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Imam Informativo Junho 2009

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ImamInformativo

Junho2009

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Imam é uma revista laboratório orientada pela professora de Estética e História da Arte, Mirtes de Moraes, do curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Produção:Alan SouzaAlline LiberCaio MattaCarlos XavierChristine LiberFernando Celescuekci

Olhar e fingir:fotografias da coleção M + M Auer

Design brasileiroA produção verde e amarela

Entre gotas de chuva epontos de interrogação:

as impressões da jornada rumo a um dos pontos culturais de São Paulo

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ImamInformativo

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Realização:Instituto Presbiteriano Mackenzie

Parque do Ibirapuera - Portão 3Av. Pedro Álvares Cabral, s/n°. Tel. 5085-1300.

Horário: 10h às 18h - terça a domingo (inclusive feriados)Entrada: R$ 5,50 (gratuita aos domingos)

www.mam.org.br

Olhar e fingir:fotografias da coleção M + M Auer

Local: mam - Grande SalaPeríodo: até 28/06/2009

Design brasileiroA produção verde e amarela Local: mam - Sala Paulo FigueiredoPeríodo: até 28/06/2009

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Estático movimento

10Muito além da aparência

Na boca da morte Contradição real

Triste Beleza

Folha SecaCurvas e fragmentos plásticos

O caminhão dos sonhosCerâmicas pulsantes

Produção / Edição / FotosFernando Celescuekci

Carlos Xavier

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Sexta-feira. Um vento mórbido balança fria e lentamente as cortinas. A luz do dia, pálida e enfraquecida, bisbilhota pe-las frestas das janelas; parece temer a presença da escuridão do quarto. O som da água – que pinga sorrateiramente sobre o telhado e escorre devagar até as calhas – integra e termina de compor a embriagada sonolência dessa apática manhã de outono.

O corpo quer permanecer imóvel; quer manter-se aqueci-do e confortável; quer aderir ao humor do dia. A razão vai além das circunstâncias e põe o corpo para trabalhar. A pre-guiça e a inércia são vagarosamente substituídas. Não restam alternativas. Levanto-me às 7h da manhã, tomo banho, café da manhã e saio, sem saber exatamente o que me aguarda.

O dia está nublado e deprimido. As tristonhas nuvens boi-cotam os alegres raios de sol. O cinza predomina no céu e funde-se ao cinza das ruas e calçadas. No sóbrio caminho, passo a fazer parte da atmosfera nem um pouco acolhedora de um dos mais saturados transportes públicos: o ônibus.

Lá fora o cheiro é de asfalto molhado; há uma leve brisa fria e úmida. Aqui dentro os cheiros se misturam. Perfumes, cremes para pentear, loções pós-barba, roupa embolorada. Gente limpa e gente simpatizante da gente européia. Os odores e o calor humanos compõem o cenário – algo até poético, mas (empiricamente) nada agradável.

Após longas dezenas de silenciosos minutos (se não pe-los ruídos do trânsito e pelos ensurdecedores e tão pouco privativos fones de ouvidos alheios), desembarco em meu destino. Ou nem tanto assim...

Entre gotas de chuva

e pontos de interrogação As impressões da jornada rumo a um dos pontos culturais de São Paulo

Leo BattistelliColeção Romance – 2007/2008Coleção Névoa Trip – 2008 35

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34 03Christine Liber

Cerâmicas pulsantes com muita corA sedução do olhar

Cor, muita cor. Cores vibrantes que transmitem alegria e intensidade. É com esse tom que Leo Battistelli fantasia suas cerâmicas: uma mais sedutora que a outra, com pulsantes combinações que disputam a atenção do admirador.

Parecem carentes e delicados quadra-dinhos salpicados de sentimentos – sen-timentos sempre bons, sempre positivos e contagiosos – capazes de transmitir uma incrível sensação de encanto e hip-notizar os olhares mais criativos.

Girassóis, ostras, amebas, balas, se-mentes, discos, bolas, luas, almofadas; o observador mais dedicado pode, nesses pequenos quadradinhos (10x10cm), olhar gotas de tinta, mas enxergar um universo infinito de possibilidades. A coloração é tão viva que parece se mexer, parece até dançar diante dos olhos.

Pequenas e extrovertidas, as peças transpiram o clima de seu país de ori-gem, tropical e rico em intensas nuan-ces: das frutas, das flores, das águas, da terra, das etnias. Cerâmicas únicas, plenas de personalidade, fortes candi-datas a ganhar o olhar e a admiração mesmo do espectador mais distraído.

Alline Liber

A garoa, que me fez companhia durante todo o trajeto, agora dá uma trégua. “Portão 10” leio em uma placa. O por-tão três é meu verdadeiro destino. Perdida, resolvo entrar. Logo, me deparo com um mapa. “Ótimo”, pensei otimista. Que nada! (...) Aos menos familiarizados ao local, de nada adiantavam aquelas indicações enigmáticas. Nenhum sinal do tão eficiente “você está aqui” dos mapas das estações de metrô e dos shoppings. Aquilo era uma porção de formas geométricas, coloridas, com números, setas e legendas. Mais parecia um gráfico – ou algo que o valha.

Avisto, então, um vigilante. Esses costumam ser bem es-clarecedores e amigáveis (por vezes amigáveis até demais!). Rendo-me a perguntá-lo o caminho. “Vai aqui reto, até o fim, depois você vai virar à esquerda, continua indo, aí você vai ver a aranha, é lá!”. O percurso parecia simples, porém bastante longo aos já atrasados e, porque não, sedentários. “Muito obrigado!” e dou início à minha caminhada.

Aqui o cheiro é de terra molhada. Funcionários, munidos de vassouras com cabos longos, têm a exaustiva tarefa de limpar uma a uma as mais de cem luminárias espalhadas pelo teto do mezanino. Já às 10h20 da manhã – não se esqueçam: de uma sexta-feira fria e chuvosa – jovens ensaiam suas pri-meiras e limitadas manobras de skate. Sigo o meu caminho. Mais à frente avisto, de longe, meu indicado ponto de refe-rência, a grande aranha metálica.

Conforme me aproximo, começo a identificar as faces pou-co despertas daqueles que compartilham comigo a mesma turma de Jornalismo. Acompanhando-os está a responsável por nossas analíticas e lúdicas aulas de História e Estética da Arte. Todos parecem refletir o entusiasmo e brilho apáticos do dia. Na parede ao lado deles, como uma harmônica e es-pontânea moldura, está uma inscrição com letras bastão que conclui com êxito e beleza minha jornada: mam - Museu de Arte Moderna de São Paulo.

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Bertussi Designdustrial

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Sim, as aparências enganam! Ao ver esse caminhão, pro-jetado por Bertussi Design-dunstrial, passa pela cabeça uma série de funções que ele poderia realizar, mas fica di-fícil acertar, pois a real função não é nada útil e nem corriqueira.

Para quem brincava de car-rinho na infância, um sonho se realiza ao ver esse cami-nhão tão bem projetado, com um design tão bonito de se ver. Para brincar, seria bem mais útil do que a versão em grande escala. Uma criança usaria com muito mais vontade do que o próprio motorista.

O tão admirado caminhão produz nada menos importan-te do que asfalto. Paulo e

O caminhão dos sonhosMuita tecnologia para nada

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Carlos Xavier

Tobias Bertussi e Christian Machado são os responsáveis pelo modelo real. O proje-to mostra que se pode usar a criatividade em tudo, que o design pode transformar qual-quer objeto em uma verdadeira obra de arte.

Só fica uma dúvida no ar: em um mundo com tanta desi-gualdade social, com tantos problemas financeiros, é legal gastar muito para embelezar algo que não é assim tão útil, como fazer asfalto? A beleza dos objetos é sim importante para “alegrar” o ser humano, deixar o mundo mais bonito e feliz, estimulando o uso dos objetos do nosso dia-a-dia, mas do nosso dia-a-dia.

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fotografias da coleção M + M Auer

A exposição “Olhar e fingir: fo-tografias da coleção M + M Auer” integra o calendário do ano da França no Brasil e reúne na Gran-de Sala do mam (Museu de Arte Moderna) cerca de 300 fotografias da coleção do casal franco-suíço Michel e Michèle Auer. O casal é dono do acervo considerado a maior coletânea do mundo com 80 mil peças, entre elas: 50 mil foto-grafias, 21 mil livros e catálogos, mais de 500 câmeras, cerca de 2 mil caricaturas, desenhos e telas, 50 cartazes, 2 mil cartões postais, centenas de objetos publicitários, escritos, algumas jóias, esmalta-dos, porcelanas e silhuetas.

Os curadores desta exposição, Eder Chiodetto (paulistano, jorna-lista, fotógrafo e curador do Clube de Colecionadores de Fotografia do mam) e Elise Jasmim (france-sa e historiadora especializada na

análise de fenômenos históricos e sociais através da imprensa e da fotografia) escolheram para a expo-sição fotografias seculares produzi-das entre 1839 e 2000. Imagens do grandioso acervo do casal que representam 170 anos da história da fotografia. Entre os autores das obras estão os brasileiros Geraldo de Barros, Fabiana de Barros, Pedro Vasquez e Mario Cravo Neto. Re-presentando a fotografia do século 20 estão Cartier-Bresson, Brassaï, Man Ray, Marcel Duchamp, Salva-dor Dali e René Magritte.

As imagens convidam a um in-crível passeio por um universo mui-tas vezes transgressor e atrevido. Fotografias belas, fotografias per-turbadoras, fotografias inusitadas. A exposição compreende a história da fotografia e a transmite de for-ma intensa e plena, organizada em quatro grandes módulos:

“A essência históricada fotografia disfarçada

de exposição”

Olhar e fingir: “Folha Seca”

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... cujo nome é uma homenagem ao poeta francês Louis Aragon e seu texto Le Paysan de Paris (1926), um dos fundadores do surrealismo. O módulo con-tém fotografias com intervenções (pintura, gravura, grafite, banho químico, interferência tecnológica) pro-movidas pelos pictorialistas do final do século XIX. As fotografias afastam-se do caráter documental e caracterizam-se por imagens com interferências que levam a sensação ao onírico.

... com fotografias originadas da reação contra o pictorialismo: o purismo. Fotógrafos que acredi-tavam que a imagem não precisa de interferên-cias para ser bela. Imagens que transpiram be-leza pela simplicidade das situações e pelo olhar atento do fotógrafo.

... cujo nome é uma homenagem a André Breton (fundador do movimento surrealista na França) e seu texto Beleza convulsiva. Módulo dedicado às fotografias surrealistas. Imagens que explo-ram montagem, colagem, pintura, tudo com fonte no inconsciente humano: o sonho, a fantasia, o desejo, o trágico, o cômico, o poético, o sombrio. Dentro desse módulo há uma segmentação de fotografias dedicadas a temas ligados à morte, ao mórbido e ao perturbador.

... com imagens que exploram a relação entre fotógrafo e fotografado, a fotografia como uma representação do real, ou até criação do real, a câmera como um palco de teatro com seres ficcionais em que o ator, ou seja, o fotografado, com-preende a possibilidade de interpretar a personagem que mais lhe convir e aparecer melhor na fotografia. Imagens essas que muitas vezes têm caráter político, religioso ou até mesmo sen-sual, em nus algumas vezes extremamente eróticos.

Fernando Celescuekci

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Skate e sustentabilidadeSobre uma “Folha Seca”

Seguindo a onda da sustentabi-lidade, um grupo de universitá-rios do Rio de Janeiro fundou a empresa Fibra Design Sustentável, que em parceria com a EVO Skate-boards desenvolveu o Folha Seca, uma prancha de skate com mate-riais não-madeireiros que recebe o nome de BIOplac. São basicamen-te placas de palmito pupunha e derivados de bambu, coladas com um adesivo à base vegetal.

Seu exterior não foge muito do design de um skate longboard con-vencional, diferenciando-se ape-nas no desenho da lixa (superfí-cie antederrapante) que apresenta um formato parecido com o de uma folha.

A idéia de fazer um skate sus-tentável não é nova, como por exemplo: a marca americana Sector Nine que já havia feito isso com uma linha de skateborads feitos exclusivamente de bambu. Porém o mérito inovador desses univer-sitários é o material utilizado (principalmente o adesivo vege-tal), que além de ser sustentável é 100% nacional.

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Fernando & Humberto CampanaMelissa Campana – desde 2004

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Curvas e fragmentos plásticosHarmonia com charme e encanto

Curvas e contornos que envolvem os pés como em um movimento de afeto, como em um abraço. Sa-patilhas e sandálias que além de transmitirem es-tilo, conforto e beleza, complementam o trabalho dos irmãos que são, en-tre os designers brasi-leiros, destaque mundial pela criatividade e pelo sucesso de seus projetos: Fernando e Humberto Cam-pana.

Pensar no design das obras desses irmãos é pensar em formas frag-mentadas, mas fragmentos que ainda assim refletem um fluxo contínuo de cor, fantasia e inspiração; detalhes de artistas que desde 2004 demonstram sua

Alline Liber

perfeita afinidade com a matéria-prima principal da marca Melissa, que é o plástico. Dessa união entre Melis-sa e Campana, surgem mui-tos modelos encantadores, atraentes e que são verda-deiros objetos de desejo. O plástico ganha poder e charme sob o comando da dupla e prova ser um ex-celente material por sua flexibilidade e adaptabi-lidade. Linhas, traços, retalhos, ondas, emara-nhados, composições, en-trelaces. Calçados (obras de arte) carregados de graça e harmonia, alguns com texturas, brilho, ou-tros opacos e lisos, mas todos igualmente encanta-dores.

Melissa Campana: obras de arte para os pés!

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Estático movimentoA beleza particular de gotas de leite e suco

Está paralisado, estático; líquido e fluído continua em movi-mento. A genialidade de Harold Edgerton dá a uma gota de leite e a uma gota de suco poder de reflexão e encantamento.

Gota, somente uma gota, mas plena de vitalidade e beleza. Uma imagem simples e ao mesmo tempo tão complexa, eterni-zada pela lente de um fotógrafo atento e, não menos, criativo. É a constatação de que há encanto mesmo nas menores coisas, nas ações mais banais.

Essa fotografia representa com fidelidade o módulo do qual faz parte: Formas formais. É o perfeito exemplar de uma imagem que não precisou de interferências para ser bela, ela seduz por sua simplicidade e pela dedicação de seu autor.

Alline Liber

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Harold Edgerton (1957)“Milk dropped into milk”

“Corola de gota de leite” 27

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Harold Edgerton (1960)“Canberry juice into milk” “Suco de canberry em leite”

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Um olhar muito além da aparênciaA curiosa perspectiva de um fotógrafo

Design brasileiro hoje: fronteirasA produção verde e amarela

Sob curadoria de Adélia Borges – ex-curadora do Museu da Casa Brasileira – a Sala Paulo Figueiredo do mam (Museu de Arte Moderna) reúne na exposição “Design brasileiro hoje: fronteiras” obras dos úl-timos dez anos, de 95 designers de todo país. Trabalhos que representam o design e a criatividade nacional.

A mostra faz refletir como o design está impregnado no cotidiano: roupas, calça-dos, jóias, móveis, utensílios de limpeza, livros, embalagens; trabalhos que estão presentes em casa, no escritório, na bi-blioteca, dentro do armário. A qualidade da produção verde e amarela extrapola as fronteiras do óbvio e alcança até uma sin-gela (ou nem tanto) vassoura.

Entre os designers selecionados estão: Guto Lacaz, Carlos Motta, Rico Lins, Isay Weinfeld e Sergio Rodrigues. Foram reuni-das obras que misturam design, arquitetu-ra, artesanato e artes visuais.

É uma foto? Mas não parece que é um raio-X? Questionamen-tos como esses são sugeridos por esta imagem.

Micha Auer, autor da foto, é um fotógrafo publicitário. Também já lançou vários livros sobre a histó-ria das câmeras fotográficas. Essa sua obra é uma amostra de sua excepcional criatividade.

A foto foi feita a partir de uma radiografia e teve como resultado um “auto-retrato” bastante original, com uma dose de intensa morbi-dez, por um lado, e bom humor, por outro.

O surrealismo, próprio dos fotó-grafos e artistas desta sala – Be-leza convulsiva –, foi a inspiração para seu Auto-Retrato. Nele, Micha Auer aparece munido de sua câ-mera, sobre uma perspectiva óssea (digamos assim). Se pensarmos no contexto médico em que as ra-diografias são feitas, vamos direto para um olhar mórbido; porém, se pensarmos sobre a situação do fo-tógrafo, partiremos para uma visão mais divertida e dialógica com a realidade.

Christine Liber

“Faz refletir como odesign está impregnadono nosso cotidiano”

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Micha Auer (1987)“Auto Portrait”“Auto-Retrato”

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A única certeza que as pesso-as têm de suas vidas é a de que um dia morrerão e o maior medo e preocupação com a morte é por não saber ao certo o que acontecerá após bater as botas.

Existem várias teorias para a vida após a morte, teorias estas criadas por diferentes crenças e religiões.

Muitas pessoas acreditam que ao morrer, se vai ou para o céu, ou para o inferno, dependen-do de seu comportamento e de suas atitudes em vida. A primei-ra opção é dada como certa (por algumas religiões) para pessoas

Alan Souza

Na boca da morteSe formos tentados, é para lá que iremos

boas, e a segunda opção para pessoas que fazem crueldades em vida.

A fotografia de Robert Doisne-au, de 1952, intitulada de L’enfer (“O inferno”), retrata este tema tão polêmico. A foto traz a figura de um soldado tipicamente na-zista à frente de uma loja de ter-ror. O curioso é que o soldado foi fotografado no momento em que passava em frente a porta que tem o formato de uma boca de um demônio, como se o in-ferno estivesse aberto a novos adeptos, apenas esperando que o guarda caia em tentação para ter seu destino nele.

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Robert Doisneau (1952)“L’enfer”

“O inferno”

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Um dos grandes proble-mas da humanidade é o desrespeito do ser humano para com o meio ambiente. O homem abusa e usa da fauna e da flora da maneira que bem entende, ignorando as leis ambientais e os da-nos causados, uma vez que ele se preocupa apenas em ganhar dinheiro.

Seja com madeireiras cor-tando árvores de forma ilegal, comércio clandestino de ani-mais selvagens, caça de es-pécies em extinção, queimas nas florestas, destruição de matas para as construções civis, entre outras cruelda-des.

Esse desmatamento de-senfreado pode resultar em uma série de problemas para a própria humanidade que desmata, pois o homem ao destruir a natureza acaba perdendo os benefícios que ela pode oferecer e acaba danificando o meio ambiente em que vive – exemplo dis-so é o aquecimento global,

Caio Matta

A grande contradição realÉ destruindo que nos destruímos

que nada mais é do que uma resposta da natureza ao ser humano.

A fotografia Nature Morte (“Natureza Morta”) do fotógra-fo John Dücimitière, de 1975, tem a imagem de um macha-do fincado em uma viga de madeira e o cabo é feito de uma planta espinhosa, como se fosse um cacto.

A foto nos remete a refle-xão já citada de um dos pe-cados mortais da civilização: a devastação do espaço vi-tal (segundo Konrad Lorenz). Esse machado representa a crueldade do homem e seu desrespeito com a natureza, mas enquanto ele faz isso, ele próprio vai se espetando aos poucos com o cabo espi-nhoso de seu machado.

Robert Frank (1955)“Idaho”

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A triste belezaO luto e o divino misturam-se e dão forma à arte

Três cruzes. Três mortes. A foto em branco e preto dá mais sobrie-dade e luto à imagem. O céu nubla-do revela, entre as densas e opacas nuvens, um feixe de luz pura e ra-diante.

Robert Frank explorou genialmen-te as técnicas surrealistas – temática da sala Beleza convulsiva, da qual faz parte – para criar essa cena. A luz do céu completa o caráter divi-no e sagrado das cruzes, que são (por si sós) símbolos cristãos muito fortes. É como se fosse aberto um caminho do céu à terra para que as almas das três pessoas subissem ao encontro dos deuses.

Há uma essência fúnebre e fan-tasmagórica, bastante marcante também nas outras obras situadas na mesma parede do módulo “Bele-za convulsiva”.

A imagem leva os mais atentos e menos crédulos a uma reflexão so-bre a fatalidade inexorável da vida: a morte; e leva aos questionamen-tos existenciais: de onde viemos e para onde vamos?

Christine Liber

John Dücimitière (1975)“Nature Morte”“Natureza Morta”

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