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Apelação Cível n. 2012.030014-1, da Capital Relator: Des. Subst. Paulo Henrique Moritz Martins da Silva TRIBUTÁRIO. ICMS. AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO. PERÍCIA QUE ATESTOU ERRO NO VALOR DA DÍVIDA. POSSIBILIDADE DE REDUÇÃO, SEM NECESSIDADE DE INVALIDAÇÃO INTEGRAL DO LANÇAMENTO. SENTENÇA EXTRA PETITA. NÃO OCORRÊNCIA. MULTA DE 100%. EFEITO CONFISCATÓRIO NÃO CONFIGURADO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. REDUÇÃO. DESPROVIMENTO DO RECURSO DO ESTADO E PROVIMENTO PARCIAL DO APELO DA AUTORA. "Com efeito, a jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que, em se tratando de revisão do lançamento, pelo Poder Judiciário, que acarrete a exclusão de parcela indevida da base de cálculo do tributo, o excesso de execução não implica a decretação da nulidade do título executivo extrajudicial, mas tão-somente a redução do montante ao valor tido como devido, quando o valor remanescente puder ser apurado por simples cálculos aritméticos, como no caso concreto." (REsp n. 1.247.811/RS, rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, j. 14-6-2011) "Não pode ser rotulada de excessiva a multa moratória fixada 100% do débito principal, até porque, além de haver previsão legal, tem a finalidade de coibir a sonegação de tributos. Ainda que assim não fosse, não caracterizaria confisco a estipulação da multa moratória em percentual elevado, incidente sobre o valor do imposto que não foi recolhido no prazo legal, porque a multa não se confunde com tributo e, por esse motivo, sobre ela não incide a regra proibitiva de confisco de que trata o art. 150, inciso IV, da Constituição Federal." (AI n. 2013.030416-6, de Jaraguá do Sul, rel. Des. Jaime Ramos, Quarta Câmara de Direito Público, j. 17-7-2014).

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  • Apelao Cvel n. 2012.030014-1, da CapitalRelator: Des. Subst. Paulo Henrique Moritz Martins da Silva

    TRIBUTRIO. ICMS. AO ANULATRIA DE DBITO.PERCIA QUE ATESTOU ERRO NO VALOR DA DVIDA.POSSIBILIDADE DE REDUO, SEM NECESSIDADE DEINVALIDAO INTEGRAL DO LANAMENTO. SENTENAEXTRA PETITA. NO OCORRNCIA. MULTA DE 100%.EFEITO CONFISCATRIO NO CONFIGURADO.HONORRIOS ADVOCATCIOS. REDUO.DESPROVIMENTO DO RECURSO DO ESTADO EPROVIMENTO PARCIAL DO APELO DA AUTORA.

    "Com efeito, a jurisprudncia desta Corte firmou-se no sentidode que, em se tratando de reviso do lanamento, pelo PoderJudicirio, que acarrete a excluso de parcela indevida da basede clculo do tributo, o excesso de execuo no implica adecretao da nulidade do ttulo executivo extrajudicial, masto-somente a reduo do montante ao valor tido como devido,quando o valor remanescente puder ser apurado por simplesclculos aritmticos, como no caso concreto." (REsp n.1.247.811/RS, rel. Min. Mauro Campbell Marques, SegundaTurma, j. 14-6-2011)

    "No pode ser rotulada de excessiva a multa moratria fixada100% do dbito principal, at porque, alm de haver previsolegal, tem a finalidade de coibir a sonegao de tributos. Aindaque assim no fosse, no caracterizaria confisco a estipulao damulta moratria em percentual elevado, incidente sobre o valor doimposto que no foi recolhido no prazo legal, porque a multa nose confunde com tributo e, por esse motivo, sobre ela no incidea regra proibitiva de confisco de que trata o art. 150, inciso IV, daConstituio Federal." (AI n. 2013.030416-6, de Jaragu do Sul,rel. Des. Jaime Ramos, Quarta Cmara de Direito Pblico, j.17-7-2014).

  • Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelao Cvel n.2012.030014-1, da comarca da Capital (3 Vara da Fazenda Pblica), em que apte/apdo Comercial Mallet Ltda. e apdo/apte o Estado de Santa Catarina:

    A Primeira Cmara de Direito Pblico decidiu, unanimidade, desprovero recurso do Estado e prover parcialmente o recurso da autora. Custas legais.

    Participaram do julgamento, realizado nesta data, os ExcelentssimosSenhores Desembargadores Jorge Luiz de Borba (Presidente) e Paulo RicardoBruschi.

    Florianpolis, 25 de novembro de 2014.

    Paulo Henrique Moritz Martins da SilvaRELATOR

    Gabinete Des. Subst. Paulo Henrique Moritz Martins da Silva

  • RELATRIOComercial Mallet Ltda. props "ao anulatria de dbito fiscal" em face

    do Estado de Santa Catarina.Alegou que foi notificada por deixar de submeter operaes tributveis

    incidncia do ICMS, sem a emisso de documentos fiscais e escriturao nos livrosprprios.

    Discorreu que adquire matria-prima de seus fornecedores, a qual remetida a empresas contratadas para efetuar a industrializao. Aps, recebe oproduto na forma de malhas ou peas de vesturios, que vendido a comerciantesvarejistas.

    Entretanto, por equvoco dos seus prestadores de servio, diversasvezes foram emitidas notas fiscais de vendas, e no de simples remessa, quandodevolvido o produto aps a industrializao, o que gerou entradas de mercadorias emduplicidade.

    Assim, a Fazenda lanou valores muito superiores ao devido.Asseverou, ainda, que o montante da multa exorbitante.Postulou a nulidade do dbito ou, subsidiariamente, a reduo da

    sano pecuniria.Em contestao, o Estado aduziu: 1) regularidade da notificao; 2)

    ausncia de prova quanto ao erro da administrao e 3) a multa no confiscatria (f.1438/1443).

    Deferida a produo de prova pericial (f. 1457), o laudo foi juntado s f.1478/1523.

    Manifestao das partes s f. 1528/1534 e 1535/1539.Foi proferida sentena cuja concluso a seguinte:Assim, julgo procedente em parte o pedido para retificar o valor da obrigao

    fiscal original para R$ 892.072,21 (fls. 1.536). Condeno a autora ao pagamento dehonorrios advocatcios de 10% sobre tal montante atualizado na mesma razo docrdito tributrio (e desde a origem do lanamento) , haja vista que mnima a suavitria (art. 21 do CPC). A autora tambm suportar as custas. (f. 1545/1549)

    Ambas as partes recorrem.O ente pblico afirma que o erro na dvida foi ocasionado pela empresa

    (f. 1552/1558).A autora sustenta, preliminarmente, que a sentena foi extra petita,

    porque no poderia o juiz apenas retificar o valor do dbito, mas to somenteinvalid-lo.

    No mrito, reafirma a nulidade da notificao e o carter confiscatrio dapena pecuniria.

    Por fim, persegue o reconhecimento da sucumbncia recproca e areduo dos honorrios fixados ao Estado (f. 1560/1585).

    Com as contrarrazes (f. 1590/1597), os autos ascenderam.Gabinete Des. Subst. Paulo Henrique Moritz Martins da Silva

  • VOTO

    A autora alega que os clculos que embasaram a dvida estoincorretos, porque:

    Por equvoco dos prestadores de servios de industrializao contratados pelaautora, por diversas vezes estes emitiram as notas fiscais como se fossem de venda,e no de remessa para industrializao.

    Diante disso, a fiscalizao acabou por considerar entradas em duplicidade,sendo que para fim de clculo do imposto, foram computadas entradas em valorMUITO superior s entradas efetivamente ocorridas no estabelecimento da autora.

    Este equivocado cmputo em duplicidade levou a Fazenda a chegar a nmerosmuito mais elevados ao aplicar o percentual de lucro sobre valores fantasiosos, nocondizentes com a realidade, e portanto o Fisco chegou a valores de ICMSsupostamente devidos muito superior aos valores que a empresa efetivamenteestaria obrigada a recolher (f. 4).

    Em sua defesa, o Estado sustenta que o erro foi praticado pela empresa.

    A sentena proferida pelo MM. Juiz Hlio do Valle Pereira merece serconfirmada na ntegra, cujos fundamentos adoto como razo de decidir:

    1. O laudo pericial desacredita, na quase totalidade, a tese da autora. ratificado, com efeito, que houve sonegao de diversas operaes. Mesmo

    que sejam consideradas as particularidades do procedimento empresarial (queremetia e fazia retornar mercadorias para o estabelecimento de origem), ainda assimse constataram disparidades entre os valores reconhecidos pela acionante e quepuderam ser efetivamente detectados. Isso foi possvel em face da avaliao globaldas idas e vindas de objetos, apurando-se que os registros espontneos dacontribuinte foram inferiores real movimentao econmica. Para tanto, recorreu-se(no sendo confiveis as anotaes da autora) ao arbitramento, mediante ritopreviamente regrado.

    Enfim, ponderou o expert:

    Para determinar o valor do crdito tributrio o Fisco Estadual considerouo valor total anual das compras efetuadas pela Autora, acrescido de estoqueinicial, deduziu o valor das devolues e transferncias efetuadas,encontrando o valor das entradas lquidas, deste valor foram deduzidos ainda,o valor do estoque final, o custo da matria-prima e mo de obra. Ao resultado,foi acrescida a margem de lucro de 30% (trinta por cento) perfazendo o valortotal das sadas apurado pela aplicao da OSN 01/71.

    Desta importncia, conforme acima explicitado, foram deduzidos o valordas sadas registradas no livro fiscal, apontando assim a diferena de sadasno registradas.

    Do valor encontrado foi aplicada a alquota de 17%, determinado o valordo crdito tributrio devido pela Autora.

    Deste modo, foram considerados tanto o volume de compras efetuados

    Gabinete Des. Subst. Paulo Henrique Moritz Martins da Silva

  • pela Autora, bem como o valor de venda registrado para apurao do impostodevido.(fl. 1482)

    Concretamente, em face dessas ponderaes, a autora no conseguiu trazerrefutao.

    Apenas de se reconhecer, como fez o perito, que houve erro naapurao de algumas notas, o que gerou uma pequena diferena, apta a reduziro valor inicialmente detectado pelo Fisco (fls. 1.487-1.489).

    A Fazenda Pblica, certo, se defende afirmando que isso se deu porresponsabilidade do particular (fls. 1.535), mas pouco importa. O direitotributrio tem base objetiva. No se pode aumentar um dbito por discussesrelacionadas culpa. Quer dizer, mesmo que tenha havido inicialmente erro naescriturao, o mais relevante que se apure o valor efetivamente devido.

    Quer dizer, deve ser reduzido o valor total nos termos da retificao defls. 1.536, mas isso no afeta a parte subsistente. que a nulidade apenasparcial e pode ser perfeitamente separvel. Valorizando-se o princpiosubjacente ao art. 184 do Cdigo Civil, de maneira, que mutatis mutandis, "ojulgado que manda excluir da execuo determinada parcela do dbito no temo condo de tornar a certido de dvida ilquida e incerta, de modo a ensejar anulidade do processo executrio" (STJ, REsp 50.341-8-SP, rel. Min. Antnio dePdua Ribeiro).

    2. A penalidade pecuniria deve ser preservada.De fato, "a multa fiscal constitui verdadeira sano pecuniria, de carter

    repressivo, imposta ao contribuinte infrator da legislao tributria, razo pela qualsequer comporta reduo do seu quantum" (TJSC, AC 97.010473-1, de Tai, rel.Des. Eder Graf).

    Como lembrou o Tribunal de Justia de So Paulo, "h razo, at mesmo deordem sociolgica, a autorizar a imposio de penalidades monetrias nas infraestributrias que j no so to toleradas como h alguns anos. Hoje, comea a sefazer sentir um forte repdio social contra os fraudadores do Errio, que, diminuindoilegitimamente seus encargos fiscais, acabam, por via oblqua, onerando toda acomunidade. A imposio da multa visa a estimular a pontualidade, divisando osbons dos maus pagadores e, a no imposio, equivaleria a prestigiar estes emdesfavor daqueles" (RT 739/209-10, rel. Des. Felipe Ferreira). (grifou-se)

    Como se viu, a percia atestou a regularidade dos clculos apresentadospelo ente pblico, ressalvados apenas dois equvocos.

    Eis os pontos mais relevantes do laudo:

    III No caso dos autos verificou-se a considerao de entradas emduplicidade pelo Fisco Estadual-

    O Fisco Estadual considerou para clculo do crdito tributrio as notas fiscaisregistradas nos livros fiscais. Do valor total deste registro foram deduzidos os valoresde "Retorno de Mercadorias remetidas para Industrializao" e ainda, "OutrasEntradas de Mercadorias ou Prestao de Servios", alm das devolues, eacrescida da "Industrializao efetuada por outras empresas", deste modoentendemos que no foram consideradas duplicidade de notas fiscais deentrada pelo fisco.

    Gabinete Des. Subst. Paulo Henrique Moritz Martins da Silva

  • [...]3. A notificao levou em considerao um volume de compras compatvel com

    as vendas efetuadas pela empresa-Para determinar o valor do crdito tributrio o Fisco Estadual considerou o valor

    total anual das compras efetuadas pela Autora, acrescido de estoque inicial, deduziuo valor das devolues e transferncias efetuadas, encontrando o valor das entradaslquidas, deste valor foram deduzidos ainda, o valor do estoque final, o custo damatria-prima e mo de obra. Ao resultado, foi acrescida a margem de lucro de 30%(trinta por cento) perfazendo o valor total das sadas apurado pela aplicao da OSN01/71.

    Desta importncia, conforme acima explicitado, foram deduzidos o valor dassadas registradas no livro fiscal, apontando assim a diferena de sadas noregistradas.

    Do valor encontrado foi aplicada a alquota de 17%, determinado o valor docrdito tributrio devido pela Autora.

    Deste modo, foram considerados tanto o volume de compras efetuadospela Autora, bem como o valor de venda registrado para apurao do impostodevido.

    4. As operaes de compras, as quais foram remetidas pelos fornecedores dematria-prima com natureza de operao "Venda de Produo do estabelecimentoentregues por conta e ordem", para entrega em outro local de destino, diferente dolocal do adquirente, foram consideradas como produtos remetidos paraindustrializao por conta e ordem do notificado-

    Entendemos que sim, pois para clculo do crdito tributrio, como j afirmamosanteriormente, foram consideradas as notas fiscais registradas nos livros fiscais. Dovalor total deste registro foram deduzidos os valores de "Retorno de Mercadorias ouPrestao de Servios", alm das devolues, e acrescida da "Industrializaoefetuada por outras empresas", no cdigo fiscal 1.124 ou 2.124. registrada nos livrosfiscais pela Autora.

    Deste modo, foram consideradas como produtos remetidos paraindustrializao por conta e ordem da Autora, as compras de mteria-primaremetidas pelos fornecedores com natureza de operao "Venda de Produodo Estabelecimento entregues por conta e ordem", para entrega em outro localde destino.

    5. A fiscalizao considerou que a empresa notificada, realizou, de fato,operaes de remessa de produtos para industrializao-

    Sim, foi considerado pelo Fisco Estadual as operaes de remessa deprodutos para industrializao.

    [...]2. Existem Notas fiscais de retorno de produtos enviados para industrializao

    lanadas indevidamente como servios de industrializao-[...]Das notas fiscais acima relacionadas encontramos nos autos to somente as

    de n 36.538 de 01/07/03 (fls. 548), no valor de R$ 13.447,15, sendo R$ 12.182,59para CDOP 5.125 e R$ 1.264,56 para CFOP 5.925.

    Analisando o Livro Registro de Entradas do ms de Julho/2003 (fls. 273)constatamos que referida nota restou lanada em sua integralidade no CFOP 1.124(Industrializao efetuada por outras empresas).

    Gabinete Des. Subst. Paulo Henrique Moritz Martins da Silva

  • Este equvoco resultou no aumento da base de clculo arbitrada peloFisco para efeito de aplicao da OSN 01/71.

    3. Pode ser verificado que houve lanamentos em duplicidade, por erro dedigitao, como o caso da NF n 34714, lanada com esse nmero, e logo emseguida com o n 1714,1 do fornecedor Unikita do Brasil Indstria Txtil Ltda,referente aquisio de insumos para industrializao, influenciando tambmindevidamente, aumentando a base de clculo arbitrada pelo fisco para efeitos daaplicao da OSN 01/71-

    Sim, houve lanamento da nota fiscal do fornecedor Unikita emduplicidade (n 34714 e com n 1714), conforme se verifica no documento defls. 568 (Registro de Entradas do ms de Janeiro/2004).

    Considerando que os registros se deram no cdigo 2.102 (Compras paraComercializao) o valor foi considerado para apurao da base de clculo dotributo arbitrado. (grifou-se)

    Assim, segundo os clculos apresentados pelo assistente do Estado (f.1536/1538), no impugnados pela autora, o valor da dvida impe-se retificado de R$920.262,38 para R$ 892.072,21.

    A requerente alega que a sentena extra petita porque "a demanda foiajuizada para anular a notificao fiscal dai que, ao declarar o valor do saldo devedoratualizado, a deciso (embora sua praticidade) ultrapassa o contedo do pedidocontido na exordial".

    Sem razo.Em caso semelhante, confira-se do STJ:

    PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTRIO. AO ANULATRIA DE DBITOFISCAL. JULGAMENTO EXTRA PETITA. NO-OCORRNCIA. CONSTITUIODO CRDITO TRIBUTRIO. GLOSA DE VALORES QUE REDUZEM A BASE DECLCULO. VALOR EXCESSIVO. NULIDADE DO LANAMENTO. INEXISTNCIA.CONDIES DA AO. INTERESSE DE AGIR. AUSNCIA DEPREQUESTIONAMENTO. SMULA 282/STF. RECONHECIMENTO, COM BASEEM DOCUMENTOS APRESENTADOS EXCLUSIVAMENTE NO MBITO JUDICIAL,DE QUE A DEDUO FOI LEGTIMA. REVISO DO LANAMENTO.SUCUMBNCIA. PRINCPIO DA CAUSALIDADE.

    1. Em Ao Anulatria de Dbito Fiscal, o juiz aplicou o direito espcie. Porverificar excesso no quantum debeatur, julgou parcialmente procedente o pedido,aceitando a retificao parcial do lanamento, diante da apurao de dbitoremanescente. O desacolhimento de parcela da pretenso no corresponde ajulgamento extra petita.

    2. O Tribunal de origem constatou que o lanamento originrio foi realizadocorretamente pelo Fisco, luz das informaes e do suporte probatrio a eledisponibilizados pelos recorridos. Registrou ainda que somente no mbito judicialanexaram-se documentos capazes de ensejar retificao no valor do lanamento,mediante reduo da base de clculo.

    3. A autoridade fiscal, ao tomar conhecimento das provas, reconheceu suavalidade, afirmou que o sujeito passivo no as apresentou administrativamente edeterminou a diminuio do quantum debeatur.

    Gabinete Des. Subst. Paulo Henrique Moritz Martins da Silva

  • 4. A legtima reviso, portanto, no decorreu de iniciativa unilateral do Fisco,mas, sim, da provocao do sujeito passivo (art. 145, I, do CTN).

    5. Com efeito, a alterao no lanamento est diretamente relacionada apresentao, no processo judicial, de novos documentos pelo sujeito passivo daobrigao tributria.

    6. Somente passvel de anulao o lanamento que se apresente viciado emsua validade. Com isso no se confunde aquele por valor excessivo, que pode sercorrigido mediante simples operao aritmtica. [...] (grifou-se) (REsp n. 949.007/PR,rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, j. 23-4-2009)

    Colhe-se do corpo do acrdo:

    A empresa alega, sem prejuzo da existncia de dissdio jurisprudencial,violao da legislao consubstanciada:

    a) nos arts. 2, 128 e 460 do CPC, porque a pretenso deduzida (anulao dolanamento) incompatvel com o pedido de reviso de lanamento;

    [...]No procede a irresignao da recorrente.A pretenso de anular o lanamento foi analisada pela Corte local, que valorou

    o acervo probatrio e aplicou o direito espcie, concluindo pela inexistncia devcios capazes de infirmar a validade do ato administrativo. Reconheceu-se apenasque o lanamento foi feito em valor superior ao efetivamente devido ainda assim,atribuindo o excesso autora, ora recorrente, que no teria fornecido ao INSS, porocasio do lanamento ou na fase do contencioso administrativo, elementos queimplicariam a alterao do quantum debeatur.

    Em resumo, diante da verificao de excesso no lanamento, houveacolhimento parcial da pretenso deduzida, o que significa que o julgamento semanteve dentro dos limites deduzidos na petio inicial.

    O equvoco na tese da recorrente consiste no fato de que, em contestao, oru tem a possibilidade de apresentar os motivos pelos quais resiste pretensodeduzida, cujo acolhimento pelo juiz ainda que parcial no pode ser equiparadoao julgamento extra petita. Nesse sentido:

    PROCESSUAL CIVIL. AO POPULAR. NEGATIVA DE PRESTAOJURISDICIONAL NO CONFIGURADA. INVOCAO DE OFENSA A DISPOSITIVOLEGAL ESTRANHO CONTROVRSIA. SMULA 284 DO STF. FALTA DEPREQUESTIONAMENTO. SMULAS 282#STF E 211#STJ. JULGAMENTO EXTRAPETITA. INOCORRNCIA. REEXAME DE MATRIA FTICA. IMPOSSIBILIDADE.SMULA 07#STJ. INTERPRETAO DE DIREITO LOCAL. INVIABILIDADE.SMULA 280#STF. APRECIAO DE MATRIA CONSTITUCIONAL.IMPOSSIBILIDADE. ADMINISTRATIVO. REEXAME PELO JUDICIRIO DEMATRIA ANTERIORMENTE APRECIADA POR TRIBUNAL DE CONTASESTADUAL. POSSIBILIDADE. LESO AO PATRIMNIO PBLICO MUNICIPAL.RESPONSABILIDADE SOLIDRIA.

    1. No viola o artigo 535, I e II, do CPC, nem importa negativa de prestaojurisdicional o acrdo que adota fundamentao suficiente para decidir de modointegral a controvrsia posta.

    2. No pode ser conhecido pela alnea a o recurso especial em que os

    Gabinete Des. Subst. Paulo Henrique Moritz Martins da Silva

  • dispositivos de lei indicados como violados tm contedo estranho ao dacontrovrsia, sem comando suficiente para infirmar os fundamentos do acrdorecorrido (Smula 284#STF).

    3. A falta de prequestionamento da matria federal, a despeito da oposio deembargos de declarao, impede o conhecimento do recurso especial (Smula 211do STJ).

    4. vedado o reexame de matria ftica em sede de recurso especial, a teordo que prescreve a Smula 07 desta Corte.

    5. O exame de contrariedade a direito local invivel na apreciao de recursoespecial. Aplicao, por analogia, da Smula 280#STF.

    6. incabvel invocar, em recurso especial, fundamentos de matriaconstitucional, pois a competncia atribuda pelo art. 105, III, da Constituio Federalao STJ restringe-se uniformizao da interpretao da legislaoinfraconstitucional.

    7. No h julgamento extra petita quando a sentena aprecia o pedido tomandopor base os fatos e as conseqncias jurdicas dele decorrentes deduzidos na inicial,ainda que o faa por novo fundamento legal. Aplicao do princpio jura novit curia.

    8. A deciso do Tribunal de Contas, de aprovar as contas prestadas porPrefeito, no sanam eventuais nulidades de atos administrativos, nem inibem que oJudicirio aprecie ao popular visando a declarar a nulidade. Precedentes.

    9. Responde solidariamente pelos prejuzos decorrentes do ato o agentepblico que, como Prefeito, firmou contratos de abertura de contas correntes emnome do Municpio em instituio bancria no oficial e sem observncia de licitaoe de autorizao legislativa.

    10. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, improvido.(REsp 814.710#MS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA

    TURMA, julgado em 21#11#2006, DJ 01#02#2007 p. 423)

    Ademais, a reduo judicial do valor da dvida no tem o condo deinvalidar a notificao do lanamento, desde que afervel a quantia por simplesclculos aritmticos.

    Mutatis mutandis, extrai-se novamente do STJ:

    PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS EXECUOFISCAL. INEXIGIBILIDADE PARCIAL DO TTULO EXECUTIVO. ILIQUIDEZAFASTADA ANTE A NECESSIDADE DE SIMPLES CLCULO ARITMTICO PARAEXPURGO DA PARCELA INDEVIDA DA CDA. PROSSEGUIMENTO DAEXECUO FISCAL POR FORA DA DECISO, PROFERIDA NOS EMBARGOS EXECUO, QUE DECLAROU O EXCESSO E QUE OSTENTA FORAEXECUTIVA. DESNECESSIDADE DE SUBSTITUIO DA CDA.

    1. A Primeira Seo, ao julgar o REsp 1.115.501/SP, sob a relatoria do MinistroLuiz Fux e de acordo com o procedimento dos recursos repetitivos de que trata o art.543-C do CPC, decidiu que o prosseguimento da execuo fiscal (pelo valorremanescente daquele constante do lanamento tributrio ou do ato de formalizaodo contribuinte) revela-se foroso em face da suficincia da liquidao do ttuloexecutivo, consubstanciado na sentena proferida nos embargos execuo, quereconheceu o excesso cobrado pelo Fisco, sobressaindo a higidez do ato deconstituio do crdito tributrio, o que, a fortiori, dispensa a emenda ou substituio

    Gabinete Des. Subst. Paulo Henrique Moritz Martins da Silva

  • da Certido de Dvida Ativa - CDA (DJe de 30.11.2010). Com efeito, ajurisprudncia desta Corte firmou-se no sentido de que, em se tratando dereviso do lanamento, pelo Poder Judicirio, que acarrete a excluso deparcela indevida da base de clculo do tributo, o excesso de execuo noimplica a decretao da nulidade do ttulo executivo extrajudicial, masto-somente a reduo do montante ao valor tido como devido, quando o valorremanescente puder ser apurado por simples clculos aritmticos, como nocaso concreto.

    2. Recurso especial provido. (grifou-se) (REsp n. 1.247.811/RS, rel. Min. MauroCampbell Marques, Segunda Turma, j. 14-6-2011)

    No se vislumbra qualquer efeito confiscatrio na multa de 100% dovalor dbito (art. 52, pargrafo nico, I, da Lei Estadual n. 10.297/1996), na linha dajurisprudncia pacfica desta Corte:

    EXECUO FISCAL - NULIDADE DA CDA - INOCORRNCIA - CERTIDOQUE PREENCHE TODOS OS REQUSITOS EXIGIDOS PELO ART. 2, 5, DA LEIFEDERAL 6.830/80 E ART. 202, DO CDIGO TRIBUTRIO NACIONAL -PRESUNO DE LIQUIDEZ E CERTEZA - DESNECESSIDADE DEDEMONSTRATIVO DE CRDITO - MULTA - VALOR RAZOVEL - NEGADOPROVIMENTO.

    [...] No pode ser rotulada de excessiva a multa moratria fixada 100% dodbito principal, at porque, alm de haver previso legal, tem a finalidade de coibir asonegao de tributos. Ainda que assim no fosse, no caracterizaria confisco aestipulao da multa moratria em percentual elevado, incidente sobre o valor doimposto que no foi recolhido no prazo legal, porque a multa no se confunde comtributo e, por esse motivo, sobre ela no incide a regra proibitiva de confisco de quetrata o art. 150, inciso IV, da Constituio Federal. (AI n. 2013.030416-6, de Jaragudo Sul, rel. Des. Jaime Ramos, Quarta Cmara de Direito Pblico, j. 17-7-2014).

    TRIBUTRIO. AO ANULATRIA DE DBITO FISCAL. TRANSPORTE DECARGA COM NOTAS FISCAIS EMITIDAS SEM O DESTAQUE DO TRIBUTO.EMISSO DE NOTA FISCAL COMPLEMENTAR POSTERIOR LAVRATURA DEOCORRNCIA. PRETENSO DE RECONHECIMENTO DE DENNCIAESPONTNEA. IMPOSSIBILIDADE. IMPOSIO DE MULTA DE 100% SOBRE OVALOR DO TRIBUTO DEVIDO. PEDIDO DE REDUO. RECURSODESPROVIDO.

    [...] "A natureza da multa aplicada sobre o dbito fiscal sancionatria, tendoela a funo de punir o contribuinte indolente com suas obrigaes tributrias, demodo a desestimular o pagamento em atraso e, sobretudo, o no recolhimento dotributo" (AC n. 2012.087776-9, Des. Francisco Oliveira Neto, j. 14/05/2013). Assim, corrente o entendimento de que "no tem carter confiscatrio a multa fiscal cujovalor no excede ao da obrigao principal" (AC n. 2007.056719-2, Des. NewtonJanke, j. 18/08/2009). (AC n. 2012.016938-7, da Capital, rel. Des. Srgio RobertoBaasch Luz, Segunda Cmara de Direito Pblico, j. 29-4-2014).

    Apelao cvel. Tributrio. Exigncia do ISS sobre o servio de arrecadao da

    Gabinete Des. Subst. Paulo Henrique Moritz Martins da Silva

  • COSIP. Concessionria de energia eltrica. Cobrana efetuada mediante retribuiopor parte do municpio. Base de clculo. Preo do servio. Imunidade tributria.Inocorrncia. Multa fiscal. Confisco no caracterizado. Exigncia fiscal legtima.Precedentes da Corte. Recurso provido.

    [...] No pode ser rotulada de excessiva a multa moratria fixada em 100% dodbito principal, at porque, alm de haver previso legal, tem a finalidade de coibir asonegao de tributos. Ainda que assim no fosse, no caracterizaria confisco aestipulao da multa moratria em percentual elevado, incidente sobre o valor doimposto que no foi recolhido no prazo legal, porque a multa no se confunde comtributo e, por esse motivo, sobre ela no incide a regra proibitiva de confisco de quetrata o art. 150, inciso IV, da Constituio Federal (TJSC, Ap. Cv. n. 2010.000820-3,da Capital, rel. Des. Jaime Ramos, j. 24.5.2010). (AC n. 2010.001973-2, da Capital,rel. Des. Pedro Manoel Abreu, Terceira Cmara de Direito Pblico, j. 8-11-2011).

    De minha relatoria: AC n. 2009.063055-6, de Lages, j. 11-5-2010; ACMSn. 2008.021967-2, de Jaragu do Sul, j. 11-5-2010; AC n. 2008.044430-9, deChapec, j. 11-5-2010.

    Por fim, o apelante alega que houve sucumbncia recproca.Novamente, sem razo.O valor da dvida foi retificado de R$ 920.262,38 para R$ 892.072,21,

    isto , ocorreu uma reduo de apenas 3,06% da quantia original.Assim, aplicvel o pargrafo nico do art. 21 do CPC, in verbis:Pargrafo nico. Se um litigante decair de parte mnima do pedido, o outro

    responder, por inteiro, pelas despesas e honorrios.

    Com relao ao quantum, deve-se observar o grau de zelo doprofissional, a natureza e a importncia da causa (art. 20, 3 e 4 do CPC).

    Pela sentena, a verba seria de 10% sobre o valor do dbitoremanescente, equivalendo a cerca de R$ 89.000,00, o que se mostra excessivo.

    Por isso, razovel a minorao da verba advocatcia para R$15.000,00.

    Voto pelo desprovimento do recurso do Estado e pelo provimento parcialda apelao da autora apenas para reduzir os honorrios advocatcios.

    Gabinete Des. Subst. Paulo Henrique Moritz Martins da Silva