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1 73 Agosto, 2019 LEGISLAÇÃO JURISPRUDÊNCIA DIREITO PREVIDENCIÁRIO COMENTADO Este boletim tem caráter genérico e informativo, não constituindo opinião legal para qualquer operação ou negócio específico. Para mais informações, entre em contato com nossos advogados ou visite o website www.pinheironeto.com.br. ↑ voltar ao início O boletim eletrônico PrevNotícias é desenvolvido pelos profissionais que integram a área Previdenciária de Pinheiro Neto Advogados. PERIODICIDADE Mensal SÓCIO RESPONSÁVEL Cristiane Ianagui Matsumoto Gago COLABORADORES Mariana Monte Alegre de Paiva, Lucas Barbosa Oliveira, Henrique Wagner de Lima Dias, Eduardo Kauffman Milano Benclowicz Jéssica Min Kyong Chung, Raissa Cristina Pimenta e Esther Simon Seroussi Souccar. CONTATO Reforma da tributação sobre a folha: PEC nº 110/2019 Alterações no eSocial Solução de Consulta nº 233 e a denúncia espontânea STJ julga tributação da hora-alimentação TRT reconhece vínculo empregatício no caso de motoristas chamados por aplicativos CARF analisa PLR paga a diretores A tributação previdenciária sobre o bônus de retenção pinheironeto.com.br Pinheiro Neto [email protected] LEGISLAÇÃO (IMAGEM: ADOBE STROCK) Reforma da tributação sobre a folha: PEC nº 110/2019 Recentemente, 67 senadores se uniram para apresentar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 110/2019, que altera a redação do artigo 195, inciso I, alínea “a” e inclui os artigos 195-A e 195-B no texto da Constituição Federal. Em resumo, as alterações sugeridas pela PEC aumentam o escopo de empresas sujeitas ao recolhimento das contribuições previdenciárias, mas reduz suas alíquotas, considerando o número de segurados empregados e as respectivas médias salariais. Vale destacar também que a PEC insere no sistema previdenciário as novas formas de trabalho decorrentes das novas tecnologias. A sugestão dada pela referida PEC no que diz respeito ao artigo 195, I, “a” da CF/1988 determina que a contribuição previdenciária incidirá sobre rendimentos de “qualquer natureza”, mas concede imunidade a diversos benefícios previstos no artigo 28, § 9º da Lei nº 8.212/1991, tais como os pagamentos relativos à alimentação, transporte, assistência médica e odontológica, educação, previdência complementar, indenizações decorrentes da rescisão do contrato de trabalho e, nos termos da lei, nas participações nos lucros ou resultados (PLR).

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nº 73Agosto, 2019

LEGISLAÇÃO JURISPRUDÊNCIADIREITO PREVIDENCIÁRIO COMENTADO

Este boletim tem caráter genérico e informativo, não constituindo opinião legal para qualquer operação ou negócio específico. Para mais informações, entre em contato com nossos advogados ou visite o website www.pinheironeto.com.br.

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O boletim eletrônico PrevNotícias é desenvolvido pelos profissionais que integram a área Previdenciária de Pinheiro Neto Advogados.

PERIODICIDADE

Mensal

SÓCIO RESPONSÁVEL

Cristiane Ianagui Matsumoto Gago

COLABORADORES

Mariana Monte Alegre de Paiva, Lucas Barbosa Oliveira, Henrique Wagner de Lima Dias, Eduardo Kauffman Milano BenclowiczJéssica Min Kyong Chung, Raissa Cristina Pimenta e Esther Simon Seroussi Souccar.

CONTATO

▪ Reforma da tributação sobre a folha: PEC nº 110/2019

▫ Alterações no eSocial ▫ Solução de Consulta nº 233 e a denúncia espontânea

▫ STJ julga tributação da hora-alimentação ▫ TRT reconhece vínculo empregatício no caso de motoristas chamados por aplicativos

▫ CARF analisa PLR paga a diretores

▫ A tributação previdenciária sobre o bônus de retenção

pinheironeto.com.brPinheiro [email protected]

LEGISLAÇÃO

(IMAGEM: ADOBE STROCK)

Reforma da tributação sobre a folha: PEC nº 110/2019Recentemente, 67 senadores se uniram para apresentar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 110/2019, que altera a redação do artigo 195, inciso I, alínea “a” e inclui os artigos 195-A e 195-B no texto da Constituição Federal.

Em resumo, as alterações sugeridas pela PEC aumentam o escopo de empresas sujeitas ao recolhimento das contribuições previdenciárias, mas reduz suas alíquotas, considerando o número de segurados empregados e as respectivas médias salariais. Vale destacar também que a PEC insere no sistema previdenciário as novas formas de trabalho decorrentes das novas tecnologias.

A sugestão dada pela referida PEC no que diz respeito ao artigo 195, I, “a” da CF/1988 determina

que a contribuição previdenciária incidirá sobre rendimentos de “qualquer natureza”, mas concede imunidade a diversos benefícios previstos no artigo 28, § 9º da Lei nº 8.212/1991, tais como os pagamentos relativos à alimentação, transporte, assistência médica e odontológica, educação, previdência complementar, indenizações decorrentes da rescisão do contrato de trabalho e, nos termos da lei, nas participações nos lucros ou resultados (PLR).

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LEGISLAÇÃO JURISPRUDÊNCIADIREITO PREVIDENCIÁRIO COMENTADO nº 73

Agosto, 2019

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Alterações no eSocialApós muitas polêmicas envolvendo o eSocial, a Medida Provisória (MP) nº 881/2019 – já aprovada pelo Congresso e pendente de sanção pelo presidente da República – prevê, em seu artigo 16, que o eSocial será substituído por sistema simplificado de escrituração de obrigações previdenciárias, trabalhistas e fiscais.

Diante disso, a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, juntamente com a Secretaria Especial da Receita Federal, publicou nota oficial para tratar da referida simplificação.

A fim de tornar mais rápido e menos oneroso o procedimento de preenchimento de informações por parte das empresas, a Nota prevê a substituição e/ou eliminação de importantes obrigações, como GFIP – Guia de Recolhimento do FGTS e de Informações à Previdência Social; CTPS – Carteira de Trabalho e Previdência Social; DIRF - Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte; DCTF - Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais; Folha de pagamento e GPS – Guia da Previdência Social, por exemplo.

A Secretaria Especial da Previdência e Trabalho e a Secretaria Especial da Receita Federal informaram que editarão até 30.9.2019 ato normativo para disciplinar a forma de envio das informações ao ambiente único nacional, assim como disponibilizarão o cronograma das alterações ou eliminações mencionadas.

A redação do artigo 195-A prevê que as alíquotas das contribuições previdenciárias serão regressivas, baseadas em médias de alíquotas de massa salarial e número de empregados, prevendo limites máximos e mínimos de 15% a 11%, a título de contribuição previdenciária. Em síntese, quanto maior o número de empregados, menor a alíquota, que também sofre alterações com relação aos valores médios de salários.

No parágrafo único do artigo 195-A, a PEC sugere uma alíquota única e específica para prestadores de serviços, que será de 13% sobre os rendimentos recebidos em decorrência das relações de trabalho.

Quanto aos trabalhos decorrentes de novas tecnologias, o artigo 195-B da PEC estabelece que as empresas que atuam por meio de plataformas intermediadoras de serviços contribuirão com uma alíquota de 5% sobre a receita bruta das comissões retidas, não sendo substitutiva à contribuição sobre a folha de salários. Desse modo, essas empresas deverão contribuir tanto pela receita bruta das comissões que retiveram de seus usuários quanto pela folha de pagamentos dos seus próprios colaboradores.

Por fim, a PEC desloca às empresas que atuam por meio das referidas plataformas a responsabilidade pela retenção das contribuições previdenciárias das pessoas físicas que exerçam atividades econômicas de trabalho ou prestação de serviços, sem vínculo empregatício (segurados contribuintes individuais da previdência social). (IMAGEM: ADOBE STROCK)

▪ Reforma da tributação sobre a folha: PEC nº 110/2019

▪ Alterações no eSocial ▫ Solução de Consulta nº 233 e a denúncia espontânea

▫ STJ julga tributação da hora-alimentação ▫ TRT reconhece vínculo empregatício no caso de motoristas chamados por aplicativos

▫ CARF analisa PLR paga a diretores

▫ A tributação previdenciária sobre o bônus de retenção

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JURISPRUDÊNCIA

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STJ julga tributação previdenciária da hora-alimentaçãoNos termos do artigo 71, § 4º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), quando a empresa não conceder o intervalo para repouso e alimentação ao empregado, ficará obrigada a remunerar o período correspondente com um acréscimo de no mínimo 50% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho. Portanto, é dever da empresa pagar esse valor ao empregado apenas quando há essa supressão, total ou parcial.

Há muito se discutem os impactos previdenciários do referido pagamento, na medida em que os contribuintes entendem se tratar de verba de caráter indenizatório – e que, portanto, deveria ser excluída

Solução de Consulta nº 233 e a denúncia espontâneaA denúncia espontânea, prevista no artigo 138 do CTN, é um mecanismo que oferece possibilidade ao devedor de um tributo de confessar a prática de determinada infração tributária e pagar seu débito antes que o Fisco exija a cobrança. A vantagem acarretada pela denúncia espontânea é a exclusão da multa, seja ela de ofício ou moratória.

Dentre os requisitos da denúncia espontânea, deve haver o pagamento do tributo devido e a tempestividade da denúncia – a autodenúncia deverá ocorrer antes de um procedimento administrativo fiscalizatório.

Uma discussão relevante é a aplicação do instituto no caso do pagamento por meio da compensação, que, nos termos do artigo 156 do CTN, é causa extintiva da dívida.

Recentemente, a Receita Federal do Brasil (RFB) editou a Solução de Consulta nº 233/2019 para dispor que o pagamento e a compensação não são equivalentes para fins de denúncia espontânea.

Por outro lado, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) tem sedimentado o entendimento justamente contrário, favorável aos contribuintes, no sentido de que ambos os métodos – pagamento e compensação – são validos para extinguir o débito inclusive no caso de denúncia espontânea. ▪

da base das contribuições previdenciárias. Por outro lado, as autoridades fiscais argumentam que referida verba teria caráter remuneratório, devendo ser tributada pelas contribuições previdenciárias.

A fim de uniformizar a jurisprudência, a 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no julgamento dos Embargos de Divergência nº 1.619.117, decidiu definir a matéria. Após voto desfavorável aos contribuintes pelo ministro relator Herman Benjamin, o julgamento foi suspenso por pedido de vista pelo ministro Og Fernandes e, atualmente, aguardando retorno à pauta.

Destacamos que a conclusão desse julgamento deverá impactar os fatos geradores anteriores à introdução da reforma trabalhista, pois, ao conferir nova redação ao § 4º do artigo 71 da CLT, o legislador expressamente admitiu o caráter indenizatório da verba.

(IMAGEM: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA))

▫ Reforma da tributação sobre a folha: PEC nº 110/2019

▫ Alterações no eSocial ▪ Solução de Consulta nº 233 e a denúncia espontânea

▪ STJ julga tributação da hora-alimentação ▫ TRT reconhece vínculo empregatício no caso de motoristas chamados por aplicativos

▫ CARF analisa PLR paga a diretores

▫ A tributação previdenciária sobre o bônus de retenção

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LEGISLAÇÃO JURISPRUDÊNCIADIREITO PREVIDENCIÁRIO COMENTADO nº 73

Agosto, 2019

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mesma linha de decisões proferidas anteriormente não apenas no Brasil como no exterior, no sentido de respaldar os motoristas com benefícios decorrentes da relação empregatícia: em Nova York, por exemplo, os motoristas terão direito ao salário mínimo, ao passo que o Tribunal de Justiça Europeu reconheceu grande empresa do segmento como prestadora de serviços de transporte, ao invés de mera plataforma de intermediação de serviços.

CARF afasta a tributação do Hiring BonusRecentemente, a Câmara Superior de Recursos Fiscais do CARF (CSRF) afastou a incidência de contribuições previdenciárias sobre o pagamento de bônus de contratação (Hiring Bonus), revertendo o entendimento que vinha prevalecendo no CARF sobre o tema.

A análise dos conselheiros foi direcionada sobretudo pela ausência de comprovação, por parte do Fisco, de que o Hiring Bonus estaria vinculado ao contrato de trabalho e que o pagamento do benefício seria devido como contraprestação de trabalho.

Apesar de favorável, é importante destacar que a instância superior do CARF não se manifestou expressamente sobre (i) a legalidade da incidência de contribuições previdenciárias sobre o pagamento de Hiring Bonus; e (ii) a natureza jurídica do referido benefício. Isso porque a decisão da Turma da Câmara Superior se pautou

TRT reconhece vínculo empregatício no caso de motoristas chamados por aplicativosMuito tem se discutido acerca da possibilidade de reconhecer vínculo empregatício na relação entre aplicativos de corrida e seus motoristas. Recentemente, o Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (TRT-3) reconheceu a existência de vínculo entre o motorista e a empresa de corridas.

Para chegar a tal conclusão, o tribunal analisou os três elementos constitutivos da relação empregatícia: (i) pessoalidade; (ii) onerosidade; e (iii) subordinação. O entendimento até então vigente já considerava como existente na relação tanto a pessoalidade quanto a onerosidade, porém não considerava presente a relação de subordinação. Mas, ao verificar que o motorista só possui acesso ao destino da corrida após a entrada do passageiro no veículo, o tribunal entendeu que a subordinação estaria igualmente presente.

Além disso, o argumento sustentado pela empresa do aplicativo no sentido da autonomia dos motoristas não prosperou devido ao entendimento do TRT-3 de que o motorista não exerceria qualquer interferência na definição do preço das corridas, ou seja, mais um indício de subordinação verificado pelo tribunal e que diz respeito ao controle exercido pela empresa sobre os motoristas por meio das avaliações no próprio aplicativo.

Vale ressaltar que referido entendimento segue a

majoritariamente em provas documentais.Vale destacar que essa é a segunda decisão

favorável da 2ª Turma da CSRF sobre o tema. Mas, com diversos casos julgados pelo CARF que agora serão apreciados pela CSRF, os conselheiros devem analisar, com maior precisão, os aspectos técnicos que envolvem o Hiring Bonus.

Com isso, vale prestar atenção na evolução do assunto e eventualmente revisitar as políticas de pagamento desse tipo de benefício.

CARF analisa PLR paga a diretoresExiste grande debate a respeito da tributação previdenciária sobre a PLR paga a diretores sem vínculo empregatício, visto que o artigo 1o da Lei no 10.101/2000 se limita a prever a isenção da contribuição previdenciária no caso de PLR paga aos “trabalhadores”.

A nosso ver, seria possível defender a aplicação da isenção no caso de PLR paga a diretores estatutários. Primeiro, a referida lei em momento algum condiciona a isenção à existência de vínculo empregatício entre a empresa e o trabalhador. Segundo, a PLR é instrumento de incentivo à produtividade do trabalhador, não havendo qualquer razão em limitar o benefício da isenção no caso de diretores.

A matéria não está pacificada no âmbito da jurisprudência, havendo decisões em ambos os sentidos do CARF. Vale examinar a evolução do tema com cuidado. ▪

▫ Reforma da tributação sobre a folha: PEC nº 110/2019

▫ Alterações no eSocial ▫ Solução de Consulta nº 233 e a denúncia espontânea

▫ STJ julga tributação da hora-alimentação ▪ TRT reconhece vínculo empregatício no caso de motoristas chamados por aplicativos

▪ CARF analisa PLR paga a diretores

▫ A tributação previdenciária sobre o bônus de retenção

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LEGISLAÇÃO JURISPRUDÊNCIADIREITO PREVIDENCIÁRIO COMENTADO nº 73

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DIREITO COMENTADO

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Bônus de retenção e a tributação previdenciáriaO bônus de retenção nada mais é do que o pagamento efetuado pelo empregador ao empregado visando à permanência deste na empresa. O pagamento desse benefício é condicionado e pode ser restituído em parte se o empregado se demitir antes do período previsto para sua permanência no acordo de pagamento do bônus. Mas, regra geral, caso o empregador demita o empregado antes, não lhe é permitido solicitar a restituição de parte do valor pago ao empregado correspondente ao tempo faltante.

Todavia, assim como outras verbas pagas ao empregado, há intensa discussão acerca da incidência das contribuições previdenciárias sobre os bônus em questão.

Inicialmente, cabe destacar que, segundo os artigos 195 e 201, § 1º da Constituição Federal, a análise da possibilidade de incidência de contribuições previdenciárias sobre quaisquer pagamentos deve ser pautada sob a ótica de que a hipótese tributária desse tributo se restringe ao pagamento ou creditamento de salário e demais rendimentos do trabalho.

Em resumo, de acordo com o disposto na Constituição Federal, na legislação ordinária e com base no entendimento da jurisprudência atual, para fins de recolhimento de contribuições previdenciárias, determinado pagamento deve ser levado em consideração para esse fim somente quando este for contraprestação de valor econômico concedido habitualmente ao empregado e decorrente de trabalho.

Nesse sentido, levando em consideração que o pagamento do bônus de retenção visa apenas incentivar o empregado a permanecer no cargo que ocupa por um período de tempo determinado, para que somente após possa buscar outro caminho profissional, resta claro que os valores pagos a esse título não deveriam compor a base de cálculo das contribuições previdenciárias.

Tanto o é que o CARF tem adotado, majoritariamente, posicionamento favorável aos contribuintes no sentido de desconsiderar o bônus de retenção como verba remuneratória, justamente em razão do pagamento ser realizado em parcela única e completamente independente da prestação do trabalho por parte do empregado.

Contudo, vale ressaltar que mencionado entendimento não é unânime entre os Conselheiros do CARF. Há decisões desfavoráveis na linha de que o pagamento do bônus de retenção decorreria de contraprestação de trabalho e, como consequência, deveria compor o conceito de salário de contribuição.

Assim, considerando todo o arcabouço jurisprudencial do Tribunal Administrativo e os argumentos acima mencionados, a empresa que desejar beneficiar seu empregado com o pagamento de bônus de retenção poderá sofrer eventual questionamento, mas certamente conta com bons precedentes jurisprudenciais para defender a improcedência da cobrança de contribuições previdenciárias. ▪

(IMAGEM: ADOBE STROCK)

▫ Reforma da tributação sobre a folha: PEC nº 110/2019

▫ Alterações no eSocial ▫ Solução de Consulta nº 233 e a denúncia espontânea

▫ STJ julga tributação da hora-alimentação ▫ TRT reconhece vínculo empregatício no caso de motoristas chamados por aplicativos

▫ CARF analisa PLR paga a diretores

▪ A tributação previdenciária sobre o bônus de retenção