A VACUIDADE DO ESPRITO

Jiddu Krishnamurti

Um recipiente s utilizvel quando est vazio, e um esprito cheio de crenas, dogmas, afirmaes e citaes, na verdade um esprito estril, uma mquina de repetio.

Deste estado de vazio que tentamos sempre fugir por todos os meios. E por isso que a solido perigosa. Ela nos coloca em estado de receptividade. Procuramos, ento, aquilo que chamamos de divertimentos, encher o silencio por barulho que, transportando-nos ao passado ou ao futuro, nos afastam do vazio. Mobiliamos a solido com pensamentos defensivos. Mas esta vacuidade no desaparece. Ns a negamos mas no chegamos a destru-la. Se voc chegar evaso total ir parar num asilo de loucos onde se tornar completamente estpido. E exatamente isso o que acontece hoje no mundo. A nica soluo para no se temer esta vacuidade no fugir dela e ver a realidade cara a cara, sem palavras, sem pensamentos. O vazio criador no pode ser produzido

enquanto o pensador estiver atento e for observador, a fim de consolidar sua experincia. Se voc quiser esta experincia, a ter. Mas no ser o vazio criador. Ser a projeo do seu desejo, a iluso. Mas comece a observar, a ser consciente de suas atividades em cada instante, a olhar o conjunto do seu processo como um espelho, e medida que se aprofundar chegar, finalmente, a esta vacuidade que somente pode produzir a renovao. O estado de vazio criador no se cultiva; ele chega sem ser convidado. E somente nele pode acontecer a revoluo criadora. Esta vacuidade se faz presente quando a vemos como um abismo. Quando a procuramos ela escapa. Ela no tem lugar, no tem solidez, e por isso mesmo, por causa desta fluidez, que aparece somente quele que no sabe.

As ideias no so a verdade. A verdade deve ser vivida plenamente, de momento a momento. Isto a verdade. A capacidade de abordar tudo, instante a instante, maneira de um ser novo, no condicionado pelo passado, de maneira que no existam mais efeitos cumulativos agindo como uma barreira entre o eu e aquilo que . A ideia s para quando h amor. E este no memria nem experincia. O amor no pensa. A mobilidade da verdade precisa de uma grande mobilidade de ao acessvel quele que no se prende a nada, quele que livre como o vento por que viu a realidade. A rapidez de sua percepo engloba a verdade que atravs de todas as evolues. No h mais fixidez, frmulas, mas liberdade luminosa. Isento de toda formao, ele no prisioneiro de nenhuma frmula, no h mais busca ou espera da realidade. Os limites do pensamento foram ultrapassados, ele atingiu o inexprimvel, o sem palavras. Se a verdade era um ponto fixo, no era a

verdade, mas apenas uma opinio. A verdade o desconhecido e aquele que a busca nunca a encontrar, porque todos os elementos que a compem pertencem ao conhecido. O esprito o resultado do passado, um produto do tempo. o instrumento do conhecido e no pode descobrir o desconhecido. Pode ir apenas do conhecido ao conhecido.