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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AMBIENTAL MESTRADO EM ENGENHARIA AMBIENTAL MODALIDADE PROFISSIONAL LEVANTAMENTO DO PROCESSO HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO URBANA E OS IMPACTOS NA DESCARACTERIZAÇÃO DA LAGOA DE GRUSSAI/SÃO JOÃO DA BARRA-RJ (BRASIL). CAROLINA PEREIRA SALES FIGUEIREDO Campos/RJ 2015

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PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA AMBIENTAL MESTRADO

EM ENGENHARIA AMBIENTAL MODALIDADE PROFISSIONAL

LEVANTAMENTO DO PROCESSO HISTRICO DE OCUPAO

URBANA E OS IMPACTOS NA DESCARACTERIZAO DA LAGOA DE

GRUSSAI/SO JOO DA BARRA-RJ (BRASIL).

CAROLINA PEREIRA SALES FIGUEIREDO

Campos/RJ

2015

ii

CAROLINA PEREIRA SALES FIGUEIREDO

LEVANTAMENTO DO PROCESSO HISTRICO DE OCUPAO

URBANA E OS IMPACTOS NA DESCARACTERIZAO DA LAGOA DE

GRUSSAI/SO JOO DA BARRA-RJ (BRASIL).

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em

Engenharia Ambiental do Instituto Federal de Educao,

Cincia e Tecnologia Fluminense como requisito parcial

para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia

Ambiental, modalidade Profissional, na rea de

concentrao em Gesto e Planejamento de Recursos

Hdricos, linha de pesquisa Avaliao e Gesto Ambiental,

rea de atuao Gesto e Planejamento de Recursos

Hdricos.

Orientador: D. Sc. Victor Barbosa Saraiva Co orientador: D.Sc Luiz de Pinedo Quinto Junior

CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ

2015

iii

F475l Figueiredo, Carolina Pereira Sales.

Levantamento do processo histrico de ocupao urbana e os

impactos da descaracterizao da lagoa de Grussa/ So

Joo da Barra-RJ (Brasil)/ Carolina Pereira Sales Figueiredo. Maca, RJ, 2015.

xiii, 62 f.: il. color.

Orientador: Victor Barbosa Saraiva. Coorientador: Luiz de Pinedo Quinto Junior.

Dissertao (Mestrado). Instituto Federal de Educao, Cincia

e Tecnologia Fluminense, Programa de Ps-graduao em Engenharia

Ambiental, Maca, RJ, 2015. Inclui bibliografia.

1. Urbanizao Aspectos ambientais Grussa, Lagoa de (RJ). 2.

Urbanizao So Joo da Barra (RJ) Histria. 3. Proteo

ambiental So Joo, Rio, Bacia (RJ). 4. gua Poluio - Grussa,

Lagoa de (RJ). I. Saraiva, Victor

Barbosa, orient. II. Quinto Junior, Luiz de Pinedo, coorient. III. Ttulo.

CDD 363.70098153 23.ed

iv

Dissertao intitulada Levantamento do Processo Histrico de Ocupao Urbana e os Impactos

na Descaracterizao da Lagoa de Grussai/So Joo da Barra-RJ (Brasil), elaborada por Carolina

Pereira Sales Figueiredo e apresentada publicamente perante a Banca Examinadora, como

requisito para obteno do ttulo de Mestre em Engenharia Ambiental pelo Programa de Ps-

graduao em Engenharia Ambiental, na rea de concentrao em Gesto e Planejamento de

Recursos Hdricos, linha de pesquisa Avaliao e Gesto Ambiental, rea de atuao Gesto e

Planejamento de Recursos Hdricos do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia

Fluminense.

Aprovada em ________________________.

Banca Examinadora:

_______________________________________________________________

Victor Barbosa Saraiva,

Doutor em Cincias (Biofsica)/ Universidade Federal do Rio de janeiro/ Instituto Federal de

Educao, Cincia e Tecnologia Fluminense

_______________________________________________________________

Luiz de Pinedo Quinto Junior,

Doutor em Arquitetura e Urbanismo/Universidade de So Paulo/ Instituto Federal de Educao,

Cincia e Tecnologia Fluminense

_______________________________________________________________

Carlos Eduardo de Rezende,

Doutor em Cincias (Biofsica)/Universidade Federal do Rio de Janeiro/Instituto de Biofsica

Carlos Chagas Filho/Professor titular da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy

Ribeiro

v

DEDICATRIA

Dedico a Deus, meus pais e famlia.

vi

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeo a Deus pela oportunidade de ter ingressado nesse programa que tanto

acrescentou em minha vida, por ter me conduzido nas aulas, na minha pesquisa, nos meus campos,

e me inspirou tanto no escrever, expressar, e a jamais desistir embora o cansao tenha sido em

alguns momentos algo a ser superado.

Aos meus pais que a cada conquista vibrou comigo, sorriu comigo e sempre soube que esse era

um grande sonho meu, pois em muitas vezes eles sonharam mais que eu e acreditaram em mim

mais que eu mesma, principalmente quando houve alguns: no no meu caminho.

Ao meu marido por compreender minhas ausncias, acreditar que esse passo sempre foi um alvo

para mim, me incentivando a cada renuncia que fazia para hoje pode estar aqui agradecendo a

todos, por ter cuidado de mim, pelo amor e por entender que quando busco algo na vida para

acrescentar nas nossas vidas e no individualmente. Ao meu irmo, pela torcida, companheirismo

e amor de sempre.

Aos meus avs e madrinhas que sempre ousaram em dizer que ia conseguir tudo que quisesse na

vida, sempre me falando o quanto era capaz, e que esse passo seria mais um captulo de muito

sucesso.

Aos grandes amigos da vida e aqueles que fizeram parte dessa caminhada ditos amestrados,

obrigada pela fora, conhecimentos compartilhados e luz que passaram pra mim em cada etapa

desse trabalho, cada um de vocs enriqueceu minha histria e marcou de alguma forma.

Sem hesitar, agradeo a todos os meus familiares que torceram por mim e ainda torcem pelo meu

crescimento e sucesso.

Aos amigos que fiz no polo Upea, e principalmente ao Prof. Vicente, Prof. Sergio, Charles,

Tcnicos e a todos aqueles que fizeram parte dessa caminhada, seja apoiando nos trabalhos de

campo e ou nas anlises no laboratrio, sou grata pelo conhecimento e disponibilidade.

Ao meu orientador Prof. Victor Saraiva e ao meu Coorientador Prof. Pinedo pelo apoio de

sempre, conselhos para a vida e doao de conhecimento, vocs contriburam em tudo.

A empresa Gemon e todos os meus colegas de trabalho, que atravs da Gerncia entendeu que

minhas ausncias seriam supridas pelo conhecimento que buscava. Ao Prof. Carlos Eduardo de

Rezende pelo exemplo acadmico e pessoal.

Ao funcionrio Marcos Pacheco da Secretaria de Meio Ambiente do Municpio de So Joo da

Barra, bem como a Prof. Marina Suzuki e o Prof. Cristiano Peixoto por partilhar seu tempo e

referncias comigo.

Aos professores desse programa pela parceria, conhecimento e dedicao. Sou muita grata a todos

que direta ou indiretamente no mediram esforos para que eu pudesse concluir esse trabalho.

vii

EPGRAFE

O Sol aquece a atmosfera, as massas de ar aquecidas deslocam-se sobre as massas de ar frias, gerando ventos. A Lua,

obedecendo s leis de atrao universal, gera mars e correntes de mar. Tudo na natureza se interliga, se relaciona, se

interdepende. As atividades humanas vieram somar-se a essa correlao de foras e elementos da natureza. A espcie

humana apareceu na terrah 3,6 milhes de anos, e surgiu com a vocao de transformar tudo sua volta.

Parafraseando um pequeno documentrio brasileiro, transformamos pedra em ferramenta, planta em roupa, milho

empipocas, trigo em po, gua em energia, papel em literaturaE, tudo isso seria maravilhoso, nofosse devido a um

detalhe. Um detalhe do tamanho do mundo

(RIO+20 DESAFIOS DA SUSTENTABILIDADE,2012)

viii

RESUMO

As lagoas costeiras formam um importante complexo de corpos dgua continentais, cobrindo

cerca de 13 % dos continentes, onde o continente sul-americano contribui com 12,2% dos corpos

dgua continentais costeiros (BARNES, 1980). Grande parte do litoral brasileiro apresenta este

tipo de ecossistema, porm suas caractersticas peculiares, e suas interaes ecolgicas esto cada

vez mais ameaadas pela ao antrpica cada vez mais acelerada, citando como um dos problemas

a ocupao humana prxima a recursos de gua doce, trazendo srios distrbios a esses ambientes.

A Lagoa de Grussai, alvo desse estudo, um corpo hdrico que vm sofrendo tais perturbaes,

somando alteraes em seus processos biolgicos devido urbanizao acelerada de suas margens

e ausncia de planejamento necessrio para garantir a infraestrutura necessria para a populao

bem como a sustentao desse ecossistema. Nessa premissa, foi realizado um levantamento do

processo de ocupao da Lagoa de Grussai devido mesma ter sido de forma desordenada,

avaliando os impactos significativos promovidos por tal situao, correlacionando s legislaes

municipais e aplicveis a tal ecossistema, e suas fragilidades, tendo como resultado a necessidade

de interferncia antrpica em carter positivo mitigando a poluio tanto de suas margens quanto

de seu corpo hdrico j incorporado ao ecossistema. Alinhado a esse estudo inicial, foram

identificados a ausncia de delimitao da faixa marginal de ocupao permitida tanto nvel do

ecossistema quanto nvel do oceano (Faixa Preamar) parametrizando com as legislaes

especficas bem como levantando a dinmica do solo e a gesto de guas urbanas em ambientes

como esse. Juntamente a essa discusso, foi identificado tambm presena de coliformes totais e

E.coli em guas de poo e de distribuio da concessionria devido ao aporte de esgoto domestico,

um dos principais problemas enfrentados por esse ecossistema, implicando em consequncias no

consumo e exposio da populao a doenas. Nesse sentido, foi necessrio traar um modelo,

baseado na anlise SWOT, permitindo fundamentar diagnsticos e avaliaes reais para modelar

possveis interferncias no ambiente em questo bem como a sustentabilidade ecossistmica.

Palavras-chaves: lagoa costeira, urbanizao, legislaes.

ix

ABSTRACT

The coastal lagoons form an important complex of bodies of continental water, covering

about 13% of the continents, where the South American continent accounts for 12.2% of bodies of

coastal continental water (Barnes, 1980). Much of the Brazilian coast presents this type of

ecosystem, but its peculiar characteristics, and their ecological interactions are increasingly

threatened by human action increasingly accelerated, citing as one of the problems the human

settlement near freshwater resources, bringing serious disturbances to these environments. The

pond Grussai, target of this study, is a water body that have suffered such disorders, adding

changes to their biological processes due to the rapid urbanization of its banks and lack of

planning needed to ensure the necessary infrastructure for the population as well as sustaining this

ecosystem. This premise, a survey was conducted of the occupation process of Grussa Lagoon

due to it being a disorderly manner, evaluating the significant impacts promoted by such a

situation by correlating the municipal laws and regulating the ecosystem, and their weaknesses,

resulting the need for human interference in positive character mitigating pollution both its banks

as its water body already incorporated into the ecosystem. In line with this initial study, we

identified the absence of delimitation of the marginal highway land permitted to both the

ecosystem level as the ocean level (Preamar Range) parameterizing with the specific laws and

raising the soil dynamics and the management of urban water in environments like this. Along this

discussion, it was also identified the presence of total coliforms and E. coli in well water and

distribution of the concessionaire due to domestic sewage input, one of the main problems facing

the ecosystem, resulting in consequences in consumption and exposure population diseases. Thus,

it was necessary to draw a model, based on the SWOT analysis, allowing support real diagnoses

and evaluations to model potential interference with the environment in question and the

ecosystem sustainability.

Keywords: coastal lagoon, urbanization, legislation.

x

LISTA DE FIGURAS

Artigo 1 - Levantamento do Processo Histrico e Elementos Potencialmente Poluidores Presentes

Na Lagoa De Grussai- So Joo Da Barra/RJ (Brasil).

Figura 1 - Localizao Lagoa de Grussai............................................................... 08

Figura 2 - Atividade Pesqueira na Lagoa de Grussai no sc.XIX.......................... 11

Figura 3 - Plano Diretor do Municpio de So Joo da Barra................................. 13

Figura 4 - Zoneamento Urbano do Municpio de So Joo da Barra..................... 14

Figura 5 - Macrozoneamento Municipal de So Joo da Barra.............................. 15

Figura 6 - Adensamento Urbano no entorno da Lagoa de Grussai......................... 19

Figura 7 - Poluio por Resduos Slidos em suas margens.................................. 21

Figura 8 - Limites da RPPN Caruara...................................................................... 23

Artigo 2 - Descaracterizao de um ecossistema pelo processo de urbanizao, seus efeitos sobre o

consumo de gua de poo por uma populao e aplicao da matriz SWOT Estudo de Caso:

Lagoa de Grussai So Joo da Barra/RJ.

Figura 1 - Matriz SWOT FOFA................................................................. 39

Figura 2 - Recorte em reas para Aplicao de Questionrio e Coleta de

gua ...............................................................................................

41

Figura 3 - Recorte do Adensamento da rea Central da Lagoa de

Grussai.............................................................................................

43

Figura 4 - Faixa Marginal de Proteo de acordo com Cdigo Florestal..... 44

xi

LISTA DE TABELA

Artigo 2 - Descaracterizao de um ecossistema pelo processo de urbanizao, seus efeitos sobre o

consumo de gua de poo por uma populao e aplicao da matriz SWOT Estudo de Caso:

Lagoa de Grussai So Joo da Barra/RJ.

Tabela 1 - Gesto e Obstculos das guas Urbanas.................................................... 36

Tabela 2 - Resultados das Anlises de Coliformes Totais (C.T) e E.coli referentes

primeira Coleta..............................................................................................

48

Tabela 3 - Resultados das Anlises de Coliformes Totais (C.T) e E.coli referentes

segunda coleta...............................................................................................

49

Tabela 4 - Aplicao da Matriz SWOT na Lagoa........................................................ 51

xii

LISTA DE GRFICOS

Artigo 2 - Descaracterizao de um ecossistema pelo processo de urbanizao, seus efeitos sobre o

consumo de gua de poo por uma populao e aplicao da matriz SWOT Estudo de Caso:

Lagoa de Grussai So Joo da Barra/RJ.

Grfico 1 - Quantitativo da Populao Entrevistada exposta a Doenas.................... 45

Grfico 2 - Principais finalidades de consumo de gua.............................................. 45

Grfico 3 - Quantitativo de Moradores de acordo com a fonte de abastecimento de gua

nas reas amostradas..........................................................................

46

Grfico 4 - Quantitativo de Moradores que Tratam a gua de Poo......................... 47

Grfico 5 - Comparativo das reas Amostradas 1Coleta X 2 Coleta................... 60

Grfico 6 - Aumento de Concentrao de Colimetria nas reas Amostradas 1 Coleta

X 2 Coleta.......................................................................................

62

xiii

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

APP............................... rea de Preservao Permanente

CLIPA............................ Complexo Logstico Industrial do Porto do Au

CNFCN.......................... Centro Norte Fluminense de Conservao da Natureza

DBO............................... Demanda Bioqumica de Oxignio

EIA................................. Estudo de Impacto Ambiental

FEEMA.......................... Fundao Estadual de Engenharia do Meio Ambiente

FMP............................... Faixa Marginal de Proteo

IBAMA.......................... Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

IBGE.............................. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

INEA.............................. Instituto Estadual do Ambiente

MMA.............................. Ministrio do Meio Ambiente

MPERJ........................... Ministrio Pblico do Estado do Rio de Janeiro

RIMA.............................. Relatrio de Impacto Ambiental

RPPN.............................. Reserva Particular do Patrimnio Natural

SERLA........................... Superintendncia Estadual de Rio e Lagoas

SNIS............................... Sistema Nacional de Informaes sobre Saneamento

SWOT ............................ Strenghts (Foras), Weaknesses (Fraquezas), Opportunities

(Oportunidades) e Threats (Ameaas)

TAC................................ Termo de Ajuste de Conduta

UFF................................. Universidade Federal Fluminense

UC.................................. Unidade de Conservao

ZE.................................... Zona Especial

ZEEC.............................. Zoneamento Ecolgico Econmico Costeiro

ZEIS................................ Zona Especiais de Interesse Ambiental

ZIA.................................. Zona de Interesse Ambiental

ZM1................................. Zona Mista 1

xiv

SUMRIO

Resumo..................................................................................................................................... viii

Abstract..................................................................................................................................... ix

Lista de Figuras......................................................................................................................... x

Lista de Tabelas........................................................................................................................ xi

Lista de Grficos...................................................................................................................... xii

Lista de Siglas e Abreviaturas................................................................................................. xiii

Apresentao............................................................................................................................. 01

1 Artigo Cientfico I.................................................................................................................. 03

LEVANTAMENTO DO PROCESSO HISTRICO E ELEMENTOS

POTENCIALMENTE POLUIDORES PRESENTES NA LAGOA DE GRUSSAI- SO

JOO DA BARRA/RJ (BRASIL)

Resumo................................................................................................................................... Introduo............................................................................................................................... Caractersticas Gerais, Culturais da Regio e Lagoa............................................................. Processo Histrico e Ocupao da Lagoa.............................................................................. Legislaes Aplicveis ao Sistema Lagunar.......................................................................... Elementos Potencialmente Poluidores Presentes na Lagoa................................................... RPPN Caruara e Clipa............................................................................................................ Materiais e Mtodos............................................................................................................... Concluses............................................................................................................................. Referncias Bibliogrficas.....................................................................................................

03

04

05

10

11

18

22

23

23

24

2 Artigo Cientfico II................................................................................................................ 29

DESCARACTERIZAO DE UM ECOSSISTEMA PELO PROCESSO DE

URBANIZAO, SEUS EFEITOS SOBRE O CONSUMO DE GUA DE POO POR

UMA POPULAO E APLICAO DA MATRIZ SWOT ESTUDO DE CASO:

LAGOA DE GRUSSAI SO JOO DA BARRA/RJ

Resumo................................................................................................................................... Abstract.................................................................................................................................. Introduo............................................................................................................................... Reviso Bibliogrfica............................................................................................................. 2 Particularidades de um Ambiente Transformado: Transio do Rural para o Urbano......... Gerenciamento de guas e Solos Urbanos............................................................................ Modelo para Sustentabilidade Na Lagoa............................................................................... Metodologia........................................................................................................................... Resultados e Discusso.......................................................................................................... Descaracterizao devido a FMP em rea Urbana Consolidada........................................... Avaliao da Qualidade da gua Consumida pela Populao no Entorno da Lagoa............ Aplicao da Matriz SWOT para o Ecossistema................................................................... Concluses............................................................................................................................. Desafios Futuros..................................................................................................................... Referncias Bibliogrficas..................................................................................................... Anexos....................................................................................................................................

29

30

30

32

32

36

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40

43

43

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51

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52

53

57

1

APRESENTAO

As presses que os ambientes costeiros tm sofrido nas ltimas dcadas reflete o que esses

ambientes podem proporcionar. Representando muito mais que pontes de ligao entre os

ecossistemas terrestres e marinhos, eles proporcionam fontes naturais de alimentos, e apresentam

diversas espcies de animais tais como: peixes, crustceos, vertebrados, invertebrados, alm de

servir como reas de lazer e fonte de matria prima, tais como extrao de minerais (carbonato de

clcio, sal marinho, areia e outros), e, em diversos casos, quando desalinizadas: como fontes de

gua doce e abastecimento e tambm para o despejo de dejetos industriais e domsticos.

A urbanizao e o valor especulativo imobilirio aliado a ela so consequncias que esses

ambientes agregam devido em grande parte a falhas na gesto urbana nas etapas de planejamento

de ocupao urbana, ausncia de saneamento bsico e deficincias tambm na gesto e

monitoramento de recursos hdricos. A regio norte fluminense do estado do Rio do Janeiro

passou por grandes transformaes, aliadas a grandes ciclos econmicos e cadeias produtivas. O

municpio de So Joo da Barra regio onde est situado o objeto de estudo desse trabalho tm

sido palco de um desenvolvimento regional impulsionado pela oferta de mo de obra, devido ao

aporte de empreendimentos tais como o Complexo Logstico Industrial do Porto do Au - CLIPA,

sendo igualmente necessrio que essas carncias sejam supridas bem como solucionadas.

De acordo com Corra et al. (2013), a Lagoa de Grussai considerada como um defluente

abandonado do Rio Paraba do Sul em seu delta do tipo p de ganso. At a dcada de 1950, ainda

escoava parte das guas desse rio, na estao das chuvas. A abertura do canal do Quitingute cortou

a conexo com o Paraba e retirou-lhe volume dgua capaz de abrir sua barra periodicamente de

forma natural. Atualmente a abertura de sua barra acontece de forma artificial por pessoas que

alegam que as guas da lagoa estariam invadindo suas residncias. Esse evento de isolamento

com o Rio Paraba favoreceu a invaso do alto leito por aterros para a agricultura e a pecuria e do

baixo leito, junto ao mar, pela expanso urbana de Grussai.

Esse trabalho tem carter de pesquisa aplicada qualitativa e quantitativa, a partir de pesquisas

bibliogrficas, documentais e de campo, com finalidade descritiva e metodolgica, j que alm de

expor caractersticas de determinada populao ou de determinado fenmeno, se refere tambm a

elaborao de manipulao da realidade. Est, portanto, associada a caminhos, formas, maneiras,

procedimentos para atingir determinado fim (MORESI, 2003). Pretende-se com essa pesquisa

levantar solues para servir como alicerce para futuras interferncias no objeto de estudo.

O objetivo desse trabalho foi levantar o processo histrico de ocupao urbana e seus

impactos na descaracterizao da Lagoa de Grussai, levando em considerao as legislaes

aplicveis, elencando os principais impactos sofridos, e tambm a qualidade da gua consumida

pelos moradores residentes em seu entorno atravs de anlises microbiolgicas coliformes totais

e E. coli e verificao da conformidade dos resultados.

2

A proposta metodolgica da anlise de gua baseada em estudos similares, incluindo os

trabalhos de Cordeiro (2008), Melo (2011) e Oliveira (2011), que avaliaram, entre outros aspectos,

a qualidade microbiolgica da gua de comunidades rurais da regio Norte Fluminense, obtendo

resultados de contaminao de poos, que deixam a populao vulnervel ao acometimento de

doenas de veiculao hdrica.

Os objetivos Especficos so: i) levantar as caractersticas ambientais, sanitrias e de

infraestrutura do objeto de estudo, ii) avaliar os documentos de gesto urbana, tais como o Plano

Diretor, e Zoneamento urbano, bem como demais regulamentaes, iii) impactos diretos e

indiretos promovidos pelo aporte de elementos poluidores pelo processo de urbanizao no

ecossistema, iv) levantar as caractersticas da regio, nvel cultural e estrutural, v) realizar

anlises microbiolgicas das guas consumidas pela populao local, visando avaliar a sua

potabilidade, vi) avaliar as tentativas de preservao do ecossistema promovida, vii) verificao da

ausncia de faixa marginal de proteo, viii) traar um modelo de sustentabilidade para

embasamento e aplicao futura.

Essa dissertao est dividida em duas partes, onde no primeiro artigo cientfico I busca

primeiramente realizar atravs de uma pesquisa bibliogrfica observacional baseada em uma

anlise qualitativa e quantitativa um levantamento do histrico da Lagoa de Grussai e suas

presses sofridas devido ocupao desordenada, avaliando os impactos significativos

promovidos por tal urbanizao, correlacionando s legislaes municipais e aplicveis a tal

ecossistema, e suas implicaes.

Foi realizada, ainda, j se tratando do artigo cientfico II, um diagnstico de sua faixa

marginal de ocupao permitida tanto nvel do ecossistema quanto nvel do oceano (Faixa

Preamar), embasado nas regulamentaes. Juntamente a este levantamento e discusso, foram

investigadas tambm as condies sanitrias que a populao do entorno est exposta,

relacionadas ao consumo de gua atravs de poo artesiano e tambm do sistema de abastecimento

do municpio, levando em considerao a formao do solo levantando a hiptese de ocorrer

contaminao do lenol fretico pelo aporte de esgoto domestico, um dos principais problemas

enfrentados por esse ecossistema. Nesse sentido, foi traada a ferramenta SWOT - Strenghts

(Foras), Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaas),

possibilitando apontar assim futuras interferncias no ambiente em questo, bem como para o

beneficiamento social, ambiental e econmico.

3

2 ARTIGO CIENTFICO I

(aceito para publicao em Anais do 28 Congresso Nacional de Engenharia Sanitria e

Ambiental- Outubro/2015)

LEVANTAMENTO DO PROCESSO HISTRICO E ELEMENTOS POTENCIALMENTE

POLUIDORES PRESENTES NA LAGOA DE GRUSSAI- SO JOO DA BARRA/RJ

(BRASIL)1

Carolina P. Sales Figueiredo(1)

Biloga pela Universidade Salgado de Oliveira. Mestranda em Engenharia Ambiental pelo

Instituto Federal Fluminense- IFF Fluminense campus Maca. Coordenadora em Sistemas de

Gesto pela empresa Gemon/Ampla.

Victor Barbosa Saraiva(2)

Bilogo pela Universidade do Grande Rio. Mestre em Cincias Biolgicas (Biofsica) pela

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutor em Cincias (Biofsica) pela Universidade

Federal do Rio de Janeiro. Ps-doutorado em Bioqumica de micro-organismos pela Universidade

Federal do Rio de Janeiro. Professor do Instituto Federal de Educao Cincia e Tecnologia

Fluminense - IF Fluminense-campus Cabo Frio.

Luiz de Pinedo Quinto Jnior(3)

Arquiteto Urbanista pela Universidade de So Paulo. Mestre em Planejamento Urbano pela

Universidade de Braslia. Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de So Paulo.

Coordenador e professor do Programa de Ps-graduao em Engenharia Ambiental do Instituto

Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes.

Endereo(1)

: Rua Maca, n18 Parque Guarus - Campos dos Goytacazes Rio de Janeiro RJ -

CEP: 28073-020 - Brasil - Tel: (22) 99993-4842 - e-mail: [email protected]

RESUMO

Contextualizar o passado fundamental para compreender o presente, sendo assim o objetivo

desse trabalho levantar o processo histrico de ocupao, suas caractersticas fsicas e ambientais

da Lagoa de Grussai, situada no municpio de So Joo da Barra/RJ, bem como levantar as

presses sofridas devido ocupao desordenada de suas margens, tal como a poluio exercida

nesse ambiente nos ltimos tempos, correlacionado legislaes municipais, estaduais e federais,

bem como a preservao de sua restinga, favorecida pela criao da RPPN Caruara na poro

inicial, prximo a foz, a ocupao ciliar intensa, como exigncia devido a implantao do

Complexo Logstico Industrial do Porto do Au na regio citada.

Palavras chaves: Lagoa de Grussai, Histrico, Poluio.

1Parte da dissertao de mestrado do primeiro autor a ser apresentada ao Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu

em Engenharia Ambiental do Instituto Federal de Educao Cincia e Tecnologia Fluminense.

mailto:[email protected]

4

INTRODUO

A regio Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro concentra um grande nmero de

lagoas costeiras, consideradas como grandes potenciais ecolgicos esses ecossistemas possuem

diferentes caractersticas, significando verdadeiros patrimnios econmicos e paisagsticos para a

regio (SUZUKI, 1997), porm com o decorrer dos anos, esses ecossistemas fluminenses foram

suprimidos tanto qualitativamente quanto quantitativamente principalmente pela ao antrpica,

causando inmeras alteraes em seus processos ecolgicos (IBAMA, 2007).

Considerada como um dos ltimos resqucios de vegetao nativa do estado do Rio de

Janeiro, constituindo ainda o maior e mais diversificado remanescente de restinga do estado, a

lagoa de Grussai localizada no municpio de So Joo da Barra/RJ, e possui, aproximadamente,

8 km2 de extenso, mdia de 100 m de largura e rea de 1 km, considerado um defluente do delta

do rio Paraba do Sul formado na progradao deste no interior de uma semilaguna, a partir de 5

mil anos A.P. O seu curso parece como uma resultante da luta entre as foras do rio e do mar.

Alm deste grande alimentador a lagoa tambm recebia gua do Paraba do Sul por meio de um

canal menor, tambm perpendicular a ambos, formado pelas lagoas do Barreiro e de Curralinho

(SUZUKI et al., 2005).

O primeiro grande golpe sofrido pela lagoa foi a abertura do Canal do Quitingute pelo

Departamento Nacional de Obras e Saneamento, permitindo que dessa forma a mesma perdesse a

conexo que existia com a lagoa do Ta Grande, e com a Lagoa do Barreiro, que abasteciam com

guas excedentes do rio Paraba do Sul. Privada desta fonte montante, a lagoa de Grussa passou

a alimentar-se exclusivamente de guas pluviais e do lenol fretico. O balano hdrico entre a

massa lquida da lagoa com o mar foi sendo rompido pouco a pouco e ela perdeu a capacidade de

abrir naturalmente sua barra, exceto em eventos excepcionais. Assim, a lagoa tendeu para a

estabilizao vertical da lmina dgua e para a dulcificao progressiva de suas guas (SUZUKI,

ibidem).

Desde ento esse ecossistema aqutico vm sendo intensamente utilizado sem nenhum

planejamento, apresentando diversas agresses tanto em seu corpo hdrico como no solo de seu

entorno. Dentre os principais problemas, citam-se: poluio causada por esgoto domstico e

resduos slidos, grande adensamento urbano em sua faixa marginal de proteo ocasionando

severas enchentes, vegetao nativa suprimida primeiro pela agricultura e posteriormente pela

pecuria, o solo tendeu eroso e a lagoa ao assoreamento (SUZUKI et al., 2005), alm dos j

listados, h uma presena tendenciosa de alterao de seu habitat, potencializada pela implantao

do Complexo Logstico Industrial Porturio do Au (CLIPA).

Os impactos sofridos so provenientes em sua maioria, por grande despejo de efluentes

sanitrios sem tratamento (MACIEL, 2005), compromete assim sua qualidade ambiental e seu

5

poder de autodepurao excedente. Com elevados valores de coliformes totais e fecais, o presente

ecossistema indica que o lanamento de esgotos ultrapassa a capacidade de autodepurao do

sistema (SUZUKI, 1997).

Muitas foram s iniciativas para a preservao desse ecossistema lagunar, seja em sua

totalidade, quanto de sua vegetao de restinga que cada vez mais ameaada e suprimida por

aterros para ocupao irregular de residncias, comrcio e atividades agropecurias. Uma dessas

iniciativas foi firmada no incio da ltima dcada, marcado inicialmente por um Inqurito Civil n

131/MP/99 SB, onde o Ministrio Pblico do Rio de Janeiro designou aes envolvendo alguns

atores, dos at ento: SERLA, IBAMA, FEEMA, e o ento Muncipio de So Joo da Barra,

buscando principalmente realizar um levantamento dos proprietrios de construes na faixa de

proteo da Lagoa, porm foi ento que no incio do ano de 2000, que foi assinado um Termo de

Ajustamento de Conduta (TAC) entre o Ministrio Pblico do Estado do Rio de Janeiro e o

Municpio de So Joo da Barra, esse termo foi assinado com o intuito de coibir novas

construes de residncias no entorno da lagoa, porm novas construes tm sido levantadas at

os dias atuais continuamente degradando de forma holstica o corpo hdrico, respaldado de acordo

o IBAMA (2000) que esse termo no foi cumprido, e o prazo para o cumprimento foi expirado,

enfraquecendo toda e qualquer mobilizao para recuperar ou mitigar tais intervenes nesse

ecossistema.

Uma outra iniciativa discorrida foi a criao de uma Unidade de Conservao (UC), segundo

SNUC lei 9.985 (2000) para o ecossistema em questo, mais s atualmente esse conceito ganhou

notoriedade e aplicabilidade com a implantao do (CLIPA), e nesse contexto a Lagoa de Grussa

foi inserida atualmente numa Reserva do Patrimnio Particular Nacional, a RPPN Caruara,

conforme imposto pelo Instituto Estadual do Ambiente (INEA). O CLIPA, contar com segmentos

diversificados: Siderrgicos, Termoeltricos (gs e carvo), Mineroduto e o Porto do Au com seu

Ptio Logstico, alm de outros empreendimentos, todos com grande potencial poluidor, sendo

essencial o levantamento em remediar tais impactos no solo e tambm em todo o corpo hdrico em

questo, agregando resultados para subsidiar a criao de um Plano de Manejo para a Lagoa

propriamente dita, gesto esta necessria para futuras alteraes e/ou interferncias.

Caractersticas Gerais, Culturais da Regio e Lagoa

O municpio de So Joo da Barra localiza-se na regio Norte Fluminense do estado do Rio

de Janeiro. Segundo o IBGE (2013) o municpio possui uma populao estimada de 33.951

habitantes, contando com uma rea de unidade territorial 455,044 km, e densidade demogrfica

71,96 hab/km, fazendo fronteira com os municpios de Campos dos Goytacazes RJ e So

Francisco do Itabapoana RJ. Est enquadrado na Regio Hidrogrfica IX do Baixo Paraba do

Sul e Itabapoana (RIO DE JANEIRO, 2013). Localiza-se margem direita da foz do rio Paraba

6

do Sul e tem como principais atividades econmicas a agropecuria, o turismo, a fruticultura

nativa, o artesanato e a pesca. As guas superficiais desse municpio so formadas pelo rio Paraba

do Sul, as lagoas de Grussa, Iquipari, A, Salgado e Ta e vrios canais (sendo os principais

Abreu, Quintigute, So Bento, Andreza, Atafona, Chatuba) e o Oceano Atlntico. O seu processo

de formao muito se confunde com at ento a capital da coroa brasileira, Rio de Janeiro, que no

incio do sculo XIX, quando a Famlia Real se mudou para o Brasil, So Joo da Barra j se

dedicava ao comrcio, passou a suprir as necessidades da Corte. O comrcio se intensificou e,

consequentemente, as condies financeiras dos habitantes. E esse desenvolvimento fez com que,

em 17 de junho de 1850, o imperador Dom Pedro II elevasse a Vila de So Pedro da Praia

categoria de Cidade, denominando-a So Joo da Barra. E aps esse evento muitos servios

aportaram no municpio, tais como a Santa Casa de Misericrdia, a Usina de Barcelos, a

Companhia de Navegao, a Companhia Agrcola, a Companhia de Cabotagem, a Sociedade

Musical e Carnavalesca Lira de Ouro, a Banda Musical Unio dos Operrios, a Sociedade

Beneficente dos Artistas e a Estrada Ferroviria. Porm, no incio do sculo XX, os problemas de

assoreamento da foz do rio Paraba do Sul se intensificaram, forando a venda da Companhia de

Navegao, que j enfrentava problemas com a competio gerada pela abertura da navegao a

navios estrangeiros. So Joo da Barra entrou em decadncia e s no foi total, devido ao

surgimento da Indstria de Bebidas Joaquim Thomaz de Aquino Filho. No final da dcada de

1970, a cidade voltou a prosperar com a descoberta do Petrleo, recebendo royalties partir do

ano de 2000 por ser municpio limtrofe aos campos produtores de petrleo. A cidade possui seis

distritos: Grussai, Sede, Atafona, Cajueiro, Pipeiras e Barcelos. O clima da regio tropical

quente e mido (de quatro a cinco meses secos), sendo resultado de uma combinao de fatores

estticos - localizao geogrfica e topografia e dinmicos - massas de ar, contando com um total

de chuvas na ordem de 1.200mm por ano (MINUZZI et al. 2007) . A regio apresenta elevada

incidncia de precipitao nos meses de novembro a janeiro, uma diminuio no ms de fevereiro

e novamente uma elevao nos meses de maro e abril. A baixa incidncia de chuvas nos meses

de maio a agosto caracteriza o perodo de seca. A temperatura varia com mdias acima de 25 0C,

no vero, e temperaturas mais amenas, superiores a 19 0C no inverno (BIDEGAIN et al. 2008). O

anticiclone tropical do Atlntico semifixo responsvel pela manuteno de dias ensolarados a

maior parte do ano e a dominncia de ventos sub midos do setor Nordeste, atingindo as maiores

velocidades nos meses de agosto a dezembro. Segundo Sampaio (1915) j ressaltava a influncia

do vento predominante no formato das moitas de restinga em So Joo da Barra, cita-se a regio

onde se encontra a Lagoa de Iquipari, possuindo moitas em formato de rampa, demonstrando a

predominncia dos ventos.

O processo geolgico da regio iniciou-se no perodo Quaternrio (Pleistoceno), quando o rio

Paraba do Sul e o mar comearam a construir uma grande plancie aluvial e a maior restinga

7

daquele que seria o futuro Estado do Rio de Janeiro. Aps o recuo, houve deposies fluvial e

lacustre, contendo, em parte, material proveniente das escarpas do Complexo Cristalino,

caractersticas no litoral Sul e Sudeste brasileiro, ou do arenito da Formao Barreiras

(BIDEGAIN, ibidem). Segundo Ramdabrasil (1983), o relevo praticamente plano com pequenas

elevaes longitudinais representadas pelos cordes litorneos paralelos de 1 a 3 metros de altura.

Esses cordes formam arcos abertos voltados para o litoral com direes prximas a norte-sul,

originando uma plancie costeira com aproximadamente 30 km de largura. Quanto aos solos,

predominam areias quartzosas marinhas associadas podzolhidromrfico, possuindo ento um

solo mais pobre em nutrientes.

Lagoas costeiras podem ser definidas precisamente como ecossistemas aquticos superficiais

que se desenvolvem na interface entre os ecossistemas terrestres e marinhos costeiros e podem

ficar permanentemente aberto ou fechado a partir do mar adjacente por barreiras deposicionais

(KJERFVE, 1994; GNEN et al. 2004), classificada como tal, a Lagoa de Grussai situada no

norte do Estado do Rio de Janeiro e est assentada sobre depsitos sedimentares quaternrios

fluviomarinhos, estando sua gnese conforme j descrito a formao da foz do Rio Paraba do Sul.

Enquadrada como tal, a lagoa de Grussa, localiza-se entre as latitudes 214156 S e

214520 S e longitudes 410142 e 4102'48" W (Figura 1); Em mdia possui ~100 m de

largura, contando com 1km2 de rea superficial, e possui profundidade mdia em torno de 0,8m.

Sua forma alongada e pouco larga orientada no sentido norte-sul dispe-se paralelamente linha

da costa por cerca de 8 km. uma lagoa bastante utilizada como balnerio pela populao

regional, separada do mar por um fino cordo de areia ( 45 m) formado por um processo

geomorfolgico de consolidao de dunas. Esse cordo de areia impede as trocas naturais de sua

gua com o mar, porm essas condies podem ser rompidas em ocasies que ocorram grandes

2ressacas, ou atravs de processos de abertura de barra, que vm acontecendo de forma

desordenada (SUZUKI, 1997).

Segundo Suzuki (ibidem) sua hidrodinmica de nvel dgua na Lagoa de Grussai acontece

via lenol fretico, observado principalmente na sua poro sul, e entrada atmosfrica via

precipitao, uma vez que no apresenta nascente ou afluente e seu contato estabelecido com o

Rio Paraba do Sul foi cortado via Lagoa do Ta Grande, e com a Lagoa do Barreiro.

2O termo ressaca pode ser entendido como um fenmeno onde ocorre a sobre-elevao do nvel do mar normalmente

ocasionada devido a uma mar meteorolgica, coincidindo com a ocorrncia de onda maiores que o normal

(BITENCOURT et al., 2002;KOBYIAMA et al., 2006).

8

Figura 1 Localizao da Lagoa de Grussai

Fonte: (SUZUKI et al., 2002) &

https://www.google.com.br/maps/place/S%C3%A3o+Jo%C3%A3o+da+Barra,+RJ/@-21.7240229,-

41.0343593,7852m/data=!3m1!1e3!4m2!3m1!1s0xbe88306f6ffc11:0x21362c35a999d37d

Em sua poro sul e central so observas a presena de macrfitas aquticas, porm em sua

poro norte predomina em menor um crescimento em menor quantidade das espcies citadas,

devido as constantes aberturas de barra que separa a lagoa do mar.

A baixa salinidade, a pequena profundidade (

9

virginicus, Schinus terebinthifolius, Eugenia sucata, Pilosocereus arrabidae, Pera glabrata,

Eugenia sulcata e Syderoxylon obtusifolium, Maytenus obtusifolia e Protium heptaphyllum

(SUZUKI, ibidem).

Segundo Assumpo & Nascimento (2000), o ltimo grande evento de desmatamento ocorreu

h 25 anos, onde as rvores eram retiradas atravs de cortes rasos e recolhidos os indivduos com

dimetro maior que 10 cm, independente da espcie. Os impactos observados mais recentes so

provenientes da utilizao da vegetao nativa para o pastoreio de bovinos e caprinos que invadiu

com um longo aterro no sentido longitudinal, este aterro sai da margem esquerda em forma de

estrada e retorna a ela 2,5 km2 adiante, e tambm promovidos pelo trfego de automveis na areia

e consequentemente remoo de vegetao nativa entre Grussai e Iquipari para instalao de

loteamentos, desse modo no mais possvel estimar a rea de manguezal da lagoa de Grussai,

vistas as profundas mudanas do regime hdrico e a invaso de suas margens por atividades

antrpicas (SUZUKI et al. 2005).

A maior ameaa sobre as restingas a presena e construo de edificaes ou loteamentos,

ameaando cada vez mais biodiversidade nesses ecossistemas (MACIEL, 1984). Tal negligncia

compactua para uma srie de modificaes muitas vezes irreversveis e difceis de gerenciar.

Alm desses eventos de ocupao sobre sua faixa marginal de proteo, o corpo hdrico ainda

passa pelo processo de abertura artificial de sua barra, alterando diretamente seus processos e

aspectos fsico-qumicos de seu habitat, afetando sua diversidade de espcies (ESTEVES, 1998),

esses processos podem ser explicados devido a trs fatores principais: diminuio da rea

inundada, favorecida pela ocupao de construes ou reas produtivas irregulares, para a

renovao das guas poludas da lagoa e melhora em seu aspecto visual, e para a renovao dos

estoques pesqueiros (SUZUKI et al. 1998). Essas aberturas de barra provocam drsticas mudanas

no ecossistema: nvel hidrolgico, biolgico e qumico, no entanto, o sistema tende a voltar

rapidamente as condies anteriores, dentro de poucas semanas, aps exposies a tais eventos

(SUZUKI, 1997).

A lagoa no possui uma produtividade pesqueira alta, no havendo uma comunidade que

dependa exclusiva e unicamente da mesma para subsistncia ou sobrevivncia, porm a pesca

artesanal importante na complementao nutricional das famlias ribeirinhas de baixa renda

(SUZUKI et al. 1998).

Diante de todos os dados e importncia para a regio, a lagoa em questo desempenha no s

uma importncia paisagstica num contexto turstico para a regio norte fluminense, seu papel,

entretanto mapeia uma histria cultural rica, e por isso a tm tentando explicar atravs de suas

modificaes fenotpicas que o desenvolvimento trouxe muito mais que do que ela conseguiu

depurar, no devido a sua limitao fsica, pois todo e qualquer ambiente possui esse potencial a

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seu favor, mais o que verdadeiramente interfere nesse processo o tempo de resilincia no

compreendido ou respeitado.

Processo Histrico e Ocupao da Lagoa

No h como entender o presente sem interpretar seu passado, e nesse sentido traar uma

linha cronolgica para entendimento de um evento atual nem sempre fcil, devido a uma srie de

barreiras encontradas na tentativa de tais levantamentos, tais como ausncia de dados

bibliogrficos ou registros de fatos marcantes a nvel textual e fotogrfico, ausncia de pesquisas

numa dada poca e carncia de inovao tecnolgica exposta no processo de pesquisa

impossibilitando dados precisos. Porm de suma importncia compreender um processo

histrico, pois ele revela muito mais do que uma amostragem ou direcionamento de solues, ele

permite enquadrar corretamente os problemas atuais, torna explicativo um fato e evita a

reincidncia de um futuro to alterado, ao se aprender com os resultados negativos presentes.

Grussai o terceiro distrito do Municpio de So Joo da Barra, e seu nome de

origem tupi significa "rio dos caranguejos" pela juno de garus (caranguejo) e 'y (rio). A partir

da dcada de 50 iniciou-se a urbanizao do seu Distrito, e com relao ocupao de sua Lagoa

no foi diferente. Atualmente, essa ocupao ao norte prxima ao mar apresenta por volta de 30%

de sua rea, e desde ento vm acontecendo de forma desordenada e especulativa, diminuindo

assim a rea alagvel da lagoa, que, em perodos de grande pluviosidade, atinge as casas

ribeirinhas. No passado, havia, ao redor da lagoa, uma aldeia de nativos, onde se misturavam

pessoas de origem cabocla com alguns estrangeiros que possivelmente naufragaram na regio, o

que explicaria o fato de muitos habitantes locais manterem ainda hoje caractersticas fenotpicas

tais como olhos azuis muito claros. Viviam da pesca, de plantaes e da criao de animais. No

final do sculo XIX, aquelas terras foram adquiridas por Manuel Joaquim da Silva Pinto, casado

com Branca Saturnino Braga e filho do Baro de So Fidlis, que construiu as duas primeiras

casas de veraneio da regio (NAVARRO, 2005). A sua poro leste, foi colonizada

posteriormente, j que no essa regio no havia sido explorada desde ento, era um local de mata

densa e quase no era frequentada devido dificuldade de acesso, j que a travessia tinha que ser

feita com canoas ou dando a volta na barra. Os dois primeiros moradores do outro lado da lagoa

foram Joo Florncio da Silva e Manoel Magalhes, esses primeiros habitantes fizeram com que

ao longo do tempo mais pessoas se interessassem por essa regio, logo aps uma ponte foi

construda para facilitar o acesso regio, mais de fato a concretizao dessa fase de ocupao s

ocorreu quando o ex-tcnico da seleo brasileira de futebol Tel Santana esteve visitando

Grussai, e se resolveu investir na rea e criou o Loteamento Tel Santana, a partir da os veranistas

comearam a se interessar pelo lado leste da lagoa que atualmente se chama Bairro Nossa Senhora

Aparecida (SO JOO DA BARRA ON LINE, 2012).

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A atividade pesqueira antiga (Figura 2), j que segundo Martins (1868) no incio do

sculo XVIII, um 3ato de vereana proibiu a pesca na lagoa de Grussai, quando a barra estivesse

aberta, veto extensivo aos habitantes de Campos. Por dcadas, a Lagoa foi considerada pelos

primeiros habitantes um ambiente onde tiravam seu sustento, pois a maioria de sua populao

eram de pescadores. Conforme relatado por um pescador a um jornal local digital h dois anos:

Grande parte do que hoje rea habitada, antes era

somente a lagoa. Tinha muito peixe aqui, mais de 20

anos pra c, acabou. A lagoa no tm fundo para dar

peixe, est sem gua. Vim pra c com quatro anos,

no tinha casa alguma aqui na beira da lagoa, meu

pai fez uma casa de palha. Moro aqui h noventa

anos. Aqui havia muito mangue, pitangueiras,

macegas, no tinha proprietrios de terra; as pessoas

iam chegando e apanhando as terras que queriam.

Fonte: Entrevista ao So Joo da Barra online, 2012.

Figura 2 Atividade Pesqueira na Lagoa de Grussai no sc. XIX

Fonte: So Joo da Barra online, 2012.

Legislaes Aplicveis ao Sistema Lagunar

Estabelecer um limite tolervel ou suportvel para ecossistemas sem comprometer as geraes

futuras com o atual desenvolvimento tm se tornado um desafio no sc XXI. O trip da

sustentabilidade explica em sua teoria algo mensurvel e eficaz, capaz de equilibrar um

3ato de vereana significa exercer a funo ou cargo de vereador.

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crescimento econmico e um progresso social necessrio aliado a uma preservao ambiental, e

nesse julgamento as legislaes e regulamentaes desde a Constituio de 1988 tm sido

consideradas uma ferramenta bastante eficaz, no sentido de promover um alicerce compulsrio e

tendencioso de impor presso vinculando o no atendimento a multas e reparao ambientais.

O Plano Diretor uma lei municipal que possui trs principais objetivos, tais como planejar,

organizar e definir a atuao do poder pblico estabelecendo diretrizes e instrumentos para o

desenvolvimento sustentvel no funcionamento de um municpio, tanto no presente quanto com

relao a futuras aes, contando com a participao de toda a sociedade, e se comprometendo em

atender os seus anseios. O municpio de So Joo da Barra a partir das determinaes contidas no

Estatuto da Cidade (Lei 10.250 de 2001) lanou em maio de 2006 a Lei Municipal n 50/2006 - o

seu Plano Diretor Participativo.

Esse Plano Diretor possui 12 captulos e 79 artigos e um dos seus ttulos III est voltado

especificamente para a Poltica Urbana e Meio Ambiente produzindo assim as suas diretrizes

gerais, sendo destacado e recortado o art.26 e suas proeminncias, j que determina:

I - o desenvolvimento sustentvel do Municpio, compreendendo a garantia do direito moradia,

ao saneamento ambiental, infraestrutura urbana, ao transporte coletivo de passageiros e aos

servios pblicos, ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras geraes;

II - ordenao e controle do uso do solo de modo a evitar:

g) a deteriorao das reas urbanizadas, a poluio e a degradao ambiental;

III - a qualidade de vida e da dignidade da pessoa humana;

VII - a adoo de novas solues urbansticas que propiciem o desenvolvimento sustentvel e

compartilhado entre os interessados no processo de urbanizao;

Viabilizar as iniciativas listadas acima favoreceria para a sociedade um sentindo de

equidade ambiental e social, porm nesse contexto cabe ressaltar que grande parte das

legislaes sejam elas municipais, estaduais, ou federais promove em sua redao um contexto

algumas vezes um contexto figurado, e sua efetiva aplicao necessariamente tende a ficar em

segundo plano, em prol de um desenvolvimento cada vez mais acelerado, enfraquecendo muitas

vezes um instrumento to expressivo e agregador.

Segundo o Plano Diretor sanjoanense (Figura 3), o direito de construir se aplica

exclusivamente na macrozona de uso misto e nos eixos urbanos, onde o coeficiente de

aproveitamento mximo no poder ser superior a 6,0 (seis), e respeitar o coeficiente de

aproveitamento mximo definido, considerando a proporcionalidade entre a infraestrutura

existente e o aumento de densidade esperado em cada rea. Sendo assim a Lagoa de Grussai em

sua rea prxima a barra, no poderia receber construes, j que integra o eixo urbano, e

consequentemente compromete desde ento seus processos fsicos, biolgicos e qumicos. A

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ocupao de seu entorno implica em uma srie de fatores que consolidam os grandes impactos que

esse corpo lagunar vem sofrendo ao longo de todas essas dcadas.

Figura 3 Plano Diretor do Municpio de So Joo da Barra

Fonte: http://www.sjb.rj.gov.br/plano-diretor

14

Outra ferramenta de efetiva aplicao o Zoneamento urbano (Figura 4), que permite

fragmentar um determinado municpio de acordo com suas particularidades fsicas e estruturais,

aproveitando e potencializando o que cada zona possui de melhor.

Em sua Poltica de Habitao e, advertida em seu captulo IV, alm de promover e assegurar a

todos o direito a moradia, visa tambm reduo do dficit quantitativo e qualitativo de moradias,

em especial para os segmentos populacionais socialmente vulnerveis, assim sendo, essa

determinao atenderia perfeitamente ao significado da rea onde a Lagoa de Grussai est

localizada, j que prxima a ela existe reas que incorporam o art. 19, sendo constitudas de aes

estruturantes da poltica de habitao e, nomeadas de ZEIS Zonas Especiais de Interesse Social,

com a adoo de parmetros diferenciados para parcelamento do solo, regularizao fundiria em

bairros com populao de baixa renda e financiamento de moradias para populaes de baixa

renda. Em toda a sua extenso lagunar suas zonas so classificadas, da seguinte forma, mais

prxima a barra classificada como Zona Comercial 3, seguindo posteriormente a Zona Especial

(ZE), em seu entorno tambm pontuada a Zona Mista 1 (ZM1) e por ltimo a Zona de Interesse

Ambiental (ZIA), sendo conceituada de acordo com o pargrafo 8, seja em rea urbana ou rea

rural, so diretrizes para as polticas de preservao ambiental no territrio do Municpio, com

vistas criao de corredores ecolgicos e de conjuntos de especial interesse ambiental.

Figura 4 Zoneamento Urbano do Municpio de So Joo da Barra

Fonte: www.sjb.rj.gov.br/downloads/plano_diretor/LUOS_anexoI_zoneamento.pdf, destaque da autora para a

respectiva Lagoa.

De acordo com o Art. 37, caber legislao de zoneamento, observadas as diretrizes do Plano

Diretor, dividir as 4Macrozonas referidas no art. 36 em zonas especficas, definindo todos os

ndices urbansticos e edilcios aplicveis, inclusive o coeficiente de aproveitamento, taxas de

4 Traduz-se na conformao de diversas parcelas de territrio destinadas funcionalmente e racionalmente a

determinadas ocupaes.

http://www.sjb.rj.gov.br/downloads/plano_diretor/LUOS_anexoI_zoneamento.pdf

15

ocupao e permeabilidade, gabarito, recuos e nmero de vagas de estacionamento. E sendo assim

consta em seu Art.36, que o territrio municipal foi dividido tambm em Macrozonas (Figura 5), e

as mesmas foram definidas a partir da avaliao de fatores espaciais, econmicos, sociais,

ambientais e de infraestrutura urbana, bem como em funo dos novos vetores de

desenvolvimento do municpio, sendo divididas em rea Urbana e Rural.

A rea Urbana constituda pelas

a) Macrozona Mista, compreendendo os usos residencial, comercial e servios;

b) Macrozona Especial;

c) Macrozona de Desenvolvimento Econmico;

d) Macrozona de Servios;

e) Eixo Urbano 1;

f) Eixo Urbano 2;

g) Eixo de Servios 1;

h) Eixo de Servios 2;

i) Eixo Rural;

j) Setor Especial do Distrito Industrial de So Joo da Barra, compreendendo os usos industrial,

comercial e de servios, inclusive off-shore e porturios; e

k) Setor Especial do Porto do Au, compreendendo os usos industrial, comercial e servios,

inclusive off-shore e porturios;

l) Setor Especial de Interesse Porturio, tambm denominado rea Especial de Interesse Porturio,

compreendendo os usos industrial, comercial e servios, inclusive off-shore e porturios.

E na sua rea Rural, os eixos so definidos ao longo de vias e outras diretrizes lineares,

conforme delimitao do plano diretor e da lei de zoneamento.

Figura 5 Macrozoneamento Municipal de So Joo da Barra

Fonte:www.sjb.rj.gov.br/downloads/plano_diretor/PDM_anexoI_macrozoneament.pdf, destaque da autora para a

respectiva Lagoa.

Sendo classificada tambm, uma parte de seu entorno como uma Macrozona de Uso Misto e

Setor de Interesse Ambiental, a Lagoa em questo possui um fator favorvel no sentido de

preservar seus aspectos ambientais, porm este se estende apenas a uma parte de sua rea total, e

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contraditria a esta se estende a uma zona permitida para construo e habitao, travando uma

srie de distrbios causados pela ao antrpica, devido ao aporte excessivo de nutrientes,

resultado do despejo de guas servidas, sejam elas de origem domstica, industrial ou

agropecuria, modificando a dinmica lagunar que at mesmo a prpria rea de preservao

ambiental estabeleceu em sua fisiologia ecossistmica e paisagstica. Para isso, a poltica de

saneamento tambm descrita no Plano Diretor, atribuda ao captulo II, tem por objetivo

universalizar o acesso aos servios de saneamento bsico, mediante aes articuladas em sade

pblica, desenvolvimento urbano e meio ambiente, viabilizando e fomentando a implantao de

sistemas alternativos de esgotamento onde no seja possvel instalar rede pblica de captao de

efluentes, alm da execuo de programa de monitoramento da balneabilidade nas praias, lagoas e

demais recursos hdricos do Municpio, de forma a evitar danos sade pblica. Diante de tal

proposta em sua prtica ainda no tem se observado nenhuma interveno mais invasiva nesse

sistema lagunar, j que na dcada passada inclusive foi palco um grande acordo firmado com entre

o Ministrio Publico do Estado do Rio de Janeiro e o Municpio de So Joo da Barra.

De acordo com a resoluo Conama 357/2005, que dispe sobre a classificao dos corpos de

gua e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, a Lagoa de Grussai se enquadra no padro

para gua salobra de classe I, e sendo assim no preserva sua caracterstica inicial de gua doce,

devido em seu passado acontecer alguns eventos de abertura de barra e tambm sofrer

interferncia salina devido a est prxima ao oceano. Essas constantes aberturas de barra resultou

no final de 1999 a instaurao de um inqurito civil n 131/MP/99 SB, onde foram firmados

alguns compromissos, resultado de uma reunio que aconteceu entre representantes dos mais

diversos rgos FEEMA, IBAMA, SERLA, UFF, CNFCN, Corpo de Bombeiros, Ministrio

Pblico e o presente Municpio de So Joo da Barra. Os compromissos firmados foram:

Ficar a cargo da SERLA, FEEMA e IBAMA a elaborao de questionrio socioeconmico para

levantamento dos proprietrios de construes na faixa marginal de proteo da Lagoa de Grussai

sendo concedido o prazo de (07) dias para tanto;

Caber ao Municpio de So Joo da Barra viabilizar, com o auxlio de outras instituies locais,

equipe de pessoas para fazer o levantamento de dados acerca de construes no entorno da Lagoa

de Grussai;

Fica designado o dia 07 de dezembro de 1990, s 08:00 h, na Secretaria de Meio Ambiente de So

Joo da Barra, reunio com a equipe de levantamento de dados, onde sero prestados os

esclarecimentos necessrios sobre os objetivos a serem alcanados;

Ser intensificada a fiscalizao por parte do Municpio de So Joo da Barra e demais rgos

ambientais no sentido de coibir novas construes no entorno da Lagoa de Grussai, obstando-se,

por igual, a ampliao de construes antigas;

17

O Municpio de So Joo da Barra se compromete a fazer um levantamento dos pontos de

lanamento de esgoto na Lagoa de Grussai;

O Municpio de So Joo da Barra se compromete a apresentar o resultado final do cadastramento

das construes na faixa marginal da Lagoa de Grussai;

Para a ltima ao foi estabelecida uma data limite de 25 de janeiro de 2000, onde mediante a uma

reunio foi mencionada contando com a participao da comunidade de moradores locais para

avaliao dos dados e definio das aes para recuperao da Lagoa. Na prtica o que foi

estabelecido resultou em um levantamento quantitativo das construes na faixa marginal da

Lagoa atravs de um cadastramento das famlias que ocupavam tal rea, porm sem muito xito,

j que a regio possui um perfil de habitao sazonal, e muitas casas somente eram ocupadas no

perodo do vero, inviabilizando o cadastramento efetivo do quantitativo total e consequente

ausncia de fornecimento de dados.

Diante de tais acontecimentos mal sucedidos, ocorreu que no incio do sc XXI, no dia 25 de

abril de 2000,o Ministrio Pblico do Estado do Rio de Janeiro novamente entrasse em ao

firmando com o respectivo municpio um Termo de Ajuste de Conduta, denominado de TAC,

ratificando novamente a ocupao irregular da faixa marginal da Lagoa como degradadora do

respectivo corpo hdrico, e incorporando novas aes, considerando que de responsabilidade do

municpio quanto a fiscalizao de construes ilegais em rea de preservao permanente, tendo

assim uma abrangncia para as demais reas, no somente a Lagoa, considerando tambm que

interesse da comunidade de So Joo da Barra o desenvolvimento urbano ordenado e em harmonia

com o meio ambiente, e no se se eximindo de seu comprometimento principalmente que dever

constitucional do Ministrio Pblico do Estado do Rio de Janeiro zelar pela preservao do meio

ambiente. Nesse documento o municpio reconheceu seu dever como principal agente fiscalizador

e a obstar qualquer que fosse a construo nova ou antiga, e to pouco a expedio de Alvars,

amarrado a cada clausula ou compromisso firmado uma multa caso acontecesse alguma violao.

Foram considerados compromissos alm dos j descritos acima, o cadastramento de todas as

construes existentes na faixa marginal da Lagoa num prazo mximo de 90 dias, exigindo nesse

cadastramento uma serie de apontamentos, e tambm a elaborao e prtica de projetos ambientais

com a populao no entorno da Lagoa, estabelecendo tambm uma serie de exigncias para

cumprimento de tal ao (MPERJ, 2000).

Mesmo sabendo que o MPERJ poderia fiscalizar a execuo do presente acordo, no houve

alterao do ento cenrio, j que esse termo no foi cumprido em sua ntegra, e o prazo para tal

cumprimento expirou (IBAMA, 2000). At agora, no temos notcia do cumprimento do TAC

feito em 2000, entretanto o prazo de cumprirem j expirou (BRANCO, 2008).

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Elementos Potencialmente Poluidores presentes na Lagoa

Segundo Beck (2002), o paradigma da sociedade de risco, est em encontrar um modo de

evitar, minimizar, canalizar os riscos e perigos que so produzidos na sistemtica e no processo

avanado de modernizao, de maneira que no ultrapassem os limites do suportvel. O conceito

de racionalidade ambiental se torna injusto quando sugam os recursos naturais como se fossem

infinitos, acontecendo situaes onde a humanidade sofrer os efeitos negativos da

superexplorao de seus recursos naturais.

Nessa definio so contabilizados riscos ao longo da histria, onde o principal integrante a

ser penalizado o prprio ser humano. Um exemplo disso a ocupao de reas imprprias,

locais que deveriam ser considerados como reas de preservao ambiental devido importncia

ecolgica e equilbrio do ecossistema, porm no so respeitados devido a alguns motivos, quer

econmicos, territoriais ou at mesmo pelo descontrole e falta de planejamento urbano.

Ao longo dos anos, a ocupao humana no meio ambiente num contexto geral vem

acontecendo de maneira acelerada e por tal motivo grande parte dela ocorre de forma desordenada,

compulsiva e irracional. As zonas costeiras e regies prximas recursos de gua doce so lugares

estratgicos dessa m ocupao, devido a se localizarem em um ambiente de transio entre o

ecossistema terrestre e o marinho. O manejo correto e a preservao desses ecossistemas ficam

comprometidos muitas vezes devido diminuio da rea alagvel atravs da construo de

benfeitorias sobre aterros, dragagem e/ou assoreamento dos leitos das lagunas, para explorao

mineradora, despejo de esgotos domsticos e industriais no tratados diretamente em suas guas, e

tambm no caso de sistemas isolados do mar, as aberturas de barra de areia que os separam do

mar, alm de serem tambm considerados um local para descarte de resduos slidos (SUZUKI,

1997).

Estes impactos transformam a hidrodinmica e a ciclagem interna de nutrientes, reduz o

nmero de hbitats litorais, podendo resultar em uma diminuio da biodiversidade e acelerao

do processo de colmatao da lagoa. As aes descritas podem ter como consequncia o

comprometimento de seu uso mltiplo, pois a capacidade de acumular nutrientes potencializa o

processo de eutrofizao, alm de propiciar o acmulo de elementos txicos (KJERFVE et al.,

1990; KNOPPERS et al., 1990).

A lagoa de Grussai uma tpica lagoa costeira isolada da regio Norte Fluminense, apresenta

aproximadamente 30% de sua rea localizada na zona urbana do distrito de Grussai (poro

Norte), e por tal localizao submetida a uma urbanizao desordenada em suas margens

(FIGURA 6) em sua faixa marginal de proteo. Nesta poro, recebe durante todo ano uma

carga de esgotos domsticos no tratados. Este aporte, que vem crescendo nas ltimas dcadas,

agora tambm tender a aumentar no somente no vero, j que haver um aumento da populao

na regio devido chegada de trabalhadores do porto e suas famlias, modificando as condies

19

naturais da lagoa, que por vezes culminam num grande desenvolvimento de algas que alteram

drasticamente a colorao e causam mal odor gua.

Figura 6 Adensamento urbano no entorno da Lagoa de Grussai

Fonte: Blog do Roberto Moraes, 2013.

Segundo Suzuki (1997) dentre os inmeros impactos causados pela ao antrpica nesses

ambientes, o aporte excessivo de nutrientes, resultado do despejo de esgotos domsticos,

industriais e agropecurios, pode ser apontado como o fator modificador mais importante da

dinmica lagunar natural.

O esgoto composto basicamente por matria orgnica, nutrientes como fosfatos inorgnicos

presentes na composio de detergentes, nitrognio (na forma de nitrognio orgnico e amnia),

microrganismos, slidos em suspenso e leos (SPERLING, 2005). O aumento da concentrao

de nutrientes (compostos ricos em nitrognio e fsforo) pode causar um processo conhecido como

eutrofizao artificial dos ecossistemas aquticos, processo esse j estabelecido na presente Lagoa

(SUZUKI, 1997). Braga et al. (2005) definem eutrofizao como o "enriquecimento das guas

com os nutrientes necessrios ao crescimento da vida vegetal aqutica".

Segundo De Lima et al. (2014) esse processo acontece com a entrada de nutrientes na coluna

d'gua, aumentando a concentrao desses elementos e propiciando o crescimento de macrfitas

aquticas. Esses vegetais superiores se alimentam de nutrientes presentes no ambiente e se

colonizam a superfcie da lmina dgua diminuindo a entrada de luz, fator indispensvel para

ocorrer fotossntese. Logo, a produo de oxignio tambm diminui e os organismos mais

sensveis a essa mudana morrem. A demanda bioqumica de oxignio (DBO) aumenta ela

necessria para que os organismos realizem os processos de decomposio da matria orgnica ,

intensificando o consumo do oxignio restante.

20

Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Servios Pblicos do Municpio de So

Joo da Barra (2014), s h rede coletora de esgoto no primeiro distrito, porm tambm no ocorre

em sua totalidade, chegando a corresponder a 70% de atendimento ao distrito e nos demais

distritos incluindo o de Grussai, no h atendimento de rede coletora de esgoto, sendo

administrado o esgotamento via sistema de fossa sptica, a mesma informou que h um projeto

para a instalao de uma rede de tratamento de esgoto na rea, e que aguarda apenas recursos

federais para execuo do mesmo. Segundo o SNIS (2012), o municpio possui 3.447 habitantes

com atendimento a esgotamento sanitrio, em contrapartida possui uma populao total de 33.951

habitantes (IBGE, 2013), com relao a ligaes ativas de esgoto possui 1.095, e um volume

coletado de esgoto de 263.000 m3/ano, sendo que esse esgoto no possui nenhum tratamento antes

de seu descarte.

Alm do despejo de esgotos, suas margens apresentam assoreadas e/ou aterradas, diminuindo

a proporo de reas alagveis no sistema. Em ambas as margens, a vegetao nativa foi

suprimida primeiro pela agricultura causando interferncias em seu sistema pelo aporte de

fertilizantes qumicos e agrotxicos carreados para sua bacia, causando tambm sua

contaminao, e depois o restante de sua bacia de drenagem ocupado por pastagens e por uma

mata de restinga em sua margem esquerda. Esta mata de restinga separa as pores centrais das

lagoas de Grussai e Iquipari. A margem direita da lagoa foi tornada acessvel a veculos por uma

ponte e a pedestres por uma passarela. Saturada a margem esquerda pelo adensamento urbano, a

margem direita foi invadida, a vegetao nativa suprimida e um novo bairro erigido.

Sua barra passa por um acelerado processo de urbanizao, com casas de classe mdia a

envolv-la de tal forma que no se pode mais avistar seu espelho em vrios pontos (SUZUKI et al.

2005). Este processo est subindo as margens da lagoa e somando um novo problema: a poluio

causada por resduos slidos (FIGURA 7).

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Figura 7 Poluio por Resduos Slidos em suas margens - Lagoa de Grussai

Fonte: Arquivo Pessoal, 2014.

Apesar da capacidade de autodepurao que os ecossistemas possuem o grande adensamento

urbano em suas margens, o lanamento de esgoto in natura e a contaminao do lenol fretico

pelas fossas, junto com o despejo de resduos slidos, inibem os mecanismos de recuperao do

ecossistema, j que no respeitado o seu tempo de resilincia, um desses eventos foi uma crise

distrfica ocorrida em outubro de 1995 (SUZUKI, ibidem). Segundo Corra et al. (2013) na lagoa

de Grussai o aporte de esgoto domstico sem nenhum tipo de tratamento prvio tanto prximo a

foz como em todo o seu entorno pode explicar os altos valores de Na+ (1988,26 mg.L-1), Ca+2

(134,99 mg.L-1) e Mg+2 (167,91 mg.L-1), assim como a concentrao de coliformes

termotolerantes amostrados em todos os pontos que foram coletados ultrapassando os valores

mximos para guas salobras de classe I estabelecidos pela Resoluo CONAMA 357.

Na parte mais habitada esse processo intensificado no vero janeiro e fevereiro , o afluxo

de turistas proprietrios e locatrios das habitaes aumenta a produo de resduos slidos e de

esgoto lanados no interior do sistema. Como estes meses coincidem com a estao das chuvas, as

guas da lagoa se avolumam e, pelo efeito de vasos comunicantes, as fossas transbordam. Os

veranistas, ento, exercem presso sobre a prefeitura para que ela abra a barra da lagoa a fim de

que as guas poludas no apenas escoem para o mar, como tambm o lenol fretico seja

rebaixado de modo que as fossas retornem a nveis tolerveis, vale ressaltar que as aberturas de

barra tambm acontecem sem a autorizao da prefeitura. Nos momentos de abertura, costuma

ocorrer a captura predatria de peixes e crustceos que tentam entrar no sistema (SUZUKI et al.

2005).

Embora tais perturbaes antrpicas sejam severas para detrimento desse ecossistema lagunar,

ele no um caso isolado, j que semelhante a este se encontra a Lagoa de Imboassica, situada no

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municpio de Maca tambm no norte do estado do Rio de Janeiro, a mesma vm enfrentando

tambm um aporte de rejeitos orgnicos e inorgnicos provenientes da instalao de diversas

empresas e residncias no entorno, comprometendo suas interaes ecolgicas, e impactando

diretamente em seus organismos residentes, tambm sofre um processo de assoreamento, e

eutrofizao de suas guas (ESTEVES, 1998). Segundo Silva et al. (2007) os nveis de coliforme

tolerantes foram elevados em todos os pontos amostrados 4 pontos corroborando o grande aporte

de matria orgnica que ocorre neste ecossistema, j os nveis dos coliformes termotolerantes

foram diferenciados nos pontos amostrados, indicando uma heterogeneidade espacial

intralagunar. Segundo Coimbra et al. (2013) o aporte de compostos qumicos exgenos

provenientes de atividades antrpicas, podem estar associados inibio de presente de enzimas

cerebrais Acetilcolinesterase 5AchE em espcies de peixes daquele ecossistema.

RRPN CARUARA e CLIPA

Muitos foram s tentativas para que tal sistema lagunar, fosse preservado seja em sua

totalidade, ou parte de seus processos, porm tal ao s tem sido real aps um empreendimento

ter aportado no municpio de So Joo da Barra. O governo do Estado do Rio de Janeiro criou,

atravs da CODIN (Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro), o

DISJB (Distrito Industrial de So Joo da Barra), prximo a Zona Industrial do Porto do Au;

juntos, formam o CLIPA (Complexo Logstico e Industrial do Porto do Au). O assim nomeado -

CLIPA, possui caractersticas de um novo tipo de porto, denominado MIDAs (Maritme Industrial

DevelopmentAreas), possuindo rea retroporturia para instalao industrial, permitindo a

estocagem em containers que facilitar logisticamente o escoamento de insumos e da produo

(QUINTO Jr; IWAKAMI, 2009). E como todo grande empreendimento sua implantao tende a

causar tanto impactos positivos quanto negativos no entorno da regio citar principalmente a

sobrecarga na infraestrutura urbana regional devido ao crescimento populacional acelerado, e a

supresso de ecossistemas.

Como forma de mitigao por tais interferncias negativas nesses ecossistemas no entorno,

foi reconhecida a Reserva Particular do Patrimnio Natural - RPPN Caruara pela PORTARIA

INEA/RJ/PRES N 357 em 19 de julho de 2012, com rea de 3.845,80 hectares (INEA, 2012)

engloba um dos principais remanescentes de restinga preservados do Norte do Estado do Rio de

Janeiro, abrangendo as Lagoas de Grussai, Iquipari, e a Praia do Au. Ganhadora de dois grandes

prmios nacionais de sustentabilidade: o Benchmarking Brasil e o Prmio Firjan de Ao

Ambiental, na RPPN Caruara sero desenvolvidos trabalhos de recomposio vegetal e

5 A Acetilcolinesterase uma enzima que responsvel pela hidrlise da acetilcolina (um ster neurotransmissor),

tendo como produto o acetato e colina, com liberao de um prton (VIANA, 2005; ROMANI et al., 2003). A

principal funo da AChE a hidrlise da acetilcolina (ACh), o mediador das sinapses colinrgicas no sistema

nervoso, prevenindo contnuas passagens de impulsos, o que vital para um normal funcionamento do sistema

sensorial e neuromuscular (STENESH, 1998).

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enriquecimento de espcies pertencentes a tal restinga, com previso de plantio de mais de 10

milhes de mudas. Segundo o Plano Diretor exposto acima a RPPN Caruara est situada na Zona

Especial de Interesse para o Desenvolvimento Sustentvel (Restinga Lagunar IquipariGrussai),

porm tal preservao de sua restinga aplicada a lagoa de Grussai no se estender em sua

totalidade como demonstrado tambm no Plano Diretor, j que seus limites estabelecidos esto em

cima da lagoa e a parcela de restinga abrangente e que tende a ser preservada zona oeste

(FIGURA 8), diante de tal exposio vale ressaltar tambm que essa preservao no se estender

seus aspectos hidrolgicos, sendo ento pontuada como uma preservao indireta de suas

condies ecossistmicas.

FIGURA 8 Limites da RPPN Caruara

Fonte: INEA, 2012, destaque do autor para a respectiva Lagoa.

MATERIAIS E MTODOS

Esse trabalho baseado em uma anlise quali e quanti a partir de pesquisa bibliogrfica e

documental, somada a um estudo de caso baseado em imagens de satlite e aerofotografias da

Lagoa de Grussai de forma a identificar as principais alteraes antrpicas ocorridas ao longo da

ocupao urbana no entorno do corpo hdrico. O mtodo misto inclui ainda idas ao campo para

avalio do objeto de estudo e tambm para uma anlise do problema em discusso.

CONCLUSES

Esse trabalho, utilizando a temtica de histrico de ocupao e avaliao da carga poluidora

da lagoa de Grussai j possvel perceber a real interferncia antrpica sofrida pela lagoa, j que

ao longo de seu histrico de ocupao e desde ento vm sido pontuado inmeras interferncias,

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seja em seu solo, vegetao, e principalmente em seu regime hidrolgico, porm vale ressaltar

que a principal agresso estabelecida e no meramente isolada a contaminao por esgoto

domstico sem tratamento prvio e sem respeitar a capacidade de autodepurao desse

ecossistema lagunar, criando um ambiente eutrofizado, comprometendo assim o seu

funcionamento natural e ecossistmico.

Nesse sentido, se torna necessrio investigar remediaes em trabalhos futuros para que tal

condies sejam minimizadas ou mitigadas, a fim de no se acelerem ainda mais o quadro de

degradao desse ecossistema costeiro, bem como possibilitando que futuras interferncias sejam

tomadas com respaldo para que de fato seja benfica e que traga a melhoria real de suas

condies ambientais. Logo, tambm importante estabelecer monitoramentos ambientais em

que demandam incluir no somente as reas mais utilizadas pela populao, mas tambm as

demais reas que abrangem o ecossistema aqutico e, principalmente, aquelas sujeitas ao

lanamento de esgoto. Juntamente com isso, se torna relevante incluir nesse debate que os rgos

competentes busquem incluir em sua gesto de projetos uma melhora de condies sanitrias

para a regio, j que uma realocao de famlias desse ambiente demandaria um maior esforo,

para que assim possa esse ambiente possa ser sustentado, no s pela utilidade que traz

juntamente com seu patrimnio histrico, mais que no seja um somatrio de agresses, at

mesmo pela real existncia de um Complexo Logstico e Industrial, como o caso do CLIPA.

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