*letras taquarenses nº 53 * antonio cabral filho - rj

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ACADEMIA CELESTIAL DA TROVA E agora no final Este quesito me enleia: Quem terá sido, afinal, O garçon da Santa Ceia? Eno Teodoro Wanke RJ Uma jovem, na janela, Deixando o tempo passar, Canta uma canção singela. Cantando... só por cantar. Pedro Giusti RJ Ser eterno ele queria, Sem ater-se ao principal... Todo artista morre um dia, Só a arte é imortal. Fernando Vasconcelos PR Quando a saudade chegar, Não ponhas as mãos no peito. A vida é para se amar, Sem mágoa, ódio ou desgosto. Osael de Carvalho RJ Por vezes, na revisão, Dá um branco no revisor E o texto sai com senão: “Errar é humano”, leitor. Sinésio Cabral - CE HAICAIS Tão plascidamente O sete de abril revela A nova manhã. Eliana Ruiz Jimenez SC Folha caída No quintal do casarão: Bilhete da vida. Olivaldo Junior SP Só eu e o salgueiro Que procuram nossos olhos Sempre para o chão? Neide Rocha Portugal PR Conta mil façanhas Para a amada impressionar: Fogo que não queima. João Batista Serra-Ce No meio da noite, Um súbito despertar: Pernilongos a postos. Renata Paccola SP Muita ventania Nas avenidas e praças. - A tarde cai fria. Humberto Del Maestro ES À noite, na rua, Pelo caminho de sempre. Jasmineiro em flor. Manoel F. Menendez SP O silêncio divino Diviniza o sonho. Chega a ser enfadonho. Silvério da Costa SC Chove de mansinho Na manhã de primavera: Frio tropical. No baile das flores, Beija-flores fazem festa: Eis a primavera. Caminho do mar: A navalha no meu rosto, Corta que nem gelo. Trilha do mosteiro: O andarilho vai convicto, Busca paz de espírito. Antonio Cabral Filho - RJ TROVAS Sonho ainda ser criança, Neste instante matinal, Brincando com a esperança Nas sombras do meu quintal. Humberto Del Maestro ES Por mais que as regras morais Moldem o bom cidadão, Dia a dia os imorais Na vida melhor se dão. Jessé Nascimento RJ Vem chegando a primavera, Os jardins ficam floridos... Almas cheias de quimera E corações coloridos. Henny Kropf RJ Suscitando a inquietude De uma longa odisséia, A trova, mais que virtude, É gênese de uma idéia. Silvério da Costa SC Urubu sobre o telhado E voando abertamente Ficou muito bem olhado Pelo suspiro da gente. FranciscodeAssisNascimento Contemplando o próprio rosto, Sem saber do que é preciso, Sou “Narciso” e tenho o gosto Que provém do meu sorriso. Olivaldo Júnior - SP Sorte, aleatório caminho Que cada destino traça: Para alguns, tão forte vinho; A outros, vazia taça. Eliana Ruiz Jimenez - SC Camomila e poesia Mais o cobertor de orelhas Fazem a minha alegria Numa noite sem estrelas. & No Largo da Abolição Ouvi berimbau nos ares, Lembrei que a escravidão Fez do Brasil seu Palmares. Ano VIII nº53 Jan/Fev 2014 Distribuição Gratuita Editor:Antonio Cabral Filho Rua São Marcelo, 50/202 Curicica-Rio de Janeiro RJ Cep 22.780-300 Email: [email protected] http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br / http://letrastaquarenses.blogspot.com.br Filiado à FEBAC

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Page 1: *Letras Taquarenses Nº 53 * Antonio Cabral Filho - Rj

ACADEMIA CELESTIAL

DA TROVA

E agora no final

Este quesito me enleia:

Quem terá sido, afinal,

O garçon da Santa Ceia?

Eno Teodoro Wanke – RJ

Uma jovem, na janela,

Deixando o tempo passar,

Canta uma canção singela.

Cantando... só por cantar.

Pedro Giusti – RJ

Ser eterno ele queria,

Sem ater-se ao principal...

Todo artista morre um dia,

Só a arte é imortal.

Fernando Vasconcelos – PR

Quando a saudade chegar,

Não ponhas as mãos no peito.

A vida é para se amar,

Sem mágoa, ódio ou desgosto.

Osael de Carvalho – RJ

Por vezes, na revisão,

Dá um branco no revisor

E o texto sai com senão:

“Errar é humano”, leitor.

Sinésio Cabral - CE

HAICAIS

Tão plascidamente

O sete de abril revela

A nova manhã.

Eliana Ruiz Jimenez – SC

Folha caída

No quintal do casarão:

Bilhete da vida.

Olivaldo Junior – SP

Só eu e o salgueiro –

Que procuram nossos olhos

Sempre para o chão?

Neide Rocha Portugal – PR

Conta mil façanhas

Para a amada impressionar:

Fogo que não queima.

João Batista Serra-Ce

No meio da noite,

Um súbito despertar:

Pernilongos a postos.

Renata Paccola – SP

Muita ventania

Nas avenidas e praças.

- A tarde cai fria.

Humberto Del Maestro – ES

À noite, na rua,

Pelo caminho de sempre.

Jasmineiro em flor.

Manoel F. Menendez – SP

O silêncio divino

Diviniza o sonho.

Chega a ser enfadonho.

Silvério da Costa – SC

Chove de mansinho

Na manhã de primavera:

Frio tropical.

No baile das flores,

Beija-flores fazem festa:

Eis a primavera.

Caminho do mar:

A navalha no meu rosto,

Corta que nem gelo.

Trilha do mosteiro:

O andarilho vai convicto,

Busca paz de espírito.

Antonio Cabral Filho - RJ

TROVAS

Sonho ainda ser criança,

Neste instante matinal,

Brincando com a esperança

Nas sombras do meu quintal.

Humberto Del Maestro – ES

Por mais que as regras morais

Moldem o bom cidadão,

Dia a dia os imorais

Na vida melhor se dão.

Jessé Nascimento – RJ

Vem chegando a primavera,

Os jardins ficam floridos...

Almas cheias de quimera

E corações coloridos.

Henny Kropf – RJ

Suscitando a inquietude

De uma longa odisséia,

A trova, mais que virtude,

É gênese de uma idéia.

Silvério da Costa – SC

Urubu sobre o telhado

E voando abertamente

Ficou muito bem olhado

Pelo suspiro da gente.

FranciscodeAssisNascimento

Contemplando o próprio rosto,

Sem saber do que é preciso,

Sou “Narciso” e tenho o gosto

Que provém do meu sorriso.

Olivaldo Júnior - SP

Sorte, aleatório caminho

Que cada destino traça:

Para alguns, tão forte vinho;

A outros, vazia taça.

Eliana Ruiz Jimenez - SC

Camomila e poesia

Mais o cobertor de orelhas

Fazem a minha alegria

Numa noite sem estrelas.

&

No Largo da Abolição

Ouvi berimbau nos ares,

Lembrei que a escravidão

Fez do Brasil seu Palmares.

Ano VIII nº53 Jan/Fev 2014 Distribuição Gratuita Editor:Antonio Cabral Filho

Rua São Marcelo, 50/202 Curicica-Rio de Janeiro – RJ Cep 22.780-300 Email: [email protected]

http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br / http://letrastaquarenses.blogspot.com.br Filiado à FEBAC

Page 2: *Letras Taquarenses Nº 53 * Antonio Cabral Filho - Rj

Minha pedra, minha vida,

Diz o craqueiro a cantar,

Sem saber que aquela “vida”

Acaba de se queimar...

&

Amizade não tem preço

Nem é presente que enjeito,

É sempre mais que mereço

E guardo aqui bem no peito.

&

Eis que surge nova lei:

Rico gera violência,

Diz a filha do Sarney

Num acesso de demência.

Antonio Cabral Filho – RJ

Se existe coisa mais bela

Que o luar do eu sertão,

Deus então ficou com ela

E fim de papo, meu irmão.

Arlindo Nóbrega – SP

Grande mesmo é quem descobre

Que ser grande é ser alguém

Que abre espaço para o pobre

Tornar-se grande também.

A. A. de Assis - PR

Um instante pensamento

Quando você renasceu:

Floriu fértil sentimento

Que a todos fortaleceu.

Agostinho Rodrigues – RJ

Ao acordar, que beleza,

Ver sol bater na janela!

Parece que a natureza

Me chama de filho dela.

Murilo Teixeira – MG

A saudade de você

Dói demais – você nem sabe.

É duro ter que viver

Suportando esta saudade.

Araci Barreto da Costa – RJ

Para a vida ter valor

É preciso meditar,

Fazer o bem com amor

Deixar o mal se calar.

Ivone Vebber – RS

A trova, de qualquer jeito,

Chega forte e vai bem fundo:

Em seu contexto perfeito

Já percorre todo o mundo.

Diamantino Ferreira – RJ

Expresso com emoção

E com orgulho bendigo,

O que diz meu coração:

Como é bom ser teu amigo.

OEFE de Souza – SP

A trova, rica magia,

Da mais ampla distinção

Tem o toque da harmonia

E o bater do coração.

Vidal Idony Stockler – PR

Canta a poesia na janela

Do meu feliz coração

Tornando a vida tão bela

Como a luz de uma oração.

Ziney Santos Moreira – SP

Há um casal que sintetiza

Todo amor que o céu projeta:

- A minha alma de poetisa

E o teu coração de poeta...

Laura da Fonseca e Silva – RJ

Jamais deixe no caminho

A semente de um pecado,

Leve amor e muito carinho

Ao menor abandonado.

Antonio Fernando de Andrade

Nenhuma vida é pequena

Restrita em sua pequenez,

Ora... viver vale a pena,

Só se entra em cena uma vez.

Milton Dias Fernandes – MG

Lapidador de palavras

Sou poeta e trovador,

De versos eu tenho lavras

Num peito cheio de amor.

Miguel J. Malty – DF

COMO ( EU ) VIA

Aquela paisagem

Que eu via da janela

Era triste

Porque perdi meu irmão.

Aquela paisagem

Que eu via da janela

Não me comovia

Porque eu era só.

Essa paisagem

Que vejo da janela

É bela

Porque encontrei um amigo.

Renata Paccola – SP

POEMAS DO TOUCHÉ

Sei o que quero dizer

Mas não encontro palavras:

Inspirar-se é florescer.

&

Por entre rosas e primaveras

Desce a tarde púrpura:

Com poemas me esperas.

&

A claridade da manhã

Desenhava o horizonte:

Como um sorriso de mãe.

Antonio Luiz Lopes – SP

AUTOBRIOGRAFIA

A história quis fazer mártir

O amor me fez mulher

A poesia me levou além

Da história, do martírio.

Me afundou no vazio

Para poder criar

E recriar-me

Noutra forma de ser

Sendo sempre mulher.

Ilma fontes – SE

DAS CARÍCIAS

Minha mão percorre teu corpo

Como água seguindo o rio.

Encontrando emoções.

Encontrando sentimentos.

Walmor DS Colmenero – SP

Page 3: *Letras Taquarenses Nº 53 * Antonio Cabral Filho - Rj

MULHERES DO TALIBÃ

Anônimas, sem rosto,

Escondidas atrás de um muro

Que não é de concreto

Ou de pedra

Mas é tão sólido e forte

Como se fosse de matéria dura

E não fina, leve,fechada,escura.

Atrás desse muro

Existe alguém,

Embora não apareça.

Alguém que de tanto

Viver escondido

Perdeu a própria identidade.

Agora,sem rosto, sem nome,

Sem lágrimas,

Enfrenta um mundo

Que lhe é desconhecido.

Ela também é desconhecida,

Sem nome, sem

Rosto, sem sorrisos.

Vera Puget - RJ

OSÓRIO PEIXOTO SILVA

CHEGA AO CÉU

Depois que esse cara

Chegou por aqui

Combatendo a hipocrisia

Esse lugar virou uma zona

Ta pior do que o inferno!

Rogério Salgado – MG

CONVOCATÓRIA

Os jovens vão ao encontro

Na praça nacional para

Uma demonstração de protesto

Exigindo um fim à violência

Um pouco de justiça

Mais transparência no governo

E na política financeira,

A consigna é demandar

Respeito a seu direito

À escola e educação

Ao trabalho sustentável

E alimento para seus sonhos.

Os estudantes vão marchando

Com sua coragem

E suas esperanças,

Com o futuro

Em seu pensamento

Braço a braço com o povo

Até à vitória, sempre!

Terezinka Pereira - EUA

VERTENTE

Tente ver

A vertente verde.

Tente ser

Exemplar vertente.

Percorra

Caminhos da mente

Sem acidentes.

Renasça. Esqueça

O mal devastador,

Tente ver a vertente

Verde. Sorria.

Alcance a nascente,

Beba nas águas da fonte

Vida que ali se sente.

Eduardo Waack – SP

POEMAS

Apesar

De tantas mudanças

Montanhas

Arredondadas

Continuam circundando

Meu território

Assim me reconheço.

Djanira Pio - SP

QUEM?

Tudo é cru e tudo universo

Mais se renova do que perece?

Não o real o que enxergamos?

O mais está sempre mais longe?

Sinal mais longe, mais que o som,

Então: quem disse

De cada coisa

O verdadeiro nome?

Aricy Curvello - ES

EM BUSCA DAS BORBOLETAS

À Irmã Marina Lopes

Se preciso suportar larvas

Para conhecer as borboletas

Por que então, eu não as conheci?

As borboletas de Exupéry?

Eu as suportei dia a dia

Desde a primavera ao outono!

Hoje, o inverno vem chegando

As larvas continuam queimando.

Mas...dentro de mim há uma força

Que os olhos do mundo desconhecem

Que, mesmo as larvas me queimando

Vou as lindas borboletas esperando!

Espero!...Espero!...Peço a Deus

Que não canse de esperar!

Mesmo qu’elas custem a aparecer...

Que as borboletas um dia eu possa ver!

Ondina de Aquino Carrilho Cruz – RJ

O FÉRETRO DOS VIVOS

3

Linha dura

Linha férrea

Corpo partido

Doído esquartejado

Menos uma mão-de-obra.

Corpo desfigurado

Banhado de sangue

Verde, vermelho e amarelo.

Feriado nacional trem vazio

Apenas algum marginal.

Airton R. Oliveira – RJ

GONZAGUIANA

Em tronco de velho freixo

Exposto à lixa dos ventos

Ao vitríolo do tempo

Não gravo teu nome não:

Gravo meu coração.

José Paulo Paes – SP

Page 4: *Letras Taquarenses Nº 53 * Antonio Cabral Filho - Rj

BANDEIRA

Nunca participei

De escaramuças literárias,

Não por medo de escaramuças,

Mas por não ser tropa

Nem chegado a general.

SALDO ESCASSO

Após devorar

A sagrada esperança

De Agostinho Neto,

Com gosto de suor africano

Explorado em solo brasileiro,

Regada a muito café

E mergulhado em insônia,

Vou passear no quintal

Ver se colho um poema

Ou o sal da escassez.

NOITE

Depois de trabalhar

O dia inteiro

A noite fica exausta

E se dependura

Lá do céu sobre nós

E dorme como os morcegos...

É por isso que acordamos

Chamuscados de escuridão.

METAPOÉTICA

De tanto

Alavancar o poema

Acabei pavimentando

O verso

E instalando a poesia

Sempre no ponto final.

COMPLEXO DE KAFKA

Não fossem os calafrios

Da pobre coitada mãe

Que vivia em panos quentes

Pra manter seu pai

Em banho-maria

Teríamos mais psicanalistas

Tentando livrar as pessoas

Dos estados parasitários

E Kafka transformado

em barata.

LARGO DA BATALHA

Já diz tudo

O nome do local

Que nos lembra

Algo longe

Transido de combates

E ainda agora

Nos seus arredores

Chegam avisos da pólvora:

Seguem escaramuças

Por seu corpo escarpado,

Todo respingado de rubro.

PONTO CEM RÉIS

Não sei quantos reis

Passaram por este ponto

E não sei ainda

Se era sem réis

Caso houvesse pedágio

Transitar livremente.

ENQUETE

O vovô anarquista

Perguntou para o netinho

Se acreditava em Papai Noel:

- Por quê, vai me dar presente?

Inquiriu o garoto, todo serelepe,

Enquanto o avô confabulava

Com seus bigodes:

- Que menino materialista!

ANTI GULLAR

Inútil a luta corporal

Sem poemas concretos

Sobre romances de cordel

A sós dentro da noite veloz

Pra cometer poema sujo

E acender uma luz no chão

Em plena vertigem do dia

Causar crime na flora

E sair por aí fazendo barulhos

Com muitas vozes

E argumentação contra

A morte da arte

Pleno de antologias...

HORA DA RVOLUÇÃO

É hora da revolução!

É hora da revolução!

Não! Não é nenhum

Sinal dos tempos

Nem devido à queda

De algum ditador.

É que eu vi

Um homem no ônibus

Lendo o Manifesto Comunista.

PRÊMIO JUSTO

Corredor polonês

Só para o maldito inventor

Do corredor polonês,

Que eu fui.....

CACETE BAIANO

Depois de apanhar

Até gato morto miar,

Por dizer gracinhas

Para a menina dos olhos

Do paizão ciumento,

Diz que ganhou

O maior cacete baiano.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA

Eu sei que o boca-a-boca

É a melhor propaganda,

Mas não adianta resmungos

Nem choro pelos cantos.

Só devolvo o beijo

Que te roubei dormindo,

Se vieres tomá-lo

Boca-a-boca...

NOITE

O dia em seu desfile

Monótono

Pede passagem

E fecha a porta.

Antonio Cabral Filho - RJ