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0 Bernardo Lazary Cheibub LAZER, EXPERIÊNCIA TURÍSTICA, MEDIAÇÃO E CIDADANIA: UM ESTUDO SOBRE O PROJETO TURISMO JOVEM CIDADÃO (SESC-RJ) Belo Horizonte Universidade Federal de Minas Gerais 2009

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Bernardo Lazary Cheibub

LAZER, EXPERIÊNCIA TURÍSTICA, MEDIAÇÃO E CIDADANIA:

UM ESTUDO SOBRE O PROJETO TURISMO JOVEM CIDADÃO (SESC-RJ)

Belo Horizonte

Universidade Federal de Minas Gerais

2009

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Bernardo Lazary Cheibub

LAZER, EXPERIÊNCIA TURÍSTICA, MEDIAÇÃO E CIDADANIA:

UM ESTUDO SOBRE O PROJETO TURISMO JOVEM CIDADÃO (SESC-RJ)

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Lazer

– Área Interdisciplinar –da Universidade Federal de Minas

Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de

Mestre em Lazer.

Área de Concentração: Lazer, Cultura e Educação

Linha de Pesquisa: Lazer, Cidade e Grupos Sociais

Orientador: Prof. Dr. Victor Andrade de Melo

Belo Horizonte

Universidade Federal de Minas Gerais

2009

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A dissertação intitulada “LAZER, EXPERIÊNCIA TURÍSTICA, MEDIAÇÃO E

CIDADANIA: UM ESTUDO SOBRE O PROJETO TURISMO JOVEM CIDADÃO

(SESC-RJ)”, de autoria do prof. Bernardo Lazary Cheibub, foi defendida e aprovada

em 9 de junho de 2009 pela banca examinadora constituída pelos seguintes

professores:

________________________________

Prof. Dr. Victor Andrade de Melo

(Universidade Federal de Minas Gerais)

(Orientador)

_______________________________

Prof. Dr. Hélder Ferreira Isayama

(Universidade Federal de Minas Gerais)

______________________________

Prof. Dr. Edmundo de Drummond Alves Junior

(Universidade Federal Fluminense)

Belo Horizonte, 09 de junho de 2009.

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Dedico este trabalho à minha esposa, Ana Maria Cheibub, companheira no sossego e no sufoco

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor Victor Andrade de Melo, que embarcou comigo nessa “viagem”, guiando o leme com objetividade e competência, sempre em frente (ou nas suas palavras: “vamo que vamo irmão”).

Aos Professores Edmundo de Drummond Alves Júnior e Hélder Ferreira Isayama, que aceitaram o convite para participar da banca e contribuíram com a finalização deste trabalho.

Aos meus pais e a meu irmão, pelo apoio incondicional e compreensão.

Aos meus familiares e amigos, que me deram “força” para continuar.

À Rosa Aurora Carvalho Nigromonte, amiga e parceira, pelo apoio e carinho.

A Marco Dreier Buarque, amigo e “irmão” de todas as horas.

A José Luís Leal de Oliveira, por ouvir minhas análises e lembrar-me do caminho.

À Christianne Luce Gomes, pela ajuda na fase do projeto.

À Gerente de Turismo e Hotelaria do Sesc Rio, Silvia Madureira e a Técnica de Turismo Social do Sesc Tijuca, por me abrirem as portas da Instituição.

À idealizadora do projeto, por me fazer conhecer o Turismo Jovem Cidadão.

A todos os entrevistados, jovens e pofissionais, que se dispuseram a participar e ajudar na pesquisa.

A Tchuco e Nabuco, pelos momentos de descontração.

A todos os colegas do Mestrado, discentes e docentes, que me oportunizaram boas discussões e reflexões.

E a todas as pessoas que contribuíram de alguma forma com este trabalho

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RESUMO

Este trabalho teve por objetivo analisar o projeto Turismo Jovem Cidadão (TJC),

uma iniciativa do Serviço Social do Comércio (Sesc) do Rio de Janeiro, que intenta

proporcionar, a jovens de comunidades de baixa renda do bairro da Tijuca, visitas a

pontos turísticos e equipamentos de lazer e cultura da cidade. No decorrer das

atividades são realizadas esquetes e dinâmicas informativas sobre a formação

acadêmica e as principais funções dos trabalhadores que integram o TJC. Para a

coleta de dados, examinamos criticamente o documento escrito de elaboração da

proposta e realizamos entrevistas semi-estruturadas com profissionais e jovens que

participaram do TJC, norteadas por quatro categorias de análise: os entendimentos

de lazer, de turismo e de mediação; e a contribuição efetiva para os envolvidos. Os

resultados demonstraram que os profissionais não possuem uma compreensão

teórica aprofundada sobre os conceitos de lazer, turismo, mediação e cidadania.

Neste sentido, não surpreende que tenhamos constatado que os jovens tenham

identificado como a maior contribuição do projeto a ampliação do horizonte

profissional e não exatamente a formação cultural. De qualquer maneira, vale

destacar, ainda que com restrições e limites, as mediações adotadas indicam a

busca de estratégias pedagógicas construídas coletivamente, convidando os jovens

a participarem ativamente das ações do TJC.

Palavras-chave: Lazer; Experiência turística; Mediação; Cidadania.

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ABSTRACT

This work had the purpose to analyze the Turismo Jovem Cidadão – TJC (Young

Citizen Tourism) project, an initiative of the Social Service of Commerce (Sesc) of

Rio de Janeiro, which is intended to provide youngsters from the low income

communities of the Tijuca area with visitations to touristic locations, leisure

equipment and the culture of the city. Sketches and informative dynamics regarding

the academic qualification and main duties of the TJC workers were carried out

during the course of the activities. In order to collect information, we have examined

thoroughly the written elaboration of the proposal and performed semi-structured

interviews with professionals and youngsters that took part in the TJC project,

conducted through four analysis categories: understanding as to leisure, tourism, and

mediation; and the effective contribution for the people involved. The results showed

that the professionals do not have a thorough theoretical understanding on the

concepts of leisure, tourism, mediation and citizenship. Considering that, it is not a

surprise to us to find out that the youngsters have identified the broadening of the

professional perspective as the project’s greatest contribution, and not exactly the

cultural formation. Anyway, it is worth highlighting, although with restrictions and

limitations, that the mediations adopted indicate the search for educational strategies

created collectively, inviting the youngsters to actively take part in TJC activities.

Keywords: Leisure; Touristic experience; Mediation; Citizenship.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................8

2 LAZER, TURISMO, CIDADE E MEDIAÇÃO: UMA REVISÃO DA

LITERATURA..................................................................................................13

2.1 Lazer e turismo ou Turismo e lazer.................................................13

2.2 Apontamentos históricos sobre o lazer e o turismo........................24

2.3 Projetos de turismo e a cidade........................................................32

2.4 Turismo, lazer e cidadania..............................................................39

2.5 Estratégias de mediação.................................................................44

2.5.1. Animação cultural.............................................................50

3 O PROJETO TURISMO JOVEM CIDADÃO................................................53

3.1 O entendimento de lazer................................................................56

3.2 O entendimento de turismo.............................................................60

3.3 O entendimento de mediação.........................................................65

3.4 As contribuições efetivas para os envolvidos................................74

4 CONCLUSÃO..............................................................................................83

REFERÊNCIAS..............................................................................................90

APÊNDICES

APÊNDICE A..................................................................................................97

APÊNDICE B..................................................................................................98

APÊNDICE C..................................................................................................99

APÊNDICE D..............................................................................................100

ANEXOS

ANEXO 1.......................................................................................................107

ANEXO 2.......................................................................................................207

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1 INTRODUÇÃO

O estímulo para pesquisar a temática Lazer, Turismo, Mediação e Cidadania

surgiu a princípio por um feliz acaso na decorrência de minha trajetória profissional.

Ao realizar uma pós-graduação em “Jogos Cooperativos” (na Universidade Monte

Serrat / Santos) tomei conhecimento do projeto Turismo Jovem Cidadão (TJC),

realizado pelo Serviço Social do Comércio (Sesc-RJ), sob a responsabilidade de

uma colega de turma – uma das idealizadoras da proposta, atualmente gerente geral

da unidade do Sesc de Ramos. Meu interesse foi imediatamente despertado e não

tardou que visualizasse aí uma interessante possibilidade para aprofundar

conhecimentos sobre o tema.

Desde 1948 o Sesc vem promovendo, por meio de seus muitos programas e

projetos, possibilidades para que as pessoas vivenciem a experiência turística,

conheçam e reconheçam lugares e desenvolvam relações interpessoais. De acordo

com Antonio Oliveira Santos, o Sesc trata-se de:

[...] um centro de referência em lazer e cultura para as classes trabalhadoras brasileiras [...]. Por meio de sua rede de hospedagem (pousadas e centros de turismo e lazer), de convênios com diversos hotéis em diferentes localidades e da realização de excursões e passeios, o SESC possibilita que, anualmente, milhares de brasileiros visitem e conheçam novos lugares e culturas ( 2006, p. 8).

Dentre os projetos desenvolvidos pelo Sesc, o TJC – uma iniciativa

subsidiada pela própria Instituição, oferece aos jovens oriundos de comunidades de

baixa renda do Rio de Janeiro a oportunidade de conhecer os principais pontos

turísticos da (própria) cidade onde residem, por meio de passeios e excursões,

sempre acompanhados de guias, professores1 e dos profissionais responsáveis pelo

projeto.

Técnicos e profissionais envolvidos com a organização e execução do projeto

selecionam jovens (de ambos os sexos) de 12 a 17 anos das comunidades

atendidas pelas unidades do Sesc da Tijuca e de Ramos. Estes devem

necessariamente estar vinculados a organizações não-governamentais (ONG´s)

conveniadas ou associações de moradores. Também necessitam estar matriculados

e freqüentando regularmente alguma escola. 1 Dependendo do espaço visitado, o Sesc contrata professores para dissertar sobre alguns conteúdos específicos (biologia, história, física, arte).

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Durante quatro dias consecutivos são realizadas visitas temáticas pela

cidade2, nas quais são apresentados saberes e vivências relacionados a vários

temas: transportes públicos urbanos; Rio antigo e histórico; meio ambiente; pontos

turísticos; entre outros. Apresentações culturais e artísticas (esquetes) são

integradas aos passeios, tais como dança, mímica, música, clown. No decorrer do

projeto eles têm a oportunidade de conhecer a dinâmica de trabalho de alguns

profissionais: guia de turismo, professor, fotógrafo, artistas que se apresentam e

profissionais que trabalham nos equipamentos/instalações visitadas. Além disso, são

munidos de câmera fotográfica para registrarem suas experiências, sensações e

momentos marcantes; posteriormente com esse material são montadas exposições.

O TJC instigou meu interesse porque me parecia interessante para discutir as

relações entre lazer, turismo e cidadania, notadamente no que se refere às

possibilidades de abordar as estratégias de mediação. Nesse sentido, foram

elaborados os seguintes questionamentos norteadores da pesquisa: quais

estratégias de mediação integram o TJC? Como elas são apropriadas e

ressignificadas pelos sujeitos que fazem parte do processo3?

Em face desses questionamentos, as reflexões que apresentarei dizem

respeito a um estudo cujo objetivo geral foi identificar e analisar as estratégias de

mediação que integram o TJC, tendo em vista compreender como elas são

apropriadas e ressignificadas tanto pelos profissionais, como pelos jovens que

participaram do projeto.

Para tal, esta pesquisa se propôs a articular a investigação bibliográfica com a

pesquisa de campo do tipo exploratória.

A pesquisa bibliográfica se debruçou sobre as seguintes temáticas: mediação;

animação cultural (fundamentos e propostas) – pautada na idéia de mediação;

estudos do lazer; turismo (especialmente em sua visão antropológica e social);

cidadania; e espaço urbano.

2 O jovens são transportados de um ponto a outro da cidade por van ou ônibus contratado pelo Sesc. 3 A preocupação com a questão da mediação surgiu quando realizei, como aluno ouvinte, a disciplina Fundamentos da Animação Cultural, no Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Lazer – da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Naquele momento, percebi a Animação Cultural – na sua dimensão de mediação – como uma interessante tecnologia pedagógica, e reconheci muitos de seus pressupostos em minhas intervenções e preocupações profissionais relacionadas ao turismo e ao lazer.

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A pesquisa de campo foi constituída de duas etapas: 1) a análise do

documento escrito do projeto TJC; 2) entrevistas semi-estruturadas, realizadas com

jovens e profissionais envolvidos no TJC. Para Laville, Dionne e Siman (1999,

p.188), nessa opção, “os temas são particularizados e as questões (abertas)

preparadas antecipadamente”. Ao contrário de uma entrevista estruturada, há plena

liberdade do entrevistador/pesquisador quanto à retirada ocasional de algumas

perguntas, à ordem em que essas estão alocadas e ao acréscimo de outras, em

função dos desdobramentos do contato com o entrevistado.

As entrevistas foram realizadas no Sesc-Tijuca. Todas foram gravadas,

transcritas e utilizadas especificamente para este estudo. Somente os

pesquisadores envolvidos tiveram acesso às informações, mantendo-se o anonimato

dos depoentes.

Constituíram a amostra os seguintes sujeitos: (a) sete jovens das

comunidades atendidas pelo Sesc-Tijuca; e (b) profissionais envolvidos na

idealização, planejamento, organização e execução do projeto. A escolha da

amostra foi feita com base em algumas expectativas: (a) os jovens, público-alvo do

TJC, poderiam fornecer contribuições visto que experienciaram e ressignificaram as

intervenções; (b) os profissionais poderiam indicar sua concepção de mediação, sua

percepção das conseqüências e resultados de suas ações em relação aos jovens,

os meios e as dificuldades das/nas suas atuações. Para seleção da amostra,

adotou-se o seguinte procedimento: a) os jovens foram selecionados pelo próprio

Sesc entre os que participaram no ano de 2008; achamos tal procedimento mais

adequado do que promover a escolha aleatória na medida que, a princípio,

expressava o que a instituição considerou como os que melhor se desempenharam;

b) entre os profissionais, optamos pela criadora do projeto, os dois responsáveis

pelo planejamento e organização e os dois guias responsáveis pela

operacionalização.

A coleta de dados foi realizada em um período de três meses. Os dados foram

analisados considerando os marcos teóricos do estudo e as seguintes categorias de

análise:

• Entendimento de lazer: identificando a compreensão de lazer dos envolvidos

com o TJC.

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• Entendimento de turismo: identificando o posicionamento dos profissionais em

relação às especificidades do fenômeno e da atividade turística e a percepção

dos jovens acerca das experiências vivenciadas.

• Entendimento de mediação: identificando o que os profissionais entendem por

mediação e como os jovens sentiram as intervenções dos profissionais (e se

eles se vêem como mediadores do lazer e da experiência turística em suas

comunidades).

• Contribuição efetiva para os envolvidos: identificando se os jovens, razão da

existência do TJC, enxergaram a oportunidade como um estímulo para

ampliarem suas possibilidades de lazer e de seus próximos; e quais as

contribuições concretas na visão dos profissionais para o jovem e para si

próprios.

Essas categorias também foram utilizadas para analisarmos o documento escrito

do projeto.

É importante destacar que ainda não são numerosas, no Brasil, pesquisas

que tratem da questão do lazer, notadamente do turismo, nas camadas populares,

bem como as que busquem articular os processos de mediação com a experiência

turística. Assim sendo, o TJC se torna um pertinente objeto para um estudo de caso;

devido às suas características, parece ser um campo fértil para questionamentos

relativos ao objeto a ser investigado.

A estrutura desse estudo está assim constituída:

• Uma Introdução.

• Capítulo 2, cujo objetivo é o de apresentar a revisão da literatura, os conceitos

básicos relacionados às quatro categorias de análise. Trata-se de uma

discussão relacionada às duas áreas que dialogam com a experiência dos

jovens: Lazer e Turismo.

• Capítulo 3, cujo objetivo é o de analisar e interpretar os dados coletados.

• Conclusão.

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Deste modo, antes de passarmos as reflexões traçadas a partir dos

resultados da pesquisa propriamente dita, apresentamos alguns conceitos que nos

serviram como referencial de análise.

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2 LAZER, TURISMO, CIDADE E MEDIAÇÃO: UMA REVISÃO DA

LITERATURA

Partimos do princípio de que o entendimento da relação dos jovens de baixa

renda com a experiência turística e suas especificidades deve ser inserido no âmbito

de uma problemática mais abrangente: o campo de estudos do lazer e do turismo. É

vital que fique claro que entendemos o lazer – e o turismo como uma de suas

práticas - como uma dimensão da cultura4: “Compreendê-lo como dimensão da

cultura implica reconhecer: que o lazer participa da complexa trama social; [...] que o

lazer revela contradições socioculturais profundamente inseridas na nossa cultura”

(GOMES, FARIA, 2005, p. 54).

Isto posto, tentaremos pontuar, no decorrer deste capítulo, questões

referentes ao lazer – mais especificamente do turismo – e sua importância na

formação das subjetividades e identidades no espaço urbano. Concordamos

fortemente, aliás, com o que afirma Heloísa Buarque de Hollanda: “o lazer e o

turismo começam a ser avaliados, como campo nevrálgico de análise para a

construção das novas subjetividades urbanas [...]” (2004, p. 14); algo mediado por

espaços, experiências e pessoas, emaranhados em estratégias políticas e/ou

pedagógicas.

2.1 Lazer e turismo ou Turismo e lazer

Já que falaremos de práticas que conceitualmente se relacionam tanto com o

lazer quanto com o turismo, precisamos enfrentar suas discussões epistemológicas

e possíveis intersecções teóricas, até mesmo para evitar algum desentendimento no

que se refere ao que estamos trabalhando conceitualmente. Ainda que

reconheçamos que se tratam de dois campos acadêmicos, nesta dissertação não os

fragmentamos por entender que possuem claros pontos de contato. Se o turismo é

também uma forma de lazer, os estudos referentes ao fenômeno turístico encontram 4 A cultura compreendida em seu sentido antropológico, mais abrangente, “entendida como o conjunto de práticas e atitudes que têm uma incidência sobre a capacidade do homem de se exprimir, de se situar no mundo, de criar seu entorno e de se comunicar” (BOTELHO, 2001, p. 73).

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sentido ao dialogarem com as premissas dos estudos do lazer, que apesar de

relativamente recentes, no Brasil, já apresentam consideráveis diálogos com áreas

nucleares das ciências humanas e sociais. Gomes et al. (2008) afirmam que existe

mesmo uma necessidade em construir outros referenciais para o turismo – para

além dos oriundos da Economia e da Administração5 – e que o campo de Estudos

do Lazer pode trazer relevantes contribuições.

As reflexões sobre o lazer se dedicam há algumas décadas a pesquisar a

formação, as conjunções, metamorfoses e tensões existentes no tempo de não-

trabalho, especificamente da vivência de manifestações culturais nesse âmbito.

Entre estas, destacamos o turismo, considerado uma das mais atrativas e distintivas

atividades de lazer do século XX.

Parece importante aprofundarmos a discussão sobre a compreensão de

Lazer empregada aqui. Nas últimas décadas a palavra vem sendo propagada

indistintamente nos meios de comunicação de massa, no discurso de políticos em

propaganda eleitoral e em diversas situações do dia-a-dia. Percebemos seu

emprego em diferentes sentidos e contextos, o que torna, muitas vezes, seu

significado diluído por abordagens superficiais, reducionistas e pautadas no senso

comum. Não podemos perder de vista os dois elementos estruturais que

caracterizam as opções de lazer: o tempo/espaço em que ocorrem e a atitude do

indivíduo em relação às mesmas.

Entendendo que as ações/projetos/programas de lazer existem em tempos

determinados, lembramos que, no TJC, os jovens se apropriam não somente das

mediações realizadas pelos profissionais, mas também dos espaços urbanos, estes

também permeados de símbolos e signos que se relacionam às relações humanas.

Nesse sentido, parece relevante para a pesquisa que reconheçamos a

diferença entre “lugar” e “espaço”. Michel de Certeau (1994) pressupõe que um lugar

é uma configuração instantânea de posições e que implica uma indicação de

estabilidade. Por sua vez, o espaço é um cruzamento de móveis, é o efeito

“produzido pelas operações que o orientam, o circunstanciam, o temporalizam e o

levam a funcionar em unidade polivalente de programas conflituais ou de

proximidades contratuais” (CERTEAU, 1994, p. 202). O autor extrai a possibilidade

5 Campos estes que, no meio acadêmico, historicamente têm se envolvido mais com as investigações referentes ao turismo.

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de dúvidas ao balizar: “Em suma, o espaço é um lugar praticado. Assim a rua

geometricamente definida por um urbanismo é transformada em espaço pelos

pedestres” (1994, p. 202). O atrativo turístico determinado por secretários,

planejadores e agentes diversos se torna um espaço de lazer por seus usuários6.

Especificamente sobre a questão do termo utilizado para determinar o tempo

em que o lazer pode ser observado e se desenvolve, os autores empregam livre,

disponível, conquistado, liberado, roubado, entre outros. Vamos tentar deslindar

esses diversos usos.

Ao analisar o termo “livre”, utilizado por diversos autores, Nelson Carvalho

Marcellino (2002) discute se realmente este pode ser considerado liberto de

coações, determinismos e normas de conduta social7.

Falar em tempo disponível implica supor que o sujeito dispõe de maiores

possibilidades para se permitir criar, fruir, escolher e realizar o que realmente quiser.

Será que esta maior disponibilidade é específica deste período? Será que isto

acontece em todos os contextos sociais? Essas são questões que não podem ser

negligenciadas, nem sempre são consideradas adequadamente e, no limite, podem

incorrer no equívoco de supervalorizarem o lazer em detrimento do trabalho,

enquanto parece mais interessante considerar ambos como tempos sociais de

importância similar.

Ao analisar os autores que falam em tempo “conquistado”, percebemos dois

sentidos: o primeiro remete à conquista do tempo de descanso remunerado em

função das lutas trabalhistas, grande parte sucedidas no decorrer do século XIX em

quase todo o mundo ocidental. Não devemos, contudo, esquecer que a própria

diminuição de 16 para oito horas de labuta, que aumentou o tempo de não-trabalho,

denota que este tempo de trabalho foi também conquistado, o que nubla a

exclusividade do termo.

O outro sentido para o termo é percebido em autores que sugerem que este é

um tempo que o sujeito conquista para a livre expressão de si mesmo “através de

uma experiência pessoal criativa, de prazer [...] cujo eixo principal é a ludicidade”

(BRAMANTE, 1998, p. 9) e que “vem se impondo como um desafio para todos que 6 Nessa perspectiva, entendemos o espaço como o lugar do dissenso, das tensões, das contradições. 7 Por isso, ao empregarmos o termo “livre” no decorrer do trabalho, manteremos as aspas em torno da palavra.

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desejam exercitar a face humana da vida plena” (BRAMANTE, 1998, p. 9). Diante

disso, questionamos: será exclusivamente encontrada neste tempo a possibilidade

de conquista de livre expressão humana, para criar, ter prazer etc.?

Encontramos também entre os teóricos da área a expressão “tempo de lazer”,

não usada para definir todo o tempo de não-trabalho, até porque podem existir

outras atividades que não se encaixariam nem como trabalho, nem como lazer, e

dialogariam com algum grau de obrigatoriedade8.

O próprio termo “não-trabalho” traz implícito o trabalho como mola propulsora

e eixo principal da vida. Já indagamos antes se ainda é assim para todos os

indivíduos. Inversamente poderíamos falar em tempo de não-lazer para denominar o

trabalho e outras obrigações? O problema é que tanto lazer como trabalho (e

podemos alavancar uma série de exemplos), em diversas situações se

interpenetram, se confundem, ainda que em muitas ocasiões percebemos

claramente suas delimitações.

Podemos concluir que seria mais adequado afirmar que existem tempos de

obrigatoriedade, de não-obrigatoriedade, e mesmo um diálogo permanente entre

eles? Seria um só tempo singular onde obrigatoriedade e não-obrigatoriedade

conversariam a todo o momento? Pode ser assim para quem tem oportunidade, mas

o que se observa, principalmente para quem vive nas grandes cidades, é um tempo

imperante de trabalho(s) e obrigações e um tempo de não-obrigatoriedade bem

menor. Nesta lógica apertada da vida urbana, onde se manifesta o lazer? Ele

penetra por entre o cotidiano, se “prostitui” em espasmos e esparsos momentos: na

leitura da moça no ônibus indo para o trabalho, nos fones conectados a ipods nos

ouvidos de quem se ocupa com outros afazeres, nas telas dos computadores do

escritório entre um “tempinho” e outro?

Após arrazoarmos o tempo e o espaço como essenciais na conceituação do

lazer e assumindo que seu conceito é eivado de imprecisões, tentaremos refletir

sobre alguns deles e seus valores agregados. O conceito desenvolvido pelo

sociólogo francês Joffre Dumazedier – que principalmente a partir da década de

1970 influenciou diretamente o campo de estudo no Brasil – propugna que o lazer é:

8 Dumazedier (1973) é um dos que lista alguns exemplos.

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Um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou ainda para desenvolver sua formação desinteressada, sua participação social voluntária, ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais (1973, p. 34).

Ao situar o lazer em um tempo separado do tempo de trabalho, Dumazedier o

compreende como fruto da civilização nascida da Revolução Urbano-industrial, que,

segundo ele, artificializou o tempo e o espaço cotidiano do indivíduo9. O autor traz,

inclusive, um arrolamento do que não seria considerado lazer (1973, p. 31):

1. O trabalho profissional. 2. O trabalho suplementar ou trabalho de complementação. 3. Os trabalhos domésticos (arrumação da casa, a parte diretamente

utilitária da criação de animais destinados à alimentação, do bricolage e da jardinagem).

4. Atividades de manutenção (as refeições, os cuidados higiênicos com o corpo, o sono).

5. As atividades rituais ou ligadas ao cerimonial, resultantes de uma obrigação familiar, social ou espiritual (visitas oficiais, aniversários, reuniões políticas, ofícios religiosos).

6. As atividades ligadas aos estudos interessados (círculos e cursos preparatórios de um exame escolar ou profissional).

Vale a pena considerar que para John Urry, o turismo: “Constitui uma

manifestação de como o trabalho e o lazer são organizados, enquanto esferas

separadas e regulamentadas da prática social, nas sociedades ‘modernas’” (2001, p.

17). Apesar de concordarmos que o turismo é uma atividade de lazer que gera um

trabalho regulamentado e organizado, e que é fruto da modernidade, devemos

atentar para o fato de que lazer e trabalho não são necessariamente dimensões

opostas; em uma perspectiva relacional, eles se interpenetram, podendo um

incorporar especificidades do outro (ALVES JÚNIOR; MELO, 2003).

Edmundo de Drummond Alves Júnior e Victor Andrade de Melo (2003)

lançam três exemplos que ilustram bem este entrecorte: o “Semilazer” (intitulado

assim por Dumazedier), a “Pseudoludicidade no trabalho” e a “Produtivização do

lazer”. O primeiro trata basicamente de uma atividade que apresente características

mistas, mesclando ora trabalho, ora lazer, literalmente misturados tempo-

espacialmente10. O segundo aconteceria quando, no espaço de trabalho, o indivíduo

9 O que não acontecia nas sociedades pré-industriais, onde o trabalho, a diversão e as festividades eram regidas pelas leis da natureza e/ou pela autoridade religiosa e política (CAMARGO, no prelo). 10 Um exemplo retirado do livro Introdução ao Lazer que ilustra bem uma atividade que se situa em uma área intermediária: “Imaginem a seguinte situação: um casal de namorados está próximo de se casar e resolve construir sua casa em cima da casa dos pais. Convoca então um mutirão de amigos para que todos ajudem na tarefa de construção. No Rio de Janeiro, chamamos a isso de ’virar a laje’

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tem a oportunidade de viver experiências lúdicas (jogos, vídeo-game ou mesmo a

prática de esportes); entretanto, esta conveniência lhe é apresentada para

incremento da produtividade, acreditando que o sujeito retornaria mais disposto ao

labor, ou então como “uma forma de prolongar a jornada e manter o trabalhador

mais tempo no espaço de trabalho” (2003, p. 37). No terceiro, os autores

curiosamente exemplificam com um pacote turístico, freqüentemente constitutivo de

horários apertados e rígidos, cheio de correria, quase uma obrigação para todos os

participantes. Neste caso, estaria se deslocando para os momentos de lazer uma

lógica pautada na rotina diária, influenciada fortemente pelo trabalho. Isto posto, um

ponto parece ser crucial para nortear nossa pesquisa: ao analisarmos o discurso de

alguns jovens durante as entrevistas, percebemos que a maior parte deles

apreendem o TJC como um curso, e não como um estímulo para ampliarem suas

possibilidades de lazer (retomaremos essa discussão no próximo capítulo).

Na verdade, o turismo possui elementos que poderiam intensificar a relação

das pessoas com o tempo social relativo ao não-trabalho, por apresentar ao

indivíduo a chance de vivenciar uma boa parte dos conteúdos culturais do lazer11.

Mesmo no passeio12 ou no chamado turismo urbano há uma quebra nítida na rotina,

principalmente no caso das pessoas que apresentam uma série de compromissos e

obrigações seqüenciais no decorrer do dia ou da semana (aliás, são poucas as

pessoas que têm o privilégio de transformar a experiência turística em algo rotineiro,

corriqueiro13). Resumindo, o turismo não é uma forma de lazer trivial, mas nem por

ou ’subir a laje’. Enquanto os homens se dedicam às tarefas específicas da construção, as mulheres preparam o almoço, uma feijoada, um mocotó ou algo assim. Ao fundo, no equipamento de som, ecoa o último CD de Zeca Pagodinho. Depois de cumprida a tarefa pesada, todos almoçam, conversam, e de repente rola uma roda de samba. Percebam como a atividade acaba apresentando características mistas” (ALVES JÚNIOR; MELO, 2003, p. 36). 11 Na classificação de Dumazedier (1980), as atividades estão divididas de acordo com o interesse central desencadeador: manual, artístico, intelectual, físico e associativo. Camargo enfatiza ainda que: “A viagem, e portanto o turismo, pode ser a ocasião para a prática de todos os tipos de lazer, com a vantagem de vir acompanhada de uma mudança de paisagem, de ritmo e de estilo de vida” (2001, p. 268). 12 Discutiremos os significados do passeio ainda neste subcapítulo. 13 O turismo permanece impossibilitado para a maior parte da população, em função do peso da condição socioeconômica – como bem demonstrado em pesquisa realizada pelo Sesc na cidade de São Paulo (apud CAMARGO, 2001). De acordo com a pesquisa, somente 26% das famílias com renda familiar até um salário mínimo tinham tirado férias nos 12 meses anteriores à pesquisa. Destes, apenas 7% tiveram a oportunidade de viajar. Das famílias com renda de três a cinco salários, somente 29% tiraram férias, sendo que destes, 56% puderam viajar. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 1999, 43,5% das famílias brasileiras tinham renda familiar de até um salário mínimo - e 90,6% ganhavam até cinco salários (apud CRUZ, p. 48). O cruzamento desses dados permite constatar que a maior parte da população paulistana não tem oportunidade de viajar.

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isso deixa de o ser, estando sujeito “às mesmas condicionantes e injunções que

pesam sobre o lazer como um todo” (CAMARGO, 2001, p. 271).

Marcellino (1987), ao tratar dos valores mais comuns atribuídos ao lazer,

chama a atenção para uma visão funcionalista, que se manifesta em algumas

abordagens, entre as quais a utilitarista e a compensatória. A primeira reduz o “lazer

à função de recuperação da força de trabalho, ou sua utilização como instrumento

de desenvolvimento” (1987, p. 37). Na segunda “o lazer compensaria a insatisfação

e a alienação do trabalho” (1987, p. 37). No turismo, esta compensação é explicitada

por Camargo (2001), ao afirmar que quando a qualidade da vida cotidiana é

negativa, cria-se o slogan “viajar para o mais longe”, o mais caro, o mais exótico

possível.

Ainda dentro da ótica funcionalista, Ethel Medeiros destaca que as atividades

de lazer “ao canalizarem tensões e descargas da agressividade, contribuem para

reduzir as transgressões da ordem social, funcionando como válvulas de segurança

da sociedade” (apud MARCELLINO, 1987, p. 38). Sobre esta compreensão,

Marcellino interroga: “O lazer como ‘assimilador de tensões’ não teria essa função

de desviar a atenção dos problemas sociais e pessoais [...], perturbadora da ‘paz

social’?” (1987, p. 41). Relacionando ao nosso foco de estudo, perguntamos: será o

TJC somente um tempo de despolitização dos problemas pelos quais os jovens

passam?

Em contraponto a instrumentalização do lazer como recurso de dominação,

emerge uma compreensão crítico/emancipatória, retratada por Dumazedier (1973):

“[...] o lazer representa um conjunto de aspirações do homem à procura de uma

nova felicidade, relacionada com um novo dever, uma nova moral, uma nova

política, uma nova cultura” (p. 272). Ao analisar os aspectos educativos do lazer,

Marcellino (1987) destaca-o “como um dos possíveis canais de atuação no plano

cultural, tendo em vista contribuir para uma nova ordem moral e intelectual,

favorecedora de mudanças no plano social” (1987, p. 63).

Diante das argumentações, um questionamento se torna pertinente: será o

lazer percebido e empregado sempre como ferramenta, principalmente se articulado

com as áreas de educação e saúde, ou será que ele por si só também é importante,

independente se for ou não meio para se atingir o desenvolvimento cultural, propiciar

educação ou mesmo ensinar para a vida profissional e de operosidade?

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Encontramos, inseridos na abordagem funcionalista já mencionada, autores e

projetos que compreendem e reificam sua importância somente como válvula de

escape ou produtivizado. No entanto, alguns autores, ao propagarem uma

abordagem crítico/emancipatória, acabam trocando um funcionalismo por outro. Ou

seja, o lazer passa a não ser mais encarado como uma ferramenta de alienação ou

compensação, mas um instrumento para o fortalecimento de consciências, para a

construção de uma nova ordem, de mudanças sociais etc. Por mais enaltecedor que

pareça este enfoque, o lazer continua a ser vislumbrado somente quando apresenta

uma função definida e específica. Será que ele não pode ser considerado a própria

função?

A compreensão que apresentaremos no decorrer deste trabalho é a de que o

lazer é importante porque é uma possibilidade. Em seu tempo/espaço podem ser

geradas oportunidades significativas de criação, espontaneidade, desinteresse,

fruição, prazer concreto e cidadania. Considerando-o como um direito social, suas

configurações não deveriam representar nenhum tipo de privilégio. Alba Zaluar

pontua que: “Impedir alguém ou uma classe de pessoas de dispor do lazer é impedir

que percorra os caminhos da aquisição da cultura e da sabedoria, e também do

prazer em criar, do gosto pelo que é gratuito ou desinteressado” (1994, p. 60). Ainda

assim, encontramos na primeira parte da assertiva de Zaluar vestígios deste

funcionalismo “às avessas”.

Nesta discussão, precisamos desenvolver uma questão em consonância com

o TJC: será que os profissionais envolvidos levam em consideração as

especificidades do lazer e consideram-no fundamental pelo que ele é, e não

somente pelo que ele pode levar o indivíduo a ser?

Melo (2003), ao relacionar o lazer às camadas populares, atenta para o fato

de que esse é “fruto de luta social [...] por carregar em consonância elementos de

manutenção da ordem e da subversão do trabalho e da lógica de produção” (2003,

p. 36). Observa ainda que “deveríamos nos afastar de qualquer postura que encare

o lazer como forma linear de resistência ou dominação” (2003, p. 55).

Acreditamos que, a esta ambivalência do lazer, pode-se acrescer a

coexistência de múltiplas possibilidades. Como bem destacam Alves Júnior e Melo,

os momentos de lazer não são necessariamente uma coisa ou outra:

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[...] não são somente mecanicamente determinados pelas condições econômicas, mas não se pode deixar de perceber tais influências. Não são somente instantes de alienação, embora também o possam ser. Não são somente momentos de resistência, embora também o sejam (2003, p. 10).

O lazer pode, portanto, ser tempo/espaço para manifestações “livres” em que

as primordiais “funções” sejam a busca pelo prazer e pelo vínculo social – a

sociabilidade identitária. Ao articularmos estas colocações com o TJC, perguntamos:

no decorrer das visitas, é possibilitada aos jovens a “livre” expressão de si mesmos

(suas normas, hábitos, valores e sensibilidades), ou acabam sendo coagidos a agir

de acordo com as regras de etiqueta de cada local, homogeneizando e engessando

seus comportamentos?

Até este ponto, estamos enxergando o lazer como um fenômeno complexo,

ambíguo, que se interpenetra com vários outros. Seu conceito não está dado,

sedimentado, não é global, universal, e sua apropriação e ressignificação dependem

da realidade cultural e subjetiva do objeto de estudo.

O lazer deve ser compreendido – em sua dimensão relacional – talvez, mais

próximo do sujeito do que do objeto14. “Afinal, o lazer não é sinônimo dessa ou

daquela prática, mas um tipo de relação que se mantém com essas práticas”

(GOMES; FARIAS, 2005, p. 72). Nesta ótica, o turismo – inerente as características

do lazer – seria a relação do sujeito social com o deslocamento espacial (viagem,

visita ou passeio), em um tempo específico (geralmente de não-trabalho ou não-

obrigatoriedade15).

Assim, devemos estar atentos ao alerta de Camargo: “dizer que o turismo

engloba o lazer foi a forma que o senso comum encontrou para afirmar as vantagens

desse modelo de lazer sobre os praticados dentro de casa ou da própria cidade”

(2001, p. 268). Conhecendo toda a complexidade que envolve o fenômeno, não

podemos nos contentar cientificamente com esta alegação.

A importância desta discussão se apresenta em nada menos que duas das

quatro categorias de análise da pesquisa: o entendimento de lazer e o entendimento

de turismo – na ótica do jovem, do profissional e fundamentado no projeto de

elaboração do TJC. 14 Sem deixar de concordar, que em uma perspectiva complexa, não se separa sujeito do objeto (Morin, 2005). 15 Devemos considerar o caso do “turismo de negócios”, o qual as motivações utilitárias são evidentemente prioritárias.

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Camargo (2001) alega que existem tipos de turismo que se afirmam

independentemente do lazer – mesmo que dialoguem ocasionalmente com seus

ingredientes – tais como o segmento16 de negócios, o religioso, o familiar e o de

saúde. Será que quando o sujeito vai a trabalho para uma localidade, não seria

correto dizer viagem de negócios em vez de turismo de negócios, em considerando

a conformação histórico-conceitual do termo? Em uma viagem que apresenta

fundamentalmente como interesse central a busca por religiosidade, melhorar a

saúde, visitar parentes, ou realizar negócios, por mais que ela contenha momentos

de lazer, o elemento obrigatoriedade – sobretudo na viagem de negócios17 – é

basilar, se não soberano.

O fato de que existem tipos de viagem que se esquivam das especificidades

do lazer não pode ser justificativa para não considerar o turismo como uma de suas

formas. Tomemos outras formas/atividades como exemplo: uma leitura não é

necessariamente um momento de lazer se o indivíduo está estudando

ferrenhamente para um concurso. O esporte, seja do ponto de vista de quem pratica

como de quem assiste, não é uma atividade de lazer, por exemplo, para o atleta

profissional ou o jornalista esportivo nos momentos em que estão atuando; ou seja,

em todas as atividades de lazer (assim como a viagem), devem ser analisados os

elementos tempo/espaço e atitude (e sensações). Logicamente uma viagem que não

tem o descanso ou a diversão como buscas principais se afasta das características

primordiais do lazer, assim como qualquer outra atividade. Já uma viagem de lazer

tem nome: turismo.

Será então o turismo um tipo de viagem? Nem sempre. O que precisa ficar

claro é que nem toda viagem é turística, assim como nem toda experiência turística

precisa estar atrelado à viagem, podendo ser, por exemplo, um passeio18 dentro da

sua própria cidade. Nesta situação, devem ser levadas em consideração

logicamente o deslocamento e a busca por conhecer espaços e pessoas diferentes

do seu dia-a-dia. Atentemos ainda para o fato de que um passeio também pode ser

realizado entre as várias possibilidades de lazer que se apresentam no período da

16 Devemos atentar para a segmentação proposta por alguns teóricos e pelo mercado turístico. A experiência humana é mais complexa do que as divisões alvitradas, entrelaçando, muitas vezes, diversos “segmentos”. 17 A origem etimológica da palavra é no mínimo sugestiva: negotium no latim significa ”negar o ócio”. 18 Ou o que tem se convencionado chamar de turismo urbano.

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viagem turística, quando, por exemplo, alguém faz um “passeio” de barco na cidade

visitada, utilizando uma agência ou por conta própria.

A distância espacial entre os lugares ou sua demarcação geopolítica não

infere no sentimento que muitas pessoas têm de que o turismo é um passeio,

podendo ser mais longo ou curto, mais perto ou distante, na mesma cidade e

acontecendo em um mesmo dia: “Por tudo isso, a categoria viagem não pode ser a

principal referência para o turismo, sendo mais significativa a idéia de

‘deslocamento’” (GOMES et al., 2008, p. 64).

Uma justificativa para os que defendem que a desconsideração de outras

viagens que não são fundamentadas no lazer prejudicaria a atividade turística seria

a de que, por exemplo, a viagem de negócios não seria contabilizada nos trâmites

financeiros dos órgãos regulamentadores do setor. Esta ponderação corrobora com

a noção materialista do turismo, percebido, muitas vezes, somente no seu viés

quantitativo (quantas pessoas entraram e saíram, o quanto se movimentou de

dinheiro no país, qual a porcentagem de ocupação de um empreendimento hoteleiro,

que margem de lucro tal empresa turística obteve em determinado período e etc.).

Ora, quais e para quem seriam os benefícios deste exercício de contabilidade?

O fato de o mercado “reelaborar” conceitualmente as premissas do turismo (e

todas as suas representações) para não perder apoio, incentivo e campo político

não está em discussão aqui. O mercado faz o que acha necessário seguindo

“coerentemente” a lógica do capital. O problema é quando o campo

acadêmico/científico se põe exclusivamente a favor dessa conjuntura19. Sobre isto,

Magnani (2000) radicaliza ao falar que nesta lógica, o significado do lazer já está

dado, não sendo necessária nenhuma pesquisa para explicá-lo. Com esta citação,

não queremos dar a impressão que estamos propondo mutilar as contribuições da

ciência econômica (e da administração). A academia não pode se negar a discutir o

turismo enquanto negócio - seja pelo prisma de quem está organizando

(regulamentando, oferecendo serviços, vendendo produtos), seja pela ótica de quem

vivencia (o “turista” de negócios20) - pois claramente é uma de suas facetas.

19 O mesmo acontece com o poder público, que não se aproxima epistemologicamente do fenômeno e que, por tal razão, não propõe outras visões e ações – além das meramente tecnicistas – envolvendo a experiência turística. 20 Camargo (2004) afirma que mesmo neste segmento, os ingredientes do lazer provavelmente estarão presentes em algum momento da viagem.

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Todavia, aderimos a Gomes, Souza, Lacerda e Veiga (2008, p. 62) quando afirmam

que:

A abordagem econômica do turismo, embora importante, não consegue, por si só, fornecer os elementos imprescindíveis para a caracterização deste fenômeno. [...] É necessário, assim, superar as abordagens funcionalistas do turismo, buscando novas propostas para tentar caracterizar a essência deste fenômeno e reconhecer a importância das representações sociais e dos significados que pode gerar.

Percebemos, então, ser necessário entender o lazer, este fenômeno social e

cultural, em seu surgimento, desenvolvimento e em todos os seus desdobramentos.

E fazer isto também com o turismo. Se o campo (científico e de trabalho) não

apresenta um conjunto de problemáticas encaminhadas por investigações que

considerem o turismo na sua perspectiva histórico-hermenêutica e fenomenológica,

será sempre diluído e reduzido por abordagens/ações levianas.

Esta questão referendada neste capítulo ficará mais densa, clara e

sedimentada com a contribuição do que vem a seguir, onde aprofundaremos a

noção histórica de que o lazer é um fenômeno peculiar das modernas sociedades, e

que o turismo, inserido em sua dinâmica, nasce também nesta circunstância.

2.2 Apontamentos históricos sobre o lazer e o turismo

Uma questão fundamental que devemos encarar é se o lazer é fruto da

modernidade ou se existia em outras épocas. Este assunto gera polêmica na área

científica e é basicamente uma questão conceitual. Quando se relacionam algumas

características – tais como a urbanização, a artificialização do tempo, a geração de

um mercado de consumo ao redor do campo e o avanço tecnológico – ao que se

convencionou chamar de lazer e percebe-se que estas fazem parte de um conjunto

de fenômenos assinalados na modernidade, podemos concluir que o lazer é

moderno ou será que estas especificidades tratam do que podemos chamar de

“lazer moderno”? Em outras palavras, estes acontecimentos fizeram abrolhar o lazer,

ou simplesmente fazem caracterizar o lazer moderno?

Não seria limitar o lazer defini-lo somente nesta moldura? Será que o principal

do/no lazer já não existia em outras épocas, um tempo e um espaço subjetivo

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marcado mais pela não-obrigatoriedade e busca primordial por prazer, diversão,

descanso? Alguns autores (MELO, 2003; DUMAZEDIER, 2001; CAMARGO, no

prelo) examinam que a palavra surge neste momento da modernidade para dar

sentido a estas práticas que foram geradas por acontecimentos e fatos que

insurgiram no período moderno. Ou seja, eles asseveram que o vocábulo deve dar

significado as práticas específicas deste momento – e a relação que se tem com

elas – sendo mais um indicador de que os acontecimentos anteriores a este período

não poderiam ser chamados de lazer.

Jorge Larrosa Bondía (2002) fala que “as palavras produzem sentido, criam

realidades e, às vezes, funcionam como potentes mecanismos de subjetivação” (p.

21). O historiador alemão Reinhart Koselleck (1992, p. 136) o reforça ao afirmar que:

“Todo conceito articula-se a um certo contexto sobre o qual também pode atuar,

tomando-o compreensível [...] todo conceito está imbricado em um emaranhado de

perguntas e respostas, textos/contextos”. Ora, ao dizer que o lazer sempre existiu ou

está presente em outras épocas, podemos estar incorrendo em um equívoco

conceitual/histórico e/ou sofrendo de um anacronismo crônico? Koselleck fala do

caráter único e particular que configura “o momento concreto em que um conceito é

formulado e articulado” (p. 140). O autor ressalta que: “A história dos conceitos

mostra que novos conceitos, articulados a conteúdos, são produzidos/pensados

ainda que as palavras empregadas possam ser as mesmas” (p. 140). Neste sentido,

perece mais apropriado dizer que aqueles conteúdos mencionados no início deste

sub-capítulo caracterizam o conceito de lazer, conceito este que é único, pois é

configurado naquele momento histórico e concreto conhecido como modernidade21.

O turismo também nasce na modernidade e como uma prática de lazer

(mesmo quando atrelado a cura22). Esta afirmação está embasada nas pesquisas de

vários teóricos nacionais e internacionais que se dedicaram a estudar a cultura do

tempo de não-trabalho, e mais especificamente das viagens de lazer (PORTER,

1995; RAUCH, 1995; WEBER, 1988; URRY, 2001; CAMARGO, 2001; OURIQUES, 21 Podemos então ultimar que o conceito e a conceituação de lazer são modernos; mas afirmar isso não retira suas similaridades com outros fenômenos e práticas culturais e subjetivas existentes em outras épocas. Isto o próprio koselleck (1992, p.143) nos ensina: “[...] a compreensão de fatos históricos únicos demanda o estabelecimento de relações múltiplas com outros fatos, constituindo-se num todo altamente agregado de partes, cuja inteligibilidade escapa à experiência individual particular”. 22 Aliás, iremos perceber no decorrer deste sub-capítulo que o turismo desde sua gênese (ou historicamente) trouxe consigo a idéia de uma viagem que rejuvenesce, revigora, restaura.

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2005; CASTRO, 2006; ARAÚJO, 2001; SIQUEIRA, 2005). Ainda em relação à

discussão anterior acerca da conceituação, E. Said mostra através de um exame

meticuloso,

o grau de historicização que marca o surgimento de uma idéia ou de um conceito, bem como as transformações, acomodações e adaptações que são necessárias para que uma idéia, ao deslocar-se, se insira num novo universo simbólico ou cultural (apud Hollanda, 2004, p. 9).

Em outras palavras, para que o turismo seja considerado outra coisa que não

uma forma de lazer, ele precisaria se transmutar23, se afastando de suas

especificidades originais, conforme ficará comprovado neste capítulo.

Se analisarmos a origem do termo, chegaremos à conclusão que ele teve

procedência no francês tourisme. Etimologicamente, o prefixo tour é derivado do

latim tornare e do grego tornos, significando um giro ou um círculo. Sobre essa

compreensão, André Rauch afirma: “o Tour (ou Grand Tour) assinala uma

circularidade que devolve seu autor ao ponto de partida, ao passo que a viagem

designa etimologicamente ‘o caminho a percorrer’” (1995, p. 106). Diferentemente de

outros exemplos de viagens24, no turismo a pessoa retorna ao seu lar (seu

cotidiano). No desenvolvimento semântico do vocábulo, Camargo comenta que:

O próprio termo turismo é um galicismo de língua inglesa – tour (passeio em francês), dando lugar ao tourism inglês, para designar as viagens das classes abastadas inglesas à costa mediterrânea francesa para desfrutar o calor e o sol, desde meados do século XIX (2001, p. 269).

O sufixo “ismo” é definido como ação ou processo. Já o sufixo “ista” (turista)

qualificaria aquele que realiza uma determinada ação. A palavra francesa touriste

assinala “o viajante que parte para ocupar o seu tempo a cultivar-se” (RAUCH, 1995,

p.106).

Ao refletir sobre o uso prático do termo, Eugen Weber nota que: “Como tantas

palavras relacionadas às atividades de lazer, turismo, adaptada do inglês, começou

a ser usada na França sob a Restauração” (1988, p. 216, ênfase minha). Em uma

primeira apreciação de que o turismo é realmente uma forma de lazer, a palavra

recreação, que historicamente sempre apresentou diálogos muito próximos do seu

co-irmão, tem na sua raiz latina recreare o significado de restaurar.

23 O já mencionado e abordado turismo de negócios pode ser um exemplo concreto desta “mutação”. 24 Uma viagem propiciada por uma mudança de residência ou um processo migratório certamente não se encaixam na etimologia de turismo.

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Num segundo ponto, em conformidade com uma análise sobre a utilização do

termo, Weber destaca:

Descrevia, como um dicionário de 1876 explicava, as perambulações e outras atividades de pessoas que viajavam por ócio, curiosidade ou, simplesmente, pelo prazer de viajar. Seria possível acrescentar: e pelo prazer de dizer que tinham viajado (1988, p. 216).

Percebemos aí características muito congruentes com o lazer: o ócio, que

atualmente pode e deve ser considerado uma de suas possibilidades; a busca

primordial de prazer; a curiosidade, que no sentido em que o texto de Weber expõe,

dialoga com o desinteresse característico do lazer e com as especificidades do

fenômeno turístico; e a distinção, representado na parte “pelo prazer de dizer que

tinham viajado”, também uma premissa aguda das práticas de lazer, principalmente

do turismo.

Podemos afirmar que “Ser turista é uma das características da experiência

‘moderna’” (URRY, 2001, p.19) e que

[...] é importante salientar que o moderno turismo começou a ganhar feição no século XIX, quando o deslocamento humano deixou de ser uma contingência de momentos difíceis ou especiais para afirmar-se como lazer e entretenimento (CAMARGO, 2001, p. 269).

Somente um adendo nesta sentença de Camargo: não existe turismo antes da

modernidade, portanto não é necessário adjetivá-lo com o termo moderno. A viagem

de negócios e as peregrinações já existiam bem antes da modernidade, só que eram

oportunizadas somente para os mais abastados, sendo este viajante um tipo social

diferente do turista, como bem coloca Celso Castro: “Diferente de quem viaja a

negócios, a estudo ou em busca de saúde, o turista é basicamente movido pela

curiosidade, pela vontade de visitar algum lugar apenas por prazer” (2006, p.80).

Silvana Miceli de Araújo (2001, p. 53) também fala deste novo personagem, que

surge a partir do século XIX, “como sendo aquele que procura prazer (pleasure

seeker) e que vai acabar por produzir, no seu extremo, a figura do mero

‘espectador’”.

Não devemos confundir o Grand Tour com o turismo, prioritariamente porque

no segundo há a formação de um campo específico ao redor, organizando e

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pensando o fenômeno e suas práticas25. Além disso, há uma diferenciação clara

enquanto motivação central, apontado por Araújo (2001) ao caracterizar o primeiro:

“Ao longo dos séculos XVII e XVIII, e ainda no século XIX, somente os muito ricos

podiam exercer essa experiência de viagem específica, associada, via de regra, ao

desejo de conhecimento e de formação particularizada” (p. 53).

Entendendo que a viagem pode ser uma opção de lazer, só poderemos

considerá-la turismo no momento em que passa a ser organizada em alguns lugares

e a ocorrer em períodos regularizados (URRY, 2001). Quem explicita com

propriedade estas mudanças na estrutura da viagem é Castro:

A gênese do turista como um tipo social está relacionada a processos culturais mais amplos. Para que a idéia de viajar por prazer vingasse no imaginário ocidental, foi preciso que uma série de mudanças estéticas e intelectuais fossem sendo gradativamente desenvolvidas: a valorização da natureza, a “descoberta” das paisagens e de cenas “pitorescas”, a noção de lazer como forma de relaxar do stress da vida moderna e a ascensão do individualismo, entendido como processo histórico que generalizou a moderna concepção de indivíduo, ser dotado de uma subjetividade em alguma medida descontínua em relação à sociedade. Tudo isso também está relacionado aos fenômenos de urbanização, industrialização, mudança nas condições de trabalho e desenvolvimento do capitalismo. Essas transformações criaram as condições para o surgimento dos primeiros empreendimentos voltados para o turismo como uma atividade de massas. O surgimento dos agentes de viagem, a construção de ferrovias e de hotéis modernos possibilitou a transformação do Grand Tour que os jovens aristocratas ingleses faziam desde o século XVI numa oportunidade aberta a um número cada vez maior de pessoas. Desse modo, gradativamente nasceu o que hoje conhecemos como a “indústria” do turismo (2001, p. 80).

Alguns pontos desta citação merecem uma análise mais apurada:

1- A valorização da natureza: talvez este elemento especificamente

esteja mais articulado com a experiência turística burguesa. O

consumo simbólico da natureza enquanto paisagem reforça e

reproduz um quadro geral de desigualdade social. É como dizia T.J.

Clark, um importante historiador da arte, ao tratar o lugar da

paisagem e da natureza na estética modernista: “a natureza está

para a burguesia mais ou menos como o sangue está para a

aristocracia” (2004, p. 220). Sobre isso, Paulo Roberto Albieri Nery

alça uma reflexão:

25 Esta racionalidade (originária do modelo de produção fabril e que vai se espraiar para todos os aspectos da vida) é central no imaginário da modernidade.

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O indivíduo passa a ter o poder de ajustar satisfatoriamente a natureza e a intensidade de sua experiência emocional através do processo de manipulação de suas expectativas, ora exaltando ora negando poder aos símbolos identificados com determinado objeto ou evento (1998, p. 49).

Rauch confirma que, no século XIX, cada vez mais se transmuta a

estrutura e os confortos da vida urbana para o campo: “A natureza

domesticada assegura a tranqüilidade do espaço privado e oferece

um cenário ideal para à vida em família” (1995, p. 103).

2- A noção de lazer como restauração das energias: perante as

demandas da modernidade permanentemente em movimento e

frente a um extenuante ritmo urbano cotidiano, o lazer passou a ser

visto como uma “necessidade” do indivíduo; e o turismo colaborou

de maneira efetiva para a consolidação deste imperativo, presente

nesta citação de Urry:

É um elemento crucial, na vida moderna, sentir que a viagem e as férias são necessárias. ‘Preciso tirar umas férias’: eis a mais segura reflexão de um discurso moderno, baseado na idéia segundo qual a saúde física e mental será recuperada se simplesmente pudermos viajar de vez em quando (2001, p. 20).

Isto é reforçado por Rauch:

Numa procura de lugares insólitos, o viajante medita sobre a existência. [...] deslumbramento, sentimento religioso, gosto pela solidão desencadeiam a exaltação de reagir contra o quotidiano e a sua precipitação (1995, p. 108).

3- A organização de serviços ao redor da experiência: isto é percebido

nos balneários europeus em meados do século XIX, já com certa

estrutura receptiva e de consumo (WEBER, 1988), e pelo

vertiginoso incremento da indústria hoteleira (com a incorporação de

vários serviços hospitaleiros e de tecnologia, o que propiciava cada

vez mais conforto e privacidade ao hóspede). Esta passagem da

viagem para o turismo é impecavelmente explicitada por Araújo

(2001), quando afirma que já no mesmo período do século XIX, o

turista passa a ser definido como aquele que “espera que todas as

providências da viagem sejam tomadas por outrem com vistas ao

seu bem-estar” (p. 54). Esta perspectiva transforma o sujeito em

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30

espectador da viagem e acaba transferindo o elemento “trabalho”,

“constitutivo da idéia de viagem, do viajante para terceiros, que

passam a se ocupar de todo o ‘planejamento’, tomando para si um

conjunto de providências para que uma viagem ocorra” (p. 54).

Assim como acontece no lazer como um todo, a indústria do turismo

nasce junto com o fenômeno e o fato de ser “indústria” representa

uma de suas características constitutivas. De acordo com Castro:

No Brasil, foi apenas nas primeiras décadas do século XX que o turismo organizado começou a funcionar, tendo como principal centro a cidade do Rio de Janeiro. Surgiram os primeiros guias, hotéis turísticos, órgãos oficiais e agências de viagem destinados prioritariamente a atrair e a receber turistas (2006, p. 80).

4- E o último elemento, mas não menos importante, é o

desenvolvimento dos transportes, acompanhando o progresso dos

tempos (WEBER, 1988), sendo essencial para o incremento do

turismo. A título de ilustração, a construção de várias estradas de

ferro e o surgimento do barco a vapor desempenharam importantes

papéis neste processo.

E o turismo de massa (ou para as massas), onde aparece nesta história?

Mobilizamos para esta reflexão a formulação de Araújo:

A concepção do que é viajar vai se modificando, ao mesmo tempo em que vai se dando a transição da viagem individualizada para a viagem como experiência compartilhada em grupo. Assim, se no início dessas transformações estiveram presentes apenas segmentos da alta classe média e a própria classe média em férias, essa experiência estende-se posteriormente a segmentos cada vez mais anônimos, até a universalização, a globalização da viagem atual, muito mais generalizada (2001, p. 55).

Urry enfatiza que, antes do século XIX, poucas pessoas que não as das

classes superiores “realizavam viagens para verem objetos, motivadas por razões

que não dissessem respeito ao trabalho ou aos negócios” (2001, p. 20). O autor

(p.20) expõe o panorama do turismo de massa nas sociedades modernas, isto é,

“boa parte da população, a maior parte do tempo, viajará para algum lugar com a

finalidade de contemplar e ali permanecer por motivos que basicamente, não tem

ligações com seu trabalho”.

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31

Este turismo para as massas surge com o objetivo, por parte dos burgueses e

religiosos, de ser um lazer mais organizado e “contido” do que as manifestações

relacionadas com a festa, bebedeiras e apostas que ocorriam no espaço público

urbano (OURIQUES, 2005). Diferentemente de outras formas de lazer que

passaram por este processo de controle, o turismo já nasce cordato e com o

desígnio de competir com outras atividades menos “disciplinadas”, como bem

aponta John Rule:

Era necessário um poderoso magnetismo para atrair a população trabalhadora e retirá-la de suas tabernas; entre os recursos que mais se utilizavam, em especial depois do início da época das ferrovias, estavam as excursões organizadas e os dias de campo (apud OURIQUES, p. 30).

É curioso atentarmos para o seguinte: o primeiro pacote turístico (ou

excursão) que se tem notícia da história – com transporte ferroviário e hospedagem

incluída – foi oportunizado para um grupo de alcoólatras pelo inglês Thomas Cook26

(PORTER, 1995). O inglês, principalmente a partir da segunda metade do século

XIX, se tornou o primeiro empresário do setor, sendo crucial para o desenvolvimento

da atividade, como alega Roy Porter: “Thomas Cook desempenhou um papel

considerável nesta evolução que fez das excursões já não uma novidade mas um

dos hábitos característicos da vida na época vitoriana” (1995, p. 33).

No entanto, Helton Ricardo Ouriques afirma que somente no século XX

acontece a disseminação e generalização do turismo como forma de lazer dos

trabalhadores e suas famílias, e que entre as principais causas estão a redução

considerável da jornada de trabalho, que culminou na disseminação das férias

pagas27, e a segunda revolução nos transportes, “por meio do automóvel e do avião,

meios necessários para uma ‘massificação’ dos deslocamentos humanos” (2005, p.

33). Ao analisar as concepções de turismo ao longo da história, Deis Siqueira afirma

que: “Conforme avança o séc. XX, as definições crescentemente privilegiam o

aspecto econômico, indicando a característica do turista como aquele que gasta o

dinheiro ganho em outro lugar” (2005 p. 79). Este significado econômico é refletido

em números cada vez maiores de empregos gerados sobretudo no setor de

serviços.

26 Com a finalidade de pregar a palavra de Deus, utilizando o lazer como meio de salvação espiritual. 27 Períodos maiores de descanso que aumentaram a oportunidade de viajar.

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Para finalizar e talvez sintetizar esse subcapítulo, emerge na formulação de

Nery, uma análise acurada do espaço sociocultural ocupado pelo turismo de massa

na modernidade (compreendido em sua construção histórica):

É na condição de "mediadores" entre a prática dos "passeios" populares e a prática das "viagens de prazer", tomadas como expressão elitista da cultura ocidental moderna, que o turismo de massa se constitui enquanto categoria sociológica (1998, p.161).

Esta discussão inicial ressalta a necessidade de compreender o lazer – e o

turismo – “em sua complexidade histórica, social, política, cultural e semântica,

explicitando suas condições de realização em nosso meio” (GOMES, 2004, p.140).

2.3 Projetos de Turismo e a cidade

[...] o turismo pode ser melhor compreendido no momento que nos dispomos a tentar entender o que o sujeito que se sente turista tem a nos dizer sobre os significados interiores que ele dá à sua “viagem” (MACHADO, 2007, p. 77).

No âmbito do lazer, os indivíduos transformam patrimônio em gestos, olhares,

sutilezas certamente não-formalizáveis e que nascem da concretude da experiência.

Desse modo, ao falarmos de turismo, priorizaremos o termo “experiência”, que

abarca também as vivências e convivências, e amplia a percepção puramente

economicista de “atividade turística”.

Susana Gastal e Marutschka M. Moesch (2007) compreendem-no como uma

experiência do indivíduo, em seus deslocamentos, ao se defrontar com o novo e

com o inesperado, de vivenciar

processos de mobilização subjetiva que o levariam a parar e a re-olhar, a repensar, a reavaliar, a ressignificar não só a situação, o ambiente, as práticas vivenciadas naquele momento e naquele lugar, mas muitas das suas experiências passadas (p. 10).

Apesar da consistente teorização das autoras, devemos acrescentar que

nenhuma experiência é somente individual, sendo relevante perceber sua

(con)formação social e histórica, além do quadro local em que o indivíduo está

contextualizado.

O “novo” mencionado por elas não é utilizado na acepção cronológica, e sim

no sentido do que não é corriqueiro ou compreendido facilmente. Tanto o novo

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quanto o inesperado estão na maneira de conservar e observar, de absorver e

absolver os distintos elementos, seres e ambientes.

Urry afirma que as práticas turísticas

[...] envolvem o conceito de “afastamento”, de uma ruptura limitada com rotinas e práticas bem estabelecidas da vida de todos os dias, permitindo que nossos sentidos se abram para um conjunto de estímulos que contrastam com o cotidiano e o mundano (2001, p.17).

Esta vontade dos turistas de “experienciar algo diferente do que estavam

acostumados a viver em seus locais habituais de residência e convívio social”

(ISAYAMA; COSTA E SILVA, ARAÚJO, 2008, p.106) já aparece como elemento

importante nas primeiras experiências turísticas no século XIX:

Liberado se sua rotina, de repressões locais, de uma sociedade onde todos se moviam sob a perpétua vigilância dos demais, o turista ou curista ficava livre – se não para fazer exatamente o que desejava, pelo menos para agir de modo diferente (WEBER, 1988, p. 218).

O outro sentido para esta diferenciação, mas que se entrelaça com o anterior,

diz respeito à intenção do turista de se apropriar de símbolos de distinção, por meio

do consumo dos objetos e espaços turísticos. Em muitas situações o que o turista

quer é “adquirir com as viagens signos que vão diferenciá-lo socialmente, dando-lhe

uma posição mais destacada dentro do seu grupo social” (FRATUCCI, 2007, p. 10).

Nas palavras de Pierre Bourdieu (2007), quando este conjunto de símbolos começa

a cair no gosto da classe média, torna-se banal e oldfashion para os mais ricos.

David Harvey (2005) vai além e nos fala do capital simbólico coletivo, o poder

dos marcos especiais de distinção vinculados a algum lugar, dotados de um poder

de atração importante em relação aos fluxos de capital de modo mais geral.

Segundo o autor, o capital simbólico coletivo conectado a algumas cidades conferem

a estas vantagens econômicas em relação a outras que não possuem os mesmos

marcos de distinção, e, conseqüentemente, alegações de singularidade,

autenticidade, particularidade e especialidade28. A respeito deste ponto, Jacques A.

Wainberg coloca que: “O turismo como indústria vende como produto o estranho. A

variedade de roteiros se adaptam assim à variedade dos paladares turísticos” (2001,

p. 55).

28 Quanto a isso, Dornelles (2001) denomina intermediadores culturais àqueles que trabalham direta ou indiretamente com turismo e têm como atividade elaborar, criar e manipular idéias, valores e símbolos que dizem respeito à construção de um local turístico. (apud RUFINO, 2006, p.117)

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Como podemos perceber, a experiência turística dialoga com sentimentos de

pertencimento e distanciamento. Paradoxalmente, busca-se o sentido de

pertencimento na experiência de sentir-se diferente, por meio de comparações,

transformações (sensitivas e cognitivas), acomodações e adaptações (empatia),

embutidas em uma série de símbolos culturais distintivos.

Muitas vezes, as pessoas, no senso comum, não consideram turismo a

experiência de conhecer outros “cantos” da sua própria cidade simplesmente porque

ela não apresenta um marco de distinção tão intenso quanto o “sair da cidade”,

viajar.29 O turismo não precisa necessariamente ser uma fuga radical da rotina para

propiciar uma visão diferente da vida cotidiana. Podem-se experimentar novos

olhares talvez até mesmo sobre o objeto inicialmente prosaico, ao ser revisitado e

ressignificado, como bem analisado por Gastal e Moesch:

O estranhamento, nestes termos, não dependeria do tamanho da distância percorrida, mas da mobilização afetiva desencadeada. E isso pode se dar dentro do bairro ou da cidade em que se reside, quando o cidadão sai de suas rotinas temporais e espaciais ao visitar, por exemplo, um bairro diferente do seu (2007, p. 10).

Este ponto de vista segue a mesma direção que a formulação de Leonardo L.

Lacerda:

[..] se analisarmos bem nossa própria cidade, saberemos que existem inúmeros espaços à espera de serem desbravados, de ganharem uma identidade, uma sensação de pertencimento. E o turismo, contando aqui com características de lazer, encaixa-se como vivência (2007, p. 384).

Em outras palavras, tais “choques” podem então acontecer dentro da cidade

onde se vive, conseqüentemente entrelaçados com o cotidiano trabalho-transporte-

casa-família-lazer.

No entanto, a maioria da população não tem acesso à malha urbana de

espaços de lazer da cidade onde vivem. Uma pesquisa realizada dentro do

planejamento de implantação do projeto Carioquinha30 mostrou que grande parte

dos cariocas não conhecia os principais cartões-postais e atrativos turísticos da

29 Logicamente, como vimos em Harvey, este elemento distintivo vai depender de qual destino o turista escolher. 30 Projeto patrocinado pela Prefeitura do Rio que surgiu com o objetivo de proporcionar aos cariocas descontos e programações especiais oferecidas por pontos e serviços turísticos da cidade (2007).

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cidade – o que é um paradoxo, pois o atrativo turístico deveria ser pensado, antes

de qualquer coisa, como um equipamento de lazer para seus moradores31.

Caio Luiz de Carvalho atenta para o fato de que: “nenhuma cidade pode ser

turística se não for prazerosa para seus habitantes” (apud CAMARGO, 2004, p. 76).

A MICT/Embratur (1997)32 expôs dados que demonstram que as maiores

insatisfações de turistas estrangeiros no Brasil são referentes a infra-estrutura

urbana (limpeza, transportes, comunicações, segurança, sinalização), ou seja,

serviços e instalações que estão diretamente relacionados à qualidade de vida do

morador. Uma resposta unilateral encontrada pela gestão pública e a iniciativa

privada tem sido a construção de “bolhas” de desenvolvimento dentro da cidade – se

não dá para arrumar a casa toda, arruma-se somente uma parte, aquela que o

turista vê (CRUZ, 2002, p. 49).

Outra faceta importante a se destacar é que, analisando a maneira como o

arranjo produtivo do turismo é encaminhado, observamos que a população, muitas

vezes, sequer é beneficiada com o turismo receptivo, como bem sintetiza Aguinaldo

César Fratucci:

No cenário do mundo globalizado, o turismo é visto por alguns como um mecanismo possível para a redistribuição de renda entre os países e áreas ricas e os países e áreas menos privilegiadas, na medida em que os turistas oriundos, na sua grande maioria das primeiras levariam parte de suas poupanças acumuladas lá, para consumir nas segundas. Evidentemente, esse discurso não se sustenta na maioria dos casos e só serve para justificar as estratégias políticas de alguns líderes interessados em aderir ao pacto neoliberal do sistema vigente. Na medida em que o fluxo de capital está bastante internacionalizado e que a maioria das grandes corporações estão sediadas nos países centrais, o dinheiro gasto pelo turista praticamente não chega aos destinos turísticos, uma vez que o hotel pertence a uma grande cadeia européia, a empresa aérea é americana, a operadora é inglesa, e assim por diante. A maior parte do valor pago pelo pacote turístico mantém-se nas áreas emissoras e apenas uma pequena parcela é transferida para as áreas receptoras (2007, p. 12).

Carlos Henrique Porto Falcão enfatiza que o acesso ao turismo não deve

estar “mais unicamente relacionado aos visitantes [...], mas também aos anfitriões,

31 Zilda Matheus (2002) nomeia tanto o visitante quanto o anfitrião de “moradores” – temporários ou não. 32 Publicação realizada pela antiga Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) em conjunto com o já extinto Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo (MICT). Não tivemos acesso a pesquisas mais recentes, por isso, pode ser que estes dados tenham sofrido alguma mudança neste período; mesmo assim, não deixam de ser importantes para a reflexão proposta.

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que devem ter tanto acesso aos recursos turísticos como aos benefícios do turismo

[...]” (2006, p. 133).

Contudo,

O turismo ainda estaria reduzido a um instrumento de desenvolvimento econômico, parte de políticas setoriais, as quais não possuiriam clareza dos impactos causados e dos compromissos acarretados junto às localidades, quando de sua implantação (GASTAL, MOESCH, 2007, p. 41).

O turismo, neste entendimento, é compreendido somente como aporte

financeiro e gerador de renda. Para Gastal e Moesch (2007), devemos disseminar a

idéia de uma política de difusão turística, em que fique claro que, mais do que uma

atividade econômica, o se deslocar para fora de suas rotinas espaço-temporais é

uma necessidade humana. A partir dessa compreensão, as autoras colocam que os

moradores do local devem ser ouvidos, podendo indicar caminhos ao planejador

com seu saber real. “Deve haver uma gestão turística que identifique, mobilize e

arregimente os agentes institucionais e atores sociais, as lideranças comunitárias,

políticas e empresariais da região” (2007, p. 49).

Contradizendo esta assertiva, na prática, percebemos uma escassa ou

inexistente participação popular nas decisões envolvendo o turismo. Isto é

comprovado quando vemos que nos conselhos municipais de turismo (deliberativos

ou não), não há, muitas vezes, nenhum representante popular, líder comunitário,

presidente ou representante de alguma associação de bairro ou de moradores. Além

de não ser consultada, a população não é participada, e nem sequer beneficiada,

seja com os ganhos materiais advindos da atividade turística, seja com a

possibilidade de vivenciar sua experiência. Como pode um turista, exigir (ou querer)

que este morador seja hospitaleiro, dentro do panorama exposto? E como falar em

cidadania nestes termos?

A idéia de turismo aludida pelas autoras acima, quando encarada dentro da

ótica da educação para o lazer e da inclusão social, pode se tornar uma importante

aliada na transformação da realidade de pessoas que não se caracterizam

“exatamente pelo gozo pleno dos direitos da cidadania” (MAGNANI, 1996, p. 32), as

chamadas “Minorias Sociais”33. Neste sentido, entende-se por Turismo Social um

33 O termo minoria se justifica por remeter não somente ao aspecto numérico, mas por contemplar “[...] grupos que podem ter um número elevado de membros, mas que têm menor acesso aos mecanismos de poder” (MELO, 2003, p. 24).

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conjunto de ações que “[...] permitam o acesso ao turismo de amplos setores da

população, os quais por insuficiência de meios econômicos ou por falta de hábito, de

educação ou de informação [...]”, permanecem fora do movimento turístico (CTS34

apud ORTUÑO, p. 218),

[...] porém mais especificamente [dirigido] às camadas sociais que não teriam condições de viajar com seus próprios recursos, de modo que o preço pago pelo usuário seja inferior ao custo real do produto a ser utilizado, graças aos subsídios oferecidos pelas instituições governamentais, associações de classe ou ainda organizações privadas, sem intuitos lucrativos. É importante frisar que deve existir um enriquecimento cultural abrangente, dentro de uma proposta crítica com relação ao consumismo, que vise ao pleno bem-estar social e à melhoria da qualidade de vida de seus participantes (JAQUES apud FALCÃO, 2006, p.135).

Falcão apresenta-nos um quadro comparativo que difere o turismo de

massa35 (tradicional) do turismo social (turismo do desenvolvimento) (2006, p. 133):

Diferenças entre o turismo tradicional (de massas)

e o turismo do desenvolvimento (para todos)

Turismo tradicional Turismo do desenvolvimento

O turista se isola O turista se integra

Concentração de benefícios Distribuição de benefícios

Receita Riqueza

Objetivo de desenvolvimento macroeconômico Objetivo de desenvolvimento Integral

Comunidade a serviço do Turismo Turismo a serviço da comunidade

O turista consome O turista aprende

Expansionismo científico Ordenamento programático

Crescimento sem limites Limites em prol do bem-estar

Fonte: Falcão (2006, 133).

Apesar da tentativa teórica do autor em confrontar o turismo social e o

comercial, vemos que os limites entre os dois nem sempre são muito claros. Sergio

Rodríguez Abitia observa que:

34 Comitê de Turismo Social – criado pela Organização Européia de Cooperação Econômica. 35 Nesta ótica, o turismo pode ser reduzido a práticas de consumo e associado a atitudes compensatórias e alienantes no tempo “livre” das pessoas. O turismo de massa, em inúmeras situações, se utiliza de técnicas e procedimentos padronizados e estandardizados, gerando um “empacotamento das sensações”.

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Hoje, qualquer organização turística que se identifique [...] com a meta de tornar as viagens e o turismo acessíveis ao maior número de pessoas – diferenciando-se assim do único objetivo de maximização dos benefícios – pode requerer sua entrada no movimento de turismo social. (2006, p. 148).

Um exemplo no Brasil ocorre com a “linha turismo” de Porto Alegre, um

projeto criado pela secretaria de turismo da prefeitura, em que é possibilitado

também para a população local, conhecer, por meio de um city tour36, outras regiões

da cidade. Um ônibus panorâmico de dois andares percorre 11 bairros e 17 dos

principais pontos turísticos de Porto Alegre em aproximadamente 80 minutos –

durante o trajeto um guia apenas informa canonicamente peculiaridades dos

monumentos e atrativos percorridos (LUMERTZ, 2006). Neste panorama, alguns

questionamentos se tornam pertinentes: o turismo social hoje é focado somente na

ampliação do acesso a um número maior de pessoas? Será que suas características

possibilitam também um “choque” cultural, para a particularização de novos

costumes e comportamentos?

Em algumas cidades européias, como Barcelona e Madri, o turista/visitante

tem a oportunidade de um panorama geral sobre a cidade, no entanto, no decorrer

do trajeto, tem a chance – nos pontos específicos e sem ônus financeiro – de descer

do ônibus37 e vivenciar de perto os locais, seus costumes, estilos de vida e

paisagens. Em tempo ampliado (24 ou 48 horas) ele volta ao mesmo itinerário, ou

dependendo do ponto em que esteja (se for interseccional), pode cambiar o percurso

se inserindo em outra linha de ônibus, com outros passeios e experiências

agregadas.

No caso brasileiro, em diversos projetos e ações de grandes empresas

privadas envolvendo seus funcionários ou do poder público por meio de suas

secretarias municipais e estaduais, tem havido a articulação entre o turismo dito

social com a cidadania? Será que permanece um caráter meramente assistencialista

nas ações de turismo social no país, analisando sua gênese até os dias atuais ou

existem instituições que oferecem oportunidades significativas do ponto de vista

cultural, social e recreativo?

36 Notadamente uma prática relacionada aos pacotes turísticos (turismo de massa); já indicado pela tradução literal da expressão: “uma volta na cidade”, de ônibus ou veículo similar, num trajeto que passe pelos principais pontos turísticos, geralmente acompanhado de um guia de turismo trazendo informações sobre os locais visitados. 37 Tourist bus.

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De acordo com Ouriques, as iniciativas e projetos envolvendo o turismo – na

sua urgência por questões sociais – ocorrem de forma isolada e dentro da

perspectiva do fetichismo da mercadoria (MARX, BAUDRILLARD e LUKÁCS apud

OURIQUES, 2005) e da espetacularização do social (DEBORD, 1997), notadamente

em dois sentidos exatamente inversos. Sobre o primeiro, ilustrado pelo Favela Tour,

realizado no Rio de Janeiro, Ouriques assegura: “Podemos afirmar que a favela

encontrou uma nova funcionalidade. Sua estética específica torna-se mercadoria

para visitação turística” (p. 56). O autor continua ao refletir sobre a exploração da

pobreza pela indústria das imagens e dos imaginários: “[...] tudo, mesmo aquilo que

nos aflige, possui uma função social passível de ser apropriada pelo espetáculo” (p.

56). Do ponto de vista do excluído, o exemplo mencionado versa sobre indivíduos

pobres ganhando com os benefícios financeiros do turismo, e que, apesar da

coisificação e naturalização das relações sociais presentes, há relatos de brechas

envolvendo contatos e trocas culturais significativas tanto para os visitantes como

para os visitados.

No caso inverso, pessoas de baixa renda passariam a ter acesso a

experiência turística, tida como direito social garantido pela Constituição Brasileira.

Nesta ótica, não poderíamos deixar de questionar: será que o TJC também não

apresenta alegorias desta espetacularização, em que jovens de comunidades de

baixa renda têm a oportunidade de conhecer espaços, edificações, monumentos e

atrativos turísticos, que geralmente os são vedados de acesso?

Nas duas perspectivas, o turismo deveria ser enxergado como uma

“possibilidade de formação humana, constituinte de novos sujeitos, que por meio

desta vivência, se percebam no contexto social, como cidadãos [...]” (ALVES;

MIRANDA JÚNIOR; MARTINS, 2004, p. 2).

2.4 Turismo, lazer e cidadania

A noção de cidadania insurge como questão fundamental na construção das

subjetividades urbanas contemporâneas. Além disso, se a palavra está implícita no

nome do projeto, devemos enfrentar as suas concepções. Para Falcão, cidadania é

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“a apropriação consciente de direitos e deveres, tornando possível a participação no

processo social” (2006, p. 143). Embasado pelos escritos de José Machado Pais

(2005), consideramos esta e tantas outras concepções38 genéricas, se empregadas

de maneira isolada, sem a devida problematização. De acordo com o pesquisador,

falar de cidadania implica falar de identidades, em seu sentido de diferenciação e de

pertencimento. Para Gastal e Moesch, seria a busca por um bem-estar geral, sem

deixar de perceber a diversidade cultural e as diferenças que se impõem dentro de

uma sociedade, de uma mesma cidade ou de um mesmo grupo. As autoras, ao

articularem a cidadania à identidade, nos mostram que esta última fala da

necessidade de estar inserido em alguma coletividade, seja um país, uma cidade,

um bairro: “[...] a identidade se marca no reforço do que é igual, em contraste com a

exclusão do que seja diferente” (2007, p. 36).

Ao examinarem com acuidade o turismo inserido nestas questões, afirmam

que o turista, no seu percurso, tem nessa vivência de semelhanças e diferenças

uma das razões das suas práticas (2007). Nesta perspectiva, as autoras questionam

pontualmente:

Os turistas estão preparados para conviver com pessoas diferentes, com hábitos e culturas diferentes? Haveria em cada indivíduo uma tendência a buscar o igual, ir ao encontro de sua tribo e, não raro, nesta postura, desqualificar o outro quando não se encontra nele o que é igual a si. [...] Buscar, justo, o diverso de si, exige uma abertura para o mundo e uma maior capacidade de conviver com o próprio estranhamento (p. 38).

As políticas públicas de comunicação têm proporcionado reforçar os

estereótipos, objetivando vender pacotes turísticos em grupos, homogeneizando os

desejos e contribuindo para um distanciamento com o outro. A partir daí, Gastal e

Moesch (2007) avançam ao abordarem a figura do turista cidadão, mas antes

perpetuam a concepção de políticas públicas como meio para se chegar a esta

realidade. De acordo com elas, as políticas públicas se caracterizam pela

democratização do acesso e pela democratização da gestão. Ou seja, o objetivo

deve ir além de democratizar o usufruto dos bens, as políticas devem estimular que

a sociedade se organize para determinação e distribuição desses bens.39 Para Melo:

38 Concepções estas embutidas muitas vezes em projetos e ações sociais, algumas delas coloridas de um novo assistencialismo “critico” (MELO, 2008). 39 Além disso, uma política que articule e integre diversas secretarias pode contribuir para dar ao cidadão uma atenção global.

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A chave do processo deve ser a reintegração do cidadão à cidade. Enquanto o cidadão não reconhecer e reivindicar a cidade como efetivamente sua, enquanto não se der um banho de cidadania na cidade, todas as medidas serão sempre paliativas (2003, p. 79).

A idéia de um turismo no espaço urbano marca que as decisões sejam

tomadas no nível mais baixo de autoridade, de forma a atender melhor as

necessidades locais. Ainda sob este aspecto, Gastal e Moesch consideram que o

planejamento deste turismo urbano estaria expresso, antes de tudo, na qualidade de

vida do morador, determinando “um bem viver que encaminhe o bem receber”

(2007, p. 55). De maneira mais ou menos análoga, as autoras afirmam que os

objetivos de atender, por exemplo, ao lazer da comunidade serviriam também para

os visitantes, ou seja, os investimentos urbanos ao serem reforçados incrementariam

a atratividade geral da cidade.

Ao refletirmos sob esta consideração, constatamos que mais importante do

que a recepção turística, é a qualidade de vida do morador, expressa nos serviços e

infra-estruturas básicas, incluindo aí as áreas de lazer públicas. Ou seja, o meio para

se ter uma cidade agradável para ser visitada é mais importante do que este fim. A

atratividade da cidade seria uma conseqüência “natural” de sua boa organização e

qualidade de vida.

Queremos deixar claro que não estamos desmerecendo a experiência

turística, pelo contrário, até porque também acreditamos nela ocorrendo dentro dos

limites da cidade. Assim como Gastal e Moesch (2007), acreditamos que o turismo

contribui como possibilidade de fortalecimento da esfera pública, estabelecida nos

espaços públicos. Para as pesquisadoras, o turismo vem na contramão dos meios

de comunicação, que levam a um encolhimento desta esfera40. O turismo permite

que as pessoas voltem a freqüentá-la, e a exercitar ali sua voz, ou, pelo menos,

reaprendendo a fazê-lo. Diante disso, uma pergunta relativa ao TJC merece ser

lançada: como é para este jovem ser constrangido de acessar livremente alguns dos

espaços quando não está adequadamente uniformizado e guiado por profissionais

do Sesc?

40 Apesar de algumas considerações contrárias a esta afirmação feitas por teóricos da comunicação, principalmente relativas ao mundo virtual (e a mudança na categoria “espaço público”).

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Diante do exposto, é inegável a importância do turismo no mundo

contemporâneo, como fenômeno sóciocultural e sócioespacial intimamente

relacionado ao lazer. Já vimos que tal como o lazer, o turismo é resultado das

tensões existentes entre capital e trabalho, e que, da forma como muitas vezes tem

sido planejado, pode se tornar apenas mais uma peça que movimenta o binômio

produção-consumo, no qual predomina a idéia de lucro em detrimento dos aspectos

qualitativo e educativo da viagem. Rodrigo Ramalho Filho e Maria Emília C.

Sarmento corroboram com a idéia acima exposta, ao citarem a “indústria do

turismo”, que, para os autores, vem “facilitando a ampliação de fronteiras,

consumindo lugares, meros objetos do processo de acumulação e reprodução de

capital” (2004, p. 36). Este turismo prioriza incessantemente uma das facetas do

fenômeno lazer, que envolve “a satisfação imediata, a utilidade prática, o lucro e a

alienação” e deixa de lado, em muitas ocasiões, “a alegria do lúdico, a fruição da

fantasia, o prazer estético e a experiência criativa” (GOMES; FARIA, 2005, p. 54).

Para situar a reflexão que vislumbramos, é necessário recorrer a Wellington

Srbek (2001, p. 63), ao esmiuçar as especificidades da sociedade de consumo:

“num cenário em que predominam os padrões de mero entretenimento, as

manifestações mais difundidas revelam-se produtos descartáveis, voltados a um

consumo imediato e passivo”. Essa descrição se encaixa perfeitamente a alguns

pacotes de temporadas produzidos e consumidos no arranjo produtivo do turismo de

massa41. “Em síntese, tal uso do lazer salienta a reprodução de uma lógica social de

produtividade, de ocupação do tempo com atividades ‘úteis’ [...]” (GOMES; FARIA,

2005). Como exemplo visceral desta realidade, temos o city tour, entendido como

ocupação de tempo, em uma lógica de acessar o máximo de informações e imagens

em um período cada vez mais curto.

Os jovens que participam do TJC também consomem uma enorme

quantidade e variedade de informações e imagens no decorrer das visitas. Ao

contrário do panorama pessimista exposto pelos autores mencionados nos dois

parágrafos anteriores, Néstor García Canclini nos diz que quando consumimos,

somos também cidadãos: “as identidades são uma construção que se logra na

41 Mesmo outros projetos e iniciativas turísticas que possuem uma “filosofia” mais social-crítica, como no caso do turismo social, na prática, têm priorizado a ampliação do acesso a um número maior de pessoas, sem levar em consideração, muitas vezes, a qualidade da “viagem” como experiência cultural.

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imagem, na linguagem, nas formas de comunicação e de consumo, com recurso a

múltiplas estratégicas cênicas” (apud PAIS, 2005, p. 110). Ana Maria Rabello Gomes

e Eliene Lopes Faria o reiteram, afirmando que: “Mesmo as práticas de consumo

podem [e devem] ser problematizadas” (2005, p. 75). Nesse sentido, ao consumir,

temos a chance de formular escolhas e de refletir sobre nossas ações.

Ao articularmos esta discussão com o turismo, discordamos de diversos

autores que trazem certo saudosismo sobre a experiência turística, criticando o

turismo de massa ao dizerem que exclusivamente a particularização dos costumes e

o encontro “romântico” entre as culturas poderiam ser consideradas experiências

originais, desconsiderando assim qualquer possibilidade de ressignificação mesmo

em pacotes turísticos já formatados de antemão. Os indivíduos podem dialogar entre

todas as experiências possíveis se for o seu desejo e se lhe for permitido.

Exemplificando, o turista pode utilizar um city tour para conhecer de forma mais

ampla a cidade, e depois, num momento posterior, escolher pormenorizar seus

programas; isto não faz dele um “turista alienado”. Devido ao tempo escasso que se

apresenta em determinada situação, o mesmo sujeito pode optar pelos serviços de

um guia profissional, com a finalidade de receber uma séria de informações; ele

percebe esta como a alternativa mais interessante, ao invés de tentar uma

aproximação com moradores do local sem um tempo que, na sua avaliação, não iria

trazer grandes contribuições. Outra situação que é atacada diretamente pelos

teóricos da área é a do indivíduo que permanece entocado em um resort em um final

de semana; esta preferência não faz dele um ser anti-social, que não quer se

relacionar nem conhecer coisas novas: pode ser simplesmente uma busca

consciente de conforto e segurança que o satisfará naquele período específico.

Além do mais, há a possibilidade, mesmo num resort, de conhecer o entorno.

Esses exemplos nos remetem a questões que envolvem a liberdade de

escolha. Esta liberdade é experimentada por quem tem condições de acessar,

selecionar e endereçar conscientemente a profusão de signos e “caminhos a seguir”.

Para Certeau há uma suposição de “que ‘assimilar’ [consumir] significa

necessariamente ‘tornar-se semelhante’ àquilo que se absorve, e não ‘torná-lo

semelhante’ ao que se é, fazê-lo próprio, apropriar-se ou reapropriar-se dele” (apud

GOMES; FARIA, 2005, p. 75). O mesmo autor atenta para a mediação, como um

fator crucial para as mudanças no plano cultural e social envolvendo estas questões.

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2.5 Estratégias de Mediação

A mediação é uma ação social permanente, nem sempre óbvia, que está presente nos mais variados níveis e processos interativos (VELHO, KUSCHNIR, 2001, p.10).

Várias áreas do conhecimento lidam com o termo mediação, oferecendo

múltiplos olhares sobre o objeto. Por tal razão, não devemos enclausurá-lo

unicamente em uma ciência ou área, nem demarcar suas fronteiras sem dados

empíricos concretos.

Mais do que conceitos, mediação apresenta denotações bastante elásticas.

Vários autores utilizam a palavra sem a devida apropriação, ou sem saber que

acepção está sendo empregada. Muitos deles remetem-na a um sentido mais amplo

e genérico, esvaziando-a de significado. Por isso vamos examinar alguns:

Os espaços podem mediar as relações humanas: assim como Milton Santos

consideramos o espaço como algo dinâmico onde se reúnem materialidade e ação

humana (apud CRUZ,1999, p.161). Para Certeau, o espaço é existencial assim

como a existência é espacial; deste ponto de vista, “existem tantos espaços quantas

experiências espaciais distintas” (CERTEAU, 1994, p. 202). Desse modo

a viagem pode se dar internamente a uma sociedade específica diferenciada, não significando mais necessariamente um deslocamento geográfico, físico-espacial, mas, sobretudo um trânsito entre subculturas, mundos sociais, tipos de ethos ou, mesmo, entre papéis sociais do mesmo indivíduo (VELHO, 2001, p. 20).

Nosso objeto de estudo evidencia sobretudo uma experiência espacial e

urbana. Para poder identificar e examinar as mediações ocorridas no TJC é

necessário perceber todas as injunções e contradições que ocorreram e ocorrem na

relação do espaço urbano com a realidade social (o cotidiano) destes jovens e

desses dois aspectos com a experiência turística.

Ao ampliar o entendimento de espaço42, Seabra afirma que:

O cotidiano, ele próprio, é uma mediação entre o econômico e o político, objetivação de estratégias do Estado no sentido de uma gestão total da sociedade; lugar de realização da indústria cultural visando os modelos de consumo, no que se destaca o papel da mídia (1996, p. 77).

42 Algo já enfrentado no início do sub-capítulo 2.1.

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A indústria cultural, especialmente a mídia, é enxergada pela autora como

mediadora de signos. Ora, quando tratamos da idéia de lazer e turismo para jovens

que vivem à margem do acesso e das possibilidades de vivenciar “novas”

experiências, estamos falando de “processos de mediação cultural, que contribuam

para tornar os indivíduos mais críticos perante o poder dos meios de comunicação e

para ampliar os conhecimentos acerca das diversas linguagens” (MELO, 2006, p.

78).

Em cognação a isso, um segundo significado possível acontece quando as

coisas, os objetos mediam a relação das pessoas entre si e delas com os espaços.

De acordo com Adriana Facina, “um aspecto fundamental da vida nas grandes

cidades contemporâneas é a heterogeneidade entre estilos de vida e visões de

mundo que convivem e se intercruzam” (2001, p. 91). Este é um dos elementos que

justifica a quantidade de signos mediada entre os indivíduos, e em meio a eles e o

ambiente. Esta intensidade pode ser ruim quando torna as pessoas dependentes de

alguns objetos; por outro lado, se torna favorável quando os artifícios realçam

conscientemente as diversas experiências sociais. O antropólogo Gilberto Velho

(2001) destaca que certos indivíduos realizam esse trânsito “inter-mundos”

desempenhando o papel dos “objetos” mediadores, o que nos leva ao significado

que prioritariamente desenvolveremos neste estudo:

Os Indivíduos mediando a interação de indivíduos com os espaços, os signos

e símbolos e/ou em meio a eles. A respeito das suas particularidades, Velho

comenta: “A possibilidade de lidar com vários códigos e viver diferentes papéis

sociais, num processo de metamorfose, dá a indivíduos específicos a condição de

mediadores [...]” (2001, p. 25). Ele prossegue ao dizer: “os mediadores,

estabelecendo comunicação entre grupos e categorias sociais distintos, são, muitas

vezes, agentes de transformação, acentuando a importância de seu estudo” (p. 27).

Diante do exposto, uma questão em consonância com o TJC se mostra pertinente:

quando é propiciado aos jovens conhecerem novos espaços dentro da cidade onde

vivem, espaços próximos geograficamente, mas distantes da sua realidade social,

que processos de construção do sensível ocorrem com este jovem, e, o mais

importante, como são encaminhados estes processos pelos profissionais

envolvidos? Será que eles, nessa compreensão, se vêem como mediadores?

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Neste sentido, a importância do guia de turismo para compreender a

mediação no TJC é clara. Com certeza, é um profissional com oportunidades de

mediar a relação dos jovens com os espaços, as pessoas e as informações. O

problema que se apresenta é que às vezes os guias, devido a sua formação

profissional, se convertem na própria informação, o que dependendo do contexto,

pode arrefecer a sensibilidade da experiência dos jovens.

Marilena Chauí, ao falar sobre a ideologia do discurso competente na

sociedade contemporânea, nos propicia articulações com a atuação do Guia:

[...] para que a ideologia seja eficaz é preciso que realize um movimento que lhe é peculiar, qual seja, recusar o não-saber que habita a experiência, ter a habilidade para assegurar uma posição graças à qual possa neutralizar a história, abolir as diferenças, ocultar as contradições e desarmar toda a tentativa de interrogação (1997, p. 5).

Em relação ao jovem do TJC, indagamos: será que ele é “convocado” a

matutar sobre a construção social em que se encontra, seus simbolismos e

significados culturais, ou somente lhe são transmitidas informações digestivas,

palatáveis e superficiais, “ocupando sua cabeça”, impedindo-o, muitas vezes, de

refletir e construir coletivamente suas indagações e seus desejos?

Acerca do profissional e seu discurso competente, regressemos a

contribuição de Chauí:

O homem passa a relacionar-se com a vida, com seu corpo, com a natureza e com os demais seres humanos através de mil pequenos modelos científicos nos quais a dimensão propriamente humana da experiência desapareceu. Em seu lugar surgem milhares de artifícios mediadores e promotores de conhecimento que constrangem cada um e todos a se submeterem à linguagem do especialista que detém os segredos da realidade vivida e que, indulgentemente, permite ao não-especialista a ilusão de participar do saber. Esse discurso competente não exige a interiorização de suas regras, pois aquele que não as interiorizar corre o risco de ver-se a ‘si mesmo como incompetente, anormal, a-social, como detrito e lixo (1997, p. 13).

No que diz respeito à primeira parte da citação, consideramos a autora um

tanto extrema e sem base empírica para qualificar o que é ou não uma experiência.

Sua legitimidade deve ser considerada mesmo na apropriação de diversos signos e

palpitantes informações.

Acerca do especialista comentado pela filósofa, podemos sugerir que estes

seriam o guia e os profissionais executores do TJC? E o jovem participante, o

incompetente, o anormal, o a-social? Chauí implica-nos: “A ciência da competência

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tornou-se bem-vinda, pois o saber é perigoso apenas quando é instituinte, negador e

histórico” (1997, p. 13). Quando os profissionais mediadores coagem os indivíduos a

escutá-los, salientamos isto junto a uma assertiva a respeito do discurso

competente: “[...] é o discurso instituído. É aquele no qual a linguagem sofre uma

restrição que poderia ser assim resumida: não é qualquer um que pode dizer a

qualquer outro qualquer coisa em qualquer lugar e em qualquer circunstância”

(1997, p. 7).

Esta ideologia realmente se apresenta como o oposto da democracia: que se

funda na criação, no reconhecimento, na garantia, na consolidação de direitos, e que

é erigida no dissenso (CHAUÍ,1994, p. 28). Ernesto Laclau corrobora com o escrito,

ao destacar que a construção de uma democracia radical seria aquela “que trabalha

não pelo consenso (ou seja, a vitória da maioria) mas pelo dissenso (a coexistência

de vozes e demandas múltiplas e diferenciadas)” (apud HOLLANDA, 2004, p. 13).

De acordo com Jacques Rancière (1996), o consenso não é nada mais que a

supressão da política. O mediador pode ser chamado por ele de o interlocutor

dissensual; aquele que “fala em dois mundos ao mesmo tempo e [cuja] a relação

argumentativa entre esses dois mundos não é dada senão pela invenção conflitual”

(p. 377). Esta invenção é elaborada pela razão dissensual a qual Rancière

exemplifica: “É a razão de atores ocasionais e intermitentes que constroem aquelas

cenas singulares em que o próprio conflito é que produz uma comunidade” (p. 381).

A esta altura, atribuímos o mediador (e seria interessante que o próprio se

assumisse) como alguém que, acima de tudo e apesar de dialogar entre dois

mundos, realiza uma intervenção, pois vêm de “fora”, para mediar e negociar

situações, linguagens e representações.

Vamos lucubrar sobre o emprego da mediação como sinônimo de negociação

objetivando a resolução de conflitos. Para esclarecer, recorremos a Schnitman e

Littlejohn, que indagam: “Que meios encontram-se à disposição de indivíduos, de

grupos e de comunidades para expandir suas oportunidades de tornarem-se

protagonistas ao lidarem com conflitos, diferenças e dilemas?” (1999, p. 11). Uma

resposta pode estar na idéia de diálogo, esmiuçado por Dora Fried Schnitman:

As potencialidades geradoras do diálogo podem ser vistas como ferramentas que facilitam diálogos mediadores, aqueles que, em meio a contradições e conflitos, permitem encontrar palavras/perspectivas que possam ser assumidas como próprias pelos participantes, que permitam visualizar para o

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futuro uma realidade possível – realidade que necessita ser conformada – e os passos capazes de conduzir a ela (1999, p. 101).

A parte final desta citação merece um exame: “realidade que necessita ser

conformada” pode ter um sentido negativo de resignação, o que nos remete ao um

consenso “mal explicado”. Comparece esta atitude com uma hipótese: uma

mediação restrita dos profissionais poderia “ajudar” os jovens a conviver

pacificamente com as desigualdades sociais e nublar o contato com o conflito latente

estampado na falta de oportunidade até aquele dado momento, quando são

aparelhados pela Instituição.

Retornando a discussão teórica, devemos atentar para que a mediação

pautada no diálogo respeite, acima de tudo, as diferenças interpessoais e culturais,

e encare-as quando necessário. Isto a própria Schnitman realça, ao citar

pesquisadores importantes sobre o assunto:

Bahktin (1981, 1984) postula que, quando um diálogo acontece, configura-se uma unidade multivocal. Os processos sociais transcorrem na tensão existente nessa unidade complexa e cheia de contradições. Em tal contexto, a consciência individual é mais um processo social do que o funcionamento cognitivo de uma unidade autônoma, e seu centro organizador não está dentro, mas sim “entre indivíduos” (Volochinov e Bakthin, 1973). A realidade social é entendida como a experiência humana constituída por meio de práticas comunicativas ou simbólicas. Todo diálogo ocorre num contexto temporal-espacial – cronotopo – concreto e específico, e só é possível ingressar na esfera do significado em tais contextos temporal-espaciais concretos (Bakhtin, 1981, p. 258) (1999, p. 101).

Entendemos que o ato de mediar é também saber perguntar, nos momentos

cruciais, como um estímulo para a reflexão e o diálogo. Por outro lado, uma

pergunta mal alocada pode descaracterizar a resposta ou o pensamento. Nestes

casos, o silêncio, mesmo que constrangedor, pode ser providencial. “Essa

complexidade do diálogo e sua multivocidade se materializa nas conversações

específicas que se enlaçam, configurando redes, tramas de diálogos, nas quais os

participantes estão imersos e navegam” (SHNITMAN, 1999, p.102). Vecchi e Graco

(apud BOQUÉ) destacam o valor da conversação, a qual permite pensar em algo

não pensado, escutar algo não escutado, dizer algo não dito, podendo, dessa

maneira, contextualizar, ressignificar e reformular determinada situação. Nesse

sentido, indagamos: no TJC, o Guia abre “espaço” para um diálogo ativo com os

jovens ou “a verdade” está presente somente na sua fala? Por sua vez, os jovens

têm a “chance” de falar o que pensam e de pensar o que falam? Como são

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elaboradas a sensibilidade e a confiança do jovem, quando percebe, pressupõe,

conclui - mesmo que provisoriamente - acerca do que vê e sente? Este processo é

respeitado, participado e incluído pelos profissionais, por meio do diálogo? Se sim,

como isso é construído e nutrido?

Na circunstância apresentada até este momento, percebemos que os jovens

do TJC também podem realizar o papel de mediadores, promovendo uma interação

entre categorias sociais e níveis culturais (VELHO, 2001). O que aliás, é estipulado

como uma das possíveis contribuições na proposta escrita do Sesc: saber se o

jovem se transformou em multiplicador do conhecimento e das vivências que

realizou, compartilhando com as pessoas que o cercam as experiências e as novas

possibilidades. Ao mesmo tempo, eles podem se tornar ou permanecer como

marginais esmagados entre dois sistemas culturais. Este processo, explicitado por

Velho, vai depender da mediação ocorrida por parte dos profissionais e das

peculiaridades dos participantes: “As mediações nem sempre se caracterizam como

inovadoras, pois muitas vezes elas [...] mantém o status quo, num processo mesmo

de controle de informações e preservação de valores, sendo uma mediação

tradicional [...]” (1994, p. 27).

Ao contrário desta mediação, o que deve ser ponderado no decorrer deste

estudo está presente na afirmação de Jesus Martín Barbero: “Mediação significa que

entre estímulo e resposta há um espesso espaço de crenças, costumes, sonhos,

medos, tudo o que configura a cultura cotidiana” (2000, p. 154). Gilberto Velho e

Karina Kushnir o reiteram ao dizer: “Num contínuo processo da realidade, escolhas

são feitas, tendo como referência sistemas simbólicos, crenças e valores, em torno

de interesses e objetivos materiais e imateriais dos mais variados tipos” (2001, p.10).

Ao refletirmos sobre as duas colocações, achamos necessário compreender a rede

de comunicação cotidiana do jovem para uma mediação consistente e dialógica no

TJC. Uma mediação que não seja exclusivamente sinônimo de transmissão cultural;

mas sim de endereçamento, de estímulo a aproximação dos indivíduos as diferentes

linguagens e conformações culturais.

Uma tecnologia que pode concretizar algumas destas demandas é a

animação cultural, pautada no conceito de mediação.

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2.5.1. Animação cultural

A concepção de animação cultural tem sido definida por Melo, de forma clara

e direta, como:

[...] uma tecnologia educacional (uma proposta de intervenção pedagógica) pautada na idéia radical de mediação (que nunca deve significar imposição), que busca permitir compreensões mais aprofundadas acerca dos sentidos e significados culturais (considerando as tensões que nesse âmbito se estabelecem) que concedem concretude à nossa existência cotidiana, construída com base no princípio de estímulo às organizações comunitárias (que pressupõe a idéia de indivíduos fortes para que tenhamos realmente uma construção democrática), sempre tendo em vista provocar questionamentos acerca da ordem social estabelecida e contribuir para a superação do status quo e para a construção de uma sociedade mais justa. (2006, p. 28, 29).

Victor Ventosa reforça o aspecto do vínculo comunitário e da autocrítica ao

afirmar que: “Se trata em definitiva de devolver el protagonismo de lo sociocultural a

la comunidade local, origem y meta da la animación” (2007, p. 6). Fato alentado por

Lopes, quando afirma que: “[...] a Animação Sociocultural, através dos diferentes

âmbitos [...], constitui um método para levar as pessoas a autodesenvolverem-se e,

consequentemente, reforçarem os laços grupais e comunitários” (2007, p. 6).

A Animação cultural possui três pilares essenciais, de acordo com Ventosa

(apud MELO, 2006, p.77):

- a modalidade cultural, cujas principais funções seriam a promoção e a dinamização cultural, o desenvolvimento da expressão e da criatividade e a formação cultural; sua metodologia é centrada na atividade; seus espaços principais são casas e centros de cultura; - a modalidade social, cujas principais funções seriam a promoção da participação, o associativismo e o desenvolvimento comunitário; a metodologia é centrada no grupo ou na comunidade; seus espaços principais são as associações e os movimentos coletivos; e - a modalidade educativa, cujas principais funções seriam o desenvolvimento da motivação para a formação permanente e a educação para o tempo livre; a metodologia é centrada nos indivíduos.

Melo propugna “que a especificidade da animação está no espaço impreciso

entre as três modalidades, na articulação sempre conjugada e complexa das três

possibilidades” (2006, p. 78). Nesta argumentação, precisamos uma primeira

questão em consonância com o TJC: as três dimensões de Ventosa estão

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contempladas no projeto? Se sim, há alguma dimensão que se sobressai em relação

às outras?

José Antônio Caride (1997) apresenta as três perspectivas paradigmáticas da

animação cultural e a atuação do profissional em cada uma delas: na primeira,

chamada de tecnológica ou “engenharia cultural”, o animador percebe a realidade

social e cultural de forma verticalizada, hierarquizada e organizada, em que se

espera dele um saber dirigido, operativo, bem prescrito e impessoal. Como

desconsidera as individualidades, dificilmente propõem mudanças na ordem social,

conservando a sociedade tal como é. Este modelo, de forma concreta, se vincula ao

chamado “recreador tradicional” (MELO, 2004).

A segunda perspectiva diz respeito ao paradigma interpretativo ou de

formação cultural. Diferentemente da primeira, de acordo com Caride (1997), esta

considera não somente os saberes, como também os valores e significados

implícitos ao ato de conhecer. Talvez por isso, a realidade seja enxergada de

maneira horizontal e pluralista pelo animador. Entretanto, ele não facilita ou estimula

a relação das pessoas com o processo artístico, apenas oferece um conjunto de

atividades e as convida a refletir (MELO, 2004). Com isto, corre-se o risco de ignorar

a questão do poder e das coações exercidas sobre os diversos discursos culturais

(CARIDE, 1997). Encontramos majoritariamente essa perspectiva encaminhada por

museus e centros culturais (MELO, 2004).

A terceira trata da animação cultural na sua essência processual, a partir de

uma perspectiva dialética ou sociocrítica, construída e problematizada em práticas

culturais comprometidas com uma democracia cultural, transformadora e

emancipadora. Pode ser ilustrada como uma fôrma multiplicadora de sujeitos

protagonistas de suas próprias vidas em comunidade, o que é corroborado por

Canclini ao dizer que: “só a multiplicação de atores pode favorecer o

desenvolvimento cultural democrático e a representação de múltiplas identidades”

(2006, p. 190). Melo esclarece que:

Não se trata de impor uma programação nem somente convidar, mas gerar propostas em conjunto com o público, a partir de seu envolvimento, crendo em estratégias de mediação para ampliar o grau de compreensão e de vivências culturais do grupo (2004, p. 13).

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O fundamental nesta passagem é que o animador cultural não ensina nada a

ninguém de forma hierárquica como uma verdade obtusa e absoluta. Pelo contrário,

ele pode trazer e proporcionar uma experiência, vivenciada no lazer, aprendendo

junto com o outro por meio de trocas culturais diversas, que se apresentam no bojo

do seu trabalho, reconhecido como uma intervenção pedagógica. Melo ainda atenta

para o cuidado contextual da intervenção:

No âmbito das camadas populares existem resistências no cotidiano e caberia ao profissional, evitando sentimentos de vanguardismos exacerbados, basear-se nessas resistências em sua ação de animação cultural, que deve ser encarada como uma intervenção de mediação e negociação, nunca de desconsideração das peculiaridades do local (2003, p. 51).

Isto posto, algumas questões parecem ser importantes para os desígnios da

pesquisa: em qual dos paradigmas teóricos da animação percebemos a atuação dos

profissionais envolvidos no TJC? Que metodologias têm sido adotadas na mediação

dos jovens com as diversas atividades, experiências e linguagens, tendo certeza que

é insuficiente educar através do lazer, sem que, concomitantemente ao processo, se

eduque para o lazer? (MELO, 2004) A pesquisa ajustada na experiência turística do

jovem, ao abarcar os fundamentos e propostas da animação cultural, poderá

produzir novas e relevantes metodologias de intervenção neste âmbito?

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3 O PROJETO TURISMO JOVEM CIDADÃO (SESC–RJ)

O nosso estudo de caso tem como objeto um projeto ligado ao que se

convencionou chamar de turismo social, fenômeno que historicamente no Brasil tem

forte relação com o Serviço Social do Comércio (Sesc). Foi essa instituição a

responsável pela criação das primeiras colônias de férias, em meados do século XX,

e, a partir da década de 1970, pela realização de passeios de fins de semana e

excursões orientadas para camadas sociais com renda de moderada a baixa,

estimulando o uso intensivo dos seus equipamentos de hospedagem e lazer

(FALCÃO, 2006) e de alternativos, como pousadas, colégios e mosteiros (ALMEIDA,

2001).

Pode-se e deve-se pormenorizar as ações do Sesc, perceber a qualidade das

propostas e as contribuições para os beneficiados; aliás, é o que esta pesquisa

pretende ao analisar um de seus projetos específicos. As possíveis críticas, contudo,

não negam sua atuação envolvendo o turismo social em âmbito nacional, não

somente como pioneiro, mas como referência até os dias atuais, além dos evidentes

bons resultados. Simplesmente o fato de ter propiciado a experiência turística para

uma quantidade considerável de pessoas43, que, provavelmente, sem a Instituição

teriam menos ou nenhuma oportunidade de vivenciá-la, já é algo a ser destacado44.

Esta gama de serviços e equipamentos não é oferecida somente para os

comerciários e seus familiares, mas para o cidadão em geral (chamado de usuário),

que tem acesso a um preço diferenciado em relação a outros arranjos do mercado

turístico. Isto está exposto na concepção do próprio Sesc, que define o turismo

social como

[…] ações que oportunizam a integração social, favorecendo a apreensão de bens culturais e a educação para e pelo turismo, garantindo o acesso da

43 Como exemplo que comprova esta assertiva, houve 16.837 pessoas atendidas referentes ao turismo emissivo, receptivo e projetos integrados no ano de 2008, somente no Sesc de Ramos, que representa uma entre as 10 unidades situadas na cidade do Rio de Janeiro. (Dados obtidos com uma técnica do Sesc Ramos). 44 Em razão do objetivo do trabalho, não cabem aqui críticas a respeito da atuação do Sesc como um todo ou de seu desempenho na área de turismo social. O objetivo da pesquisa é analisar um único projeto, o Turismo Jovem Cidadão (TJC). Um exame mais apurado de todas as ações envolvendo os projetos de turismo da Instituição demandaria tempo e escaparia do objetivo principal; quem sabe o faremos em pesquisas futuras. Além do mais, fazer uma crítica pela crítica, sem fundamentos – sem se aproximar e pormenorizar suas ações (gerais ou específicas) – não acrescentaria nada ou muito pouco para esta dissertação.

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clientela a estas mesmas ações, através da oferta de serviços acessíveis ao seu poder aquisitivo (COSTA apud ALMEIDA, 2001, p. 89).

Há ainda os projetos subsidiados (pelo próprio Sesc e/ou

parceiros/patrocinadores), oferecidos gratuitamente a comunidades de baixa renda,

geralmente situadas no entorno das unidades. Entre eles, o TJC que já foi detalhado

na introdução deste estudo. Portanto, vamos assinalar as particularidades do projeto

de 2008, do Sesc-Tijuca, cujos envolvidos entrevistamos nesta pesquisa.

Naquele ano, optou-se por diminuir o número de beneficiados; em

compensação ofertou-se uma quantidade maior de passeios para o grupo envolvido.

Os 21 participantes vivenciaram todas as experiências do TJC, o que não aconteceu

nos anos anteriores, em que cada grupo procedente de uma comunidade específica

participava de forma restrita. Os jovens de 2008 foram selecionados − com critérios

baseados na freqüência e no comportamento – em outros projetos realizados em

2006 ou 2007, sendo oriundos de várias comunidades (morros do Borel, Andaraí e

Macacos) e associados a distintas ONG’s/associações de moradores.

Os técnicos acham que com esta dinâmica puderam acompanhar e perceber

as “mudanças comportamentais” dos jovens desde a primeira reunião45, passando

por todos os 21 dias de visitas46 e oficinas47, até a exposição de fotos e pinturas48

que encerra o projeto.

45 Na qual ocorre uma apresentação geral do TJC, realizada pelos técnicos do Sesc, juntamente com uma oficina de manuseamento da câmara fotográfica. 46 Abaixo, divididos por tema, estão o nome dos lugares visitados e as datas em que ocorreram: Tema: Bicentenário da Chegada da Família Real (26/03: Museu Nacional da Quinta da Boa Vista; 27/03: Jardim Botânico; 28/02: Paço Imperial e Laurindo Pitta; 29/03: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e Casa França-Brasil – Almoço Sesc Engenho de Dentro – Museu do Trem). Tema: Meio ambiente (28/05: CTR – Centro de Tratamento de Resíduos de Nova Iguaçu; 29/05: Trilha do Caminho de Beija- Flor; 30/05: Guandu; 31/05: Parque Nacional da Serra dos Órgãos – Sesc Teresópolis). Tema: Turismo e Cidadania (27/08: Escola de Engenharia do Exército (Urca); 28/08: Visita Benjamin Constant (Urca); 29/08: Instituto de Surdos e Mudos (Laranjeiras); 30/08: ONG Onda Verde – Tinguá – Sesc Nova Iguaçu). 47 Após cada tema, há uma oficina orientada por um fotógrafo contratado pelo Sesc, na qual cada jovem seleciona suas três melhores fotografias, dando-lhes títulos – ocasião em que podem refletir sobre o elemento principal da figura (conceito), a forma de se expressar e se existiu uma poética própria da/na imagem. Uma semana depois acontece outra oficina, na qual uma entre as três fotos é escolhida para ser transformada em pintura pelos próprios jovens, instruídos por uma especialista. 48 Esta exposição ocorreu durante os meses de janeiro e fevereiro de 2009, na unidade da Tijuca. Nesta ocasião alguns dos jovens foram convidados para serem monitores, sendo instruídos anteriormente com informações relativas ao próprio Sesc, ao projeto e às comunidades contempladas.

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As três esferas analisadas por cada categoria (já apresentadas na introdução)

estão detalhadas a seguir:

A- O documento escrito do projeto49, obtido por e-mail enviado por uma

técnica do Sesc de Ramos50. De acordo com ela, em 2003, ano em que o

TJC foi realizado pela primeira vez, a iniciativa ainda estava em fase de

“teste”. Por tal razão, o projeto de elaboração estava bastante resumido.

No ano seguinte, quando se repetiu a ação, o documento já estava mais

estruturado, por isso, utilizamos o arquivo de 2004 para apreciações.

Recolhemos informações extras e complementares a respeito da

concepção do TJC na entrevista com a profissional que o arquitetou51.

B- Os outros quatro profissionais entrevistados52: dois guias contratados pelo

Sesc, que atuaram nos diversos espaços visitados, realizando a

articulação dos jovens com os diferentes atrativos; e duas técnicas da

Instituição, que participaram de toda a logística do TJC − uma do setor de

Turismo Social e outra de Projetos Comunitários53 −, contratando os

profissionais (guias, professores, fotógrafos, artistas, motoristas),

contatando as ONG´s ou associações de moradores, selecionando os

jovens, se comprometendo e marcando as datas com os equipamentos e

instalações visitadas. Enfim, organizando os “bastidores” do projeto e, além

disso, acompanhando as visitas.

C- Os sete jovens entrevistados54, que voluntariamente participaram da

pesquisa. O período aproximado de 8 meses entre a última visita

proporcionada pelo TJC e as entrevistas foi primordial para incluirmos a 4ª

categoria de análise: a contribuição efetiva para os envolvidos,

principalmente para os jovens.

As categorias também foram utilizadas para formular o roteiro de entrevistas

semi-estruturadas55: na análise e interpretação, sopesamos os objetivos expostos no

49 Ver em Anexo 2. 50 Unidade pioneira na execução do TJC. 51 Na época, coordenadora técnica da unidade de Ramos. 52 As entrevistas com os profissionais envolvidos foram realizadas nos dias: 3, 7, 14 e 16 de abril de 2009. 53 Juntas com outra técnica do setor de Cultura. 54 As entrevistas com os jovens foram realizadas nos dias 16 e 18 de abril de 2009. 55 Ver no apêndice D os roteiros e em anexo 1 a transcrição consolidada das entrevistas.

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documento escrito e as intencionalidades da profissional idealizadora do TJC

cotejando com os dados coletados nas entrevistas com os jovens e profissionais

envolvidos na organização e execução. Vamos aos resultados.

3.1 O entendimento de lazer

O TJC se apresenta, antes de qualquer coisa, como uma experiência de

lazer. Por tal razão, se mostra relevante identificarmos a compreensão dos

envolvidos e da Instituição acerca do tema.

A visão geral do Sesc pode ser conjeturada ao analisarmos a sua divisão de

setores organizacionais: Cultura; Esporte e Lazer; e Turismo. Devemos inferir que os

critérios podem ser prioritariamente técnicos e logísticos, em uma tentativa de

equalizar o volume de atividades oferecidas por departamento, com o intuito de não

sobrecarregar nenhum deles. No entanto, todo ato de classificar é embasado por

julgamentos conceituais intrínsecos. Esta separação aponta para uma visão restrita

de lazer, atrelado apenas ao esporte e atividades físicas. Neste desenho, o turismo

não é incluído como uma de suas formas. O lazer também não parece ser

compreendido como uma dimensão da cultura, esta sendo percebida como sinônimo

de manifestações artísticas. Estas apreensões são robustecidas pelo conjunto de

atividades oferecidas pelos setores56.

A respeito do documento escrito, cabe um exame sobre o emprego da

palavra cultura, já que abrangemos o lazer como uma de suas dimensões. O

desenvolvimento e a sustentabilidade cultural dos participantes e da concernente

comunidade estão presentes em respectivamente dois objetivos. A utilização das

duas expressões indica uma visão cingida de cultura. Especialmente o

desenvolvimento dá a impressão de que existe uma “alta cultura” que precisa ser

incorporada pelos “sem cultura” ou com “menos cultura”, apresentando, desta

maneira, um parâmetro etnocêntrico para tentar medi-la. Cultura é muito mais do que

um conjugado de práticas e posturas que se adquire. Em seu sentido antropológico,

o qual embasa este estudo, ela é “compreendida de forma ampliada como um modo 56 Outra questão importante, mas que não é objetivo desse estudo, é saber se há diálogos profícuos entre os setores do Sesc. No TJC percebe-se uma articulação entre três: Cultura, Turismo Social, e Projetos Comunitários.

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de viver, ou melhor, como um conjunto de normas, hábitos, valores, sensibilidades

que concedem sentido e significado à vida em sociedade” (MELO, 2006, p. 26).

A idealizadora, ao falar sobre a importância do TJC, afirma: “Esse projeto tem

tudo a ver com a intenção do Sesc, de dar acesso, promover, democratizar a cultura;

democratizou a cultura por meio do turismo, por meio das ações que foram

produzidas e promovidas pelo turismo”. Acerca da expressão democratização

cultural, Isaura Botelho (2001) propõe seu avanço ao mudar para democracia

cultural, que de acordo com a autora – embasada pelo exemplo das políticas

culturais francesas das décadas de 1970 e 1980 – não seria simplesmente levar o

indivíduo até os espaços e a uma série de manifestações culturais, e sim contribuir

para torná-lo consciente de que também é um criador de cultura, principalmente na

ótica exposta no parágrafo anterior57. Entendemos que o sentido dado pela

profissional se aproxima de democracia cultural, pois o TJC possui diversas

situações e arranjos que possibilitam ao jovem perceber a cultura de maneira plural e

orgânica, conforme ficará evidenciado nos próximos itens.

Quanto ao lazer, encontramos no documento apenas uma menção as suas

especificidades, no objetivo de “incentivar a prática de visitas e passeios na cidade

onde moram”. Na realidade, a palavra não está presente de maneira explícita,

porém, subentendida em várias situações como ferramenta para uma série de

desígnios, quase todos relacionados à cidadania e ao conhecimento no sentido

informativo e conteudístico58.

Um dos guias, ao ser perguntado sobre a relevância do lazer para os jovens

do TJC, disse que estes o vêem como um lazer constante. Este “constante” - que

não significa invariável - tem o sentido de uma duração maior, o que corrobora a

visão, no senso comum, de que o lazer é algo mais trivial, enquanto o turismo

apresenta uma variedade de “lazeres” e necessita de mais tempo “livre” para ocorrer.

Isto é confirmado pela idealizadora do projeto:

[...] eles não entendiam o passeio a um ponto turístico como uma coisa que é lazer também, pegar o trem e ir até à Quinta da Boa Vista fazer um piquenique, jogar bola e ficar lá deitado debaixo da árvore. Tem um lazer que é estabelecido pela comunidade que é soltar pipa, poder dormir até meio dia, é o pagode que vai com a mãe, que vai a família toda (para o pagode), fazer um churrasquinho com o vizinho.

57 Ótica esta que deveria ser incorporada nos processos e na visão de mediação, categoria trabalhada no sub-capítulo 3.3. 58 Analisaremos estes temas nos sub-capítulos 3.3. e 3.4.

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Precisamos saber se o profissional enxerga a experiência dos jovens como

lazer ou alguma outra categoria. Sobre esta indagação, um dos guias a classifica de

“um marco divisor de águas”, depois de explanar sobre o acesso que eles têm a

informações de áreas profissionais diferenciadas: “Acho esse ponto fundamental

para o crescimento e desenvolvimento social, econômico e profissional deles”. A

partir desse registro, parece-nos que ele vê o TJC como um curso. É de se destacar

que alguns jovens também assim o vêem, como afirma a idealizadora:

No final quando perguntamos “vocês se divertiram?” eles não sabiam dizer. Eles não reconheciam aquele tipo de divertimento, que aquilo poderia ”parar”; a primeira vez a gente parou debaixo da árvore para ficar observando o mar, o ócio, todo mundo parado, e eles: “mas vai acontecer agora o que? A gente tem que registrar alguma coisa? Tem que escrever alguma coisa?” [...] “A gente vai ter que fazer uma redação depois?”; “Não”. A gente é muito ainda aquela coisa acadêmica da escola, “não, é para olhar por olhar, relaxar, a gente trouxe umas esteiras também”; “a gente vai poder descansar?”. Aí que começou a pegar, “olha, isso é lazer também, além de estar reconhecendo a cidade a gente pode relaxar e está experimentado formas de relaxar nesse espaço que vocês não conhecem; pode botar a esteira, pode deitar, a gente pode escutar uma música”.

Ainda que possamos refletir sobre uma visão abreviada de lazer retratada em

seu discurso, atrelado unicamente ao ócio, o mais curioso na passagem é a

percepção de obrigação observada por ela nos jovens e ratificada pelos próprios:

todos os 7 referem-se ao TJC como um curso em algum momento da entrevista.

Além de mencionarem a palavra, quase todos afirmaram que os conteúdos

explicativos presentes no TJC ajudou-os em trabalhos e provas na escola: “Me

ajudou até um pouco na escola também, porque tinha perguntas que a professora

fazia e eles explicavam para a gente na escola daqui” (ênfase minha). Quanto a

isso argumentamos: será que a forma como o TJC é apresentado aos jovens (com

vários afazeres, oficinas etc.) gera essa compreensão, de não conseguirem

enxergá-lo como uma possibilidade de lazer e sim como um curso ou obrigação?

Quando foi perguntado à profissional que arquitetou o projeto como ela

discernia a experiência do jovem, respondeu enfaticamente:

É turismo, é lazer, mas claramente eu percebia que era educação e formação, conhecimento. Eles demoraram um pouco a entender que podiam relaxar. Era tanta novidade, era tanta coisa, aprendiam a fotografar, não é um aprendizado técnico, profissional, mas tentar captar uma imagem da cidade, colocar um objeto que você desconhece na sua mão, existe uma tensão, então, todo um processo para eles. No primeiro projeto eles ficavam o tempo todo perguntando se ia cair na prova, porque tinha que ter um produto, mas a gente não sabia qual era o produto. O produto ia ser construído coletivamente. Então, para eles, no primeiro projeto, não significou para

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entender que era lazer também e que o lazer leva ao conhecimento. Foi complicado. No segundo momento do projeto é que eles começaram a perceber que era divertido, que podia ter risos, as pessoas podiam falar, não precisava ficar calada, porque não vai sair a palavra na foto. A gente tinha que falar várias vezes quando eles iam tirar foto, ninguém falava para ajudar, “não, puxa mais para cá...”, porque achava que essa palavra ia sair na fotografia. Ia todo mundo mudo e muita fila. Eles reproduziam uma educação, a educação formal da escola e o que a gente queria era exatamente a educação não-formal, aprender de outra maneira, utilizando outras linguagens e que fosse lazer também.

Apesar de encarar o lazer também como ferramenta, percebemos que -

principalmente na 2ª parte da citação - ela reconhece e tem o desejo de incorporar

suas especificidades no TJC, sobretudo o “se sentir a vontade”.

No capítulo anterior discutimos as representações do período de não-

trabalho. No caso destes jovens, seis dos sete percebem unicamente no lazer a

possibilidade de busca do prazer e de se sentirem mais a vontade. Eles também o

vêem, bem como o TJC, como válvula de escape dos problemas e dificuldades

vivenciadas no morro. Ainda nota-se que apresentam um tempo diminuto para o

lazer, muitos só podendo vivenciá-lo nos finais de semana. Um dos jovens, ao trazer

seu entendimento, professa: “Lazer é você no estudo junto, você estudar e se

divertir ao mesmo tempo, e também divertir, vamos pelo que você quiser, mas

dentro do trabalho, fazendo e se divertindo ao mesmo tempo.” Percebe-se que este

jovem não consegue vislumbrar a possibilidade do lazer ocorrer em um

tempo/espaço especial. Será que o TJC, dentro do questionamento exposto acima,

contribuiu para esta visão de lazer, misturado e talvez “esmagado” pelas obrigações

(ocupações)?

Nesta discussão, Carrano, Dayrel e Brenner (2004) falam da subjetividade

juvenil presente no tempo de lazer: “É principalmente nos tempos livres e nos

lazeres que os jovens constroem suas próprias normas e expressões culturais, ritos,

simbologias e modos de ser que os diferenciam do denominado mundo adulto” (p.

176). No entanto, um paradoxo é observado quando pensamos nos paradigmas

socialmente atribuídos aos jovens, percebido por estes mesmos autores: “[...] Não é

incomum que a sociedade enxergue nessas culturas traços de marginalidade

quando estas fogem ao social e culturalmente esperado pela ‘adultez’ [...]” (p. 176).

Isto mostra que ao mesmo tempo em que os jovens são vistos como modelo cultural,

principalmente se associados à imagem de saúde, aventura, beleza e felicidade,

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quando estes criam novas e peculiares formas de se expressar, acabam sendo

criticados e coagidos a agir de acordo com as regras do mundo adulto. Por tal razão,

encontramos nos programas/iniciativas de lazer um interessante ensejo para

pensarmos em intervenções críticas e, ao mesmo tempo, prazerosas que

questionem esta ambigüidade do “modelo” comportamental forjado e atribuído ao

jovem.

Percebemos, então, que é no lazer, muitas vezes, que este jovem tem a

possibilidade de arriscar, de revelar sua personalidade e, a partir desta vivência,

criar. Será que todos estes motes referendados neste sub-capítulo são percebidos

na hora de (re)pensar as estratégias de mediação do TJC? Discutiremos isso no

sub-capítulo 3.3.

3.2 O entendimento de turismo

Esta categoria tem por objetivo identificar o posicionamento dos profissionais e

da Instituição em relação às especificidades do fenômeno e da atividade turística e a

percepção dos jovens acerca das experiências vivenciadas. A experiência turística

está presente no documento escrito elaborado pela Instituição, a qual busca, com o

Turismo Jovem Cidadão, “incentivar a prática de visitas e passeios na cidade onde

moram”59. Percebemos que o Sesc entende o turismo acontecendo também dentro

dos limites municipais, considerando assim o seu princípio socioespacial e cultural ao

defini-lo. Um dos jovens também demonstra uma percepção de turismo ocorrendo

dentro da própria cidade: “Eu acho que turismo na minha opinião é você conhecer

outras localidades, outros lugares. Eu sou aqui da Tijuca e vou fazer um turismo em

Copacabana, fora do Rio de Janeiro, até mesmo dentro, num lugar que você não

conhece”.

Um dos profissionais o enxerga como atividade geradora de renda: “Mas o

turismo hoje é fundamentalmente uma forma de ganhar dinheiro, eu acho que dentro

do Rio de Janeiro, do Brasil teria que ser na verdade o fator número um em relação à

renda para a população”. Sobre isso, Luís Carlos Gomes pondera:

59 Objetivo já incluído na categoria anterior, só que articulado com as questões mais abrangentes do lazer.

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Ainda que reconheçamos o caráter de atividade econômica lucrativa, o modelo de desenvolvimento turístico não pode apontar - como na visão industrial - para ”objetos”, mas sim estabelecer prioridades para os ”sujeitos”, o que só pode ser conseguido se, além de examinar o turismo do ponto de vista econômico, também o façamos objetivando, através de suas características próprias e originais, a sua função social (apud ALMEIDA, p. 9).

Em suma, não desconsideramos a importância das pessoas se beneficiarem

com os frutos da atividade econômica, porém o turismo, especialmente no projeto,

deveria ser enxergado em toda sua complexidade cultural.

No entendimento de turismo social formulado pelo Sesc60, o duplo aspecto

educativo do lazer, expresso na “educação para e pelo turismo”, está presente no

documento escrito do TJC. Percebemos a educação para o lazer em consonância

com a finalidade exposta no início deste sub-capítulo. Já a educação pelo lazer se

localiza no objetivo específico de fazer o jovem “conhecer espaços de patrimônio

Cultural e Histórico e de preservação Ambiental”, mormente se articulado com outros

dois assinalados no documento: “a conscientização ecológica” e “a valorização de

riqueza cultural da cidade”. O turismo visto como ferramenta está representado

claramente na resposta de uma das profissionais:

[...] nós temos jovens que nós levamos para visitar o hotel do Sesc de Copacabana e que visitaram a cozinha e ele se interessou pela parte de gastronomia, e foi ver um curso de gastronomia. Nós os levamos a uma faculdade de medicina veterinária no ano retrasado e teve uma menina que se interessou a fazer biologia ou medicina veterinária

O problema que se coloca é que no decorrer da entrevista ela abrange o

turismo unicamente por este prisma, indicando que este é importante somente como

instrumento de educação. Também não precisamos enxergá-lo como uma

necessidade, quase uma obrigação que todos deveriam vivenciar. Ele pode ser

relevante levando-se em conta suas especificidades − em uma perspectiva relacional

(dependendo da pessoa, do contexto) - encarado como uma possibilidade de lazer e

de educação.

Na realidade, se o turismo é pedagógico por princípio − ao considerarmos o

sentido amplo de ambos os termos61− esperamos que a “educação pelo” não exista

sem a “educação para”. Dito de outra forma, o turismo como objeto de educação

engloba-o como veículo. Estão implícitos nas experiências turísticas alguns aspectos

60 Na citação da pág. 53. 61 Algo já abordado indiretamente no capítulo 2.

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pedagógicos que fazem parte de suas especificidades e que são alentados pelo

documento escrito, como: valorizar o patrimônio cultural da cidade por meio do

sentimento de pertencimento; reconhecer e respeitar as diferenças através do

contato e do estranhamento com coisas “novas”; e dependendo da ocasião, a

conscientização ambiental, ao perceber a integração sistêmica e complexa do

espaço visitado com o restante. Isto não tem como ser vivenciado e apreendido

senão in loco e ancorado no lazer. Por isso, as características deste não deveriam

ser desconsideradas nas vivências turísticas.

Entendendo que a atividade humana está vinculada à construção de

significados que dão sentido à existência (GOMES; FARIA, 2005), indagamos: qual

o sentido da “viagem” para os jovens? Um deles, além de não enxergar o turismo

como uma prática de lazer, distingue-o do passeio:

Eu já tinha conhecido alguns lugares por outros cursos que eu fiz, por exemplo, de informática, de inglês, que eu fui passear, mas para mim aquilo ali era passeio mesmo, era curtição; era lazer, não era turismo. O projeto não, o projeto eu já me sentia dentro de um grupo, eu ia, tinha o guia ali na frente explicando e contando a história. [...] Lazer para mim, é eu ir no domingo, com minha mãe e meu pai passear numa reserva. Ali a gente vai conversar, lanchar. Turismo para mim já é outra coisa, é eu me locomover até um local para aprender sobre aquele local, como aconteceu. Acho que lazer e turismo não são iguais (ênfase minha).

A idéia de existir um guia e envolver conhecimento como condição sine qua

non para o turismo está presente na opinião de outros três jovens. Esta percepção

indica dois prognósticos: a forma como é desenvolvido o TJC (sancionado por uma

das profissionais: “a gente não está indo ali para passear, a gente está indo para

conhecer o espaço, prestar atenção no que o guia está dizendo”) e o fato,

confirmado por todos os jovens, de que o projeto é sua primeira oportunidade de

vivenciar o turismo, por conseguinte, sua única referência concreta de entendimento.

Outra característica presente no TJC, e conseqüentemente, na visão de turismo do

jovem, é a questão de andar em grupo e com o mesmo uniforme: “Sim, em parte eu

me senti um pouco como se fosse turista, até porque a gente andava muito em

grupo. A gente tinha camisas iguais [..]”.

Ao falar de como tem sido desenvolvido o turismo social no país, um dos

profissionais entrevistados se alinha ao questionamento exposto no capítulo anterior,

afirmando que os projetos envolvendo-o priorizam a quantidade, se furtando de

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explorar melhor a qualidade ou um “retorno realmente daquilo que eles [o público]

venham buscar”62. Sobre isso, Alves Júnior profere: “[...] dentro de uma atividade de

lazer a gente é capaz e deve proporcionar experiências que as pessoas venham

reverter em seu próprio benefício” (2009, p. 29). Especificamente sobre a atuação do

Sesc, uma das profissionais comenta:

Ele faz muito, mas poderia fazer mais, porque se você parar para pensar geograficamente eles estão localizados em áreas que poderiam privilegiar mais pessoas. Tipo aqui na Tijuca, tem muitas comunidades ao redor e acho que poderiam ser feitos projetos maiores para abranger mais comunidades, mas não abranger por um período curto de tempo. Fazer projetos que pudessem durar mais, porque as crianças me cobravam isso, “poxa, vai ser só um mês, e depois”?

Jane Correa e Lúcia Rabello de Castro, ao vislumbrarem um panorama dos

programas sociais envolvendo a juventude no país, constatam:

Freqüentemente, programas bem planejados e qualificados não surtem o efeito desejado e pouco fazem para reduzir a exclusão social de jovens, se não se estabelece com o usuário, no caso os jovens atendidos, um tipo de interação em que haja espaço para discussão e questionamento dos objetivos assinalados, por mais meritórios que sejam. Por isso mesmo, não significa muito dizer que tantos por cento de jovens são atendidos pelo projeto X ou Y, ou tantos por cento fizeram parte do programa B ou C, e assim por diante [...]. Ao avaliar o impacto de programas e projetos para a juventude, é imprescindível levar em conta as transformações que esses operaram nas suas vidas e nas suas escolhas, assim como em suas idéias, percepções e afetos (2005, p.11).

Iremos enfrentar alguns dos pontos dessa citação nos próximos dois itens. Por

hora, cabe uma pergunta: o TJC se encaixa ou não na ilustração das autoras?

Para a profissional que o arquitetou, o TJC surge como possibilidade de

mudança nas ações envolvendo o turismo da Instituição, que para ela, não

representava a comunidade local63: “Era um turismo comercial, com parceiros, com

um valor não acessível a essas pessoas e nem ao próprio comerciário [...] na

verdade, o trabalho do Sesc não é competir com as empresas de turismo, esse não é

o papel”. Sobre o processo de convencimento para a sua execução ela conta:

Diante disso a problemática era o técnico, um turismólogo querendo fazer do Sesc uma agência de turismo. Um espaço onde se fizesse uma agência de turismo, mas esquecendo algumas finalidades que é dar acesso, promover atividades com baixo custo, oferecer para essas pessoas o que realmente falta, o que é negado. [...] o técnico pensava no âmbito comercial e eu pensava no turismo social, no espaço que estava acontecendo, no tempo em

62 Ele não especifica (ou exemplifica) o que as pessoas vêm procurar nos projetos de turismo social. 63 Se referindo especificamente às pessoas da região da Leopoldina.

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que estava acontecendo. Primeiro, por uma questão ética, [fui] tentar negociar com o técnico, com quem faz, com quem elabora a programação.

Não é objetivo deste trabalho, porém cabe a reflexão de que esta visão do

profissional formado na própria área espelha a abordagem prioritariamente

tecnicista/pragmática dos cursos superiores de turismo alastrados pelo país64.

Esta situação contribui com a idéia de que, para fazer turismo, é necessário

ser/estar abastado financeiramente. Isto é confirmado por uma pesquisa de

Orçamentos Familiares realizado pelo IBGE em 2003, na qual se mostra que as

famílias com renda acima de 10 salários mínimos, que representam 25% do total,

respondem por 75% do consumo turístico no Brasil, enquanto que as com faixa de

renda até 5 salários destinam menos de 1% das suas despesas com viagens (SARTI

et al, 2007). Entretanto, o Sesc tem sido visto como um modelo que tenta mudar esta

prerrogativa, encorpado pelo turismo social. Na visão da idealizadora do projeto:

O turismo social vem para contribuir para essas pessoas que imaginam que o turismo é coisa para gente que tem muito dinheiro, para que eles possam ser incorporados nessa rede, que eles possam ter acesso. Socialização do turismo, turismo social é isso.

Isto é salientado no discurso de dois jovens: “[...] eu achava que essa coisa era

coisa de rico, mas vi que não era nada disso, que era aberto para todas as

pessoas”.

Me ajudou mais a conhecer outros lugares e sair de onde que eu morava porque eu ficava muito lá e não tinha para onde ir, e o Turismo Jovem Cidadão me ajudou mostrando os lugares, que não era só aquilo que eu conhecia, tinha outros lugares para ir também.

Por mais que o Sesc fale que o turismo social desenvolvido na Instituição

serve para dar oportunidade para quem não a tem, percebemos que os jovens do

TJC são privilegiados e exceção dentro de suas comunidades e no seu núcleo

familiar. Estes jovens tiveram acesso porque já eram assistidos por outras Ong’s

conveniadas a Instituição. Uma das jovens exprime este sentimento:

eu, minha mãe e meu pai sempre quisemos conhecer o Cristo Redentor, e quando eu falei que eu fui, meu pai e minha mãe ficaram até meio chateados, porque eles quiseram e não tiveram oportunidade e eu tive. E eu também fiquei meio sentida por eles.

64 Para aprofundamento, ver estudos de ISAYAMA; ARAÚJO; COSTA e SILVA, 2008; e GOMES et al., 2008.

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Quando perguntamos aos jovens se teriam acesso a estas experiências sem

o Sesc ou a Ong, a resposta foi unânime e direta: “Não”. Quanto a isso, indagamos:

será que os jovens ficam “dependentes” das Ong’s e dos eventuais projetos do

Sesc? Será que a maneira como os projetos são estruturados e mediados

contribuem para isto?

3.1.3 O entendimento de mediação

A relevância desta categoria para a pesquisa é irrefutável, desmembrada no

que os profissionais e o Sesc entendem por estratégias pedagógicas e como os

jovens sentiram as intervenções dos profissionais.

No documento escrito, podemos ver o tipo de estratégia no item

“metodologia”. Sua 1ª parte está assim exposta:

A partir de nossa experiência no ano de 2003, cada visita é precedida de palestra, onde é apresentado pelo guia acompanhante o local a ser visitado e o conteúdo do passeio, inclusive por meio de impresso com a história, dados do local, contatos e meios de transporte [...].

Quando perguntado sobre seu entendimento de turismo, um dos guias remeteu-o a

idéia de que é um mediador:

Quando eu estou à frente passando a visão do turismo, procuro mostrar como esse atrativo funciona independente de lugar, de região, como é a ‘funcionabilidade’, como você faz para chegar até esse atrativo e como ele se transforma no contexto turismo.

Pelo documento e o depoimento do guia, as estratégias de mediação se restringem

a uma série de informações técnicas e procedimentos a seguir.

Dito isto, um questionamento se torna pertinente sobre a experiência dos

jovens e a mediação que é realizada no TJC: por que não dialogar com os jovens

sobre a realidade dos espaços e lugares por quais eles passam, sua constituição

histórica, seus processos de transformação e intervenção humana? Como bem

confirmou o guia, o espaço o qual se encontra o atrativo, monumento, edificação,

ocasionalmente é “dado” ao jovem como algo já pronto, com um fim em si, sem

articular com as questões socioculturais, políticas e econômicas que envolveram e

envolvem aquele determinado local; suas contradições, lutas, objetivos; como diz

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Certeau (1994), discorrer sobre as práticas microbianas, singulares e plurais do

urbano.

Outro guia, diferentemente do anterior, menciona a contextualização que

deve ocorrer com os conteúdos ecológicos:

Como eu escolheria? Chico Mendes, restinga, então meu objetivo era falar daquele ecossistema. O que era uma restinga, que tipo de fauna, que tipo de flora, o que a restinga tem a ver com a comunidade, o que afetaria se uma restinga terminasse. [...] Porque não adianta nada eu falar uma coisa aqui que só tenha aqui, eu tenho sempre que estar associando ao que eles vão ver lá em cima.

Nesta parte do projeto, é bastante pertinente encontrar espaços e momentos

para debater os reais problemas ambientais enfrentados pelos participantes em suas

comunidades. Desta forma, seria sugestivo começar a discussão por questões

cotidianas, efetivamente reconhecidas por estes jovens. Victor Andrade de Melo

(2003) destaca que iniciar com os problemas que podem ser identificados e

reconhecidos pelos jovens cotidianamente, como, por exemplo, questões relativas

ao lixo e a falta de saneamento básico, não só facilita o processo, como pode

conceder maiores contribuições. Depois desta etapa amplia-se paulatinamente a

discussão sobre o meio ambiente urbano/ecologia. Melo ainda afirma que as

atividades de lazer têm grande potencial de aporte para que as comunidades de

baixa renda pensem e repensem sobre as questões relativas ao meio ambiente: “[...]

isso se dá quando auxilia a reintegrá-los criticamente à cidade, quando contribui

para sua auto-organização e quando revitaliza culturalmente seu espaço de

convivência” (p. 88).

Além da ecologia, o jovem é estimulado a pensar, recriar e apresentar seu

próprio olhar sobre a cidade, mediado pelo lazer turístico e pela câmera fotográfica.

A posse da máquina e a possibilidade de registro das imagens por eles captadas

são apontadas como o ponto alto do TJC na opinião de quase todos os profissionais.

Já a experiência turística pode contribuir para um apuramento da observação e, por

conseguinte, da educação estética.

[...] é importante ressaltar que o turista observador, em geral, estabelece suas primeiras relações com o espaço visto pela dimensão estética. Trata-se das primeiras sensações e emoções sentidas através do contato com os signos da paisagem que chegam à vista do observador, através de seu campo seletivo de imagens. Uma paisagem pode despertar um interesse de aproximação e vínculo ou um distanciamento e repulsão. Quando as sensações são interpretadas pelo campo do pensamento, o indivíduo penetra-se na dimensão cultural da paisagem, através da atribuição de um

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valor simbólico aos objetos vistos. Assim, tem-se a identificação e a atribuição de significados aos novos atrativos. (GOMES et al., 2008, p. 63, ênfase minha).

Apesar de discordar da segmentação proposta entre as duas dimensões

destacadas, algumas demandas se mostram conexas ao projeto: como os jovens

interpretam as sensações da “dimensão” estética tendo a chance de enquadrá-las e

registrá-las, sabendo que, “a experiência estética não se esgota e nem está somente

ligada à sensibilidade, ao sentimento, à emoção, estando também ligada ao

conhecimento, ao intelecto, à razão” (MELO, 2002, p. 106)? Como eles (re)elaboram

este campo seletivo de imagens? Há uma mediação que estimule o diálogo

permanente entre a espontaneidade (quase inconsciente) deste contato inicial

sensitivo com a tentativa consciente de acessar, endereçar e conceituar a imagem?

Sobre essa questão, Melo gradua:

Não se trata de fazer uma opção entre razão e a emoção, mas trabalhar no sentido de apontar para uma razão que abandone a pretensão de ser universal e totalizadora, ao mesmo tempo que considera que a sensibilidade também têm aspectos racionais e são geradores de conhecimento. E ao intervir nessa perspectiva, o animador cultural deve perceber que não se trata de catequização, mas de um processo de oportunização estimulada de experiências (2002, p. 106).

Acerca da mediação apontada pelo autor, surge uma última questão: o projeto

valoriza a experiência estética do jovem, como “livre” e prazerosa expressão de sua

individualidade, ou prioriza a performance ditada pelo fotógrafo e/ou monitor?

Sobre essas questões, uma das profissionais depõe, oferecendo alguns

indícios:

A intenção, pelo menos a minha intenção quando vi o projeto, [era] essa questão de despertar o olhar desses jovens para a minha cidade, eu, onde eu estou no mundo, através da foto. [...] Saem ruins, não vou mentir, não são fotos tecnicamente maravilhosas, mas é aquilo que chamou a atenção para ele tirar a foto naquele momento, aquilo que ele achou belo. A questão de nome da foto, se ele quer escrever aquele nome daquele jeito, a gente não pode mudar, a gente não pode estar interferindo em nenhum momento. Achei legal essa questão de autonomia, dele poder escolher a foto que ele quer para a exposição, a foto com o nome [título] que ele quer na exposição; então tem esses eixos de autonomia, (de conhecer a cidade, e aí eu acho que você mexe na questão do lazer com educação.)

Ainda sobre isso, uma das guias complementa com uma visão interessante:

Porque você ouvir uma criança falar é uma coisa, agora você olhar pelos olhos daquela criança é outra porque quando aquela criança fotografa aquela imagem é como se ela capturasse, literalmente aquele momento mágico que representa para ela.

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De acordo com o documento escrito, para o jovem, o reconhecimento de

diferentes linguagens artísticas contribuiria para um novo olhar diante do mundo que

o cerca, ampliando e enriquecendo suas relações. As esquetes ou apresentações

culturais também mediam suas experiências ao longo das visitas, como demonstra

uma das profissionais da organização:

A gente mostra para eles uma série do que é uma esquete, o que é uma peça de teatro, como faz, como é o improviso, a gente chama artistas que improvisam com eles, a partir do que eles vão perguntando o artista dá a resposta e faz uma esquete, acho que mescla por aí.

Também estão presentes na 2ª parte da metodologia do documento escrito:

[..] além disto são incluídas apresentações artísticas que complementam o passeio, formando um conjunto harmônico, onde a cultura e a educação encontram total integração e é estendida a todos os demais transeuntes.

Sobre isso, Letícia Isnard Graell Reis fala: “as expressões artísticas são

capazes de estimular, talvez como nenhuma outra atividade, a tolerância ao convívio

com a diversidade (2000, p. 81).

Uma das guias tem um olhar mais prático sobre estas apresentações, ao dizer

que tem a função de aliviar o jovem de tanta informação, como um momento de

descontração: “era uma forma de desligar, dar uma relaxada nas crianças e depois

quando voltassem eles estariam mais tranqüilos, mais leves, muitos se soltavam

mais”. Ao contrário desta visão utilitarista, acreditamos que o envolvimento de

diferentes conteúdos e linguagens culturais no projeto traz uma maior “densidade” à

experiência e questiona o estancamento que muitas vezes parece existir nas ações

envolvendo turismo, lazer, arte e educação.

Ao ser indagado se existiam estratégias educacionais empregadas no TJC,

um dos guias respondeu que desconhecia a postura do pedagogo dentro do projeto,

sugerindo com isso que ele não se vê diametralmente como educador, acoplando

esta função estritamente ao profissional formado em pedagogia. Ainda segundo ele:

[...] a nossa própria vivência de escola, universidade e outros cursos mais, nos dão essa postura de estar tentando fazer alguma coisa que possa estar alinhada a educação, ao conhecimento, para que a gente possa seguir oferecendo essa possibilidade de conhecimento para eles.

Neste sentido, a educação não é compreendida como transmissão e trocas

culturais, mas como informação unilateral a uma série de conteúdos. Devemos

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atentar para o fato de ele ter mencionado a palavra “informação” 12 vezes em uma

entrevista de aproximadamente 36 minutos, chegando a se citar como “pessoa

informante”.

Quando afirmamos no capítulo anterior que os jovens que participam do TJC

consomem uma enorme quantidade e variedade de informações no decorrer das

visitas, esta abundância soa pejorativamente na fala da maioria deles. Eles

realmente acham que as informações passadas pelos profissionais são excessivas.

Como ilustração, ao ser perguntado do que menos gostou no TJC, um dos jovens

manifestou: “Só um pouco dos professores, às vezes não deixavam descansar um

pouco, eles falavam muito, mas foi só umas duas vezes”. Uma jovem ao responder o

que achara da atuação dos guias, exprimiu: “Os dois são ótimos, eles explicam bem,

só que falam demais”. Outros não disseram diretamente isto, mas sugeriram

estampado no fato de que todos, sem exceção, se sentiram mais a vontade no

ônibus - nos trajetos entre os espaços visitados - curiosamente no lugar onde

existiam menos processos informativos, visto por eles como um “espaço livre”.

Quando perguntado o por quê, uma jovem disparou: “Porque a gente falava mais, ria

mais, brincava mais. Porque quando a gente ia para o museu a gente não podia ficar

conversando”. Claramente podemos perceber que ao contrário de outros locais, o

espaço do ônibus é destituído de regras e signos (símbolos) distantes do cotidiano

do jovem.

Esta situação é avigorada nas respostas dadas a uma pergunta feita

especificamente aos guias, sobre o conteúdo das informações passadas para o

jovem. Um deles mencionou a ciência de como se comportar adequadamente nos

lugares, nas suas palavras “sabendo se portar, sabendo falar melhor”. Outra

profissional assume este teor como parte de sua intervenção, delineando o que

disse aos jovens: “comportem-se na viagem, não é só lazer, não é só cantar funk,

não é só ser legal durante a ida de ônibus”.

Ainda na questão do conteúdo, um dos guias nos adiantou uma indagação

que seria feita posteriormente sobre a relevância dos comentários realizados no

decorrer das visitas acerca de determinadas profissões e suas oportunidades de

trabalho: “a gente fala da formação, [...] onde ele vai ser orientado para ter essa

formação, até onde ele vai colocar o seu currículo para de repente se tornar o

profissional daquela formação”. É sugestivo que sempre que há uma brecha na

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entrevista este profissional insere a importância de o jovem “ser alguém na vida”

através destas experiências. Ao refletir sobre esta situação de maneira geral, Andréa

Góes da Cruz assume que

[...] tendemos a recair no erro de nos mantermos colados e, conseqüentemente, impor ao mundo infanto-juvenil nossa visão adultocêntrica. Esta postura traz uma série de problemas, visto que, ao contrário das gerações anteriores, a criança está inserida, desde o seu nascimento, no mundo tal qual ela o vivencia (1999, p. 171).

Essa parte da explanação sobre a dinâmica de trabalho dos profissionais

direta ou indiretamente envolvidos não está presente no documento escrito, mas é

um componente do TJC desde seu início. Um guia, ao ser perguntado sobre o papel

destas explicações, disse que é o de informar com o objetivo dos jovens “ganharem

essa textura de saber que podem ir mais além e dar esse caminho das pedras onde

eles possam buscar algo mais que eles precisem”. Este espírito se incorpora no

jovem, presente em sua fala: “No começo eu levei tudo na brincadeira, porque

realmente eu não sabia o que ia acontecer. Depois do primeiro mês que eu fui tendo

uma idéia e levei bem a sério” (ênfase minha).

Nessa discussão, brotam algumas questões: quando os profissionais

entrevistados nos falam a todo o momento que o projeto é importante porque mostra

ao jovem como se comportar em tais lugares, como aprender a ser inserido na

sociedade, que o projeto é importante porque dará oportunidade profissional a este

jovem, será que eles desconsideram a importância do lazer como possibilidade

lúdica, com um fim em si próprio, possibilidade de brincar, criar, ter prazer, rir? Será

que alguns profissionais, ao perceberem o projeto prioritariamente como ferramenta

para o jovem “ser alguém na vida”, não estão deixando de enxergar o lazer como

oportunidade para entrar em contato com sua realidade social, “brincar” e ao mesmo

tempo se conscientizar acerca das suas realidades, e a partir daí escolher seus

próprios caminhos, protagonista, questionador, sem deixar de buscar o prazer –

consciencioso e integral – naquilo que faz e não faz?

“Dar o caminho das pedras” é antagônico ao protagonismo social65; o

educador pode orientar ou ampliar as opções de caminhos, que devem ser

escolhidos pelo jovem, e as pedras, enfrentadas de acordo com a sua vontade.

Sobre isso Corrêa e Castro afirmam que “poucos benefícios trazem os programas

65 Falaremos mais sobre essa expressão no próximo sub-capítulo.

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implantados “de cima para baixo”, em que os jovens não se vêem reconhecidos

naqueles objetivos e nos procedimentos que são utilizados para atingi-los” (2005, p.

10). A idealizadora fala que para promover o oposto disso é essencial dar bastante

espaço para verbalizar e se expressar das formas mais diferentes possíveis.

Quando perguntada sobre as estratégias educacionais ela enuncia:

Atentar para o olhar que eles vão ter, não dizer o que tem que olhar. Mas olhar com calma, não precisa correr, isso não vai ser avaliado, o teu olhar pode ser livre. Essa educação libertadora do Paulo Freire é o que a gente queria. A didática é de liberdade total para olhar, para experimentar. Existe um processo didático-pedagógico de libertação do olhar.

Ela avança ao atestar: “[...] tem que ter um pouco de indisciplina, senão fica

uma repressão à sua experiência de conhecer, eu sinto que eles aprendiam muito

entre eles, com a experiência do outro e às vezes com a observação do outro”

(p.10). Esse ambiente de comunicação comum emerge na formulação de Maria

Regina Rufino ao proferir que

a sociabilidade é dada por meio dos atos comunicativos em que os sujeitos voltam-se um para o outro, tendo cada um seu ambiente subjetivo particular: ambos percebem o mesmo objeto, mas cada um o verá de uma forma diferente de acordo com suas experiências (2006, p. 263).

Podemos presumir que tanto a autora quanto a profissional idealizadora

apresentam uma visão de mediação embasada no diálogo permanente e na

liberdade.

Concernente a este segundo aspecto, perguntamos se o TJC comporta

modificações no bojo do processo. A mesma profissional respondeu afirmativamente

e exemplificou:

No espaço que nós escolhemos, no espaço de preservação ambiental, fizemos uma visita antes e não tinha nada de preservação. [...] Então, mãos à obra, ao invés de fazer uma visita fomos contribuir para que aquele espaço seja preservado. Você pode no meio do processo sentir que muda, não está legal, esse espaço a gente quer que conheça, mas o objetivo muda. A gente senta, conversa, troca, pode falar, pode discutir [...] Ele tem que ser no bojo dele todo flexível, senão, você engessa o projeto e ele não cresce, não promove realmente toda a transformação que a gente está propondo.

Um traço desta passagem está ilustrado na afirmação de Schnitman e

Littlejohn:

Um mediador com treinamento metacognitivo não fica limitado pela experiência anterior, trabalha com base no princípio, e não na regra, e evita modelos de prática estritamente lineares. Esses mediadores vêem seu trabalho como uma experiência orgânica de aprendizagem, à medida que

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constantemente planejam, iniciam, avaliam e modificam suas práticas (1999, p. 12).

Apesar do espectro metacognitivo da idealizadora, percebemos que os

profissionais envolvidos mais diretamente com o TJC apresentam outras visões e

atitudes. Para analisá-las, retomemos a questão do emprego ou não de estratégias

pedagógicas. Ao ser indagado, um dos guias nos lista uma série de técnicas:

Eu trabalho muito com arte-terapia, que é trabalhar a parte psíquica, o interior, mas isso sem eles saberem, óbvio, e tentar trazê-los para mim, de que forma? Geralmente trabalho muito com dinâmica de grupo, então antes de começar qualquer coisa eu faço dinâmicas, faço brincadeiras de integração.

As técnicas devem estar presentes nas estratégias educacionais, no entanto

estas não podem se confinar as primeiras. Quanto a isso, questionamos: será que

ele pensa, ressignifica, “move” estes métodos de acordo com o contexto, com a

situação, com o momento?

Uma das profissionais afirma que existem estratégias pedagógicas

simplesmente porque há a presença de professores nas visitas. Sobre isso, ela

elucida:

o tempo todo a gente fica passando informações para eles, tanto é que a gente não trabalha só com um guia, a gente trabalha com um guia e com a professora de biologia, com um guia e com um professor de história. E no caso da professora de artes, ela é formada e tudo mais, tem esse processo.

Analisando esta assertiva, percebemos que a profissional tende a confundir

estratégia com prática pedagógica, que pelo seu entendimento, é sinônimo de

conteúdo informativo unilateral. Diante disso, podemos questionar: a contratação de

professores, cada qual passando seu conteúdo compartimentalizado, denota uma

estratégia? Esta questão se desmembra em outra, realizada por Marlene Ribeiro:

“Seriam os educadores formados por instituições regulares de ensino, dentro dos

princípios, objetivos, conteúdos e métodos tradicionalmente direcionados aos

incluídos, os mais preparados para educar os que experimentam as situações de

exclusão social?” (2006, p.160).

Outra profissional responde a pergunta sobre a existência de estratégias

dizendo que não se baseou em referências para o TJC. Segundo ela, “[...] não é um

projeto escrito com referenciais de autores, de referenciais teóricos claros. A gente

não trabalhou isso no projeto, a gente trabalhou partindo do coração [...]”; desta

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forma, notamos que a entrevistada vincula a estratégia pedagógica a uma área de

conhecimento, especialmente a teoria pedagógica (ou pedagogia).

Analisando a expressão e a compreensão dos três entrevistados, concluímos:

1- nenhum dos três percebe o termo estratégia com o sentido de pensar

sobre o que fez, faz e o que fará. Ao contrário deles, Castro e Corrêa apostam no

[...] trabalho lento de construção do conhecimento permanentemente desestabilizado por rupturas e descontinuidades. Neste sentido, ele se mostra infindo, pois sempre se podem encontrar situações particulares que não se enquadram no que pensamos ou prevemos inicialmente (2005, p. 11).

Ao conectar isso com a mediação, a pesquisadora Mary R. Power afirma:

“refletir sobre experiências do presente e do passado faz com que o conhecimento

questione e reorganize as categorias sob as quais colocamos nosso conhecimento,

fazendo com que estejamos abertos e possamos nos adaptar como mediadores”

(1999, p. 379).

2- Eles não alcançam o “pedagógico” senão nos moldes da educação formal,

com a presença de um profissional, embasado por uma ciência ou orientado por um

conjunto de procedimentos, ou seguindo linearmente uma “cartilha” de práticas

operativas66. Achamos relevante na mediação do TJC a integração destes três

aspectos: uma tecnologia pedagógica, formuladora de metodologias, articulada com

diversas teorias; sem, no entanto, eximir as experiências cotidianas prévias de todos

os envolvidos (no caso do TJC, jovens e profissionais), assim como o conhecimento

que advém da reflexão da prática, ou seja, o “cotidiano” da mediação. O emprego de

uma técnica também é uma experiência em si, mas para quem tem a possibilidade

de refletir sobre ela e não replicá-la, reproduzi-la linearmente.

A mediação incorpora, assim, uma ecologia da virtualidade, do que não existe ainda, e pode considerar-se então como um empreendimento que, a partir da diversidade e da diferença, constrói uma gama de práticas e significados entre o que é e o que poderia ser. Mediante o traçado de itinerários singulares, o processo de mediação projeta trajetórias possíveis num futuro, explora as bifurcações, as múltiplas alternativas e utiliza as variações e a aleatoriedade para criar novidade (SCHINITMAN, 1999, p. 104).

Não se trata então de seguir uma regra irrefletidamente, e sim um princípio

norteador maleável, flexível, orgânico, (re)criando metodologias pedagógicas

66 Um especialista, no sentido pejorativo do termo, algo já trabalhado por Chauí (1997) no capítulo anterior.

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entrelaçadas pela experiência turística, capazes de proporcionar efetivas

contribuições para os envolvidos.

3.1.4 As contribuições efetivas para os envolvidos

A “descoberta do mundo” se faz no encontro da razão com o desejo e requer tempo: num campo de encarnação e inusitados. Quanto tempo será necessário para que se liberte um olhar? Que melhores aproximações deveremos inventar para que nosso projeto promova transformações? (CESAR, 2001, p.108).

Vários são os desígnios expressos no documento escrito relativos a esta

categoria. Listemos alguns:

- Em relação ao objetivo principal, encontraremos “a conscientização do

sentimento de cidadania” e “a percepção de fazer parte do todo”.

- Quanto aos objetivos específicos, “contribuir para o fortalecimento de

consciência de cidadania” e “socialização e construção de vínculo e orgulho cidadão

em fazer parte da cidade”.

- No item resultados, que se inicia “Desta forma, buscamos:...” (o que não

deixa de ser também uma lista de objetivos), são pautadas mais três contribuições:

“incorporar o sentimento de cidadania”, “valorização pessoal” e “melhorar a

qualidade de vida dos participantes”.

Todos estes intentos integram o mesmo mote: ser cidadão. Diante do

exposto, um grande desafio se apresenta para os profissionais que estão realizando

as intervenções com estes jovens: como mediar a possibilidade de transformar os

tempos/espaços de lazer e de sociabilidade em oportunidades de conscientização e

participação sociopolítica, sem que se fira as especificidades do lazer? Um caminho

possível é o de assumir (incorporar, relacionar) que diversas ações que estes jovens

já realizam são por si sós atos políticos; muitos já possuem suas próprias formas de

se representarem quando se apropriam de maneiras distintas do espaço urbano, se

coadunam, se encontram, se vestem, dançam, ouvem e produzem música e outras

formas de expressão – é uma maneira diferente de (re)construir as relações no

tempo/espaço da cidade67.

67 É distinto dos espaços e dos tempos em que a política tradicional acontece e que “naturalmente” os afasta.

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Este caminho deveria fazer o profissional envolvido no TJC – ao se assumir

um educador social – se situar como mais um integrante da construção (na idéia de

processo) de uma cidadania, e não como um sujeito que irá mostrar a estes jovens

como deve ou como não deve ser cidadão68. Neste ponto, uma cidadania, pautada

nos trajetos, nas redes sociais que ligam os indivíduos, é a todo momento reclamada

pelos jovens por meio de suas performatividades espontâneas, encontradas nos

momentos em que estão mais libertos dos constrangimentos institucionais: no lazer,

no lúdico, no cultural (PAIS, 2005).

Na concepção da idealizadora, entre os aportes concretos que o TJC trouxe

para o jovem pode-se elencar: conhecer a cidade que mora; apropriação do legado

cultural; sair de um único ambiente e poder explorar a sua cidade; e ampliar a

comunicação e a visão de mundo.

Ao articular estes arribes, ela comenta:

Ampliar sua visão de mundo, conhecer pessoas, reconhecer a sua cidade, se sentir pertencente disso, dono, patrimônio seu e cuidar, porque só conhecendo é que a gente cuida, e a gente só gosta do que a gente conhece.

Estas contribuições dialogam com as duas intencionalidades presentes no

documento, mais congruentes com as premissas desta categoria de análise e com o

cerne da proposta: “incentivar a prática de visitas e passeios na cidade onde moram”

e “promover multiplicadores conscientes de seu papel; incentivando outros jovens a

conhecer o patrimônio da cidade”.

Dependendo de como o profissional mediou as experiências dos jovens e de

como eles as ressignificaram, saberemos se enxergaram a oportunidade como um

estímulo para expandirem suas possibilidades de lazer e se compartilharam com as

pessoas que o cercam as novas experiências. As respostas dos jovens implicam se

a mediação dos profissionais foi condizente com a proposta e com suas convicções

ou se desvirtuaram dos objetivos analisados acima. Estas pressuposições foram

esmiuçadas por meio de algumas indagações diretas aos envolvidos:

1- Os jovens voltam a freqüentar os lugares visitados? Visitaram novos locais

depois do TJC?

68 Algo que está presente na fala de um dos guias: “torná-los cidadãos”.

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2- Passaram a buscar outras práticas de lazer, além do turismo

proporcionado pelo projeto?

3- O TJC estimula os jovens a se tornarem multiplicadores do conhecimento

e das vivências que realizaram?

Sobre a primeira pergunta um dos guias presume: “Eu colocaria aí 30%, pelo

conhecimento que eu tenho, tiveram a oportunidade de voltar com a família. Outros

muitas vezes a única oportunidade que tinham de ir até o local era através do projeto

[...]”. Os jovens entrevistados mencionaram a falta de dinheiro, a distância espacial e

o acesso a determinados atrativos como causas principais.

Este mesmo guia prossegue, ao citar outro motivo:

[...] então ainda tem o receio de ir até certos lugares porque mesmo que não queiram, eles têm aquele choque de identidade, porque muitos lugares são freqüentados por turistas e a gente tenta fazer com que ele se coloque como turista no lugar, mas enquanto a gente está lá. Depois que a gente sai eles não conseguem se colocar como turistas, e fica meio complicado eles retornarem aos lugares.

Não podemos deixar de questionar quando ele fala “a gente tenta fazer com

que ele se coloque como turista no lugar”. Será que é necessário, ao jovem, ter

ciência de todos os códigos do lugar visitado, ferindo muitas vezes suas

particularidades, seus desejos? Será que não é isto que mais o afasta do lugar,

quando ele é impelido a se “afastar” de si mesmo?

Uma passagem de Corrêa e Castro deveria ser uma premissa e um princípio

no TJC: “A cidade parece ser o lugar de convivência com os diferentes onde, ao lado

da liberdade individual de ‘sermos quem somos’, está a tarefa de enfrentar os

inúmeros estranhos que habitam o espaço citadino” (2005, p.15). Precisamos

ponderar se há ou não este enfrentamento acenado pelas autoras no TJC: será que

a prioridade é de “como se comportar” e “prepará-los para o mercado de trabalho”

ou “desenvolver talentos”, e menos “um estímulo ao lazer” (e ao prazer)? Será que o

jovem se sente inibido em voltar ou conhecer novos lugares por achar que ainda não

tem esta “competência” que lhe é solicitada em vários episódios durante o projeto?

Duas jovens indicam as prioridades do projeto, ao serem perguntadas sobre o

que mudou em suas vidas depois do TJC:

Sim, mudou, foi a questão da postura, depois que eles me ofereceram, eu me dediquei e depois eles me ofereceram um estágio como monitora e eu

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aprendi a ter postura, a ter educação, a falar bem, sempre explicar, sempre falar objetivo, explicar direitinho, e isso eu estou levando para o meu trabalho sempre, eu trabalho com público e tem que ter sempre isso, tem que ter uma postura, falar pausadamente e explicando o objetivo. Algumas coisas, acho que eu adquiri mais conhecimentos. Quando a gente estava aqui na monitoria, você percebeu que de vez em quando eu solto umas gírias e a semana que eu fiquei aqui eu comecei a me controlar, eu fiquei aqui cinco dias e comecei a controlar o meu modo de falar que eu não sabia. Ah! tipo assim, aquilo ali, então eu começava a me controlar, achei que parei um pouco e a forma de falar minhas palavras. Aprendi a me impor melhor, a me expressar melhor quando estava falando de algum lugar (ênfase minha).

Vemos essas questões tomando corpo ao perguntarmos a um dos guias se o

jovem passou a buscar outras formas de lazer depois do TJC:

Com certeza, o projeto, dentro das oficinas que tivemos dentro do projeto a gente descobriu que tinha cantores, músicos, essas veias para arte e alguns continuam fazendo curso de música, outros tiveram oportunidade de fazer curso de fotografia, e estão se enveredando por esse caminho. Acredito que um pouquinho a gente conseguiu mudar um pouco aquela visão da comunidade e eles desceram, como eles falam o asfalto, desceram até o asfalto e viram as possibilidades aqui no asfalto, seguraram e mergulharam de cabeça.

Nota-se que a pergunta foi direcionada ao lazer e ele a desvirtuou para a

profissionalização, referindo-se a ofícios e cursos. Um dos jovens, ao ser perguntado

como foi participar do TJC, confirma esta concepção do profissional:

Como foi para mim, foi tipo uma realização, porque naquela época eu não sabia bem o que eu queria ser profissionalmente. E comecei a ver o que era, aprendi a mexer em câmera fotográfica, aprendi que o inglês e o francês eram importantes, eu relacionei isso àquilo que eu passei a gostar. Apesar de fazer curso de turismo eu vi que no turismo eu queria ser músico [...] (ênfase minha).

Parece-nos que o projeto, nas palavras de Fish (apud HALL, 2003) celebra a

diferença sem fazer diferença. Ou seja, os profissionais tentam, como premissas da

inclusão, tornar o jovem igual, adequado, quiçá “conformado”, porém buscando

“vencer na vida” nesta perspectiva69. Ao discutir projetos envolvendo juventude e

cidadania, Mary Garcia Castro confirma que esta característica não é exclusividade

69 Um exemplo de resistência a esta adequação está presente na fala de uma jovem, ao comentar sobre a capacitação e as informações passadas pelos profissionais para os jovens escolhidos como monitores da exposição de fotografias: “Para mim era uma coisa muito chata ter que ler aquilo tudo, aquela decoreba toda. ‘O que é o projeto...’ Eu nunca ia falar aquelas palavras, ia falar com as minhas palavras, ‘é um projeto com as comunidades...’, mas a reunião teve, fizeram a parte deles [...]. Pela minha postura a pessoa estava vendo que ali eu estava falando o que eu sabia. Porque chegar, ‘o projeto desenvolvido....’ [ela] vai achar que eu não sei”.

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do TJC: “[...] as propostas se preocupam com o próximo ou com o imediato, com a

sobrevivência, em suas várias acepções, ainda que se faça referência a um impulso

na busca pelo exercício de cidadanias, conjugando-se a social, a civil, a política e a

cultural” (2001, p. 496). Não queremos dar a entender que julgamos mal a

desenfreada síncope por dar oportunidade, por inserir o jovem no mundo do

trabalho; reconhecemos que talvez seja sua demanda imediata. Entretanto não é

válido, sabendo dos objetivos do Sesc neste projeto, tentar incluir a todos em uma

lógica que homogeniza os gostos e desejos pessoais, deixando de enfrentar (e por

que não questionar) uma situação de exclusão estrutural, a começar pelo lazer.

Sobre isso, Melo, ao citar Onfray, comenta:

Gosto muito das posições de Michael Onfray (2001) quando ataca os coletivismos que submetem de maneira extremada os desejos individuais. O autor crê que o passo inicial para a superação dessa ordem social atual esteja exatamente na recuperação do papel de sujeitos não submissíveis a priori. Isso é, uma construção social mais justa somente pode se dar quando tivermos indivíduos fortes e ativos, sujeitos que possam se expressar e se posicionar de maneira clara e explícita. É necessário, logo, dar espaço para a auto-descoberta dos indivíduos e isso só será possível pelo questionamento dos excessos de disciplina e controle (2002, p. 110).

Dentro da ótica do controle, existe um discurso de bem-estar social presente

nos intentos de vários projetos envolvendo o lazer e a cultura, o que sugere, muitas

vezes, uma lógica funcionalista e possivelmente assistencialista, como bem nos

apresenta Ribeiro:

[...] há sujeitos sociais com o poder de incluir e há os que são considerados objetos e, portanto, que são incluídos ou que, numa perspectiva assistencialista e de manutenção do status quo, são colocados para “dentro” novamente. Se considerarmos que os processos de exclusão social são inerentes à lógica do modo de produção capitalista, veremos que as políticas de inclusão e/ou inserção social são estratégias para integrar os objetos – os excluídos – ao sistema social que os exclui e, ao mesmo tempo, de manter sob controle as tensões sociais que decorrem do desemprego e da exploração do trabalho, móveis da exclusão social (2006, p. 159).

O universo que esta questão comporta e os limites deste trabalho, definidos

pelas categorias de análise, nos obrigam a prosseguir com outras questões.

Concernente à finalidade de transformar o jovem em um multiplicador

(incentivador e até mediador), a idealizadora traz sua percepção das experiências

que acompanhou no TJC:

Mais ou menos consegui fazer uma pesquisa que não consegui fechar, mas a cada jovem desse, ele conseguia influenciar em torno de quatro a cinco

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outros jovens na escola, no futebol, vizinhos, contando as histórias, e os pais falavam, os familiares, não paravam de falar disso e queriam contar para todo mundo, e ia exercendo essa influência sim.

Não devemos confundir o sentido de multiplicador com o de replicador. Sobre

isso, uma profissional fala: “a gente acredita que eles chegam realmente contando

com a visão deles, com o que eles gostaram óbvio”.

Um dos jovens corrobora com isto ao declarar a felicidade de ter sido

referência para o irmão, se mostrando emocionado neste momento da entrevista:

Não deu para eu ir [voltar], mas eu incentivei meu irmão, que queria levar a esposa e o filho a algum lugar e perguntou se eu sabia um lugar e eu falei, “tem o Pão de Açúcar que eu já fui e lá é muito bom. A vista de lá é muito linda, uma vista maravilhosa”, e ele me perguntou se eu sabia chegar lá. Falei, “saber não me lembro direito, mas vá lá porque lá é muito bom”, dei o incentivo a ele e ele falou, “então está bom, eu vou lá, vou dar um voto de confiança a você”. Ele voltou e falou, “você falou e lá é muito bom mesmo”. Ele tirou muita foto lá (ênfase minha).

Dentre as causas geradoras de estímulo aos jovens para prática do turismo

urbano - alguns deles, como vimos, incentivando os familiares e amigos para

também vivenciarem - a idealizadora aponta a mediação como determinante:

Uma coisa interessante que eu percebi fazendo uma visita é que eles viam um caminho diferente e diziam assim: “para onde leva esse caminho?”. E a gente começou a discutir, a equipe, a gente responde ou não? Porque a curiosidade é interessante, mas a gente tem que orientar essa curiosidade: “você pode fazer, vir com uma pessoa adulta, leva para tal caminho”; “e um dia a gente vai poder vir aqui?”; “Não sei se esse grupo, mas você pode” e a gente dava as linhas de ônibus para chegar aos lugares, mapas, eles tiveram que ter uma orientação de mapas, usando principalmente a linha férrea, indo até certo lugar de trem, depois pega todos os ônibus que dão acesso, quais são os melhores dias, para eles poderem ter confiança. Agora eu percebi que eles voltavam com muita ansiedade para levar o pai, a mãe, o tio, a avó e nós tivemos uma experiência no bondinho de Santa Tereza em que dois jovens reuniram a família e voltaram ao bondinho para conhecer e foram mostrando.

As oportunidades de mobilidade e suas vantagens para o jovem comparecem

na passagem de Lúcia Rabello de Castro: “Transitar pela cidade significa agir,

instaurando, seja pelo hábito, seja pela decisão racional, seja ainda pela

transgressão (consciente ou não), novos inícios que se multiplicam ad infinitum na

tessitura incomensurável de interações sociais na cidade” (2004, p. 73).

Este aguilhão pelo protagonismo, por poder optar pelos “caminhos”, não

somente os da cidade, mas os da sua vida, não só na dimensão do trabalho, mas

em todas, de maneira integral, sistêmica, é algo registrado na descrição da

idealizadora:

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A gente perguntava: “você gosta de balé?”; “lógico que não, nunca fui ao teatro Municipal, não sei do que se trata, aquela música me incomoda, não tem o toque que eu escuto diariamente”. Tirar da zona de conforto do cotidiano e levar para o novo, tem gente que acha ótimo, mas tem gente que incomoda profundamente. Alguns jovens inclusive se sentiam retraídos: “eu não quero isso para mim, que música é essa?!”. Essa importância de ele estar se confrontando com coisas novas, estar saindo da sua zona de conforto para outra, estar ampliando a visão, estar conhecendo novas pessoas, estar mexendo, experimentando situações, mexendo em um equipamento novo, produzindo coisas; só se forma, só se constrói um cidadão assim. É uma construção pela vida inteira com essas experimentações (ênfase minha).

Em outras palavras, o projeto pode propiciar que o jovem tenha vontade de

conhecer mais lugares, queira realizar outros “experimentos” no lazer, ou mesmo,

porque não, descubra que esta experiência não é importante para a sua vida ou que

não lhe traz prazer. Sobre isso, o antropólogo Gilberto Velho recheia (2001, p. 26):

“Ao circular e transitar entre diferentes meios e mundos, é fortalecida a auto-

referência e identidade singulares que alimentam visões do futuro e estratégias de

ação para atingir objetivos delimitados”. Achamos interessante que o jovem trace

objetivos para sua vida, no entanto, estes não podem ser entabulados por outrem; o

próprio indivíduo precisa vislumbrá-los. A mediação, nesse processo, se apresenta

como crucial:

Como prática ligada ao diálogo e aos processos emergentes, cada mediação é sempre singular, um itinerário corporizado. Desde o começo, na abertura ou discurso inicial, convidam-se os participantes a abordar o diálogo como um trabalho de campo, a trabalhar no traçado de seus itinerários, nas conexões entre o que conhecem e o que ainda está por conhecer (SCHNITMAN, 1999, p. 105).

Quanto a esta possibilidade de o jovem conscientemente escolher seus

caminhos, Pais ajuíza: “Nenhuma cidadania pode ser reivindicada quando o acesso

à autonomia é vedado. Embora os jovens sejam considerados dependentes de

socializações de vária ordem, eles reclamam direitos de autonomia” (2005, p.124).

Para Sennett, a autonomia concebida desta forma “é uma receita poderosa para a

igualdade. Em vez de uma igualdade de compreensão, uma igualdade transparente,

autonomia significa aceitar no outro o que não entendemos, uma igualdade opaca”

(apud CASTRO, 2004, p. 141). “Como afirma Sahlins, usando o contraste como

estratégia de conhecimento das diferenças – em lugar de usar a diferença como

forma de acirrar os contrastes” (GOUVEA; GOMES, 2008, p. 58).

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A relevância deste “enfrentamento” traçado pelos autores e pela profissional

idealizadora emerge na ponderação de Pais: “[...] os ‘direitos’ para serem

reconhecidos têm que ser socialmente internalizados como viáveis na sua condição

de possibilidade.” (2005, p.129, ênfase minha). Os jovens afirmam que, mesmo

depois do TJC, não conseguiram ampliar suas possibilidades de lazer – principal

objetivo do projeto no nosso entendimento (pela sua conformação e características)

e baseado na justificativa do documento escrito: “Os jovens da área da

Leopoldina[70] se ressentem de oportunidades de conhecer outras áreas da cidade

[...]”71. Esta circunstância é problematizada por Castro:

[...] para crianças pobres a guetificação nos seus locais de moradia restringe duramente seu acesso aos equipamentos de lazer e cultura da cidade que estão concentrados nas áreas mais ricas da cidade (2004, p.72).

A idealizadora encaminha outra situação ainda mais precária: “eu também

percebi que eles não conheciam os espaços culturais da própria comunidade”.

Mesmo o Sesc-Tijuca, que oferece várias atividades gratuitas e que se localiza

próximo as comunidades é visitado relativamente pouco pelos jovens72.

Como podemos perceber no decorrer deste capítulo, e reiterado por Melo, em

entrevista concedida ao observatório jovem, o problema não é somente espacial e

nem exclusivamente econômico:

Essa é uma questão bastante séria, que mesmo os projetos ditos sociais não dão conta de se constituírem como pólos de mediação e animação cultural. Eles não dão conta da idéia de formação de público ativo que possa percorrer os espaços da cidade, reivindicar a cidade como sua e entender que o direito ao lazer é um direito tão importante quanto qualquer outro direito. Nem mais nem menos. Tão importante quanto. Então, tem uma questão aí que me parece mais frugal, que poderia ser atacada imediatamente, que é a questão do desenvolvimento de iniciativas de educação para o lazer, para as manifestações culturais (2007, p. 3).

70 Região na qual residem 654.571 habitantes e organizam-se em 17 bairros (e favelas): Bonsucesso, Brás de Pina, Cordovil, Del Castilho, Engenho da Rainha, Higienópolis, Inhaúma, Jardim América, Manguinhos, Maria da Graça, Olaria, Parada de Lucas, Ramos, Tomás Coelho e Vigário Geral, Complexo do Alemão e Maré (COLEÇÃO ESTUDOS DA CIDADE, 2003). 71 Isto é reforçado pela idealizadora: “Comecei a pesquisar quantas pessoas já tinham andado de metrô aqui no bairro [Ramos]; 85% nunca estiveram no metrô e isso começou a me chamar a atenção. E qual era o movimento dessa comunidade? Eu percebi que os jovens só andavam para Penha, Olaria, Ramos e Bom Sucesso; praia, só o piscinão de Ramos”. 72 Dos sete jovens, dois “não” utilizam os espaços da referida unidade, três “de vez em quando”, e os outros “raramente”. Soma-se a isso o fato de que uma das profissionais envolvida com a organização teve extrema dificuldade em conseguir reunir na unidade sete dos 21 jovens para serem entrevistados na pesquisa.

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Esta idéia propagada pelo autor contribuiria para “explodir” os simbólicos e

concretos muros que dividem a comunidade do qual fazem parte os jovens dos

lugares visitados no TJC e dos vários equipamentos de lazer da cidade.

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4 CONCLUSÃO

[..]o próprio campo do lazer é um objeto de conhecimento novo que hoje se oferece sinalizando toda sua complexidade enquanto expressão das tensões, diálogos e encontros culturais que ocorrem na cidade pós-moderna em processo de culturalização. O lazer hoje é do ponto de vista político, um direito do cidadão que, cada vez mais, reivindica seu direito à cidade e ao lazer qualificado (HOLLANDA, 2004, p. 14).

Ao longo da discussão dos resultados no capítulo três, algumas conclusões já

foram apresentadas a respeito das estratégias de mediação que integram o TJC e

como elas são apropriadas e ressignificadas tanto pelos profissionais, como pelos

jovens que participaram do projeto.

No nosso entendimento, esta Conclusão não deve se configurar como um

“resumo” ou uma “repetição” dos principais assuntos da dissertação, e sim como

uma oportunidade de “retomar” pontos especiais do trabalho, ressaltando os

aspectos positivos e apontando caminhos e sugestões referentes ao estudo de

caso. As propostas não pretendem incorporar o sentido restrito de uma “cartilha” de

procedimentos, e sim o objetivo de assinalar idéias – e diferentes maneiras de se

pensar o TJC – que certamente podem gerar reflexões e ações profícuas. A crítica

surge neste contexto com a intenção de agregar, de contribuir para o crescimento

qualitativo do projeto.

Hollanda ilustra uma configuração de intelectuais norteados pelos estudos

culturais, os quais defendem um

[...] projeto de intervenção acadêmica, de mediação entre a produção de conhecimento e as demandas da sociedade civil. De uma intervenção intelectual na academia que procura testar ao máximo suas fronteiras habituais, sejam elas disciplinares, teóricas ou geopolíticas no sentido de abrir novos espaços para a intervenção política e social. [...] Ou seja, incorporando uma função intelectual eminentemente pós-moderna: a do mediador, a do articulador (2004, p. 12, 13, ênfase minha).

Em outras palavras, a racionalidade científica “deve” estender e permutar

conhecimento às realidades e demandas sociais. Essa questão é problematizada no

depoimento de uma das profissionais sobre as contribuições concretas que o projeto

trouxera para ela:

[...] o que você aprende na faculdade quando você estuda às vezes não diz respeito à realidade mesmo da coisa dos moradores de favelas, o que eles sentem e sofrem e para mim foi bom pessoalmente, porque eu tive a experiência que eu acho que pouquíssimos sociólogos têm, que eu acho essa

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profissão muito na estratosfera, muito na pesquisa, muito no superficial e não na prática.

Não podemos deixar de destacar uma contradição em sua fala. De fato, a

formação teórica é deficiente em muitos aspectos, no entanto, não podemos cair nas

armadinhas da linearidade, colocando em campos opostos teoria/pesquisa e

realidade/prática. A pesquisa não tem o propósito de simplesmente aplicar a teoria,

mas sim o intuito de implicá-la, apontando as suas complexidades e incoerências.

No decorrer do estudo, podemos perceber que os profissionais envolvidos

direta ou indiretamente com o TJC apresentam uma visão restrita de lazer, o que dá

início a primeira proposta: se o projeto envolve fundamentalmente uma experiência

de lazer, os profissionais responsáveis pela mediação precisam estudá-lo, pesquisá-

lo, debatê-lo, reconhecer suas nuanças, desdobramentos, transformações,

determinações, tensões e (im)possibilidades. Esse conhecimento é crucial para que

o TJC, que contêm princípios pedagógicos amplos, não seja subaproveitado em

decorrência de posturas/atitudes que contradizem seus objetivos.

Seria conveniente que esses profissionais percebessem que, no lazer

proporcionado aos jovens do projeto, estão embutidos aspectos que caracterizam

uma experiência turístico-urbana moderna, por isso, recheada de um sentimento de

proximidade distante produzido por ela, apresentando como teor fundamental a

heterogeneidade entre estilos de vida e visões de mundo que convivem e se

intercruzam (FACINA, 2001, p. 91).

Analisar algumas das regras e signos que afastam determinados espaços

desses jovens seria vantajoso para se pensar a mediação. Alguns códigos já são

preexistentes ao próprio espaço/equipamento, estão historicamente e culturalmente

arraigados à erudição e a seletivos grupos que os dominam. Pode ser interessante

dialogar sobre estas linguagens e suas entrelinhas, tentando contextualizar o valor e

a significação de cada um desses mecanismos, ao invés de reforçá-los e replicá-los

impensadamente. Diante disso, compreendemos os profissionais como mediadores

entre “dois ou mais mundos”, propiciando o contato e a interação entre diferentes

sujeitos culturais.

Os jovens igualmente se transformam em mediadores em suas comunidades

pela oportunidade de conhecer novos lugares, a qual, possivelmente, ninguém ao

seu redor teve, tem e, talvez, terá. As entrevistas realizadas com eles revelam que o

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máximo que conseguem é se tornarem narradores em/de seus meios. Não obtêm

êxito em multiplicar sua experiência em novas oportunidades, nem para si, nem

para os outros. Entre o incentivo e a possibilidade há uma grande “distância”,

espacial, econômica e simbólica, algo já discutido neste estudo.

Podemos concluir então que o TJC parece-lhes um sonho, bem retratado por

um dos guias, que atesta a necessidade de continuidade, “não só naquele sonho de

que dentro de um mês eles vão passear, conhecer lugares, oportunidades novas,

mas que daqui a um mês vão voltar para a realidade cruel deles”. Talvez os jovens

assimilem assim por não conseguirem avistar a real possibilidade daquilo integrar

sua vida, suas escolhas.

O que poderia ser feito para modificar esta condição? Peres e Melo

esclarecem que:

[...] não se trata somente de levar o povo da periferia para consumir a cultura do centro, mas levar a cultura do centro à periferia também. Depois, porque também se trata de romper qualquer fronteira artificial que exista entre a cultura da periferia e a do centro. Os indivíduos precisam se entender enquanto produtores de cultura entendendo-a a partir de uma visão de circularidade e influências múltiplas. Logo, a cultura da periferia também tem que chegar ao centro (2004, p. 24).

Já a guia menciona a continuidade como uma chance de mudar este

retrospecto, proporcionada através de benfazejas articulações estruturadas com

outros projetos, sejam do Sistema S73, seja com as ONG’s.

De acordo com o documento escrito, buscam-se jovens de associações que

já realizam trabalhos com os mesmos. Entretanto, não há quaisquer conexões

pedagógicas entre elas e o Sesc.

Na opinião de um dos técnicos do Sesc, a utilização de jovens oriundos de

uma determinada ONG traz benefícios para ambos. A ONG faz uma triagem

preliminar de jovens comportados, que, a princípio, não causarão “problemas” para o

projeto nem para os profissionais. Por outro lado, o Sesc oferece sua chancela para

uso da ONG, que a inclui em seu site e outros instrumentos propagandísticos,

73 O “Sistema S é o conjunto de organizações das entidades corporativas dos empresariais voltadas para o treinamento profissional, assistência social, consultoria, pesquisa e assistência técnica, que além de terem em comum seu nome iniciado com a letra S, têm raízes comuns e características organizacionais similares” (GOMES, 2005, p. 1). Além do Sesc, existem o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial); Sesi (Serviço Social da Indústria); Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial); Sest (Serviço Social dos transportes); e Senat (Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte).

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vinculando (e divulgando) sua imagem a instituição. Além disso, de acordo com uma

das profissionais, o Sesc chama ou indica os jovens em algumas outras

atividades/projetos/ações realizadas pela própria Instituição envolvendo a juventude.

Com isso, acreditamos que o Sesc cumpre sua função de oferecer

oportunidades. Contudo, ele não deveria se restringir a ampliação dos projetos

quantitativamente, mas aperfeiçoá-los com a contribuição de uma melhor

compreensão de mediação. Uma mediação a qual os sujeitos possam vislumbrar

outras possibilidades culturais e busquem-nas, se quiserem e quando bem

entenderem, estendendo-as para a sua rede de relações primárias como reais

multiplicadores. É por isso que devemos enfatizar

[...] a capacidade dos mediadores, uns mais do que outros, de fazer pontes entre realidades distintas no meio urbano, constituindo um processo que, ao mesmo tempo em que contempla histórias de sucesso, também pode resultar em fracassos quando não há o estabelecimento de pontes e canais de comunicação ou estes são frágeis e efêmeros (RUFINO, 2006, p. 262).

Neste sentido, qual é o papel do mediador na relação jovens/espaços

turísticos, jovens/pessoas e jovens/informação? Tentar influenciá-los o menos

possível, deixando-os mais a vontade para compartilhar emoções, experiências,

curiosidades e dúvidas. No caso destas últimas, se o mediador souber a resposta,

pode compartilhar com o jovem seu conhecimento, sempre explicando a fonte e

como obteve este dado; elaborando assim, metalinguisticamente a estética da

informação, proporcionando aos jovens suas nuanças e a possibilidade de

acessarem, selecionarem e endereçarem as informações que desejarem (e

apagarem as que não quiserem).

Para Rufino,

não se trata de opor a comunicação verbal a uma comunicação não-verbal, pois a comunicação é um todo integrado como uma orquestra onde “cada indivíduo participa da comunicação, mais do que é a sua origem ou ponto de chegada” (WINKIN, 1998, p. 33), trata-se, ao fim, de um modelo orquestral de comunicação em oposição a um modelo telegráfico (2006, p. 264).

Em outras palavras, não é negar a informação, mas trabalhar com ela, torná-la

experienciável, respeitando as características do momento e as especificidades do

lazer, visto como um leque de possibilidades para se escolher o que deseja.

Percebemos aí analogias com a animação cultural, compreendida por Melo como

uma proposta de “educação que, ao buscar quebrar uma certa unilateralidade no

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processo de comunicação, parte do princípio da deseducação, da desestabilização”

(2006, p. 44).

Neste sentido, a mediação no TJC deve ser elaborada em todas as suas

possíveis dimensões, desde a estratégia pensada e preparada coletivamente,

introduzindo metodologias pedagógicas maleáveis e orgânicas, até o convite aos

jovens para participarem de todo o processo de construção do projeto: quais lugares

visitar; como conduzir; arquitetar, orientado pelos profissionais, a parte

organizacional e de logística do projeto; e escolher onde e como será a exposição

fotográfica.

Neste ponto, a idéia de trajetos estabelecidos pelos próprios jovens, trazendo

seu olhar e sua peculiaridade na abordagem dos espaços visitados, está presente

no discurso da idealizadora como uma meta:

Na verdade, a minha idéia era até ir além, cada jovem desses iria escolher mais três amigos, que não tiveram passagem pelo projeto, a gente ia fazer uma parceria com o Transporte Coletivo e ele iria idealizar o planejamento para mais três, para servir de multiplicador e protagonista de fato, então, repassar o conhecimento, a idéia é essa, quem conhece alguma coisa e não transfere não tem sentido, significado nenhum (ênfase minha).

Repensando esta proposta, achamos que os jovens, além de serem

planejadores de roteiros e condutores, poderiam também construir coletivamente

um guia turístico, com suas visões particulares da cidade, desenvolvendo outras

formas de expressão, que, segundo Celso Castro “‘cristalizam’ as narrativas e

imagens do turismo em um determinado momento [...] entre visões distintas a

respeito daquilo que deve ser experimentado, e de que modo” (1999, p. 81).

Ao analisarmos a maneira como a exposição de fotos é enfatizada pelos

profissionais, avistamos nela algumas alegorias de espetacularização74. Um dos

fatores que fazem quase todos os profissionais enxergarem-na como o elemento

mais importante do TJC está presente em suas falas, na intenção de “mostrarem”

para a comunidade, para os familiares dos “alunos” a manchete: “olha, este foi o

produto gerado pelo projeto!”. Não é somente o produto final que torna o TJC

relevante. Portanto, não deve recair sobre o resultado o questionamento do mérito

do projeto.

74 Retomando um questionamento no final do subcapítulo 2.3.

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No entanto, concordamos com dois dos profissionais que afirmam que para o

jovem, ter uma foto sua em uma exposição é importante para que ele se veja como

produtor, um sujeito que pode decidir e realizar. É, muitas vezes, a chance desse

jovem se experimentar como alguém que tem capacidade de produzir coisas belas e

de surpreender a si e aos seus “chegados”. Construir algo que o representa - seu

sentimento, aquilo que ele vivenciou - pode ser um impulso inicial para se entender

como cidadão. Entre suas argumentações acerca da cidadania juvenil, Mary Garcia

Castro afirma que esta “refere-se ao que é próprio de uma geração (no tempo e em

ciclo etário). A cidadania plena é tida como um vir a ser hipotético, cabendo aos

jovens lutar para sua realização” (2001, p. 496). Para tal, o jovem precisa se achar

capaz de buscar suas próprias escolhas.

Sobre essa conjuntura pronunciada até aqui, uma análise desta mesma

autora merece destaque:

Em diversas experiências com jovens em que se focalizam temas da cidadania, é comum a preocupação de não apenas oferecer conhecimento sobre cidadania civil e direitos legais, ou cidadania social e direito aos bens sociais, mas também investir em cidadania cultural, no direito ao acesso a bens culturais, no direito a ser sujeito, criador de cultura e no direito à diferença (2001, p. 511, ênfase minha).

Ou seja, ser cidadão, na perspectiva da igualdade de condições75, mas no

direito a ser diferente. Por isso, em uma mediação que transita entre códigos

distintos, é crucial que as diferenças co-existam; deve-se trabalhar com elas, e não

negá-las, objetivando deflagrar somente as que propiciem injustiças e desigualdades

sociais.

Não achamos que o lazer tem de ser usado unicamente e linearmente para

conscientização da condição de exclusão estrutural. Ao mesmo tempo não podemos

tentar maquiar a situação vivida pelos jovens do TJC, que é latente. É preciso

buscar um equilíbrio, em uma mediação que se abra para o diálogo e dê estímulo a

aproximação a diferentes linguagens e manifestações (conformações) culturais.

Pelas suas características constitutivas, os momentos de lazer podem germinar a

consciência da falta de acesso, e quiçá a vontade de mudar a situação que eles

quiserem e desejarem, como cidadãos de fato, buscando seus direitos na medida de

suas conquistas. 75 “Cidadania é um conceito cujas origens vêm da antiguidade Grega, indicando uma relação entre iguais e com o poder” (MINAYO et al, 1999, p.191).

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É curioso que os profissionais enxergam como a grande contribuição do

TJC a conquista do jovem que arrumou um emprego. Quanto a isso, perguntamos: e

os objetivos principais do projeto, foram alcançados? Como está o lazer dos jovens?

O que eles têm feito, descoberto no/com o lazer? A resposta já foi dada pelos

próprios, o que nos faz concluir que a educação pelo lazer está contemplada; o que

não está bem desenvolvida e explicada é a educação para o lazer - ou a “cidadania

cultural” - o que, no caso deles, significa manter as restritas opções.

Ao alargarem suas possibilidades de lazer no variado espaço da cidade e

nas diferenças culturais que nela brotam, eles teriam a chance de percebê-la como

campo de construção da sua identidade e das relações humanas que a permeiam. O

jovem, ao encarar a cidade como “sua”, envolvendo aí os

espaços/opções/manifestações de lazer, teria o “poder” - no sentido de possibilidade

e de apropriação de mecanismos de decisão - de descobrir e se descobrir na

experiência que deseja. Diante disso, argüimos se em algum momento da sua vida

ele poderá chamar algo que foi bastante restringido de “seu”?

Por isso, amparados por Hannah Arendt (1954), ao sintetizar a cidadania em

uma concepção mais abrangente e contemporânea como “o direito a ter direitos”, o

projeto deveria ter como premissas, tornar esta possibilidade real.

Depois de todo o conteúdo discutido e reelaborado nesta dissertação,

acreditamos que o TJC pode e deve se tornar um importante aliado no

enfrentamento destas questões.

É importante ressaltar que, nenhuma destas sugestões, propostas ou críticas

comprometem a qualidade e a originalidade da proposta que, por tudo que já foi dito,

encarna perfeitamente o papel histórico que o Sesc de modo geral vem

desempenhando para com as atividades de lazer e turismo de forma mais ampla.

Uma iniciativa que estimule jovens oriundos de comunidades de baixa renda a

(re)conhecerem novos espaços/equipamentos de lazer na cidade em que vivem é

algo louvável.

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APÊNDICES

APÊNDICE A (Modelo de Anuência Institucional)76

FOLHA DE ESCLARECIMENTOS – TERMO DE ANUÊNCIA INSTITUCIONAL PARA PARTICIPAÇÃO EM PESQUISA

Via para arquivo/ Colegiado do Mestrado em Lazer – EEFFTO-UFMG

Prezado representante legal do Serviço Social do Comércio do Rio de Janeiro,

O Mestrado em Lazer da Universidade Federal de Minas Gerais está realizando uma pesquisa sobre o tema Lazer, turismo e animação cultural com o objetivo de investigar as estratégias de mediação que integram um projeto desenvolvido junto a jovens. Selecionamos o Projeto Turismo Jovem Cidadão (PTJC) para aprofundar o tema e necessitamos da anuência institucional do SESC para que isso seja possível. Em síntese, esta pesquisa propõe um repensar sobre a participação de jovens em uma proposta que permite articulações entre o lazer, o turismo e a animação cultural e na qual essas questões podem ser consideradas.

A coleta de dados da pesquisa será desenvolvida através de observação participante durante as oficinas e visitas desenvolvidas pelo SESC Tijuca nos meses de abril e maio de 2009, e por meio de entrevistas com alguns profissionais (voluntários) que concordarem com o termo de consentimento, e jovens (voluntários) que tiverem o assentimento de seus responsáveis. Os dados obtidos serão utilizados especificamente para esta pesquisa, sendo que a identidade dos voluntários não será revelada publicamente.

Esclarecemos que a pesquisa não envolve riscos para os voluntários, que não haverá remuneração financeira e nem benefícios de qualquer natureza para essa participação e que todas as despesas relacionadas a este estudo serão arcadas pelos responsáveis pela investigação no âmbito da UFMG. A coleta de dados da pesquisa só será iniciada após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG. O SESC-RJ estará livre em qualquer fase da pesquisa para se recusar a participar ou para retirar sua anuência, sem prejuízos adicionais para o mesmo.

Qualquer dúvida, favor entrar em contato através do e-mail [email protected] e telefone (0xx21) 3604-9443 ou através do Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (COEP), localizado na Av. Antônio Carlos, 6627 - Unidade Administrativa II, 2º Andar, sala 2005 - telefone (0xx31) 3409-4592.

Antecipamos agradecimentos,

Bernardo Lazary Cheibub – Mestrando Professora Dra. Christianne Luce Gomes - Orientadora da pesquisa Professor Dr. Victor Andrade de Melo – Co-orientador da pesquisa

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Eu, Rafael Sanches Neto, representante legal do Serviço Social do Comércio do Rio de Janeiro, estou ciente da pesquisa sobre o tema Lazer, turismo e animação cultural, realizada por pesquisadores do Mestrado em Lazer – Interdisciplinar - da Universidade Federal de Minas Gerais, e concedo a anuência formal para a coleta de dados (entrevista e observação) junto ao Projeto Turismo Jovem Cidadão (PTJC) promovido pela instituição referida acima, sem que o SESC assuma qualquer ônus ou responsabilidade.

Quanto à participação do SESC na pesquisa, solicito que: ( ) A identidade do SESC seja revelada na pesquisa. ( ) A identidade do SESC não seja revelada na pesquisa.

BELO HORIZONTE/RIO DE JANEIRO, de de 2009

__________________________________________________________________

Assinatura

76 Duas vias da Anuência assinadas estão de posse dos pesquisadores e do COEP/UFMG.

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APÊNDICE B (Modelo de TCLE – Jovem participante)77

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA VOLUNTÁRIOS (JOVEM PARTICIPANTE)

Via para arquivo/ Colegiado do Mestrado em Lazer – EEFFTO-UFMG

O Mestrado em Lazer da Universidade Federal de Minas Gerais está realizando uma

pesquisa sobre o tema Lazer, experiência turística e cidadania com o objetivo de investigar as estratégias de mediação que integram um projeto desenvolvido junto a jovens. Selecionamos o projeto Turismo Jovem Cidadão (TJC) para aprofundar o tema. Para que isso seja possível, gostaríamos de convidá-lo para participar como voluntário da pesquisa, que propõe um repensar sobre a experiência turística de jovens e como eles percebem as mediações ocorridas durante as visitas.

A coleta de dados da pesquisa será desenvolvida no Sesc Tijuca durante o mês de abril 2009, por meio de entrevistas com alguns jovens (voluntários) que concordarem com o termo de consentimento, ou que tiverem o assentimento de seus responsáveis. Os dados obtidos serão utilizados especificamente para esta pesquisa, sendo que a identidade dos voluntários não será revelada publicamente.

Esclarecemos que a pesquisa não envolve riscos para os voluntários, que não haverá remuneração financeira e nem benefícios de qualquer natureza para essa participação e que todas as despesas relacionadas a este estudo serão arcadas pelos responsáveis pela investigação no âmbito da UFMG.

Qualquer dúvida, favor entrar em contato através do e-mail [email protected] e telefone (0xx21) 3604-9443 ou através do Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (COEP), localizado na Av. Antônio Carlos, 6627 - Unidade Administrativa II, 2º Andar, sala 2005 - telefone (0xx31) 3409-4592.

Desde já, agradecemos pela compreensão e voluntariedade,

Bernardo Lazary Cheibub – Mestrando Professor Dr. Victor Andrade de Melo – Orientador da pesquisa

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Eu,___________________________________________________________________, voluntário (jovem participante); aceito participar da pesquisa intitulada: LAZER, EXPERIÊNCIA TURÍSTICA E CIDADANIA: UMA ANÁLISE DAS MEDIAÇÕES NO PROJETO TURISMO JOVEM CIDADÃO (SESC-RJ), realizada no Sesc Tijuca, por pesquisadores do Mestrado em Lazer – Interdisciplinar – da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, da Universidade Federal de Minas Gerais. Portanto, concordo com tudo o que foi acima citado e livremente dou o meu consentimento para realização da coleta de dados ciente da concordância do Serviço Social do Comércio. Rio de Janeiro,___ de ________________ de 2009 ____________________________________ Assinatura do jovem participante

77 Assinado em duas vias: uma para o jovem e a outra está em posse dos pesquisadores.

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APÊNDICE C (Modelo de TCLE – Profissional)78

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA VOLUNTÁRIOS (PROFISSIONAL) Via para arquivo/ Colegiado do Mestrado em Lazer – EEFFTO-UFMG

O Mestrado em Lazer da Universidade Federal de Minas Gerais está realizando uma pesquisa sobre o tema Lazer, experiência turística e cidadania com o objetivo de investigar as estratégias de mediação que integram um projeto desenvolvido junto a jovens. Selecionamos o projeto Turismo Jovem Cidadão (TJC) para aprofundar o tema. Para que isso seja possível, gostaríamos de convidá-lo para participar como voluntário da pesquisa, que propõe um repensar sobre a experiência turística de jovens e como eles percebem as mediações ocorridas durante as visitas.

A coleta de dados da pesquisa será desenvolvida no Sesc Tijuca durante o mês de abril de 2009, por meio de entrevistas com alguns profissionais (planejadores e executores) que concordarem com o termo de consentimento livre e esclarecido. Os dados obtidos serão utilizados especificamente para esta pesquisa, sendo que a identidade dos voluntários não será revelada publicamente.

Esclarecemos que a pesquisa não envolve riscos para os voluntários, que não haverá remuneração financeira e nem benefícios de qualquer natureza para essa participação e que todas as despesas relacionadas a este estudo serão arcadas pelos responsáveis pela investigação no âmbito da UFMG.

Qualquer dúvida, favor entrar em contato através do e-mail [email protected] e telefone (0xx21) 3604-9443 ou através do Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (COEP), localizado na Av. Antônio Carlos, 6627 - Unidade Administrativa II, 2º Andar, sala 2005 - telefone (0xx31) 3409-4592.

Desde já, agradecemos pela compreensão e voluntariedade,

Bernardo Lazary Cheibub – Mestrando Professor Dr. Victor Andrade de Melo – Orientador da pesquisa

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Eu,___________________________________________________________________, voluntário (profissional); aceito participar da pesquisa intitulada: LAZER, EXPERIÊNCIA TURÍSTICA E CIDADANIA: UMA ANÁLISE DAS MEDIAÇÕES NO PROJETO TURISMO JOVEM CIDADÃO (SESC-RJ), realizada no Sesc Tijuca, por pesquisadores do Mestrado em Lazer – Interdisciplinar – da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, da Universidade Federal de Minas Gerais. Portanto, concordo com tudo o que foi acima citado e livremente dou o meu consentimento para realização da coleta de dados ciente da concordância do Serviço Social do Comércio. Rio de Janeiro,___ de ________________ de 2009

____________________________________ Assinatura do profissional voluntário

78 Assinado em duas vias: uma para o profissional e a outra está em posse dos pesquisadores.

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APÊNDICE D (Roteiro de entrevistas)

ROTEIRO PROVISÓRIO DE ENTREVISTAS SEMI-ESTRUTURADAS - Questões centrais para os profissionais envolvidos com o TJC: IDEALIZADORA DO PROJETO GERAIS:

- Nome; cargo, função; - Como surgiu a idéia do TJC? - Com que intuito a proposta do TJC foi concebida e planejada? - Como foi o processo de idealização do projeto, sua formulação enquanto

plano, até sua execução? Foi você que elaborou os documentos escritos (mostrar os dois documentos: 2003 e 2004)

- Você teve que defender o projeto, falar de sua importância para a diretoria do SESC? Como foi?

VISÃO DE LAZER:

- Qual o seu entendimento de lazer? - Qual a relevância do lazer? E especificamente para os jovens do TJC? - Como você percebe a articulação da educação com as vivências de lazer?

VISÃO DE TURISMO:

- Qual o seu entendimento de turismo? - Qual a sua concepção de turismo social? E sua opinião sobre os projetos envolvendo-o? - Qual a relevância do turismo? E especificamente para os jovens do TJC? - Como você qualifica a experiência do jovem no TJC? É lazer, turismo, ou alguma outra categoria?

VISÃO DE MEDIAÇÃO:

- Existem estratégias educacionais/pedagógicas empregadas no TJC? Se

sim, quais? - Qual a relevância dessas estratégias no TJC? - O TJC comporta modificações no bojo do processo?

- Você já foi a campo, já acompanhou as visitas do TJC? Se sim: Como você percebe os jovens se apropriando e ressignificando as experiências proporcionadas pelo TJC? - Qual o papel das explanações acerca da dinâmica de trabalho dos

profissionais envolvidos no TJC? - Qual a importância das esquetes no decorrer das visitas?

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- Qual a relevância do registro fotográfico realizado pelos jovens durante as visitas?

- Qual o elemento mais relevante no TJC, em sua opinião?

CONTRIBUIÇÕES EFETIVAS PARA OS ENVOLVIDOS

- O que você acha que os jovens buscam no TJC? Quais são suas expectativas em relação ao projeto? - Os jovens voltam a freqüentar os lugares visitados? - Os jovens passaram a visitar outros lugares depois do TJC? Passaram a buscar outras práticas de lazer (além do turismo), depois do TJC? - Vocês mantém contato periódico com os jovens? - Você acha que o TJC estimula os jovens a se tornarem multiplicadores do conhecimento e das vivências que realizaram, compartilhando com as pessoas que o cercam as experiências e as novas possibilidades? - Que contribuições concretas o TJC trouxe para os jovens? - Que contribuições concretas o TJC trouxe para você?

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- Questões centrais para os profissionais envolvidos com o TJC: OS GUIAS DE TURISMO CONTRATADOS PELO SESC GERAIS:

- Nome; cargo, função (tem alguma função no Sesc ou foi contratado especificamente para o TJC?); formação (graduação, pós, etc.)

- Como foi o processo seletivo de sua contratação?

VISÃO DE LAZER:

- Qual o seu entendimento de lazer? - Qual a relevância do lazer? E especificamente para os jovens do TJC? - Como você percebe a articulação da educação com as vivências de lazer?

VISÃO DE TURISMO:

- Qual o seu entendimento de turismo? - Qual a sua concepção de turismo social? E sua opinião sobre os projetos envolvendo-o? - Qual a relevância do turismo? E especificamente para os jovens do TJC? - Como você qualifica a experiência do jovem no TJC? É lazer, turismo, ou alguma outra categoria?

VISÃO DE MEDIAÇÃO:

- Existem estratégias educacionais/pedagógicas empregadas no TJC? Se sim, quais?

- Qual a relevância dessas estratégias no TJC? - O TJC comporta modificações/alterações no bojo do processo? - Qual o conteúdo das informações passadas para o jovem no decorrer do TJC? (- Existiram coisas que não deram certo em anos anteriores que te fizeram melhorar/modificar em 2008 (aprendendo com possíveis equívocos)? Tem um exemplo concreto?) - Como você percebe os jovens se apropriando e ressignificando as

experiências proporcionadas pelo TJC? - Qual o papel das explanações acerca da dinâmica de trabalho dos

profissionais envolvidos no TJC? - Qual a importância das esquetes no decorrer das visitas? - Qual a relevância do registro fotográfico realizado pelos jovens durante as

visitas? - Qual o elemento mais relevante no TJC, em sua opinião? - Em que situações durante as visitas você sentiu que sua intervenção

gerou resultado para os jovens? Você acha que foi prazeroso para os jovens?

- Como é construído e nutrido o diálogo com os jovens?

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CONTRIBUIÇÕES EFETIVAS PARA OS ENVOLVIDOS

- O que você acha que os jovens buscam no TJC? Quais são suas expectativas em relação ao projeto? - Os jovens voltam a freqüentar os lugares visitados? - Os jovens passaram a visitar outros lugares depois do TJC? Passaram a buscar outras práticas de lazer,(além do turismo) depois do TJC? - Vocês (o Sesc) mantém contato periódico com os jovens? - Você acha que o TJC estimula os jovens a se tornarem multiplicadores do conhecimento e das vivências que realizaram, compartilhando com as pessoas que o cercam as experiências e as novas possibilidades? - Que contribuições concretas o TJC trouxe para os jovens? - Que contribuições concretas o TJC trouxe para você?

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- Questões centrais para os profissionais envolvidos com o TJC – TÉCNICOS DO SESC (SETORES: TURISMO E PROJETOS COMUNITÁRIOS) GERAIS:

- Para técnica do Turismo Social: Confirmar as categorias e especificar cada: comerciário, usuário,...

- Nome; cargo, função; formação (graduação, pós, etc.)

- Para técnica do Turismo Social: -Quantos jovens participaram do TJC?

Quais foram as comunidades atendidas? São próximas do Sesc Tijuca? – Você poderia falar resumidamente de todas as etapas por quais passou o TJC em 2008? Como são realizadas estas etapas de organização do TJC (montagem, infra-estrutura, contratação, contatos, etc.)? (- Porque houve esta mudança em 2008 em relação aos outros anos? Qual a diferença? (para melhor ou para pior?))

- Para técnica de Projetos Comunitários: - Qual o nome real do setor?

- Quais são suas atribuições neste processo (ou no TJC)? (para as duas)

- Para técnica do Turismo Social: (- Destes locais, quais vocês utilizaram o Guia específica do atrativo?) - Depois de 12 de setembro (oficina de pintura), ocorreram quais atividades com os jovens (e em quais datas)?- A exposição também ocorreu na comunidade?

- Para técnica de Projetos Comunitários: - Estes jovens estão associados a Ong´s, Centros/órgão de assistência municipal/associações - Qual a intenção das Ong´s/Centros municipais de assistência social/associações envolvidos em se inserirem no projeto?)

VISÃO DE LAZER:

- Qual o seu entendimento de lazer? - Qual a relevância do lazer? E especificamente para os jovens do TJC? - Como você percebe a articulação da educação com as vivências de lazer?

VISÃO DE TURISMO:

- Qual o seu entendimento de turismo? - Qual a sua concepção de turismo social? E sua opinião sobre os projetos envolvendo-o? - Qual a relevância do turismo? E especificamente para os jovens do TJC? - Como você qualifica a experiência do jovem no TJC? É lazer, turismo, ou alguma outra categoria?

VISÃO DE MEDIAÇÃO:

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- Existem estratégias educacionais/pedagógicas empregadas no TJC? Se

sim, quais? - Qual a relevância dessas estratégias no TJC? - O TJC comporta modificações no bojo do processo? (- Existiram coisas que não deram certo em anos anteriores que te fizeram melhorar/modificar em 2008 (aprendendo com possíveis equívocos)? Tem um exemplo concreto?) - Para técnica do Turismo Social: - Quais foram os critérios utilizados na

seleção dos jovens participantes de 2008? - Existe a articulação do TJC com outros projetos que envolvam os mesmos jovens? - Como você percebe os jovens se apropriando e ressignificando as

experiências proporcionadas pelo TJC? - Qual o papel das explanações acerca da dinâmica de trabalho dos

profissionais envolvidos no TJC? - Qual a importância das esquetes no decorrer das visitas? - Qual a relevância do registro fotográfico realizado pelos jovens durante as

visitas? - Qual o elemento mais relevante no TJC, em sua opinião? - Em que momento você sentiu que sua intervenção gerou resultado para os

jovens? Você acha que foi prazeroso para os jovens? - (Como é construído e nutrido o diálogo com os jovens?)

CONTRIBUIÇÕES EFETIVAS PARA OS ENVOLVIDOS

- O que você acha que os jovens buscam no TJC? Quais são suas expectativas em relação ao projeto? - Os jovens voltam a freqüentar os lugares visitados? - Os jovens passaram a visitar outros lugares depois do TJC? Passaram a buscar outras práticas de lazer (além do turismo), depois do TJC? - Vocês(o Sesc) mantém contato periódico com os jovens? - Você acha que o TJC estimula os jovens a se tornarem multiplicadores do conhecimento e das vivências que realizaram, compartilhando com as pessoas que o cercam as experiências e as novas possibilidades? - Que contribuições concretas o TJC trouxe para os jovens? - Que contribuições concretas o TJC trouxe para você? ( última para a técnica do turismo social: existe alguma modificação em vista para este ano (ou o próximo)? (E esta idéia deles (os jovens de 2008) serem condutores já para os próximos TJC´s?)

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- Questões centrais para os jovens participantes do TJC (7): GERAIS:

- Nome; comunidade, bairro; - Integrante de qual ONG / Associação de moradores

VISÃO DE LAZER:

- O que é lazer, em sua opinião? Você acha o lazer importante? Por quê?

Você considera como lazer o que você vivenciou no TJC? - Quais são suas práticas preferidas de lazer? Com que freqüência você as vivencia?

VISÃO DE TURISMO:

- O que é turismo, em sua opinião? Você acha o turismo importante? Por quê? Você considera como turismo o que você vivenciou no TJC?

- Qual é sua experiência anterior com o Turismo?

VISÃO DE MEDIAÇÃO: - Como foi o processo seletivo para participar do TJC? - Como foi para você participar do TJC? O que você mais gostou no TJC? E

o que você menos gostou no TJC? - O que você achou da atuação dos profissionais envolvidos no TJC? e

especificamente do Guia? - Você teve liberdade para perguntar e falar quando bem entendesse? - Onde você se sentiu mais a vontade (prazer) durante todo o TJC?(Nos

atrativos turísticos?Quais? No ônibus?) - Você se sentiu incomodado em alguma situação? Por quê?

CONTRIBUIÇÕES EFETIVAS PARA OS ENVOLVIDOS

- Quais eram suas expectativas em relação ao TJC? Elas foram satisfeitas durante e depois do projeto?

- Você acha que poderia ter acesso a estas experiências sem o Sesc? (Já teve vontade de conhecer alguns destes atrativos, mas por algum motivo, não pode? Qual atrativo? Qual o motivo?)

- Você voltou a freqüentar os lugares visitados? Com que freqüência? - Passou a visitar outros lugares depois do TJC? Passou a buscar outras

práticas de lazer (além do turismo), depois do TJC? Com que freqüência?

- Você já levou (incentivou) outras pessoas (familiares, amigos) aos lugares visitados no TJC ou outros lugares? - Sua vida mudou depois do TJC? Em que aspecto? (que contribuições o TJC te trouxe?)

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ANEXOS

ANEXO 1: A transcrição consolidada das entrevistas.79

ENTREVISTA COM PROFISSIONAL A A – Profissional A B - Bernardo B – Profissional A, me fala seu cargo e a sua função aqui no SESC, por favor. A – Eu sou gerente da unidade de Ramos. B – Teria alguma função de gerência? Uma função específica? Como é? A – Gerencial, minha função é gerenciar todos os projetos técnicos e administrativos da unidade, gerir isso, o gestor dessas duas áreas. B – Na época em que o Turismo Jovem Cidadão surgiu, qual era o seu cargo aqui na unidade? A – Eu era coordenadora técnica. B – Como surgiu a idéia do Turismo Jovem Cidadão, Profissional A? A – A idéia do Turismo Jovem Cidadão surgiu, na verdade, de um conflito, foi para resolver uma problemática. Na época eu analisando o planejamento do turismo comecei a perceber que esse turismo não era, não representava a comunidade local. Não era para esse cliente, para esse usuário daqui. A unidade de Ramos no seu entorno o complexo da Maré (inaudível) e não representava a comunidade que a gente atendia aqui na época. Era um turismo comercial, com parceiros, com um valor não acessível a essas pessoas e nem ao próprio comerciário. Porque o comerciário mora também nessas comunidades, então um valor muito alto, parcelado em sete, oito vezes e tinha carnê. E, na verdade, o trabalho do Sesc não é competir com as empresas de turismo, esse não é o papel. É dar acesso com um valor possível para a comunidade. Diante disso a problemática era o técnico, um turismólogo querendo fazer do Sesc uma agência de turismo, um espaço onde se fizesse uma agência de turismo, mas esquecendo algumas finalidades que é dar acesso, promover atividades com baixo custo, oferecer para essas pessoas o que realmente falta, o que é negado. E pensando nessas coisas comecei a entender melhor. Fiz uma reunião, aqui tem uma reunião que se chama Rede Comunitária. Comecei a pesquisar quantas pessoas já tinham andado de metrô aqui no bairro; 85% nunca estiveram no metrô e isso começou a me chamar a atenção. E qual era o movimento dessa comunidade. Eu percebi que os jovens só andavam para Penha, Olaria, Ramos e Bom Sucesso, praia, só o piscinão de Ramos: a minha mãe não deixa, eu posso ser agredido fora dessa circunferência, eu não tenho dinheiro para esse acesso. Se você vai à praia, se você quase não vai à praia, quando vai, passa duas horas e volta, é um gasto(ou desgaste) muito grande. E pontos turísticos ninguém, só ouvia falar o que era Cristo Redentor, não sabiam onde ficava, não tinha noção da geografia do Rio, que eu acho que é muito mais fácil, se você for

79 Feita por um profissional.

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pensar em São Paulo, nas grandes cidades, o litoral do Rio, eles não tem a mínima noção. Só existia para eles em seu universo aquela área da Leopoldina. E para isso, eu também percebi que eles não conheciam os espaços culturais da própria comunidade. Então se passassem pelo Cristo era um homem de braços abertos ou um símbolo religioso, mas não tinha a mínima noção da importância desse monumento, para eles aquilo não tinha, não nenhum, não pertencia, pertencia àquelas pessoas que moravam perto. Eu comecei a pensar de que forma eu poderia estar criando grupos, na época eram grupos de facções rivais, cada um, o complexo do Alemão tinha uma facção, Manguinhos outra, e Maré outra, e de que forma estar realizando um trabalho com esses jovens para que eles conhecessem profundamente alguns espaços (toca o celular) e depois pudessem se encontrar e confrontar, e ao mesmo tempo se tornarem protagonistas do projeto. Como? A gente usou a fotografia como registro fundamental que a gente poderia usar (ou juntar), manipulando uma máquina bem fácil, teria um fotografo para orientar, para ver qual o foco e a gente teve o grande (atende o celular e interrompe a gravação...). B – Como foi o processo de idealização do projeto, sua formulação enquanto plano, até sua execução? A – ...tive que sentar, eu avaliei quais eram os pontos de conflito que eram negados à comunidade, acesso, reconhecer quatro situações que a gente via que eram gritantes mesmo, que era reconhecer os espaços de preservação ambiental; não entendiam absolutamente nada o que era isso, nunca tinham ido a um parque, poder separar, o que é o Parque Chico Mendes, não tinha sentido nenhum para eles. Ter acesso aos meios de transporte disponíveis, que eram o trem, ônibus e o metrô, a barca, a outra, era os pontos turísticos do Rio de Janeiro e o Rio antigo, que é o centro da cidade, onde todos eles iriam percorrer ou agora ou no futuro, mas que não tinham a mínima noção porque ele era o centro da cidade, porque ele era o centro, as perguntas até que surgiam, por que ali era o centro se era tão perto mar? O centro eles imaginavam o centro como umbigo, um lugar que não tem mar, só tem terra. Então diante dessas perguntas que foram surgindo em conversas com o próprio público mesmo em assembléias, que eram curiosidades que a gente percebia, a gente dividiu esse público, e depois, como é que todos teriam acesso a esses quatro aspectos? À medida que eles iam conhecendo o espaço com um guia, iam de ônibus, e participando, eles iam fotografando o espaço. Ao final desse trabalho eles iriam trocar as fotos e cada grupo ia passar a sua experiência. Na verdade, a minha idéia era até ir além, cada jovem desses iria escolher mais três amigos, que não tiveram passagem pelo projeto, a gente ia fazer uma parceria com o Transporte Coletivo e ele iria idealizar o planejamento para mais três, para servir de multiplicador e protagonista de fato, então, repassar o conhecimento, a idéia é essa, quem conhece alguma coisa e não transfere não tem sentido, significado nenhum. O período de execução, que é um período cansativo, a gente imaginou que o primeiro grupo ficou completamente, no primeiro momento do projeto, mudo, e a gente tinha chamado ao mesmo tempo, a cada saída deles uma produção cultural ou uma estátua viva, ou um grupo de dança. Eles ficaram primeiro, maravilhados e completamente mudos, e a idéia não era essa, era criar uma expectativa, perguntas, a gente pudesse discutir o Rio de Janeiro, a cidade deles e foi quando a gente começou a entender que além disso eles deveriam fazer oficinas de discussão, o que você pensa disso, e começar a revelar e analisar as fotos. Eles começaram a dar nome às suas fotos e dizer por que tiraram aquelas fotos. Surgiram fotos das mais interessantes, tipo no centro do Rio um menino que tirou uma foto de um

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prédio antigo, um prédio moderno e no meio um mendigo, e aí ele disse tudo: a gente menospreza muito as pessoas de baixa renda, imagina que não tenham absolutamente visão nenhuma. Ele falou exatamente que situação política, social e econômica estava acontecendo e que ainda está acontecendo no Rio. Quer dizer, um prédio novo, aquilo que é antigo completamente depredado e o mendigo ali naquele espaço, chega a ser bonita a foto, e a pobreza. A partir dessas fotos e dessas saídas a gente começou a entender que eles sabiam até mais do que a gente imaginava, então a gente ia ter que explorar isso; eles não tinham o poder de comunicação verbal mas começaram a se expressar através da foto e a saída do turismo fez com que isso acontecesse. Ao final do projeto, o ponto de culminância, seria a exposição, para essa exposição se chamava várias pessoas, várias instituições para ver a exposição, eram escolhidas as fotos de cada participante, chamávamos um produtor cultural, esse produtor cultural organizava a exposição junto com os jovens depois de várias reuniões, de discutir a razão de ser do produto que eles estavam criando e uma problemática que era a diferença de facção. Uns que participavam moram em bairros do Comando Vermelho e se sentiam Comando Vermelho porque alguém dizia que eles eram do Comando Vermelho, mas eles não tinham prática nenhuma com o tráfico, e aqui eles começaram a interagir, a trabalhar. Ao final, eu fiz uma pergunta, onde cada um morava e a gente começou a discutir, e quantas vezes eles brigaram, se tiveram vontade de se matar, o que que aconteceu (ar de riso), eles já estavam super amigos e mostraram que houve a possibilidade nessas saídas de conhecer até no próprio bairro na zona da Leopoldina, pessoas que não iriam se encontrar, num mesmo projeto produzindo, protagonizando e chamando pessoas para conhecer o Rio de Janeiro, e de facções completamente diferentes. O trafico nada a ver, foi um movimento, o projeto foi um movimento foi agregador. B – Me deixa te perguntar, a pesquisa tem três órbitas de análise. Uma são as entrevistas com os profissionais, você idealizadora, os profissionais técnicos, os profissionais guias. Uma outra órbita são entrevistas com os jovens, a gente vai entrevistar os jovens que participaram de 2008, a experiência de 2008 na Tijuca, e a outra órbita é a análise de documento escrito do Projeto Turismo Jovem Cidadão. A técnica aqui do SESC de Ramos me entregou tanto o de 2003 quanto o de 2004. Foi você quem escreveu junto com ela o documento? A – Na verdade eu selecionei os cinco pontos, que já citei aqui, a gente sentou, agora a referência teórica, eu sentia muito, a gente queria primeiro experimentar e depois procurar a referência teórica para ver quem ia fundamentar a nossa prática. Na verdade a gente começa completamente diferente. Começa na teoria para ir para a prática, como é que transforma a teoria na prática e nós começamos a praticar para poder começar a procurar fundamentações teóricas. Eu acho que a gente procura até hoje e espero que a gente continue procurando. B – Ela até me falou que em 2003, no documento estava muito inicial, que estavam na fase de testes. A – Simples, foi o, B – Estou analisando o de 2004 que está mais denso. A – Era assim, bem fácil para a gente não se perder, focado, porque dentro do turismo se você deixar você vai entrando e ele vai abrangendo outras situações, porque você lida com as relações interpessoais, com a visão, ampliar a visão do

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outro parece uma coisa linda, até poética, mas ela leva a uma dimensão que você não tem como segurar, e mexe também com a expectativa do outro. Você também tem que ter sensibilidade para ver que a visão do outro é possível que seja extraordinária e que mesmo ele não tendo, nunca nenhum deles tinha máquina fotográfica, nenhum deles tinha acesso a celular com fotografia como agora todo mundo tem, nesse ano de 2003 ninguém tinha isso, raríssimos os jovens que tinham celulares. E não é tão simples para quem não tem essa habilidade cotidiana de manusear uma máquina simples, essa máquina que leva para revelar...; nós fizemos um espaço de revelação interna para eles experimentarem, porque parece mágico, você leva o aparelho, tira a bobinazinha, leva para um lugar e de repente aparecem aquelas fotos, como isso acontece? Mais que isso, eles foram até o lugar da revelação e revelaram as suas fotos. Tocaram, vai, levanta, fica no escuro, vê com a luz vermelha. Alguns achavam que era coisa de Deus, o criador foi botar uma foto assim. Os primeiros nomes das fotos eram assim, Deus, a criação de Deus. E eu nunca sabia entender, a criação de Deus é o que máquina fez, é a paisagem que estava ali? E muito me interessou quando eles começaram a se colocar na foto e aí sim, essa era a intenção, que eles se sentissem dentro daquele espaço. Cada objeto, cada espaço daqueles é deles, riqueza cultural, patrimônio cultural desses jovens, eles precisavam se apropriar. O primeiro projeto foi simples, direto, com cuidado para não mexer em alguma coisa que a gente não iria saber administrar, mas era um período experimental fundamental para a gente dar prosseguimento e abrir. E a gente sabia, brincava que estava colocando um ovo e não sabia o tamanho dele. Algumas pessoas ficaram muito curiosas na época : vocês estão fazendo isso, eles são agressivos? Como é? Quando eles vem à praia eles não pulam todos na água? A gente também tinham essa expectativa, tinha jovens em 2003 que nunca tinha ido a praia, e levar uma pessoa para ver a praia e não deixar tocar na água nem na areia; então houve toda uma preparação, desce na praia, toca na areia, e eles usaram o filme todo, tinha uma quantidade de área, todo, tirando fotos do mar, do mar, do mar, do mar e na revelação as fotos sumiram, foi uma coisa interessante, sumiram, eles começaram a distribuir para os amigos; “olha, eu fui ao mar”. Em 2003 uma situação dessa era impossível a gente imaginar. B - Você teve que defender o projeto, falar de sua importância para a diretoria do SESC? Se teve, como foi? A – Foi, na verdade, eu defendi primeiro eu tentei defender com o técnico, não sou tuirsmóloga, o técnico pensava no âmbito comercial e eu pensava no turismo social, no espaço que estava acontecendo, no tempo em que estava acontecendo, primeiro, por uma questão ética, é tentar negociar com o técnico, com faz, com quem elabora a programação. B – O técnico aqui da unidade? A – O técnico da unidade. O coordenador técnico, conversando com o técnico, umas doze reuniões e em cada reunião a gente levava e confrontava, e ele entendia na época que isso era, valorizava o pessoal de baixa renda, e eu comecei a ter que fazer a minha pesquisa também, todo mundo cresce com esse projeto, fui levantar a quantidade de pessoas que ganhavam até dois salários mínimos para provar para ele que número de pessoas que o SESC atende são pessoas de baixa renda mesmo e que não fazia o mínimo sentido esse turismo comercial. Ele era importante à medida que ensinava às pessoas como é que iria depois para uma agência, porque tem que ir lá, preencher uma ficha, tem todo um processo, é interessante

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que eles tenham acesso a isso também (toca o celular), mas de que forma tornaria esse projeto mais social no sentido de abranger a comunidade em que a unidade estava inserida. Depois de muito conversar com o técnico eu fui até a gerente de turismo, a Silvia Madureira e comecei a discutir com ela o projeto e ela ficou interessada, “Rosa, acho que é melhor a gente conversar de perto”. Então foram mais quatro reuniões e ela começou a entender e falou, gostei desse projeto e a gente pode ampliar e foi ampliando; e acho que foi por conta dela, da aproximação dela ao projeto que a gente (alguém entra na sala e interrompe a gravação)... E a Silvia, gerente de turismo social levou até o diretor. O diretor mandou me chamar e iniciamos uma conversa e eu fui apontando isso para ele. Nesse período já tinha realizado o primeiro em caráter experimental, e levei o resultado das fotos. Essas fotos transitaram, houve a exposição aqui que foi super divulgada e essas fotos também transitaram na comunidade onde esses jovens moravam: ficavam lá uma semana, eles fizeram convites, chamavam a comunidade toda, a gente fechava uma parceria com a escola, a gente cuidava para não ficar aquela exposição assim, já que é na escola pública vamos colocar numa cartolina. Não, vamos pintar a parede, vamos chamar o pessoal, o grupo de grafiteiros da área, a gente reunia outras pessoas que produziam coisas interessantes para dar uma ênfase àquela exposição, para não ficarem aquelas fotos esmirradas, uma coisa feia só porque era na comunidade. Essa sala da escola era uma sala super visitada e importante na época; não tinha buraco na parede, era super limpa, a gente falava com os meninos para fazer a faxina do lugar, tinha incenso no canto para ficar cheiroso, todos iam ver se tinha papel higiênico, e quem ia visitar a exposição e quer ir ao toalete tenha um lugar limpo, e a cuidar, a importância de cuidar, as salas, as professoras diziam que deveria passar essa exposição de sala em sala, porque existe um movimento de cuidado. Os pais dos participantes também ajudaram indo para escola montar a exposição, enfim, acho que ele foi se ampliando, e quando eu contei para o diretor que ele não atingia só o jovem, que ele atingia a família do jovem, a instituição à qual ele estava ligado, as escolas locais, ele ficou interessado; quando você multiplica, abre para outras pessoas. A direção na época achou super interessante e falou assim, já tem um experimental e quando é que vai começar de vez? Acho que não pode ser mais experimental, a gente tem que começar a realizar o projeto direto, sem essa fase. Passamos dessa fase e já foi para o presidente do SESC, que achou interessante e resolveu publicar. Esse projeto tem tudo a ver com a intenção do SESC, que dar acesso, promover, democratizar a cultura, democratizou a cultura através do turismo, por meio do turismo, por meio das ações que foram produzidas e promovidas pelo turismo. Muda um pouco o foco que antes era comercial e virou um foco social, desenvolvimento social e desenvolvimento local, até chegar à publicação (alguém fala fora do alcance o gravador)... Nós fazíamos um convite para a exposição que era um cartão postal da cidade com as fotos que os participantes faziam, registravam. Depois, nesse ano de (fica procurando na documentação) 2007, na edição de 2007 a gente lançou o primeiro livro registrando a experiência e junto com o livro o CD de três minutos contando um pouco mais sobre o projeto. Isso toma um espaço que a gente não tem noção. O que nós vimos esses jovens carregando o livro, perguntava, “você é escritor?” “Não”, “porque você não é escritor, você fez um livro!” “Não, quem faz livro é Jorge Amado (riso), Cecília Meireles”, falei, “não, se você fez um livro, é escritor e você também é fotógrafo, porque se sua foto está ali, você tem seus créditos”. Sair de uma zona em que você é pouco reconhecido e ir para uma zona em que você se torna fotógrafo, escritor, guia,

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reconhece a cidade, historiador, enfim, é muito. Uma coisa que as pessoas tem que estar vendo quais são as várias dimensões que o turismo pode estar influenciando. B – Me deixa te perguntar, qual o seu entendimento de lazer? A – (risos). É tudo aquilo que todo mundo precisa, que dá prazer, que relaxa os músculos, que torna a gente mais feliz, que faz a gente ser mais feliz no nosso dia a dia (toca o celular), que nos faz desenvolver todas as nossas potencialidades, as nossas capacidades de amor, de paixão pela vida. O lazer é diferente para cada um de nós como cada um de nós é diferente. B – Você já respondeu a próxima pergunta que seria qual a relevância do lazer? Você já falou, agora, especificamente para os jovens do Turismo Jovem Cidadão, qual você acha que é a relevância do lazer para eles? A – Primeiro o lazer que a gente, a gente fez um rol de coisas que eles entendiam como lazer para poder realizar, eles não entendiam o passeio a um ponto turístico como uma coisa que é lazer também, pegar o trem e ir até a Quita da Boa Vista fazer um piquenique, jogar bola e ficar lá deitado debaixo da árvore. Tem um lazer que é estabelecido pela comunidade que é soltar pipa, poder dormir até meio dia, é o pagode que vai com a mãe, que vai a família toda para o pagode, fazer um churrasquinho com o vizinho. E para gente, nós intelectuais isso é um lazer muito pobre, mas isso tanto dar prazer, a gente tem que reconhecer o que dá prazer para eles, a gente não determina qual é o prazer deles, aquilo pode ser muito pequeno para a gente, mas grandioso para eles. Quando eles viram, eles não entenderam, aquilo era objeto de prazer, mas mais que lazer, ao final a gente percebeu que era conhecimento, ele ficaram muito impressionados, aquilo que dá prazer mas ao mesmo tempo não quero perder nada porque isso é conhecimento, eles conseguiram e ficaram a cada detalhe, no final quando perguntamos, vocês se divertiram? Eles não sabiam dizer. Eles não reconheciam aquele tipo de divertimento que aquilo poderia ‘parar’, a primeira vez a gente parou debaixo da árvore para ficar observando o mar, o ócio, todo mundo parado, e eles: “mas vai acontecer agora o que? A gente tem que registrar alguma coisa? Tem que escrever alguma coisa?” Eu falei, “você não vai fazer nada, você vai olhar o mar, porque vocês quase não vem a praia e a gente tem que ter essa oportunidade.” E eles: “Mas para que? A gente vai ter que fazer uma redação depois?” “Não”. a gente, é muito ainda aquela coisa acadêmica da escola, “não, é para olhar por olhar, relaxar, a gente trouxe umas esteiras também” “a gente vai poder descansar?” Aí que começou a pegar, olha isso é lazer também, além de estar reconhecendo a cidade a gente pode relaxar e está experimentado formas de relaxar nesse espaço que vocês não conhecem. Pode botar a esteira, pode deitar, a gente pode escutar uma música. B – Deixa eu te perguntar, dentro disso, qual o seu entendimento de turismo? Você já indicou algumas coisas. A – O turismo me remete, a palavra turismo, ir a um lugar que não conheço, conhecer os lugares bonitos, tirar muita foto, e tem a ver também com lazer para mim. Na verdade, hoje às vezes a gente tem que fazer um turismo interno, turismo na nossa casa, olhar em vários focos um espaço, um objeto, para mim reconhecer melhor um espaço, um objeto, uma pessoa, enfim. O turismo depois dessa experiência para mim, não está ligado só em pegar e arrumar a mala e vai, faz o lazer, conhece o lugar, tira fotos, mostra para os amigos, ele é muito mais que isso.

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É ampliar a minha visão para ampliar a minha vida para eu ser melhor para o mundo, para mim mesma, para a minha família, para os meus amigos. B – Qual a sua concepção de turismo social? Já engato outra, A – Eu gosto desse social, tem gente que não gosto do social, dizem que é turismo para pobre. Eu acho que é socializar o turismo. É dar oportunidade para quem não tem entendimento, parece que o turismólogo é coisa de bacana. Só faz turismo o cara que já fez viagens, e essa foi uma das perguntas que a gente fazia para a família, o que é um turismólogo? É isso, aquilo, é que nem tenista, sabe aquele pessoal que tem dinheiro para praticar uma coisa que a gente não tem dinheiro? O turismo social vem para contribuir para essas pessoas que imaginam que o turismo é coisa para gente que tem muito dinheiro, para que eles possam ser incorporados nessa rede, que eles possam ter acesso. Socialização do turismo, turismo social é isso. B – Qual a sua opinião sobre os projetos envolvendo o turismo social? A – Depois que descobriram que o turismo amplia, que as pessoas ficam criativas, interessadas e estimuladas, a gente tem que ter muito cuidado porque assim: pegam o prazer que a pessoa sente pelo novo, por estar saindo daquele mesmo lugar e aí vem e meio que encostando no turismo porque é a isca melhor. A pessoa fala “vou fazer um passeio no turismo, o pessoal ficar radiante, pode ser para o inferno, mas eles vão achando que é o máximo”. “Vou conhecer coisa nova”. Eu fico muito preocupada com a questão de não perder o foco, a gente não estabelecer uma relação de apropriação dos outros técnicos, não sendo corporativista do lado do turismólogo, a gente precisa reconhecer a importância do turismo, o aspecto que ele desenvolve independente das outras áreas, porque senão fica o turismo emprestando ônibus para o pessoal do esporte para levar para fazer um movimento de relaxamento em tal lugar, e o turismo não existe para isso. Ele tem seu caráter histórico, social, político, ambiental, ele é muito mais que isso. Esses projetos, eu prefiro que tenham fundamentações bem fortes, dentro de autores que desenvolvem esse tema no turismo, é lógico que vai pegar muitas alavancas com o pessoal que fala do lazer porque tem uma ligação bem forte, mas a gente precisa no Brasil ainda desmistificar essa idéia do turismo passeio e das outras áreas utilizarem o turismo como não só equipamento, ele é muito mais que isso. B – Você já falou a questão da próxima pergunta que seria a relevância do turismo. Mas qual seria a relevância do turismo, especificamente para os jovens do Turismo Jovem Cidadão? A – Várias, ampliação de visão do mundo, fazer novas amizades, pode parecer uma coisa assim, descobrir que o mundo deles não é aquele e que eles não fazem parte de facção nenhuma (ar de riso): é a facção, “eu comigo mesmo e a minha visão.” O Júnior do Afro Reggie falou para mim uma vez; o turismo está fazendo um pouco o que a gente está fazendo em Vigário Geral, está fazendo o que a gente está fazendo em Vigário Geral só usando o turismo como meio. Então é descobrir que você pode descobrir o outro numa distância, você não precisa só conhecer pessoas a 2 km, ao seu redor, você pode conhecer pessoas de outros bairros, outras cidades, outros estados, outros países, e qui sá, outros planetas. Ampliar sua visão de mundo, conhecer pessoas, reconhecer a sua cidade, se sentir pertencente disso, dono, patrimônio seu e cuidar, porque só conhecendo é que a gente cuida, e a gente só gosta (cuida) do que a gente conhece. A gente perguntava, você gosta de balé?

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Lógico que não, nunca fui ao teatro Municipal, não sei do que se trata , aquela música me incomoda, não tem o toque que eu escuto diariamente. Tirar da zona de conforto do cotidiano e levar para o novo, tem gente que acha ótimo, mas tem gente que incomoda profundamente. Alguns jovens inclusive se sentiam retraídos, eu não quero isso para mim, que música é essa? Essa importância de ele estar se confrontando com coisas novas, estar saindo da sua zona de conforto para outra, estar ampliando a visão, estar conhecendo novas pessoas, estar mexendo, experimentando situações, mexendo em um equipamento novo, produzindo coisas, só se forma, só se constrói um cidadão assim. É uma construção pela vida inteira com essas experimentações. B – Na pergunta do lazer você estava caminhando para essa pergunta que vou fazer agora. Como você qualifica a experiência do jovem no Turismo Jovem Cidadão? É lazer? É turismo? Ou alguma outra categoria? Como você qualifica essa experiência dele? A – É turismo, é lazer, mas claramente eu percebia que era educação e formação, conhecimento. Eles demoraram um pouco a entender que podiam relaxar. Era tanta novidade, era tanta coisa aprendia a fotografar, não é um aprendizado técnico, profissional, mas tentar captar uma imagem da cidade, você coloca um objeto que você desconhece na sua mão existe uma tensão, então, todo um processo para eles, o primeiro projeto eles ficavam o tempo todo perguntando se ia cair na prova, porque tinha que ter um produto, mas a gente não sabia qual era o produto. O produto ia ser construído coletivamente. Então, para eles no primeiro projeto não significou para entender que era lazer também e que o lazer leva ao conhecimento, foi complicado, até no segundo momento do projeto é que eles começaram a perceber que era divertido, que podia ter risos, as pessoas podiam falar, não precisava ficar calada, porque não vai sair a palavra na foto. A gente tinha que falar várias vezes quando eles iam tirar foto ninguém falava para ajudar, não, puxa mais para cá, porque achava que essa palavra ia sair na fotografia, ia todo mundo mudo e muita fila. Eles reproduziam uma educação, a educação formal da escola e o que a gente queria era exatamente a educação não-formal, aprender de outra maneira, utilizando outras linguagens e que fosse lazer também. B – Existem, você já falou, mas se tiver alguma coisa mais para falar sobre isso, existem estratégias educacionais ou pedagógicas empregadas no Turismo Jovem Cidadão? Se sim, quais? A – Todas, tem que ter toda uma didática para organizar isso. Tem que conhecer muito como funciona hoje a escola, não é para ser contra, mas para fazer um diferencial, porque senão a gente acaba fazendo um projeto tão amarradinho didático-pedagógico que ele fica chato, sabe aquela coisa de passeio de escola que todo mundo leva a prancheta (toca o celular) na mão querendo anotar tudo porque falam que vai cair na prova. Então tem uma didática sim, um planejamento, uma organização mental para sair, a gente fala, nós vamos sair, vamos para tal lugar, quais são os objetivos, atentar para o olhar que eles vão ter, não dizer o que tem que olhar. Mas olhar com calma, não precisa correr, isso não vai ser avaliado, o teu olhar pode ser livre. Essa educação libertadora do Paulo Freire é o que a gente queria. A didática é de liberdade total para olhar, para experimentar. Existe um processo didático-pedagógico de libertação do olhar.

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B – Você respondeu a próxima pergunta que seria qual a relevância dessas estratégias do Turismo Jovem Cidadão. Eu te pergunto então, o Turismo Jovem Cidadão comporta modificações no bojo do processo? Tem as estratégias, mas ele comporta modificações às vezes no meio das visitas, A – Sim. Tem que ter uma flexibilidade, a gente percebe que, por exemplo, o espaço que nós escolhemos, o espaço de preservação ambiental, fizemos uma visita antes e não tinha nada de preservação ambiental. Tinha que escolher ou chegava lá e ia para um lugar bacana de preservação e depois ia ao lugar para plantar, para poder restabelecer aquele espaço que seria bem interessante, e foi o que a gente fez, a idéia era fazer uma visita, fotografar um espaço de preservação, ele não estava preservado. Então, mãos à obra, ao invés de fazer uma visita fomos contribuir para que aquele espaço seja preservado. Você pode no meio do processo sentir que muda, não está legal, esse espaço a gente quer que conheça, mas o objetivo muda. A gente senta, conversa, troca, pode falar, pode discutir e alguns jovens falam mas agora a gente virou jardineiro? E eles têm que botar alguém do governo lá para poder, e o papel da gente é protagonizar, esse é o espaço da gente, se nós somos donos daquele espaço também, nós vamos sair da situação de meros observadores, de conhecedores para praticar a preservação do meio ambiente. Ele tem que ser no bojo dele todo flexível, senão, você engessa o projeto e ele não cresce não promove realmente toda a transformação que a gente está propondo. B – Como você percebe o jovem se apropriando e ressignificando as experiências proporcionadas pelo Turismo Jovem Cidadão? A – Acho que isso acontece, é muito parecido como ver um filme e depois que acabou de ver o filme perguntarem sobre o filme. Você quer ficar ali amadurecendo sobre aquela experiência, tirou foto, passou aquela semana toda tirando foto e na segunda semana a gente senta e eles podem dizer alguma coisa, porque logo depois da visitação, você pergunta e eles estão ainda tentando organizar mentalmente aquilo. Percebo também muita curiosidade, indisciplina porque o prazer leva a uma indisciplina, e às vezes a gente tem que contar com isso. E o bom artista, o bom conhecedor da vida tem que ter um pouco de indisciplina, senão fica uma repressão à sua experiência de conhecer, eu sinto que eles falavam muito e uma coisa que eles aprendiam muito entre eles, com a experiência do outro e às vezes com a observação do outro. Percebia que a troca entre eles era uma coisa forte, e uma semana depois como eles já tinham elaborado aquilo tudo, a emoção, o prazer, todas aquelas emoções, sentimentos que acontecem no local. É inesquecível, eles conseguiam lembrar coisas assim, textos escritos em monumento. Eu ficava procurando o significado de decorar um texto de um busto de alguém que eles, mas a pessoa que estava orientando a visita localizava aqueles jovens sobre o significado, quem era aquele homem, aquele busto não estava ali por acaso. O significado do cavalo no monumento do cavalo em pé e o cavalo com as patas levantadas. A gente buscava dar significado a cada coisa dessa e eu fiquei impressionada com a capacidade de concentração, a curiosidade e a memorização. Dizem que a dificuldade da educação hoje é que as crianças não memorizam, os jovens não conseguem memorizar um texto da escola. E quando a gente chamava os professores desses jovens, eles não reconheciam que eram os alunos que estavam lá na sala, tamanha a capacidade de concentração, memorização; e só é capaz disso quando você dá muito espaço para verbalizar, e verbalizar e se expressar das formas mais diferentes possíveis. Quando eles viram uma árvore no parque de não sei quantos anos, 120 anos, a menina gritou, ela gritava, gritava,

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gritava, e a professora que estava acompanhando falou “a gente tapa a boca?”, “não, deixa gritar, porque ninguém vai prender porque grita, aqui tem um espação, pode gritar, vai espantar os passarinhos, mas a gente...” B – Qual a importância das esquetes do decorrer das visitas? Das apresentações artísticas? A – A gente geralmente chamava a esquete de acordo com o local. Primeiro que era chamar a atenção, a gente tinha que devolver, essa comunidade, estava indo um grupo de jovens visitar um espaço, então estavam recebendo dele um conhecimento, todo aquele produto artístico e cultural, e eles levavam com eles no ônibus um produto também. Em frente ao Teatro Municipal eles faziam uma apresentação de cavaquinho, era como se eles (os jovens) estivessem devolvendo àquele espaço, era uma troca, eles escolhiam qual era a produção cultural, se era o grupo de cavaquinho que tinha na comunidade, que era bacana, era preciso também trocar isso, “eu também tenho produto para oferecer, eu moro em Leopoldina, estou vindo na zona sul, mas eu também tenho muitas coisas interessantes que acontecem lá”. Essa troca de produções. B – As explanações acerca da dinâmica de trabalho dos profissionais. Isso é idéia sua ou é específico do Sesc Tijuca? Eles falam, alguns profissionais explicam com é o trabalho, a formação profissional? A – Eu ficava meio sem saber, porque qualquer pessoa adulta que se apresentava aos jovens era o professor. Necessariamente todos nós somos educadores, mas a formação não era um professor da escola. Era um turismólogo, um biólogo, era alguém que detinha o conhecimento, B – Tinha os profissionais dos equipamentos que eles entravam em contato. A – Pois é, aqui uma pessoa só não detém toda a informação, então tem que chamar os profissionais especializados. O fotógrafo dizia qual era a formação dele, há quanto tempo ele fazia aquilo, qual era a paixão por aquilo, como é que ele começou a realizar isso. B – Qual a importância que você vê dessas explanações? A – Primeiro deles conhecerem profissões, a gente tem um problema que é bem claro, existem algumas profissões estipuladas a não sei há quantos anos atrás, no tempo da avó dessas pessoas, ou você é médico, engenheiro, advogado, ou então, você é modelo, cantor, jogador de futebol, cantor de pagode ou você é alguém do tráfico. Valorizar ser um bom artesão, a gente levou o artesanato, e poder ganhar dinheiro fazendo o que gosta é uma coisa, dizem que os subempregos e a gente, tinha algumas mães que trabalhavam como diaristas e perguntaram, vinham também para as reuniões com o fotógrafo e ele sempre falava: eu comecei com uma máquina simples, consegui um curso e fui; reconhecer e valorizar a profissão dos pais é fundamental para eles. A importância de reconhecer que existe, o que que é um turismólogo? Eles não faziam a mínima idéia, um biólogo. Biólogo é aquele professor de biologia que manda a gente decorar aquela droga o que é hidrosfera, litosfera. Reconhecer que existem as especificidades do conhecimento, que você pode se apaixonar por uma área e aprofundar sobre ela e reconhecer a gama de profissões formais e não formais que existem no nosso Brasil é fundamental. B – Só para constar, isto surgiu então no SESC de Ramos?

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A – Surgiu. B – Essa idéia então veio do SESC de Ramos. O que você acha que os jovens buscam no Turismo Jovem Cidadão? E quais são as suas expectativas em relação ao projeto? A – A princípio, oba, passeio! Prazer. Depois o negócio fica muito mais sério e eles começam a ver que não é um passeio, é muito mais que isso. E eu para conhecer, para me dar prazer eu tenho que aprender, e tudo na vida que a gente gosta a gente precisa se debruçar sobre o que gosta e exige um exercício que é pesado senão a gente se perde. Uma disciplina, organização mental, isso era a grande preocupação da gente; a cada visita dessa a gente tinha que criar uma organização anterior e posterior: nomes nas maquias, e eles começaram a se organizar, a ter certa autonomia para organizar seu material. Porque é muito fácil, ah, eu guardo as máquinas e levo para revelar. Não, vocês vão levar para revelar, vocês vão se organizar, vão colar o nome de vocês, enfim, ter domínio da metodologia, da prática da qual está participando. B – Os jovens voltam a freqüentar os lugares visitados? Ou os lugares visitados ou outros lugares depois do Turismo Jovem Cidadão? A – Uma coisa interessante que eu percebi fazendo uma visita é que eles viam um caminho diferente e diziam assim, para onde leva esse caminho? E a gente começou a discutir, a equipe, a gente responde ou não? Porque a curiosidade é interessante, mas a gente tem que orientar essa curiosidade, você pode fazer, vir com uma pessoa adulta, leva para tal caminho; “e um dia a gente vai poder vir aqui?” Não sei se esse grupo, mas você pode e a gente dava as linhas de ônibus para chegar aos lugares, mapas, eles tiveram que ter uma orientação de mapas, usando principalmente a linha férrea, indo até certo lugar de trem, depois pega todos os ônibus que dão acesso, quais são os melhores dias, para eles poderem ter confiança, agora eu percebi que eles voltavam com muita ansiedade para levar o pai, a mãe, o tio, a avó e nós tivemos uma experiência no bondinho de Santa Tereza em que dois jovens reuniram a família e voltaram ao bondinho para conhecer e foram mostrando. B – Você acha que eles passaram a buscar outras práticas de lazer além do turismo depois do Turismo Jovem Cidadão? A – Ah, sim, porque no caminho até chegar ao local eles viram outras coisas, Terra Encantada, eles só viam na televisão. Então se eu pego esse ônibus e chego até aqui, então tb serve, eu vou juntar o dinheiro e venho a Terra Encantada. Pode entrar qualquer pessoa? Porque tinha toda coisa, aí a gente tem que explicar, vocês pagam o bilhete, vão até o caixa, eles vão te dar o bilhete, vão botar uma fita no seu braço, e aí você pode entrar na Terra Encantada. Está aberto, gente, aqui é a Terra Encantada, aqui é a entrada da Floresta da Tijuca que a gente vai vir semana que vem. Já aconteceu deles não agüentarem esperar a semana seguinte para irem à Floresta e foram, então olha, se vocês vierem sozinhos não pode entrar em qualquer trilha, tem que ler. Tudo bem que eles não foram até o fim, foram até a cascatinha (ar de riso), morreram de medo, mas acho que dá certo estímulo para conhecer melhor outros espaços. Esse é um objetivo também, além dos espaços que são escolhidos para eles conhecerem, nesse trajeto estar mostrando outras coisas que se tem na cidade.

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B – Reta final, as últimas. O SESC mantém contato periódico com esses jovens? A – Sim. Depois se faz uma avaliação, são dois anos praticamente de contato, tem as fotos, eles recebem as fotos, e a exposição é chamada para ir para outra escola, eles já começam, a SUAM achou interessante esse projeto, “a gente quer montar a exposição”, depois nada é nosso. A gente ajuda minimamente a organizar e ensina: não pode, a foto tem que ser cuidado para não danificar. Agora o grupo vai decidir, essa foto tem que andar, ninguém pode ser dono da produção do outro, e se você também quiser tirar fotos, a gente recebeu alguns jovens querendo a máquina emprestada para fazer um contraponto com a foto que ele tirava, por exemplo, esse tirou a Floresta da Tijuca e queria tirar a foto onde ele morava, que não tinha planta nenhuma, e queria discutir isso, então a gente emprestou a máquina. O grande problema disso é que o pessoal fica achando que eles vão roubar a máquina. E nada disso acontece, eles não roubam a máquina porque eles tem a maior preocupação de queimar a foto deles. O cuidado com o objeto, sabem que é uma coisa delicada, e volta e meia a gente empresta essa máquina, eles sabem que existe aqui. Quando precisam eles levam e trazem, nunca tivemos nenhum tipo de problema com sumiço de máquina e quando quebra é porque já deu o que tinha que dar, o uso... B – Você já flertou com essa pergunta aqui mas vou fazer porque se tiver alguma coisa a acrescentar, você acha que o Turismo Jovem Cidadão estimula os jovens a se tornarem multiplicadores do conhecimento e das vivências que realizaram compartilhando com as pessoas que os cercam as experiências e as novas possibilidades? A – De cara, em cada passeio quando eles encontravam com alguém pelo caminho, e dentro da linguagem deles: “cara fui num lugar que você precisa ir. Que lugar é esse!” Vem contando e os detalhes que a gente passa e acaba perdendo, acho que um novo olhar é sempre um novo olhar, com detalhes. Tem alguns, aqui no vídeo, uns jovens falando sobre um espaço que eu já fui centenas de vezes, ele falou de uma outra forma, com detalhes que eu mesma não tinha visto, eles influenciam muito. O jovem tem esse poder de influenciar, ele sofre a influência mas eles são influenciadores. Mais ou menos consegui fazer uma pesquisa que não consegui fechar, mas a cada jovem desse, ele conseguia influenciar em torno de quatro a cinco outros jovens na escola, no futebol, vizinhos, contando as histórias, e os pais falavam, os familiares, não paravam de falar disso e queriam contar para todo mundo, e ia exercendo essa influência sim. B – Últimas duas, bem diretas. Que contribuições concretas o Turismo Jovem Cidadão trouxe para os jovens? A – Conhecer a cidade que mora, apropriação do legado cultural, sair de um único ambiente e poder explorar a sua cidade e ampliar a comunicação e a visão de mundo, usando a fotografia, eles puderam usar desenho, puderam usar todas as formas de linguagem para poder estar se expressando. Acho que amplia a linguagem não só artística, mas as linguagens culturais e sair dessa condição de meros receptores para ativos no processo da vida. Eu posso protagonizar, acho que isso é mais forte. A gente ainda vive uma cultura em que somos meros receptores e reprodutores de conhecimento, que vem do livro, ninguém vivencia, está lá escrito no livro e a gente decora não sabe nem por que. Essa experimentação, experimentar, aprender tocando, vendo, usando todos os seus sentidos, se

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apropriando integralmente. Eu acredito que o Turismo Jovem Cidadão dá essa oportunidade, democratiza a nossa cidade de fato. B – A última, que contribuições concretas o Turismo Jovem Cidadão trouxe para você? A – Eu fico até assim falar de um sonho, é um sonho pessoal de dividir com a sociedade aquilo que ela me deu. Todas as oportunidades que eu tive eu tenho que devolver a essa comunidade, dar continuidade. O que eu tive oportunidade eu não posso ficar só para mim. Se eu trabalho em um lugar onde a comunidade é de baixa renda, onde as pessoas não têm acesso, eu estou aqui fazendo o que, que eu não reconheço o potencial, de que forma que eu vou alavancar todas essas áreas que eu trabalho, esporte, lazer, turismo para estar ampliando as ações sociais com essas pessoas. Eu acho que me sinto muito bem. Eu ganho dinheiro para desenvolver políticas de desenvolvimento local, desenvolvimento do ser humano, de prazer, de conhecimento, permanentemente eu acordo educadora e durmo educadora. Educador não é só aquele que está em sala de aula, o educador, eu me educo para educar o outro, eu me educo para ajudar, contribuir com o desenvolvimento social, a sociedade precisa de pessoas que se preocupem sim com o desenvolvimento de cada espaço. Cada um de nós precisa democratizar a nossa cidade, cada um de nós tem que ser responsável pela problemática da nossa cidade, pela educação que tem a nossa cidade. E isso de certa forma eu sinto que contribuí assim, um grãozinho de areia para estar nesse movimento. E esse movimento não acaba, ele nunca acaba, é diário, é uma conduta moral, ética, social. Eu uso muito “eu não seria eu mesmo se não utilizasse essas práticas como práticas de afeto, de amor ao próximo.” Eu preciso disso para poder sentar, pensar, idealizar. Nenhum projeto que eu idealizo não passa pelo afeto, pelo respeito às pessoas e pelo processo de desenvolvimento da cidadania, da ética, enfim, não pode, senão eu não consigo sentir... O meu trabalho nunca vai estar concluído, mas é assim mesmo, a gente precisa viver isso, essa sensação que não acaba nunca. A contribuição mais forte é fortalecer o que eu imaginava. A gente imagina que sempre dá tudo para os outros, e eu aprendi muitas coisas com esses jovens, aprendi outras formas de ter prazer e lazer, e aprendi as várias formas, as comunidades que mais se divertem em família, são as comunidades de baixa renda. Como eles não têm muito dinheiro para se deslocar, tem outro lado da moeda, eles se reúnem naquele local e conversam mais, compartilham mais a comida, a bebida, tudo é motivo de festa, de reunir, então eu aprendi que é uma conduta super preconceituosa quando a gente olha, passa numa favela, olha e fala, “não tem dinheiro para comer, mas tem dinheiro para beber e para sambar”. Acho que eles tem mais é direito de beber e sambar, direito ao lazer, a diversão, e a gente precisa respeitar isso. Dar novas oportunidades, mas reconhecer que eles também têm práticas de lazer e mais ainda, conheci espaços, até hoje todo ano eu conheço novos espaços (aqui) na Maré e no Complexo do Alemão. Agora mesmo tive uma experiência, um menino do turismo me chamou para conhecer a Serra da Misericórdia, que faz parte da Mata Atlântica e que fica lá em cima no Complexo do Alemão. Um espaço lindo, com uma vegetação maravilhosa, vários tipos de árvores que ninguém conhecia. “poxa, você levou a gente naquele lugar e eu vou te levar para conhecer um espaço novo”. Eu estou aqui há doze anos e nunca soube que existia isso. Nós fomos à Reserva Florestal da Tijuca, Reserva do Grajaú, e ele me leva hoje em 2009, para conhecer a Serra da Misericórdia, e a gente está divulgando ela. A gente sempre aprende muito, todo dia, então a gente não tem um acervo concluído, o acervo é... B – Show de bola, muito bom...

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ENTREVISTA COM PROFISSIONAL B B=PROFISSIONAL B B=BERNARDO B – Profissional B, fique a vontade para não responder às perguntas que você não souber ou não quiser. B – Ta. B – Me fala seu cargo e função aqui no SESC, por favor. B – Trabalho na área de Projetos Comunitários do SESC/RJ, fico na unidade Tijuca. B – Qual a sua função? B – A função específica, executivo técnico, porque é o nome que o Sesc dá para todo mundo. Mas é gestor dessa área de projetos comunitários. B – É um setor específico? B – É um setor específico com pouquíssimas pessoas, tem duas pessoas que ficam no Flamengo e tem algumas pessoas que fazem essa articulação com as comunidades que ficam, normalmente é uma pessoa e um estagiário. B – O nome é comunidade? B – Projetos Comunitários. B – Projetos Comunitários. Qual a sua formação? B – Sou cientista social. B – A Simone meio que me falou da montagem, da estrutura da organização do Turismo Jovem, mas quais são as suas atribuições no Turismo Jovem Cidadão? B – Fico responsável pelo mapeamento de que comunidades a gente vai chamar, que instituições, as coisas relacionadas a parceria do projeto, e o contato com essas instituições, toda a articulação de que comunidade a gente vai, que ONG a gente vai utilizar, quem a gente vai estar utilizando como responsável nesta ONG para estar fazendo isso, e eu recebo as inscrições. Tanto a parte de cuidar da articulação com a ONG e com as comunidades fica mais comigo nessa primeira etapa. Na etapa da exposição a coisa de divulgar a exposição lá nas comunidades, de selecionar os monitores, tudo que se refere ao grupo de jovens e a ONG eu estou mais a frente, esta parte operacional lá. B – Esses jovens estão associados somente a ONGS ou tem associações, centros. B – Já tiveram jovens associados a ONGS, a associação de moradores, basicamente nessas duas ou associação ou via ONG. B – outros centros de assistência? B – Centro comunitário, que é uma ONG na verdade, só que tem o nome de associação comunitária. Basicamente elas tem essa, juridicamente falando ou é ONG ou é associação de moradores.

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B – Qual você acha que é a intenção dessas ONGS ou associações envolvidas em se inserirem no projeto Turismo Jovem Cidadão? B – Elas vão, eu falo assim, não posso falar pela ONG inteira, eu falo pelo responsável da ONG que cuida do projeto comigo, porque normalmente a ONG seleciona uma pessoa, um coordenador ou um responsável por uma turma para ficar a frente do projeto junto com a gente. Eu posso dizer a visão dessa pessoa, não posso dizer a visão da ONG. Normalmente a visão das pessoas que já foram responsáveis pelo projeto junto comigo acham legal, interessante para os jovens, faz parte do conteúdo que eles aprendem na ONG, acham legal também o marketing que eles vão fazer, fazendo um projeto em parceria com o SESC para eles é fantástico, tem essa questão do nome, da chancela que eles estão levando, tem a questão de achar interessante o conteúdo e basicamente isso, de aprovar o conceito do projeto, o que se pode trazer de bom e da parceria ser benéfica para eles. Eles divulgam isso em sites deles, em relatórios que eles fazem a financiadores normalmente eles colocam o SESC como parceiro e isso tem ponto positivo, então é benefício para eles, é um retorno para eles que a gente, a gente não está fazendo nada assim, a gente está pedindo a eles os jovens e eles não recebem nada em troca, tem um retorno mais para o lado de divulgação e obviamente para o crescimento desse jovem dentro da ONG dele. Eu vejo assim, pelo que eu ouvi dos coordenadores dessas ONGS. B – Qual o seu entendimento de lazer, profissional B? B – Lazer eu penso logo na questão do ócio criativo, do Domenico De Masi para mim lazer é ao mesmo tempo você estar, no momento de lazer você está criando, acho que é o momento que você tem para pensar em coisas novas, em projetos. O lazer para mim não é só o de atividade física em que você gasta calorias, não, lazer é uma coisa mais geral, mais global, um momento para você estar pensando em criar, em coisas novas, em ser criativo. Sempre tive essa idéia do lazer, não só aquela idéia de gasto calórico, de recreação, acho que não. Por isso até que eu tive uma compatibilidade com a instituição porque o SESC pensa assim também. B – Qual a relevância do lazer? Você meio que já indicou. B – É isso que eu falei, não só o lazer como recreação, mas o sujeito pensando, a pessoa se pensando sujeito do que ela pode criar, sempre a gente tenta levar atividades que não só levem à recreação, mas que tenham a idéia de fazê-las pensarem. B – Qual a relevância do lazer especificamente para os jovens do Turismo Jovem Cidadão? B – Você usa muito a palavra lazer por causa da sua tese, por isso tem esse foco de, B – Na verdade tem alguma perguntas sobre lazer, algumas sobre turismo, umas sobre estratégias pedagógicas, tem uma parte para cada. B – É que eu uso pouco essa coisa da idéia do lazer, falo pouco dessa idéia do lazer para o Turismo Cidadão, penso não só, não é bem o lazer para enfim, vou tentar te falar, é só uma questão de palavras. Na verdade a gente está dizendo a mesma coisa só que não talvez o lazer que eu utilize mais, por isso que estranhei quando você falou, qual é, repete a pergunta?

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B – Tem outra que talvez possa te indicar alguma coisa, você percebe articulação da educação com as vivências de lazer? Talvez te conecte mais B – Eu posso te responder esta pergunta talvez com o que eu acho de primordial, de benefício do projeto para esse pessoal. Porque aí eu acho que pode responder a história do lazer e da educação. Eu penso no projeto, para mim o fundamental, um dos objetivos desse projeto é obviamente a construção de identidade que esse jovem vai ter, de cidadania porque ele tem a questão do olhar que desperta nele o olhar, não só através da câmera fotográfica, mas o olhar para a cidade, e o olhar do “o que eu estou fazendo aqui”, “o que eu posso fazer”, “em que eu posso me formar”, “o que eu gostaria de fazer”, a partir da vivência nesses roteiros, nessas visitas desperta isso neles. Então tem essa questão não só de educar para usar a máquina, que é uma coisa que a gente acaba fazendo, nem todos sabem como usar e porque a máquina pode ser útil para milhões de coisas, para despertar uma série de coisas, educa essa questão e educa também porque você aprende a sair da sua comunidade, a sair daquele lugar onde você estuda e trabalha e tem o lazer. Então eles começam a conhecer outras áreas que eles ficam sabendo que podem freqüentar, que são áreas de lazer, educativas, espaços educativos, pode ser museus e eles passam a saber que aquilo é para eles, e acho que a importância do projeto também é isso, é mostrar a cidade para eles. A gente ao longo do projeto vai ouvindo muitas experiências e a gente vê que a gente está falando de Pão de Açúcar, para a gente é Pão de Açúcar, para eles não, eles nunca foram, não sabem nem o que é direito; a gente está falando de Maracanã, a gente passa todo dia talvez de carro, mas eles nunca forma, nunca entraram, tem essa construção mesmo de saber o que é a cidade, e que eles estão próximos, eles moram na Tijuca e o Maracanã é ali, só que eles nunca entraram. Então tem essa coisa de olhar, de descobrir o que eu posso ser “gostei muito da faculdade de veterinária e pensei em ser veterinário”, “gosto de foto, pensei em ser fotógrafo”, não é formar fotógrafo, outra coisa importante não está formando fotógrafo; as fotos saem ruins? Saem ruins, não vou mentir não são fotos tecnicamente maravilhosas, mas é aquilo que chamou a atenção para ele tirar a foto naquele momento, aquilo que ele achou belo. A questão de nome da foto, se ele quer escrever aquele nome daquele jeito, a gente não pode mudar, a gente não pode estar interferi em nenhum momento. Achei legal essa questão de autonomia, dele poder escolher a foto que ele quer para a exposição, a foto com o nome que ele quer na exposição; então tem esses eixos de autonomia, de conhecer a cidade, e aí eu acho que você mexe na questão do lazer com educação, e da questão da cultura, de atividades artísticas. Eles vêem uma série de apresentações ao longo do projeto. A gente mostra para eles uma série de o que é uma esquete, o que é uma peça de teatro, como faz, como é o improviso, a gente chama artistas que improvisam com eles, a partir do que eles vão perguntando o artista dá a resposta e faz uma esquete, acho que mescla por aí. B – Você já se embrenhou por algumas perguntas que eu iria fazer, mas enfim, se você tiver alguma coisa para complementar sobre essas perguntas que eu vou realizar. Qual o seu entendimento de turismo? B – Tinha um entendimento antes e depois. A gente leva automaticamente e quando você está numa instituição você leva, o seu conceito muda a partir do conceito da instituição. Eu tinha um conceito de turismo só o turismo como passeio e depois que entrei aqui eu vi que o turismo, pelo menos aqui a idéia é um turismo diferente, é um turismo social.

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B – Qual a sua concepção de turismo social? B – São visitas que você não faz só para “vou visitar tal lugar, vou comprar”, coisa do capitalismo,” vou visitar o fulano de tal, comprar uma série de coisas”, você vai visitar, mas você vai saber quando foi criado aquele monumento, então tem aquela visão histórica, aquela abordagem histórica e o preço ser bem acolhedor, ser bem mais barato, não é o preço de mercado, então acho que o pouco que eu entendo de conceito de turismo, no SESC o turismo, para mim antes o turismo era o turismo banal da gente, rodoviária e aqui tem aquela coisa de passar mesmo, por que a gente está indo para esse lugar? Qual é a associação desse lugar com o outro lugar que a gente está indo também no mesmo dia. Não é só ir por ir porque o lugar é bacana, está na moda. Acho que é por aí, do pouco que eu entendo eu vejo essa diferença do turismo do mercado e o turismo daqui. B – Qual você acha que é a relevância do turismo especificamente para esses jovens do Turismo Jovem Cidadão? B – É essa concepção de conhecer a cidade, e eu aprendi a não usar a palavra passeio, carrega um pouco dessa história de lazer, de comércio e tal. A história de visitas, então a gente faz visitas com grupos e não passeio. Quando a gente vai apresentar o projeto na ONG ou na comunidade a gente fala em visitas, a gente não fala “vamos passear”, porque não é só o passeio pelo passeio. O tempo todo tem que estar, a gente tem que estar se educando e temos que estar educando-os para ter uma postura de que a gente não está indo ali para passear, a gente está indo para conhecer o espaço, prestar atenção no que o guia está dizendo. É um trabalho bem difícil e às vezes a gente não consegue não. B – Como você qualificaria a experiência dos jovens? É lazer, turismo, ou alguma outra categoria? B – Do que eles apreendem para eles? É isso? B – É. B – Se eles entendem isso como passeio? B – Você vendo, como você qualifica essa experiência deles. B – Você está falando nas visitas que eles fazem? Como é que eu classificaria, B – Todas as visitas se é mais lazer, turismo, ou alguma outra coisa? Alguma outra categoria? B – Fica muito misturado para eles, é obvio que eles curtem muito como lazer, porque para eles é legal sair da favela, mas eles também apreendem muita coisa. Acho que mistura um pouco do lazer e um pouco da visita guiada, de passar, alguma coisa eles apreendem, não vou dizer 100%, acho que para eles é um misto de 60% lazer, 40% eles apreendem aquilo e mudam alguma coisa, passam para os pais em casa o que eles aprenderam, ensinam aos pais “você sabia por que surgiu isso, isso e isso”? Mas 60% eu ainda vejo essa coisa do lazer, a gente tem que estar sempre, “comportem-se na viagem, não é só lazer, não é só cantar funk, não é só ser legal durante a ida de ônibus”, você foi a algumas. “Não é só porque é de ônibus que você pode botar o som e gritar e cantar, vamos com essa postura, com esse sentimento de que a gente está indo,” é complicado, não vou dizer para você que tem, acho que a maioria, 60% ainda é pela questão do grupo, o lazer em grupo.

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B – Existem estratégias educacionais ou pedagógicas empregadas no Turismo Jovem Cidadão? Se sim, quais? C – Não muito, você diz essa questão de base teórica? Referencial teórico para o projeto? B – Se vocês pensam, planejam alguma coisa específica em relação. B – Não, a gente pegou esse projeto de outra unidade e adaptou para cá, mas desde a época de outra unidade ele já não é um projeto escrito com referenciais de autores, de referenciais teóricos claros. A gente não trabalhou isso no projeto, a gente trabalhou partindo do coração, eu e Simone gostamos muito da idéia, a gente já estava querendo fazer uma coisa assim e a gente pegou, não porque a gente gostou do referencial teórico, não foi o que chamou a atenção. Foi a idéia do projeto. B – Vocês chegam a pensar nas estratégias de como fazer, de como articular? Alguma estratégia pedagógica em relação as visitas, ou é meio o que acontece na hora? B – Não tem uma coisa pré-combinada, até porque a gente tem formações diferentes, ela teria um referencial e eu teria outro, mas isso já está dentro de cada uma, a gente não tem como dissociar isso – Mas se eu ficar buscando eu posso achar de repente um autor que eu li e me inspirei, mas não tem nada claro ainda de inspiração para fazer isso. B – O Turismo Jovem Cidadão comporta modificações no bojo do processo? B – Comporta, a gente tem coisas que vê que não dá certo e a gente tenta mudar, adaptar. Ainda mais porque a questão de trabalho com comunidades é muito imprevisível, tem que ser muito flexível, um dia que as crianças não podem descer porque está em guerra, então aquele projeto foi todo cancelado e a gente tem que marcar outra data para a atividade, para a oficina. O projeto que deveria acabar em dezembro veio acabar em janeiro. A gente tem que estar atento a isso, não dá para imaginar que isto não pode acontecer. Sem mudar a estrutura, sem mudar o objetivo principal, a gente muda em relação a parte operacional, de etapas, datas, não muda o objetivo. É mais a questão operacional. B – Existiram coisas que não deram certo nos anos anteriores e que te fizeram ou melhorar ou modificar em 2008? B – Não foram coisas que não deram certo, foram respostas que a gente tinha críticas dos próprios grupos em relação ao tempo de trabalho com eles, a gente resolveu aumentar no ano seguinte, foi um retorno que partiu deles e a gente resolveu aumentar o grupo, invés de diversificar o grupo talvez aumentar o tempo com ele. Que estou me lembrando de modificação foi isso. Uma coisinha ou outra de exposição itinerante que a gente não levou adiante, que era uma idéia muito legal mas que foi só no primeiro ano, porque você fazia a exposição na favela, você levava os banners, ao invés de levar a exposição grande daqui fazia uma exposição itinerante só em banners das fotos e isso deu certo no primeiro ano e no ano seguinte a gente já não conseguiu, não amarrou legal, não teve uma resposta toa boa quanto no primeiro ano, nas próprias ONGS de terem interesse em cuidar desse material. Como o material tem que ser cuidado, não é só jogar lá e deixar exposto, a gente resolveu não fazer no ano seguinte a exposição itinerante. B – Está só aqui no SESC.

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B – Está aqui, esse ano foi aqui no SESC e a gente também não preparou banner para esse ano. B – Quais foram os critérios utilizados na seleção dos jovens participantes de 2008? Foram jovens dos dois anos anteriores? B – A gente selecionou as ONGS que a gente mais gostou de trabalhar, as mais organizadas, não atrasaram os prazos de inscrição, e em cada dessas quatro ONGS, acho que são quatro ONGS, a gente pediu que selecionassem cinco jovens, cinco ou seis jovens daquele grupo que a gente tinha trabalhado em 2006 e 2007. Tinha ONG que vinha só com um porque os outros já se formaram ou não tem interesse em continuar porque está estudando e está trabalhando e tinha ONG que me retornava com sete, isso também foi uma coisa a adaptar, uma ONG que indicou sete e outra ONG que indicou um. Foi dessa forma. B – Além desse lance deles estarem ausentes, estarem trabalhando, você sabe os critérios que a ONG utilizou? B – Eu pedi que fossem alunos que tivessem sido bem avaliados no comportamento e nas freqüências, e eu já tinha, eu e a Simone meio quem a gente gostaria que viesse, só que daí algumas não puderam vir e aí a ONG é que teve que selecioná-los para completar os 25, selecionar os outros, não sei qual o critério que ela usou. Eu pedi que fosse critério de freqüência e de comportamento, mesmo assim a gente recebeu pessoas que não tinha o comportamento tão legal, uma frequência legal e a gente teve que eliminar do projeto, esse ano a gente usou o critério de eliminação por mais de cinco faltas injustificadas. A gente teve que eliminar umas seis ou sete pessoas. A gente optou por poucas pessoas mas com qualidade e com vontade. Dos 25 só ficaram 18, a gente eliminou por faltas. B – tem um processo avaliativo? B – Tem. B – Como é? B – A gente faz muito superficialmente por essa questão de número de freqüência, número, freqüência, comportamento nas visitas, interesse, mostrar interesse em participar das reuniões de produção. B – Vocês fazem relatório? B – A gente faz relatório mais quando tem reuniões no final, as reuniões que são, a gente não faz relatório de cada oficina que a gente faz de foto. A gente faz relatório final quando a gente começa a pensar a exposição. A gente chama um grupo de jovens que a gente achou que tinha mais vocação para liderar, então a gente chama sete jovens e a gente começa a fazer o relatório nessas reuniões, só no final. Não é em todo momento. B – Existe articulação do Turismo Jovem Cidadão com outros projetos que envolvam os mesmos jovens? B – A gente fez isso no ano passado. Tendo projetos de outras áreas, projetos do SESC que pudessem chamar jovens, a gente chamou e inseriu o pessoal do Turismo Jovem Cidadão. Um projeto especialmente de jovens, Fórum de jovens a gente os chamava para eles estarem representando o projeto. Teve sim, o ano passado. Nos primeiros anos não, a gente teve uma participação no projeto num

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Fórum, dentro do Foto Rio, um evento mundial de fotografia, e tem um encontro de projetos de inclusão visual que chamam projetos do mundo inteiro e eles convidaram o Turismo Jovem Cidadão para estar falando sobre a experiência de inclusão visual, através da foto e a gente ficou empolgado, a gente chamou jovens dos dois anos, dos primeiros anos e eles conheceram jovens de outros projetos que envolvem a fotografia, conheceram jovens do Brasil e de fora do Brasil, e a gente soube que eles se articulam via Orkut, via esses programas de Internet. Fora isso eles se articulam também com o Turismo Jovem Cidadão de outras unidades, Ramos, Engenho de Dentro, quando tem alguma atividade a gente os leva para eles interagirem. Inauguração da exposição de lá, a gente leva os daqui, leva um ônibus, não pode levar todo mundo, no primeiro ano foram 100, no segundo ano foram 75, no terceiro ano é que foram só 25. A gente sempre levava um grupo de 40. B – Vocês tem então contato periódico com os jovens? B – A gente tem o contato de todo mundo. Agora esse ano a gente ainda não teve nada relacionado a juventude para poder chamá-los, mas quando a gente precisa a gente liga ou para a ONG, que ainda está sempre se encontrando com o grupo toda semana, ou para a própria casa do jovem. B – Como você percebe o jovem se apropriando e ressignificando as experiências proporcionadas pelo Turismo Jovem Cidadão? Você apontou. B – De como eles percebem? Como eles apreendem? B – Como eles se apropriam e dão significado às experiências que eles vivem no Turismo Jovem Cidadão? B – A gente não tem, não fez um relatório do que a gente conseguiu captar deles, não tem ainda em relatório. B – Mas o que você vê. B – Pelas respostas deles, que é essa questão do olhar, principalmente em relação a profissão que eles percebem que há variadas profissões, não é só médico e engenheiro, eles vão ver outras profissões, biólogo para eles é uma surpresa, não conhecem. Eu vejo essa questão de descobrir ou pelo menos essa idéia do que gostaria de ser, de fazer na faculdade. A história da fotografia com a história da máquina digital eles acham que já sabem tudo, então já chegam com essa postura na oficina de fotos: já sei mexer, para mim isso não é novidade. O que mais é novidade para eles é a história das visitas, que eles vêm falar com a gente quando a gente pergunta o que eles mais gostaram de conhecer, mas agora não está me vindo outras coisas que eles me falaram. A gente sente a postura ficar diferente, alguns jovens ficam bem mais maduros do que quando entraram no projeto, e aí é um peso , você foi do Turismo Cidadão, você tem que ter um comportamento diferente. Eles se cobram, cobram entre eles ali, e você percebe isso quando o grupo está cru ainda, quando você está indo a primeira vez na ONG e depois de ter feito o projeto,um ano depois quando você vai falar com ele já tem outra postura, a postura justifica muito pelo falar, pode falar com a gente, pode ligar para a gente, se você não puder vir, avisa antes, liga, isso eles não faziam, agora já ligam, perguntam, já tem essa idéia que eles podem ligar para a gente, que a gente está aqui para atendê-los e podem vir aqui no SEC fora do Turismo Jovem Cidadão, que é mais difícil ainda de botar na cabeça, porque eles acham que tem que vir só com a ONG. E alguns já aprenderam, então você vê alguns meninos aqui numa internet

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livre, meninos de outros projetos, de percussão, você vê a galera já solta por aí, você até esquece, mas eles não esquecem a gente. Você esquece porque passam muitos por você, são milhões. Eles não te esquecem, você chega numa favela X o menino te vê e te chama, e você olha o menino está “desse tamanho, ele era pequenininho e fala Fui do Turismo Jovem Cidadão e aí você lembra mais ou menos. Mas é uma coisa que para eles não é de esquecer, eles não tem isso sempre, eles não esquecem. B – Isso marca. B – Marca. E eles sentem um selo, eu fui do Turismo Jovem Cidadão, então eu tenho que me comportar diferente pelo menos aqui no morro. Já tem essa coisa de falar assim, então, B – Quando você fala postura, é a fala deles muda? B – É uma coisa mais de tentar mostrar que eu fui monitor, não posso estar falando besteira, bobagem, palavrão, essas coisas mais tolas para a gente, mas eles. B – Tem umas perguntas específicas que você já apontou também para elas sobre o papel das explanações acerca da dinâmica do trabalho, você já falou. A importância das esquetes, acho também que já falou no início. A relevância do registro fotográfico, você também já apontou. Enfim, qual o elemento mais importante que você acha no Turismo Jovem Cidadão? Em sua opinião. B – A minha visão como socióloga, acho que a gente não consegue separar, é o olhar, não é o turismo, não é a fotografia, o que muda é o olhar. A intenção, pelo menos a minha intenção quando vi o projeto, essa questão de despertar o olhar desses jovens para a minha cidade, eu, onde eu estou no mundo, através da foto. O turismo é um dos meios, a foto é um dos meios. Para mim a questão é de olhar mesmo, se perceber dentro disso, da cidade, da autonomia, de poder ele escolher o que ele quer mostrar como material que representa o José, então o material que me representa é esse. Eu quero escolher esse, não importa se aquilo está feio para os outros mas quero aquilo. O turismo, a foto, você pode usar outros elementos para poder estar fazendo, agregar mesmo a parte de representação artística e agregando, mas o que muda acho que muda primeiro o olhar, você desperta. B – Em que momento você sentiu que a sua intervenção gerou resultado para os jovens? Houve intervenção específica? B – Acho que saber que no SESC tem uma pessoa que vai lá à casa dele, que entra lá, que não tem medo, não tem vergonha, não tem, é diferente como eles me tratam, como se comportam quando estão comigo e de repente com outra pessoa do SESC, porque eles sabem que eu vou lá e tenho essa articulação das favelas, então eu conheço o pai dele de repente. Já fiz outro trabalho com o pai dele numa oficina voltada para os adultos. Acho que eles se sentem mais a vontade, eu tento falar um pouco a linguagem dele, sem sair um pouco da minha hierarquia, mas eles ficam a vontade e com os outros técnicos aqui eles não se sentem tão a vontade. Mas vejo que comigo, tenho uma entrada legal na conversa. B – Como é que você nutre, como você constrói e nutre esse diálogo com eles? B – Acho que a partir dessa questão de você, a empatia vem para eles acho que o que dá mais empatia é a questão de saber que eu não os trato diferente porque eles

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são do morro. Eu vou lá, entro na casa onde eles estão, converso, acho que isso é automático, eles mudam, eu nem faço isso pensando antes, “vou fazer isso porque ele vai me tratar”, não, eu tenho que fazer pelo meu trabalho. Mas aí “vai lá em casa tomar um chá’. A partir do momento que eles me vêem lá, porque quando eles me encontram na rua é uma festa, é uma coisa, por eu ter ido a casa deles. Não é uma coisa que eu fico, “tenho que agir assim para”, mas acho que tem uma diferença. Tanto é que tem a avaliação que eles fazem da gente, de tia má e tia boazinha, a profissional C que fala. Tia má é ela. Porque pela formação, pela questão da parte dela ela tem que estar ligada muito na parte operacional e aquilo tem que sair de acordo com as normas de turismo. Então ela é a que dá bronca e eu sou a que libera. Vamos experimentar tomar um banho em Paquetá? Não, porque a água está suja, então tem a tia má, eles chamam de tia má e tia boazinha, a gente fica brincando eu e profissional C. B – Você acha que os jovens buscam o Turismo Jovem Cidadão, qual a expectativa dos jovens em relação ao projeto? B – Acho que meio que respondi nessa história do que eles apreendem, 60% lazer e 40% de conhecimento. Na verdade acho que eles vão na busca quando sabem do convite, da maneira que é feito o convite eu não estou lá para ver, quem faz o pré convite é a ONG, e eu não sei como a ONG de repente passa para eles. Estou sendo sincera, não sei se a ONG passa, vamos porque vai ter passeio. Se for assim a abordagem, eles vem pelo passeio. Mas se for assim, o SESC está fazendo um projeto que mistura as visitas com conteúdos e fotografia, alguns vem por estão interessados em aprender o que é fotografar e o que é o passeio, B – Como se fosse um curso. B – Como se fosse um curso, depende. Dizer para você que todo mundo vem sabendo que vai ter passeio, todo mundo vem sabendo que tem passeio, mas alguns já têm essa noção de que vão aprender algo mais. B – De qualquer forma você acha que foi prazeroso para os jovens? B – Foi, claro, tira de tudo, até as broncas eles esquecem nessa hora. Até hoje encontram a gente e cobram, quando é que vai ter outro? Todos. B – Você acha que os jovens voltam a freqüentar os lugares visitados? B – Eu acho que, agora vc me pegou. B – Ou outros lugares além dos visitados, você acha que eles, B – Eu sei que eles voltam para visitar o SESC, já é um primeiro passo, eles já sabem que podem freqüentar e voltam a freqüentar. Agora se eles voltam a freqüentar outros lugares, não sei, não fiz nenhuma pesquisa, levantamento sobre isso. A gente deixa claro tudo, telefones, os preços, se tem preço, se é de graça. Agora, a ONG pode levá-los de novo em outro momento, quando eles vem por ONG, a ONG também tem vários passeios ao longo do ano que eles levam, e alguma uma vez veio falar comigo que levou o jovem de novo para um passeio que a gente foi, e que gostou muito, mas não são todas que vem falar com a gente se o jovem retorna ao Maracanã, não sei. B – Você acha que eles passaram a buscar outras práticas de lazer além do turismo depois do Turismo Jovem Cidadão?

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B – A gente vê aqui no SESC muito internet livre B – No SESC, eles começam a entender o SESC como também uma possibilidade de lazer para eles. B – Cinema, aqui a gente os vê em coisas de apresentação, samba B – Você acha que o Turismo Jovem Cidadão estimula os jovens a se tornarem multiplicadores do conhecimento e das vivências que realizaram, compartilhando com as pessoas que os cercam as experiências? B – Sim, a gente tem essa idéia no projeto de multiplicadores, deles serem os multiplicadores, eles vão replicar o que eles aprenderam dentro de casa, que não seja, pelo menos dentro de casa, além da escola, da sala de aula eles vão contar e a gente acredita que eles chegam realmente contando com a visão deles, com o que eles gostaram óbvio, mas eles vão estar replicando B – Disseminando isso. B – Disseminando isso, sim. Até para quando faz a apresentação do projeto, a primeira apresentação a gente fala nisso, a gente quer que vocês sejam multiplicadores das informações, não guardem para vocês. B – A última. Que contribuições concretas o projeto Turismo Jovem Cidadão trouxe para você? B – Concretas? B – Para ti. B – (inaudível/riso). De concreto a gente fica com uma entrada boa na comunidade, porque a gente já fez algum trabalho lá e se precisar implantar outra coisa a gente já tem um nome com as instituições. Isso para o meu trabalho é importantíssimo. A gente fica com parcerias fortes com essas instituições para futuros projetos. Se a gente quiser fazer outra coisa mais e contar com essa ONG a gente sabe que pode contar como parceira, porque a gente já fez e deu certo. Concretamente isso, a questão de ter carta branca, entrada, se não a gente nem consegue entrar nas comunidades. B – E para a profissional B, contribuições mais pessoais que você acha que ele te trouxe? B - Difícil isso, é difícil falar da gente, a gente fala muito em nome da empresa, a gente não pára para falar da gente. Acho que para mim tem muita coisa mas fica tudo muito misturado, não sei, posso pensar em casa e te mando por –email, B – Você está com pressa, né. B – Tem essa pressão psicológica do tempo e acho que é isso, falar da gente é complicado, concretamente o que para mim trouxe o projeto, eu levaria um tempo, B – Você vai estar sábado aí? B – Vou. B – Sábado eu venho entrevistar os jovens e .... B – Até lá eu juro para você que já vou ter uma resposta concreta. B – Beleza, eu quero ouvir. B – Você já separou os jovens? Pensou? Ligou para eles?

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B – A profissional C está ligando, está conseguindo cinco, eu quero dez para a pesquisa. B – É muito legal, depois você vai mandar isso para gente? B – Lógico. B – Vai ser objeto de relatório final para a gente. B – Com certeza. B – Vem sim, eu vou estar aí de 9 as 6. B – Valeu mesmo. B – A que horas você vem? A última questão que está faltando, B – Acho que vai ser a tarde que a gente está marcando, vou ver com ela agora. B – Pede para ela me falar que eu, B – Obrigado, valeu mesmo. B – Obrigada, você B – Desculpa o tempo, B – Desculpa a pressa também, a gente tem que fazer muito bate bola B – Tranqüilo B – Mas sábado a gente está aí. B – Agora essa última, anota aqui para você. B – Não, já sei como é, concretamente o que o projeto trouxe para mim, como pessoa, para a profissional B eu. B – Sábado eu coloco no gravador B – Valeu, B – Valeu, beijão, obrigado... (SÁBADO) B – Vou perguntar só para deixar marcado. Que contribuições o projeto Turismo Jovem Cidadão trouxe para você, profissional B? B – É difícil, eu achei essa pergunta mais difícil porque é difícil você separar essa sua função de você. Porque às vezes ao mesmo tempo você está se beneficiando não só para o trabalho, mas se beneficiando também, tendo respostas para você de várias coisas que você não imaginava. Então conseguir separar isso para te responder alguma coisa, o que para você, a pergunta. B – Que contribuições concretas o projeto trouxe para você. B – Eu falei, é uma coisa dificílima. Eu acho que a melhor forma de responder para mim, que eu vi na prática, fazendo o projeto que o que você aprende na faculdade quando você estuda às vezes não diz respeito à realidade mesmo da coisa dos moradores de favelas, o que eles sentem e sofrem e para mim foi bom pessoalmente, porque eu tive a experiência que eu acho que pouquíssimos sociólogos tem, que eu acho essa profissão muito na estratosfera, muito na pesquisa, muito no superficial e não na prática. Eu senti muito quando eu entrei aqui porque não sabia na prática como fazer o trabalho de cientista social. Para mim foi muito bom estar pegando a teoria e aliando teoria e prática, para mim foi uma grande coisa. Até falo para a menina que está estagiando comigo que poucos conseguem durante a sua faculdade estar na prática vivenciando alguma coisa e executando alguma coisa que esteja aprendendo. Acho que isso que eu estava pensando descendo as escadas para vir para cá, foi o que eu consegui ver o que

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para mim pessoa está sendo muito legal, é de ver a realidade, de estar indo, de não ficar só nos livros. Eu pensei nesse ponto. B – Já é coisa para caramba. B – Acho que é isso. B – Tem mais alguma coisa que você queira falar e que você acha que de repente, passou um tempo da nossa entrevista, se tiver alguma coisa que não foi contemplado. B – Eu falo muito, eu falo até as coisas que não tem nada a ver. B – Foi útil. B – Mas eu acho que tudo que eu tinha para falar, falei naquela hora. Não lembro de nada que ficou faltando. Não sei se pode te ajudar em alguma coisa (riso) na pesquisa mas B – Fechou com chave de ouro. B – Mas acho que era isso. B - Beleza

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ENTREVISTA COM PROFISSIONAL C C=PROFISSIONAL C B=BERNARDO B – Profissional C, fala seu cargo e a função aqui no SESC, por favor. C – Sou turismóloga, tenho a função de Assistente Técnica III, na parte que cuida do Turismo Social. B – Sobre aquela questão, para ficar gravada e depois incluir no trabalho, como são as categorias das pessoas que utilizam aqui e o que seria cada uma, rapidamente, só para eu poder incluir. C – Você tem o comerciário, o dependente do comerciário, o usuário e tem o convênio. A maioria dos jovens participantes do Projeto Turismo Jovem Cidadão são ou dependentes de comerciários ou da comunidade, de escolas públicas. B – Eu vou falar um pouco sobre o Sesc, qual é a diferença entre o comerciário e o usuário? C – Comerciário é aquela pessoa que trabalha na área do comércio e tem acesso ao SESC. Usuários são pessoas, tem dois estilos de usuários, aquela pessoa que não trabalha no comércio, mas tem acesso ao SESC e tem usuários que são pessoas acima de 55 anos que o SESC dá essa carteira para também terem acesso ao SESC. B – Pode ser qualquer pessoa. C – Exato. B – Eu posso ser usuário então? C – Não, você não. Usuário no sentido assim, tem uma carteira de usuário do SESC para pessoas acima de 55, e você pode entrar no SESC normalmente não sendo comerciário, mas não vai ter a carteira de usuário. B – Dependente dos comerciários são os familiares? C – A gente fala que as pessoas que estão abaixo de 55 anos, comunidade, que tem acesso ao SESC normalmente. B – Qual a sua formação? C – Sou turismóloga com pós-graduação em gestão empresarial e turismo, e agora estou fazendo MBA em gestão cultural. B – As perguntas sobre o Turismo Jovem. Quantos jovens participaram do Turismo Jovem Cidadão nesse último ano, que é o ano em que estou estudando especificamente? C – Mais ou menos, ele começou com 21 e conforme vai passando o projeto, tem alguns que saem mas acabou realmente com 19 alunos, 19 participantes. B – Quais foram as comunidades atendidas? C – As comunidades da Tijuca e de Vila Isabel e Andaraí; foram Macacos, Andaraí e Boréu.

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B – São próximas aqui do SESC da Tijuca? C – São próximas, mais ou menos de ônibus em 15 minutos eles estão aqui, a pé é um pouquinho mais. Mas vamos trabalhar com o ônibus, de 15 a 20 minutos eles estão no SESC. B – Você poderia falar resumidamente de todas as etapas pelas quais passou o Turismo Jovem Cidadão em 2008? Se você já incluir a parte de organização, como é feita, como é realizada a montagem, infra-estrutura, contratação, contatos. C – Essa parte de contato inicial quem cuida é a profissional B que é da parte de comunidades. Ela entra em contato com a ONG, a ONG faz a seleção desses jovens e a partir disso nós entregamos uma listagem solicitando documentos de autorização para participar e vamos fazendo primeiro uma apresentação do projeto, depois uma oficina de fotografia e a terceira etapa seriam os passeios em si. Depois desses passeios tem uma seleção de fotos, depois da seleção de fotos tem a oficina de artes, e o outro mês começa o mesmo processo. No final de cada comunidade a gente seleciona essas fotos e tudo mais, no passado foi no mês de janeiro desse ano de 2009, nós fizemos a exposição, e eles trabalham como monitores da exposição. B – Houve alguma mudança em 2008 em relação aos outros anos? C – O ano retrasado nós trabalhamos com as crianças, cada mês era uma comunidade específica, no ano de 2008 nós selecionamos os jovens que se destacaram mais nos outros dois anos e trabalhamos direto com eles. O ano passado trabalhamos com três temas e normalmente cada comunidade era um tema, e esse ano nós trabalhamos os três temas com um grupo fixo de jovens. B – Você acha que a diferença foi para melhor? C – Foi, deu uma continuidade no trabalho. No ano retrasado você começava em março e depois só via os jovens em novembro, esse ano não, então nós ficamos mais tempo com os mesmos jovens. Isso foi interessante, ficou um processo meio de fidelidade, eles ficaram muito mais ligados ao projeto, ao grupo, entre eles. A comunidade do Andaraí com o Boréu, Boréu com Macacos. B – Quais são suas atribuições no processo do TJC? C – Na parte operacional dos passeios, especificamente. Fazer o contrato dos ônibus, contratação dos guias, dos professores que vão, professor de biologia, professor de história. Entrar em contato com os locais que vamos visitar, algumas vezes pedimos apoio no sentido de liberar ingresso, então você tem que enviar um ofício solicitando liberação, ou também autorização para fotografar, porque muitos dos locais não autorizam fotografar, você não pode fotografar a vontade, então a gente explica o objetivo do projeto e eles liberam. É nessa parte operacional, chega no final a gente acaba coordenando também a parte de montagem da exposição, faz uma curadoria em cima da exposição. B – Desses locais visitados, você se lembra em quais vocês utilizaram guias específicos do atrativo? C – Quando o assunto é meio ambiente a gente trabalha com um guia que tenha uma formação de gestão ambiental e uma bióloga. Tem o atrativo, ano passado nós falamos sobre os 200 anos da chegada da Família Real, então trabalhamos com

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uma guia que tem uma formação histórica e com um professor de história, sempre linkado. B – Tem locais em que tem o próprio guia específico, o Municipal acho que foi. C – O ano passado foi, o Municipal tinha, na COMLURB também, o ano passado nós visitamos, tinha um guia local, fica mais fácil, ele entende a rotina do local e tudo mais, e logicamente a gente trabalha junto com eles. B – Você me deu aquele quadro com as datas e a última data era 12 de dezembro, uma oficina de pintura. Depois daquela oficina, que atividades ocorreram com os jovens? Mais ou menos as datas, se você lembrar. C – Mais ou menos em dezembro fazemos uma oficina para eles serem monitores da exposição. Nós explicamos como é o projeto da exposição, qual é o comportamento, o que gente pede no sentido de assinaturas, para eles explicarem para as pessoas que estão visitando a exposição, dar essa linkada no projeto e explicar para as pessoas o que é aquilo ali. Não é só a fotografia, tem uma história antes de por que chegou no resultado da exposição, da fotografia. A gente também pede para eles explicarem isso. Comportamento, uma coisa normal que você faz com qualquer adolescente. B – Depois tem a exposição? Depois dessa oficina. C – Depois, cada semana fica uma dupla desses que a gente acha que tem e que também queira, que tenha mais vontade de falar, se expressar e eles ficam na exposição por um período mais ou menos de três a quatro horas. B – A exposição fica quanto tempo? C – Esse ano ficou dois meses, dezembro e janeiro. Não, dezembro, janeiro e fevereiro. B – Vamos continuar, C – Fazendo a correção, a exposição foi em janeiro e meio de fevereiro de 2009, do trabalho de 2008 das crianças. Em novembro e dezembro a gente começou a fazer as oficinas para explicar qual o procedimento para ser monitor da exposição. B – A exposição também ocorreu na comunidade? C – Esse ano não. B – Vamos para as questões gerais agora. Qual o seu entendimento de lazer, Simone? C – Desculpe, não entendi. B – Qual o seu entendimento de lazer? C – Você tem dois entendimentos de lazer, o primeiro no sentido do turismo que a gente vive e tem o turismo social. Existe essa diferença. O lazer pelo lazer é você ter um momento seu onde você não está de certa forma trabalhando. Já para o turismo social, você tem que agregar esse momento de não estar trabalhando com educação, com cultura. Então você tem que dar uma especificada nesse sentido, tem a parte do turismo, ou seja, o trade normal, as agências, operadoras normais, lazer pelo lazer, descansar, tudo mais. Vem para o turismo social, você tem que agregar esses valores, na questão do turismo social.

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B – Qual a relevância do lazer para você? C – O ser humano necessita, é básico, ele tem que ter o momento de se desligar dessa rotina nossa de trabalho, projetos, organizações,família, às vezes você inclui, lógico, a maioria das vezes na nossa sociedade a família junto com o lazer em que você se desconecta dessa coisa do trabalho, mas é uma coisa básica senão o cara enlouquece. É impossível você não ter um momento, mesmo que não, a gente fala, ah, vai só para a praia pelo prazer. É o momento de lazer dele que ele está desconectado dessa rotina de trabalho dele. B – Qual a relevância especificamente para os jovens do Turismo Jovem Cidadão? C – Na questão dos jovens você já dá o processo de acessibilidade que ele na grande maioria, primeiro desconhece, segundo que ele não está habituado; porque você tem o Centro Cultural do Banco do Brasil, você tem outros locais que você tem acesso gratuitamente e eles não conhecem ou não vão. Por quê? Não tem a parte de educação, não tem um trabalho às vezes dentro de casa com o pai e mãe que estimulam. Eles vivem naquela rotina da comunidade/casa, comunidade/casa e escola às vezes. Os nossos jovens todos estão estudando, é uma coisa que a gente pede para as ONGS, que eles estejam estudando. É um processo de acessibilidade que eles ficam encantados e ele começa o processo de descoberta. Poxa, mas tem esse espaço aqui, esse espaço é gratuito e eu posso fazer; existe esse curso aqui, existe essa estrutura aqui que eu posso visitar, posso trazer a minha mãe ou o meu pai. Esse é um processo de descoberta, além do acesso tem o processo da descoberta. B – Como você percebe a articulação da educação com as vivências de lazer? C – Como eu...? B – Como você percebe a articulação da educação com as vivências de lazer? C – Eu acho que se torna mais fácil você aprender. A minha base, meu irmão é biólogo e eu aprendia muito biologia porque eu ia ao jardim zoológico com ele e ele me mostrava, esse aqui é um mamífero, não sei o que. Aquela rotina da sala de aula é uma coisa, agora você aprendendo ao vivo, in loco eu acho que é mais dinâmico, a curiosidade se torna mais interessante, a rotina da aula se torna mais interessante, para mim, no caso da Simone, foi interessante no processo de aprendizado porque isso me ajudou a me interessar mais por aquela matéria. Eu tenho uma dificuldade enorme com física e química, eu não consigo visualizar aqueles experimentos de física e química, porque eu só vejo desenhado no quadro e não entendia aquilo; quando me mostrava uma biologia, uma história, sempre a faculdade ou escola levava a um museu e mostrava aquilo se tornava mais fácil o aprendizado. Então eu acho que existe essa ligação. B – Qual o seu entendimento de turismo? C – Turismo é minha vida! Vivo isso desde 91 quando comecei a fazer faculdade, e acho que o turismo é uma ferramenta cultural, educacional, auxilia na parte financeira de uma cidade, de um município, e que infelizmente não é bem, como a gente pode falar, o Brasil ainda tem uma potencialidade enorme para você desenvolver isso. Você vê em países menores, como a Espanha que voltou a ser um grande país por causa do turismo anos atrás em função das Olimpíadas de

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Barcelona. É uma base que ainda não está sendo explorada adequadamente, corretamente como deveria ser; emprega milhares de pessoas, você trabalha junto com gastronomia, com hotelaria, com mão de obra especializada, você trabalha de certa forma, que não é o adequado mas com o ambulante, tem um entorno enorme que pode ser trabalhado, estudado, treinado. A gente espera agora que os próximos eventos como a copa, a busca pelas olimpíadas e tudo mais, que isso seja trabalhado, que é importante. Mas é uma área que realmente não está sendo adequadamente trabalhada para trazer recursos financeiros e que seria uma grande ajuda para a nossa instituição. Para você ver agora cortaram não sei quantos milhões do Ministério do Turismo, e aí? B – E a sua concepção de turismo social? C – Eu trabalho a quatro anos no SESC e antes de entrar do SESC não conhecia muito o aspecto do turismo social, o SESC faz há 60 anos esse trabalho e ele promove, trabalha, desenvolve uma coisa que não só o SESC deveria fazer como outras empresas, outras instituições para os seus funcionários, para os seus dependentes, para as pessoas que desenvolvem o trabalho. O turismo social primeiro promove acessibilidade, segundo, facilita a vida do passageiro no sentido de descobertas. Enfoca um turismo diferencial porque a gente está tentando falar que não pode ser predatório, o turismo tem que ser um processo de crescimento tanto para o turista que vai visitar quanto para a população daquela cidade onde ele vai visitar. Ele não tem que deixar aspectos ruins para esse município e para essa população, tem que ser o contrário, tem deixar bons resultados para eles. E também quando a pessoa voltar para o seu local o que aquele município trouxe que é interessante e que eu posso aplicar na minha cidade? O turismo social tenta enfocar isso, ótimo, você vai visitar esse local mas vai trazer coisas que possam ser utilizadas para o seu município, para sua cidade, para o seu bairro e vai também deixar coisas boas ali para aquele local que você visitou. B – Qual a sua opinião sobre os projetos envolvendo turismo social? C – A gente está na base, a gente é início, ainda está começando, outras empresas tem que fazer isso. São 60 anos, mas ainda está bem na base, em outros locais isso já está desenvolvido. B – Qual a relevância do turismo para você? C – No aspecto profissional é minha vida, eu dependo financeiramente dele, mas o que acho mais importante é que a gente tem uma estrutura ambiental, uma estrutura de patrimônio, tem uma história que ainda não é desenvolvida de forma adequada, e tem o potencial. Potencial para isso a gente tem que ter mão de obra especializada, pessoas como você, fazendo mestrado no turismo, montando essa parte de gestão, essa profissionalização. Não vamos ficar só naquele jeitinho, a gente tem que trabalhar mais isso. B – Especificamente para os jovens, qual a relevância do turismo para eles? Os jovens do Turismo Jovem Cidadão. C – O que eu consigo diagnosticar é o processo da descoberta que aquela restrição que eles tem, como eles falam de estar no asfalto acaba. Sim, eu posso entrar naquele local, sim, eu posso fazer essa atividade. A auto-estima deles fica elevada, nós temos jovens que nós levamos para visitar o hotel do SESC de Copacabana e que visitaram a cozinha e ele se interessou pela parte de gastronomia, e foi ver um

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curso de gastronomia. Nós os levamos a uma faculdade de medicina veterinária no ano retrasado e teve uma menina que se interessou a fazer biologia ou medicina veterinária, isso estimula, mexe. Eu sei que não posso chegar e pagar uma faculdade de medicina veterinária, mas de certa forma o projeto mexeu para que elas se movimentassem em correr atrás disso. Ela viu, achou interessante, posso correr atrás, eu posso. Isso é legal. B – Como você qualifica a experiência dos jovens no Turismo Jovem Cidadão? É lazer? É turismo? Ou alguma outra categoria. C – Eu não classifico como lazer, eu classifico como educação, é um processo educacional usando o turismo como ferramenta. Peguei o turismo e utilizei como ferramenta, agora ali é educação, eu apresento educação para ele. O tempo todo eu estimulo o guia a falar sobre a parte do meio ambiente, sobre biologia, sobre não sei o que, sobre física; vou para história, o tempo todo a gente fica passando informações para eles, tanto é que a gente não trabalha só com um guia, a gente trabalha com um guia e com a professora de biologia, com um guia e com um professor de história. E no caso da professora de artes, ela é formada e tudo mais, tem esse processo. B – Existem estratégias educacionais ou pedagógicas empregadas no Turismo Jovem Cidadão? C – Existe, se estou trabalhando com os professores então existe essa estratégia. B – Qual a relevância dessas estratégias? Qual relevância que você vê no Turismo Jovem Cidadão? C – Não fica só pelo lado de lazer, porque aí você também trabalha com a parte profissional deles, visando o aspecto profissional. Se fosse só o guia, você pode dizer é só lazer, é para mostrar o local, mas quando você bota um professor acompanhando o grupo você também dá a parte educacional e a parte de visão lá na frente deles conhecerem aquela profissão. B – O Turismo Jovem Cidadão comporta modificações no bojo do processo? Enquanto ele está acontecendo, comporta... C – É dinâmico, tem que ser dinâmico. Não sei se já falei para você, no primeiro ano em que começamos tínhamos uma máquina normal e aquela máquina era a novidade, isso foi em 2006, era novidade. Em 2007 eu apresentei a máquina mas eles estavam com celular e alguns celulares tinham câmera; eu já disputava a atenção com a câmera do celular. Esse ano, 2008 eles já levaram a máquina digital deles, ele queriam, “ah, tia, eu quero tirar foto com a minha digital, não quero tirar com essa máquina manual!” Lógico que isso em todos os projetos, você tem que ter uma dinâmica. B – Existiram coisas que não deram certo talvez em anos anteriores e que te fizeram melhorar ou modificar em 2008? C – Não acho que não tenha dado certo, esse processo de você ficar com um grupo só durante uma semana e depois só retornar com eles no final para montagem da exposição, eu achei que no segundo ano ficou uma coisa meio dispersa porque eles, ah, onde nós fomos mesmo... Agora fazendo com um grupo só o projeto todo desde o começo, todas as etapas, todos os temas eles ficam encantados, eles se dedicam mais, quem quer realmente participar do projeto não larga, para você ver ele

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começou com 21 e acabou com 18 ou 19, existe um processo de fidelização, e eu acho que a gente consegue trabalhar mais o emocional deles. B – Quais foram os critérios utilizados na seleção dos jovens participantes de 2008? São jovens selecionados de dois anos anteriores? C – Exatamente. B – Mas quais foram os critérios para selecionar esses jovens. C – Quem fez, para falar a verdade essa seleção foi a profissional B, mas pelo que eu me lembre, foi de participação em todas as oficinas, em todos os passeios . Às vezes acontece, ah, tia, passei mal, não pude ir ao passeio, mas sim, nesse aspecto, participou em todas as fases do projeto. B – Existe articulação do Turismo Jovem Cidadão com outros projetos que envolvam os mesmos jovens? C – Eles acabam participando das atividades normais do SESC, porque nós os trazemos para cá, eles pegam o informativo e visualizam: posso participar disso? Pode. Então eles ficam muito ligados à programação do SESC que eles pegam no informativo normal. É uma coisa involuntária, não falamos você tem que vir aqui para participar. Eles, o teatro dá acesso? Posso ir ao teatro? Vai, pode ir, então eles começam a fazer as coisas sozinhos e dão esse retorno para a gente, isso é que é legal. Às vezes eu encontro com eles: sabe onde eu fui? Fui a um local tal que é de graça, sabe onde eu fui, dava desconto de estudante e apresentei minha carteira, eles dão esse retorno para você. Pelo menos esse último grupo consegue dar esse retorno, ele deu esse retorno para a gente, algumas meninas. B – Pelo contato que vocês tiveram maior com eles. C – Exatamente. B – Como você percebe os jovens se apropriando e ressignificando as experiências proporcionadas pelo Turismo Jovem Cidadão? C – Eu vejo muito pelas respostas dos pais, porque eles passam a experiência para os pais e os pais contam para a gente, meu filho viveu isso, aconteceu isso, eu talvez não tivesse essa oportunidade ou esse conhecimento, eu trabalho o dia todo, sou porteiro, não tenho tempo de ler jornal e tudo mais, e minha filha disse que foi ao local tal e me levou depois lá. O Espaço Cultural da Marinha no domingo é aberto ao público, ela acabou levando o pai lá, a família lá, a gente acaba tendo esse retorno. B – Qual o papel das explanações acerca da dinâmica de trabalho dos profissionais envolvidos no Turismo Jovem Cidadão? Quando algum profissional ou de algum equipamento ou mesmo que está participando do Turismo Jovem fala sobre o trabalho dele, qual o papel disso para você? C – É o profissional, eu peço antes, quando vou visitar o teatro Municipal, eu envio um ofício para ele, explico como é o projeto e eles autorizam a visita. Antes eu dou uma ligada para o local e falo como é o projeto, qual é a demanda, qual a característica da demanda, se eles poderiam abordar esse aspecto profissional porque é importante, é estudo, então a gente tenta sempre passar essa informação antes para esses locais para eles também poderem se preparar, para ver esse aspecto interessante do lado profissional. Eles estão fazendo daqui a pouco o

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vestibular, e quando você está no processo do vestibular, o que eu vou fazer? E estimular a estudar para fazer o vestibular para ir para uma faculdade porque só o ensino médio não está dando. Me lembro muito da explanação da Isabel no SESC Ginástico, ela falou porque ela contratou um técnico, não sei se era de som ou de luz, porque ele tinha o ensino médio e os outros não tinham, então o profissional que está ali na linha frente tem que passar isso para eles. Tem cursos gratuitos, façam esses cursos gratuitos. B – Qual a importância das esquetes no decorrer das visitas? As apresentações artísticas. C – Em Ramos acho que eles fazem em todos os passeios, nós fazemos só em um passeio, uma atividade. Dos quatro passeios nós colocamos uma apresentação. É para ver a rotina mesmo daquela demanda artística, porque é um projeto educacional, cultural, histórico e tudo mais, então vamos colocar esse público, essa demanda, esses profissionais que trabalham dessa forma apresentar para eles também? No teatro não tem como a gente levar porque um teatro normalmente as apresentações são às 7, 8 horas da noite. Se eu pegar essas crianças 6, 7 horas e voltar com eles para a comunidade umas 9 horas você vai ter uma grande dificuldade de voltar com eles para as comunidades. Tem uns aspectos que você tem quando vai fazer os passeios, primeiro o horário que vai pegá-los e o horário máximo que você pode deixar dentro daquela comunidade, ou seja, 5 horas, algumas são 4 horas. Na comunidade da Cutia eu tinha que deixar as crianças no máximo 4 horas, Macacos às 5 horas. Eu não posso fazer um atividade com eles lógico que seria um barato para eles irem e assistir uma peça teatral naquela estrutura toda do teatro, mas a gente está colocando a vida deles em risco e a gente não pode fazer. É a forma da gente colocar esse aspecto teatral, circense, artístico para eles nesses locais do passeio. E muitos locais curtem, No Centro Cultural do Banco do Brasil eles deram uma sala e eles fizeram a apresentação, no Centro Cultural da Light também, eu expliquei o projeto, falei dessa nossa dificuldade e eles abriram uma parte do teatro deles para eles assistirem a apresentação. B – Qual a relevância do registro fotográfico realizado pelos jovens durante as visitas? C – Primeiro a valorização, a minha foto está sendo apresentada numa exposição, a auto-estima deles, vai o pai, a mãe e eles tiram foto junto com a foto. Eles vem todos arrumados, na monitoria também eles fazem questão, esta foi a foto que eu tirei e tudo mais, é um registro, aquilo ali está sendo valorizado por eles, pela ONG, pela instituição, pela comunidade que vem visitar, é um processo de valorização. Olha o resultado do meu trabalho, é um trabalho que eles estão fazendo ali. Esse é o resultado que está sendo valorizado. B – Em sua opinião, qual o elemento mais relevante do Turismo Jovem Cidadão? C – Eu me coloco pelo fato de ser classe média, quando você tem acesso a algo que seria difícil, para você ver o Pão de Açúcar custa R$35,00, acho que está custando R$35,00 e uma pessoa que ganha um ou dois salários mínimos não dá para ir ao Pão de Açúcar. Primeiro esse processo do acesso, e segundo o das descobertas. Você participou e você ver o rosto deles descobrindo esses locais, essas informações, esse processo da descoberta que eles podem ver lá na frente

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para trabalhar, para ver se conseguem sair daquela rotina da escola, da comunidade, amenizar. B – Em que momento você sentiu que a sua intervenção gerou resultado para os jovens? Você acha que foi prazeroso para os jovens? C – Extremamente, não só para os jovens, mas para todas as pessoas que trabalham, não é só para o jovem. A ONG, lógico fica satisfeita, os profissionais, os guias, os professores ficam satisfeitos. Parcerias também, no ano passado nós trabalhamos com um hotel e uma agência de viagens que ofereceu serviço de bordo, é uma responsabilidade; para as empresas é um processo de responsabilidade social, para a gente é um resultado ótimo como profissional, porque você está oferecendo oportunidade para esses jovens. Eu acho que é um grupo que todo mundo acaba fortalecendo a parte de conhecimento, cultural, educacional, e todos saem positivamente desse projeto. Até agora, nesses três anos de projeto não escutei nenhuma parte meio não gostei disso, é sempre, parabéns, das empresas, dos museus: legal o projeto que vocês estão fazendo, tem que ser isso mesmo. Eu queria que outras instituições da área do turismo pudessem promover também. Eu sei que tem algumas que fazem, algumas redes de hotéis fazem, tem que ter essa dinâmica. B – Como é construído e nutrido o diálogo com os jovens? C – O diálogo não adianta a gente chegar e usar termos muito complicados com eles. O primeiro contato você tem que ficar mais ou menos no mesmo padrão. Lógico não é usando os termos e tudo mais, mas tem que ser uma linguagem básica, e aí sim você vai mostrando para eles, olha só talvez isso não é mais adequado para vocês utilizarem? Essa verbalização, essa forma que você está falando, essa postura talvez não seja a melhor você trabalhando assim? Mas no começo você não pode ir de atrito senão você não conquista o grupo. Eu faço os passeios com eles no primeiro e no segundo ano, eles queriam botar funk, aí eu falei,putz funk, gente vamos fazer o seguinte: eu boto hoje o funk, o funk normal e amanhã a gente colocar um Tom Jobim. Nós fomos visitar Burle Max, vamos lá, Burle Max e Tom Jobim tem tudo a ver, e também foi ao Jardim Botânico, então uma hora você dá um pouquinho e entra no esquema deles e vai lá e outra hora você puxa ele e vai um Chico Buarque, não dá para você ficar só na nossa conversa, no nosso padrão porque senão você entra em atrito com eles e se torna chata. E se você se tornou chata não é legal. Eles não fazem, eles vão lá pegam a máquina e tiram a foto “assim”. Isso, desde o professor de fotografia até a última professora que é a professora de artes, todo mundo tem que ter esse linguajar, esse trabalho, esse envolvimento, porque quando você vai apresentando as coisas e deixando-os também apresentar, porque de certa forma a gente também aprende com eles e tem essa troca, eles ficam sensibilizados e se permitem aprender o que a gente está falando. Me lembro que os levamos para Teresópolis e eu estava comendo, acabei de comer e coloquei garfo e faca na posição correta, aí um visualizou, olhou para mim e falou, mas por que você botou assim? Falei, é porque é assim que se faz, aí ele cutucou o outro, tem que botar igual a tia, e quando eu vi todos estavam na mesma posição. B – O que você acha que os jovens buscam no Turismo Jovem Cidadão? Quais são suas expectativas em relação ao projeto?

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C – Eu queria que esse projeto não ficasse só no SESC. Eu acho que é uma coisa boa? É um projeto bom? Multiplica, que outras instituições façam a mesma coisa. Se não achar legal ficar o mesmo nome, não fica, mas é importante você fazer esse processo de transformação deles de sair lá, igual eles falam, da comunidade para o asfalto e ter esse receptividade e eles saírem daquela rotina deles. Multiplica isso, faz uma coisa similar. B – Você meio que indicou, essas perguntas que vou fazer agora você meio que apontou mas se você quiser falar mais, se tiver alguma coisa para complementar, os jovens voltam a freqüentar os lugares visitados? C – Voltam. Principalmente os que são gratuitos. Eles procuram, eles participam, vão à biblioteca do SESC pegam o jornal e verificam onde é atividade gratuita, sábado e domingo. B – Os jovens passaram a visitar outros lugares depois do Turismo Jovem Cidadão? Outros lugares além do que o projeto proporciona para eles? C – No Sentido de lazer ou você está falando busca educacional? Eu sei que eles buscam cursos. B – Mais em relação ao lazer, ao turismo, eles costumam ir a outros lugares? C – Sim. B – Passaram a buscar outras práticas de lazer, além do turismo depois do Turismo Jovem Cidadão? Você meio que já indicou, passam também. Vocês, de uma forma plural, o SESC mantém contato periódico com esses jovens depois que termina a exposição? C – Eles que ficam em contato com a gente, eles que acabam ficando, porque eles vem aqui e dão esse retorno. B – Eles voltam. C – Eles acabam, perguntam assim como eu faço para ser do SESC? A gente, você tem que ser comerciário, dependente do seu pai, da sua mãe, não sei o que, eles tentam se fidelizar à instituição. B – Essa pergunta você já tinha meio que indicado. Você acha que o Turismo Jovem Cidadão estimula os jovens a se tornarem multiplicadores do conhecimento e das vivências que realizaram compartilhando com as pessoas que os cercam as experiências e as novas possibilidades? Você também indicou. C – Sim, a família me dá esse retorno, o pai, a mãe, leva B – Acaba levando a família? C – Isso. Aí eles são os monitores, eles são os guias. Eles falam, eu fui ali no submarino e não sei o que, o centro cultural, não sei o que, lá no Sesc Ginástico gente pode ir. Eles acabam sendo a referência da informação para os amigos, para os familiares. B – As últimas agora, profissional B. Que contribuições concretas o Turismo Jovem Cidadão trouxe para os jovens?

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C – Primeiro, não sei se estou sendo repetitiva mas no contexto da independência no sentido de procurar outras coisas que às vezes eles tinham vergonha de ir a esses locais. A sensibilidade é básica. Acho que a palavra chave é essa. A auto-estima deles dá uma levantada. B – Que contribuições concretas o Turismo Jovem Cidadão trouxe para você? C – Como profissional resultado, porque não só o Turismo Jovem Cidadão, mas como todos os projetos que o SESC Rio de Janeiro faz, o resultado deles você trabalha com o social, não é como o mercado normal que você tem um resultado o financeiro. Ali o seu resultado é social e você vê a evolução de qualquer pessoa, seja do Turismo Jovem Cidadão, seja na questão da terceira idade, seja o comerciário que trabalha de domingo a sábado, e você proporcionar esse momento para ele. B – Só uma última coisa, acho que você chegou a comentar, se existe alguma modificação em vista para esse ano de 2009? Ou não me lembro agora se é o próximo, alguma modificação em relação a estrutura do Turismo Jovem Cidadão? C – Todo ano a gente tenta renovar, fazer alguma coisa diferente. Esse ano a gente ainda está no processo de montagem, de discussão. A gente estava querendo começar agora no primeiro semestre, agora a gente vai fazer no segundo, mas não tem como ficar a mesma coisa, o grupo pede. Cada grupo te traz uma experiência que não dá para repetir porque se torna chato para eles. São jovens, jovem vive uma coisa dinâmica. B – E essa idéia dos jovens serem condutores do próximo Turismo Jovem Cidadão? C – Não são condutores, a gente não pode botar essa palavra porque você tem que valorizar o trabalho do guia. O guia tem uma formação, ele estuda, faz um curso e tem que ser valorizado e respeitado profissionalmente. O que a gente apresenta para esses jovens que ficam interessados é buscar junto com esses profissionais quais são os caminhos para eles conseguirem se profissionalizar. E os que tem acima de 18 anos, você acaba até porque está há muito tempo na área, tem conhecimento com essas pessoas, e aí, olha, vai lá no curso tal, eu conversei com o diretor tal para ver se a gente consegue um desconto para você. Mas eles não são condutores, eles são observadores, a gente não pode botar essa palavra para eles; eles observadores de uma coisa que eles estão interessados. B – Obrigado, valeu! C – Nada, desculpe o aparelho e os gaguejos. B – Não, deu para gravar, o que é isso. C – Não sei se dá para tirar alguma coisa. B – Foi ótimo, desculpe te atrasar. C – Depois você passa para mim...

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ENTREVISTA COM PROFISSIONAL D D=PROFISSIONAL D B=BERNARDO B – Qual o seu cargo aqui no SESC? Você tem alguma função específica? Ou foi contratado especificamente para Turismo Jovem Cidadão? D – Turismo Jovem Cidadão, a minha função de guia especializado em meio ambiente na área de ecologia para estar fazendo essa parte junto com as crianças, dentro do Projeto Jovem Cidadão, e também orientação sobre postura, como estar se localizando nos lugares. B – Mas você foi contratado especificamente para o Turismo Jovem Cidadão? D – É com o Proposta Turismo Jovem Cidadão que eu trabalho. B – Você tem alguma função no SESC? D – Não, eu não sou funcionário do SESC. Eu desenvolvo o trabalho como gestor ambiental, B – Não só para o Turismo Jovem Cidadão, D – Não só para o turismo, nessa área de, é como se fosse uma consultoria ambiental de acordo que a gente faz para eles e também de turismo. Dentro dessa área ambiental a gente tem também um projeto chamado Clube da Caminhada e a gente faz a consultoria desses projetos de caminhada em meio da natureza, da conservação, voltada para o turismo; e o Turismo Jovem Cidadão é um gancho de todo esse trabalho que o turismo social desenvolve, um projeto específico. B – Como foi, se é que teve, o processo seletivo para sua contratação? Como você chegou ao SESC? D – Especificamente no Turismo Jovem Cidadão ou quando eu vim conhecer o SESC para desenvolver meu trabalho? B – No Turismo Jovem Cidadão. D – No Turismo Jovem Cidadão eu já seguia aqui no SESC há algum tempo como contratado, e quando surgiu o projeto, eu tendo essa visão de meio ambiente e ser formado em guia ecológico, surgiu o convite de abraçar essa área de meio ambiente dentro do projeto. Não teve, a meu ver, uma seleção de várias pessoas, eu já estava aqui dentro e surgiu o convite para que eu pudesse estar desenvolvendo essa parte. B – Qual o seu entendimento de lazer? D – Lazer é quando a gente tem um tempo livre e dentro desse tempo livre a gente se propõe a se divertir dentro daquilo que o local oferece. Pode ser um parque, futebol, caminhada, uma festa. Aquilo que não esteja relacionado, para quem vai realizar, ao trabalho. É alguma coisa livre e que você vai fazer uma higiene mental e vai esquecer-se das outras coisas do dia a dia. B – Qual a relevância do lazer para você? D – Fundamental em relação à questão de qualidade de vida. O lazer vem a ser não uma válvula de escape, mas um momento em que você vai recarregar suas baterias e até dar atenção a outras coisas que no seu dia a dia você não tenha oportunidade

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de observar em relação ao ambiente do qual você convive. É o momento seu, momento de descanso, momento em que você vai estar olhando para as suas coisas num todo, e não para aquilo que vai ser a sua subsistência em relação ao seu dia a dia. B – Especificamente para o jovem do Turismo Jovem Cidadão, qual a relevância do lazer para esses jovens? D – Na verdade, eles vêem o TJC como um lazer constante, é a possibilidade que eles têm de sair e de se divertir. Mas, além disso, a gente procura colocar a visão da inclusão dentro dessa possibilidade de lazer, da diversão, do conhecimento, da cultura, de estarem ganhando cultura, então tem essa visão de englobar tudo isso. B – Como você percebe você inclusive já falou um pouco, mas como você percebe a articulação da educação com as vivências de lazer? D – A gente procura sempre estar direcionando justamente para essa parte sócio-educativa, onde eles têm oportunidade de estar tendo uma mudança comportamental. Tanto é que para eles possam estar se comportando de acordo com os lugares que eles vão visitar e vendo toda essa vivência de estar num lugar diferente da comunidade, ver o comportamento das pessoas que estão nesse lugar e com isso consegue estar absorvendo algumas coisas em relação a essa qualidade, de estar aprendendo para estar se colocando no mercado, porque a gente está sempre buscando essa vivência de que é preciso você se reeducar, se reeducar como? Sabendo se portar, sabendo falar melhor, ter um entendimento daquilo que ele está fazendo. Então a gente procura passar essa visão geral para que eles possam estar vendo o que é se reeducar. O que é o fator da educação, o que preponderante em relação a isso, para que eles possam estar aprendendo um pouco mais para trilhar com seus próprios pés nessa visão de vivência do dia a dia. B – Qual o se entendimento de turismo, profissional D? D – Turismo é a minha vida. Turismo para mim, primeiro é profissional, é a forma como eu tenho de juntar a minha condição pessoal de vida com o meu trabalho. Só que no turismo, quando você fala a minha visão, eu profissional ou eu fazendo turismo? B – A sua visão profissional e pessoal, as duas juntas. D – Porque são coisas bem distintas. Quando eu estou à frente passando a visão do turismo, a gente procura mostrar o atrativo, de como esse atrativo funciona independente de lugar, de região, como é a “funcionabilidade”, como você faz para chegar até esse atrativo e como ele se transforma num contexto de turismo. Agora, eu profissional D turismo para mim é colocar a mochila nas costas, entrar numa trilha e galgar mundo afora, sem preocupação, sem medo, um momento de relax, sem ter que ter horário. Mas o turismo hoje é fundamentalmente uma forma de ganhar dinheiro, eu acho que dentro do Rio de Janeiro, do Brasil teria que ser, na verdade o fator número um em relação a renda para a população. Eu acho que deveria existir uma política mais voltada em desenvolver nas cidades brasileiras o turismo local, regional e mostrar para as pessoas que vale a pena ter essa visão local, regional, nacional para que possa estar trabalhando mais esses atrativos, trabalhando mais a sua população local, o histórico local. Inclusive hoje está relacionado ao local, social, ambiental, tudo tem a ver; o turismo de massa que realmente atrai multidões. O turismo hoje é muito ligado ao “tô a toa” numa questão bem simplória, e por aí vai.

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B – Fique a vontade para não responder perguntas que de repente você não quiser ou não souber. D – Sem problemas. B – Qual a sua concepção de turismo social. Você meio que falou a vertente social do turismo, mas qual a sua concepção de turismo social? E já coloco outra, a sua opinião sobre os projetos envolvendo o turismo social? D – A visão de turismo social, hoje a gente tem levantado essa discussão em algumas unidades, porque social hoje voltado para o SESC, é um turismo no qual a gente procura subsidiar para que as pessoas possam ter acesso a viagens, a passeios com valores bem em conta. Só que o SESC é voltado para o comerciário, mas também tem o lado aberto ao público. O turismo social não visa geração de renda, é mais a empresa financiar para que todos possam ter oportunidades a baixo custo de estar fazendo as suas viagens, de estar conhecendo alguma coisa. A segunda pergunta que você fez? B – A sua opinião sobre os projetos envolvendo o turismo social. D – Eu acho que os projetos ainda precisam ser amadurecidos porque muitas vezes o projeto é bom mas não tem finalização. Eu percebo que muitas vezes os projetos dentro do SESC visam você ter um público para justificar que a casa estava cheia, você vira uma estatística. Isso me preocupa muito, quando você faz um projeto pensando na quantidade de pessoas que vão freqüentar e não na qualidade que o projeto vai estar passando para esse público e que eles possam ter um retorno realmente daquilo que eles venham buscar. B – Vou te fazer a mesma pergunta que eu fiz em relação ao lazer. Qual a relevância do turismo, especificamente para os jovens, para os jovens do Turismo Jovem Cidadão? D – Para eles, o jovem que está dentro do Turismo Jovem Cidadão é uma novidade, porque muitas das vezes não tiveram essa oportunidade de fazer a dinâmica do turismo, aonde existe um profissional para mostrar, um transporte específico, toda uma logística esperando por ele para que ele possa se sentir a vontade e usufruir da melhor maneira daquele objeto que foi escolhido como o ponto para ser observado como turismo. Então, um dos fatores interessantes é que eles começam a ter uma visão do que é turismo. Para eles é indiferente no primeiro momento, depois sim, eles começam a perceber que existe algo mais e começam a buscar. Tanto que temos oficinas que fazemos de estar viajando virtualmente, e eles conseguem ter essa concepção do turismo, que existem outros mundos além daquilo que existe nas comunidades deles, que também é um ponto turístico e que a gente procura mostrar a comunidade como um fator interessante para o turismo local. B – Como você qualifica a experiência do jovem do Turismo Jovem Cidadão? É lazer, turismo ou outra categoria? Como você qualifica essa experiência do jovem? D – É o marco divisor de águas, porque quando eles entram para o Jovem Cidadão eu começo falando que eles tem um diferencial na vida deles e que a partir daquele momento eles começam a ter uma mudança comportamental e que em algum momento na vida cotidiana deles mais a frente, eles vão ter esse projeto como referência até como currículo para estar se projetando no mercado de trabalho. Eu

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acho super importante, é um canal porque abre caminhos para que eles possam estar buscando talvez uma área de turismo, ou dentro do próprio projeto como nós temos várias áreas diferenciadas, estarem tentando vislumbrar alguma coisa que talvez eles não tivessem idéia, que não tivessem acesso. E a gente procura fazer com que eles tenham acesso, para que eles sejam capazes de conseguir aquilo que realmente sonham e desejam. Acho esse ponto fundamental para o crescimento e desenvolvimento social, econômico, profissional deles. B – (inaudível/riso). Existem estratégias educacionais ou pedagógicas empregadas no Turismo Jovem Cidadão? D – Estratégias, na verdade, na própria montagem do projeto porque tem uma linha a seguir, e essa linha claro, sempre procura estar dentro de um projeto de certa forma pedagógico, apesar de eu não ter conhecimento da postura do pedagogo dentro do projeto. Mas a nossa própria vivência de escola, universidade e outros cursos mais, nos dão essa postura de estar tentando fazer alguma coisa que possa estar alinhada a educação, ao conhecimento, para que a gente possa seguir oferecendo essa possibilidade de conhecimento para eles. B – Qual seria a relevância dessas estratégias no Turismo Jovem Cidadão? Você meio já falou. O turismo Jovem Cidadão comporta modificações ou alterações durante o processo? Durante a execução do projeto? D – Como todo projeto ele também comporta essas modificações, só se for um caso extremo que a gente tenha que pegar pela tangente, mas procuramos sempre seguir na íntegra tudo aquilo que a gente coloca dentro do projeto. Até porque a gente gerou uma expectativa e se na hora H a gente não consegue passar para eles a expectativa gerada, faz também com isso desqualifique o projeto e eles abandonem, porque isso acontece, eles vem a primeira vez, conhece o projeto, participa do primeiro momento e quando chega no segundo momento a gente não passa para eles aquilo que prometemos, aquela expectativa gerada se torna uma coisa ruim no contexto deles e eles acabam fugindo e há evasão em relação ao projeto, por não termos conseguido seguir justamente o que você na verdade concordou com eles. B - Qual o conteúdo das informações passadas para o jovem no decorrer do Turismo Jovem Cidadão, no decorrer das visitas? D – O conteúdo sempre tem a ver com o atrativo visitado. Se a gente tem uma questão de meio ambiente e a gente escolhe um parque ou uma unidade de conservação, a gente vai falar da importância da unidade de conservação, a importância do parque, o comportamento dentro do parque. Se a gente escolhe uma profissão na qual eles vão estar trabalhando, a gente fala da formação, onde ele vai buscar a formação, de que forma ele vai estar se formando, aonde ele pode ser orientado para ter essa formação, até onde ele vai colocar o seu currículo para de repente se tornar o profissional daquela formação. A gente procura sempre estar passando as informações relevantes àquilo que a gente se propôs dentro do roteiro. B – Sobre aquela pergunta das alterações e modificações no bojo do processo, existiram coisas que não deram certo em anos anteriores que te fizeram melhorar ou modificar em 2008? Você aprendendo com possíveis equívocos? Se teve, você pode dar algum exemplo concreto? Se houve realmente. D – Na verdade, nós trabalhávamos com 25 crianças. E você trabalhar com um grupo de 25, na minha visão, você fica muito distante muitas vezes para passar

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informações para um grupo de 25, ao ar livre, você lá na frente e outros aqui atrás, porque você como pessoa informante é um só, você tem mais um apoio, e eu acho que valeria a pena, como vai acontecer nesse que está se iniciando, reduzir o número de participantes para estar oferecendo, para que eles possam ter uma qualidade melhor em receber as informações. As informações passadas são as mesmas, mas como o grupo é menor você dá condição de eles terem a informação chegando até eles de forma bem mais fácil, direcionada, não tanto aglomerada como se faz. A logística é a mesma do projeto, não tem mudança de logística; o que vai mudar são os atrativos para não serem repetitivos, ou de repente, as oficinas que são realizadas para dar uma diferenciada porque geralmente é finalizado com uma exposição, então o primeiro teve um vídeo, o segundo não teve o vídeo, teve uma exposição já mais interessante, mais integrativa e assim vai ponteando de acordo com o que as pessoas estão participando, tem outro também, a verba que está sendo direcionada, isso faz a modificação. B - Como você percebe os jovens se apropriando e ressignificando as experiências proporcionadas pelo Turismo Jovem Cidadão? D – É muito bacana quando eles tomam ciência de que eles tem uma identidade renovada através das informações do projeto. E eles passam depois para a gente essas informações, claro, de outra forma mas como agradecimento daquilo que a gente ofereceu para eles. Essa apropriação que eles fazem de educação, de postura, até como de multiplicadores por excelência, daquilo que eles participaram, eu acho muito bacana, da ciência que eles tomam do que eles aprenderam. B – Tem três perguntas mais especificas, não sei se de repente cabem para você responder. Qual o papel das explanações acerca da dinâmica de trabalho dos profissionais envolvidos no Turismo Jovem Cidadão? Os profissionais que falam sobre a dinâmica de trabalho, a dinâmica profissional deles... D – É de mostrar que existem outros meios nos quais eles possam estar buscando um lado profissional, um lado pessoal, é de informar, acho que vai mais de informação para eles, para eles ganharem essa textura de saber que podem ir mais além e dar esse caminho das pedras onde eles possam buscar o algo mais que eles precisem. B – A outra, qual a importância, para você das esquetes no decorrer das visitas? As apresentações artísticas. D – As apresentações artísticas tem um cunho histórico local, regional, eu acho que é importante porque faz um resgate da nossa cultura e eles tem acesso a essa cultura que muitas vezes está esquecida. Uma peça de teatro ou um poema declamado, onde eles vão conhecer um autor, saber dessas possibilidades. Acho que é muito relevante no contexto. B – Qual a relevância do registro fotográfico realizado pelos jovens durante as visitas? D – Satisfação, acho que identidade, me fugiu a palavra, mas é isso, eles fazem parte daquela história, daquele momento, eles estão com a máquina nas mãos e só depende deles aquilo que querem mostrar. Eles se sentem ali, na verdade, os donos de tudo, a partir de agora sou eu quem faz, a partir desse momento é o que eu sou e o que vou mostrar para uma exposição. Então ele pode brincar na fotografia, pode tirar uma fotografia mais séria, mas ele vai externar o que ele é pela fotografia.

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Quando a gente ver uma fotografia a gente vai estar vendo aquele momento da vida daquela pessoa. B – Em que momento você sentiu que a sua intervenção gerou resultado para os jovens? E já coloco outra engatada nesta, você acha que foi prazeroso para os jovens? D – Bastante, e é até engraçado falar, mas o momento que eles chegam até nós que participamos do projeto e falam muito obrigado, ou quando se encontram com você na rua eles tem prazer de vir até você e te abraçar e falar, tio, professor, ou te mandarem e-mail, uma mensagem via essas comunicações que nós temos na rede, a gente sabe que vale muito a pena quando existe esse retorno, que ele te reconhece em algum momento. B – Como é construído e nutrido o diálogo com os jovens? Você já disse um monte de coisas, mas se você puder falar um pouco sobre isso. D – A gente procura sempre usar uma linguagem bem tranqüila, bem informal na qual eles possam ter entendimento, muitas vezes porque, claro, todos eles tem que estar na escola sendo alfabetizados, mas muitas vezes não tem uma dinâmica de estar conversando, de estar entendendo algumas palavras, algumas frases, e a gente procura sempre usar uma linguagem bem tranqüila que possa estar atendendo as necessidades do conteúdo que ele traz da comunidade dele. Muitas vezes a gente entra na linguagem deles para que ele se faça entender e a partir daí a gente começa essa mudança de linguagem com a postura, a forma de falar, o tom de voz, é uma troca. B - O que você acha que os jovens buscam no Turismo Jovem Cidadão? Quais são suas expectativas em relação ao projeto? D – O que a gente busca muitas vezes eu vejo como pedir socorro, é um momento de socorro, como são crianças da comunidade, é uma escada para tentar conseguir alguma coisa através das ONGS ou através da Associação de Moradores pela qual eles são indicados. Quando eles buscam um local desse é porque eles já tem essa noção de que existe algo mais. E quando eles vem para o SESC eles vêem o SESC como um clube onde ele vão ter o tal do lazer. Eles vêem dentro do projeto essa possibilidade de ter esse lazer que dentro da comunidade deles eles não tem e que muitas vezes dentro da escola ou de um cursinho que eles façam, ele têm acesso através de conversa com os amigos que tem uma condição de vida melhor e que freqüentam esses lugares e eles não tem. Quando se abre essa oportunidade eles vêem a oportunidade de estar acessando aquilo que talvez um amigo indicou, um amigo falou e ele poder ir lá também conhecer e a partir daí ganhar mundo. B – Perguntas mais específicas, você acha que os jovens voltam a freqüentar os lugares visitados? D – Eu colocaria aí 30%, pelo conhecimento que eu tenho, tiveram a oportunidade de voltar com a família. Outros muitas vezes a única oportunidade que tinham de ir até o local era através do projeto, porque são crianças que estão na escola, que precisam de autorização dos pais para estarem saindo, então ainda tem o receio de ir até certos lugares porque mesmo que não queiram, eles tem aquele choque de identidade, porque muitos lugares são freqüentados por turistas e a gente tenta fazer com que ele se coloque como turista no lugar mas enquanto a gente está lá. Depois

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que a gente sai eles não conseguem se colocar como turistas, e fica meio complicado eles retornarem aos lugares. B – Você meio que respondeu a próxima que é se os jovens passaram a visitar outros lugares, além dos que eles visitaram depois do Turismo Jovem Cidadão? Você meio que respondeu, falou da dificuldade de retornarem. Você acha que passaram a buscar outras práticas de lazer, depois do projeto? D – Com certeza, o projeto, dentro das oficinas que tivemos dentro do projeto a gente descobriu que tinha cantores, músicos, essas veias para arte e alguns continuam fazendo curso de música, outros tiveram oportunidade de fazer curso de fotografia, e estão se enveredando por esse caminho. Acredito que um pouquinho a gente conseguiu mudar um pouco aquela visão da comunidade e eles desceram, como eles falam o asfalto, desceram até o asfalto e viram as possibilidades aqui no asfalto, seguraram e mergulharam de cabeça. B – Na reta final, profissional D, vocês, quando eu falo no plural, o SESC, mantém contato periódico com esses jovens? Contato sistemático, periódico? D – O contato, como eu não sou SESC, não posso te afirmar com toda certeza, mas sei que quando existem algumas atividades existe uma preferência da gente estar convidando essas crianças para estarem vindo à unidade participar desses eventos. Eles sempre são lembrados para participar dos eventos. B – Você acha que o Turismo Jovem Cidadão estimula os jovens a se tornarem multiplicadores do conhecimento e das vivências que realizaram compartilhando com as pessoas que os cercam as experiências e as novas possibilidades? D – Já fez B – Eu acho que você já chegou a falar, D – Já fez, com certeza, porque eles saem daqui deslumbrados, e sempre quando eles voltavam eu perguntava e aí, o que você, falei com meu pai e com a minha mãe, na escola, com meu tio, com os meus amigos e eles querem saber o que é isso, e de certa forma os 30% que vão com seus familiares estão incluídos justamente por causa dessa sensação que eles transmitem aos familiares, aos seus amigos, em escola, curso e eles se juntam em grupos e através daí é que eles vão até o atrativo, por isso que com certeza eles conseguem estar fazendo. B – As duas últimas para finalizar. Que contribuições concretas o Turismo Jovem Cidadão trouxe para os jovens? Você já falou algumas, teria mais alguma? D – Não, acho que é fundamental a mudança de comportamento para ter qualidade de vida. E aqui a gente tenta abranger tudo isso, como falei, incluí-los socialmente para que possam ter essa mudança de comportamento através do conhecimento de outras coisas, e a partir daí ter qualidade de vida. B – A última. Que contribuições concretas o Turismo Jovem Cidadão trouxe para você? D – Oportunidade de conhecer essas comunidades e ver que eles estão muitas vezes abaixo da margem de uma vida saudável e que a gente precisa não pensar em ganhar algo e sim, estar oferecendo um pouquinho daquilo que a gente

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aprendeu independente se vai receber ou não, é a contribuição para que a gente possa estar fazendo com que essas pessoas, essas crianças tenham oportunidade de um futuro melhor. Eu acho que doação sinaliza isso, a gente entra ganhando alguma coisa mas muitas vezes a gente, o pagamento é importante, mas se torna bem relevante pelo que a gente ganha de retorno que eles trazem para o nosso dia a dia, como experiência e o que a gente pode oferecer para eles como cidadão, tornando-os cidadãos de bem, como pais de família. É como eu falo sempre eu quero ver engenheiros, professores, médicos. Eu fico muito triste quando chega aquele grupo e fala assim, eu quero ser policial, porque entraram na minha comunidade e mataram meia dúzia, então quero ser policial para me vingar dos policiais, e a gente procura mudar, a gente já conseguiu mudar essa postura, onde em vez de ser o policial que é um cidadão de bem, ele ser além de policiais, cidadãos de bem, mas outros profissionais que moram no sonho deles, porque todos eles tem vontade, tem sonhos. Eu falo sempre, feche os olhos e pense naquilo que você gostaria de ser. Se você conseguiu chegar naquilo que você gostaria de ser, vá lutar por isso, vá estudar para você conseguir chegar até ele, porque é só assim que você vai viver tranquilamente e lá em cima poder ajudar mais alguém também. B – Beleza, show de bola, valeu! D – Nada. B – Só uma coisa, você está no Turismo Jovem Cidadão desde o início? Em que ano você começou? O SESC Ramos é pioneiro, em 2003. D – É começou no SESC de Ramos. B – O SESC Ramos. D – No SESC de Ramos foi a Ana quem começou, e eu tive uma participação no SESC de Ramos. Depois o SESC da Tijuca abraçou a idéia e eu comecei pioneiro aqui no SESC da Tijuca. Mas o pioneirismo é da profissional E, da técnica de Ramos e da profissional A. Elas que abraçaram a idéia, B – Você chegou a trabalhar no de Ramos? D – No de Ramos eu tive a oportunidade de fazer, B – Qual ano? D – A saída, foi 2004 ou 2005, B – Desde lá está aí direto? D – Depois vim para a Tijuca e continuei aqui apoiando e desenvolvendo o trabalho junto com eles. B – Tem alguma coisa que você queira comentar? Alguma coisa que você ache que ficou? D – Não, você conseguiu juntar todas as informações no que você perguntou e apenas que o seu trabalho se torne um material de pesquisa interessante para que a gente possa buscar através do seu material, quem sabe a sua visão em cima disso, porque você vai fazer uma análise crítica em torno desse material, para quem sabe, poder estender esse projeto que o SESC criou a outras comunidades ou de repente se transformar em um projeto do Ministério do Turismo. Eu mesmo quando fiz minha monografia do curso final de gestão ambiental, foi turismo social nas caminhadas de eco-turismo na cidade do Rio de Janeiro, então, abordei um pouquinho dessa questão do turismo social. Eu acho que só tem a contribuir com a informação para esse assunto que hoje está tão em voga, e que não se perca somente em um documento para ficar ali na estante. Que a gente possa colocá-lo para as pessoas possam ter acesso. Porque o grande problema hoje é mesmo com a rede, é que a idéia, é meio complicado você conseguir algumas informações nessa área social. As

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pessoas se fecham muito. Quem trabalha com social local muitas vezes tem medo de perder a sua boca social para poder, e eu acho que não, eu acho que tem que abrir, mostrar para todo mundo, e aqueles que têm competência vão continuar e desenvolver trabalhos interessantes. O turismo não é de ninguém. B – Você tocou num ponto essencial, da academia também se aproximar, estender seus braços, trocar, aprender com a realidade concreta. Não pode ficar só a academia abstratamente aqui, D – Você vem aqui pega a informação, eu realizo, você faz, e você escreve, eu realizo e continuo sendo o pequenininho e tem que fazer aquela, B – Tem que fazer essa integração. D – Qual é a vontade que a academia tem e que a população gostaria, o que os estudiosos, nós que estamos aí sempre pesquisando, qual a visão que nós temos que poderia diretamente ir lá, buscar e fazer essa interferência na comunidade para oferecer-lhes alguma coisa melhor. Que o seu trabalho possa virar um pouco dessa referência para o pessoal. B – Tomara...

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ENTREVISTA COM PROFISSIONAL E D=PROFISSIONAL E B=BERNARDO B – Vamos começar? E – Vamos começar. B - Você fique bem a vontade para não responder as perguntas ou que você não souber ou não quiser. E – Ok. B – Me fala, para começar, seu cargo. E – Sou bióloga e guia de turismo na área de educação ambiental. Na verdade, a proposta foi essa quando me convidaram, trabalhar nessas duas áreas. B – Você tem uma função no SESC ou você foi contratada especificamente para essa atividade. E – Eu já tenho quase onze anos que presto serviços na área ambiental do SESC. Eu comecei como estagiaria e hoje sou terceirizada para essa função de bióloga e educadora ambiental. B – Então não é só com o Turismo Jovem. E – Não, não. B – Me fala a sua formação, você já chegou a falar você é bióloga. E – Isso, eu fiz biologia, na verdade, ciências biológicas na época, hoje que é biologia, na Universidade Castelo Branco, fiz uma pós na Cândido Mendes e hoje faço mestrado na UERJ na área ambiental também. Sempre foi na área ambiental, voltada mais para arte-terapia psicopedagogia, essa parte de inter-relação com as pessoas em si. B – Teve algum processo seletivo para a sua contratação ou no SESC quando você entrou há onze anos ou especificamente para o Turismo Jovem Cidadão? Teve alguma coisa assim? E – Para o SESC eu era estagiaria da primeira sala de ciências que o SESC tem aqui no Brasil, que é uma sala multidisciplinar voltada para jovens carentes em Madureira e eu fui convidada quando me formei na área de biologia a trabalhar dentro dessa área. Fiquei nesse projeto durante cinco anos como bióloga. Na época Madureira abriu o setor de Turismo Social, que não é o que a gente tem hoje em dia e ele me convidou para fazer um curso de guia para trabalhar educação ambiental voltada para o turismo. Eu entrei no turismo sendo uma das primeiras guias a trabalharem dentro do SESC. Para participar desse projeto, na verdade ele surgiu em Ramos, no SESC de Ramos com o Complexo do Alemão, eu já fazia um trabalho de educação ambiental junto com a pós-graduação na Cândido Mendes com o pessoal do Complexo do Alemão e eu a técnica tivemos a idéia, na verdade, muito mais a técnica, eu só juntei o meu trabalho com os jovens daquela área que era uma área de risco com a idéia do SESC que era trabalhar turismo e a gente começou então a implementar em Ramos, nas treze favelas do Complexo. Acho que

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uns três anos depois que a profissional C abraçou a idéia e começou a trabalhar com as comunidades do entorno aqui da Tijuca. B – Eu cheguei a entrevistar a Profissional A E – A profissional A B – É. E – A profissional A é a idealizadora do mega projeto, porque a idéia grande veio dela. Mas o que ela tinha proposto na época era muito grande para o SESC e a gente começou a dar uma enxugada e o projeto ficou ótimo. Não nas proporções que ela tinha idéia, visão, mas ficou um projetão, todo mundo conhece o projeto e abrangeu bastantes comunidades. B – Qual o seu entendimento de lazer? E – Como assim, tipo de lazer? B – Não, o seu entendimento de lazer. E – Ah, lazer para mim. Eu acho que qualquer tipo de atividade que te proporcione bem estar é lazer. Independente se é você ir ao cinema, jogar bola num campo, ou de você estar lendo um livro, se está te proporcionando bem estar, para mim é lazer. Acho que isso também eu aprendi com as crianças, porque na minha época, antes de começar o projeto, antes de estar dentro das comunidades, lazer para mim era ir a teatro, cinema, comer em um bom restaurante. Quando eu comecei, porque teve época em que eu freqüentava a casa da galera, eu fiz amizades com os jovens e até hoje a gente troca telefone, e-mail, MSN, Orkut e eles não tem esse tipo de lazer. O lazer deles é jogar bola num campinho cheio de lama, soltar peão, soltar pipa ou então ir para a pracinha trocar, ficar flertando com as garotas ou ir a baile, isso é lazer. Lazer é qualquer coisa que te proporcione bem estar. B – Você já falou, mas qual é a relevância do lazer? Especificamente para os jovens do Turismo Jovem Cidadão. Você teria alguma coisa a acrescentar? E – Para eles, especificamente para a galera que participou tiveram uma visão de lazer ampliada, porque eles não tinham essa idéia de que você podia pegar um ônibus e ir para uma Floresta da Tijuca. Você de repente usando o seu passe da escola fazer um passeio sem gastar grana. Eles tinham essa visão de que iam gastar muito, ou não podiam gastar para um lugar que de repente você gasta uma passagem só ou então pega seu passe e dá como eles falam, um “role” sem estar gastando grana. Para eles abriu um leque de oportunidades de poderem visitar lugares que eles não imaginavam que podia estar visitando sem estar gastando dinheiro. Acho que para eles foi bem vantajoso. B – Como você percebe a articulação da educação com as vivências de lazer? A – Agora vou falar como pedagoga, porque se a gente for falar hoje em dia, não vou falar especificamente do Turismo Jovem Cidadão, hoje em dia as práticas pedagógicas não estão muito relacionadas a lazer e acho que isso vai fazer meio com que não só a criança mas o adolescente de forma geral fique pressionado, ele não consegue relacionar estudo, educação a lazer. E isso a gente vê no Turismo Jovem Cidadão que acho que esse é que é o grande gancho da idéia porque a gente conseguiu através do lazer embutir conceito de educação dentro de uma brincadeira. Porque a gente colocava as crianças dentro do ônibus mas nunca

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mostramos para ela que era parte de educação, que a gente ia educar ninguém, o objetivo não era esse. Mas através daquele lazer de você estar saindo, passeando, mostrando lugares novos, oportunidades novas, a gente acaba educando-os, de muitos no primeiro dia serem rebeldes, de nos xingarem, bater de frente com a gente e no último dia nos abraçar e dizer, “obrigado, valeu, não quero acabar o projeto, quero continuar”. Acho que a educação e o lazer, em minha visão, estão amplamente ligados, é uma linha única, mas acho que depende de quem está a frente e de como vai conduzir esse tipo de trabalho. B – Qual o seu entendimento de turismo? E – Turismo hoje em dia, antigamente, aí eu falo há onze anos quando eu entrei como guia no SESC turismo era uma coisa muito pequenininha, não tinha essa visão gigantesca. Antigamente as pessoas pensavam que turismo era você pegar um ônibus de turismo, de lazer e ir para uma cidadezinha, isso era turismo. Hoje em dia o leque, o turismo abriu de uma forma tão ampla, que hoje em dia turismo é você ir ao museu, ir de repente a um cinema, turismo hoje abrange tudo. Hoje a gente tem um leque de turismo pedagógico, turismo educacional, turismo ambiental, turismo ecológico. Para mim turismo está abrangendo tudo, desde que você saiba trabalhar agregando, porque você tem sempre que estar agregando o turismo, sempre tem que estar agregando valores, conceitos: lazer, educação e outras coisas que você pode estar embutindo conforme o turismo abre o seu leque. B – Qual a sua concepção de turismo social? E – Eu sou muito lisonjeada de falar disso porque eu gosto muito do SESC, minha avó trabalhou no SESC, minha mãe trabalhou no SESC, todo mundo se aposentou no SESC e eu nunca pensei que eu estaria dentro do SESC do outro lado. Eu gosto de falar do turismo social porque ele dá oportunidades para mim, acho que a palavra chave o turismo social dá oportunidades às pessoas que de repente elas não podem ir a um lugar, porque tem lugares que o SESC leva que é duas vezes mais caro se você fosse por conta própria e tem muitas pessoas que não tem essa oportunidade de poder pagar. De repente uma família, como eu vejo aqui, às vezes entro no ônibus e estão pai, mãe e filhos, ou então pai, mãe, netos e avós, e em uma oportunidade comum eles não poderiam ir com uma entrada de R$40,00, você traz uma família, gastando R$200,00 quando no SESC eles cobram R$12,00, R$10,00? O turismo social abriu oportunidades para as pessoas que se sentiam afastadas mesmo, excluídas desses lugares, de poder visitar esses lugares. Hoje em dia se você pergunta assim você conhece o SESC? Não tem um que não conheça o SESC, não tem um que não fale bem dos passeios e essa coisa de você ter um guia, um profissional, de repente um ecólogo, um biólogo, até mesmo historiador que o SESC agora tem colocado professores de história para estarem dentro de um ônibus tendo essa disponibilidade de estar passando conceito, educação, não tem preço. B – Qual a sua opinião sobre os projetos envolvendo o turismo social? E – Acho que agora eu posso falar mesmo porque não tenho vínculo com a casa eu posso escrachar, eu acho que o SESC poderia fazer mais. Ele faz muito, mas poderia fazer mais, porque se você parar para pensar geograficamente eles estão localizados em áreas que poderia privilegiar mais pessoas, tipo aqui Tijuca, tem muitas comunidades ao redor e acho que poderiam ser feitos projetos maiores para

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abranger mais comunidades, mas não abranger por um período curto de tempo. Fazer projetos que pudesse durar mais, porque as crianças me cobravam isso, “poxa, vai ser só um mês, e depois”? Acho que teria que ter uma continuidade, não sei como, acho que o que eles fazem é de bom tamanho, mas poderia melhorar e dar continuidade, não sei se em parceria com outros sistemas S, SEPRO, SENAI, SESI, seja lá o que for, dar continuidade de cursos técnicos ou uma parte mais técnica na área de turismo para as crianças saírem técnicas na área, mostrar a elas que elas poderiam ter continuidade, não só naquele sonho de que dentro de um mês eles vão passear, conhecer lugares, oportunidades novas, mas que daqui a um mês vão voltar para a realidade cruel delas. Acho podiam dar continuidade. B – Você meio que falou sobre a relevância do turismo. Você teria alguma coisa a dizer sobre a relevância do turismo para os jovens do Turismo Jovem Cidadão? E – Eu até comento muito isso com o profissional D, que também foi um guia que participou. B – O entrevistei. E – A gente observou uma coisa muito bacana, que é o que tem hoje, não vou falar o nome do jovem, mas aconteceu um fato comigo que não foi com jovens aqui da Tijuca, foram jovens lá do SESC de Ramos, que eu estava dentro de um ônibus e entraram uns quatro para assaltarem o ônibus, e um desses quatro era um jovem que participou do projeto Turismo Jovem Cidadão lá do SESC de Ramos, e eu tenho sempre a mania de sentar no fundo do ônibus. Quando eles foram os quatro lá para trás para começar o assalto e ele me olhou, ele olhou e, “é a tia Ana”, só que eu não me lembrava porque são muitas crianças que passaram com a gente durante esses anos, ele:”é a tia do projeto lá do SESC de Ramos”, aí eu brinquei com ele: “o que é que tu está fazendo aqui”? Eu senti que meio que desarticulou a idéia dos quatro, porque ainda brinquei e falei, “não vai fazer parada errada não, cara”? Ele, “não, tia a gente está só passeando. Eu acho que o turismo proporcionou um vínculo bacana entre a gente, porque tem muita criança que passa pela gente, muito adolescente que me liga, e isso é muito legal, eles dizem, estou casada, ou estou grávida, voltei a estudar, estou trabalhando, estou sustentando a minha família. Acho que isso que proporcionou a eles, esse vínculo de carinho, de afeto. Porque muitos que vem para cá são criados por avós, são criados por tios. A grande maioria das famílias é envolvida com tráfico, é um que embala, o outro que vende, o outro é avião, então eles vêm, eles não têm carinho. Além de não terem oportunidade não tem carinho. Eu tenho muitas histórias desses jovens, de uma ter sido estuprada pelo padrasto e a mãe sabia, mas como ia sobreviver? Eles necessitam de carinho. Acho que esse vínculo que a gente proporcionou de educação, de lazer e de ser mesmo um pouco de amigo, de pai, de companheiros, de estar ouvindo e dando conselhos, acho que esse vínculo vai ser eterno. B – Como você qualifica a experiência dos jovens no Turismo Jovem Cidadão? É lazer, turismo ou alguma outra categoria? Como você qualifica essa experiência? E – Até certo ponto, vou botar numa proporção, eu diria que 30% seria lazer, mas acho que 70% para eles é oportunidade, porque eles estão tendo uma oportunidade nova de ter coisas novas, aprender coisas novas, de ver o mundo de maneira diferente. Porque até então eles tinham aquela divisão de morro e asfalto. Morro é

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uma coisa e asfalto é outra. E a gente consegue dizer que não existe essa, apesar da sociedade, da política, da polícia e de tudo de certo ponto geral, ter essa divisão de asfalto e de morro, a gente consegue mostrar para eles que nós somos iguais e que o que está diferenciando é a falta de oportunidade de um bom emprego, de se estudar, de correr atrás. Acho que 70% para eles seria oportunidade deles conhecerem um novo caminho, que é o que falta. B – Existem estratégias pedagógicas ou educacionais empregadas no Turismo Jovem Cidadão? E – Não sei como os outros profissionais trabalharam ou usam o meio, apesar de trabalhar com outros, eu posso falar da minha experiência, da minha técnica. Eu trabalho muito com arte-terapia, que é trabalhar a parte psíquica, o interior, mas isso sem eles saberem, obvio, e tentar trazê-los para mim, de que forma? Geralmente trabalho muito com dinâmica de grupo, então antes de começar qualquer coisa eu faço dinâmicas, faço brincadeiras de integração. Eu começo a fazer de uma forma que eles relaxem, se integrem, e a gente começa desse jeito. E procuro, isso é meu, eu procuro não passar o conceito de forma pesada, porque muito vão para escola e olha para o professor e falam “que chato, já vem ela falando isso de novo”. Então eu costumo muito brincar, passo o conceito da educação ambiental, da ecologia, de fauna e flora de forma mais brincalhona, de forma mais didática, mais alegre e eles começam a associar. Porque não adianta nada eu falar uma coisa aqui que só tenha aqui, eu tenho sempre que estar associando ao que eles vão ver lá em cima. Geralmente eu primeiro falo de saneamento básico, costumo falar de problemas do lixo, costumo associar problemas das comunidades com problemas nossos do asfalto, e essa ponte é que faz com que eu possa falar dos outros assuntos, eu tenho que chamá-los para mim. Não posso falar dos meus problemas e me esquecer dos deles, porque eles estão vendo os deles diariamente, então faço essa ponte e dessa ponte eu começo a introduzi-los a outros conceitos. B – O Turismo Jovem Cidadão comporta alterações ou modificações no bojo do processo? E – Você diz o que, o processo educacional? O processo de aprendizagem? Ou como um todo? B – O processo como um todo, comporta modificações no meio do que está acontecendo? E – Acho que sim, e a gente vê isso nitidamente quando a gente encontra com jovens que participaram do primeiro Turismo Jovem Cidadão e quando você encontra com eles hoje em dia você vê, não vou dizer para você que a gente conseguiu salvar os 100, mas eu digo para você que 40, 45 a gente conseguiu embutir alguma coisa e poder mostra que não é para aquele lado, é claro que é muita utopia, olha que lindo o que a gente está falando aqui em baixo, mas chegar, como acontecia, deles chegarem aqui e dizerem para a gente, quando a gente almoçava, ou quando a gente dava o lanche e a gente perguntar, porque você não lanchou? “vou levar para o meu irmão porque amanhã meu irmão não tem o que comer de manhã”. A gente sabia das dificuldades das crianças, mas acho que mudou, mudou por completo a forma de pensar, a forma de agir, a forma de procurar outros meios e não aquele de estar roubando mesmo, assaltando a mão armada ou cheirando. Porque tinha muitos que via os familiares fazer, beber e era um passo para continuar aquilo. Acho que a gente fez uma grande modificação na vida dessas

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crianças, por isso que eu volto naquela coisa da continuidade, porque muitos vinham cobrar, e aí, e depois? Como ia dar o prosseguimento? Como ia fazer? E eles perdiam esse contato. Uma das minhas não brigas, mas dos desentendimentos com o pessoal do SESC, não digo a Simone nem Paula, mas com o Projeto SESC, Sistema SESC era isso, porque eles pedem para a gente não manter vínculos, ou seja, acabou o projeto, acabou. E eu não sou, acho que isso é contra, se você cria um vínculo de amizades, por mais que você não queira manter e estreitar esse vínculo, você é referência daquele cara que está ali, você está dentro do ônibus na frente daquelas crianças comandando um ônibus, você é referência, então você não vai ter vínculo? Eu criei uma página no Orkut, Turismo Jovem Cidadão para juntar a galera tanto de Ramos quando aqui da Tijuca, eu criei um e-mail para fazer essa rede com a galera, meio que contra o povo, mas porque eu acho que é uma forma, quando tem alguma coisa nova que não paga eu mando para a galera e falo, vai ter peça, vai ter exposição, para ter continuidade, eles sentem falta disso. Acho que a única coisa que peca é a não continuidade. Eu sei que a falta de dinheiro, porque o SESC passa por um problema financeiro difícil, mas acho que só falta isso, a continuidade. B – Qual o conteúdo das informações passadas para os jovens no decorrer do Turismo Jovem Cidadão? E – Vou falar da minha área, minha propunham o seguinte, quando a Simone me convidou ela pediu que eu passasse assim, a gente escolhia lugares tipo Sítio Roberto Burle Max, Parque Chico Mendes, a gente ia e sempre falaria de conteúdos ecológicos voltados para aquele local que a gente iria visitar. Como eu escolheria? Chico Mendes, restinga, então meu objetivo era falar daquele ecossistema. O que era uma restinga, que tipo de fauna, que tipo de flora, o que a restinga tem a ver com a comunidade, o que afetaria se uma restinga terminasse. Eu tento sempre, como falei para você a ponte, e através daquela ponte estar passando conceitos. Então sempre passava conceitos ecológicos, mas dependendo do local a ser visitado, por exemplo um local que eles adoravam que era o Jardim Zoológico, muitos nunca tinham entrado e a gente passava a falar de tipos de alimentação, tipos de habitat, o que o animal comia, como vivia, como era o ambiente dele sem estar dentro do zoológico. Dependia muito do local a ser visitado, depois que se escolhia o local a ser visitado, selecionava-se o conteúdo a ser empregado, mas sempre focando o local visitado. B – Você acha que existiram coisas que não deram certo em anos anteriores e que te fizeram ou melhorar ou modificar em 2008? E – Tudo é um aprendizado, tudo começou, como falei para você a Simone foi muito guerreira de trazer a idéia de lá para cá e a gente começou praticamente do zero aqui porque teve que fazer grandes modificações, não ser o mesmo, não podia ser feito nos mesmos moldes do de Ramos. Mas aqui eu vejo que a cada ano que passou ela foi aprimorando mais, e acho que é assim a vida da gente, a gente vai pegando experiências ruins, tipo de experiências ruins que eu digo, quando a gente foi para Nogueira, eu achei que a distância para as crianças foi complicado porque algumas não estavam acostumadas a estarem dentro do ônibus de viagem muitas horas e algumas passaram mal. A gente passou nos anos seguintes a não fazer mais para lugares longe e ir a lugares mais próximos. A gente sentiu certa dificuldade de relacionamento quando as crianças foram ao Cristo, que muitas tinham medo de subir porque nunca tinham subido e tiveram crises de pânico. A

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gente teve que trabalhar essas crianças durante todo o projeto para no dia da visita ao Cristo não ter aquele constrangimento de muitas passarem mal, de chorar, de gritar, de ter crise de riso porque tinham medo de subir. Acho que as mudanças foram gradativas de ano para ano, elas começaram a ser aprimoradas de ano para ano. Não digo que teve coisa ruim ou coisa boa, acho que foram mudanças gradativas como em qualquer tipo de projeto ou vida da gente. B – Como você percebe os jovens se apropriando e ressignificando as experiências proporcionadas pelo Turismo Jovem Cidadão? E – Vou falar como arte-terapeuta. Acho que a forma deles chegarem a gente depois que o projeto termina é que é a gratificação, você vê a mudança de comportamento, de atitude, você vê um cara mais cidadão, um cara mais prestativo, mais coerente. Ele sabe que tem problemas, que tem dificuldades, mas que não vai ser daquela forma grossa, daquela forma de estar fazendo uma atitude grosseira que ele vá conseguir alguma coisa. Eu vejo esse lado depois do fim do projeto eles se modificam muito e aí, é o que digo a você, é uma parte difícil para quem está desse lado aqui é ver que eles sabem, que eles conhecem os dois lados da moeda, e fico naquela coisa, porque me coloco no lugar de uma criança que desce o asfalto e vê que o carinha comprou um tênis de R$300,00 e eles só podem comprar um de R$20,00, de R$30,00. Acho que essa coisa é que a gente tenta lidar com eles e acho que é isso que pesa na cabeça deles, porque eles não entendem, porque a gente já disse que somos iguais, e como explicar essa igualdade nessa diferença? Acho que a única coisa ruim é isso, mas eles mudam muito, só quem vivenciou o projeto dia a dia, e até digo por mim, eu pude ter esse privilegio de estar nos dois, eu vi a mudanças das duas comunidades, é muito bacana você subir numa comunidade e você não ser mais olhado com intruso. A gente pode subir a comunidade e eles já sabem que você é do SESC, sabem que você já participou e você não é mais olhada como um cara que está subindo do nada. Essa troca é que é a grande modificação. B – Vou te fazer umas perguntas mais específicas. Qual o papel das explanações acerca da dinâmica de trabalho dos profissionais envolvidos no Turismo Jovem Cidadão? E – Como assim? B – Como os profissionais falam sobre o seu trabalho, a sua formação, E – No primeiro dia tem a apresentação, a gente reúne todas as crianças geralmente em um auditório, em uma quadra, ou quando a gente vai a comunidade e cada um fala um pouco do que faz e quem é. As primeiras apresentações que fizemos nos primeiros anos, a gente achou que ficou muito formal e as crianças com aquela cara assustada, o pessoal da comunidade com aquela cara assustada, porque chegaram pessoas que um era biólogo, o outro educador, o outro historiador e dava aquela coisa tipo, eles vão pegar a gente e botar num saquinho. Mas a gente começou a mudar e de ano para ano a gente não mais fazia dessa forma, a gente não fazia essa divisão, a gente fazia uma roda e cada um se apresentava, no meio daquela apresentação a gente entrava na apresentação. A gente passou a não falar das nossas experiências, mas apenas dizer o que a gente era, eu sou bióloga, sou professora e vim aqui passar os conteúdos de biologia para vocês. Era mais ou menos dessa forma, porque antigamente era, sou bióloga, trabalho não sei aonde, há não sei quantos anos, faço, e aquilo dava certo distanciamento entre o grupo e a

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gente preferiu passar a não dizer mais o que era, nem o que fazia, a gente dava apenas uma pequena apresentação para não criar esse distanciamento do grupo. B – E os outros profissionais? Me lembro que acompanhei uma que tinha profissional do teatro que mexia com luz, e o chamaram. E – Isso é porque cada ano que foi passando a Simone foi modificando os conteúdos para não ficar a mesma coisa todos os anos. Teve um ano que ela falou das profissões, que chamou o pessoal do teatro para falar como funcionava, coisas de manutenção. Nesse ano a gente não quis mais mostrar a Ana, quis mostrar o profissional biólogo. O que um biólogo fazia, em que área ele trabalhava, como eu cheguei nessa profissão. A gente mostrava o que era a profissão, aonde o profissional poderia trabalhar e como aquelas crianças se quisessem seguir aquela profissão poderiam caminhar, aonde poderiam buscar cursos, faculdades que faria. A gente estava mostrando caminhos e profissões a serem tomadas, caso alguém quisesse. Durante o ano todo a gente trabalhou com profissões, chamou o pessoal do teatro, chamou o pessoal do circo para poder falar como é o profissional do circo, chamaram se não me engano um fotógrafo também para falar sobre a profissão de fotografia. Durante aquele ano a gente mostrou caminhos que poderiam ser escolhidos e mostramos como caminhar. Não só falamos aqui é o biólogo e é esse profissional, não, a gente falou de universidades, na época a gente mostrou também o veterinário, levamos acho que foi na UFRJ para falar sobre o campus de veterinária, o que o veterinário fazia, como era o profissional, quanto tempo levava a profissão. A gente mostrou nesse o caminho de algumas profissões. B – Qual a relevância, a importância das esquetes no decorrer das visitas? E – Esquetes, você falas aquelas, B – As apresentações artísticas que tem no meio. E – A gente percebeu, no início não tinha, em Ramos sempre teve, teve um ano que não teve, mas acho que a sacada legal da Simone foi essa, ela percebeu que era muito maçado, era muito maçante você falar, falar, falar e não ter aquele momento de descontração. Ficava pesado, as crianças ficavam meio de saco cheio de só ouvir falar, tem hora que até a gente fica cansado de ouvir, tem que ter um momento de descontração. A sacada foi essa de pegar profissionais liberais e mostrar para as crianças que muitos vivem daquilo porque no final de cada apresentação, às vezes era dança, repentista, a gente passou por várias, teatro, teve pessoas que a profissional C pegou que eram duas pessoas que faziam teatro armado, montava na hora, fazia e desmontava. A gente mostrou que esses profissionais liberais também ganhavam a vida de maneira certa, ganhavam pouco mas trabalhavam, e era uma forma de desligar, dar uma relaxada nas crianças e depois quando voltasse eles estariam mais tranqüilos, mais leves, muitos se soltavam mais. E a gente sempre usava a ponte dos profissionais que se apresentavam para a gente no decorrer falar dessa profissão que tinha sido apresentada, a gente sempre fazia essa ponte. B – Qual a relevância do registro fotográfico realizado pelos jovens durante as visitas? E – Acho que é ponto mais alto do projeto. Porque você ouvir uma criança falar é uma coisa, agora você olhar pelos olhos daquela criança é outra porque quando aquela criança fotografa aquela imagem é como se ela capturasse, literalmente aquele momento mágico que representa para ela. E é o momento que vai ficar

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registrado não só no papel mas vai ficar registrado no interior daquela criança, é uma imagem que não sai mais. E isso para eles era aquela coisa de poder fazer, de poder mostrar, de dizer que é importante. Naquele momento eles não são mais da comunidade, eles fazem parte dessa sociedade que é tão mesquinha, que separa. Acho que esse é o peso da fotografia para eles, de poder mostrar, “olha a minha foto”. Quando a gente fazia a exposição eles tinham orgulho de dizer que aquela foto era deles e mais orgulho ainda de poder dar um título para aquela foto, porque cada foto tinha um título dado pelas crianças. Você imagina o peso que eles tinham de poder dizer, aquela foto fui quem tirou e aquele nome fui eu quem deu. Eles não eram mais, vamos dizer assim, favelados, eles faziam parte dessa mesma sociedade, acho que isso não tem preço para eles. B – Qual você acha que é o elemento mais relevante no Turismo Jovem Cidadão? Em sua opinião? E – Mais importante? B – É. E – Tirando a oportunidade, acho que é a fotografia que foi o peso, que foi o ponto máximo do projeto, porque além deles fotografarem darem nome, eles puderam levar as fotos para casa. Acho que eles puderam mostrar a finalização de um trabalho, de um projeto. Porque muitos iam para casa e os pais não acreditavam (ar de riso) que eles estavam participando. Por mais os pais tenham dado autorização para eles participarem, muitos achavam que eles estavam literalmente na esbórnea. Então quando você leva um produto para casa e mostra, muitos começaram a ter credibilidade da família de dizer, “eu fui mesmo, está aqui o projeto, eu participei”. Eu acho que o produto mais relevante foi realmente a parte fotográfica para eles. B – Em que situação durante as visitas você sentiu que sua intervenção gerou resultado para os jovens? E – Vou contar um caso, acho que tiveram dois que me marcaram, de um menino que foi liberado pelo, não lembro bem o lugar que ficam só as crianças que ficam presas, B – Tipo FEBEM. E – Tipo FEBEM, a associação de moradores, essa FEBEM o liberou para participar desse projeto, o Turismo Jovem Cidadão, e ele era um garoto extremamente rebelde, e detalhe, ele não falava com ninguém. Ele era aquele que entrava no ônibus, calado ficava, calado continuava, ele participava de tudo, mas nunca esboçou um sorriso, nunca esboçou um sentimento e aquilo me deixava, não entendia como um ser não podia demonstrar sentimento. E eu fui buscar saber por que ele era daquela forma. Eu soube que ele tinha sido raptado, que tinha perdido a mãe e o pai, tinha sido estuprado pelo padrasto da outra família, que ele tinha estuprado uma menina e a menina estava grávida dele, e ele tinha sido preso por causa de pequenos roubos. E que a FEBEM o tinha cedido para este projeto junto com o pessoal da associação de moradores porque ele tinha tido bom comportamento. Eu tentei junto com as outras crianças chegar perto dele mas ele nunca cedeu nada. No último dia quando eu me despedi e falei com todo mundo e todo mundo se despediu, quando ele desceu ele chegou perto de mim e me abraçou, chegou ao meu ouvido e falou assim “não foi em vão, obrigado”. Eu chorei e até hoje me emociono porque eu falei, ele me ouviu, ele estava me ouvindo. Foi

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muito legal o que ele falou ao meu ouvido “olha, não foi em vão, obrigado”. Vou te falar até hoje, o valor que eu recebia não tem preço, falando em reais, a experiência de vida que eles me deram não tem preço. E o outro caso foi da menina que sentia que era muito agressiva, e teve uma vez dentro do ônibus que o Antonio até riu porque ela começou, era aquela que criava o motim dentro do ônibus. A gente foi descendo na Floresta da Tijuca e ela começou a me peitar e eu falei com ela, se você não está satisfeita, você desce. “Eu vou descer”. Eu pedi ao motorista, e acho que ela não achava que eu ia pedir ao motorista, no meio da floresta, descendo, eu pedi ao motorista:”pára, abre a porta porque ela vai descer”. Ela, “mas como eu vou embora?” Eu falei: “você não é tão fodona? Você desce e vai andando”. Aí o pessoal, desce, desce, e ela, vou descer? Falei, você disse que vai descer, que você se vira. Ela sentiu e voltou. Daquele dia em diante ela começou a se soltar e aí que ela veio me contar que ela era estuprada toda noite pelo padrasto e que a mãe sabia, inclusive eu conversei sobre ela com a profissional C e a profissional D chamou o pessoal da assistência social aqui para conversar para tentar achar uma solução. No final ela me abraçou e falou, você é a mãe que eu queria ter. São coisas que me marcaram, foram dois fatos que vão ficar para sempre, me marcaram. B – Você acha que foi prazeroso para os jovens do Turismo Jovem Cidadão E – Tirando a despedida, acho que sim. Acho que para eles essa oportunidade foi tudo e para muitos eu acho que foi a única. Porque muitos, tinha uns que nunca tinham subido de escada rolante, quando a gente foi ao shopping a gente parou e eles ficaram olhando a escada rolante subir e descer. Muitos nunca tinha subido numa escada rolante. E se a gente parar para pensar que a gente está no século XXI e escada rolante é uma coisa que existe há anos, e que não é uma coisa difícil, muitos nunca tinham entrado num shopping. Então, tirando a despedida, que eu acho que é a parte mais difícil, mais triste porque você sabe que ali acabou, não vai ter continuidade, a gente não vai mais se ver, se for parar para pensar não vai mais se falar, acabou. Tirando a despedida, acho que para eles foi tudo. B – Esta pergunta que vou fazer agora você já flertou com ela, mas se você tiver mais alguma coisa para incluir, como é construído e nutrido o diálogo com os jovens? E – Não falar pelos outros, vou falar por mim, eu sempre procurei fazer com a gente literalmente virasse amigos. Sempre deixei claro para eles que eu não estava ali na posição de professor, nem de profissional. Eu estava ali na posição de mãe, amiga e que eu queria que eles agissem da mesma forma. Tanto que muitos me falavam mesmo que roubavam, cheiravam, bebiam. Coisas que eles não falavam para os outros aqui, não só daqui mas em Ramos, mas a gente fez, eu procurei mostrar para eles que eles podiam confiar em mim. Que não era aquela coisa de ela é do SESC, é a professora e então a gente vai mantê-la lá. Não, eu sentava no chão com eles para comer, tirei o sapato, andei descalça com eles, me sujei, procurei me integrar ao cotidiano da vida deles para eles poderem se chegar até a mim. Eu percebi que se eu mantivesse uma barreira de você é você e eu sou eu, eu não ia chegar no meu objetivo que era passar o meu conteúdo, porque muitos já chegavam naquela barreira: estou aqui para passear, não quero aprender nada, eles falavam para mim. Só que se eu mantivesse aquela barreira eu não ia chegar ao meu objetivo, então eu tive que literalmente descer para poder trazê-los para onde eu queria.

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B – O que você acha que os jovens buscam no Turismo Jovem Cidadão? Quais são suas expectativas em relação ao projeto? E – Muitas. Eles vem na expectativa de arranjar emprego, eles já vem nessa postura de que tem que arranjar um emprego para ajudar em casa. Outros vem na postura de conhecer os lugares porque muitos nunca conheceram. Era um briga de grupos quando tinha sorteio quando a gente ia ao Maracanã, porque é o sonho dos jovens entrar no Maracanã para ver o Maracanã e pisar na grama. Outros, era briga porque nunca foram ao Cristo, então eles viam a possibilidade de poder visitar lugares que para muitos não vão voltar mesmo, nunca mais, foi a primeira e última. A gente via que para eles era forma de criar oportunidade de conhecer pessoas influentes, de se destacar e ser chamado como aconteceu aqui de outros subprojetos a gente acabar aproveitando os melhores, os que mais se destacaram no Turismo Jovem Cidadão e participar de outros projetos como teve A Nossa Língua, que não acontecia diretamente aqui mas foi uma parceria entre a Tijuca e Ramos. A gente aproveitou os melhores de todas as comunidades e colocamos num ônibus. Eles viam a possibilidade de continuidade em projetos dentro do SESC. B – Os jovens voltam a freqüentar os lugares visitados? E – A grande maioria não. Eu digo tipo os jovens daqui da comunidade do entorno da Tijuca visitam muito a Floresta da Tijuca, por fazer parte do ambiente deles, mas a galera que eu trouxe do SESC de Ramos não vai voltar para visitar a floresta porque para eles é quase que impossível pegar um ônibus, muitos trabalham e os que não trabalham estão em casa ociosos tomando conta de irmãos menores, ou estão envolvidos no tráfico, estão envolvidos em outras coisas. Raramente você vai ver um jovem que vá voltar, são muito poucos, de 100% se eu disser para você 5% volta, eu acho que é uma quantidade grande. B – Eu ia perguntar se eles passam a visitar outros lugares do Turismo Jovem Cidadão. E – Não, não. B – Você acha que eles passaram a buscar outras práticas do lazer além do Turismo Jovem Cidadão? A – Sim, isso eu vejo aqui mesmo, porque dentro do ônibus a gente os incentivava a usar mais o SESC como o quintal da casa. Eles passaram a vir mais na internet livre, eles passaram ir mais à biblioteca, passaram a usar este ambiente não só para vir por vir, mas vir para estarem integrados a outra atividade que estaria acontecendo. Muitos pediram para a profissional C se tinha jeito de arrumar bolsa para fazer pintura, desenho, participar na capoeira. Então a gente conseguiu fazer com que eles usassem esse local não mais como encontro do Turismo Jovem Cidadão, mas como se fosse o quintal da casa deles. B – Vocês, O SESC, você disse que não representa o SESC, mas você acha que o SESC mantém contatos periódicos com os jovens? E – Não com os jovens mas a profissional B, que você já deve ter entrevistado, B – Já entrevistei. E – Ela faz um papel bem bacana porque ela visita as comunidades. Na verdade as comunidades que são visitadas, são visitadas através da associação dos moradores. A gente não tem um contato direto, contínuo com as crianças, mas o SESC mantém

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um acordo simbólico com as associações. A gente não pode perder o vínculo com as associações porque é através das associações que o SESC entra nas comunidades. A gente não mantém um vínculo com as crianças, mas mantém com a comunidade através das associações. Muitas das crianças acabam sendo privilegiadas e voltando porque fazem parte de projetos que as associações mantém ao longo do ano, então eles acabam retornando aos projetos do SESC através das associações. Mas são casos raríssimos. B – Uma questão um pouco longa, vamos se a gente pega. Você acha que o Turismo Jovem Cidadão estimula os jovens a se tornarem multiplicadores do conhecimento e das vivências que realizaram, compartilhando com as pessoas que o cercam as experiências e as novas possibilidades? E – Com certeza, isso é uma coisa muito legal, porque quando a gente teve a exposição aqui a gente percebeu que alguns jovens trouxeram seus pais, seus avós, amigos, amigos dos amigos. A gente percebeu que quando eles chegavam em casa eles mostravam através das palavras e até mesmo através das fotos, puderam mostrar um mundo diferente. Porque a gente sempre tentou dizer que não era asfalto e favela, e comunidade, era uma coisa só. Acho que isso os incentivou a chegarem em casa e falarem, “visitei tal lugar”. Quando a gente visitava um lugar a gente sempre tinha o objetivo de dizer, “o ônibus tal passa aqui”. A gente sempre dizia qual era o ônibus que podia ser pego para chegar ao local e muitos diziam:”vou tentar trazer meu avô aqui, vou tentar trazer meu pai aqui”. A gente percebeu sim, que eles foram multiplicadores para os irmãos, para os primos, até mesmo para os avós. A gente falava muito do óleo que o pessoal jogava na bica e eu comecei a falar: “vamos juntar o óleo na garrafa”, e muitos começaram a trazer o óleo para cá. A gente sentiu que na maneira deles, na forma deles deram continuidade às informações que a gente passou para eles. B – Você já apontou vários caminhos para essa pergunta, mas se você tiver algo mais a incluir. Que contribuições concretas o Turismo Jovem Cidadão trouxe para os jovens? E – De concreto foram poucos casos que a gente sabe que através do Turismo Jovem Cidadão se arranjou emprego, porque acho que é o mais concreto que eles vinham vinha buscar. Teve uma minoria que conseguiu, umas duas ou três crianças que fizeram o curso de desenho livre, fez aqui e estão fazendo o curso no SENAC, quer dizer, fizeram a ponte, a Simone com conhecimento e aquele quem indica, indicou essas crianças a continuarem. Uma está fazendo desenho em quadrinhos, outro está fazendo desenho livre, acho que essa foi a continuidade. Teve outro que está na área de esportes, está dando continuidade ao karatê e outro à capoeira, acho que de concreto, a gente tem que falar de concreto quando se busca um resultado, e foram poucos que conseguiram algo de concreto que eu possa dizer, “vai trazer algum benefício para a família”. Mas quando eu falo de experiência, muitos realmente tiveram através da oportunidade, experiências que não vão se apagar jamais, acho que quando se tem uma experiência boa, agradável, fica na sua memória. Você pode ler um livro, aquele livro é chato, você vai se esquecer daquele livro, mas se você vivenciar aquele livro de forma lúdica, de forma mais didática, você não vai mais esquecer o livro. E foi exatamente o que aconteceu com eles, acho que as experiências que eles tiveram com a gente eles não vão esquecer nunca mais. Isso, acho que mesmo não sendo de concreto, eles não vão esquecer, é uma experiência eterna e para sempre.

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B – Com certeza. Última pergunta. Que contribuições concretas o Turismo Jovem Cidadão trouxe para você? E – Me transformou. Eu posso dizer, não vou dizer que eu era preconceituosa, nunca fui porque sempre trabalhei dentro de comunidades. Mas a experiência de estar dia a dia convivendo, eu era uma das únicas não daqui, mas de Ramos, que ia toda semana dentro da comunidade para saber como eles estavam. Tinha época como aqui aconteceu, de eu entrar com um ônibus dentro das comunidades e tirar aqueles ferros do chão com o motorista e os traficantes estarem lá em cima e deixarem a gente entrar. A experiência me transformou num ser melhor, numa pessoa melhor. Comecei a valorizar mais a vida e brincava muito com o pessoal daqui a gente reclama do arroz frio, mas eles lá em cima nem arroz tinham, a gente reclama da batata que está fria, e eles lá nem batata tem. A gente reclama do sapato, que o sapato não está bacana, não é da moda, mas lá eles nem sapato tem e quando tem é furado. Passei a valorizar mais o que eu tinha, passei a dar valor não só a parte material mas ao meu eu, ao Ana, que não era mais um Ana, Ana, eu me transformei em um ser melhor, eu vi as coisas de uma forma melhor. B – Se você tiver mais alguma coisa que você gostaria de acrescentar e que você ache que não foi contemplado pelas perguntas. E – Eu quero só deixar como mensagem que eles me ensinaram muita coisa, eu sempre dizia isso e hoje digo a você de coração que há formas de se modificar, de se fazer as coisas. Acho que basta querer, mesmo você tendo pouco recurso financeiro, mesmo você tendo pouco recurso de material para utilizar, acho que tem como você trabalhar, tem como você fazer, basta querer. Meios e métodos você consegue fazer grandes coisas, basta você estar disposto a se abrir, a se doar para as coisas poderem acontecer. Essa foi a grande mensagem que eu aprendi e que eu deixo para você. B – Ótimo, profissional E, obrigadão. E – Muito obrigada, valeu por tudo. B – Obrigado, você. E – Boa sorte para você, espero que seu trabalho contemple e mostre para as pessoas a grandiosidade do nosso trabalho B – Com certeza, esse é o objetivo maior. E – Especialmente espero que o SESC através do seu trabalho abra mais os olhos e dê continuidade a esse trabalho. B – Esse é o objetivo do trabalho, mostrar o projeto. Se tiver alguma crítica só construtiva mesmo E – Adorei, com certeza, mas acho que é assim que funciona, cada um dando um tijolinho e a gente monta um muro. Não adianta um e arrancar um tijolo porque cai, acho que é gradativo. Mas o que você precisar, me perdoa o furo que eu dei B – Tranqüilo. E – O que você precisar eu estou aí...

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ENTREVISTA COM JOVEM A A=JOVEM A B=BERNARDO B - Você fique bem a vontade para não responder as perguntas ou que você não souber ou não quiser. Me fala a comunidade de onde você veio, ou o bairro. A – Sou da comunidade de Nova Divinéia. B – Você é integrante de qual ONG ou associação de moradores? A – CONTATO - Centro de Pesquisa e ações culturais e sociais. B – O que você entende como lazer, Vanessa? A – Para mim, em minha opinião? B – É. A – O momento em que você se descontrai com a família ou simplesmente sai para conhecer novos lugares. B – Você acha que lazer é importante? A – Com certeza, acho que o homem precisa um pouco de um momento só para ele. B – Você considera como lazer o que você vivenciou no Turismo Jovem Cidadão? Você considera o que você vivenciou no Turismo Jovem lazer? A – Em parte, porque teve momentos em que a gente sentiu como se estivesse mesmo se divertindo, mas ao mesmo tempo a gente estava aprendendo. B – Quais são as suas práticas preferidas de lazer? A – Lazer para mim se resume no cinema. B – Cinema? A – É. Adoro cinema e graças ao Turismo Jovem eu aprendi a conhecer novos lugares aqui no Rio e agora estou saindo mais, não só vou ao cinema, mas a lugares assim, parques, praças. B – Com que freqüência você vivencia o lazer? A – Pelo menos duas vezes na semana porque eu trabalho muito, mas quem não trabalha? Mas eu sempre tiro um dia ou dois para poder sair um pouco. B – O que você entende por turismo, jovem A? A – A idéia que eu tinha de turismo era você pegar a sua família e: “vamos conhecer outra cidade”, para mim o turismo era isso. Mas nos dois ou três anos que eu fiz o curso eu aprendi muito sobre o que é realmente turismo, não é só pegar a família e viajar, escolher um roteiro, não é só isso. É conhecer mesmo a fundo cada lugar, cada história. B – Você acha que o turismo é importante?

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A – Com certeza, acho que o turismo é muito importante. Você precisa conhecer o lugar onde você vive, o lugar a sua volta e não só aqui mas outros lugares também. Claro que primeiro você tem que conhecer a sua cultura, a sua região, para quando você chegar a um novo lugar você poder divulgar um pouco, receber um pouco da pessoa e também dialogar, trocar uma idéia, sobre cultura. B – Você considera o que você vivenciou no Turismo Jovem Cidadão como turismo? A – Sim, em parte eu me senti um pouco como se fosse turista, até porque a gente andava muito em grupo. A gente tinha camisas iguais, a gente ficou meio, a gente conheceu ingleses, italianos, e a gente sempre trocava uma idéia e a gente sentiam um pouco “mais importantes”, dos outros trocando as idéias, é bem interessante. B – Qual é a sua experiência anterior com turismo, antes do Turismo Jovem Cidadão? A – Nenhuma. Não tinha nenhuma, não conhecia, porque a gente está no Rio de Janeiro, só porque está aqui a gente não sai muito, não se interessa muito por conhecer. Interessante é que estrangeiro vem, paga uma nota, vem para cá, vem, passeia, anda, se diverte, e a gente que mora aqui não. B – Não conhece. A – Não damos valor. B – Como foi o processo seletivo para você participar do Turismo Jovem Cidadão? A – O processo seletivo, eles estavam escolhendo, pelo que entendi na época eu tinha 16 anos, 17, eram escolhidos aqueles que tinham um comportamento mais simples e mais comportados, que não era uma pessoa muito agitada e que não desse muito trabalho, e que compreendesse o objetivo do trabalho do Turismo Jovem Cidadão. B – No projeto em 2008 foram jovens selecionados dos dois anos anteriores, 2066 e 2007. A – Isso. B – E foi esse o critério que eles escolheram os melhores? A – Os melhores, os que se comportaram provavelmente tiveram a oportunidade de participar outra vez. E foi disso que eu consegui, me ofereceram um trabalho aqui como guia de turismo, não de turismo, mas guia aqui no SESC mesmo recebendo, tudo direitinho, eu aprendi muita coisa, questão de postura, dialogar com a pessoa. B – Isso depois que acabou o Turismo Jovem Cidadão? A – Depois de acabar, acho que não acabou. Mas teve o recesso, houve a exposição das fotografias que foram feitas e eles me escolheram como a pessoa que pudesse explicar a outras que não participaram do assunto. B – Tipo monitor? A – Exatamente, monitor.

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B – Como foi para você participar do Turismo Jovem Cidadão? O que você mais gostou no Turismo Jovem Cidadão? E o que você menos gostou? A – O que eu mais gostei foi dos amigos que eu fiz, com certeza, dos lugares que conheci. E o que não gostei, acho que não existe, porque a cada momento, a cada visita que a gente fazia a gente aprendia uma coisa diferente, então, B – Teve alguma coisa que você gostou menos? Gostou, mas não tanto quanto outras coisas? A – Não, não teve, graças a Deus, não teve. B - O que você achou da atuação dos profissionais envolvidos no Turismo Jovem Cidadão? A – Excelente, os guias? B – Os técnicos e especificamente os guias. A – Os guias, porque a gente foi guiado por uma pessoa profissional, e eles foram excelentes, foram claros, objetivos, explicaram sempre o porquê de estar ali e sempre educando aos poucos, porque jovem é aquilo, jovem aprende devagar, bem devagar, mas eles foram bem pacientes com a gente. Eu extraí muita coisa dali, daqueles momentos. B – Você teve liberdade para perguntar e falar como bem entendesse? A – Com certeza, a gente sempre trocava umas idéias, perguntava, eram poucos, mas a gente sempre podia, ia lá e perguntava. B – Onde você se sentiu mais a vontade durante o Turismo Jovem Cidadão, nos atrativos turísticos, no ônibus? Enfim, em quais lugares em que você se sentiu mais a vontade? A – Nos atrativos, com certeza porque no ônibus a gente lanchava, tinha o lanche de bordo que rolava um pequeno lanche e a gente ficava meio, a gente não sabia nos primeiros momentos não tinha aquele momento de descontrair. Depois que a gente chegava é que a gente se sentia meio livre. Na segunda visita, na terceira a gente já começava a brincar no ônibus e tudo mundo cantava músicas, era bem divertido. Foi bem divertido. B – Qual dos atrativos e dos espaços, em qual você se sentiu mais a vontade? A – Nos lugares em que me senti mais a vontade? B – É. A – Foi no Jardim Botânico e no Jardim Zoológico, mas não dentro foi no museu que eu já conhecia, já tinha ido e foi o único lugar que eu já tinha ido e já sabia de tudo, e foi absolutamente tranqüilo. B – Você gostou bastante. A – Gostei bastante. Os outros foi Urca, Cristo Redentor, eu nunca fui outras vezes e sempre prestava bastante atenção para não perder nada. B – Você se sentiu incomodada em alguma situação? A – Não, não. Foi bem tranqüilo.

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B – Quais eram as suas expectativas em relação ao Turismo Jovem Cidadão? A – Eu espero que cresça, que mais jovens tenham a oportunidade que eu tive. B – Quando você foi selecionada no primeiro ano o que você esperava das visitas? Antes de elas acontecerem, o que você esperava? A – No começo eu levei tudo na brincadeira, porque realmente eu não sabia o que ia acontecer. Depois do primeiro mês que eu fui tendo uma idéia e levei bem a sério e consegui passar para a segunda fase, ser chamada de novo. Ainda bem que eu me dediquei, fiz um trabalhinho nas férias, graças a ele. B – Você acha que você poderia ter acesso a essas experiências que você viveu no Turismo Jovem Cidadão sem o SESC? A – Acho que não, porque, por exemplo, o Parque Lage eu nunca, nem sabia que existia, e não teria como eu por livre e espontânea vontade procurar ali um lugar que tivesse um museu bonito, no Parque Lage tem um museu no meio da floresta, uma coisa bem interessante, bem diferente. Eu nunca poderia imaginar uma coisa dessas, só aqui, porque eles passam informação. Quer dizer, eu acredito que eles tenham passado até comparado ao Rio em si, foi um pouco do que poderia ter mostrado mais. Se continuasse o projeto com certeza eles iam proporcionar mais visitações. B – Você já teve vontade de conhecer alguns desses lugares, mas por algum motivo você não pôde? A – Foi o Cristo Redentor que eu sabia que estava ali mas sempre que eu queria acontecia um imprevisto e eu não podia, fui deixando, deixando e aí foi aos 17 através do Turismo Jovem que eu conheci um pouco mais. B – Você chegou a voltar, a freqüentar os lugares visitados depois do Turismo Jovem Cidadão? Chegou a voltar aos lugares visitados? A – Por livre e espontânea vontade ou por coincidência, ou pelos dois? B – Pelos dois. A – Sim, no Cristo Redentor eu levei minha família, eu quis passar a experiência para eles. Mas estou trabalhando, sempre que essa parte de lazer que eu tenho e eles também têm eu aproveito e a gente vai para algum parque, vai para algum lugar bem distante daqui dessa vida urbana. B – Você passou a visitar outros lugares depois do Turismo Jovem Cidadão? Outros lugares não só que você conheceu aqui no projeto? Chegou a, A – Não, não. Só os que eu conhecia mesmo, só os que eu conheci pelo projeto. B – Você passou a buscar outras práticas de lazer além do turismo, depois do Turismo Jovem Cidadão? A – Outras atividades? B – É. A – Não, só a questão do cinema e praças, vou muito a praças. Levo minha irmã para andar de bicicleta, me dedico mais um pouco à família.

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B – Você acha que o Turismo Jovem contribuiu para você ir mais ao cinema? A – Sim, sim. Não só ao cinema mas a outros lugares, eu aprendi muita coisa, foi muito interessante. B – Você já meio que falou, mas você levou, incentivou outras pessoas, família, amigos a lugares visitados? A – Sim. B – Levou a família ao Cristo? A – Ao Cristo. B – Última pergunta Vanessa. Sua vida mudou depois do Turismo Jovem Cidadão? em que aspecto? Se mudou, em que aspecto? A – Sim, mudou, foi a questão da postura, depois que eles me ofereceram, eu me dediquei e depois eles me ofereceram um estágio como monitora e eu aprendi a ter postura, a ter educação, a falar bem, sempre explicar, sempre falar objetivo, explicar direitinho, e isso eu estou levando para o meu trabalho sempre, eu trabalho com público e tem que ter sempre isso, tem que ter uma postura, falar pausadamente e explicando o objetivo. B – Que ótimo. Tem mais alguma coisa que você gostaria de acrescentar que de repente você acha que não foi contemplado nas perguntas? A – Eu acho que, como se fosse uma pergunta? B – Não, alguma coisa que você queira falar além. A – A única coisa que eu queria é que continuasse o projeto, para outros adolescentes terem a mesmo benefício que eu tive e aprender mais, mais até do que eu aprendi. B – Que ótimo. Jovem A, obrigado, valeu mesmo. A – Nada, valeu, B – Valeu!

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ENTREVISTA COM JOVEM B B=JOVEM B B=BERNARDO B – Jovem B, fique bem a vontade para responder as perguntas que você se sentir mais a vontade, só as perguntas que você quiser mesmo. B – Ta bom. B – Só para começar, me fala a comunidade que você veio. B – Vim do Complexo do Andaraí, mas aqui no projeto é conhecido como Nova Divineia, que é o nome da comunidade, o Andaraí, o lugar onde moro faz parte mas como é divisão, eu moro nessa parte que é o Andaraí. B – Você é integrante de qual ONG? Contato? B – Contato. B – Contato é uma sigla? Significa alguma coisa contato? B – Eu acredito que seja o nome do local, mas o projeto que funciona lá dentro é o PROTAGONIZART, que é patrocinado pela Fia mas acho que Contato é mesmo nome da sede porque lá tem outros projetos, tem creche, e não só esse projeto de onde eu vim. B – O que você entende por lazer, jovem B? B – Lazer para mim é o lugar aonde eu vou para curtir, para conversar, para conhecer algumas coisas que eu não conheço. Para mim lazer é isso. B – Você acha que lazer é importante? B – Acho, muito. B – Por quê? B – Porque principalmente onde eu moro é uma comunidade, eu acho que lá dentro não tem lazer. Por que eu acho o lazer importante? Porque muitas vezes quando eu estava no projeto eu ficava assim, mãe, estou querendo conhecer tal lugar, e nunca tinha dinheiro, nunca podia ir. Eu comecei não só a conhecer lugares mas aprender muitas coisas, não era só lazer era um aprendizado. Eu acredito que lazer é muito importante, até porque na realidade é uma fuga, a gente foge um pouco do dia a dia que leva em escola, trabalho, criança B – Você considera como lazer o que você viveu no Turismo Jovem Cidadão? B – Considero. B – Considera? Quais são as suas práticas preferidas de lazer? B – Como assim, atividades que eu mais gosto de ir e que acho que para mim é lazer? B – O que você mais faz como lazer, as atividades que você mais vive no lazer. B – Passeios, conversas, geralmente a gente nós vamos sempre acompanhados, então mais conversar, ver algumas coisas que eu nunca tinha visto antes. No mais é conversar mesmo.

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B – Com que freqüência você vive o lazer? Você vivencia o lazer? B – (riso) É muito raro. B – Por quê? B – Porque.., eu sempre quis ir a muitos lugares, depois que eu fiz o curso eu comecei a ir a bastante lugares, aí uma pessoa fala assim: vamos passar domingo, vamos conhecer o Cristo Redentor, eu falo assim, não, já fui lá. Agora mesmo, talvez uma, duas vezes por mês. Geralmente tem finais de semana. B – Você está falando quando a pessoa te chama para ir a um lugar e você fala que já foi, foi o Turismo Jovem Cidadão que te deu oportunidade de conhecer esses lugares? B – Alguns lugares foi, a maioria deles foi. B – É? B – Porque eu fiz o projeto duas vezes e fui a muitos lugares. B – Você não tem vontade de voltar? B – Vontade eu tenho, mas eu acho até meio chato porque vou chegar lá e ver tudo que eu já vi. Eu preferia ir para um lugar que eu nunca fui. B – Você tem ido a lugares, você chegou a buscar outros lugares depois do Turismo Jovem Cidadão? Outros lugares além dos que você conheceu no projeto? B – Fui, mas além do projeto a gente sai com a Contato, lá também a gente sai e leva as crianças, então depois que eu fui ao Cristo, a primeira que eu fui foi pelo projeto em 2006, 2007. Depois eu voltei duas vezes. Para mim foi bom porque tudo que eu aprendi quando eu fui com o projeto, eu passei para as minhas crianças. Mas para mim foi chatinho, mas para eles que conheceram quando foi construído e viram aquelas paisagens, acharam muito importante. B – De que crianças você está falando? B – Ano passado quando estava fazendo o projeto aqui eu era recreadora de crianças de seis a treze anos, mais ou menos umas duzentas crianças. B – Aqui no SESC? B – Não, lá da Contato, do projeto que eu vim. Nós fizemos dois passeios divididos por idade, porque lá era dividido em quatro grupos de seis a oito e de nove a treze, nós fomos com esses dois grupos. B – O que você entende por turismo, jovem B? B – Eu penso assim, turismo para mim, geralmente quando fala turismo eu penso nos gringos, o pessoal que vem de fora e vem para conhecer Rio de Janeiro, muitos deles também vem para conhecer a história, pesquisar, estudar. Turismo para mim é uma forma, a pessoa viaja, conhece novos lugares. B – Você acha que é importante o turismo? B – Acho.

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B – Por quê? B – Principalmente para o Rio de Janeiro. Por várias formas, primeiro porque é uma profissão, dá dinheiro, quando o turismo vem para fora eles levam boas imagens da gente. Eu acho turismo muito importante. B – Para quem vive, vivencia o turismo, por que você acha que é importante? Você falou que é importante para quem recebe, para quem ganha dinheiro. B – É. B – Mas para quem experimenta o turismo por que você acha é importante? Por que você acha que é importante para quem experimenta? B – Esta eu não sei explicar. B – Você considera o que você viveu no Turismo Jovem Cidadão como turismo? B – Considero. B – É? B – Considero, até considero pelo que te falei, turismo para mim é quando a pessoa vai conhecer um lugar que não conhecia porque aí vai aprender a história, essas coisas, então para mim isso foi um turismo. Quando eu comecei a ir a museus eu pensava até em seguir para ser guia turista, depois eu fui enjoando, e descartei. B – Por quê? B – Não sei, para mim que estava ali a primeira vez conhecendo, estava achando muito bom, mas se não tiver uma profissão a pessoa vai, imagina o mês, ela vai sete vezes, por exemplo no Parque Lages, deve saber aquela árvores de cor e salteado.. B – Qual é a sua experiência anterior com o turismo, antes do Turismo Jovem Cidadão? B – Nenhuma. B – Por quê? B – Eu já tinha conhecido alguns lugares por outros cursos que eu fiz, por exemplo, de informática, de inglês, que eu fui passear, mas para mim aquilo ali era passeio mesmo, era curtição; era lazer, não era turismo. O projeto não, o projeto eu já me sentia dentro de um grupo, eu ia, tinha o guia ali na frente explicando e contando a história. Eu acho que antes não era assim, B – Você acha que o turismo é diferente do passeio? B – Lazer para mim, é eu ir no domingo, minha e meu pai passear numa reserva. Ali a gente vai conversar, lanchar. Turismo para mim já é outra coisa, é eu me locomover até um local para aprender sobre aquele local, como aconteceu. Acho que lazer e turismo não são iguais. B – Como foi o processo seletivo para participar do Turismo Jovem Cidadão, jovem B? B – Eu me lembro que a primeira vez que eu fiz, eu já era da ONG, eles chamaram acho que uns 30 jovens. Nós fomos a cada lugar, tiramos fotos, teve a seleção de fotos e teve uma exposição de fotos, e dentre os jovens que participaram ano

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passado eles chamaram, acho que foram seis, oito que se destacaram mais, que estavam ali realmente para aprender, não ia fazer bagunça, fizeram essa seleção. Entre os oito ficou fazendo o ano passado, conhecendo outros lugares diferentes. A mesma coisa, tirando fotos, fazendo a seleção de fotos e dentre esses oito eles escolheram alguns só para ficar na exposição, foi a exposição que você veio ver, que estava eu e mais duas. B – Mas o processo seletivo para participar da primeira vez que você foi, como foi? Foi a ONG que fez? B – Foi. B – Você sabe que critérios eles utilizaram? B – Não. Eu só lembro que eles botaram o papel chamando a gente que já fazia curso na ONG e que estava interessado em fazer. Fomos, colocamos o nome e depois eles chamaram. Não sei se, não, lembro que tinha 25 vagas e quando acabasse a 25ª acabou. B – Como foi o convite para você ser monitora? Como rolou isso? B – Foi para aquela seleção, na verdade, foi o pessoal do turismo que selecionou. Tiraram aquelas pessoas que não estavam querendo nada e que às ia, às vezes não ia, uma das coisas que mais contou foi presença. Acho que foi. B – Participação também? B – É. Presença, participação, educação principalmente, quando a gente saía, porque o nosso passeio foi o espelho para a seleção deles. Porque eles estavam avaliando a gente para depois botar na monitoria. B – Você gostou de ser monitora? B – Gostei. Não só gostei, foi muito engraçado, muito bom. B – Eles te passaram informações antes do que você tinha que falar? B – Teve uma reunião antes e eles deram um papel, acho que umas três folhas que nem isso aqui e lia tudo assim bonitinho: boa tarde, não sei o que (riso), quando chegava lá na hora a gente nunca falava isso, a pessoa entrava, olhava, a gente explicava o que a pessoa pedia, mas o texto que ele deu a gente nem B – Foi um negócio mais informal. B – Foi, porque para mim era uma coisa muito chata ter que ler aquilo tudo, aquela decoreba toda. O que é o projeto? Eu nunca ia falar aquelas palavras, ia falar com as minhas palavras, é um projeto com as comunidades, mas a reunião teve, fizeram a parte deles, a gente que, B – Você acha que funciona melhor assim, mais livre. B – Isso. B – Mais espontâneo. B – Pela minha postura a pessoa estava vendo que ali eu estava falando o que eu sabia. Porque chegar, o projeto desenvolvido.... vai achar que eu não sei. B – Como foi para você, jovem B participar do Turismo Jovem Cidadão?

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B – Para mim foi muito bom, te falei, foi muito importante, porque eu já tinha vontade de conhecer lugares assim e até porque na escola no ano passado teve o Bicentenário, e justamente o 1° período foi sobre o Bicentenário e na escola tinha que fazer um trabalho sobre isso, sorte, como aqui teve o passeio antes, para mim foi muito importante porque na hora da prova tive a conclusão sobre o Bicentenário. E como no trabalho você escreve um monte coisa e vem muita coisa na cabeça, eu fui tirando a conclusão do que eu aprendi no projeto e valia 5 e eu tirei 4,5. Para mim nesse sentido foi muito bom, me deu uma salvada importante. B – O que você mais gostou no Turismo Jovem Cidadão? B – Dos passeios. B – Dos passeios? B – E também teve uma viagem que fomos para Teresópolis e foi muito bom também, eu nunca tinha ido a lugar muito longe, fiquei três dias longe da minha mãe e do meu pai, dormindo lá e conhecendo vários lugares na serra. B – Isso foi legal? B – Foi. B – O que você menos gostou no Turismo Jovem Cidadão? B – Não teve no curso nada que eu não tenha gostado, eu gostei de tudo. B – Teve alguma coisa que você gostou, mas não tanto quanto as outras coisas? B – Não é não gostei, mas teve uma vez que fomos ao Benjamim Constant que estava em obras e nós ficamos na calçada, e um calor, aqueles carros passando, gente passando, e o nosso guia, que a gente chama de “turista” ficava falando, falando, só que eu não gostei, porque eu queria entrar e ver como as pessoas conseguiam instrumento, assim, só isso que não gostei, o resto eu gostei. B – Ele ficou falando antes de entrar e vocês estavam querendo entrar? B – Nós não entramos. B – Não entraram? Por quê? B – Uma parte estava em obras e o pessoal estava fazendo a aula num lugar reservado. Não seria, como posso dizer, útil, não sei a gente entrar para olhar obra, aí nós ficamos e eu fiquei revoltada naquele dia. Foi bom conhecer lá, mas eu queria entrar e saber mais. Só isso que não gostei muito. B – O que você achou da atuação dos profissionais envolvidos no Turismo Jovem Cidadão? Dos tios, dos guias? B – Muito bom, explicam muito bem. O turista que foi o que mais nos acompanhou ele fala na nossa linguagem, ele chega e vai explicando coisas que despertam interesse a entender. Não é aquela coisa chata que uma pessoa chega e fala, fala, fala, mas com palavras que eu por que esteja no 3° ano não conheço, imagina as demais pessoas que estavam na 8ª série e não conhecia. Eu acho chato, mas eles falavam bem, tratavam a gente bem, com educação. Foram bem, viraram nossos amigos, mais que professores.

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B – Qual dos turistas você gostou mais? B – Eu acho o profissional D. B – Profissional D. B – Um moreninho, não é? B – Isso. B – A gente o chama de turista, ele foi o que mais acompanhou a gente. B – Você teve liberdade para perguntar o que bem entendesse? Eles davam essa liberdade? B – Geralmente antes de chegar ao local ele ia falando dentro do microônibus e ele ia conversando com a gente, explicando para onde a gente ia e alguma dúvida a gente podia perguntar que na hora ele respondia, para deixar a gente esclarecido. B – Onde você se sentiu mais a vontade, jovem B durante todo o Turismo Jovem Cidadão? B – Teresópolis. B – Teresópolis, por quê? B – Foi a viagem que eu te falei. B – No ônibus você se sentia a vontade também? B – Muito a vontade, até porque a gente estava entre amigos e eles não passavam aquela figura de professor todo assim, a gente conversava também. No ônibus até tinha mais parceria do que quando a gente estava no local, porque o local impunha mais para a gente, porque tem outras pessoas ao nosso redor, acho que no ônibus. B – Era mais descontraído. B – Isso. B – Você se sentia incomodada em alguma situação? Você falou já daquele lugar no Benjamim Constant. Teve alguma outra situação em que você ficou incomodada? B – Não. B – O que você esperava do Turismo Jovem Cidadão antes dele começar? Quais eram suas expectativas em relação a ele? Ao projeto. B – Eu já pensava como penso agora, que eu ia sair, conhecer lugares, mas não esperava que fosse tão bom assim, por mais que eu tivesse vontade de conhecer certo lugar, eu ficava assim, deve ser chato o cara ficar falando, falando, falando só que não. Depois quando comecei eu vi que não era bem assim. Já pensava assim mais ou menos como penso agora. B – Você ficou então mais do que satisfeita? B – Isso. B – Em relação ao que você esperava. B – É.

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B – Você acha que poderia ter acesso a essas experiências que você viveu sem o SESC? B – Acredito que não. B – Por quê? B - Algumas talvez, porque a maioria de lugares tem que pagar e o preço não é baixo. E outros geralmente são muito longe e teria problemas com transporte. Acho que sem o projeto hoje eu não conheceria muitos lugares, muitas coisas que eu aprendi ao longo do projeto talvez eu não saberia hoje. B – Tipo o que? B – Por exemplo, o negócio do Bicentenário que te falei, também teve do meio ambiente, nós fomos um dos passeios foi para o Parque Lages e para o Jardim Botânico. No Jardim Botânico eu aprendi, teve um rapaz lá de dentro que nos levou a um orquidário e ele estava explicando sobre as plantas, como elas vão, sobre plantas transgênicas. Eu acho que, B – Você já teve vontade de conhecer alguns desses lugares e por algum motivo você não pôde? B – Cristo Redentor, eu era louca para conhecer e nunca tinha ido. A primeira vez que eu aprendi depois até enjoei, porque eu via em televisão, via aqueles cartões postais, puxa queria muito conhecer. Justamente no primeiro ano em que comecei, um dos primeiros passeios foi o Cristo Redentor. B – Por qual motivo você não podia ir? B – Dinheiro. B – É caro lá. B – É. B – Você voltou a freqüentar os lugares visitados depois do projeto? B – Alguns, no Cristo eu voltei, acho que só. B – Você passou a visitar outros lugares? B – Que o SESC não me levou? B – É. Depois do projeto você não chegou ir? Você passou a buscar outras atividades de lazer além do turismo, depois do Turismo Jovem Cidadão? B – Buscar, eu busquei lazer eu busquei. Até quando eu estava fazendo o curso, mas estou louca para conhecer a reserva da Tijuca, e nunca tinha ido, depois que eu fiz o curso eu comecei a me despertar mais o interesse, como eu estava pensando até em ser guia, eu fui, pedi ao meu pai e meu tio me levou para conhecer, só lá que eu nunca tinha ido antes que eu fui. B – Você acha que o Turismo Jovem Cidadão despertou o interesse para você praticar outras coisas de lazer? B – Despertou. B – O que?

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B – Geralmente quando estou vendo televisão que passa um lugar assim “eu quero muito ir ali” eu fico Pensando e busco saber quanto é a entrada, se é de graça. Eu já tenho mais vontade de conhecer lá. B – Você acha que isso foi gerado depois do Turismo Jovem Cidadão? B – Depois do Turismo Jovem Cidadão. Porque eu queria ir, mas queria ir a lugares muito conhecidos, tipo Pão de Açúcar, Bondinho, e agora qualquer lugar que para mim é uma forma de turismo, eu fico com muita expectativa de conhecer melhor. B – Você costuma utilizar os espaços do SESC? B – Não. B – Não? Já veio, chegou a vir aqui algumas vezes? B – Já cheguei a vir, umas duas vezes eu acho, para teatro, lá na ONG a gente trabalhava vendo cinema também, tem a internet livre que acho que eu vim umas duas vezes. B – Mas não é uma coisa freqüente? B – Não. B – Por quê? B – Porque é longe da minha casa, é muito longe. B – Você já incentivou outras pessoas, família, amigos, a visitarem os lugares que você conheceu no Turismo Jovem Cidadão? B – Já. B – Já? B – (ar de riso) Eles nunca foram B – Por que eles não foram? B – Por causa de dinheiro. B – Sua vida mudou depois do Turismo Jovem Cidadão, jovem B? B – Algumas coisas, acho que eu adquiri mais conhecimentos. Quando a gente estava aqui na monitoria, você percebeu que de vez em quanto eu solto umas gírias e a semana que eu fiquei aqui eu comecei a me controlar, eu fiquei aqui cinco dias e comecei a controlar o meu modo de falar que eu não sabia, Ah tipo assim, aquilo ali, então eu começava a me controlar, achei que parei um pouco e a forma de falar minhas palavras. Aprendi a me impor melhor, a me expressar melhor quando estava falando de algum lugar. Porque sempre tem aquela pessoa que pergunta, para onde vocês foram? Para aquele lugar. Como é lá? E eu tinha que me expressar, poxa lá é muito lindo, lá tem verde, palmeira, acho que mudou bastante. B – Tem mais alguma contribuição que o Turismo Jovem Cidadão te trouxe? B – Não, acho que falei tudo. B – Tem qualquer outra coisa que você queira falar? B – Acho que não.

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B – Foi ótimo, obrigado, Jovem B, valeu muito. B – Obrigada, você.

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ENTREVISTA COM JOVEM C C=JOVEM C B=BERNARDO B – Jovem C, você fique bem a vontade para, se por acaso, você não quiser responder alguma pergunta. Pode ficar bem a vontade. Responda só as perguntas que você realmente tiver a vontade. Me fala, para a gente começar, a comunidade de onde você veio. C – Vivo na comunidade do Andaraí. B – Você é integrante de qual ONG ou associação de moradores? C – Contato B – Contato? C – É. B – O que você entende por lazer jovem C? O que é lazer em sua opinião? C – Quando a gente pode se divertir, encontrar amigos, dar risadas. Para mim é isso. B - Você acha que o lazer é importante? C - Sim. B – Por quê? C – Porque a gente se distrai, não fica pensando em coisa triste, se está triste para você ficar melhor, é mais ou menos assim, é que eu sou um pouco tímida, não sai muita coisa. B – Tranqüilo, pode pensar, esperar, pensar para responder, não precisa ter pressa. Você considera como lazer o que você vivenciou no Turismo Jovem Cidadão? C – Sim. B – Quais são as suas práticas preferidas de lazer? C – Jogar bola, ficar no computador, jogar vídeo game, conversar com os amigos. B – Com que freqüência você vivencia essas práticas? C – Praticamente todo dia (ar de riso). B – Todo dia? C – Todo dia. B – Todo dia então você vivencia o lazer. O que você entende por turismo? O que é turismo em sua opinião? C – Conhecer novos lugares. B – Você acha que o turismo é importante? C – Sim.

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B – Por que você acha importante? C – Para mim que moro na comunidade é bom porque a gente não fica só na comunidade vendo as coisas ruins que acontecem. Quando a gente sai para outro lugar a gente vê coisa melhor do que a gente querer ficar só na comunidade só vendo as coisa tristes que acontecem. B – Você considera o que você viveu no Turismo Jovem Cidadão como turismo? C – Sim. B – Qual a sua experiência anterior com turismo, antes do Turismo Jovem? C – Nenhuma. B – Como foi o processo seletivo para participar do Turismo Jovem Cidadão? C – Foi a diretora da ONG que chamou a gente para participar, escolheu um grupo de pessoas para participar. Nós viemos aqui na reunião, conversamos com a Simone e não podia faltar nem uma e quem faltou foi excluído. B – No ano de 2008, ou no primeiro ano? C – No primeiro ano. B – Quais foram os critérios para a seleção desse primeiro ano? Você falou que a diretora da ONG escolheu alguns nomes. C – Isso. B – Ela escolheu baseada em que? C – Idade, maior de 15 anos. Ou, a Karina acho que tem 13 anos. Ela escolheu a Karina porque andava com a gente que é mais velha, não fazia muita confusão, muito tumulto, vamos dizer assim, era direita na época e ficou. B – Em 2008 foram selecionados os jovens de 2006 e 2007? C – Isso. B – Você participou em que ano? C – Não lembro. B – Você lembra quais foram os critérios para a seleção? Foram selecionados os jovens em 2008, como foram selecionados? C – No primeiro que eu participei era só da minha comunidade, só da nossa ONG e foi a diretora de lá quem escolheu. B – Gabriela, como foi para você participar do Turismo Jovem Cidadão? C – Ótimo. Para mim foi ótimo. B – O que você mais gostou no Turismo Jovem Cidadão? C – De conhecer lugares e novos amigos, gostei mais. B - Você gostou de conhecer lugares e os amigos. C – Foi, e os amigos.

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B – O que você menos gostou no Turismo Jovem? C – Não tem nada que eu menos gostei. B – Teve alguma coisa que você gostou menos? Gostou, mas não tanto quanto conhecer lugares e amigos? C – Só tinha uma menininha lá que não era muito legal, o resto era. B – O que você achou da atuação dos profissionais do Turismo Jovem Cidadão? As tias, os guias. C – Eles são ótimos, eles são bem atenciosos. B – E os guias, o que você achou dos guias? C – Os dois são ótimos, eles explicam bem, só que falam demais (riso). B – Você acha que é muita informação? C – É muita informação. B – Você teve liberdade para perguntar e falar quando bem entendesse? C – Sim. B – Deram essa liberdade? C – Sim. B – A qualquer momento você podia perguntar e falar? C – Podia falar as coisas que não gostou. B – Onde você se sentiu mais a vontade durante todo o Turismo Jovem Cidadão? C – No ônibus. B – No ônibus? C – No ônibus. B – Por quê? C – Porque a gente falava mais, ria mais, brincava mais. Porque quando a gente ia para o museu a gente não podia ficar conversando, B – Nos espaços tinha algumas regras que tinha que seguir, C – É. B – No ônibus era mais liberado? C- No ônibus era mais liberado. B- Você se sentiu incomodada em alguma situação no Turismo Jovem Cidadão? Você lembra alguma situação em que você se sentiu incomodada? C – Não, não. B – O que você esperava do Turismo Jovem Cidadão antes de ele começar? Qual era a sua expectativa em relação ao projeto? Antes de ele começar, o que você esperava dele? C – O que esperava? Que seria muito bom, uma oportunidade ótima para mim.

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B – Uma oportunidade? Oportunidade para que? C – Para aprender. B – Para aprender? Você ficou satisfeita? Era isso que você esperava, depois que passou o projeto? C – Sim. B – Você acha que poderia de repente ter acesso a essas experiências que você viveu sem o SESC? C - Não. B – Por que você acha? Você teve vontade de conhecer alguns desses atrativos e por algum motivo não pôde? C - Sim. B – Já? Qual atrativo você teve vontade de conhecer e não pôde? C - Ir para Petrópolis. B – Por qual motivo que você não foi? C – Dinheiro. B – Você voltou a freqüentar os lugares visitados depois? C – Não. B – Por quê? C – Porque eu não tenho dinheiro para ir, aí fica difícil. B – Para se locomover até lá C – É. B – tem que gastar dinheiro, às vezes lá tem que gastar dinheiro. Você passou a buscar outras atividades de lazer além do turismo depois do projeto? C – Não. B – Não? C – Não. B – Você costuma utilizar os espaços aqui do SESC? C – Às vezes eu venho. B – Às vezes você vem quando você pode? Você mora aqui perto? C – Moro. B – O que você faz geralmente aqui no SESC., C – Praticamente a piscina. B – Você gosta de vir aqui, é legal? C – Gosto, é legal.

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B – Você já chegou a falar ou incentivar outras pessoas, família, amigos para visitarem os lugares que você conheceu no Turismo Jovem Cidadão? C – Eu falava que é muito bom e que vale a pena ir. B – Você falou com todas as experiências? C – Contei tudo. B – Eles chegaram a ir? As pessoas próximas de você chegaram a conhecer esses lugares? Não tiveram oportunidade? C – Não. Só a minha prima. B – Ela foi aonde? Um lugar que você tenha contado para ela e que ela tenha ido? C – No CCBB, ela vai direto lá. B – Ela passou a ir depois que você, C – Depois que eu falei para ela. B – Sua vida mudou depois do projeto Turismo Jovem Cidadão? C – Mudou. B – Em que sentido? C – Na maneira de pensar. B – Como assim? C – Uma porque eu moro no morro, as outras pessoas moram no morro, aí fica aquele negócio assim, “não vou falar que eu moro em outro morro, não sei o que pode acontecer”, mas a gente vê que nada, a coisa é diferente e que a gente pensa besteira. B – Nesse projeto juntou pessoas de vários morros C - Juntou pessoas de vários lugares. B – Até de facções diferentes? C – Até de facções diferentes. B – Que legal aí você viu que não tinha nada a ver. C - não tinha nada a ver, ficou todo mundo amigo, na paz. B – Legal. A última. Que contribuições você acha que o Turismo Jovem Cidadão trouxe para você? Você falou no modo de pensar, teve mais alguma coisa? C – Não. B – Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar na entrevista? C – Eu queria falar que foi ótima a experiência de participar do Turismo Jovem Cidadão. B – Legal, então está ótimo. Obrigado, valeu mesmo. C – Nada...

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ENTREVISTA COM JOVEM D D=JOVEM D B=BERNARDO B – Jovem D, fique bem a vontade para responder só as perguntas que você quiser, a que você se sinta mais a vontade. Para a gente começar, e para constar da entrevista, me fala a comunidade de onde você pertence. D – Nova Divinéia B – Você é integrante de qual ONG ou associação de moradores? D – Contato. B – Contato? Jovem D, o que você entende por lazer? O que é lazer em sua opinião? O que vem a sua cabeça quando a gente fala em lazer? D – Pode pular essa? B – Pode. Você acha que o lazer é importante? D – É. B – Por que você acha que é importante? D – Eu me sinto mais confortável no lazer. B – No lazer você se sente mais a vontade? Você considera o que você viveu no Turismo Jovem Cidadão como lazer? D – Considero. B – Por quê? D – Porque foi um projeto bom para mim, conheci outros lugares calmos, não tinha violência,os lugares que a gente foi, por isso eu fiquei mais confortável. B – Quais são as suas práticas preferidas de lazer? D – (Riso). Todas B – Todas? Com que freqüência você vivencia o lazer? Todo dia? Quantas vezes na semana? Quantas horas? D – Final de semana por causa do estudo. B – No meio de semana você não pratica o lazer. O que você entende por turismo? O que é turismo em sua opinião? D – Turismo, na minha opinião o que é o turismo? B – É. D – Onde você conhece vários lugares, você pode falar com outras pessoas de outros países, de outras línguas, para mim é isso. B – Você acha que o turismo é importante? D – Para mim foi.

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B – Você considera então como turismo que você viveu no Turismo Jovem Cidadão? Você acha que o que você viveu lá é turismo? D – Para mim foi. B – Qual a sua experiência anterior com turismo, antes do Turismo Jovem Cidadão? D – Antes de conhecer o turismo? B – Antes do projeto qual era a sua experiência com turismo? Você teve oportunidade de , D – Não, foi só foi através do projeto que eu tive essa oportunidade. B – Só através do projeto que você pôde fazer turismo? D – É. B – Por que você acha que o turismo foi importante para você? D – Porque conheci muitos lugares que eu tinha conhecido, conheci pessoas que falam outra língua, e outras coisas. B – Como foi o processo seletivo para você participar do projeto? D – Pela ONG Contato. B – Como eles selecionaram os jovens? D – Não sei muito, mas a Silvia pegaram mais os alunos que eram antigos na Contato e selecionaram para fazer o curso. B – No ano de 2008 foram selecionados jovens dos anos anteriores. Você sabe como foi esse processo seletivo? D – Não. B – Como foi para você participar do Turismo Jovem Cidadão? D – Como foi? B – É. D – Foi bom. B – O que você mais gostou no Turismo Jovem Cidadão? D – De tudo. B – De tudo? E o que você menos gostou? D – Só um pouco dos professores às não deixavam descansar um pouco, eles falavam muito, mas foi só umas duas vezes. B – Você acha que traziam muita informação às vezes? Cansava? D – É. B – O que você achou da atuação dos tios e dos guias? D – ótimos. B – Ótimos? Dos guias, especificamente?

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D – Ótimos também. B – Você teve liberdade para perguntar e falar quando bem entendesse? D – Teve. B – Teve? E onde você se sentiu mais a vontade durante todo o Turismo Jovem Cidadão? D – Em todos, só esses dois que não deixaram a gente descansar direito, porque eles falavam muito. B – Mas que quais lugares você se sentiu mais a vontade? D – Quando viajamos para Teresópolis e .. B – Onde você se sentia mais a vontade, nos lugares visitados ou no ônibus? D – Nos lugares visitados. B – Você se sentia bem a vontade lá, por quê? D – Ah é o lazer, tudo aberto B – Você gosta de lugar aberto? D – Isso, B – Ao ar livre. Teve algum momento em que você se sentiu incomodada? D – Não. B – Alguma situação? Não? Nenhuma. Jovem D, o que você esperava do Turismo Jovem Cidadão antes dele começar? D – Eu esperava isso que foi, um ótimo curso, o que falaram para a gente que ia acontecer e foi o que aconteceu. B – Você vê então o Turismo Jovem Cidadão como um curso? Como uma chance de aprender? D – Foi. B – O que você aprendeu no Turismo Jovem Cidadão? D – Me ajudou até um pouco na escola também, porque tinha perguntas que a professora fazia e eles explicavam para a gente na escola daqui. B – É? Você acha que você poderia ter acesso a essas experiências que você viveu sem o SESC? D – Acho que não. B – Não, por quê? D – Onde que eu moro não, porque eles não tem, eles vão para outros passeios, mas não para esses lugares assim. Vão só para sítio. B – E sem a ONG e sem o SESC, você acha que teria acesso a essas experiências? D – Não.

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B – Por que você acha que não. D – Na comunidade não tem nada disso. A sorte é eu estar com a Contato, com a ONG Contato, fora a Contato não tem. B – Você já teve vontade de conhecer algum desses lugares mas por algum motivo você não pôde? D – Tive, eu, minha mãe e meu pai sempre quisemos conhecer o Cristo Redentor, e quando eu falei que eu fui, meu pai e minha mãe ficaram até meio chateados, porque eles quiseram e não tiveram oportunidade e eu tive. E eu também fiquei meio sentida por eles. B – Eles ficaram chateados de não poder ter ido? D – Porque eles queriam ir comigo e não podia. B – Eles ficaram felizes de você ter conhecido? D – Ficaram. Ficaram felizes por um lado porque eu fui, e pelo outro porque não foram. B – Você voltou a freqüentar os lugares que você visitou? D – Não. B – Não? D – Vai ter agora no passeio da escola, o Jardim Botânico que eu vou. B – Legal, você já tinha visitado no Turismo Jovem D – Já. B – Você passou a visitar outros lugares depois do Turismo Jovem Cidadão? D – Não. B – Você passou a buscar outras atividades de lazer além do turismo, depois do projeto? D – Só na Contato. B – Oi? D – Só na ONG Contato. B – Só na ONG? Mas você acha que o Turismo Jovem Cidadão te ajudou a buscar outras atividades de lazer? D – Ajudou em muito. B – Tipo o que? D – Muitas coisas, me ajudou em muitas coisas. B – Você acha que você buscou outras atividades de lazer estimulada pelo Turismo Jovem Cidadão? D – Isso. B – Tem algum exemplo? D – Agora para lembrar um. Foi muito. Agora me deu um branco.

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B – Você costuma utilizar os espaços aqui do SESC? D – De vez em quando, nos finais de semana eu venho para a piscina, para internet e a biblioteca. B – Piscina, internet e biblioteca. Você gosta de vir aqui? D – Gosto. B – Por quê? D – É um lazer aqui para mim também. B – Sua vida mudou jovem D depois do Turismo Jovem Cidadão? D – Mudou. B – Em que aspecto? D – Me ajudou mais a conhecer outros lugares e sair de onde que eu morava porque eu ficava muito lá e não tinha para onde ir, e o Turismo Jovem Cidadão me ajudou mostrando os lugares, que não era só aquilo que eu conhecia, tinha outros lugares para ir também. B – Você acha que foi legal. Que contribuições você acha que isso te trouxe? Você conhecer outros lugares, você acha que isso foi bom para você por quê? D – Porque eu ficava vendo muito aquilo da comunidade, tem muita coisa ruim que eu via. E eu saí com o Turismo Jovem Cidadão e conheci outras coisas boas, não fiquei só vendo aquilo todo dia lá. B – Tem mais alguma coisa que você gostaria da falar? D – Não. B – Não? Então, obrigado. D – Nada.

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ENTREVISTA COM JOVEM E E=JOVEM E B=BERNARDO B – Fique a vontade, Jovem E para responder as perguntas só que você quiser, pode ficar bem a vontade. Me fale, para começar, a comunidade que você veio. E – Vim de uma comunidade chamada Morro da Formiga, na Tijuca, ali bem perto da usina mesmo. B – Qual a ONG que você faz parte? Fazia parte na época do Turismo Jovem Cidadão? E – É uma instituição que dava cursos para a comunidade lá, chamada ITC – Instituo do Trabalho e Cidadania, e comecei a vir. B – O que você entende por lazer, Jovem E? Ou o que lazer em sua opinião? E – Na minha opinião lazer é alguma coisa que contribua para a qualidade de vida das pessoas, de modo geral. B – Você acha o lazer importante? E – Eu acho, eu acho o lazer bem importante para a pessoa. B – Por quê? E – Porque uma pessoa que não tem lazer não sabe viver. Na minha visão. B – Você considera como lazer o que você vivenciou no Turismo Jovem Cidadão? E– Sim. Acho que eu não me imaginava, eu nunca poderia imaginar ir àqueles lugares que eu fui, os pontos turísticos do Rio, porque não achava tão importante, mas quando eu comecei a participar do projeto eu vi que era importante sim a gente conhecer os lugares de onde a gente mora. Ainda mais que o Rio de Janeiro é ponto turístico legal. B – Quais são as suas práticas preferidas de lazer? E – Ultimamente minha vida está muito estudiosa, o que eu mais curto é sair um pouco dessa vida de estudos e jogar vídeo game, praticar esportes, vôlei e basquete que eu mais gosto. B – Com que freqüência você vivencia o lazer? E – Com que freqüência? Por dia, por mês? B – É. Todo dia, só algumas vezes na semana, qual a freqüência. E – Umas três ou duas vezes na semana eu tenho lazer. B – É mais relacionado ao esporte ou tem outras coisas? E – É mais relacionado aos estudos, que é que eu pego o meu violão e gosto de tocar. Eu pego o meu violão e ao mesmo tempo estou estudando e tendo lazer para mim mesmo. B – O que é turismo em sua opinião?

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E – O que é turismo? Turismo é uma forma de mostrar ás pessoas que não moram numa localidade como é aquele lugar, mostrar os detalhes, os mínimos detalhes daquele lugar, ver a beleza daquele lugar e não só pelos livros, visualmente falando. B – Você acha que o turismo é importante? E – Também acho que é importante. B – Por quê? E – O turismo além de ser um modo de vida também estão várias coisas relacionadas a ele, por exemplo a língua, você tem que saber falar várias línguas se você quiser ser um, como posso dizer, aquele cara que faz o turismo. B – O guia? E – O guia. Na minha visão é isso. B – Você considera o que você viveu no Turismo Jovem Cidadão como turismo? E – Considero sim. B – Considera? E – Apesar de ter ido aos lugares, na maioria das vezes aqui dentro da cidade em que eu moro, eu considero turismo sim, com certeza. B – Qual a sua experiência anterior com o turismo? E – Interior? B – Antes do Turismo Jovem Cidadão, anterior. E – Anterior. B – Você teve experiência com turismo antes do Turismo Jovem Cidadão? E – Não tinha. B – Por quê? E – Porque eu achava que essa coisa era coisa de rico (riso), mas vi que não era nada disso, que era aberto para todas as pessoas. B – Como foi o processo seletivo para participar do Turismo Jovem Cidadão? Foi a ONG que fez o processo? E – Foi a ONG que fez o processo. B – Você sabe que critérios eles escolheram para escolher os jovens? E – Eu acho que eles escolheram as pessoas que eles viram que iam se identificar mais com o projeto, ter mais determinação, que iam gostar mais daquilo, acho que eles viram isso. Porque lá onde eu fazia esse curso eles conheciam bem os alunos. B – O curso que você está falando é lá na ONG. E – Na ONG, B – Tinham vários cursos lá? E – Tinham vários cursos.

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B – Tipo o que? E – Mais curso de música, mas tinha desenho também. B – Como foi para você, Jovem E, participar do Turismo Jovem Cidadão? E – Como foi para mim, foi tipo uma realização, porque naquela época eu não sabia bem o que eu queria ser profissionalmente. E comecei a ver o que era, aprendi a mexer em câmera fotográfica, aprendi que o inglês e o francês eram importantes, eu relacionei isso àquilo que eu passei a gostar. Apesar de fazer curso de turismo eu vi que no turismo eu queria ser músico, é uma coisa meio doida, mas é isso. B – Como você acha que surgiu esse interesse pela música através do projeto, do Turismo Jovem Cidadão? E – Quando eu fui a um dos passeios, que foi no Pão de Açúcar eu vi um grupo tocando lá, um grupo de samba choro e comecei a olhar e tinham vários fotógrafos em volta e eu gostei muito daquilo. Eu já fazia curso de música e estava gostando bastante, aí eu vi, por que não ser músico. E vim cada vez pensando mais nisso e chegou nisso hoje. B – O que você mais gostou no Turismo Jovem Cidadão, Jovem E? E – Das amizades que eu fiz, que me abriram várias portas profissionalmente dizendo, e os lugares que eu conheci são muito bonitos também. B – O que você menos gostou? E – Acho que não tem uma coisa de que eu menos gostei, eu gostei de tudo. B – Teve uma coisa talvez que você gostou, mas não tanto quanto as outras coisas? E – Talvez a falta de segurança de alguns lugares ou organização. B – Você tem um exemplo para dar? E – Alguns lugares tinham pessoas que não eram simpáticas, exemplo, segurança, viam pessoas como não eram para serem tratadas. B – Tipo onde? Você pode citar nomes, qual o espaço? E – Não sei exatamente o lugar. Por exemplo, no Pão de Açúcar, não que seja lá, que tenha sido lá que eu me lembre agora, um segurança viu uma pessoa que não tinha dinheiro suficiente para passear ali, sei lá, não tratou aquela pessoa com o devido respeito. Isso não me alegrou muito. B – Vocês foram tratados com respeito, ou teve algum momento em que vocês também foram, ou que você achou que os jovens foram desrespeitados? E – Não, nós fomos respeitados sempre. B – Você acha que tem motivo para isso? E – Acho que não tem nenhum motivo. B – Para vocês terem sido respeitados, você acha que teve alguma causa? E – Acho que o fato da gente ter respeitado o espaço deles também, acho que isso foi essencial.

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B – O que você achou da atuação dos profissionais envolvidos no Turismo Jovem Cidadão? E – Ótima. Foram muito maneiros, B – Especificamente os guias, o que você achou dos guias? E – Muito bem educados. B – Você acha que eles deram liberdade para você perguntar e falar quando bem entendesse? E – Sim, deram. B – Onde você se sentiu mais a vontade durante todo o projeto? Onde você sentiu mais prazer durante todo o projeto? E – Mais diversão que eu tive? B – Onde se sentiu mais a vontade. E – Tiveram diversos lugares, no ônibus a gente zoava para caramba B - No ônibus era legal? E – Era legal, a gente zoava muito. B – Por quê? E – Porque ficava todo mundo reunido lá dentro e a gente se juntava e começava a zoar um ao outro. E também espaços abertos, tipo praia, a gente parava para lanchar. B – Vocês tinham mais liberdade nesses espaços, eram espaços mais descontraídos? E – Sim. B – Tanto os abertos quanto no ônibus? E – Sim. B – Por que você acha que era mais descontraído? E – Porque era mais público, era mais para a gente, para o público jovem. A gente podia brincar. B – Podiam ser mais vocês mesmos? E – Mais nós mesmos., B – Você se sentiu incomodado em alguma situação? E – Não, não me senti. B – Só essa que você falou que o segurança não tratou o cara legal, você não achou isso bom. E – É. B – O que você esperava do Turismo Jovem Cidadão antes dele começar?

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E – Eu esperava ganhar uma máquina (riso), porque na verdade foi o que me disseram que talvez nós ganharíamos uma máquina fotográfica, e eu fiquei todo alegre, vou ganhar uma máquina! Vou lá participar. B – E foi isso que aconteceu? Você ganhou uma máquina? E – A gente ganhou uma máquina, mas foi para a gente usar nos passeios, era uma máquina descartável, aí eu entendi bem o que era. Mas o tempo foi passando e eu fui descobrindo qual era realmente o objetivo do passeio. B – Qual era o objetivo? E – Era mostrar para a gente a importância do turismo. A importância do lazer, da qualidade de vida. B – Você acha que poderia ter acesso a essas experiências que você viveu sem o SESC? E – Provavelmente não. B – Por quê? E – Porque, aquilo que eu disse anteriormente, a gente não liga muito para isso, talvez por morar na comunidade, não, talvez não por morar em comunidades, talvez por ligar para outras coisas não relacionadas com o turismo. B – Você já teve vontade, Jovem E de conhecer algum desses lugares mas por algum motivo não pôde? E – Já tive, já tive sim. B – Qual lugar? E – Na verdade, foi um lugar que eu imaginei, eu estava em uma aula de história e o professor falou assim se vocês pudessem mudar alguma coisa no mundo ou criar algo que vocês gostariam que existisse, o que vocês criariam? Eu respondi, eu criaria um museu da música mundial, e falei assim, eu gostaria muito de ir lá. Aí não pude ir porque não existia. B – Você voltou a freqüentar os lugares visitados? E – Não. B – Passou a visitar outros lugares depois do Turismo Jovem Cidadão? E – Não passei. B – Você passou a buscar outras atividades de lazer além do turismo depois do projeto? E – Sim, clubes. B – Você acha que o Turismo Jovem Cidadão te estimulou a buscar outras atividades de lazer? E – Estimulou, sim. B – O que? Clubes? E – Clubes, piscinas, nesses lugares.

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B – Aqui no SESC você passou a utilizar os espaços aqui do SESC? E – Passei a utilizar os espaços. B – Com que freqüência? E – A cada semana, eu fazia um curso aqui, ganhei uma bolsa e fiz um curso aqui. B – Mais o que você faz aqui no SESC? E – Eu pensava em fazer outras coisas relacionadas a música, a desenho, porque eu gosto de desenho também, eu gostaria muito de participar. B – Você gosta de vir aqui. E – Gosto. B – Você já levou ou incentivou outras pessoas, familiares, amigos aos lugares visitados no Turismo Jovem Cidadão? E – Eu já disse que era lega ir àqueles lugares, sim. B – Chegou a levar as pessoas? E – Eles foram com quem eles quiseram ir. Não que eu seja chato, sou maneiro, mas eu falei para uma pessoa que era legal ir mas ele foi com a mulher dele, meu primo. B – Mas foi um incentivo que você fez, uma coisa que você falou que era legal e acabou achando e então vou lá. E – Sim. B – Sua vida mudou depois do Turismo Jovem Cidadão? E – Claro, com certeza. B – Em que aspecto? E – Aspecto cultural. B – Que contribuições o Turismo Jovem Cidadão te trouxe? E – Mais informações, tipo história, tinha uns museus que a gente ia e que eles explicavam bem para a gente, até me ajudou no trabalho de escola, foi muito legal. B – Você falou que chegou a ser selecionado em 2006 para participar no de 2008, foi isso? E – Não, foi no primeiro projeto que teve, eu não me lembro a data direito. B – O primeiro projeto que teve aqui no Tijuca você participou? E – É. Foi relacionado com o ITC, que é a ONG lá. B – Você chegou a ir a todas as visitas ou não pôde ir a algumas? E – Se não me engano eu fui a todas. B – Nesse ano você foi a todas? E – Esse ano, na primeira vez eu fui. B – Em 2008 chegaram a chamar você? E – Sim, me pediram para eu ir,

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B – Só que você não foi. E – Eu não fui. B – Por quê? E – Porque eu faço outro curso que exige muito tempo. B – O de música? E – É o de música. B – Mas teve vontade de fazer de novo em 2008? E – Tive. B – Só que realmente não pôde. E – É. B – Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar? E – Eu queria falar que as pessoas que eu conheci me incentivaram sempre me dando força para continuar a minha vida de músico, tipo dava uns conselhos, minha nota foi baixa na prova, mas falavam assim, estuda que você vai continuar a seguir nessa vida, que você vai ser músico mesmo. Me incentivaram bastante e eu estou aí até hoje. B – Legal. Jovem E, valeu! Obrigadão. E – Valeu!

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ENTREVISTA COM JOVEM F F=JOVEM F B=BERNARDO B – Você fique a vontade para não responder as perguntas ou que você não souber ou não quiser, fique bem a vontade. Antes me fala, para constar aqui na entrevista, a comunidade que você pertence. F – Sou da Formiga. B – Formiga. Você é integrante de qual ONG, jovem F? F – Instituto de Cidadania. B – Instituto de Cidadania? É o ITC? F – Isso. B – O que é lazer, em sua opinião? F - Lazer para mim é curtir a vida. B – Você acha que o lazer é importante? T – É claro. B - Por quê? F – Porque só ficar em casa não dá, tem que sair, se divertir, senão vai ficar maluco. B – Você considera o que você viveu no Turismo Jovem Cidadão como lazer? F – Considero. B – Quais são as suas práticas preferidas de lazer? F – Futebol, sair, essas coisas, B – Com que freqüência você Vicência essas práticas? F – Eu saio mais final de semana. B – Meio de semana também? F – Não, é mais final de semana, meio de semana eu estudo. B – Não dá muito tempo não F – É. B – O que você entende por turismo, jovem F? F – Turismo? B – É. F – Eu acho que é a pessoa conhecer lugares onde nunca foi, acho que é isso. B – Você acha que o turismo é importante? F – Acho. B – Por quê?

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F – Porque também é legal você ir a um lugar onde você não foi, o cara te apresenta, fala sobre o lugar, isso. B – Você considera o que você viveu no Turismo Jovem Cidadão como turismo? F – Considero. B – Qual a sua experiência anterior com o turismo? F – Nenhuma, B – Nenhuma, por que? F – Eu nunca tinha saído, só ficava lá no meu bairro mesmo. B – Por que você não saía? Tinha alguma razão? F – Sei lá, tempo também, conheci esse projeto e conheci lugares onde eu nunca fui, o Bondinho, Cristo Redentor. B – Como foi o processo seletivo para você participar do projeto Turismo Jovem Cidadão? F – Eu freqüento a ONG lá há muito tempo, eu o jovem G e Jovem E. B – Desde quanto tempo você freqüenta o ITC? F – Sabe que eu não lembro? Mas tem um bom tempo e como estou lá a um bom tempo, não sei se a coordenadora que toma conta lá, a Ester chamou a mim, o jovem G e jovem E, que estamos lá há bastante tempo como principal, botou a gente nesse projeto. B – Você sabe quais foram os critérios para te chamarem para participar do Turismo Jovem? F – O conhecimento mesmo porque estou lá há muito tempo. B – Mais o pessoal que já estava direto lá, que participa direto da ONG? F – É. B – Como foi para você participar do Turismo Jovem Cidadão, Jovem F? F – Como assim? B – O que você mais gostou no Turismo Jovem Cidadão? F – De tudo, todos os lugares que a gente foi eu nunca tinha ido. Foi muito legal. B – O que você menos gostou? F – O que eu menos gostei, acho que de nada. B – Teve alguma coisa que você gostou mais não tanto quanto das outras coisas? F – Acho que não, B – Não? F – Não.

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B – O que você achou da atuação dos profissionais envolvidos no Turismo Jovem Cidadão? F – Boa, eles interagem bem conosco. B – E os guias, o que você achou da atuação dos guias? F – Também boa, fomos passando pelos lugares e foram explicando direitinho como era, como sugiram. B – Você teve liberdade para perguntar e falar quando bem entendesse? Teve? F - Claro, B – Onde você se sentiu mais a vontade durante todo o projeto? F – Em todo momento, eles deixavam as pessoas bem a vontade. B – Teve algum lugar em que você se sentiu mais a vontade do que em outro? F – Acho que no ônibus. B – Por quê? F – A gente assistia DVD, zoava, era maneiro. B – Ficava mais livre? F – Ficava mais livre. B – Você se sentiu incomodado em alguma situação? F – Não. B – Não, nenhuma? F – Nenhuma. B – Foi tudo legal? F – Foi. B – O que você esperava do Turismo Jovem Cidadão antes dele começar? F – Eu pensava que ia ser chato. B – Por quê? F – Ir só a lugares aqui mesmo, que não ia sair daqui, eu achava que era isso. Depois que eu vi que era muito diferente, legal. B – Diferente como? F – Eu pensava que a gente ia ficar por aqui mesmo, que não ia sair, que só ia tirar foto daqui e a gente acabou indo para outros lugares, conhecendo lugares novos. B – Você acha que poderia ter acesso a essas experiências que você viveu sem o SESC? F – Não. Acho que não. B – Por que você acha que não? F – Até por condições financeiras.

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B – Você já teve vontade de conhecer algum desse lugares, mas por algum motivo não pôde? F – Já. B – Quais? F - O Bondinho que eu queria conhecer, não tinha dinheiro. B – Você voltou a freqüentar depois algum lugar visitado? F – Não. B – Não deu? F – Não. B – Por quê? F – Condição mesmo. B – Você passou a visitar outros lugares depois do Turismo Jovem Cidadão? F - Não. B – E outras práticas de lazer, você passou a buscar outras atividades de lazer além do turismo, depois desse projeto? F – Não, só saí mesmo. B – Você acha que o projeto Turismo Jovem Cidadão te estimulou a praticar outras coisas em relação ao lazer? F – Estimulou. B – O que? F – Sei lá, queria até conhecer novos lugares mas eu moro com a minha mãe, é difícil. B – Você costuma utilizar os espaços aqui do SESC? F – Costumo. B – Com que freqüência? F – Final de semana. B – Que espaços você, o que você faz aqui? F – Piscina, jogar futebol, tem a quadra ali. B – Você gosta de vir aqui? F – Gosto. B – Você já levou ou incentivou outras pessoas, família, amigos para conhecerem os lugares visitados no Turismo Jovem Cidadão? F – Já. B – As pessoas chegaram a ir aos lugares? F – Acho que não. B – Mas você falou sobre?

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F – Expliquei lá, falei que era bonito, que era muito legal, não sei se eles foram. B – Thiago, sua vida mudou depois do Turismo Jovem Cidadão. F – Acho que sim B – Como? F – Fiquei mais de bem com a vida. B – Que contribuições você acha que o Turismo Jovem Cidadão te trouxe? F – Passei a conhecer novos lugares e eles mandaram pesquisar também coisas sobre o nosso morro que eu não sabia. B – Isso durante as visitas? F – Isso. B – Você chegou a ser monitor depois? F – Cheguei. B – Como foi? Foi legal? F – Foi legal. As pessoas vinham, perguntavam e eu respondia, coisas que eu não sabia eu já sabia, porque eles mandaram eu pesquisar, B – Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar? F – Não, só isso. B – Você falou que participou de que ano? F – 2007. B – E eles te chamaram para participar de 2008? F – Chamaram, só que eu acabei ficando doente e não deu para eu vir participar. B – Você queria ter participado? F – Gostaria, só que fiquei com dengue e não deu. B – Está bem agora? F – Estou bem. B – Então está ótimo! Jovem F, obrigado, valeu, F – De nada, valeu...

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ENTREVISTA COM JOVEM G G=JOVEM G B=BERNARDO B – Jovem G, você fica bem a vontade para responder só as perguntas que você quiser, fique bem a vontade. Para começar, só para a gente constar aqui na gravação, me fala a comunidade da qual você veio. G – Vim da comunidade da Formiga, projeto do ITC. B – Do Instituto Trabalho e Cidadania? G – É. B - O que é lazer, em sua opinião, Jovem G? G – Lazer é você no estudo junto, você estudar e se divertir ao mesmo tempo, e também divertir, vamos por o que você quiser, mas dentro do trabalho, fazendo e se divertindo ao mesmo tempo. B – Você acha que o lazer é importante? G – É. B – Por que você acha que é importante? G – Eu acho que se você for fazer tudo, vamos supor se você for fazer um trabalho, mas se não tiver um pouco do lazer vai ficar meio chato, nem todo mundo vai querer fazer porque vai ficar sendo muito chato, muito blá, blá, bla, é necessário um pouco de distração. B – Você considera o que você viveu no Turismo Jovem Cidadão como lazer? G – Considero também. B – Quais são as suas práticas preferidas de lazer? G – Eu costumo tocar, instrumento e jogo capoeira também. ´ B – Com que freqüência você vivencia essas práticas? G – Praticamente em dia de semana, todo dia em casa depois da escola, eu toco meu instrumento e depois vou para o treino. B – O que você entende por turismo? O que é turismo em sua opinião? G – Eu acho que turismo na minha opinião é você conhecer outras localidades, outros lugares. Eu sou aqui da Tijuca e vou fazer um turismo em Copacabana, fora do Rio de Janeiro, até mesmo dentro num lugar que você não conhece, eu acho isso, B – Você acha que o turismo é importante? G – Também acho que é para conhecer novas localidades, novas amizades. B – Você considera o que você viveu no Turismo Jovem Cidadão, no projeto como turismo? G – Considero sim.

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B – Qual a sua experiência anterior com o turismo? G – Antes de eu começar a fazer o projeto de turismo, eu vou dizer que eu não tinha nenhuma experiência. B – É? G – Nenhuma experiência com turismo. B – Por quê? G – Porque eu nunca parei para ir aos lugares com um guia para me explicar o que é isso, o que é aquilo. Nunca tive essa oportunidade. B - Você acha que para ser turismo tem que ter o guia? G – Não precisa ter um guia, você tendo oportunidade de ir àquela localidade e a curiosidade, acho também que é já um turismo. B – Como foi o processo seletivo para você participar do Turismo Jovem Cidadão, Jovem G? G – Eu fazia curso no ITC e o pessoal do SESC fez uma parceria com o pessoal do ITC e eu fui indicado e comecei a fazer esse curso do projeto turismo. B – Você participou de que ano? G – Eu participei de 2007 e 2008. B – Em 2008 você foi selecionado dos jovens selecionados dos anos anteriores. G – É, dos anos anteriores. B – Você chegou a participar de todas as visitas? G – Participei de todas as visitas. B – Em 2008? G – 2008. B – Como foi para você participar do Turismo Jovem Cidadão? G – Para mim foi muito bom, porque se eu não estivesse no projeto estaria lá no ITC estaria um tempo parado porque estava de férias, então se o projeto também foi bom para mim porque eu ia chegar da escola e ia ficar em casa, e ficar em casa eu não ia fazer nada a não ser pegar meu instrumento, tocar e estudar um pouco. Eu chegava da escola, ia em casa, almoçava, descansava um pouquinho e já vinha para cá e comecei a fazer o projeto turismo que era conhecer as outras localidades. B – O que você mais gostou no Turismo Jovem Cidadão? G – Gostei de conhecer os outros lugares, teve muito lugar que eu nunca fui e também me ajudou na escola, porque teve, foi a primeira vez que a gente foi em 2008, foi o negócio da Família Real, e eu estava estudando isso na escola, a Família Real, a chegada no Brasil. Eu tive essa oportunidade de ir lá e conhecer muita coisa que eu não sabia e que já foi bem na escola.

B – O que você menos gostou no Turismo Jovem Cidadão? G – Menos gostei? Para falar a verdade, é que acabou.

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B – Mas teve alguma coisa que você gostou, mas não tanto como outras coisas? G – Acho que não, B – O que você achou da atuação dos profissionais envolvidos no Turismo Jovem Cidadão? G – Achei muito bom, gostei para caramba deles, me amarrei. B – E os guias? G – Também, muito legais, muito divertidos, conversam com todo mundo, a gente vem brincando dentro do ônibus, trocando idéias, a gente aprendia com eles, eles aprendiam com a gente, foi legal. B – Você teve liberdade para perguntar? G – Tive. B – E falar como bem entendesse? G – Tive muita liberdade, não entendia, dizia, não entendeu assim, perguntava e eles vinham com o maior carinho e respondiam com o maior interesse e respondia. B – Onde você se sentiu mais a vontade durante todo o Turismo Jovem Cidadão? G – Onde me senti mais a vontade foi dentro do ônibus, foi muito legal e nos passeios também. B – Onde você se sentiu mais a vontade nos passeios ou no ônibus? G – Nos dois, porque escolher um ou outro vai ficar meio difícil. Fico em cima do muro. B – Tanto nas viagens como no ônibus. G – Dentro do ônibus. B – Você se sentiu incomodado em alguma situação, Jovem D? G – Não. B – Em hora nenhuma? O que você esperava do Turismo Jovem Cidadão antes dele começar? G – Eu achava, na hora que fiquei sabendo mais uma curiosidade porque todos os meus amigos iam fazer e eu falei, vou fazer também. Mas não sabia que ia ser assim desse jeito, achei que ia ser muito chato, mas depois que a gente foi conhecendo novas amizades, os guias, os profissionais que iam com a gente, até o motorista do ônibus era divertido. Foi bom para caramba, e agora não quero mais largar, é uma coisa que gruda, não mais largar. B – Então você ficou mais satisfeito do que você esperava? G – É. B – Você acha que você poderia ter acesso a essas experiências que você viveu sem o SESC?

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G – Se eu poderia ter, acho que seria meio difícil. B – Por quê? G – Porque eu não ia ter esse interesse que eu tenho agora, porque o SESC me deu esse interesse na minha mente de conhecer esses lugares, aprender a mexer com máquina fotográfica, a gente usa muito máquina fotográfica e eu achei que foi o SESC que me deu esse interesse. B – Você já teve vontade de conhecer alguns desses lugares mas por algum motivo não pôde? G – Tive sim, conhecer o Pão de Açúcar, eu tinha muita vontade de conhecer mas por verba não tive oportunidade de conhecer e no SESC eu tive essa oportunidade de poder ir lá. B – Você voltou a freqüentar os lugares visitados? G – Só alguns, B – Quais? G – O Museu da 5ª, já fui lá umas duas vezes depois de ter ido lá, no Pão de Açúcar eu voltei uma vez e em Laranjeiras. B – Passou a visitar outros lugares depois do Turismo Jovem Cidadão, além dos lugares que você conheceu no projeto? G – Que eu me lembre, não lembro direito. Acho que não fui. B – Você voltou onde já tinha ido pelo projeto. G – É. B – Passou a buscar outras atividades de lazer além do turismo, depois do projeto? G –Só esses mesmo, depois não, B – Você acha que o Turismo Jovem Cidadão estimulou você a buscar outras práticas de lazer, outras atividades? G – Acho que estimulou. B – Você costuma utilizar os espaços aqui do SESC? G – Muito pouco porque estou muito sem tempo. Mas quando eu tenho tempo eu venho aqui. B – O que você faz aqui? O que você utiliza aqui? G –De vez em quando venho, mais a sala de internet, acesso livre, Ou então lá em cima no campo, é pouco mesmo. B – Você gosta de vir aqui? G – Gosto. B – Você já levou ou incentivou outras pessoas, família, amigos aos lugares visitados no Turismo Jovem Cidadão? G – Já, já incentivei.

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B – Já? G – Já. B – As pessoas foram? G – Foram. B – Você foi com as pessoas? Como foi? G – Não deu para eu ir, mas eu incentivei meu irmão, que queria levar a esposa e o filho a algum lugar e perguntou se eu sabia um lugar e eu falei, tem o Pão de Açúcar que eu já fui e lá é muito bom. A vista de lá é muito linda, uma vista maravilhosa, e ele me perguntou se eu sabia chegar lá. Falei, saber não me lembro direito, mas vá lá porque lá é muito bom, dei o incentivo a ele e ele falou, então está bom, eu vou lá, vou dar um voto de confiança a você. Ele voltou e falou, você falou e lá é muito bom mesmo. Ele tirou muita foto lá. B – Você se sente bem em ter incentivado o seu irmão a buscar uma outra possibilidade? G – Me senti. B – Como você se sentiu? G – Uma felicidade ele ter acreditado em mim, foi e gostou. Fiquei feliz de ele ter ido conhecer o lugar que eu conheci. B – E ele gostou? G – Gostou muito. Ele, e não só o meu sobrinho também e a esposa dele, minha cunhada. B – Sua vida mudou depois do Turismo Jovem Cidadão? G – Eu creio que mudou, porque como eu disse, a gente mexia muito com máquina fotográfica, aí em algum lugar quando a gente vai, até mesmo no ITC quando a gente vai a uma reunião precisa de alguém para tirar foto e eles me levam e falam que eu já peguei a prática de mexer com máquina fotográfica, sei como fazer para a foto não sair tremida. Eles me levam, eu vou e tiro fotos para eles e até dentro de casa mesmo, até para mim mesmo eu tiro fotos. B – Que outras contribuições o Turismo Jovem Cidadão te trouxe? G – Como assim? B – Que outras coisas você acha que foram mudadas na sua vida pelo Turismo Jovem Cidadão? G – A não ser isso, foi mudado a ter respeito pela natureza. Em muitos lugares que fomos e que a gente não sabia que não podia fazer aquilo e muita gente fazia, então de perder o costume de fazer aquilo, tipo jogar o lixo na mata, não podia fazer, dar comida ao animal que está lá, o macaquinho, não pode senão ele perde o costumo de caçar e você dando comida a ele, ele vai se acostumar se apegar com você e não vai querer mais caçar, vai perder aquele instinto de caça. Acho que isso mudou na minha vida.

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B – Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar, Jovem G? G – Que eu me lembre não. B – Então está ótimo, foi muito legal. Obrigado, valeu. G – Valeu.

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ANEXO 2: Documento escrito do projeto TJC

Apresentação O SESC, voltado para a melhora na qualidade de vida dos comerciários, dependentes e da comunidade em geral, bem como difusora cultural no entorno de suas unidades, proporciona uma visão de mundo, antes restrita por questões econômicas e culturais, tem, neste projeto, iniciado em 2003, seguindo a mesma filosofia do já consolidado Turismo Cidadão, a continuação de um programa voltado para jovens, entre 12 e 17 anos, a fim de obter um efeito multiplicador em sua ação. O projeto Turismo Jovem Cidadão tem como inspiração o Turismo Cidadão, já praticado pelo SESC Ramos, e busca diferenciar-se de seu projeto inspirador por oferecer o transporte em vans, incluir uma apresentação artística em cada visita, trabalho intensivo com cinco dias seguidos com cada grupo (a partir de 2004), e de estimular a percepção de diferentes possibilidades profissionais, a partir do conteúdo trabalhado em cada visita. A idéia central é difundir o conhecimento destes espaços através da divisão em temas específicos e com as apresentações artísticas complementares. Desta maneira, cada comunidade desenvolverá, em cinco dias, passeios a locais diferentes, mas dentro de um mesmo tema específico. Durante as visitas os jovens levarão, cada um, uma máquina fotográfica, para registro das visitas a partir de seu ponto de vista. Após a revelação, são escolhidas pelos próprios jovens aquelas fotos mais representativas e estas são ampliadas, formando uma mostra, à ser exposta no SESC Ramos e, em seguida, na comunidade participante. Onde

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Os locais a serem visitados são divididos por temas, ficando cada comunidade com um tema definido para os seus cinco dias de visitas. � Rio antigo e histórico 1. Passeio a pé pelo Centro histórico do Rio de Janeiro; 2. Do Centro às praias cariocas, visitando o Museu Histórico

Nacional e, partindo do Centro, passando pela Zona Sul até a Barra da Tijuca, pela orla;

3. Jardim Botânico do Rio de Janeiro e Lagoa Rodrigo de Freitas;

4. Passeio de barca pela Baía de Guanabara, principal porta de entrada histórica da cidade;

5. Subida ao Corcovado e Cristo Redentor, com vista da cidade.

� Ecologia 1. Museu do Índio e a ecologia pessoal; 2. Jardim Botânico do Rio de Janeiro e Lagoa Rodrigo de

Freitas; 3. Parque Ecológico Chico Mendes; 4. Caminhada em trilha na Floresta da Tijuca, com educação

ambiental; 5. Visita a Fazendinha, na Penha.

� Vista do Rio 1. Visita ao Pão de Açúcar; 2. Centro histórico do Rio de Janeiro; 3. Orla do Centro a Zona Oeste; 4. Visita ao Cristo Redentor; 5. Subida a Pedra Bonita.

� Transportes públicos urbanos 1. Visita ao Centro Técnico do METRÔ RIO; 2. Visita ao Centro de Controle Operacional da SUPERVIA; 3. Visita ao estaleiro da Barcas S.A por meio de barca; 4. Ônibus do DETRAN, com oficina sobre regras de trânsito; 5. Visita ao aeroporto Internacional Tom Jobim. Objetivo principal Assim, temos como objetivo principal, a conscientização do sentimento de cidadania, com a valorização pessoal e

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percepção de fazer parte do todo por parte dos jovens envolvidos neste projeto. Objetivos específicos Objetivos: � Promover por meio do turismo a sustentabilidade cultural da

população de jovens de comunidades de baixa renda enriquecendo e desenvolvendo o legado histórico e cultural das gerações passadas, acrescentando a contribuição do seu próprio tempo.

� Reconhecimento de diferentes linguagens artísticas,

contribuindo para um novo olhar diante do mundo que o cerca ampliando e enriquecendo suas relações.

� Conhecer espaços de Patrimônio Cultural e Histórico e de

Preservação Ambiental. � Contribuir para o fortalecimento de consciência de cidadania. � Valorização de riqueza cultural da cidade. � Socialização e construção de vínculo e orgulho cidadão em

fazer parte da cidade. � Incentivar o processo de multiplicação do processo

conscientizando os jovens da importância do seu papel nesse processo incentivando outros jovens a conhecer o patrimônio da cidade.

Justificativa

Os jovens da área da Leopoldina se ressentem de oportunidades de conhecer outras áreas da cidade, circularem livremente e com isto adquirem o sentimento de cidadania, intimamente ligado ao conhecimento dos espaços onde

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habitam, à sua gênese histórica, seus desdobramentos e maneiras de preservação, tanto pessoal quanto ambiental. Metodologia

A partir de nossa experiência no ano de 2003, cada visita é precedida de palestra, onde é apresentado pelo guia acompanhante o local a ser visitado e o conteúdo do passeio, inclusive por meio de impresso com a história, dados do local, contatos e meios de transporte, e além disto são incluídas apresentações artísticas que complementam o passeio, formando um conjunto harmônico, onde a cultura e a educação encontram total integração e é estendida a todos os demais transeuntes. Etapas de acordo com a Metodologia Aplicada – Passos para cada grupo. 1. Entrega das fichas de autorização dos menores

devidamente preenchidas até 1 (uma) semana antes do início dos passeios;

2. Relação dos alunos e coordenadores, constando nome completo, data de nascimento, identidade ou certidão de nascimento, CPF até 1 (uma) semana antes do início dos passeios;

3. Telefones e contatos dos coordenadores e responsáveis pela ONG ou Associação responsável;

4. Informar aos participantes quanto ao uso de uniformes da ONG ou da respectiva escola durante os passeios;

5. Informar o grupo da necessidade de pontualidade para melhor aproveitamento dos passeios.

Temas e desenvolvimento do projeto:

Obs.: em todos os dias haverá uma palestra antes do embarque, sobre o local a ser visitado no dia, bem como o registro fotográfico do passeio, feito pelos participantes; � Rio antigo e histórico 4ª feira – Subida ao Cristo Redentor;

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� Subida Ao Cristo Redentor, a partir do estacionamento na Paineiras, com caminhada de 2.600m;

� Horário: 13h às 17h. 5ª feira – Jardim Botânico do Rio de Janeiro e Lagoa Rodrigo de Freitas; � Visita ao Jardim Botânico e lanche no Parque dos Patins, na orla da Lagoa Rodrigo de Freitas;

� Apresentação de mímica, com o mímico Duda de Olinda; � Horário: 13h às 17h. 6ª feira – Do centro às praias cariocas, visitando o Museu Histórico nacional e, partindo do centro até a Barra da Tijuca, pela orla; � Visita ao Museu Histórico Nacional e extensão pela orla até a Zona Oeste, Barra da Tijuca;

� Parada para lanche na praia de São Conrado; � Apresentação; � Horário: 13h às 17h.

Sábado – Passeio a pé pelo Centro Histórico do Rio de Janeiro; � Visita ao Centro Histórico e político da cidade sede desde o tempo do Brasil Colônia até 1960;

� Oficina de massoterapia, alongamento e consciência corporal;

� Massoterapeuta Valéria Aleixo; � Horário: 8h às 13h. Domingo – Passeio de barca pela Baía de Guanabara, principal porta de entrada histórica da cidade. � Histórias do Rio pela Baía de Guanabara: passeio de barca com as BARCAS S.A;

� Apresentação do grupo musical Ciclo Natural; � Horário: 8h às 13h. Oficina de imagens, uma semana após o término: Seleção e avaliação das imagens fotográficas � Coletânea de fotos e pesquisas produzidas por jovens durante a realização do projeto;

� Ecologia

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4ª feira – Museu do Índio e a ecologia pessoal; � Visita ao Museu do Índio, em Botafogo; � Apresentação do grupo musical Ciclo Natural; � Horário: 13h às 17h. 5ª feira – Jardim Botânico do Rio de Janeiro e Lagoa Rodrigo de Freitas; � Visita ao Parque Ecológico, com acompanhamento de biólogos do local, com explicações sobre a fauna e a flora de restinga e da reserva ambiental;

� Oficina de massoterapia, alongamento e consciência corporal;

� Massoterapeuta Valéria Aleixo; � Horário: 13h às 17h. 6ª feira – Parque Ecológico Chico Mendes; � Visita ao Parque Ecológico, com acompanhamento de biólogos do local, com explicações sobre a fauna e a flora de restinga e da reserva ambiental;

� Oficina de massoterapia, alongamento e consciência corporal;

� Massoterapeuta Valéria Aleixo; � Horário: 13h às 17h. Sábado – Caminhada em trilha na Floresta da Tijuca, com educação ambiental; � Caminhada na Floresta da Tijuca com educação ambiental, em trilha circular, com início na Praça Afonso Vizeu e término no Açude da Solidão;

� Apresentação de mímica; � Mímico Duda de Olinda; � Horário: 13h às 17h. Domingo – Visita à Fazendinha, na Penha; � Visita a uma fazenda modelo, com plantação e criação de animais;

� Horário: 13h às 17h. Oficina de imagens, uma semana após o término: Seleção e avaliação das imagens fotográficas

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� Coletânea de fotos e pesquisas produzidas por jovens durante a realização do projeto;

� Vista do Rio 4ª feira – Visita ao Pão de Açúcar; � Visita ao Pão de Açúcar, com embarque no bondinho na Urca;

� Oficina de massoterapia, alongamento e consciência corporal;

� Massoterapeuta Valéria Aleixo; � Horário: 13h às 17h. 5ª feira – Orla do Centro a Zona Oeste; � Vista da orla da cidade do Rio de Janeiro, com parada na praia de São Conrado para lanche;

� Oficina de massoterapia, alongamento e consciência corporal;

� Massoterapeuta Valéria Aleixo; � Horário: 13h às 17h. 6ª feira – Visita ao Cristo Redentor; � Visita ao Cristo Redentor, com caminhada a partir das Paineiras, até o mirante do Cristo Redentor;

� Oficina de massoterapeuta, alongamento e consciência corporal;

� Massoterapeuta Valéria Aleixo; � Horário: 13h às 17h. Sábado – Subida a Pedra Bonita; � Subida a pé, no Parque Nacional da Tijuca, com parada na rampa de vôo livre e trilha até a Pedra Bonita;

� Horário: 13h às 17h. Domingo – Centro Histórico do Rio de Janeiro; � Visita ao Centro Histórico e político da cidade sede desde o tempo do Brasil Colônia até 1960;

� Oficina de massoterapia, alongamento e consciência corporal;

� Massoterapeuta Valéria Aleixo; � Horário: 13h às 17h.

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Oficina de imagens, uma semana após o término: Seleção e avaliação das imagens fotográficas � Coletânea de fotos e pesquisas produzidas por jovens durante a realização do projeto;

� Transportes públicos urbanos 4ª feira – Visita ao centro Técnico do METRÔ RIO;

Rio nos Trilhos: Metrô RIO � Visita ao Centro de Controle Operacional, indo e voltando em trens do metrô;

� Apresentação de mímica; � Mímico Duda de Olinda; � Horário: 13h às 17h. 5ª feira – Visita ao Centro de Controle Operacional da SUPERVIA;

Rio nos trilhos: SUPERVIA � Visita ao Centro de Controle Operacional, indo e voltando em trens urbanos;

� Oficina de pintura, na comunidade; � Direção: Janaína (Cultura / SESC Ramos); � Horário: 13h às 17h. 6ª feira – Visita ao estaleiro das BARCAS S.A por meio de barca; � Visita ao Estaleiro das BARCAS S.A, em Niterói/RJ, indo e voltando em barca;

� Apresentação do grupo musical Ciclo Natural; � Horário: 13h às 17h. Sábado – Visita ao Aeroporto Internacional Tom Jobim; � Visita ao Aeroporto Internacional Tom Jobim; � Registro fotográfico da visita; � Horário; 13h às 17h. Domingo – Ônibus do DETRAN, com oficina sobre regras de trânsito; � Visita ao SESC Ramos, onde estará o ônibus do Detran;

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� Oficina de sucos naturais; � Direção: Soraia (Nutrição/SESC Ramos); � Horário: 13h às 17h. Oficina de imagens, uma semana após o término: Seleção e avaliação das imagens fotográficas � Coletânea de fotos e pesquisas produzidas por jovens durante a realização do projeto;

Público Alvo Nosso público alvo é o adolescente, entre 12 e 17 anos, devido a característica prática de multiplicador de conteúdo de um projeto deste tipo, e está localizado na área da Leopoldina, trata-se das comunidades carentes do entorno de nossa unidade, principalmente aquelas associações que já desenvolvem algum trabalho organizado com seus jovens. Resultados Desta forma, buscamos:

� Valorização pessoal; � Incorporar o sentimento de cidadania; � Melhorar a qualidade de vida dos participantes; � Conscientização ecológica; � Desenvolvimento cultural e social dos participantes e da

comunidade; � Incentivar a prática de visitas e passeios na cidade onde

moram. Sistema de Avaliação Para correta avaliação serão utilizados três abordagens distintas: Ficha cadastral: � Cada participante inscrito terá um cadastro com dados psicossociais, para avaliação do perfil sócio-econômico e cultural de cada um e do grupo em si;

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� Para participar do projeto é necessário autorização de pais ou responsáveis, com documentos e dados do mesmo e assinatura.

Avaliação Interna: � Esta será feita com a distribuição de preenchimento de opiniários, por escrito e de múltipla escolha, com espaço para observações e sugestões;

Avaliação Externa: � Em parceria com os coordenadores e diretorias das associações e ONGs com que trabalhamos, será avaliado e mensurado o conhecimento dos locais e sistemas, antes e depois do programa de visitas, por meio de redações e depoimentos por escrito;

Cronograma

Calendário de Visitas O início da realização das visitas está previsto para agosto de 2004 e se estende até fins de novembro, contemplando assim quatro comunidades em quatro meses de projeto, cada uma em um mês, em cinco dias consecutivos. Agosto Rio antigo e histórico; Setembro Transportes públicos urbanos; Outubro Ecologia; Novembro Vista do Rio; Parcerias Internas: � GETUR; � GESLA; � GESAU; � GEDUC. Parcerias Externas: � Empresas Transportadoras Turísticas;

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� Gráficas; � Confecções; � Museu Histórico Nacional; � Jardim Botânico; � Museu Nacional; � Parque Chico Mendes; � Museu do Índio; � Caminho de Ferro Corcovado; � Pão de Açúcar; � Parque Nacional da Tijuca; � DETRAN RJ; � SUPERVIA; � METRÔ RIO; � BARCA S.A; � Grupo Ciclo Natural; � Mímico Duda de Olinda; � Massoterapeuta Valéria Aleixo. Atendimento previstos: A cada dia de visitação, além dos 25 jovens participantes, teremos a multiplicação de atendimentos em acordo com a oficina artística complementar, que será, uma vez em local público, oferecida a todos os passantes. Assim, temos: Cada grupo: 25 jovens x 8 atendimentos