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l O planejamento A bomba d 'água Um homem estava perdido no deserto, prestes a morrer de sede. Eis que ele chegou a uma cabana velha, desmoronando, sem janela, sem teto. Andou por ali e encontrou uma pequena sombra onde se acomodou, fugindo do calor do sol desértico. Olhando ao redor, viu uma velha bomba de água, bem enferrujada. Ele se arrastou até a bomba, agarrou a manivcla e começou a bombear, a bombear, a bombear sem parar. Nada aconteceu. De-sapontado, caiu prostrado, para trás. E notou que ao seu lado havia uma velha garrafa. Olhou-a, limpou-a removendo a sujeira e o pó, e leu um recado que dizia: "Meu amigo, você precisa primeiro preparar a bomba derramando sobre ela toda a água desta garrafa. Depois faça o favor de encher a garrafa outra vez antes de partir, para o próximo viajante". O homem arrancou a rolha da garrafa e, de fato, lá estava a água. A garrafa estava quase cheia de água! De repente, ele se viu num dilema. Se bebesse aquela água, poderia sobreviver. Mas se despejasse toda aquela água na velha bomba enferrujada e ela não funcionasse, morreria de sede. Que fazer: despejaria a água na velha bomba e esperaria vir a água fresca, fria ou beberia a água da velha garrafa desprezando a mensagem? Com relutância despejou toda a água na bomba. Depois, agarrou a manivela e começou a bombear... e a bomba pôs-se a ranger e chiar sem fim. E nada aconteceu! E a bomba foi rangendo e chiando. Então, fugiu um flozinho de água, depois, um pequeno fluxo e, finalmente, a água jorrou em abundância! Para alivio do homem, a velha bomba fez jorrar água fresca, cristalina. Ele encheu a garrafa e bebeu dela ansiosamente. Encheu-a outra vez e tornou a beber seu conteúdo refrescante. Em seguida, voltou a encher a garrafa para o próximo viajante. Encheu-a até o gargalo, arrolhou-a e acrescentou uma pequena nota: "Creia-rne, funciona. Você precisa dar a água toda antes de poder obtê-la de volta". Às vezes se pode pensar que planejar é perder o tempo que se tem "agora" por uma possibilidade de vê-lo multiplicado depois. Na verdade, um bom planejamento sempre multiplica o tempo ao poupar recursos e trabalhos, aumentando a eficácia e a alegria dos resultados alcançados.

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Page 1: l - WordPress.com · Web viewSó assim se poderá intervir com ações adequadas e pertinentes ao tipo de instituição ou de pastoral que se quer. É necessário, também, determinar

lO planejamentoA bomba d 'águaUm homem estava perdido no deserto, prestes a morrer de sede. Eis que ele chegou a uma cabana velha, desmoronando, sem janela, sem teto. Andou por ali e encontrou uma pequena sombra onde se acomodou, fugindo do calor do sol desértico.Olhando ao redor, viu uma velha bomba de água, bem enferrujada. Ele se arrastou até a bomba, agarrou a manivcla e começou a bombear, a bombear, a bombear sem parar. Nada aconteceu. De-sapontado, caiu prostrado, para trás. E notou que ao seu lado havia uma velha garrafa. Olhou-a, limpou-a removendo a sujeira e o pó, e leu um recado que dizia:"Meu amigo, você precisa primeiro preparar a bomba derramando sobre ela toda a água desta garrafa. Depois faça o favor de encher a garrafa outra vez antes de partir, para o próximo viajante".O homem arrancou a rolha da garrafa e, de fato, lá estava a água. A garrafa estava quase cheia de água! De repente, ele se viu num dilema. Se bebesse aquela água, poderia sobreviver. Mas se despejasse toda aquela água na velha bomba enferrujada e ela não funcionasse, morreria de sede.Que fazer: despejaria a água na velha bomba e esperaria vir a água fresca, fria ou beberia a água da velha garrafa desprezando a mensagem? Com relutância despejou toda a água na bomba.Depois, agarrou a manivela e começou a bombear... e a bomba pôs-se a ranger e chiar sem fim. E nada aconteceu!E a bomba foi rangendo e chiando.Então, fugiu um flozinho de água, depois, um pequeno fluxo e, finalmente, a água jorrou em abundância! Para alivio do homem, a velha bomba fez jorrar água fresca, cristalina.Ele encheu a garrafa e bebeu dela ansiosamente.Encheu-a outra vez e tornou a beber seu conteúdo refrescante.Em seguida, voltou a encher a garrafa para o próximo viajante. Encheu-a até o gargalo, arrolhou-a e acrescentou uma pequena nota: "Creia-rne, funciona. Você precisa dar a água toda antes de poder obtê-la de volta".Às vezes se pode pensar que planejar é perder o tempo que se tem "agora" por uma possibilidade de vê-lo multiplicado depois. Na verdade, um bom planejamento sempre multiplica o tempo ao poupar recursos e trabalhos, aumentando a eficácia e a alegria dos resultados alcançados.Ele também tra/ a vantagem de indicar caminhos seguros àqueles que virão depois, tornando, assim, possível a construção de um trabalho que contribua para a implantação do Reino de l )cus entre nós. Planejar é ter coragem de aceitar desafios!Um planejamento é bom quando contém em si a força do que o Ia/ entrar em execução. Ele deve ser tal que seja mais fácil > \ccuta-lo do que deixá-lo na gaveta (cf. Gandin, 1983: 23),Três questões essenciais devem orientar dialeticamente (num processo de reflexão-ação-reflexão) o planejamento:• O que se quer alcançar.• A que distância se está daquilo que se quer alcançar.• O que fazer concretamente (em tal prazo) para diminuir essa distância (Gandin, 1983: 20).A resposta à primeira dessas três questões - o que se quer alcançar - deverá levar o grupo a refletir acerca das grandes linhas de posicionamento a serem assumidas. A definição dessas li-nhas será responsável pela organicidade que deverá ser impressa ao trabalho de diferentes setores, nas diferentes abrangências e por diferentes agentes de pastoral.

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A segunda grande questão é: A que distância se está daquilo que se quer alcançar? Isso constituirá o segundo elemento do planejamento: o diagnóstico.A pergunta "O que fazer para diminuir a distância?" orientará a definição da programação.1. O que é planejar?Planejar é organizar cientificamente a ação de uma instituição, de um setor ou de um serviço. É implantar um processo deintervenção na realidade, dando clareza e precisão à ação de uma pessoa, grupo, serviço ou instituição. É prever. É projetar o futuro. É pensar antes qual o melhor caminho para chegar depois.Quando não se planeja, se improvisa, prejudicando o êxito do que se quer, e causando um incalculável desperdício de energias e de recursos.Assim, planejamento é um processo de tomada de decisões i|uc permite pensar antes qual o melhor caminho para alcançar o ivsultado almejado.2. Por que planejar?Na medida em que se quer realizar alguma ação é necessário• > larecer qual o motivo, ou quais os motivos que levam a reali-.n tal ação. Uma ação é considerada eficiente quando é bemfei-M. Quando, além de eficiente, ela for também transformadora,H i;'i considerada eficaz.As ações apenas eficientes não contribuirão em nada para a transformação das estruturas injustas que nos rodeiam.()s motivos que levam ao planejamento são:• A necessidade de realizar ações eficazes, transformadoras. N i sso se tem um compromisso a partir da fé. Não se pode convi-• i rom as injustiças gritantes que estão por aí. Os crescentes i .il ios que aparecem exigem um trabalho pastoral planejado.• A escassez de recursos. Quanto menos recursos se têm, niíiis ;i ação precisa ser planejada.• A complexidade da ação e a complexidade dos problemas. < hiantn mais complexos forem os problemas, mais será preciso |'|.IIH-|;U, pois, do contrário, a complexidade dos problemas irá absorver todas as forças e, necessariamente, se cairá no ativis-mo, esquecendo-se do necessário para mergulhar no urgente. Aliás, esta é uma tática do sistema dominante: Tratar com su-perflcialidade as coisas profundas e com profundidade as coisas superficiais.3. Para que planejar?Não basta ter claros os motivos que levam a realizar um planejamento. É profundamente importante ter claro, também, qual é ^finalidade das ações que se vão planejar, visando à eficácia.Tendo presente que a estrutura atual da sociedade se apre-| senta como uma estrutura de pecado, de injustiça e de morte, sumamente importante que, através de um planejamento, assu-| mido por todos os participantes do grupo, setor ou serviço, s< possa interferir nessa estrutura buscando transformá-la em estrutura de graça, de justiça e de vida.Por isso se faz necessário ter uma ação planejada: para inter-J vir na estrutura, comprometer-se com a transformação e estaj junto com o povo na construção da nova sociedade.Por que planejar?Otimizar as açõese os recursos.O que e planejar? Pensar antes.

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Para que planejar?Alcançar maioreficiência.

Tendo em vista essas razões, é importante compreender bem alguns termos:• Planejamento: é um processo de tomada de decisões. Processo significa uma série de ações, de reuniões, discussões, re-llcxões e decisões envolvendo todos os participantes do grupo, do setor ou do serviço que se quer planejar. É pensar antes, du-ninle e depois da ação.• Plano: é o registro das decisões tomadas pelo grupo que es-Icve envolvido no processo de planejamento.• Ação: é o ato de interferir na realidade. Este ato pode ser planejado ou não. No primeiro caso, haverá uma ação que tem ludo para ser eficaz e que provocará transformações. No segundo, haverá um simples ativismo, com resultados menos eficien-Ics, que poderá deixar todo mundo iludido de ter feito uma coisa hoa, porém, apenas isso.lím todo esse processo de planejamento o essencial é a ação u-liei ida, executada e avaliada, porque ela é capaz de transformai as estruturas de injustiças em estruturas de justiça. Planeja-iin-nU) não é fazer planos e nem, tampouco, escrever um crono-i una, um calendário de atividades, pura e simplesmente. Nisso liulo, o mais importante é G processo de tomada de decisões (o pla-nriainento), e não o registro dessas decisões (o plano em si). O l 'lano em si caduca. É um instrumento relativo. O planejamento,• H'|nanto tal, rejuvenesce e reorganiza a ação.(> planejamento participativo, como será visto, é um proces-' • .11 lamente importante porque é profundamente questionador.< )s autoritários, os "donos da verdade" e os acomodados não• In- M-MI nem saber de planejamento.

4. Três metodologias de planejamentoExistem três metodologias de planejamento que revelam as três possíveis linhas diferentes de ação que uma instituição, um setor de serviço ou um grupo de agentes de pastoral podem assumir.Em cada um dos modos de planejar é necessário estar atentos para ver como funcionam três situações-chave:1) As relações de poder.2) Como a participação acontece em função do poder.3) Como fica a gestão.• O primeiro modo de planejamento é planejar para o povo.Nele o poder é exercido de maneira dominadora, ditatorial.A participação do povo, quanto à participação/elaboração do plano, é nula, quanto à sua execução, é imposta, e, quanto ao resultado, também é imposto.A gestão (= gerência, administração, direção, governo) exercida neste primeiro modo de planejar é o que se chama hetero-\\cstao, isto é, gestão exercida por outro, que não o povo. Será, então, exercida por um pequeno grupo separado do povo. Nunca pelo povo.• O segundo modo de planejar é planejar com o povo.() poder é exercido como um poder a serviço. Aparticipa-> do povo na preparação/elaboração do plano é controlada e• i .1 MI;I execução ocorre a partir de uma conciliação. No resulta-.A* ;i participação é negociada.

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A gestão, neste modo de planejamento, se chama co-gestão. l M s k- um pouco de participação do povo na gerência das coisas, l» ii;i por pessoas não representativas, ou, até, razoavelmente re-presentativas.Nesse segundo modelo de planejamento, os que têm o poder IUIN índios cedem em algumas coisas, não essenciais, para pare-cer que existe uma participação do povo. Mas, na realidade, a participação é muito pequena e até insignificante, tornando-se ilusória. O poder fica nas mãos de poucos, muito poucos mesmo, que o controlam com usura. Existe aí uma acentuada qua-se-ditadura.• O terceiro modo de planejar é o planejamento do povo.O poder é exercido como um serviço.A participação do povo tanto na preparação/elaboração d plano, quanto em sua execução e no seu resultado, é de co-res ponsabilidade e de comunhão.A gestão neste modo de planejamento é realmente própria do povo. Por isso se chama: autogestão.Nesse caso, existe uma inserção muito grande, que denota intensa participação político-transformadora-libertadora. Existe, também, um real empenho de conversão, e as pessoas vflo se libertando no compromisso comunitário assumido plnnr jíidamcntc.

Por fim, este processo provocará uma vivência e convivência mais forte, em constante testemunho cristão-libertador. É o planejamento participativo.5. Planejamento participativoO planejamento participativo é um processo que deve envolver o maior número possível de pessoas e grupos, onde todos são convidados a opinarem e decidirem. Ninguém pode se sentir excluído.0 processo do planejamento participativo é feito por etapas, começando nos grupos, pastorais, movimentos e associações da Igreja, passando pela comunidade, paróquia ou área pastoral, l trios regionais até a avaliação e o planejamento das estruturas e organização da Diocese.Muitos pensam que a Igreja não necessita de planejamento,• "ino uma empresa, e que sua preocupação primeira não deve Ner u eficiência dos resultados, mas a eficácia da fé. Entretanto, a Ir.ieja tem serviços permanentes a prestar no mundo em continua transformação. Ela tem estruturas estáveis que preci-Niun adequar-se constantemente à realidade do momento, tor-niuulo-se presença dinâmica e transformadora, despertando na NOciüdade novas respostas às situações sempre novas. Daí a sua MI rcssidade de ser flexível nas suas ações e na utilização dos re-• MI .ns disponíveis.Isso obriga a Igreja a estar sempre criando, inovando, plane-Imulo, levando em conta muito mais o processo do que o plano. ii.i preocupação maior deve ser a de descobrir o melhor modo ilr li;il>;ilhar de forma planejada.1 >;ií que, ao invés de concentrar esforços cm elaborar planos, 'i |»MCH up;iç;u> primeira deve consistir em eoneentrar-se na dcs-coberta dos passos e na tomada de decisões de forma racional, mas coerente com sua missão evangelizadora no mundo.6. Fundamentos do método de planejamento participativoIntervenção de todos.

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Decisão partilhada. Discernimento comunitário.Subsidiariedade. Participação. Responsabilidade.Criatividade.a) Intervenção de todos: todos devem intervir no processo ej ter voz e vez.b) Decisão partilhada: ninguém decide para o outro, mas todos participam de todas as etapas do processo de planejamento: na investigação da realidade e na sua análise; na elaboração do plano e na sua execução.c) Discernimento comunitário: o conhecimento está no discernimento comunitário e daí devem brotar as soluções dos problemas.d) Princípio de subsidiariedade: não se deve delegar para o nível superior o que pode ser feito no nível inferior. Assim, o con trole e o poder são exercidos de baixo para cima, fazendo surgir uma ação "desconcentrada".

e) Co-criatividade: é preciso valorizar o novo que aparece no meio do povo, as tendências que se organizam de baixo para cima, que aparecem na periferia, que têm continuidade e participaçã

f) Co-participação: é a decisão partilhada onde se faz o exercício do poder-serviço. Usa-se o poder para que todos exerçam com autonomia a capacidade decisória.g) Co-responsabilidade: todos são responsáveis pela missão da Igreja, seja na decisão, seja na execução e nos resultados do que foi planejado.7. O que é um planejamento participativo pastoral?Ele não é uma solução mágica para os problemas que as pas-lorais enfrentam nos dias de hoje, mas ajuda na organização da caminhada do povo. Ele é um serviço à missão evangelizadora do trabalho pastoral que não pode agir cegamente, sobretudo num mundo que a cada dia se torna mais técnico: "um sábio planejamento pode ser um meio eficiente no trabalho evangeliza-dor" (Papa Paulo VI).Feito a partir da realidade e da reflexão da Palavra de Deus e dos ensinamentos da Igreja, do desejo de procurar e fazer a vontade de Deus na sociedade e na missão evangelizadora, o plane-l-imcnto participativo permitirá o pensar e trabalhar juntos, o crescer na espiritualidade, o valorizar a diversidade de dons e ' " viços, o superar a improvisação e a rotina, o motivar o surgi-de novas lideranças e um maior dinamismo pastoral.8. Partes de um planejamento

f) Antes de tudo, é preciso compreender como se realiza um planejamento. Para descrever isso é necessário esclarecer alguns v metodológicos.

A palavra metodologia vem da língua grega (mela = através de; ódos = caminho), e quer dizer: uma ação realizada através de um caminho constante e seguro.Um planejamento é composto de quatro partes:1) O marco referencial;2) O diagnóstico;3) A programação;4) A avaliação.

Marco referencialReúne as grandes linhas (pontos de referência) de posicionamento.Marco situacionalComo é a realidade atual(econômica, social,política, cultural ereligiosa).Marco doutrinaiComo é a realidade ideal (utopia).Marco operativoComo deve ser a maneirade fazer a ação (princípios da ação).Diagnóstico

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Comparação entre a realidade atual e a realidade ideal.ProgramaçãoPropostas de ações concretas para diminuir a distância entre o real e o ideal: Objetivos -4—*• Políticas e estratégias •++• Rotinas -4—>• ProjetosAvaliaçãoConfronto entre os resultados esperados e os resultados alcançados.

8.1. O que é marco referencial?Quando uma construtora é chamada para realizar a construção de uma estrada, começa por medir o nível do terreno e colo-i MI os marcos (estacas, marcações) das beiras, dos acostamentos díi estrada. São os pontos de referência para saber por onde vai passar a estrada.O marco referencial de um planejamento é o ponto de referência pelo qual o planejamento vai orientar o grupo, por onde ele precisa seguir em seu trabalho. Por aí ele vai perseguir o que deseja.Este ponto de referência (marco referencial), que é a primeira parte do planejamento, é composto por três elementos:1) Marco situacional (= descreve a realidade onde se desenvolve a ação);2) Marco doutrinai (= diz para que se vai agir);3) Marco operativo (= orienta como realiz

8.1.1. O que é marco situacional?

O marco situacional é a parte do planejamento que descreve a realidade em que se vive e se trabalha, ou em que se vai trabalhar e viver. Ele fala do ambiente e da vida, em todos os sentidos possíveis.

Quando alguém descreve alguma coisa, nunca deixa de dar sua impressão pessoal. Por isso a descrição não é neutra de opinião, mas traz a impressão que a pessoa está percebendo e sentindo sobre o momento histórico que está vivendo. Assim, também a descrição da realidade que se faz no marco situacional nunca é neutra; ela traz a marca do grupo que está planejando, de uma ótica própria sobre os acontecimentos do momento, a sua visão de mundo.

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A descrição deve abordar os aspectos políticos, sociais, econômicos, culturais e religiosos. Isto é muito importante, pois, caso se queira transformar uma realidade concreta, é preciso saber como ela está se apresentando agora.

Deve-se, também, procurar conhecer o modo como as pastorais locais estão organizadas. Para isso, pode-se colher dados ;i través de uma pesquisa de campo.Em anexo, no final do livro, encontra-se um pequeno modelo tlc questionário que pode ajudar nesta investigação

Pequeno roteiro para elaboração do marco situacional

\) Elabora-se um roteiro de investigação selecionando os aspectos da realidade que se quer conhecer, determinando os mais importantes. É bom procurar envolver o maior número de pessoas possíveis.

2) Define-se onde buscar, quem dará, e como conseguir as informações desejadas (através de observação, entrevista, questionário, prática social,...). Uma vez determinado o que se quer conhecer, quem dará as informações e como obtê-las, pode iniciar-se a pesquisa de campo.

í) Realiza-se urna pesquisa bibliográfica buscando informações sobre os temas em estudo.

4) Organizam-se as informações recolhidas, tanto pela pesquisa dei ampo, quanto pela pesquisa bibliográfica e elabora-se um relato darealidade levantada.

5) Parte-se para o estudo e discussão do relato envolvendo o grupo,visando o discernimento comunitário e a sensibilização de todosl rente aos problemas estudados.

6) Elabora-se o informe final recolhendo todas as sugestões feitaspelo grupo.

8.1.2. O que é marco doutrinai?O marco doutrinai de um planejamento é a parte que vai indi-• ii para que se está fazendo o planejamento e escrevendo um l'l.mo. Em outras palavras, pretende-se mostrar aonde se querchegar com o auxílio do plano realizado. É o sonho, a esperança] de realização maior.

É a parte do planejamento que vai apresentar uma proposta alternativa de construção do novo no social, no político, no econô mico, no cultural e no religioso, em todas aquelas situações e que se percebe que as coisas, como estão, não correspondem verdade, à justiça e à misericórdia. Valores esses que, como Jesu ensinou, realizam a vontade de Deus para as relações humanas.

Trata-se, portanto, de um marco, um ponto razoavelment firme, inamovível que serve como utopia, como força, cornai orientação. Não pode ser algo facilmente alcançável, embora não possa ser, também, algo impossível. É preciso que seja alg J que não se tem no momento, mas se espera alcançar algum dia.

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Por isso, a descrição de um homem e de uma sociedade não] existentes, mas idealizados (quem sabe quanto tempo se levar, para alcançá-los?!) é fundamental, porque é a partir daí que todo esforço terá uma direção definida A palavra-chave, aqui, é utopia. É a palavra que vem da U gua grega (u = sem; topos = lugar). Originariamente ela quer dizer: o que não tem lugar. Esta é uma palavra que no decorrer do tempo foi muito usada de modo negativo, pejorativo, como se quisesse dizer algo que nunca se vai conseguir ter ou realizar. Utopia não é ilusão. Utopia quer dizer, realmente, alguma coisa, ou situação, que se pode ter ou realizar; apenas fique bem claro que não é tão fácil assim. É preciso unir-se e lutar juntos para conseguir essa situação. Utopia é algo realizável, possível.

O marco doutrinai contém a utopia que se quer conseguir re-. 11 i /ar transformando a realidade.r

E importante, aqui, a presença da teoria, porque é a teoria adotada (e, naturalmente, a sua ideologia) que se constituirá na dou-11 i na da ação, dando a ela orientação e impregnando-a de valores.

É o marco doutrinai que dá a orientação da nova ação que Niirge como planejamento, e que vai sendo assumida por todos os que participaram dele. Por isso, o planejamento deve ter a participação de todos da comunidade, ou do setor de trabalho, üü do setor da pastoral, e assim por diante.

Dando a orientação da ação, o marco doutrinai impulsiona a Hgir, joga para frente, para a ação planejada, segundo a teoria iiilotada.N*proposta cristã, o marco doutrinai terá como fundamento w ensinamentos de Cristo e da Igreja, os documentos da comunidade cristã, os valores que a animam, as suas conquistas signi-licativas e as outras fontes que reforçam seu propósito de transformação. Portanto, o marco doutrinai do planejamento pastoral •l ' -verá se apoiar, como visto acima, nos ensinamentos do Evan-- l lio c nos documentos da Igreja. Disso surge o compromisso liu missão evangelizadora e do discernimento evangélico quan do precisar "ver, julgar, agir, celebrar e avaliar" os assuntos referentes à vida quotidiana:

• Cristo: Não se pode dissociar o Cristo da fé do Cristo dahistória. É indispensável estudar os Evangelhos porque nelesCristo revela a presença da Trindade na vida dos homens.

• Documentos da Igreja: "É urgente a formação doutrinai detodos os fiéis, seja para o natural dinamismo da fé, seja para iluminar, com critérios evangelizadores, os graves e complexosproblemas do mundo contemporâneo" (Christifidelis Laici 60).

• Missão evangelizadora: "A formação dos fiéis leigos tercomo objetivo fundamental a descoberta, cada vez mais clara, da lvocação cristã, e a disponibilidade cada vez maior para vivê-la nocumprimento da missão" (João Paulo II, Discurso à Comissão jNacional Italiana da RCC, 04/04/1998). Ela remete, pelo testemunho e pela Palavra, ao mundo, onde, solidários nas alegrias e j

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angústias, nos problemas e esperanças, os cristãos devem agir]evangelicamente, sendo fermento do Evangelho no mundo.

Mesmo assim, não é possível, de modo algum, deixar de lado j o importantíssimo esclarecimento que trazem e podem dar hoj( as ciências sociais e humanas.

Será sempre preciso ter uma ampla visão de mundo, dos seus problemas e das correntes de pensamento vigentes, sob vários en-| foques interdisciplinares, combinando a formação da fé com um sólido conhecimento das ciências — tais como as psicológicas, as so-| ciais, as econômicas, as culturais e as políticas - de seu tempo.

É necessário, portanto, esclarecer qual o tipo de pessoa que se deseja desenvolver, qual o tipo de sociedade que se espera e qual o tipo de Igreja que se deve criar para que seja sinal e instrumento do Reino de Deus. Assim, se estará dando um rumo para a aproximação da realidade ideali/ada a partir da realidade atual.

Perguntas que poderão ajudar na construção de um marco doutrinai

1) Que características marcantes se esperam do homem/sociedadeque se pretende alcançar através do trabalho pastoral e que tipo depastoral se quer oferecer para a Igreja e para a sociedade?2) Que visão de mundo deve orientar/fundamentar o trabalho pastoral?3) Quais capacidades se espera desenvolver nos participantes daspastorais, e, posteriormente, nas pessoas por eles atendidas?4) Qual a expectativa que se tem diante do conhecimento? Comoorientá-lo de forma construtiva?5) Como é entendida, pelos membros da pastoral, a relação do homem com o ambiente?(>) Qual atitude se espera do homem diante de si mesmo, dos ou- iros, da sociedade e da natureza, na perspectiva de filhos de Deus?

8.1.3. O que é marco operativo?

() marco operativo é a tomada de posição do grupo que está lii/endo o planejamento com relação à linha de ação a ser assumida para transformar a sociedade. Indica como se quer agir

É o momento de tomar decisões concretas sobre "como o setor vai se organizar" de modo planejado e assumido por todos. Aqui é preciso que fique bem clara a "co-responsabilidade" na busca da maneira de agir que vai ser assumida por todos os componentes para levar a cabo o plano que foi escrito pelo grupo.

Concretamente, é preciso responder a como se realizarão as| ações programadas para que sejam transformadoras.

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É um momento forte para o grupo se identificar. É o marco operativo que vai firmar a maneira comum de agir do grupo que planeja.

Convém ressaltar que não se trata de propor as ações concretas que se deseja realizar (isso se fará na programação), mas de enunciar os posicionamentos destacados que estarão em evidência durante a ação. O marco operativo é o encarregado de definir a linha "pedagógica" a ser adotada; deve responder, concretamente, a como agir para que as ações que serão programadas sejam realmente eficazes.

Aqui é preciso deixar bem claro quais são as características da comunidade, ou do setor de pastoral, em que se opera. Só assim se poderá intervir com ações adequadas e pertinentes ao tipo de instituição ou de pastoral que se quer. É necessário, também, determinar como será a organização para realizar o trabalho, e quais serão os princípios e valores que nortearão a realização.

Algumas perguntas que poderão ajudar a definir o marco operativo

1) Qual deverá ser o papel do agente de pastoral dentro do trabalhoespecífico de seu grupo?2) Como deverá ser tratado o conhecimento nas relações dentro daspastorais? Quem ensina e quem aprende?

Como ocorrerá o relacionamento interpessoal na própria pastorale entre as pastorais da comunidade?

4) Que tipo de linguagem deverá ser estimulada nas atividades pastorais?5) Que cuidados se deverá ter na seleção do material técnico a ser utili-/ado pela pastoral de modo que esteja a serviço da formação da consciência crítica (caso essa tenha sido a escolha do marco doutrinai)?6) Que tipo de metodologia deverá ser adotado para facilitar a buscada utopia traçada no marco doutrinai?7) Como se fará a avaliação? Quando, e quem, deverá avaliar? O quedeverá ser avaliado?

8.2. Diagnóstico

O termo diagnóstico, em pastoral, pode ter o mesmo sentido i|uc se dá na medicina: ver qual é o estado de saúde de uma pes-loa e, em caso de doença, determinar as suas causas e os meios (os remédios) mais urgentes para a cura.

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() diagnóstico pastoral vai procurar fazer uma comparação ' 111 ré o que é o ideal, apresentado no marco doutrinai, e a reali-• l.ide pastoral, vista no marco situacional. O diagnóstico procura• •« hirecer, ainda, como está a contribuição de cada um para a< «iislrução e formação da sociedade, da pessoa humana e daIjTcja, estabelecendo as urgências que a realidade apresentapuni a ação pastoral.

() diagnóstico pastoral é um discernimento cristão da reali-'l.ule, ponto de partida para a ação transformadora. Nasce do « <>iilronto entre o marco situacional e o marco doutrinai. É a conclusão do estudo da realidade expressa num juízo entre o "Yomo está" e o como "deve ser". Este é o momento de definir e classificar as principais necessidades que serão alvos da ação pastoral num caráter de prioridade.

Por isso, não é possível realizar-se um diagnóstico sem a elaboração do marco referencial.

Para a realização de um bom diagnóstico deve-se levar em conta alguns passos concretos:

1) Determinar o problema de maneira clara e simples. Para j isso algumas perguntas ajudam:• Qual é o problema?

• Quais são os elementos (pessoas, situações, dificuldadeconcretas...) que o compõem?

• O que faz que ele seja um problema?• Quais são suas possíveis causas?

• Entre estas causas, quais as mais prováveis?

• Quais os aspectos do problema que mais afetam a comunidade?

• Os problemas são resultados de dificuldades locais ou deum âmbito maior?

2) Analisar os fatores que contribuem positivamente e ojque atrapalham na resolução do problema, ou seja, identificar;forças de apoio e as resistências.

3) Procurar pistas para a elaboração de diferentes alternativas de solução.Tentar estabelecer a urgência dos problemas detectadosestabelecendo quais as prioridades dos mesmos

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Determinação do problema a partir do confronto entre o real (marco situacional) e o ideal

(marco doutrinai).

^v>

Discernimento entre as forças de apoio e as forças de resistências.

^>Levantamento de pistas para possíveis soluções.

nDeterminação das ações mais urgentes.

No diagnóstico é importante que apareçam alguns elementos ilderminantes:

8.2.1. Os avanços

A palavra avanços indica os resultados positivos que fo ram alcançados pelos agentes de pastoral. Identifica os resul tados transformadores já conseguidos e as forças positivas qu ajudaram nas conquistas. Deve ser um inventário do que foi con seguido.

2.2. Os limites

A palavra limites indica aquilo que não se conseguiu rei lizar, o que atrapalhou a caminhada; isto é, constatar as di ficuldades e os problemas, as forças (organizações, pessoas, que atrapalharam os avanços e que criaram resistência. Certí mente haverá,

Page 13: l - WordPress.com · Web viewSó assim se poderá intervir com ações adequadas e pertinentes ao tipo de instituição ou de pastoral que se quer. É necessário, também, determinar

também, os retrocessos. Aqui se faz um invenj tário das forças que atuaram desfavoravelmente para a continuii dade dos avanços.

A palavra necessidades indica tudo aquilo que é preciso fa-AT. A partir dos avanços e dos limites deve-se determinar (fa-AMido uma listagem) as necessidades mais urgentes, a fim de reforçar os avanços e superar os limites. As necessidades que são possíveis e realizáveis são determinadas a partir dos critérios es-uMecidos no marco doutrinai e no

marco operativo.

1\ 'unços: levantamento das conquistas realizadas e das forças positivas.

l imites: levantamento dos problemas e "fracassos" e suas possíveis causas.

Necessidades: levantamento das ações mais urgentes que reforçarão os avanços

e facilitarão superar os limites.

Portanto, ao realizar um diagnóstico pastoral é preciso ter IH-MI clara a caracterização ou identificação da realidade. É essa