ju562

12
www.unicamp.br/ju ornal U ni camp da Campinas, 20 de maio a 2 de junho de 2013 - ANO XXVII - Nº 562 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA J IMPRESSO ESPECIAL 9.91.22.9744-6-DR/SPI Unicamp/DGA CORREIOS FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Antoninho Perri Foto: Ernesto Portella/ Folhapress 4 5 9 Fim de ‘duopólio’ põe Viracopos na berlinda IQ faz compostos para doenças negligenciadas Técnica converte texto de computador em fala Médicos, em diferentes locais, realizam exames com vídeo como se estivessem na mesma sala, apoiados pela internet. Um programa de computador “lê” palavras do laudo de um procedimento, faz correlações e auxilia no diagnóstico. Essas novas ferramentas de apoio à medicina são resultados de pesquisas realizadas pela Unicamp e a Unioeste, que unem as áreas de saúde e ciências da computação. 3 12 Tese analisa a recepção da obra de Machado de Assis na Rússia. Estudo do IG revela que políticas públicas foram responsáveis pela retomada da construção naval no país. Machado para russos Ao mar Ilustração para edição russa de Dom Casmurro Exame de endoscopia no Gastrocentro/Unicamp, que serviu como base para o desenvolvimento de novas tecnologias Lançamento de navio em estaleiro no Rio: retomada 2

Upload: unicamp

Post on 10-Mar-2016

220 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Jornal da Unicamp Edição 562

TRANSCRIPT

Page 1: JU562

www.unicamp.br/juornal Unicampda

Campinas, 20 de maio a 2 de junho de 2013 - ANO XXVII - Nº 562 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA J IMPRESSO ESPECIAL

9.91.22.9744-6-DR/SPIUnicamp/DGACORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADOPODE SER ABERTO PELA ECT

Foto: Antoninho Perri

Foto: Ernesto Portella/ Folhapress

4 5 9Fim de ‘duopólio’ põeViracopos na berlinda

IQ faz compostos paradoenças negligenciadas

Técnica conver te textode computador em fala

Médicos, em diferentes locais, realizam exames com vídeo como se estivessem na mesma sala, apoiados pela internet. Um programa de computador “lê” palavras do laudo de um procedimento, faz correlações e auxilia no diagnóstico. Essas novas ferramentas de apoio à medicina são resultados de pesquisas realizadas pela Unicamp e a Unioeste, que unem as áreas de saúde e ciências da computação. 3

12 Tese analisa a recepção da obra de Machado de Assis na Rússia.

Estudo do IG revela que políticas públicas foram

responsáveis pela retomada da construção naval no país.

Machado para russos Ao mar

Ilustração para edição russa deDom Casmurro

Exame de endoscopia no Gastrocentro/Unicamp, que serviu como base para o desenvolvimento de novas tecnologias

Lançamento de navio em estaleiro no Rio: retomada

2

Page 2: JU562

UNICAMP – Universidade Estadual de CampinasReitor José Tadeu JorgeCoordenador-Geral Alvaro Penteado CróstaPró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon AtvarsPró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo MeyerPró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria PastorePró-reitora de Pós-Graduação Ítala Maria Loffredo D’OttavianoPró-reitor de Graduação Luís Alberto MagnaChefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail [email protected]. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefi a de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Maria Alice da Cruz, Manuel Alves Filho, Patricia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti, Gabriela Villen e Valerio Freire Paiva Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfica e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju

SILVIO ANUNCIAÇÃ[email protected]

Foto: Ernesto Portella/Folhapress

Saindo do estaleiro

A economista Claudiana Guedes de Jesus:“Muitos estaleiros que estavam fechados no período

da crise reabriram e se modernizaram”

Políticas públicas são responsáveis pelaretomada da construção naval, aponta

estudo do Instituto de Geociências

Lançamento do navio Log-in Jacarandá, em estaleiro no Rio de Janeiro: setor emprega 50 mil trabalhadores

Foto: Divulgação

economista Claudiana Guedes de Jesus prevê, nos próximos anos, uma nova fase para a indústria de construção naval brasileira.

Ela acredita que, após a crise nas décadas de 1980 e 1990,

o setor poderá responder às demandas do-mésticas com menor dependência da tec-nologia externa.

As considerações integram amplo estu-do conduzido pela pesquisadora para a sua tese de doutorado defendida na Unicamp. O trabalho foi apresentado junto ao progra-ma de Pós-Graduação em Política Científi-ca e Tecnológica do Instituto de Geociên-cias (IG) da Unicamp.

A tese mapeou a cadeia produtiva da in-dústria no país, discutindo suas principais características e identificando fragilidades. A pesquisadora, atualmente professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRF), foi orientada pela docente do IG Leda Maria Caira Gitahy. O economista An-dré Tosi Furtado coorientou o trabalho.

“É um momento novo. Muitos estaleiros que estavam fechados no período da crise reabriram e se modernizaram. Outros no-vos se instalaram no país em parceria com empresas estrangeiras. As políticas públicas voltadas ao desenvolvimento do setor foram as grandes responsáveis por esta retomada”, analisa a especialista.

Claudiana Guedes destaca o papel da Pe-trobras e de sua subsidiária, a Transpetro, que garante 98% das encomendas aos es-taleiros nacionais. Isso acontece devido ao estabelecimento de conteúdo local mínimo na construção das embarcações. O conteúdo local é uma exigência do governo federal, que estipula um percentual mínimo para a cons-trução das embarcações. Este percentual é exigido para a concessão de créditos e incen-tivos fiscais.

“Isso tem garantido a retomada do setor, que emprega atualmente cerca de 50 mil tra-balhadores”, confirma a pesquisadora. Ao mesmo, esta dependência das encomendas da Transpetro tem se tornado um ponto crí-tico, reconhece Claudiana Guedes. “Todos os países com uma indústria de construção na-val importante dependem muito do Estado. Isso acontece no Brasil porque o país exporta muito pouco”, pondera.

Ainda de acordo com ela, o estabeleci-mento do conteúdo local mínimo foi resulta-do da mudança na política de compras da Pe-trobras. A partir do final da década de 1990, a empresa passou a demandar mais de seus fornecedores locais. “Foi muito importante porque levou em conta o desenvolvimento de tecnologia própria. O conteúdo mínimo não é simplesmente uma exigência de nacio-nalização da produção, mas algo maior, im-plementado junto a políticas que permitiram um desenvolvimento do setor”, defende.

Claudiana Guedes elenca sete políticas que foram essenciais para a retomada no setor: as mudanças nos procedimentos de compras da Petrobras; a Lei do Petróleo e os programas de Apoio Marítimo; Navega Brasil; de Mobili-zação da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural; de Modernização e Expansão da Fro-ta e de Empresa Brasileira de Navegação.

A economista ressalta também que a po-lítica industrial brasileira para a construção naval esteve atrelada à Marinha Mercante, que concedeu subsídios de financiamento

desembolsados pelo seu fundo criado em 1958. “Em todas estas políticas, o governo conseguiu agir, principalmente por meio da Petrobras, para que elas fossem executa-das”, acrescenta.

CENÁRIOA pesquisadora faz uma contextualização

do setor por meio de dados e números que sustentam sua análise de retomada da indús-tria naval no país. “O Brasil é hoje o quarto maior construtor de sondas de perfuração do mundo, e o segundo maior construtor de pla-taformas offshore”, revela.

Claudiana Guedes compara ainda que o número de trabalhadores admitidos pelo se-tor ultrapassou o auge no final dos anos de 1970, quando eram empregadas cerca de 40 mil pessoas. “Hoje nós já temos quase 50 mil trabalhadores, com possibilidade de aumen-to, conforme dados do Sinaval [Sindicato Na-cional da Indústria da Construção e Repara-ção Naval e Offshore]”, prevê.

A pesquisadora observa que, no auge da crise em 2000, o setor chegou a contratar menos de 2 mil trabalhadores. “A indústria de construção naval passou por expansão, es-truturação e auge de 1950 até 1980; um se-gundo momento de crise, com fechamento de estaleiros e forte diminuição de indicadores de emprego, nas décadas de 1980 e 1990; e o período recente de retomada, com grandes in-vestimentos e ampliação da indústria”, situa.

O momento atual indica uma nova con-figuração do setor, para além da retomada, sugere a especialista. “As expectativas com a exploração de petróleo da camada do pré-sal elevam as projeções da carteira de encomen-das e corroboram com a efetiva garantia das demandas da Petrobras/Transpetro”, calcula.

CADEIA PRODUTIVAA expansão do setor tem trazido impac-

tos em toda a cadeia produtiva envolvida. “Nesta cadeia estão os fornecedores, que são as indústrias siderúrgicas, de navipeças e os escritórios de projetos. Do outro lado, temos os armadores e as sociedades certificadoras e classificadoras”, especifica Claudiana Guedes.

O elo desta cadeia está vinculado, so-bretudo, ao papel dos estaleiros, que atuam como montadores de embarcações. A estu-diosa afirma que a construção do navio de produtos João Cândido e do petroleiro Celso Furtado marcaram a retomada. “Eles conse-guiram recuperar o índice de nacionalização na sua produção. O João Cândido ficou com 70% de nacionalização. E o Celso Furtado conseguiu 74%”, menciona.

Por outro lado, os sucessivos atrasos na entrega do navio João Cândido expuseram a fragilidade do setor. “Isso mostra problemas dessa nova fase de retomada da indústria, especialmente relacionados à falta de quali-ficação da mão de obra e de fornecimento. Apesar do índice de nacionalização, o navio Celso Furtado, por exemplo, foi construído com aço importado da China, Coreia do Sul e Ucrânia”, aponta.

DESCENTRALIZAÇÃOO estudo da Unicamp demonstra cresci-

mento do setor no nordeste do país, região onde praticamente não existiam estaleiros navais, conforme Claudiana Guedes. Ela afirma que houve, inclusive, uma política de descentralização desta indústria de constru-ção naval, muito presente no Estado do Rio de Janeiro.

“O Rio de Janeiro ainda possui a maior concentração de estaleiros, além de deter o maior volume de emprego da indústria. Ape-sar disso, o Estado teve redução de sua parti-cipação nacional, tendo em vista que grandes investimentos, realizados e previstos, tam-bém estão sendo direcionados para outros estados”, constata.

A retomada do setor contou com outros atores, além do governo, que se organizaram no que a pesquisadora chamou de redes de inovação. Foi uma atuação conjunta entre universidades, centros de pesquisas e empre-sas. A partir desta atuação foram criadas duas redes: o Centro de Excelência em Engenharia Naval e Oceânica (Ceeno), em 2000; e a Rede de Inovação para Competitividade da Indús-tria Naval e Offshore (Ricino), em 2010.

“Merecem destaque a atuação do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello da Petrobras; o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Gra-duação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro]; e o Centro de Engenharia Naval e Oceânica do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo [IPT]”, acrescenta.

PublicaçõesFRASSA, Juliana; VERSINO, Maria-na; JESUS, Claudiana G.; GITAHY, Leda M. C. El rol estatal en secto-res estratégicos: La industria naval pesada en Argentina y Brasil. In: Revista de Historia Industrial Eco-nomìa y Empresa, v.1, n 47, 2011. p. 151-181.

JESUS, C. G.; GITAHY, L. M. C. In-dústria da construção naval, traba-lho e desenvolvimento regional em Angra dos Reis no início do século XXI. In Anais do XI Seminário In-ternacional de la Red Iberoameri-cana de Investigadores sobre Glo-balización y Territorio. Mendoza, Argentina: CIFOT, v. 1, 2010.

JESUS, C. G.; GITAHY, L. M. C. Transformações na indústria de Construção Naval Brasileira e seus impactos no mercado de trabalho (1997-2007). In: 1º Congresso de Desenvolvimento Regional de Cabo Verde, 15º Congresso da APDR – Associação Portuguesa de Desen-volvimento Regional, Cidade da Praia - Cabo Verde. Actas Procee-dings, 2009. pp. 3898-3916.

Tese: “Retomada da indústria de construção naval brasileira – reestru-turação e trabalho”Autora: Claudiana Guedes de JesusOrientadora: Leda Maria Caira GitahyCoorientador: André Furtado TosiUnidade: Instituto de Geociên-cias (IG)

2 Campinas, 20 de maio a 2 de junho de 2013

Page 3: JU562

ALESSANDRO [email protected]

Fotos: Antoninho Perri

Parceria amplia a aplicaçãoda computação na medicina

ena 1 – Em Campinas (SP), médicos da Unicamp realizam exame com uma microcâmera para visualizar o intestino de um paciente (colonoscopia). De

qualquer parte do mundo, pela in-ternet, especialistas da área, até estudantes de medicina, acompanham tudo em tempo real e podem interagir com os profissionais que executam o procedimento por meio de áudio, vídeo e envio de mensagens de textos; e, como novidade em telemedicina, podem ainda, distante dali, capturar imagens que se-rão integradas ao laudo final e posteriormen-te analisadas – até este momento, somente a equipe responsável diretamente pelo exame podia extrair esse tipo de informação. Agora, é como se todos estivessem na mesma sala.

Cena 2 – O médico responsável pela colo-noscopia escreve o laudo do exame que aca-ba de realizar e submete o texto a um novo programa que analisa automaticamente os termos técnicos presentes, a partir de uma base de dados previamente construída, e emi-te uma predição/recomendação que ajudará o profissional a construir o diagnóstico. Além disso, o próprio sistema ainda faz correlações com outros casos de pacientes incluídos em seu banco de dados, ajudando a identificar e a formular padrões que poderão ser úteis, no futuro, para o tratamento e a prevenção de do-enças. Os dados obtidos e analisados pelo pro-grama auxiliam o médico, pois se constituem em ferramenta de gestão do conhecimento.

Cena 3 – As imagens captadas no exame de colonoscopia, e transmitidas pela inter-net, “viajam” pela rede mundial de compu-tadores protegidas por um gerenciamento de chaves de criptografia especialmente desenvolvido para assegurar a integridade dos dados. Uma pessoa não autorizada que pretendesse invadir o sistema, para ter aces-so às imagens ou alterar o banco de laudos, levaria 10388 anos (sim, acrescente 388 nú-meros “zeros” depois do dez) para quebrar o código de segurança.

As três cenas ilustram as aplicações prá-ticas de patentes e registros de softwares para a área de saúde, desenvolvidos por meio de pesquisas realizadas pela Unicamp e a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), em uma fusão multidisciplinar de conhecimentos da medicina, biomecânica, inteligência artificial e comunicação de da-dos. Nos últimos três anos, a parceria entre as duas universidades resultou em três paten-tes e no registro de três programas (softwa-re) desenvolvidos para problemas específicos da área médica, todos obtidos com o apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp, da Reitoria da Unioeste e da Superintendência de Operação da Itaipu Binacional.

Os trabalhos envolveram pesquisadores das duas universidades ligados ao Labora-tório de Bioinformática (Labi), da Unioeste, que existe desde em 2002, entre os quais o coordenador-geral do Gastrocentro da Uni-camp, Cláudio Saddy Rodrigues Coy, docente do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM); o médico Wu Feng Chung, docente da Unioeste, especia-lista em biomecânica e professor participante da pós-graduação em cirurgia da Unicamp; a pesquisadora Huei Diana Lee, docente da Unioeste, especialista da área de inteligência artificial e coordenadora-geral do LABI; e o doutorando pela Unicamp Renato Bobsin Machado, formado em ciência da computa-ção e docente da Unioeste.

Apesar de a pesquisa ter sido desenvol-vida em torno de um procedimento, a colo-noscopia, os métodos e os programas criados poderão ser adaptados para qualquer tipo de exame realizado por meio de captação de imagens de vídeo, como as diversas modali-dades de endoscopias, a tomografia e o ul-trassom, e até para a realização de cirurgias com videolaparoscopia (técnica cirúrgica mi-nimamente invasiva, realizada com o auxílio de uma endocâmera no abdômen).

RELEVÂNCIAA endoscopia digestiva foi escolhida para

o desenvolvimento deste tipo de tecnologia

em razão do grande número de indicações para estes exames. No Gastrocentro da Uni-camp, em Campinas, por exemplo, são reali-zados mais de 8 mil procedimentos por ano. Nos Estados Unidos, anualmente, são reali-zados cerca de 40 milhões de exames de co-lonoscopias (50% desse número associado à prevenção de câncer no intestino).

Em breve, as inovações serão implemen-tadas pela Unicamp e poderão ser disponi-bilizadas para a comunidade médica. Entre as vantagens associadas a elas, segundo pesquisadores envolvidos com os projetos e ouvidos pelo Jornal da Unicamp, podem ser destacadas a possibilidade de realização de treinamentos, aulas, conferências sobre casos de pacientes com especialistas em di-versas partes do Brasil e do mundo, além do emprego em situações de emergência (quando especialistas e pacientes estão em locais diferentes), por exemplo. Até ago-ra, profissionais até podiam acompanhar à distância procedimentos de exames, de um ponto remoto, mas sem a possibilidade de recolher imagens em boa qualidade, em tempo real, e até discutir/participar do pro-cedimento como se o fizesse de fato.

Além disso, as ferramentas de mineração de dados, que realizam busca por palavras-cha-ve e correlações com bancos de dados constru-ídos com o conhecimento sobre doenças, po-dem ajudar os médicos a acelerar o diagnóstico e a “garimpar” dados que serão essenciais em diversas pesquisas científicas. Se comparado à economia, como ilustração, os programas e métodos criados são capazes de reunir inúme-ros indicadores, realizar correlações entre eles (comparando com um banco de informações e com cenários diversos), predizer o que irá acontecer ou explicar o que está ocorrendo no momento atual, por exemplo.

“A grande vantagem dessa parceria [com a Unioeste] é o desenvolvimento de produ-tos para a área médica usando tecnologia que o médico desconhece”, explica o professor Cláudio Coy, coordenador-geral do Gastro-centro da Unicamp e integrante do Labi. Nas pesquisas mencionadas, a Unicamp forneceu a experiência para os programas e inovações desenvolvidos pelos pesquisadores da área de ciência da computação da Unioeste.

APLICAÇÃONa lista de novidades criadas a partir da

parceria entre as duas universidades, há ainda o programa “H.Pylori-MINDSys”, que ana-lisa parâmetros da endoscopia que poderão ajudar médicos a confirmar ou a descartar a presença da bactéria Helicobacter pylori, que no estômago causa gastrite ou úlcera. Na práti-ca, a ferramenta pode eliminar a realização de biopsia, reduzir o tempo para o diagnóstico e auxiliar na diminuição dos custos do exame.

O SABI 2.0 (Sistema de Aquisição e Aná-lise de Dados Biomecânicos), outro progra-ma já registrado, pode ser apontado como o marco inicial do trabalho conjunto entre Unicamp e Unioeste. Essa ferramenta capta e processa, por segundo, três informações dife-rentes de um instrumento usado para avaliar

a resistência de tecidos do intestino. O pro-grama nasceu em uma das linhas de pesqui-sas da FCM, nos anos 90, sob a orientação do docente do Departamento de Cirurgia João José Fagundes, no trabalho do então douto-rando e hoje professor Wu Feng Chung, da Unioeste e da Unicamp. O software apoiou um novo método de aferição de cicatrização de tecidos do intestino. Em sua segunda ver-são, o SABI é usado pela Unicamp e auxilia diversos pesquisadores em novos trabalhos na área experimental de suturas intestinais.

Segundo o professor Wu Chung, uma pessoa consegue fazer correlações entre, no máximo, oito e dez diferentes variáveis, en-quanto uma máquina pode realizar inúmeras análises e combinações, dependendo de sua capacidade de processamento e dos especia-listas que trabalham em seu banco de dados. “Nos próximos anos, os grandes avanços es-

qualquer parte do mundo, pela in-

A equipe da Unioeste: da dir. para a esq., Wu Feng Chung, Renato Bobsin Machado, Huei Diana Lee, André Gustavo

Maletzke e Joylan Nunes Maciel

Cláudio Coy, professor da FCM e coordenador do Gastrocentro, no detalhe

e durante procedimento: programas podem ser adaptados para qualquer tipo de exame

tarão ligados direta ou indiretamente à com-putação”, explica.

Mas por que essas correlações são impor-tantes? “Para a descoberta de padrões e para a prevenção de doenças”, afirma a pesquisa-dora Huei Diana Lee, coordenadora-geral do Labi. Os dados coletados, tratados segundo o conhecimento de especialistas, podem ajudar a identificar os múltiplos fatores associados que contribuem, agravam ou causam doen-ças, ajudando os médicos a realizar a preven-ção e o tratamento necessário. Entre outras aplicações, essas ferramentas podem auxiliar a confirmar por que determinados comporta-mentos e hábitos, por exemplo, favorecem o surgimento de certas doenças.

“Nosso desafio é aplicar conhecimentos tecnológicos para resolver problemas de saú-de”, diz o pesquisador da Unioeste Renato Machado, coordenador da área de computação do Labi, que apresentará neste ano a tese de doutorado na Unicamp relacionado às paten-tes, produzida sob a orientação do pesquisa-dor Wu Chung na pós-graduação da Unicamp.

Já foram realizados testes da nova ferra-menta, interligando o Gastrocentro, em Cam-pinas, com a Unioeste, em Foz do Iguaçu (PR). As imagens são transmitidas em boa resolução para análise, segundo o autor do trabalho, e a partir de uma conexão de internet facilmente disponível (15 Mbps, por exemplo). A chave de segurança criada para garantir a integridade dos dados é gerada por meio de “mutações”, o que dificulta a ação de invasores.

A parceria com o Laboratório de Bioinfor-mática prossegue. Um dos próximos traba-lhos é aperfeiçoar a ferramenta de telemedici-na, permitindo que o áudio captado durante o exame seja impresso diretamente. Outro trabalho irá permitir que laudos manuscritos sejam digitalizados para a inclusão de infor-mações em bancos de dados informatizados, sem que seja necessário que alguém copie todo o texto no computador, palavra por pa-lavra. No futuro, os programas de apoio à de-cisão médica poderão “aprender” com o uso diário dos especialistas.

Pesquisas feitas pela Unicamp e pela Unioesteresultaram no registro de três patentes e três softwares

Foto: Divulgação

3Campinas, 20 de maio a 2 de junho de 2013

Page 4: JU562

LUIZ [email protected]

Fotos: Antonio Scarpinetti

PublicaçãoTese: “Inferências de condutas em um oligopólio diferenciado: estudos sobre o comportamento do entrante em transporte aéreo no Brasil”Autor: Humberto Filipe de Andrade Januário BettiniOrientador: José Maria Ferreira Jar-dim da SilveiraUnidade: Instituto de Economia (IE)Financiamento: IPEA e CapesObservação: Em transporte aéreo, a medida de oferta se dá em ASK, sigla em inglês para “assento disponível por quilômetro”.

Crescimento da oferta no transporte aéreo doméstico

Empresas 2010 2011 2012 2009-20122009

Azul

Gol

TAM

Duopólio Gol-TAM

Demais

Oferta total

2.768.088

36.209.198

39.639.544

75.848.742

7.854.539

86.471.369

5.337.410

40.767.349

44.481.173

85.248.521

11.444.120

102.030.051

8.598.424

44.264.851

48.742.818

93.007.668

14.474.156

116.080.248

10.998.452

41.884.486

48.225.959

90.110.446

18.129.617

119.238.514

297%

16%

22%

19%

131%

38%

Humberto Bettini, autor da tese: “Acompanhar umaempresa desde a sua fundação foi um aspecto

interessante e distinto do usual”

Pesquisa mostra como, ao enfrentar “duopólio”, Azul recolocou Viracopos no mapa

Azul Linhas Aéreas iniciou suas atividades em dezembro de 2008, tendo Viracopos como base ope-

racional. Em apenas quatro anos, o movimento no aero-porto de Campinas saltou de

1 milhão para 8,8 milhões de passageiros (ou de 1% para 5% do total de passageiros domésticos brasileiros). No mesmo perío-do, o número de operações (pousos e deco-lagens) comerciais de passageiros em Vira-copos aumentou de 24 mil para 106 mil (de 1,2% para 3,8% dos movimentos da rede Infraero, a Empresa Brasileira de Infraestru-tura Aeroportuária).

Esses resultados fazem parte da pesquisa de doutorado de Humberto Filipe de Andra-de Januário Bettini, defendida no Instituto de Economia (IE) da Unicamp, com a orienta-ção do professor José Maria Ferreira Jardim da Silveira. Na tese, o autor procura compre-ender o papel que Viracopos está ocupando no cenário nacional, especialmente em com-paração com os dois aeroportos de São Paulo. Ele também faz uma leitura das estratégias da Azul para ingressar no mercado de trans-porte aéreo brasileiro, que ao longo da década de 2000 foi sendo dominado pelas empresas Gol e TAM, configurando o que se rotulou de “virtual duopólio”.

“A entrada da Azul neste cenário foi um fato novo, e acompanhá-lo em tempo real foi um privilégio”, afirma Humberto Bettini. “Economistas possuem uma veia histórica apurada, sendo muito comum que se debru-cem sobre fatos do passado. Outros se atre-vem a prever o futuro, mas geralmente se dão mal. O tempo presente é relativamente me-nos explorado por economistas. Acompanhar uma empresa desde a sua fundação foi um aspecto interessante e distinto do usual.”

Um fato curioso destacado pelo pesquisa-dor é que Viracopos, na verdade, não era a primeira opção da Azul, que planejava iniciar as operações no aeroporto Santos Dumont, do Rio de Janeiro. “A empresa esbarrou na medida regulatória da Anac [Agência Nacio-nal de Aviação Civil] que impedia a partida de aeronaves a jato daquele aeroporto para qualquer destino, fazendo uma única exceção para São Paulo.”

De acordo com Bettini, a segunda opção, Viracopos, acabou se mostrando mais válida por conta de dois elementos que caracteri-zam o modo operacional da Azul. “A Azul perdeu a possibilidade de cativar o passagei-ro carioca; por outro lado, pôde aproveitar a demanda reprimida no interior do Estado de São Paulo e do sul de Minas, formada por pessoas que precisavam se deslocar até os aeroportos da Capital. Ao mesmo tempo, a empresa fez de Campinas uma base para passageiros que não mantêm relação com a região, mas que fazem aqui as conexões para outros destinos.”

O economista explica que as conexões são estrategicamente importantes para a Azul, mas implicam em intensificação da ocupação do terminal, devido à multiplicidade de des-tinos e ao número de frequências diárias de passageiros. “Na falta de uma ligação direta entre Porto Alegre e Recife, por exemplo, o passageiro tinha como opções passar por São Paulo, Rio de Janeiro ou Brasília; agora, Cam-pinas entrou no mapa. É esse passageiro ‘de passagem’ que a Azul não teria condições de atender se tivesse sua base operacional [hub] no Santos Dumont, um aeroporto que ope-ra no limite de sua capacidade desde a déca-

da de 1990. Enquanto isto, Viracopos tinha margem para suportar uma utilização mais intensiva, e foi explorado nesta direção.”

ENTRE EMPRESASSegundo Humberto Bettini, o mercado

de aviação brasileira doméstica mais do que dobrou de tamanho nos últimos anos, passando de 50 milhões de passageiros em 2005 para 119 milhões em 2012. Porém, esta bonança não resultou de dinâmicas se-melhantes. Um gráfico mais específico da tese mostra o comportamento do mercado de 2009 a 2012: no período, a oferta cres-ceu 38%, mas enquanto o crescimento do duopólio Gol-TAM situou-se em 19%, o da Azul alcançou quase 300%.

Bettini nota que este desempenho aci-ma da média da Azul foi recorrente, mes-mo nos momentos em que o crescimento se suavizava e o mercado dava sinais de estabilização (2012) e retração (2013). “A Azul prometeu uma expansão acelerada, e cumpriu. Em seu primeiro ano, ela trans-portou 2,7 milhões de passageiros, passan-do para 11 milhões em 2012. Nenhuma outra empresa aérea alcançou este grau de expansão”, diz o pesquisador.

Outro aspecto distinto da competição que a Azul impôs foi o alargamento geográfico do mercado. Entre 2008 e 2012, a nova em-presa aérea competiu diretamente com Gol ou TAM em 14 rotas que tinham Campinas como origem, a maioria para capitais do Sul e Nordeste. “Porém, se considerarmos Vira-copos, Congonhas e Guarulhos como opções equivalentes para o passageiro, a rivalidade entre a Azul e o duopólio se expande para 34 rotas e passa a alcançar todas as regiões do Brasil e cidades de variados portes”, alerta.

Para ilustrar, Bettini explica que Gol e TAM nunca operaram, entre 2008 e 2012, uma ligação direta entre Viracopos e Cuiabá, não havendo, em tese, uma competição dire-ta da Azul com o duopólio. “Entretanto, se considerarmos que Viracopos e os aeropor-

tos de São Paulo estão numa mesma área de atração de passageiros, é provável que a Azul concorra, por exemplo, com a ligação Guaru-lhos-Cuiabá, da Gol. Na verdade, Campinas e São Paulo formam uma intersecção entre rivalidades diretas e também indiretas. O im-pacto competitivo da Azul é muito maior que aquele restrito a Campinas.”

ENTRE AEROPORTOSO autor sugere ainda que a entrada da

Azul em Viracopos, oferecendo mais uma opção aos passageiros que residem ou têm como destino cidades próximas de Campi-nas, e que antes usavam os terminais de São Paulo, trouxe um capítulo novo para a avia-ção brasileira: o alargamento da competição entre aeroportos. “Essa competição existe na Europa, que possui uma malha aeroportuária bem suprida, principalmente pelo excedente de guerra – bases militares foram converti-das para uso civil. Não temos a mesma con-centração de aeroportos aqui, mas a Azul, ao atender passageiros dentro de um raio tão grande e servir de base para conexões, não apenas rivaliza com as outras empresas aére-as, como também faz com que os aeroportos rivalizem entre si.”

Permitindo-se um exercício de futurolo-gia, Humberto observa que as condições de mercado se inovam e pode vir um momento hipotético em que a presença em Viracopos seja um ativo equivalente àquilo que Con-gonhas hoje representa. “Se a capacidade do aeroporto estiver esgotada e Gol ou TAM vierem a requerer slots em Viracopos, pode-rá surgir uma situação inédita: pelo desenho regulatório atual, as primeiras empresas que chegam tendem a levar vantagem na quanti-dade de decolagens por hora; é o que explica a dominância da Gol e da TAM em Congo-nhas, e algo que não se muda no curto prazo. A chegada da Azul sacudiu Campinas e criou a possibilidade de que um aeroporto, que há cinco anos estava praticamente abandonado, tenha o seu acesso disputado por concorren-tes em um futuro próximo”.

TERCEIRO AEROPORTOA respeito das discussões sobre a neces-

sidade de se construir um terceiro aeropor-to na Grande São Paulo, Bettini pergunta se Viracopos já não cumpre esse papel. . “Um novo aeroporto custa milhões, não apenas para a própria implantação, como também com a desapropriação de terrenos. E, mais do que a área ocupada, é preciso uma reser-va muito grande de espaço aéreo, visto que o procedimento de pouso inicia-se cerca de 100 quilômetros antes da pista. É uma arte da engenharia de sistemas que Congonhas, Cumbica e Viracopos, além de Amarais, Jun-

Azul Linhas Aéreas iniciou suas atividades em dezembro de 2008, tendo Viracopos como base ope-

racional. Em apenas quatro

diaí e Campo de Marte, operem rampas de aproximação que não conflitem umas com as outras. Instalar um novo aeroporto neste es-paço aéreo não é nada trivial.”

De acordo com o autor da tese, os dados da Azul demonstram que Viracopos pode ser o terceiro aeroporto de São Paulo, trazendo grande alívio para a Anac, o governo do Es-tado e o Ministério dos Transportes. “Outra vantagem é que existe área para expansão, inclusive com obras para uma segunda pista já iniciadas. Trata-se de um aeroporto mais promissor no longo prazo do que os dois da Capital. A operação da Azul em Viracopos é a ‘dobradinha’ empresa aérea-base operacio-nal que detém mais destinos nacionais. Isso é um fator de atração de passageiros e indica que Campinas está ficando pronta para voltar aos voos internacionais, papel que já exerceu no período de desativação progressiva de Congonhas e de construção de Cumbica.”

Em quatro anos, número de passageiros no aeroporto

de Viracopos saltou de1 milhão para 8,8 milhões

Alçando altos voos4 Campinas, 20 de maio a 2 de junho de 2013

Page 5: JU562

MANUEL ALVES [email protected]

Foto: Antoninho Perri

Contra a negligência, a boa ciência

O professor Luiz Carlos Dias (à direita) e os pós-doutorandos Pablo Martinez e Susann Krake:trabalho diretamente comprometido com a aplicação na área social

Ribeirinhos no município de Eirunepé (AM): dos 423 mil casos de malária registrados em média por ano no país, 99,7% ocorreram na Região Amazônica

Pesquisadores do IQdedicam-se à produção de compostos para tratamentode doenças negligenciadas

Brasil registrou, entre 2000 e 2011, uma média de 423 mil casos de malária por ano, segundo dados do Ministério da Saúde. Destes, 99,7% ocorreram na Região Amazônica. No mundo, a doença, própria de países pobres ou em desen-

volvimento, provoca 800 mil mortes anuais. Em-bora exista tratamento contra a enfermidade, a ciência ainda busca por fármacos que possam finalmente erradicá-la. Tal esforço passa por uma rede mundial, integrada pelo Labora-tório de Química Orgânica Sintética (LQOS) do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, único representante sul-america-no. Lá, os pesquisadores desenvolvem compostos com alto potencial terapêutico e que podem, no futuro, gerar medica-mentos ainda mais eficazes contra a endemia.

Coordenado pelo professor Luiz Carlos Dias, o LQOS mantém uma linha de pesquisa voltada ao desenvolvimento de compostos destinados ao tratamento das chamadas doen-ças negligenciadas, entre as quais a malária. Em 2008, o labo-ratório firmou um convênio com a Organização Mundial da Saúde (OMS), que durou cerca de três anos. Nesse período, a unidade produziu cerca de 150 análogos voltados mais espe-cificamente à terapia da doença de chagas. “Infelizmente, por falta de recursos, a OMS teve que suspender o financiamento dos estudos”, relata o docente do IQ, observando que o tra-balho teve sequência, porque o laboratório utilizou recursos de outras fontes.

Recentemente, duas organizações não governamentais, a Medicines for Malaria Venture (MMV, www.mmv.org) e a Drugs for Neglected Diseases initiative (DNDi, www.dndi.org), que são vinculadas à OMS, retomaram os trabalhos e procuraram pelo professor Dias. O objetivo de ambas era o mesmo: firmar parcerias para que o LQOS produza compos-tos com potencial terapêutico contra as doenças negligencia-das. No caso da MMV, o foco é obviamente a malária. No da DNDi, a atenção está voltada prioritariamente para a Doença de Chagas e a leishmaniose.

O convênio com a MMV, que tem duração prevista de 36 meses, já foi assinado com a Unicamp, e os pesquisadores do LQOS estão em plena atividade. Desde março, eles já produ-ziram dez análogos, a partir de um composto padrão cuja es-trutura foi enviada pela ONG. Esses análogos foram enviados à MMV, na primeira quinzena de maio, que posteriormente os encaminhará a outros laboratórios responsáveis pelos tes-tes in vitro e in vivo. No caso da DNDi, o convênio ainda está sendo analisado pelo Conselho Universitário (Consu), órgão máximo deliberativo da Unicamp. “Pela importância e alcan-ce social do estudo, acredito que essa parceria também será aprovada”, arrisca o professor Dias.

Segundo ele, a MMV possui o que os especialistas denomi-nam de Open Access Malaria Box. Esta caixa é constituída por 400 diferentes compostos que apresentam, comprovadamen-te, atividade antimalárica. Estes pertenciam a uma biblioteca com cerca de 20 mil compostos, que foram colocados à dispo-sição da comunidade científica, em 2010, por meio de publi-cações da Novartis, do St Jude’s Children’s Research Hospital e da GlaxoSmithKline. O dado relevante e muito promissor relacionado a esses compostos, conforme o professor Dias, é que eles foram desenvolvidos para o tratamento de outras doenças, notadamente os diversos tipos de câncer.

A malária é causada por um parasita transmitido ao homem pela picada de um mosquito (Anopheles infectados). No organismo, o parasita se desloca até o fígado, onde amadu-rece e assume outra forma. Esta entra na corrente sanguínea e infecta as hemácias. Os primeiros sintomas aparecem ge-ralmente entre 10 dias e 4 semanas, embora esses períodos às vezes possam ser reduzidos ou prolongados. Após a mani-festação, os sintomas ocorrem em ciclos de 48 a 72 horas. São eles: febre alta, dor de cabeça, dor no corpo, fraqueza, dor abdominal e mal-estar generalizado, entre outros. A en-fermidade causa consideráveis perdas sociais e econômicas, atingindo principalmente a população de países pobres e em desenvolvimento, notadamente aquela que vive em condições precárias de habitação e saneamento.

Foto: Dario Crispim

Eles não surtiram o resultado esperado para esses males, mas demonstraram atividade contra a malária, com longos tempos de meia-vida oral. Também geraram importantes in-formações a respeito de seu metabolismo e farmacocinética. “Esse aspecto é importante, pois nosso trabalho não parte da estaca zero. Nós já sabemos que esses compostos apresen-tam potencial antimalárico. O nosso trabalho, agora, é reali-zar modificações na estrutura deste protótipo inicial que nos foi enviado pela MMV, de modo a ampliar a sua capacidade terapêutica”, explica o docente do IQ.

Por enquanto, o laboratório coordenado por Dias recebeu somente um dos 400 compostos da Open Access Malaria Box. A ideia é produzir entre 50 e 60 análogos a partir deste primeiro alvo, para que sejam testados posteriormente in vitro e in vivo. “Assim que encerrarmos essa etapa, a MMV nos enviará mais um composto, a partir do qual produzire-mos mais um lote de análogos e assim sucessivamente. Esse trabalho também é feito paralelamente por outros labora-tórios no exterior, formando uma rede. A meta é esgotar os 400 compostos disponíveis na Open Access Malaria Box e chegar a um medicamento que possa finalmente erradicar a doença”, adianta.

Todas as informações geradas pelos estudos são registra-das num banco de dados, que fomenta a troca de ideias en-tre os pesquisadores. “Uma vez ao mês, nós fazemos uma reunião por telefone e falamos sobre os avanços e entraves registrados. Com isso, conseguimos aprimorar as ações e, eventualmente, fazer correções de rumo”, acrescenta o do-cente. Um grande diferencial do convênio com a MMV, e que também orientará a cooperação a ser firmada com a DNDi, destaca o cientista, é que os trabalhos contam com a consul-toria internacional de químicos, bioquímicos, biólogos, mé-dicos e farmacêuticos com vasta experiência em pesquisa e desenvolvimento na indústria farmacêutica.

Um desses consultores é o cientista Simon Campbell, que liderou o desenvolvimento de uma série de medicamentos,

entre eles o Viagra. “Esse tipo de colaboração é fundamen-tal. Profissionais como Campbell ajudam a nos orientar, por exemplo, quanto ao uso ou não de um determinado substi-tuinte. Pela experiência que têm, eles sabem quando um de-les pode provocar uma reação adversa. Com isso, poupamos tempo e esforços”, detalha Dias.

O docente da Unicamp diz ficar muito satisfeito em poder contribuir para o esforço de erradicação das doenças negli-genciadas, pois sem a participação de universidades e institui-ções de pesquisas tal iniciativa dificilmente seria executada. “Obviamente, a indústria farmacêutica não está interessada em pesquisa e desenvolvimento de fármacos e medicamentos contra esse tipo de enfermidade, pois eles não dão lucro. As-sim, cabe a nós assumirmos essa tarefa. Eu conto com dois pós-doutorandos, Pablo Martinez e Susann Krake, que atuam diretamente no convênio com a MMV. Eles recebem bolsas da entidade. O que eu disse a eles é que o trabalho que de-senvolvem está diretamente relacionado a uma aplicação na área social. A publicação de artigos, se acontecer, será uma consequência e não um objetivo das atividades”.

Ainda a respeito do alcance social das pesquisas envol-vendo doenças negligenciadas, o professor Dias esclarece que os pesquisadores têm outra preocupação além de de-senvolver análogos com elevado potencial antimalárico. “Um ponto importante que sempre deve orientar o nosso trabalho é a busca por processos e insumos que não tor-nem o preço final do medicamento muito alto. Dessa forma, conseguiremos facilitar o acesso por parte dos doentes, que normalmente pertencem a populações carentes, bem como dos programas de saúde pública dos respectivos países onde a malária é endêmica”.

Em relação à malária propriamente dita, um aspecto tem deixado as autoridades de saúde pública apreensivas. Atual-mente, a doença tem tratamento. Ocorre, porém, que o único recurso disponível é a artemisinina, um composto derivado da Artemisia annua, planta medicinal de origem chinesa. “O fato de termos apenas uma ‘bala na agulha’ é preocupante porque, a exemplo do que acontece com algumas bactérias, que se tornam resistentes aos antibióticos, é possível que os parasitas causadores da malária também possam se tornar resistentes à artemisinina. Caso isso aconteça, o tratamen-to será seriamente prejudicado. Por isso, é fundamental que busquemos novos compostos com alto potencial terapêuti-co”, pondera o professor Dias.

Picada de mosquitotransmite parasita

5Campinas, 20 de maio a 2 de junho de 2013

Page 6: JU562

ISABEL [email protected]

Foto: Antoninho Perri

PublicaçãoTese: “Medição avançada de água e gás combustível em edifícios re-sidenciais: diretrizes para imple-mentação no contexto brasileiro”Autor: Jorge Venâncio de Freitas MonteiroOrientadora: Marina Sangoi de Oliveira IlhaUnidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC)

Por uma medição avançadaMedida pode contribuir para racionalização de água e inserção do gás canalizado

Jorge Venâncio de Freitas Monteiro:“Modelo de gestão deve contemplar todo ociclo de vida dentro da realidade nacional”

iante do alto custo de vida, da escassez de recursos e da emissão de poluentes na at-mosfera, o uso econômico e eficaz de água e do gás passa

a ser cada dia mais pretendido, tornando a medição individualizada essen-cial para o consumidor que vive em edifí-cios residenciais. Isso equivale a dizer que cada domicílio pagaria apenas pelo volume consumido, sem ter que ratear o custo com o vizinho que gastou bem mais.

Os degraus para atingir esse alvo passam pela gestão adequada da medição avançada, uma vez que ela pode contribuir significati-vamente para a implantação de programas de racionalização de água e inserção do gás canalizado no segmento residencial, me-diante a construção de instalações internas de gás de menor custo.

Foi o que concluiu o estudo de douto-rado de Jorge Venâncio de Freitas Montei-ro, defendido na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) sob orientação da docente Marina Sangoi de Oliveira Ilha.

A medição avançada, relata o pesqui-sador, é o sistema que armazena dados de um consumidor em frequência horária (ou menor) e que possibilita a transmissão de dados no mínimo uma vez ao dia, para um ponto central por intermédio de uma rede de comunicações.

No caso do gás, as instalações prediais são destinadas a distribuí-lo no interior dos prédios para fins de aquecimento e para consumo em fogões, aquecedores de água e equipamentos industriais.

O estudo do engenheiro mostrou que hoje é bastante comum a oferta de tecno-logias de medição avançadas, idealizadas com modelos de regulação diferentes do Brasil, sem levar em conta a sua realidade. “Essa ação pode estar fadada ao fracasso, se não for idealizado um modelo de gestão que olhe para todo o ciclo de vida dentro da realidade nacional”, sinaliza.

Jorge Venâncio expõe que, embora exis-ta uma legislação para os instrumentos de medição em geral – um conjunto de ope-rações que tem por objetivo determinar o valor de uma grandeza –, não existem no momento métricas de controle para execu-

tar serviços de medição, como é o caso das empresas que operam sistemas de medição remota nos condomínios de apartamentos.

Assim sendo, a investigação do doutoran-do trouxe indícios de haver um potencial de mercado interno para a implantação de sis-temas de medição avançada para água e gás.

Ocorre que essa demanda está ‘represa-da’ devido à ausência de um modelo ade-quado de gestão, avisa Jorge Venâncio, após observar que, entre as inovações para o fo-mento da medição avançada, estaria a cria-ção de figuras como a do agente provedor e a do agente de inspeção desses serviços.

O trabalho também indicou que, do ponto de vista dos usuários, é certo que eles almejam ter suas contas individuais para o consumo de água e de gás, não a medição coletiva que comumente é praticada nos edifícios de apartamentos. Ter suas contas acertadas em função do que eles gastaram permite que tenham um maior controle so-bre o consumo e o gasto.

Na opinião do engenheiro, isso seria plenamente factível graças à relativa fa-cilidade para sua implantação no curto prazo, num cenário delineado pelos co-adjuvantes deste mercado no Brasil, gra-ças ao seu potencial em sanar problemas bem como graças à disposição das pes-soas para arcarem com os investimentos necessários, desde que havendo garantia de qualidade e definições dos papéis dos vários coadjuvantes.

APLICAÇÃOJorge Venâncio é especialista em me-

dição e atua na empresa Comgas e na As-sociação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), onde coordena uma comissão de estudos de instrumentos de medição de va-zão de fluídos. Também é avaliador do In-metro e coordenador do comitê de medição da Associação Brasileira das Empresas Dis-tribuidoras de Gás Canalizado (Abegas).

Com essa bagagem, o engenheiro per-cebeu que os problemas de pesquisa que enfrentaria, ao desenvolver sua tese, não seriam simples e nem rápidos de resolver. Envolveriam buscar os motivos que dificul-tam, hoje, a disseminação desses sistemas para a individualização dos consumos de água e de gás, tais como a estruturação das empresas prestadoras de serviços de indivi-dualização e definição dos seus escopos de atuação, e encontrar soluções reconhecidas

internacionalmente, contanto que sejam aplicáveis ao perfil do país.

Segundo ele, não fez parte do seu estu-do (realizado entre 2009 e 2012) embre-nhar-se na exatidão das medições de água e de gás. Sua tarefa foi propor alternativas para que a comunidade auferisse os bene-fícios da individualização desses consumos através de um melhor uso dos recursos da medição avançada.

Mas, pelo que o autor da tese tem vis-to, essa medição no Brasil estaria bem-ali-nhada com o que se verifica nos países de-senvolvidos. “Tem havido um esforço indo nesta direção por parte das concessioná-rias, Inmetro, ABNT e comunidade técnica em geral”, informa.

Países que possuem doutrinas regulató-rias ‘avançadas’, no que tange ao modelo de concessão dos serviços públicos de dis-tribuição de água e gás, de acordo com o engenheiro, já apresentam modelos de ges-tão para a medição ‘avançada’.

“Nossa pesquisa tomou-os por base para a proposição de um modelo de gestão que leva em conta as nuances brasileiras”, explica ele, como as características urbanís-ticas (alto grau de verticalização) e a invia-bilidade das concessionárias arcarem com os custos da medição avançada.

No estudo, foram entrevistados 14 profissionais de reconhecida atuação no mercado de trabalho e aqueles oriundos das concessionárias de água e gás, além de fornecedores e operadores de sistemas de medição remota em condomínios de edifícios, os quais foram tomados para a individualização dos consumos para es-ses fornecimentos.

O autor sugeriu a criação do provedor de serviços de medição assentado em ba-ses estruturadas e sujeitas a métricas de controle. Este modelo foi pensado tendo em vista as interfaces produzidas por to-dos os coadjuvantes deste mercado, tais como as concessionárias, Inmetro, agên-cias reguladoras, condomínios e empresas de individualização.

Tal modelo constitui um dos desafios sobretudo porque as empresas desse se-tor surgiram quase que unicamente por geração espontânea, na maioria dos casos por uma demanda das construtoras ou condomínios, sem a necessária regula-mentação e normatização – daí a dificul-dade de sua implantação.

Vista área de condomínio em Campinas: estudo aponta que usuários querem ter suas contas individuais para o consumo de água e de gás

O trabalho do engenheiro pretendeu ca-racterizar o contexto da medição avançada no país, identificando os principais limitantes e facilitadores e, a partir disso, sugerir diretri-zes para a sua implementação eficiente. Fo-ram a criação do coadjuvante provedor de serviços de medição em bases normativas e regulatórias estruturadas, a criação do agente de inspeção de sistemas de medição, uma sistemática de supervisão metrológica para medidores de gás e hidrômetros (que não sejam de propriedade das concessio-nárias) e, por fim, as opções tecnológicas adequadas.

Foto: Divulgação

6 Campinas, 20 de maio a 2 de junho de 2013

Page 7: JU562

EDIMILSON MONTALTIEspecial para o JU

Foto: Antoninho Perri

Referência internacional, unidade comemoracinquentenário com série de festividades

FCM, embrião da Unicamp,faz 50 anos

Vista aérea da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp: ensino e pesquisa de excelência

Nos primórdios: aula inaugural, integrantes da primeira turmae grupo da segunda durante estadia na Alemanha

o Teatro Municipal de Campi-nas lotado, 50 jovens, vindos em sua maioria de cidades do interior do Estado de São Pau-lo, se acomodam para assistir

a primeira aula da Faculdade de Medicina de Campinas. A aula magna, proferida pelo então reitor da Universidade de São Paulo (USP), Antônio Barros de Ulhôa Cintra, foi um acontecimento na cidade de Campinas no dia 20 de maio de 1963. O sonho acabara de virar realidade.

A campanha na imprensa de Campinas para a instalação de uma Faculdade de Me-dicina na cidade começou em 1946, por meio de um artigo de Luso Ventura, então editor-chefe do Correio Popular. O assunto ganhou certo destaque em 1948, quando Campinas foi contemplada com uma Fa-culdade de Direito. Como não houve mo-bilização suficiente da sociedade para sua efetiva instalação, ela foi substituída, em 1953, pela Faculdade de Medicina. Entre-tanto, por vários motivos, a sua criação fi-cou apenas no papel.

Para “acalmar os ânimos” dos campi-neiros, o então governador Jânio Quadros recria, em 1958, a Faculdade de Medicina. Mas, pela segunda vez, sua implantação não vinga. Assim, em 1960, Roberto Franco do Amaral, após assumir a Diretoria da Socie-dade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC), determina que a prioridade núme-ro um da entidade seria a instalação da Fa-culdade de Medicina.

Em 1961, o Conselho de Entidades de Campinas, que congregava 23 associações de classe, é reativado, mobilizando diversos setores da sociedade para pressionar, de di-ferentes maneiras, o Governo do Estado.

A pedagoga Aline Rodrigues da Silva, em seu trabalho de conclusão de curso “A luta do conselho de entidades de Campi-nas por uma Faculdade de Medicina na ci-dade”, apresentado em dezembro de 2012 à Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, sob orientação do professor André Luiz Pau-lilo, aponta que “o grande diferencial dessa fase da campanha, que perdurou até 1962, foi o planejamento proposto pelo Conselho de Entidades, que buscou não somente rei-vindicar, mas explicar e apontar os motivos pelos quais se considerava que a Faculdade de Medicina era necessária para Campinas e região. Houve um esforço, por meio dos meios de comunicação impressos, rádio e televisão, para conquistar o apoio das cida-des vizinhas na luta campineira”.

Segundo Aline, não tendo como ignorar a mobilização de Campinas, o então Governa-dor Carvalho Pinto, ainda em 1961, nomeou um grupo de trabalho para estudar a criação de um núcleo universitário na cidade. O que sucedeu, a partir daí, foi a promulgação da Lei nº 7.655, em 28 de dezembro de 1962, criando a Universidade de Campinas como entidade autárquica.

“A Faculdade de Medicina, criada em 1953 e recriada em 1958, foi incorporada por esta lei. Com a incorporação da Faculdade de Medicina à Universidade de Campinas, o curso médico era o único em funcionamen-to, ainda que em instalações improvisadas”, diz Aline.

A Universidade, apesar de figurar apenas no papel – a pedra fundamental foi lançada em 5 de outubro de 1966 –, teve vários di-retores, além de 50 alunos que se amontoa-vam nos dois primeiros andares da inacaba-da Maternidade de Campinas.

A história da Universidade é contada no livro O Mandarim, do jornalista Eustáquio Gomes. Na obra, publicada pela Editora da Unicamp, Eustáquio escreve que “de fato, já em seu terceiro ano de funcionamento, a universidade girava em torno de um leque de disciplinas que por sua variedade e riqueza certamente poderiam ser o embrião das oito unidades projetadas mas que, por ora, com-punham um único curso, o de Medicina”.

Em 1965, sob a mão forte de Zeferino Vaz, o esboço da Unicamp começava a tomar for-ma. O ex-diretor da Faculdade de Medicina Veterinária da USP e da Faculdade de Medi-cina de Ribeirão Preto era contra a instalação de escolas médicas em cidades a menos de 100 quilômetros da capital paulista.

De acordo com sua pesquisa, Aline ob-servou que a maioria dos documentos ofi-ciais, correspondências e notícias de jornais do período consultados no Arquivo Central/Siarq referentes à criação da Unicamp, mos-tram a ação mais contundente e expressiva de Zeferino a partir de 1965.

“Entretanto, a participação das entidades de classe e de personalidades da sociedade campineira foi crucial para a criação da Fa-culdade de Medicina e, posteriormente, para a sua instalação. Isso, algumas vezes, passa despercebido em sua história”, diz Aline, que trabalha no Siarq e colaborou, indireta-mente, na organização da exposição dos 45 anos da Unicamp em 2011.

Se o empenho de Campinas para a im-plantação da Faculdade de Medicina foi gran-de, o sonho dos calouros foi igual ou maior. Mesmo nas salas improvisadas da Materni-dade de Campinas ou depois na Santa Casa de Misericórdia, para onde foi transferida a faculdade em 1965, a incerteza e a responsa-bilidade andavam de mãos dadas.

O professor e médico Rogério Antunes Pereira Filho foi aluno da primeira turma do curso de medicina. Ele diz que os primeiros anos na Maternidade de Campinas e depois

na Santa Casa de Misericórdia foram difíceis. As enfermarias tinham até 30 leitos cada uma, sem divisões ou divididas apenas por biombos, quando o quadro clínico do pacien-te se agravava. Os únicos que procuravam atendimento na Faculdade de Medicina eram os indigentes.

“Embora tratássemos nossos pacientes com dignidade e competência, demoramos muito para adquirir credibilidade aos olhos da população. Era voz corrente, no início, que os pacientes seriam tratados exclusivamente por alunos e que seriam apenas experiência para eles. Alguns mais apocalípticos diziam que não ficávamos muito tristes com a mor-te, porque, nesse caso, teríamos a autópsia para mostrar”, conta Rogério.

O professor e médico João Luiz Carvalho Pinto e Silva foi aluno da segunda turma do curso de medicina. Na semana em que in-gressou na faculdade, em março de 1964, as aulas foram interrompidas porque os tan-ques estavam nas ruas.

“Foi um período difícil da história, muito complicado do ponto de vista político. Mas participar da implantação da Faculdade de Medicina foi oportunidade ímpar e um pri-vilégio que tivemos no florescer de nossa ju-ventude”, lembra João Luiz.

Em 1966, aluno do último ano do curso de medicina da Universidade Federal do Pa-raná, Gustavo Antonio de Souza se interes-sou em ser médico-residente em ginecologia e obstetrícia na então Faculdade de Medicina de Campinas.

“Marquei uma entrevista, peguei o trem da Paulista, de Bauru para Campinas. Che-guei bem cedo na porta da Santa Casa, onde hoje é estacionamento do Giovanetti V, e ha-via apenas barracas, porque os alunos esta-vam em greve”, relembra Gustavo.

Não demorou muito tempo, Gustavo foi chamado para ser médico-residente. Termi-nado esse período, foi convidado pelo profes-sor Bussamara Neme para seguir a carreira docente, não mais “na então chamada Facul-dade de Medicina de Campinas”.

Em 1969, um decreto estadual alterara o nome de Faculdade de Medicina de Cam-pinas para Faculdade de Ciências Médicas (FCM). O mesmo valia para a Universidade

de Campinas, que passou a ser denominada de Universidade Estadual de Campinas (Uni-camp), em 30 de julho do mesmo ano.

“Aprendi a ser professor. No Departamen-to de Tocoginecologia da FCM, passei por todos os cargos e títulos. Fui tudo, menos aluno”, diz Gustavo.

No dia 20 de maio de 2013, a FCM faz 50 anos. Esse pequeno recorte histórico conta um pouco de trajetória inicial da faculdade, que em 1986 passou a funcionar no campus de Barão Geraldo. Para contemplar o cin-quentenário da faculdade e preencher essa lacuna, será lançado um livro contando essas e outras histórias. O lançamento, previsto para este ano, encerra as comemorações do jubileu de ouro.

Para o diretor da FCM, Mario José Abdalla Saad, essa história de sucesso foi construída pelo trabalho de professores, funcionários, médicos-residentes e alunos. “Nós não se-guimos nenhum modelo. Nosso modelo é ter o melhor ensino, a melhor assistência e a melhor pesquisa”, diz Saad.

Hoje, a Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp é responsável pelos cursos de Medi-cina; Enfermagem (embora tenha se transfor-mado em Faculdade em 2012, ainda mantém o vínculo com a FCM); Fonoaudiologia (cur-so compartilhado com o Instituto de Estudos da Linguagem); e Farmácia (em parceria com Instituto de Biologia, Instituto de Química e Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Quími-cas, Biológicas e Agrícolas). O corpo docente é constituído por 342 professores, 98% com doutorado. Em seus cursos de graduação es-tudam, aproximadamente, 1,1 mil alunos, sendo 60% deles em Medicina e os demais distribuídos nos outros cursos.

Na pós-graduação estudam 1,2 mil estu-dantes distribuídos em 11 programas. Al-guns destes alunos são estrangeiros atraídos pela excelência acadêmica da instituição. Na Residência Médica, a FCM disponibiliza 79 programas credenciados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), além de progra-mas complementares em 28 áreas, com cerca de 500 médicos-residentes.

Em 2012, foram produzidos mais de 1.020 artigos aprovados para publicação em periódicos nacionais e internacionais. Na área de pesquisa, há na FCM, atualmente, 1.033 projetos em andamento, distribuídos em 151 linhas de pesquisa nos 94 laborató-rios espalhadores pelo complexo da área da saúde da Unicamp, que atende a uma popu-lação de cinco milhões de pessoas da macror-região de Campinas.

Integram este conjunto o Hospital de Clí-nicas (HC), o Hospital da Mulher “Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti” (Caism), o Hospital Estadual de Sumaré (HES), o Hemocentro, o Gastrocentro, Centros de Saúde e vários Am-bulatórios Médicos de Especialidades (AME) localizados em diversos municípios paulistas.

Por duas vezes, em 2010 e 2012, a FCM foi convidada a indicar concorrentes ao prêmio Nobel de Medicina. De seus bancos escolares saíram nomes para cargos públi-cos na área da Saúde, dentre eles os atuais secretário de Saúde de Campinas, Cármino Antonio de Souza, e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

Como disse Rogério Antunes, em um de seus discursos: “A realidade ultrapas-sou o sonho”.

Fotos: Arquivo/Siarq

7Campinas, 20 de maio a 2 de junho de 2013

Page 8: JU562

8 Campinas, 20 de maio a 2 de junho de 2013

MARIA ALICE DA [email protected]

Fotos: Divulgação

Superação,em terra e nas alturas

Carla na Praça da Paz da Unicamp: “O respeito que tenho hoje pela natureza é muito maior”

Funcionária da Cocen enfrenta doença com escaladas e provas de percurso

Da esq. para a dir., Carla Baldan em três momentos:escalando a Pedra do Elefante, em Andradas (MG), no cume

do Cerro Áustria (Bolívia) e durante corrida em Campinas

edo de Deus. Brisa, azul, mon-tanha, mata, aves e as rochas. Dedo de Deus é completo, mas quem pode tocar suas pedras? Quem já tentou em

vez de um ângulo contra plongée (de bai-xo para cima), outro plongée. Dedo de Deus é muito alto, lembra o inatingível a quem não pode ou tem medo de altura. Mas Carla Baldan Dias foi ter com ele e está entre os privilegiados que, tentando tocar o Dedo de Deus, através de suas ro-chas, depararam com a região serrana do Rio de Janeiro em plongée, como diriam os amigos cineastas. Teve a oportunidade rara de, sem qualquer janelinha de aero-nave, comungar com a natureza do alto da montanha. “A sensação de chegar ao final da escalada e ver toda aquela paisagem não tem preço. Trocamos energia com a mata, a montanha.” Apesar de ter substituído a escalada pela corrida em 2009, ainda traz no discurso a gratidão por tudo o que a modalidade ainda proporciona.

De todos os sentimentos proporciona-dos pela chegada ao Dedo Deus, Carla evi-dencia a superação. Por um longo período da vida, portou-se como uma simples es-pectadora ao apreciar imagens, textos, pa-redes de escalada. Para ela, era algo fora de sua realidade, pois na infância vivia agasa-lhada, sem contato com a natureza e acon-selhada a praticar apenas natação, apesar do medo de água. Mas em contato com as rochas, aos poucos, o medo, maior obs-táculo das conquistas humanas, parou de nublar as oportunidades. A asma deixou de ser um fantasma a assombrar a vontade de subir, sem se preocupar com a volta.

Se a preocupação da família com suas crises de asma na infância limitaram os es-paços e a diversificação de atividades físi-cas, o encontro com o marido, Luiz Felipe Moura, em 2004, abriu todas as possibili-dades, principalmente a de contemplar a paisagem sem asas e de pisar lugares que a maioria das pessoas sequer ousa sonhar. Docente na Faculdade de Engenharia Me-cânica (FEM) da Unicamp, Moura escalava há 28 anos, quando Carla começou a dar os primeiros passos na parede da Faculdade de Educação Física (FEF). Enquanto muitos resistiram à curiosidade sobre aquele gru-po de corajosos que diariamente se reunia para se enroscar feito homem aranha num patrimônio público, ela resolveu desafiar essa teia ou desafiar-se. “Aprendi tudo com o Felipe. Ele foi meu grande motivador.”

“ATREVIDOS”Em um ano de escalada, voluntariou-se

a monitorar atividades de outros inician-tes naquela parede, sempre na companhia de Felipe, com quem fez parte do Grupo

de Escalada Esportiva e Montanhismo da Unicamp (Geeu). Lá, teve a oportunidade de conhecer e conviver com outros “atrevi-dos” da natureza. Atrevidos no bom senti-do de redescobrir o espaço, a biodiversida-de, seja em solo tropical ou não, até chegar ao Dedo de Deus. Até desafiar a altitude alterosa de 5.350 metros do Cerro Áustria, no Condiriri, na Bolívia.

Bolívia, 2008. Nenhum sinal de neve naquela montanha. Somente na descida a sensação de pedaços minúsculos de gelo tocando o corpo numa rápida nevasca, mas o chão seco mostra a ocorrência cada vez menor de neve na Bolívia. Aquele foi um marco inesquecível. A sensação de con-templar a “belíssima” paisagem e os mais de 5 mil metros de altitude conquistados foi indescritível, segundo a atleta.

O Cerro deixava para trás as dificulda-des dos primeiros passos. Difíceis, mas motivadores. O medo passa a ser o moti-vo, o estímulo. A cada obstáculo vencido, aumenta a vontade de querer saber até onde pode ir, conforme descreve Carla. O primeiro contato dela com as rochas acon-teceu no Pico das Cabras, em Joaquim Egí-dio, distrito de Campinas. “De subir nas pedras? Tive muito medo. Achei que não fosse conseguir. Ainda sinto medo. Por ser um esporte que envolve certo risco, mas aos poucos foi ficando menor o medo. Fui superando. Com orientação e equipamen-to adequado, sempre é seguro desde que se faça com bastante cuidado”, aproveita para alertar.

Sua participação no Geeu, de 2004 a 2010, despertou o interesse de outras pessoas em desafiar a parede da FEF. A maioria do grupo era composta por alu-nos, ex-alunos e alguns professores. Pelo fato de ser funcionária, outros servidores

Foto: Antonio Scarpinetti

descobriram que a parede estava à dispo-sição de quem desejasse escalar, inclusive da comunidade externa à Unicamp. “Aju-dei a envolver pessoal. Porque as pessoas pensavam que era somente para alunos”, quando na verdade a disciplina de esca-lada ainda nem havia sido criada na FEF. Com o tempo, o Geeu tomou corpo e a aliança com aquela Faculdade foi ficando mais forte.

A coragem de escalar também a colocou diante de atletas como Rodrigo Ranieri, de Campinas, que neste momento, segundo Carla, está há mais de 40 dias numa expe-dição do Projeto Everest 2013, no Nepal, a mais de 7 mil metros do chão, mais uma vez na tentativa de atingir o pico do monte.

Mais que a satisfação física e a sociali-zação, a escalada dá coragem para as coisas da vida, na opinião de Carla. “Para mim, a escalada ensinou muita coisa, inclusive na minha visão de mundo. O respeito que tenho hoje pela natureza é muito maior”, declara. Até mesmo a rotina de trabalho na Coordenadoria de Centros e Núcleos (Co-cen) da Unicamp melhorou, pois a orga-nização passou a ser repensada depois da disciplina no esporte.

Qualquer pessoa pode fazer escalada, segundo Carla, até mesmo crianças, des-de que acompanhadas pelos pais ou res-ponsáveis. Qualquer atividade esportiva, em sua opinião, ajuda a preparar a criança para os desafios da vida. E este é o ponto principal, na opinião de Carla. A escalada, em especial, aos poucos, faz com que o atleta crie resistência, força e técnica. Ela avalia que, nos dias de hoje, os pais aca-bam optando por proteger ao máximo os seus filhos, mas em alguns momentos, as crianças precisam experimentar seus pró-prios limites, e isso pode acontecer a partir

dessa ou de qualquer outra modalidade es-portiva. No seu caso, teve de esperar che-gar à fase adulta para enxergar o quanto a infância ficou devendo em aventura. “Via na TV, no jornal. Considerava muito longe mim”, reflete.

No evento Unicamp de Portas Abertas (UPA), o interesse das crianças e adoles-centes, ainda pela curiosidade, se escanca-rava. As filas, a cada edição mais crescen-tes, renderam muitos registros nas páginas do evento e em publicações da Universida-de. Além disso, algumas escolas e institui-ções também foram recebidas pelo Geeu.

Além do sentimento de superação que pode refletir na saúde emocional, Carla destaca alguns aspectos benéficos para o corpo. Um deles é o contato com a nature-za, por ser praticado ao ar livre, em pontos em que não há tanta interferência humana, onde se pode respirar melhor. Outros be-nefícios mais evidentes são o fortalecimen-to da musculatura.

Mesmo com tantos pontos a favor e en-tre tantas realizações, Carla rompeu, mas só por enquanto, com a modalidade que a apresentou as maravilhas do esporte. Em 2008, durante a palestra “Corrida e cami-nhada para uma vida mais saudável”, pro-movida pelo GGBS, com o treinador Lucas Tessuti, ela e Felipe, preocupados em ex-pandir a capacidade aeróbica para uma ex-pedição, consultaram o palestrante sobre a possibilidade de treiná-los com a corrida. Fizeram a expedição, mas tomaram gosto por provas de percurso.

Felipe ainda concilia as duas modalida-des. Sua última expedição foi no Nepal, no ano passado. Enquanto isso, Carla busca superar agora os desafios do asfalto. Ano passado, participou pela primeira vez da Corrida São Silvestre, em São Paulo, e em março desse ano, participou da Meia Mara-tona de Paris. No momento, dedica-se aos treinos para uma maratona a ser realizada em 2014.

Carla tem por paixão a paisagem de Macho Pichu, onde pretende estar um dia. “Aquele lugar é incrível. Vejo as imagens e tenho vontade de estar lá”. Mas não es-quece a paisagem a lhe sorrir quando pôde tocar o Cerro Áustria, desafiar a Pedra do Elefante, em Andradas (MG), e se orgulha da coragem que a levou a Teresópolis para, diante do Dedo de Deus, contemplar em plongée as rochas que deixou para trás. “Um dia eu volto a escalar”.

Page 9: JU562

9Campinas, 20 de maio a 2 de junho de 2013

RAQUEL DO CARMO [email protected]

Foto: Antoninho Perri

Computador ‘fala’ a partirde conversão de textos

A engenheira eletricista Sarah Negreiros de Carvalho, autora da dissertação: técnica fl exível

Sistema permite aplicação nos âmbitos da robótica e da acessibilidade de pessoas com deficiência

ala emitida pelo computador a mais próxima possível da voz hu-mana. Foi este o objetivo da enge-

nheira eletricista Sarah Negreiros de Carvalho ao aprimorar a técnica

de conversão de textos em fala baseada em uma técnica denominada HMM. Em meio a equações matemáticas e muitos cálculos pesados, a engenheira conseguiu gerar pa-râmetros que permitiram alcançar melhor qualidade do sinal de fala sintetizado pelo computador a partir da transcrição de tex-tos. Um texto em arquivo PDF, por exemplo, pode produzir o som exato das palavras. “A natureza estatística e paramétrica da técnica de síntese de fala, baseada em HMM, a torna um sistema flexível, capaz de adaptar vozes artificiais, inserir emoções no discurso e ob-ter fala sintética de boa qualidade” afirma Sa-rah Negreiros.

O estudo desenvolvido na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), sob orientação do professor Fábio Violaro, está em linha com o contínuo de-senvolvimento da tecnologia. Isto porque, segundo a engenheira, é crescente a de-manda por sistemas de síntese de fala que sejam capazes de falar como humanos para integrá-los nas mais diversas aplicações. “O sistema possibilita a utilização no âmbito da robótica ou para acessibilidade de pessoas com deficiências. Pode também servir para integrar aplicativos destinados à cultura e ao lazer”, esclarece.

Por enquanto, o sistema gera o som de frases automaticamente apenas para a língua inglesa. O estudo para a língua portugue-sa foi possível graças a um banco de falas e etiquetas com a transcrição fonética das pa-lavras elaborado por pesquisadores da Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em estudos liderados pelo professor Fernan-do Gil Resende. A partir desse conjunto de etiquetas já pronto, Sarah analisou como os

parâmetros estatísticos atuavam nas expres-sões que representavam matematicamente o funcionamento do trato vocal.

O processo da fala humana compreende dois tipos de sinais, os sonoros e os não so-noros. Os primeiros correspondem aos sons das vogais e de algumas consoantes como a /b/, /d/ e /v/, e são gerados com a vibração das cordas vocais. Eles são periódicos e po-dem ser modelados por um trem de impul-sos. Os sons não sonoros geram a maioria das consoantes para as quais as cordas vocais não vibram, eles são modelados por um sinal ruidoso. A combinação adequada destas duas fontes gera o chamado sinal de excitação. Este sinal precisa ainda passar por um filtro

de Carvalho ao aprimorar a técnica

PublicaçãoDissertação: “Estudo de um siste-ma de conversão texto-fala baseado em HMM”Autora: Sarah Negreiros de CarvalhoOrientador: Fábio ViolaroUnidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC)

digital, que faz o papel do trato vocal, para ser amplificado e modulado e assim gerar a fala. O estudo desenvolvido na FEEC conseguiu, justamente, chegar aos modelos de duração, espectro e frequência que produzem som de boa qualidade utilizando a síntese baseada em HMM. “Conseguimos as melhores ca-racterísticas do filtro e uma melhor forma de modelagem”, explica.

Segundo Sarah Carvalho, ao contrário das técnicas usualmente utilizadas em call cen-ter, que não oferecem a possibilidade de se alterar as características do locutor, no estu-do proposto, ao mudar os parâmetros estatís-ticos é possível transformar a voz masculina em feminina ou ainda em voz de criança, por

exemplo. Além, é claro, de também permitir incluir emoção no discurso. “Uma voz raivo-sa, por exemplo, pode ser gerada sem precisar regravar ou alterar o banco de dados de falas”.

Alunos do Cotuca publicamem periódico internacional

Pesquisa sobre feijão adzuki rende artigono “Journal of Food Engineering”

O professor Pedro Esteves Duarte Augusto, orientador das pesquisas, com Emily Zucatti da Silva (à esq.) e Amanda Leal Oliveira

Uma das fases para o processamento dos grãos do feijão adzuki, originário do Japão e bastante utilizado na culinária japonesa para a preparação de doces, foi o tema da pes-quisa de cinco alunos do Colégio Técnico de Campinas (Cotuca) da Unicamp aceita para publicação no Journal of Food Engineering, um dos periódicos científicos mais reconheci-dos na Área de Tecnologia e Engenharia de Alimentos. Os estudantes do curso Técnico em Alimentos foram orientados pelo profes-sor Pedro Esteves Duarte Augusto na pes-quisa que trata de um assunto original na abordagem e pelo produto.

“O feito é importante para motivar os alunos a realizarem pesquisas e, assim, des-pertarem para o conhecimento mais apro-fundado de um determinado tema, sem perder de vista, é claro, o nosso objetivo primordial, que é a melhoria do ensino téc-nico”, destaca o professor, que assina o arti-go juntamente com as alunas Amanda Leal Oliveira, Beatriz Gouveia Colnaghi, Emily Zucatti da Silva, Isabela Romão Gouvêa e Raquel Lopes Vieira.

O estudo trata do efeito da temperatura na cinética de hidratação do feijão adzuki. No artigo, explica Pedro Augusto, são descritos os modelos matemáticos para se achar um ponto ótimo de hidratação. Depois de colhi-dos, os grãos são secos para garantia de con-servação. No entanto, devem ser novamente hidratados antes do processamento, sendo a hidratação uma das primeiras operações

unitárias realizadas pela indústria. “Por ser aceito por uma revista científica de impacto, significa que estas descrições são novas e re-levantes”, define o professor.

Um aspecto que merece ser destacado na opinião de Pedro Augusto foi o financiamen-to da pesquisa. A verba para custear integral-mente os ensaios feitos no laboratório do Colégio foi liberada pela Associação de Pais

ArtigoOliveira, Amanda Leal; Colnaghi, Beatriz Gouveia, Silva, Emily Zucat-ti, Gouvêa, Isabela Romão; Vieira, Raquel Lopes e Augusto, Pedro Es-teves Duarte “Modelling the Effect of Temperature on the Hydration Kinetic of Adzuki Beans (Vigna an-gularis)” Journal of Food Engineering, Elsevier. Leia em: http://www.scien-cedirect.com/science/article/pii/S0260877413002240

Nas bancasNas bancas

e Mestres (APM), uma espécie de fundo em que os pais fazem uma contribuição espontâ-nea para financiar vários projetos desenvol-vidos na escola. Todo ano, o professor Pedro Augusto submete projetos à apreciação den-tro do programa Jovens Talentos do Cotuca. “O valor não é alto, mas com ele é possível cobrir os gastos e assim destacar o potencial técnico e científico dos alunos do Cotuca,

além de mostrar a importância de despertar e incentivar as vocações científicas”, avalia.

O Programa Jovens Talentos foi cria-do em 2009 e, desde então, o professor já orientou oito trabalhos e 30 alunos do cur-so Técnico em Alimentos. Os trabalhos já resultaram em cinco artigos publicados ou aceitos para publicação em periódicos da área, como o International Food Research Jour-nal e a Revista Brasileira de Produtos Agroin-dustriais e Tecnologia. A proposta é que os alunos passem o mês de julho realizando as atividades em laboratório. Isso se faz ne-cessário, visto que a carga horária durante o período letivo é bem alta. “Neste senti-do, sempre pergunto para aqueles alunos que estão dispostos a abrir mão das férias. Sempre encontro quem decide colocar a mão na massa”, brinca. (R.C.S.)

Foto: Antonio Scarpinetti

Page 10: JU562

Fotos: Antoninho Perri/Antonio Scarpinetti

Inclusão Social - O Núcleo de Estudos de Gênero (Pagu) pro-moverá a Segunda Reunião Geral no Brasil do Projeto Medidas para a Inclusão Social e Equidade em Instituições de Ensino Superior na América Latina (Miseal). O projeto é desenvolvido desde 2012 em parceria com a comunidade europeia por meio do programa Alfa III. A cerimônia de ab-ertura ocorrerá no dia 20 de maio às 17 horas, no auditório II do prédio da Diretoria Geral da Administração (DGA). O projeto pretende contribuir para melhorar as estratégias e os mecanismos de acesso, assim como as condições de permanência e mobilidade de pessoas pertencentes a gru-pos pouco favorecidos ou vulneráveis, nas 12 Instituições de Educação Superior (IES) da América Latina (AL), que fazem parte do Alfa III. Minicurso com Denis Richter - O minicurso “Educação geográfi ca e cartografi a escolar: articulações e propostas de ensino” será ministrado pelo professor Denis Richter, da Universidade Federal de Goiás, de 20 a 22 de maio, das 14 às 18 horas, no Instituto de Geociências (IG). Um dos objetivos é contribuir na formação inicial dos acadêmicos do curso de Geografi a - licenciatura. Inscrições já encer-radas. A organização é do PIBID-Geografi a. Mais informações: [email protected] Queimaduras de 3º grau - Exposição de Genivaldo Amorim será aberta no dia 20 de maio, às 12h30, no Centro de Convenções da Unicamp (Rua Elis Regina, 131). A curadoria da mostra é de Sandra Caro Flório. O evento é organizado pela Coordenadoria de Desen-volvimento Cultural (CDC) e faz parte do Projeto Espaço de Arte. Mais informações: 19-3521-1739. Seminário de Extensionistas da Unicamp - Com o tema “Tecnologia e Produção e a Extensão Comunitária”, o próximo Semi-nário de Extensionistas da Unicamp terá como debatedores os profes-sores Rafael de Brito Dias, da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), e Giovanna Garcia Fagundes, do Departamento de Biologia Animal do Instituto de Biologia (IB). O evento será realizado no dia 22 de maio, às 9h30, no auditório 1 da Agência para a Formação Profi ssional da Unicamp (AFPU). A organização é da Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC), órgão da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac). Mais informações: 19-3521-2541. Quartas Interdisciplinares - O Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHS) da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) organiza no evento “Quartas Interdisciplinares”, dia 22 de maio, às 16 horas, no Auditório UL01, uma mesa-redonda para discutir o tema “Gestão e planejamento esportivo no ciclo olímpico e paralímpico”. Contará com a participação de Luiz Cláudio Pereira (vice-presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro) e Antonio Carlos Gomes (diretor técnico Sporting Training). A mesa será coordenada pelo professor Luciano Mercadante (FCA). Mais informações pelo telefone 19-3701-6674 ou e-mail [email protected] Genômica e Biologia Celular - O curso internacional “Tópicos Avançados em Genômica e Biologia Celular” será realizado no Centro de Convenções da Unicamp, de 22 a 24 de maio de 2013. O evento busca reunir palestrantes reconhecidos mundialmente para apresentação de pesquisas, propiciando a troca de experiências e in-formações entre diferentes grupos de países dedicados à busca de conhecimento na área de genética molecular humana. A organização é do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) e do Laboratório Central de Tecnologias de Alto Desempenho (LaCTAD) da Unicamp, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Mais informações no link http://cbmegcourses.org Palestra com Denis Richter - O raciocínio geográfi co e o processo de ensino-aprendizagem de Geografi a. Palestra será pro-ferida pelo professor Denis Richter, da Universidade Federal de Goiás, dia 23 de maio, às 19 horas, no Instituto de Geociências - sala MD 02. A organização é do PIBID-Geografi a. Mais detalhes pelo e-mail [email protected]

acadêmica

Vida

Destaques

do Portal

da Unicamp

Painel da semana

Teses da semana

Livro da semana

Vida

Teses da semana

Livroda semana

Destaque do Portal

Gilberto MendesEntre a vida e a arte

Painel da semana

Unicampinas - O Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) recebe, até 23 de maio, as inscrições para o passeio cultural “Uni-campinas”. Mais detalhes no link http://www.sae.unicamp.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=967:passeio-cultural-unicampinas&catid=1:ultimas-noticias&Itemid=124 Public Lecture: Genoma pessoal - O Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) e o Laboratório Central de Tecnologias de Alto Desempenho em Ciências da Vida (LaCTAD) organizam, dia 23 de maio, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp, uma palestra com a professora de genética humana Mayana Zatz. No encontro ela aborda o tema Public Lecture: Genoma pessoal. Zatz é médica do Departamento de Biologia do Instituto de Biociên-cias da Universidade de São Paulo (USP), coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e membro da Academia Brasileira de Ciências. O evento faz parte da programação do workshop Advance Topics in Genomics and Cell Biology. Apoio: Fapesp. Mais informações: http://www.cbmegcourses.org Barragens de Terra - A Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) recebe, até 24 de maio, no link http://www.extecamp.unicamp.br/dados.asp?sigla=FEG-0123&of=003, as inscrições para o curso de extensão: “Barragens de Terra”. Seu início está previsto para 8 de junho. O curso destina-se principalmente aos profi ssionais de engen-haria civil, engenharia agrícola, engenharia agronômica, tecnólogos e alunos de graduação em engenharia. Objetivando o dimensionamento de Barragens de Terra, o curso aborda seus principais elementos e etapas de construção, destacando-se o cálculo de estabilidade de talu-des, fi ltros de proteção, cortinas de vedação, crista, borda livre, desvio do rio, investigações na área de empréstimo e eixo da barragem. Bar-ragens da Terra será ministrado pelos professores José Teixeira Filho, da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), e Paulo José Rocha de Albuquerque, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Ur-banismo (FEC). Luna de Tango - O Grupo de Trabalho “Tango & Cultura do Rio de La Plata” apresenta o espetáculo Luna de Tango, dia 25 de maio, às 15 horas, no Espaço Cultural Típica Tango (Rua Luiz Vicentin Sobrinho 101), na Vila Santa Isabel, em Barão Geraldo. O espetáculo será reapresentado em 28 de maio, no Espaço Cultural Casa do Lago (rua Érico Veríssimo 1011), no campus da Unicamp, às 12 horas. O evento é organizado pela professora Natacha Muriel López Gallucci, do Instituto de Artes (IA). Entrada gratuita. Mais informações 19-3289-1752, 35217017 ou 7830-1230. Mostra de trabalhos do Cotuca - O Colégio Técnico da Unicamp (Cotuca) recebe, até 28 de maio, no site www.mostradetrab-alhos.cotuca.unicamp.br, as inscrições de projetos a serem apresenta-dos na III Mostra de Trabalhos de Cursos Técnicos. O evento acontece no dia 26 de setembro, das 9 às 20 horas, no Saguão Ciclo básico II, no Campus da Unicamp. O público-alvo são estudantes de ensino médio e técnico bem como profi ssionais de áreas correlatas. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone 19-3521-9906 ou e-mail [email protected] Dia Mundial sem Tabaco - O Programa Viva Mais do Cen-tro de Saúde da Comunidade da Unicamp (Cecom) organiza nos dias 28 e 29 de maio, entre 10 e 14h30, evento do Dia Mundial sem Tabaco. Com o tema “Dia de Promoção à Saúde do Fumante”, as atividades ocorrem no Ciclo Básico II-PB (dia 28) e na Tenda do Mexa-se do Hospital das Clínicas (dia 29). Nos locais haverá a distribuição de marcadores de livro com conteúdo sobre o tabaco e sobre os grupos de tratamento existentes na Unicamp. Mais infor-mações: 19-3521-9001. População, cidades e políticas sociais - O Núcleo de Estudos de População (Nepo) recebe, até 30 de maio, as inscrições para o IV Programa de Capacitação: População, Cidades e Políticas Sociais. O Programa destina-se aos profi ssionais envolvidos nas áreas temáticas acerca da urbanização, migração, desenvolvimento urbano e regional, oriundos de instituições do Governo Federal, Estadual ou Municipal, organismos não governamentais e/ou movimentos sociais. Serão priorizados os gestores públicos que trabalhem com a relação entre população, cidades, metrópoles, pobreza, e políticas de transfer-ência de renda. O IV Programa de Capacitação: População, Cidades e Políticas Sociais conta com o apoio do Projeto Temático Fapesp: Observatório das Migrações em São Paulo: Fases e Faces do Pro-cesso Migratório do Estado de São Paulo. Consiste em capacitar e sensibilizar as secretarias municipais, estaduais e de governo para as inter-relações entre população e desenvolvimento social, enfatizando as novas dinâmicas do crescimento populacional nas cidades e a necessidade de políticas sociais. Mais informações: [email protected] ou 19-3521-5913. Pós-graduação em jornalismo científi co - Estão abertas até o dia 31 de maio as inscrições para o curso de pós-graduação lato sensu em Jornalismo Científi co do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Uni-camp). Leia mais em http://agencia.fapesp.br/17240

Alimentos - “Fabricação de queijo prato com diferentes prote-ases” (mestrado). Candidata: Laís de Souza Alves. Orientadora: pro-fessora Mirna Lúcia Gigante. Dia 27 de maio de 2013, às 10 horas, no salão nobre da FEA. Biologia - “Efeitos da restrição calórica e do 2,4 dinitrofenol sobre o metabolismo e desenvolvimento da aterosclerose em camundon-gos hipercolesterolêmicos” (doutorado). Candidato: Gabriel Taffarello Dorighello. Orientadora: professora Helena Coutinho Franco de Olivei-ra. Dia 29 de maio, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IB.

Academia Brasileira de Ciências (ABC) deu posse a 37 membros titulares e correspondentes (que

atuam no exterior) em reunião magna no último dia 7, na Escola Naval do Rio de Janeiro. Entre os novos titulares estão quatro docentes da

Unicamp: Anita Jocelyne Marsaioli (Instituto de Química), Daniel Mario Ugarte (Instituto de Física “Gleb Wataghin”), Paulo Mazzafera (Instituto de Biologia) e Vitor Baranauskas (Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação).

A mesa de abertura da solenidade esteve composta por Jacob Paulis, presidente da ABC; Marco Antônio Raupp, mi-nistro da Ciência, Tecnologia e Inovação; Jorge Almeida Gui-marães, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); Helena Bonciani Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciên-cia (SBPC); Glauco Arbix, presidente da Financiadora de Es-tudos e Projetos (Finep); almirante-de-esquadra Wilson Bar-bosa Guerra, secretário de C&T da Marinha; e vice-almirante Ilques Barbosa Júnior, comandante do Primeiro Distrito Na-val, ao lado de outras autoridades.

Sobre os eleitos da Unicamp, Anita Marsaioli, do IQ, é coordenadora do projeto “Potencial enzimático de minas de ferro, cobre e ouro”, realizado no âmbito de um acordo da Fa-pesp com a Vale, Fapemig e Fapespa. Daniel Ugarte, do IFGW,

Professores da Unicamp tomamposse na Academia de Ciências

Da esq. para a dir., Anita Marsaioli, Daniel Mario Ugarte, Paulo Mazzafera e Vitor Baranauskas: docentes da Unicamp foram empossados na ABC no último dia 7

Sinopse: Este livro está fundamentado na tese de doutorado de Carla Delgado de Souza intitulada “Os caminhos de Gilberto Mendes e a música eru-dita no Brasil”, defendida no Programa de Antropo-logia Social da Universidade Estadual de Campi-nas (Unicamp), em dezembro de 2011. O texto consiste em uma etnografi a da experiência social de Gilberto Mendes — um dos mais destacados compositores brasileiros de música erudita con-temporânea. Nele, a autora procura compreender como esse compositor enfrentou alguns dilemas estéticos e relacionou-se com instâncias políticas e de poder dentro do campo musical, desde os anos 1940, quando decidiu tornar-se músico, até o mo-mento de sua consagração no Brasil e no exterior. Fruto de uma pesquisa minuciosa, o livro mapeia uma série de relações existentes entre arte e so-ciedade que foram determinantes não apenas para os autores que vivenciaram o campo da música erudita brasileira na segunda metade do século XX.

Academia Brasileira de Ciências (ABC) deu posse a 37 membros titulares e correspondentes (que

atuam no exterior) em reunião magna no último

“Associação entre risco familiar, saúde bucal, qualidade de vida e variáveis socioeconômicas” (mestrado profi ssional). Candidato: Fábio Antonio Villa Nova. Orientadora: professora Glaucia Maria Bovi Ambro-sano. Dia 27 de maio, às 9 horas, na sala de seminários do Departa-mento de Odontologia Social da FOP.“Impacto dos centros de especialidades odontológicas no acesso aos serviços secundários de saúde no estado de São Paulo” (mestrado profi ssional). Candidata: Laura de Freitas Menezes. Orientadora: pro-fessora Stela Márcia Pereira. Dia 27 de maio, às 13h30, na sala semi-nários do Departamento de Odontologia Social da FOP. Linguagem - “Projeto gráfi co-editorial de livros didáticos de lín-gua portuguesa: para além da letra” (mestrado). Candidata: Fabiana Panhosi Marsaro. Orientadora: professora Roxane Helena Rodrigues Rojo. Dia 23 de maio, às 10 horas, na sala de defesa de teses do IEL.“Dos intentos de escrita à escrita convencional” (doutorado). Candi-data: Maria José Landivar de Figueiredo Barbosa. Orientadora: pro-fessora Rosa Attié Figueira. Dia 27 de maio, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. Química - “Imobilização de enzimas lacases e de microrganismos em biocatálise” (doutorado). Candidato: Luiz Arthur Zampieri. Orienta-dor: professor José Augusto Rosário Rodrigues. Dia 20 de maio, às 9 horas, no miniauditório do IQ.“Preparação de nanopartículas lipídicas sólidas NPLS e carregadores lipídicos nanoestruturados CLN para liberação modifi cada/prolongada de fármacos antiretrovirais (Nevirapina, Saquinavir e Efavirenz)” (dou-torado). Candidato: Marcelo de Sousa. Orientador: professor Francisco Benedito Teixeira Pessine. Dia 22 de maio, às 14 horas, no miniau-ditório do IQ.

já coordenou o projeto “Analytical transmission electron mi-croscope for spectroscopic nanocharacterization of materials” e o Centro de Microscopia Eletrônica de Alta Resolução, no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS).

Paulo Mazzafera, do IB, coordena o projeto temático “Control of lignin biosynteshis in sugar cane: many gaps still to be filled”, além dos projetos “Avaliação de árvores nativas e não nativas da Mata Atlântica com a finalidade

de restauração e exploração econômica de madeira em áre-as impactadas com chumbo” e “Physiological responses of Eucalyptus globulus and E. grandis to high concentration of CO2 and temperature variations, identified by metabo-lomics and transcriptomics analyses”. E Vitor Baranauskas, da FEEC, coordenou o projeto temático “Desenvolvimen-to de próteses de diamante e de materiais diamantíferos nano-estruturados”.

Computação - “Método ágil aplicado ao desenvolvimento de software confi ável baseado em componentes” (mestrado). Candidato: Alan Braz. Orientadora: professora Cecília Mary Fischer Rubira. Dia 23 de maio, às 10 horas, no auditório do IC 2, sala 85. Engenharia Elétrica e de Computação - “Relaxação via barreira logarítmica modifi cada aplicada ao problema de fl uxo de potência ótimo CC com sobrecargas” (doutorado). Candidato: Mayk Vieira Coelho. Orientador: professor Anésio dos Santos Júnior. Dia 24 de maio, às 14 horas, na sala PE 11 do prédio da CPG/FEEC.“Rastreamento de pessoas em vídeo” (mestrado). Candidato: Wagner Machado do Amaral. Orientador: professor Clésio Luis Tozzi. Dia 24 de maio, às 14 horas, na sala PE-12 do prédio da CPG/FEEC.“Projeto e análise de desempenho de simuladores para canais de des-vanecimento alpha-mu” (mestrado). Candidato: Adailton Antônio Galiza Munes. Orientador: professor José Cândido Silveira Santos Filho. Dia 27 de maio, às 10 horas, na FEEC.“Estratégias de controle direto de torque para motores de indução trifásicos usando controladores fuzzy tipo takagi-sugeno e controla-dores por modos deslizantes” (doutorado). Candidato: José Luis Azcue Puma. Orientador: professor Ernesto Ruppert Filho. Dia 28 de maio, às 9 horas, na sala de defesa de teses da CPG/FEEC.“Radar meteorológico com antenas fi xas: proposta, modelagem e análise de desempenho” (mestrado). Candidato: Marco Antonio Miguel Miranda. Orientador: professor José Cândido Silveira Santos Filho. Dia 29 de maio, às 10 horas, na sala PE12 do prédio da CPG/FEEC. Engenharia Mecânica - “Mistura Diesel, Biodiesel e Etanol anidro - uma possibilidade para reduzir o custo da cadeia de produção da cana-de-açúcar” (mestrado). Candidato: Ricardo Roquetto Moretti. Orientador: professor Waldir Antonio Bizzo. Dia 23 de maio, às 14 horas, no auditório KD da FEM.“Modelagem e controle de trajetória de um veículo robótico terrestre de exterior” (mestrado). Candidato: Rafael de Angelis Cordeiro. Orienta-dor: professor Ely Carneiro de Paiva. Dia 24 de maio, às 14 horas, no auditório DPM da FEM.“Avaliação termoeconômica da cogeração no setor sucroenergético com o emprego de bagaço, palha, biogás de vinhaça concentrada e geração na entressafra” (doutorado). Candidato: Aristides Bobroff Maluf. Orientador: professor Caio Glauco Sánchez. Dia 28 de maio, às 14 horas, no auditório KD da FEM. Engenharia Química - “Avaliação da lama vermelha na re-moção de derivados de petróleo – benzeno, tolueno e xileno (BTX)” (doutorado). Candidata: Renata dos Santos Souza. Orientadora: pro-fessora Meuris Gurgel Carlos da Silva. Dia 20 de maio, às 14 horas, na FEQ.“Determinação experimental do consumo de potência para impelidores âncora e helicoidal e fl uidos pseudoplásticos de alta viscosidade” (dou-torado). Candidata: Ana Milena Torres Garavito. Orientador: professor José Roberto Nunhez. Dia 21 de maio, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ.“Secagem de cenoura (Daucus Carota L.) assistida por micro-ondas” (mestrado). Candidata: Kaciane Andreola. Orientador: professor Osval-dir Pereira Tranto. Dia 23 de maio, às 9 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ.“Aplicação da fração estearina como modulador de cristalização no fracionamento térmico de gordura de leite anidra e na fabricação de chocolate” (doutorado). Candidata: Elida Castilho Bonomi. Orientador: professor Theo Guenter Kieckbusch. Dia 27 de maio, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ.“Atuação da quitosana como adsorvente de íons cobre em presença da proteína β-amilóide ou equivalente” (mestrado). Candidata: Cynthia Re-gina Albrecht Mahl. Orientadora: professora Marisa Masumi Beppu. Dia 29 de maio, às 9 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. Geociências - “Análise da variabilidade da precipitação pluvial da região sudeste do Brasil e desastres naturais” (mestrado). Candida-to: Leônidas Mantovani Malvestio. Orientador: professor Jonas Teixeira Nery. Dia 24 de maio, às 11 horas, no auditório do IG. Humanas - “Os vigilantes da ordem: a cooperação DEOPS/SP e SNI e a suspeição aos movimentos pela anistia (1975-1983)” (mes-trado). Candidata: Pâmela de Almeida Resende. Orientador: professor Fernando Teixeira da Silva. Dia 22 de maio, às 14 horas, no IFCH. Odontologia - “Desenvolvimento de indicadores para avaliação da qualidade dos serviços odontológicos” (doutorado). Candidata: Ju-liana Rocha Gonçalves. Orientadora: professora Glaucia Maria Bovi Ambrosano. Dia 23 de maio, às 8h30, no anfi teatro 1 da FOP.“Ativina a regula eventos importantes para a tumorigênese oral e é um fator prognóstico de sobrevida livre de doença para pacientes com car-cinoma espinocelular oral” (doutorado). Candidata: Andreia Bufalino. Orientador: professor Ricardo Della Coletta. Dia 23 de maio, às 9 horas, na sala da Congregação da FOP.“Motivos de faltas às consultas odontológicas nas unidades de saúde da família de Piracicaba/SP e implementação de estratégias para sua resolutividade por meio de uma pesquisa-ação” (mestrado profi s-sional). Candidata: Cláudia Angela Gonçalves. Orientadora: professora Karine Laura Cortellazzi. Dia 24 de maio, às 8h30, na sala da Con-gregação da FOP.“Avaliação in vitro da laserterapia de baixa intensidade sobre cultura de osteoblastos, fi broblastos e queratinócitos submetidos à terapia com ácido zoledrônico” (doutorado). Candidata: Fernanda Gonçalves Basso. Orientador: professor Carlos Alberto De Souza Costa. Dia 27 de maio, às 8h30, na sala da Congregação da FOP.

Autora: Carla Delgado de SouzaFicha técnica: 1a edição, 2013; 264 páginas; formato: 16 x 23 cmISBN: 978-85-268-1013-6Área de interesse: Antropologia e MúsicaPreço: R$ 40,00

10 Campinas, 20 de maio a 2 de junho de 2013

Page 11: JU562

ISABEL [email protected]

Foto: Antoninho Perri

Tese mostra que pessoa comdeficiência pode fazer kung fu

Cadeirante que pratica atividade física na China: estudos que vinculam arte marcial e defi ciência são raros no mundo

José Júlio Gavião de Almeida (à esq.), orientador, e Marcelo Moreira Antunes, autor da tese: professores devem ter formação adequada

Estudo de professorde wushu prega adaptação das

atividades e métodos de ensino

lém de atleta, professor de wushu, supervisor técnico e ex-diretor

da Confederação Brasileira da modalidade, o profissional de educação física Marcelo Mo-

reira Antunes é um dedicado estudioso das artes marciais. Lê tudo o que encontra a res-peito. Em sua tese de doutorado, defendida na Faculdade de Educação Física (FEF), não foi diferente. Após fazer uma imersão no tema, conseguiu comprovar concretamente que a pessoa com deficiência pode e deve praticar a arte marcial. Mas essa prática es-taria condicionada a aspectos como a adap-tação das atividades e métodos de ensino, a adequada formação de professores para esse fim e a superação do handicap, ou seja, dos impedimentos sociais.

Marcelo decidiu elaborar uma propos-ta inédita – “Artes marciais chinesas para pessoas com deficiência: dilemas, contex-tos e possibilidades” –, que exibe alterna-tivas à prática desse esporte por pessoas com deficiência, documento que deve ser publicado como livro, dirigido aos aman-tes do wushu – a arte marcial chinesa que no Brasil é conhecida popularmente como kung fu. Na China, onde o esporte nasceu, esse designativo significa qualquer tarefa desempenhada com perfeição, não só a modalidade esportiva.

A sua expectativa é de que os profes-sores de artes marciais chinesas usem a proposta como ferramenta para direcionar o treinamento e a prática por pessoas com deficiência, e que igualmente sirva de re-ferência a novos estudos em artes marciais como o karatê, o taekwondo e o judô, etc., que ainda não possuem trabalhos acadê-micos nessa área.

A proposta de Marcelo abrange a ativi-dade motora adaptada, o esporte adaptado, as diferentes deficiências do ponto de vista teórico e suas características, e os funda-mentos histórico-culturais das artes mar-ciais chinesas. E mostra a relação de dife-rentes conhecimentos para preparar um profissional para trabalhar com pessoas com deficiência. Lamentavelmente os estu-dos que vinculam arte marcial e deficiência são raros no mundo. “Por isso esse cam-po fértil me seduziu para um investimento acadêmico nessa direção”, constata.

Segundo ele, o que se nota hoje na mí-dia é uma divulgação majoritária do MMA (Artes Marciais Mistas) e, a despeito de o kung fu não figurar muito nos noticiários, é uma das modalidades esportivas que está pleiteando uma vaga nas Olimpíadas de 2020, que será decidida este ano em Buenos Aires, Argentina.

ATUAÇÃOA intenção no estudo foi fornecer sub-

sídios aos professores que trabalham nes-sa modalidade para receberem mais inte-ressados em suas academias e aumentar a visibilidade do esporte.

Ao criar uma ferramenta para esse pro-pósito, Marcelo percebeu que um manual poderia restringir essa abordagem. Por isso sugeriu propostas para possíveis práticas, pelo fato dos contextos e das deficiências serem muito diferentes. Estabeleceu um modelo de primeira reflexão, por entender que é real a prática das artes marciais por diversas pessoas com deficiências.

As modalidades mais indicadas para os deficientes visuais dentro do wushu, por exemplo, se estendem também a pessoas

com deficiência motora e intelectual. “Fa-zemos uma classificação cruzando o nível de deficiência com certa modalidade do wushu”, relata o doutorando. Foi feito um levantamento do que havia no mercado, cruzando essas informações com a litera-tura do esporte adaptado, concebido para ser adotado por pessoas com deficiência.

O direito a esse acesso está garantido por lei, embora cada modalidade tenha suas re-gras, que operam junto a grupos de pessoas com deficiência, federações e confederações.

As categorias de deficiência contem-pladas pela pesquisa foram visual, audi-tiva, intelectual e físico-motora. No caso do deficiente visual, as modalidades mais recomendadas incluiriam as práticas de rotina ou coreografias de ataque-defesa (taolu) e o shuaijiao (uma luta que se dá com seus componentes agarrados), mais as práticas respiratórias.

Atualmente, já não é mais mito a pes-soa com deficiência competir. O wushu, a partir do estudo, mostrou-se viável, ainda que limitado em função do conhecimen-to que os profissionais têm do mercado. Como se trata de um estudo pioneiro, à medida que for difundido, mais pessoas se apropriarão dele.

O pesquisador fez um inquérito do wushu no Brasil, dos atletas ligados a competições, para descobrir os locais em que é praticado e a quantidade de partici-pantes. A estimativa permitiu chegar a 21 mil federados (atletas de alto rendimen-to, professores e instrutores das modali-dades). “Mas as federações não têm um controle preciso dos praticantes esporá-dicos ou que só usam a modalidade por lazer”, ressalva.

Marcelo também buscou identificar praticantes com deficiências no Brasil. Eram 49, de acordo com as federações. “A partir daí planejamos entrevistas com professores de wushu e fomos ver como eles entendiam essa prática, como visua-lizavam essa possibilidade e como deveria ser conduzida.”

Mediante inferências sobre a prática do wushu por pessoas com deficiência, começou a ser desenhado um modelo de possibilidade, cruzando com a literatu-ra e fazendo uma análise crítica sobre o que foi informado na entrevista e o que aparecia na literatura. Com isso, foram propostas classificações das práticas. A primeira etapa do estudo foi exploratória e a segunda propositiva.

Marcelo também esteve na China, ber-ço do wushu. Teve o prazer de se encontrar com professores decanos da Universidade de Esporte de Beijing. Lá foram entrevista-dos um profissional de Educação Física da Universidade de Wuhan, dois mestres tra-dicionais respeitados na comunidade de Pequim e um chinês praticante de wushu que viveu no Brasil e mora na China há 15 anos.

Essas pessoas foram escolhidas para fornecer informações sobre a arte antiga do wushu. Os objetivos nos séculos 18 e 19 eram completamente distintos do que se vê hoje. O treino era uma visão mili-tar. “Agora treinamos para saúde, entrete-nimento, competição e esporte”, relata o autor da tese.

Segundo o professor José Júlio Gavião de Almeida, orientador do estudo, hoje são várias as possibilidades do wushu, que vão do entretenimento à pedagogia. O

esporte tem muitas condições favoráveis, contrariamente ao que se via no passado, quando era muito tecnicista – o “movi-mento do homem”. Hoje, se pensa “no homem em movimento”, algo maior.

“Marcelo conseguiu unir alguns ele-mentos que, para a sociedade, eram tabus, que é o envolvimento da pessoa com defi-ciência em várias condições, uma relação com a sociedade mais potencializada e o pensamento da luta como instrumento so-cial”, pondera Gavião.

As lutas, no momento, podem ser con-sideradas instrumentos pedagógicos, tais como outros esportes já muito bem-co-nhecidos no Brasil, como o futebol, e não só nas modalidades esportivas. Também no caso da dança e ginástica. Há espaço para manifestação do esporte por crianças, idosos, baixinhos, gordinhos, atletas com deficiência e de alto rendimento. O inte-resse de Marcelo pelo assunto resultou de sua atuação como professor de um aluno que tem síndrome de Down e do trabalho que fez com a Apae do Rio de Janeiro.

O trabalho, aborda o docente, é para a sociedade como um todo; é também para o fomento acadêmico, já que poucos es-tudos fazem essa discussão; e representa um grande avanço para que o wushu en-tre nessa perspectiva de avanço científico e acadêmico.

Gavião é responsável pela linha de pesquisa “O esporte e a educação física adaptada”, criada há mais de duas déca-das na FEF. A Unicamp tem o único de-partamento com essa linha no âmbito da América Latina.

MODELOPara o pesquisador, foi extremamente

válido ter feito a trajetória que fez, po-rém, a julgar pelo começo, com 18 anos, não teria seguido esse caminho. A mãe era contra sua opção pela educação física. Desejava que o filho fosse médico e atle-ta de natação. “Quando escolhi o esporte, fui atrás de uma academia de kung fu. Foi uma decisão minha. E o que de melhor aprendi foi disciplina, perseverança e concentração.”

Embora “apaixonado” pelo wushu, Marcelo reconhece que falta continuidade e intensificação para a mudança de para-digma (eliminar o preconceito). Isso en-volve compreender as artes marciais como uma possibilidade de prática dissociada daquela concepção militar.

Para formar um atleta hoje, dependen-do do nível, internacional por exemplo, ele tem que ter de seis a oito anos de trei-namento e estar dentro de modelos de es-porte de alto rendimento, como em qual-quer outro esporte.

Outra questão, opina ele, é que falta aos professores de artes marciais uma busca por esse conhecimento mais acadêmico e reflexivo. Nos dias atuais, os praticantes de artes marciais recebem conhecimento dentro de suas academias. E esse conheci-mento é reproduzido há anos e assumido como verdade. O conhecimento das artes marciais ainda parte do senso comum, construído por culturas diferentes.

Então avançar em compreensão de que essa cultura se modifica e se apropria de outros elementos com os quais entra em contato é também uma necessidade. É preciso abandonar as artes marciais como instrumento de guerra e percebê-las como um instrumento de ensino, pedagógico e de equilíbrio social.

Foto: Divulgação

lém de atleta, professor de wushu, supervisor técnico e ex-diretor

da Confederação Brasileira da

PublicaçãoTese: “As artes marciais chinesas para pessoas com deficiência: con-textos, dilemas e possibilidades” Autor: Marcelo Moreira AntunesOrientador: José Júlio Gavião de AlmeidaUnidade: Faculdade de Educação Física (FEF)

11Campinas, 20 de maio a 2 de junho de 2013

Page 12: JU562

12Campinas, 20 de maio a 2 de junho de 2013

MARIA ALICE DA [email protected]

Foto: Reprodução

Foto: Divulgação

PublicaçãoTeses: “Machado de Assis na Rússia: estudos de recep-ção literária”Autoria: Andrea de BarrosOrientação: Francisco Foot HardmanUnidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)

A pesquisadora Andrea de Barros, autora da tese: escritores regionalistas faziam mais sucesso

Machado de Assis: imagem de “Brasil exótico”, segundo a pesquisadora, contribui para que escritor brasileiro seja pouco conhecido na Rússia

uando iniciou as investigações para o doutorado, a pesquisadora Andrea de Barros já previa que a recepção à obra de Machado de Assis na Rússia contemporânea fosse bastante restrita.

Sua antevisão se confirmou com os resultados da pesquisa. As razões do quadro encontrado,

segundo Andrea, incluem desde a imagem exótica do Brasil no imaginário do leitor/crítico russo – que não corresponde ao Brasil retratado por Machado de Assis – até a sofisticação característica da crítica social machadiana, que não facilita o acesso do leitor estrangeiro, pouco familiarizado com as peculiaridades da sociedade brasileira de meados do século 19, às camadas de significação e entendimento mais profundas do texto.

De acordo com Andrea, além dos aspectos textuais, a configuração política também exerceu um papel decisivo na recepção da obra machadiana. Ela acrescenta que, em diferentes etapas da história russa, ideais de liberdade marcaram o interesse dos intelectuais, escritores e estudiosos pela literatura dos países da América Latina. Por não descrever de forma explícita a condição dos escravos no Brasil, a literatura de Machado não apetecia os leitores russos, mais interessados em narrativas latino-americanas que servissem de espelho para a condição dos servos em seu próprio país. “Sendo assim, condenar a escravidão no Brasil era uma forma indireta de criticar o regime servil que ainda sustentava a sociedade russa.”

Sempre atenta à conjuntura mundial, a intelectualidade russa, a partir de 1917, com a revolução em seu país, e até 1964, com o golpe militar, ainda procurava conteúdos relacionados aos ideais de liberdade, mas Machado, mais uma vez, não se adequa ao horizonte de expectativa daqueles leitores, segundo Andrea. “A atenção recai sobre os escritores regionalistas e modernistas, principalmente aos filiados ao Partido Comunista, como Jorge Amado e Graciliano Ramos, e outros”, acrescenta Andrea. Apesar do considerável aumento no número de escritores brasileiros publicados na União Soviética, eles buscavam na literatura da América do Sul autores que abordassem a questão da liberdade.

A reserva à obra de Machado já havia sido observada por Andrea em 2003, enquanto relia Dom Casmurro (1899) para um curso de leitura e produção de textos. Na mesma época, começou a ler Dostoiévski, simultânea e coincidentemente. Passou, naquele momento a fazer, de forma espontânea e depois sistemática, algumas relações entre os dois autores, não só no âmbito do texto, mas também da história da recepção crítica dos dois escritores dentro e fora de seus países de origem. A investigação deu origem a sua dissertação de mestrado, “A dúvida em discursividade: Machado de Assis e Dostoiévski,” defendida na PUC-SP, em 2007, na qual traçou um diálogo entre Dom Casmurro (1899) e O eterno marido. Ao constatar a

disparidade entre o estado da recepção internacional das obras dos dois autores, decidiu então mergulhar entre documentos e evidências que explicassem a ausência de Machado na crítica internacional. “Machado de Assis continuava obscuro diante da crítica internacional, enquanto Dostoiévski mantinha-se, indiscutivelmente, um clássico mundial”, pontua.

Também no campo da pesquisa, apesar de ter sido traduzido e publicado na Rússia, Machado de Assis manteve-se restrito à leitura de poucos pesquisadores, entre os quais se destaca Inna Terterian (1933-1986), do Instituto de Literatura Mundial “Górki” (IMLI) e da Academia de Ciências da Rússia, crítica soviética que mais se dedicou à obra machadiana, segundo Andrea. Dom Casmurro, primeiro romance de Machado publicado na Rússia, inclui uma introdução assinada por Terterian, que também é responsável por verbetes sobre o escritor nas enciclopédias literárias soviéticas e outros textos em coletâneas de literatura brasileira.

Além de Inna, Machado foi estudado também por Maria Nadiarnykh, pesquisadora-sênior do Instituto de Literatura Mundial “Górki”, da Academia Russa de Ciências e principal representante da atual crítica russa a Machado de Assis e à literatura brasileira, de forma geral.

De acordo com Andrea, críticos como Roberto Schwarz já apontavam a receptividade internacional do repertório machadiano, impulsionada pelo aumento do interesse da crítica norte-americana pela literatura brasileira. As análises do incremento quantitativo e qualitativo de estudos internacionais sobre a literatura brasileira, a partir da revolução cubana, em 1959, sustentam tal afirmação. Ela acrescenta que, como acontece com todas as expressões culturais, a literatura é uma forma de conhecer as ideias, a estruturação das relações sociais, o pensamento político de um país.

Segundo a pesquisadora, o Brasil, no cenário político mundial do final dos anos 1950, passa a ocupar uma posição estratégica na disputa de poder entre as maiores potências econômicas do período – Estados Unidos e União Soviética. A área de estudos latino-americanistas, nos Estados Unidos, foi beneficiada por investimentos e incentivos que, consequentemente, se refletiram na produção da crítica literária americana. No caso específico de Machado de Assis, conforme Andrea, o livro da crítica americana Helen Caldwell, O Otelo brasileiro de Machado de Assis (1961), é um exemplo paradigmático do quanto os estudos americanos tiveram um papel

uando iniciou as investigações para o doutorado,

decisivo na recepção internacional da obra de Machado. A obra contém o primeiro estudo que questionou o adultério de Capitu – o que viria a revolucionar a leitura da narrativa machadiana pela crítica mundial.

Andrea lembra que na maior parte do período abarcado pela pesquisa (1960 a 2010), o regime soviético estava em vigor, o que justifica o fato de a crítica da época ser bastante cerceada pelas diretrizes do realismo socialista e pela força explícita e indiscutível da censura. “Nesse contexto ideológico, a leitura da crítica privilegia os aspectos psicológicos da escrita de Machado, visto como o grande mestre do realismo psicológico no Brasil, em detrimento de sua ironia crítica, que parece ter passado despercebida pelos russos.” Nada muito diferente dos críticos brasileiros do mesmo período que, apesar de conhecer de perto e vivenciar as intrincadas relações sociais do Brasil do século 19, não compreendiam as sutilezas do escárnio com que o escritor retratava a sociedade patriarcal latifundiária brasileira, comenta Andrea.

Andrea esclarece que o projeto inicial da tese incluía uma comparação entre a recepção crítica de Machado de Assis, na Rússia, com a de Dostoiévski, no Brasil, mas a ausência no Brasil de estudos aprofundados sobre a recepção machadiana na Rússia a estimulou a enriquecer o grande conjunto de estudos machadianos com um tema que fosse mais proveitoso. Mas, mesmo satisfeita com a contribuição dos resultados da tese, se confessa instigada a explorar ainda mais o duo Machado e Dostoiévski. “Ainda pretendo dar prosseguimento aos diálogos entre os dois escritores, desta vez dentro do campo maior das relações culturais entre Brasil e Rússia”, confessa

Machado, um intruso na Rússia