kenneth n. waltz uma análise da perspectiva de sua teoria das relações internacionais através...
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KENNETH N. WALTZ: UMA ANÁLISE DA PERSPECTIVA DE
SUA TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ATRAVÉS
DAS OBRAS “THEORY OF INTERNATIONAL POLITICS” E
“MAN, THE STATE, AND WAR”.
Paulo Victor Zaneratto Bittencourt1
RESUMO: O objetivo principal do trabalho que aqui se apresenta é traçar uma perspectiva da teoria das relações internacionais desenvolvida por Kenneth Neal Waltz (1924-2013), cientista político norte-americano, que fez um trabalho muito importante visando à sistematização da teoria realista das relações internacionais, valendo-se dos conceitos já trabalhados pelo realismo clássico de Hans Morgenthau e Edward H. Carr, para buscar uma maneira de se explicar os eventos permanentes do sistema internacional. Para tal, este trabalho se valerá das obras Man, the state, and war (1954) e Theory of Internacional Politics (1979) visando a analisar como interagem e, através de tal análise, obter um panorama da teoria de relações internacionais neorrealistas (ou realistas estruturais), cujo grande expoente é o autor supracitado.
PALAVRAS-CHAVE: Política internacional, Neorrealismo; Realismo Estrutural.
INTRODUÇÃO
As causas da guerra têm sido, desde há muito tempo, discutidas por diversos
autores. No início do século XX, a instituição das Relações Internacionais como uma
disciplina acadêmica juntou ainda mais indagações e considerações acerca do
assunto, inclusive sobre como – se é que – elas poderiam ser evitadas. Kenneth Neal
Waltz (1924-2013), cientista político norte-americano, também faz parte deste debate.
O autor tem duas obras de grande importância no estudo acadêmico das Relações
Internacionais: Man, the state, and war, de 1954, se propõe a perguntar o porquê de
as guerras ocorrerem e quais são as respostas dadas a tal evento. Em 1979, o autor
1 Graduando em Relações Internacionais pela Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FFC – UNESP/Marília). Membro do grupo de Estudos e Pesquisa em Organizações Internacionais (GEO) e do Grupo de estudos de Paz, Cultura de Paz e Tolerância (PACTO). Contato: [email protected].
lança uma outra obra: Theory of international politics, na qual tenta criar uma teoria da
política internacional que leve em consideração a permanência da guerra como evento
constante nas relações políticas entre os Estados.
Este trabalho tem como objetivo apresentar por quais caminhos anda o
pensamento e a teoria de Kenneth Waltz, fazendo amplo uso das duas obras
supracitadas para tal. Assim, tem-se em mente observar a importância de tal autor
para a escola a que pertence, a Neorrealista (ou Realista Estrutural), bem como sua
importância como marco na produção acadêmica de relações internacionais.
Dessa maneira, num primeiro momento discutir-se-ão as três imagens de
análise das causas da guerra, preceitos básicos da obra de Waltz. Depois, passar-se-
á para a discussão entre teorias sistêmicas e reducionistas. Adiante, tentar-se-á expor
qual é a teoria elaborada por Waltz e a balança de poder como consequência dos
termos colocados na teoria. Por fim, far-se-ão as considerações finais do trabalho.
PONTO DE PARTIDA: A PRIMEIRA IMAGEM DE ANÁLISE DAS CAUSAS DA
GUERRA
Para Waltz, o evento contínuo que mais marca as relações entre os Estados é
o conflito. Nos conflitos, não há vencedores, mas partes mais ou menos prejudicadas,
situação que o autor compara, de forma muito didática, deve-se apontar, à ocorrência
de um terremoto2. A partir de então, o autor se questiona: onde se encontram,
portanto, as causas dos conflitos? Nessa primeira busca pela sistematização das
teorias da política internacional e pela busca de uma teoria que explicitasse os já ditos
eventos contínuos das relações que envolvem a política entre Estados, Waltz observa
que tais teorias se pautam em três níveis de análise, ou melhor, três imagens, termo
este que o próprio autor prefere3. Dessa forma, são três as imagens que agrupam as
diferentes teorias das causas do conflito internacional, a saber: o homem, a
organização do Estado, e o sistema internacional de Estados – de onde decorre o
nome de sua obra Man, the state, and war. Faz-se necessário que se analise, mesmo 2 “Asking who won a given war, someone has said, is like asking who won the San Francisco earthquake” (WALTZ, 2001, p. 1). 3 Waltz é enfático em tal nomenclatura. Para o autor, o termo imagem de análise, preferencialmente ao nível de análise, “suggests that one forms a picture in the mind; it suggests that one views the world in a certain way” (WALTZ, 2001, p. ix). A partir do momento em que se constata que não se é possível “olhar” diretamente para a política internacional, o termo imagem refere-se àquilo que é enxergado a partindo-se de diferentes “lentes”.
que rapidamente, tais imagens para que se compreenda por onde caminha o
pensamento de Waltz a fim de se compreender sua tentativa de elaboração de uma
teoria da política internacional.
Como dito acima, portanto, a primeira imagem de análise do conflito é o
homem. Em tal imagem, inclui-se, portanto, o comportamento e a natureza
humana, como locus das mais importantes causas da guerra (WALTZ, 2001, p. 16).
Os conflitos se levantam do egoísmo, dos impulsos agressivos, do orgulho e da
estupidez humanos. Waltz adverte que, dentro desta imagem, “there are optmists and
pessimists agreeing on definitions of causes and differing from what, if anything, can
be done about them” (WALTZ, 2001, p. 19). Como o autor também realça, ambos os
“agrupamentos” conseguidos dentro dos analistas da primeira imagem, concordam
com a origem do conflito, contudo não concordam quanto àquilo que descrevem de tal
imagem4. São exemplos de teóricos que tiram suas conclusões a partir de uma dada
natureza humana Niebuhr, Santo Agostinho, Spinoza e Hans Morgenthau. Cada
homem, portanto, em seu egoísmo, orgulho e impulsos tentam se fazer seguros de
suas condições, a fim de buscarem seus próprios interesses5. É essa ideia que se
encontra, exemplificando, na concepção de “pecado original”, de Santo Agostinho6.
Quanto a Spinoza, outro autor com quem Waltz dialoga, é possível observar uma
dicotomia entre razão e paixão que muito se assemelha à ideia dicotômica entre ideal
e real, respectivamente. Sobre Spinoza, Waltz diz que ele “constructs a modelo of
rational behavior: those acts are rational that lead spontaneously to harmony in
cooperative endeavors to perpetuate life. This is not what we find in the world”
(WALTZ, 2001, p. 23, grifos nossos). A situação que se pode encontrar no mundo, isto
é, a situação real que se vê é que
4 Originalmente: “Optimists and pessimists agree on where to look, but, having looked, describe differently what they see and thus arrive at contradictory conclusions” (WALTZ, 2001, p. 42). 5 Na íntegra, diz Waltz sobre essa dada natureza: “Each man does seek his own interest, but, unfortunatelly, not according to the dictates of reason” (WALTZ, 2001, p. 23). 6 Passagem significativa acerca do desejo de “auto”-segurança e egoísmo é encontrada na obra Confissões, de Santo Agostinho: “Alguém matou um homem. E por quê? Ou porque lhe amava a esposa ou o campo, ou porque queria roubar para viver, ou porque temia que lhe tirasse alguma coisa, ou finalmente porque, injuriado, ardia no desejo de vingança. Quem acreditará que cometeu o homicídio só por deleite, se até Catilina, aquele homem louco e crudelíssimo, de quem se disse ser perverso e cruel sem razão, tinha um motivo: ‘o receio’, diz o historiador, ‘de que o ócio lhe entorpecesse as mãos e o espírito’? Por que fim procedia ele assim? Evidentemente, para que, exercitado no crime, alcançasse, depois de tomada a cidade de Roma, as honras, o poder e as riquezas, libertando-se do medo das leis e da dificuldade em que o lançara a pobreza da herança e a consciência do crime. Logo, nem o mesmo Catilina amou seus crimes, mas aquilo por cujo fim o cometia” (AGOSTINHO, 1980, p. 33-34, grifos nossos).
os homens são mais conduzidos pelo desejo cego que pela Razão, e,
por conseguinte, a capacidade natural dos homens, isto é, o seu
direito natural, deve ser definido não pela Razão mas por toda a
vontade que os determina a agir e através da qual se esforçam por se
conservar. Confesso, na verdade, que estes desejos que não têm a
sua origem na Razão não são tanto ações como paixões humanas.
Mas, como se trata aqui do poder universal da Natureza, que é a
mesma coisa que o direito natural, não podemos reconhecer neste
momento nenhuma diferença entre os desejos que a Razão engendra
em nós e os que têm outra origem: uns e outros, efetivamente, são
efeitos da Natureza e manifestam a força natural pela qual o homem
se esforça por preservar no seu ser (SPINOZA, 1980, p. 309-310,
grifos nossos)
Ambos os autores citados acima podem ser classificados como “pessimistas”,
do ponto de vista de Waltz, uma vez que nada pode ser feito acerca do
comportamento do homem, e, dessa forma, o conflito, que sempre fora uma constante,
continuará a sê-lo. Entretanto, há diferentes interpretações acerca de tal fato, o que
Waltz descreverá como falácia racionalista7, segundo a qual o conhecimento de
diferentes culturas e organizações sociais pode auxiliar que novas atitudes e novos
comportamentos sejam adotados. É o caso de Margaret Mead, para quem a guerra é
nada mais que uma “instituição social” e, como tal, para que desapareça, deve ser
substituída por outra. O que sustenta a argumentação de Mead é que a guerra é
desconhecida em determinadas sociedades. Contudo, Waltz conclui que “there is a
marked tendency among behavioral scientists to require some kind of willingness on
the part of the nations to cooperate before their solutions can take effect” (WALTZ,
2001, p. 65). Tal argumento expõe o ponto de vista de Waltz, que será melhor
esclarecido mais adiante, de forma que o foco apenas em imagem de análise (ainda
mais aquilo que, talvez, pudesse ser chamado de “imagem complementar”) gera
distorções nas interpretações da realidade.
Em síntese, o que conduz à guerra para os autores que se valem da primeira
imagem de análise é o comportamento humano, moldado por sua natureza, que, nos
casos apontados, é má. Se alguma coisa pudesse ser feita em prol da melhora de tal
natureza, esse esforço seria orientado pela paz, que somente viria pela mudança da
tal comportamento. Waltz, contudo, afirma que a maneira como tais autores
desenvolvem seu raciocínio é através de “one or a small number of behavior traits” dos
7 “Rationalist fallacy”, no original.
indivíduos, sobre o quais sobrecai as causas da guerra (WALTZ, 2001, p. 39). Sobre o
próprio Spinoza, o cientista político norte-americano encontra em sua filosofia o claro
apontamento de que os homens “under different conditions behave differently”
(WALTZ, 2001, p. 32). Na visão de Waltz, por fim, o que esse predomínio da primeira
imagem fez, portanto, não foi focar-se na natureza humana, mas afastar dela
quaisquer considerações que pudessem contestar as ideias já colocadas. Nas
palavras de WALTZ (2001, p. 41):
The assumption of a fixed human nature, in terms of which all else
must be understood, itself helps to shift attention away from human
nature – because human nature, by the terms of the assumption,
cannot be changed, whereas social-political institutions can be.
PONTO DE PARTIDA: A SEGUNDA IMAGEM DE ANÁLISE DAS CAUSAS
DA GUERRA
Embora a primeira imagem não desconsidere a influência da organização do
Estado, ela o coloca como menos importante que a natureza humana, ou, antes, um
reflexo desta. Já a segunda imagem, por sua vez, está relacionada à estrutura do
Estado. Liberais e marxistas, como um todo (talvez com algumas exceções), podem
ser encarados como os grandes analistas desta imagem. Os liberais, justifica Waltz,
acreditam que os governos são necessários para manter os cidadãos longe do caos
gerado pela busca dos próprios interesses8. Dessa forma, um Estado deve ser
limitado, a fim de que apenas mantenha a paz a seus cidadãos, o que seria o dever de
um bom Estado. O Estado apenas promoveria guerra para aumentar impostos,
expandir a burocracia ou aumentar seu controle sobre os cidadãos, o que é prejudicial
à manutenção das liberdades individuais e políticas, tão caras aos liberais. Assim
sendo, a guerra não compensa: “War is destruction and enrichment from war must
therefore be seen as an illusion. The victor does not gain by war; he may pride himself
only on losing less than the vanquished” (WALTZ, 2001, p. 99, grifos nossos). O credo
liberal é o de que as democracias não fariam guerras. Ainda haveria conflitos de
interesses, sim, mas não seriam resolvidos através de embates violentos, o que
caracteriza guerras: algo que lembra muito o que os marxistas acreditam, segundo
WALTZ, para quem (2001, p. 125) “Marx and the marxists represent the fullest
development of the second image”. De acordo com o cientista político estadunidense,
“Marx, for example, believed that states would disappear shortly after they became
8 Ou, como inferido pelo pensamento de Locke, o Estado seria um mal necessário (BOBBIO, 1997).
socialist. The problem of war, if war is defined as violent conflict among states, would
then no longer exist” (WALTZ, 2001, p. 84). Deste trecho, estabelece-se que o modo
como se estrutura um Estado através de seu sistema ideológico e de produção está
diretamente envolvido com as causas da guerra entre Estados9. O pensamento de
Marx, portanto, não se encaixaria àquilo que Waltz chamará de âmbito “sistêmico” de
análise, mas ao âmbito doméstico de cada Estado. Como muito bem apontado por
FERNANDES (1998, p. 222), ao sintetizar o pensamento de Fred Halliday, “o
pensamento marxiano não se encaixa bem em nenhuma das grandes polêmicas que
varreram” a disciplina das relações internacionais ao longo do século XX, sendo,
portanto, tal pensamento vinculado à estrutura do Estado, o que parece constituir uma
convergência entre muitos estudiosos das Relações Internacionais. O pensamento
marxiano seria, no pensamento de Halliday, portanto:
Simultaneamente “utópico” (ao formular um projeto alternativo de
emancipação social) e “realista” (ao enfatizar os interesses materiais
que comandam a ação humana e o papel da violência na história);
“científico” (ao pretender descobrir leis do desenvolvimento social) e
“normativo” (ao destacar explicitamente a vocação transformadora de
sua filosofia); “mundial-sistêmico” (ao realçar a integração do globo
em um único mercado mundial) e “estadocêntrico” (ao reconhecer,
teórica e politicamente, a centralidade do poder de Estado para o
exercício da dominação no plano doméstico e internacional)
(FERNANDES, 1998, p. 222).
Já entre os liberais, talvez o mais conhecido dos trabalhos realizados que
possa ser incluído nesta categoria de análise tenha sido o A paz perpétua (1795/96),
de Immanuel Kant. Em tal obra, o autor se propõe a estabelecer como deveriam se
constituir politicamente os Estados, de tal maneira que fosse garantido aquilo que dá
nome ao opúsculo: a paz perpétua. Dessa forma, propõem-se artigos preliminares e
definitivos para que se atinja tal fim. Entre os artigos preliminares, encontram-se tanto
9 “A análise científica do regime capitalista de produção demonstra (...) que este regime constitui um regime de produção de tipo especial, e que corresponde a uma condicionalidade histórica específica; que, como qualquer outro regime de produção concreto, pressupõe, como condição histórica, uma determinada fase das forças sociais produtivas e de suas formas de desenvolvimento, condição que é, por sua vez, resultado e produto histórico de um processo anterior, e do qual parte o novo tipo de produção como de sua base dada; que as relações de produção que correspondem a este regime de produção específico, historicamente determinado – relações que os homens contraem em seu processo social de vida, na criação de sua vida social –, apresentam um caráter específico, histórico e transitório; e, finalmente, que as relações de distribuição são essencialmente idênticas a estas relações de produção, o seu reverso, pois ambas apresentam o mesmo caráter histórico transitório” (MARX, 1982, p. 75).
a questão da transparência entre os próprios Estados, quanto a ideia de não-
intervencionismo, que caracteriza o pensamento Kantiano acerca das relações
internacionais. Já entre os artigos definitivos, encontra-se aquele que está diretamente
relacionado à estrutura doméstica dos Estados, a saber: “a constituição civil em cada
Estado deve ser republicana” (KANT, 1995, p. 127). Tal artigo é a definição mais clara
de como enxergar as causas dos conflitos através da segunda imagem de análise.
Nos termos do próprio artigo:
A constituição republicana, além da pureza de sua origem, isto é, de
ter promanado da pura fonte do conceito de direito, tem ainda em
vista o resultado desejado, a saber, a paz perpétua; daquela esta é o
fundamento. Se (como não pode ser de outro modo nesta
constituição) se exige o consentimento dos cidadãos para decidir “se
deve ou não haver guerra, então, nada mais natural do que deliberar
muito em começarem um jogo tão maligno, pois têm de decidir para si
próprios todos os sofrimentos da guerra (...). Pelo contrário, numa
constituição o súbdito não é o cidadão, que, por conseguinte, não é
uma constituição republicana, a guerra é a coisa mais simples do
mundo, porque o chefe do Estado não é um membro do Estado, mas
o seu proprietário, e a guerra não lhe faz perder o mínimo dos seus
banquetes, caçadas, palácios de recreio, festas cortesãs, etc. (...)
(KANT, 1995, p.128-129).
Como já explicitado acima, a primeira imagem não ignora a segunda, apenas
dá mais importância à natureza humana. Sendo o governo constituído por homens, a
natureza destes tende a predominar em suas decisões e ações. Já a segunda imagem
de análise, por sua vez, propõe que a existência de instituições e de uma determinada
organização constitucional dos Estados (portanto essencialmente doméstica)
conseguem cercear, de certa maneira, a má natureza humana, e levar a determinados
momentos em que a paz seja possível e, portanto, a manutenção de cidadãos e
Estados livres leva ao fim da guerra e à paz perpétua. Dessa forma, a política externa
dos Estados, que nada mais é do que uma parte do projeto de desenvolvimento
interno, é reflexo da organização estatal10. Em Theory of international politics, Waltz
concluirá que “it is not possible to understand world politics simply by looking inside of
the states” (WALTZ, 1979, 65), ou seja, apenas se baseando na segunda imagem não
se pode inferir muitas coisas sobre o sistema internacional.
10 “A theory about foreign policy is a theory at the national level” (WALTZ, 1979, p. 69).
PONTO DE PARTIDA: A TERCEIRA IMAGEM DE ANÁLISE DAS CAUSAS DA
GUERRA
A terceira imagem de análise, por sua vez, embora leve em consideração as
duas imagens já discutidas anteriormente, encontra outro motivo para as causas da
guerra11. Tal motivo não é apenas o comportamento humano, nem a organização do
Estado, uma vez que estas teorias podem – e muitas vezes foram – ser contra-
argumentadas. Dessa forma, levando em consideração as duas outras imagens, o que
é decisivo quanto à existência ou não de conflito, está colocado num âmbito acima dos
Estados nacionais: o sistema internacional12.
No sistema de Estados não há um poder que submeta todos a uma ordem.
Embora haja um determinado ordenamento entre os Estados, aquele somente se dá
através das circunstâncias postas no sistema em determinado momento histórico e da
própria vontade dos Estados, o que é um preceito da soberania estatal13. A ausência
de um poder sobre os Estados é o que caracteriza o estado de anarquia internacional.
Aqui, recorre-se à explicação do estado de natureza e do contrato social, hipótese
filosófica que justifica e tenta explicar a existência de Estados e leis a que os cidadãos
se submetam14. A situação em que se encontram os Estados no sistema internacional
é comparável àquela que se encontrariam os homens no período anterior à formulação
11 “In one way or another, theories of international politics, whether reductionist or systemic, deal with events at all levels, from the subnational to the supranational” (WALTZ, 1979, p. 60). 12 “In a manner of speaking, all three images are part of nature. So fundamental are man, the state, and the state system in any attempt to understand international relations that seldom does an analyst, however wedded to one image, entirely overlook the other two. Still, emphasis on one image may distort one’s interpretation of the others” (WALTZ, 2001, p. 160). Quando se diz “o que é decisivo”, não é o mesmo que dizer que se dá ênfase a determinada imagem. O que se quer dizer é, como se verá mais adiante, que a ausência de um poder a que os Estados se submetam faz com que eles sejam, no âmbito internacional, juízes em causa própria. 13 Para Hobbes, considerado por alguns autores como aquele que elaborou o conceito de soberania do Estado, uma das prerrogativas para que o Estado seja, de fato, soberano, é o direito à declaração de guerra e paz contra outros Estados. 14 De maneira resumida, o estado de natureza seria aquele anterior à gênese do Estado moderno. No estado de natureza, não haveria propriedade nem segurança, de forma que os homens são livres, mas, ao mesmo tempo, inseguros, o que gera uma constância da tensão a que todos estão submetidos. É o estado de “guerra de todos contra todos”. Dessa maneira, sendo esta situação insustentável, promove-se o contrato social, em que os homens cedem parte de sua liberdade às leis que passarão a julgar seus atos e, em troca, os agora cidadãos teriam mais segurança, tanto para suas próprias vidas, quanto para suas propriedades. São filósofos contratualistas Spinoza, Hobbes, Locke, Rousseau e Kant. Rousseau é o autor com quem Waltz dialoga na elaboração dos pressupostos teóricos da terceira imagem.
do Contrato Social15. Não havendo, como já dito, portanto, uma autoridade sobre os
Estados, a guerra se torna inevitável. Estados disputam entre si devido a fins
políticos16, uma vez que “in anarchy there is no automatic harmony” (WALTZ, 2001, p.
182).
O principal autor com quem Waltz trabalha na formulação desta imagem é
Rousseau. Rousseau não rechaça a ideia de imperfeição do homem, lembrando que,
se tal não existisse, a perfeição seria facilmente percebida por suas ações e
instituições. Como coloca WALTZ (2001, p. 170):
In short, the proposition that irrationality is the cause of all the world’s
troubles, in the sense that a world of perfectly rational men would
know no disagreements and no conflicts, is, as Rousseau implies, as
true as it is irrelevant. Since the world cannot be defined in terms of
perfection, the very real problem of how to achieve an approximation
to harmony in cooperative and competitive activity is always with us
and, lacking the possibility of perfection, it is a problem that cannot be
solved by simply changing men.
Em suma, o que se vê através da terceira imagem é que as guerras ocorrem
porque nada há que as previna de ocorrer (WALTZ, 2001, p. 188), isto é, não há
nenhuma força que subjugue os Estados de forma a os impedir de usar a força, cujo
monopólio legítimo lhe pertence, como prefere Weber. A explicação de Rousseau,
prossegue WALTZ (2001, p. 235), “does not hinge on accidental causes – irrationalities
in men, defects in states – but upon his theory of the framework within which any
accident can bring about war”. De fato, havendo a prerrogativa de que as guerras
podem acontecer, qualquer motivo, no sistema internacional, pode despertá-la.
Contudo, é importante frisar, Waltz não descarta a ideia de que algumas formas de
Estado são mais ou menos propensas à guerra17, e essa seria a causa eficiente18 da
15 “The social contract theorist, be he Spinoza, Hobbes, Locke, Rousseau, or Kant, compares the behavior of states in the world with that of men in the state of nature. By defining the state of nature as condition in which acting units, whether men or states, coexist without an authority above them, the phrase can be applied to states in the modern world just as to men living outside a civil state” (WALTZ, 2001, p. 172-173). 16 “Individuals participate in war because they are members of states. (…) One state makes war on another state” (WALTZ, 2001, p. 179). Talvez aqui se possa perceber melhor a distorção que a ênfase dada à primeira imagem possa causar: os homens não vão à guerra porque se odeiam e desejam saciar sua sede por sangue ou sua ganância. Eles vão à guerra como membros de um Estado e lutam contra membros de outro(s) Estado(s). 17 “But some states, and perhaps some forms of the state, are more peacefully inclined than others” (WALTZ, 2001, p. 231). 18 “Efficient cause”, no original.
guerra, caso ela viesse a acontecer. O sistema internacional seria, nestes termos, a
causa permissiva19 do conflito.
TEORIAS REDUCIONISTAS E TEORIAS SISTÊMICAS
Feitas as devidas considerações sobre as três imagens de análise do sistema
internacional, e estabelecidos os caminhos por onde andam os pensamentos de
Waltz, passa-se à consideração daquilo que seria uma teoria da política internacional
pelo autor. Waltz se propõe em Theory of international politics (1979) a examinar os
fatos constantes do sistema internacional (o conflito como muito já dito) e, a partir
disso, criar uma teoria da política internacional que valha para todo momento histórico,
uma vez que ela não irá apresentar detalhes e previsões, mas estabelecerá como se
compõe o sistema internacional20. Entre leis e teorias há algumas diferenças,
estabelece o autor: teorias costumam ser quantitativamente mais complexas que as
leis; leis perduram, enquanto teorias se fazem e são rebatidas; além disso teorias
tentam explicar as leis. Valendo-se do exemplo da ciência econômica (principalmente
em Adam Smith, com o qual argumenta a necessidade de uma teoria que perdure),
Waltz tenta explicar sua tentativa de estabelecer uma teoria da política internacional:
Adam Smith published The wealth of nations in 1776. He did not claim
to explain economic behavior and outcomes only then onward. He did
not develop a theory that applies only to the economic activities of
those who read, understand, and follow his book. His economic theory
applies wherever indicated conditions prevail, and it applies aside
from the state of producers’ and consumers’ knowledge. This is so
because the theory Smith fashioned deals with structural constraints
(WALTZ, 1979, p. 76).
Para que se compreenda a tentativa de Waltz, há que se compreender o que o
autor quer dizer quando classifica teorias em reducionistas e sistêmicas21.
Teorias reducionistas são aquelas que se baseiam no estudo das partes
buscando a entender a totalidade. Normalmente, valem-se da ajuda de outras
disciplinas na busca por suas explicações, e somente podem ser reconhecidas ou não
19 “Permissive cause”, no original. 20 “A theory of international politics will, for example, explain why war recurs, and it will indicate some of the conditions that make war more or less likely; but it will not predict the outbreak of particular wars” (WALTZ, 1979, p. 69). 21 Reductionist theories e Systemic theories, no original.
como suficientes quando se chega aos resultados (WALTZ, 1979, p. 18-19). Em outras
palavras, teorias que se baseiam na primeira e na segunda imagem são teorias
reducionistas, pois, a partir tanto do comportamento humano quanto do
comportamento interno (formas de governo) dos Estados que compõem o sistema
internacional, ou seja, a partir das partes, é que se obtém o funcionamento do sistema
internacional, do todo:
The same causes sometimes lead to different effects, and the same
effects sometimes follow from different causes. We are led to suspect
that reductionist explanations of international politics are insufficient
and that analytic approaches must give way to systemic ones.
The failure of some reductionist approaches does not, however, prove
that other reductionist approaches would not succeed. (WALTZ, 1979,
p. 37).
Os resultados e explicações que se encontram a partir destas teorias são
originados no nível nacional ou subnacional e “the international system, if conceived at
all, is taken to be merely an outcome” (WALTZ, 1979, p. 60).
Já as teorias sistêmicas, por sua vez, são aquelas que se baseiam na terceira
imagem de análise do sistema internacional: o sistema de Estados. Um sistema, no
pensamento de Waltz, caracteriza-se por dois níveis: um que consistiria na estrutura e
outro que consistiria na interação entre as unidades do sistema22. Assim sendo, se se
deseja elaborar uma teoria sistêmica da política internacional,
one has to move from the usual vague identification of systemic forces
and effects to their more precise specification, to say what units the
system comprises to indicate the comparative weights of systemic and
subsystemic causes, and to show how forces and effects change from
one system to another (WALTZ, 1979, p. 40-41)
No nível sistêmico, o que se encontram são resultados, enquanto as suas
causas são encontradas no nível subsistêmico (WALTZ, 1979, p. 43). A estrutura do
sistema é algo de muita importância numa teoria sistêmica, pois parte das explicações
são seu resultado. Sobre as estruturas, diz Waltz que: são “a compensating device
22 “A system is then defined as a set of interacting units. At one level, a system consists of a structure and the structure is the system-level component that makes it possible to think of units as forming a set as distinct from a mere collection. At another level, the system consists of interacting units” (WALTZ, 1979, p. 40)
that works to produce a uniformity of outcomes despite the variety of inputs” (WALTZ,
1979, p. 73); e também que elas “do not work their effects directly. Structures do not
act as agents and agencies do” (WALTZ, 1979, p. 74).
Sobre estruturas políticas talvez seja melhor prestar esclarecimentos na
próxima seção.
ESTRUTURA POLÍTICA E A TEORIA DA POLÍTICA INTERNACIONAL
No pensamento de Waltz, estrutura corresponde a uma noção de altíssimo
nível de abstração. Para que se as defina, é necessário que se observe como as
unidades políticas que a compõem se organizam nela, e não como elas interagem. A
organização das unidades é uma característica da estrutura. Nas palavras de WALTZ
(1979, p. 80-81), “a structure is defined by the arrangement of its parts (...). Structure is
not a collection of political institutions but rather the arrangement of them”. Para
chegarmos a sua definição mais exata, há que se levar em conta três pontos
essenciais: os princípios ordenadores da estrutura, o caráter da unidade (suas funções
e características), e a distribuição de capacidades entre as unidades políticas.
Por princípios ordenadores da estrutura, entende-se a espontaneidade com
que ela é formada, uma vez que o é por coação das unidades que a compõem. A
estrutura surge em meio à anarquia, e é não-intencional.
To say that “the structure selects” means simply that those who
conform to accepted and successful practices more often rise to the
top and are likelier to stay there. The game one has to win is defined
by the structure that determined the kind of player who is likely to
prosper (WALTZ, 1979, p. 92).
Dessa forma, as unidades políticas podem mudar seu comportamento de
acordo com aquilo que percebem e de acordo com suas estratégias levando em conta
a estrutura presente. Num sistema do tipo “self-help”, como é o do pensamento de
Waltz, tanto o sucesso como o fracasso das unidades políticas depende unicamente
de seus próprios esforços, pois cada Estado tende a buscar sua própria sobrevivência.
As funções das unidades políticas diferem entre si. Para Waltz é claro que os
Estados não são os únicos atores do sistema internacional23, contudo, a partir do
momento em que se escolhe uma determinada realidade para se observar, é
necessário que se escolham as unidades em cujos termos se comporá sua análise. No
caso de Waltz, que examina a política internacional, as unidades que compõem sua
análise são aquilo que chamamos de Estados. Chamá-los de unidades no âmbito da
obra de Waltz é equivalente a dizer que eles sejam soberanos, tendo em vista que a
soberania, aqui, é desvencilhada da ideia de se fazer aquilo que se deseja, ou de não
ser dependente ou influenciável: antes, para Waltz, a soberania está atrelada à ideia
de autonomia de escolha sobre como uma unidade lidará com seus aspectos internos
e externos. “So long as the major states are the major actors, the structure of
international politics is defined in terms of them” (p. 94).
Por fim, o terceiro ponto com que se define uma estrutura está relacionado à
distribuição de capacidades entre as unidades políticas que compõem e moldam,
espontaneamente, a estrutura. As capacidades das unidades está relacionada à sua
habilidade de realizar as mesmas tarefas24. Embora as funções das diferentes
unidades políticas seja igual, suas capacidades variam de maneira demasiada. Uma
mudança na distribuição das capacidades das unidades significaria uma mudança na
estrutura do sistema, o que levaria as unidades a se comportarem de maneira diversa
daquela com que até outrora se comportaram. Se a estrutura deve ser dada em
termos dos maiores Estados, que são os maiores atores do sistema político
internacional, então é possível que se defina a estrutura através da contagem destes
Estados.
an international-political system in which three or more great powers
have split into two alliances remains a multipolar system – structurally
different from a bipolar system, a system in which no third power is
able to change the top two (WALTZ, 1979, p. 98).
23 Geralmente esta é uma crítica aos autores da escola realista de forma geral. Contudo, Waltz bem expressa o seu ponto de vista, a partir do qual elabora sua teoria. Dizer que todo e qualquer autor realista vê apenas o Estado como ator do sistema internacional não corresponde à totalidade das ideias apresentadas por tais autores. 24 “The economic, military, and other capabilities of nations cannot be sectored and separately weighed. States are not placed in the top rank because they excel in one way or another. Their rank depends on how they score on all of the following items: size of population and territory, resource endowment, economic capability, military strength, political stability and competence. States spend a lot of time estimating one another’s capabilities, especially in their capabilities to do harm. States have different combinations of capabilities which are difficult to measure and compare, the more so since the weight to be assigned to different items change with time” (WALTZ, 1979, p. 131)
É neste ponto que se encontra a grande contribuição do trabalho de Waltz e a
convergência de suas ideias, tecidas desde a esquematização da análise das causas
do conflito através das três imagens. O conceito de estrutura em Waltz, da maneira
como é desenvolvido, faz com que seu nome seja o grande expoente da escola
Neorrealista das Relações Internacionais, que está no meio do segundo grande
debate da disciplina: um debate marcadamente metodológico, que opunha cientistas
behavioristas e cientistas tradicionalistas. Devido a sua demonstração do conceito de
estrutura e da importância de sua obra, pode-se também chamar o Neorrealismo de
Realismo Estrutural, devido, justamente, à ideia desenvolvida e sistematizada por
Waltz no esforço de elaborar uma teoria que valesse para todo e qualquer momento,
que tivesse tanto conceitos abstratos quanto elegância, o que, para o autor, é a
propriedade de se chegar a conclusões gerais acerca de um determinado assunto,
mas que serão sempre as mesmas.
Devido à característica anárquica do sistema internacional, as relações entre
as unidades políticas se dão à sombra da guerra. Isso porque os Estados podem, a
qualquer momento, se valer da força, porque, como já visto na terceira imagem, acima
explicada, a guerra acontece porque o sistema a permite, isto é, não há um poder que
a evite, a não ser o desejo das próprias unidades políticas (de não fazer a guerra).
Contudo, uma ação planejada por um estado pode ter um resultado que não fora o
calculado, simplesmente porque a estrutura condiciona as consequências das ações
das unidades, de forma que estas não podem ser previstas: por isso, muitas vezes,
causas diferentes têm resultados iguais, e resultados iguais têm causas
completamente diversas. “The very problem (...) is that rational behavior, given
structural constraints, does not lead to the wanted results. With each state constrained
to take care of itself, no one can take care of the system” (WALTZ, 1979, p. 109).
Por fim, cabe ressaltar o papel do poder na teoria de Waltz. Para o autor, o
poder é um meio, não um fim. Um meio de se conseguir a garantia de sua própria
existência, num sistema “self-help”, em que sua sobrevivência depende apenas de
seus próprios esforços. Dessa maneira, o poder serve como meio de manutenção da
capacidade do Estado, e como capacidade ele-mesmo, de forma que o status da
estrutura do sistema seja mantida, visando à sua permanência e à permanência dos
maiores Estados em suas posições, de modo que a estrutura continue a ser definida
em seus termos. Além disso, difere, no pensamento de Waltz, a ideia de ter poder e de
usar a força25. Há também que se pontuar que, para o autor, poder e controle também
são diferentes26.
É neste cenário de tentativa de manutenção do poder que surge algo que Waltz
chama de “microteoria”: a balança de poder.
BALANÇAS DE PODER
No âmbito do pensamento de Waltz, cujos principais pontos já se explicitaram
acima, surge aquilo que ele chama de “microteoria”. Este termo, que o autor busca na
teoria econômica, tem a ver com uma teoria baseada a partir do comportamento das
unidades, que gera certa justaposição na estrutura do sistema. É disso que se trata,
para Waltz, a balança de poder.
Para ele, a balança de poder nada mais é do que a conjunção de dois fatores:
a ordem anárquica do sistema internacional, bem como a situação em que se
encontram as unidades políticas num sistema “self-help”: somente seus esforços
podem manter sua sobrevivência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A importância da obra de Waltz se dá pela tentativa do autor – e, em alguns
termos, sucesso – de estabelecer uma teoria sobre os fatos permanentes da política
internacional que fosse válida para qualquer momento. Desprezando fatores como
cultura, tradição e personalidade política dos Estados27, Waltz molda-os e os
transforma em unidades políticas de diferentes capacidades – que são aquelas forças
que o Estado tem e que podem ser usadas (e o são) para o molde da estrutura e
tentativa de sua manutenção na posição em que se encontra, ou de, ao menos,
sobreviver.
25 “(...) the usefulness of force should not be confused with its usability” (WALTZ, 1979, p. 185). 26 “If power is identical with control, then those who are free are strong; and their freedom has to be taken as an indication of the weakness of those who have great material strength. But the weak and disorganized are often less amenable to control than those who are wealthy and well disciplined” (WALTZ, 1979, p. 188). 27 “Concern for tradition and culture, analysis of the character and personality of political actors, consideration of the conflictive and accommodative processes of politics, description of the making and execution of policy – all such matters are left aside. Their omission does not imply their unimportance. They are omitted because we want to figure out the expected effects of structure on process and of process on structure. That can be done only if structure and process are distinctly defined” (WALTZ, 1979, p. 82).
Através dessas interações e do surgimento, a partir delas, de uma estrutura,
que é sistematizada pelo autor, pode-se chegar ao cerne da teoria neorrealista, que,
também, devido a este fato, é chamada de Teoria do Realismo Estrutural.
Embora haja muitos aspectos que são deixados de lado pelo autor, e questões
que sua teoria não é capaz de explicar nas relações internacionais, sua obra é
extremamente importante pelo debate que proporcionou – e proporciona –, e realiza
aquilo que se propõe a fazer: elaborar uma teoria da política internacional, levando em
conta apenas os Estados, as unidades políticas do sistema, e deixando as outras
unidades para outros tipos de teoria.
A contribuição de Waltz foi e é, sem dúvida, importantíssima para a evolução
do estudo da disciplina de Relações Internacionais. Espera-se que este texto tenha
auxiliado na percepção de tal importância.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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