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PLANETA MANUSCRITO Rua do Loreto, n. o 16 – 1. o Direito 1200-242 Lisboa • Portugal Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor Título original: La notte del Gran Galà Edição original: 2008, Edizioni Piemme S.p.A., Via Tiziano, 32, 20145 Milano, Italy Para língua portuguesa: © 2011, Planeta Manuscrito Direitos internacionais: © Atlantyca S.p.A., Via Leopardi, 8 – 20123 Milano, Italy foreignrights@atlantyca.it www.atlantyca.com Todos os nomes, personagens e símbolos deste livro têm © de Edizioni Piemme S.p.A. e são licenciados em exclusivo por Atlantyca S.p.A. na versão original. As suas versões traduzidas ou adaptadas são propriedade de Atlantyca S.p.A. Todos os direitos reservados. Texto: Aurora Marsotto Ilustrações originais e capa: Donata Pizzato Projecto gráfico: Clara Battello Revisão: Eulália Pyrrait Paginação: Guidesign 1. a edição: Junho de 2012 Depósito legal n. o 345 309/12 Impressão e acabamento: Printer Portuguesa ISBN: 978-989-657-307-2 www.planeta.pt

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Page 1: La notte del Gran Galà - planeta.pt · sapatilhas de Didi. Depois, por altura do seu aniver-sário, pediria à avó Francesca, que era tão bondosa e a apoiava em tudo o que dissesse

PLANETA MANUSCRITO

Rua do Loreto, n.o 16 – 1.o Direito1200 -242 Lisboa • Portugal

Reservados todos os direitosde acordo com a legislação em vigor

Título original: La notte del Gran Galà

Edição original: 2008, Edizioni Piemme S.p.A.,Via Tiziano, 32, 20145 Milano, Italy

Para língua portuguesa: © 2011, Planeta Manuscrito

Direitos internacionais: © Atlantyca S.p.A., Via Leopardi, 8 – 20123 Milano, Italy

[email protected]

Todos os nomes, personagens e símbolos deste livro têm © de Edizioni PiemmeS.p.A. e são licenciados em exclusivo por Atlantyca S.p.A. na versão original.As suas versões traduzidas ou adaptadas são propriedade de Atlantyca S.p.A.

Todos os direitos reservados.

Texto: Aurora Marsotto

Ilustrações originais e capa: Donata Pizzato

Projecto gráfi co: Clara Battello

Revisão: Eulália Pyrrait

Paginação: Guidesign

1.a edição: Junho de 2012

Depósito legal n.o 345 309/12

Impressão e acabamento: Printer Portuguesa

ISBN: 978-989-657-307-2

www.planeta.pt

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Aurora Marsotto

A noite da Grande Gala

Ilustrações

Donata Pizzato

Tradução de Margarida Machado

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Era Novembro e estava uma tarde de domingogelada.

Violeta, longos cabelos ruivos e um mar de sardas,encontrava -se no seu quarto do internato da Escolado Teatro.

Haviam passado apenas alguns meses desde a suaadmissão àquela incrível escola que formava jovenspara a profissão de bailarinos, cantores e músicos.

As suas colegas de quarto, Jennifer do curso decanto, e Diamante, a quem chamavam Didi, da dança,ainda não tinham voltado do fim -de -semana.

Jennifer, que era americana, nunca ia a casa aosfins -de -semana, por isso a mãe de Didi tinha -a convi-dado a passar dois dias com a sua família. Didi ficouentusiasmada com a ideia: por uma vez não seriaobrigada a passar todo o tempo com Lavínia, a suairmãzinha de poucos meses!

Não agradava a ninguém que Jennifer, Aiko, a

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ESCOLA DE DANÇA

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rapariguinha de Tóquio, e Tatiana, de Sampeters-burgo, ficassem todo o fim -de -semana no inter-nato sozinhas. Por isso as colegas tinham decididoconvidá -las, à vez, para suas casas.

Naquele fim -de -semana, Sílvia, que estudavacanto, tinha levado consigo Aiko. Era provável quedona Vanda, a mãe de Sílvia, a tivesse exibido aosfamiliares, qual flor exótica, mas Sílvia garantira àamiga que ser capaz de compreender as conversasda mãe seria um óptimo exercício de italiano.

Tatiana, por seu turno, tinha declinado qualquerconvite. Para ela ainda era difícil fazer amizades.E no entanto Violeta sabia que se decidisse vir aaceitar algum, seria apenas o seu. Era questão deesperar.

Foi por esse motivo que Violeta decidiu regressarà escola mais cedo do que era habitual, na tarde dedomingo, em vez da usual segunda -feira de manhã:queria estar um bocadinho com Tatiana, talvez elalhe ensinasse alguns passos difíceis. Estava fartados exercícios que se faziam nas aulas, sempre osmesmos, e tinha a certeza de que Tatiana sabia mui-tos mais. Tal como tinha a certeza de que a colegarussa já tinha feito pontas e as fazia na perfeição.

Violeta nunca experimentara umas sapatilhasde pontas! As suas colegas, sim… Algumas até astinham trazido para a escola. Didi, por exemplo,tinha -as escondidas numa gaveta, e Violeta sonhava

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Dois sapatinhos e um gato

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experimentá -las. Mas experimentá -las a sério, dandoalguns passos. Quem melhor do que Tatiana para aajudar a concretizar o seu sonho?

Violeta estudara o plano ao pormenor: passariauma tarde inteira com Tatiana a experimentar assapatilhas de Didi. Depois, por altura do seu aniver-sário, pediria à avó Francesca, que era tão bondosae a apoiava em tudo o que dissesse respeito à dança,as suas sapatilhas de pontas. Já tinha visto um par desque gostava imenso na loja do Teatro. Depois convi-daria a colega russa para sua casa durante um fim--de -semana inteiro… em pontas! A ideia era perfeita!

Tinha convencido os pais a levá -la ao internato maiscedo e estava a correr tudo bem, até ao momentoem que se apercebeu de que Tatiana não estava…Procurou -a por todo o lado: desaparecera!

Violeta renunciou por isso à ideia de experimen-tar as sapatilhas de Didi: a ela não lhe interessavacalçá -las e pronto, queria usá -las mesmo, aprender ospassos. Então, começou a fazer uma coisa na qual jápensava há algum tempo: estava a tentar pôr o quartomais bonito.

Antes de mais, queria tornar o espaço mais amplo.A avó Francesca tinha -lhe dado uma ideia formidá-vel: Violeta forrara com feltros os pés da escrivani-nha e esta deslizava agora, leve como uma pluma; oumelhor, como uma bailarina que ela deslocava dan-çando pelo quarto.

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No lugar da mesa colocou a poltrona: gostava deler e também de estar confortável. Além disso, prefe-ria que a escrivaninha estivesse mais perto da janela,de forma a poder usufruir da luz do Sol e da bela vistasobre o jardim enquanto estudava… E, ainda porcima, com o espaço que sobrava, poderia experimen-tar alguns passos, abrir a porta do guarda -vestidos e ver -se no espelho!

Ao olhar para as paredes nuas, Violeta pensou queera absolutamente necessário pendurar alguns póste-res. Mas será que a ninguém ocorrera decorar aquelequarto? Já passara no mínimo um ano!

Ela gostava muito de um cartaz antigo a preto ebranco de uma bailarina que tinha visto na loja doTeatro. Diamante dissera -lhe que se parecia com ela etodas as colegas se tinham começado a rir, incluindoa própria Violeta. Mas Didi tinha razão. Voltara aobservar aquela foto, e os cabelos, os olhos, a boca dabailarina eram mesmo parecidos com os seus. Claroque as pernas eram as de uma verdadeira bailarina,imortalizada enquanto fazia um grand jeté de cortar aérespiração: lindo, com elevação, com o tutu que pare-cia voar ao mesmo tempo que ela. Tinha decidido quecompraria aquele poster a todo o custo.

Ainda estava a pensar onde pendurá -lo quando aporta se escancarou e voltou a fechar num segundo.

À sua frente, envolta num impermeável amareloe com o rosto escondido por um grande chapéu de

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abas largas, aparecera Rebeca, a aspirante a bailarinacompanheira de quarto de Aiko, a pingar.

«Duas gotas de água e a mãe equipa -a para umatempestade no mar do Norte», pensou Violeta, quesabia o quão apreensiva era dona Marta.

– O que estás a fazer aqui num domingo, vestidacomo um caçador de baleias? Pareces o capitãoAhab! – exclamou.

– Quem é esse Ahab? – perguntou -lhe Rebeca.– É o protagonista de Moby Dick, o romance de

Melville.Para dizer a verdade, Violeta não o tinha lido, mas

vira a mãe manuseá -lo e perguntara -lhe de que tra-tava. Com ela, bastava não falar de dança para quese tornasse meiguíssima: preparara um chá para sie para a filha e passara toda a tarde a contar -lhe aviagem do baleeiro Pequod, comandado pelo capitãoAhab, e da verdadeira obsessão que para ele consti-tuía a enorme baleia branca.

Mas o melhor era não contar isto a Rebeca, poisela ia começar logo a lamentar -se sobre a vida difícilque tinha com a mãe… Tinha quase sempre razão,mas fazia -o tantas vezes que as colegas já estavamsaturadas de a consolar.

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– Sim, e depois? – perguntou Rebeca, que entre-tanto tirara o impermeável e, sentada na cama, acari-ciava o gatinho de pêlo molhado.

o que tens

por baixo do

impermeável?

está quieto…

trouxeste

o teu

gato?

é tão

pequenino! mas é preto…

andava à chuva, não podia

abandoná-lo.

não,

encontrei-o

ao pé

do

teatro!

mas…

é um gato!

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– Dizem que os gatos pretos dão azar. E aqui noTeatro são todos muito supersticiosos. Se o virem…

– Tudo porque, por uma vez, quis agir por minhaconta! A minha tia, irmã da minha mãe, que ainda émais palradora e insuportável do que ela, chegou láa casa… – Violeta nem queria acreditar no que ouvia.Rebeca continuou: – Então, para fugir, pedi ao meupai que me trouxesse ao internato, disse que me tinhaesquecido de uns livros. Até ele ficou contente porpoder afastar -se por um bocado e não se fez rogado.Trouxe -me aqui num instante, mas como não con-seguia arranjar estacionamento deixou -me atrás daesquina. Estava para entrar no portão quando ouviuma miadela vinda da sebe e vi o gatinho. O papáestava longe, não se apercebeu de nada e eu… pegueinele sem pensar e pu -lo debaixo do impermeável.Ninguém me viu!

– Pois, mas agora onde pensas escondê -lo? – per-guntou Violeta, que já estava a magicar no assunto.

– Sinceramente, não sei… – respondeu Rebeca,enquanto grandes lágrimas lhe corriam pela cara.

De repente, ouviram bater à porta e tentaramesconder à pressa o gatinho, mas era tarde de mais eTatiana entrou.

– Oh, que lindo, um gato! – exclamou, observandoo novo inquilino. – Onde o metemos?

A rapariga olhou à sua volta.– Um momento! – disse e a seguir saiu do quarto.

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Voltou logo a seguir com a caixa das suas botas eum cachecol, com que preparou num instante umacaminha magnífica.

Violeta e Rebeca ficaram a olhar para ela de bocaaberta: não sabiam se deveriam estar mais espanta-das por ouvi -la falar italiano ou pela velocidade comque tinha resolvido a situação.

– Tem de beber… leite – concluiu a rapariga russa.– Claro! Como não pensámos nisso? É só ir buscá-

-lo à cozinha. Eu vou, e tu, Rebeca, vai para o cor-redor e vê se não vem ninguém. Sobretudo a meninaMarylin, percebeste?

Era só o que faltava que chegasse a tutora delas.Aí começariam os problemas!

Por sorte Annina, a cozinheira da escola, não fezperguntas quanto à garrafa de leite e aos biscoitosque Violeta lhe pediu. Estava contente que os miúdoslanchassem bem, e um belo copo de leite era perfeito.«Comida saudável! Nada de petiscos», era o que diziasempre.

Violeta levou ainda duas colherzinhas e uma tigela, depois voltou a correr para o seu quarto. Ninguém atinha visto.

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Tatiana explicou às amigas que Henri Matisse eraum famoso pintor francês e o autor de um dos seusquadros preferidos: uma enorme tela que retratavaum grupo de mulheres enquanto dançavam em roda,de mãos dadas. Existiam duas versões, e uma estavaprecisamente no museu da sua cidade, o Hermitage, de Sampetersburgo.

o gatinho esvaziou

rapidamente a

tigela de leite…

e agora

o que

fazemos?

entretanto

podemos

dar -lhe

um nome…

vamos

chamar -lhe

matisse!ee

ah, como um

aristogato!

não, como o pintor!

… mordiscou

alguns biscoitos…

… depois adormeceu

regalado na sua caixa.

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O discurso de Tatiana foi longuíssimo e difícil dedecifrar por parte das colegas, mas ambas tinhamapreendido os pontos fundamentais e, em todo o caso,o nome soava mesmo bem.

– Okay – anuiu por fim Rebeca.– Aprovado: é lindíssimo, e além disso assenta -lhe

bem! – disse Violeta acariciando o gatinho.Entretanto, chegara a hora de jantar. As raparigas

apressaram -se a descer para o refeitório e come-ram rapidamente, depois correram para o quarto eprecipitaram -se para debaixo dos cobertores.

Após uma noite de sonhos agitados, as três ami-gas encontraram -se na manhã seguinte no quarto deVioleta.

Fizeram algumas festinhas a Matisse e fecharamea porta do quarto com cuidado para não acordaremo gatinho, que tinha voltado a adormecer. Deixaram--lhe uma tigela de leite e alguns biscoitos ao pé dacaminha.

Depois, foram elas tomar um farto pequeno -almoço,para se concentrarem nos deveres de matemática,particularmente difíceis, e nos exercícios de francês.

As colegas, todas ofegantes como era costume àsegunda -feira de manhã, chegaram atrasadas e entra-ram na sala.

Julio, que também era estrangeiro, tinha passadoo fim -de -semana na cidade de Niky e Alex, os seus

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colegas de dança que moravam a cerca de duzentos quilómetros da escola. A eles juntara -se Charles, o rapaz francês com quem Alex partilhava o quarto.

Philip, que estudava piano, tinha aceitado, pela primeira vez, o convite de Mattia, seu colega de violino. Tinha passado dois dias com a sua alegre e ruidosa família e, para ele, que era filho único e vivera até agora mais com o avô do que com os pais, famosos concertistas sempre em tournée peloemundo, fora uma experiência cansativa mas muito agradável.

Após o movimentado fim -de -semana, a todos cus-tava, naquela manhã, concentrarem -se na resoluçãodo problema. Violeta, Rebeca e Tatiana não tiveram dificuldade em manter o segredo sobre Matisse e não edisseram nada aos amigos.

Mas, ao voltarem para o quarto depois das aulas, não o encontraram. Tinham -se esquecido de que à segunda -feira os quartos eram limpos a pente fino!

Por sorte Violeta só apanhou um raspanete da menina Marylin por não ter mantido o quarto em ordem: tinham encontrado no chão uma chávena e uma caixa com um cachecol lá dentro.

E o gato? A tutora não tinha falado disso! O que era feito de Matisse?

À tarde, as raparigas foram para as aulas de dança com aquela dúvida no pensamento. E deixaram -se fascinar pela primeira aula de dança de carácter.

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Eram mesmo divertidos os exercícios com asmãos: sentados no chão, os alunos tinham de mar-car o tempo de acordo com as ordens constantes dePaco, o novo professor de dança de carácter. Pareciamesmo que mergulhavam num novo mundo, emba-lados pela melodia que eles próprios compunhamnaquele momento.

Era o princípio de uma aventura, tinham a certeza.Arrebatados, olhavam para Paco, que, em pé, à suafrente, dava às palmas uma energia especial, aindadesconhecida para os jovens.

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Durante alguns dias, Matisse não apareceu.eDepois, certa tarde, mal tinha acabado a aula

de dança, Violeta divisou, através de uma grandejanela, algo a mover -se no jardim. Sem dizer nada aninguém, correu para o vestiário para tirar o maillot e saiu à pressa pela última porta do corredor, para nãoser vista.

Esperava ficar sozinha, mas naquele dia o jardimparecia a praça do Teatro antes de uma noite impor-tante! Ao lado da fonte, a menina Marylin falava, ani-mada, com Oliver, o vice -director da escola. Pareciaque a tutora tinha os olhos brilhantes, mas Violeta nãoteve a certeza. Ao lado da entrada da enfermaria, adirectora falava com o doutor Albi, que, a sorrir, con-tinuava a assentir com a cabeça. Ao fundo, em direc-ção à entrada de serviço do refeitório, Annina e Theo,o antigo encenador do Teatro que dava aulas de inter-pretação aos alunos mais velhos, riam com alegria.