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i www.rffadvogados.pt Praça Marquês de Pombal, 16 – 5º (Recepção)/6º 1250-163 Lisboa • Portugal T: +351 215 915 220 • F: +351 215 915 244 [email protected] TAX & BUSINESS A presente Informação destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a informação nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso concreto. O conteúdo desta Informação não pode ser reproduzido, no seu todo ou em parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais sobre este assunto contacte [email protected]. *** Esta Informação é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º 7/2004, de 7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso pretenda ser removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes, por favor envie um email com “Remover” para o endereço email [email protected]. 01 JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA UNIÃO EUROPEIA (1.º TRIMESTRE DE 2016) Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014 Legal 500 – Band 1 Tax “Portuguese Law Firm” 2013 International Tax Review –"Best European Newcomer" (shortlisted) 2013 Chambers & Partners – Band 1 “RFF Leading Individual “ 2013 Who´s Who Legal – “RFF Corporate Tax Adviser of the Year” 2013 IBFD – Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique Pretende-se, com a presente Informação Fiscal, apresentar uma síntese trimestral dos principais Acórdãos proferidos pelo Tribunal de Justiça da União Europeia (“TJUE”) – à semelhança do que fazemos em relação às decisões do Centro de Arbitragem Administrativa (“CAAD”) e do Tribunal de Contas –, relacionados com o domínio da Fiscalidade, analisando, caso a caso, o impacto e o contributo que tais decisões poderão vir a ter, do ponto de vista nacional. A presente Informação Fiscal é relativa ao 1.º Trimestre de 2016.

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A presente Informação destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a informação nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso concreto. O conteúdo desta Informação não pode ser reproduzido, no seu todo ou em parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais sobre este assunto contacte [email protected].

***

Esta Informação é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º 7/2004, de 7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso pretenda ser removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes, por favor

envie um email com “Remover” para o endereço email [email protected].

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J U R I S P R U D Ê N C I A D O T R I B U N A L D E J U S T I Ç A D A U N I Ã O E U R O P E I A ( 1 . º T R I M E S T R E D E 2 0 1 6 )

Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014 Legal 500 – Band 1 Tax “Portuguese Law Firm” 2013 International Tax Review –"Best European Newcomer" (shortlisted) 2013 Chambers & Partners – Band 1 “RFF Leading Individual “ 2013 Who´s Who Legal – “RFF Corporate Tax Adviser of the Year” 2013

IBFD – Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique

Pretende-se, com a presente Informação Fiscal, apresentar uma síntese trimestral dos principais Acórdãos proferidos pelo Tribunal de Justiça da União Europeia (“TJUE”) – à semelhança do que fazemos em relação às decisões do Centro de Arbitragem Administrativa (“CAAD”) e do Tribunal de Contas –, relacionados com o domínio da Fiscalidade, analisando, caso a caso, o impacto e o contributo que tais decisões poderão vir a ter, do ponto de vista nacional. A presente Informação Fiscal é relativa ao 1.º Trimestre de 2016.

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1111.... NNNNúmero do Processo:úmero do Processo:úmero do Processo:úmero do Processo: C-335/14 Nome:Nome:Nome:Nome: Les Jardins de Jouvence SCRL contra État belge Data:Data:Data:Data: 21 de Janeiro de 2016 Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: IVA - Isenções FactosFactosFactosFactos A Les jardins de Jouvence (doravante abreviadamente designada por “LJJ”) é uma sociedade cooperativa cujo objecto social, à data dos factos, se reconduzia à exploração e gestão de instituições de assistência, bem assim, ao exercício de todas as actividades que estivessem relacionadas com cuidados de saúde e apoio a doentes e idosos deficientes. Em Outubro de 2006, a LJJ recebeu autorização provisória de funcionamento da residência apoiada “Les jardins de Jouvence”, a qual disponibiliza, aos seus residentes, alojamento concebido para uma ou duas pessoas, assim como diversos serviços pagos, tais como acesso a um restaurante-bar, um salão de cabeleireiro e de estética, uma sala de fisioterapia, uma lavandaria, um ambulatório para colheitas de sangue, um consultório médico, entre outros. No período compreendido entre 2004 e 2006, foram feitas, por parte da LJJ, diversas obras de construção civil, tendo sido instalados os equipamentos necessários ao seu objecto social, de modo a iniciar a gestão da sua actividade de residência apoiada. Na sequência de uma acção de fiscalização, a Administração tributária concluiu que a LJJ não poderia deduzir o IVA relativo à construção de imóveis durante o período entre 2004 e 2006, tendo sustentado que essa impossibilidade se deve ao facto de esta sociedade estar isenta de IVA, com referência à gestão da residência apoiada. Neste sentido, a Administração tributária, exigiu à LJJ o reembolso dos montantes indevidamente deduzidos. No âmbito do litígio que opôs a Administração tributária e a LJJ, a LJJ sustentou o entendimento de acordo com o qual a autorização formal de gestão de uma residência apoiada não se traduzia necessariamente num reconhecimento do seu carácter social,

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considerando, de igual forma, que uma intervenção material da colectividade – elementos constitutivo do conceito de assistência social ou de segurança social –, não existia no referente às residências apoiadas. Mais referiu a LJJ não receber qualquer financiamento público, tendo clarificado que os residentes não beneficiam de qualquer ajuda ou intervenção pública com referência aos custos relativos aos serviços prestados. Por seu turno, a Administração tributária belga sustentou a improcedência de tal posição, por entender que as prestações de serviço efectuadas pela LJJ se enquadram nas isenções previstas no Código do IVA, razão pela qual a LJJ não poderia beneficiar do direito à dedução deste imposto. Mais refere a Administração tributária que a residência apoiada gerida pela LJJ, tinha uma autorização da Região da Valónia e beneficiava de um reconhecimento formal do seu carácter social para fornecer prestações de serviços estreitamente conexos com a assistência social. No âmbito, foram submetidas ao TJUE as seguintes questões prejudiciais: (i) Uma residência apoiada com fins lucrativos, que fornece alojamentos particulares,

assim como, inúmeros serviços facultativos a título oneroso, é um organismo que tem, essencialmente, carácter social na acepção da isenção prevista na Sexta Directiva?

(ii) A resposta à primeira questão manter-se-á caso a residência em causa obtiver, por via do fornecimento dos serviços em questão, subsídios ou outra forma de benefício ou de intervenção financeira, da parte do poder público?

Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal O TJUE chamado a apreciar a questão considerou que, de modo a perceber se a LJJ estava enquadrada na isenção prevista na Sexta Directiva [cfr. artigo 13.º A, n.º 1, alínea g)], seria necessário analisar se esta cumpria, cumulativamente, dois requisitos: (i) tratar-se de um organismo reconhecido de carácter social pelo Estado belga; (ii) as prestações fornecidas pela residência apoiada estarem estreitamente conexas

com a assistência social e com a segurança social. Quanto ao primeiro requisito, que se trataria do reconhecimento de carácter social da LJJ pelo Estado belga, o Tribunal considerou que o mesmo estaria subordinado ao direito

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nacional. Todavia, em conformidade com o Direito da União, existiriam diversos elementos que deveriam ser equacionados pelas autoridades nacionais, entre os quais figuram o carácter de interesse geral do organismo em causa, o facto de outros organismos com as mesmas actividades beneficiarem já de um reconhecimento semelhante, entre outros, tais como o facto de, no caso concreto, a Região da Valónia dispor de uma única regulamentação para as residências apoiadas, casas de repouso e centros de dia. No âmbito da análise deste requisito, o Tribunal considerou que o facto de a LJJ prosseguir fins lucrativos e não receber qualquer apoio público, não a exclui, por um lado, do termo “organismo”, sustentando a sua amplitude para abarcar este tipo de entidades, e, como tal não excluindo a sua classificação como “outro organismo reconhecido de carácter social pelo Estado-Membro em causa”. Por outro lado, a circunstância de o custo das prestações fornecidas ser suportado numa percentagem considerável pelas caixas de seguro de doença ou por organismos de segurança social poderá ser tido em conta, no que diz respeito à averiguação de o organismo possuir ou não carácter social. Conclui o TJUE, ainda quanto a este requisito, que compete ao órgão jurisdicional de reenvio analisar se a LJJ deve ser enquadrada como organismo com carácter social. Relativamente ao segundo requisito, o TJUE concluiu que, através da interpretação do artigo [13.º, A, n.º 1, alínea g] referente à isenção prevista na Sexta Directiva, as prestações fornecidas por uma residência apoiada, mais concretamente a disposição de alojamentos adaptados para idosos, poderão beneficiar da isenção prevista em sede de IVA, em virtude de serem semelhantes às fornecidas nos centros de terceira idade, devendo portanto ter um tratamento também idêntico, no que diz respeito ao IVA. Também no que respeita aos diversos serviços colocados à disposição dos utentes, por parte da LJJ, a título facultativo, como o acesso ao salão de cabeleireiro e de estética, ao restaurante-bar, e à sala de fisioterapia, dever-se-á aferir quais os que correspondem aos fornecidos também pelos centros de terceira idade, de forma a concluir quais os serviços susceptíveis de serem considerados estreitamente conexos com a assistência social, e assim, de carácter indispensável para o cumprimento das prestações isentas.

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DecisãoDecisãoDecisãoDecisão Em face do exposto, entende o TJUE que o carácter social da residência apoiada deverá ser apreciado pelo órgão jurisdicional de reenvio, recorrendo a diversos elementos, entre os quais o carácter de interesse geral do organismo em causa, e o facto de outros organismos com as mesmas actividades beneficiarem já de um reconhecimento semelhante. Quanto às prestações fornecidas pela residência apoiada, o Tribunal entende que as que consistam em colocar à disposição de idosos alojamentos adaptados podem beneficiar da isenção [do artigo 13.º, A, n.º 1, alínea g)] da Sexta Directiva. Já as outras prestações fornecidas pelas residências apoiadas também poderão beneficiar da isenção citada, desde que, estas sejam obrigatórias, nos termos da legislação nacional, e tenham como objectivo apoiar e prestar cuidados a idosos, devendo corresponder às prestações que os centros da terceira idade são também, legalmente, obrigados a fornecer. Implicações no Direito PortuguêsImplicações no Direito PortuguêsImplicações no Direito PortuguêsImplicações no Direito Português Esta decisão contribui para compreender o alcance da isenção prevista no Código do IVA, relativa às prestações de serviços e transmissões de bens estreitamente conexas, reforçando a necessidade de atender ao princípio da plena concorrência também na interpretação das normas de isenção. 2222.... Número do processo: Número do processo: Número do processo: Número do processo: C‑179/14

Nome: Nome: Nome: Nome: Comissão Europeia contra Hungria Data: Data: Data: Data: 23 de Fevereiro de 2016 Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: Liberdade de estabelecimento – Requisitos de emissão de vales atribuídos a trabalhadores FactosFactosFactosFactos

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No decurso do ano de 2011, surgiu, na Hungria, uma nova regulamentação relativa aos vales de refeição, lazer e férias. A regulamentação húngara em questão procede à regulação de dois instrumentos: (i) o cartão de lazer Széchenyi (cartão SZÉP) e (ii) os vales Erzsébet. Os referidos instrumentos consistem, nomeadamente, na emissão de cartões ou vales, em condições fiscalmente vantajosas, para utilização por parte dos trabalhadores por conta de outrem onde podem ter acesso a determinadas prestações de alojamento, lazer ou restauração, a título de vantagens em espécie atribuídas por parte da entidade empregadora. Tais instrumentos permitem às entidades empregadoras remunerar os seus trabalhadores, através de prestações em espécie, em condições fiscalmente mais favoráveis. No que respeita ao cartão SZÉP, o facto de os requisitos para a sua emissão serem restritivos – designadamente pelo facto de as sucursais de sociedades constituídas noutros Estados‑Membros não estarem autorizadas a emitir os referidos cartões SZÉP –

motivou o entendimento, por parte da Comissão, de acordo com o qual tais requisitos violam o princípio da liberdade de estabelecimento [artigo 49º do Tratado de Funcionamento da EU] e o princípio da liberdade de prestação de serviços [artigo 56º do Tratado de Funcionamento da EU]. No que respeita ao segundo instrumento, os vales Erzsébet, estes são títulos emitidos pela Fundação Nacional Húngara para o Lazer, em suporte electrónico ou em papel, e utilizáveis na compra de refeições prontas a consumir. O programa Erzsébet tem como objectivo reduzir significativamente o número de pessoas socialmente desfavorecidas, em particular crianças, que não têm possibilidade de usufruir de várias refeições ao dia. Com efeito, a rácio deste programa é de cariz social. Sucede ainda que a lei “Erzsébet” impõe, a favor de organismos públicos, um monopólio no âmbito da emissão de vales para refeições frias.

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As entidades húngaras consideram, contudo, justificado este monopólio, na eventualidade de estar em causa um benefício fiscal que apenas tem sentido no âmbito da política fiscal de um determinado Estado-Membro, e por decisão desse Estado. Neste âmbito, a Comissão Europeia submeteu a sua petição junto do TJUE, considerando que: (i) A Hungria violou a Directiva relativa aos serviços no mercado interno [Directiva

2006/123/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 12 de Dezembro de 2006], ao introduzir, e manter em vigor, o regime do cartão SZÉP, quer por excluir a possibilidade de sucursais emitirem o cartão, quer pelo âmbito restrito dos requisitos originando uma situação em que apenas os bancos ou outras instituições de crédito, que tenham um estabelecimento na Hungria o possam emitir;

(ii) O regime do cartão SZÉP e, bem assim, o regime dos vales Erzsébet – que estabelece um monopólio a favor de organismos públicos no âmbito da emissão de vales de refeições – viola os artigos que consagram os princípios relativos à liberdade de estabelecimento e à livre prestação de serviços.

Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal Em primeiro lugar, o TJUE considera que a Directiva relativa aos serviços no mercado interno proíbe os Estados-Membros de condicionar o acesso à emissão de cartões SZÉP, por estar em causa uma sucursal, com sede noutro Estado-Membro, localizada na Hungria. Esta proibição, cuja possibilidade de justificação está afastada, visa garantir a supressão, sistemática e rápida, de restrições à liberdade de estabelecimento que, de forma uniforme, o legislador da União e a jurisprudência do TJUE têm considerado afectar gravemente o bom funcionamento do mercado interno. Relativamente à exigência, imposta pelo regime jurídico em vigor, das sociedades emitentes terem uma forma jurídica específica, cumpre recordar que, de acordo com o Direito da UE, as condições para ter acesso a um determinado mecanismo não podem ser, directa ou indirectamente, discriminatórias em razão da nacionalidade ou, tratando-se de pessoas colectivas, do local da sede.

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Acresce que, a existirem restrições, deverá ser demonstrado o seu carácter necessário, designadamente, deverão tais exigências ser justificadas por uma razão imperiosa de interesse geral, devendo ainda as mesmas serem sujeitas a um teste de proporcionalidade. Por outro lado, a defesa das entidades húngaras, no sentido de justificar a necessidade deste requisito pelo facto de demonstrar uma correcta e total integração na vida económica húngara, não contem, segundo o TJUE, nenhum elemento ou argumento concreto susceptível de fundamentar de que modo esse requisito é necessário e proporcional para assegurar que os emitentes de cartões SZÉP oferecem as garantias de solvência financeira, de profissionalismo e acessibilidade, exigidas para alcançar os objectivos a que se propõe, designadamente, no âmbito da protecção dos utilizadores desses cartões e dos correspondentes credores. Pelo exposto, no entender do Tribunal, as exigências relativas à forma jurídica do emitente do referido cartão, especialmente por exigir uma forma jurídica específica, violam igualmente a mencionada Directiva. Mais refere o TJUE que existem medidas menos onerosas e restritivas das liberdades consagradas no Tratado, como seja, a título de exemplo, a criação de um sistema de supervisão dos emitentes ou um mecanismo de garantia bancária. Atentas as mencionadas considerações, o TJUE deu, assim, provimento ao entendimento sustentado pela Comissão Europeia. Já no que respeita à questão dos vales Erzsébet, o TJUE considera que importa determinar se a emissão de vales é abrangida pelo âmbito de aplicação dos artigos que consagram os princípios relativos à liberdade de estabelecimento e à livre prestação, atendendo a que não está em causa, conforme sustentado pelo Governo Húngaro, uma actividade económica. No que respeita à liberdade de estabelecimento, este princípio tem como principal objectivo permitir que um nacional de um Estado-Membro crie um estabelecimento

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secundário noutro Estado-Membro, para aí exercer as suas actividades e favorecer assim a interpretação económica e social no interior da UE. Relativamente à livre prestação de serviços, esta abrange todas as prestações de serviços que não sejam realizadas de modo estável e contínuo, a partir de um domicílio profissional no Estado-Membro de destino. Atento o exposto, a regulamentação húngara em causa, ao sujeitar o exercício de uma actividade económica, como seja a emissão de vales Erzsébet, a um regime de exclusividade a favor de um único operador público ou privado, constitui uma restrição quer à liberdade de estabelecimento quer à livre prestação de serviços. Não obstante o exposto, o TJUE considerou ser necessário verificar se o entrave à liberdade de estabelecimento e à livre prestação de serviços pode, no presente caso, ser justificado. Assim, e em face do que tem sido o entendimento da jurisprudência do TJUE, semelhantes restrições apenas podem ser justificadas, se responderem a razões imperiosas de interesse geral, e bem assim, se não forem além do necessário para esse efeito. Neste caso em concreto, o TJUE começa por relembrar que a mera circunstância de os benefícios que resultam de uma actividade económica exercida no âmbito de direitos especiais ou exclusivos serem utilizados para o financiamento de actividades ou obras sociais, não constitui um motivo susceptível de ser considerado uma justificação objectiva de restrições à livre prestação de serviços. A este respeito, entendeu o TJUE que o facto de as receitas geradas pelo titular de um monopólio constituírem a fonte de financiamento de programas sociais não poderá justificar uma restrição à liberdade de estabelecimento e à livre prestação de serviços. DecisãoDecisãoDecisãoDecisão O TJUE considerou que a Hungria violou o disposto na Directiva relativa aos serviços no mercado interno e, bem assim, os princípios da liberdade de estabelecimento e da livre

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prestação de serviços, ao introduzir e ao manter o regime do cartão de lazer Széchenyi e, bem assim, ao consagrar o regime dos vales Erzsébet, por estabelecer um monopólio a favor de organismos públicos. Implicações no DireImplicações no DireImplicações no DireImplicações no Direito Portuguêsito Portuguêsito Portuguêsito Português A presente decisão contribui para a melhor interpretação das implicações resultantes da consagração da liberdade de estabelecimento e de livre prestação de serviços, tal como instituídos pelo Direito da União, designadamente, no âmbito dos vales refeição, também utilizados em Portugal. 3333.... Número do processo:Número do processo:Número do processo:Número do processo: C-40/15 Nome:Nome:Nome:Nome: Minister Finansów contra Aspiro S.A. Data:Data:Data:Data: 17 de Março de 2016 Assunto:Assunto:Assunto:Assunto: IVA – isenção em matéria de seguros FactosFactosFactosFactos A Aspiro S.A. (doravante abreviadamente designada por Aspiro), com sede em Varsóvia, e sujeito passivo de IVA, presta, em nome e por conta de uma companhia de seguros, com base num contrato celebrado entre as partes, todos os serviços relacionados com a regularização de sinistros. A sua remuneração é feita de acordo com uma taxa fixa, de acordo com o tipo de sinistro. De acordo com os esclarecimentos prestados pelo Tribunal de reenvio, a Aspiro não é uma companhia de seguros, um corrector ou uma intermediária de seguros, não sendo, portanto, responsável perante os segurados. Acresce que a referida sociedade efectua inúmeras operações, delegando algumas delas a um subcontratante externo, tais como a recepção das participações dos danos nos casos cobertos pelo seguro, a determinação das causas e circunstâncias dos sinistros segurados, entre outras.

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Na sequência de um pedido de Parecer fiscal apresentado pela Aspiro, ao Ministro das Finanças da Polónia, de modo a confirmar se os serviços por si prestados estariam isentos de IVA, o Ministro considerou que os serviços realizados estavam parcialmente isentos de IVA, por entender que todas as outras operações realizadas pela Aspiro estão relacionadas com regularização de sinistros, mas não constituem operações de seguros. Segundo o Ministro, tais operações relativas à regularização de sinistros não beneficiam, por conseguinte, da isenção de IVA, uma vez são de natureza técnica e administrativa, podendo ser efectuadas no âmbito de operações distintas das operações de seguros. O referido Parecer foi impugnado pela Aspiro junto no Tribunal Administrativo de Varsóvia, tendo o referido Tribunal concedido provimento à Aspiro e, consequentemente, anulado o Parecer proferido pelo Ministro das Finanças. No seguimento da referida decisão do Tribunal Administrativo de Varsóvia, o Ministro das Finanças interpôs recurso tendo, no âmbito do referido litígio, sendo submetidas de cassação da referida sentença junto do Supremo Tribunal Administrativo. Em virtude do litígio apresentado, o Supremo Tribunal Administrativo submeteu ao TJUE a seguinte questão prejudicial: - A Directiva IVA [cfr. artigo 135.º, n.º 1, alínea a)] deve ser interpretada no sentido de que serviços como os que estão em causa no presente caso, prestados por um terceiro a uma companhia de seguros, em nome e por conta desta, e em que o terceiro não possui qualquer relação jurídica com o segurado, se encontram abrangidos pela isenção de IVA? Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal Quanto à questão que lhe foi submetida, o TJUE começou por salientar a necessidade de interpretar as isenções previstas [no artigo 135.º, n.º 1 da] na Directiva IVA de uma forma estrita. Debruçando-se sobre o caso em concreto, o TJUE realçou a análise da actividade de regularização de sinistros, exercida pela Aspiro, de modo a compreender se esta consistia na realização de “operações de seguro”, ou por outro lado, representava “prestações de

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serviços relacionadas com essas operações efectuadas por correctores e intermediários de seguros”. Relativamente a esta questão, o Tribunal considerou que a Aspiro, através da prestação de serviços que efectuava, não se comprometia a garantir ao segurado a cobertura de um risco, nem existia uma ligação contratual entre a Aspiro e o segurado. Ora, sendo estas duas características essenciais para que se possa classificar uma operação como de seguro, o Tribunal, em resultado do não preenchimento destes dois requisitos, concluiu que o serviço prestado pela Aspiro não constituía uma operação de seguro, na acepção [do artigo 135.º, n.º 1, alínea a)] da Directiva IVA. O Tribunal sustenta esta conclusão, também, na necessidade de interpretar de maneira estrita as derrogações ao regime geral do IVA, considerando, de igual modo, que o argumento invocado, de necessidade de tratamento do IVA das operações de seguro como o aplicável aos serviços financeiros, não poderia prevalecer, já que, uma analogia com os serviços financeiros não poderia ter lugar em matéria de operações de seguro. A outra questão levantada pelo TJUE foi a de saber se as prestações de serviços levadas a cabo pela Aspiro, poderiam considerar-se “prestações de serviços relacionadas com operações de seguro efectuadas por correctores e intermediários de seguros”, o que determinaria o seu enquadramento no regime de isenção. Na sequência desta questão, o TJUE procedeu à análise da qualidade da Aspiro, de modo a perceber se esta poderia ser considerada uma correctora ou um intermediário, condição que era necessária estar preenchida. Atendendo ao conteúdo das actividades desempenhadas pela sociedade em causa, o Tribunal considerou que era imperioso o preenchimento de duas condições: - o prestador deveria estar em relação com o segurador e com o segurado, podendo esta relação ser indirecta; e, - a actividade desempenhada deveria abarcar aspectos que caracterizam a função de intermediário de seguros, nomeadamente a angariação de clientes e o estabelecimento de relações entre estes e o segurador.

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Quanto ao primeiro requisito, o TJUE considerou que o mesmo estava preenchido pela Aspiro, visto que, esta estava em relação directa com a seguradora e estaria em relação indirecta com o segurado. No que diz respeito ao segundo requisito, o TJUE considerou que o mesmo não se encontrava preenchido por um prestador como a Aspiro, baseando esta conclusão no facto de a actividade de regularizar sinistros em nome e por conta de um segurador, não estaria de alguma forma ligada à angariação de clientes e ao estabelecimento de relações entre estes e o segurador, com vista à celebração de contratos de seguro. Assim, concluiu o TJUE que os serviços de regularização de sinistros como os que estavam em causa no processo principal não deveriam ser qualificados como prestações de serviços efectuadas por um intermediário de seguro, mas sim de desmembramento das actividades das companhias de seguro e como tal, não estariam também abrangidos pela isenção [do artigo 135.º, n.º 1, alínea a)] da Directiva IVA. DecisãoDecisãoDecisãoDecisão Considerando o exposto, a decisão do TJUE foi no sentido de não considerar isenta de IVA, o tratamento dos sinistros por um terceiro, não estando tal actividade relacionada com a angariação de clientes nem com o estabelecimento de relações entre estes e a companhia de seguros, tendo em vista a celebração de contratos de seguro. Implicações no Direito PortuguêsImplicações no Direito PortuguêsImplicações no Direito PortuguêsImplicações no Direito Português A presente decisão contribui para a interpretação do conceito de operações de seguro e prestações de serviços conexas efectuadas pelos correctores e intermediários de seguro, constante na norma de isenção do Código do IVA, no que respeita às operações de seguro e resseguro efectuadas pelos intermediários de seguro.

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Lisboa, 26 de Abril de 2016. Rogério M. Fernandes Ferreira Marta Machado de Almeida Rita Arcanjo Medalho Pedro Miguel Callapez