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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL CAMPUS DO PANTANAL
LAURA HELENA RADICHE DA CONCEIÇÃO
POSSIBILIDADES/POTENCIALIDADES DOS JOGOS COOPERATIVOS PARA A
CONSOLIDAÇÃO DE UMA EDUCAÇÃO FÍSICA EMANCIPADORA
CORUMBÁ – MS 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL CAMPUS DO PANTANAL
POSSIBILIDADES/POTENCIALIDADES DOS JOGOS COOPERATIVOS PARA A CONSOLIDAÇÃO DE UMA EDUCAÇÃO FÍSICA EMANCIPADORA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, como parte dos requisitos para obtenção do título de licenciatura em Educação Física Orientador: Prof. Dr. Fabiano Antonio dos Santos
CORUMBÁ – MS 2014
A minha mãe Célia e meu esposo Lucas, por
ser a razão da minha vida.
A Deus que tem abençoado meu caminho.
AGRADECIMENTO
À Deus, por ser minha fonte de inspiração nos momentos em que mais preciso e
precisei, e que me faz acreditar numa vida melhor.
Ao Lucas, meu esposo, que além de estar longe, participou deste trabalho, me dando
força e elogiando cada etapa da minha formação; e principalmente entendendo o momento
que precisei me ausentar para realizá-lo.
À minha mãe, Célia, que sempre proporcionou as melhores condições para meus
estudos e que sempre acreditou na minha capacidade de realizar tudo o que desejasse.
À minha família, que me incentivou nas horas alegres e nas horas tristes.
Aos meus amigos Jefferson e Kédma pelas inúmeras situações de felicidade e por
serem os melhores incentivadores desta caminhada.
Ao Prof. Dr. Fabiano Antonio dos Santos, pela orientação deste trabalho e pela
paciência com seus alunos e também por despertar o melhor em cada aluno.
Felicidade
Haverá um dia em que você não haverá de ser feliz Sentirá o ar sem se mexer Sem desejar como antes sempre quis Você vai rir, sem perceber Felicidade é só questão de ser Quando chover, deixar molhar Pra receber o sol quando voltar
Lembrará os dias que você deixou passar sem ver a luz Se chorar, chorar é vão porque os dias vão pra nunca mais
Melhor viver, meu bem Pois há um lugar em que o sol brilha pra você Chorar, sorrir também e depois dançar Na chuva quando a chuva vem
Tem vez que as coisas pesam mais Do que a gente acha que pode agüentar Nessa hora fique firme Pois tudo isso logo vai passar
Você vai rir, sem perceber Felicidade é só questão de ser Quando chover, deixar molhar Pra receber o sol quando voltar
Melhor viver, meu bem Pois há um lugar em que o sol brilha pra você Chorar, sorrir também e depois dançar Na chuva quando a chuva vem
Melhor viver, meu bem Pois há um lugar em que o sol brilha pra você Chorar, sorrir também e dançar Dançar na chuva quando a chuva vem Dançar na chuva quando a chuva vem Dançar na chuva quando a chuva Dançar na chuva quando a chuva vem
(Marcelo Jeneci/Chico César)
RESUMO
Esta pesquisa procurou refletir sobre as possibilidades e potencialidades dos jogos
cooperativos para a consolidação de uma educação física emancipadora. Esta proposta
entende o ser humano como principal sujeito de estudo dentro da sociedade, e que por meio
do trabalho transforma a natureza e as relações sociais. A partir disso, o indivíduo vai se
caracterizando conforme a regras da sociedade em que está inserido. Tivemos como objetivo
desse estudo compreender as possibilidades e potencialidades dos jogos cooperativos para a
consolidação de uma educação física emancipadora. Para isso, utilizamos um estudo
bibliográfico, para efetivar as principais discussões da pesquisa. Os dados foram coletados de
livros e artigos, pelo fato desse meio permitir alcançar de forma rápida o acolhimento das
informações relevantes e confiáveis. Todo o estudo seguiu uma sequência dos fatos históricos
que antecederam a realidade hoje, permitindo melhor entender a constituição das relações
sociais na sociedade capitalista. Neste contexto, a educação física aparece na tentativa de
promover o conhecimento socialmente e historicamente reproduzido. Então, verificar os
conhecimentos relevantes dentro dos jogos cooperativos, que serão capazes de manter
comprometimento com a mudança da condição social do individuo inserido na escola, no
sentido de torná-lo critico e consciente da realidade em que vive. E é no processo de
transformação social, que prevê romper com as ideologias do capital. Concluímos nossa
pesquisa, com a certeza de que essa temática investigada não se esgota aqui, esclarecendo que
isso seria só inicio de longos estudos. Apenas buscamos indicar alguns caminhos, que
futuramente mereçam ser retomados em outras pesquisas.
Palavras-chave: Jogos Cooperativos; Sociedade; Educação; Emancipação.
ABSTRACT
This research sought to reflect on the possibilities and potential of the cooperative for the consolidation of an emancipatory physical education games. This proposal considers the human being as the main subject of study within society, and that through the work transforms nature and social relations. From this, the individual will be characterized according to the rules of the society in which it is inserted. This study we aimed to understand the possibilities and potential of the cooperative for the consolidation of an emancipatory physical education games. Therefore, we use a bibliographic study to effect the main discussions of the research. Data were collected from books and articles, because this medium allows reaching quickly the host of relevant and reliable information. Throughout the study followed a sequence of historical events leading up to the reality today, enabling better understand the constitution of social relations in capitalist society. In this context, physical education appears in the attempt to promote knowledge socially and historically reproduced. Then, check the relevant knowledge within the cooperative game, to be able to maintain commitment to change the social status of the individual entered the school in order to make it critical and conscious of the reality in which he lives. It is in the process of social transformation, which provides break with the ideology of capital. We conclude our research, with the certainty that investigated this issue does not end here, explaining that this would only be the beginning of long studies. As we seek to indicate some ways, deserving future be reproduced in other studies. Keywords: Cooperative Games; Society; Education; Emancipation.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 9
2 EDUCAÇÃO E SOCIEDADE ...................................................................................... 11
2.1 Discutindo a relação educação e sociedade .............................................................. 11
2.2 Educação para além do capital .................................................................................. 17
2.3 A Educação Física e suas relações com a sociedade ................................................. 20
3 JOGOS COOPERATIVOS E EMANCIPAÇÃO HUMANA .................................... 24
3.1 Emancipação humana ................................................................................................. 24
3.2 Educação Física numa perspectiva emancipadora ................................................... 25
3.3 Jogos Cooperativos: uma proposta emancipadora ................................................ 26
3.4 Jogos Cooperativos enquanto ferramenta para emancipação ............................... 29
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 32
5 REFERÊNCIAS.............................................................................................................33
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1INTRODUÇÃO
A convivência entre os indivíduos na sociedade por muito tempo vem se desgastando,
e o grande cenário tem como base o sistema capitalista, que apresenta em seu processo o
individualismo e a competição; tudo pelo lucro. Para isso há uma tentativa de transformar o
ser humano como principal meio de produção e ao mesmo tempo utilizá-lo como produto. E
neste contexto, há o esquecimento dos valores humanos, em especial e que dá sentido a essa
pesquisa, temos: a solidariedade e a cooperação. Vale destacar que as palavras e conceitos
têm força, isso quer dizer que ganham sentidos ao longo da história. Falar em solidariedade,
por exemplo, em nossa sociedade implica nos remetermos á estratégias de regulação da atual
sociedade. Ser solidário, para essa sociedade é participar de ações voluntaristas, desvinculadas
de uma responsabilidade social e histórica com o futuro da sociedade, num sentido de
transformar as bases que a sustenta. Ser solidário é, em muitos casos, cumprir a função que
deveria ser do estado. Nesta pesquisa vamos defender que os jogos cooperativos podem
contribuir para o restabelecimento do sentido crítico de solidariedade, ou seja: resgatar o
sentido mais coletivo e participativo do ser humano das atividades políticas, tanto
fundamentais quanto cotidianas. Sendo assim, acreditamos que os jogos cooperativos podem
ser uma alternativa para trabalhar nas aulas de educação física com o intuito pedagógico de
resgatar esses valores humanos, e outros que em consequência virão a ser contemplados.
Temos consciência de que a aplicação pode ter uma proposta que visa à emancipação
humana ou transformação social. Retomando aos fatos, conseguimos explicar como chegamos
ao ponto de termos outra visão de sociedade e sua constituição. Nesse caso, cabe à instituição
escolar acolher todas as possibilidades e potencialidades dos jogos cooperativos para executar
mudança na condição social do indivíduo inserido na sociedade capitalista.
Uma possibilidade de atingir essa educação emancipadora e tentar resgatar a
consciência desalienada e melhorar a convivência dos sujeitos por meio dos valores humanos.
Poderia ser uma proposta baseada em estudos da área dos jogos cooperativos, sociedade e
educação.
A escolha deste tema consiste em conhecer os elementos considerados na aplicação
dos jogos, para assim compreender como os jogos cooperativos irão contribuir com a proposta
de analisar e cultivar valores para a consolidação de uma educação física emancipadora.
Então, surge a intencionalidade de explicitar a relevância dos jogos cooperativos nas aulas de
Educação Física.
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Para realizar o estudo, tivemos como objetivo geral compreender as possibilidadesl
potencialidades dos jogos cooperativos para a consolidação de uma Educação Física
emancipadora. A partir desse objetivo geral, estabelecemos alguns objetivos específicos, tais
como: discutir a relação dos jogos cooperativos e a sociedade na manutenção de valores;
reconhecer elementos que podem ser considerados na aplicação dos jogos cooperativos nas
aulas de educação física; e explicitar o sentido dado à educação física emancipadora.
Dessa maneira visando atender esses objetivos realizamos um estudo bibliográfico
para recolhimento dos trabalhos de estudiosos da área e pontuar discussões mais relevantes
para enriquecimento da proposta desta pesquisa.
A pesquisa está dividida em duas seções, na primeira discutimos sobre a relação do
trabalho e educação na sociedade; e educação física na sociedade. Já na segunda parte,
abordamos os jogos cooperativos, seus princípios e a possibilidade de incluí-lo nas aulas de
Educação Física como proposta de manutenção de valores, além de discutirmos o sentido
dado à perspectiva emancipadora.
Seguindo uma linha de pensamento teórico, optamos por expor os princípios da
educação e sociedade, que tem na sua constituição o homem (ser social) como objeto de
estudo da nossa análise, e pretendemos compreender como o indivíduo se insere na sociedade
e como se comporta perante o sistema vigente, contudo, queremos chegar aos jogos
cooperativos como proposta e ferramenta para alcançar a emancipação.
Desta maneira, para que ocorra transformação em nossa realidade social, é preciso que
se tenham em mente quais são as possibilidades e potencialidades dos jogos cooperativos. Ou
seja, o que se pretende conhecer e explorar, para que e para quem pretende desenvolvê-lo.
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2 EDUCAÇÃO E SOCIEDADE
2.1 Discutindo a relação educação e sociedade
Nesta seção chegaremos á algumas sínteses teóricas apresentadas sobre educação na
sociedade, iniciaremos explicando como se deu a origem da relação da educação e do trabalho
na sociedade. Segundo Saviani (2007, p. 154), diríamos que de início a relação entre educação
e trabalho é uma relação de identidade. Os homens aprendiam a trabalhar trabalhando,
portanto, homens educavam-se e educavam as novas gerações.
Para completar o que foi indagado anteriormente, nos respaldamos nas reflexões de
autores. Ponce (1989) narra de forma clara como acontecia a relação do trabalho e educação
na sociedade primitiva, e diz que os homens desta comunidade cultuavam os direitos iguais á
todos da tribo e ajustavam-se de forma democrática, e é evidente que tudo era organizado por
todos os membros que conviviam na comunidade. Desta forma, para eles o que era produzido
seriam divididos em partes iguais e necessariamente consumidos. Tudo que vinha sendo
produzido de certa forma era para satisfazer as necessidades, e como não era munida de
muitos instrumentos, a produção não ultrapassava da extrema necessidade diária. E que
evidentemente não proporcionaria a acumulação de bens. Em decorrência da produção
executada na comunidade primitiva, surgiu o momento em que a execução de determinadas
tarefas precisariam ser realizadas por diferentes membros, o que ligeiramente conduziu a
divisão do trabalho. Apontamos como exemplo a divisão de tarefas submetidas a cada
membro, o homem caçava e a mulher cuidava da casa e dos alimentos. Condição que deixava
a mulher no mesmo grau de igualdade com os homens, e assim conduziam-se as tarefas
aprendidas pelas crianças, que desde cedo acompanhavam os adultos nos trabalhos diários, e
pouco a pouco iam aprendendo o que mais tarde para eles tornariam rotina. A mulher na
sociedade primitiva passou por diversas transformações, colocaram o grau de sua educação
como pouco superior a da criança. Nota-se que o ato educativo não era confiado a alguém em
especial, e sim em consequência aos afazeres rotineiros. Considerando que assimilação da
criança lhe aconteceria espontaneamente até moldar-se aos padrões do grupo. Mais tarde seria
precisamente necessário que as crianças aperfeiçoassem suas habilidades para agirem em
determinadas ocasiões.
Ponce(1989) relaciona a terminologia utilizada pelos educadores hoje, afirmando que
o ensino nas comunidades primitivas, era para vida e por meio da vida. O que de fato
envolveria as funções executadas na coletividade, implicando que a criança depois que
aprendia alcançaria o mesmo nível que os adultos.
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O fato de que não existiam escolas nas comunidades primitivas, e que positivamente a
convivência tomava bons caminhos, nos atentamos a condição harmoniosa que eles tinham
em sociedade. Ao contrário da realidade atual, que organizava esse processo dando condições
individualistas ao professor e aluno. Custamos reconhecer a educação realizada na
comunidade primitiva, que zelava as formas de relações sociais espontânea da sociedade na
sua totalidade. Parece-me correto afirmar, então, que o homem enquanto homem é social, isto
é, está moldado por um ambiente histórico de que não pode ser separado.(PONCE,1989).
A concepção de mundo do homem primitivo estava relacionada ao seu domínio sobre
a natureza. E que todos os membros da tribo deveriam ocupar sua posição na produção,
originando daí o ideal pedagógico em que as crianças deveriam se ajustar. Entendemos, então,
que através da convivência e as crianças passava pelo processo educativo, que lhe era
proporcionado pelo seu meio social. Tudo que a criança acolhia para si, tinha sido elaborado
socialmente de geração em geração. Então, para Ponce(1989), a consciência da criança era um
fragmento da consciência social, e se desenvolvia dentro dela. Considerando como se
conduziu o desenvolvimento da educação na comunidade primitiva, o autor afirma que
se desejássemos, agora, ir colocando marcos decisivos para o desenvolvimento deste curso, poderíamos dizer que, numa sociedade sem classes como a comunidade primitiva, os fins da educação derivam da estrutura homogênea do ambiente social, identificam-se com os interesses comuns do grupo, e se realizam igualitariamente em todos os seus membros, de modo espontâneo e integral: espontâneo na medida em que não existia nenhuma instituição destinada a inculcá-los, integral no sentido que cada membro da tribo incorporava mais ou menos bem tudo o que na referida comunidade era possível receber e elaborar.( Ponce, 1989, p.21).
Naquela sociedade a educação se dava de forma espontânea, citamos anteriormente,
que a forma como a educação se desenvolvia mediante as novas gerações que se
assemelhavam as mais velhas, modelo que aos poucos foi se desfigurando à medida que
surge a sociedade dividida em classes. Esse modelo se instalaria provavelmente por dois
motivos; a diminuição do rendimento do trabalho humano e a substituição da propriedade
comum pela propriedade privada. Logo a divisão do trabalho distribuiria as funções, devido à
distinção de sexo e idade, nessa distribuição exigia-se que novas formas de trabalho social
fossem contempladas; portanto, surge uma camada de indivíduos “libertos” e estes não
participariam do trabalho braçal. O que resultaria na subordinação de um sobre os outros, ou
seja, quem não trabalhava, dominava os outros.( PONCE,1989).
Com o aumento do rendimento, o trabalho do homem adquiriu certo valor. Então
havia se instaurado a necessidade de fixar trabalhadores externos, originando o domínio de
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uns sobre os outros. O trabalho escravo aumentou o excedente de produtos de que
comunidade precisava. Com a comunidade privada, os fins da educação deixaram de estar
implícitos na estrutura total da comunidade. Deixaram de existir os interesses comuns e
surgiram os interesses antagônicos. E a sociedade organizava a produção de acordo com seus
interesses. Certos conhecimentos passaram a ser requeridos para o desempenho de
determinadas funções, conhecimentos esses que os detentores começaram a apreciar como
fonte de domínio. E para os que nada tinham, cabia o saber do vulgo; para os prósperos, o
saber de iniciação. “A educação sistemática, organizada e violenta, surge no momento em que
a educação perde o seu primitivo caráter homogêneo e integral.” (PONCE, 1989, p.2).
A educação nesta determinada época, a do homem antigo traz para nós a história da
luta de classes entre opressores e oprimidos. Relata que a educação era conduzida através dos
interesses da sociedade, que tinha como base a exploração do trabalho alheio, que de segundo
plano atuava na tentativa de abafar as condições impostas pela sociedade vigente aos
membros da sociedade. Também nesta época, houve a evolução do comércio e com ele
surgiram às exigências que em sua magnitude iria desenvolver o comércio. As exigências do
comércio atingiram a minoria (camada pobre) que resultou em situações impróprias como,
neste caso “o devedor vendia seus filhos como escravos ou se vendia a si próprio, quando não
os tinha.” (PONCE, 1989, p.38).
Enquanto a vida de uns se encontrava um caos, a dos outro caminhavam em virtude do
bem-estar. Estes que desfrutavam do ócio elegante viviam em condições de superioridade. E
neste período perceberam que seus filhos necessitavam do auxílio de uma nova instituição,
aquela que o ensinaria a ler e a escrever. Logo, surgiria a escola elementar, que para PONCE
(1989), “vinha desempenhar uma função que não podia ser desempenhada satisfatoriamente
pela tradição oral, nem pela simples imitação dos adultos”. (p.49)
Diferente de hoje, “a educação era livre e o Estado, no período antigo, não intervinha
na designação dos professores, nem nas matérias que eram ensinadas.” (PONCE, 1989, p.49).
Ao afirmar essa premissa, de que naquele período o estado não controlava as escolas
elementares, não poderíamos deixar de relatar o desvelamento desse pressuposto, a partir da
explicação do autor.
A “liberdade de ensino” não implicava, portanto a liberdade de doutrina. O professor não moldava os seus discípulos de acordo com as suas próprias concepções; deveria formar neles os futuros governantes e inculcar neles, pela mesma razão, o amor à pátria, as instituições e aos deuses. (PONCE, 1989, p.50)
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O autor fundamenta sua pretensão, ao afirmar o que filósofos Aristóteles e Platão, ao
explicitarem que,
uma sociedade fundada no trabalho escravo não podia assegurar cultura para todos. O rendimento da força humana era tão exíguo que um homem não podia estudar e trabalhar ao mesmo tempo. Portanto, aos filósofos caberia a direção da sociedade, aos guerreiros protegê-la e aos escravos, manter as duas classes anteriores. A separação entre força física e forca mental impunha ao mundo antigo estas duas enormidades: para trabalhar, era necessário gemer nas misérias da escravidão e, para estudar, era preciso refugiar-se no egoísmo da solidão. (PONCE, 1989, p. 59).
Para melhor entender, vamos nos situar das especificidades de cada uma, a primeira
forma de educação estaria centrada nas atividades intelectuais, na arte da palavra e nos
treinamentos físicos de caráter lúdico e militar. Já a segunda seria assimilada no próprio
processo de trabalho. Nessa primeira forma de educação, surgiu a escola. Forma específica de
educação inerente aquela ao processo produtivo. Momento em que se consolidaria a separação
entre educação e trabalho.
Os fatos ocorridos nestas duas determinadas épocas, a primitiva e a antiga, mostrou as
transformações e processo de formação da educação e do trabalho na sociedade. Nota-se,
então, o distanciamento da educação e do trabalho.
O homem com a necessidade de manter sua subsistência efetivou-a, a partir do
momento em que ao transformar a natureza deu origem ao trabalho, o ato que indicou a
organização de atividades intelectuais e manuais.
[...] em qualquer sociedade, pelo trabalho, os homens juntamente com os outros (homens), entram em relação com a natureza e produzem a sua sobrevivência – produzem a si mesmos. Estas relações são mediatizadas e variam de acordo com a natureza e tipo de desenvolvimento das forças produtivas e dos instrumentos de trabalho utilizados. A natureza específica de qualquer modo de produção é historicamente determinada, então, pelo tipo de relação social que os homens estabelecem na produção de sua existência. (FRIGOTTO, 2006, p. 75).
Foi dito que a educação e o trabalho eram vistos como atividades humanas essenciais,
e que de certa forma, estabeleceria a própria condição dos homens, e se encontram
interligados. Saviani (2005) estabelece outra relação necessária e fundamental: a relação entre
a educação e o trabalho. Ambos encontram-se na natureza humana: isso permite concluir que
educação é um processo de trabalho. A educação é entendida como trabalho não-material na
qual o produto não se desvincula do ato de produção.
Esta premissa confirma que a partir daí se determinaria a condição humana dos
sujeitos, o trabalho se caracteriza e está inserido na sociedade capitalista, que por sua vez
concretizou-se ao longo do tempo e permanece dominante até os dias de hoje. O que
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realmente provocou uma grande transformação no modo de produção foi o surgimento da
máquina, ocupando o lugar dos homens no processo produtivo, em consequência o intelecto
precisaria ser trabalhado e o espaço que determinaria essa função seria a escola. Essa fase
ficou conhecida como revolução industrial, esta que viabilizou a maquinaria como forma
principal no processo produtivo; e logo erigiu a escola como principal instituição de
educação. Então, a escola promoveu a socialização dos indivíduos nas mais variadas formas
de convivência na sociedade moderna. Toda essa mudança nos levou ao equacionamento da
escola elementar. Esta que se organizava num modo a atender as exigências propostas pelas
indústrias, em que os indivíduos teriam que ter como pré-requisito, para assim poder ser
aceito e por fim atender as demandas originadas no mundo industrial.(SAVIANI, 2007).
Em decorrência da produção de existência Saviani(2007), pontua as implicações que
firmariam o desenvolvimento das formas e conteúdos , que cuja validade seria estabelecida
pela experiência, e que continuadamente configuraria o verdadeiro processo de aprendizagem.
E preservando a questão da continuidade, necessitava-se que fossem acumuladas e
transmitidas as novas gerações cultuando a evolução da espécie. A produção de existência
tomou formas diferentes, a partir do momento que o homem, tornou como principal o meio de
produção, a propriedade privada, gerando a divisão dos homens em classes, divididas em:
classe dos proprietários e classe dos não-proprietários. Logo a divisão, em classes, provocaria
uma cisão na unidade de educação, que antes era moldada somente com o próprio processo de
trabalho. Certamente, logo á frente nos viríamos no contexto de duas modalidades de
educação; a da classe proprietária destinada a educação dos homens livres, e a outra da classe
não-proprietária subjulgada como educação dos escravos e serviçais.
Em consequência, a educação destinada á classe dominante, daria origem a escola.
Logo a separação entre escola e produção refletiria, na divisão no processo que se determinou
entre trabalho manual e trabalho intelectual. Saviani (2007) explica melhor essa duplicidade
entre trabalho e educação, quando afirma que:
a escola, desde suas origens, foi posta do lado do trabalho intelectual; constituiu-se num instrumento para a preparação dos futuros dirigentes que se exercitavam não apenas nas funções da guerra (liderança militar), mas também nas funções de mando (liderança política), por meio do domínio da arte da palavra e do conhecimento dos fenômenos naturais e das regras de convivência social. Como já foi apontado, isso pode ser detectado no Egito desde as primeiras dinastias até o surgimento do escriba, assim como na Grécia, em Roma e na Idade Média, cujas escolas, restritas, cumpriam a função de preparar os também restritos quadros dirigentes (intelectuais) então requeridos. Nesses contextos, as funções manuais não exigiam preparo escolar. A formação dos trabalhadores dava-se com o concomitante exercício das respectivas funções. Mesmo no caso em que se atingiu alto
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grau de especialização, como no artesanato medieval, o sistema de aprendizado de longa duração ficava a cargo das próprias corporações de ofícios: o aprendiz adquiria o domínio do ofício exercendo-o juntamente com os oficiais, com a orientação do mestre, por isso mesmo chamado de “mestre de ofícios”. (SAVIANI, 2007, p. 157).
A sociedade capitalista seria aquela que determina ações a ser reproduzida pelos
indivíduos nela inserida, a que estabelece ordem social que conduz a população, essa que
oferece um tratamento que aliena o sujeito de sua condição de vida, processo que acontece
através das atividades exercidas pelo homem em sociedade.
Em consequência das transformações, iniciaria o processo de institucionalização da
educação, este que visava de forma organizada, tornar-se parâmetro e referência para aferir
todas as demais formas de educação. Teria então a escola responsabilidade pela reprodução
do modo de produção capitalista, portanto, seria pertinente entender a escola como um
instrumento da sociedade vigente. A escola entendida como uma instituição que promove a
transmissão de conhecimento, e que posiciona o educando em sua realidade concreta de forma
a sintetizar somente as principais áreas designadas a eles, sejam elas no trabalho ou na vida
social. Em cada época foi se conduzindo de formas diferentes.(SAVIANI,2007).
A instituição permitiria o acesso ao conhecimento sistematizado, e o indivíduo
aprenderia aquilo que seria posto como fundamental ou essencial, o que constitui a seleção de
conteúdos do trabalho pedagógico.
Em suma, a escola tem a ver com o problema da ciência. Com efeito, ela é exatamente o saber metódico, sistematizado. A esse respeito, é ilustrativo o modo como os gregos consideravam essa questão. Em grego, temos três palavras referentes ao fenômeno do conhecimento: doxa (doxa), sofia (sojia) e episteme (episthmh). Doxa significa opinião, isto é, o saber próprio do senso comum, o conhecimento espontâneo ligado diretamente à experiência cotidiana, um claro-escuro, misto de verdade e de erro. Sofia é a sabedoria fundada numa longa experiência da vida. É nesse sentido que se diz que os velhos são sábios e que os jovens devem ouvir seus conselhos. Finalmente, episteme significa ciência, isto é, o conhecimento metódico e sistematizado. Conseqüentemente, se do ponto de vista da sofia um velho é sempre mais sábio do que um jovem, do ponto de vista da episteme um jovem pode ser mais sábio do que um velho.(SAVIANI, 2010, p.28)
O conhecimento transmitido na escola surge da ciência (episteme), que é metódico e
sistematizado. Esses fatores implicam que a sistematização do conhecimento na escola, vem
como ferramenta para romper o saber retirado do senso comum.
È possível visualizar claramente a condição de separação da sociedade em classes,
fortemente explicitada na forma da escola pública e privada. Estabelecida devido á separação
do trabalho, como citamos antes, que ocasionou a divisão de classes, atingindo negativamente
a sociedade, e, contudo, prevê o favorecimento somente de uma proporção da população, em
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especial no que se refere á educação de qualidade. A divisão de classes gera indevida
apropriação dos meios de produção, por parte da classe dominante que intencionalmente
prejudica a outra classe, que é constituída pelos trabalhadores. Essa desigualdade que limita as
ações por parte dos indivíduos que constituem a sociedade, talvez essa limitação se dê a partir
das instituições que reproduzem os ideais impostos pela sociedade
capitalista.(SANIANI,2007).
Na tentativa de avançar discursos advindos do senso comum, o conhecimento dirigido
pela escola facilitaria a compreensão da educação em seu processo histórico, podendo assim
fazer análise das desigualdades sociais submetidas pela sociedade vigente. Numa sociedade
capitalista onde o acúmulo de bens materiais é o primeiro a ser valorizado, enquanto que o
bem-estar coletivo é deixado em segundo plano. No bem-estar coletivo estaria incluída a
educação, que atualmente tem sido explanada “educação para todos” afirmada pelo governo
que mascara a verdadeira intenção voltada para educação, e que atualmente faz parte dos
discursos dos que criticam esta questão.(SAVIANI,2007).
Toda essa análise se dá a tolerância ás condutas apontadas na sociedade, que alienam o
sujeito de sua realidade concreta, implicando em questões de desigualdade e injustiças sociais.
Os questionamentos aqui apresentados são reforçados a partir da reflexão de alguns autores
que abordam o assunto. Para tanto o estudo tem como objetivo apresentar algumas
concepções da educação e da sociedade, através de fatos históricos.
Entender a condição do sujeito dentro da realidade social nos permitiria melhor
compreensão de sua constituição hoje. Essa análise explica-se a partir da concepção de
Mészáros (2008) sobre educação, que a denomina como “internalização”, esta que se realiza
nas instituições formais, pautada como tarefa que pode ser ou não concretizada, mas como
tarefa designada para pelo capital.
2.2 Educação para além do capital
Uma educação pensada na perspectiva social seria aquela separada da subordinação da
sociedade capitalista. Ao pensar uma educação para além do capital, nos viríamos num longo
processo de mudança radical da educação fora dos ditames do capital. Mészáros (2008) ensina
que pensar a sociedade tendo como parâmetro o ser humano exige a superação da lógica
desumanizadora do capital que tem no individualismo, no lucro e na competição seus
fundamentos. Para ele, educar é colocar fim a separação entre Homo Faber e Homo Sapiens; é
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resgatar o sentido estruturante da educação e de sua relação com o trabalho, as suas
possibilidades criativas e emancipatórias.
Para Mészáros (2008) a educação, ao se subordinar a sociedade vigente, fortalecia a
legitimidade do sistema, que é dada como processo de interiorização das condições de
controle realizado pelo sistema. Com isso, ele traz uma proposta que possa viabilizar a
condição de uma estrutura de resistência, que esteja pautada em efetivar a transformação da
realidade social, também se pretende redescobrir suas relações com o trabalho, na qual o ser
social é vitima da alienação. A batalha se mostra longa, por ter que bater de frente com as
circunstâncias do sistema.
Revelar a natureza real das relações de produção de desigualdade, que a teoria do capital humano mascara, bem como mostrar a gênese da produção do desemprego ou subemprego de contingentes cada vez mais elevados de egressos de cursos superiores, formados para o não-trabalho, e, mais amplamente, lutar pela qualificação da escola em geral, para transformá-la, é uma forma de aguçar a consciência critíca e instrumentalizar a classe trabalhadora para se organizar na busca da superação das relações sociais vigentes.(FRIGOTTO, 2006, p.28.).
Para Mészáros (2008), o que nos resta é entender tudo que nos fogem aos olhos.
Precisamos aprofundar gradualmente nossos conhecimentos, para não cairmos no
conformismo. Se formos capazes de criticar, porque não seremos capazes de compreender.
Em seu livro Mészáros (2008) reproduz a crítica de Robert Owen que denuncia a
busca do lucro e o poder do dinheiro, que visa o sujeito (trabalhador) como um mero
instrumento de ganho. Contudo, é possível entender as influências na educação que o capital
vem afetando através de suas determinações gerais, intencionalmente impostas. Previu que o
enfraquecimento da escola pública, pois ao tomar rumos diferentes, deslocou-se da escola
para a mídia, a publicidade e o consumo.
Quanto ao primeiro sentido– teoria do desenvolvimento-- concebe a educação como produtora de capacidade de trabalho, potenciadora de trabalho e, por extensão, potenciadora de renda, um capital (social e individual), um fator do desenvolvimento econômico e social. Quanto ao segundo sentido, ligado ao primeiro – teoria da educação –ação pedagógica, a pratica educativa escolar reduzem-se a uma questão técnica, a uma tecnologia educacional cuja função precípua é ajustar requisitos educacionais a pré-requisitos de uma ocupação no mercado de trabalho de uma dada sociedade. Trata-se da perspectiva instrumentalista e funcional de educação.(FRIGOTTO, 2006, p.16.).
A educação tomou caminhos diferentes através do condicionamento da sociedade
capitalista, que visa somente gerar condição de funcionamento ás maquinarias, alguns
conhecimentos e valores que legitimam os interesses de domínio. Tornou-se um mero
instrumento de acumulação do capital e de instalação da aceitação passiva que torna possível
a reprodução dos sistemas de classes.
19
A educação utilizada como mercadoria, daí instalada a crise do sistema público de
ensino, pressionado pelas demandas estabelecidas pelo capital e interesses alheios, que recorta
o destino dos investimentos públicos. Como entender o sistema educacional numa sociedade,
que causa tamanho estranhamento aos homens, este que por eles mesmos foram produzidos. È
possível entender que o movimento disponível de conhecimento se tornou inédito gerando
uma incapacidade aparentemente insuperável de interpretação dos fenômenos.(MÉSZÁROS,
2008).
Então, analisar a educação física como ferramenta possivelmente capaz de tornar o
indivíduo crítico, e consequentemente, consciente da realidade que vive,
A análise da Educação Física a partir, do contexto da sociedade vigente que por sua
dominação detém a população, e tem limitado as condições humanas dos indivíduos, diante de
tamanha desigualdade de direitos sociais, isso nos remete adentrar a um fator relevante que é
o direito á educação que foi determinado e que expõe que todos os sujeitos têm direitos
sociais. “A educação, moradia, saúde, lazer e trabalho são direitos sociais mínimos que devem
existir para podermos exercer plenamente a cidadania, ou seja, para podermos participar
ativamente das decisões sobre nosso próprio destino social com liberdade, autonomia,
democracia e cooperação”. (RODRIGUES, 1997, p. 102).
Mesmo com a relevância da afirmação anterior, em que se ajustam os direitos sociais
dos homens como tarefa que devem ser cultuados com dignidade, observa-se que essa
condição é negada aos indivíduos fortalecendo a desigualdade, seguido da ruptura dos ideais
de toda uma população.
Contudo, adentramos então na trajetória da Educação Física que é parte fundamental
para entendermos as reais possibilidades que nos ajudarão na construção da idéia central do
nosso tema. A educação física continua minada por interesses da elite, e seu conteúdo
subordina-se a interesses econômicos. Na organização escolar, a educação física tem lugar
secundário, frequentemente isolados das demais disciplinas.
Esta temática surge da vontade de repensar a educação física a partir de uma visão
crítica, para descobrir vias que levem a emancipação do ser social. Partimos então da
abordagem kunziana que, é uma teoria crítica e reflexiva, onde a relação da teoria e prática
deve ser essencial tendo por objetivo produzir uma relação de não alienação e
condicionamento entre os indivíduos, à medida que oferece as informações necessárias, ou
seja, esclarecedoras, para que os indivíduos possam construir conhecimento capaz de
emancipação.(ALMEIDA; LUCAS, 2010).
20
2.3 A educação física e suas relações com a sociedade
A Educação Física vista como exclusiva na prática de exercícios físicos na sociedade
deu-se através da urbanização originada pela industrialização, que deu contornos especiais a
esta disciplina. Ela era responsável em cuidar da manutenção e recuperação da força de
trabalho do homem, na sua jornada de trabalho, então, foi defendida e incrementada pelos
povos civilizados, também é importante ressaltar que ela passou por altos e baixos ao longo
de sua história, para realmente ganhar sua valorização na sociedade.
Também vem sendo utilizada como instrumento ideológico e de manipulação dos
indivíduos, para que continuem alienados e impotentes diante da necessidade da
transformação social. Ghiraldelli(1988) nos ajuda a desvendar a educação física no contexto
social brasileiro. A educação física representou vários papéis na sua caminhada histórica, e
cada uma delas com suas respectivas características e período atuante. Isto nos leva a fazer
uma breve síntese do caminho percorrido pela educação física. Precisamos saber como ela
chegou até os dias de hoje, e como as influências que protagonizaram em sua trajetória, dentre
elas destacaram-se a médico-higienista, a militarista, a pedagogicista e a desportiva.
Desde sua institucionalização, ainda na primeira República (1889-1930) a educação
física tem sofrido importante influência de áreas distintas. Tais influências passam a marcar
suas características e suas determinações enquanto disciplina responsável pela educação do
corpo. Sob influência da medicina, especialmente causada pela falta de profissionais da área,
a perspectiva assumida para a área pautou-se no higienismo.(GONÇALVES, 2001). Seu
objetivo era fazer a manutenção e aquisição da saúde através dos exercícios. Tinha como
principal meta disciplinar os hábitos de uma sociedade, no sentido de levá-las a se afastarem
das práticas capazes de provocar a degradação da saúde e da moral, comprometendo toda uma
sociedade. (GHIRALDELLI, 1988).
A perspectiva da Educação Física Higienista vislumbra a possibilidade e a necessidade
de resolver o problema da saúde publica pela educação. È uma concepção que se preocupa em
erigir a educação física como agente de saneamento público. Em contrapartida surge a
educação militarista que alem da saúde busca tornar padrões as condutas de toda uma nação.
(GHIRALDELLI, 1988).
A Educação Física Militarista foi criada através dos princípios da Educação Física
francesa esta concepção não pode ser confundida com a Educação Física Militar,
caracterizada pela prática de atividades físicas com influência dos exercícios militares. Vem
21
ser o objetivo central de esta concepção formar cidadãos capazes de lutar, suportar o combate
e a guerra. (GHIRALDELLI, 1988).
A educação física no Brasil, desde o século XIX, foi entendida como um elemento de extrema importância para o forjar daquele indivíduo “forte”, “saudável”, indispensável a implementação do processo de desenvolvimento do país que, saindo de sua condição de colônia portuguesa, no início da segunda década daquele século, buscava construir seu próprio modo de vida. Contudo, esse entendimento, que levou por associar a Educação Física á Educação do Físico, á Saúde Corporal, não se deve exclusivamente e nem tampouco prioritamente, aos militares.(CASTELLANI, 1991, p.39.).
A Educação Física Pedagogicista foi o momento em que se encararam as aulas de
Educação Física como uma atividade educativa. Criada e difundida no período pós-guerra
(1945-1964), esta concepção preocupava-se em instituir as aulas de Educação Física como
disciplina comum na grade curricular das escolas. (GHIRALDELLI, 1988).
Esta fase é marcada pela valorização do educador físico no processo educativo. Competições, gincanas, festas comemorativas, desfiles, entre outras atividades visando o lazer, eram organizadas pelos professores de Educação Física.(GONÇALVES, 2001, p.19).
Já a Educação Física Competitivista apesar de ser criada em meados dos anos 20, só
teve sua real efetivação a partir dos anos 60 com a ascensão da ditadura militar no Brasil. Isto
porque o governo necessitava abafar e mascarar os problemas internos do país, passando uma
imagem de desenvolvimento e prosperidade. Com isso criaram-se programas de incentivo à
prática de esportes de rendimento, com o objetivo de obtenção de medalhas. O que se
propunha era ocupar a mente dos jovens com os esportes, pra que eles não se tornassem
rebeldes em relação aos acontecimentos políticos. (GHIRALDELLI, 1988).
Pela primeira vez a Educação Física é colocada em um segundo plano, como um apêndice, um subtítulo do processo de Treinamento Desportivo voltado para os esportes de alto nível. Nesta fase a pesquisa é fortemente incentivada e áreas como Fisiologia, Anatomia, Biomecânica e Cinesiologia ganham grande importância no processo de formação dos educadores físicos. A tecnização é muito valorizada, a padronização de movimentos, a busca da perfeição, os processos de seleção e a competição tem forte presença nesta fase preocupada, apenas, com a obtenção da vitória a qualquer custo, na busca de resultados.(GONÇALVES, 2001).
Juntamente coma educação física militarista a educação física competitivista estaria a
serviço de uma hierarquização e elitização social. Seu objetivo fundamental é a caracterização
da competição e da superação individual como valores fundamentais e desejados para uma
sociedade moderna. Volta-se também ao atleta-herói que mesmo diante das dificuldades se
tornou campeão. A educação física competitivista se tornou ferramenta das classes dirigentes
na tarefa de desmobilização da organização popular. E juntamente coma a educação física
pedagogicista advogou uma neutralidade em relação aos conflitos políticos sociais.
(GHIRALDELLI, 1988).
22
E é a partir da tendência competitivista que se insere os jogos cooperativos, com sua
busca em romper ações competitivistas e individualistas desejadas pela sociedade moderna.
A última concepção se baseava em ações de manifestações populares, voltada á classe
dos trabalhadores, não designava somente ao âmbito escolar. Os seus principais objetivos
atendia a educação aos trabalhadores como principal forma de embate promovida pela luta de
classes.
A Educação Física Popular não foi uma ação para toda a população escolar, ela foi mais considerada como parte de um movimento político de reivindicação das classes mais populares. "A Educação Física popular é, sim, uma concepção de Educação Física que emerge da prática social dos trabalhadores e, em especial das iniciativas ligadas aos grupos de vanguarda do movimento Operário e Popular" (GHIRALDELLI, 1988; p. 33).
Chega então, a fase em que a Educação Física se depara com uma crise de identidade,
o que levaria á rever suas bases e aprofundar seus estudos na busca de novas perspectivas que
dessem vida a sua função daqui em diante. As perspectivas que atualmente se encontram em
destaque, conhecidas como: desenvolvimentista, psicomotora, critico- superadora, crítico -
emancipátoria e aulas abertas. E como base de nossa pesquisa acolhemos a perspectiva
crítico-emancipatória.
Diante da inconformidade, perante o sistema, prevemos a utilização do conteúdo da
educação física, também para a emancipação humana. Então, “diríamos que a Educação
Física é uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades
expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma
área de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal.” (COLETIVO DE
AUTORES, 1992, p.33).
A educação física trataria seus conteúdos explicitamente, mas buscando sempre a
transformação em aplicá-los nas suas mais variadas formas. Pensar o conteúdo como agente
transformador da realidade social, compreenderia em formar uma estrutura educacional
competente. A educação física na tentativa de promover o conhecimento socialmente e
historicamente reproduzido. Permitirá, então, construir um acervo de conhecimentos capazes
de manter total comprometimento com a mudança da condição social do sujeito. No entanto,
Desestabilizar, Estruturar, Convencer, Consolidar concepções práticas e ideológicas que delimitam o contexto sócio-histórico, confrontando-as com outras que a elas se opõem, buscando competência e objetividade para levar à frente este projeto de forma a materializá-lo, explicitando assim a conquista de outra qualidade de vida para os homens, entendida enquanto sujeitos históricos e construtores de seu próprio processo de humanização. (CHAUÍ apud COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.30).
23
Buscamos fazer análise das teorias envolvidas na educação física, que aproveitará das
teorias críticas, abordadas por autores da área. Para tanto partimos da idéia que a educação
física, utilizada como instrumento, terá papel fundamental ao realizar a reflexão crítica da
realidade e na constituição de valores socioculturais contribuindo com o desenvolvimento das
múltiplas possibilidades do indivíduo.
Na perspectiva da reflexão sobre a cultura corporal, a dinâmica curricular, no âmbito da Educação Física, tem características bem diferenciadas das da tendência anterior. Busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica e outros, que podem ser identificados como formas de representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas. (COLETIVOS DE AUTORES, 1992, p.26).
Dentre as teorias críticas, a escolhida para ser a protagonista da nossa história foi a
crítico-emancipatória. A consolidação da Educação Física acontecia nas décadas de 80 e 90.
A possibilidade de pensar a educação física em suas diversas possibilidades emancipadoras,
nos remete, por exemplo, para a utilização dos jogos cooperativos como ferramenta dessa
emancipação por propor uma nova base de sustentação das práticas corporais.
24
3 JOGOS COOPERATIVOS E EMANCIPAÇÃO HUMANA
3.1 Emancipação Humana
Acreditar em algo que seja extremamente inovador para a nossa realidade, nos faz
conscientemente compreender as teorias críticas, que de um modo ou outro tentam nos
esclarecer as pretensões delas em transformar a sociedade. Parece incorreto afirmar os
objetivos das teorias pedagógicas, sem que haja a concreticidade de sua ação sobre o ser
humano e qualquer que seja sua área de atuação na sociedade.
Aqui abordaremos a perspectiva crítico-emancipatória, que tem por sua finalidade
emancipar o indivíduo diante sua condição social. Percebe-se que o objeto de estudo desta
perspectiva condiz ao ser humano, ou seja, ser social.
Nesse enfoque, a emancipação se dá quando o indivíduo é capaz de agir de forma autônoma, independente, fruto de seu esclarecimento. Para tanto, é preciso que o indivíduo seja orientado para a contradição e resistência ao que lhe é apresentado como verdade única, para que o mesmo busque suas próprias conclusões e a partir delas tenha sua própria ação.(ALMEIDA; LUCAS, 2010, p.85.).
Identificando as múltiplas possibilidades de ação das teorias críticas, se faz relevante
explanarmos como acontece sua ação transformadora. Algumas teorias críticas partem de um
viés marxista, quando pretendem explicar como a sociedade se constitui, se encontra e como
vai seguir futuramente. Isso vai ao encontro das condições plausíveis, que permitam
dialeticamente esclarecer a sociedade na sua totalidade para o ser social.
Em relação ao saber, não basta ser inteligente precisa-se compreender a realidade no
seu sentido mais amplo. Clarear o pensamento cabe de acordo com se pretende ao educar-se
criticamente. O foco da educação crítica parte da sustentação, do pensar a criação de uma base
que aconselhe e guie da melhor forma os passos do indivíduo, naquilo que ele não tem total
controle, que é sua realidade cultural e social. Parece que tudo que lhe é oferecido está
fragmentado, o que não lhe permite ter consciência do real. O real seria a constituição da
sociedade e suas relações.
Como pretendemos discutir as potencialidades dos jogos cooperativos na constituição
de uma educação física emancipadora, acreditamos ser necessário apresentar esta concepção
de emancipação.
Para tanto, Kunz apud Mattos, a emancipação pretende que o indivíduo chegue até
esta por via de sua construção e ação na cultura de movimento dentro de suas possibilidades,
resistindo e contradizendo influências do meio exterior e assim, se auto realize.(MATTOS,
2012.p.1).
25
3.2 Educação Física numa perspectiva emancipadora
A compreensão do movimento humano para (KUNZ; TREBELS, 2006) parte do ponto
de vista biológico e fisiológico, desenvolvido no plano da fenomenologia. Daí se caracteriza a
importância do desenvolvimento da teoria do movimento humano, que nos seguintes
parágrafos será explicitada por alguns autores.
Segundo Kunz (2004) “O movimento é visto, nesta análise, como uma das formas de
entendimento e compreensão do homem em relação ao seu contexto de relações, seu mundo”
(KUNZ, p. 163). E podemos dizer que o movimento é uma ação em que o sujeito, pelo seu
movimentar, se introduz no mundo e através dessa ação percebe e realiza os sentidos/ significados
para o seu meio (TREBELS Apud KUNZ, 2004, p. 163).
A concepção para o movimento humano, explica o “se-movimentar” como diálogo
entre o homem e o mundo, envolve o sujeito deste acontecimento, sempre na sua
intencionalidade. E é através da intencionalidade que constrói o sentido significado de se-
movimentar, então esses dois fatores tem uma relação muito estreita na concepção dialógica
do movimento. (KUNZ,2004).
Este sentido/significado singular, relacionado ao “Se-movimentar” permitindo uma
interação com o mundo, possibilita a participação do sujeito na construção da Cultura
Corporal de Movimento, caracterizando a cultura como processo e não só como produto.
Essa atribuição de destaque ao sujeito aplica-se também à idéia de “mundo do
movimento”, por meio da qual o sujeito está sempre e inteiramente presente/inserido, de
modo que é no Se-movimentar que ele interage e compreende o mundo, já que este último é
“sempre um mundo vivido, que se vive, e por isto, o movimento que realizamos não pode ser
entendido como simples reação a estímulos e conseqüências de determinadas forças ou
energias” (KUNZ, 2006, p.79). Nossos movimentos, portanto, apresentam intencionalidades e
estas se manifestam através do Se-movimentar.
Para isso, a educação para a emancipação pressupõe um conceito de inteligência mais
amplo do que o saber formal e científico. Ela pressupõe uma inteligência concreta que
entende o pensar e a realidade num processo dialético. A educação deve preparar o ser
humano para o confronto com a experiência real e não para experiência alienada de mundo.
A educação física é um fenômeno social como qualquer outro e assim é necessário ter
em mente a relação entre esta forma específica de educação formal e a sociedade. A educação
física é um processo de socialização voltada para atividades físicas que são exigidas pela
26
sociedade. Essas exigências é que possuem um papel importante no sentido de que o
indivíduo possa desempenhar bem suas atividades profissionais (como força de trabalho) ou
preparatórias para tal (atividades escolares), entre outras.
Uma pedagogia Crítico-Emancipatória da Educação Física precisa analisar e testar muito bem a forma e o sentido da utilização da cultura de movimento na relação com concepções especificamente desenvolvidas para a área, como corpo e movimento, por exemplo, e assim poder ser tematizada e encenada para favorecer, realmente, aspectos educacionais explicitados nessa pedagogia. (KUNZ; TREBELS, 2006, p.19).
A relevância dos estudos mais aprofundados na área utilizados para discussão nos remete a
linha de pensamento critíco, que continuará sustentando a tentativa de reunir argumentos que
viabilizem nossos propósitos nos seguintes itens.
3.3 Jogos Cooperativos: uma proposta emancipadora
Os jogos cooperativos foram construídos até hoje e é dentro do contexto dos jogos que
queremos buscar para nosso estudo o que realmente fortalecerá nosso objetivo, que é buscar
encontrar algumas alternativas que possibilitem tornar o indivíduo crítico e emancipado,
contudo será a partir das aulas de Educação Física que efetivaremos nosso esboço.
Os jogos cooperativos passam a fazer parte das práticas corporais a partir do momento
em que começam a questionar os valores propostos por esta sociedade vigente. A sociedade
capitalista que atua como determinante das condutas a serem reproduzidas entre os
indivíduos. O trabalho de Ted Lentz na década de 50 marca o início dos estudos mais
sistematizados desta área. No Brasil, os primeiros estudos sobre jogos cooperativos foram
produzidos por Fábio Otuzi Brotto (VIEIRA, 2013).
Os jogos cooperativos vêm ser uma proposta de grande relevância como conteúdo da
educação física escolar. Na atual sociedade que convivemos, e os valores trabalhados pelos
jogos cooperativos como solidariedade, cooperação e união, parece não levar privilégio.
Então, o jogo traz como desafio escolher e tomar a melhor decisão ao nos relacionarmos com
os outros, ou seja, escolhemos continuarmos reproduzindo ou caminhamos na busca para
obtermos uma condição de existência mais consciente.
Acreditamos encontrar a solução do nosso problema com a amplitude da composição
dos jogos cooperativos, que por sua vez busca minimizar as ações competitivas. Atentamos ao
fato de que os jogos cooperativos vinham sendo tema de estudo de vários autores, que em
especial estão enriquecendo esta pesquisa.
27
Os Jogos Cooperativos visam trabalhar os jogos em função da competição exacerbada
nos dias atuais, pretende-se minimizar essas condutas através dos jogos cooperativos. Para o
autor a partir da cooperação os indivíduos aprendem a conviver desenvolvendo, assim
aspectos e valores indispensáveis á vida. E continua, afirmando que não existem habilidades
mais importantes para o ser humano que as de interação social cooperativa.(BROTTO,2001).
Já para SOLER (2006), fazer o resgate de valores humanos que realmente promovam a
mudança nas relações entre os alunos através da prática nas aulas de Educação Física, propõe
que a verificação deva partir do envolvimento dos indivíduos atuantes na prática cooperativa.
Acredita-se que o avanço nas relações interpessoais e educacionais só se concretizará por
meio desses valores.
As oportunidades de interação social cooperativa devem ser cultivadas através dos
Jogos Cooperativos. Então, a cooperação representa o fator que origina novas atitudes, novas
motivações e novos valores. Brotto(1999) diz, “acredito na importância de promover a
cooperação. Sou francamente à favor da cooperação como uma dinâmica social e um valor
humano, essenciais para a construção de um mundo melhor”.(p.44).
No espaço escolar é possível observar como os alunos se relacionam quando são
colocados para trabalhar uns com os outros, todos num mesmo exercício, num objetivo
comum contando que eles vão passar por uma mesma experiência, podendo assim interagir
com o outro, e provando do prazer de conhecer e vivenciar as potencialidades uns dos outros,
do início ao fim da atividade proposta a eles. Pensando nesta experiência, nos atentamos as
condutas reproduzidas pelos alunos que são reflexos da sociedade.
Talvez se a sociedade que o indivíduo está inserido tivesse também construindo bases
positivas em relação à vida humana. Há de se acreditar que as pessoas teriam adquirido
maneiras alternativas e mais positivas de se relacionar com as pessoas e os problemas. Se as
pessoas se tornassem mais sensíveis ao interagir com as outras e tivessem dispostas a
cooperar, talvez o entendimento mundo se tornasse possível, em decorrência da facilidade em
que se construiria o processo de transformação social.
Os jogos cooperativos adotam um forte caráter educacional, e proporcionam uma
dinâmica de ensino aprendizagem, que possibilita ao aluno, ter a Convivência, ou seja, ter a
vivência compartilhada como contexto fundamental para aprendizagem. Ter Consciência,
criando assim um clima de cumplicidade entre os praticantes, incentivando-os a refletir sobre
o jogo, e sobre a possibilidade de modificar comportamentos, relacionamentos e até o próprio
jogo, no aspecto de melhorar a participação, o prazer e a aprendizagem de todos. E finalmente
ter a Transcendência, o que possibilita a disposição para dialogar, decidir em consenso,
28
experimentar as mudanças propostas e integrar no jogo e na vida, as transformações
desejadas. (BROTTO, 2001).
As pessoas se comportam do jeito em que se encontra organizada sua sociedade. Diz, a
organização das sociedades com base na produção tornariam os sujeitos competitivos e as
sociedades que são organizadas como base no coletivo tornam os indivíduos cooperativos.
Outra concepção é trazida por Brotto (2001) quando descreve,
que em toda e qualquer experiência humana, há sempre mais que um jeito de vivê-la. A idéia por trás dos Jogos Cooperativos é estimular o despertar dessa visão de múltiplas possibilidades e aperfeiçoar o exercício da escolha pessoal, com responsabilidade grupal. (BROTTO, 2001, p.5).
Quando o autor nos situa das perspectivas de mudanças que existem de se conviver, se
realmente pensarmos na importância que o indivíduo estabelece com si próprio e com outros
quando toma as escolhas e decisões corretas.
Sem falar da crueldade realizada pela competitividade, que afasta cada vez mais os
sujeitos uns dos outros. O que seria pertinente a nós, parte da ação de amenizar a visão
competitiva criando possibilidades dos cooperativos. Quanto mais ampliarmos os modelos (as
formas), maiores serão os resultados em ações cooperativas, pois os jogos cooperativos são
ferramentas capazes de formar o comportamento.
Os jogos cooperativos são atividades alternativas para minimizar ações competitivas, e
seus objetivos possuem um caráter de cooperação e não de exclusão. As metas e os resultados
são estimulados através de desafios, e os mesmos devem ser alcançados de maneira coletiva,
oportunizando a satisfação de todos.
Podemos definir os Jogos Cooperativos como jogos que são elaborados para que os jogadores possam jogar a partir da colaboração de toda equipe e não jogar uns contra os outros. Os jogos cooperativos buscam superar os desafios, unir as pessoas, compartilhar idéias e experiências. Ao jogar cooperativamente, os objetivos do jogo passam a ser outros, além do ganhar e perder, pois ele gera o sentimento da confiança mutua e valoriza a amizade em vez da competição. (SILVA, 2010, p.22)
Enquanto proposta, os jogos cooperativos têm bases de sustentação teóricas,
fortemente transformadoras. Mas precisamos construir bases que comprovem cientificamente
nossas afirmações.
29
3.4 Jogos Cooperativos como ferramenta para a emancipação
Os jogos cooperativos são atividades que trabalham certas habilidades
comportamentais do ser humano, neste caso, no aluno nas aulas de Educação Física.
Centramos em abordar as habilidades que de certa maneira implicam condições de melhor
convivência do indivíduo na sua realidade social. Como a Educação Física visa com este
conteúdo promover a transformação social, proporcionando ao mesmo tempo, a emancipação
humana através de um novo se movimentar. É certo que devemos nos interar das
possibilidades que possam vir a concretizar essa condição de mudança.
Tratar as possibilidades nos trará a condição de compreender como se desenvolve a
atuação dos jogos cooperativos na realidade. O que realmente nos traz dúvida seria entender
como o sujeito (aluno) é capaz de absorver o que o jogo proporciona para ele e assim levá-lo
para vida.
CASTRO (2011) acredita que é possível desenvolver atividades na escola buscando a
transformação social através dos jogos cooperativos, contribuindo assim, para a formação do
cidadão consciente dos seus atos. Transformando-se num ser humano autônomo, crítico,
criativo, capaz de se colocar no lugar do outro, compreendendo as diferenças, respeitando o
próximo, e suas diferenças. Sendo uma pessoa que se deixa ser acolhida e está aberta para
acolher outra pessoa, e ao mesmo tempo, sente prazer em dar e receber, em descobrir e
conhecer. Tornando-se alguém compreensível, e segura de seus atos.
Neste caso, (GONCALVES apud BROTTO, 2001) expõe que os jogos cooperativos
nas aulas de Educação Física são de grande valor no processo pedagógico desenvolvendo
aspectos como o aumento da auto-estima, confiança, respeito mútuo, comunicação,
criatividade, alegria, entusiasmo.(2001, p.10). Os valores aqui citados nos situam da
relevância dos efeitos a serem contemplados na escola.
É lógico que os aspectos atuantes dos jogos cooperativos não cessam por aqui, mais a
frente trataremos de alguns em especifico. Dispor o grau de atuação dos jogos na vida social é
de extrema importância em nosso trabalho, por ser um de seus objetivos.
A ética, os valores humanos e a cidadania precisam ser resgatados e colocados em
prática. E o que é de fato importante para a formação do cidadão, a partir dos jogos
cooperativos poderá se concretizar nas aulas de Educação Física. Vejamos então como os
Jogos Cooperativos podem auxiliar no processo de resgate dos valores universais na
educação, no âmbito escolar.
30
Valores Universais são valores que atravessam oceanos, séculos e culturas e se
mantém intactos. Não se adaptam as circunstâncias, são eternos. Transcendem a nossa própria
existência. (BECHELLI, 2005, p.14). Esta responsabilidade universal deverá ser cultivada
através do exercício da cooperação, da solidariedade, da confiança e do respeito mútuo.
Segundo Brotto (2001), os jogos cooperativos propõem um exercício de ampliação da
visão sobre a realidade da vida refletida no jogo. Percebendo os diferentes estilos do Jogo-
Vida é possível escolher com consciência o estilo mais adequado para cada momento.
O cenário social implica condutas inadequadas e negativas, diferentes das apontadas
pelos jogos cooperativos. Uma forma clara está nessa sociedade que exclui; e que reproduz o
individualismo, é o que acontece nos dias de hoje. O que mais se pretende fazer com os
indivíduos, a não ser fazê-los massacrar uns aos outros, sem ao menos ter consciência que são
manipulados por uma ordem social.
Para tanto, o estudo parte de uma situação de caos vivida pelos indivíduos em
sociedade, e busca que através dos jogos cooperativos que os alunos possam superar suas
submissões e subordinações perante o sistema, e que a partir daí possam levar adiante suas
conquistas tendo como base a criticidade.
Os jogos cooperativos são ótimas ferramentas para serem utilizadas em aulas de
Educação Física. Por meio destes, muitos valores surgem em situações que envolvem a
cooperação fazendo assim com que estas atividades se tornem importantes na formação do
indivíduo enquanto pessoa e cidadão. (SOLER, 2006).
Os jogos cooperativos consistem em trabalhar o coletivo, e que os envolvidos estejam
conscientes da realidade, e que todos possam vencer os limites e encarem as possibilidades de
enfrentamento de problemas. Descobrir as possibilidades e potencialidades mediante a
reflexão e prática dos jogos cooperativos faz parte da natureza desta pesquisa. Com base
nestas perspectivas, o estudo centrou a atenção, então, na possibilidade de descobrir como se
desenvolve tais potencialidades nas aulas de Educação Física Escolar, objetivando a
promoção de novas atitudes.
Tendo acolhido essas possibilidades com o intuito de enriquecer o processo de
aprendizagem, essa alternativa proporcionará melhor entendimento da essência dos jogos
cooperativos. Nesse sentido, a escola terá papel fundamental em proporcionar o que tem de
melhor nas questões relacionadas à educação, desde organização das estratégias voltadas para
conduzir os alunos estruturados à vida social.
Com a análise das pesquisas que descrevem os comportamentos desenvolvidos pelos
alunos envolvidos em situações de jogo, também atitudes trazidas da vida social, a proposta
31
de identificação de possibilidades das ações respeitáveis nos jogos, observou- se que a
competição era deixada de lado sugerimos essa adequada proposta, mas dando enfoque nesta
a partir de outra perspectiva que é a da abordagem crítica. “A ideia é partir do jogo para
chegar a vida, pois eu jogo do jeito que vivo e vivo do jeito que jogo”. (NETO e LIMA apud
VIEIRA, 2002).
Nesse aspecto, espera-se que o trato com os jogos cooperativos viabilizem ações
positivas e que proporcione a participação de todos em prol da cooperação. Os jogos
cooperativos buscam indicar as possibilidades de se jogar, e os participantes terão a chance de
considerar o outro como parceiro, considerando o interesse de todos e respeito às diferenças.
Questionamo-nos sobre como a competição é conscientemente ou inconscientemente
aceita em situações de jogo. Ela que em sua proporção tem dificultado a convivência dos
indivíduos, seja nas práticas escolares ou na sociedade. Sustenta-se, então, esta alternativa, “o
importante é incentivar as pessoas a integrar os valores adequados ao jogo e a controlar a
competição ao invés de serem controlados por ela”. (Brotto, 1999).
Por nos encontrarmos numa sociedade aparentemente estável, e por outro lado o
sistema capitalista permanece incutindo a necessidade de estar sempre competindo com os
outros, e valores como solidariedade, cooperação e união têm sido deixados para trás. Então
surge a oportunidade de explorar os elementos trabalhados nos jogos cooperativos, na
tentativa de reverter essa situação, que nos expõe aos conflitos interpessoais.
Moura (2013) argumenta que, Os princípios dos jogos cooperativos e os resultados que as atividades cooperativas podem alcançar são de grande relevância no que se refere à formação do ser humano como elemento ativo na transformação social, bem como, sua contribuição na formação de pessoas conscientes de sua responsabilidade no meio em que vivem. Somos competitivos porque aprendemos a sermos assim; e se é comportamento adquirido, podemos então aprender também a sermos cooperativos. (p.06)
Os jogos cooperativos na sua construção histórica poderão indicar a relevância na sua
aplicação nas aulas de educação física, contextualizado a partir da perspectiva crítica, que
objetiva a emancipação do homem. “A emancipação, na perspectiva de Adorno, não se refere
apenas ao indivíduo como entidade isolada, mas fundamentalmente como um ser social”.
(VIANA,2009).
32
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de a competição ser vista pelos estudiosos dos jogos cooperativos como
principal elemento de desvio de condutas dos sujeitos em sociedade, entendemos no decorrer
do estudo, que o foco central não deveria ser a competição, mas sim a compreensão dos
aspectos que constituem todo um processo pautado na manutenção de valores que viabilizem
tornar o indivíduo emancipado.
Ao realizarmos este estudo, buscamos compreender as possibilidades e
potencialidades dos jogos cooperativos para a consolidação de uma educação física
emancipadora e a possibilidade da manutenção dos valores da sociedade com reflexo na
escola.
Essa proposta entende a educação física como conteúdo, capaz de estabelecer relações
da educação e sociedade, para melhor explicar as relações sociais advindas da divisão de
classes, que tem originado conflitos e desconfortantes condutas condicionadas pelo capital.
Nesse caso, uma perspectiva de jogos cooperativos pautada numa educação
emancipadora deve lutar contra os ditames do capital, a competição, o individualismo e a
precariedade do ensino destinada a classe dos trabalhadores devido à divisão de classes. E a
única forma de romper tudo isso, é a luta para que os indivíduos tenham acesso ao ensino de
qualidade, amparado pela visão critica, fazendo com eles tenham possibilidades reais de não
serem controlados pelos interesses da classe dominante.
Por tudo isso, acreditamos que as atividades dos jogos cooperativos, por serem
propostas que contêm estruturas alternativas as quais os participantes jogam uns com os
outros ao invés de jogarem uns contra os outros, situam-se como uma possibilidade de fazer
com que as pessoas valorizem o próximo ao invés de viver em conflito, aprendendo a serem
solidários e companheiros.
Desta maneira, tendo como meta descobrir como os jogos cooperativos nos trarão
alternativas que permitirão estabelecer a relação entre os indivíduos na escola e na sociedade.
Para atingir esses objetivos, apontamos uma possibilidade de utilizar os jogos
cooperativos na escola como uma perspectiva emancipadora. Quanto ao papel da educação
que vai trabalhar com os jogos cooperativos indicamos nesta pesquisa um caminho para que o
indivíduo se intere da constituição histórica social, para que ele possa reconhecer-se com ser
social.
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