letramento digital e ensino - uespi...que emergem no espaço virtual: o tempo e os participantes....

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1 LETRAMENTO DIGITAL E ENSINO Ana Paula da Costa Alves (UESPI - Bolsista PIBIC/ CNPq) Cyntia Raquel de Sousa Lopes (UESPI - Colaboradora PIBIC/ CNPq) Dra. Bárbara Olímpia Ramos de Melo (Orientadora - UESPI) RESUMO O sistema educacional, com a intensa ascensão das tecnologias, apresenta significativas mudanças no processo ensino-aprendizagem. O presente estudo apresenta dados da pesquisa desenvolvida no Programa Institucional de Iniciação Científica (PIBIC), com fomento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e orientado pela professora Doutora Bárbara Olímpia Ramos de Melo. Dessa forma, pretendemos discutir as relações do letramento, considerando um novo tipo de gênero, o digital, tendo por base as situações comunicativas delineadas pela Plataforma Moodle (Ambiente virtual de aprendizagem – AVA). Assim, o trabalho se desenvolveu como uma pesquisa de campo que observou os eventos comunicativos dos agentes envolvidos no curso à distância de Licenciatura Plena em Letras/ Espanhol, na Universidade Estadual do Piauí (UESPI), com o intuito de descrever as práticas de letramento que envolvem os gêneros digitais e, ainda, relacionando o aspecto pedagógico. Para a atividade de análise e ampliação do contato com a problemática levantada, nos baseamos em Araújo; Rodrigues (2005), Faraco (2008); Marcuschi; Xavier (2004), Xavier (2002; 2009), entre outros. Enfim, as relações possíveis pela virtualidade são reflexos das mudanças nas relações humanas (transmissão de informações e os eventos de comunicação) que são recorte para discussão. Portanto, o grau de intimidade dos estudantes e professores com a ferramentas do AVA refletem diretamente nos níveis de satisfação no que se refere às relações mantidas nesse espaço. PALAVRAS-CHAVE: Gêneros Digitais. Letramento. Plataforma Moodle. ABSTRACT The educational system, with the intense rise of technology, shows a significant shift in the teaching-learning process. This study presents data from research developed in the Institutional Program for Scientific Initiation (PIBIC) with promotion of the National Council for Scientific and Technological Development (CNPq) and directed by teacher Dr. Barbara Olympia Ramos de Melo. Thus, we intend to discuss the relationship of literacy, considering a new type of genre, digital, based on the communicative situations outlined by the platform Moodle (Virtual Learning Environment - VLE). Thus, the work has developed as a field research that looked at the communicative events of those involved in distance learning course for Full Degree in Arts / Spanish, State University of Piauí (UESPI), in order to describe the literacy practices that involving digital genres, and also relating the teaching aspect. For activity analysis and expansion of contact with the problems raised, we rely on

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LETRAMENTO DIGITAL E ENSINO

Ana Paula da Costa Alves (UESPI - Bolsista PIBIC/ CNPq) Cyntia Raquel de Sousa Lopes (UESPI - Colaboradora PIBIC/ CNPq)

Dra. Bárbara Olímpia Ramos de Melo (Orientadora - UESPI)

RESUMO O sistema educacional, com a intensa ascensão das tecnologias, apresenta significativas mudanças no processo ensino-aprendizagem. O presente estudo apresenta dados da pesquisa desenvolvida no Programa Institucional de Iniciação Científica (PIBIC), com fomento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e orientado pela professora Doutora Bárbara Olímpia Ramos de Melo. Dessa forma, pretendemos discutir as relações do letramento, considerando um novo tipo de gênero, o digital, tendo por base as situações comunicativas delineadas pela Plataforma Moodle (Ambiente virtual de aprendizagem – AVA). Assim, o trabalho se desenvolveu como uma pesquisa de campo que observou os eventos comunicativos dos agentes envolvidos no curso à distância de Licenciatura Plena em Letras/ Espanhol, na Universidade Estadual do Piauí (UESPI), com o intuito de descrever as práticas de letramento que envolvem os gêneros digitais e, ainda, relacionando o aspecto pedagógico. Para a atividade de análise e ampliação do contato com a problemática levantada, nos baseamos em Araújo; Rodrigues (2005), Faraco (2008); Marcuschi; Xavier (2004), Xavier (2002; 2009), entre outros. Enfim, as relações possíveis pela virtualidade são reflexos das mudanças nas relações humanas (transmissão de informações e os eventos de comunicação) que são recorte para discussão. Portanto, o grau de intimidade dos estudantes e professores com a ferramentas do AVA refletem diretamente nos níveis de satisfação no que se refere às relações mantidas nesse espaço.

PALAVRAS-CHAVE: Gêneros Digitais. Letramento. Plataforma Moodle.

ABSTRACT The educational system, with the intense rise of technology, shows a significant shift in the

teaching-learning process. This study presents data from research developed in the

Institutional Program for Scientific Initiation (PIBIC) with promotion of the National Council

for Scientific and Technological Development (CNPq) and directed by teacher Dr. Barbara

Olympia Ramos de Melo. Thus, we intend to discuss the relationship of literacy, considering

a new type of genre, digital, based on the communicative situations outlined by the platform

Moodle (Virtual Learning Environment - VLE). Thus, the work has developed as a field

research that looked at the communicative events of those involved in distance learning

course for Full Degree in Arts / Spanish, State University of Piauí (UESPI), in order to

describe the literacy practices that involving digital genres, and also relating the teaching

aspect. For activity analysis and expansion of contact with the problems raised, we rely on

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Araujo, Rodrigues (2005), Faraco (2008); Marcuschi, Xavier (2004), Xavier (2002, 2009),

among others. Finally, the possible relations by the virtual are reflections of changes in human

relations (communication of information and communication events) that are cut out for

discussion. Therefore, the degree of intimacy of students and teachers with the tools of the

VLE directly reflect the levels of satisfaction with regard to the relations in this space.

KEYWORDS: DIGITAL GENRES, LITERACY, MOODLE PLATFORM.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS Os avanços alcançados pela tecnologia transformaram velozmente os usos e costumes

entre as culturas, apresentando, dentre tantas revoluções tecnológicas, uma rede em constante

expansão, a Internet e, atualmente, se discute ainda a web 2.01. Assim, os conceitos de espaço

e tempo se refazem à medida que se invencionam as ferramentas, facilitando o contato entre

povos e alterando a maneira de pensar, trabalhar e comunicar-se.

O acesso ilimitado à informação por vias de consulta às fontes encontradas nos

ambientes virtuais ressalta a necessária reflexão sobre a linguagem segundo as mudanças

comportamentais da sociedade. Para tanto, disponibilizaremos dados da pesquisa, resultado

do Projeto Letramento Digital e Ensino, que se propôs compreender os gêneros digitais em

seu uso educacional, bem como as consequentes práticas de letramento vivenciadas nesta

modalidade da educação.

1 LETRAMENTO : PRÁTICAS E POSSIBILIDADES DO CONTEXT O DIGITAL O ensino a distância, na perspectiva atual, estrutura suas relações por meio da

virtualidade, ou seja, o acesso intenso às tecnologias produz especificidades nos eventos

comunicativos dos agentes essenciais do processo ensino-aprendizagem (professor e aluno),

por isso atribuindo um novo formato às práticas de letramento.

Tendo em vista uma reflexão sobre o conceito de letramento, Soares (2009, p. 06) o

esclarece como: “a necessidade de reconhecer e nomear práticas sociais de leitura e de escrita

mais avançadas e complexas que as práticas do ler e do escrever resultantes da aprendizagem

do sistema de escrita”.

1Termo criado em 2004 que designa web como plataforma, onde vários programas podem se integrar.

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O sujeito a que nos referimos habilita-se de letramentos múltiplos, inclusive o digital,

que o configura como hábil a utilizar-se dessas capacidades (leitura e escrita) para,

efetivamente, coexistir em seu momento sócio-histórico, administrando favoravelmente as

relações de informações para então agir como cidadão de seu tempo, defende Xavier (2009).

Logo, a plataforma Moodle consiste no espaço das trocas, da efetivação de rotinas

comunicativas que, sustentadas pela hipertextualização deste ambiente, redimensionam as

relações humanas, pois do hipertexto emergem os gêneros digitais que agregam uma outra

possibilidade de letramento, como salienta Marcuschi (2004, p.66): “os novos meios

eletrônicos não estão atingindo a estrutura da língua, mas estão atingindo o aspecto nuclear do

uso pela manifestação mais importante que é o texto”.

Portanto, se deve considerar que as apropriações das práticas de letramento em tal

contexto são um marco na era da informação, onde os estudos da linguagem tratam das

situações comunicativas, bem como suas implicações para o desenvolvimento de novas

habilidades de leitura e consequente aumento da interatividade, uma vez que surgem novas

concepções de autorias e ressignificação da construção de conhecimento. A seguir, a

concepção de espaço hipertextual será discutida com ênfase nas suas atribuições às atividades

interativas.

2 AMBIENTES HIPERTEXTUAIS: A SALA DE AULA DA EAD

Como se sabe a escrita foi sempre fator determinante para que esta ou aquela

sociedade transmitisse ou perpetuasse seu saber, fato que alterou e modificou as relações ao

longo dos tempos. Por isso, Lévy (1998), aponta para as mudanças no ato de ler e escrever

geridas pelo hipertexto digital.

Nos ambientes de aprendizagem da EaD, o exercício da leitura e escrita se desenvolve

em um contexto diferente do propiciado pelas ferramentas comuns na arte de registrar as

impressões humanas, à propósito tecnologias que se encontram arcaicas dada a superação/

substituição por ferramentas ambientadas na esfera virtual que redescobrem e por fim,

reformulam os suportes e seus usos.

Compreende-se as interações no ciberespaço como a oportunidade de esclarecer aos

alunos a diferença/ estímulo das potencialidades na interação virtual, resultando na noção que

ambos representam aplicações diferentes da língua. Pois, conforme Araújo (2005, p.51), “o

uso do hipertexto aperfeiçoaria a cognição, alterando o modo de pensar das pessoas,

contribuindo efetivamente para a autonomia do indivíduo e do saber produzido”.

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Por isso, se torna indispensável considerar as relações e suas formas bem ou mal

sucedidas dos sujeitos durante os eventos comunicativos, a começar pelas principais

características que constituem a essência da EaD, que segundo Faraco (2008, p. 56), são:

� a separação do professor e do aluno, no tempo e no espaço, durante o processo

de instrução;

� o uso de mídia educacional para unir professor e aluno e para transmissão do

conteúdo;

� o oferecimento de uma “via dupla” de comunicação entre o professor/tutor e o

aluno.

Por isso, como evidencia Xavier (2009), o hipertexto é uma tecnologia inerente ao

modo de enunciação digital, que, através de seus atalhos, apresenta inúmeras alternativas ao

usuário. Sendo sustentáculo para disseminação do material didático no ambiente virtual, cujo

acesso se dá através de espaços interligados, que possibilitam a flexibilidade do saber em

construção. Faz-se necessário inferir que os links afetam diretamente a compreensão da

informação e influenciam positivamente as capacidades de aprender e ensinar.

3 GÊNEROS DIGITAIS: IMPLICAÇÕES PARA O LETRAMENTO

Segundo Marcuschi (2004), dois aspectos são importantes na caracterização dos gêneros

que emergem no espaço virtual: o tempo e os participantes. Além destes, devemos relevar as

formas comunicativas na figura dos emoticons (ícones que expressam emoções) e ainda a

etiqueta netiana e o caráter informal, tendo em vista o poder de reversibilidade do meio e

rapidez da interação. Porém, estes aspectos não estão distribuídos equitativamente ao longo

dos gêneros digitais, como o mostrado a seguir:

� O e-mail

Seu uso alargou-se nos anos 80, apesar de ter surgido ainda nos anos 70; em virtude do

seu aparecimento esperou-se “o fim dos correios tradicionais”, no entanto, em se tratando de

comunicação, as tecnologias e seus usos administram cooperativamente o espaço. Marcuschi

(2004, p.39) admite que: “o correio eletrônico é uma forma de comunicação normalmente

assíncrona e de remessa de mensagens entre usuários do computador”.

� O chat

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O chat na web representa uma das maneiras de interação em tempo real, além de ser o

mais utilizado entre usuários da Internet. Como requisito para seu acesso, basta o navegador,

que conecta o usuário aos sites que hospedam o chat. Por isso, a partir de seus recursos

semióticos, se concebe o chat como “uma das manifestações hipertextuais da enunciação

digital”, como indica Xavier (2002, p.70).

� A videoconferência

Gênero específico de um dos tipos de chats apontados por Fonseca (2002, apud

ARAÙJO, 2004), onde os participantes possuem acesso ao som da voz e a imagem um dos

outros, o que demanda tecnologia sofisticada e custos elevados, o que justifica o seu uso

reduzido. Como se observa, a escrita é usada ou eximida da atividade interacional, se

aproximando dos telefonemas com o envio de mensagens síncronas aos interlocutores.

� As listas de discussão ou fórum

Formam-se segundo o interesse de grupos bem definidos e operam via e-mails como

forma de contato; caracterizando-se no geral por veicular informações de interesse geral da

comunidade virtual. A conduta de participação nestes eventos é operacionalizada por um

moderador ou webmaster que para Marcuschi (2004, p.58) “é uma figura que direciona as

mensagens e faz triagens para evitar o envio inoportuno de mensagens que não cabem ao

tópico em desenvolvimento”.

� Os blogs (weblogs)

O termo provém de duas palavras: web (rede de computadores) e log (um a espécie de

diário de bordo dos navegadores que anotavam as posições do dia), resultando em um gênero

que é construído e atualizado devido às expectativas e demanda do seu usuário e por

conseqüência, do seu público leitor. A expressão blog abriga uma diferença essencial em

relação a site, uma vez que o primeiro é “facilmente atualizado seguindo as datações e

circunstâncias” (MARCUSCHI, 2004, p.60).

4 METODOLOGIA

Na execução deste trabalho, através de um estudo de campo com análises quantitativas

e qualitativas, objetivamos evidenciar os gêneros digitais recorrentes na plataforma Moodle2,

destacando quatro Polos de Apoio Presencial do Sistema UAB: Campo Maior, Oeiras, Picos e

Piripiri, pois reuniam alunos, graduandos do segundo período da Licenciatura em

2 Ambiente virtual de aprendizagem da UAB/ UESPI.

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Letras/Espanhol, portanto, se tratava de uma amostra razoável para aplicação de questionários

e identificação das rotinas comunicativas.

No concernente à forma de interação mantida com os sujeitos³, estabelecemos através

do gênero e-mail o nosso primeiro contato, uma vez que percebemos “as vantagens na

velocidade da transmissão da mensagem, o potencial de uma mesma mensagem poder ser

enviada para muitas pessoas, facilitando o contato com o usuário” (PAIVA, 2004, p. 72).

Os questionários foram reaplicados entre dezembro/ 2009 e janeiro/ 2010, sendo que

desta vez optamos pela via presencial, com os questionários sendo aplicados em cada um dos

polo. O que, somado a observação do AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem),

proporcionou algumas das reflexões registradas abaixo, por isso lançamos um olhar sobre o

ambiente que sustenta/ suporta os gêneros pelos quais se promovem as práticas investigadas:

Figura 1 – Panorama das disciplinas quando acessada à Plataforma Moodle.

_____________________

³ Professor: coordenador de curso, tutores presenciais e a distância, professores formadores, conteudistas e

alunos.

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Figura 2 – Organização dos gêneros digitais e material didático por disciplina.

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Para análise consideramos um recorte de quatro polos do ensino EaD, do curso de

Letras/ Espanhol, Bloco II, UAB/ UESPI foram eles: Campo Maior, Oeiras, Picos e Piripiri.

O construto abaixo, se refere ao entendimento adquirido por meio do aprofundamento teórico

somado a reaplicação dos questionários, desta vez aplicado via presencial nos polos referidos.

Referente à interação dos alunos através da plataforma Moodle e sua compreensão das

possibilidades agregadas por esse software na assimilação de outra língua (o espanhol), além

da formação docente, entendemos o posicionamento dos sujeitos como uma primeira

oportunidade de opinar acerca do contorno recebido pelo letramento neste recorte, por isso

observemos os quadros abaixo:

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Quadro 1 - Avaliação das relações no ambiente Moodle/ Alunos

Há um equilíbrio entre os usuários quanto à convivência no AVA, pois os níveis

regular, bom e ótimo somam reunidos número superior a 50%. Por isso, como adverte

Marcuschi (2004), anterior às práticas mais aprofundadas no ambiente virtual, se deve

considerar o nível de letramento do indivíduo anterior às habilidades exigidas, no caso, para

então entender a forma como este se relaciona com a ferramenta.

Quadro 2 - A interação no sistema EaD / Professores

Os sujeitos se mostraram satisfeitos com o ambiente Moodle e com a estrutura

oferecida ao desempenho de suas atividades, inclusive quanto às relações interpessoais, que,

conforme afirma Marcuschi (2004), na esfera virtual, se tornam hiperpessoais, devido ao

papel do professor, que na EaD, tem sua figura recategorizada em vários indivíduos no auxílio

ao aluno.

Por isso, para que o indivíduo se articule na virtualidade, deve fazer uso de

diversificados gêneros, que são pontuados pela velocidade e, de acordo com a escolha feita, a

interação ainda ocorrerá de modo síncrono ou assíncrono. De modo que o processo

comunicacional se reveste de múltiplas capacidades de se reinventar, como evidenciam

Araújo; Rodrigues (2005, p.13):

As novas tecnologias decorrentes do uso do computador conectado à internet vem transformando e ampliando as possibilidades das práticas discursivas, especialmente na Web, a rede que mais se destaca pela multimodalidade de recursos semióticos e pela dinamicidade interativa, facilitando o acesso às mais variadas informações que se proliferam vertiginosamente em todas as áreas nos últimos tempos.

É necessário compreender as mudanças/ adequações requeridas pelo ato de educar,

refletindo no surgimento desta forma aprimorada de educação (a distância), que edifica

segundo o uso de computadores atrelados à Internet os processos de ensino-aprendizagem, em

que via presencial e virtual se somam.

Devido a condição virtual ou presencial em que estão as atividades do curso analisado

durante o estudo, propusemos no quadro 3 observar a consonância entre estes dois aspectos.

Deficiente Regular Bom Ótimo

44% 23% 28% 5%

Deficiente Regular Bom Ótimo

0 0 33,3% 66,6%

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Quadro 3 – Colaboração entre as vias virtual e presencial/ Alunos

Em virtude das tecnologias interativas, os leques de contribuição e produção do

conhecimento se multiplicam, a respeito disso Xavier (2002, p.65), entende que “a relação

homem-máquina é o intercâmbio do homem com a tecnologia”, o que explicita a completude

do conceito de interatividade proposto em ambas as vias, ou seja, estas trabalham

favoravelmente e não concorrem entre si.

No estudo realizado, observamos os gêneros digitais e eventuais preferências de

alunos e professores por estes, para que fosse possível projetar um panorama das rotinas e

posteriormente, caracterização do gênero, portanto observemos os quadros 4 e 5:

Quadro 4 - Gênero de maior evidência / Alunos

Foi observado que o gênero fórum esteve em maior evidência (84%), portanto tendo

preferência entre os usuários discentes, sendo os argumentos para tal preferência as

propriedades sustentadas por Marcuschi (2004, p. 35), quando define o gênero em questão

como: “estrutura fixa, onde os participantes pertencem a um grupo fechado (alunos daquele

curso), além do estilo monitorado e o canal/ semiose se dá apenas pelo texto escrito”.

Quadro 5 – Gênero de maior uso no Moodle / Professores

Conferiu-se o fórum como o mais apontado entre os sujeitos citados acima, além da

relevância aludida às mensagens pessoais trocadas via acesso plataforma, e-mail e ao que

parece a uma modalidade de construção de textos denominada via wiki (produção coletiva de

textos), porquanto o fórum (75%) é o gênero que atribui maior significância às rotinas

comunicativas no curso observado.

Neste recorte, construímos a sistematização de nossa compreensão a cerca de alguns

gêneros, que estão ressaltados no decurso de nossas observações, porém assumimos a postura

Deficiente Regular Bom Ótimo

13% 26% 50% 11%

Chat Fórum Blog Outro- especifique

7% 84% 3% 8%

Chat Fórum Blog Outro -

especifique

0 75% 0 25%

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que defende Marcuschi (2004) quando se refere ao cuidado com as definições atribuídas a

esses gêneros, pois o crescente e ininterrupto avanço tecnológico acaba por invalidar algumas

assertivas no que se diz respeito aos gêneros digitais e suas propriedades, nos restando

assemelhá-los sem a negativa de recair sobre o reducionismo das nomenclaturas. No contínuo,

apresentamos em dados quantitativos as condições de uso dos gêneros digitais e material

didático disponível na plataforma Moodle.

6 GÊNEROS E MATERIAL DIDÁTICO: O USO DO AMBIENTE VI RTUAL

Quadro 6 Gêneros, Material didático disponível via plataforma

Pólo Campo Maior, Oeiras, Picos e Piripiri

Filosofia da

Educação

Lengua Espanhola II-Fonética y Fonología

Língua Latina II

Língua Portuguesa

I

Literatura Brasileira

Practica Pedagógi

-ca II

Chat 0 0 11,1% 0 0 0

Fórum 7,1% 11,1% 5,5% 9,6% 15,3% 41,1%

Pdf 42,8% 33,3% 38,8% 29% 38,4% 17,6%

Powerpoint 7,1% 27,7% 0 29% 15,3% 17,6%

Vídeo 0 5,5% 0 0 0 0

Atividade 42,8% 22,2% 44,4% 32,2% 30,7% 23,5%

No que se refere ao material didático, temos a disponibilização exacerbada do material

no formato Pdf, Powerpoint, Vídeo, Atividades variadas que não agregam qualidades

interativas na relação do discente com as temáticas trabalhadas, ou seja, não constituem

gêneros digitais, mas coexistem na plataforma como material de consulta, estes largamente

utilizados na alimentação da mesma, o que contraria a condição referida pelo modo de

enunciação digital que agrega em si todos os outros modos (verbal, sonora, visual), como

afirma Xavier (2009).

Logo, o fórum aparece como opção de maior uso entre os gêneros por permitir

correspondência, seja ela assíncrona, como neste caso, ou síncrona, assemelhando-se a

importância recebida pelo chat (11,1%) que foi apontado como ferramenta de dinamização da

disciplina Língua Latina II, apesar do elemento atividade pontuar 44,4% nesta disciplina, foi

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considerado o fato de serem propostas de natureza diferente que se eximem de comparação no

que está sendo relacionado (gêneros digitais).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo preocupou-se em discutir o redimensionamento das práticas de letramento e

as rotinas comunicativas nos ambientes educacionais, que se modificam e reconstroem através

das práticas de ensino, sugerindo que os suportes e suas possíveis alterações influenciam no

processo de comunicação humana, recriando significados, especificidades e o outro perfil de

interlocutores para aquilo que se comunica ou ensina.

Porquanto, as impressões referidas neste trabalho pontuaram a dificuldade que um

curso a distância, principalmente aquele que se direciona ao processo de apropriação de outra

língua, pode enfrentar pelo uso não adequado das ferramentas e gêneros, o que factualmente é

apontado por Melo (2009), quando admite que quanto maior a diversidade de gêneros que o

indivíduo possa ter contato, em níveis mais elevados estarão suas práticas de letramento.

De modo que as pesquisas e reflexões que tratam da temática “Letramento digital”

intensificam não só o entendimento, mas o melhoramento das condições e percepções de uso

desta prática de letramentos, por exemplo, nas práticas educacionais. A grande quantidade de

usuários que acessa diversos sites, ou AVA’s, tende a burilar o software e as potencialidades

quanto à interatividade, além de viabilizar economicamente sua continuidade pela exposição

do serviço a um grande número de visitantes.

Por isso, o aspecto da colaboração no sistema EaD se faz como elemento essencial das

relações e na produção do conhecimento, sendo viável indagar acerca da importância de

determinados gêneros para esse processo. Constatamos o fórum como gênero de ampla

importância no desenvolvimento das rotinas comunicativas, pois este oportuniza a observação

da produção do outro para basear ou contrapor a produção em andamento num processo

dialógico permanente.

Foi visto que a educação a distância e as tecnologias de informação e comunicação

atribuem ao papel do professor/tutor, a responsabilidade de facilitador do processo de

aprendizagem, passando de detentor do “conhecimento” à posição de co-autor, o que

predispõe ao aluno a oportunidade de desempenhar um papel mais ativo, de criador, um autor.

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