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Justiça ComunitÆria Uma experiŒncia 1

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MINISTÉRIO DA JUSTIÇASecretaria da Reforma do JudiciárioEsplanada dos Ministérios, Bloco T, 3º andar, Sala 324CEP 70.064-900, Brasília-DF, BrasilFone: 55 61 3429-9118Correio eletrônico: [email protected]: www.mj.gov.br/reforma

Distribuição gratuitaTiragem: 1.000 exemplares

Redação e organização: Juíza Gláucia Falsarella FoleyEditado por: Margareth LeitãoImpresso pela: Cromos - Editora e Indústria Gráfica Ltda.

A transcrição e a tradução desta publicação são permitidas,desde que citadas a autoria e a fonte.

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REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

Ministro de Estado da JustiçaMárcio Thomaz Bastos

Secretário de Reforma do JudiciárioPierpaolo Cruz Bottini

Chefe de GabineteJosé Junio Marcelino de Oliveira

Coordenador-Geral de Modernização da Administração da JustiçaAndré Luis Machado de Castro

Assessora da Coordenação de Modernização da Administração da JustiçaAngélica Batista Junger do Prado

Coordenadora da Chefia de GabineteAna Teresa Iamarino

PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO

Representante residente do PNUD - BrasilKim Bolduc

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL

Presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos TerritóriosDesembargador Lécio Resende da Silva

Juíza Coordenadora do Programa Justiça ComunitáriaGláucia Falsarella Foley

Secretária Executiva do Programa Justiça ComunitáriaVera Lúcia Soares

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ............................................................................................................ 7

JUSTIÇA COMUNITÁRIA: UMA REALIDADE ........................................................................ 9

JUSTIÇA COMUNITÁRIA: CONSOLIDANDO A DEMOCRACIA EPROMOVENDO OS DIREITOS HUMANOS POR MEIO DOACESSO À JUSTIÇA A TODOS ........................................................................................ 11

PRÓLOGO................................................................................................................... 13

AGRADECIMENTOS ...................................................................................................... 15

PREFÁCIO .................................................................................................................. 17

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 19

1. BREVE APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA JUSTIÇA COMUNITÁRIA..................................... 231.1. Histórico ......................................................................................................... 231.2. O Programa Justiça Comunitária. Linhas gerais ..................................................... 24

2. O LOCUS: A COMUNIDADE ....................................................................................... 262.1. O conceito de comunidade ................................................................................. 262.2. Conhecendo o locus. O mapeamento social .......................................................... 272.3. Animação de redes sociais ................................................................................. 31

2.3.1. As redes sociais ...................................................................................... 312.3.2. As redes sociais em movimento ................................................................ 34

3. OS ATORES E A SELEÇÃO ......................................................................................... 363.1. Os agentes comunitários ................................................................................... 363.2. O perfil dos agentes comunitários ....................................................................... 36

3.2.1. Requisitos pessoais ................................................................................. 363.2.2. Responsabilidades e compromissos............................................................ 37

3.3. As etapas da seleção......................................................................................... 373.3.1. O recrutamento ...................................................................................... 38

3.3.1.1. Divulgação do processo seletivo .................................................... 383.3.1.2. Cadastramento dos interessados ................................................... 383.3.1.3. Esclarecimentos sobre o Programa ................................................ 383.3.1.4. Inscrição dos interessados ........................................................... 39

3.3.2. A seleção ............................................................................................... 393.3.2.1. Análise dos formulários de inscrição .............................................. 403.3.2.2. Dinâmica de grupo...................................................................... 403.3.2.3. Entrevista de seleção .................................................................. 413.3.2.4. Referências judiciais e sociais ....................................................... 413.3.2.5. Escolha dos candidatos ................................................................ 41

3.4. O quadro atual de agentes comunitários de justiça e cidadania ............................... 42

4. AS ATIVIDADES DOS AGENTES COMUNITÁRIOS .......................................................... 454.1. Informação jurídica........................................................................................... 45

4.1.1. Reflexões práticas. Informação jurídica ...................................................... 464.2. Mediação comunitária ....................................................................................... 46

4.2.1. Reflexões práticas. Mediação comunitária ................................................... 484.3. Formação e/ou animação de redes sociais ............................................................ 50

4.3.1. Reflexões práticas. Formação e/ou animação de redes sociais ....................... 51

5. A EQUIPE INTERDISCIPLINAR ................................................................................... 525.1 O papel da interdisciplinaridade ........................................................................... 525.2 A equipe interdisciplinar do Programa Justiça Comunitária ....................................... 525.3 Apresentando a equipe interdisciplinar .................................................................. 53

6. OS CENTROS COMUNITÁRIOS DE JUSTIÇA E CIDADANIA .............................................. 566.1. A finalidade ..................................................................................................... 566.2. A estrutura física .............................................................................................. 566.3. Materiais e equipamentos do Centro Comunitário .................................................. 58

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7. A ESCOLA DE JUSTIÇA E CIDADANIA ......................................................................... 597.1. Pressupostos epistemológicos............................................................................. 597.2. As atividades de capacitação dos agentes comunitários.......................................... 617.3. A programação curricular................................................................................... 62

7.3.1. Cidadania e noções básicas de direito ........................................................ 627.3.2. Os cursos e as oficinas de mediação .......................................................... 637.3.3. Capacitação para a animação de redes sociais ............................................. 66

7.4. O corpo docente ............................................................................................... 677.5. As atividades abertas da Escola de Justiça e Cidadania .......................................... 677.6. Interlocuções institucionais ................................................................................ 687.7. O boletim periódico .......................................................................................... 727.8. Avaliação do processo de aprendizagem .............................................................. 737.9. Os recursos pedagógicos ................................................................................... 737.10. Materiais e equipamentos da Escola de Justiça e Cidadania ................................... 74

8. AS PARCERIAS INSTITUCIONAIS ............................................................................... 758.1. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) .................................... 758.2. Secretaria de Reforma do Judiciário (SRJ) ............................................................ 758.3. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) ................................ 768.4. Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF) ....................................................... 778.5. Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT) ............................... 778.6. Universidade de Brasília (UnB) ........................................................................... 778.7. Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República ..................... 78

9. OS CASOS CONCRETOS ........................................................................................... 799.1. As estatísticas .................................................................................................. 799.2. O perfil das demandas ...................................................................................... 809.3. Os conflitos criminais ........................................................................................ 819.4. Ilustração de alguns casos concretos ................................................................... 82

9.4.1. O �caso da vaca�..................................................................................... 829.4.2. O �caso dos irmãos� ................................................................................ 839.4.3. O �caso da fumaça� ................................................................................. 849.4.4. O �caso das amigas que trocaram as casas� ................................................ 849.4.5. O �caso do DVD extraviado� ..................................................................... 859.4.6. O �caso das mães de crianças especiais� .................................................... 86

10. REGISTRO E MEMÓRIA ........................................................................................... 8710.1. O sistema de banco de dados ......................................................................... 8710.2. Registrando as atividades ............................................................................... 87

11. O TRABALHO VOLUNTÁRIO ..................................................................................... 8911.1. A natureza do trabalho voluntário .................................................................... 8911.2. A adesão voluntária. Questões práticas ............................................................ 90

12. EM BUSCA DA AUTO-SUSTENTABILIDADE DO PROGRAMA ........................................... 9212.1 Uma proposta para a reprodução nacional de um programa de justiça

comunitária em larga escala e de baixo custo ..................................................... 92

13. A AVALIAÇÃO DO PROGRAMA .................................................................................. 9413.1. Avaliação. Conceito e objetivos ....................................................................... 9413.2. A subjetividade da avaliação ........................................................................... 9513.3. Momento da avaliação ................................................................................... 9513.4. A avaliação do Programa Justiça Comunitária .................................................... 96

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 98

ANEXOS ....................................................................................................................101

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APRESENTAÇÃO

A Constituição Federal de 1988, fruto da mobilização democrática da Nova Repúbli-ca, representou profundo avanço no sentido de assegurar uma série de direitos e garan-tias para o povo brasileiro. Nesse contexto, o Poder Judiciário assumiu um novo e impres-cindível papel � o de transformar direitos meramente formais em garantias efetivas.

A realidade fático-constitucional acabou por incluir, entretanto, e para além do in-comensurável aumento de demandas, uma série de conflitos sócio-políticos e econômicosao âmbito de competência dos Tribunais. Houve, sem dúvidas, inchaço material do PoderJudiciário, com impactos evidentes no tempo e na qualidade da prestação jurisdicional.Foi posto em xeque, assim, o imperativo do acesso à justiça.

Evidente, pois, o alerta de que os métodos tradicionais de resolução judicial deconflitos individuais e coletivos não poderiam mais ser vistos como única alternativa àscontendas e querelas individuais e sociais, bem como de que a noção de acesso à justiçanão pode e não deve se restringir ao acesso ao Judiciário. É papel da sociedade e do PoderPúblico o empenho na valorização de maneiras de se efetivarem direitos e de se arbitra-rem conflitos que representem alternativas concretas ao ainda moroso processo judicial �formais e informais.

Quando o que se pretende é a obtenção de soluções satisfatórias, é fundamentalapostar e defender que as mesmas podem ser encontradas, inclusive, fora do sistemaformal de justiça. Fugir da centralização burocrática quando possível, em prol da autono-mia da sociedade em torno de suas responsabilidades. É nessa crença que se insere oPrograma de Justiça Comunitária aqui apresentado.

No trabalho que agora se apresenta, é possível verificar o sucesso de um projetoque partiu da associação entre diferentes entes públicos � Judiciário, Executivo e Legislativo� e a esfera comunitária com suas lideranças, num objetivo uníssono. Sucesso que só foipossível porque as instituições parceiras apostaram na capacidade da comunidade deresolver seus próprios conflitos com autonomia, emancipação e solidariedade, oferecen-do as condições necessárias para tanto.

Por acreditarmos que a democracia se configura em um processo em que a partici-pação é elemento central, instrumento legítimo para acentuar a cidadania e lutar contra aexclusão social, a disseminação das práticas aqui retratadas se afigura como fundamen-tal, pois provê a continuidade dos esforços empreendidos pelos parceiros na construçãode uma sociedade mais justa, calcada na ênfase dos valores comunitários.

Márcio Thomaz BastosMinistro da Justiça

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JUSTIÇA COMUNITÁRIA: UMA REALIDADE

A Secretaria de Reforma do Judiciário foi criada com o objetivo de promover, coor-denar, sistematizar e angariar propostas referentes à reforma do Judiciário. Tem comopapel principal ser um órgão de articulação entre o Executivo, o Judiciário, o Legislativo,o Ministério Público, Governos Estaduais, entidades da sociedade civil e organismos inter-nacionais, para a promoção e difusão de ações e projetos de melhoria do Poder Judiciário.

Visando democratizar a realização da justiça e criar as condições indispensáveis aopleno exercício da cidadania, a Secretaria de Reforma do Judiciário, juntamente com osdemais parceiros aqui apresentados, decidiu apoiar o Projeto Justiça Comunitária, poracreditar que nele há o estímulo à comunidade, ao desenvolver mecanismos próprios deresolução de conflitos, por meio do diálogo, da participação comunitária e da efetivaçãodos direitos humanos.

O programa aqui apresentado implica uma transformação do modo de açãoinstitucional por incorporar as dimensões e problemáticas comunitárias em suas ações. Oreconhecimento do papel principal da comunidade na construção da justiça promove aresponsabilidade ativa e cidadã, e proporciona a apropriação por parte da própria comu-nidade do processo de transformação e superação de estigmas, combatendo, pois a ex-clusão social.

Acreditando na relevância desse papel e dando continuidade aos nossos esforçospara a melhoria do sistema de justiça brasileiro, elaboramos o presente relato dessaexperiência, cujo objetivo é retratar a realidade desse meio alternativo de resolução deconflitos, que difere dos demais por ser intrínseco à própria comunidade.

Experimentado nesta unidade da Federação, reúne um conjunto de informações einiciativas que será essencial para, além de compartilhar a experiência e de fornecerferramentas operacionais para a sua multiplicação, trazer reflexão e diálogo coletivo dostemas sociais.

Pierpaolo Cruz BottiniSecretário de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça

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JUSTIÇA COMUNITÁRIA: CONSOLIDANDO A DEMOCRACIA

E PROMOVENDO OS DIREITOS HUMANOS POR

MEIO DO ACESSO À JUSTIÇA A TODOS

O PNUD identifica o acesso à justiça como um elemento prioritário para a garantiado desenvolvimento e como uma área de cooperação fundamental para o cumprimentode seu mandato em várias partes do mundo. Nesse contexto e no marco de seu mandato,o PNUD vem apoiando desde 2005, em parceria coma Secretaria de Reforma do Judiciáriodo Ministério da Justiça, o Programa de Justiça Comunitária, coordenado pelo Tribunal deJustiça do Distrito Federal e Territórios.

Para o PNUD, o Programa de Justiça Comunitária representa um paradigma comgrande potencial transformador na medida em que articula ações de disseminação deinformação jurídica, mediação de conflitos e animação de redes sociais, tendo como pro-tagonistas e parceiros a própria comunidade � através dos agentes comunitários e mem-bros do poder judiciário local, com o objetivo único de ampliar o acesso à justiça daquelaspessoas que invariavelmente não dispõem de informação adequada ou dos meios neces-sários para tal.

O PNUD entende que o fortalecimento de programas de justiça comunitária quelevem em consideração o marco normativo brasileiro, a diversidade cultural e o respeitoà dignidade das pessoas envolvidas nos processos comunitários será um mecanismo paraa consolidação da democracia e promoção dos direitos humanos através do acesso àjustiça a todos.

A publicação desse relato é uma oportunidade ímpar de socializar essa experiênciaconcreta de construção coletiva. Por isso, o PNUD deseja que o presente relato da expe-riência de justiça comunitária coordenada pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal eimplementada pelos agentes comunitários de justiça e cidadania e representantes dopoder judiciário sirva como exemplo de uma prática bem sucedida de acesso à justiça,preocupada com o cidadão, e que este possa inspirar a realização de experiências seme-lhantes em outras cidades brasileiras e em outros países da América Latina.

Kim BolducRepresentante Residente

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

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PRÓLOGO

Tenho imensa honra e satisfação em apresentar o presente documento. O relatoelaborado cumpre plenamente o seu papel. Conduz de um lugar ao outro uma expe-riência que, no caso, é de grande sucesso. Disponibiliza, a todos os interessados, umaconcreta possibilidade de transformar a realidade ao seu redor, partindo sempre de simesmos.

Olho para essa experiência como quem observa uma frondosa árvore, de amplacopa, numerosos frutos e fortes sementes. Sei que um dia essa árvore já foi semente.Nasceu da vontade e visão da Excelentíssima Juíza de Direito Gláucia Falsarella Foley ecresceu na terra fértil do Egrégio Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios.Como adubo, recebeu amor, determinação, sensibilidade e força de vontade em abun-dância. A seiva, que dilui os nutrientes e leva o alimento a todas as partes, ficou a cargodos dedicados agentes comunitários de justiça e cidadania.

Assim como o destino de uma árvore é adaptar-se ao solo e ao ambiente, crescer eproduzir frutos, também a justiça comunitária seguiu esse caminho. As informações con-tidas neste documento servirão, assim como as sementes, para difundir a autonomia, aconsciência e a convicção de que é possível sermos protagonistas da nossa própria histó-ria, independentemente de classe, posição ou condição social.

A todos aqueles que farão uso desse relato de experiência, uma especial recomen-dação: cuidem das informações deste documento como quem cuida de uma criança.Dêem a ele a atenção e a dedicação necessárias e, assim como nós, vocês também terãoa alegria e a satisfação de terem como retorno o recompensador resultado da emancipa-ção social, condição primeira da paz, justiça e cidadania.

Desembargador Lécio Resende da SilvaPresidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

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AGRADECIMENTOS

A Coordenação do Programa Justiça Comunitária do Distrito Federal manifesta oseu agradecimento à Secretaria de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça e aoPrograma das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) pela generosa iniciativa dedivulgar esta experiência, fornecendo meios para a publicação deste relato.

Nossos agradecimentos aos membros e servidores do Tribunal de Justiça do Distri-to Federal e dos Territórios, na pessoa de seu Presidente Desembargador Lécio Resendeda Silva. Essa Corte, reafirmando a sua vocação vanguardista, apostou neste projeto,desde o seu nascedouro, e assegurou a estrutura necessária para a sua construção econsolidação.

Um especial agradecimento a todos os membros da equipe do Programa JustiçaComunitária que, com competência e entusiasmo, devotaram conhecimento e experiên-cia a este trabalho, ofertando suas leituras, comentários, pesquisas e assessoria. Estemomento de celebração é de responsabilidade de cada um deles. Agradecemos aindapela participação valiosa a todos os consultores e consultoras nesta fase de replanejamentodo Programa.

Também gostaria de agradecer aos representantes das instituições parceiras que,em permanente interlocução, imprimiram a sua contribuição pessoal e institucional aoPrograma. Sem a colaboração do Ministério Público do Distrito Federal, da Faculdade deDireito da Universidade de Brasília, da Defensoria Pública do Distrito Federal, do Progra-ma das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), da Secretaria Especial de Direi-tos Humanos da Presidência da República e da Secretaria da Reforma do Judiciário doMinistério da Justiça, a trajetória do Programa Justiça Comunitária narrada neste trabalhonão teria sido possível.

Aos Agentes Comunitários de Justiça e Cidadania, alma do Programa Justiça Comu-nitária e protagonistas de todas as narrativas impressas nestas páginas.

Gláucia Falsarella FoleyJuíza Coordenadora do Programa Justiça Comunitária

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PREFÁCIO

O presente relato tem por objetivo compartilhar a experiência do Programa JustiçaComunitária, coordenado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios,desde outubro de 2000. A partir de uma breve contextualização do tema da justiça comu-nitária no cenário contemporâneo, este material oferece algumas ferramentas operacionaispara auxiliar todos aqueles que já iniciaram ou pretendem iniciar essa fascinante jornadaem busca da democratização da realização da justiça, no âmbito comunitário.

Trata-se de uma exposição � nem sempre confortável � da aprendizagem extraí-da desses seis anos de experiência, nas cidades-satélites de Ceilândia e Taguatinga.A ilustração de nossos erros e acertos tem por objetivo inspirar novos e atuais progra-mas e, na medida do possível, ajudar a evitar que experiências negativas se repitamdesnecessariamente.

É bem verdade que cada comunidade tem a sua trajetória que a faz única, e essaexperiência precede qualquer esforço institucional que lhe seja externo, porque somentea comunidade é que pode definir o seu processo de transformação e desenvolvimento.Contudo, é exatamente a dificuldade de sintonia entre os anseios da comunidade e osobjetivos de um programa institucional que justifica a publicação do presente trabalho.

Para que este material ganhe contornos interativos, é indispensável que haja umdiálogo entre o conteúdo aqui exposto e a perspectiva de seus leitores e usuários. Nessesentido, a página virtual do Programa Justiça Comunitária1 dedicará, a partir da ediçãodeste relato, um espaço de interação com o leitor, a fim de que o debate possa fluir,trazendo benefícios a todos os projetos voltados à democratização da justiça, ainda queoperacionalizados sob modelos diferentes.

Partimos da convicção de que, diante de um cenário de profunda fragmentação dotecido social, todas as experiências que busquem a animação de redes sociais, o estímuloao diálogo solidário e a reflexão coletiva dos temas sociais são indispensáveis e devemser expostas à necessária troca, à generosa partilha. Nesse sentido, a partir do registrode uma experiência concreta, este trabalho pretende provocar o debate sobre a possívelintegração entre pluralidade, autonomia, ética, democracia e justiça, a ser estabelecidoentre todos os que apostam na construção de uma sociedade mais justa, fraterna esolidária.

É sob essa perspectiva, pois, que este trabalho pretende desenvolver não um mo-delo, mas caminhos possíveis para delinear os traços de uma justiça comunitária para aemancipação social.

Gláucia Falsarella FoleyJuíza Coordenadora do Programa Justiça Comunitária

1. Disponível em: <http://www.tjdf.gov.br/tribunal/institucional/proj_justica_comunitaria/index.asp>.

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INTRODUÇÃO

Diante da crise dos paradigmas da modernidade, a realidade contemporânea, plu-

ral e fragmentada, requer a construção de uma concepção de direito pertencente a uma

nova constelação paradigmática. No âmbito da realização da justiça, a racionalidade mo-

derna que celebra a universalidade, a linearidade e a verticalidade já não se mostra

suficiente para lidar com as complexidades que marcam os tempos atuais.

A justiça realizada por meio da jurisdição estatal é um modelo que segue os pa-

drões da modernidade ocidental, posto que estruturada a partir de princípios universais

pautados em imperativos legais. Trata-se de um tipo de justiça que codifica procedimen-

tos e aplica a norma no caso concreto, com base em deduções racionais advindas da

autoridade da lei ou dos precedentes. Em situações de conflito, o Estado substitui a

vontade dos cidadãos, a fim de dizer o direito e assegurar a paz social. Sob esse padrão,

o Estado detém o monopólio do exercício da atividade jurisdicional.

Isso não significa afirmar, contudo, que o Estado detenha o monopólio da criação

do direito. Há uma parcela da sociedade que, excluída do atendimento jurisdicional, bus-

ca fórmulas próprias de resolução de conflitos, criando alternativas para manter o mínimo

de coesão social. Essa pluralidade de ordens jurídicas, apesar de ser uma realidade, em

geral não é reconhecida oficialmente pelo Estado. Contudo, a partir do final da década de

70, sobretudo nos EUA, assistimos a emergência de um movimento de resgate dos méto-

dos alternativos de resolução de disputas (ADRs)2 como um instrumento de realização da

justiça.3

Esse fenômeno tem sido analisado sob diferentes perspectivas. O debate se divide

entre os opositores à flexibilização do pretenso monopólio estatal de realização da justiça

e aqueles que acreditam que os métodos alternativos de resolução de disputas revelam

sinais de uma justiça do futuro.

Os críticos, apesar de algumas divergências de linhas de pensamento, questionam:

seria esse movimento parte de um processo de privatização das funções consideradas

eminentemente estatais? Estaria o Estado outorgando suas atribuições jurisdicionais aos

cidadãos, deixando-lhes escapar a autoridade de arbitrar conflitos e equilibrar desigual-

dades para promover a paz social? Não seria essa uma forma de reservar a justiça social

aos socialmente incluídos e destinar uma justiça de �segunda classe� aos excluídos?

2. A sigla tem as iniciais da denominação em inglês: Alternative Dispute Resolution.3. AUERBACH, Jerold S. Justice without law? Oxford, UK: Oxford University, 1983, apud FOLEY, Gláucia Falsarella. Justiça

comunitária: por uma justiça da emancipação. Dissertação (Mestrado) � Faculdade de Direito da Universidade deBrasília, Brasília, 2003. p. 69-72.

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De outro lado, entre os entusiastas, encontramos desde os que vêem esse movi-

mento como uma alternativa eficaz à morosidade e à inacessibilidade do processo judicial

oficial, até os que o consideram um instrumento de resgate do estatuto do cidadão e da

comunidade, a fim de restaurar a sua capacidade emancipatória, por meio da autogestão

de seus conflitos.

Esse movimento de resgate e de construção de novos métodos de resolução de

conflitos conta com um importante instituto, objeto de debate ao longo das últimas três

décadas: a mediação. Trata-se de um processo no qual uma terceira parte desinteressa-

da e sem qualquer poder de decisão facilita que as partes em conflito construam uma

solução. Em contraste com o sistema jurisdicional, a lógica da mediação oferece, poten-

cialmente, um padrão dialógico, horizontal e participativo.

Quando operada na esfera comunitária, a mediação potencializa a sua dimensão

emancipatória, na medida que trata de autodeterminação, de participação nas decisões

políticas, reelaborando o papel do conflito e desenhando um futuro sob novos paradigmas.

Muito embora a experiência a ser partilhada neste relato tenha sido concebida por

iniciativa de um ente estatal, o modelo desenvolvido é comunitário porque, além de

contar com membros da comunidade como seus principais operadores, é exatamente na

esfera comunitária, onde a vida acontece, que se estabelece o locus preferencial de atuação

do Programa. Em poucas palavras, é a justiça realizada pela, para e na comunidade.

O caráter emancipatório de um projeto não se define pela natureza da entidade

que o implementou, mas pelos princípios com os quais opera. Portanto, não há qualquer

razão na assertiva que confere legitimidade exclusivamente aos programas de justiça

comunitária levados a efeito por entes não-estatais. Se há prevalência da dialógica em

detrimento da retórica persuasiva, da coerção e da burocracia verticalizada4 , se o saber

local é respeitado como parte do processo de aprendizagem, se o conflito é transformado

em oportunidade de empoderamento individual e social e se as atividades são voltadas

para transformar tensão social em possibilidades de criação de solidariedade e paz social,

a justiça é do tipo comunitária e, como tal, ostenta vocação para a prática transformadora.

Por fim, há que se esclarecer que, embora a justiça comunitária seja por vezes

classificada como instrumento �alternativo� de resolução de conflitos, o modelo ilustrado

neste trabalho não pretende afirmar-se em substituição ao sistema judicial oficial. Ao

4. Retórica, burocracia e coerção são, na análise de Sousa Santos, os três componentes estruturais do direito que podemse articular sob diferentes combinações, a depender do campo jurídico ou dentro de um mesmo campo (SOUSASANTOS, Boaventura de. O Estado e o pluralismo jurídico em África. In: SOUSA SANTOS, Boaventura de; TRINDADE,João Carlos (Orgs.). Conflito e transformação social: uma paisagem das justiças em Moçambique. Porto: Afrontamento,2003. p. 7).

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contrário, o pressuposto adotado é o de que a jurisdição revela-se um instrumento apto

a proteger direitos e garantir a realização da justiça, em especial nas situações extremas

em que as circunstâncias dos conflitos repousam na violência e na ausência do diálogo e,

ainda, diante de um acentuado descompasso de poder � seja econômico, social ou políti-

co � entre as partes em conflito.

Nesse sentido, a justiça comunitária deve ser interpretada em complementaridade

ao sistema oficial. Por outro lado, considerando a sua vocação de promover a paz e

coesão social nas esferas da comunidade, onde os conflitos havidos, em geral, não são

levados ao Poder Judiciário, a justiça comunitária constitui importante instrumento de

realização de justiça, apto a integrar um projeto emancipatório que redimensione o direi-

to, articulando-o sob uma nova relação entre ética e justiça.

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1. BREVE APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA JUSTIÇA COMUNITÁRIA5

1.1. Histórico

O Projeto Justiça Comunitária do Distrito Federal nasceu a partir da experiênciaadvinda do Juizado Especial Cível Itinerante do Tribunal de Justiça do Distrito Federal edos Territórios, o qual busca atender às comunidades do Distrito Federal com dificuldadesde acesso à justiça formal. Durante os primeiros três anos de experiência, no interior deum ônibus especialmente adaptado para a realização de audiências, foi possível constatara absoluta falta de conhecimento dos cidadãos em relação aos seus direitos e, ainda, adificuldade de produção probatória, tendo em vista a informalidade com que os negóciossão firmados nessas comunidades.

Um fato, porém, revelava o êxito da experiência. Aproximadamente 80% da de-manda do Juizado Itinerante resultavam em acordo. Esse dado confirmou que a iniciativado ônibus efetivamente rompeu obstáculos de acesso à justiça, tanto de ordem material,quanto simbólica. A ruptura com a �liturgia forense� e a horizontalidade com a qual asaudiências eram realizadas ajudaram a criar um ambiente de confiança favorável ao altoíndice de acordos constatado.

Contudo, apesar dos acordos não resultarem de nenhum tipo de coerção, o que severificava à época era que nem sempre os seus conteúdos correspondiam ao sentimentode justeza trazido por cada parte ao processo. Como a produção probatória era difícil, osacordos pareciam resultar de uma razão meramente instrumental, que levava à renúnciaparcial do direito, a fim de se evitar os riscos de uma sucumbência total. Esse �consensoda resignação�, pois, parecia contrariar todo o esforço de se buscar a democratização doacesso à Justiça formal.

Essas constatações impulsionaram a reflexão sobre a possibilidade de se desenvol-ver na comunidade espaços nos quais fossem possíveis a democratização do acesso àinformação e o diálogo visando consensos justos, do ponto de vista de seus protagonis-tas. Para tanto, o clássico �operador do direito� deveria ceder lugar a pessoas comunsque partilhassem o código de valores e a linguagem comunitária e, dessa forma, pudes-sem fazer as necessárias traduções. Delineava-se, assim, o primeiro esboço do ProjetoJustiça Comunitária.

Seus contornos, porém, ganharam maior definição no decorrer do debate havidoentre os representantes das entidades parceiras6 , os quais imprimiram, a partir da pers-pectiva de cada instituição, a sua contribuição para a elaboração do Programa, cujosbreves traços são apresentados a seguir.

5. O inteiro teor do Programa Justiça Comunitária do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios encontra-sedisponível em: <www.tjdf.gov.br/tribunal/institucional/proj_justica_comunitaria/index.asp>.

6. Durante o segundo semestre de 1999, as instituições parceiras foram representadas pelos seguintes membros: DefensoriaPública do Distrito Federal: Fernando Antonio Calmon Reis, defensor público; Faculdade de Direito da Universidade deBrasília: José Geraldo de Sousa Júnior, diretor da Faculdade de Direito da UnB; Alayde Avelar Freire Sant�Anna e André

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1.2. O Programa Justiça Comunitária. Linhas gerais7

O Projeto Justiça Comunitária foi criado em outubro de 2000, com o objetivo dedemocratizar a realização da justiça, restituindo ao cidadão e à comunidade a capacidadede gerir seus próprios conflitos com autonomia.

A iniciativa foi levada a efeito pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dosTerritórios, em parceria com o Ministério Público do Distrito Federal, a Defensoria Públicado Distrito Federal, a Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB) e, à época, aComissão de Direitos Humanos da OAB/DF, sob o convênio firmado com a Secretaria deEstado de Direitos Humanos da Presidência da República.

Atualmente, o Programa está instalado nas cidades-satélites de Ceilândia eTaguatinga, com 332.455 e 223.452 habitantes, respectivamente8 . O Programa contacom 40 agentes comunitários que, na qualidade de membros das comunidades nas quaisatuam, compartilham a linguagem e o código de valores comunitários.

Os agentes comunitários são credenciados no Programa, por meio de um proces-so de seleção levado a efeito pela equipe psicossocial9 . Encerrada essa etapa, osselecionados iniciam uma capacitação permanente na Escola de Justiça e Cidadania10,onde recebem noções básicas de Direito, treinamento nas técnicas de mediação comuni-tária e de animação de redes sociais, além da participação nos debates sobre direitoshumanos.

Macedo de Oliveira, advogados da UnB; Ministério Público do Distrito Federal e Territórios: Renato Sócrates GomesPinto, procurador de justiça e Newton Cezar Valcarenghi Teixeira, promotor de justiça; Ordem dos Advogados do Brasil- Secção do Distrito Federal (OAB/DF): Sandra Ferreira Moreira, Iaris Ramalho Cortês e Tereza de Jesus PinheiroMontenegro, conselheiras da OAB/DF; Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT): Edmundo MinervinoDias, desembargador presidente; Gláucia Falsarella Foley, juíza de direito, Marcelo Girade Corrêa e Vera Lucia Soares,técnicos judiciários.

7. Este panorama resulta de um processo de replanejamento pelo qual passou o Programa Justiça Comunitária, nosegundo semestre de 2006, o qual contou com a valiosa contribuição da consultora do Programa das Nações Unidaspara o Desenvolvimento (PNUD) Doutora Marília Weigert Ennes, contratada também para a consultoria na confecção domapeamento social e animação de redes sociais.

8. Fonte: SEPLAN/CODEPLAN. Pesquisa distrital por amostra de domicílios � 2004.9. O perfil dos agentes comunitários e o processo de seleção estão descritos no Capítulo 3 deste trabalho.10. Ver Capítulo 7.

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A atuação dos agentes comunitários é acompanhada por uma equipe interdisciplinar,composta de advogados, psicólogos, assistentes sociais, servidores de apoio administra-tivo, um artista e uma juíza que coordena o Programa. As atividades11 desenvolvidaspelos agentes comunitários são as seguintes: 1) informação jurídica; 2) mediação comu-nitária; e 3) formação e/ou animação de redes sociais.

A primeira atividade tem por objetivo democratizar o acesso às informações dosdireitos dos cidadãos, decodificando a complexa linguagem legal. Para tanto, os agentescomunitários produzem, em comunhão com os membros da equipe interdisciplinar, mate-riais didáticos e artísticos, tais como cartilhas, filmes, peças teatrais, musicais, cordéis,dentre outros.

A mediação comunitária, por sua vez, é uma importante ferramenta para a promo-ção do empoderamento e da emancipação social. Por meio dessa técnica, as partes diretae indiretamente envolvidas no conflito têm a oportunidade de refletir sobre o contexto deseus problemas, de compreender as diferentes perspectivas e, ainda, de construir emcomunhão uma solução que possa garantir, para o futuro, a pacificação social.

A terceira atividade refere-se à transformação do conflito � por vezes, aparente-mente individual � em oportunidade de mobilização popular e criação de redes solidáriasentre pessoas que, apesar de partilharem problemas comuns, não se organizam, atéporque não se comunicam.

Ao desenvolver essas atividades, o Programa Justiça Comunitária tem por preten-são a transformação de comunidades fragmentadas em espaços abertos para o desenvol-vimento do diálogo, da autodeterminação, da solidariedade e da paz.

11. Ver Capítulo 4.

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2. O LOCUS: A COMUNIDADE

A complexidade e a fragmentação da realidade social são traços da contempora-neidade impressos nas esferas mundial e local. Em toda sociedade, porém, há agrupa-mentos humanos unidos por diversas identidades, dentre elas a territorial, que confere àcomunidade o status de locus privilegiado para o desenvolvimento de programas de trans-formação social.

Essa identidade territorial, segundo Kisil, é vivenciada �onde os indivíduos ou gru-pos sociais mais facilmente reconhecem como pertencentes a uma mesma comunidade(...). A fonte mais imediata de auto-reconhecimento e organização autônoma é o territó-rio. As pessoas identificam-se com os locais onde nascem, crescem, vão à escola, têmseus laços familiares, enfim se socializam e interagem em seu ambiente local, formandoredes sociais com seus parentes, amigos, vizinhos, organizações da sociedade civil eautoridades do governo�.12

No mesmo sentido, o Programa Justiça Comunitária adota a comunidade comoesfera privilegiada de atuação, porque concebe a democracia como um processo que,quando exercido em nível comunitário, por agentes e canais locais, promove inclusãosocial e cidadania ativa, a partir do conhecimento local. É na instância da comunidade queos indivíduos edificam suas relações sociais e podem participar de forma mais ativa dasdecisões políticas. É nesse cenário que se estimula a capacidade de autodeterminação docidadão e de apropriação do protagonismo de sua própria história.

2.1. O conceito de comunidade

Em meio à vasta literatura sociológica dedicada a conceituar comunidade, a defini-ção talhada por Lycia e Rogério Neumann revela-se bastante útil para este trabalho,considerando a sua objetividade: �Comunidade significa um grupo de pessoas que com-partilham de uma característica comum, uma �comum unidade�, que as aproxima e pelaqual são identificadas.�13

Conforme os próprios autores alertam, em geral, a unidade comum é a região ondeas pessoas vivem, mas nada impede que uma comunidade seja constituída a partir deinteresses e/ou causas partilhados. De qualquer sorte, no núcleo do conceito está locali-zada a idéia de identidade compartilhada.

Neste trabalho, a denominação comunidade será atribuída aos agrupamentos hu-manos que vivem na mesma localização geográfica e que, nessa condição, tendem a

12. KISIL, Marcos. Comunidade: foco de filantropia e investimento social privado. São Paulo: Global; Instituto para oDesenvolvimento Social (IDIS), 2005. p. 38.

13. NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcellos; NEUMANN, Rogério Arns. Repensando o investimento social: a importânciado protagonismo comunitário. São Paulo: Global; Instituto para o Desenvolvimento Social (IDIS), 2004. p. 20-21.(Coleção Investimento Social).

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partilhar dos mesmos serviços (ou da ausência deles), problemas, códigos de conduta,linguagem e valores.

A partilha territorial, entretanto, não leva necessariamente à construção de umacomunidade coesa socialmente. Essa característica vai depender do grau de conexãoentre seus membros e de sua capacidade de promover desenvolvimento local, ou seja, deseu capital social.

O capital social se verifica de acordo com o �grau de coesão social que existe nascomunidades e que é demonstrado nas relações entre as pessoas ao estabelecerem re-des, normas e confiança social, facilitando a coordenação e a cooperação para o benefíciomútuo�.14

Segundo Robert C. Chaskin15 , a aferição da coesão social de uma comunidade sedá a partir da análise de quatro elementos, a saber: 1) senso de comunidade ou grau deconectividade e reconhecimento recíproco; 2) comprometimento e responsabilidade deseus membros pelos assuntos comunitários; 3) mecanismos próprios de resolução deconflitos; 4) acesso aos recursos humanos, físicos, econômicos e políticos, sejam locaisou não.

Onde há coesão social, há identidade compartilhada, cuja criação depende damobilização social e do envolvimento com os problemas e soluções locais. Há, portanto,segundo Putman16 , um ciclo virtuoso entre capital social e desenvolvimento local susten-tável. Nesse sentido, desenvolver comunidade é um processo que �agrega valores éticosà democracia e constrói laços de solidariedade�.17

2.2. Conhecendo o locus. O mapeamento social

Primeiramente, é preciso definir o que se pretende com o mapeamento social, a fimde que os formulários de identificação e cadastramento dos dados sejam elaborados demaneira a veicular as perguntas adequadas. Nesse sentido, é importante ressaltar que omapa a ser confeccionado não se resume a uma fotografia momentânea dos elementosidentificados, mas deve ser um guia para subsidiar o diálogo entre essas informações,para servir de base a uma permanente animação de redes sociais.

Para o Programa Justiça Comunitária do Distrito Federal, a identificação das organi-zações sociais é fundamental para servir de referência para: a) o processo de seleção de

14. AUSTRALIAN BUREAU OF STATISTICS, Social capital and social wellbeing, apud NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcellos;NEUMANN, Rogério Arns, Repensando o investimento social: a importância do protagonismo comunitário, cit., p. 47.

15. CHASKIN, Robert J. Defining community capacity: a framework and implications from a comprehensive communityinitiative, apud NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcellos; NEUMANN, Rogério Arns, Repensando o investimento social:a importância do protagonismo comunitário, cit., p. 24.

16. PUTNAM, Robert D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora daFundação Getúlio Vargas, 2005. p. 186.

17. KISIL, Marcos, Comunidade: foco de filantropia e investimento social privado, cit., p. 51.

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novos agentes comunitários; b) o encaminhamento dos participantes para a rede social,quando a solução do conflito assim o demandar; c) o conhecimento das circunstânciasque envolvem os problemas comunitários; e, d) a constituição de novas redes sociais ouo fortalecimento e a animação das já existentes, quando a demanda ostentar potencialpara tanto.

No decorrer da execução do Programa Justiça Comunitária do Distrito Federal, asdificuldades enfrentadas na confecção desse mapeamento foram inúmeras, desde a ca-rência de recursos humanos � em especial na fase inicial � até a dificuldade de se traçaruma estratégia de animação de redes sociais, quando toda a prioridade do Programaestava voltada para a capacitação dos agentes comunitários nas técnicas de mediação.18

Apesar das dificuldades, o Programa conseguiu reunir, com a colaboração de algunsagentes comunitários, informações relevantes para a confecção do mapa, sem contudoestabelecer uma conexão entre elas. Na ausência de um planejamento prévio aliado auma clara estratégia metodológica de conexão entre essas informações, os dados coletadosnão se comunicaram.

Com o propósito de suprir essa lacuna, o Programa está desenvolvendo um passo-a-passo19 como estratégia para a confecção permanente do mapeamento social das duascidades-satélites, o qual contém as seguintes fases:

a) definir a área geográfica a ser mapeada com limites claros;

b) definir as fontes de informação e a metodologia adequada (documentos de ór-gãos oficiais, visitas às instituições, entrevistas pessoais ou por telefone, entre outras);

c) recrutar os agentes comunitários para a coleta dos dados e estimular que ofaçam com o auxílio de alguns moradores;20

d) criar um formulário para a identificação e o cadastramento;21

e) organizar um banco de dados apto a promover o cruzamento dessas informações.

18. Hoje, a avaliação é a de que o fato de o Programa ostentar três pilares não significa necessariamente que eles devamser construídos um a um. Havendo uma estrutura mínima, o ideal é que os três sustentáculos de um programa dejustiça comunitária sejam desenvolvidos em conjunto, uma vez que há íntima relação entre eles. A título de exemplo,é a partir de uma programação eficiente das atividades voltadas à animação de redes sociais que se podem atrairdemandas para a mediação efetivamente comunitária, com largo impacto social.

19. A formulação desse passo-a-passo foi uma adaptação da experiência desenvolvida pela equipe psicossocial do Progra-ma Justiça Comunitária da sistematização sugerida por Lycia Tramujas Vasconcellos Neumann e Rogério Arns Neumann(Desenvolvimento comunitário baseado em talentos e recursos locais � ABCD. São Paulo: Global; Instituto para oDesenvolvimento Social (IDIS), 2004).

20. O Programa Justiça Comunitária conta com alguns �amigos do Programa�. Em geral, são ex-agentes comunitáriosque, por alguma razão, desligaram-se do Programa sem, contudo, deixarem de contribuir para a realização deatividades pontuais.

21. Ver Anexo I.

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A fim de adotar uma metodologia coerente com a estrutura do Programa, a equipe

interdisciplinar reduziu a área � e as suas expectativas � objeto do mapeamento, trans-

formando essa tarefa de difícil execução em algo viável, envolvente e eficiente. A partir

dessa redução e da consciência de que a cartografia social é uma atividade em perma-

nente construção, adequaram-se as etapas desse processo à capacidade estrutural, para

não gerar novas frustrações.

A definição territorial da área mapeada e de suas limitações obedeceu ao critério de

local de moradia de cada agente comunitário, o que possibilitou, inclusive, maior inserção

dos agentes em sua comunidade. Optou-se por localizar deficiências e necessidades, mas

também talentos, habilidades e recursos disponíveis. Essa estratégia possibilita que o

mapeamento sirva de espelho para a comunidade que, ao se olhar, tenha consciência de

seus problemas, mas também conheça as suas potencialidades, o que é essencial para a

construção de uma identidade comunitária.

Esse método também torna possível investigar em que medida as soluções para os

problemas comunitários já existem ali mesmo, exatamente naquela comunidade que, por

razões histórico-estruturais de exclusão social, não enxerga nenhuma solução para os

seus problemas, senão por meio do patrocínio de uma instituição externa àquele habitat.

Essa conexão entre problemas e soluções promove �um senso de responsabilidade pela

comunidade como um todo, o que cria uma espiral positiva de transformação social�.22

Para que essa conexão efetivamente aconteça, é indispensável que o processo de

mapeamento não tenha por objetivo tão-somente a confecção de um banco de dados,

repleto de informações úteis, porém sem ligação entre si. A construção permanente do

banco de dados é, sobretudo, um meio de fortalecer relações e criar novas parcerias.

Segundo Lycia e Rogério Neumann, �ao identificar os recursos locais, os moradores

passam a conhecer o potencial de sua comunidade e começam a estabelecer novas cone-

xões, ou fortalecer as já existentes, entre os indivíduos, seus grupos e as instituições

locais, assim como entre esses atores, e as causas que são importantes para o desenvol-

vimento daquela comunidade�.23

Nesse sentido, apresenta-se a seguir as informações a serem coletadas para o

mapeamento social do Programa Justiça Comunitária. Esse processo, sob essa nova

formatação, teve início em 25 de agosto de 2006.24

22. NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcellos; NEUMANN, Rogério Arns, Desenvolvimento comunitário baseado em talentose recursos locais � ABCD, cit., p. 26.

23. Ibidem, p. 23.24. Nessa data teve início o semestre letivo de 2006 da Escola de Justiça e Cidadania, oportunidade em que se apresentou

a nova metodologia de captação das informações relativas à comunidade, a fim de que os agentes comunitáriospossam contribuir de maneira mais efetiva para a confecção do mapeamento social.

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RECURSOS DISPONÍVEIS25

Associação de MoradoresEstas organizações são fundamentais por sua capilaridade e pelo potencial de pro-duzir capital social e protagonismo comunitário, ou seja, por sua capacidade demobilização em torno de interesses e valores comuns. É um contraponto à culturade dependência de apoio institucional externo. É interessante que a identificaçãodas associações inclua a informação sobre seu funcionamento (local, periodicidadede reuniões, dentre outros) bem assim as suas realizações.

Instituições em geralEntidades públicas = escolas, hospitais, postos de saúde, parques, bibliotecas, etc.;Associações e instituições = igrejas, clubes, cooperativas, centros comunitários,etc.O elenco destas instituições deve ser acompanhado de um levantamento quanto aoacervo de recursos que cada uma delas pode oferecer. Por exemplo, é importanteregistrar se uma escola pública possui � e/ou está disposta a oferecer � salas parareuniões abertas aos finais de semana, computadores, cursos de alfabetização deadultos, quadras de esportes, educadores voluntários, conselhos de pais e mes-tres, sinergia entre a escola e a comunidade, organização estudantil, etc.26

Habilidades pessoaisEm toda comunidade, é possível identificar líderes, voluntários, bordadeiras, cozi-nheiras, artistas, educadores, mediadores �natos� de conflitos, etc. Essas pessoas,entretanto, muitas vezes estão �soltas� e poderiam potencializar seus talentos sefirmassem parcerias ou simplesmente se tivessem maiores oportunidades de ex-pressar as suas habilidades. O mapeamento pode auxiliar no desencadeamentodesse processo.

DIFICULDADES

É indispensável que o formulário de informações coletadas para a confecção domapa tenha um espaço destinado ao registro dos problemas da comunidade, se-gundo a perspectiva da própria comunidade. Além disso, é interessante classificaro problema de acordo com a sua natureza: estrutural, social, pessoal27 . Essa clas-sificação, quando efetuada pelo próprio agente comunitário, em comunhão com aspessoas entrevistadas, pode provocar uma reflexão importante sobre o contextonos quais repousam os conflitos � individuais ou coletivos � daquela comunidade.Assim, problemas como desemprego, analfabetismo, ausência de saneamento, fal-ta de hospitais e escolas, violência doméstica, crianças de rua, crime organizado,gangues de jovens, alcoolismo, evasão escolar, crimes, abuso infantil, problemaspsicológicos, dentre outros, comporão um mosaico útil para impulsionar uma refle-xão coletiva acerca de suas circunstâncias.

25. NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcelos; NEUMANN, Rogério Arns, Desenvolvimento comunitário baseado em talentose recursos locais � ABCD, cit., p. 53-61.

26. Ibidem, p. 64.27. Ibidem, p. 24.

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Embora não haja um momento de conclusão do mapeamento social, eis que setrata de um processo permanente na mesma medida da dinâmica social, é fundamentalque os resultados parciais sejam objeto de partilha e debate na comunidade. Além disso,é importante que, periodicamente, sempre que possível, haja uma análise dos resultadosalcançados a partir da confecção do mapa, tais como parcerias, empreendimentos oueventos desencadeados a partir desse processo.

2.3. Animação de redes sociais

2.3.1. As redes sociais

As redes sociais são a expressão dos contornos da contemporaneidade. Para Ma-nuel Castells, �redes constituem a nova morfologia social de nossas sociedades, e a difu-são da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dosprocessos produtivos e de experiência, poder e cultura�28. O padrão de organização emrede caracteriza-se pela multiplicidade dos elementos interligados de maneira horizontal.Os elos de uma rede se comunicam voluntariamente, sob um acordo intrínseco que reve-la os traços de seu modus operandi: �o trabalho cooperativo, o respeito à autonomia decada um dos elementos, a ação coordenada, o compartilhamento de valores e objetivos,a multiliderança, a democracia e, especialmente, a desconcentração do poder.�29

Há um processo simbiótico entre participação política, exercício da autonomia esolidariedade entre os membros de uma comunidade organizada em rede. As redes per-mitem maximizar as oportunidades para a participação de todos, para o respeito à dife-rença e para a auto-ajuda em um contexto de mútua assistência. Participação traz maisoportunidade para o exercício dos direitos políticos e das responsabilidades. Para se teracesso aos recursos comunitários, o nível de atividade e de compromissos dos grupossociais aumenta e a auto-estima cresce, após a conquista de mais direitos e recursos. Háuma reciprocidade entre os vários componentes dessa cadeia �ecológica�, na medida queimplica retroalimentação.30

Castells declara que �o principal agente da mudança atual é um padrão de organi-zação e intervenção descentralizada e integrada em rede, característica dos novos movi-mentos sociais�.31

28. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Tradução de Roneide Venancio Mayer com a colaboração de Klauss BrandiniGerhardt. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. p. 497 (A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura, v. 1).

29. MARTINHO, Cássio. O projeto das redes: horizontalidade e insubordinação. Aminoácidos, Brasília, Agência de Educa-ção para o Desenvolvimento (AED), n. 2, p. 101, 2002.

30. FOLEY, Gláucia Falsarella, Justiça comunitária: por uma justiça da emancipação, cit., p. 123-127.31. �Pelo fato de que nossa visão histórica de mudança social esteve sempre condicionada a batalhões bem ordenados,

estandartes coloridos e proclamações calculadas, ficamos perdidos ao nos confrontarmos com a penetração bastantesutil de mudanças simbólicas de dimensões cada vez maiores, processadas por redes multiformes, distantes dascúpulas de poder. São nesses recônditos da sociedade, seja em redes eletrônicas alternativas seja em redes popularesde resistência comunitária, que tenho notado a presença dos embriões de uma nova sociedade, germinados noscampos da história pelo poder da identidade�. E conclui: �o caráter sutil e descentralizado das redes de mudança socialimpede-nos de perceber uma espécie de revolução silenciosa que vem sendo gestada na atualidade� (CASTELLS,Manuel. O poder da identidade. Tradução de Klauss Brandini Gerhardt. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999. p. 426-427.A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura, v. 2).

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A leitura de que as redes revelam novas formas de relações sociais também écompartilhada por Roberto Armando Ramos de Aguiar, para quem �as redes vão possibi-litando a combinação de projetos, o enfraquecimento dos controles burocráticos, adescentralização dos poderes, o compartilhamento de saberes e uma oportunidade parao cultivo de relações horizontais entre elementos autônomos�.32

Essa nova estrutura que vai se consolidando como alternativa ao sistema oficialestá associada à prática da mediação: �Como a verticalidade e as estruturas piramidaisvão sendo confrontadas pelas redes, a solução dos conflitos tende a abandonar as for-mas clássicas e judicializadas para admitir novas formas de composição de conflitos co-mo a mediação, que consiste na possibilidade de discussão mediada dos problemas parase chegar a um acordo final�33. Essas experiências permitem que a lógica da rígida es-trutura da linguagem judicial ceda lugar à retórica, à arte do convencimento, aoenvolvimento. É o que ele denomina �direito dialogal, que respeita as diferenças e radicalizaa democracia�.34

Mas, afinal, diante da centralidade do mercado e da retração estatal que marcamos tempos atuais, em que malhas sociais essas redes são construídas? Quais são osespaços possíveis para a reinvenção da emancipação?

Para Sousa Santos, as sociedades capitalistas são constituídas de seis estruturas,seis esferas de relações sociais, as quais produzem seis formas de poder, de direito e deconhecimento de senso comum. São espaços centrais para a produção e reprodução dasrelações de poder, mas são também suscetíveis de se converterem em �lugares centraisde relações emancipatórias�35 , a partir de práticas sociais transformadoras. Apesar decada esfera guardar autonomia em relação às demais, posto que apresentam dinâmicaspróprias, a ação transformadora em cada uma delas só pode ser colocada em movimentoem combinação com as demais.36

Em cada espaço dessa estrutura multifacetada, a ação transformadora destina-se aconstruir condições para que os paradigmas emergentes possam ser experimentados emoposição à reprodução dos velhos padrões de dominação. Esses espaços são os seguin-tes: a) a esfera doméstica, cujo paradigma dominante é constituído pela família patriar-cal, em contraposição à emergência da democratização do direito doméstico, baseado naautoridade partilhada, na prestação mútua de cuidados, dentre outros; b) o espaço da

32. E acrescenta: �Isso enseja uma profunda revisão tanto no momento da gênese normativa, nas formas de sua cons-trução, como também aponta para novas formas de aplicação, manutenção e controle dos que vivem no interiordessas relações, onde não há lugar para a lentidão, nem espaço para assimetrias acentuadas, nem oportunidades deacumulação de poder pelos velhos detentores da máquina burocrática. É uma outra dimensão da democracia emer-gindo� (AGUIAR, Roberto Armando Ramos de. Procurando superar o ontem: um direito para hoje e amanhã. Notíciado Direito Brasileiro, Nova série, Brasília, Universidade de Brasília, Faculdade de Direito, n. 9, p. 71, 2002).

33. Ibidem, p. 76.34. Ibidem, mesma página.35. SOUSA SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. São Paulo:

Cortez, 2000. p. 271.36. Ibidem, p. 334-342.

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produção, no qual reina o expansionismo capitalista a ser transformado em um novopadrão pautado em unidades de produção baseadas em cooperativas autogeridas; c) omercado, no qual o consumo voltado para as satisfações individualistas possa serdirecionado para as necessidades humanas, por meio do estímulo a um consumo solidá-rio; d) o espaço comunitário propriamente dito, em que a �sociedade colonial�37, repre-sentada por antigas formas de organização pautadas na exclusão das diferenças, possadar espaço à identidade múltipla, inacabada, valorizando o senso comum emancipatórioorientado para uma ação multicultural e democrática; e) a esfera da cidadania, consti-tuída pelas relações entre o Estado e a sociedade e entre os membros da sociedade;nesse espaço, o paradigma emergente é voltado à democracia radical, à realização dosdireitos humanos, transformando as relações de poder em autoridades partilhadas; f) oespaço mundial, no qual o paradigma do desenvolvimento desigual e da soberania exclu-siva seja transformado em soberania recíproca e democraticamente permeável.

Nesses espaços estruturais, a construção do paradigma emergente pressupõe umatripla transformação: do poder em autoridade partilhada; do direito despótico em direitodemocrático; e do conhecimento-regulação em conhecimento-emancipação.

Os espaços privilegiados para a formação dessas redes solidárias, na perspectivado Programa Justiça Comunitária, são três das seis esferas indicadas por Sousa Santos: oespaço doméstico, o comunitário e o da cidadania. Nesses espaços, é possível reinterpretaros conflitos, instrumentalizando-os para o exercício da autonomia, sob uma perspectivasolidária.

A autonomia é a capacidade de autodeterminação de um ser humano ou de umacoletividade. Segundo Franco, é o �poder de se administrar por si mesmo, criando asnormas � nomos, para si mesmo � auto�. Mas, conforme adverte esse autor, o exercícioda autonomia pressupõe uma relação de poder, de vez que cada um, em sua auto-suficiência, não se volta à realização da humanização. Assim, para romper com a lógicado poder, a autonomia deve se universalizar, por meio da construção de um �mundounificado por comum-humanização�.38

O conceito de autonomia com o qual opera o Programa Justiça Comunitária tem,portanto, essa dimensão da alteridade. O seu desenvolvimento ocorre nos locais em queas pessoas erigem suas vidas e enfrentam as dificuldades, em comunhão com as outras.É nessas arenas locais � doméstica, comunitária e da cidadania � que os cidadãos podemdesenvolver a capacidade de refletir, dialogar e decidir em comunhão os seus conflitos,dando ensejo à realização da autonomia política, no sentido de resgate do auto nomos eda radicalização da democracia39. Essa requer mais participação popular, menos exclusão

37. SOUSA SANTOS, Boaventura de Sousa, A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência., cit., p. 339.38. FRANCO, Augusto. Ação local: a nova política da contemporaneidade. Brasília: Agora; Instituto de Política; Fase,

1995. p. 61 e 80.39. MOUFFE, Chantal. Deliberative democracy or agonistic pluralism? Social Research, v. 66, n. 3, p. 745-758, 1999.

Disponível em: <http://vweb.hwwilsonweb.com/cgi-bin/webspirs.cgi>. Acesso em: nov. 2002.

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social e, conseqüentemente, mais justiça social. São nessas esferas que o cidadão co-mum sente que é possível intervir na vida política, exercitando a cidadania. São nessesespaços que as pessoas constroem suas relações e fazem escolhas ao longo da vida. Sãoesses os espaços em que se tece a teia da vida.40

2.3.2. As redes sociais em movimento

Conforme já assinalado, o mapeamento social permite a descoberta das vocações,talentos e potencialidades da comunidade e de seus membros. No decorrer da perma-nente sistematização e análise dos dados coletados, é importante que haja um movimen-to que conecte as iniciativas e organizações comunitárias, colocando-as em permanentecontato e diálogo.

A animação de redes sociais tem por objetivo promover capital social, cujo grau,embora não possa ser mensurado41, pode ser avaliado a partir da presença dos seguin-tes elementos na comunidade: sentimento de pertença, reciprocidade, identidade na di-ferença, cooperação, confiança mútua, elaboração de respostas locais, emergência deum projeto comum, repertório compartilhado de símbolos, ações, conceitos, rotinas, fer-ramentas, estórias e gestos, relacionamento, comunicação, realização de coisas emconjunto.

Mas, como promover esses encontros em face de uma realidade que estimula oceticismo na comunidade e até mesmo um certo grau de resignação de seus membrosem relação aos temas afetos à vida política? Conforme Neumann assevera, �nas comuni-dades de baixa renda, a alta migração de moradores, a violência, a insegurança e adesconfiança de tudo e de todos tendem a quebrar as relações sociais e a isolar aspessoas em suas casas e espaços. Não permitindo que compartilhem anseios, dúvidas emedos. Um trabalho de desenvolvimento de uma comunidade de dentro para fora devecomeçar por aproximar as pessoas e ajudá-las a construir ou fortalecer as relações econfiança mútua�.42

Nesse sentido, é fundamental que os agentes comunitários e a equipe interdisciplinarmantenham em suas agendas permanentes contatos com a comunidade, por meio dereuniões previamente organizadas.

Para preparar as reuniões, deve-se:43

� verificar se há infra-estrutura no local (se o espaço comporta o número de pes-soas, se há barulho, etc.);

40. CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. Tradução de Newton RobervalEichemberg. São Paulo: Cultrix, 1997.

41. FRANCO, Augusto de. Capital social. Brasília: Instituto de Política; Millennium, 2001. p. 62.42. NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcellos; NEUMANN, Rogério Arns, Desenvolvimento comunitário baseado em talentos

e recursos locais � ABCD, cit., p. 32.43. Ibidem, p. 30.

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� levantar as necessidades de material;

� definir o facilitador;

� elaborar a pauta da reunião a ser divulgada com antecedência;

� elaborar um acolhimento inicial;

� elaborar uma dinâmica na qual todos possam participar;44

� fechar a reunião, �amarrando� o que foi deliberado;

� confirmar eventuais tarefas assumidas individualmente ou em grupo;

� divulgar a data de uma próxima reunião.

A reunião também deve propiciar que o tema que a ensejou seja objeto de re-flexão, abordagem e troca de saberes diferenciados, incluídos o dos técnicos que even-tualmente participem e daquele produzido localmente. Também deve haver um espaçopara falar do futuro, que é sempre um norteador dos esforços comunitários.

Ao proporcionar esses encontros e promover esses diálogos, os agentes comunitá-rios agem como tecelões, contribuindo para que essa teia social se revele coesa o sufi-ciente, indicando que aquele aglomerado humano lançou-se na aventura de construir asua comunidade.

44. A experiência do Programa Justiça Comunitária revelou que, quando realizadas em pequenos grupos, as reuniõestendem a ser mais eficientes, porque propiciam um ambiente mais acolhedor e possibilitam maior conexão. Asdinâmicas envolvendo grandes grupos tendem a privilegiar somente os mais extrovertidos, o que facilita que asdecisões sejam do tipo �assembleísticas�, ou seja, prevalecem o argumento e a perspectiva daquele que levar maisaliados e, por conseqüência, tiver maior número de adesões.

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3. OS ATORES E A SELEÇÃO

3.1. Os agentes comunitários

Para que o programa de justiça a ser desenvolvido seja efetivamente comunitário,é indispensável que seus principais operadores sejam integrantes da comunidade na qualse pretende atuar, porque não haveria sentido algum se a abordagem efetivamente co-munitária de realização da justiça dependesse da atuação de técnicos sem qualquer afini-dade com a ecologia local, ou seja, a linguagem e o código de valores próprios.

O palco privilegiado da justiça comunitária é a comunidade que, embora permeadapor dificuldades sociais, agrega membros com talentos e habilidades, os quais sãopotencializados quando mobilizados por um trabalho comunitário que efetivamente tra-duza as aspirações e necessidades locais.

O fato de os agentes comunitários necessariamente pertencerem aos quadros dacomunidade na qual o Programa opera é essencial para que haja sintonia entre os anseiose as ações locais. É por meio do protagonismo dos agentes locais que a comunidadepoderá formular e realizar a sua própria transformação.

3.2. O perfil dos agentes comunitários

Os requisitos mínimos, as responsabilidades e os compromissos exigidos para omelhor desempenho dos agentes comunitários em suas atividades são os seguintes:

3.2.1. Requisitos pessoais

� idade mínima: 18 anos;

� grau de instrução mínimo: 2º grau completo (ensino médio);45

� experiência anterior: participação e/ou interesse em trabalhos sociais, voluntariado,movimentos populares;46

45. No início do Programa, era suficiente que os candidatos soubessem ler e escrever. Logo em seguida, passou-se aexigir o primeiro grau completo (ensino fundamental) para, ao final, demandar o segundo completo (ensino médio).Essa decisão resultou da constatação de que algumas habilidades essenciais para o bom desenvolvimento das atividadesinerentes às atribuições dos agentes comunitários � habilidade de comunicação, potencial cognitivo para assimilaçãodo conteúdo teórico da capacitação e discernimento para relatar os casos atendidos de forma objetiva, destacando ospontos essenciais envolvidos em cada conflito � faziam-se presentes com maior intensidade no agrupamento socialque apresentava um grau maior de escolaridade. Ressalte-se, porém, que a relevância dessas habilidades deu-se emrazão, dentre outras, do enorme desafio de construção conjunta � membros da equipe interdisciplinar e os agentescomunitários - de um modelo de mediação comunitária. Isso significa afirmar que, tão logo a prática desse novomodelo de mediação comunitária seja consolidada e parte dos agentes comunitários se convertam em capacitadoresda técnica de mediação, o Programa poderá rever o grau de exigência relativo à escolaridade mínima, de maneira aincluir, em seus quadros, um número maior de membros da comunidade.

46. Inicialmente, buscou-se selecionar lideranças comunitárias para o desempenho da função. Na primeira seleção, con-tudo, não foi possível o preenchimento de todas as vagas com esse perfil, seja pela dificuldade, à época, de localiza-ção das lideranças na comunidade, seja porque as lideranças identificadas guardavam forte vínculo político-partidário.

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� aptidões e características de personalidade: capacidade comunicativa, iniciativa,sociabilidade, autenticidade e criatividade;

� ser residente, no mínimo, por 2 (dois) anos no local onde atuará como agentecomunitário;

� primariedade criminal;

� não ter envolvimento direto com militância político-partidária.

3.2.2. Responsabilidades e compromissos

� resguardar o sigilo em relação aos casos atendidos;

� ter disponibilidade e disposição para atuar ativamente nos espaços comunitários:residências, instituições, escolas e templos religiosos, entre outros;

� ter disponibilidade e disposição para freqüentar os cursos, reuniões e capacitaçõespromovidos pela Escola de Justiça e Cidadania, às sextas-feiras, no período vespertino e,eventualmente, nos finais de semana.

3.3. As etapas da seleção

O fato de o Programa Justiça Comunitária contar com a atuação voluntária deagentes comunitários não significa prescindir de um cuidadoso processo de seleção. Aocontrário, exatamente porque a atividade é voluntária, o nível de compromisso que seespera deve ser aferido, analisando-se em que medida os propósitos do Programa guar-dam sintonia com os anseios e com o perfil do candidato a agente comunitário.

No decorrer destes seis anos de implementação do Programa Justiça Comunitária,foram realizados alguns ajustes na condução da seleção, a fim de aprimorar os procedi-mentos47. A partir da observação e avaliação permanente da atuação dos agentes comu-nitários, foi possível a elaboração de mecanismos que possibilitaram: a) melhor elabora-ção do perfil exigido para a função de agente comunitário; b) melhor definição dos proce-dimentos de recrutamento e seleção; e, c) melhor análise dos dados coletados na seleção.

O processo seletivo, conduzido pela equipe psicossocial do Programa, é realizadoem duas fases: recrutamento e seleção propriamente dita. O recrutamento é o processode captação de membros da comunidade interessados em se candidatar à atividade pro-posta. A seleção é o procedimento que facilita a identificação e escolha dos candidatos

A análise dos trabalhos desenvolvidos pela primeira turma de agentes proporcionou ao Programa uma constataçãoimportante: a condição de líder não implica necessariamente bom desempenho no papel de agente comunitário. Aocontrário, o que se verificou é que, por vezes, alguns agentes operavam de maneira assistencialista, clientelista everticalizada, o que é incompatível com o propósito do Programa, que busca exatamente estimular a autonomia dacomunidade e o diálogo em relações estabelecidas horizontalmente.

47. O histórico de todos os processos seletivos e suas modificações é mostrado no Anexo II.

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com o perfil mais adequado para o desempenho das atividades do Programa. As etapasdesse processo serão discutidas a seguir.48

3.3.1. O recrutamento

Na fase inicial do processo seletivo, é importante divulgar a descrição das atividadesgerais inerentes à função de agente comunitário, bem assim a definição dos requisitosminimamente exigidos, a fim de que a adesão do candidato ao processo de seleção sejaconsciente, ou seja, que haja adequação entre as suas expectativas e as propostas doPrograma.

3.3.1.1. Divulgação do processo seletivo

� procurar instituições diversas49, tais como escolas, associações de moradores,prefeituras comunitárias, ONGs, entre outras, que realizem eventos comunitários nosquais possa haver divulgação do Programa e da seleção;

� promover eventos para a divulgação da seleção na comunidade;

� distribuir folhetos de divulgação do Programa50 e colar cartazes nos espaços dacomunidade, com a colaboração de agentes comunitários já atuantes;

� divulgar na mídia escrita e falada somente quando necessário. O ideal é que sepossa ir pessoalmente à comunidade, para que haja um direcionamento mais apurado nabusca dos possíveis candidatos.

3.3.1.2. Cadastramento dos interessados

� cadastramento de todos os interessados a serem convidados a participar da reu-nião de esclarecimento mais detalhado dos objetivos e atividades do Programa.51

3.3.1.3. Esclarecimentos sobre o Programa

� realização de reunião de esclarecimento aos prováveis candidatos sobre a pro-posta do Programa (objetivos, atividades, requisitos, capacitação, compromisso, dedica-ção, entre outros). Essa reunião é realizada nos Centros Comunitários correspondentes acada localidade na qual o Programa opera;

48. Todo o processo de recrutamento e seleção está ilustrado, de maneira simplificada, no fluxograma do Anexo III.49. Por ocasião de um determinado processo seletivo, a equipe psicossocial remeteu cartas às organizações sociais,

solicitando a indicação de pessoas com as características desejadas. Esse mecanismo de recrutamento, porém,mostrou-se inadequado para a identificação do perfil procurado, porque muitas instituições � em especial as lideradaspor representantes de perfil tradicional � encaminhavam pessoas carentes de emprego, sem qualquer experiência emtrabalhos comunitários ou identidade com os propósitos do Programa. A equipe psicossocial e a coordenação decidi-ram, então, visitar pessoalmente as instituições comunitárias, para apresentar o Programa, divulgar a seleção eesclarecer minuciosamente o perfil exigido. Essa forma de divulgação mostrou-se mais adequada, a julgar pelonúmero de candidatos que surgiram com o perfil adequado.

50. Ver Anexo IV.51. Na verdade, o ideal é que esse cadastro seja realizado ao longo do ano, sempre que possível. Assim, havendo um

novo processo seletivo, a equipe psicossocial entra em contato com os cadastrados, para verificar se o interesse emse candidatar permanece.

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� aqueles que se identificarem com a proposta, são solicitados a fazer a inscriçãopor ocasião da reunião.

3.3.1.4. Inscrição dos interessados

� inscrição, por meio de preenchimento de formulário específico52, no qual cons-tam questões objetivas e subjetivas, formuladas a partir da análise da descrição deatividades e conseqüente avaliação técnica dos requisitos necessários ao desempenhodas mesmas.

3.3.2. A seleção

Como fase preparatória deste processo, é realizado um estudo minucioso dasatividades desempenhadas pelos agentes comunitários, com a finalidade de elaborar operfil que direcione as habilidades e aptidões que deverão ser identificadas no processoseletivo. Nesse sentido, todo o processo seletivo é voltado para a identificação dos candi-datos que ostentem as características adequadas à execução das atividades do Progra-ma, descritas a seguir.

52. Ver Anexo V.53. Ver item 10.2 e Anexo II.

Atividades inerentes à função deagente comunitário de justiça e cidadania

1. Atender, individualmente solicitantes (individuais ou coletivos) que estejam en-volvidos em um conflito.

2. Preencher formulário53

específico com os dados e a demanda dos solicitantes.

3. Refletir com a equipe interdisciplinar, instalada no Centro Comunitário de Justiçae Cidadania, sobre as possibilidades de encaminhamento do caso atendido.

4. Caso a demanda não seja adequada à mediação, e havendo interesse dossolicitantes, o agente comunitário poderá encaminhá-los aos núcleos de assis-tência judiciária gratuitos ou sugerir que procurem um advogado de sua con-fiança, para o ajuizamento da competente ação judicial.

5. Caso a demanda seja administrativa, informar às pessoas ou grupos sobre osórgãos competentes e documentos necessários para o melhor encaminhamentodo caso.

6. Se o caso ostentar vocação para a mediação, esclarecer sobre essa técnica deresolução de conflitos e estimular que todos os participantes do conflito experi-mentem essa possibilidade.

7. Mediar, em parceria, conflitos entre pessoas ou grupos interessados em solucionálos sem a intervenção do Poder Judiciário, com vistas a obter um acordo mu-tuamente aceitável.

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8. Fazer o acompanhamento contínuo do caso atendido, mesmo que já tenha havi-do a celebração formal do acordo.

9. Procurar integrar-se à comunidade, participando dos eventos comunitários e/oupromovidos por entes públicos.

10. Incentivar a construção de redes na comunidade, para a busca coletiva dassoluções mais adequadas aos problemas comuns.

11. Divulgar o Programa Justiça Comunitária na comunidade, mediante distribui-ção de panfletos, reuniões com grupos diversos, entrevistas nos meios decomunicação, apresentação de peças teatrais, dentre outros.

12. Participar dos encontros interdisciplinares semanais da Escola de Justiça eCidadania.

13. Realizar levantamento das instituições e dos movimentos sociais que operamna área de atuação correspondente a cada agente (confecção do mapeamentosocial).

14. Partilhar com a comunidade as informações coletadas na confecção domapeamento social.

15. Buscar a integração entre a comunidade e as instituições mapeadas, visando àanimação de redes sociais

16. Solicitar ajuda à equipe psicossocial, sempre que necessário, para a reflexão ecompreensão do papel desempenhado.

17. Buscar atualizar-se constantemente, por meio de leituras, debates com osdemais colegas, presença nas aulas da Escola, entre outros.

18. Executar outras tarefas, correlatas às já descritas, que possam surgir com odesenvolvimento do trabalho.

3.3.2.1. Análise dos formulários de inscrição

Esta etapa consiste na leitura crítica dos formulários preenchidos pelos candidatos,observando-se os requisitos objetivos exigidos e identificando os traços pessoais relevan-tes, que serão melhor avaliados na dinâmica de grupo e na entrevista.

3.3.2.2. Dinâmica de grupo

Este mecanismo é um processo vivencial que busca, a partir do contato grupal,promover a integração, o aprendizado e a reflexão. No contexto seletivo, é uma alterna-tiva que possibilita aprofundar o conhecimento dos candidatos, bem como observar ascaracterísticas descritas dos perfis apresentados e a desenvoltura de cada candidato emsituação de grupo.

Nesta etapa, são formados grupos compostos por, no máximo, vinte e cinco pes-soas, oportunidade em que se aplica uma dinâmica específica, a ser definida pela equipe

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psicossocial54 . A adoção da dinâmica de grupo como uma etapa da seleção favoreceu a

avaliação dos candidatos, pois as situações de vivência grupal possibilitaram melhor

visualização de características, tais como sociabilidade, criatividade e potencial de esta-

belecer relações horizontais na interação grupal.

3.3.2.3. Entrevista de seleção

A entrevista é uma técnica de seleção levada a efeito pela equipe psicossocial, que

possibilita interação mais próxima com o candidato. Por meio da entrevista, é possível

confirmar ou refutar as impressões havidas durante a dinâmica de grupo, o que possibi-

lita melhor identificação dos candidatos que se revelam mais adequados à função, a partir

de suas características pessoais, experiências profissionais e sociais, identificação com o

Programa e com trabalhos comunitários.

3.3.2.4. Referências judiciais e sociais

Trata-se de uma pesquisa desenvolvida em duas esferas: verificação no sistema

judicial quanto à primariedade criminal do(a) candidato(a) e pesquisa realizada na vizi-

nhança do(a) candidato(a), a partir dos dados por ele(a) fornecidos no formulário de

inscrição. Essa segunda etapa tem por objetivo averiguar em que medida os membros da

comunidade conhecem e respeitam o(a) candidato(a) e se há algo de natureza grave em

seu comportamento que possa comprometer a sua atuação para a promoção da paz

social.

Essa medida foi adotada após o Programa ter afastado � por problemas específicos

� um agente comunitário que foi selecionado no período em que só havia aferição de

eventual registro criminal no sistema judicial. Embora esse agente comunitário ostentas-

se, à época, primariedade criminal, era conhecido na comunidade por sua conduta social

inadequada, o que só foi possível constatar, infelizmente, após a atuação do mesmo no

Programa.

3.3.2.5. Escolha dos candidatos

Cabe à equipe psicossocial, em conjunto com a coordenação e, quando possível,

com os representantes das instituições parceiras, a escolha e conseqüente credenciamento

dos candidatos que atenderam ao perfil requerido para o desempenho das atividades de

agente comunitário de justiça e cidadania. Uma vez definido o quadro dos novos agentes,

o Programa remete aos candidatos não selecionados uma carta de agradecimento pela

participação do processo seletivo.

54. Ver Anexo VI.

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3.4. O quadro atual de agentes comunitários de justiça e cidadania

Nos dias 8 e 9 de novembro de 2005, os agentes comunitários de Taguatinga eCeilândia foram convidados a expressar a compreensão do trabalho que realizam, pormeio de uma dinâmica de grupo promovida pela equipe interdisciplinar55, cujo objetivoera o de identificar as representações do grupo, quanto ao seu papel na comunidade. Oresultado está ilustrado a seguir.

Ser agente comunitário, para os agentes de Ceilândia, é �ser transformador ecompromissado, estar capacitado a agir na comunidade de forma solidária, alegre e cria-tiva, disposto a construir a paz e ajudar a resolver conflitos, promovendo a cidadania�.

Para os agentes de Taguatinga, o agente comunitário é �pessoa que sabe cooperar,mobilizar, respeitar as diferenças, transmitindo segurança e confiança, ajudando e moti-vando as pessoas a encontrar a melhor solução para os conflitos, respeitando o seu limitee o limite do outro�.

Agentes comunitários e perfis

55. A dinâmica foi iniciada com uma busca individual em revistas e jornais de figuras representativas que pudessemcompletar a frase: �Ser agente é...�. Em seguida, foram formados pequenos grupos para compartilhar as escolhas emontar um painel com as figuras selecionadas. Finalmente, solicitou-se a construção de um único conceito do grupo,a partir de todos os painéis.

Ademar da Costa Santos, 52anos, nível superior incomple-to, Técnico de segurança dotrabalho.

Arnaldo Bezerra Maia, 45 anos,2º grau completo, Motorista.

Célia Maria Ferreira Régis Bar-bosa, 52 anos, curso superiorem Letras, dona de casa.

Deus Eli Cândida de Oliveira,45 anos, 2º grau completo,dona de casa.

Elisabeth da Silva Nakatani,35 anos, 2º grau completo,Alfabetizadora.

Eulenice Marques de Oliveira,47 anos, 2º grau completo,Promotora legal popular.

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Fernando Belchior Fontinele,30 anos, superior incompleto,Servidor público.

Francisca das Chagas FreireGomes, 35 anos, 2º grau com-pleto, dona de casa e artesã.

Francisco Amaral Medeiros, 52anos, 2º grau completo, Mili-tar aposentado.

Gardênia Moura Elvas,42 anos,2º grau completo, artesã.

Hernandes Assis de Freitas,25 anos, superior incompleto,estudante.

Hilda Teixeira Vilaça, 31 anos,2º grau completo, estudante.

Jacira dos Santos Moura, 24anos, 2º grau completo, Pro-motora legal popular.

José Roberto Monteiro Go-mes, 31 anos, 2º grau com-pleto, Body piercing.

Juciária Rios Debian Soares, 47anos, superior completo, donade casa.

Lindalva do Nascimento, 57anos, superior completo, Pro-fessora aposentada.

Luzenildes Miranda da Silva, 30anos, curso superior em Letras,Professora.

Luzia Lúcio Lopes Araújo, 50anos, 2º grau completo, donade casa.

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Maria das Dores Santos Sou-sa,43 anos, superior incomple-to, Corretora.

Maria de Lourdes Vieira Bueno,52 anos, superior completo,Professora aposentada.

Maria Suely Ribeiro, 48 anos,2º grau completo, Auxiliar téc-nica em comunicação.

Marilene Conceição Santos,38 anos, 2º grau completo,Professora.

Roberta Lins Lopes Fontinele,29 anos, superior completo,Administradora.

Rosilene Pereira dos SantosTorres, 34 anos, superior in-completo, estudante.

Sara Guimarães BernardinoBastos, 47 anos, superior in-completo, dona de casa.

Sifízia Mota Figueiredo,30 anos, superior completo,Administradora.

Silvina da Conceição A. Alves,31 anos, 2º grau completo,Manicure.

Valdeci Pereira da Silva, 48anos, 2º grau completo, Ser-vidor público.

Wilson Francisco de Almeida,38 anos, Professor de edu-cação física e estudante dedireito.

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4. AS ATIVIDADES DOS AGENTES COMUNITÁRIOS

Cada agente comunitário atua na área adjacente ao seu local de moradia, atenden-do às demandas individuais e/ou coletivas que lhe forem apresentadas diretamente peloscidadãos ou encaminhadas pelo Centro Comunitário respectivo.

A depender da natureza do conflito apresentado, várias são as possibilidades quepodem ser propostas pelos agentes comunitários aos solicitantes. O encaminhamentosugerido ao caso concreto é definido em uma reunião entre os agentes comunitários e aequipe interdisciplinar que atua no Centro Comunitário de Justiça e Cidadania. De qual-quer sorte, sempre que possível, o agente comunitário buscará estimular o diálogo entreas partes em conflito, propondo, quando adequado, o processo de mediação.

Basicamente, as atividades desempenhadas pelos agentes comunitários são asseguintes: 1) informação jurídica; 2) mediação comunitária; e 3) criação e/ou animaçãode redes sociais.

4.1. Informação jurídica

O desconhecimento dos cidadãos de seus direitos e dos instrumentos disponíveispara a sua efetivação constitui um dos obstáculos para a realização da justiça, porque alinguagem forense, cunhada no ordenamento jurídico pelos seus operadores, e ainda oformalismo e a complexidade do sistema processual dificultam o acesso ao sistema judi-cial. Nesse sentido, a democratização da informação jurídica é um dos pressupostos daigualdade entre os cidadãos, razão pela qual a sua promoção é uma das atividades de-senvolvidas pelos agentes comunitários de justiça e cidadania.

Essa frente de atuação do Programa revela uma dimensão tridimensional: preven-tiva, emancipatória e pedagógica. É que a democratização da informação jurídica, ouseja, o esclarecimento dos direitos dos cidadãos e das vias para efetivá-los contribuipara: a) prevenir futuros litígios que, por vezes, são deflagrados pela mera ausência deinformação; b) empoderar as partes em disputa, para que eventual processo de media-ção possa proporcionar um diálogo em situação de igualdade; c) reunir condições paraque o cidadão saiba buscar, na via judiciária, a satisfação dos seus direitos, quando e senecessário.

As atividades de informação jurídica do Programa têm por base o uso de recursospedagógicos criados sob a inspiração da arte popular, o que contribui para o fortalecimen-to das raízes culturais brasileiras e o resgate da identidade cultural entre os membros dacomunidade. Nesse sentido, uma das atividades dos agentes comunitários na Escola deJustiça e Cidadania é a produção de materiais didáticos, tais como cartilhas, musicais,cordéis e peças teatrais que, ao mesmo tempo em que utilizam uma linguagem acessíveldo direito, veiculam padrões culturais populares.

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4.1.1. Reflexões práticas. Informação jurídica

Inicialmente, o Programa Justiça Comunitária denominava esta atividade �orienta-ção jurídica�, a qual englobava tanto as informações de natureza preventiva, úteis nassituações pré-conflitos, quanto as informações necessárias para as situações pós-confli-tos. Nesse último caso, buscava-se capacitar os agentes comunitários para a orientaçãodos solicitantes interessados em buscar a efetivação de seus direitos perante o PoderJudiciário.

A princípio, essa atividade mostrava-se indispensável, sobretudo após a realizaçãode um levantamento qualitativo interno, que mostrou o quão inseguros os cidadãos sesentem quando estão prestes a ingressar no sistema judicial formal, seja na condição deautor, réu ou testemunha. A pesquisa revelou ainda que é freqüente o medo de se estarna presença de um juiz ou mesmo o constrangimento em receber das mãos de um oficialde justiça uma intimação ou citação judicial.

Contudo, após a análise das estatísticas56 dos atendimentos, que demonstraramexcessiva centralidade na atividade de orientação jurídica pós-conflito e, diante do baixonúmero de mediações realizadas, o Programa decidiu restringir a atividade de orientaçãopós-conflito à informação jurídica pré-conflito. A uma porque, em razão de sua especiali-dade, a tarefa de orientação jurídica exige intensa presença dos profissionais do direito(advogados, defensores públicos) na condução da atividade, o que afasta a possibilidadede protagonismo dos agentes comunitários. A duas porque, na medida que há entidadespúblicas e privadas57 constituídas para esse fim, o Programa de Justiça Comunitária podeconcentrar seus esforços em outras atividades, para as quais não há possibilidade desubstituição, otimizando assim seus recursos.

Assim, a partir de agosto de 2006, o Programa Justiça Comunitária do DistritoFederal decidiu investir no aspecto preventivo dessa atividade e orientou os agentescomunitários a incentivar os solicitantes, envolvidos em litígios já instaurados, a buscar aefetivação de seus direitos perante o Poder Judiciário, recorrendo para tanto à assistênciajudicial prestada pelas universidades, pela Defensoria Pública ou por advogados da con-fiança dos solicitantes.

4.2. Mediação comunitária

O conflito não pode mais ser visto como algo necessariamente negativo. Posto queinerente à vida, o conflito é o resultado natural das diferenças entre os seres humanos.Assim, uma nova concepção de justiça deve atribuir sentido positivo aos conflitos, visan-do superá-los de forma criativa e, quando possível, solidária.

56. Ver item 9.1.57. Além da Defensoria Pública, a população economicamente vulnerável do Distrito Federal conta com a assistência

jurídica oferecida pelos núcleos de prática jurídica de algumas Faculdades de Direito públicas e privadas. As informa-ções relativas a esses serviços estão sistematizadas no �Guia de Encaminhamentos�, que integra este trabalho.

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O processo judicial, como ferramenta para a resolução de conflitos, exalta o contra-ditório, divide dialeticamente o certo do errado, atribui culpa e identifica, ao final, ganha-dores e perdedores. Mesmo quando o processo judicial celebra a conciliação e formaliza acomposição judicial, o acordo nem sempre se mostra eficaz no que diz respeito ao sensode justiça que cada parte leva ao processo porque, muitas vezes, dados os riscos dasucumbência, a adesão ao consenso é movida por uma razão meramente instrumental.

Nesse sentido, há que se construir, por meio da razão dialógica, um consenso sobrea justeza da solução que ajude a edificar a ética da alteridade. Os protagonistas doconflito, quando interagem em um ambiente favorável, podem tecer uma solução maissensata, justa e fundamentada em bases satisfatórias, tanto em termos valorativos quantomateriais.

Uma ferramenta eficiente para essa nova abordagem é a mediação. Com precisãoe simplicidade, Littlejohn conceitua mediação como um �método no qual uma terceiraparte imparcial facilita um processo pelo qual os disputantes podem gerar suas própriassoluções para o conflito�.58

Qualquer que seja a técnica de mediação a ser aplicada, os elementos essenciaisque a caracterizam são os mesmos: a) o processo é voluntário; b) o mediador é terceiraparte desinteressada no conflito; c) o mediador não tem poder de decisão; d) a solução éconstruída pelas partes em conflito.

Quando operada em base comunitária, a mediação ganha especial relevo, na me-dida que os mediadores são membros da própria comunidade. Nesse sentido, emboraimparciais em relação aos interesses dos participantes, integram a ecologia local, oque os tornam aptos a identificar quais são os valores relevantes para a construção dasolução.

Além disso, a dinâmica da mediação comunitária fortalece os laços sociais, na me-dida que opera para e na própria comunidade, convertendo o conflito em oportunidade detecer uma nova teia social. Na mediação efetivamente comunitária, a própria comunidadeproduz e utiliza o conhecimento local para a construção da solução do problema que aafeta. Em outras palavras, a comunidade abre um canal para �dar respostas comunitáriasaos problemas comunitários�.

Para tanto, a confecção do mapeamento social59 é fundamental para que os agen-tes comunitários possam sugerir eventual encaminhamento dos participantes da media-ção comunitária à rede social60, após a compreensão do contexto em que se situa oconflito. Assim, ao mesmo tempo em que se opera com uma abordagem voltada para ofuturo, buscando evitar que aquele problema se perpetue, esse enfoque de mediaçãopossibilita a reflexão sobre as circunstâncias em que repousam os conflitos.

58. LITTLEJOHN, Stephen W. Book reviews: The promise of mediation: responding to conflict through empowerment andrecognition by Roberto A. B. Bush and Joseph P. Folger. International Journal of Conflict, p. 103, jan. 1995.

59. Ver item 2.2.60. Ver �Guia de Encaminhamentos�, que integra este trabalho.

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Nesse sentido, ainda que não haja acordo, a mediação não será considerada neces-sariamente falha, porque o objetivo é o aperfeiçoamento da comunicação e da participa-ção da comunidade na criação e/ou animação de redes sociais. A idéia subjacente é a deque a participação nas mediações comunitárias empodera os protagonistas do conflito eproporciona meios para administrá-lo pacificamente.

Quanto a esse aspecto, adota-se aqui o modelo transformativo de Bush e Folger61,segundo o qual �a mediação é exitosa (1) se as partes se conscientizarem das oportuni-dades de empoderamento62 e reconhecimento apresentadas durante o processo; (2) seas partes foram ajudadas a clarificar suas metas, opções e recursos para fazer escolhaslivres; (3) se as partes foram estimuladas ao reconhecimento em qualquer direção que adecisão tenha sido tomada�.

4.2.1. Reflexões práticas. Mediação comunitária

Atualmente, diante da diversidade de abordagens e técnicas de mediação, é neces-sário que a seleção do profissional ou escola que irá capacitar os mediadores de umprograma de justiça comunitária seja cuidadosa, a fim de que o treinamento seja ade-quado à realidade da comunidade onde o programa atua e respeite o perfil dos agentescomunitários. Nesse sentido, é preciso verificar se os materiais didáticos e os professoresutilizam uma linguagem apropriada para esse público específico.63

Além do cuidado na seleção da escola de capacitação em técnicas em mediação, éfundamental que se defina o tipo de conflito que o programa pretende preferencialmenteatender. É bem verdade que a comunidade tem a sua própria demanda, e se o que sepretende, em última instância, é estimular a autonomia da comunidade, não haveriamuito sentido em se escolher a priori as demandas que serão atendidas. Contudo, arealidade comunitária é tão múltipla e as necessidades são tão extensas que uma defini-ção prévia da natureza da demanda a ser preferencialmente atendida pode trazer bene-fícios ao programa e à capacitação dos agentes comunitários. Assim, se a escolha priorizaro atendimento aos conflitos familiares, por exemplo, será fundamental que a capacitaçãoem mediação seja realizada por profissionais especialistas nessa área.

No caso do Programa Justiça Comunitária do Distrito Federal, as estatísticas64 re-velam que as mediações familiares ganharam excessiva centralidade, desde o início doPrograma até agosto de 2006, quando então alterações estruturais foram levadas a efei-to, com o intuito de imprimir um caráter mais comunitário e menos interpessoal aosconflitos preferencialmente atendidos pelo Programa.

61. BUSH, Robert A. Baruch; FOLGER, Joseph P. The promise of mediation: responding to conflict through empowermentand recognition. San Francisco, CA: Jossey-Bass, 1994. p. 81.

62. Do inglês empowerment. Trata-se de um anglicismo, uma vez que essa palavra não integra a língua portuguesa. �Oprocesso de empoderamento reúne atitudes individuais (auto-estima, auto-eficácia) e habilidades (conhecimento,aptidões e consciência política) para capacitar ações individuais e colaborativas (participação política e social), a fimde atingir metas pessoais e coletivas (direitos políticos, responsabilidades e recursos)� (SCHWERIN, Edward W.Mediation, citizen empowerment and transformational politics. London; Westport, Connecticut: Prager, 1995. p. 81).

63. Os quesitos para a aferição da adequação da abordagem dos cursos de capacitação em mediação às particularidadesdo Programa estão expostos no item 7.3.2.

64. Ver item 9.1.

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Muito embora as mediações familiares, quando realizadas com técnicas adequa-das, proporcionem todos os benefícios da mediação � reflexão sobre as circunstânciasque envolvem o conflito; compreensão da perspectiva do outro participante no conflito;diálogo solidário a respeito da divergência de interesses; empoderamento e emancipaçãodas partes; resgate de laços afetivos; e respeito entre os participantes �, o ProgramaJustiça Comunitária optou por desenvolver técnicas de mediação que também fossemadequadas a lidar com conflitos de maior impacto social, não se limitando, portanto, aosconflitos familiares.65

Assim, durante a realização dos cursos de formação em diferentes técnicas demediação66, o Programa Justiça Comunitária iniciou um movimento de construção e con-solidação de uma metodologia de mediação adequada aos conflitos efetivamente comuni-tários. Esse processo resultou na elaboração de um fluxograma67, de um formulário68 e deum roteiro69 que contêm o passo-a-passo da mediação e os princípios que norteiam aconduta ética do mediador.70

Uma das medidas adotadas foi introduzir a possibilidade de os participantesdiretamente envolvidos no conflito convidarem, mediante mútua anuência, terceiros �membros da rede pessoal e social das partes � para atuarem como suportes das partesdo conflito e como colaboradores na construção de uma solução pacífica voltada para ofuturo. Essa é uma técnica simples, mas com vocação para atuar sistemicamente, eis queproporciona maior envolvimento e conseqüente compromisso entre todos aqueles quedireta ou indiretamente são afetados pelo conflito.

Sem prejuízo da consolidação dessa nova metodologia que favorece a mediação deconflitos com maior impacto social, o Programa manteve o atendimento às mediaçõesfamiliares, seja pela relevância social dessa demanda, seja porque o fato de a mediaçãoser familiar não descaracteriza necessariamente a sua natureza comunitária. É verdadeque a técnica de mediação para esses casos requer menor participação da comunidade �em razão da matéria envolver questões de foro íntimo � e maior atuação da equipeinterdisciplinar, eis que, por vezes, o caso é delicado do ponto de vista psicossocial oujuridicamente complexo, por envolver, por exemplo, interesse de criança. Contudo, por

65. Isso não significa afirmar que os conflitos familiares não tenham impacto social. O que se buscou foi a ampliação dasdemandas para além da seara familiar.

66. Os cursos de capacitação em mediação realizados no decorrer dos seis anos de execução do Programa JustiçaComunitária foram os seguintes: Workshop de Mediação (prof. Luis Alberto Warat), novembro de 2000; Curso deFormação em Mediação e Negociação para Agentes Comunitários de Justiça e Cidadania (profs. Luis Alberto Warat eLígia Maria Dornelles), agosto, setembro e outubro de 2001; Curso de Mediação Comunitária para os Agentes Comu-nitários de Justiça e Cidadania de Taguatinga (prof. André Gomma de Azevedo), setembro e outubro de 2002; CursoModelo Zwelethemba (prof. John Cartwright), outubro de 2005; e Curso de Mediação Técnico-comunitária (profas.Célia Regina Zapparolli, Reginandrea Gomes Vicente, Lilian Godau dos Anjos Pereira Biasoto e Glaucia Vidal), outubrode 2006.

67. Ver Anexo VII.68. A consolidação desse formulário, que se encontra no Anexo VIII, foi resultado de um trabalho conjunto dos agentes

comunitários, da equipe interdisciplinar do Programa Justiça Comunitária e da equipe docente do Curso de MediaçãoTécnico-comunitária, professoras Célia Regina Zapparolli, Glaucia Vidal, Reginandréa Gomes Vicente e Lílian Godaudos Anjos Pereira Biasoto, realizado em Brasília, entre os dias 6 e 15 de outubro de 2006.

69. Ver Anexo IX.70. Um dos aspectos que envolvem a ética do mediador é a confidencialidade, cujo termo a ser assinado pelas partes, no

início da sessão de mediação, encontra-se no Anexo X.

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todas as razões já expostas, a emancipação e o empoderamento que se pretende com aaplicação das técnicas de mediação também são importantes, quando desenvolvidas naesfera doméstica, no seio familiar.

4.3. Formação e/ou animação de redes sociais

O desenvolvimento local, quando integrado e sustentável, possibilita a emergênciade comunidades capazes de identificar e mobilizar recursos locais, além de conhecer suasvocações e reais capacidades. O agente comunitário, como articulador de uma rede decidadania, identifica � em comunhão com os representantes dos movimentos sociais jáinstituídos � as carências comunitárias que possam ser transformadas em oportunidadesde mobilização social e promoção de mediações de natureza coletiva. Esse processo con-tribui para restituir à comunidade a capacidade da autodeterminação, diante de seusconflitos.

A diversidade inerente a qualquer espaço comunitário, quando fragmentada, podese transformar em atrito social. Um dos papéis do agente comunitário é, pois, ter umpapel ativo na restituição do tecido social, criando e/ou valorizando uma teia de relaçõesque integrem diversas iniciativas e que promovam desenvolvimento local multifacetado.

É interessante observar, porém, que esse processo não é unilateral. Enquanto agena qualidade de �tecelão� desta trama social, o agente comunitário é envolvido em umemaranhado de transformações em sua esfera subjetiva e relacional. É na alteridade, nasrelações concretas advindas de sua atuação transformadora, na reflexão coletiva dosproblemas comunitários, nas discussões sobre os direitos humanos e sobre o respeito àsdiferenças, nas reflexões sobre subjetividades, dentre outros, que o agente comunitáriopode experimentar a exata dimensão da construção da democracia, da solidariedade e dapaz.

Para tanto, a equipe interdisciplinar do Programa, juntamente com os agentes co-munitários respectivos de cada região, organizam reuniões freqüentes na comunidade,com o objetivo de: a) reforçar os vínculos entre os agentes e a comunidade; b) conhecera rede de serviços disponível e de movimentos sociais; c) mapear os problemas comu-nitários; d) captar demandas para a mediação comunitária; e) identificar e estabelecerdiálogo com as lideranças locais; f) conhecer os espaços físicos passíveis de realizaçãodas sessões de mediação; g) divulgar os objetivos e o funcionamento do Programa;h) avaliar permanentemente o impacto da atuação do Programa.

Por meio do desenvolvimento da atividade voltada à formação e/ou animação deredes sociais, o Programa Justiça Comunitária reforça a sua aposta na realização dajustiça por meio da ação cidadã que se desenvolve à medida que esses novos atoressociais, tecelões dessa rede de iniciativas solidárias, multiplicam, na diversidade, asatividades voltadas ao bem-estar comunitário.

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4.3.1. Reflexões práticas. Formação e/ou animação de redes sociais

Há duas espécies de rede que podem ser desenvolvidas nesta atividade. A redesocial e a rede local.

A rede social é aquela composta de inúmeras entidades � públicas e privadas �prestadoras de serviços, associações de moradores, movimentos sociais, organizaçõesreligiosas, dentre outras. Para que se tenha conhecimento desses módulos organizacionais,o Programa deve confeccionar o mapeamento social71. Conforme já foi destacado, nãobasta localizar as inúmeras iniciativas comunitárias e colocá-las sobre um mapa visívelpara todos os membros do Programa. Para que a rede funcione como um elementointegrador da diversidade72, o Programa deve colocá-la em movimento, o que significaproporcionar encontros, diálogos, trocas de informações e partilha de experiências entretodos os seus componentes. Somente assim a rede se potencializa, possibilitando que asorganizações que a compõem multipliquem suas iniciativas, por meio do fluxo de infor-mações e encaminhamentos recíprocos.

A rede social é uma referência fundamental para os agentes comunitários, quandonecessário o encaminhamento do solicitante a um serviço não atendido pelo Programa,ou mesmo quando frustrada a tentativa de mediação.

Além disso, quando há uma estreita relação entre o Programa de Justiça Comunitá-ria e a rede social, a Escola de Justiça e Cidadania73 pode contribuir para a dinamizaçãoda rede, oferecendo aos seus integrantes cursos de técnicas em mediação, para que cadaqual, em sua atuação social, possa adotar técnicas que valorizem o diálogo e a autonomiana gestão dos conflitos.

A rede local, por sua vez, é aquela que se forma a partir de um conflito específico.Uma das primeiras providências do agente comunitário, quando solicitada a sua ajuda, éanalisar se aquele problema aparentemente individual oferece potencial coletivo. Ou seja,é preciso investigar em que medida aquele conflito não é resultado de um problemasubjacente a outros membros da comunidade. Se afirmativo, é fundamental que todos osafetados pela questão sejam mobilizados, para que se busque uma solução definitiva,mas construída por e para todos. Trata-se de uma medida simples, com enorme potencialde criação de solidariedade, a partir do conflito.

71. Ver item 2.2.72. CURTY, Ana Luisa. A ética nos dá o sentido. In: ÁVILA, Célia M. (Coord.). Gestão de projetos sociais. 2. ed. São Paulo:

AAPCS, 2000, p. 52.73. Ver Capítulo 7.

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5. A EQUIPE INTERDISCIPLINAR

5.1. O papel da interdisciplinaridade

A abordagem interdisciplinar é uma alternativa à fragmentação do saber, inerente àepistemologia positivista. Trata-se de uma ferramenta apropriada para a construção deum conhecimento integrado que rompa com as fronteiras e o hermetismo das disciplinas.

O diálogo entre as diversas áreas do conhecimento proporcionado pelainterdisciplinaridade, contudo, não resulta de uma mera justaposição de conteúdos, masde uma atitude que implica reciprocidade, compromisso mútuo e integração entre dife-rentes perspectivas acerca de um mesmo objeto.74

Adotar uma postura interdisciplinar, porém, não implica desqualificar a especificidadede cada área do conhecimento. Ao contrário, segundo Gadotti, deve haver uma �frag-mentação necessária no diálogo inteligente com o mundo e cuja gênese encontra-se naevolução histórica do desenvolvimento do conhecimento. Nesta visão de interdiscipli-naridade, ao se respeitar os fragmentos de saberes, procura-se estabelecer e compreen-der a relação entre uma totalização em construção a ser perseguida e continuadamente aser ampliada pela dinâmica de busca de novas partes e novas relações�.75

No campo do trabalho social, a interdisciplinaridade ganha especial relevo porquepromove a articulação das diversas áreas da ciência com a vivência e o saber comunitá-rios; dois pólos do conhecimento que raramente se comunicam. Nesse sentido, o movi-mento em direção a essa unidade compartilhada do saber pressupõe a colaboração inte-grada e permanente de diferentes atores unidos por um propósito social comum. Emrazão da adoção desse enfoque, o Programa Justiça Comunitária conta com uma equipeinterdisciplinar para o permanente diálogo com os agentes comunitários, conforme severifica a seguir.

5.2. A equipe interdisciplinar do Programa Justiça Comunitária

A execução do Programa conta com a participação de uma equipe interdisciplinarque dá suporte técnico e administrativo às atividades desempenhadas pelos agentescomunitários e é composta de servidores e estagiários do Tribunal de Justiça do DistritoFederal e dos Territórios, das seguintes áreas do conhecimento: Direito, Serviço Social,Psicologia e Dramaturgia, além da equipe administrativa.

74. É essa abordagem integrativa que atribuímos à proposta interdisciplinar do Programa Justiça Comunitária, embora,para alguns autores, esse enfoque não configure a interdisciplinaridade, mas a transversalidade, conceituada como o�trânsito entre os vários saberes que gera um tipo de conhecimento em rede que permite tratar a realidade comomúltipla, como uma espécie de síntese interdisciplinar�(MUSZKAT, Malvina Ester. Guia prático de mediação de confli-tos em famílias e organizações. São Paulo: Summus, 2005. p. 13).

75. GADOTTI, Moacir. Interdisciplinaridade: atitude e método. Disponível em: <http://www.paulofreire.org/Moacir_Gadotti/Artigos/Portugues/Filosofia_da_Educacao/Interdisci_Atitude_Metodo_1999.pdf>. Acesso em: 3 nov. 2006.

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Em reuniões periódicas efetuadas nos Centros Comunitários de Justiça e Cidada-nia, esse corpo técnico examina as demandas trazidas pelos agentes comunitários, sobdiferentes perspectivas profissionais. Essa análise, somada à experiência e o conheci-mento local dos agentes comunitários, propicia que a abordagem do conflito, construídasob a ótica de diversos saberes, indique possibilidades múltiplas para o encaminhamentodas demandas levadas ao Programa.

A técnica desenvolvida nessa reunião busca superar a fragmentação das discipli-nas e dos pontos de vista, valorizando as convergências. É essa abordagem holística dotema relacionado à demanda que pode propiciar uma relação epistemológica entre asdisciplinas.76

Essa reunião, que se articula para a análise de casos concretos, possibilita aindaconstatar a adequação ou não da demanda para a mediação e quais os encaminhamentospossíveis para a rede social, quando for o caso. Nesse sentido, além de assegurar que osaber local participe desse diálogo, a presença do agente comunitário é fundamental paraa sua permanente capacitação em informação jurídica, mediação comunitária e animaçãode redes sociais.

5.3. Apresentando a equipe interdisciplinar

76. MUSZKAT, Malvina Ester, Guia prático de mediação de conflitos em famílias e organizações, cit.

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Coordenação

Gláucia Falsarella FoleyCoordenadora � Graduada em Direito pela PUC-SP e Mestre em Direito pela Universidadede Brasília. É juíza titular do 3º Juizado de Competência Geral de Samambaia, Coordena-dora do Programa Justiça Comunitária e Central de Atendimento ao Idoso do TJDF.

Secretária Executiva

Vera Lúcia Soares Secretária executiva � Bacharel em Ciências Econômicas pela Associação de Ensino Unifi-cado do Distrito Federal (AEUDF).

Núcleo de Apoio Psicossocial

Vânia Sibylla PiresAssistente Social � Bacharel emServiço Social pela Universida-de do Estado do Rio de Janeiro,Pós-graduada em Socionomia ePsicodrama (Federação Brasilei-ra de Psicodrama), Pós Gradua-da em Políticas Sociais (UERJ).

Tatianna Cristina Rodrigues deSouzaPsicóloga � Graduada em Psico-logia pelo Centro Universitáriode Brasília (UNICEUB)

Beatriz Medeiros MartinsPsicóloga � Graduada em Psi-cologia pelo Centro Universitá-rio de Brasília (UNICEUB) e Mes-tre pela Universidade de Brasí-lia, com especialização emPsicoterapia Somática pelo Ins-tituto Internacional de Biossín-tese de Heiden, Suíça.

Núcleo de Apoio JurídicoAmanda Regis Martins Rodri-gues MoreiraOrientadora jurídica em Tagua-tinga � Bacharel em Direito pelaUniversidade Católica de Brasí-lia, com especialização em Di-reito Civil.

Fernanda da Silva Teixeira deAquinoOrientadora jurídica em Cei-lândia � Bacharel em Direitopelo Centro de Ensino Superiorde Brasília (CESUBRA).

Mirian Bruno da CostaOrientadora jurídica em Tagua-tinga � Bacharel em Direito pe-las Faculdades Integradas doPlanalto Centrai (FIPLAC).

Benílson da Costa AtaídeOrientador jurídico em Ceilân-dia � Bacharel em Direito pe-la Associação de Ensino Unifica-do do Distrito Federal (AEUDF),com especialização em DireitoPúblico.

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Núcleo de Dramaturgia e Produção de Material Didático

Laci Augusto da SilvaTécnico judiciário � Cursos de Aprofundamento na Linguagem Teatral e Formação de Per-sonagem pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal.Responsável pela produção de peças teatrais com os agentes comunitários e produção dematerial didático.

Núcleo de Apoio Administrativo

Adélia Nunes FernandesSecretária administrativa � Taguatinga � Estudante de Direito na Universidade Católica deBrasília.

Estagiárias

Ana Flávia Silva Marques deMenezesEstagiária de Serviço Social.

Daniela de Souza PonteEstagiária de Direito.

Roberta Janaína de AlencarCorreiaEstagiária de Psicologia.

Thaís Costa PereiraEstagiária de Psicologia.

Danielle Cristina dos SantosEstagiária de nível médio.

Ismar Gonçalves PereiraMotorista.

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6. OS CENTROS COMUNITÁRIOS DE JUSTIÇA E CIDADANIA

6.1. A finalidade

O locus de atuação dos agentes comunitários é a comunidade e seus inúmerosespaços públicos � não necessariamente estatais � e privados que podem acolher asatividades desempenhadas pelos agentes comunitários, sejam elas as sessões de media-ção, sejam as reuniões na comunidade.

Contudo, é importante que haja um local que possa dar suporte ao agente comuni-tário em algumas situações: a) para a análise interdisciplinar da demanda e decisãoquanto aos encaminhamentos possíveis; b) para as situações em que as partes envolvi-das no conflito não aceitam submeter-se à sessão de mediação em nenhum dos locais dacomunidade propostos pelo mediador; c) para as situações em que os próprios mediado-res sentem-se inseguros para realizar a mediação, em local distinto daquele onde seencontra a equipe interdisciplinar.

Além disso, para que o Programa possa ser avaliado e reciclado permanentemente,é necessário que seja providenciado o registro da natureza e quantidade das demandas,dos respectivos encaminhamentos e finalizações, do perfil dos solicitantes, do grau desatisfação em relação ao atendimento, da atuação e eventuais dificuldades de cada agen-te comunitário, dentre outros.

Essa estrutura organizacional mínima conta com uma equipe administrativa quetambém se instala em um local físico que reúna todas as informações relevantes para osagentes comunitários e para o Programa: é o Centro Comunitário de Justiça e Cidadania.

Por fim, um Centro, como o nome já indica, é um espaço de convergência paraque os agentes comunitários possam se encontrar, partilhar experiências, além deconfraternizar.

6.2. A estrutura física

O Programa Justiça Comunitária do Distrito Federal possui um Centro Comunitáriode Justiça em cada cidade satélite na qual opera. O de Taguatinga reflete o padrão idealde um Centro Comunitário, por se tratar de um espaço cujas instalações se assemelhama uma casa, o que propicia um ambiente familiar, favorável ao diálogo. Muito embora aconstrução esteja localizada no mesmo terreno do Fórum de Taguatinga, a distância en-tre os dois prédios e a plantação de árvores ao redor da casa conferiram um ambientemenos �forense� e �mais comunitário� ao Centro.

O Centro Comunitário de Ceilândia, por sua vez, está instalado no interior do prédiodo Fórum, o que dificulta a criação de um ambiente favorável ao diálogo entre os mem-bros da comunidade, em busca de �respostas comunitárias aos problemas comunitários�.Além disso, quando convidadas a participar de uma sessão de mediação, as partespodem sentir um certo desconforto, quando não desconfiança, de dialogar em uma am-biente que, em última instância, poderá ser o cenário de seus julgamentos.

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A fim de superar essa dificuldade em Ceilândia, o Programa, que mantém parceriacom a Universidade de Brasília, buscará utilizar o espaço oferecido pelo Núcleo de PráticaJurídica da UnB para as sessões de mediação comunitária, o que proporcionará benefíciosao Programa e aos alunos que atuam como estagiários naquele Núcleo, que terão aoportunidade de partilhar uma experiência que não se aprende na faculdade.

O Centro Comunitário padrão deve contar com uma sala para o atendimento aopúblico, algumas salas de trabalho para as equipes interdisciplinares e, ainda, salas paraas sessões de mediação, com mesas redondas e isolamento acústico. No caso do Centrode Taguatinga, foi possível a instalação de um espaço para a organização e o desenvolvi-mento das atividades teatrais, conforme se verifica nas ilustrações a seguir.

Centro Comunitário - Núcleo de Dramaturgia

Centro Comunitário - Núcleo Psicossocial

Centro Comunitário - Núcleo Jurídico

Centro Comunitário - Secretaria Administrativa

Escola de Justiça e CidadaniaCurso de Mediação 2

Escola de Justiça e CidadaniaCurso de Mediação

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6.3. Materiais e equipamentos do Centro Comunitário77

77. É oportuno ressaltar que essa é a estrutura que dispõe o Programa Justiça Comunitária, em razão do apoio institu-cional que recebe, seja do próprio Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, seja dos parceiros institucionais.Isso não significa, porém, que a ausência de tais recursos inviabilize a implementação de programas de justiçacomunitária.

Centro Comunitário de Justiça e Cidadania

Material permanente � secretaria/recepção1 mesa para a secretaria3 cadeiras giratórias1 armário de aço de 2 portas1 mesa para o microcomputador1 mesa para o telefone2 sofás1 bebedouro1 quadro de avisos

Material permanente - sala de mediação1 mesa redonda8 cadeiras giratórias

Material permanente - sala do núcleo jurídico1 mesa3 cadeiras giratórias1 armário de 2 portas1 mesa para o microcomputador

Material permanente - sala do núcleo psicossocial1 mesa redonda6 cadeiras giratórias1 armário1 mesa para o microcomputador1 armário de pastas suspensas1 quadro de avisos

Material eletro-eletrônico1 impressora laser3 computadores1 scanner

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7. A ESCOLA DE JUSTIÇA E CIDADANIA

�Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta so-zinho: os homens se libertam em comunhão�.78

A Escola de Justiça e Cidadania do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dosTerritórios integra o Programa Justiça Comunitária e está fisicamente instalada no CentroComunitário de Taguatinga79. Suas atividades pedagógicas centrais são desenvolvidastodas as sextas-feiras, no período vespertino.

Sem prejuízo do suporte que a equipe interdisciplinar oferece aos agentes comuni-tários, em qualquer dia da semana, nos respectivos Centros Comunitários, esse encontrosemanal de todos os agentes com a equipe do Programa é indispensável para o aprendi-zado coletivo, que se extrai da partilha das dificuldades e soluções encontradas no decor-rer da atuação concreta de cada agente comunitário. Nesse sentido, o funcionamento daEscola é permanente, na mesma medida que as atividades desempenhadas pelos agen-tes comunitários têm natureza contínua.

A seguir, serão apresentados os princípios norteadores, os objetivos e as atividadese materiais já desenvolvidos pelo Programa, bem assim aqueles que, embora ainda nãotenham se materializado, integram o planejamento para o próximo período.80

7.1. Pressupostos epistemológicos

A Escola tem por pressuposto epistemológico a construção do conhecimento a par-tir da leitura crítica da realidade. O processo de aprendizado não constitui mera transfe-rência mecânica de conhecimento. Cada aluno, antes de tudo, é um cidadão que conheceo mundo, independentemente do grau de escolaridade que ostenta e, nessa qualidade,dispõe de um conteúdo mínimo para a reflexão sobre os temas relativos à cidadania.Assim, a programação da Escola não se pauta na transmissão de conceitos específicossem qualquer pertinência com o saber e com a realidade social de seus alunos.

Se o processo de aprendizado é um ato de conhecer criticamente o contexto socialem que se vive, a construção do conteúdo do curso deve levar em consideração o conhe-cimento do agente comunitário inserido nesse �universo vocabular�81 . A partir da identi-ficação desse conhecimento, a Escola busca recriar, reelaborar e conferir novos significa-dos aos temas ligados à cidadania que integram o objeto do aprendizado.

Esse processo ostenta uma dimensão política, eis que direcionado para o desenvol-vimento de uma consciência crítica da realidade, não se limitando a operar somente na

78. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1987.79. Ver Capítulo 6.80. Esse planejamento se refere ao período de agosto de 2006 a julho de 2007.81. FEITOSA, Sonia Couto Souza. Método Paulo Freire. Parte da dissertação de mestrado defendida na FE-USP (1999)

intitulada Método Paulo Freire: princípios e práticas de uma concepção popular de educação. Disponível em: <http://www.paulofreire.org/Biblioteca/metodo.htm>. Acesso em 3 nov. 2006.

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esfera cognitiva. Além disso, ao refletir sobre o seu papel na sociedade e na história, oaluno é desafiado a pensar caminhos para a transformação da realidade. A leitura críticada dinâmica social, denunciando a realidade, permite a projeção utópica de uma outrarealidade que impulsiona a ação transformadora.82

A abordagem política da Escola é essencial para a desejada (re)apropriação dagestão dos problemas comunitários pelos próprios membros da comunidade. E essa re-flexão se faz a partir da realidade vivenciada, e não de fórmulas institucionais previa-mente elaboradas a partir do saber técnico. É o que afirma Edgar Morin: �(...) a reduçãodo político ao técnico e ao econômico, a redução do econômico ao crescimento, a per-da dos referenciais e dos horizontes, tudo isso conduz ao enfraquecimento do civismo,à fuga e ao refúgio na vida privada, a alternância entre apatia e revolta violenta e, as-sim, a despeito da permanência das instituições democráticas, a vida democrática seenfraquece.�83

Os princípios, pois, com os quais a Escola opera, revelam o compromisso da desco-berta de novas dimensões e possibilidades da realidade, com vistas à sua transformação.

Além da política, o processo de educação pode desenvolver uma dimensão humanista,quando se constitui em meio de comunicação e compreensão entre seres humanos. Paratanto, a Escola buscará, no próximo período, reforçar a dimensão das relações humanas,abrindo canais de permanente interlocução com a comunidade. Assim, serão desenvolvi-das �atividades abertas�84 , para que os temas desenvolvidos nas aulas da Escola sejamlevados à discussão na comunidade, para melhor compreensão dos indivíduos � o respei-to às suas identidades e diversidades � que compõem aquele grupo social.

Não basta que a comunidade e seus membros sejam objeto de discussão em salade aula. A alteridade pressupõe um conhecimento entre pessoas que se comunicam, queinteragem. Conforme afirma Morin, �(...) a compreensão humana vai além da explicação.A explicação é bastante para a compreensão intelectual e objetiva das coisas anônimasou materiais. É insuficiente para a compreensão humana. Esta comporta um conheci-mento de sujeito a sujeito�.85

Ao pressupor que o processo de aprendizado deva ser múltiplo, eis que resulta doencontro de diferentes interpretações da realidade, a Escola de Justiça e Cidadania pre-tende contribuir para a construção de uma �ecologia de saberes�, conforme expressãotalhada por Sousa Santos86 . Segundo o autor, �(...) a lógica da monocultura do saber e do

82. GADOTTI, Moacir. Paulo Freire: a prática à altura do sonho. Disponível em: <http://www.paulofreire.org/Paulo_Freire/Vida_e_Obra/gadotti_pf.htm>. Acesso em: 3 nov. 2006.

83. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e JeanneSawaya; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2000. p. 112.

84. Ver item 7.5.85. MORIN, Edgar, Os sete saberes necessários à educação do futuro, cit., p. 94-95.86. SOUSA SANTOS, Boaventura de. Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. In: SOUSA

SANTOS, Boaventura de (Org.). Conhecimento prudente para uma vida decente: �um discurso sobre as ciências�revisitado. São Paulo: Cortez, 2004. p. 790.

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rigor científicos tem que ser questionada pela identificação de outros saberes e de outroscritérios de rigor que operam credivelmente em contextos e práticas sociais declaradosnão-existentes pela razão metonímica. Essa credibilidade contextual deve ser considera-da suficiente para que o saber em causa tenha legitimidade para participar de debatesepistemológicos com outros saberes, nomeadamente com o saber científico. A idéia cen-tral da sociologia das ausências neste domínio é que não há ignorância em geral nemsaber em geral. Toda ignorância é ignorante de um certo saber e todo saber é a supera-ção de uma ignorância particular. Deste princípio de incompletude de todos os saberesdecorre a possibilidade de diálogo e de disputa epistemológica entre os diferentes sabe-res. O que cada saber contribui para esse diálogo é o modo como orienta uma dadaprática na superação de uma certa ignorância. O confronto e o diálogo entre os saberes éum confronto e diálogo entre diferentes processos através dos quais práticas diferente-mente ignorantes se transformam em práticas diferentemente sábias�.

7.2. As atividades de capacitação dos agentes comunitários

A capacitação dos agentes comunitários parte da problematização de temas extraí-dos da realidade social, com enfoque nos direitos humanos. A programação curricular87

prevê aulas de noções básicas de direito, debates sobre cidadania e direitos humanos,cursos e oficinas em técnicas de mediação e de animação de redes sociais.

A formação dos agentes comunitários procura não somente assegurar o bom de-sempenho de suas atividades, como também estimular a reflexão crítica sobre suas esco-lhas pessoais e sobre a conjuntura social. Nesse sentido, o sistema de aprendizagemadotado deve ser amplo, promovendo uma integração de aspectos cognitivos, emocio-nais e sociais, envolvendo as dimensões pessoais, profissionais e institucionais presentesno contexto vivencial do agente. A Escola deve, pois, operar com dinâmicas participativasque contribuam para a formação do sujeito social como protagonista na construção deum saber não fragmentado, possibilitando novas leituras e novas relações com o mundoe consigo.

Apesar do enfoque holístico, a capacitação dos agentes comunitários tem tambémpor objetivo o bom desempenho de suas atividades, quais sejam a democratização dosaber jurídico, a mediação comunitária e a animação de redes sociais. Para tanto, asatividades da Escola programadas para o próximo período letivo são as seguintes:

� promoção de debates sobre os temas ligados à cidadania, com representantes damilitância da área social e/ou jurídica correspondente;

� elaboração e produção de material didático, utilizando ferramentas lúdicas e ar-tísticas, para traduzir a linguagem jurídica, com vistas à democratização do acesso àinformação relativa aos direitos dos cidadãos;

87. Ver item 7.3.

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� apresentações e debates públicos dos temas veiculados pelos materiais didáticos,de maneira a estimular a mobilização social, pela efetivação dos direitos dos cidadãos;

� promoção de atividades acadêmicas interdisciplinares, voltadas ao intercâmbiode pesquisas e produção de conhecimento;

� publicação de um boletim periódico para a veiculação de informes sobre asatividades do Programa e de artigos acadêmicos interdisciplinares sobre os temas rela-cionados à justiça comunitária.

7.3. A programação curricular

O currículo é um percurso de aprendizagens a serem construídas no processo deformação e envolve a seleção de conteúdos significativos para a formação do aluno, cujasabordagens são dispostas em mecanismos acadêmicos variados: aulas, seminários, ofici-nas, ateliês, debates e atividades de dramaturgia, dentre outros.

Considerando que a Escola busca contextualizar o processo de aprendizado narealidade social de seus alunos, não se pode traçar previamente um programa curricularrígido, à revelia das necessidades e expectativas dos agentes comunitários. Nesse senti-do, a programação do conteúdo e o respectivo calendário semestral são estabelecidos deacordo com as metas específicas do Programa, em sintonia com os parceiros institucionaise com os próprios agentes comunitários.

O conteúdo curricular básico inclui cursos e oficinas para a capacitação nas técnicasde mediação comunitária e de animação de redes sociais, bem como aulas de noçõesbásicas de direito e debates de temas jurídicos, com enfoque nos direitos humanos,conforme se verifica a seguir.

7.3.1. Cidadania e noções básicas de direito

No início do Programa, a programação curricular era mais rígida e privilegiava ma-térias essencialmente jurídicas, tais como: Organização do Estado e Direitos e GarantiasFundamentais; Direito de Família; Direito do Consumidor; Direito das Minorias Sociais(negros, mulheres, homossexuais, portadores de deficiência física, idosos, etc); Direitode Moradia (locação, posse, propriedade, concessão de uso, etc); Direito Previdenciário;Juizados Especiais Cíveis e Criminais.

Essas disciplinas correspondiam às necessidades dos agentes comunitários, diantedas demandas mais freqüentes para o desempenho da atividade de orientação jurídica.Entretanto, após as modificações implementadas a partir de agosto de 2006, restringindoa atividade de informação jurídica à sua formatação preventiva � ou seja, produção dematerial didático para esclarecimentos à comunidade quanto aos seus direitos � as disci-plinas jurídicas perderam centralidade.

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O planejamento para o segundo semestre de 2006 privilegiou a realização de cur-sos e oficinas de técnicas em mediação, considerando o destaque que essa atividadeganhou, desde que o Programa passou a concentrar esforços no sentido de elaborar, emcomunhão com os agentes comunitários, um formulário e um roteiro contendo o passo-a-passo88 da técnica de mediação efetivamente comunitária.

Quanto às disciplinas jurídicas, optou-se por abordar cada matéria na medida dasnecessidades e das possibilidades de produção do material didático e artístico a ser divul-gado e apresentado na comunidade.89

Os temas relacionados à cidadania e aos direitos humanos foram inseridos na pro-gramação do segundo semestre de 2006, obedecendo à seguinte dinâmica:90

1. investigação temática: consulta ao grupo sobre temas que revelem o vocabulá-rio e o universo dos alunos. O contato com os assuntos propostos se dá a partir damobilização dos alunos sobre os recortes de jornais veiculando matérias sobre cidadania(discriminação racial; violência doméstica; juizados especiais; menoridade penal e vio-lência contra o idoso, dentre outros) oferecidos em sala de aula;91

2. escolha � preferencialmente por eleição � dos temas principais e secundários;92

3. escolha dos educadores que serão convidados para problematizar a temáticaescolhida;

4. desenvolvimento da aula propriamente dita, a partir da perspectiva do professore sua praxis, dos alunos e da equipe interdisciplinar;

5. desfecho da aula que considere possibilidades de ação concreta visando a trans-formação social. Por exemplo, a confecção futura de um material didático para provocar areflexão sobre o tema na comunidade.

7.3.2. Os cursos e as oficinas de mediação

Em razão da variedade de abordagens possíveis das técnicas de mediação, umprograma de justiça comunitária que pretenda contratar um curso de capacitação nessaárea deve adotar alguns quesitos para a adequação do enfoque do treinamento às parti-cularidades do Programa. Para tanto, o Programa Justiça Comunitária do Distrito Federaldesenvolveu os seguintes quesitos:

88. Ver Anexos VIII e IX.89. Ver as cartilhas de fotonovela e cordel, que integram este trabalho.90. FEITOSA, Sonia Couto Souza. FEITOSA, Sonia Couto Souza. Método Paulo Freire. Parte da dissertação de mestrado

defendida na FE-USP (1999) intitulada Método Paulo Freire: princípios e práticas de uma concepção popular deeducação. Disponível em: <http://www.paulofreire.org/Biblioteca/metodo.htm>. Acesso em 3 nov. 2006.

91. Ver Anexo XI.92. Secundários são temas cuja discussão prévia é pressuposto para a melhor abordagem dos temas principais. Po

exemplo, se o tema principal é a menoridade penal, é interessante que se conheça o conteúdo do Estatuto da Criançae do Adolescente.

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Descrição das atividades

1. Conhecimento e análise do perfil dos agentes comunitários e do método demediação atualmente aplicado no Programa.

2. Desenvolvimento de um método de mediação comunitária que tenha impactosocial, não se limitando à atuação em conflitos interpessoais e familiares.

3. Oferecimento de aulas em carga horária compatível com as necessidades doProjeto e sob metodologia adequada ao perfil dos 40 agentes comunitários.

4. Utilização de simulações para o treinamento prático dos alunos.

5. Oferecimento de treinamento a todos os membros da equipe interdisciplinar doPrograma Justiça Comunitária para que, na qualidade de mediadores, sejamhabilitados a supervisionar as mediações realizadas pelos agentes comunitáriose para que sejam multiplicadores da metodologia de mediação comunitária.

6. Avaliação de desempenho dos agentes comunitários e dos membros da equipeinterdisciplinar, em relação às técnicas de mediação desenvolvidas no curso.

Produtos esperados

1. Proposta metodológica para a realização do curso de mediação, contendo:a) especificação das técnicas a serem utilizadas;b) material didático;c) cronograma;d) metodologia de avaliação do curso.

2. Relatório de realização da capacitação em mediação de conflitos, contendo:a) descrição dos conteúdos abordados durante o curso;b) relatório de avaliação do capacitador/capacitado quanto ao curso ministrado;c) certificados de participação no curso de mediação, desde que cumpridas asexigências a serem definidas pelo capacitador.

3. Instrumentos elaborados conjuntamente durante o curso:a) declaração de abertura da sessão de mediação;b) formulário que descreva o procedimento com todas as etapas da mediação, aser utilizado como um roteiro para o mediador;c) definição dos critérios mínimos para habilitação dos agentes comunitáriospara o desempenho das funções de mediador e co-mediador;d) definição dos critérios mínimos para habilitação dos membros da equipeinterdisciplinar para a supervisão das mediações e para a multiplicação e treina-mento da metodologia desenvolvida.

Questões objetivas

1. A carga horária da capacitação.

2. O preço da consultoria.

3. A descrição dos profissionais que ministrarão as aulas (formação profissional,experiência).

4. Detalhamento do material pedagógico utilizado no curso e responsabilidades dereprodução do mesmo.

5. Detalhamento do conteúdo programático.

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Adequação do curso ao perfil dos agentes comunitários

1. A linguagem empregada no material pedagógico e nas aulas é adequada a umpúblico cuja escolaridade é, em média, o segundo grau completo?

2. Há previsão de aplicação do conteúdo teórico, por meio da realização de simula-ções, oficinas e recursos audiovisuais?

3. Já foram oferecidas capacitações em mediação para membros da comunidade?Se afirmativo, quando? Onde? Qual a entidade atendida? Houve avaliação deresultados?

4. Qual o método de supervisão a ser utilizado?

5. O enfoque teórico e técnico da mediação adotado é voltado para conflitoscomunitários?

De qualquer sorte, sem prejuízo da valiosa contribuição de especialistas no tema, o

enfoque de mediação a ser desenvolvida por um programa de justiça comunitária deve

ter feição própria, o que significa afirmar que é indispensável que haja uma participação

ativa dos mediadores na construção da própria metodologia, sob pena dessa atividade

transformar-se em algo litúrgico, que obedece a padrões técnicos, porém inadequados

àquela realidade social.

Nesse sentido, a Escola de Justiça e Cidadania do Programa Justiça Comunitária

promove oficinas para o desenvolvimento da técnica de mediação, as quais são distri-

buídas no calendário semestral, com uma previsão de carga horária que leve em conside-

ração a necessidade da participação ativa dos agentes comunitários na construção de

uma abordagem própria e adaptada à realidade em que o Programa Justiça Comunitária

opera.

O formulário do passo-a-passo da sessão de mediação deve estar sempre aberto

às mudanças que a experiência concreta demanda. Para tanto, conflitos simulados são

levados à sala de aula, para que os agentes comunitários vivenciem diferentes papéis �

participantes diretos e indiretos do conflito, mediador e co-mediador � inclusive o de

mediadores-observadores. Todas as oficinas são gravadas em vídeo, com vistas a registrar

o processo de aperfeiçoamento da atuação dos alunos.

Essa reflexão coletiva � e interdisciplinar � das nuanças particulares da atuação de

cada agente é essencial para a integração do grupo, em seu processo permanente de

aprendizagem crítica.

Conforme já assinalado, o Programa Justiça Comunitária vem consolidando uma

metodologia de mediação comunitária, cuja formatação resulta do aprendizado advindo

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dos cursos já realizados, da experiência de seis anos de execução do Programa e da

elaboração de um formulário e de um roteiro93 que contêm o passo-a-passo da mediação

e os princípios que norteiam a conduta ética do mediador.

É oportuno ressaltar que a capacitação em mediação não pode se restringir ao

treinamento técnico das etapas do processo de mediação. O curso de capacitação, assim

como as oficinas, devem prever em seu conteúdo oportunidades para refletir sobre: a)

noções sobre outros meios alternativos de solução de conflitos (arbitragem, conciliação,

negociação); b) o papel transformador do conflito; c) estratégias de comunicação, in-

cluindo as técnicas de identificação entre posição e interesse94; d) princípios éticos que

devem nortear a atuação do mediador95; e) a questão da neutralidade e imparcialidade;

f) os modelos e tipos de mediação.96

7.3.3. Capacitação para a animação de redes sociais

As atividades pedagógicas desenvolvidas pela Escola incluem ainda a intensificação

da interação dos agentes comunitários com a sua comunidade, por meio da elaboração e

divulgação de materiais didáticos e da promoção de eventos artísticos que provoquem o

debate sobre direitos individuais e coletivos.

Para essas atividades, os agentes comunitários desempenham um papel atuante,

em parceria com a equipe interdisciplinar, articulando os eventos, elaborando o material

didático e apresentando publicamente o seu conteúdo, por meio de criações artísticas.

Essa mobilização em torno de temas ligados à cidadania é um dos mecanismos

possíveis para a animação de redes sociais, na medida que aproxima membros da comu-

nidade que partilham o mesmo interesse e os coloca em contato, em um encontro crítico,

repleto de possibilidades de construção de laços solidários.

93. A elaboração do formulário e do roteiro, que se encontram nos Anexos VIII e IX, foi resultado de um trabalho conjuntofeito pelos agentes Comunitários, a equipe interdisciplinar do Programa Justiça Comunitária e a equipe docente doCurso de Mediação Técnico-comunitária, professoras Célia Regina Zapparolli, Glaucia Vidal, Reginandréa Gomes Vicentee Lílian Godau dos Anjos Pereira Biasoto, realizado em Brasília, entre os dias 6 e 15 de outubro de 2006.

94. Conforme ilustra Célia Regina Zapparolli: �Como exemplos de discrepância entre posições e interesses, temos duassituações muito corriqueiras: 1) nos casos de separação, os interesses ocultos traduzem-se, muitas vezes, nodescompasso das partes na decisão de se separarem, algo de natureza emocional que acaba por exteriorizar-se emposições jurídicas rígidas e exigências radicais quanto a partilha, alimentos, guarda, visitas e, na manipulação daprole, uma violência que acaba por gerar danos morais/psicológicos imensuráveis e sua perpetuação, modelo que serepete pelas gerações; 2) já, em grande número de casos de natureza criminal, a vontade das partes, a versão dosfatos e as possibilidades acabam sendo moldadas exclusivamente às opções jurídicas e não estas àquelas, perdendoo acusado ou condenado a oportunidade de, como protagonista, no momento de maior impacto, rever seus própriosatos e reformular suas condutas.� (ZAPPAROLLI, Célia Regina. A experiência pacificadora da mediação: uma alterna-tiva contemporânea para a implementação da cidadania e da justiça. In: MUSZKAT, Malvina Ester (Org.). Mediação deconflitos: pacificando e prevenindo a violência. São Paulo: Summus, 2003. p. 54).

95. Os princípios norteadores da ética do mediador integram o roteiro do passo-a-passo da mediação, conforme mostrao Anexo IX.

96. ZAPPAROLLI, Célia Regina; VIDAL, Glaucia; VICENTE, Reginandréa Gomes; BIASOTO, Lílian Godau dos Anjos Pereira.Apostila do Curso de Mediação Técnico-Comunitária, realizado em Brasília, entre os dias 6 e 15 de outubro de 2006.Brasília: 2006.

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7.4. O corpo docente

O papel do educador é ampliar a visão de mundo permeada pelo diálogo. Nessesentido, o corpo docente deve ser definido a partir da escolha democrática dos temas aserem debatidos em sala de aula, buscando-se pertinência entre o tema objeto da aula ea atuação prática de cada educador.

Longe de representar um transferidor de conhecimentos, o professor deve se colo-car como um coordenador do debate, problematizando as discussões e, por meio dodiálogo, auxiliar os alunos para que reinterpretem e recriem o saber local, que é perma-nentemente gerado na prática social.

É atribuição do educador criar condições para a compreensão mútua e a comunica-ção produtiva, o que significa possibilitar o surgimento de questionamentos, debates,extrapolações e ilações nas interações desenvolvidas durante as aulas. Para tanto, énecessário garantir uma �atmosfera de respeito mútuo, onde divergências são acolhidas,visões distintas confrontadas, bases de desacordo compreendidas, soluções comuns bus-cadas e, sobretudo, onde errar não significa falta de conhecimento e sim sinal de que umaestrutura está em construção. Pode-se dizer que, de fato, a interação social do grupo énão só formativa como também construtiva de um novo saber e de uma nova forma derelacionamento interpessoal�.97

No Programa Justiça Comunitária do Distrito Federal, o corpo docente é compostopor profissionais atuantes na área correspondente ao tema a ser desenvolvido. Alémdesses convidados, atuam como educadores os membros da equipe interdisciplinar, queconhecem as necessidades cognitivas dos agentes comunitários: desde as suas dificulda-des em relação às idiossincrasias do universo jurídico, até a construção de uma metodologiaprópria de mediação comunitária.

7.5. As atividades abertas da Escola de Justiça e Cidadania

Esta atividade tem por objetivo promover maior integração entre a comunidade, aEscola de Justiça e Cidadania, os agentes comunitários, as instituições sociais e a univer-sidade, de maneira que todos esses entes possam concorrer para o processo de efetivaçãoda cidadania.

A partir da definição de um interesse comum dos atores envolvidos, designa-seuma data para a reflexão sobre o tema, por meio de diferentes instrumentais � mesaredonda com convidados, vídeos, filmes, debates, trabalhos em grupos, entre outros.Tendo em vista o amplo e visível interesse da comunidade pela questão relacionada aoDireito de Família, a primeira atividade aberta a ser designada pelo Programa JustiçaComunitária98 terá como objeto a discussão deste tema, sobretudo pela possibilidade de

97. DAVIS, C.; SILVA, M.A.S.S.; ESPÓSITO, Y. Papel e valor das interações sociais em sala de aula. Cadernos de Pesquisa,São Paulo, n. 71, p. 54, nov. 1989.

98. Essas atividades serão levadas a efeito no primeiro semestre de 2007.

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potencializar o uso da cartilha O direito de saber, produzida pelo Programa com a partici-pação dos agentes comunitários99 . Também já estão sendo agendadas algumas apresen-tações da peça A teia da vida, encenada pelos agentes comunitários em vários espaçossociais, inclusive em Faculdades de Direito.100

7.6. Interlocuções institucionais

A Escola deve estar aberta e disponível para se constituir em campo de pesquisa epermanente interlocução com as instituições nacionais e internacionais de diferentes na-turezas: universidades, Tribunais de Justiça, parlamentos, institutos de pesquisa, gover-nos, dentre outras.

No decorrer destes seis anos de execução, o Programa Justiça Comunitária interagiucom inúmeras instituições, cujo diálogo proporcionou permanente reflexão crítica de seuspressupostos teóricos e de sua operacionalização, fator indispensável para o aperfeiçoa-mento de qualquer programa desta natureza.

A seguir, o registro de algumas interlocuções institucionais.

2001

25/9 � Apresentação do Programa Justiça Comunitária no 1º Fórum Brasília deResponsabilidade Social e do Terceiro Setor, com o tema A realização da justiça semjurisdição.

Palestrantes: Gláucia Falsarella Foley, Juíza Coordenadora do Programa Justiça Co-munitária e Marcelo Girade, Secretário Executivo do Programa Justiça Comunitária.

Local: Brasília

25 e 26/10 � Apresentação do Programa Justiça Comunitária, a convite do BancoMundial, no 1º Fórum Temático Regional Empoderamento e Ação: Construindo uma Agendapara a Redução da Pobreza.

Palestrantes: Desembargador Edmundo Minervino, Presidente do Tribunal de Justi-ça do Distrito Federal e dos Territórios e Marcelo Girade, Secretário Executivo do JustiçaComunitária.

Local: México

8/11 � Apresentação do Programa Justiça Comunitária na III Mostra Nacional deTrabalhos da Qualidade do Judiciário, promovida pelo Superior Tribunal de Justiça.

Palestrante: Desembargador Edmundo Minervino, Presidente do Tribunal de Justiçado Distrito Federal e dos Territórios.

Local: Brasília

99. Ver cartilha de fotonovela que integra este trabalho.100. Ver vídeo da apresentação teatral ocorrida em 27 de outubro de 2006, em Taguatinga, que integra este trabalho.

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26 e 27/11 � Participação na II Câmara Técnica � Balcões de Direito do Ministérioda Justiça, para troca de experiências entre os parceiros e a avaliação dos trabalhosdesenvolvidos pelos programas que possuem convênio com o Ministério da Justiça.

Palestrantes: Doutora Carmem Bittencourt, Juíza Coordenadora do ProgramaJustiça Comunitária e Marcelo Girade, Secretário Executivo do Programa JustiçaComunitária.

Equipe interdisciplinar: Vera Lúcia Soares, Secretária Executiva, assistente socialVânia Sibylla Pires e psicóloga Tatianna Souza.

Agentes comunitários presentes: Hilda Teixeira, Ana Cristina Cruz Guimarães, RanildaRosana da Silva e Luzenildes Miranda da Silva.

Local: Brasília

2002

26/4 - Apresentação do Programa Justiça Comunitária no 4º Fórum Nacional deCidadania Empresarial, com o tema Programa Justiça Comunitária: a realização da justiçasem jurisdição e recebimento do Troféu de Empresa Cidadã.

Palestrante: Doutora Carmen Bittencourt, Juíza Coordenadora do Programa JustiçaComunitária.

Local: Brasília

6 e 7/6 � Apresentação do Programa Justiça Comunitária na VII Conferência Na-cional dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

Presentes: Iaris Cortês (parceira do Projeto, membro da OAB/DF), Vera Lúcia Soa-res, Valdeci Pereira da Silva, João Evangelista, Luzenildes Miranda e Edilene Aparecidados Santos.

Local: Brasília

25 e 26/10� Apresentação do Programa Justiça Comunitária no Seminário Interna-cional Hacia la Elaboración de um Plan de Acesso a la Justicia, a convite do TribunalSupremo de Justicia de la República Bolivariana de Venezuela e do Instituto de EstudiosJurídicos Del Estado Lara.

Palestrante: Marcelo Girade, Secretário Executivo do Programa JustiçaComunitária.

Local: Venezuela

2004

6/2 � Visita ao Programa Justiça Comunitária de membros da Suprema Corte deHonduras, da Venezuela e do Banco Mundial.

Apresentação do Programa por Marcelo Girade, Vera Lúcia Soares, Vânia Sibylla,Tatianna Souza e Eginaldo Pinheiro. Tradução: Elizete Neres.

Local: Brasília

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5/3 � Palestra sobre justiça restaurativa para os agentes comunitários, em Ceilândia,proferida pela Professora Grabrielle Maxwell, representando o Centro de Pesquisa deCrime e Justiça da Nova Zelândia.

Presentes: Juíza Gláucia Falsarella Foley, procurador de justiça Renato Sócrates, doMinistério Público do Distrito Federal e Territórios, e Renato de Vitto, da Secretaria daReforma do Judiciário do Ministério da Justiça.

Local: Brasília - Ceilândia

28 a 31/3 � Participação do Programa no Fórum Temático A Modernização do PoderJudiciário na Venezuela: resultados e perspectivas, a convite do Banco Mundial e doTribunal Supremo de Justicia de la República Bolivariana de Venezuela.

Palestrante: Marcelo Girade, Secretário Executivo do Programa Justiça Comunitária.Local: Venezuela

3/5 � Apresentação do Programa Justiça Comunitária no Tribunal de Justiça doEstado do Acre, por ocasião do reinício das atividades do programa naquele Estado.

Palestrante: Vera Lucia Soares, Secretária Executiva do Programa JustiçaComunitária.

Local: Acre

17/4 - Apresentação do Programa Justiça Comunitária nas Faculdades de Pedago-gia e Filosofia da Universidade Católica de Brasília.

Palestrantes: Vera Lucia Soares, Secretária Executiva e assistente social Vânia Sibylla.Local: Brasília

19/7 - Apresentação do Programa Justiça Comunitária no evento Justiça Comunitá-ria: uma perspectiva internacional, a convite do Programa das Nações Unidas para oDesenvolvimento (PNUD) no Afeganistão e da ONG norueguesa Norwegian Refugee Council.

Palestrante: Gláucia Falsarella Foley, Juíza Coordenadora do Programa JustiçaComunitária.

Local: Afeganistão

13/8 - Apresentação do Programa Justiça Comunitária no I Seminário Mato-grossenseda Justiça Comunitária, a convite do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso.

Palestrantes: Desembargador Estevam Maia, Vice-Presidente do Tribunal de Justi-ça do Distrito Federal e dos Territórios, desembargador Natanael Caetano, juíza GláuciaFalsarella Foley e assistente social Vânia Sibylla Pires.

Local: Mato Grosso

8/10 - Visita de uma comitiva de membros do Congresso Nacional Alemão à Escolade Justiça e Cidadania de Taguatinga e ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dosTerritórios.

Local: Brasília

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25/10 - Apresentação do Programa nos 14º e 15º Cursos de Formação de Líderespara o Exercício da Cidadania, Módulo III � Mobilização social: sujeitos em ação.

Palestrante: Assistente social Vânia Sibylla Pires, da equipe psicossocial que atuoucomo instrutora e coordenou o módulo.

Local: Brasília

2005

29/1 - Apresentação do Programa Justiça Comunitária no Encontro Especial deFormação da Campanha da Fraternidade de 2005, na Universidade Católica de Brasília.

Palestrante: Assistente social Vania Sibylla Pires, da equipe psicossocial.Local: Brasília

19/4 - Apresentação do Programa Justiça Comunitária no Seminário Jurídico sobreDireitos Humanos do Tribunal Justiça de Minas Gerais, promovido pela Seção Judiciária deMinas Gerais do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em parceria com a Associaçãodos Juízes Federais de Minas Gerais.

Palestrante: Juíza Gláucia Falsarella Foley.Local: Minas Gerais

14 a 17/6 � Apresentação do Programa Justiça Comunitária na Conferência Inter-nacional de Acesso à Justiça por Meio Alternativo de Resolução de Conflitos, promovidapela Secretaria de Reforma do Judiciário e Programa das Nações Unidas para o Desenvol-vimento (PNUD).

Palestrante: Juíza Gláucia Falsarella Foley.Local: Brasília

2006

24/3 � Apresentação do Programa na Faculdade de Psicologia da Universidade Ca-tólica de Brasília para os alunos do estágio básico do Curso de Psicologia.

Palestrantes: Psicólogas Beatriz Martins e Tatianna Souza, da equipe psicossocial.Local: Brasília

18/5 � Apresentação do Programa Justiça Comunitária no Seminário para Implan-tação do Programa Justiça e Comunidade, a convite do Tribunal de Justiça do Estado deRoraima.

Palestrante: Juíza Gláucia Falsarella Foley.Local: Roraima

29/6 � Apresentação do Programa Justiça Comunitária na Conferência Internacio-nal Novas Direções na Governança da Justiça e da Segurança, promovida pela Secretariade Reforma do Judiciário, Secretaria Nacional de Segurança Pública e Programa das Na-ções Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

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Palestrante: Juíza Gláucia Falsarella Foley.

Local: Brasília

10/8 - Apresentação do Programa Justiça Comunitária no Seminário Justiça e Co-

munidade, promovido pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos

Deputados e pelo IESB.

Palestrante: Juíza Gláucia Falsarella Foley.

Local: Brasília

5 a 8/9 � Apresentação do Programa Justiça Comunitária no II Congresso Brasileiro

Psicologia: Ciência & Profissão.

Palestrante: Psicóloga Beatriz Medeiros Martins, da equipe psicossocial.

Local: São Paulo

A programação para ampliar esse diálogo institucional, a partir do primeiro semes-

tre de 2007, inclui as seguintes atividades:

1. criação de um centro de pesquisa interinstitucional para reunir diferentes grupos

institucionais, ONGs, universidades, entre outros, com o propósito de produzir conheci-

mento específico para a área de justiça comunitária;

2. formação de um grupo de estudos envolvendo a equipe de estagiários e tercei-

ros externos ao Programa, visado o intercâmbio dos temas, sob uma perspectiva

interdisciplinar;

3. produção de artigos acadêmicos, a partir das experiências surgidas no cotidiano

do Programa.

7.7. O boletim periódico

A confecção de um boletim periódico tem por pretensão a fluidez das informações

programáticas e pedagógicas da Escola de Justiça e Cidadania. Nele, estarão contidas as

informações necessárias para uma ampla divulgação das atividades do Programa na co-

munidade, além de servir como convite à reflexão interdisciplinar do Programa.

Esse periódico terá como conteúdos importantes as datas e locais das visitas à

comunidade, esclarecimentos sobre o que é a mediação, as datas e locais das apresenta-

ções de teatro, lista com todos os núcleos de assistência jurídica gratuita, textos e artigos

produzidos pelos agentes comunitários e pela equipe interdisciplinar.101

101. A confecção desse boletim ainda não foi agendada, tendo em vista a priorização de outras atividades para o próximoperíodo. Uma possibilidade é o estabelecimento de parcerias com departamentos de comunicação das universidadesinteressadas em contribuir para a divulgação do Programa na comunidade.

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7.8. Avaliação do processo de aprendizagem

Considerando o pressuposto de que o processo de aprendizagem não implica trans-ferência de saber, a Escola não desenvolveu nenhum recurso tradicional de aferição deaprendizagem cognitiva. Isso não significa afirmar, porém, que não haja mecanismos deavaliação permanente do desempenho dos agentes comunitários, dentro e fora da sala deaula.

Cada agente comunitário é acompanhado por meio do registro de seu processocontínuo de aprendizagem, identificando-se as suas habilidades e dificuldades.

Quando constatada alguma dificuldade � seja relacionada com o grupo, com aequipe ou com as atividades inerentes ao desempenho da função � de um agente comu-nitário, ele é convidado a participar de uma reunião com o suporte psicossocial, para queeventuais dificuldades possam servir de oportunidade para a reflexão e crescimento. Dequalquer sorte, independente de qualquer dificuldade específica, é papel da equipeinterdisciplinar observar constantemente a atuação de cada agente comunitário.

A equipe interdisciplinar irá desenvolver, no decorrer do próximo ano, um estudopara a criação de indicadores dos aspectos a serem considerados na análise do processode aprendizagem, para melhor avaliação do desempenho dos agentes comunitários. Osindicadores, que também permitirão avaliações comparativas, serão voltados para a afe-rição das seguintes características: liderança, capacidade de reflexão nas aulas, inserçãona comunidade, desempenho nas mediações e nas reuniões na comunidade, dentreoutras.

7.9. Os recursos pedagógicos

Os recursos pedagógicos utilizados na Escola de Justiça e Cidadania são produ-zidos com o propósito de democratizar o acesso à informação dos direitos do cidadão, pormeio da decodificação da linguagem jurídica em narrativas acessíveis e atraentes àcomunidade.

Além de buscar facilitar a compreensão do conteúdo, a apresentação desse mate-rial também procura preservar a memória e as raízes culturais brasileiras, promovendoum diálogo entre tradição e manifestações artísticas populares contemporâneas. Esseencontro de diferentes �gerações culturais� é parte do exercício da cidadania, na medidaque promove a reflexão sobre a conjuntura de diferentes grupos sociais, o respeito àdiferença e a abertura para novas referências estéticas.

Os materiais passíveis de serem utilizados e/ou elaborados pela Escola de Justiça eCidadania são os seguintes:

� recortes de jornal e assinatura de periódicos e/ou convênio com bibliotecas paraque os alunos tenham acesso às matérias relativas à cidadania e à justiça;

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� elaboração interdisciplinar de cartilhas na forma de fotonovelas, literatura decordel, xilogravura, dentre outros;

� apresentação de peça teatral, utilizando-se das mais variadas matizes musicais,tais como repente, hip hop, capoeira, etc.;

� guia de encaminhamento para partilhar alguns dados do mapeamento social;� material promocional para esclarecimento dos objetivos do Programa e do proce-

dimento seletivo de novos agentes comunitários;� produção de vídeos com o registro de demandas ilustrativas;� produção de filmes de ficção para a divulgação do Programa Justiça Comunitária,

tendo por fio condutor temas relativos aos conflitos mais freqüentes na comunidade;� exposição de fotografias com a memória do Programa Justiça Comunitária, para

debate;� exibição de filmes temáticos em sala de aula e na comunidade, com temática

pertinente ao conteúdo curricular do Programa, para posterior debate;� dinâmicas que envolvam pesquisa na internet;� produção de relatos e artigos que registrem a experiência dos agentes comunitá-

rios, da equipe interdisciplinar e dos parceiros institucionais;� montagem de uma biblioteca popular que contenha obras da literatura brasileira

e de temas relativos à justiça e cidadania, dentre outros.

7.10. Materiais e equipamentos da Escola de Justiça e Cidadania

Materiais e equipamentos

60 cadeiras1 cadeira para o professor1 mesa para o professor1 quadro-negro1 bebedouro1 flip chart1 TV de 29��1 DVD/Vídeo1 notebook1 projetor multimídia1 tela para projetor1 filmadora digital1 câmara fotográfica digital1 espelho para as atividades de dramaturgia1 mapa de cada comunidade1mapa da cidade1 mapa do Brasil1 globo terrestre1 aparelho de som

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8. AS PARCERIAS INSTITUCIONAIS

8.1. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT)

É missão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios garantir o plenoexercício do direito, indistinta e imparcialmente, a toda a sociedade do Distrito Federal eTerritórios.

Na qualidade de unidade executora, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dosTerritórios permanece na coordenação do Programa Justiça Comunitária, responsável porsua implementação direta, por meio do fornecimento de infra-estrutura, equipe inter-disciplinar e confecção de material promocional e pedagógico necessários para a boaexecução do Programa.

As atividades desenvolvidas pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Terri-tórios, em comunhão com os parceiros, incluem a elaboração do planejamento anual daEscola de Justiça e Cidadania, a capacitação dos agentes comunitários para o bom de-sempenho de suas atividades, o registro e controle dos casos levados aos Centros Comu-nitários e o acompanhamento das atividades desenvolvidas pelos agentes comunitários epela equipe interdisciplinar.

8.2. Secretaria de Reforma do Judiciário (SRJ)

A Secretaria de Reforma do Judiciário, órgão específico singular, integrante da es-trutura regimental do Ministério da Justiça, a que se refere o artigo 2º, inciso II, alínea �e�do Anexo I do Decreto n. 5.535, de 13 de setembro de 2005, foi criada com o objetivo depromover, coordenar, sistematizar e angariar propostas referentes à reforma do Judiciá-rio. Tem como papel principal ser um órgão de articulação entre o Executivo, o Judiciário,o Legislativo, o Ministério Público, governos estaduais, entidades da sociedade civil eorganismos internacionais, para a promoção e difusão de ações e projetos de melhoria doPoder Judiciário.

No sentido de contribuir ativamente com o aprimoramento dos serviços jurisdicionais,a Secretaria de Reforma do Judiciário atua em cinco frentes: realização de diagnósticos epesquisas sobre o Poder Judiciário; elaboração de iniciativas e estímulo a projetos demodernização da gestão do Judiciário; articulação quanto a mudanças na legislação pro-cessual civil, penal e trabalhista (alterações infraconstitucionais); articulação em relaçãoa alterações na Constituição (reforma constitucional) e promoção e efetivação do acessoà justiça.

O acesso à justiça é considerado um direito humano e um caminho para a reduçãoda pobreza, por meio da promoção da equidade econômica e social. Onde não há amploacesso a uma justiça efetiva e de qualidade, a democracia está em risco e o desenvol-vimento não é possível. Assim, a ampliação do acesso à justiça no país é uma contribui-ção certeira na ampliação do espaço público do exercício da cidadania, na promoção edefesa da coesão social de grupos e segmentos populacionais e no fortalecimento dademocracia.

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Visando efetivar o referido acesso à justiça, garantido pela própria ConstituiçãoFederal, em seu artigo 5º, inciso XXXIV, alínea �a�, a Secretaria de Reforma do Judiciáriodecidiu apoiar a iniciativa do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios narealização do Projeto de Justiça Comunitária, por considerá-lo uma maneira de se promo-ver o amplo processo de democratização da justiça, e a concretização de uma justiçaefetivamente cidadã, que aborda o conflito como oportunidade de criação de uma rede decidadania, paz e solidariedade.

8.3. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)

Desde 2003, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento passou aconsiderar entre os fatores determinantes para a retomada do desenvolvimento do país aquestão do apoio à modernização do sistema de justiça brasileiro. Nesse sentido, o Pro-grama das Nações Unidas para o Desenvolvimento vem dando uma importante contribui-ção na área, ao apoiar a introdução de novos modelos de acesso à justiça, como a justiçarestaurativa e comunitária, a justiça sem papel, e a descentralização dos juizados espe-ciais federais. Para além disso, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimentotem colaborado na produção de estudos, como o diagnóstico das Defensorias Públicas noBrasil, modelos comparativos de funcionamento dos conselhos de justiça, o mapeamentodas experiências de resolução pacífica de conflitos e o diagnóstico do Ministério Públicodos Estados. Em síntese as atividades desenvolvidas no âmbito dos projetos do Programadas Nações Unidas para o Desenvolvimento são inovadoras e têm colaborado para aconstrução de uma agenda nacional voltada para a reforma do Judiciário.

Nesse contexto, o primeiro projeto de cooperação técnica foi firmado em 2003,com recursos próprios do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, com aSecretaria de Reforma do Judiciário, que foi a Assistência Preparatória BRA/03/023 (Pro-grama de Modernização da Gestão do Sistema Judiciário), no âmbito da qual vários estu-dos de apoio ao processo de reforma do Judiciário foram realizados.

Em 2004, com novas inserções de recursos do fundo temático do Programa dasNações Unidas para o Desenvolvimento (TTF), um novo projeto de cooperação foi firma-do, o Projeto BRA/04/023 (Promovendo Acesso Universal e Equidade no Sistema de Jus-tiça Brasileiro) e, posteriormente, o Projeto BRA/05/009 (Promovendo PráticasRestaurativas no Sistema de Justiça Brasileiro) teve sua implementação iniciada.

Em 2005, para dar continuidade às ações deflagradas na Assistência PreparatóriaBRA/03/023, foi assinado o Projeto BRA/05/036 com a Secretaria de Reforma do Judi-ciário, com vistas a fomentar a modernização da Justiça brasileira, por meio da produçãode subsídios ao processo de reforma do Judiciário, como, por exemplo, elaboração deestudos, projetos de lei, promoção de workshops e seminários e implantação de projetos-piloto que sejam iniciativas inovadoras na administração da justiça, em consonância como mandato da Secretaria.

Em 2006, mais uma iniciativa de cooperação técnica na área de justiça foiestabelecida, dessa vez para apoio ao projeto Justiça Comunitária. O Programa das Na-ções Unidas para o Desenvolvimento tem buscado contribuir para o fortalecimento do

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projeto nas áreas de capacitação de agentes, estruturação da Escola de Justiça e Cidada-nia, desenho de estratégias de ampliação da auto-sustentabilidade da justiça comunitáriano Distrito Federal e estabelecimento de marcos iniciais para uma futura avaliação dessainiciativa.

Ademais, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento tem interesse nadisseminação de melhores práticas na área de acesso à justiça nos diversos Estados doBrasil e em vários países do mundo. Nesse sentido, as lições aprendidas no contexto daimplementação do Projeto no Distrito Federal podem oferecer importantes subsídios parao estabelecimento de novas iniciativas de justiça comunitária em outras localidades doBrasil e do mundo.

8.4. Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF)

A Defensoria Pública do Distrito Federal é instituição essencial à função jurisdicionaldo Estado e tem por obrigação constitucional assegurar assistência jurídica integral egratuita a todos que comprovarem insuficiência de recursos. Considerando que a institui-ção se encontra instalada em todos os fóruns e cidades-satélites do Distrito Federal, aDefensoria Pública do Distrito Federal colabora no atendimento contencioso e orientaçãojurídica à comunidade em geral e, em especial, aos agentes comunitários de justiça ecidadania, além de contribuir com as atividades da Escola de Justiça e Cidadania, minis-trando cursos e seminários e participando das reuniões, sempre que necessário. As de-mandas individuais que ensejam a propositura de ações judiciais são remetidas à DefensoriaPública do Distrito Federal por meio dos Centros Comunitários.

8.5. Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT)

O Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios é a instituição incumbida dadefesa da ordem jurídica, do regime democrático, dos interesses sociais e individuaisindisponíveis e, ainda, de zelar pelo efetivo respeito aos direitos assegurados constitu-cionalmente. Nesse sentido, colabora com o Projeto Justiça Comunitária, por meio deseus membros, atuando como instrutores nas atividades da Escola de Justiça e Cidadaniae do Centro de Justiça e Cidadania. O Ministério Público, por meio da Promotoria deJustiça de Defesa da Comunidade (PROCIDADÃ), contribui para o Programa Justiça Co-munitária, referendando os acordos mediados pelos agentes comunitários de justiça ecidadania, nos termos do artigo 585, inciso II do Código de Processo Civil e do artigo 57,parágrafo único da Lei n. 9.099/95.

8.6. Universidade de Brasília (UnB)

A Universidade de Brasília integra o seu Núcleo de Prática Jurídica na implementaçãoda rede comunitária, colocando à disposição os recursos humanos de sua Faculdade deDireito � professores e funcionários � e sua infra-estrutura física e técnica para a elabora-ção e execução do projeto pedagógico da Escola de Justiça e Cidadania.

Além disso, o Núcleo de Prática Jurídica poderá remeter ao Centro Comunitário deJustiça de Ceilândia as demandas que apresentarem potencial para a mediação, assim

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como o Centro poderá remeter aos profissionais e estagiários do Núcleo os casos coletivosque ensejam a propositura de ação judicial.

A Universidade de Brasília possibilita e incentiva seu corpo discente a desenvolverprojetos de pesquisa acadêmica na área de mediação comunitária, tendo por objeto aexecução do Programa Justiça Comunitária do Distrito Federal.

8.7. Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência daRepública

A Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República é o órgãodo Governo Federal incumbido da coordenação da implementação da política de direitoshumanos em nosso país. No bojo de suas atribuições, apóia o desenvolvimento de açõesde prevenção à violência e de empoderamento da comunidade. Um dos mecanismos deviabilização de ações nessa área é a efetivação de parcerias, por meio de convênios, paraa implantação de Balcões de Direitos.

Uma descrição geral dos Balcões envolve a prestação de serviços de orientaçãojurídica gratuita, de mediação de conflitos e informação sobre diretos humanos. No cernedesse serviço está a ênfase na capacitação de pessoas da comunidade para que dispo-nham de conhecimento e instrumental adequado para promover e defender os direitoshumanos.

Na prática, cada Balcão assume características próprias relacionadas às peculiari-dades e às necessidades de cada comunidade, dando maior relevância a um ou outro tipode serviço. No caso do Projeto Justiça Comunitária, existe ênfase clara na mediação deconflitos realizada por cidadãos das cidades de Ceilândia e Taguatinga, apoiados pelaestrutura do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios e do conjunto dosparceiros.

Assim, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da Repúblicapermanece como parceiro relevante, fornecendo os recursos destinados ao ressarcimen-to das despesas necessárias à atuação dos agentes comunitários. Além disso, acompa-nha todo o processo de intercâmbio entre as metodologias, buscando subsídios para odesenvolvimento e aprimoramento de outros projetos que envolvem mediação comunitá-ria de conflitos por ela apoiados.

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9. OS CASOS CONCRETOS

9.1. As estatísticas

É importante ressaltar que as estatísticas seguintes expressam as atividadesefetivamente desenvolvidas durante quatro dos seis anos de execução do Programa,tendo em vista que, por quase dois anos, a ausência de recursos financeiros impossibili-tou a restituição dos valores desembolsados pelos agentes comunitários no desempenhode suas atividades, o que fez com que o número de casos se reduzisse a quase zero.

Atendimentos por Modalidade

Atendimentos por área jurídica

Modalidade Quantidade Porcentagem

Mediação 387 13,90%

Orientação 2.397 86,10%

Total 2.784 100,00%

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Modalidade Quantidade Porcentagem

Mediação 387 13,90%

Orientação 2.397 86,10%

Total 2.784 100,00%

Número de pessoas atendidas diretamenteDistribuição de cartilhas durante asapresentações do Programa, visitasà comunidade e divulgação doPrograma 905Mediação (considerando 2 pessoasenvolvidas em cada conflito) 774

Informação jurídica 2.397

Total em 45 meses de efetiva atuação 4.076Número de pessoas atendidasindiretamente (4 pessoaspor família) 11.136

9.2. O perfil das demandas

Conforme já destacado quando da análise das atividades desenvolvidas pelos agentescomunitários102 , os dados estatísticos revelam uma excessiva centralidade na atividadede orientação jurídica pós-conflito, ao lado de um número baixo de mediações. Esse fatoensejou a reformulação da atividade de informação jurídica, destacando-se o seu aspectopreventivo, por meio da produção de materiais didáticos e artísticos voltados a traduzir ovocabulário jurídico para a linguagem popular.

Assim, a partir de agosto de 2006, o Programa Justiça Comunitária do DistritoFederal orientou os agentes comunitários a incentivar os solicitantes envolvidos em lití-gios já instaurados a buscar a efetivação de seus direitos perante o Poder Judiciário,recorrendo, para tanto, à assistência judicial prestada pelas universidades, pela DefensoriaPública ou por advogados da confiança dos solicitantes. O objetivo dessa medida foiatribuir centralidade à mediação comunitária e, por conseqüência, alterar o perfil doscasos atendidos pelo Programa.

A análise da estatística revela ainda que a demanda mais significativa � em ambasas atividades, orientação jurídica e mediação � é a que envolve o Direito de Família.Embora ainda não tenha sido realizada uma avaliação externa para a análise dessesdados, há uma percepção da coordenação do Programa de que o alto índice de casosfamiliares se explica por dois fatores. De um lado, a demanda familiar é efetivamentemajoritária na comunidade. De outro, o Programa desenvolveu uma metodologia de me-diação efetivamente comunitária somente após quase seis anos de execução. Conside-rando que essa nova técnica se aplica, com pertinência, a toda e qualquer demanda

102. Ver Capítulo 4.

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comunitária, não se limitando às que veiculam conflitos estritamente interpessoais e fa-

miliares, acredita-se que, no decorrer do próximo ano (2007), o número de mediações

familiares tenderá a diminuir � embora permaneça majoritária, em razão da realidade

social � por força do aumento do número de demandas com maior impacto social e

comunitário, como, por exemplo, conflitos de vizinhança ou os que envolvam direitos

coletivos.

9.3. Os conflitos criminais

Embora a mediação comunitária seja um instrumento eficiente e adequado para a

resolução de conflitos em contextos de violência, o fato de o Ministério Público deter o

monopólio da ação penal103 requer que os programas de justiça comunitária � coordena-

dos ou não por entes estatais � estabeleçam parcerias institucionais que possibilitem que

a demanda criminal passível de transação penal104 seja encaminhada para a mediação

comunitária, com a anuência do Ministério Público e do juiz.

Uma vez consolidada a metodologia de mediação comunitária desenvolvida no Pro-

grama Justiça Comunitária, e havendo interesse dos representantes do Ministério Público

e do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, nada impede, a princípio, que

haja a remessa de algumas demandas criminais passíveis de transação penal para a

mediação comunitária e o para o encaminhamento à rede social mapeada pelo Programa.

É importante ressaltar ainda que a aplicação de técnicas restaurativas e o uso da

mediação em alguns casos criminais já vêm ocorrendo por força da implementação do

Projeto de Justiça Restaurativa no Juizado Especial do Núcleo Bandeirante do Distrito

Federal.105

O objetivo desse Programa106 é resgatar a convivência pacífica no ambiente afetado

pelo crime, em especial naquelas situações em que o infrator e a vítima têm uma convi-

vência próxima, que pode se projetar para o futuro. Nesse procedimento, as pessoas

envolvidas e afetadas pelo fato se reúnem com um facilitador para dialogarem sobre o

crime e suas conseqüências.

103. Conforme o artigo 129, I da Constituição Federal: �São funções institucionais do Ministério Público: I - promover,privativamente, a ação penal pública na forma da lei.�

104. O instituto da transação penal está previsto no artigo 76 da Lei n. 9.099/95, cujo caput prevê o seguinte: �Havendorepresentação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, oMinistério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, a ser especificada naproposta (...).�

105. No projeto piloto do Distrito Federal, a Justiça Restaurativa está destinada aos delitos considerados de menorpotencial ofensivo, ou seja, aqueles cuja punição prevista seja de até 2 anos de privação de liberdade.

106. A coordenação do Programa é de responsabilidade do juiz Asiel Henrique de Sousa e está sendo implementado pe-lo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios e pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, como apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que também dá suporte a duas ou-tras iniciativas implementadas em São Caetano do Sul-SP, sob a coordenação do juiz Eduardo Rezende de Mello, eem Porto Alegre-RS, coordenado pelo juiz Leoberto Narciso Brancher, ambos titulares das Varas da Infância eJuventude.

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9.4. Ilustração de alguns casos concretos107

Da totalidade de casos registrados no Programa Justiça Comunitária, destacam-seos seis casos relatados a seguir, pela variedade e riqueza das demandas. Ressalta-seespecial atenção para o �caso da vaca� � pelo qual a metodologia de mediação efetivamentecomunitária trouxe um impacto social extremamente positivo � e o �caso das mães decrianças especiais�, pois, embora ainda não encerrado, trata-se de um caso com potencialpara desdobramentos interessantes na área de formação de redes e defesa de direitoscoletivos.

Os demais casos, também submetidos à mediação comunitária, contribuíram paraa pacificação social e restauração dos vínculos afetivos, sociais ou familiares.

9.4.1. O �caso da vaca�

O solicitante procurou o Programa Justiça Comunitária para solucionar um conflitode vizinhança em uma área rural do Distrito Federal. Segundo o solicitante, a sua pro-priedade vinha sendo constantemente invadida por uma vaca pertencente ao dono dachácara vizinha, fato que vinha lhe causando prejuízos financeiros, na medida que oanimal destruía a cerca de arame farpado e a sua plantação de maxixe, financiada comempréstimo bancário.

Como se trata de uma área rural próxima ao limite com o Estado de Goiás, a equipeinterdisciplinar decidiu acompanhar os dois agentes comunitários responsáveis pelo caso,a fim de oferecer o suporte necessário ao atendimento.

Na primeira visita in loco, foi realizada a pré-mediação com cada parte, separada-mente, oportunidade em que foram esclarecidos as posições e interesses das partes: osolicitante queria que o solicitado se desfizesse da vaca ou que providenciasse uma cercaelétrica. O solicitado afirmou que não construiria uma cerca elétrica em terreno alheio. Asfamílias estavam muito desgastadas emocionalmente com o conflito e ambas tinhaminteresse em resgatar a comunicação, já que o pai do solicitante era amigo do solicitadoe, no passado, as crianças de ambas as famílias brincavam juntas no rio, cenário doconflito.

Reveladas as posições e interesses, as partes foram convidadas a participar deuma sessão de mediação, a qual poderia contar, inclusive, com a participação de terceirosaptos a contribuir para a construção de uma solução pacífica para o conflito. Ao finaldesse primeiro contato, as partes demonstraram maior flexibilidade, em especial o solici-tado, que chegou a ventilar a possibilidade de vender a vaca.

107. Além dos casos registrados no corpo deste texto, foram selecionados outros, cujos depoimentos foram colhidos novídeo, que integra este Relato de Experiência.

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Na sessão de mediação, que durou aproximadamente três horas e meia, o solici-tante se fez presente acompanhado de sua mãe, sua cunhada e dois primos. O solicitado,por sua vez, levou consigo dois rapazes que trabalhavam em ambas as chácaras: dosolicitante e do solicitado. Primeiramente, o solicitante � visivelmente emocionado � ma-nifestou o desgaste causado pelas sucessivas rupturas da cerca pelo animal. Em seguida,o solicitado expôs que estava disposto a vender a vaca, mas que essa solução poderianão ser definitiva, porque a localização da cerca poderia ensejar que, no futuro, novosanimais aprendessem a rompê-la, visando beber a água do rio, próximo à divisa entre aspropriedades.

Os agentes comunitários providenciaram um flip chart para que todos os presentespudessem desenhar as características geográficas da área em questão. Esse recurso foifundamental para que a solução do conflito surgisse.

Um dos convidados � técnico agrícola � do solicitante sugeriu que uma nova cercafosse instalada em local que possibilitasse que os animais bebessem a água do rio. Paratanto, o solicitante se dispôs a recuar a sua propriedade em alguns poucos metros. Osolicitado, por seu turno, ofereceu as madeiras para a confecção da cerca.

Facilitadas pelos agentes comunitários � que buscaram sempre o enfoque do futuroe não o julgamento do passado � as partes foram envolvidas em uma atmosfera maisamigável e sugeriram um mutirão para a construção e instalação da cerca. A cunhadaofereceu o carro para o transporte da madeira. Nesse momento, a mãe do solicitante �cuja única manifestação, em quase três horas de mediação, foi ter se referido ao solicita-do como �mentiroso� � ofereceu-se para fazer o almoço de celebração do acordo entre asfamílias, no dia do mutirão.

Ao final, enquanto o acordo era redigido, as partes manifestaram o quão importan-te foi para aquelas famílias a retomada de uma velha amizade e, ainda, a certeza de que,no futuro, eventuais conflitos que surjam entre eles serão facilmente resolvidos pelodiálogo.

Por fim, é oportuno ressaltar que o solicitante já havia ajuizado uma ação judicial,a qual foi extinta sem julgamento de mérito, por desistência do autor. Em razão do acir-ramento do conflito, o autor sentiu-se ameaçado e decidiu renunciar ao pleito, dias antesda data designada para a audiência de conciliação.

9.4.2. O �caso dos irmãos�

A solicitante procurou o Programa Justiça Comunitária afirmando que vendeu umlote ao irmão, mediante a promessa de pagamento do valor em duas parcelas, em espé-cie. Após o pagamento da primeira parcela, contudo, o irmão lhe entregou um veículopara que fosse vendido e, assim, quitar o seu débito com a irmã. Ocorre que a solicitanteé portadora de deficiência física, o que dificultava a venda do veículo. O irmão, por sua

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vez, alegava que não tinha tempo para vendê-lo e entregou o veículo a um terceiroirmão, o qual efetuou a alienação, mas não repassou o valor à solicitante. Após algunsanos sem contato com o irmão, a solicitante resolveu buscar o Programa Justiça Comuni-tária. Realizadas pesquisas pelo Centro Comunitário com o objetivo de localizar o solicita-do, a mediação foi marcada e realizada na residência da solicitante, tendo em vista suasdificuldades de locomoção.

No decorrer da mediação, o solicitado mostrou-se bastante sensível às dificuldadesenfrentadas pela irmã. O acordo foi celebrado mediante o pagamento do débito e docompromisso do irmão em ajudar sua irmã, no que fosse possível. É interessante obser-var que, neste caso, as partes preferiram não formalizar o acordo celebrado.

9.4.3. O �caso da fumaça�

O solicitante procurou o Programa Justiça Comunitária narrando uma série de pro-blemas relacionados à vizinhança. Afirmou que sua vizinha possuía muitas árvores cujosgalhos invadiam e sujavam o seu quintal e que promovia constantes queimadas de lixose entulhos, fatos que o incomodavam. Além disso, o solicitante afirmou que a vizinha eraidosa, implicava com os seus filhos e que não conseguiu qualquer acordo com a mesma,apesar de sua esposa já ter tentado uma vez. A mediação foi sugerida e aceita pelaspartes. Na sessão, a vizinha também reclamou que, certa vez, o solicitante providenciarao corte de suas árvores, sem a sua permissão, fato que contribuiu ainda mais para oacirramento do conflito entre ambos.

Diante da pergunta da mediadora em relação à fumaça, a vizinha esclareceu querealmente fazia fumaça em seu lote quando precisava queimar lenha para cozinhar paraos seus netos, cuja mãe é alcoólica. Narrou ainda que quando não possui dinheiro sufi-ciente para a compra do gás, ela prepara as refeições utilizando-se da lenha que seuquintal lhe oferece, justamente porque possui muitas árvores. Nesse momento, o solicitantedemonstrou total perplexidade e compaixão, o que possibilitou que ambos conversassemcom detalhes sobre possíveis medidas que poderiam ser tomadas por ambos para amelhora do relacionamento vicinal: horário e local para a colocação do lixo, poda dasárvores, etc.

O solicitante celebrou o acordo � que não foi formalizado a pedido das partes �doando um botijão de gás para a sua vizinha.

9.4.4. O �caso das amigas que trocaram as casas�

Duas famílias promoveram a troca de suas respectivas casas entre si. Contudo, nomomento da vistoria dos imóveis, a solicitante observou que a casa que recebera possuíaum número menor de cômodos. Diante da reclamação da solicitante, a solicitada compro-meteu-se, mediante acordo escrito com firma reconhecida, a construir mais dois cômodos,a fim de compensar a diferença. Ocorre que o acordo não especificou o tamanho dos

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cômodos, a quantidade de portas e janelas e a qualidade do material a ser utilizado e oacabamento. Como os cômodos novos foram entregues sem pintura, cerâmica, portas ejanelas, a solicitante procurou o Programa Justiça Comunitária, buscando uma possibili-dade de mediação.

Na sessão de mediação, os terceiros trazidos por cada parte eram profissionais daárea de construção. Quando uma das partes sugeriu os primeiros traços do acordo, osterceiros puderam participar e contribuir para a celebração do acordo.

Houve consenso quanto ao fato de que caberia à solicitada providenciar a pinturados cômodos. Após, o impasse foi restabelecido quando se discutiu da necessidade ounão de se aplicar massa nas paredes. Após muitas sugestões, chegou-se ao consenso deque os cômodos deveriam seguir o padrão dos demais já existentes, ou seja, sem massa,mas com pintura, desde que a tinta obedecesse à mesma cor dos demais quartos jápintados. Quanto à ausência de cerâmica e de porta e janela, a solicitada concordou empagar o valor de R$ 100,00 para a solicitante, divididos em cinco parcelas.

Em seu depoimento, a solicitante revelou que a construção conjunta do consensodevolveu-lhe a esperança de resgatar a amizade de dezesseis anos que tinha com asolicitada, rompida por força desse conflito.

9.4.5. O �caso do DVD extraviado�

O solicitante procurou o Programa Justiça Comunitária, afirmando que deixou umaparelho de DVD de seu automóvel em um auto-elétrico para manutenção. Na data com-binada para a entrega do serviço, o solicitante constatou que o aparelho havia sido extra-viado e a proprietária do auto-elétrico comprometeu-se a restituir o valor corresponden-te, mediante um adiantamento de R$ 160,00.

O solicitante aguardou o pagamento do valor restante por aproximadamente umano, sem tomar qualquer iniciativa perante o Poder Judiciário, porque não acreditava quea demanda justificasse tal medida. A agente comunitária responsável pelo caso sugeriu,então, a mediação, o que foi aceito por ambas as partes.

No decorrer da sessão de mediação, a proprietária do auto-elétrico reconheceu aresponsabilidade pelo extravio e aceitou pagar o valor restante. O objeto da discussãopassou a ser, então, a exata quantia que faltava a ser paga. O valor que o solicitanteapresentava era o dobro do valor reconhecido pela proprietária do negócio. A questão erasaber exatamente quanto valeria um aparelho tal qual o extraviado, considerando que omesmo era usado.

O solicitante propôs então que a proprietária lhe entregasse um aparelho usado damesma marca e com as mesmas características do extraviado. A sugestão do solicitantefoi aceita pela proprietária, desde que lhe fosse restituído o valor de R$ 160,00 que havia

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sido paga quando do extravio do aparelho. Embora o solicitante tivesse consciência deque esse valor poderia ser compensado a título de indenização pelo tempo em que foiprivado do uso do aparelho, o solicitante aceitou a proposta e demonstrou intensa satis-fação por ter resolvido um conflito que, no seu entender, não justificaria uma demandajudicial.

9.4.6. O �caso das mães de crianças especiais�

Um agente comunitário foi contatado pela mãe de uma criança portadora de neces-sidades especiais, solicitando ajuda para que a empresa de ônibus interestadual que ostransporta diariamente, da região do entorno para uma escola de alunos especiais noDistrito Federal, aceitasse o uso do passe livre para acompanhantes emitido pelo Governodo Distrito Federal, para uso restrito da área do Distrito Federal.

A primeira sugestão da equipe interdisciplinar foi investigar se havia outras mãespartilhando do mesmo problema, uma vez que a escola em questão é para criançasespeciais. De fato, constatou-se que o conflito não se limitava ao âmbito individual. Oagente comunitário buscou reunir esse grupo de mães, a fim de que os interesses detodas fossem revelados. A partir desse momento, uma rede de mães que partilham domesmo problema foi criada, o que contribuiu positivamente para o processo deempoderamento daquele grupo.

A discussão do caso entre a equipe interdisciplinar e alguns agentes comunitáriostambém sugeriu fosse realizada uma pesquisa jurídica para a compreensão dos direitosenvolvidos na demanda. Constatou-se que a legislação federal não prevê passe livre paraacompanhantes de portadores de deficiência, nos transportes interestaduais ou semi-urbanos.

De qualquer sorte, as empresas foram contatadas pelo Programa, mas somenteuma delas aceitou o convite para uma sessão de mediação. No dia do encontro, a empre-sa não se dispôs a negociar, tampouco a ajudar a mobilizar as demais empresas para umencontro de mediação, porque considera que já realiza o suficiente em termos de respon-sabilidade social.

Diante da impossibilidade de submeter esse caso a uma sessão de mediação, nãorestará outra alternativa senão a busca pela efetivação dos direitos das crianças portado-ras de necessidades especiais perante o Ministério Público Federal, o Conselho Nacionaldos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (CONADE) da Secretaria Especial deDireitos Humanos da Presidência da República e a Comissão de Direitos Humanos daCâmara dos Deputados, para eventuais providências judiciais e/ou legislativas. Essa ini-ciativa, contudo, dependerá do grau de mobilização e interesse dessa rede de mães, cujaoportunidade de consolidação nasceu do conflito.

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10. REGISTRO E MEMÓRIA

10.1. O sistema de banco de dados

A construção de um banco de dados108 surgiu da necessidade de o Programa con-tar com um instrumento que possibilitasse uma eficiente prestação de contas de todos osatendimentos realizados pelos agentes comunitários, a todos os órgãos apoiadores �Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Programa das Na-ções Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Secretaria de Reforma do Judiciário doMinistério da Justiça �, aos demais parceiros institucionais do Programa, ao Tribunal deContas da União, às Secretarias de Recursos Orçamentários e Financeiros e de ControleInterno do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, à imprensa; ao públicoatendido pelo Programa e a todos os que se interessem em conhecer o Programa.

A compilação dos dados relativos às demandas auxilia na construção dos indicado-res quantitativos para a avaliação de impacto do Programa na comunidade, a partir dasseguintes informações:

1. dados sócio-econômicos da população atendida: nome do solicitante; sexo;endereço; telefone; data/local de nascimento; faixa etária; profissão; ocupação; ren-da individual; renda familiar; grau de escolaridade; situação conjugal; filhos; se morasozinho;

2. informações sobre a natureza das demandas classificadas de acordo com asseguintes áreas do direito: família, sucessões, moradia, obrigações, responsabilidade ci-vil, contratos, consumidor, previdenciário, trabalho, criminal, direitos humanos, registrospúblicos e outros;

3. visualização dos andamentos dos atendimentos:� atendimentos finalizados e em andamento;� tempo de resposta para a comunidade;� atuação/ produtividade de cada agente;� modalidades dos atendimentos: informação jurídica; encaminhamento para ou-

tros órgãos; mediação comunitária de conflitos ou formação de redes.

10.2. Registrando as atividades

Todas as atividades resultantes das demandas são registradas em um formuláriopadronizado109, que veicula informações relevantes acerca do perfil sócio-econômico dos

108. Segundo informações fornecidas pelo técnico em informática Auto Tavares da Câmara Júnior, responsável pelaconstrução do banco de dados, �o banco de dados utilizado para a solução é o banco de dados corporativo do TJDFT,qual seja o Caché, que é um banco de dados orientado a objetos com múltiplas camadas de acesso relacional ehierárquico. A operacionalização da solução é feita em arquitetura J2EE Java�.

109. Ver Anexo XII.

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solicitantes, da natureza das demandas, das iniciativas que eventualmente os solicitantestomaram antes de procurar o Programa, dentre outras. A finalidade é sistematizar essasinformações em gráficos estatísticos que revelem informações preciosas para as avalia-ções e o aperfeiçoamento do Programa.

Além das informações úteis para efeitos estatísticos, esse material é também utili-zado pela equipe interdisciplinar no acompanhamento de cada caso, por meio do registrodos encaminhamentos eventualmente sugeridos e dos resultados das sessões de media-ção, caso aconteçam.

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11. O TRABALHO VOLUNTÁRIO

11.1. A natureza do trabalho voluntário

O trabalho voluntário se caracteriza pela doação de tempo, dedicação, habilidades

e talentos a uma atividade de interesse social. É a conjugação da ética da solidariedade

com a participação cidadã. Nesse sentido, a motivação do voluntário pode repousar tanto

na generosidade e compaixão, quanto no senso de indignação e inconformismo diante da

desigualdade e injustiça sociais.110

É interessante observar, porém, que a relação que se estabelece entre o voluntário

e a comunidade beneficiada é bilateral. O voluntário, além de doador, faz-se receptor de

novas experiências que possibilitam o aprendizado pessoal e profissional, o reconheci-

mento e o respeito comunitário, o prazer de ser útil, a descoberta da auto-estima, o

sentimento de pertença, o descobrimento do sentido de comunidade.

A comunidade, por sua vez, além de proporcionar esses benefícios aos que a ela se

dedicam voluntariamente, abre-se para novas possibilidades de trabalhos coletivos, cria-

ção de vínculos de solidariedade, estabelecimento de parcerias, respeito à diversidade,

enfim, compromisso com o interesse comunitário.111

Essa reciprocidade de benefícios, aliada à partilha de saberes, permite a construção

de ações em rede entre os diversos atores, serviços, programas e movimentos sociais.

Assim, o trabalho voluntário constitui importante instrumento de desenvolvimento social

porque permite a intensificação dos níveis de compreensão da realidade, a realização

coletiva com eficiência e criatividade e o empreendedorismo com cooperação.

Para que a experiência com o trabalho voluntário tenha êxito, é fundamental inves-

tigar em que medida o programa beneficiado apresenta objetivos compatíveis com as

expectativas e com o perfil do voluntário. Na medida que a remuneração nessa atividade

é de natureza não-material, é preciso que haja uma identidade do teor do programa com

os anseios espirituais e/ou político-ideológicos e/ou afetivo-pessoais do voluntário.

Além disso, é necessário que se esclareça que, uma vez estabelecidos os limites da

atuação de acordo com a disponibilidade pessoal, o voluntário assume um compromisso

com um projeto que busca eficiência e impacto social positivo. Nesse sentido, é preciso

que o voluntário esteja consciente da responsabilidade social assumida quando da ade-

são a um programa.

110. VILLELA, Milú. Faça Parte e o I Congresso Brasileiro do Voluntariado. In: PEREZ, Clotilde; JUNQUEIRA, Luciano Prates(Orgs.). Voluntariado e a gestão das políticas sociais. São Paulo: Futura, 2002. p. 16.

111. PEREZ, Clotilde; JUNQUEIRA, Luciano Prates (Orgs.). Voluntariado e a gestão das políticas sociais. São Paulo:Futura, 2002.

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11.2. A adesão voluntária. Questões práticas

Os agentes comunitários do Programa Justiça Comunitária do Distrito Federal de-sempenham as suas atividades sob a regência da Lei n. 9.608/98, que dispõe sobre oserviço voluntário.112

Inicialmente, as despesas relativas à atuação dos agentes eram calculadaspor estimativa, e a respectiva restituição era efetuada através de um valor mensal fixo.Nessa época, embora o número de atendimentos não fosse expressivo � consideran-do o momento inicial do Projeto �, os agentes estavam sob intensa capacitação na Escolade Justiça e Cidadania, o que implicava gastos significativos com transporte ealimentação.113

Posteriormente, conforme os agentes comunitários adquiriam experiência, o res-sarcimento das despesas passou a variar conforme o número e a natureza dos casosatendidos. Segundo os cálculos estimados pela equipe administrativa do Programa, cadaatendimento implicava número aproximado de telefonemas, transporte e alimentação.Assim, por ser a mediação um processo bilateral, que exige o convencimento e a presen-ça de ambas as partes, os gastos a serem ressarcidos eram maiores do que os relativosàs demandas que redundavam em orientação jurídica, cuja dinâmica implicava menornúmero de contatos e deslocamentos.

A opção pelo ressarcimento por estimativa ocorrido nesses dois períodos justifica-va-se pela dificuldade � quando não impossibilidade � de se documentar cada gastoefetuado no cotidiano do agente comunitário. Era inviável exigir, por exemplo, a juntadade recibos de uma passagem de ônibus ou de um telefonema local.

Contudo, considerando que uma das interpretações possíveis do artigo 3° da Lein. 9.608/98 é a de que o ressarcimento só pode ocorrer mediante a comprovação docu-mental dos gastos, o Programa redefiniu os critérios do cálculo do ressarcimento.Atualmente, a sistemática adotada é a restituição dos valores gastos � respeitado o limiteorçamentário � baseada nos dados registrados em um formulário, no qual cada agentecomunitário assume a responsabilidade pela declaração das despesas relativas aos casosefetivamente atendidos. Esse método, que a princípio ostentava difícil implementação,mostrou-se relativamente simples, eis que foram adotados alguns mecanismos demonitoramento entre o conteúdo das declarações e as realizações, o que foi edificantepara imprimir maior transparência e ética na gestão do Programa.

É bom ressaltar que, no caso do Programa Justiça Comunitária, esse ressarcimentotem sido possível graças ao convênio firmado com a Secretaria de Estado de Direitos

112. O teor da Lei do Voluntariado encontra-se no Anexo XIII.113. Essa capacitação abrange tanto a presença na Escola de Justiça e Cidadania � nas aulas que ocorrem todas as

sextas-feiras e nos cursos de mediação realizados em alguns finais de semana � como também as idas ao CentroComunitário de Justiça e Cidadania para orientação dos casos levados pelos agentes comunitários à equipeinterdisciplinar.

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Humanos da Presidência da República. Em se tratando, pois, de recursos públicos, aeficiência e transparência de sua gestão obedece não somente a um imperativo ético,como também às normas de Direito Público.

É oportuno destacar que a Lei do Voluntariado prevê que o ressarcimento veiculadoem seu artigo 3° ostenta natureza indenizatória, e não remuneratória. Isso significa afir-mar que o desembolso desses valores não gera vínculos trabalhistas e/ou previdenciários,desde que observados os demais critérios adotados na legislação obreira.

É conveniente destacar ainda que a Lei do Voluntariado exige a confecção de umTermo de Adesão114, a fim de que as partes protejam-se mutuamente contra eventualdivergência de interesses e expectativas. Esse instrumento, quando redigido de maneiraclara e objetiva, é fundamental para estabelecer as condições sob as quais o trabalhovoluntário será realizado.

Por fim, é necessário esclarecer a razão pela qual um Programa coordenado por umTribunal de Justiça optou por dispor de um trabalho de natureza voluntária. Não se tratade buscar diminuir a demanda judicial, mesmo porque as atividades dos agentes comuni-tários podem, muitas vezes, instigar aquele cidadão resignado em buscar efetivar seusdireitos perante o Poder Judiciário. O que na verdade se pretende é assegurar que osagentes comunitários, na qualidade de membros engajados em ações comunitárias, pos-sam compartilhar a linguagem e o código de valores comunitários e, dessa forma, contri-buir para a formulação de um saber local. Assim, não haveria qualquer sentido em desti-nar servidores do Tribunal de Justiça, por exemplo, para o desempenho de uma tarefaque é essencialmente comunitária, porque realizada pela, para e na comunidade.

114. O Termo de Adesão do Programa Justiça Comunitária encontra-se no Anexo XIV.

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12. EM BUSCA DA AUTO-SUSTENTABILIDADE DO PROGRAMA

Embora o Programa Justiça Comunitária opere com agentes comunitários voluntá-rios, a restituição do valor efetivamente desembolsado no desempenho das atividades éfundamental para a viabilidade do Programa, sobretudo em comunidades socialmentevulneráveis. Esse ressarcimento, contudo, demanda a existência de recursos para tal fim,o que nem sempre é possível, seja para entidades da esfera privada ou pública.

A fim de assegurar a auto-sustentabilidade financeira dessas iniciativas, é indis-pensável que haja um amplo diálogo entre instituições que pretendam investir, por suarelevância social, na disseminação de programas de justiça comunitária.

O Programa Justiça Comunitária oferece a proposta descrita a seguir, não como oúnico caminho a ser trilhado em busca dessa necessária auto-sustentabilidade, mas comouma contribuição ao debate.

12.1. Uma proposta para a reprodução nacional de um programa dejustiça comunitária em larga escala e de baixo custo

A execução de um programa de justiça comunitária com potencial para a reprodu-ção em escala federal e com capilaridade suficiente para atingir pequenos municípiosrequer a participação de entidades públicas e privadas interessadas na promoção de umamplo processo de democratização da realização da justiça.

Para que um programa como esse ganhe contornos nacionais, sem prejuízo dorespeito às particularidades regionais, é necessária a convergência de esforços entre osseguintes entes públicos e privados: Secretaria da Reforma do Judiciário do Ministério daJustiça, Tribunais de Justiça Estaduais, Governos Estaduais e Municipais e empresas pú-blicas ou privadas que queiram imprimir a responsabilidade social em suas marcas.

À Secretaria da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça caberia a coordena-ção da elaboração de diretrizes gerais de um programa de justiça comunitária, com acolaboração de parceiros das universidades, dos Tribunais de Justiça, do Legislativo, dasONGs e OSCIPs, dentre outros.

Os Tribunais de Justiça Estaduais, por meio de suas Escolas da Magistratura, se-riam estimulados a criar as Escolas de Justiça e Cidadania, voltadas para a capacitação deagentes comunitários de justiça e cidadania, nas áreas de noções básicas de Direito,direitos humanos e técnicas de mediação comunitária e de animação de redes sociais.

Essa iniciativa poderia ser ampliada, para que as Escolas também oferecessemcapacitação em mediação forense � técnica passível de ser adotada nos processos judi-ciais já instaurados � aos servidores dos Tribunais que demonstrassem habilidade e inte-resse nessa atividade.

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Os Governos Municipais teriam por atribuição a seleção e o credenciamento deagentes comunitários de justiça e cidadania, segundo os critérios genéricos estabelecidospela coordenação da Secretaria de Reforma do Judiciário.

A instalação dos centros comunitários de justiça e cidadania é de fundamentalimportância, na medida que oferecem suporte interdisciplinar para a atuação dos agentescomunitários e para o registro e controle dos casos atendidos. Nesse sentido, os Gover-nos Estaduais poderiam auxiliar os Governos Municipais a instalarem um centro comuni-tário em um espaço físico dotado de, no mínimo, duas salas (uma para a mediaçãocomunitária e outra para a secretaria), um computador, um telefone e uma equipeinterdisciplinar composta por servidores públicos � um advogado, um psicólogo e umassistente social.

Por fim, para que os programas possam ter auto-sustentabilidade financeira no quese refere à atuação dos agentes comunitários, sem custos significativos para o Estado esem o risco de desvio de verbas públicas, a iniciativa privada poderia integrar o progra-ma, participando de um movimento intitulado por exemplo Construindo uma Justiça dePaz: adote um agente comunitário de justiça e cidadania.

Cada agente comunitário selecionado pelos Governos Municipais seria contratadopela empresa participante � com todos os encargos sociais, trabalhistas e previdenciários� para desempenhar funções de acordo com o perfil profissional de cada um. Assim, ummarceneiro, por exemplo, seria lotado na empresa parceira para exercer as funções demarcenaria. A carga horária, contudo, é que seria alterada: o marceneiro trabalharia por4 horas e as horas restantes seriam destinadas ao programa de justiça comunitária, cujaatuação seria submetida ao controle quantitativo e qualitativo de cada centro comunitá-rio. Essa medida evitaria a formação de uma categoria burocrática de agentes estatais,além de preservar a identidade profissional e a auto-estima de cada agente comunitáriode justiça.

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13. A AVALIAÇÃO DO PROGRAMA

13.1. Avaliação. Conceito e objetivos

As parcerias firmadas entre as agências internacionais, as entidades públicas e asorganizações da sociedade civil para o desenvolvimento de projetos na área social têmsido cada vez mais freqüentes, seja em razão da escassez de recursos exclusivamentepúblicos para esse fim, seja por força da ampliação dos canais democráticos de participa-ção da sociedade no controle e gestão de programas sociais.

Por um imperativo ético, é recomendável que os atores envolvidos na efetivaçãodessas parcerias estabeleçam instrumentos avaliativos voltados para o permanentemonitoramento da execução dos programas e seu efetivo impacto social.

A definição de avaliação descrita a seguir é precisa, na medida que veicula o con-ceito associado às suas finalidades: �Avaliação é uma forma de pesquisa social e aplicada,sistemática, planejada e dirigida, destinada a identificar, obter e proporcionar de maneiraválida e confiável dados e informação suficiente e relevante para apoiar um juízo sobre omérito e o valor dos diferentes componentes de um programa (tanto na fase de diagnós-tico, programação e execução), ou de um conjunto de atividades específicas que se rea-lizam, foram realizadas ou se realizarão, com o propósito de produzir efeitos e resultadosconcretos, comprovando a extensão e o grau em que se deram essas conquistas, deforma tal que sirva de base ou guia para uma tomada de decisões racional e inteligenteentre cursos de ação, ou para solucionar problemas e promover o conhecimento e acompreensão dos fatores associados ao êxito ou ao fracasso de seus resultados.�115

Trata-se de um valioso instrumento, na medida que pode proporcionar os seguintesbenefícios aos programas sociais:

� melhor controle e racionalização na utilização de recursos;

� aferição do grau de satisfação dos usuários em relação ao serviço prestado;

� aferição do impacto causado pelo programa;

� diagnóstico de problemas e suas circunstâncias na execução do programa;

� redirecionamento da execução;

� maior facilidade na captação de recursos;

� sistematização dos resultados para maior controle social.

115. REIS, Liliane G. da Costa. Avaliação de projetos como instrumento de gestão. p. 3. Disponível em: <http://www.rits.org.br/gestao_teste/ge_testes/ge_tmesant_nov99.cfm>. Acesso em: 3 nov. 2006.

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Em geral, as avaliações buscam a aferição do índice de eficiência, eficácia e efetividadede um programa social, cujos conceitos são os seguintes: �Eficiência diz respeito à boautilização dos recursos (financeiros, materiais e humanos) em relação às atividades eresultados atingidos�116. Em poucas palavras, menos recursos com maiores benefícios. Jáa eficácia permite observar �se as ações do projeto permitiriam alcançar resultados pre-vistos�117. É a relação de pertinência e adequação entre meios e fins. E enfim a �efetividadeexamina em que medida os resultados do projeto, em termos de benefícios ou mudançasgerados, estão incorporados de modo permanente à realidade da população atingida�118.Embora seja difícil estabelecer o nexo causal, trata-se de comparar o impacto antes edepois da implementação do programa social.

13.2. A subjetividade da avaliação

A avaliação de programas sociais não pode ser exclusivamente técnica porque osucesso ou não de um programa está ligado a valores e expectativas de seus usuáriosmembros da comunidade que compõe o público-alvo.119

O avaliador, ainda que revestido de rigor científico, não é o único capaz de explicare analisar os fatos sociais120. Ao contrário do que afirma o paradigma positivista, a subje-tividade é inerente a qualquer avaliação porque �decisões que dizem respeito a quaisinformações devem ser coletadas, escolha da amostra, seleção de critérios e princípios,métodos de tratamento estatístico passam a ser percebidos como envolvendo julgamen-tos de valor (Holland, 1983)�.121

Nesse sentido, a fim de que a avaliação não fique limitada ao universo subjetivo dopesquisador, as vozes dos sujeitos sociais que integram o programa devem ser ouvidas.�As análises dos sujeitos sociais envolvidos nos serviços/programas sobre estas expe-riências não podem ser ignoradas, mas reconhecidas como portadoras de racionalidade eanalisadas sob a luz das conexões histórico-sociais que conformam tais discursos�122.Isso não significa afirmar, por óbvio, que não deva haver fundamentação quanto às esco-lhas realizadas ao longo do processo avaliativo.

13.3. Momento da avaliação

De uma maneira geral, um programa social pode e deve ser avaliado a qualquermomento. A depender, contudo, do período em que se realiza a avaliação, os objetivos eas técnicas se diferenciam, conforme se verifica a seguir.

116. VALARELLI. Leandro Lamas. Indicadores de resultados de projetos sociais. p. 14. Disponível em: <http://www.rits.org.br/gestao_teste/ge_testes/ge_tmes_junho2002.cfm>. Acesso em: 3 nov. 2006.

117. Ibidem, p. 14.118. Ibidem, mesma página.119. DESLANDES, Suely Ferreira. Concepções em pesquisa social: articulações com o campo da avaliação em serviços de

saúde. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 13, n. 1, p. 103-107, jan./mar. 1997. Disponível em:<www.scielo.br/pdf/csp/v13n1/0228.pdf>. Acesso em: 3 nov. 2006.

120. Ibidem, p. 105.121. Ibidem, p. 104.122. Ibidem, p. 105.

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Período inicial, também denominado ex-ante ou �ponto zero�: o objeto é a formu-lação e implementação do programa. Nesse momento, busca-se investigar a pertinência,a viabilidade e a eficácia em potencial do projeto. O objeto dessa avaliação é o territórioe sua história; o público alvo, suas demandas e talentos; a estrutura organizacional; acoerência do programa em relação aos objetivos e instrumentos; e o exame dos marcosconceituais, dentre outros.

Durante a execução: o objeto é o desenvolvimento do programa. Esta avaliaçãobusca investigar em que medida a proposta original está sendo ou não cumprida. É uminstrumento que permite a identificação de problemas e eventuais correções de rumo.

Avaliação final: os resultados do programa estão sob análise. É a avaliação dosefeitos e do impacto social provocados pelo programa, sendo fundamental para auxiliarna tomada de decisões quanto à continuidade ou não do programa.

13.4. A avaliação do Programa Justiça Comunitária

Conforme se verifica no corpo do presente relato, a equipe do Programa JustiçaComunitária dedicou esforço contínuo para armazenar, sistematizar e analisar os dadosrelativos à sua execução.

A partir desse constante processo de identificação dos êxitos e fragilidades do Pro-grama, foi possível a adoção de providências que ensejaram algumas alteraçõesoperacionais, na busca de seu aperfeiçoamento. Muito embora essa constante auto-ava-liação tenha sido extremamente valiosa, era imperioso que o Programa tivesse condiçõesestruturais de se submeter a um profissional capacitado, para desenvolver uma avaliaçãoexterna. Em seis anos de execução, esta é a primeira oportunidade em que essa contrataçãoserá possível.

Tendo em vista que o Programa Justiça Comunitária encontra-se em profundo pro-cesso de replanejamento123, a avaliação deverá ser feita em duas etapas. Em um primei-ro momento, a avaliação terá por objetivo a realização de um diagnóstico da atual situa-ção do Programa.

Para tanto, será levado a efeito um levantamento in loco dos dados das atividadesdesenvolvidas pelo Programa. Todos os atores sociais inseridos na comunidade e de algu-ma forma envolvidos com o Programa � membros da equipe, agentes comunitários, usuá-rios e entidades que compõem as redes locais � serão entrevistados.124

A partir do confronto dessas informações com os dados já armazenados pelo bancode dados do Programa, será possível a identificação da motivação do usuário na busca do

123. Todas as mudanças previstas e planejadas foram descritas neste Relato de Experiência.124. A seleção dos entrevistados obedecerá aos critérios de gênero, natureza das demandas, natureza dos atendimentos

� mediação ou orientação jurídica � e território, consideradas as diferentes áreas das cidades-satélites de Taguatingae Ceilândia.

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serviço, do tipo de demanda mais acionada até o momento, do nível de satisfação dousuário e das sugestões locais, diante de possíveis obstáculos constatados.

O resultado dessa avaliação inicial será fundamental, seja para eventual correçãode algum aspecto operacional previsto para o ano de 2007, seja para servir de basecomparativa para a segunda etapa da avaliação, cujos traços ainda serão definidos.

Se, de um lado, essa permanente construção a que se submete o Programa JustiçaComunitária traz a insegurança natural que embala os projetos pioneiros, de outro, con-tribui para torná-lo um sonho sólido, passível de resistir às mais intensas dificuldades.Não fossem o compromisso, a lealdade e a convicção com que a equipe interdisciplinardeste Programa perseguiu seus objetivos estratégicos, por certo este relato de experiên-cias teria dado lugar a um livro de memórias.

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Anexos

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Justiça Comunitária � Uma experiência 103

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS - TJDFTCADASTRO DE INSTITUIÇÕES/ENTIDADES

1. Identificação da Instituição/Entidade

Nome / Razão Social:

Tipo de Pessoa: ( ) Física ( ) Jurídica CNPJ/CPF:

Endereço:

Bairro: Cidade: UF: CEP:

Telefones: Fax:

E-mail: HomePage:

O que faz:

Área de Atuação: ( ) Educacional ( ) Esporte/Lazer ( ) Saúde ( ) Segurança ( ) Social( ) Trabalho ( ) Outra:

Áreas Específicas: ( ) Abrigamento ( ) Abuso sexual ( ) Alcoolismo ( ) Alfabetização ( ) Atdo. à criança( ) Atdo. à mulher ( ) Atdo. ao adolescente ( ) Atdo. ao idoso ( ) Atdo. jurídico ( ) Dependência química( ) Documentação civil ( ) HIV/AIDS ( ) Inserção no mercado ( ) Port. de necessidades especiais( ) Serv. médicos ( ) Serviços odontológicos ( ) Serviços profissionalizantes ( ) Serviços psicológicos( ) Serv. psicopedagógicos ( ) Serv. psiquiátricos/Saúde mental ( ) Vítimas de violência ( ) Outras:

2. Responsável pela Instituição

Nome: Função: Profissão:

Telefones: E-mail:

3. Informações Complementares

Funcionamento: ( ) Segunda ( ) Terça ( ) Quarta ( ) Quinta ( ) Sexta ( ) Sábado ( ) Domingo Horário:

Especialidades dos Profissionais: ( ) Assist. social ( ) Educador ( ) Enfermeiro ( ) Fisioterapeuta( ) Fonoaudiólogo ( ) Hebiatra ( ) Médico ( ) Neurologista ( ) Nutricionista ( ) Pedagogo ( ) Pediatra( ) Prof. Ed. Física ( ) Psicólogo ( ) Psicopedagogo ( ) Psiquiatra ( ) Terapeuta ocupacional ( ) Outros:

Período de Férias/Recesso: Tempo Aprox. 1o Atendimento:

Remuneração do Serviço: ( ) Convênio ( ) Gratuito ( ) Pgto. de acordo c/ renda ( ) Pgto. Simbólico( ) Preço Mercado ( ) Outra:

Facilitadores de Frequência ao Serviço: ( ) Nenhum ( ) Alimentação ( ) Transporte ( ) Vale-transporte( ) Outros:

Vinculação religiosa: ( ) Nenhuma ( ) Afro-brasileiras ( ) Católica ( ) Espírita ( ) Evangélica/Protestante( ) Outra:

Formas de Encaminhamento/Ingresso:

Clientela: ( ) Criança ( ) Adolescente ( ) Adulto ( ) Idoso ( ) Casal ( ) Família Faixa Etária: de a anos

Restrições/Observações:

4. Serviços Prestados/Atividades Desenvolvidas

Serviço/Atividade Especialidades dos Profissionais Observações

5. Obtenção dos Dados

Data: Forma de obtenção: ( ) Visita ( ) Telefone ( ) Reunião ( ) Outra:

Entrevistador(es): Entrevistado: Função/Profissão:

Observações e Impressões do Entrevistador:

Anexo I - Formulário Instituições/Entidades

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Anexo II - Histórico da seleção no Programa Justiça Comunitária

Ao longo desses cinco anos, foram realizados seis processos seletivos para agentecomunitário de justiça e cidadania, a saber:

Processo Seleção 1 Seleção 2 Seleção 3 Seleção 4 Seleção 5 Seleção 6Seletivo

Período out. a abr. a mai. a out. 2004 a set. a jun. adez./2000 jun./2002 jun./2003 ab./2005 out./2005 ago./2006

Cidade Ceilândia Taguatinga Ceilândia e Ceilândia e Ceilândia e Ceilândia eTaguatinga Taguatinga Taguatinga Taguatinga

Justifi- Início do Expansão do Preenchimento Preenchimento Preenchimento Preenchimentocativa Programa Programa de vagas de vagas de vagas de vagas

existentes existentes existentes existentes

Recruta- Divulgação Carta às Carta às Reunião em Reunião em Reunião emmento na mídia. instituições. instituições. escolas ativas associações e associações e

Carta às Esclareci- Esclarecimentos na comunidade. escolas escolasinstituições. mentos sobre sobre o Pro- Esclarecimentos representativas representativasEsclarecimen- Programa. grama. em grupo sobre de cada setor de cada setortos sobre o Preenchimen- Preenchimento preenchimento com vaga. com vaga.Programa. to de for- de formulário. de formulário. Distribuição DistribuiçãoPreenchi- mulário. Entrega de de folder nos de folder nosmento de Entrega de currículo e carta setores c/vaga. setores c/vaga.formulário. currículo e de encaminha- Fixação de car- Fixação de car-

carta de enca- mento. taz nos locais taz nos locaisminhamento. visitados. visitados.

Preenchimento Preenchimentode formulário. de formulário.

Seleção Análise do Entrevista Análise do Análise do Análise do Análise doformulário. individual. formulário e formulário. formulário. formulário.Curso de Dinâmica de do currículo. Dinâmica de Dinâmica de Dinâmica deformação. grupo. Dinâmica de grupo. grupo. grupo.Entrevista Pesquisa grupo. Entrevista Entrevista Entrevistaindividual. sócio-jurídica. Entrevista individual. individual. individual.Prova escrita. individual. Pesquisa Pesquisa PesquisaProva oral. Pesquisa sócio-jurídica. sócio-jurídica. sócio-jurídica.

sócio-jurídica.Pesquisa nacomunidade.

N. 143 70 Ceilândia: 106 Ceilândia: 36 Ceilândia: 40 Ceilândia: 48inscritos Taguatinga: 34 Taguatinga: 14 Taguatinga: 15 Taguatinga: 23

N. vagas 30 25 Ceilândia: 5 Ceilândia: 7 Ceilândia: 7 Ceilândia: 10Taguatinga: 3 Taguatinga: 4 Taguatinga: 3 Taguatinga: 4

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Justiça Comunitária � Uma experiência 105

Anexo III - Fluxograma do recrutamento e seleção deagente comunitário de justiça e cidadania

Pressupostos:� descrição das atividades dos agentes;� descrição do perfil do agente.

Necessidade de novos agentes

Divulgação da seleção

Reunião de esclarecimentosaos interessados

Preenchimento doformulário de inscrição

Triagem inicial

1ª etapa: análise dos formulários2ª etapa: dinâmica de grupo3ª etapa: entrevista individual4ª etapa: pesquisa social/judicial

Aprovação final

Selecionado

Candidatos com qualificaçãoinsuficiente em relação à

descrita no perfil

Resultadosdesfavoráveis

Não selecionado

Carta de agradecimento

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Anexo IV - Folder capa e verso

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Anexo IV - Folder miolo

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Anexo V - Formulário de Inscrição

FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO

1. Dados pessoais

Nome completo:

Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino

Data de nascimento: / /

Endereço:

Telefones para contato:

Referências pessoais:Vizinhos(as) Telefones correspondentes

Do trabalho (nomes) Telefones correspondentes

Configuração familiar: ( ) Solteiro(a) ( ) Casado(a)( ) Viúvo(a) ( ) Separado(a) judicialmente( ) Outros Qual?

Você tem filhos? ( ) Sim Quantos?( ) Não

Grau de instrução:( ) 1º grau ( ) Completo ( ) Incompleto( ) 2º grau ( ) Completo ( ) Incompleto( ) Superior ( ) Completo ( ) Incompleto( ) Pós-graduação ( ) Completo ( ) Incompleto

Você estuda? ( ) Não ( ) Sim Onde?Turno:

2. Trabalho

Atividade/Ocupação:

Endereço/Local:

Telefone:

Horário de trabalho:

Salário atual:

Renda familiar:

3. Vida comunitária

Participa atualmente de algum movimento/organização comunitária?( ) Sim Qual? Há quanto tempo? ( ) Não

Já participou de algum movimento/organização comunitária?( ) Sim Qual? Quando? ( ) Não

Já precisou utilizar órgão do sistema judiciário?( ) Sim Por que?

( ) Não

Há quanto tempo mora nesta cidade-satélite?

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4. Agente comunitário de justiça e cidadania

O que você conhece a respeito do Programa Justiça Comunitária?

Por que razão você quer ser um agente comunitário de justiça e cidadania?

Quem o(a) convidou para participar desse processo seletivo:

Assinale com um X a sua disponibilidade para se dedicar ao Programa, incluindo o atendimento na comunidade e aparticipação nas reuniões e nos cursos de formação.

Manhã Tarde Noite

Segunda-feira

Terça-feira

Quarta-feira

Quinta-feira

Sexta-feira

Sábado

Domingo

5. Conte a sua história de vida:

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Anexo VI - Dinâmica de Grupo de Seleção/2006

PROCESSO SELETIVO DE VOLUNTÁRIO2ª ETAPA - DINÂMICA DE GRUPO

Objetivos:� Conhecer os candidatos pré-selecionados;� Observar os candidatos em situação de grupo;� Identificar as habilidades dos candidatos de acordo com o perfil exigido, tais como: interação,

participação, criatividade, habilidade verbal, atenção, memória.

Material necessário:Revistas, cartolina, tesoura, cola e canetinhas coloridas.

Desenvolvimento da dinâmica:

1º Momento: acolhida e aquecimento (5 min.)� Entregar o crachá aos candidatos;� Boas vindas;� Explicação do processo seletivo (continuidade da seleção � 2ª etapa);� Descontração dos candidatos (ao som de uma música caminhar pela sala, se esticar, espre-

guiçar, consciência do corpo, da respiração, do momento).

2º Momento: apresentação (25 min.)À medida que caminham pela sala, encontrar um parceiro para formar uma dupla; então seapresentam um ao outro (nome, onde nasceu, o que faz, situação familiar, etc.). Após todos seapresentarem, formar um círculo e apresentar o companheiro ao grupo todo, um apresenta ooutro.

3º Momento: explicação do programa (10 min.)Objetivos do ProgramaAtividades dos agentes (orientação, mediação, formação de redes)Procedimentos de atuação

4º Momento: discussão de caso (40 min.)Pedir para formar subgrupos de cinco pessoas (de acordo com número no crachá), entregarfolha com uma história de conflito entre vizinhos; então cada pequeno grupo lê a história ediscute sobre ela, após 20 minutos cada grupo deverá apresentar como ajudaria nessa situa-ção, caso fosse um agente comunitário. A forma de apresentação fica a critério de cada grupo.

História: Em uma rua residencial, com pouco movimento de carro, morava uma senhora muitosolitária que gostava de cultivar plantas. Nessa mesma rua havia vários garotos que gostavamde jogar bola na rua. Algumas vezes a bola caía no jardim da senhora, ela ficava muito cha-teada e discutia com os garotos. Um dia essa senhora ficou muito zangada e furou a bola, umdos garotos se aproximou dela e ela segurou firme em seu braço. A mãe desse garoto ficousabendo e foi lá tirar satisfações com a senhora, juntamente com outras mães: foi um bate-boca geral. A partir desse episódio, sempre havia provocações tanto da senhora, quanto dosgarotos e das mães. Não havia mais sossego naquela rua. Uma das vizinhas que conhecia umagente comunitário e não tolerava mais tanta confusão em sua rua, solicitou que o agenteajudasse nessa questão.

5º Momento: o candidato e o Programa (40 min.)Nesse momento, repassar aos candidatos folha com duas questões para que eles respondamindividualmente: o que eu posso oferecer ao Programa Justiça Comunitária? O que o ProgramaJustiça Comunitária tem a me oferecer?

6º Momento: compartilhamento (5 min.)Saber dos candidatos como estão e como foi a dinâmica para cada um.

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Anexo VII - Fluxograma de funcionamento da mediação

DivulgaçãoTeatro

Boca-a-boca, meios decomunicação, cartilha,

folder e outros.

O solicitante procura o Progra-ma por meio do agente comu-nitário correspondente à suaárea de moradia ou a CentroComunitário.

Triagem e pré-mediaçãoO agente comunitário marca oatendimento com o solicitante,ouve a história e preenche for-mulário de atendimento.

Sendo apenas uma informa-ção jurídica, com a ajuda doGuia, o agente já encaminha osolicitante.

Pré-mediação 2 - continui-dade � Sendo possível a me-diação, o agente comunitá-rio marca o atendimento como solicitado, ouve a históriae preenche formulário de aten-dimento.

Discussão de casoO agente comunitário leva ocaso ao Centro Comunitáriopara discussão em conjuntocom a equipe técnica e demaisagentes comunitários para ve-rificar a possibilidade de rea-lizar a mediação comunitária.

Encaminhamentos externospara a rede socialCom a ajuda da equipe, enca-minhar ao órgão responsável� jurídico, saúde, educação eoutros.

MEDIAÇÃOEncontrosdas partes

mediadores eobservadores

Encaminhamentos internospara informação sobre en-caminhamentos externos:� jurídico� psicológico� social

Estimular a formação de umarede entre indivíduos quecompartilham do mesmo pro-blema.

Etapas da mediação(apostila)

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Anexo VIII - Formulário de mediação

RELATÓRIO DE MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA

Nome do(a) mediador(a):

Centro Comunitário:

Triagem/Pré-mediação

1. Dados dos participantes

Data Nome Endereço Telefone

2. Convidados indicados para participar da mediação

Convidados

Discussão do caso

1. Resumo das decisões em supervisão ou estudo de casos

O(a) relator(a) deverá relacionar, a cada encontro de supervisão ou estudo de caso, as decisões e iden-tificando a estratégica a ser adotada na mediação.

Data Decisões/Estratégias

Observações:

Mediação

1. Dados dos encontros de Mediação

Data do encontro Nome do(a) mediador(a) Nome do relator(a)

2. Convidados presentes no encontro de mediação

Nome Parentesco

1.

2.

3.

4.

5.

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Justiça Comunitária � Uma experiência 113

3. Encontro de mediação

3.1. Escuta dos participantes � A situação de conflito

Relatar o que é essencial.

Relato do participante 1:

Razões do problema para o participante 1:

Relato do participante 2:

Razões do problema para o participante 2:

Obs.: Pode ser que haja um número maior de pessoas envolvidas no conflito; portanto, utilize a mesmaforma acima para todos os envolvidos.

3.2. Escuta dos participantes e convidados � Problemas relacionados

Anote o que cada pessoa fala sobre o conflito, como é atingido por ele e suas raízes.

O(a) senhor(a) diz:

O(a) senhor(a) diz:

O(a) senhor(a) diz:

O(a) senhor(a) diz:

3.3 Identificar os fatores de risco e recursos locais

Durante a escuta dos participantes, o(a) relator(a) deverá identificar os fatores de risco e os recursoslocais existentes.

Fatores de risco Recursos locais

1.

2.

3.

4.

5.

6.

7.

8.

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Justiça Comunitária � Uma experiência114

3.4. Propostas e compromisso para a solução do problema

Propostas p/solução do problema Executor da ação proposta Responsável pelo acompanhamento

1.

2.

3.

4.

5.

3.5. Encaminhamentos internos e externos

O(a) relator(a) deverá relacionar, se necessário, qual o encaminhamento e o local.

Encaminhamento interno Encaminhamento externo

1.

2.

3.

4.

5.

6.

7.

8.

Aprovação do Centro Comunitário

Assinatura do(a) mediador(a) Data

Assinatura do(a) relator(a) Data

O Centro Comunitário aceita este relatório como completo.

Assinatura do(a) servidor(a) do Centro Comunitário Data

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Anexo IX - Roteiro do mediador

ROTEIRO DO MEDIADOR

PASSO 1: ENTREVISTA DE TRIAGEM E PRÉ-MEDIAÇÃO

� Converse separadamente com as pessoas diretamente envolvidas no conflito paratentar conhecer o problema. Nessa entrevista, deve ser colhida a percepção das partese entendida a dinâmica e a essência do conflito;

� Explique resumidamente a proposta da mediação e encoraje as pessoas a se encontra-rem em uma mediação comunitária: �Fazemos parte de um programa chamado JustiçaComunitária que presta atendimento gratuito em mediação comunitária. A mediação éum procedimento no qual nós, mediadores, trabalhamos com as pessoas em situaçãode conflito com outras pessoas e procuramos ajudá-las a resolver essa situação�.

� Discuta com as partes a possibilidade de outras pessoas participarem do atendimento.Lembre às partes que as pessoas não serão testemunhas, e que elas servirão paracontribuir de forma positiva nos encontros de mediação. Registre o nome, telefone equal a relação da pessoa com a situação que será mediada;

� Registre o nome, endereço e telefone de todos os entrevistados e a data em que aentrevista foi realizada;

PASSO 2: PREPARAÇÃO DO ENCONTRO DE MEDIAÇÃO

2.1. DISCUSSÃO DE CASO E RESUMO DAS DECISÕES� Leve o caso para discussão com a equipe no Centro Comunitário, de acordo com a

necessidade. Ressalta-se que a discussão de caso realizada com a equipe do Cen-tro Comunitário é a oportunidade de aprendizagem contínua para todos os me-diadores do Programa, sendo um recurso que pode ser utilizado em diferentesmomentos do processo de mediação.

� O (a) relator (a) deverá relacionar as decisões e estratégias a serem adotadas namediação, definidas na discussão de caso.

2.2. CONVITE PARA A MEDIAÇÃOO mediador e co-mediador devem fazer o contato com as pessoas que irão partici-par do encontro.

PASSO 3: SESSÕES DE MEDIAÇÃO

3.1. APRESENTAÇÃO� Apresente-se, informando os nomes dos participantes da sessão de mediação,

mediadores, co-mediadores e observadores, apresentando-os como mediado-res, independente da formação de origem dos mesmos.

� Crie um ambiente favorável à informalidade, diminuindo a rigidez na apresenta-ção, o que possibilita maior apropriação por todos daquele espaço, facilitando obom andamento da mediação.

3.2. O QUE É MEDIAÇÃO E DIRETRIZES DE FUNCIONAMENTO DO ENCONTRO� Pergunte se as partes sabem porque estão ali reunidas;� Retome o que é a mediação, o processo de atendimento e o tempo provável de

duração do encontro;� Ressalte a confidencialidade do processo;� Fale sobre a conduta necessária para o bom funcionamento do encontro: não

julgar; respeitar a fala do outro, silenciando-se enquanto o outro fala; ouvir acondução do mediador, que irá garantir que as bases de respeito sejam cumpri-das, funcionando como um facilitador que incentivará todos a contribuir para aconstrução da paz comunitária.

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Justiça Comunitária � Uma experiência116

Algumas sugestões para a fala do mediador:

�Agradecemos por vocês estarem aqui voluntariamente e gostaríamos de esclarecerque não somos juízes nem advogados; logo não julgamos e nem aconselhamos osparticipantes. Procuramos facilitar para que os participantes envolvidos no conflitoconstruam uma solução. O respeito é uma das bases do nosso trabalho; assim, paraque todos tenham a oportunidade de se manifestar, enquanto um de nós estiverfalando, todos os outros aguardarão a sua vez de falar. Primeiramente, vamos ouvircada um de vocês. Nosso trabalho não é decidir quem está certo ou errado, maspossibilitar que cada um possa compreender as preocupações do outro. Nós, media-dores, manteremos sob sigilo todos os assuntos tratados nos encontros de media-ção. Da mesma forma, as demais pessoas presentes deverão firmar, igualmente,este compromisso. Não estamos aqui para pressioná-los a chegar a alguma conclu-são ou alcançar algum acordo, se vocês não estiverem preparados para tal. Osresultados deste encontro dependem de vocês. Se alcançarem algum acordo, pode-mos, se quiserem, redigi-lo para cada um assinar. Nossa sugestão é que vocês seconcentrem em alcançar uma perspectiva de futuro, ou seja, em formas de resolvera situação e possibilidades de vocês interagirem futuramente. Incentivamos a todoscontribuírem para a construção da paz comunitária�.

3.3. ASSINATURA DO TERMO DE CONFIDENCIALIDADEO mediador convida os participantes a assinarem o termo de confidencialidade.

3.4. ESCUTA DOS PARTICIPANTES � A SITUAÇÃO DE CONFLITO� Abra espaço para que uma das partes, voluntariamente, exponha a situação que

o trouxe para mediação. Cada participante será ouvido por todos;� Esclareça que todos devem permanecer na reunião durante os relatos;� Trabalhe com uma escuta ativa, fazendo perguntas informativas, reflexivas e cir-

culares, durante a fala dos participantes;� Busque o interesse oculto de todos os participantes;� Pergunte sobre o que cada participante pensa ser a razão do problema que está

vivenciando.

� O(a) relator(a) fará as anotações de cada manifestação dos participantes;

3.5. ESCUTA DOS PARTICIPANTES � PROBLEMAS RELACIONADOS� Garanta que o tempo de fala seja eqüitativo entre os participantes e também

assegure que todas as pessoas presentes tenham a oportunidade de falarlivremente;

� Todas as pessoas terão a oportunidade de explicar como aquele conflito as atingiue o que pensam sobre eventuais problemas relacionados ao conflito principal esuas circunstâncias;

� O(a) relator(a) fará as anotações de cada manifestação dos participantes;

3.6. IDENTIFICAR OS FATORES DE RISCO E OS RECURSOS LOCAIS� Durante a escuta dos participantes, o (a) relator (a) deverá identificar os fatores

de risco e os recursos locais existentes:

3.7. PROPOSTAS E COMPROMISSO PARA A SOLUÇÃO DO PROBLEMA� Encoraje as partes no encontro de mediação a fazer propostas para a solução do

problema e a buscar múltiplas opções, através de discussão aberta, livre e criativa;� As propostas ou idéias lançadas somente vão gerar compromissos quando acor-

dadas por todos;� As propostas acordadas deverão ser detalhadas, com indicação das pessoas que

possam acompanhar cada uma delas.

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3.8. ENCAMINHAMENTOS INTERNOS E EXTERNOSO (a) relator (a) deverá relacionar, se necessário, qual o encaminhamento e o localmais adequado para o atendimento.

3.9. ENCERRAMENTOEstimule que a reunião seja encerrada com um gesto que simbolize o compromissodos participantes e dos convidados com as propostas para a construção da pazcomunitária.

PASSO 4: SUBMETENDO O RELATÓRIO

O(a) relator(a) submeterá o relatório integralmente preenchido ao Centro Comunitáriopara ser registrado.

CONDUTAS ÉTICAS DO MEDIADOR

� Tenha formação técnica e recicle-se;

� Mantenha o clima de respeito entre as partes, suspendendo a sessão ou o processo, caso issonão seja possível;

� Defina e descreva o processo de mediação, antes de iniciar a sessão;

� Dê-se por impedido quando tiver com algum dos participantes relacionamento familiar, afetivo,profissional ou comercial anterior;

� Dê-se por impedido de pleitear ou aceitar dos mediados comissões, doações ou vantagens,de qualquer espécie, além dos honorários estabelecidos;

� Mantenha sigilo sobre o que passar e se declarar nas sessões, salvo prévio e expresso con-sentimento dos participantes;

� Somente dialogue separadamente com um participante com o consentimento do outro, lem-brando-se que o que for dito nesse atendimento é sigiloso;

� Seja imparcial no processo de mediação;

� Assegure-se de que os participantes, no processo de mediação, tenham informações sufi-cientes para decidir;

� Oriente os participantes a obterem uma revisão legal do acordo, antes de subscrevê-lo;

� Suspenda a mediação quando sua continuação puder lesar qualquer dos mediados, houverrisco para uma das partes e ou familiares ou quando uma das partes agir de má-fé;

� Finalize a mediação quando considerá-la inviável ou ainda quando não se sentir maiscapacitado.

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Anexo X - Termo de Confidencialidade

TERMO DE CONFIDENCIALIDADE

Data

e(nome das partes)

aceitam participar desta mediação, objetivando a administração do conflito referente a (relatara situação):

e (somente os primeiros nomes) ficamcientes que, na hipótese de uma das partes ajuizar ação judicial com o mesmo objeto, oprocesso de mediação será suspenso imediatamente.

Sendo imprescindível a via judicial ou a representação criminal, os mediadores deverão sercomunicados pelas partes e a mediação será suspensa.

A mediação é gratuita.

O mediador é imparcial e a mediação é sigilosa. Além dos encontros com as partes, poderãoocorrer encontros em separado com qualquer uma delas, conforme assim decida o mediador.Tudo o que for falado nos encontros de mediação será mantido em sigilo.

O sigilo acordado neste termo não será observado caso haja a constatação pelo mediador decrime de qualquer ordem e/ou violência contra crianças, adolescentes ou idosos. Nesta hipóte-se, a mediação será suspensa e o Ministério Público será comunicado.

Os mediadores e observadores não poderão testemunhar ou produzir laudos a respeito daspartes ou fatos noticiados na mediação, amparados neste termo e no sigilo profissional. Tam-bém os mediadores e observadores não poderão atuar profissionalmente para qualquer umadas partes desta mediação.

Assinam este termo.

Partes:

Mediador:

Co-mediador:

Observadores:

Convidados:

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Anexo XI - Dinâmica de jornais

OFICINA DE CONSTRUÇÃO DO PROGRAMACIRRICULAR EM DIREITOS HUMANOS

O objetivo desta dinâmica é selecionar a temática a ser trabalhada nas oficinas de direi-tos humanos da Escola de Justiça e Cidadania, a partir do universo vocabular dos alunos.

A metodologia1 utilizada foi o uso de dinâmicas e dramatizações, a partir de matérias dejornais e revistas previamente selecionadas, a respeito de temas ligados à cidadania e aosdireitos humanos (discriminação racial, violência doméstica, juizados especiais, menoridadepenal, violência contra o idoso, dentre outros).

As matérias foram espalhadas pelo chão da sala de aula, de maneira que todos tivessemacesso às manchetes. Os agentes comunitários deveriam então se dividir em duplas ou trios,para a escolha do tema que mais lhes chamassem a atenção. Após a leitura da matéria selecio-nada, as equipes dramatizariam a situação abordada na reportagem.

O resultado da primeira aplicação dessa dinâmica, ocorrida em 29.9.2006, resultou nadramatização e posterior discussão dos seguintes temas: o trabalho da empregada domésticae os diversos estigmas que o acompanham; a violência doméstica; a questão dos portadoresde deficiência física; desigualdade social no Brasil e igualdade no direito de votar; exercício decidadania e mobilização popular para a defesa dos interesses da comunidade; trabalho infantil,desemprego e pobreza; organização comunitária; violência contra idosos e métodos alternati-vos de solução de conflitos.

Ao final, os agentes comunitários refletiram sobre aspectos gerais que permearam todasas matérias. Tendo em vista a recente edição da Lei denominada �Maria da Penha�, os agentesdecidiram pautar o tema da violência doméstica como o primeiro a ser tratado nas aulas dedireitos humanos programadas para o ano letivo de 2007 na Escola de Justiça e Cidadania.

1. Segundo a equipe de assistência social do Programa, a técnica utilizada foi a do Jornal Vivo, aperfeiçoada pelocriador do psicodrama, Jacob Levi Moreno. A opção por este recurso teve por objetivo permitir que os alunos �sesentissem� nas reportagens e, dessa forma, pudessem recontá-las, a partir do olhar e sensibilidade de cada um.É um teatro que, ao contrário do tradicional, em que os expectadores não participam, os atores e expectadoresincorporam papéis e apresentam a trama ao vivo.

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Anexo XII - Formulário de atendimento

FORMULÁRIO DE ATENDIMENTO

n. /

1. Identificação do(a) agente

1.1. Nome: 1.2. Telefone:

2. Identificação do formulário

2.1. Data do atendimento: / / 2.2. Data do recebimento: / /

2.3. Local de atendimento:

2.4. Solicitação: ( ) Via Centro ( ) Via agente

3. Conhecendo o(a) solicitante

3.1. Nome:

3.2. Endereço:

3.3. Telefone(s):

3.4. Data de Nascimento: / /

3.5. Mora em? ( ) Taguatinga ( ) Ceilândia

3.6. Há quanto tempo?

3.7. Idade:( ) 10 a 15 anos ( ) 25 a 34 anos ( ) 55 a 64 anos( ) 16 a 18 anos ( ) 35 a 44 anos ( ) Mais de 65 anos( ) 19 a 24 anos ( ) 45 a 54 anos

3.8. Profissão/Ocupação:

3.9. Situação atual:( ) Empregado(a) ( ) Pensionista ( ) Não respondeu( ) Desempregado(a) ( ) Autônomo(a)( ) Aposentado(a) ( ) Estudante

3.10. Renda familiar:( ) Até 1 salário mínimo ( ) 6 a 10 salários mínimos ( ) Não respondeu( ) 1 a 2 salários mínimos ( ) Mais de 10 salários mínimos( ) 3 a 5 salários mínimos ( ) Não tem renda

3.11. Grau de escolaridade:( ) Não alfabetizado ( ) 1° grau completo ( ) 3° grau completo( ) Primário incompleto ( ) 2° grau incompleto ( ) Pós-graduação( ) Primário completo ( ) 2° grau completo ( ) Outros( ) 1° grau incompleto ( ) 3° grau incompleto

3.12. Situação Conjugal:( ) Solteiro(a) ( ) Casado(a) ( ) Separado(a) ( ) União estável ( ) Viúvo(a)( ) Outra situação Qual?

3.13. Possui filhos: ( ) Sim Quantos? ( ) Não

3.14. Mora sozinho(a): ( ) Sim ( ) Não Número de pessoas que moram na casa:

3.15. Como ficou sabendo do trabalho do agente comunitário:( ) Rádio ( ) Jornal ( ) Televisão ( ) Vizinho(a)( ) Igreja ( ) ONG ( ) Associação ( ) Tribunal de Justiça( ) Amigo(a) ( ) Outros Qual:

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4. Conhecendo a situação/problema

Alguma vez o(a) solicitante procurou ajuda para essa situação?

( ) Sim ( ) Não Qual?

A quem procurou/recorreu?

Quando?

Qual o encaminhamento que foi dado?

Qual a situação atual?

5. Conhecendo a situação/conflitoO que aconteceu/está acontecendo? O que o(a) solicitante está querendo?

6. EncaminhamentosOrientações da equipe interdisciplinar:

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Anexo XIII - Lei do Voluntariado

LEI N. 9.608, DE 18 DE FEVEREIRO DE 1998

Dispõe sobre o serviço voluntário e dá outrasprovidências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu san-ciono a seguinte Lei:

Artigo 1º - Considera-se serviço voluntário, para fins desta Lei, a atividade não remune-rada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou a instituiçãoprivada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos,

recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade.

Parágrafo único - O serviço voluntário não gera vínculo empregatício, nem obrigação denatureza trabalhista previdenciária ou afim.

Artigo 2º - O serviço voluntário será exercido mediante a celebração de termo de adesãoentre a entidade, pública ou privada, e o prestador do serviço voluntário, dele devendo constaro objeto e as condições de seu exercício.

Artigo 3º - O prestador do serviço voluntário poderá ser ressarcido pelas despesas quecomprovadamente realizar no desempenho das atividades voluntárias.

Parágrafo único - As despesas a serem ressarcidas deverão estar expressamente autori-zadas pela entidade a que for prestado o serviço voluntário.

Artigo 3º-A - Fica a União autorizada a conceder auxílio financeiro ao prestador de serviçovoluntário com idade de dezesseis a vinte e quatro anos integrante de família com rendamensal per capita de até meio salário mínimo. (Incluído pela Lei n. 10.748, de 22/10/2003)(Regulamento).

§ 1º - O auxílio financeiro a que se refere o caput terá valor de até R$ 150,00 (cento ecinqüenta reais) e será custeado com recursos da União por um período máximo de seis meses,sendo destinado preferencialmente: (Incluído pela Lei n. 10.748, de 22/10/2003).

I - aos jovens egressos de unidades prisionais ou que estejam cumprindo medidas sócio-educativas; e (Incluído pela Lei n. 10.748, de 22/10/2003).

II - a grupos específicos de jovens trabalhadores submetidos a maiores taxas de desem-prego. (Incluído pela Lei n. 10.748, de 22/10/2003).

§ 2º - O auxílio financeiro poderá ser pago por órgão ou entidade pública ou instituiçãoprivada sem fins lucrativos previamente cadastrados no Ministério do Trabalho e Emprego,utilizando recursos da União, mediante convênio, ou com recursos próprios. (Redação dadapela Lei n. 10.940, de 2004).

§ 3º - É vedada a concessão do auxílio financeiro a que se refere este artigo ao voluntárioque preste serviço a entidade pública ou instituição privada sem fins lucrativos, na qual traba-lhe qualquer parente, ainda que por afinidade, até o 2º (segundo) grau. (Redação dada pela Lein. 10.940, de 2004).

§ 4º - Para efeitos do disposto neste artigo, considera-se família a unidade nuclear, even-tualmente ampliada por outros indivíduos que com ela possuam laços de parentesco, queforme um grupo doméstico, vivendo sob o mesmo teto e mantendo sua economia pela contri-buição de seus membros. (Incluído pela Lei n. 10.748, de 22/10/2003).

Artigo 4º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Artigo 5º - Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 18 de fevereiro de 1998; 177º da Independência e 110º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

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Anexo XIV - Termo de adesão

TERMO DE ADESÃO AO SERVIÇO VOLUNTÁRIO(Lei n. 9.608, de 18 de fevereiro de 1998)

Nome:

Identidade: CPF:

Endereço:

Por meio do presente instrumento, o(a) voluntário(a) acima descrito(a) adere aos termose princípios reguladores do Programa Justiça Comunitária do Tribunal de Justiça do DistritoFederal e Territórios, comprometendo-se a desempenhar, gratuita e voluntariamente, asatividades de Agente Comunitário de Justiça e Cidadania.

A presente adesão não gera vínculo empregatício ou funcional, tampouco cria quaisquerobrigações de natureza previdenciária ou afins, nos termos do parágrafo único do artigo 1° daLei n. 9.608/98.

Após iniciar a devida capacitação na Escola de Justiça e Cidadania, o(a) Agente Comu-nitário de Justiça e Cidadania atuará na comunidade na qual está inserido(a), exercendo asseguintes atividades: 1) informação dos cidadãos quanto aos seus direitos; 2) facilitação paraa resolução pacífica dos conflitos individuais e/ou coletivos; 3) criação/valorização de redesassociativas com base comunitária.

Muito embora a presente adesão tenha motivação de natureza educacional, social, cívicae solidária, o Programa Justiça Comunitária efetuará, nos termos do artigo 3° da Lei n. 9.608/98,o ressarcimento das despesas realizadas pelos(as) Agentes Comunitários(as), no desempenhode suas atividades voluntárias, conforme critérios estabelecidos no Anexo I.

As condições de exercício das atividades voluntárias do Programa Justiça Comunitária,estão estabelecidas no Anexo II deste instrumento. O prazo de vigência do presente Termo deAdesão é de até .

Declaro que aceito atuar na condição de voluntário(a), nos termos do presenteinstrumento.

Testemunhas: Assinatura do(a) agente comunitário