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JUBILA-SE O MESTRE, PERDURA O PARADIGMA O nome da Prof. a Doutora Maria Helena Monteiro da Rocha Pereira não me era desconhecido, quando entrei na Faculdade de Letras em Outubro de 1966, depois de mais de três anos de lides militares. Ouvira-o não poucas vezes da boca de camaradas que comigo percorreram os cami- nhos de Mafra ou as picadas de Angola: como pessoa de muito saber, meticulosa nas aulas, mas acima de tudo exigente — a tónica sempre per- cutida. Exigente consigo e com os outros, não pactua de facto com facili- dades a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, nem é do seu tempera- mento passar quem o não mereça. Mas nunca deixou de dar valor e compensar o trabalho, o esforço, a inteligência. Tive-a como professora desde o ano em que entrei na Faculdade e em várias cadeiras: primeiro em História da Cultura Clássica, depois em Literatura Grega e por fim no Seminário de Grego, e na orientação das teses de licenciatura e de doutoramento. Sempre a segurança e o método a guiar-lhe os passos, sempre os princípios e as normas a moldar-lhe os actos. Entrava na sala e os nossos olhos convergiam a atenção para mági- ca folha que tirava da pasta e meticulosamente colocava na secretária, quase sem mais para ela olhar. A imaginação suspensa do que a folha continha. E a aula seguia certa, segura, pausada e medida. A precisão dos conceitos e dos termos, sem palavras a mais, nem a menos. A aplicação da máxima (XTjSèv áyav, nas palavras e nos actos. E em quantos não ficaram os valores gregos, como marcas indeléveis, a germinar futuro. A Prof. a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira está ligada pela sua vivência afectiva e formação intelectual às cidades de Coimbra, Porto e

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JUBILA-SE O MESTRE, PERDURA O PARADIGMA

O nome da Prof.a Doutora Maria Helena Monteiro da Rocha Pereira não me era desconhecido, quando entrei na Faculdade de Letras em Outubro de 1966, depois de mais de três anos de lides militares. Ouvira-o não poucas vezes da boca de camaradas que comigo percorreram os cami­nhos de Mafra ou as picadas de Angola: como pessoa de muito saber, meticulosa nas aulas, mas acima de tudo exigente — a tónica sempre per­cutida. Exigente consigo e com os outros, não pactua de facto com facili­dades a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, nem é do seu tempera­mento passar quem o não mereça. Mas nunca deixou de dar valor e compensar o trabalho, o esforço, a inteligência.

Tive-a como professora desde o ano em que entrei na Faculdade e em várias cadeiras: primeiro em História da Cultura Clássica, depois em Literatura Grega e por fim no Seminário de Grego, e na orientação das teses de licenciatura e de doutoramento. Sempre a segurança e o método a guiar-lhe os passos, sempre os princípios e as normas a moldar-lhe os actos. Entrava na sala e os nossos olhos convergiam a atenção para mági­ca folha que tirava da pasta e meticulosamente colocava na secretária, quase sem mais para ela olhar. A imaginação suspensa do que a folha continha. E a aula seguia certa, segura, pausada e medida. A precisão dos conceitos e dos termos, sem palavras a mais, nem a menos. A aplicação da máxima (XTjSèv áyav, nas palavras e nos actos. E em quantos não ficaram os valores gregos, como marcas indeléveis, a germinar futuro.

A Prof.a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira está ligada pela sua vivência afectiva e formação intelectual às cidades de Coimbra, Porto e

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Oxford. Todas elas representam marcos determinantes na modelação e afirmação do seu espírito.

No Porto, onde nasceu, a 3 de Setembro de 1925, onde fez o seu curso liceal com o mais alto aproveitamento (20 de classificação final) e aonde se recolhe sempre que os afazeres académicos lho permitem, adqui­riu os valores e a firmeza de princípios que a têm acompanhado ao longo da vida. Filha de um renomado catedrático da Faculdade de Medicina do Porto, de que chegou a ser director, o Prof. Alfredo da Rocha Pereira, no Porto desperta para o mundo da cultura, graças às influências recebidas, quer no seio da família, quer no Liceu D. Carolina Michaëlis. É no Porto que algumas figuras notáveis da vida literária da cidade e da literatura portuguesa do século XIX, Ramalho Ortigão e Guerra Junqueiro, lhe atraem a atenção e sobre elas muito cedo publica trabalhos («As imagens e os sons na lírica de Guerra Junqueiro» e «O Porto na obra de Ramalho Ortigão»). É ainda no Porto que inicia a sua vida académica, no Centro de Estudos Humanísticos, anexo à Universidade dessa cidade, onde, em Maio de 1948, profere uma série de seis lições sobre Literatura Latina, editadas no mesmo ano no Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto (vol. 11, 1948, pp. 62-114 e 192-242). E aí continua a leccionar nos anos sub­sequentes. E ainda no Porto que, por intermédio do mesmo Centro de Estudos Humanísticos, no ano lectivo de 1950/1951, obtém uma bolsa do Instituto de Alta Cultura que lhe permite partir para Inglaterra e matri-cular-se na Universidade de Oxford.

Em Oxford estuda e trabalha em Literatura e Religião Gregas, sob a direcção do Prof. E. R. Dodds. A Oxford voltou no primeiro trimestre de 1954, para prosseguir estudos sob a direcção do mesmo professor, e de novo em Março-Abril de 1959, mas então para se especializar em vasos gregos com Sir John Beazley. Além destes reputados helenistas, aí foram seus mestres, durante esses períodos, os Profs. Ed. Fraenkel, W. S. Barrett, R. Pfeiffer, G. Braunholtz, A. F. Wells, W. Hunt, C. Jenkins, J. H. Finley. As estadias em Oxford, que constituíram uma difícil separação da família — e quem priva com a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira sabe bem quanto a família significa para ela —, trouxeram benéficas consequências, no futuro, e não apenas a nível pessoal. Familiarizada na vetusta universi­dade inglesa com novos métodos de trabalho e de investigação, estes estu­dos vão marcar toda a sua actividade científica e pedagógica: transmitidos e incutidos a várias gerações de discípulos, relevante será o seu contributo para o desenvolvimento dos estudos clássicos em Portugal.

Em Coimbra matricula-se na Faculdade de Letras, em 1942, e licen-cia-se em Filologia Clássica, em 1947. Primeira mulher a doutorar-se na

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Universidade de Coimbra, a entrada no quadro de docentes da Faculdade e a sua carreira académica não foram isentas de dificuldades e resistên­cias. Só em Outubro de 1951, depois da estadia em Inglaterra, a então licenciada Maria Helena da Rocha Pereira foi contratada como assistente, vindo a doutorar-se, passados cinco anos (Julho de 1956), após dezoito meses de espera pela marcação das provas. Em Junho de 1962, presta pro­vas públicas de concurso para professor extraordinário, e para professor catedrático, em 1964. A partir de então, Maria Helena da Rocha Pereira tornou-se, pelo seu saber, magistério, postura moral e dedicação, um dos mais conceituados e distintos professores da nossa Universidade, que na Escola deixa cunho indelével da sua acção e presença.

Caracterizada por invulgar tenacidade e amor ao trabalho, espírito de iniciativa, entusiasmo e fidelidade a valores e princípios, a sua actividade científica e cultural é vasta e variada, quer temporal, quer tematicamente. Abrange quase todas as épocas e diversificados domínios da Antiguidade Clássica — em especial as áreas da Cultura Clássica e da Literatura e Arte gregas — e estende-se à literatura e cultura portuguesas, da época medieval à contemporânea.

As grandes linhas do seu labor intelectual definem-se logo nos anos imediatos à licenciatura em que lecciona no Centro de Estudos Humanísticos do Porto: os estudos de cultura clássica propriamente dita, os das influências clássicas na literatura portuguesa e os de latim medie­val — as três principais componentes da sua vida científica.

A cultura clássica e a literatura grega ocupam lugar à parte nas suas preferências de professora e investigadora. Iniciado o seu longo magistério com as já referidas Lições de Literatura Latina proferidas no Centro de Estudos Humanísticos, em 1952 e 1954 já Assistente da Faculdade de Letras publica na Humanitas «Notas a um passo de Píndaro (01. II. 77--78)», um autor da sua preferência, e «Acerca do Hades em Hesíodo». Ao tema aliciante das concepções do Além dedicou a sua dissertação de dou­toramento, Concepções Helénicas de Felicidade no Além, de Homero a Platão. Livro sólido, exacto, claro e atraente, na opinião de W. F. J. Knight, foi bem acolhido nos meios especializados, e a seu respeito escre­veu Pierre Boyancé que se trata de uma obra sobre assunto de enorme complexidade e riqueza, apresentada com grande clareza de linhas e ele­gante sobriedade de pensamento '. No estudo Sobre a Autenticidade do

1 Recensões em Revista Filosófica 22 (Coimbra, 1959), respectivamente, pp. 134 e 126.

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Fragmento 44 Diehl de Anacreonte (1961), dissertação de concurso para professor extraordinário, demonstra que o referido fragmento não é da autoria do famoso poeta de Teos2.

Uma sucessão de artigos notáveis ajudaram a impor a sua Autora a nível nacional e internacional. Entre os mais significativos figuram estu­dos que dedica a Homero, Píndaro e Anacreonte — três poetas da sua preferência —; os que tratam de tragédia grega, de epopeia, de teoria polí­tica, de história das ideias, de estética literária. Entre os mais significati­vos, contam-se «Poesia e poetas na Grécia Arcaica» (1961), «O conceito de poesia na Grécia Arcaica» (1961), «Sobre a importância das informa­ções de Pausânias para a história da língua grega» (1966), «Textkritisches zu Pindar 01. 2, 76-77» (1964), «Anakreon» (1966), «Fragilidad y poder dei hombre en la poesia griega arcaica» (1966), «Pindars Wertbegriffe» (1976), «O mais antigo texto europeu de teoria política» (1981), «Fórmulas e epítetos na linguagem homérica» (1985), «Sentido do amor à terra pátria entre os Gregos» (1985), «Nas origens do humanismo ociden­tal: os tratados filosóficos ciceronianos» (1985), «O herói épico e o herói trágico» (1986), «Nos alvores da cultura europeia: os Poemas Homéricos» (1988), «Mito, ironia e psicologia no Orestes de Euripides» (1989), «O diálogo dos Persas em Heródoto» (1990), «O Jardim das Hespérides» (1991), «Valores civilizacionais na Medeia de Euripides» (1991), «Virgílio, poeta da paz e da missão de Roma» (1992), «Amizade, amor e Eros na Ilíada» (1993).

Esta extraordinária actividade culmina na edição crítica da Graeciae descriptio de Pausânias, editada pela Teubner — em três volumes que se foram sucedendo a espaços regulares: respectivamente, em 1973, 1977 e 1981 —, com um conjunto de exaustivos índices que ocupam quase meta­de do terceiro volume, preciosos para quem necessita recorrer ao sem--número de citações, de nomes e de artistas em proliferação na obra daquele calcorreador da Grécia. Este trabalho (já em 2.a edição, 1989--1990), que representa a acme da sua brilhante carreira dedicada à investi­gação, ao ensino e à cultura, tem recebido críticas muito favoráveis nas revistas da especialidade e tornou-se edição padrão para Pausânias.

De modo algum tem expressão menos significativa uma segunda componente da vida científica da Doutora Maria Helena da Rocha Pereira,

2 Não é meu objectivo enumerar todos os trabalhos do profícuo e notável labor da Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, pois se não justifica, dado que podem ser consultados na lista bibliográfica que se publica a seguir.

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o do estudo das influências e fontes clássicas na literatura e cultura portu­guesas — uma busca que, em sua opinião, não representa «um regresso ao passado, mas a procura da permanência dos valores de uma cultura que se renova»3. Iniciada com o «excelente estudo» e «trabalho modelar» — para me servir das palavras de Adolfo Casais Monteiro e Maria de Lurdes Belchior,4 — intitulado «Reflexos horacianos nas odes de Correia Garção e Fernando Pessoa (Ricardo Reis)» (1950), essa análise da permanência dos clássicos não mais deixou de lhe ocupar o espírito, a partir de então. E muitos são os nossos autores, sobretudo no domínio da poesia, que têm merecido a sua atenção esclarecida e sensível: Camões, António Ferreira, Correia Garção, Cruz e Silva, Elpino Duriense, Marquesa de Alorna, Bocage, Camilo, Antero de Quental, Augusto Gil, Fernando Pessoa, José Gomes Ferreira, Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade, Manuel Alegre, José Augusto Seabra, Orlando Neves, entre outros. Vale a pena recordar alguns dos títulos, pois são desenvolvida ilustração da amplitude de épocas e de autores: «As imagens e os sons na lírica de Guerra Junqueiro» (1950), «Aspectos novos do horacianismo de Correia Garção»(1958), «Alguns aspectos do classicismo de António Ferreira» (1960), «O mito de Medeia na poesia portuguesa» (1963), «Poetas gregos em Augusto Gil» (1970), «A "Elegia a Sílvia" de António Ferreira» (1973), «Poesia de Safo em Eugénio de Andrade» (1977), «Os mitos clássicos em Miguel Torga» (1978), «Motivos clássicos na poesia portuguesa contemporânea: o mito de Orfeu e Eurídice» (1982), «"Utile dulci" nas Recreações Botânicas da Marqueza de Alorna» (1983), «Em volta das "palavras aladas"» (1984), «Reflexos portugueses da IV Bucólica de Virgílio» (1986), «Camilo, leitor dos clássicos» (1991), «O legado clássico em Antero de Quental» (1992), «Temas clássicos em quatro poetas portugueses contemporâneos» (1994).

Não posso infelizmente deter-me em tão notáveis estudos nem em muitos outros que passo em frente. Mas seria imperdoável não sublinhar a sua sensibilidade pelas figuras da ínclita Geração — que exerceu extraor­dinário papel cultural, mesmo no domínio do incremento do estudo das línguas clássicas —, em especial por D. Pedro, que a leva a escrever um artigo sobre os «Helenismos no Livro da Virtuosa Benfeitoria» (1981), onde abona da adaptação «em lingoagem» do vocabulário político de ori-

3 In Novos Ensaios sobre Temas Clássicos na Poesia Portuguesa (Lisboa, 1988), p. 8.

4 Respectivamente, Ensaio sobre a poesia de Fernando Pessoa (Rio de Janeiro, 1958), p. 183 e Itinerário poético de Rodrigues Lobo (Lisboa, 1959), p. 23.

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gem grega e sugere uma datação desta obra que a faz recuar a um período anterior ao Livro da Montaria e ao Leal Conselheiro. Não admira por isso que, no VI Centenário do nascimento do Duque de Coimbra, proponha a realização de um congresso (Novembro de 1992) e presida à sua Comissão Organizadora. E avançando no tempo, de um pré-clássico para um pré-romântico, é-me grato lembrar o estudo sobre «O legado clássico em Bocage» — que ganhou, ex aequo, o prémio Bocage, por ocasião do II Centenário do Poeta em 1966. Os valiosos trabalhos sobre Camões e Fernando Pessoa são hoje imprescindíveis para quem se dedica ao estudo desses grandes vultos da nossa Literatura. Dos estudos que publicou sobre o nosso Épico, recordo «O tema da metamorfose na poesia camoniana» (1975), «"Modesto estudo" de Camões» (1980), «Nomes de ninfas em Camões» (1980), «Um soneto de Camões» (1981), «Notas sobre três sonetos de Camões» (1983), «O mito de Orfeu e Eurídice em Camões» (1984), «Presenças da Antiguidade clássica em Os Lusíadas» (1984), «A transmissão manuscrita de Os Lusíadas. Alguns aspectos» (1985), «Sobre o texto da Ode ao Conde de Redondo» (1987), «A tempestade marítima de Os Lusíadas: estudo comparativo» (1993). Pertence por isso a Doutora Rocha Pereira, com todo o mérito, à comissão da Academia das Ciências encarregada de elaborar a edição crítica de Os Lusíadas.

Não menos notáveis são os seus trabalhos relativos a Fernando Pessoa, sobre o qual, além dos supracitados «Reflexos horacianos nas odes de Correia Garção e Fernando Pessoa (Ricardo Reis)» (1950), publi­cou «Sobre uma ode de Ricardo Reis» (1962), «Um motivo horaciano em Álvaro de Campos» (1984), «Leituras de Ricardo Reis» (1987), «Ulisses e a Mensagem» (1993).

Muitos destes trabalhos foram depois actualizados e recolhidos nos volumes Temas clássicos na poesia portuguesa e Novos Ensaios sobre Temas Clássicos na Poesia Portuguesa (saídos respectivamente em 1972 e 1988), que mereceram o aplauso da crítica e dos estudiosos da Literatura Portuguesa. O segundo obteve mesmo o Prémio de Ensaio do Pen Club.

Uma terceira linha de investigação, onde também manifesta o seu inesgotável labor, é a do latim medieval, com início nos primeiros anos de licenciada, no tempo em que leccionou no Centro de Estudos Humanísticos do Porto, e que não mais haveria de abandonar. E principia-a com o estu­do das obras de um espírito notável e grande figura da cultura do nosso século Xffl que continua presença assídua nos seus interesses culturais — o médico e filósofo Pedro Hispano, que depois se tornaria o Papa João XXI. Talvez para essa escolha tenha contribuído o facto de ser filha de

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um ilustre catedrático de Medicina da Universidade do Porto. Terá natu­ralmente a mesma razão o interesse manifestado por outros assuntos e figuras relevantes da história da medicina: caso da publicação do Regimento de Saúde de Salerno, texto latino, tradução e notas (1963) e de «Louvores latinos aos Colóquios dos Simples e Drogas» (1963), de Garcia de Orta.

No ano lectivo de 1950/1951 obtém uma bolsa do Instituto de Alta Cultura, por intermédio do Centro de Estudos Humanísticos, para estudar em Oxford e Londres, na Bodleiana e no British Museum, os manuscritos do Thesaurus Pauperum de Pedro Hispano. No ano seguinte, em Outubro/Novembro, desloca-se a Itália para analisar outros manuscritos desse grande vulto da História da Medicina portuguesa, existentes em várias bibliotecas desse país: Nazionale Centrale e Medicea-Laurenziana (Florença), Comunale (Siena), deli' Archiginnasio (Bolonha), Casanatense (Roma) e Apostólica Vaticana. Em posteriores ocasiões desloca-se a Madrid para consultar, na Biblioteca Nacional, mais um apógrafo, e a Paris para exame dos manuscritos existentes na Biblioteca Nacional e na de Sainte-Geneviève. Em 1959 trabalha novamente em Paris, na Biblioteca Nacional, e em Londres, no British Museum, para examinar os apógrafos do Liber de Conservanda Sanitate. Esses estudos dão os pri­meiros frutos em 1952, ano em que publica, em Braga, um artigo com o título «Considerações à margem do texto "Thesaurus Pauperum"», a que outros se seguiram com certa regularidade: em 1954, em Bruxelas, sai um trabalho intitulado «Notes lexicographiques sur le 'Thesaurus Pauperum'»; entre 1954 e 1958, publica na revista Studium Générale, de colaboração com o Doutor Luís de Pina, Professor Catedrático de Medicina da Universidade do Porto, a edição crítica, com tradução e notas, do referido tratado, documento relevante para a história e vocabulário das ciências e técnicas da Medicina. O número de 1959 da mesma revista contém outra obra de Pedro Hispano — Livro sobre a conseiyação da saúde, com um prefácio, o texto latino, tradução e notas. Em 1960 dá notícia de «Um opúsculo médico de Pedro Hispano» e, em 1962, de «Um manuscrito iné­dito do Liber de Conservanda Sanitate de Pedro Hispano». Estes estudos estão na origem do monumental volume, sob o título de Pedro Hispano: Obras Médicas (1973). Mas tal não significa que tenha abandonado o tema. A curiosidade científica da Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, aliada à riqueza da obra deste vulto da medicina medieval, leva-a a voltar ao assunto. Em 1976, apresenta à Academia das Ciências de Lisboa a comunicação «A obra médica de Pedro Hispano», publicada em 1977; e em 1981 sai em Berlim um estudo sobre o Liber de conservanda sanitate.

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Ainda dentro do seu interesse pelo Latim Medieval e pelas figuras notáveis que de algum modo se fundem com os primórdios de Portugal situam-se os estudos com tradução da Vida e milagres de São Rosendo (1970) — que traz em apêndice duas vidas de Santa Senhorinha; e a Vida de S. Teotónio (1987), ligado a Coimbra e ao Mosteiro de Santa Cruz. Estas vidas de santos portugueses medievais dão origem a duas conferên­cias — «Breves considerações sobre a Vida e Milagres de S. Rosendo» e «As biografias medievais de Santa Senhorinha» —, apresentadas em con­gressos sobre S. Rosendo, realizados em Santo Tirso, um em 1970 e outro em 1992.

Além dos textos clássicos, medievais, modernos e contemporâneos, também os vasos gregos, verdadeira obra de arte e fonte documental insubstituível para uma visão estética global do mundo helénico, mere­ceram à notável investigadora análises profundas e profícuas. E desse modo outra linha de investigação, de resultados fecundos, reside no estudo da arte grega, de que resultaram várias conferências e artigos: «Arquitectura e urbanismo na Grécia antiga» (1966), «Os frescos de Terá» (1979), «Para a compreensão da arte grega» (1987), «O palácio, do mundo minóico ao helenístico: mito e realidade» (1992). Especial carinho da sua parte tem merecido o estudo da cerâmica existente em Portugal, em museus e outras instituições oficiais ou em colecções par­ticulares. Ainda na época do seu doutoramento esta discípula do Prof. Beazley publica uma «Notícia sobre vasos gregos existentes em Portugal», em três partes (I parte na Humaniias de 1955-56 e as II e III na de 1959). Três anos passados, dava a conhecer, em livro, aos espe­cialistas e ao mundo culto o resultado das suas mais recentes investiga­ções sobre o tema — Greek Vases in Portugal (1962). Ao assunto tem voltado, sempre que ao seu conhecimento chegam notícias da existência de outros vasos gregos em Portugal: em 1967, com «Greek Vases in Portugal — A supplement», e em 1976, com «Four South Italian Vases in the Lisbon District». De tais estudos resultou a descoberta de um novo artista, que passou a ser designado por Pintor de Lisboa. São, por­tanto, prefeitamente justificadas as palavras do Doutor Manuel de Oliveira Pulquério, na Enciclopédia Verbo, de que, no âmbito da cerâ­mica grega antiga, a Doutora Rocha Pereira «é a maior autoridade do nosso país».

A sua actividade científica não se alheia da actividade docente, desde as suas primeiras Lições no Centro de Estudos Humanísticos do Porto. É que a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira vive o gosto de ensinar e de contactar os alunos: cada aula deve ser, em sua opinião, um

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«trabalho de criação e de renovação constante»5. O mesmo pendor peda­gógico se manifesta no cuidado que sempre teve em dotar as cadeiras que lecciona dos instrumentos essenciais de trabalho. Foi para o ensino, e naturalmente a pensar nos seus alunos, que organizou uma antologia de textos gregos, Poesia grega arcaica (21994), e que publicou os dois volumes dos Estudos de História da Cultura Clássica na Colecção de Manuais Universitários da Fundação Calouste Gulbenkian: a Cultura Grega, saída em 1965, e a Cultura Romana, publicada quase vinte anos depois, em 1983, com edições sucessivas, revistas e ampliadas — a Cultura Grega já vai na nona edição (1993) e Cultura Romana na segun­da (1990). Um cuidado que sempre norteou a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, o da actualização dos seus livros. Igualmente a pensar nos alunos, organizou e traduziu, em estreita ligação com os dois volumes acabados de citar, duas antologias de textos: Hélade. Antologia da Cultura Grega (em 1959), cujas edições, ampliadas e actualizadas, se vão sucedendo (vai na 5.\ de 1990); e a Romana. Antologia da Cultura Latina, já em terceira edição (1994) — a primeira, publicada em 1976, tinha o título de Res Romanae.

A versão dos textos dos grandes autores gregos e latinos tem sido uma das suas preocupações e um dos aspectos relevantes da sua activida­de. Traduz e edita a Medeia de Euripides (1955) e a Antígona de Sófocles (1958), a solicitação do Doutor Paulo Quintela, com a finalidade de serem representadas pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC). Essa representação motivou o aparecimento, na Via Latina de 1959, de artigos «O coro na tragédia grega» e «Esclarecimento a propósito da representação de Antígona». Às edições sucessivas de Antígona (5.a, em 1992) e de Medeia (3.a, em 1991) — sempre sujeitas a revisão, de acordo com os últimos estudos e edições críticas — seguem-se as versões comentadas das Bacantes (1992) e Troianas de Euripides. No campo das traduções merece especial relevo a sua notável República de Platão, que conta já com 7 edições (1993). E, no entanto, a Doutora Rocha Pereira costuma por vezes desabafar que não gosta de traduzir! Apesar disso, tanto e tão bem traduziu; e soube entusiasmar alguns dos seus melhores alunos e dos seus discípulos nessa tarefa meritória e necessária...

Estudiosa que não conhece descanso e trabalhadora infatigável, desde os tempos de estudante no Liceu D. Carolina Michaëlis — em que rece­beu vários prémios e foi redactora principal do quinzenário Asas, que

In «Prefácio» de Poesia Grega Arcaica (Coimbra, 21994), p. 6.

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então aí se publicava —, dedicou toda a sua vida ao serviço da cultura e do ensino, na tentativa de melhor conhecer a Grécia antiga, com os seus grandes valores, descobertas e realizações artísticas, e procurou mostrar a sua continuidade e permanência nas culturas posteriores, em especial na portuguesa. Não é fácil apresentar em poucas palavras toda a sua obra que conta com centenas de trabalhos — entre livros, artigos e recensões críti­cas — publicados em Portugal e no estrangeiro (Alemanha, Bélgica, Espanha, Holanda, Itália, Brasil). Da sua abundante produção — caracteri­zada por uma clareza de linhas temáticas na pesquisa, interpretações e conclusões, definidas e enunciadas desde o começo, e por fina e vibrátil sensibilidade que lhe permitem compreender e analisar, com judicioso acerto, homens e acontecimentos, obras e personalidades — procurei não esquecer o essencial, consciente de que os seus estudos abarcaram outros temas e outras figuras.

A terminar aqui a apresentação de personalidade tão completa do mundo intelectual universitário, ficaria truncado o seu perfil humano, o seu papel de intervenção na vida universitária, o seu empenho em impor um verdadeiro fj8oç de investigação e docência.

Profundamente ligada ao ensino e consciente da importância dos estudos clássicos na formação do homem, a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira — que já em 1953 havia escrito sobre «A Universidade de Oxford e os estudos clássicos» — tentou, desde início, por um lado desenvolver e reestruturar o que estava ao seu alcance, por outro acen­tuar a importância «Do ensino do Latim na actualidade» (1986) ou o «Papel dos estudos clássicos na educação» (1959-60). Como a cultura clássica se tornou, em sua opinião, cultura comum de toda a Europa e Roma «un modèle commun dans la formation des mentalités», como mostra no Congresso 77 latino per un' Europa intelligente (Roma, 1990), defende em revistas, em jornais, em colóquios ou congressos e em tan­tos outros lugares a necessidade da sua manutenção e mesmo do seu alargamento. Desse empenhamento, entre outras iniciativas, nasceu a realização do "Colóquio sobre o Ensino do Latim" (1973) e do Congresso Internacional "As Humanidades greco-latinas e a Civilização do Universal" (1988).

Com um sentido apurado dos deveres e valores universitários, sempre soube dar prioridade à Escola e sua dignificação. Não é de estranhar, por isso, que à actividade docente e de investigação se fossem acrescentando, com naturalidade, outros encargos científicos e universitários; se multipli­quem de ano para ano — em representação da Universidade, da sua Faculdade ou de outras entidades — o número de Comissões de que é

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participante activa; os convites para intervir em congressos ou outras rea­lizações culturais.

Também não é de estranhar, como testemunho do seu grande prestí­gio, que compareçam as distinções e não lhe faltem cargos universitários, que exerce sempre com eficiência e dedicação exemplares. Não posso dei­xar de salientar o de Vice-Reitora, durante um curto mas difícil período da vida académica, nos inícios da década de 70 e o de membro do Senado da Universidade; o de Directora da Biblos, revista da Faculdade de Letras, que recuperou de cerca de dez anos de atraso que então tinha e fez sair com regularidade até 1994; e em especial as complexas funções de Presidente do Conselho Científico, exercido em anos difíceis e de grande perturbação, para o qual foi sucessivamente eleita pelos seus pares, de 1976 até Outubro de 1989, data em que declara a sua indisponibilidade para nova reeleição.

Conhecida nos principais centros de estudos clássicos, a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira pertence a diversas sociedades científicas, quer nacionais, quer estrangeiras. Seja-me lícito realçar, pelo seu signifi­cado ou pelo que representa de reconhecimento do seu prestígio no país e no estrangeiro, os de Coordenadora Científica do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, o de membro do Conselho consultivo do Instituto Nacional de Investigação Científica e do Conselho Geral da Fundação Calouste Gulbenkian, de membro honorário da Associação das Universidades de Língua Portuguesa; de representante de Portugal no Conselho Científico do Lexicon Iconographicum Mythologiae Classicae e do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas no programa LÍNGUA. Sócio efectivo da Academia de Ciências de Lisboa (desde Dezembro de 1991), fez parte, em sua repre­sentação, da Comissão do Acordo Ortográfico, integra a Comissão Permanente de Ciências Humanas da European Science Foundation e per­tence à comissão encarregada da elaboração do Vocabulário de Termos Técnicos e Científicos da Língua Portuguesa.

A sua formação humana e gosto pela cultura, que fundamentam o modo de estar na vida, manifestam-se nos mais pequenos pormenores. De grande afabilidade e constância nas relações com os outros, tem em elevado conceito a amizade e a gratidão. Espírito imbuído de curiosidade e em alerta constante, elegeu como norma a actualização permanente, e está sempre predisposta a aplicar os novos métodos e teorias, com o judicioso critério e devido rigor. Mas também sempre pronta a partilhar as novida­des e a mais recente bibliografia: os seus orientandos e discípulos desde cedo se habituam ao solícito fornecimento de indicações bibliográficas

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que regularmente aparecem na gaveta do correio, ou a chamada de aten­ção para a novidade ou interesse de algum artigo ou livro'. Manifesta, por outro lado, uma plena disponibilidade para acolher e admirar quanto é belo ou obra de arte, quer seja manifestação da Natureza, quer fruto da realização do homem. Da vibração sentida na sua primeira viagem à Grécia, logo nos primeiros anos de licenciada, mostra-o o livro Imagens da Grécia que publicou em 1958, com o pseudónimo de Maria Madalena Monteiro. Na altura de uma deslocação a Macau, onde ao serviço da Faculdade ministra um curso intensivo, prolonga a duração dessa estadia no Oriente, a expensas suas, para realizar uma viagem à China, atraída pelas grandes realizações monumentais desse país, curiosa também de perscrutar o seu pensamento e sentir. Por ocasião de estadias em Roma, para participar em congressos, de uma vez desloca-se de comboio a Régio de Calábria para poder admirar as duas famosas estátuas gregas do século V a. C, descobertas no mar e conhecidas como os «Heróis de Riace»; de outra, vai a Sperlonga para admirar a Odisseia em mármore. Em 1991, encontrando-se em Tessalonica numa reunião científica do Lexicon Iconographicum Mythologiae Classicae, viaja até Pela de táxi para visitar o palácio de Vergina e ver as últimas descobertas arqueológicas relativas a Filipe.

Outro aspecto curioso e bem revelador da sua personalidade reside no magistério a distância, pela correspondência assídua que mantém com vários orientandos e investigadores, sobretudo do Brasil. Impossibilitados de a contactarem pessoalmente, escrevem-lhe a consultá-la e a pedir-lhe opinião sobre diversos problemas e assuntos; e nunca ninguém ficou ainda sem a resposta e as informações solicitadas, nem sem as sugestões que julga convenientes. Seria bem elucidativa a publicação das longas cartas que são lidas e, não raras vezes, passadas de mão em mão.

Quem a ela recorre tem a certeza de não o fazer em vão. Afável e disponível, sempre arranja tempo para dedicar a quem a consulta e lhe pede opinião. Num primeiro contacto, pode aparentar certa distância e tal­vez frieza. Mas logo se lhe descobre uma alma sensível, aberta e cheia de humanidade. E quem com ela contacta mais de perto não pode deixar de ter observado, em determinados momentos, luzirem-lhe os olhos com a emoção que pretende assomar.

Uma opção existencial, a total entrega e dedicação à cultura, ao ensino e ao múnus universitário. Mestre na plena acepção da palavra a Prof.a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, quer na acção, quer na obra que produziu. E sempre sem quebra dos princípios e dos valores, dos cânones e do nível científico, do rigor e da exigência consigo e com

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os outros. Na sua postura perante a vida e a sua Universidade, perante os homens e a cultura, está com certeza o exemplo do pai, tão viva e senti­damente retratado por João de Araújo Correia em Horas Mortas (Régua, 1968), pp. 95-99.

Em conclusão, em múltiplos aspectos se afirma a sua estatura de ver­dadeiro Mestre: na investigação, no ensino, no amor pela cultura, na dedi­cação à sua escola, mas também no seu humanismo e tolerância.

Jubila-se o Mestre, perdura o paradigma.

José Ribeiro Ferreira

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