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Módulo 2 GRUPOS DE INTERESSE Envolvendo todos os agentes Kit de treinamento SWITCH GESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

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Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

Kit de treinamento SWITCH GESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS

NA CIDADE DO FUTURO

ISBN 978-85-99093-12-2 (PDF) | ISBN 978-85-99093-17-7 (CD-ROM)

SWITCH Training Kit - Integrated Urban Water Management in the City of the FutureModule 2 – STAKEHOLDERS: Involving all the players

ICLEI European Secreteriat GmbH (Gino Van Begin – Diretor)

Barbara Anton (ICLEI - Secretariado Europeu)

John Butterworth, Carmen da Silva, Joep Verhagen, Charles Batchelor, Patrick Moriarty, Peter Bury, Stef Smits, Jaap Pels, Ton Schouten, Deirdre Casella, Catarina Fonseca, Ewen Le Borgne (IRC Centro Internacional da Água e Saneamento), Alistair Sutherland, Adrienne Martin, Mike Morris, Valerie Nelson (Instituto de Recursos Naturais, Universidade de Greenwich), Colin Green (Universidade de Middlesex), Bertha Darteh (KNUST - Kwame Nkrumah Universidade de Ciência e Tecnologia), Mónica Sanz (UNESCO-IHE; também apoiado pela UNAL-IDEA, Universidade Nacional da Colombia, Instituto de Estudos Ambientais)

Barbara Anton, Anne-Claire Loftus, Ralph Philip (ICLEI - Secretariado Europeu)

Rebekka Dold Grafik Design & Visuelle Kommunikation, Freiburg, Alemanha www.rebekkadold.deImagem da capa e itens gráficos por Loet van Moll – Illustraties, Aalten, Países Baixos www.loetvanmoll.nl

Stephan Köhler (ICLEI - Secretariado Europeu)

© Secretariado Europeu do ICLEI GmbH, Friburgo, Alemanha 2011

O conteúdo deste kit de treinamento está sob licença da Creative Commons especificada como Attribution-Noncommercial-Share Alike 3.0. Essa licença permite que outros ajustem e desenvolvam os materiais do Kit de Treinamento para fins não comerciais, desde que seja dado crédito ao Secretariado Europeu do ICLEI e licenciadas as

novas criações sob os mesmos termos. http://creativecommons.org/ licenses/by-nc-sa/3.0 / O texto legal completo sobre os termos de uso desta licença pode ser encontrado em http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/legalcode

Este Kit de treinamento foi produzido no âmbito do projeto Europeu de pesquisa SWITCH (2006 a 2011) www.switchurbanwater.euO SWITCH foi co-financiado pela Comissão Européia sob o “6th Framework Programme” contribui para a temática prioritária “Global Change and Ecosystems” [1.1.6.3] – Contract no. 018530-2

Essa publicação reflete somente as opiniões dos autores. A Comissão Européia não se responsabiliza pelo uso das informações contidas nessa publicação

Kit de Treinamento SWITCH: Gestão Integrada das Águas na Cidade do FuturoMódulo 2 – GRUPOS DE INTERESSE: Envolvendo todos os agentes

ICLEI Brasil

Florence Karine Laloë

Coordenação técnica - Prof. Nilo de Oliveira Nascimento (Universidade Federal de Minas Gerais)Revisão e Adaptação - Marcus SuassuanaTradução - Luiza Dulci, Davi Alencar, Davi Baptista, Luiz Otávio Silveira Avelar e Maurício Moukachar Baptista.

Mary Paz Guillén e Isadora Marzano

Florence Karine Laloë e Sophia Picarelli

Kit de Treinamento SWITCH: Gestão Integrada das Águas na Cidade do FuturoMódulo 2 – Grupos de interesse: Envolvendo todos os agentesCoordenação técnica: Nilo de Oliveira Nascimento. Coordenação editorial: Florence Karine Laloë. 1. ed. São Paulo, 2011

Ficha TécnicaTítulo Original:

Editor:

Autor Principal:

Baseado principalmente nos trabalhos dos seguintes parceiros do consórcio SWITCH:

Organizadores:

Design:

Layout:

Copyright:

Agradecimentos:

Aviso:

Edição brasileira:

Editor:

Coordenação editorial:

Este material foi traduzido para o português e adaptado ao contexto do Brasil por:

Editoração Eletrônica:

Organização e Revisão:

Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

Módul0 2GRUPOS DE INTERESSEEnvolvendo todos os agentes

4 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

Kit de Treinamento SWITCH: Todos os módulosKit de Treinamento SWITCHGestão Integrada das Águas Urbanas na cidade do futuro

O Kit de Treinamento SWITCH é uma serie de módulos sobre Gestão Integrada das Águas Urbanas (GIAU) desenvolvido no âmbito do Projeto ‘SWITCH - Gestão da Água na Cidade do Futuro’. O Kit foi desenvolvido primeiramente para atividades de treinamento visando principalmente aos seguintes grupos:

• Tomadores de decisão no âmbito dos governos locais;

• Funcionários de altos escalões de órgãos dos governos locais, que: • sejam diretamente responsáveis pela gestão da água;• sejam eles próprios grandes usuários de água, tais como os responsáveis por parques e locais de recreação;• representem grandes impactos sobre os recursos hídricos, tais como o planejamento do uso do solo;• tenham interesse no uso da água em geral, tais como departamentos do meio ambiente.

• Gestores de recursos hídricos e profissionais dos serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário e manejo de águas pluviais.

Todos os módulos estão intimamente ligados entre si e estas ligações são claramente indicadas nos textos. Além disso, as informações contidas nos módulos são complementadas por uma biblioteca on-line, estudos de caso e links para outras fontes, todos eles destacados no texto, quando for o caso. Os seguintes símbolos são usados para indicar quando informações adicionais estiverem disponíveis:

Refere-se a outro modulo do Kit de Treinamento SWITCH onde mais informações são encontradas

Refere-se a recursos adicionais do projeto SWITCH disponíveis no site “SWITCH Training Desk”

Refere-se a um estudo de caso disponível no site “SWITCH Training Desk”

Refere-se a um link para outras fontes

5Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

Kit de Treinamento SWITCH: Todos os módulos

A abordagem geral do projeto SWITCH à GIAU (Gestão Integrada das Águas Urbanas)

Soluções sustentáveis

Auxílio à decisão

Módulo 6AUXÍLIO À DECISÃO

Escolhendo um caminho sustentável

Módulo 1PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Preparando-se para o futuro

Contém uma introdução aos principais desafios da gestão de águas em áreas urbanas, no

presente e no futuro, e informações passo-a-passo sobre o desenvolvimento e a implantação

de um processo de planejamento estratégico.

Introduz o conceito de Sistemas de Auxílio à Decisão para a gestão de águas urbanas incluindo detalhes da ferramenta ‘Águas Urbanas’, desenvolvida no âmbito do projeto SWITCH.

Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

Contém um resumo sobre diferentes abordagens ao envolvimento de múltiplos agentes – incluindo

“Alianças de Aprendizagem” – e meios pelos quais tal engajamento pode ser efetivamente

alcançado para os propósitos da GIAU.

Módulo 3ABASTECIMENTO DE ÁGUA

Explorando opções

Módulo 5ESGOTAMENTO SANITÁRIO

Explorando opções

Módulo 4MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS

Explorando opções

Descreve como o abastecimento de água nas cidades / manejo de águas pluviais / gerenciamento de efluentes líquidos pode se beneficiar de uma maior integração, incluindo exemplos de soluções inovadoras pesquisadas no âmbito do projeto SWITCH e a possível contribuição dessas pesquisas para uma cidade mais sustentável.

6 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

Módulo 2: Conteúdo Introdução ...........................................................................................................

Metas de aprendizagem .....................................................................................

A necessidade de uma efetiva participação dos grupos de interesse ..........3.1 A abordagem convencional para a participação dos grupos de interesse ........3.2 Os problemas enfrentados no envolvimento de grupos de interesse convencionais ..............................................................3.3 Uma abordagem mais efetiva para a participação dos grupos de interesse ...........

Grupos de interesse na gestão da água urbana .............................................4.1 A gama de grupos de interesse na cidade ..................................................4.2 O papel dos ‘campeões’ ...............................................................................

A direção geral: participação dos grupos de interesse e sustentabilidade ..............5.1 A boa governança ..........................................................................................

Colocando grupos de interesse em ação ........................................................6.1 Diferentes níveis de participação .................................................................6.2 Abordagens Informais e Formais .................................................................6.3 Alianças de aprendizagem para a pesquisa ativa e ampliação da inovação ...........6.4 ASIS - Uma Abordagem Sistemática para a Inclusão Social ...........................

Envolvendo os grupos de interesse no planejamento estratégico para GIAU ........7.1 Compilando informações sobre os grupos de interesse ..............................

7.1.1 Como realizar uma análise dos grupos de interesse .........................7.1.2 Um olhar de bastidores na tomada de decisão: o mapeamento institucional .

7.2 Estabelecer um processo de envolvimento dos grupos de interesse ........7.2.1 Requisitos financeiros ...........................................................................7.2.2 Definindo um ponto focal de coordenação ..............................................7.2.3 Envolvendo Grupos de Interesse ..............................................................7.2.4 Inclusão social: permitir o envolvimento dos grupos desfavorecidos ............

7.3 Trabalhar com os grupos de interesse de forma eficaz ...............................7.3.1 Facilitar a rede de grupos de interesse ................................................7.3.2 A moderação das reuniões dos grupos de interesse .........................7.3.3 Construção de consenso ......................................................................7.3.4 Mediação de Conflitos ..........................................................................

7.4 Avaliando o processo participativo dos grupos de interesse ..........................7.4.1 Documentação de processos ..............................................................7.4.2 Acompanhamento ...............................................................................7.4.3 Avaliação ...............................................................................................

Fechamento .........................................................................................................

Referência ............................................................................................................

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7Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

Introdução

O Módulo 2 do Kit de Treinamento SWITCH foi desenvolvido para aqueles que querem iniciar um processo sistemático para o desenvolvimento de uma estratégia relativa às águas e um plano de ação a fim de obter o seu sistema de gestão de águas pronto para atender às necessidades atuais e desafios esperados no futuro. As tarefas são complexas e múltiplas - o que torna óbvio que elas não podem ser eficazmente realizadas por uma única instituição. Mas quem colaborar? E como?

O envolvimento de grupos de interesse não deve ser confundido com alguns poucos workshops públicos ou uma campanha única e isolada para aumentar a consciencia. Pelo contrário, é um processo sistemático e abrangente da partilha da responsabilidade de uma melhor gestão de água urbana em um processo de planejamento estratégico que pode ser encontrada em detalhes no Módulo 1. Todos os grupos de interesse têm um papel a desempenhar – de acordo com seus direitos, dados ou atribuídos, e suas obrigações.

Enquanto o Kit de Treinamento SWITCH é direcionado tanto aos governos locais quanto aos serviços públicos de água, este módulo pode ser mais útil para os tomadores de decisão em governos locais. Os governos locais são as instituições com o dever geral de cuidado com o bem-estar de suas comunidades, embora em graus diferentes e sujeitos a diferentes estruturas de governança. Entre outros, esse bem-estar depende, em grande medida, de ter acesso a todos os serviços básicos – incluindo o abastecimento de água e esgotamento sanitário – bem como de proteção contra transtornos na esfera pública, riscos à saúde e outros perigos – como a distribuição de água contaminada e inundações. Os governos locais, portanto, têm uma grande responsabilidade em fornecer o espaço para os grupos de interesse colaborarem para uma melhor gestão da água de forma significativa e eficaz.

Prestadores de serviço de abastecimento estão geralmente mais preocupados com o lado técnico da gestão de um sistema de águas urbanas. Isso os torna indispensáveis como participantes no processo de planejamento estratégico – mas também é menos provável que sejam os responsáveis pela governança dos problemas e por iniciar um processo de colaboração entre os vários interessados.

O Módulo 2 apresenta uma base de conhecimentos básicos sobre o processo de envolvimento dos grupos de interesse, bem como uma série de recomendações para o estabelecimento de tal processo a partir do zero. No entanto, as formas e modos de trabalhar com os grupos de interesse estão estreitamente ligadas às circunstâncias locais – referindo-se aos hábitos locais, a cultura da comunicação, a percepção da água na religião ou na vida do dia-a-dia em geral. Ao final, ao invés de uma teoria específica de participação, muitas vezes é o entusiasmo e a liderança de uma personalidade marcante na cidade que alimentam a vontade e o compromisso dos grupos de interesse locais na participação do processo de melhoria da gestão das águas urbanas.

“A colaboração vence o confronto” (Mitchell, 2004)

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8 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

Metas de AprendizagemO Módulo 2 fornece uma visão geral dos grupos de interesse mais relevantes na gestão das águas urbanas e informações sobre uma gama de alternativas de trabalhar com eles.

Mais especificamente, o módulo irá ajudar os usuários a:

•Distinguir entre o envolvimento “bom” e “fraco”;

• Compreender os fundamentos e os benefícios de trabalhar com os grupos de interesse;

• Identificar os grupos de interesse mais importantes na sua cidade e envolvê-los;

• Planejar e coordenar um processo participativo de longo prazo;

• Tornarem-se conscientes dos custos e outros desafios do processo participativo;

• Avaliar o processo participativo e seus resultados.

Figura 1: Uma rede de grupos de interesse na gestão das águas urbanas, no caso em que o governo local constitui-se o coordenador do processo

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I

SWITCH Training Kit

Module 2, page 8: image

Universities

& research

institutions

Waste

management &

recycling

companies

Environment

agency

Schools

National water

authorities

Housing &

construction

industry

Water

utilities

Community

based groups

Mining

industry

Urban

farmers

Water user

associations

Health

services

Local

government

Local

industry

Catchment

committee

Professional

associations

Retailers

Energy

utilities

Fisheries

management

Formal &

informal

business

Home

owners

Women

groups

Youth

clubs

Forestry

commission

Figure 1: A network of stakeholders in urban water management, in this case with the local

government as coordinator of the process

Tourism

sector

NGOs

Etc.

Labour unions

Associações de Usuário

AgriculturaUrbana

Clubes daJuventude

Habitação eConstrução

Setor deTurismo

GovernoLocal

AssociaçõesProfissionais

Indústria deMineração

Associações de Extrativistas

AssociaçõesComunitárias

Indústria

Escolas

Etc.

Moradores

ONGs

Varejistas

Sindicatos

Serviços deSaneamento

OrgãosAmbientais

Concessionáriasde Energia

Comitêsde Bacia

GruposFeministas

Gestores deÁguas

Serviços deSaúde

Gestão daPesca

Gestão de Resíduos e

Empresas de Reciclagem

Universidades e Institutos de

Pesquisa

ComércioFormal eInformal

9Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

A necessidade de uma efetiva participação dos grupos de interesse3.1 A abordagem convencional para o envolvimento de grupos de interesseA noção de participação dos grupos de INTERESSE tem sido propagada fortemente nas últimas décadas, especialmente desde a publicação da Agenda 21 Local em 1992. A Agenda 21 apela às autoridades locais para trabalhar junto com os seus cidadãos em planos para reorientar o desenvolvimento local para uma maior sustentabilidade.

Agenda Local 21

“28.3. Cada autoridade local deve iniciar um diálogo com seus cidadãos, organizações locais e empresas privadas e aprovar uma “Agenda 21 local”. Através de consulta e de consenso, as autoridades locais ouvirão os cidadãos e instituições locais, cívicas, comunitárias, empresariais e organizações industriais adquirindo as informações necessárias para formular as melhores estratégias. (...)”

Comissão das Nações Unidas para Questões Sociais e Econômicas, Divisão de Desenvolvi-mento Sustentável (1992): Agenda 21, Serção III, Fortalecendo o Papel dos Grupos Principais, Capítulo 28, Iniciativas das autoridades locais em apoio à Agenda 21.http://www.un.org/esa/sustdev/agenda21.htm

A literatura sobre a participação popular tornou-se vasta. Muitas agências internacionais de cooperação para o desenvolvimento também têm feito de processos participativos um requisito para a aprovação de apoio financeiro.

Na realidade, muitas vezes trata-se de um processo não muito animador. O que é chamado de participação de grupos de interesse tem muitas faces e forma uma paisagem fragmentada de iniciativas mais ou menos bem sucedidas de diferentes dimensões e resultados. Especialistas que trabalham em instituições que lidam com água, muitas vezes não conseguem ver o valor de compartilhar seu trabalho com aqueles que estão, por exemplo, apenas utilizando água. Por outro lado, usuários de água e outras partes não-técnicas tendem a confiar plenamente no que os especialistas têm a dizer - ou simplesmente reclamar a eles ou às autoridades públicas, se as coisas não funcionam conforme o esperado.

Uma série de outras deficiências, às vezes, podem ser observadas:

•Os grupos de interesse são reduzidos a ouvintes, sem qualquer mecanismo para intervir.

•O conjunto dos grupos de interesse é composto apenas por um restrito número de pessoas, que não representam o setor em geral.

•Grupos menos favorecidos não têm acesso ao conjunto dos grupos de interesse – ou por serem ignorados ou porque os encontros não são adequados para eles (tempo, localização, línguagem).

• Pesquisadores usam a perícia dos participantes para suas próprias necessidades científicas - mas não oferecem o resultado de suas pesquisas em retorno.

•Os grupos de interesse são convidados apenas em períodos eleitorais – para servir a uma agenda política duvidosa.

• A instituição responsável por dar início ao processo participativo dos grupos de interesse peca por falta de profissionalismo para conduzir e coordenar em longo prazo, o que resulta em fadiga dos grupos de interesse e frustração.

Leia na íntegra, em inglês, o Capítulo 28 da Agenda 21 no website da Comissão de Assuntos Econômicos e Sociais, Divisão de Desenvolvimento Sustentávelhttp://www.un.org/esa/dsd/agenda21/res_agenda21_28.shtml

10 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

3.2 Os problemas enfrentados no envolvimento de grupos de interesse convencionaisEmbora as tecnologias no setor da água sejam, em geral, bastante avançadas, os desafios permanecem enormes no fornecimento de serviços adequados de água e esgotos para todos, no manejo eficaz das águas pluviais e na prevenção da poluição dos ecossistemas aquáticos. Uma vez que o progresso tecnológico não parece ser a resposta a essas questões, o segredo deve encontrar-se em questões de governança.

Na maioria dos países desenvolvidos, isso pode não ser óbvio à primeira vista. De modo geral, sistemas de governança e suas competências parecem estar bem estabelecidos e funcionar adequadamente. Durante décadas, os cidadãos em regiões como a América do Norte ou a Europa têm desfrutado da universalização dos serviços de saneamento, com água de alta qualidade proveniente das redes de abastecimento e de serviços de esgotamento sanitário em cada domicílio. Os problemas com serviços de água nas cidades, ao longo do tempo, pareciam ser solucionáveis, aplicando-se as tecnologias mais avançadas, o que geralmente tem sido o trabalho de engenheiros e consultores. O manancial original de água – o ecossistema natural – foi praticamente “esquecido” ao longo do tempo.

No entanto, há mudanças em curso. A infra-estrutura desenvolvida e criada há mais de um século deteriora-se gradualmente e a sua substituição em uma escala similar é economicamente inviável. As mudanças climáticas têm seu preço, particularmente por meio de eventos extremos de cheias, além das alterações demográficas que exigem abordagens diferentes para o desenvolvimento urbano – incluindo seu sistema de água. Enquanto os problemas se tornam mais complexos, uma maior variedade de perspectivas sobre estas questões é necessária, tanto em relação ao conhecimento especializado em várias disciplinas como em relação a um maior sentido de responsabilidade por parte de grupos de interesse e do público em geral.

Para mais informações sobre as consequencias das mudanças climáticas veja também o handbook SWITCH “Adaptando o Ambiente Urbano às Mudanças Climáticas” (Loftus, A.-C., 2011)http://www.adaptationhandbook.org

“Após uma grande estiagem, vem uma grande cheia”, como diz a população local. Rockhampton, Austrália Rockhampton foi a cidade mais afetada em Queensland, Austrália, quando o estado foi atingido por um inesperado período de meses de chuvas intensas no verão de 2010/2011. Uma área do tamanho da França e Alemanha juntas foi inundada. Também em Rockhampton, a água atingiu, nas casas dos subúrbios, as caixas de correio e os topos das cercas dos jardins. Estoques de alimentos frescos logo se esgotaram, e cobras e enxames de mosquitos tornaram-se pragas para a população.

A cheia em Queensland ocorreu na seqüência de uma década de secas extremas que causaram as piores queimadas da história em 2009. Mais de 170 pessoas perderam a vida nessas queimadas e centenas tiveram de deixar suas casas.

Fonte: The Telegraph, 9 January 2011

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11Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

Ao invés disso, as abordagens convencionais para a gestão da água urbana na atualidade, em grande parte, ainda dependem de engenheiros e outros especialistas que planejam e desenvolvem infra-estrutura, principalmente a partir de um ponto de vista tecnológico e econômico. Ao mesmo tempo, as tarefas de diferentes elementos do sistema de águas urbanas são divididas e especialistas que trabalham em um setor, por exemplo, o abastecimento de água, pouco se preocupam com o que seus colegas em outros setores, tais como gestão de águas residuárias, estão fazendo. Assim, passa despercebida a situação em que as decisões e ações de uma área entram em conflito com outra. Isto significa também que determinados custos da (má) gestão dos recursos hídricos são transferidos de um setor para outro, tornando o custo global da gestão da água superior ao que seria necessário.

Nas atuais circunstâncias, os usuários de água muitas vezes só podem defender seus interesses caso pertençam a um segmento economicamente forte e desempenhem um papel fundamental na sociedade, como é o caso da agricultura. Grandes empresas de mineração e produção, geradores de energia, a indústria do turismo ou das vertentes mais ricas da sociedade também têm os seus canais de influência com os tomadores de decisão para responderem às suas demandas por água. Grupos mais pobres, sozinhos na luta pela igualdade de direitos para o abastecimento de água e saneamento básico – sem capacidade econômica suficiente – não têm força para fazer emergir seus interesses.

Em muitos países em desenvolvimento, a situação é ainda mais problemática. O acesso à água e ao saneamento, em alguns casos, continua a ser um luxo. Enquanto bairros mais ricos desfrutam dos serviços de água semelhantes aos de países desenvolvidos, as condições de vida em áreas mais pobres são, muitas vezes, inadequadas, causando graves problemas de saúde, podendo, chegar a ocorrências de doenças letais, especialmente para as crianças e idosos. Em muitos casos, fornecedores privados oferecem água em caminhões pipa, mas a preços mais elevados do que a água encanada em áreas mais abastadas.

Embora muitos esforços sejam realizados para melhorar os serviços de água em tais comunidades urbanas, a magnitude do desafio está aumentando diariamente em virtude do ritmo acelerado de urbanização, levando à formação de mais assentamentos informais. Desta forma, é crescente o número de pessoas residentes nas cidades que não têm direito aos serviços regulares de água e esgoto.

Ainda pior, muitas cidades em países em desenvolvimento são também mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas, e ninguém mais sensível a elas do que os moradores de comunidades pobres. Habitações precárias, construções improvisadas e a carência ou ausência completa de infra-estrutura fazem com que as pessoas que vivem sob tais condições sejam particularmente suscetíveis às inundações. Isso, muitas vezes, tem consequências fatais, especialmente em virtude da propagação de doenças transmissíveis pela água e da ocorrência de deslizamentos de terra.

Particularmente, por meio de financiamento externo de agências financiadoras e iniciativas semelhantes, muitos exemplos de enfoques participativos em gestão da água já podem ser encontrados, em especial em zonas rurais. Auxiliados por especialistas, grupos de usuários e outros grupos de interesse são incentivados a se apropriarem da gestão da água.

No entanto, esses projetos muitas vezes não são viáveis a longo prazo. Quando o financiamento e outras fontes de apoio externo se encerram, eles entram em colapso rapidamente, pois o sistema de governo em muitos países em desenvolvimento não dispõe de todos os recursos e mecanismos para assegurar que tais iniciativas de boas práticas, possam realmente sobreviver.

Seja para preparar os sistemas de águas urbanas para os desafios do futuro, seja para satisfazer necessidades humanas básicas em termos de acesso à água e esgotamento sanitário, a maioria dos tomadores de decisões e profissionais são pouco conscientes dos benefícios potenciais decorrentes do trabalho com os grupos de interesse. Isto será descrito em detalhes na seção seguinte.

12 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

3.3 Uma abordagem mais efetiva para a participação dos grupos de interesse

Uma abordagem mais integrada, que reúna todos os principais envolvidos no ciclo hidrológico urbano, de uma forma ou de outra, pode ajudar a superar a ineficiência e a desigualdade social.

Uma gestão da água baseada em experiências e recursos de uma variedade de pessoas com diferentes históricos permite a identificação de potenciais ganhos de eficiência e de contextos em que todos ganham. Além disso, por ter não somente técnicos e decisores, mas também todos os grupos de usuários sentados à mesma mesa, os interesses podem ser negociados. Conflitos vêm mais facilmente à tona, o que é necessário para que motivações sejam esclarecidas e soluções sejam aceitas.

A existência de uma plataforma em que todos os grupos de interesse possam conversar contribui para uma melhor compreensão dos diferentes usos da água no ambiente urbano e de como as reivindicações de um indivíduo encaixam-se em um cenário maior. Uma vez estabelecidas as regras básicas para a cooperação, desenvolver uma visão conjunta sobre a água na cidade aumenta a consciência sobre as questões-chave, conduz os grupos de interesse a pensarem de forma mais abrangente e promove a apropriação de uma estratégia desenvolvida conjuntamente.

No entanto, para chegar a esses benefícios, a participação dos grupos de interesse tem de ser bem preparada e ser gerida de forma sábia. Iniciar o processo com muito entusiasmo, mas pouca experiência pode causar graves prejuízos à confiança dos envolvidos e à boa vontade dos interessados, o que pode tornar uma segunda empreitada ainda mais difícil de ter sucesso.

As seções seguintes deste kit de treinamento foram desenvolvidas para ajudar a estabelecer um processo participativo, estando consciente dos aspectos mais importantes e dos mecanismos para fazê-lo funcionar em um dado contexto urbano.

13Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

Grupos de interesse na gestão da água urbana4.1 A gama de grupos de interesse na cidade

No quadro abaixo, estão listados uma série de grupos de interesse que podem ser usualmente envolvidos na gestão das águas urbanas. Sabendo que os governos locais não são necessariamente cientes de todas as instituições ou grupos que devam participar, eles podem partir de um pequeno grupo de pessoas-chave, que, conjuntamente, desenvolverão a lista completa de convidados.

Categorias dos Grupos de interesse1

Grupos de interesse na gestão das águas urbanas são:

• Principais organizações responsáveis pela gestão da água. Incluem, em especial, tomadores de decisão e aqueles que implementam mudanças em políticas e na prática (por exemplo, os decisores políticos e as autoridades reguladoras);

• Prestadores de serviços (quer públicos, privados, voluntários, formal ou informal, etc.);

• Grandes usuários individuais de água (por exemplo, empresas que necessitam de grandes quantidades de água para a produção ou geração de energia, empreendores em turismo, esporte ou outras atividades recreativas);

• Grupos de usuários (por exemplo, os consumidores domésticos, os agricultores em zonas periféricas, etc);

• Serviços de saúde, instituições sociais e educacionais (por exemplo, hospitais, escolas, jardins de infância);

• Organizações da sociedade civil comprometidas em ajudar a resolver questões relativas à água ou problemas relacionados à sua gestão, como a pobreza, a poluição ambiental, etc (por exemplo, ONGs, sindicatos, associações profissionais, etc);

• Organizações que possam reforçar o processo dispondo de seu conhecimento (por exemplo, organizações educacionais, de pesquisa e treinamento);

• Lideranças respeitadas ou “personalidades” locais que chamem a atenção para o processo e possam ajudar a aumentar a consciência pública e a confiança;

• A mídia, que é importante para criar uma ponte entre as atividades e o público. Em geral ela também funciona como um observador crítico;

• Órgãos financiadores, que podem ser cruciais para apoiar o processo participativo, realizar atividades de demonstração ou implementar plano estratégico.

Fonte: Butterworth, J.A., McIntyre P., da Silva Wells, C. (Eds.), (2011) SWITCH in the City: putting urban water management to the test; IRC Inter-national Water and Sanitation Centre, The Hague, Países baixos.www.switchtraining.eu/switch-resources

Nota: Ao longo do texto, a publicação acima será referenciada como: SWITCH in the City (2011)

1 Nas partes seguintes grupos de interesse são geralmente referidos como “instituições”. No entanto, este termo é utilizado para incluir todas as categorias acima, além dos indivíduos. Veja também a definição de instituição na Seção 7.1.2.

14 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

O governo local também tem de considerar que os órgãos de sua própria administração devem ser envolvidos. Além daqueles diretamente responsáveis por qualquer aspecto da gestão das águas urbanas, outros serviços também são importantes. Podem ser incluídos aqueles responsáveis por impactos sobre o ciclo hidrológico (por exemplo, os gestores de resíduos e planejadores do uso e ocupação do solo e de habitação) ou aqueles cujo trabalho depende ou é diretamente afetado pela gestão da água (por exemplo, agentes de saúde, secretarias de educação e parques).

Figura 2: Exemplo de departamentos que impactam e são impactados pela gestão da água

Tanto uma boa coordenação no âmbito da administração local, quanto a facilitação por parte de um profissional contratado para o envolvimento dos grupos de interesse são fundamentais para alcançar bons resultados com o processo participativo. Isso é explicado na seção 7.

Fonte:. Philip R. et al., Local Governments and Integrated Water Resources Managment, Part III: Engaging in IWRM – Practical Steps and Tools for Local Governments, 2008

Setores do Governo Local diretamente

relacionados com a água

Setores do Governo Local indiretamente

relacionados com a água

Abastecimento de água

Esgotamento Sanitário

Manejo de Águas Pluviais

Resíduos sólidos

Planejamento do território

Habitação

Parques e Recreação

Estradas e transportes

Desenvolvimento econômico local

Serviços de saúde

Defesa civil

GovernoLocal

15Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

4.2 O papel dos ‘campeões’

Como já foi mencionado na lista da seção anterior, algumas personalidades locais amplamente conhecidas e respeitadas na cidade também podem desempenhar um papel vital na promoção de formas sustentáveis de gerir a água. Essa personalidade pode ser um político local, um líder de uma ONG ou um editor de jornal. Eventualmente, esportistas, atores ou outros artistas podem ser essa personalidade. Trata-se de alguém cujo nome é familiar a quase todos na cidade e que pode facilmente atrair atenção do público. O tipo de personalidade, naturalmente, depende muito da sociedade e da cultura local.

Sabendo que muitas pessoas na cidade irão ouvi-los, eles podem estar presentes em eventos importantes, entrevistas e aparecer em cartazes e outros materiais promocionais. Em certos casos, um consultor de marketing pode estar envolvido nas mensagens dessas personalidades e devem constituir um bom exemplo. As pessoas vão olhar para eles como modelos e uma campanha pode rapidamente ser prejudicada caso um desses indivíduos seja flagrado, por exemplo, desperdiçando água.

De um modo geral, as personalidades são mais importantes para proporcionar notoriedade da ação frente o público em geral. Para impulsionar a motivação dos principais grupos de interesse, ou seja, aqueles diretamente envolvidos na gestão da água, o comprometimento político em níveis mais elevados e as políticas oficiais é que irão fazer a diferença.

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Departamento de Recursos Hídricos de Botswana ‘liderando’ a gestão sustentável dos recursos hídricos

16 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

A direção geral: participação dos grupos de interesse e sustentabilidadeA sustentabilidade é baseada no reconhecimento de que o desenvolvimento humano no longo prazo dependerá da capacidade das pessoas atenderem às necessidades sociais, econômicas e ambientais presentes e futuras. Justiça e eqüidade são valores fundamentais na negociação de diferentes interesses no uso do capital natural, como os recursos hídricos, que são discutidos, em detalhes, na sua dimensão urbana no Módulo 1deste kit de treinamento.

É importante ressaltar que a negociação de diferentes interesses em água implica que aqueles que representam esses interesses têm de falar uns com os outros. Isto se refere principalmente aos usuários de água, mas também para aqueles que falam, por exemplo, “em nome da natureza”. Ao mesmo tempo, gestores de recursos hídricos e tomadores de decisão que são responsáveis por resolver as questões suscitadas, bem como outros especialistas do setor da água, a exemplo de pesquisadores, devem estar em contato constante e sentarem-se à mesma mesa.

A facilitação e mediação profissionais² são fundamentais para assegurar a integridade e a igualdade na participação. A fim de capacitar os grupos desfavorecidos para se tornarem plenamente envolvidos no debate com os demais interessados, suporte adicional para estes grupos terá de ser fornecido. Isso pode incluir eventos de treinamento ou encontros rápidos em separado a respeito das questões em discussão ou – em um sentido mais prático – fornecimento de serviços de transporte, por exemplo, para deficientes ou idosos.

Veja o Módulo 1, para uma visão geral sobre ciclo hidrológico urbano

2 Para esclarecimento, os termos ‘facilitação’ e ‘mediação’ são utilizados nesse Módulo da seguinte maneira: facilitação refere-se à coordenação da rede dos grupos de interesse e processo em geral enquanto mediação refere-se à orientação de reuniões e workshops.

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Visita à EXPO em Zaragoza, Espanha em 2008

17Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

5.1 Boa governança

Seguir o caminho para uma maior sustentabilidade é de suma importância para desen-volver uma compreensão aprofundada e abrangente de todas as instituições que tenham uma palavra a dizer na gestão de águas urbanas do Município. Em outras palavras: uma compreensão da gestão de águas urbanas.

O que é uma instituição?

Instituição é aqui entendida como “sistemas de regras”, formais ou informais; as regras definem os limites de qualquer instituição. Para efeitos de gestão de recursos hídricos, as instituições também podem ser organizações: a incorporação física de uma instituição. Tais organizações terão um serviço reconhecido ou papel regulador na gestão da água (como uma empresa de abastecimento de água ou um comitê de bacia), ou serão capazes de articular claramente o seu interesse na gestão da água (tais como uma associação de usuários de água). Estas entidades nomeadas são reconhecidas por terem autoridade, poder e influência em relação à gestão da água.

Fonte: ‘SWITCH in the City’ (2011)

Se um sistema de governança existente é ‘bom’ ou ‘ruim’ é, em parte, uma questão de valores sociais. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) tem refletido tais valores em um conjunto de princípios que são, hoje, amplamente aceitos e podem ser encontrados na caixa abaixo.

Os Cinco Princípios da Boa GovernançaPrincípios do PNUD e textos do PNUD com os quais eles se relacionam:

1. Legitimidade e VozParticipação - Todos os homens e mulheres devem ter voz na tomada de decisão, tanto diretamente, como por meio de instituições legítimas que representem a sua intenção. Essa ampla participação é edificada sobre a liberdade de associação e de expressão, bem como a capacidade de participar de forma construtiva.Orientação Consensual – A boa governança é mediadora de diferentes interesses para alcançar amplo consenso sobre o que é de interesse coletivo e, onde for possível, sobre políticas e procedimentos.

2. DireçãoVisão estratégica - Os líderes e o público têm uma perspectiva mais ampla e de longo prazo sobre boa governança e desenvolvi-mento humano, juntamente com um sentimento sobre o que é necessário para tal desenvolvimento. Há também uma compreensão da complexidade histórica, cultural e social em que essa perspectiva se baseia.

3. DesempenhoReceptividade - As instituições e os processos tentam servir a todos os interessados.Efetividade e eficiência - Processos e instituições produzem resultados que atendem às necessidades enquanto fazem o melhor uso dos recursos.

4. ResponsabilizaçãoResponsabilização – Tomadores de decisão no governo, no setor privado e em organizações da sociedade civil podem ser responsa-bilizados perante o público, bem como perante grupos de interesse institucionais. Esta responsabilização pode ser diferente depend-endo das organizações e se a decisão é interna ou externa.Transparência - A transparência consiste no livre fluxo de informações. Processos, instituições e informações estão diretamente acessíveis aos interessados, e são fornecidas informações suficientes para compreender e monitorar o que ocorre.

5. JustiçaEqüidade - Todos os homens e mulheres têm oportunidades para melhorar ou manter o seu bem-estar.Estado de Direito - Referenciais jurídicos devem ser justos e aplicados de forma imparcial, em particular leis sobre direitos humanos.

Citação de Graham, J., Amos, B., Plumptre, T. (2003)

18 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

Um processo participativo com o envolvimento de vários grupos de interesse, como será visto nas seções seguintes, é construido para contribuir com a boa governança no setor da água, visando à concretização de princípios, como aqueles propagados pelo PNUD. Isto também significa que as decisões do fórum dos grupos de interesse, em um dado contexto de governança – que pode ser “bom” ou “mau” – têm que ser conscientes. Por último, mas não menos importante, essa incorporação e o formato do processo participativo, de maneira mais “formal” ou mais “informal” (ver também Seção 6.2), será um fator crucial para determinar seu potencial de alcançar um impacto concreto.

A seguir, explora-se, brevemente, como os princípios do PNUD se traduzem em princípios para um processo participativo de grupos de interesse para a gestão sustentável das águas urbanas.

1. Legitimidade e Voz

Participação• Como usuários, homens e mulheres geralmente se relacionam de forma diferente com as questões relativas à água. No contexto urbano, isso pode ser menos relevante, embora as mulheres, nas sociedades mais tradicionais, muitas vezes, ainda têm a responsabilidade principal de cuidar de todas as atividades domésticas, como cozinhar, limpar a casa, lavar as roupas etc - que implicam o uso da água. Quando se trata de reduzir a demanda de água doméstica, por exemplo, sua participação será crucial. A participação equilibrada de homens e mulheres nos processos participativos conduzirá a resultados mais significativos.

• A liberdade de associação e de expressão não é uma constante em qualquer país. Quando plenamente realizada, ainda pode haver chance para um processo mais informal que reúna pessoas interessadas e conhecedoras das questões de água, ao invés de representantes oficiais das instituições. Pesquisadores podem ter aqui um papel importante como agentes neutros.

• Não é suficiente somente convidar os representantes dos grupos menos favorecidos se a capacidade de participar de forma construtiva é insuficiente. Isso pode se referir a sua língua materna, seus hábitos culturais, sua capacidade econômica, a sua mobilidade, sua educação, sua confiança para falar em público. Apoio a esses colaboradores pode incluir eventos de treinamento ou rápidas reuniões ou, talvez, modos distintos de comunicação, ou a combinação de tudo isso. Em um sentido mais prático, pode ser necessário oferecer uma compensação financeira pela perda de renda durante o período de reuniões ou, ainda, serviços de transporte para pessoas idosas ou deficientes.

Orientação ao consensoA mediação de interesses divergentes, com o objetivo de alcançar um amplo consenso é uma atividade fundamental neste processo. Um dos enfoques principais é não começar com as diferenças, mas sim com o desenvolvimento de uma visão comum e positiva de longo prazo sobre as águas na cidade. Isso pode ajudar a criar um sentimento de posse que vai tornar os interessados mais dispostos a se comprometerem em prol de um objetivo maior que é construído em conjunto e aceito por todos.

2. Direção

Visão estratégicaA fim de criar sentimento de posse e definir, em conjunto, o caminho a ser trilhado com vistas a construir uma abordagem integrada para a gestão da água na cidade, é crucial desenvolver uma visão comum na fase inicial do processo de planejamento estratégico. Visualizar o futuro é um passo indispensável no processo de planejamento estratégico.

Mais sobre visão estratégica pode ser encontrado no módulo 1, secção 7.5.2

19Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

3. Desempenho

ReceptividadeEnfrentar e equilibrar as necessidades de todos os interessados, bem como fornecer serviços de saneamento para todos, de uma forma justa e adequada, são valores fundamentais da gestão sustentável das águas urbanas.

Eficácia e eficiênciaPor definição, a sustentabilidade exige sempre a conciliação das exigências sociais e econômicas, levando-se em conta a limitada disponibilidade de recursos naturais. Gestão sustentável de águas urbanas é, portanto, baseada na gestão eficiente da água, considerando de forma integrada todos os elementos do ciclo hidrológico urbano.

A fim de avaliar se as medidas escolhidas efetivamente fornecem uma melhoria na gestão das águas urbanas, um processo de monitoramento deve ser estabelecido com base em indicadores e metas a serem alcançadas dentro de um prazo definido. Se a avaliação dos resultados monitorados indica que as medidas não alcançam os objetivos definidos, elas deverão ser ajustadas ou abandonadas e substituídas por outras medidas, quando for o caso.

O formato do processo de acompanhamento e avaliação é resultado de um acordo entre grupos de interesse.

4. Responsabilização

ResponsabilizaçãoComo a água é essencial para todas as formas de vida, os grupos de interesse que tomem decisões sobre seu uso, consumo e tratamento, devem estar prontos para informar o que for necessário a todos os outros interessados, mas também aos cidadãos a qualquer momento. Mecanismos jurídicos devem estar em vigor de modo a propor sanções em vista de decisões ruins ou ações falhas, em especial se estas ameaçarem o acesso das pessoas à água potável. Aqui o princípio do “poluidor pagador” deve ser considerado.

Levando a responsabilização a sério, será crucial para um processo participativo formal envolver todas as instituições com mandato legal na gestão das águas. No nível de cidades, isso geralmente significa que a participação de órgãos nacionais e regionais também terá de ser considerada. No final, serão esses atores que terão de justificar suas decisões e ações frente ao público em geral. Eles não poderão fugir à responsabilidade de mudar o curso da ação nem tão pouco tomar medidas corretivas se outros grupos de interesse não estiverem satisfeitos com o resultado do processo de planejamento e implantação.

TransparênciaA colaboração dos grupos de interesse no setor da água só pode levar a resultados frutíferos se todas as instituições envolvidas compartilharem informações de forma tão aberta quanto for possível. Manter um banco de dados consistente e outras informações é obrigatório para todas as etapas do processo de planejamento participativo, por exemplo, para a identificação da demanda de água, a definição de metas e o acompanhamento de sua execução.

Ainda mais crítico é a transparência no processo decisório. Trata-se da clareza da finalidade do processo e, em particular, o papel dos interessados na divisão ou intervenção sobre as decisões. Em outras palavras, a transparência deve considerar o nível de poder concedido a grupos de interesse sem mandato legal em relação aos que têm mandatos para o desempenho de determinadas competências.

Isto também é discutido no contexto das abordagens ‘formais’ e ‘informais’ para a participação dos interessados na Seção 6.2 do presente módulo.

Mais informações sobre o acompanhamento e avaliação da Gestão Integrada das Águas Urbanas pode ser encontrado no módulo 1, secção 7.5.9

20 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

5. Justiça

EqüidadeEqüidade no domínio da água, basicamente, se traduz em eqüidade no acesso ao saneamento básico, incluindo a proteção da população de eventos meteorológicos extremos. Esse tipo de eqüidade não é, de forma alguma, limitada às questões de gênero, mas frequentemente trata-se de desigualdade entre grupos privilegiados e desfavorecidos da sociedade.

A eqüidade só pode ser assegurada caso nenhum grupo de interesse – e, em particular, principais usuários de água – esteja excluído do processo. Isso também é necessário para cumprir com o aspecto de ‘participação segundo o Princípio 1 do PNUD, Legitimidade e Voz’.

Estado de DireitoA boa governança não é possível sem fundamentos jurídicos que explicitem claramente direitos e deveres dos grupos de interesse e que possam julgar as falhas no cumprimento da lei de maneira efetiva e imparcial.

Em 2010, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas adotou uma resolução afirmando que a água e o saneamento são direitos humanos, ou seja, eles tornaram-se juridicamente vinculadas aos tratados de direitos humanos. Isto implica que, em 160 países signatários ao redor do mundo, os governos não podem mais se eximir da responsabilidade legal de fornecer água e saneamento para os mais necessitados, o que reforça significativamente a posição dos grupos desfavorecidos para reivindicar seus direitos. Processos de inclusão social de grupos de interesse para uma gestão mais sustentável da água urbana pode ser um veículo perfeito para transformar o direito humano à água e saneamento em realidade.

“Hoje, com o crescente número de pessoas vivendo em cidades, a falta de acesso a água potável e saneamento, a preços acessíveis, em contextos urbanos é uma preocupação crescente. É comum vermos que aqueles sem acesso à água e saneamento são também aqueles que são marginalizados, excluídos ou discriminados. Seu acesso inadequado à água potável e ao saneamento não é apenas um infeliz subproduto da sua pobreza, mas sim um resultado de decisões políticas para excluí-los e para deslegitimar a sua existência, o que perpetua a pobreza “

Citado a partir da declaração do Relator Especial sobre moradia R. Rolnik e os peritos Independentes da ONU sobre água, saneamento e pobreza extrema, respectivamente, C. de Albuquerque e M. Sepúlveda, emitido por ocasião do Dia Mundial da Água 2011.

21Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

Colocando grupos deinteresse em açãoApesar de muitos processos participativos, envolvendo um conjunto de grupos de interesse, iniciarem-se em torno da água e outras questões, permanece um grande desafio criar e manter esses processos de forma que todos os participantes possam realmente beneficiar-se dele. É também evidente que, para cada contexto e propósito, a participação dos interessados terá sempre de ser concebida de maneira específica a tal contexto.

Conforme mencionado na seção anterior, a transparência do papel dos grupos de interesse em mecanismos de decisão – aqui em relação às questões da água – é de grande importância. A frustração, quando fruto de falsas expectativas, pode trazer todo o processo a um impasse - ou causar um total colapso.

No desenvolvimento de cada processo participativo, portanto, é fundamental estabelecer claramente, desde o início, onde o poder reside e quais regras regerão a participação dos interessados com mais ou menos poder.

Na sequência, usuários deste kit de treinamento vão encontrar algumas orientações sobre os principais níveis de participação dos grupos de interesse e alguns aspectos mais gerais de uma plataforma com múltiplos grupos de interesse.

Além disso, a Seção 6.3 descreve o formato específico da participação dos interessados, que forma a base da abordagem SWITCH: a aliança de aprendizagem.

Na Seção 6.4, uma metodologia sistemática para a inclusão social é explicada. Ela foi desenvolvida no âmbito do SWITCH e aplicada com sucesso ao caso de um grupo de micro produtores de couro colombiano que foi apoiado e estimulado a se organizar e se capacitar a fim de reduzir suas fontes de poluição no Rio Bogotá e, assim, garantir o futuro dos seus negócios.

6.1 Diferentes níveis de participação

O convite à participação dos interessados na gestão da água é baseado na suposição de que a água pode ser “melhor” gerida se todos aqueles que (1) têm uma palavra a dizer a esse respeito, (2) são (grandes) usuários de água, ou (3) são vítimas potenciais da má gestão da água, trabalharem em conjunto. O real envolvimento dos grupos de interesse permite que todos os grupos da sociedade tenham um fórum em que possam apresentar as suas próprias necessidades e expectativas. Isso também é necessário para garantir um sólido reconhecimento da dimensão social da sustentabilidade na gestão da água.

No entanto, mesmo se todos os interessados se reunirem para um projeto comum, isso não significa que cada voz é levada em conta da mesma maneira. Em todo país e cidade do mundo, a gestão da água é feita por um conjunto de instituições públicas e privadas, com um mandato legalmente estabelecido, que define direitos e obrigações. No final, aqueles que têm uma responsabilidade oficial são os que deverão manifestar-se, caso decisões ruins levem, por exemplo, a interrupções na prestação de serviços, doenças de veiculação hídrica, inundações que poderiam ter sido evitadas, etc.

Enquanto autoridades e agências, públicas e privadas, e, em muitos países, governos locais, são legalmente responsáveis pela gestão da água, outras instituições ou grupos da sociedade têm de ser convidados a participar do processo de tomada de decisão

22 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

de modo explícito e pró-ativo. Dependendo do papel atribuído a eles e das regras definidas para o processo de tomada de decisão, a capacidade que esses grupos têm de contribuir de forma concreta para o processo de planejamento e implantação pode variar tremendamente. Quanto mais um grupo de intereses possa efetivamente contribuir para a tomada de decisão, maior a sua influência sobre o curso das ações – mas também maior a sua responsabilidade.

Diferentes níveis de participação são descritos, como segue abaixo. Isso inclui as modalidades de comunicação, já que diferentes objetivos no processo participativos irão requerer diferentes modos de trabalho. Níveis “superiores” devem sempre incorporar níveis “inferiores” e a colaboração, por exemplo, deve sempre incluir a consulta e a informação.

Na realidade, a distinção entre os diferentes níveis geralmente não será tão simples como essa breve descrição sugere. Também é improvável que haja apenas um grande processo de consulta. Na maioria dos casos, a variedade de problemas na cidade será abordada por meio de diferentes formas de envolvimento dos grupos de interesse, incluindo a formação de pequenos sub-grupos de trabalho sobre assuntos mais específicos. Os diferentes níveis, portanto, não representam uma participação “boa” ou “ruim” de grupos de interesse, mas mostram diferentes opções que devem ser adaptadas ao propósito para o qual se pensou que cada grupo de interesse pudesse contribuir. Nesse contexto, é evidente que a clareza da linguagem seja de fundamental importância para o sucesso do processo participativo.

Informação (comunicação unidirecional)

Autoridades responsáveis pela gestão da água, agências de água, comitês de bacia, conselhos municipais de saneamento e/ou meio ambiente, governos locais e estaduais (a partir de agora referidos como órgãos oficiais de água) divulgam as informações para os interessados - e muitas vezes para o público em geral – por várias razões. A informação pode ter somente por objetivo geral a criação de uma melhor compreensão das questões da água entre os cidadãos. Às vezes também é orientada a mudar o comportamento dos usuários de água, por exemplo, por apelos de que seja evitada a lavagem de carros em épocas de seca prolongada.

Nenhuma intervenção sobre a tomada de decisões está prevista nesta fase.

Consulta (comunicação de duas vias) Os órgãos oficiais responsáveis pela gestão da água contam com os grupos de interesse – e possivelmente o público em geral – para obter feedback sobre sua participação em determinadas questões. O pedido de informações pode ser feito por meio de consultas a bancos de dados ou para obter informações e orientações a partir de diferentes perspectivas profissionais e pessoais.

A consulta eficaz informa aos tomadores de decisão e permite que melhorem suas decisões. Os interessados não intervêm nas decisões diretamente, embora o seu envolvimento possa direcionar a decisão na direção desejada. Processos participativos criam expectativas nos grupos de interesse de que suas opiniões e sugestões serão, eventualmente, levadas em conta. Se este não for o caso, as decisões tomadas e ações postas em prática pelos órgãos oficiais poderão ser publicamente questionadas pelos grupos de interesse e, dependendo das circunstâncias políticas, elas podem ser revisadas.

Colaboração (parcerias bi ou multilaterais)

Os órgãos oficiais responsáveis pela gestão da água exercem suas funções compartilhando-as com outros grupos de interesse. Isso pode acontecer muitas vezes na forma de uma parceria em que ambos os lados têm algo a oferecer. Organizações comunitárias, por

23Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

exemplo, poderiam estar dispostas a operar instalações de saneamento de seu município. Por sua vez, o governo local pode realizar uma ampla campanha de sensibilização sobre higiene e problemas de saúde na comunidade, contribuindo assim para o bem-estar dos cidadãos, em contra partida.

Empoderamento (tomada de decisão por vários grupos de interesse)

Empoderamento é o mais alto nível de envolvimento e refere-se à partilha do poder por meio da partilha de tomada de decisão. Isso requer que todas as partes envolvidas enxerguem-se como iguais e “tenham desejos, competências e mandato legal para compartilhar aquele poder “(Seymoar, N.-K., 2010). No processo participativo, quanto maior o número de interessados envolvidos, em relação ao número de órgãos oficiais envolvidos, tanto maior será a necessidade de convergência em torno de regras fundamentais para a decisão e de transparência no processo decisório. Falsas expectativas quanto ao nível de poder atribuído aos participantes podem prejudicar o processo de tal modo que comprometa sua continuidade ou sua repetição.Como já dito anteriormente, o direito de compartilhar a tomada de decisão é acompanhado da obrigação de prestar contas, caso as coisas não funcionem como previsto. Para evitar retrocessos nesses casos, informação sólida e, possivelmente, alguma formação mais sistemática dos grupos de interesse são requisitos primordiais.

A Política de Participação Comunitária do Município de eThekwini

O Conselho do Município de eThekwini, África do Sul, aprovou a Política de Participação Comunitáriaem 2006. Isso vai além da participação dos interessados e visa “Criar um ambiente favorável para o envolvimento dos cidadãos em todos os assuntos” do município, mas é um bom exemplo da vasta gama de aspectos que provavelmente também terão de ser considerados quando se trabalha com grupos de interesse em um sentido mais estrito.

Os assuntos abordados são, entre outros: princípios práticos para a participação, níveis de participação dos cidadãos, questões não-negociáveis e negociáveis, direitos e responsabilidades dos vários grupos de interesse e instrumentos de participação e técnicas.

Fonte: eThekwini Municipality, Community Participation Policy (2006)

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Source: eThekwini Municipality, Community Participation Policy, 2006

(Stephan: Use picture only if space allows.)

24 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

6.2 Abordagens Informais e Formais

A participação de grupos de interesse pode ser organizada de muitas maneiras. Definir um formato específico e as atividades envolvidas é sempre objetivo do processo participativo. Uma característica desses processos é que eles podem estar em qualquer ponto entre dois extremos: desde um completamente informal, como um processo inteiramente formal.

Processos Informais podem, a princípio, serem iniciados por qualquer grupo envolvido, reconhecido no campo da gestão da água e que tenha suficiente capacidade profissional ou de mobilização, o que significa que outros grupos têm confiança suficiente e estão interessados em se tornar parte de tal processo. Os participantes de processos (puramente) informais tendem a ser indivíduos que estão pessoalmente interessados em melhorar a situação local, geralmente de mente aberta e intrigados com a experimentação e inovação e têm uma atitude positiva para trocar os seus pontos de vista com pessoas vindas de outras esferas.

A vantagem de processos informais é a sua relativa liberdade para se organizar de acordo com normas acordadas pelo próprio grupo. Eles geralmente fornecem um espaço aberto para que todos expressem sua opinião, sem enfrentar qualquer ameaça de ser punido por opiniões controversas. A atmosfera resultante é um terreno fértil para pensar de modo não convencional e para ambições ainda mais radicais a serem perseguidas.

Em processos puramente informais, por outro lado, as pessoas participam a seu próprio gosto, sem um mandato formal de sua instituição. Eles não são representantes oficiais, falando em nome de seus “patrões” e não, necessariamente, apresentam um relatório a seus superiores. Isso geralmente significa que os resultados dos debates e atividades do processo têm pouco impacto na decisão dos órgãos oficiais responsáveis pela gestão. Outra desvantagem é que o grupo pode ser instável. Os interessados são convidados a participar, mas podem, em princípio, entrar e sair quando quiserem.

Processos Formais devem ser iniciados por órgãos oficiais responsáveis pela gestão da água ou, alternativamente, por uma instituição que atue em nome de um organismo oficial. Neste caso, o processo participativo recebe um estatuto reconhecido no sistema local para governança de água. Os interessados são convidados oficialmente a representar a sua instituição. As regras do discurso, direitos e obrigações dos participantes são claramente definidas. As decisões tomadas no processo dos grupos de interesse têm um caráter vinculador e são comunicados às instituições participantes para serem levadas em consideração durante suas discussões e procedimentos internos.

O principal problema nesses casos é que os participantes tendem a ser mais “cuidadosos” na forma como eles contribuem para o processo, evitando comprometer suas instituições. Em outras palavras, os representantes dos grupos de interesse se comportam dentro dos limites definidos e se mantêm na defesa dos interesses da instituição que representam. Políticas locais e agendas difusas das instituições representadas podem facilmente obscurecer e prejudicar a cultura de debate. Isso pode desacelerar significativamente o ritmo de inovação e mudança.

Na realidade, processos participativos costumam ter elementos tanto formais como informais. Em virtude do público-alvo deste kit, o conteúdo das seções a seguir enfoca o potencial de um Governo Local trabalhar com os grupos de interesse na gestão das águas urbanas e iniciar tal processo. Isto implica que o conselho ou câmara municipal teria autorizado tal atividade e também aprovado um orçamento para ela. Nestas circunstâncias, o processo deverá ser mais formal e seus produtos e conclusões serão comunicados aos órgãos oficiais.

25Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

6.3 Alianças de Aprendizagem para pesquisa ativa e ampliação da inovação

Alianças de aprendizagem são um tipo específico de envolvimento de múltiplos grupos de interesse. No decorrer do projeto SWITCH, elas foram criadas e avaliadas em diversas cidades do mundo.

O próprio nome já sugere que a aprendizagem desempenha um papel importante neste formato. Isso se refere tanto a aprender sobre a água, mas também aprender sobre a interação entre os grupos de interesse. Seus êxitos e fracassos, advindos do trabalho em grupo, são igualmente importantes tanto quanto a melhoria na gestão da água.

A abordagem de aliança de aprendizagem tem muitas raízes diferentes, mas a sua principal origem pode ser encontrada em pesquisas de ciências sociais. É basicamente uma resposta ao fracasso da aplicação exclusiva de ciências naturais e engenharia para resolver os complexos problemas da sociedade. Entre outros, alianças de aprendizagem foram aplicadas no setor agrícola.

A questão inicial que a abordagem de alianças de aprendizagem tentou trabalhar foi a falha generalizada da pesquisa convencional aplicada, com impacto direto sobre o “mundo real”. Tradicionalmente, os temas de pesquisa são definidos dentro da área acadêmica e exclusivamente investigados por acadêmicos. Mesmo que os acadêmicos saiam para o campo e falem com as pessoas afetadas por certas questões, o papel dessas pessoas se limita ao de meros informantes. Conseqüentemente, os resultados e inovações advindos deste tipo de pesquisa são, muitas vezes, irrelevantes ou permanecem no contexto acadêmico e não levam a um progresso efetivo.

Alianças de aprendizagem são um tipo de pesquisa ativa que visa diminuir a distância entre cientistas e especialistas, de um lado, e - no caso do tema abordado neste módulo - grupos interessados na gestão da água, de outro. As atividades típicas da pesquisa ativa podem ser ilustradas como um ciclo de observação, planejamento, ação, observação e reflexão, alimentando-se o próximo ciclo com as conclusões da reflexão.

Figura 3: Ciclos da pesquisa ativa de acordo com Kemmis and McTaggart (1988)

 

Plan

Act

Observe

Reflect

Plan

Act

Observe

Reflect

Planejamento

Planejamento

Observação

Observação

Reflexão

Reflexão

Ação

Ação

26 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

A lógica da aliança de aprendizagem requer que a agenda de pesquisa seja formulada em conjunto com grupos de interesse e explicitem suas principais preocupações. A pesquisa em si não se limita às atividades dos peritos, mas é compartilhada com grupos de interesse em um processo iterativo de definição de questões mais importantes, compartilhamento de informações e percepções diferentes e prezando pelo trabalho coletivo em soluções alternativas. Especialistas, assim, beneficiam-se das percepções e idéias de não-especialistas e vice-versa.

Seguindo este processo conjunto de aprendizagem organizada, as soluções resultantes são mais propensas a serem adotadas na prática. A variedade de grupos de interesse envolvidos na aliança de aprendizagem, que pode incluir organizações nacionais, regionais e até internacionais, também aumenta a probabilidade de difusão em larga escala.

• Papel fundamental das universidades e outras organizações de pesquisa. Geralmente as universidades que propõem a criação de uma aliança de aprendizagem em torno de um tema específico;

• A observação sistemática do processo de aprendizagem. Em paralelo à pesquisas sobre problemas reais envolvendo a água, o processo de interação entre os grupos de interesse e seu progresso na aprendizagem também são monitorados por meio de documentação contínua;

• Inclusão social. Alianças de aprendizagem focam a atenção nos interessados que normalmente não são incluídos no discurso oficial sobre assuntos públicos.

Uma visão detalhada dos resultados e conclusões de mais de dez processos de alianças de aprendizagem pode ser encontrada em SWITCH in the City’ (2011), Part I

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Reunião local da Aliança de Aprendizagem SWITCH em Hamburgo, Alemanha

27Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

6.4 ASIS – Abordagem Sistemática para a Inclusão Social

A ASIS, uma Abordagem Sistemática para a Inclusão Social, é um quadro metodológico desenvolvido pelo SWITCH que pode ajudar a, simultaneamente,

• alcançar o objetivo de fortalecer uma comunidade marginalizada e • também encontrar uma solução mais sustentável para um problema de gestão da água, possivelmente causado por essa mesma comunidade.

Sob a orientação de um pesquisador, agindo como um facilitador neutro, – aqui chamado o agente de mudança – os membros da comunidade seguem uma seqüência de seis etapas, conforme ilustrado na Figura 4.

Figura 4: As seis etapas básicas cíclicas do ASIS

O processo auxilia a comunidade a se organizar e encontrar suas próprias soluções, com o Agente de Mudança ajudando a obter uma visão geral sobre técnicas possíveis. Enquanto o Agente de Mudança tem um papel mais importante no início do processo, ele ou ela não será necessário(a) a partir do momento em que a comunidade tenha estabelecido firmemente sua própria maneira de lidar com controvérsias. Essa mudança é caracterizada pela solução tanto do lado técnico do problema, quanto de seu lado social por meio da capacitação da comunidade marginalizada para se tornar um respeitado agente local.

Para a fonte do diagrama e mais informações sobre ASIS ver Sanz, M. et al. (2010) Bringing Together Diverse Groups to Clean Up the Bogotà River – The case of micro- tanneries in Villapinzón, Colombia; and Sanz, M., Siebel, M.A., Ahlers, R., van der Zaag, P., Gupta, J. (2011) Cleaner Production (CP) and Conflict Resolution: a way out of social exclusion.

PreparaçãoConstrução

das RelaçõesRedefinição do

ProblemaConsensos Acordos Implantação

Monitoramento

Diagnóstico Inicial

Segurança Psicológica

Visualizar Estratégia

Consensual

Negociações Monitoramento

Análise dos Grupos

Definição Inicial de possíveis aliados ao problema

Construção da Confiança

Troca de Informações

Reunião de Abertura

Método de Trabalho

Criação de Opções

Método de Trabalho

CompromissosPequenos ComitêsFoco no

problema

Fonte: Sanz, M. et al (2010)

28 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

Envolvendo grupos de interes-ses no planejamento estraté-gico para GIAUQuanto maior a cidade, maior a lista de atores com um papel na gestão da água. Uma vez que cada cidadão é também um usuário de água, a composição de grupos de pessoas trabalhando em conjunto sobre questões em comum tem de ser cuidadosamente pensada.

Para o processo participativo funcionar é fundamental fazer uma escolha bem embasada sobre quem convidar para o processo. Embora nenhum dos integrantes-chave possa ser deixado de lado, o número de pessoas também deve ser mantido controlado. A composição típica de interessados é descrita na próxima seção.

A fim de identificar grupos mais relevantes na gestão da água, o governo local pode fazer uso de certas metodologias, como uma abordagem sistemática à análise dos grupos de interesse e mapeamento institucional. Essas abordagens são explicados nas sub-seções seguintes.

Figura 5: Envolvimento de grupos de interesse na gestão de águas tratadas e residuárias em Birmingham

Fonte: Chlebek, J., Sharp, P.G., (2008)

AuditoriaNacional

OFWAT

SouthStaffordshireWaterCompany

SevernTrent

WaterLimited

DWI

Companhias de Saneamento

Autoridade Local

PesquisaInstituições

AgênciaAmbiental

CIWEMICE

CIRIAUniversity of Birmingham

UKWIRWolverhampton UniversityNorthampton University

Birmingham City CouncilSandwell District Council

Solihull MetropolitanBorough Council

Walsall MetropolitanBorough Council

Dudley Borough Council

BritishWater

Consumer Council for Water West

West Midlands Environmental Business Club

WaterUK

ÁguaTratada

ÁguasPluviais Águas

Pluviais

ÁguasResiduárias

Corpos Hídricos/

Mananciais

Cursosd’água

IndústriaLocal

29Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

7.1 Compilando informações sobre os grupos de interesse

7.1.1 Como realizar uma análise dos grupos de interesse

O primeiro passo rumo à participação efetiva dos interessados é garantir que todas as organizações e grupos estejam engajados. Em alguns casos, isso pode ser mais natural – por exemplo, quando se trata de serviços públicos de água ou associações relacionadas – enquanto em outros casos, alguns grupos de interesse só poderiam ser “descobertos” quando se inicia o processo.

Deixar de fora determinado grupo de interesse que é gravemente afetado por uma má gestão da água e que tem um grande interesse em desempenhar um papel ativo na definição no curso das ações pode prejudicar e retardar o andamento do processo. Além disso, a fim de evitar que políticos locais influenciem, eventualmente de forma tendenciosa, a seleção dos interessados, é recomendável a contratação de um facilitador neutro em um estágio inical do processo. Esta pessoa terá que manter uma visão objetiva sobre a composição de grupos de interesse e certificar-se que importantes grupos de interesse com opiniões polêmicas também sejam convidados.

No iníco do processo, provavelmente será a equipe principal do projeto que irá se reunir e chegar a uma primeira lista, por meio de um exercício simples de análise de competências ou de um exercício de brainstorming. No entanto, esta lista será muito provavelmente incompleta. De modo ideal, cabe ao facilitador externo, que trabalha em conjunto com essa equipe principal, refinar e completar a seleção.

Uma tabela simples como esta é útil para apresentar e divulgar a lista final:

Figura 6: Tabela para inserir grupos de interesse

Nome do grupo de interesse Função

A conclusão do processo de seleção dos interessados é, no entanto, relativa. Durante o processo, diferentes composições de grupos de interesse poderão ser necessárias para diferentes estágios e para diferentes tarefas ou localidades da cidade.

Além disso, é necessário levar em conta que fóruns muito grandes podem impossibilitar uma facilitação apropriada e orientada a resultados. Neste caso, pode ser considerada a possibilidade de criarem-se níveis distintos de fóruns: um “superior” responsável por um olhar mais abrangente de toda a cidade, e sub-fóruns descentralizados com foco em questões específicas de determinadas regiões. Outra forma de lidar com listas ‘muito longas’ de grupos de interesse pode ser agrupar organizações que levantam bandeiras similares em torno de apenas um ou dois representantes, por meio dos quais elas podem fornecer suas contribuições e ter seus interesses representados. Em todo o caso, considerando o acima exposto, será necessário obter uma compreensão mais detalhada sobre quem são os grupos de interesse.

O segundo passo principal é, então, uma análise dos grupos de interesse. Um dos critérios para categorizar os grupos de interesse são os seus mandatos oficiais e, portanto,

30 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

seu poder decisório e executivo. No entanto, igualmente importantes são aqueles que são afetados pela melhor ou pior gestão da água no sentido mais amplo, como por exemplo, hospitais, empresas de turismo local ou as mulheres nos países onde elas são geralmente responsáveis por levar água para suas famílias.

Uma análise dos grupos de interesse deve ser feita de forma participativa considerando que diferentes perspectivas e conhecimentos sobre os participantes poderão ajudar a obter um bom resultado final. Uma maneira comum de se fazer uma categorização útil para diferenciar os interessados é dividí-los em categorias como interessados-chave, primários e secundários:

• Interessados-Chave: incluem todos aqueles que podem influenciar significativamente as políticas e práticas da gestão da água urbana.

• Interessados Primários: são aqueles que são diretamente afetados pela forma como a água é gerida, seja positiva ou negativamente.

• Interessados Secundários: são todos os outros com um interesse, função ou papel de intermediários na gestão da água.

Para diferenciá-los, os participantes são convidados a classificar os interessados de acordo com:

• sua influência (ou seja, sua capacidade para facilitar ou dificultar uma atividade) e

• sua importância (ou seja, a prioridade dada a eles em termos de melhoria da sua situação particular).

A classificação pode ser feita usando pontuação crescente de 1 a 5 (1 sendo uma influência baixa ou baixa importância e 5 o mais elevado). O ranking pode ser mostrado em uma tabela ou um diagrama de teia de aranha (ver Figura 7).

Figura 7: Exemplo de diagrama teia de aranha refletindo a influência relativa dos diferentes atores em uma determinada situação

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such as for example hospitals, the local tourism business or women in countries where they are typically the ones to supply the water for their families.

A stakeholder analysis should be done in a participatory way since different perspectives and knowledge about stakeholders will help get a proper final result. A common way to arrive at a useful categorisation is to differentiate key, primary and secondary stakeholders:

Key stakeholders include all those who can significantly influence the policies and practices of urban water management.

Primary stakeholders are those who are directly affected by the way water is managed, be it positively or negatively.

Secondary stakeholders are all others with an interest, stake or intermediary role in water management.

To distinguish between them, participants are asked to rank stakeholders according to

their influence (i.e. their capacity to facilitate or impede an activity); and

their importance (i.e. the priority given to them in terms of improving their particular situation).

Ranking can be done by using ordinal scores of 1 to 5 (1 being a low influence or low importance, and 5 the highest). The ranking can be shown in a table or spiderweb (see Figure 5).

Figure 5: Example of spider-web diagram reflecting relative influence of different stakeholders in a particular situation (Butterworth, B., McIntyre P., da Silva Wells, C. (Editors), 2011, Part II)

The relative influence and importance can then be compiled in a matrix (see Figure 6). The stakeholders that feature in boxes A, B and D are the key stakeholders. The ones in A and B are the primary stakeholders and the ones in C are the secondary stakeholders.

Fonte: ‘SWITCH in the City’ (2011), Part II

Doador

Pesquisa

AgroindústriaIndústria

Legislador

Consumidor Produtor

31Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

A influência e a importância relativa podem ser compiladas em uma matriz (ver Figura 8). Os interessados que estiverem em caixas A, B e D são os interessados-chave. Os em A e B são interessados primários e os em C são secundários.

Mais informações sobre a análise dos grupos de interesse podem ser encontradas em SWITCH in the City (2011), Part II

Figura 8: Matriz de Importância / Influência

Alta Prioridade / Pouca Influência Alta Prioridade / Alta influência

A B

C D

Baixa Importância / Baixa Influência Baixa Importância / Alta influência

Fonte: Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido, 2002

O resultado final da análise deve ser acordado por todos os grupos de interesse, algo que não é simples. Em particular, a pontuação da importância dos interessados já pode levar a controvérsias. Esses debates, no entanto, já são o início da interação necessária. Será o papel de um facilitador profissional orientar as discussões de forma que elas permaneçam construtivas e levem ao acordo desejado.

Dependendo do ponto de partida do envolvimento dos grupos de interesse, e também em futuras etapas do processo, esclarecimentos sobre outros aspectos da identidade e do papel dos grupos de interesse podem ser úteis. Isso pode se referir, por exemplo, à forma como os interessados percebem as questões da água na cidade, quem são os principais responsáveis ou quais são as relações entre eles. O facilitador deve estar familiarizado com as metodologias que podem ser usadas para explorar tais questões de forma participativa.

No entanto, novas perspectivas também podem ser adquiridas por meio do mapeamento institucional, que é descrito na próxima seção.

32 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

7.1.2 Um olhar de bastidores na tomada de decisão: o mapeamento institucional

O mapeamento institucional significa olhar nos bastidores dos grupos de interesse em governança de águas urbanas, ou seja, por trás de papéis oficiais, estruturas e mandatos. Feito isso, será possível determinar onde o poder realmente está localizado, quais são as principais forças e atores e como eles se articulam na complexa teia de relações do setor da água.

Promover a integração na gestão das águas urbanas depende muito dos órgãos gestores oficiais. Portanto, se a integração é o objetivo, essas instituições terão de trabalhar de forma diferente. Elas terão que corrigir suas percepções de si, suas relações e modos de participação. Antes de realizar reformas institucionais e mudanças organizacionais necessárias é, portanto, útil investigar minuciosamente como as instituições chave se relacionam umas com as outras.

“As instituições são definidas como sistemas de regras, formais ou informais, que definem os limites de qualquer instituição. (...). Cumprir a integração da gestão da água irá (...) envolver a concepção de novas instituições, de acordo com os limites físicos dos sistemas a serem gerenciados, ou melhorar a cooperação ou coordenação das instituições existentes.”

Fonte ‘SWITCH in the City’ (2011), Part II

O mapeamento institucional é a metodologia para tal investigação. Ele vai aos bastidores dos papéis institucionais a mandatos legais para explorar onde, na cidade, concentra-se o poder de fato (incluindo os recursos financeiros) e como a tomada de decisão funciona. Isso irá determinar quão suave ou difícil será a adoção de novas abordagens e tecnologias mais sustentáveis no futuro. Ter uma melhor compreensão das relações de poder local irá constituir um pré-requisito na elaboração do roteiro para as reformas no sistema de governança local que serão necessárias para uma maior integração na gestão da água. Olhar para as questões acima irá resultar em um mapa institucional específico da cidade. Enquanto o mapa principal fornecerá uma visão geral sobre o panorama institucional, os mapas complementares podem ser mais complexos, fornecendo uma melhor compreensão das questões institucionais que envolvem a assimilação de uma determinada tecnologia.

O mapeamento institucional é muito mais difícil de realizar do que uma análise “mais superficial” dos grupos de interesse. Além do mais, ele também pode levar a resultados delicados e politicamente sensíveis. É por isso que sua realização deverá ficar sob a responsabilidade de um pesquisador ou consultor. Essa pessoa precisa ter uma formação sólida em ciências sociais ou políticas – e, em especial, na área da gestão da água – deve ser uma pessoa neutra, que não está diretamente envolvida no processo participativo. Ao mesmo tempo, ele ou ela deve estar bem familiarizado(a) com as redes sociais na cidade, a cultura, o idioma local e a história recente, quando relevante para a atual conformação da estrutura de poder.

A qualidade do mapa resultante depende fortemente das informaçoes acessíveis ao pesquisador ou consultor. Aqui, a legitimidade do processo participativo e o compromisso dos políticos de mais alto escalão poderiam desempenhar um papel importante. Isto também se aplica às relações do responsável pelo mapeamento com os grupos de interesse e sua confiança no processo de mudança, uma vez que os próprios grupos de interesse serão informantes na elaboração do mapa institucional.

Diversos relatórios de mapeamentos desenvolvidos ao longo do SWITCH estão disponíveis, entre outros, nas cidades de Accra, Gana (Darteh, B. et al., 2010), Belo Horizonte, Brasil (Dias, J. et al., 2011), Birmingham, Reino Unido (Green, C., 2007), Hamburgo, Alemanha (HafenCity Universität, Hamburg, 2011) e Zaragoza, Espanha (de la Paz de San Miguel Brinquis, M., 2009).www.switchtraining.eu/switch-resources

Mais informações sobre o mapeamento podem ser encontradas em SWITCH in the City book (2011), Part IIwww.switchtraining.eu/switch-resources

33Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

Ver Módulo 1, Seção 4.2, para mais informações sobre como a gestão da água está relacionada com outros setores da gestão urbana.

7.2 Estabelecer um processo de envolvimento dos grupos de interesse

A integração na gestão das águas urbanas dependerá sempre, em grande medida, da participação efetiva dos grupos de interesse. Ao final do processo, serão suas decisões e ações que determinarão se a gestão da água urbana convencional, caracterizada pela fragmentação, será superada em favor de uma abordagem mais coordenada.

O envolvimento dos grupos de interesse nas primeiras fases do processo de planejamento estratégico é, portanto, fundamental. Isso vai fomentar sua participação e sua motivação para manter o processo durante os altos e baixos de uma jornada que pode ser desafiadora e gratificante.

A participação dos grupos de interesse será crucial em muitos estágios do processo de planejamento estratégico. Para citar apenas alguns:

• Visão: os grupos de interesse somente vão aceitá-la e utilizá-la como referencial para as ações futuras caso tenham participado de sua concepção e convergido para uma idéia em comum.

• Definição de prioridades: Prioridades não podem atender apenas a agentes isolados, mas precisam ser discutidas e ponderadas por todos os grupos de interesse. Caso contrário, eles permanecerão na defesa apenas de seus próprios interesses.

• Implantação: Integração e gestão mais sustentável da água são grandes aspirações, muito elevadas para serem realizadas por instituições isoladas. O planejamento conjunto acontece visando à posterior implantação conjunta.

• Monitoramento e avaliação: Nenhuma boa gestão pode acontecer sem a contínua revisão e reflexão. Uma observação crítica dos resultados do processo de planejamento estratégico deve acontecer a partir de perspectivas diferentes, a fim de identificar seus pontos fortes e fracos, de forma abrangente.

Embora a lista de benefícios decorrentes do trabalho conjunto de grupos de interesse para a Gestão Integrada das Águas Urbanas pudesse ser muito maior, também é importante não levantar falsas expectativas sobre o papel e influência de cada grupo no processo. Deve ficar claro, para eles, que seu envolvimento não substitui a atuação governamental. Ao contrário, eles irão complementar as estruturas atuais, suprindo lacunas e fragilidades identificadas. Ao longo prazo, no entanto, isso deve realmente conduzir à reforma dessas estruturas e a uma revisão dos papéis e responsabilidades das instituições para atender aos requisitos de uma abordagem integrada.

Os grupos de interesse têm que estar bem conscientes sobre a relação entre suas próprias atividades e o que está acontecendo no nível oficial, a fim de evitar a frustração e manter a sua disposição de investir tempo e dinheiro nesse processo.

Antes de um novo processo participativo entre grupos de interesse ser estabelecido, uma consideração ainda se faz necessária. Trata-se de um processo semelhante para emprego em qualquer outro setor do planejamento urbano – por exemplo, para área da saúde – ou para uma iniciativa mais abrangente – por exemplo, para o planejamento urbano ou para o desenvolvimento sustentável como um todo – que já esteja em vigor. Neste caso, é aconselhável coordenar a criação do novo processo com a unidade encar-regada da iniciativa já existente. Dependendo da abordagem e do enfoque temático do mais recente, pode ser possível mesclar ou, pelo menos, vincular os dois processos, desde o início. Esse seria também um começo perfeito para integrar a gestão da água com outros setores da gestão urbana.

34 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

O envolvimento dos grupos de interesse exige tenacidade de todos os que participam do processo, o que requer tempo, é oneroso, propenso a conflitos, além de consumir bastante energia dos envolvidos. Na tentativa de concentrar-se mais em seus benefícios do que nas dificuldades, é interessante olhar para a experiências de pessoas que pas-saram por processos semelhantes.

As Alianças de Aprendizagem no projeto SWITCH, realizadas em mais de dez cidades em todo o mundo, representa uma rica fonte de experiências.

As lições aprendidas com esses e outros processos similares podem ser reformuladas em recomendações tais como:

• Certificar-se de que há uma compreensão clara do que a meta do processo de grupos de interesse é – e o que é esperado de cada ator participante.

• Manter a transparência em relação ao papel de cada grupo de interesse e o interesse da instituição que ele representa.

• Focar em necessidades comuns, ou seja, as necessidades da cidade como um todo, ao invés das necessidades dos agentes individuais.

• Tentar criar contextos de ganhos mútuos.

• Ressaltar os primeiros resultados concretos do processo – ainda que pequenos – para que os grupos de interesse possam ver frutos de seus esforços.

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Reunião local da Aliança de Aprendizagem SWITCH em Alexandria, Egito

35Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

³ Para evitar confusão, uma pessoa que coordena o processo de consulta integralmente é aqui denominada “facilitador” e a pessoa que coordena e orienta as atividades em uma reunião ou workshop é chamada de “moderador”. Na maior parte da literatura, no entanto, ambos os papéis podem ser encontrados como “facilitador”.

7.2.1 Requisitos financeiros

O envolvimento dos grupos de interesse apresenta custos. No entanto, esses resursos serão bem investidos e possibilitarão seu retorno em curto prazo, caso o processo participativo de gestão seja executado de forma eficaz e leve aos resultados e benefícios esperados.

Estas são as categorias de custos que devem ser consideradas quando for calculado o orçamento para o processo:

FuncionáriosEsse item encotra-se no topo da lista e não deve ser subestimado. Dado o fluxo contínuo de comunicação interna e externa, a coordenação de um processo participativo de Gestão Integrada das Águas urbanas precisa de pelo menos uma pessoa – o facilitador do processo e da rede de grupos de interesse – com uma parcela de tempo significativa dedicada apenas a esta tarefa.

Outros profissionais também serão necessários para várias outras tarefas, tais como logística de reuniões e para desenvolvimento de um site específico (que também pode ser terceirizado).

Custos de comunicaçãoComunicação de todo o tipo será a atividade central em todo o processo. Isso inclui diferentes suportes, incluindo correspondência normal, chamadas telefônicas, faxes e correio eletrônico.

Um site exclusivo para essa finalidade, com serviços de chat, fóruns de discussão e blogs podem ser ferramentas úteis para a comunicação com o público em geral.

Materiais impressosHoje, muita informação pode ser divulgada por meio eletrônico, mas para certos fins, uma vez que ainda nem todos têm acesso à Internet, materiais impressos podem ainda ser a escolha mais adequada. Campanhas de sensibilização e eventos públicos, por exemplo, normalmente precisam de cartazes, banners e panfletos para divulgar as mensagens-chave.

Moderador³ para reuniõesOs grupos de interesse terão de investir uma parcela significativa de seu tempo para participar das reuniões. Para usar o seu tempo de forma mais eficaz e eficiente, e obter os resultados desejados de reuniões, um moderador profissional será indispensável.

Custo para locais de reunião, equipamentos, materiais e alimentaçãoLocais de reunião devem ser convenientes para os participantes e bem equipados com o necessário para uma reunião produtiva. Geralmente o moderador indicará o que é necessário, podendo incluir uma vasta gama de materiais tais como computadores, projetores, data-shows, etc. que devem estar disponíveis.

Além do fornecimento de bebidas e lanches para coffee breaks, reuniões que demoram mais que metade de um dia, obviamente, também terão que incluir o almoço.

36 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

7.2.2 Definindo um ponto focal de coordenação

Todos os tipos de atividades que fazem parte do processo de integração para uma Gestão Integrada das Águas Urbanas terão de ser supervisionados por um centro de coordenação dedicado a essa tarefa. Se esta unidade encontra-se na esfera do governo local, este será o ponto focal para assegurar a colaboração com todos os organismos e departamentos governamentais envolvidos, internamente, mas também funcionará como o intermediário de todas as relações externas.

A função de coordenação terá dois aspectos principais: uma mais técnica e uma mais orientada para o processo. Funcionários responsáveis por determinadas atividades deverão, portanto, ter diferentes experiências profissionais e habilidades.

Para destacar o compromisso do governo local com o processo e dar-lhe a autoridade necessária, o ponto focal estará mais bem posicionado em um departamento de alto nível estratégico. No entanto, o ambiente institucional no qual o processo será incorporado varia muito, de modo que a fixação dessa unidade no seio das estruturas do governo local - ou outra instituição escolhida para a coordenação - será muito diferente de cidade para cidade.

Consultoria especializada e treinamentoEventualmente, discussões podem girar em torno de uma determinada questão que não está suficientemente bem compreendida por quaisquer dos grupos de interesse em torno da mesa. Em tais casos, a presença de um perito pode ser organizada para fornecer informações mais detalhadas sobre o assunto respectivo.

Um treinamento mais prolongado também pode se tornar necessário, por exemplo, para garantir que os interessados, com pouca familiaridade com o tema água, possam acompanhar e compartilhar as discussões de forma eqüitativa.

Ver seção 7.3 do Módulo 1 para as varias opções de definição de um ponto focal para coordenação do processo participativo dentro do governo local.

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37Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

O governo local deverá, mais adiante, definir como as atividades do ponto focal responsável pela coordenação geral do processo serão relacionadas àquelas de facilitação cotidiana da rede de grupos de interesse e do processo participativo e quem é o mais apto, dentro ou fora de seus limites, para realizar a moderação das várias reuniões de grupos.

Um modelo potencial de compartilhamento de responsabilidades pode ser exemplificado no quadro abaixo.

Potencial compartilhamento de responsabilidades na condução de um processo participativo de grupos de interesse

Ponto focal de coordenação:• Gerenciamento interno entre diferentes departamentos locais, serviços de saneamento (caso sejam públicos) e conselhos ou câmaras municipais (inclusive o Prefeito)• Assegurar a coerência com outras estratégias e políticas• Ligação entre grupos de interesse internos e externos•Desenvolvimento de Termos de Referência para o processo e envolvimento de grupos• Contratação de um facilitador e moderador• Enacargos de planejamento e administração

Facilitação e interação com e entre grupos de interesse:• Assegurar comunicação no dia-a-dia• Indentificar necessidades de informação e treinamento•Organizar reuniões com grupos de interesse• Trabalhar com a mídia•Manutenção de website• Processamento de documentação• Estabelecer mecanismo de monitiramento e avaliação participativa

Moderação de reuniões:• Desenvolver o programa de reuniões• Assegurar que todo equipamento e material seja disponibilizado• Orientar os participantes a fim de atingir os objetivos esperados• Criar espaço para igual envolvimento dos participantes

A coordenação geral do envolvimento dos grupos de interesse, facilitação do processo e da rede dos grupos, bem como a moderação das reuniões, serão sempre estreitamente relacionadas. Como essas três funções são organizadas em uma cidade, em particular, depende de seu tamanho e de sua capacidade administrativa, mas também da vontade das instituições de compartilhar algumas dessas tarefas e diversas outras circunstâncias locais específicas.

Informações mais aprofundades acerca do papel do facilitador e moderador podem ser encontradas nesse módulo, nas seções 7.3.1 e 7.3.2, respectivamente.

38 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

7.2.3 Envolvendo Grupos de Interesse

Uma vez que as instituições que formam o grupo de interesse foram definidas, algumas regras e procedimentos terão de ser definidas sobre o seu papel, formas e meios para sua participação.

Em processos mais informais, os representantes dos grupos de interesse podem ser intitulados após os contatos iniciais do governo local. A participação é fundada em um caráter mais individual e não implica maiores direitos ou deveres. Em um processo mais formal, os responsáveis por iniciar a organização do processo participativo terão de enviar convites para os principais chefes das instituições ou aos líderes dos grupos sociais e pedir-lhes para nomear representante para participar do processo. Os objetivos do processo participativo e os papéis e responsabilidades de cada instituição participante ou grupo devem ser claramente definidos e acordados conjuntamente, na primeira reunião, talvez por meio de algum tipo de Termo de Referência. Cada grupo de interesse terá de comprometer-se formalmente a participar do processo, dentro dos limites do seu mandato e, portanto, aprovar eventuais implicações financeiras da sua participação, como, por exemplo, o tempo gasto por seu representante durante o processo.

Na realidade, esses processos serão sempre híbridos, incluindo elementos formais e informais. No entanto, a instituição que se responsabiliza pelo processo terá de ter em mente as implicações acima mencionadas, e tomar decisões conscientes sobre a natureza do processo e as expectativas envolvidas.

A definição conceitual do processo também vai determinar se as instituições e grupos de destinatários irão realmente concordar em participar do processo. Para eles, terá de ficar claro quais serão os benefícios da integração e da sua própria intervenção. As entidades públicas, em particular, têm sua própria agenda e suas próprias responsabilidades institucionais. Se são convidadas a investir tempo e dinheiro em um processo participativo, precisam estar convencidas de que podem se beneficiar com o mesmo.

O primeiro convite aos grupos de interesse, portanto, deve ser formulado com cuidado. Diferentes grupos de interesse podem ser contatados com foco em seus interesses e de forma a promover os temas que lhes são mais relevantes. Para isso, poderá ser útil retornar aos resultados da análise preliminar dos grupos de interesse (ver Secção 7.1.1) e ao mapa institucional da cidade (ver secção 7.1.2).

O início oficial de tal processo é muitas vezes marcado por um evento de lançamento, que também visa obter a atenção da mídia e, assim, de um público mais amplo. Será útil também contar com a participação de prefeitos e outras figuras do alto escalão político local e, potencialmente, estadual ou nacional, o que dará ao evento maior reconhecimento, desde o início, transmitir uma mensagem importante para os grupos de interesse com respeito a sua importância e em termos da valorização oficial de seu envolvimento.

Garantir boas relações com os representantes políticos de alto escalão também será uma prioridade, visando manter o compromisso dos grupos, no longo prazo, e garantir seu envolvimento durante todo o processo. Isso é particularmente verdadeiro nos momentos difíceis quando, por exemplo, o processo chega a certos impasses e grandes conflitos surgem, ou quando não há a percepção de resultados concretos.

Ver seção 6.2 desse modulo para diferenciação de processos formais e informais

39Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

7.2.4 Inclusão social: permitir o envolvimento dos grupos desfavorecidos

Uma das funções universais de governos locais, democraticamente eleitos, é estar a serviço de seu eleitorado. Cidadãos pagam impostos para o governo com a expectativa de que os poderes públicos cuidarão de suas necessidades básicas. Igualdade de acesso aos serviços de água e saneamento é fundamental para satisfazer tais necessidades e criar as condições de subsistência, saúde e bem-estar.

É, portanto, um dos principais objetivos de qualquer processo de integração da gestão de águas urbanas ampliar e melhorar os serviços também para os habitantes frequentemente esquecidos da cidade. Isso se aplica, em especial, aos grupos da sociedade que vivem em localidades mal planejadas e mal construídas – ou talvez não planejadas. A pobreza é tema comum dessas áreas, mas a pobreza em geral tem suas raízes mais profundas em algum tipo de discriminação social que identifica as pessoas que não pertencem as classes dominantes da sociedade e da cultura.

A exclusão social é um ‘processo pelo qual certos grupos são sistematicamente desfavorecidos, discriminados em função da sua etnia, raça, religião, orientação sexual, classe social, ascendência, sexo, idade, deficiência, soro positividade, status de imigração ou local de moradia. A discriminação ocorre nas instituições públicas, como no sistema jurídico, de educação e de serviços de saúde, bem como nas instituições sociais como a família’

Fonte: DFID (2005)

Se a sustentabilidade é o objetivo de longo prazo, essas pessoas não apenas têm o direito de desfrutar de serviços iguais, como todos os outros habitantes da cidade, mas também têm que desempenhar um papel ativo no planejamento e concepção desses serviços.

Trabalhar em conjunto com grupos marginalizados e desfavorecidos da sociedade, muitas vezes apresenta um grande desafio para o condutor de um processo participativo que conte com o apoio de diversos grupos de interesse. Além de ter uma base cultural diferente, as pessoas das comunidades pobres também podem falar uma língua diferente, ter uma base de formação diferente e ainda carecer de confiança ou habilidades para o discurso, de forma que possam efetivamente participar das discussões que são realizadas seguindo as regras da cultura dominante em uma cidade ou país. Não é, portanto, de modo algum suficiente apenas convidar os representantes desses grupos e esperar que eles encontrem uma forma de compensar suas desvantagens por si mesmos.

A inclusão deve ser abordada com uma estratégia própria. Isso será importante desde o início, quando os grupos de interesse serão definidos e convidados para o processo. Os primeiros problemas podem ocorrer já nessa fase, quando comunidades relevantes são isoladas dos canais de comunicação regulares ou quando as pessoas são analfabetas e, portanto, incapazes de ler materiais informativos e convites. Diferentes formas de comunicação podem ser necessárias, como visitas às casas das pessoas, entrevistas e outras formas de comunicação direta.

Estudos de casos de inclusão social foram desenvolvidos pelo SWITCH, entre outros, para seis cidades da Indonésia (Sijbesma & Verhagen, 2008), Colombo, Sri Lanka (Smet, 2008), Kumasi, Gaana (Nyarko et al., 2007), e diversas cidades envolvidas no EMPOWERS - Euro-Mediterranean Participatory Water Resources Scenarios (da Silva Wells, 2008) www.switchtraining.eu/switch-resources

Pessoas podem ser excluídas por causa de:• O que elas têm ou não têm em termos de acesso a recursos (dinheiro, terra, moradia, serviços públicos, etc.)• O lugar onde elas vivem (p.ex. bairros onde predominam minorias étnicas);• O que elas são (p.ex. idosos ou deficientes, além de pessoas cujas culturas ou religiões não são as majoritárias).

Fonte: Nelson, V. et al (2008)

40 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

Em muitos casos, esses obstáculos podem ser superados mediante uma estreita colaboração com organizações comunitárias de base, nestas áreas, que podem atuar como mediadoras entre comunidades pobres e desfavorecidas e o governo local ou outra instituição ligada ao processo de envolvimento dos interessados.

No entanto, os problemas não estão inteiramente resolvidos quando a organização ou individuo apropriado é escolhido e tenha demostrado interesse e compromisso em participar do processo. Vai ser um desafio constante para os organizadores do processo e, em particular o facilitador, garantir que pessoas desfavorecidas tenham, por exemplo, o mesmo acesso à informação e o mesmo espaço para expressar suas reivindicações. Ajudar esses grupos da sociedade a se tornarem devidamente incluídos no processo normalmente requer um apoio específico. Isso pode ser obtido, por exemplo, por meio de:

• Treinamento para a efetiva articulação de interesses e prioridades, bem para negociações;• Reuniões técnicas;• Serviços de tradução e de interpretação, quando for o caso;• Emprego de gráficos e ilustrações – e não apenas textos – nos materiais;• Serviços de transporte para as reuniões, se as pessoas não podem pagar por suas despesas de viagem;• Ajuste dos horários das reuniões a suas vidas diárias, pois elas não podem diminuir sua renda por não comparecerem ao trabalho.

Uma alternativa que também pode ser considerada é organizar visitas dos grupos de interesse às comunidades pobres para que outros participantes do processo possam ver, com seus próprios olhos, o que significa ser excluído da prestação de serviços básicos. Algumas reuniões dos grupos de interesse podem ser realizadas diretamente em tais comunidades. Todos se beneficiarão da demonstração de comprometimento e da vontade de mudanças concretas por parte de representantes políticos dos altos escalões, o que poderá ser particularmente importante para as pessoas marginalizadas.

Para uma abordagem mais ampla à inclusão social e em casos onde iniciativas de múltiplos grupos de interesse são organizadas para solucionar um conflito maior entre comunidades marginalizadas e outros grupos de interesse, veja também o quadro ASIS, desenvolvido pelo SWITCH, como descrito na seção 6.4 e 7.2.4 desse módulo.

Mais informações sobre inclusão social pode ser encontrada em SWITCH in the City’ (2011), Part IIwww.switchtraining.eu/switch-resources

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Reunião dos micro produtores de couro em Villapinzón, Colômbia

41Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

7.3 Trabalhar com os grupos de interesse de forma eficaz

Colocar um processo participativo de construção da Gestão Integrada das Águas Urbanas em movimento certamente não é fácil e requer uma boa dose de preparação. No entanto, trabalhar com grupos de interesse ao longo do tempo, em busca de bons resultados, e manter as pessoas interessadas e contribuindo ativamente para o processo também exigirá atenção constante.

Dependendo da magnitude e da duração do processo, o entusiasmo inicial pode se transformar em fadiga quando as discussões não avançam e decisões efetivas e importantes não são tomadas. A fim de evitar que o processo entre em colapso antes que cumpra com seu objetivo, será importante:

• Garantir resultados em fases iniciais: discussões e reuniões apenas – embora indispensáveis para o processo de planejamento estratégico – podem levar as pessoas a questionar o processo. Ações menores ou demonstrativas, implantadas antes de definido o plano de ação, são de grande ajuda no reforço da confiança de que o processo acabará por gerar mudanças concretas.

• Destacar o sucesso: sucessos intermediários também devem ser destacados pelos meios de comunicação para manter um senso de progresso.

• Reforçar a imagem dos grupos de interesse envolvidos: aqueles que estão dispostos a gastar tempo e outros recursos para a causa comum de melhorar a gestão da água na cidade devem ser publicamente reconhecidos. Isto pode aplicar-se tanto às instituições quanto aos indivíduos.

Ser responsável por um processo participativo, que provavelmente irá durar vários anos, será sempre um grande desafio. Por isso, o facilitador do processo – ou os membros da equipe de facilitadores – terá de ser escolhido com cuidado. Para determinadas funções, e dependendo das capacidades de recursos humanos da instituição que conduz o processo, é também aconselhável procurar a cooperação de um profissional que tenha habilidades especiais e com longa experiência de trabalho em processos semelhantes. Algumas das tarefas que dependem, em particular, de conhecimentos específicos serão descritas a seguir.

Nota: Conforme indicado anteriormente, “facilitador” e “moderador” referem-se aqui a funções diferentes; essa escolha de terminologia foi feita para evitar confusão entre os dois papéis distintos. “Facilitador” é o termo utilizado para designar a pessoa que coordena a rede de grupos de interesse em todo o processo. “Moderador” é o termo empregado para designar a pessoa que coordena uma reunião ou workshop. Na literatura, ambos os papéis podem ser normalmente referidos como “facilitador”. Isso, evidentemente, não exclui que um facilitador também modere reuniões ou que um moderador seja membro da equipe de facilitação do processo.

42 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

7.3.1 Facilitar a rede de grupos de interesse

Quando os participantes são chamados para uma reunião, é evidente que é preciso existir uma agenda e alguém para guiar as pessoas ao longo de uma seqüência de apresentações, debates e outras atividades conjuntas. No entanto, uma vez que os grupos de interesse não estejam fisicamente juntos na mesma sala, pode parecer desnecessário alguém para “cuidar” deles. Este não é, porém, o caso.

Os grupos de interesse formam uma rede de relações e têm uma tarefa comum a realizar. Eles fazem isso quando se reunem, mas também em seus próprios ambientes de trabalho. É por isso que eles precisam ser conectados e também por isso que será necessário um facilitador para a rede ao longo do processo.

Na sequência, será enfocada a função do facilitador dentro da rede de grupos de interesse. No entanto, todas as atividades no âmbito da rede fazem parte do processo participativo, portanto, os dois aspectos estão intimamente ligados.

Os facilitadores de rede terão de ter habilidades de comunicação no sentido mais amplo. Eles precisam ser capazes de “falar a língua” de pessoas de diferentes origens sociais. Eles terão que ser pró-ativos na sua comunicação, sempre dispostos a receber e a reconectar – ou seja, para recolher importantes e atualizadas informações e para conectar pessoas entre si. Eles também devem ser pessoas capazes de supervisionar o fluxo de informação na rede e devem atentar a detalhes que possam ser interessantes, ou úteis, para outros destinatários, ou ainda, que possam ser divulgados pelos meios de publicidade, pelo site dos grupos de interesse, etc.

As competências ideais dos facilitadores de rede são descritas por suas atividades típicas, Comportamento exigido e sua capacidade para lidar com diferentes Canais (de comunicação). Os itens a seguir podem ajudar o governo local a identificar a pessoa mais adequada a cumprir com essa tarefa, dentro de seu quadro de pessoal, ou fora dele.

Atividades• Facilitadores de rede são gestores do conhecimento. Isso começa por assegurar-se que uma lista de todos os membros da rede existe – neste caso, os participantes do processo – e que todos os documentos importantes da rede sejam facilmente acessíveis a todos.

• Os facilitadores devem garantir que informações importantes cheguem àqueles que terão de ter conhecimento delas. Este tipo de compartilhamento de informações pode acontecer digitalmente, mas também inclui a organização de reuniões.

• Os facilitadores são os representantes do processo. Eles o promovem em outros círculos e certificam-se de que os resultados sejam conhecidos.

• Os facilitadores têm um papel permanente na rede, semelhante ao de um anfitrião que tem convidados: eles introduzem novas pessoas à rede, reúnem pessoas que possam ter algo em comum, certificam-se de que ninguém seja deixado de lado e mantêm a energia e o fluxo de comunicação.

Comportamento• Facilitadores de rede são sempre o centro da comunicação. Eles estão atentos às questões e necessidades dos membros da rede e certificam-se de que a informação seja devidamente compreendida. Quando necessário, eles ajudam a apontar fontes complementares de informação, esteja ela dentro ou fora da rede.

• Facilitadores certificam-se de que a comunicação funciona sem problemas e auxiliam os membros da rede de grupos de interesse que possam ter dificuldades de se comunicar de modo adequado.

43Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

Canais• Facilitadores de rede estão cientes das diferentes mídias disponíveis para a comunicação entre membros da rede e sabem o que podem ou não fazer com elas. Eles também têm um interesse particular e habilidades relacionadas a explorar a última das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Finalmente, eles estão cientes dos diferentes métodos para organizar reuniões de orientação por meio de tele e/ou de videoconferências.

• Facilitadores organizam reuniões informais para alimentar e fortalecer as relações entre os membros.

• Facilitadores têm um amplo espectro de habilidades de processamento de informação de diferentes formas, eles podem redigir com diferentes fins e meios e apelar a diferentes grupos-alvo.

Considerando o papel central de uma boa comunicação e todas as habilidades a ela associadas, pode ser questionável se todas essas competências podem residir em uma só pessoa. Pelo menos nas grandes cidades, será útil ter uma pessoa principal para a facilitação que, então, liderará uma equipe de dois ou três membros, que juntos representarão o mosaico das habilidades exigidas.

Orientações sobre como facilitar a comunicação em uma rede de grupos de interesse podem ser encontradas em SWITCH in the City’ book (2011), Part II

Website local da Aliança de Aprendizagem SWITCH de Birmingham, Reino Unido, http://switchbirmingham.wordpress.com

44 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

7.3.2 A moderação das reuniões dos grupos de interesse

As pessoas que trabalham nos governos locais e outras instituições estão acostumadas a reuniões e muitas vezes acreditam que não é especialmente difícil executá-las. Elas podem possivelmente fazer isso com bastante frequência ou têm observado seus superiores ou colegas a fazê-lo. No entanto, ao mesmo tempo, muitos saem de reuniões entediados ou frustrados ou com uma sensação de ter desperdiçado seu tempo.

Este é um sinal claro de que realizar reuniões que produzam resultados concretos é realmente uma arte, mas também o é fazê-lo em tempo razoável, mantendo o bom humor, até que resultados sejam alcançados. Moderadores profissionais têm essas habilidades, e quanto maior a expectativa por resultados de uma reunião – por exemplo, um processo de criação de uma visão – mais importante é o seu envolvimento.

Além disso, há muitos casos ao longo do processo nos quais será fundamental que a pessoa que conduz a reunião esteja em uma posição neutra. Caso contrário, facilmente haverá a suspeita de que o consenso da reunião não é real, mas antes atende aos interesses particulares da instituição que essa pessoa representa.

Reuniões mal realizadas, nas quais as pessoas saem frustradas, e possivelmente até com raiva, poderão comprometer todo o processo e deslocar a atenção dos problemas reais do debate com o comportamento de certos grupos de interesse e o processo também. Há, portanto, boas razões para contratar um profissional..

O que é um bom moderador?

Um bom moderador:• é visto como confiável, imparcial e culturalmente sensível• fala de forma clara e positivamente• nota e responde quando a energia das pessoas está enfrequecendo.

Um moderador adequadamente flexível • planeja a agenda com antecedência, mas é flexível no dia• garante, no início da reunião,que o propósito é claro e acordado entre os presentes• tem um arsenal de técnicas para envolver as pessoas de maneiras diferentes

Um experiente moderador:• centra-se na orientação da reunião ao invés de falar• assegura que diferentes vozes sejam ouvidas e impede uma pessoa ou grupo de dominar o encontro• administra conflitos construtivamente • esclarece, se necessário parafraseando, o que já foi dito e checa a exatidão dos significados• resume, em intervalos, as conclusões às quais a reunião aparenta estar chegando• mantém o foco da reunião e mantém um olho no tempo• ajuda os participantes a tirar conclusões e direcionar ações claras e bem definidas.

Adaptado de Office for the Community & Voluntary Sector, Governo da Nova Zelândia, Boas Práticas - Participação; disponível em http://www.goodpracticeparticipate.govt.nz/techniques/choosing-a-facilitator.html

Informações sobre o papel da visão no planejamento estratégico e como conduzir um processo de construção dessa visão podem ser encontradas no Módulo 1, Seção 7.5.2

45Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

Por outro lado, haverá também uma série de reuniões menores, mais próximas do tipo de reuniões de trabalho regulares em qualquer escritório. Estas podem ser facilmente presididas pela instituição convocada ou qualquer outro interveniente com uma boa compreensão das questões em foco. Alguns elementos básicos para se ter em mente para a realização de uma reunião eficaz podem ser encontrados abaixo. Contudo, estes não devem ser entendidos como uma lista exaustiva e o que se aplica em casos específicos dependerão sempre do verdadeiro objetivo de uma reunião.

A lista a seguir pode ser usada como uma forma de verificação básica para a realização de uma reunião eficaz:

• A agenda e os principais documentos precisam ser distribuídos com antecedência.

• Todos os participantes devem ser apresentados uns aos outros.

• Um consenso deve ser encontrado sobre os resultados desejados da reunião.

• Uma pessoa tem que ser responsável por tomar notas, mantendo o controle dos principais pontos levantados e posteriormente elaborando um relatório de síntese sobre os resultados da reunião.

• O moderador ou o presidente da reunião tem que certificar que todos tenham iguais oportunidades de falar.

• As discussões devem ser orientadas para os resultados.

• Resultados provisórios e finais devem ser visíveis a todos, por exemplo, escrevendo-as em um cartaz tipo flip chart.

• Todos os participantes devem receber o relatório depois, incluindo a lista de participantes com informações de contato.

PRINCIPAIS QUESTÕES DA ÁGUA NA NOSSA CIDADE

46 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

7.3.3 Construção de consenso

Inúmeros acordos terão que ser obtidos ao longo do processo de planejamento estratégico: sobre uma visão conjunta, sobre as prioridades, sobre os objetivos, sobre as metas, sobre a estratégia, sobre a implantação de ações etc. Dependendo de como o papel das partes é definido nesses acordos, uma grande parte dessas reuniões será dedicada a chegar a um consenso sobre tais temas. A força do moderador, nas reuniões dos grupos de interesse, será, portanto, medida por sua habilidade em orientar os grupos de uma maneira que os encontros possam efetivamente alcançar os resultados previstos.

Um consenso não deve ser confundido com uma maioria de votos. É, antes, uma espécie de processo de negociação em que todos os grupos de interesse têm espaço igual para trazer as suas necessidades e interesses à frente. Esses terão de ser pesados uns contra os outros, a fim de se chegar a conclusões as quais todos ao redor da mesa de negociação possam aceitar – mesmo que não satisfaçam plenamente as expectativas iniciais.

Todos os atores terão que estar preparados para alguns compromissos. Ao mesmo tempo, encontrar um consenso não deve limitar-se apenas a encontrar um denominador comum. A gestão sustentável da água é uma aspiração elevada e não vai acontecer sem algumas decisões ousadas e poderosas para mudar elementos essenciais do sistema convencional.

Também neste sentido, a escolha do moderador certo será crucial para o êxito de um processo de planejamento estratégico participativo. Qualquer bom moderador terá que dispor de um grande conjunto de técnicas e ferramentas para alcançar os objetivos de cada reunião. Se ela, ou ele, falhar em alcançar resultados concretos, a seleção de um moderador novo pode ser considerada.

Com moderação profissional, orientada para os resultados, cada acordo firmado que seja claramente baseado em um consenso de todos os grupos de interesse pode contribuir significativamente para o reforço do processo. A experiência em comum de passar pelos altos e baixos dos debate e negociações e, finalmente, formular um encaminhamento, contribuirá para reforçar a apropriação do processo por parte dos grupos de interesse. Assim, também irá aumentar seu compromisso de continuar com sua participação ativa no grupo e realizar o que for necessário dentro de sua instiruição para cumprir com os acordos.

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Reunião local da Aliança de Aprendizagem SWITCH em Łódź, Polônia

47Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

7.3.4 Mediação de Conflitos

Os conflitos são da natureza dos processos que envolvem um conjunto diverso de partes interessadas. Pode-se até argumentar que uma das principais razões para que os grupos de interesse sejam reunidos para encontrar uma visão comum e uma abordagem sobre gestão da água, é o fato de suas reivindicações derivarem de diferentes interesses institucionais e individuais, os quais são desequilibrados ao privilegiarem uns e desfavorecerem outros. Os conflitos são, portanto, inevitáveis, mas se forem geridos de forma construtiva, irão lançar luz sobre as principais barreiras que impedem o progresso para uma maior sustentabilidade e desencadear discussões necessárias para superar tais barreiras.

Conflitos pela água e sua gestão podem já ter sido deflagrados e, portanto têm de ser abordados numa fase inicial do processo de planejamento – talvez até mesmo antes que o processo de planejamento estratégico seja iniciado. Outros conflitos podem estar ocultos e só vêm à tona durante o processo, por exemplo, ao priorizar as questões mais urgentes que devem ser abordadas. Em todo caso, todos os grandes conflitos vão requerer a devida atenção, de modo que o espírito de colaboração para uma melhor gestão da água no futuro possa ser mantido e o processo participativo possa ser continuado.

Mediação de conflitos é uma habilidade que normalmente ultrapassa o perfil típico do facilitador ou do moderador de reuniões periódicas. Uma vez que um conflito mal administrado é susceptível de prejudicar o processo de planejamento como um todo, é indispensável envolver um profissional neutro e experiente, que possa transformar um conflito em uma fonte profícua de soluções alternativas.

Um mediador de conflitos deve ser equipado com uma metodologia específica para orientar as partes em conflito, por meio de um processo que lhes permita rever a sua percepção do assunto em questão e reconhecer diferentes perspectivas na relação com o problema. Os lados opostos são obrigados a repensar possíveis caminhos e meios para lidar com a questão de uma forma construtiva. Isso deve permitir que todos os grupos de interesse persigam os seus próprios interesses, a um grau que não exclua os outros de fazerem o mesmo. No final de um processo de mediação bem-sucedido não haverá vencedores e perdedores. Ao contrário, todas as partes serão capazes de tirar proveito de terem se disponibilizado a comprometer parte de suas agendas particulares em benefício de um bem maior.

Enquanto conflitos, maiores ou menores, sempre resultarão da atividade de múltiplos grupos de interesse, um conflito pode ser de fato a razão pela qual esses grupos foram reunidos, em primeiro lugar. Nessa situação, o facilitador geral do processo deve ter grande habilidade e experiência na solução desses conflitos. Uma metodologia mais ampla, tal como ASIS, será necessária para construção de uma aliança estratégica em conflitos ainda em sua fase inicial, ao mesmo tempo em que soluciona a falta de inclusão social de uma das partes do conflito (veja caixa abaixo e seção 6.4 para mais detalhes).

“O conflito é melhor do que a apatia. Sempre que houver conflito, isso significa que há energia para trabalhar em alguma coisa”.

Lisa Beutler, em Florestal, 2007. Citação de Jan Teun Visscher (2008)

48 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

Uma abordagem sistemática para, a partir de uma situação de conflito, criar outra de benefícios mútuos:o caso de pequenos curtumes em Villapinzòn, Colombia.

A economia colombiana é caracterizada por uma grande proporção de micro e pequenas empresas que empregam mais de 80% da força de trabalho do país. No caso de Villapinzòn, esses micro-curtumes estabeleceram-se ao longo do rio Bogotá décadas atrás para lançarem seus efluentes, resultado de seu processo produtivo.

Forçar esses curtumes a pararem de lançar esses efluentes não foipossível porque eles desconheciamqualquer alternativa viável para lidar com as águas contaminadas. Ações legais contra eles eram equivalentes a acabar com o negócio e, assim, com o meio de vida das populações.

Com o desenvolvimento do quadro ASIS (Abordagem Sistemática para Inclusão Social) pelo SWITCH, os curtumes receberam apoio na construção de uma associação profissional e axploração de diferentes soluções técnicas para reduzir a poluição de rios, em cumprimento das exigências legais. Isso fortaleceu a posição dos produtores frente às autoridades oficiais e permitiu a eles manterem um diálogo construtivo e ações conjuntas com seus antigos oponentes.

Para mais detalhes na metodologia ASIS e sua aplicação prática, ver o caso de estudo por Sanz, M. et al, 2010: Bringing Together Diverse Groups to Clean Up the Bogotà River – The case of micro- tanneries in Villapinzón, Colombia. www.switchtraining.eu/switch-resources

Em todos os casos, no entanto, é importante notar que a mediação do conflito não acaba com as partes chegando a um entendimento sobre uma determinada questão. Ao contrário, o estabelecimento do conflito somente ocorrerá se as ações acordadas forem postas em prática e caso haja também um processo que garanta que isso de fato ocorra. A solução do conflito poderá, portanto, materializar-se somente em semanas, meses ou até mesmo anos após o acordo ter sido aceito.

Micro-curtume em Villapinzón, Colômbia

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49Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

7.4 Avaliando o processo participativo dos grupos de interesse

O envolvimento dos interessados deve ser visto como um meio para um fim e não como “algo bom”, como um bem em si mesmo. Os próprios interessados, bem como a instituição administradora do processo, têm que investir uma quantidade significativa de tempo e dinheiro. Por isso, seria um exercício inútil se não levar a resultados concretos. Embora seja evidente que um processo de monitoramento deva ser estabelecido para observar os resultados da aplicação da estratégia atual para águas urbanas, manter um olhar atento sobre o próprio processo de participação de grupos de interesse, a partir da qual deriva esta estratégia, é igualmente importante. Problemas em atingir objetivos técnicos definidos na estratégia, por exemplo, podem resultar de envolvimento insuficiente dos grupos de interesse e podem ser resolvidos de forma satisfatória depois que o problema, no processo de participação em andamento, seja adequadamente explorado.

Para fazer a avaliação do envolvimento dos grupos de interesse, será necessário que seja mantido um registro sobre a evolução dos trabalhos, incidentes, avanços, conflitos, etc. que acontecerão enquanto o processo evolui. Essa documentação é uma forma de garantir que tal registro existe e que a avaliação não terá de se basear apenas na boa memória e nas impressões subjetivas dos grupos de interesse.

A avaliação pode acontecer com um foco na qualidade do próprio processo, ou melhor, em seus resultados, em outras palavras, em sua eficácia. No primeiro caso, uma questão como a participação equilibrada dos grupos mais desfavorecidos, pode ser de interesse. No segundo caso, a atenção pode ser se os grupos de interesse conseguiram chegar a um acordo sobre um assunto específico dentro de um prazo razoável.

Para não perturbar o espírito colaborativo, a transparência também é indispensável. Idealmente, os próprios interessados participam da elaboração do processo de avaliação e também compartilham suas próprias perspectivas quando a avaliação é realizada. Além disso, é útil incluir uma pessoa imparcial, externa, que possa proporcionar reflexões a partir de um ponto de vista mais neutro.

A seguir, os métodos de documentação dos processos, monitoramento e avaliação são explicados em detalhes.

50 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

Para obter mais informações sobre como realizar a documentação de processos, consulte SWITCH in the City’ (2011), Part II

7.4.1 Documentação de processos

A documentação de processos faz parte de um método para avaliar mais de perto e criticamente os processos de mudança, por acompanhar o que aconteceu, como aconteceu e porque aconteceu.

Na prática, a documentação de processos significa ter uma pessoa – ou até mesmo uma equipe – ao longo do processo de mudança, com uma espécie de “diário”, ou seja, memorandos, fotografias, vídeos, etc, de entrevistas, eventos e outras atividades relevantes. Desta forma, um registro contínuo de histórias locais sobre o processo será compilado. Esse registo permitirá uma reflexão mais aprofundada do processo de mudança, bem como a inclusão dos fatores que ajudaram ou prejudicaram o seu progresso.

A documentação de processos pode ter um efeito interno ou externo:

• Internamente, pode apoiar os encarregados de coordenar o processo de planejamento estratégico – incluindo a participação dos grupos de interesse – para melhor compreender o verdadeiro curso de seu desenvolvimento. Ela revela idéias sobre fatores que consituem uma barreira ou contribuem com a mudança, como por exemplo, alguns legados do passado, culturas tradicionais, política local, formas de poder, etc. Observações feitas contribuem para a aprendizagem durante todo o processo e também são usadas para explorar opções sobre o que poderia potencialmente ter sido feito para superar os bloqueios que possam estar relacionados a algum desses fatores.

• Externamente, essas idéias também podem ser compartilhadas com outras pessoas e assim contribuir para uma maior transparência frente aos cidadãos em geral, alimentando o debate público sobre questões fundamentais. Esse tipo de compartilhamento externo deve ser parte de uma estratégia de comunicação mais ampla. Algumas das observações, por exemplo, podem ser politicamente muito sensíveis e prejudicarem a reputação de grupos de interesse, que, apesar delas, continuam a ser membros-chave no andamento do processo.

A documentação de processo normalmente faz parte das atribuições da pessoa ou equipe responsável por facilitar o processo. Claro que essa pessoa ou equipe pode ser apoiada por muitos outros que podem fornecer ao facilitador sua coleta pessoal de observações, recortes de jornais, fotografias, etc.

51Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

Cenários para um objetivo Pontuação

Não há registro acessível dos agentes envolvidos e de sua participação efetiva em vários eventos e atividades.

0

Existe um registro ultrapassado dos interessados e de sua participação efetiva em eventos e atividades.

25

Há um registro atualizado de participantes e de seu envolvimento, e algumas ferramentas básicas de comunicação são sistematicamente utilizadas (e-mail, por exemplo, telefone) entre eventos.

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Há um registro atualizado de participantes e seu envolvimento, e os arquivos são mantidos por meio do uso sistemático de ferramentas avançadas de comunicação, como, por exemplo, um fórum na Internet.

75

Informações sobre as partes envolvidas são acessíveis a todos (por exemplo, por meio de banco de dados on-line), a participação em todos os eventos e atividades é sistematicamente registrada e uma combinação de métodos é utilizada de forma eficaz (com base no feedback recebido) para comunicação entre os eventos.

100

Justificativa da pontuação (com data) Pontuação atribuída

7.4.2 Acompanhamento

Assim como no caso da avaliação de desempenho e de eficácia do sistema de águas urbanas e sua gestão, propriamente dita, os indicadores também são necessários para acompanhar o processo participativo de gestão e para avaliar se atende a seus objetivos. Embora a definição de indicadores adequados seja um desafio para o sistema de águas urbanas, avaliar um processo pode ser ainda mais complicado.

Olhar para o processo e para os resultados do envolvimento dos grupos de interesse exige uma metodologia diferente, por exemplo, por meio da definição de “micro-cenários” que reflitam gradientes e níveis qualitativos de mudanças. Os “micro-cenários” podem ser avaliados de forma participativa.

Cada degrau de um conjunto de “micro-cenários” diz respeito a um objetivo do processo de gestão participativa. Os degraus dessa escada correspondem às mudanças graduais do estado atual para o estado desejado, em consonância com o alcance dos objetivos. Além disso, cada um dos passos torna-se uma referência, ou seja, o nível mínimo a ser alcançado.

O esquema de tal método de monitoramento, ou seja, tanto os “micro-cenários”, como as pontuações associadas, deve ser desenvolvido e aprovado pelos grupos de interesse. Isso irá, ao mesmo tempo, aumentar o seu conhecimento sobre o que constitui um processo bem sucedido e também criar algumas idéias que possam contribuir para fazer isso acontecer.

Exemplo:O objetivo é “ter uma visão clara sobre quem são os atores envolvidos e fazer com que eles se comuniquem uns com os outros de forma eficaz”.

Os “micro-cenários” relevantes poderão ser como o exemplo a seguir (Adaptado de SWITCH in the City, 2011, Part II):

Figura 9: Micro-cenários de avaliação progressiva do processo participativo.

52 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

7.4.3 Avaliação

Com os “micro-cenários” e as pontuações associadas ao grau de evolução, os interessados têm uma ferramenta útil para realizar a avaliação. Isso deve acontecer regularmente.

Naturalmente, a avaliação não termina com o acordo sobre as pontuações. Especialmente se este indicar um nível de realização abaixo do benchmark uma revisão crítica do conjunto de acompanhamento e gestão do processo participativo será necessária: o que funcionou e o que não? Quais são as razões?

Medidas para aprimorar o processo de participação podem ser muito distintas. Elas podem levar, por exemplo, à substituição do facilitador do processo em curso ou a uma comunicação mais ágil e freqüente com os grupos de interesse, a fim de criar mais confiança e comprometimento do time.

Outra conclusão da avaliação também pode ser que os próprios micro-cenários precisam de certa adaptação – ou que outro objetivo deva ser adicionado para que, refletindo sobre o processo, inclua todo um conjunto de cenários próprios.

A avaliação pode se beneficiar muito com o envolvimento de uma pessoa neutra – por exemplo, um pesquisador ou, eventualmente, um jornalista – que analisa, com certa distância, o processo. Essa pessoa neutra não pode ser facilmente acusada de ser tendenciosa ou utilizar os resultados em seu próprio interesse. É claro que os resultados dessa análise terão, então, de ser compartilhados novamente com todo o grupo de interessados para a elaboração de suas conclusões.

Um membro neutro externo também será capaz de levantar algumas questões potencialmente controversas, em especial os entraves relativos à mudança que, em outras ciscunstâncias, nunca seriam levantadas por quaisquer dos grupos de interesse, a fim de evitar tensões políticas ou prejudicar a reputação de uma ou outra pessoa ou até da instituição como um todo. No entanto, se um grupo de interessados encontra-se verdadeiramente empenhado em gestão integrada das águas urbanas, ele também tem que estar preparado para lidar com fatos menos confortáveis o que será crucial para manter o processo em andamento.

53Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

Fechamento

Na gestão convencional das águas urbanas, o conjunto das tarefas é, normalmente, realizado por diferentes instituições isoladas. Usuários de água que não detêm de significativo poder econômico, têm pouco a dizer no processo de tomada de decisão.

Falta de coordenação e pouco conhecimento sobre as necessidades e interesses dos usuários leva a ineficiências na gestão. Impactos negativos em outros setores do desenvolvimento urbano, com freqüência, são vistos apenas de passagem, resultando em disperdício de recursos.

Envolver todos os grupos e instituições relevantes – incluindo grupos socialmente marginalizados – na gestão do ciclo hidrológico urbano pode ser benéfico a todos, caso sejam conhecidas e levadas em consideração as relações de poder entre os grupos de interesse ao longo do processo.

O envolvimento de grupos de interesse deve ser baseado nos princípios da boa governança, incluindo responsabilização, transparência e eqüidade, e a confiança mútua e respeito são necessários para fazê-lo funcionar.

Dada a complexidade sempre crescente das questões urbanas, ciência e tecnologia assumem papel de suma importância. A abordagem da Aliança de Aprendizagem propicia um formato de envolvimento de pesquisadores de tal modo que eles podem auxiliar na identificação de soluções atuais e adaptadas ao local enquanto também promovem assimilação das inovações e lições aprendidas.

A integração é o principal mecanismo de desenvolvimento da gestão mais adaptada às condições locais e não pode ser alcançada sem o esforço harmônico de todos os grupos de interesse relevantes. Isso se torna ainda mais importante nas décadas por virem, quando as pressões sobre sistemas de águas (rápida urbanização, crescimento econômico e mudanças climáticas, por exemplo) se intensificarem.

Importantes ingredients para um processo bem sucedido são uma coordenação central, boa facilitação, uma “personalidade” local que impulsione continuamente o processo, o planejamento de longo prazo, recursos financeiros, dentre outros.

O processo de participação de grupos de interesse deve ser dotado de objetivos claros e mensuráveis e devem ser monitorados e avaliados regularmente.

 

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Reflect

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54 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

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Envolvendo todos os agentes

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56 Kit de Treinamento SWITCHGESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS URBANAS NA CIDADE DO FUTURO

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57Módulo 2GRUPOS DE INTERESSE

Envolvendo todos os agentes

UN Department of Economic and Social Affairs (UNDESA), Division for Sustainable Development (1992): Agenda 21, Section III, Strengthening the Role of Major Groups, Chapter 28, Local Authorities’ Initiatives in Support of Agenda 21, UN Commission of Social and Economic Affairs, UN Department of Economic and Social Affairs (UNDESA), Nova Iorque, Estados Unidos da América. http://www.un.org/esa/dsd/agenda21/res_agenda21_28.shtml

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Verhagen, J., Butterworth, J., Morris, M. (2008) Learning alliances for integrated and sustainable innovations in urban water management, Waterlines Vol. 27 No. 2; April 2008. http://learningforchange.files.wordpress.com/2011/03/waterlines-learning-alliances-paper.pdf

Jan Teun Visscher (2008) Conflict mediation in the water and sanitation sector: and how to reach solutions, Thematic Overview Paper 22, IRC International Water and Sanitation Centre, The Hague, Holanda. http://www.irc.nl/content/download/139947/432501/.../TOP22_Conflict_08.pdf

www.switchtraining.eu

Parceiros:

O projeto SWITCH tem por objetivo alcançar uma gestão mais sustentável de águas urbanas na “Cidade do Futuro”. Um consórcio de 33 organizações parceiras de 15 países está trabalhando em inovadoras soluções científicas, tecnológicas e socioeconômicas, que poderão então ser replicadas mais rapidamente por todo o mundo.

ISBN 978-85-99093-12-2 (PDF)ISBN 978-85-99093-17-7 (CD-ROM)

Contato:

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