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Um capítulo aperitivo. Boa leitura!

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RONALDO CONDE AGUIAR

RR

Alegrias, venturas e

esperanças:

os anos 1950 e suas ad

jacências

GUIA GUIA DODOPASSADOPASSADO

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Sumário

Nós sempre teremos a nossa Amarcord 11

Linha do tempo – Y así se pasaran diez años 17

Capítulo 1

Guia do teatro de revista ou viva o rebolado! 35Capítulo 2

Guia das chanchadas 61Capítulo 3

Guia dos bondes, reboques e taiobas 89Capítulo 4

Guia dos velhos carnavais 103Capítulo 5

Guia das boates de Copacabana 117Capítulo 6

Guia dos crimes que abalaram o Brasil 133Capítulo 7

Guia do futebol carioca e paulista 151Capítulo 8

Guia do samba-canção e da marcha-rancho 177Capítulo 9

Guia do futuro 199

Teste a sua memória 210

E para terminar... 221

Bibliografia 225

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Nós sempre teremos a nossa Amarcord

Antes que me acusem ou torturem, vou logo entregando o ouro: este Guia do passado é seletivo, foi trabalhado em cima das minhas referências e sauda-des pessoais, que com certeza não coincidem inteiramente com as referências e saudades dos leitores, inclusive os da minha geração. Muitas recordações, no entanto, serão comuns.

Os anos 1950 tiveram no Brasil duas bandas: a primeira compreendeu o se-gundo governo de Getúlio Vargas (1951-1954), que lançou um grande projeto nacionalista, voltado para a emancipação do país. Foi o período da criação da Petrobras, da Lei de Remessa de Lucros, do esforço de criação da Eletrobrás, do enfrentamento de uma série de obstáculos internos e externos ao desen-volvimento brasileiro. A segunda banda da década de 1950 correspondeu ao governo de Juscelino Kubitschek, período em que o Brasil foi bafejado por um profundo sentimento de euforia e desenvolvimentismo. Criamos, nessa época, a Bossa Nova, o Cinema Novo, a poesia concreta. Ganhamos a Copa do Mundo da Suécia, construímos Brasília em três anos (e não em cinco, como se proclama),

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fizemos a nossa grande marcha para o oeste. Surgiram os grandes eixos rodovi-ários. O projeto de governo de JK só foi possível porque houve antes o projeto de nação de Vargas. Um completou o outro. Tinha-se a ideia de que o Brasil iria dar certo.

Os anos 1950 são os anos da minha geração – e neles fincamos os alicerces daqui-lo que somos ou deixamos de ser. Os anos seguintes foram apenas consequências naturais das nossas sementes. Minha geração viu de tudo nos anos 1950: vimos um presidente se matar e transformar a sua derrota numa vitória política; tive-mos um presidente bossa nova, bem-humorado, sorridente; e, depois, já nos anos 1960, uma ditadura militar, cruel e antipopular, cujos tiranos não sabiam rir.

Vivíamos uma época em que a televisão praticamente inexistia – o único ca-nal no ar, a Tupi, só funcionava das 18 às 22 horas. Computador, internet, Ipad, Ipod, celular, DVD e demais parafernálias eletrônicas, hoje tão corriqueiras nas mãos de crianças, eram inimagináveis nos anos 1950. Emaranhado quântico, na-notecnologia, universos paralelos, viagens às imensidões galácticas, seleção de embriões para gerar bebês mais saudáveis, livres de doenças provocadas por genes defeituosos – como poderíamos imaginar que a ciência fosse chegar tão longe?

Comparando com os dias atuais, tudo era precário nos anos 1950. Viagem ao espaço, por exemplo, era coisa de Flash Gordon e de suas fantásticas naves sus-pensas por fios e barbantes. Lembro-me de que passamos – eu e outros meninos – uma tarde inteira de sábado diante de um aparelho de TV aguardando a sensa-cional transmissão de um jogo de futebol diretamente do “confortável estádio do Pacaembu”, em São Paulo. Como não existiam satélites artificiais, uma prosaica chuva pelos lados de Taubaté cortou as comunicações entre Rio e São Paulo, inclusive as telefônicas (já em si precárias, mesmo em dia de sol). Não vimos o jogo, mas gastamos inutilmente uma tarde de sábado sentados diante de um apa-relho de TV que só tocava o irritante prefixo da emissora. Os meninos de hoje, que podem assistir ao vivo e em tempo real aos Jogos Olímpicos de Pequim, à Copa do Mundo da África do Sul e aos clássicos dos campeonatos europeus, não imaginam como nós, meninos dos anos 1950, sofremos.

Resta o consolo de saber que naquele tempo nós tínhamos a chanchada e o teatro de revista. Tínhamos Virgínia Lane e Carmem Verônica, no auge de sua beleza. Tínhamos Garrincha e Pelé. Tínhamos o bonde e a Rádio Nacional. Tí-nhamos Marlene e Emilinha. Tínhamos Ary Barroso e Lamartine Babo. Tínha-mos Sérgio Porto e Antônio Maria. Tínhamos Mazzaropi e o Tico-Tico. Tínhamos Oscarito e Grande Otelo. Tínhamos as boates de Copacabana e a Praia do Flamengo sem aterro, onde os casais namoravam e pecavam, sem medo, sentados na mureta de pedra. Tínhamos a PRK-30 e o Balança, mas não cai. Tínhamos Jerônimo, o herói do sertão, e o Moleque Saci. Tínhamos Reco-Reco, Bolão e Azeitona.

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De lá para cá, o mundo mudou rapidamente. Primeiro, o Sputnik. Depois a viagem do Gagarin, autor da frase luminosa: “A Terra é azul!” Frase que Vinicius de Moraes, na canção “O astronauta”, dele e de Baden Powell, complementou: “Isso é bom saber. Porque é bom morar no azul, amor.”

A seguir, tivemos o passeio dos americanos Neil Armstrong e Edwin Aldrin na superfície lunar. As primeiras canetas esferográficas falhavam, fediam e vazavam – hoje, elas têm design e cores variadas, não fedem, não falham e não vazam, uma maravilha. Tanto que Ulysses Guimarães assinou a Constituição de 1988 com uma delas, fato que a imprensa registrou como algo formidável. E foi.

Com o advento das esferográficas, canetas Parker 51 e as esterbrooks foram aposentadas e, hoje, são peças de coleções ou de museus. As escolas exigiam que os meninos usassem uniformes impecáveis; hoje os meninos vão às escolas de bermudas, chinelos e cara de sono. O homem dominou a energia nuclear, pôs uma geringonça para passear em Marte (ao som alegre de “Coisinha do pai”, de Jorge Aragão, na voz de Beth Carvalho), enviou naves a Mercúrio, a Saturno, a Júpiter, aos espaços sem fim. A internet mudou hábitos e comportamentos, encurtou as distâncias e pôs à disposição dos usuários um número infinito de informações úteis e inúteis. Verdade: o saber e o besteirol navegam lado a lado na internet. A genética e a biologia revolucionaram o mundo, com os seus DNAs, com suas células-tronco, com seus clones. Convivemos hoje gostosamente com o que era absolutamente impensável nos anos 1950. Como foi possível a vida sem as maravilhas tecnológicas de hoje?

O mundo mudou muito a partir da segunda metade dos anos 1950. Para pior ou para melhor? Machado de Assis disse tudo: a vida diferente não quer dizer necessariamente vida pior ou melhor; é outra coisa. Tem razão: os conceitos de bom ou mau não cabem e não explicam as transformações do mundo, as trans-formações que ocorreram em nosso redor. A verdade é que os meninos e adoles-centes da geração dos anos 1950 vivem, hoje, idosos, em um mundo diferente, nem pior nem melhor do que o mundo em que viveram no passado. Outro.

Como notou James Joyce, o passado não morre e nunca passa: ele vive dentro da gente, em geral de forma furtiva, silenciosa e dissimulada. Vivemos e gozamos o moderno, mas temos dentro de nós o passado pré-tecnológico.

Pensar o passado, é bom que se diga, não é uma maneira esquiva de temer a morte. A cada dia nós morremos um pouco, o que é uma fatalidade biológica da qual não se pode escapar. Jean Baudrillard observou que existe em nós algo que procuramos ocultar de nós mesmos, a nossa inevitável morte, que Vinicius de Moraes, no “Soneto de fidelidade”, chamou de “angústia de quem vive”. O que torna a nossa vida razoavelmente suportável, disse Baudrillard, é o esqueci-mento da morte. O sociólogo francês sacou que seria insuportável viver com a ideia de que vamos morrer a martelar permanentemente a nossa cabeça. Nelson

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Rodrigues, que certamente não conhecia Baudrillard, foi mais preciso: somos perecíveis, mas esquecemos de que somos perecíveis. É sempre melhor pensar que somos imortais. E imperecíveis.

Bem verdade que o passado nos ensina a viver o hoje, embora ele às vezes nos provoque lembranças e saudades que doem e fazem chorar. A visão do tempo presente está ou estará sempre (e fortemente) embasada em memórias indivi-duais e coletivas. Saudade – que mestre Ary Barroso, na bela “Canção em tom maior”, definiu como “uma dor que não maltrata e que é boa de doer”. Se a sau-dade pode nos causar tristeza, é bem possível que a ausência de saudade possa provocar o sentimento de que nossa vida passou em vão.

Escrevi este Guia do passado com alegria. Ao escrevê-lo percebi que, embora vivendo na periferia do mundo, vivi e assisti a momentos significativos da his-tória, da cultura e da evolução científica. O que fiz no Guia foi registrar aquilo que, em geral, não se aceita como história: o cotidiano humano. Uma nação é, por assim dizer, o resultado de trajetórias coletivas e individuais. A história dos anúncios (“reclames”, como se dizia nos anos 1950), a história da paixão popu-lar pelos seus ídolos e heróis (Marlene, Emilinha, Getúlio Vargas, Garrincha), a história do futebol, da música popular, do carnaval, do folclore, as histórias dos “Arquibaldos” e dos “Geraldinos”, daquela gente que grita apaixonadamente “Mengo!” ou “Curinthia!” são tão importantes quanto a história militar do Brasil, quanto a história dos ciclos econômicos, quanto a história da evolução política brasileira. História é tudo aquilo que tornou o hoje possível.

O Brasil ainda é um país em busca do seu rumo. E ele, sem dúvida, passa pela retomada do seu projeto de nação, que já houve e foi (ainda é) duramente com-batido pelas elites econômicas, políticas e intelectuais. O populismo legitimou o ingresso do “povão” no jogo político, antes espaço restrito das elites. Somos, na realidade, uma nação inconclusa, que submergiu na internacionalização imposta de fora para dentro. O Brasil integrou-se e, ao mesmo tempo, se desintegrou na internacionalização. Supõe-se ainda que a internacionalização inviabilizou o projeto nacional. Será? Só superaremos o estágio de nação que ainda não se fez mediante a retomada de um projeto nacional que nos realize plenamente como nação e como povo.

Escolhi livremente os temas tratados neste Guia, sem a pretensão, que seria descabida, de esgotar o assunto. A escolha dos temas aqui tratados obedeceu a um único critério: o que eu acho de melhor nos anos 1950. Como todo autor, fui soberano. Teatro de revista – vi, talvez, dois ou três, me aproveitando do fato de estudar num prédio ao lado do Teatro República, já derrubado. O porteiro do teatro franqueava clandestinamente a entrada de um grupo de meninos, que se aboletava nos cantos mais escuros do auditório. Vi, extasiado, as pernas exube-rantes da vedete Nélia Paula – e como ela zombava dos velhinhos da chamada

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fila do gargarejo. Nélia, no final da vida, residiu no Retiro dos Artistas, onde faleceu, em 2002.

Assisti – e assisto até hoje – às chanchadas, termo que nasceu como um adje-tivo depreciativo, mas hoje se transformou em substantivo. Considero a dupla Oscarito e Grande Otelo do balacobaco, ou seja, do cacete. Se os dois fossem americanos estariam no mesmo panteão de Chaplin e Buster Keaton. Seriam reverenciados mundo afora pelo talento que tinham. Mostrei aos meus alunos o filme Aviso aos navegantes. Foi surpreendente a reação positiva da meninada. A ponto de uma aluna, terminada a exibição, afirmar: “Eu não tinha a menor ideia da existência dessa dupla, professor. Eles são gênios!”

A chanchada desapareceu no final dos anos 1950. O golpe militar, por sua vez, quase matou o cinema brasileiro, na medida em que perseguiu, prendeu e exilou os cineastas do chamado Cinema Novo, tidos como subversivos. Sem a chan-chada, vencida pela história, e sem o Cinema Novo, vencido pela truculência, abriu-se, com a complacência das autoridades, a era das pornochanchadas, cujos filmes merecem uma única classificação: lixo. A pornochanchada estimulou a rejeição, que dura até hoje, de parte do público ao cinema brasileiro. O cinema brasileiro não é ruim; ruim eram as pornochanchadas.

Passei minha juventude e parte da adolescência andando de bonde. No bonde, li, nas páginas do Última Hora, o folhetim Asfalto selvagem, de Nelson Rodri-gues, e centenas de A vida como ela é. Li as crônicas de Antônio Maria e Stanis-law Ponte Preta, os artigos políticos de Adalgisa Nery e Otávio Malta. Li muita literatura nos bondes: Jorge Amado, Lima Barreto, Erico Verissimo, Fernando Sabino, Somerset Maugham. Por outro lado, nunca fui a uma boate de Copaca-bana: não tinha idade nem dinheiro. Vi o incêndio do Hotel Vogue por acaso, ia passando pelo local. Chocante. Muitos anos depois, em São Paulo, vi o incêndio do Edifício Andraus. Duas experiências terríveis.

Fiquei espantado ao rever os crimes que abalaram os anos dourados. O pior de todos foi o assassinato da menina Taninha – tão ou mais horrendo que a morte da menina Isabella Nardoni, em 2008. O crime do Sacopã sempre me encucou. Na época, tinha certeza de que o tenente Bandeira não matara o bancário Afrâ-nio Arsênio de Lemos. Depois, concluí que Bandeira, sem dúvida, assassinara Afrânio. Hoje, tenho dúvidas. O assalto ao trem pagador virou filme. Na época ninguém acreditava que o assalto tivesse sido feito por brasileiros, mormente fa-velados – pobres, negros e semianalfabetos. O assalto tinha sido tão bem bolado e executado que só poderia ter sido coisa de quadrilha internacional. Como se vê, isso de achar que o de “fora” é superior ao de “dentro” é um traço do caráter brasileiro – mesmo quando o papo diz respeito a um crime. No fundo, o brasilei-ro é um povo corroído pela autocomiseração.

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Sou vascaíno desde o dia 7 de setembro de 1952, quando meu pai, que era torcedor do Flamengo, resolveu me levar ao Maracanã para assistir ao jogo Vasco e Bangu, no qual o Vasco ganhou por seis a dois. Não sei por que ele me levou ao Maracanã naquele dia. O negócio dele talvez fosse ver o Zizinho (estava no Bangu) jogar. Fui acompanhá-lo, gostei de ver Mestre Ziza – um gênio! –, mas acabei por me tornar vascaíno. O pai flamenguista nunca reclamou nem lamen-tou o erro estratégico que cometeu.

Sempre gostei do bom e velho samba-canção – e disso não me envergonho, ao contrário. A cultura musical de um povo, sobretudo do povo brasileiro, que se espalha por mais de 8 milhões de quilômetros quadrados, que sofreu as mais variadas influências históricas e culturais, constitui um mosaico de sons, ritmos e cantos. Dos sons, ritmos e cantos que nascem nas ruas, vilarejos e sertões aos sons, ritmos e cantos que nascem nas favelas, apartamentos da zona sul do Rio e saraus. Existem muitas músicas brasileiras – e essa é uma das nossas maiores riquezas. Gosto de todas, mas escrevi especialmente no Guia sobre o samba--canção e a marcha-rancho porque ambos estão sendo (ou já foram) sufocados pelo mercantilismo que domina hoje os meios de divulgação.

Entre um capítulo e outro, organizei sessões passatempos, ou seja, pequenos textos ou crônicas de fatos, circunstâncias e personalidades da década de 1950.

Em suma, creio que expliquei as razões que me levaram a escrever o Guia do passado. Minha esperança é que ele provoque nos leitores as mesmas emoções que senti ao escrevê-lo. Afinal, todos têm dentro de si uma Amarcord.

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LINHA DO TEM

PO

Y ASÍ SE PASARAN DIEZ AÑOS

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���������������������19LINHA DO TEMPO

1950 Getúlio vence as eleições em 18

das 24 unidades da Federação. Re-cebe 3.849.000 votos e a faixa pre-sidencial ouvindo a frase de Carlos Lacerda: “O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revo-lução para impedi-lo de governar.” O cronograma golpista será seguido à risca. Criada, em São Paulo, a TV Tupi,

onde ocorre o primeiro beijo televisa-do e cujos protagonistas foram a atriz Vida Alves e o ator Walter Forster. E por falar em beijo, na inauguração da TV Tupi, Hebe Camargo, ainda more-na, e Ivon Curi, de peruca, cantaram “Beijinho doce” (Nhô Pai). A imprensa denuncia: tráfico de

flagelados nordestinos, vendidos por caminhoneiros aos latifúndios do cen-tro-sul. A canalhice vem de longe. Começa a guerra da Coreia. Mor-

rerão mais de 3 milhões de pessoas. O senador Joseph McCarthy lança

campanha contra comunistas e supos-tos comunistas infiltrados no governo norte-americano. Serão perseguidos escritores, jornalistas, políticos e ar-tistas, entre os quais Charles Chaplin, Paul Robeson, Joseph Losey, Martin Ritt, Dalton Trumbo, Hanns Eisler, Lillian Hellman, Lee J. Cobb, Howard da Silva, Edward G. Robinson, José Ferrer, Dashiell Hammett, Lena Hor-ne, Howard Fast, Langston Hughes, Zero Mostel. Muitos outros terão com-

portamento lamentável, denunciando colegas e amigos: Elia Kazan, Robert Taylor, Ronald Reagan, John Wayne. Henri Matisse, um dos grandes

mestres franceses da arte contemporâ-nea, recebe prêmio da Bienal de Vene-za. É considerado o primeiro represen-tante da escola fauvista. Anísio Teixeira inaugura em Sal-

vador o Centro Popular de Educação, pondo em prática a sua ideia de es-cola-classe e escola-parque, avós dos Centros Integrados de Educação Pú-blica, os CIEPs, do Brizola e do Darcy Ribeiro. Bertrand Russell, filósofo, matemá-

tico e lógico, ganha o Prêmio Nobel de Literatura. Elvira Pagã é eleita Rainha do Car-

naval. Inaugurado o Maracanã, o maior

estádio do mundo. É preciso ler o livro Maracanã: meio século de paixão, de João Máximo. 1o Congresso do Negro Brasileiro,

na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, liderado por Abdias do Nascimento, na época um dos diretores do Teatro Experimental do Negro. O país chora: o Brasil perde do

Uruguai, que se torna campeão do mundo em pleno Maracanã. O Vasco da Gama é o campeão carioca. O pri-meiro da era do Maracanã. O Améri-ca fica em segundo lugar. O Palmeiras é o campeão paulista.

Destaque para os craques Oberdan e Jair (o da Rosa Pinto).

OPPPPPPPPPP

O indiozinho da Tupi

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É criado o Instituto Tecnológico da Aeronáutica, o ITA, que renova a enge-nharia brasileira. Ainda hoje é um cen-tro de excelência da pesquisa brasileira. Joaquim Tenreiro renova o desenho

e a arte do mobiliário brasileiro. Publicados O cão sem plumas, de

João Cabral de Melo Neto, e Geopolí-tica da fome, de Josué de Castro. Cinco músicas muito cantadas no

ano: “Marcha do gago” (Klécius Cal-das e Armando Cavalcanti); “Olhos verdes” (Vicente Paiva); “Balzaquiana” (Antônio Nássara e Wilson Batista); “Assum preto” (Luiz Gonzaga e Hum-berto Teixeira); “Boa noite, amor” (José Maria de Abreu e Francisco Matoso).

1951 Getúlio manda ao Congresso proje-

to de lei que cria a Petrobras. O pro-jeto foi elaborado por sua assessoria, cujo chefe, o economista Jesus Soares Pereira, será cassado em 1964 justa-mente por isso. Maurice Chevalier se apresenta no

Brasil, na festa de inauguração do “Golden Room” do Copacabana Pala-ce. A plateia vai ao delírio quando ele canta “Sous le ciel de Paris” e “Ça sent si bon la France”. A elite carioca era deslumbrada por Paris. Maria Clara Machado cria o grupo

teatral Tablado, um marco no ensino e na história do teatro brasileiro. Dalva de Oliveira é eleita Rainha

do Rádio. Criada, no Rio de Janeiro, a TV

Tupi (canal 6).

O Fluminense é o campeão carioca, após derrotar o Bangu, com Zizinho, numa melhor de três. O Corinthians é o campeão pau-

lista. O ataque do Timão – Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Má-rio – marca 103 gols em 28 jogos (média de 3,67 gols por jogo). Um fenômeno. Aprovada a Lei Afonso Arinos, que

transforma o racismo em crime. I Bienal Internacional de Arte de

São Paulo, no MAM: 1.800 obras de 21 países. A aviadora brasileira Anésia Pi-

nheiro Machado realiza voo entre Nova York e Rio de Janeiro. Estreia a peça Valsa no 6, de Nel-

son Rodrigues, sob a direção de Milton Rodrigues. Julius e Ethel Rosenberg são de-

clarados culpados de espionagem. Foram acusados de ter roubado e entregue à União Soviética segredos sobre a bomba atômica dos Estados Unidos. O New York Times publica estudo

que revela que a televisão está mu-dando a maneira como a sociedade norte-americana encara o lazer, a política, a leitura e se expressa cul-turalmente. O Prêmio Nobel de Literatura vai

para Pär Lagerkvist. Seu livro Barra-bás, escrito após ele ter recebido o prê-mio, deve ser lido. Gilberto Freyre lança Sobrados e

mucambos. Erico Verissimo publica O retrato (segundo volume da trilogia O tempo e o vento).

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Cinco músicas muito cantadas no ano: “Retrato do velho” (Haroldo Lobo e Marino Pinto); “Delicado” (Waldir Azevedo); “Canção de amor” (Chocolate e Elano de Paula); “Toma-ra que chova” (Paquito e Romeu Gen-til); “Palhaço” (Nelson Cavaquinho, Osvaldo Martins e Washington).

1952 Campanha O petróleo é nosso! O

povo vai para as ruas e pressiona o Congresso, que aprova o projeto de criação da Petrobras.

Sai o primeiro número da revista Manchete. Trazia na capa uma bai-larina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Alardeava como exclusivi-dade uma grande reportagem de Jean Manzon: “A verdadeira vida amorosa de Ingrid Bergman.” A imprensa con-servadora (brasileira e internacio-nal) não perdoava a atriz sueca, que havia se separado do marido para ir viver com o diretor italiano Roberto Rossellini. Elizabeth II torna-se rainha da In-

glaterra.

Dois filmes brasileiros alcançam sucesso: Simão, o caolho e Tico-Tico no fubá. O último contava a vida de Zequinha de Abreu. Quem escreverá a biografia do compositor? Inaugurado por Paschoal Carlos

Magno o Teatro Duse, que abriga o Teatro do Estudante do Brasil. O Duse é desativado quatro anos depois e en-cenou, nesse período, 21 espetáculos de autores brasileiros, como Antonio Callado, Francisco Pereira da Silva e Hermilo Borba Filho. Rondon e Darcy Ribeiro inauguram

o Museu do Índio. Dois aviões da Força Aérea Brasi-

leira se chocam em pleno ar. Morrem oito tripulantes. Mary Gonçalves é eleita Rainha do

Rádio. O Vasco da Gama é o campeão ca-

rioca. Último título conquistado pelo time que recebera, nos anos 1940, o nome de “Expresso da vitória”. O Corinthians é o campeão paulista. O Departamento de Defesa dos

Estados Unidos anunciou que está realizando um inquérito de grande amplitude sobre objetos voadores não identificados. Morre Eva Perón. A Argentina fica

de luto. A manchete do jornal Clarín diz tudo: “Unânime e profunda é a dor nacional.” A verdade é que, até hoje, a Argentina não se recuperou do choque. O rei Faruk, do Egito, é obrigado a

abdicar. Sucede-o, com o nome de Ah-med Fuad II, o filho de 6 meses. Não podia dar certo. Logo depois, em meio a crises políticas contínuas, Gamal

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Abdel Nasser assume o poder e tenta modernizar o país. A neurologista alagoana Nise da

Silveira cria o Museu de Imagens do Inconsciente, no Hospital Psiquiátrico D. Pedro II, no Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Morre em acidente de carro na Ro-

dovia Presidente Dutra (São Paulo--Rio) o cantor Francisco Alves, o Rei da Voz. Adhemar Ferreira da Silva ganha

medalha de ouro nas Olimpíadas de Helsinque. Um coração artificial é usado pela

primeira vez em um ser humano, no Hos-pital Pennsylvania, da Filadélfia, EUA. Dwight Eisenhower é eleito presi-

dente dos Estados Unidos. Fará, no final de seu mandato, um discurso denunciando o que chamou de com-plexo industrial-militar. No início dos anos 1960, Fred J. Cook escreveu O estado militarista, que, partindo do discurso de Eisenhower, disseca a estrutura do poder nos EUA. Impres-cindível, até hoje. A Comissão de Energia Nuclear

dos EUA anuncia: a bomba H está pronta para ser usada. É implantado o CNPq, Conselho Na-

cional de Pesquisa, e o INPA, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. François Mauriac, autor de O de-

serto do amor, O ninho de víboras e Le feu sur la terre, ganha o Prêmio Nobel de Literatura. Criação da Conferência Nacional

dos Bispos do Brasil (CNBB). É fundada a TV Paulista (canal 5).

A seleção brasileira ganha o Cam-peonato Pan-Americano de Futebol, no Chile. Vence o Uruguai por 4 x 2, vin-gando-se da derrota de 1950. O time--base do Brasil era: Castilho; Pinheiro e Nilton Santos; Djalma Santos, Bran-dãozinho e Bauer; Julinho, Didi, Bal-tazar, Ademir (Pinga) e Rodrigues. O artilheiro do Brasil foi Baltazar, com quatro gols. Inventa-se a pílula anticoncepcional. Jorge Amado lança a trilogia Os

subterrâneos da liberdade (Os ás-peros tempos, Agonia da noite e A luz no túnel). Adonias Filho publica Memórias de Lázaro. Era um excep-cional escritor, pena que reacionário demais. Cinco músicas muito cantadas no

ano: “Alguém como tu” (José Maria de Abreu e Jair Amorim); “Maria Can-delária” (Klécius Caldas e Armando Cavalcanti); “Sassaricando” (Jota Júnior, Luís Antônio e Oldemar Ma-galhães); “Menino grande” (Antônio Maria); “Sábado em Copacabana” (Dorival Caymmi).

1953 Criação da Petrobras. Os grupos

reacionários juravam que a Petrobras não iria dar certo. O filme O cangaceiro, de Lima

Barreto, recebe, em Cannes, o prê-mio de melhor filme de aventura e de melhor trilha sonora com a música “Olê muié rendeira”, do compositor Zé do Norte, interpretada por Vanja Orico.

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Com mais de 1 milhão de votos, Emilinha Borba é eleita Rainha do Carnaval. Jânio Quadros é eleito prefeito de

São Paulo. A peça A raposa e as uvas, de Gui-

lherme Figueiredo, é levada ao palco por Sérgio Cardoso, com direção de Bibi Ferreira. Carlos Lacerda cria o Clube da

Lanterna. Morre o generalíssimo Josef Stalin.

Os russos choram, se lamentam, sen-tem que o mundo deles caiu. Há filmes e livros que mostram o desespero dos russos. O Flamengo é o campeão carioca. 16 de maio de 1953, quinta-feira.

No gramado, Botafogo e Vasco da Gama disputam partida pelo Tor-neio Rio-São Paulo. De repente, num

lance na área do Vasco, o jogador Zezinho desembesta contra o goleiro Barbosa. O goleiro vascaíno sofreu fratura exposta na perna direita. Um horror. O São Paulo é o campeão paulista.

O grande destaque do time foi o médio Bauer, um craque que nunca foi cam-peão do mundo. Emilinha Borba é eleita Rainha do

Rádio. Estreia a peça A falecida, de Nelson

Rodrigues, sob a direção de José Ma-ria Monteiro. São executados Julius e Ethel Ro-

senberg. O casal foi condenado, em março de 1951, sob a acusação de ter violado a lei norte-americana contra espionagem. Assinado o armistício de Pan-Mun-

-Jon, que apenas suspendeu as hostili-dades bélicas entre as duas Coreias. 91o aniversário do nascimento de

Júlio de Mesquita. O Estadão inaugu-ra novas instalações. Winston Churchill ganha o Prêmio

Nobel de Literatura. José Lins do Rego lança Cangacei-

ros e Graciliano Ramos, Memórias do cárcere. Logo depois, o escritor alagoano falece. Cinco músicas muito cantadas

no ano: “João Valentão” (Dorival Caymmi); “Risque” (Ary Barroso); “É tão gostoso, seu moço” (Chocola-te e Mário Lago); “Barracão” (Luís Antonio e Oldemar Magalhães); “Se eu morresse amanhã” (Antônio Maria).

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1954 Morre, em atentado na rua Tonelero,

o major-aviador Rubens Florentino Vaz. Getúlio se mata. O país chora. O

povão sai às ruas, disposto a fazer a sua história. A reação percebe que per-deu a parada. Sucesso da chanchada Nem Sansão

nem Dalila. Sansão, claro, era o gran-de Oscarito. Elizeth Cardoso grava o seu pri-

meiro LP e Cauby Peixoto lança o seu primeiro grande sucesso, o fox “Blue Gardenia”, ao qual se seguirá a belís-sima “Conceição”. Martha Rocha perde nos EUA o título

de Miss Universo. Foi o preço das duas polegadas a mais que tinha nos quadris. Festas do IV centenário da cidade

de São Paulo. A fortaleza de Dien Bien Phu cai

em poder das forças vietnamitas. O furacão Ava Gardner chega ao

Rio. Os homens da cidade morrem de inveja do cantor Carlos Augusto, esco-lhido pela atriz, que o arrastou para seu apartamento. Os invejosos se vin-gam de forma torpe: espalham que na hora H Carlos Augusto negou fogo. Morre Oswald de Andrade. Morreu

triste e amargurado, depois de nos dei-xar obras do porte de Memórias sen-timentais de João Miramar, Serafim Ponte Grande e Rei da vela (teatro). Ângela Maria é eleita Rainha do

Rádio. O Flamengo é o campeão carioca.

Melhor: bicampeão. O Corinthians é o campeão pau-

lista do quarto centenário. O técnico

Osvaldo Brandão está a merecer uma biografia. Foi um vitorioso. Ernest Hemingway, autor de O ve-

lho e o mar, Por quem os sinos do-bram e Adeus às armas, ganha o Prê-mio Nobel de Literatura. O filme Sinhá Moça, de Tom Pay-

ne, produzido pela Vera Cruz, recebe o Leão de Prata no Festival de Cinema de Veneza, na Itália.

Exposição de Di Cavalcanti no Museu de Arte Moderna. São expos-tas 67 telas. Burle Marx projeta os jardins do

Largo do Machado. O Largo, que já foi bonito, hoje está feio e sujo. Luís da Câmara Cascudo lança

o Dicionário do folclore brasileiro. Viana Moog publica Bandeirantes e

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pioneiros. Ferreira Gullar escreve e divulga Luta corporal. Dinah Silveira de Queiróz lança A muralha. Cinco músicas muito cantadas no

ano: “Vida de bailarina” (Chocolate e Américo Seixas); “Piada de salão” (Klécius Caldas e Armando Caval-canti); “Neurastênico” (Betinho e Nazareno de Brito); “Teresa da praia” (Antonio Carlos Jobim e Billy Blan-co); “Valsa de uma cidade” (Ismael Neto e Antônio Maria).

1955 Juscelino Kubitschek é eleito presi-

dente da República. No Rio, desmonta-se o Morro de

Santo Antônio, aterra-se parte da baía de Guanabara e realiza-se o 34o Congresso Eucarístico Internacional. Mais ou menos onde hoje se encontra o Monumento aos Pracinhas. Golpe de Estado na Argentina der-

ruba Juan Perón. O concretismo invade o Rio de Ja-

neiro. Morre nos Estados Unidos a canto-

ra Carmen Miranda. Surge o Romi-Isetta, carrinho de

dois assentos. Oscar Niemeyer funda a revista

Módulo, de arquitetura, urbanismo e artes. Publicada intermitentemente durante quase 35 anos. Di Cavalcanti publica o primeiro

volume de suas memórias: Viagem da minha vida – o testamento da alvorada. Nesse livro, Di confirma ter sido o ide-alizador da Semana de Arte Moderna.

Nelson Pereira dos Santos lança o filme Rio, 40 graus. Um marco. Vera Lúcia é eleita Rainha do Rádio. O Flamengo é o campeão carioca.

Pior para os demais clubes cariocas: tricampeão. O Santos (sem Pelé) é o campeão

paulista. Na época, o goleador do San-tos era o meia-esquerda Del Vecchio. Morre o violonista Garoto (Aníbal

Augusto Sardinha). Tinha 40 anos.

Carmem Miranda

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Deixou pelo menos duas obras-primas: “Duas contas” e “Gente humilde”, cuja letra seria composta muitos anos depois por Chico Buarque e Vinicius de Moraes. Assinado o Pacto de Varsóvia, tra-

tado de defesa militar que envolvia os países socialistas do leste europeu co-mandados pela União Soviética. Rosa Parks recusa-se a dar lugar a

um branco num ônibus do Alabama e vai presa por isso. Inaugurada em Los Angeles, EUA,

a Disneylândia, primeiro parque de diversão do império Disney. O islandês Halldór Laxness, autor

de A luz do mundo, Gente indepen-dente e O sino da Islândia, ganha o Prêmio Nobel de Literatura. Ariano Suassuna lança Auto da

Compadecida. Encenada a peça A moratória, de

Jorge Andrade, no Teatro Maria Della Costa, em São Paulo. Cinco músicas muito cantadas no

ano: “Amendoim torradinho” (Hen-rique Beltrão); “Escurinho” (Geraldo Pereira); “Manias” (Flávio Caval-canti e Celso Cavalcanti); “Dó ré mi” (Fernando César); “Saudosa maloca” (Adoniran Barbosa).

1956 Início das obras de construção de

Brasília. Relatório Kruschev ao XX Con-

gresso do Partido Comunista da URSS denuncia os crimes de Stalin. Crise no movimento comunista bra-

sileiro. O “farol da humanidade” cai do pedestal. Vinicius de Moraes conhece Tom Jo-

bim no bar Villarino. Começa aí uma parceria que renderia clássicos como “Amor em paz”, “Chega de saudade”, “Derradeira primavera”, “Eu não exis-to sem você”, “Eu sei que vou te amar”, “A felicidade”, “Garota de Ipanema”, “Se todos fossem iguais a você” e mais uma penca de obras-primas. Estreia a peça musical Orfeu da

Conceição, com músicas de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, Antônio Ma-ria e Luiz Bonfá. Álvaro Moreyra e Jorge Amado

fundam o jornal Para Todos, quinze-nário de cultura brasileira, tendo Nel-son Werneck Sodré como redator-chefe e James Amado como secretário. Os painéis Guerra e Paz foram

montados ao fundo do palco do Thea-tro Municipal. Muito bem iluminados, e com o teatro praticamente às escuras, ficaram impressionantes. Em fevereiro de 1956, foram solenemente inaugu-rados pelo presidente JK, que, na oca-sião, entregou a Portinari a Medalha de Ouro de Melhor Pintor do Ano (de 1955) concedida pelo International Fine Arts Council de Nova York. Inteiramente renovado, o Vasco da

Gama é o campeão carioca. No Ma-racanã, em 26 de agosto, o Fluminen-se enfiou dois a zero no Vasco no pri-meiro tempo, gols de Telê e Valdo. No segundo tempo, o Vasco marcou três gols (Pinga, Pinga e Livinho). Uma bela virada, que quase me matou de emoção.

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Santos (ainda sem Pelé) é o cam-peão paulista. Dóris Monteiro é eleita Rainha do

Rádio. Juan Ramón Jiménez, autor de Pla-

tero e eu, editado no Brasil, ganha o Prêmio Nobel de Literatura. Sérgio Buarque de Holanda lança

Visão do Paraíso. Guimarães Rosa: Grande Sertão: Veredas. Lançada a peça Moral em concordata, de Abílio Pereira de Almeida. Fernando Sabino publica O encontro marcado. Cinco músicas muito cantadas no

ano: “Conceição” (Dunga e Jair Amo-rim); “Exaltação à Mangueira” (Enéas Brites da Silva e Aloísio Augusto da Costa); “Maracangalha” (Dorival Caymmi); “Mulata assanhada” (Ataul-fo Alves); “A voz do morro” (Zé Kéti).

1957 Maria Esther Bueno vence o torneio

de tênis de Wimbledon.

Ângela Maria, a Sapoti, canta em São Paulo com Louis Armstrong. Lançado pela União Soviética o

primeiro satélite artificial. O artefato (Sputnik I) possuía 58 centímetros de diâmetro, pesava 83 quilos e a cada 95 minutos dava uma volta na Terra. Sputnik II coloca em órbita da Ter-

ra o primeiro ser vivo, a cadela Laika. Estado de sítio na cidade e provín-

cia de Buenos Aires. Dóris Monteiro é reeleita Rainha

do Rádio. Morre José Lins do Rego. Antonio Callado publica A madona

de cedro. Estreiam duas peças de Nelson Ro-

drigues: Perdoa-me por me traíres (direção: Léo Júsi) e Viúva, porém honesta (direção: Willy Keller). Criado o Suplemento Dominical

do Jornal do Brasil, principal veículo de sustentação do movimento concreto no Rio de Janeiro e, a partir de 1959, do neoconcretismo.

Ângela Maria e Louis Armstrong

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O Botafogo, treinado por João Sal-danha, é o campeão carioca. Garrin-cha estava endiabrado. Didi e Nilton Santos eram os mestres da equipe bo-tafoguense. O São Paulo, treinado pelo hún-

garo Bela Gutman, que dirigira o famoso Honved, de Puskas e Kocsis, é o campeão paulista. O regente do grande time são-paulino foi o craque Zizinho, em quem Pelé afirmou que se espelhara. Jânio Quadros, governador de São

Paulo, proíbe em todo o estado os bai-les que tocam rock. Albert Camus, autor de A peste,

Calígula (teatro), O homem revolta-do, O estrangeiro, O mito de Sísifo, ganha o Prêmio Nobel de Literatura. Merecidíssimo. Cinco músicas muito cantadas no

ano: “Mocinho bonito” (Billy Blanco); “Chove lá fora” (Tito Madi); “A flor e o espinho” (Nelson Cavaquinho, Gui-lherme de Brito e Alcides Caminha); “Ouça” (Maysa); “Se todos fossem iguais a você” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes).

1958 O Brasil ganha a Copa do Mundo

da Suécia. Garrincha e Pelé (com 17 anos) extasiaram o mundo. Flávio de Carvalho desfila de saias

pelas ruas de São Paulo. Causa estu-por e controvérsias. Nasce a Bossa Nova, cuja história

está contada em Chega de saudade, de Ruy Castro.

José Pancetti morre no Rio de Janei-ro, após longa enfermidade. Durante sua internação no Hospital Central da Marinha, Pancetti escreveu um diário onde se pode ler esta tristeza: “Passo o dia inteiro em repouso. Es-tando reduzido apenas a ossos, meu corpo não suporta nem o leito. Conto minutos e horas dos dias e das noites do meu martírio. Será que não há um meio, um gesto supremo de uma junta médica para pôr fim ao meu sofrimen-to? À noite, após a injeção, às 21h, apaguei a luz e fiquei olhando o céu estrelado.” Morre Cornelio Penna. Escreveu:

Fronteira, Repouso, A menina morta e Dois romances de Nico Horta. Julie Joy é eleita Rainha do Rádio. Gianfrancesco Guarnieri lança o

Teatro de Arena, em São Paulo, com Eles não usam black-tie. Estreia Os sete gatinhos, de Nelson

Rodrigues, sob a direção de Willy Keller. Boris Pasternak é excluído da União

de Escritores Soviéticos. Após duas ou três tentativas ante-

riores, suicida-se no Rio de Janeiro o compositor Assis Valente, autor de obras-primas como “Fez bobagem”, “Boneca de pano”, “Brasil pandeiro”, “Camisa listrada”, “Cai, cai, balão” e “Maria boa”. Eleito o papa João XXIII. O cartunista e escritor Ziraldo lan-

ça, na revista O Cruzeiro, a Turma do Pererê. Boris Pasternak ganha o Prêmio No-

bel de Literatura. A burocracia sovié-tica fica furiosa: proíbe o livro Doutor

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Jivago na União Soviética e impede que Pasternak vá receber o prêmio. Raymundo Faoro lança Os donos

do poder. Jorge Amado: Gabriela, cra-vo e canela. Eneida de Moraes lança História do carnaval carioca. É lança-da, em dois volumes, a obra completa de Manuel Bandeira. Cinco músicas muito cantadas no

ano: “Madureira chorou” (Carvalhi-nho e Júlio Monteiro); “Os rouxinóis” (Lamartine Babo); “Balada tris-te” (Dalton Vogeler e Esdras Silva); “Chega de saudade” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes); “Estrada do sol” (Tom Jobim e Dolores Duran).

1959 A União Soviética lança foguete lunar. Morre o compositor Heitor Villa-

-Lobos. Guerrilheiros cubanos, liderados

por Fidel Castro, entram em Havana. Fulgencio Batista foge e refugia-se na República Dominicana. Oficiais da Aeronáutica, liderados

pelo tenente-coronel Haroldo Veloso, tentam criar uma sublevação contra JK. Não recebem apoio de militares e são presos. Começa a guerra do Vietnã. San-

grenta e absurda. O rinoceronte Cacareco, do zoológi-

co de São Paulo, recebe 90 mil votos na eleição para vereador da capital do es-tado. Naquele tempo os eleitores escre-viam na cédula o nome do candidato. A candidatura de Cacareco foi lança-da pelo jornalista Itaboraí Martins.

O Fluminense é o campeão carioca. Em 22 jogos, o tricolor só perdeu um, para o Bangu. O Palmeiras é o campeão paulis-

ta. No jogo decisivo, no Pacaembu, o Palmeiras bateu no Santos (com Pelé e tudo) por dois a um. Jogavam Vasco da Gama e Améri-

ca, no Maracanã. Numa bola dividi-da entre os jogadores Almir, do Vasco, e Hélio, lateral-esquerdo do América, o primeiro sola a perna de apoio do segundo. Hélio sofreu ruptura dos li-gamentos do joelho esquerdo e teve a carreira abreviada. A pergunta que ficou foi a seguinte: Almir agiu com maldade? As opiniões se dividiram. Eu, que estava no Maracanã, não tive nem tenho dúvidas: Almir quis atingir o jogador Hélio. Morre Dolores Duran. Tinha 29

anos, mas deixou uma obra inesque-cível, como “A noite do meu bem”, “Fim de caso”, “Castigo” e “Solidão”. Com Tom Jobim fez “Estrada do sol”, “Por causa de você” e “Se é por falta de adeus”. Com Ribamar fez “Ideias erradas” e “Ternura antiga”.

Dolores Duran

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Estreia Boca de ouro, de Nelson Rodrigues. Direção de José Renato. O primeiro número da revista Se-

nhor é publicado, tendo como editor--redator-chefe Nahum Sirotsky, como editor assistente Paulo Francis e como editor assistente executivo Luiz Lobo. Será um sucesso. Salvatore Quasimodo ganha o Prê-

mio Nobel de Literatura. Antonio Candido lança Formação

da literatura brasileira: momentos decisivos. Antonio Callado publica Os industriais da seca e os galileus de Pernambuco. José Condé publica Um ramo para Luísa. Lúcio Cardoso lança Crônica da casa assassinada. Cinco músicas muito cantadas no

ano: “Eu sei que vou te amar” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes); “A noite do meu bem” (Dolores Duran); “De-safinado” (Tom Jobim e Newton Men-donça); “Ela disse-me assim” (Lupi-cínio Rodrigues); “Quero beijar-te as mãos” (Arsênio de Carvalho e Louri-val Faissal).

1960 Juscelino Kubitschek inaugura Bra-

sília, discursa e chora. O antigo Dis-trito Federal transforma-se no novo es-tado da Guanabara, cujo hino oficial será “Cidade maravilhosa”, de André Filho. Carlos Lacerda, de olho na pre-sidência da República, candidata-se a governador da Guanabara. Fará um bom governo, reconhecem, hoje, os seus mais ferrenhos inimigos.

Dwight Eisenhower, presidente nor-te-americano, visita o Brasil. Vai ao Congresso Nacional, onde tem a mão beijada por Otávio Mangabeira, líder da UDN. Darcy qualificou o episódio: vexame nacional. Realiza-se no Rio de Janeiro o V

Congresso do Partido Comunista Brasileiro. Eleições presidenciais: Jânio Qua-

dros é eleito presidente (recebe 5,6 milhões de votos, 48% do total) e João Goulart, vice-presidente. Jango recebe 4,5 milhões de votos. São criados, no Rio de Janeiro, o

Museu Villa-Lobos e o Museu da Re-pública, sediado no antigo Palácio do Catete. Surge, na UNE, o Centro Popular

de Cultura, CPC. Será extinto, em 1964, a ferro e fogo. Foi um dos mais

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importantes polos de agitação cultural da época. Produziu filmes, como Cin-co vezes favela, e um disco precioso, O povo canta, no qual Nora Ney inter-preta, como ninguém, a música “João da Silva”, de Billy Blanco. Estreia no Teatro Brasileiro de Co-

média (TBC) a peça O pagador de promessas, de Dias Gomes, com dire-ção de Flávio Rangel. A tecnologia revoluciona a TV: sur-

ge o videoteipe. A peça Gimba, de Gianfrancesco

Guarnieri, recebe o prêmio de melhor expressão do teatro popular, no Festi-val das Nações, em Paris. O América Futebol Clube torna-

-se campeão carioca. No jogo final, o América vence o Fluminense por dois a um. O gol da vitória foi marcado pelo lateral-direito Jorge, aproveitando um rebote do goleiro Castilho. O Santos vence o Palmeiras por dois

a um e torna-se bicampeão paulista. Pelé marcou 34 gols. Foi o artilheiro do campeonato. Oscarito quase nos mata de rir em

Os dois ladrões, de Carlos Manga. São criados Os Flinstones e o Zé

Colmeia. A Casa de Rui Barbosa publica a

obra de Araripe Júnior, até hoje um grande fato cultural. Merece ser ree-ditada. Nelson Werneck Sodré publi-ca O que se deve ler para conhecer o Brasil. Álvaro Vieira Pinto publica Consciência e realidade nacional. Vi-nicius de Moraes lança Antologia poé-tica e Fernando Sabino, O homem nu, coletânea de crônicas. Começa a ser

publicada História geral da civiliza-ção brasileira, coordenada por Sérgio Buarque de Holanda Éder Jofre: campeão mundial de

boxe, na categoria peso galo. Cinco músicas muito cantadas no

ano: “O amor e a rosa” (Pernam-buco e Antônio Maria); “Mulher de trinta” (Luís Antônio); “Samba tris-te” (Baden Powell e Billy Blanco); “Meditação” e “Samba de uma nota só” (ambas de Tom Jobim e Newton Mendonça). Os restos mortais de 454 soldados

da FEB, mortos durante a II Gran-de Guerra, são transladados do ce-mitério de Pistóia, na Itália, para o Monumento Nacional dos Mortos da Segunda Guerra Mundial, situado no aterro da Glória, no Rio de Janeiro. O Monumento merece ser visto.

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