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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SÓCIO-ECONOMICAS E HUMANAS LIA FERNANDA PELLENZ O FENÔMENO BULLYING NA EDUCAÇÃO INFANTIL ANÁPOLIS – GO 2009

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Page 1: LIA FERNANDA PELLENZ O FENÔMENO BULLYING NA … · O segundo capítulo tem o intuito destacar as características e do processo de desenvolvimento infantil, segundo a Teoria Piagetiana

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁSUNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SÓCIO-ECONOMICAS

E HUMANAS

LIA FERNANDA PELLENZ

O FENÔMENO BULLYING NA EDUCAÇÃO INFANTIL

ANÁPOLIS – GO

2009

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LIA FERNANDA PELLENZ

O FENÔMENO BULLYING NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como pré-requisito à obtenção de grau de Licenciatura em Pedagogia, pela Universidade Estadual de Goiás, da Unidade Universitária de Ciências Sócio-econômicas e Humanas, sob orientação da Profª Ms. Ivana Alves Monnerat de Azevedo.

Anápolis-GO

2009

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LIA FERNANDA PELLENZ

O FENÔMENO BULLYING NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de conclusão de curso, apresentado como pré-requisito para obtenção de grau na licenciatura em Pedagogia, pela Universidade Estadual de Goiás (UEG), da Unidade Universitária de Ciências Sócio-econômicas e Humanas (UnUCSEH)

Anápolis-GO, 16 de dezembro de 2009

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________

Profª Ms . Ivana Alves Monnerat de Azevedo

Orientadora

Profª Ms . Maria Terezinha Souto Carvalho

Examinadora

______________________________________________________

Profª Dra. Sandra Elaine Aires de Abreu

Coordenadora do Núcleo de Trabalho de Conclusão de Curso do Curso de pedagogia

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RESUMO

A pesquisa realizada teve o intuído de estudar o fenômeno bullying na

Educação Infantil e quais são os fatores que podem estar motivando criança,

na mais terna idade, a praticar essa violência, de forma velada e/ou repetitiva.

Esse estudo realizado, a partir da leitura de pressupostos teóricos e da

realização da pesquisa de campo, se constituíram em aspectos relevantes à

dos aspectos principais que caracterizam o desenvolvimento infantil, da

apresentação e discussão de alguns conceitos do fenômeno bullying e da

análise referente à ocorrência dessa manifestação agressiva, na educação

infantil, de que forma essa violência ocorre e quais são as possíveis ações a

serem realizadas por toda a equipe, pais e comunidade, para prevenir e

buscar formas de eliminar e/ou minimizar a ocorrência desse fenômeno. O

estudo propiciou o destaque da importância de se conhecer, de maneira mais

aprofundada, o fenômeno bullying nos dias atuais, bem como suas formas de

prevenção na educação infantil, pois esse tipo de violência deve ser

primeiramente compreendido e aceitado como uma prática existente nas

instituições escolares, devendo ser combatido, por meio de políticas anti-

bullying, a partir de estudos e reflexões, de forma integrada, de todos os

envolvidos no processo educativo.

Palavras-chave: Educação Infantil. Desenvolvimento Infantil. Interação Social. Bullying.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................... 09

CAPÍTULO I - O FENÔMENO BULLYING: Origem, Conceituação e Caracterização...........................................................................

111.1.O Termo Bullying: Origem, Conceituação e Caracterização....................... 121.2. Caracterização dos Agressores e das Vítimas........................................... 18

CAPÍTULO II - O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL E O FENÔMENO BULLYING...................................................

22

2.1. O Processo de Desenvolvimento Infantil.................................................... 25

2.2. Consequências do Fenômeno bullying para os Envolvidos............................................................................................

27

2.3. Características das Agressões e da Vitimização entre alunos..............................................................................................

28

2.4. O Papel do Professor na Identificação e Prevenção do Bullying.................................................................................................

30

CAPÍTULO III - INVESTIGAÇÃO E ANÁLISE DA REALIDADE: A MANIFESTAÇÃ DO BULLYING NA EDUCAÇÃO INFANTIL..................................................................................

32

3.1. Caracterização da Instituição Educativa Investigada................................. 32

3.2. O Percurso Metodológico e as Categorias de Análise............................... 33

3.3. Os Participantes da Pesquisa................................................................... 34

3.4. A Análise dos Dados e Discussão dos Resultados................................... 35

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 43

APÊNDICE......................................................................................................... 46

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Dedico esse trabalho com todo carinho aos meus pais Aristeu e Irene por suas imensas colaborações, sua dedicação e amor incondicional, trabalhando sempre de sol a sol para que eu concluísse a graduação.

Sem o apoio deles eu não conseguiria concluir mais esta etapa de minha vida.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter iluminado meu caminho, me dando saúde, perseverança e calma nas muitas vezes em que o desespero bateu a minha porta e o medo de não conseguir concluir me assombrou.

A Professora e Orientadora Ivana por ter me acolhido e orientado na realização deste trabalho e, por ter sido tão paciente e amiga.

A professora Sandra Elaine que deu inúmeras contribuições para a elaboração do meu trabalho.

Aos meus pais que mesmo não estando ao meu lado fisicamente, em pensamento sempre estavam comigo, me incentivando e motivando pra que eu concluísse esse trabalho.

As minhas colegas de sala, que incansavelmente me ajudaram e me acalmaram, em especial a Danúbia que sempre tinha um conselho valioso e um ombro amigo, nas horas de maior dificuldade.

Enfim, agradeço a todos aqueles que de alguma maneira me ajudaram a concluir esse trabalho.

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“O Bullying é a negação da amizade, do cuidado, do respeito”. Gabriel Chalita

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INTRODUÇÃO

A pesquisa aqui visa analisar o fenômeno bullying na Educação Infantil,

por meio da identificação de quais são os fatores que podem estar motivando

crianças, na mais tenra idade, a praticar essa violência que pode se manifestar,

de forma velada e repetitivamente.

O interesse por estudar esse tema surgiu de sua grande vinculação na

mídia sobre bullying e violência escolar, sendo demonstrado como um

problema atual e recorrente, pela sua abrangência, se apresentando como um

problema mundial que afeta os indivíduos, sem que haja a distinção de classe

social ou poder econômico.

A importância desta pesquisa se dá no sentido de trazer para o ambiente

acadêmico, um aporte científico relativo ao fenômeno bullying, de que forma e

onde o mesmo ocorre, facilitando assim as possíveis ações a serem tomadas

diante do fenômeno,

Nessa perspectiva, o estudo foi realizado, a partir da pesquisa

bibliográfica e da realização da pesquisa de campo, objetivando identificar as

concepções, conceituações relativas ao fenômeno bullying e analisar sua

ocorrência na instituição educativa de educação infantil, de que forma a

violência ocorre e quais são as possíveis ações a serem efetivadas pelo corpo

docente e pais da instituição de ensino para prevenir tal situação.

A pesquisadora Cléo Fante (2008) afirma que o bullying escolar pode ser

identificado a partir dos três anos de idade, quando já existe a intencionalidade

nos atos dos discentes.

Sendo assim, justifica-se a necessidade de se discutir esse tema desde

a ocorrência dos seus primeiros atos, na educação infantil, evitando problemas

dessa ordem futuramente.

Nesse direcionamento, o estudo organizado em três capítulos prima

pela observância teórico-prática que contribuam para uma compreensão mais

ampla relativa ao fenômeno bullying e a forma se manifesta no interior de uma

instituição de educação infantil, especificamente, em um Centro de Educação

Infantil (CMEI), na cidade de Anápolis-GO.

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O primeiro capítulo aponta os principais fatos históricos, as

conceituações e as caracterizações alusivas ao bullying, por meio dos aportes

teóricos que o contempla.

O segundo capítulo tem o intuito destacar as características e do

processo de desenvolvimento infantil, segundo a Teoria Piagetiana e sua

relação com o bullying escolar, como também, o destaque das características

da agressão e vitimização entre alunos e o papel do professor na identificação

e prevenção dessa prática.

O terceiro capítulo refere-se à apresentação e análise dos resultados

obtido, por meio da pesquisa de campo – Estudo de Caso Institucional, em um

Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) na cidade de Anápolis-GO, por

meio da integração dos resultados obtidos e os pressupostos teóricos que

identificam e explicitam a manifestação do bullying na escola, enfatizando o

papel dos educadores e da família, na busca de ações que minimizem e/ou

eliminem tal manifestação comportamental que influencia, negativamente as

relações sociais.

Dessa forma, um estudo mais detalhado referente ao bullying escolar é

de suma importância, como forma de expansão desse assunto, tanto no

ambiente escolar como na sociedade que tende a melhorar as relações

humanas, significativamente.

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CAPÍTULO I

O FENÔMENO BULLYING: Origem, Conceituação e Caracterização

A violência escolar é tema recorrente nas discussões educacionais na

atualidade, pela frequência com que ocorre, tanto nas instituições educativas

públicas como privadas, nos diversos níveis e modalidades de ensino, bem

como os incalculáveis dados à pessoa que é vítima.

Um tipo de violência que se tem abordado é o bullying, que vem sendo

estudado universalmente por educadores e pediatras demonstrando como esse

comportamento é manifestado e suas consequências, tanto para os alunos,

como para os professores.

Existem várias formas de manifestação do bullying, que podem ocorrer

no trabalho, na escola, em presídios, nas instituições militares, nos meios de

comunicação (cyberbullying), na forma de homofobia1 e também, como

assédio sexual.

O bullying tem vitimado muitos alunos, em diferentes níveis escolares,

dentre esses, a educação infantil, acarretando prejuízos na formação

psicológica, social, emocional e educativa dos mesmos.

O crescimento da violência (bullying) na escola tem ampliado os conflitos entre os alunos e, entre esses com o professor, tanto por um aumento de exigências relacionadas às habilidades para lidar com conflitos, quanto pela diversidade destes conflitos, que abarca as agressões verbais e físicas.

No ambiente escolar, as interações sociais são extremamente

importantes para o desenvolvimento das crianças e é no âmbito social que

estas ocorrem, como se exemplifica no trecho a seguir: "[...] é importante frisar

que as crianças se desenvolvem em situações de interação social, nas quais

1 Homofobia é o termo utilizado para nomear qualquer tipo de discriminação e/ou aversão aos homossexuais. A homofobia vigia e acusa tudo o que considera ser um ‘desvio’ do masculino na direção do feminino e vice-versa, controlando as fronteiras do ‘natural’ das relações ‘entre os sexos’. (GOFFMAN, Erving. Homofobia. In: Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC Editora,1990).

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conflitos e negociação de sentimentos, idéias e soluções são elementos

indispensáveis." (RCNEI, 1998, vol. 1 p. 31)

Essa situação deixa marcas na vida do agredido podendo influenciar

e/ou estimular manifestações comportamentais agressivas ou reprimidas,

estimulando a formação da delinquência, induzindo as outras formas de

violência, produzindo uma sociedade repleta de indivíduos estressados,

deprimidos, com uma auto-estima abalada, acarretando problemas mais graves

como doenças de origem psicológica e transtornos mentais.

Alves (2005) destaca que, quando debate os abusos vivenciados por

práticas escolares frustradas, o quão cruéis podem ser as crianças e

adolescentes, saindo daquela visão formada de que todas as crianças são

vítimas.

Essa violência pode se manifestar de maneira velada, muitas vezes

considerada como brincadeiras inofensivas ou atitudes próprias da idade, mas

pode acarretar em danos para todos os envolvidos nessa situação.

As análises constantes nesse capítulo referem-se aos fatos históricos

que destaca a origem, bem como as conceituações e as caracterizações

relativas ao fenômeno bullying, que se constituem em elementos essenciais

para uma maior compreensão do tema.

1.1. O Termo Bullying: Origem, Conceituação e Caracterização

A palavra bullying tem origem na língua inglesa e está sendo usada em

muitos países para definir a vontade consciente de agredir e maltratar outra

pessoa. Esta manifestação comportamental é identificada, por meio de outras

terminologias, como: Mobbing (Dinamarca, Noruega, Suécia e Finlândia);

Harcèlement Quotidièn (França); Prepotenza ou Bullismo (Itália); Yjime

(Japão); Agressionen unter shülern (Alemanha); Acoso y Amenaza (Espanha);

Maus tratos entre pares, em Portugal. (FANTE, 2005).

Assim, por ser um tema universal encontra-se certa dificuldade, por

parte dos pesquisadores no que se refere à definição concisa desse fenômeno.

No Brasil foi adotado o termo em inglês, pois não foi encontrada uma palavra

que possa definí-lo com tamanha abrangência com que a palavra inglesa o faz.

(FANTE, 2005)

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Fante (2005) apresenta a tradução do termo bully integrado às

expressões, como: valentão, tirano e aos verbos brutalizar, tiranizar e

amedontrar. Essas características definem muito bem o que vem ocorrendo na

realidade das escolas brasileiras. A mesma autora conceitua o bullying como:

[...] um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro (s), causando dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos, morais e materiais, são algumas das manifestações do comportamento bullying. (FANTE, 2005, p. 28-9).

A expressão contempla todas as manifestações agressivas, por parte de

um ou mais agressores dirigido à (s) vítima(s). Essas manifestações ocorrem

de forma repetitiva, demonstrando desequilíbrio de poder. Fatos esses, muitas

vezes não são notados e/ou percebidos pelos profissionais de educação

atuantes naquelas circunstâncias por considerarem, na maioria dos casos,

como atitudes normais de crianças.

A maioria dos casos de bullying são realizados, por meio de

‘brincadeiras’ que acabam por transformar os mais fracos em alvos de

chacotas, disfarçando o real motivo, que é o de maltratar e intimidar a vítima.

Outro fator dominante nos casos de bullying é a dificuldade de reação da

vítima, essa geralmente não sabe como agir diante desses casos de violência,

e em alguns casos nos quais recorre ao adulto presente, não recebe muita

importância.

Os resultados de uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira

Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA) destacam

que a comunidade, em geral, além de não identificar o problema como bullying,

muitas vezes motiva os comportamentos agressivos, mesmo que de forma não

intencional bem como, muitos professores desconhecem o significado do termo

bullying, entretanto, já presenciaram essa prática e suas salas de aula.

(ABRAPIA, on line 2009) e, segundo Middelton-Moz e Zawadski (2007, p. 98):

O bullying foi usado originalmente para defender e proteger egos em desenvolvimento de ameaças reais e percebidas. Sem confrontação e conseqüências lógicas, o bullying

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aumenta, bem como a ansiedade e a depressão subjacentes. A realidade se torna cada vez mais distorcida, e o mundo é visto como um lugar ameaçador. As intenções das pessoas se tornam cada vez mais suspeitas.

Os autores apresentam, tanto o conceito do termo como os danos

causados para vitima e sua reação diante da sociedade em que encontra

inserida.

Nesse mesmo direcionamento, Colovini (2007) afirma que o bullying

pode causar ansiedade e interferir de forma negativa na aprendizagem e no

convívio social dos educandos o que acarreta na evasão escolar e em

características anti-sociais. Assim, o bullying se difere, na medida em que as

crianças vão crescendo. (MIDDELTON-MOZ e ZAWASDKI, 2007).

Nos anos iniciais da educação básica, esse fenômeno é manifestado,

na forma de empurrões, ofensas verbais, rasteiras, distrações, interrupções e

risadas. Com o aumento da idade dessas crianças, o bullying fica mais intenso,

por meio de ofensas verbais, agressões e físicas, intimidação, disseminação de

fofocas e boatos, exclusão de indivíduos por grupos.

Segundo Fante (2005, p.78) esse fenômeno “[...] pode ser identificado,

na criança a partir dos 3 anos de idade, quando a intencionalidade desses atos

já pode ser observada. As meninas agem de forma ainda mais velada e cruel.”

As pesquisadoras Charlot e Ruotti (2006) afirmam que a violência não é

um tema recente, entretanto, tem sido debatido com frequência na atualidade,

não por pela forma como ele vem ocorrendo, principalmente por serem atos

repetitivos e ocorrerem com um público cada vez mais novo e acrescentam: A idade cada vez menor dos alunos envolvidos nos casos de violência que, nesse caso, entra em conflito com o ideal de infância como o período de inocência; [...] a repetição e o acúmulo de pequenos casos que não são necessariamente violentos, mas quer criam a sensação de ameaça permanente. (CHARLOT, 2002 apud RUOTTI, 2006 p. 25)

O estudo sobre bullying é recente, entretanto, o fenômeno é tão antigo

quanto a instituição escolar. Esse tema tem sido objeto de estudo nas últimas

décadas por ser uma prática intensa encontrada em vários ambientes: na

escola, na família e no trabalho, enfim, onde podemos encontrar relações

interpessoais encontramos o fenômeno. (FANTE, 2005)

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Os primeiros estudos sistemáticos acerca do tema deram inicio na

Suécia na década de 1970 e logo se espalhando por outros países

escandinavos. (CHALITA, 2008)

Na Noruega, há muitos anos, o fenômeno vinha chamando a atenção

dos meios de comunicação assim como pais e professores, entretanto, as

autoridades não se comprometeram, oficialmente, em estudá-lo.

No final de 1982 ocorreu o suicídio de três crianças entre 10 e 14 anos,

que foi amplamente difundido pelos meios de comunicação, gerando assim, no

ano de 1983 uma campanha de caráter nacional, organizada pelo Ministério da

Educação da Noruega, abordou problemas entre agressores e vitimas.

(FANTE, 2005).

Gradativamente, o tema está despertando o interesse dos

pesquisadores, inclusive no Brasil, esses estudos são recentes e datam do ano

2000. “Apesar dos recentes estudos, pesquisas revelam que 45% dos

estudantes brasileiros estão envolvidos diretamente no fenômeno.”

O pesquisador Dan Olweus (Op Cit. Fante, 2005) professor da

Universidade de Bergen foi o primeiro a desenvolver, no período de 1978 a

1993 critérios para detectar o problema, diferenciando-o de outros tipos de

brincadeiras ou incidentes entre iguais, que são próprios do processo de

amadurecimento do indivíduo e definiram a avaliação, como uma prática

fundamental de sua natureza e ocorrência. (FANTE, 2005) (CALHAU, 2009)

(CHALITA, 2008) apresentam a mesma informação acerca da temática.

Os pesquisadores Fante e Pedra (2008, p.106) ao se referirem ao

fenômeno bullying, nas escolas brasileiras afirmam que esse:

[...] sempre existiu nas escolas, porém, há pouco mas de 30 anos é que se começou a ser estudado com parâmetros científicos, como fenômeno psicossocial, e recebeu nome específico. No Brasil o tema começou a ganhar espaço através do trabalho que realizamos e do programa antibullying Educar para Paz, que iniciamos no interior paulista em 2000. Desde então, vem conquistando visibilidade e gerando debate público, especialmente em decorrência de tragédias ocorridas em Taiúva (SP) e Remanso (BA). Em meados de 2006, realizamos o I Fórum Brasileiro sobre Bullying Escolar, em Brasília-DF, com a participação de diversos segmentos da sociedade. No entanto, a maioria das escolas ainda não está preparada para o seu enfrentamento. Algumas por desconhecimento, outras por omissão, muitas por comodismo e negação do fenômeno.

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Estes dados apresentam a possível realidade de muitas escolas, que

mesmo com a atualidade do tema o despreparo, a omissão, o comodismo e a

negação da existência do fenômeno bullying tem gerado cada dia mais vítimas.

Atualmente, existe um alto crescimento no envolvimento de crianças em

atos de bullying que, se iniciam nos primeiros anos escolares – educação

infantil, envolvendo um número cada vez maior de alunos. Fato esse que pode

conduzir a vítima a reproduzir os atos de bullying, a partir da violência sofrida.

A banalização da violência e a desvalorização do ser humano são outros

fatores que podem estar acarretando esse aumento em casos de bullying.

(PEDRA & FANTE, 2008)

Não existe uma diferenciação do bullying praticado em outros países

com o bullying praticado no Brasil, o que se varia é a intensidade e o número

de alunos envolvidos nesse processo e/ou situação.

Deve-se atentar também, em relação com a diferença entre brincadeiras

comuns da idade, e necessárias para o crescimento da criança, com atos

cruéis e repetitivos, que tem como intenção de prejudicar as vítimas.

A partir do momento em que o bullying ocorre e nenhuma atitude é

tomada pelos adultos/responsáveis ou, se as atitudes tomadas não surtem

efeitos, tal problema passa a ser visto pela criança como um ato normal, pois,

mesmo os alunos que são espectadores vêem a normalidade no fenômeno. (MIDDELTON-MOZ & ZAWADSKI, 2007)

Mais recentemente, surgiu uma nova modalidade de bullying – o

cyberbullying, que ocorre por meio da utilização da tecnologia de comunicação

(celulares e internet, por exemplo) para a realização dessa violência.

(ANTUNES, 2008).

Corroborando com o autor, Calhau (2009, p.39) enfatiza que o

cyberbullying, segundo Calhau: Ocorre com a utilização de meio eletrônico como instrumento de agressão no bullying, o qual se encontra grande dificuldade punição de seus idealizadores, acarretando assim certa impunidade, que acaba por motivar mais a sua prática, tornando-o uma epidemia.

O autor destaca, ainda, que esse tipo de difamação pode se manifestar,

por meio de frases escritas em muros, por exemplo, sem que os autores

fossem identificados, causando a mesma dor e angústia hoje gerada por e-

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mails difamatórios, comunidades no Orkut2. Os autores das agressões se

aproveitam de possibilidade de se manterem anônimos para cometerem o

cyberbullying.

Esse processo ocorre, principalmente, em sites de relacionamento e de

celulares, através de mensagens que difamam e denigrem a vítima, na forma

de chacotas ou fofocas.

Ao contrário de outros tipos de violência, que possuem começo, meio e

fim, o cyberbullying parece ficar sempre no ambiente, deixando para as vitimas

com um sentimento de medo de que estes atos ocorram novamente e que, é

efetivado, de forma mais intensa, por adolescentes e adultos.

Um dado alarmante segundo Calhau (2009) é o fato de o cyberbullying

ser praticado por pessoas muito próximas da vitima, geralmente de seu ciclo de

convivência, covardemente ocasionadas por inveja e, em alguns casos essa

tipo de agressão ocorre com pessoas bem sucedidas no trabalho, na sala de

aula ou no meio social.

1.2. Caracterização dos Agressores e das Vítimas

Os alunos são muitas vezes motivados por outros a agredirem. Nesses

grupos que se encontram alunos considerados valentões, alguns de seus

colegas participam dessas brincadeiras violentas e acabam por praticar atos de

bullying por influenciados ou para permanecer em determinado grupo.

O fenômeno bullying não escolhe classe social, poder aquisitivo, nem se

diferencia em escolas publicas ou privadas, ensino fundamental ou médio, ele

está presente em ambientes em que se encontram relações interpessoais não

importando em que país em que se encontrem ou se a cultura de diferencia.

(CHALITA, 2008)

O comportamento do indivíduo pode ser definido dependendo do meio

em que convive, sua hereditariedade e, segundo Davidoff (2001, p.51):“A

hereditariedade e o ambiente são igualmente importantes para o

comportamento”, mostrando assim, que o meio influencia nas atitudes e na

forma em que cada pessoa reage.

2 Site de relacionamento muito utilizado no Brasil.

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Colovini (2007) enfatiza que, qualquer comportamento de Bullying é

manifestado por alguém e tem como alvo outro indivíduo – vítima (agredido).

Sendo assim, encontra-se sempre subjacente o envolvimento de dois sujeitos:

um autor que agride e aquele que é alvo de tal agressão. Desse modo, quando

ocorre um episódio de Bullying, ocorre simultaneamente uma situação de

vitimização.

A pesquisadora Martins (2005) identifica as agressões do bullying em

três grupos: diretas e físicas, o primeiro que se dá por meio de torturas físicas,

roubar dinheiro e estragar objetos da (s) vitima (s); o segundo representa as

diretas e verbais, por meio de xingamentos, insultos, o uso de apelidos,

comentários racistas; e o terceiro grupo contempla as agressões indiretas que

ocorrem com a realização de fofocas e comentários discriminatórios, intervindo

e manipulando a vida social e o equilíbrio psicológico do individuo que sofre

tais agressões.

Verbos que caracterizam ações de bullying:

Violência Psicológica Violência Física

Apelidar AgredirOfender ApertarIntimidar Bater

Zoar BeliscarPerseguir ChutarAterroriza CuspirProvocar EmpurrarAssediar Morder

Amedronta FerirProvocar RoubarHumilhar Quebrar pertences

Discriminar e excluir (Adaptado de Lopes Neto e Saavedra, 2003, p. 17)

As agressões diretas ou o bullying direto é mais comum entre

agressores masculinos, no qual a força física é um dos principais meios de

ataque. O bullying direto tem como principais agressões: tapas e empurrões,

além dos chingamentos sem motivação aparente. Já o bullying indireto é uma

modalidade mais praticada pelas crianças do sexo feminino e as crianças

menores, que agem no sentido do isolamento social da vítima.

As principais estratégias do bullying indireto são as difamações, as

fofocas, boatos cruéis, além de rumores degradantes sobre a família e o

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agressor. Uma forma muito utilizada e eficaz para a prática de bullying indireto

é o uso de meios de comunicação para isto, o cyberbullying. (CHALITA, 2008)

Os participantes de atos de bullying são divididos em grupos que são:

vítima típica, vítima provocadora, vítima agressora, agressor e espectador.

A vítima típica é aquela que serve como o ‘bode expiatório’ de um grupo

de alunos. Geralmente esses alunos são pouco sociáveis, não reagem às

investidas agressivas dos colegas, são na maioria dos casos mais frágeis

fisicamente que seus agressores.

Algumas características físicas e psicológicas são destacadas pela

autora, como: a "[...] extrema sensibilidade, timidez, passividade, submissão,

insegurança, baixa auto-estima, alguma dificuldade de aprendizado, ansiedade

e aspectos depressivos." (FANTE, 2005 p.72) .

Desse modo, a vítima típica tem grande dificuldade de se impor diante

do grupo, tanto fisicamente como socialmente. Destaca-se contudo que

algumas crianças apresentam este comportamento e não são necessariamente

vítimas de bullying. (FANTE & PEDRA, 2008)

As vítimas são eleitas pelos agressores, não necessitando agir de

alguma forma, elas não precisam fazer nada para que sejam escolhidas. Os

agressores simplesmente a escolhe em um grupo de alunos e se inicia a

violência contra ela, demonstrando assim que o ato não possui uma motivação

especial, uma origem para que ele ocorra. (CALHAU, 2009)

Os pesquisadores Fante e Pedra traçaram um perfil dos alunos que são

tipicamente vitimizados pelo bullying, que são alunos com diferença raciais,

religiosas, opções sexuais, problemas no desenvolvimento acadêmico, um

sotaque diferenciado, maneira de se vestir e até mesmo o fato de ser novato

em uma escola influenciam na escolha pra se tornarem vítimas. (FANTE &

PEDRA, 2008)

É possível encontrar no bullying a vítima provocadora, que vem a ser

aquela que realiza ações agressivas, entretanto, não sabe como lidar com

eficiência diante das agressões que sofre. A vítima pode ser hiperativa, inquieta

e dispersa, como também é, geralmente, a causadora de tensões no ambiente

em que se encontra. (FANTE, 2005)

A vítima agressora é aquela que reproduz em outras crianças os maus

tratos que ela recebe e procura um indivíduo mais fraco que ela para descontar

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os comportamentos agressivos que lhe foram direcionados. Esse processo de

reprodução de bullying tem criado um aumento no número de casos, pois o

vitimado passa a ser agressor também.

Diferentemente, o agressor é aquele que agride os mais fracos, também

pode ser chamado de bullie, que traduzido do inglês significa valentão. Esse

agressor é frequentemente de uma família desestruturada na qual exista pouco

ou nenhum relacionamento afetivo, cujos pais podem ter comportamento

agressivo e violento, que pode servir de modelo para esta criança.

Assim, o agressor normalmente se apresenta mais forte que o restante

da sala, se tornando fisicamente superior ao restante da sala, em brincadeiras,

brigas e jogos esportivos, principalmente no caso dos meninos e apresentam

características definidas como, a dificuldade de se adaptar as regras, é

impulsivo, além de irritar-se com facilidade, tem baixa resistência a frustrações.

Vale ressaltar que alguns dos agressores adotam posturas anti-sociais,

como o vandalismo e o roubo. Quanto ao seu rendimento escolar, nas series

iniciais, não apresenta necessariamente dificuldades, podendo até ter médias

maiores que o restante da turma. Nas demais etapas de ensino, ainda que não

seja uma regra, o agressor possui notas baixas e desenvolve atitudes

negativas no ambiente escolar. (FANTE, 2005)

O espectador é o indivíduo que presencia os atos do fenômeno,

entretanto não o sofre e também não o pratica. Os espectadores representam a

grande maioria de discentes que vivenciam o problema e adotam a lei do

silêncio, um dos meios usados para não se tornar a próxima vítima do

agressor.

Desse modo, mesmo não participando diretamente da violência, alguns

espectadores do fenômeno sofrem com a insegurança e se sentem

incomodados com os ocorridos. (FANTE, 2005)

Essas caracterizações e classificações da forma como o bullying se

efetiva conduz a uma e distinção mais concisa dos sujeitos envolvidos nessa

situação, consistindo em processos substanciais para uma intervenção mais

segura, por parte dos educadores, evitando a ocorrência de tal atitude, no

ambiente escolar e fora dele.

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CAPÍTULO II O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL

E O FENÔMENO BULLYING

A busca por uma auto-afirmação diante dos demais colegas é um dos

principais motivos para a existência do bullying no ambiente escolar. Essa

violência mascarada de brincadeira gera nos discentes, um sentimento de

ansiedade e medo de ser a 'próxima vítima' ou continuar sofrendo esse tipo de

violência.

A brincadeira, segundo o Referencial Curricular Para Educação Infantil

(RCNEI, vol. 1, 1998 p. 27):[...] é uma linguagem infantil que mantêm um vínculo essencial com aquilo que é o 'não brincar'. Se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da imaginação isto implica que aquele que brinca tenha o domínio da linguagem simbólica. Isto quer dizer que é preciso haver consciência da diferença entre brincadeira e a realidade imediata que lhe forneceu conteúdo para realizar-se. Nesse sentido, para brincar é preciso apropriar-se de elementos da realidade imediata de tal forma a atribuir-lhes novos significados. Essa peculiaridade da brincadeira ocorre por meio da articulação entre a imaginação e a imitação da realidade. Toda brincadeira é uma imitação transformada, no plano das emoções e das idéias, de uma realidade anteriormente vivenciada.

A partir desses pressupostos pode-se destacar o papel crucial da

brincadeira na formação psicossocial da criança, Nesse sentido, faz-se

necessário a diferenciação do bullying de uma brincadeira rotineira, haja vista

que a tal ação se dá por meio de atos de crueldade e com o intuito de causar

dor em outro indivíduo.

A brincadeira tem funções essenciais para o crescimento e

desenvolvimento, pois: [...] favorece a auto-estima das crianças, auxiliando-as a superar progressivamente suas aquisições de forma criativa. Brincar contribui, assim, para interiorização de determinados modelos de adulto, no âmbito de grupos sociais diversos. Essas significações atribuídas ao brincar transformam-no em um espaço singular de constituição infantil. ( RCNEI vol.1, 1998 p. 27)

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Percebe-se, então a criança é fruto do meio em que está inserida, que a

mesma, interioriza através das brincadeiras, certos modelos de adultos para

que siga.

As reflexões contidas nesse capítulo se direcionam à identificação, por

meio de pressupostos teóricos, as caracterizações alusivas ao processo de

desenvolvimento infantil e as manifestações comportamentais e psicossociais

que contemplam esse processo; as causas e consequências do fenômeno

bullying no ambiente escolar; as diferenciações entre a agressão e

avitimização entre aluno, bem como, a ênfase relativa ao papel do professor

na identificação e na prevenção do bullying.

2.1. O Processo de Desenvolvimento Infantil

A Teoria de Piaget (1977) fala sobre o processo de desenvolvimento

infantil, no qual o estudioso o divide em três estágios e/ou etapas: o estágio

Sensório-motor, o estágio Pré-operatório e o estágio das Operações

Concretas.

Ao explicar as fases do desenvolvimento, "[...] Piaget enfatizou a

hereditariedade. Ele afirma que os ambientes social e físico afetam apenas o

momento da ocorrência de marcos específicos." (DAVIDOFF, 2001 p.438)

O estágio Sensório-motor é o período que compreende do 0 aos 2 anos

de idade, no qual o bebê usa os sistemas sensoriais e motor para entender

suas experiências, como o tato, a visão, o paladar e o olfato.

É, em algum momento desse estágio de que a criança aprende que as

visões, os toques, os sons, cheiros e gostos fornecem informações sobre o

objeto que lhe é apresentado. Aprendem também que certos atos mecânicos

geram conseqüências específicas. (DAVIDOFF, 2001)

No estágio Pré-operatório, que ocorre dos 2 aos 7 anos de idade, as

ações da criança são guiadas pelas percepções da realidade. Assim,

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A façanha suprema no estágio pré-operatório é a capacidade de pensar sobre o ambiente pela manipulação de símbolos (incluindo palavras) que o representam. Quatro realizações fundamentais do estágio pré-operatório dependem dessa capacidade de: primeiro, as crianças adquirem a linguagem. Segundo, elas começam a formular conceitos simples;[...] Terceiro, elas começam a representar brincando; podem usar varinha como espada, uma vassoura como cavalo e uma boneca como bebê, Quarto, elas desenham figuras que representam a realidade. (DAVIDOFF, 2001 p.438)

Piaget classificou o pensamento das crianças na fase do Pré-operatório

como sendo um pensamento egocêntrico, centrado no ‘eu’, consistindo em

uma tendência de enxergar o mundo, a partir da própria existência e de suas

perspectivas, demonstrando que crianças nesse estágio, em suas conversas,

fazem monólogos, onde aparentam estar tendo um diálogo de assuntos

distintos. (DAVIDOFF, 2001)

O terceiro estágio evidenciado por Piaget é o Estágio das Operações

Concretas, que ocorre dos 7 aos 11 anos de idade. Nesse período, a criança

desenvolve a capacidade de usar a lógica para se guiar, predominantemente,

pelas informações sensoriais simples para entender as coisas e [“...] adquirem

a habilidade de realizar operações mentais silenciosas.” (DAVIDOFF, 2001

p.439).

È oportuno destacar, também, que, a personalidade da criança forma-se

nessa faixa etária e por isso, toda experiência e sua qualidade vivida nessa

fase é de fundamental importância.

No que diz respeito ao desenvolvimento da moral, na mais tenra idade a

criança já consegue identificar e aprender o que é certo e o que é errado, da

mesma forma, já conseguem identificar a ajuda ao que pode ser prejudicial ao

outro. (HOFFMAN, 1982 apud DAVIDOFF, 2001).

A família tem papel fundamental no desenvolvimento da criança, por ser

fator determinante no meio em que a criança se encontra e suas relações com

ele, para que esse desenvolvimento ocorra.

A pesquisadora Mondin (2005) afirma que, além das regras que os pais

apresentam aos filhos, os comportamentos desses também são copiados e

observados pela criança. O comportamento observacional com a transmissão

de regras e estilos de comportamento é muito utilizado pelas crianças na fase

pré-escolar.

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Quando relaciona a relação da criança com o meio aborda também,

que a aprendizagem comportamental, que se refere, essencialmente, a forma

como os indivíduos se adaptam ao meio e interagem com ele. Desse modo, a

forma de interação desse indivíduo com o meio social em que ele se encontra

vai lhe propiciar mudanças comportamentais.

O trecho a seguir apresenta uma definição de aprendizagem

comportamental segundo a visão de psicólogos, como:Por aprendizagem comportamental os psicólogos entendem uma mudança comportamental relativamente duradoura, ensejada pela experiência. Em função do que lhes ocorre, os aprendizes adquirem novas associações, informações, insights, habilidades, hábitos e afins. (DAVIDOFF, 2001, p. 98)

Ao abordar a importância do meio social em que a criança está inserida,

a pesquisadora Luvizoto (2009) afirma que: "O desenvolvimento afetivo

depende, dentre outros fatores, da qualidade da experiência, do contato com o

outro, da vivência das necessidades básicas de afeto, da segurança e da

comunicação." (LUVIZOTO, 2009 p.27).

Dessa forma, para a resolução eficaz desse problema é necessário um

trabalho conjunto - Família, aluno, escola e comunidade, na busca de

estratégias de cunho preventivo e reverso diante das manifestações do bullying

nas atividades educativas e nas relações sócio-culturais.

2.2. Consequências do Fenômeno bullying para os Envolvidos

As consequências do bullying afetam todos os sujeitos envolvidos no

processo educativo, entretanto, são as vitimas que podem carregar para o

restante da vida adulta as consequências desses atos, muito além do período

escolar.

Esses prejuízos podem ocorrer em relações ao trabalho, na constituição

da família e na criação dos filhos. Pode -se presenciar, também, danos na

saúde física e mental da vítima. (FANTE, 2005)

É na Educação Infantil que a criança começa a formar sua identidade,

paralelamente com o ambiente social em que está inserida, como a família e a

sociedade, contribuindo assim, para sua formação, como um indivíduo

socialmente aceito. Assim:

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A identidade é um conceito do qual faz parte a idéia de distinção, de uma marca de diferença entre as pessoas, a começar pelo nome, seguido de todas as características físicas, de modos de agir e de pensar e da história pessoal. Sua construção é gradativa e se dá por meio de interações sociais estabelecidas pela criança, nas quais ela, alternadamente, imita e se funde com o outro para diferenciar-se dele em seguida, muitas vezes utilizando-se da oposição. (RCNEI vol 1 1998 p. 13).

Quando a construção social dessa criança apresenta problemas

relativos às interações sociais, com dificuldades na formação da sua identidade

existe a possibilidade de ter uma formação deficitária, cujos de bullying nessa

fase de construção de sua identidade podem acarretar problemas futuros para

o indivíduo, pois é nessa fase que se formam as particularidades da criança.

As vítimas dessas agressões carregam consigo uma enormidade de

danos que podem ser superados com o passar do tempo ou gerar no indivíduo

traumas psicológicos que carregará por toda vida - social, familiar e

profissional.

Essa violência pode acarretar, também, em casos extremos em

tentativas ou em suicídio da vítima. Poderá ocorrer ou não à superação do

trauma por parte da mesma e, essa superação irá depender da forma como o

indivíduo convive consigo mesmo e das suas relações estabelecidas com a

família e com o meio em que está inserido, porque: A não superação do trauma poderá desencadear processos prejudiciais ao seu desenvolvimento psíquico, uma vez que a experiência traumatizante orientará inconscientemente o seu comportamento, mais para evitar novos traumas do que para buscar a auto-superação. (FANTE, 2005, p.79)

A ausência da não superação do trauma pode desencadear vários

problemas posteriores à ocorrência do fenômeno, como sentimentos negativos,

baixa auto-estima, dificuldades de relacionamento e de aprendizagem, queda

no rendimento escolar, podendo chegar até conseqüências mais graves como

problemas de cunho mental, doenças de fundo psicossomáticas ou mesmo

gerar transtornos mentais no individuo. (FANTE, 2005)

Os danos causados no comportamento do agredido são demonstrados

desde as primeiras vezes em que o mesmo sofre a violência desencadeando

problemas de relacionamento e dificuldade de interação. A dificuldade de se

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defender aumenta, de acordo com o número de vezes que o caso e/ou

situação ocorre.

No ambiente escolar, os danos causados pelo bullying podem refletir no

comportamento dos alunos em sala de aula como alega o autor Calhau (2009,

p. 13 que afirma: "As situações constantes de agressões de bullying dispersam

as pessoas e dividem a sala, pois, as 'brincadeirinhas' são percebidas com

formas muito diversas pelo indivíduo."

Os pesquisadores Fante e Pedra (2008, p. 84) apresentam as

consequências do bullying quanto à saúde mental do indivíduo como sendo:Dependendo a estrutura psicológica de cada indivíduo, o bullying pode mobilizar ansiedade, tensão, medo, raiva, irritabilidade, dificuldade de concentração, déficit de atenção, angústia, tristeza, desgosto, apatia, cansaço, insegurança, retraimento, sensação de impotência e rejeição, sentimentos de abandono, e de inferioridade, mágoa, oscilações de humor, desejo de vingança e pensamentos suicidas, depressão, fobias e hiperatividade, entre outros.

Em crianças menores, no caso da Educação Infantil, tem sintomas

psicossomáticos diversificados, principalmente, no horário de ir à escola, sendo

assim uma forma de se defender dos atos de bullying no ambiente escolar.

(CALHAU, 2009)

Estudos sobre o fenômeno bullying feitos por Dan Olweus em uma

observação com alunos de 13 a 16 anos que foram vitimas de bullying

demonstrou que grande parte desses alunos tinham grandes possibilidades de

se tornarem depressivos aos 23 anos, em decorrência da perda de auto-

estima. (FANTE, 2005)

Adolescentes e jovens com depressão em conseqüência do bullying se

dão pelo fato de não conseguirem superar a violência sofrida anteriormente,

sendo a depressão uma doença psicossomática.

Uma característica observada em algumas vítimas de bullying é no

sentido de que alguns alvos da violência tem a área da socialização

comprometida, pois, para fugir dos atos por eles vivenciados, alguns preferem

a exclusão do convívio social, fugindo de interações pessoais, buscando assim

evitar a vivencia desses atos. (FANTE & PEDRA,2008).

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2.3. Características das Agressões e da Vitimização entre alunos

Algumas características de agressões foram definidas pelo pesquisador

Dan Olweus, como sendo os principais sinais primários de agressão. Na

escola esses sinais podem ser identificados nos alunos que são importunados

de forma repetitiva e vexatória, as vítimas são chamadas de apelidos

depreciativos.

Esses indivíduos são ridicularizados e ameaçados por seus agressores,

geralmente são motivos de piadas que não são típicas entre amigos, esses

alunos também são humilhados, agredidos, são roubados ou tem seus

pertences estragados e, com freqüência apresentam em seu corpo

machucados que não tem uma explicação natural. (RUOTTI, 2006)

No passado, comportamentos de bullying eram definidos como próprios

dos meninos, no entanto com o avanço das pesquisas passou a ser constatado

que as meninas também eram agressoras. Enquanto os meninos manifestam

comportamentos agressivos, por meio dos maus tratos físicos e verbais, as

meninas preferem os maus tratos de maledicência, fofocas, difamações de

exclusões, buscando mais o sofrimento psicológico da vítima do que

propriamente o físico.

O ataque das meninas diferentemente do ataque dos meninos ocorre

dentro de um ciclo restrito de amizade, dificultando assim a sua identificação e

combate, aumentando assim o dano para o agredido. Outro fator levantado foi

o fato das meninas agirem de forma mais requintada e cruel que os meninos.

(SIMMONS apud FANTE & PEDRA, 2008)

No que se refere a Educação Infantil os autores Fante e Pedra (2008, p. 64) destacam que:

[...] as meninas impedem que a vítima partilhe do momento do lanche, combinam de evitá-la, ficam de mal, isolam, não convidam para festinhas, caçoam daquelas de menor poder aquisitivo, que se vestem com mais simplicidade ou que não dispõem dos mesmos materiais escolares.

Diante dos dados apresentados pelos autores é possível evidenciar que

o fenômeno não ocorre somente em sala de aula, mas também, em outros

momentos de interação entre os alunos, como na hora das refeições e

recreação.

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As formas de maus tratos destacados pelos mesmos pesquisadores são:[...] físico (bater, chutar, beliscar); verbal (apelidar, xingar, zoar); moral (difamar, caluniar, discriminar); sexual (abusar, assediar, insinuar); psicológico (intimidar, ameaçar, perseguir); material (furtar, roubar, destroçar pertences); e virtual (zoar, discriminar, difamar, através da internet e do celular). Constatamos na nossa pesquisa que raramente a vítima recebe apenas um tipo de ataque. Normalmente os ataques são conjugados, utilizando-se para isso várias formas de maus-tratos, inclusive a exclusão social. (FANTE & PEDRA, 2008, p.63).

A partir dessas definições de quais atos podem ser considerados

bullying, além de uma análise de que esses atos são reproduzidos

repetidamente e de forma sistemática, possibilita-se assim a identificação do

fenômeno bullying, de forma intensa, no ambiente escolar.

Alguns desses dados não podem ser aplicados na Educação Infantil, um

exemplo deles é o cyberbullying, que só pode ocorrer através dos meios de

comunicação, forma esta que os alunos dessa faixa etária não dominam

amplamente. Entretanto, atos violentos, como os físicos, verbais e morais já

podem ser identificados nessa etapa de ensino.

2.4. O Papel do Professor na Identificação e Prevenção do Bullying

A omissão por parte dos professores funcionários e pais, no ambiente

escolar só agravam o problema no que se refere ao bullying escolar, pois sem

uma orientação ou uma advertência para os agressores, a violência torna-se

uma prática rotineira, cujo sentimento de impunidade se instala nos alunos

agressores e, consequentemente, a violência contra colegas passa a ser vista

como uma atitude normal.

Um dado alarmante trazido pela pesquisadora Fante (2005, p. 49) é o de

que: “Na maioria das vezes, os professores ou outros profissionais da escola

não percebem a agitação ou não se encontram presentes no local quando

acontecem os ataques à vítima.”

Desse modo, a ausência de percepção por parte desses educadores

acaba por propiciar que os próprios alunos venham a solucionar esses

problemas, sem a interferência dos adultos.

Os meios de comunicação têm noticiado com certa freqüência, casos de

crianças e adolescentes que agridem seus pares no ambiente escolar e, em

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alguns casos, alunos munidos de arma de fogo invadem a escola e disparam

sobre os alunos e funcionários da escola.

Entretanto, é notória a influência positiva da imprensa na divulgação de

casos de bullying, pois incentiva a pesquisa para busca de soluções, além de

discutir o tema e alertar a sociedade para esse fenômeno que, somado a

outros tipos de violência se constituem em atos que devem ser contidos.

Outro problema muito veiculado na mídia, que enfatiza que o bullying é o

surgimento de um indivíduo com comportamento bastante agressivo ou mesmo

depressivo, em decorrência da violência sofrida.

A pesquisadora Fante (2005, p. 105) afirma que:[...] há de se reconhecer que a violência é um problema social. Nesse sentido, a escola tem papel fundamental na sua redução, por meio de ações e programas preventivos, em parceria com as famílias dos alunos e diversos atores, para garantir a sua eficácia. É fundamental que em casa escola se construa uma comissão ou equipe que possa articular políticas preventivas e capacitarem profissionais para atuar de forma segura, sem correr riscos desnecessários.

Nestas falas da pesquisadora Fante pode-se observar o importante

papel que a escola tem diante de atos de violência, principalmente com a

função de mediadora dos conflitos e em programas de repressão desses atos.

A dificuldade de se manter relações harmoniosas entre alunos e

educadores pode ser exemplificada no trecho a seguir:Muitos educadores ou cuidadores apresentam dificuldade em manter relações construtivas, de comunicar-se de maneira assertiva e apropriada, de resolver seus conflitos com paciência e bom humor, respeitando o ambiente e as pessoas envolvidas. Alguns oferecem modelos educativos inadequados, principalmente aqueles e, que imperam a violência, o autoritarismo, os maus exemplos, a excessiva proteção, a permissividade, além da omissão, negligência e abandono. (FANTE & PEDRA, 2008 p. 103)

Deve-se acrescentar que, em grande parte dos casos, o aluno agredido

não procura um adulto para mediar o conflito como afirma Fante (2005), pois

esses alunos acreditam que a violência pode aumentar se o agressor souber

de sua descrição, ou em outro momento o aluno fez a narração ao educador ou

aos pais e nenhuma medida foi tomada.

Alguns educadores agem de forma muito permissiva com os alunos

desencadeando assim uma dificuldade de imposição de limites para o

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indivíduo, sem uma determinação e/ou delimitação, por parte do adulto, os

alunos que tem dificuldade de conter os seus impulsos.

Não existe dúvida de que, na maioria dos atos de bullying aconteçam

dentro do ambiente escolar, mas deve-se sempre ter o discernimento no

sentido de diferenciá-los de atos de maus-tratos convencionais, que ocorrem

no decorrer do ano letivo, daqueles que ocorrem de forma repetitiva por um

período prolongado de tempo.

Nesse sentido, Fante (2005) faz um apelo aos profissionais de educação

e aos pais dos alunos que são vítimas, para que se dê valor aos sentimentos

dos alunos quando eles vêem expressar esses problemas, pois, quando busca

o apoio de um adulto, esse mesmo aluno, já não suporta o peso dessa

vitimização.

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CAPÍTULO IIIINVESTIGAÇÃO E ANÁLISE DA REALIDADE: A MANIFESTAÇÃO

DO BULLYING NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Neste capítulo serão abordadas as análises dos dados relativos à

pesquisa de campo realizada em um Centro Municipal de Educação Infantil

(CMEI) na cidade de Anápolis-GO.

Serão destacados, inicialmente, os aspectos essenciais para a

caracterização do percurso metodológico que conduziu à identificação da

instituição educativa – lócus da pesquisa, bem como os participantes da

referida atividade investigativa e, as categorias de análise que se constituíram

em aspectos relevantes à delimitação e à intensificação de respostas à questão

norteadora - análise dos dados do processo investigativo.

3.1. Caracterização da Instituição Educativa Investigada

O Centro de Educação Infantil (CMEI)3 localizado em um bairro central

da cidade localizado em um setor central da cidade atende crianças, na faixa

etária de 0 a 5 anos, na suas maiorias oriundas de bairros periféricos, da

cidade de Anápolis-GO.

A referida instituição de ensino fundada no mês de outubro do ano de

1988 desenvolve ações pedagógicas, administrativas e curriculares

direcionadas ao Berçário, Maternal I, II Maternal II, Jardim I e Jardim II.

A referida instituição educativa é mantida pelo Poder Público Municipal,

administrada pela Secretária Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia e

regida pelo Regimento Escolar, cujas propostas estão fundamentadas na Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nº 9.394 96 de 20 de

dezembro de 1996, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Estadual 026 98

e da Municipal 2822 01.

3 Texto elaborado, a partir de informações extraídas do Regimento Escolar (2005) da instituição pesquisada.

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Tem como finalidade criar oportunidades e situações para que se possa

ensinar e formar crianças pensantes, para que essas onde elas mesmas

possam conceituar e desenvolver sua opinião, despertando sua criatividade,

raciocínio, curiosidade e desejo de aprender, por meio de um trabalho

participativo e integrado, na busca de uma aprendizagem de qualidade,

levando o educando a perceber que a educação é um meio pelo qual lhe

proporcionará um futuro digno e mais igualitário.

A organização curricular segue as orientações contidas no Referencial

Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) - 1998/2001, por meio de

eixos temáticos, como: Linguagem (oral e escrita), Matemática, Artes,

Movimento, Natureza e Sociedade.

3.2. O Percurso Metodológico e as Categorias de Análise

O estudo configurou-se se pautou em uma pesquisa qualitativa, por meio

do estudo bibliográfico destacado nos capítulos anteriores que, a priori que se

constituiu em uma apreciação teórica acerca do temo em foco, como também,

em uma prática essencial à validação das análises dos obtidos durante a

pesquisa de campo.

A pesquisa qualitativa, segundo ECO (2002, p.22):Busca entender um fenômeno específ ico em profundidade. É mais participativa e, portanto, menos controlável. As participantes pesquisas podem direcionar o rumo da pesquisa em suas interações com o pesquisador.

Nesse sentido, a pesquisa qualitativa se direciona, precipuamente ao

aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização,

especificamente, uma instituição educativa, por meio da observância das

diferenças entre o mundo social e o mundo natural cujas orientações teóricas e

seus dados empíricos buscam resultados os mais fidedignos possíveis.

O estudo bibliográfico foi desenvolvido: “[...] com base em material já

elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. (GIL, 2002,

p.42).

Para a realização da pesquisa de campo foi adotado o Método de

Estudo de Caso Institucional que, segundo André (2005) se adequa ao

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processo investigativo que tem como eixo, a assimilação de um fenômeno

dentro de seu contexto específico, real ou vivencial.

Esse método é indicado para estudos que se trabalham um caso

específico sendo considerado típico ou ideal para explicar certa situação,

permitindo tratar um problema com uma maior integração de dados, buscando

em uma instituição educativa, em específico, de maneira que permita seu

amplo e detalhado conhecimento. Caracterizado por ser um estudo intensivo..

(FACHIN, 2001, p. 42).

Como técnica de coleta de dados foi utilizada o questionário semi-

estruturado (Apêndice1) com perguntas fechadas e abertas para que os

informantes (participantes) tivessem a possibilidade de discorrer sobre o tema

proposto.

Para a análise dos dados foram adotadas como categorias de análise as

concepções e percepções dos participantes relativas ao termo bullying;

identificação e caracterização de ‘como’ se efetiva os atos violentos

manifestados de forma explícita ou velados e o grau de influência da família e

do meio social na manifestação comportamental, negativa (agressividade) dos

educados com os seus pares.

3.3. Os Participantes da Pesquisa

Participaram da pesquisa 04 educadores, dentre esses: a gestora, a

coordenadora pedagógica e 2 professoras das turmas: Jardim I e Jardim II.

A gestora (diretora) é formada em Pedagogia atuando na área

educacional há 17 anos, dentre esses, 15 anos, na educação infantil e há 4

anos ocupa o cargo de gestora (diretora).

A coordenadora pedagógica que atua também, como secretária geral há

dois (02) anos tem como formação, em nível médio, o Curso Técnico em

Magistério, em nível superior o Curso de Pedagogia e, em nível de pós-

graduação (especialização), o Curso de Administração Escolar.

Atualmente é acadêmica do Curso de Direito e de uma especialização

em Direito Educacional. Atua na área de educação há 17 anos, dentre esse

período, seis (06) anos são dedicados à educação infantil.

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A professora do Jardim I é graduada em Pedagogia e está cursando

uma pós-graduação – Especialização em Métodos e Processos Educacionais.

Atua há 12 anos na educação infantil.

A professora da turma de Jardim II é graduada em Pedagogia e está

cursando uma pós-graduação em Desenvolvimento Humano, Educação e

Inclusão Escolar e em Metodologia do Processo Ensino-aprendizagem e atua

na educação infantil, há 13 anos.

3.4. A Análise dos Dados e Discussão dos Resultados

A escolha por aplicar só questionário com as professoras do Jardim I e

do Jardim II se deu pelo fato de que há uma maior intencionalidade dos atos de

bullying entre os alunos na faixa etária de 4 a 6 anos de idade como afirma a

pesquisadora Fante (2005, p.78): “[...] pode ser identificado, na criança, a partir

dos 3 anos de idade, quando a intencionalidade desses atos já pode ser

observada.”

Tendo o cuidado ético com a coleta e análise dos dados, além de

garantir o respeito com o local e com os participantes pesquisados, é um dos

elementos que levam à garantia e a confiabilidade dos dados.

Desse modo, visando preservar a identidade das participantes foram

adotadas siglas as quais serão destacadas durante as análises dos dados,

como: Diretora (D1), Coordenadora Pedagógica (D2), Professora da turma de

Jardim I (D3) e Professora da turma do Jardim II (D4)

Os assuntos constantes no questionário semi-estruturado se

direcionaram as indagações relativas às:

• Ações diante aos conflitos dentro do CMEI, no que se refere ao

posicionamento do educador diante de atos agressivos.

• Opinião referente ao surgimento, do processo motivacional que

suscitavam nas crianças a atitudes violentas, caso tal aspecto existisse.

• Opinião do educador com relação à existência de reflexos e influência

da relação familiar e do meio social, no comportamento agressivo das

crianças autoras e, se tais atos se constituem em um ato de bullying.

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• Percepção e/ou observação de atos violentos dentro do CMEI e, em

que local e situação ocorreu - sala de aula, recreio, hora da alimentação

ou em outros locais.

Considerando também relevante para a pesquisa, visando uma maior

caracterização das participantes foi realizado um levantamento de dados

relacionados aos seguintes aspectos:

A formação das participantes para atuarem nessa área da educação.

O tempo e/ou período de atuação no cargo ocupado atualmente e, no

caso da coordenadora pedagógica e da diretora se as mesmas já atuaram em

sala de aula e por quanto tempo que o fizeram.

Esses questionamentos se constituíram em aspectos preponderantes às

respostas mais amplas acerca da temática e como forma de correlacionar as

informações obtidas às informações, conceituações e caracterizações

fornecidas, por meio dos aportes teóricos.

Ao se apresentar o termo bullying foi questionado às entrevistadas se

elas conheciam do termo não consegue ainda apresentar uma definição do

tema, pois desconhece o nome bullying foi enfatizado que:"[...] até o presente momento não tenho nenhum conhecimento sem relação a esse

termo." (D3)

Tal afirmativa evidencia o que já foi apresentado pelos teóricos, ou seja,

que muitos professores não conhecem esse fenômeno pelo nome de bullying.

A resposta que mais se aproximou do conceito adotado nessa pesquisa

foi a descrita pela entrevistada, da seguinte maneira:

"É um tipo de comportamento que sempre existiu. E utilizado para descrever atos de

violência física e psicológica contra alguém em desvantagem de poder, sem motivação

aparente." (D1)

Já a resposta dada pela entrevistada D2, mesmo contendo partes da

realidade do fenômeno não veio a contemplar em sua totalidade a definição:"É todo e qualquer comportamento agressivo com o intuito de lesionar o outro."(D2)

A entrevistada D4 certifica o que foi discutido no Capítulo 2, no que se

refere à influência da mídia sobre informações relativas ao fenômeno:"Tenho conhecimento deste termo através da televisão, Bullying significa a troca de

agressividade, na maioria das vezes envolvendo gangues." (D4)

Entretanto, a resposta da mesma entrevistada também não abrange a

definição do fenômeno em sua totalidade, haja vista que não pode ser definido

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somente pela troca de agressividade, pois em vários casos a vítima não reage

às agressões.

Proposta mais ampla de definição do tema é a feita pela pesquisadora

Fante (2005), no Capítulo I (p.13)

Quando questionadas sobre a ocorrência de violência entre alunos na

sala de aula, no recreio ou em qualquer outra parte da instituição escolar, as

participantes afirmaram:"Por lidar com crianças da Educação Infantil as situações que já presenciei não as vi

como violência, mais como atritos que geralmente ocorrem entre eles." (D1).

Essa não reconheceu os atos por ela presenciados como atos violentos,

e sim como atritos que ocorrem entre os mesmos.

A entrevistada não reconhece os atos ocorridos na escola como atos

violentos e os atribui ao nível de desenvolvimento em que eles se encontram,

em que são egocêntricos.“A disputa entre alunos por atenção é bem presente nesta idade, portanto são

considerados fatos atípicos." (D2)

Outra resposta dada pela participante foi a seguinte: "Para que haja uma

prevenção ativa do fenômeno bullying deve-se primeiro reconhecer a existência do mesmo na

sociedade, e a escola deve estar consciente dos prejuízos que este fenômeno pode trazer para

os envolvidos, para que a partir daí se tomem as medidas necessárias para que ele seja

combatido.(D2)

De forma diferenciada, outra participante afirma: "Não considero caso de violência, trabalhamos com uma faixa etária de crianças

bastante egocêntricas que estão sempre na disputa por algo." (D3) e, de forma específica,

outra entrevistada afirma: “ não tenho presenciado atos violentos durante o recreio.” (D4)

As respostas das participantes conduzem o destaque da necessidade do

da escola e dos educadores reconhecerem o fenômeno, e da realização de

uma maior capacitação para que os profissionais possam identificar e utilizar os

recursos psicopedagógicos necessários à minimização e/ou eliminação desse

problema, pois:

A escola também precisa capacitar seus profissionais para observação, identificação, diagnóstico, intervenção e encaminhamentos corretos, levar o tema à discussão com toda comunidade escolar e traçar estratégias preventivas que sejam capazes de fazer frente ao fenômeno. (FANTE & PEDRA, 2008, p. 106)

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Quando as entrevistadas foram questionadas sobre o tipo de violência

que presenciam na escola e se a consideram tal violência como uma

manifestação do bullying, basicamente, nenhuma dessas considera esses atos

violentos como atos bullying, como:

"[...] quando nasce um irmãozinho"(D1), como exemplificado por na sua

resposta.

“Não posso afirmar ser bullying por não conhecer o que vem a ser esse fenômeno”

(D2).

Já, as educadoras D1, D2, D4 não atribuem esses fatos com atos do

fenômeno bullying pela possibilidade de serem oriundos de várias outras

naturezas ou situações.

A motivação para que as crianças pratiquem atos violentos, segundo as

entrevistadas, podem ser: pela disputa por brinquedos, pelo uso pelos mesmos

objetos dos colegas ou mesmo como forma de chamar a atenção da

professora.

A entrevistada D1 destacou “O egocentrismo é a principal motivação para que

esses atos ocorram. No entanto, nenhuma entrevistada identificou e/ou

correlacionou atos mais violentos de algumas crianças, como bullying.

No que se refere às possíveis ações por parte dos educadores em

relação à ocorrência de bullying e/ou atos violentos no ambiente escolar, três

das entrevistadas destacaram a necessidade de um maior diálogo com os

alunos, para solucionar o problema.

Essa resposta vai ao encontro com o posicionamento sugerido pelos

programas Anti-bullying. Essas sugeriram: “Promover ações do tipo: Jogos cooperativos, atividades de inclusão entre outras, além

é claro de buscar esclarecimento dos fatos, conversar e expor as consequências." (D1)

As entrevistadas D1 e D2 atribuem a necessidade de os alunos se

socializarem, pois estão em uma fase egocêntrica.

Já a entrevistada D3 argumenta que atos violentos por parte dos alunos

“são reflexos de atitudes vivenciadas pelas crianças no próprio lar”. (D3)

A entrevistada D4 não manifestou sua opinião acerca de tal

questionamento.

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As atribuições relativas aos comportamentos violentos por parte das

educadoras dentro do CMEI são dos mais variados motivos. Uma das

participantes enfatizou que a violência manifestada por algumas crianças pode

ter origem nos: "Problemas familiares, programas de TV que incentivam a violência." (D3)

Novamente a mídia foi citada, como um meio de comunicação que pode

incentivar, negativamente as crianças, demonstrando a preocupação dos

educadores no que se refere à necessidade de uma seleção mais detalhada

dos programas adequados à faixa etária das crianças.

Ao serem questionadas a respeito da influência do meio social em que a

criança está inserida aos atos violentos, três delas acreditam ter papel

fundamental no comportamento da criança, assim como a família contribui para

que eles ocorram.

Uma entrevistada afirmou não acreditar que o meio possa influenciar no

aumento da violência escolar. "Não acredito que aumente esta violência, pois a escola

tem como fundamento fornecer a criança oportunidades para seu desenvolvimento respeitando

a sua individualidade, seu sentimento, fazendo a inserção de valores para o exercício a

cidadania". (D2). Mas, uma outra educadora afirmou que: "O meio é sempre

responsável pelas atitudes, mas não temos a presença desse tipo de atitudes." (D4).

A partir das afirmativas das entrevistadas e, à luz dos pressupostos

teóricos que enfatizam análises relativas ao bullying na escola pode-se afirmar

que as participantes identificam apenas algumas possíveis características do

bullying e dos personagens nele envolvidos. No entanto, apresentam

dificuldade na compreensão das diversas situações que envolvem o bullying, e

suas consequências.

Nesse sentido, é possível afirmar, também, que o preparo dos

profissionais da educação com o apoio da família para lidar com as

manifestações do bullying representa uma prática essencial que contribuirá

para que o ambiente escolar se transforme em um local mais harmônico e,

consequemente, menos violento, possibilitando aos alunos e educadores, o

equilíbrio e a superação para lidar com suas emoções, valorizando a tolerância

e a solidariedade, entre os participantes.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo propiciou o destaque da importância da identificação da forma

como o fenômeno bullying se manifesta no interior das instituições educativa,

dentre essas, àquelas que desenvolvem atividades administrativo-pedagógicas

e curriculares direcionadas à educação infantil.

Outro aspecto relevante intensificado durante o estudo refere-se à

assimilação de que a manifestação comportamental diferenciada na escola,

qual seja, o bullying se constutui em um dos principais entraves à integração,

tanto social como educativa, de forma mais harmônica e solidária, conduzindo

à necessidade de realização de um trabalho conjunto entre escola, família e

comunidade, na sua prevenção, pois, este tipo de violência deve ser

primeiramente identificado e aceitado como uma prática existente nas

instituições escolares, devendo ser combatido, por meio de uma ações - anti-

bullying.

A pesquisa teórica contribui, inicialmente para que fosse possível

conceituar e definir o fenômeno bullying, suas características, quais são os

sujeitos envolvidos e de que forma ele pode ocorrer na educação infantil.

Em um segundo momento, a identificação da agressividade infantil, o

papel da família e dos educadores, se reverteram em aspectos significativos

diante dos casos de violência no ambiente escolar.

O terceiro momento consistiu em uma análise dos dados coletados,

durante o Estudo de Caso, Institucional, comparando os seus resultados aos

aportes teóricos que abordam sobre o tema, salientando a necessidade de que

sejam organizada uma política anti-bullying, a partir da Educação Infantil,

buscando solucionar esse problema na sua origem, evitando assim, a formação

de indivíduos inseguros, depressivos e/ou vingativos.

Deve-se salientar a importância da capacitação dos educadores para

identificação e combate ao fenômeno bullying no ambiente escolar, pois

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medidas só poderão ser tomadas, de forma consciente e eficaz, a partir de um

conhecimento amplo do assunto, por meio de um processo de intervenção

seguro e consciente.

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APÊNDICE

ROTEIRO - QUESTIONÁRIO

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Você está convidado(a) a responder este questionário anônimo que faz parte

da coleta de dados da pesquisa intitulada:O fenômeno Bullying na Educação Infantil, sob a responsabilidade da pesquisadora Lia Fernanda Pellenz e da Orientadora Profª.

Ms. Ivana Alves Monnerat de Azevedo – Unidade Universitária de Ciências Sócio-

econômicas e Humanas de Anápolis (UnUCSEH)/ Universidade Estadual de Goiás

(UEG).

Caso você concorde em participar da pesquisa, leia com atenção os seguintes

pontos:

a) você é livre para, a qualquer momento, recusar-se a responder às

perguntas que lhe ocasionem constrangimento de qualquer natureza;

b) sua identidade será mantida em sigilo;

c) caso você queira, poderá ser informado(a) de todos os resultados obtidos

com a pesquisa, independentemente do fato de mudar seu consentimento em

participar da pesquisa.

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1. Qual a sua formação profissional?

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_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

2. Qual o cargo que ocupa no CMEI?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

3. Há quanto tempo você trabalha como educadora, de forma geral e,

em específico, na educação infantil?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

4. Se você é coordenador(a), há quanto tempo atua nesse cargo?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

5. Se você é diretor (a), há quanto tempo atua nesse cargo?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

6. Você conhece o termo bullying? Defina segundo seu entendimento qual o

significado desse termo.

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

7. Nessa instituição de ensino em que trabalha, você já presenciou casos de

violência entre alunos em sala de aula, no recreio ou em outra situação?

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_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8. Caso tenha ocorrido algum tipo de violência, por você presenciada no

ambiente escolar, você a considerara um caso de bullying?Justifique.

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

9. Em casos de conflitos entre alunos, existe alguma motivação aparente ou

velada para que esses ocorram?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

10. Qual o seu posicionamento diante de algum conflito/bullying entre os

alunos?

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_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

11. Você atribui as atitudes violentas das crianças dentro do CMEI a que motivações?

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_____________________________________________________________________

12. O meio social em que o aluno do CMEI está inserido, no seu entendimento,

aumenta a violência no ambiente escolar? Na sua compreenção a familia e a

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sociedade interferem nesses atos?

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