juventudes e juventudes do campo – … · adota a forma plural do termo. É parte do ser jovem...
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Universidade Estadual de Maringá 02 a 04 de Dezembro de 2015
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JUVENTUDES E JUVENTUDES DO CAMPO – APROXIMAÇÕES
INICIAIS
DETOGNI, Andreia Aparecida1
Resumo
Este trabalho teve como objetivo a realização de breve pesquisa sobre juventudes e juventudes do campo, buscando suporte em teóricos sobre algumas das muitas categorizações existentes sobre juventudes. A pesquisa bibliográfica em autores como Bourdieu (1984), Saneh (2011), Sanfelice (2013), Caldart (2004) e Groppo (2002 e 2011) subsidiou as discussões. O trabalho revelou que muitas são as concepções para definição de juventudes, dentre as quais “Juventude como faixa etária”, “Juventude como período de transição ou ciclo de vida”, “Juventude como cultura ou modo de vida” e “Juventude como representação social e auto representação”. Indicou, ainda, que as juventudes devem ser entendidas em sua pluralidade por se tratarem de diversas individualidades a formar um coletivo, considerando esses sujeitos em sua materialidade e não apenas em concepções abstratas, apreciando sua historicidade, representação política e social. Entendemos também que os jovens produzem e reproduzem situações sócio culturais desenvolvidas pelos grupos sociais ou por eles próprios, a fim de atender seus interesses, no sentido de transformação ou aceitação.
Palavras-Chaves: Categorização de Juventudes, Categorização de Juventudes do Campo.
1 Acadêmica do programa de Mestrado em Educação da UNIOESTE – Campus de Francisco Beltrão – PR. Membro do Grupo de Pesquisa Representações, Espaços, Tempos e Linguagens em Experiências Educativas - RETLEE . Graduada em Pedagogia pela UNICENTRO no ano de 2004. Especialista em Docência para o Ensino Superior pela UNICENTRO no ano de 2007. Especialista em Mídias na Educação pela UNICENTRO no ano de 2012. Especialista em Gestão educacional: organização escolar e trabalho pedagógico pela UEPG no ano de 2013. Especialista em Educação do Campo pela UFPR no ano de 2014. E-mail: [email protected]
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Introdução
Os objetivos principais deste artigo foram buscar em teóricos algumas das
definições sobre juventudes e juventudes do campo que repercutem no meio acadêmico.
Optou-se por esta temática pela necessidade de aprofundar os estudos sobre juventudes,
mais precisamente os jovens do campo, com a intenção de compreender alguns dos
conceitos que permeiam estes diversificados grupos, cientes da contribuição que os
mesmos exercem socialmente e politicamente, e do quanto esse conhecimento se faz
necessário para a melhor compreensão de nossa sociedade.
O trabalho foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica utilizando como
aporte teórico, autores como Bourdieu (1984), Dayrell (2007), Saneh (2011), Sanfelice
(2013) e Groppo (2002 e 2011).
O texto divide-se em três partes: a primeira busca compreender de modo geral
alguns dos conceitos relacionados a juventudes. Na segunda parte do trabalho buscamos
informações sobre as categorizações específicas sobre as juventudes do campo. Por
último, as considerações finais partindo dos resultados deste breve levantamento
bibliográfico.
Juventudes – breves apontamentos
Ao tratarmos aqui, sobre juventudes em lugar de juventude como habitualmente
podemos estar acostumados a ver, concordamos com Sanfelice (2013) quando este
escreve que os jovens não são constituídos por uma classe social, de modo a resumi-los.
Para ele, juventude não se sintetiza por pessoas de ambos os sexos que se encontram em
determinada idade com comportamentos definidos que os fazem distinguir,
eventualmente, dos demais grupos sociais. Tão pouco a juventude distingue-se por uma
identidade única no mundo, própria de si. “Há, pelo mundo, muitas e distintas
juventudes. Os jovens, na verdade, constituem diferentes juventudes” (SANFELICE,
2013, p. 68). Considerando a diversidade de juventudes espalhadas pelo mundo o autor
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adota a forma plural do termo. É parte do ser jovem fazer-se membro de determinado
grupo etário, também é parte do ser jovem estar – ou não, incluso em determinado tipo
de comportamento considerado universal. Entretanto, é importante termos clareza sobre
a concretitude 2das situações específicas que determinarão a singularidade destes
jovens, relativizando e pondo para reflexão critérios e conceitos que definem o que são
os jovens e as juventudes nos diversos tempos e espaços, o que os constitui, como
podemos vê-los e compreendê-los a partir de suas concretudes (usaremos este termo).
Devemos perseguir esse entendimento, conscientes de que em algumas culturas uma
pessoa pode ser considerada jovem enquanto que para outros olhares culturais ela
poderá ser vista como um adulto, e assim, contrariamente. Dependerá inclusive da
classe social a que este sujeito está inserido, dos costumes e critérios que definem as
juventudes de cada espaço. Devemos buscar as juventudes concretas e reais, como a
exemplo, aquelas que trabalham desde a infância e pouco estudaram; que trabalham fora
de uma perspectiva do capitalismo, ou não; que não trabalham, e estudam
aparentemente em melhores escolas; que não trabalham ou estudam e envolvem-se na
delinquência, dentre tantas outras possibilidades. É necessário um conhecimento que
saia do abstracionismo nos aproximando das muitas juventudes reais, que compõem a
sociedade: Não é difícil constatar: não há uma única juventude local, regional ou mundial. Não há, portanto, movimento jovem ou dos jovens tomados em uma forma abstrata. Mas, com certeza, há movimentos da juventude das periferias dos centros urbanos, da juventude das classes médias, da juventude burguesa e da juventude de culturas diferenciadas (SANFELICE, 2013, p. 70).
2 Sanfelice opta por usar o termo “concretitude”, que sofreu haplologia, que é a perda de uma sílaba
igual ou próxima da que permaneceu, dando lugar então ao termo “concretude”. Ambas significam: Qualidade do que é concreto, real, material. Disponível em:
<http://www.linguativa.com.br/laphp/conteudo/tipoDicionario.php?categoriaPrograma=2024&chamada=48958 >.
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Consideremos, ainda, as juventudes do campo3, compostas de agricultores
familiares4, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra5, os camponeses6, entre
tantos outros. Não podemos resumir a uma única parcela por meio de olhares abstratos
tamanha pluralidade e singularidade coletiva proveniente do campo. Escrevemos
singularidade coletiva, porque cada um desses grupos é constituído de sujeitos únicos,
que integram de modo a coletivizar com suas características aproximadas,
caracterizando e constituindo o grupo a que estão inseridos devido ao espaço onde
vivem, a classe a qual integram-se, ou seja, o seu lugar social – não compreendendo
lugar social como fator de unanimidade e homogeneização, para que se possa considerá-
los enquanto seres sociais. Para compreender as juventudes na sociedade atual, é
necessário considerá-las “como uma construção histórica e social, permeada pelas lutas
e contradições que movem a sociedade” (SILVA, 2013, p. 406). Trata-se de reconhecer
as potencialidades, pluralidades e heterogeneidades:
Observar e pensar a juventude hoje é, na verdade, encontrar e refletir suas enormes diferenças. Para sermos rigorosos, sempre foi preciso analisar as juventudes no plural. A contemporaneidade torna isto ainda
3 Campo, aqui, não significa o perfil do solo em que o agricultor trabalha, também não se limita a um lugar. “O campo, mais do que um perímetro não urbano, é um campo de possibilidades que dinamizam a ligação dos seres humanos com a própria produção das condições da existência social e com as realizações da sociedade humana”. (ARROYO; CALDART; MOLINA, 2004, p. 176). 4 De acordo com a Lei nº 11.326/2006, é considerado agricultor familiar e empreendedor familiar rural, aquele que pratica atividades no meio rural, possui área menor a 4 módulos fiscais, utilize predominantemente mão-de-obra da própria família, tenha percentual mínimo da renda familiar originada de atividades econômicas de seu estabelecimento ou empreendimento. Também são considerados agricultores familiares: silvicultores, aquicultores, extrativistas, pescadores, povos indígenas e integrantes de comunidades remanescentes de quilombos rurais e demais povos e comunidades tradicionais que atendam simultaneamente aos incisos II, III e IV do caput do art. 3º. Lei na íntegra disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11326.htm>. 5 O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) nasceu da articulação das lutas pela terra que foram retomadas a partir do final da década de 1970, sendo que o primeiro encontro dos trabalhadores sem terra aconteceu em 1984, na cidade de Cascavel – PR (FONSECA; MOURÃO, 2012, p. 283). Uma das atividades do grupo se trata da ocupação de terras improdutivas como forma de pressionar o Estado para realização da reforma agrária, e a reinvindicação quanto as condições para que os agricultores possam, após a posse, produzir e viver nessas terras (FACCIO, 2012, p. 199). 6 O campesinato é, ao mesmo tempo, uma classe social e um “mundo diferente”, que apresenta padrões de relações sociais distintos - ou seja, o que também podemos denominar de modo de vida. O campesinato se insere na sociedade capitalista de forma subordinada e se levanta em momentos de crise. Se, por um lado, o mercado domina o campesinato, por outro, ele não o organiza. O campesinato possui uma organização da produção baseada no trabalho familiar e no uso como valor (MARQUES, 2000).
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mais obrigatório, tanto a pesquisadores como aos propositores de políticas sociais, entre outros. O encontro com os jovens sempre significou encarar uma conjunção de inúmeras condições sociais, culturais e históricas. De sujeitos reais, com vontades, desejos, valores, contestações e dilemas (SOUSA e GROPPO, 2011, p. 6).
Não basta compreendermos as possíveis similaridades entre os jovens ou as
juventudes, se faz necessário compreendê-los em sua realidade social e histórica, não
podemos correr o risco de homogeneizá-las, enquadrá-las, por exemplo, em uma faixa
etária, como se isso por si só, condensasse satisfatoriamente toda a complexidade dos
jovens, suprimindo suas diversas características e complexidade em parâmetros
abstratos, sem considerar profundamente o contexto e intervenção social destes seletos e
diversificados grupos. “As classificações por idade (mas também por sexo ou,
evidentemente, por classe...) equivalem sempre a impor limites e a produzir uma ordem
à qual cada um se deve ater, na qual cada um deve manter-se no seu lugar”
(BOURDIEU, 1984, p. 152). É comprometedor classificar estes grupos biologicamente,
de modo a deixar de lado suas peculiares características – algumas, talvez comuns,
outras não. Bourdieu (1984) em sua análise sobre a juventude segue escrevendo que
tanto a juventude quanto a velhice não podem limitar-se a algo dado, depositado no ser
humano por meio das construções e imposições sociais. Unificar a pluralidade das
juventudes é concordar com a intervenção de segmentos sociais como a exemplo, a
moda, literatura, as mídias, entre outros, como sendo determinantes no tempo de
envelhecimento das pessoas, tornando as juventudes meros segmentos, isolados de
possíveis rupturas históricas, determinando aos jovens o que seria a sua juventude, os
instruindo a consumir produtos, fazendo-os parte da sociedade do consumo. Exige-se
das gerações mais novas a adaptação necessária, seja nos jovens das classes dominantes
no sentido de legitimar sua superioridade, seja entre os jovens menos favorecidos
economicamente no sentido de sobrevivência, rendendo-se as condições de miséria e
desigualdade. Deste modo, as juventudes vão colocando-se socialmente no mercado do
consumo e no mercado do emprego. Para Saneh (2011, p. 257): O processo de socialização das gerações mais novas, notadamente os ambientes da educação e trabalho também tem como regra, no sentido ideológico, universalizar – como obrigatório, produtivo, eficiente, correto, inteligente – justamente as exigências particulares do modelo gerencial capitalista. Ser “inteligente”, “produtivo”, significa, via de
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regra, aos jovens em formação, ter que provar que podem “rezar” com maior fervor conforme as chamadas leis do “mercado”.
Saneh (2011) também escreve que nesse sentido, quem esses jovens realmente
são deixa de importar, o que desperta interesse é o personagem que eles são capazes de
construir, para o arranjo de um emprego. Seja carismático, polivalente, comunicativo,
despojado, melhor adaptável a mudanças, com maior quantidade de cursos de
qualificação em seu currículo. No final das contas, o jovem sujeito que entrega o
currículo, pode diferir e muito do individuo por ele criado para descrevê-lo enquanto
profissional ou futuro profissional. “Mais grave é a massificação deste autoengano no
processo de formação das novas gerações, orientadas, desde o começo de sua vida
educacional, a alimentar o personagem que supostamente vai conduzir o cidadão ao
esperado sucesso profissional” (SANEH, 2011, p. 260). Essa devastadora criação de um
indivíduo a parte, que não se frustra, sempre audaz, competitivo e vitorioso, resulta na
temida unilateralidade do ser, fazendo com que ocorra o empobrecimento de si,
perdendo sua capacidade criativa, crítica, inclusive sua capacidade de autocrítica. As
juventudes preparadas para o mercado de trabalho especializam-se em rechear seus
currículos, conscientes de que enquanto um seleto grupo conta com o apoio financeiro
da família para que possam completar um curso de nível superior e tornarem-se
assalariados ou mesmo empregadores, há um outro grupo que nem sempre contará com
um curso de nível superior, quem sabe já sendo responsável por ajudar a subsidiar os
custeios da família, que tentará colocar – se, também, dentro das possibilidades no
mercado do trabalho. Se realmente vencerem na vida, alcançando o status que
perseguiram lhes serão imputados todos os méritos dessa conquista, caso não consigam,
serão igualmente e unicamente responsáveis pelo seu fracasso. Assim, seguem
competindo entre si, os jovens contemporâneos. Sanfelice (2013, p. 71-72) escreve que:
A educação institucionalizada das sociedades capitalistas se tornou um poderoso instrumento de formação das suas juventudes. Forma-se, molda-se o cidadão para o trabalho, e para o consumo. Forma-se e molda-se o cidadão para a alienação no trabalho e para a passividade conformada nas estruturas da sociedade. (...) As instituições formadoras e repressivas estão aí bem evidentes, nos seus papéis complementares, para atingir os objetivos de socialização das juventudes. Família, igrejas, escolas, polícia, legislação, mídia, tudo incide sobre as juventudes visando o condicionamento das suas
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subjetividades, dos seus comportamentos expressos e dos seus valores de referência.
Isso garantirá trabalhadores consumistas para a continuidade da sociedade do
jeito que a encontramos atualmente, que fragiliza as relações juvenis, tornando-os
descartáveis. Assim como qualquer outro bem de consumo os jovens assemelham-se,
portanto, as mercadorias que eles próprios consomem: desnecessários e/ou substituíveis.
Ao adentrarem no mercado do consumo e do trabalho sob estas condições previamente
impostas, passarão a reproduzir este comportamento que embora violento, é considerado
comum diante da lógica capitalista. Determinar o modo de vida que as juventudes
deverão seguir, é um meio de extrair ou silenciar suas individualidades, tornando-os
parte de um coletivo que compete e consome, tentando quem sabe, distinguir-se por
meio de cargos e modismos. Jovens desconhecedores de si, detentores, por vezes, de
currículos “invejáveis”, e em outras situações, repudiados pela falta de possibilidades,
demarcados por um currículo vazio. Não podemos compilar tamanha pluralidade em
dogmas rígidos e de intenções porque não, trágicas. Diante desse quadro, aludimos a
Dayrell (2007, p. 157-158), quando este expõe ser a juventude:
(...) ao mesmo tempo, uma condição social e um tipo de representação. Se há um caráter universal dado pelas transformações do indivíduo numa determinada faixa etária, nas quais completa o seu desenvolvimento físico e enfrenta mudanças psicológicas, é muito variada a forma como cada sociedade, em um tempo histórico determinado e, no seu interior, cada grupo social vai lidar com esse momento e representá-lo. Essa diversidade se concretiza com base nas condições sociais (classes sociais), culturais (etnias, identidades religiosas, valores) e de gênero, e também das regiões geográficas, entre outros aspectos. Construir uma noção de juventude na perspectiva da diversidade implica, em primeiro lugar, considerá-la não mais presa a critérios rígidos, mas, sim, como parte de um processo de crescimento mais totalizante, que ganha contornos específicos no conjunto das experiências vivenciadas pelos indivíduos no seu contexto social. Significa não entender a juventude como uma etapa com um fim predeterminado, muito menos como um momento de preparação que será superado com o chegar da vida adulta.
Nos dispusemos até aqui, a inferir sobre a pluralidade de juventudes que se
encontram no mundo, as inúmeras distinções que as constituem, sua historicidade e
complexidade que precisam ser entendidas de modo concreto e próximo. Impõe-nos
refletir sobre quem são esses jovens, onde estão, porque estão, e de que modo estamos
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contribuindo para seu desenvolvimento integral, colaborando para que se
autoconheçam, entendendo que mais do que parte de um grupo na sociedade, eles são
seres sociais, individuais e coletivos, semelhantes em alguns aspectos, porém, únicos
em sua totalidade. Não podemos desampará-los em uma sociedade à qual se preocupa
em formar empregadores produtores consumistas e empregados produtivos consumistas.
Entender os jovens em suas pluralidades, em diferentes contextos e espaços é concordar
sobre a diversidade de juventudes, cientes de que para que realmente haja entendimento
é necessário sair do campo abstrato, lançando-se em busca da concretude que os
permeia.
Juventudes do Campo – elementares apreciações
Como pudemos constatar por meio de autores como Bourdieu e Dayrell, as
juventudes não podem ser determinadas e reconhecidas unicamente através da etapa
biológica em que se encontram, ou seja, ter a idade dos sujeitos como suporte central e
por vezes, único, para reconhecer determinados grupos como sendo ou não parte
integrante das juventudes. Cientes de tamanha diversidade e implicadores sejam sociais,
culturais, políticos, o espaço, entre outros, consideramos pertinente elencar alguns
apontamentos iniciais sobre as juventudes que compõem o campo, no sentido de melhor
compreender as suas especificidades, multiplicidades e realidades. Neste sentido,
aludiremos a colaboração de pesquisa desenvolvida por Weisheimer (2005) que buscou
elencar definições teóricas e categorias empíricas de outros estudiosos sobre os jovens
do campo. Analisando estudos sobre o tema, o autor apontou cinco abordagens para
conceituar, segundo ele “a juventude rural”, que são: 1) Juventude como faixa etária –
apoiam sua definição utilizando como critério a idade, buscando geralmente em
normativos e padrões estabelecidos internacionalmente para definir quem é considerado
jovem, ou não. No Brasil, o Estatuto da Juventude Lei n° 12.852, de 05 de agosto de
2013, em seu artigo primeiro, parágrafo primeiro, informa que são consideradas jovens
as pessoas com idade entre quinze e vinte e nove anos de idade. Por mais que às vezes
haja a necessidade de elencarmos as juventudes dentro de uma faixa etária, Weisheimer
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ressalta que “a definição de limites etários é obviamente arbitrária e não dá conta das
diferenças entre idade biológica e idade social” (WEISHEIMER, 2005, p. 21). 2)
Juventude como período de transição ou ciclo de vida – é o ingresso na vida social,
onde são estabelecidos direitos e deveres para os jovens por meio de crescente
responsabilidade e independência, os lembrando de que não são mais crianças,
entretanto, também não são adultos. 3) Enfoque nas gerações - um grupo dentro da
mesma faixa etária que se encontra em situações comuns mediante o tempo histórico
em que estão vivendo. 4) Juventude como cultura ou modo de vida – os jovens se
definem e são definidos por meio de uma cultura para as juventudes. Com o auxílio das
mídias a cultura juvenil surge como um abundante produto de consumo, pois para
assumir determinado modo de vida ele precisará usar determinado estilo de roupas,
ouvir determinadas músicas, entre tantas outras coisas. 5) Juventude como
representação social e auto representação – procura compreender o que define quem é
e quem não é jovem em um dado contexto social e cultural considerando a
multiplicidade de realidades juvenis, fundamentada nas diversas representações sociais
a que estão submetidos estes jovens. Por fim, o autor concluiu diante dos estudos que
elencou sobre definições teóricas e categorias empíricas sobre juventude que esta é
"uma construção social, cultural e histórica altamente dinâmica e diversificada, o que
implica considerá-la uma realidade múltipla, visto que os jovens não formam um todo
homogêneo” (WEISHEIMER, 2005, p. 26). O que condiz com alguns dos autores
anteriormente citados neste trabalho, como Bourdieu (1984); Dayrell (2007); Saneh
(2011) e Sanfelice (2014). O autor completa, escrevendo que ao considerarmos as
diferenças de classe sociais, étnicas e de gênero, entre tantos outros, percebe-se a
diversidade que os envolve. E assim como Sanfelice e outros estudiosos observa, diante
desta construção de experiências e identidades coletivas ser pertinente que o termo
“juventude” seja usado e compreendido no plural. (WEISHEIMER, 2005).
Acreditando nas inúmeras realidades das juventudes provindas da zona rural e
considerando o campo muito mais que um território não urbano, prosseguimos com este
breve estudo, buscando em autores que se dispuseram a aprofundar-se no conhecimento
dos sujeitos que fazem parte deste espaço, dentre os quais Roseli Caldart (2004) a qual
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escreve que o campo é constituído por uma diversidade de sujeitos, cada qual com seu
jeito de produzir e viver, com seu jeito de olhar o mundo e compreender a realidade.
Estes sujeitos fazem parte de um único povo: aquele que vive no campo, sem, contudo,
perderem a sua capacidade e características individuais de lutar e resistir diante das
dificuldades e discriminações econômicas, políticas e culturais a que historicamente são
submetidos os povos do campo:
Somos diferentes e nos encontramos como iguais para lutar juntos pelos nossos direitos de ser humano, de cidadão, e para transformar o mundo. O respeito às diferenças faz o nosso movimento mais forte, mais bonito e mais parecido com a vida mesma, sempre plural em suas expressões, em seus movimentos (CALDART, 2004, p. 154).
A autora considera a vida oposição da singularidade, evidentemente assim são os
sujeitos do campo, dentre eles, as juventudes do campo, que participam deste espaço de
lutas e transformações, onde é preciso resistir e acreditar, onde conhecer-se e
reconhecer-se enquanto sujeito humano, social e político é essencial para a continuidade
da permanência dos povos do campo, no campo. Propiciando não apenas sua integração
a um grupo social, mas sendo eles parte ativa deste “corpo” social, que possui vida, que
produz vida, que dá continuidade a vida.
Na Carta do I Seminário Nacional da Juventude Rural e Políticas Públicas, de 24
de maio de 2012, as juventudes do campo, representam-se enquanto “agricultores
familiares, camponeses, assentados da reforma agrária, assalariados, sem terra,
quilombolas, indígenas, ribeirinhos, extrativistas, oriundos das diferentes regiões do
país” (MENEZES, 2014, p. 272). Isso nos coloca diante da dimensão, possibilidades e
diversas realidades que são os povos do campo, e consequentemente as juventudes do
campo com suas tantas realidades, pluralidades, motivações e lutas. Galindo (2014)
aponta que as reivindicações construídas por esses jovens os reafirma como atores
sociais e políticos, integrantes das dinâmicas de produção e organização da comunidade.
Indo além, entendemos – tendo suporte em Stropasolas (2014), que não podemos buscar
o entendimento sobre as juventudes isolando-os de sua realidade, como se fizessem
parte de um mundo paralelo, sem incluí-los devidamente não apenas no lugar onde
vivem – na sua comunidade, mas também considerá-los parte efetivamente integrante de
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uma sociedade mais ampla, da qual participam direta ou indiretamente. As juventudes
convivem também coletivamente com suas singularidades e semelhanças, mas isso não
os torna iguais, pois seria homogeneizar sua humanidade, reduzindo-os, inibindo-os em
sua capacidade, desconsiderando que eles possuem voz e força para a conscientização,
reinvindicação e transformação. Como expropriá-los disso tudo, resumindo-os a uma
faixa etária e a um lugar fixo no espaço, como se as juventudes fossem unicamente um
período de transição, preparo e espera para a vida adulta? De acordo com Freire (2014,
p. 117):
A juventude é uma categoria sociológica, tecida como um construto histórico, político, social e cultural, portanto, sem constituir-se num conceito unívoco e de valor universal. O contexto, a materialidade das condições de vida dos jovens, a dimensão subjetiva de apreensão da realidade e tessitura de histórias e projetos de vida singularizam a juventude no tempo e espaço em que a condição juvenil é tecida. Assim, se rompe com argumentações etnocêntricas e a-históricas.
É preciso considerar as juventudes em sua integralidade, totalidade,
multiplicidade e complexidade. Não as podendo reduzir a um apanhado conceitual que
privilegia o grupo etário em que se encontram, entre outras maneiras limitadas de
conceituá-los, sem considerar sua historicidade, o espaço onde se encontram, a
sociedade a qual participam. É sem dúvida, desafiador buscar encontrar um conceito
que assuma juventudes mais próximo do que elas realmente são e representam,
acreditamos, portanto, que o risco de ocorrer a limitação quanto ao entendimento sobre
quem são e o que constitui essas pessoas é imenso. Entretanto, concordamos com as
visões dos autores anteriormente citados quando explicitam em seus trabalhos a
grandiosa multiplicidade e dinamismo que são as juventudes e do poder de contribuição
que estas exercem ou podem exercer nas suas comunidades e na ampla sociedade. Sem
dúvida é necessário compreendermos os muitos elementos que compõe as juventudes do
campo, os diversos grupos que os determinam, que os complementam. Salientamos que
isso não compete homogeneizá-los, reduzindo sua individualidade a um todo coletivo.
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O Estatuto da Juventude 7explicita no Capítulo I, artigo 2º, Inciso VI como um
dos seus princípios o respeito à identidade e à diversidade individual e coletiva da
juventude, acreditamos que para respeitar precisamos compreender a dimensão destas
identidades e diversidades, considerando as juventudes sócio – históricas com suas
diversas realidades e dilemas, em seus diferentes tempos e maneiras. Sem desenraizá-
los, reconhecendo suas especificidades e considerando suas experiências. Groppo
conceitua juventudes como sendo uma categoria social, e neste sentido considera que:
Ao ser definida como categoria social, a juventude torna-se, ao mesmo tempo, uma representação sóciocultural e uma situação social. Ou seja, a juventude é uma concepção, representação ou criação simbólica, fabricada pelos grupos sociais ou pelos próprios indivíduos tidos como jovens, para significar uma série de comportamentos e atitudes a ela atribuídos. (GROPPO, 2002, p. 7-8).
Acreditamos que a definição de Groppo não limita ou encerra a discussão sobre
o que é ser jovem e o que são as juventudes. Ao contrário, sua definição contribui no
sentido de elucidar e direcionar nosso entendimento sobre juventudes de modo a vê-las
socialmente e culturalmente, construídas por grupos sociais e pelos próprios sujeitos
entendidos como jovens, reforçando a concepção de que juventudes não é algo que
surge sem história. Antes, se trata de uma construção resultante de diversas
intencionalidades e interesses, sejam econômicos, culturais, sociais, de transformação
ou permanência.
Considerações finais
Ao darmos início a esse estudo buscamos evidenciar ainda que brevemente
algumas das inúmeras compreensões relacionadas às categorizações sobre juventudes.
7 Art. 2º O disposto nesta lei e as políticas públicas de juventude são regidos pelos seguintes princípios: I – promoção da autonomia e emancipação dos jovens; II – valorização e promoção da participação social e política, de forma direta e por meio de suas representações; III – promoção da criatividade e da participação no desenvolvimento do país; IV – reconhecimento do jovem como sujeito de direitos universais, geracionais e singulares; V – promoção do bem-estar, da experimentação e do desenvolvimento integral do jovem; VI – respeito à identidade e à diversidade individual e coletiva da juventude; VII – promoção da vida segura, da cultura da paz, da solidariedade e da não discriminação; e VIII – valorização do diálogo e convívio do jovem com as demais gerações (Estatuto da Juventude, Lei nº 12.852 de 5 de agosto de 2013). (Grifo nosso).
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Procuramos suporte em teóricos que se debruçaram sobre este tema a fim de melhor
entendermos a dimensão e complexidade dos universos que compõem os jovens, mais
precisamente os jovens do campo. Iniciamos nossas reflexões lançando um olhar sobre
o que escreve Sanfelice (2013), o qual acredita que juventudes não podem ser
determinadas por idade e comportamentos pré-definidos de modo a os diferenciar dos
demais grupos sociais. Para Sanfelice no mundo existem inúmeras juventudes e não
devemos determiná-las em parâmetros estabelecidos sem considerar a “concretitude”
desses jovens através da sua materialidade histórica. Não devemos nos basear em
elementos abstratos quando se busca categorizar tamanha multiplicidade. Na sequência
Sousa e Groppo (2011) reforçam a concepção de que as juventudes sejam analisadas
pluralmente, considerando a individualidade dos sujeitos jovens, sem, contudo, esquecer
a dimensão que os cerca, as partes que os compõem, as vivências que possuem, as
experiências que partilham. Também aludimos a Bourdieu (1984) que tece uma crítica
ao reducionismo quando da separação de pessoas por grupos considerando como fator
essencial exclusivamente a idade dos sujeitos. Em seguida nos reportamos a Dayrell
(2007) que fundamenta uma crítica à preparação dos jovens para o mercado de consumo
e para o trabalho estritamente mercadológico, tornando-os operadores, detentores de
vastos currículos, entretanto, sérios candidatos a não desenvolverem a capacidade da
autocrítica. Ou seja, as juventudes que tentamos compreender em sua profundidade e
extensão por vezes estarão fadadas a não conhecerem-se, habituadas que possam estar, a
preencher currículos e operar máquinas, perdendo o exercício da auto crítica, ou mesmo
não desenvolvendo a necessidade da auto análise. Dayrell (2007) por sua vez, afirma
que não devemos limitar nossa compreensão sobre juventudes prendendo-se a critérios
rígidos, como se tudo não passasse de mais uma etapa com um fim predeterminado.
Também recorremos a Weishmer (2005) que elencou cinco abordagens usadas
por estudiosos para definições teóricas sobre os jovens do campo, que foram: 1)
Juventude como faixa etária; 2) Juventude como período de transição ou ciclo de vida;
3) Enfoque nas gerações; 4) Juventude como cultura ou modo de vida; 5) Juventude
como representação social e auto representação. Utilizamos as contribuições de
Caldart (2004) quando a mesma cita a pluralidade da vida em suas extensões e coloca os
povos do campo como parte de um grande e único povo, sem, contudo diminuí-los, sem
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colocar de lado suas particularidades e as diversas realidades que compõe esta vastidão
denominada povos do campo. Freire (2014) expõe a importância de se romper com
argumentações etnocêntricas e a-históricas na procura da compreensão sobre
juventudes, condizendo com os demais autores citados durante o trabalho. Terminamos
com Groppo (2002) que reforça a concepção de que são as juventudes representações ou
criações simbólicas, fabricada pelos grupos sociais ou pelos próprios indivíduos tidos
como jovens.
Concluímos nesta breve pesquisa, que compreender o que são e quem são as
juventudes espalhadas pelo mundo é um desafio exaustivo, e porque não, interminável
levando em conta que antes de jovens, adolescentes ou crianças, eles são sujeitos que
constroem-se e reconstroem-se à medida que interagem. Eles são vida e fazem vida, seja
com suas famílias, escolas, trabalhos ou em quaisquer outros lugares que estiverem
presentes. E como integrantes deste corpo vivo que é a sociedade, não podem ser
denominados de modo cristalizado e engessado. As juventudes são individualidades e
coletivos, uma junção de tudo que experimentam desde o início da vida, são culturas e
espaços representados por indivíduos capazes e complexos. Dispor-se a buscar
compreender as juventudes que fazem parte do campo e assim, constituem o campo, é
um exercício exaustivo e demorado, tendo em vista os diversos povos que participam
deste espaço, com seu vasto aglomerado de ideias, culturas, costumes e lutas. Assim
como Caldart concordamos que todos esses sujeitos fazem parte de um único e imenso
grupo, cada um com suas experiências, individualidades e perspectivas. Sejam
agricultores familiares ou camponeses, assentados da reforma agrária ou sem terra,
quilombolas, indígenas, ou alguma das tantas outras denominações que representam os
grupos que são parte dos povos do campo. Consideramos fundamental entender sua
trajetória de vida, percebendo-os enquanto parte de uma comunidade local e de uma
sociedade mais ampla. Entendemos ser essencial vê-los e admiti-los enquanto sujeitos
concretos, com experiências concretas. Jovens com sua individualidade, vivendo
coletivamente. Que não venhamos a restringi-los em uma grande massa corpórea,
esquecendo de atingir realmente o conhecimento por aquilo que lutam ou não lutam.
Que possamos perceber e reconhecer a beleza que os reveste diante de suas diversidades
múltiplas: jovens mulheres, jovens homens, jovens negros, jovens brancos, jovens
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abastados, jovens desprovidos, jovens com necessidades especiais, jovens criativos,
jovens ousados, jovens tímidos, e em todo o seu potencial, desperto ou ainda escondido:
juventudes. Não podemos ignorar tamanha diversidade quando tratamos sobre este tema
tão vasto por ser constituído de inúmeros, e fundamental para a sociedade por ser
promissor para o agora, e promissor para o depois. É nos aproximando da realidade dos
jovens que poderemos entendê-los, animá-los, encorajá-los e ajudá-los. Embora
complexo, consideramos que as dificuldades encontradas para a conceituação das
juventudes, no nosso caso especificamente as juventudes do campo, não devem impedir
ou desmotivar sua busca.
Referências
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