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LEITURA DE TEXTOS SOBRE BULLYING: CONSCIENTIZAÇÃO PERANTE O
FENÔMENO NO AMBIENTE ESCOLAR
Úlrika Gluitz Schneider1
Claudia Garcia Cavalcante2
RESUMO: Neste artigo, relata-se a implementação do projeto desenvolvido no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) “A importância da leitura na escola básica com textos sobre bullying”, cuja proposta foi a utilização de textos infantojuvenis como importante aliado para despertar o gosto pela leitura. O projeto foi desenvolvido com uma turma do 6º ano, do Ensino Fundamental, da rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná, na Escola Estadual República Oriental do Uruguai, em Curitiba. Utilizou-se os livros infantojuvenis “Perseguição”, de Tânia Alexandre Martinelli, “Ponte para Terabítia”, de Katherine Patterson, e “Se liga, Charles”, de Vincent Cuvellier. Para aguçar a leitura e conscientizar os alunos perante o fenômeno bullying no espaço escolar, foram realizadas estratégias diversificadas. Assim, buscou-se desenvolver outras formas para o educando expressar-se de maneira espontânea e perceber que o ato de ler vai além da simples decodificação. O projeto de intervenção contribuiu de forma significativa para a formação de leitores, proporcionando-lhes possibilidades para ampliar seus horizontes e ver na leitura algo prazeroso. Também, por meio da leitura de textos, preveniu-se a prática de bullying no ambiente escolar. Palavras chave: Leitura; Bullying; Conscientização. ___________________________________________________________________ 1 Licenciada em Letras Português/Inglês (PUCPR). Especialização em Língua Portuguesa na
Universidade Tuiuti. Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. Professora de Língua Portuguesa da Escola Estadual República Oriental do Uruguai, Curitiba, Paraná. 2Mestre e doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela PUC-SP; Professora do
curso de Licenciatura em Linguagem e Comunicação da Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral.
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Introdução
O projeto, desenvolvido no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE)
“A importância da leitura na escola básica com textos sobre bullying” teve como
proposta, por meio da leitura de gêneros narrativos sobre bullying, prevenir essa
violência no ambiente escolar e desenvolver o hábito de leitura para a formação de
leitores.
Com a finalidade de amenizar a violência causada pelo bullying no espaço
escolar, usou-se a leitura de gêneros narrativos que abordam o tema para
desenvolver o gosto pela leitura e desse modo, formar leitores. Portanto, foram lidos
os livros “Perseguição”, de Tânia Alexandre Martinelli, “Ponte para Terabítia” de
Katherine Patterson, e “Se liga, Charles” de Vincent Cuvellier, em sala de aula.
Esses livros foram especialmente escolhidos, porque tratam de um assunto
delicado, porém presente no cotidiano escolar. Segundo Pereira (2009, p.81), o
bullying é uma preocupação presente nas escolas, que causa constrangimento em
vários níveis e pode deixar sequelas físicas e psicológicas graves. Logo, cabe a
todos os envolvidos na educação, fazer a intervenção constante para evitar essa
prática.
Para Fante (2005, p. 69), “as crianças e os adolescentes ainda não têm a
personalidade totalmente formada, e por esse motivo não possuem amadurecimento
suficiente para lidarem com o processo e as consequências do bullying”. Assim,
necessitam da orientação e da ajuda de adultos e de profissionais para superar
esses problemas.
Partindo dessa problematização, definiu-se como objetivo prevenir os casos
de bullying na escola fundamental, por meio de estímulos à leitura de textos
infantojuvenis referente ao tema. Além do propósito de conscientização perante a
disseminação dessa violência no espaço escolar, o projeto teve como intuito a
formação de leitores. Acredita-se que, propiciando o contato prazeroso dos títulos
ofertados do gênero infantojuvenil, formar-se-á leitores autônomos, críticos e
conscientes, lendo temas variados presentes na sociedade.
Para tanto, é necessário realizar atividades benéficas que provoquem
interesse nos alunos, sem cobranças e imposições. De acordo com Solé, (1998,
p.92), é preciso que as crianças descubram que ler é fantástico. Conforme a autora,
isso se consegue planejando bem a tarefa de leitura e selecionando com cuidado os
recursos que serão utilizados, prevendo situações de alunos que necessitem de
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apoio, evitando assim, a concorrência entre as crianças, promovendo sempre o
gosto pela leitura, deixando o leitor lendo de forma silenciosa e de acordo com o seu
ritmo.
Segundo Geraldi (2014, p. 84), muitos alunos leem obras escritas no final do
século passado, que se repetem ano após ano nas escolas por imposição dos
editores e professores. O autor relata ainda que, enquanto isso, o mundo assiste a
uma verdadeira explosão de ficção destinada ao público infantojuvenil. Salienta
ainda, que os clássicos também devem ser lidos, são obras de qualidade, mas
critica a ideia da seleção dos livros literários ser feita unicamente pela escola ou pelo
professor da turma. Embora o professor seja um leitor experiente e conhecedor do
assunto, é interessante usar estratégias variadas quanto à escolha dos títulos. É
claro que ele deve orientá-los e sugerir obras recomendadas, porém, o aluno
também precisa ter a liberdade de optar pelo livro que lhe agrada. Dessa forma, a
leitura será mais prazerosa, benéfica e contribuirá para a formação de novos
leitores.
Diante disto, durante o projeto, oportunizaram-se visitas frequentes à
biblioteca, motivando os alunos do 6º ano do Ensino Fundamental, ao contato
prazeroso com os livros, buscando-os de forma espontânea. Assim, propiciaram-se
textos referentes ao bullying, entre outros, com a intenção de criar situações e
estratégias, para que o aluno possa desse modo, analisar, refletir e, juntos foram
buscadas soluções plausíveis sobre a prática dessa agressão, que aflige muitos
estudantes durante a vida escolar, contribuindo assim para a formação de leitores.
Após a realização da pesquisa bibliográfica e elaboração da produção
didática, foi implementado o Projeto de Intervenção Pedagógica na (EEROU), na
cidade Curitiba – PR. Av. Pres. Affonso Camargo, 3407, Capão da Imbuia, aplicado
com 27 alunos de 11 e 12 anos do Ensino Fundamental.
1. Bullying na escola
O bullying no ambiente escolar é uma prática que ocorre muitas vezes de
forma velada. Muitos estudantes passam por situações vexatórias, dores
psicológicas, que podem até provocar síndrome de pânico, depressão, entre outras
doenças. De acordo com Neto, (2011, p.21), a violência constitui-se de “[...] um
conjunto de comportamentos agressivos e repetitivos de opressão, tirania, agressão
e dominação de uma pessoa ou grupos sobre outra pessoa”. As vítimas geralmente
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precisam de ajuda psicológica para superar os problemas que vivenciam, com o
trauma e o sofrimento são deixadas marcas profundas e às vezes, irreparáveis.
Segundo Neto, (2011, p.25): “O bullying escolar é um importante problema de
saúde pública, que atinge 20% a 40% da população de estudantes e exige
demandas crescentes de atenção e intervenção.” No entanto, muitas pessoas ainda
não tomaram conhecimento da importância e da gravidade desse problema. Com o
surgimento do mundo digital, apareceu também o cyberbullying, visto que as
ferramentas tecnológicas ofertam um vasto campo de possibilidades de uso e
atrações. Quer dizer, o fascínio das crianças e dos adolescentes pelos jogos virtuais
e redes sociais é algo incontrolável. Aliás, já existem estudos comprovando que a
internet e esses jogos, quando usados sem limites, viciam. Portanto, cabe aos pais
acompanhar a rotina dos filhos e monitorar o uso do celular, computador, entre
outros.
O mundo digital facilita a prática do cyberbullying, muitas vezes de forma
anônima e cruel. Com base em Fante (2005), Neto (2011) e Silva (2010), estudou-se
como o bullying se manifesta no espaço escolar e nos ambientes virtuais, bem
como, quais as consequências desses atos na vida dos nossos alunos. O bullying é
considerado uma prática do ser humano e atinge pessoas de todas as idades. As
vítimas são afetadas de tal modo, que muitas vezes, vivem de forma marginalizada.
Os jovens são os mais afetados em ambientes escolares e redes sociais. Às vezes,
nem mesmo os pais sabem dessa violência, e para evitar esse desconhecimento, é
preciso que conversem com os seus filhos e que os educadores fiquem atentos aos
seus alunos.
Silva (2010, p.14), relata que, o bullying atualmente não pode ser tratado
como um fenômeno exclusivo educacional. Segundo a autora, este já é um
problema de saúde pública e deve estar na pauta de todos os profissionais que
atuam nesta área. Salienta ainda, que a falta de conhecimento e as consequências
do bullying, propicia o aumento de novos casos e muitos deles, às vezes situações
trágicas, que poderiam ser evitadas. Para a autora (2010, p. 15), “é na aurora de
nossa vida que devemos aprender a não tolerar qualquer tipo de violência, de
preconceito e de desrespeito ao próximo”. Portanto, é necessário prevenir essa
violência desde cedo, nas escolas, na sociedade, ou seja, em qualquer espaço
social.
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Muitos estudantes, professores e pessoas em geral são vítimas de bullying e
cyberbullying diariamente.
De acordo com Silva,
Os praticantes do cybebullying se utilizam de todas as possibilidades que os recursos da moderna tecnologia lhes oferecem: e-mails, blogs, fotoblogs, MSN, youtube Skype, Twitter My Space, Facebook, torpedos... Valendo-se do anonimato, os bulies virtuais inventam mentiras, espalham rumores, boatos depreciativos e insultos sobre outros estudantes, os familiares desses e até mesmo professores e outros profissionais da escola. Todos podem se tornar vítimas de um bombardeio maciço de ofensas, que se multiplicam e se intensificam de forma veloz e instantânea, quando disparadas via celular (torpedos) e internet. (SILVA, 2010, p.127)
Muitas vítimas têm suas vidas destruídas pelos seus agressores, que
divulgam mundialmente seus atos de crueldade. De acordo com Silva (2010, p.128):
“Os praticantes de cyberbullying participam, inclusive, de fóruns e livros de visitas
virtuais para deixar mensagens depreciativas sobre o assunto em questão ou opinar
de forma inconveniente”. Muitas pessoas que sofrem bullying passam por sofrimento
físico e psicológico que em muitos casos, deixa traumas eternos.
De acordo com Silva, (2010, p. 162)
As escolas precisam, inicialmente, reconhecer a existência do bullying (em suas diversas formas) e tomar consciência dos prejuízos que ele pode trazer para o desenvolvimento socioeducacional e para a estruturação da personalidade de seus estudantes. Bullying é um fato, e não dá mais para botar panos quentes nas evidências.
A autora salienta ainda (2010, p. 162), que os profissionais da educação
devem estar capacitados para saber identificar os casos de bullying, bem como fazer
os encaminhamentos adequados para os casos ocorridos nas dependências da
escola. Segundo a autora, esse tema deve ser discutido de forma ampla pela
instituição e comunidade, contando com a colaboração de consultores externos
especializados no tema e habituados a falar no assunto, como por exemplo,
pediatras, psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais.
Segundo Neto (2011, p.62), “O bullying é um fenômeno universal, existe em
todas as escolas, já é percebido entre os estudantes desde a educação infantil e
suas consequências afetam a todas as crianças e adolescentes, sem exceção.” O
autor afirma que, é um problema complexo e que não é simples encontrar soluções
para diminuir o bullying escolar. Para reduzir esse fenômeno nas escolas, é preciso
que toda comunidade escolar se conscientize e participe de forma concreta fazendo
um trabalho continuado adotando políticas antibullying na formação dos alunos.
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Portanto, a escola é o local onde os educandos passam grande parte do seu
dia, é primordial que esse tempo seja agradável, saudável, o ambiente favorável e
que todos sejam respeitados como cidadãos para que o ensino e aprendizagem
aconteçam. Logo, é preciso que todos os educadores envolvidos na vida escolar dos
alunos estejam atentos, com um olhar especial, para que vidas não sejam
destruídas, mas sim, que cada aluno possa ali, crescer, sonhar e construir um
mundo digno e feliz.
1.1 Leitura de textos sobre bullying
Por meio da leitura de textos sobre o tema proposto, pretendeu-se minimizar
o bullying nas escolas. Nos últimos anos, a escola EEROU trabalha com sala de
recursos. De acordo com a observação de professores da escola, relato de alunos e
pais da comunidade escolar, muitos desses alunos sofrem bullying, pelo fato de
serem „diferentes‟. A sociedade ainda tem dificuldade de aceitar, conviver e se
relacionar com essas pessoas, que apresentam dificuldades de aprendizagens, ou
seja, os diferentes são discriminados.
De acordo com o artigo 227, da Constituição Federal, (Redação dada Pela
Emenda Constitucional nº 65, de 2010)
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, e opressão.
Portanto, cabe a todos a responsabilidade pelas crianças, como também,
deve-se discutir constantemente sobre o bullying no ambiente escolar, pois os pares
se encontram nesse espaço. No entanto, é preciso dar voz e vez aos estudantes,
para que se sintam pertencentes e acolhidos neste ambiente e percebam a sua
valorização. Os alunos precisam aprender a relacionar-se e sensibilizar-se com o
próximo.
Segundo o Artigo 5º do ECA (Eca, 1990, p. 8)
Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
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Assim, interpretando as leis que regem o nosso país, fica claro que, as
crianças, adolescentes e jovens estão amparadas de acordo com a lei, e acima de
tudo, é obrigação do Governo, sociedade, educadores prevenir qualquer tipo de
violência e protegê-los, oferecendo-lhes segurança, educação, uma vida digna e de
qualidade.
Acredita-se que, por meio de textos literários sobre bullying, pode-se
conscientizar os educandos perante esse fenômeno presente na escola. De acordo
com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná (2008,
p.280) “compreende-se a leitura como um ato dialógico, interlocutivo, que envolve
demandas sociais, históricas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento”.
Portanto, acredita-se que o professor deve propiciar aos seus educandos textos das
diferentes esferas sociais, para que eles tenham acesso ao saber, informação e a
cultura letrada. Para o educador Freire (2003, p.11) “a leitura do mundo precede
sempre à leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura
“daquela.” Nesse sentido, é importante colocar os alunos em contato com o mundo
por meio da leitura, para que ele possa, por meio dos livros e de acordo com a sua
realidade, fazer a interpretação necessária e atribuir sentido e significado para a sua
vida.
1.2 Leitura, motivação e aprendizagem
A leitura completa o ser humano em todos os sentidos, preenchendo vazios,
despertando emoções, e sensações. De acordo com Bloom (2001), “Uma das
funções da leitura é nos preparar para a transformação e a transformação final tem
caráter universal”. Portanto, o ser humano é moldado pela leitura, e logo é
transformado em um ser reflexivo, pensante e livre.
De acordo com Solé (1998), a motivação é um fator relevante a ser
considerado na leitura, deve-se investir em estratégias para conquistar o leitor e
segundo Lobato (1936, p.32), a leitura não pode ser imposta, que dizia que, isto
seria como “vacinar o sujeito” contra leitura. É preciso cultivar o hábito da leitura,
inovando com estratégias que emocionem, convençam, informem, motivem e
despertem o interesse nos alunos pela leitura. Se o professor for leitor, com certeza,
saberá motivar seus alunos a ler livros indicando boas referências e fazendo
comentários referentes a autores e obras. Dessa forma, estará motivando seus
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alunos e incentivando-os a procurar livros em bibliotecas ou até mesmo pedir de
presente em datas comemorativas.
A autora afirma que:
Não devemos esquecer que o interesse se cria, se suscita e se educa e que em diversas ocasiões ele depende do entusiasmo e da apresentação que o professor faz de uma determinada leitura e das possibilidades que seja capaz de explorar. (SOLÉ, 1998, p. 43)
Nesse sentido, cabe ao professor usar a inteligência, a criatividade e acima
de tudo saber conquistar o seu aluno, sendo exemplo, porque só um grande leitor
pode formar leitores. Para conseguir fazer um trabalho produtivo, o professor, em
sala de aula, deve estar atento a cada aluno, com um olhar especial, com suas
particularidades, suas necessidades, e atendê-lo de forma individual quando
necessário, para instruí-lo e orientá-lo, para que a leitura ocorra de forma
espontânea, dando ênfase, para que cada aluno leia de acordo com o seu ritmo. No
decorrer da implementação, propôs-se a leitura de livros usando estratégias
variadas, esperando que o aluno, lesse de forma voluntária, buscasse livros em
bibliotecas, e lesse por prazer. Uma série de fatores interfere no processo de
formação de leitores e ensino e aprendizagem. Formar leitores neste mundo
tecnológico é uma tarefa árdua, mas não impossível. Pelo fato de poder levar o livro
a qualquer canto, ele ainda é especial e mágico.
Solé (1998) relata que o conhecimento de mundo da criança é de extrema
importância para o seu desenvolvimento intelectual e a aprendizagem. O meio em
que a criança vive também interfere no seu crescimento. A criança cresce
interagindo com o meio e é ali que ela também se desenvolve e aprende. Todo esse
conhecimento é de fundamental importância para ela ter sucesso na aprendizagem.
Na escola, ela acrescenta informações e vai desenvolvendo as suas aptidões em
busca do sucesso como cidadão independente e livre. Quanto mais conhecimento
de mundo a criança tiver, melhor, pois saberá interagir de forma sábia e inovando
para a aprendizagem acontecer. Já para Kleiman (1997, p.7), “a aprendizagem da
criança na escola está fundamentada na leitura”. Portanto, para a criança aprender,
ela precisa saber ler, compreender, interpretar e interagir com o texto. Em suma, o
professor precisa investir na leitura e nos livros, e a aprendizagem só vai acontecer
se a leitura estiver aliada aos demais saberes.
De acordo com Kleiman (1997, p. 13)
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A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento linguístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. E porque o leitor utiliza justamente diversos níveis de conhecimento que interagem entre si, a leitura é considerada um processo interativo. Pode-se dizer com segurança que sem o engajamento do conhecimento prévio do leitor não haverá compreensão.
Para tanto, é importante que, o aluno tenha um bom conhecimento linguístico
e possa assim interagir com o texto, atribuindo significado de acordo com o seu
conhecimento de mundo. Dessa forma, o texto pode levá-lo a reflexão, sendo
mediador para transformá-lo como sujeito desse mundo e assim tornar-se um
cidadão emancipado e livre.
Segundo Lajolo (1982, p. 59), ler não é decifrar, muito menos fazer um jogo
de adivinhações para descobrir-se o sentido do texto, mas sim compreender a
mensagem que o autor quer transmitir. Na medida em que, a partir da leitura do
texto, o leitor for capaz de atribuir-lhe significado e conseguir relacioná-lo a outros
textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que o seu autor
pretendia, logo, aliar o texto e a sua leitura de mundo, assim entregar-se a esta
leitura ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista. Enfim, interagindo com
o texto, segundo com a sua vivência de mundo, ele estará lendo o texto de sua
forma, ou seja, ressignificando-o de acordo com o seu mundo.
De acordo com Geraldi (2014, p. 91) o leitor “reconstrói o texto na leitura
atribuindo-lhe a sua (do leitor) significação.” Desse modo, conclui-se que, a leitura
representa um universo de significados que precisam ser explorados por seus
leitores. No entanto, não existem fórmulas mágicas para formar leitores e fazê-los
interagir com os textos e seus significados. Porém, acredita-se que os educadores
criativos e incansáveis, saberão usar estratégias inovadoras para despertar o
interesse e a motivação dos alunos.
2. Análise da aplicação do Projeto de Intervenção Pedagógica
A implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica ocorreu entre
fevereiro e junho de 2017, na Escola Estadual República Oriental do Uruguai,
Avenida Presidente Affonso Camargo, 3407 no bairro Capão da Imbuia, Curitiba,
Paraná. Considerando que, na realidade escolar, muitos alunos não têm o hábito de
leitura e, quando leem, é por imposição, e não por prazer, iniciou-se o projeto com a
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atividade, visita guiada à biblioteca. Neste dia, os alunos receberam algumas
orientações quanto ao seu funcionamento, ouviram a história “Marcelo, Marmelo,
Martelo” de Ruth Rocha, contada pela professora e fizeram empréstimos de livros.
Decidiu-se que, as visitas aconteceriam a cada dez dias, durante as aulas de Língua
Portuguesa. O projeto foi aplicado no horário das aulas, na turma do 6° B, no
período da manhã, totalizando trinta e duas (32) aulas. Das cinco (5) aulas
semanais, uma (1) foi reservada para a implementação do projeto.
O objetivo desta atividade foi motivá-los a ler. Segundo Solé (1998), cada
aluno lê de acordo com o seu ritmo e tempo e a leitura deve ser trabalhada de
diversas formas, coletiva e individual. A escolha do título na biblioteca é sempre
livre, para que o ato de ler possa contribuir de forma benéfica para o educando, e
colaborar com o processo de ensino da escola e formação de leitores.
Os alunos gostaram muito da experiência, retornaram à sala, entusiasmados
com os livros escolhidos, mostrando-os aos colegas. Aprenderam que a biblioteca
deve ser valorizada, que é um ambiente de leitura, informação, cultura e transmissão
de conhecimento. Segundo o relato da professora Vilmarise, e do professor Jorge,
bibliotecários, houve um interesse significativo por parte dos alunos envolvidos no
projeto PDE, durante o semestre. Estes se mostraram motivados a procurar a
biblioteca, selecionar obras de qualidade, comentar com os colegas referentes os
livros lidos e até fazer indicações de títulos. Alguns alunos sugeriram melhorias,
como catalogar as obras e assim, melhorar o funcionamento deste espaço. Fizeram
também um marcador de página, onde usaram a criatividade, escrevendo os nomes
dos escritores preferidos e frases famosas, com letras desenhadas e coloridas.
Estão usando-os em seus livros.
Durante o projeto, contou-se também com a participação da comunidade
escolar, ou seja, os vinte e sete (27) pais dos alunos da turma, envolvidos no projeto
PDE, participaram de uma pesquisa relacionada ao bullying e à leitura. Essa foi
realizada no mês de junho, e teve como objetivo obter dados tanto aos aspectos
motivacionais relacionados à leitura, quanto à conscientização ao fenômeno bullying.
Segue a citação de uma mãe: “Muito bom o projeto de colocar leituras que retratam
o cotidiano das crianças e ajudem-nas com problemas atuais como o bullying”. Foi
realizada uma enquete, como mostram as figuras a seguir:
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Figura 1: Pesquisa referente à leitura realizada com os pais.
De acordo com a Figura 1, a turma do 6º B, que participou do Projeto PDE,
retirou da biblioteca e leu duzentos e trinta e três (233) livros, durante o primeiro
semestre, de fevereiro a junho de 2017. Nesse mesmo período, a turma do 6º C, da
mesma escola, que não participou do projeto de leitura do PDE, com atividades de
motivação, retirou apenas trinta e um (31) livros. Vale ressaltar que, a turma do 6º B,
procura a biblioteca em aulas vagas, intervalos, uma vez que muitos alunos fizeram
da leitura um hábito. Segundo os pais dos alunos participantes do projeto, este
contribuiu de forma significativa para a formação de leitores. Dos vinte e sete (27)
pais, que participaram da pesquisa, vinte e cinco (25) responderam que a
implementação foi benéfica para os alunos, e apenas dois (2) responderam que não
foi satisfatória.
Em relação à leitura prazerosa e por diversão, vinte e quatro (24) pais
responderam que os filhos estão lendo por prazer e diversão, e apenas três (3)
responderam não. Quanto à procura de livros de forma voluntária, vinte e quatro (24)
pais responderam que os filhos buscam livros espontaneamente, e três (3)
responderam não.
Dessa forma, o Projeto de Intervenção teve grande relevância na escola.
Como se observa, obteve-se um aumento significativo da retirada de livros na
biblioteca, contribuindo para a formação de leitores.
233
31 252
24
3
24
30
50
100
150
200
250
6º B 6º C Sim Não
O seu filho está lendo por prazer e diversão?
O seu filho procura livros de forma voluntária?
Na sua opinião, o projeto contribuiu para a formação de leitores?
Quantidade de livros retirados da biblioteca e lidos pelos alunos da turma
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Durante a implementação, também foi realizada uma enquete referente o
bullying.
Figura 2: Pesquisa referente ao bullying realizada com alunos e pais.
Como mostra a Figura 2, o projeto teve grande relevância para amenizar o
bullying no espaço escolar. Segundo todos os vinte e sete (27) pais entrevistados, o
projeto contribuiu para minimizar essa prática. Segue a frase de uma mãe: “O
colégio está lidando de uma excelente forma. Fazendo com que os alunos tenham
mais consciência do que é o bullying”.
Em relação à pesquisa realizada com os alunos, dezessete (17) disseram que
já foram vítimas da prática de bullying, e apenas dez (10) responderam não. Dos
vinte e sete (27) pais que participaram da pesquisa, apenas um (1) respondeu que
seu filho já foi vítima de cyberbullying.
Perguntamos se os adolescentes estão preparados para utilizar a tecnologia
de forma benéfica, ou seja, para fins de pesquisa, leitura ou busca de
conhecimentos de forma voluntária; além de usá-la de forma saudável nas relações
comunicativas nas redes sociais. Dos vinte e sete (27) pais que participaram da
pesquisa, vinte e um (21) responderam sim e apenas seis (6) responderam não. Os
21
6
17
10
10
171
26
27
0
0
10
20
30
40
50
60
Pais que reponderam
sim
Pais que responderam
não
Alunos que responderam
sim
Alunos que responderam
não
De acordo com a sua opinião, o projeto contribuiu para amenizar o bullying no espaço escolar?
Seu filho já foi vítima de cyberbullying?
Segundo a sua opinião, os adolescentes estão preparados para usar a teconologia de forma benéfica?
Você já sofreu bullying?
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alunos também responderam a essa questão. Dos vinte e sete (27) participantes,
dez (10) disseram sim e dezessete (17) não.
Pôde-se concluir que o projeto teve extrema relevância para a sensibilização
dos alunos, para a prevenção do bullying e conscientização perante esse fenômeno.
Com o intuito de estimular os alunos à leitura, já no início da implementação,
apresentou-se os três títulos literários: “Se liga, Charles!” de Vincent Cuvellier,
“Perseguição” de Tânia Alexandre Martinelli, e “Ponte para Terabítia” de Katherine
Patterson, e destacou-se a importância da leitura do tema bullying aos alunos. Esse
momento foi importante para que todos tomassem ciência da relevância do projeto,
e da necessidade de intervenção quanto à prática de bullying no ambiente escolar.
Iniciou-se a aula de leitura utilizando estratégias de Solé, (1998, p. 184)
realizando algumas questões orais como: Vocês têm o hábito de ler? O que vocês
gostam de ler? Vocês já leram algum livro com assunto parecido? Alguns alunos se
manifestaram dizendo que gostam de ler, mas poucos realmente tinham esse hábito.
Promovendo e despertando o gosto pela leitura, começou-se com o livro “Se
liga, Charles!”. Durante a aula, os alunos manifestaram-se de forma positiva,
mostrando interesse na história e especialmente no personagem Charles, que
provocou muita curiosidade. Durante a leitura, foram feitas algumas pausas para
comentários, e alguns alunos relataram que já haviam sofrido bullying. Inclusive, no
final da aula, uma das alunas procurou-me dizendo: “Professora, eu já fui vítima de
bullying na minha escola, me chamavam de carvão”. Conversamos e orientei-a a
respeito do tema. Expliquei-lhe que, em qualquer situação de preconceito,
discriminação ou situação constrangedora, procurasse alguém da escola, e
relatasse o ocorrido, para que providências sejam tomadas. Dessa forma, concluiu-
se o livro, e os alunos mostraram-se entusiasmados com a história. Em seguida,
iniciaram-se as atividades da produção didática, confecção dos “bonecos”, e um dos
personagens principais escolhido pela maioria, foi Charles. Também, para aguçar o
interesse pela leitura, começou-se a confecção do passaporte do leitor.
Dando continuidade à implementação, iniciou-se a leitura do livro
“Perseguição”, de Tânia Alexandre Martinelli, até a página 12, onde se fez uma
pausa. Nesse momento da história, o personagem Leo sofre bullying perante os
seus colegas, é humilhado, e é um momento constrangedor para ele. Perguntei aos
alunos por que o Leo não reagiu perante a agressão. Um deles respondeu: “Porque
estava com medo que eles só ficassem mais bravos”. Continuou-se a leitura, sempre
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fazendo pausas. Em uma das passagens do livro, a personagem Malu também
sofreu bullying. Na história, as colegas deixam um bilhete que fala “Malu, esponja de
aço, arame farpado, cabelo duro seco e ridículo... Malu, você é uma piada” (p.15).
Durante os comentários, um aluno fez um relato de forma voluntária dizendo:
Aluno A: Quem escreveu queria deixar ela deprimida, de ela não ir mais para a escola, como aconteceu uma vez comigo, quando zoaram comigo. Me zoaram por causa de meu sobrenome, quase entrei em depressão, fiquei um mês e meio em casa.
Após os comentários, foi lida a história até a passagem da formatura, e da revolta do personagem Leonardo, e realizou-se uma pausa. Seguem algumas falas:
Professora: O que você achou da atitude do Leo no dia da formatura? Aluno A: Como ficaram zoando dele desde pequeno, fez para se vingar, não fez antes para não ser expulso. Também faria, ele ficou depressivo, queria se vingar, também destruiu o dia dos outros. Professora: - O que você faria no lugar do Leo? Aluno B:Eu faria a mesma coisa, eu sofri o ano inteiro, ninguém se lixou comigo, porque vou lixar para os outros? Professora: O que você pensa de tudo isso? Aluna C: Ele estragou a formatura de muita gente que não fizeram nada para ele. Professora: Você acha correta a atitude do Leo? Aluno D: Nesse momento, quando a gente sofre bullying, a gente não sabe o que é certo e o que é errado. Na hora da raiva, não pensa nas consequências. Quando eu sofri bullying, não consegui me segurar, peguei uma cadeira e bati contra a parede.
Nestes relatos de alunos, que inclusive já sofreram bullying na escola, fica
claro como é difícil lidar com esse fenômeno. Alguns alunos, nem mesmo
conseguem falar dessa violência, outros aos poucos vão adquirindo confiança e
relatando com muita dor o que já vivenciaram. Nas falas registradas, percebeu-se
que ficaram marcas amargas, estas talvez não sejam esquecidas, porque quem é
ferido, machucado, dificilmente esquece. A memória, tudo registra. Portanto, é
necessário fazer a prevenção do bullying nas escolas, porque estes alunos precisam
de ajuda.
Dando sequência as aulas, os alunos participaram da leitura, sempre se
envolvendo na história, posicionando-se perante o fenômeno bullying. Assim,
concluiu-se o livro, dando sequência às atividades, confecção do boneco,
passaporte do leitor e atividades escritas.
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Continuando à implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na
escola, iniciou-se a leitura do livro “Ponte para Terabítia”. Foram usadas as mesmas
estratégias adotadas no livro “Perseguição”. Os alunos posicionaram-se durante a
leitura manifestando-se criticamente perante o fenômeno bullying praticado pelos
colegas no espaço escolar.
Nestes relatos, inclusive um dos alunos confessou não ter televisão em casa,
e que já passou por situações parecidas na vida escolar, como as vivenciadas pela
personagem Leslie. O aluno relatou como foi difícil a adaptação na nova escola, as
amizades e o convívio social. Segue uma das falas do aluno:
“Foi difícil passar do município para o Estado, com regras muito mais rígidas e
o principal medo de reprovar, tudo mudou. Não há mais as famosas copas
esportivas e passei de alegre a antissocial com muitos poucos amigos.”
Foi realizada uma atividade escrita em sala de aula com algumas questões.
Um delas era: Você já passou por algum fato semelhante, por não possuir um
objeto, celular ou tablet mais moderno? Como você se sentiu? Comente. Segue a
fala do aluno: “Sim, inclusive não possuo TV e me senti diferente, excluído, foi uma
sensação péssima.”
Após a leitura dos livros sugeridos no Projeto de Intervenção Pedagógica na
escola, realizaram-se as atividades propostas na produção didática, foram
confeccionados os bonecos e o passaporte do leitor, que foi realizada com a
participação da família, esta foi uma forma de trazer a família à escola. Tivemos a
participação de pais, avós e irmãos na elaboração dos materiais, que foram
confeccionados com produtos recicláveis e retalhos de tecidos.
Assim, concluiu-se a elaboração desses trabalhos, e foi feita uma exposição
para toda a escola. Decorou-se uma sala de aula, expondo cartazes,
confeccionados pelos alunos, os passaportes de leitor e os bonecos. Também foi
exibido o vídeo “Bullying: que papo é esse” aos alunos, no auditório da escola, onde
os alunos falaram do projeto, relatando sobre os personagens preferidos e falando
referente ao bullying, conscientizando, dessa forma, os estudantes perante a
disseminação dessa prática no espaço escolar, onde os alunos aproveitaram
também a oportunidade e fizeram a publicidade do livro.
A publicidade do livro também foi realizada na sala de aula, onde os alunos
falaram dos seus livros preferidos que possuem em suas casas e os que estão
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lendo. Alguns alunos trouxeram coleções, como: “Uma garota nada popular” e “O
diário de um banana”, entre outros. Seguem algumas falas:
Professor: O que você aprendeu com a leitura do livro? Aluno A: Aceitar a vida como ela é. As outras pessoas podem ter muito mais problemas do que você tem. Aluna B: Eu aprendi que não devemos ignorar os outros, que isso é muito difícil.
Os alunos, durante a visita e exposição fizeram várias perguntas referentes
ao tema e, após a exposição, sentiram-se motivados e encorajados a procurar a
equipe pedagógica para relatar a prática de bullying que ocorre na escola. Segue a
fala da pedagoga Clarice:
Durante o projeto, ocorreu a sensibilização dos alunos quanto à prática do bullying, alguns casos foram detectados pelos próprios estudantes, que se conscientizaram de suas atitudes tanto da ação prática quanto sofrida, muitos procuraram ajuda na equipe pedagógica.
Percebe-se no relato da pedagoga da escola, que o Projeto de Intervenção
Pedagógica foi significativo para os alunos e a escola como um todo, pois alunos
que vinham sofrendo bullying procuraram a equipe pedagógica para pedir ajuda e
superar esse problema.
Nesse estágio da implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica,
observou-se algumas práticas de bullying que ocorreram no ambiente escolar. Logo,
realizou-se a intervenção com a ajuda da equipe diretiva e pedagógica. Um dos
alunos, do 6º ano, que é da inclusão, sofreu bullying pelos colegas em sala de aula.
O aluno apresenta retardo na linguagem e muitas dificuldades de aprendizagem.
Desde o início do ano letivo, percebeu-se a necessidade de trabalhar a questão da
socialização e interação dos alunos. No entanto, este teve muita dificuldade de ser
aceito pela turma, inclusive recebendo apelidos. No princípio, fizemos uma conversa
em grupo, com alunos, professores e equipe pedagógica, o que melhorou um pouco
a questão do relacionamento, mas não resolveu o problema. Decidiu-se convocar a
família. Para a reunião, compareceram o avô e o pai. Descobriu-se que o aluno
mora com a madrasta, e mais dois irmãos menores, com os quais não tem bom
relacionamento, ou seja, também sofre bullying devido às dificuldades que
apresenta, uma delas é na escrita e na oralidade.
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Às vezes, o aluno está bastante irritado em sala de aula, e não é
compreendido pelos colegas. Realiza-se um trabalho constante de diálogo entre os
estudantes, equipe pedagógica e diretiva para que ambos se conscientizem e
saibam lidar com as diferenças. Nesta sala, há vários alunos de inclusão, com
inúmeras dificuldades, inclusive de relacionamento e interação com o grupo.
Conversa-se com a turma, sempre quando necessário, para encontrar a melhor
solução que satisfaça a todos, e assim superar as dificuldades dos alunos e
contribuir com a educação.
No entanto, percebeu-se que, o bullying está interferindo no processo da
aprendizagem do aluno, porque às vezes, está impaciente, não tem concentração,
mostra-se revoltado, bate a porta da sala de aula, joga os materiais no chão, anda
muito pela sala. Parece um grito de socorro. Os alunos da sala, ainda não
aprenderam a lidar com o colega „diferente‟; trabalha-se ainda com essa questão,
mas a sociedade é muito resistente, acompanha a mídia e prefere conviver com
pessoas idealizadas.
3. Compartilhando experiências no GTR
O Grupo de Trabalho em Rede (GTR) faz parte do PDE, é uma formação
continuada oferecida aos professores públicos da rede de ensino, que foi realizado
no Ambiente Virtual de Ensino de Educação do Paraná, plataforma Moodle. O
objetivo deste trabalho foi compartilhar o Projeto de Intervenção Pedagógica com
professores da Rede Estadual de Ensino e trocar experiências. Neste espaço, pôde-
se construir o conhecimento de forma coletiva, interagir nesse meio, oportunizando a
todos os participantes a expressar-se e contribuir com o conhecimento adquirido ao
longo da vida profissional como educadores. No GTR são apresentadas três
temáticas: o Projeto de Intervenção Pedagógica, a Produção Didática e a
Implementação do projeto na Escola; o curso virtual era composto por nove (9)
atividades de fóruns e diário.
Na primeira temática do Módulo I, após a leitura do projeto, foram realizadas
as atividades propostas que abordaram os temas: o incentivo à leitura e a prática de
bullying no ambiente escolar. Confirmou-se que, essa prática vem ocorrendo em
muitas escolas e de forma agravante no ambiente virtual, o chamado cyberbullying.
Vários cursistas contribuíram relatando a omissão das famílias no acompanhamento
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diário de seus filhos, e como reflexo, há práticas de atos de irresponsabilidade
realizados por jovens imaturos e sem limites.
Segundo o relato dos professores que participaram do GTR 2017, muitos pais
pouco participam da vida escolar de seus filhos. Assim, essas crianças e
adolescentes, ficam vulneráveis tanto para praticar crimes como cyberbullying, como
para serem vítimas dessa violência cruel, que atinge muitas pessoas atualmente.
Dentre os relatos postados, cita-se:
Certamente! Os filhos não são responsabilidade dos pais? Pois bem, cuidar significa saber o que o filho está fazendo. A sociedade „moderna‟ ganhou muito em tecnologia, informação, mercado de trabalho, mas por outro lado, muitos valores foram perdidos ou passaram a ser entendidos de forma equivocada. Se o filho, criança, adolescente, adulto, está fazendo algo errado e prejudicial ao outro, é sim dever dos pais auxiliar e corrigir.
Segundo o relato da cursista, que participou do GTR, 2017, o mundo evoluiu
de forma rápida na questão tecnológica, mas por outro lado, a sociedade está
perdendo valores como, por exemplo, a educação dos filhos, tarefa que está sendo
transferida para a escola, que tem a função de ensinar. Cita-se mais uma
contribuição, de outro cursista, indignado com a ausência dos pais na vida escolar.
Nos últimos anos, as famílias estão delegando às escolas, funções que são suas (família) e a sociedade concorda com este comportamento de transferência de responsabilidade... No combate ao bullying, a participação da família é primordial.
Percebeu-se entre os cursistas que participaram desse GTR 2017, que os
pais estão muito afastados da escola, muitas crianças vêm sem limites, não
aprenderam a dividir um mesmo espaço, uma sala de aula, por exemplo. Logo,
numa turma de trinta (30) a trinta e cinco (35) alunos diversificados, de inclusão,
muitas vezes, a prática de bullying acontece. A participação da família é
importantíssima tanto na prevenção dessa violência, quanto a presença dos
familiares para acompanhar a vida escolar do aluno. Como uma criança de onze
(11) a doze (12) anos pode aceitar a rejeição dos colegas? Segue mais uma fala de
um cursista:
A exclusão social ocorre com frequência em sala de aula, pois as crianças ou adolescentes são mais explícitos nesse comportamento, muitos não têm o pudor de disfarçar a preferência pela aparência física, melhor vestida e poder econômico para fazer amizades. Os mais humildes sentem na pele esse tratamento discriminatório e se isolam, tornando-se um alvo mais fácil para os praticantes do bullying.
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Neste relato fica clara a ocorrência da prática do bullying em sala de aula, e
essa é uma realidade presente e constante em muitas escolas. As crianças acabam
se isolando vivendo de forma marginalizada, e excluindo-se do grupo. É necessário
que, nas escolas todos os educadores estejam atentos para qualquer sinal
„diferente‟, para que possam logo tomar providências concretas e amenizar essa
violência no espaço escolar. Percebeu-se também durante o GTR, 2017, que alguns
profissionais da educação sentem dificuldade em lidar com o assunto por falta de
orientação ou por tratar-se de um assunto delicado.
A segunda temática foi referente à produção didática. Após a leitura e análise
do material produzido pela professora PDE, os cursistas participaram relatando os
desafios presentes em sua escola, mostrando possibilidades de trabalhar com os
materiais elaborados pela tutora, de modo a prevenir a prática do bullying no
ambiente escolar e contribuir para a formação de leitores.
Por fim, na terceira temática, foi socializada com os cursistas a relevância da
aplicação do projeto e contou-se com contribuições enriquecedoras dos
participantes. Estes relataram que o projeto é viável e pertinente a realidade escolar,
podendo amenizar as práticas antissociais, construindo pontes para um futuro com
mais respeito, e, sobretudo na boa convivência, em um ambiente seguro e saudável.
Portanto, é necessário que esse tema seja abordado em sala de aula, em casa, nas
redes sociais, enfim, divulgado de forma ampla na sociedade, dando voz e vez a
todos, para exporem suas dúvidas e para que possam dar sugestões, e juntos
construir um mundo melhor.
Vale ressaltar que, neste GTR 2017, os participantes valorizaram o trabalho
de prevenção do bullying por meio de textos literários, uma vez que, estes
contribuem de forma significativa para a conscientização referente a essa violência,
e ainda podem formar leitores.
4. Considerações finais
Após a implementação “A importância da leitura na escola básica com textos
sobre bullying”, percebeu-se que o projeto possibilitou realizar um trabalho de
prevenção e conscientização perante a disseminação desse fenômeno no ambiente
escolar. Do mesmo modo, houve a sensibilização quanto à importância da leitura
prazerosa na escola. Assim como, um trabalho de incentivo a visitas frequentes à
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biblioteca, em busca de livros que pudessem servir como fonte de informação,
conhecimento, cultura, diversão e contribuir na formação cidadã do aluno.
Ressalta-se ainda, que a motivação, segundo Solé, é um dos aspectos
fundamentais e relevantes a ser considerados nessa prática pedagógica para a
formação de leitores.
Tendo como referencial na implementação do projeto, metodologias
inovadoras, ressalta-se que, para Solé, este é um dos aspectos fundamentais e
relevantes a ser considerados na prática pedagógica para a formação de leitores.
Uma vez que, durante a intervenção ficou evidente que há o envolvimento dos
alunos nas atividades diferenciadas propostas e em algumas delas, até a
participação da família.
Para a seleção dos livros literários, é interessante levar em conta, o
conhecimento literário dos alunos, a vivência leitora, pois se sentirão mais motivados
a ler e buscar novas leituras. Para tanto, na biblioteca, oportunizou-se a escolha dos
gêneros literários, como também, os escritores e suas obras preferidas. Dessa
forma, procurou-se instigar o gosto pela leitura com o intuito de formar leitores para
a vida toda.
Conclui-se que, o Projeto de Intervenção Pedagógica, foi relevante para a
escola por meio da leitura de textos literários, e preveniu-se o bullying no espaço
escolar. Os alunos da Escola República Oriental do Uruguai, foram informados,
esclarecidos e conscientizados quanto à prática do bullying e cyberbullying.
Tomaram consciência de que um ato de crueldade, impensado, pode deixar marcas
eternas e interferir no futuro de muitas pessoas. Portanto, juntos, equipe diretiva,
pedagógica, professores, alunos e comunidade escolar, refletiram referente ao tema.
Durante o ano, vários alunos procuraram a equipe pedagógica para pedir orientação
e ajuda sobre conflitos relacionados a essa violência.
Enfim, após este estudo, entendemos que devemos prevenir de forma
constante a prática do fenômeno bullying no ambiente escolar. Assim como, a leitura
de textos sobre essa violência foi uma forte aliada para conscientizar os alunos e
amenizar essa prática. Além de ter contribuído para a formação de leitores, os
instigou a frequentar a biblioteca, tornando este hábito um momento de prazer.
Por tudo isto, um agradecimento especial a Drª Claudia Garcia Cavalcante,
por sua dedicação, paciência e todas as orientações durante o PDE, que
contribuíram de forma enriquecedora para este trabalho.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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