavras e as coisas uma arqueologia das ciecircncias humanas Traduccedilatildeo Salma Tannus Muchail 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1981

GARCIA MORENTE M Lecciones preliminares de filosofia 5 ed Buenos Aires Editorial Losada 1952

GIMENO PERELLOacute J De las clasificaciones ilustradas al paradigma de la transdisciplinariedad El Catoblepas Revista Criacutetica del Presente n 10 dic 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwnoduloorgec2002n010p13htmgt Acesso em 3 mar 2008

GLOSSAacuteRIO de Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo Programa Sociedade da Informaccedilatildeo do Brasil GT-UMBTCAIDDL0025 Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpportalfustsocinfoorgbrDocsDocs20contribuicoes20dos20SUBGTSGT-UNBTCAIDDL0025docgt Acesso em 12 jan 2007

267

GLOSSAacuteRIO geral de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Universidade de Brasiacutelia Departamento de Ciecircncia da Informaccedilatildeo e Documentaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcidunbbr 123M0011000asptxtID_PRINCIPAL=123gt Acesso em 12 jan 2007

GLOSSARY OF TERMS Disponiacutevel emlthttpwwweducationusastategovgraduate glossaryhtmgt Acesso em 23 de novembro de 2007

GNOLI C Ten long-term research question in knowledge organization Knowledge Organization Frankfurt v 35 n 23 p 137-149 2008

GNOLI C POLI R Levels of reality and levels of representation Knowledge Organization Wuumlrzburg v 31 n 3 p 151-160 2004

GONZALEZ DE GOMEZ M N Da representaccedilatildeo do conhecimento ao conhecimento da representaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 22 n 3 p 217-222 1993

GOOSSENS J Origins and development of the universal decimal classification International Forum on Information and Documentation The Hague v 7 n 2 p 7-10 1982

GOPINATH M A Ranganathans perspectives and achievements Library Science in India New Delhi v 19 n 3 1992 Editorial

GOPINATH M A Lectures on conceptual knowledge processing Bangalore Sarada Ranganathan Endowment for Library Science 2001

GRACIA J J E Are categories invented or discovered A response to Foucault The Review of Metaphysics Washington n 55 p 3-20 Sept 2001

GREIMAS A J COURTES J Dicionaacuterio de semioacutetica Satildeo Paulo Cultrix [1979]

GROLIER E Classifications as cultural artifacts In UNIVERSAL CLASSIFICATION 1st JunJul1982 Augsburg Subject analisys and ordering systems INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION RESEARCH 4th JunJul1982 Augsburg Proceedingshellip ANNUAL CONFERENCE OF GESELLSCHAFT FUumlR KLASSIFIKATION 6th JunJul1982 Augsburg Annalshellip Frankfurt Indeks Verlag 1982-1983 London ASLIB 1982 v 2 p 19-34

GROLIER E Current trends in theory and practice of classification In INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION RESEARCH 2nd 1965 Copenhagen Proceedings Copenhagen Munksgaard 1965 p 9-14

GROLIER E Eacutetude sur les cateacutegories geacuteneacuterales aplicables aux classifications et codifications documentaires Paris UNESCO 1962

GROLIER E La clasificacioacuten cien antildeos despueacutes de Dewey Boletiacuten de la Unesco Paris v 30 n 6 p 320-329 novdic 1976

268

GROLIER E Le systegraveme des sciences et lrsquoeacutevolution du savoir In _____ Les fondements de la classification des savoirs Munich Verlag Dokumentation 1974 p 20-119

GUEDEZ A Foucault Traduccedilatildeo de Edson Braga de Souza Satildeo Paulo Melhoramentos Ed da Universidade de Satildeo Paulo 1977

GUIMARAtildeES R Dicionaacuterio da mitologia grega Satildeo Paulo Cultrix 1999

HAMELIN O Le systegraveme drsquoAristote Paris Feacutelix Alcan 1931

HARROD L M (Comp) The librariansrsquo glossary of terms used in librarianship documentation and the book crafts and reference book 4th ed rev London Andre Deutsch 1977

HARTMANN N Der Aufbau der realen Welt Grundiss der allgemeinen Kategorienlehre Berlin Walter de Gruyter1940

HJOslashRLAND B Fundamentals of knowledge organization In FRIacuteAS J A CRIacuteSPULO T (Ed) Tendencias de investigacioacuten en organizacioacuten del conocimiento Salamanca Ediciones Universidad de Salamanca 2003 p 83-116

HJOslashRLAND B Information seeking and subject representation London Greenwod Press 1997

HJOslashRLAND B HARTEL J Ontological epistemological and sociological dimensions of domains Knowledge Organization Wuumlrzburg v 30 p 239-245 2003

HUARTE DE SAN JUAN J H de Examen de ingenious para las ciecircncias Electroneurobiologia Madrid v 3 n 2 p 1-322 1995 (Notas preliminares por Mariela Szirko) Disponiacutevel em lthttpelectroneubiosecytgovarindex2htmgt Acesso em 20 jan 2007

HUCKABY S A S An enquiry into the theory of integrative levels as the basis for a generalized classification scheme Journal of Documentation London v 28 n 2 p 97-106 1972

HUDON M Le theacutesaurus conception elaboration gestion Montreacuteal ASTED 1994

HUNTER E J Classification made simple 2nd ed Aldershot Ashgate 2002

INDIAN standard glossary of classification terms New Delhi Indian Standards Institution (ISI) 1964

INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION FOR INFORMATION RETRIEVAL 1st May 1957 Dorking London ASLIB 1957

IYER H Classificatory structures concepts relations and representation Frankfurt Main Indeks Verlag 1995

269

JAYARAM V Purusharthas or the four aims of human life Disponiacutevel em lthttpwwwhinduwebsitecomhinduismh_aimsaspgt Acesso em 29 set 2008

KAHLMEYER-MERTENS R S Interpretaccedilatildeo da ldquociecircncia de todos os princiacutepios da sensibilidade a priorirdquo na criacutetica da razatildeo pura de Immanuel Kant Tempo da Ciecircncia Revista de Ciecircncias Sociais e Humanas Toledo v8 n 16 p 35-44 2001 Disponiacutevel emlthttpwww conscienciaorg critica_da_ razao_puraroberto shtmlgt Acesso em 30 nov 2007

KEDROV B N Clasificacioacuten de las ciencias Moscuacute Editorial Progreso 1974 2 v

KEENAN S Concise dictionary of library and information science London Bowker Saur 1996

KNEALE M KNEALE W O desenvolvimento da loacutegica 2 ed Lisboa Calouste Gulbenkian 1980

KNOWLEDGE ORGANIZATION Wuumlrzburg v 35 n 23 2008 Special Issue What is knowledge organization

KUHN T S Estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas Satildeo Paulo Perspectiva 1976

KUMAR K Theory of classification 2nd ed New Delhi Vikas Publishing House 1981

LALANDE A Vocabulaacuterio - teacutecnico e criacutetico - da filosofia Porto Reacutes [19--]

LANCASTER F W Vocabulary control for information retrieval Arlington Virginia Information Resources Press 1986

LANDAU T (Ed) Encyclopaedia of librarianship London Bowes amp Bowes 1958

LANGRIDGE D Classificaccedilatildeo abordagem para estudantes de biblioteconomia Rio de Janeiro Interciecircncia 1977

LAROUSSE P Grand dictionnaire universel du XIXe siegraveclehellip Paris Administration du Grand Dictionnaire Universel 1867

LEacuteVI-STRAUSS C O pensamento selvagem Traduccedilatildeo de Maria Celeste da Costa e Souza e Almir de Oliveira Aguiar 2 ed Satildeo Paulo Ed Nacional 1976

McILWAINE I C The Universal Decimal Classification a guide to its use The Hague UDC Consortium 2000

McILWAINE I C MITCHELL J S Preface to special issue Knowledge Organization Wuumlrzburg v 35 n 23 p 79-81 2008

McMURTRIE D O livro impressatildeo e fabrico 3 ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1997

MANIEZ J Des classifications aux theacutesaurus du bom usage des facettes Documentaliste - Sciences de lrsquoInformation Paris v 36 n 4-5 p 249-262 1999

270

MANIEZ J Los lenguajes documentales y de clasificacioacuten concepcioacuten construccioacuten y utilizacioacuten en los sistemas documentales Traduccioacuten del franceacutes Francisco Javier Aacutelvarez Garciacutea Juan Francisco Herranz Navarra Margarita Ramiacuterez Reyes Madrid Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez 1993

MANIEZ J Variations sur le thegraveme des facettes In DENTZER-TATIN C Mosaiumlque quelques facettes de lrsquoinformation Paris ADBS 1997 p 17-42

MANN M Catalogaccedilatildeo e classificaccedilatildeo de livros Rio de Janeiro Ed Fundo de Cultura 1962

MATURANA H R VARELA F J A aacutervore do conhecimento as bases bioloacutegicas da compreensatildeo humana Traduccedilatildeo Humberto Mariotti e Lia Diskin Satildeo Paulo Palas Athena 2001

MAZIP V Histoacuteria da filosofia ocidental vida obras pensamento e terminologia especiacutefica dos filoacutesofos Satildeo Paulo EPU 2001

MEDEIROS M B B Categoria e faceta In GLOSSAacuteRIO geral de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Universidade de Brasiacutelia Departamento de Ciecircncia da Informaccedilatildeo e Documentaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcidunbbr123M0011000asptxtID_ PRINCIPAL=123gt Acesso em 12 jan 2007

MENEZES E M CUNHA M V da HEEMANN V M Glossaacuterio de anaacutelise documentaacuteria Londrina ABECIN 2004

MIKSA F L Cutter Charles Ammi In ALA world encyclopedia of library and information services Chicago American Library Association 1980 p 168-170

MILLS J A modern outline of library classification London Chapman and Hall 1960

MILLS J BROUGHTON V Bliss Bibliographic Classification introduction and auxiliary schedules 2nd ed London Butterworths 1977

MONTANGERO J MAURICE-NAVILLE D Piaget ou a inteligecircncia em evoluccedilatildeo Porto Alegre ArtMed 1998

MOSS R Categories and relations origins of two classification theories American Documentation Washington DC v 15 n 4 p 296-301 Oct 1964

MOSTAFA S P Ciecircncia da informaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com outras aacutereas Palestra proferida em Mariacutelia [sd] In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL Disponiacutevel em lthttpwwwmariliaunespbrHomeExtensaoCEDHUMtexto03pdfgt Acesso em 12 out 2005

MOSTAFA S P Filosofando sobre a area de informaccedilatildeo In SIMPOacuteSIO BRASIL SUL DE INFORMACcedilAtildeO Assumindo um novo paradigma acervo versus informaccedilatildeo 1996 Londrina Anais do Londrina UEL 1996 v 1 p 31-45

271

NEELAMEGHAN A Theory of classification KENT A LANCOUR H (Ed) Encyclopedia of library and Information science New York Marcel Dekker 1970 v 5 p 147-174

OLIVEIRA R M S Classificaccedilatildeo decimal universal origem estrutura situaccedilatildeo atual Brasiacutelia ABDF INL 1980

OTLET P Sur la structure des nombres classificateurs Bulletin de lrsquoInstitut International de Bibliographie La Haye v 1 p 230-243 1895-1896

OTLET P Traiteacute de Documentation le livre sur le livre Bruxelles Editiones Mundaneum 1934

PALMER B I WELLS A J The fundamentals of library classification London George Allen amp Unwin 1951

PAZIN R A A P Introduccedilatildeo agrave classificaccedilatildeo (manual para estudantes de Biblioteconomia) Curitiba UFPR 1973

PENNA C V Catalogacioacuten y clasificacioacuten de libros Buenos Aires Kapelusz 1960

PERREAULT J M An essay on the Prehistory of general categories T Jefferson (Dedicated to Eric de Grolier on his 80th Birthday) International Classification Frankfurt v 18 n 3 p 134-142 1991

PERREAULT J M (Ed) Proceedings of the International Symposium on Relational Factors in Classification 1966 Maryland Jun 1966 Information Storage and Retrieval Elmsford NY v 3 n 4 p 177-410 1967

PERREAULT J M Towards a theory for the UDC London C Bingley 1969

PHILLIPS W H A primer book classification London Association of Assistant Librarians 1961

PIAGET J Logique et connaissance scientifique Paris Gallimard 1967

PIAGET J Reacuteussir et comprendre Paris PUF 1974

PIAGET J GARCIA R Vers une logique des significations Genegraveve Murionde 1987

PIEDADE M A R Introduccedilatildeo agrave teoria da classificaccedilatildeo 2 ed rev e aum Rio de Janeiro Interciecircncia 1983

PLATAtildeO A Repuacuteblica [ou sobre a justiccedila diaacutelogo poliacutetico] Tiacutetulo original Politeacuteia Traduccedilatildeo Anna Lia Amaral de Almeida Prado revisatildeo teacutecnica e introduccedilatildeo Roberto Bolzani Filho Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

272

POLI R Framing ontology In CORAZZON R (Ed) Ontology a resource guide for philosophers Disponiacutevel em lthttpwwwformalontologyiitessaysframingpdfgt Acesso em 8 ago 2008 1996

POLI R Ontology for knowledge organization In GREEN R (Ed) Knowledge organization and change Proceedings of the fourth International ISKO Conference Jul 1996 Washigton DC Wuumlrzburg Ergon 1996 p 313-319

POMBO O Apontamentos sobre o conceito de epistemologia e o enquadramento categorial da diversidade de concepccedilotildees de ciecircncia Disponiacutevel em lthttpcfculfculpttextosdisponiveishtmgt Acesso em 20 nov 2006

PRABHAKARA Britannica online enciclopeacutedia Disponiacutevel em lthttpwwwbritannicacomEBcheckedtopic473542Prabhakaragt Acesso em 17 out 2008

RAFFERTY P The representation of knowledge in library classification schemes Knowledge Organization Wuumlrzburg v 28 n 4 p 180-191 2001

RANGANATHAN S R Colon Classification 6th ed Bombay Bombay Asia Publishing House 1960

RANGANATHAN SR The five laws of library science Bombay Asia Publishing House 1963

RANGANATHAN S R Library Classification fundamentals and procedures Bangalore Sarada Ranganathan Endowment for Library Science 1944

RANGANATHAN S R Library classification as a discipline opening address In THE INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION AND INFORMATION RETRIEVAL May 1957 Dorking Bulletin [Classification Research Group] London ASLIB 1957 p 2

RANGANATHAN S R Philosophy of library classification Copenhagen Ejnar Munksgaard 1951

RANGANATHAN S R Prolegomena to library classification Madras Madras Library Association 1937

RANGANATHAN S R Prolegomena to library classification Assisted by M A Gopinath 3rd ed London Asia Publishing House 1967

RAYWARD W B The case of Paul Otlet pioneer of Information Science internationalist visionary reflections on bibliography Disponiacutevel em lthttpwww alexialisuiucedugslispeoplefacultyfac_papersraywardrayward2htmlgt Acesso em 20 Jun 2001

RICHMOND P A Contribution toward a new generalized theory of classification In CLASSIFICATION RESEARCH INTERNATIONAL STUDY 2nd 1965 Copenhagen Proceedingshellip Copenhagen Munksgaard 1965 p 39-54

273

RICOEUR P A memoacuteria a histoacuteria o esquecimento Traduccedilatildeo de Alain Franccedilois Campinas Editora da Unicamp 2008

ROBREDO J CUNHA M B da Documentaccedilatildeo de hoje e de amanhatilde uma aborgagem informatizada da Biblioteconomia e dos sistemas de informaccedilatildeo Satildeo Paulo Global 1994

RODRIGUEZ R D Kaiserrsquos systematic indexing Library Resources amp Technical Services Chicago v 28 n 2 p 163-174 AprJun 1984

RYLE G Expressotildees sistematicamente enganadoras e outros ensaios In RYLE et al Ensaios Satildeo Paulo Abril Cultural 1975 p 29-41 (Os Pensadores v 52)

RYLE G The concept of mind Chicago The University Chicago Press 1949

SAN SEGUNDO MANUEL R Sistemas de organizacioacuten del conocimiento la organizacioacuten del conocimiento en las bibliotecas espantildeolas Madrid Universidad Carlos III 1996 (Coleccioacuten Monografiacuteas 15)

SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma ciecircncia poacutes-moderna 3 ed Rio de Janeiro Graal 1989 Cap 2 Ciecircncia e senso comum p 31-45

SANTOS B de S Um discurso sobre as ciecircncias Porto Afrontamento 1987

SANTOS M F dos Dicionaacuterio de filosofia e ciecircncias culturais 2 ed Satildeo Paulo Matese 1964

SATIJA M P SINGH A Bibliography of library classification 1930-1993 New Delhi MD Publications 1993

SAYERS W C B An introduction to library classification 9th ed London Grafton 1955a

SAYERS W C B A manual of classification for librarians and bibliographers 3rd rev ed London Grafton 1955b

SEPUacuteLVEDA F A M A gecircnese do pensar em Ranganathan um olhar sobre as culturas que o influenciaram Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombiti sepulvedaindexhtmgt Acesso em 24 maio 2006 (Pesquisa apresentada originalmente como Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Ciecircncia da Informaccedilatildeo - Universidade Federal do Rio de Janeiro 1996)

SERRAI A Le classificazioni idee e materiali per una teoria e per una storia Firenze Leo Olschki 1977

SHERA J H Padratildeo estrutura e conceituaccedilatildeo na classificaccedilatildeo [1957] Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitisheraindexhtmgt Acesso em 23 abr 2006

274

SMIT J W TAacuteLAMO M F G M KOBASHI N Y A determinaccedilatildeo do campo cientiacutefico da informaccedilatildeo uma abordagem terminoloacutegica DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 5 n 1 p 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrgt Acesso em 15 maio 2006

SOUZA J S Classificaccedilatildeo sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica 2 ed Satildeo Paulo Martins 1952

SPITERI L The Classification Research Group and the theory of integrative levels The Katharine Sharp Review 1995 Disponiacutevel em lthttpalexialisiucedu review summer1995spiterihtmlgt Acesso em 8 out 2005

STEWART J D Memoir by James Douglas Stewart Library Association Record London n 16 p 239-242 May 1914

STOumlRIG H J Histoacuteria geral da filosofia Revisatildeo geral de Edgar Orth Petroacutepolis Vozes 2008

TAacuteLAMO M F G M KOBASHI N Y LARA M L G Vamos perseguir a informaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo n 4 p 52-57 setdez 1995

TAacuteLAMO M F G M et al Otlet o criador de estruturas informacionais pela paz mundial In CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA DOCUMENTACcedilAtildeO E CIEcircNCIA DA INFORMACcedilAtildeO 20 junho de 2002 Fortaleza Trabalho apresentado ao Fortaleza 2002 1 CD-ROM

TCHAKHOTINE S Organisation rationnelle de la recherche scientifique Paris Hermann 1938

TEIXEIRA J Instrumentos para representaccedilatildeo da informaccedilatildeo tesauro ontologia taxonomia e mapas conceituais Satildeo Paulo 2006 57 f Monografia (Trabalho de Conclusatildeo de Curso) - Departamento de Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo Escola de Comunicaccedilotildees e Artes Universidade de Satildeo Paulo 2006

TENNIS J T Epistemology theory and methodology in knowledge organization Knowledge Organization Wuumlrzburg v 35 n 23 p 102-112 2008

THOMPSON E H (Dir) ALA glossary of library terms with a selection of terms in related fields Chicago American Library Association 1943

UDC Universal Decimal Classification London British Standards Institution 2003 (Pocket edition)

UDC CONSORTIUM Classificaccedilatildeo Decimal Universal tabelas sistemaacuteticas Segunda Ediccedilatildeo-Padratildeo Internacional em Liacutengua Portuguesa Traduccedilatildeo de Odilon Pereira da Silva Revisatildeo de Faacutetima Ganim Brasiacutelia IBICT 2007 2 v (Publicaccedilatildeo UDC P053)

275

UNESCO Knowledge versus information societies UNESCO report takes stock of the difference 2005 Disponiacutevel em lthttpportalunescoorgenevphp-URL_ID= 30586ampURL_DO=DO_TOPICampURL_SECTION=201htmgt Acesso em 8 abr 2007

UNESCO-BIE Theacutesaurus de lrsquoeacuteducation Paris Unesco 1991

VANCOURT R Kant Traduccedilatildeo do francecircs por A Pinto Ribeiro Lisboa Ediccedilotildees 70 1980

VERBO Enciclopeacutedia Luso-Brasileira de Cultura Lisboa Editorial Verbo 1963-1976

VICENTINI A L C Ranganathan filoacutesofo da classificaccedilatildeo cientista da biblioteconomiacutea Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 1 n 2 p 113-114 juldez 1972

VICKERY B C La classification agrave facettes Paris Gauthier-Villars 1963

VICKERY B C Classification and indexing in science 3rd ed rev compl rev London Butterworths 1958

VICKERY B C Classification and indexing in science 3rd ed London Butterworths 1975

VICKERY B C Faceted classification a guide to the construction and use of special schemes London ASLIB 1960

VICKERY B C Classificaccedilatildeo e indexaccedilatildeo nas ciecircncias Traduccedilatildeo Maria Christina Giratildeo Pirolla Rio de Janeiro BNGBrasilart 1980

VITA L W Introduccedilatildeo agrave filosofia Satildeo Paulo Melhoramentos 1964

WHAT is a MARC record and whyrsquos it important Disponiacutevel em lthttpwwwlocgov marcumbum01to06htmlgt Acesso em 10 abr 2007

WERSIG G NEVELING U Terminologiacutee de la documentation (en cinq langue) Paris Unesco 1976

WIENER P P (Ed) Readings in philosophy of science introduction to the foundations and cultural aspects of the sciences New York Charles Scribners Sons 1953

WITTGENSTEIN Ludwig Tractatus logico-philosophicus Satildeo Paulo Edusp 1994

XIAO Y Faceted classification a consideration of its features as a paradigm of knowledge organization Knowledge Organization Wuumlrzburg v 21 n 2 p 64-68 1994

ZADEH L A Fuzzy sets Information and Control New York v8 n3 p 338-353 Jun 1965

276

ZADEH L A KLIR G J YUAN B Fuzzy sets fuzzy logic and fuzzy systems selected papers River Edge World Scientific Press 1996 (Advances in Fuzzy Systems v 6)

277

BIBLIOGRAFIA

AITCHISON J A classification as a source for a thesaurus the Bibliographic Classification of H E Bliss as a source of thesaurus terms and structure Journal of Documentation London v 42 n 3 p 160-181 Sept1986

ARTEcircNCIO L M Princiacutepios de categorizaccedilatildeo nas linguagens documentaacuterias Satildeo Paulo 2007 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Ciecircncia da Informaccedilatildeo) - Escola de Comunicaccedilatildeo e Artes Universidade de Satildeo Paulo

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 13789 terminologia - princiacutepios e meacutetodos - elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de normas de terminologia Rio de Janeiro mar 1997

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 13790 terminologia - princiacutepios e meacutetodos - harmonizaccedilatildeo de conceitos e termos Rio de Janeiro mar 1997

AUSTIN D The theory of integrative levels reconsidered as the basis of a general classification In CLASSIFICATION RESEARCH GROUP (Ed) Classification and information control London Library Association 1969 p 81-95

AUSTIN D DALE P Diretrizes para o estabelecimento de tesauros monoliacutenguumles Brasiacutelia IBICTSENAI 1993

BAKHTIN M Marxismo e filosofia da linguagem problemas fundamentais do meacutetodo socioloacutegico na ciecircncia da linguagem 11 ed Satildeo Paulo Hucitec 2004

BARATIN M JACOB C O poder das bibliotecas Rio de Janeiro UFRJ 2000 Cap Ler para escrever navegaccedilotildees alexandrinas

BARBOSA A P Teoria e praacutetica dos sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica Rio de Janeiro IBBD 1969

BARITEacute M G Organizacioacuten del conocimiento un nuevo marco teoacuterico-conceptual en Bibliotecologiacutea y Documentacioacuten In CARRARA K (Org) Educaccedilatildeo universidade e pesquisa Mariacutelia UNESP Mariacutelia Publicaccedilotildees Satildeo Paulo FAPESP 2001

BARRETO A A A questatildeo da informaccedilatildeo Satildeo Paulo em Perspectiva Satildeo Paulo v 8 n 4 p 3-8 1994

BARRETO A A As tecnoutopias do saber redes interligando o conhecimento Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrdez05Art_01htmgt Acesso em 5 abr 2007

BARROS L A Curso baacutesico de terminologia Satildeo Paulo EDUSP 2004

BASTOS Z P S M Melvil Dewey sua vida e sua obra In CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979 v 1 p 168-189

278

BEGHTOL C Knowledge domains multidisciplinarity and bibliographic classification systems Knowlede Organization Wuumlrzburg v25 n frac12 p 1-12 1998

BELL D O advento da sociedade poacutes-industrial Satildeo Paulo Cultrix 1973 Cap 3 As dimensotildees do conhecimento

BHATTACHARYYA G GANGANATHAN S R From knowledge organization to library classification In COLLOQUE DrsquoOTTAWA Conceptual of the classification of knowledge = Les fondements de la classification des savoirs Acteshellip 1971 Munchen Verlag Dokumentation 1974 p 119-144

BINDING C TUDHOPE D Integrating faceted structure into the search process In INTERNATIONAL ISKO CONFERENCE 8th July 2004 London Knowledge organization and the global information society Wuumlrzburg Ergon 2004 p 67-72

BROUGHTON V LANE H Classification schemes revisited applications to web indexing and searching In THOMAS A SHEARER J Internet searching and indexing the subject approach New York Haworth Press 2000 p 143-155

BUDD J M Knowledge and knowing in library and information science a philosophical framework Lanham Md Scarecrow Press 2001

BURKE P Uma histoacuteria social do conhecimento de Gutenberg a Diderot Traduccedilatildeo Pliacutenio Dentzien Rio de Janeiro J Zahar 2003

CABREacute M T La terminologia teoria metodologiacutea aplicaciones Proacutelogo de J C Sager Barcelona Editorial AntaacutertidaEmpuacuteries 1993

CABREacute M T La terminologiacutea hoy concepciones tendencias y aplicaciones Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 24 n 3 1995

CABREacute M T Terminologie et linguistique la theacuteorie des portes Terminologies Nouvelles Bruxelles n 21 p 10-15 2000

CAMPOS A T Linguagens documentaacuterias Revista de biblioteconomia de Brasiacutelia Brasiacutelia v 14 n 1 p 85-88 janjun 1986

CAMPOS A T O processo classificatoacuterio como fundamento das linguagens de indexaccedilatildeo Revista de biblioteconomia de Brasiacutelia Brasiacutelia v 6 n 1 p1-8 janjun 1978

CAMPOS A T A teoria das classificaccedilotildees analiacutetico-sinteacuteticas ou facetadas e a sua influecircncia sobre a reforma da Classificaccedilatildeo Decimal Universal (CDU) Revista de biblioteconomia de Brasiacutelia v 3 n 1 p23-36 janjun 1975

CAMPOS M L A As cinco leis da biblioteconomia e o exerciacutecio profissional Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitimluizaindexhtmgt Acesso em 5 abr 2007

279

CAMPOS M L A Modelizaccedilatildeo de domiacutenios de conhecimento uma investigaccedilatildeo de princiacutepios fundamentais Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 33 n 1 p 22-32 janabr 2004

CAMPOS M L A Perspectivas para o estudo da aacuterea de representaccedilatildeo da informaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 25 n 2 p 224-227 1995

CAMPOS M L A A problemaacutetica da compatibilizaccedilatildeo terminoloacutegica e a integraccedilatildeo de ontologias o papel das definiccedilotildees conceituais In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIEcircNCIA DA INFORMACcedilAtildeO (ENANCIB) 6 2005 Florianoacutepolis Anais Florianoacutepolis UFSC 2005 1 CD-ROM

CAMPOS M L A CAMPOS M L M SOUZA R F Organizaccedilatildeo de unidades de conhecimento em hiperdocumentos o modelo conceitual como espaccedilo comunicacional para realizaccedilatildeo da autoria Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 32 n 2 p 7-16 maioago 2003

CAMPOS M L A GOMES H E Organizaccedilatildeo de domiacutenios do conhecimento e os princiacutepios ranganathianos Perspectiva em Ciecircncia da Informaccedilatildeo Belo Horizonte v 8 n 2 p 150-163 juldez 2003

CAMPOS M L A GOMES H E Princiacutepios de organizaccedilatildeo e representaccedilatildeo do conhecimento na construccedilatildeo de hiperdocumentos DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 6 dez 2005 Disponiacutevel em lthttpwww dgzorgbrgt Acesso em 20 jun 2007

CAMPOS M L A GOMES H E Tesauro e normalizaccedilatildeo terminoloacutegica o termo como base para intercacircmbio de informaccedilotildees DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 5 n 6 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrgt Acesso em 30 abr 2007

CAVALCANTI C R Indexaccedilatildeo amp tesauro metodologia e teacutecnicas Ed preliminar Brasiacutelia ABDF 1978

CDU Clasificacioacuten Decimal Universal Edicioacuten abreviada espantildeola 6 ed rev y actual Madrid Aenor 1992

CDU Classification Deacutecimale Universellehellip 2nd ed Bruxelles IIB 1927-1933 3 v

CHAN L COMAROMI J P SAJITA M P Dewey Decimal Classification a practical guide Albany NY Forest 1996

CHAN V Ranganathan ahead of his century Disponiacutevel em lthttpwwwslaisubc cacourseslibr517winter2000Group7gt Acesso em 29 set 2007 (Coursework at School of Library and Archival Studies University of British Columbia)

CHATTERJEE A CHOUDHURY G G UDC International medium edition English text A critical appraisal International Classification Frankfurt v 13 n 3 1986

CHAUI M S Filosofia Satildeo Paulo Editora Aacutetica 2001

280

CHAUIacute M S Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia dos preacute-socraacuteticos a Aristoacuteteles 2 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002 2 v

CHAUMIER J Le traitement linguistique de lrsquoinformation documentaire Paris Enterprise Moderne drsquoEacutedition 1978

CINTRA A M M Elementos de linguumliacutestica para estudos de indexaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 12 n 1 p 5-22 1983

CLASSIFICATION theory In THE NEW encyclopaedia britannica 15 ed Chicago Encyclopaedia Britannica 1974 Macropaedia v 4 p 691-694

COMARONI J P History of the Dewey Decimal Classification Michigan University 1969

CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA set 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979 2 v

CURRAacuteS E Tesauros linguagens terminoloacutegicas Traduccedilatildeo de Antocircnio Felipe Correcirca da Costa Brasiacutelia IBICT 1995

DAHLBERG I Fundamentos teoacuterico-conceituais da classificaccedilatildeo Revista de biblioteconomia de Brasiacutelia v 5 n 1 p 9-21 janjun 1978

DAHLBERG I Knowledge organization and terminology philosophical and linguistic bases International Classification Frankfurt v 19 n 2 p 65-71 1992

DAHLBERG I Knowledge organization its scope and possibilities Knowledge Organization Wuumlrzburg v 20 n 4 p 211-222 1993

DATTA S A organizaccedilatildeo de conceitos para recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 6 n 1 p 17-28 1977

DERRIDA J Forma e significaccedilatildeo In A escritura eacute a diferenccedila 2 ed Satildeo Paulo Perspectiva 1995 (Debates n 49)

DEWEY M A classification and subject iacutendex for cataloguing and arranging the books and pamphlets of a library (Dewey Decimal Classification) Project Gutemberg EBook Dewey Decimal Classification 2004 Disponiacutevel em lthttpwww classicistraniericom english12511251312513-h12513-hhtmgt Acesso em 8 maio 2007

DEWEY DECIMAL CLASSIFICATION 22nd ed Dublin OCLC 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwoclcorggt Acesso em 20 out 2006

DODEBEI V L D Tesauro linguagens de representaccedilatildeo da memoacuteria documentaacuteria Niteroacutei Intertexto Rio de Janeiro Interciecircncias 2002

DUBUC R Manual praacutectico de terminologia 3 ed corr atual Traduccedilatildeo de Ileana Cabrera Santiago de Chile Unioacuten LatinaRil Ed 1999

281

DURKHEIM Eacute MAUSS M Clasificaciones primitivas y otros ensayos de antropologia positiva Edicioacuten de Manuel Delgado Ruiz y Alberto Loacutepez Bargados Barcelona Ariel 1996

ECO U O signo Lisboa Presenccedila 1990

ECO U Sobre os espelhos e outros ensaios Rio de Janeiro Nova Fronteira1989

EGAN M E Cataacutelogo sistemaacutetico princiacutepios baacutesicos e utilizaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Maria Neile Teles Landau Brasiacutelia Ed da UnB 1969

ELLIS D FORD N In search of the unknown user indexing hypertext and the World Wide Web Journal of Documentation London v 54 n 1 p 28-47 1998

ESTEBAN NAVARRO M A Fundamentos epistemoloacutegicos de la clasificacioacuten documental Scire Zaragoza v 1 n 1 p 81-101 enejun 1995

FENSEL D et al OIL an ontology infrastructure for the semantica web IEEE Intelligent Systems their Applications New York p 38-45 MarApr 2001

FERNANDEZ R P Classificaccedilatildeo um processo fundamental da natureza humana In CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979 v 1 p 254-268

FEIBLEMAN J K Theory of integrative levels British Journal for the Philosophy of Science Edinburgh v 5 p 59-66 1954

FLYVBJERG B Making social science matter why social inquiry fails and how it can succeed again Cambridge Cambridge University Press 2001

FONSECA E N da Apogeu e decliacutenio das classificaccedilotildees bibliograacuteficas Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitineryindexhtmgt Acesso em 14 nov 2005 FOSKETT A C The future of faceted classification In MALTBY R M MALTBY A (Ed) The future of classification Aldershot Gower 2000 p 69-80

FOSKETT D J Classification and integrative levels In FOSKETT D J PALMER B I (Ed) The Sayers memorial volume London Library Association 1961

FOUCAULT M A arqueologia do saber 7 ed Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 2005

FUZZY logic Stanford Encyclopedia of Philosophy Stanford University First published Sept 032002 revision July 2006 Disponiacutevel em lthttpplatostanfordeduentrieslogic-fuzzy gt Acesso em 14 out 2008

GAARDER J O mundo de Sofia romance da histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 1997

282

GALVAtildeO M C B Construccedilatildeo de conceitos no campo da ciecircncia da informaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 27 n 1 p 46-52 janabr 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sciarttextamppid=S0100- 19651998000100006 amplng=esampnrm=isoamptlng=esgt Acesso em 10 ago 2006

GARCIA MORENTE M Fundamentos de filosofia liccedilotildees preliminares 8 ed Satildeo Paulo Mestre Jou 1980

GARDIN J C Document analysis and linguistic theory Journal of Documentation London v 29 n 2 p 137-168 1973

GARDIN J C Elementos para descriccedilatildeo de leacutexicos documentaacuterios Bulletin des Bibliothegraveques de France Paris p 171-182 1966 Traduccedilatildeo livre para uso didaacutetico Disponiacutevel em lthttpinfobservatorioincubadorafapesp brportalLDIItxt_roteirosgt Acesso em 20 jun 2007

GARDIN J C Free classifications and faceted classifications In INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION RESEARCH 2nd 1965 Copenhagen Proceedingshellip Copenhaguen Munksgaard 1965 p 161-168

GARDIN J C Semantic analysis procedures in the sciences of man Social Science Information London n 8 p 17-42 1969

GIL F Classificaccedilotildees In ENCICLOPEacuteDIA Einaudi Lisboa Imprensa Nacional Casa da Moeda 2000 p 90-110

GILCHRIST A Thesauri taxonomies and ontologies - an etymological note Journal of Documentation London v 59 n 1 p 7-18 2003

GNOLI C Progress in synthetic classification towards unique definition of concepts In INTERNATIONAL SEMINAR ON THE UNIVERSAL DECIMAL CLASSIFICATION EXTENSIONS AND CORRECTIONS TO THE UDC 29th Jun 2007 The Hague Information access for the global community Pre-print of the paper published in Extensions amp Corrections to the UDC n 29 2007

GOEDERT W Facet classification in online retrieval International Classification Frankfurt v 18 n 2 p 98-105 1991

GOMES H E Classificaccedilatildeo tesauro e terminologia fundamentos comuns Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombititertuliatertuliahtmgt Acesso em 19 maio 2005

GOMES H E Organizaccedilatildeo do conhecimento e sistemas de classificaccedilatildeo Brasiacutelia IBICT 1996

GOMES H E et al Manual de elaboraccedilatildeo de tesauros monoliacutenguumles Brasiacutelia CNPqPNBU 1990

283

GOMES H E CAMPOS M L A Tesauro e normalizaccedilatildeo terminoloacutegica o termo como base para intercacircmbio de informaccedilotildees DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 5 n 6 dez 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzeroorgdez04 Art_02htmgt Acesso em 27 maio 2005

GOMES H E CAMPOS M L A MOTTA D F Tutorial para elaboraccedilatildeo de Tesauros 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombititesaurogt Acesso em 4 ago 2005

GOMPERZ T Pensadores griegos Traduccedilatildeo do alematildeo por Karl Koumlrner Asuncioacuten (PA) Guarania 1959 v 1

GRAZIANO E E Hegelrsquos philosophy as the basis for the decimal classification schedule Libri International Journal of Library Information Systems Munchen n 9 p 45-52 1959

HEGENBERG L Definiccedilotildees Satildeo Paulo CultrixEd da Universidade de Satildeo Paulo 1974

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISOR 704 principes et meacutethodes de la terminologie Genegraveve 1987

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISOR 860 unificiation internationale des notions et des termes Genegraveve 1968

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISOR 919 guide pour lrsquoelaboration des vocabulaires systeacutemathiques Genegraveve 1969

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISO 1087 terminology - vocabulary Genegraveve May 1990

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISO 1087-1 terminology - vocabulary Genegraveve 1990

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISOR 1149 preacutesentation des vocabulaires systeacutematiques multilinguumles Genegraveve 1969

THE INFORMATION SOCIETY FOR THE INFORMATION AGE (ASISampT) ASISampT 2008 Annual Meeting (AM08 2008) People transforming information - information transforming people Columbus (Ohio) Oct 2008 Proceedingshellip Disponiacutevel em lthttpwwwasisorgindexhtmlgt Acesso em 13 mar 2008

KANT I Criacutetica da razatildeo pura e outros textos filosoacuteficos Seleccedilatildeo de Marilena de Souza Chauiacute Berlinck Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Os Pensadores v 25)

KAULA P N Repensando os conceitos no estudo da classificaccedilatildeo Baseado no artigo submetido agrave 4 Conferecircncia sobre Pesquisa em Classificaccedilatildeo Augsburg Alemanha Ocidental de 20 de junho a 2 de julho de 1982 Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitikaulaindexhtmgt Acesso em 5 dez 2006

284

KENT R E Organizing conceptual knowledge online metadata interoperability and faceted classification In INTERNATIONAL ISKO CONFERENCE 5th Aug 1998 Lille Structures and relations in knowledge organization Wuumlrzburg Ergon Verlag 1998

KOBASHI N Y Anaacutelise documentaacuteria e representaccedilatildeo da informaccedilatildeo Informare Rio de Janeiro v 2 n 2 p 5-27 1996

KOBASHI N Y Fundamentos semacircnticos e pragmaacuteticos da construccedilatildeo de instrumentos de representaccedilatildeo da informaccedilatildeo Datagramazero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 8 p 1-10 2007

KOBASHI N Y Organizaccedilatildeo do Conhecimento e representaccedilatildeo da Informaccedilatildeo Informare Rio de Janeiro v 2 n 2 p 5-27 1997

KOBASHI N Y SMIT J W TAacuteLAMO M F G M A funccedilatildeo da terminologia na construccedilatildeo da Ciecircncia da Informaccedilatildeo DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 2 n 2 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrgt Acesso em 18 dez 2007

KOBASHI N Y TAacuteLAMO M F G M Informaccedilatildeo fenocircmeno e objeto de estudo da sociedade contemporacircnea Transinformaccedilatildeo Campinas v 15 n 3 (Ed especial) p 7-21 2003

KRIEGER M G FINATTO M J B Introduccedilatildeo agrave terminologia teoria e praacutetica Satildeo Paulo Contexto 2004

LALANDE A Vocabulaacuterio teacutecnico e criacutetico da filosofia 3 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999

LANCASTER F W Indexaccedilatildeo e resumos teoria e praacutetica Brasiacutelia Briquet de Lemos 1993

LARA M L G A CDU ante as demais linguagens documentaacuterias e outros sistemas de organizaccedilatildeo do conhecimento In SIMPOacuteSIO ESTADO ATUAL E PERSPECTIVAS DA CDU 11996 Brasiacutelia Organizaccedilatildeo do conhecimento e sistemas de classificaccedilatildeo Brasiacutelia IBICT 1996

LARA M L G Diferenccedilas conceituais sobre termos e definiccedilotildees e implicaccedilotildees na organizaccedilatildeo da linguagem documentaacuteria Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 33 n 2 p 91-96 maioago 2004

LARA M L G Dos sistemas de classificaccedilatildeo bibliograacutefica agraves search engines (I) e (II) Satildeo Paulo APB 2002 (Ensaios APB)

LARA M L G Linguagem documentaacuteria e terminologia Transinformaccedilatildeo Campinas v 16 n 3 2004 Disponiacutevel em lthttprevistas puc-campinasedubr transinfo viewarticlephpid=72gt Acesso em 1 maio 2006

285

LARA M L G Novas relaccedilotildees entre terminologia e ciecircncia da informaccedilatildeo na perspectiva de um conceito contemporacircneo da informaccedilatildeo DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 7 2006 Disponiacutevel em lthttpwww dgzorgbrgt Acesso em 5 nov 2007

LARA M L G O processo de construccedilatildeo da informaccedilatildeo documentaacuteria e o processo de conhecimento Perspectivas em Ciecircncia da Informaccedilatildeo Belo Horizonte v 7 n 2 p 127-139 juldez 2002

LARA M L G A representaccedilatildeo documentaacuteria em jogo a significaccedilatildeo 1993 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Ciecircncia da Informaccedilatildeo) - Escola de Comunicaccedilotildees e Artes Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1993

LARA M L G Uma teoria terminoloacutegica para um conceito contemporacircneo de informaccedilatildeo documentaacuteria In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIEcircNCIA DA INFORMACcedilAtildeO (ENANCIB) 6 2005 Florianoacutepolis Anais Florianoacutepolis UFSC 2005 1 CD-ROM

LARA M L G A terminologia como instrumento para a construccedilatildeo de ferramentas semacircnticas In CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTACcedilAtildeO 20 Anais Fortaleza 2002 1 CD-ROM

LARA M L G O unicoacuternio (o rinoceronte o ornitorrinco) a anaacutelise documentaacuteria e a linguagem documentaacuteria DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 2 n 6 dez 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrgt Acesso em 1 maio 2006

LEIDECKER K F The debt of Melvil Dewey to William Torrey Harris Library Quaterly Chicago v 15 n 1 1945

LEMAITRE S O Hinduiacutesmo Satildeo Paulo Famboyant 1958

McILWAINE I C BUXTON A Guia para utilizaccedilatildeo da CDU um guia introdutoacuterio para o uso e aplicaccedilatildeo da Classificaccedilatildeo Decimal Universal Brasiacutelia MCTCNPqIBICT 1998

MAI J E Is classification theory possible Rethinking classification research In INTERNATIONAL ISKO CONFERENCE 7th July 2002 Granada Challenges in knowledge representation and organization for the 21st century Wuumlrzburg Ergon 2002 p 472-478

MANIEZ J Les langages documentaires et classificatoires Paris Eacuteditions drsquoOrganisation 1987

MAPLE A Faceted access a review of the literature Disponiacutevel em lthttpwww-sulstanfordedudeptsmusicmlatestBCCBCC-Historical95WGF AM2htmlgt Acesso em 9 fev 2008

MARCO F J G (Ed) Organizacioacuten del conocimiento en sistemas de informacioacuten y documentacioacuten Zaragoza Libreriacutea General 1995

286

MARX K Miseacuteria da filosofia Satildeo Paulo Grijalbo 1976

MATURANA H R Cogniccedilatildeo ciecircncia e vida cotidiana Belo Horizonte Ed UFMG 2001

MENOU M GUINCHAT C Introduccedilatildeo geral agraves ciecircncias e teacutecnicas da informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo Brasiacutelia IBICT 1994

MILLS J Attention please for BC2 International Classification Frankfurt v 10 p 24-28 1983

MILLS J Classifying by Bliss Library Association Records London n 52 p 370-372 1950

MILLS J The Universal Decimal Classification New Brunswick Rutgers the State University 1964

MIKSA F L The DDC the universe of knowledge and the post-modern library Albany Forest Press 1998

MITCHELL Joan S DDC 22 an introduction International Cataloguing and Bibliographic Control London v 33 n 2 p 27-31 AprJun 2004

MOREIRO GONZAacuteLES J A El contenido de los documentos textuales su anaacutelisis y representacioacuten mediante El lenguaje natural Somonte (ES) Ediciones Trea 2004

MORENO FERNAacuteNDEZ L M Una vez maacutes la CDU no es un thesaurus Documentacioacuten de las Ciencias de la Informacioacuten Madrid v 15 p 67-81 1992

MORIN E Introduccedilatildeo ao pensamento complexo 2 Ed Lisboa Instituto Piaget 1990

MORIN E O meacutetodo 3 o conhecimento do conhecimento Porto Alegre Sulina 1999

MORIN E A religaccedilatildeo dos saberes o desafio do seacuteculo XXI Traduccedilatildeo e notas Flaacutevia Nascimento 5 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2005

MORIN E LE MOIGNE J L A inteligecircncia da complexidade Satildeo Paulo Petroacutepolis 2000

MOSTAFA S P Epistemologia da biblioteconomia 1985 Tese (Doutorado em Filosofia da Educaccedilatildeo) - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo 1985

ONLINE COMPUTER LIBRARY CENTER (OCLC) Disponiacutevel em lthttpwwwoclc orggt e lthttpwwwoclcorgamericalatinaptdefaulthtmgt Acesso em 20 fev 2007

OTLET P Documentos e documentaccedilatildeo (introduccedilatildeo ao trabalho do Congresso Mundial da Documentaccedilatildeo Universal realizado em Paris em 1937) Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitiotletindexhtmgt Acesso em 14 abr2005

287

PARROCHIA D Classifications histoire et problegravemes formels Bulletin de la Socieacuteteacute Francophone de Classification Paris n 10 mar 1998

PERRAULT J M Categories and relators a new schema for the replacement of the non-significant relation symbol the Colon in the UDC by a letter code Knowledge Organization Wuumlrzbug v 21 n 4 p 189-198 1994 (Reprinted from Revue Internationals de la Documentation v 4 1965)

PIAGET J A situaccedilatildeo das ciecircncias do homem no sistema das ciecircncias Traduccedilatildeo de Isabel Cardigos dos reis Amadora Bertrand1970

PLATAtildeO Diaacutelogos o banquete Feacutedon sofista poliacutetico Traduccedilotildees de Joseacute Cavalcante de Souza (O Banquete) Jorge Paleikat e Joatildeo Cruz Costa (Feacutedon Sofista Poliacutetico) Satildeo Paulo Abril Cultural 1972 (Os Pensadores 3)

POLLITT S The application of the Dewey Decimal Classification in a view-based searching OPAC In STRUCTURES and relationships in knowledge organization Wuumlrzburg Ergon Verlag 1998 POLLITT S Interactive information retrieval based on faceted classification using views In INTERNATIONAL STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION RESEARCH 6th Jun 1997 London Knowledge organization for information retrieval The Hague International Federation for Information and Documentation (FID) 1997 p 51-56 Disponiacutevel em lthttpwwwhudacukschoolscedardorking htmgt Acesso em 12 mar 2008

POMBO O Da classificaccedilatildeo dos seres agrave classificaccedilatildeo dos saberes Disponiacutevel em lthttpcfculfculpttextosdisponiveishtmgt Acesso em 10 nov 2006

PORFIacuteRIO Isagoge introduccedilatildeo agraves Categorias de Aristoacuteteles Traduccedilatildeo introduccedilatildeo e comentaacuterios de Bento Silva Santos Satildeo Paulo Attar Editorial 2002

RANGANATHAN S R The Colon Classification New Brunswick The State University 1965

RANGANATHAN S R Elements of library classification based on lectures delivered at the University of Bombay in December 1944 Poona N K Publishing House 1945

RAYWARD W B The origins of informations science and International Insttitute of BibliographyInternational Federation for Information and Documentation (FID) Journal of the American Society for Information Science (JASIS) New York v 48 n 4 p 289-300 1997

RIVIER A Construction decircs langages drsquoindexation aspects theacuteoriques Documentaliste - Sciences de lrsquoInformation Paris v 27 n 6 p 263-274 1990

RORISSA A IYER H Theories of cognition and image categorization what category labels reveal about basic level theory Journal of the American Society for Information Science and Tecnology (JASIST) New York v 59 n 9 p 1383-1392 2008

288

SANDER S La teoriacutea decimal de la clasificacioacuten de Mevil Dewey Documentacioacuten de las Ciencias de la Informacioacuten Madrid n 20 p 113-129 1997

SANTAELLA L Matrizes da linguagem e do pensamento Satildeo Paulo Iluminuras 2001

SATIJA M P Classification some fundamentals some myths some realities Knowledge Organization Wuumlrzburg v 24 n1 p 18-23 1997

SATIJA M P Classification some fundamentals some myths some realities [part 2] Knowledge Organization Wuumlrzburg v 25 n12 p 32-35 1998

SATIJA M P The future and revision of colon classification Knowledge Organization Wuumlrzburg v 25 n12 p 32-35 1998

SATIJA M P Use of colon classification International Classification Frankfurt v 13 n2 p 88-92 1986

SAYERS W C B MALTBY A M A manual of classification for librarians 4th

ed London Andre Deutsch 1967

SCHREINER H B Consideraccedilotildees histoacutericas acerca do valor das classificaccedilotildees bibliograacuteficas In CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979 v 1 p 190-207 Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombiti schreinerindexhtmgt Acesso em 23 abr 2006

SHERA J H EGAN Margaret E Cataacutelogo sistemaacutetico princiacutepios baacutesicos e utilizaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Maria Neile Teles Landau Brasiacutelia Editora Universitaacuteria de Brasiacutelia 1969 174 p (Biblioteconomia e Documentaccedilatildeo 1)

SLYPE G V Lenguajes de indizacioacuten concepcioacuten construccioacuten y utilizacioacuten en los sistemas documentales Traduccioacuten del franceacutes Pedro Hiacutepola Feacutelix de Moya Madrid Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez 1991

SMIT J W (Org) Anaacutelise documentaacuteria a anaacutelise da siacutentese Brasiacutelia IBICT 1987

SMIT J W A organizaccedilatildeo e o acesso agrave informaccedilatildeo na sociedade do conhecimento Texto no prelo a ser publicado em livro organizado pela Profa Dra Maria Helena Toledo Costa de Barros da UnespMariacutelia

SMIT J W TAacuteLAMO M F G M KOBASHI N Y Categorias Material para uso didaacutetico

SMIT J W TAacuteLAMO M F G M KOBASHI N Y A determinaccedilatildeo do campo cientiacutefico da ciecircncia da informaccedilatildeo uma abordagem terminoloacutegica In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIEcircNCIA DA INFORMACcedilAtildeO (ENANCIB) 5 2003 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) 2003

289

SOERGEL D The many uses of classification enriched thesauri as knowledge sources In ASIS SIGCR CLASSIFICATION RESEARCH WORKSHOP 12th 2001 Washington DC Disponiacutevel em lthttpwwwdsoergelcomcvB78pdfgt Acesso em 10 out 2007

SOERGEL D The representation of Knowledge Organization Structure (KOS) data a multiplicity of standards Paper presented at the JCDL 2001 NKOS Workshop Roanoke VA 2001-6-28 Disponiacutevel em lthttpwwwdsoergelcomgt Acesso em 10 out 2007

SOERGEL D The rise of ontologies or the reinvention of classification Journal of the American Society for Information Science v 50 n 12 p 1119-1120 Sept 1999 Disponiacutevel em lthttpwwwdsoergelcomgt Acesso em 18 out 2007

SOERGEL D The structure of taxonomies facets and hierarchy Presentation at practical taxonomies New York Nov 2002 Disponiacutevel em lthttpwww dsoergelcomgt [PowerPoint] Acesso em 18 out 2007

SOUSA R T B de Classificaccedilatildeo em arquiviacutestica trajetoacuteria e apropriaccedilatildeo de um conceito 2004 237 f Tese (Doutorado em Histoacuteria) - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria Social Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas Universidade de Satildeo Paulo 2004

SOUZA R F Aacutereas do conhecimento DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 5 n 2 abr 2004 Disponiacutevel em lthttpwww dgzorgbrabr04Art02htmgt Acesso em 5 abr 2007

SOUZA R F Classificaccedilatildeo - um processo fundamental da natureza humana In CONFEREcircNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICACcedilAtildeO BIBLIOGRAacuteFICA 1976 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro IBICT Brasiacutelia ABDF 1979 v 1 p 254-267

SOUZA R F A classificaccedilatildeo como interface da Internet DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 1 n 2 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrgt Acesso em 12 out 2007

SOUZA R F Organizaccedilatildeo do conhecimento em uma estrutura classificatoacuteria no contexto da indexaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo Informare Rio de Janeiro v 2 n 2 p 37-49 1996

SOUZA R F MANASFI C V Organizaccedilatildeo do conhecimento em uma estrutura classificatoacuteria no contexto da indexaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo um relato de pesquisa Informare Rio de Janeiro v 2 n 2 p 37-49 juldez 1996

SOUZA S D CDU como entender e utilizar a Ediccedilatildeo-Padratildeo Internacional em Liacutengua Portuguesa 3 ed rev e ampl Brasiacutelia Thesaurus 2004 STAR S L Grounded classification grounded theory and faceted classification Library Trends how classifications work problems and challenges in an electronic age Champaing v 47 n 2 1998 p 218-232

290

SVENONIUS E The intellectual foundation of information organization Cambridge MA The MIT Press 2000

SVENONIUS E Use of classification in online retrieval Library Resources amp Technical Services Chicago v 27 n 1 p 76-80 1983

SWEENEY R The internacional use of the Dewey Decimal Classification International Cataloguing and Bibliographic Control London v 24 n 4 p 61-64 OctDec 1995

TAacuteLAMO M F G M A definiccedilatildeo semacircntica para a elaboraccedilatildeo de glossaacuterios In SMIT J W (Org) Anaacutelise documentaacuteria a anaacutelise da siacutentese Brasiacutelia IBICT 1987 p 88-98

TAacuteLAMO M F G M Estrutura e operaccedilatildeo do dicionaacuterio In COELHO T Dicionaacuterio criacutetico de poliacutetica cultural 2 ed Satildeo Paulo Iluminuras 1999 p17-22

TAacuteLAMO M F G M LENZI L F Terminologia e documentaccedilatildeo a relaccedilatildeo solidaacuteria das organizaccedilotildees do conhecimento e da informaccedilatildeo no domiacutenio da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica DataGramaZero - Revista de Ciecircncia da Informaccedilatildeo Rio de Janeiro v 7 p 3 2006 Disponiacutevel em lthttpwwwdgzorgbrgt Acesso em 14 ago 2007

TAacuteLAMO M F G M LARA M G L KOBASHI N Y A contribuiccedilatildeo da terminologia para a elaboraccedilatildeo de linguagens documentaacuterias Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 21 n 3 p 197-200 1992

TAacuteLAMO M F G M et al Informaccedilatildeo do tratamento ao acesso e utilizaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo v 1 n 1 p 7-14 setdez 1994

TENNIS J T Experientialist epistemology and classification theory embodied and dimensional classification Knowledge Organization Wuumlrzburg v 32 n 2 p 79-92 2005

TURNER C Organizing information principles and practice London C Bingley 1988

TOcircRRES L M C das Sistematizaccedilatildeo da sintaxe de cabeccedilalho de assunto 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwconexaoriocombitilecylecyhtmgt Acesso em 20 maio 2007

TRENDLENBURG F A Historische Beitraumlge zur Philosophie Berlin 1846 Bd 1 Geschichte der Kategorienlehre

UDC CONSORTIUM CDU Ediccedilatildeo-Padratildeo Internacional em Liacutengua Portuguesa Brasiacutelia IBICT 1997

VALE E do Linguagens de indexaccedilatildeo In SMIT J W (Org) Anaacutelise documentaacuteria a anaacutelise da siacutentese Brasiacutelia IBICT 1987 p 11-26

VICKERY B C Faceted classification LondonAslib 1960

Ficha catalograacutefica elaborada por Liliana Luisa Pizzolato CRB 3939ordf Regiatildeo

Anjos Liane Sistemas de classificaccedilatildeo do conhecimento na filosofia e na biblioteconomia uma visatildeo histoacuterico- conceitual criacutetica com enfoque nos conceitos de classe categoria e faceta Liane dos Anjos ndash Satildeo Paulo 2008 290 p Tese (Doutorado) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia da Informaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo 1 Teoria da classificaccedilatildeo 2 Organizaccedilatildeo do conhecimento 3 Categoria I Smit Johanna W II Tiacutetulo CDD 02542 CDU 02542

  • LIANE DOS ANJOS
  • SAtildeO PAULO
  • FOLHA DE APROVACcedilAtildeO
    • Personalidade
    • Mateacuteria
    • Energia
    • Espaccedilo
    • Tempo
Page 4: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 5: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 6: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 7: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 8: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 9: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 10: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 11: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 12: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 13: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 14: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 15: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 16: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 17: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 18: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 19: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 20: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 21: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 22: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 23: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 24: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 25: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 26: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 27: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 28: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 29: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 30: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 31: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 32: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 33: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 34: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 35: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 36: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 37: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 38: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 39: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 40: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 41: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 42: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 43: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 44: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 45: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 46: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 47: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 48: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 49: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 50: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 51: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 52: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 53: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 54: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 55: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 56: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 57: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 58: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 59: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 60: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 61: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 62: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 63: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 64: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 65: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 66: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 67: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 68: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 69: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 70: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 71: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 72: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 73: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 74: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 75: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 76: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 77: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 78: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 79: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 80: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 81: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 82: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 83: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 84: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 85: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 86: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 87: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 88: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 89: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 90: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 91: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 92: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 93: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 94: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 95: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 96: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 97: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 98: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 99: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 100: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 101: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 102: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 103: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 104: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 105: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 106: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 107: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 108: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 109: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 110: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 111: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 112: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 113: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 114: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 115: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 116: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 117: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 118: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 119: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 120: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 121: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 122: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 123: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 124: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 125: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 126: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 127: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 128: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 129: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 130: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 131: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 132: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 133: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 134: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 135: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 136: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 137: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 138: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 139: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 140: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 141: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 142: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 143: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 144: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 145: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 146: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 147: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 148: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 149: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 150: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 151: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 152: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 153: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 154: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 155: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 156: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 157: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 158: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 159: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 160: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 161: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 162: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 163: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 164: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 165: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 166: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 167: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 168: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 169: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 170: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 171: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 172: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 173: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 174: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 175: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 176: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 177: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 178: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 179: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 180: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 181: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 182: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 183: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 184: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 185: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 186: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 187: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 188: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 189: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 190: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 191: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 192: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 193: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 194: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 195: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 196: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 197: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 198: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 199: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 200: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 201: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 202: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 203: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 204: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 205: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 206: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 207: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 208: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 209: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 210: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 211: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 212: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 213: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 214: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 215: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 216: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 217: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 218: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 219: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 220: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 221: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 222: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 223: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 224: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 225: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 226: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 227: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 228: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 229: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 230: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 231: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 232: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 233: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 234: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 235: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 236: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 237: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 238: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 239: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 240: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 241: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 242: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 243: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 244: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 245: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 246: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 247: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 248: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 249: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 250: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 251: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 252: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 253: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 254: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 255: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 256: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 257: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 258: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 259: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 260: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 261: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 262: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 263: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 264: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 265: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 266: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 267: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 268: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 269: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 270: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 271: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 272: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 273: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 274: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 275: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 276: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 277: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 278: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 279: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 280: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 281: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 282: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 283: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 284: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 285: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 286: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 287: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 288: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 289: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 290: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de
Page 291: LIANE DOS ANJOS - USP · aponta, por parte dos estudiosos da Classificação, para a necessidade de um cuidado maior no desenho, no planejamento e na estruturação de sistemas de