juventude indígena e de ascendência africana na américa ... · a fecundidade em idades precoces...
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Juventude indígena e de ascendência africana na América Latina: desigualdades socio-demográfi cas e desafi os políticos
OIJ 2009
FABIANA DEL POPOLOMARIANA LÓPEZMARIO ACUÑA
ORGANIZAÇÃO IBERO-AMERICANA DE JUVENTUDE
Coordenação Geral:
Secretaria-Geral
Organização Ibero-americana de Juventude (OIJ)
Eugenio Ravinet Muñoz
Secretário-Geral
Leire Iglesias Santiago
Secretária-Geral Adjunta
M. Esther Martín Pineda
Responsável de Cooperação
Susana González Royo
Responsável de Cooperação
Paul G. Rodríguez Niño
Responsável de Institucional
Agradecimentos especiais à REDE REJINA (Rede Ibero-americana sobre Jovens
Indígenas e Afrodescendentes) por sua contribuição e apoio na elaboração do
presente documento.
Tradução:
Eurologos-Lisboa –Serviços de tradução
Certas Palavras, Lda. | www.eurologos.pt
Desenho, Diagramação e Produção:
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Distribuição:
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28001- Madrid
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JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
Centro Latinoamericano y Caribeño de Demografía (CELADE)-División de Población de la CEPAL
FABIANA DEL POPOLOMARIANA LÓPEZMARIO ACUÑA
Juventude indígena e de ascendência africana na América Latina: desigualdades socio-demográfi cas e desafi os políticos
PREÀMBULO
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 5
Este documento foi preparado no quadro de um convénio assi-nado entre a Organização Ibero-americana de Juventude (OIJ) e a Comissão Económica para a América Latina e o Caribe (CE-PAL). A sua preparação também contou com o apoio do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). A sua elaboração esteve a cargo de Fabiana Del Popolo, especialista do Cen-tro Latinoamericano e Caribenho de Demografi a (CELADE) – Divisão de População da CEPAL, Maria López e Mario Acuña, consultores da mesma divisão. O processamento das bases de micro-dados dos censos foi realizado por Mario Acuña e con-tou com o apoio de Laura García. Ana María Oyarce e Marta Rangel colaboraram com a preparação de informações para o quadro conceptual e Fernanda Stang com a edição formal do estudo.
As opiniões expressas neste documento, que não foi sujeito a revisão editorial, são da exclusiva responsabilidade dos auto-res e podem não corresponder às da CEPAL e às da OIJ.
ÍNDICE
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 7
ÍNDICE
RESUMO ........................................................................................ 17
I. Jovens indígenas e de ascendência africana na América Latina: necessidades políticas e de investigação para o cumprimento de direitos ....................................................... 21
A. Problemáticas e necessidades actuais ........................................ 22
B. Abordagem aos direitos e às normas internacionais ................ 231. Convenção sobre os Direitos da Criança ............................... 24
2. Programa de Acção Mundial para os Jovens,
das Nações Unidas ................................................................... 26
3. Convenção Ibero-americana dos Direitos
dos Jovens ................................................................................. 27
4. Conferências Ibero-americanas de Ministros
da Juventude ..... 28
5. Fórum Permanente para as Questões Indígenas ..................... 29
6. Convénio 169 da OIT sobre povos indígenas
e tribais em países independentes .......................................... 30
7. Programa de Acção da Segunda Década
Internacional dos Povos Indígenas do Mundo ...................... 30
8. Declaração das Nações Unidas sobre
os direitos dos povos indígenas ......................................... 31
9. Convenção Internacional sobre a Eliminação de
todas as Formas de Discriminação Racial (ICERD) ................ 32
10. Declaração e Plano de Acção de Durban ............................ 33
II. Quem são os jovens indígenas e de ascendência africana? Desafi os para a sua visibilidade estatística ........................................ 37
A. Diversidade cultural e construção social da juventude ............ 37
1. Funções e papéis socioculturais .............................................. 38
CEPAL/UNFPA/OIJ 8
B. A identifi cação étnica nas fontes de dados ............................ 401. Acerca das fontes e dos critérios de classifi cação .................. 43
III. Quantos são os jovens indígenas e de ascendência africana na região? Aproximações às suas características demográfi cas ........ 51
A. Volume da juventude indígena e de ascendência africana: uma dimensão quase desconhecida ............................................. 51
B. O contexto demográfi co e as particularidades socioculturais ................................................................................ 55
IV. Onde estão os jovens indígenas e de ascendência africana? Geografi a das vantagens e desvantagens .............................................. 65
A. Distribuição urbana e rural dos jovens ......................................... 65B. Têm os jovens indígenas e de ascendência africana um
padrão de localização específi ca no território nacional? ............ 70
V. Saúde reprodutiva e desigualdades étnicas: do direito aos factos .............................................................................. 81
A. O que dizem as organizações internacionais? .......................... 81B. A maternidade das jovens indígenas e de ascendência
africana: entre as desigualdades e as diferenças culturais ......... 851. A fecundidade em idades precoces .......................................... 92
C. As desigualdades perante a morte ............................................. 96
VI. Educação e língua: a desigualdade como limitação da diversidade.......................................................................................107
A. A educação e diferença cultural no direito internacional ............107B. O acesso ao sistema educativo formal e a permanência
no mesmo .....................................................................................1101. Tendências gerais .......................................................................1112. As desigualdades étnicas na educação dos jovens .............1153. As disparidades na habitação ...............................................1214. As desigualdades de género ...................................................126
C. O panorama heterogéneo entre os povos indígenas ...............132D. É possível falar de uma perda de idioma entre as
novas gerações indígenas? ..........................................................1351. A mulher e a língua original: um laço que perdura ...........1372. A preservação da língua nos contextos urbano e rural ..........141
ÍNDICE
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 9
VII. A inserção laboral dos jovens indígenas e de ascendência africana .............................................................147
A. O emprego como um direito ......................................................147B. Participação na actividade económica:
entre a desigualdade e o etnocentrismo estatístico ....................... 150C. Educação e emprego, una equação desfavorável ..........................155D. Das actividades tradicionais aos serviços ..............................160
VIII. Síntese, perguntas para linhas de investigação futuras e desafi os políticos ..................................................................171
BIBLIOGRAFIA .....................................................................................183
ANEXO ...................................................................................................195
ÍNDICE
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 10
ÍNDICE DE TABELAS
América Latina: Critérios de identifi cação da população indígena e/ou de ascendência africana nos censos, 1980-2000 ................................................ 45
América Latina (14 países): Jovens indígenas e de ascendência africana de 15 a 29 anos, censos de 2000 ............................................................ 54
América Latina: Jovens indígenas de 15 a 29 anos, de acordo com povo a que pertence, censos de 2000 .................... 56
América Latina (13 países): Jovens de 15 a 29 anos em relação ao total de cada grupo étnico, censos de 2000 ..................... 57
América Latina (13 países): Distribuição relativa de jovens de 15 a 29 anos, de acordo com os subgrupos de idades e condição étnica, censos de 2000 ........................... 61
América Latina (13 países): Índice de feminilidade dos jovens de 15 a 29 anos, de acordo com a condição étnica, censos de 2000 ........................................................... 62
América Latina (13 países): Índice de feminilidade
dos jovens de 15 a 29 anos, de acordo com a área
de residência e condição étnica, censos de 2000 .............. 68
América Latina (12 países): Distribução dos jovens
nas principais divisões administrativas maiores
(DAM), de acordo com a condição étnica,
censos de 2000 ............................................................... 72
Tabela 1
Tabela 2
Tabela 3
Tabela 4
Tabela 5
Tabela 6
Tabela 7
Tabela 8
ÍNDICE DE TABELAS
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 11
América Latina (12 países): DAM com maior peso relativo de jovens indígenas de 15 a 29 anos e percentagem de jovens indígenas em relação ao total de jovens de cada DAM, censos de 2000 ................................. 75
América Latina (13 países): Jovens que são mães, segundo os subgrupos de idades e condição étnica, censos de 2000 .............................................................. 87
América Latina (13 países): Jovens que são mães, segundo o nível educativo, a área de residência e a condição étnica, censos de 2000 .......................... 90
América Latina (12 países): Proporção de fi lhos falecidos de mães de 20 a 29 anos, de acordo com a condição étnica, área de residência e nível educativo, censos de 2000 ............................................................. 99
América Latina (12 países): Desigualdades na mortalidade dos fi lhos de mães indígenas, de ascendência africana e do resto da população, de acordo com a área de residência e o nível educativo, censos de 2000 .......................101
América Latina (13 países): População de acordo com a condição étnica, grupos de idades e nível educativo alcançado, censos de 2000 .......................................................................112
América Latina (13 países): Desigualdade geracional relativamente ao nível educativo de 7 anos de escolaridade ou mais, de acordo com condição étnica, censos de 2000 .......114
América Latina (13 países): Jovens com 7 anos de escolaridade ou mais, de acordo com a condição étnica e subgrupos de idades, censos de 2000 ..........................................................118
América Latina (13 países): Desigualdades ao nível educacional de 7 anos de escolaridade ou mais entre jovens indígenas, de ascendência africana e do resto da população, censos de 2000 ............................................................119
Tabela 9
Tabela 10
Tabela 11
Tabela 12
Tabela 13
Tabela 14
Tabela 15
Tabela 16
Tabela 17
ÍNDICE DE TABELAS
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 12
América Latina (13 países): Jovens com 13 anos de escolaridade ou mais, de acordo com a condição étnica e subgrupos de idades, censos de 2000 ......................120
América Latina (13 países): População de 15 a 29 anos com 7 anos de escolaridade ou mais, de acordo com a étnica e área de residência e desigualdade urbano-rural, censos de 2000 ..........................................................123
América Latina (13 países): Desigualdades étnicas em percentagem de jovens de 15 a 29 anos com 7 anos de estudo ou mais, de acordo com o lugar de residência, censos de 2000 ...........................................................125
América Latina (13 países): Jovens de 15 a 29 anos com 7 anos de escolaridade ou mais, de acordo com subgrupos de idades, condição étnica e género, censos de 2000 ..............128
América Latina (13 países): População indígena jovem com 7 anos de escolaridade ou mais, de acordo com o género, os subgrupos de idades e desigualdade de géneros, censos de 2000 ..............129
América Latina (países seleccionados): População de ascendência africana jovem com 7 anos de escolaridade ou mais, de acordo com o género, com os subgrupos de idades e a desigualdade de géneros, censos de 2000 ............................................................130
América Latina (13 países): Resto da população jovem com 7 anos de escolaridade ou mais, de acordo com o género, os subgrupos de idades e desigualdade de géneros, censos de 2000 ...........131
Equador e Paraguai: Jovens de 15 a 29 anos de acordo com o nível de educação alcançado e povo indígena a que pertencem, censos de 2000 ............................................................133
Bolívia e Panamá: Jovens de 15 a 29 anos de acordo com o nível de educação alcançado e povo indígena a que pertence, censos de 2000 ............................................................134
Tabela 18
Tabela 19
Tabela 20
Tabela 21
Tabela 22
Tabela 23
Tabela 24
Tabela 25
Tabela 26
ÍNDICE DE TABELAS
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 13
Chile: Jovens de 15 a 29 anos de acordo com o nível de educação alcançado e povo indígena a que pertenence, censos de 2000 ...........................................................134
América Latina (países seleccionados): Falantes da língua indígena e de castelhano, de acordo com os grupos de idades, censos de 2000 ..........................................................137
América Latina (países seleccionados): Jovens indígenas de acordo com a língua falada e o género, censos de 2000 .......................................138
América Latina (países seleccionados): População por língua falada, de acordo com o género e os grupos de idades, censos de 2000 ............................................................140
América Latina (países seleccionados): População por língua falada, de acordo com os grupos de idades e a área de residência, censos de 2000 ....................143
América Latina (13 países): Taxa de participação económica dos jovens de 15 a 29 anos, de acordo com a condição étnica e o género, censos de 2000 ............................................................153
América Latina (13 países): Taxa de participação económica dos jovens indígenas e de ascendência africana de 15 a 29 anos, de acordo com a área de residência e o género, censos de 2000 .....................155
América Latina (13 países): Distribuição dos jovens ocupados, de acordo com a condição étnica, nível educacional e área de residência, censos de 2000 ............................................................158
América Latina (12 países): Jovens de 15 a 29 anos ocupados que trabalham no serviço doméstico, de acordo com a condição étnica e género, censos de 2000 ......................................................164
Tabela 27
Tabela 28
Tabela 29
Tabela 30
Tabela 31
Tabela 32
Tabela 33
Tabela 34
Tabela 35
ÍNDICE DE TABELAS
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
ÍNDICE DE QUADROS
A incidência da dinâmica demográfi ca e o contexto sociopolítico nas mudanças de percentagem de população indígena e de ascendência africana ............................................ 52
Quadro 1
ÍNDICE DE QUADROS
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 14
CEPAL/UNFPA/OIJ 15
América Latina (11 países): Proporção da população jovem (15 a 29 anos) no que diz respeito às crianças (0 a 14 anos), de acordo com a condição étnica, censos de 2000 ............................................................ 59
América Latina (11 países): Proporção da população jovem (15 a 29 anos) no que diz respeito à pessoas de 30 a 59 anos, de acordo com a condição étnica, censos de 2000 ............................................................ 59
América Latina (13 países): Jovens de 15 a 29 anos que residem em áreas urbanas, de acordo com a condição étnica, censos de 2000 ........................................................... 67
América Latina (13 países): Jovens indígenas urbanos e população indígena urbana, censos de 2000 ........................................................... 67
América Latina (9 países): Jovens indígenas urbanos de acordo com os povos a que pertencem seleccionados, censos de 2000 ............................... 69
América Latina (13 países): Jovens de 15 a 29 anos que são mães, de acordo com a condição étnica, censos de 2000 .......................................................... 86
América Latina (13 países): Jovens de 15 a 19 anos que são mães, de acordo com a condição étnica, censos de 2000 ............................................................ 94
América Latina (países seleccionados): Jovens urbanas de 15 a 19 anos que são mães, de acordo com a condição étnica e povo indígena a que pertencem, censos de 2000... 94
Gráfi co 1
Gráfi co 2
Gráfi co 3
Gráfi co 4
Gráfi co 5
Gráfi co 6
Gráfi co 7
Gráfi co 8
ÍNDICE DE GRÁFICOS
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
ÍNDICE DE GRAFICOS
América Latina (países seleccionados): Jovens rurais de 15 a 19 anos que são mães, de acordo com a condição étnica e povo indígena a que pertencem, censos de 2000 ........................................................... 95
América Latina (12 países): Filhos falecidos de mães jovens urbanas de 20 a 29 anos, de acordo com a condição étnica, censos de 2000 ..........................................................102
América Latina (12 países): Filhos falecidos de mães jovens rurais de 20 a 29 anos, de acordo com a condição étnica, censos de 2000 .........................................................102
América Latina (12 países): Filhos falecidos de mães jovens indígenas de 20 a 29 anos com 7 anos de estudos ou mais, de acordo com a residência, censos de 2000 ............................102
América Latina (13 países): Taxa de participação económica dos jovens, de acordo com a condição étnica, censos de 2000 ...................................151
América Latina (13 países): Jovens ocupados com menos de 7 anos de escolaridade, de acordo com a condição étnica, censos de 2000 ...........................................................157
América Latina (13 países): Distribuição dos jovens rurais ocupados, de acordo com o sector de actividade económica e condição étnica, censos de 2000 ......................................................... 162
América Latina (13 países): Distribuição dos jovens urbanos ocupados, de acordo com o sector da actividade económica e condição étnica, censos de 2000 ......................................................... 162
América Latina (13 países): Jovens (15 a 29 anos) e adultos (30 a 59 anos) urbanos assalariados, de acordo com a condição étnica, censos de 2000 ...........................................................166
América Latina (13 países): Jovens (15 a 29 anos) e adultos (30 a 59 anos) rurais assalariados, çde acordo com a condição étnica, censos de 2000 ............................................................167
Gráfi co 9
Gráfi co 10
Gráfi co 11
Gráfi co 12
Gráfi co 13
Gráfi co 14
Gráfi co 15
Gráfi co 16
Gráfi co 17
Gráfi co 18
ÍNDICE DE GRÁFICOS
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 16
CEPAL/UNFPA/OIJ 17
O documento apresenta um panorama das dinâmicas populacionais
dos jovens indígenas e de ascendência africana da América Latina,
tanto em termos demográfi cos como da sua distribuição territorial,
apresentando, além disso, a sua situação em relação à saúde repro-
dutiva, à educação e ao emprego. Este primeiro diagnóstico regional
evidencia as fortes desigualdades que colocam em desvantagem estes
jovens, bem como as desigualdades entre os países e entre as respec-
tivas regiões, e permite afi rmar que estes resquícios constituem um
problema inadiável e para cuja resolução deverá haver toda a vonta-
de política dos Estados.
Um pequeno capítulo de introdução apresenta as normas e princípios
internacionais de direito relevantes para os jovens indígenas e de as-
cendência africana, enquanto o segundo capítulo aborda os desafi os
conceptuais e metodológicos que a identifi cação étnica implica, fa-
zendo um levantamento dos progressos regionais a este respeito. O
terceiro capítulo faz uma aproximação à quantifi cação dos jovens
indígenas e de ascendência africana na América Latina e a sua com-
posição por idades e género; o quarto ocupa-se da sua distribuição
territorial, tentando encontrar padrões específi cos de localização. As
desigualdades étnicas em termos de saúde reprodutiva constituem o
campo temático do quinto capítulo, sublinhando as desigualdades
estruturais e as diferenças culturais que perpassam esta dimensão.
Os capítulos quinto e sexto explicitam as desigualdades em maté-
ria educativa e laboral que afectam os jovens destes grupos étnicos,
como duas áreas prioritárias de inserção social. A temática da perda
das línguas originais também tem o seu espaço nesta última parte. O
capítulo fi nal apresenta uma síntese dos resultados do estudo, sugere
linhas de investigação futuras e enfatiza os desafi os políticos.
RESUMORESUMO
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
I. Jovens indígenas e de ascendência africana na América Latina: necessidades políticas e de investigação para o cumprimento de direitos
CEPAL/UNFPA/OIJ 21
1 Daqui em diante utilizar-se-á
a forma genérica masculina
«os jovens» para aludir tanto
às mulheres como aos homens
deste grupo etário, com o
propósito de facilitar a fl uidez
da leitura.
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
Na América Latina e no Caribe convivem grupos jovens muito he-
terogéneos em termos territoriais, demográfi cos, sociais e culturais.
Ainda que a informação disponível seja fragmentária, é possível
afi rmar que persistem fortes desigualdades na região que colocam
em desvantagem as jovens e os jovens indígenas e de ascendência
africana. Em particular, a juventude indígena constitui o grupo mais
vulnerável dentro do seu povo, o que é preocupante porque os seus
jovens distanciam-se da sua própria cultura e, em simultâneo, sofrem
a rejeição do resto da sociedade. A situação não é muito diferente
para a juventude de ascendência africana quanto à exclusão e discri-
minação étnico-racial que sofre.
Um dos principais problemas que é preciso enfrentar no que toca
ao desafi o de desenvolver políticas para concretizar os direitos das
jovens e dos jovens indígenas e de ascendência africana é a falta de
informação sistemática e de qualidade.1 Esta constitui uma exigência
recorrente por parte dos governos, das organizações indígenas e de
ascendência africana, bem como dos organismos internacionais pelo
seu carácter de ferramenta técnica fundamental e pela sua inegável
componente política.
A principal limitação para atender a estas exigências é a falta de
identifi cação étnica nas diferentes fontes de dados. Felizmente, nos
I. Jovens indígenas e de ascendência africana na América Latina: necessidades políticas e de investigação para o cumprimento de direitos
JOVENS INDÍGENAS E DE ASCENDÊNCIA AFRICANA NA AMÉRICA LATINA: NECESSIDADES POLÍTICAS E DE INVESTIGAÇÃO PARA O CUMPRIMENTO DE DIREITOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 22
censos de 2000, a maioria dos países da região inclui pelo menos
uma pergunta deste tipo, criando assim uma oportunidade estatística
notável para avançar na visualização das condições de vida destes
grupos. O censo constitui de momento uma fonte importante que,
pelo seu carácter universal, permite obter indicadores inclusivamente
para populações minoritárias pelo seu volume populacional (o que
não impede que, em alguns países, os povos indígenas ou os de as-
cendência africana representem claras maiorias), bem como para
realizar desagregações geográfi cas e socioeconómicas de interesse.
Contudo, também se reconhece que o censo impõe certas restrições
para a abordagem e aprofundização de temas relacionados com o
desenvolvimento.
Contudo, este documento — de carácter inédito — pretende pro-
porcionar um panorama das dinâmicas populacionais dos jovens in-
dígenas e de ascendência africana, tanto em termos demográfi cos
como da sua distribuição territorial, apresentando, além disso, a sua
situação em relação à saúde reprodutiva, à educação e ao emprego,
estas duas últimas como áreas essenciais para a inserção social. Ao
longo do trabalho dar-se-á conta das desigualdades étnicas, de géne-
ro e de geração. Mesmo assim, cada um dos temas abordados criará
interrogações para linhas de investigação futuras — aproveitando,
inclusivamente, os censos, dado que o seu potencial não se esgota
neste estudo — bem como para desafi os políticos.
Finalmente, espera-se que através dos censos de 2010 se possa fazer
uma análise das mudanças de situação dos jovens indígenas e de
ascendência africana, tomando como ponto de partida os resultados
alcançados no presente trabalho.
A. Problemáticas e necessidades actuais
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) descreveu a
adolescência como uma época de grandes mudanças para as crian-
ças, como um processo de independência emocional e psicológica,
de adaptação à sexualidade e de defi nição do papel na sociedade
(López, 2004).
Os jovens de ascendência africana e os indígenas são marginaliza-
dos, sofrem com as desigualdades e a pobreza e, em muitas ocasiões,
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
JOVENS INDÍGENAS E DE ASCENDÊNCIA AFRICANA NA AMÉRICA LATINA: NECESSIDADES POLÍTICAS E DE INVESTIGAÇÃO PARA O CUMPRIMENTO DE DIREITOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 23
2 Esta situação é muito bem
descrita no trabalho «Juventud
indígena: en el limbo genera-
cional y a exclusión sociocul-
tural (el caso Chiapas)», de
Alianza Cívica Chiapas, Peace
Watch Suiza e Propaz Suiza–
Chiapas, publicado em 2007.
enfrentam ainda uma complexa problemática social própria.2 Por
exemplo, muitos jovens indígenas não têm acesso à terra nas suas
comunidades, não estão autorizados a participar em espaços de deci-
são, apresentam níveis elevados de analfabetismo (real ou funcional),
têm um acesso limitado à educação (de baixa qualidade e totalmente
alheia à sua identidade), com uma escassa preparação para o mundo
laboral e com poucas possibilidades de emprego digno.
Frequentemente, os jovens indígenas sentem-se discriminados no que
diz respeito à sua própria identidade e, paralelamente, excluídos da
cultura capitalista urbana. Os jovens de ascendência africana, por seu
lado, habitantes principalmente no meio urbano, sofrem diariamente
uma discriminação racial estrutural que se expressa tanto na pobreza
como na violência de que padecem e que, em muitos casos, termina
com as suas vidas. As organizações de jovens indígenas e de ascen-
dência africana indicam que estão a viver uma tripla exclusão: étnica
(por serem indígenas ou de ascendência africana), de classe (por se-
rem pobres) e geracional (por serem jovens), que se torna quadrupla
caso de trate de mulheres, pois elas também sofrem uma exclusão de
género.
A nível nacional, regional e internacional começaram a consolidar-se
organizações e redes de jovens indígenas e de ascendência africana.
Algumas surgem dentro das organizações já estabelecidas e outras
formaram-se de forma independente. Os grupos de jovens indígenas,
em linhas gerais, consideram que neles recai a responsabilidade de
continuarem com a cultura e a organização e, por outro lado, real-
çam a pouca «formação e o acompanhamento adequados dos diri-
gentes» e exigem programas de liderança, de formação e uma maior
participação nos espaços de decisão (ONIC, 2007). O combate à dis-
criminação racial e a aplicação de políticas de acção afi rmativa são,
por outro lado, as preocupações centrais dos jovens de ascendência
africana.
B. Abordagem aos direitos e às normas internacionais
A abordagem baseada nos direitos humanos é, por defi nição, inter-
cultural e implica — entre outras questões — reconhecer os povos
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3 Podem referir-se, por exem-
plo, à protecção da cultura ou
do património cultural, a língua
e a cosmovisão de um povo.
indígenas e de ascendência africana como titulares de direitos, iden-
tifi car quem detém deveres e abordar as desigualdades de poder, a
discriminação e a exclusão. Além disso, coloca a questão da necessi-
dade de estabelecer mecanismos de participação para os titulares de
direitos e os responsáveis de deveres nas diversas etapas da progra-
mação (UNDG, 2003).
A aplicação da abordagem dos direitos humanos no que diz respeito
aos processos de desenvolvimento é uma exigência particularmente
importante para as organizações indígenas e de ascendência africa-
na, que reclamam um desenvolvimento com identidade, baseado em
normas e princípios internacionais, como a recentemente aprovada
Declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas.
Nesta declaração, sublinha-se o reconhecimento dos direitos colecti-
vos:3 os direitos, precisamente, dos «povos indígenas» ou das «crian-
ças indígenas». Sendo ambos direitos humanos, os direitos individu-
ais e os colectivos não só são compatíveis como também se podem
reforçar reciprocamente. A salvaguarda dos direitos e do bem-estar
de qualquer grupo é a base para a realização dos direitos dos seus
membros considerados individualmente (Centro de Investigações In-
nocenti, 2004).
A partir da declaração do Ano Internacional da Juventude, em 1985,
os assuntos relativos a este grupo etário começaram a ganhar maior
visibilidade a nível internacional. Paralelamente, as questões relativas
aos povos indígenas e de ascendência africana também se tornaram
mais notórias, pelo que se começou a prestar especial atenção à situ-
ação das crianças e dos jovens indígenas e de ascendência africana.
Em seguida apresentam-se algumas normas e princípios internacio-
nais especialmente relevantes para os jovens indígenas e de ascen-
dência africana em particular, que representam a base de uma abor-
dagem pelos direitos humanos. Em primeiro lugar, enumeram-se os
instrumentos importantes para os jovens em geral, em seguida os que
dizem respeito especialmente aos indígenas e, fi nalmente, os perti-
nentes para os jovens de ascendência africana
1. Convenção sobre os Direitos da Criança
Adoptada em 1989, esta convenção faz especial referência à par-
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ticular situação das crianças e dos adolescentes indígenas. Além
disso, estabelece que os direitos enunciados deverão ser aplicados
a todas as crianças «independentemente da raça, cor, sexo, língua,
religião, opinião política ou de outra índole, origem nacional, étnica
ou social, posição económica, impedimentos físicos, nascimento ou
qualquer outra condição da criança, dos seus pais ou dos seus repre-
sentantes legais» (artigo 2).
Este instrumento estabelece quatro princípios muito relevantes para
a realidade dos povos indígenas e de ascendência africana: a não
discriminação; o interesse superior de cada criança; o direito à vida,
à sobrevivência e ao desenvolvimento e o direito a opinar livremente.
O termo «criança» engloba os menores de 18 anos.
Vários artigos da convenção fazem referência explícita à especial si-
tuação das crianças e dos adolescentes indígenas, como o 17, o 29
e o 30. Este último estipula especifi camente que: «Nos Estados em
que existam minorias étnicas, religiosas ou linguísticas, ou pessoas
de origem indígena, não se negará a uma criança que pertença a
tais minorias ou que seja indígena o direito que lhe corresponde, tal
como aos restantes membros do seu grupo, de ter a sua própria vida
cultural, a professar e a praticar a sua própria religião ou a empregar
a sua própria língua».
O artigo 17, relativo ao direito à informação, destaca a importân-
cia do apoio à diversidade linguística, reconhece o rol dos meios
de comunicação e exige que os Estados Parte encorajem os meios
de comunicação «a terem particularmente em conta as necessidades
linguísticas da criança (…) indígena».
Actualmente, o artigo 29 assinala que os Estados Parte devem promo-
ver uma educação que prepare a criança «para assumir uma vida res-
ponsável numa sociedade livre, com espírito de compreensão, paz,
tolerância, igualdade entre sexos e amizade entre todos os povos,
grupos étnicos, nacionais e religiosos e pessoas de origem indígena».
Adicionalmente, estabelece que a educação deverá estar orientada
de forma a «[i]nculcar na criança o respeito pelos seus pais, pela sua
própria identidade cultural, pelo seu idioma e pelos seus valores, pe-
los valores nacionais do país em que vive, do país donde é originário
e das civilizações diferentes da sua».
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2. Programa de Acção Mundial para os Jovens das Nações Unidas
A necessidade de instituir uma protecção especial para os jovens in-
dígenas e de ascendência africana reconheceu-se também no Progra-
ma de Acção Mundial para os Jovens até ao ano 2000 e anos subse-
quentes (A/RES/50/81), que foi aprovado pela Assembleia Geral das
Nações Unidas em 1995 (Organização das Nações Unidas, 1996).
Como parte do Programa Mundial de Acção, em 1996 teve lugar
em Manila a Olimpíada Cultural Mundial Indígena e Juvenil. A De-
claração de Manila, aprovada na reunião, confi rmou que os jovens
indígenas têm o direito de participar em todos os aspectos da vida
social, económica, política, educativa, cultural, espiritual e moral da
sociedade em que vivem.
Como princípio, o Programa de Acção estabelece que todos os jovens
«aspiram aos direitos humanos e às liberdades fundamentais sem dis-
tinção em termos de raça, sexo, idioma, religião e sem qualquer ou-
tra forma de discriminação» (parágrafo 5, alínea e). Vários dos seus
artigos são especialmente relevantes para os jovens indígenas e de
ascendência africana, que são considerados como um «grupo de jo-
vens em circunstâncias especialmente difíceis».
Há referências explícitas aos jovens indígenas na área da educação,
considerando a escassez de oportunidades de ensino, a necessidade
de desenvolver conhecimentos interculturais e a importância da par-
ticipação dos jovens em geral na conservação do património cultural
das suas sociedades (parágrafos 21, 25 e 26).
O Programa de Acção tenta chamar a atenção de forma urgente
para a situação dos jovens indígenas em relação ao desemprego e
ao subemprego, ressaltando a proibição dos trabalhos forçados e do
trabalho infantil. Face a esta situação, indicam-se como linhas de
acção: a formação especializada para criar rendimento, a melhoria
dos sistemas de produção e comercialização agrícola, a obtenção de
segurança alimentar, a doação de terras acompanhada de assistência
fi nanceira, técnica e de capacitação e a cooperação entre a juventude
urbana e rural na produção e distribuição de alimentos (parágrafos
33, 36, 45 e 47).
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3. Convenção Ibero-americana dos Direitos dos Jovens
Constitui um tratado internacional de direitos humanos que foi assi-
nado no dia 11 de Outubro de 2005 na cidade espanhola de Bada-
joz, e cuja aplicação está circunscrita aos 22 países que compõem a
comunidade ibero-americana de nações. Trata-se de um acordo de
carácter vinculativo, que estabelece o compromisso dos Estados em
implementar no plano nacional os direitos consagrados no mesmo.
Benefi cia a população iberoamericana entre os 15 e os 24 anos.
A convenção no seu conjunto é um instrumento muito importante
para os jovens indígenas e de ascendência africana, dado que repre-
senta o primeiro tratado internacional que se refere exclusivamente
aos jovens.
Entre alguns dos pontos relevantes, o instrumento estabelece o prin-
cípio da não discriminação com base na «raça, cor, origem nacional,
pertença a uma minoria nacional, étnica ou cultural, género, orien-
tação sexual, língua, religião, opiniões, condição social, aptidões fí-
sicas ou incapacidade, o lugar onde se vive, os recursos económicos
ou qualquer outra condição ou circunstância pessoal ou social do
jovem que pudesse ser invocada para estabelecer discriminações que
afectem a igualdade de direitos e as oportunidades de desfrutar dos
mesmos» (artigo 5).
Para os jovens indígenas e de ascendência africana é particularmen-
te importante o artigo 14, que estabelece que todos os jovens têm
direito a ter a sua própria identidade «tendo em conta as suas espe-
cifi cidades e características de género, nacionalidade, etnia, fi liação,
orientação sexual, crença e cultura». Além disso, obriga os Estados
Parte a promover o respeito pela identidade dos jovens, a garantir a
sua livre expressão e a velar pela erradicação da discriminação.
No que diz respeito ao direito à educação, a convenção defi ne que
os Estados devem fomentar — entre outras questões — a prática de
valores, a interculturalidade, o respeito pela culturas étnicas e o aces-
so generalizado às novas tecnologias. Além disso, identifi cam-se a
aceitação da diversidade, a tolerância e a equidade de género como
aspectos chave a desenvolver nos educandos (artigo 22, alínea 4).
O respeito pela diversidade cultural, o intercâmbio e a integração
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cultural entre os jovens e o fomento e protecção das culturas autóc-
tones são estabelecidos nos artigos 24 e 32. Nas áreas dos direitos à
justiça, à saúde e a um ambiente saudável não se mencionam expli-
citamente os jovens indígenas e/ou de ascendência africana. Estes
âmbitos são considerados essenciais pelo movimento e pelas orga-
nizações de jovens, que defi niram exigências e propostas específi cas
relacionadas com os mesmos.
A convenção entrou em vigor no dia 1 de Março de 2008. Até ao mo-
mento foi ratifi cada por sete países: Costa Rica, Equador, Honduras,
República Dominicana, Espanha, Uruguai e o Estado Plurinacional
da Bolívia. Para a monitorização, cada país deve enviar para a Secre-
taria-Geral da Organização Ibero-americana de Juventude (OIJ) um
relatório semestral sobre o estado da aplicação dos compromissos.
A OIJ é um organismo internacional de carácter governamental criado
para «promover o diálogo, os acordos e a cooperação em matéria de
juventude entre os países ibero-americanos» (online em http://www.
oij.org/). Actualmente é composta pelos seguintes países membros:
Argentina, Estado Plurinacional da Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia,
Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Espanha, Guatemala, Hondu-
ras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Portugal, República
Dominicana, Uruguai e República Bolivariana da Venezuela.
4. Conferências Ibero-americanas dos Ministros da Juventude
Realizam-se desde 1987 e nelas reúnem-se ministros e ministras da
juventude dos países membros da OIJ para o desenvolvimento de
acções de cooperação em matéria de políticas públicas dirigidas aos
jovens. Um dos objectivos das conferências tem sido a reactivação e
o estabelecimento das instituições ofi ciais responsáveis pelo tema da
juventude na Ibero-América.
A particular situação dos jovens indígenas e de ascendência africa-
na começou a ser tida em conta nestes processos. Por exemplo, na
declaração fi nal da décima primeira conferência menciona-se espe-
cifi camente a necessidade de prestar atenção à inclusão social e eco-
nómica dos jovens rurais e ao apoio, a partir do valor da intercultura-
lidade, às iniciativas e manifestações culturais dos jovens indígenas.
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5. Fórum Permanente para as Questões Indígenas
Desde a sua primeira sessão, em 2002, expressou a sua profunda
preocupação pelos problemas específi cos e pela discriminação que
enfrentam as crianças e jovens indígenas, particularmente no que se
refere à educação, saúde, cultura, pobreza extrema, mortalidade, en-
carceramento e trabalho.
Em 2003, o Fórum dedicou a sessão às crianças e jovens indígenas,
adoptando recomendações específi cas dirigidas aos Estados, ao sis-
tema das Nações Unidas e aos organismos intergovernamentais. Du-
rante as sessões de 2004 e 2005, consagradas às mulheres indígenas e
aos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio 1 e 2 — «erradicar a
pobreza extrema e a fome» e «alcançar o ensino primário universal»
—, também se fi zeram recomendações relativas às crianças e jovens,
reafi rmando a importância que o Fórum dá ao acompanhamento des-
te tema.
No seu papel ofi cial de assessoria e aconselhamento ao Conselho
Económico e Social (ECOSOC), ao sistema das Nações Unidas em
geral, aos governos e a outras entidades, o Fórum Permanente tenta
promover a tomada de consciência e contribuir para a melhoria da
situação dos jovens indígenas através das acções que recomenda e
coordena.
As suas recomendações relativas aos jovens indígenas baseiam-se nos
seguintes pontos chave:
• Consentimento livre, prévio e informado.
• Recolha e desagregação de dados estatísticos.
• Programas e políticas específi cas.
• Acesso e conhecimento de mecanismos internacionais de
direitos humanos e procedimentos nacionais.
• Educação intercultural bilingue.
• Criação de espaços de capacitação.
• Participação efectiva a nível local, nacional e internacional.
• Programas holísticos e integrais de saúde.
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6. Convénio 169 da OIT sobre povos indígenas e tribais
em países independentes
Até à data é o único instrumento com obrigatoriedade jurídica do
direito internacional que se ocupa exclusivamente dos direitos dos
povos indígenas. Foi aprovado em 1989 e foi ratifi cado por 20 países
(online em http://www.unhchr.ch/spanish/html/menu3/b/62_sp.htm).
O Convénio 169 estabelece o respeito pelas culturas e pelo direito
consuetudinário dos povos indígenas e tribais. Reconhece o direito a
participar nos processos de tomada de decisões e sublinha explicita-
mente a importância da terra para os povos indígenas e do seu direito
a participar no uso, na administração e na conservação dos recursos
naturais.
Ainda que não mencione especifi camente os jovens, o convénio con-
tém duas disposições que se referem explicitamente às crianças, rela-
tivamente à educação e à língua como elementos chave para o desen-
volvimento de uma sociedade multicultural. O artigo 28 estabelece
que, sempre que seja viável, deverá ensinar-se as crianças indígenas
a ler e a escrever na sua própria língua indígena, ou na língua mais
utilizada no grupo a que pertencem.
7. Programa de Acção da Segunda Década Internacional
dos Povos Indígenas do Mundo
Em 2005, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o período
de 2005 a 2015 como a Segunda Década Internacional dos Povos
Indígenas do Mundo (Nações Unidas, 2005f). De acordo com o tex-
to da resolução, a sua meta principal é «o fortalecimento da coo-
peração internacional para a solução dos problemas que enfrentam
os povos indígenas nas esferas da cultura, educação, saúde, direitos
humanos, meio ambiente e desenvolvimento social e económico».
Para tal, promovem-se programas orientados para a acção e projectos
específi cos, uma maior assistência técnica e a adopção das activida-
des normativas pertinentes. Após um processo de consulta e debate
com o sistema das Nações Unidas, os governos e as organizações
indígenas, elaborou-se um plano de acção para a Segunda Década,
cujo quadro temporal de aplicação coincide com o dos Objectivos de
Desenvolvimento do Milénio (Nações Unidas, 2005e, parágrafos 5 a
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8). Além disso, tal como para a Primeira Década, estabeleceu-se um
Fundo para o fi nanciamento de pequenos projectos de organizações
indígenas.
A preocupação pelos jovens indígenas expressa-se num dos cinco ob-
jectivos sugeridos para a Década, que defi ne «a adopção de políticas,
programas, projectos e pressupostos que tenham objectivos especí-
fi cos para o desenvolvimento dos povos indígenas, com a inclusão
de parâmetros concretos e insistindo em particular nas mulheres, nas
crianças e nos jovens indígenas».
No Programa de Acção da Segunda Década, os jovens indígenas são
especialmente mencionados no âmbito da saúde, estabelecendo-se
que «os direitos humanos fundamentais e as necessidades básicas
na esfera da saúde das crianças, jovens e mulheres indígenas têm a
máxima prioridade e isto deve-se reconhecer e fomentar mediante a
criação de centros de coordenação ou comités em cada organismo,
organização ou instituição, incluindo a participação plena e efectiva
das mulheres e dos jovens indígenas na planifi cação, execução, su-
pervisão e avaliação das iniciativas» (parágrafo 40).
Além disso, o Programa de Acção insta todos os agentes pertinentes a
que, através de uma estreita associação com os povos indígenas, re-
solvam problemas sanitários como as práticas culturais que têm con-
sequências negativas para a saúde — especialmente relevante para os
jovens —, como a mutilação genital feminina, o matrimónio de me-
nores, a violência contra mulheres, jovens e crianças e o alcoolismo.
8. Declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos povos
indígenas
Foi adoptada pela Assembleia Geral a 13 de Setembro de 2007, com
144 votos a favor, 4 contra e 11 abstenções. Os seus 46 artigos fazem
parte de um instrumento de direitos humanos de importância funda-
mental, no qual se reconhecem os direitos individuais e colectivos
dos povos indígenas a viver com dignidade, a manter e fortalecer as
suas próprias instituições, bem como a sua cultura e identidade.
Apesar de nesta secção se sublinharem os pontos especialmente re-
levantes para os jovens indígenas, a declaração no seu conjunto é
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um passo fundamental para o reconhecimento e exercício dos seus
direitos.
O instrumento estabelece que as crianças e jovens indígenas têm di-
reito a uma educação nas suas próprias línguas e em consonância
com os seus próprios métodos culturais de ensino e aprendizagem.
Em simultâneo, defi ne-se o direito de acesso a todos os níveis e for-
mas de educação do Estado sem discriminação (artigo 14). Na área
do trabalho e do emprego, fundamental para os jovens, estabelece-se
o exercício do direito laboral internacional e nacional aplicável, a
protecção face à exploração económica e contra todo o trabalho que
possa ser perigoso, bem como a não discriminação no emprego ou
no salário (artigo 17).
Os artigos 21 e 22 prestam especial atenção aos jovens, defi nindo
a necessidade de os Estados adoptarem medidas efi cazes e, quando
necessário, medidas especiais para assegurar a melhoria contínua das
suas condições económicas e sociais.
9. Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação Racial (ICERD)
Foi adoptada pela Assembleia Geral na sua resolução 2106 A (XX), no
dia 21 de Dezembro de 1965, e entrou em vigor no dia 4 de Janeiro
de 1969. Esta convenção é particularmente importante porque parte
da base de que «toda a doutrina de superioridade baseada na dife-
renciação racial é cientifi camente falsa, moralmente condenável e
socialmente injusta e perigosa, e de que nada na teoria ou na prática
permite justifi car, em nenhuma parte, a discriminação racial».
Apesar de não prestar particular atenção aos jovens, é muito relevan-
te porque, pela primeira vez, se coloca a necessidade de acções afi r-
mativas, ao estabelecer-se que «as medidas especiais adoptadas com
o fi m exclusivo de assegurar o adequado progresso de certos grupos
raciais ou étnicos ou de certas pessoas que requerem a protecção que
possa ser necessária com o objectivo de lhes garantir, em condições
de igualdade, o usufruto ou exercício dos direitos humanos e das li-
berdades fundamentais não se consideram medidas de discriminação
racial, sempre que não conduzam, como consequência, à manuten-
ção de direitos diferentes para os diferentes grupos raciais e que não
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se mantenham em vigor depois de alcançados os objectivos para os
quais foram tomadas» (artigo 1.4).
10. Declaração e Plano de Acção de Durban
Surgem como resultado da Conferência Mundial contra o Racismo, a
Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Conexas de Intolerância,
que teve lugar em Durban (África do Sul), de 31 de Agosto a 8 de
Setembro de 2001.
Estes dois instrumentos são muito relevantes para a luta contra a dis-
criminação racial e por motivos étnicos. Também prestam particular
atenção à situação dos jovens: no parágrafo 72 da declaração, por
exemplo, observa-se «com preocupação o grande número de meno-
res e jovens, particularmente raparigas, que fi guram entre as vítimas
do racismo, da discriminação racial, da xenofobia e das formas cone-
xas de intolerância», e destaca-se «a necessidade de incorporar medi-
das especiais de conformidade com o princípio do interesse superior
da criança e o respeito pelas suas opiniões nos programas contra o
racismo, a discriminação racial, a xenofobia e as formas conexas de
intolerância, de forma a prestar atenção prioritária aos direitos e à
situação dos menores e dos jovens que são vítimas dessas práticas».
Por sua vez, o Programa de Acção pede aos Estados, no artigo 9,
«que reforcem as medidas e políticas públicas a favor das mulheres
e dos jovens de ascendência africana, tendo em conta que o racismo
os afecta mais profundamente e colocando-os em situação de maior
marginalização e desvantagem».
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JOVENS INDÍGENAS E DE ASCENDÊNCIA AFRICANA NA AMÉRICA LATINA: NECESSIDADES POLÍTICAS E DE INVESTIGAÇÃO PARA O CUMPRIMENTO DE DIREITOS
II. Quem são os jovens indígenas e de ascendência africana? Desafi os para a sua visibilidade estatística
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QUEM SÃO OS JOVENS INDÍGENAS E DE ASCENDÊNCIA AFRICANA? DESAFIOS PARA A SUA VISIBILIDADE ESTATÍSTICA
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DESIGUALDADES
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A. Diversidade cultural e construção social da juventude
O conceito de «juventude» não deve ser apenas associado a um
estado de desenvolvimento biológico dos indivíduos ou à etapa de
transição entre a infância e a vida adulta. As sociedades e as culturas
atribuem-lhe diversos signifi cados, a partir dos quais organizam práti-
cas e associam certos direitos, obrigações e habilidades.
A transição entre a infância e a vida adulta tem uma base biológica
relacionada com o processo de maturação sexual e o desenvolvi-
mento corporal. Contudo, as diversas sociedades e culturas conferem
diferentes signifi cados a estas mudanças e desenvolvem rituais que
marcam os seus limites. O que se entende por juventude sofre cons-
tantes alterações e tem uma diferente duração e consideração social.
Portanto, neste documento, assumir-se-á a perspectiva antropológica
que a defi ne como uma «construção social», relativa no tempo e no
espaço.
Nem todas as sociedades reconhecem um estado nitidamente dife-
renciado entre uma criança e um adulto. É por isso, por exemplo,
que vários investigadores já se interrogaram se existe de facto juven-
tude indígena e rural (Ortiz Marín, 2002). Apesar desta discussão,
II. Quem são os jovens indígenas e de ascendência africana? Desafi os para a sua visibilidade estatística
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QUEM SÃO OS JOVENS INDÍGENAS E DE ASCENDÊNCIA AFRICANA? DESAFIOS PARA A SUA VISIBILIDADE ESTATÍSTICA
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o movimento indígena da América Latina reconhece o conceito de
juventude indígena e há vários anos que se começou a formar um
movimento próprio de jovens indígenas, com exigência e propostas
específi cas.
É necessário considerar a juventude indígena e de ascendência africa-
na dentro da complexa rede de relações sociais existente. Os jovens
não podem ser entendidos à margem da sociedade, encontram-se
inseridos em relações e interacções e distinguem-se de outros grupos
de idade por certas normas, comportamentos, sentidos e ritos parti-
culares.
Portanto, não é possível defi nir os jovens somente com base em con-
dições biológicas ou psicológicas, ou a partir de intervalos de idade
predeterminados — ainda que isto possa ser válido dum ponto de
vista metodológico. Por exemplo, o termo «crianças» é estabelecido
mundialmente a partir da Convenção sobre os Direitos da Criança
(1989), que considera como tais os menores de 18 anos. Por seu lado,
a Convenção Ibero-americana dos Direitos dos Jovens (2005) defi ne
como jovens «todas as pessoas (…) entre os 15 e os 24 anos de idade»
(OIJ, 2005, artigo 1). Se bem que estas pontualizações são úteis para
fi ns práticos, não se deve perder de vista a impossibilidade de encon-
trar uma defi nição unívoca de juventude.
1. Funções e papéis socioculturais
Desde tenra idade que as crianças indígenas se integram, na medida
das suas possibilidades, em actividades que desempenham os adul-
tos. Desta forma, por intermédio de jogos, imitando e colaborando,
aprendem a ser membros da família e da comunidade da qual fa-
zem parte e, portanto, «aprendem as diversas manifestações da sua
identidade». Em linhas gerais, o processo de socialização primária
conjuga-se com a incorporação no sistema produtivo familiar e co-
munal (López, 2004).
Ser «jovem» numa comunidade indígena signifi ca assumir papéis e
funções socioculturalmente determinados que, em geral, se traduzem
em responsabilidades. Como mecanismo ancestral de socialização,
os jovens têm que trabalhar desde muito novos, ajudando os seus
CEPAL/UNFPA/OIJ 39
4 Pode ver-se uma descrição
detalhada do rito em D. De
Landa (s/f), Relación de las co-
sas de Yucatán, [online] http://
www.wayeb.org/download/
resources/landa.pdf.
5 Para obter mais informações,
é possível consultar a tese de
Carolina Remorini: Aporte a ca-
racterización etnográfi ca de los
procesos de salud-enfermedad
en las primeras etapas del ciclo
vital, en comunidades Mbya-
Guarani de Misiones, República
Argentina, LaAlata, Facultad de
Ciencias Naturales e Museo,
2008, número de tese: 0960.
QUEM SÃO OS JOVENS INDÍGENAS E DE ASCENDÊNCIA AFRICANA? DESAFIOS PARA A SUA VISIBILIDADE ESTATÍSTICA
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pais nos afazeres do local onde vivem, nos cultivos, no cuidado dos
animais, na pesca ou noutro tipo de actividades que sustentem a fa-
mília. Outra manifestação desta forma de socialização é a união em
matrimónio, através da qual adquirem as responsabilidades que im-
plica formar uma família. Estas realidades apresentam-se também em
alguns grupos de ascendência africana.
Em muitos dos povos indígenas, passar de um estado para o outro do
ciclo da vida é evidente e, frequentemente, é limitado por ritos de
passagem ou de iniciação. Por exemplo, os maias da península de
Iucatão tinham uma cerimónia que se denominava EmKu (Descida
de Deus); nela eram retiradas as contas que os jovens tinham atadas
à cintura como símbolo de virgindade e, a partir desse momento,
podiam casar-se com quem os seus pais escolhessem.4
Entre os Mbyá Guaraní que habitam na província de Misiones, na
Argentina, ao chegarem à adolescência, os rapazes e as raparigas são
designados por iñe’enguchu e iñe’engue respectivamente. No caso
dos rapazes, a transição está assinalada pela mudança da voz e, nas
mulheres, pela primeira menstruação, à qual se segue um período de
repouso e reclusão. Em ambos os casos, os jovens recebem dos seus
parentes um conjunto de conselhos relacionados com os seus futuros
papéis como adultos. Às mulheres, além disso, corta-se o cabelo e
aplicam-se pinturas faciais elaboradas com mel de abelha. Estas prá-
ticas ainda se mantêm em muitas aldeias Mbyá, estando a diferença
no ritual de iniciação masculina, representado pela perfuração do
lábio inferior e a colocação da tembetá, que já não se realiza há algu-
mas décadas. Tanto as mulheres como os homens estão em condições
de se casar ou de arranjar companhia sempre que demonstrem aos
seus pais e sogros responsabilidade e habilidade para desempenhar
as tarefas atribuídas como futuros esposos. Só a partir do nascimen-
to do primeiro fi lho, homens e mulheres são denominados de karai
e kuña karai respectivamente, termos que signifi cam «adulto/a» ou
«senhor/a».5
As mudanças socioculturais, económicas, políticas e territoriais que
os povos indígenas e de ascendência africana estão a viver actual-
mente têm também impacto nas funções e signifi cados da juventude.
O acesso às vias e meios de comunicação e transporte, a infl uência
da escolarização, a alfabetização e o ensino do castelhano, a abertu-
ra a diversas actividades laborais e a migração fazem, por exemplo,
CEPAL/UNFPA/OIJ 40
6 Este documento não pretende
entrar num debate conceptual
sobre o que é étnico, indígena
ou de ascendência africana.
Para uma discussão pormenori-
zada deste tema e sua relação
com a inclusão destes assuntos
nas bases de dados, consulte
Schkolnik e Del Popolo (2005)
e Del Popolo (2008a).
com que as grandes diferenças entre os jovens rurais e os urbanos
se diluam. As transformações e o acesso aos meios de comunicação
promovem uma maior convivência e intercâmbio de ideias, práticas e
conhecimentos entre jovens de contextos muito diversos.
Os jovens indígenas e de ascendência africana encontram-se hoje no
centro de várias tensões. No caso dos indígenas, são considerados
pelas suas comunidades «o futuro» e neles recai a responsabilidade
da continuidade biológica e social do «ser indígena». Face ao mundo
não indígena, os jovens exigem mais inclusão e a possibilidade de
aceder a um certo desenvolvimento económico e social. Por sua vez,
perante o mundo adulto, os jovens indígenas e de ascendência africa-
na reclamam maiores espaços de participação e decisão.
B. A identifi cação étnica nas fontes de dados
Às complexidades que se associam à defi nição e categorização so-
cial da juventude em contextos culturais diferentes ao hegemónico (e
que neste caso se resolvem na prática a partir de limites de idades),
somam-se as difi culdades de incluir nos instrumentos estatísticos per-
guntas que permitam defi nir quais destes jovens são indígenas ou de
ascendência africana.
A inclusão da questão étnica nas bases de dados demográfi cas e so-
ciais, como censos de população, inquéritos de lares e registos de
saúde, faz parte das novas exigências com vista a uma ampliação
da cidadania, para procurar uma maior participação baseada na di-
ferença e no pluralismo cultural. Ou seja, ampliar a «titularidade de
direitos» aos povos e jovens indígenas e de ascendência africana re-
quer, entre outros assuntos, dispor de informação relevante, fi ável e
oportuna, vista esta como uma ferramenta técnica e política (CEPAL,
2006). Avançar, sob a perspectiva assinalada, supõe como primeiro
passo a adopção de uma defi nição conceptual relacionada.6
Para o caso específi co dos povos indígenas, com o passar dos anos
criou-se no âmbito dos organismos internacionais um consenso em
torno da sua defi nição, partindo da enunciada por Martínez Cobo
(1986). Esta foi incorporada nos convénios e outros instrumentos le-
gais elaborados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT),
pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e pelas Nações Uni-
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7 O Convénio 169 da OIT foi
ratifi cado pelos seguintes países
da América Latina: México
(1990), Colômbia (1991), Bolí-
via (1991), Costa Rica (1993),
Peru (1994), Paraguai (1993),
Honduras (1995), Guatema-
la (1996), Equador (1998),
Argentina (2000), Brasil (2002)
e a República Bolivariana da
Venezuela (2002).
das, bem como em documentos de organizações indígenas como o
Convénio Constitutivo do Fundo para o Desenvolvimento dos Povos
Indígenas da América Latina e do Caribe (Fundo Indígena), que foi
ratifi cado pela maioria dos países da região (Segunda Conferência
Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo, 1992).
Desta forma, o Convénio 169 da OIT sobre povos indígenas e tribais
em países independentes, no seu artigo 1, manifesta que um povo é
considerado indígena «pelo feito de descender de populações que
habitavam no país ou numa região geográfi ca à qual pertencia o país
na época da conquista, da colonização ou do estabelecimento das
actuais fronteiras estatais e que, independentemente da sua situação
jurídica, conservam todas as suas próprias instituições sociais, econó-
micas, culturais e políticas, ou parte delas. Além disso, a consciência
da sua identidade indígena ou tribal deverá considerar-se um critério
fundamental para determinar os grupos.»7
Por seu lado, o conceito «ascendência africana» foi cunhado a nível
internacional no ano 2000, quando as organizações se mobilizaram
em torno da preparação da Conferência Mundial contra o Racismo
de Durban. De acordo com Antón, entende-se por ascendência afri-
cana «todos os povos e pessoas descendentes da diáspora africana
no mundo. Na América Latina e no caribe o conceito refere-se às
diferentes culturas «negras» ou «afro-americanas» que emergiram dos
descendentes de africanos e que sobreviveram ao tráfi co ou ao co-
mércio esclavagista que ocorreu no Atlântico desde o século XVI até
ao século XIX» (Antón Sánchez, 2007).
Com base nas defi nições anteriores, como delinear um conjunto
de variáveis com sentido que permita abarcar sufi cientemente estas
identidades nos instrumentos de recolha de dados? O assunto torna-
se ainda mais complexo caso se tenha em conta que os conceitos de
«etnicidade» ou «raça» (reivindicado este último por movimentos de
ascendência africana como categoria social) não constituem noções
fi xas e que a sua interpretação vá mais além de uma questão técnica
e metodológica para os censos e outras bases de dados. De facto,
são conceitos ligados ao processo de politização da identidade e a
construção de repertórios de acção dos movimentos indígenas e de
ascendência africana (Antón Sánchez, 2007).
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Porém, ao adoptar a defi nição do Convénio 169 da OIT, e tendo em
conta a experiência do censo, é possível distinguir pelo menos quatro
dimensões que tentam cobrir os elementos constitutivos do conceito
de «povo indígena», a partir das quais se poderiam estabelecer cri-
térios operacionais. Elas são: i) a dimensão de reconhecimento da
identidade, que alude ao sentido de pertença ao povo; ii) a origem
comum, que se refere à descendência de antepassadas comuns e alu-
de, entre outros factores, a memória social e colectiva dos povos; iii)
a territorialidade, que estaria ligada à herança ancestral e a memória
colectiva dos povos, bem como como a ocupação de terras ancestrais
e os vínculos materiais e simbólicos que se inscrevem nela, e iv) a
dimensão linguístico-cultural, que se relaciona com o apego à cultura
de origem, a organização social e política, a língua, a cosmovisão, os
conhecimentos e modos de vida (Schkolnik, 2000; Schkolnik e Del
Popolo, 2005; Del Popolo, 2008a; CEPAL, 2006). Ainda que estas
dimensões estejam estreitamente ligadas, o exame dos censos dos
países da região põe em evidência a inclusão de diversas perguntas
vinculadas directamente a umas ou outras.
Para o caso dos indivíduos de ascendência africana, a experiência do
censo mostra que se privilegiou a dimensão racial como categoria
fenotípica entendida. Seja como for, na medida em que os «grupos
raciais» adoptam uma identidade étnica e a reivindicam colectiva-
mente, é possível referirmo-nos às dimensões previamente propostas
como enquadramento para a construção de medições mais abrangen-
tes da identidade étnica, em particular da população de ascendência
africana.
Cabe assinalar que a dimensão do reconhecimento da identidade ad-
quire preeminência sobre as restantes dado que representa o exercí-
cio efectivo do direito a reconhecer-se como parte de um povo; nas
palavras de Martínez Cobo (1986), «de preservar o direito soberano e
o poder de decidir quem pertence» a um povo indígena «sem interfe-
rência externa», palavras que são válidas também para a população
de ascendência africana.
De forma coincidente, a posição apoiada invariavelmente pelos re-
presentantes indígenas perante os diferentes órgãos das Nações Uni-
das é que diz respeito ao próprio indígena e ao povo no seu conjunto
decidir quais são os seus membros. Neste sentido, intercedem pela
autodefi nição, enquanto destacam outros elementos como a ascen-
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8 Para o caso do Chile, consulte
Oyarce et al. (2005).
dência, a identidade colectiva, a aceitação pelo grupo, o vínculo his-
tórico com a terra e o idioma (CEPAL, 2006). Estas posições coinci-
dem com estudos locais na hora de elaborar os critérios dos censos
na perspectiva dos povos indígenas e de especialistas não indígenas.8
O anterior explica que o método de classifi cação recomendado a
nível internacional para a quantifi cação dos grupos étnicos seja o da
auto-identifi cação ou auto-atribuição. A medição de outros aspectos
vinculados ao resto das dimensões é, contudo, necessária para ca-
racterizar a heterogeneidade destes grupos em termos de reconheci-
mento de vínculos ancestrais e territoriais, a manutenção ou perda da
língua, bem como as práticas socioculturais, entre outros elementos.
Contudo, o desafi o consiste em encontrar os indicadores que permi-
tam quantifi car da melhor forma possível estas dimensões.
1. Acerca das fontes e dos critérios de classifi cação
Uma revisão exaustiva das bases de dados dos países da América Lati-
na demonstra que, de forma generalizada, é nos censos de população
onde mais se incluem perguntas para identifi car indígenas ou pessoas
de ascendência africana. Nos inquéritos de lares esta situação está
menos estendida e o atraso é evidente nos registos vitais (Del Popolo,
2008a). A inexistência destas perguntas nas fontes torna impossível
identifi car os jovens indígenas ou de ascendência africana; desta for-
ma, a invisibilidade estatística constitui um obstáculo no caminho
para a realização dos direitos destes jovens.
É por isso que este diagnóstico, que tenta oferecer um olhar regional
da situação dos jovens indígenas e de ascendência africana, utiliza
como fonte principal os censos de população. O panorama mostra
que o número de países que investiga a população indígena através
dos censos tem aumentando signifi cativamente: enquanto em 1970 e
1980 só se dispunha de enumerações de censos isoladas, os dois últi-
mos censos (1990 e 2000) revelam a tomada de consciência por parte
dos países acerca da necessidade de tornar visíveis estatisticamente
estes grupos, principalmente como consequência das solicitações e
pressões das organizações indígenas e de ascendência africana (CE-
PAL, 2006). Não obstante, este fenómeno ocorreu de forma menos
generalizada na região para o caso da população de ascendência
africana.
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Efectivamente, o exame dos censos mostra que se têm incorporado
perguntas para identifi car os povos indígenas cada vez com maior
frequência, concretamente em 16 dos 19 países que levantaram no
censo de 2000. Para os indivíduos de ascendência africana o pano-
rama é menos animador, pois a sua identifi cação reduz-se a meta-
de: 9 dos 19 países (ver tabela 1). Por outro lado, observa-se que os
critérios de classifi cação se foram alterando. No caso particular dos
povos indígenas, a mudança mais signifi cativa está no facto de, quan-
do eram «objectos» de políticas, se assumir que estes grupos podiam
ser identifi cados — de forma indirecta — a partir dos seus traços
externos ou culturais manifestos, em particular pelo idioma indíge-
na, critério associado à dimensão linguístico-cultural. Actualmente, a
crescente revitalização política e cultural dos movimentos e organi-
zações indígenas parece ter conduzido os países a um consenso de
que a forma como se deverá obter esta informação é mediante uma
pergunta directa de auto-reconhecimento, o qual é congruente com
o facto que os povos indígenas constituem sujeitos de direito. Assim,
das perguntas maioritariamente relacionadas com o idioma nos anos
oitenta e noventa, passou-se à aplicação do critério da autodefi nição
nos censos de 2000.
Para os indivíduos de ascendência africana, o critério utilizado tem
sido sistematicamente o da autodefi nição; não obstante, a classifi ca-
ção propriamente dita corresponde a categorias raciais, no sentido de
uma construção social baseada no fenotipo. Nos países que lideram
este tipo de medições, sobretudo no Brasil, tem havido uma tendên-
cia histórica para equiparar o conceito de grupo étnico ao de raça,
reduzindo-o à cor da pele. De todas as formas, ambas as noções estão
estreitamente ligadas dado que o exercício da discriminação opera
fortemente através das características fenotípicas.
Para este estudo processaram-se os micro-dados de censos disponí-
veis no CELADE para os seguintes países: Argentina, Estado Pluri-
nacional da Bolívia, Brasil, Costa Rica, Chile, Equador, Guatemala,
Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai e República Bo-
livariana da Venezuela. Em todos os casos utilizou-se o critério da
auto-identifi cação, defi nindo os jovens indígenas e de ascendência
africana de acordo com as indicações do anexo 1.
A formulação das perguntas dos censos e as categorias consideradas
variam de país para país (ver anexo 1), colocando em evidência um
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problema semântico em relação ao que se entende por esta auto-
identifi cação ou auto-atribuição. Como pano de fundo temos, pelo
menos, duas posturas conceptuais, ainda que não necessariamente
contraditórias: uma privilegia a identidade étnica a partir do sentido
de pertença a um povo indígena, enquanto a outra dá importância à
dimensão racial através de uma categoria fenotípica percebida, que
inclui em conjunto as pessoas de ascendência africana e os indígenas
(Del Popolo, 2008a). Desta forma, aderir ao conceito de etnia ou
raça determina as categorias a incluir (por exemplo, «negro» ou «de
ascendência africana»).
Tabela 1América Latina: Critérios de identifi cação da população indígena
e/ou de ascendência africana nos censos, 1980-2000
Fonte: Elaboração própria, actualizado por Fabiana Del Popolo, Los pueblos indígenas y afrodescendientes en las fuentes de datos: experiencias en América Latina, colecção
Documentos do Proyecto N.º 197 (LC/W.197), Santiago do Chile, CELADE/CEPAL-OPS, 2008.
Notas: (a) As datas dos censos de cada país podem ser consultadas na página web da CELADE, acedendo a
«Censos 2000» (www.cepal.org/celade).(b) Só permite identifi car lares com pelo menos uma pessoa indígena.
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País/Grupo étnico que incluiCensosa/Critérios
1980 1990 2000
Argentina: indígenas
Censo de populaçãob Auto-identifi cação
Inquérito complementar Auto-identifi cação de ascendência indígena
Bolívia (Estado Plurinacional da): indígenas Língua faladaLíngua materna Língua falada
Auto-identifi caçãoLíngua faladaLíngua materna
Brasil: indígenas e de ascendência africanac Auto-identifi cação Auto-identifi cação Auto-identifi cação
Chile: indígenas Auto-identifi cação Auto-identifi cação
Costa Rica: indígenase de ascendência africanad
Censo de população Autoidentifi cación
Censo em territórios indígenas
Auto-identifi caçãoLíngua faladaLíngua materna
Colômbia: indígenas e de ascendência africanae Auto-identifi cação Língua falada
Auto-identifi cação Língua falada
Auto-identifi cação Língua falada
Cuba: de ascendência africana Auto-identifi cação Auto-identifi cação
Equador: indígenas e de ascendência africanaf Língua materna Auto-identifi caçãoLíngua falada
El Salvador: indígenas e de ascendência africana Auto-identifi cação
Guatemala: indígenas e de ascendência africana
Auto-identifi cação Traje indígenaCalçado indígenaLíngua materna
Auto-identifi cação Língua faladaLíngua materna Traje indígena
Auto-identifi caçãoLíngua faladaLíngua materna
Honduras: indígenas e de ascendência africana Língua falada Auto-identifi cação
México: indígenasg Língua falada Língua falada Auto-identifi caçãoLíngua falada
Nicarágua: indígenas e de ascendência africana Língua falada Língua materna Auto-identifi caçãoLíngua falada
Panamá: indígenas Auto-identifi cação Auto-identifi cação
Paraguai: indígenas
Censo de população Língua falada Língua materna Língua materna
Auto-identifi caçãoLíngua faladaLíngua materna
Censo indígenaAuto-identifi caçãoLíngua faladaTerritório
Peru: indígenas Censo de população Língua falada Língua materna Língua materna
Venezuela (Rep. Bolivariana de): indígenas
Censo de população
Língua que fala ou que ouviu a sua mãe ou avó falar, certas áreas
Auto-identifi cação, certas áreas
Auto-identifi caçãoLíngua falada
Censo indígena Auto-defi niçãoLíngua falada
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(c) A categoria «indígena» incorpora-se a partir do censo de 1991.(d) As perguntas sobre a língua fi zeram-se unicamente nos territórios indígenas.
(e) No censo de 1985 identifi cam-se unicamente indígenas. (f) No censo de 1990 a língua permite identifi car unicamente indígenas.
(g) O critério de auto-identifi cação foi incorporado unicamente na amostra do censo de 2000.
Outra diferença observada entre os países tem a ver com os termos
utilizados na redacção da pergunta, seja porque fazem referência a
diferentes dimensões da defi nição de grupo étnico (por exemplo, ao
indagar se a pessoa «descende» ou se «pertence» a um povo indí-
gena) ou porque implicam diferentes graus de exigência no que diz
respeito a um compromisso de pertença no plano subjectivo (por
exemplo, quando se alude a «povo» ou a «cultura»). Um terceiro ele-
mento tem a ver com os diferentes signifi cados locais das categorias
usadas e suas variações sociais e territoriais (por exemplo, o termo
«negro» costuma ter uma intenção estigmatizante entre a população
branca ou mestiça, ao passo que entre alguns grupos de ascendên-
cia africana adquire um sentido de reivindicação socio-racial). Em
defi nitivo, as decisões conceptuais e metodológicas adoptadas por
cada país, e que confi guraram ou sistema de classifi cação utilizado,
têm um impacto directo na quantifi cação e nas características socio-
demográfi cas dos jovens de ascendência africana ou indígenas.
Além disso, outros problemas metodológicos e operativos podem
afectar as estimativas (além da concepção, conteúdo e redacção das
perguntas) como, por exemplo, a cobertura, sobretudo nas zonas de
difícil acesso; a falta de capacitação dos entrevistadores, a difi culda-
de de comunicação em áreas multilingues e a falta de participação
dos povos indígenas e de ascendência africana nas operações (Del
Popolo, 2008a). Além disso, a auto-identifi cação é infl uenciada pelo
contexto sociopolítico do país. Simplifi cando as coisas, num ambien-
te de discriminação estrutural, jovens indígenas ou de ascendência
africana podem não se declarar como tais, sobretudo no meio urba-
no; em contextos de revitalização étnica, por outro lado, pessoas que
não pertencem a determinado grupo étnico podem auto-atribuir-se
ao mesmo por afi nidade ou por acesso a políticas específi cas, entre
outras razões, ainda que esta última situação pareça ter uma menor
incidência que a primeira (CEPAL, 2006).
Sem prejuízo do anterior, e reconhecendo as limitações que ainda
pode apresentar a informação recolhida sob este critério de classifi -
cação, actualmente a auto-identifi cação considera-se imprescindível
para dimensionar a magnitude da população e dos jovens indígenas
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e de ascendência africana nas bases de dados socio-demográfi cas.
Não obstante, é necessário rever os aspectos que geram enviesamen-
tos nas medições estatísticas e ter presente que estas não são mais
que aproximações com a intenção de quantifi car e caracterizar estes
grupos.
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III. Quantos são os jovens indígenas e de ascendência africana na região? Aproximações às suas características demográfi cas
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QUANTOS SÃO OS JOVENS INDÍGENAS E DE ASCENDÊNCIA AFRICANA NA REGIÃO? APROXIMAÇÕES ÀS SUAS CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS
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A. Volume da juventude indígena e de ascendência africana: uma dimensão quase desconhecida
Conhecer a quantidade de jovens indígenas e de ascendência africa-
na na América Latina continua a ser um dos desafi os mais básicos e
urgentes. É difícil apresentar um número acerca da magnitude destes
grupos em cada país, devido a problemas relacionados com a identi-
fi cação étnica nas bases de dados, tal como se mencionou no capítu-
lo anterior. O volume da população indígena relativamente ao censo
do Equador de 2001, por exemplo, foi criticado por sofrer de uma
importante subavaliação; os resultados para o Chile mostram incon-
sistências signifi cativas quando se comparam os números dos censos
de 1992 e 2002 e situações desta natureza podem observar-se nou-
tros países da região (Del Popolo, 2008a). Os problemas subjacentes
não se referem unicamente às mudanças na formulação da pergunta
de identifi cação étnica e a outros aspectos ligados ao processo do
censo pois, mantendo condições técnicas relativamente semelhantes,
os resultados são afectados pelos contextos sociopolíticos nos quais
se realizam as medições, tal como se ilustra com os casos que se
descrevem na tabela 1.
III. Quantos são os jovens indígenas e de ascendência africana na região? Aproximações às suas características demográfi cas
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Analisar a dinâmica demográfi ca dos povos indígenas e indivíduos de ascendência africana prestando particular atenção às mudanças que ocorrem com a população jovem é uma tarefa difícil devido às complexidades relacionadas com a inclusão da identifi cação étnica nas bases de dados. Dado que na região este assunto recente generalizou-se nas últimas duas décadas, a experiência é ainda insufi -ciente e vários países continuam a incorporar mudanças que permitam captar da melhor forma possível os grupos étnicos. Estas modifi cações, de índole técnica, têm impac-to na quantifi cação dos grupos; mas, além disso, também afectam o contexto sociopolítico sob o qual se desenvolve um censo ou um inquérito. Isto é evidenciado pelos resul-tados do Brasil e da Guatemala, quando se observam as percentagens de indígenas ou de indivíduos de ascendên-cia africana nos dois últimos censos. Em ambos os países o critério de identifi cação não mudou, nem a formulação das perguntas.
Guatemala: Percentagem de população indígena por grupos de idade, censos de 1994 e 2002
No caso da Guatemala, de 1994 a 2002 a percentagem da população indígena desceu de 43% para 41%. O gráfi co anexo mostra que a diminuição ocorreu em todos os grupos etários. Variações diferenciais nas taxas de natalidade e mortalidade poderiam explicar esta mudança nas idades mais baixas, principalmente uma diminuição da mortalidade infantil entre a população não indígena (assumindo que a fecundidade se mantém elevada em ambos os grupos étnicos). Mas, como se explica que este comportamento se estenda sistematicamente a todas as idades? No Brasil ocorreu o contrário, um aumento sustentado da percentagem de população indígena em todos os grupos etários, enquanto com a população de ascendência africana ocorreu o inverso. Estes comportamentos explicam-se também por mu-danças na auto-percepção da identidade étnica. Um estudo pormenorizado mostra, por outro lado, um aumento da percen-tagem da população de ascendência africana neste país entre os inquéritos de lares de 1995 e 2006, examinando por grupos quinquenais de idades (Paixão e Carvano, 2008). Caso se tomem em linha de conta as transformações ocorridas na fecundidade e na mortalidade, chega-se a conclusões semelhantes no que diz respeito à existência de um efeito na mudança da dimensão da população de ascendência africana não explicado pela sua dinâmica demográfi ca. Os processos de revitalização étnica que vive a região, a maior participação das organizações indígenas e de ascendência africana nos processos dos censos, a aplicação de boas campanhas de sensibilização, entre outros motivos, conduzirão sem dúvida a mudanças no peso relativo destes gru-pos; contudo, pouco se sabe sobre qual o impacto que estes aspectos podem ter sobre as medições.
Brasil: Percentagem de população indígena por grupos de idade, censos de 1991 e 2000
Brasil: Percentagem de população de ascendência africana por grupos de idade, censos de 1991 e 2000
Quadro 1A incidência da dinâmica demográfi ca e o contexto sociopolítico nas
mudanças de percentagem da população indígena e de ascendência africana
Fonte: Processamentos especiais das bases de micro-dados dos censos com REDATAM e M. Paixao y L. Carvano, Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil; 2007-2008, LAESER, Rio de Janeiro, Universidade do Rio de Janeiro, Editora Garamond Ltda., 2008.
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9 Em países que incluem a
identifi cação étnica nos inqué-
ritos de lares (de emprego ou
nível de vida) e cujas amostras
são sufi cientes para representar
estes grupos é possível obter
estimativas mais actualizadas.
Este é o caso do Brasil que,
segundo a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios de
2006, estima 26,2 milhões de
jovens de ascendência africana
no país, passando assim a
constituir um grupo maioritário,
já que representa 52% do total
de jovens brasileiros de 15 a
29 anos.
Apesar destas difi culdades, na tabela 2 apresentam-se os resultados
derivados dos censos de 2000, dado que até ao momento é a única
fonte que permite oferecer um panorama regional.9 Constata-se que
os países com maior quantidade de jovens indígenas são o México,
o Estado Plurinacional da Bolívia e a Guatemala, com mais de um
milhão cada. Lamentavelmente, não dispomos de números actualiza-
dos para o Peru, país que muito possivelmente lideraria esta situação
caso se tenham em conta as estimativas da população indígena total
(CEPAL, 2006). No Estado Plurinacional da Bolívia e na Guatemala
também representam importantes colectivos, com uma clara maioria
no primeiro caso. Para o resto dos países, os jovens indígenas não
superariam 10% sobre o total de jovens.
No que diz respeito aos indivíduos de ascendência africana, o Brasil
reúne claramente a maior quantidade de jovens deste grupo étnico,
tanto em termos absolutos como relativos, com mais de 22 milhões
segundo o censo de 2001; em segundo lugar, encontra-se a Colôm-
bia, com pouco mais de um milhão em 2005. Note-se que dispomos
de estimativas para um conjunto menor de países que no caso dos jo-
vens indígenas, dado que os indivíduos de ascendência africana não
foram incluídos nas perguntas de identifi cação étnica dos respectivos
censos de população.
Para os jovens indígenas é fundamental contar com informação acer-
ca do povo a que pertencem, dado que se trata de avançar tanto nos
direitos individuais como nos colectivos. De igual modo, existe uma
importante heterogeneidade no estatuto sociopolítico de cada povo,
não apenas entre países mas também no seu interior. O peso demo-
gráfi co de cada um deles é um factor que tem infl uência neste estatu-
to e, deste modo, determina situações diferenciadas nas condições de
vida dos jovens indígenas segundo o povo a que pertencem.
Quase todos os censos da região que incluíram perguntas para iden-
tifi car a população indígena permitem distinguir, além do mais, os
povos: dos 13 países com informação disponível, é possível conhecer
este aspecto para 10 deles, ainda que no caso da Costa Rica este
inquérito se tenha realizado unicamente nos territórios indígenas. No
México, poderia fazer-se uma aproximação através da língua falada.
Como exemplifi cação, na tabela 3 apresenta-se a magnitude dos jo-
vens indígenas de acordo com o povo a que pertencem. Em alguns
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países observa-se o signifi cativo peso demográfi co que adquirem um ou dois povos, independentemente da quantidade existente. No Chile, por exemplo, os jovens mapuches representam 87% do total dos jovens indígenas. No Estado Plurinacional da Bolívia, 89% dos jovens são quíchua ou aimará e o resto pertence a um dos mais de 30 povos indígenas coexistentes no país. Por seu lado, os jovens do povo Lenca constituem a maioria nas Honduras, tal como os misqui-tos na Nicarágua, os ngöbes no Panamá e os jovens do povo Wayúu na República Bolivariana da Venezuela. 95% dos jovens indígenas guatemaltecos pertence à família linguística maia, na qual é possível diferenciar 21 povos, sendo os K’iche’, os Q’eqchi’, os Kaqchikel e os Mam os mais representativos. No caso do Paraguai, entre os 20 po-vos indígenas analisados no censo de 2002, verifi ca-se que 53% dos jovens indígenas pertencem aos que fazem parte da família linguísti-ca tupi-guaraní, sendo os Ava-Guaraní, os Mbyá e os Pai-Tavytera os mais numerosos (consultar tabela 3).
A tabela 3 dá indícios, também, da enorme diversidade que carac-teriza a região, na qual os jovens indígenas se desenvolvem e esta-belecem as suas necessidades particulares, de acordo com os seus contextos socioculturais e territoriais. Estes elementos devem ser to-mados em linha de conta no momento de conceber as políticas, sem esquecer que o cumprimento dos direitos colectivos não depende da
quantidade de pessoas que compõem estes grupos étnicos.
Tabela 2América Latina (14 países): Jovens indígenas e de ascendência africana
de 15 a 29 anos, censos de 2000(Em números absolutos e relativos)
País e data do censolJovens indígenas Jovens de ascendência africana
Total Percentagem Total Percentagem
Argentina, 2001 287.583 3,4
Bolívia (E. P. de), 2001 1.254.995 57,8
Brasil, 2000 202.578 0,4 22.520.476 47,3
Colômbia, 2005 365.245 3,4 1.184.266 11,1
Costa Rica, 2000 17.917 1,8 19.839 2,0
Chile, 2002 177.339 4,8
Equador, 2001 214.771 6,4 18.636
Guatemala, 2002 1.201.129 40,0
Honduras, 2001 113.326 7,0 3.605 0,2
México, 2000 1.587.245 5,9
Nicarágua, 2005 70.569 4,8 6.031 0,4
Panamá, 2000 77.218 10,2
Paraguai, 2002 22.848 1,6
Venezuela (R. B. de), 2001 138.880 2,2
Fonte: Processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM. Para a Colômbia, processamento online do censo em www.dane.gov.co/censo/Sistema de Consulta
REDATAM.
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B. O contexto demográfi co e as particularidades socioculturais
O volume dos jovens indígenas e de ascendência africana, e o seu
peso relativo dentro da população total, variam de acordo com a his-
tória demográfi ca de cada país e o estádio de transição que estão a
atravessar. De forma muito geral, numa etapa incipiente da transi-
ção demográfi ca, quando a mortalidade infantil começa a diminuir e
ainda se mantêm altas taxas de fecundidade, a proporção de jovens
diminui; numa etapa posterior esta proporção aumenta, tanto pela
entrada na juventude dos importantes contingentes de crianças nasci-
das na fase anterior como pela diminuição da fecundidade. Já numa
etapa avançada da transição, a proporção de jovens em relação ao
total volta a diminuir como consequência da progressiva diminuição
da fecundidade, o que implica um contínuo processo de envelheci-
mento da população.
Quando esta análise se realiza para as populações indígenas e de as-
cendência africana, o resultado vê-se afectado, além disso, pelo crité-
rio de identifi cação, seja ele qual for. No caso da auto-identifi cação,
o grau de consciência étnica das pessoas pode ser diferente de acor-
do com as diferentes gerações e, consequentemente, afectar a estru-
tura por idades do grupo e o peso demográfi co dos jovens no mesmo.
Dependendo da articulação dos processos de perda e revitalização
cultural, pode haver uma tendência a não se reconhecer como indí-
gena em determinados grupos de idades e/ou a um reconhecimento
relativamente maior noutros, ainda que seja difícil elucidar qual é o
impacto destes processos nos diversos contextos latino-americanos.
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Povo a que pertence Jovens Povo a que pertence JovensBolívia (E. P. de), 2001a Total Percentagem Nicarágua, 2005 Total Percentagem
Quíchua 612.405 48,8 Misquito 34.369 48,7
Aimará 509.382 40,6 Chorotega-Nahua-Mange 13.373 19,0
Guaraní 32.103 2,6 Xiu-Sutiava 5.951 8,4
Chiquitano 50.799 4,0 Cacaopera-Matagalpa 4.613 6,5
Mojeño 18.351 1,5 Nahoas-Nicarao 3.255 4,6
Outros povos indígenas 31.955 2,5 Mayagna-Sumu 2 .561 3,6
Total 1.254.995 100,0 Rama 1.186 1,7
Garífuna 860 1,2
Chile, 2002 Ulwa 286 0,4
Mapuche 154.707 87,2 Outro povo indígena 4.115 5,8
Aimara 12.692 7,2 Total 70.569 100,0
Atacameño 5.062 2,9
Quíchua 1.772 1,0 Panamá, 2000
Rapa Nui 1.314 0,7 Ngöbe 45 .168 58,5
Colla 781 0,4 Kuna 16.355 21,2
Alacalufe (Kawashkar) 599 0,3 Emberá 6.116 7,9
Yámana (Yagán) 412 0,2 Buglé 5.496 7,1
Total 177.339 100,0 Wounaan 1.937 2,5
Teribe 947 1,2
Guatemala, 2001a Bri Bri 765 1,0
K'iche' 326.546 27,2 Bokota 305 0,4
Q'eqchi' 231.245 19,3 Povo não declarado 129 0,2
Kaqchikel 220.737 18,4 Total 77.218 100,0
Mam 150.568 12,5
Outros povos (família maia) 215.090 17,9 Paraguai, 2002a
Xinka 3.538 0,3 Ava-Guaraní 3.530 15,4
Garífuna 1.115 0,1 Mbyá 3.512 15,4
Povo não declarado 52.290 4,4 Pai-Tavytera 3.433 15,0
Total 1.201.129 100,0 Nivaclé 3.215 14,1
Outros povos indígenas 9.158 40,1
Total 22.848 100,0
Honduras, 2001
Lenca 73.132 64,5 Venezuela (Rep. Bol. da )a
Misquito 13.745 12,1 Wayúu 81.608 58,8
Garífuna 12.854 11,3 Warao 9.632 6,9
Chortí 9 .407 8,3 Pemón 7.397 5,3
Tolupán 2 .418 2,1 Kariña 4.657 3,4
Pech (Paya) 1.132 1,0 Piaroa 3.897 2,8
Tawahka (Sumo) 638 0,6 Outros povos indígenas 31.689 22,8
Total 113.326 100,0 Total 138.880 100,0
Tabela 3América Latina: Jovens indígenas de 15 a 29 anos, de acordo com o povo a que pertencem, censos de 2000
(Em números absolutos e relativos)
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
(a) Para estes países, a categoria «outros povos indígenas» permite uma maior desagregação de informação, ou seja, uma identifi cação de cada um dos povos existentes. Foram excluídos desta tabela devido à difi culdade em listá-los a todos. No caso do Paraguai, são famílias linguísticas e não povos
existentes no país.
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Estudos prévios mostram que a população indígena e de ascendên-
cia africana da América Latina tem um padrão de idades ainda mais
jovem que as restantes (CEPAL/CELADE-BID, 2005b; CEPAL, 2006;
Paixão e Carvano, 2008), o que se refl ecte em pirâmides populacio-
nais de bases mais amplas e topos mais pequenos, com uma dimi-
nuição mais acentuada dos grupos etários à medida que aumenta a
idade das pessoas como refl exo dos diferenciais de fecundidade entre
ambas as populações. Dentro da relativa «juventude» dos padrões
etários indígenas e de ascendência africana, nem todos os casos são
semelhantes e podem distinguir-se quatro tipos de estruturas, desde
as mais «jovens» (que são as que predominam) até à mais «maduras»
ou «envelhecidas» (CEPAL, 2006).
Na tabela 4, na qual os países estão ordenados a partir dum estado in-
cipiente de transição demográfi ca até um mais avançado, apresenta a
proporção de jovens no interior de cada grupo étnico e da população
jovem nacional no que diz respeito à população total. Em consonân-
cia com o acima referido, na maioria dos países a percentagem de jo-
vens indígenas em relação ao total indígena é menor em comparação
com este indicador a nível nacional dado que, por possuir estruturas
mais jovens, o peso demográfi co das crianças ainda é relevante nes-
te grupo étnico. No caso dos indivíduos de ascendência africana, a
maior proporção de jovens refl ectiria uma descida na fecundidade,
mas ainda sem chegar aos níveis de envelhecimento do resto da po-
pulação.
Tabela 4
América Latina (13 países): Jovens de 15 a 29 anos em relação ao total de cada grupo étnico, censos de 2000
(Em percentagens)
País e data do censal População total Indígena Ascendência
africana Resto
Guatemala, 2002 26,7 26,1 27,2
Bolívia (E. P. de), 2001 27,0 25,1 30,1
Honduras, 2001 26,5 26,5 29,1 28,6
Nicarágua, 2005 30,1 28,8 30,3 30,2
Paraguai, 2002 27,3 25,8 27,3
Equador, 2001 27,6 25,9 30,1 27,6
Venezuela (Rep. Bol. da), 2001 28,1 27,4 28,2
México, 2000 28,4 26,0 28,6
Panamá, 2000 26,8 27,1 26,7
Costa Rica, 2000 27,0 28,0 27,3 27,0
Brasil, 2000 28,2 27,6 29,7 27,0
Argentina, 2001 25,0 25,7 25,0
Chile, 2002 24,3 25,6 24,2
Fonte: Processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
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As diferenças demográfi cas segundo grupos étnicos são mais bem
avaliadas se for observada a relação da população jovem com outros
grupos de idades. De modo ilustrativo, o gráfi co 1 demonstra que a
relação entre a quantidade de jovens e crianças é relativamente me-
nor entre a população indígena que entre a não indígena, ou seja, há
uma presença de população infantil mais signifi cativa entre os povos
indígenas. A excepção é o Chile, país onde a população indígena
possui baixas taxas de fecundidade e encontra-se numa etapa avan-
çada da transição, semelhante à média nacional (CEPAL, 2006). Pelo
contrário, verifi ca-se que a relação dos jovens indígenas no que diz
respeito aos adultos de 30 a 59 anos é maior em comparação com
a não indígena dado que esta última se encontra num processo mais
avançado de envelhecimento (ver gráfi co 2). A situação mais extrema
é apresentada pelo Panamá, país que tem 120 jovens indígenas por
cada 100 adultos indígenas, enquanto entre a população não indíge-
na do país esta relação é de 79 jovens por cada 100 adultos. O Esta-
do Plurinacional da Bolívia apresenta um quadro excepcional ainda
que, ao examinar este indicador no que diz respeito à população com
60 anos ou mais, siga o comportamento esperado.
Em suma, enquanto na região o acelerado processo de envelheci-
mento é o fenómeno demográfi co mais transcendente do presente
século, para a população indígena e de ascendência africana adverte-
se que os desafi os ainda se centram nas crianças e nos jovens, sobre-
tudo nestes últimos, que continuarão a aumentar. Para os Estados,
isto implica a consideração de prioridades diferenciadas nas políticas
públicas, não somente em termos de atribuição de recursos para en-
frentar a ampliação da cobertura educacional e o desenvolvimento
de cuidados de saúde adequados, mas também para garantir acções
cujos conteúdos, gestão e administração sejam relevantes para os po-
vos e jovens indígenas e de ascendência africana.
Também no seio dos próprios jovens parece existir diferenças étnicas
na composição por idades. No caso dos povos indígenas, os adoles-
centes (15 a 19 anos) têm em geral um peso relativo maior que entre
os jovens não indígenas; semelhante comportamento apresentam os
rapazes de ascendência africana do Brasil, Costa Rica, Honduras e
Nicarágua (ver tabela 5). Tal determina também requisitos diferencia-
dos dado que, entre os mais jovens, se espera que haja uma maior
percentagem que estuda e não trabalha, enquanto nos de maior idade
predominam os que começam a trabalhar, dão início ao período re-
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produtivo e formam as suas próprias famílias (CEPAL/OIJ, 2008). Entre
os povos indígenas, e sobretudo nas áreas rurais, estas distinções se-
rão possivelmente difusas e será necessário considerar os papéis e as
funções correspondentes em cada etapa do ciclo de vida. Assim, por
exemplo, nos povos onde prevalecem as economias de subsistência,
todos os membros do grupo familiar executam determinadas tarefas
desde tenra idade; de igual modo, a união conjugal e a procriação
costumam iniciar-se em idades mais baixas. No meio urbano estes
resultados podem ter um signifi cado diferente.
Gráfi co 1América Latina (11 países): Proporção de população jovem (15 a 29 anos)
no que diz respeito às crianças (dos 0 aos 14 anos), de acordo com a condição étnica, censos de 2000 (Em quantidade de jovens por cada cem crianças)
Fonte: Processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
Gráfi co 2América Latina (11 países): Proporção de população jovem (15 a 29 anos)
no que diz respeito às pessoas de 30 a 59 anos, de acordo com a condição étnica, censos de 2000 (Em quantidade de jovens por cada cem adultos)
Fonte: Processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
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A relação por sexo — neste caso calculada como quociente entre as
mulheres e os homens jovens multiplicado por 100 — mostra dife-
renças entre países e grupos étnicos (ver tabela 6). Observa-se uma
clara preponderância masculina indígena em três dos dez países ana-
lisados (Costa Rica, Chile e Paraguai). Pelo contrário, o predomínio
feminino é muito marcado no Estado Plurinacional da Bolívia, Equa-
dor, Guatemala e México. No caso de ascendência africana, o censo
indica 94 raparigas por cada 100 rapazes no Brasil; a Nicarágua é o
país com informações disponíveis que apresenta a situação inversa
mais vincada: há 108 mulheres de ascendência africana jovens por
cada cem homens do seu mesmo grupo etário e étnico.
Como acontece com a idade, a composição por sexo da juventude
indígena e de ascendência africana é infl uenciada tanto por factores
demográfi cos como por um comportamento diferencial na declara-
ção da condição étnica dos jovens, seja porque os rapazes tendem a
declarar-se mais como indígenas ou as mulheres declaram-se menos.
Um elemento que pode estar a afectar este desequilíbrio de sexos tem
a ver com as regras que regulam o parentesco, sobretudo em comu-
nidades indígenas e em contextos tradicionais. Assim, por exemplo,
o que sucede quando uma rapariga pertencente a um povo indígena
com regras de endogamia contrai matrimónio com uma pessoa que
não faz parte da mesma linhagem? Deixa de ser indígena? E fi nalmen-
te: «Como se declara tal coisa num inquérito ou num censo?» Alguns
problemas relativos à diferença de género e idade estão descritos, por
exemplo, no caso do Panamá (CEPAL/CELADE-BID, 2005a); contudo,
este fenómeno tem sido pouco estudado na região.
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Tabela 5América Latina (13 países): Distribuição relativa dos jovens de 15 a 29 anos, de acordo
com os subgrupos de idades e condição étnica, censos de 2000 (Em percentagens)
País e data do cens
Condição étnica
15 a 19
anos
20 a 24
anos
25 a 29
anos
Total
Argentina, 2001Em local indígena 37,1 34,3 28,6 100,0
Em local não indígena 35,1 35,2 29,7 100,0
Bolívia (E. P. de), 2001
Indígena 36,6 34,7 28,7 100,0
Resto 40,8 34,0 25,2 100,0
Brasil, 2000
Indígena 38,4 33,4 28,2 100,0
Ascendência africana 38,5 33,5 28,0 100,0
Resto 36,5 33,8 29,7 100,0
Costa Rica, 2000
Indígena 38,9 33,4 27,7 100,0
Ascendência africana 37,8 33,5 28,7 100,0
Resto 38,0 33,0 28,7 100,0
Chile, 2002Indígena 34,9 31,6 33,5 100,0
Resto 34,8 32,8 32,4 100,0
Equador, 2001
Indígena 41,5 33,5 25,0 100,0
Ascendência africana 35,4 36,4 28,2 100,0
Resto 36,7 34,8 28,5 100,0
Guatemala, 2002Indígena 41,7 33,6 24,7 100,0
Resto 39,2 34,4 26,4 100,0
Honduras, 2001
Indígena 42,9 32,9 24,2 100,0
Ascendência africana 40,8 33,6 25,6 100,0
Resto 40,8 34,0 25,2 100,0
México, 2000Indígena 40,3 32,5 27,2 100,0
Resto 36,5 33,3 30,2 100,0
Nicarágua, 2005
Indígena 40,6 33,7 25,7 100,0
Ascendência africana 39,2 35,5 25,3 100,0
Mestiço da costa caribenha 39,0 33,9 27,1 100,0
Resto 38,0 35,2 26,8 100,0
Panamá, 2000Indígena 40,3 31,9 27,8 100,0
Resto 34,8 33,0 32,2 100,0
Paraguai, 2002Indígena 40,0 33,0 27,0 100,0
Resto 41,0 33,5 25,5 100,0
Venezuela (R. B. de), 2001
Indígena 39,3 33,4 27,4 100,0
Resto 36,6 34,2 29,1 100,0
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
No que diz respeito aos factores demográfi cos, estes resultados po-
dem ser infl uenciados por uma migração internacional selectiva se-
gundo sexo e idades. No caso da Costa Rica, por exemplo, cerca
de 20% da população indígena é imigrante internacional, com uma
razão de masculinidade elevada (CEPAL, 2006). A situação do Equa-
dor neste aspecto poderia explicar-se por uma maior emigração in-
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ternacional dos jovens indígenas. Contudo, estas dinâmicas deveriam
examinar-se pormenorizadamente sob uma perspectiva étnica e de
género.
Tabela 6América Latina (13 países): Índice de feminilidade dos jovens dos 15 aos 29 anos,
segundo condição étnica, censos de 2000(Em quantidade de mulheres por cada cem homens)
País e data do censo Indígena Ascendência africana
Resto
Argentina, 2001 100,6 100,9
Bolívia (E. P. de), 2001 107,3 107,1
Brasil, 2000 99,8 94,3 106,9
Costa Rica, 2000 96,0 102,6 99,5
Chile, 2002 97,1 98,6
Equador, 2001 110,0 96,7 104,0
Guatemala, 2002 111,6 110,5
Honduras, 2001 101,3 103,0 106,4
México, 2000 106,3 109,1
Nicarágua, 2005 101,2 108,0 102,8
Panamá, 2000 99,4 98,9
Paraguai, 2002 96,9 98,3
Venezuela (R. B. de), 2001 100,8 101,8
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SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
IV. Onde estão os jovens indígenas e de ascendência africana? Geografi a das vantagens e desvantagens
CEPAL/UNFPA/OIJ 65
ONDE ESTÃO OS JOVENS INDÍGENAS E DE ASCEN-DÊNCIA AFRICANA? GEOGRAFIA DAS VANTA-GENSE DESVANTAGENS
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
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DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
A. Distribuição urbana e rural dos jovens
Geralmente, assume-se que os povos indígenas — incluindo os seus
jovens — são eminentemente rurais, ideia associada à residência em
territórios ancestrais (CEPAL, 2006). Contudo, a crescente urbaniza-
ção e as migrações campo-cidade também chegaram até eles, ainda
que com importantes diferenças no que diz respeito aos não indí-
genas em termos de magnitudes relativas, causas, itinerários, signifi -
cados e consequências. Os censos de 2000 revelam que, na região,
cerca de 44% dos jovens indígenas residem em zonas urbanas, situa-
ção que se aproxima dos 80% no caso dos não indígenas do mesmo
segmento etário.
No gráfi co 3 observa-se que na Argentina, no Estado Plurinacional da
Bolívia, no Brasil, no Chile e na República Bolivariana da Venezuela
os jovens indígenas fi cam principalmente nas cidades, enquanto nos
restantes oito países considerados mantêm o seu predomínio rural.
Estes resultados obrigam a incluir nas políticas públicas a perspectiva
dos direitos dos povos e jovens indígenas, tanto individuais como co-
lectivos, também nas cidades, assumindo a diversidade étnica e cul-
tural nestes espaços. No caso dos indivíduos de ascendência africana,
verifi ca-se que estes jovens são eminentemente urbanos em todos os
países examinados, inclusivamente na Nicarágua, onde representam
IV. Onde estão os jovens indígenas e de ascendência africana? Geografi a das vantagens e desvantagens
CEPAL/UNFPA/OIJ 66
uma proporção muito superior ao resto dos jovens que residem em
cidades.
Um estudo recente para países de América Latina corrobora que, em
geral, existe uma menor propensão migratória dos indígenas em com-
paração com os não indígenas — facto que se deve, em parte, ao seu
vínculo indissolúvel em relação ao território. Contudo, ao tomar em
consideração nas medições os factores exógenos (idade, sexo e edu-
cação), observa-se que em alguns países a probabilidade de migração
dos indígenas é superior à dos não indígenas. Além disso, verifi ca-se
uma emigração líquida de indígenas proveniente das zonas rurais e
uma escassa migração de retorno (Rodríguez, 2007).
O mesmo estudo mostra que os indígenas não escapam à selectivi-
dade da migração no que diz respeito à idade e nível educativo. De
facto, os migrantes têm uma representação de jovens mais elevada
e uma maior escolaridade, que implica uma perda de recursos hu-
manos para as comunidades de origem, ainda que não se descarte
que este comportamento responda a estratégias para a sobrevivência
dos povos indígenas nas quais os jovens desempenhariam um papel
fundamental. Esta selectividade migratória por idade torna-se clara
ao comprovarmos que a percentagem de jovens indígenas urbanos é
sistematicamente superior à média da população indígena total (ver
gráfi co 4). Também se percebe uma selectividade por sexo, notando-
se uma preponderância das raparigas indígenas no que diz respeito
aos rapazes nas cidades, enquanto no campo ocorre o comportamen-
to contrário, à excepção do Panamá (ver tabela 7). O predomínio das
mulheres indígenas jovens no Equador, na Guatemala e no México,
tanto em zonas urbanas como rurais, poderia indicar uma emigração
internacional relativamente maior de homens jovens indígenas — si-
tuação que descrevem alguns estudos (CEPAL, 2006) —, bem como o
efeito de uma declaração diferenciada por sexo em relação à perten-
ça étnica, como já foi mencionado.
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JUVENTUDE INDÍGENA
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Gráfi co 3América Latina (13 países): Jovens de 15 a 29 anos que residem em áreas
urbanas, de acordo com a condição étnica, censos de 2000(Em percentagens)
Fonte: Processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
Gráfi co 4América Latina (13 países): Jovens indígenas urbanos e população
indígena urbana, censos da década de 2000(Em percentagens)
Fonte: Processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
Os jovens de ascendência africana também habitam relativamente
mais nas cidades que a população total deste grupo étnico. De acor-
do com os censos de 2000, 78,6% dos jovens de ascendência africa-
na do Brasil eram urbanos, em comparação com 77,1% da popula-
ção de ascendência africana total do país; na Costa Rica registava-se
65,2% de jovens «afros» a viver em cidades, sendo a média do grupo
64,4%; no Equador tinham residência urbana 72,4% dos jovens afro-
equatorianos e 68,7% do total desta população; nas Honduras, os
números observados eram 63,2% face aos 60,5% e, na Nicarágua,
92% face aos 91,6%. A tabela 7 também indica uma selectividade
por sexo na migração campo-cidade, com predomínio feminino nos
centros urbanos. Os resultados para o Brasil estariam a indicar, além
disso, uma possível declaração diferenciada por sexo no que diz res-
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peito à pertença étnica.
Tabela 7América Latina (13 países): Índice de feminilidade dos jovens dos 15 aos 29 anos,
de acordo com a área de residência e a condição étnica, censos de 2000
País e data do censoIndígena Ascendência africana Resto
Urbanos Rurais Urbanos Rurais Urbanos Rurais
Argentina, 2001 102,3 92,7 102,3 88,8
Bolívia (E. P. de), 2001 114,2 97,6 112,0 87,7
Brasil, 2000 106,0 92,8 97,9 82,2 109,1 94,7
Costa Rica, 2000 104,5 93,7 106,8 95,2 101,8 96,1
Chile, 2002 103,2 84,2 100,3 86,2
Equador, 2001 103,4 112,1 99,9 88,7 107,7 97,5
Guatemala, 2002 111,5 111,7 112,5 107,8
Honduras, 2001 119,2 97,7 106,8 96,7 118,1 94,7
México, 2000 109,7 104,3 109,2 108,9
Nicarágua, 2005 109,5 95,4 110,5 83,7 110,3 93,4
Panamá, 2000 89,7 102,5 104,0 88,0
Paraguai, 2002 105,7 96,0 110,2 82,4
Venezuela (Rep. Bol. da), 2001 112,6 87,5 104,4 82,4
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
Finalmente, é importante mencionar a heterogeneidade que também
se manifesta entre os jovens que pertencem a diferentes povos indíge-
nas de um mesmo país, dado que os factores que têm infl uência sobre
a migração rural-urbana actuam e combinam-se de forma diversa em
cada contexto histórico-territorial. Tal como se observa no gráfi co 5,
em países como o Estado Plurinacional da Bolívia e o Chile, com uma
elevada proporção de jovens indígenas urbanos, são óbvias diferen-
ças na sua situação residencial de acordo com o povo a que perten-
cem. Nos países onde a população indígena é predominantemente
rural, a proporção de jovens urbanos varia de dimensão dependen-
do do povo. Assim, por exemplo, na Guatemala, enquanto os jovens
indígenas dos povos Q’eqchi’ e Ch’orti’ estão maioritariamente em
áreas rurais, os pertencentes aos povos Tz’utujil e Jacalteco residem
numa proporção de 69% em cidades. Estas diferenças estendem-se
ao resto dos países examinados.
Além disso, dependendo do contexto nacional, especifi camente nes-
te caso do grau de urbanização de cada país, os jovens de um mesmo
povo podem residir em maior ou menor proporção nas zonas urba-
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nas. É o que se observa, por exemplo, com os jovens do povo Aimará
do Chile e do Estado Plurinacional da Bolívia, ou com os jovens mis-
quitos na Nicarágua e nas Honduras (ver gráfi co 5).
Gráfi co 5América Latina (9 países): Jovens indígenas urbanos de acordo com os povos
a que pertencem seleccionados, censos de 2000(Em percentagens)
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
Nota: no caso do Paraguai, são famílias linguísticas e não de povos existentes no país.
O auto-reconhecimento dos jovens indígenas em meios urbanos res-
ponde a uma consciência de povo ligada ao seu território ancestral.
Embora procurem melhores oportunidades educativas e de emprego
nas cidades, com a possível perda da cultura e da identidade que
essa mudança pode trazer, não é menos certo que também recriam
o movimento indígena a partir das zonas urbanas (IWGIA, 2005).
Vários estudos mostram que os indígenas urbanos continuam a man-
ter os seus sistemas socioculturais nas cidades e conservando os la-
ços com as comunidades de origem (Camus, 2002; PNUD-Panamá,
2002; Buitrago Ortiz e Santos López, 2004), ainda que seja necessá-
rio investigar com maior detalhe a situação particular dos jovens, as
consequências que a migração tem sobre as comunidades de origem,
e quanto ganham realmente em qualidade de vida os jovens no meio
urbano.
Assim, os números apresentados indicam aos governos a necessidade
de enfrentar e solucionar os problemas que afectam os jovens in-
dígenas nas cidades, devido à desigualdade de oportunidades que
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enfrentam para aceder a bons empregos e aos serviços básicos como,
por exemplo, a saúde e a educação, bem como outros problemas
psico-sociais derivados da perda dos laços de suporte tradicionais
(Del Popolo e Oyarce, 2005). A questão é que, na busca de soluções,
não se pode colocar de lado a abordagem intercultural, tendo em
conta que só assim se estaria a garantir o direito à integridade cultural
da juventude indígena.
B. Têm os jovens indígenas e de ascendência afri-cana um padrão de localização específi co no território nacional?
Os resultados dos censos de 2000 mostram que os jovens indígenas
e de ascendência africana dos 13 países examinados encontram-se
distribuídos praticamente por todo o território nacional; não obstante,
ao analisar as distribuições de acordo com as divisões administrati-
vas maiores (DAM), detectam-se importantes diferenças de acordo
com os grupos étnicos. Em termos aproximados, podem identifi car-se
as áreas que abarcam concentrações indígenas que se mantiveram
desde a pré-conquista, ou concentração de população de ascendên-
cia africana ligados aos territórios de chegada na época esclavagista.
Noutros casos, efectivamente, os dados referem uma redistribuição
populacional da juventude indígena e de ascendência africana.
Os valores da tabela 8 confi rmam estas afi rmações. A residência dos
jovens indígenas é, predominantemente, sem dúvida, nas áreas que
incluem os territórios ancestrais dos povos a quem pertencem, ao
passo que entre o resto dos jovens têm preponderância as que abar-
cam a principal cidade do país ou da área metropolitana. Nos caso de
rapazes de ascendência africana, também se verifi cam importantes
concentrações nas localidades com origem no período do tráfi co de
escravos. O grau de concentração nestas áreas varia de país para país:
em alguns casos é muito elevada, como na Nicarágua, onde 44%
dos jovens indígenas reside na Região Autónoma do Atlântico Nor-
te e 83% dos jovens de ascendência africana na Região Autónoma
do Atlântico Sul; na República Bolivariana da Venezuela, 62% dos
jovens indígenas vivem no estado de Zulia, enquanto na Costa Rica
72% dos rapazes de ascendência africana residem em Limón.
Sem prejuízo do arteriormente exposto, na maioria dos países a área
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que contém a cidade principal ou a capital nacional regista a popu-
lação indígena e de ascendência africana mais numerosa; de facto,
o Chile e a República Bolivariana da Venezuela ocupam o primeiro
lugar segundo este critério. De todas as formas, em vários países estas
áreas têm defi nitivamente uma menor importância demográfi ca para
os jovens indígenas e de ascendência africana (Guatemala, Hondu-
ras, México, Nicarágua e Paraguai); para além disso, entre o resto
da população jovem observa-se uma maior primazia das unidades
metropolitanas.
Ao comparar a distribuição territorial dos jovens indígenas no que
diz respeito ao total indígena verifi ca-se que, independentemente da
importância que adquirem as áreas metropolitanas de cada país para
este grupo étnico, estes jovens têm uma presença relativamente maior
nas mesmas, sendo o caso extremo o do Panamá: 7,5% da popula-
ção indígena total reside na província do Panamá, enquanto entre
os jovens indígenas esta situação alcança os 17,5%. Estes resultados
vão ao encontro de estudos prévios acerca da migração selectiva por
idades, principalmente para as grandes cidades, nas quais os jovens
indígenas teriam mais oportunidades de acesso à educação superior
e ao mercado laboral.
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País Indígena Ascendência africana Resto
Bolívia (E. P. de)La Paz 36,6
Santa Cruz 41,1Cochabamba 22,2 La Paz 17,0Santa Cruz 15,5 Cochabamba 12,2
Brasil
Amazonas 15,3 São Paulo 13,7 São Paulo 29,0Bahia 9,3 Bahia 13,0 Minas Gerais 10,3São Paulo 8,8 Minas Gerais 10,5 Rio Grande do Sul 8,9Mato Grosso do Sul 7,1 Rio de Janeiro 7,8 Paraná 8,1Minas Gerais 6,8 Pernambuco 6,0 Rio de Janeiro 8,0Pará 5,2 Pará 6,0 Santa Catarina 5,2
Costa RicaLimón 38,6 Limón 72,0 San José 36,5Puntarenas 22,1 San José 16,0 Alajuela 19,1San José 16,2 Alajuela 3,4 Cartago 11,7
ChileMetropolitana 29,5 Metropolitana 41,4La Araucanía 28,3 Biobío 12,4Los Lagos 13,9 Valparaíso 10,5
Equador
Chimborazo 16,1 Guayas 37,2 Guayas 28,8Pichincha 14,1 Esmeraldas 22,5 Pichincha 21,7Imbabura 9,6 Pichincha 15,6 Manabí 10,5Cotopaxi 9,2 El Oro 4,7 Los Ríos 5,8Tungurahua 8,1 Manabí 4,5 Azuay 5,3
Guatemala
Alta Verapaz 16,3 Guatemala 35,3Quiché 11,9 San Marcos 7,7Huehuetenango 11,7 Escuintla 7,5Guatemala 8,7 Jutiapa 5,3
HondurasLempira 24,3 Islas de la Bahía 52,3 Cortés 21,2Intubucá 17,3 Atlántida 22,5 Francisco Morazán 20,5Gracias a Dios 11,4 Cortés 12,0 Yoro 7,2
México
Oaxaca 22,6 México 14,7Chiapas 14,7 Distrito Federal 9,5Lucatão 9,7 Jalisco 7,0Vera Cruz 8,3 Vera Cruz 6,6Guerrero 6,5 Puebla 5,1Puebla 6,5 Guanajuato 5,0Hidalgo 5,0 Nuevo León 4,3
Nicarágua
Região Autónoma do Atlântico Norte 44,2 Região Autónoma
do Atlântico Sul 83,0 Manágua 27,6
Madriz 10,8 Região Autónoma do Atlântico Norte 8,2 Matagalpa 9,2
León 8,8 Manágua 5,3 Chinandega 8,0
Panamá
Comarca Ngöbe-Bugle 33,6 Panamá 55,5
Bocas del Toro 17,7 Chiriquí 12,6Panamá 17,5 Colón 8,1
ParaguaiBoquerón 24,4 Central 27,6Presidente Hayes 22,2 Alto Paraná 11,5Amambay 12,1 Asunción 11,2
Venezuela (R. B. de)Zulia 62,3 Zulia 11,6Amazonas 10,7 Miranda 9,7Bolívar 9,7 Carabobo 8,8
Tabela 8América Latina (12 países): Distribuição dos jovens nas principais divisões administrativas maiores (DAM)a,a de acordo com a
condição étnica, censos de 2000(Em percentagens)
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
(a) As principais divisões administrativas de nível superior são as que possuem a maior quantidade de população indígena, de ascendência africana ou do resto da população, conforme o caso.
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No caso indígena, os números da tabela 8 devem ser complementa-
dos através de uma análise por povo, dado que esta distribuição terri-
torial é, em muitos casos, determinada pelos mais numerosos. Como
exemplo, a distribuição territorial dos jovens indígenas do Chile está
defi nitivamente confi gurada pelo povo Mapuche e, desta forma, não
é possível visualizar que os jovens aimarás residem principalmente
na região nortenha de Tarapacá. No Panamá, a maior concentração
de jovens indígenas na Comarca Ngöbe Bugle e na província de Bo-
cas del Toro, a oeste do país, ocorre devido ao povo Ngöbe e este
dado esconde a localização territorial do resto dos jovens pertencen-
tes aos povos Kuna, Emberá ou Wounaan, baseados sobretudo nas
comarcas localizadas a este do país.
No Equador, as principais áreas administrativas de residência dos jo-
vens indígenas correspondem ao vale andino de domínio quíchua do
período pré-inca. De facto, existem actualmente 13 povos ou nacio-
nalidades indígenas na Sierra, todos pertencentes à família linguís-
tica quíchua ou kichwa. Por outro lado, cerca de 20% do total dos
indígenas distribui-se pelas seis províncias amazónicas (Del Popolo,
2008b).
Os jovens indígenas do Brasil, actualmente, pertencem a mais de 200
povos, que falam aproximadamente 180 línguas. 29% destes jovens
estão no norte do país, especialmente no Estado do Amazonas (ver
tabela 8) e pertencem aos povos Yanomami, Macuxi, Awá, Kaixana,
Ticuna, Wai Wai, Hixcariana, Kokama, TI Mirim, TI Araca, entre mui-
tos outros; 46% repartem-se quase por igual pelas regiões nordeste e
sueste, com predomínio na Bahia e em São Paulo, e pertencem, entre
outros, aos povos Karajá, Xavante e Tupinkin. Os restantes jovens in-
dígenas estão localizados nos estados do surl, com predomínio dos
povos da família linguística guarani. A localização do Estado de São
Paulo em terceiro lugar de importância no que diz respeito ao volume
de jovens indígenas refl ecte a sua mobilidade para os centros urba-
nos, ainda que só se trate de 9% do total de indígenas deste segmento
etário do país.
Este exame pode realizar-se para todos os países da região. Em sínte-
se, é possível identifi car quatro cenários: um no qual a distribuição
territorial dos jovens é determinada pelo povo indígena mais numero-
so (Chile, Honduras e Panamá); outro no qual a confi guração é dada
por diversos grupos, mas que pertencem à mesma família linguística
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(Equador e Guatemala); um terceiro no qual a importância relativa da
DAM é o resultado da existência de diversos povos indígenas numa
mesma área político-administrativa (Brasil, Costa Rica, México e Pa-
raguai); e, fi nalmente, um quarto representado pelo caso do Estado
Plurinacional da Bolívia, onde as duas principais áreas estão determi-
nadas pelos dois povos mais numerosos e o peso da terceira se divide
por uma série de povos indígenas (Del Popolo, 2008b).
Uma observação complementar à anterior é a que possibilita a tabela
9 que, ao apresentar as três áreas de cada país com maior percenta-
gem de jovens indígenas de 15 a 29 anos no que diz respeito ao total
de pessoas deste segmento etário em cada DAM, permite examinar
o seu peso relativo. Observa-se que, em alguns países, estas áreas
são constituídas praticamente na sua totalidade por jovens indíge-
nas, como, por exemplo, Potosí, La Paz e Cochabamba, no Estado
Plurinacional da Bolívia; Napo, no Equador; Totonicapán, Solola e
Alta Verapaz, na Guatemala; Gracias a Dios, nas Honduras e as três
comarcas do Panamá (Ngöbe, Kuna Yala e Emberá).
Noutros países, os jovens indígenas representam entre 40% e 55%
nas áreas de maior presença relativa, como em Morona Santiago
(Equador), Lempira e Intibucá (Honduras), Oaxaca (México), Boque-
rón (Paraguai) e Amazonas (República Bolivariana da Venezuela). No
outro extremo, existem casos em que os jovens indígenas constituem
uma minoria no que diz respeito ao total da área: em alguns países,
não chegam aos 10% nem sequer nas DAM de maior presença re-
lativa, como em Roraima e no Amazonas (Brasil), ou em Limón e
Puntarenas (Costa Rica).
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Tabela 9América Latina (12 países): DAM com maior peso relativo de jovens indígenas
de 15 a 29 anos e percentagem de jovens indígenas em relação ao total de jovens de cada DAM, censos de 2000
País DAMPercentagem
de jovens indígenas
Pais DAMPercentagem
de jovens indígenas
Argentina
Chubut 11,0
Guatemala
Totonicapán 98,1
Jujuy 10,3 Solola 96,5
Neuquén 10,3 Alta Verapaz 92,6
Bolívia(E. P. de)
Potosí 80,1
Honduras
Gracias a Dios 87,8
La Paz 74,6 Lempira 43,7
Cochabamba 71,4 Intubucá 42,4
Brasil
Roraima 7,3
México
Oaxaca 41,3
Amazonas 3,7 Yucatán 33,3
Mato Grosso do Sul 2,5 Chiapas 21,4
Costa Rica
Limón 7,6
Panamá
Comarca Ngöbe 97,0
Puntarenas 4,3 Comarca Kuna Yala 96,0
Guanacaste 1,8 Comarca Emberá 89,4
Chile
La Araucanía 23,8
Paraguai
Boquerón 49,4
Tarapacá 12,0 Alto Paraguai 28,2
Los Lagos 9,6 Presidente Hayes 23,4
Equador
Napo 53,6
Venezuela (R. B. de)
Amazonas 49,2
Morona Santiago 40,4 Delta Amacuro 25,2
Pastaza 35,9 Zulia 10,9
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
No caso da população de ascendência africana, e à excepção do
Brasil, os jovens têm um peso relativo signifi cativo somente numa das
áreas administrativas maiores de cada país, ou seja, em Esmeraldas
(Equador), onde representam 40%; nas Islas de la Bahía (Honduras),
onde 1 entre cada 5 jovens é de ascendência africana, e em Limón
(Costa Rica), onde são 16%, de acordo com os censos de 2000; no
resto das áreas de cada um destes países os jovens de ascendência
africana representam sistematicamente grupos minoritários. Pelo con-
trário, no Brasil, e segundo o censo de 2000, este grupo era maioritá-
rio em 20 dos 27 estados, registando entre 51% em Goiás e 76% na
Bahia; em três estados (Minas Gerais, Rio de Janeiro e Mato Grosso
do Sul) os jovens de ascendência africana constituem cerca de meta-
de do total de jovens; em São Paulo 30% e nos três estados restantes
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(Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina), entre 10% e 22%.
Cabe assinalar que o censo permitiria realizar uma análise de acordo
com o povo a que pertencem (ou, na sua falta, por língua falada) e
examinar a diversidade de povos que coexistem numa mesma área.
Permitiria também desagregar a informação para áreas menores,
como municípios, e ainda aprofundar os conhecimentos relativos aos
jovens indígenas e de ascendência africana urbanos segundo o siste-
ma de cidades ou na segregação residencial no seu interior, algo que
se propõe para estudos futuros. De todas as formas, se tivermos em
conta que, como tendência geral, a localização da juventude indíge-
na e de ascendência africana coincide, não por acaso, com as áreas
geográfi cas de menor acesso aos serviços básicos e que registam os
maiores índices de pobreza, os resultados apresentados colocam a
urgente necessidade de estabelecer políticas que se centrem na loca-
lização territorial, tal como conclui Delaunay (2003) para o caso do
México ao advertir que «oferecer integração às pessoas, mais que as
regiões, favorece a discriminação social da população indígena no
seu conjunto; incita-a, em caso de migrações ou de ascensão social,
a abandonar as suas referências étnicas; e contribui para dissolver a
diversidade cultural».
Um dos indicadores que se associa a esta situação é a perda do idio-
ma indígena nas gerações mais jovens que, como se verá no capítulo
VI, é um fenómeno que se verifi ca em todos os países da região com
dados disponíveis. Pretende-se aprofundar a investigação destes as-
suntos, tomando em conta também a percepção dos próprios povos.
Tal como revela um estudo realizado no Chile entre mapuches de
18 anos ou mais, a grande maioria considera que, entre as pesso-
as deste povo que vivem nas cidades, o contacto com a sua cultura
vai-se debilitando até quase desaparecer — esta afi rmação foi feita
por 71% dos entrevistados mapuches nas zonas urbanas e 78% nas
rurais (Centro de Estudios Públicos, 2007). O mesmo trabalho revela
que, ainda que uma importante maioria afi rme que se vive melhor no
campo que na cidade (ideia confi rmada por 65% do total de mapu-
ches entrevistados, por 51% dos mapuches urbanos e 77% dos rurais,
bem como por 62% dos jovens de 15 a 24 anos deste povo que fez
parte da investigação), 40% acreditam que mais cedo ou mais tarde
os jovens vão sair da comunidade, 31% consideram que os jovens
permanecem nela porque não têm oportunidade de emigrar, mas que
desejariam fazê-lo e somente 25% têm a percepção que os jovens
ONDE ESTÃO OS JOVENS INDÍGENAS E DE ASCEN-DÊNCIA AFRICANA? GEOGRAFIA DAS VANTA-GENSE DESVANTAGENS
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 77
pretendem fi car na comunidade porque a valorizam; entre os jovens
mapuches de 15 a 24 anos, estas afi rmações foram realizadas, respec-
tivamente, por 43%, 24% e 31% (Centro de Estudos Públicos, 2007).
ONDE ESTÃO OS JOVENS INDÍGENAS E DE ASCEN-DÊNCIA AFRICANA? GEOGRAFIA DAS VANTA-GENSE DESVANTAGENS
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SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
V. Saúde reprodutiva e desigualdades étnicas: do direito aos factos
CEPAL/UNFPA/OIJ 81
10 Entre eles, a Declaração
das Nações Unidas sobre os
direitos dos povos indígenas,
a Declaração e o Programa de
Acção da Conferência Inter-
nacional sobre a População
e o Desenvolvimento (CIPD),
a Declaração do Milénio, os
Objectivos do Desenvolvimen-
to do Milénio e a Plataforma de
Acção de Pequim.
SAÚDE REPRODUTIVA E DESIGUALDADES ÉTNICAS: DO DIREITO AOS FACTOS
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DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
A. O que dizem as organizações internacionais?
Várias declarações e acordos internacionais10 enaltecem a necessida-
de de abordar as questões relativas à saúde a partir de uma perspec-
tiva holística, tendo em conta o bem-estar emocional, físico e social,
bem como a de reconhecer os vínculos existentes entre a saúde e
outras prioridades como a educação, a paz, o meio ambiente e a
produtividade económica. De igual modo, advertem que a saúde dos
jovens deve ser tida em consideração pelos Estados como uma das
suas atenções mais relevantes.
A saúde é o direito de um indivíduo ou um povo realizar as suas
aspirações e satisfazer as suas necessidades tendo em mente o seu
bem-estar ou «bem-viver». Quando se trata de povos indígenas e de
ascendência africana, a saúde deve considerar-se uma questão inte-
gral e holística, que diz respeito a todos os membros da comunidade
e inclui dimensões físicas, sociais, mentais, ambientais e espirituais
(CEPAL, 2007).
Nesta linha, o Plano de Acção de Durban defi ne a adopção de me-
didas positivas, instando os Estados «a estabelecer programas que
promovam o acesso, sem qualquer discriminação, das pessoas que
são vítimas de racismo, de discriminação racial, de xenofobia e das
V. Saúde reprodutiva e desigualdades étnicas: do direito aos factos
CEPAL/UNFPA/OIJ 82
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DESIGUALDADES
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E DESAFIOS POLÍTICOS
formas relacionadas de intolerância, a cuidados de saúde e a obri-
gar que se façam grandes esforços para eliminar as diferenças, entre
outras coisas, no que diz respeito às taxas de mortalidade infantil e
materna, à imunização infantil, ao VIH/SIDA, às doenças cardíacas,
ao cancro e às doenças contagiosas» (Nações Unidas, 2001, pará-
grafo 101).
Actualmente, em muitas zonas do mundo, povos e jovens indígenas
e de ascendência africana estão a sofrer devido à alarmante dete-
rioração das condições de saúde das suas comunidades. O acesso
insufi ciente e limitado aos serviços sanitários, a falta de abordagens
a cuidados de saúde culturalmente adequadas, a carência de clínicas
que ofereçam serviços de extensão em zonas afastadas e a diminui-
ção da qualidade do ar, da água e da terra como causas de um desen-
volvimento industrial descontrolado são apenas alguns dos factores
que contribuem para esta deterioração (Nações Unidas, 2004, pará-
grafo 88).
Por sua vez, as mudanças nas instituições sociais, culturais e políticas
tradicionais conduziram, em muitas ocasiões, à perda de práticas e
conhecimento médicos — incluindo plantas e animais de uso tera-
pêutico — que eram essenciais para garantir a saúde destes povos e
das quais, hoje em dia, as gerações mais jovens sentem falta.
Relativamente a esta questão, a Declaração das Nações Unidas sobre
os direitos dos povos indígenas estabelece que:
“1. Os povos indígenas têm direito às suas próprias medicinas
tradicionais e a manter as suas práticas de saúde, incluindo a
conservação das suas plantas medicinais, dos animais e dos
minerais de interesse vital. As pessoas indígenas também têm
direito a acederem, sem qualquer tipo de discriminação, a to-
dos os serviços sociais e de saúde.
2. As pessoas indígenas têm direito a desfrutar por igual do ní-
vel mais elevado possível de saúde física e mental. Os Estados
tomarão as medidas necessárias de forma a obterem progres-
sivamente a plena realização deste direito» (Nações Unidas,
2007b, artigo 24).
CEPAL/UNFPA/OIJ 83
11 Como parte destes esforços,
publicou-se no Equador o
documento «Situación de Salud
de los Pueblos Indígenas», com
base nos resultados do Inqué-
rito Demográfi co e de Saúde
Materna e Infantil (ENDEMAIN)
2004, compilando pela primei-
ra vez informação desagregada
que mostra as desigualdades na
saúde da população indígena e
não indígena. Também com o
apoio da UNFPA, da CELADE
e da OPS, está a ser elaborado
um estudo sobre a saúde repro-
dutora das mulheres indígenas
e de ascendência africana a
nível regional, com ênfase na
saúde materno-infantil.
SAÚDE REPRODUTIVA E DESIGUALDADES ÉTNICAS: DO DIREITO AOS FACTOS
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DESIGUALDADES
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E DESAFIOS POLÍTICOS
A Convenção Ibero-americana dos Direitos dos Jovens também criou
regulamentos sobre esta matéria, estabelecendo no seu artigo 25 que
os Estados devem reconhecer o direito dos jovens a uma saúde in-
tegral e de qualidade, incluindo os cuidados primários gratuitos, a
educação preventiva, a nutrição, a atenção e o cuidado especiali-
zado da saúde juvenil, a promoção da saúde sexual e reprodutiva,
a investigação dos problemas de saúde que se apresentam na idade
juvenil, a informação e prevenção contra o alcoolismo, o tabagismo
e a utilização de drogas (OIJ, 2005).
A situação da saúde sexual e reprodutiva dos povos indígenas e de
ascendência africana é um tema que ainda não se investigou sufi -
cientemente. Na Conferência Internacional sobre População e o De-
senvolvimento (CIPD), que teve lugar no Cairo em 1994, colocou-se
ênfase pela primeira vez no exercício dos direitos sexuais e reprodu-
tivos, deixando de lado as metas de redução demográfi ca apoiadas
em décadas anteriores. Actualmente, as políticas e os programas que
impõem um modelo vertical e limitam as decisões das mulheres são
fortemente questionados.
Na sua alusão ao tema, o Programa de Acção do Cairo sustém que
«os cuidados de saúde reprodutiva incluem a saúde sexual, cujo ob-
jectivo é o desenvolvimento da vida e das relações pessoais». No
âmbito dos direitos reprodutivos considera-se «o direito de todas as
pessoas adoptarem decisões relativamente à reprodução sem sofre-
rem discriminações, coacções ou violência» (Nações Unidas, 1994,
capítulo VII).
Recentemente, algumas agências das Nações Unidas avançaram
com várias iniciativas para compreender a particularidade cultural
das práticas relacionadas com a saúde sexual e reprodutiva dos po-
vos indígenas. Na liderança encontra-se o Fundo de População das
Nações Unidas (UNFPA), que trabalha na preparação e aplicação
de modelos, programas e estratégias de saúde reprodutiva com uma
perspectiva intercultural, para fazer face a problemas como a elevada
taxa de mortalidade materna, as práticas nocivas e a propagação do
VIH/SIDA entre os povos indígenas, em particular entre as mulheres
(Nações Unidas, 2008).11
O movimento de mulheres indígenas da América Latina, por seu
lado, afi rmou a necessidade de construir mecanismos de participação
CEPAL/UNFPA/OIJ 84
e inclusão das mulheres e dos povos indígenas, que garantem servi-
ços pertinentes e ideais, em particular para os jovens, e que tornem
possível encarar os problemas de acesso e a qualidade dos serviços
de saúde integral e reprodutiva, reduzindo a partir de uma perspecti-
va intercultural a falta de consideração linguística, o tratamento dis-
criminatório, o desconhecimento dos recursos e dos valores humanos
e culturais das famílias indígenas e a falta de qualidade humana por
parte do pessoal dos estabelecimentos (Mulheres Indígenas Andinas e
Amazónicas do Peru, 2004).
A Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Racial (ICERD) faz especial menção ao direito à saú-
de no seu artigo 5, alínea e.iv. Através deste instrumento, os Estados
Parte comprometeram-se a proibir e eliminar a discriminação racial
em todas as suas formas e a garantir o direito de todas as pessoas à
igualdade perante a lei, sem distinção de raça, cor e origem nacio-
nal ou étnica, particularmente no gozo do direito à saúde pública, à
assistência médica, à segurança social e aos serviços sociais (Nações
Unidas, 1965).
O Fórum Permanente para as Questões Indígenas acrescentou tam-
bém a sua voz a esta estrutura do direito internacional para a protec-
ção da saúde, em particular a sexual e reprodutiva, recomendando
no seu terceiro período de sessões que todas as entidades das Nações
Unidas — especialmente a Organização Mundial da Saúde (OMS), a
UNICEF e a UNFPA — as organizações regionais de saúde e os gover-
nos: «integrem plenamente o princípio de que a saúde é um direito
humano fundamental em todas as políticas e programas de saúde,
que promovam abordagens de saúde baseadas nos direitos, incluindo
os direitos consagrados em tratados, o direito a receber serviços cul-
turalmente aceitáveis e adequados e os direitos reprodutivos das mu-
lheres indígenas, e que ponham fi m aos programas de esterilização
e de abortos forçados que podem constituir um genocídio étnico»
(Nações Unidas, 2004, parágrafo 89).
Em conclusão, este capítulo parte da noção de que o direito à saúde,
entendido como «um direito a um sistema de saúde efi caz e integra-
do, que inclua a atenção à saúde e aos factores determinantes subja-
centes da saúde, que responde às prioridades nacionais e locais e que
é acessível para todos» (Nações Unidas, 2006), é essencial para os
povos e jovens indígenas e de ascendência africana em todo o mun-
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CEPAL/UNFPA/OIJ 85
do. Sem lugar para dúvidas, a saúde sexual e reprodutiva faz parte
destes direitos e adquire uma particular importância entre os jovens
dado que, nesta etapa da vida, ocorrem dois factos consubstanciais:
a iniciação sexual e a nupcialidade.
B. A maternidade das jovens indígenas e de ascendência africana: entre as desigualdades e as diferenças culturais
Estudos prévios mostram que na América Latina os jovens iniciam
a sua vida sexual em idades cada vez mais precoces e que, por ou-
tro lado, começam a adiar as uniões e o primeiro fi lho (CEPAL/OIJ,
2004), isto em prol da acumulação de capital educativo e laboral.
Contudo, estes comportamentos variam de acordo com os diferentes
grupos sociais, tal como ocorre com os jovens indígenas e de ascen-
dência africana.
Esta heterogeneidade manifesta-se nos número do gráfi co 6. De facto,
em todos os países examinados se verifi ca que a percentagem de jo-
vens mães é sistematicamente mais elevado entre as raparigas indíge-
nas. As maiores desigualdades estão no Panamá e no Paraguai, onde
66% e 70% das jovens indígenas, respectivamente, já tiveram pelo
menos um fi lho, enquanto nas restantes raparigas esta situação atinge
aproximadamente os 40%. A maternidade nas jovens de ascendência
africana do Brasil e da Costa Rica é menos frequente que a das jovens
indígenas, mas mais elevada que a do resto das mulheres deste grupo
etário. No Equador, a maior probabilidade de ser mãe ocorre entre
as jovens de ascendência africana, ao contrário do que ocorre nas
Honduras e na Nicarágua, o que se explica, em parte, pelos melhores
níveis de educação formal que possuem as raparigas de ascendência
africana nestes países, como se verá mais adiante.
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Gráfi co 6América Latina (13 países): Jovens de 15 a 29 anos que são mães,
segundo condição étnica, censos de 2000
(Em percentagens)
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
Tomando em conta a idade das jovens, observa-se que a materni-
dade é sistematicamente mais elevada entre as raparigas indígenas
dos diferentes subgrupos etários, excepto no Estado Plurinacional da
Bolívia, no Equador e nas Honduras, onde é algo menor entre as in-
dígenas de 15 a 17 anos que entre as não indígenas. Seja como for,
em geral, as desigualdades étnicas são relativamente mais elevadas
precisamente no grupo das mais jovens, sendo o caso extremo o do
Paraguai, país no qual a percentagem das mulheres do subgrupo etá-
rio mais jovem que tem pelo menos um fi lho é seis vezes superior à
das não indígenas. No Brasil, na Costa Rica e no Panamá a intensida-
de da maternidade em idades precoces das jovens indígenas triplica
em relação às não indígenas (ver tabela 10).
Se bem que o início da maternidade em idades mais precoces não
implica necessariamente uma prole mais numerosa, investigações
prévias dão conta de que, apesar de um declínio generalizado e im-
portante do nível de fecundidade dos países da região, persistem di-
ferenças signifi cativas de acordo com os grupos étnicos, já que os
povos indígenas e de ascendência africana mantêm níveis superiores
às médias nacionais (CEPAL, 2006; CELADE, 2006). Portanto, as jo-
vens indígenas e de ascendência africana não só são mães em maior
proporção, como é também de esperar que, no fi nal da sua vida re-
produtiva, tenham um número maior de fi lhos. Além disso, Rodríguez
(2003) demonstrou, para alguns países da região, o efeito líquido da
condição étnica sobre a fecundidade elevada na América Latina. Esta
situação, associada a condições de pobreza, provoca o que na in-
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DESIGUALDADES
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E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 87
vestigação feita até hoje se denomina de «dinâmica demográfi ca da
pobreza» (Rodríguez, 2003).
Tabela 10América Latina (13 países):Jovens que são mães, de acordo com subgrupos
de idades e condição étnica, censos de 2000(Em percentagens)
País Condição étnica
Idades
Total15 a 17
anos
18 a 19
anos
20 a 24
anos
25 a 29
anos
ArgentinaIndígena 10,4 27,3 48,4 70,1 43,0
Resto 6,7 19,9 40,5 62,8 37,4
Bolívia (E. P. de)
Indígena 6,0 25,2 54,3 77,5 46,1
Resto 6,5 24,2 49,9 73,8 41,4
Brasil
Indígena 17,9 41,2 61,1 81,3 53,4
Ascendência africana 9,7 28,2 53,0 73,6 45,1
Resto 6,9 20,9 42,4 65,7 38,7
ChileIndígena 7,7 21,9 49,7 72,7 44,7
Resto 7,1 20,4 43,2 67,1 40,4
Costa Rica
Indígena 19,0 49,1 70,7 84,5 58,5
Ascendência africana 9,6 27,7 53,4 72,7 45,2
Resto 6,4 23,1 48,2 73,2 42,2
EQuador
Indígena 7,6 31,0 63,1 82,9 48,9
Ascendência africana 13,0 37,0 62,0 78,1 52,6
Resto 8,6 27,3 52,7 73,5 45,4
GuatemalaIndígena 8,2 29,8 58,6 79,1 46,6
Resto 7,6 26,2 53,4 75,6 44,8
Honduras
Indígena 8,7 34,4 65,2 81,8 49,7
Ascendência africana 7,2 26,6 52,8 74,6 43,0
Resto 9,3 32,2 59,9 79,2 48,3
MéxicoIndígena 8,5 30,3 59,0 80,3 48,3
Resto 5,5 21,3 47,3 71,9 42,2
Nicarágua
Indígena 13,6 38,7 66,0 84,1 53,1
Ascendência africana 8,9 30,9 56,3 78,9 47,1
Mestiço da costa caribenha 18, 7 47,2 73,8 88,5 60,7
Resto 11,0 33,3 60,5 80,9 50,8
PanamáIndígena 24,8 57,3 78,8 90,8 65,5
Resto 7,8 25,8 50,8 71,0 44,8
ParaguaiIndígena 31,3 66,5 82,5 91,1 69,9
Resto 5,0 21,0 49,1 77,0 40,9
Venezuela (R. B. de)
Indígena 13,9 37,6 61,6 79,2 51,2
Resto 7,9 25,4 49,5 71,1 43,3
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
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CEPAL/UNFPA/OIJ 88
Os resultados expostos estariam a indicar uma desigualdade na im-
plementação dos direitos das jovens indígenas e de ascendência afri-
cana, e especifi camente do direito à saúde reprodutiva, dado que
estes números se explicam por factores estruturais de discriminação
histórica que se expressam em maiores níveis de pobreza e menor
acesso à educação formal. A falta de adequação cultural dos serviços
de saúde difi culta ainda mais o acesso destas jovens aos serviços de
planifi cação familiar. Tudo isto limita as decisões reprodutivas, o que
tem impacto no bem-estar das jovens mães e dos seus fi lhos e, em
determinadas situações, traduz-se em maiores níveis de mortalidade
infantil e materna.
Sem prejuízo do anterior, não é menos certo que estas diferenças
também se expliquem, em parte, por factores inerentes aos padrões
culturais dos povos indígenas e de ascendência africana aos quais
pertencem estas jovens e que determinam, entre outras coisas, a ida-
de da união e o momento da chegada dos fi lhos. De facto, em termos
gerais, é mais frequente o casamento em idades mais precoces, sobre-
tudo entre as mulheres indígenas. Tal facto, somado ao valor associa-
do à reprodução e às necessidades de sobrevivência física e cultural,
torna a transição para o primeiro fi lho mais intensa em comparação
com a do resto das jovens, e a descendência fi nal mais numerosa.
Mas também os padrões culturais de alguns povos podem conduzir
à situação contrária, ou seja, a uma trajectória reprodutiva menos in-
tensa e inclusivamente mais tardia que a das mulheres não indígenas,
como parecem indicar os valores para as adolescentes indígenas do
Estado Plurinacional da Bolívia e do Equador, a partir dos resultados
da tabela 10.
Os factores socioeconómicos e étnicos subjacentes aos comporta-
mentos reprodutivos podem ser visualizados através dos dados da ta-
bela 11. Várias leituras surgem relacionadas com esta questão. Por um
lado, observa-se a associação com a zona de residência, dado que a
probabilidade de ser mãe entre as jovens de qualquer grupo étnico
é sistematicamente mais elevada no meio rural do que no urbano.
Também a educação formal tem o seu impacto no comportamento
reprodutivo, marcando diferenças contundentes entre as jovens que
possuem pelo menos o nível secundário completo (13 anos de estudo
ou mais) e as com menos de 4 anos de escolaridade, independente-
mente da etnia a que pertencem. Os números permitem inferir, por
sua vez, a interacção destas variáveis: entre as jovens indígenas do
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CEPAL/UNFPA/OIJ 89
meio urbano a educação parece ter um maior efeito sobre a decisão
de ser mãe, ao passo que no campo as diferenças de probabilidade
segundo o nível de educação formal são relativamente menores. Evi-
dentemente, por trás destes resultados existem outros aspectos rele-
vantes como, por exemplo, a oferta de serviços de saúde e as maiores
oportunidades que oferecem as cidades — acesso à informação e aos
métodos contraceptivos — para materializar o adiamento dos fi lhos.
Um resultado interessante que se pode retirar da tabela 11 relacio-
na-se com o factor étnico. Ainda quando se consideram o lugar de
residência e o nível de educação formal, as raparigas indígenas e
de ascendência africana são mães em maior proporção que o resto
das jovens e as desigualdades por condição étnica são relativamente
mais elevadas entre as jovens com mais educação. Contudo, é inte-
ressante notar algumas excepções a este comportamento: no Estado
Plurinacional da Bolívia, por exemplo, a intensidade da maternidade
entre as jovens indígenas do meio rural é menor que a das não in-
dígenas, independentemente do nível de educação; na Guatemala,
a desigualdade entre indígenas e não indígenas tende a desapare-
cer quando se tomam em consideração as variáveis de residência e
educação e, além disso, inverte-se a situação, já que a maternidade
torna-se menos intensa entre as jovens indígenas; nas Honduras, a
maior maternidade indígena manifesta-se unicamente entre as jovens
mais educadas e observa-se uma tendência semelhante para as rapa-
rigas de ascendência africana do meio urbano. Contudo, a evidência
empírica apoia a hipótese já mencionada, segundo a qual uma ma-
ternidade mais intensa entre as jovens indígenas e de ascendência
africana não é um sintoma exclusivo da existência de desigualdades
na implementação dos seus direitos, mas que também seria o resul-
tado de preferências reprodutivas diferentes, de acordo com os seus
contextos culturais.
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CEPAL/UNFPA/OIJ 90
Tabela 11América Latina (13 países): Jovens que são mães, segundo o nível de escolaridade, área de residência
e condição étnica, censos de 2000(Em percentagens)
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
País
Cond
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Indí
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61,4
60,3
37,8
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51,5
Rest
o57
,263
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Indí
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60,0
Asc
endê
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57,5
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endê
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Asc
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,447
,637
,456
,7
Rest
o51
,458
,540
,832
,443
,056
,955
,939
,031
,948
,8
Gua
tem
ala
Indí
gena
52,6
39,3
24,7
24,1
41,8
56,0
35,4
19,5
25,2
49,1
Rest
o58
,054
,034
,626
,242
,059
,245
,927
,829
,648
,9
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s
Indí
gena
52,2
52,8
29,8
31,1
41,1
60,5
48,6
29,4
41,5
51,8
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endê
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,554
,132
,334
,839
,563
,658
,736
,443
,549
,3
Rest
o57
,854
,633
,930
,144
,263
,152
,631
,236
,553
,5
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Indí
gena
40,2
49,6
66,7
77,8
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37,0
48,1
70,4
70,5
49,1
Rest
o40
,041
,161
,277
,958
,938
,248
,064
,972
,453
,6
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Indí
gena
67,3
63,6
45,7
36,9
51,1
70,9
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46,5
32,7
59,3
Asc
endê
ncia
afr
ican
a64
,464
,448
,639
,549
,572
,064
,053
,033
,357
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75,9
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46,8
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48,2
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70,8
Rest
o70
,766
,443
,532
,148
,572
,359
,337
,829
,558
,5
CEPAL/UNFPA/OIJ 91
País
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étn
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gena
73,5
64,4
45,9
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55,8
74,7
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47,0
68,3
Rest
o50
,063
,642
,827
,441
,666
,369
,642
,430
,653
,1
Par
agua
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díge
na70
,063
,542
,066
,763
,376
,561
,642
,150
,071
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Rest
o58
,157
,930
,829
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,525
,934
,246
,1
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,653
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,226
,947
,765
,759
,036
,538
,557
,0
Rest
o53
,263
,940
,426
,142
,065
,264
,544
,635
,755
,7
CEPAL/UNFPA/OIJ 92
1. A fecundidade em idades precoces
Na América Latina, a reprodução em idades precoces constitui uma
área de interesse especial para as políticas públicas por vários moti-
vos. Em primeiro lugar, porque apesar das descidas signifi cativas ao
nível da fecundidade geral, a fecundidade adolescente não seguiu a
mesma tendência e, além disso, os níveis mantiveram-se iguais em
quase todos os países da região ou até aumentaram (CEPAL/CELA-
DE, 2004; Rodríguez, 2008). Em segundo lugar, porque a reprodução
em idades precoces é associada às desigualdades socioeconómicas,
dado que a frequência é muito maior entre os grupos pobres e com
menor nível de escolaridade (entre os quais se encontram povos in-
dígenas e de ascendência africana), a um ponto que foi considerada,
em simultâneo, um dos componentes que reduzem as probabilida-
des de saída da pobreza de várias gerações (CEPAL/CELADE, 2004;
Rodríguez, 2008). De igual modo, relaciona-se com a desigualdade
de género, dado que as responsabilidades relativas à criança recaem
principalmente sobre as jovens e suas mães e avós. Em terceiro lugar,
porque a maternidade ocorre cada vez mais fora do casamento ou
das uniões, e isso implica novamente uma desigualdade de género,
devido ao abandono masculino e à existência de mães adolescentes
sem companheiro e fi lhos sem pais presentes (Rodríguez, 2008).
Porém, se se pretender conceber uma política efi caz e que respeite os
direitos individuais e colectivos, esta forma de lidar com os problemas
associados à maternidade em idades precoces deve ser relativizada
quando analisamos a situação dos povos indígenas e de ascendência
africana, e examinada com base nas diferenças culturais. Em princí-
pio, as associações previamente referidas (por exemplo, a associação
que se refere à tendência de haver fi lhos fora da união ou à ausência
de casais) não ocorrem necessariamente entre as raparigas indíge-
nas. Apesar de não se poder negar a relação entre exclusão social e
reprodução precoce, o impacto negativo que tem pode não ocorrer
sobre as jovens indígenas em contextos mais tradicionais, devido ao
papel central que ocupam na família, que é a base da estrutura social
indígena. Por outro lado, no caso de alguns povos indígenas e de
ascendência africana, os padrões associados às núpcias em idades
precoces e ao valor que se dá aos fi lhos concedem signifi cados muito
diferentes à designada «reprodução na adolescência» (Oyarce e Del
Popolo, 2008; Pagliaro e Azevedo, 2008).
SAÚDE REPRODUTIVA E DESIGUALDADES ÉTNICAS: DO DIREITO AOS FACTOS
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 93
No total, o gráfi co 7 apresenta uma maternidade precoce constante-
mente superior entre as raparigas indígenas de todos os países exami-
nados. No caso das raparigas com ascendência africana, no Brasil e
Costa Rica a maternidade adolescente é inferior à indígena mas supe-
rior à do resto das jovens, devido à maior intensidade entre as adoles-
centes afro-equatorianas, e nas Honduras e Nicarágua é a mais baixa.
Com foi já referido, os valores apresentados até ao momento ocultam
uma heterogeneidade regional de acordo com os povos de proveni-
ência das jovens. Com efeito, a título exemplifi cativo, a intensidade
da maternidade em idades precoces no Estado Plurinacional da Bolí-
via é muito mais elevada entre as jovens mojeñas e guaranis do que
entre as aimarás e quíchuas; no Panamá, é mais intensa entre as ngö-
bes, emberás e teribes do que entre as jovens kunas. Estas diferenças
abrangem tanto os meios urbanos como os rurais, notando-se assim
o efeito da zona de residência, entre outros factores (ver os gráfi cos
8 e 9).
As especifi cidades culturais de cada povo também podem acarretar,
como já foi dito, uma menor intensidade da reprodução em idades
precoces em comparação com a situação não indígena, como acon-
tece com as aimarás e as quíchuas no Estado Plurinacional da Bolí-
via, ou com as jovens Rapa Ni no Chile. Nesse sentido, um estudo
prévio mostra que as mulheres aimarás têm uma trajectória reprodu-
tiva mais tardia e menos intensa do que as não indígenas, ainda que
sejam considerados factores económicos e educativos, enquanto as
mulheres guaranis sobressaem por isso, isto é, por uma maternida-
de intensa e precoce (Rodríguez, 2003). Também Pagliaro e Azevedo
(2008) apresentam evidências contundentes acerca da forma como
a organização social de determinados povos indígenas do Brasil, os
seus sistemas familiares e de parentesco, as regras de casamento e de
residência, as normas relativas à concepção e contracepção, entre
outros elementos, são aspectos da cultura de cada povo que infl uen-
ciam os regimes demográfi cos e as trajectórias reprodutivas. Desta
forma, entre o povo Xavante, que tem regras de residência matrilocal
e descendência patrilinear, e no qual o casamento e a maternidade se
tornaram praticamente universais, as mulheres iniciam o seu período
de reprodução aos 11 ou 12 anos de idade; por outro lado, os povos
com padrões de residência patrilocal demonstram um início da ma-
ternidade mais tardio (Pagliaro e Azevedo, 2008).
SAÚDE REPRODUTIVA E DESIGUALDADES ÉTNICAS: DO DIREITO AOS FACTOS
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 94
Gráfi co 7América Latina (13 países): jovens de 15 a 19 anos que são mães,
segundo condição étnica, censos de 2000(Em percentagens)
Fonte: elaboração própria com base em procedimentos especiais das bases de micro-dados censitários com REDATAM.
Gráfi co 8América Latina (países seleccionados): Jovens urbanas de 15 a 19 anos
que são mães, segundo condição étnica e povo indígena a que pertencem, censos de 2000
(Em percentagens)
Fonte: elaboração própria com base em procedimentos especiais das bases de micro-dados censitários com REDATAM.
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JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
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DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 95
Gráfi co 9América Latina (países seleccionados): Jovens rurais de 15 a 19 anos
que são mães, segundo condição étnica e povo indígena (Em percentagens)
Fonte: elaboração própria com base em procedimentos especiais das bases de micro-dados censitários com REDATAM.
Nota para os gráfi cos 8 e 9: no caso do Paraguai, tratam-se de famílias linguísticas, e não de povos existentes no país.
Apesar de a maternidade adolescente nos contextos urbanos ser me-
nos frequente do que nos meios rurais, não é menos verdade que os
processos de aculturação aos quais são submetidas as raparigas indí-
genas poderiam conduzir a um desvanecimento dos factores culturais
que travam uma reprodução em idades precoces, provocando um au-
mento da fecundidade adolescente. Os valores do Estado Plurinacio-
nal da Bolívia mostram índices desta situação, já que nas zonas rurais
a percentagem de jovens quíchuas de 15 a 19 anos que são mães é
inferior à das indígenas, enquanto nas áreas urbanas este comporta-
mento inverte-se; ocorre uma situação semelhante entre as adoles-
centes yámanas no Chile (ver os gráfi cos 8 e 9). De igual modo, esta
«modernização» pode eliminar progressivamente os conhecimentos
tradicionais sobre saúde reprodutiva em aspectos relativos à gravidez
e ao parto ou à utilização de métodos contraceptivos tradicionais,
bem como conduzir a situações adversas para as jovens indígenas.
SAÚDE REPRODUTIVA E DESIGUALDADES ÉTNICAS: DO DIREITO AOS FACTOS
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 96
C. As desigualdades perante a morte
A falta de identifi cação étnica nas estatísticas vitais e nos registos de
saúde difi culta em grande medida a possibilidade de conhecer os
padrões de morbi-mortalidade dos jovens indígenas e de ascendência
africana na região. De uma forma geral, foi através de estudos locais
ou em comunidades indígenas específi cas que se verifi cou a exis-
tência de grandes desigualdades, que se traduzem numa maior pre-
valência de VIH-SIDA, de mortes maternas ou por motivos externos.
A nível nacional, o Brasil é o único país da região que incorporou
uma variável étnico-racial no seu sistema de informação de saúde
de forma sustentada e sistemática ao longo do tempo. Este procedi-
mento permitiu demonstrar, por exemplo, as disparidades nos níveis
de mortalidade entre os jovens de ascendência africana e os brancos,
em detrimento dos primeiros, e em que medida as causas externas
têm um peso relativo superior no caso dos rapazes de ascendência
africana (Paixão e Carvano, 2008).
Considerando as informações anteriores, a única informação que é
possível obter com os censos de população sobre a situação de saúde
dos jovens de acordo com a condição étnica é referente à mortali-
dade dos fi lhos das jovens mães. Para isso, foi usado o cálculo da
proporção de fi lhos falecidos entre as mães de 20 a 29 anos. Ainda
que este indicador não meça a mortalidade na infância, tem um certo
grau de associação com esse índice, além de permitir uma aproxima-
ção ao estudo da saúde reprodutiva das jovens e das desigualdades
étnicas. Nesta secção, foram abordados os riscos de mortalidade pre-
coce para os fi lhos das jovens indígenas e de ascendência africana
em relação ao resto da população, e a sua forte associação com a
educação e zona de residência.
A mortalidade na infância é um indicador chave, que refl ecte clara-
mente as desigualdades na implementação do direito à saúde. Forne-
ce uma informação com a qual é possível expor muitos factores de
desigualdade, relacionados com as condições sócio-ambientais e o
acesso da criança e da mãe aos bens e serviços. É importante ter em
conta que uma parte signifi cativa das mortes infantis que afectam os
povos indígenas e de ascendência africana é provocada por causas
evitáveis.
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JUVENTUDE INDÍGENA
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DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 97
Como é possível observar na tabela 12, na grande maioria dos paí-
ses da região, a proporção de fi lhos falecidos de jovens indígenas é
maior do que no resto da população, tanto nos meios rurais como
nos urbanos. Os dados permitem apreciar a infl uência favorável da
educação da mãe, se bem que as desigualdades persistem para além
da incidência positiva. Em todos os casos, quando as mães alcançam
um nível de escolaridade superior, a mortalidade desce.
Existe uma diversidade de situações entre os países. O Estado Pluri-
nacional da Bolívia apresenta os valores mais alarmantes. No caso
das jovens indígenas das zonas urbanas com entre 0 e 3 anos de
escolaridade, faleceram 15 fi lhos por cada 100 nados vivos, possi-
velmente uma grande maioria em idades precoces. No meio rural, a
situação é preocupante, pois faleceu 18% dos fi lhos destas raparigas.
Apesar de estes valores diminuírem à medida que aumentam os anos
de escolaridade das jovens mães, continuam a ser os mais elevados
da região. A diferença em relação aos resto das raparigas não é tão
ampla porque se trata de um país com uma elevada mortalidade in-
fantil e durante a infância.
O Paraguai também apresenta índices elevados de mortalidade indí-
gena. Por cada 100 fi lhos nados vivos de jovens mães com uma es-
colaridade entre 0 e 3 anos, morrem mais de 10, tanto no meio rural
como no meio urbano. Há que considerar que, neste país, a maioria
das mães indígenas apenas alcança este nível de escolaridade, sendo
portanto este um indicador esclarecedor da gravidade da situação.
Em relação ao resto das jovens que têm os mesmos anos de escola-
ridade, os fi lhos nascidos de mães indígenas têm mais do dobro das
probabilidades de morrer, incluindo mais do triplo entre as raparigas
rurais com 7 anos de escolaridade ou mais (ver as tabelas 12 e 13).
Outros países que apresentam níveis elevados de mortalidade indíge-
na são a República Bolivariana da Venezuela, o Brasil, o México, a
Guatemala e o Panamá. A situação deste último país é preocupante,
devido à amplitude da diferença entre os indicadores indígenas e os
do resto da população jovem. Por cada 100 fi lhos de jovens indígenas
urbanas com 0 a 3 anos de escolaridade morrem quase 6, comparado
com 2,3 no caso das jovens não indígenas com o mesmo nível de
escolaridade. Este facto signifi ca que as crianças indígenas 2,5 vezes
mais probabilidades de morrer do que as crianças não indígenas. Esta
diferença vai-se esbatendo com o aumento do nível de escolaridade
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AFRICANA NA
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DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 98
das mães, embora no meio rural a diferença em relação ao resto das
jovens continue a ser muito elevada — mais do dobro em todos os
casos — apesar desse decréscimo (ver tabela 13).
Na maioria dos países, existem diferenças de acordo com o local de
residência das mães. De uma forma geral, a mortalidade para todos
os grupos étnicos é maior nos meios rurais. Nestas zonas, existe uma
menor cobertura sanitária, o acesso aos centros de saúde locais é
difícil e o transporte para centros médicos urbanos é problemático ou
inexistente. A isso junta-se a falta de adequação cultural dos serviços
de saúde disponíveis, que muitas vezes resultam numa rejeição pelas
comunidades mais tradicionais.
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AFRICANA NA
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DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
País Condição étnica
Urbana Rural
0 a 3 anos
4 a 6 anos
7 anos ou
mais
0 a 3 anos
4 a 6 anos
7 anos ou
mais
Bolívia (E. P. de)
Indígena 14,9 12,4 8,5 18,4 14,2 10,1
Resto 13,2 11,3 6,8 13,4 10,0 7,7
Total 14,3 12,0 7,6 17,5 13,0 9,3
Brasil
Indígena 5,5 4,0 2,7 4,6 4,4 4,7
Ascendência africana 6,1 3,6 2,6 6,1 3,9 3,0
Resto 4,6 2,7 1,9 5,3 2,8 2,4
Total 5,6 3,2 2,2 5,8 3,4 2,7
Costa Rica
Indígena 1,9 3,7 3,5 4,0 3,1 1,9
Ascendência africana 2,4 1,0 1,2 3,3 1,8 1,7
Resto 2,7 1,7 1,3 3,0 1,7 1,3
Total 2,7 1,7 1,4 3,1 1,8 1,3
Chile
Indígena 2,6 2,2 1,9 3,6 2,5 1,8
Resto 2,9 2,4 1,8 3,3 2,2 1,7
Total 2,9 2,3 1,8 3,4 2,3 1,7
Equador
Indígena 4,1 3,4 2,0 8,4 6,8 4,6
Ascendência africana 4,4 3,2 2,2 5,3 3,9 2,5
Resto 2,8 2,6 1,7 4,5 3,5 2,2
Total 3,1 2,7 1,7 5,6 4,0 2,4
Guatemala
Indígena 5,7 4,4 3,6 6,0 5,2 4,2
Resto 5,2 3,8 2,9 5,7 4,4 3,3
Total 5,5 4,0 19,4 5,9 4,7 0,7
Honduras
Indígena 3,0 2,4 1,7 5,0 3,4 1,9
Ascendência africana 6,0 2,3 1,8 1,7 1,7 2,5
Resto 3,9 2,3 1,3 5,1 3,0 1,8
Total 3,9 2,3 1,3 5,0 3,0 1,8
México
Indígena 6,1 4,2 1,9 8,5 5,7 1,8
Resto 5,6 3,9 1,8 6,5 4,5 1,7
Total 5,7 3,9 1,8 7,1 4,7 1,7
Nicarágua
Indígena 5,0 3,0 2,0 5,9 4,3 2,7
Ascendência africana 3,9 2,2 1,4 5,6 1,4 0,0Mestiço da costa caribenha
5,6 2,9 1,6 6,9 3,1 4,4
Resto 4,0 2,5 1,3 5,2 2,9 1,9
Total 4,1 2,5 1,3 5,3 3,0 2,0
Panamá
Indígena 5,7 3,5 1,8 8,9 5,8 3,5
Resto 2,3 1,8 1,5 3,7 2,2 1,5
Total 3,4 1,9 1,5 7,5 3,0 1,7
Paraguay
Indígena 10,3 9,0 7,6 10,9 9,8 11,1
Resto 6,7 5,2 3,4 5,1 4,0 3,1
Total 6,8 5,2 3,4 6,3 4,1 3,2
Venezuela (R. B. de)
Indígena 6,9 4,7 2,8 11,8 6,9 5,8
Resto 3,9 3,3 2,8 4,4 3,5 3,1
Total 4,1 3,3 2,8 5,9 3,7 3,2
Tabela 12América Latina (12 países): Proporção de fi lhos falecidos de mães de 20 a 29 anos,
de acordo com a condição étnica, área de residência e nível de escolaridade, censos de 2000
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
CEPAL/UNFPA/OIJ 100
As diferenças entre o meio urbano e o rural são especialmente rele-
vantes no Equador. Por cada 100 fi lhos nados vivos de jovens mães
indígenas com 0 a 3 anos de escolaridade habitantes em zonas rurais,
morrem 8,4 crianças, enquanto na cidade este valor é reduzido para
cerca de metade (4,1 fi lhos nados vivos). A diferença mantém-se para
as mães com maior educação formal: no caso das mães com 4 a 6
anos de escolaridade, a proporção de fi lhos falecidos é de 3,4 na
cidade e de 6,8 no campo, e para as mães que têm 7 anos de escola-
ridade ou mais, é de 2 e 4,6, respectivamente.
O Chile é o país no qual tanto a mortalidade dos fi lhos de mães
indígenas como dos fi lhos do resto da população são mais baixas, e
as diferenças relativamente às jovens não indígenas são mínimas. No
caso das mães indígenas com 0 a 3 anos de escolaridade e no meio
urbano, morrem 2,6 fi lhos nados vivos em cada 100, e no meio rural
este valor é de 3,6.
A situação das jovens de ascendência africana é diferente. Nos casos
do Brasil e do Equador, as disparidades na probabilidade de morte
dos fi lhos são bastante elevadas quando comparadas com o resto das
jovens. No primeiro país, por cada 100 fi lhos nados vivos de jovens
mães de ascendência africana com 0 a 3 anos de escolaridade, mor-
rem mais de 6, tanto no meio urbano como no rural. Para as restantes
jovens, este indicador é de 4,6 nas cidades e de 5,3 no campo, repre-
sentando menos 30% e menos 20%, respectivamente.
SAÚDE REPRODUTIVA E DESIGUALDADES ÉTNICAS: DO DIREITO AOS FACTOS
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 101
Tabela 13América Latina (12 países): Diferenças entre a mortalidade dos fi lhos de mães indígenas, de ascendência africana e do resto da população, segundo áreas de residência e nível de escolaridade, censos de 2000
País Comparação de acordo com condição étnica
Urbana Rural
0 a 3 anos
4 a 6 anos
7 anos ou
mais
0 a 3 anos
4 a 6 anos
7 anos ou
mais
Bolívia (E. P. de) Indígenas com o resto 1,1 1,1 1,3 1,4 1,4 1,3
BrasilIndígenas com o resto 1,2 1,5 1,4 0,9 1,6 2,0
População de ascendência africana com o resto 1,3 1,4 1,4 1,2 1,4 1,3
Costa RicaIndígenas com o resto 0,7 2,2 2,6 1,3 1,8 1,5
População de ascendência africana com o resto 0,9 0,6 0,9 1,1 1,0 1,3
Chile Indígenas com o resto 0,9 0,9 1,1 1,1 1,1 1,0
EquadorIndígenas com o resto 1,4 1,3 1,2 1,9 1,9 2,2
População de ascendência africana com o resto 1,5 1,2 1,3 1,2 1,1 1,2
Guatemala Indígenas com o resto 1,1 1,2 1,3 1,1 1,2 1,3
HondurasIndígenas com o resto 0,8 1,1 1,3 1,0 1,1 1,1
População de ascendência africana com o resto 1,5 1,0 1,3 0,3 0,6 1,4
México Indígenas com o resto 1,1 1,1 1,1 1,3 1,3 1,0
Nicarágua
Indígenas com o resto 0,9 1,0 1,2 0,9 1,4 0,6
População de ascendência africana com o resto 1,0 0,9 1,1 1,1 0,5 0,0
Mestiço da costa caribenha com o resto 1,4 1,2 1,3 1,3 1,1 2,4
Panamá Indígenas com o resto 2,5 1,9 1,2 2,4 2,7 2,3
Paraguai Indígenas com o resto 1,5 1,7 2,3 2,1 2,4 3,6
Venezuela (R. B. de) Indígenas com o resto 1,8 1,4 1,0 2,7 2,0 1,9
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
No Equador, as percentagens de mortalidade dos fi lhos de mães de
ascendência africana urbanas são muito semelhantes às das indíge-
nas urbanas (4,4 mortes por cada 100 fi lhos nados vivos para o nível
de escolaridade inferior, em comparação com 4,1 para os segundos),
mas no meio rural os indígenas apresentam uma situação mais desfa-
vorável: 8,4 à frente de 5,3. As raparigas de ascendência africana da
Costa Rica e da Nicarágua registam indicadores menos adversos que
os do resto da população jovem no meio urbano e, no meio rural, as
desigualdades têm tendência a desaparecer (ver os gráfi cos 10 e 11).
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Gráfi co 10América Latina (12 países): Filhos falecidos de mães jovens urbanas de 20 a 29 anos, de acordo com a condição étnica, censos de 2000
(Em percentagens)
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
Gráfi co 11América Latina (12 países): Filhos falecidos de mães jovens rurais
de 20 a 29 anos, de acordo com a condição étnica, censos de 2000(Em percentagens)
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
Gráfi co 12América Latina (12 países): Filhos falecidos de mães jovens indígenas
de 20 a 29 anos com 7 anos de escolaridade ou mais, de acordo com a área de residência, censos de 2000
(Em percentagens)
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
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E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 103
Como já foi referido, os numerosos estudos demográfi cos permitem
afi rmar que a maioria das mortes dos fi lhos destas jovens ocorreu nos
primeiros anos de vida. Da mesma forma, sabe-se que as causas da
mortalidade infantil e da infância estão fortemente associados com
a pobreza, refl ectindo as defi ciências nutricionais das mães e dos
fi lhos, a falta de assistência pré-natal e tratamento de infecções res-
piratórias e intestinais, o difícil acesso aos centros de saúde e as más
condições sanitárias do ambiente.
As condições estruturais dos povos e dos jovens indígenas e de as-
cendência africana nas sociedades latino-americanas, que por sua
vez actuam sobre as variáveis próximas (factores biológicos, nutricio-
nais e atenção médica), contribuem claramente para a manutenção
destas desigualdades. Como foi demonstrado, a probabilidade de os
fi lhos de mães jovens morrerem aumenta sistematicamente entre as
indígenas à medida que desce o número de anos de escolaridade
(proporcionalmente ao status socioeconómico). Embora esta situa-
ção se aplique também às raparigas não indígenas, as desigualdades
que prejudicam as primeiras mantêm-se na maioria dos intervalos
de escolaridade. Esta situação está ligada ao facto de as descidas da
mortalidade infantil terem sido relativamente mais lentas entre as po-
pulações indígenas, dado que não basta aumentar a escolaridade das
mães, é necessário considerar a forma como essa escolaridade tem
impacto nos níveis de decisão, informação e destreza nos cuidados
de saúde, o que, nos povos indígenas, implica uma visão holística e
colectiva, estreitamente ligada à manutenção dos ecossistemas (CE-
PAL, 2006).
Uma grande partes das comunidades indígenas não tem água potá-
vel, sistemas de águas residuais adequados, electricidade e estradas.
O acesso aos centros de saúde públicos é difícil e, de uma forma
geral, os cuidados de saúde são defi cientes. Além disso, a destrui-
ção dos ecossistemas devido à exploração excessiva dos recursos
naturais e minerais por empresas públicas e privadas, bem como os
desalojados e a perda de terras, têm um impacto negativo sobre os
ecossistemas sociais e comunitários dos povos indígenas. Os sistemas
de saúde tradicionais, que durante milhares de anos funcionaram de
forma a proporcionar a continuidade dos povos, conhecem hoje uma
realidade distinta: os laços sociais foram desmembrados, os médicos
tradicionais desvalorizados socialmente e o meio ambiente destruí-
do, exercendo um impacto negativo sobre a nutrição da população
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SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 104
e sobre a possibilidade de contar com os recursos naturais para o
tratamento das doenças. Neste contexto, as gerações mais jovens são
as mais afectadas.
Os aspectos referidos conjugam-se, no caso dos povos indígenas,
com o problema da falta de cuidados de saúde culturalmente apro-
priados. O sistema de saúde, além de apresentar uma qualidade dé-
bil, não considera, muitas vezes, a cultura e a cosmovisão indígena.
Muitas vezes, o pessoal dos serviços de saúde não respeita os direi-
tos das jovens indígenas ao consentimento livre, prévio e informado,
nem conhece os conceitos tradicionais e medicinais dos indígenas.
Alguns países reviram as respectivas constituições e activaram re-
formas no sector da saúde. Foram implementadas algumas políticas
e programas de saúde intercultural com bons resultados, alguns no
âmbito da saúde sexual e reprodutiva (CEPAL, 2007). Porém, a ên-
fase é posta nas comunidades indígenas ou de ascendência africana
como um todo, sem prestar atenção específi ca à situação das jovens.
Tendo em conta os novos cenários sociopolíticos, é necessário es-
tabelecer mecanismos mutuamente acordados de participação dos
povos indígenas e de ascendência africana, em especial das mulheres
e dos jovens, para podermos defi nir políticas e projectos efi cazes.
As organizações indígenas reclamam, sobretudo, a adopção de uma
abordagem holística, que considere todo o ciclo de vida dos povos
indígenas, incluindo as crianças, os jovens, as mulheres e os homens.
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VI. Educação e língua: a desigualdade como limitação da diversidade
EDUCAÇÃO E LÍNGUA: A DESIGUALDADE COMO LIMITAÇÃO DA DIVERSIDADE
CEPAL/UNFPA/OIJ 107
12 Como a Declaração Uni-
versal dos Direitos Humanos,
a Convenção Internacional
sobre a Eliminação de todas
as Formas de Discriminação
Racial, o Pacto Internacional
dos Direitos Económicos, So-
ciais e Culturais, a Convenção
sobre os Direitos da Criança, as
convenções da OIT, a Carta In-
ternacional de Jogos e Despor-
tos Tradicionais, a Convenção
relativa à luta contra as discri-
minações na esfera do ensino,
da Organização das Nações
Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura (UNESCO) e
o Quadro de Acção de Dakar,
intitulado «Educação para
todos: cumprimento dos nossos
compromissos colectivos,
especialmente relativamente
às crianças indígenas e, em
particular, às raparigas».
13 O Objectivo de Desenvol-
vimento do Milénio 2 propõe
«alcançar a educação primária
universal» e a sua Meta 3 pre-
tende «assegurar que, até 2015,
as crianças de todo o mundo
poderão concluir um ciclo
completo de ensino primário»
(online, http://www.un.org/spa-
nish/millenniumgoals/#).
JUVENTUDE INDÍGENA
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AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
A. A Educação e a diferença cultural no direito internacional
O direito à educação é uma ferramenta fundamental para alcançar
uma mudança social para um desenvolvimento justo e respeitador da
diversidade cultural. Vários instrumentos internacionais12 enfatizam
que a educação é um investimento no futuro, uma forma de reduzir
a pobreza e contrariar as desigualdades. No Plano de Acção de Dur-
ban, por exemplo, é reconhecido que «a qualidade da educação, a
eliminação do analfabetismo e o acesso ao ensino primário para to-
dos podem contribuir para promover sociedades menos excludentes,
a igualdade, relações estáveis e harmoniosas e a amizade entre as na-
ções, os povos, os grupos e os indivíduos, e uma cultura de paz, favo-
recendo a compreensão mútua, a solidariedade, a justiça e o respeito
por todos os direitos humanos» (Nações Unidas, 2001, parágrafo 96).
Nas últimas três décadas, a América Latina realizou grandes esforços
para alcançar as metas educacionais subscritas, incluindo os Objec-
tivos de Desenvolvimento do Milénio.13 De uma forma geral, a edu-
cação básica foi expandida e generalizada na região, atingindo maior
cobertura social e geográfi ca, e reduziu o analfabetismo e a desigual-
dade entre os sexos no ensino primário.
VI. Educação e língua: a desigualdade como limitação da diversidade
EDUCAÇÃO E LÍNGUA: A DESIGUALDADE COMO LIMITAÇÃO DA DIVERSIDADE
CEPAL/UNFPA/OIJ 108
14 Em Maio de 2005, o Fórum
Permanente dedicou uma
parte do seu quarto período de
sessões à análise do Objectivo
2 do Desenvolvimento do
Milénio, com base nos aspectos
temáticos relativos ao idioma,
às perspectivas culturais e ao
conhecimento tradicional.
Apesar dos avanços, em cada um dos países da região existem grupos
populacionais que apresentam situações totalmente desfavoráveis na
área da educação, em interligação com outras esferas fundamentais
como o emprego, a saúde, a habitação, a mortalidade infantil e a
esperança de vida. Muitas vezes, estas desigualdades são invisíveis
nas médias nacionais. Na maioria dos países, os jovens indígenas e
de ascendência africana enfrentam grandes difi culdades no acesso e
permanência no sistema educativo, e encontram-se entre os grupos
mais desfavorecidos. A situação das raparigas e jovens é especial-
mente preocupante, dado que poucas concluem a educação primária
ou conseguem passar ao ensino secundário, sendo em muitos casos
analfabetas funcionais e monolingues.
Face a esta realidade, o Programa de Acção de Durban insta os Es-
tados a:
• comprometerem-se a garantir o acesso ao ensino, especifi -
camente o acesso a todas as crianças, tanto mulheres como
homens, ao ensino primário gratuito, e o acesso dos adultos
à aprendizagem e ao ensino permanentes, com base no respei-
to pelos direitos humanos, pela diversidade e pela tolerância,
sem discriminação de nenhum tipo;
• adoptarem e aplicarem leis que proíbam a discriminação por
motivos de raça, cor, ascendência ou origem nacional ou ét-
nica a todos os níveis do ensino, tanto académico como não
académico;
• adoptarem todas as medidas adequadas para eliminar os obs-
táculos que limitam o acesso das crianças à educação;
• garantirem que todas as crianças tenham acesso, sem dis-
criminação, a um ensino de boa qualidade (Nações Unidas,
2001, parágrafos 121 a 123).
Por sua vez, o Fórum Permanente para as Questões Indígenas tem ex-
pressado, desde a sua primeira sessão em 2002, uma profunda preo-
cupação pelos problemas específi cos e pela discriminação que afecta
as crianças e os jovens indígenas no que diz respeito à educação.
No seu quarto período de sessões,14 o Fórum salientou especifi ca-
mente as difi culdades enfrentadas pelas crianças indígenas no acesso
ao ensino de qualidade e adequado de uma perspectiva sociocultu-
ral, dizendo que é provável que fracassem as iniciativas propostas
para alcançar o Objectivo 2 dos Objectivos de Desenvolvimento do
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Milénio se não forem aplicados programas imparciais e efi cazes de
ensino, currículos e medidas que tenham em conta as diferenças cul-
turais e que satisfaçam as necessidades dos povos indígenas (Nações
Unidas, 2005b).
Como é evidente, a educação é um tema crítico para o pleno exer-
cício dos direitos humanos dos povos indígenas e de ascendência
africana: “é uma ferramenta indispensável para que a humanidade
possa alcançar os ideais de paz, liberdade e justiça social, estando ao
serviço do desenvolvimento humano mais harmonioso, mais autên-
tico, para fazer recuar a pobreza, a exclusão, as incompreensões, as
opressões e as guerras”, declarou o Relator Especial sobre os Direitos
Humanos e Liberdades Fundamentais dos Indígenas, Rodolfo Stave-
nhagen, no seu quarto relatório anual (Nações Unidas, 2005d).
Vários instrumentos de direito internacional afi rmam a necessidade
de prestar especial atenção à situação educacional dos jovens indíge-
nas e de ascendência africana. Para os povos indígenas, a declaração
das Nações Unidas sobre os seus direitos é um instrumento funda-
mental, alcançado após árduas lutas, e no qual é estabelecido que:
“1. Os povos indígenas têm direito a estabelecer e a contro-
lar os seus sistemas e instituições docentes que disponibilizem
educação nos seus próprios idiomas, em consonância com os
seus métodos culturais de ensino e aprendizagem.
2. As pessoas indígenas, sobretudo as crianças indígenas, têm
direito a todos os níveis e formas de educação do Estado, sem
discriminação.
3. Os Estados adoptarão medidas efi cazes, juntamente com os
povos indígenas, para que as pessoas indígenas, especialmen-
te as crianças, incluindo as que vivem fora das suas comuni-
dades, tenham acesso, sempre que possível, à educação na
sua própria cultura e no seu próprio idioma” (Nações Unidas,
2007b, artigo 14).
A Convenção Ibero-americana dos Direitos dos Jovens também regu-
la esta prerrogativa, estabelecendo que os Estados devem reconhe-
cer a sua obrigação de garantia de uma educação geral, contínua,
pertinente e de qualidade. Além disso, estabelece que a educação
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CEPAL/UNFPA/OIJ 110
15 Em vários países, como por
exemplo a Colômbia, o Equa-
dor e a Guatemala, alguns indi-
víduos de ascendência africana
identifi cam-se como indígenas
ou tribais, reclamando direitos
colectivos e o cumprimento do
Convénio 169.
deve promover “a prática de valores, artes, ciências e tecnologia na
transmissão do ensino, o multiculturalismo, o respeito pelas cultu-
ras étnicas e o acesso generalizado às novas tecnologias, bem como
promover em todos os alunos a vocação para a democracia, direitos
humanos, paz, solidariedade, aceitação da diversidade, tolerância e
igualdade de género” (OIJ, 2005, artigo 22).
Uma questão muito pertinente para os povos indígenas e de ascen-
dência africana é o reconhecimento, pela convenção, dos sistemas
de aprendizagem não escolarizados e informais como parte do de-
senvolvimento contínuo e integral dos jovens. Por sua vez, estabelece
que o direito à educação é oposto a qualquer forma de discriminação
e compromete os Estados a garantirem a universalização da educação
básica, obrigatória e gratuita para todos os jovens, e especifi camente
a facilitar e a assegurar o acesso e permanência no nível secundário e
a estimular o acesso ao ensino superior.
É necessário referir também que o Convénio 169 da OIT, o único ins-
trumento de direito internacional com carácter vinculativo que regula
os direitos dos povos indígenas e tribais,15 estabelece várias disposi-
ções em relação à sua educação (artigos 26 a 31), instando os Esta-
dos a tomarem medidas para garantir que os membros desses povos
têm uma educação de qualidade a todos os níveis e assegurar a sua
participação na formulação e execução dos programas de educação.
Por sua vez, salienta a importância da utilização da própria língua no
processo de ensino-aprendizagem.
Em conclusão, este capítulo assume que o direito à educação é fun-
damental para os povos e jovens indígenas e de ascendência afri-
cana em todo o mundo, não só como forma de sair da exclusão e
da discriminação sofrida historicamente, mas também para desfrute,
manutenção e respeito pelas suas culturas, línguas, tradições e co-
nhecimentos (Nações Unidas, 2005d).
B. O acesso e a permanência no sistema educativo formal
Os jovens indígenas e de ascendência africana têm, muitas vezes,
menos acesso ao sistema formal de ensino do que o resto dos jovens,
além de permanecerem menos tempo nesse sistema de ensino. Ape-
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sar de ser possível manter esta afi rmação, nesta secção é analisada a
diversidade de situações que caracterizam os países da região, tendo
em conta variáveis como a idade, a zona de residência e o sexo.
1. Tendências gerais
Um comportamento geral em toda a população mostra que, com mais
idade, o nível de educação alcançado é inferior. Na grande maioria
dos países, a maior parte da população de 60 anos ou mais apenas
concluiu 0 a 3 anos de escolaridade. Esta tendência verifi ca-se tanto
entre os povos indígenas como entre os povos de ascendência afri-
cana e entre o resto da população, embora, em todos os países, este
último grupo seja o que alcança em maior percentagem os níveis de
educação mais elevados (ver tabela 14).
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País Nível de escolaridade
Indígena Ascendência africana Resto
15 a 29
anos
30 a 59
anos
60 anos ou mais
15 a 29
anos
30 a 59
anos
60 anos ou mais
15 a 29
anos
30 a 59
anos
60 anos ou mais
Argentina
0 a 3 anos 6,7 16,5 37,2 3,1 9,2 24,1
4 a 6 anos 8,6 9,2 12,2 4,9 7,3 12,8
7 anos ou mais 84,7 74,4 50,6 91,9 83,6 63,1
Bolívia (E. P. de)
0 a 3 anos 15,1 39,0 77,1 8,2 21,5 46,5
4 a 6 anos 20,6 22,6 11,8 14,1 19,4 19,5
7 anos ou mais 64,3 38,4 11,1 77,6 59,1 34,0
Brasil
0 a 3 anos 36,5 46,1 75,8 23,3 40,8 74,8 10,6 21,1 49,7
4 a 6 anos 27,7 25,0 15,8 30,3 27,6 17,4 21,5 27,9 28,6
7 anos ou mais 35,8 28,9 8,4 46,4 31,7 7,8 67,9 51,0 21,7
Costa Rica
0 a 3 anos 30,9 39,6 77,6 8,1 13,7 41,8 8,1 15,1 49,4
4 a 6 anos 43,3 38,1 17,1 31,4 32,7 40,5 36,5 39,1 33,1
7 anos ou mais 25,8 22,3 5,3 60,4 53,6 17,6 55,4 45,8 17,6
Chile
0 a 3 anos 4,8 18,4 59,7 2,8 8,7 29,7
4 a 6 anos 10,2 21,6 22,1 4,6 13,1 25,4
7 anos ou mais 85,0 60,0 18,2 92,6 78,2 44,8
Equador
0 a 3 anos 24,0 59,4 85,0 17,4 30,0 59,4 11,3 21,4 48,2
4 a 6 anos 48,2 29,3 11,7 26,9 32,1 27,2 26,6 31,0 32,6
7 anos ou mais 27,7 11,3 3,4 55,7 37,8 13,4 62,1 47,6 19,2
Guatemala
0 a 3 anos 55,3 80,1 93,8 27,7 44,9 68,4
4 a 6 anos 28,2 13,9 4,9 27,3 24,6 18,0
7 anos ou mais 16,5 6,0 1,2 45,0 30,5 13,6
Honduras
0 a 3 anos 38,0 61,1 86,1 9,6 19,1 38,9 25,3 45,1 77,6
4 a 6 anos 46,1 29,4 11,2 39,2 50,2 48,0 43,9 31,0 14,4
7 anos ou mais 16,0 9,5 2,7 51,2 30,6 13,1 30,8 23,9 8,1
México
0 a 3 anos 26,3 55,8 86,7 7,6 23,4 60,1
4 a 6 anos 37,6 27,2 10,5 21,6 28,5 25,1
7 anos ou mais 33,9 17,0 5,8 62,5 49,7 26,3
Nicarágua
0 a 3 anos 25,1 46,7 78,6 6,6 12,1 30,1 24,2 38,7 69,0
4 a 6 anos 31,6 26,9 15,7 15,7 27,0 47,6 24,5 23,7 20,1
7 anos ou mais 43,3 26,4 5,7 77,7 60,8 22,3 51,3 37,6 10,9
Panamá
0 a 3 anos 34,7 57,2 83,6 4,1 10,2 38,9
4 a 6 anos 37,2 23,8 10,7 21,3 28,8 33,0
7 anos ou mais 26,8 18,6 7,7 62,7 62,8 44,9
Paraguai
0 a 3 anos 63,7 83,0 96,2 8,4 21,6 53,8
4 a 6 anos 26,5 13,7 3,2 31,7 41,7 30,4
7 anos ou mais 9,8 3,4 0,5 59,9 36,7 15,8
Venezuela (R. B. de)
0 a 3 anos 37,4 54,0 82,8 7,9 14,7 49,1
4 a 6 anos 28,7 25,5 12,2 19,1 27,5 31,6
7 anos ou mais 34,0 20,5 5,1 73,0 57,8 19,4
Tabela 14América Latina (13 países): População de acordo com a condição étnica, grupos de
idades e nível de escolaridade alcançado, censos de 2000(Em percentagens)
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
EDUCAÇÃO E LÍNGUA: A DESIGUALDADE COMO LIMITAÇÃO DA DIVERSIDADE
CEPAL/UNFPA/OIJ 113
De uma forma geral, os povos indígenas têm alcançado níveis de
educação inferiores aos do resto da população em todos os interva-
los de idades. A percentagem de indígenas que tem 0 a 6 anos de
escolaridade é maior em relação ao resto da população em todos os
países da região, uma relação que se inverte a partir do sétimo ano de
educação formal, a partir do qual o resto da população tem sempre
percentagens superiores.
Ao analisar a evolução entre as gerações é possível observar que, tan-
to para os indígenas como para os indivíduos de ascendência africana
e o resto da população, o grupo de idade mais jovem (ou seja, com 15
a 29 anos) é o que apresenta uma maior proporção de pessoas com
o nível secundário ou mais, refl ectindo uma melhoria na situação de
escolaridade ao longo do tempo (ver a tabela 14).
Para avaliar o «quanto melhorou» o nível de escolaridade alcançado
entre uma geração e a outra, foi usado como indicador a variável
«7 anos de escolaridade ou mais», com análise do quociente entre
a proporção da população de 15 a 29 anos de idade que chegou
a esta situação em comparação com as gerações prévias (30 a 59
anos e 60 anos ou mais) (ver tabela 15). Em linhas gerais, observa-se
que os povos indígenas melhoraram o nível de escolaridade de uma
geração para a outra em maior medida do que o resto da população.
Obviamente, há uma diferença mais ampla entra a geração de 60
anos ou mais e a geração imediatamente mais jovem (30 a 59 anos),
como demonstram os valores da tabela 14. É importante salientar que
a situação não é homogénea na região.
Em alguns países, como o Equador, o Paraguai, a Guatemala e o Mé-
xico, a diferença entre as duas gerações mais jovens é mais do dobro.
Se bem que é possível destacar esta melhoria ao longo do tempo,
também é necessário advertir que as percentagens continuam bai-
xas. Esta situação é especialmente relevante no Paraguai, no qual a
geração de 30 a 59 anos alcançou o nível secundário em 3,4% e a
geração seguinte alcançou 9,8%, e na Guatemala, com 6% para a
geração de 30 a 59 anos e 16,5% para a mais jovem (ver a tabela 14).
JUVENTUDE INDÍGENA
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Tabela 15América Latina (13 países): Desigualdade geracional em relação ao nível de
escolaridade de 7 anos de escolaridade ou mais, de acordo com a condição étnica, censos de 2000
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
O Chile é um caso notório, já que se observa um grande avanço entre
a geração de 60 anos ou mais e a seguinte (18,2% alcançaram 7 anos
de escolaridade ou mais, em comparação com 60% dos indígenas de
30 a 59 anos), mais do que triplicando a percentagem, havendo na
geração mais jovem (15 a 29 anos) 85% da população nessa mesma
situação, que apresenta a percentagem mais elevada dos países estu-
dados (ver tabela 14).
A melhoria na educação entre as gerações pode estar relacionada
com o incentivo políticos específi cas nesta matéria para os povos in-
dígenas nos diferentes países. No início da década de 1990, coin-
cidindo com o fortalecimento organizativo dos povos indígenas, a
Educação Intercultural Bilingue (EIB) converteu-se numa das suas
principais reivindicações, com a compreensão de que era necessá-
rio envolver todo o sistema educativo na incorporação da dimensão
intercultural.
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS País
Indígena Ascendência africana Resto
Quociente entre 15-29
y 30-59
Quociente entre 15-29 e
60 ou mais
Quociente entre 15-29
y 30-59
Quociente entre 15-29 e
60 ou mais
Quociente entre 15-29
y 30-59
Quociente entre 15-29 e
60 ou mais
Argentina 1,1 1,7 1,1 1,5
Bolívia (E. P. de) 1,7 5,8 1,3 2,3
Brasil 1,2 4,3 1,5 6,0 1,3 3,1
Costa Rica 1,2 4,9 1,1 3,4 1,2 3,2
Chile 1,4 4,7 1,2 2,1
Equador 2,4 8,2 1,5 4,1 1,3 3,2
Guatemala 2,7 13,5 1,5 3,3
Honduras 1,7 6,0 1,7 3,9 1,3 3,8
México 2,0 5,8 1,3 2,4
Nicarágua 1,6 7,6 1,3 3,5 1,4 4,7
Panamá 1,4 3,5 1,0 1,4
Paraguai 2,9 18,4 1,6 3,8
Venezuela (R. B. de) 1,7 6,7 1,3 3,8
EDUCAÇÃO E LÍNGUA: A DESIGUALDADE COMO LIMITAÇÃO DA DIVERSIDADE
CEPAL/UNFPA/OIJ 115
Por seu lado, também os indivíduos de ascendência africana apre-
sentam uma heterogeneidade de situações nos vários países. O caso
mais notório é o Brasil, país no qual se observa uma melhoria entre as
gerações superior à dos outros grupos populacionais. Porém, a desi-
gualdade entre estes jovens e os do resto da população continua a ser
grande, especialmente no nível médio e universitário. Por exemplo,
46,4% dos indivíduos de ascendência africana com 15 a 29 anos tem
um nível de escolaridade de 7 anos ou mais, face a 67,9% do resto
da população. As desigualdades mantêm-se nos restantes intervalos
de idade (ver tabela 14).
Na Nicarágua, a situação é diferente: apesar de os indivíduos de as-
cendência africana possuírem as maiores percentagens de população
que alcança o nível médio de educação ou mais, nas três gerações
analisadas, são os que apresentam um menor nível de avanço (ver a
tabela 14). No Equador, as médias dos primeiros intervalos de idades
(15 a 29 anos e 30 a 59 anos) são bastante próximas do resto dos pa-
íses em relação à proporção de população que alcança os 7 anos de
escolaridade ou mais. Por sua vez, na Costa Rica, os jovens de ascen-
dência africana apresentam melhores indicadores nos três intervalos
de idades analisados.
2. As desigualdades étnicas na educação dos jovens
Centrando as análises da dimensão educativa na geração mais jovem
(15 a 29 anos), é possível observar que, na maior parte dos países, a
percentagem mais elevada da população indígena deste grupo etário
tem entre 0 e 6 anos de escolaridade, ao contrário do resto dos jovens,
que tem maioritariamente 7 anos ou mais. Num extremo, encontram-
se países como o Paraguai, que tem 63,7% dos jovens indígenas com
apenas 0 a 3 anos de escolaridade, e a Guatemala, com 55,3%. No
outro extremo, surgem países como o Chile e a Argentina, nos quais
cerca de 85% dos jovens indígenas alcançam 7 anos de escolaridade
ou mais. O Equador, a Costa Rica e as Honduras estão numa posição
intermédia, dado que a maioria dos indígenas deste grupo etário con-
segue alcançar 4 a 6 anos de escolaridade.
Os valores mostram que os jovens indígenas chegam à escola básica
e fi cam nos primeiros anos sem conseguirem avançar, confi rmando
que se encontram entre os sectores sociais mais vulneráveis da po-
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DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
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CEPAL/UNFPA/OIJ 116
pulação. As difi culdades em permanecer no sistema de educação
podem ser entendidas como uma expressão das várias formas de des-
criminação. De uma forma geral, esta situação é acompanhada por
outras manifestações que revelam uma negação dos direitos básicos,
materializada em acções como a espoliação das terras e dos recursos
naturais, das línguas, culturas e formas de vida, e a falta de acesso aos
serviços sociais básicos (saúde, alimentação, habitação, entre outros).
A situação dos indivíduos de ascendência africana é diferente, dado
que uma maior proporção desta população consegue obter mais anos
de escolaridade do que os povos indígenas. Estes indicadores favorá-
veis para os indivíduos de ascendência africana no âmbito da edu-
cação podem representar uma resposta às várias acções afi rmativas
que têm sido implementadas nos países no período prévio e posterior
à Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial,
a Xenofobia e Formas Conexas de Intolerância, realizada em Dur-
ban em 2001. Estas acções incluem tanto a criação de instituições e
corpos legais como de programas concretos de igualdade racial, pro-
moção dos direitos humanos e iniciativas que promovem a melhoria
da situação (Bello e Paixão, 2009). No entanto, as organizações de
ascendência africana também argumentam que as análises dos dados
gerados pelos censos podem não ser sufi cientes para ter noção do
cumprimento dos seus direitos, já que a maioria dos países ainda
tem difi culdades na captação da estatística desta população. Os pro-
cessos históricos de exclusão, a marginalização e a estigmatização
juntam-se à grande diversidade de formas de auto-identifi cação, difi -
cultando o reconhecimento da população de ascendência africana e
dando como resultado a subestimação.
Dividindo a análise dos níveis de escolaridade dos jovens de 15 a 29
anos de acordo com os subgrupos de idades, podemos observar que
as desigualdades entre os povos indígenas e o resto da população per-
manecem inalteradas, em detrimento dos primeiros (ver a tabela 16).
Nos anos recentes, muitos países da região registaram importantes
progressos no que diz respeito à legislação em matéria de direitos dos
indígenas, que incluem normalmente o direito à educação. Os regu-
lamentos internacionais e nacionais favoráveis, juntamente com os
esforços gerais por expandir a educação primária na América Latina,
contribuíram para que uma maior proporção de rapazes e raparigas
indígenas ingresse no sistema escolar. Apesar disso, parece que os
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16 Esses factores têm sido des-
tacados e analisados pelo Re-
lator Especial (especifi camente
nas Nações Unidas, 2005d),
pelo Fórum Permanente para
as Questões Indígenas (Nações
Unidas, 2005a), agências do
sistema das Nações Unidas e
vários académicos.
esforços se esgotam aí, continuando a apresentar-se várias difi culda-
des que impedem as crianças indígenas de gozarem o seu direito à
educação.
Vários factores difi cultam a permanência dos indígenas e indivíduos
de ascendência africana no sistema de educação.16 A discriminação
e o racismo estrutural de que sofrem manifestam-se de várias for-
mas e a vários níveis. A falta de políticas educativas culturalmente
adequadas, os problemas da Educação Intercultural Bilingue e a falta
de mecanismos de participação efectivos juntam-se à discriminação
dentro das aulas.
A oferta de serviços de educação para as crianças indígenas e de
ascendência africana está, de uma forma geral, muito abaixo dos mí-
nimos recomendados em comparação com os existentes noutros sec-
tores da população. As más condições físicas das escolas, o absentis-
mo dos professoras e o seu desconhecimento da cultura e do idioma
indígena, a falta de materiais didácticos necessários e as grandes (e
talvez perigosas) distâncias que os alunos têm de percorrer, são fac-
tores frequentemente referidos pelas organizações como limitadores
para o exercício do seu direito à educação.
Se nos concentrarmos no grupo dos adolescentes, é possível observar
que a situação mais desfavorável corresponde ao Paraguai, de onde
apenas 12,7% dos jovens indígenas de 15 a 19 anos chegou ao nível
secundário (7 anos de escolaridade ou mais), face a 65,9% do resto
da população — ou seja, 5 vezes mais. O caso do Panamá também é
alarmante, já que, apesar de apresentar uma maior proporção de jo-
vens indígenas que acederam ao nível médio (31,5%), a desigualdade
em relação ao resto da população (76,5%) é muito ampla, represen-
tando uma diferença de mais do dobro. Embora com desigualdades
um pouco mais reduzidas, o mesmo ocorre no México, na República
Bolivariana da Venezuela e no Brasil (ver a tabela 16).
Nas Honduras, a distância não é tão profunda como noutros países,
já que, de uma forma geral, poucos jovens de 15 a 19 anos alcançam
o nível médio — apenas 32% do resto da população consegue alcan-
çar 7 anos de escolaridade ou mais — o que representa o indicador
mais baixo e é amplamente superado pelos jovens de ascendência
africana deste país (56,2%). De igual modo, o Chile, a Argentina,
a Nicarágua e o Estado Plurinacional da Bolívia são os países que
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revelam menos desigualdades entre os jovens indígenas e o resto da
população nesse aspecto.
Os dados disponíveis sobre os jovens de ascendência africana de 15
a 19 anos mostram que alcançam uma maior quantidade de anos de
escolaridade do que os indígenas do mesmo segmento etário. No
Equador, por exemplo, 55,8% dos adolescentes de ascendência afri-
cana consegue estudar 7 anos ou mais, face a 32,4% dos indígenas.
As diferenças nos restantes países com informação também são muito
notórias, e as desigualdades com o resto da população são menores
(ver a tabela 16).
Tabela 16América Latina (13 países): Jovens com 7 anos de escolaridade ou mais,
de acordo com a condição étnica e os subgrupos de idades, censos de 2000(Em percentagens)
PaísIndígena Ascendência
africana Resto
15 a 19 anos
20 a 24 anos
25 a 29 anos
15 a 19 anos
20 a 24 anos
25 a 29 anos
15 a 19 anos
20 a 24 anos
25 a 29 anos
Argentina 84,3 85,4 84,3 91,5 92,6 91,6
Bolívia (E. P. de) 68,6 64,9 57,9 79,9 78,6 72,6
Brasil 33,4 38,3 36,1 45,5 49,3 44,3 70,1 69,7 63,3
Costa Rica 89,1 84,8 80,9 93,5 93,1 91,1
Chile 27,0 25,2 24,8 61,9 60,8 58,1 57,7 56,7 50,7
Equador 32,4 25,9 22,2 55,8 55,9 55,3 63,4 61,7 60,8
Guatemala 19,2 16,3 12,3 46,5 45,6 42,2
Honduras 18,2 14,9 13,5 56,2 49,4 45,6 32,1 30,3 29,3
México 43,5 33,0 28,8 74,2 69,7 68,2
Nicarágua 44,6 45,0 39,0 78,1 79,3 74,8 53,5 52,4 46,6
Panamá 31,5 27,1 24,5 76,5 75,0 72,4
Paraguai 12,7 9,1 6,5 65,9 60,0 50,1
Venezuela (R. B. de) 37,1 33,6 29,9 73,5 73,9 71,2
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
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Tabela 17América Latina (13 países): Desigualdades no nível de educação de 7 anos de
escolaridade ou mais entre os jovens indígenas, de ascendência africana e do resto da população, censos de 2000
(Em quocientes)
PaísIndígenas com o resto População de ascendência
africana com o resto
15 a 19 anos
20 a 24 anos
25 a 29 anos
15 a 19 anos
20 a 24 anos
25 a 29 anos
Argentina 1,1 1,1 1,1
Bolívia (E. P. de) 1,2 1,2 1,3
Brasil 2,1 1,8 1,8 1,5 1,4 1,4
Costa Rica 2,1 2,2 2,0 0,9 0,9 0,9
Chile 1,0 1,1 1,1
Equador 2,0 2,4 2,7 1,1 1,1 1,1
Guatemala 2,4 2,8 3,4
Honduras 1,8 2,0 2,2 0,6 0,6 0,6
México 1,7 2,1 2,4
Nicarágua 1,2 1,2 1,2 0,7 0,7 0,6
Panamá 2,4 2,8 2,9
Paraguai 5,2 6,6 7,8
Venezuela (R. B. de) 2,0 2,2 2,4
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
O Brasil é o país com a maior desigualdade entre os adolescentes de
ascendência africana e o resto da população: 45,5% dos primeiros
alcança 7 anos de escolaridade ou mais, face a 70,1% dos restantes.
De facto, as diferenças em relação ao resto da população nos três
intervalos etários jovens são mais elevadas nos países que dispõem de
informações, desigualdades que, além disso, são favoráveis para os
jovens de ascendência africana nos restantes países com dados (ver
a tabela 17). Na Nicarágua e Costa Rica, os jovens de ascendência
africana de 15 a 19 anos apresentam uma maior proporção com nível
de educação secundária do que o resto da população (ver a tabela
16). Apesar disso, como foi referido, as organizações de ascendência
africana pedem cuidado na interpretação destes indicadores favorá-
veis, já que não estariam a refl ectir uma melhor situação deste grupo
étnico. No caso da Costa Rica, alguns estudos assinalam que as me-
nores diferenças étnico-raciais dos indicadores sugerem um melhor
aproveitamento das oportunidades de educação que lhes oferece o
país, apresentando um padrão de investimento preferencial em maté-
ria de educação em vez de consumo (Rangel, 2005).
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De uma forma geral, em todos os países da região são muito poucos
os jovens que alcançam o nível universitário (ou seja, 13 anos de
escolaridade ou mais). De acordo com as tendências referidas an-
teriormente, os jovens indígenas conseguem alcançar este nível de
educação em muito menor proporção (ver a tabela 18).
É interessante analisar a situação no Chile, o país que apresenta a
menor desigualdade no nível secundário. Pelo contrário, se forem
considerados os dados dos intervalos de idades dos 20 aos 24 anos
e dos 25 aos 29 anos para o nível universitário, é possível verifi car
que a distância em relação ao resto da população aumenta. O acesso
dos indígenas às universidades tem sido especialmente difícil neste
país, devido a factores como a distância geográfi ca, os custos eco-
nómicos, a estigmatização e a discriminação e o reduzido número
de estudantes indígenas que consegue concluir os ciclos escolares
pré-universitários.
Tabela 18América Latina (13 países): jovens com 13 anos de escolaridade ou mais,
de acordo com a condição étnica e os subgrupos de idades, censos de 2000(Em percentagens)
PaísIndígena Ascendência africana Resto
15 a 19 anos
20 a 24 anos
25 a 29 anos
15 a 19 anos
20 a 24 anos
25 a 29 anos
15 a 19 anos
20 a 24 anos
25 a 29 anos
Argentina 1,1 17,2 21,1 1,8 24,1 27,9
Bolívia (E. P. da) 2,5 15,0 15,4 4,1 24,0 25,2
Brasil 0,1 1,5 2,7 0,1 1,9 3,2 0,4 10,1 13,3
Costa Rica 0,4 3,5 4,8 1,5 13,6 17,2 1,7 17,2 18,0
Chile 4,9 17,7 19,6 8,2 33,3 36,0
Equador 0,7 4,1 4,6 2,0 10,5 12,5 4,5 21,3 23,0
Guatemala 0,3 1,8 1,9 1,8 10,6 11,4
Honduras 0,5 2,4 2,7 2,7 8,8 11,5 1,6 7,3 8,0
México 0,6 4,4 3,9 3,0 16,3 16,2
Nicarágua 1,0 6,6 6,9 2,8 15,1 14,9 2,1 11,9 12,4
Panamá 0,3 2,5 2,8 4,5 22,0 23,6
Paraguai 0,0 0,3 0,5 1,6 16,7 16,1
Venezuela (R. B. da) 0,3 2,5 3,4 1,6 15,4 18,7
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
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17 Durante o sexto período de
sessões, realizado em 2007,
o Fórum Permanente para as
Questões Indígenas organizou
um debate de meio dia de
duração sobre os povos indí-
genas urbanos e a migração, a
partir do qual foram adopta-
das recomendações (Nações
Unidas, 2007c). Em Março do
mesmo ano, a CEPAL organizou
um seminário de especialis-
tas internacionais sobre os
povos indígenas urbanos e a
migração, elaborando um im-
portante documento de análise
e recomendações relevantes
para as políticas (CEPAL, 2007,
capítulo 4).
A população de ascendência africana apresenta indicadores mais fa-
voráveis no acesso à universidade. A Nicarágua representa um caso
notável, dado que neste país os indivíduos de ascendência africana
superam as percentagens do resto da população no acesso a este ní-
vel de educação em todos os intervalos de idades analisados. Existem
na costa do Caribe da Nicarágua duas universidades comunitárias
— Bluefi elds Indian and Caribbean University (BICU) e Universidad
de las Regiones Autónomas de la Costa Caribe Nicaragüense (URAC-
CAN) — que têm feito contribuições importantes para a educação e
para o desenvolvimento das comunidades étnicas e de ascendência
africana (Sánchez, 2005).
3. As disparidades na habitação
As desigualdades na educação devido à condição étnica continuam
em todos os países de acordo com o local de residência, já que os ra-
pazes indígenas, mesmo vivendo em cidades, alcançam uma menor
proporção do que o resto dos jovens urbanos ao nível secundário,
e o mesmo ocorre no meio rural. Também se mantém a tendência
de melhoria da educação nas idades mais precoces se examinarmos
os subgrupos de idades. Tanto entre os jovens indígenas como entre
os jovens de ascendência africana, a proporção dos jovens de 15 a
19 anos que alcança o nível médio ou mais é maior do que noutros
intervalos de idades jovens.
A tendência geral mostra que os jovens indígenas que vivem nos
meios urbanos alcançam níveis de educação superiores aos jovens
dos ambientes rurais. Estas disparidades geográfi cas confi rmam que
os indígenas urbanos têm um melhor acesso aos bens e serviços dis-
ponibilizados pelo Estado também em matéria educativa, ainda que,
como foi referido previamente, as desigualdades étnicas persistam. O
tema dos povos indígenas que vivem em espaços urbanos tem ganho
maior visibilidade.17 Como será indicado, diversos factores impulsio-
nam os movimentos migratórios do meio rural para o meio urbano.
No caso dos povos indígenas, é especialmente relevante a falta de
território e os desalojados forçados, a pressão demográfi ca sobre as
suas terras, as usurpações de empresas nacionais e internacionais, a
deterioração ambiental, a pobreza, a falta de água e a procura de me-
lhores oportunidades económicas e educativas. Também foi assinala-
da a presença de uma migração selectiva por idades, sendo os jovens
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quem sai em maior proporção das suas comunidades de origem.
Os assentamentos indígenas nas cidades fazem parte das preocupa-
ções actuais, não apenas pelas suas condições de vida, mas também
pelas possíveis mudanças culturais e pela perda de identidade que
poderiam implicar, sobretudo entre os jovens. De uma forma geral,
na área urbana é facilitado o acesso aos serviços básicos — neste
caso a educação. Porém, as condições de vida continuam muito des-
favoráveis, uma vez que as comunidades indígenas fi cam localizadas
em zonas marginais com poucas oportunidades. Alguns estudos su-
gerem inclusivamente que a ausência de educação intercultural bilin-
gue nas cidades, juntamente com a discriminação de que sofrem os
jovens indígenas, cria um enorme vazio psicológico e social. Estes jo-
vens encontram-se no meio das tensões entre dois mundos, o das suas
comunidades e o da escola e da cidade, o que lhes pode transmitir
uma sensação de falta de pertença, com importantes consequências
para a sua saúde mental e física (IWGIA, 2005).
As desigualdades geográfi cas mais profundas ao nível regional re-
gistam-se no Brasil, onde 56% dos jovens indígenas alcança o nível
secundário nas cidades, face a 11,9% no meio rural, ou seja, há um
nível de escolaridade quase cinco vezes maior no meio urbano. Tam-
bém entre os jovens de ascendência africana são notórias as diferen-
ças geográfi cas, sendo os habitantes das cidades os que alcançam
em maior proporção o nível secundário (mais do dobro), especial-
mente no Brasil e na Costa Rica. É interessante constatar que, em
ambos os grupos étnicos, as disparidades urbano-rurais são maiores
do que as observadas para o resto dos jovens. Outros países também
apresentam desigualdades geográfi cas importantes. No Panamá, por
exemplo, 57,6% dos jovens indígenas urbanos alcança o nível esco-
laridade médio, face a 19,3% no meio rural, o que representa uma
diferença do triplo. Este valor não condiz com a diferença urbano-
rural do resto da população, que é de 1,7 (ver tabela 19).
Nas Honduras, a diferença entre a população urbana e a rural é, de
uma forma geral, muito grande (mais de cinco vezes no caso dos in-
dígenas e mais de quatro para o resto da população). Quase a mesma
proporção de jovens indígenas e não indígenas alcança o nível médio
no meio urbano (48%), registando-se diferenças nas zonas rurais, nas
quais os indígenas alcançam 8,9% e a restante população 11,5% (ver
a tabela 19).
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Tabela 19América Latina (13 países): População de 15 a 29 anos com 7 anos
de escolaridade ou mais, de acordo com a condição étnica e área de residência, e diferença urbano-rural, censos de 2000
(Em percentagens e quocientes)
País / Área de residência
Indígena Ascendência africana Resto
Percentagem Diferença Percentagem Diferença Percentagem Diferença
ArgentinaUrbana 89,7
1,5 93,3
1,2Rural 60,4 78,5
Bolívia (E. P. de)
Urbana 78,11,8
84,91,9
Rural 42,8 45,0
BrasilUrbana 56,0
4,753,6
2,773,1
2,0Rural 11,9 20,0 37,3
Costa RicaUrbana 53,1
3,073,7
2,167,6
1,8Rural 17,7 35,5 36,6
Chile Urbana 90,7
1,394,1
1,2Rural 71,6 80,5
EquadorUrbana 40,0
1,762,9
1,773,3
1,8Rural 23,8 36,5 39,9
GuatemalaUrbana 30,1
3,262,4
3,1Rural 9,4 20,4
HondurasUrbana 48,3
5,548,2
4,2Rural 8,9 11,5
MéxicoUrbana 50,2
1,878,1
1,8Rural 27,2 43,7
NicaráguaUrbana 65,2
2,479,6
1,570,3
2,9 Rural 26,9 54,5 24,5
PanamáUrbana 57,6
3,085,1
1,7Rural 19,3 50,5
ParaguaiUrbana 17,5
2,072,2
1,8Rural 9,0 41,1
Venezuela (R. B. de)
Urbana 41,01,6
77,52,2
Rural 24,9 35,7
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
Como demonstram os exemplos anteriores, a localização geográfi ca,
independentemente de se tratarem de locais de residência urbanos
ou rurais, está sempre presente nos níveis de educação. Na tabela
20, que apresenta as diferenças étnicas por zona de residência, é in-
dicada a interacção entre ambos os aspectos. Os resultados mostram
que há países, como a Argentina, o Estado Plurinacional da Bolívia,
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CEPAL/UNFPA/OIJ 124
o Chile e o México, que apresentam diferenças pequenas ou inexis-
tentes entre os jovens indígenas e não indígenas no meio urbano,
ao contrário das zonas rurais, nas quais as disparidades étnicas são
sistematicamente em detrimento dos primeiros.
Em alguns países, observa-se uma diferença maior entre os jovens
indígenas e os jovens não indígenas no meio urbano do que no rural.
É o caso do Equador, onde 40% da população indígena urbana de
15 a 29 anos alcança o nível de escolaridade médio, face a 73,3%
dos jovens não indígenas. A situação que apresenta o Paraguai é mais
evidente ainda: apenas 17,5% dos indígenas urbanos alcança o ní-
vel secundário, face a 72,2% do resto dos jovens. Estes indicadores
refl ectem a situação de desvantagem em que vivem os indígenas que
migram para as cidades. Em muitas ocasiões, são vítimas de uma dis-
criminação e marginalização que difi cultam o acesso aos serviços bá-
sicos disponíveis para o resto da população. Um estudo prévio para
a América Latina mostra uma certa associação entre o grau de desi-
gualdade em matéria educativa entre indígenas e não indígenas e o
grau de exclusão, examinando a situação dos jovens não unicamente
no meio urbano mas também nas principais cidades de assentamento
indígena de cada país (que muitas vezes coincidem com os centros
metropolitanos mais importantes). Ou seja, nas cidades nas quais as
realizações educacionais são reduzidas nota-se também maiores de-
sigualdades relativas entre indígenas e não indígenas (Del Popolo,
Oyarce e Ribotta, 2008).
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
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Tabela 20América Latina (13 países): Desigualdades étnicas na percentagem de jovens de 15 a 29 anos com 7 anos de escolaridade ou mais,a de acordo com o local
de residência, censos de 2000
País / Área de residência Indígenas com o resto
População de ascendência africana
com o resto
ArgentinaUrbana 1,0
Rural 1,3
Bolívia (E. P. de)
Urbana 1,1
Rural 1,1
BrasilUrbana 1,3 1,4
Rural 3,1 1,9
Costa RicaUrbana 1,3 0,9
Rural 2,1 1,0
Chile Urbana 1,0
Rural 1,1
EquadorUrbana 1,8 1,2
Rural 1,7 1,1
GuatemalaUrbana 2,1
Rural 2,2
HondurasUrbana 1,0
Rural 1,3
MéxicoUrbana 1,6
Rural 1,6
NicaráguaUrbana 1,5
Rural 2,6
PanamáUrbana 4,1
Rural 4,6
ParaguaiUrbana 1,1 0,9
Rural 0,9 0,4
Venezuela (R. B. de)
Urbana 1,9
Rural 1,4
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
(a) Quociente entre o resto dos jovens e os indígenas ou de ascendência africana no meio urbano e no meio rural.
Entre os jovens de ascendência africana, a tendência geral revela
um maior nível de educação no meio urbano do que no meio rural.
Como mostra a tabela 20, é no Brasil que encontramos a situação
mais desigual segundo a condição étnica, observando-se grandes di-
ferenças em relação ao resto da população, tanto nas cidades como
no campo.
JUVENTUDE INDÍGENA
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DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
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CEPAL/UNFPA/OIJ 126
4. As desigualdades de género
As categorias e os conceitos como a raça e a etnia são associadas
ao género para instaurar sistemas culturais e sociais de dominação,
impedindo que uma grande parte da população desfrute de determi-
nados bens e serviços. Em linhas gerais, as mulheres indígenas e de
ascendência africana são as que menos oportunidades têm no acesso
ao trabalho, à terra, à educação, à saúde e à justiça.
O Fórum Permanente para as Questões Indígenas dedicou uma par-
te do seu sexto período de sessões à análise da situação particular
das mulheres deste grupo étnico, reconhecendo as contribuições que
realizam no seio das suas famílias, comunidades, nações e no pla-
no internacional, e expressando a «sua preocupação pelas múltiplas
formas de discriminação de que são vítimas as mulheres indígenas,
por motivos de género, raça e etnia, e os complexos problemas pro-
venientes dessa discriminação». As organizações de mulheres indíge-
nas declararam que continuam a sofrer com múltiplas formas de dis-
criminação, como mulheres e como pessoas indígenas, assim como
com as consequências negativas da globalização e da degradação
ambiental (Nações Unidas, 2007a).
Por sua vez, as organizações de mulheres de ascendência africana
reclamam que um dos problemas fundamentais que têm de enfrentar
é a invisibilidade, como expressão do racismo dominante. A situação
de marginalização de que sofrem refl ecte-se nas limitações estruturais
para acesso aos recursos produtivos e na desigualdade nos mercados
laborais (Campbell Barr, 2005).
Os dados sobre a educação dos jovens desagregados segundo o gé-
nero revelam uma persistência das disparidades étnicas em todos os
países (ver a tabela 21), ou seja, os homens indígenas dos subgrupos
de idades jovens alcançam um nível de educação menor do que o
resto dos homens jovens, e o mesmo acontece com as mulheres in-
dígenas deste segmento etário em relação aos seus pares no resto da
população.
Com excepção do Chile, as desigualdades entre as jovens indígenas
e as não indígenas são mais acentuadas do que as que se verifi cam
entre os homens. A situação mais desvantajosa para as mulheres dá-
se no Panamá, onde a desigualdade entre homens indígenas e não
JUVENTUDE INDÍGENA
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DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
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CEPAL/UNFPA/OIJ 127
indígenas de 15 a 19 anos é do dobro, e a desigualdade que se ve-
rifi ca entre as jovens indígenas e as não indígenas chega ao triplo. É
também notório o caso do Estado Plurinacional da Bolívia, no qual as
desigualdades entre homens indígenas e não indígenas deste segmen-
to etário se vão esbatendo nas gerações mais jovens, até alcançarem
proporções reduzidas, enquanto entre as raparigas indígenas e não
indígenas da mesma idade as disparidades se mantêm, mesmo com
o passar do tempo.
É sabido que as mulheres indígenas não só sofrem a exclusão e a dis-
criminação da sociedade dominante, mas também têm desvantagens
relativamente aos homens no seio dos seus próprios povos. Esta situ-
ação refl ecte-se no facto de as desigualdades de género em matéria
educativa nos povos indígenas serem mais amplas do que entre o
resto da população jovem. As diferenças entre homens e mulheres em
detrimento das jovens indígenas não coincidem com as diferenças
das raparigas não indígenas, que em muitos países são inexistentes ou
favoráveis às raparigas. Contudo, é importante salientar que a situa-
ção nos diversos países é muito heterogénea (ver a tabela 21).
Estas descobertas são coincidentes com um relatório da Organização
das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO),
que afi rma que as raparigas e as mulheres indígenas são especial-
mente afectadas pela desigualdade de género em matéria educativa
(UNESCO, 2001). As estatísticas nacionais relativas à educação ini-
cial e básica não informam, de uma forma geral, sobre as diferenças
que surgem quando se considera o género em conjunto com a loca-
lização e/ou etnia. Apesar de, na América Latina, as desigualdades
educativas entre homens e mulheres terem tendência a desaparecer,
a distância entre o acesso à educação das populações indígenas em
relação ao das não indígenas não diminuiu na mesma medida.
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
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Tabela 21América Latina (13 países): Jovens de 15 a 29 anos com 7 anos de escolaridade ou
mais, de acordo com subgrupos de idades, condição étnica e género, censos de 2000(Em percentagens)
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
País / Género
Indígena Ascendência africana Resto
15 a 19
anos
20 a 24
anos
25 a 29
anos
15 a 19
anos
20 a 24
anos
25 a 29
anos
15 a 19
anos
20 a 24
anos
25 a 29
anos
ArgentinaHomem 83,2 85,2 84,0 90,0 91,7 91,0
Mulher 85,4 85,6 84,5 93,0 93,6 92,2
Bolívia (E. P. de)Homem 74,1 72,6 67,2 80,5 80,8 75,8
Mulher 63,4 57,9 49,2 79,3 76,5 69,8
BrasilHomem 30,3 37,3 34,3 40,4 44,7 40,4 66,5 66,6 60,6
Mulher 36,5 39,4 37,9 51,1 54,1 48,2 73,5 72,5 65,8
Costa RicaHomem 26,8 24,3 24,7 58,1 56,2 55,2 54,8 54,5 49,4
Mulher 27,3 26,1 25,0 65,7 65,1 60,8 60,7 58,9 52,0
ChileHomem 88,2 85,0 81,5 92,8 92,4 90,5
Mulher 89,9 84,6 80,2 94,3 93,8 91,7
EquadorHomem 36,1 30,3 27,3 53,1 53,8 53,9 61,9 60,1 59,8
Mulher 29,1 22,0 17,8 58,7 58,1 56,7 64,9 63,2 61,7
GuatemalaHomem 22,6 20,6 16,2 47,4 47,3 44,5
Mulher 15,9 12,6 8,9 45,5 44,0 40,3
HondurasHomem 15,4 13,1 12,3 28,0 26,9 26,9
Mulher 21,0 16,6 14,6 36,1 33,4 31,5
MéxicoHomem 48,5 38,1 33,5 74,6 70,8 69,9
Mulher 38,6 28,5 24,3 73,7 68,7 66,7
NicaráguaHomem 42,2 43,7 38,5 70,6 73,3 66,3 49,1 49,1 44,0
Mulher 47,0 46,3 39,5 85,3 84,8 82,0 57,9 55,6 49,0
PanamáHomem 35,9 32,4 30,9 72,9 72,0 69,4
Mulher 26,9 21,8 18,3 80,1 78,0 75,3
ParaguaiHomem 15,1 11,5 8,7 64,9 59,7 51,0
Mulher 10,3 6,7 4,1 66,9 60,3 49,2
Venezuela (R. B. de)Homem 34,5 32,0 29,3 67,7 68,3 66,3
Mulher 39,6 35,2 30,4 79,3 79,3 75,9
Há um grupo de países nos quais a desigualdade de género é bastante
importante entre os povos indígenas. Na Guatemala, por exemplo, os
jovens de 15 a 19 anos deste grupo étnico alcançam o nível secun-
dário numa relação de mais de 40% do que as mulheres.18 O caso
do Panamá também é notório, já que se observa uma diferença entre
30% a 70% desfavorável para as mulheres indígenas nos intervalos de
18 Por exemplo, foi docu-
mentada a discriminação das
raparigas e jovens indígenas
por vestirem o traje tradicional
na escola (Nações Unidas,
2005d).
EDUCAÇÃO E LÍNGUA: A DESIGUALDADE COMO LIMITAÇÃO DA DIVERSIDADE
CEPAL/UNFPA/OIJ 129
idades jovens. Esta desigualdade de género não é refl ectida nos indi-
cadores para o resto da população jovem, entre a qual, por exemplo,
as mulheres de 15 a 19 anos alcançam o nível secundário em maior
proporção do que os homens. Outros países nos quais existem dife-
renças de género bastante acentuadas dentro da população indígena
são o México, o Equador e o Paraguai (ver a tabela 22).
Tabela 22América Latina (13 países): A população indígena jovem com 7 anos de escolaridade ou mais, de acordo com o género e subgrupos de idades, e desigualdade de género,
censos de 2000(Em percentagens e quocientes)
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
(a) Quociente entre homens e mulheres.
País / Género 15 a 19 anos Diferença 20 a 24
anos Diferença 25 a 29 anos Diferença
ArgentinaHomem 83,2
1,085,2
1,084,0
1,0Mulher 85,4 85,6 84,5
Bolívia (E. P. de)Homem 74,1
1,272,6
1,367,2
1,4Mulher 63,4 57,9 49,2
BrasilHomem 30,3
0,837,3
0,934,3
0,9Mulher 36,5 39,4 37,9
Costa RicaHomem 26,8
1,024,3
0,924,7
1,0Mulher 27,3 26,1 25,0
ChileHomem 88,2
1,085,0
1,081,5
1,0Mulher 89,9 84,6 80,2
EquadorHomem 36,1 1,2 30,3 1,4 27,3
1,5Mulher 29,1 22,0 17,8
GuatemalaHomem 22,6
1,420,6
1,616,2
1,8Mulher 15,9 12,6 8,9
HondurasHomem 15,4
0,713,1
0,812,3
0,8Mulher 21,0 16,6 14,6
MéxicoHomem 48,5
1,338,1
1,333,5
1,4Mulher 38,6 28,5 24,3
NicaráguaHomem 42,2
0,943,7 0,9 38,5
1,0Mulher 47,0 46,3 39,5
PanamáHomem 35,9
1,332,4
1,530,9
1,7Mulher 26,9 21,8 18,3
ParaguaiHomem 15,1
1,511,5
1,78,7
2,1Mulher 10,3 6,7 4,1
Venezuela (R. B. de)Homem 34,5
0,932,0
0,929,3
1,0Mulher 39,6 35,2 30,4
EDUCAÇÃO E LÍNGUA: A DESIGUALDADE COMO LIMITAÇÃO DA DIVERSIDADE
CEPAL/UNFPA/OIJ 130
Um aspecto importante para a análise através de estudos qualitativos
é os motivos que difi cultam o acesso e a permanência das jovens in-
dígenas e de ascendência africana na escola. Algumas investigações
mostraram a complexidade do assunto, salientando alguns factores
em jogo, como a maternidade precoce, a necessidade de dedicação
exclusiva às tarefas domésticas, os medos das famílias pela seguran-
ça das crianças, os custos do transporte para a escola, a violência
ou agressões sexuais das quais podem sofrer em instituições ou a
caminho dessas instituições, bem como a pouca valorização dada à
educação formal das mulheres.
Apesar destes factores, que sem dúvida afectam negativamente mui-
tos dos povos, também há alguns países nos quais quase não existem
desigualdades de género, como o Chile e a Costa Rica, e outros nos
quais se observa diferenças favoráveis nas mulheres indígenas: Brasil,
Honduras, Nicarágua e a República Bolivariana da Venezuela. Em to-
dos estes casos, a situação coincide com o resto da população e segu-
ramente responde aos esforços dos Estados em alcançar a igualdade
de género no âmbito da educação. Para a população de ascendência
africana, a situação é mais favorável para as mulheres de todos os
países. Os valores que registam estão de acordo com o que ocorre no
resto da população jovem (ver as tabelas 23 e 24).
Tabela 23América Latina (países seleccionados): População de ascendência africana jovem com 7 anos de escolaridade ou mais, segundo o género e subgrupos de idades,
e desigualdade de género, censos de 2000(Em percentagens e quocientes)
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
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AFRICANA NA
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DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
País / Género 15 a 19 anos Diferença 20 a 24
anos Diferença 25 a 29 anos Diferença
EquadorHomem 53,1
0,953,8
0,953,9
0,9Mulher 58,7 58,1 56,7
BrasilHomem 40,4
0,844,7
0,840,4
0,8Mulher 51,1 54,1 48,2
Costa RicaHomem 58,1
0,956,2
0,955,2
0,9Mulher 65,7 65,1 60,8
NicaráguaHomem 70,6
0,873,3
0,966,3
0,8Mulher 85,3 84,8 82,0
EDUCAÇÃO E LÍNGUA: A DESIGUALDADE COMO LIMITAÇÃO DA DIVERSIDADE
CEPAL/UNFPA/OIJ 131
Tabela 24América Latina (13 países): Resto da população jovem com 7 anos
de escolaridade ou mais, de acordo com o género e subgrupos de idades, e desigualdade de género, censos de 2000
(Em percentagens e quocientes)
País / Género 15 a 19 anos Diferença 20 a 24
anos Diferença 25 a 29 anos Diferença
EquadorHomem 61,9
1,060,1
1,059,8
1,0Mulher 64,9 63,2 61,7
ParaguaiHomem 64,9
1,059,7
1,051,0
1,0Mulher 66,9 60,3 49,2
ArgentinaHomem 90,0
1,091,7
1,091,0
1,0Mulher 93,0 93,6 92,2
Bolívia (E. P. de)Homem 80,5
1,080,8
1,175,8
1,1Mulher 79,3 76,5 69,8
BrasilHomem 66,5
0,966,6
0,960,6
0,9Mulher 73,5 72,5 65,8
ChileHomem 92,8
1,092,4
1,090,5
1,0Mulher 94,3 93,8 91,7
Costa RicaHomem 54,8
0,954,5
0,949,4
1,0Mulher 60,7 58,9 52,0
GuatemalaHomem 47,4
1,047,3
1,144,5
1,1Mulher 45,5 44,0 40,3
HondurasHomem 28,0
0,826,9
0,826,9
0,9Mulher 36,1 33,4 31,5
MéxicoHomem 74,6
1,070,8
1,069,9
1,0Mulher 73,7 68,7 66,7
PanamáHomem 72,9
0,972,0
0,969,4
0,9Mulher 80,1 78,0 75,3
NicaráguaHomem 49,1
0,849,1
0,944,0
0,9Mulher 57,9 55,6 49,0
Venezuela (R. B. de)Homem 67,7
0,968,3
0,966,3
0,9Mulher 79,3 79,3 75,9
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
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CEPAL/UNFPA/OIJ 132
C. O panorama heterogéneo entre os povos indígenas
A possibilidade de contar com dados desagregados para os povos
indígenas específi cos de 10 países da região permite observar as dife-
renças na educação dos jovens deste grupo étnico à escala nacional.
Nos povos indígenas do Equador, por exemplo, o mais frequente é
os jovens de 15 a 29 anos alcançarem entre 4 e 6 anos de educação
formal, com excepção do povo Chachi, localizado na província de
Esmeraldas (Conselho de Desenvolvimento das Nacionalidades e Po-
vos do Equador, online, http://www.codenpe.gov.ec), no qual apenas
46,6% consegue alcançar entre 0 e 3 anos de escolaridade. Se for
considerada como indicador a percentagem de jovens de 15 a 29
anos que alcançou 7 anos de educação formal ou mais, o valor mais
desfavorável é registado pelo povo Canari, com 15,8% de jovens
nessa situação, e o mais favorável pertence ao povo Saraguro, com
38,4%, duplicando a percentagem anterior. Além disso, este povo
apresenta a percentagem mais elevada de jovens que alcançou o ní-
vel universitário (4,8%) (ver a tabela 25).
Actualmente, nos povos que pertencem às famílias linguísticas mais
numerosas do Paraguai, aqueles que falam guarani e maskoy alcan-
çam, na sua maioria, apenas entre 0 e 3 anos de escolaridade, e mui-
to poucos alcançam o nível secundário (cerca de 8%). Esta situação
contrasta com o caso dos mataco-mataguayos, que estudam durante
4 a 6 anos numa percentagem elevada, o que representa quase o do-
bro dos que alcançam 7 a 12 anos (16,1%) (ver a tabela 25).
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 133
Tabela 25Equador e Paraguai: Jovens de 15 a 29 anos de acordo com o nível de escolaridade
alcançado e povo indígena a que pertencem, censos de 2000(Em percentagens)
País Povo 0 a 3 anos 4 a 6 anos 7 a 12 anos
13 anos ou mais
Percentagem total
População total
Equador
Canari 34,2 48,3 15,8 1,7 100,0 4.663
Pilahuin 26,6 56,1 16,1 1,2 100,0 1.592
Panzaleo 22,1 59,8 17,1 1,0 100,0 5.739
Cayambi 23,5 57,8 17,4 1,3 100,0 3.174
Otavalo 27,4 49,6 20,8 2,2 100,0 7.746
Paruha 25,0 49,7 22,0 3,3 100,0 12.853
Quíchua 25,5 47,8 24,5 2,2 100,0 45.105
Chachi 46,6 26,0 24,6 2,8 100,0 1.122
Salasaca 13,9 52,5 30,6 3,0 100,0 1.372
Shuar 25,5 40,2 32,1 2,2 100,0 11.881
Saraguro 20,2 41,4 33,6 4,8 100,0 1.808
Paraguai
Zamuco 61,1 31,7 7,2 0,0 100,0 1.068
Língua Maskoy 65,2 27,5 7,2 0,1 100,0 5.612
Guaraní 70,2 20,6 8,8 0,4 100,0 11.946
Guaicuru 53,9 35,3 10,8 0,0 100,0 360
Mataco-Mataguayo 42,2 41,5 16,1 0,2 100,0 3.707
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
Nota: no caso do Paraguai, tratam-se de famílias linguísticas, e não dos povos existentes no país.
Também se observa diferenças entre os povos indígenas do Estado Plurinacional da Bolívia, evidentes sobretudo entre os quíchuas e os aimarás, os grupos étnicos mais numerosos do país. Os segundos encontram-se numa situação mais favorável: 73,7% da população jovem alcançou 7 anos de escolaridade ou mais, face a 55,6% dos primeiros (ver a tabela 26).
O Panamá é outro exemplo de grandes diferenças entre etnias: en-quanto apenas 21,1% dos jovens do povo Ngöbe alcança o nível se-cundário, entre o povo Kuna a percentagem é de 47,5%, ou seja, mais do dobro, o que os diferencia amplamente do resto dos povos (ver a tabela 26). É claro que estes resultados refl ectem também a locali-zação territorial, que varia de acordo com os povos que a habitam. A importante migração dos jovens kunas para a cidade do Panamá tem sido bastante documentada, o que explica em grande medida as conquistas educativas que exibem.
CEPAL/UNFPA/OIJ 134
Tabela 26Bolívia e Panamá: Jovens de 15 a 29 anos de acordo com o nível de escolaridade
alcançado e povo indígena ao qual pertencem, censos de 2000(Em percentagens)
País Povo 0 a 3 anos
4 a 6 anos
7 a 12 anos
13 anos ou mais
7 anos ou mais
Población total
EquadorQuechua 20,2 24,2 44,5 11,1 55,6 610.703
Aymara 9,7 16,6 63,5 10,2 73,7 507.875
Paraguay
Ngöbe 40,1 38,8 20,3 0,8 21,1 45.139
Bugle 39,4 38,8 20,8 1,0 21,8 5.483
Bokota 36,4 40,3 22,0 1,3 23,3 305
Teribe 18,8 52,1 26,7 2,3 29,0 946
Emberá 26,1 45,9 26,9 1,2 28,1 6.092
Wounaan 26,0 44,7 28,3 1,0 29,3 1.930
Kuna 24,7 27,8 43,5 4,0 47,5 16.302
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
Seguindo as tendências descritas, no Chile observa-se desigualdades
entre os povos quando consideramos o nível universitário (13 anos de
escolaridade ou mais). Na posição mais desfavorecida encontram-se
os jovens mapuches, que registam uma elevada percentagem com
estudos secundários (71,3%), mas são porém relativamente poucos
os que alcançam o nível universitário (12,6%). Esta situação contrasta
com o que ocorre entre os jovens do povo Rapa Nui, no qual 63,5%
alcança 7 a 12 anos de educação formal e 30,7% chega a iniciar uma
carreira universitária, o que refl ecte uma trajectória educativa favorá-
vel para estes jovens (ver a tabela 27).
Nos restantes países também existem grandes diferenças entre os vá-
rios povos, confi rmando-se uma vez mais a grande heterogeneidade
de situações e a necessidade de divisão dos dados globais.
Tabela 27Chile: Jovens de 15 a 29 anos de acordo com o nível de escolaridade alcançado
e povo indígena a que pertencem, censos de 2000(Em percentagens)
Povo 0 a 3 anos 4 a 6 anos 7 a 12 anos
13 anos ou mais
Percentagem total
População total
Mapuche 5,0 11,1 71,3 12,6 100,0 154.707
Rapa Nui 2,7 3,1 63,5 30,7 100,0 1.314
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
EDUCAÇÃO E LÍNGUA: A DESIGUALDADE COMO LIMITAÇÃO DA DIVERSIDADE
CEPAL/UNFPA/OIJ 135
D. É possível falar de uma perda de idioma entre as novas gerações indígenas?
Dado que a manutenção da língua materna continua a ser umas das
principais preocupações dos povos indígenas — incluindo os jovens
— e de alguns grupos de ascendência africana, como os garífunas —,
esta secção propõe determinar se existem indícios de uma perda da
língua indígena entre os jovens e salientar as diferenças neste proces-
so de acordo com a zona de residência, o nível de educação formal
alcançado e outros factores contextuais.
A Declaração Universal dos Direitos Linguísticos, elaborada em
Barcelona em 1996, enumera, no artigo 3, um conjunto de direitos
considerados inalienáveis, que devem ser exercidos em qualquer si-
tuação, tanto por indivíduos como por colectividades, entre os quais
se encontram:
• o direito a ser reconhecido como membro de uma comunida-
de linguística;
• o direito ao uso da língua em privado e em público;
• o direito ao uso do próprio nome;
• o direito a relacionar-se e associar-se com outros membros da
comunidade linguística de origem e
• o direito ao ensino na própria língua e à cultura (Comité de
Seguimento da Declaração Universal dos Direitos Linguísticos,
1998).
No instrumento também é estabelecido que «todas as comunidades
linguísticas têm o direito de organizar e gerir os próprios recursos
com o fi m de assegurar o uso da sua língua em todas as funções so-
ciais» e que «todas as comunidades linguísticas têm o direito de dis-
por dos meios necessários para assegurarem a transmissão e a protec-
ção futuras da língua» (artigo 8, pontos 1 e 2). Mais à frente, o texto
afi rma que «todo o mundo tem direito ao poliglotismo e a conhecer
e a usar a língua mais adequada ao seu desenvolvimento pessoal ou
à sua mobilidade social» (artigo 13, ponto 2) (Comité de Seguimento
da Declaração Universal dos Direitos Linguísticos, 1998).
É internacionalmente reconhecido que a promoção das línguas in-
dígenas é um aspecto fundamental de uma educação culturalmen-
te adequada, e que a língua é um meio essencial para transmitir a
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
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DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
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CEPAL/UNFPA/OIJ 136
cultura, os valores e a cosmovisão indígena. A Relatora Especial das
Nações Unidas sobre o direito à educação, Katarina Tomaševski, de-
clarou que o ensino no idioma dominante impede o acesso à educa-
ção, devido às barreiras linguísticas, pedagógicas e psicológicas que
cria (Nações Unidas, 2003).
A informação sobre o uso da língua indígena apenas está disponível
para sete países da região, e observa-se uma certa heterogeneidade
nos diferentes casos. É importante salientar que os dados do Paraguai
e da Costa Rica foram recolhidos apenas em territórios indígenas e
não nas cidades, o que provavelmente explica a elevada percentagem
de população monolingue indígena que ambos registam: 63,5% e
63,6%, respectivamente. Para o resto dos países, o mais frequente é
os jovens indígenas dominarem tanto o idioma próprio como o caste-
lhano (em média, 55% da população jovem) (ver a tabela 28).
Em todos os países com dados disponíveis, é possível observar que
a população com maior proporção de pessoas que apenas falam
castelhano é o grupo mais jovem, ou seja, o grupo dos 15 aos 29
anos, o que mostra uma perda geracional do idioma. Esta tendência
relaciona-se com os dados opostos, ou seja, os dados relativos ao
monolinguismo indígena, nos quais são os indivíduos com mais de
60 anos que apresentam uma proporção mais elevada.
Os casos do Estado Plurinacional da Bolívia, Guatemala e México são
preocupantes, devido à elevada proporção de jovens que apenas fala
castelhano em relação às gerações anteriores. Por exemplo, no Estado
Plurinacional da Bolívia, 33,1% dos jovens fala apenas castelhano,
face a 7,6% dos maiores de 60 anos com essa condição. Por sua vez,
no México, 22,8% dos jovens correspondem a esta condição, apro-
ximadamente 10% mais do que os maiores de 60 anos monolingues
em castelhano (12,4%). Além disso, é possível constatar que o salto
da geração mais jovem anterior (30 a 59 anos) é mais amplo do que a
diferença entre esta última e a de 60 anos ou mais, o que indica não
só a perda do idioma, mas também a aceleração do processo.
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Tabela 28América Latina (países seleccionados): Falantes do idioma indígena e castelhano, de acordo com os grupos de idades, censos de 2000
(Em percentagens)
País Grupos de idadeApenas idioma
indígena
Apenas idioma
castelhano
Idioma indígena e castelhano
Total
Bolívia (E. P. de)
15 a 29 anos 9,7 33,1 57,2 100,0
30 a 59 anos 18,8 17,1 64,1 100,0
60 anos ou mais 47,6 7,6 44,8 100,0
Total 18,8 22,4 58,8 100,0
Costa Rica
15 a 29 anos 62,4 32,4 5,2 100,0
30 a 59 anos 65,0 29,8 5,2 100,0
60 anos ou mais 64,2 31,0 4,8 100,0
Total 63,6 31,2 5,2 100,0
Equador
15 a 29 anos 9,4 35,6 55,0 100,0
30 a 59 anos 15,0 30,6 54,4 100,0
60 anos ou mais 26,7 29,1 44,2 100,0
Total 14,3 32,5 53,2 100,0
Guatemala
15 a 29 anos 25,4 20,5 54,1 100,0
30 a 59 anos 30,8 16,0 53,2 100,0
60 anos ou mais 40,1 13,4 46,5 100,0
Total 29,2 17,9 52,9 100,0
México
15 a 29 anos 10,6 22,8 66,6 100,0
30 a 59 anos 18,7 16,5 64,8 100,0
60 anos ou mais 31,2 12,4 56,4 100,0
Total 16,9 18,6 64,5 100,0
Paraguai
15 a 29 anos 60,7 0,3 39,0 100,0
30 a 59 anos 64,1 0,2 35,7 100,0
60 anos ou mais 77,7 0,1 22,2 100,0
Total 63,5 0,2 36,3 100,0
Venezuela(R. B. de)
15 a 29 anos 24,2 14,1 61,7 100,0
30 a 59 anos 30,1 13,0 56,9 100,0
60 anos ou mais 42,0 13,8 44,2 100,0
Total 28,3 13,6 58,1 100,0
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
1. A mulher e a língua original: um laço que perdura
A mulher indígena tem tido tradicionalmente um papel de transmis-
sora da cultura, pelo que seria de esperar que, face a uma perda do
idioma original, as mulheres o conservem em maior proporção do
que os homens. As estatísticas apresentadas em seguida apoiam esta
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SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
EDUCAÇÃO E LÍNGUA: A DESIGUALDADE COMO LIMITAÇÃO DA DIVERSIDADE
CEPAL/UNFPA/OIJ 138
afi rmação.
Com efeito, nota-se que é mais frequente que as mulheres indígenas
de todos os países examinados sejam monolingues no seu próprio
idioma, e que o bilinguismo e o monolinguismo em castelhano se
apresentem em menor proporção do que nos homens do mesmo gru-
po étnico. É interessante observar que estas tendências se mantêm
entre as gerações mais jovens (ver a tabela 29).
Tabela 29América Latina (países seleccionados): Jovens indígenas
de acordo com a língua falada e o género, censos de 2000(Em percentagens)
País SexoApenas idioma
indígena
Apenas idioma
castelhano
Idioma indígena e castelhano
Total
EquadorHomem 11,2 33,5 55,3 100,0
Mulher 17,1 31,7 51,2 100,0
ParaguaiHomem 56,3 0,2 43,5 100,0
Mulher 71,4 0,2 28,4 100,0
Bolívia (E. P. de)
Homem 13,2 23,5 63,3 100,0
Mulher 24,0 21,4 54,6 100,0
Costa RicaHomem 62,8 31,9 5,3 100,0
Mulher 64,4 30,5 5,1 100,0
GuatemalaHomem 22,3 18,6 59,1 100,0
Mulher 35,5 17,2 47,3 100,0
MéxicoHomem 10,2 18,7 71,1 100,0
Mulher 23,3 18,5 58,2 100,0
Venezuela (R. B. de)
Homem 21,4 15,1 63,5 100,0
Mulher 35,8 12,0 52,2 100,0
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM..
Deste modo, se analisarmos as diferenças por idades, as mulheres
continuam a apresentar uma maior percentagem de monolinguismo
e uma menor proporção de bilinguismo do que os homens em todos
os intervalos etários. Apesar disso, a perda do idioma indígena entre
as gerações mais jovens é visível em ambos os sexos. As diferenças no
conhecimento da língua original são mais notórias entre os homens
e as mulheres de idades avançadas, com maior presença relativa de
monolinguismo indígena entre as mulheres (ver a tabela 30). A perda
do idioma entre as raparigas tem diminuído parcialmente as desigual-
dades por género, mas esta maior igualdade entre homens e mulheres
é, neste caso, um facto derivado de aspectos preocupantes para os
povos indígenas.
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Examinando os valores para o grupo dos jovens, o Paraguai, Guate-
mala, México e a República Bolivariana da Venezuela são os países
que apresentam mais diferenças entre mulheres e homens relativa-
mente ao monolinguismo indígena (predominantemente feminino) e
ao bilinguismo (condição presente maioritariamente nos homens). O
México é um caso importante neste aspecto, já que é bem evidente
uma baixa percentagem de monolinguismo indígena, as jovens regis-
tam um valor que duplica o dos homens (14,5% face a 6,4%) (ver a
tabela 30).
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País Sexo Grupos de idadeApenas idioma
indígena
Apenas idioma
castelhano
Idioma indígena e castelhano
Total
Bolívia(E. P. de)
Homem
15 a 29 años 7,4 34,2 58,4 100,0
30 a 59 años 12,4 18,1 69,5 100,0
60 años o más 35,8 8,5 55,7 100,0
Mulher
15 a 29 años 11,9 31,9 56,2 100,0
30 a 59 años 25,0 16,2 58,8 100,0
60 años o más 57,7 6,8 35,5 100,0
Costa Rica
Homem
15 a 29 años 61,5 33,3 5,2 100,0
30 a 59 años 64,5 30,1 5,4 100,0
60 años o más 62,5 32,5 5,0 100,0
Mulher
15 a 29 años 63,3 31,5 5,2 100,0
30 a 59 años 65,5 29,5 5,0 100,0
60 años o más 66,0 29,5 4,5 100,0
Equador
Homem
15 a 29 años 8,1 36,4 55,5 100,0
30 a 59 años 10,8 31,7 57,5 100,0
60 años o más 21,7 29,8 48,5 100,0
Mulher
15 a 29 años 10,6 34,8 54,6 100,0
30 a 59 años 18,9 29,6 51,5 100,0
60 años o más 31,1 28,4 40,5 100,0
Guatemala
Homem
15 a 29 años 20,0 21,3 58,7 100,0
30 a 59 años 22,5 16,6 60,9 100,0
60 años o más 31,7 13,9 54,4 100,0
Mulher
15 a 29 años 30,2 19,8 50,0 100,0
30 a 59 años 38,6 15,3 46,1 100,0
60 años o más 48,7 12,8 38,5 100,0
México
Homem
15 a 29 años 6,4 22,7 70,9 100,0
30 a 59 años 10,3 16,9 72,8 100,0
60 años o más 21,7 12,4 65,9 100,0
Mulher
15 a 29 años 14,5 22,9 62,6 100,0
30 a 59 años 26,7 16,1 57,2 100,0
60 años o más 40,7 12,5 46,8 100,0
Paraguai
Homem
15 a 29 años 55,0 0,2 44,8 100,0
30 a 59 años 55,1 0,2 44,7 100,0
60 años o más 69,6 0,1 30,3 100,0
Mulher
15 a 29 años 66,6 0,3 33,1 100,0
30 a 59 años 74,0 0,2 25,8 100,0
60 años o más 87,7 0,1 12,2 100,0
Venezuela(R. B. de)
Homem
15 a 29 años 18,8 15,1 66,1 100,0
30 a 59 años 22,4 14,7 62,9 100,0
30,7 16,4 52,9 100,0
Mulher
15 a 29 años 29,8 13,0 57,2 100,0
30 a 59 años 39,1 11,1 49,8 100,0
60 años o más 55,0 10,7 34,3 100,0
Tabela 30América Latina (países seleccionados): População por língua falada,
de acordo com o género e grupos de idades, censos de 2000(Em percentagens)
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
EDUCAÇÃO E LÍNGUA: A DESIGUALDADE COMO LIMITAÇÃO DA DIVERSIDADE
CEPAL/UNFPA/OIJ 141
2. A preservação da língua nos contextos urbano e rural
Quando se compara o que ocorre com a língua de acordo com o
local de residência nota-se que, em todos os casos e para todos os
intervalos de idade, o monolinguismo indígena é maior no meio rural
e, por outro lado, o monolinguismo castelhano é mais elevado no
meio urbano, comprovando deste modo as difi culdades que encon-
tram os migrantes indígenas nas cidades para manter e transmitir o
seu idioma e a sua cultura.
No Estado Plurinacional da Bolívia, por exemplo, apenas 2,4% dos
jovens urbanos de 15 a 29 anos são indígenas monolingues, face a
21,1% no meio rural. Por outro lado, 46,3% dos jovens deste grupo
étnico nas cidades fala apenas castelhano, face a 12,4% no contexto
rural (ver a tabela 31).
O cenário do bilinguismo apresenta diferenças entre os países. No
Paraguai, Estado Plurinacional da Bolívia e Guatemala, por exemplo,
há uma maior proporção de pessoas bilingues nas cidades do que nas
zonas rurais. Esta situação é especialmente relevante para o Paraguai,
um país no qual 58,1% dos jovens indígenas urbanos é bilingue, face
a 36,9% da população deste grupo etário e étnico nas zonas rurais. O
Equador apresenta a situação oposta, ou seja, o bilinguismo é maior
nas zonas rurais. 59,3% dos jovens indígenas equatorianos residentes
no campo é bilingue, enquanto 41% dos jovens que vivem nas cida-
des domina ambos os idiomas.
Como mostram os dados, as gerações indígenas não só são cada vez
mais bilingues, como também se observam percentagens elevadas de
monolinguismo castelhano. A perda das línguas indígenas tem sido
amplamente documentada e constitui actualmente uma das maiores
preocupações das organizações destes povos.
Existem estudos que demonstram a forma como a educação desem-
penha um papel determinante na transmissão da língua. Desta forma,
um ensino de qualidade da língua materna é um direito reclama-
do pelas organizações indígenas. Num documento preparado por
especialistas para o Fórum Permanente para as Questões Indígenas,
estabelece-se que «a duração do ensino na língua materna é mais
importante do que qualquer outro factor (incluindo o nível socioeco-
nómico) para prever o êxito dos estudantes bilingues. Os piores resul-
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EDUCAÇÃO E LÍNGUA: A DESIGUALDADE COMO LIMITAÇÃO DA DIVERSIDADE
CEPAL/UNFPA/OIJ 142
tados, incluindo elevadas taxas de exclusão, dão-se entre os estudan-
tes matriculados em programas nos quais as suas línguas maternas
não recebem nenhum tipo de apoio ou apenas são ensinadas como
disciplinas» (Nações Unidas, 2005a), uma advertência que deve ser
considerada se pretende organizar-se o direito ao uso da língua pró-
pria e procurar a preservação dos idiomas originais.
JUVENTUDE INDÍGENA
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AFRICANA NA
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CEPAL/UNFPA/OIJ 143
País Área de residência Grupos etários
Apenas idioma
indígena
Apenas idioma
castelhano
Idioma indígena e castelhano
Total
Bolívia(E. P. de)
Urbana
15 a 29 anos 2,4 46,3 51,3 100,0
30 a 59 anos 5,0 25,4 69,6 100,0
60 anos ou mais 19,9 13,9 66,2 100,0
Rural
15 a 29 anos 21,1 12,4 66,5 100,0
30 a 59 anos 35,6 7,0 57,4 100,0
60 anos ou mais 65,8 3,4 30,8 100,0
Costa Rica
Urbanaa
Rural
15 a 29 anos 62,4 32,4 5,2 100,0
30 a 59 anos 65,0 29,8 5,2 100,0
60 anos ou mais 64,2 31,0 4,8 100,0
Equador
Urbana
15 a 29 anos 4,6 54,4 41,0 100,0
30 a 59 anos 5,5 55,5 39,0 100,0
60 anos ou mais 11,9 61,7 26,4 100,0
Rural
15 a 29 anos 10,9 29,8 59,3 100,0
30 a 59 anos 17,5 24,0 58,5 100,0
60 anos ou mais 29,4 23,1 47,5 100,0
Guatemala
Urbana
15 a 29 anos 12,7 31,3 56,0 100,0
30 a 59 anos 17,4 23,2 59,4 100,0
60 anos ou mais 26,9 18,2 54,9 100,0
Rural
15 a 29 anos 32,0 14,9 53,1 100,0
30 a 59 anos 38,2 12,0 49,8 100,0
60 anos ou mais 47,4 10,7 41,9 100,0
México
Urbano
15 a 29 anos 4,6 36,0 59,4 100,0
30 a 59 anos 9,4 26,7 63,9 100,0
60 anos ou mais 19,1 19,0 61,9 100,0
Rural
15 a 29 anos 14,3 14,4 71,3 100,0
30 a 59 anos 24,9 9,6 65,5 100,0
60 anos ou mais 38,3 8,6 53,1 100,0
Paraguai
Urbana
15 a 29 anos 41,2 0,7 58,1 100,0
30 a 59 anos 44,2 0,5 55,3 100,0
60 anos ou mais 63,8 0,3 35,9 100,0
Rural
15 a 29 anos 62,9 0,2 36,9 100,0
30 a 59 anos 66,5 0,1 33,4 100,0
60 anos ou mais 79,2 0,1 20,7 100,0
Venezuela(R. B. de)
Urbanaa
Rural
15 a 29 anos 24,2 14,1 61,7 100,0
30 a 59 anos 30,1 13,0 56,9 100,0
60 anos ou mais 42,0 13,7 44,3 100,0
Tabela 31América Latina (países seleccionados): População por língua falada, de acordo com
grupos etários e área de residência, censos de 2000(Em percentagens)
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM
(a) Dados não disponíveis.
VII. A inserção laboral dos jovens indígenas e de ascendência africana
CEPAL/UNFPA/OIJ 147
19 O carácter decisivo deste
direito foi manifesto, por
exemplo, na contribuição do
Convénio Número 111 da
OIT, relativo à discriminação
em matéria de emprego e
ocupação — que entrou em
vigor em 1960 — ao processo
de esclarecimento do que se
entendia por discriminação
no mundo até então, como
afi rmam Bello e Paixão (2009).
Este processo tinha começado
com a Declaração Universal
dos Direitos Humanos, à qual
se seguiria a Convenção para a
Prevenção e Sanção do Crime
de Genocídio (1951), a Decla-
ração das Nações Unidas sobre
a eliminação de todas as formas
de discriminação racial (1963)
e a Convenção Internacional
sobre a Eliminação de todas
as Formas de Discriminação
Racial (1969).
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JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
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DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
A. O emprego como um direito
O direito ao emprego19 continua a constituir a principal forma de
integração das pessoas na sociedade actual. Por um lado, permite de-
senvolver o sentido de pertença a um colectivo; por outro, possibilita
o acesso ao bem-estar através do salário e dos serviços de segurança
social a ele associados (CEPAL, 2007). Esta prerrogativa é estabele-
cida na Declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos povos
indígenas, especifi camente no artigo 17, que afi rma:
“1. As pessoas e os povos indígenas têm o direito a desfrutar
plenamente de todos os direitos estabelecidos no direito labo-
ral internacional e nacional aplicável.
2. Os Estados, em consulta e colaboração com os povos indí-
genas, tomarão medidas específi cas para proteger as crianças
indígenas da exploração económica e de todo o trabalho que
possa ser perigoso ou interferir na educação da criança, ou que
posso ser prejudicial para a saúde ou desenvolvimento físico,
mental, espiritual, moral ou social da criança, tendo em conta
a sua especial vulnerabilidade e a importância da educação
para o pleno exercício dos seus direitos.
VII. A inserção laboral dos jovens indígenas e de ascendência africana
CEPAL/UNFPA/OIJ 148
3. As pessoas indígenas têm direito a não serem submetidas
a condições discriminatórias de trabalho, entre outras coisas,
emprego ou salário” (Nações Unidas, 2007b).
Tal como no caso da educação e da saúde, o Convénio 169 da OIT es-
tabelece várias disposições em relação à contratação e às condições
e emprego das pessoas e povos indígenas (artigo 20), instando os Es-
tados a adoptarem medidas especiais para garantir aos trabalhadores
pertencentes a estes povos uma protecção efectiva nesta matéria, na
medida em que não são efi cazmente apoiados pela legislação aplicá-
vel aos trabalhadores em geral. Da mesma forma, inclui disposições
relativas à formação profi ssional, ao artesanato e às indústrias rurais
(artigos 21 a 23): por um lado, afi rma que os membros dos povos
interessados devem poder dispor de meios de formação profi ssional
pelo menos iguais aos restantes cidadãos; por outro lado, aponta que
as actividades tradicionais e relacionadas com a economia de subsis-
tência destes povos, como a caça, pesca, a caça com armadilhas e a
recolha devem ser reconhecidas como factores importantes da ma-
nutenção da sua cultura e da sua auto-sufi ciência e desenvolvimento
económico, para que se fortaleçam e fomentem, de acordo com o
interesse dos povos indígenas.
O Plano de Acção de Durban, actualmente, é exaustivo apenas nos
princípios e acções que tendem a eliminar a discriminação racial em
matéria de desenvolvimento económico, e especifi camente no que
diz respeito à igualdade de oportunidades no emprego para os in-
divíduos de ascendência africana e os povos indígenas. Assim, por
exemplo, incentiva os Estados a adoptarem medidas concretas que
eliminem o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e as formas
conexas de intolerância no local de trabalho contra todos os trabalha-
dores, especialmente os emigrantes, e que assegurem a plena igual-
dade de todos perante a lei, incluindo a legislação laboral, e pede-
lhes também que eliminem os obstáculos à participação na formação
profi ssional, a negociação colectiva, o emprego, os contratos e as
actividades sindicais; o acesso aos tribunais judiciais e administrati-
vos para apresentar queixas; o direito a procurar emprego nas diver-
sas partes do país de residência e o trabalho em condições seguras
e saudáveis. Também estabelece uma série de recomendações sobre
políticas orientadas para a adopção de medidas e planos de acção,
incluindo as medidas afi rmativas para garantir a não discriminação,
sobretudo no acesso aos serviços sociais e ao emprego — medidas
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E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 149
103 a 108 do Plano de Acção de Durban — (Nações Unidas, 2001).
Tratando-se de direitos universais, são certamente aplicáveis também
aos jovens indígenas e de ascendência africana; porém, são reafi rma-
dos e especifi cados na Convenção Ibero-americana dos Direitos dos
Jovens. O artigo 26 afi rma que os jovens têm direito ao trabalho e a
uma protecção especial do mesmo, e que os Estados devem adoptar
políticas e medidas para garanti-lo. Desta forma, estabelece uma série
de disposições acerca do direito dos jovens à igualdade de oportuni-
dades e de tratamento relativamente às condições de trabalho (artigo
27); sobre o direito à protecção social (artigo 28) e à formação profi s-
sional (artigo 29), com um acesso não discriminatório que permita a
incorporação dos jovens no campo laboral.
Neste contexto de protecção jurídica, o emprego juvenil constitui um
desafi o chave no desenvolvimento da América Latina, mais ainda se
tivermos em conta que, actualmente, há uma realidade paradoxal:
por um lado, os jovens integram-se mais na aquisição de conheci-
mentos e na formação de capital humano e cultural mas, por outro
lado, encontram-se também mais excluídos dos espaços laborais-
ocupacionais nos quais o dito capital se pode realizar (CEPAL, 2004).
Esta situação está longe de ser fortuita e pode ser entendida com mais
claridade se for considerada a construção histórica do conceito de
«juvenil». De acordo com Bourdieu (1990), a juventude é defi nida
pelo espaço que ocupa na estrutura hierárquica geracional da so-
ciedade, ou seja, como uma categoria eminentemente social, que
corresponde a um processo de divisão social: «Por outras palavras,
a juventude será constituída de acordo com o lugar de subordina-
ção que ocupa na sociedade, de acordo com a sua subordinação
aos indivíduos de idade superior, com base no capital acumulado no
tempo(experiência e saber acumulados). Desta forma, a juventude
agrupa indivíduos em dependência, primeiro da sua família, depois
da Escola e, logo, do Estado (…) a sua dependência é para com a au-
toridade… para que aceda a um lugar no processo de divisão social
do trabalho» (Ramos Pavez, 2002). Neste sentido, o juvenil é apre-
sentado como um espaço de discriminação, e o emprego como um
objecto nessa função.
Se centrarmos a análise do emprego no grupo dos jovens indígenas
e de ascendência africana na América Latina, a situação de discrimi-
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CEPAL/UNFPA/OIJ 150
20 Estes valores regionais
incluem a informação dos
censos da Argentina, do Estado
Plurinacional da Bolívia, Brasil,
Chile, Costa Rica, Equador,
Guatemala, Honduras, México,
Nicarágua, Panamá, Paraguai
e a República Bolivariana da
Venezuela.
21 A População Economica-
mente Activa (PEA) considera as
pessoas ocupadas e desocu-
padas em conformidade com
a pergunta sobre qual a activi-
dade principal que realizaram
na semana anterior ao censo. É
importante assinalar, contudo,
que os censos de população
não constituem a fonte mais
idónea para captar a actividade
económica e as suas caracterís-
ticas; para esse propósito, são
mais adequadas as pesquisas
domiciliares. Porém, lamenta-
velmente, estas pesquisas geral-
mente não incluem perguntas
de identifi cação étnica, ou os
tamanhos das amostras não são
sufi cientes para obter indicado-
res desagregados para jovens
indígenas e de ascendência
africana. De qualquer forma,
existem algumas excepções,
como o caso do Brasil, onde
este tipo de estudo é viável
para os jovens de ascendência
africana.
nação radicaliza-se, especialmente tendo em conta o foco dos ins-
trumentos de política pública com a qual são considerados, e que os
entende como grupos em situações críticas de marginalidade, exclu-
são e empobrecimento. No entanto, sob a perspectiva dos direitos,
esta situação apresenta-se como uma violação das suas prerrogativas,
e os Estados são obrigados a repensar as suas políticas (CEPAL, 2006).
Como assinalam Bello e Paixão (2009), estes grupos sofrem discrimi-
nação em termos de emprego porque, apesar de terem de uma forma
geral uma inserção intensa nos mercados de trabalho, encontram-se
nas posições mais precárias tendo em conta o tipo e a qualidade dos
postos aos quais têm acesso. Por este motivo, neste capítulo serão
mostradas provas empíricas relativas a estas realidades, com base na
informação disponível através dos censos de 2000, sendo estes dados
um termómetro do estado de cumprimento dos direitos laborais dos
jovens indígenas e de ascendência africana.
B. Participação na actividade económica: entre a desigualdade e o etnocentrismo estatístico
De acordo com os censos de 2000, na América Latina20 a população
jovem representa 42% do total da população economicamente activa
(PEA)21 de 15 anos ou mais. São registados valores extremos no Chile,
um país no qual os jovens constituem 30,6% da PEA, e nas Honduras,
com 49,9%.
É notável que 56,6% da população jovem de 15 a 29 anos se encon-
tre inserida na actividade económica, uma percentagem fortemente
marcada pelo carácter urbano. Com efeito, 80,8% dos jovens eco-
nomicamente activos reside nas cidades. Porém, se for tida em conta
a origem étnica dos jovens, os indígenas representam 4,5% da PEA,
e os jovens de ascendência africana representam 23,6%, de acordo
com os dados censitários de 2000.22
A inserção dos jovens indígenas e de ascendência africana no mer-
cado de trabalho é heterogénea nos países da região, e apresenta-se
numa intensidade diferente se for comparada com o resto das pessoas
deste grupo etário, como é ilustrado no gráfi co 13. No caso dos indí-
genas, o intervalo vai de uma taxa de participação de 32% na Repú-
blica Bolivariana da Venezuela a outra de 63,5% no Equador; entre
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22 Deve considerar-se que,
como já foi dito, dos 13
países incluídos neste estudo,
todos identifi cam a população
indígena, embora apenas cinco
desses países identifi quem a
população de ascendência afri-
cana (Brasil, Costa Rica, Equa-
dor, Honduras e Nicarágua).
Portanto, os valores correspon-
dentes aos pesos relativos são
subestimados. Ainda assim, é
preciso assinalar que, do total
dos jovens de ascendência
africana destes países que se
encontravam economicamente
activos no momento do censo,
30% eram brasileiros.
os jovens de ascendência africana, a menor participação verifi ca-se
na Nicarágua (29,4%) e a maior no Brasil (64,5%).
Como tendência general, pode observar-se que, na maioria dos países
examinados (8 dos 13), os jovens indígenas registam taxas de parti-
cipação económica mais baixas do que os não indígenas —o com-
portamento contrário surge no Estado Plurinacional da Bolívia, Costa
Rica, Equador, Honduras e Paraguai. Menores taxas de participação
económica estão normalmente associadas a uma maior permanência
dos jovens no sistema de educação, mas não é este o caso, já que
os dados censitários revelam que a probabilidade de os jovens não
trabalharem nem estudarem é maior entre os indígenas do que entre
o resto da população, uma situação que se aplica tanto aos homens
como às mulheres. Entre os jovens de ascendência africana, repete-
se este comportamento, ou seja, menores taxas de participação eco-
nómica e menor presença na escola, com algumas excepções que
devem ser assinaladas, como as mulheres na Costa Rica, Honduras
e Nicarágua, que estudam em maior proporção do que as de outros
grupos étnicos.
Gráfi co 13América Latina (13 países): Taxa de participação económica dos jovens,
segundo condição étnica, censos de 2000
Fonte: elaboração própria com base em procedimentos especiais das bases de micro-dados censitários com REDATAM.
Os valores também confi rmam as desigualdades por género. Com
efeito, as taxas de participação económica das jovens são sistema-
ticamente mais baixas do que as dos jovens, em todos os grupos ét-
nicos. Este comportamento é associado a uma situação na qual as
jovens indígenas não acedem ao mercado laboral nem ao sistema de
educação formal, demonstrando a soma das desigualdades étnicas e
de género. Além disso, os valores da tabela 32 revelam que, de uma
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forma geral, as desigualdades de género na inserção no mercado de
trabalho são mais profundas entre os jovens indígenas do que entre
os não indígenas; também entre os jovens de ascendência africana do
Brasil e do Equador, as diferenças relativas entre as taxas de participa-
ção feminina e masculina neste segmento etário são maiores do que
em comparação com as do resto dos jovens.
Contudo, todas estas descobertas devem ser interpretadas cuidadosa-
mente, já que, de uma forma geral, os indicadores socioeconómicos
respondem a parâmetros convencionais de trabalho em sociedades
orientadas para o mercado, e não são necessariamente pertinentes
para compreender a economia, o bem-estar e a dinâmica populacio-
nal dos povos e jovens indígenas e de alguns grupos de ascendência
africana. Com efeito, estes povos têm desenvolvido tradicionalmente
economias colectivas e familiares com base na reciprocidade, e mais
orientadas para a auto-subsistência do que para a acumulação de
capital; desta forma, todos os membros do grupo familiar são impor-
tantes para a produção dos bens (CEPAL/CELADE e Fundo Indígena,
2007). Por outro lado, existe uma tendência generalizada para subes-
timar o trabalho feminino, sobretudo o trabalho informal ou aquele
que se realiza no lar. No caso das jovens indígenas, esta subestima-
ção é potenciada quando pertencem a povos mais tradicionais, nos
quais não existe a distinção entre as actividades produtivas e as re-
produtivas.
Juntamente com os enviesamentos etnocêntricos na defi nição do tra-
balho, estão as limitações de índole instrumental ou metodológica,
dado que as ferramentas estatísticas não levam em conta os contex-
tos culturais e étnicos para operacionalizar as perguntas censitárias
ou das pesquisas. A título exemplifi cativo, com base nas perguntas
convencionais para captar a população economicamente activa in-
cluídas no censo indígena da República Bolivariana da Venezuela —
aplicado unicamente em comunidades indígenas rurais — foi obtido
um PEA de apenas 23,1% (para pessoas de 15 anos ou mais). Este
censo incluiu, além disso, um conjunto de perguntas sobre activi-
dades habituais, como criação de animais, artesanato, entre outras,
identifi cando se estas actividades se realizam unicamente para con-
sumo, apenas para venda ou ambas as situações. Se forem somados
os casos nos quais as actividades incluem a venda, a PEA ascende
a 42,6% (constatou-se que uma parte da população indígena que
respondia afi rmativamente a este conjunto de perguntas mais perti-
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nentes tinha declarado na consulta convencional que não trabalhava
nem tinha emprego). Fazendo este exercício de acordo com o género,
confi rmou-se que, para as mulheres indígenas, a subestimação era
ainda maior (CEPAL/CELADE e Fundo Indígena, 2007).
Tabela 32América Latina (13 países): Taxa de participação económica dos jovens
de 15 a 29 anos, de acordo com a condição étnica e o sexo, censos de 2000
PaísIndígena Ascendência
africana Resto
Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher
Argentina 65,1 46,8 65,9 47,9
Bolívia (E. P. de) 64,7 44,6 57,3 36,9
Brasil 72,5 46,1 77,1 51,0 78,3 56,3
Costa Rica 78,8 21,4 64,6 28,9 68,8 30,0
Chile 59,4 34,1 56,7 35,2
Equador 79,2 49,2 72,9 29,5 69,4 30,4
Guatemala 73,2 22,1 69,0 28,6
Honduras 80,3 16,7 56,6 23,6 73,3 24,0
México 74,5 29,4 70,9 34,6
Nicarágua 62,9 23,7 39,3 20,3 69,1 27,7
Panamá 80,3 19,5 73,2 41,0
Paraguai 78,8 43,9 70,7 38,2
Venezuela (R. B. de) 49,9 22,1 62,4 31,1
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
Os dados acima expostos tornam-se importantes se analisarmos estes
valores para os jovens que vivem em áreas rurais e, embora os re-
sultados obtidos no ambiente urbano possam ter uma interpretação
diferente, as lógicas indígenas não devem ser descartadas totalmente
nesse contexto. De acordo com os valores apresentados na tabela 33,
o acesso dos jovens indígenas ao mercado de trabalho é mais elevado
no meio urbano (9 dos 13 países analisados), principalmente quando
se trata das raparigas (12 dos 13 países); ainda assim, as diferenças
de género persistem em ambas as zonas de residência, sendo relati-
vamente maiores na área rural. Entre os indivíduos de ascendência
africana, nos cinco países examinados, as raparigas registam uma
participação no mercado de trabalho também mais intensa no con-
texto urbano, uma situação que não sucede com os homens jovens,
excepto no Brasil (ver a tabela 33).
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As menores taxas de participação dos jovens indígenas e de ascen-
dência africana e as profundas diferenças por género poderiam in-
dicar uma dupla discriminação: por um lado, não se reconheceria
como trabalho as actividades tradicionais e, por outro lado, também
não conseguiriam aceder ou permanecer em níveis mais elevados do
sistema de educação formal, nem teriam oportunidades de inserção
no mercado de trabalho formal. Não devemos esquecer que, ainda
que em alguns casos as taxas de participação sejam superiores entre
os jovens indígenas e de ascendência africana relativamente ao resto
da população, também uma proporção importante, sobretudo de in-
dígenas, está fora da escola, e o distanciamento das suas economias
tradicionais seria mais intenso neste grupo étnico. Isto não signifi ca
que os jovens indígenas não podem procurar novas oportunidades
económicas, a questão está em como respeitar e promover o seu di-
reito a dedicar-se a ocupações tradicionais se desejarem fazê-lo. Por
outro lado, os níveis de educação inferiores colocam-nos em desvan-
tagem face às oportunidades de emprego, especialmente nas cidades.
Finalmente, uma comparação das taxas de participação económica
dos jovens com as das pessoas de 30 a 59 anos permite confi rmar
que os jovens acedem ao mercado de trabalho relativamente menos
do que os grupos maiores, independentemente da sua condição ét-
nica. Não obstante, entre os indígenas, as diferenças geracionais são
menores do que entre os não indígenas. Esta situação deve-se, por
um lado, à maior permanência dos jovens não indígenas no sistema
escolar (o que aumenta a desigualdade relativamente às suas gera-
ções maiores) e, por outro lado, aos padrões culturais dos povos indí-
genas em relação ao trabalho colectivo, referidas anteriormente. Não
acontece o mesmo junto dos indivíduos de ascendência africana, que
seguem um comportamento semelhante ao do resto da população,
principalmente se forem examinadas as diferenças geracionais femi-
ninas, sendo estes resultados coerentes com o maior acesso à educa-
ção pelas mulheres do que pelos homens deste grupo etário e étnico.
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Tabela 33América Latina (13 países): Taxa de participação económica dos jovens
indígenas e de ascendência africana de 15 a 29 anos, de acordo com a área de residência e género, censos de 2000
País Área de residência
Indígena Ascendência africana
Homem Mulher Total Homem Mulher Total
ArgentinaUrbana 66,7 50,1 58,3
Rural 58,2 30,2 44,7
Bolívia (E. P. de)
Urbana 61,9 45,0 52,9
Rural 68,7 44,1 56,6
BrasilUrbana 79,4 56,9 67,8 77,5 55,0 66,4
Rural 64,8 32,4 49,2 75,9 35,2 57,5
Costa RicaUrbana 74,3 37,2 55,3 61,2 33,5 46,9
Rural 80,1 16,4 49,3 70,6 19,9 45,9
ChileUrbana 60,5 39,9 50,0
Rural 57,1 19,3 39,8
EquadorUrbana 78,6 53,3 65,7 71,2 31,5 51,3
Rural 79,4 47,9 62,8 77,2 24,1 52,2
GuatemalaUrbana 74,0 32,1 51,9
Rural 72,8 16,8 43,3
HondurasUrbana 56,4 27,8 40,8 55,0 24,6 39,3
Rural 85,0 14,1 50,0 59,4 21,7 40,9
MéxicoUrbana 74,5 36,5 54,6
Rural 74,5 24,8 49,1
NicaráguaUrbana 52,7 27,6 39,6 38,8 21,1 29,5
Rural 69,9 20,5 45,8 44,5 9,5 28,6
PanamáUrbana 74,9 29,2 53,3
Rural 82,1 16,8 49,0
ParaguaiUrbana 69,2 36,1 52,2
Rural 79,9 44,9 62,7
Venezuela (R. B. de)
Urbana 62,7 30,9 45,9
Rural 31,3 6,4 18,1
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
C. Educação e emprego, uma equação desfavorável
Nesta região, existe uma relação bastante directa entre o nível da
educação das pessoas e a sua inserção ocupacional. Uma vez que
a desigualdade étnico-social é importante na América Latina, não é
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de estranhar que, devido aos menores níveis de educação dos jovens
indígenas e de ascendência africana, estes se insiram imediatamente
em empregos mais precários. Esta regra geral também tem as suas
excepções, pois os jovens de ascendência africana de alguns países
da América Central registam níveis de estudo maiores do que os do
resto das pessoas deste segmento etário (situação constatada tanto
neste estudo como em Rangel e Calêndula, 2004); apesar disso, estas
vantagens na educação não se refl ectem necessariamente num me-
lhor acesso ao mercado de trabalho.
Desta forma, estão pelo menos dois mecanismos a actuar sobre a
inserção dos jovens indígenas e de ascendência africana no mercado
de trabalho: por um lado, uma educação formal inferior, o que está
associado a empregos de menor qualidade; por outro lado, a dis-
criminação étnico-racial que persiste no momento de conseguir um
emprego, apesar dos bons níveis académicos alcançados.
As desvantagens na educação dos jovens que estão inseridos no mer-
cado de trabalho são notórias. Em 10 dos 13 países analisados, mais
de 60% dos jovens ocupados têm menos de 7 anos de escolaridade
(aproximadamente não superam o nível primário), sendo o caso ex-
tremo o do Paraguai, com 92% (ver o gráfi co 14). No Estado Plurina-
cional da Bolívia, esta situação alcança 41% dos jovens deste grupo
étnico, e apenas o Chile e a Argentina registam menos de 15%. As
desigualdades relativas aos jovens não indígenas são contundentes e
verifi cam-se em todos os países analisados, independentemente da
proporção de jovens indígenas com baixa educação formal. O Pana-
má apresenta a maior diferença relativa entre indígenas e não indí-
genas deste intervalo de idade, e a Nicarágua a menor desigualdade,
ainda que neste país as maiores desigualdades se registem, na prática,
comparando os indígenas com os jovens de ascendência africana.
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Gráfi co 14América Latina (13 países): Jovens ocupados com menos de 7 anos
de escolaridade, segundo a condição étnica, censos de 2000(Em percentagens)
Fonte: elaboração própria com base em procedimentos especiais das bases de micro-dados censitários com REDATAM.
Em quatro dos cinco países com dados disponíveis sobre indivíduos
de ascendência africana, cerca de metade dos jovens deste grupo
étnico não supera 7 anos de escolaridade. A excepção é a Nicarágua
(ver o gráfi co 14). Apesar disso, as desigualdades étnicas observam-
se exclusivamente no Brasil e no Equador, dado que na Costa Rica,
Honduras e Nicarágua dá-se a situação contrária, ou seja, favorável
aos indivíduos de ascendência africana. Surge novamente a dúvida se
se tratam de vantagens reais ou de limitações na captação da popu-
lação de ascendência africana nos censos, uma situação que parece
aprofundar-se.
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País Condição étnica SexoNível de educação urbana Nível de educação rural
0 a 6 anos
7 a 12 anos
13 anos ou mais Total 0 a 6
anos7 a 12 anos
13 anos ou mais Total
Argentina
IndígenaHomem 9,2 75,4 15,4 100,0 33,9 63,7 2,4 100,0
Mulher 5,6 62,9 31,5 100,0 31,9 60,3 7,8 100,0
RestoHomem 6,7 73,9 19,4 100,0 23,9 71,9 4,2 100,0
Mulher 3,3 57,3 39,4 100,0 15,7 66,3 18,0 100,0
Bolívia
IndígenaHomem 18,5 67,9 13,6 100,0 56,3 40,8 2,9 100,0
Mulher 34,1 52,3 13,6 100,0 71,3 24,9 3,8 100,0
RestoHomem 17,5 65,3 17,2 100,0 57,2 40,5 2,3 100,0
Mulher 20,6 59,1 20,3 100,0 59,8 34,2 6,0 100,0
Brasil
IndígenaHomem 46,2 51,0 2,8 100,0 88,3 11,3 0,4 100,0
Mulher 33,5 62,1 4,4 100,0 87,3 12,3 0,4 100,0
Ascendência africana
Homem 49,5 48,4 2,1 100,0 84,4 15,4 0,2 100,0
Mulher 33,7 61,8 4,5 100,0 71,9 27,6 0,5 100,0
RestoHomem 29,5 61,3 9,2 100,0 66,4 32,7 0,9 100,0
Mulher 17,5 66,5 16,0 100,0 53,6 43,8 2,6 100,0
Chile
IndígenaHomem 10,4 72,4 17,2 100,0 30,2 65,4 4,4 100,0
Mulher 9,6 68,9 21,5 100,0 23,0 66,0 11,0 100,0
RestoHomem 6,9 66,2 26,9 100,0 22,8 68,6 8,6 100,0
Mulher 4,2 58,6 37,2 100,0 14,0 66,7 19,3 100,0
Costa Rica
IndígenaHomem 52,0 39,5 8,5 100,0 87,5 11,6 0,9 100,0
Mulher 42,1 44,3 13,6 100,0 77,7 17,3 5,0 100,0
Ascendência africana
Homem 33,6 51,7 14,7 100,0 72,6 24,9 2,5 100,0
Mulher 18,1 50,6 31,3 100,0 47,3 40,7 12,0 100,0
RestoHomem 39,3 44,3 16,4 100,0 72,9 22,8 4,3 100,0
Mulher 26,0 45,1 28,9 100,0 50,6 34,9 14,5 100,0
Equador
IndígenaHomem 65,0 30,3 4,7 100,0 79,6 18,7 1,7 100,0
Mulher 70,7 24,5 4,8 100,0 85,3 13,4 1,3 100,0
Ascendência africana
Homem 42,5 50,1 7,4 100,0 71,8 26,1 2,1 100,0
Mulher 35,6 48,6 15,8 100,0 59,4 33,5 7,1 100,0
RestoHomem 33,7 48,7 17,6 100,0 69,4 26,9 3,7 100,0
Mulher 24,0 43,0 33,0 100,0 58,0 31,2 10,8 100,0
Guatemala
IndígenaHomem 70,3 26,7 3,0 100,0 89,6 9,9 0,5 100,0
Mulher 71,4 24,6 4,0 100,0 90,5 8,8 0,7 100,0
RestoHomem 41,6 45,9 12,5 100,0 83,2 15,7 1,1 100,0
Mulher 34,9 47,9 17,2 100,0 74,4 22,2 3,4 100,0
Honduras
IndígenaHomem 62,3 31,3 6,4 100,0 95,7 3,9 0,4 100,0
Mulher 47,5 39,7 12,8 100,0 84,3 13,1 2,6 100,0
Ascendência africana
Homem 53,1 40,6 6,3 100,0 73,4 23,7 2,9 100,0
Mulher 34,3 50,0 15,7 100,0 44,9 38,2 16,9 100,0
RestoHomem 63,0 29,4 7,6 100,0 94,3 5,1 0,6 100,0
Mulher 48,6 37,6 13,8 100,0 77,2 18,7 4,1 100,0
Tabela 34América Latina (13 países): Distribuição dos jovens ocupados, de acordo com
a condição étnica, nível educacional e área de residência, censos de 2000(Em percentagens)
CEPAL/UNFPA/OIJ 159
País Condição étnica SexoNível de educação urbana Nível de educação rural
0 a 6 anos
7 a 12 anos
13 anos ou mais Total 0 a 6
anos7 a 12 anos
13 anos ou mais Total
México
IndígenaHomem 50,7 44,4 4,9 100,0 74,5 24,6 0,9 100,0
Mulher 53,2 40,3 6,5 100,0 78,6 19,5 1,9 100,0
RestoHomem 25,0 62,7 12,3 100,0 58,8 39,4 1,8 100,0
Mulher 20,4 60,9 18,7 100,0 50,9 44,1 5,0 100,0
Nicarágua
IndígenaHomem 42,5 47,9 9,6 100,0 78,5 20,6 0,9 100,0
Mulher 29,6 55,0 15,4 100,0 66,1 31,9 2,0 100,0
Ascendência africana
Homem 30,5 59,4 10,1 100,0 64,4 33,7 2,0 100,0
Mulher 11,6 61,8 26,6 100,0 35,3 52,9 11,8 100,0
RestoHomem 37,4 50,9 11,7 100,0 83,0 15,9 1,1 100,0
Mulher 27,1 53,0 19,9 100,0 60,5 34,0 5,5 100,0
Panamá
IndígenaHomem 41,6 53,0 5,4 100,0 82,5 16,8 0,7 100,0
Mulher 45,0 45,8 9,2 100,0 84,1 14,0 1,9 100,0
RestoHomem 18,4 62,8 18,7 100,0 62,8 33,0 4,2 100,0
Mulher 11,7 50,3 38,1 100,0 32,2 46,3 21,5 100,0
Paraguai
IndígenaHomem 80,7 19,2 0,1 100,0 91,9 7,8 0,3 100,0
Mulher 80,5 19,2 0,3 100,0 95,2 4,6 0,2 100,0
RestoHomem 30,8 55,3 13,9 100,0 68,3 28,7 3,0 100,0
Mulher 29,5 47,5 23,0 100,0 55,6 29,6 14,8 100,0
Venezuela (R. B. de)
IndígenaHomem 64,8 33,2 2,0 100,0 78,2 20,9 0,9 100,0
Mulher 57,9 36,7 5,4 100,0 54,8 40,2 5,0 100,0
RestoHomem 30,4 59,4 10,2 100,0 77,7 21,4 0,9 100,0
Mulher 14,5 61,0 24,5 100,0 45,5 46,1 8,4 100,0
Tabela 34América Latina (13 países): Distribuição dos jovens ocupados, de acordo com
a condição étnica, nível educacional e área de residência, censos de 2000(Em percentagens)
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
De acordo com os resultados dos censos obtidos para este estudo, a desigual-
dade nas oportunidades é mais acentuada se for examinada a percentagem
de jovens ocupados com níveis de educação superior (13 anos de estudo ou
mais), já que em 10 dos 13 países considerados, menos de 5% dos jovens indí-
genas ocupados estão nesta situação, e as desigualdades relativas aos não in-
dígenas são ainda mais profundas. Pode observar-se o mesmo comportamento
entre os jovens de ascendência africana do Brasil e do Equador.
A correlação entre o nível de educação formal e a entrada no mercado de
trabalho pelos jovens foi já sufi cientemente documentada. Relativamente a
esta questão, a CEPAL/OIJ (2008) mostrou que os jovens de baixo nível de
educação acedem aos piores empregos, geralmente no sector de baixa produ-
tividade e com maus salários. Se realizarmos uma análise dos subgrupos etá-
rios de jovens, prevê-se uma descida dos salários relativos dos jovens menos
CEPAL/UNFPA/OIJ 160
23 Os sectores de actividade
dividem-se entre o primário,
secundário e o terciário. Ao
sector primário correspon-
dem: a) agricultura, pecuária,
caça, silvicultura e b) pesca.
Compõem o sector secundá-
rio: a) exploração de minas
e pedreiras, b) indústria de
manufactura, c) fornecimento
de electricidade, gás e água,
e d) construção. O sector ter-
ciário refere-se a: a) comércio
grossista e retalhista, b) hotéis
e restaurantes, c) transporte, ar-
mazenamento e comunicações,
d) intermediação fi nanceira, e)
serviços imobiliários, empresa-
riais e de aluguer, f) adminis-
tração pública, protecção e
segurança social, g) educação,
h) serviços sociais e de saúde, i)
serviços comunitários, sociais e
pessoais, j) serviços nos lares e
serviço doméstico, e k) serviços
de organizações extraterrito-
riais.
qualifi cados, enquanto os que têm mais escolaridade (13 anos de estudo ou
mais) vão ganhando relativamente mais com a idade; por isso, as desigualda-
des ao nível de salário segundo os anos de escolaridade ampliam-se de forma
signifi cativa.
Além deste facto, não é menos certo que o conjunto de capacidades, conhe-
cimentos, habilitações e tecnologias específi cas dos povos indígenas não é re-
conhecido nas sociedades latino-americanas. Se não forem aplicadas políticas
para inverter esta situação, acentuar-se-á o abandono destes conhecimentos
pelos jovens, com o consequente empobrecimento dos povos indígenas, já
que as trajectórias laborais da grande maioria destes rapazes e raparigas muito
difi cilmente lhes permitirá sair do ciclo de exclusão e pobreza. As perdas se-
riam ainda maiores se for tido em conta que as ocupações tradicionais não são
unicamente cruciais para a sobrevivência dos povos indígenas, mas também
para a humanidade no seu conjunto, dado que se exercem em harmonia e
respeito pelo meio ambiente.
Apesar de as desigualdades étnicas observadas em cada país serem afectadas
pela maior ruralidade dos jovens indígenas, os valores da tabela 34 mostram
que continuam a ser defi nidas pela área de residência. Também é certo que,
nas cidades, tanto os jovens indígenas como os jovens de ascendência afri-
cana apresentam melhores níveis de educação do que os seus equivalentes
rurais. Apesar disso, as desigualdades na educação entre os jovens ocupados
indígenas e não indígenas são relativamente mais intensas no meio urbano
do que no meio rural; o mesmo acontece quando se compara os rapazes de
ascendência africana do Brasil e do Equador com o resto dos jovens ocupa-
dos. As desigualdades de género resumem-se às étnicas, colocando em maior
desvantagem as mulheres indígenas ocupadas de todos os países analisados,
e as jovens de ascendência africana do Brasil e do Equador, com profundas
desigualdades nas cidades.
D. Das actividades tradicionais aos serviços
A inserção dos jovens nos diferentes sectores da economia apresenta uma
forte distinção caso residam em zonas urbanas ou rurais, independentemente
da sua condição étnica, como é demonstrado pelos valores dos gráfi cos 15
e 16. Sem dúvida, no campo tem predomínio o trabalho no sector primário,
enquanto nas cidades têm um maior peso relativo as actividades do sector
secundário e terciário, sobretudo este último.23
A INSERÇÃO LABORAL DOS JOVENS INDÍGENAS E DE ASCENDÊNCIA AFRICANA
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
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E DESAFIOS POLÍTICOS
CEPAL/UNFPA/OIJ 161
24 As excepções a este com-
portamento são a Argentina
e a República Bolivariana da
Venezuela, mas neste último
país já foi demonstrado que
o censo subestimou a taxa de
participação económica nas
zonas rurais, principalmente
para quem pratica actividades
tradicionais relacionadas preci-
samente com o sector primário.
A inserção no sector primário é relativamente mais elevada entre os
jovens indígenas rurais do que entre os jovens não indígenas do mes-
mo contexto de residência:24 mais de metade trabalha neste âmbito
laboral, alcançando 85% nas Honduras, Panamá e Paraguai (ver o
gráfi co 15). Há também uma maior participação neste sector da acti-
vidade económica entre os jovens de ascendência africana rurais do
Brasil, Costa Rica e Nicarágua, ao contrário do caso das Honduras,
onde são empregados principalmente no sector terciário. Nas áreas
urbanas, por sua vez, os jovens indígenas ocupados inserem-se relati-
vamente menos no sector terciário do que os não indígenas; por outro
lado, os jovens de ascendência africana da Costa Rica, Honduras e
Nicarágua participam em maior proporção nas actividades de servi-
ços do que o resto das pessoas deste intervalo etário (ver o gráfi co 16).
As diferenças de género também se manifestam nesta dimensão, tan-
to nas zonas urbanas como nas rurais. Se bem que é certo que, nas ci-
dades, tanto os homens como as mulheres indígenas de 15 a 29 anos
que trabalham se inserem com maior frequência no sector terciário
da economia, as raparigas indígenas conseguem-no numa proporção
signifi cativamente maior: enquanto a percentagem de jovens indíge-
nas ocupados em serviços oscila entre 37% na Guatemala e 63%
no Panamá, no caso das mulheres deste grupo étnico e etário, esta
situação fl utua entre 58% no Estado Plurinacional da Bolívia e 93%
no Panamá. Estes resultados são válidos para 12 dos 13 países com in-
formação disponível. Apenas o Paraguai fi ca excluído, de certa forma,
destas descobertas, em parte porque tanto os homens como as mu-
lheres indígenas jovens das zonas urbanas se ocupam principalmente
no sector secundário da economia (65% e 57%, respectivamente);
não obstante, as raparigas participam relativamente mais do que os
rapazes indígenas no sector terciário (40% e 21%, respectivamente).
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Gráfi co 15América Latina (13 países): Distribuição dos jovens rurais ocupados, de acordo com o
sector de actividade económica e condição étnica, censos de 2000
Argentina Bolívia(E. P. de)
Brasil Chile Costa Rica Equador Guatemala Honduras México Nicarágua Panamá Paraguai Venezuela(R. B. de)
Fonte: elaboração própria com base em procedimentos especiais das bases de micro-dados censitários com REDATAM.
Gráfi co 16América Latina (13 países): Distribuição dos jovens urbanos ocupados, de acordo com
o sector de actividade económica e condição étnica, censos de 2000
Argentina Bolívia(E. P. de)
Brasil Chile Costa Rica Equador Guatemala Honduras México Nicarágua Panamá Paraguai Venezuela(R. B. de)
Fonte: elaboração própria com base em procedimentos especiais das bases de micro-dados censitários com REDATAM.
Nas zonas rurais, a tendência para uma maior inserção no sector pri-
mário é válida tanto para os homens como para as mulheres indí-
genas de 15 a 29 anos. Contudo, no campo, a presença relativa das
raparigas no sector terciário, ainda que seja menos frequente do que
no primário, acaba por ser maior do que a dos rapazes da mesma
idade e condição étnica; dito de outra forma, a inserção dos rapazes
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no sector primário da economia é muito mais intensa do que a das
jovens indígenas que trabalham. O caso extremo é o Chile, país no
qual as jovens indígenas do meio rural participam maioritariamente
no sector dos serviços (73%). Este facto pode indicar que, tal como
nas cidades se observa uma divisão do trabalho por género diferente
do que é tradicional na comunidade indígena, o mesmo ocorre nas
comunidades rurais, o que estaria a desgastar as bases das economias
familiares indígenas.
A situação dos jovens de ascendência africana que trabalham nas
cidades é semelhante à dos indígenas urbanos do mesmo intervalo
etário. Com efeito, os primeiros inserem-se sobretudo na área dos
serviços, com um intervalo que vai de 47% na Nicarágua a 61% na
Costa Rica; as raparigas, por sua vez, têm maior probabilidade de
trabalhar neste sector da economia, de 79% nas Honduras a 90%
na Nicarágua. Ao examinarmos os valores para o campo, observa-
mos que, no Brasil, Costa Rica, Equador e Nicarágua, os rapazes de
ascendência africana trabalham sobretudo em actividades do sector
primário, enquanto as jovens o fazem maioritariamente no sector ter-
ciário (desde 51% no Brasil a 68% na Nicarágua). Nas Honduras,
tantos os homens como as mulheres jovens de ascendência africana
participam maioritariamente no sector dos serviços.
As diferenças por género na inserção laboral urbana são marcadas,
entre outros aspectos, por uma importante presença das jovens nos
trabalhos do lar (normalmente denominados «serviço doméstico»); a
estas desigualdades de género somam-se as étnicas. A tabela 35 apre-
senta valores importantes neste aspecto. Sistematicamente, as jovens
trabalham no serviço doméstico com muito mais frequência do que
os homens, independentemente do grupo étnico a que pertencem.
Da mesma forma, as jovens indígenas fazem-no numa proporção
ainda maior do que as suas pares não indígenas em quase todos os
países examinados — exceptuando o Paraguai — a um ponto que, no
Panamá e na República Bolivariana da Venezuela, mais de metade
das raparigas indígenas ocupadas se dedica a trabalhos do lar. As
jovens de ascendência africana seguem um comportamento seme-
lhante ao do Brasil e Equador.
Os estudos relativos a alguns países, como o Estado Plurinacional
da Bolívia, Equador e Panamá, mostram que os rapazes indígenas
urbanos, que depois das actividades de serviços se inserem de forma
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importante no sector secundário, dedicam-se principalmente ao co-
mércio e, em segundo lugar, à indústria da manufactura. Resta apro-
fundar em que medida estas actividades estão ligadas a ocupações
tradicionais, tais como a confecção e venda de artesanato, com vista
a promover estratégias de desenvolvimento inovadoras que permitam
aos jovens e povos gerar bons salários e crescimento económico com
base nas ocupações tradicionais indígenas.
Tabela 35América Latina (12 países): Jovens de 15 a 29 anos ocupados que trabalham no serviço doméstico, de acordo com a condição e género, censos de 2000
(Em percentagens)
PaísIndígena Ascendência
africana Resto
Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher
Argentina 1,7 22,1 1,2 18,4
Bolívia (E. P. de) 0,7 27,4 0,6 20,6
Brasil 1,7 28,5 1,2 32,3 0,5 14,9
Costa Rica 0,6 33,9 0,1 6,8 0,4 10,6
Chile 1,2 30,8 0,6 10,0
Equador 0,9 30,6 1,2 29,0 0,8 14,2
Honduras 1,8 21,5 1,8 11,8 1,0 14,7
México 1,2 31,6 0,7 11,2
Nicarágua 1,1 20,6 1,3 15,1 1,3 19,4
Panamá 1,6 56,8 1,0 18,3
Paraguai 1,4 24,6 1,3 39,0
Venezuela (R. B. de) 2,4 51,4 1,1 14,4
Fonte: processamentos especiais das bases de micro-dados censitários com a REDATAM.
Sem dúvida, as transformações dos modelos económicos têm reper-
cussões importantes nas actividades produtivas e estão a gerar altera-
ções profundas nos povos indígenas, o que afecta directamente os jo-
vens. Estas transformações surtem efeito na falta de cumprimento dos
direitos territoriais indígenas, materializada na invasão de empresas
nacionais e internacionais nos seus territórios, na destruição dos seus
ecossistemas, na transferência involuntária das comunidades, entre
outros fenómenos.
Assim, das economias familiares agrícolas ou pecuárias típicas das
zonas rurais, os jovens começam a deslocar-se para outros sectores
da economia, ou permanecem no sector primário mas como mão-de-
obra em indústrias agro-exportadoras e cultivos agrícolas, entre ou-
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tras. Desta forma, aumenta o processo de proletarização, com opções
desiguais entre homens e mulheres indígenas, e fortes desigualdades
relativas a outros grupos étnicos.
Às provas empíricas sobre os níveis educacionais inferiores dos jo-
vens indígenas e à sua presença nos sectores da economia não tradi-
cional destes povos, junta-se a certeza de um aumento geracional do
trabalho assalariado na maioria dos países, tanto nas zonas urbanas
como nas zonas rurais (ver os gráfi cos 17 e 18). Nas cidades, com
excepção do Equador, a grande maioria dos jovens deste grupo étnico
que trabalham são assalariados, muito provavelmente com empre-
gos precários. No campo, mais de metade dos rapazes indígenas da
Argentina, Chile, Costa Rica e República Bolivariana da Venezuela
estão nesta situação, e no Estado Plurinacional da Bolívia e Equador
é onde se produz um maior aumento relativo do trabalho assalariado
urbano, comparando os jovens indígenas de 15 a 29 anos com os
adultos de 30 a 59 anos do mesmo grupo. Estes resultados têm um
impacto negativo na identidade cultural dos povos indígenas e não
melhoram necessariamente o seu bem-estar, já que estes trabalhos
não estão isentos de grandes períodos laborais, baixas remunerações
e praticamente ausência de segurança social.
Por outro lado, também é verdade que, em vários países da região
(9 de 13), os jovens indígenas rurais ocupados continuam a ser, em
grande proporção, trabalhadores por conta própria ou familiares não
remunerados, principalmente no caso das raparigas indígenas. Ape-
sar de estes resultados estarem ligados às ocupações mais tradicio-
nais, têm sérias implicações do ponto de vista da segurança social e
da protecção na saúde.
Entre os jovens de ascendência africana, o trabalho assalariado está
mais generalizado do que entre os indígenas e até mais do que entre
o resto dos jovens, uma situação que se verifi ca tanto nas zonas ur-
banas como nas zonas rurais (ver os gráfi cos 17 e 18). Apesar disso,
isto não garante melhores condições de trabalho, embora em alguns
países os níveis de ensino sejam, em média, superiores. Vários estu-
dos dão conta da discriminação étnico-racial que persiste na região.
No Brasil, por exemplo, mesmo tendo em conta os níveis de educa-
ção e as horas trabalhadas, os indivíduos de ascendência africana
recebem salários inferiores aos brancos, e menos ainda as mulheres,
incluindo as desigualdades étnicas que se acumulam nos intervalos
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de maior escolaridade (Bello e Paixão, 2009). As desigualdades e des-
vantagens na inserção laboral dos jovens brasileiros de ascendência
africana têm sido documentadas também através de um estudo de
Paixão e Carvano (2008). Em suma, na América Latina ainda gover-
nam os princípios que regem a discriminação e a subordinação social
e cultural, e que neste âmbito se traduzem em «ser homem branco
assegura as maiores possibilidades de alcançar mais anos de estudo e
melhores rendimentos, enquanto ser mulher negra supõe exactamen-
te o contrário» (Bello e Paixão, 2009, págs. 68-69).
Gráfi co 17América Latina (13 países): Jovens (15 a 29 anos) e adultos (30 a 59 anos) urbanos
assalariados, de acordo com a condição étnica, censos de 2000(Em percentagens)
Fonte: elaboração própria com base em procedimentos especiais das bases de micro-dados censitários com REDATAM.
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Gráfi co 18América Latina (13 países): Jovens (15 a 29 anos) e adultos (30 a 59 anos) rurais assala-
riados, de acordo com a condição étnica, censos de 2000 (Em percentagens)
Fonte: elaboração própria com base em procedimentos especiais das bases de micro-dados censitários com REDATAM.
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VIII. Síntese, perguntas para linhas de investigação futuras e desafi os políticos
CEPAL/UNFPA/OIJ 171
SÍNTESE, PERGUNTAS PARA LINHAS DE INVESTIGAÇÃO FUTURAS E DESAFIOS POLÍTICOS
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SOCIO-DEMOGRÁFICAS
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Actualmente, existem padrões internacionais de direitos humanos
obrigatórios para os Estados que representam um quadro normativo
explícito como objectivo das políticas públicas dirigidas aos jovens.
Estes padrões incluem tanto direitos individuais como colectivos dos
jovens e povos indígenas e de ascendência africana. Ao longo das
últimas duas décadas, foram realizadas alterações jurídicas na Amé-
rica Latina, de ordem constitucional e legislativa, com o objectivo de
reconhecer, até certo ponto, estes direitos. Apesar de tudo, o balanço
destas transformações não é animador, dado que se verifi ca uma falta
de cumprimento das normas e a persistência na violação dos direitos
dos povos e jovens indígenas e de ascendência africana.
Uma das ferramentas chave para demonstrar estas afi rmações é a in-
formação, já que através da informação é possível visualizar as desi-
gualdades que afectam os jovens indígenas e de ascendência africa-
na, bem como seguir a evolução do cumprimento dos seus direitos.
Desta forma, a informação pode ser encarada como um valioso ins-
trumento de promoção dos direitos humanos. Um exame da situação
nesta matéria revela que, na maioria dos países da região, ainda per-
sistem falhas importantes na disponibilidade dos dados sobre as con-
dições de vida dos jovens indígenas e de ascendência africana, uma
situação que deverá ser invertida face às novas obrigações estatais.
Este é um dos grandes desafi os que enfrentam os sistemas estatísticos
VIII. Síntese, perguntas para linhas de investigação futuras e desafi os políticos
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dos países, já que é necessária uma mudança de objectivos, reco-
nhecendo que os «utilizadores» da informação constituem sujeitos
de direito. Nesta perspectiva, as múltiplas acções que conduziram à
mudança vão deste a inclusão de perguntas de identifi cação étnica
em todas as origens de dados, a concepção de instrumentos com
pertinência cultural e de acordo com as necessidades dos jovens e
dos povos indígenas e de ascendência africana (de acordo com a
visão holística e colectiva do bem-estar), à criação de mecanismos de
participação efectivos destes sujeitos de direito em todo o processo
de concepção, recolha, análise, difusão e uso da informação.
Sem prejuízo do anterior, também se reconhece os avanços produ-
zidos, principalmente no início deste século, com a realização dos
censos de 2000. Com efeito, a grande maioria dos países da região
incluiu perguntas de identifi cação étnica, mas principalmente sobre
os povos indígenas e, em menor medida, sobre indivíduos de ascen-
dência africana. Com base nos censos, este diagnóstico colocou em
evidência, por exemplo, as fortes desigualdades que colocam em des-
vantagem os jovens indígenas e de ascendência africana de ambos os
sexos, bem como as desigualdades entre os países e no seu interior.
Relativamente aos perfi s demográfi cos, ainda não é possível saber ao
certo quantos são os jovens indígenas e de ascendência africana na
região, uma questão que, na perspectiva dos direitos, está a assumir
novas conotações que transcendem a análise demográfi ca conven-
cional. Os problemas associados à identifi cação e à quantifi cação
destes grupos têm sido expostos no documento. Os valores calcula-
dos mostram que a composição por género da juventude indígena e
de ascendência africana é infl uenciada por um comportamento dife-
rencial na declaração da condição indígena dos jovens, um fenóme-
no que tem sido pouco estudado na região e que é necessário abor-
dar, considerando tanto os aspectos vinculados directamente com o
processo de recenseamento (por exemplo, quem responde realmente
ao censo e a infl uência dos pais no momento da auto-identifi cação
como indígena ou indivíduo de ascendência africana) até aos contex-
tos culturais (como as regras que regem o parentesco) e os processos
de revitalização étnica ou perda de identidade.
Um aspecto distintivo dos jovens de ascendência africana é que, de
uma forma geral, são eminentemente urbanos e, por esse motivo, os
problemas que enfrentam são os problemas próprios das cidades, da
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habitação em zonas marginais (com a consequente falta de acesso aos
bens e serviços do Estado), a violência e a mortalidade excessiva de-
vido a causas externas, a discriminação no emprego, entre outras. Por
outro lado, os jovens indígenas mantêm uma predominância rural,
refl ectindo o vínculo indissolúvel dos povos indígenas com o territó-
rio, já que residem principalmente em áreas associadas às suas terras
originais. Apesar disso, também existe uma série de factores — entre
os quais a pobreza, a pressão demográfi ca, a degradação e a invasão
das suas terras, a falta de serviços básicos e a procura de melhores
oportunidades de educação e emprego — que estão a fomentar uma
migração dos seus territórios de origem para os centros urbanos ou
outras zonas rurais, consoante o povo. Esta migração é selectiva por
idades, sendo mais frequente entre os jovens, e a probabilidade de
continuar a verifi car-se é elevada, a menos que as respectivas causas
perversas sejam invertidas.
O fenómeno da migração interna e internacional dos jovens indíge-
nas e de ascendência africana, bem como o respectivo processo de
crescente urbanização, deve ser estudado tendo em conta as diversas
causas, itinerários, signifi cados e consequências que têm sobre os
próprios jovens e sobre os povos aos quais pertencem. Desta forma,
por exemplo, a educação mais completa dos jovens indígenas mi-
grantes implica uma perda de recursos humanos para as comunida-
des de origem, mas esta migração pode corresponder a uma estratégia
de sobrevivência dos povos, para a qual os jovens desempenhariam
um papel fundamental.
Por outro lado, o facto de os jovens indígenas e de ascendência afri-
cana habitarem em áreas geográfi cas com menos acesso aos serviços
básicos e com elevados níveis de pobreza, cria a necessidade de im-
pulsionar estratégias centradas na localização territorial, fomentando
a manutenção das suas referências étnicas no caso das migrações ou
da ascensão social. É necessário, contudo, ter em conta a percepção
e os requisitos dos próprios jovens relativamente a estes assuntos.
A análise dos indicadores relacionados com a educação, a saúde e
o emprego apoia o argumento segundo o qual os jovens indígenas e
de ascendência africana que residem nos meios urbanos se encon-
tram numa melhor situação do que aqueles que permanecem nos
meios rurais, independentemente das diversas realidades dos países
das América Latina segundos os respectivos níveis de vida. Porém,
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ao compararmos estes dados com os dos jovens não indígenas, ve-
rifi camos que, mesmo nas cidades, é evidente a desigualdade de
oportunidades que os afecta no acesso a bons empregos e aos ser-
viços básicos, como a saúde e a educação. Em matéria de educa-
ção, este estudo revela algumas excepções, como os melhores níveis
de escolaridade dos jovens de ascendência africana da Costa Rica,
Honduras e Nicarágua, principalmente entre as jovens. Ainda assim,
estas vantagens comparativas não se iriam refl ectir logo em melhores
condições de trabalho para essas raparigas, o que demonstra a per-
sistência das práticas de discriminação racial. Por outro lado, no caso
indígena, embora existam provas de que nas cidades são aplicadas
estratégias para recriar os sistemas socioculturais próprios e manter
a comunicação com a comunidade de origem, é também certo que,
em muitas ocasiões, os movimentos migratórios, sobretudo as deslo-
cações forçadas, resultam na perda das manifestações culturais e de
identidade, bem como dos laços sociais.
Do ponto de vista dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, e
especifi camente em relação à educação, os dados põem em evidên-
cia que, em vários países da região, a culminação do ciclo primário
será muito mais difícil de alcançar para os povos indígenas, inclusive
no meio urbano. Além disso, à medida que se avança nos níveis edu-
cativos, as possibilidades de acesso dos jovens indígenas vão dimi-
nuindo, sendo mais notória também a desigualdade de género. Esta
situação também é visível no caso dos jovens de ascendência africa-
na do Brasil e do Equador.
O acesso à educação e, consequentemente, à informação, tem im-
pacto sobre as decisões e a autonomia dos jovens indígenas e de
ascendência africana. Apesar disso, persiste o desafi o de conceber
políticas de educação que respondam às condições socioculturais e
linguísticas dos diversos povos indígenas, não apenas no meio rural
mas também nas cidades. Desta forma, a elevada proporção de jo-
vens indígenas que não fala a sua língua nativa refl ecte uma situação
de perda cultural estrutural, produto da deslocação, desagregação e
atomização dos idiomas indígenas. Por outro lado, na lógica de fa-
vorecer o processo de «integração’ na sociedade global de língua
espanhola e evitar a discriminação, os pais indígenas não ensinam
«voluntariamente» as línguas originais aos seus fi lhos. O problema
do idioma é fundamental e é uma das reivindicações essenciais das
organizações indígenas. A língua é cultura e é através dela que se
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transmite as práticas e os signifi cados do «ser indígena ou de ascen-
dência africana». Representa um pilar fundamental na identidade e
um canal que facilita a continuidade dos povos. Por outro lado, é im-
portante salientar que os idiomas fazem parte da diversidade cultural
e constituem um património de toda a humanidade. Neste sentido, se
as políticas de educação não promoverem uma educação multicul-
tural em todos os estratos sociais, este processo difi cilmente poderá
ser invertido.
A saúde sexual e reprodutiva dos jovens constitui um dos objectivos
da política à qual os Estados deveriam dar prioridade. Os dados apre-
sentados neste estudo mostram que o adiamento do casamento ou do
primeiro fi lho em prol da acumulação de capital de educação e labo-
ral são situações menos frequentes entre as raparigas indígenas e de
ascendência africana. São não só mães em maior proporção, como
também têm um maior número de fi lhos até ao fi nal da sua vida
reprodutiva. Este facto está ligado aos baixos níveis de escolaridade
e à zona de residência, mas mesmo que tenhamos em conta estes
factores, a maternidade entre as jovens indígenas e de ascendência
africana é mais elevada do que entre as jovens não indígenas.
Esta situação torna-se mais preocupante ao verifi carmos que a re-
produção em idades precoces — entre raparigas de 15 a 17 anos —
também é mais intensa entre as indígenas e as jovens de ascendência
africana, com níveis diferentes de acordo com os países, a zona de re-
sidência e os povos. Apesar disso, também existem excepções, como
as jovens de ascendência africana das Honduras e da Nicarágua, ou
as aimarás e quíchuas do Estado Plurinacional da Bolívia. No primei-
ro caso, esta situação parece estar mais associada aos maiores níveis
de educação destas jovens; no segundo caso, corresponde a padrões
culturais, já que a organização social de determinados povos indíge-
nas, dos seus sistemas familiares e de parentesco, as regras de casa-
mento e residência e as normas relativas à concepção e contracepção
são aspectos que, entre outros, afectam os regimes demográfi cos e as
trajectórias reprodutivas. Estes resultados devem ser tidos em conta na
concepção de políticas, dado que, ainda que nos contextos urbanos
a maternidade adolescente seja menos frequente do que nos meios
rurais, os processos de aculturação aos quais podem estar sujeitas as
raparigas indígenas nas cidades levariam a que os factores culturais
que inibem a reprodução em idades precoces fossem acabando e
ocasionassem um aumento deste fenómeno. Da mesma forma, esta
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«modernização» pode desgastar os conhecimentos tradicionais sobre
saúde reprodutiva em temas relacionados com a gravidez e o parto
ou a utilização de métodos contraceptivos tradicionais, e conduzir a
situações adversas para as jovens indígenas.
Por este motivo, os resultados expostos indicariam, em parte, uma
diferença na implementação dos direitos das jovens indígenas e de
ascendência africana, e especifi camente o direito à saúde repro-
dutiva, sobretudo se tivermos em conta que os dados apresentados
confi rmam também um risco mais elevado na mortalidade dos fi lhos
destas jovens mães. Estas desigualdades explicam-se com factores es-
truturais de discriminação histórica, expressos na falta de acesso aos
serviços básicos. Também não é menos certo que estas diferenças na
reprodução também se explicam, em parte, com os factores inerentes
aos padrões culturais dos povos indígenas e de ascendência africana
aos quais pertencem estas jovens e que determinam, entre outras coi-
sas, a idade do casamento e o a altura em que têm fi lhos.
Os programas de saúde sexual e reprodutiva deveriam incluir acções
preventivas, que tenham uma atenção especializada e integral com
os jovens, tendo em conta as particularidades das raparigas indígenas
e de ascendência africana, a heterogeneidade entre os povos, áreas
e contextos, concebendo políticas com base territorial, centradas nos
perfi s epidemiológicos e culturais locais, e assegurando a inclusão
tanto no meio urbano como no meio rural. Estas acções devem cha-
mar a atenção para os actuais objectivos das organizações de mulhe-
res indígenas, que lutam pelo cumprimento dos seus direitos sexuais
e reprodutivos, mas considerando a sua própria perspectiva. Desta
forma, é importante a participação dos jovens indígenas e de ascen-
dência africana nestes processos.
Os valores relativos ao trabalho e às características dos jovens in-
seridos no mercado de trabalho são esclarecedores em relação às
diferenças na implementação do direito ao emprego. As menores ta-
xas de participação dos jovens indígenas e de ascendência africana
relativamente às do resto dos jovens são associadas ao facto de estes
jovens também permanecerem menos tempo no sistema de educa-
ção. Esta situação, em contextos de discriminação estrutural, pode
produzir um forte vazio psicológico e social, o que tem um impacto
directo sobre a saúde mental e física destes jovens, e tem efeitos nega-
tivos para a sociedade em geral, uma vez que reduz as possibilidades
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de se alcançar a coesão social.
No caso indígena, as conclusões indicam que também não são reco-
nhecidas as suas ocupações tradicionais e, apesar de os jovens deste
grupo étnico poderem procurar novas oportunidades económicas, o
desafi o para os Estados é a concepção de políticas que respeitem e
promovam o seu direito a dedicar-se às actividades tradicionais caso
desejem fazê-lo, e que permitam que essas actividades gerem bons
rendimentos, favorecendo o bem-estar dos povos indígenas e respei-
tando o seu direito à integridade cultural. Por outro lado, a discrimi-
nação é ainda mais acentuada se tivermos em conta que os menores
níveis de educação os colocam em desvantagem relativamente às
oportunidades de emprego, sobretudo nas cidades.
As transformações dos modelos económicos têm tido e têm reper-
cussões importantes nas actividades produtivas, e estão a gerar mu-
danças profundas nos povos indígenas, que afectam directamente os
jovens. Os valores revelam um aumento geracional do trabalho as-
salariado, um fenómeno que implica que, das economias familiares
agrícolas ou pecuárias típicas das zonas rurais, os jovens começam
a deslocar-se para outros sectores da economia, ou permanecem no
sector primário mas como mão-de-obra em indústrias agro-exporta-
doras, cultivos agrícolas, entre outros. Desta forma, aumenta o pro-
cesso de proletarização, com opções desiguais entre os homens e
as mulheres indígenas, e fortes desigualdades relativamente a outros
grupos étnicos, com salários mais baixos e em condições muitas ve-
zes desumanas. No caso dos jovens de ascendência africana, o traba-
lho assalariado está mais generalizado do que entre os indígenas, e
inclusivamente do que entre o resto dos jovens. Apesar disso, não há
garantias de melhores condições de trabalho, mesmo que em alguns
países os seus níveis de educação sejam, em média, mais elevados,
como demonstra o caso do Brasil, onde até mesmo tendo em conta os
níveis de ensino e as horas trabalhadas, os indivíduos de ascendência
africana recebem menos rendimentos do que os brancos, e menos
ainda as mulheres deste grupo étnico.
As desigualdades verifi cadas nas áreas da educação, saúde e empre-
go são acompanhadas, sem dúvida, por outras manifestações que su-
põem uma negociação dos direitos dos povos indígenas e de ascen-
dência africana como, por exemplo, a espoliação de terras e recursos
naturais, a perda de expressões culturais e formas de vida, contextos
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de violência e confl itos armados, entre outras. Por este motivo, para
conhecermos a situação em que vivem estes povos e grupos, é ne-
cessário contar com informações que incluam todos estes aspectos,
incluindo a perspectiva étnica e de género, e sobretudo considerando
a participação dos jovens.
É necessário referir também que estes jovens encontram-se hoje no
centro de várias tensões. Os rapazes indígenas são considerados pe-
las suas comunidades como «o futuro», recaindo sobre eles a respon-
sabilidade da continuidade biológica e social do «ser indígena’. Por
outro lado, têm o direito a exigir processos mais inclusivos e o acesso
aos benefícios do desenvolvimento económico e social, tal como os
jovens de ascendência africana e os jovens do resto da população. Por
sua vez, face ao mundo adulto, os jovens indígenas e de ascendência
africana reclamam espaços de participação e decisão. Desta forma,
no âmbito das políticas, é preciso considerar os seguintes elementos:
Actualmente, torna-se evidente uma mudança de paradigma na for-
ma de abordar as questões de género, geracionais e étnicas. De uma
perspectiva baseada no desenvolvimento, vai-se mudando para uma
outra com base nos direitos humanos, o que implica a integração
destas prerrogativas em todas as actividades, programas ou políti-
cas promovidas pelos governos, pelas Nações Unidas e por outros
organismos internacionais. Como foi já referido, esta perspectiva é
baseada no reconhecimento dos jovens, povos indígenas e de povos
ascendência africana como titulares de direitos, e na abordagem das
desigualdades de poder, da discriminação e da exclusão. A adopção
desta perspectiva nas políticas é um objectivo da população indígena
e de ascendência africana, e os instrumentos internacionais como a
Declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas
e o Plano de Acção de Durban constituem as principais referências. É
necessário tentar alcançar uma articulação adequada entre os direitos
individuais dos jovens e os direitos colectivos dos povos, sendo este
um dos maiores desafi os.
As perspectivas intercultural e de género devem ser combinadas e
representar princípios regedores em todas as etapas da concepção,
implementação, monitorização e avaliação das políticas e dos pro-
gramas. Isto implica considerar o bem-estar/pobreza do ponto de vis-
ta dos próprios jovens indígenas e de ascendência africana e, em par-
ticular, das mulheres, com base na sua própria cosmovisão e valores.
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Os jovens indígenas e de ascendência africana devem participar ple-
namente e em igualdade de condições em todas as etapas das políticas
e dos programas promovidos pelos governos e pelas Nações Unidas.
Isso inclui a concepção, a colocação em prática, a monitorização e a
avaliação, para a qual é necessário contar com recursos sufi cientes e
com a formação de capacidades apropriadas. É fundamental que os
mecanismos de participação sejam mutuamente aceites, garantam a
intervenção efectiva das mulheres, sejam criados em conformidade
com a realidade dos jovens e tenham um determinado grau de for-
malidade e institucionalização que assegurem uma continuidade ao
longo do tempo. A este respeito, o artigo 23 da Declaração sobre os
direitos dos povos indígenas afi rma claramente: «Os povos indígenas
têm direito a determinar e a elaborar prioridades e estratégias para o
exercício do seu direito ao desenvolvimento. Mais especifi camente,
os povos indígenas têm o direito de participar activamente na elabo-
ração e determinação dos programas» (Nações Unidas, 2007b).
A concepção, a execução, a monitorização e a avaliação de políticas
relativas aos jovens indígenas e de ascendência africana devem ser
levadas a cabo em conformidade com o princípio do consentimento
livre, prévio e informado a todos os níveis. O «consentimento livre»
implica que não haja coerção, intimidação nem manipulação, «pré-
vio» signifi ca que foi obtido um consentimento com antecipação su-
fi ciente a qualquer autorização ou início de actividades, e que foram
respeitadas as exigências cronológicas dos processos de consulta/
consenso dos povos, «informado» supõe que foram disponibilizadas
informações correctas e de forma acessível e compreensível, entre
outros aspectos, numa língua que seja totalmente compreensível.
Finalmente, cabe reiterar que este trabalho foi possível graças à incor-
poração da identifi cação étnica nos censos. Ainda com limitações, o
exame das condições de vida dos jovens indígenas e de ascendência
africana podem aprofundar-se mediante esta fonte de dados. Apesar
disso, é necessário aprofundar os diferentes contextos territoriais e
os povos de origem, bem como complementar este exame com es-
tudos qualitativos, de modo a avançar na geração de conhecimento
relevante sobre as suas condições de vida. Além disso, este primeiro
diagnóstico de âmbito regional permite afi rmar que os resquícios e
as desigualdades em detrimento desses jovens são, actualmente, um
problema urgente que merece toda a vontade política dos Estados.
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AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
ANEXO
ANEXO
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E DE ASCENDÊNCIA
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SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
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A condição da população indígena e de ascen-dência africana a partir a partir dos censos de 2000 Em seguida, são especifi cados os critérios adoptados em cada país
para defi nir os indivíduos pertencentes aos povos indígenas, aos po-
vos de ascendência africana e ao resto da população, segundo as
informações nos censos da década de 2000, ou seja, as variáveis e
categorias incluídas nesses levantamentos.
Argentina (2001)
• Indígena é a população dos lares nos quais se declarou que
vivia uma pessoa descendente ou pertencente a um povo
indígena.
• Não indígena (o «resto») é a população dos lares nos quais
se declarou que não vivia uma pessoa descendente ou per-
tencente a um povo indígena.
Bolívia (Estado Plurinacional da) (2001)
• Indígena é a população maior de 14 anos que se considera
pertencente aos povos Quíchua, Aimará, Guaraní, Chiqui-
tano, Mojeño, ou que responde à categoria «Outro nativo».
A etnia da população com menos de 15 anos foi atribuí-
da de acordo com o chefe de família e respectiva cônjuge.
Desta forma, foram consideradas indígenas as crianças com
menos de 15 anos que vivem em lares com chefe de família
indígena e sem cônjuge, ou com chefe de família e cônjuge
indígena.
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ANEXO
JUVENTUDE INDÍGENA
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SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
• Não indígena (o «resto») corresponde à população maior de
14 anos que declara não pertencer aos povos previamente
referidos, ou as crianças com menos de 14 anos cuja etnia
foi atribuída de acordo com o chefe do lar e/ou respectivo
cônjuge (apenas chefe de família não indígena, ou chefe de
família e/ou cônjuge não indígenas).
• Não se inclui a população cuja etnia se ignora.
Brasil (2000)
• Indígenaé a população que declara que a sua «cor ou raça»
é indígena.
• População de ascendência africana é a população que de-
clara que a sua cor ou raça é negra ou mestiça.
• Resto é a população que declara que a sua cor ou raça é
branca ou amarela.
• Não se inclui a população cuja etnia se ignora.
Chile (2002)
• Indígena é a população que pertencer aos seguintes povos:
Alacalufe (Kawashkar), Atacameño, Aimará, Colla, Mapu-
che, Quíchua, Rapa Nui e Yámana (Yagán).
• Não indígena (o «resto») corresponde à população que de-
clara não pertencer a nenhum dos povos previamente re-
feridos.
Costa Rica (2000)
• Indígena é a população que declara pertencer à cultura in-
dígena.
• População de Ascendência Africana é a população que de-
clara pertencer às culturas costa-riquenha de origem africa-
na ou Negra.
• Resto é a população que declara pertencer às culturas Chi-
nesa ou que responde à categoria «Nenhuma das anterio-
res».
• Não se inclui a população cuja etnia se ignora.
CEPAL/UNFPA/OIJ 197
ANEXO
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E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
Equador (2001)
• Indígena é a população que se considera como tal.
• De Ascendência Africana é a população que se considera
«Negra (afroequatoriana)» e «Mulata».
• Resto é a população que se considera «Mestiça», «Branca»
ou «Outra».
Guatemala (2002)
• Indígena é a população que responde afi rmativamente à
pergunta «é indígena?».
• Não indígena (o «resto») é a população que responde nega-
tivamente à pergunta «é indígena?».
Honduras (2001)
• Indígena é a população que declara pertencer aos seguin-
tes grupos populacionais: Garífuna, Tolupán, Pech (Paya),
Misquito, Lenca, Tawanka (Sumo) e Chortí.Afrodescendien-
te es la población que declara pertenecer al grupo “Negro
Inglés”.
• População de Ascendência Africana é a população que de-
clara pertencer ao grupo «Negro Inglês».
• Resto é a população que declara pertencer à categoria «Ou-
tros».
México (2000)
• Indígena é a população com mais de 5 anos que declara ser
Náhuatl, Maia, Mixteco ou de «Outro grupo indígena». A
etnia da população com menos de 5 anos foi atribuída de
acordo com a etnia do chefe de família do lar e da respec-
tiva cônjuge. Desta forma, foram considerados indígenas os
menores de 5 anos que residem em lares com um chefe de
família indígena sem cônjuge, ou com um chefe de família
e cônjuge indígenas.
• Não indígena (o «resto») é a população com mais de 5 anos
de idade que declara não ser Náhuatl, Maia, Mixteco ou de
«Outro grupo indígena», ou as crianças com menos dessa
CEPAL/UNFPA/OIJ 198
ANEXO
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
idade cuja etnia tenha sido atribuída de acordo com a etnia
do chefe de família do lar e/ou da sua cônjuge (apenas che-
fe de família não indígena, ou chefe de família e/ou cônjuge
não indígenas).
• Não se inclui a população cuja etnia se ignora.
Nicarágua (2005)
• Indígena é a população que responde que pertence a um
povo indígena ou um grupo étnico e, portanto, declara in-
tegrar os povos Rama, Garífuna, Mayagna-Sumu, Miskitu,
Ulwa, Xiu-Sutiava, Nahoas-Nicarao, Chorotega-Nahua-
Mange, Cacaopera-Matagalpa e «Outro».
• População de ascendência africana é a população que res-
ponde afi rmativamente à pergunta sobre se pertence a um
povo indígena ou grupo étnico e, portanto, declara integrar
os povos Criolos (kriol).
• Além disso, considera-se o grupo étnico mestiço da costa
caribenha como uma categoria em separado.
• Resto é a população que declara não pertencer a um povo
indígena ou etnia.
• Não é incluída a população de etnia indefi nida: população
que não declarou ou que não sabe qual é o seu povo indí-
gena ou etnia.
Panamá (2000)
• Indígena é a população que declara ser indígena e pertencer
aos grupos indígenas Kuna, Ngöbe, Buglé, Teribe, Bokota,
Emberá, Wounaan, Bri Bri ou que não responde à categoria
«nenhum dos anteriores».
• Não indígena (o «resto») é a população que declara não
pertencer a nenhum a grupo indígena.
CEPAL/UNFPA/OIJ 199
ANEXO
JUVENTUDE INDÍGENA
E DE ASCENDÊNCIA
AFRICANA NA
AMÉRICA LATINA:
DESIGUALDADES
SOCIO-DEMOGRÁFICAS
E DESAFIOS POLÍTICOS
Paraguai (2002)
• Indígena é a população que declara pertencer às etnias
Aché, Ava-Guaraní, Mbyá, Pai, Guaraní Occidental, Ñande-
va, Enlhet Norte, Enxet Sur, Sanapaná, Toba, Angaité, Gua-
na, Maskoy, Nivaclé, Maká, Manjui, Ayoreo, Chamacoco
(Ybytoso), Tomáráho e Toba-Qom.
• Não indígena (o «resto») é a população que declara perten-
cer a uma etnia não indígena.
Venezuela (República Bolivariana da) (2001)
• Indígena é a população que declara pertencer a um povo
indígena (pergunta 6 do censo geral), ou que habita em co-
munidades indígenas (total da população captada no censo
de comunidades indígenas).
• Não indígena é a população que declara não pertencer a
povos indígenas (pergunta 6 do censo geral).
• Não se inclui a população cuja etnia se ignora.