jurisprudência mineira - biblioteca digital do tjmg: página inicial · 2018-02-28 · Órgão...

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Jurisprudência Mineira Órgão Oficial do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais Repositório autorizado de jurisprudência do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, Registro nº 16, Portaria nº 12/90. Os acórdãos selecionados para esta Revista correspondem, na íntegra, às cópias dos originais obtidas na Secretaria do STJ. Repositório autorizado de jurisprudência do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, a partir do dia 17.02.2000, conforme Inscrição nº 27/00, no Livro de Publicações Autorizadas daquela Corte. Os acórdãos selecionados para esta Revista correspondem, na íntegra, às cópias obtidas na Secretaria de Documentação do STF. Jurisprudência Mineira Belo Horizonte a. 64 v. 205 p. 1-361 abr./jun. 2013

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  • Jurisprudncia Mineirargo Oficial do Tribunal de Justia

    do Estado de Minas Gerais

    Repositrio autorizado de jurisprudncia do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA, Registro n 16, Portaria n 12/90.

    Os acrdos selecionados para esta Revista correspondem, na ntegra, s cpias dos originais obtidas na Secretaria do STJ.

    Repositrio autorizado de jurisprudncia do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, a partir do dia 17.02.2000, conforme Inscrio n 27/00, no Livro de Publicaes Autorizadas daquela Corte.

    Os acrdos selecionados para esta Revista correspondem, na ntegra, s cpias obtidas na Secretaria de Documentao do STF.

    Jurisprudncia Mineira Belo Horizonte a. 64 v. 205 p. 1-361 abr./jun. 2013

  • Escola Judicial Des. Edsio Fernandes

    SuperintendenteDes. Jos Antonino Baa Borges

    Superintendente AdjuntoDes. Jos Geraldo Saldanha da Fonseca

    Coordenador do Centro de Estudos Jurdicos Juiz Ronaldo Cunha CamposDes. Tiago Pinto

    Diretora Executiva de Desenvolvimento de PessoasMnica Alexandra de Mendona Terra e Almeida S

    Diretor Executivo de Gesto da Informao DocumentalAndr Borges Ribeiro

    Gerente de Jurisprudncia e Publicaes TcnicasLcia Maria de Oliveira Mudrik - em exerccio

    Coordenao de Publicao e Divulgao de Informao Tcnica (CODIT)Gilson Geraldo Soares de Oliveria - em exerccio

    Adriana Lucia Mendona DoehlerAlexandre Silva HabibCeclia Maria Alves CostaEliana Whately MoreiraGilson Geraldo Soares de OliveiraJos Dalmy Silva GamaKarina Carvalho de RezendeLeda Jussara Barbosa Andrade

    Lcia de Ftima CapanemaLuciana Lobato BarrosMaria Clia da SilveiraMaria da Consolao SantosMaria Helena DuarteMaurcio Tobias de LacerdaTadeu Rodrigo RibeiroVera Lcia Camilo Guimares

    Escola Judicial Desembargador Edsio FernandesRua Guajajaras, 40 - 22 andar - Centro - Ed. Mirafiori - Telefone: (31) 3247-876630180-100 - Belo Horizonte/MG - Brasilwww.ejef.tjmg.jus.br - [email protected]

    Nota: Os acrdos deste Tribunal so antecedidos por ttulos padronizados, produzidos pela redao da CODIT.

    Fotos da Capa: Ricardo Arnaldo Malheiros Fiuza - Sobrado em Ouro Preto onde funcionou o antigo Tribunal da Relao - Palcio da Justia Rodrigues Campos, sede do Tribunal de Justia de Minas GeraisSrgio Faria Daian - Montanhas de Minas GeraisRodrigo Albert - Corte Superior do Tribunal de Justia de Minas Gerais

    Projeto Grfico e Diagramao: Carlos Eduardo Miranda de Jesus - ASCOM/CECOVNormalizao Bibliogrfica: EJEF/GEDOC/COBIBTiragem: 400 unidadesDistribuda em todo o territrio nacional

    Enviamos em permuta - Enviamos en canje - Nous envoyons en change- Inviamo in cambio - We send in exchange - Wir senden in Tausch

    O contedo dos artigos doutrinrios publicados nesta Revista, as afirmaes e os conceitos emitidos so denica e exclusiva responsabilidade de seus autores.Qualquer parte desta publicao pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.

    ISSN 0447-1768

    JURISPRUDNCIA MINEIRA, Ano 1 n 1 1950-2013Belo Horizonte, Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais

    Trimestral.ISSN 0447-1768

    1. Direito - Jurisprudncia. 2. Tribunal de Justia. Peridico. I.Minas Gerais. Tribunal de Justia.

    CDU 340.142 (815.1)

  • Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais

    Presidente

    Desembargador JOAQUIM HERCULANO RODRIGUES

    Primeiro Vice-Presidente

    Desembargador JOS TARCZIO DE ALMEIDA MELO

    Segundo Vice-Presidente

    Desembargador JOS ANTONINO BAA BORGES

    Terceiro Vice-Presidente

    Desembargador MANUEL BRAVO SARAMAGO

    Corregedor-Geral de Justia

    Desembargador LUIZ AUDEBERT DELAGE FILHO

    Tribunal PlenoDesembargadores

    (por ordem de antiguidade, em 05.06.2013)

    Joaquim Herculano Rodrigues

    Jos Tarczio de Almeida Melo

    Jos Antonino Baa Borges

    Kildare Gonalves Carvalho

    Mrcia Maria Milanez

    Jos Altivo Brando Teixeira

    Eduardo Guimares Andrade

    Antnio Carlos Cruvinel

    Silas Rodrigues Vieira

    Wander Paulo Marotta Moreira

    Geraldo Augusto de Almeida

    Caetano Levi Lopes

    Luiz Audebert Delage Filho

    Manuel Bravo Saramago

    Belizrio Antnio de Lacerda

    Jos Edgard Penna Amorim Pereira

    Jos Carlos Moreira Diniz

    Paulo Czar Dias

    Vanessa Verdolim Hudson Andrade

    Edilson Olmpio Fernandes

    Geraldo Jos Duarte de Paula

    Maria Beatriz Madureira Pinheiro Costa Caires

    Armando Freire

    Delmival de Almeida Campos

    Alvimar de vila

    Drcio Lopardi Mendes

    Valdez Leite Machado

    Alexandre Victor de Carvalho

    Teresa Cristina da Cunha Peixoto

    Eduardo Marin da Cunha

    Alberto Vilas Boas Vieira de Sousa

    Jos Affonso da Costa Crtes

    Antnio Armando dos Anjos

    Jos Geraldo Saldanha da Fonseca

    Geraldo Domingos Coelho

    Guilherme Luciano Baeta Nunes

    Paulo Roberto Pereira da Silva

    Eduardo Brum Vieira Chaves

    Maria das Graas Silva Albergaria dos Santos Costa

    Elias Camilo Sobrinho

    Pedro Bernardes de Oliveira

    Antnio Srvulo dos Santos

  • Francisco Batista de Abreu

    Helosa Helena de Ruiz Combat

    Sebastio Pereira de Souza

    Selma Maria Marques de Souza

    Jos Flvio de Almeida

    Evangelina Castilho Duarte

    Otvio de Abreu Portes

    Nilo Nvio Lacerda

    Luciano Pinto

    Mrcia De Paoli Balbino

    Fernando Caldeira Brant

    Hilda Maria Prto de Paula Teixeira da Costa

    Jos de Anchieta da Mota e Silva

    Jos Afrnio Vilela

    Renato Martins Jacob

    Maurlio Gabriel Diniz

    Wagner Wilson Ferreira

    Pedro Carlos Bitencourt Marcondes

    Pedro Coelho Vergara

    Marcelo Guimares Rodrigues

    Adilson Lamounier

    Cludia Regina Guedes Maia

    Judimar Martins Biber Sampaio

    lvares Cabral da Silva

    Alberto Henrique Costa de Oliveira

    Marcos Lincoln dos Santos

    Rogrio Medeiros Garcia de Lima

    Carlos Augusto de Barros Levenhagen

    Eduardo Csar Fortuna Grion

    Tibrcio Marques Rodrigues

    Tiago Pinto

    Antnio Carlos de Oliveira Bispo

    Luiz Carlos Gomes da Mata

    Jlio Cezar Guttierrez Vieira Baptista

    Doorgal Gustavo Borges de Andrada

    Jos Marcos Rodrigues Vieira

    Gutemberg da Mota e Silva

    Herbert Jos Almeida Carneiro

    Arnaldo Maciel Pinto

    Sandra Alves de Santana e Fonseca

    Alberto Deodato Maia Barreto Neto

    Eduardo Machado Costa

    Andr Leite Praa

    Flvio Batista Leite

    Nelson Missias de Morais

    Matheus Chaves Jardim

    Jlio Csar Lorens

    Rubens Gabriel Soares

    Marclio Eustquio Santos

    Cssio de Souza Salom

    Evandro Lopes da Costa Teixeira

    Jos Osvaldo Corra Furtado de Mendona

    Wanderley Salgado Paiva

    Agostinho Gomes de Azevedo

    Vtor Incio Peixoto Parreiras Henriques

    Jos Mauro Catta Preta Leal

    Estevo Lucchesi de Carvalho

    Saulo Versiani Penna

    urea Maria Brasil Santos Perez

    Osvaldo Oliveira Arajo Firmo

    Jos do Carmo Veiga de Oliveira

    Maria Luza de Marilac Alvarenga Arajo

    Walter Luiz de Melo

    Jos Washington Ferreira da Silva

    Joo Cancio de Mello Junior

    Jaubert Carneiro Jaques

    Jayme Silvestre Corra Camargo

    Mariangela Meyer Pires Faleiro

    Luiz Artur Rocha Hilrio

    Denise Pinho da Costa Val

    Raimundo Messias Jnior

    Jos de Carvalho Barbosa

    Mrcio Idalmo Santos Miranda

    Jair Jos Varo Pinto Jnior

    Moacyr Lobato de Campos Filho

    Andr Luiz Amorim Siqueira

    Newton Teixeira Carvalho

    Ana Paula Nannetti Caixeta

    Alyrio Ramos

    Luiz Carlos de Azevedo Corra Junior

    Rogrio Alves Coutinho

    Alexandre Quintino Santiago

    Krin Liliane de Lima Emmerich e Mendona

    Lus Carlos Balbino Gambogi

    Mariza de Melo Porto

  • Composio de Cmaras e Grupos (em 05.06.2013) - Dias de Sesso

    Primeira Cmara CvelTeras-feiras

    Segunda Cmara CvelTeras-feiras

    Terceira Cmara CvelQuintas-feiras

    Quarta Cmara CvelQuintas-feiras

    Quinta Cmara CvelQuintas-feiras

    Sexta Cmara CvelTeras-feiras

    Stima Cmara CvelTeras-feiras

    Oitava Cmara CvelQuintas-feiras

    Primeiro Grupo de CmarasCveis

    1 quarta-feira do ms(Primeira e Segunda Cmaras,

    sob a Presidncia do Des.Eduardo Andrade)

    - Horrio: 13 horas -

    Segundo Grupo de CmarasCveis

    1 quarta-feira do ms(Terceira e Quarta Cmaras,

    sob a Presidncia doDes. Kildare Carvalho)

    - Horrio: 13 horas -

    Terceiro Grupo de CmarasCveis

    3 quarta-feira do ms(Quinta e Sexta Cmaras, soba Presidncia do Des. Edilson

    Fernandes)

    - Horrio: 13 horas -

    Quarto Grupo de CmarasCveis

    3 quarta-feira do ms(Stima e Oitava Cmaras,

    sob a Presidncia doDes. Wander Marotta)

    - Horrio: 13 horas -

    * Presidente da Cmara

    * Presidente da Cmara

    * Presidente da Cmara

    * Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Eduardo Guimares Andrade*

    Geraldo Augusto de Almeida

    Vanessa Verdolim Hudson Andrade

    Armando Freire

    Alberto Vilas Boas

    Desembargadores

    Kildare Gonalves Carvalho*Maria das Graas Silva Albergaria

    dos Santos CostaElias Camilo Sobrinho

    Judimar Martins Biber SampaioJair Jos Varo Pinto Jnior

    Desembargadores

    Fernando Caldeira Brant

    Carlos Augusto de Barros Levenhagen*

    Saulo Versiani Penna

    urea Maria Brasil Santos Perez

    Lus Carlos Balbino Gambogi

    Desembargadores

    Wander Paulo Marotta Moreira

    Belizrio Antnio de Lacerda*

    Vtor Incio Peixoto Parreiras Henriques

    Osvaldo Oliveira Arajo Firmo

    Jos Washington Ferreira da Silva

    Desembargadores

    Caetano Levi Lopes*

    Hilda Maria Prto de Paula Teixeira da Costa

    Jos Afrnio Vilela

    Marcelo Guimares Rodrigues

    Raimundo Messias Jnior

    Desembargadores

    Jos Carlos Moreira Diniz

    Geraldo Jos Duarte de Paula

    Drcio Lopardi Mendes*

    Helosa Helena de Ruiz Combat

    Ana Paula Nannetti Caixeta

    Desembargadores

    Edilson Olmpio Fernandes

    Antnio Srvulo dos Santos*

    Selma Maria Marques de Souza

    Sandra Alves de Santana e Fonseca

    Luiz Carlos de Azevedo Corra Junior

    Desembargadores

    Jos Edgard Penna Amorim Pereira*

    Teresa Cristina da Cunha Peixoto

    Pedro Carlos Bitencourt Marcondes

    Alyrio Ramos

    Rogrio Alves Coutinho

  • Nona Cmara CvelTeras-feiras

    Dcima Cmara CvelTeras-feiras

    Dcima Primeira Cmara CvelQuartas-feiras

    Dcima Segunda Cmara CvelQuartas-feiras

    Dcima Terceira Cmara CvelQuintas-feiras

    Dcima Quarta Cmara CvelQuintas-feiras

    Dcima Quinta Cmara CvelQuintas-feiras

    Dcima Sexta Cmara CvelQuartas-feiras

    Quinto Grupo de CmarasCveis

    2 tera-feira do ms(Nona e Dcima Cmaras,

    sob a Presidncia doDes. Pedro Bernardes)

    - Horrio: 13 horas -

    Sexto Grupo de CmarasCveis

    3 quarta-feira do ms(Dcima Primeira e Dcima

    Segunda Cmaras, sob a Presi-dncia do Des. Saldanha

    da Fonseca)

    - Horrio: 13 horas -

    Stimo Grupo de CmarasCveis

    2 quinta-feira do ms(Dcima Terceira e Dcima

    Quarta Cmaras, sob aPresidncia do Des. Valdez

    Leite Machado)

    - Horrio: 13 horas -

    Oitavo Grupo de CmarasCveis

    3 quinta-feira do ms(Dcima Quinta e Dcima

    Sexta Cmaras, sob aPresidncia do Des. JosAffonso da Costa Crtes)

    - Horrio: 13 horas -

    * Presidente da Cmara

    * Presidente da Cmara

    * Presidente da Cmara

    * Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Pedro Bernardes de Oliveira*

    Luiz Artur Rocha Hilrio

    Mrcio Idalmo Santos Miranda

    Moacyr Lobato de Campos Filho

    Andr Luiz Amorim Siqueira

    Desembargadores

    Jos Altivo Brando Teixeira

    Marcos Lincoln dos Santos

    Wanderley Salgado Paiva*

    Alexandre Quintino Santiago

    Mariza de Melo Porto

    Desembargadores

    Cludia Regina Guedes Maia*

    Alberto Henrique Costa de Oliveira

    Luiz Carlos Gomes da Mata

    Jos de Carvalho Barbosa

    Newton Teixeira Carvalho

    Desembargadores

    Jos Affonso da Costa Crtes*

    Maurlio Gabriel Diniz

    Tibrcio Marques Rodrigues

    Tiago Pinto

    Antnio Carlos de Oliveira Bispo

    Desembargadores

    Paulo Roberto Pereira da Silva

    lvares Cabral da Silva

    Gutemberg da Mota e Silva

    Jos do Carmo Veiga de Oliveira*

    Mariangela Meyer Pires Faleiro

    Desembargadores

    Alvimar de vila

    Jos Geraldo Saldanha da Fonseca

    Geraldo Domingos Coelho

    Jos Flvio de Almeida*

    Nilo Nvio Lacerda

    Desembargadores

    Valdez Leite Machado*

    Evangelina Castilho Duarte

    Rogrio Medeiros Garcia de Lima

    Estevo Lucchesi de Carvalho

    (...)

    Desembargadores

    Francisco Batista de Abreu*

    Sebastio Pereira de Souza

    Otvio de Abreu Portes

    Wagner Wilson Ferreira

    Jos Marcos Rodrigues Vieira

  • Dcima Stima Cmara CvelQuintas-feiras

    Dcima Oitava Cmara CvelTeras-feiras

    Quarta Cmara CriminalQuartas-feiras

    Quinta Cmara CriminalTeras-feiras

    Sexta Cmara CriminalQuartas-feiras

    Stima Cmara CriminalQuintas-feiras

    Primeira Cmara CriminalTeras-feiras

    Segunda Cmara CriminalQuintas-feiras

    Terceira Cmara CriminalTeras-feiras

    Nono Grupo de CmarasCveis

    1 Quinta-feira do ms(Dcima Stima e DcimaOitava Cmaras, sob a

    Presidncia do Des. EduardoMarin da Cunha)

    - Horrio: 13 horas -

    Segundo Grupo de Cmaras Criminais

    1 tera-feira do ms(Quarta e Quinta Cmaras, sob a Presidncia do Des.

    Alexandre Victor de Carvalho)

    - Horrio: 13 horas -

    Terceiro Grupo de Cmaras Criminais

    1 tera-feira do ms(Primeira e Stima Cmaras,

    sob a Presidncia do Des. Silas Vieira)

    - Horrio: 13 horas -

    Primeiro Grupo de Cmaras Criminais (2 segunda-feira do ms) - Horrio: 13 horasSegunda, Terceira e Sexta Cmaras, sob a Presidncia da Des.a Mrcia Milanez

    * Presidente da Cmara

    * Presidente da Cmara

    * Presidente da Cmara

    * Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Eduardo Marin da Cunha*

    Luciano Pinto

    Mrcia De Paoli Balbino

    Andr Leite Praa

    Evandro Lopes da Costa Teixeira

    Desembargadores

    Eduardo Brum Vieira Chaves

    Jlio Cezar Guttierrez Vieira Baptista*

    Doorgal Gustavo Borges de Andrada

    Jayme Silvestre Corra Camargo

    Edison Feital Leite (Juiz convocado)

    Desembargadores

    Mrcia Maria Milanez*

    Rubens Gabriel Soares

    Jos Osvaldo Corra Furtado de Mendona

    Jaubert Carneiro Jaques

    Denise Pinho da Costa Val

    Desembargadores

    Silas Rodrigues Vieira

    Alberto Deodato Maia Barreto Neto*

    Flvio Batista Leite

    Walter Luiz de Melo

    Krin Liliane de Lima Emmerich e

    Mendona

    Desembargadores

    Delmival de Almeida Campos

    Guilherme Luciano Baeta Nunes

    Jos de Anchieta da Mota e Silva*

    Arnaldo Maciel Pinto

    Joo Cancio de Mello Junior

    Desembargadores

    Alexandre Victor de Carvalho

    Pedro Coelho Vergara*

    Adilson Lamounier

    Eduardo Machado Costa

    Jlio Csar Lorens

    Desembargadores

    Marclio Eustquio Santos*

    Cssio Souza Salom

    Agostinho Gomes de Azevedo

    (...)

    (...)

    Desembargadores

    Maria Beatriz Madureira Pinheiro Costa

    Caires*

    Renato Martins Jacob

    Nelson Missias de Morais

    Matheus Chaves Jardim

    Jos Mauro Catta Preta Leal

    Desembargadores

    Antnio Carlos Cruvinel*

    Paulo Czar Dias

    Antnio Armando dos Anjos

    Eduardo Csar Fortuna Grion

    Maria Luza de Marilac Alvarenga Arajo

  • Conselho da Magistratura (Sesso na primeira segunda-feira do ms - Horrio: 14 horas)

    rgo Especial (Sesses na segunda e na quarta quartas-feiras do ms - Horrio: 13 horas)

    Desembargadores

    Desembargadores

    Joaquim Herculano RodriguesPresidente

    Jos Tarczio de Almeida MeloPrimeiro Vice-Presidente

    Jos Antonino Baa BorgesSegundo Vice-Presidente

    Luiz Audebert Delage Filho Corregedor-Geral de Justia

    Manuel Bravo SaramagoTerceiro Vice-Presidente

    Joaquim Herculano RodriguesPresidente

    Jos Tarczio de Almeida MeloPrimeiro Vice-Presidente

    Jos Antonino Baa BorgesSegundo Vice-Presidente

    Kildare Gonalves Carvalho

    Mrcia Maria Milanez

    Jos Altivo Brando Teixeira

    Antnio Carlos CruvinelPresidente do TRE

    Silas Rodrigues Vieira

    Wander Paulo Marotta Moreira

    Vice-Presidente do TRE

    Geraldo Augusto de Almeida

    Maria Beatriz Madureira Pinheiro Costa Caires

    Delmival de Almeida Campos

    Alvimar de vila

    Valdez Leite Machado

    Alexandre Victor Carvalho

    Caetano Levi Lopes

    Luiz Audebert Delage FilhoCorregedor-Geral de Justia

    Manuel Bravo SaramagoTerceiro Vice-Presidente

    Edilson Olmpio Fernandes

    Elias Camilo Sobrinho

    Antnio Srvulo dos Santos

    Jos Afrnio Vilela

    Wagner Wilson Ferreira

    Pedro Carlos Bitencourt Marcondes

    Adilson Lamounier

    Carlos Augusto de Barros Levenhagen

    Andr Leite Praa

    Cssio Souza Salom

    Marcos Lincoln

    (...)

    Procurador-Geral de Justia: Dr. Carlos Andr Mariani Bittencourt

  • Comit Tcnico da Escola Judicial DesembargadorEdsio Fernandes

    Desembargadores

    Herbert Jos Almeida Carneiro

    Helosa Helena de Ruiz Combat

    Juiz de Direito

    Marco Aurlio Ferenzini

    Diretora Executiva de Desenvolvimento de Pessoas

    Mnica Alexandra de Mendona Terra e Almeida S

    Diretor Executivo de Gesto de Informao Documental

    Andr Borges Ribeiro

    Comisso de Divulgao da Jurisprudncia

    Desembargadores

    Jos Antonino Baa Borges - 2 Vice-Presidente

    Armando Freire

    Jos Washington Ferreira da Silva

    Moacyr Lobato de Campos Filho

    urea Maria Brasil Santos Perez

    Rogrio Medeiros Garcia de Lima

    Jos de Carvalho Barbosa

    Maria Beatriz Madureira Pinheiro Costa Caires

    Walter Luiz de Melo

  • SUMRIO

    MEMRIA DO JUDICIRIO MINEIRO

    Desembargador Jos Costa Loures - Nota biogrfica .......................................................................... 15

    Carlos Horta Pereira - O Centenrio de um homem exemplar - Homenagem - Ricardo Arnaldo Malheiros

    Fiuza ................................................................................................................................................. 17

    A memria do Judicirio mineiro e a preservao do acervo de processos histricos do Poder Judicirio -

    Nota histrica ................................................................................................................................ 19

    DOUTRINA

    A possibilidade de sacrifcio de animais em rituais religiosos - Armando Ghedini Neto .......................... 29

    TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

    rgo Especial ................................................................................................................................. 33

    Jurisprudncia Cvel .......................................................................................................................... 47

    Jurisprudncia Criminal ................................................................................................................... 239

    SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA .................................................................................................... 325

    SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ......................................................................................................... 337

    NDICE NUMRICO ......................................................................................................................... 345

    NDICE ALFABTICO E REMISSIVO ................................................................................................... 349

  • Mem

    ria

    do

    Judi

    cir

    io M

    inei

    ro

    Desembargador JOS COSTA LOURES

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 64, n 205, p. 15-28, abr./jun. 2013 | 15

    Mem

    ria

    do

    Judi

    cir

    io M

    inei

    roMEMRIA DO JUDICIRIO MINEIRO

    NOTA BIOGRFICA*

    * Autoria: Andra Vanessa da Costa Val e Tnia Caador, sob a superviso do Desembargador Lcio Urbano Silva Martins, Superintendente da Memria do Judicirio Mineiro.

    Desembargador Jos Costa Loures (1925-2013)

    Jos Costa Loures, mineiro de Rio Novo, magistrado e professor, nasceu no dia 9 de maro de 1925. Filho de Edmundo Ladeira Loures e Maria Costa Loures, casou-se com Lair Costa Loures, com quem teve dois filhos: Marco Antnio (falecido) e Thas.

    Fez seus primeiros estudos na terra natal, no Grupo Escolar Olmpio Arajo, e em Ub, no Colgio Brasileiro. Na Academia de Comrcio de Juiz de Fora e no Ginsio Mineiro de Uberlndia, completou o ginasial.

    Bacharelou-se pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais no ano de 1952, e concluiu, em 1969, o curso de Doutorado nessa mesma faculdade. Bolsista do governo italiano, fez o Curso de Aperfeioamento em Direito Processual Civil e Direito Processual Penal na Universidade de Roma (1972-1973).

    Iniciou sua carreira pblica como Promotor de Justia de Minas Gerais em 1954. Atuou nas Comarcas de Andradas, Cabo Verde e Resende Costa.

    Aprovado em concurso pblico para a Magistratura Mineira, foi nomeado Juiz de Direito da Comarca de Guia Lopes, atual So Roque de Minas, onde entrou em exerccio no dia 5 de julho de 1958. Nesse mesmo ano, foi removido, a pedido, para Passa Tempo, iniciando suas atividades a 12 de agosto. Solicitou remoo em 1963 e, a partir de 8 de novembro, passou a atuar na Comarca de Campos Gerais. Promovido, por merecimento, para a Comarca de Lajinha, assumiu o exerccio de suas atividades no dia 9 de fevereiro de 1964. Promovido novamente, tambm por merecimento, para Itana, assumiu em 31 de maro de 1966. Promovido para Belo Horizonte, por merecimento, para atuar na 3 Vara de Assistncia Judiciria, entrou em exerccio a 3 de novembro de 1970.

    Em 1976, removido para o cargo de 6 Juiz Substituto de 2 Instncia, prestou assessoria aos Presidentes Edsio Fernandes, Ferreira de Oliveira e Natal Campos para Juzo de Admissibilidade de Recursos Extraordinrios. Permaneceu nesse cargo at 1979.

    Em 8 de maro de 1979, atingiu o grau mximo de sua carreira promovido, por merecimento, ao cargo de Desembargador do Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais. Assumiu o exerccio no dia 14, compondo a 2 Cmara Cvel. Em 1980, foi designado para dirigir a publicao Jurisprudncia Mineira.

    Eleito Corregedor-Geral de Justia, atuou no binio 1986/1988. O Desembargador Jos Fernandes Filho, que respondia interinamente pela Corregedoria, falou, por ocasio da posse do Des. Costa Loures no cargo, que tenho certeza de que ele ir inaugurar uma nova era, a era da Corregedoria pedaggica, e no a era da Corregedoria disciplinar.

    A publicao Corregedoria Geral de Justia: 60 anos, publicada em 2008, diz, folha 136, que:

    No perodo em que atuou como Corregedor-Geral de Justia vrias instrues, dentre outros atos normativos, foram baixados. Sempre com a finalidade de orientar, disciplinar e aperfeioar os servios judiciais e extrajudiciais. O Desembargador Jos Costa Loures visitou, poca, 135 comarcas, detectando as necessidades de cada uma e orientando magistrados e servidores.

    Findo o seu mandato como Corregedor, assumiu a presidncia da 1 Cmara Criminal do Tribunal de Justia, do qual tambm foi o representante junto Assembleia Legislativa na Comisso Mista de Leis Complementares Constituio de 89 - abril/1990. Em 1991, presidiu a Comisso de Estudos de Alterao no Processo Civil.

    Em maio de 1992, assumiu a 2 Vice-Presidncia do Tribunal de Justia, assim como a direo da Escola Judicial Desembargador Edsio Fernandes. Nesse mesmo ano, a 10 de dezembro, passou a exercer as funes de 1 Vice-Presidente do TJMG.

    Coroando sua carreira na Magistratura, foi eleito Presidente do Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais, assumindo o exerccio do cargo no dia 9 de dezembro de 1994.

    Ao lado das atividades como juiz, o Desembargador Costa Loures exerceu o magistrio com igual dedicao e entusiasmo. Foi Professor e Diretor das Faculdades de Direito e Cincias Econmicas da Universidade de Itana e Professor Adjunto de Direito Processual Civil da UFMG.

    Aposentou-se em 9 de maro de 1995.Ao longo de seus 37 anos dedicados magistratura

    mineira, recebeu inmeras condecoraes e homenagens, destacando-se: Medalha de Honra e Grande Medalha da Inconfidncia; Medalha do Mrito Legislativo, da Cmara Municipal de Belo Horizonte; Medalha Santos Dumont (Prata e Ouro); Medalha Batatal, outorgada pela Cmara Municipal de Pitangui; Medalha Honra do Mrito da OAB Seco Minas Gerais; Medalha Des. Ruy Gouthier de

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    os atributos que ornam a sua personalidade, que dignificam o magistrado, o homem que acabamos de perder, so de todos conhecidos e demonstram a grandeza de carter que o tornaram modelar para todos aqueles magistrados que honraram com ele trabalhar.

    Referncias

    CORREGEDORIA-GERAL DE JUSTIA DO ESTADO DE MINAS GERAIS - 60 anos. Belo Horizonte: Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais - TJMG, 2008, p. 135-136.

    DICIONRIO biogrfico de Minas Gerais. Perodo Republicano 1889/1991. Belo Horizonte: Assembleia Legislativa de Minas Gerais - ALMG, 1994, v. 1, p. 367.

    LOURES, Jos Costa. Entrevista des. aposentado Jos Costa Loures. Belo Horizonte, 2011. Entrevista concedida Associao dos Magistrados Mineiros - Amagis. Disponvel em: .

    MINAS GERAIS. Tribunal de Justia. Acervo da Memria do Judicirio Mineiro - Mejud. Belo Horizonte.

    MINAS GERAIS. Tribunal de Justia. Arquivo de Provimento de Comarcas da Magistratura de Minas Gerais. Ficha Funcional. Belo Horizonte.

    MINAS GERAIS. Tribunal de Justia. Lista de Desembargadores. Belo Horizonte. Disponvel em: . Acesso em: 14 mar. 2012.

    MINAS GERAIS. Tribunal de Justia. Memria do Judicirio Mineiro. Presidentes. Belo Horizonte, 2012, p. 38.

    MINAS GERAIS. Tribunal de Justia. rgo Especial. Voto de pesar proferido em sesso do dia 10 de julho de 2013.

    MINAS GERAIS. Tribunal de Justia. Quarta Cmara Cvel. Voto de pesar proferido em sesso do dia 11 de julho de 2013.

    Vilhena; Honra do Mrito da Academia de Comrcio de Juiz de Fora; Medalha do Mrito Judicirio e Colar do Mrito Judicirio.

    Tambm foi homenageado com o ttulo de Cidado Honorrio de So Joo del-Rei, Conselheiro Lafaiete, Trs Coraes, Lajinha, Resende Costa, Passa Tempo, Perdizes, Arax, Itaguara e Belo Horizonte. Rio Novo, por sua vez, concedeu-lhe o ttulo de Cidado Benemrito.

    Faleceu no dia 9 de julho de 2013.Legou-nos uma obra intelectual das mais

    consideradas. Dentre os trabalhos publicados nas principais revistas jurdicas do Pas, destaca-se a obra Direito privacidade, tese apresentada em nome da Delegao Brasileira do II Congresso Latino-Americano de Magistrados. de sua autoria, juntamente com sua filha Thas, o apreciado e admirado Comentrio ao Cdigo Civil de 2012.

    No voto de pesar proferido pelo rgo Especial, em sua sesso do dia 10 de julho, pelo falecimento do ilustre Desembargador, assim se expressou o Desembargador Joaquim Herculano Rodrigues, atual Presidente do Tribunal de Justia:

    A magistratura perde um dos seus lderes exemplares: o Desembargador Jos Costa Loures, ex-Presidente do Tribunal de Justia. Aquele que falava de forma to serena e amena tinha o poder de transmitir grandes lies, o dom de ser firme e ntegro. Ele parecia estar sempre quieto e pensativo. Mas, na verdade, sem alarde, estava sempre envolvido com novas aes, projetos e estudos. Ficamos sempre mais tristes com a perda de algum especial para a Justia e para a sociedade. Mas a fora dos mestres nos mostra que preciso ter esperana e continuar na luta, para vencer os obstculos e corresponder aos anseios do nosso tempo.

    Nesse mesmo voto, referiu-se entrevista que o saudoso Des. Costa Loures concedeu Associao dos Magistrados Mineiros, na qual ressaltou o importante papel que a famlia exerceu em sua vida: O exemplo deixado por meus pais e herana tambm de meus avs foi o da honradez, o de viver honestamente, o de no lesar ningum.

    J o Des. Duarte de Paula, no voto de pesar que pronunciou, destacou que

    . . .

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    roCARLOS HORTA PEREIRAO Centenrio de um homem exemplar

    Ricardo Arnaldo Malheiros Fiuza*

    No dia 13 de dezembro de 2000, no Cemitrio do Bonfim, lamentvamos, todos, a perda material de um homem exemplar: Carlos Horta Pereira, falecido na vspera, aos 87 anos de idade.

    Passados 13 anos, estamos aqui, no seu Centenrio de Nascimento, a nos lembrar dele, espiritualmente vivo entre ns, na saudade, na memria e no exemplo.

    Carlos Horta Pereira um autntico homem pblico, que prestou inestimveis servios nos trs rgos do Poder Estadual (Executivo, Legislativo e Judicirio), o que no comum de acontecer. Menos comum ainda, principal-mente nos dias de hoje, exercer essas trs fraes do Poder Pblico, sem qualquer mancha. Ele sempre distin-guiu o seu poder pessoal (obtido de nascena para a disponibilidade de sua vida particular) do seu poder institucional (exercido em funo do cargo ocupado na Administrao, na Legislatura e na Magistratura) somente para a indisponibilidade das coisas pblicas.

    Carlos Horta Pereira nasceu no dia 23 de setembro de 1913, em Belo Horizonte, tendo sido criado, a prin-cpio, em Santo Antnio do Leite, buclico distrito da tradicional Ouro Preto, filho de Jos Pinto Ferreira (Seu Juca) e de Dona Ocarlina Horta Pereira. Eu, particular-mente, sempre o achei nascido no Leite (tamanho o carinho com que falava daquele lugar).

    Aqui em Belo Horizonte, fez seu curso primrio no respeitado Grupo Escolar Baro do Rio Branco e o secundrio no Colgio Arnaldo, integrando hoje a lista dos mais importantes ex-alunos daquela Casa do Verbo Divino. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito da UMG - atual UFMG - em 1936, aps estagiar (naquele tempo e no meu tambm, na dcada de 50, o estagirio tinha carteira de solicitador), nos dois ltimos anos do curso, no acatado Escritrio de Advocacia do Dr. Sandoval Babo, ento Conselheiro da OAB-MG.

    Na vetusta Casa de Affonso Penna, onde brilhou por sua inteligncia, teve colegas que viriam a se nota-bilizar no mundo jurdico mineiro, entre os quais Edsio Fernandes, seu grande amigo (ambos, depois, casados na mesma ilustre Famlia Lima), que viria a ser um dos mais notveis Presidentes do Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais.

    Ainda jovem, aos 30 anos, foi um dos signatrios do famoso Manifesto dos Mineiros, documento hist-rico que afrontou a Ditadura de Vargas e cujo 70 aniver-srio ora se celebra. Foi aconselhado pelos mais velhos a

    no assinar o manifesto, para no prejudicar o seu futuro promissor. Porm, sua fibra democrtica falou mais alto, e ele foi o caula dos assinantes.

    A partir de 1939 e durante mais de vinte anos, inte-grou um dos mais movimentados e conceituados escri-trios de advocacia cvel desta Capital, ao lado de Joo Franzen de Lima, Jos Ribeiro Vilela, Jos Monteiro de Castro e Jos Machado Mouro. Nesse perodo, foi conselheiro da OAB-MG, indicado pelo Instituto dos Advogados de Minas Gerais.

    Iniciando sua vida pblica, ou melhor, poltica, serviu ao Executivo mineiro, tendo sido oficial de gabi-nete do notvel Governador Milton Campos, sobre quem escreveria, mais tarde, textos memorveis, com destaque para a orao pstuma pronunciada no Tribunal de Justia, no dia 9 de fevereiro de 1972. Nesse notvel e emocionante discurso, Horta Pereira, aps primorosa introduo, enumera 128 Pensamentos Democrticos de Milton Campos, por ele selecionados e intitulados. Tal preciosidade est publicada no volume 50 da revista Jurisprudncia Mineira (jan./jun.1972). Merece uma republicao.

    A partir de 1955, atuou com destaque no Legislativo, como deputado estadual, pela UDN, durante quatro mandatos consecutivos, notabilizando-se por suas atividades verdadeiramente parlamentares, em que predominavam a tica, a cultura, o bom-senso e a dedicao causa pblica. Na Assembleia Legislativa do Estado, pertenceu s Comisses Parlamentares de Justia, Finanas, Servios Pblicos, Reviso Judiciria e Administrativa, Redao e Siderurgia. Foi, tambm, Lder da Minoria, Lder da Maioria e Vice-Presidente da Mesa da Casa.

    Nessa fase - do Carlos Horta poltico -, tive a opor-tunidade feliz de encontr-lo poucas, mas valiosas vezes, em Boa Esperana, a fazer campanha, sempre visitando meu futuro sogro, o mdico Jos Mesquita Neves, diri-gente da UDN local. Os bate-papos eram saborosos...

    Em 1965, aos 51 anos de idade, foi nomeado Desembargador do Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais, em vaga reservada aos advogados, no quinto constitucional. A, ento, durante doze anos, passou a se dedicar, de corpo e alma, ao Judicirio, completando, assim, a trilogia montesquiana dos rgos do Poder do Estado. At se aposentar em 1977, o magis-trado Horta Pereira destacou-se pela lucidez, cultura jur-dica, firmeza nas decises e esprito de Justia em seus despachos, votos e acrdos.

    Aqui, a propsito do Horta Pereira magistrado, valho-me das palavras comoventes de seu filho caula Luiz Otvio, lidas na Missa do Centenrio de Nascimento de seu pai. Disse ele, em 23 de outubro de 2013, na Parquia de So Joo Evangelista:

    * Professor universitrio. Ex-Diretor-Geral do TJMG. Membro da Academia Mineira de Letras Jurdicas. Membro do Conselho de tica Pblica do Estado de Minas Gerais.

    HOMENGAGEM

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    Carlos Horta Pereira destacou-se, portanto, como advo-gado, deputado, professor e desembargador. No entanto, os melhores papis desempenhados por ele foram de cidado, brasileiro, mineiro, filho, amigo, marido, tio, cunhado, genro, sogro, pai, av e bisav. Sempre disponvel e generoso, tinha amigos e admiradores de todas as idades. Amava o Brasil. Orgulhava-se de ser mineiro. Entristecia-se com as dificul-dades enfrentadas pelo povo brasileiro, mas sempre teve a certeza de que dias melhores viriam.

    Com sua namorada de sempre, a esposa Maria de Lourdes Tamm de Lima Pereira, a querida Luluca, cons-tituiu uma bela famlia: Luza Augusta, Mrio, Rosa de Lima, Jos Eduardo, Maria de Lourdes e Luiz Otvio, que a esto, com seus familiares, a se lembrarem, com orgulho sadio, do carinhoso e enrgico chefe.

    Carlos Horta Pereira, com quem muito aprendi, em convvio salutar para mim, na Casa da Justia, ele julgador e eu servidor, foi um verdadeiro homem bom. Dotado de educao de bero, simpatia cativante e firmeza de carter, convicto de suas opinies, conhecedor da vida, nunca deixou, em sua existncia de 87 anos, de ter uma viso profunda das coisas do mundo, mesmo quando seus olhos, prematuramente, cessaram de lhe proporcionar a luz do dia. At o derradeiro momento de sua vida foi o chefe de sua bela famlia e, hoje, lembrana agradvel, saudosa e suave na memria e no corao de todos os que o conhecemos.

    A partir do ingresso na magistratura, eliminou todo e qual-quer lao poltico ou partidrio que pudesse ter, quer seja com eleitores, quer seja com detentores de mandatos eletivos e ocupantes de cargos pblicos. Encarava a independncia judicial no como um benefcio do magistrado, mas como uma garantia para que o Poder Judicirio, no subordinado a qualquer outro Poder do Estado, possa cumprir seu papel de guardio da Constituio.

    De 1967 a 1977, como passei a exercer cargos de direo na Secretaria do Tribunal, meu convvio com ele aumentou, para minha felicidade. Dele recebi muitos conselhos, opinies e ponderaes. Lembro-me de uma tarde, quando ele entrou em meu Gabinete de Diretor-Geral e percebeu a minha alterao e certa intempestividade quando estava pronto a tomar uma deciso mais drstica. Com seu bom-senso, disse-me ento: Ricardo, v para casa, tome um drinquezinho, converse com a Janice, descanse. Amanh, voc resolve isso. Deu certo...

    Ao lado de todas essas atividades, Carlos Horta Pereira pontificou no magistrio, deixando evidente, na ctedra jurdica, sua didtica perfeita, que, alis, se fazia presente at mesmo nas suas conversas mais simples. Foi professor de Direito Civil da Faculdade Mineira de Direito (hoje PUC-Minas) e da Faculdade de Cincias Econmicas da UFMG, onde viria a receber o alto e justo ttulo de Professor Emrito.

    Agora, volto a Luiz Otvio, que assim mais disse de seu pai:

    . . .

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    processos e garantir assim o repasse de informaes para as geraes futuras.

    1 Procedimentos para conservao preventiva

    Considerando as orientaes de guarda de acervo executada por gestores de patrimnio histrico, nacionais e internacionais, relacionamos os procedimentos mais elementares, objetivando estagnar processos de deteriorao em curso.

    Para o futuro, aconselha-se no apenas a conservao do acervo, mas, tambm, a montagem de um catlogo, por profissional em arquivstica, que atenda s demandas de pesquisa da documentao de cada comarca, permitindo um acesso seguro mesma. Posteriormente, recomendamos a digitalizao com a montagem de bancos de dados, tendo em vista a disponibilizao das informaes sem o comprometimento da integridade dos documentos originais.

    1.1 Higienizao

    A higienizao e a troca das embalagens trazem sobrevida aos documentos, reduzindo os agentes agressores. Portanto, so as aes mais importantes na conservao do acervo. Mas isso no basta: a manuteno tem que ser peridica. Os livros, por exemplo, podem ficar anos em prateleiras, sendo espanados externamente, sem que se possa ter noo dos danos internos de que esto sendo vtimas.

    A realizao de inspeces e verificaes de rotina ao acervo e ao prprio edifcio so essenciais para uma conservao preventiva eficaz, evitando-se assim o aparecimento de problemas e deterioraes inesperadas e minimizando-se os danos sobre os bens culturais. Neste sentido, importante prevenir de um modo abrangente, identificando causas de alterao e consequentes efeitos agressivos, criando-se condies para que, antecipadamente, se anulem os factores de degradao.1

    Segundo Ingrid Becker,2 insetos, como os cupins, utilizam o interior dos livros como passagem para atingir a madeira do mobilirio e, como no possuem muita tolerncia luz, atacam apenas a parte interna, o que retarda o diagnstico.

    muito importante que os materiais encadernados sejam limpos com frequncia, tanto externamente, como em seu interior. Para tanto, uma rotina de higienizao e verificao de ataques de fungos e insetos dever ser elaborada.

    A inspeo contnua do estado de conservao, atravs de uma rotina de limpeza, dever ser adotada

    A memria do Judicirio mineiro e a preservao do acervo de processos histricos

    do Poder Judicirio*

    O patrimnio cultural, histrico, material, social e outras formas que podem ser classificadas como patrimnio podem ser vistos e entendidos como um importante elemento para a construo, fortalecimento e efetiva consolidao de identidades coletivas. Suas lembranas, seus fragmentos de histria e at mesmo seus reflexos ultrapassam as noes de tempo e de espao e alimentam o imaginrio coletivo de uma comunidade.

    Nesse sentido, os documentos histricos, reunidos e preservados nos museus e nos lugares de memria, podem e devem ser vistos como elementos de um processo permanente de identificao que transmitem, atravs dos tempos, informaes sobre o meio fsico e social em que existiram, sobre fazeres e afazeres de tempos prximos e remotos, fomentando, continuamente, um sistema de referncias que auxilia no conhecimento e na interpretao do momento histrico em que foram produzidos.

    O acervo dos processos histricos do Poder Judicirio de Minas Gerais, distribudo por suas 296 comarcas, objeto de constante preocupao desta Superintendncia, pois se constitui em poderosos testemunhos materiais da histria do nosso Estado e do nosso Pas. Por esse motivo, a Mejud props-se a debater aes efetivas para a sua preservao, conservao e, quando necessrio, tambm, a restaurao. Ao completar, neste ano de 2013, 25 anos de minuciosa e atenta produo, publica seu caderno de orientaes bsicas para a gesto de seu acervo histrico.

    As orientaes constantes neste trabalho seguem as diretrizes dos rgos competentes - IEPHA e IPHAN, assim como as resolues internacionais, como a Carta do Restauro de 1972, que apresentam instrues e normas tcnicas para a salvaguarda de acervos. Alm disso, aliceram-se na legislao pertinente ao assunto e nos decretos que regulamentam a preservao dos bens materiais.

    Esperamos assim, com a divulgao desta cartilha, alm de auxiliar nossos parceiros, juzes e administradores de fruns do interior a reconhecer a importncia da conservao e da preservao, a cada dia, do nosso honroso e magnfico acervo, tornar a gesto da preservao do nosso patrimnio histrico uma ao capaz de assegurar a integridade fsica dos nossos

    NOTA HISTRICA

    * Nota histrica elaborada por Andra Vanessa da Costa Val, Carine Kely Rocha Vianna e Shirley Ker Soares Carvalho, sob a superviso do Desembargador Lcio Urbano Silva Martins, Superintendente da Memria do Judicirio Mineiro.1 MUSEU do Papel. Normas e procedimentos de conservao preventiva Museu, Portugal. Disponvel em: . Acesso em: 10 dez. 2007.2 BECK, Ingrid. Manual de conservao de documentos. Rio de Janeiro: Ministrio da Justia - Arquivo Nacional, 1985.

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    para todo o acervo. Tal medida, associada ao manuseio consciente, capaz de reduzir drasticamente os danos ao patrimnio.

    1.1.1 Higienizao do acervo processual

    Inicialmente, todo o material deve ser medido em centmetros para que se possa conhecer o tamanho do acervo, a fim de se elaborar rotina de trabalho e metas realistas de execuo.

    Devem ser separados livros, processos, documentos avulsos, fotografias avulsas, mapas soltos. Mas, importante ressaltar que apenas os que estiverem soltos que devem ser separados; tudo o que h no interior de um processo, ou dossi, deve ser higienizado e recolocado no mesmo lugar de origem. Este cuidado essencial para que no se perca sua organicidade. Nada deve ser descartado; bilhetes, envelopes, tudo tem alguma relevncia histrica dentro do processo de produo do documento.

    Os processos devem ser higienizados com o auxlio de trinchas e pincis de cerdas macias e arredondadas. A encadernao deve ser desfeita, quando necessrio, deixando-se sempre um exemplar para servir de modelo. Esse procedimento dever ser realizado com muita percia e cuidado. Os grampos devem ser abertos pelo verso do papel, evitando-se forar as folhas, que se apresentam quase sempre muito acidificadas. Todo cuidado pouco em seu manejo, a fim de impedir que sofram maiores danos que os muitos j existentes.

    No caso de pedaos se desprenderem ou rasgarem, todos devem ser guardados junto s folhas de que fazem parte, para posterior consolidao ou remendo. O mesmo procedimento deve ser observado com relao s capas, lombadas, etc. O atual suporte/embalagem deve ser substitudo (item 4).

    As pessoas envolvidas no tratamento dos processos, obrigatoriamente, devero fazer uso de mscaras, luvas cirrgicas e jalecos com mangas compridas. Esses cuidados so muito importantes, pois o seu objetivo evitar a contaminao com possveis fungos e microorganismos que, por ventura, se encontrem no documento. Alm disso, busca-se preservar o acervo da agresso causada pela sudorese, pela saliva humana, ou por resduos de nicotina, ou alimentos presentes nas mos.

    Recomenda-se que essa fase das atividades seja desenvolvida em ambiente ventilado e arejado. A sala utilizada para limpeza no poder ser a mesma para nenhuma outra atividade, pois a poeira se dispersa pelo ambiente, contaminando novamente o material higienizado. Todo o material dever ficar protegido por tecido sinttico, tipo entretela Peln, durante todo o procedimento, at sua nova embalagem em papel alcalino.

    1.1.2 Higienizao de peas

    No caso de a comarca possuir entre seus bens patrimoniais objetos tridimensionais, os funcionrios responsveis pela conservao dos mesmos e das obras pictricas devero receber treinamento especfico para tal, com orientaes sobre manuseio, higienizao e transporte. Nesse processo de capacitao, o funcionrio dever ser orientado ainda a observar modificaes eventuais nas peas, como surgimento de pragas (cupins, por exemplo), presena de manchas, ou ocorrncia de danos. Tudo dever ser documentado na ficha individual de cada pea, aps notificao das ocorrncias aos responsveis pelo acervo. As peas que, por ventura, apresentarem a necessidade de reparos devem ser separadas e avaliadas por especialistas, a fim de determinar os devidos procedimentos de restauro. Nenhuma interveno poder ser realizada, seno por restauradores profissionais.

    A limpeza dever ser realizada apenas com pano seco, sem uso de produtos qumicos. Caso haja a necessidade de transporte das peas, este dever ser feito pelos responsveis pela conservao das mesmas. Em caso de transporte ou de retirada do local de exposio, peas devero ser embaladas, preferencialmente, em plstico bolha e colocadas em caixas seguras e adequadas.

    1.1.3 Higienizao da iconografia

    Caso haja acervo fotogrfico, o mais importante que as fotografias no sejam acondicionadas em embalagens plsticas, devendo permanecer em lugar seco e arejado, com a menor variao de temperatura possvel, longe de outros materiais. Recomendamos que a comarca entre em contato com a Mejud para receber orientaes mais especficas e detalhadas para a conservao das imagens.

    Fotografias so imagens formadas por fotos-sensibilidade. Assim sendo, seu maior inimigo a luz, tanto a natural quanto a artificial. A umidade relativa do ar, em nveis muito baixos, provoca rachadura do suporte; em nveis muito altos, inchao. Em ambos os casos, ocorrem deformaes, quase sempre irreversveis. Portanto, o controle da iluminao, da umidade e da temperatura essencial para a conservao de fotografias.

    Cuidados simples, como a remoo de poeira e sujidade da superfcie das fotografias e negativos, e seu acondicionamento, ainda que provisrio, em local de menor variao de temperatura e umidade possvel, representam muito no trabalho de conservao iconogrfica.

    Negativos devem ser separados de positivos (as fotos como conhecemos), pois so compostos por materiais qumicos que requerem cuidados de conservao e guarda diferenciados.

    A higienizao deve ser realizada nas peas, uma a uma, com uso de pincel de cerda macia ou tipo soprador, observando as mesmas recomendaes para

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    a higienizao do acervo em papel. Como ainda mais sensvel, exige maior delicadeza, e jamais deve ser manipulada sem luva. Segundo Sergio Burgi,3 o correto que se remova o invlucro em que est a fotografia, mantendo a emulso (imagem formada) para cima, colocando-a sobre um suporte auxiliar (um pedao de mata-borro), e se proceda limpeza da frente com uso do pincel soprador, em movimentos delicados. Transfere-se para outro suporte, agora com a emulso para baixo, e repete-se o processo. Imediatamente, acondiciona-se a fotografia em outro invlucro j preparado.

    Pode haver, dentro dos processos, mapas, plantas e outros que devem ser limpos e recolocados de volta. Aqueles de pequeno porte so higienizados com trinchas e jubas, um a um, frente e verso. Os de grande proporo requerem uma mesa grande que possibilite que primeiro se limpe toda a frente; depois, se limpa o verso e se dobra o mapa ao mesmo tempo, de forma que as partes dobradas j estejam limpas ao trmino. Por ltimo, passa-se a trincha/juba na ltima parte externa, finalizando o trabalho. Esses espcimes, em especial os de tamanhos maiores, necessitam de planificao. Portanto, a presena deles dever ser comunicada Mejud para que a comarca receba orientaes especficas de tratamento desse material.

    2 Numerao

    O objetivo dessa fase tornar o acervo mensurvel. importante ressaltar que no se trata de um catlogo arquivstico, apenas de um levantamento detalhado. O que se pretende, inicialmente, ter um maior controle e segurana sobre as peas. Nesse caso, trata-se de uma numerao provisria at que se possa realizar um trabalho de catalogao.

    A numerao se dar de forma corrente, sem se preocupar com um arranjo, ou catlogo. No item Fichas, h exemplos de como proceder ao levantamento primrio que gestar a linha de trabalho a ser adotada para elaborao do arranjo definitivo.

    2.1 Numerao de dossis e processos

    Na numerao externa dos dossis ou processos, busca-se orden-los de acordo com a disposio em que se encontram, ou cronologicamente. No caso de o acervo estar completamente numerado, esta numerao dever ser mantida. J aqueles que esto parcialmente numerados, ou sem qualquer identificao, devero receber nova numerao, sem descarte da antiga.

    O prximo passo a numerao das pginas. Deve-se obedecer, sempre, disposio delas dentro do processo e, em hiptese alguma, pode-se alterar o ordenamento encontrado, sob pena de que se perca a

    organicidade original do documento e, consequentemente, sua autenticidade. A numerao sempre feita no canto superior direito, entre colchetes, com nmero de pgina e processo [0001/01], com uso de lpis 6B, que, por possuir escrita macia, marca pouco o papel. A borracha usada deve ser a plstica ou modelo TK.

    No caso de se encontrarem envelopes, tabelas, recibos e afins dentro dos processos, devero ser numerados como pgina do mesmo, respeitando-se a ordem em que foram encontrados.

    2.2 Numerao do acervo iconogrfico

    As fotos pertencentes aos processos podem ser numeradas no verso, com lpis 6B, com o n do processo e o n de fotos, por exemplo [0001/01], ou seja, foto n 01 do processo 01. Caso as fotos estejam soltas, ou presas por clipes metlicos, poder ser usado clipe de plstico para fix-las ao processo. O mais importante que permaneam junto pgina de origem. O mesmo vale para plantas e mapas que se encontrem dentro dos processos.

    Fotografias avulsas recebero numerao fora daquela dada aos processos. Devero ser colocadas nos envelopes ou folhas nas quais forem embaladas as fotos. importante ressaltar que a anotao dever ser feita com lpis macio 6B, antes que o invlucro receba a foto. Se houver numerao anterior, tambm deve ser transcrita para o envelope ou folha de embalagem.

    Os quadros devero receber numerao dada pelo inventrio, e dever ficar presa moldura por linha crua ou nylon, em etiquetas bem pequenas e discretas. O objetivo que os responsveis pelo acervo possam identificar as peas, no marc-las, de forma que a numerao dispute, com a obra, a ateno do visitante.

    Em nenhuma circunstncia deve-se tocar nas telas, nos negativos ou na emulso presente na imagem das fotografias com os dedos, evitando-se, assim, manchas e danos.

    2.3 Numerao de objetos tridimensionais

    As peas podem receber numerao em etiqueta bem pequena, repetindo-se o nmero que receberam no inventrio provisrio. As etiquetas devem ser dependuradas na pea com nylon, linha crua, ou algodo cru; nunca coladas com adesivos, ou fazendo-se o uso de colas.

    3 Fichas para o levantamento do acervo

    3.1 Montagem das fichas

    Fichas especficas para a descrio dos processos devero ser montadas, tanto no tocante ao seu estado

    3 BURGI, Srgio. Curso: Organizao e preservao de acervos fotogrficos, realizado pelo Instituto Moreira Sales, em Belo Horizonte, MG, de 18 a 20 de maio de 2007.

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    de conservao, quanto necessidade de possveis reparos, como seu contedo, fotos, mapas, selos, correspondncias, n de pginas, nomes das partes, tipo de causa, ano, dentre outros detalhes. O levantamento do que compe o acervo (documentos de papel, fotos, mapas, mveis, quadros e adornos) que fornecer elementos para avaliao dos procedimentos que devero ser realizados.

    3.2 A importncia das fichas e seu preenchimento

    O preenchimento das fichas, observando-se a orientao, possibilitar a identificao dos principais danos que acometem o acervo, de que cuidados necessita, para, futuramente, ser feita uma anlise da viabilidade de um projeto de conservao. Essas fichas permitiro saber, com riqueza de detalhes, a composio do acervo, possibilitando inferir sobre o passado da comarca, atravs do conhecimento das prticas e costumes daquela sociedade, descritas no fazer jurdico. O devido preenchimento das fichas essencial para a construo do inventrio do acervo, da forma o mais realista possvel. Alguns itens aparecem em mais de uma ficha, o que pode parecer enfadonho. Entretanto, faz-se necessrio por se tratar de fichas com objetivos diversos. Dados, como data da produo do documento, so essenciais tanto para a avaliao do estado geral de conservao como para fins de catalogao do acervo.

    As fichas, a seguir, foram elaboradas com base nas necessidades bsicas do acervo e dos objetivos de sua preservao. Acompanham-nas instrues para o seu preenchimento.

    3.3 Ficha de atividades dirias

    Essa ficha dever conter o volume de trabalho realizado (centmetros/dia) para higienizao, o nmero dos documentos em tratamento e qual a atividade realizada: numerao, descrio ou embalagem e acondicionamento. Metas viveis de trabalhos dirios devem ser traadas, considerando-se o grau de dificuldade e a disponibilidade de pessoal. Semanalmente, devem ser montados relatrios para conhecimento da produtividade e identificao de possveis problemas na execuo dos trabalhos. Cada funcionrio ter uma ficha individual, que dever ser separada por ms, para facilitar o controle dos trabalhos de cada um.

    Com esses dados, ser possvel ter uma noo, ainda que imprecisa, da durao dos trabalhos, a partir das metas que forem estabelecidas, o que possibilitar a montagem de um cronograma das atividades.

    3.4 Ficha para arrolamento dos bens

    Trata-se de uma ficha bastante simples, que objetiva levantar quantitativamente o acervo. Pode

    ser confeccionada em dimenses menores, contendo campos para preenchimento dos seguintes dados: nmero provisrio, nome do objeto, outras marcaes (se houver), estado de conservao, material constitutivo, observaes gerais.

    3.5 Ficha de avaliao do estado de conservao dos processos

    Os campos relacionados ao estado de conservao tero uma gradao de 01 a 05, correspondendo aos nveis de desgaste, sendo a classificao 01 para danos mais brandos e 05 para os danos muito srios (itens como acidez e sujeira). A acidificao excessiva pode ser verificada pela maior fragilidade do papel, que se quebra durante o manuseio, ainda que cuidadoso. Quando atinge nveis gravssimos, por exemplo, ocorre uma espcie de esfarelamento ao simples toque.

    Como exemplificao dos nveis de danificao, podemos pensar no caso das traas: folhas comidas somente nas bordas e nos espaos em branco, sem perda de informao, recebero nvel 02 ou 03, de acordo com a quantidade de pginas atingidas; j folhas que perderam partes com informaes escritas, ou com muitas pginas atacadas, sero classificadas como nvel 05. Outro exemplo pode ser o caso de pginas que apresentem borres que no impeam a leitura - classificao nvel 02 ou 03; j para aquelas em que a informao no pode ser lida, a classificao ser a de nvel 05.

    Uma vez detectada a presena de colas, durex, ou outro corpo adesivo, deve-se registrar com a seguinte quantificao: muito, pouco ou quantidade de pginas comprometidas. Tal motivo deve-se ao fato de que esses elementos deterioram o papel de forma acelerada, sendo necessrio sabermos os riscos que representam ao acervo.

    Todos esses dados so indispensveis para a elaborao de um plano de recuperao preciso, capaz de determinar os procedimentos a serem tomados e a forma mais adequada de se realiz-los.

    Quanto encadernao, deve-se observar lombadas descoladas, se esto expostas, com nervos e costuras mostra. Para a descrio, o campo dever ser preenchido com dados no numricos: bom, razovel, pssimo, detalhando-se o estado em que se encontram.

    No caso das capas, quando no houver a presena delas, este dado dever constar na ficha. A quantificao se dar de acordo com a gravidade das agresses encontradas nos exemplares. Por exemplo: lombadas soltas ou capa com partes grandes ausentes seguramente levaro nmero 05; j uma parte solta, rasgos menos graves, podem variar de 01 a 03.

    A presena de fotografias, selos, mapas e outros elementos dever ser registrada na ficha, com a quantificao. No caso de fotos avulsas, essas devero ter uma ficha diagnstico individualizada, com o nmero que receberam suas embalagens externas.

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    3.6 Ficha de descrio do contedo dos processos

    Nessa ficha dever constar o nmero da estante e da prateleira onde ser acondicionado o processo, o nmero da caixa, mao ou pacote de origem, o ano de incio do processo e, para aqueles j numerados, dever ser mantida a numerao original. O tipo de ao dever conter a natureza do processo: cvel, criminal, famlia, etc., e sua especificao: inventrio, denncia-crime, partilha de bens, dentre outros. As partes devero ser descritas com o mximo de informao: nome completo, idade, profisso, sexo, estado civil, e sua atuao no processo: ru, autor, inventariado, inventariante (herdeiros legais ou no).

    4 Embalagem

    A qualidade dos invlucros determinante para a preservao do acervo. Portanto, sua escolha deve ser pensada na perspectiva da durabilidade, considerando, ainda, sua adequao ao tipo de acervo e ao local de guarda.

    4.1 Invlucros para os materiais em papel

    Uma vez higienizados, numerados e inventariados, devem ser novamente embalados, processo a processo, em papel alcalino, pois a acidez passa de um documento para outro, contaminando papis no acidificados. Para tanto, basta fazer capas de papel alcalino, nas quais devero constar os dados bsicos dos processos, como nome das partes, ano, tipo de ao e o nmero provisrio. Devero ser amarradas com barbante ou algodo cru. Os dados devero ser transcritos antes que a capa envolva o processo, evitando que o mesmo seja marcado ou sofra qualquer outro dano.

    Finalmente, o ideal a adoo de caixas de papel neutro feitas sob medida. Considerando seu alto custo, os tamanhos genricos at podem ser usados, desde que as caixas sejam confeccionadas em material que no seja cido, revestido internamente com papel alcalino, ou caixas poliondas. Deve-se ter ateno especial capacidade das caixas, que devem estar completamente preenchidas, sem excessos, para evitar a compresso dos documentos, e no conter lacunas que possibilitem a ocorrncia de dobras. As caixas devem conter, externamente, a relao dos processos guardados.

    A disposio dos novos suportes na prateleira dever observar uma distncia mnima entre os volumes e, ao se retirar o exemplar da prateleira, deve-se ter o cuidado de sempre faz-lo pela lombada, de forma firme,

    sem prejudicar sua encadernao. No aconselhvel que sejam empilhados, como se encontram muitos dos processos antigos, e sim dispostos verticalmente (em p) nas prateleiras, a fim de se resguardarem as caractersticas do volume.

    4.2 Invlucros para fotografias

    H vrios suportes que podem ser usados para guardar as fotografias; jaquetas podem ser confeccionadas em polister, sem recobrimento artificial, sem umidade, sem brilho. Outra opo ainda a paspatura, que consiste em um meio de adeso reversvel, por meio de cantoneiras, com carto suporte e janelas de visualizao em polister.

    Fotografias no montadas (sem carto de suporte) devem ser acondicionadas em protetores de polister ou papel neutro, com um carto de gramatura 300g/m, no seu interior, para dar maior firmeza embalagem. O papel do carto tambm deve ter ph neutro. Aquelas fotos que possuem carto devem ser acondicionadas da mesma forma, apenas dispensando-se a confeco de carto para enrijecimento do conjunto.4 Finalmente, devem ser colocadas em pastas suspensas, acondicionadas em armrios de ao e em salas climatizadas, com controle rgido das variaes da umidade relativa do ar.

    Como medida emergencial, as fotografias podem ser colocadas separadamente dentro de envelopes individuais feitos de papel neutro. Tambm podem ser acondicionadas em pequenas caixas de papel no cido, revestidas de papel neutro. Todo o acervo fotogrfico deve ser separado por folhas de papel alcalino, evitando-se guardar muitas fotos por caixa, para que o peso das de cima no danifique as de baixo. No se devem misturar formatos ou materiais diferentes. Negativos, por exemplo, devem ser guardados um a um, em envelopes de tamanho apropriado ao seu formato, em caixas rgidas, sem qualquer presso5. Embora de carter provisrio, tal medida pode contribuir muito para a preservao desse tipo de acervo.

    Ante a impossibilidade de se oferecer um ambiente adequado para as fotografias, os invlucros provisrios devem ser acondicionados em armrios de ao, longe das paredes externas, que sofrem maior variao de temperatura. Os armrios devem ficar longe de fontes de umidade, como infiltraes, pores, que podem ser vtimas de inundaes e que possuem pouca ventilao e muita umidade. O melhor que a sala de guarda no esteja diretamente exposta ao sol, e sim na parte mais fria e mais seca. Assim que possvel, deve ser providenciado

    4 BURGI, Srgio. Organizao e preservao de acervos fotogrficos. Imagem, memria e tecnologia digital. Instituto Moreira Sales,

    Belo Horizonte, MG, 2007, p. 25-26.5 Ibidem, nota anterior.

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    um ambiente mais adequado para as fotografias, este ser definido com base na quantidade e variedade do acervo.

    4.3 Invlucros para as peas

    Peas que no fazem parte da exposio permanente devem ser guardadas em local seco, arejado e seguro, e, de preferncia, embaladas em plstico bolha.

    Caso alguma pea apresente danos, como parte quebrada, suportes fragilizados, dever ser retirada da exposio e devidamente embalada junto com os pedaos que, por ventura, tenham se soltado, at que um especialista possa avaliar as intervenes necessrias para a restaurao. imprescindvel que os pedaos sejam recolhidos e guardados junto pea, para os trabalhos de restaurao.

    5 Recomendaes destinadas ao espao fsico para guarda do acervo

    As recomendaes, a seguir, foram embasadas nos princpios bsicos extrados da publicao do Conselho Nacional de Arquivos, Recomendaes para a construo de arquivos, (2000).6

    5.1 Materiais e equipamentos

    Uma das principais funes dos arquivos a proteo de seu acervo. A escolha de materiais de construo, de acabamento e de equipamentos dever obedecer a rigorosas especificaes de segurana contra acidentes, agresso ambiental ou biolgica, e assegurar boa conservao.

    5.1.1 Materiais de construo e de revestimento

    As paredes externas devem ser espessas para retardar a passagem do calor. Os revestimentos internos devem ser de cores claras por sua capacidade de proporcionar isolamento contra calor e umidade, bem como facilitar a limpeza e conservao. Devem, tambm, ser isentos de formaldedos e outros qumicos poluentes em sua composio, alm de apresentar resistncia ao fogo.

    As fachadas devem ser tratadas com substncias repelentes gua e com cores claras de propriedade reflexiva, influindo na reduo do calor interno nos locais de clima mido. No caso dos pisos, recomendam-se revestimentos lavveis, do tipo industrial ou cermico, como forma de prevenir o acmulo de poeira.

    Os materiais usados para construo e revestimento devem ser escolhidos pelas suas caractersticas de durabilidade e isolamento de calor e umidade.

    5.1.2 Portas e janelas

    Mesmo considerando os efeitos benficos da luz solar como agente microbicida, o acervo deve ficar

    protegido de suas radiaes. Por isso, recomenda-se limitar a rea de aberturas a 20% das reas de fachada. As aberturas no podem ser feitas em paredes voltadas para o lado de maior aporte energtico (leste/oeste), devendo-se evitar, ao mximo, as aberturas em direo aos ventos midos.

    As janelas devem ter boa vedao, mas permitindo a sua abertura para ventilao natural quando necessrio. Onde no h climatizao, elas devem permitir uma boa aerao e, ao mesmo tempo, ser dotadas de proteo contra a entrada de insetos (utilizando-se telas de trama pequena) e radiaes solares (instalando-se persianas e filtros).

    5.1.3 Cobertura

    As coberturas inclinadas adaptam-se melhor aos climas com forte insolao e precipitaes volumosas. No caso das lajes de cobertura, recomendam-se tratamentos de impermeabilizao e isolamento trmico. O emprego de cores claras sobre a cobertura refora a reflexo das radiaes solares.

    Para se obter um bom isolamento trmico em relao s condies climticas externas, deve-se prever um afastamento entre o ltimo andar e o telhado, alm da utilizao de revestimento com material termoisolante, que seja prova de fogo.

    A impermeabilizao de reas de cobertura muito importante, pois evita problemas de vazamento que poderiam comprometer a segurana do acervo.

    5.1.4 Mobilirio

    Todo o mobilirio metlico deve ser fabricado com chapas de ao carbono fosfatizado, com pintura eletrosttica, sem apresentar remendos grosseiros ou cantos pontiagudos que possam danificar os documentos ou ferir pessoas.

    5.1.4.1 Estanteria

    As estantes devem ser instaladas em fileiras geminadas, cada uma com pelo menos 2,20m de altura. As prateleiras no devem ultrapassar 1,00m de comprimento e 0,40m de profundidade. As colunas das estantes devem conter perfuraes a cada 0,05m para permitir a regulagem das prateleiras, que podero receber documentos acondicionados em diversos tipos e dimenses de embalagens.

    Cada mdulo de estante tem, em mdia, de cinco a sete prateleiras. As estantes e seus suportes devem resistir a um peso distribudo de 100kg/m de prateleiras. Recomenda-se o emprego de elementos de reforo com formato em X, e tirantes metlicos interligando os mdulos e/ou fixados ao piso, para que tenham mais estabilidade.

    6 Recomendaes para a construo de arquivos. Conselho Nacional de Arquivos - Conarq, 2000.

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    Devem-se evitar painis cegos entre os dois lados das prateleiras, de modo a assegurar uma boa circulao de ar.

    Os corredores entre as estanterias devem ter, no mnimo, 0,70m de largura, e as passagens em ngulos 1,00m de largura. preciso, sempre, uma passagem de 0,70m de largura entre o fim das fileiras e as paredes. Alm da circulao de pessoas, importante tambm cuidar da circulao do ar e da limpeza dos depsitos, para se evitar a proliferao de microorganismos e insetos. Consequentemente, as estantes devem ficar afastadas das paredes, no mnimo em 0,30m, e o ideal seria manter tambm uma passagem de 0,70m para possibilitar inspees peridicas de infestaes. Da mesma forma, a ltima prateleira deve ter um afastamento mnimo de 0,10m do piso, e o vo livre, acima da estante, ser de, no mnimo, 0,30m.

    O layout de distribuio da estanteria deve estar de acordo com o projeto de ventilao, iluminao e de extino de incndio. As fileiras de estantes precisam ser dispostas no sentido da circulao do ar, de forma a nunca bloquearem o seu movimento, evitando-se, assim, a formao de bolses de ar estagnado.

    5.2 Condies ambientais

    5.2.1 Temperatura e umidade relativa do ar (UR)

    As condies adequadas de temperatura e de umidade relativa do ar so elementos vitais para prolongar a sobrevivncia dos registros.

    Se os nveis de umidade relativa (UR) so muito baixos, aumenta-se o risco de quebra das fibras e esfarelamento dos materiais orgnicos fibrosos. Para pergaminhos e encadernaes em couro, a UR abaixo de 40% perigosa, e o papel tambm sofre abaixo desses nveis. J na faixa de UR acima de 65%, crescem microorganismos e ocorrem reaes qumicas danosas.

    A faixa segura de umidade relativa entre 45% e 55%, com variao diria de +/- 5%. A temperatura deve tambm estar relacionada com a umidade relativa. A temperatura ideal para documentos 20C, com variao diria de +/- 1C. A estabilidade da temperatura e da UR especialmente importante, pois mudanas bruscas ou constantes so muito danosas. A adoo irrestrita desses parmetros est sendo

    revista por pesquisadores do assunto, uma vez que induzem ao uso de sistemas de climatizao artificial, sobretudo em climas tropicais.

    No caso de no existir a possibilidade de se instalar um sistema de climatizao, a instalao de umidificadores, desumidificadores, exaustores e ventiladores pode surtir bons resultados.

    Os investimentos em climatizao podem ser reduzidos com estudos sobre o posicionamento do edifcio, a vegetao e a topografia do local onde sero construdos os edifcios. Outra forma de proteger as colees e reduzir o custo de climatizao eleger para os depsitos as reas que recebem menor insolao.

    5.2.2 Proteo contra poluio

    Os poluentes so classificados como externos e internos.

    O ar dos centros urbanos e industriais contm uma grande diversidade de partculas e gases. As partculas que compem a parte slida dos poluentes so de dimenses microscpicas. Renem especialmente o p, a fuligem e os esporos dos microorganismos. Os gases formam os poluentes mais reativos e perigosos para os documentos. O dixido de enxofre, o sulfeto de hidrognio, os xidos de nitrognio e o oznio possuem comprovada ao destrutiva.

    5.2.3 Iluminao

    As radiaes luminosas podem causar srios danos pelas reaes fsico-qumicas que desencadeiam nos materiais. A radiao produz um efeito cumulativo. Isso quer dizer que o dano causado pela radiao se relaciona intensidade e ao tempo de exposio.

    A radiao ultravioleta invisvel e constitui a forma mais energtica e destrutiva da luz, devendo, no que se refere conservao de documentos, ser evitada ao mximo. Entretanto, as radiaes visveis tambm podem causar danos e, portanto, os nveis de luminosidade medidos em lux devem ser sempre controlados.

    Os nveis de iluminao adequados para as reas de trabalho e de leitura so em torno de oitocentos lux. Nas salas de leitura e de trabalho deve ser utilizada a luz natural e artificial, sempre que possvel, combinadas, atendendo s necessidades de conforto visual. Nos corredores, vestbulos e depsitos, a intensidade pode ser reduzida para 500 ou 450 lux.

    A radiao ultravioleta (UV) medida em microwatts por lmen (w/l). O limite padro para fins de preservao de 75w/l. Qualquer fonte de luz com emisses superiores de UV tem de ser filtrada. No caso de exposio de materiais de arquivo por perodos prolongados, foram estabelecidos os seguintes parmetros:

    50 lux e 75w/l de radiao UV para documentos com alta sensibilidade luz, como fotografias, aquarelas, etc., pelo perodo mximo de cem dias por ano (correspondente a cinquenta mil horas/lux por ano). 150 lux para documentos de mdia sensibilidade, sem exceder a 75w/l de radiao UV. Para quase todos os suportes armazenados nos arquivos recomenda-se a exposio, no mximo, de duzentas mil horas/lux por ano.

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    Em reas muito ensolaradas so necessrias persianas ou outros recursos para reduzir a entrada da luz solar. Recomenda-se, especialmente, o uso de filtros contra a radiao ultravioleta invisvel.

    As prateleiras das estantes devem estar perpen-diculares s janelas, de forma a tambm evitar a incidncia direta das radiaes sobre os materiais. No caso da iluminao artificial, podem ser instalados sistemas de iluminao incandescente ou fluorescente. A radiao UV emitida pelas lmpadas fluorescentes no dever exceder 75w/l. Para esses casos, o uso de filtros ou absorventes de radiao UV pode contornar o problema.

    O sistema de iluminao setorizada e controlada, que desliga a fonte de luz artificial aps um perodo predeterminado, reduz o tempo de exposio dos documentos s radiaes. No permitido o uso de lmpadas de mercrio ou sdio, devido sua intensa emisso de radiao ultravioleta.

    5.3 Instalaes

    5.3.1 Instalaes eltricas

    Todas as instalaes eltricas devem estar de acordo com as normas tcnicas em vigor. A chave geral de energia deve ser localizada de forma a permitir sua fcil visualizao e o acesso dos funcionrios em casos emergenciais, alm de ser dotada de painel de controle geral e com luzes de emergncia em todas as instalaes.

    Os interruptores de luz eltrica devem estar localizados nas principais passagens e no final de cada estanteria. necessrio haver, tambm, um interruptor geral para cada sala.

    As tomadas de energia eltrica devem ser instaladas a cada quatro ou seis metros, para permitir o uso de aspiradores de p e outros equipamentos. A instalao ser feita a um metro do cho, contando com proteo, segundo as normas de segurana em vigor.

    Os cabos eltricos devem ser instalados em dutos, preferencialmente aparentes, conforme as normas de segurana em vigor. Os quadros gerais devem, igualmente, estar localizados em locais visveis e de fcil acesso, entrada dos depsitos. Se esses no estiverem em funcionamento, a corrente eltrica deve ficar cortada.

    Os computadores devem contar com sistema de energia eltrica independente, devidamente aterrada e estabilizada. Recomenda-se uma previso de aumento de carga correspondente ao processo de informatizao dos servios.

    5.4 Segurana

    5.4.1 Proteo contra fogo e gua

    Muitos acervos valiosos tm sido destrudos ou danificados por incndios ou inundaes. Esses desastres ocorrem em decorrncia de problemas na instalao

    eltrica e hidrulica, de infiltrao de gua por paredes, telhados, calhas ou janelas. Em grande parte, a causa reside na falta de manuteno adequada. Durante o combate a incndios, os danos provocados pela gua podem ocasionar mais destruio do que o prprio fogo.

    Todos os materiais do prdio tm que ser, preferencialmente, incombustveis e receber proteo especial retardadora de calor e de chamas. Paredes e pisos devem ter resistncia mnima de duas horas ao fogo. indispensvel a proteo dos acessos aos depsitos e s reas de circulao, inclusive escadas, com portas corta-fogo dotadas de resistncia mnima de uma hora.

    Tratando-se de arquivos de documentos permanentes, todos os cuidados possveis devem ser adotados, uma vez que muitos dos documentos armazenados so altamente inflamveis e podero sofrer danos irreversveis. Assim, recomenda-se que cada instituio desenvolva um plano de salvamento e resgate das colees em casos de desastre, a ser desenvolvido por uma equipe especialmente responsvel pelo salvamento do acervo e incumbida da implantao e execuo do plano de emergncia, o qual estabelecer a localizao do acervo mais vulnervel e mais importante e prever o resgate, no caso de danos por fogo ou gua. tambm fundamental identificar e acionar empresas e especialistas que possam colaborar prontamente para recuperar o acervo que, porventura, seja danificado.

    A brigada de incndio da instituio, que atua no combate inicial ao fogo e organiza a evacuao das pessoas que estiverem no prdio, deve, tambm, ser treinada para colaborar no salvamento do acervo.

    5.4.2 Proteo contra roubo e vandalismo

    Os acervos arquivsticos e bibliogrficos no esto livres de danos causados por terceiros. As entradas do edifcio devem ser bem iluminadas e livres de quaisquer obstculos que prejudiquem a viso da equipe de segurana. Os sistemas de alarme devem ser instalados para se evitarem riscos de invaso, e todas as aberturas e passagens no andar trreo protegidas por grades ou venezianas.

    Os depsitos devem estar especialmente protegidos. As janelas tm de ser providas de grades ou telas, e nenhuma porta externa pode abrir diretamente para o seu interior. recomendvel a instalao de sistemas de alarme ou outros dispositivos.

    6 Acessibilidade do acervo

    O objetivo maior de todo arquivo manter, em condies ideais, a consulta a seu acervo, mantendo viva a memria que abriga em seu imvel, divulgando-a para a comunidade que com aquele resqucio histrico se identifica, ou possibilitando a efetivao de pesquisas.

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    Para alcanar tais objetivos, algumas medidas so essenciais para que o acervo no se perca e para que a pesquisa no se sobreponha preservao histrica.

    6.1 Manuseio

    Todo e qualquer manuseio de documentos, em especial acervos fotogrficos e em suporte em papel, deve ser feito com uso de mscaras e luvas. O suor natural de nossas mos, a nicotina do cigarro, resduos de alimentos, saliva e outros so agressores potenciais ao acervo. Ademais, como se trata de documentao antiga, que apresenta alto ndice de sujidade e j passou por ataques de pragas e mofo, representa um grande risco sade do consulente e do manipulador de tais documentos, o que refora a obrigatoriedade do uso dos equipamentos acima referidos.

    As peas tridimensionais s devem ser manipuladas pelos funcionrios encarregados por sua manuteno, observando-se todas as medidas preventivas a fim de evitar danos.

    Caso seja necessrio transport-las, elas devero estar embaladas em plstico bolha. Um termo em duas vias com todos os dados da pea dever ser assinado pelo requisitante e pelo responsvel pelo recebimento. O mesmo vale para o emprstimo de qualquer pea do acervo. Tal procedimento evita extravios e danificaes.

    6.2 Segurana

    Os pertences dos pesquisadores (bolsas, pastas e outros objetos) devero ser guardados em local apropriado - guarda-volumes, por exemplo. O atendente dever folhear os processos a serem entregues ao consulente, para se certificar da quantidade de pginas. O mesmo procedimento dever ser efetuado na devoluo dos documentos. Um nmero mximo de consulentes/dia precisa ser determinado com base no nmero de funcionrios designados para o atendimento e o espao fsico disponvel.

    O ideal que cada consulente acesse, no mximo, dois documentos por vez, para evitar que o atendente fique sobrecarregado e no possa realizar a conferncia de forma correta. Os consulentes jamais devem ter acesso direto ao acervo, sempre passando pelo crivo do atendente. Desse modo, evitam-se perdas e extravios.

    6.3 Pesquisa

    O material a ser consultado dever ser requisitado ao funcionrio, com preenchimento de dados do consulente e do que deseja, aps consulta prvia ao

    catlogo, que dever ser montado e se encontrar disposio. Dever ser disponibilizada sala para consultas com ventilao, mobilirio e iluminao adequada. Nesse local, o consulente dever aguardar o material portando, exclusivamente, lpis e papel. O uso de canetas e borrachas deve ser proibido, pois qualquer distrao pode borrar o documento, e os resduos deixados pelas borrachas comuns so altamente nocivos ao papel.

    Em hiptese alguma, os consulentes ou funcionrios podero realizar lanches ou portar alimentos ou lquidos nas salas de consulta e guarda, pois os restos atraem insetos e roedores. Alm disso, pode haver perda irreparvel de um documento atingido por lquido, ainda que seja gua, pois isso provoca borres e manchas.

    6.4 Cpias e reprodues

    Os manuscritos em papel so classificados como materiais muito sensveis luz, por sua baixa tolerncia exposio da radiao produzida. O mximo recomendvel seria de 50 lux. Pois, dos agentes agressores do acervo de papel, a luminosidade considerada, por especialistas em conservao e restaurao de papel, um dos fatores mais agravantes no processo de degradao desse tipo de documento.

    Segundo Augusto Martini:

    a preservao preocupa-se diretamente com o patrimnio cultural consistindo na conservao desses patrimnios em seus estados atuais. Por isso, devem ser impedidos quaisquer danos e destruio causados pela umidade, por agentes qumicos e por todos os tipos de pragas e de microorganismos. 7

    Todo objeto exposto luminosidade reflete parte dela e absorve outra parte. A parte que absorvida, no caso das molculas de celulose, ocasiona reaes qumicas com oxidao, hidrlise, acidificao. Tais reaes so de fcil constatao: papis amarelados, que se quebram ao serem manuseados, por exemplo. Mas, o maior problema, certamente, o fato de ser um processo irreversvel.8

    Entendendo que o principal objetivo da conservao o de aumentar a vida til dos materiais, algumas restries de manuseio e exposio do acervo so questo fundamental para sua segurana. A reproduo por meio de xerox, manipulao, guarda ou exposio em ambientes com grande incidncia de luz, seja ela natural ou artificial, so algumas das muitas restries que se devem observar na conservao de um acervo de papel.

    Experincias acerca da incidncia de luz sobre papel indicam que ele sofre uma perda de cerca de 65%

    7 MARTINI, Augusto. Fatores ambientais e agentes causadores de deteriorizao de documentos. Publicado em 14.06.06. Disponvel em: . Acesso em: 20 ago. 2007.8 SANTIAGO, Mnica Cristina; RIBEIRO, Ana Maria T. L. Papel de polpa de madeira: degradao fsico-qumica. Conservao de documentos. Rio de Janeiro: Fundao Casa de Rui Barbosa, 1994. 56 p.

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    de sua resistncia dobra, aps exposio de cerca de 10 horas de luz solar.9

    A luz natural, por si s, representa um risco imenso, com gerao de danos irreversveis ao acervo. No caso da fotocpia h, ainda, agravantes, tais como o calor que a mquina produz durante a operao, que funciona como catalisador das reaes qumicas acima descritas. Ou seja, ocorre uma acelerao no processo de quebra das fibras internas do papel, alm dos estragos que so fatalmente causados s costuras dos documentos, bem como o alto ndice de emisso de radiao.

    Vrios rgos pblicos e privados que detm a guarda de processos de valor histrico buscam, junto ao IPHAN e ao IEPHA/MG, embasamento e orientao relacionados aos cuidados essenciais para sua preservao. Pensando nisso, a Mejud vem, h anos, coletando informaes acerca do assunto, inclusive observando a experincia de outras instituies de guarda, como museus no Brasil e tambm na Europa, a fim de melhor orientar sua gesto patrimonial. A preocupao com a agresso gerada pela luz ao acervo de papel uma constante, com recomendaes para a no exposio dele iluminao intensa, alm de outras medidas, como a restrio de fotos, proibio de cpias xerogrficas, manuseio sem luvas ou mscaras, dentre outras.

    Ressalte-se que tais medidas no visam restringir o acesso informao, uma vez que qualquer dado

    presente nos processos pode ser pesquisado e transcrito manualmente. O objetivo real de tais limitaes garantir a sobrevivncia do riqussimo acervo documental, em conformidade com orientaes nacionais e internacionais para guarda e gesto de patrimnio.

    Ante o acima exposto, reprodues por fotocpia (xerox), ou por imagens feitas por mquina fotogrfica (em especial com uso de flash), no devero ser realizadas, sob pena de exposio do acervo a uma agresso irreversvel, causando-lhe dano lquido e certo.

    Saliente-se que os documentos consultados podero ser transcritos, desde que o pesquisador registre, em seu trabalho, que o acervo se encontra em fase de arranjo e cite a classificao temporria do mesmo.

    As obras pictricas que, por ventura, pertenam ao acervo, tambm no devem ser fotografadas. Isso se deve ao fato de que a exposio iluminao danifica a policromia dos quadros de forma irreversvel.

    Fotografias e quadros no devem ser expostos em ambiente de muita luminosidade e jamais devem receber colas ou adesivos, ou ser tocados com os dedos.

    Todos os cuidados elencados, apesar do aparente carter restritivo, visam apenas preservar a memria da Justia mineira e os fragmentos por ela produzidos, para que a posteridade possa conhecer sua histria e contribuir na construo de seu pertencimento social.

    9 DRUMOND, Maria Ceclia de Paula. Preservao e conservao em museus. Cadernos de Diretrizes Museolgicas DEMU/IPHAN/Ministrio da Cultura. Braslia, 2006. Disponvel em: .

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  • Dout

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    Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 64, n 205, p. 29-32, abr./jun. 2013 | 29

    DOUTRINA

    A possibilidade de sacrifcio de animais em rituais religiosos

    Armando Ghedini Neto*

    Sumrio: I - Introduo. II - Desenvolvimento. III - Conclu-so. IV - Bibliografia.

    I - Introduo

    A religio um conjunto de crenas que relacionam a humanidade com a espiritualidade, sendo muitas vezes usada como sinnimo de f. A ideia de religio, com muita frequncia, contempla a existncia de seres supe-riores que teriam influncia ou poder de determinao no destino humano.

    A maioria das religies tem comportamentos orga-nizados, incluindo hierarquias clericais, reunies regu-lares ou servios para fins de venerao ou adorao de uma divindade ou para a orao e/ou escrituras sagradas para seus praticantes.

    Dentro do que se define como religio, podem-se encontrar muitas crenas e filosofias diferentes. Todavia, ainda assim, possvel estabelecer uma caracterstica comum entre todas elas, qual seja: toda religio possui um sistema de crenas no sobrenatural, geralmente envolvendo divindades, deuses e demnios. As religies costumam tambm possuir relatos sobre a origem do Universo, da Terra e do Homem e sobre o que acontece aps a morte. A maior parte cr na vida aps a morte.

    A liberdade de religio e de opinio considerada por muitos como um direito humano fundamental. A liberdade de reli-gio inclui ainda a liberdade de no seguir qualquer religio, ou mesmo de no ter opinio sobre a existncia ou no de Deus (pt.wikipedia.org/wiki/Liberdade_religiosa).

    Por sua vez, o meio ambiente o conjunto de condies, leis, influncias e infraestrutura de ordem fsica, qumica e biolgica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (pt.wikipedia.org/wiki/Meio_ambiente).

    A Poltica Nacional do Meio Ambiente brasileira, estabelecida na Lei n 6.938, de 31 de agosto de 1981, define meio ambiente como o conjunto de condies, leis, influncias e interaes de ordem fsica, qumica e biolgica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

    O presente trabalho tem como escopo a anlise sobre o direito liberdade da crena, bem como da

    proteo ambiental, buscando averiguar a possibilidade de sacrificar animais em cultos religiosos.

    Objetiva uma apreciao dos dispositivos constitu-cionais que regem a matria, apreciando-os segundo os princpios da concordncia prtica, da unidade da cons-tituio, bem como da proporcionalidade.

    II - Desenvolvimento

    A Constituio da Repblica, no art. 5, VI, dispe que inviolvel a liberdade de conscincia e de crena, sendo assegurado o livre exerccio dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteo aos locais de culto e a suas liturgias.

    O texto constitucional disciplina tambm que ningum ser privado de direitos por motivo de crena religiosa ou de convico filosfica ou poltica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigao legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestao alternativa, fixada em lei (art. 5, inciso VIII).

    J o art. 215 da Constituio estabelece que o Estado garantir a todos o pleno exerccio dos direitos culturais e acesso s fontes da cultura nacional e apoiar e incentivar a valorizao e a difuso das manifestaes culturais. O pargrafo primeiro desse artigo reza que o Estado proteger as manifestaes das culturas popu-lares, indgenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizatrio nacional.

    Conforme se infere das normas acima aludidas, assegurada a pluralidade religiosa e o livre exerccio dos cultos. Essa liberdade, decorrente da prpria liberdade de conscincia, revela uma maturidade do povo e abrange inclusive o direito de no possuir qualquer religio. No se podem restringir direitos ou impor obrigaes queles que professem qualquer espcie de religio.

    O Estado Democrtico de Direito assegura como um de seus valores fundamentais a pluralidade religiosa e o livre exerccio dos seus cultos. Dentro dessa defesa est includa a ideia de tolerncia, alm da proibio do Estado de impor s pessoas uma religio oficial.