laerte. folha de s. paulo, 30 de junho de 2013. angeli. folha de s. paulo, 27 de … ·...

13
R R E E D D A A Ç Ç Ã Ã O O Laerte. Folha de S. Paulo, 30 de junho de 2013. Angeli. Folha de S. Paulo, 27 de julho de 2013. No Mundo das mercadorias, as coisas se relacionam como pessoas e as pessoas, como coisas. K. Marx. Adaptado. Eu, etiqueta Em minha calça está grudado o nome que não é o meu de batismo ou de cartório, um nome ... estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida que jamais pus na boca, nesta vida. Em minha camiseta, a marca de cigarro que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produto que nunca experimentei mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido de alguma forma não provada por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, minha gravata e cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara, minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo, desde a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso, reincidência, costume, hábito, premência, indispensabilidade, e fazem de mim homem-anúncio itinerante, escravo da matéria anunciada. (...) U U N N I I C C A A M M P P N N O O V V E E M M B B R R O O / / 2 2 0 0 1 1 3 3

Upload: truongcong

Post on 30-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Laerte. Folha de S. Paulo, 30 de junho de 2013. Angeli. Folha de S. Paulo, 27 de … · 2013-11-14 · que não é o meu de batismo ou de cartório, um nome ... estranho. ... UNICAMP

RREEDDAAÇÇÃÃOO

Laerte. Folha de S. Paulo, 30 de junho de 2013.

Angeli. Folha de S. Paulo, 27 de julho de 2013.

No Mundo das mercadorias, as coisas se relacionamcomo pessoas e as pessoas, como coisas.

K. Marx. Adaptado.

Eu, etiqueta

Em minha calça está grudado o nomeque não é o meu de batismo ou de cartório,um nome ... estranho.Meu blusão traz lembrete de bebidaque jamais pus na boca, nesta vida.Em minha camiseta, a marca de cigarroque não fumo, até hoje não fumei.Minhas meias falam de produtoque nunca experimenteimas são comunicados a meus pés.Meu tênis é proclama coloridode alguma forma não provadapor este provador de longa idade.Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,minha gravata e cinto e escova e pente,meu copo, minha xícara,minha toalha de banho e sabonete,meu isso, meu aquilo,desde a cabeça ao bico dos sapatos,são mensagens,letras falantes,gritos visuais,ordens de uso, abuso, reincidência,costume, hábito, premência,indispensabilidade,e fazem de mim homem-anúncio itinerante,escravo da matéria anunciada.(...)

UUNNIICCAAMMPP —— NNOOVVEEMMBBRROO//22001133

Page 2: Laerte. Folha de S. Paulo, 30 de junho de 2013. Angeli. Folha de S. Paulo, 27 de … · 2013-11-14 · que não é o meu de batismo ou de cartório, um nome ... estranho. ... UNICAMP

Hoje sou costurado, sou tecido,sou gravado de forma universal,saio da estamparia, não de casa,da vitrina me tiram, recolocam,objeto pulsante mas objeto,que se oferece como signo dos outrosobjetos estáticos, tarifados.Por me ostentar assim, tão orgulhosode ser não eu, mas artigo industrial,peço que meu nome retifiquem.Já não me convém o título de homem.Meu nome novo é coisa.Eu sou a coisa, coisamente.

Carlos Drummond de Andrade. Adaptado.

Com base nos estímulos da página anterior e em outrasinformações que julgar relevantes, redija uma dissertaçãoem prosa sobre o tema A personificação das coisas e acoisifi cação das pessoas: uma questão para o tempoatual?, argumentando de modo a expor com clareza seuponto de vista sobre o assunto.

Comentário à proposta de Redação

A FGV propôs, em seu vestibular para o curso deDireito, um tema – “A personificação das coisas e acoisificação das pessoas: uma questão para o tempoatual?” – cuja atualidade só tem crescido, à medidaque avança o processo de desumanizaçãodenominado, na linguagem da sociologia marxista,reificação. A palavra, que deriva do latim res, rei,“coisa”, significa literalmente “coisificação,transformação em coisa” e é assim definida noDicionário Houaiss:

1 Rubrica: filosofia.segundo Georg Lukács (1885-1971), alargando eenriquecendo um conceito de Karl Marx (1818-1883), processo histórico inerente às sociedadescapitalistas, caracterizado por uma transformaçãoexperimentada pela atividade produtiva, pelasrelações sociais e pela própria subjetividade hu -mana, sujeitadas e identificadas cada vez mais aocaráter inanimado, quantitativo e automático dosobjetos ou mercadorias circulantes no mercado

2 Derivação: por extensão de sentido.qualquer processo em que uma realidade social ousubjetiva de natureza dinâmica e criativa passa aapresentar determinadas características – fixidez,automatismo, passividade – de um objeto inorgâ -nico, perdendo sua autonomia e autoconsciência

UUNNIICCAAMMPP —— NNOOVVEEMMBBRROO//22001133

Page 3: Laerte. Folha de S. Paulo, 30 de junho de 2013. Angeli. Folha de S. Paulo, 27 de … · 2013-11-14 · que não é o meu de batismo ou de cartório, um nome ... estranho. ... UNICAMP

O fenômeno ocorre escancaradamente em nossasociedade consumista e está tão entranhado nela quea primeira dificuldade dos candidatos na elaboraçãodo tema deve ter decorrido da necessidade deautocons ciência e autoanálise semelhantes às dosujeito que se exprime no poema-crônica (mais prosaque poesia) de Carlos Drummond de Andradetranscrito na prova. Nele, a longa enumeração dascircunstâncias da reificação a que nos submete omundo das relações capitalistas, dominado peloconsumo, leva à conclusão de ter-se operado acompleta transformação do homem em coisa. Osoutros “estímulos” oferecidos pela BancaExaminadora consistiram numa frase de Karl Marxque resume o conceito de reificação, por eleprimeiramente formulado, e em duas “tirinhas”, umade Laerte e outra de Angeli, nas quais se ilustra o ditode Marx: na primeira, as coisas são represen tadasmantendo relações “pessoais” entre si; na segunda, aspessoas aparecem associadas a carrinhos desupermercado, reduzidas a meros apêndices de seusinstrumentos de consumo.

Redigir uma dissertação de 30 ou 40 linhas sobre umfenômeno social de tal profundidade e importância foio que se pediu aos candidatos – um teste desafiador desua capacidade de observação, análise (inclusiveautoanálise) e expressão.

UUNNIICCAAMMPP —— NNOOVVEEMMBBRROO//22001133

Page 4: Laerte. Folha de S. Paulo, 30 de junho de 2013. Angeli. Folha de S. Paulo, 27 de … · 2013-11-14 · que não é o meu de batismo ou de cartório, um nome ... estranho. ... UNICAMP

PPOORRTTUUGGUUÊÊSS

Questão 1Examine as seguintes frases e, em seguida, reescreva-as,eliminando os problemas de redação que nelas ocorrem:

a) Nunca e ninguém tomaram conhecimento da crise quecansei de me referir, nas páginas desse jornal,temeroso e inutilmente.

b) É sabido que no século XX da história humana houvemais desenvolvimento científico e tecnológico quetodas as outras épocas juntas produziram.

Resoluçãoa) Nunca ninguém tomou conhecimento da crise a que

cansei de me referir, nas páginas deste jornal,temerosa e inutilmente.

b) É sabido que no século XX houve mais desenvol vi -mento científico e tecnológico (do) que o produzidopor todas as outras épocas da história humanajuntas. / É sabido que o século XX produziu maisdesenvolvimento científico e tecnológico (do) quetodas as outras épocas da história humana juntas.

UUNNIICCAAMMPP —— NNOOVVEEMMBBRROO//22001133

Page 5: Laerte. Folha de S. Paulo, 30 de junho de 2013. Angeli. Folha de S. Paulo, 27 de … · 2013-11-14 · que não é o meu de batismo ou de cartório, um nome ... estranho. ... UNICAMP

Texto para as questões de 2 a 5.

Os enunciados de uma obra científica e, na maioriados casos, de notícias, reportagens, cartas, diários etc.,constituem juízos, isto é, as objectualidades puramenteintencionais pretendem corresponder, adequar-seexatamente aos seres reais (ou ideias, quando se trata deobjetos matemáticos, valores, essências, leis etc.)referidos. Fala-se então de “adequatio orationis adrem”*. Há nestes enunciados a intenção séria deverdade. Precisamente por isso pode-se falar, nestescasos, de enunciados errados ou falsos e mesmo dementira e fraude, quando se trata de uma notícia oureportagem em que se pressupõe intenção séria.

O termo “verdade”, quando usado com referência aobras de arte ou de ficção, tem significado diverso.Designa com frequência qualquer coisa como agenuinidade, sinceridade ou autenticidade (termos que,em geral, visam à atitude subjetiva do autor); ou averossimilhança, isto é, na expressão de Aristóteles, não aadequação àquilo que aconteceu, mas àquilo que poderiater acontecido; ou a coerência interna no que tange aomundo imaginário das personagens e situaçõesmiméticas; ou mesmo a visão profunda – de ordemfilosófica, psicológica ou sociológica – da realidade. Aténeste último caso, porém, não se pode falar de juízos nosentido preciso. Seria incorreto aplicar aos enunciadosfictícios critérios de veracidade cognoscitiva. [...] Osmesmos padrões que funcionam muito bem no mundomágico-demoníaco do conto de fadas revelam-se falsos ecaricatos quando aplicados à representação do universoprofano da nossa sociedade atual [...]. “Falso” seriatambém um prédio com portal e átrio de mármore queencobrissem apartamentos miseráveis. É esta incoerênciaque é “falsa”. Mas ninguém pensaria em chamar de falsoum autêntico conto de fadas, apesar de o seu mundoimaginário corresponder muito menos à realidadeempírica do que o de qualquer romance deentretenimento.

Anatol Rosenfeld, “Literatura e personagem”.In: A. Candido et. al. A personagem de ficção.

* “adequatio orationis ad rem”: adequação da linguagemao assunto.

Atenção: Se, em suas respostas, for necessário citartrechos dos textos, coloque-os entre aspas.

UUNNIICCAAMMPP —— NNOOVVEEMMBBRROO//22001133

Page 6: Laerte. Folha de S. Paulo, 30 de junho de 2013. Angeli. Folha de S. Paulo, 27 de … · 2013-11-14 · que não é o meu de batismo ou de cartório, um nome ... estranho. ... UNICAMP

Questão 2Considerando os conceitos e argumentos presentes notexto, responda:

a) Qual é o tema principal do texto de A. Rosenfeld?Responda com apenas uma frase.

b) Por que, segundo o texto, um autêntico conto de fadasnão pode ser considerado falso e um romance deentretenimento, sim? Responda sucintamente.

Resoluçãoa) A diferença entre o critério de verdade aplicado a

enunciados científicos ou informativos e o critériode verdade (ou verossimilhança) aplicado a obrasde arte ou de ficção.

b) Porque um “autêntico conto de fadas” mantémcoerência em relação ao universo imaginário – o“mundo mágico-demoníaco” – por ele postulado,enquanto um romance de entretenimento pode nãocorresponder aos padrões de realidade do universoque retrata, o mundo empírico – “o universoprofano da nossa realidade atual”.

Questão 3Atenda ao que se pede:

a) A natureza do texto justifica a citação da frase latina,tendo em vista que ela é corrente em textos deRetórica? Justifique sua resposta.

b) No contexto, o que se entende por “situações mi mé -ticas” (2°. parágrafo)?

Resoluçãoa) Sim, pois se trata de um texto de teoria da literatura

em que se discutem critérios de verdade everossimilhança, e a fórmula latina citadaapresenta uma definição consagrada de verdade,corrente em textos do gênero. Tal definição se aplicaa textos de natureza não mimética e à diferença delase define a especificidade da verdade ouverossimilhança dos textos miméticos.

b) “Situações miméticas” – literalmente, imitativas –são as situações representadas em obras de ficçãoque mimetizam (imitam) a realidade, seja a“realidade” mágica postulada pelos contos de fada,seja a realidade do “universo profano” em quevivemos.

UUNNIICCAAMMPP —— NNOOVVEEMMBBRROO//22001133

Page 7: Laerte. Folha de S. Paulo, 30 de junho de 2013. Angeli. Folha de S. Paulo, 27 de … · 2013-11-14 · que não é o meu de batismo ou de cartório, um nome ... estranho. ... UNICAMP

Questão 4Reescreva as seguintes frases do texto, conforme ainstrução entre parênteses que acompanha cada umadelas:

a) “termos que, em geral, visam à atitude subjetiva doautor” (substitua o verbo “visar” por “ter como foco”,fazendo as alterações necessárias);

b) “apesar de o seu mundo imaginário correspondermuito menos à realidade empírica” (substitua “apesarde” por “embora”, fazendo as alterações necessárias).

Resoluçãoa) termos que têm como foco a atitude subjetiva do

autor.b) embora o seu mundo imaginário corresponda

muito menos à realidade empírica.

Questão 5Para responder essa questão, leia também os seguintestextos:

I

Velha palmeira solitária, testemunha sobrevivente dodrama da conquista, que de majestade e de tristura nãoexprimes, venerável epônimo* dos campos! No meio dacampina verde, de um verde esmaiado e merencório, ondetremeluzem às vezes as florinhas douradas do alecrim docampo, tu te ergues altaneira, levantando ao céu aspalmastesas – velho guerreiro petrificado em meio da peleja!

Afonso Arinos, “Buriti perdido”. Pelo sertão.

* “epônimo”: palavra de origem grega; designa umapersonalidade histórica ou lendária que dá ou emprestaseu nome a qualquer coisa, lugar, época etc.

II

E o destaque é a palmeira buriti, abundante nocerrado e indicativo infalível da existência de água. Umaespécie majestosa, com mil e uma utilidades: da polpa doseu fruto são feitos doce, suco, geleia e licor; do caroço,sai um óleo com propriedades medicinais, também usadopara cozinhar e fazer sabão; o tronco e a palha servempara construir casas; e o talo das folhas é usado naconstrução de móveis e brinquedos.

Lugar. Revista da Folha.

Folha de S. Paulo, junho de 2009.

UUNNIICCAAMMPP —— NNOOVVEEMMBBRROO//22001133

Page 8: Laerte. Folha de S. Paulo, 30 de junho de 2013. Angeli. Folha de S. Paulo, 27 de … · 2013-11-14 · que não é o meu de batismo ou de cartório, um nome ... estranho. ... UNICAMP

a) Algum conceito presente no texto de Anatol Rosenfeldpode ser utilizado para distinguir o texto I do texto IIacima? Justifique.

b) Além do vocabulário, que outro aspecto da linguagempode servir para classificar o texto I como literário e otexto II como jornalístico?

Resoluçãoa) Sim. Segundo a categorização presente no frag men -

to de Anatol Rosenfeld, o texto I, literário (mimé -tico), não constitui “juízo”; portanto, a ele não seaplica o critério de verdade contido na frase latinacitada, cuja forma mais correta é adaequatioorationis ad rem e cuja tradução mais precisa seria“adequação do enunciado à realidade”. O texto II,contrariamente, é exemplo de um enunciado que“procura corresponder, adequar-se exatamente aosseres reais”, cabendo, portanto, considerá-loverdadeiro ou falso segundo aquele critério.

b) O tom emotivo, as exclamações, a apóstrofe “velhapalmeira solitária” e a imagem metafórica “velhoguerreiro petrificado em meio da peleja” caracte -rizam o texto I como literário e o distinguem de umtexto de teor informativo, como é o texto II. Nesteúltimo, o caráter jornalístico é notável no empregoda função referencial da linguagem (e não dasfunções poética e emotiva, predominantes no textoI), assim como no teor objetivo e verificável (isto é,constatável ou falseável) dos enunciados.

UUNNIICCAAMMPP —— NNOOVVEEMMBBRROO//22001133

Page 9: Laerte. Folha de S. Paulo, 30 de junho de 2013. Angeli. Folha de S. Paulo, 27 de … · 2013-11-14 · que não é o meu de batismo ou de cartório, um nome ... estranho. ... UNICAMP

IINNGGLLÊÊSS

THE PEOPLE'S CHOICE

By Jeffrey Toobin

Before Harry Blackmun became a federal judge, andthen a Supreme Court Justice, he was the general counselat the Mayo Clinic, the celebrated medical center inMinnesota. There he developed a reverence for doctors,which was reflected in his judicial opinions, especially inRoe v. Wade. In that decision, which was handed downforty years ago this week, the Court ruled that states mustallow a woman to obtain an abortion during the firsttrimester of a pregnancy. According to Blackmun'smajority opinion, the ruling fell under the right to privacythat is implicit in the Constitution. In keeping with hispredilection for his former colleagues, he emphasized therights not of women but of doctors: “The attendingphysician, in consultation with his patient, is free todetermine, without regulation by the State, that, in hismedical judgment, the patient’s pregnancy should beterminated.” The word “physician” appears in Roe v.Wade forty-eight times, the word “woman” forty-fourtimes.

As the Court returned to the subject of abortion insubsequent decades, the rationale for its decisions shifted.In the 1992 case of Planned Parenthood v. Casey, thecourt reaffirmed Roe in an opinion written jointly bySandra Day O'Connor, Anthony Kennedy, and DavidSouter. That decision focussed on the provision of theFourteenth Amendment which says that no state shall“deprive any person of life, liberty, or property, withoutdue process of law.” The Justices said that a woman'sdecision to terminate a pregnancy was within the "realmof personal liberty which the government may not enter."More recently, in a dissenting opinion, Ruth BaderGinsburg, joined by three other Justices, offered stillanother constitutional justification for a woman’s right tochoose, under a different part of the FourteenthAmendment: the equal-protection clause. Unduerestrictions on the right to abortion, Ginsburg wrote,violate “a woman’s autonomy to determine her life'scourse, and thus to enjoy equal citizenship stature.”

This sort of evolution is not unusual in the history ofthe Supreme Court. Some Justices like to assert, orpretend, that the Constitution has a single meaning, andthat each case thus has only one correct resolution. Thisview is especially pronounced among conservatives, who,in recent years, have claimed that they can identify theoriginal intent of the framers and use their eighteenth-century wisdom to resolve any modern controversy. But,of course, interpretations of the Constitution havechanged over time: legal theories pass in and out offashion, and, most important, Presidents can and dochange the understanding of the Constitution by namingnew Justices to the bench. (There have been twelve since1973.)

UUNNIICCAAMMPP —— NNOOVVEEMMBBRROO//22001133

Page 10: Laerte. Folha de S. Paulo, 30 de junho de 2013. Angeli. Folha de S. Paulo, 27 de … · 2013-11-14 · que não é o meu de batismo ou de cartório, um nome ... estranho. ... UNICAMP

That is the real lesson of abortion rights in theSupreme Court. Politicians, especially Presidents, lead.Judges, even Justices, follow.

It’s tempting to be outraged by the close correlationbetween the outcome of Presidential elections and theoutcome of cases before the Supreme Court. Aren’tJustices supposed to be independent of politics – isn’t thatone reason they have life tenure? Aren’t judges differentfrom politicians? Not really, and that’s nobody’s fault;when it comes to interpreting the majestic generalities ofthe Constitution, there is no such thing as apoliticaldecision-making. So, in a time of great polarizationbetween the parties, Democratic and Republican judicialappointees see the world, and the law, in very differentways.

Adapted from The New Yorker, January 28, 2013

Introduction

This passage, adapted from an article in The New Yorker,discusses how three opinions written by U.S. SupremeCourt Justices (as those judges are known) have helped tosafeguard legalized abortion in the United States. Thearticle also touches on the ever-changing, political natureof Supreme Court decisions. Read the text and answer thequestions below. You are advised to read the questionscarefully and give answers that are of direct relevance.Remember: Your answer to Question 1 must be writtenin Portuguese, but your answers to Questions 2 and 3must be written in English. With these last two questions,you may use American English or British English, butyou must be consistent throughout.

UUNNIICCAAMMPP —— NNOOVVEEMMBBRROO//22001133

Page 11: Laerte. Folha de S. Paulo, 30 de junho de 2013. Angeli. Folha de S. Paulo, 27 de … · 2013-11-14 · que não é o meu de batismo ou de cartório, um nome ... estranho. ... UNICAMP

Question 1 (to be answered in Portuguese)

(This question tests your understanding of the text, as wellas your ability to identify and paraphrase the relevantpieces of information. You should write approximately120 words.)

Though abortion has been legal in the United States formore than 40 years, it remains a controversial issue.(Essentially, liberals, who tend to be members of theDemocratic Party, favor the continued legality ofabortion, whereas conservatives, who tend to be membersof the Republican Party, would like to see abortionprohibited.) So, in your own words, identify the three pro-abortion opinions presented in the passage and discussthe logic on which they are based. Explain why you thinkthese opinions are fair and well formulated or weak andunconvincing. In answering, you may take into accountthe factors that can influence a Supreme Court decision.

ResoluçãoEsta questão, a ser respondida em português, pediaque o candidato identificasse no texto três opiniõespró-aborto e a lógica na qual elas estão baseadas.Deveria explicar, também, se as opiniões eram justasou bem formuladas ou se eram fracas e inconsistentes.Ao responder, o candidato deveria levar em conta osfatores que podem influenciar uma decisão da Supre -ma Corte.O candidato deveria mencionar em sua resposta asseguintes informações:• No caso Roe x Wade, Harry Blackmun deciciu em

favor do aborto, no 1.º trimestre da gestação,enfatizando o direito não das mulheres mas dosmédicos de interromper uma gravidez, direito esseimplícito na constituição americana – direito àprivacidade.

• Em 1992, no caso Planned Parenthood x Casey, aCorte reafirmou a decisão do caso Roe x Wade,focando na 14.ª Emenda que afirma que nenhumestado poderá privar o indivíduo da vida, liber -dade ou propriedade sem o devido processo legal.De acordo com os juízes, a decisão de uma mulherinterromper a gravidez situa-se “dentro do do mí -nio de liberdade pessoal, sem que possa haverinterferência do Estado”.

• Ruth Bader Ginsburg e outros três juízes ofere ce -ram outra justificativa para o direito de escolhada mulher, baseando-se também na 14.ª Emenda:a cláusula de igual proteção. De acordo comGinsburg, restrições indevidas a respeito do direi -to ao aborto violam a autonomia da mulher paradeterminar o curso de sua vida e seu direito àcidadania.

UUNNIICCAAMMPP —— NNOOVVEEMMBBRROO//22001133

Page 12: Laerte. Folha de S. Paulo, 30 de junho de 2013. Angeli. Folha de S. Paulo, 27 de … · 2013-11-14 · que não é o meu de batismo ou de cartório, um nome ... estranho. ... UNICAMP

Question 2 (to be answered in English)

(This question tests your ability to express yourself in amanner that is clear, precise, and relevant. You shouldwrite approximately 120 words.)

A great Brazilian criminal-defense attorney once said:“I’m not in favor of abortion, because I don’t think anydecent man would be in favor of such a thing. I'm just notagainst it.”

With that idea in mind, and considering the information inthe passage, can you conceive of a situation in which youwould not be against allowing a woman to have anabortion? Is abortion always wrong, or are thereoccasions when, in your opinion, it is admissible?Keeping in mind Brazil’s constitutionally mandatedseparation of Church and State, can you debate abortionwithout resorting to religious arguments? In other words,can the prohibition or legalization of abortion be basedon logic and ethics alone? Give reasons and examples(from the passage and from your own knowledge andexperience) to support your point of view.

ResoluçãoBaseando-se na citação de um grande advogado dedefesa criminal que afirmou: “Não sou a favor doaborto. Acho que nenhum homem decente estaria afavor de tal fato. Simplesmente não sou contra isso”,e no texto, o candidato deveria responder, em inglês,algumas questões de forma clara, precisa e relevante.Dentre as questões propostas, estão:• Você conceberia uma situação na qual você não se

posicionasse contra o fato de uma mulher praticarum aborto?

• Há situações em que você admitiria o aborto?• Levando-se em conta que constitucionalmente a

Igreja e o Estado são separados, você debateria aquestão do aborto sem recorrer a argumentosreligiosos?

• Pode a proibição ou legalização do aborto basear-se apenas na lógica e na ética?

O candidato deveria dar razões e exemplos (do texto ede seu próprio conhecimento e experiência) paraapoiar seu ponto de vista.

UUNNIICCAAMMPP —— NNOOVVEEMMBBRROO//22001133

Page 13: Laerte. Folha de S. Paulo, 30 de junho de 2013. Angeli. Folha de S. Paulo, 27 de … · 2013-11-14 · que não é o meu de batismo ou de cartório, um nome ... estranho. ... UNICAMP

Question 3 (to be answered in English)

(This question tests your ability to construct a balanced,considered, and fluent argument in the form of a shortcomposition. The quotations below highlight two aspectsof the abortion issue. Read the quotations and answer thequestion. You should write about 120 words.)

At the end of his New Yorker article, Jeffrey Toobin leavesno doubt about his opinion of legalized abortion: “On thefortieth anniversary of Roe v. Wade, it is worthwhile tocelebrate a landmark of what is, in the truest sense,women’s liberation.”

However, consider Article 2 of Brazil's Civil Code: “Aperson’s civil personality begins at live birth; but the lawplaces out of danger, at the moment of conception, therights of the unborn child.”

Therefore, in your opinion, whose rights and privilegesshould prevail, those of the pregnant woman or those ofthe fetus? Should a woman – or, in some cases, a girl – beforced to become a mother?

What positive or negative consequences (e.g., social,economic, or moral) might result from such anobligation? Please keep in mind that while a fetus is verymuch a part of a pregnant woman's body, it also enjoys aspecial relationship with that body, since in a matter ofmonths, if all goes well, it will form a separate humanbeing.

Last, the city of São Paulo, cognizant of the noxiouseffects of second-hand tobacco smoke, prohibits smokingin enclosed public spaces. Thus, with respect togovernment protection of the unborn child, as stipulatedin Article 2 of Brazil’s Civil Code, discuss whether or notpregnant women should be allowed to smoke.

You may answer the above items from any point of view(e.g., religious, ethical, or legal), but please strive to be asclear-sighted and logical as possible.

ResoluçãoEssa questão pede que o candidato elabore uma pe -que na redação, apresentando um argumento equili -brado e lógico, em inglês, tomando como base umacitação de Jeffrey Toobin, favorável ao aborto e oartigo 2 do Código Civil Brasileiro que afirma que “apersonalidade civil da pessoa começa do nascimentocom vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, osdireitos do nascituro”.Deveriam ser discutidos os seguintes tópicos:• Que direitos deveriam prevalecer: os da mulher

ou os do feto?• Se uma mulher – em alguns casos uma menina –

deveria ser forçada a se tornar mãe.• Que consequências (positivas ou negativas)

adviriam de tal obrigação?• Deveriam as mulheres grávidas ser proibidas de

fumar para não prejudicar o feto?Os itens poderiam ser abordados sob qualquer pontode vista (religioso, ético ou legal).

UUNNIICCAAMMPP —— NNOOVVEEMMBBRROO//22001133