legitimidade dos cônjuges
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1. LEGITIMIDADE DOS CÔNJUGES
I. Se o título executivo contemplar os dois cônjuges, seja como credores,
seja como devedores, não há dúvida de que ambas podem instaurar a acção
executiva ou contra ambos pode ser instaurada a acção executiva.
II. Se a dívida de um dos cônjuges for própria, só pode ser demandado em
execução o cônjuge devedor, desde que haja título executivo (judicial ou
extrajudicial) contra ele. Por essa dívida irão responder em primeira linha, os
seus bens próprios ou, subsidiariamente a sua meação, nos bens comuns do
casal, de harmonia com o disposto na lei civil (art. 1696.º, n.º 1, do Código
Civil).
III. Se a dívida for comum e não houver título extrajudicial, ambos os
cônjuges devem ser demandados na acção declarativa contra eles instaurada
(art. 28.º-A, n.º 3). Trata-se de um caso de litisconsórcio necessário passivo. A
execução deverá ser instaurada contra ambos os cônjuges, sob pena de
ilegitimidade, sanável por intervenção do cônjuge não demandado no
requerimento de execução.
Pode, porém, suceder que embora a dívida seja comum, o credor só
disponha de título executivo contra um dos cônjuges. Se se tratar de um título
judicial, é controvertido saber se a situação pode ser corrigida, na medida em
que nem o autor, nem o réu integraram o contraditório, requerendo a
intervenção do cônjuge não demandado na pendência da acção declarativa.
TEIXEIRA DE SOUSA sustenta, em tal caso, que fica precludida a
possibilidade de fazer intervir na acção executiva o outro cônjuge, devendo a
dívida ser tratada como própria do cônjuge demandado(1). Contra este ponto de
vista, LEBRE DE FREITAS / RIBEIRO MENDES sustentam que sempre se
poderá demandar o cônjuge não primitivamente demandado para obter título
executivo contra ele(2).
1(?) A Reforma da Acção Executiva cit., pág. 89.2(?) Código de Processo Civil Anotado, 3.º vol., 1.º ed., Coimbra, Coimbra Editora, 2003, págs. 365 e segs.
Na execução movida contra um só dos cônjuges, se forem penhorados
bens comuns do casal, por não se conhecerem bens próprios do executado
suficientes para o pagamento da quantia exequenda, o cônjuge é citado, para
no prazo da oposição, requerer a separação de meações (arts. 825.º, n.º 1,
864.º, n.º 3, a)).
IV. A Reforma da Acção Executiva procurou resolver alguns problemas
levantados pela situação dos cônjuges na acção executiva, passando a prever
a possibilidade de formação de um título executivo contra o cônjuge não
obrigado no título, na própria acção executiva, quando esse título executivo não
fosse uma sentença judicial.
Quando, numa execução movida contra um só cônjuge, se tenha
fundamentadamente alegado que a dívida, constante de título diverso da
sentença, é comum, o cônjuge do executado é citado para, em alternativa e no
mesmo prazo, “declarar se aceita a comunicabilidade da dívida, baseado no
fundamento alegado, com a cominação de, se nada disser, a dívida ser
considerada comum, para os efeitos de execução e sem prejuízo da oposição
que contra ela deduza” (art. 825.º, n.º 2).
Sendo considerada comum a dívida, a execução prossegue também
contra o cônjuge não executado, podendo ser penhorados bens deste. Nos
termos do art. 1695.º, n.º 1, do Código Civil, pelas dívidas que são da
responsabilidade de ambos os cônjuges (dívidas comuns) “respondem os bens
comuns do casal e, na falta ou insuficiência deles, solidariamente, os bens
próprios de qualquer dos cônjuges”.
Já no caso de o cônjuge citado ter recusado a comunicabilidade, sem ter
requerido a separação de bens, nem apresentado certidão de acção pendente
para partilha, a execução segue sobre os bens comuns (art. 825.º, n.º 4).
Quando o exequente não alegue que a dívida é comunicável, pode o
executado ou o outro cônjuge, requerer, no prazo da oposição, a separação de
bens ou juntar a certidão de processo de inventário pendente, sob pena de a
execução prosseguir sobre os bens penhorados (art. 825.º, n.º 5).
Em disposição paralela a do n.º 2 do art. 825.º, o n.º 6 deste artigo prevê
que possa ser o próprio cônjuge executado a suscitar a questão da
comunicabilidade da dívida. Nesta situação, o cônjuge não executado, se não
tiver requerido a separação de bens, é notificado para os termos e efeitos do
n.º 2, aplicando-se os nos 3 e 4, se não houver oposição do exequente.
Quando o cônjuge não executado ou o outro cônjuge tiver junto o
requerimento a pedir a separação, ou se for junta a certidão do inventário, a
execução fica suspensa até à partilha. No caso de os bens penhorados não
terem cabido ao cônjuge executado, podem ser penhorados outros que lhe
tenham cabido, permanecendo a anterior penhora até nova apreensão (n.º 7 do
art. 825.º).
V. Deve notar-se que, como veremos adiante, o cônjuge não executado
deve ser citado para a execução quando a penhora tenha recaído sobre bens
imóveis ou estabelecimento comercial que, apesar de serem bens próprios de
executado, este não possa alienar livremente (cfr. art. 1682.º-A do Código
Civil). É o que dispõe o art. 864.º, n.º 3, alínea a), 1.ª parte(3).
3(?) Sobre esta matéria remete-se para Teixeira de Sousa, Reforma da Acção Executiva, págs. 92-96, Maria José Capelo, “Pressupostos processuais gerais”, in Themis ano IV (2003), n.º 7, págs. 79-93; Lebre de Freitas, Acção Executiva cit., 5.ª ed., pág. 233 e segs. e Amâncio Ferreira, Curso cit., 12.º ed., págs. 212-217.