leitura e produção de textos– gêneros textuais

54
INAPES-2013 “LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOSGÊNEROS TEXTUAIS”

Upload: wagner

Post on 05-Jan-2016

24 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

TRANSCRIPT

Page 1: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

INAPES-2013

“LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS– GÊNEROS TEXTUAIS”

Page 2: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

UNIDADE 1: INTRODUÇÃO

A linguagem humana pode ser concebida como a representação do mundo e

do pensamento, concretizada em um código através do qual os homens recebem e

interpretam mensagens que refletem seus pensamentos e seus conhecimentos de

mundo.

Trata-se, ainda, de uma atividade que pressupõe interação, diálogo, uma

vez que, através da linguagem, os indivíduos produzem textos (orais ou escritos),

cujo sentido se faz a partir da interação falante/ouvinte, escritor/leitor.

Na prática da leitura e produção de texto, é importante considerar a

linguagem como ação social. “O nosso pensamento se origina e se forma no

processo de interação e luta com pensamentos alheios, o qual não pode deixar de

refletir-se na forma de expressão verbal do nosso.” (Bakhtin, 1992). Assim sendo,

ler e elaborar textos são atividades interativas, através das quais se produz sentido a

partir de conhecimentos de naturezas diversas compartilhados entre aqueles que

participam do processo de interação.

Quando se interage através da linguagem, sempre se tem um objetivo, um

fim a ser atingido: há relações para se estabelecer, efeitos que se pretende causar,

comportamentos para desencadear, ou seja, com o uso da linguagem existe sempre

a pretensão do enunciador de atuar, de alguma maneira, sobre aquele que recebe a

mensagem e, assim, obter dele determinadas reações (verbais ou não-verbais).

Diante disso, os gêneros textuais tornam-se variados. Nas palavras de Bakhtin

(1992):

“Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão

relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que o caráter

e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas

da atividade humana. (...) O enunciado reflete as condições específicas e as

finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo temático

e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da

língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais – mas também, e

sobretudo, por sua construção composicional.”

Page 3: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

Nesse sentido, o objetivo deste material centra-se, nas práticas de leitura e

produção de textos, a uma breve exposição a respeito de gêneros textuais. Para

isso foi feito um resumo de teorias de leitura e de aspectos da produção textual com

o intuito de fornecer um melhor embasamento para a discussão sobre gêneros.

Assim, organizou-se como se segue:

O próximo capítulo apresenta uma breve descrição dos modelos teóricos de

leitura, tendo em vista a classificação em relação à direção do fluxo da informação

durante o ato de ler. Considerando a leitura um processo cognitivo e social, busca-

se apresentar, também, alguns fatores importantes que influenciam o uso de

diferentes estratégias de leitura, entre eles o gênero textual.

O capítulo 3 borda alguns aspectos da produção textual, tais como as

características deste processo, em especial do texto escrito, tendo em vista seu

caráter dialógico, isto é, a interação entre autor e leitor na produção de sentido

durante a atividade da escritura. Uma vez que se pretende, neste capítulo, ressaltar

a produção verbal escrita, busca-se, também, estabelecer brevemente as diferenças

entre esta modalidade da língua e a modalidade falada. Objetiva-se, ainda,

apresentar uma pequena orientação sobre como se alcançar um texto bem-formado,

lançando mão da questão de coesão/coerência e das quatro metarregras propostas

por Charolles (2002).

O quarto capítulo dedica-se a apresentar a concepção de gêneros

discursivos, segundo Bakhtin (1992), tendo em vista a idéia de que a elaboração de

texto é uma atividade sociocomunicativa, em que falante/escritor e ouvinte/leitor

interagem na produção de sentido. Considera-se, também, a idéia de que os

gêneros diferenciam-se conforme a função que exercem em cada situação

específica. Devido às similaridades entre expressões, a saber: gêneros textuais,

gêneros discursivos, ambientes discursivos, sentiu-se a necessidade de delimitar o

conceito destes termos, bem como diferenciar tipologia e gênero textual. Por fim,

pretende-se descrever, brevemente, cinco tipos de texto, ou modalidades

discursivas: narração, descrição, argumentação, exposição e injunção, uma vez que

se trata dos mais comuns tipos textuais utilizados nas situações comunicativas.

Page 4: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

E o último capítulo é destinado às considerações finais a respeito de tudo

que foi discutido.

UNIDADE 2: LEITURA

2.1 - Modelos de leitura

Os modelos de leitura, em termos gerais, podem ser classificados de acordo

com a direção do fluxo da informação no ato da leitura: modelo de fluxo ascendente,

descendente e ascendente/descendente simultaneamente.

2.1.1 - O modelo ascendente

Neste modelo, o fluxo da informação parte do texto impresso para o leitor: o

autor utiliza os dados apresentados no texto com o intuito de compreender o texto

escrito. Trata-se, portanto, de um processo perceptivo e de decodificação. Como

exemplo, Kleiman (2004b) aponta o modelo de processamento serial de Gough e o

modelo de processamento automático de LeBerge e Samuels. O leitor, segundo o

modelo ascendente, analisa o input visual, gráfico, partindo das partes menores para

obter o significado todo. Kato (2003) apresenta as etapas do processo de leitura

proposto por Gough:

“a) Transformação do estímulo percebido em uma imagem visual (composta de

barras, curvas e ângulos). É a identificação, a meu ver, da configuração geral da

palavra.

b) Identificação letra por letra, da esquerda para a direita, e colocação dos tipos

dentro de um ‘registro de caracteres’.

c) Interpretação das letras com fonemas; para Gough, a interpretação chega apenas

ao nível abstrato do fonema, ficando a representação fonêmica ‘gravada em uma

fita’, à espera de que a ‘bibliotecária’ faça a busca textual.

Page 5: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

d) Depósito dos itens lexicais na memória operacional, onde se dá a compreensão a

nível sentencial, através de um misterioso operador sintático-semântico chamado

‘Merlin’.

e) “Aplicação, por um ‘editor’, de regras fonológicas a essa sentença interpretada,

resultando daí um enunciado fonético.”

2.1.2 - O modelo descendente

Neste modelo, o foco é colocado na contribuição do leitor para o ato de ler: a

informação flui do leitor para o texto, e este serve como base para suscitar o

conhecimento prévio. Trata-se de um processo em que o significado é criado no

decorrer da leitura quando o leitor aciona os conhecimentos lingüísticos e

esquemáticos: o significado do texto parte do leitor. Os modelos teóricos de

característica descendente são chamados modelos psicolingüísticos de leitura, em

que esta é apresentada como um processo cognitivo.

O modelo de testagem de hipóteses de Goodman é um modelo

psicolingüístico em que a leitura é vista como um jogo de adivinhações e consiste

em desvincular a recodificação obrigatória da língua escrita para a fala, salientando,

portanto, a importância dos processos cognitivos na compreensão do texto.

Segundo este modelo, o leitor precisa de certas habilidades para o processamento

da leitura:

“Scanning;

fixação ocular.

seleção de ‘pistas’ cruciais;

predição das ‘pistas’ (que opera junto com a seleção numa relação de

dependência mútua);

formação de perceptos;

Page 6: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

busca lexical e conceitual (‘a habilidade para buscar na memória pistas

fonológicas bem como informações sintáticas e semânticas associadas às imagens

perceptuais’);

conhecimento lingüístico e conhecimento prévio conceituais e empíricos;

testagem semântica das escolhas (‘a habilidade para confirmar ou

desconfirmar as escolhas’);

retestagem grafo-fônica (‘a habilidade para retestar as escolhas, quando há

uma desconfirmação anterior, reutilizando as imagens perceptuais não utilizando

mais informações’);

regressão ocular (no caso de anomalia ou inconsistência no processamento)

e decodificação (após uma escolha bem sucedida, o leitor integra a

informação ao significado que está sendo construído)”. (Kleiman, 2004b)

2.1.3 - O modelo ascendente/descendente

Este terceiro modelo diz respeito às propostas interacionistas para o

fenômeno de compreensão escrita. Nesta visão, o ato de ler envolve tanto a

informação impressa (o texto) quanto a informação que o leitor traz consigo (o

conhecimento prévio), portanto, o significado surge a partir da interação entre o leitor

e o autor, através do texto: ambos os tipos de processamento (ascendente e

descendente) interrelacionam no processo de acesso ao sentido.

Segundo as teorias interacionistas, a leitura realiza-se

“quando um leitor, ao deparar com um enunciado escrito – em

processamento ascendente -, ativa o seu pré-conhecimento,

armazenado em esquemas (...). Estes esquemas, por sua vez,

através de um processamento descendente, criam expectativas

no leitor quanto ao possível significado a ser negociado com o

escritor.” (Moita Lopes, 2002)

Page 7: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

Nesse sentido, o significado do texto caracteriza-se por ser um resultado dos

processos de interação entre o leitor e o autor através dos quais seus esquemas são

negociados. (Kleiman, 2004a; 2004b).

2.2 - Leitura: processo cognitivo e social

A leitura e compreensão de textos constituem um processo cognitivo, já que

envolvem atenção, percepção, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento,

linguagem, e podem ser caracterizados, ainda, como um ato social, uma vez que

existem dois sujeitos, leitor e autor, que interagem entre si durante os atos de ler e

compreender.

Existem divergências quanto à caracterização da leitura: segundo Kato

(2003), não se pode falar em um único processo de leitura, mas sim de uma

multiplicidade de estratégias empregadas pelo leitor conforme as condições que a

ele são dadas. Por outro lado, Kleiman (2004a) afirma que a atividade da leitura é

um só processo com diferentes maneiras de realiza-se que variam conforme os

caminhos usados pelo leitor para alcançar o objetivo pretendido. No entanto, seja a

leitura um processo único ou não, é certo que existem diferentes modos de ler um

texto que dependem de vários fatores, tais como a maturidade do leitor; a

complexidade textual; o conhecimento prévio; o gênero do texto e o objetivo da

leitura entre outros.

2.2.1 - A maturidade do leitor

Segundo González Fernández (1992), existem estratégias metacognitivas de

leitura que auxiliam na resolução de problemas de compreensão, permitindo ao leitor

compreender um texto com maior eficácia através do planejamento, monitoração e

regulação dos próprios processos cognitivos envolvidos no ato de ler. Com essas

estratégias, o leitor é capaz de identificar os objetivos da leitura, aspectos

importantes do texto e, também, de verificar sua própria compreensão. O leitor

maduro, conforme apresenta Kato (2003), é aquele que controla, planeja as

Page 8: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

estratégias de leitura para monitorar a compreensão do texto, tendo em vista seus

objetivos. Assim, considerando que o leitor maduro adquire as estratégias de leitura

cumulativamente, pode-se dizer que existem níveis de maturidade:

“Uma criança que está objetivando apenas a leitura de palavras poderá

monitorar seu comportamento para o reconhecimento nesse nível, assim

como o adulto proficiente o faz no nível de compreensão do texto. Mas entre

uma criança que lê errado e não se corrige e outra que o faz, a segunda

seria mais madura, pois conseguiu detectar uma falha em seu

comportamento. Em nível de texto, se o leitor passa de uma leitura

automática e fluente (obedecendo a princípios e máximas de forma

inconsciente) para uma leitura pausada e vagarosa, isso pode ser um sinal

de que ele detectou alguma falha em sua leitura e passou a usar uma

estratégia mais ascendente, mais vinculada ao texto. Essa desaceleração

assinala também um comportamento metacognitivo”. (Kato, 2003)

2.2.2 - A complexidade textual

Um texto é considerado complexo quando se leva em consideração o

conteúdo não-familiar e/ou fatores lingüísticos. A leitura de um texto de conteúdo

familiar permite que o leitor processe deduções e análises com base em seus

esquemas já estabelecidos. Por outro lado, se o assunto não é familiar, o leitor

necessita construir novos esquemas para estabelecer a compreensão do texto, o

que o torna mais complexo. No que se refere aos fatores lingüísticos, a

complexidade encontra-se no nível do vocábulo, da sentença e do texto: as palavras

difíceis, as estruturas subordinadas, passivas e sentenças invertidas, quando

apresentadas descontextualizadas, são, de fato, complexas. No entanto, se o texto

oferece condições para o leitor inferir os significados das palavras e quando as

sentenças estão bem colocadas no texto, o processo da leitura ocorrerá a partir da

unidade maior (o texto) para as unidades menores (sentenças e palavras), o que

facilita a compreensão. Quando esse processo de cima para baixo não for suficiente

para o entendimento do texto, então este passa a ser considerado lingüisticamente

complexo.

Page 9: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

2.2.3 - O conhecimento prévio

O leitor utiliza diferentes conhecimentos adquiridos ao longo da vida para

compreender o texto: conhecimento lingüístico, textual e o conhecimento de mundo.

A ativação do conhecimento prévio é importante para o leitor “fazer as inferências

necessárias para relacionar diferentes partes discretas do texto num todo coerente.”

(Kleiman, 2004a). No momento da leitura, o leitor lança mão de suas experiências,

crenças, opiniões, interesses, ou seja, de um conhecimento prévio que é

fundamental para determinar o tipo de leitura que será realizada. Nesse sentido, a

dificuldade na compreensão de um texto não ocorre facilmente, por exemplo,

quando a linguagem do autor é voltada a textos dos quais o leitor não tem

conhecimento, mesmo que ele tente fazer as inferências, provavelmente a

compreensão não será totalmente eficaz. “Um texto será, então, legível por outro

lado, porque funciona segundo leis, esquemas, de que já dispõe o leitor (...), porque

se dá como reescritura de outros textos, levando assim em conta a experiência

anterior do leitor.” (Vigner, 2002a)

2.2.4 - O gênero e o objetivo da leitura

Uma evidência das multiplicidades das estratégias empregadas pelo leitor é

a existência de diversas formas de interação do leitor com textos de diferentes

gêneros: conforme o tipo do texto, seja uma poesia, um texto concreto, uma ficção,

seja um texto acadêmico, jornalístico, entre outros, o processo da leitura é diferente,

ora é preciso ler em voz alta, ora o leitor precisa de liberdade para criar sobre o

texto, às vezes o texto deve ser visto, mais do que lido, outras vezes é necessário

Page 10: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

uma reconstrução das intenções do autor. São muitas as estratégias que variam,

também, conforme o objetivo da leitura: o tipo do texto determina, até certo ponto, os

objetivos da leitura: o objetivo geral ao se ler um artigo científico é diferente daquele

quando se lê uma poesia concreta.

Kleiman cita uma experiência realizada por psicólogos americanos que

mostra como o objetivo determina a estratégia de leitura:

“(...) os sujeitos da experiência deviam ler trecho abaixo, imaginando que

estavam querendo comprar uma casa, e que a casa descrita no texto lhes

interessava para essa possível compra:

Os dois garotos correram até a entrada da casa. “Veja, eu disse a você que hoje

era um bom dia para brincar aqui”, disse Eduardo. “Mamãe nunca está em casa

na quinta-feira”, ele acrescentou. Altos arbustos escondiam a entrada da casa; os

meninos podiam correr no jardim extremamente bem cuidado. “Eu não sabia que

a sua casa era tão grande”, disse Marcos. “É, mais ela está bonita agora, desde

que meu pai mandou revestir com pedras essas parede lateral e colocou lareira”.

Havia portas na frente e atrás e uma porta lateral que levava à garagem, que

estava vazia exceto pelas três bicicletas com marcha guardadas aí. Eles

entraram pela porta lateral; Eduardo explicou que ela estava sempre aberta para

suas irmãs entrarem e saírem sem dificuldade.

Marcos queria ver a casa, então Eduardo começou a mostrá-la pela sala

de estar. Estava recém pintada, como o resto do primeiro andar. Eduardo ligou o

som: o barulho preocupou Marcos. “Não se preocupe, a casa mais próxima está

a meio quilômetro daqui”, gritou Eduardo. Marcos se sentiu mais confortável ao

observar que nenhuma casa podia ser vista em qualquer direção além do enorme

jardim.

A sala de jantar, com toda a porcelana, prata e cristais, não era lugar

para brincar: os garotos forma para cozinha onde fizeram um lanche.

Eduardo disse que não era para usar o lavabo porque ele ficara úmido e

mofado uma vez que o encanamento arrebentara.

Page 11: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

“Aqui é onde meu pai guarda suas coleções de seles e moedas raras”,

disse Eduardo enquanto eles davam uma olhada no escritório. Além do escritório,

havia três quartos no andar superior da casa.

Eduardo mostrou a Marcos o closet de sua mãe cheio de roupas e o cofre

trancado ponde havia jóias. O quarto de suas irmãs não era tão interessante

exceto pela televisão com o Atari. Eduardo comentou que o melhor de tudo era

que o banheiro do corredor era seu desde que um outro foi construído no quarto

de suas irmãs. Não era tão bonito como o de seus pais, que estava revestido de

mármore, mas para ela era a melhor coisa do mundo”

(Traduzido e adaptado por Pitchert, J & Anderson, R. Taking different perspectives on a

story, Journal of Educational Psychology, 1977, 69)

Se fizermos uma lista das informações que são relevantes para o comprador

da casa, ela provavelmente corresponderia às informações que os sujeitos da

experiência conseguiram lembrar depois de ler o texto: tamanho da casa, número de

cômodos, tamanho do jardim, revestimento de pedra, lareira, pintura, número de

banheiros, mármore no banheiro, closet no quarto de casal. Nessa mesma

experiência, o texto acima foi também apresentado a um segundo grupo de leitores

com a instrução de que tentassem se lembrar de tudo aquilo que seria interessante

para um ladrão que estivesse planejando arrombar a casa. Nesse caso, os sujeitos

conseguiram lembrar informações como o fato de mãe não estar em casa nas

quintas-feiras, os arbustos que isolam a casa, a distância dos vizinhos, as bicicletas,

som, televisão com Atari, coleção de selos e moedas, roupas, jóias, e assim

sucessivamente. Portanto, dois objetivos diferentes, procurar no texto a descrição de

uma casa que interessava ou para comprar ou para arrombar, resultaram na

recuperação de informações diferentes.” (Kleiman, 2004a)

Page 12: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

UNIDADE 3: PRODUÇÃO DE TEXTO

3.1 - Fala e escrita

A princípio, poder-se-ia dizer que a diferença entre fala e escrita encontra-se

no fato de uma estar relacionada à manifestação fônica, ao estímulo auditivo e a

outra à manifestação gráfica, ao estímulo visual. Trata-se de meios distintos de

realização textual, que apresentam, ainda, diferenças formais e funcionais, embora

também seja possível afirmar que se trata de duas realidades similares.

Segundo Kato (2003), as diferenças formais entre fala e escrita são

acarretadas pelas condições de produção e de uso da linguagem. A língua escrita

pode ser caracterizada como aquela que apresenta um planejamento verbal melhor

em relação à fala, a organização estrutural e a seleção das palavras são mais

cuidadosas, enquanto que na fala informal esse planejamento é menos elaborado.

Kato apresenta as características apontadas por Ochs para os dois tipos de discurso

– planejado (DP) e o relativamente não-planejado (DRNP):

Quadro 1

DRNP DP

▪ Dependência contextual

▪ Uso de estruturas morfossintáticas

adquiridas cedo

▪ Menor dependência contextual

▪ Menos uso de estruturas adquiridas

cedo, mais estruturas adquiridas

tardiamente

Page 13: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

▪ Uso de repetição lexical ▪ Menor uso de repetição lexical

▪ Menor uso de variação de forma e ▪ Maior uso de variação de forma e

conteúdo conteúdo

“É importante ressaltar, aqui, dois fatos: a) Ochs não restringe as

características de DP à linguagem escrita; b) ela admite a presença de traços de

DRNP na linguagem escrita não-dissertativa.” (Kato, 2003)

Ainda sobre as diferenças formais entre as linguagens oral e escrita, Kato

(2003) apresenta uma síntese dos estudos de Tannen:

“a) a linguagem oral é bastante dependente de contextos, enquanto que a escrita é

descontextualizada;

b) a coesão, na linguagem oral é estabelecida através de recursos paralingüísticos e

supra-segmentais, enquanto que na linguagem escrita, ela é estabelecida através de

meios lexicais e de estruturas sintáticas complexas que usam conectivos explícitos.”

Essas diferenças, segundo Tannen (apud Kato, 2003), podem ser

observadas se consideram uma prosa dissertativa e uma conversação casual,

informal. No entanto, é possível encontrar estratégias da língua oral na prosa

moderna, bem como estratégias da língua escrita em uma fala mais densa, ou seja,

as diferenças formais existem mais em função do gênero e do registro do texto do

que em função da modalidade (oral ou escrita).

Pode-se dizer, então, que, dependendo da situação de uso da língua, haverá

uma maior ou menor diferença entre as modalidades oral e escrita. Ao se pensar na

língua coloquial espontânea (o vernáculo, segundo Labov, 1972) e a gramática

literária tem-se dois extremos em que a linguagem coloquial oral obedece às

exigências da comunicação e de sua função, enquanto que a linguagem escrita é

regida por convenções normativas impostas.

Nesse sentido, Kato (2003) resume as diferenças formais entre fala e

escrita, considerando as condições de uso da linguagem:

Page 14: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

“a) a escrita é menos dependente do contexto situacional;

b) a escrita permite um planejamento verbal mais cuidadoso;

c) a escrita e mais sujeita a convenções prescritivas;

d) a escrita é um produto permanente.”

Já as diferenças funcionais entre fala e escrita estabelecem quais são as

funções da escrita dentro da cultura de uma comunidade de fala. Em uma

comunidade letrada, as atividades lingüísticas são distribuídas entre as modalidades

falada e escrita, mas nem sempre a escrita preenche todas as funções da fala, uma

vez que nem sempre se escreve como se fala considerando a gramática, o léxico e

a situação contextual. Nesse sentido, fala e escrita apresentam funções distintas: a

escrita é mais rígida quanto às regras prescritivas gramaticais, enquanto a fala

permite fugir ao controle dessas regras, o que determina o uso mais restrito da

escrita em um contexto social.

Fala e escrita são, portanto, duas realidades diferentes quanto à natureza do

estímulo (auditivo X visual), quanto à forma e à função, no entanto há semelhanças

que as aproximam como meios condutores de mensagem lingüística e realizações

de uma gramática.

3.2 - A Escrita

O ato de comunicação verbal (a fala e a escrita) pode ser caracterizado

“a) por envolver uma relação cooperativa entre emissor e receptor;

b) por transmitir intenções e conteúdo;

c) por ter uma forma adequada à sua função.” (Kato, 2003)

O ato de falar evolve planejamento e execução, ou seja, trata-se de uma

ação-processo que envolve decisões em várias etapas e em vários níveis, desde a

Page 15: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

natureza pragmático-discursiva (que ato desempenhar, o que pressupor ao meu

ouvinte), até de níveis gramaticais e fonético-articulatórios. É possível dizer,

também, que a escritura apresenta as mesmas características, ou seja, trata-se de

uma atividade em que se planeja o que se quer escrever para depois colocar esse

plano em ação, com exceção do planejamento e execução no nível articulatório, que

se restringe à fala. (Kato, 2003)

Segundo os modelos processuais da escrita, esta é caracterizada como um

ato que envolve uma meta (objetivo) e um plano, e também um ato de resolução de

problemas. As metas são de três tipos:

Ideacional (ou de conteúdo proposicional): o autor planeja por onde começar,

em que direção prosseguir, que pontos ressaltar e como terminar o texto.

Textual (ou da conexão das idéias em um todo coerente): o autor planeja e

executa o caminho necessário para atingir a coesão e a coerência do texto. Esse

planejamento também ocorre no nível sentencial.

Interpessoal (ou relação emissor – receptor e problemas atitudinais): o autor

planeja o tipo de leitor para quem ele vai escrever e que efeito ele quer causar nesse

leitor. Existe, aqui, a preocupação não somente com o que se escrever, mas como

se escreve.

Cada um desses três tipos de metas (ideacional, textual e interpessoal)

apresenta problemas e resoluções:

Quadro 2

O problema encontra-se no fato do autor não poder extrair da

memória apenas as informações relevantes e direcionadas para

Ideacional um fim, às vezes aquilo que se descartou poderia ser

aproveitado. As idéias surgem, e a melhor organização das

mesmas é uma decisão que o autor deve tomar tendo em vista as

Page 16: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

metas que ele pretende atingir.

O problema principal reside no fato de a comunicação não ocorrer

Interpessoal frente a frente e, por isso, o autor irá decidir quem será o seu

leitor virtual. É a partir dessa decisão que a forma e o conteúdo

do texto serão definidos.

O problema situa-se nas escolhas que o autor deverá tomar a

respeito do formato do texto, considerando o efeito que se

pretende alcançar com o texto em relação ao leitor. As

alternativas são muitas: formato piramidal (idéia geral seguida das

Textual idéias particulares), argumentativo (introdução, problema,

solução, argumentação e conclusão), de delimitação (exposição

de vários argumentos até chegar ao próprio defendido pelo autor)

e de uma narrativa (seqüência temporal). O problema continua no

nível sentencial e do constituinte.

A escrita é, portanto, um ato comunicativo em que se tem, de um lado, o

autor e, de outro, um receptor imaginado. A meta principal e inconsciente do autor é

fazer com que o texto seja coerente, e, para se considerar um texto bem-escrito, as

intenções de quem escreve devem ser bem traduzidas no texto e recuperadas com

facilidade pelo leitor.

3.3 - Produção textual

Considerando o ato de escrever uma atividade interativa entre o emissor e o

receptor, um conceito de texto apropriado, nesse sentido, é aquele proposto por

Bernádez (apud Sautchuk, 2003):

“Texto é a unidade lingüística comunicativa fundamental, produto da

atividade humana, que possui sempre caráter social; está caracterizado por

seu estrato semântico e comunicativo, assim como por sua coerência

Page 17: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

profunda e superficial, devida à intenção do falante de criar um texto

íntegro, e à sua estruturação mediante dois conjuntos de regras: as próprias

de nível textual e as do sistema da língua.”

O texto escrito, especificamente, segundo a definição apresentada acima,

caracteriza-se, pois, por possuir uma função comunicativa e social exercida entre

dois enunciadores que participam do processo da escrita: trata-se de uma atividade

verbal resultante de um processo dialógico entre autor e leitor. Ambos assumem a

missão de produzir o sentido do texto e, nessa missão, tem-se

“os papeis de um ser que escreve e o de um ser que monitora esse ser,

não em uma sucessão, num intervalo temporal e num distanciamento

especial, mas no momento mesmo da produção. Nesse momento, aquele

que escreve se bifurca em enunciador eco-enunciador, surgindo a figura do

escritor-leitor-do-próprio-texto, o que faz com que o texto escrito seja

resultado de uma co-ação, seja um produto da atuação ininterrupta de um

ser que escreve e lê, lê e escreve.” (Sautchuk, 2003).

Nesse sentido, a elaboração do texto escrito é, na verdade, um processo em

que o autor usa tanto as estratégias de produção textual, quanto as estratégias de

leitura. Assim, o escritor maduro seria aquele com a capacidade de ativar as

diversas estratégias cognitivas e metacognitivas de processamento da escritura e da

leitura.

Segundo Koch (1998),

“a produção textual é uma atividade verbal, a serviço de fins sociais e,

portanto, inserida em contextos mais complexos de atividades; trata-se de

uma atividade consciente, criativa, que compreende o desenvolvimento de

estratégias concretas de ação e a escolha de meios adequados à

realização dos objetivos; isto é, trata-se de uma atividade intencional que o

falante, de conformidade com as condições sob as quais o texto é

produzido, empreende, tentando dar a entender seus propósitos ao

destinatário através da manifestação verbal; é uma atividade interacional,

visto que os interactantes, de maneiras diversas, se acham envolvidos na

atividade de produção textual.”

Page 18: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

Na definição de Bernárdez , aqui repetida por conveniência,

“Texto é a unidade lingüística comunicativa fundamental, produto da

atividade humana, que possui sempre caráter social; está caracterizado por

seu estrato semântico e comunicativo, assim como por sua coerência

profunda e superficial,(...)”

a caracterização do texto por meio de uma coerência profunda e superficial está

relacionada a uma macro e uma microestrutura:

Macroestrutura: “diz respeito a todos os componentes

(predominantemente extralingüísticos) que possibilitam a organização global de

sentido do texto e que são responsáveis por sua significação. São esses

componentes que tornam possíveis o planejamento, a compreensão, a memorização

e a reprodução das idéias do texto. À macroestrutura associam-se, portanto, todos

os elementos e mecanismos que visam a manter a coerência do texto.” (Sautchuk,

2003)

Microestrutura: “é responsável pela estruturação lingüística do texto,

isto é, representa todo um sistema de instruções textualizadoras de superfície que

auxiliam na construção linear do texto por intermédio de palavras e de frases,

organizadas como elementos e mecanismos de coesão.” (Sautchuk, 2003)

A escrita, segundo esses argumentos, demanda, portanto, não somente um

domínio da estrutura lingüística (da gramática da língua), mas também um

conhecimento de mundo (cultura, escolaridade, conhecimentos específicos etc) e de

aspectos cognitivos relacionados ao próprio processo de escrever (raciocínio,

explicitação ou implicação, capacidade de síntese, de análise etc).

3.4 – Coesão e coerência

Page 19: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

A distinção de dois níveis de organização textual (micro e macroestrutura) e

a boa formação do texto relacionam-se com os conceitos de coesão e coerência:

Maria foi para a escola. Arrumou seus materiais e pegou a condução que

passou às 6 horas e 40 minutos.

Na escola, Maria deve assistir à aula de Português, na qual apresentará

um trabalho. Vai encontrar suas amigas para organizar a apresentação.

O texto acima se constitui de dois parágrafos em que ocorre uma mudança

espaço temporal e temática. São duas seqüências incluídas na unidade superior e

última formada pelo texto inteiro. Se se pensa no nível seqüencial ou no nível

textual, os problemas de coerência colocam-se em termos mais ou menos

diferentes:

“num nível local ou microestrutural, a questão incide exclusivamente nas

relações de coerência que se estabelecem, ou não, entre as frases

(sucessivamente ordenadas) da seqüência;

num nível global ou macroestrutural, a questão incide, ao contrário, nas

relações que se estabelecem entre as seqüências consecutivas.”

(Charolles, 2002)

Nesse sentido, tem-se a coerência global de um texto quando se constrói

uma seqüência de macroestruturas e microestruturas coerentes. A boa formação

textual, segundo Charolles (2002), deve obedecer a algumas regras (ou

metarregras) de coerência. Quatro delas são chamadas:

Metarregra de repetição;

Metarregra de progressão;

Metarregra de não-contradição;

Page 20: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

Metarregra de relação;

Antes de continuar a exposição das metarregras, é importante apresentar o

conceito de coesão. As marcas lingüísticas, os índices formais na estrutura da

seqüência lingüística e superficial do texto são caracterizados como elementos de

coesão. Trata-se de elementos de natureza sintática, gramatical, e também de

natureza semântica, pois, como apontam Halliday e Hasan (apud Koch e Travaglia,

2003), a “coesão é a relação semântica entre um elemento do texto e um outro

elemento crucial para sua interpretação.”

Em outras palavras, a coesão textual é a união entre as partes. Entende-se

como partes de um texto: orações, períodos, frases, parágrafos, capítulos. Trata-se

de um mecanismo concreto, pois é possível identificar no texto os elementos de

coesão, tais como os articuladores, os anafóricos, as elipses, as substituições etc.

Podem-se distinguir dois tipos de coesão: referencial e seqüencial. “A

coesão referencial é aquela em que um componente da superfície do texto faz

remissão a outro(s) elemento(s) nela presentes ou inferíveis a partir do universo

textual” (Koch, 1991). Este tipo de coesão refere-se à união/relação das palavras no

texto: são as referências, a coesão lexical, as substituições, as elipses.

Referência: os elementos de referência são os itens da língua que não

podem ser interpretados sematicamente por si mesmos, mas remetem a outros itens

do discurso necessários à sua interpretação.

Exemplo: Maria gosta de João. Ela começou a namorá-lo na escola. Ele é muito

carinhoso, e a menina tem bons momentos ao lado deste garoto. Os nomes Maria e

Pedro foram sendo substituídos por outros elementos ao longo do texto para que

este não ficasse repetitivo.

A referência pode ser feita para trás (anáfora) ou para frente (catáfora).

Exemplos: Maria gosta de João. Ela começou a namorá-lo na escola. O pronome

oblíquo lo refere-se ao substantivo João, que aparece antes do pronome. A

Page 21: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

referência é feita para trás (anáfora). Maria gosta de João, cuja mãe vende roupas

em uma loja. O pronome relativo cuja também se refere ao substantivo mãe, que

aparece depois do pronome. Neste caso a referência é feita para frente (catáfora).

Coesão lexical: a coesão lexical é obtida por meio de dois mecanismos: a

reiteração e a colocação. A primeira se faz por repetição do mesmo item lexical ou

através de sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos. A segunda, por sua vez,

consiste no uso de termos pertencentes a um mesmo campo significativo.

Exemplo: Maria gosta de João. Maria começou a namorar o menino na

escola. Essa estudante tem bons momentos ao lado do garoto. A coesão deste

texto é feita a partir da repetição do nome Maria, da substituição deste nome por

estudante, e da substituição do nome João ora por menino, ora por garoto.

Substituição: substituição consiste na colocação de um item no lugar de

outro(s) elemento(s) do texto, podendo ser também a substituição de uma oração

inteira. Não se confunde substituição e referência, já que nesta o termo continua

existindo com um outro nome, e na substituição o termo deixa de existir para ser

substituído por um termo que, na verdade, não precisa retomar o elemento

substituído.

Exemplo: Maria gosta de João e Paula também. A primeira convidou-o para ir ao

parque a segunda fez o mesmo. A palavra também substitui todo o raciocínio

anterior Maria gosta de João. A expressão fez o mesmo retoma toda a idéia

expressa na oração anterior a primeira convidou-o para ir ao parque.

Elipse: elipse seria uma substituição por zero: omite-se um item lexical, um

sintagma, uma oração ou todo um enunciado facilmente recuperado pelo contexto.

Exemplo: Maria pergunta para João:

- Você vai ao parque comigo?”

Page 22: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

- Vou. – ele diz.

Apenas o verbo vou, dito por João, consegue expressar toda a idéia contida

na pergunta feita por Maria. Idéia essa que foi substituída por um zero na resposta

de João. É possível entender essa substituição devido ao contexto.

Já a coesão seqüencial “diz respeito aos procedimentos lingüísticos por

meio dos quais se estabelecem, entre segmentos do texto (enunciados, partes de

enunciados, parágrafos e mesmo seqüências textuais), diversos tipos de relações

semânticas e/ou pragmáticas, à medida que se faz o texto progredir” (Koch, 1991).

Trata-se das relações (oposição, tempo, concessão, finalidade etc) das frases e das

palavras do texto através dos articuladores.

Articuladores: são palavras que estabelecem relações entre as partes do

texto. Trata-se das conjunções.

Exemplo: Maria convidou João para ir ao parque e ele aceitou. Mas, na hora

marcada, ele não pode ir, embora tivesse feito um esforço. As conjunções

empregadas nesse texto estabelecem as relações de adição (conjunção e),

adversidade (conjunção mas) e de concessão (conjunção embora).

Os conceitos de coesão e coerência constituem um par, em que a coerência

estaria relacionada à boa formação do texto, nas não no sentido da gramaticalidade

usada no nível da frase (coesão), mas sim em termos da interlocução comunicativa.

A coerência é o que faz com que uma seqüência lingüística seja vista como

um texto, porque permite o estabelecimento de relações – sintático-gramaticais,

semânticas e pragmáticas – entre os elementos da seqüência (morfema, palavras,

expressões, frases, parágrafos, capítulos etc), possibilitando construí-las e percebê-

las como constituindo uma unidade significativa global.

Nesse sentido, voltando às metarregras de Charolles (2002), em resumo se

tem as seguintes descrições das quatro metarregras apresentadas pelo autor:

Page 23: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

linear,

Metarregra de repetição: ”para que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente é preciso que contenha, no seu desenvolvimento

elementos de recorrência escrita.” Trata-se da coesão referencial

apresentada anteriormente.

Metarregra de progressão: “para que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente é preciso que haja no seu desenvolvimento uma

contribuição semântica constantemente renovada.” Trata-se da progressão temática

do texto, ou seja, da continuidade do tema e da introdução de idéias novas. Esse

processo supõe ser realizado de forma que o a introdução de elementos de

novidade semântica seja feita em equilíbrio com a temática do texto: as ocorrências

inéditas devem ser ligadas a algum elemento já conhecido ou à temática central do

texto.

Metarregra de não-contradição: “para que um texto seja

(microestruturalmente e macroestruturalmente) coerente é preciso que no seu

desenvolvimento não se introduza nenhum elemento semântico que contradiga um

conteúdo posto ou pressuposto por uma ocorrência anterior, ou dedutível desta por

inferência.”

Metarregra de relação: “para que um texto seja (microestruturalmente e

macroestruturalmente) coerente é preciso que os fatos que se denotam no mundo

representado estejam relacionados.” Assim como a regra anterior, essa quarta regra

é de natureza fundamentalmente pragmática e enuncia que, para que uma

seqüência seja admitida como coerente, é necessário que as ações, estados ou

eventos que ela denota sejam percebidos como congruentes no tipo de mundo

reconhecido por quem a avalia, ou seja, os fatos devem estar diretamente

relacionados uns aos outros.

Essas quatro metarregras mostram condições lingüísticas e pragmáticas

que um texto deve satisfazer para ser considerado coerente. O conceito de

coerência textual pode ser, portanto, estabelecido como a relação entre as idéias do

Page 24: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

texto, em uma seqüência contínua e lógica. Para se conseguir essa coerência é

preciso considerar os elementos lingüísticos, o conhecimento de mundo, o

conhecimento compartilhado e as inferências.

Page 25: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

UNIDADE 4: GÊNEROS TEXTUAIS

4.1 – Definições

A palavra texto está articulada, de maneira mais abrangente, a outros termos

tais como: enunciação, sentido, significação, contexto entre outros que, de alguma

maneira, estão ligados aos mecanismos de organização textual responsáveis pela

construção de sentido. Voltando ao conceito de texto, pode-se apresentar, além

daquele de Bernárdez, citado anteriormente, outros vários conceitos:

“(...) em um sistema semiótico bem organizado, um signo já é um texto

virtual, e, num processo de comunicação, um texto nada mais é que a expansão da

virtualidade de um sistema de signo” (Eco, 1984)

“Em sentido amplo, a palavra texto designa um enunciado qualquer, oral ou

escrito, longo ou breve, antigo ou moderno. Concretiza-se, pois, numa cadeia

sintagmática de extensão muito variável, podendo circunscrever-se tanto a um

enunciado único ou a uma lexia, quanto a um segmento de grandes proporções.

São textos, portanto, uma frase, um fragmento de um diálogo, um

provérbio, um verso, uma estrofe, um poema, um romance e, até mesmo, uma

palavra-frase, ou seja, a chamada frase de situação ou frase inarticulada, como a

que se apresenta em expressões como ‘fogo’, ‘silêncio’, situadas em contextos

específicos.” (Guimarães, 1992)

“Chama-se texto o conjunto de enunciados lingüísticos submetidos à

análise: o texto é, então, uma amostra de comportamento lingüístico que pode ser

escrito ou falado.

L. Hjelmslev torna a palavra texto no sentido mais amplo e com ela designa

Page 26: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

um enunciado qualquer, falado ou escrito, longo ou curto, velho ou novo. ‘Stop’ é

um texto tanto quanto O Romance da Rosa. Todo material lingüístico estudado

forma também um texto, retirado de uma ou mais línguas. Constitui uma classe

analisável em gêneros divisíveis, por sua vez, em classes, e assim por diante, até

esgotar as possibilidades de divisão.” (Dubois, 1973)

“(...) chamamos de texto toda a unidade de produção de linguagem situada,

acabada e auto-suficiente (do ponto de vista da ação ou da comunicação). (...) todo

o texto empírico é o produto de uma ação de linguagem, é sua contraparte, seu

correspondente verbal ou semiótico; todo o texto empírico é realizado por meio de

empréstimo de um gênero e, portanto, sempre pertence a um gênero; entretanto

todo texto empírico também procede de uma adaptação do gênero-modelo aos

valores atribuídos pelo agente à sua situação de ação e, daí, além de apresentar as

características comuns ao gênero, também apresenta propriedades singulares, que

definem seu estilo particular. Por isso, a produção de cada novo texto empírico

contribui para a transformação histórica permanente das representações sociais

referentes não só aos gêneros de textos (intertextualidade), mas também à língua e

às relações de pertinência entre textos e situações de ação.” (Bronckart, 1999)

Assim, é possível dizer que o texto organiza-se dentro de certas restrições

de natureza temática, composicional e estilística, o que o caracterizam como

pertencente a um determinado gênero. Os gêneros textuais são, portanto, a

diversidade de textos que ocorrem nos ambientes discursivos de nossa sociedade e

que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos,

propriedades funcionais, estilo e composição. (Marcuschi, 2001).

Os ambientes discursivos são os lugares ou as instituições sociais onde se

organizam formas de produção de texto: o ambiente discursivo escolar, acadêmico,

mídia, jurídico, religioso, político etc. Essa organização lingüístico-discursiva,

percebida em diferentes gêneros textuais, ocorre por meio de modalidades

discursivas (narração, descrição, argumentação, exposição, instrução, diálogo etc) e

estas variam conforme o efeito específico que se pretende produzir nas relações

Page 27: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

entre os usuários de uma língua. Enquanto o número de gêneros é, em princípio,

ilimitado, aplicando-se conforme os avanços culturais e tecnológicos, o número de

modalidades discursivas é menos e mais ou menos limitado:

Quadro 3

Gênero Textual Modalidade

Discursiva Ambiente Discursivo

Novela Mídia televisiva

Romance

Narração

futebol

Biografia

de jogo de

Narrar Indústria literária

Mídia esportiva

Indústria literária

Relatar

Noticiário Mídia

Crônica Mídia impressa/ jornal/revista

Carta ofício Expor/argumentar Acadêmico escolar/oficial

Editorial Mídia jornal impresso

Manual de instrução Instruir Indústria-comércio (mercantil)

Cheque Expor/instruir Bancária

Entrevista Interativo/diálogo Mídia escrita

)

Page 28: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

Vale ressaltar, aqui, a relação entre texto e discurso: ora se fala em

gêneros textuais, ora em gêneros discursivos. Embora alguns lingüistas considerem

ambos, texto e discurso, equivalentes, tomando-os como sinônimos e empregando,

indistintamente, um e outro, é possível apontar algumas sutis diferenças: o discurso

é a idéia do enunciador emanada do e pelo texto, lançada em direção ao

enunciatário, permitindo a ele relacioná-la a um determinado momento ou

acontecimento e construir um sentido: o discurso concretiza o texto, mas se

diferencia dele na medida em que se ultrapassa seus limites. Segundo Marcuschi

(2002), o texto é “uma entidade concreta, realizada materialmente e corporificada

em algum gênero textual”, já o discurso “é aquilo que um texto produz ao se

manifestar em alguma instância discursiva.” Nas palavras de Travaglia (2002), o

discurso é a “própria atividade comunicativa, a própria atividade produtora de

sentidos para a interação comunicativa, regulada por uma exterioridade sócio-

histórica-ideológica”, o texto seria o resultado dessa atividade.

4.2 – Gêneros discursivos

A língua é usada por um grande número de pessoas e em diferentes

situações, portanto é possível imaginar os diversos modos de se utilizar essa língua

que se adéquam, cada um, ao propósito específico de cada atividade humana. O

enunciado, oral ou escrito, reflete as condições específicas e os objetivos de cada

situação de uso da língua, através do conteúdo temático, dos próprios recursos da

língua (recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais), e também pela construção

composicional. Esses três elementos juntos constituem, conforme as situações

específicas, tipos relativamente estáveis de enunciados, também denominados

gêneros do discurso. (Bakhtin, 1992)

Nesse sentido, os gêneros seriam “tipos relativamente estáveis”, marcados

sócio-historicamente, já que estão diretamente relacionados às diferentes situações

sociais. É cada uma dessas situações que determinam, então, um gênero, com

características temáticas, composicionais e estilísticas próprias.

Page 29: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

“A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a

variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa

atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai

diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se

desenvolve e fica mais complexa. Cumpre salientar de um modo especial a

heterogeneidade dos gêneros do discurso (orais ou escritos), que incluem

indiferentemente: a curta réplica do diálogo cotidiano (com a diversidade

que este pode apresentar conforme os temas, as situações e a composição

de seus protagonistas), o relato familiar, a carta (com suas variadas formas),

a ordem militar padronizada, em sua forma lacônica e em sua forma de

ordem circunstanciada, o repertório bastante diversificado dos documentos

oficiais (em sua maioria padronizados), o universo das declarações públicas

(num sentido amplo, as sociais, as políticas). E é também gêneros do

discurso que relacionaremos as variadas formas de exposição científica e

todos os modos literários (desde o ditado até o romance volumoso).”

(Bakhtin, 1992)

Essa heterogeneidade, apontada por Bakhtin, leva este autor a distinguir os

gêneros primários dos gêneros secundários. Os primeiros compreendem o

diálogo, carta, situações de interação face a face e são constituídos naqueles

momentos de comunicação ligados a esferas sociais cotidianas de relações

humanas, os gêneros secundários, por outro lado, compreendem o romance, o

teatro, o discurso científico, o discurso ideológico etc e são relacionados a outras

esferas, públicas e mais complexas, de interação social, muitas vezes mediada pela

escrita e apresentando uma forma composicional monologizada, absorvendo, pois, e

transmutando os gêneros primários: os gêneros primários, ao se tornarem

componentes dos gêneros secundários, transformam-se dentro deles e adquirem

uma característica particular – perdem sua relação imediata com a realidade

existente e com a realidade dos enunciados alheios. Como exemplo, Bakhtin

apresenta o caso em que a réplica do diálogo cotidiano ou a carta, inseridas no

romance, conservam sua forma e seu significado cotidiano apenas no plano do

conteúdo do romance, só se integram à realidade existente através do romance

considerando como um todo, ou seja, do romance concebido como fenômeno da

vida literário-artística e não da vida cotidiana.

Page 30: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

A concepção de gênero de Bakhtin não é, portanto, estática, como poderia

ser entendida a princípio, mas sim dinâmica, uma vez que se trata de um produto

social que está em função das transformações da sociedade, da própria organização

verbal e, ainda, em função dos falantes/ouvintes que produzem a estrutura

comunicativa e atribuem sentindo à mesma.

Segundo Schneuwly,

“o gênero pode ser considerado como ferramenta, na medida em que o

sujeito – o enunciador – age discursivamente numa situação definida – a

ação – por uma série de parâmetros, com a ajuda de um instrumento

semiótico – o gênero. A escolha do gênero se dá em função dos parâmetros

da situação que guiam a ação e estabelecem a relação meio-fim, que é a

estrutura básica de uma atividade mediada.” (Koch, 2002)

Assim, saber utilizar diferentes gêneros do texto significa dominar diversas

situações comunicativas. O uso da linguagem pelo enunciador exige deste decisões

importantes, entre elas, a primeira seria a escolha do gênero mais adequado para a

situação, além de outras relativas à constituição dos mundos discursivos, à

organização seqüencial ou linear do conteúdo temático, à seleção de mecanismos

de textualização e de mecanismos enunciativos. Todas essas decisões exigem do

enunciador competência para executá-las.

Quando se opta por um determinado gênero, o enunciador está escolhendo,

de fato, um intertexto, constituído pelo conjunto de gêneros do texto elaborados por

gerações anteriores e que podem ser utilizados naquela situação específica, com

eventuais transformações. Trata-se de gêneros formados por conjuntos bem

definidos de textos que constituem o que se chama “reservatório de modelos

textuais”. O gênero é escolhido através de uma decisão estratégica que envolve

uma confrontação entre os valores atribuídos pelo enunciador aos parâmetros da

situação e os usos atribuídos aos gêneros do intertexto.

”A escolha do gênero deverá (...) levar em conta os objetivos visados, o

lugar social e os papeis dos participantes. Além disso, o enunciador deverá

adaptar o modelo do gênero a seus valores particulares, adotando um estilo

Page 31: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

próprio, ou mesmo contribuindo para a constante transformação dos

modelos.” (Koch, 2002)

Conforme apresenta Bakhtin (1992), o enunciado – oral ou escrito, primário

ou secundário, em qualquer esfera da comunicação verbal – é individual e, por isso,

reflete a individualidade de quem fala ou escreve. Embora nem todos os gêneros

permitam que se expresse essa individualidade, (como aqueles que requerem uma

forma padronizada: formulação de documento oficial, da ordem militar, da nota de

serviço etc), nos gêneros literários, por exemplo, o estilo individual faz parte do

empreendimento enunciativo enquanto tal e constitui uma das suas diretrizes. A

maioria dos gêneros do discurso, na verdade, não tem como finalidade exclusiva a

expressão do estilo individual do enunciador, mas essa individualidade é um produto

complementar: a variedade dos gêneros do discurso pode revelar a variedade dos

estratos e dos aspectos da personalidade individual, e o estilo individual pode

relacionar-se de diferentes maneiras com a língua comum. Mesmo naqueles

gêneros de forma padronizada a individualidade é refletida, ainda que

superficialmente, principalmente se se pensa na realização oral desses tipos de

enunciados.

4.3 – Gênero textual X tipologia textual

O termo tipologia textual, segundo Marcuschi (2002), deve ser empregado

para designar uma construção teórica definida pela natureza lingüística de sua

composição: aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas. Em

geral, os tipos textuais abrangem as categorias: narração, argumentação, exposição,

descrição, injunção. Seria o que se chamou acima de modalidades discursivas.

Gênero textual, por seu turno, é definido como o conjunto de textos que

apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos,

propriedades funcionais, estilo, composição e canal. Exemplo:

Page 32: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

Quadro 4

JACULATÓRIA

Conteúdo

Função

Estilo

Composição

Canal

expressão de fervor religioso

obtenção de graça ou perdão

laudatório e invocatório

curta, poucos enunciados

oração

Travaglia (2002) caracteriza o gênero textual pela função social específica

que o mesmo exerce. Segundo o autor, estas funções sociais são vivenciadas pelos

enunciadores que, intuitivamente, sabem que gênero usar em momentos

específicos, por exemplo, quando se vai escrever uma carta, já se sabe as

características que irão fazer com que essa carta seja adequada à situação: uma

carta para a família não é a mesma direcionada para o reitor de uma universidade.

Como outros exemplos, Travaglia cita os gêneros textuais: aviso, comunicado,

edital, informação, informe, citação, todos com a função social de dar conhecimento

de algo a alguém. Petição, memorial, requerimento, abaixo-assinado: gêneros

textuais com a função social de pedir, solicitar. Trata-se de exemplos que

apresentam uma função social formal, rígida.

Como pode ser observado no quadro 3, um mesmo gênero pode realizar-se

em dois ou mais tipos, assim como diversos gêneros compreendem um mesmo tipo

textual. Uma carta pessoal, por exemplo, pode apresentar as tipologias: descrição,

injunção, exposição, narração e argumentação – esse fato é denominado

heterogeneidade tipológica (Marcuschi, 2002) ou conjugação tipológica (Travaglia,

2002). Dificilmente será possível encontrar um tipo textual puro, a classificação de

determinado texto em relação ao seu tipo será por uma questão de dominância em

função do tipo de interlocução que se pretende estabelecer e que se estabelece, e

não em função do espaço ocupado por um tipo na constituição do texto.

Page 33: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

4.4 – Tipos textuais

4.4.1 - Narrativa

Uma narrativa não é apenas a descrição de uma seqüência de ações ou de

eventos:

“Naquele dia, após ter feito uma grande farra na véspera e ter

dormido mal, X se levantou às cinco horas e meia, saiu de sua casa às seis

horas e cinco e encontrou pessoas às quais ele disse que o dia estava

lindo”

A passagem acima é uma descrição de ações, mas não necessariamente

uma narrativa. Para que haja uma narrativa é preciso um narrador (aquele que conta

a história, uma testemunha etc), que seja provido de uma intencionalidade, uma

vontade de transmitir alguma coisa - uma certa representação da experiência do

mundo - a alguém, um destinatário que, de uma certa maneira, dará um sentido

particular a sua narrativa. Para que uma seqüência de eventos contados se

transforme em narrativa, é preciso, ainda, inventar-lhe um contexto.

O texto narrativo, segundo Platão & Fiorin (1996), é composto por

mudança(s) de situação operada(s) pelas ações da(s) personagem(ns). Existem dois

tipos de mudança:

1º) alguém passa a ter alguma coisa que não tinha (narrativa de aquisição)

2º) alguém deixa de ter alguma coisa que tinha (narrativa de perda)

Uma narrativa típica apresenta, implícita ou explicitamente, quatro mudanças

de situação, sejam elas mudanças de aquisição ou de perda:

“a) uma em que uma personagem passa a ter um querer ou um dever, um desejo

ou uma necessidade de fazer algo. (...)

Page 34: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

b) uma em que ela adquire um saber e um poder, isto é, a competência necessária

para fazer algo. (...)

c) uma que é a mudança principal da narrativa, a realização daquilo que se quer ou

se deve fazer. (...)

d) uma em que se constata que a transformação principal ocorreu e em que se

podem atribuir prêmios ou castigos às personagens.” (Platão & Fiorin, 1996)

Sendo assim, é possível apontar quatro características básicas do texto

narrativo:

“é um conjunto de transformações de situações referentes à personagens

determinadas, mesmo que sejam coletivas (por exemplo, o povo brasileiro), ou a

coisas particulares, num tempo preciso e num espaço bem configurado (...);

Como a narração opera com personagens, situações, tempos e espaços bem

determinados, trabalha predominantemente com termos concretos, sendo, portanto,

um texto figurativo;

No interior do texto narrativo, há sempre uma progressão temporal entre os

acontecimentos relatados, isto é, conta ele eventos concomitantes, anteriores ou

posteriores uns aos outros (observe, no entanto, que o narrador pode dispor os

acontecimentos no texto na ordem em que quiser, desde que deixe claro qual é o

anterior, o concomitante e o posterior (...));

Já que o ato de narrar ocorre, por definição, no presente, dado que (...) o

presente indica uma concomitância em relação ao momento da fala (no caso, fala do

narrador), ele é posterior à história contada, que, por conseguinte, é anterior a ele;

por isso, o subsistema do pretérito (pretérito perfeito, pretérito imperfeito, pretérito

mais-que-perfeito e futuro do pretérito) é o conjunto de tempos por excelência da

narração.” (Platão & Fiorin, 1996)

Page 35: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

Como exemplo de uma narrativa, o texto que segue é um conto do autor

Stanislaw Ponte Preta:

A velha contrabandista

Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela

passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta.

O pessoal da Alfândega – tudo malandro velho – começou a desconfiar da

velhinha.

Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da

Alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra

ela:

- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse

saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?

A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros,

que ela adquirira no odontólogo, e respondeu:

- É areia!

Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a

velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal

esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que

fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.

Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia

com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte,

quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez.

Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O

fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a

velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.

Diz que foi aí que o fiscal se chateou:

- Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço.

Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a

senhora é contrabandista.

Page 36: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

- Mas no saco só tem areia! – insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta,

quando o fiscal propôs:

- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não

apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o

contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?

- O senhor promete que não “espáia”? – quis saber a velhinha.

- Juro. – respondeu o fiscal.

- É lambreta.

(PRETA, Stanislaw Ponte. A velha contrabandista. In: Para gostar de ler:

contos. Volume 8. Editora didática. São Paulo: Ática, 1983)

O texto acima mostra mudanças de situação referentes a personagens

determinadas, num tempo e num espaço demarcados, estabelece uma relação de

anterioridade e de posterioridade entre os episódios, usa o subsistema de tempos do

passado, trata-se, portanto, de um texto narrativo.

4.4.2 - Descrição

Um texto descritivo é aquele em se expõe as características de um ser - seja

pessoa, objeto, situação etc - considerando-o fora da relação de anterioridade e

posterioridade. Ao contrário do texto narrativo, a descrição não relata propriamente

mudanças de situação, mas propriedades e aspectos simultâneos dos elementos

descritos, considerados, pois, numa única situação. (Platão & Fiorin, 1996)

O texto de base descritiva está presente tanto na ficção (romances, novelas,

contos, poemas) como em outros gêneros textuais (textos científicos, enciclopédias,

propagandas, jornais, revistas etc) e objetiva a visualização do cenário onde uma

ação se desenvolve e das personagens que dela participam: trata-se do plano de

fundo que explica e situa a ação, em uma narrativa, ou que comenta e justifica a

argumentação. Existem características lingüísticas específica do texto descritivo:

freqüência de figuras (metáforas, metonímias, comparações, sinestesia), adjetivos,

Page 37: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

formas adjetivas, uso de verbos de estado, situação ou indicadores de propriedades,

atitudes, qualidade, usados principalmente no presente e no imperfeito do indicativo

(ser, estar, haver, situar-se, existir, ficar etc), uso de advérbios de localização

espacial.

Pode-se estabelecer a divisão desse tipo de texto em: descrição literária e

descrição não-literária (ou técnica). Na primeira predomina o aspecto subjetivo, com

ênfase no conjunto de associações conotativas que podem ser exploradas a partir

de descrições de pessoas, cenários, paisagem, espaço, ambientes, situações e

coisas. Vale lembrar que textos descritivos também podem ocorrer tanto em prosa

como em verso. Na descrição não-literária, ou descrição técnica, o objetivo centra-se

na descrição de aparelhos, o seu funcionamento, as peças que os compõem, na

descrição de experiências, processos etc. Trata-se de uma descrição objetiva, em

que se cria o objeto usando uma linguagem científica, precisa.

Como exemplo de uma descrição literária, o texto que segue é um trecho da

obra de Eça de Queiroz – A Relíquia

Estávamos sobre a pedra do Calvário. Em torno, a capela que a abriga,

resplandecia com um luxo sensual e pagão. No texto azul-ferrete brilhavam sóis de

prata, signos do Zodíaco, estrelas, asas de anjos, flores de púrpura; e, dentre este

fausto sideral, pendiam de correntes de pérolas os velhos símbolos da fecundidade,

os ovos de avestruz, ovos sacros de Astarté e Baco de ouro. [...] Globos

espelhados, pousando sobre peanhas de ébano, refletiam as jóias dos retábulos, a

refulgência das paredes revestidas de jaspe, de nácar e de ágata. E no chão, no

meio deste clarão, precioso de pedraria e luz, emergindo dentre as lajes de

mármore branco, destacava um bocado de rocha bruta e brava, com uma fenda

alargada e polida por longos séculos de beijos e afagos beatos.

(QUEIRÓZ, Eça.1997. A relíquia. São Paulo: Publifolha)

Observa-se no texto acima que as ações e qualificações são vistas como

simultâneas, não havendo entre elas relação de anterioridade e de posterioridade.

Page 38: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

Há, portanto, uma organização espacial, e não temporal, como na narrativa. Trata-se

de uma descrição, um tipo textual que apresenta uma função, pois fixa caracteres,

dá qualificação de personagens, espaços, tempos. Uma descrição não é neutra,

pois, a partir dos elementos selecionados e da forma como são apresentados, revela

uma visão de mundo.

Como exemplo de descrição não-literária (técnica), o texto abaixo

corresponde a um folheto de propaganda de carro:

Conforto interno – È possível falar de conforto sem incluir o espaço interno.

Os seus interiores são amplos, acomodando tranquilamente passageiros e

bagagens. O Passat e o Passat Variant possuem direção hidráulica e ar

condicionado de elevada capacidade, proporcionando a climatização perfeita do

ambiente.

Porta Malas – O compartimento de bagagens possui capacidade de 465

livros, que pode ser ampliada para te 1500 litros, com o encosto do banco traseiro

rebaixado.

Tanque – O tanque de combustível é confeccionado em plástico reciclável

e posicionado entre as rodas traseiras, para evitar a deformação em caso de

colisão.

4.4.3 – Argumentação

O texto argumentativo é aquele em que se defende uma idéia, opinião ou

ponto de vista, uma tese. Em um texto argumentativo, distinguem-se três

componentes: a tese, os argumentos e as estratégias argumentativas.

A tese, ou proposição: é a idéia que se defende

Os argumentos: são as respostas à pergunta “por que”, feita ao tema

Page 39: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

As estratégias argumentativas: são os recursos (verbais e não-verbais)

utilizados para envolver o leitor/ouvinte de forma a convencê-lo, ou persuadi-lo e

gerar mais credibilidade ao texto.

A atividade comunicativa não pressupõe apenas que, simplesmente, o

receptor entenda a mensagem transmitida pelo emissor, mas, considerando que

comunicar é agir sobre o outro, então a função daquele que envia uma mensagem é,

também, fazer com o que o receptor aceite-a: tem-se a argumentação como

instrumento lingüístico que visa a persuadir, a fazer com que o leitor/ouvinte aceite o

que lhe foi comunicado. São diversos os gêneros textuais que utilizam esse recuso

argumentativo: o texto acadêmico, científico, uma propaganda etc.

Os argumentos usados para convencer aquele que ler/ouve o texto podem

ser de diferentes tipos: argumento de autoridade, argumento baseado no consenso,

argumento baseado em provas concretas, argumento com base no raciocínio lógico

e argumento da competência lingüística. (Platão & Fiorin, 1996)

Argumento de autoridade: é a citação de autores renomados, autoridades

naquele campo de conhecimento. Usa-se esse tipo de argumento para mostrar que

se tem conhecimento a respeito do assunto.

Argumento baseado no consenso: é o uso de máximas, proposições

aceitas como verdadeiras sem que sejam necessárias provas, demonstrações dessa

veracidade.

Argumento baseado em provas concretas: é o argumento embasado em

dados, estatísticas válidas, exemplos, fatos comprobatórios. Esses fatos devem ser

pertinentes, suficientes, adequados e fidedignos para que sejam considerados

provas de uma determinada afirmação.

Argumento com base no raciocínio lógico: é o uso de proposições que se

relacionam umas com as outras. Por exemplo, proposições com relação de causa e

Page 40: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

conseqüência. É importante lembrar que esse tipo de argumentação favorece

problemas como fuga do tema e incoerências.

Argumento da competência lingüística: é o uso da variante culta da língua

e de vocabulário adequado à situação. Trata-se de um mecanismo lingüístico que

favorece a credibilidade e, portanto, auxilia na persuasão do leitor/ouvinte.

Embora não se possa reduzir a argumentação a um inventário de estruturas

léxico-sintáticas que marcam explicitamente as tomadas de posição do emissor

diante de certas proposições, vale apresentar, aqui, um quadro com amostras das

formas mais usadas na argumentação, tendo em vista a necessidade de se

estruturar organizada e coerentemente um texto deste tipo para que se possa atingir

o objetivo proposto. (Vigner, 2002b)

Quadro 5

Fórmulas introdutórias As transições

- comecemos por

- a primeira observação recai sobre

- inicialmente, é preciso lembrar que

- a primeira observação importante a

ser feita é que

- passemos então a

- voltemos então a

- mais tarde voltaremos a

- antes de passar a... é preciso

observar que...

- sublinhado isto

As fórmulas conclusivas A enumeração

- logo

- conseqüentemente

- é por isso que

- em primeiro (segundo etc) lugar

- e por último

- e em último lugar

Page 41: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

- afinal

- em suma

- pode-se concluir afirmando que

- inicialmente

- e em seguida, além do mais, além

disso, além de que, aliás

- a // se acrescenta, por outro lado

- enfim

- se acrescentarmos por fim

As fórmulas concessivas A expressão da reserva

- é certo que

- é verdade que

- evidente, seguramente,

naturalmente

- incontestavelmente, sem dúvida

alguma

- pode ser que

- todavia

- no entanto, entretanto

- mas, porém

- contudo

As fórmulas de insistência A inserção de um exemplo

- não apenas... mas

- mesmo

- com muito mais razão

- tanto mais que

- consideremos o caso de

- tal é o caso de

- este caso apenas ilustra

- o exemplo de... confirma

- etc

É importante ressaltar que nem sempre o texto argumentativo obedece às

exigências prescritas pela norma culta da língua. Muitas vezes para se alcançar a

persuasão pretendida é preciso que o texto seja adequado à situação em que ele é

produzido. Por exemplo, o discurso feito para uma criança de rua sem família

Page 42: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

estruturada, que não freqüenta a escola, que não se alimenta normalmente, com o

intuito de convencê-la a não cometer determinado ato, não usará as mesmas

estratégias argumentativas de um discurso feito em um tribunal do júri. Nesse

sentido, foi selecionado o texto abaixo, extraído do livro de Platão e Fiorin (1996),

para ilustrar uma argumentação. Trata-se de um vídeo exibido na Casa de Detenção

de São Paulo, para ensinar aos detentos formas de prevenção contra a Aids:

Aqui é bandido: Plínio Marcos. Atenção, malandrage! Eu num vô pedir

nada, vô te dá um alô! Te liga aí: Aids é uma praga que rói até os mais fortes, e

rói devagarinho. Deixa o corpo sem defesa contra a doença. Quem pegá essa

praga esta relado de verde e amarelo, de primeiro ao quinto, e sem vaselinha.

Num tem doto que dê jeito, nem reza brava, nem choro, sente o aroma da

perpétua: Aids pega pelo esperma e pelo sangue, entendeu?, pelo esperma e

pelo sangue! (Pausa)

Eu num tô te dando esse alô pra te assombrá, então se toca! Não é

porque tu ta na tranca que virou anjo. Muito pelo contrário, cana dura deixa o cara

ruim! Mas é preciso que cada um se cuide, ninguém pode valê pra ninguém nesse

negócio de Aids. Então, já viu: transá, só de acordo com o parceiro, e de

camisinha! (Pausa)

Agora, tu aí que é metido a esculachá os outros, metido a ganhá o

companheiro na força bruta, na congesta! Pára com isso, tu vai acabá empestado!

Aids num toma connhecimento de macheza, pega pra lá, pega pra cá, pega em

home, pega em bicha, pega em mulhé, pega em roçadeira! Pra essa peste num

tem bom! Quem bobeia fica premiado. E fica um tempão sem sabê. Daí, o mais

malandro, no dia da visita, recebe mamão com açúcar da família e manda pra

casa o Aids! E num é isto que tu qué, né, vago mestre? Então te cuida. Sexo, só

com camisinha. (Pausa)

Quem descobre que pego a doença se sente no prejuízo e quer ir à forra,

passando pros outros. (Pausa) Sexo, só com camisinha! Num tem escolha,

transá, só com camisinha.

Quanto a tu, mais chegado ao pico, eu tô sabendo que ninguém corta o

Page 43: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

vício só por ordem da chefia. Mas escuta bem, vago mestre, a seringa é o canal

pra Aids. No desespero, tu não se toca, num vê, num qué nem sabê que, às

vezes, a seringa vem até com um pingo de sangue, e tu mete ela direto em ti. Às

vezes, ela parece que vem limpona, e vem com a praga. E tu, na afobação, mete

ela direto na veia. Aí tu dança. Tu, que se diz mais tu, mas que diz que num pode

agüentá a tranca sem pico, se cuida. Quem gosta de tu é tu mesmo. (Pausa) E a

farinha que tu cheira, e a erva que tu bafurra enfraquece o corpo e deixa tu chué

da cabeça e dos peitos. E aí tu fica moleza pro Aids! Mas o pico é o canal direto

pra essa praga que está aí. Então, malandro, se cobre. Quem gosta de tu é tu

mesmo. A saúde é como a liberdade. A gente dá valor pra ela quando já era!

(Vídeo exibido na Casa de Detenção de São Paulo: Adag; Realização: TV Cultura, 1988)

4.4.4 – Exposição

Um texto expositivo apresenta, de maneira geral, a explicação de um

determinado tema. São textos expositivos: reportagens, textos didáticos, instruções

de uso, artigos científicos, monografias e todos os gêneros textuais que apresentam

a finalidade de transmitir informações.

A partir desse propósito comunicativo, exigem-se, nesse tipo de texto,

clareza na construção dos parágrafos e das orações, objetividade, vocabulário

apropriado e ordenação das idéias. Abaixo segue um exemplo de exposição:

Novas maravilhas do mundo

Séculos depois da elaboração da primeira lista sobre o tema, o mundo

finalmente conheceu suas sete novas maravilhas. Numa eleição que contou com a

participação de quase 100 mil pessoas de vários países, foram escolhidos

monumentos, construções arquitetônicas e até cidades inteiras, para simbolizar o

que há de mais bonito e significativo no patrimônio histórico e cultural da

atualidade. O mais importante é que, embora polêmica, a votação serviu de alerta

Page 44: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

para a preservação desses e de outros bens precisos da Terra, que nem sempre

recebem a devida atenção.

Para se ter uma idéia, das sete maravilhas do mundo antigo, listadas entre

150 a.C. e 120 a.C. e imortalizadas pelo poeta grego Antípatro de Sídon, apenas

as pirâmides de Gizé, no Egito, ainda podem ser visitadas. Conhecida como Ta

Hepta thaemata, que em grego quer dizer “as sete coisas dignas de serem vistas”,

a lista original incluía os jardins suspensos da Babilônia, onde hoje fica o Iraque; a

estátua de Zeus, na Grécia; o templo da deusa Ártemis, em Éfeso, e o mausoléu

de Helicarnasso, ambos na Turquia; o colosso de Rodes, estátua gigantesca de

bronze, e o farol de Alexandria, no Egito. Dessas seis maravilhas existem apenas

ruínas ou registros em documentos históricos.

Pensando nisso, o empresário suíço Bernard Weber criou em 2001 a

fundação New 7 Wonders (Novas 7 Maravilhas), como forma de divulgar e

preservar o patrimônio existente nos dias atuais. Para conseguir a atenção

necessária, a fundação lançou, em 2005, um concurso para escolher as sete

maravilhas do mundo moderno. Depois de centenas de candidaturas, 21

monumentos foram selecionados para votação pela internet ou mensagens de

celular.

Campanhas. O concurso foi tratado com mais entusiasmo em alguns

países do que em outros. No Brasil e na Índia, por exemplo, foram feitas grandes

campanhas para que a população votasse em seus representantes. Por outro lado,

os Estados Unidos, que concorriam com a estátua da Liberdade, em Nova York,

não fizeram praticamente nenhum esforço para eleger o documento.

De qualquer forma, a participação foi dentro do esperado e as novas

maravilhas foram anunciadas numa grande cerimônia realizada em 7 de julho, em

Lisboa, Portugal. Embora a fundação tenha divulgado a ordem de classificação dos

monumentos, não foram informados quantos votos cada um recebeu, com a

justificativa de que são todos de igual importância. Sabe-se, no entanto, que

poucos chineses sabiam da votação. (...)

(trecho da reportagem de Carolina Lenoir, no jornal Estado de Minas: 11 de agosto de 2007)

Page 45: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

4.4.5 – Injunção

Uma injunção indica como realizar uma ação, estabelece um conselho a

respeito de determinado assunto ou fato. É também utilizado para predizer

acontecimentos e comportamentos. Um texto desse tipo utiliza uma linguagem

objetiva e simples, desprovida de ironias, e os verbos empregados são, em sua

maioria, do modo imperativo, embora também possa ser encontrado verbo no futuro

do presente. Gêneros textuais como instruções, receitas, regulamentos, regras de

jogo são do tipo injuntivo.

A injunção pressupõe um emissor e um receptor parceiros no processo de

transmissão/compreensão da mensagem: o ato comunicativo é composto por

enunciador e enunciatário em um universo discursivo no qual o primeiro é

conhecedor da competência do segundo e, por isso, reconhecedor do saber e

poder-fazer deste. Assim, a comunicação não se torna conflituosa, já que é

transmitida e interpretada de forma consensual.

Como exemplo, segue abaixo o modo de preparado de uma receita do doce

bem-casado:

Modo de preparo

Bata as gemas, junte e bata até que fique bem claro. Peneire juntos a

farinha de trigo e o fermento e misture delicadamente ao creme e juntando em

seguida as claras batidas em neve. Coloque em assadeira untada e polvilhada.

Leve ao forno médio (180° Ligue o forno na hora d e colocar a massa. Asse por).

cerca de 10 minutos. Retire do Forné e deixe esfriar. Corte com cortador e recheie

unindo dois a dois.

Recheio

Junte o leite condensado, as gemas e a manteiga. Misture bem e leve ao

fogo baixo, mexendo sempre até obter consistência cremosa (mais ou menos 10

minutos). Retire do fogo e junte o licor de cacau, o suco de limão e as nozes.

Deixe esfriar.

Page 46: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

Finalização

Depois de recheados, passe açúcar fino e embrulhe. Faça uma linda

embalagem.

Page 47: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

UNIDADE 5: CONSIDERAÇÕES FINAIS

Existem diferentes modelos teóricos de leitura que vão desde a linearidade

dos modelos de percepção visual e processamento de letras, que mostram

mecanismos de leitura, mas não tratam da compreensão, passando pelo modelo de

adivinhação, que aborda a compreensão, mas não explica como se chega à mesma,

até chegar aos modelos interacionistas que focalizam o processo cognitivo da

compreensão do texto.

Conforme foi apresentado, viu-se que a leitura, segundo alguns

pesquisadores do assunto, é um processo complexo, em que o leitor precisa de

conhecimentos de natureza diversa para construir significados e, assim,

compreender o texto. Ler não parece, portanto, um processo “linear e serial, passo a

passo, desde o olho até a memória que estaria aguardando a chegada do material

para começar a processá-lo.” (Kleiman, 2004b). A leitura é um processo interativo,

uma vez que diversos conhecimentos do leitor interagem em todo momento com o

texto para se chegar à compreensão deste.

Na mesma maneira, elaborar um texto pressupõe uma atividade dialógica, em

que o enunciador, em interação com o receptor da mensagem, produz o sentido do

texto. A competência textual relaciona-se, portanto, à capacidade de expressar

idéias de forma coerente e adequada aos receptores eventuais e ao objetivo

pretendido. No texto escrito, em especial, essa busca pela coerência requer o

domínio de aspectos lingüísticos, pragmáticos e da organização textual em termos

de micro e macroestruturas.

As características de um texto acompanham a função do mesmo. Assim, o

grau de formalidade varia, seja no texto oral ou no texto escrito, conforme a situação

de uso da língua; o gênero também é determinado pelo objetivo que se pretende

com a construção do texto. São diversos os gêneros porque são muitas as

atividades humanas.

Em cada prática social um determinado gênero é mais adequado, e o

indivíduo competente sociocomunicativamente percebe essa adequação e sabe

diferenciar um gênero do outro. Sabe, por exemplo, quando está diante de uma

Page 48: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

anedota, de um poema, de uma explicação, de uma conversa telefônica etc. “A

competência textual permite que o indivíduo identifique, ainda, seqüências de

caráter narrativo, descritivo, expositivo e/ou argumentativo.” (Koch, 2002).

O contato com diferentes gêneros textuais é, portanto, fundamental para o

desenvolvimento da competência comunicativa, pois eles mostram diversos modos

de interação. Em outras palavras, lidar com a língua em seus vários usos autênticos

no dia-a-dia, cada um com uma função apropriada para o tipo de interação

específica, é importante para a produção e para a compreensão de textos.

Page 49: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, Michael. 1992. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal.

São Paulo: Martins fontes.

BRONCKART, Jean-Paul. 1999. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um

interacionismo sócio-discursivo. São Paulo: EDUC.

CHARROLES, Michel. 2002. Introdução aos problemas de coerência dos textos

(abordagem teórica e estudo das práticas pedagógicas). In: In: GALVES, Charlotte;

ORLANDI, Eni Puccinelli & OTONI, Paulo (orgs.) Texto, leitura e escrita. 3ª ed.

Campinhas/SP: Pontes.

DUBOIS, Jean e al. 1973. Dicionário de lingüística. Trad. De Frederico Pessoa de

Barros e outros. São Paulo: Cultrix

ECO, Humberto. 1984. Conceito de texto. São Paulo: T.A Queiroz.

GUIMARÃES, Elisa. 1992. A articulação do texto. São Paulo: Ática.

GONZÁLEZ FERNÁNDEZ, A. 1992. Estrategias metacognitivas en la lectura.

Madrid: Universidad Complutense.

KATO, Mary. 2003. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística. 7ª ed.

São Paulo: Ática.

KLEIMAN, Ângela. 2004a. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 9ª ed.

Campinas/SP: Pontes

___________. 2004b. Leitura: ensino e pesquisa. 2ª ed./2ª reimpressão.

Campinas/SP: Pontes.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. 1991. A coesão textual. São Paulo: Contexto.

_____________ 1998. O texto e a construção de sentidos. 2ª ed. São Paulo:

Contexto

___________ 2002. Desvendando os segredos do texto. 5ª ed. São Paulo: Cortez.

___________. & TRAVAGLIA, Luiz Carlos.2003. Texto e Coerência. 9ª ed. São

Paulo: Cortez.

LABOV, William. 1972. The transformation of Experience in Narrative Syntax. In:

_________. Language in the inner city. Pennsylvania: University of Pennsylvania

Press.

Page 50: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

LENOIR, Carolina. 2007. Novas maravilhas do mundo. In: Jornal Estado de Minas.

edição do dia 11 de agosto.

MARCUSCHI, Luz A. 2001. Da fala para a escrita: atividades de retextualização.

São Paulo: Cortez

_____________ 2002. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍCIO, A

et al. Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna

MOITA LOPES, Luiz Paulo. 2002. Oficina de lingüística aplicada. 4ª

reimpressão.Campinas/SP: Mercado de Letras.

PLATÃO, Francisco & FIORIN, José Luiz. 1996. Lições de texto: leitura e redação.

São Paulo: Ática.

PRETA, Stanislau Ponte. 1983. A velha contrabandista. In: Para gostar de ler:

contos. Volume 8. São Paulo: Ática

QUEIRÓZ, Eça.1997. A relíquia. São Paulo: Publifolha

SAUTCHUK, Inez. 2003. A produção dialógica do texto escrito: um diálogo entre

escritor leitor e leitor interno. São Paulo: Martins Fontes

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. 2002. Tipelementos e a construção de uma teoria

tipológica geral de textos. mimeografado.

VIGNER, Gerard. 2002a. Intertextualidade, norma e legibilidade. In: GALVES,

Charlotte; ORLANDI, Eni Puccinelli & OTONI, Paulo (orgs.) Texto, leitura e escrita.

3ª ed. Campinhas/SP: Pontes.

___________ 2002b.Técnicas de aprendizagem da argumentação escrita . In:

GALVES, Charlotte; ORLANDI, Eni Puccinelli & OTONI, Paulo (orgs.) Texto, leitura e

escrita. 3ª ed. Campinhas/SP: Pontes.

Page 51: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Questão 1

Os modelos de leitura são classificados conforme o fluxo da informação durante o ato de ler. A

respeito desses modelos, assinale a afirmativa correta:

a) Quando fluxo da informação parte do texto impresso para o leitor, diz-se que o processo da leitura

ocorre de maneira descendente, ou seja, de cima para baixo.

b) O modelo de testagem de hipóteses de Goodman compõe a gama de modelos ascendentes de

leitura.

c) A leitura, de acordo com os modelos descendentes, é um processo perceptivo e de decodificação,

em que se identifica letra por letra, a partir de um estímulo visual, para obter o significado do todo.

d) Nos modelos interacionistas, o foco da leitura é colocado no leitor, isto é, o fluxo da informação

parte do leitor para o texto.

e) Os modelos ascendentes/descendentes vêm o ato de ler como um processo que envolve tanto a

informação impressa (o texto), quanto a informação que o leitor traz consigo (o conhecimento prévio).

Trata-se de modelos interacionistas, em que leitor e autor interagem durante o processo da leitura.

Questão 2

Por que a leitura pode ser considerada um processo cognitivo e social? Assina a alternativa

que melhor responde essa questão:

a) A leitura é um processo que envolve atenção, percepção, raciocínio, juízo, imaginação,

pensamento, linguagem e, além disso, pressupõe a existência de dois sujeitos, leitor e autor, que

interagem durante os atos de ler e compreender.

b) A leitura é um processo cognitivo porque apresenta uma multiplicidade de estratégias empregadas

pelo leitor, conforme as condições que a ele são dadas. Trata-se, também, de um ato social porque

envolve a linguagem humana.

c) A leitura é um processo cognitivo porque que envolve atenção, percepção, raciocínio, juízo,

imaginação, pensamento, linguagem. É ainda um processo social porque apresenta objetivos

específicos e múltiplas estratégias de realização.

d) A leitura é um processo que envolve interação entre leitor e autor na produção de sentido, por isso

pode ser considerada um ato social e cognitivo.

e) A leitura é um processo cognitivo e social porque o leitor traz consigo um conhecimento prévio que

auxilia na produção de significados durante o ato de ler. Esse conhecimento prévio é tudo aquilo que

o leitor aprende durante a vida e permite que ele faça as inferências necessárias para construir os

sentidos do texto.

Page 52: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

Questão 3

Existem diferentes modos de se ler um texto que dependem de vários fatores, tais como a

maturidade do leitor; a complexidade textual; o conhecimento prévio; o gênero do texto e o

objetivo da leitura entre outros. Sobre esses fatores, assinale a afirmativa incorreta:

a) A complexidade do texto interfere na estratégia de leitura porque, quando o texto é considerado

complexo, o leitor precisa construir esquemas novos para estabelecer a compreensão do texto.

b) No momento da leitura, o leitor lança mão de suas experiências, crenças, opiniões, interesses, ou

seja, de um conhecimento prévio que é fundamental para determinar o tipo de leitura que será

realizada.

c) O leitor maduro é aquele que usa apenas uma estratégia de leitura e, por isso, sua compreensão

do texto é mais objetiva, rápida e eficaz.

d) Para cada gênero textual, a estratégia de leitura é diferente.

e) As estratégias de leitura variam conforme o objetivo da leitura: o tipo do texto determina, até certo

ponto, os objetivos da leitura, se para cada tipo textual usa-se uma estratégia de leitura diferente,

então, para cada objetivo, uma estratégia distinta será também será usada.

Questão 4

Sobre a maturidade do leitor, assinale a alternativa falsa:

a) O leitor maduro é aquele que sabe monitorar as estratégias metacognitivas de leitura.

b) Quando o leitor adquire maturidade, ele planeja, monitora e regula os próprios processos

cognitivos envolvidos no ato de ler.

c) Em relação à maturidade do leitor, pode-se dizer que, ou ele é um leitor maduro ou não, isto é, não

existem níveis de maturidade.

d) Dizer que um leitor é maduro é dizer que ele é capaz de identificar os objetivos da leitura, aspectos

importantes do texto e, também, de verificar sua própria compreensão.

e) O leitor maduro adquire as estratégias de leitura cumulativamente.

Questão 5

Fala e escrita são meios distintos de realização textual, que apresentam diferenças formais e

funcionais, embora também seja possível afirmar que se trata de duas realidades similares. A

respeito disso, assinale a afirmativa correta:

a) Um discurso planejado apresenta dependência contextual e menor uso de variação de forma e

conteúdo.

b) A língua escrita pode ser caracterizada como aquela que apresenta um planejamento verbal

melhor em relação à fala, a organização estrutural e a seleção das palavras são mais cuidadosas,

enquanto que na fala informal esse planejamento é menos elaborado.

c) a coesão, na linguagem escrita, é estabelecida através de recursos paralingüísticos e supra-

segmentais, enquanto que, na linguagem oral, ela é estabelecida através de meios lexicais e de

estruturas sintáticas complexas que usam conectivos explícitos.

Page 53: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

d) Fala e escrita são duas realidades diferentes quanto à natureza do estímulo (auditivo X visual),

quanto à forma, à função e como meios condutores de mensagem lingüística e realizações de uma

gramática.

e) A semelhança entre as modalidades fala e escrita encontra-se no fato de ambas serem um produto

permanente.

Questão 6

Segundo os modelos processuais da escrita, esta é caracterizada como um ato que envolve

uma meta (objetivo) e um plano, e também um ato de resolução de problemas. Assinale a

alternativa que melhor se relaciona a essas metas e/ou problemas e resoluções referentes a

essas metas.

a) A meta do tipo ideacional, ou de conteúdo proposicional, relaciona-se ao planejamento e execução

do autor do caminho necessário para atingir a coesão e a coerência do texto.

b) A meta do tipo textual diz respeito ao falto do leitor planejar o tipo de leitor para quem ele vai

escrever e que efeito ele quer causar nesse leitor.

c) A meta do tipo interpessoal refere-se ao planejamento dos caminhos que serão tomados: por onde

começar, em que direção prosseguir, que pontos ressaltar e como terminar o texto.

d) Em relação à meta do tipo textual, o problema encontra-se no fato do autor não poder extrair da

memória apenas as informações relevantes e direcionadas para um determinado fim.

e) Em relação à meta do tipo interpessoal, o problema reside no fato de a comunicação não ocorrer

frente a frente e, por isso, o autor precisa decidir quem será o seu leitor virtual para definir forma e

conteúdo do texto.

Questão 7

Assinale a alternativa que não se relaciona a uma correta definição de texto:

a) Em sentido amplo, a palavra texto designa um enunciado qualquer, oral ou escrito, longo ou breve,

antigo ou moderno.

b) O texto caracteriza-se por seu estrato semântico e comunicativo, assim como por sua coerência

profunda e superficial.

c) São textos: uma frase, um fragmento de um diálogo, um poema, um romance e, até mesmo, uma

palavra-frase, como a que se apresenta em expressões como ‘fogo’, ‘silêncio’, situadas em contextos

específicos.

d) O texto pode ser concebido como uma amostra de comportamento lingüístico apenas escrito. A

unidade lingüística falada é denominada discurso.

e) Todo texto é realizado por meio de empréstimo de um gênero e, portanto, sempre pertence a um

gênero.

Page 54: Leitura e Produção de Textos– Gêneros Textuais

Questão 8

O que significa dizer que a produção textual escrita tem caráter dialógico? Escolha uma das

alternativas abaixo que melhor responde essa questão:

a) A elaboração do texto escrito é um processo em que o autor usa tanto as estratégias de produção

textual, quanto as estratégias de leitura.

b) A escrita é produto de uma atividade humana, é, pois, interativa, dialógica.

c) O ato de escrever é uma atividade interativa entre o emissor e o receptor, ou seja, possui uma

função comunicativa e social exercida entre dois enunciadores que participam do processo da

construção de sentido.

d) A produção textual pressupõe a criação de um texto íntegro e estruturado mediante regras textuais

e do próprio sistema da língua.

e) A escrita é uma atividade de comunicação verbal que tem como objetivo a transmissão de

intenções e conteúdo. Trata-se de um processo que envolve planejamento e execução.

Questão 9

Qual das afirmativas abaixo não se relaciona à microestrutura do texto?

a) Diz respeito a todos os componentes (predominantemente extralingüísticos) que possibilitam a

organização global de sentido do texto e que são responsáveis por sua significação.

b) Associam-se à microestrutura todos os elementos e mecanismos de coesão.

c) Representa todo um sistema de instruções textualizadoras de superfície que auxiliam na

construção linear do texto por intermédio de palavras e de frases.

d) No nível microestrutural, as relações de coerência estabelecem-se entre as frases

(sucessivamente ordenadas) da seqüência.

e) É responsável pela estruturação lingüística do texto.

Questão 10

Assinale a alternativa abaixo que contradiz a idéia de boa formação textual.

a) A boa formação textual relaciona-se com os conceitos de coesão e coerência.

b) Um texto bem formado é aquele que apresenta coerência nas macro e microestruturas.

c) A boa formação textual pressupõe a obediência a certas regras tais como metarregra de repetição,

de progressão, não-contradição e de relação.

d) A coesão é o que faz com que uma seqüência lingüística seja vista como um texto, porque permite

o estabelecimento de relações – sintático-gramaticais, semânticas e pragmáticas – entre os

elementos da seqüência (morfema, palavras, expressões, frases, parágrafos, capítulos etc),

possibilitando construí-las e percebê-las como constituindo uma unidade significativa global.

e) A coerência está relacionada à boa formação do texto, mas não no sentido da gramaticalidade

usada no nível da frase (coesão), mas sim em termos da interlocução comunicativa.