lenha e carvão - manual de apoio à extensão

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Page 1: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão
Page 2: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

LENHA E CARVÃOManual de Apoio à Extensão

Raul M. de Albuquerque Sardinha

Projecto de Desenvolvimento dos Recursos Naturais Município da Ecunha, Província do Huambo

(CE-FOOD/2006/130444)Julho 2008

Page 3: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

Coordenação e Autoria do Estudo

Raul Manuel de Albuquerque Sardinha

Revisão

Instituto Marquês de Valle Flôr

(Diogo Ferreira, Gonçalo Marques e Rita Caetano)

Composição e Edição

Instituto Marquês de Valle Flôr

Concepção Gráfica

Matrioska Design, Lda

Impressão e Acabamento

Europam, Lda

Co-Financiamento

Comissão Europeia

Depósito Legal

Tiragem

F ICHA TÉCNICA

1

Page 4: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

2

Page 5: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

3

Prefácio 9

Introdução 11

1. O que é o carvão? 11

2. Breve referência histórica sobre a produção de carvão 12

3. Medidas e termos usados 13

4. Fontes de lenha 14

5. Plantações energéticas 15

6. Factores fundamentais no abastecimento de lenhas 16

7. Ferramentas manuais e equipamentos para extracção de material lenhoso 17

8. Fabrico de cabos de ferramentas 17

9. Limitações do trabalho com o machado 18

10. O uso de serras no abate de árvores 19

11. O uso de moto-serras 19

12. Técnicas de abate de pequenas árvores 20

13. Técnicas de abate de árvores de média e grandes dimensões 20

14. Desenraizamento total da árvore 21

15. Desenraizamento dos cepos 22

16. Toragem 22

17. Transporte manual de lenha 23

18. Uso de rodas na extracção 24

19. Plano inclinado para extracção de madeira 25

20. Transporte com a utilização de animais e tractores 26

21. Rachadura de lenha 26

22. Manuseamento de pequenos toros e achas 28

23. Enfeixamento da lenha 28

24. Empilhamento de lenha 29

25. Secagem da lenha 29

26. Diferenças entre lenha e carvão 30

27. O processo de carbonização 31

28. Diferentes tipos de fornos de carvão 34

ÍNDICE

Page 6: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

29. Fornos tradicionais de trincheira em terra 36

30. Fornos tradicionais em cômoro 39

31. Fabrico de carvão em tambores metálicos 44

32. Fornos de encaixe em aço 45

32.1 Dimensão de fornos de encaixe em aço 47

32.2 Sistemas de encaixe 48

32.3 Coberturas de fornos de encaixe em aço 48

32.4 Entradas de ar e saídas de fumo 49

32.5 Vantagens e desvantagens de fornos metálicos transportáveis 49

32.6 Escolha e preparação do local de instalação do forno 51

32.7 Carregamento do forno de aço 51

32.8 Carregamento do anel de base 52

32.9 Carregamento do anel superior e ignição 53

32.10 Inversão da tiragem e controlo da carbonização 53

32.11 Arrefecimento e abertura do forno 55

32.12 Rendimentos médios 56

32.13 Vida útil de um forno móvel de aço 56

32.14 As principais falhas operacionais 57

32.15 Ferramentas e equipamentos necessários

para operar fornos de aço de encaixe 57

33. Ensacamento do carvão 58

34. Transporte de carvão 60

35. Briquetagem do carvão 61

36. Registo da produção de lenha e carvão 62

37. Cronograma simplificado de uma hipotética operação

comercial de carbonização com forno móvel 63

38. Comercialização do carvão 65

39. Cooperativa de fabrico de carvão 66

40. Formação para preparação de lenha e carvão 68

Referências Bibliográficas 70

4

Page 7: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

Figuras

1. Esquema de produção de carvão até aos anos de 1950 12

2. Medidas e termos usados 14

3. Fontes de lenha 15

4. Plantações energéticas 16

5. Ferramentas e equipamentos 17

6. Fabrico de cabos de ferramentas 18

7. Limitações no trabalho com o machado 18

8. Uso de serras no abate de árvores 19

9. Utilização de moto-serras 20

10. Técnicas de abate de pequenas árvores 20

11. Técnicas de abate de árvores de média e grande dimensão 21

12. Desenraizamento total da árvore 21

13. Desenraizamento dos cepos 22

14. Toragem 23

15. Transporte manual de lenha 23

16. Rodas de extracção 25

17. Utilização de calhas na extracção de madeira 25

18. Transporte com a utilização de animais e tractores 26

19. Rachadura da lenha 27

20. Confecção das cunhas de madeira 27

21. Manuseamento de pequenos toros 28

22. Enfeixamento da lenha 28

23. Empilhamento de lenha 29

24. Secagem da lenha 30

25.Diferenças entre lenha e carvão 31

26. Processo de carbonização I 32

27. Processo de carbonização II 33

28. Esquema simplificado das tecnologias de produção de carvão 35

29. Diferentes tipos de fornos de carvão 36

ÍNDICEFIGURAS, QUADROS, IMAGENS E GRÁFICOS

5

Page 8: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

30. Fornos de trincheira 37

31. Fornos em cômoro do tipo circular 40

32. Carbonização de uma pilha rectangular de lenha I 40

33. Carbonização de uma pilha rectangular de lenha II 41

34. Forno de terra melhorado 42

35. Estrutura do forno de terra, em cômoro, melhorado 43

36. Grandes fornos circulares em cômoro 44

37. Tambor tonga 44

38. Utilização de tambores como fornos portáteis 45

39. Fornos de encaixe em aço 47

40. Dimensão de fornos de encaixe em aço 48

41. Sistemas de encaixe 48

42. Coberturas de fornos de encaixe em aço 49

43. Entradas de ar e saídas de fumo em fornos de aço portáteis 49

44. Escolha e preparação do local para instalação do forno 51

45. Carregamento do forno de aço 52

46. Carregamento do anel de base 53

47.Carregamento do anel superior e ignição 53

48. Inversão da tiragem e controlo da carbonização 54

49. Arrefecimento e abertura do forno 55

50. Ferramentas e equipamentos necessários para operar fornos de encaixe 58

51. Ensacamento do carvão 59

52. Construção dos crivos I 59

53. Construção dos crivos II 60

54. Construção dos crivos III 60

55. Transporte de carvão 60

56. Prensas para briquetagem 61

57. Fileiras do carvão 65

6

Page 9: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

Quadros

1. Escolha do comprimento do serrão 23

2 Recomendações para medidas das cunhas 27

3. Valores comparativos de diferentes combustíveis 31

4. Efeito da temperatura de carbonização no rendimento e composição do carvão 34

5. Emprego de mão-de-obra 38

Imagens

1. Plantação comunitária energética na Guiné Conacri 15

2. Transporte de toros por arraste 25

3. Transporte de toros por carroças de tracção animal 25

4. Refugos resultantes de um forno de trincheira na estrada de Ecunha - Quipeio 34

5. Forno de trincheira típico da zona do Quipeio 37

6. Exemplo de forno de tijolo tipo colmeia 44

7. Sacos de carvão 58

8. Venda de carvão no mercado de Ecunha 59

9. Zonas exploradas para a obtenção de toros para carbonização 63

Gráficos

1. Carbonização da Madeira 34

7

Page 10: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

8

Page 11: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

As extensas áreas de mata natural aberta

seca, a ”mata de panda”, vem sendo sujeita

em todo o Município de Ecunha a uma

intensa pressão resultado da expansão

da fronteira agrícola e da intensificação

da extracção de lenhas para o fabrico

de carvão quase invariavelmente após corte

raso da mata.

Durante os últimos anos e com o fim do

conflito militar, o Município assistiu a um

claro regresso de população e, com ela,

à arroteia de novos solos para a agricultura

em regiões de topografia ondulada a muito

ondulada onde se acentuam fortes indícios

de erosão hídrica e eólica ao mesmo tempo

que a melhoria da circulação rodoviária

e a pressão do consumo de carvões nas

grandes cidades se adicionaram na ace-

leração da dinâmica de desflorestação já

hoje evidenciada pela encostas desnudas,

com uma ravinação bem acentuada

um pouco por toda a parte, ou com a sua

cobertura vegetal fortemente fragmentada.

A energia é uma das mais importantes

“commodities” necessárias à satisfação das

necessidades alimentares da população.

Ao longo de muitos anos, os limites

da d i spon ib i l i dade , a s mudanças

tecnológicas, a localização dos recursos

e o uso de certos combustíveis têm

impulsionado o uso de novas fontes

energét icas . Nos pa íses t ropica i s ,

o acréscimo de população, as dificuldades

e o custo dos transportes têm mantido

uma grande percentagem das famílias

camponesas dependentes da lenha

e do carvão como fonte energética

dominante e de substituição difícil mesmo

para países, como Angola, produtores

importantes de petróleo. Em Angola, aliás

como um pouco por todo o mundo

tropical, mais de 65% dos recursos lenhosos

são uti l izados para fins energéticos.

A observação , embora emp í r i ca ,

da evolução do aprovis ionamento

energético mostra que esta substituição

é bastante difícil, se não mesmo ilusória.

Na verdade, tirando os grandes centros

urbanos onde o uso do gás tem alguma

expressão junto das famílias que dispõem

de rendimentos suficientes para suscitar

a criação de redes comerciais de distri-

buição com alguma dimensão, a lenha,

e principalmente o carvão, continuam

a ser a energia de uso doméstico dominante.

Neste quadro o aprovisionamento de carvão

vegetal aos grandes centros urbanos,

incluindo Luanda, gerou um conjunto

de actividades económicas específicas cuja

fi leira ganhou expressão económica

significativa. Esta função económica e social

não tem sido contabilizada no cálculo

de rentabi l idade e da importância

económica das acções de conservação

da floresta natural e da sua sustentabilidade,

fundamentalmente pela di f iculdade

da imputação do valor do seu contributo

para as economias locais e dos serviços

ambientais que lhe estão associados.

Nesta actividade, o entrave económico

que tem obstado à modernização do sector

e à própria melhoria das tecnologias

de carbonização pode ser apontado como

resultante de uma subvenção implícita que

beneficia a recolha e a transformação

do carvão que é significativamente mais

barato que os concorrentes fósseis. Assim

se justifica o alargamento contínuo do raio

de recolha que já ultrapassa no caso

do abastecimento a Luanda os 740 km.

É necessário atender que o preço actual

de venda do carvão de madeira é bastante

PREFÁCIO

9

Page 12: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

inferior aos custos reais de produção uma

vez que não inclui os custos de renovação

e de recuperação dos recursos e o seu

longo tempo de recuperação com espécies

de crescimento lento como são os das

matas naturais no Município, nem inclui

os custos das externalidades do abate

em resultado da perda de solo agrícola

e da conservação da água e da paisagem.

Os mecanismos subjacentes a esta situação

assentam por um lado nas características

informais da fileira e por outro nas insufi-

ciências das políticas públicas de conser-

vação dos recursos e espaços florestais.

Neste quadro, em que as elasticidades da

oferta e da procura são bastante rígidas,

a população rural é naturalmente enco-

rajada pelo mercado a lançar-se nesta

actividade comercial sustentada pela falta

de controle que rodeia as licenças de corte,

a ausência de gestão do espaço rural

ao nível comunitário ou municipal e,

também, pela política incipiente de plan-

tações florestais. No contexto do Projecto

de Desenvolvimento dos Recursos Naturais

do Município de Ecunha, que vem sendo

desenvolvido pelo Instituto Marquês

de Valle Flôr (IMVF) em associação com

a Cooperat iva Agrícola da Ecunha

(Coopecunha), a abordagem da proble-

mática da melhoria tecnológica do processo

de carbonização faz parte de um dos três

vectores conside-rados necessários para

reverter a actual dinâmica de desflorestação

que assenta no seguinte tripé: 1) interven-

ção para a criação de novos recursos

lenhosos com espécies de rápido

crescimento e com boas características

energéticas e tecno-lógicas; 2) melhoria da

tecnologia de carbo-nização; 3) introdução

de formas mais económicas de uso dos

combustíveis domésticos.

A ideia deste Manual foi assim orientada

no propósito de divulgar junto dos agentes

de desenvolvimento local e regional um

conjunto de tecnologias simples e mais

eficientes do que o forno de trincheira

tradicional actualmente em uso, e formas

simples de melhorar a distribuição pela via

da Coopecunha que, naturalmente, poderá

dirigir para os agricultores carvoeiros

as vantagens financeiras da sua maior

capacidade de negociação com os agentes

da fileira. A aplicação de tecnologias

modernas s imples , ao alcance dos

operadores locais, tem o potencial para

contribuir de forma significativa na melhoria

da eficiência da transformação, garantia

de fornecimento de carvões para uso

doméstico e melhorar as condições de vida

dos camponeses.

Este Manual incorpora o conhecimento

colectivo dos carvoeiros de muitas regiões

e é posto à disposição das comunidades

pelo IMVF na esperança de que ele possa

ser uma ajuda na melhoria da produção

de carvão no Município de Ecunha e,

ao mesmo tempo, contribuir, ao introduzir

métodos mais eficientes de conversão, para

a conservação dos recursos da floresta

natural naquele Município.

10

Page 13: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

O uso do carvão pelo homem remonta

quase ao ínicio da história, tendo sido usado

há mais de 3000 anos nos primeiros desenhos

executados nas cavernas

do homem primitivo. Muito mais tarde,

o carvão desempenhou um papel importante

naquilo que se pode considerar como os

primeiros processos tecnológicos: a fundição

e o trabalho dos metais. Nos tempos mais

recentes o carvão tem permanecido

tecnologicamente importante, funda-

mentalmente pelas suas propriedades

de absorção. O uso de carvão activado nas

máscaras protectoras de gás durante

a 1ª Grande Guerra salvou milhares

de soldados e o seu uso actual na purificação

do ar e da água é ainda bastante significativo.

O seu papel é também essencial como

fornecedor de energia, vital para a vida

doméstica de milhões de habitantes

dos países em desenvolvimento, e ainda

um importante material na indústria

de fundição de ferro bem como na extracção

e fundição de outros metais.

Em termos mundiais, a FAO calcula que

sessenta por cento de toda a madeira extraída

das florestas seja utilizada para queima, quer

directamente como lenha, quer indirec-

tamente como carvão para uso doméstico.

Em termos globais a quantidade de madeira

utilizada no fabrico de carvão é da ordem

de 25% daquele montante ou seja de

400 milhões de m3/ano. Tenha-se no entanto

em atenção, que se trata de um valor

est imativo, atentas as di f iculdades

de informação estatística correntes em muitos

países.

1. O que é o Carvão?

Em termos correntes o carvão é “o resíduo

preto poroso obtido pela destilação destrutiva

da matéria animal ou vegetal sob suprimento

limitado de ar”. De facto, o carvão pode ser

produzido por uma série de materiais

sintéticos como polímeros bem como por

materiais naturais. A estrutura atómica base

do carvão é independente do percursor,

se bem que a macro morfologia possa diferir.

É importante não confundir o carvão com

outras formas impuras não cristalinas como

a fuligem e o “coke”. Embora o coke, como

o carvão, sejam produzidos por um pirólise

por via seca, o coke (usualmente produzido

do carvão mineral betuminoso) distingue-se

do carvão porque a fase fluida forma-se

durante a carbonização. Já no caso da fuligem,

esta forma-se na fase gasosa por combustão

incompleta durante a combustão e não

na fase sólida da pirólise.

Neste manual, o carvão, também referido

por carvão vegetal, é o resíduo sólido

resultante da carbonização ou pirólise

da madeira sob condições controladas num

espaço fechado, geralmente designado forno.

O controlo do forno durante a carbonização

é exercido sobre a entrada de ar, de forma

que a madeira não arda completamente

transformando-se em cinza, tal como sucede

num fogo convencional, mas sim que

se decomponha quimicamente para formar

o carvão.

11

INTRODUÇÃO LENHA E CARVÃOManual de Apoio à Extensão

Page 14: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

2. Breve referência histórica sobre

a produção de carvão

A origem da produção de carvão está

intimamente ligada aos inícios da metalurgia

há aproximadamente 5000 anos. As tentativas

efectuadas para extrair metais dos minérios

com recurso à queima da madeira nunca

tiveram grande sucesso, principalmente pela

impossibilidade de atingir temperaturas

elevadas. Na verdade, quando a madeira

é queimada evapora-se grande quantidade

de água e de voláteis, o que impossibilita

valores elevados da temperatura. A queima

de car vão, por outro lado, produz

temperaturas muito mais elevadas (pode

atingir 1000ºC) com pouco fumo constituindo

condições ideais para a fundição e para

o trabalho do metal extraído. Os minérios

de óxidos de cobre foram os primeiros

a serem reduzidos com o uso do carvão

há cerca de 3000 anos a.C., iniciando

a chamada Idade do Bronze. O ferro é mais

difícil de fundir do que o cobre requerendo

temperaturas mais altas e mais injecção

de ar, condições que só foram alcançadas

há cerca de 1200 anos a.C. marcando a Idade

do Ferro.

Os primeiros métodos de produção

do carvão envolveram provavelmente, fornos

de trincheira onde a lenha era lentamente

carbonizada, prática que se vê ainda como

método único em todo o município de

Ecunha com reduzidos rendimentos que não

atingem valores superiores a 18%.

Os Egípcios eram na antiguidade considerados

os mestres na arte de fabrico de carvão

já descrita por Plinius (23-79 a. C.) e do

aproveitamento de subprodutos do processo

de carbonização que eram usados desde

o embalsamento à calafetagem das juntas

nos barcos e à impermeabilização dos fios

das redes de pesca. Este tipo de processos

deu origem a tecnologias mais eficientes

em termos energéticos e mais operacionais

com predomínio de fornos acima do solo

como seja o chamado “forno florestal”.

O carvão continuou a ser produzido desta

forma até aos anos de 1950 como a figura

que se ilustra abaixo.

Todo o ferro produzido até cerca de 1700

teve por base o carvão vegetal. Contudo,

com o aumento da produção de ferro e aço,

a desflorestação tornou-se um problema

sério em toda a Europa, facto que impulsionou

a procura de um material de substituição.

O carvão mineral não foi considerado

um sucedâneo devido às impurezas que

apresentava (especialmente o enxofre)

que era transferido para o metal.

Cerca de 1709, Abraham Darby, em Inglaterra,

conseguiu bons resultados na fundição

de ferro usando coke, produzido a partir

de carvão betuminoso que era abundante.

Em resultado desta inovação, a procura

de carvão vegetal para a siderurgia conheceu

uma redução substancial na Europa.

Nesta época, contudo, a procura crescente

do metanol (também conhecido por álcool

da madeira) para a indústria têxtil na tinturaria

e como base para a síntese orgânica

12

Fig.1: Esquema de produção de carvão

até aos anos de 1950

fumo

carvãoacabado

zonapegamento

do fogo

entrada de arar

zona de carborização zona dequeima

zona desecagem

lenha

zona secade destilação

Page 15: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

na indústria química deu um impulso

ao desenvolvimento da pirólise em retortas

fechadas e com pleno aproveitamento, por

condensação, dos vapores libertados pela

destilação seca da madeira. A disponibilidade

de produtos petrolíferos baratos fez destronar

a impor tância da madeira nos países

desenvolvidos, se bem que a sua produção

em pequena escala tenha continuado,

principalmente para a cozinha.

Já nos países dos trópicos a lenha

é fundamentalmente um combustível rural.

Cerca de 90% da população rural depende

dela sendo o carvão um combustível

principalmente urbano de que depende entre

50% a 70% da população urbana e, nalguns

casos (como sucede por exemplo no Brasil)

é ainda um importante material de uso

industrial nas siderurgias.

Em termos ambientais a produção de carvão

vem sendo, ao lado do alargamento

da fronteira agrícola, um factor de elevado

impacto ambiental com fortes responsa-

bilidades na desflorestação nos trópicos. Este

impacto negativo e a enorme dificuldade,

senão mesmo impossibilidade, de substituição

do carvão como combustível generalizado

no mundo tropical, impulsiona a procura

de novas tecnologias, a melhoria dos

processos tradicionais para lhes aumentar

o rendimento, bem como o alargamento

do uso de materiais lenhosos e vegetais em

geral como sejam os desperdícios agrícolas

a que se adicionam os resíduos florestais

e da indústria de produtos florestais.

É evidente que a natureza de alguns destes

materiais sucedâneos da lenha geram carvões

que devido às suas más propriedades

mecân i ca s e té rm icas requerem

beneficiamento quer por briquetagem quer

por peletização.

Na última década a crise energética

e o elevado custo do petróleo tem impul-

sionado novos desenvolvimentos tecnológicos

sobre a pirólise, perspectivando-se para

o carvão e a lenha utilizações mais sofisticadas

e um aumento do seu contributo num mundo

energeticamente carente.

3. Medidas e termos usados

1 m3 de lenha empilhada = 1 estere.

1 estere é igual a cerca de 0,7 m3 de volume

sólido de lenha (30% de vazios) de lenha

direita empilhada.

0,5 m3 de volume sólido de lenha de ramos

empilhados de forma medianamente densa.

0.3 m3 de volume sólido de lenha (70%

de vazios ) de ramos torcidos frouxamente

empilhados.

1 estere pesa entre 250 a 900 kg, dependendo

da massa volúmica da lenha, do teor de humi-

dade e da densidade do empilhamento.

1 estere de lenha de eucalipto, parcialmente

seca, pesa aproximadamente, 600 a 700 kg.

1 estere de lenha de miombo (Julbernardia

paniculata, Brachystegia sp. e Parinari sp),

parcialmente seca, pesa aproximadamente,

800 a 850kg.

Pedaços de carvão - fracção de pedaços

de carvão retidos por crivo de malha metálica

de 10 x 10mm (2.2(a)).

Finos - pedaços pequenos de carvão passando

por uma malha metálica de 10 x 10mm,

exig indo br iquetagem para serem

comercializáveis (2.2(b)).

Refugos - pedaços de lenha parcialmente

carbonizados (2.2 (c ))

Teor de Humidade =peso inicial (g) - peso seco em estufa (g) x 100%

Peso seco em estufa (g)

13

Page 16: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

4. Fontes de lenha

Calcula-se que 60% de toda a madeira

abatida nas florestas da Terra seja consumida

como combustível, quer de forma directa

ou de forma indirecta após a sua conversão

em carvão. A proporção de lenhas utilizadas

para o fabrico de carvão só pode ser

estimada, dadas as insuficiências estatísticas

da maior parte dos países do mundo tropical.

Estima-se assim, que cerca de 25% do total

de madeira abatida se destina ao fabrico

de carvão, ou seja cerca de 400 milhões

de m3/ano.

Nas operações de abate só parte do volume

lenhoso é utilizado para fins industriais (3.1(a)).

Os ramos (3.1(b)), as extremidades basais

do tronco que não são utilizáveis (3.1(c))

por serem de qualidade inferior e os cepos

(3.1(d)) podem ser uma fonte importante

de combustível lenhoso, excedendo

largamente o volume extraído para fins

industriais. Além disso, após a derruba,

é muito desejável remover total ou

parcialmente, os resíduos lenhosos rema-

nescentes antes de proceder a nova ocupação

do solo. O volume recuperável pode variar

entre alguns m3 e bastante acima dos 100m3

de volume sólido por ha, se se tratar

de formações florestais densas e forem

aplicados métodos e técnicas eficientes

de produção de lenha ou de carvão.

O combustível lenhoso pode representar

também um importante aproveitamento dos

desbastes das plantações florestais que,

de outra forma, poderão não ser

comercializáveis (3.2).

Em muitos países em desenvolvimento estão

ainda a ser desbravadas grandes extensões

para fins agrícolas, lançamento de linhas

de alta tensão, construção de estradas,

esquemas hidroeléctricos ou de irrigação

(3.3). Em tais casos, consideráveis quantidades

de material lenhoso têm de ser retiradas

num curto espaço de tempo. Muito deste

material lenhoso pode ser utilizado como

combustível desde que as operações

de recolha sejam adequadamente planeadas

e organizadas.

Na serragem, 50% ou mais do material lenhoso

que abastece as serrações transforma-se em

refugo, predominantemente sob a forma

de costaneiras (3.4). As costaneiras podem

ser usadas no fabrico de painéis de partículas

ou pasta para papel ou serem vendidas como

lenha.

Se não houver mercado local para absorver

as costaneiras como no caso, por exemplo,

das serrações móveis, aquelas podem ser

facilmente convertidas em carvão e assim

serem utilizadas em vez de amontoadas como

refugo, d i f icu l tando as operações

e aumentando os riscos de incêndio.

14

Fig.2: Medidas e termos usados

1

2

b

a

c

Page 17: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

5. Plantações energéticas

As árvores plantadas para produzirem

combustível lenhoso (ou madeira) devem

ser, de preferência, de fuste direito e ter

ramos sem espinhos por forma a facilitar

a colheita e o transporte (4.1).

Ao nível das aldeias as plantações comunitárias

devem ter uma densidade de cerca de

10 000 árvores por ha (compasso de 1 x 1m

por exemplo) para permitir colheitas rela-

tivamente cedo (4.2) enquanto que as

plantações florestais serão normalmente

plantadas com cerca de 3000 árvores por ha.

Plantar árvores à volta dos campos de cultivo,

delimitando-os e compar timentando

a paisagem, ou na constituição de cortinas

de abrigo para reduzir o efeito do vento

e ao longo de estradas e rios, é uma hipótese

importante a considerar na ocupação do

espaço rural pois proporciona não só madeira

e lenha mas também protecção e abrigo (4.3).

A lenha para a população rural será produzida

normalmente em rotações curtas, p.e. 4 anos

no caso da Leucaena leucocephala ou da

Acacia mangium ou 6-7 anos no caso

de eucaliptos em boas condições de estação,

para produzir rendimentos bastante cedo

e atingir dimensões que sejam de fácil manejo

com as ferramentas e os meios de transporte

simples que os agricultores localmente

disponham (4.4).

A talhadia de árvores produtoras de lenha

que podem produzir novos rebentos a partir

da toiça, é uma forma conveniente de rege-

neração. Os troncos podem ser cortados

próximo do solo (4.5(a)) ou a uma altura

que permita ao gado pastar à sua volta

(4.5(b)), caso seja desejável em sistemas

especiais agrosilvícolas. A talhadia para

produção de lenha pode também ser realizada

em associação com árvores produtoras

de madeira que poderão ser cortadas mais

tardiamente.

15

Fig.3: Fontes de lenha

Imagem 1: Plantação comunitária energética

na Guiné Conacri

1

2

3

4

2

c ab

Page 18: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

6. Factores fundamentais no abastecimento

de lenhas

O fornecimento de lenhas é a longo prazo

o elemento mais importante no fabrico

sustentável de carvão ou de lenha para

o abastecimento energético rural. Com

as tecnologias correntes e pouco evoluídas

tecnologicamente, 5t de lenha produzem,

em valores redondos, 1t de carvão. Assim,

a actividade de produção de carvão deve

ser vista como uma indústria com significado

económico (e não uma mera prática rapineira

como sucede actualmente um pouco por

toda a parte em Angola) onde os recursos

lenhosos sejam geridos para uma produção

regular de lenhas. Para cada pessoa, numa

comunidade que utilize car vão para

aquecimento ou para cozinhar é preciso

reservar cerca de 0,5 ha de floresta natural

para fornecimento perpétuo de lenha.

Se a madeira provier de uma plantação

energética bem gerida será necessário

um décimo daquela área.

O abastecimento sustentado de material

lenhoso para fornecimento de carvão

às grandes cidades nos trópicos, que não

têm condições para fazer uma transição para

outras fontes energéticas, pode ser uma

actividade importante do ponto de vista

económico e social, nomeadamente em zonas

de menor potencial agrícola como sucede

em extensas zonas do Planalto Central

de Angola. A gestão adequada, para além

dos aspectos da tecnologia florestal, deve

prestar apertada atenção aos aspectos da

interacção social entre a população rural

e as plantações que venham a ser realizadas,

se se quiser que a sua existência e

produtividade sejam mantidas e respeitem

as directivas

e objectivos ambientais. Em muitos casos,

principalmente para solos já esgotados

e degradados e em plantações de rápido

crescimento, um suprimento de fertilizantes

deve ser equacionado. O efeito a longo prazo

da exploração de plantações energéticas por

sistema de extracção de árvore total, por

exemplo, deve ser cuidadosamente

monitorizado para controlo do balanço

de nutrientes no solo.

Em termos das decisões estratégicas,

a extensão das plantações a efectuar,

os modelos de enquadramento das popu-

lações e os necessários arranjos em termos

do ordenamento do espaço, bem como

a análise das vantagens e inconvenientes dos

destinos alternativos do produto das planta-

ções, face a eventuais usos de maior valor

acrescentado em termos das estratégias

industriais nacionais e regionais, devem ser

cuidadosamente ponderados. Finalmente,

a escolha das espécies para o fabrico de

16

Fig.4: Plantações energéticas

1

3

4

5

2

Page 19: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

carvão e as formas e modelos que as

plantações vão assumir são muito importantes

desde o início. O que interessa a médio

e longo-prazo é o rendimento em carvão

que pode ser obtido por ha, expresso em

unidades de energia, posto à por ta do

utilizador. A escolha das espécies e a maneira

como as plantações são geridas joga um

papel importante na estratégia de investir

e fomentar as plantações energéticas. Apesar

de os eucaliptos serem as espécies mais

util izadas para o fabr ico de car vão

e a produção de lenhas, as vantagens

de outras folhosas e mesmo de espécies

de pinheiros podem proporcionar elevados

rendimentos, principalmente se o plano

de exploração for de tipo misto, lenhas nos

desbastes e produção de madeira

nas rotações mais longas.

7. Ferramentas manuais e equipamentos

para extracção de material lenhoso

Operações eficientes de abate e preparação

de lenhas exigem ferramentas bem

conservadas e de boa qualidade.

São essenciais as seguintes:

Machado (com peso entre 0,8 e 1,5kg);

Serra de arco individual (comprimento 1m);

Serrão para corte transversal para 2 operadores

(comprimento usual entre 1,20-1,60m);

Podão direito;

Martelo de rachadura (com peso de cerca

de 2,5Kg);

Cunhas (para abate, torragens e rachadura);

Gancho de mão para movimentação

ou remoção;

Gancho de arrasto da madeira e picão

de madeira;

Régua de medição ou fita métr ica;

Capacete de segurança para abatedores

de árvores e estojo de primeiros socorros.

8. Fabrico de Cabos de Ferramentas

Para prender um pedaço de madeira enquanto

se faz um cabo, é muito simples e prática

a estrutura produzida com madeira e com

dois pedaços de um velho pneu (6.1(a)).

O grampo fecha-se quando se baixa

a plataforma (6.1(b)) e abre-se quando esta

se levanta (6.2(a)). A ferramenta fica

firmemente segura entre as duas peças

de borracha enquanto o trabalhador

permanece sobre a plataforma. A altura

do seu cotovelo deve corresponder, então,

à altura da abertura do grampo.

Bons cabos de ferramentas (por exemplo,

machados, ganchos e enxadas) são

extremamente importantes para assegurar

17

Fig.5: Ferramentas e equipamentos

1

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10

Page 20: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

um trabalho conveniente e eficiente. O cabo

deve ajustar-se perfeitamente ao trabalhador

(tamanho da mão, comprimento do braço

e altura) e ao tamanho e peso da ferramenta.

Ele deve ser feito de madeira apropriada

a fim de durar bastante tempo.

O grampo apresentado pode ser utilizado

igualmente para outros fins, tal como

por exemplo, prender uma catana

ou um machado para afiamento.

9. Limitações do trabalho com o machado

O trabalho de abate com um machado

deve limitar-se a árvores de pequenas

dimensões (7.1).

A utilização de machados no abate de árvores

de grande porte (7.2) tem como resultado

o desperdício de material lenhoso e torna

mais difícil orientar a queda na direcção

desejada. Neste caso os machados devem

ser usados apenas para fazer o entalhe

de orientação da queda.

Deve igualmente evitar-se a operação

de toragem com machados (7.3). Na verdade,

com material lenhoso de grandes dimensões

podem ocorrer perdas da ordem dos 30 %

em relação ao volume total se o material for

cortado com 1m de comprimento ou menos.

O corte com serra causa um desperdício

menor e exige muito menos esforço do que

o trabalho com machado (7.4).

Além disso, um corte preciso com a serra

permite uma medição e empilhamento mais

homogéneo assim como um carregamento

mais denso aquando do seu transporte.

18

Fig.6: Fabrico de cabos de ferramentas

Fig.7: Limitações no trabalho com o machado

1

2

c

a

b

1

3

4

2

Page 21: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

10. O uso de serras no abate de árvores

As serras individuais de arco, com lâminas

for temente tensionadas, podem abater

árvores com um diâmetro de 20-25cm (8.1)

que são a fonte primária mais importante

para a obtenção de lenhas.

Para árvores com um diâmetro superior

a 20-25cm, já aqui na perspectiva da obtenção

de madeira para obra, é preferível

um seccionamento da toragem com um

serrão manejado por dois operadores (8.2).

As motosserras só devem ser utilizadas

nos países em vias desenvolvimento em casos

especiais (níveis salariais relativamente

elevados, facilidades de manutenção, escassez

de operadores de abate, pressão por rapidez

de tempo de extracção, como sucede após

estragos devidos a furacões, etc.). Deve

adver tir-se no entanto, que o uso

de motosserras se revela, geralmente,

anti-económico quando utilizadas unicamente

para operações de produção de lenha.

11. O uso de moto-serras

Quando se utilizam moto-serras é importante

que elas satisfaçam as condições básicas

de segurança. É fundamental terem

um manipulo de protecção frontal com travão

da corrente (9.1(a)), uma patilha de controlo

do acelerador (9.1(b)), um manipulo traseiro

de protecção (9.1(c)), dispositivos redutores

da vibração (9.1(d)), uma corrente pouco

folgada (9.1(e)), e uma cobertura da lâmina-

guia (9.1(f)).

Para a gasolina e o óleo da corrente

recomenda-se ter, na zona de trabalho,

um recipiente combinado contendo 5 litros

de gasolina e 2 litros de óleo (9.2(a)),

e um funil com filtro (9.2(b)).

Para manutenção e reparação da moto-serra

deve dispor-se de um estojo com artigos

de assistência (9.3), que contenha uma chave

de porcas em T (a), uma lima redonda (b),

um grampo (c), uma corrente sobresselente

(d), um filtro de ar de substituição (e)

e uma pequena escova (f).

O operador da moto-serra necessita

de um capacete de segurança, adaptado

com uma viseira de protecção para os olhos,

tampões para os ouvidos (9.4(a)), e um estojo

de bolso de primeiros socorros (9.4(b)).

Deve utilizar, além disso, luvas (9.5(a)) e botas

com solas anti-derrapantes e com protecção

metálica própria para trabalhos florestais

(9.5(b)).

Sendo as moto-serras um equipamento

de elevada perigosidade, os seus operadores

necessitam de um treino especial antes

de iniciarem a sua actividade.

19

Fig.8: Uso de serras no abate de árvores

1

3

2

Page 22: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

12. Técnicas de abate de pequenas árvores

As árvores pequenas são abatidas por meio

de um machado cor tando-as de ambos

os lados (10.1).

A serra de arco, com elevado tensionamento

da lâmina, pode ser usada para cor tar

pequenas árvores pela base, efectuando um

corte oblíquo (10.2) ou fazendo um pequeno

entalhe de um lado e um corte de abate

do outro (10.3). Em circunstâncias normais,

o limite máximo do diâmetro para abate

com serra de arco é de cerca de 20-25cm.

13. Técnicas de abate de árvores de média

e grandes dimensões

O abate de árvores de média e grande

dimensão exige perícia, experiência e atenção

especiais durante o trabalho para evitar

acidentes e prejuízos.

Para a sua execução tornam-se necessários

um entalhe apropriado (11.1(a)) e um corte

de abate na face oposta (11.1(b)), deixando

uma charneira (11.2(a)) para orientar a queda

da árvore na direcção desejada. Pequenos

cortes laterais (11.1(c)) e (11.2(b)) evitam

a rotura das fibras das árvores durante

a queda. A profundidade do entalhe deverá

ter cerca de 1/5 a 1/3 do diâmetro. O corte

na face oposta deve ficar 2-5cm mais alto

do que a base do entalhe.

Para evitar a compressão e prisão das serras,

será necessário a aplicação de cunhas (11.3).

A aplicação das cunhas também forçará, se

necessário, a queda da árvore.

Para abater árvores inclinadas e grandes

árvores tropicais utilizam-se técnicas especiais.

20

Fig.9: Utilização de moto-serras

Fig.10: Técnicas de abate de pequenas árvores

1

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4

2

5

c

b

ae

df

a

b

ab c

de f

a b

a b

1

32

Page 23: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

As técnicas de abate aconselhadas estão

expostas com maior detalhe no manual de

treino atrás indicado.

14. Desenraizamento total da árvore

Os cepos das árvores podem ser usados

como combustível lenhoso ou para

carbonização desde que o terreno seja

razoavelmente plano e os cepos não sejam

necessários para fixar ou drenar o solo.

Em casos especiais, a sua remoção pode ser

desejável para facilitar trabalhos agrícolas

subsequentes.

A maneira mais fácil para remover os cepos

é retirar a árvore inteira juntamente com

a própria toiça. Isto faz-se escavando o solo

em torno da base da árvore e cortando

as raízes principais (12.1).

Em seguida a árvore é empurrada ou puxada.

Um guincho manual (12.2(a)) e uma roldana

(12.2(b)) podem ser usados para este

trabalho. Para elevar o cepo pode colocar-

se um apoio saliente em frente da árvore

(12.2(c)).

As restantes raízes que ainda permaneçam

no terreno são cortadas e a terra aderente

é retirada do cepo antes de o separar

do terreno. Esta operação é facilitada desde

que a árvore se encontre assente sobre

o apoio (12.3).

Nas grandes operações mecanizadas

as árvores podem ser empurradas ou puxadas

por tractores.

Fig.12: Desenraizamento total da árvore

21

Fig.11: Técnicas de abate de árvores

de média e grande dimensão

1

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2

ab

c

a

b

b

ab

c

1

3

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Page 24: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

15. Desenraizamento dos cepos

Para desenraizar cepos são úteis ferramentas

como pás, enxadas, alavancas, barras, picaretas

e cunhas.

Os cepos mais pequenos de árvores com

raízes superficiais podem ser retirados com

relativa facilidade por meio de uma alavanca

uma vez cortadas as raízes principais (13.1).

Para extrair cepos maiores e mais profun-

damente enraizados deve abrir-se uma

caldeira mais profunda em torno deles (13.2).

O cepo é então rachado em pedaços mais

pequenos por meio de cunhas e alavancas

(13.3).

Em áreas extensas, a utilização de um tripé

e um guincho manual (13.4) são úteis para

a extracção de cepos de pequena e média

dimensão.

No Município de Ecunha, principalmente

na estrada Caála-Ecunha existem largos

milhares de hectares (cerca de 3500 ha)

de uma grande plantação de Cupressus

lusitanica, Pinus patula e alguns Eucalyptus

saligna em que as árvores foram sendo

abatidas tendo ficado os cepos, cuja biomassa

representa uma volume importante de lenha

hoje sem utilidade. Se nos lembrarmos que

o cepo representa entre 17 a 20% do peso

seco da árvore poderemos ter a ideia

do potencial lenhoso para o fornecimento

de lenha ou carvão que se encontra

abandonado e cuja utilização ajudava a aliviar

a pressão sobre a mata de miombo ainda

restante.

16. Toragem

Para árvores de pequenas dimensões deve

usar-se um suporte portátil (14.1). Este facilita

o trabalho e evita o contacto da par te

dentada da ferramenta de cor te com

o terreno. Este tipo de suporte pode ser

feito facilmente no próprio local.

As serras de arco são de uso cómodo para

a toragem até um diâmetro de 20 cm (14.2).

Em operações manuais e para árvores com

diâmetros superiores a 20 cm, a serra

de arco deve ser substituída por um serrão.

O comprimento do serrão deve ter, pelo

menos, o dobro do diâmetro da árvore

a ser cortada (14.3).

De acordo com os diâmetros das árvores

a cortar recomenda-se o seguimento das

seguintes indicações para escolha do com-

primento do serrão:

22

Fig.13: Desenraizamento dos cepos

1

3

2

4

Page 25: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

Para diâmetros acima dos 80 cm, o com-

primento do serrão deve ser ligeiramente

superior a duas vezes o diâmetro da árvore.

Para evitar a compressão do serrão

no momento da operação de abate, reco-

menda-se o uso de cunhas (14.4).

As motosserras podem ser usadas para

toragem de árvores com diâmetro duplo

do comprimento da lâmina guia (14.5).

Poder-se-á encontrar informação suplementar

sobre toragem no manual de treino

já mencionado.1

1 Veja Motoserras nas Florestas Tropicais versão portuguesa,

IPF, (Lisboa 1982).

17. Transporte manual de lenha

Deve ser evitado, tanto quanto possível,

o transporte manual de lenha. É um trabalho

pesado e pouco rentável que somente

é aceitável para curtas distâncias de alguns

metros.

Empregando dentes de arrasto, os toros

pequenos podem ser removidos facilmente

para a local onde a lenha será cor tada,

empilhada ou carbonizada (15.2).

Os dentes devem ser cravados próximo

da extremidade do toro para obter um efeito

de levantamento e assim facilitar o arrasto.

Se o terreno e a cober tura do solo

o permitirem, o carrinho de mão é um

excelente meio para reunir cargas

de pequenos pedaços de lenha para serem

transportadas em curtas distâncias (15.3).

23

Fig.14: Toragem

Quadro 1: Escolha do comprimento do serrão

Fig.15: Transporte manual de lenha

1

3

2

4

5

1

3

2

Page 26: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

18. Uso de rodas na extracção

Na extracção, as rodas são meios expeditos

para tornar a movimentação manual

de árvores e toros mais simples e eficiente.

São com certeza uma forma expedita de dar

utilização a inúmeras árvores de grandes

dimensões, já mortas ao longo de caminhos

e picadas no Município de Ecunha e que

poderão ser utilizadas para lenhas e produção

de carvão.

Para esta operação há duas espécies de rodas:

A roda de extracção por levantamento

(16.1) é utilizada em desbastes para deitar

abaixo árvores que não caíram após o corte

e permanecem enganchadas nos ramos das

árvores vizinhas. Deve ter-se cuidado em

assegurar-se que não existem feixes de fibras

fixando a árvore ao cepo. A roda de extracção

liga-se com uma corrente à parte terminal

da base da árvore (16.1(a)). Quando o braço

é baixado a par te traseira da roda

de extracção avança e ergue-se e, assim,

as árvores podem ser facilmente deslocadas

e trazidas a uma posição horizontal (16.1(b)).

Por razões de segurança, as árvores grandes

devem ser afastadas lateralmente do cepo

antes de serem abatidas. Se a árvore empurra

a zona de extracção com força excessiva,

a lança (ou braço) deve ser levantada para

baixar a extremidade da base da árvore que

assim actuará como um travão.

O arco de arrasto (16.2) é utilizado para

transpor te a cur tas distâncias de toros

de pequenas dimensões, especialmente em

declives. Mas, mesmo para dimensões médias,

é uma forma menos penosa de deslocar

os toros por arraste como se pratica no

Município (imagem 2) ou de os carregar para

as carroças de tracção animal (imagem 3).

As cargas podem consistir em toros isolados

ou feixes de toros com um peso até 200kg.

Em terreno plano as cargas são presas

ao nível do seu centro de gravidade. Em

declives crescentes, a carga é deslocada mais

para trás para servir de travão.

Podem associar-se também, dois arcos

de arrasto para deslocar toros maiores (16.3).

Neste caso a carga é guiada pela lança

dianteira e por outra traseira. Em declives,

a parte traseira do toro deve ficar perto

do solo para facilitar, se necessário, uma rápida

travagem.

Em declives muito acentuados, os dois arcos

de arrasto podem ser operados conjun-

tamente (16.4). Devem ser ligados por um

cabo que é guiado por duas roldanas fixas

a árvores vizinhas (16.4(a)).

O arco com carga (16.4(b)) é assim

aproveitado para rebocar o arco vazio

(16.4(c)), acompanhado pelo trabalhador

que o guia com a lança.

Os arcos podem ser produzidos em oficinas

locais com tubos de aço de secção circular

ou quadrada, soldados entre si. As rodas são

habitualmente feitas com rodado de sucata

de automóveis sendo os diâmetros das rodas

de cerca de 45cm. As rodas de extracção

são de ferro adaptadas com saliências

dentadas para aumentar a tracção. A largura

é de 110 cm e o comprimento de 250-300 cm.

O arco de arrasto pode ter rodas de ferro

ou madeira adaptados com pneus. A sua

largura é de 100 cm e o seu com-primento

de 200 a 250 cm.

24

1

2

Page 27: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

19. Plano inclinado para extracção

de madeira

Atendendo a que a zona do Quipeio

apresenta zonas bastante onduladas, tornando

penoso o transporte de lenhas das zonas

mais altas, é possível considerar formas fáceis

de extracção de lenhas por processos

que acarretam reduzidos impactos ambientais

como quase sempre sucede com a abertura

de caminhos. O uso de calhas de madeira

ou de PVC, é uma solução para proporcionar

o deslizamento de pequenos toros

ou pedaços de material lenhoso ao longo

de declives com um gradiente de 25%

ou mais.

Comercialmente estão disponíveis calhas

de plástico em segmentos de 5 m e com

um diâmetro de 35-50 cm. As calhas, com

um diâmetro de 40 cm, podem conduzir

toros com um comprimento até 5 m

e pequenas secções com um diâmetro até

30 cm.

As calhas podem ser usadas em distâncias

até 150 m. Sob condições favoráveis podem

ser transportados 2 m3 empilhados por hora.

25

Fig.16: Rodas de extracção

Imagem 2: Transporte de toros por arraste

Imagem 3: Transporte de toros por carroças

de tracção animal

Fig.17: Utilização de calhas na extracção

de madeira

1

32

4a

b

c

a

Page 28: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

As calhas podem ser facilmente interligadas,

graças a diferentes sistemas de união. Elas

podem ser feitas localmente a partir de tubos

plásticos cor tados longitudinalmente

ou a partir de outros materiais.

20. Transporte com a utilização de animais

e tractores

Bois, vacas ou cavalos podem ser utilizados

para o transporte de lenha para a estrada

mais próxima, para o mercado ou para

o consumidor (18.1). Para transportar cargas

maiores, tornam-se necessários arreios

apropriados e um carro resistente equipado

com pneumáticos de borracha e um sistema

de travagem. Há inúmeras hipóteses

de melhorar ou tornar mais versátil este tipo

de transporte.

Os tractores agrícolas equipados com um

simples guincho de tambor e uma barra

de tracção facultam um meio de relativamente

baixo custo para arrasto de toros

de pequenas e médias dimensões, resultantes

por exemplo, de desbastes (18.2). O uso

de tractores agrícolas justifica-se em zonas

onde o nível salarial seja relativamente alto,

os operadores possam ser adequadamente

treinados e haja razoáveis facilidades

de manutenção e reparação de máquinas,

como é o caso do Município de Ecunha,

através da Coopecunha.

21. Rachadura de lenha

Para tornar mais fáceis o manuseio

e o transpor te de pedaços de madeira

de grandes dimensões e para reduzir o tempo

necessário para a secagem, o material lenhoso

com um diâmetro superior a 20 cm deve

ser rachado após toragem. Na falta de ferra-

mentas de rachadura, as peças de material

lenhoso maiores com qualidades intrínsecas

para produzir combustível, ficará por

aproveitar.

A rachadura exige machados e cunhas

de boa qualidade. O mar telo deve ter

um peso da ordem dos 2,5kg e um cabo

direito, de cerca de 90 cm de comprimento

e com uma protuberância esférica saliente

na extremidade livre (19.1). Cunhas de aço

com uma cabeça já desgastada tipo cogumelo

não devem ser usadas (19.2). Uma cunha

perfeita de rachadura tem uma base em aço

e uma cabeça em madeira e um anel

do mesmo metal (19.3).

26

Fig.18: Transporte com a utilização de animais

e tractores

1

2

Page 29: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

As dimensões mais comuns entre o bordo

fino da cunha e o anel são de 200 mm

e a largura do bisel de 52 mm. As dimensões,

principalmente com cunhas de madeira,

podem no entanto ser ajustadas de acordo

com o diâmetro do toro conforme

as recomendações descritas abaixo:

As medidas (cm) a utilizar devem obedecer

às que se indicam no esquema seguinte:

As cunhas de madeira são preferíveis nos

meios rurais onde a actividade de produção

de lenha é pequena e para madeiras que

não sejam muito densas. A confecção das

cunhas de madeira segue os esquemas

da figura 20.

Tendo presente que a madeira racha

diferentemente consoante a espécie arbórea

de que provém, as técnicas de rachamento

devem ser modificadas apropriadamente.

Para lenha que racha facilmente, um número

reduzido de pancadas com o lado cortante

do martelo de rachadura na extremidade

do toro será suficiente. Para madeira mais

difícil de rachar crava-se uma cunha junto

da extremidade do toro, podendo ser

necessário a inserção de mais cunhas,

até se obter a separação completa.

27

Fig.19: Rachadura da lenha

Fig.20: Confecção das cunhas de madeira

Quadro 2: Recomendações para medidas

de cunhas

Cunhas paradiâmetros

normais (cm)

3-5

20-28

4-6

Cunhas paradiâmetros

grandes (cm)

8-10

30-35

10-12

a

b

c

1

2

3

1

2

3

b

c

a

a

b

ca

Page 30: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

22. Manuseamento de pequenos toros

e achas

Se se utilizarem simples ferramentas auxiliares,

o carregamento e empilhamento tornam-se

mais fáceis.

Na falta de tais ferramentas auxiliares,

o trabalhador tem que se dobrar

e endireitar-se para erguer a lenha do terreno

que pode inclusivamente estar enlameada

(21.1(a)).

Um picão para madeira facilita muito

o levantamento e manuseamento

de pequenas peças de lenha (21.1(b)).

Diferentes tipos de ferramentas para

manuseio deverão estar disponíveis tais como

ganchos de mão metálicos (21.2), picões

de madeira com um cabo curto de madeira

que se ajuste à mão do trabalhador (21.3),

ou pequenos ganchos de arrasto (21.4). Este

último instrumento é par ticularmente

manejável mas os anteriores podem ser feitos

localmente com mais facilidade.

23. Enfeixamento da lenha

Com uma simples estrutura de madeira,

como nos mostra a figura (22.1(a)), uma

corrente de fixação (22.1(b)) e uma vara

de aperto (22.1(c)), é possível fazerem-se

feixes densos de lenha de tamanho uniforme

(22.1(d)). Estes feixes assim elaborados

permitem uma arrumação melhor na altura

do seu transpor te e são de mais fácil

comercialização do que os mal arrumados

e de dimensão irregular.

O feixe é reunido num encaixe constituído

por quatro varais, colocados no cimo

da estrutura, aper tado pela corrente

e amarrado firmemente com arame

proveniente, por exemplo, de pneus

queimados (22.2).

Formar feixes desta maneira é um meio

prático de aproveitamento das varolas

de pequenas dimensões assim como de

ramos resultantes de desperdício de derrubes

e abates de árvores, nomeadamente nas

plantações energéticas ao nível das aldeias.

28

Fig.21: Manuseamento de pequenos toros

Fig.22: Enfeixamento da lenha

1

32

4

a b

1

3

2

ab

c

d

Page 31: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

24. Empilhamento de Lenha

A lenha deve ser normalmente amontoada

em pilhas com 1m de comprimento, 1m

de altura e 1 de largura (23.1). 1m cúbico

empilhado ou 1 estere tem assim, 1 m de

comprimento, 1 m de altura e 1 m de largura.

A pilha pode ter vários metros de com-

primento, dependendo do espaço e da lenha

disponíveis.

Se o espaço é restrito, a pilha pode ser

de maior altura, ultrapassando 1 m. Em casos

especiais, a lenha pode ser cor tada em

comprimentos maiores ou menores.

O volume em m3 empilhados é então

calculado multiplicando o comprimento,

a altura e a largura, em m. 1m3 empilhado

é normalmente usado como base para

o pagamento de salários, rendas e para

o controlo da produção de lenha.

A pilha de lenha deve assentar em pequenas

peças de madeira para facilitar a secagem

(23.1(a)). Os lados devem ser mantidos

na sua posição por estacas (23.1(b)).

No caso de pilhas compridas e lenha

escorregadia, tornam-se necessárias duas

estacas para manter a pilha firmemente segura

sobre um lado.

A lenha pode também ser preparada

em feixes de dimensões uniformes, os quais

podem ser empilhados entrecruzados sobre

ripas de madeira, o que facilitará a secagem

e o controlo do volume (23.2).

Para uso doméstico é geralmente necessário

rachar a lenha em pedaços menores que

devem ser empilhados, com os toros

ou achas orientados de forma que se ocorrer

chuva, a água escorra rapidamente para

complementar a secagem ao ar livre (23.3)

ou colocada em abrigos bem arejados.

25. Secagem da lenha

A secagem da lenha antes da queima ou

da carbonização é essencial para reduzir

o peso a transpor tar e aumentar

a recuperação de energia.

As pilhas de lenha ou do material lenhoso

preparado para carbonização devem

portanto, ser instaladas de preferência em

locais bem arejados e soalheiros. Além

da rachadura, a remoção parcial ou total

da casca ajuda a acelerar a secagem (24.1).

29

Fig.23: Empilhamento de lenha

1

3

2

a

b

Page 32: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

As peças com diâmetro superior a 30 cm

que não sejam difíceis de rachar podem ser

cor tadas em comprimentos superiores

a 100 cm para facilitar a secagem (24.2).

O material lenhoso recém-abatido pode ter

um teor de humidade oscilando entre 60

a 90%. A lenha seca ao ar ainda retém,

dependendo das condições climáticas, cerca

de 15-30% de humidade.

Comparada com lenha seca ao ar ou com

um teor de humidade de 20% (24.3(a)),

pesando 600 kg por m3 de volume sólido,

a lenha recém-abatida com um teor

de humidade de 60 % (24.3(b)) tem

um valor calorífero de somente 80%, mas

o peso no seu transporte aumenta em cerca

de 130 %.

Geralmente a lenha deve secar por períodos

de pelo menos 2-3 meses antes de ser

utilizada como tal ou ser carbonizada. Se não

houver perigo do material lenhoso ser

destruído por fungos (apodrecimento

da madeira) ou insectos, a secagem pode ser

consideravelmente alongada. Contudo,

quando tal perigo existe, a secagem deve ser

tão rápida quanto possível.

Durante os períodos de fortes chuvadas

pode ser aconselhável interromper

a operação de produção de lenha e carvão

por causa das dificuldades de secagem

do material lenhoso a um nível inferior

ao do desejável teor de humidade.

26. Diferenças entre lenha e carvão

Durante a carbonização a lenha perde 50%

ou mais do seu valor energético (25.1).

É preferível, portanto, usar lenha se a distância

de transpor te for pequena. Todavia,

para distâncias superiores a 100 km,

o transporte de lenha torna-se normalmente

anti-económico.

O carvão é um combustível mais leve e mais

valioso do que a lenha podendo ser

transportado economicamente a distâncias

até 1000 km. Pesa somente cerca de 20%

quando comparado com a lenha seca

ao ar (25.2).

O teor de energia de um kg de carvão

é o dobro do que um kg de lenha (25.4).

O preço de um kg de carvão pode ser 10

vezes superior ao do preço de um kg

30

Fig.24: Secagem da lenha

1

3

2

a

b

Page 33: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

de lenha (25.5). Veja-se por exemplo,

que um saco da ordem dos 60 kg é vendido

na estrada do Quipeio por 300 Kz e que

o mesmo saco no centro de Luanda

é vendido por 1500 Kz.

Comparado com a lenha, o carvão é mais

fácil de armazenar, não exige redução

da dimensão antes da sua utilização e arde

quase sempre sem fumo se a carbonização

tiver sido bem conduzida e com uma

temperatura elevada.

O carvão é altamente apreciado como

combustível doméstico. Pode ser também

usado como combustível industrial como

forma de aquecimento a altas temperaturas,

nas forjas para o trabalho dos ferreiros,

na moldagem de metais ou como redutor,

por exemplo, na produção de aço. No Brasil

existe um número significativo de siderurgias

de ferro que usam carvão vegetal proveniente

de plantações propositadamente plantadas

para o efeito.

O carvão activado é ainda utilizado em filtros

como por exemplo de purificação de água.

27. O processo de carbonização

O material lenhoso converte-se em carvão

quando é sujeito a pirólise (carbonização

ou destilação destrutiva - assadura da madeira

na gíria popular em Angola) (27.1(a))

ou aquecido (27.1(b)) sob fornecimento

de ar reduzido e controlado para evitar

a combustão completa da madeira, o que

a reduziria a cinza.

A carbonização realiza-se segundo as seguintes

fases:

Após a elevação da temperatura por

aquecimento, a água contida no material

lenhoso é expulsa por evaporação (27.2(a));

Quando a temperatura ultrapassa

os 270ºC, os gases e líquidos voláteis são

libertados da lenha. Durante esta fase,

os gases inflamam-se facilmente na presença

do ar de forma que não se torna necessário

outra fonte de calor. A temperatura elevar-

se-á até cerca de 400-600ºC dependendo

do tipo de forno e do controlo do ar (27.2(b));

31

Quadro 3: Valores comparativos de diferentes

combustíveis

Fig.25: Diferenças entre lenha e carvão

1

2

3

4

5

Page 34: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

Uma vez que os gases tenham sido na

sua maior par te liber tados da lenha,

o fumo tornar-se-á ténue e passará de

cinzento a azul ou transparente. Nesta fase

a carbonização está terminada e a lenha

transforma-se em carvão (27.2(c)). Se o ar

estiver a mais, reduzirá o carvão a cinzas,

devendo portanto, ser fechada a sua admissão

e o carvão arrefecido antes de ser exposto,

com segurança, ao ar livre. Mesmo assim,

devido ao perigo inicial de auto-ignição,

o carvão não deverá ser metido em sacos

ou em quaisquer meios de transporte,

durante pelo menos meio dia.

O carvão é normalmente produzido em

fornos nos quais o material lenhoso é utilizado

na combustão inicial até ao ponto em que

se alcança suficiente calor pelo próprio

processo de carbonização.

O ar não é realmente necessário no processo

de pirólise e de facto, nas actuais tecnologias

avançadas de produção, nenhum ar é admitido

no processo, facto que resulta num maior

rendimento da pirólise dado que nenhuma

madeira se queima com a presença de ar

e o controlo de qualidade é mais eficaz.

Uma vez iniciado o processo de pirólise

(ou decomposição térmica) ele continua por

si mesmo liber tando uma quantidade

considerável de calor. Contudo, a pirólise

da celulose e lenhina que constituem

os materiais constitutivos mais importantes

da madeira, só se inicia quando a temperatura

da madeira atinge cerca de 270-300ºC.

Nos fornos tradicionais alguma da madeira

carregada no forno é queimada para secar

a lenha e elevar a temperatura de toda

a carga de madeira, para que a pirólise possa

iniciar-se a cerca de 270-280ºC. A madeira

queimada neste processo é perdida e, quanto

mais húmida estiver e mais ar estiver

disponível, pior é o rendimento do processo

de carbonização porque a evaporação

de humidade e dos voláteis limitam

a temperatura no forno. Por contraste,

o sucesso dos processo modernos nos fornos

contínuos mais sofisticados na produção

de elevados rendimentos, resulta da forma

como foi resolvida a recuperação do calor

libertado durante o processo e que é perdido,

na sua grande maioria, nos processos

tradicionais para aquecimento da lenha.

Assim nos sistemas modernos, como o que

se apresenta de uma forma esquemática,

o calor recuperado é utilizado no aque-

cimento da madeira que vai entrando

na retorta fazendo com que a mesma atinja

a temperatura de pirólise sem que

se necessite de queimar madeira para

o aquecimento. O gás que se liberta durante

o processo é queimado para satisfazer

as perdas de calor que se processam através

das paredes ou outras partes do equipamento

de processo.

32

Fig.26: Processo de carborização I

P - Reactor de PiróliseD - Reactor de SecagemC - Reactor de Arrefecimento

4 - Câmara de Combustão5 - Permutador de Calor6 - Queimador7 - Ventoinhas

Page 35: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

No processo de carbonização produz-se

carvão e também pequenas quantidades

de resíduos de alcatrão, alguma cinza, gases

combustíveis (metano e etano) e alguns

produtos químicos como o ácido acético,

o metanol e uma grande quantidade de água

que é libertada sob a forma de vapor. As

emissões de produtos orgânicos e de CO

(monóxido de carbono) são naturalmente

combustados liber tando CO2 (anidrido

carbónico) e água antes de se libertarem

da zona forno. Os valores das emissões

dependem do tipo de madeira usada

e do tipo de carbonização utilizado.

Nas retortas, o material lenhoso é aquecido

por uma fonte exterior de calor (27.1(b)).

As retortas podem ser usadas para recuperar

subprodutos como ácido acético, alcatrão

de madeira e metanol. Isto exige instalações

sofisticadas e dispendiosas e um abasteci-

mento de lenha ou desperdícios da indústria

de madeira em grande escala e em ritmo

continuado. Nos fornos tradicionais, a simples

recuperação em pequena escala de sub-

produtos não tem tido sucesso (excepto

para o alcatrão que é algumas vezes recolhido

como sucede nos fornos senegaleses).

A carbonização rápida a baixa temperatura

produz um carvão com um teor de carbono

fixo da ordem dos 60-80% e uma alta

percentagem de gases voláteis. Arde

facilmente e é o preferido para fins

domésticos. A carbonização lenta a elevadas

temperaturas resulta num carvão com

um teor de carbono fixo de 80-90%,

contendo menor quantidade de voláteis

e é, normalmente, o preferido para fins

industriais.

A carbonização lenta a baixa temperatura

resulta numa produção mais elevada

de carvão mas a qualidade do carvão é mais

baixa, o mesmo é corrosivo devido ao elevado

conteúdo de ácidos de pirólise e não arde

com uma chama sem fumo.

Um carvão comercial bom deve ter um

conteúdo de carbono fixo da ordem de 75%

o que se consegue com uma temperatura

final de carbonização da ordem dos 500ºC.

Dados os inúmeros processos e variáveis

envolvidas no processo de carbonização,

torna-se difícil explicitar os procedimentos

óptimos para um bom produto e máximo

rendimento.

Neste contexto este manual refere algumas

regras simples ao alcance dos pequenos

operadores. Para começar, os carvoeiros

devem escolher a madeira mais adequada,

fundamentalmente madeira de folhosas

de densidade alta (pesadas - massa volúmica

entre 0,80 e 1,00 g/cm3) a média (mode-

radamente pesadas - massa volúmica entre

0,65 e 0,80g/cm3). A madeira deve estar tão

seca quanto possível e as peças não devem

ter mais de 20cm de espessura.

A lenha utilizada para aquecer o carregamento

e secá-lo para poder iniciar-se a pirólise pode

ser de pior qualidade e de secções menores

33

Fig.27: Processo de carborização II

1

2

a

b

c

a b

Page 36: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

visto que a sua função é a de secar e elevar

a temperatura do carregamento para iniciar-

se a carbonização. Deve tentar-se que

a temperatura final atinja valores próximos

dos 500ºC através de toda a carga. Com

fornos de tipo trincheira este desiderato

é difícil de atingir dado que a circulação

de ar e os efeitos de arrefecimento são

irregulares deixando zonas mais frias de que

resu l tam lenhas insufic ientemente

carbonizadas (refugos) (imagem 4) e outras

zonas com excesso de cinzas ou carvão

a desfazer-se (finos). Daí a importância de

usar fornos de concepção melhorada com

possibilidades de melhor controlo.

Na tabela e gráfico que se apresenta, esque-

matiza-se o efeito final da temperatura

de carbonização no rendimento e composição

do carvão.

28. Diferentes tipos de fornos de carvão

Tal como se apresenta no esquema, há uma

grande variedade de tecnologias e processos

de fabrico de carvão que se diferenciam

de acordo com a complexidade de processos,

dos sistemas de pirólise e de movimentação

de carga e descarga da lenha e do carvão.

Como tal, está fora dos objectivos e do âm-

bito deste manual fazer a sua revisão.

Dar-se-á atenção unicamente às tecnologias

mão-de-obra intensivas, com tecnologias

tradicionais em que se chama a atenção para

melhorias nas tecnologias facilmente acessíveis

quer pelos carvoeiros tradicionais quer pelas

34

Imagem 4: Refugos resultantes de um forno

de trincheira na estrada dae Ecunha-Quipeio

Quadro 4: Efeito da temperatura de carbonização no rendimento e composição do carvão

Química análise do carvãoTemperatura

de carbonização(ºC)

300500700

% de carbono fixo

688692

% de material volátil

31137

Rendimento do carvãocom base na madeira

seca em estufa

% de humidade

423330

Gráfico 1: carbonização da madeira

adapt. de: Briane, D., Doat, J. (1985)

Guide Technique de la Carbonisation

La Fabrication du Charbon de Bois, Édisud

Page 37: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

cooperativas que pouco a pouco se vão

implementando no meio rural.

As informações contidas neste manual podem,

se generalizadas pelas organizações

responsáveis por implementar tecnologias

adaptadas com melhores taxas de conversão,

contribuir para uma oferta mais sustentada

de energia doméstica rural e urbana com

menores impactos ambientais, quer por

reduzir a pressão sobre as florestas, quer pela

redução da emissão de gases condensáveis

muito prejudiciais para o meio ambiente

e para a própria saúde dos operadores.

Tradicionalmente, tal como há milhares

de anos, o carvão é produzido em fornos

de terra. Estes podem consistir de trincheiras

aber tas em terreno plano (29.1(a)), em

encostas (29.1(b)), em câmaras de formato

rectangular (29.2(a)), ou circular (29.2(b)).

Em vez de terra, podem utilizar-se também

outros materiais de vedação, para vedar

o acesso de ar aos fornos.

Os fornos de trincheira ou de câmara podem

ser melhorados pelo emprego de chaminés

para controlar e acelerar a carbonização

(29.3). As suas maiores desvantagens são:

Queimam parte da madeira enfornada

para fornecer energia necessária ao processo

de carbonização;

Baixo rendimento gravimétrico;

Baixa eficiência energética;

Emissão de gases condensáveis muito

prejudiciais ao ambiente2;

Tempo longo para o processo de carbo-

nização, de 8 a 12 dias, produtividade baixa;

Não aproveitamento dos constituintes

gasosos combustíveis (condensáveis e não

condensáveis) emitidos durante o processo;

Controlo do processo totalmente

empírico, dependendo exclusivamente

da habilidade do operador;

Insalubridade.

Existem vários tipos de fornos metálicos

que têm a vantagem de serem portáteis,

de acelerarem a carbonização e permitirem

um melhor controlo do processo de que

resulta maior rendimento em carvão. Podem

ser realizados de simples tambores de 200

litros, utilizados numa posição horizontal

(29.4(a)) ou em posição vertical com um

ou dois tambores. Para operações profissionais

são preferíveis fornos maiores de aço,

consistindo em um ou dois anéis, uma

cobertura, entradas de ar/saídas de fumo

e tubos (29.4(b)).

2 O processo de carbonização tradicional liberta para a atmosfera

de CO, CO2, H2 e CH4, hidrocarbonetos gasosos e vapores

de alcatrão, metanol, ácido acético e licores pirolenhosos.

Só em termos de metano, um gás fortemente indutor de efeito

de estufa, o fabrico de uma tonelada de carvão liberta entre

45-50 kg.

35

Fig. 28: Esquema simplificado das tecnologias

de produção de carvão

Inclinados

verticais horizontais

sem aproveitamento

de argila de aço

móveis

fixos

periódico

Classificaçãoda tecnologia

quantoà orientação

quanto aomaterial usado

quanto àmobilidade

quantoà circulação

do calor

quantoaproveitamentode sobprodutos

de cimentode tijolo

contínuo

quanto ásobreposição comoutras operações

com queima

com aproveitamento com aproveitamentoparcial

sobreposição comprodução de

carvão activado

sobreposição comoutras operações

só produção

produçãoe arrefecimento

produçãoe secagem

através deuma parede

transporteinterno de calor

por gravidade

por troleys

por equipamentode esvasiamento

à custa damovimentação

da zona de trabalhoou de um aparelho

de puxo

estático

semi-contínuo

quanto ao modode movimentação

do carvão

quantoao modo

de operação

Page 38: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

Os fornos de aço por táteis como

apresentados na figura (29.4(b)) podem

também ser operados de várias maneiras

conjuntamente com trincheiras (29.5).

Os fornos fixos são construídos em locais

utilizados durante vários anos ou perma-

nentemente para carbonização. São

constituídos por lama, tijolos ou betão.

Os fornos de argila, com a forma de colmeia,

são geralmente de construção simples

e pouco duráveis (29.6(a)). Para uso

profissional durante longo tempo, os fornos

de tijolos com chaminés adaptadas são mais

comuns. São normalmente do tipo colmeia

(29.6(b)) mas podem também ser

constituídos por um cilindro oco com uma

cobertura metálica (29.6(c)) ou ser de forma

rectangular (29.6(d)).

Para a produção industrial de carvão, fornos

maiores do tipo colmeia são utilizados

em baterias de vários unidades, ou então,

como o forno Missouri (29.7(a)), construido

de betão reforçado, que permite cargas

e descargas mecânicas.

As retor tas de que existem hoje vários

modelos, alguns de tecnologia bastante

sofisticada, proporcionam produções mais

elevadas, permitem a recuperação

de subprodutos e evitam a poluição aérea

(29.7(b)).

Como resultado da competição de produtos

petrolíferos, a recuperação de subprodutos

tem sido largamente substituída pela queima

dos gases e produtos orgânicos da pirólise

para aquecer o forno e para secar a lenha.

Perspectiva-se que a presente alta das ramas

petrolíferas virá a viabilizar um conjunto

de tecnologias bastante sofisticadas de pirólise

e recuperação dos respectivos destilados

bem como de gasificação de lenhas, e que

um conjunto alargado de produtos que

servem de base à indústria petroquímica

a par tir do petróleo, encontrem agora

viabilidade económica a par tir daqueles

destilados.

29. Fornos tradicionais de trincheira

em terra

Há uma grande variação na forma e dimensão

de fornos tradicionais. O controlo do fluxo

de ar durante a carbonização incompleta

ou a combustão do carvão requer alguma

perícia para impedir a sua redução a cinzas.

É esta a razão porque nos fornos tradicionais,

particularmente do tipo trincheira, a produção

de carvão é muitas vezes muito baixa,

podendo ser somente 10% do peso da lenha

utilizada e seca ao ar. Além disso, a carbo-

nização nos fornos tradicionais é muitas vezes

36

Fig. 29: Diferentes tipos de fornos de carvão

1

2

a b

a b

a b

a b

a b c d

3

4

5

6

7

a b

Page 39: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

um processo um tanto ou quanto lento

e o carvão tende a ser de baixa qualidade.

As trincheiras podem variar em dimensão

de menos de 1 até 20-30 m3. O seu tamanho

habitual é de 1-3m3.

Durante a época das chuvas, as trincheiras

não podem ser usadas para a carbonização.

Para abrir trincheiras são necessários solos

profundos, podendo estas ser utilizadas várias

vezes.

Nas trincheiras pequenas, ateia-se o fogo

no fundo e o material lenhoso é adicionado

para encher a trincheira, que é finalmente

tapada com uma camada de folhas ou de

erva e uma outra de terra. Após quatro

a cinco dias, abre-se a trincheira e retira-se

o carvão.

As trincheiras com capacidade de vários m3

são inicialmente cheias com lenha e, segui-

damente pega-se fogo no centro onde

o espaço livre é preenchido com material

inflamável até ao fundo (30.1).

Quando a lenha está a arder bem, a trincheira

é coberta com vegetação e terra. A carbo-

nização é controlada pela abertura e fecho

dos orifícios de ar. Todo o ciclo, incluindo

o arrefecimento, pode durar uma semana.

As grandes trincheiras, por exemplo de 1,2 m

de profundidade, 25 m de largura e 10 m

de comprimento, tendo cerca de 25 m3

de lenha empilhados, podem dispor de uma

entrada de ar num dos lados e uma saída

de fumo no outro (30.2). No fundo, é empi-

lhada frouxamente uma camada de lenha

no sentido do comprimento para facilitar

a circulação do ar. Seguidamente, dispõe-se

lenha densamente empilhada, no sentido

transversal ou longitudinal conforme a situação

mais apropriada. A lenha é cuidadosamente

coberta com vegetação e terra. O fogo

inicia-se do lado da entrada de ar (30.2(a))

e gradualmente propaga-se no sentido

da saída do fumo (30.2(b)).

A carbonização pode demorar até um mês

e o arrefecimento igual tempo ou mais.

A carbonização em trincheiras grandes pode

realizar-se conjuntamente com derrubes

mecânicos quando se dispõe de maquinaria

para abertura das trincheiras e deslocação

de pedaços pesados de material lenhoso.

Todavia, a carbonização é difícil de controlar

e a produção de carvão pode ser muito

37

Imagem 5: Forno de trincheira típico

da zona do Quipeio (veja-se a quantidade

de finos e de refugos)

Fig. 30: Fornos de trincheira

entrada de ar saída de fumo

toros de base paracanalização do ar

1

2

a b

Page 40: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

baixa. Como o fogo começa num extremo

e progride para o outro, acontece que

na zona de início do processo, o carvão,

porque carbonizou mais tempo, tem maior

teor de carbono e menor quantidade

de voláteis, o que significa também menor

rendimento do que o carvão no outro

extremo que apresenta mais refugos e carvão

com menor teor de carbono. Um outro

problema com este processo de fabrico

é a reabsorção do ácido pirolenhoso,

principalmente se durante o processo ocorre

alguma chuva que lava os condensados

na camada de cober tura. Estes ácidos

corroem os sacos e libertam fumo e cheiro

desagradável durante a combustão do carvão.

As melhorias neste tipo de fornos têm-se

limitado à introdução de uma chaminé

de aço e a coberturas de aço seladas com

barro para melhor controlo da entrada

de ar durante a pirólise.

As trincheiras, principalmente as maiores,

quando do arrefecimento podem ser

extremamente perigosas e devem, portanto,

ser protegidas com vedações para evitar que

as pessoas possam cair sobre o carvão quente

e ficarem seriamente queimadas.

Além disso, é necessário uma excelente

organização para evitar custos excessivos

de máquinas.

Alguns elementos do emprego de mão-de-

obra

Os dados coligidos pela FAO em várias áreas

de África e em concertação com técnicos

e operadores experientes, estão expressos

em dias/homem/trincheira.

Dimensão da trincheira:

Comprimento - 6m

Largura - 2,70m

Profundidade - 1,20m

Volume nominal = 29m3; Volume real 26m3

38

Quadro 5: Emprego de mão-de-obra

Tempo utilizado

Escavação da trincheira (solo arenoso)Preparação dos acessos e saída de ar e canais de circulaçãoAbate e toragem com machado (toros de 2,40m), transporte da lenha,e arrumaçãoCorte de ramagem e cobertura da trincheira com 30 cm de ramagemCobertura com camada de areia/terra de 30 cmPreparar zona de protecção em volta da trincheiraDescarregar o carvão

Sub-total

Durante o processoCarbonizaçãoArrefecimento (depende das condições do tempo)

Sub-total

TOTAL

Homens / dia

3,0

14,0

2,01,00,51,0

22,5

20,040,0

60

82,5

Page 41: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

Na prática, uma trincheira desta dimensão

é preparada por uma equipa de 5 homens,

podendo esta equipa produzir 1,5 trincheiras

por semana (7 dias) tendo por equipamento

de trabalho um machado e uma pá o que

corresponde a 23 dias /homem/trincheira.

A este valor deve adicionar-se 8 dias/homem

correspondentes ao controlo da carbonização

durante os 60 dias de duração. Assim,

o número total de homens/dias/trincheira

é de cerca de 31. Para uma carga nominal

de 29 m3, a que corresponde um volume

efectivo de 26 m3, a produção média

de carvão/trincheira é de 6,0t 3.

30. Fornos tradicionais em cômoro

Os fornos em cômoro não dependem

da profundidade do solo e são menos

sensíveis às condições de humidade do tempo

do que os fornos de trincheira. A circulação

do ar é de mais fácil controlo e as produções

tendem a ser mais elevadas. Esta é a razão

pela qual os fornos em cômoro são

geralmente preferidos aos fornos de trin-

cheira. Historicamente, este tipo de forno

era utilizado em grande escala nos países

industrializados para o fabrico de carvão

siderúrgico (a produção de carvão para

a indústria siderúrgica na Suécia em 1940

cobria ainda 80% do consumo) como ainda

sucede no Brasil.

Os fornos em cômoro do tipo circular

comportam normalmente, 15-60 m3 de lenha

empilhada amontoada na vertical em várias

camadas (31.1). No centro (31.1(a)), são

introduzidas uma ou várias estacas. Estas são

removidas antes de se acender o forno,

colocando-se transversalmente na pilha curtas

varolas que ficam a constituir a chaminé.

Antes de atear o fogo ao material de ignição,

o forno é cober to com uma camada

de vegetação seguida por uma outra de terra.

Controla-se a carbonização pela abertura

e pelo fecho das entradas de ar em torno

do forno e das saídas de fumo na cobertura.

De acordo com a dimensão do forno,

a carbonização e o arrefecimento podem

demorar entre uma semana e mais de um

mês.

Os cômoros também podem ser cobertos

com serradura ou casca de arroz ou de outro

cereal da região em vez de terra. Neste caso,

não se tornam necessários os orifícios de ar

ou de fumo.

Quando a carbonização termina, o forno

abaterá em cerca de 50% do seu tamanho

inicial (31.2). Enquanto esta redução se

processa, formam-se fendas ou aberturas

que devem ser colmatadas para evitar

a exposição do carvão ao ar levando-o

à re-ignição.

Como no caso dos fornos de trincheira,

os pequenos cômoros podem ser carbo-

nizados de forma muito rápida. De um

cômoro contendo somente 0,5 m3 de lenha

empilhada, aceso de manhã, pode extrair-se

o carvão à tarde se for utilizada água para

arrefecimento. Apesar de o uso da água

causar uma certa quebra de qualidade, este

método de fabrico de carvão é popular entre

algumas comunidades rurais.

3 Pressupostos: Massa volúmica da Madeira muito pesada

carregada no forno 1,000-1,100 kg.m3 - 27-28 t; razão lenha:

carvão - 4,5 para 1 - 6t de carvão para um ciclo de 82 dias.

39

Page 42: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

Construção e operação de um forno simples

de terra em cômoro

Os fornos de terra em cômoro, quando bem

construídos e operados, dão resultados

apreciáveis onde seja difícil introduzir métodos

aperfeiçoados que exigem investimento

especial e materiais que não estejam

localmente ao dispor. Sendo os investimentos

modestos e as melhorias tecnológicas fáceis

de implementar, é uma boa solução para

uma cooperativa local, como a Coopecunha,

principalmente quando esta simultaneamente

se envolva na promoção e gestão de peque-

nas plantações comunitárias.

O método que se descreve respeita

à carbonização de uma pilha rectangular

de lenha que é fácil de construir e operar

e que tem dado bons resultados em vários

países. Em primeiro lugar, a zona de instalação

do forno com 2x4 m é limpa e nivelada

e deve ficar próxima do local onde a lenha

está reunida, ficando o lado mais estreito

virado para a direcção dos ventos dominantes.

Uma camada de achas com cerca de 1,50 m

de comprimento e 5-10 cm de espessura,

espaçadas entre si 50 cm, é colocada sobre

o terreno (32.1).

Seguidamente, amontoa-se mais lenha no

sentido do comprimento, tão apertada quanto

possível. Toda a lenha deve estar seca,

sã e sem exceder um diâmetro de 20 cm.

A pilha deve ter na base cerca de 4 m

de comprimento, 1 m de altura, 1,5 m de

largura e no cimo 1 m de largura, mantendo

assim cerca de 5 m3 empilhados (32.2).

Cravam-se estacas em torno da pilha para

conservar a lenha na posição desejada

(32.2(a)). Na extremidade voltada para a

direcção donde vem o vento prepara-se

então o ponto de ignição (32.2(b)).

A pilha é então coberta com um revestimento

de folhas, ervas, musgo ou relva, com 30 cm

de espessura (33.a), seguida por uma camada

de terra de 15 cm de espessura (33.b),

deixando livre o ponto de ignição.

Ateia-se o fogo lançando-se carvão incan-

descente no ponto de ignição seguido por

material facilmente inflamável até que

se estabeleça um fogo forte. Deve surgir

40

Fig. 31: Fornos em cômodo do tipo circular

Fig.32: Carbonização de uma pilha

rectangular de lenha I

1

2

a

1

2a

b

Page 43: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

fumo decorridos 10-15 minutos, em vários

pontos do forno. Se este fumo não aparecer

deve retirar-se terra nalguns pontos à volta

do forno para aumentar a tiragem de ar.

Uma vez o fogo bem pegado, o ponto

de ignição é tapado com vegetação e terra

e a maior parte da tiragem de ar é cortada.

Deve-se então inspeccionar o forno

a intervalos de 2-3 horas. Um fumo branco

espesso liber tando-se de vários pontos

ao redor do forno indica que a carbonização

está a desenvolver-se. Um fumo azul indica

que está a entrar ar em excesso e que

se torna necessário juntar mais terra

à cobertura.

Passados dois ou três dias o fumo é menos

denso e o forno afunda-se até uma altura

de cerca de 50 cm. A carbonização está agora

terminada e o forno deve ser abafado pela

adição de mais terra para suspender

completamente a entrada de ar no forno.

Após 3-4 dias desse abafamento, o forno

estará frio. O carvão pode então ser retirado

cuidadosamente com um ancinho. Se alguns

pedaços de carvão começarem a fumegar

ou a inflamarem-se devem ser cobertos com

terra. Só deve ser aplicada água em casos

de emergência. Passadas pelo menos

12 horas de exposição ao ar livre para

completo arrefecimento do carvão, este

é ensacado.

As produções bem controladas de carvão

por este método dão cerca de 40 kg

por m3 de lenha empilhada. Dois carvoeiros

podem produzir cerca de 5 t por mês

de carvão (não incluindo a preparação

da lenha) ensacados e prontos para

transporte.

Um forno de terra, em cômoro, melhorado

Para facilitar o controlo do ar e a velocidade

de carbonização, os fornos de terra

em cômoro podem ser melhorados

adaptando-se uma chaminé através da qual

todos os gases são libertados após terem

circulado dentro do forno. Este método foi

desenvolvido na Suécia.

Recentemente tem sido adoptado com

sucesso, na África Ocidental, um forno

chamado casamança ou senegalês, usando

como chaminé três tambores de óleo

de 200 lts, soldados entre si. Uma melhoria

adicional é a do uso de tubos colocados

ao longo da base do forno actuando como

entradas de ar. Um método tradicional pode

assim ser facilmente melhorado com

um reduzido investimento, tendo como

resultado uma mais elevada produção

de carvão, enquanto que simultaneamente,

diminuem as exigências de trabalho. Além

disso o forno senegalês permite, se se desejar,

a recolha de algum alcatrão.

O local de instalação do forno é limpo

em função do seu tamanho. Assim a área

deverá ter um diâmetro de base de cerca

41

Fig.33: Carbonização de uma pilha

rectangular de lenha II

a b

Page 44: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

de 4 m para um forno com capacidade para

15 m3 de lenha empilhada, 6m para um

de 30 m3 ou de 8 m para um de 60 m3.

Só se justificarão fornos maiores se o volume

de lenha por área for muito elevado

e a distância de transporte não for excessiva.

Em terrenos moderadamente declivosos não

se torna necessár io nivelar o local

de instalação do forno.

A arrumação da lenha no forno é bastante

importante para o rendimento do processo.

A camada do fundo consiste em pedaços

de lenha com um diâmetro de 10-20 cm,

orientados para o centro do forno onde

é preparado o ponto de ignição (34.a).

A chaminé (34.b) é ligada para o exterior

de forma que a abertura (34.c) não fique

obstruída. Em declives, a chaminé é colocada

no lado ascendente. Os tubos de cerca

de 10 cm de diâmetro e 1m de comprimento

são colocados a intervalos de cerca de 2 m

em torno do forno mas nunca a distâncias

inferiores a 3m da chaminé (34.d). Estes

tubos devem ficar cerca de 10-20 cm salientes

do perímetro do forno.

A lenha é em seguida empilhada sobre

a camada do fundo, seguindo-se outras

dispostas ver tical ou horizontalmente

conforme o tamanho e a forma da lenha.

O empilhamento deve ser denso e os

pedaços mais pequenos devem ser utilizados

para preencher buracos de forma a facultarem

uma superfície regular e contínua. No centro

deixa-se uma abertura desde o topo até

ao ponto de ignição.

O forno é coberto com um revestimento

de vegetação de cerca de 30 cm de espessura

(35.a) e uma camada de terra com cerca de

20 cm (35.b). Deve ficar completamente

selado excepto na abertura para o ponto

de ignição, nas entradas de ar e nas saídas

de fumo. Areia grosseira e argila são menos

apropriadas para este fim do que areia argilosa

ou terra misturada com resíduos de carvão.

O fogo é ateado com carvão incandescente

ou lenha a arder lançada sobre o ponto

de ignição, seguida por lenha seca e refugos

de carbonização. Logo que o fogo esteja

bem estabilizado, tapa-se a abertura do ponto

de ignição assim como as entradas de ar

junto da chaminé. A carbonização desenvolve-

se então gradualmente, desde o lado oposto

da chaminé e no sentido desta. Quando

o forno abate e se torna visível o carvão

incandescente através dos tubos, estes são

fechados e abrem-se outros adicionais.

Se não houver suficiente tiragem, por exemplo

no caso de vento contrário, a chaminé deve

ser deslocada para outro lado do forno. Pode

também ser necessário atear um pequeno

fogo numa abertura sob a chaminé (35.c)

para promover a tiragem inicial. A mesma

abertura pode ser utilizada para recolher

alguns baldes de alcatrão, que está misturado

com outros líquidos, nomeadamente água,

se a chaminé não estiver suficientemente

quente.

42

Fig.34: Forno de terra melhorado

ab

c

d

Page 45: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

Quando a carbonização termina, os últimos

tubos são fechados e a chaminé é retirada.

Durante a carbonização e o processo

de arrefecimento, as brechas na cobertura

devem ser imediatamente colmatadas com

terra. No decurso deste trabalho deve utilizar-

se uma escada e sapatos fortes e resistentes

para evitar queimaduras.

A extracção de carvão faz-se de idêntica

forma à descrita para o forno simples

de terra, em cômoro.

O forno senegalês tem uma produção

de cerca de 50 kg de carvão por m3 de lenha

empilhada.

A operação completa de um forno de 20 m3

demora cerca de uma semana. Dois

carvoeiros são capazes de produzir cerca

de 10 t de carvão por mês, ensacado e pronto

para transporte (não incluindo a preparação

da lenha).

Na Suécia a indústria siderúrgica aperfeiçoou

grandes fornos circulares em cômoro. Um

melhoramento significativo foi a introdução

da chaminé de aço, uma boa base plana que

reduzia as perdas de calor e uma disposição

da lenha que possibilitava a boa circulação

dos gases no seu interior (36.1). Este tipo

de forno é considerado de fácil operação,

produz carvão de boa qualidade com um

rendimento de 55% de carvão em relação

ao volume de madeira. Os volumes normais

dos fornos Suecos oscilam entre os 100 aos

250 m3 de lenha.

O ciclo completo é de 24 dias: 4 dias para

carregamento; 6 dias para carbonização;

10 dias para arrefecimento e 4 dias para

descarregamento. Devido à elevada

temperatura de carbonização (aproxima-

damente 550ºC) e a lentidão do processo,

o carvão produzido tem uma elevada

proporção de carbono fixo e baixa proporção

de voláteis e, consequentemente, baixa

densidade bruta (130 a 160 kg/m3).

A operação destes fornos, embora

basicamente simples, requer considerável

habilidade e experiência e mesmo uma certa

mestria, difícil de conseguir em certas zonas

dos trópicos sem acções apropriadas

de formação. Deve ainda acrescentar-se que

este tipo de grandes fornos só são viáveis

em zonas de fácil abastecimento de lenhas

e com mão-de-obra barata já que o forno

deve ser completamente reconstruído depois

de cada ciclo de produção. Acrescenta-se

ainda que o ciclo de 24 dias para cada

operação é considerado muito longo.

A experiência, principalmente do Brasil, parece

indicar que onde houver disponibilidade

de materiais lenhosos ou entrem em pro-

dução plantações com fins energéticos

e se pretender simplicidade de construção

e facilidade de operação, estes fornos são

vantajosamente substituídos pelos fornos

de tijolos do tipo colmeia (imagem 6) que

dão bom rendimento com simplicidade

de operação e rapidez.

43

Fig.35: Estrutura do forno de terra,

em cômoro, melhorado

a b

c

Page 46: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

31. Fabrico de carvão em tambores metálicos

No fabrico de carvão a partir das cascas

de coco tem-se tornado muito popular

em alguns locais do Pacífico Sul o uso

de tambores usados de 200 lts. Podem

também ser utilizados para carbonizar

pequenos pedaços de lenha, a nível das aldeias

ou em locais de difícil acesso de tipos maiores

de fornos por táteis. O tambor Tonga

é um tambor usado mas de boa qualidade,

de 200 lts para óleo ou outro produto, no

qual é realizada uma abertura de 20 cm

de largura (37.1). É colocado no terreno,

virado para o lado de onde o vento sopra.

Enche-se com material de ignição que

se ateia, adiciona-se lenha seca, com um

comprimento até 50 cm e um diâmetro

de preferência inferior a 5 cm. Quando

o tambor estiver cheio de lenha a arder até

a aber tura, rola-se de forma a elevar

a abertura cerca de 10 cm (37.2), junta-se

mais material lenhoso e repete-se o processo

uma ou duas vezes até a aber tura ficar

na posição mais elevada. Após cerca de duas

horas, quando o tambor está cheio, com

lenha incandescente, o pedaço de chapa

retirado para fazer a abertura é fixado com

arame sobre esta. Rola-se depois o tambor

com a abertura virada para baixo e cobre-

se com terra ficando a arrefecer por cerca

de 5 horas (37.3). Se o processo se inicia

de manhã, o carvão pode ser extraído

ao fim da tarde (37.4).

O tambor Tonga tem também sido utilizado

numa forma modificada, aplicando entradas

de ar no fundo e no topo. Esta aplicação

permite que a carbonização continue depois

do tambor ter sido voltado para baixo

e durante algum tempo antes de vedar

os or if ícios, reduzindo desta forma

a quantidade de refugos de car vão.

44

Fig. 36: Grandes fornos circulares em cômoro

chaminé

entrada de ar paraa ignição inicial

toros para orientara saída dos fumos

Imagem 6: Exemplo de forno de tijolo tipo

colmeia

Fig.37: Tambor tonga

1 2

3 4

Page 47: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

Os tambores podem também ser usados

na posição vertical como fornos portáteis

(38.1). Para tal, retira-se o fundo do tambor

que se converte em tampa (38.1 (a)), e são

abertos dois orifícios de 15 cm de diâmetro

no outro topo que agora passa a funcionar

como fundo do forno (38.1(b)).

O tambor apoia-se em dois suportes. Ateia-

se o fogo no fundo o qual é gradualmente

cheio durante um período de duas horas ou

mais com pequenos pedaços de lenha.

Quando o tambor está meio com lenha

incandescente a base é vedada com terra.

Quando o tambor está repleto coloca-se a

tampa que também se veda com terra.

Os tambores verticais têm sido aperfeiçoados,

aplicando-se-lhes entradas de ar com cerca

de 10 cm de comprimento e 5 cm de

diâmetro, as quais são vedadas gradualmente

de baixo para cima com argila, acompanhando

o nível da lenha incandescente conforme

este vem subindo. Este sistema de forno é

conhecido com o nome de Minicusab (Cusab

é uma abreviatura que significa carvão

proveniente de arbustos de mato e matorral

sem préstimo) (38.2). Podem também soldar-

se dois tambores (38.3).

O manuseio dos tambores requer luvas

fortes, de preferência de amianto, ou panos

humedecidos para evitar queimaduras.

Os tambores simples produzem cerca de

15-25 kg de carvão na forma descrita. Um

homem pode operar pelo menos 5 tambores

simples se a lenha tiver sido preparada com

antecedência. Isto corresponde a uma

produção mensal de cerca de 2,5 t de carvão

com um só operador.

32. Fornos de encaixe em aço

Os fornos cilíndricos transportáveis de aço

tiveram a sua origem em Inglaterra nos anos

30. Durante a 2ª Guerra Mundial foram

sujeitos a melhorias significativas no que

concerne à qualidade e rendimento do carvão

produzido. Esta tecnologia foi transferida para

os países tropicais nos anos de 60, com

par ticular visibilidade no Uganda, graças

ao Uganda Forestry Department. Os fornos

deste tipo mais divulgados foram desenhados

e desenvolvidos pela antiga unidade

de investigação o “Tropical Products Institute”

da “Overseas Development Administration”

que dispunha de grande experiência

na operação deste tipo de forno que

é considerado ser óptimo quanto à economia

de construção, robustez, durabilidade

e facilidade de operação, bem como

45

Fig. 38: Utilização de tambores como fornos

portáteis

1

2

a

b

3

Page 48: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

de máxima eficiência e produtividade para

situações prevalecentes nos países em

desenvolvimento.

As principais características construtivas

e de desenho deste forno são:

Chapa de aço de 3 mm de espessura

usada para fabrico do anel da base e chapa

de aço de 2 mm usada para construção

do anel de topo;

As 2 secções principais do forno são

cilíndricas;

Anéis de encaixe de 50 mm para encaixe

e suporte da secção de topo e cobertura.

Estes anéis são soldados na zona interior

das duas secções;

8 entradas/saídas de ar e fumo posicio-

nadas na parte inferior da secção inferior.

Existe um colar à volta da extremidade

superior de cada conduta para suportar

uma chaminé durante o funcionamento

da operação;

4 espaços regularmente distribuídos para

libertação de vapores na cobertura do forno.

O forno de aço de encaixe constitui uma

inovação importante no processo de fabrico

de carvão. Consiste geralmente, das seguintes

peças:

1 anel de base (39.1)

1 anel superior (39.2)

1 cobertura (39.3)

8 entradas de ar e saídas de fumo (39.4)

4 tubos para serem posicionados nas

saídas de fumo (39.5)

Quando montados, os 2 anéis e a cobertura

ficam encaixados (39.6).

O forno apoia-se sobre as 8 entradas de ar

e saídas de fumo.

Os 4 tubos aplicam-se nas saídas de fumo.

Os fornos de aço de encaixe foram

introduzidos em África pelos técnicos florestais

ingleses e franceses após a 2ª Guerra Mundial.

Daí, espalharam-se para outras regiões. Os

modelos melhor conhecidos podem conter

cerca de 6,5 m3 de lenha empilhada. As partes

cilíndricas do forno podem ser facilmente

roladas sobre terreno plano. No fim dos anos

sessenta o modelo Mark V adquiriu ampla

aceitação em muitos países africanos como

sucedeu no Uganda. Este modelo foi mais

tarde modificado, notavelmente pelo extinto

Tropical Products Institute (TPI)4

Os fornos de aço de encaixe exigem um

investimento com algum significado para o

meio rural, tendo um período de utilização,

em caso de uso intensivo, de cerca de apenas

4 anos, pelo que se torna impor tante

utilizá-los eficientemente com carvoeiros

bem adestrados e em operações cuidado-

samente organizadas. De outra forma o seu

uso pode tornar-se antieconómico em

comparação com os métodos tradicionais.

4 (ver W. D. Whitehead. The Construction of a Portable Charcoal

Kiln. Tropical Products Institute, United Kingdom. Rural Technology

Guide (3).

46

Page 49: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

A sua vantagem sobre os métodos

alternativos de carbonização da lenha

no terreno é a facilidade do seu controlo,

a rapidez do processo resultante do rápido

arrefecimento e o significativo aumento do

rendimento da carbonização. Este aumento

de produtividade traduz-se numa produção

superior da ordem dos 60 kg de carvão por

m3 de lenha empilhada. É por tanto,

particularmente atraente para cortadores

ou carvoeiros de pequena dimensão ou

cooperativas rurais. A sua maior eficiência

no processo de pirólise é também bastante

importante em termos ambientais: redução

da intensidade dos abates florestais e, por

consequência, menor área desflorestada.

Além disso, é largamente utilizado para treino

prático atendendo a que as técnicas de

carbonização podem ser demonstradas clara

e facilmente.

Por estas razões, o método é explicado com

algum detalhe. Deve notar-se porém que,

na prática, podem ser preferidos outros

métodos.

32.1 Dimensão de fornos de encaixe

em aço

Durante muitos anos, o tamanho "standard"

de um forno era aquele com um volume

para 6,5 m3 de lenha empilhada. Contudo,

é pesado e um tanto difícil para dois homens,

deslocá-lo, reuni-lo e desmontá-lo, espe-

cialmente na Ásia onde a maior parte da

população é de menor estatura do que

a europeia ou a africana. Em consequência,

na Ásia e par ticularmente na Tailândia,

foi ensaiado e desenvolvido com sucesso,

um forno de formato reduzido a dois terços.

É possível uma posterior redução mas não

é desejável devido ao aumento do custo

em capital/m3 carbonizado.

As medidas dos dois lados do forno estão

indicadas na figura seguinte que se

esquematiza. As medidas entre parêntesis

referem-se ao forno de aço reduzido a dois

terços.

O forno é construído em aço resistente

à ferrugem com uma espessura de 3 mm

para a parte da base e de 2 mm para as

restantes. Para o forno de tamanho reduzido,

de dois terços, só se tornam necessárias

6 entradas de ar/saídas de fumo e 3 tubos.

47

Fig.39: Fornos de encaixe em aço

1

2

3

6

4

5

Page 50: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

32.2 Sistemas de encaixe

Nos fornos de aço por táteis usam-se

diferentes sistemas de encaixe.

O forno Mark V tem conclusas exteriores

que se enchem de areia e onde o segundo

anel e a cobertura se adaptam (41.1(a)).

As conclusas devem ter 5 cm de largura

e 5 cm de profundidade.

Para facilitar o rolamento e reforçar os anéis,

são soldados anéis adicionais de reforço feitos

de barra de aço de perfil L (41.1(b)).

O forno TPI encaixa por meio de apoios

angulares de aço sobre os quais as partes

superiores assentam (41.2(a)). Neste caso

a aplicação de areia é feita após a montagem

do forno. A montagem é mais fácil do

que com conclusas, especialmente se os anéis

e a cobertura perdem a forma inicial.

Todavia, for tes chuvadas podem arrastar

a areia da vedação da cobertura. Onde este

facto constitua um problema, é preferível

uma conclusa que se possa instalar ao longo

da parte interna do anel (41.2(b)).

32.3 Coberturas de fornos de encaixe

em aço

Originalmente, a cober tura do forno

Mark V estava adaptada com a abertura

central que se encerrava quando o fogo

estava bem estabelecido (42.1).

A cober tura do forno TPI tem quatro

aberturas mais pequenas para regular o afluxo

de ar durante o período de ignição (42.2).

Uma cobertura sem abertura é mais fácil

de construir e mais durável (42.3). O operador

experimentado considerará a utilização mais

conveniente desde que ela se adapte bem

sobre o cilindro superior do forno e possa

ser vedada sem grande dificuldade logo que

o fogo esteja estabelecido no forno.

48

Fig.40: Dimensão de fornos de encaixe

em aço

Fig.41: Sistemas de encaixe

1

2

a

a

b

a

b

ba

Page 51: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

32.4 Entradas de ar e saídas de fumo

Existem variações quanto ao tipo de entradas

de ar/saídas de fumo usadas nos fornos

de aço portáteis.

A parte principal consiste, normalmente,

de uma caixa rectangular com uma marca

indicando o sitio onde o cilindro da base

deve assentar (43.1(a)), para assegurar que

o ar é libertado em quantidade suficiente no

interior do forno de forma a evitar

aquecimento excessivo no cilindro da base.

A entrada de ar pode ser fechada por meio

de uma pequena tampa (43.1(b)), uma

portinhola rectangular (43.2(b)) ou uma

simples pedra (43.3(b)).

A saída de fumo pode ser fechada com uma

tampa redonda que se ajusta exteriormente

(43.1(c)) ou interiormente (43.2(c)) ou com

uma placa metálica segura por três pedaços

de arame (43.3(c)), que se cobrirá com terra

uma vez baixada no interior da abertura.

As tampas tendem a partir-se e as portinholas

a perder-se ao fim de algum tempo. Deve

portanto dar-se sempre preferência à solução

mais simples tal como a caixa sugerida pelo

TPI (43.4) que é aberta na parte inferior

para a manter limpa, especialmente isenta

de licores pirolenhosos que escorrem para

baixo e que pode ser fechada com pedras,

pedaços de lenha e terra.

32.5 Vantagens e desvantagens de fornos

metálicos transportáveis

As principais vantagens dos fornos metálicos

transpor táveis , quando comparadas

com os fornos tradicionais de trincheira

ou cômoro são:

Os materiais lenhosos usados para

combustão estão num recipiente selado

possibilitando o controlo perfeito do

fornecimento de ar e da circulação dos

gases durante o processo de carbonização;

49

Fig.42: Coberturas de fornos de encaixe

em aço

Fig.43: Entradas de ar e saídas de fumo em

fornos de aço portáteis

1

2

3

1

2

3

4

ab

c

a

b

c

a

b

c

a

Page 52: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

Os operadores pouco treinados podem

ser rapidamente industriados para operar

estas unidades;

A supervisão do processo exige menos

tempo de supervisão do que aquela que

é necessária para obter resultados aceitáveis

com os fornos de trincheira ou cômoro;

Uma eficiência de conversão de 24%

(em relação à base peso seco de madeira),

incluindo finos, pode ser consistentemente

conseguida;

Todo o carvão produzido no processo

pode ser recuperado. Com os métodos

tradicionais (trincheira e cômoro) algum

do carvão produzido perde-se no solo

e aquele que é recuperado está quase sempre

sujo com terra ou cascalho;

Os fornos transportáveis se estiverem

implantados em zonas sob coberto por causa

da chuva podem operar em plena época

de chuvas se o seu assentamento dispuser

de drenagem adequada;

Os ciclos de produção decorrem em 2

a 3 dias.

Como principais desvantagens comparativas

apontam-se:

A necessidade de dispor de capital inicial

para a construção do forno. É ainda

necessário que o país ou região disponha

de oficinas com um mínimo de equipamento

e capaci-dade para o fabrico do forno;

Para facilidade de carregamento

e máxima eficiência, é necessário maior

cuidado na preparação da lenha. Esta deve

ser seccionada ou rachada e seca por um

período de pelo menos 3 semanas;

O transporte dos anéis é mais difícil

em zonas bastante declivosas;

A vida útil dos fornos é de 3 a 4 anos.

Quando comparados com os fornos fixos,

incluindo os fornos de tipo Missouri ou de

tijolos, as vantagens deste tipo de fornos, são

fundamentalmente as seguintes:

Os fornos móveis podem ser facilmente

desmontáveis e transportáveis por forma

a estarem mais próximos das fontes

de material lenhoso. Isto quer dizer que

se evita o trans-porte das lenhas e todo

o custo da mão-de-obra que essa operação

envolve.

Enquanto a operação nos fornos de tijolo

ou do forno Missouri tem um ciclo com

uma duração de uma semana o forno móvel

tem o seu ciclo acabado em 3 dias.

Em termos comparativos podem apontar-se

como desvantagens dos fornos móveis versus

fornos fixos as seguintes:

O custo do forno metálico móvel

é usual-mente mais elevado do que o forno

de tijolo para o mesmo output. Esta diferença

fica a dever-se principalmente ao preço

dos materiais usados na construção.

A necessidade da existência de oficinas

metalúrgicas e de pessoal especializado pesa

também no aumento do custo de

construção;

Por causa do maior isolamento térmico

nos fornos de tijolo, de que resulta menor

consumo de lenha para o processo de

carbonização, estes têm uma maior eficiência

de trans-formação do que a obtida com

os fornos móveis;

Os fornos de tijolo podem carbonizar

lenha de maior diâmetro e comprimento

sendo, por esse facto, mais barato o carre-

gamento;

A recuperação de sub-produtos

dos fornos móveis não é realizável, contra-

riamente ao que sucede com os fornos

de tijolos onde os condensados, mormente

o alcatrão, podem ser recolhidos;

50

Page 53: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

A supervisão, gestão e suporte logístico

são mais facilmente exercidos numa situação

de processamento concentrado de várias

unidades fixas.

No caso concreto do Município de Ecunha

com uma for te degradação da mata de

Miombo, já de si pouco produtiva e muito

fragmentada, este tipo de fornos fixos são

injustificados pelo menos antes que o plano

de desenvolvimento florestal esteja em pleno

desenvolvimento e haja fontes credíveis

de abastecimento lenhoso.

32.6 Escolha e preparação do local

de instalação do forno

Deve ter-se sempre presente que a razão

fundamental para utilizar fornos portáteis

é a de reduzir o transporte da lenha. Portanto,

o forno de aço portátil deve situar-se próximo

da fonte de matéria-pr ima e mudar

frequentemente de localização.

O local do forno deve, de preferência,

ser abrigado do vento forte, plano e limpo

de vegetação.

O local do forno deve ter um diâmetro

de 3 m. Com a ajuda de uma estaca central

e com uma corda marca-se a superfície a ser

limpa (44.1).

Para vedar o forno deve haver quantidade

suficiente de terra e areia nas proximidades.

Se houver água próxima este facto traduzir-

-se-á numa vantagem adicional.

Em declives, o local de instalação do forno

deve ser nivelado. A terra removida da zona

de escavação pode ser utilizada para construir

a plataforma (44.2).

Os locais do forno devem ser planeados

com antecedência. A distância entre eles

dependerá do volume da lenha, da sua

distribuição na área e na acessibilidade

do terreno. As linhas de arrasto usadas para

a extracção de toros (44.3(b)) podem facilitar

o transporte dos fornos, o seu acesso assim

como o transporte de carvão.

Idealmente, os fornos são localizados

de forma a que o tempo total de operação

para o transporte da lenha, dos fornos e do

carvão seja minimizado. A lenha deve ser

de preferência empilhada com antecedência,

próxima do local escolhido para instalação

do forno, para permitir que a operação

decorra sem acidentes e com ritmo contínuo

e sequência.

32.7 Carregamento do forno de aço

O forno é operado por dois trabalhadores.

Para carregar o forno coloca-se em primeiro

lugar o anel de base no local onde ficará

instalado. Um dos trabalhadores eleva com

a vara esse anel, utilizando-a como alavanca,

Fig.44: Escolha e preparação do local para

instalação do forno

51

a

b

c

1

2

3

4

Page 54: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

enquanto que o outro coloca sucessivamente

as 8 entradas de ar/saídas de fumo (45.1(a))

com iguais afastamentos. Devem ficar, pelo

menos, 25 cm no interior do forno.

Pedaços de lenha de dimensão média,

de cerca de 15 cm de espessura e de 1 m

de comprimento, são então colocados

no inter ior do forno paralelamente

às entradas de ar (45.1(b)) para manter

os canais de circulação de ar abertos (45.1(c)).

No centro coloca-se uma pequena pilha

de material facilmente inflamável (45.2(a))

que se estende até aos quatro lados do forno,

com mais material inflamável que actuará

como rastilho, como se apresenta na figura

(45.2(b)). Segue-se a colocação de uma

camada de lenha cruzada sobre a primeira

camada (45.2(c)), tendo o cuidado para que

o material inflamável não fique muito

compactado e os canais de ar orientados

para o centro do forno permaneçam abertos.

32.8 Carregamento do anel de base

A secção inferior do forno é agora carregada,

apertadamente tanto quanto possível, com

pedaços de lenha não excedendo 1 m de

comprimento e 20 cm de diâmetro (46.1).

Esta operação exige um empilhamento

cuidadoso para se obter um aproveitamento

total da capacidade disponível do forno.

Em seguida, a canelura do anel da base

é cheia com areia fina, terra franco-argilosa

ou uma mistura de "sarrisca" de carvão

e terra mineral (46.2).

Deve ter-se cuidado em excluir pedras

pequenas que tornariam difícil a vedação.

A areia grossa pode também vedar de forma

deficiente.

O anel superior é agora ajustado sobre

a canelura com areia e, se necessário, adiciona-

se mais material de vedação.

Durante o transporte e também na altura

da abertura do forno, após a carbonização,

deve ter-se cuidado para que as par tes

responsáveis pela fixação do encaixe não

sejam torcidas ou estragadas. Se isto se

verificar, pode tornar-se muito difícil ajustar

o anel superior e o rebordo nas caneluras

o que impede que o forno funcione de forma

estanque não garantindo, por isso, carvão

de qualidade e bom rendimento.

Fig.45: Carregamento do forno de aço

52

a

b

c

1

2

a

c

b

Page 55: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

32.9 Carregamento do anel superior

e ignição

A lenha é densamente empilhada dentro

do anel superior até à altura da cobertura

(47.1(a)). Os pedaços maiores devem colocar-

se no forno (47.1(b)) e nas partes inferiores

(47.1(c)) onde a temperatura do forno será

a mais elevada.

Quando o carregamento estiver terminado,

a canelura superior é cheia com areia

e a cobertura é ajustada nessa canelura.

Se se pretende carbonizar unicamente

um pequeno volume de lenha que não

exceda o anel da base a cobertura é colocada

directamente sobre o próprio anel da base.

Antes do pegamento do fogo, a cobertura

é levantada e colocada sobre pequenos

pedaços de lenha (47.2(a)). Pode então atear-

se o forno por meio de um archote feito

de folhas secas ou papel enrolado em volta

de um pau. Uma pesada névoa libertar-se-

á agora do forno, através da abertura, sob

a cobertura, enquanto a lenha seca.

Este processo demorará entre 15 minutos

a uma hora, dependendo do teor de

humidade inicial da lenha. Para lenha seca

ao ar, com um teor de humidade da ordem

dos 30%, o período de secagem durará cerca

de 30 minutos. Quando o fogo está bem

ateado os intervalos entre as entradas

de ar/saídas de fumo são preenchidos com

terra.

32.10 Inversão da tiragem e controlo

da carbonização

Quando a humidade tiver desaparecido, após

cerca de meia hora, os supor tes sob

a cobertura são vedados. Aplicam-se os tubos

nas quatro saídas alternadas de fumo nas quais

as entradas de ar são fechadas com pedras

53

Fig.46: Carregamento do anel de base

Fig.47: Carregamento do anel superior

e ignição

1

2

a

b

c

1

2

a

b

Page 56: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

ou lenha e terra (48.1(a)). As outras 4 entradas

de ar/saídas de fumo são deixadas abertas

(48.1(b)). Agora o ar só entra através destas

quatro aberturas, circula no interior e o fumo

abandona o forno através dos tubos.

Este sistema designa-se por tiragem invertida.

Tem como resultado a queima da maior

parte dos gases inflamáveis que se libertam

da lenha, se o forno estiver suficientemente

quente.

A intervalos de cerca de 8 horas, alternam-se

as entradas de ar/saídas de fumo colocando

os tubos nas entradas de ar anteriores que

agora são fechadas (48.2(b)) e abrindo-se

as saídas de fumo anteriores (48.2(c)) que

agora passam a entradas de ar. A carbonização

progride bem se estiver a libertar-se fumo

branco espesso de todos os quatro tubos.

Algumas vezes o vento, a chuva ou a lenha

molhada podem arrefecer o forno num dos

lados ou próximo duma chaminé que pode

emitir, somente, pouco ou mesmo nenhum

fumo. Em tais casos, retira-se a terra do fundo

junto do tubo inactivo. Adicionalmente pode

ser necessário reduzir as entradas de ar no

lado oposto. O fogo então espalhar-se-á para

o lado mais frio do forno e aquecê-lo-á. Logo

que o tubo volta a emitir fumo branco fecha-

se o fundo e a operação continua normal-

mente.

No entanto pode acontecer o oposto,

e então, o fumo num dos tubos torna-se

azulado, indicando que o fogo está muito

forte. Neste caso o tubo é retirado e a saída

de fumo fechada durante cerca de 15 minutos

para baixar a temperatura.

Quando se trocam os tubos deve tomar-se

cuidado para assegurar que o ar pode entrar

livremente. Algumas vezes as entradas

de ar/saídas de fumo ficam entupidas pelo

alcatrão. Para remover qualquer obstrução

mete-se profundamente uma varola comprida

no interior do forno.

Quando se olha através das entradas

de ar/saídas de fumo deve ser possível ver

o fogo vivo no forno.

O processo completo de carbonização

demora cerca de 16-24 horas, desde a altura

da ignição do fogo. Para lenha húmida

a carbonização demora consideravelmente

mais tempo podendo prolongar-se até

48 horas.

54

Fig.48: Inversão da tiragem e controlo

da carbonização

a

b

1

2

b

a

Page 57: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

32.11 Arrefecimento e abertura do forno

A carbonização está terminada quando

o fumo libertado por um ou mais tubos se

torna a azulado, pouco espesso e trans-

parente. Nessa ocasião, o forno encontra-se

bastante quente e a água lançada contra ele

evapora-se imediatamente. Quando se bate

no anel superior ele soa a oco.

Os tubos são retirados sucessivamente

conforme vão libertando fumo pouco espesso

e transparente e a base do forno é cuidado-

samente fechada com terra, evitando

a entrada de qualquer quantidade adicional

de ar (49.1).

O arrefecimento demorará entre 12-24

horas. A chuva ou o vento aceleram

o processo de arrefecimento. O anel inferior

deve estar suficientemente frio para poder

ser tocado a toda a volta, antes de se abrir

o forno. Após abertura, se ainda se verificar

a existência de fogo, deve ser outra vez

imediatamente fechado.

Pode ser necessária a vara de madeira

e a alavanca de ponta aguçada para retirar

a cobertura e o anel superior da secção

da base se o alcatrão tiver entrado

na canelura. A alavanca de ponta aguçada

é também apropriada para limpar as caneluras.

A vara de madeira é usada para fazer deslizar

a cobertura da secção da base com suavidade

para o terreno evitando assim estragar

as caneluras e tornando o trabalho mais fácil.

Após abertura, o anel da base deve estar

cheio de carvão, indicando carbonização

normal e uma boa produção (49.2).

Se o fogo tiver sido muito quente num dos

lados haverá menos carvão. O mesmo

acontece se o forno é fechado muito mais

tarde. Por outro lado, encerrando-o muito

cedo ter-se-á como resultado muitos refugos,

principalmente junto dos tubos que não

tenham estado totalmente activos.

Logo que o forno tenha sido aberto, o carvão

deve ser retirado imediatamente para evitar

perdas devidas a auto-ignição.

2 carvoeiros, operando 2 fornos, podem

produzir cerca de 10-12 toneladas de carvão

por mês (não incluída a preparação da lenha),

ensacadas e prontas para transporte.

Com lenha seca ao ar toda a operação

demorará cerca de 48 horas por forno, sendo

possíveis assim três combustões por semana.

Se ao princípio da tarde o forno estiver

pronto para ateamento, como requer

reduzida atenção durante o período nocturno,

pode ser fechado mais ou menos à mesma

hora no dia seguinte e ser esvaziado

no segundo dia.

55

Fig. 49: Arrefecimento e abertura do forno

1

2

Page 58: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

32.12 Rendimentos médios

O peso do carvão produzido em cadacarregamento depende de um conjuntode factores físicos sendo os mais importantesos que se listam:

Densidade da madeira (madeiras maisdensas produzem maior rendimento final); Teor de humidade da lenha (quanto mais

secas maior é o rendimento e menoro tempo de carbonização); Condições de secura atmosférica e boas

condições de drenagem do solo ondeo forno é assente; Densidade do empacotamento da lenha

no forno e lenhas com dimensões regulares.

Na prática tem-se provado que todas estascondições são acomodáveis podendo ter-sevalores médios quase constantes sea condução da carbonização t iverprocedimentos de condução uniformesquanto aos tempos de operação e bomcontrolo da circulação do ar. Os programasde formação levados a efeito em vários paísesda África mostraram rendimentos médiosde carvão numa base seca, incluindo os finosde 26%. O rendimento mais elevado numasimples operação na Guiana mostrou umrendimento de conversão de 28,12%(1083 kg de carvão produzido de 3850 kgde lenha de folhosas de alta densidade).O teor de humidade da madeira carbonizada,numa base húmida, era de 25%. Nas regiõesáridas do Equador obtiveram-se valoresde eficiência de conversão da ordem dos31,40%. Em contrapartida, os valores obtidosno Sudão com costaneiras de resinosas,foram dos mais baixos que se conhece comvalores de conversão de 18,94% ou seja,297 kg de carvão para uma carga de lenhade 1568 kg numa base seca; o teor dehumidade da madeira era da ordem dos 57%(base húmida).

Em termos qualitativos a forma de conduçãodetermina igualmente não só o rendimentocomo também a valor calorífico do carvãoproduzido em função do teor de carbonoque o carvão contém.

32.13 Vida útil de um forno móvel de aço

A durabilidade dos fornos depende em largamedida do cuidado e da formaçãodos operadores. Se os fornos não foremoperados pelos donos mas por simplestrabalhadores assalariados é de esperar umamenor durabilidade dos fornos porqueaos assalariados falta-lhes na maior partedas vezes o incentivo para conduçãode operações com manuseio cuidadoso.

A este aspecto é de considerar quase semprea falta de formação. A experiência temmostrado que é de esperar que estes fornostrabalhem continuamente durante pelomenos 3 anos. Depois deste tempode operação contínua o cilindro da basenecessita de substituição ou reparaçãosubstancial. A secção de topo e a coberturanão estão sujeitas à mesma intensidadede temperatura do que o anel de base.Se houver cuidado no transporte, montageme desmontagem, é expectável umadurabilidade superior. Na África, os fornosem uso intensivo depois de dois anossó evidenciaram sinais mínimos de distorçãono nível inferior do anel da base. A secçãosuperior e a tampa mostraram-se em perfeitascondições. As componentes que são maisdesgastadas são as condutas de entrada/saídade gases. As elevadas temperaturas verificadasnas regiões inter iores das condutasdeterioram o metal nestas zonas localizadas.Estas têm assim de ser regularmentereformatadas e cer tamente, têm de ser

substituídas depois de 3 anos de uso contínuo.

56

Page 59: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

32.14 As principais falhas operacionais

A análise e experiência disponível por parte

de várias instituições que têm apoiado

a divulgação deste processo de pirólise

mostram que as falhas operacionais mais

comuns caem no seguinte quadro:

Falha na inserção das condutas de entrada/

saída de gases suficientemente por baixo

do arco do anel inferior do forno durante

a fase de montagem. A elevada temperatura

produzida no interior da zona terminal

da conduta de ar provoca estragos sérios

à parede do forno se a distância requerida

entre a zona quente e a parede do forno

não for mantida;

Falha em conseguir um fluxo de gás

suficiente através do sistema se os depósitos

de alcatrão não forem removidos das

condutas responsáveis pelos fluxos de saída

de gás e chaminé. O resultado é uma baixa

temperatura de carbonização e períodos

de operação muito longos;

Excessivo período de arrefecimento,

o que reduz o número de operações

de carbonização/semana;

Relutância em mover o forno para

as zonas de abastecimento de lenhas de que

resulta uma perda de tempo e um aumento

de esforço e custo no transporte da lenha;

Suprimento insuficiente de lenhas nas

áreas adjacentes de forma a possibilitar

um carregamento imediato do forno mal

este seja descarregado;

A prática de deixar que se desenvolva um

fogo muito forte junto à superfície da parede

do forno durante a fase de acendimento.

Este procedimento restringe usualmente

o fluxo de ar sob o forno e condiciona

a rápida progressão do fogo em direcção

ao centro da carga. Isto também pode

ocasionar sérios estragos na parede do forno.

Uma vez que a acendalha preparada seja

incendiada dentro do forno só é necessário

o máximo de influxo de ar para iniciar todo

o processo;

A laboriosa e demorada prática de

enchimento manual dos sacos de carvão

em vez de serem usadas pás ou ancinhos

e crivos. O excessivo dispêndio de tempo

em descarregar o forno causa atraso

no novo carregamento e início do ciclo

de carbo-nização seguinte.

32.15 Ferramentas e equipamentos

necessários para operar fornos de aço

de encaixe

(50.1) Pá de bico

(50.2) Pá normal

(50.3) Enxada

(50.4) Picareta

(50.5) Ancinho

(50.6) Forquilha para pedra

(50.7) Alavanca com extremidade aguçada

(50.8) Fita métrica

(50.9) Serra de arco

(50.10) Machado

(50.11) Podão de lamina direita

(50.12) Balde

(50.13) Máscara de protecção

(50.14) Luvas, de preferência de amianto

(50.15) Botas reforçadas

(50.16) Estojo de primeiros socorros

(50.17) Balança de mola ou decimal, 50 kg

(50.18) Sacos

(50.19) Agulha e corda

(50.20) Escada de mão, com 3 m

de comprimento

(50.21) Vara de madeira, com 25

de comprimento

57

Page 60: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

33. Ensacamento do carvão

Antes do ensacamento, o carvão deve estar

completamente arrefecido e estabilizado para

evitar a auto-ignição. Não deve estar exposto

à chuva. Para tornar mais rápida esta operação

é útil um crivo inclinado para o enchimento

dos sacos (51.1). Os carvões finos e as impu-

rezas caem através da malha de 10 mm

(51.1(a)). Este sistema permite a obtenção

de um carvão limpo e de qualidade uniforme,

preferido pelo consumidor. Pode todavia

aumentar ligeiramente a quantidade

de carvões de menores dimensões e resíduos

abundantes.

Uma forquilha (51.1(b)) para carregar o crivo,

é também um recurso para separar

os pedaços de carvão dos finos e das impu-

rezas.

Embora o ensacamento possa tornar-se

bastante mais dispendioso do que o uso

de certos materiais locais como por exemplo

os cestos (principalmente se os sacos não

forem reutilizados) tem a vantagem

de permitir o controlo mais fácil do seu

conteúdo.

O tamanho dos sacos não deve ser excessivo

para que o seu manuseio se torne mais fácil.

Como padrão, recomendam-se sacos que

possam conter até 40 kg.

Algumas vezes são usados sacos de 60 kg

recorrendo ao aumento da sua capacidade

com entrançados de ramos como se pratica

no Município de Ecunha (imagem 7) que

se tornam muito pesados e são de manuseio

difíci l . Quer no carregamento quer

no descarregamento do camião, tendem

a ser jogados e a aumentar a percentagem

de finos.

Os sacos cheios são cozidos com corda

e agulha (51.2(b)).

Os sacos devem ser pesados e etiquetados

com indicação do peso e do carvoeiro

(51.2(c)), caso esteja institucionalizado

o controlo de produção e o pagamento

da respectiva taxa.

58

Fig.50: Ferramentas e equipamentos

necessários para operar fornos de encaixe

Imagem 7: Sacos de carvão - Veja-se

a extensão dos sacos de carvão com esteira

para lhes aumentar a carga

1 2 3 4 5 6 7

12

13

1417

18 19

11

98

10

1615

20

21

Page 61: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

A venda em mercados formais pode exigir

a reembalagem do carvão em sacos mas

pequenos, contendo até 5 kg, feitos de papel

for te e fechados com agrafos (51.2(d)).

Na maior parte das situações nos trópicos

a situação é muito mais informal e as vendas

processam-se na sua quase totalidade a granel,

com claros desperdícios, nos mercados rurais

ou em depósitos de bairro com venda

de pequenos montes ou de todo um saco

de acordo com a posses momentâneas

do comprador (imagem 8). Nos mercados

rurais predomina a venda a granel em

pequenos montes onde os desperdícios são

bastante mais acentuados.

O transporte de carvão a granel é menos

comum, uma vez que aumenta os desper-

dícios durante a carga e a descarga.

O transporte a granel deve ser considerado

apenas para a produção industrial de carvão

(carvão siderúrgico) em grande escala

Em termos construtivos os crivos podem

e devem ser de fabrico local e o seu dimen-

sionamento apropriado para operações

manuais obedece às indicações das figuras

(52), (53) e (54).

Veja-se que a face inferior do crivo tem

as duas tábuas laterais do tabuleiro mais

longas possibilitando a prisão do saco sem

necessidade da ocupação de um homem.

Fig.51: Ensacamento do carvão

59

Imagem 8: Venda de carvão no mercado

de Ecunha (Província do Huambo, Angola)

Fig.52: Construção dos crivos I

malha de 10 mm

aros e ganchosmetálicos paramanter abertoos sacos

1500mm x 160mm x 10mm

900mm x 150mm x 10mm

1800mm

a

b

c

1

2

d

ab

Page 62: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

34. Transporte de carvão

Há muitas maneiras de transportar carvão

que vão desde a utilização de animais

de carga empregues para transporte em

todo o terreno até carretas de tracção animal,

camiões, barcos e caminhos-de-ferro.

Para uso doméstico, no meio rural, uma parte

considerável do carvão é transpor tado

à mão ou por meio de animais.

Para este fim, as carroças rebocadas manual-

mente e feitas localmente, adaptadas com

rodas de bicicleta são muito práticas (55.1).

As bicicletas com reboques são outros meios

convenientes de transporte manual, que

permitem atingir mercados próximos (55.2).

No ambiente urbano o transporte e distri-

buição urbana é mais complexo havendo

uma forte componente de transporte por

camionagem que se encarrega do transporte

por grosso das zonas rurais até às periferias

dos grandes centros urbanos, onde é depois

encaminhado para os pequenos inter-

mediários e retalhistas.

Os carvoeiros locais, principalmente quando

organizados em cooperativas, podem

aumentar consideravelmente os seus lucros

se forem capazes de transportar eles próprios

o carvão, sem dependência de intermediários

que se encarregam do transpor te

e da comercialização.

60

Fig.53: Construção dos crivos II

Fig.54: Construção dos crivos III

finos de carvão e cinzas

haste de suporte

Fig.55: Transporte de carvão

900mm x 150mm x 10mm

500mm

300mm x 150mm x 10mm

1

2

Page 63: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

35. Briquetagem do carvão

Os finos do carvão podem atingir ou mesmo

ultrapassar 20% da produção total de carvão

principalmente nos processos mais artesanais.

Para recuperação dos finos pode recorrer-

se à briquetagem.

A briquetagem do carvão é feita por :

crivagem, moenda, mistura com aglutinante

(a água de amido é eficaz neste processo),

compactação e secagem. Ao longo deste

processo, carvão de diferentes densidades

proveniente de diversas espécies arbóreas

misturadas pode converter-se num produto

uniforme. A densidade dos briquetes é mais

alta do que a do carvão normal. Este facto

permite reduzir o espaço de transporte mas

torna mais difícil atear o carvão assim tratado.

O aglomerado de carvão é feito num certo

número de países industrializados com

maquinaria sofisticada, exigindo altos

investimentos e um grande afluxo continuado

de carvão ao longo do ano e uma localização

permanente.

Se o carvão é feito no terreno, a possibilidade

de recuperar os finos é pouco provável. Isto

pode porém, ser feito em locais onde são

utilizados fornos fixos ou quando o carvão

é re-empacotado ao nível de um grossista

ou de uma cooperativa após transporte

e antes da comercialização.

Como aglutinantes podem usar-se produtos

amiláceos (cerca de 5%), argila ou estrume.

Os briquetes podem ser formados e compac-

tados manualmente ou por meio de tipos

de prensas simples que exercem uma pressão

variando entre 50 e 500 kg aproximadamente,

dependendo do compri-mento do braço

da alavanca e da força exercida.

Um tipo simples de prensa esférica produz

briquetes semelhantes a bolas (56.1(a))

e (56.1(b)). Trata-se de tecnologias simples

que podem ser fabricadas localmente.

Um outro tipo de prensa representado

na figura (56.2), produz briquetes de formato

rectangular com dimensões de cerca

de 5 x 5 x 10 cm. A caixa deve abrir a fim

de se retirar o briquete que feitos desta

maneira simples, são normalmente secos

ao ar antes de serem vendidos.

Em vários países em desenvolvimento tem

sido tentado em pequena escala a fabricação

de maquinaria para briquetes mas sem grande

relevância. Uma concepção recente que

é muito promissora consiste num parafuso

sem fim, helicóide, de diâmetro gradualmente

decrescente, movido manual-mente que tem

sido desenvolvida por vários fabricantes em

pequenas unidades metalúrgicas quer no

Brasil como nas Filipinas, entre outros (56.3).

O equipamento consiste de um depósito

de alimentação por gravidade (56.3(a)),

uma manivela (56.3(b)), o parafuso sem fim

(56.3(c)) e uma saída extrusiva (56.3(d)).

As peças compactadas separam-se por acção

da gravidade quando atingem um com-

primento de 2,5 a 5 cm.

61

Fig.56: Prensas para briquetagem

a

bc

1

2

3

d

a

b

Page 64: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

36. Registo da produção de lenha e carvão

Se se tratarem de operações de tipo

empresarial são necessários bons registos

para controlar a preparação e as vendas

de lenha e do carvão.

Para a produção de carvão em pequena

escala recomendam-se três fichas básicas que

podem ser alteradas, se necessário, para se

ajustarem às condições locais.

A ficha 1 usa-se para anotar a quantidade

de lenha preparada com antecedência por

equipas especializadas de trabalhadores, para

o fabrico de carvão. Esta ficha pode ser usada

como uma base para o pagamento

dos cortadores de lenha, para controlar

o volume das remoções de lenha e para

controlar o tempo de secagem.

62

Ficha 1 Mês:

Data

Total

Nome dostrabalhadores

m3

empilhadosVerificado por:

Equipa nº: Resumo mensal da preparação lenha

Ficha 2 Mês:

Tipo de fornoe número

Totais

m3 empilhados Data deacendimento

Data dedescarga

Nº de sacosde 25kg

Verificadono armazém

Equipa nº: Resumo mensal da preparação lenha

Na ficha 2 aponta-se o volume de lenha carbonizada e a quantidade de carvão produzido. Pode

ser usada como base para o pagamento dos carvoeiros e para verificar a produção das equipas

e dos fornos.

A ficha 3 é arquivada no armazém para controlar o carvão recebido das várias equipas

de carvoeiros e o carvão vendido.

Ficha 3 Mês:

Data

Totais

Sacosrecebidos

Recebido daEquipa Nº

Sacos vendidos Sacos deixadosem stock

Verificado por:

Page 65: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

A par tir destas três fichas, a eficiência

da operação na sua globalidade pode ser

controlada e podem ser localizados os elos

fracos no circuito das actividades, que devam

exigir melhoramentos.

Mesmo que em certas regiões a produção

do carvão seja uma actividade não controlada

pelos serviços florestais, os carvoeiros devem

ser instruídos a registar as suas operações,

a exercerem a sua actividade de uma forma

mais organizada, a terem um sentido mais

realista dos impactos ambientais da sua

actividade, a terem atenção à necessidade

de melhorias nos processos de abastecimento

de lenhas e ao significado que as pequenas

melhorias no rendimento das operações

de carbonização poderão ter na salvaguarda

dos espaços arborizados que são no médio-

longo prazo essenciais para salvaguarda da

sua actividade e da sua comunidade.

Os carvoeiros devem ser instruídos para

a urgente melhoria da forma como exploram

a mata de uma forma bastante depredadora.

A prática corrente de abate total das zonas

que vão sendo exploradas para a obtenção

de toros para carbonização (imagem 9)

em matas naturais cujo crescimento médio

anual é bastante baixo requer acções

de sensibilização urgentes.

37. Cronograma simplificado de uma

hipotética operação comercial de carbo-

nização com forno móvel

A experiência de trabalho em África de vários

consultores incluindo a FAO5 indicam que

dois homens podem operar dois fornos

móveis produzindo 23 toneladas de carvão

por semana. Naturalmente que dependendo

das condições locais e facilidades de assistência

será necessário assistência adicional para

o transporte dos fornos e para o corte

e preparação da lenha. Para a lenha, um

terceiro homem preferivelmente equipado

com moto-serra poderá ser necessário.

A experiência em África tem mostrado que

as iniciativas comerciais com sucesso

na operação de fornos móveis têm sido

aquelas que estabeleceram incentivos aos

operadores. Isto é um elemento que deve

ser claramente considerado, por exemplo,

por uma cooperativa que queira incluir

a produção e comercialização de carvões

nos seus planos de actividades.

O plano apresentado para 5 dias/semana

de operação tem por base dois fornos. Este

cronograma pode sofrer modificações para

acomodar variações na carga de trabalho

diário e no número de dias de trabalho

semanal e disponibilidades adicionais

de tempo dos trabalhadores.

5 “Simple Technologies for Chacoal Making”, FAO ForestryPaper nº41, FAO 1987.

63

Imagem 9: Zonas exploradas para a obtenção

de toros para carbonização

Page 66: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

64

08.00-10.00

10.00-12.00

12.00-13.00

13.00-17.00

08.00-08.30

08.30-11.00

11.00-12.00

08.00-08.30

08.30-14.00

14.00-15.00

15.00-17.00

08.00-10.00

10.00-11.00

11.00-13.00

13.00-15.00

15.00-16.00

16.00-

08.00-09.00

09.00-13.00

13.00-17.00

13.00-17.00

Forno1

Forno2

Forno1e Forno 2 Descarregar os dois fornos

Carregar com lenha

Acender o forno e reduzira circulação do arControlar a carbonização;Mudar e limpar as chaminés

Carregar o forno com lenha

Mudar e limpar as chaminés

Preparar lenha paraoperações seguintesAcender o forno e reduzira circulação do arControlar a carbonização.Mudar e limpar as chaminés às 16.30Fechar o forno quando a carbonizaçãoestiver completa. Preparar lenha paraas operações seguintes.

Mudar e limpar as chaminés.

Preparar lenha para operações seguintes.

Descarregar o carvão do forno

Começar o carregamento da lenha

Acabar de carregar o forno

Acender o forno e reduzira circulação do arDescarregar o carvão do fornoControlo de carbonizaçãoCarregar o forno com lenhaControlo da carbonizaçãoAcender o forno e reduzira circulação do arMudar e limpar as chaminésControlar a carbonização

Mudar e limpar as chaminésFechar o forno quando a carbonizaçãoestiver completa. Preparar lenha paraas operações seguintesMudar e limpar as chaminés às 12.30Preparar lenha para operações seguintesFechar o forno quando a carbonizaçãoestiver completa

Forno2

Forno1

Forno1

Forno2

Forno1

Forno1

Forno2Forno1

Forno2Forno1

Forno2

Forno1Forno2

Forno1e Forno 2

Forno1

Forno2

Forno2

Page 67: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

38. Comercialização do carvão

Embora seja bastante fácil fabricar carvão,

pode ser mais difícil vendê-lo a um preço

que dê um adequado lucro ao produtor.

Normalmente é mais fácil vender carvão

duro do que mole. Se são produzidos ambos

os tipos de carvão, a comercialização

é facilitada se as duas qualidades forem

misturadas de maneira uniforme. O carvão

mole pega fogo mais facilmente mas queima

mais rapidamente do que o carvão duro. Os

compradores são renitentes à aquisição

do carvão mole especialmente nos locais

onde as pessoas estão habituadas ao carvão

duro proveniente de espécies arbóreas

seleccionadas como, por exemplo, o carvão

de acácias ou espécies pesadas como

a Prosopis sp. Em situações de escassez

de combustível, qualquer tipo de carvão

é, porém, prontamente aceite.

Para uso industrial, o carvão deve ser de uma

qualidade elevada e uniforme que não

é o usualmente produzido em fornos

tradicionais pelo que o seu fabrico requer

sistemas aperfeiçoados de carbonização.

As fileiras do carvão (57) na maior parte dos

países tropicais são hoje praticamente

determinadas por interesses comerciais bem

organizados e estão na mão de profissionais

grossistas. Pelo contrário, o aprovisionamento,

a embalagem e o comércio dos combustíveis

lenhosos são uma fonte de actividade intensa

com múltiplos agentes grossistas e retalhistas.

Não obstante a diversidade de fontes

de aprovisionamento e da imbricação de

fileiras múltiplas, o negócio do carvão fornece

produtos perfeitamente identificados por

origem a que se apõe determinada qualidade

em termos de comportamento energético

e a agentes e organizações comerciais

específicas. Os agentes de aprovisionamento-

comercialização podem ser agrupados em

três grandes grupos: Cooperat ivas

de Carvoeiros; grandes empresários privados

e pequenos empresários/agricultores ao nível

das aldeias que assim diversificam as suas

fontes de rendimento.

Em cada um destes elos da fileira, o preço

do carvão eleva-se consideravelmente

e se todos os diferentes elos da cadeia

estiverem presentes, o preço final pode

ser muitas vezes superior ao preço obtido

pelo carvoeiro verificando-se diferenciais

de 1 para 5 ou mesmo mais.

O carvoeiro pode vender o seu produto

directamente ao consumidor. Esta opção,

quando possível, tem cer tas vantagens

e desvantagens. Entre as vantagens está

a possibi l idade de o car voeiro ter

a possibilidade de aumentar os seus lucros

se englobar outros membros da sua família

no negócio.

65

Fig.57: Fileiras do Carvão

1

2

Page 68: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

Todavia, vender ao consumidor é altamente

competitivo e causa grande dispêndio

de tempo. É além disso, extremamente difícil

vender pequenas quantidades excepto num

mercado estabelecido. O carvoeiro com

dificuldades de armazenagem ou de pessoal

de distribuição pode ele próprio ser

compelido a vender o seu produto quando

o mercado está saturado e o preço

é, consequentemente, muito baixo.

A segunda possibilidade é a de vender

o carvão ao armazenista ou retalhista no

local do mercado. Aí, os preços serão mais

baixos mas os produtos podem geralmente

ser vendidos muito mais rapidamente e, em

consequência, demora menos tempo do que

se o carvoeiro tivesse de fazer a venda

a retalho.

A venda ao consumidor, ao armazenista

ou ao retalhista no local do mercado tem

a vantagem para o carvoeiro de variar o seu

trabalho e facilitar contactos na cidade, o que

é desejável após longos dias na mata

ou aldeia afastado de outras pessoas.

A terceira possibilidade é a de vender toda

a produção no próprio local. As vantagens

são a de que o carvoeiro pode chegar

a um acordo com o transpor tador

ou o armazenista para comprar grandes

quantidades e ele, portanto, tem muito poucas

preocupações com o negócio e pode dedicar-

se mais ao trabalho de produzir mais carvão.

As desvantagens deste método são de que

ele é obrigado a aceitar um preço baixo pelo

carvão e não tem hipóteses de fazer negócios

e contactos sociais.

39. Cooperativa de fabrico de carvão

Os carvoeiros podem muitas vezes obter

segurança no negócio e aumentar o lucro

da sua produção se forem capazes de se

constituírem numa cooperativa na qual

as responsabilidades são compartilhadas.

O termo "cooperativa" é aqui usado no seu

significado específico de uma associação

de pessoas, usualmente de recursos limitados

que, voluntariamente se juntam, para alcançar

um objectivo económico comum, pela criação

de uma organização de negócios demo-

craticamente controlada pelos membros.

Os membros da cooperativa participam com

contribuições iguais para constituir o capital

necessário, partilham dos benefícios e dentro

dos l imites estabelecidos, os r iscos

do empreendimento.

Uma cooperativa difere de um empreen-

dimento privado pela circunstância de que

é possuída e controlada por aqueles que

fazem negócio por seu intermédio. Só eles

estão habilitados para serem seus membros.

A qualidade de membro de uma cooperativa

é voluntária e estes exercem em conjunto

a sua autoridade sobre o empreendimento

através do comité de gestão que é eleito

por todos os membros.

Uma das principais vantagens de pertencer

a uma cooperativa é que os membros são

capazes de aumentar o seu poder

de negociação e, desse modo, obterem preços

mais estáveis e assegurarem mercados. Além

disso, eliminando um cer to numero

de operações individuais, eles poupam tempo

e evitam muitos problemas. A cooperativa,

é assim capaz de oferecer maiores

quantidades de carvão para venda do que

é possível por um único carvoeiro e esta-

66

Page 69: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

belecer padrões de qualidade, classificação

e empacotamento. Da mesma forma

a cooperativa pode estabelecer padrões

e códigos de exploração e extracção

de lenhas que satisfaçam as exigências

ambientais e de sustentabilidade dos recursos

lenhosos. Isto, simultaneamente com maior

disponibilidade de transpor te e arma-

zenamento, abre possibilidades de comer-

cialização bem para além dos limites da cidade

mais próxima e permite a pesquisa de novos

mercados (indústria; exportação).

A cooperativa pode também fornecer aos

seus membros equipamento a preços mais

favoráveis, porque é capaz de comprar em

maior quantidade e desta forma obter

descontos substanciais em equipamento

moderno tal como fornos de aço, contri-

buindo assim para melhorar as técnicas

de produção de car vão e aumentar

a qualidade e a quantidade.

Se a cooperativa estiver bem estabelecida

pode ser capaz de obter empréstimos a taxas

favoráveis para os seus membros para compra

de equipamento especializado tais como

máquinas para pesar e briquetar, camiões

e máquinas carregadoras assim como para

a construção de armazéns.

A cooperativa é também capaz de anunciar

e promover vendas muito mais facilmente

do que no caso dos membros individualizados.

A cooperativa pode ainda facultar serviços

de contabilidade e de registos aos seus

membros.

A organização de uma cooperativa de carvão,

ou a inclusão do negócio do carvão numa

cooperativa de serviços agrícolas já existente,

requer o seguinte:

uma avaliação das necessidades

dos membros e dos serviços que podem

ser prestados pela cooperativa;

um estudo da viabilidade económica

do empreendimento;

um certo número de reuniões preli-

minares informativas tendo em vista;

discussão dos dois primeiros pontos;

proporcionar um esclarecimento básico

sobre os princípios e práticas da cooperativa

aos seus potenciais membros;

definir objectivo da sociedade, formas

e meios de o atingir através da acção

conjunta;

tornar claras as tarefas do comité

de gestão para a actividade da produção

e comer-cialização do carvão;

identificar (entre os membros ou de

outra forma) a pessoa que, sob condições

estabelecidas, assumirá eficientemente

as responsabilidades de manter a cooperativa

em funcionamento;

discutir e adoptar as normas da cooperativa;

uma vontade comum de alcançar

a melhoria das condições económicas

e sociais das pessoas através da auto-ajuda

e ajuda mutua;

uma vontade comum, em proveito dos

membros, de aceitar a disciplina do grupo

e as disposições estabelecidas nas normas;

pronta disposição dos membros que

assumirem a direcção de educação dos

membros, em participar em programas

relevantes de educação dos membros para

o desenvolvimento da cooperativa e dos

seus associados;

boas relações de trabalho e aparecimento

de chefes responsáveis.

67

Page 70: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

40. Formação para preparação de lenha

e carvão

O treino é necessário a todos os níveis desde

o trabalhador até ao gestor da floresta, desde

o pequeno empresário até ao supervisor das

operações de derruba.

É absolutamente necessário treinar carvoeiros

e empreiteiros em pequena escala quanto

a ferramentas eficientes, equipamentos,

técnicas e métodos. Esta acção faz-se melhor

em cursos de curta duração orientados para

os adultos que já participem neste tipo de

trabalhos. Tais cursos são preparados após

observação das actividades reais e iden-

tificando pontos fracos e deficiências. Sobre

esta base determina-se a amplitude desejável

para as melhorias e, seguidamente, esta-

belecem-se o conteúdo e os meios do treino.

Requer formadores exper imentados

e especializados para delinear um programa

de treino de acordo com as necessidades

locais e realizá-los com sucesso.

Um curso sobre preparação de lenha

e carvão deve incluir os seguintes pontos

principais:

1 - Escolha e manutenção de ferramentas

para preparação da lenha. Sob este assunto,

deve ser dado, especial destaque à manu-

tenção das serras por meio de demonstrações

e exercícios práticos. O fabrico de cabos

para os machados e outras ferramentas será

muito desejável.

2 - Preparação da lenha para carbonização

Esta par te do curso deve concentrar-se

em exercícios práticos no abate de árvores,

toragem, rachadura, transpor te e empi-

lhamento. Deve ser prestada uma atenção

especial à prevenção de acidentes durante

o abate de árvores.

3 - Os princípios do fabrico de carvão

Explicação do processo de carbonização,

a influência da secagem e da dimensão

da lenha e identificação das principais espécies

arbóreas usadas no fabrico de carvão.

4 - Operação dos fornos de carvão

Dependendo do sistema de forno escolhido.

Um ou vários tipos aperfeiçoados podem

ser operados na prática e comparados com

os tradicionais menos eficientes.

5 - Comercialização do carvão

Este ponto inclui o ensacamento e transporte,

a discussão dos problemas da comercialização

relacionados com as diferentes qualidades

do carvão e a comparação de diferentes

sistemas de venda ao armazenista, ao retalhista

ou ao consumidor.

6 - Organização da empresa

Familiarização com o arquivo de aponta-

mentos simples e registos, assim como

os cálculos de avaliação de custos,

a organização eficiente da operação

e a gestão global.

Cursos deste tipo podem ser dados a pessoas

provenientes dos ser viços florestais,

organizações comerciais, cooperativas

ou pequenos fabr icantes de car vão.

O conteúdo do treino deve ser adaptado

ao nível dos formandos que podem ser

gerentes, técnicos, trabalhadores ou estu-

dantes. Adicionalmente a cursos gerais,

podem ser dados cursos especiais, por

exemplo sobre corte de lenha ou sobre a

construção e operação de fornos móveis ou

do tipo colmeia de tijolos. O treino pode ser

complementado com cursos de reciclagem

ou cursos de valorização, em métodos mais

aperfeiçoados de carbonização. Se a produção

de lenha e de carvão está integrada num

programa de gestão sustentada de recursos

florestais, a nível municipal ou regional,

o problema de evitar a utilização excessiva

68

Page 71: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

do recurso e da deficiente gestão silvícola

deve ser adequadamente tratado no treina-

mento e na prática.

Os carvoeiros independentes e os empre-

sários de pequenas empresas requerem

principalmente treino prático, de preferência

realizado nas áreas de trabalho onde actuam.

Os lenhadores e carvoeiros podem ser

treinados separada ou conjuntamente,

dependendo se estas duas operações são

efectuadas por grupos separados de traba-

lhadores ou conjuntamente. Raramente será

possível dar um período de treino superior

a 2 semanas. No treinamento de fabrico

de carvão é necessário cobrir mais do que

um ciclo de carbonização o que pode ser

difícil conseguir com alguns métodos dentro

do período de 2 semanas.

O treino é um meio impor tantíssimo

de introduzir ferramentas mais eficientes,

equipamento, técnicas e métodos

de tecnologia de lenha e carvão. Na ausência

do treino, meios tradicionais deficientes

de fabrico de carvão continuarão a predo-

minar e grandes quantidades de matéria

prima lenhosa, particularmente resultante

de derrubes, ficarão sem utilização

69

Page 72: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão

70

Briane, D., Doat, J. (1985) - “Guide Technique de la Carbonisation” - La Fabrication du Charbon

de Bois, Édisud

IPF (1982) - “Motosserras nas Florestas Tropicais” versão portuguesa

FAO (1987) - “Simple Technologies for Charcoal Making”, FAO Forestry Paper nº 41, FAO

W. D. Whitehead (1979) - “The Construction of a Portable Charcoal Kiln”. Tropical Products

Institute, United Kingdom. Rural Technology Guide (3).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 73: Lenha e Carvão - Manual de Apoio à Extensão