kussler & kussler - seleção e reprodução de elites políticas “locais” num município do...

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O presente trabalho é fruto de uma pesquisa ainda em andamento sobre a relação entre estruturas de mediação e disputas político-eleitorais num município do interior do Rio Grande do Sul. A apreensão dos princípios de legitimação das candidaturas de um conjunto de agentes. Objetivando a apreensão dos princípios de legitimação de um conjunto de agentes com longo histórico de engajamento na esfera política, seja no legislativo, executivo ou secretariado da administração municipal, deste modo, a identificação das bases sociais de atuação política e das modalidades de reconversão das estruturas de mediação em trunfos políticos eleitoralmente eficazes permitiu estabelecer algumas regularidades nos jogos políticos locais. O exame sistemático das trajetórias dos grupos familiares e dos agentes em relação com o espaço político possibilitou identificar o processo de constituição das candidaturas, de arregimentação das facções, a violência simbólica das campanhas e as espécies de recursos mobilizados, com destaque para os diplomas escolares, o capital econômico e as alianças familiares. Os usos do parentesco são, no final das contas, o fator que ressignifica os demais, sendo a proximidade ou a distância com as “famílias de políticos” determinante para o sucesso inclusive de novos pretendentes aos cargos eletivos.

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  • 1

    Seleo e reproduo de elites polticas locais num municpio do interior do

    Rio Grande do Sul (1988-2012)1

    Las Kussler/PPGPOL UFRGS [email protected]

    Luciano Kussler/PPGPOL-UFRGS- [email protected]

    Resumo: O presente trabalho fruto de uma pesquisa ainda em andamento sobre a relao

    entre estruturas de mediao e disputas poltico-eleitorais num municpio do interior do Rio

    Grande do Sul. A apreenso dos princpios de legitimao das candidaturas de um conjunto

    de agentes. Objetivando a apreenso dos princpios de legitimao de um conjunto de agentes

    com longo histrico de engajamento na esfera poltica, seja no legislativo, executivo ou

    secretariado da administrao municipal, deste modo, a identificao das bases sociais de

    atuao poltica e das modalidades de reconverso das estruturas de mediao em trunfos

    polticos eleitoralmente eficazes permitiu estabelecer algumas regularidades nos jogos

    polticos locais. O exame sistemtico das trajetrias dos grupos familiares e dos agentes em

    relao com o espao poltico possibilitou identificar o processo de constituio das

    candidaturas, de arregimentao das faces, a violncia simblica das campanhas e as

    espcies de recursos mobilizados, com destaque para os diplomas escolares, o capital

    econmico e as alianas familiares. Os usos do parentesco so, no final das contas, o fator que

    ressignifica os demais, sendo a proximidade ou a distncia com as famlias de polticos

    determinante para o sucesso inclusive de novos pretendentes aos cargos eletivos.

    Palavras: chaves: Elites polticas; trajetrias; mediao;

    Introduo

    No mbito de um mestrado em Cincia Poltica muitos so os significados atribudos

    ao trabalho realizado, algumas vezes pode ser tido como uma espcie de formalidade para

    obteno do diploma ou mero requisito para o cumprimento de uma etapa de estudos.

    Diferentemente disso, em vista do tipo de perspectiva acadmica que se tem, o trabalho ora

    apresentando constitui-se como aprendizado do ofcio de socilogo, entendido aqui como

    1 Trabajo presentado en el Quinto Congreso Uruguayo de Ciencia Poltica, Qu ciencia poltica para

    qu democracia?, Asociacin Uruguaya de Ciencia Poltica, 7-10 de octubre de 2014.

  • 2

    adeso a determinada concepo de cincias sociais e as formas de seu exerccio em

    condies perifricas.2Neste sentido, mais do que simplesmente manifestar o contato com

    determinados preceitos tericos e metodolgicos, pretende-se obter respostas empricas, antes

    que tericas para as questes que orientam essa pesquisa. Quer dizer, trata-se de na

    confluncia de outros trabalhos (Coradini, 1998, 2001; Grill, 1999, 2003), confrontar o

    esquema analtico adotado ao universo de pesquisa escolhido. Deste modo, esta introduo

    tem o intuito de apresentar ao leitor as preocupaes gerais do trabalho.

    As sete eleies municipais ocorridas entre 1988 e 2012 em um municpio do interior

    do Rio Grande do Sul servem de eixo para explorao de um tema controverso no interior das

    cincias sociais. Em linhas gerais, constitui o objeto deste estudo as lgicas que condicionam

    o recrutamento e a manuteno das posies de um conjunto de homens polticos, dentro do

    espao de concorrncia poltico-eleitoral representado pelo municpio de Paverama. Dito de

    outro modo, objetiva-se saber: que princpios de legitimao esto em disputa no interior

    desse espao? Que modalidades de reconverso dos recursos sociais em instrumentos de luta

    poltica podem ser associadas s trajetrias dos agentes? Quais so os mecanismos de

    dominao que predominam no interior das faces e das famlias de polticos? Que

    estratgias de reproduo social e poltica so engendradas, em particular, por essas

    famlias?

    As questes elencadas integram um programa de pesquisa (Coradini, 2008) seguido

    por diversos outros cientistas sociais, e no pretenso deste trabalho obter respostas

    unvocas ou definitivas para elas. De fato, uma gama de fatores contribuem para reproduo

    da ordem poltica no contexto em destaque, a ocupao de cargos eletivos e o domnio sobre a

    esfera eleitoral constituem a face de um problema maior, as mltiplas e variveis relaes de

    dependncia dos dominados face ao poder poltico e a sua correlao com o leque limitado de

    estratgias de reproduo social que se apresentam aos mesmos. Por ser esse um problema

    que abrange processos sociais que vo muito alm da esfera eleitoral propriamente dita, torna-

    se possvel apenas especular respostas, no obstante, a investigao em curso sobre a

    composio social da elite poltica e a sua funo de mediao entre domnios variados e

    entre nveis de hierarquizao social, isto , o trnsito e a deteno de recursos raros uma

    pista para se obter indicaes a respeito deste problema maior.

    2 Para maiores detalhes acerca dos condicionantes especficos envolvidos nisso, consultar (Coradini,

    1996; 2008.). Resumidamente, o raciocnio de Bourdieu quando diz: A teoria cientfica apresenta-se como um programa de percepo e ao s revelado no trabalho emprico em que se realiza. (Bourdieu, 2011:59)

  • 3

    Posto isto, pode-se dizer que embora esse trabalho se restrinja a um conjunto de

    homens polticos estatisticamente inexpressivos e sem destaque ou fora na hierarquia da

    poltica regional3, considera-se que a pertinncia dos resultados almejados no est

    relacionada aos efeitos sociais ou demandas sociais que supostamente justificariam a

    realizao de um trabalho desse tipo. Quer dizer, a expresso alcanada pelo objeto de

    estudo ou sua legitimidade social no deve, ou pelo menos no deveria, condicionar sua

    abordagem e tratamento (ao contrrio, interessa como varivel de estudo). Por isso, a

    estratgia no defender a importncia da poltica municipal como tema de estudo nas

    cincias sociais, afinal, isso s caberia no momento em que se pressupor vlida a prpria

    hierarquia dos objetos, e no caso, mais do que alvo de avaliaes esta hierarquia (como de

    costume qualquer outra) mereceria ser objeto de estudo. Enfim, a expectativa de que a

    observao de tal microcosmo permita alcanar um grau de refinamento analtico maior e,

    assim, o estabelecimento de conexes com outros estudos de referncia, as observaes de

    Champagne (1998:38) ilustram bem os objetivos:

    Muitas vezes, damos muita importncia s amplas pesquisas estatsticas

    porque so realizadas junto a amostras representativas da populao francesa

    e prestamos pouca ateno s anlises do tipo monogrfico que so

    consideradas como demasiado limitadas e no representativas, portanto, somente vlidas para os casos estudados. Afirmar que no possvel generalizar os resultados das enqutes monogrficas alm dos casos

    estudados, confundir a generalizao emprica dos resultados com a

    generalizao terica de um esquema de anlise ou de um modelo

    explicativo que foi construdo a propsito de um caso emprico e concreto

    (...) os mecanismos mais gerais podem ser, paradoxalmente, descobertos

    com mais facilidade no estudo pontual e detalhado de casos singulares do

    que a partir do estudo extensivo. (CHAMPAGNE, 1998:38).

    Tambm vlido destacar que, para no ater-se ao estudo de objetos que a realidade

    no cansa de ofertar aos sentidos do pesquisador e que so, em ltima instncia, objetos pr-

    construdos ou realidades em si mesmas, cabe atentar para a complexa e dinmica

    articulao do poltico e do social a fim de se evitar, justamente, qualquer pensamento que

    tenda a hipostasiar a existncia do Poltico, com P maisculo, e a reconhecer uma substncia

    3 Caracterstica que poderia ser aplicada a alguns dos 5.564 municpios brasileiros, dos quais 497 so

    gachos, formados pela presso e convenincia entre os interesses e as relaes de dependncia entre

    polticos vinculados aos municpios e deputados estaduais e federais. Ao mesmo tempo, esta

    observao no diz respeito aos prefeitos e vereadores enquanto categoria coletiva, como a marcha dos prefeitos a Braslia, e sim aos trajetos investigados. Entre os agentes polticos do municpio no h nenhum que tenha sido candidato a deputado estadual ou federal, no que tange as burocracias

    pblicas estaduais pode-se citar apenas o caso de Ernani Althaus que durante os anos de 2009-2010 foi

    diretor da Caixa RS no governo de Yeda Crusius (2007-2011).

  • 4

    permanente (o poder, a dominao...) (DLOYE, 1999:37-38). O alerta de Dloye se dirige,

    pois, aos riscos de se adotar uma perspectiva terica que, no esforo de determinar as

    especificidades dos fenmenos polticos frente ao restante da vida social, termine por

    substancializ-los, perdendo de vista as trocas contnuas, as interdependncias histricas e

    redefinies do poltico e do social que se operam nas fronteiras mesmas da esfera poltica.

    Ainda sobre isso, dois pontos merecem ser expostos, em primeiro lugar, a anlise no

    recai sobre indivduos empricos, grupos ou instituies em estado objetivado, pois,

    constituem objetos pr-construdos, cujos nomes esto mais para instrumentos de

    reconhecimento, e no de conhecimento (Bourdieu, 2008:36). Em segundo lugar, a estratgia

    metodolgica indicada para apreenso dos princpios de legitimao em disputa na esfera

    poltica consiste no mapeamento do conjunto de posies sociais e/ ou polticas

    representativas em jogo. Neste sentido, a construo do objeto requer a explicitao dos

    recursos ou propriedades sociais que esto na origem dessas posies, quer dizer,

    imprescindvel reconstituir, em perspectiva sincrnica e diacrnica, a estrutura de capitais

    (tanto em estado incorporado quanto objetivado) detida pelos agentes e seu grupo familiar,

    tendo em conta que, cada uma das propriedades associadas classe recebe seu valor e sua

    eficcia de cada campo (idem, 2008:108).

    Sabe-se que, no basta apropriar-se de determinado referencial e pretender,

    ingenuamente, al-lo a certa universalidade. Ciente disso possvel dizer que os referenciais

    tericos adotados tiveram como terreno emprico para sua formulao pesquisas, em sua

    maioria, conduzidas na Frana e outros pases da Europa. Tal contexto diferencia-se

    largamente das condies histricas, culturais e sociais presentes na Amrica Latina e no

    Brasil, conforme, por exemplo, indicam Badie e Hermet (1993). Nesta perspectiva, o ciclo de

    fragmentao territorial que se tornou mais intenso aps a promulgao da Constituio de

    1988, pode ser captado como parte das estratgias de importao e da instrumentalizao

    poltica de determinadas categorias (como por exemplo, a suposta necessidade de

    emancipao dos distritos em relao a outros municpios) pelas elites, ou seja, a prpria

    criao do municpio de Paverama, em 1988, teve duas finalidades, em primeiro lugar, a

    constituio e o progressivo reforo de sua autonomia frente a outras elites locais em

    concorrncia, em segundo lugar, a exclusividade das redes de clientelismo e patronagem,

    posteriormente reconvertidas em trunfos poltico-eleitorais. Nas palavras de Eldo Dickel, um

    dos entrevistados:

  • 5

    na verdade foi em 1982 quando houve eleio pro municpio de Taquari que

    ns conseguimos atravs do apoio da populao de Paverama ns

    conseguimos eleger cinco vereadores, mais o prefeito Namir que era de

    Paverama, a partir desse momento fortaleceu a ideia da emancipao de

    Paverama, existia muita resistncia das lideranas de Taquari que no

    queriam perder Paverama, que era muito produtivo, era uma referncia, e

    ns ao mesmo tempo queramos buscar nossa independncia, Paverama

    ficou com mais representao e ns tnhamos autoridade para falar do

    assunto, ns consultamos o Namir e ele disse que no queria se envolver, at

    como prefeito de Taquari, ele no queria acompanhar porque seria uma

    perda para taquari, mas ns tnhamos uma resistncia forte de um grande

    lder de Taquari que era o Luiz Celso Martins e ele se manifestou

    abertamente contra a emancipao de Paverama e inclusive veio at o

    municpio visitar lideranas aqui pra criar a comisso do No e ns criamos

    a comisso do Sim, com o Arno Markus, o Ivo Rollof, e meu pai Edmundo

    Dickel. (entrevista realizada em abril de 2013)

    Populao de estudo

    Como foi dito acima, tomando como base as sete eleies municipais ocorridas entre

    1988 e 2012 foi feito um levantamento de todos os candidatos eleitos para os cargos de

    vereador, vice-prefeito e prefeito4. O tempo de exerccio da poltica e as espcies de recursos

    mobilizados foram os critrios utilizados para estabelecer a lista da populao (n=18)

    analisada.

    Perfil dos agentes

    Nome Cargos ocupados

    Antonio Cardoso de Vargas eleito vereador em: 1992; 1996; 2000; 2004; 2008; 2012;

    Carlos A. da Silva Dutra eleito vereador em: 2008; 2012;

    Carlos Alberto Hartmann eleito vereador em: 1992; 1996; 2000; 2004; 2012; eleito

    vice-prefeito em 2008;

    Darlan de Souza eleito vereador em: 2000; 2004; 2008; 2012;

    Eldo Danir Dickel eleito vereador em: 2008; 2012; eleito prefeito em: 1992;

    eleito vice-prefeito em: 2000; 2004;

    Elemar Rui Dickel eleito vereador em: 2000; 2004; prefeito em: 2008; 2012;

    Enio Jos de Souza vereador em: 1992; 1996; 2000; 2004;

    Ernani Jos Althaus eleito prefeito em: 2000; 2004;

    Evanir Gonalves de Azevedo eleito vereador em: 1996; 2000; 2004; eleito vice-prefeito

    em: 1992;

    .

  • 6

    Flvio Nirceu Jung eleito vereador em: 2008;

    Ivo Rollof eleito prefeito em 1988;

    Jos Cassol eleito vereador em: 2008;

    Jos Vilson Ferreira eleito vereador em: 2008; 2012;

    Nilo Vieira Sarmento eleito vereador em: vice-prefeito: 1988; prefeito: 1992;

    Osmar Althaus eleito vereador em: 1992; 2000;

    Srgio Francisco Griebeler eleito vereador em: 2008; 2012;

    Valdir Tischer eleito vereador em: 2008;

    Vanderlei Markus eleito prefeito em 2012;

    Lcus emprico

    A unidade de anlise selecionada para realizao da pesquisa foi o municpio de

    Paverama, um dos 497 municpios gachos, localizado a 100 km de Porto Alegre, capital do

    estado do Rio Grande do Sul, na regio conhecida como Vale do Taquari.

    Fonte: maps. google.com

    Trata-se de um municpio com populao estimada de 8.103 habitantes, segundo

    dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) para o ano de 2010 e 5.867

    eleitores para o ano de 2014 conforme o Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Emancipado em

    13/04/1988 do municpio de Taquari (lei n 8.560) possui populao rural de 3.946 habitantes

    e urbana de 4.098 habitantes de acordo com o Censo Demogrfico de 2010.

  • 7

    Fonte: maps. google.com

    A pesquisa seguiu determinadas etapas: em primeiro lugar foi feito um levantamento

    dos candidatos aos cargos de prefeito e vice-prefeito a partir da emancipao (1988) por meio

    de dados obtidos junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), tambm foi obtida a

    identificao, desta vez apenas dos eleitos, para o cargo de vereador nas sete eleies

    disputadas at o ano de 2012. Num segundo momento foi construdo um questionrio semi-

    estruturado, seguiu-se com observaes de comcios e outros atos da campanha eleitoral de

    2012, bem como recolhimento de material de apresentao dos candidatos. Finalmente, foram

    realizadas entrevistas com alguns cabos eleitorais e eleitores para captar a percepo sobre as

    lutas polticas.

    1. Do comrcio poltica

    A primeira constatao ao se visualizar o quadro abaixo de que os cargos eletivos

    disposio foram, ao longo deste tempo, ocupados por um nmero relativamente restrito de

    indivduos e que os vnculos de parentesco por consanguinidade ou por aliana so evidentes

    at para os espectadores mais desavisados. Basta para isso apresentar a lista de ocupantes dos

    cargos do executivo municipal no perodo referido.

    Disputas poltico-eleitorais em Paverama-RS

  • 8

    Ano da

    eleio Candidatos a prefeito e vice-prefeito Candidatos a prefeito e vice-prefeito

    1988 Ivo Rollof (PP1)*

    5

    Nilo V. Sarmento (PDT)*

    Zalmiro Ramos (PMDB)

    Layeta Beckmann (PMDB)

    1992 Eldo Dickel (PP1)*

    Evanir Azevedo (PP)*

    Nilo V. Sarmento (PDT)

    Wilson Markus (PMDB)

    1996 Ernani Althaus (PP)

    Osmar Althaus (DEM)

    Nilo V. Sarmento (PDT)*

    Zalmiro Ramos (PMDB)*

    2000 Ernani Althaus (PP1)*

    Eldo Dickel (PP)*

    Elio Mossmann (PDT)

    Zalmiro Ramos (PMDB)

    2004 Ernani Althaus (PSDB4)*

    Eldo Dickel (PP)*

    Osmar Althaus (DEM)

    Nilo V. Sarmento (PDT)

    2008 Elemar Dickel (PP)*

    Carlos A. Hartmann (PSDB)*

    Nilo V. Sarmento (PDT)

    Ildo Kussler6 (PT)

    2012 Ernani Althaus (PSDB)

    Evanir Azevedo (PP)

    Vanderlei Markus (PMDB)*

    Edgar Heunstein (PT5)*

    Fonte: elaborao prpria

    * Legendas dos partidos: 1Partido Progressista; 2Partido Democrtico Trabalhista; 3Partido do

    Movimento Democrtico Brasileiro; 4Partido da Social Democracia Brasileira; 5Partido dos Trabalhadores,

    Democratas,.

    Num primeiro momento, deve-se chamar ateno para as distintas ordens de relaes

    existentes entre a famlia de polticos Roloff - Dickel. Posto que, Ivo, o primeiro prefeito

    sogro de Elemar Dickel, eleito prefeito em 2008, este ltimo por sua vez irmo de Eldo

    Dickel, prefeito em uma ocasio e vice-prefeito em outras duas oportunidades, em suma,

    juntos os trs membros da famlia ocuparam cargos do executivo municipal sempre atravs

    do mesmo partido - Partido Progressista (PP)7 - nada menos que cinco vezes, ou durante 20

    anos, em um municpio que alcana 26 de anos de sua fundao em 2014.

    5 Os candidatos vitoriosos so indicados atravs de asterisco.

    6 Apesar dos sobrenomes serem homnimos o candidato no parente de primeiro ou segundo grau da

    autora deste trabalho. 7 Faz-se, aqui, a ressalva de que para evitar confuses as distintas denominaes pelas quais passou o

    Partido Progressista - (PP) e o Democratas (DEM) esto indicadas apenas nesta nota. Durante a ditadura civil-militar, o primeiro, era conhecido como Aliana Renovadora Nacional (ARENA), com o

    fim deste perodo passou a se chamar Partido Democrtico Social (PDS), posteriormente foi

    transformado em Partido Progressista Reformador (PPR) para mais tarde receber o nome de Partido

  • 9

    Como se sabe, toda posio social ou poltica sempre uma posio em relao a

    outro agente ou grupo, com os esquemas de percepo e apreciao que so seu fundamento,

    em vista disso a posio da famlia Dickel s pode ser devidamente apreendida em suas

    relaes com a famlia Markus, famlia Vieira Sarmento, famlia Althaus, entre outras.

    Neste sentido, para escapar a uma apreenso incompleta das disputas polticas travadas entre

    1988 e 2012 foram examinadas as bases sociais das sucessivas candidaturas que constituem

    ou podem ser entendidos como polos de posio e oposio poltica que estruturam o espao

    de concorrncia poltico-eleitoral. Dentre dos limites do presente trabalho foram examinados

    os princpios de legitimao e as modalidades de reconverso dos recursos sociais para a

    esfera poltica de dois agentes, a saber, Elemar Dickel e Osmar Althaus.

    Para isso devemos retomar as dcadas de 1970 e 1980, quando Paverama tal como

    diversas localidades brasileiras que conheceram um padro de povoamento condicionado pela

    imigrao europeia, particularmente a alem e aoriana, de meados do sculo XIX e incio do

    sculo XX consolidaram uma formao histrica peculiar. Quanto a forma de ocupao da

    terra pode-se dizer que o territrio era recortado por pequenas propriedades rurais,

    minifndios dirigidos por famlias extensas de agricultores. Trata-se de pequenos lotes de

    aproximadamente 25 a 30 hectares com base, sobretudo, na agricultura de subsistncia, sendo

    o trabalho intensivo realizado com auxlio de baixa ou mesmo sem qualquer mecanizao,

    onde uma pequena frao da produo por exemplo, a criao de sunos e a produo de

    leite e ovos eram voltadas para trocas externas. Esta pequena produo voltada para trocas

    externas ao minifndio era necessria para a aquisio de itens bsicos que no podiam ser

    produzidos no mbito rural, desde temperos como sal, combustvel querosene, tecidos,

    medicamentos, ferramentas, utenslios de metal, baterias, ou outros bens durveis como um

    aparelho de rdio, entre outras mercadorias. Em sntese, so as chamadas colnias, neste

    contexto inexiste a figura do coronel, conforme apontado por Victor Nunes Leal (1957),

    tambm no h um tipo poltico, econmico ou militar equivalente, mais acertado dizer que

    as condies do perodo propiciaram a ascenso econmica de comerciantes. O quadro

    visualizado guarda semelhanas com o identificado por Coradini (1998) em Nova Palma, de

    acordo com o autor:

    A quase totalidade dos candidatos e, principalmente, os mais destacados,

    ligado a famlias tradicionalmente vinculadas ao poltica, seja por laos de parentesco com ocupantes de cargos polticos seja com outros

    Progressista Brasileiro (PPB), ltima mudana antes da atual designao. Da mesma forma, o DEM

    anteriormente era conhecido como Partido da Frente Libertadora (PFL).

  • 10

    candidatos. [...] todas as famlias que compe a elite econmica do municpio tiveram (e tm) alguma vinculao direta com a poltica local

    (CORADINI, 1998:84-85).

    Tambm de acordo com a pesquisa pioneira conduzida por Willems (1946),

    juntamente aos sistemas de trocas naturais ou escambo pecunirio as distncias, a falta de

    vias comunicao, a rarefao demogrfica fazia das vendas coloniais centros de gravitao

    local ou regional (...) geralmente, a famlia mais prestigiada da picada dedicava-se ao

    comrcio (WILLEMS, 1946: 351, grifos nossos). Dentro do contexto acima descrito, a

    cadeia produtiva se completava com a venda, para um grande comerciante considerando os

    padres locais no perodo, da criao de sunos em lotes adultos cerca de duas a trs vezes ao

    ano. o vendeiro que sustenta os colonos desprovidos de recursos vendendo-lhes

    mercadorias a crdito at a primeira colheita (...) no deixava de existir uma relao de

    dependncia econmica entre colono e vendeiro (Idem: 352). A importncia econmica da

    figura do grande comerciante se fez aumentar com a utilizao progressiva de insumos

    externos produo agropecuria por parte dos colonos, seja atravs da venda de sementes

    de milho hbrido, de farelo industrializado para a engorda de um terceiro lote anual de sunos,

    ou pela introduo da cultura da soja, entre outros, preciso entender que esta transao

    adquiriu um significado que transcende fortemente sua base material e monetria, a

    importncia social deste agente e as formas de dominao poltica a que corresponde se

    tornam mais sofisticadas, sem apoio dele, os partidos no obtinham votos; sem o prestgio do

    vendeiro cabo eleitoral e lder local os colonos nada ou pouco conseguiam junto s

    autoridades municipais (Idem: 353).

    Decorre que tais comerciantes constituem a base da formao ou genealogia destas

    famlias de polticos, estabelecendo ao longo das geraes uma srie diversa de vnculos de

    diferentes ordens (econmicos, de confiana, lealdade, amizade, etc.) com as famlias de

    colonos e que caracterizam uma dominao simblica. Estes vnculos esto na base para as

    relaes de dominao poltica verificadas, uma vez que as referidas casas de comrcio, ou

    casas de secos e molhados situadas em locais geograficamente estratgicos, alm de sua

    atividade fim, eram pontos de sociabilidade, onde havia rdio e jornal, onde se tomava

    contato com material de propaganda poltica por ocasio das eleies. Em resumo, ocasies

    de reunio social com paralelo apenas nas igrejas luteranas e catlicas. A relativa facilidade

    com que comerciantes podem obter algum tipo de notoriedade, principalmente num perodo

    de ausncia de outras figuras como mdicos e advogados (cujos diplomas escolares garantem

  • 11

    certo status social entre uma populao de baixssima escolaridade) tambm abordado por

    Bourdieu:

    O pequeno comerciante e, sobretudo, o gerente de restaurante,

    particularmente quando detm as virtudes da sociabilidade que fazem parte

    dos requisitos profissionais, no so objeto de nenhuma hostilidade

    previsvel ou regular por parte dos operrios (contrariamente ao que tendem

    a supor os intelectuais e os membros da pequena burguesia com capital

    cultural, que deles esto separados por uma verdadeira barreira cultural).

    Eles dispem, com bastante freqncia, de uma certa autoridade simblica

    que pode ser exercida at mesmo no plano poltico, ainda que o tema seja tacitamente tabu nas conversas dos cafs em razo da comodidade e da segurana que detm graas, entre outras coisas, sua disponibilidade

    econmica (BOURDIEU, 1996:24).

    Posto isto, possvel apresentar a hiptese que norteou esse trabalho, isto , de que

    os recursos sociais acumulados por esta elite econmica - que somente recebem seu

    significado real na relao com o desapossamento econmico e cultural das famlias de

    colonos - se converteram numa estrutura de mediao, quer dizer, em vnculos personificados

    no restritos a esfera econmica. Num contexto social marcado pela fraca penetrao de

    servios pblicos como hospitais, postos de sade, previdncia rural e etc. em reas quase

    exclusivamente rurais, o peso destes vnculos que se inscreviam simultaneamente em

    diferentes esferas sociais, abarcando a totalidade do indivduo e de suas relaes familiares (a

    fidelidade poltica passa a ter um carter intergeracional) so capazes de evidenciar, de fato, a

    posio de mediador alcanada pelos comerciantes pelo seu carter crtico e de exclusividade

    exercido pelo grupo entre o local e o sistema mais amplo.

    No obstante as transformaes pelas quais essa estrutura de mediao tem passado

    entre o fim do sculo XX e incio do XXI, possvel relacion-la com a esfera poltica no

    sentido mais oficial e com as estratgias de consagrao social operadas pelo grupo

    familiares.

    2. Heranas polticas

    Neste sentido, cabe destacar, a partir de entrevistas feitas com os agentes o modo

    pelo qual a estrutura de mediao famlia de comerciantes combinada com as relaes

    de parentesco, com a socializao poltica precoce e convertida, gradualmente, em recursos

    especificamente eleitorais, entre os quais se destaca a capacidade de liderar, atravs de um

    excerto da entrevista realizao com Elemar Dickel, em dois mandatos vereador, 2001-2004 e

    2005-2008, e prefeito durante a gesto 2009 a 2012 sempre pelo PP.

  • 12

    Meu pai [Edmundo Dickel] concorreu a vereador em Taquari, tem o meu irmo

    [Eldo Dickel] e do lado da Vani [Ivani Roloff esposa] tem o Ivo [Roloff sogro] que

    foi vereador mais votado de Taquari (...). A gente participou desde criana na

    poltica junto com os pais, em funo do meu pai ser candidato a vereador, meu

    irmo e depois eu, eu fui duas vezes vereador por Paverama, fui o mais votado, e

    meu sogro foi eleito primeiro prefeito n. O pai sempre teve uma liderana entre os

    prprios colonos, ele tinha comrcio, se destacava dentro do municpio, o pai se

    criou dentro do comrcio e sempre os candidatos por Taquari vinham l na casa

    comercial e traziam panfletos e para ns, naquela poca, como gurizada, aqueles

    panfletos eram uma diverso, ns colecionvamos. Se o pai ou o Ivo dissessem vota

    naquela pessoa, as pessoas seguiam o conselho deles porque naquela poca, no

    interior, no tinha televiso ou rdio divulgando tudo como hoje, ento eles vinham

    numa casa comercial, numa pessoa de confiana e perguntavam Seu Edmundo: em

    quem ns vamos votar agora? E o pai dizia vota no fulano tal e tal, ento essa

    liderana eu tinha e a gente se criou dentro daquilo e talvez por isso a gente tenha

    comeado a gostar da poltica, de participar. A confiana tinha um peso muito

    importante, e eu lembro que quando ramos crianas, no dia da eleio os colonos

    tinham dificuldade para votar ento eles passavam no pai para pegar o santinho,

    perguntavam em quem eu voto? O pai tinha uma liderana, os agricultores tudo

    compravam l e vendiam e eles tinham uma certa confiana, o pai trabalhava com

    produtos da agricultura, no interior comprava suno, soja, milho, comprava a

    produo dos colonos e eles tinham uma certa confiana e se imaginava que na

    poltica a opinio do pai tambm podia ser seguida, ento ele sempre opinava,

    embora ele no fosse muito fantico, mas ele sempre tinha o lado dele, que era a

    ARENA (...). Queira ou no queira a gente se criou dentro desse assunto que a

    poltica, desde pequenininho na bodega, na casa comercial, no havia outro assunto,

    enfim, a poltica estava nas veias. E depois eu comecei a participar das atividades na

    cidade, eu participei de tudo, do Centro de Tradies Gachas (CTG), da

    comunidade evanglica, da escola, atravs do Crculo de Pais e Mestres (CPM), do

    clube de futebol, minha mulher participou de clubes de mes, da Ordem Auxiliadora

    das Senhoras Evanglicas (OASE), tanto eu quanto a minha mulher, na comunidade

    catlica tambm ajudamos a organizar festas, em todos os eventos, nas comisses

    das festas de aniversrio do municpio. (Entrevista realizada em 20.09.2013).

    Dentro do andamento da pesquisa foi possvel sistematizar alguns dados e proceder

    ao seu cotejamento, inspiro-me em Grynszpan (1990) para a escolha da sua forma de

    apresentao em razo do nvel de aprofundamento e anlise que o exame de um trajeto

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    individual permite, sem perder de vista que os grupos presentes se definem menos por

    propriedades substanciais que pelas relaes de aliana, de concorrncia e de conflito pelo

    poder (Bourdieu et al, 1978:2).

    Desta forma, exponho aqui o trajeto social e poltico de um membro da famlia

    Althaus, oriunda do municpio de Paverama. Como ficar evidente na apresentao, a

    vinculao a um municpio do interior do estado serve de ponto de partida para a anlise das

    relaes de dependncia que une a elite local s elites polticas de circulao regional e

    nacional. O itinerrio de Osmar Althaus atesta perfeitamente isso. Filho de um casal de

    agricultores que, paralelamente, mantinham um salo de bailes, espao de lazer das colnias

    de descendentes de imigrantes alemes, Osmar, ao lado dos cinco irmos, tornou-se rfo

    pelo lado paterno aos sete anos, o que acarretou um declnio substancial nas condies de

    vida. Concluiu o primrio na escola pblica do municpio e, alguns anos depois, o restante do

    primeiro grau no municpio vizinho onde trabalhava como aprendiz numa fbrica. Como

    comum para os filhos de agricultores cuja salvao social se resume quase que somente a

    Igreja ou ao Exrcito, Osmar passou a integrar a Polcia Militar aos dezoito anos. A sua

    permanncia nesse ofcio foi interrompida pela eleio como vereador mais votado em 1992.

    relevante sublinhar que a estreia no espao poltico constitua um empreendimento de risco,

    pois, se malsucedida acarretaria uma provvel transferncia para outro municpio. Isso no

    apenas significaria um presumvel desgaste pessoal e familiar, mas, sobretudo, interromperia

    dez anos de investimento na produo de um reconhecimento como liderana das

    comunidades catlicas do municpio.

    A atuao como liderana se define pela criao e ocupao de cargos em

    diretorias de clubes de futebol e associaes, na linguagem nativa comunidades, reunidas

    em torno da Igreja Catlica. Esses espaos so construdos de duas formas, num primeiro

    momento pela ao conjunta dos moradores das comunidades atravs de rifas, almoos,

    arrecadaes e etc. e, num segundo pelo repasse de verba pblica de algum deputado estadual

    ou federal atravs da mediao exercida por indivduos como Osmar. No caso em pauta, a

    pretenso eleitoral se embasava na fuso do trabalho comunitrio com a insero nas

    esferas religiosa (atravs de Misses Populares, grupos de canto e etc.), escolar (presena

    no Crculo de Pais e Mestres CPM da nica escola estadual) e, evidentemente, da insero

    profissional como um dos nicos soldados da Polcia Militar no municpio, o que lhe valia por

    si s o reconhecimento como autoridade pblica. O povo via em mim um amigo, o pessoal

    valorizava o trabalho da gente, foi decisivo para a eleio, valorizaram o bom desempenho

  • 14

    profissional. Situam-se a, portanto, algumas das razes para seu engajamento poltico e

    sucesso eleitoral, nas suas palavras o envolvimento comunitrio, estava muito em contato

    com o povo, e o prprio povo te incita, aquilo te contagia. Alm dessa dimenso, deve-se se

    frisar o trabalho de cooptao dos agentes polticos j estabelecidos. De um integrante do PP

    (naquele momento PDS), Eldo Dickel, partiu a sugesto para a criao do DEM (naquele

    momento PFL) e o convite para coligao nas eleies municipais de 1992. Esse o ponto de

    partida da aliana entre Osmar, e por consequncia o partido Democratas, com a famlia

    Dickel, em posse da sigla do Partido Progressista, PP. O primeiro apoio, portanto, ocorreu na

    eleio que consagrou prefeito a figura de Eldo Dickel, at ento vereador e secretrio

    municipal da administrao de Ivo Rollof, (1988-1992) tambm do PDS, sogro de seu irmo

    Elemar Dickel, duas vezes vereador e prefeito entre 2008 e 2012. Nas eleies de 1996,

    temendo a derrota Eldo resolveu no tentar a reeleio e devolve o apoio a Osmar, que agora

    se candidatava a vice-prefeito ao lado de Ernani Althaus (PP), seu primo em primeiro grau.

    Racionalizando o alinhamento poltico de outrora, Osmar se arrepende de ter

    participado de um processo suicida, isto , a derrota em 1996 para Nilo Vieira (PDT). J

    nas eleies de 2000 teve de renunciar as suas pretenses polticas resignando-se a concorrer

    Cmara (cargo para o qual voltou a se eleger) isto porque na conveno de DEM e PP para

    deciso das candidaturas Eldo reivindicou a posio de vice-prefeito na chapa novamente

    encabeada por Ernani. Eles se elegem, passados quatro anos, em 2004 reclamei minha

    oportunidade, afinal vinha apoiando desde 1992, e ouvi um no, ento acabei levando o

    partido para a oposio e enfrentei a pessoa que eu mais tinha apoiado (isto , Ernani). As

    eleies de 2004 so marcadas pelo enfrentamento entre os membros da famlia Althaus, de

    um lado Osmar, agora em aliana com Nilo Vieira (PDT) e o PMDB. Do outro lado, Ernani

    Althaus e Eldo Dickel, o primeiro, advogado responsvel pela criao em 2004 do PSDB no

    municpio, em funo de sua aliana com o falecido deputado federal pelo RS, Jlio Redecker

    (PSDB). A campanha eleitoral de 2004 gravada na memria como uma das disputas mais

    acirradas ocasionou o rompimento de laos na famlia e um desgaste tremendo que at hoje

    tem sequelas, pois, eu fui o maior aliado dele e depois tive que enfrentar ele.

    Esse cenrio pe em tela um conjunto de expectativas de retribuies materiais e

    simblicas do engajamento poltico, alianas verticais (com deputados estaduais e federais) e

    horizontais, disputas, construo e rompimentos de lealdades no seio da elite poltica local.

    Tentou-se, dessa forma, captar um pouco do processo de construo das candidaturas dois

    agentes em especfico e o peso das vinculaes aos grupos familiares, seja em aliana ou

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    confronto, recrutando para a poltica ou bloqueando internamente sua ascenso. As

    modalidades de arregimentao das bases eleitorais e as prprias estratgias de legitimao

    dos candidatos das faces que disputam a administrao municipal so bastante similares,

    variando em alguns aspectos que no se pode detalhar aqui, o principal que denotam a

    posio perifrica (em termos geogrficos, mas principalmente sociais) das elites polticas

    locais no jogo para obteno de escassos recursos econmicos e culturais advindos dos

    centros.

    Referncias Bibliogrficas:

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