juventudes pobreza e desocupacao na regiao metropolitana de recife

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE ECONOMIA LOYD DIAS DA SILVA JUVENTUDES: pobreza e desocupação na Região Metropolitana do Recife UBERLÂNDIA 2009

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA INSTITUTO DE ECONOMIA

    LOYD DIAS DA SILVA

    JUVENTUDES: pobreza e desocupao na Regio Metropolitana do Recife

    UBERLNDIA 2009

  • LOYD DIAS DA SILVA

    JUVENTUDES: pobreza e desocupao na Regio Metropolitana do Recife

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Economia do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlndia, como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Economia.

    rea de Concentrao: Desenvolvimento Econmico.

    Orientadora: Prof Dr Rosana Ribeiro.

    UBERLNDIA 2009

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    S586j

    Silva, Loyd Dias da, 1979- Juventudes : pobreza e desocupao na regio metropolitana do Recife / Loyd Dias da Silva. - 2009. 95 f .

    Orientadora: Rosana Aparecida Ribeiro. Dissertao (mestrado) Universidade Federal de Uberlndia, Pro- grama de Ps-Graduao em Economia. Inclui bibliografia.

    1. Mercado de trabalho Recife (PE) - Teses. 2. Juventude Emprego - Teses. 3. Pobreza Teses. 4. Desemprego Teses. I. Ribeiro, Rosana Aparecida. II. Universidade Federal de Uberlndia. Programa de Ps-Graduao em Economia. III. Ttulo. CDU: 331.6 (813.4)

    Elaborado pelo Sistema de Bibliotecas da UFU / Setor de Catalogao e Classificao

  • LOYD DIAS DA SILVA

    JUVENTUDES: pobreza e desocupao na Regio Metropolitana do Recife

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Economia do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlndia, como requisito para obteno do ttulo de Mestre em Economia.

    Uberlndia, 30 de outubro de 2009.

    Banca Examinadora

    ______________________________________

    Prof Dr Rosana Aparecida Ribeiro - UFU Orientadora

    ______________________________________

    Prof. Dr. Henrique Dantas Neder UFU

    ________________________________________

    Dr. Renault Michel IPEA

    ________________________________________

    Prof. Dr. Antonio Csar Ortega Coordenador do Programa de Ps-Graduao em Economia IE UFU

  • Aos meus pais.

  • AGRADECIMENTOS

    com satisfao que se alcana mais esta etapa na vida acadmica. Para que se chegasse at aqui, foi possvel contar com o apoio de muitas pessoas e instituies no decorrer dos ltimos anos. Recorro a esse espao para fazer os meus sinceros agradecimentos.

    A Deus e aos meus pais, Antonio e Celma meu porto seguro e base espiritual pelo amor que me sustenta e pelos ensinamentos que sempre iro me perseguir onde quer que eu esteja. Agradeo por terem me trazido pelas mos at aqui e pelo apoio incondicional que me fortalece. Cada vez que olho para mim, percebo que h mais de sua presena do que eu poderia imaginar e isso me faz extremamente feliz. Por onde eu for a sua bno me seguir.

    Aos meus maninhos: Joycinha, Natinha, Luquinhas e minha cunhadinha Djanira pela cumplicidade e parceria em todos os momentos. Amo cada um deles incondicionalmente.

    Aos meus adorveis sobrinhos Jonatas Jnior e Anna Julie, s porque tenho por eles um apreo imenso.

    Aos meus avs Ademar e Alzina, essas pessoas especiais e iluminadas que merecem todo o meu respeito, amor, admirao.

    Universidade Federal do Cear (UFC), onde comecei a me encantar com as cincias econmicas, em especial a professora Ana Maria Fontenele, minha orientadora de monografia.

    Aos colegas do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho que conheci na Clula de monitoramento do mercado de trabalho, onde despertei para o estudo do tema desta pesquisa. Agradeo especialmente aos queridos Wldia, Marzia, Jonathan, Muniz, Mrcio, Norma, Rosaliane, Arlete, Teixeira, Jnior Macambira, Lima, Mardnio e Marinaldo, este participou de minha banca de defesa da monografia de concluso da graduao em economia na UFC.

    Aos colegas da Prefeitura de Fortaleza, por todo o apoio que recebi: Rmulo Ferrer, Julio, Isabel, Glucia, Rita, Diana, Shirley, Airton, Felipe Mota, Diego, Wallace Felipe, Dr. Alfredo e Dra Ana Fontenele, mais uma vez.

    Aos meus professores no Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlndia (UFU): Niemeyer Almeida Filho, Jos Rubens Garlipp, Flvio Vilela, Germano

  • de Paula, Clsio Loureno, Carlos Nascimento, Guilherme Delgado, Rosana Ribeiro e Henrique Neder.

    Ao professor Niemeyer, pela importante participao em minha vida acadmica, e cujo carinho paternal foi essencial para tornar mais branda a adaptao na nova cidade.

    professora Rosana Ribeiro, pela orientao neste estudo. Ao professor Henrique Neder pela participao na banca e pela co-orientao nesta

    dissertao, embora oficialmente no seja reconhecida, na UFU, a figura do co-orientador. Agradeo enormemente pela amizade, dedicao e pelos sugestes para o desenvolvimento do estudo, auxiliando-me todas as vezes que precisei e me ajudando a superar algumas das minhas limitaes principalmente quanto aos mtodos economtricos. Sua participao foi fundamental no somente em minha vida acadmica e neste trabalho, mas sobretudo em minha formao enquanto ser humano - pelo seu exemplo de humildade, simpatia, carisma e pela simplicidade que lhe peculiar.

    Ao Dr. Renault Michel, do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA), pela participao na banca de defesa da dissertao.

    Ao Guilherme Arajo, pela valiosa contribuio na fase final da dissertao, cuja parceria foi fundamental na elaborao do ltimo captulo.

    Aos funcionrios da UFU, em especial a Vaine, pelo tratamento personalizado e por todo o carinho dedicado aos mestrandos do Instituto de Economia. Carinho esse que levarei por toda a vida.

    Aos meus colegas de turma: Fernanda Calasans, Humberto Lima e Daniel Jeziorny bem mais do que amigos, anjos com quem eu pude contar desde o incio Ana Mrcia Rodrigues, por todo o apoio e pelos momentos de amizade, alegria, ansiedade e angtia compartilhados. Agradeo tambm ao Guilherme Arajo, Vincius Spirandelli, Thales Viegas, Almir Csar, Leonardo Camargo, ureo Haag e Elias Ricardo.

    Aos amigos que fiz no Instituto de Economia: Henrique Barros, Jnior Dias, Karine Obalhe, Csar Piorski, Michelle Borges, Wynghpal Quiant, Maria Cludia, Francismeire e, em especial, a Izabel Oliveira pelo apoio na fase final de desenvolvimento da dissertao.

    s amigas de repblica: Janayne Reis e as tilangas Natlia e Thais, pela convivncia compartilhada durante o mestrado

  • s minhas amigas essenciais: Zilah, Diana, Marzia, Joana e Regina, de quem a distncia fsica, felizmente, aproximou-me ainda mais.

    Beth, Priscila e Rebeca, ao Joo, Thiago, Ravi, pelo carinho que me receberam. Aos colegas da Advocacia-Geral da Unio (AGU): Aninha, Paulo, Mrcio, Jaira,

    Sivinha, Rafael, Tomaz, e tambm aos coordenadores Carreira e Chico e diretora Isaura, pela compreenso e apoio para que eu conclusse este estudo.

    Finalmente, agradeo ao Banco do Nordeste do Brasil que, por meio do programa de apoio s teses e dissertaes, financiou por quatro meses este trabalho.

  • Sofremos em nossa vida uma batalha renhida

    do irmo contra o irmo ns somos injustiados nordestinos explorados mas nordestinados no.

    H muita gente que chora vagando de estrada afora

    sem terra, sem lar, sem po crianas esfarrapadas famintas, escaveiradas morrendo de inanio.

    ...

    mas no o pai celeste que faz sair do nordeste

    legies de retirantes. os grandes martrios seus no permisso de deus culpa dos governantes.

    J sabemos muito bem de onde nasce e de onde vem

    a raiz do grande mal vem da situao crtica

    desigualdade poltica econmica e social.

    ...

    uma vez que o conformismo faz crescer o egosmo

    e a injustia aumentar, em favor do bem comum

    dever de cada um pelos direitos lutar.

    Por isso vamos lutar ns vamos reivindicar o direito e a liberdade

    procurando em cada irmo justia, paz e unio

    amor e fraternidade.

    Patativa do Assar.

  • RESUMO

    Este trabalho se props a fazer um diagnstico da situao do jovem no mercado de trabalho da Regio Metropolitana do Recife (RMR), bem como estimar os determinantes da desocupao dos jovens pobres e no pobres no seu mbito durante os anos de 1995, 2001 e 2007. Constatou-se neste estudo que os jovens pobres so substancialmente mais atingidos pelo desemprego que os no pobres, indiferente faixa etria considerada e ao sexo. Outro aspecto importante revelado neste trabalho que embora seja esperado que a taxa de desocupao v declinando mediante o avanar da idade do jovem, no caso dos pobres essa queda no to significativa. Alm disso, nas faixas etrias mais elevadas se encontra o maior hiato entre taxas de desocupao pobres versus no pobres, comprovando que o desemprego dos pobres vai condicionar sua vida adulta, quando a razo entre as taxas de desocupao pobres/no pobres ser ainda maior. Da segmentao por sexo, depreende-se que as maiores taxas de desocupao so as enfrentadas pelas mulheres, sendo ainda maiores para as pobres. Quanto escolaridade, tambm influencia distintamente pobres e no pobres, sendo que em idnticos nveis de instruo, os primeiros enfrentam maiores dificuldades para conseguir emprego comparativamente aos segundos. Nas faixas etrias mais elevadas onde se encontram os maiores diferenciais entre as taxas de desocupao pobres/no pobres. Para a estimao da probabilidade de desemprego juvenil entre pobres e no pobres utilizaram-se os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad) como fonte de dados para a modelagem probit. Os resultados alcanados revelam que as variveis que influenciam a probabilidade da desocupao juvenil, ao nvel de 1% de significncia, no caso dos jovens pobres so: renda familiar per capita, experincia e a condio do jovem na famlia. Para os jovens no pobres, suas probabilidades de desemprego so afetadas pela experincia e condio do jovem na famlia.

    Palavras-chave: Juventude. Pobreza. Trabalho. Desocupao.

  • ABSTRACT

    This study proposes to make a diagnosis of the situation of poor and non-poor youth in the labor market in the metropolitan region of Recife, and to evaluate the determinants of the unemployment of the poor and non-poor youth there during the years 1995, 2001 and 2007. This study verified that poor youth are substantially more affected by unemployment than non-poor, irregardless of age or sex. Another important aspect highlighted by this study is that although it is expected that the unemployment rate would go down in relation to the advancing age of the young, for the poor this improvement is not as significant. Moreover, in higher age groups, it is the biggest gap between the unemployment rates of the poor versus non-poor, showing that the unemployment of the poor will influence his adult life, when the gap in the unemployment rate between poor and non-poor will be greater. Classifying by gender, it appears that the highest rates of unemployment are experienced by women and are even higher for poor women. As for even education, this also distinctly influences poor and non-poor, and in the same levels of education, the poor face greater difficulties in obtaining employment, compared to non-poor and in the older age groups is where the biggest differences between the unemployment rates of poor and non-poor are seen. To estimate the probability of youth unemployment among the poor and non-poor, the micro-data of the National Household Sample Survey (NHSS) was used as a data source for the probit model. The results obtained show that the variables that influence the probability of youth unemployment, at the 1% significance level, in the case of poor young people are: per capita family income, experience, and role/social status of the young in the family. For non-poor young, their probabilities of unemployment are affected by the experience and role of the young in the family.

    Key-words: Youth. Poverty. Labor. Unemployment.

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    BNB Banco do Nordeste do Brasil Condepe/Fidem Agncia Estadual de Planejamento e Pesquisas CTPS Carteira de Trabalho e Previdncia Social Dieese Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos Scio-Econmicos Etene Escritrio Tcnico de Estudos Econmicos do Nordeste Fundeci Fundo de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica Iets Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade Ipea Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada MTE Ministrio do Trabalho e Emprego OIT Organizao Internacional do Trabalho ONU Organizao das Naes Unidas PDE Princpio da Demanda Efetiva PEA Pessoas Economicamente Ativas

    PIA Populao em Idade Ativa PME Pesquisa Mensal de Emprego Pnad Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios Pnea Pessoas No Economicamente Ativas.

    POF Pesquisa de Oramento Familiar PDE Princpio da Demanda Efetiva Prob Probabilidade PSU Primary Sampling Unit. Rais Relao Anual de Informaes Sociais RMR Regio Metropolitana do Recife RMRJ Regio Metropolitana do Rio de Janeiro RMSP Regio Metropolitana de So Paulo TCH Teoria do Capital Humano TG Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda Var Varincia

  • LISTA DE TABELAS E QUADROS

    Tabela 1 Taxas de participao, desocupao e ocupao RMR (em %) ........................ 40 Tabela 2 - Taxas de desocupao Juvenil segundo faixas etrias - RMR (em %) ................... 50 Tabela 3 Taxas de desocupao segundo faixas etrias e condio econmica - RMR

    (em %) .............................................................................................................................. 51 Tabela 4 Razo entre as taxas de desocupao dos pobres e no pobres segundo faixas

    etrias RMR (em %) ...................................................................................................... 52 Tabela 5 - Taxas de desocupao juvenil segundo gnero RMR (em %) ............................ 54 Tabela 6 - Taxas de desocupao juvenil segundo gnero e condio econmica - RMR

    (em %) .............................................................................................................................. 55 Tabela 7 - Taxas de desocupao Juvenil segundo grupos de anos de estudo - RMR (em % )57 Tabela 8- Taxas de desocupao segundo grupos de anos de estudo - e condio econmica -

    RMR (em % - medida em anos de estudo) ....................................................................... 58 Tabela 9 Distribuio dos jovens desocupados segundo condio na famlia RMR

    (em %) .............................................................................................................................. 60 Tabela 10 - Distribuio dos jovens desocupados segundo condio na famlia e situao

    econmica - RMR (em %) ................................................................................................ 61 Tabela 11 - Taxas de desocupao juvenil segundo condio na famlia - RMR

    (em %) .............................................................................................................................. 62 Tabela 12 - Taxas de desocupao juvenil segundo arranjo familiar e condio econmica -

    RMR (em %) .................................................................................................................... 63 QUADRO 1 Descrio das variveis utilizadas........................................................................ 71 Tabela 13 - Linhas de pobreza para a RMR utilizadas na anlise ................ (valores em R$) 72 Tabela 14 - Tabela de Classificao (Jovens pobres) ............................................................... 77 Tabela 15 - Tabela de Classificao (Jovens no pobres) ........................................................ 78 Tabela 16 - Estimadores do modelo probit para os jovens pobres ........................................... 79 Tabela 17 - Estimadores do modelo probit para os jovens no pobres .................................... 80

  • SUMRIO

    INTRODUO ...................................................................................................................... 16 CAPTULO 1 JUVENTUDE E MERCADO DE TRABALHO ....................................... 18

    1.1 Os determinantes da desocupao .............................................................................. 19 1.1.1 A determinao do desemprego segundo o modelo neoclssico................................. 19

    1.1.2 A Teoria do Capital Humano e suas implicaes sobre a desocupao ................. 21 1.1.3 O desemprego como um problema de empregabilidade ......................................... 24 1.1.4 A abordagem keynesiana ......................................................................................... 25

    1.2 Ocupao, desocupao e pobreza .............................................................................. 29 1.3 Determinantes da desocupao juvenil ...................................................................... 32

    1.3.1 Considerando o lado da oferta de mo de obra ...................................................... 33 1.3.2 A desocupao sob a tica da demanda por mo de obra ...................................... 35

    CAPTULO 2 JUVENTUDE, POBREZA E TRABALHO NA REGIO METROPOLITANA DO RECIFE ....................................................................................... 37

    2.1 Panorama econmico da RMR no perodo recente ................................................... 38 2.2 A juventude da Regio Metropolitana do Recife ....................................................... 44 2.3 Insero juvenil na Regio Metropolitana do Recife ................................................ 46 2.4 Regio Metropolitana do Recife: Desocupao Juvenil e Pobreza .......................... 49

    2.4.1 Desocupao Juvenil e faixas etrias ..................................................................... 50 2.4.2 Desocupao juvenil e gnero ................................................................................. 53 2.4.3 Desocupao juvenil e escolaridade ....................................................................... 56 2.4.4 Desocupao juvenil e arranjos familiares ............................................................. 60

    CAPTULO 3 OS DETERMINANTES DA DESOCUPAO JUVENIL ...................... 64 3.1 Dados ............................................................................................................................. 64

    3.1.1 Demarcao temporal ............................................................................................. 66 3.1.2 Delimitao da populao estudada ....................................................................... 67 3.1.3 Definio das variveis utilizadas no modelo ......................................................... 69

    3.2 Metodologia ................................................................................................................... 73 3.2.1 Probit ....................................................................................................................... 73

  • 3.2.2 Agrupamento independente de cortes transversais ao longo do tempo .................. 75 3.3 Interpretao dos resultados ....................................................................................... 76

    CONSIDERAES FINAIS ................................................................................................. 84 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................. 88 APENDICE A - TESTE DE RAZES ........................................................................ 93 APENDICE B - Estimao da desocupao para os jovens pobres ............................... 94 APENDICE C - Estimao da desocupao para os jovens no pobres ........................ 95

  • 16

    INTRODUO

    O trabalho que ora apresento surgiu como um desdobramento dos estudos que venho desenvolvendo, desde a minha monografia da graduao, sobre juventude e insero no mercado de trabalho. Mais especificamente, a presente dissertao relaciona-se aos estudos sobre juventude, pobreza e trabalho.

    importante reconhecer que a juventude no deve ser considerada um conjunto homogneo. Tratando-se de um grupo heterogneo, no se pode falar em uma questo juvenil, sendo necessria a realizao de estudos que segmentem a juventude.

    Esta dissertao pretende revelar aspectos ainda pouco estudados no que tange desocupao dos jovens na Regio Metropolitana do Recife. Alm do recorte espacial, ser adotado o procedimento analtico de segmentar os jovens segundo sua condio de pobreza, sexo, condio na famlia, faixas etrias, grupos de anos de estudo.

    A partir da segmentao possvel apreender as diferenas e semelhanas entre os jovens e, dessa forma, identificar os segmentos juvenis mais atingidos pela desocupao. Relevante estudar os jovens de forma segmentada, pois essas caractersticas podem estar influenciando a trajetria ocupacional futura dos jovens, perpetuando o ciclo de pobreza para as novas geraes.

    Dessa forma, a pesquisa pretende contribuir para a indicao das principais necessidades de cada segmento juvenil. Esse diagnstico de suma relevncia, permitindo s polticas pblicas elaborar instrumentos mais adequados.

    Em linhas gerais, este trabalho tem o objetivo de fazer uma anlise da populao juvenil e das causas de sua desocupao na Regio Metropolitana do Recife, no intuito de captar as principais semelhanas e divergncias em relao aos indicadores de mercado de trabalho entre jovens pobres e no pobres nos anos de 1995, 2001 e 2007.

    Quanto aos objetivos especficos desta dissertao, pode-se indicar: apontar algumas das principais causas da desocupao juvenil (tanto do lado da oferta como sob a tica da demanda); pesquisar indicadores relativos educao dos jovens pobres e no pobres na Regio Metropolitana do Recife; confrontar os indicadores de desocupao juvenil entre

  • 17

    pobres e no pobres; investigar a ocupao juvenil no mbito da RMR no perodo estudado, estimar as probabilidades de jovens pobres e no pobres estarem desocupados.

    A metodologia utilizada neste trabalho para a estimao da probabilidade da desocupao juvenil para pobres e no pobres foi o modelo economtrico de resposta binria probit. Essa metodologia permite estudar o impacto das variveis selecionadas sobre a probabilidade de um jovem estar desocupado.

    Esta dissertao est dividida em trs captulos.

    O primeiro captulo apresenta as principais teorias sobre os determinantes do desemprego de acordo com os enfoques neoclssico, da teoria do capital humano, da empregabilidade e sob a tica keynesiana. Em seguida, aborda-se a importncia da renda do trabalho na composio dos rendimentos totais das famlias, apresentando tambm um breve panorama da insero de pobres e no pobres na Populao Economicamente Ativa (PEA) brasileira. Por fim, introduzida a questo do desemprego juvenil, por meio de uma exposio de suas causas sob as ticas da oferta e da demanda por mo-de-obra.

    No segundo captulo desse estudo o objetivo fazer um estudo detalhado acerca da insero e desocupao juvenil na Regio Metropolitana do Recife. Para tanto, torna-se necessrio compreender o funcionamento da economia da RMR, ento primeiramente feita uma apresentao do panorama econmico da RMR ps-plano Real. Em seguida, apresentamos a juventude da Regio Metropolitana do Recife, abordando a ocupao juvenil e examinando, ainda, os jovens inseridos na Populao Economicamente Ativa na condio de desocupados, deparando-se com graves dificuldades de insero ocupacional.

    No terceiro captulo feita uma estimativa da probabilidade de um jovem pobre ou no pobre estar desocupado na Regio Metropolitana do Recife. Para tanto, recorre-se ao modelo economtrico de resposta binria probit, onde jovem desocupado varivel dependente e, utilizando o banco de dados da PNAD/IBGE, escolhem-se algumas variveis para testar as causas da desocupao juvenil na RMR, bem como para verificar possveis diferenas na desocupao entre pobres e no pobres na RMR nos anos de 1995, 2001 e 2007, conforme microdados fornecidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios para esses anos.

  • 18

    CAPTULO 1 JUVENTUDE E MERCADO DE TRABALHO

    A definio de populao jovem tem sido amplamente discutida pela literatura especfica sem, todavia, alcanar um consenso. Na viso de alguns autores, a juventude caracterizada como uma experincia comum e homognea em todos os grupos sociais. Eles no consideram as especificidades culturais, tampouco temporais. No entanto, considerando a conceituao proposta por Camarano, juventude deve ser considerada como um processo de transio para a vida adulta, o que no ocorre de forma linear. Em suas palavras:

    [...] Uma viso mais balanceada deve considerar essa fase da vida como composta por experincias complexas e heterogneas, caracterizadas tanto por vulnerabilidades quanto por potencialidades. A incidncia desses dois conjuntos de atributos ocorre diferenciadamente entre sexos, grupos sociais, tnicos, regies geogrficas, etc. (CAMARANO, 2006, p.14)

    De acordo com a autora, tal processo no pode estar limitado apenas idade, e nem transio escola-trabalho, devendo abranger tambm as inter-relaes entre escola, trabalho e famlia como condicionantes da transio para a vida adulta (CAMARANO, 2006).

    Embora a faixa etria considerada como jovem pelos organismos internacionais como OIT e ONU seja de 15 a 25 anos, para a anlise desenvolvida neste trabalho, so assumidos como jovens os indivduos de 15 a 29 anos de idade. Ainda que somente a partir dos 16 anos sejam aos jovens assegurados os direitos trabalhistas e previdencirios, eles j podem ingressar no mercado de trabalho aos 14 anos na condio de aprendizes.

    Camarano (2006) atribui esse alongamento da juventude ao aumento paulatino da idade em que indivduos continuam como membros secundrios da fora de trabalho, adiando a responsabilidade de uma nova famlia. Desse modo, os jovens permanecem como dependentes, continuam morando na casa dos pais e percebendo auxlio financeiro para atender suas necessidades, mesmo depois dos 25 anos de idade.

    Vale ressaltar, ainda, que a sada da escola, a entrada no trabalho, a formao de famlia e a constituio de domiclio considerados pela autora elementos centrais da transio para a vida adulta tm sido prolongados, o que justificaria um alongamento da fase a ser estudada como juvenil at os 29 anos (CAMARANO, 2006).

  • 19

    A populao juvenil sempre enfrentou maiores taxas de desocupao, comparativamente aos adultos mesmo em um contexto de crescimento econmico e recuperao do emprego. Isso no nenhuma novidade, e demonstra a maior vulnerabilidade da populao juvenil frente ao mercado laboral. Este trabalho pretende contribuir para o debate acerca do desemprego juvenil, trazendo tona diferenas no desemprego enfrentado por jovens pobres e no pobres.

    Este primeiro captulo objetiva apresentar as principais teorias a respeito dos determinantes do desemprego, introduzindo tambm uma abordagem sobre os determinantes da desocupao juvenil. Ele est dividido em trs sees. A primeira apresenta os determinantes da desocupao de acordo com o enfoque neoclssico, da teoria do capital humano, da empregabilidade. Ainda na primeira seo, igualmente abordado o problema do desemprego sob a tica keynesiana.

    Na segunda seo mostrada a importncia da renda do trabalho na explicao dos rendimentos totais das famlias. Alm disso, apresentado um breve panorama da insero de pobres e no pobres na Populao Economicamente Ativa (PEA). A terceira seo aborda a questo do desemprego juvenil, apresentando seus determinantes a partir das ticas da oferta e da demanda por trabalho.

    1.1 Os determinantes da desocupao

    Nesta seo, enfatizaremos os determinantes do desemprego a partir do enfoque neoclssico, da teoria do capital humano, como tambm sob a perspectiva da empregabilidade. Posteriormente, confrontaremos o problema do desemprego sob a tica keynesiana.

    1.1.1 A determinao do desemprego segundo o modelo neoclssico

    O modelo neoclssico estabelece que o livre funcionamento dos mercados sempre conduz ao equilbrio no mercado de trabalho. Para seus tericos, o salrio real resulta da

  • 20

    interseco entre as curvas de oferta e demanda por trabalho, tendo como consequncia pleno emprego automtico.

    A curva de demanda por trabalho (Nd) negativamente inclinada no plano nvel de emprego (N) e salrio real (W/P). A curva de demanda, de acordo com o primeiro postulado, assume que as firmas empregam trabalhadores at o ponto onde o salrio igual ao produto marginal do trabalho.

    A curva de oferta, por sua vez, estabelece uma relao direta entre salrio e oferta de mo de obra, tendo por base o segundo postulado, que pressupe que trabalhadores ofertam seu trabalho at o ponto em que a utilidade do lazer seja igual utilidade marginal proporcionada pelo trabalho. Assim, tem-se uma curva de oferta positivamente inclinada. A partir da interao das duas curvas, ficariam determinados concomitantemente o nvel de emprego e o salrio real no modelo neoclssico.

    Simultaneamente a essa elevada confiana na autorregulao dos mercados, o modelo neoclssico tambm considera a neutralidade da moeda que, de acordo com o modelo, simplesmente unidade de medida. O paradigma neoclssico pressupe uma dicotomia entre o lado real (onde so determinados o salrio real, emprego, produto, etc.) e o lado monetrio da economia, no existindo comunicao entre os dois lados (RAMOS, 2003). Nessa situao, o desemprego considerado, pelos neoclssicos, como resultado de um salrio real demasiadamente elevado, que gera uma oferta de trabalho superior demanda.

    Para os neoclssicos, se os salrios fossem mais flexveis, essa oferta excedente de mo de obra iria se autocorrigir atravs dos mercados, pois um excesso de oferta provocaria um movimento de queda nos salrios reais. Isso possibilitaria a reduo da oferta e elevao da demanda, eliminando o desemprego. Todavia, os neoclssicos no explicam adequadamente a origem da rigidez dos salrios, atribuindo o desemprego tambm a fatores institucionais ou legais (como o estabelecimento de piso salarial, sindicatos, etc.).

    O desemprego seria explicado atravs do aumento do poder dos sindicatos que, juntamente com o salrio mnimo, acentua as desigualdades. Ou seja: para eles, o problema do aumento das taxas de desocupao da mo de obra mantm ligao direta com a rigidez das leis trabalhistas. Para os neoclssicos, o aumento da multa rescisria (em casos de dispensa sem justa causa) tornaria os empresrios mais criteriosos, diminuindo o volume das contraes formais (RAMOS, 2003a). Alm disso, para os neoclssicos, o nvel de emprego de equilbrio unicamente o de pleno emprego, compatvel somente com os tipos de

  • 21

    desemprego friccional e voluntrio. O primeiro tipo desemprego friccional decorrente de pequenas imperfeies entre oferta e demanda de trabalho.

    Quanto ao desemprego voluntrio, aquele decorrente do fato de a desutilidade do trabalho ser maior que a utilidade do salrio que se poderia receber trabalhando. Nesse caso, o trabalhador optaria por no trabalhar.

    No modelo neoclssico, todos os que desejam trabalhar1 encontram emprego. A flexibilidade do salrio possibilita que toda a mo de obra seja empregada. Caso o sistema ficasse temporariamente abaixo do nvel do pleno emprego, esse equilbrio logo seria restabelecido, pois os salrios seriam pressionados para baixo, promovendo o ajustamento automtico das quantidades (N) via alterao nos preos (W/P).

    Destaca-se, ento, que no modelo neoclssico o problema do desemprego origina-se na rigidez do salrio real, devendo as solues para a desocupao passar pela flexibilizao dos fatores que promovem tal rigidez.

    1.1.2 A Teoria do Capital Humano e suas implicaes sobre a desocupao

    A Teoria do Capital Humano (TCH) ganha fora durante os anos de 1950 e 1960, motivada por uma preocupao com o crescimento econmico e a distribuio de renda. A TCH pressupe que o capital humano produto de decises individuais, algo produzido. A teoria tambm assume que o nvel de escolaridade de um indivduo mantm relao positiva com seus rendimentos pessoais.

    O ponto de partida para a teoria do capital humano a ideia de que a renda individual est diretamente relacionada aos atributos pessoais que determinam a renda do trabalho. Esses atributos so: a habilidade ou talento natural, o estado de sade e a capacidade para exercer fora fsica, a qualificao resultante da escolaridade formal, etc. Essas caractersticas pessoais so os componentes do estoque de capital humano, que podem ser alteradas pelos indivduos por meio de suas decises racionais (MEDEIROS, 2004, p. 108).

    Para os tericos do capital humano, a elevao da produtividade marginal do trabalho explicada pelos atributos pessoais, caractersticas naturais e habilidades adquiridas. Tais

    1 para o salrio vigente.

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    habilidades adquiridas seriam precedidas por uma prvia deciso. A teoria pressupe, ainda, que os indivduos so racionais e que alguns resolvem obter mais habilidades que outros.

    O sujeito se autogerencia como a um capital, investindo em si mesmo como se investe em qualquer outro ativo (RAMOS, s/d). Para os pesquisadores do tema, algumas pessoas ganham mais que outras porque as primeiras investiram mais em si mesmas, em seu capital

    humano. Alm disso, esse tipo de investimento impe o tipo de escolha que o trabalhador far (entre trabalho e estudo), mediante o confronto entre custo e benefcio. Nas palavras de Medeiros:

    O investimento em capital humano refere-se determinao de engajar-se num processo usualmente longo de melhoria dos atributos pessoais, arcando com custos diversos (inerentes ao investimento em si, ou custos de oportunidade, relacionados inevitvel reduo da renda pessoal presente), para auferir uma maior renda futura (MEDEIROS, 2004, p.108).

    Esse raciocnio que relaciona a escolha do indivduo entre trabalhar ou estudar de acordo com seu investimento em capital humano seria vlido em pases com igualdade de oportunidades que permitiriam que as pessoas efetivamente optassem. Ainda assim, poderia existir um paradoxo como as situaes nas quais exista uma incompatibilidade entre a formao requerida pelos postos de trabalho criados e a oferta de trabalho (RAMOS, s/d).

    Ramos (2003) demonstra que, no caso de mudanas no padro tecnolgico, as possibilidades de reverter ou atenuar a tendncia de desemprego, atravs de educao formal e formao profissional, so bem reduzidas. Isso ocorre porque nem sempre a formao profissional alcanada coincidente com aquela requerida pelos postos de trabalho existentes.

    A educao formal considerada a principal fonte de acumulao de capital humano, podendo ser acrescida de outras variveis: formao profissional, reciclagem, experincia no prprio emprego, sade, ambiente familiar na primeira infncia, etc.

    Vale ressaltar que o capital humano classifica-se em geral e especfico. O geral, normalmente obtido no sistema escolar, est relacionado s habilidades, qualificaes e tcnicas bsicas para quase todas as atividades. J o especfico obtido por meio do trabalho, treinamento, execuo da tarefa, etc. Ele apresenta vrios graus de especificidade e est ligado determinada tarefa, profisso ou mesmo determinada firma.

    A possibilidade de acumular capital humano especfico pode estar condicionada pelo estoque de capital humano geral previamente acumulado. Comumente, pessoas mais escolarizadas tm maiores facilidades em cursos e treinamentos especficos. Por conseguinte,

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    a baixa escolaridade acaba sendo mais um entrave acumulao de capital humano especfico (RAMOS, s/d, p. 9).

    Do ponto de vista econmico, a TCH assegura que a educao contribui significativamente para elevar a produtividade do trabalho. Para esses estudiosos da TCH, o trabalhador receberia maiores rendimentos porque as maiores habilidades, bem como uma maior escolaridade, geram maior produtividade e as firmas remuneram os fatores segundo sua produtividade. Assim, educar-se significaria elevar sua produtividade. Isso traz implicaes tanto da perspectiva do lado da oferta quanto da demanda. Do lado da oferta de trabalho, educao elevaria a produtividade do trabalhador. Sob a tica da demanda, essa maior produtividade seria paga sob a forma de melhores empregos e salrios.

    Alguns crticos, como Salm (1999), admitem que exista associao entre treinamento no local de trabalho ou formao profissional e produtividade e salrios. Contudo, no possvel assegurar que exista uma correspondncia estrita entre maior escolaridade e maior produtividade do trabalho.

    Quanto famigerada Teoria do Capital Humano, nos seus primrdios, preocupou-se apenas com a adequao do treinamento e da formao profissional s demandas de mercado, o que, convenhamos, apenas bom senso. No pretendia, ento, avaliar a educao bsica a partir da lgica econmica. Isto foi uma deturpao posterior (SALM, 1999, p. 11).

    Outra idia resultante da teoria do capital humano a presuno de que o aumento da educao capaz de, por si s, produzir vagas para todos os trabalhadores qualificados (MEDEIROS, 2004).

    Os tericos do capital humano tambm atribuem o desemprego aos choques tecnolgicos. Para a TCH, mudanas no paradigma tecnolgico poderiam causar inadequao da mo de obra j empregada, devido aos novos requisitos de habilidades e conhecimentos. As novas tecnologias requereriam indivduos com maior capital humano acumulado, principalmente o capital humano geral. Essa incompatibilidade, para eles, seria responsvel por desemprego da fora de trabalho.

    Em sntese, para os tericos da TCH, a desocupao seria fruto do subinvestimento dos trabalhadores em sua qualificao. Essa ideia est ligada concepo neoclssica de que o problema do desemprego um problema da oferta de mo de obra.

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    1.1.3 O desemprego como um problema de empregabilidade

    Empregabilidade um conceito utilizado tanto no Brasil como em outros pases e se refere capacidade de um indivduo conseguir manter-se ocupado e/ou encontrar novas alternativas ao desemprego. Est ligado qualificao, habilidades, virtudes pessoais, competncias, disposio.

    Nas palavras de Paiva (2001):

    [...] Em um panorama nebuloso em relao s profisses, disposies e virtudes adquirem mais peso que a proficincia especfica; no basta conhecimento, mas interesse, motivao, criatividade. No se trata apenas de qualificar e preparar para o trabalho em si, mas para a vida na qual se insere o trabalho, com uma flexibilidade e um alcance suficientes para enfrentar o emprego, o desemprego e o autoemprego e para circular com desenvoltura em meio a muitas idades da tecnologia, com a possibilidade de entender e usar as mquinas mais modernas e de fazer face s suas inmeras consequncias na vida social e pessoal (PAIVA, 2001, p. 56).

    A empregabilidade um fenmeno complexo, determinado por diversos fatores. O termo ocupa posio de destaque na agenda acadmica e poltica, bem como no mundo empresarial. O fenmeno do desemprego crescente que atinge o mercado laboral um dos responsveis por trazer o tema tona.

    O atual problema do desemprego tem sido frequentemente definido como um problema de empregabilidade. O desempregado acusado de no conseguir emprego por no possuir os requisitos para assumir as vagas disponveis na economia (RAMOS, 2003a). Tal argumento implica que a culpa pelo problema do desemprego recaia sobre os prprios desempregados, que por no apresentarem um adequado preparo para assumir as vagas existentes (ou se manter nelas) teriam um problema de empregabilidade.

    Como acontece na TCH, o problema reincide sobre os trabalhadores. Isso implica nas suposies neoclssicas de que a taxa de crescimento suficiente e que os esforos, por acelerar o desenvolvimento, esbarram na falta de mo de obra empregvel.

    Destarte, a abordagem do desemprego como resultado da no empregabilidade e da desqualificao da mo de obra reproduz o modelo neoclssico, pois atribui o fenmeno da desocupao curva de oferta (escassez de oferta de mo de obra qualificada).

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    1.1.4 A abordagem keynesiana

    John Maynard Keynes desenvolve a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (TG), na qual nega a pressuposio neoclssica de pleno emprego automtico. Para ele, o pleno emprego como um caso particular, no a regra geral de equilbrio. Baseada no princpio da demanda efetiva, a TG investiga os determinantes do nvel de ocupao.

    Keynes demonstra a incoerncia da formulao neoclssica em explicar os determinantes do grau de utilizao da capacidade produtiva. Nesse sentido, o autor apresenta a inexistncia de foras endgenas que produzam e mantenham o pleno emprego. Para ele, o equilbrio com pleno emprego no pode ser alcanado, sendo o nvel normal de atividade econmica aquele onde prevalece a subutilizao dos fatores de produo.

    Em sntese, Keynes nega o sistema de mercado autoequilibrante proposto pelos neoclssicos e, a partir do Princpio da Demanda Efetiva (PDE), explica a determinao do nvel de produo e emprego. Ele rejeita a teoria do emprego proposta pela economia neoclssica, aceitando o primeiro postulado e rejeitando o segundo.

    Conforme o primeiro postulado, aceito por Keynes, o salrio igual ao produto marginal do trabalho (KEYNES, 1996, p. 46). Desse primeiro postulado que deriva a curva de demanda por trabalho. Isso implica que o salrio de uma pessoa empregada igual ao valor que essa pessoa perderia caso perdesse o emprego (KEYNES, 1996, p. 46). Segundo Keynes, a curva de demanda por trabalho resultante da associao entre a hiptese de retornos marginais decrescentes e a igualdade entre salrio real e produto marginal do trabalho (SICS, 2007, p. 12).

    Quanto ao segundo postulado, diz que a utilidade do salrio real quando um dado volume de trabalho empregado igual desutilidade marginal do montante de emprego (KEYNES, 1996, p. 46). Tal postulado foi rejeitado por Keynes por dois motivos. Primeiramente, trabalhadores no podem determinar seu salrio real, simplesmente tm influncia sobre o salrio nominal. Em segundo lugar, trabalhadores no abandonam seus empregos quando h uma queda nos salrios reais. Para Keynes, o comportamento dos trabalhadores no condiz com a curva de oferta neoclssica. Os trabalhadores iro manter seus empregos nos termos dos contratos fixados previamente. Mesmo diante de redues em seu salrio real, trabalhadores iro preferir estar empregados (SICS, 2007).

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    A determinao do nvel de empregos exige a construo de duas curvas, a saber: a oferta agregada e as estimativas de demanda agregada das firmas. A funo oferta agregada constitui-se na soma das receitas mnimas que justificam o que os empresrios desejam receber para cobrir os custos salariais e o custo de oportunidade2. Em sntese, estabelece o quanto ser produzido para diferentes nveis de rendimentos esperados. A demanda agregada, por sua vez, revela para cada nvel de emprego as receitas que as firmas esperam obter pela venda da produo derivada do emprego desse volume de mo de obra.

    O princpio da demanda efetiva enuncia que o nvel de produo como um todo e o volume de emprego a ele associado so determinados pelo cruzamento das funes da oferta agregada e das estimativas de demanda agregada das firmas.

    Possas (2003) faz duas observaes em relao a isso: em primeiro lugar, ambas as curvas no so definidas convencionalmente em termos de valores unitrios, mas sim de valor agregado no sentido de Keynes, em que tanto a receita esperada (curva de demanda) quanto o preo de oferta so calculados deduzindo-se o custo de uso. Ele afirma que, entre outras consequncias, esse procedimento faz com que a curva de oferta, tanto individual como agregada, possa ser crescente com o nvel de produo e emprego, sem que isso implique qualquer hiptese de rendimentos decrescentes; e, a segunda e mais importante observao que a demanda definida ex-ante, fazendo com que a sua interseo com a curva de oferta que define o ponto de demanda efetiva tambm seja ex-ante.

    Nesse sentido, o conceito de equilbrio dado pela interseo das curvas de oferta e demanda tem na obra de Keynes um sentido especial: de que o prprio conceito de demanda efetiva exposto na TG , portanto, um conceito ex-ante (POSSAS, 2003).

    Na TG, Keynes introduziu um novo conceito teoria econmica: o Princpio da Demanda Efetiva (PDE). Possas (1987) expe o PDE em sua forma mais simples e geral, explicitando sua vigncia no mbito terico:

    Portanto, tomando-se o conjunto de transaes efetuadas numa economia mercantil durante um perodo de tempo arbitrrio, o fluxo monetrio total de receitas, idntico ao de despesas, a elas correspondente ter sido determinado pelas decises individuais de gasto dos agentes econmicos na aquisio de mercadorias (bens e servios). (POSSAS, 1987, p. 51)

    2 Na verdade, demais custos, especialmente o custo de uso. Embora este ltimo possa ser tomado como um custo

    de oportunidade preciso ter claro que no se trata da acepo clssica de custo de oportunidade. Em lugar de usos alternativos (clssica), trata-se de outra disjuntiva: usar versus no usar.

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    Nessa formulao geral, Possas (1987) aponta, no plano geral, a deciso do gasto como fundamental. Isso compatvel com a formulao de Keynes, que afirma que no cruzamento das curvas hipotticas da demanda e oferta agregadas onde decidida a produo capitalista. Tal deciso ocasiona uma srie de gastos necessrios viabilizao da produo, tais como os gastos com insumos, contratao de trabalhadores, etc. Destarte, o nvel de emprego est correlacionado deciso de produzir, bem como aos gastos decorrentes de tal deciso.

    Com base no PDE, Keynes mostrou que no existem foras endgenas capazes de gerar e manter a plena ocupao dos fatores. Portanto, o equilbrio com capacidade ociosa (abaixo do pleno emprego) condio normal da economia capitalista. Em suas palavras:

    A simples existncia de uma demanda efetiva insuficiente pode paralisar, e frequentemente paralisa, o emprego antes de haver ele alcanado o nvel de pleno emprego (KEYNES, 1996, p. 64).

    De acordo com os neoclssicos, somente era possvel dois tipos de desemprego: voluntrio e friccional. A existncia de desemprego involuntrio, para a teoria neoclssica, no se constituiria em uma situao de longo prazo em um contexto de preos e salrios flexveis. Caso os trabalhadores aceitassem reduo em seus salrios nominais, o emprego seria estimulado de forma a alcanar o equilbrio com pleno emprego.

    O PDE traz tona o conceito do desemprego involuntrio (negado pela teoria neoclssica), definindo-o da seguinte forma:

    Haver desemprego involuntrio se, no caso de uma pequena alta nos preos dos bens de salrio em relao ao salrio nominal, no apenas a oferta agregada de mo de obra disposta a trabalhar pelo salrio nominal vigente como a demanda agregada por ela por esse salrio forem maiores que do que o volume de existente de emprego (KEYNES, 1996, p. 50).

    Assim, de acordo com o pensamento keynesiano, uma vez que os salrios no so responsveis pelo nvel de empregos, a rigidez salarial no pode ser responsabilizada pelo desemprego involuntrio, tampouco garante a posio automtica de equilbrio com pleno emprego. Isso equivale a dizer, ainda, que a posio normal de uma economia capitalista aquela onde prevalece o desemprego involuntrio.

    O PDE determina que o nvel de emprego e renda da sociedade se d por intermdio das decises de gastos dos capitalistas. Essas decises so tomadas a partir de avaliaes

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    individuais com relao quantidade que esperam vender a um dado preo de oferta. Os gastos dos capitalistas influenciam na renda da comunidade (BELLUZO; ALMEIDA, 1989).

    De acordo com a teoria keynesiana, incorreto supor que a existncia de desemprego seja suficiente para as empresas expandirem ainda mais o seu produto. Keynes demonstrou a possibilidade de limites para a expanso lucrativa da produo abaixo do pleno emprego, ainda que a demanda estivesse sendo corretamente estimada.

    Cabe ressaltar que Keynes no se ops ideia de que uma queda no salrio real mantenha correlao com o aumento do nvel de emprego. O que Keynes deixa transparecer que a lgica estabelecida pelo pensamento ortodoxo com relao a este ponto est incorreta. O salrio at pode afetar o nvel de emprego, porm isso depende dos impactos que a variao salarial tenha sobre os componentes da demanda efetiva (SICS, 2007).

    A anlise keynesiana defende que o nvel de salrios real no definido no mbito de negociaes entre trabalhadores e empresrios em um contexto de salrios nominais flexveis (condio para que a economia elimine automaticamente o desemprego, segundo a ortodoxia neoclssica), dado que os salrios so funo da demanda efetiva. Nas palavras de Keynes:

    [...] no h, portanto, motivo para crer que uma poltica flexvel de salrios possa manter um estado permanente de pleno emprego, ao contrrio, o efeito principal de semelhante poltica seria causar grande instabilidade de preos, talvez violenta o bastante para tornar fteis os clculos empresariais em uma economia funcionando como aquela em que vivemos (KEYNES, 1996, p. 254).

    Assim, de acordo com o pensamento keynesiano, uma vez que os salrios no so responsveis pelo nvel de empregos, a rigidez salarial no pode ser responsabilizada pelo desemprego involuntrio, tampouco garante a posio automtica de equilbrio com pleno emprego. Isso equivale a dizer, ainda, que a posio normal de uma economia capitalista aquela onde prevalece o desemprego involuntrio. Destarte, fica evidente que Keynes recusa a curva de oferta neoclssica, rejeitando o segundo postulado, pois nada garante que a condio de equilbrio com pleno emprego seja vlida.

    A breve exposio realizada sobre os determinantes do desemprego, a partir de diferentes teorias, objetivou trazer tona subsdios para o debate relacionado aos causadores da desocupao juvenil.

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    1.2 Ocupao, desocupao e pobreza

    O trabalho essencial para explicar o rendimento domiciliar, sendo ele a parcela mais expressiva da renda das famlias. De acordo com Hoffmann (2007), cerca de 3/4 da renda domiciliar provm do trabalho. Segundo seus estudos, tal parcela ainda mais significativa para o segmento mais pobre da populao, sendo de aproximadamente 80% a representatividade do trabalho na explicao da totalidade de seus rendimentos (HOFFMANN, 2007).

    Alm de a renda obtida por meio do trabalho ser a principal responsvel pela subsistncia familiar, o trabalho tambm se constitui um divisor de guas entre a condio juvenil e a vida adulta. Ressalte-se que no esse o nico sentido contido no trabalho:

    Se para muitos jovens, especialmente das classes trabalhadoras, o trabalho continua a ser uma imposio ditada pela necessidade de contribuir para a subsistncia familiar (na condio de filho, de marido ou de pai), h para outros a perspectiva de que o trabalho no se justifica por si, mas pelo que possibilita: oportunidades de aprendizado, acesso ao lazer e cultura, e autonomia econmica (CASTRO, 2008, p. 46).

    Sendo assim, pode-se dizer que entre os pobres existe uma maior obrigao de participao na renda familiar. Consequentemente, auferir rendimentos atravs de sua insero laboral torna-se uma opo imperiosa.

    Diante do exposto, conseguir inserir-se no mundo laboral de suma relevncia, sendo o desemprego um dos problemas mais crticos enfrentados pelas famlias e revelando-se um drama, principalmente se, alm do desemprego, a famlia tambm vive uma situao de pobreza.

    A definio de pobreza tem sido amplamente discutida pela literatura em todo o mundo. O crescente nmero de pessoas que vivem em condio de pobreza coloca a questo no cerne de discusses acadmicas e sociais, sendo tambm alvo de polticas governamentais e de aes internacionais.

    A anlise da pobreza enquanto subsistncia considera simplesmente as questes da sobrevivncia fsica. Tal ideia transcorre desde a lei dos pobres at a atual noo de pobreza absoluta (CODES, 2008), que, de acordo com Rocha (2006), refere-se ao no atendimento das necessidades consideradas como o mnimo vital.

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    Para definir a pobreza a partir da renda, Rocha (2006) utiliza o conceito de pobreza absoluta que, de acordo com a autora, pode ser dividido em duas situaes: linha de indigncia (ou de pobreza extrema), baseado no valor de cestas bsicas alimentares; e linha de pobreza, que se refere a um conjunto mais abrangente de necessidades, considerando custos tais qual habitao e vesturio. Para a autora, pobres so aqueles com renda situando-se abaixo do valor estabelecido como linha de pobreza, incapazes de atender ao conjunto de necessidades mnimas naquela sociedade.

    Destarte, torna-se necessrio considerar a pobreza alm das necessidades nutricionais bsicas. As necessidades bsicas esto condicionadas estrutura social, sendo extenso do conceito de subsistncia. Para a autora, ser pobre significa no dispor dos meios para operar adequadamente no grupo social em que se vive (ROCHA, 2006).

    Considerando a definio de linhas de pobreza proposta por Sonia Rocha, a proporo de pobres no Brasil elevada, alcanando mais de 1/3 da populao brasileira no ano de 1995 e em 2001. No ano de 2007, pouco mais de 1/4 dos brasileiros est abaixo dessa linha de pobreza (Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios Pnads 1995, 2001 e 2007, exclusive norte rural)3.

    A insero dos pobres e no pobres na PEA no ocorre de forma homognea. De acordo com OHiggins (2001), a conexo entre pobreza e desemprego nos pases em desenvolvimento no to direta como ocorre nos pases mais industrializados. As pessoas extremamente pobres no podem simplesmente se permitir ficar sem trabalho. Por conta disso que vo se virando como podem entre uma e outra forma de ocupao precria ou trabalho autnomo.

    Considerando a populao brasileira em idade ativa durante os anos de 1995, 2001 e 2007, o que se pode observar uma taxa de participao4 mais elevada para os no pobres comparativamente aos pobres, apesar da maior fragilidade econmica dos pobres. Possivelmente a elevada dificuldade em encontrar um trabalho leve muitos pobres a abandonar a PEA, engrossando a Populao em Idade Ativa (PIA). Outra possibilidade para

    3 Durante o ano de 1995, 33,22% da populao brasileira pode ser considerada pobre, de acordo com os critrios

    das linhas de pobreza de Sonia Rocha. No ano de 2001, esse percentual foi de 35,07%. Para o ano de 2007, o percentual de pobres foi de 25,10%. 4 A taxa de participao corresponde razo entre PEA e PIA.

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    explicar essa menor taxa de atividade dos pobres seria atribuda s mulheres, sobretudo aquelas que possuem filhos e tm dificuldades em deix-los em creches5.

    Alm disso, tambm interessante ressaltar que, enquanto a taxa de participao praticamente no se alterou entre os pobres (38,22%, 37,76% e 38,04% para os anos de 1995, 2001 e 2007, respectivamente), entre os no pobres se revela uma tendncia de elevao na taxa de participao ao longo desses anos6 (PNADs 1995, 2001 e 2007)7. Quanto desocupao observada ao longo desses anos, importante frisar que entre os pobres vigora uma taxa de desocupao muito mais elevada.

    Durante os anos 1995 e 2001, as taxas de desocupao global enfrentadas pelos pobres corresponderam a 11,84% e 18,71%, respectivamente. Isso equivale a aproximadamente o triplo das taxas de desocupao verificadas entre os no pobres no mesmo perodo, que foram 4,16% e 6,09%, respectivamente (Pnads 1995 e 2001). Uma das causas constantemente enfatizada para esse indicador dos pobres apresentar uma taxa mais elevada que dos no pobres a baixa escolaridade e pouca qualificao do segmento populacional pobre. Vale frisar que os no pobres geralmente contam com um maior suporte familiar, o que lhes permite adiar sua busca por emprego e consequente presso sobre as taxas de desocupao.

    No ano de 2007, quando a desocupao chega a atingir praticamente 1/4 dos pobres8, aquela proporo se agravou, equivalendo a trs vezes e meia a taxa de desocupao enfrentada pelos no pobres no mesmo perodo, que foi 5,67% (Pnad, 2007).

    Alm disso, os jovens geralmente apresentam taxas de desocupao superiores quelas enfrentadas pelos adultos em decorrncia da baixa experincia juvenil no mercado laboral. Somada a isso, a prpria fase de vida em que se encontram pode influenciar nessa taxa (RIBEIRO; NEDER, 2008).

    Vale ponderar que so os jovens9 os mais severamente penalizados pela desocupao e que entre os jovens pobres tais indicadores so mais arrasadores.

    As taxas de participao e desocupao juvenis observadas entre os jovens pobres so superiores as dos no pobres. Conforme observado no mercado de trabalho como um todo, tambm entre os jovens pobres a participao menor que entre os no pobres.

    5 Essas possveis explicaes no foram testadas neste trabalho. 6 As taxas de participao reveladas entre os no pobres foram 53,29%, 54,73% e 56,82% para os anos de 1995,

    2001 e 2007 respectivamente (excludo o norte rural).

    8 De acordo com a Pnad 2007, a taxa de desocupao entre os pobres 19,46%, excludo o norte rural.

    9 Jovens na faixa etria de 15 a 29 anos de idade.

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    As taxas de participao verificadas entre jovens no pobres se mantiveram (cresceram dois pontos percentuais) ao longo do perodo considerado, a saber, anos de 1995, 2001 e 2007 (71,77%, 70,96% e 73,78%), de acordo com os dados da PNAD. Enquanto isso, entre os jovens pobres, as taxas de participao sofreram queda de aproximadamente quatro pontos percentuais (61,51%, 58,63% e 57,56% para os anos de 1995, 2001 e 2007, correspondentemente). possvel que essa queda na participao juvenil pobre se deva elevao em mais de cinco pontos percentuais na proporo daqueles que se dedicam exclusivamente ao estudo (13,22%, 18,16% e 18,85% para os anos de 1995, 2001 e 2007, respectivamente).

    Na contramo da queda na participao dos jovens pobres, suas taxas de desocupao saltaram onze pontos percentuais no mesmo perodo, chegando a atingir mais de 1/4 da PEA juvenil em 2007 16,77%, 26,08% e 28,01% foram suas taxas de participao nos anos 1995, 2001 e 2007 (Pnad).

    Essa exagerada elevao na desocupao entre os jovens pobres no perodo mencionado est relacionada a uma srie de fatores, como por exemplo, a menor experincia laboral, dentre outros. O captulo trs deste trabalho ir testar possveis explicaes para o fenmeno.

    Essas taxas de desocupao enfrentadas pelos jovens pobres so, em mdia10, 2,4 vezes superiores quelas verificadas entre os jovens no pobres no perodo estudado, revelando que os jovens pobres tm maiores dificuldades em conseguir emprego.

    Na seo seguinte, sero apresentados alguns dos principais argumentos quanto aos determinantes da desocupao entre os jovens. 1.3 Determinantes da desocupao juvenil

    A crescente elevao das taxas de desemprego juvenil observadas atualmente suscitou entre os pesquisadores um caloroso debate sobre seus determinantes. Contudo, no se alcanou um consenso.

    Alguns estudiosos, vinculados ao paradigma neoclssico, destacam o lado da oferta de mo de obra argumentando, dentre outras coisas, que o desemprego um problema de escassez de oferta ou de qualificao da mo de obra.

    10 Mdia das diferenas das taxas de desocupao verificadas entre os jovens pobres e no pobres durante os

    anos estudados (1995, 2001 e 2007).

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    Contrariamente, outros pesquisadores notadamente vinculados matriz terica keynesiana preferem ressaltar o lado da demanda, mostrando que no existem vagas suficientes de emprego para todos os trabalhadores que desejem ofertar sua mo de obra ao preo vigente.

    Nesta seo, sero expostos tanto os argumentos do lado da oferta quanto do lado da demanda por mo de obra.

    1.3.1 Considerando o lado da oferta de mo de obra

    Considerando o lado da oferta, so apontadas vrias razes para a problemtica do desemprego juvenil. De acordo com Weller (2007), um dos responsveis pelo desemprego dos jovens o pequeno acmulo de experincia, informaes e conhecimentos do recm-ingressado no mercado de trabalho. A pouca ou nenhuma experincia profissional juvenil elevaria os custos de treinamento associados contratao do jovem. Dessa forma, os empregadores seriam mais inclinados a contratar trabalhadores mais experientes.

    Alm do mais, a demisso dos trabalhadores jovens tambm teria um custo menor, comparativamente demisso de trabalhadores adultos. Isso seria atribudo tanto ao menor valor das indenizaes e ao fato de esses trabalhadores serem considerados menos essenciais, como tambm por ser a demisso dos trabalhadores mais experientes ainda mais traumtica em termos de relaes internas (CASTRO, 2008).

    No mesmo caminho, a busca pelo primeiro emprego tambm teria um forte peso sobre as taxas de desocupao. Os muitos jovens nessa situao no tm experincia alguma, encontrando maiores dificuldades de insero laboral. Por conta dessa inexperincia, as taxas de desemprego juvenil seriam foradas para cima.

    Para outros pesquisadores (CASTRO, 2008; OHIGGINS, 2001; MEDINA, 2001), o problema do desemprego juvenil no seria exclusivamente a dificuldade em conseguir o primeiro emprego, mas a excessiva rotatividade da mo de obra juvenil. Ou seja, para alguns estudiosos, os jovens apresentariam uma maior probabilidade para abandonar voluntariamente o emprego que os adultos, como estratgia para conseguir acumular experincia e conhecimento, pressionando as taxas de desocupao.

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    imperativo ponderar que as primeiras experincias laborais juvenis so em postos de baixa qualidade, ento eles tendem a comparar tais postos de trabalho at encontrar uma ocupao adequada (OHIGGINS, 2001).

    O autor avalia que os jovens tendem a ter menos qualificaes e salrios mais baixos comparativamente aos trabalhadores adultos. OHiggins (2001) acrescenta, ainda, que menos provvel que os jovens precisem do emprego para sustentar uma famlia. Isto posto, para os jovens, o custo de oportunidade em abandonar o emprego seria menor que para os adultos.

    Contudo, necessrio ter cautela ao considerar essa viso que coloca a rotatividade como causa para o desemprego juvenil. Os jovens no tm uma maior rotatividade devido sua indefinio profissional. Isso , na realidade, uma consequncia de sua insero precria. Tambm cabe ponderar que a mo de obra juvenil frequentemente utilizada como mecanismo de ajuste sazonal por meio dos contratos temporrios (CASTRO, 2008).

    Ainda em relao ao lado da oferta da fora de trabalho, o tamanho da coorte juvenil na PEA apontado como causador de desemprego para esse segmento populacional (MEDINA, 2001; OHIGGINS, 2001). Quanto maior o nmero de jovens no mercado de trabalho tanto maior o nmero de postos de trabalho necessrios para ocupar esses jovens.

    Igualmente aparece como gerador de desemprego juvenil ligado ao lado da oferta de trabalho a rigidez de ordem institucional no mercado laboral: salrios pagos aos jovens, alto grau de regulamentao do mercado de trabalho, proteo ao desempregado (MEDINA, 2001; OHIGGINS, 2001). Com a justificativa de combater o desemprego, a flexibilizao dessas rigidezes frequentemente usada para piorar a situao do trabalhador.

    De acordo com essa viso, os custos laborais dos jovens seriam demasiadamente elevados se comparados sua produtividade. O salrio mnimo estabeleceria um patamar de remunerao no condizente com a produo juvenil, especialmente comparativamente aos adultos. E isso dificultaria o equilbrio no mercado laboral.

    Quanto ao sistema de proteo ao desempregado, tambm acusado de ser gerador de desemprego, por proporcionar renda aos desempregados. De acordo com a viso do lado da oferta, os desempregados prefeririam continuar nessa condio para fazer jus ao seguro-desemprego.

    Continuando no mbito dos fatores responsveis pelo desemprego juvenil relacionados ao lado da oferta, so apontadas a falta de qualificao, assim como a baixa escolaridade.

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    Somados baixa escolaridade e qualificao, Cacciamali (2005) apresenta outros elementos que agravam o desemprego juvenil, como a diminuio da renda das famlias, a insuficincia do sistema escolar em reter o jovem (principalmente no caso dos grupos de menor renda per capita), a discriminao no mercado de trabalho contra os jovens, em especial contra os negros, pobres, mulheres ou combinao de tais caractersticas.

    Alm disso, cabe considerar o problema da assimetria de informaes no mercado de trabalho, que pode acentuar o problema do desemprego. Muitas vezes os desocupados no dispem de informaes sobre as vagas existentes e os empregadores, por sua vez, desconhecem os trabalhadores disponveis (CACCIAMALI, 2005).

    Vale ressaltar que essa viso que atribui o desemprego juvenil aos fatores do lado da oferta de trabalho, responsabilizando os desocupados por sua condio, reproduz o que foi dito nas sesses sobre o paradigma neoclssico, capital humano e empregabilidade.

    Ao final do terceiro captulo, sero testadas algumas causas para o desemprego juvenil.

    1.3.2 A desocupao sob a tica da demanda por mo de obra

    Analisando as consideraes dos autores que privilegiam as causas do alto desemprego juvenil a partir da tica da demanda da fora de trabalho, destacam-se: a elevada taxa de desemprego total, o desempenho macroeconmico, a maior sensibilidade juvenil s oscilaes econmicas.

    Tais argumentos que enfocam as causas do desemprego juvenil a partir da tica da demanda por mo de obra esto vinculados, em alguma medida, ao paradigma keynesiano11.

    ntida a maior sensibilidade dos jovens s oscilaes econmicas. Como os jovens tm pouca experincia e poucos anos de estudo, so os primeiros a serem demitidos em pocas de crise e ltimos contratados na retomada do crescimento. De acordo com Medina (2001):

    11 Ver seo 1.1.4.

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    Este movimiento relacionado entre la actividad y el desempleo se vuelve perverso para el caso del desempleo juvenil, pues se ha observado que, ante recesiones, son los jvenes quienes aumentan ms que proporcionalmente su problema de empleo. La fuerza de trabajo ms joven es la primera en ser despedida, seguramente a causa de que los costos de hacerlo son menores, proteccin legal y nivel de sindicalizacin menor (MEDINA, 2001, p. 102).

    Pode-se acrescentar, ainda, que o capital humano incorporado pelos empregadores por meio de capacitao e treinamento no trabalho tambm menor no caso dos jovens, o que tambm torna menos custosa a sua dispensa, comparativamente dos trabalhadores adultos (MEDINA, 2001; OHIGGINS, 2001).

    No mais, necessrio ponderar que nas recesses a demanda laboral se retrai, no oferecendo ocupao para a nova fora de trabalho. Antes de comearem as demisses, cessam as novas contrataes, aumentando o nmero de pessoas que buscam emprego, o que tende a afetar mais pesadamente os jovens, em especial aqueles em busca de seu primeiro emprego (MEDINA, 2001; OHIGGINS, 2001).

    Convm ressaltar, ainda, que a taxa de desemprego global bem como o contexto macroeconmico exercem substancial influncia sobre a participao dos jovens na fora de trabalho. Em um ambiente de emprego precrio e insegurana no mercado laboral e na vida social, esperado que a taxa de participao dos jovens se eleve, em detrimento do imperativo de suprir suas prprias necessidades ou de sua famlia.

    Resumidamente, deve-se salientar que argumentos do lado da demanda bem como do lado da oferta de mo de obra exercem influncia sobre a determinao das causas do desemprego juvenil. No terceiro captulo deste trabalho, tais argumentos sero testados, na tentativa de verificar porque os jovens so mais sensveis s oscilaes macroeconmicas, sendo mais penalizados pelo desemprego comparativamente aos adultos.

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    CAPTULO 2 JUVENTUDE, POBREZA E TRABALHO NA REGIO METROPOLITANA DO

    RECIFE

    Neste captulo, nosso principal foco so os jovens (de 15 a 29 anos) que compem a PEA da Regio Metropolitana do Recife (RMR), e que vivem um dos principais eventos da transio para a vida adulta: a perspectiva profissional. Vale ressaltar que esses jovens no compem, de forma alguma, um conjunto homogneo. Esta caracterstica colabora com os propsitos desta pesquisa, uma vez que com a heterogeneidade podemos capturar peculiaridades de cada grupo no contexto do mercado laboral. Para isso, optamos por estudar a juventude da RMR de forma segmentada, conforme as linhas de pobreza, sexo, faixas etrias.

    Primeiramente, os jovens da RMR foram classificados em pobres e no pobres, segundo as linhas de pobreza estabelecidas pela economista e pesquisadora da Fundao Getlio Vargas (FGV), Sonia Rocha (SR), que so pautadas no consumo observado das famlias12. Convm lembrar que esse recorte (jovens pobres versus jovens no pobres) tem suas limitaes, pois as linhas de pobreza SR esto ligadas noo de pobreza absoluta.

    Tambm importante advertir que existe enorme diversidade dentro de cada uma daquelas categorias de condio econmica. Alm disso, o estudo deixa de fora, intencionalmente, toda discusso a respeito do tratamento da pobreza como uma questo multidimensional e complexa relacionada a situaes em que as necessidades humanas no so suficientemente satisfeitas e em quais fatores esto interligados. A escolha pela noo de pobreza absoluta se deve s facilidades em obter um indicador linha de pobreza e tambm por nos permitir identificar, entre os jovens, o grupo com maiores dificuldades de alcance de ocupao.

    Estudamos a insero ocupacional e a desocupao dos jovens na RMR buscando compreender o funcionamento da economia metropolitana do Recife e o ajuste da mo de obra juvenil no mercado de trabalho. Para alcanar esse objetivo, o captulo est dividido em quatro sees, sendo que a primeira faz uma apresentao do panorama econmico da RMR no perodo recente, sobretudo aps o Plano Real. Na segunda seo feita uma apresentao da juventude da RMR, e a seguinte tem por objeto de estudo a ocupao juvenil. Por fim, a

    12 Ver Captulo 1, seo 1.2.

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    ltima seo examina os jovens inseridos na PEA na condio de desocupados, deparando-se com graves dificuldades na insero ocupacional.

    2.1 Panorama econmico da RMR no perodo recente

    Formada pela capital pernambucana Recife, mais 14 municpios e detentora de cerca de 3% da rea do Estado, a RMR rene mais de 3,6 milhes de habitantes o que simboliza 43% da populao de Pernambuco, de acordo com dados do IBGE, em 2006, e a torna a maior aglomerao urbana do Nordeste e a quinta do Brasil.

    Assim como outras grandes aglomeraes urbanas, a RMR padece de graves problemas e desigualdades sociais comuns a todas as metrpoles brasileiras. Podem-se citar, a ttulo de exemplo, os profundos dficits de escolaridade tanto no ensino mdio quanto no ensino fundamental. No ano de 2006, Recife ficou na 22a colocao comparativamente s outras capitais brasileiras em termos de atraso escolar, conforme o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira Inep/MEC (apud OBSERVATRIO DO RECIFE, 2009).

    Para mensurar esse atraso escolar, recorreu-se medida distoro idade/srie13, utilizando o critrio do Inep, a saber, dois ou mais anos alm da idade ideal para a srie considerada. A distoro idade/srie est ligada ao atraso no ingresso ao sistema escolar, a reprovaes ou abandonos anteriores. Isto posto, verifica-se que a taxa de distoro idade/srie em Recife de 35,15% para o ensino fundamental e 59,84% para o ensino mdio, no ano de 2007, conforme dados do Inep/MEC.

    De acordo com a Agncia Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco Condepe/Fidem (2008), a economia da RMR concentra-se na indstria e servios pernambucanos, exercendo um papel de destaque tanto na economia do Estado como da regio Nordeste. Carro-chefe na gerao de empregos, o setor servios representa 61% dos empregos formais no ano de 1995, elevando-se para 64% nos anos de 2001 e 2007, segundo a Relao Anual de Informaes Sociais do Ministrio do Trabalho e Emprego Rais/MTE. possvel atribuir esse aumento da participao do setor servios no emprego formal da RMR a

    13 A taxa de distoro idade/srie o total de casos de distoro dividido pelo total de matrculas.

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    uma tendncia nacional e mundial: a terceirizao das atividades. Ou seja, as atividades desenvolvidas no interior de firmas industriais foram repassadas para empresas vinculadas ao setor de servio.

    Outro setor de atividade fundamental para a gerao de empregos na RMR o comrcio, que elevou sua participao nos empregos formais durante o perodo estudado. Em 1995, o setor foi responsvel por 13% dos empregos formais elevando-se, em 2001, para 15% o percentual de empregados, chegando a 17%, em 2007, a parcela de trabalhadores formalmente ocupados no comrcio (RAIS/MTE). Esse crescimento reflete o grande peso do comrcio, responsvel por gerao de empregos inclusive para os trabalhadores com baixa escolaridade e pouca experincia.

    J o setor construo civil ocupou 5% dos trabalhadores formais em 1995, 6% em 2001 e 5% em 2007 (RAIS/MTE). Essa estabilidade no total de empregos pode estar relacionada ao baixo desempenho desse setor no perodo.

    Por sua vez, a agropecuria tem uma baixa participao no total de empregos formais da RMR em 1995 (3,6%). Nos anos 2001 e 2007, essa representatividade se reduziu para 1% e 0,9%, respectivamente (RAIS/MTE). A agropecuria no uma atividade econmica relevante na RMR, porm sua maior participao em outras regies como a do Serto do So Francisco (CONDEPE/FIDEM) elevada.

    Acompanhando a tendncia nacional, e encabeada pela economia metropolitana, a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), em Pernambuco, equivalente a 4,5% em 1995 (para o Brasil, a taxa foi de 4,42% no mesmo ano), primeiro ano aps a implantao do Plano Real (IBGE/IPEADATA).

    Em 2001, a taxa de crescimento do PIB pernambucano apresentou um tmido crescimento de 1,81%. Na RMR, o resultado foi inferior, somente 0,4%. Semelhantemente, no Brasil tambm a taxa de crescimento do PIB foi inexpressiva com apenas 1,31% (IBGE/IPEADATA).

    No ano de 2007 foi quando se registrou a maior taxa de crescimento do PIB nos ltimos vinte anos, conforme dados do Condepe/Fidem em 2009, que foi 5,8%, similarmente ao crescimento brasileiro de 5,68% (IBGE/IPEADATA).

    Cabe mencionar que os rgos oficiais Condepe/Fidem, em nvel estadual, e IBGE nacional no dispem de dados sobre o PIB municipal, tampouco metropolitano para os anos de 1995 e 2007. Diante disso, apresentamos os dados do PIB estadual de Pernambuco,

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    sendo usados como uma proxy para a taxa de crescimento do PIB metropolitano desses anos, que representa 65% do PIB estadual entre os anos de 2002 e 2006 (CONDEPE/FIDEM, 2009).

    Quanto aos indicadores do mercado de trabalho da RMR, observam-se taxas de participao14 e de desocupao crescentes nos anos estudados, ao passo que as taxas de ocupao so decrescentes no perodo considerado (TAB.1).

    Tabela 1 Taxas de participao, desocupao e ocupao RMR

    (em %)

    Participao Desocupao Ocupao 1995 52,8 9,63 90,37 2001 54,0 14,28 85,72 2007 56,1 17,88 82,12

    Fonte: PNAD/IBGE (Elaborao prpria).

    No ano de 1995, a taxa de participao foi 53%, enquanto a taxa de desocupao foi 10% e a taxa de ocupao 90%. No ano de 2001, a taxa de participao elevou-se para 54% e a taxa de desocupao para 14%, enquanto a taxa de ocupao reduziu-se para 86%. J no ano de 2007, observam-se taxas de participao (56%) e desocupao (18%) superiores quelas verificadas anteriormente (IBGE/PNAD). O ano de 2001 apresentou um desempenho econmico inferior ao ano de 1995, enquanto que as taxas de participao e desocupao daquele foram superiores s desse.

    Uma possibilidade para explicar o fenmeno que, no obstante o ano de 2001 tenha apresentado um resultado medocre, as altas taxas de participao podem estar refletindo o elevado crescimento do PIB no ano anterior (em 2000, o PIB pernambucano cresceu 5,04% em 2000, o PIB metropolitano elevou-se 4,5% e o PIB nacional elevou-se 4,31%, de acordo com dados do IBGE). Em geral, em perodos de crescimento econmico, indivduos que esto inativos so estimulados a engrossar os nmeros da PEA.

    Na contramo do Pas, no ano de 2007, a RMR experimentou taxas de desocupao ainda mais elevadas que as de 2001, enquanto em todo o Brasil a tendncia de queda das taxas de desemprego nesse perodo. Uma possvel explicao para elevao desse indicador

    14 A taxa de participao considerada uma proxy da oferta de trabalho.

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    a atrao que o perodo de crescimento econmico exerce sobre os inativos. Alm disso, a RMR rene uma grande quantidade de pessoas pobres que se caracterizam por uma inatividade mais elevada, sobretudo entre as mulheres. O crescimento da taxa de participao refora esse argumento.

    Tais alteraes nos indicadores so indcios de mudanas pelas quais vem passando o mercado de trabalho recifense nos ltimos anos. A maior presena feminina ingressando no mercado de trabalho uma realidade no somente na RMR, mas no Brasil e em todo o mundo pode contribuir na explicao da elevao nas taxas de participao nos ltimos anos.

    Paralelamente reduo nas taxas de ocupao metropolitana, chamamos ateno para a elevao do nmero de postos de trabalho formais no perodo. Em 1995, a RMR contava com 575.048 postos. Em 2001, o quantitativo de trabalhadores formalmente ocupados elevou-se para 610.533, o que simboliza um aumento de 6% em relao a 1995. Em 2007, o nmero de postos de trabalho formais j somava 802.521, ou seja, um crescimento de 39% em relao ao perodo de 1995 (MTE/RAIS). Noutras palavras, o emprego se ampliou no perodo, mas no foi suficiente para absorver os componentes da PEA.

    Igualmente, verificou-se evoluo no percentual de pessoas ocupadas em postos de trabalhos protegidos ou formais (assalariados com carteira assinada, funcionrios pblicos estatutrios e militares), comparativamente ao percentual de pessoas na informalidade durante o perodo estudado, tomando por base os microdados da Pnad.

    O percentual de trabalhadores formalmente ocupados, que foi de 43% em 1995, sofre uma pequena variao, elevando-se para 44% em 2001 e vai seguindo uma trajetria de crescimento at alcanar praticamente a metade dos ocupados (49%) da RMR em 2007 (PNAD/IBGE). Cumpre ressaltar que esse aumento na formalizao no foi um fenmeno estritamente metropolitano, tratando-se de um movimento geral que reflete o crescimento econmico do perodo recente no Brasil (CASTRO, 2008).

    Conforme argumento keynesiano exposto no primeiro captulo deste trabalho15, o crescimento econmico importante para a gerao de empregos. O da metrpole recifense gerou empregos, mas insuficientes para absorver os componentes da PEA. Cabe alertar que existe a possibilidade do crescimento econmico ser associado a uma baixa gerao de emprego. Conforme aponta Passos et al (2005), h um claro descolamento entre a variao do produto e do emprego durante os anos de 1990, mantendo-se tal tendncia at o ano de 2000,

    15 Ver seo 1.4.

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    com o aumento do produto relativamente dissociado da variao no emprego (PASSOS et al, 2005: p. 45 e 46). Esse descolamento entre o crescimento do produto e do emprego talvez possa ser atribudo, em alguma medida, ao regime macroeconmico. O crescimento sem emprego nesse perodo foi atribudo, nas palavras de Salm:

    [...] a sobrevalorizao cambial que potencializou os efeitos disruptivos da liberalizao comercial sobre o emprego: crescimento explosivo das importaes, reorganizao defensiva das empresas (enxugamentos) seguido de renovao acelerada de equipamentos, estimulada pelos baixos preos de importao. Em consequncia da turbulncia provocada por estes fatores, os clculos da elasticidade emprego-produto para aquele perodo mostravam valores muito reduzidos para o emprego assalariado (SALM, 2004; p. 2).

    Todavia, aps o ano de 2000, Passos et al acrescentam, ainda, que:

    [...] o cenrio do mercado de trabalho, desconsideradas as hipteses mais pessimistas, pode se tornar bastante positivo, caso se confirme a entrada do Pas em um ciclo de desenvolvimento econmico com bases mais slidas do que os curtos ciclos de crescimento experimentados nas ltimas duas dcadas (PASSOS et al, 2006: p.55).

    A partir dos anos 2000, com a adoo do regime de cmbio flutuante, o pessimismo das elasticidades emprego-produto cede lugar ao otimismo, devido prdiga elevao do emprego formal ter sido superior a elevao do produto naquele perodo. Os papis so invertidos, com o emprego formal liderando a gerao de novos postos de trabalho. Isso ilustra a importncia do regime macroeconmico, dado que diante de regimes bem distintos induzem respostas diferenciadas no mercado de trabalho (RAMOS, 2003b; p.14).

    A RMR a metrpole com maior proporo de pobres no Brasil. Em 1995, a parcela de pobres na RMR chegava a 57% da populao, elevando-se para 58% em 2001. No ano de 2007, houve uma reduo na parcela de pobres na RMR, que caiu para 52% (PNAD/IBGE; IETS). Essa proporo est mais elevada que a de metrpoles como So Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, onde a parcela de pobres equivale a 29% da populao da RMSP e 27% da populao da RMRJ em 2007 (IETS). Esses nmeros sinalizam uma maior gravidade da situao social na RMR, comparativamente s outras regies metropolitanas.

    possvel que a elevao no quantitativo de postos de trabalho tenha contribudo na reduo da pobreza. Embora a RMR tenha apresentado taxas de desocupao mais elevadas em 2007, comparativamente s taxas verificadas nos anos de 1995 e 2001, houve um aumento na quantidade de postos de trabalho formais, de acordo com os dados da Rais e da Pnad para o

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    ano de 2007. Alm disso, a reduo da pobreza favoravelmente afetada pelas polticas pblicas de aposentadorias e penses, bem como pelos novos mecanismos de transferncia de renda focalizados nos mais pobres (ROCHA, 2006a: p.1).

    A reduo da pobreza tambm atribuda a outros fatores, como por exemplo: a reduo da desigualdade de rendimentos, o comportamento favorvel do preo dos alimentos, a expanso dos benefcios assistenciais, a poltica de valorizao do salrio mnimo, o aumento da cobertura e do valor dos benefcios dos programas de transferncia de renda (ROCHA, 2006a: p.15-17).

    Diante desse ambiente de elevado desemprego e altas propores de pobres na RMR, lembramos que a forma desejvel dos indivduos obterem a renda necessria para evitar a pobreza seja a insero no mercado de trabalho. Entretanto, vale alertar que:

    Dadas as caractersticas do mercado de trabalho brasileiro, mesmo trabalhadores em tempo integral em atividades formais recebendo salrio mnimo podem ser pobres, em funo da composio de sua famlia e do baixo valor desse salrio (ROCHA, 2006: p.185).

    A taxa de ocupao entre os pobres, que equivalia em 1995 a 86%, reduziu-se para 78% em 2001 e 70% em 2007, conforme dados da Pnad para esses anos. importante para as pessoas que esto na PEA conseguirem uma ocupao, mas as ocupaes de baixa remunerao no asseguram sada da pobreza absoluta. O desafio, portanto, gerar possibilidades de insero no mercado de trabalho que conduzam a rendimentos adequados para os pobres. No caso da juventude, uma insero adequada fundamental para que se possa romper com a trajetria intergeracional de pobreza. As autoridades governamentais tm o desafio de gerar bons empregos e tambm de criar as condies necessrias para que os jovens pobres possam disputar esses empregos.

    Nesse cenrio de pobreza, e onde se constatam elevadas taxas de desocupao, o jovem da RMR se insere no mercado de trabalho. Vale ressaltar que as dificuldades de insero no so idnticas para todos os jovens, conforme ser explicitado nas subsees seguintes.

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    2.2 A juventude da Regio Metropolitana do Recife

    A juventude (15 a 29 anos de idade) da RMR representa, em 1995, 29% da sua populao. No ano de 2001, esse percentual se manteve em 29%, reduzindo-se para 27% no ano de 2007 (PNAD/IBGE). Uma possvel justificativa para essa reduo na participao dos jovens no total da populao atribuda a mudanas na pirmide demogrfica, pois a parcela de adultos, que representava 34% do total da populao da RMR em 1995, elevou-se para 38% em 2001 e 42% em 2009 (PNAD/IBGE).

    Esses jovens compem uma parcela significativa da PEA da RMR. No ano de 1995, 40,5% da PEA metropolitana recifense composta por jovens. Essa proporo reduziu-se para 38,3% em 2001 e 36,51% em 2007 (PNAD/IBGE). importante advertir que a fatia juvenil da PEA se reduziu, mas que a PEA jovem, em nmeros absolutos, cresceu no perodo estudado.

    Observa-se dos dados da Pnad/IBGE de 2007 que 54% dos jovens da RMR so pobres e 46% no pobres. Tambm se verifica que 48% dos jovens da RMR so do sexo masculino enquanto 52%, feminino. Alm disso, no conjunto de jovens do sexo masculino, 52% so pobres e 48% no pobres. Quanto s mulheres jovens, 55% so pobres e 45% no pobres. Juntos, esses jovens somam 27% da populao em idade ativa da RMR no ano de 2007.

    A PEA juvenil compe 37% da fora de trabalho total da RMR em 2007. Os homens correspondem a 55% da PEA juvenil ao passo que as mulheres, 45%. Ressaltamos que 52% da PEA juvenil da RMR pobre, enquanto 48%, no pobre (PNAD/IBGE, 2007). Em outros termos, a proporo de jovens pobres segue elevada at mesmo entre aqueles inseridos no mercado de trabalho.

    As taxas de participao juvenil apresentaram uma trajetria crescente na RMR desde 1995 at o presente. Em 1995, a taxa de participao juvenil da RMR foi 57%, j em 2001, 59%. No ano de 2007, a taxa de participao juvenil eleva-se para 64%, de acordo com os dados da Pnad/IBGE. Esse crescimento parece ser um reflexo da maior oferta de postos de trabalho no perodo considerado, que atraiu para o mercado as pessoas antes inativas. Alm disso, as elevadas taxas de desocupao foraram outros membros a auxiliar o chefe do domiclio na obteno de renda para sustentar a famlia.

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    O segmento juvenil que mais ampliou sua participao foi o dos jovens de 18 a 24 anos, de acordo com os dados da Pnad. Isso se deve ao fato de que 18 anos o limite natural a partir do qual o trabalho passa a ser mais importante que outras atividades como, por exemplo, os estudos (ROCHA, 2004).

    Salientamos que as taxas de participao so distintas para jovens pobres e no pobres e entre os sexos, conforme ser detalhado na seo 2.3. Alm do mais, embora seja esperada uma maior participao entre os pobres, ocorre justamente o inverso: observam-se entre os jovens no pobres taxas de participao mais elevadas que entre os pobres durante o perodo de 1995 a 2007, apesar da maior fragilidade econmica da juventude pobre. possvel que a elevada dificuldade em encontrar um trabalho leve muitos pobres a abandonar a PEA, segundo Rocha (2004). Alm disso, outra possibilidade atribuda s maiores dificuldades de busca de trabalho para as mulheres pobres que possuem filhos, na medida em que elas no contam com aparatos sociais importantes como, por exemplo, a existncia de creches.

    Verificando as taxas de desocupao juvenil na RMR para os anos de 1995, 2001 e 2007, constata-se uma contnua elevao nos indicadores. Esse crescimento dos indicadores de desemprego juvenil pode refletir os impactos do maior dinamismo econmico do perodo que estimulou um aumento na quantidade de jovens em busca de emprego. Afinal de contas, a proporo dos jovens que est em busca de sua primeira ocupao elevou-se de 3% do total em 1995 para 6% em 2001, alcanando 9% em 2007 a parcela do total de jovens que est em busca de seu primeiro emprego. Ou seja, durante o perodo estudado, do conjunto de jovens da RMR, o percentual daqueles que buscam sua primeira ocupao triplicou nos anos estudados. Alm disso, tomando o conjunto dos jovens desocupados da RMR, a parcela dos que buscam sua primeira ocupao saltou de 32% em 1995 para 44% em 2001 e 46% em 2007. Diante disso, embora a desocupao juvenil tenha crescido bastante entre 2001 e 2007, a busca pelo primeiro emprego no suficiente para justificar o crescimento da desocupao juvenil.

    Em 1995, a desocupao na RMR alcanou 16% da populao juvenil economicamente ativa, o que simbolizou praticamente o triplo da taxa de desocupao dos adultos (30 a 64 anos) daquela regio (5,4%). Nos anos de 2001 e 2007, persiste o hiato entre as taxas de desocupao juvenil frente s dos adultos, sendo respectivamente 22,45% e 29,64% as taxas de desocupao juvenil naqueles anos, enquanto para os adultos as taxas foram 9,20% e 11,28% para os mesmos anos (e simbolizando uma redu