juventude rural: educação para o campo muda cultivo de hortaliças no semiárido

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Em uma região montanhosa de Pedro II, existe uma comunidade chamada Vale do São Francisco. Lá, as casas ficam em meio a um vale, o que explica em parte o nome dado à comunidade. Lá os moradores aproveitam bem os recursos hídricos que a natureza dá. Região rica em olhos d’água, eles são explorados através de uma canalização que distribui água potável para todas as casas, dispensando a água do poço que não é muito utilizada. Casas simples, feitas de adobro e pedras retiradas das montanhas de lá, abrigam famílias trabalhadoras, dentre elas, uma família que se formou com o casamento de seu Francisco Anastácio Barbosa e de dona Inês Ferreira de Melo. Desse casamento vieram muitos filhos, muitos já casados, e outros que ainda moram com eles. De todos os filhos Maria da Conceição (a Ceiça), Messias e Jonas fazem a diferença na propriedade. Antes a família só plantava milho, feijão e mandioca. As coisas mudaram quando os três jovens foram estudar na Escola Família Agrícola e viram como era o cultivo e a importância de praticar uma agricultura orgânica agroecológica, podendo tirar um bom rendimento através do plantio diversificado. Eles iniciaram com um plantio de melancia, e nisso a escola foi importante para a escolha da cultura. Segundo Ceiça, eles aprenderam como identificar a cultura certa através da temporada e o plantio que dava mais certo de acordo com a temperatura, solo, água do local. E a melancia foi a que deu melhor, seguida do tomate. Com isso tiveram a idéia de iniciarem a rotação de tomate com melancia no terreno. Mas os jovens gostam mesmo é de diversificar. Aproveitando a contemplação no Consórcio Social da Juventude Rural, Messias aproveitou parte do dinheiro para o plantio de hortaliças e fruteiras no terreno. Ele o fez de maneira diferente. Tinha praticado uma técnica que alguns chamam de Paz, outros de Mandala, na escola e decidiu por em prática em casa. Na mandala os canteiros são feitos de forma circular para aproveitar melhor a umidade do terreno. Nessa mandala eles plantam hortaliças como coentro, cebolinha, pimentão, cenoura, beterraba e frutas como a banana. Mas um dos fortes mesmo é o tomate, que é cultivado sem o uso de agrotóxicos, fazendo com Piauí Ano 1 | nº 11 | março | 2009 Pedro II - PI Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Juventude Rural Educação para o campo muda cultivo de hortaliças no semi-árido 1 Família de seu Francisco e dona Inês reunida Ceiça e Messias cuidando da mandala Projeto Piloto

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Page 1: Juventude Rural: educação para o campo muda cultivo de hortaliças no semiárido

Em uma região montanhosa de Pedro II, existe uma comunidade chamada Vale do São Francisco. Lá, as casas ficam em meio a um vale, o que explica em parte o nome dado à comunidade. Lá os moradores aproveitam bem os recursos hídricos que a natureza dá. Região rica em olhos d’água, eles são explorados através de uma canalização que distribui água potável para todas as casas, dispensando a água do poço que não é muito utilizada.

Casas simples, feitas de adobro e pedras retiradas das montanhas de lá, abrigam famílias trabalhadoras, dentre elas, uma família que se formou com o casamento de seu Francisco Anastácio Barbosa e de dona Inês Ferreira de Melo. Desse casamento vieram muitos filhos, muitos já casados, e outros que ainda moram com eles. De todos os filhos Maria da Conceição (a Ceiça), Messias e Jonas fazem a diferença na propriedade.

Antes a família só plantava milho, feijão e mandioca. As coisas mudaram quando os três jovens foram estudar na Escola Família Agrícola e viram como era o cultivo e a importância de praticar uma agricultura orgânica agroecológica, podendo tirar um bom rendimento através do plantio diversificado.

Eles iniciaram com um plantio de melancia, e nisso a escola foi importante para a escolha da cultura. Segundo Ceiça, eles aprenderam como identificar a cultura certa através da temporada e o plantio que dava mais certo de acordo com a temperatura, solo, água do local. E a melancia foi a que deu melhor, seguida do tomate. Com isso tiveram a idéia de iniciarem a rotação de tomate com melancia no terreno.

Mas os jovens gostam mesmo é de diversificar. Aproveitando a contemplação no Consórcio Social da Juventude Rural, Messias aproveitou parte do dinheiro para o plantio de hortaliças e fruteiras no terreno. Ele o fez de maneira diferente. Tinha praticado uma técnica que alguns chamam de Paz, outros de Mandala, na escola e decidiu por em prática em casa. Na mandala os canteiros são feitos de forma circular para aproveitar melhor a umidade do terreno. Nessa mandala eles plantam hortaliças como coentro, cebolinha, pimentão, cenoura, beterraba e frutas como a banana.

Mas um dos fortes mesmo é o tomate, que é cultivado sem o uso de agrotóxicos, fazendo com

Piauí

Ano 1 | nº 11 | março | 2009Pedro II - PI

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Juventude RuralEducação para o campo muda cultivo

de hortaliças no semi-árido

1

Família de seu Francisco e dona Inês reunida

Ceiça e Messias cuidando da mandala

Projeto Piloto

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que ele fique mais bonito e suculento. Para o plantio, primeiro são feitas as mudas que são colocadas em copinhos feitos de jornal. Segundo Ceiça, assim é mais prático e rápido por não ter que tirar as embalagens, já que o papel jornal se decompõe com facilidade. O tomate leva de 100 a 110 dias para estar pronto para a colheita.

Para combater os mosquitos que furam o tomate os jovens colocaram plásticos amarelos sujos de graxa nos corredores para atrair os mosquitos que os confundem com as flores do tomate e acabam presos na armadilha. Durante a noite, quando o escuro tira toda a eficácia do plástico, é colocado uma iluminação com água para atrair os mosquitos. A técnica foi aprendida quando Jonas foi a um intercâmbio de experiências em Guaraciaba do Norte no Ceará em 2007.

A água do olho d’água não é utilizada somente para o consumo humano na comunidade. Os jovens a utilizam também para a irrigação por gotejamento, aproveitando a força da gravidade. O gotejamento é feito com mangueiras furadas onde se colocam hastes de cotonetes com a ponta queimada e com um pequeno corte no meio por onde sai a água.

A melancia também é artigo forte desses jovens agricultores e teve bons rendimentos na ultima safra. Comercialização que foi feita de forma direta na comunidade e com venda para feirantes de Pedro II, Piauí, e Poranga, no Ceará. Cultura que será rotacionada com outras para produzir sempre.

Na propriedade ainda tem gados bovinos, caprinos e ovinos, criados em uma área toda cercada e do qual são aproveitados o leite, a carne, o esterco e até a urina. Segundo Jonas, a urina de vaca é utilizada na correção de nutrientes do solo e como defensivo natural. Apesar da riqueza de água, na época do verão a pastagem para os animais fica escassa, e eles se previnem fazendo a forragem.

Mas não fica por aí, idéias para melhorar a propriedade e a produção é o que não falta para essa família. Para o futuro eles pretendem preparar seu banco próprio de sementes e uma estufa para as mudas. O

poço cacimbão que está sem utilidade, eles pretendem fazer a ampliação da horta para o plantio de outras culturas e montar um Sacolão de Produtos Orgânicos em Pedro II. Além disso, seu Francisco quer aproveitar a barragem (açude) para a criação de peixe e criar porcos para aproveitar o resto das hortaliças e ter mais uma fonte de proteínas para a família.

“A gente já tem a estrutura inicial, falta mais estrutura para continuar a crescer. E a gente tem mão de obra demais, que é a da nossa família”, fala Jonas, esperançoso. E a família vai con t inuando , exper imen tando todo o conhecimento adquirido na escola e em intercâmbios para realizar seus sonhos.

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Lona amarela serve como armadilhas para mosquitos

Hastes de cotonetes: alternativas simples para irrigação

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O PROJETO PILOTO DO P1+2 ESTÁ SENDO DESENVOLVIDO COM OS SEGUINTES APOIOS:

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