leitura e projeto da cidade coletiva

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LEITURA E PROJETO DA CIDADE COLETIVA a estrutura de ensino das disciplinas de projeto de edificações . fau usp

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Page 1: LEITURA E PROJETO DA CIDADE COLETIVA

LEITURA E PROJETO DA CIDADE COLETIVAa estrutura de ensino das disciplinas de projeto de edificações . fau usp

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FACULDADE DE ARQUITEUTRA E URBANISMOUniversidade de São Paulo

junho.2013

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃOorientador Alexandre Delijaicov

Eliezer K J Kang

LEITURA E PROJETO DA CIDADE COLETIVAa estrutura de ensino das disciplinas de projeto de edificações . fau usp

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para minha mãe.(1.3.1957 - 6.8.2008)

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considerações iniciaisintrodução 11 | inquietação 12 | justificação 13

alicerces de um ensino de projetonecessidade da teoria 17 | bauhaus 23 | vkhutemas 35

ensino de projeto na fauintrodução 45 | programas 48 | diálogos construtivos 61

projeto para cidade coletivamelhoramento do tietê 81 | plano de rodovias 83 | parque tietê 91

projeto | proposta | leituralocalização 107 | olimpíadas 2012 114

novo paradigmacheonggyechong 119 | cidade fluvial 126 | hidroanel 128

projeto no baixo bom retiroestratégias 140 | cortes 158 | considerações finais 175

anexosarco do tietê 176 | referências de projeto 182

bibliografia

agradecimentos

11

17

45

69

101

119

133

176

188

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"There is a river whose streams gladden the city of God,The holy place of the tabernacles of the Most High."

Psalms 46:4

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ESTUDIO 2ESTUDIO 3ESTUDIO 4

introdução.

ConsideraçõesIniciais

Cinco anos e um pouco mais, formam um arquiteto. Parcialmente verdade, esta afirmação conta o período em que a faculdade ensina ou tenta ensinar arquitetura em seu complexo sentido universal. Per-meando tais conceitos fui compreendendo, pouco a pouco, a pe-culiaridade e a generalidade deste assunto e em meio a todos esses significados tive que escolher um ou uma vertente para fazer este tfg.

Colocada em um âmbito semântico tão abrangente ela existe e não existe como um termo definível sendo tomada e emprestada por quase todas as disciplinas e ofícios do homem, ligada a toda prática criativa e artística. Neste caso será enfatizado o seu sentido construti-vo da compreensão espacial, da formulação do projeto e desenho urbano; ao me referir à arquitetura, digo Arquitetura e Urbanismo1.

A linha abordada aqui, portanto, se define pelo processo de apren-dizado de arquitetura através do seu objeto - o espaço, com sua escala e suas manifestações, inserido no contexto da cidade, apresentadas pelas disciplinas de projeto de edificações desta faculdade. Por meio de uma matriz de tríades nos é proposto uma didática formatada em uma estrutura subjacente com ênfases específicas dividas em três principais períodos, a qual articula o seu ensino:

Foto Aérea de São Paulo

à esquerda. 1945. escala, infraestru-tura, heterogeniedade e cultura de uma metrópole latino americana.instrumentalism.wordpress.com/

1 referindo-se às palavras do pro-fessor Vilanova Artigas, professor Minoru Naruto em seminário sobre ensino de arquitetura e urbanismo.fau usp 2007

2 uma compreensão/definição pessoal do período que se insere o "último" ano do estudante da fau, ao se abrir de fato a oportunidade de escolha das disciplinas que tem mais interesse, o estágio e o processo de conclusão de curso que gera reflexão por meio do tfg.

Acompanhadas simultâneamente por disciplinas de paisagismo, planejamento urbano, desenho industrial e programação visual e precedidos pelo ESTUDIO 1 | fundamentos de projeto que enfoca o de-senvolvimento de noções metodológicas quanto à organização do espaço, seu entendimento e percepção, como também as formas e linguagens de representação do projeto. Por fim são concluídas pelo ESTUDIO 5 | complementos e especializações2 que desenvolve a compreensão e síntese da formação do estudante por meio de disciplinas optativas eletivas (na própria faculdade), optativas livres (de outros cursos da universidade) e o tfg - Trabalho Final de Gradução.

Durante este percurso ainda é proposto uma trama mais afinada, o Estudio Vertical, que visa a integração entre os alunos de diferentes anos que estão cursando os diferentes estúdios, por meio de um tema

infraestruturahabitação

equipamentos

transposiçõesmodulaçõestransições

arquitetura do lugararquitetura da construçãoarquitetura do programa

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3 as disciplinas dos departamentos de História e Tecnologia também compôem o papel fundamental em todo esse processo de aprendiza-gem. Jamais sendo consideradas inferiores, pelo contrário, trata-se de uma relação complementar, onde todo o entendimento do estu-dante é formado pelo conjunto dos repertórios apresentados por toda grade disciplinar da fau usp.

inquietação.

em comum, as vezes o terreno ou a abordagem do desenvolvimento do projeto, criando uma dinâmica que beneficia o aprendizado co-mum de todos, enriquecendo as dicuções do processo projetual.

A estruturação proposta acaba tornando-se o eixo da difícil tarefa de se ensinar arquitetura em sua interdisciplinalidade3, como matriz temática das relações entre o espaço e o homem, tendo como obje-tivo o "como fazer" o projeto arquitetônico contenporâneo na cidade consolidada. O presente trabalho é nada mais que uma compilação dessas aprendizagens, idéias e conhecimentos adquiridos e modifica-dos durante esse tempo, em conjunto à uma investigação do papel da própria escola no recorte da estrutura apresentada para o seu ensino de projeto. O que faço então é um estudo destes instrumentos, uma breve busca pela origem e inspiração pedagógica em que está funda-mentada esta escola, baseado em obseravações pessoais, especulativas e também em "como nos foi contado", reflexões derivadas de in-úmeras conversas com alguns professores e muitos colegas. Consta-tada essa análise teórica, ainda ambiciono aplicar o discurso à um projeto de leitura espacial urbana e proposta, que deve ser vinculada a esta tríade e através de considerações sobre outros projetos de refe-rência que também dão embasamento para o raciocínio proposto.

-Quando tive que escolher o tema do tfg pensei em qual seria a mel-hor maneira de expressar o percurso percorrido durante estes anos na fau usp. Retornei ao tempo em que decidi fazer este curso, uma escolha um tanto precoce no final de uma irresponsável adolescência; como muitos outros, inicei meus estudos em arquitetura imaginando as grandes casas de campo, os altos prédios comerciais e infraestru-tura era o mesmo que rodovias e avenidas para automóveis. Vergon-hosa verdade, prova de uma tendência mercantilista e fruto de um vestibular seletivo segregativo, justamente percebi a necessidade de uma revisão de conceitos e ideais.

Hoje, muito destes entendimentos se tornaram alvo de repúdio e exemplo de uma mentalidade carente de esclarecimento e educação, e o processo de tal conscientização foi uma sentelha do que viria a ser este tfg. Surge então uma indagação: não foram apenas alguns anos que passaram frequentando uma instituição, nem um ciclo de aulas e pal-estras que adestraram mero conhecimento técnico afim de nos lançar no mercado de trabalho, antes de tudo, debaixo de uma estruturação pedagógica nos foi apresentado uma "metodologia"configurada em programas e temas que tentaram propor uma abstração mínima da realidade, discutindo assuntos políticos e sociais, apresentando um

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4 professora Vera M. Pallamin em Reflexões sobre o Ensino de Arquitetura e Urbanismo 2007, a partir do comentário do livro O Mestre Ignorante - cinco lições sobre emancipação intelectual de Jacques Raancière, trad. de Lílian do Valle, Belo Horizonte, Autêntica, 2004.- título original: Lê Maître Ignorant. Librairie Arthéme Fayard, 1987.

5 'O Mestre Ignorante' - p.18

leque de tarefas com supostas situações reais, onde pouco a pouco abria-se o horizonte da dimensão prática da aquitetura. Abria-se uma porta para o aprendizado, introduzia o estudante de arquitetura.

-Para justificação do tema então, considero pautar o sentido da palavra 'metodologia neste trabalho, a qual durante todo esse processo de discução e pequisa tropecei e me perdi tentando decifrar e organizar o seu conceito que dinâmicamente foi se transformando ao ser acres-centado novas bibliografias e por conversas corriqueiras com colegas.Neste caso, compartilho da idéia de que ela não existe como manual de uso ou passo-a-passo do como fazer. Não se explica o projetar assim como não se ensina a enxergar, assimilando assim o processo didático do diálogo pequisador-pesquisador, onde a aprendizagem é levada pelo estímulo como ação de busca e investigação.

Em seminário sobre o ensino de arquitetura e urbanismo a profes-sora Vera4, desta faculdade, discursou sobre emancipação intelectual em uma linha análoga à essa reflexão sobre o 'método', o qual serviu de guia para o discorrer deste trabalho.

O livro nos conta a aventura intelectual do francês Joseph Ja-cotot, professor de retórica, línguas antigas, matemática e direito, nascido em 1770. Após a revolução de 1789 e com a restauração da monarquia, ele foi exilado nos Países Baixos, onde passou a lecionar, no início do século 19. Sem conhecer o holandês e com a tarefa de ensinar francês, ele estabeleceu um “elo comum” com seus alunos, utilizando o livro intitulado Telêmaco, publicado em Bruxelas, em edição bilíngüe de 1699. Essa obra, da autoria de François de Salignac de La Nothe, também chamado Fénelon, conta as aventuras de Telêmaco, filho de Ulisses, o herói grego.

Por meio de um intérprete, Jacotot solicitou aos jovens alunos que aprendessem o texto francês, apoiando-se na tradução. Ao chegarem na metade do livro primeiro, “mandou dizer-lhes que repetissem sem parar o que haviam aprendido e, quanto ao resto, que se contentassem em lê-lo para poder narrá- lo” 5 . Assim pre-parados, ele pediu-lhes, em seguida, que escrevessem, em francês, o que pensavam sobre o texto. Tendo em vista a total ausência de suas explicações prévias sobre a língua, Jacotot ficou esper-ando por erros grosseiros ou até pela impotência de seus alunos. O resultado, no entanto, foi absolutamente surpreendente: eles se saíram notavelmente bem diante dessa difícil tarefa. Essa ex-periência provocou uma revolução no pensamento de Jacotot

justificação.

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sobre o ato de ensinar, já que seus alunos tinham aprendido sem que ele lhes tivesse dado nenhuma explicação sobre a língua e seus fundamentos. Esse fato é de importância capital: eles, por si mesmos, “haviam buscado as palavras francesas que correspon-diam àquelas que conheciam e aprendido a combiná-las para fazer frases, cuja ortografia e gramática tornavam-se cada vez mais exatas à medida em que avançavam na leitura do livro” 6.

O que passou a ser elaborado por Jacotot, a partir dessa ex-periência, foi uma maneira completamente provocadora quanto ao pensamento pedagógico tradicional e à lógica do que ele de-nominou como sistema explicador. Este supõe a relação de uma inteligência que sabe – o mestre – e a inteligência do aluno, que depende de suas explicações. A explicação, diz-nos Rancière, “di-vide o mundo em dois, entre os sábios e os ignorantes, os madu-ros e os imaturos, os capazes e os incapazes” 7. A lógica desse pensamento pedagógico tradicional pauta-se em uma relação de desigualdade, de superioridade e inferioridade. O explicador, nesses termos, institui o incapaz, na medida em que lhe inter-rompe o movimento da razão e sua confiança em si mesmo.

Esse tipo de abordagem, portanto, requer o despertar da curiosidade e o

desafio de aprender do aluno, levando a um aprendizado diferente do con-

vencional propondo o desenvolvimento da capacidade individual de ver as

coisas e criticá-las com os devidos argumentos até se chegar a uma indagação,

problema e por fim, um início de projeto. Obviamente essa é uma discussão

de extrema abragência que, entretanto, se encaixa diretamente na maneira que

se pratica o ensino de projeto em arquitetura e urbanismo especificamente.

Logo, a prática universal didática segue estes dois eixos: o convencional 'em-

brutencimento' 8 e o contrutivo, da vontade, da inteligência intríseca do ser

humano aprendiz e mestre. Para o primeiro é a inércia do sistema o que de

geração em geração se passa, a autoridade do conhecimento e o aprendiz pas-

sivo que se torna incapaz, em um primeiro momento, de assumir com poder

crítico os desenrolares do cotidiano social e político em que vive. O segundo,

a perspectiva do progresso, com a emancipação intelectual do indivíduo que

se torna capaz de discernir as imperfeições e deslizes do dia a dia, através de

um impulso latente provocado pela rotineira curiosidade e pela reflexão cons-

tante das condições em que está inserido.

Grande parte deste desenvolvimento está relacionado à estrutura a qual

ele é exposto, vale ressaltar que mesmo no caso de Jacotot havia uma didática

sendo aplicada e experimentada cujo resultado foi o que ele mesmo chamou

de 'método da vontade' 9, a elaboração dessa provocação intelectual em seus

6 (idem) p.20

7 (idem) p.24

8 "(...) seus avanços, sempre pau-tados na manutenção do princípio da desigualdade, preocupam-se em esmerar mais e mais as explicações, em uma progressão infinita."prof. Vera M. Pallamin, 2007.

9 'O Mestre Ignorante' - p.30

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alunos, os levando ao entendimento por meio da investigação.

Para mim, o ocorrido durante estes anos não foi tão diferente, se proposi-

talmente ou não, a parte que cabe ao estudante de assimilar que o melhor

caminho é o da 'vontade' será apresentada neste estudo. Por vezes considerei

as aulas dadas na fau um tanto desleixadas, porém diversos fatores me mostra-

ram que a cada ausência de um tutor 'explicador' o impulso pela pesquisa e

pelo diálogo foi exigido e, logo, a dependência se desfazia10. Muitas vezes,

porém, ainda seja realmente uma falta de zelo da parte de alguns, usando esse

discurso de maneira corrupta, desvinculando a responsabilidade do professor

cabendo ao aluno, e somente a ele, a persepção desse caminho. Quisera mais

professores tivessem tal consciência tornando-se agentes facilitadores, como

explicita Ranciére, sendo os guias e os autores da exigência do pensamento,

construindo em conjunto o caráter e o raciocínio do estudante levando-o à

consciência coletiva do saber.

Ainda assim existem aqueles que por muito esforço formularam a base em

que deveria ser dada esse ensino e por meio dela é que aprendemos e alcança-

mos a emancipação intelectual, tornando-nos competêntes e preparados para

a nova etapa profissional. A linha central deste tfg então é desembaralhar as

incertezas que formaram esses anos e tentar entender a estrutura a qual fomos

expostos nesta casa, o que gerou a temática dessa graduação e as pautas de

muitas discuções. Em meio dessa ausência de 'metodologia' de ensino de pro-

jeto como podemos afirmar nossa capacidade de compreensão da disciplina

(que de fato podemos), quais os instrumentos disponibilizados, e qual o sa-

ber que nos foi aprensentado? Fiz-me tais perguntas e tive então a justificativa

para este trabalho: entender como acontece que debaixo dessa angústia nos

tornamos, assim, arquitetos.

10 "No esquema tradicional peda-gógico (...) desenvolve-se pouco a pouco a inteligência e, depois, o indivíduo pouco a pouco se emancipa, se libera, etc. [Inversa-mente,] A idéia de Jacotot é que a emancipação precede sempre a aprendizagem. A emancipação é a decisão simplesmente de que se é um igual. Na base de toda aprendizagem intelectual há a decisão de que se é um igual, que se pode saber porque se é um igual. O essencial é a tomada de consciência da igualdade de todas as inteligências."Entretien avec Jacques Ranciére. in;http://multitudes.samzdat.net/entretien-avec-jacques-ranciere.html. Grifo acrescido por Vera M. Pallamin

Plano Diretor Participativo

abaixo. 2011. fórum de aprovação do Plano Diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

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Alicerces de UmEnsino de Projeto

necessidade da teoria.

Manual dos Bixos 2007

à esquerda. 2007. não à verbor-ragia! capa: detalhe pilar, pavilhão barcelona de Mies Van Der Rohe.concepção e execução: Amália San-tos, Caue Waneck, Gabriel Kogan e Rafael Craice. [adaptado]

A própria história da profissão relata que a formação do arquiteto é marcada pela consciência da necessidade de um contínuo processo de reforma de atualização, sempre atentos aos fatores históricos e às necessidades sociais de cada tempo. Os preceitos práticos das van-guardas artísticas e manifestos das diversas inquietudes invariavel-mente acompanharam este processo, interferindo direta e indireta-mente no campo da construção da arquitetura contemporânea.

Se hoje estamos inseridos em um período sem um ponto de vista predominante no que se refere à uma teorização ou pragmatização de um estilo arquitetônico, podemos concordar com a insensatez de nomear essa generalidade toda de Pós-Modernismo11 apenas. Essa 'ruptura' com o pensamento moderno, se iniciou há cerca de quatro décadas marcados por alguns termos chaves como fim do Neoco-lonialismo, Revolução do Verde e a disseminação do uso do com-putador e informatização eletrônica12, com discussões que tomaram diversificadas frentes, gerando grande controvérsia e paradoxos que ainda estão longe de serem finalizadas; cada uma querendo chamar mais a atenção dos estudiosos e todas elas procurando se estabelecer como a nova vertente.

Não é foco deste estudo buscar esse novo modelo nem tentar defi-ni-lo, porém não posso negar que entender as relações de aprendiza-gem da arquitetura contemporânea estando inserido neste contexto significa especular, mesmo que vagamente, por esse embaralho.

A teoria, entretanto, não atrapalha nesse processo, pelo contrário ela é necessária. Por meio de sua busca encontro referências que se tratam de discursos sobre a prática e a produção da disciplina que apontam para seus grandes desafios. Para a teoria da arquitetura é necessário discernir a linha de borda entre a história da arquitetura, que estuda as obras do passado e a crítica específica de julgamento e interpretação de obras existentes segundo os critérios assumidos pelo crítico ou pelo arquiteto13. Portanto, dela se gera uma espécie de metalinguagem da qual se tem uma breve explicação daquilo que se produz em um certo período. Sua natureza especulativa, exige um certo grau de abstração, avaliando arquitetura como profissão, suas intentções e sua relevância cultural em geral, ela se ocupa tanto das aspirações da profissão como de suas realizações práticas.

11 Kate Nesbit em Uma nova Agenda Para Arquitetura, antologia teórica 1965-1995. 2006 p.21o subtítulo 'a necessidade da teoria' também faz referência ao mesmo trecho da introdução do livro.

12 Frederic Jameson, Postmodern-ism and Consumer Society, in: The Anti-Aesthetic, 1982 citado em Uma nova Agenda Para Arquite-tura. Nesbit, K.

13 'Uma nova Agenda Para Arquite-tura' - p.15

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Diante desse diálogo acredito que o conteúdo que os estudantes de arquitetura recebem está intrínsicamente ligado ao período em que se formam, logo ficam proporcionados às grandes teorias regentes desse tempo e por meio delas constroem o caminho profissional.

É possivel identificar ao longo da história da arquitetura a recor-rência de certas problemáticas que demandam soluções tanto conceituais como físicas. As questões físicas são resolvidas à luz da tectônica, enquanto as questões conceituais ou intelectuais são problematizadas pela filosofia. Entre os assuntos teóricos permanentes estão os das origens e limites da arquitetura, de sua relação com a história e os problemas relativos ao seu signi-ficado e expressão cultural. Novas teorias surgem para oferecer uma explicação aos aspectos não examinados ou não explicados da disciplina.14

Para este projeto o que segue, então, é a busca por esse embasa-mento histórico que se torna o primeiro passo para a compreensão deste processo de aprendizagem. Tomo como um incerto começo dessa discussão os avanços tecnológicos da nova era industrial tec-nológica e suas repercussões como o período das Grandes Guerras e as vanguardas que se formavam, seus manifestos e pensamentos que tentavam acompanhar a sociedade que se transformava e adapatava à nova demanda política e econômica, e vice-e-versa.

-Duas escolas serão usadas como referência para não fazer um re-corte tão amplo que se torne dispersivo. Ambas levam consigo o es-pírito que preencheu as primeiras teorias da atividade projetual em arquitetura e artes, sendo as mais relevantes do século vinte e ainda mais importante para a formulação dos processos de ensino desta faculdade. Um estudo do processo histórico por meio das experiên-cias didáticas, primeiramente independêntes, mas que em um certo momento tornam-se unidas como os centros gêmeos15 de uma radi-cal inovação artística educacional durante 1920. Portanto, por meio desta abordagem não pretendo necessariamente aprimorar os estu-dos já feitos dessas facudades, mas compreendê-las por uma coleta de dados primários, algumas vezes 'lugares comuns' que se entendam como modelo tanto para o discurso verbal do ensino da fau, quanto físico e icônico da produção de projeto e ação projetual.

A chegada da revolução tecnológica16 teve um forte impacto entre os arquitetos e artístas no final do século dezenove. Especuláva-se so-

Manual dos Bixos 2007

à esquerda. [continuação] confesso que ao receber esse manual entendi muito pouco sobre o que ele falava, o que se tornou uma das inspira-ções e impulsos para realizar um trabalho como esse, sobre o proces-so de aprendizagem e a construção crítica referênciada e reverencial da formação de nossa escola.

14 (idem) p.15

abordagem.

15 Christina Lodder, The Vkhutemas and the Bauhaus: A Criative Dialogue. in: Constructive Strands in Russin Art 1914-1937. - p.459 [tradução livre]

16 Eric Hobsbawn em Industry and Empire: from 1750 to the Present Day - p.34 [tradução livre]

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bre seu significado, sua influência sobre a política e economia e, con-sequentemente, sobre as possíveis respostas para arquitetura e suas novas indagações sociais, reflexos dela mesma. Especulações que, como mencionado anteriormente ainda não chegaram a um fim.

Aparentemente essas novas ferramentas foram assimiladas ou cau-saram uma mudança considerável na produção de novos edifícios ap-enas quatro ou cinco décadas após a sua 'estréia'. Também, embora a tecnologia tenha aberto um leque maior de alternativas construtivas, seus efeitos sobre os conceitos e aplicações causaram muita contro-vérsia, talvez por uma falta de compreensão de como ela poderia ser usada a favor da sociedade, ofuscada pela fútil problemática estética apenas, negligenciando o seu verdadeiro potencial.

Contudo, durante todo esse período de transformações, muito se discutiu e os conceitos principalmente na área de ensino foram se reformulando e criando uma notória corrente intelectual e produtiva que resultou em uma vanguarda seguida pela a maioria das escolas de arte e design da europa e depois pelo mundo, lançando um para-digma para as próximas gerações.

Entre elas destacam-se a Bauhaus de Walter Gropius, na Alemanha e o Vkhutemas do Estado da União Soviética de Vladmir Lenin.

Palácio de Cristal

abaixo. 1854, Joseph Paxton. vista interior do Palácio de Cristal em Londres, o projeto pode ser con-siderado um marco inicial da era moderna na arquitetura ocidental, com a utilização de ferro e vidro, usando a transparência e a luz como parte da forma do edifício; originalmente construído no Hyde Park em Londres e depois movido para uma área mais afluente da ci-dade até o incêndio que o destruiu em 1936.foto: Thailand Convention and Visitors Bureau

Manual dos Bixos 2007

à esquerda. [continuação]

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Manual dos Bixos 2007

à esquerda. [final adaptado] uma feliz introdução e sincera recepção dos veteranos da casa que então já haviam sido iniciados nesse circui-to de diálogos dando as primeiras dicas do que nos aguardava.

introdução. Para compreender a Bauhaus, principalmente seus preceitos de en-sino, senti a necessidade de conhecer alguns fatores históricos que servem de linha guia no discurso de seus fundadores e consolida-dores, para não entede-la como um mero movimento artístico esté-tico aleatório.

Com a primeira revolução industrial em meados do século dezoi-to surge um grande impasse para os artistas e artesãos da época, a primeira problemática referente a tradição artesanal versus produção mecanizada, óbviamente ambos buscando manter a produção arte-sanal como fonte de qualidade contra o produto repetitivo 'sem alma' feito pela máquina. O novos inventos, entretanto, causaram um impacto tão violento na política econômica e social que abriram-se portas para uma nova maneira de se encarar a produtividade e con-sumo de objetos cotidianos.

Em 1713 Abraham Darby fez ferro fundido com carvão (em vez de lenha); perto de 1740 Benjamin Huntsman inventou o pro-ceso de aço em cadinho; em 1783 Cort introduziu a Pudlagem; fizeram-se em 1810 os aperfeiçoamentos decisivos no alto-forno (Aubertot); em 1839 Nasmyth inventou o martelo-pilão; em 1856 Besser inventou um método para produzir aço isento de carbono. A estas inovações da metalurgia devemos acrescentar a invenção da máquina a vapor com condensador separado (J. Watt, 1765) , da caldeira a vapor (1781), do navio de hélice a vapor (1821) e da locomotiva (1825). As datas principais das indústrias de fiação e tecelagem são as seguintes: em 1764-67 a máquina de fiar (hargreaves); em 1769-75 a 'water-frame' de fiar (Arkwright); em 1774-79 o fuso mecânico de fiar (Crom-ton); 1785 o tear mecânico (Cartwright) e em 1799 o tear de Jascquad.17

Tudo isso em um periodo de meia década apenas e era somente o inicio dessa nova era da máquina. Tal revolução trouxe uma série de consequências entre elas o aumento massivo no consumo de maté-rias primas e o rápido crescimento populacional das cidades inglesas devido a alta demanda de mão de obra. Este aumento desenfreado e

17 Nikolaus Pevsner em Os Pioneiros do Desenho Moderno, 1995 - p. 32

StaatlichesBauhaus

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desorganizado fez com que surgissem graves problemas socias onde homens, mulheres e crianças eram sujeitas a jornadas de trabalho de doze a quatorze horas diárias18, a condições de vida miseráveis com altas taxas de falta de moradia e infraestrutura básica.

Na exposição do Hyde Park em Londres, 1851, no Palácio de Cristal, se mostrou clara a luta entre a indústria, representado pelo raciocínio dos engenheiros e a apresentação dos novos materiais e processos de sistemas produtivos; e o outro lado, os artistas que através do uso de materiais de qualidade, encarecendo o produto, e ornamentos com relevos e desenhos figurativos de flores e plantas tantando dar um sentido 'historicista' ao objeto Art Noveau.

Iniciou-se então o movimento Arts and Crafts fundamentados teórica e praticamente por John Ruskin e William Morris que contra a máquina viam nessa manifestação artística uma forma de se con-trapor à suposta falta de qualidade imposta pela produção industrial em massa, defendendo uma volta à figura artesanal da Idade Mé-dia na qual se conseguiria a satisfação tanto de quem produz como de quem consome. Morris cuja contribuição teve um caráter mais prático, fundou em 1861 uma empresa de fabricação artística e arte-sanal de objetos de uso diário, focando na sua utilidade evitando os materiais modernos. O objetivo era revalorizar o papel do criador artesão e as relações entre produtor-consumidor com seus produtos de 'qualidade', e possuía um discurso muito mais social do que ape-nas estético. Entretanto, logo se assumiu a contradição desse proces-so, o objeto que era feito pelas mãos dos artistas acabava sendo mais caro, portanto, acessível apenas à burguesia que podia pagar contra o produto industrializado de baixo valor que alcançava as classes mais pobres. Outros tentaram prosseguir com o movimento como Walter Crane, ativo ilustrador que deixou um grande acervo de desenhos de estórias e poemas infantis produzidas à próprio punho, defendia fortemente o discurso contra a industrialização em destrimento da qualidade de vida dos trabalhadores. Robert Ashbee que inicialmente segue os racioncínios do Arts and Crafts funda em 1988 a Guild and School of Handcraft com os mesmos princípios de Morris, porém logo se afasta se rendendo ao processo de fabricação da nova era industrial19.

Podemos dizer que houve um fracasso na tentativa do movimento Arts and Crafts no seu sentido de luta contra a consolidação da in-dustrialização e produção em massa, porém o seu mérito não se deve tanto ao objetivo, mas nos princípios levantados por eles. Trata-se de um início da assimilição das problemáticas causadas por essa forte

The Peacock's Complaint

acima. 1887. trecho do poema de W. J. Linton 'The Baby's Own Aesop' ilustrado por Walter Crane. o Art Noveau e seus objetos de uso cotidiano contra a produção 'impessoal' da industrialização.ilustração. Walter Crane

18 (idem) p.33

19 (idem) p.9

Child Labor

acima. 1907. crianças trabalhando em fábrica têxtil.foto: Lewis Hine

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onda e das implicâncias, principalmente sociais, geradas a partir dela.Em meio a esse contexto histórico e as discuções sobre a relação

arte-indústria, alguns outros movimentos começam a surgir dando uma forma mais concreta do que será a conciliação entre estas novas formas de produção e a sua aplicação nos campos das artes e arquite-tura na Bauhaus. A Deutscher Werkbund surge na alemanha em 1907 dentro dessas circustâncias.

Hermann Muthesius trabalhou na embaixada alemã em Londres durante o final da década de oitenta, encarregado pela pesquisa sobre habitações inglesas ficou extremamente impresionado com a ênfase que se dava para funcionalidade e objetividade de uma arquitetu-ra que não havia sido contaminada pelos exageros do Art Noveau continental. Viu na 'honestidade' dos materiais e no pensamento expansivo da industrialização uma forma de evolução no percurso do design e um grande instrumento para beneficiar a economia do país. Ao retornar à Alemanha assumiu o cargo de diretor das escolas de artes e ofícios do Departamento Estadual da Indústria de Berlin incentivando a experiência prática no aprendizado e demonstrando claramente sua postura a favor da industrialização.

Para Muthesius o irreversível processo histórico que foi a chegada das máquinas exigia uma rápida assimiliação dos novos instrumen-tos a favor das novas conotações econômicas e sociais que ela trazia. Contra o Art Noveau e a burguesia que a sustentava pregava o fim dos ornamentos desnecessários considerando-os exageros e de valor retrógrado do seu tempo. A busca pela forma pura, evidenciando a qualidade do material e a técnica seria o plano moderno, correspon-dente aos traços gerais da época e tanto mais criado a partir do es-pírito desse tempo.

Essa postura radical fez com que a associação de 'artesões indus-triais' (que defendiam a produção artesanal ornamental e o mercado exclusivista burguês) se sentisse ameaçada pressionando o imperador a afastá-lo do cargo. Isso abriu um caminho para Muthesius seguir à diante com seus ideais se juntando a outros artistas e industriais simpatizantes dos mesmos pensamentos fundando assim a Deutscher Werkbund. Entre eles, arquitetos, artistas plásticos, escritores e rep-resentantes da indústria e do comércio associados para promover o debate com respeito a produção moderna, aplicando as novas fer-ramentas e os processos industriais e desenvolvendo-os por meio da educação e propaganda. A estratégia utilizada foi bem sucedida uma vez que as escolas de Artes e Oficios foram influenciadas pelas ideias da Werkbund se transformando em agentes formadores dessa nova

Willow Bough

acima. 1887. papel de parede em tecido manufaturado pela Morris, Marshall, Faulkner & Co.concepção. William Morris

Deutscher Werkbund

acima. 1913. Munique, Alemanhã. anuário de produção Die Kunst in Industrie und Handel - 'A Arte na Indústria e no Comércio', com primeiro logotipo da associação.concepção. Jena Eugen Diederichs

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era onde a indústria passaria a ser a principal aliada da produção artística, não só na Alemanha como por todo europa.

É possivel obter uma produção de alto nível, quer com ferramen-tas quer com máquinas, desde que o homem domine a máquina e faça dela uma ferramenta (...) a culpa da produção inferior não cabe às máquinas e sim à nossa incapacidade de maneja-las adequadamente.20

Essas mudanças ocorreram graças aos insentivos de Muthesius que atraiu os professores diretores das escolas de arte em Düsseldorf com Peter Behrens à frente, Dreslau com Hans Poelzig e Berlin com Bruno Paul, construindo uma espécie de vanguarda que inspirou outros países a aderirem ao movimento. A Werkbund autríaca é fundada em 1910 seguida pela suíça três anos depois, na Suécia o processo se de-senvolve entre os mesmos anos se consolidando em 1917. Em 1915 o mesmo programa foi aplicado ao D.I.A (design & industries asso-ciation) fundado por Henry Duncan McLaren que após uma exibição de produtos da Deutscher Werkbund na Inglaterra tem a ambição de criar um padrão dos produtos manufaturados em Londres.

Os mesmos pensamentos que influenciaram Muthesius acabaram retornando ao seu país de origem, porém desta vez superado o sau-dosismo medieval, como imaginavam Ruskin e Morris, com uma postura mais realista e entrosada com as novas técnicas e processos de produção industriais buscando nelas uma resposta para as necessi-dades sociais e econômicas que ela mesma havia trazido. Sendo assim a relação entre arte e indústria passa a um outro nível, tomando um sentido mais prático e conceitual de como se aplicariam essas novas formas de produção, gerando divergências mesmo entre os membros da associação como, por exemplo, a estandardização dos produtos

20 discurso inaugural da Deutscher Werkbund pelo arquiteto Theodor Fisher citado em Os Pioneiros do Desenho Moderno, Nikolaus Pevsner. 1995 - p. 22

Expo Werkbund Köln

acima. 1914. pavilhão da exposição da Deutch Werbundprojeto: Anônimo

Indústria AEG

à direita. 1909. fábrica de turbinas AEG, projeto do início da assimila-ção da arquitetura moderna com a indútria na Werbundprojeto: Peter Behrens

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um novo desenho.

que alegavam ser a resposta para o alcance máximo das pessoas ver-sus a liberdade criacional do artísta contra todo e qualquer cânone imposto por uma produção em massa.

-Walter Gropius fundava, em 1919, a resposta para todas essas von-tadades, a Bauhaus. Arquiteto, crítico e educador ajudou a formar a mais influente escola de Design da história moderna e suas in-fluências, consciente ou incoscientemente, perduram até hoje. Após a brutal interrupção21, como ele mesmo chamou, sentiu a neces-sidade de rever a linha intelectual a qual se seguiam todos os pen-sadores daquela época, principalmente e seu campo de atuação que interferia diretamente com a vida das pessoas e ao mesmo tempo com a produtividade econômica e as assimilações dos novos me-canismos da indústria. Sentia que todas as necessidades levantadas pela Werkbund, onde era membro ativo, receberiam força quando direcionadas à principal de suas causas, o homem. Todo o discurso sobre os problemas da produtividade, autoria dos artistas se tratavam, na verdade, do grande impacto social que a revolução causara, pelo menos na cabeça de Gropius, onde viu a imensa missão que deveria cumprir um arquiteto de sua geração.

Assim começou sua ambição em levantar uma geração de colab-oradores como gostava de os chamar, homens que não trabalhassem como um conjunto orquestral, que se curva à baruta do maestro, e

21 Walter Gropius, The New Archi-tecture and the Bauhaus, 1935. in: Novarquitetura - p.29referindo-se à Primeira Guerra Mundial que levou a muitos artis-tas e pensadores a tomarem cursos completamente diferentes após os terríveis acontecimentos.

Bauhaus Manifesto

à direita. 1919. manifesto para Bau-haus de Weimar com Xilogravura. discurso: Walter Gropiusgravura: Lyonal Feininger

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sim independentemente, ainda que em etrita cooperação, a serviço de um objetivo comum. Nascia então a escola Bauhaus, fundamen-tada neste ideal e de escopo específico concretizar uma arquitetura moderna que, com natureza humana, abrangesse a vida em sua total-idade. Seu trabalho se concentrava principalmente naquilo que hoje se tornou uma tarefa de necessidade imperativa, ou seja, impedir a escravização do homem pela máquina, preservando da anarquia mecânica o produto de massa e o lar, insuflando-lhes novamente o sentido prático e vida.22

Se analisarmos as posições ideológicas demarcadas por Gropius, desde o início, para a Bauhaus, e se estudarmos o corpo do tra-balho que cresceu durante as décadas subseqüentes, poderemos concluir que esses princípios nem estavam equivocados em 1919 nem obsoletos em 1970. Isso porque um dos principais aspectos de seu trabalho em educação é o entendimento dos perigos iner-entes à separação entre cabeça e mão, teoria e prática, trabalha-dores intelectuais e braçais, artistas e artesãos. Ele sempre tentou transpor a divisão arbitrária entre os dois extremos, procurando reuni-los para o enriquecimento de ambos.23

Em Weimar, abriu então a escola onde teve a oportunidade de aplicar as suas teorias à pratica que esforçáva-se em se opor à 'arte pela arte', então todo estudante da Bauhaus, independente de suas aspirações e habilidades passava pelo mesmo processo pedagógico das oficinas básicas e cursos preparatórios. Gropius se preocupava em manter distintas estas idéias de competência e criatividade e com sobriedade as tratava como potenciais pessoais, por exemplo a habilidade de saber desenhar, que poderiam ser intensificadas en-tretanto não consideradas como habilidade de se criar um objeto criativo. Isso vinha do cuidado em evitar o grosseiro analfabetismo do artesão moderno e a prococidade irresponsável do artista treinado em academia. Ele esperava recriar, na sociedade industrial moderna, o mesmo tipo de unidade orgânica e saudável que caracterizava as sociedades pré- industriais em todas as fases de projeto.24

Assim o curso era dividido em fases se iniciando pelos Cursos Preparatórios, obrigatório a qualquer estudante, que trabalhava o sentido técnico formal e enfocava o trabalho em equipe em sua con-strução. Baseáva-se em um contato com conceitos triviais do desenho do objeto com experimentos sobre proporção e escala, rítmo, luz e sombre, e cor. Tal experiência permitia o aluno a passar por diferen-

24 (idem) p.36

22 (idem) p.30

23 Domschke, V. in: O ensino da arqutetura e a Construção da Modernidade- p.35

Bauhaus Logo I

acima. 1919-1921. primeiro logo-tipo da escola.logo: Karl Peter Röhl

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25 tradução da palavra 'gestalter' para a forma inglesa 'designer' atu-almente, usada universalmente.

26 Walter Gropius, The New Archi-tecture and the Bauhaus, 1935. in: Novarquitetura - p.38

27 (idem) p.3828 (idem) p.40

tes instrumentos e materiais afim de encontrar aquele que mais lhe inspiraria, como também, aquele que iria de melhor encontro com suas capacidades biológicas. Sempre enfatizando a idéia de que o de-signer25 não fosse apenas um competente de sua profissão, mas que conhecesse o plano de formação do ser humano completo, afim de que pela sua disposição natural produzisse para a vida em sua totali-dade. Gropius também idealizava que nestes seis meses de Curso Pre-paratório, de um curso integral, o aluno pudesse desdobrar e amadu-recer sua inteligência e sentimento para assim encarar com segurança e argumentos à altura do ímpeto da nova 'era técnica'26. A fantasia também fazia parte da formação do aluno, por meio de programas estimuladores eram levados à diversos tipos de experimentação afim de encontrarem maior liberdade possível para as percepões pessoais.

Só quando se desperta nele [estudante] desde cedo larga com-preensão para as cambiantes relações dos fenômenos da vida que o cercam, poderá ele oferecer uma contribuição própria ao trab-alho criativo de seu tempo.27

A formação posterior então, seguia com os resultados de cada aprendiz e seus anseios em um sentido de ampliação e aprofunda-mento como continuidade aos primeiros exercícios com material e ferramentas. Lembrando que inicialmente a Bauhaus funcionava ape-nas como escola de artes aplicadas à era industrial, e não de arquite-tura, que foi introduzida apenas em 1927 com a chegada de Hannes Meyer como responsável do departamento; entretanto as formas de ensino seguiram da mesma maneira, feitos seus ajustes, para forma-ção dos arquitetos.

O curso também era complementado com aulas de Linguagem Vi-sual. O intuito era aprimorar as formas de comunicação do designer que ao se ter a idéia, pela criatividade pessoal e intuitiva, deveria saber expressá-la e assim permitir que o trabalho em conjunto fosse apreciado. Portanto houve uma busca em intensivos estudos de como se apropriar desses fatores e assim transmitir aos estudantes um co-nhecimento objetivo28 sobre as formas de expressões ópticas. Isso também acabou contribuindo da produção de todas as outras discip-linas elevando a capacidade de criação e exposição que geravam um apêlo aos produtos da escola.

Concluídos os cursos iniciais, cada estudante tinha de trabalhar, indispensavelmente, em alguma oficina por ele escolhida. Durante esse período o aluno estudava e trabalhava ao mesmo tempo apren-

Bauhaus Logo II

acima. 1922. segundo logotipologo: Oskar Schlemmer

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dendo a conciliar o desenvolvimento técnico com a conceituação da parte artística, sendo a primeira dirigida por um professor de artesanato e o segundo por um professor de design. Ainda não se confiávam em mestres que conseguissem assimilar as duas frentes e era objetivo da Bauhaus formar esta primeira geração, o que com o decorrer dos anos obteve seu sucesso.

Muitos desses professores que ajudaram a construir a escola, for-maram também as vanguardas modernistas e suas produções gráfi-cas, edifícios, objetos e obras de arte perduram inestimáveis até hoje, sem mencionar as suas influências. A idéia era que cada um deles era incendivado a manter sua vida profissional ativa, dedicando tempo à criação pessoal e ao auto desenvolvimento por meio de novas experi-mentações; acreditava-se, com extrema razão, que isso traria bene-fício às discuções do aprendizado e ensino, mantendo-os longe de se fecharem na bolha acadêmica, estagnando seu processo criativo. Assim muitos resultados são hoje exemplos de grande prestígio.

Outra característica da Bauhaus era sua estreita relação com as in-dústrias. Buscáva-se sempre trazer para dentro da escola encomen-das reais o que dava oportunidade, tanto para os mestres como para os alunos, a possubilidade de comprovar suas idéias. Essa veio ser uma das estratégias mais importantes da casa pois com o tempo e a aceitação dos produtos, firmávam-se mais contratos que geravam uma valiosa fonte de renda. O sistema, como uma forma de estágio obrigatório, porém cuidadosamente supervisionado pela escola, dava a possibilidade de pagar aos alunos pelos artigos e modelos vendáveis que houvessem elaborado. Tal método deu a muitos estudantes ca-pazes uma base de subsistência.29

Como parte dessa estratégia e quando se resolveram fazer um le-vantamento geral da produtividade do curso um importante evento foi organizado, em colaboração à exposição da cidade de Weimar de 1923, a Semana Bauhaus. Participaram alunos e professores com con-ferências e apresentação de projetos, entre eles a 'casa modelo' pro-jetada por Georg Muche e mobiliada por objetos dos próprios ateliês da Bauhaus, ganhando-se assim bastante prestígio e popularidade.

Um período de grande produtividade aconteceu quando a escola se mudou para Dessau, 1925, quando Gropius operou todas as ofi-cinas para o projeto da nova sede, cada uma das disciplinas ajudou na construção do edifício admirável e espetacular em sua funciona-lidade. Termo presente no discurso do arquiteto, conhecia intima-mente cada fluxo de vida da Bauhaus, assim concebendo uma das grandes referências da escola moderna.

Cartaz Semana Bauhaus

acima. 1923. cartaz de divulgação da esposição em Weimar, onde o conselho de mestres resolveu fazer um balanço geral das atividades do curso. Influências cubistas e elementos tipográficos.concepção: Joost Schmidt

Bauhaus Dessau

próxima página. 1925. fotografias do edifício sede da Bauhaus em Dessau. A fachada frontal onde se encontram os ateliês e a face de trás menos conhecida.foto: Desconhecido

29 (idem) p.42

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Bauhaus Dessau

página anterior. 1925. fotografias do edifício sede da Bauhaus em Dessau. Escadarias internas.foto: Desconhecido

O complexo contruído em Dessau é um exemplo da convicção ao modelo forma-função das experiências de Walter Gropius. A con-exão criada entre os seus elementos, salas de aula, administrativas, oficinas, áreas sociais e dormitórios, formam em si sua maneira de projetar. A relação entre o arquiteto e sua carreira se demarcou pela profunda sensibilidade humanista e social que o guiou tanto em sua entrega em realizar a escola e seus preceitos como em suas obras e críticas, arquitetônicas e urbanísticas. Confinado à esses pensamentos fundou a escola Bauhaus afim de se criar uma geração que tivesse a sensibilidade de enxergar as necessidades humanas e encontrar na produção em massa das indústrias uma solução, legítima e bela, para elas.

Arquitetos devem conceber os edifícios não como monumentos mas como receptáculos do fluxo de vida ao qual devem servir.30

Um novo campo cultural de idéias não pode expandir-se e de-senvolver-se mais rapidamente do que a nova sociedade em, à qual deve servir.31

Esse pensamento que não era um programa oficial da Bauhaus le-vou as frentes fascistas à encararem com maus olhos a linguagem que se criava em seus ofícios; apesar de uma leitura puramente estética que pudesse tender à esquerda, é verdade que isso era resultado de serem a representação da liberação total da personalidade criativa anti o ecletismo servil do passado. Descrição desejável de qualquer escola de design da história, ao tolo entendimento nazista era visto como ameáça e que era necessário retomar às velhas e valiosas tradições alemãs, salvando a nação do modernismo da Bauhaus. A pressão fez com que a escola decretásse seu fechamento em 11 de abril de 1933, quando após o corte de todos os seus recursos (até mesmo as fábricas com as quais haviam contratos foram ocupadas), a deixou sem saída.

A dissolução do curso causou um êxodo dos professores, fazen-do com que as idéias do modernismo se espalhássem pelo mundo, principalmente nos Estados Unidos, que receberam Walter Gropius em Harvard onde depois se juntaria Marcel Breuer; Albers Scheper na Black Mountain College, Calorina do Norte e, posteriormente, na Universidade de Yale; Moholy-Nagy em Chicago onde por um breve período de tempo revive a 'new Bauhaus' que se torna a School of Design, com outro programa, por motivos financeiros. Mies Van Der Rohe segue para ser diretor do departamento de arquitetura do Illi-

30 Walter Gropius. in: Scope of Total Achitecture. 1955- p.93

31 Walter Gropius, The New Archi-tecture and the Bauhaus, 1935. in: Novarquitetura - p.44

Bauhaus Dessau

acima. 1925. modelo da nova sede em Dessau.

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nois Institute of Architecture de Chicago, onde se torna grandemente influente com seu modelo purista de arquitetura e novas técnicas de contrução com aço e produção industrial. Para lá também se diri-gem Hilberseimer e Peterhanrs se juntando a Mies e contruindo uma nova cultura arquitetônica transformando a cidade e diversas outras regiões do país.

O processo criativo, no sentido de criação da nova escola de arte e, mais tarde, de arquitetura é um dos fatores mais intrigantes e o marco do início do pensamento moderno ocidental delegado pela Bauhaus. buscando criar uma estrutura orgânica no universo do de-senho capaz e obter o equilíbrio da produtividade com o meio social, formando bons profissionais e capacitando-os a capacitar outros.

Hoje, não é novidade falar da Bauhaus, não existe um canto da criatividade onde seus conceitos não tenham tocado, reestruturando a forma geral de ensino tradicional europeu, repensando desde o papel do profissional à relação professor e aprendiz. Walter Gropius torna-se assim umas das figuras mais impressionantes no aspecto do ensino e aprendizado de projeto, seja do objeto ou da arquitetura, inspirando a muitas outras escolas de design até os dias de hoje.

Professores Bauhaus

abaixo. 1926. da esquerda para direita: Albers, Scheper, Muche, Moholy, Bayer, Schimdt, Gropius, Breuer, Kandinsky, Klee, Ferin-inger, Stözl e Schelemmer.

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VkhutemasVkhutein

introdução. Diferente da Bauhaus que muito já se ouviu falar e existem inúmeras publicações a respeito, o Vkhutemas segue como um dos fundadores do pensamento revolucionário às formas criativas do mundo ociden-tal do século XIX de forma tangencial. Entretanto, à fau usp é como peça chave na formação de sua filosofia de ensino a qual herdou dela inúmeros preceitos que ainda se mantém cobertos pela falta de menção delas.

No período pré-revolucionário o estudo das artes na Rússia eram realiados em basicamente dois institutos, as Escola de Stroganov de Artes Aplicadas e na Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura de Morscou. Ambas caracterizadas por um academicismo sujeito à estilo e pintura de cavalete europeu o qual no período da formação dos ideais da revolução já eram consideradas sinônimo de uma decadente sociedade burguesa que não mais atendiam a demanda da que estava por vir. Assim, após a revolução, com as reformas básicas nas áreas de educação as duas escolas foram fechadas por decreto de Lenin e reorganizadas como os Estúdios Livres do Estado, em 1918.

Sua evolução da forma tradicional para o novo método de ensino, têm seus fundamentos nas experiências de artístas independentes como os precursores do movimento contrutivista que passa a ama-durecer na década de vinte. Dois pontos norteiam essas experiências, a primeira é a fuga dos estilos expressionistas decorrentes da burgue-sia derrubada levando-os a uma composição abstrata. O segundo é a assimilação com as novas formas de produção industriais e a ma-neira de se encarar novos materiais na formatação das obras de arte e arquitetônicas. São realizados experimentos então, nos chamados 'trabalhos de laboratório', em idéias bi e tridimenscionais, alguns com finalidade em si mesmo, mas principalmente com a intenção de construir uma espécie de lei geral a respeito da forma, materiais, cor e espaço, que seriam aplicadas posteriormente como base geral de toda uma cultura de desenho.

Nesse tempo, Malevich, Kruchenykh e Stepanova já haviam trabal-hado com colagem na sua forma mais simples similar às experiências européias. Tatlin evoluciona com suas propostas tridimensionais em ensaios aplicados sobre uma superfície vertical que faz suporte para as esculturas serem instaladas nos cantos das paredes, explorando conceitos de movimento, tensão e suas relações. A partir deste ponto

Esculturas de Parede

acima. 1921. esculturas verticais produzidas por Tatlin com experi-mentos de diferentes materiais.esculuras: Vladmir Tatlin

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Tatlin é considerado um dos fundadores do Contrutivismo.Assim estes se tornaram alguns dos nomes dos professores que

viriam a lecionar nos Estúdios Livres e depois no Vkhutemas, como chefes de departamentos, influênciando todas as áreas com os ideais que guiariam a reformulação da educação em artes e ofícios do novo Estado Soviético. Muitos deles, como por exemplo Kazimir Malevich, trabalharam inicialmente sob grande influência cubista e futurista e evoluiram até chegarem à um estilo próprio. Como forma de ex-pressão 'suprema da emoção pura' como definiu o Suprematismo, Malevich veio a compor uma das linguagens de abstração máxima baseada em composições de figuras geométricas euclidianas com cores puras. O movimento rapidamente ganha adeptos e após cria-rem a revista Supremus, com a chegada das artistas Popova e Klyun, passam a se interessar pelas áreas de arquitetura e urbanismo, contri-buindo para formação de uma das mais interessantes formas de con-strução que acabou influenciando grandes escolas na europa, entre elas a própria Bauhaus.

Outra figura importante é Alexander Rodchenko, considerado continuador dos trabalhos de Tatlin, com ofício principalmente em escultura começa a explorar novos materiais para criação de compo-

Quadrado Preto

à direita. 1915. ensaios sobre o su-prematisco, abstração máxima das formas artísticas do sentimento.pintura: Kazimir Malevich

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nentes e com suas idéias se torna um ativo consolidador no movi-mento construtivista russo e depois professor ativo na construção dos cursos básicos do Vkhutemas. Lyubov Popova após sua participação no Suprematismo, em 1921 o abandona aderindo ao Construtivismo no mesmo período em que começa a lecionar nos Estúdios Livres e posteriormente no Vkhutemas desenvolvendo a disciplina Con-strução da cor no curso básico. Stepanova segue um caminho similar,

Munumento para Terceira Internacional

abaixo. 1920. projeto para proposta de monumento para Terceira In-ternacional.concepção: Vladimir Tatlin

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esposa de Rodchenko, ao se juntar ao corpo docente do Vkhutemas leciona no departamento têxtil.

-Tratam-se dos Estúdios Livres do Estado, portanto, a primeira ex-periência na reformulação educacional básica da união soviética e tinham como objetivo formar o povo nas belas artes e para que se criásse uma cultura artística popular nos campos de pintura, escul-tura e arquitetura. Entretanto era característica a sua rigidez anti o formato anterior denominado 'imperial pré revolucionário' que, como já mencionado, tinha o formato das escolas de pintura em cavalete, remetendo à as expressões burguesas de arte que já não mas condiziam com a realidade do novo período.

Entretanto, ainda intruncado em um momento de transição, as es-colhas dos professores que liderariam os cursos, que eram feitos por votação, tendiam a resultar naqueles que eram mais conservadores. Porém também é válido ressaltar que o importância de seu período não foi a sua produtividade nada revolucionária, mas servindo de base para o Vkhutemas, se tornaram essenciais as discuções e a didáti-ca de ensino aplicadas nesses curto período de tempo.

Após uma rápida passagem pelas diversas disciplinas iniciais, os alunos tinham de escolher um professor com o qual continuariam a seguir sua formação, criando uma forma de relação mestre-apre-ndiz que treinava os alunos sob orientação individual. O método se mostrou bastante duvidoso uma vez que pela quantidade de alunos os professores tendiam apenas a passar um estilo e um método, fa-zendo com que estes acabassem seguindo uma fórmula e até mesmo copiando o mestre, apresentando no final do curso uma formação extremamente desconexa devido à falta de fundamento ou propósito unificador para estes cursos. Demonstrou-se então que a forma não coletiva desses estúdios não atendiam ao seu nobre propósito na von-tade de se criar a nova sociedade socialista, levando à sua reoganiza-ção em 1920.

-Surge então o Vkhutemas por decreto oficial do Estado Soviético,

em 29 de novembro de 1920. A formulação da grade pedagógica de ensino dessa escola após sérias discussões e aprendidas as lições dos erros anteriores, se mostrou muito mais concisa e coerente, es-tipulando claramente seus objetivos e uma carreira estudantil melhor estruturada. Com uma meta semelhante a da Bauhaus, o Vkhutemas tinha como um de seus ideais a formação de uma geração capaz de assimilar as novas técnologias industriais, criando uma cultura de projeto que atendesse as necessidades das nova sociedade. Era intúito

estudios livres do estado.

vkhutemas.

Escultura Espacial

acima. 1922. construção espacial em formato de móbili, tensão e movimento.esculura: Aleksandr Rodchenko

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Capa 'Sobre Isto'

acima. 1931. capa do poema 'Sobre isto' de Mayacovskyconcepção: Aleksandr Rodchenko

também que estes se tornássem os mestres das seguintes gerações e assim poderiam construir nação dos olhos de Lenin.

O Vkhutemas de Moscou é uma instituição educativa especial-izada em ensino artístico e técnicas avançadas e foi criada para preparar artístas professores altamente qualificados para a in-dústria assim como instrutores e diretores da educação profis-sional e técnica.32

Essa questão da assimilação industrial se torna tão importante na época que se cria uma departamento de Estado com o fim de estudar os objetivos dos processos produtivos, sociais e até mesmo estéticos da universo que se levantava; inicialmente chamada de IZO - 'Depar-tamento de belas Artes da Comissaria de Instrução, se tornando, por fim, como Instituto do Trabalho do Estado. A relevância, bem coloca-da, nas teorias que embasavam a questão da arte da indútria insistiam que isso era de importância não apenas das condições internas, mas dentro do intercâmbio internacional de mercadorias.

O Vkhutemas era a cristalização das inquietações artísticas de correntes da época e a preocupação com a indústria como fenô-meno próprio da modernidade e indispensável para construção do socialismo, tudo isso respaldado e incentivado por uma políti-ca governamental consciente de sua importância.33

A evolução do Vkhutemas-Vkhutein segue de 1920 até 1930, e é caracterizado por um sistema dividido em fases, primeiro o curso básico que tem por objetivo dar uma instrução geral sobre artes em seu conceito fundamental ensinando de forma prática as medidas de expressão e procurando desencadear no aluno uma atitude cons-ciênte artística, prática, científica, teórica, pólitica e principalmente social. Nesse curso básico também era enfatizado estudos de ex-pressão visual, se desenrolando em uma série de disciplinas gráfi-cas construindo um rico acervo de cartazes, imagens e produções gráficas.

Para o curso de arquitetura a formação exigia mais três frentes, um curso fundamental de dois anos que formava construtores e técnicos de edificação; um curso espcífico de arquitetura de duração de três anos que buscava formar os arquitetos-artistas. Esse título implicava que o aluno saísse com uma formação interdisciplinar com compe-tiencias em desenho de edificações, planejamento, conhecimento das técnologias contemporâneas e economia da construção (para desen-

32 Christina Lodder, The Russian Constructivism. [tradução livre]

33 Hernan Garcia, VkhUTEMAS-VKhUTEIN, Bauhaus e Hochschule für Gestalung ULM: Experiências ddáticas comparadas. 2001. p.25-26

Conjunto em Stachek

acima. 1933. conjunto de uso misto na região de Stachek.projeto: Moisei Ginzburg

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volver seu papel social).O curso fundamental era composto por diversas matérias com-

plemetnares como sociologia, política, física, química, matemática e geometria, e focado em desenho técnico e uma breve iniciação ao domínio de materiais em canteiro. Para se formar arquiteto além dos aprofundamentos nas disciplinas artísticas e técnicas o estudante era instruído a ter domínio sobre as questões sócio-políticas do Estado e em destaque o curso compreendia estudos sobre urbanismo, o que era raro na época.

O Vkhutemas assim se formava como a primeira escola de arquite-tura com fundamentos sociais envolvidos em sua estrutura de en-sino, antes mesmo da Bauhaus que iniciou-se apelas como escola de design sendo introduzido o curso de arquitetura apenas em 1927.

Uma das linhas de raciocínio que definiram essa produção ar-quitetônica urbanística está com os Construtivistas, lideradas prin-cipalmente por Moisei Ginzburg e os irmãos Vesnin. Esta visava a construção do socialismo através de um método funcional de racio-nalização do material e deu método construtivo o que minimizava os fatores individuais estéticos do processo de desenho. Ginzburg torna-se responsável pelo ensino da teoria da composição arquitetônica, uma vez que consolidada a escola, e assim suas influência encontra-ram caminho para se desenvolver e alcançar prestígio fora da União Soviética.

Assim os contrutivistas ensinavam a projetar, enfocados em um padrão e a total consciência da diferentes investicações conhecida de antemão pelas 'experiências de laboratório' sintetizando uma ra-cionalização de toda estética desnecessária, enxergando a beleza da

Apartamentos Gosstrakh

acima. 1929. edificío de habitação Gosstrakh em Moscou.projeto: Moisei Ginzburg

Estudante Vkhutemas

à direita. 1927. foto de estudantes do Vkhutemas.foto: Desconhecido

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Plano de 5 Anos

acima. 1925. poster da produção gráfica do Vkhutemas.concepção: desconhecido

Poster Vkhutemas

próxima página. 1925. poster da produção grávica do Vkhutemas.concepção: El Lissitzky

34 Domschke, V. in: O ensino da arqutetura e a Construção da Modernidade- p.54

forma pura e crua da sua função. Essa ciência da construção gera em aspectos sociais, psicologia visual e um desenvolvimento de lingua-gens pelo qual os próprios edifícios seriam catalizadores do processo de contruir o 'novo modo de vida'. É intrínseco da produtividade arquitetônica russa a questão da consciente estrutura do pensamento, do como se organiza o trabalho, os construtivistas eram konstruktiv-isty - denominação daquele que 'desenha, constrói, forma, organiza'.

Os construtivistas acreditavam que o modo de trabalhar do ar-quiteto soviético devia exibir a mesma tendência de construir totalidades dos mundos materiais e cognitivos nos quais esse arquiteto estava 'construindo'. Precisamente para 'garantir' que no trabalho de desenho se preservasse uma integração monística dos aspectos materiais e cognitivos do mundo, formalizaram seu 'método de criatividade funcional', ou, de forma mais abre-viada, posteriormente, 'método funcional'. O método consistia num conjunto de procedimentos por meio dos quais seria apro-priada objetivamente a totalidade dos fatores que, em sua opin-ião, incidem num projeto, 'passando da primeira para a segunda prioridade', gerando um 'organismo espacial básico' com grande refinamento técnico e formal. O corpo de conhecimentos con-comitantes era objeto de trabalho de laboratório'.34

Outra dimensão que nos faz entender melhor os princípios da formação da escola de arquitetura do Vkhutemas é o termo utilizado para 'construção social' - stroitelstvo que para nós pode ser um con-ceito estranho, mas acho que não tanto assim; trate-se do pensamen-to soviético entendido por 'construção do socialismo', da sociedade do novo sistema libertador que era intrínseco da formação do ar-quiteto. Portanto para eles apesar das escolhas dos materias, as formas construtivas e formação estética, apesar de fazer parte do discurso, eram sempre baseadas em princípios filosóficos, determinando a tarefa de projetar e seu ordenamento. Antes de tudo a prioridade dos objetivos, depois os métodos de sítese e assim os critérios de avaliação, construíndo a nova sociedade do socialismo, uma cidade coletiva e igualitária.

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45

Faculdade de Arquiteturae Urbanismo da USP

Podemos ver então um processo histórico de construção das princi-pais escolas de design e arquitetura do período moderno e de suas formas pedagógicas através de uma ótica analítica e crítica, afim de encontrar em suas entrelinhas a inspiração delas tirada para formação de nossa escola, a fau usp.

Sabendo-se que ela se formou a partir da Escola Politécnica e uma forte influência intelectual da Faculdade de Filosofia - FFLCH, busco entender de onde foram estabelecidos alguns critérios de ensino que, em experiência pessoal, são possíveis de ser identificados. Não se trata aqui de uma análise crítica sobre a pedagogia e seus métodos, mas em Arquitetura, repetindo, em seu conceito mais universal.

Existe uma corrente vontade de sempre se definir, chegar a um mínimo múltiplo comum dos conceitos de toda teorização, reafir-mando assim cada um dos pontos norteadores da educação que se espera de uma certa instituição. Para fau não é diferente.Vemos um programa ser formatado para suas disciplinas de projeto de edifi-cações e sobre uma deslgada matriz de tríades somos expostos aos diversos desafios do fazer arquitetura.

A fau, nas palavras do professor Barossi36, como ela se apresenta, e agora, como me foi apresentada, são coisas similareas, mas com pontos de vista diferente. A grade era a mesma e os respectivos espa-ços de convivência também. Complementos como a administração, departamentos, serviços e biblioteca estavam ali no mesmo lugar apontado e do mesmo jeito descrito, como na publicação 'Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo 1999 – 2000, Informações Gerais & Programas de Graduação' feita em 2000 pelo LPG (Laboratório de Programação Gráfica) da fau usp, na época sob a coordenação do professor Minoru Naruto.

TEMPO_alunO

ESPaÇO_cidadE

HiSTÓRia_culTuRa

MÉTOdO_PROjETO

didÁTica_EnSinO

PROFESSOR_ObRaS

alunOS_vivência

EScOla_ExPERiMEnTaÇãO

Salão Caramelo

à esquerda. década de 90. assem-bléia geral na fau. 'arquitetura de portas abertas'

introdução.

35 Barossi, A.C., O Ensino de Pro-jeto na Fau Usp - tese de doutorado 2005.

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46

Entratanto, é como se a soma das partes fosse mesmo muito maior do que o todo. Além do aspecto curricular como foi explicado são di-versos fatores que co-relacionados formam uma estrutura de apren-dizado. Somadas, elas geram um período de tempo vivenciados nesta faculdade que se tornam memoráveis e transformam o ser do aluno incrivelmente. Por meio do recorte pessoal dessas experiências tento exprimir o entendimento do fator comum compreendendo o objeto (eu) que entrou neste processo e o que está de saída.

Muito já se debateu, por exemplo a reforma de 62 trazendo o ateliê como o centro articulador de ensino; em 68 foi introduzido o TG - tese de graduação que mais tarde se chamou TGI e, hoje, TFG; o fórum de 78 que promoveu a integração de diferentes disciplinas através de um fator comum, talvez um mesmo tema ou mesmo um trabalho conjunto; e a reestruturação do departamento de projeto de 97 quando praticamente se formou a fau de quando eu entrei. O resultado disso para mim foi uma série de disciplinas que cursei até a apresentação deste tfg e cada experiência que isso me trouxe.

Para fim deste trabalho, o percurso será as disciplinas obrigatórias de projeto de edficações, resumidas em três exemplos de programa, que foram os do período em que estudei aqui.

Truco

à direita. 2007. estúdio 1foto: FADB

Projeto

à direita. 2009. estúdio 3 [5]foto: FADB

disciplinas.

Page 47: LEITURA E PROJETO DA CIDADE COLETIVA

47

AUH0150 História e Teorias da Arquitetura I

AUH0308 História da Arte I

AUP0608 Fundamentos de Projeto

AUT0182 Construção do Edifício 1

AUT0258 Conforto Ambiental 1 - Fundamentos

AUT0510 Geometria Aplicada à Prod. Arquitetônica

PCC0201 Geometria Descritiva

AUH0152 História e Teorias da Arquitetura II

AUH0514 Fund. Sociais da Arquitetura e Urbanismo

AUP0146 Arquitetura - Projeto II

AUP0332 Comunicação Visual - Linguagens

AUP0650 Arquitetura da Paisagem

AUT0184 Construção do Edifício 2

AUT0260 Conforto Ambiental 2 - Ergonomia

AUT0512 Desenho Arquitetônico

PTR0101 Topografia

AUH0154 História e Teorias da Arquitetura III

AUH0516 Fund. Sociais da Arquitetura e Urbanismo II

AUP0148 Arquitetura - Projeto III

AUP0266 Planejamento de Estruturas Urbanas

AUP0652 Planejamento da Paisagem

AUT0186 Construção do Edifício 3

MAT0141 Cálculo

PHD0313 Instalações e Equipamentos Hidráulicos I

AUH0236 Estudos de Urbanização I

AUH0310 História da Arte II

AUP0268 Planejamento de Estruturas Urbanas e Regionais

AUP0334 Comunicação Visual do Edifício e da Cidade

AUP0446 Design do Objeto

AUT0188 Construção do Edifício 4

AUT0262 Conforto Ambiental 3 - Iluminação

AUH0238 Estudos da Urbanização II

AUH0412 Estudo e Preservação dos Bens Culturais

AUP0150 Arquitetura - Projeto V

AUP0270 Planejamento de Estruturas Urbanas e Regionais II

AUP0448 Arquitetura e Indústria

AUT0190 Construção do Edifício 5

AUT0516 Estatística Aplicada

PEF0522 Mecânica dos Solos e Fundações

PEF2601 Estruturas na Arquitetura I: Fundamentos

AUH0240 História do Urbanismo Contemporâneo

AUP0152 Arquitetura - Projeto VI

AUP0272 Organização Urbano e Planejamento

AUT0192 Infra-estrutura Urbana e Meio Ambiente

AUT0264 Conforto Ambiental 4 - Térmica

AUT0266 Conforto Ambiental 5 - Acústica

PEF2602 Estruturas na Arquitetura II: Sistemas Reticulados

AUP0177 Projeto do Edifício e Dimensão Urbana I

AUP0183 A Estrutura no Projeto do Edifício

AUH0117 Arte e Arquitetura No Brasil Nos Seculos XIX e XX

AUH0156 História e Teorias da Arquitetura IV

AUP0154 Arquitetura - Projeto V

AUT0268 Conforto Ambiental 6 - Integradas

PEF2603 Estruturas na Arq. III: Sist. Reticulados e Laminares

AUP0171 Arquitetura Projeto/OPTATIVA I

AUT0559 Metodologia de Planejamento Participativo

PEF2604 Estruturas na Arquitetura IV: Projeto

AUH0235 A Forma Plástica Urbana

AUH0329 Arte Italiana do Renascimento e do Barroco

AUP0274 Desenho Urbano e Projeto dos Espaços da Cidade

AUT0514 Computação Gráfica

AUT0520 Prática Profissional e Organização do Trabalho

1601101 Trabalho Final de Graduação I

AUP0173 Arquitetura Projeto/OPTATIVA II

AUT0571 Desenho de Observação

1601102 Trabalho Final de Graduação II

AUT0518 Projeto dos Custos

2007 | 2013

Page 48: LEITURA E PROJETO DA CIDADE COLETIVA

48

aup 148.

professores.

monitores.

da graduação.

tema.

objetvo.

estratégia didática.

2008 . Estúdio 2 - quarta-feira, das 14h às 18h

prof. Dr. Adilson Costa Macedoprof. Dr. Alexandre Delijacovprof. Dr. Bruno Roberto Padovanoprof. Dr. João Carlos de Oliveira César [aut]prof. titular Wilson Edson Jorge

A - Do. Ivanise Lo TurcoA - Do. Renata Malachias TavaresP - Me. Hermínia Silva MachryP - Me. Tatiana de Oliveira OnozatoP - Me. Thomas Sula Elzesser

- Arthur

O edifício como suporte para a infra-estrutura urbana e como el-emento de transposição/conexão espacial. Arquitetura do Lugar: A construção da forma arquitetônica do edifício a partir das consid-erações referentes ao local de intervenção e da arquitetura das in-fraestruturas urbanas.

Introduzir a prática de projeto de edificações com ênfase na im-plantação do conjunto arquitetônico considerando as qualidades do lugar, referente aos aspectos topográficos, orientação geográfica e características urbanísticas do entorno.

A disciplina está inserida no âmbito do Grupo de Disciplinas de Pro-jeto de Edificações – GDPR: O ensino de projeto de edificações na FAUUSP que se tem praticado nos últimos anos nos estúdios 2, 3 e 4 traz uma estrutura subjacente com ênfases específicas, a saber:

A proposta do Estúdio 2 está inserida nesse contexto.

A arquitetura da cidade: a arquitetura dos espaços de propriedade pública da cidade, formada pelos sistemas integrados de redes de infra-estrutura urbana, de pólos de conjuntos de equipamentos soci-ais e conjuntos de habitação social.Na primeira metade do semestre a disciplina focalizará um entron-

ESTUDIO 2ESTUDIO 3ESTUDIO 4

infraestruturahabitação

equipamentos

transposiçõesmodulaçõestransições

arquitetura do lugararquitetura da construçãoarquitetura do programa

Page 49: LEITURA E PROJETO DA CIDADE COLETIVA

49

problemáticas.

conceitos de projeto.

lugar.

programa.

construção.

camento viário na interface da USP com seu entorno urbano (Ponte da Cidade Universitária), sendo que os trabalhos serão individuais. Já na segunda metade do semestre, os trabalhos serão desenvolvidos em equipe, de acordo com a integração prevista com as disciplinas de planejamento (PL) e paisagem e ambiente (PA), focalizando a cidade de Jundiaí, que definirão os locais de intervenção e os programas de cada equipamento urbano, baseados na realidade local.

Questões urbanísticas – arquitetura das infraestruturas urbanas:Saneamento ambiental ; Transporte Público ; Mobilidade Urbana

Os aspectos básicos do projeto arquitetônico (Lugar, Programa e Construção) serão aplicados em maior profundidade a partir de três conceitos referenciais:1. arquitetura do lugar2.arquitetura da infraestrutura3.arquitetura das transposições

Ponte e Estação Cidade Universitária, canal do rio Pinheiros, raia da usp e foz do Pirajussara.

Passeios públicos, ciclovias, bicicletários, sanitários e chuveiros pú-blicos, GCM e SAMU - federal

Técnicas construtivas econômicas, de fácil execução e manutenção, e baixo custo de conservação, com soluções criativas e em um espaço de qualidade.

aup 148 . programa

Projetos

todas. 2008. estúdio 2foto: FADB

Page 50: LEITURA E PROJETO DA CIDADE COLETIVA

50

aup 152.

professores.

tema.

estratégia didática.

âmbito específico.

exercício.

programa.

2009 . Estúdio 3 - 2a e 3a feiras, das 14h às 18h

prof. Dr. Alexandre Delijacovprof. Dr. Milton Bragaprof. Dr. Angelo Bucciprof. Dr. Alvaro Puntoniprof. Dr. Rodrigo Queirozprof. Dr. Wilson Jorge

Habitação Social Urbana

O ensino de projeto de edificações na FAUUSP que se tem praticado nos últimos anos nos estúdios 2, 3 e 4 traz uma estrutura subjacente com ênfases específicas, a saber:

A proposta do estúdio 3 está inserida nesse contexto

01. Organizar junto aos alunos uma reflexão em torno do tema da Habitação.02. Apresentar um repertório de projetos e obras que alimentem a discussão em torno do objeto de estudo.03. Promover o estudo de obras existentes na cidade de São Paulo, através das visitas programadas.04. Promover a prática do projeto com a elaboração de exercícios ligados à questão da habitação e sua inserção na cidade, em diversas escalas.05. Aprofundar o exercício do projeto com ênfase nas questões de estrutura, instalações e detalhamento dos elementos construtivos, e orientar a organização do tempo do projeto e do material de trabalho.

Projeto de edifício habitacional com 20 unidades habitacionais de 75 m2 cada [15 m2 por morador], sua inserção urbana, considerando o uso misto com comércio ocupando parte do térreo e mezanino com cerca de 600 m2.

O edificio deverá ter um subsolo e, se possivel, uma vaga por uni-dade. Sugere-se que seja mantido o gabarito do entorno que é de 6 a 7 pavimentos.

As unidades, para 05 moradores, deverão admitir ao menos 3 ti-

ESTUDIO 2ESTUDIO 3ESTUDIO 4

infraestruturahabitação

equipamentos

transposiçõesmodulaçõestransições

arquitetura do lugararquitetura da construçãoarquitetura do programa

Page 51: LEITURA E PROJETO DA CIDADE COLETIVA

51

pos sem que haja a alteração da área pré- definida (casco universal).Todos os ambientes deverão ter ventilação e iluminação natural.

Deverá ser considerada a acessibilidade universal para portadores de necessidades especiais [ver NBR 9050]

A cobertura poderá abrigar um terraço condominial [area co-mum]

Deverão ainda estar considerados:Térreo: acesso com porteiro eletrônico e caixa de correio para cada

unidade, com acesso direto da rua.Vaga de carga|descarga [pode ser no subsolo];Bicicletário - 02 vagas para bicicleta por apartamento[pode ser

no subsolo];Central de medição: água e gás num compartimento e eletricidade

em compartimento apartado no pavimento terreo;Água consumo: reservatório superior 30m3 reservatório inferior

30m3 (prever divisão dos reservatórios em duas células para limpeza

aup 152 . programa

Projetos

todas. 2009. estúdio 3 [5]foto: FADB

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52

e isolado do solo); bombas junto ao reservatório inferior. Barrilete sob reservatório superior (ventilado e iluminado) com registros e medição de consumo de água (20 unidades habitacionais e água con-dominial); com leitura remota no térreo.

Proteção e combate a incêndio: Escada de Protegida contra Fu-maça. Reservatório superior com 30m3. Prever hidrantes em to-dos os andares. [ver INSTRUÇÃO TÉCNICA No 11/01 SAÍDAS DE EMERGÊNCIA EM EDIFICAÇÕES Corpo de Bombeiros]

Energia - entrada geral de energia, quadro de distribuição e me-didores;

Gás: Armário para medidores de gás – 3 metros lineares; Telefone: distribuidor geral – quadro de 1,20 x 2,40m;Depósito de lixo 1,5 m3;Vestiários (feminino e masculino) para funcionários. Cada

vestiário com: uma bacia, um lavatório, um chuveiro, espaço para armário e troca de roupa;

Depósito para material de limpeza com tanque;Depósito do condomínio com 20 m2;Área permeável de no mínimo 15% do terreno ou reservatório

de retardo de contribuição de águas pluviais em observância da Lei 13276/01.

Seminário

abaixo; e abaixo à direita. 2009. corredor do estúdio 4foto: FADB

Page 53: LEITURA E PROJETO DA CIDADE COLETIVA

53

lugar. Local: Esquina das ruas Major Diogo e São Domingos.(atual uso de posto de abastecimento de combustível e serviços).

Dimensões: 20 X 30 metros [aproximadamente].Área Total:do terreno 600,00 m2[aproximadamente].Número de unidades habitacionais: 20Área das unidades: 75 m2Área Total Útil Habitacional: 1.500,00 m2Área Total Habitacional com Circulação (20%): 1.800,00 m2

(sem considerar subsolo, térreo e mezanino, varandas até 10% da area do pavimento, prumadas, escadas, elevadores,).

Área total construída: aproximadamente 3.000,00m2.

CEU Butantã

abaixo. 2009. visita à obra do CEU Butantãfoto: FADB

Page 54: LEITURA E PROJETO DA CIDADE COLETIVA

54

aup 148.

professores.

tema.

objetvo.

estratégia didática.

âmbito específico.

conceitos de projeto.

2008 . Estúdio 2 - quarta-feira, das 14h às 18h

prof. Dr. Bruno Roberto Padovanoprof. Dr. Eduardo de Jesus Rodriguesprof. Dr. Francisco Spadoniprof. Dr. Marcos Acayabaprof. titular Wilson Edson Jorge

Equipamentos Públicos

A partir de programas extensos e complexos levar o aluno a elaborar as transições entre cidade e edifício. Além de equacionar e elaborar os diversos subsistemas de espaços previstos no programa, suas ar-ticulações, suas transições, e todos os elementos arquitetônicos que os ensejam.

O ensino de projeto de edificações na FAUUSP que se tem praticado nos últimos anos nos estúdios 2, 3 4 traz uma estrutura subjacente com ênfases específicas, a saber:

A proposta deste estúdio está inserida nesse contexto.

Destacar a noção de Equipamento Público ligado à idéia de rede que o organiza como parte de um sistema e a partir daí ganhar a abrangência das políticas públicas que envolvem as atividades, por exemplo: educação, saúde, esportes, cultura e outros.

Arquitetura do lugar, arquitetura do programa e arquitetura da con-strução. Os programas dos espaços de transição. A dissolução dos ed-ifícios no ambiente urbano. Os diversos térreos que caracterizam o centro da cidade de São Paulo.

ESTUDIO 2ESTUDIO 3ESTUDIO 4

infraestruturahabitação

equipamentos

transposiçõesmodulaçõestransições

arquitetura do lugararquitetura da construçãoarquitetura do programa

Page 55: LEITURA E PROJETO DA CIDADE COLETIVA

55

aup 154 . programa

programa.

construção. Área Coberta: 7140,00 m2 | Sem considerar Vestiarios e Sanitari-os Circulações (30%): 2142,00 m2 Área Descoberta: (Quadras) 2159,00 m2 | Sem considerar espaços abertos qualificados

Área de convivência ( 700m2)É o espaço de “estar” do conjunto. Têm função primordial no acolhi-mento de pessoas das diversas faixas etárias. Os usos assumidos pelo público somados aos da programação fazem desse ambiente a Praça coberta dos equipamentos : área de leitura de jornais e revistas e de conversas informais, pode estar representada por mais de um espaço. Por sua amplidão e pé direito, no mínimo duplo, prestam-se como espaços para exposições e , performances teatrais e apresentações musicais, geralmente acústicas.Restaurante social (670m2)O conjunto das instalações deve prever uma área de 670m2 com: área comensal para refeições e lanches com 200 assentos. No con-junto da cozinha e produção devem ser previstos os seguintes espa-ços: área de produção com almoxarifado; sala reservada para duas

Auditório

página anterior. 2009. projetos de reforma da fau.

Marcos Acayaba

abaixo. 2010. professor Marcos Acayaba e alunos.fotos: FADB

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56

nutricionistas; depósito refrigerado para acondicionamento de lixo orgânico e depósito simples para lixo reciclável. A área de serviço da cozinha deve ter acesso para carga e descarga de materiais, direto para a rua, sem passar pelas áreas de público. é desejável que a cozinha disponha de pequeno depósito para lixo orgânico “vivo”.Todos os serviços referentes à alimentação deverão estar preferencial-mente localizados no mesmo pavimento, caso contrário deverá ser previsto um monta carga e, se possível, uma escada interna para trân-sito de pessoal. Também deverão ser previstos vestiários/sanitários exclusivos para os funcionários da cozinha, fora da área de produção e com acesso independente da cozinha.Cafeteria (150 m2)Pode-se prever um funcionamento independente e estrategicamente localizado tanto para atender ao conjunto durante o dia, quanto para atender o público exclusivo do teatro. Deve estar inserida num espaço também apropriado para exposições.Duas salas de uso programático flexível (240m2)As salas de uso flexível são espaços reversíveis que se adaptam às dife-rentes necessidades programáticas da área de desenvolvimento cor-poral e da área sociocultural. As salas podem acomodar em 120m2 cada, atividades diversas, para programas com a terceira idade, para atividades com escolares, para a prática de dança, atividades físicas, exposições didáticas, aulas abertas e atividades recreativas com jogos.Teatro/ Auditório (1000m2)Uma sala de técnicos, uma copa, camarins, sanitários, cabine de som e luz, cabine de tradução, depósito, palco e platéia. A concepção de uma sala de teatro com palco adequado às diferentes artes cênicas e ainda para a realização de seminários e palestras. Deve considerar um número de 350 assentos.A implantação do teatro no todo de um edifício deve ser estudada com cuidado. Não se pode localizar quadras esportivas ou salas de ginástica sobre o teatro, por questões acústicas, assim como não se deve posicionar o teatro em níveis altos, evitando-se problemas em relação à entrada e saída de cenários. O posicionamento do teatro deverá privilegiar o acesso do público, não esquecendo da logística do acesso de serviços, carga e descarga de cenários.Biblioteca (500m2)Embora diversos espaços tenham vocação para leitura, como as áreas da Cafeteria, da Convivência e outras, à Biblioteca fica reservada a atenção mais específica com o acervo e instalações apropriadas às atividades de literatura e leitura. Deve estar prevista em área menos ruidosa do Centro.

Banco dos Bixos

acima. 2009. dia da prova específicafoto: FADB

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57

Uma área infantil interna - jogos de mesa, brinquedos especiais e leitura (150m2)Essa área agrega preferencialmente público infanto-juvenil. Pode pro-mover atividades orientadas com escolares, com uma ambientação própria aos jogos de mesa, teatro de fantoches ou marionetes e rodas de estórias, assim como prestar atenção individual, fora dos horários programados.Três salas para oficinas culturais (300m2)Nesses espaços e com essas instalações, procura-se atender a dife-rentes possibilidades educativas para o “fazer” cultural. Os conteú-dos tratados nas oficinas, cursos e workshops privilegiam a dinâmica educativa em grupo e podem estar destinadas à cultura digital, artes plásticas e visuais, literatura, palestras, artesanato, cinema e animação e, ainda, a outras, de caráter educativo mais formal e, voltadas ao complemento de atividades escolares. Nesse sentido é desejável que as salas sejam amplas, com 100m2 cada, para maior conforto e boa acomodação das turmas.Uma sala de tecnologia e Internet (150 m2)As salas equipadas para o acesso à Internet e atividades ligadas às no-vas tecnologias têm importância e representam atividades continu-adas ligadas ao programa de inclusão digital. Considerando uma boa média de atendimento, é desejável que a Sala disponha de mobiliário adequado para um número de até 30 computadores correlacionados ao mesmo número máximo de pessoas atendidas, além de um posto de recepção e atendimento.Um ginásio com duas quadras, depósito para material esportivo, ar-quibancadas laterais, sanitários e vestiários (2000 m2) O ginásio na dimensão proposta reúne duas quadras justapostas que podem ser transformadas em apenas uma, de acordo com a demarcação pro-porcionada pelas faixas. Entre as quadras, ainda, há uma faixa de área que pode ser usada de forma recreativa, o que garante uma ocupação intermitente, ainda que a realização de jogos, treinos e campeona-tos, em diferentes modalidades seja o apelo mais importante desse espaço.No ginásio deve-se prever a localização de uma arquibancada longi-tudinal, ou espaço reservado para arquibancada destinada à ocasião de eventos, espetáculos esportivos e torneios.Quatro salas para atividades físicas (320 m2)As salas para atividades físicas atendem aos cursos permanentes mi-nistrados em grupos. por profissionais qualificados. Prevendo um atendimento expressivo nas atividades, é desejável que as salas, em número de quatro, tenham 80 m2, no mínimo.

Estudio ø

acima. 2009. reforma dos depar-tamentosfoto: FADB

Projetos

acima. 2009. estudio 3 [5]foto: FADB

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Uma piscina semi-olímpica coberta e áreas adjacentes (660m2)A piscina coberta e aquecida cumpre com a principal função de iniciação e aprimoramento na natação e, ainda, permite a oferta de atividades, como a hidroginástica, durante o dia e a noite. Assim, as soluções de cobertura e os acessos ficam por conta da proposta, devendo-se considerar as medidas de 25m X 12,5m para a piscina, além da área do deck, sanitários e circulação.Núcleo administrativo (300m2)A área de trabalho deverá ter aproximadamente 12 estações e ainda, uma sala fechada. Sanitários comuns, sala fechada para informática; pequena copa, área de reuniões.Setor de manutenção e serviços (300m2)Deve estar localizado em andar térreo e estar favorecido por uma segunda entrada, que permita a entrada de caminhões e a circulação de containers, bem como facilite o acesso para carga e descarga de materiais e equipamentos, de cenários ao teatro e insumos diver-sos. Consirera-se nessa área uma sala para manutenção predial com 6 postos de trabalho (50 m2), uma saleta oficina de manutenção com 60m2. Sala de supervisão 30 m2. Sala para Segurança CFTV 25 m2. Áreas de depósitos para materiais diversos (50 m2) e para bens móveis (50 m2). Sala para guarda de materiais de limpeza 30 m2.Vestiários e sanitáriosOs vestiários estão divididos segundo dois diferentes públicos que são os funcionários e os freqüentadores. Em cada um dos módulos de vestiários para funcionários, além da ante-sala com armários, devem-se prever 3 chuveiros, 3 bacias e 3 lavatórios por gênero, além de um vestiário para portador de deficiência física.Os sanitários e vestiários deverão ter uma bacia sanitária para cada 40 mulheres e uma para cada 80 homens. Os boxes dos aparelhos sanitários deverão ter área mínima de 1,08m2 com largura mínima de 90cm. Os boxes exclusivos para pessoas portadoras de deficiência deverão obedecer aos parâmetros da NBR 9050.Os vestiários e sanitários deverão ter lavatórios na proporção de um para cada 50 usuários. E os vestiários deverão ter chuveiros na pro-porção de um para cada 40 usuários (mínimo de 2 chuveiros). Os sanitários e vestiários masculinos deverão ter um mictório individual para cada 80 homens, sempre separados por divisórias. É desejável prever em cada vestiário, local para guarda de material de limpeza com área mínima de 2m2 e tanque.Duas quadras poliesportivas externas (2159 m2)Estão previstas duas quadras descobertas, com tamanhos diferentes. A maior, chamada de principal tem dimensões de 35m X 37m, num

Milton Braga

próxima página. 2010. professor Milton Braga com alunos.foto: FADB

Recepção dos Calouros

acima. 2010. com os calouros no fosso.foto: FADB

Projetos

acima. 2008. estudio 2foto: FADB

Page 59: LEITURA E PROJETO DA CIDADE COLETIVA

59

procedimentos.

avaliação.

total de 1.295m2, podendo atender diversas modalidades, inclu-sive tênis e basquete, que dependem de espaços maiores. A quadra secundária com dimensões de 24m X 36m (864m2) presta-se tanto às atividades recreativas, quanto às modalidades do voleibol, futsal e handebol.

As orientações e avaliações serão desenvolvidas no formato de semi-nários de orientação e avaliação. Os seminários de orientação e aval-iação caracterizam-se por orientações coletivas de grupos de alunos conforme a previsão apresentada no calendário deste programa.A turma será organizada em equipes de até 3 alunos cada uma. Cada conjunto de 10 equipes compõem um grupo de orientação acom-panhado por um professor durante todo o decorrer do curso.

As avaliações das etapas de trabalho serão feitas através de seminários específicos, com o rodízio de professores.

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61

DiálogoConstrutivo

O ensino de projeto de edificações na fau usp, como exemplificado nestes três programas segue uma linha de racioncínio pedagógico baseado em uma tríade de temas que servem de premissas para o funcionamente de um ateliê onde a aprendizagem não constitui um método, mas sim uma experiência contrutiva do saber ver.

O que se entende por isso é que de acordo com as bases e inspira-ções abordadas é possivel identificar uma vontade real de que o aluno alcance um nível de maturidade intelectual no qual ele se emancipe e siga criando os seus próprios projetos, porém fundamentados em um argumento lógico, social e humanista. A questão desse diálogo é encontrada desde o início do pensamento moderno quando para definir certos paradigmas de desenho, Gropius enfatiza a sua escolha pela 'vida':

A palavra 'projeto' abrange o domínio todo da ambiência visível criada pelo homem, desde as coisas mais comuns até as mais complicadas articulações de uma cidade.Se fosse possível conseguir uma base conjunta para a configura-ção e acompreensão da forma, isto é, se pudéssemos extrair um denominador comum dos fatos objetivos, livre de intepretaçnoes inividuais, ele poderai valer como chave para todo tipo de projeto e design, pois o projeto de um grande edifício e o de uma simples cadeira diferenci-se apenas na proporção, não no princípio.36

O princípio aqui relatado, é simplesmete a forma humana a qual todo homem vive. Seu ser individual na utilização dos objetos cor-riqueiros do dia a dia interagindo em sociedade, vivendo na cidade comum. Podemos ver então dois pontos de vista diferentes no que se diz respeito à arquitetura como projeto e ferramenta urbana. A primeira é que ao se optar pela profissão pode-se escolher, ou sim-plesmente herdar, um tipo de pensamento um tanto narcisista da exaltação individual. O desenho de edifícios monumentos, feitos para algum ser extraordinário que não é o homem, está longe de sê-lo; com formas 'orgânicas' que apesar de suas proesas tecnológicas não passam de esculturas simbolizando o desprezo do projetista pelo homem que irá usufruí-lo.

O que Rem Koolhas chamou de 'o problema do grande'37 segue

36 Walter Gropius, The New Archi-tecture and the Bauhaus. - p.45-46

33 Rem Koolhaas. in: Grandez, ou o Problema do Grande. 1994. p.15

Salão Caramelo

à esquerda. 2011. assembléia geral dos estudantes.foto:FADB

breve entendimento.

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esse princípio, achando inacreditável como o simples tamanho do edifício faz ressaltar os olhos ingênuos e não agregam a nada em seus entendimentos sobre a cidade contemporânea. Desenvolvendo esse argumento, faz com que pensadores desse assunto, ou mesmo meros estudantes, como no meu caso, indagarem a qual programa ele seguiu para se chegar e tal forma? Ou mesmo, baseado em que premissas optou-se por tal implantação e solução? Se o papel da ar-quitetura sempre foi resolver os problemas triviais do ser humano e em algum tempo depois, com o surgimento das cidades, um poten-cializador da qualidade de bem estar dele, para onde caminha esses novos preceitos?

Ao refletir sobre as diferenças entre os diversos arquitetos que seg-uem essa tendência do mercado deixando de lado toda sua respon-sabilidade cidadã, logo me vem os argumentos compreendidos nesse período de formação acadêmica. Pois não é isso mesmo que as duas escolas exemplificadas tinham como fundamento didático? quando Gropius decidiu não mais permanecer em Weimar por fatores políti-cos, estava reafirmando um pensamento contra o comodismo de simplesmente ser bem sucedido. Assim como em Moscou, quando o Estado decreta a abertura de uma escola de artes que leciona mais de dois mil e quinhentos alunos afim de se criar uma geração de técnic-os, arquitetos e artistas sensíveis para a construção da nova sociedade, um fundamento é colocado para as gerações a seguir.

Da mesma maneira quando ingressei na fau, logo de cara fomos recebidos por uma greve, com direito a piquete e tudo. No início

Piquete

abaixo. 2011. rampas da fau.foto: Rafael Craice

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tudo parece uma bagunça e até podia se entender que um grupo de abastados entediados resolveram ocupar as suas vidas com algum agi-to. Entretanto no momento em que isso se torna parte da discussão do aprendizado, pois a princípio vamos à escola para aprender, e as relações entre mestre e aprendiz são delimitadas de tal forma que faz com o aluno tenha que tomar uma posição e nela se defender com argumentos factíveis, cria-se uma consciência do papel individual de cada ser com o seu desempenho como cidadão na sociedade. Esse é um dos fatores que o aprendizado não curricular da fau me trouxe em meu tempo de casa. Apesar de um suposto 'atraso' no plano da carreira acadêmica, o que se ganha com os diálogos e debates são de importância valiosa e resultado de oportundades mínimas.

O que se entende disso então é que baseado nessa forma de ensino 'não ensinado' do diálogo pesquisador-pesquisador, a fau, especifi-camente as disciplinas de projeto de edificações, usa de sua tríade temática como pretexto para falar de assuntos muito mais reais e através dele desenvolver problemas e soluções para o crescimento da verdadeira carência nos técnicos e profissionais de hoje.

João Batista Vilanova Artigas, precursor da arquitetura brasileira, entende isso perfeitamente, sendo extremamente conciso em suas obras e eficazmente ativo como lecionador.

A plena consciência da realidade brasileira nos indica a neces-sidade de transformações profundas na estrutura econômica e social do nosso país. Não devemos nos esquecer que dominamos uma arte e uma técnica que, para o seu pleno desenvolvimento e aplicação, exigem condições sociais e econômicas favoráveis, exigem a existiencia de uma nação plenamente desenvolvida e de um povo próspero e feliz.38

Lançados esses argumentos, que faremos pois? Passamos por todo esse processo de anseios para enfim fazermos uma cidade com el-ementos que vão a piorar? Qual a diferença então, entre aqueles que são instruidos dos que não são? Podemos simplesmente ignorar o fato de que passamos por esses anos de aprendizagem em uma ins-tituição pública de grande prestígio e de excelentes fundamentos para sermos iguais? Não colocando o fato de que se estamos aqui é porque esta sendo investido algo muito grande sobre nós, e cabe a essas escolhas no desenho e projeto, e nas pequenas oportunidades retribuir o quanto nos foi confiado.

Para este debate então, ficam certas considerações: não convém que haja um método nos meios de ensino que façam com que o

38 J. B. Vilanova Artigas, in: Camin-hos da Arquitetura. - p.63

Corredor e Museu

acima. 2011. corredores das salas de aula e piso do museu.foto: Rafael Craice

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aprendiz se torne um mero imitador de seu mestre, ele necessita se emancipar e aprender a buscar e criar os problemas segunodo seus próprios critérios. Para a escola pública um dos resultados que se obtém é de tornar consciente o indivíduo, o cidadão funcionário-público, que mesmo não oficialmente concursado ou a serviço de uma entidade governamental, ele serve o povo e busca as melhorias para um todo. Essa seria a arquitetura do projeto coletivo, aprender a construir e estruturar o desenho dos espaços públicos, sabendo articular as ferramentas da arquitetura que na fau usp nos são apre-sentadas na forma de matriz.

Para nós, a infraestrutura básica e o contexto da metrópole de São Paulo, a criação das redes de conexão em escala urbana para o cidadão trabalhador, suprindo-lhe as devidas demandas. A habitação como elemento básico da cidade, a unidade e o direito à moradia universal para todo ser humano. E moradia de qualidade, com se-gurança e conforto, como a arquitetura do lazer, do prazer de viver.

Para que se obtenham êxito nesses pontos as conectividades do passeio público são dadas por meio dos equipamentos. Instalações convidativas e acolhedoras que promovam o bem estar social de cada ser e assim transformando qualquer espaço da cidade consolidada. Essa articulação bem executada é capaz de restaurar qualquer tipo de espaço, potencializando todo ambiete onde habita o homem, de

ESTUDIO 2ESTUDIO 3ESTUDIO 4

infraestruturahabitação

equipamentos

transposiçõesmodulaçõestransições

arquitetura do lugararquitetura da construçãoarquitetura do programa

Cabeças de Vento

à direita. 2011. intervenção da faufoto: Rafael Craice

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65 39(idem) p.63

40 Paulo Mendes da Rocha, in: Maquetes de Papel - p.21

certo angulo a estrutura subjacente com ênfases específicas nestes três aspectos pode ser considerada um denominador comum e uma objetivação máxima da vontade do construir a cidade coletiva.

É claro que precisamos lutar pelo futuro de nosso povo, pelo pro-gresso, e pela nova sociedade, dando a esta missão o melhor dos esforços, pois é à medida que, pela participação na luta ao lado do povo, compreenderemos seus anseios, faremos parte dele, que iremos criando um espírito crítico para afastar o bom do inútil a arquitetura, que atingiremos a 'espontaneidade nova, que criará como interpretação direta dos verdadeiros anseios populares.39

Devemos entender a dimensão política da nossa profissão, quer dizer, influir de modo justo nas prefeituras e assembléias, para que se mude a metalidade da ocupação desse território, para que adotem modelos mais novos, e pouco a pouco transformar esses lugares em algo melhor, para que se demonstre a grande virtude que é viver nesta ou naquela cidade.40

Cabeças de Vento

à direita. 2011. intervenção da faufoto: Rafael Craice

Maracatu

páginas seguintes. 2010. maracatu no caramelofoto: FADB

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Projeto paraCidade Coletiva

Após reflexão sobre o ensino e aprendizado em arquitetura, na sua compreensão como desenho e projeto de edificações, seguimos com as relações e entendimentos do contexto da urbano, com enfoque em São Paulo. Certos preceitos são aplicáveis universalmente como as interações e articulações das infraestruturas básicas - na forma de transposição, com habitação - como célula mínima e essencial, e os equipamentos - como complemento das atividades sociais. Isso se deve, como vimos, que não se trata de projetar por projetar, mas se trata de uma filosofia antropológica, uma percepção das razões soci-ais, assimilando o papel do arquiteto na cidade.

Vemos que as relações de ensino com o estudante afetam princi-palmente este ponto e não a capacidade técnica que ele desenvolve. Por exemplo se ele é capaz de ler uma planta ou um corte, não de-pende tanto de se fazer uma faculdade de arquitetura, um curso técnico de desenho é o suficiente para se iniciar essas qualificações, porém o saber entender o problema urbano, o identificando e cons-truindo dependem de uma série de fatores e estimulos que estão disponíveis na universidade.

Pode ser uma casa de fim de semana ou imenso palácio, uma barragem hidráulica ou ma fábrica, o apelo à imaginação per-manece constante. Não há em todo o país uma única obra que tenhamos o direito de qualificar como indiferente: tudo tem sua importância, desempenha um papel, carrega a responsabilidade de tornar a região bela ou infame. 41

Tomando São Paulo como palco do ensaio, a proposta agora é aplicar essa série de especulações levantadas em um projeto - no seu sentido de desenho do objeto. O que se iniciara como um caminho sem rumo, toma a forma, neste momento, de desenho urbano. Uma reflexão crítica sobre como construir o projeto, algumas razões as-similadas, desde o recorte do terreno à uma auto exposição como prova empírica da construção do olhar pela faculdade. São Paulo por causa da metrópole, pelos problemas, pelos potenciais.

Lar dessa faculdade e de seus arquitetos e onde eu habito.

41 Le Corbusier. in: Mensagem para os Estudantes de Arquitetura. 1942

Raia daUsp

à esquerda. 2009. remo na raia da usp.foto:FADB

introdução.

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As calamidades que cidade sofre hoje não são uma surpresa e remeter São Paulo ao caos é uma realidade que teve muitas oportunidades de ser contida se não evitada. O fato é que a cidade foi construída por uma sequência de escolhas mal tomadas baseadas em ambições pessoais, não apenas de políticos, mas principalmente de conselhei-ros projetistas e técnicos responsáveis pela gestão das infraestrutu-ras urbanas da metrópole. É verdade que o crescimento desenfreado causou uma série de contrapartidas, mas nada que fosse repentino o suficiente para que não houvésse planejamento, estudo e projetos, além de que isso era visto como sinal do progresso e um fator posi-tivo de desenvolvimento.

O sítio escolhido para a fundação do colégio que deu origem à ci-dade de São Paulo foi um promontório envolvido por dois rios.41

Na junção do rio Piratininga com o Anhangabaú foi fundada a ci-dade de São Paulo que como em toda história da humanidade povos se instalavam às margens de um canal mais caudaloso - Tietê - para navegação, e próximos à um mais calmo para seu abastecimento e subsistência. Conformando o Triângulo Histórico, pontuado pelos Conventos de São Bento, São Francisco e do Carmo a cidade se in-stalou em um platô de terra firme sobre o vale do Anhangabaú e se espalhava pelas várzeas do Carmo até o rio. A partir daí por meio das transposições sempre necessárias, devido sua localização geográfica, foram se extendendo até encontrarem os rios Tietê e Pinheiros que tornaram-se rapidamente as marcas limites da cidade. É para lá tam-bém que inúmeros córregos que nasciam do espigão do Caaguaçu corriam e pelos quais a trama urbanística se desenvolveu. Seriam quatro mil quilômetros de rios e córregos, porém devido à influên-cia mercantil e uma sórdida ganância ignoraram princípios essenci-ais de tratos humanos, e com o discurso da implementação da mo-

princípio como premissa.

Inundação Várzea do Carmo

acima. 1892. uma das peças mais importantes da iconografia paulistana do final do século XIX, retratando o crescimento da cidade nas margens do rio Tamanduateí.óleo sobre tela: Benedito Calixto(124x400cm)

41 Toledo, B. L. in: Prestes Maia e as Origens do Urbanismo Moderno em São Paulo. São Paulo, Empresa das Artes, 1996.

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dernidade optou-se por um sistema rodoviarista, acabando com as relações intrínsecas do homem com o rio. Hoje, apenas um décimo permanece a céu aberto, em um período de mais ou menos cem anos muitos destes córregos tornaram-se ruas e avenidas da cidade, como a Nove de Julho que era o Saracura, a 23 de Maio, o Itororó e o vale do Anhagabaú onde corre o rio de mesmo nome.

Dando continuidade aos estudos do projeto, uma sequência de mapas relatando o crescimento urbano da cidade e São Paulo e sua relação com os rios, os planos e a ocupação das várzeas. De suas so-breposições podemos evidenciar diversas premissas e através de uma leitura crítica perceber os princípios naturais que dão base para estu-

Avenida 9 de Julho

acima. 1946. a nova avenida sobre o ribeiro Saracura.

Vale do Anhangabaú

acima à direita. 1930. a construção da via expressa sobre o vale por onde passa o rio Anhangabaú canalizado.

Córrego Itororó

à direita. 1965. preparação para construção da avenida 23 de Maio.foto: Tomomasa Takeda

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dos de melhorias da região proposta. Nota-se que até a década de 80 o rio Tietê não era mapeado tendo o foco nas margens do Tamandu-ateí, a maior parte das várzeas do Tietê eram redutos de campo dos magnatas da cidade; no entanto ao atingir a barreira do rio, logo se vê a presença de diversos planos e o rápido crescimento transpondo e ocupando-o de maneira desacertada.

Os três primeiros mapas dão um panorâma geral da evolução da cidade em meados do século XIX relatando alguns pontos relevantes da expansão do centro em direção ao rio Tietê pelos bairros da Luz e Bom Retiro. Daí por diante podemos ver num recorte mais próxi-mo as diretrizes tomadas para a planície da foz do Tamanduateí, na formação dos novos lotes do baixo Bom Retiro. Logo perceberam a urgência de um planejamento amplo o suficiente que envolvesse as margens dos rios e além, então surgiram alguns dos projetos que darão embasamento para este estudo.

São Paulo 1841

à direita. 1841. o rio Tietê ainda não mapeado, contudo o caminho para ponte de Santa Anna, que dava acesso à 'chácaras de Santa Anna' (atual bairro Santana), evidenciado pela sua largura, esta era a grande saída da cidade que levava ao interior e à Minas Gerais. Outro fato é a ponte do Carmo, que seguia em direção ao Rio de Janeiro, onde se formou o bairro do Brás.

planta da cidade de São Paulo:C.A. Bresser [rotacionada]

à direita, abaixo. 1841. fachada de edifícios notáveis de referência da cidade.ilustrações: Domingues dos Santos

estudo cartográfico.

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São Paulo 1855

à direita. 1855. o encontro do rio Tamanduateí com o Tietê aparece juntamente com algumas obras nos canais como a retificação parcial e o desvio do próprio Tamanduateí e o redirecionamento do curso final do ribeirão Anhangabaú. Surgem também o bairro da 'Freguesia do Brás' evidenciando a estrada da Mooca e a estrada para Santos.

mappa da imperial cidade de São Paulo: Desconhecido [rotacionada]

São Paulo 1868

à direita. 1868. a retificação do trecho final do rio Tamanduateí consolidado e a cidade se expan-dindo à norte formando os novos lotes dos Campos Elísios. A rua 25 de Março ganha destaque junto às margens do canal retificado, planejado para o porto e o projeto da linha Férrea passando de leste à oeste pela Luz.

planta da cidade de São Paulo: Desconhecido [rotacionada]

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São Paulo 1881

à direita. 1881. o rio Tamanduateí já retificado e o encontro com o rio Tietê. Ainda a estrada de ferro consolidada e a estação Luz em frente ao Jardim Público.

planta da cidade de São Paulo: Comp. Cantareira e Esgotos [det.]

São Paulo 1895

à direita. 1895. o Tietê aparece por completo no trecho que corta a cidade, as pontes 'Pequena' e 'Grande' já nomeadas aparecem transpondo os rios e o plano de loteamento do Bom Retiro também já faz parte do mapa. Os bairros Brás e Pari também com seus logradouros definidos e diversas outras pontes que cruzam o Ta-manduateí são mencionados.

planta da cidade de São Paulo: Hugo Bonvicini [det.]

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São Paulo 1897 | 1905 | 1916

página anterior. o crescimento populacional e desenvolvimento econômico acelerado graças a pros-peridade e fama do café, levaram a cidade dar um salto extraordinário em sua magnitude. Com novos investimentos e uma política expansiva, pouco a pouco foram se formando novos bairros, ganhando pouco a pouco as características da metrópole atual.

planta da cidade de São Paulo

São Paulo 1924

à direita. a prosperidade que gerou um rápido crescimento também nos investimentos de infraestrutura criando uma trama expansiva para além dos rios, alcançando bairros periféricos e formando o embrião da atual metrópole paulistana. Pro-jetos ambiciosos como a retificação dos rios Tietê e Pinheiros, foram algumas das características do início dos século XX.

planta da cidade de São Paulo

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São Paulo 1943

à direita. as transposições e as ruas formadas com as características de hoje e a ocupação dos limites da várzea por toda extenção dos rios.

planta da cidade de São Paulo

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A partir do final do século XIX São Paulo passa por um cresci-mento desenfreado graças a properidade do café e grandes avanços e investimentos começaram a ser feitos na cidade. O aumento popu-lacional devido a necessidade de mão de obra foi ainda maior com a chegada dos imigrantes que acabavam se acomodando nas regiões mais próximas dos pontos mercantis. Dentre os muitos investimentos destaca-se a chega da empresa de capital canadense Light São Paulo que passou a atuar como operadora e gerenciadora de distribuição de energia elétrica e de transportes coletivos.

Nos mapas exibidos é notável a diferença entre o registro de 1897 e o de 1905, e é neste âmbito que as operações foram se realizando na capital paulistana, com os notáveis projetos dos bondes elétricos da São Paulo Tramway42 e o loteamento dos bairros mais periféricos que foram surgindo ao longo do Rio Tietê, Pinheiros e da linha fér-rea Jundiaí-Santos, que escoava a produção de café do interior do estado. A instalação dos bondes também foi fator determinante para o avanço da cidade para além dos rios. Após a chegada da linha Tram-way Cantareira rapidamente se consolidaram bairros novos como

42 sistema de Bondes Elétricos operados também pela Light São Paulo, uma verdadeira revolução para a época onde os bondes existêntes eram todos puxados por animais.

Praça João Mendes

à direita. 1898. fotografia de cima de um edifício os carros, os trilhos e o bonde; a chegada da modernidade.foto: Desconhecido

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Santana e Vila Mazzei, a linha que cruzava os rios Tamanduateí e Tietê no sentido norte, conectou as duas porções de terra antes acessíveis apenas pela Ponte Grande. Todas essas novidades foram modificando e caracterisando a cidade, principalmente bairros estratégicos como o Bom Retiro e Luz que recebiam constantemente a nova população que desembarcava na estação de trem.

Assim se formava a metrópole paulistana e todas as suas diretrizes que culminaram na cidade em que vivemos atualmente. Todo esse avanço gerou diversos projetos e planos para renovação das in-fraestruturas da cidade que logo começaram a entrar em vigor afim de suprir essa nova demanda que se superava e exigia mais a atenção da gestão paulistana.

Entre eles uma referência que ainda se encontra bastante atual em seus conceitos e principalmente à este trabalho é o engenheiro sani-tarista Saturnino de Brito que, em 1924, fez o plano de retificação do rio Tietê, lançando fundamentos de como se abordar o rio e sua devida relação com a cidade.

Na década de vinte quando as várzeas do Tietê ainda não estavam de fato ocupadas, Saturnino de Brito apresentou sua proposta de reti-ficação do rio para o governo do Estado. O rio como visto era tor-tuoso e cheio de meandros que dificultava a transição da cidade que se aproximava cada vez mais de suas margens. Seu plano entretanto era muito diferente do que temos hoje; sim, o Tietê foi retificado porém em suas margens foram instaladas vias expressas rodoviárias,

Praça João Mendes

abaixo. 1898. fotografia do ponto do bonde elétrico e os edifícios ganhando gabaritos mais altos.foto: Desconhecido

Retificação do Tietê

abaixo, à direita. 1890. retificação do rio Tietê na altura da avenida Tomas Edison.foto: Sebastião A. Ferreira

melhoramentos do tietê.

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completamente fora dos parâmetros idealizados por Saturnino.O projeto, chamado de Melhoramentos do Rio Tietê, possuia

um caráter extremamente humano e, apesar de ousado, seria hoje o grande triunfo da cidade. O que acontece atualmente é que toda vez que chove em São Paulo os rios buscam as várzeas que perderam e portanto inundam as áreas que ali foram urbanizadas. Esse foi o prin-cipal princípio ignorado pelos executores das obras de retificação do rio. Para o engenheiro sanitarista o rio de 46 quilômetros de exten-são, em seu trecho que passa pela cidade, seria reduzido para 26 eliminados suas curvas. O projeto visava manter constantes a vasão de água para seu melhor uso, tanto navegável quanto de reservatório, contudo, sugeria guardar livres as áreas laterais inundáveis identifi-cadas em seus estudos, o suficiente para que não houvesse invasão às regiões ocupadas.

Dessa maneira criávasse um vasto parque com lagoas, semelhantes a piscinões naturais trazendo o rio para dentro da cidade e formando diversos pontos interessantes para o passeio público. As dimensões para o parque fluvial seria por toda sua extensão e com um quilôl-metro de largura, isso acomodaria facilmente diversos equipamentos culturais e esportivos, garantindo a utilidade e sugerindo um con-trole mais rígido das águas se esgoto e pluviais que hoje captadas na cidade correm diretamente para o rio.

O projeto também ressaltava a importância de reserva do manan-cial do rio para abastencimento de água potável que, em essência, se tratava de construir uma barragem represando os rios Biritiba, Jun-diaí e Taiaçupeba, logo acima da cidade de Mogi das Cruzes e então uma sequência de comportas menores em forma de degraus pelo seu

Melhoramentos do Rio Tietê

à direita. 1926. projeto do en-genheiro sanitarista Saturnino de Brito para retificação do rio Tietê. Várzeas desocupadas com parque entorno do rio e lagoas.planta: Saturnino de Brito

Barragem e Eclusas

acima. croqui da barragem e eclusas no Canal do Tietê exempli-ficando o projeto de Saturnino.desenho: Desconhecido

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curso mantendo assim a mesma altura que ele corre deste município. Isso além de manter uniforme a vazão do rio Tietê, evitando a in-undação das várzeas, faria seu armanezamento hídrico substancial disponível para abastecimento de água para toda capital.

Como um marco para cidade, além do parque, ela contaria com dois grandes lagos represados junto à Ponte Grande, demarcando a entrada da cidade para quem vinha do norte, essa dimensão equiva-leria a um milhão de metros quadrados garantindo de vez as in-undações indesejáveis. A questão que surge é o que ocorreu que hoje vivemos uma situação tão paradoxa à essa visão.

Na primeira metade do século XX, além do plano de Saturnino de Brito também outros projetos foram desenvolvidos. A ocupação urbana que se estendia trouxe à tona a urgência de um planejamento para as várzeas do meândrico rio Tietê. Haviam muitos pontos a ser-em discutidos como as questões sanitaristas que afetavam a popula-ção que começava a ocupar as áreas alagáveis e frequentemente eram acometidas a surtos de doenças devido a contaminação da água pelo esgoto que era lançado, sem tratamento, diretamente no rio. Outros eram o desejo de conquistar as várzeas pela demanda de espaço para a população que crescia e a função de navegabilidade do rio que seria viabilizada pela sua retificação e aprofundamento do leito.

Portanto enquanto havia o plano humanista de Saturnino, o tam-bém engenheiro Francisco Prestes Maia apresentava seu Plano de Ave-nidas o qual trazia um novo desenho para cidade a partir de um siste-ma viário e a ocupação dos fundo de vale para rotas principais. Até então, praticamente só os pontos altos da cidade estavam ocupadas.

O plano propunha vias em uma organização radial-perimetral, com avenidas partindo do centro da cidade e anéis viários conectan-do as radiais. O eixo central seria formado pelo 'sistema Y' o qual ocuparia diretamente os vales do ribeirão Saracura na criação da ave-nida 9 de Julho e do ribeiro Itororó, atual 23 de Maio seguido pela avenida Prestes Maia que inicialmente se chamava Radial Norte. A construção do anel viário mais amplo, a terceira perimetral de irra-diação, dependia da contrução das avenidas marginais do rio Tietê e Pinheiros depois de canlizados e retificados, projeto já familiar e em fase de execução.

O que ocorreu então foi que até a década de 30 nenhum dos projetos haviam sido iniciados e o plano de Saturnino de Brito ainda era bastante respeitado. Até que em 1938 com a indicação de Prestes Maia para o cargo de prefeito pelo interventor Adhemar de Barros, se deram início as obras do seu Plano de Avenidas que foi estruturador

plano de rodovias.

Vale do Anhangabaú

à direita. 1940.automóveis nas avenidas do Vale do anhangabaú.foto: Sebastião A. Ferreira

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para todo o resto do desenvolvimento de São Paulo, principalmete pelo fato de ter sido reeleito como prefeito outras vezes mais.

Inspirado pelos conceitos das 'parkways' norteamericanas, Prestes Maia ainda buscava uma relação com o cidadão, notáveis em seus desenhos que ilustram o plano onde as avenidas intensamente ar-borizadas e ajardinadas criávam um perímetro de passeio, além da monumental chagada da cidade pela nova Ponte Grande que no lugar da existente previa duas cabeceiras praça com torres como marcos e um monumento às bandeiras em uma ilha artificical no centro da ponte. Além disso apesar de enclausurar o rio pelas avenidas, sempre o viu como um canal navegável parte da cidade.

Considerado um dos melhores prefeitos que São Paulo já teve, construiu a galeria Prestes Maia facilitando a chegada dos pedestres do Vale do Anhangabaú à praça Patriarca, os viadutos 9 de Julho, Jacareí e Dona Paulina, conectando a atual avenida da Consolação com a praça João Mendes, instaurando o anel de irradiação do centro

Plano de Avenidas

à direita. 1929. projeto do engenheiro Prestes Maia. vias em organização radial-perimetral, com avenidas partindo do centro da cidade e anéis viários conectando as radiais.esquema: Prestes Maia

Avenida São João

abaixo. 1950. fotografia tirada de um edifício, vista para avenida São João.foto: Sebastião A. Ferreira

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tradicional da ciade, e mais a avenida 9 de Julho e seu túnel. Pode-se considerar que a cidade de hoje foi moldada principalmente pelas suas gestões.

Contudo toda essa operosidade trazia consigo um risco, uma 'in-genuidade' por trás de todo esse avanço. A verdade é que seu pla-no constituia um ponto cego43, a ambição do lema do governador Adhemar de Barros que era "São Paulo não pode parar", dava para empresas loteadoras e empreiteiras poder de executar à sua maneira deixando de lado questões de suma importância para manutenção da cidade como as áreas verdes e as infraestruturas de saneamento básico, como tratamento da água e manutenção dos rios. Esse in-centivo também fez com que não se desse atenção às questões de ocupações das várzeas transformando-as em verdadeiros pontos de alagamento urbano como é hoje. A Light, empresa que gerenciava a distribuição de energia em São Paulo já tinha interesse em construir uma usina hidrelétrica e usar o pontencial hídrico dos rios Pinheiros e Tietê apoiando todo o tempo o Plano de Avenida, uma vez também que ela se tornou responsável pelas obras.

Por fim como se colocassem uma laje por toda bacia hidrográ-

43 2010. professor Cândido Malta citado por Renato Pompeu em matéria do diário de S. Paulo: " Os interessados em urbanizar não deixaram que ele enxergasse os fundos dos vales e várzeas"

Nova Ponte Grande

à direita. 1929. aquarela do projeto da nova Ponte Grande do Plano de Avenidas. Rio navegável e vias arborizadas.pintura: Prestes Maia

Cabeceiras Ponte Grande

à direita. 1929. modelos das cabeceiras da nova Ponte Grande. Praças com torres monumentais.maquete: Prestes Maia

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fica de São Paulo, os mesmos princípios equivocados do sistema rodoviarista foram se repetindo jamais trazendo a solução para um dos maiores problemas da metrópole. As margens dos rios foram ocupadas e logo foram surgindo os problemas das inundações e congestionamento. Para adicionar pontos à má gestão, por meio da pressão mercantil e a corrupção passiva das autoridades, em meados da década de 40 a Light São Paulo, empresa responsável pelas linhas de bonde elétrico, encerra seus serviços repassando-o para a prefei-tura que alguns anos depois extinguiu o serviço à favor da indústria automobilística.

Rio Tietê

página anterior. 1898. fotos do rio Tietê em processo de retificação nas alturas da Casa Verde e Fregue-sia do Ó. E homem mergulhando em alguma regata do Tietê.foto: Sebastião A. Ferreira e desconhecido

Avenida Tiradentes

à direita. 1950. avenida Tiradentes e a obra de ampliação da linha férrea. No centro o monumento à Prestes Maia e à esquerda a Pinacoteca do Estado.foto: Sebastião A. Ferreira

Avenida 9 de Julho

abaixo. 1940. fotografia do túnel e avenida 9 de Julho. Ocupação do vale do ribeirão Saracura.foto: Benedito J. Duarte

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Durante estes anos, após se tornarem cada vez mais notáveis os desacertos cometidos no início do século XX, outros projetos e planos tiveram suas chances se mostrando sempre um fracasso, a única solução correta continua sendo a preconizada por Saturnino de Brito, e que sempre foi defendida pelos mais eminentes técnicos. Ela conjuga a contenção das enchentes ao suprimento de água po-tável e não causa prejuízos hídricos a outras regiões. Como se sabe, há várias barragens em andamento no Alto Tietê e estudos como o Anel Hidroviário, dirigido pelo professor arquiteto Alexandre Deli-jaicov, e o Arco do Tietê recém aberto pela gestão municipal. Todas estas revelam as qualidades de um princípio básico lançados ainda na primeira década do século passado que se projeta como a única resposta para o futuro.

São Paulo é, em realidade, uma rica bacia hidrográfica e não um tecido caótico de asfalto. Por tal princípio podemos ter uma perspec-tiva de uma linha de raciocínio que aponta para o sentido inverso do qual as políticas atuais seguem. De diversas maneiras a cidade se transforma, evolui e nesse contexto quais diretrizes estão sendo seguidas? Se pelo mercado imobiliário ou pelo controle público, em ambos os caminhos existe a presença de arquitetos com consciência mínima de cidadania, que deveriam no mínimo estar levantando es-sas questões.

Regatas no Rio Tietê

página seguinte. eventos esportivos de regatas ao longo do rio Tietê, cochos e próximo à Ponte Grande no Clube de Regatas Tietê.foto: Desconhecido

Retificação do rio Tietê

à direita. 1940. fotografia da obra de retificação do rio, trecho do canal de Osasco.foto: Desconhecido

Inundação de 1929

acima. 1929. foto do aspecto da inundação de 29, o fato alarmou o município que passou a dar atenção aos projetos das várzeas dos rios e sua ocupação.foto: Desconhecido

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MEnSagEM dO PREFEiTO

É necessário dramáticamente urgente, reconciliar o rio com a cidade. Por ne-cessidades que a sua própria História produziu, o Homem violentou-o por séculos, submetendo-o a uma servidão da qual usou as funções fluviais menos nobres. Mas o rio vingou-se dessa brutalidade, devolvendo com enchentes, exa-lando pútrido odor, tornando-se foco de doenças.Aquelas necessidades humanas, se não foram superadas ainda, perderam, no entanto, seu caráter imperativo prioritário. Já é possível pensar-se, pratica-mente, em salvar o rio, devolvê-lo ao seu convívio com os homens; abri-lo à plenitude da vida que o permitirá servir mais e mais nobremente.É obra que resgata dívida passada com a natureza e se junta, em seu bene-fício pleno, na espiral do tempo para alcançar nossos pósteros. Um primeiro passo deveria ser dado. Este constituiu o Projeto Tietê, de que terão conta neste álbum. O prefeito de São Paulo deu início à caminhada ao recomendar ao notável arquiteto Oscar Niemeyer tal projeto.Aqui, o homem supera seu desprezo pelo rio e o incorpora à sua vida, convida-o a fazer parte da paisagem de sua cidade. Aqui, as pessoas - de suas casas, de seus escritórios - poderão contemplar o rio e tomá-lo com importante referên-cia geográfica, cultural e espritual.Poderão aprender, de novo e mais uma vez, o profundo ensinamento do seu perfeito equlíbrio dinâmico: aquele curso d'água tranquilo e sereno, está tam-bém em constante mutação, não sendo nunca o mesmo, sem no entanto perder a sua identidade.

Um projeto ousado?

Sim, um projeto ousado, pois não se conhece obra humana que alcance um benefício permanente desacompanhado desse atributo. Mas um projeto per-feitamente factível, se sua realização é posta dentro dos rígidos cronogramas que o detalham por etapas. Como essa, de se iniciar pelo Centro Cívico.Demos o primeiro passo. Outros o seguirão, imperativos. Porque, principal-mente, o que fizemos é uma declaração de paz com a Natureza. E esta, tenho certeza e plena convicção, há de se transformar numa exigência de toda so-ciedade.

SãO PaulO, nOvEMbRO dE 1986.

jâniO QuadROS

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parque do tietê. Em 1986, encomendado pelo prefeito de São Paulo Jânio Quadros, Oscar Niemeyer juntou uma equipe para desenvolver um ousado projeto de recuperação do rio Tietê. Um parque ao longo da margem oeste do rio, da Penha à Lapa, tomando por referência o seu curso natural. O princípio tomado que nos remete ao antigo projeto de Melhorias de Saturnino de Brito é evidente e nada mais óbvio do que o mesmo. A repulsa contra as avenidas Marginais e essa terrível separação entre o rio a cidade dão as diretrizes da proposta de novo desenho urbano.

O problema de urbanização do Tietê é claro, claríssimo e, na procura da área desejada, suas margens surgem, naturalmente, como o local preferido. Como tantas vezes ocorre, um obstáculo inesperado apareceu. As margens do Tietê estão emparedadas por duas grandes avenidas. Duas avenidas que o separam da ci-dade como coisa proibida.

Para São Paulo o Tietê não existe. Erro tão primário que nos espanta não ter sido até hoje corrigido.44

O plano se trata de recuperar uma das margens do rio sugerindo a margem sul que possuía uma urbanização mais rarefeita que a outra no período do projeto. Por meio de uma vasta área à ser desapro-priada e demolida surgia o desenho de um parque que ocilava entre trezentos a mil metros de profundidade dependendo dos trecho em que se passava. Buscando a retomada da visual do rio e as relações com ele esse parque abrigaria uma série de equipamentos locais de esporte, lazer, clubes, restaurantes habitações, escritórios, um Cen-tro Cívico e um Centro Cultural. A avenida Marginal seria transferida para o perímetro desse parque, afastando os automóveis e caminhões criando apenas algumas vias parque, acessos de serviço e estaciona-mento. A nova via expressa entretanto seria elevada ainda dando uma razoável atenção ao tráfego interminável da atual marginal soluciona-ndo o problema dos alagamentos e criando essa nova artéria perime-tral Leste-Oeste conectando-a até o aerporto sem barreiras. Para Nie-meyer a obra de teor do projeto representaria para São Paulo o que para o Rio de Janeiro representou a abertura da avenida Rio Branco, julagada por Le Corbusier, da maior importância, entusiasmado com a coragem e o discernimento de Pereira Bastos, que a construiu45.

Segundo o relato, a pesquisa dos lotes a serem desapropriados foi 'cuidadosamente' feita a partir dos diversos terrenos de propriedade

44 Oscar Niemeyer e Equipe in: Parque do Tietê - plano de reur-banização da Margem do Rio Tietê. 1986 - p.9

46 (idem) p.12

Croquis

acima. 1986. croquis do projeto, centro cívico, centro cultural e escritórios.ilustração: Oscar Niemeyer

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pública e um levantamento de edíficos notáveis dando ao projeto uma solução mais apurada e realista do que deveria ou não ser re-movido.

Eis então o projeto, dez milhões de metros quadrados de áreas verdes, compreendendo parques e jardins, zonas de esporte e recreio, habitações, escritórios, centro cívico e cultural. Todos cercados de vegetação inclusive o Centro Cívico que, construído nos bairros de recuperação, nunca teria o ambiente e os espaços que obra de tal vulto requer. São dez milhões de metros quadra-dos que constituiriam o local preferido da cidade, os parques e jardins com os quais os jovens e velhos de São Paulo sempre sonharam.47

Vista para o Rio

à direita. 1986. croqui da estratégia de retomar a vista para o rio.ilustração: Oscar Niemeyer

Parque e o Rio

abaixo. 1986. croqui da margem e o parque ao longo do rio.ilustração: Oscar Niemeyer

47 (idem) p.14

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A presenaça do parque alteraria as características essenciais da ci-dade; se estabelecendo uma nova referência paisagística, se inspira e estimula a reformulação de todo o seu entorno. Além disso as novas instalações incitariam um desenvolvimento ao redor dos equipa-mentos criando uma dinâmica econômica que viabilizaria o custo da obra. Do parque para a cidade também é teoricamente proposto que as diretrizes públicas para habitações sociais, escolas e serviços sociais se acomodem nos arredores para que haja uma intensificação dos usos e perambulação da população, assim desfazendo a imagem de esgoto a céu aberto que o rio Tietê possui para com a sua cidade.

É claro, também que um parque dessa magnitute à margem do rio exige que este seja tratado e despoluído, o que sugere o projeto é uma simples inversão de valores, onde atualmente se leva infraestru-tura e condições sanitárias a favor do mercado imobiliário privado se daria atenção à necessidades públicas retornando em uma revalo-rização da terra e ganho para o poder público, gerando um giro de investimento à população.

Implantação

abaixo. 1986. implantação do projeto Parque do Tietêplanta: Oscar Niemeyer e Equipe

Croquis

acima. 1986. croquis do projeto, o parque com o centro cultural e escritórios ao fundo.ilustração: Oscar Niemeyer

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Parque do Tietê

página anterior. 1986. projeto geral: planta e modelo físico dos volumes.

Parque do Tietê

à direita. 1986. planta e modelo físico dos volumes. centro cívico, centro cultural e geral.projeto: Oscar Niemeyer e Equipe

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Recorte do Projeto

próxima página. 2013. localização da área escolhida para o projeto.mapa: Google Maps [modificada]

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localização . SÃO PAULOescala N.A

rio tietê

rio pinheiros

0 0.5 1 km

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baixo bom retiro . foz do rio tamanduteí

rio tamanduateí

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sobreposição dos mapas . SÃO PAULO 1905 x 2011escala N.A

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ProjetoLeitura e Proposta

introdução.

programa.

A meu ver, este projeto é apenas um fragmento do que foi construí-do durante estes anos de fau, um ponto de referência nesse con-tínuo processo de aprendizagem que com tais fundamentos posso prosseguir desenvolvendo os conceitos compreendidos sobre o es-paço, a cidade, o homem e as relações que ocorrem entre eles. Por-tanto seguindo o teor do debate, me proponho a realizar este estudo como parte da pesquisa, um metaprojeto que não ambiciona ser a solução ideal para a região e nem mesmo almeja chegar à um nivel de detalhamento executivo; pelo contrário, por meio dele busco pau-tar alguns racioncínios talvez perdidos durante o discurso, expondo alguns critérios através de uma leitura da cidade consolidada - em seu recorte - à uma prosposta de desenho urbano.

A vontade de fazer um projeto surgiu da idéia de que a maneira mais eficiênte para se dicutir o aprendizado dentro dessa cultura do design é através do desenho do objeto, no caso o espaço. Seria, em meu entendimento, incompleto levantar tal questionamento sem ex-emplificar com um trabalho investigativo em forma de projeto como pesquisa, as ferramentas utilizadas nesse percurso. Ao falar de técni-cas didáticas, sobre a ausência de uma metodologia concreta, mas ao mesmo tempo a presença de um caminho e o encontro entre mestre e aprendiz, sinto a necessidade demonstrar um pouco desses processos vividos; como no que resultou toda essa troca entre alunos e professores, alunos e alunos, e em que resultou essas condições de confronto de idéias e soluções experienciadas no atelies de projeto. Nessa ampla e quase abstrata discução, procuro encontrar uma liga-ção entre o que foi aprensentado até esse momento, o pano de fundo histórico da formação dessa escola e sua reverências; o como ela se apresenta hoje, sua estrutura pedagógica e o resultado desse diálogo; com, por fim, um pequeno projeto de um trecho urbano que, ao mesmo tempo, contempla os requerimentos para a realização deste estudo possuindo uma memória cultural local e pessoal tornando-se assim ideal para conformação do trabalho.

-O programa segue de acordo com a mesma abordagem, a vontade inicial era de desenvolver um projeto específico para cada um dos estúdios, porém, conforme a pesquisa foi evoluindo o interesse in-

Foz do rio Tamanduateí

acima. foto aérea do encontro dos rios Tamanduateí e Tietê, na época ainda com a presença da favela Parque do Gato à margem oeste.foto: Nelson Kon

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clinou-se mais ao fator das transformações oportunas e os notáveis impulsos dos espaços públicos existentes que através das articulações entre infraestrutura | habitação | equipamentos - apresentados pela tríade temática das disciplinas obrigatórias de projeto de edificações da fau usp, podem vislumbrar a construção da cidade acolhedora, do pas-seio público de qualidade e do bem estar do cidadão que nela vive.

Portando o programa acaba se tornando a própria cidade e seus moradores, especificamente a cidade de São Paulo; e como grande fator norteador, são apresentados como protagonistas os rios Tietê e Tamanduateí - o rio do Brasil e o rio de São Paulo, daí o recorte da área de intervenção. Um grande equívoco hoje na capital paulistana é considerar os rios urbanos como parte dos problemas e não das soluções.

Os rios fazem parte da fundação de civilizações desde tempos re-motos e São Paulo não possui história diferente. Assim como o início dessas cidade a retomada para as melhorias urbanas devem seguir o mesmo principío, através da transformação dos rios e sua relação com os cidadãos. O rio Tietê, antes chamado de Anhembi pelos ín-dios, é o principal deles que corta a região metropolitana seguindo para o interior. Apesar de nascer a apenas vinte e dois quilômetros do litoral, o relevo acidentado da serra o faz correr em sentido oposto e foi por ele navegando que exploradores bandeirantes chegaram à regiões centrais do país onde ele desagua no rio Paraná, no Mato Grosso do Sul. O rio Tamanduateí, antes Piratininga era o rio que dava acesso ao Tietê e em suas margens se desenvolveu a cidade; em grande parte, os problemas começaram a surgir quando se iniciou o projeto de canalização e retificação destes rios seguindo o infeliz abandono de suas virtudes optando pelo vil rodoviarismo.

Av. Castelo Branco 2011

abaixo. foto tirada em plena avenida Castelo Branco, mais conhecida como Marginal Tietê, na altura em que está prestes a cruzar a foz do rio Tamanduateí. à direita da foto, o gradil das costas do Estádio Municipal de Beisebol Mie Nishi.foto: Desconhecido

Acesso ao Bom Retiro

acima. 2013. acesso ao baixo bom Retiro pela av. Marginal.

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memória.

Existiram e existem inúmeros trabalhos acadêmicos e projetos não realizados sobre a retomada dos rios e suas margens, atualmente grandes projetos como o Anel Hidroviário e o Arco do Tietê estão em fase de iniciação, alguns deles servirão de base referencial, as-sim como diversos outros exemplos recorrentes em cidades contem-porâneas, salientando a importância e a viabilidade deste tema.

-No encontro destes dois rios estão os bairros Bom Retiro, Santana e Pari, formando os arredores da foz do rio Tamanduateí. O terreno es-colhido situa-se nas margens à oeste da foz, no bairro do Bom Retiro cujo foco é onde atualmente estão o Clube Municipal de Beisebol Mie Nishi e o Conjunto Habitacional Parque do Gato.

A ocupação das várzeas do rio originalmente possuiam um caráter de lazer, ocupadas pelas 'chácaras do Bom Retiro' onde a população abastada da cidade do início do século dezenove, como a família Sou-za Aranha do Marquês de Três Rios, se refugiava para momentos de descanso. Entretanto o aspecto do bairro começaria a mudar quando as primeiras olarias passaram a se instalar na região aproveitando a argila produzida nas várzeas que inundavam no período de cheias, e definitivamente quando foi inagurada na parte alta, em 1867, a Estrada de Ferro São Paulo Railway, a autal Santos-Jundiaí.

A presença da nova estação fez com que um acelerado desenvolvi-mento ocorresse no bairro, com a construção de depósitos e indús-trias de diversos ramos além de um grande fluxo demográfico, pes-soas à procura de empregos, oportunidades e em busca por moradia

Estação da Luz, 1900

à direita. foto da estação tirada da igreja São Cristóvão.foto: Guilherme Gaensly

Rua Três Rios, 1920

abaixo. em homenagem ao Mar-quês de Três Rios, grande parte das terras pertenciam às 'chácaras Bom Retiro' recanto de descanso de famílias abastadas da época.foto: Desconhecido

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nos novos loteamentos da cidade que chegaram inclusive a ocupar a região das olarias. Neste período foi aberto a primeira hospedaria dos Imigrantes, depois transferida para o Brás, em 1888.

No início do século vinte, dentre os imigrantes que primeiro chegaram se destacavam em quantidade os italianos que rapidam-ente caracterizaram o bairro com serviços especializados, como sapatarias, barbearias e pontos de encontros sociais. Além disso, a comunidade fundou em 1905 a Escola Livre de Farmácia que teve um papel fundamental no combate contra epidemias auxiliando a política sanitarista desde o final do século dezenove e sendo anexada à USP alguns anos mais tarde transfeindo-se então para a recém for-mada cidade universitária em 1982; seu antigo prédio, atualmente, é ocupado pelo Centro Cultural Oswald de Andrade. Outro marco interessante foi a fundação do Sport Club Corinthians na rua José Paulino, por operários de descendência italiana e portuguesa, em 1910. Atualmente o clube se encontra no bairro de Itaquera, mas a sede da torcida organizada de futebol e a escola de samba Gaviões da Fiel permanecem no bairro com toda a sua influência.

O fluxo de imigrantes continuou se intensificando e a cada perío-do foi sendo acrescentado ao bairro riquezes culturais inestimáveis. Na década de vinte os primeiros judeus começaram a exercer seu comércio na região, aproveitando-se do movimento já estabelecido beneficiado pela passagem obrigatória de quem vinha do centro. Em

Rua José PAulino 2009

acima. fotomontagem da vista panorâmica da rua José Paulino, próximo à rua Silva Pinto.essas fotos foram tiradas para o levantamento da área na disciplina aup.150 - habitação social no Bom Retirofoto: FADB

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48 Will Eisner, Dropsie Avenue. 2006.New York, W.W. Norton & Co.HQ - graphic novel que conta a trajetória de uma imaginária avenida de Nova Iorque da metade do séc. XIX que sofre diversas mudanças de acordo com seus moradores, novos imigrantes que causam incômodo aos que já vivem ali e vão dominando os espaços conforme os demais vão saindo até que a história se repete quando outros novos imigrantes chegam ao bairro. no caso do Bom Retiro a sucessão de povos ocorreu de maneira bem menos hostil uma vez que vieram todos em busca de oportunidades.

Rua José Paulino 1920

acima. foto da antiga rua com a presença ainda dos trilhos do bonde.foto: acervo AHJB

decorrência da Segunda Guerra Mudial houve um aumento conside-rável de sua população transformando o bairro mais uma vez com novas escolas judaicas, sinagogas e a consolidação do caráter têxtil do comércio e confecções. Apesar do bairro ter recebido uma grande quantidade de prostíbulos devido à gestão de Prestes Maia que colo-cava em ação um projeto de reforma do centro, era cômodo aos jude-us se manterem juntos em um lugar já estabelecido, onde possúiam auxílio de trabalho, moradia e crédito da comunidade mais antiga. Os italianos passaram a se mudar para bairros mais residenciais, uma vez que com o passar do tempo já se encontravam em um nível social e econômico mais estável.

A partir da década de sessenta o Bom Retiro inaugura a chegada dos novos imigrantes sul-coreanos, sedentos por trabalho e com forte determinação de se reerguerem de um passado de guerra, en-tram na sombra dos judeus aprendendo as técnicas das confecções e a participando dos serviços adjacentes. Pouco a pouco começaram a abrir suas próprias lojas, até que em 1982 com a lei que anistiava os imigrantes ilegais, passaram a se estabelecer comprando as principais lojas do bairro e diversos imóveis dos judeus que também acabaram se mudando para bairros mais calmos como Higienópolis e o Jardins, que hoje concentram mais da metade dos seus descendentes que vi-vem na cidade. Os coreanos já mais consolidados ainda continuam como a maioria no bairro e no comércio, porém já começam a divi-dir espaço com novos imigrantes bolivianos e chineses. Durante todo esse tempo ainda estão presentes, mesmo que em menor número, gregos, turcos e lituanos que marcam presença com pequenos co-mércios, restaurante típicos e associações.

O Bom Retiro hoje é essa mescla de culturas, uma riqueza desigual de qualquer outro bairro de São Paulo, com características explícitas de cada uma delas, desde placas em seus idiomas, restaurantes, igre-jas, sinagogas, escolas e mercados.

Todo esse processo, uma espécie de versão real paulistana da Ave-nida Dropsie48, criou um extraordinário trecho da cidade que trian-gula entre as infraestruturas estabelecidas no bairro durante esse de-senvolvimento, as moradias consolidadas nos adjacentes do intenso movimento e a estruturação de uma série de equipamentos culturais, sociais e esportivos remanecentes dessa história. Entretanto grande parte delas se encontra desconexa uma da outra oque dificulta a lei-tura e compreensão dessa potencialidade gerando um desequilíbrio nas concentrações e mobilizações urbanas.

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localização . BOM RETIROescala 1_12500

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Há alguns anos atrás quando ainda estudava a escola primária, meus pais, imigrantes coreanos, possuíam uma *estamparia na es-quina da rua Barra do Tibaji com a rua Mata-razzo. Como bons imigrantes, trabalhavam muito e por vezes passei tardes ali ao lado deles esperando a oportunidade para sair e brincar com outras crianças na rua. Uma boa parte das minhas lembranças com meus pais fora de casa ocorrem nesses arredores. Para esse estudo, tenho algumas que são são um tanto plausíveis, como a feijoada do "Gor-do", não este fato em si, mas a idéia de que na minha ingênua opinião a parte boa do bairro eram os botecos de esquina, sempre cheios e alegres com pessoas que eu imagi-nava de onde teriam vindo pois era sábado e em todo caminho via apenas galpões e edifícios industriais, um lugar bastante de-sagradável para morar. Outra delas é que eu jamais imaginei que a eu estivesse tão próx-imo do rio. A minha idéia imediata do rio Tietê era a avenida Marginal, mais especifi-camente o caminho para o aeroporto ou al-guma estrada para viajar. Para mim o rio era longe, não estava na cidade, era escondido e as pessoas não gostavam dele; se havia pes-soas na rua, eu não estaria próximo do rio.Dez anos depois como parte de um rico processo de aprendizagem e construção do olhar, observo essas memórias como um ref-erencial do que pode ser arquitetura e sua cultura construtiva, da crítica impulsiva e da memória consciente do arquiteto.

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levantamento geral . INFRAESTRUTURAescala 1_12500

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CPTM | linha férrea carga

METRÔ | subterrâneo

METRÔ | superfície

principais vias estruturais

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EQUIPAMENTOS PÚBLICOS:

1. sambódromo

2. estação Tietê | METRÔ | terminal rodoviário Tietê

2. SENAI - tecnologia têxtil

4. EMEI professor Alceu Maynard

5. Estádio Municipal Mie Nishi | Dohyo Bom Retiro - sumô

6. centro comercial e cultural Parque do Gato

7. creche Sonho de Criança

8. conjunto habitacional Parque do Gato

9. Clube Municipal de Regatas Tietê

10. estação Armênia | METRÔ

11. IFSP

12. UBS

13. centro cultural Oswald de Andrade

14. FATEC

15. Museu de Arte Sacra São Paulo

16. estação Tiradentes | METRÔ

17. Liceu de Artes de Ofícios

18. SESC

19. escola estadual João Kopke

20. estação Julio Prestes | CPTM

21. EMEI João Theodoro

22. Parque de Luz

23. terminal Princesa Isabel | ônibus

24. Sala São Paulo

25. Pinacoteca

26. estação da Luz | METRÔ | CPTM

27. escola estadual de música Tom Jobim

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levantamento geral . TRANSPOSIÇÕESescala 1_12500

CPTM | linha férrea carga

METRÔ | subterrâneo

METRÔ | superfície

principais vias estruturais

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OUTROS EDIFÍCIOS NOTÁVEIS:

1. aeroporto Campo de Marte

2. hospital da aeronáutica

3. Palácio das Convenções

4. auditório Elis Regina

5. hotel Holiday Inn

6. pavilhão de exposições Anhembi

7. Clube Esperia

8. universidade Sant'Anna

9. escola de samba Gaviões da Fiel

10. barracão Gaviões da Fiel

11. teatro popular União e Olho Vivo

12. shopping D

13. igreja | instituto LBV

14. 2a DP Polícia Militar

15. Departamento de Estradas e Rodagens

16. Departamento de Hidrovias

17. DENARC

18. DETRAN

19. igreja Ortodoxa Armênia

20. colégio Santa Inês

21. teatro Taib [ fechado ]

22. catedral | instituto Dom Bosco

23. SENAC

24. QG Polícia Militar

25. QG ROTA | cavalaria

26. vila Economizadora

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transposições [ próx. ]

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A. ponte da Casa Verdecalçada de 2.5mvia expressa de 6 pistas.

C. ponte avenida Castelo Brancocalçada inexistentevia expressa de 8 pistas

D. ponte avenida marginal Tietêcalçada de 1.2mvia expressa de 6 pistas

E. ponte das Bandeirascalçada de 2.5mvia expressa de 8 pistas

F. ponte avenida Cruzeiro do Sulcalçada de 1mvia expressa de 6 pistaslinha do metrô

G. ponte avenida Santos Dumontcalçada de 3mvia expressa de 14 pistas

H. ponte av. Tiradentescalçada de 1mvia semi expressa de 3 pistas

I. viaduto Eng. Orlando Murgelcalçada de 1.2mvia expressa de 8 pistas

J. rua Silva Pintocalçada de 1.5mvia coletora de 3 pistas

K. ponte avenida Cruzeiro do Sulcalçada de 1.2m e 3mvia semi expressa de 4 pistas

D. ponte rua Jõao Teodorocalçada de 2.5mvia coletora de 4 pistas

E. ponte rua São Caetanocalçada de 2.5mvia coletora de 4 pistas

F. viaduto Gal. Couto Magalhãescalçada de 2mvia coletora de 6 pistas

G. ponte avenida Tiradentescalçada de 1.5mvia expressa de 8 pistas

H. rua Cantareiracalçada de 1.2mvia coletora de 4 pistas

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B. ponte Gov. Orestes Quércia

a ponte estaiada da marginal Tietê, teve seu custo estimado em 85 milhões de reais. Com calçada apenas para manutenção ela liga a avenida do Estado à pista central da marginal, ou seja, nada à lugar nenhum. Alguns meses após a inaugu-ração calculávasse que sua subutilização chegava a mais de 50% do estimado; hoje, é vítima do trânsito tornando-se incapaz de solucionar qualquer problema, como já esperado.

Ponte Octávio Frias de Oliveira

acima. conectando a marginal Pi-nheiros e a avenida Água Espraiada sobre o rio Pinheiros, o pedestre é deixado de lado pela ausência da calçada e o ciclista precisa se ar-riscar a utilizar a ponte junto com os automóveis que passam em alta velocidade.

A segunda ponde estaiada de São Paulo inaugurada em julho de 2011 segue os mesmos padrões de um equívoco estratégico utilizado pelo poder público na reetruturação das infraestruturas da cidade. Com a intenção de amenizar os problemas de congestionamento valores es-trondosos são direcionados à estes tipos de obra que vem sendo ma-quiadas por uma vil publicidade discursando a chegada da modern-ização quando, na verdade, trata-se de um retrocesso comparado aos paradigmas que vem sendo adotados por diversas cidades no mundo atualmente. A distorção causada por esses apêlos tratam a população com ignorância deixando de lado as dicuções de real valor como, as articulações que ela vai contemplar, para quem se faz a transposição, para o cidadão ou para o cartão-postal, e se em seu tabuleiro haverá uma transação de fato de pedestres, ciclistas e reais moradores das regiões que ela conecta. Ao invés disso o debate é se ela é realmente bonita e enfatizam o quanto ela é tecnológica, no entanto, é clara-mente desnecessária, pelo menos da maneira como é concebida.

Essas decisões somam uma série de desrespeitos à população pau-listana que se submete aos órgãos e seus gestores que grosseiramente dão estes passos sem um mínimo de atenção aos fundamentos e princípios colocados e expostos durante a história do desenvolvi-mento de nossa cidade, em oposição à idéias que visam uma política correta e sustentável do ponto de vista do ser humano, optam por um sistema rodoviarista ultrapassado, claramente provado como falido, gastando mais e mais apenas fomentando os problemas já existentes.

Hoje, claramente se percebe um novo rumo, cidades que pros-peram e investem em planos urbanos cada vez mais adotam políticas

qualidade urbana.

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contra a ilusão do bem estar de possuir um automóvel, estimulando a população a retornar à escala do ser humano no dia a dia. Isso está fortemente vinculado à ideia de se retomar os rios pois nada mais humano do que a relação entre as cidades e sua localização próximo à elas, além de que se estamos falando de um sistema que não incen-tiva o uso dos carros, automaticamente precisamos pensar em formas e meios de transporte que o supra, neste caso a navegabilidade dos canais. Não se trata de ser contra uma modalidade à medida que o estingua, mas raciocinar segundo a qualidade urbana gerada pelo desiquilíbrio entre elas.

Alguns outros projetos, também recentes abordam esses mesmos conceitos, fugindo do plano rodoviarista. Em 2005, o arquieteto Paulo Mendes da Rocha junto com um grupo de profissionais e es-tudantes desenvolveu o plano para as olimpíadas de 2012 em São Paulo. Aproveitando a ocasião que trazia reflexões adversas com res-peito às oportunidades e condições da cidade de se sediar um evento de tal valor.

O que foi proposto então é que se tomásse o partido social da questão levando os focos para as regiões mais carentes ao longo dos rios Pinheiros, Tietê e Tamanduateí como principais articuladores do projeto. Cinco núcleos olímpicos em pontos estratégicos que neces-sitavam de um plano de reurbanização e obrigaria o governo a uti-

olimpíadas 2012.

Olimpíadas 2012

à direita. 2005. plano geral do projeto para os jogos olímpicos de 2012 em São Paulo.imagem: Paulo Mendes da Rocha e Equipe

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115 Plantas

acima. 2005. estudo dos núcleos esportivos no Parque Ecológico Tietê, Água Branca e Cidade Universitária.imagens: Paulo Mendes da Rocha e Equipe

lizar essa chance à favor da população. Nada mais correto do que estruturar esses equipamentos baseados no dia a dia das pessoas e não no evento em si, assim após o término das olimpíadas a cidade estaria renovada e estruturada para dar continuidade ao cotidiano melhorado dos cidadãos.

Demonstrar as virtudes, para a vida futura da cidade, enquanto reivindica o privilégio de hospedar os Jogos Olímpicos de 2012, é o objetivo principal deste projeto apresentado por São Paulo. Em nome também do prestígio das Olimpíadas.

No sentido contrário ao de uma cidadela Olímpica como fato isolado, inconveniente ou distante, na estrutura física urbana própria da cidade, o desejo que oriente este projeto estratégico-espacial é o de ver, ao arrumar a nossa casa para receber os dese-jados visitantes, um pretexto para incentivar e desencadear anti-gos e insubstituíveis projetos de consolidação íntegra do sistema complexo e estrutural de engenharia urbanística de São Paulo. Um estímulo muito proporcional e cômodo, enquanto evento, para os doze milhões de habitantes que vivem aqui seu dia a dia.

O plano visa abrigar as Olimpíadas 2012 no Coração da Cidade. No seio do seu traçado enérgico, já nos tempos modernos – in-dustrial e saneado - das vias férreas e rodoviárias. Onde há a efetiva estruturação de áreas urbanas, por contradição hoje de-gradadas como em todas as cidades fortes do mundo. Pátios fer-roviários e instalações industriais em transformação, águas po-luídas, indesejáveis e inesperados espaços vazios. Urbanizando áreas abandonadas, construindo casas, edificando novos com-plexos destinados ao laser, cultura, saúde e educação, no interior desta trama urbana.

São os canais dos Rios Tietê, Pinheiros e Tamanduateí, as fer-rovias e o sistema rodoviário submetidos à geografia e associa-dos agora ao sistema, em expansão, do metrô que orientam o desenho do plano. Por esta razão, histórica, foram organizados os recintos das instalações para os Jogos Olímpicos em posição estratégica e com conseqüente valor também quanto ao reviver oportuno de memórias e aspectos riquíssimos da cultura do esporte e da recreação do paulistano. A despoluição adequada das águas, o estabelecimento de um equilíbrio hidrológico na

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região destes rios e uma navegação de sustentação está prevista nos planos da cidade como obras urgentes, assim também como novas travessias e transposições, reintegrando áreas divididas no primeiro instante da implantação daquelas benfeitorias inaugu-rais.49

O resultado desse trabalho foi um projeto poético que se desdo-brava por toda extensão dos rios e pela trama do transporte público, que também receberia melhorias, formando núcleos que abrigariam as principais atrações do evento. Um deles foi proposto na mesma área de estudos deste projeto, a implementação do Ginásio Olímpico, entre as avenidas Tiradentes e Cruzeiro do Sul junto ao rio Tietê e do outro lado da margem o Centro Aquático conectados por duas longas passarelas criando um circuito contínuo entre os dois equipamentos, que formam as cabeceiras e fazendo a transposição para pedestres. No Tamanduateí foi proposto um área alagável formando um bolsão abrigando outra parte da vila olímpica e mais a diante próximos à foz, os estádios beisebol e outras modalidades de campo.

Se de fato São Paulo fosse eleita pelo Comitê Olímpico Brasileiro, a cidade não apenas terido novos espaços para sediar o evento, mas teria sido essencialmente renovada. Uma premissa de projeto cujos fundamentos são propostas deste trabalho.

Vila da Foz do Tamanduateí

abaixo. 2005. no característico encontro dos rios de São Paulo pre-víasse um conjunto de equpamento ponte cruzando o rio Tietê.imagem: Paulo Mendes da Rocha e Equipe

49 2005. Paulo Mendes da Rocha, in: Postulação aos Jogos Olímpicos 2012 - considerações gerais. texto retirado da ficha técnica apresentada pelo UNA arquitetos, São Paulo

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Vila da Foz do Tamanduateí

à direita. 2005. equipamentos espalhados pela foz e área alagável abrigando a vila olímpica.imagem: Paulo Mendes da Rocha e Equipe

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Canoagem Jundiaí

à esquerda. 2005. núcleo mais afastado de canoagem nas represas de Jundiaí, acessadas pela linha férrea.imagem: Paulo Mendes da Rocha e Equipe

Remo Pq. Ecológico Tietê

à esquerda. 2005. núcleo de remo às margens do rio Tietê no parque ecológico.imagem: Paulo Mendes da Rocha e Equipe

Vila Olímpica Água Branca

à esquerda. 2005. núcleo da vila olímpica da Água Branca, projeto para o estádio olímpico e aloja-mento dos atletas.imagem: Paulo Mendes da Rocha e Equipe

Cidade Universitária

à esquerda. 2005. núcleo da cidade universitária e o uso do clube de esportes da USP. também era pro-posto a interligação com o parque Villa Lobos e o CEAGESP com a chegada da extensão do metrô.imagem: Paulo Mendes da Rocha e Equipe

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Novo ParadigmaUrbano

Diante dessas referências, fica cada vez mais claro quais as dir-etrizes que estão sendo tomadas na reformulação urbanas das cidades atuais. Não apenas no Brasil, mas em todo o lugar se encontram essas dinâmicas; cada dia se propõem novas formas de se reter energia, um desenvolvimento sustentável e como reatar as relações do ser huma-no consigo mesmo, não de uma forma bucólica, mas após toda essa aceleração, talvez tenha chegado a hora de se organizar e perceber em que direção estamos correndo.

Podemos tomar como exemplo destes fatos o projeto realizado na Coréia do Sul para restauração do córrego Cheonggyecheon que havia sido canalizado e tampado por duas vias expressas no início do século XX. História bastante similar à nossa onde nesse período tomados pela força do mercado automobilístico, medidas desse tipo eram tomadas.

Vencedor do prêmio 'Veronica Rudge Green Prize' na categoria 'urban design', o projeto demonstrou uma elevada conscientização dos equivocados paradigmas sendo usados na urbanização do século passado que ainda vinham se repetindo nos dias de hoje.

O projeto baseia-se no desmantelamento das vias (duas, a primei-ra contruída nos anos 60 e uma elevada sobre ela, construída alguns anos depois) que sobrepunham o córrego trazendo-o de volta à vista da cidade. Apesar de muitas críticas pelo alto custo da obra e pelo ideal rodoviarista que viviam as pessoas da região, rapidamente após a conclusão da obra o público se apropriou do local utilizando-o

Cheonggyechon 1960

abaixo. fotografia do início da obra de canalização e construção da via por cima do córrego.

cheonggyechon.

introdução.

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como verdadeiro eixo de transição da cidade.O projeto não contou apenas com a remoção da via, mas em

requalificar a relação entre o rio e a cidade começando pela purifi-cação da água e do esgoto que para ele corriam. Construindo dutos e galerias laterais de diversos tamanhos e utilidades, se criou uma eficiente maneira de controle dos poluentes que eram lançados sem controle no rio. O resultado foi tão satisfatório que até o final da obra o córrego já corria sem odor e disponível para a população interagir com ele.

Resumo Gráfico

à direita. resumo gráfico do projeto, a evolução do seção do vale em sua condição normal para a urbana.

Cheaonggyechon 1965

abaixo. fotografia do córrego rece-bendo a estrutura para sustentar a via sobre ela.

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Os problemas eram as vias que já não suportavam mais o tráfego que constantemente congestionava nos horários de pico por se tratar de uma região altamente adensada. A falta de espaços públicos exata-mente pelo fato de que as avenidas criavam uma cicatriz no tecido urbano impedindo ou não insipirando a se investir em passeios ou praças na região. Hoje após a contrução do parque no cais baixo, fez com que os automóveis procurassem outros caminhos e que se uti-lizássem mais o transporte público. Até mesmo o comércio foi favo-recido uma vez que o passeio está sempre recebendo turistas, casais e famílias, além ter se tornado um importante eixo na circulação de pedestres que passaram a ir trabalhar a pé ou de bicicleta.

Arquitetônicamente o novo trajeto também possui características marcantes, durante o percurso nota-se áreas mais estreitas apenas de passagem, espaços alargados de parada com arquibancadas e onde se

Sanitarismo

acima. secções esquemáticas sobrepostas da infraestrutura lateral ao córrego responsável pelo tratamento de esgoto.

Cheoggyechon 1969

à direita. a via expressa elevada contruída sobre o canal, sobre a via existente.

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concentram a maior parte dos bares e restaurantes na rua que lhe dá acesso. Também existe o trecho artístico onde murais de artístas con-temporâneos ficam expostos, além de um museu subterrâneo que ocupa uma antiga galeria de máquinas. No trecho final quando se aproxima da área mais desenvolvida da cidade recebe um tratamento técnológico com luzes e em que cria uma dinâmica mais veloz e é frequentada por muitos grupos de jovens estudantes. O novo canal também faz sua reverência ao seu passado não tão distante, mas se pode entender que, como uma forma de memória e exemplo, as ruínas das colunas da antiga via expressa foram mantidas como parte da paisagem, marcando o território.

Projeto Cheoggyechon

à direita e adiante. uma sequiencia de fotografias do projeto concluído com seus usuários e passeios.

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Resta então um dilema, se de fato, vivemos em tempos de trans-formação, isso afirmo no sentido arquitetônico e urbanístico, duas possibilidades se destacam à nossa frente: continuamos construindo uma arquitetura monumentalista, daquelas que apreciamos a quilô-metros de distância em alta velocidade de dentro do automóvel; ou construímos o espaço coletivo, de volta a escala humana, reavivando o caráter moral e social da cidadania. Parece um tanto dramático, porém, a verdade é que se continuamos a pensar da mesma maneira que vieram fazendo no último século, estaremos sucumbindo neste sistema já sentenciado.

É verdade que o projeto de revitalzação do canal teve muitos obs-táculos, mesmo da população que ingorantemente, por herança cul-tural não conseguiam compreender o valor das novas idéias de mod-ernização da cidade. Carro não é sinônimo de qualidade de vida, e foi talvez necessário um plano como este provar isso. Esse foi também um dos motivos que a obra teve foi executada em tempo mínimo para que assim fosse lançado como fórmula estruturadora, um em-

Projeto Cheoggyechon

abaixo. as ruínas marcam o local com a memória da antiga via expressa, exemplo do equívoco nos processos urbanos da cidade.

paradigma.

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basamento para os seguintes processos de desenvolvimento urbano da região. Após o Cheonggyechon ser aberto ao público, imediata-mente os edifícios arredores começaram a receber tratamento dife-rente e mesmo os novos sendo construídos seguem a mesma linha de raciocínio humanista do projeto.

O prêmio dado a restauração do Cheongyyechon o fez por três pontos principais, como eles mesmos se justificaram, que são na re-alidade três questões, norteados por uma maior:

Podemos abordar o Projeto como um novo paradigma ou seria este apenas uma coleção de paradigmas existentes contra o falido urbanismo monofuncionalista? 51

O projeto traduz um conceito muito pouco local e sim universal da arquitetura, como discutidos nesse trabalho, são os paradigmas criados para a construção de um sistema coletivo e justo socialmente. Junto a este discurso seguem as relações trazidas no início dessa argumentação, a forma básica compreendida pelas relações de in-fraestrutura, habitação e equpamentos que se desenrola dessa mesma maneira.

Trazendo para uma escala mais próxima deste trabalho, podemos citar também o conceito de Cidade Fluvial que através da articulção do sistema hidroviário, na fórmula com o rio como protagonista, se define diversos critérios para o passeio e o espaço público. São a par-tir desses aspectos que proporcionamos bons projetos e boas idéias de renovação urbana.

Este conceito nada mais é que a transformação dos espaços ur-banos que estão diretamente conectados com o rio em áreas de qualidade arquitetônica fundamental. Revitalizando a utilidade dos canais e rios, agora falando de São Paulo, pouco a pouco em pontos estratégicos ocorreriam transformações que serviriam de moldes es-truturadores para o resto de toda orla fluvial e depois para a cidade. Pela instalação de portos e parques e a implantação de equipamentos públicos, sejam recreativos ou de serviços em geral, germinará uma valorização das áreas ao redor a qual necessariamente deve ser ocu-pada por habitações e edificíos de uso misto, criando o elemento vertical do desenho da cidade. Entretando esses edifícios devem ter a função de valorizar o passeio público com seu térreos voltados para rua com comércio e etc. Também o ideal é que o primeiro pavi-mento service de varanda criando um passeio coberto nas calçadas.

Todo esse conjunto, muito melhor detalhado na tese de Alexandre

51 2011. Marion Weiss in: Desconstruction | Construction - the Cheonggyechon restoration project in seoul. - p. 52 [tradução livre]

cidade fluvial.

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xx 1998. Alexandre Delijaicov. in: Os Rios e o Desenho da Cidade. tese de mestrado - p.87

Delijaicov, conceituador da idéia, formam a possível cidade fluvial. Esta quando repetida ao longo dos rios e canais da metrópole, for-maria a rede hidroviária metropolitana.

A cidade-parque fluvial é um conjunto habitacional - com seus complementos, praça de equipamentos sociais, etc. - linear, dens-amente arborizados e ajardinados, que é estruturado ao longo de um parque linear fluvial que está na orla de um canal ou lago navegável que fazem parte de uma rede hidroviária.A proposta é construir essas “cidades” dentro da metrópole de São Paulo, ao longo dos canais e lagos dos rios urbanos. Todas estariam interligadas por sistemas de comunicação aquáticas e terrestres reunidos ao longo do eixo dos canais navegáveis inter-ligados a Rede Hidroviária Metropolitana.Essas cidades lineares reconstruirão a estrutura ambiental ur-bana da orla fluvial metropolitana, integrarão rio e cidade (ci-dadãos) através do desenho do canal navegável, do parque linear fluvial e da habitação beira rio de modo que o rio seja um lugar público de estar e vida urbana.xx

Cidade Canal

abaixo. cidade fluvial, relação har-moniosa da cidade com o rio.ilustração: Danilo Zamboni

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A Rede Hidroviária Metropolitana, nascida desse embrião, veio a ser o Hidroanel Metropolitano, desenvolvido pelo Grupo Metró-pole Fluvial da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em parceria com o Departamento Hidroviário do Governo do Estado de São Paulo, atento a estes fatores retomam os princípios do potencial hídrico do território da metrópole paulistana gerando um plano de viabilização do transporte e reestruturação urbana ao longo dos rios.

O projeto articula o potencial de navegação que reside nos rios da grande São Paulo ao transporte e tratamento dos resíduos sólidos urbanos, tocando assim num outro ponto crítico da região metropolitana: a produção de lixo. A proposta é estab-elecer uma rede de vias navegáveis, composta pelos rios Tietê e Pinheiros, pelas represas Billings e Taiaçupeba além de um canal artificial ligando essas represas, totalizando 170km de hidrovias urbanas. A função fundamental dessas hidrovias será a do trans-porte dos resíduos sólidos urbanos que, além do lixo, nossa refer-ência mais imediata, são também o entulho bem como a terra movimentados por obras da construção civil, o lodo das estações de tratamento de água e esgotos e os sedimentos da dragagem dos próprios rios. Não apenas o transporte dessas cargas públi-cas foram pensadas como também se propõe, ao longo do anel hidroviário, “tri-portos”, ou seja, estações onde os resíduos são tratados – reciclados, bio-digeridos e, em última instância, in-cinerados – e, posteriormente possam vir a ser matéria prima para a indústria.

A perspectiva do projeto do hidroanel, ao reorganizar o metabo-lismo infra-estrutural da região metropolitana, além de aliviar a malha rodoviária – meio pelo qual é feito o transporte des-sas cargas hoje – é restabelecer os rios como elementos vivos na paisagem urbana. Uma série de parques e praças d’água são con-cebidas ao longo do trajeto dos rios e represas de modo que as águas já não sejam um entrave ou uma barreira mas sim um ambiente de convergência e encontro.52

Desenvolvido a partir de 2011, o estudo da articulação ar-quitetônica e urbanísitca dos estudos de pré-viabilidade técnica, econômica e ambiental, se baseia no conceito de uso múltiplo das águas, estabelecido na Política Nacional de Recursos Hídricos, que considera as águas um bem público e um recurso natural limitado,

52 Blog do GMF - Grupo Metró-pole Fluvial. postagem de 28.3.2012 em conjunto à divulgação da apresentação oficial do projeto aos órgãos federais, estaduais e municipais.

Hidroanel Metropolitano

acima. 2011. Hidroanel com a localização dos Ecoportos e Triportos. imagens: GMF

Hidroanel Metropolitano.

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cujo uso deve ser racionalizado e diversificado de maneira a permitir seu acesso a todos. Esta Política prevê o transporte hidroviário na uti-lização integrada dos recursos hídricos, visando um desenvolvimento urbano sustentável.53

O projeto também conta com o acompanhamento das transfor-mações das áreas urbanas onde serão instalados os portos de ser-viço à cidade, rearticulando toda malha infraestrural de São Paulo, melhorando os fluxos em geral, inclusive dos automóveis e gerando um norteador para o desenvolvimento público. A seguir o projeto dividido em duas fases da região em estudo, a foz do rio Tamanduateí no rio Tietê.

Hidroanel Metropolitano

à direita. 2011. o plano de im-plantação do Hidroanel segue um cronograma que tem sua fase con-clusiva em 2040, com o fechamento completo nas represas Billings e Taiaçupeba.imagens: GMF

53 apresentação do projeto no site oficial: www.metropolefluvial.fau.usp.br 2011

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Fase I e fase II

à direita. 2012. estudo de pré viabilização para área da foz do Tamanduateí:

fase I - instalação dos primeiros portos e abertura da dársena, 5.5 ha de área alagável.

- fase II - com do desenvolvimento da área porutária, construção da cidade-fluvial, passarelas e área alagável de 44 ha.

imagens: GMF

Fase II - modelo

abaixo. 2012. implantacão do modelo elêtronico.imagens: GMF

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Portanto, baseado nesses dilemas e obser-vações, proponho o projeto a seguir para o baixo Bom Retiro, para a foz do Tamanduateí

O projeto pretendia fazer São Paulo pôr os olhos na questão fundamen-tal da sua estruturação urbana para a vida diária da população com o pretexto da Olimpíada. Essa é que a graça do negócio todo, entendeu? Foi essa a orientação a qual procuramos demonstrar no projeto que fizemos, a possibilidade de locar nesse espaço não novo, mas visto com novo olhar, aquelas instalações exigidas.

PaulO MEndES da ROcHa, 2012. [EnTREviSTa]

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estudo do relevo . BOM RETIROescala 1_12500

0 50 100 200

alto Bom Retiro

735.5

baixo Bom Retiro N.A

721.0 716.0

Segundo estes estudos, proponho uma in-tervenção na região do baixo Bom Retiro. Trata-se das várzes imediatas da foz do rio Tamanduateí no rio Tietê, a planície dos pés do tobogã topográfico que naturalmente sugere a retomada das relações entre os rios e suas margens com a cidade.

Logo ela será transformada, seja pelo po-der público ou privado, planejado ou espon-tâneo; aqui trago uma tentativa de manife-star oposição à esse descaso e especialmente à especulação imobiliária antiurbana, dos gradis e muros que ameaça a região. Cri-ando a memória de arte da situação atual e de grande potencial arquitetônico coletivo.

Arquitetura é uma profissão peri-gosa no sentido de que é uma mis-tura venenosa de onipotência e im-potência; evidentemente, é verdade que nossos sonhos e fantasias são megalomaníacos, que estamos con-denados a esperar passivamente por ocasiões nas quais possamos realizar fragmentos dessa megalomania.

Rem Koolhaas. in: The Pritzker Architectural. 2000

Projeto no baixoBom Retiro

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implantação . PROJETOescala 1_12500

0 50 100 200

LEGENDA:

1. sambódromo

2. complexo do Anhembi

3. estação Tietê | METRÔ | Terminal Rodoviário Tietê

4. Orla | cais alto 721.0

5. novo boulevard da Orla

6. porto geral

7. marina | cais baixo 717.0

8. porto | parque turístico

9. praça fluvial

10. complexo Mie Nishi

11. complexo Parque do Gato

12. porto de hortifrutigranjeiros

13. Clube Municipal de Regatas Tietê

14. edifícios institucionais

15. estação Armênia | METRÔ

16. IFSP

17. estação Tiradentes | METRÔ

18. estação Julio Prestes | CPTM

19. estação da Luz | METRÔ | CPTM

PRINCIPAIS VIAS:

A. avenida Brás Leme

B. avenida Marginal Tietê

C. avenida Rudge

D. avenida Marquês de São Vicente

E. avenida Tiradentes

F. avenida Cruzeiro do Sul

G. rua Barra do Tibaji

H. rua dos Italianos

I. rua Anhaia

J. rua José Paulino

K. avenida do Estado

E

F

3

17

K

K

13

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CPTM | linha férrea carga

METRÔ | subterrâneo

METRÔ | superfície

ruas e avenidas

ciclovia

cilofaixa

VLT | veículo leve sobre trilho

TCF | transporte coletivo fluvial

canal do Tietê

sistema de transportes . CICLOVIAescala 1_12500

0 50 100 200

Seguindo os trajetos e fluxos já estabeleci-dos pelos diversos usos da região, é previsto também a reformulação nas conexões entre as infraestruturas de transporte. Como pres-suposto a cidade deve permitir o adequado trânsito de bicicletas que na cidade são meio de transporte e não mero lazer de fim de se-mana. No projeto, o relevo que desce para o encontro dos rios proporciona um agradável caminho para os que pedalam, sendo que é intrínseco do ser humano buscar o mesmo sentido das águas, o caminho mais fácil. Guiados por eixos de uma rede de ciclovias nas maiores avenidas e, obviamente, seguin-do a orla do canal, fazendo a integração des-sa rede com o metrô e o trem já existentes. O projeto é perfeitamente viável uma vez que haja uma política que não favoreça o au-tomóvel eliminando as faixas laterais de esta-cionamento e criando espaços para o ciclista e o pedestre. Serão ainda complementados por outros dois sistemas, o VLT em uma es-cala local, e o transporte hidroviário que se extenderia à magnitudes metropolitanas co-nectadas ao Hidroanel.

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METRÔ | superfície

VLT | veículo leve sobre trilho

TCF | transporte coletivo fluvial

canal do Tietê

sistema de transportes . CONEXÕES INTERMODAISescala 1_12500

0 50 100 200

estação Corrêa de Melo | TCFacesso local

estação Barra do Tibaji | VLTacesso ao Conj. Habitacional Pq. do Gato e

Centro Comercial | Esportivo Pq. do Gato

estação Gaviões da Fiel | VLTacesso à praça fluvial Gaviões da Fiel,

EMEI+EMEFM Alceu Maynard, Parque Turístico Praia do Tietê, porto turístico, marina e Porto Geral

estação Porto Turístico Praia do Tietê | TCFacesso à praça fluvial Gaviões da Fiel,

EMEI+EMEFM Alceu Maynard, Parque Turístico Praia do Tietê, porto turístico, marina e Porto Geral

Dijon Tramway

à direita. sitema VLT urbano re-centemente inaugurado na cidade

de Dijon, França. 2012

Rederij Plas

mais à direita. o famoso passeio de barco pelo canal de Amsterdam,

Holanda.

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estação intermodal Armêniaciclovia | metrô | VLT | TCF

estação Corrêa de Melo | VLTacesso local

estação Sabesp | VLTacesso local, SABESP eà área portuária de Hortifrutigranjeiros

estação Clube Mie Nishi | VLTacesso ao Estadio Mun. de Beisebol Mie Nishi,Clube anexo Mie Nishi, Dohyo Bom Retiro, praça fluvial Gaviões da Fiel, teatro Popular União e Olho Vivo

estação IFSP | VLTacesso ao IFSP, shopping D e PMESP

estação Eduardo Chaves | VLTacesso local e ao terminal EMTU de ônibus intermunicipais

estação Clube Tietê | VLTacesso ao Clube Municipal de Regatas Tietê,DER e Deparatamento Hidroviário do Estado

estação Parque do Gato | VLTacesso ao Conjunto Habitacional Parque do Gato eà praia Urbana Tietê-Tamanduateí

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estratégias urbanas.

abertura dos portos.

canal lateral.

transporte intermodal.

bulevar da orla.

habitação.

usos mistos.

térreos e varandas.

árvores.

apropriação das calçadas.

passeio funcional.

zoneamento.

Como estratégias urbanas foram tomados alguns partidos formu-lados pela leitura crítica do próprio contexto histórico que a região possui, procurando manter toda memória e os trajetos já estabeleci-dos pelos moradores. A grande inspiração é tomada pelos planos de Saturnino de Brito e seus estudos derivados. Alguns dos preceitos definidos são comuns ao conceito de cidade-fluvial de Alexandre Delijaicov que é considerado como norteador deste trabalho.

A abertura da bahia fluvial portuária e do canal lateral seguem na linha do relevo que delimita a faixa da planície do Bom Retiro baixo ao encontro dos rios. Interligados com o projeto do Hidroanel Metropolitano formam uma parada com ligação direta à população em uma área de importância histórica, econômica e social, com habitações e um conjunto de equipamentos que atendem a região e a cidade, além da conexão intermodal com o metrô e o trem. Os portos serão divididos por usos mantendo separados os passeios das cargas. Estrategicamente o porto turístico se encontra próximo aos equipamentos públicos como o sambódromo e o Estádio Municipal Mie Nishi.

A partir de então abriu-se uma via paralela à orla do canal dando continuidade à avenida Marquês de São Vicente seguindo para leste. Essa via seria altamente arborizada formando a bulevar fluvial que abrigaria os conjuntos residenciais e de uso misto, com seus térreos comerciais-serviço e o primeiro pavimento varanda construindo o passeio coberto. As calçadas de no mínimo doze metros abrigam a ci-clovia segura separada da rua e canteiros com árvores e suas sombras sobre os bancos. Tais calçadas são as alamedas beira-mar, no mesmo conceito da cidade-fluvial, do lugar-público, dos encontros e das conversas da boa vizinhança. Imagina-se uma sequência de bares, padarias, bombonieres, cafés e restaurantes (talvez a mesma varie-dade étnica característica do bairro Bom Retiro) com alguns bancos colocados na própria calçada, a criança com o picolé na mão, o avô sentado observando o movimento da rua com o parque fluvial ao fundo. No final do expediente os pais viriam buscar seus filhos nas creches desses térreos, os casais se exercitando com a corrida de fim de tarde e os estudantes se demorando para voltarem para casa.

Para funcionamento ideal deste bulevar é necessário um rígido controle de zoneamento criando assim uma sequência de quadras com belas fachadas variadas mantendo seus gabaritos e o térreo sem muros. A segurança será feita pelas próprias janelas da cidade54 com devida iluminação noturna, da rua e das lojas.

Como consequência da criação da nova via algumas quadras ime-

54 Jane Jacobs in: The Death and Life of Great American Cities. 1992

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Canal de Paris

à direita. 2010. foto: FADB

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diatas ao projeto foram reestruturadas e ainda algumas redimensio-nadas devido ao tamanho exagerado pela ocupação dos galpões. Isso exigiu um planejamento da direção das vias que permitisse uma me-lhor fluição do trânsito em conjunto com as ciclovias.

A circulação de automóveis do bulevar é feita através de duas pis-tas, uma para cada sentido, de três faixas como segue a avenida Mar-quês de São Vicente, separadas por um canteiro central arborizado. Servindo como pista local ele teria paradas, principalmente por causa das escolas e creches e a intensa transação de pedestres.

O parque da Orla, como se fosse um calçadão contínuo do lado em que ele encontra o canal, com um movimento mais calmo para o passeio arborizado, recreações familiares, pique-niques e descanso de sombra. Este lado também preve uma ciclovia de uso mais para o lazer e ao lado a linha do VLT que conecta toda a área silenciosa-mente e com versatilidade. Nele também poderão acontecer eventos de núcleos populares, saídas fotográficas, grupos de prática de yoga e taichi como é comum em áreas verdes sombreadas. O parque tam-bém se projeta como uma varanda ao canal lateral, estando a quatro metros acima do cais baixo, o novo canal com dimensão mais local permite a visual do outro lado onde se vêem a praça fluvial, o Está-dio e o conjunto habitacional Parque do Gato, além do passeio logo abaixo.

O cais baixo dá uma relação direta com a água, como nos canais da holanda, o passeio próximo às pequenas embarcações atracadas nas margens do canal lateral e as pontes cruzando-o na altura de um pé direito único, causando a proximidade das circulações do cais alto com o baixo. Os acessos feitos por escadarias e rampas de baixa de-clividade para o conforto dos pedestres ficam estratégicamente posi-cionados junto às transposições.

Na altura da dársena encontra-se a marina e o grande lago rece-bendo as embarcações maiores que vêm do canal do Tietê, no lado mais próximo deste rio encontram-se os portos de carga e também a draga-porto fazendo a logística de:

1.Material de construção: abastecendo diversos centros de carga si-tuados à margem dos canais, ao longo de todo percurso hidroviário.

2. Lodo: resultado do sistema de tratamento de esgotos, os lodos que serevem de material fertilizante, seriam levados via rio e comer-cializados aproveitando-se toda rede de agricultura beira rio.

3. Lixo Reciclável selecionado: As balsas, hermeticamente fecha-das, recolheriam o material dos vários ecopontos modulados pelas novas hidrovias urbanas descarregando nas usinas de reciclagem lo-

cais alto.

vias de automóveis.

cais baixo.

ciclovias.

sombra.

bonde elétrico.

varanda do canal.

marina.

porto de carga.

logística pesada.

materiais de contrução.

lodo.

ecoponto.

rampas e escadas.

pontes humanas.

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143

sentido das vias . SITUAÇÃOescala N.A

sentido das vias . PROJETOescala N.A

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calizadas próximas aos portos-secos, assim, localizadas em pontos estratégicos da cadeia produtiva.

4. Entulho: Coleta especializada realizada também em ecopontos, com um intervalo menor por se tratar de outra demanda e outro volume. A prestação de um serviço eficiente de coleta de entulhos urbanos e de lixo funciona como ação preventiva ao bom funciona- mento do sistema de drenagem urbana.

5. Areia e material sedimentar: todo rio dissipa energia ao longo de seu percurso com o processo de erosão, o procedimento de draga-gem dos canais já faz parte do custo de manutenção da rede. A areia seria vendida para a industria de construção civil, que atualmente já retira o material dos leitos, as áreas naturais de sedimentação dos rios

Em frente à bahia fluvial portuaria, na área urbana descem as prin-cipais ruas que interligam o baixo Bom Retiro com o alto, criando um tobogã topográfico, são elas a rua dos Italianos e Anhaia. Ao final delas, que seriam eixos importantes na conexão entre a região da orla e a cidade, principalemte pelo caminho das bicicletas que per-correriam a descida em direção ao rio, será previsto uma esplanada de edifícios institucionais. A prolongada vista à frente que ficará livre até a outra margem do rio Tietiê permite o gabarito mais alto desses prédios criando um marco da várzea e as frestas e fendas urbanas provocando a visão contínua até o rio.

A bifurcação do rio Tamanduateí com o novo Canal Lateral forma em sua foz uma ilha com alguns dos principais eventos do projeto. Em seu trecho central seria criada uma praça fluvial abrigando di-versos equipamentos culturais que na realidade já pertencem à área. Como parte da memória e reverência ao bairro a presença da escola de samba e torcida organizada Gaviões da Fiel caracterizaria o am-biente deste espaço. Permeando a borda, a sede e o seu barracão formariam uma praça interna onde poderiam ser realizadas festas e ensaios, com a possiblidade de utilizar a parte rebaixada do cais baixo exibindo-se para toda praça fluvial. Do outro lado imediato, é pro-posto um galpão teatro para abrigar o Teatro Popular União e Olho Vivo, uma das associações culurais locais que teria sua sede transfer-ida devido a contrução do canal. Situada no cais baixo ela teria uma escadaria arquibancada em sua frente ligando-a a praça de chegada do Estádio Municipal de Beisebol Mie Nishi no nível do cais alto. Este é um dos articuladores centrais do projeto, o Estádio de posse pública é extremamente subutilizado talvez pela falta de divulgação e impop-ularidade da modalidade. Entretanto essa é uma faceta relativamente fácil de ser mudada, através de organizações do bairro e parcerias

entulho.

areia.

esplanada institucional.

ampla visão.

gabarito mais alto.

frestas e fendas.

ilha de memórias.

gaviões da fiel.

teatro popular.

estádio de beisebol.

praça fluvial.

tobogã.

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146

com os clubes que o utilizam poderiam tornar o espaço mais recep-tivo e quem sabe tornar acessível um dos esportes mais populares no mundo, iniciando mais uma modalidade campeã do Brasil. Para seu melhor aproveitamento, também é proposto a criaçnao de um clube municipal anexo, com uma piscina semi-olímpica que conversa com o canal e espaços para prática de atividades em áreas cobertas como ginástica, circo, dança e etc. além das quadras poliesportivas usuais. O complexo também estaria aberto para receber atividades físicas das creches e escolas públicas, por exemplo a EMEI Alceu Maynard, situada no bulevar fluvial do lado urbano na altura da ponte de acesso ao Estádio, que seria apliada para EMEFM e utilizaria os espaços do clube durante a semana. O circuito da praça fluvial seria completado pelo Dohyo Bom Retiro, um anexo do Estádio Mie Nishi que é a única arena pública de dimensões oficiais de Sumô fora do Japão. Atualemte já são realizados treinos gratúitos organizados pelas As-sociação de Praticantes de Sumô de São Paulo.

À oeste da ilha se instalaria o Porto Turístico estrategicamente po-sicionado para articular o sambódromo com toda essa trilha de equi-pamentos e o resto da cidade através da ponte no eixo da rua dos Italianos, já mencionada. Junto a este porto também é proposto um parque turístico de beira rio com suas atrações, restaurantes, hotéis e como evento principal uma roda gigante, à exemplo de diversos parques na costa dos rios e lagos do mundo inteiro.

Seguindo para leste, do outro lado da ilha, temos o conjunto habitacional Parque do Gato. Junto à ele se coordenam como eq-uipamentos de serviço a creche Sonho de Criança e o Centro Co-mercial Parque o gato que servirá também como social-esportivo, onde poderão ser organizados as associações para melhor uso do Estádio e do clube. Ao lado do centro comercial existe também um parque esportivo com um campo de treino de beisebol, este campo atualmente é utilizado por clubes privados para treinos infantis de final de semana. Em conversas com moradores locais percebi que a maioria acha que aquele é um lugar privado, pois nunca receberam informação do contrátio e sempre viam crianças de classes mais fa-vorecidas frequentando-o, a maioria de descendência japonesa. Com amplo espaço recreativo, seguindo a borda do canal, torna-se um dos pontos de referência do projeto. O atual centro comercial projetado pelo professor Antônio Carlos Barossi possui o segundo pavimento avarandado e sua face oeste dá a visual do campo criando uma prox-imidade entre os espaços. A mesma varanda contínua dará a face sul diretamente para o Canal Lateral mantendo uma relação de dois pavi-

oragnização.

articulação com escolas.

sumô.

porto turístico.

parque turístico.

roda gigante.

centro comercial.

parque de beisebol.

qualidades arquitetônicas.

varanda para o canal.

treinos infantis.

centro socio-esportivo.

atividades internas

clube anexo..

nova modalidade.

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parque do gato.

mentos com o cais baixo e com toda a vista do parque da orla do outro lado.

O residencial Parque do Gato foi mantido como uma das prem-issas do projeto. Concedido pela COHAB-SP teve seu projeto final concebido pelo escritório Peabiru, na área imediata à foz do rio Tamanduateí onde estava parcialmente ocupada pela favela Parque do Gato. Constitui-se de 486 unidades habitacionais, que variam de quitinetes a apartamentos de dois dormitórios, divididas em 9 blo-cos residenciais, que compõem quatro condomínios independentes. Um dos grandes problemas apontados pelo levantamento prelimi-nar da COHAB-SP e HABI apontava para a necessidade de recursos para geração de renda de alguns moradores de rua da região que, pouco a pouco, iam de acomodando pelos lados da favela. A maioria catadores de material reciclado usavam o terreno 'desocupado' como depósito e perambulavam pelas ruas durante o dia. Após a construção do complexo a necessidade continuou a existir principalmente pela demora para entrega do centro comercial. Hoje o que se vê é um co-mércio clandestino local, que ocupa os pilotis ou mesmo as laterias das ruas que permanecem calmas o suficiente para se colocarem três banquinhos e uma mesa. Para essa questão seria proposto um térreo

Ocupação da Favela Parque do Gato

acima. 2001. no encontro do Tamanduateí com o Tietê a favela Parque do Gato ocupava aparcial-mente as margens oeste.foto: edif

gerador de renda local.

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comercial contínuo nos edifícios, umas vez que a demanda local já proporciona tal serviço. Outra alternativa é vincular estes trabalha-dores aos portos como na seleção e coleta do material reciclado para os ecopontos.

O Parque do Gato é o principal foco de habitação da proposta e a sua existência possibilita a compreensão dos fluxos mais constan-tes dos habitantes da região. Pela escassês de transporte público a maioria dos moradores contam que o trajeto para o serviço é difícil tendo que caminhar 'morro acima' até a estação da Luz e Júlio Prestes ou percorrer um caminho pela avenida do Estado de cerca de dois quilômetros até o metrô Armênia. Para as mães, sentem dificuldade em encontrar vagas em escolas públicas e alegam que a maioria ficam além da avenida Rudge ou no alto Bom Retiro e Luz. O percurso de deixar as crianças na escola e ir ao trabalho para que elas voltem soz-inhas, muitas vezes à pé, é lamentável.

Dentro deste contexto o imaginário consegue encontrar o real onde a criação do bulevar com os diversos serviços e equipamen-tos públicos como escolas e bibliotecas além do ativo comércio nas calçadas além aumentarem a oferta de educação no bairro, proverão um traçado mais seguro tanto para as mães como para as crianças.

O lado norte da ilha, existe uma leve curva no encontro do dois rios, ali se estenderia a praia urbana Tietê-Tamanduateí, com uma ampla área de lazer e descanso com vista para a foz.

Ao lado leste do rio Tamanduateí, temos o Clube de Regatas Tietê que devido ao fim do contrato de consessão tornou-se patrimônio público no final de 2012. O plano do governo é transformá-lo em um centro de desenvolvimento esportivo de alta-performance afim de treinar atletas para as principais competições esportivas mundiais. Como parte da área estudada o clube articula uma das pontas do projeto, fazendo a conexão com uma das cabeceiras da ponte das bandeiras, atraindo um dos pontos do VLT para seu acesso, e o pro-posto Porto de Hortifrutigranjeiros que ficará na ponta do encontro dos rios, à uma quadra do clube.

Junto ao porto há uma área destinada a galpões portuários além da intensão de se abrir um mercadão-feira livre como alternativa da região norte-central para o CEAGESP. Como parte da alternativa, o projeto propõe a modulação de um sistema de distribuição, baseado em pequenos portos em continuidade ao sistema do Hidroanel, o mercado do porto, Centros de Distribuição que atuarão como peque-nas feiras. Implicando que cada centro de distribuição tivesse uma área especifica de atuação, desta forma não oneraria excessivamente o

comércio nos pilotis.

habitação.

caminhos e trajetos.

caminhos seguros.

clube tietê.

circuito VLT.

hortifrutigranjeiros.

mercadão-feira livre.

centros de distribuição.

acesso aos transportes.

educação pública.

serviços no porto.

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154

depto hidroviário.

depto estradas.

terminal de conexões.

VLT.

TCF.

sistema viário e tampouco exigiria grandes deslocamentos dos con-sumidores.

Na mesma área, em direção à estação do metrô, seguindo pela margem do rio Tamanduateí, se encontra o edifício sede do Departa-mento Hidroviário de São Paulo junto ao Departameto de Estradas e Rodagem. Sua localização não poderia ser mais propícia no encontro dos dois principais rios da cidade, aos portos e ao passeio proposto, tornando-se um agregado do projeto.

Por fim a chegada ao metrô Armênia que como ponto central ar-ticulador das infraestruturas de transporte do projeto passará a ser um Terminal de Conexões Intermodais, permitindo a opção pelo metrô, o VLT e o TCF. O Veículo Leve sobre Trilhos | VLT proposto su-pre a demanda do alto fluxo de moradores já exitentes na região, seu trajeto seguirá o eixo da orla do novo canal e também fará a conexão com a prevista área portuária, o Clube de Regatas Tietê e o Instituto Federal de Educação, fechando o circuito na Estação Intermodal Ar-mênia onde será possível a transferência para o metrô e o Transporte Coletivo Fluvial | TCF, além de integrar a passagem da ciclovia do Parque da Orla.

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planta . PROJETO LEGENDAescala 1_7500

cais alto 721.0

cais baixo 717.0

porto geral

ecoponto

marina

porto turístico

sambódromo

passarela

parque turístico

comércio

parque da orla

parque da orla

esplanada institucional

bulevar fluvial

av. Marques de S. Vicente

av. Rudge

av. Marginal

gaviões da fiel

centro comercial socio-esportivo

barracão

dohyo

teatro

clube anexo

praia urbanaTietê-Tamanduateí

estádio municipalMie Nishi

EMEI + EMEFMAlceu Maynard

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passarela

parque da orlabulevar fluvial

av. Tiradentes

av. Marginal

av. Marginal

creche sonho de criança

porto hortifrutigranjeiros

área portuária

mercadão

pavilhão de exposiçõesAnhembi

conjunto habitacionalParque do Gato

SENAItécnologia têxtil

departamento hidroviário

clube municipal de regatas Tietê

estação intermodalArmênia

DER

habitação com térreo comercial-serviço

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planta . PROJETOescala 1_7500

A

A

B

CD

B

CD

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CD

E

D

E

F

F

G

G

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16010

13

9 811

12

1. edifício institucional

2. térreo comercial | serviços

3. ciclovia

4. avenida

5. VLT

6. parque da Orla | cais alto 721.5

7. marina | cais baixo 717.5

8. transporte coletivo fluvial

9. cargueiro fluvial

10. dársena Tietê-Tamanduateí

11. porto turístico

12. parque turístico Praia do Tietê

13. vôo de balão com saídas do aeroporto Campo de Marte

7

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2

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7

corte transversal . AAescala 1_1000

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1. EMEI Alceu Maynard + EMEFM

2. edifício de uso misto

3. ciclovia

4. avenida

5. VLT

6. parque da orla | cais alto 721.5

53

12

13

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15

14

16

7. parque do canal lateral | cais baixo 717.5

8. Canal Lateral Tamanduateí

9. transporte coletivo fluvial

10. Dohyo Bom Retiro - arena de sumô

11. teatro popular União e Olho Vivo

12. praça fluvial Gaviões da Fiel

13. Estádio Municipal de Beisebol Mie Nishi

14. piscina semi-olímpica

15.anexo Clube Municipal Mie Nishi

16. via local

17. praia urbana Tamanduateí-Tietê

18. Rio Tietê

11

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corte transversal . BBescala 1_1000

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1. praça pública

2. edifício de uso misto

3. ciclovia

4. avenida

5. VLT

6. parque da orla | cais alto 721.5

7. parque do canal lateral | cais baixo 717.5

8. Canal Lateral Tamanduateí

9. transporte coletivo fluvial

10. transposição | ponte de pedestres

11. praça de acesso ao Estádio Mun. de Beisebol Mie Nishi

12. Estádio Mun. de Beisebol Mie Nishi | arena de eventos

13. via local

14. praia urbana Tamanduateí-Tietê

15. Rio Tietê

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corte transversal . CCescala 1_1000

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1. praça pública

2. edifício de uso misto

3. ciclovia

4. avenida

5. VLT

6. parque da orla | cais alto 721.5

7. parque do canal lateral | cais baixo 717.5

8. Canal Lateral Tamanduateí

9. transporte coletivo fluvial

10. campo de beisebol | centro esportivo comunitário

11. centro cultural Parque do Gato

12. creche Sonho de Criança

13. parque infantil

14. via local

15. praia urbana Tamanduateí-Tietê

16. foz do Rio Tamanduateí

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corte transversal . DDescala 1_1000

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1. edifício habitacional

2. térreo comercial | serviços

3. ciclovia

4. avenida

5. VLT

6. parque da orla | cais alto 721.5

7. parque do canal lateral | cais baixo 717.5

8. Canal Lateral Tamanduateí

9. transporte coletivo fluvial

10. parque condominial

11. conjunto habitacional Parque do Gato

12. caixa d'água

13. via local

14. praia urbana Tamanduateí-Tietê

15. foz do Rio Tamanduateí

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corte transversal . EEescala 1_1000

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13

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1. SENAI - técnologia têxtil

2. térreo comercial | serviços

3. ciclovia

4. avenida

5. VLT

6. parque da orla | cais alto 721.5

7. parque do canal lateral | cais baixo 717.5

8. Canal Lateral Tamanduateí

9. transporte coletivo fluvial

10. transposição | ponte para pedestres e veículos

11. porto-parada do TCF

12. via local

13. praia urbana Tamanduateí-Tietê

14. Rio Tamanduateí

15. parque linear margem do Rio Tamanduateí

16. edifícios institucionais | SABESP

5

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corte transversal . FFescala 1_1000

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1. edifício habitacional

2. térreo comercial | serviços

3. ciclovia

4. avenida

5. VLT

6. parque da orla | cais alto 721.5

7. ciclovia do canal Tamanduateí | cais baixo 717.5

8. Rio Tamanduateí

9. transporte coletivo fluvial

10. porto-parada do TCF

11. parque linear margens do Rio Tamanduateí

12. via local

13. edifício institucional | Depto. Hidroviário

14. edifício Institucional | DER

15. praça Clube Regatas Tietê

16. Clube Municipal de Regatas Tietê

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corte transversal . GGescala 1_1000

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0 5 10 20

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O trabalho buscou debater as premissas presentes nos anos de ensino de projeto de edificações dessa escola, um recorte um tanto abstrato, porém de significativo valor pessoal. A vontade de compreender as trans-formações pessoais no precesso de formação como arquiteto e a busca por um horizonte para além dessa fase deram a inspiração e força para concluir este estudo. Uma conver-sa que na realidade não possui um fim, uma conclusão, para sempre haverá tal diálogo e diferentes pontos de vista, principalmente por se tratar de uma experiência empírica de aprendizado.Vale ressaltar que a construção de tudo isso se dependeu também, ou prin-cipalmente, da convivência e das influiências recebidas dos colegas, pelas discuções, dúvi-das, referências e diferentes opiniões. A volta para escala do ser humano para abordagem no construir a nova cidade jamais existiria se não soubesse de fato o que é viver em sociedade, dividindo os espaços públicos e buscando novos cantos de passeio.Para a cidade de São Paulo, creio mesmo que não exista outro caminho a não ser o de retomar o princípio dos rios, plano que demanda coragem, gastos e esforços, porém nada muito além do que a cidade já pede sofre. Diante desses paradigmas, é necessário seguir um caminho e definir uma linha de raciocínio, buscando os fundamentos cor-retos e o norte adequando. Sirvo então um ponto de vista para infinda discussão, a transformação dos espaços e a construção da cidade coletiva.

ConsideraçõesFinais

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cOMunicadO dE cHaManETO PúblicO nO 1/2013/SMduA

Prefeitura do Município de São Paulo - PMSP, por intermédio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano - SMDU, TORNA PÚBLICO o chamamento para manifestação de interesse na elaboração e apresen-tação de estudos de transformação urbana da área denominada Arco Tietê, conforme perímetro assinalado no Anexo I.

O presente chamamento tem por finalidade convocar a produção de estudos de viabilidade considerados ne-cessários pela Prefeitura Municipal de São Paulo a partir do pedido formulado no Processo no 2012-0.347.212-5. Naqueles autos, solicitou-se autorização para a realização de estudos de viabilidade de requalificação urbana de parcela determinada da região ora em destaque, então denominada “Faixa Leste-Oeste”. Em face dos obje-tivos ora presentes de desenvolvimento urbano do território desta região, e conforme o programa denominado “ARCO DO FUTURO”, constatou-se que aquela solicitação contempla parcialmente a gama de intervenções e escalas de abrangência que se apresentam necessárias ao completo desenvolvimento da região. Desta forma, mostrou-se de relevante interesse público incluírem- se outros elementos e critérios ao indigitado pedido de autorização, resultando nos termos e condições expostos no presente edital de chamamento.

1. Escopo do presente chamamentoElaboração de estudos técnicos de viabilidade de desenvolvimento urbano do chamado Arco Tietê, com vis-

tas à transformação urbana do perímetro considerado (correspondente a área total de 6.004 hectares -anexo I).A proposição do Arco Tietê como uma unidade territorial se justifica na medida em que se apresenta como

espaço de intersecção de dois eixos estruturantes do desenvolvimento urbano da cidade de São Paulo: as op-erações urbanas consorciadas Diagonal Norte e Diagonal Sul, previstas pelo Plano Diretor Estratégico do Mu-nicípio de São Paulo (art. 225 da Lei no 13.430/2002), e o território do Arco do Futuro, que se propõe como novo vetor de desenvolvimento urbano para a cidade de São Paulo. O espaço urbano do perímetro do Arco Tietê contém relações complexas que articulam escalas urbanas e econômicas de abrangências do local ao regional, que devem necessariamente ser consideradas na análise deste território. Tem-se, como exemplo, um conjunto de projetos de mobilidade com interferência direta no perímetro considerado: o projeto implantação do Trem de Alta Velocidade (TAV), a cargo da Agência Nacional de Transportes Terrestres; o projeto de implantação dos trens regionais, sob responsabilidade da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos – CPTM; a expansão da rede metroviária dentro do município de São Paulo, incluindo suas novas linhas e estações da Companhia do Metropolitano e considerando inclusive possíveis diretrizes de enterramento das linhas; o plano de melhora-mentos viários instituídos pelo Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo (Lei Municipal 13.430/02) e dos Planos Regionais Estratégicos (Lei Municipal no 13.885/04); a rede de corredores de ônibus municipais, a cargo da Secretaria Municipal de Transportes. Pode-se considerar outras propostas, relativas ao meio ambiente, como o plano de macro drenagem da bacia do Alto Tietê, a cargo do Governo do Estado de São Paulo.

Os estudos de viabilidade do Arco Tietê devem levar em conta a condição estratégica desse território, tanto no sentido do espaço intraurbano, quanto no macrometropolitano e regional, a fim de orientar um desen-

Anexo IArco do Tietê

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volvimento urbano mais equilibrado do ponto de vista social, econômico e ambiental para a cidade de São Paulo. Neste sentido deve considerar como sendo quatro os setores prioritários para a elaboração dos estudos: 1. Econômico; 2. Ambiental; 3. Mobilidade e Acessibilidade; 4. Habitacional; que devem orientar elementos estruturadores da transformação urbana do perímetro considerado. O desenvolvimento dos estudos deve ainda observar a necessária interrelação entre os quatro setores destacados e apresentar um conjunto de conceitos que demonstre a viabilidade de estruturação do Arco Tietê, mediante: A. Modelo Urbanístico; B. Modelagem Jurídica; C. Estudos Econômicos e Modelagem Financeira; e D. Meios de Interação Social e Institucional.

A complexidade de escalas de abrangência a serem abordadas nos estudos requer o desenvolvimento do trabalho em etapas visando o seu aprofundamento e detalhamento e, para tanto, o presente chamamento pú-blico de manifestação de interesse (PMI) contém duas fases para o seu desenvolvimento: a de estudos de pré-viabilidade e de estudos de viabilidade.

A primeira fase da PMI corresponde ao desenvolvimento dos estudos de pré-viabilidade. Tais estudos, de caráter conceitual e propositivo, têm o objetivo de apresentar cenários relativos à viabilidade do Arco Tietê, considerando os quatro setores prioritários em que devem ser desenvolvidos os elementos estruturadores para a indução da transformação urbana do território e o consequente método de desenvolvimento e articulação entre estes. A partir dos resultados colhidos entre os produtos recebidos nessa primeira fase – estudos de pré-viabilidade, a PMSP elaborará Relatório Resumo que definirá o escopo detalhado a ser atendido nos trabalhos da segunda fase.

A segunda fase da PMI – estudos de viabilidade - deverá detalhar e fundamentar a conceituação do projeto apresentada na primeira fase, com base no Relatório Resumo da PMSP, desenvolvendo estudos de viabilidade circunstanciados em levantamentos de informações e dados, análise das diretrizes e demonstração detalhada das modelagens urbanística, jurídica e econômico-financeira do Arco Tietê proposto, bem como dos meios de interação social e institucional para a sua realização.

2. Condições e prazos para manifestação de interessePoderão participar da presente PMI pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, individu-

almente ou em grupo. Nos termos do Decreto n. 51.397/2010, os interessados em desenvolver os projetos e estudos do presente chamamento deverão realizar o seu cadastramento até o dia 28.02.2013, de acordo com o formulário do Anexo II do presente comunicado, acompanhado dos seguintes documentos:

a) Dados cadastrais contendo a qualificação completa do interessado, nome ou razão social, seu endereço completo, telefones para contato, área de atuação e, na hipótese de pessoa jurídica, o nome e a qualificação dos responsáveis perante a Administração Pública Municipal com dados para contato, devendo, em todos os casos, responsabilizar-se pela veracidade das declarações que fizer;

b) Contrato ou estatuto social, com a última alteração, se aplicável;c) Cartão de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica - CNPJ ou o Cadastro de Pessoas Físicas –

CPF – do Ministério da Fazenda.d) Inscrição municipal no Cadastro de Contribuintes Mobiliários – CCM e inscrição estadual referente à

Declaração Cadastral – DECA, se for o caso;e) Certidão Negativa de Débito conjunta de tributos federais e Dívida Ativa da União, se aplicável;f) Certidão Negativa de Débito perante o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS;g) Certificado de Regularidade do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS, se aplicável;h) Declaração de que não possui, em seu quadro de pessoal, empregado(s) menor(es) de 18 (dezoito) anos

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de idade em trabalho noturno, perigoso ou insalubre, e menor(es) de 16 (dezesseis) anos de idade em qualquer atividade, salvo na condição de aprendiz a partir de 14 (catorze) anos, nos termos do inciso XXXIII do artigo 7o da Constituição Federal, e aplicável;

i) Comprovação, por meio hábil, de sua qualificação e capacidade técnica para o desenvolvimento dos estu-dos propostos neste chamamento;

j) Estimativa de custos para o desenvolvimento dos estudos técnicos objeto da Primeira Fase do presente chamamento de manifestação de interesse PMI, devendo especificar o valor que pretende ver ressarcido, nos termos do artigo 21 da Lei Federal no. 8.987, de 1995, caso os trabalhos sejam aproveitados pela Administração Municipal;

k) Indicação de cronograma e de condições técnicas de realização dos estudos no prazo assinalado pela PMSP, descrevendo a metodologia de trabalho que assegure, às suas expensas, ampla publicidade dos estudos de pré-viabilidade ao cabo de cada etapa de sua execução.

A entrega do pedido de autorização deverá ser realizada no protocolo geral da Secretaria Municipal de De-senvolvimento Urbano - SMDU, localizado na Rua São Bento, 405, 17o andar, sala 171B. Caso os interessados se apresentem em consórcio, as informações e documentos comprobatórios da regular constituição e qualifica-ção técnica de cada integrante deverão ser apresentados por todos os consorciados.

O prazo para apresentação dos estudos de pré-viabilidade, objeto da Primeira Fase da PMI, é de 60 (sessen-ta) dias, contados a partir da publicação da habilitação do cadastramento dos interessados no Diário Oficial da Prefeitura Municipal de São Paulo, prevista para o dia 07.03.2013.

Finda a primeira fase da PMI – estudos de pré-viabilidade, os agentes cadastrados que pretendam desen-volver os detalhamentos dos estudos de viabilidade, objeto da segunda fase da PMI, conforme o Relatório Resumo da PMSP, deverão ratificar seu interesse, em data que será divulgada oportunamente.

Somente poderão participar da segunda fase os agentes cadastrados que apresentaram os estudos tecnica-mente adequados ao fim da primeira fase.

A conclusão dos estudos de viabilidade da segunda fase da PMI está inicialmente prevista para dezembro de 2013.

3. Objetivos da primeira fase da PMI:- Realizar estudos de pré-viabilidade do Arco Tietê referente aos quatro setores de transformação urbana do

perímetro em questão: 1. Econômico; 2. Ambiental; 3. Mobilidade e Acessibilidade; 4. Habitacional;- Obter subsídios econômicos, urbanísticos, ambientais, técnicos e de caráter social e institucional, bem como

instrumentos urbanísticos para fundamentar alternativas de viabilidade do desenvolvimento e implementação do Arco Tietê, apontando as formas de modalidade contratual e jurídica consideradas mais apropriadas, pre-visão das demandas e receitas esperadas, os custos operacionais envolvidos e as formas de participação popular e de gestão democrática do projeto, demonstrando-se tal pré-viabilidade por intermédio de:

A. Modelo urbanístico contendo hipóteses de transformação urbana, modificação de usos, melhorias no sistema de mobilidade e transporte em seus diversos modais, modelos tipológicos e de ocupação, inclusive vin-culados ao melhoramento ambiental e da drenagem do território, hipóteses e estratégias de faseamento da intervenção;

B. Modelagem jurídica apontando possíveis instrumentos ou processos que favoreçam a transformação, indução ou intervenção territorial;

C. Estudos sócio-econômicos que demonstrem a promoção dos setores produtivos e a geração de emprego e

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renda, vinculado ao público alvo do projeto;D. Meios de Interação Social e Institucional que contenham estratégias de construção coletiva da interven-

ção com a participação da absoluta maioria dos agentes envolvidos com este processo.- Subsidiar a consolidação das diretrizes do escopo detalhado a ser apresentado no Relatório Resumo que

orientará os trabalhos da segunda fase desta PMI.4. Escopo para os estudos a serem desenvolvidos na primeira fase da PMI:I – Elementos técnicos básicos da proposta de pré-viabilidade, com a apresentação do objeto (represen-

tado por mapas, croquis, gráficos etc.), justificando sua relevância e adequabilidade, bem como os benefícios econômicos e sociais esperados pela implantação do projeto, podendo incluir considerações e propostas de re-visão do perímetro do Arco Tietê que se mostrarem necessárias, justificando sua pertinência.

II – caracterização, com justificativa circunstanciada, da melhoria da qualidade urbana concernente a ar-ticulação dos quatro setores prioritários para o desenvolvimento dos elementos estruturadores do Arco Tietê: 1. Econômico; 2. Ambiental; 3. Mobilidade e Acessibilidade; 4. Habitacional; apresentando os indicadores consid-erados: densidade demográfica, densidade de empregos, provisão de usos residenciais considerando a porcenta-gem de habitação de interesse social – HIS – vinculada a estes usos, provisão de área não residencial, índices urbanísticos a serem alterados (ocupação, permeabilidade e aproveitamento), relação área verde por habitante, instrumentos urbanísticos aplicáveis à fundamentação da proposta, propostas de setorização e zoneamentos urbanos, indicativos de impacto ambiental e de vizinhança do conceito proposto, entre outros;

III - as características gerais do Arco Tietê proposto para a modalidade urbanística considerada, apre-sentando em caráter de pré-viabilidade a modalidade contratual considerada mais apropriada ao conjunto dos estudo de transformação urbana do perímetro considerado, com a previsão das demandas e receitas esperadas, os custos operacionais envolvidos e a estimativa dos investimentos necessários, tanto públicos como privados, à implantação do modelo proposto, a(s) figura(s) jurídica(s) mais apropriada(s) à modelagem jurídica proposta e as formas de participação popular e de gestão democrática do projeto. Tais estudos devem ser demonstrados pela articulação dos quatro setores de estruturação do projeto: urbanístico, jurídico, econômico e de interação social e institucional.

IV – a estimativa de escopo, custos e prazos para a elaboração dos estudos de viabilidade detalhados, pro-jetos, pesquisas, levantamentos, investigações, e demais elementos técnicos a serem desenvolvidos na segunda fase da PMI;

V – plano de trabalho preliminar objetivando o faseamento do Arco Tietê, com justificativa técnica e opera-cional de sua adequação e viabilidade tendo em vista a dimensão e diversidade de características e problemáti-cas do perímetro considerado;

VI – levantamento do uso dos instrumentos jurídicos pertinentes, bem como a elaboração de novas figuras jurídicas para implantação do planejamento urbanístico exposto na proposta, considerando o processo em curso de revisão do Plano Diretor Estratégico (Lei no 13.430/2002).

VII - outros elementos que permitam avaliar a conveniência, a eficiência e o interesse público envolvidos no projeto, bem como possam subsidiar e contribuir para a consolidação das diretrizes do escopo detalhado que orientará a segunda fase da PMI para o desenvolvimento dos estudos de viabilidade do Arco Tietê.

5. Complementação de informaçõesÀ Comissão Especial de Avaliação é reservada a prerrogativa de solicitar, a qualquer dos agentes cadastrados

que tenham manifestado interesse no desenvolvimento dos estudos e projetos, a apresentação de detalhamentos,

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correções, modificações ou informações adicionais, a fim de instruir a decisão sobre o pedido de autorização.6. Legislação urbanística aplicávelTodas as propostas a serem formuladas deverão considerar o quadro legal de regulação urbana vigente, em

especial as disposições do Estatuto da Cidade (Lei Federal no 10.257/2001), do Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo (Lei no 13.430/2002), da Lei no 13.885/2004 e legislação correlata que disciplinam a área de intervenção, podendo ser proposto o uso dos instrumentos jurídicos pertinentes e sugeridas eventuais mudanças na legislação municipal que se mostrem necessárias à implantação do projeto urbanístico, conside-rando-se, ainda, a Revisão do Plano Diretor Estratégico que ocorrerá no presente ano.

7. A entrega do material de referênciaApós a autorização para o início dos trabalhos, a PMSP poderá disponibilizar aos agentes cadastrados os

elementos dos estudos urbanísticos de seu acervo para o perímetro de estudo, contendo dados, análises e pro-postas, que constituirão o referencial a partir do qual serão desenvolvidos os estudos de ambas as fases objeto do presente chamamento.

Ao término da Primeira Fase da PMI será disponibilizado aos agentes cadastrados o Relatório Resumo contendo o escopo detalhado dos trabalhos a serem desenvolvidos na segunda fase. A PMSP poderá realizar sessões públicas destinadas a apresentação de informações e características do projeto sobre o qual se pretende obter a manifestação dos interessados.

8. Forma de apresentação dos estudosOs projetos, estudos e levantamentos deverão ser disponibilizados em meio impresso e em versão digital

(CD), com planilhas eletrônicas abertas – estudos econômicos e modelagens (desbloqueadas), passíveis de con-ferência de premissas, fórmulas e simulações, com desagregação de todos os itens. Os documentos deverão conter uma versão em formato PDF e outra em formatos abertos, compatíveis com extensões doc, xls, jpg, cdr e dwg, quando couber. As formas de representação gráfica (plantas, cortes, elevações, croquis, perspectivas, ilustrações, gráficos e maquetes virtuais) deverão ser compatíveis aos temas e escalas abordados e em quanti-dade necessária à perfeita compreensão das informações. Deverão constar no documento final as referências de estudos pré-existentes utilizados na elaboração do trabalho, assim como as principais fontes de consulta.

9. O acompanhamento dos trabalhos e sua divulgaçãoOs estudos serão desenvolvidos com o acompanhamento das equipes técnicas da PMSP, para o efeito de

garantir a observância das diretrizes que orientam a elaboração dos estudos de pré-viabilidade e posterior viabilidade do Arco Tietê. Ressalva-se que o mencionado acompanhamento não implica o dever de aceitação dos estudos que vierem a ser realizados.

O desenvolvimento dos trabalhos deverá necessariamente conter etapas e momentos de discussão pública, de participação popular e de negociação com os principais agentes intervenientes no espaço urbano, sob respon-sabilidade de cada agente cadastrado.

Todas as etapas de discussão pública deverão ser convocadas com antecedência adequada, os materiais deverão ficar disponíveis para os interessados e as reuniões deverão ser em locais acessíveis e em horário com-patível com a finalidade. As propostas ou sugestões deverão ser sistematizadas e justificadas sua incorporação ou sua recusa. As reuniões devem ser documentadas e contar com lista de presença.

A PMSP poderá convocar discussões públicas para a discussão dos trabalhos, sendo responsabilidade dos agentes cadastrados o oferecimento do correspondente suporte técnico para tais discussões.

10. Dos critérios de aproveitamento e do ressarcimento dos estudos de pré-viabilidade e viabilidade da PMI:

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A avaliação dos estudos técnicos e dos projetos apresentados levará em conta critérios relacionados à ad-erência social da proposta junto à sociedade (relacionado ao processo participativo), à consistência das infor-mações que subsidiaram sua realização, à compatibilidade com técnicas previstas em normas e procedimentos pertinentes, à sua adequação à legislação aplicável e aos benefícios de interesse público esperado, bem como às inovações, melhorias e alternativas propostas, conforme as orientações do escopo do presente chamamento público. Será considerada, na avaliação, a melhoria de indicadores de qualidade urbana, particularmente referente aos quatro setores prioritários do Arco Tietê (1. Econômico, 2. Ambiental, 3. Mobilidade e Acessibili-dade, 4. Habitacional): densidade demográfica, densidade de empregos, provisão de usos residenciais, inclusive porcentagem considerada de habitação de interesse social, provisão de área não residencial, relação área verde por habitante, instrumentos urbanísticos aplicáveis à fundamentação proposta, propostas de setorização e zo-neamentos urbanos, entre outros.

Os resultados dos estudos de pré-viabilidade do Arco Tietê desenvolvidos na primeira fase da PMI servirão como subsídio para a elaboração do escopo detalhado que orientará o desenvolvimento dos estudos na se-gunda fase, a ser definido no Relatório Resumo elaborado pela PMSP, cabendo a esta a prerrogativa de poder combinar disposições parciais dos estudos técnicos e modelagens apresentadas às informações disponíveis em outros órgãos ou entidades da administração direta ou indireta da PMSP. O(s) estudo(s) selecionado(s) terá o seu ressarcimento proporcional ou total conforme a utilização de seu conteúdo, parcial ou total, no Relatório Resumo da PMSP, caso em que os valores de ressarcimento serão apurados apenas com relação às informações efetivamente utilizadas.

Ao fim da segunda fase, as alternativas apresentadas como resultado de estudo de viabilidade serão avalia-das e selecionadas visando a constituição de uma proposta consolidada do Arco Tietê, podendo, eventualmente, resultar em um ou mais editais de licitação para realização do(s) projeto(s). A(s) proposta(s) selecionada(s) terá o seu ressarcimento proporcional ou total conforme a utilização de seu conteúdo, parcial ou total, na proposta consolidada do Arco Tietê, caso em que os valores de ressarcimento serão apurados apenas com relação às informações efetivamente utilizadas em eventual licitação, nos termos do Decreto Municipal no 51.397/10.

Caberá à Comissão, antes da autorização definitiva para a realização dos estudos, proceder à fixação dos valores máximos finais que servirão de referência para o reembolso, podendo levar em conta a composição das equipes envolvidas na elaboração dos estudos propostos.

Ao final de cada fase dos estudos os agentes cadastrados deverão comprovar os custos efetivos como condição para eventual ressarcimento, sendo que o valor fixado inicialmente pela Comissão será o valor máximo a ser reembolsado referente a cada fase. No caso de aproveitamento parcial dos estudos, o ressarcimento ocorrerá de modo proporcional aos participantes, aferido conforme a contribuição parcial aos resultados finais obtidos no término de cada fase. O aproveitamento dos estudos de ambas as fases, total ou parcial, não obriga ao Poder Público contratar o objeto do projeto. O ressarcimento, ônus do futuro concessionário, ocorrerá somente por ocasião do cumprimento do contrato de concessão, na forma e nas condições definidas no eventual edital de licitação do empreendimento.

Os agentes cadastrados, na qualidade de autores ou responsáveis pelos estudos técnicos apresentados em conformidade com esta PMI, poderão participar, direta ou indiretamente, das eventuais licitações ou da ex-ecução de obras ou serviços em concessões comuns, patrocinadas ou administrativas, ou ainda em permissões de serviços públicos, nos termos do permitido pelo art. 31 da Lei Federal no 9.074/95, que sejam resultantes do desenvolvimento dos estudos de viabilidade detalhados na segunda fase do PMI.

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Servei Municipal de L'habitatge i Actuacions Urbanes S.A

à direita. 2009. habitação social em TarragonaTarragona, Espanha.

projeto: Aguilera | Guerrero Architectos

Anexo IIReferências Projeto

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48 Logements

à direita. 2012. habitação com térreo comercial.Vitry sur Seine, França.

projeto: Gaëtan Le Penhuel Architerure

Anexo IIReferências Projeto

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Anexo IIReferências Projeto

Viviendas Sociales en Boera Park

à direita. 2011. habitação social em Bera Park.Puerto de Castellón, Espanha.

projeto: Peñín Arqcuitects + OAB + Edifica

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Sundbyen Harbor

à direita. 2010. área portuária de Alesund.Alesund, Noruega.

projeto: JaJa Architects

Anexo IIReferências Projeto

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Pedestrian and Cyclist Bridge

à direita. 2010. ponte de pedestres e ciclistas sobre o rio ProvidenceRhode Island, EUA.

projeto: inFORM Studio

Anexo IIReferências Projeto

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Chicago Riverwalk

à direita. 2012. calçada-passeio para rio de Chicago.Chicago, EUA.

projeto: Sasaki Associates

Anexo IIReferências Projeto

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agradecimentos,

ao inspirador professor Alexandre, pela paciência e por aceitar orientar esse conjunto de incertezas.

à professora Heleninha e ao professor Barossi, por aceitarem participar dessa banca, mas muito mais pela referência.

aos amigos da fau por sempre acrescentarem intelectualmente, esse trabalho é a construção dessa vivência.

aos meus amigos e irmãos que me sustentaram todo esse tempo em oração, sei de onde veio essa consquista.

ao meu pai que sempre confiou que eu andaria na Verdade e em nada me fez faltar.

ao meu irmão que dia a dia se esforça para fazer valer essa batalha, me orgulho muito.

com carinho à Melissa, mesmo longe suportou mais que qualquer outro meus dias de ansiedade.

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