karina munhoz de paula alves coelho - … · twist1 in samples of 30 dysplastic compound nevus, 30...

76
KARINA MUNHOZ DE PAULA ALVES COELHO AVALIAÇÃO DA EXPRESSÃO DOS GENES CADM1, TWIST1 e CDH1 POR IMUNO-HISTOQUÍMICA EM LESÕES MELANOCÍTICAS JOINVILLE 2017

Upload: doannhi

Post on 25-Sep-2018

225 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • KARINA MUNHOZ DE PAULA ALVES COELHO

    AVALIAO DA EXPRESSO DOS GENES CADM1, TWIST1 e CDH1 POR

    IMUNO-HISTOQUMICA EM LESES MELANOCTICAS

    JOINVILLE

    2017

  • KARINA MUNHOZ DE PAULA ALVES COELHO

    AVALIAO DA EXPRESSO DOS GENES CADM1, TWIST1 e CDH1 POR

    IMUNO-HISTOQUMICA EM LESES MELANOCTICAS

    Dissertao de mestrado apresentada como

    requisito parcial para a obteno do ttulo de

    mestre em Sade e Meio Ambiente, na

    Universidade da Regio de Joinville.

    Orientador: Professor Dr. Paulo Henrique

    Condeixa de Frana.

    JOINVILLE

    2017

  • AGRADECIMENTO

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) pela

    concesso de bolsa (modalidade parcial) por meio do Programa de Suporte Ps-

    Graduao de Instituies de Ensino Particulares.

    Ao orientador Prof. Dr. Paulo Henrique Condeixa de Frana pelo grande

    conhecimento transmitido. Sempre paciente, disponvel e disposto a ajudar.

    Ao Dr. Herclio Fronza Jnior que participou de todas as etapas da construo deste

    estudo contribuindo com seu conhecimento e entusiasmo pelo desenvolvimento

    cientfico e pela pesquisa.

    Aos membros da banca de avaliao, Dr. Caio Maurcio Mendes de Crdova e Dr.

    Edson Sydney de Campos, que disponibilizaram do seu tempo para contribuir com

    seus conhecimentos para a concluso deste estudo.

    Ao Centro de Diagnsticos Antomo-Patolgicos (CEDAP) que contribuiu com as

    amostras, estrutura e com o financiamento dos reagentes necessrios a este estudo.

    A todos os membros da equipe do CEDAP que contriburam em diferentes fases

    deste estudo.

  • RESUMO

    Introduo: O melanoma maligno uma doena agressiva e sua incidncia est

    aumentando no mundo. A predisposio gentica e a exposio a fatores

    ambientais, principalmente a luz solar, so fatores de risco. A distino

    histopatolgica entre nevos e melanomas pode ser difcil. Prev-se que a avaliao

    da expresso imuno-histoqumica de alguns genes poderia contribuir para o

    diagnstico diferencial de leses histogicamente questionveis. Objetivo: Investigar

    se a avaliao da expresso imuno-histoqumica dos genes CADM1, TWIST1 e

    CDH1 (E-caderina), que participam dos mecanismos de adeso celular e transio

    epitelial-mesenquimal, contribui para o diagnstico diferencial das leses

    melanocticas de difcil diagnstico. Metodologia: Estudo transversal retrospectivo

    baseado na avaliao da expresso imuno-histoqumica dos genes CADM1,

    TWIST1 e CDH1 por imuno-histoqumica em amostras de 30 nevos compostos

    displsicos, 30 melanomas com menos de 1,0 mm de espessura e 30 melanomas

    com mais de 1,0 mm de espessura, diagnosticados no perodo de 2013 a 2016, em

    Joinville/SC. Foi utilizado um score que avaliou a intensidade da colorao e a

    proporo de clulas coradas. Resultados: Em comparao aos nevos melanocticos

    compostos displsicos, observou-se reduo significativa da expresso dos genes

    CADM1 e CDH1 nos melanomas (abaixo e acima de 1,0 mm de espessura) e nos

    melanomas de mais de 1,0 mm de espessura, respectivamente. Tambm se

    verificou menor expresso dos genes CADM1 e CDH1 nos melanomas com mais de

    1,0 mm de espessura em relao aos melanomas com menos 1,0 mm. O gene

    TWIST1 no apresentou diferena significativa da expresso entre os grupos.

    Concluso: Estes achados permitem concluir que a expresso imuno-histoqumica

    do CADM1 tem potencial para contribuir como ferramenta auxiliar ao diagnsico

    diferencial entre nevos melanocticos compostos displsicos e melanomas.

    Palavras chave: Imuno-histoqumica, CADM1, TWIST, CDH1, melanoma, nevo

    displsico.

  • ABSTRACT

    Introduction: Malignant melanoma is an aggressive disease and its incidence is

    increasing worldwide. Genetic predisposition and exposure to environmental factors,

    especially sunlight, are risk factors. Histopathologic distinction between nevi and

    melanoma can be difficult. It is anticipated that the evaluation of the

    immunohistochemical expression of some genes could contribute to the differential

    diagnosis of questionable histologically lesions. Objective: To investigate wether the

    evaluation of the immunohistochemical expression of genes CADM1, TWIST1 and

    CDH1 (E-cadherin), that take part in mechanisms of cell adhesion and epithelial-

    mesenchymal transition, contributes to the differential diagnosis of melanocytic

    lesions difficult to diagnose. Methodology: Retrospective cross-sectional study based

    on immunohistochemical expression evaluation of genes CADM1, CDH1 and

    TWIST1 in samples of 30 dysplastic compound nevus, 30 melanomas with less than

    1.0 mm thick and melanomas with more than 1.0 mm thick, diagnosed between 2013

    and 2016, in Joinville/SC. A score was used to evaluate color intensity and proportion

    of cells stained. Results: There was a significant reduction in the expression of the

    genes CADM1 and CDH1 in melanomas (below and above 1.0 mm thick) and in

    melanomas of more than 1.0 mm in thickness, respectively, compared to dysplastic

    melanocytic nevi. There was also lower expression of the genes CADM1 and CDH1

    genes in melanomas greater than 1.0 mm thick compared to melanomas less than

    1.0 mm. The gene TWIST1 showed no significant difference in expression between

    groups. Conclusion: These findings allow us to conclude that the

    immunohistochemical expression of CADM1 has the potential to contribute as an

    auxiliary tool to the differential diagnosis between dysplastic compound nevus and

    melanoma.

    Key-words: immunohistochemstry, CADM1, TWIST, CDH1, cutaneous melanoma,

    dysplastic nevus.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Melancitos humanos confinados camada basal da epiderme.

    ..........................................................................................................

    20

    Figura 2: Variao geogrfica da incidncia do melanoma no mundo.por

    100.000 habitantes. .........................................................................

    21

    Figura 3: Nevo melanoctico juncional. Proliferao de clulas nvicas na

    juno dermo-epidrmica. ...............................................................

    22

    Figura 4: Nevo melanoctico composto. Proliferao de clulas nvicas na

    juno dermo-epidrmica e na derme. ............................................

    23

    Figura 5: Nevo melanoctico intradrmico. Proliferao de clulas nvicas

    na derme..........................................................................................

    23

    Figura 6: Nevo melanoctico juncional displsico. Presena de atipias

    celulares, hiperplasia melanoctica, fibrose lamelar, juno dos

    cones epidrmicos...........................................................................

    24

    Figura 7: Melanoma de disseminao superficial. Presena de clulas

    frequentemente migrando para a superfcie....................................

    25

    Figura 8: Leso assimtrica com bordas irregulares e pigmentao

    variegada..........................................................................................

    26

    Figura 9: Fatores genticos e ambientais que contribuem para o

    desenvolvimento do melanoma.......................................................

    26

    Figura 10: Paciente com mltiplos nevos displsicos. ..................................... 27

    Figura 11: Radiao UV associada ao risco de melanoma pelo aumento

    miR21...............................................................................................

    29

    Figura 12: Vias de controle da proliferao celular e

    apoptose...........................................................................................

    30

    Figura 13: Vias de crescimento celular e de sobrevida..................................... 31

    Figura 14: Aberraes moleculares na progresso do melanoma.................... 33

    Figura 15: Via ERK durante a melanognese que impacta na expresso

    fenotpica dos melanomas malignos................................................

    36

    Figura 16: Fatores de transcrio que controlam o mecanismo de transio

    epitelial-mesenquimal -TEM (EMT) .................................................

    37

    Figura 17: Representao da expresso imuno-histoqumica dos nveis de

  • CADM1. Barra 1: melanoma cutneo; Barra 2: nevo displsico;

    Barra 3: pele normal. Os melanomas mostram nveis mais baixos

    de expresso de CADM1.................................................................

    39

    Figura 18: TWIST inibe a E-caderina que fundamental para o mecanismo

    de TEM (EMT). ................................................................................

    42

    Figura 19: Modelo da via ERK1/2TWIST1MMP-1 na cascata do

    melanoma. A ativao do ERK1/2 leva a um aumento na

    transcrio do TWIST1.....................................................................

    43

    Figura 20: (A e B) Ausncia de expresso nuclear do TWIST1 em nevos

    melanocticos intradrmicos. (C e D) Metstase de melanoma em

    linfonodo mostrando imunorreatividade para TWIST1.....................

    44

    Figura 21: Aumento da expresso da N-caderina e diminuio da E-caderina

    no melanoma invasivo. ....................................................................

    46

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AJCC American Joint Committee on

    Cancer

    Comit Americano Conjunto sobre

    Cncer

    Akt Serine/threonine kinase 1 Serina/treonina quinase 1

    BAD BCL2-associated agonist of

    cell death

    Agonista de BCL2 associado

    morte celular

    BCL2 B-cell lymphoma 2 Linfoma de clulas B 2

    BRAF Rapidly accelerated

    fibrosarcoma kinase B

    Quinase B do fibrossarcoma

    rapidamente acelerado

    CADM1

    CAPES

    Cell adhesion molecule 1 Molcula de adeso celular 1

    Coordenao de Aperfeioamento

    de Pessoal de Nvel Superior

    CCND1 Cyclin D1 Ciclina D1

    CDK4 Cyclin-dependent kinase 4 Ciclina dependente de quinase 4

    CDK6 Cyclin-dependent kinase 6 Ciclina dependente de quinase 6

    CDKN2A Cyclin-dependent kinase

    inhibitor 2

    Inibidor de ciclina dependente de

    quinase 2

    CEDAP Centro de Diagnsticos Antomo-

    Patolgicos

    CEP Comit de tica em Pesquisa

    CGH Comparative genomic

    hybridization

    Hibridizao genmica

    comparativa

    CNS Conselho Nacional de Sade

    CONEP Comisso Nacional de tica em

    Pesquisa

    DNA Deoxyribonucleic acid cido desoxirribonucleico

    FT-TEM Fatores indutores da transio

    epitelial-mesenquimal

    ErbB2 Receptor tyrosine kinase 2 Receptor de tirosina quinase 2

    ErbB3 Receptor tyrosine kinase 3 Receptor de tirosina quinase 3

    ERK Extracellular signalregulated Quinase regulada por sinal

    https://cancerstaging.org/references-tools/deskreferences/pages/default.aspxhttps://cancerstaging.org/references-tools/deskreferences/pages/default.aspxhttps://en.wikipedia.org/wiki/Comparative_genomic_hybridizationhttps://en.wikipedia.org/wiki/Comparative_genomic_hybridizationhttp://conselho.saude.gov.br/

  • kinase extracelular

    FISH Fluorescent in situ

    hybridization

    Hibridizao in situ fluorescente

    GSK1120212 Trametinib

    HDM2 Human double minute 2 Duplo minuto 2 humano

    HGNC HUGO Gene Nomenclature Nomenclatura de genes HUGO

    HRAS Harvey rat sarcoma viral

    oncogene

    Oncogene Viral do Sarcoma do

    Rato Harvey

    IGSF4A Immunoglobulin superfamily,

    member 4c

    Membro 4c da superfamlia de

    imunoglobulina

    IL-6 Interleukin 6 Interleucina 6

    INCA Instituto Nacional do Cncer

    KRAS Kirsten rat sarcoma viral

    oncogene

    Oncogene viral de sarcoma de rato

    Kirsten

    MAPK Mitogen activated kinase-like

    protein

    Protena tipo quinase ativada por

    mitgenos

    MDM2 Murine double minute 2 Duplo minuto 2 murino

    MEK MAP kinase-ERK kinase MAP quinase-ERK quinase

    Mel-CAM Melanoma cell adhesion

    molecule

    Molcula de adeso celular de

    melanoma

    microRNA Micro ribonucleic acid Micro cido ribonucleico

    miR-21 Micro ribonucleic acid 21 Micro cido ribonucleico 21

    MITF Microphthalmia-associated

    transcription

    Fator de transcrio associado

    microftalmia

    MMP2 Matrix metalloproteinase-2 Matriz metaloproteinase-2

    MMP9 Matrix metalloproteinase-9 Matriz metaloproteinase-9

    NADH Nicotinamide adenine

    dinucleotide

    Dinucletdeo de nicotinamida e

    adenina

    NADPH Nicotinamide adenine

    dinucleotide phosphate

    Fosfato de dinucleotdeo de

    nicotinamida e adenina

    NIH National Institutes of Health Institutos Nacionais de Sade

    NRAS Neuroblastoma RAS viral

    oncogene homolog

    Homlogo do oncogene viral RAS

    do neuroblastoma

    http://www.lookformedical.com/definitions.php?q=Fator+de+Transcri%C3%A7%C3%A3o+Associado+%C3%A0+Microftalmia&lang=3http://www.lookformedical.com/definitions.php?q=Fator+de+Transcri%C3%A7%C3%A3o+Associado+%C3%A0+Microftalmia&lang=3https://en.wikipedia.org/wiki/Nicotinamide_adenine_dinucleotide_phosphatehttps://en.wikipedia.org/wiki/Nicotinamide_adenine_dinucleotide_phosphatehttps://www.nih.gov/

  • OMS Organizao Mundial da Sade

    p14ARF Alternate reading frame protein

    14

    Protena 14 de fase de leitura

    alternada

    PI3K Phosphoinositide 3-kinase Fosfatidilinositol 3-quinase

    p16INK4a Kinase a inhibitor 16 protein Protena 16 inibidora da quinase a

    PCR Polymerase Chain Reaction Reao em Cadeia da Polimerase

    PLX4032 Vemurafenib

    PTEN Phosphatase and tensin

    homolog

    Homlogo de tensina e fosfatase

    RAF Proto-oncogene,

    serine/threonine kinase

    Proto-oncogene, serina/treonina

    quinase

    SNAIL1 Snail family transcriptional

    repressor 1

    Repressor transcripcional 1 da

    famlia caracol

    SNAIL2 Snail family transcriptional

    repressor 2

    Repressor transcripcional 2 da

    famlia caracol

    SPSS Statistical Package for the

    Social Sciences

    Pacote Estatstico para as

    Cincias Sociais

    SYNCAM Synaptic adhesion molecule Molcula de adeso sinptica

    TSLC1 Tumor suppressor in lung

    cancer 1

    Supressor de tumor 1 no cncer

    de pulmo

    TWIST1 Twist Family Basic helix-loop-

    helix Transcription Factor 1

    Fator 1 de transcrio bsico

    hlice-ala-hlice da famlia

    TWIST

    TWIST2 Twist Family Basic helix-loop-

    helix Transcription Factor 2

    Fator 2 de transcrio bsico

    hlice-ala-hlice da famlia

    TWIST

    UNIVILLE Universidade da Regio de

    Joinville

    UV Ultravioleta

    UVA Ultravioleta A

    UVB Ultravioleta B

    UVC Ultravioleta C

    ZEB1 Zinc Finger E-Box Binding Ligao dedo de zinco E-Box

    https://en.wikipedia.org/wiki/Basic_helix-loop-helixhttps://en.wikipedia.org/wiki/Basic_helix-loop-helixhttps://en.wikipedia.org/wiki/Basic_helix-loop-helixhttps://en.wikipedia.org/wiki/Basic_helix-loop-helix

  • Homeobox 1 Homeobox 1

    ZEB2 Zinc Finger E-Box Binding

    Homeobox 2

    Ligao dedo de zinco E-Box

    Homeobox 2

  • SUMRIO

    1 INTRODUO 15

    2 OBJETIVOS 18

    2.1 OBJETIVO GERAL 18

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS 18

    3 REVISO DE LITERATURA 19

    3.1 LESES MELANOCTICAS 19

    3.1.1 Conceito 19

    3.1.2 Epidemiologia 19

    3.1.3 Classificao 22

    3.1.3.1 Nevos 22

    3.1.3.2 Melanomas 24

    3.1.4 Fatores de risco 26

    3.1.4.1 Fatores de risco genticos 26

    3.1.4.2 Fatores de risco ambientais 27

    3.1.5 Patologia molecular 29

    3.1.5.1 Patologia molecular dos melanomas 29

    3.1.5.2 Patologia molecular dos nevos 32

    3.1.5.3 Molculas de adeso celular 34

    3.1.5.4 Mecanismo de transio epitelial-mesenquimal 34

    3.2 DIAGNSTICO DAS LESES MELANOCTICAS 37

    3.2.1 Patologia molecular como auxiliar no diagnstico 38

    3.2.2 Marcadores de imuno-histoqumica 38

    3.2.2.1 CADM1 39

    3.2.2.2 TWIST1 41

    3.2.2.3 CDH1 45

    4 METODOLOGIA 47

    4.1 TIPO DE ESTUDO 47

    4.2 LOCAL DE ESTUDO 47

    4.3 PERODO DO ESTUDO 47

    4.4 AMOSTRAS E CRITRIOS DE INCLUSO 47

    4.5 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS 48

  • 4.5.1 TCNICA DE IMUNO-HISTOQUMICA 48

    4.5.2 LEITURA E INTERPRETAO DOS RESULATDOS 50

    4.6 ANLISE ESTATSTICA 50

    4.7 ASPECTOS TICOS 51

    5 RESULTADOS E DISCUSSO 52

    6 CONCLUSO 67

    REFERNCIAS 68

  • 15

    1. INTRODUO

    O melanoma maligno uma das doenas mais agressivas nos seres

    humanos. O nmero estimado de mortes por melanoma de 48.000 por ano, em

    todo o mundo (ZHANG; LI, 2012) e h um aumento na incidncia nas populaes

    caucasianas (KISZNER et al., 2014).

    O melanoma muito resistente quimioterapia convencional e apenas em

    torno de 14% de pacientes com doena metasttica sobrevivem por 5 anos

    (ZHANG; LI, 2012). A remoo cirrgica da leso primria, antes das metstases,

    o principal tratamento e o mais eficaz, embora a abordagem teraputica do

    melanoma metasttico j tenha terapias alvo (UGUEN et al., 2015).

    A predisposio gentica e a exposio a fatores ambientais aumentam o

    risco para melanoma. Indivduos com histrico familiar comprovado tem risco

    significativamente maior para o desenvolvimento desta malignidade (JHAPPAN;

    NOONAN; MERLINO, 2003). A exposio ocupacional, o estilo nutricional e

    principalmente a exposio a luz solar so fatores ambientais relacionados ao

    desenvolvimento do melanoma cutneo. Mudanas significativas na expresso de

    micro cido ribonucleico (microRNA) em resposta exposio ambiental tm sido

    relatadas (MELNIK, 2015).

    A preciso do diagnstico do melanoma crtica para a conteno da

    malignidade. Portanto, se pacientes com melanoma forem subdiagnosticados, eles

    podem ser inadequadamente tratados e estarem em risco potencial para a

    disseminao regional ou sistmica da doena (ZHANG; LI, 2012).

    O exame histopatolgico permanece atualmente como "padro ouro" para o

    diagnstico de leses melanocticas. No entanto, a distino histopatolgica

    definitiva entre as leses benignas e as malignas, em alguns casos, pode ser difcil

    (UGUEN et al., 2015). Apesar de vrias caractersticas histolgicas do melanoma

    terem sido descritas, muitos critrios se sobrepem aos dos nevos displsicos e de

    outras formas de nevos benignos, como os nevos de Spitz. Portanto, o nvel de

    discordncia no diagnstico de certas leses melanocticas pode ser elevado,

    mesmo quando examinados por patologistas experientes (KASHANI-SABET et al.,

    2009). descrita uma discordncia interobservador relativa ao diagnstico de nevo

    e melanoma variando de 2,3 a 25% das leses (UGUEN et al., 2015).

  • 16

    A expresso gnica pode ser til para a classificao de neoplasias, definio

    de prognstico e ainda como um marcador preditivo para terapia (KASHANI-SABET

    et al., 2009). Marcadores moleculares podem ser utilizados como ferramentas

    diagnsticas nas leses melanocticas uma vez que nevos e melanomas diferem

    pela ausncia ou presena de aberraes cromossmicas (UGUEN et al., 2015). As

    vias de sinalizao celular, controle do ciclo celular e de apoptose, dentre outras,

    tm sido implicadas no desenvolvimento do melanoma. Porm, h evidncia que

    nevos benignos podem ser clonais e conter alteraes genticas predisponentes

    para o melanoma, como exemplo a mutao BRAF-V600E (quinase B do

    fibrossarcoma rapidamente acelerado, V600E). (KISZNER et al., 2014).

    Ferramentas citogenticas, tais como hibridizao genmica comparativa

    (CGH) e a hibridizao in situ por fluorescncia (FISH) foram desenvolvidas para

    ajudar na classificao de leses melanocticas ambguas. No entanto, estes

    mtodos moleculares requerem equipamentos apropriados e patologistas

    qualificados, portanto, no so utilizados rotineiramente na maioria dos laboratrios

    (KASHANI-SABET et al., 2009).

    Ao contrrio, a imuno-histoqumica difundida e utilizada na maioria dos

    centros de patologia. No entanto, nenhum dos marcadores isolados, ou mesmo um

    conjunto deles, at o momento, suficiente para classificar inequivocamente uma

    leso melanoctica como nevo ou melanoma (UGUEN et al., 2015).

    Molculas de adeso celular, incluindo as caderinas, integrinas e as da

    superfamlia das imunoglobulinas esto envolvidas em um ou mltiplos passos da

    cascata de metstase (MCGARY; LEV; BAR-ELI, 2002). A E-caderina e a Molcula

    de adeso celular 1 (CADM1) so molculas de adeso que tem demonstrado sua

    expresso anormal nos melanomas (REES, 2012).

    A perda da E-caderina representa a marca da transio epitelial mesenquimal

    em tumores epiteliais e tambm evidente nos estgios tardios do melanoma,

    especialmente em metstases nodais (CARAMEL et al., 2013).

    A perda da expresso imuno-histoqumica do CADM1, que frequentemente

    ocorre nos melanomas, indica que esta molcula de adeso poderia servir como um

    marcador de melanoma em leses histologicamente questionveis (YOU; ZHANG;

    ZHENG, 2012).

  • 17

    descrito que os nveis de CADM1 so inversamente relacionados aos nveis

    de expresso do gene do fator 1 de transcrio hlice-ala-hlice bsico da famlia

    Twist (TWIST1) que responsvel por regular genes envolvidos na adeso celular

    (HARTSOUGH et al., 2015).

    O TWIST1 est envolvido no processo de transio epitelial mesenquimal

    (TEM) (KHAN et al., 2013) que um processo onde as clulas perdem as

    propriedades de adeso e adquirem critrios mesenquimais, permitindo sua invaso

    e migrao (BECK et al., 2015).

    Portando, avaliar a expresso imuno-histoqumica em conjunto dos genes

    CADM1, TWIST1 e CDH1 (E-caderina) em nevos e melanomas importante para

    determinar se estas molculas podem auxiliar no diagnstico diferencial das leses

    melanocticas.

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Khan%20MA%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=23873099

  • 18

    2. OBJETIVOS

    2.1 OBJETIVO GERAL

    Avaliar a expresso imuno-histoqumica dos genes CADM1, TWIST1 e CDH1

    em leses melanocticas.

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    Investigar se a expresso imuno-histoqumica dos genes CADM1, TWIST1 e

    CDH1, nas leses melanocticas pode contribuir para o diagnstico diferencial entre

    nevos melanocticos compostos displsicos e melanomas;

    Analisar a expresso imuno-histoqumica dos genes CADM1, TWIST1 e

    CDH1, em relao a espessura dos melanomas;

  • 19

    3. REVISO DA LITERATURA

    3.1 LESES MELANOCTICAS

    3.1.1 Conceito

    As leses melanocticas caracterizam-se pela proliferao de melancitos que

    so clulas derivadas da crista neural (GRANT-KELS, 2007). Os melanancitos

    esto na camada basal da epiderme ao lado de queratincitos na proporo de 1:30

    (Figura 1). A principal funo dos melancitos proteger o cido desoxirribonucleico

    (DNA) da radiao solar atravs da produo do pigmento melanina

    (PAPADOGEORGAKIS, 2013).

    As leses benignas da linhagem melanoctica so denominadas de nevos

    melanocticos e as leses malignas de melanomas (BASTIAN, 2014). Os nevos

    displsicos so descritos como sendo um continum entre nevo e melanoma porque

    eles so morfologicamente e biologicamente intermedirios entre estas duas

    entidades (GOLDSTEIN; TUCKER, 2013)

    O diagnstico de nevo e melanoma comum na prtica anatomopatolgica.

    Ainda assim, a familiaridade de tais proliferaes nem sempre est ligada ao

    conforto interpretativo na determinao de suas propriedades biolgicas (WICK;

    PATTERSON, 2005). O diagnstico diferencial entre nevo, nevo displsico e

    melanoma, em muitos casos, pode ser desafiador (ZEMBOWICZ; PRIETO, 2010).

    3.1.2 Epidemiologia

    Os nevos so alteraes melanocticas cutneas comuns, tendo em mdia

    entre 10 a 40 nevos por pessoa. Em contrapartida, o melanoma muito menos

    frequente (MAGAA, 1994).

  • 20

    Figura 1. Melancitos humanos confinados camada basal da epiderme. Fonte: Adaptada de

    PAPADOGEORGAKIS, 2013.

    Os nevos displsicos so relativamente comuns na populao geral. Autores

    tm descrito uma prevalncia variando de 2 a 53% em diferentes estudos,

    dependendo do critrio diagnstico (clnico e histolgico). Uma estimativa mais

    acurada considera estar presente entre 2 a 8% dos caucasianos, apresentando-se

    frequentemente em indivduos com menos do que 30 a 40 anos de idade. A

    frequncia de nevo displsico em pacientes com histria de melanoma muito mais

    alta chegando a 59% (SILVA et al., 2011).

    Apesar do melanoma no ser to frequente quanto os carcinomas de pele, ele

    tem alta taxa de mortalidade, com mais de 2.000 mortes no Reino Unido, em 2011.

    Na Irlanda do Norte, o nmero de melanomas aumentou de 103 casos por ano entre

    1984-1992 para 258 casos por ano entre 2004-2009 (MCCOURT; DOLAN;

    GORMLEY, 2014).

    A American Cancer Society estima que para 2016, nos Estados Unidos da

    Amrica (EUA), aproximadamente 87.110 novos melanomas sero diagnosticados,

    sendo 52.170 em homens e 34.940 em mulheres (AMERICAN CANCER SOCIETY,

    2017)

    O melanoma cutneo representa aproximadamente 4% de todos os tumores

    malignos da pele e sua frequncia est aumentando no Brasil e em muitos outros

    pases (MINISTRIO DA SADE, 2016).

  • 21

    A distribuio global do melanoma demonstra a importncia da radiao

    ultravioleta (UV) na patogenese desta doena. Pases que esto localizados em

    latitudes mais perto da linha do Equador tem maiores taxas de melanoma em

    pessoas de pele clara. Altitude elevada tambm um factor de risco para o

    desenvolvimento de melanoma, presumivelmente, porque a radiao UV maior

    devido a uma menor interferncia entre a energia solar e material particulado

    presente na atmosfera. Embora a latitude e a altitude possuam um papel

    fundamental para desenvolvimento do melanoma, o fototipo tambm um

    componente importante para explicar as variaes na incidncia de melanoma em

    todo o mundo. A Amrica Central, apesar de estar mais perto do equador do que a

    Amrica do Norte, tem uma taxa de incidncia mais baixa presumivelmente devido o

    predomnio de pele mais escura (Figura 2) (HAWRYLUK; FISHER, 2011)

    Figura. 2 Variao geogrfica da incidncia de melanoma no mundo por 100.000 habitantes

    Fonte: Adaptada de HAWRYLUK; FISHER, 2011.

    Conforme estimativa do Instituto Nacional do Cncer (INCA), em 2016 no

    Brasil, o melanoma afetar de 4 a 6 pessoas por 100.000 habitantes e com

    incidncia mais alta nas regies sul e sudeste (COSTA; FERNANDES; BORGES,

    2015).

  • 22

    Um estudo que avaliou as caractersticas dos melanomas em Joinville/SC, no

    perodo de 2003 a 2014, encontrou uma incidncia elevada em comparao aos

    ndices do Brasil. Uma das explicaes para esse achado que Joinville habitada

    predominantemente por populao de pele clara que vive prximo ao litoral onde,

    muitas vezes, tem atividades recreativas com exposio solar de modo intermitente,

    numa rea com relativa rarefao da camada de oznio e com alto ndice de

    radiao UV (STEGLISH, 2015).

    3.1.3 Classificao

    Os nevos so leses melanocticas benignas e os melanomas leses

    melanocticas malignas (BASTIAN, 2014). O melanoma in situ e o lentigo maligno

    so consideradas leses pr-malignas (MCCOURT; DOLAN; GORMLEY, 2014) e os

    nevos displsicos so descritos como sendo leses intermedirias entre nevo e

    melanoma (GOLDSTEIN; TUCKER, 2013).

    3.1.3.1 Nevos

    Os nevos podem ser adquiridos, que so os mais comuns e possuem trs

    estgios histolgicos: juncional (Figura 3), composto (Figura 4) e intradrmico

    (Figura 5). Os nevos podem ser congnitos que so aqueles presentes ao

    nascimento e correspondem em torno de 1% de todos os nevos. H nevos

    melanocticos fusiformes que se encontram na derme entre os feixes de colgenos e

    excepcionalmente se associam com melanoma (MAGAA, 1994).

    Figura 3. Nevo melanoctico juncional. Proliferao de clulas nvicas na juno dermo-

    epidrmica. Fonte: MACKEE, 2012.

  • 23

    Figura. 4. Nevo melanoctico composto. Proliferao de clulas nvicas na juno dermo-

    epidrmica e na derme. Fonte: MACKEE, 2012.

    Figura. 5. Nevo melanoctico intradrmico. Proliferao de clulas nvicas na derme. Fonte:

    MACKEE, 2012.

    Os nevos ainda so classificados como displsicos baseados em

    caractristcas clnicas e histopatolgicas (DUFFY; GROSSMAN, 2012a).

    Segundo a Organizao Mundial de Sade (OMS) e o National Institutes of

    Health (NIH), o diagnstico histopatolgico de nevos displsicos baseado em

    critrios maiores (mandatrios) e critrios menores (pelo menos dois precisam estar

    presentes). Os critrios maiores so hiperplasia melanoctica contgua ou lentiginosa

    e atipia focal melanoctica. Os critrios menores so fenmeno de ombro, fuso

    epitelial dos cones, fibrose lamelar concntrica subepidrmica e infiltrado

    inflamatrio linfoctico perivascular superficial (Figura 6) (SILVA et al., 2011).

  • 24

    Figura 6. Nevo melanoctico juncional displsico. Presena de atipias celulares, hiperplasia

    melanoctica, fibrose lamelar, juno dos cones epidrmicos. Fonte: MACKEE, 2012.

    A presena de 100 ou mais nevos com pelo menos um nevo com dimetro

    maior do que 8 mm e um nevo com caractersticas clnicas de atipia, em pacientes

    com antecedente familiar de melanoma cutneo, caracteriza a sndrome do nevo

    atpico clssica, descrita por Clark (CLARK et al., 1978). No entanto, a definio

    dessa sndrome controversa. Em 1992 o NHI definiu esta sndrome como sendo a

    ocorrncia de melanoma em pelo menos um parente de primeiro ou segundo grau,

    grande quantidade de nevos (mais de 50), sendo alguns clinicamente atpicos e com

    caractersticas histolgicas distintas (REZZE; LEON; DUPRAT, 2010).

    3.1.3.2 Melanomas

    O melanoma compreende subtipos relacionados a diferentes caractersticas

    clnicas, histolgicas e a localizaes anatmicas. A OMS baseia-se na classificao

    proposta por Clark h quase 30 anos que utiliza aspectos morfolgicos para

    diferenci-lo em quatro tipos principais: melanoma de disseminao superficial, o

    mais frequente (Figura 7), lentigo maligno melanoma, melanoma nodular e

    melanoma acral lentiginoso (BASTIAN, 2014).

  • 25

    Figura 7. Melanoma de disseminao superficial. Presena de clulas frequentemente

    migrando para a superfcie. Fonte: WEEDON, 2010.

    O Colgio Americano de Patologistas utiliza a classificao da OMS

    modificada, que inclui os seguintes subtipos: melanoma de disseminao superficial,

    melanoma nodular, lentigo maligno melanoma, melanoma lentiginoso acral,

    melanoma lentiginoso de mucosa, melanoma desmoplsico neurotrpico, melanoma

    com origem em nevo azul, melanoma com origem em nevo congnito gigante,

    melanoma da infncia, melanoma nevoide, melanoma sem outra classificao

    (FRISHBERG et al., 2009) (LAGA; MURPHY, 2010).

    Os melanomas so caracterizados clinicamente pela presena de mcula

    hipercrmica com variao na colorao e bordas irregulares (COSTA;

    FERNANDES; BORGES, 2015). As leses pigmentadas so avaliadas pelo

    mnemnico ABCDE (Figura 8) que inclui assimetria, irregularidade nos bordos,

    variao na cor, dimetro maior que 5 mm e evoluo (SHIRAZI et al., 2015). A

    sensibilidade do diagnstico clnico dos melanomas para dermatologistas

    experientes relatada em torno de 70% (GARBE et al., 2012). A associao da

    dermatoscopia pode aumentar a sensibilidade para 90% e apresentar com

    especificidade de 50% (BOURNE et al., 2012).

    Os critrios que formam a base do esquema de estadiamento incluem

    espessura do tumor primrio, ulcerao, mitoses, metstases. A classificao T

    baseia-se na espessura do tumor: menor ou igual a 1 mm, maior que 1 a 2 mm,

    maior que 2 a 4 mm e superior a 4 mm (DUNCAN, 2009).

  • 26

    Figura 8. Leso assimtrica com bordas irregulares e pigmentao variegada. Fonte: MCCOURT; DOLAN; GORMLEY, 2014.

    3.1.4 Fatores de risco

    O risco significativo para o desenvolvimento de melanoma em humanos est

    associado predisposio gentica e a exposio a fatores ambientais (Figura 9)

    (JHAPPAN; NOONAN; MERLINO, 2003).

    Figura 9. Fatores genticos e ambientais que contribuem para o desenvolvimento do melanoma. Fonte: PSATY et al., 2010.

    3.1.4.1 Fatores de risco genticos

    Em 1820, Norris descreveu o que atualmente considerado predisposio

    familiar ao melanoma. Em 1978, Clark, relatou um aumento da incidncia de

  • 27

    melanoma cutneo em famlias com mltiplas leses melanocticas (Figura 10),

    introduzindo o modelo de progresso do tumor de melanoma a partir de nevo

    melanoctico. Na poca, Clark usou o termo sndrome B-K usando as iniciais dos

    sobrenomes de pacientes. Atualmente, os termos sndrome do nevo displsico e

    sndrome familiar do nevo displsico/melanoma tem sido utilizado. Em 1985, Elder

    estendeu a teoria do nevo-melanoma'' para nevos displsicos espordicos como um

    possvel precursor de melanoma espordico (SILVA et al., 2011).

    Figura 10. Paciente com mltiplos nevos displsicos. Fonte: (PSATY et al., 2010)

    Pode-se argumentar que o melanoma tem um componente gentico, uma vez

    que os fatores de risco hereditrios, como caractersticas fsicas tais como pele

    clara, cabelos ruivos, olhos azuis e a sndrome familiar do nevo displsico-

    melanoma so determinados geneticamente (TSAO et al., 2012). Alm disso, a

    histria pessoal de melanoma aumenta o risco para um segundo melanoma. Sabe-

    se que de 1 a 8%, ou mais, dos pacientes com histria prvia de melanoma vo

    desenvolver mltiplos melanomas primrios e o risco de um segundo melanoma

    primrio aumenta para 19% entre pacientes com histria familiar positiva (PSATY et

    al., 2010).

    3.1.4.2 Fatores de risco ambientais

    Dos fatores de risco ambientais para o desenvolvimento do melanoma, a luz

    solar considerada a principal causa (BRESSAC-DE-PAILLERETS et al., 2002).

  • 28

    A radiao UV, que est associada ao desenvolvimento do melanoma, pode

    ser classificada em UVA (315-400 nm), UVB (280-315 nm) e UVC (100-280 nm). A

    UVC e a maioria dos comprimentos de onda UVB so bloqueados pela camada de

    oznio e apenas uma frao de UVB e UVA atinge a superfcie da Terra

    (MCCOURT; DOLAN; GORMLEY, 2014).

    O aumento dos melanomas que ocorreu nos ltimos anos foi associado com a

    depleo da camada de oznio, que resulta em maior radiao UVB alcanando a

    Terra. No entanto, estudos afirmam que a maioria dos melanomas, em torno de

    92%, so decorrentes de danos indiretos ao DNA, causados pela radiao UVA,

    supondo-se que a depleo da camada de oznio no a responsvel pelo

    aumento radical dos melanomas nos ltimos anos (VOLKOVOVA et al., 2012).

    Na leso direta ao DNA, a radiao UVB faz com que haja a formao de

    ligaes covalentes entre os pares de bases de citosina e timina no DNA e forma

    dmeros de pirimidina (dmero de ciclobutano). Na leso indireta ao DNA, h

    absoro da radiao UVA por molculas fotossensibilizadoras que transferem

    energia para molculas de oxignio que se transformam em oxignio singleto, que

    altamente reativo (VOLKOVOVA et al., 2012). Diversas so as molculas

    fotossensibilizadoras, dentre elas o dinucletdeo de nicotinamida e adenina (NADH)

    e dinucleotdeo fosfato de nicotinamida adenina (NADPH), cido urocnico e

    esteris (ANNA et al., 2007).

    A eficcia dos protetores solares que agem somente contra a radiao UVB

    discutida, uma vez que por evitar a queimadura, eles proporcionam maior tempo de

    exposio solar aos raios UVA (WOODHEAD; SETLOW; TANAKA, 1999).

    Fatores ambientais que aumentam o risco de melanoma, tais como a

    radiao, esto associados com o aumento do micro cido ribonucleico (21miR-21)

    que um oncomiR. O aumento da expresso de miR-21 tem sido observado durante

    a transio de uma leso melanoctica benigna para o melanoma maligno. Mutaes

    comuns no melanoma como genes BRAF e o homlogo do oncogene viral RAS do

    neuroblastoma (NRAS) esto associadas ao aumento da expresso de miR-21, que

    afeta genes alvo resultando em proliferao, diminuio da apoptose, instabilidade

    gentica, aumento do estresse oxidativo, angiognese, invaso e metstase (Figura

    11) (MELNIK, 2015).

  • 29

    Figura 11. Radiao UV associada ao risco de melanoma pelo aumento

    miR21. Fonte: Adaptada de MELNIK, 2015.

    3.1.5 Patologia molecular

    3.1.5.1 Patologia molecular dos melanomas

    Os mecanismos patognicos do desenvolvimento do melanoma no esto

    totalmente estabelecidos, mas sabe-se que vrios genes e vias metablicas esto

    ativados (PALMIERI et al., 2009).

    A progresso do melanoma est associada com ativao de oncogenes e

    com eventos epigenticos (YAJIMA et al., 2012). A ativao dos oncogenes pode

    ocorrer por mutao gentica, deleo, amplificao ou translocao. Os eventos

    epigenticos, que so mudanas reversveis e no provocam alteraes na

    sequncia de DNA, geralmente resultam da modulao transcripcional por metilao

    de DNA e/ou por alteraes na cromatina, como a modificao das histonas

    (PALMIERI et al., 2009).

    Os melanomas no mostram o mesmo cenrio primrio de eventos clonais,

    mas alguns destes eventos so mais comuns do que outros. Algumas vias de

    sinalizao so mais conhecidas e geralmente controlam a proliferao celular, a

    apoptose e a senescncia celular (BENNETT, 2008).

    A via proteno-quinase ativada por mitognio/quinase regulada por sinal

    extracelular (MAPK/ERK) participa do controle da proliferao celular (PALMIERI et

    al., 2009). Esta via de sinalizao regulada pelos receptores da tirosina quinase,

    citocinas e receptores acoplados protena G (MOZURAITIENE et al., 2015).

  • 30

    A protena G RAS (HRAS, KRAS e NRAS) est localizada na membrana

    plasmtica e ativa o RAF formando um complexo que leva fosforilao da protena

    quinase ativada por mitognio (MAPK tambm conhecida como ERK) via ativao

    da MEK. ERK, quando fosforilada, entra no ncleo e afeta a expresso de genes.

    Isto conduz a mudanas que controlam a proliferao celular (Figura 12) (YAJIMA et

    al., 2012).

    Figura 12. Vias de controle da proliferao celular e apoptose. Fonte: PALMIERI et al., 2009.

    ERK est hiperativada em 90% dos melanomas humanos por fatores de

    crescimento e por alteraes genticas de fatores a montante, protenas RAS e

    RAF. Os genes NRAS e BRAF esto mutados em 15 a 30% e em 50 a 70% dos

    melanomas humanos, respectivamente (YAJIMA et al., 2012).

    Na via de proliferao celular MAPK-ERK tem sido observado que os

    melanomas possuem mutaes ou do NRAS ou do BRAF, mas no de ambos, alm

    disso, aqueles com aumento do nmero de cpias de ciclina D1 (CCND1)

    geralmente no apresentam as ativaes de NRAS e nem BRAF (BENNETT, 2008).

  • 31

    A ativao da via fosfatidilinositol 3-quinases (PI3K) desempenha um papel

    significativo no melanoma, frequentemente em um cenrio da ativao concorrente

    da via de sinalizao RAS/RAF/MEK/ERK (MOZURAITIENE et al., 2015).

    O gene supressor de tumor homlogo de tensina e fosfatase (PTEN) codifica

    um lipdeo e uma protena fosfatase que regulam o crescimento celular e a

    sobrevida atravs da sinalizao do fosfatidilinositol 3-quinase/serina/treonina

    quinase (PI3K/AKT). AKT um gene que envia sinais inibitrios que promovem o

    crescimento e a sobrevida celular. No melanoma, nveis elevados de fosfo-AKT

    podem correlacionar adversamente com a sobrevida do paciente (TSAO et al.,

    2012). PTEN, contendo um domnio fosfatase, est inativado em 12% dos

    melanomas atravs de mutao ou metilao (YAJIMA et al., 2012).

    Figura 13. Vias de crescimento celular e de sobrevida. Fonte: (TSAO et al., 2012).

    A senescncia celular, que uma barreira para o desenvolvimento do

    melanoma, corresponde a uma interrupo irreversvel da proliferao de clulas

    somticas que induzida por encurtamento dos telmeros e estresse oncognico

    (BENNETT, 2008).

  • 32

    A reduo no comprimento dos telmeros parece exercer danos a

    sinalizao do DNA pela ativao de protena p16CDKN2A. Portanto, os melanomas

    no podem crescer indefinidamente sem um mecanismo para reduzir os telmeros.

    A expresso e a atividade das telomerases de fato inibida na progresso do

    melanoma (PALMIERI et al., 2009).

    A via de supresso de tumor do inibidor da ciclina dependente de quinase 2A

    (CDKN2A), gene envolvido na patognese do melanoma, codifica duas protenas,

    p16INK4a e p14ARF. A perda da funo da p16INK4a promove ativao da ciclina

    dependente de quinase (CDK4) e ciclina dependente de quinase 6 (CDK6)

    resultando em hiperfosforilao da protena do retinoblastoma promovendo a

    proliferao celular (Figura 12). A perda da funo no locus CDKN2A a anomalia

    gentica mais frequente no melanoma familiar, cerca de 40% dos casos, e nos

    pacientes sem histria ocorre em cerca de 8,2% dos indivduos (MOZURAITIENE et

    al., 2015).

    Nos melanomas a inativao da via de p53 supressora de tumor ocorre mais

    frequentemente pela via CDKN2A devido a perda da funo de seu produto p14ARF

    que previne a degradao da p53 pela protena E3 ubiquitina ligase MDM2 (Figura

    12) (MOZURAITIENE et al., 2015). As mutaes diretas em p53 so infrequentes

    nos melanomas; uma meta-anlise com 645 espcimes de melanoma revelou

    mutao direta em apenas 85 dos casos (13,2%) (TSAO et al., 2012).

    Os melanomas comumente resistem induo de apoptose e parecem estar

    protegidos por mltiplos mecanismos que incluem a ativao das vias MAPK e

    PI3K/AKT. No melanoma, a via MAPK antagoniza a apoptose por mltiplos

    mecanismos que incluem a expresso anti-apopttica do BCL2 (B-cell lymphoma 2),

    atravs do fator de transcrio associado microftalmia (MITF) e da supresso da

    protena proapottica agonista de BCL2 da morte celular (BAD) (Figura 13) (TSAO

    et al., 2012).

    3.1.5.2 Patologia molecular dos nevos

    Estudos relatam que existe clonalidade em 81% de nevos, sendo que destes

    25% so displsicos. No entanto, a demonstrao de clonalidade no informa se o

    nevo displsico se originou de novo ou de um nevo comum pr-existente, uma vez

    http://www.lookformedical.com/definitions.php?q=Fator+de+Transcri%C3%A7%C3%A3o+Associado+%C3%A0+Microftalmia&lang=3

  • 33

    que em ambas as circuntncias as clulas se originariam a partir de uma nica

    progenitora (Figura 14) (DUFFY; GROSSMAN; TANAKA, 2012a).

    Figura 14. Aberraes moleculares na progresso do melanoma. Fonte: Adapatada de

    MOZURAITIENE et al., 2015)

    As mutaes BRAF ocorrem em mais de 80% dos nevos melanocticos,

    sugerindo que estas alteraes somticas possam ocorrer cedo na melanognese

    (MOZURAITIENE et al., 2015).

    A mutao BRAF tem sido detectada em torno de 62 a 67% dos nevos

    displsicos. No entanto, no h correlao entre mutao BRAF e a ativao da

    MAPK (DUFFY; GROSSMAN; TANAKA, 2012b). A mutao V600E que prevalente

    no melanoma, no cncer colorretal e no cancer de tireoide, no identificada com a

    mesma frequncia nos nevos (TSAO et al., 2012).

    Em contraste com os nevos congnitos, que comumente possuem a mutao

    RAS, esta mutao raramente est presente nos nevos displsicos, sendo

    identificada em apenas 1 de 19 casos e 1 de 18 casos, em dois estudos realizados

    (DUFFY; GROSSMAN; TANAKA, 2012b).

    Alguns nevos displsicos exibem alteraes em p16 ou p53. Um estudo

    encontrou trs nevos displsicos com mutaes de p16 entre doze nevos

    examinados. Diferenas significativas entre nevos displsicos e nevos comuns no

    so observadas (DUFFY; GROSSMAN; TANAKA, 2012b). A mutaes no gene

    Tp53 muito menor nos nevos displsicos do que nos melanomas. O acmulo da

    protena p53 nos nevos displsicos tem sido reportado com uma frequncia muito

    menor que nos melanomas, em torno de 5% a 15% (HUSSEIN; WOOD, 2002).

  • 34

    Na sndrome familiar do nevo displsico-melanoma as mutaes em CDKN2A

    assim como CDK4 e ARF, tem sido demonstradas por participar do desenvolvimento

    da doena (PSATY et al., 2010).

    3.1.5.3 Molculas de adeso celular

    As molculas de adeso celular participam de processos biolgicos

    importantes como a diferenciao, crescimento, proliferao e migrao celular

    (REES, 2012). As molculas de adeso celular como as caderinas, as integrinas e

    as da superfamlia de imunoglobulinas participam dos processos de crescimento e

    metstase do melanoma maligno (MCGARY; LEV; BAR-ELI, 2002).

    A molcula de adeso clular do melanoma (Mel-CAM) pertence

    superfamlia das imunoglobulinas. Mel-CAM no expressa em melancitos

    normais, mas expressa em nevos benignos e em melanomas. A interao entre

    Mel-CAM e seus receptores pode induzir sinais celulares necessrios para a

    progresso do tumor. No entanto, a molcula de adeso celular do melanoma no

    til na distino entre leses melanocticas benignas e malignas (FIGUEIREDO et

    al., 2003).

    Integrinas so protenas transmembrana que funcionam principalmente pela

    migrao e aderncia a clulas na matriz extracelular, bem como a outras clulas. A

    integrina avb3 esta associada com a progresso do melanoma e pode ser usada no

    diagnstico para distinguir nevo benigno do melanoma maligno (FIGUEIREDO et al.,

    2003).

    A E-caderina uma molcula de adeso celular que est envolvida nas

    interaes queratincito-melancito. A perda da expresso da E-caderina tem sido

    relatada na progresso e metstase dos melanomas cutneos (ANNA et al., 2007).

    A molcula de adeso celular 1 (CADM1) uma protena de adeso que tem

    sido demonstrada estar reprimida em tecidos tumorignicos e sua expresso imuno-

    histoqumica anormal tem sido relatada nos melanomas (REES, 2012).

    3.1.5.4 Mecanismo de transio epitelial mesenquimal

    Transio epitelial-mesenquimal (TEM) um termo que se refere a eventos

    de desenvolvimento como os que ocorrem na gastrulao e na segregao da crista

  • 35

    neural quando as clulas emergem de um epitlio e se tornam isoladas (fibroblastos-

    like) (BENNETT, 2008).

    Este processo biolgico permite que uma clula epitelial, que interage com a

    membrana basal, submeta-se a mltiplas alteraes bioqumicas que lhe permitam

    assumir fentipo celular mesenquimal, que inclui aumento na capacidade migratria

    e de invaso, resistncia apoptose e maior produo de componentes da matriz

    extracelular (KALLURI; WEINBERG, 2009).

    O mecanismo de TEM est associado capacidade de invasividade dos

    cnceres, incluindo a do melanoma (BENNETT, 2008). No entanto, fundamental

    entender que o mecanismo de TEM clssico, como descrito nos carcinomas e no

    desenvolvimento embrionrio, no existe nos melanomas (PAPADOGEORGAKIS,

    2013).

    A linhagem melanoctica evolui a partir da crista neural com clulas

    embrionrias reguladas pela TEM (CARAMEL et al., 2013) (TULCHINSKY et al.,

    2013). Nas leses melanocticas o mecanismo de TEM refere-se transformao de

    melancitos em vez de clulas epiteliais. Os melancitos transformados adquirem

    um nmero muito grande de modificaes moleculares, incluindo a perda gradual de

    molculas de adeso celular como as caderinas (PAPADOGEORGAKIS, 2013).

    Uma das caractersticas do mecanismo de TEM, nas clulas epiteliais, a

    regulao negativa da E-caderina que est relacionada ao aumento da expresso de

    caderina mesenquimal neuronal (N-caderina), o que resulta em alterao da adeso

    celular, onde as clulas epiteliais adquirem afinidade por clulas mesenquimais

    atravs de interaes com N-caderina (LAMOUILLE; XU; DERYNCK, 2014).

    Um paradoxo que os melancitos adquirem um fentipo que tanto a E-

    caderina, um marcador de clulas epiteliais, como a vimentina, uma protena de

    filamento intermedirio sintetizado principalmente por clulas de origem

    mesenquimal, so fortemente expressas. Portanto, os melancitos no so nem

    clulas epiteliais nem mesenquimais e podem ser melhor classificados como um tipo

    de clula mista exibindo propriedades de ambas (PAPADOGEORGAKIS, 2013).

    O mecanismo de TEM controlado por vrios fatores de transcrio, incluindo

    TWIST1, TWIST2, o repressor transcripcional 1 da famlia snail (SNAIL1), repressor

    transcripcional 2 da famlia snail (SNAIL2) e ligao dedo de zinco E-Box homeobox

  • 36

    1 (ZEB1) e ligao dedo de zinco E-Box homeobox 2 (ZEB2) (Figura. 15)

    (TULCHINSKY et al., 2013).

    A regulao das funes dos fatores indutores de transcrio da transio

    epitelial-mesenquimal (FT-TEM) nos melanomas malignos diferente do epitlio

    (CARAMEL et al., 2013). Estudos mostram que os melancitos normais so

    positivos para SNAIL2 e ZEB2, mas negativos para ZEB1 e TWIST1 (TULCHINSKY

    et al., 2013). SNAIL2 e ZEB2 se comportam como protenas supressoras de tumores

    atravs da ativao de uma via de diferenciao de melancitos dependente de

    MITF (Figura. 15) (CARAMEL et al., 2013).

    Figura 15. Via ERK durante a melanognese que impacta na expresso fenotpica dos

    melanomas malignos. Fonte: Adapatada de TULCHINSKY et al., 2013.

    Ativao de NRAS/BRAF media a TEM em um estgio tardio do melanoma

    (MOZURAITIENE et al., 2015). Em resposta a ativao de NRAS/BRAF, a TEM

    sofre uma reorganizao em favor de TWIST1. Esta chave reversvel coopera com

    BRAF na promoo da desdiferenciao e transformao neoplsica dos

    melancitos. Esta chave resulta em perda de E-caderina e constitui um fator de mau

    prognstico em pacientes com melanoma (Figura 16) (CARAMEL et al., 2013).

    As alteraes das interaes de clulas com a matriz extracelular so

    essenciais para a iniciao e progresso da TME. As alteraes nas integrinas

    durante TME correlacionam-se com a expresso aumentada das proteases, tais

  • 37

    como metaloproteinase 2 (MMP2) e metaloproteinase (MMP9) (LAMOUILLE; XU;

    DERYNCK, 2014).

    Figura 16. Fatores de transcrio que controlam o mecanismo de transio epitelial-

    mesenquimal -TEM (EMT). Fonte: Adapatada de (BENNETT, 2008).

    3.2 DIAGNSTICO DE LESES MELANOCTICAS

    O diagnstico histolgico das proliferaes melanocticas inerentemente

    difcil, necessitando de integrao de mltiplos critrios arquiteturais e citolgicos.

    Nenhum critrio isolado diagnstico desta entidade particular uma vez que critrios

    similares podem ser encontrados em nevos benignos e melanomas. Estudos

  • 38

    complementares tem potencial para auxiliar na categorizao dos tumores

    melanocticos (ZEMBOWICZ; SCOLYER, 2011).

    3.2.1 Patologia molecular como auxiliar no diagnstico

    A anlise histopatolgica dos tecidos corados por hematoxilina e eosina, em

    correlao com o contexto clnico, o padro ouro para o diagnstico de melanoma.

    No entanto, h um subgrupo de leses com achados histopatolgicos conflitantes.

    Por este motivo, patologistas tem explorado tcnicas complementares para

    aumentar a acurcia diagnstica das leses melanocticas. Mtodos citogenticos

    podem ser usados para a distino entre nevos e melanomas, dentre eles o FISH e

    o CGH (BUSAM, 2013).

    Alm dos mtodos citogenticos, a imuno-histoqumica tem um papel

    importante no diagnstico de leses melanocticas. No entanto, no h um nico

    marcador, ou a combino deles que estabelea um diagnstico preciso de

    melanoma ou nevo (PRIETO; SHEA, 2011).

    3.2.2 Marcadores de imuno-histoqumica

    Nas leses em que os critrios clnicos e histopatolgicos de melanoma

    sobrepem aos do nevo, a imuno-histoqumica pode ser sugerida para auxiliar na

    diferenciao destes casos de difcil diagnstico. (PALIT; INAMADAR, 2011).

    Dentre os marcadores utilizados para a distino entre nevo e melanoma, o

    HMB-45 e o Ki-67 tem sido descritos como sendo os mais teis. Quando o padro

    de expresso intraepitelial ou periepitelial e quase completamente ausente na

    derme profunda, estas leses so mais consistentes com nevo que com melanoma.

    O Ki-67, que expressa o ndice proliferativo, geralmente menor que 1% nos nevos

    e maior que 10% nos melanomas (PRIETO; SHEA, 2011).

    Estudos tem mostrado que a perda da expresso imuno-histoqumica do

    CADM1 frequentemente ocorre nos melanomas e pode servir como um marcador

    para o diagnstico diferencial das leses melanocticas histologicamente

    questinveis (YOU et al., 2012). H evidncias que o CADM1 regulado

    negativamente pelo TWIST1 que pode agir como um supressor da invaso do

  • 39

    melanoma (HARTSOUGH et al, 2015). Na progresso do melanoma ocorre a perda

    da funo de E-caderina e ganho na expresso de N-caderina (FERNANDES,

    2011).

    3.2.2.1 CADM1

    O CADM1, um gene localizado no cromossomo 11q23.2, recebeu o nome

    oficial de cell adhesion molecule 1 (CADM1) pelo Human Genome Organization

    Gene Nomenclature Committee (LIANG et al., 2011) No entanto, este gene

    conhecido tambm como: membro 4c da muperfamlia de imunoglobulina (IGSF4);

    gene supressor de tumor 1, no cncer de pulmo (TSLC1); molcula de adeso

    sinptica (SYNCAM) (NATIONAL CENTER FOR BIOTECHNOLOGY

    INFORMATION, 2017).

    A perda ou a reduo da expresso do CADM1 est envolvida na progresso

    e metstase de diferentes tipos de neoplasias, incluindo o carcinoma de pulmo,

    estmago, ovrio, pncreas, mama e leucemia de clulas T (YOU et al., 2014). No

    melanoma descrita a sua expresso diminuda pelo mtodo de imuno-histoqumica

    (Figura 17) (REES, 2012).

    Figura 17. Representao da expresso imuno-histoqumica dos nveis de CADM1. Barra 1:

    melanoma cutneo; Barra 2: nevo displsico; Barra 3: pele normal. Os melanomas mostram nveis

    mais baixos de expresso de CADM1. Fonte: Adaptada de YOU et al., 2012

    A CADM1 faz parte de uma ampla categoria de molculas de adeso celular

    que facilitam as ligaes clula a clula e clula matriz extracelular. Elas so

  • 40

    capazes tambm de transmitir sinais mecnicos e qumicos atravs da membrana. A

    sinalizao mediada pelas molculas de adeso importante na regulao de

    muitos processos celulares incluindo a diferenciao, a proliferao e a migrao

    celular (REES, 2012).

    O CADM1 uma glicoprotena transmembrana com 442 aminocidos,

    composta por um domnio extracelular do tipo imunoglobulina e um domnio

    intracelular citoplasmtico (LIANG et al., 2011).

    O domnio extracelular homlogo a outros da superfamlia das

    imunoglobulinas de molculas de adeso celular (CAM) e funcionalmente serve

    como mediador para a formao de homodmeros de CADM1 ou de heterodmeros

    de outros membros das molculas de adeso celular. Estudos demonstraram que o

    CADM1 est envolvido na adeso celular atravs de interaes homoflicas,

    independentes de clcio e magnsio. Portanto, provvel que o CADM1 seja um

    supressor de tumor pelo seu domnio extracelular melhorando a adeso entre

    clulas, suprimindo a invaso e metstase (LIANG et al., 2011).

    No entanto, existem evidncias que o domnio intracelular do CADM1 tambm

    desempenha um papel importante na supresso tumoral, interagindo com protenas

    citoplasmticas (LIANG et al., 2011). Acredita-se que CADM1 possa estar

    relacionado com a actina do citoesqueleto citoplasmtico para uma ligao estvel

    entre as clulas (YOU et al., 2010).

    Os mecanismos exatos do CADM1 associados a supresso do crescimento

    tumoral e de metstases no melanoma ainda permanecem elusivos (YOU et al.,

    2014). Sabe-se que a perda da expresso do CADM1, tem como principal

    mecanismo subjacente a hipermetilao do gene promotor ou a perda da

    heterozigose, que frequentemente se correlaciona com pior prognstico das

    neoplasias (VAN DER WEYDEN et al., 2012).

    A perda da funo do CADM1 presumivelmente conduz a rompimentos na

    adeso clula a clula e clula matriz extracelular, levando a uma proliferao

    celular descontrolada e a distoro progressiva da arquitetura normal do tecido,

    transformando nevos displsicos de um fentipo benigno para maligno (YOU et al.,

    2012).

    O CADM1 pode executar a funo supressora de tumores por desencadear a

    resposta imunolgica citotxica dos linfcitos NK e T CD8 (MURAKAMI, 2005). Os

  • 41

    mecanismos pelos quais as clulas tumorais interagem com o sistema imunolgico

    permanecem pouco compreendidos. Um estudo observou que os efeitos

    supressores do CADM1 estavam ausentes em camundongos sem imunidade

    mediada por linfcitos T. Portanto, os dados deste estudo sugerem que a funo do

    CADM1 na supresso de metstases acontece pelos mecanismos de vigilncia

    imunolgica (FARAJI et al., 2012).

    O CADM1 inibe a ligao do receptor de tirosina quinase 2 com receptor de

    tirosina quinase 3 (2ErbB2/ErbB3), sinalizando a morte celular, suprimindo o tumor.

    O miR-214 suprime o CADM1 e aumenta a ligao ErbB2/ErbB3, observado no

    cncer colorretal (MOMOSE et al., 2013).

    Observou-se, em um estudo in vitro, que o CADM1 inibe a invaso de clulas

    de melanoma atravs da supresso da matriz metaloproteinase. A degradao da

    matriz extracelular e da membrana basal pode ser facilitada pelas metaloproteinases

    que so enzimas proteolticas associadas invaso tumoral por facilitarem a

    migrao de clulas tumorais atravs da matriz extracelular (YOU et al., 2014).

    Os nveis de CADM1 so inversamente relacionados aos nveis de TWIST1,

    que responsvel por regular genes envolvidos na adeso celular. Demonstrou-se

    que o TWIST1 interage fisicamente com o promotor de CADM1 reduzindo seus

    nveis, sugerindo que o CADM1 negativamente regulado pelo TWIST1

    (HARTSOUGH et al, 2015).

    A perda da funo de uma molcula de adeso celular como a CADM1 pode

    induzir invaso e metstase, em clulas cancerosas, atravs da interveno no

    mecanismo de transio epitelial-mesenquimal (EMT) (NATIONAL CANCER

    CENTER RESEARCH INSTITUTE JAPAN, 2017).

    Sabe-se que h perda da expresso do CADM1 no citoplasma de melanomas

    e que esta perda est associada com estgios tardios do tumor e com o decrscimo

    na sobrevida dos pacientes, apesar de nenhum mecanismo exato ainda ter sido

    determinado (REES, 2012). Portanto, o CADM1 pode constituir um marcador

    prognstico importante e um potencial alvo para o desenvolvimento de novas

    terapias (YOU et al., 2014).

    3.2.2.2 TWIST1

  • 42

    O gene TWIST1 est localizado no cromossomo 7p21.2 e conhecido

    tambm como TWIST ou fator de transcrio TWIST (ONLINE MENDELIAN

    INHERITANCE IN MAN, 2017). Ele um fator de transcrio basic helix-loop-helix

    (bHLH) que forma tanto homodmeros quanto heterodmeros com outras protenas

    bHLH para a construo de uma sequncia core E-box na regio do promotor de

    genes alvo (SINGH; GRAMOLINI, 2009).

    O TWIST um regulador nuclear na morfognese embriolgica (QIANG et al.,

    2014) e participa do desenvolvimento da mesoderme, da miognese, da neurognse

    e tambm age como um regulador de metstases (SINGH; GRAMOLINI, 2009).

    conhecida a superexpresso do TWIST em tumores de diferentes origens,

    como sarcomas, gliomas, carcinomas de clulas escamosas, carcinomas da mama e

    melanoma (BECK et al., 2015). Esta superexpresso tem sido associada ao

    aumento da migrao celular, invaso e metstase de neoplasias. O TWIST1 est

    ativado na maioria dos melanomas e este achado correlaciona-se com pior

    sobrevida dos pacientes (WEISS et al., 2012).

    O TWIST est envolvido no processo de transio epitelial mesenquimal

    (TEM) que desencadeia uma funo essencial nas metstases dos cnceres

    (KHAN et al., 2013). Na TEM as clulas epiteliais perdem as propriedades de

    adeso e adquirem critrios mesenquimais permitindo sua migrao e invaso

    (BECK et al., 2015). O TWIST ativa a N-caderina e inibe a E-caderina que so

    importantes para a TEM (Figura 18) (KHAN et al., 2013).

    Figura 18. TWIST inibe a E-caderina que fundamental para o mecanismo de TEM (EMT).

    Fonte: Adaptada de WANG; ZHOU, 2011.

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Khan%20MA%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=23873099http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Khan%20MA%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=23873099https://www.researchgate.net/profile/Yifan_Wang7https://www.researchgate.net/researcher/39645975_Binhua_P_Zhou

  • 43

    Existem evidencias que a IL-6 induza a TEM e aumente a capacidade de

    invaso das clulas tumorais de origem epitelial. No entanto, no se sabe se a IL-6

    afeta tumores mesenquimais. Um estudo examinou os efeitos da IL-6 nas clulas de

    melanoma e encontrou que a IL-6 pode aumentar seu potencial metasttico por

    regular a expresso do TWIST e N-caderina (NA; LEE; SEOK, 2013).

    Encontrou-se que RAS-RAF-MEK-ERK (via ERK1/2) sinaliza o aumento da

    expresso de TWIST1 que aumenta as propriedades de invaso na derme e, pelo

    menos em parte, eleva os nveis da matriz metaloproteinase (Figura 19)

    (HARTSOUGH, et al, 2015). A hiperativao desta via comum em mltiplos tipos

    de cncer, especialmente no melanoma, onde mutaes N-RAS ou B-RAF so

    prevalentes (WEISS et al., 2012).

    Figura 19. Modelo da via ERK1/2TWIST1MMP-1 na cascata do melanoma. A ativao do ERK1/2 leva a um aumento na transcrio do TWIST1. Fonte: Adapatada de (WEISS et al., 2012)

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Na%20YR%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24051540http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Na%20YR%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24051540http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Seok%20SH%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24051540

  • 44

    A superexpresso do TWIST tambm protege as clulas de cncer da morte

    por apoptose (KHAN et al., 2013) atravs da inibio da p53 (BECK et al., 2015). O

    TWIST pode afetar indiretamente a p53 atravs da modulao da via ARF/MDM/p53

    (MAESTRO et al., 1999).

    A associao da expresso do TWIST1 em leses metastticas de

    melanoma, incluindo metstases nodais e a distncia, foi relatada. Observou-se

    tambm que a colorao forte nuclear do TWIST est presente na maioria dos

    melanomas primrios, enquanto que a expresso do TWIST geralmente negativa

    em leses benignas (Figura 20) (PAPADOGEORGAKIS, 2013).

    Figura 20. (A e B) Ausncia de expresso nuclear do TWIST1 em nevos melanocticos

    intradrmicos. (C e D) Metstase de melanoma em linfonodo mostrando imunorreatividade para

    TWIST1. (PAPADOGEORGAKIS, 2013).

    Um estudo mostrou que (TGF) beta-1 se combinado com PLX4032, um

    inibidor de BRAF, ou GSK1120212, um inibidor de MEK, aumenta substancialmente

    a morte celular em linhagens de clulas de melanoma com mutao BRAF. Este

    estudo sugere que o TWIST desempenha uma funo crucial mediando resistncia

    s drogas inibidoras moleculares de BRAF e MEK (MENON et al., 2013). O

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Khan%20MA%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=23873099http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Menon%20DR%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=23848983

  • 45

    desenvolvimento de terapias alvo envolvendo o TWIST tem uma grande promessa

    na teraputica do cncer (KHAN et al., 2013).

    3.2.2.3 CDH1 (E-caderina)

    O gene CDH1 tem o nome oficial de cadherin 1, pelo HGNC e sinnimo de E-

    cadherin (HUGO GENE NOMENCLATURE COMMITTEE, 2017). Este gene est

    presente no cromossomo 16 e codifica uma caderina clssica da superfamlia das

    caderinas. Esta uma protena de adeso clula-clula que contm regio

    extrecelular, transmembrana e citoplasmtica. A perda da funo deste gene

    contribui para progresso, invaso e/ou metstases (NATIONAL CENTER FOR

    BIOTECHNOLOGY INFORMATION, 2017).

    Caderinas so glicoprotenas transmembrana clcio dependentes que

    mediam a adeso clula-clula. A E-caderina est envolvida nas interaes

    queratincito-melancito. A perda da expresso da E-caderina tem sido relatada na

    progresso e metstase dos melanomas cutneos. A protena -catenina se liga a

    E-caderina no citoesqueleto desempenhando um papel importante na adeso celular

    (ANNA et al., 2007).

    O TWIST1 suprime a E-caderina. (PAPADOGEORGAKIS, 2013). A perda da

    E-caderina representa a marca da TEM em tumores epiteliais e tambm evidente

    nos estgios tardios do melanoma, especialmente em metstases nodais

    (CARAMEL et al., 2013). O mecanismo de transio epitelial mesenquimal (TEM)

    nas clulas de melanoma ocorre pela modulao de genes especficos, reprimindo a

    E-caderina e induzindo a N-caderina e proteases (BENNETT, 2008). Na progresso

    do melanoma ocorre a perda da funo de E-caderina e ganho na expresso de N-

    caderina (Figura 21) (FERNANDES, 2011).

    A expresso de N-caderina facilita a ligao de clulas melanocticas com

    fibroblastos e com clulas endoteliais, facilitando o extravasamento das clulas de

    melanoma para a circulao. A E-caderina ativada retarda o crescimento e pode

    reverter o fentipo invasivo de clulas do melanoma. Porm, no existem evidncias

    de que a diminuio de E-caderina funcione como um promotor do melanoma

    FERNANDES, 2011).

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Khan%20MA%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=23873099

  • 46

    Figura 21. Aumento da expresso da N-caderina e diminuio da E-caderina no melanoma

    invasivo. Fonte: Adapatada de MCGARY; LEV; BAR-ELI, 2002

  • 47

    4. METODOLOGIA

    4.1 TIPO DE ESTUDO

    Estudo transversal retrospectivo para a investigao da expresso imuno-

    histoqumica dos genes CADM1, TWIST1 e CDH1.

    4.2 LOCAL DO ESTUDO

    O estudo foi realizado no Centro de Diagnsticos Antomo-Patolgicos

    (CEDAP), Laboratrio de Anatomia Patolgica, localizado na cidade de Joinville em

    Santa Catarina, credenciado pelo Colgio Americano de Patologistas e pela

    Organizao Nacional de Acreditao. Possui uma equipe com 10 patologistas e 70

    colaboradores e atua na rea de anatomia patolgica, incluindo a citopatologia,

    histopatologia, imuno-histoqumica, imunofluorescncia e patologia molecular.

    Atende pacientes principalmente da regio norte do estado, sendo que

    aproximadamente metade so provenientes da rede pblica de sade. Devido a sua

    abrangncia de atendimento, o CEDAP constitui um local apropriado para estudos

    de leses melanocticas, inclundo os melanomas, que so prevalentes na regio

    norte (STEGLISH, 2015).

    4.3 PERODO DO ESTUDO

    O estudo foi realizado em amostras coletadas nos anos de 2013, 2014, 2015

    e 2016. A reavaliao histolgica e as anlises imuno-histoqumicas foram

    realizadas no perodo de maio de 2016 a janeiro de 2017.

    4.4 AMOSTRAS E CRITRIOS DE INCLUSO E EXCLUSO

    Foram selecionadas amostras a partir dos diagnsticos registrados no banco

    de dados do CEDAP. Os pacientes eram provenientes da rede pblica e privada e

    todos tinham indicao clnica para a realizao do procedimento.

    Inicialmente foram selecionadas 120 amostras consecutivas, todas com

    acordo diagnstico de dois patologistas, sendo 40 amostras de melanomas com

  • 48

    menos de 1,0 mm de espessura, 40 melanomas com mais de 1,0 mm de espessura

    e 40 nevos melanocticos compostos displsicos, com atipias moderadas. Foram

    excludas as amostras que no apresentavam material suficiente para as anlises

    subsequentes e as amostras que na reavaliao histolgica apresentaram critrios

    diagnsticos duvidosos, totalizando 18 excluses (9 amostras de melanomas com

    menos de 1,0 mm de espessura, 4 de melanomas com mais de 1,0 mm de

    espessura e 5 de nevos melanocticos). Por fim, para fins do estudo foram includas

    as 30 amostras consecutivas com diagnsticos mais recentes de cada grupo

    Dentre os melanomas com menos de 1,0 mm de espessura, a mdia de idade

    foi 51 17 anos. Conforme a classificao histolgica do Colgio Americano de

    Patologistas, 27 eram de disseminao superficial e 3 melanomas sem outra

    classificao. A mdia da espessura foi de 0,5 mm 0,3 mm. Dentre os melanomas

    com mais de 1,0 mm de espessura, a mdia de idade foi 60 14 anos. Dez eram do

    tipo histolgico de disseminao superficial, 14 do tipo nodular, 1 melanoma acral, 1

    melanoma nevoide e 4 melanomas, sem outra classificao. A mdia da espessura

    foi de 3,9 mm 3,8 mm. Dentre os nevos melanocticos compostos displsicos, com

    atipias moderadas, a mdia de idade foi 40 13 anos e todos tinham a informao

    clnica ou de anlise macroscpica de dimetro maior que 5,0 mm.

    4.5 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    As lminas das amostras selecionadas, coradas por hematoxilina e eosina

    foram reanalisadas microscopicamente para a confirmao do diagnstico

    histolgico. Os blocos de parafina correspondentes foram analisados

    macroscopicamente para avaliao da quantidade de material presente.

    4.5.1 Tcnica de imuno-histoqumica

    As amostras foram previamente fixadas em formalina a 10% e dispostas em

    blocos de parafina. Foram realizados cortes com espessura de 4 micrmetros e

    dispostos em lminas silanizadas e deixadas overnight em estufa a 60C para que

    o material do corte aderisse lmina. A recuperao antignica foi feita no

  • 49

    equipamento PT-Link (Dako, Glostrup, Dinamarca) em soluo de recuperao

    antignica em pH 9.0 (EnVision FLEX Target Retrieval Solution High pH (50x),

    Dako). O processo de recuperao antignica foi realizado durante 20 minutos a

    95C. Aps esta etapa e em todas as etapas subsequentes, as lminas foram

    lavadas em tampo EnVision FLEX Wash Buffer (Dako), diludo 1:200 em gua

    destilada, por 5 minutos. Os cortes foram demarcados com caneta hidrofbica. Para

    todos os anticorpos a diluio utilizada foi determinada em testes em amostras

    prvias.

    Para a investigao da expresso do gene CADM1 foi realizado bloqueio por

    20 minutos com 100 L de perxido de hidrognio a 3% (Dako). Foram adicionados

    100 L do anticorpo CADM1, diludo 1:600 na soluo EnVision FLEX Antibody

    Diluent (Dako), por 16 horas overnight. O anticorpo anti-CADM1 conjugado,

    policlonal isotipo Ig de coelho, que reage na regio N-terminal da protena CADM1

    (SynCAM humano) (ABBIOTEC, Le Plessis Robinson, Frana).

    Para a investigao da expresso do gene TWIST1 foi realizado bloqueio por

    20 minutos com 100 L de perxido de hidrognio a 3% (Dako). Foram adicionados

    100 L do anticorpo monoclonal, diludo 1:3000 na soluo EnVision FLEX Antibody

    Diluent (Dako), por 16 horas overnight. O anticorpo anti-TWIST1 conjugado,

    monoclonal (clone 10E4E6, Genetex, Irvine, Estados Unidos da Amrica) e

    reconhece a regio entre os aminocidos 9 e 74 da protena TWIST1 humano.

    Para a investigao da expresso do gene CDH1 (E-caderina) foi realizado

    bloqueio por 5 minutos com 100 L de perxido de hidrognio a 3% (Dako). A

    seguir, foram adicionados 100 L do anticorpo pronto para uso (Dako) e incubado

    durante 20 minutos. O anticorpo anti-CDH1 monoclonal derivado de camundongo

    (clone NCH-38, anti-humano) e reconhece os fragmentos de E-caderina de 120 KDa

    e de 82 kDa. Na sequncia, foi adicionado o anticorpo secundrio EnVision FLEX

    Mouse LINKER (Dako) e incubado por 15 minutos.

    Aps estas etapas, em todas as reaes foram adicionados 100 L de

    polmero EnVision FLEX/HRP (Dako), seguido de incubao durante 20 minutos.

    Na sequncia, foram adicionados 100 L da soluo de cromgeno de

    diaminobenzidina (EnVision FLEX DAB Cromgeno, Dako), com incubao

    durante 20 minutos. As lminas foram contracoradas com hematoxilina de Gill e

  • 50

    montadas com meio de montagem (Dako), sendo identificadas com etiquetas com

    cdigo de barras.

    4.5.2 Leitura e interpretao dos resultados

    A expresso do CADM1 e do CDH1 (E-caderina) foi avaliada no citoplasma e

    na membrana celular. A expresso do TWIST1 foi avaliada no ncleo celular. As

    lminas de imuno-histoqumica foram analisadas de modo cego, por dois

    patologistas experientes, em relao aos dados clnicos e histolgicos dos

    pacientes. O mtodo de leitura, interpretao dos resultados e definio dos scores

    foi baseado em You et al. (2012). Foram analisadas a porcentagem de clulas

    positivas e a intensidade da colorao em cada amostra.

    Para a definio da porcentagem de clulas positivas, utilizou-se uma escala

    de 0 a 4: 0 a 10% de clulas coradas classificou-se como 0; 11 a 25% como 1; 26 a

    50% como 2; 51 a 75% como 3 e 76 a 100% como 4. A intensidade da colorao foi

    graduada em uma escala de 0 a 3: resultado negativo foi classificado como 0; fraco

    como 1; moderado como 2 e forte como 3. O score final foi obtido multiplicando-se o

    resultado da porcentagem de clulas coradas pelo resultado da intensidade da

    colorao. Na anlise final, um score menor do que 3 foi considerado negativo e

    scores iguais ou superiores a 3 foram considerados positivos.

    4.6 Anlise estatstica

    A anlise estatstica para o clculo da diferena dos resultados

    interobservadores foi realizada atravs do ndice de Kappa utilizando o programa

    Statistical Package for the Social Sciences (SPSS).

    A avaliao da significncia estatstica para cada marcador, TWIST1, CADM1

    e CDH1, entre os grupos dos melanomas com menos de 1,0 mm de espessura, dos

    melanomas com mais de 1,0 mm de espessura e dos nevos compostos displsicos

    foi realizada atravs do teste Mann-Whitney com o Social Science Statistics

    (http://www.socscistatistics.com). Valores de p menores que 0,05 foram

    considerados estatisticamente significativos.

    http://www.socscistatistics.com/

  • 51

    4.7 Aspectos ticos

    O projeto de pesquisa foi avaliado e aprovado pelo Comit de tica em

    Pesquisa (CEP) da Universidade da Regio de Joinville (UNIVILLE), conforme

    diretrizes estabelecidas na Resoluo 466/2012 do Conselho Nacional de Sade

    (CNS) e complementares, sob o parecer nmero 1.282.268.

    As amostras selecionadas foram utilizadas exclusivamente para os fins

    previstos na pesquisa. Aps a realizao do estudo, os blocos histolgicos foram

    devolvidos ao biobanco CEDAP, onde permanecero armazenados por no mnimo

    20 anos a partir do cadastro inicial do paciente, possibilitando que novos estudos

    sejam realizados a medida que as tcnicas analticas evoluam e novos marcadores

    moleculares surjam. Aps os 20 anos o descarte do material ser realizado, se

    necessrio, conforme as normas do biobanco CEDAP, que foi aprovado pela

    Comisso Nacional de tica em Pesquisa (CONEP) por meio do parecer 016/2016.

  • 52

    5. RESULTADOS E DISCUSSO

    Conforme as normas do Programa de Ps-Graduao em Mestrado em

    Sade e Meio Ambiente da UNIVILLE, este captulo ser apresentado na forma de

    artigo cientfico, encaminhado para publicao no peridico Pathology - Research

    and Practice (editora Elsevier; ISSN: 0344-0338).

  • 53

    AVALIAO DA EXPRESSO DOS GENES CADM1, TWIST1 E CDH1 POR

    IMUNO-HISTOQUMICA EM LESES MELANOCTICAS

    Resumo Introduo: O melanoma maligno uma doena agressiva e sua incidncia est

    aumentando no mundo. A predisposio gentica e a exposio a fatores

    ambientais, principalmente a luz solar, so fatores de risco. A distino

    histopatolgica entre nevos e melanomas pode ser difcil. Prev-se que a avaliao

    da expresso imuno-histoqumica de alguns genes poderia contribuir para o

    diagnstico diferencial de leses histogicamente questionveis. Objetivo: Investigar

    se a avaliao da expresso imuno-histoqumica dos genes CADM1, TWIST1 e

    CDH1 (E-caderina), que participam dos mecanismos de adeso celular e transio

    epitelial-mesenquimal, contribui para o diagnstico diferencial das leses

    melanocticas de difcil diagnstico. Metodologia: Estudo transversal retrospectivo

    baseado na avaliao da expresso imuno-histoqumica dos genes CADM1,

    TWIST1 e CDH1 por imuno-histoqumica em amostras de 30 nevos compostos

    displsicos, 30 melanomas com menos de 1,0 mm de espessura e 30 melanomas

    com mais de 1,0 mm de espessura, diagnosticados no perodo de 2013 a 2016, em

    Joinville/SC. Foi utilizado um score que avaliou a intensidade da colorao e a

    proporo de clulas coradas. Resultados: Em comparao aos nevos melanocticos

    compostos displsicos, observou-se reduo significativa da expresso dos genes

    CADM1 e CDH1 nos melanomas (abaixo e acima de 1,0 mm de espessura) e nos

    melanomas de mais de 1,0 mm de espessura, respectivamente. Tambm se

    verificou menor expresso dos genes CADM1 e CDH1 nos melanomas com mais de

    1,0 mm de espessura em relao aos melanomas com menos 1,0 mm. O gene

    TWIST1 no apresentou diferena significativa da expresso entre os grupos.

    Concluso: Estes achados permitem concluir que a expresso imuno-histoqumica

    do CADM1 tem potencial para contribuir como ferramenta auxiliar ao diagnsico

    diferencial entre nevos melanocticos compostos displsicos e melanomas.

    Palavras chave: Imuno-histoqumica, CADM1, TWIST, CDH1, melanoma, nevo

    displsico

  • 54

    EVALUATION OF EXPRESSION OF GENES CADM1, TWIST1 AND CDH1 BY

    IMMUNOHISTOCHEMISTRY IN MELANOCYTIC LESIONS

    Abstract

    Introduction: Malignant melanoma is an aggressive disease and its incidence is

    increasing worldwide. Genetic predisposition and exposure to environmental factors,

    especially sunlight, are risk factors. Histopathologic distinction between nevi and

    melanoma can be difficult. It is anticipated that the evaluation of the

    immunohistochemical expression of some genes could contribute to the differential

    diagnosis of questionable histologically lesions. Objective: To investigate wether the

    evaluation of the immunohistochemical expression of genes CADM1, TWIST1 and

    CDH1 (E-cadherin), that take part in mechanisms of cell adhesion and epithelial-

    mesenchymal transition, contributes to the differential diagnosis of melanocytic

    lesions difficult to diagnose. Methodology: Retrospective cross-sectional study based

    on immunohistochemical expression evaluation of genes CADM1, CDH1 and

    TWIST1 in samples of 30 dysplastic compound nevus, 30 melanomas with less than

    1.0 mm thick and melanomas with more than 1.0 mm thick, diagnosed between 2013

    and 2016, in Joinville/SC. A score was used to evaluate color intensity and proportion

    of cells stained. Results: There was a significant reduction in the expression of the

    genes CADM1 and CDH1 in melanomas (below and above 1.0 mm thick) and in

    melanomas of more than 1.0 mm in thickness, respectively, compared to dysplastic

    melanocytic nevi. There was also lower expression of the genes CADM1 and CDH1

    genes in melanomas greater than 1.0 mm thick compared to melanomas less than

    1.0 mm. The gene TWIST1 showed no significant difference in expression between

    groups. Conclusion: These findings allow us to conclude that the

    immunohistochemical expression of CADM1 has the potential to contribute as an

    auxiliary tool to the differential diagnosis between dysplastic compound nevus and

    melanoma.

    Key-words: immunohistochemIstry, CADM1, TWIST, CDH1, cutaneous melanoma,

    dysplastic nevus.

  • 55

    Introduo

    O melanoma maligno uma das neoplasias mais agressivas nos seres

    humanos. O nmero estimado de mortes por melanoma de 48.000 por ano, em

    todo o mundo [1], e vem sendo relatado um aumento na incidncia nas populaes

    caucasianas [2].

    A determinao das causas para o desenvolvimento do melanoma

    complexa, com fatores de genticos e ambientais influenciando o risco individual [3].

    A exposio ocupacional, o estilo nutricional e principalmente a exposio luz solar

    so fatores ambientais relacionados ao desenvolvimento do melanoma cutneo.

    Mudanas significativas na expresso de microRNA em resposta exposio

    ambiental tm sido relatadas [4].

    A preciso do diagnstico do melanoma crtica para a conteno da

    malignidade [1]. O exame histopatolgico o "padro ouro" para o diagnstico de

    leses melanocticas. No entanto, a distino histopatolgica definitiva entre as

    leses benignas e as malignas, em alguns casos, pode ser difcil. descrita uma

    discordncia interobservador relativa ao diagnstico de nevos e melanomas

    variando de 2,3 a 25% das leses [5].

    Marcadores moleculares podem ser utilizados como ferramentas auxiliares ao

    diagnstico das leses melanocticas [5]. Ferramentas citogenticas, tais como

    Comparative Genomic Hybridization e Fluorescence in situ Hybridization, foram

    desenvolvidas para ajudar na classificao de leses melanocticas ambguas. No

    entanto, estes mtodos moleculares requerem equipamentos e patologistas

    qualificados, portanto, no so utilizados rotineiramente [6]. Ao contrrio, a imuno-

    histoqumica utilizada na maioria dos centros de patologia. Porm, apesar de

    muitos marcadores terem sido estudados, apenas poucos deles parecem servir

    como ferramentas auxiliares para o diagnstico diferencial de nevo e melanoma e,

    at o momento, nenhum deles suficiente para distinguir inequivocamente uma

    leso melanoctica [5].

    descrito que a perda da expresso imuno-histoqumica do gene CADM1,

    que ocorre nos melanomas, poderia servir como um marcador de melanoma em

    leses histologicamente questionveis [7]. Os nveis de CADM1 so inversamente

    relacionados aos nveis de TWIST1, que responsvel por regular genes envolvidos

  • 56

    na adeso celular [8]. O TWIST1 participa do processo de transio epitelial

    mesenquimal (EMT) [9], que um processo em que clulas perdem as propriedades

    de adeso e adquirem critrios mesenquimais permitindo a invaso e migrao [10].

    Por sua vez, a perda da expresso da E-caderina tem sido relatada na progresso e

    metstase dos melanomas cutneos [11].

    O objetivo deste estudo foi avaliar se a anlise em conjunto da expresso

    imuno-histoqumica dos genes CADM1, TWIST1 e CDH1 (E-caderina) pode

    contribuir para o diagnstico diferencial de leses melanocticas.

    Mtodos Tipo, local e perodo do estudo

    Estudo transversal retrospectivo realizado no Centro de Diagnsticos

    Antomo-Patolgicos (CEDAP), laboratrio de anatomia patolgica, localizado na

    cidade de Joinville em Santa Catarina, Brasil. O estudo foi realizado em amostras

    coletadas nos anos de 2013, 2014, 2015 e 2016. A reavaliao histolgica e as

    anlises imuno-histoqumicas foram realizadas no perodo de maio de 2016 a janeiro

    de 2017.

    Amostras e critrios de incluso e excluso

    Foram selecionadas amostras a partir dos diagnsticos registrados no banco

    de dados do CEDAP. Os pacientes eram provenientes da rede pblica e privada e

    todos tinham indicao clnica para a realizao do procedimento.

    Inicialmente foram selecionadas 120 amostras consecutivas, todas com

    acordo diagnstico de dois patologistas, sendo 40 amostras de melanomas com

    menos de 1,0 mm de espessura, 40 melanomas com mais de 1,0 mm de espessura

    e 40 nevos melanocticos compostos displsicos, com atipias moderadas. Foram

    excludas as amostras que no apresentavam material suficiente para as anlises

    subsequentes e as amostras que na reavaliao histolgica apresentaram critrios

    diagnsticos duvidosos, totalizando 18 excluses (9 amostras de melanomas com

    menos de 1,0 mm de espessura, 4 de melanomas com mais de 1,0 mm de

  • 57

    espessura e 5 de nevos melanocticos). Por fim, para fins do estudo foram includas

    as 30 amostras consecutivas com diagnsticos mais recentes de cada grupo

    Dentre os melanomas com menos de 1,0 mm de espessura, a mdia de idade

    foi 51 17 anos. Conforme a classificao histolgica do Colgio Americano de

    Patologistas, 27 eram de disseminao superficial e 3 melanomas sem outra

    classificao. A mdia da espessura foi de 0,5 mm 0,3 mm. Dentre os melanomas

    com mais de 1,0 mm de espessura, a mdia de idade foi 60 14 anos. Dez eram do

    tipo histolgico de disseminao superficial, 14 do tipo nodular, 1 melanoma acral, 1

    melanoma nevoide e 4 melanomas, sem outra classificao. A mdia da espessura

    foi de 3,9 mm 3,8 mm. Dentre os nevos melanocticos compostos displsicos, com

    atipias moderadas, a mdia de idade foi 40 13 anos e todos tinham a informao

    clnica ou de anlise macroscpica de dimetro maior que 5,0 mm.

    Imuno-histoqumica

    As amostras foram previamente fixadas em formalina a 10% e dispostas em

    blocos de parafina. Foram realizados cortes com espessura de 4 micrmetros e

    dispostos em lminas silanizadas e deixadas overnight em estufa a 60C para que

    o material do corte aderisse lmina. A recuperao antignica foi feita no

    equipamento PT-Link (Dako, Glostrup, Dinamarca) em soluo de recuperao

    antignica em pH 9.0 (EnVision FLEX Target Retrieval Solution High pH (50x),

    Dako). O processo de recuperao antignica foi realizado durante 20 minutos a

    95C. Aps esta etapa e em todas as etapas subsequentes, as lminas foram

    lavadas em tampo EnVision FLEX Wash Buffer (Dako), diludo 1:200 em gua

    destilada, por 5 minutos. Os cortes foram demarcados com caneta hidrofbica. Para

    todos os anticorpos a diluio utilizada foi determinada em testes em amostras

    prvias.

    Para a investigao da expresso do gene CADM1 foi realizado bloqueio por

    20 minutos com 100 L de perxido de hidrognio a 3% (Dako). Foram adicionados