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www.unicamp.br/ju ornal U ni camp da Campinas, 6 a 12 de maio de 2013 - ANO XXVII - Nº 560 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA J IMPRESSO ESPECIAL 9.91.22.9744-6-DR/SPI Unicamp/DGA CORREIOS FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Fotos: Antoninho Perri Tadeu durante o discurso de posse como novo reitor: em defesa do diálogo 6 e 7 Diálogo, democracia e pluralidade Diálogo, democracia e pluralidade 2 3 4 5 9 Um radar dotado de sistema inteligente Os barões da indústria e a educação profissional Monitoramento prevê atividades vulcânicas FEA desenvolve pão branco rico em fibras Em solenidade de posse ocorrida no último dia 30, o reitor José Tadeu Jorge pregou o diálogo, a pluralidade, a democracia e o respeito ao contraditório. Tadeu reafirmou também os compromissos assumidos em seu programa de gestão. O Consu homologou, dia 30, os nomes do coordenador-geral da Universidade, Alvaro Crósta, e da equipe de pró-reitores. Perigo em batons e esmaltes O farmacêutico Diogo Noin de Oliveira em laboratório da FCM: pesquisas apontam riscos à saúde em cosméticos

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Jornal da Unicamp, edição 560

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www.unicamp.br/juornal Unicampda

Campinas, 6 a 12 de maio de 2013 - ANO XXVII - Nº 560 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA J IMPRESSO ESPECIAL

9.91.22.9744-6-DR/SPIUnicamp/DGACORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADOPODE SER ABERTO PELA ECT

Fotos: Antoninho Perri

Tadeu durante o discurso de posse como novo

reitor: em defesa do diálogo

6e 7

Diálogo, democracia

e pluralidade

Diálogo, democracia

e pluralidade

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459

Um radar dotado desistema inteligente

Os barões da indústria e a educação profissional

Monitoramento prevêatividades vulcânicas

FEA desenvolve pãobranco rico em fibras

Em solenidade de posse ocorrida no último dia 30, o reitor José Tadeu Jorge pregou o diálogo, a pluralidade, a democracia e o respeito ao contraditório. Tadeu reafirmou também os compromissos assumidos em seu programa de gestão. O Consu homologou, dia 30, os nomes do coordenador-geral da Universidade, Alvaro Crósta, e da equipe de pró-reitores.

Perigo em batons e esmaltesO farmacêutico Diogo Noin de Oliveira em laboratório da FCM: pesquisas apontam riscos à saúde em cosméticos

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UNICAMP – Universidade Estadual de CampinasReitor José Tadeu JorgeCoordenador-Geral Alvaro Penteado CróstaPró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon AtvarsPró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo MeyerPró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria PastorePró-reitora de Pós-Graduação Ítala Maria Loffredo D’OttavianoPró-reitor de Graduação Luís Alberto MagnaChefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail [email protected]. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefi a de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Maria Alice da Cruz, Manuel Alves Filho, Patricia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti, Gabriela Villen e Valerio Freire Paiva Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfica e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju

Campinas, 6 a 12 de maio de 20132

MANUEL ALVES [email protected]

Foto: Antoninho Perri

Vigilância inteligente

Segundo Bruno Suarez Pompeo, autor da dissertação, tecnologia

pode ter aplicações civis emilitares, como no campo

meteorológico ou no da proteção do espaço aéreo

Estudo desenvolvido na FEEC dá primeiro passo para odesenvolvimento, no país, de radar do tipo cognitivo multifuncional

Foto: Divulgação

esquisa realizada na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Compu-tação (FEEC) da Unicamp deu o

primeiro passo para o desenvolvi-mento, pelo Brasil, de um radar do tipo cognitivo multifuncional. A tec-

nologia, que pode ter aplicações civis e mili-tares, como no campo meteorológico ou no da proteção do espaço aéreo, é dotada de um sistema inteligente capaz tanto de priorizar o alvo de interesse quanto de determinar o uso dos recursos disponíveis para o seu monito-ramento. O autor do estudo foi o engenheiro eletrônico Bruno Suarez Pompeo, primeiro-tenente do Exército. O trabalho, em nível de mestrado, foi orientado pelo professor Rafael Santos Mendes.

De acordo com Pompeo, as pesquisas em torno dos radares cognitivos multifuncionais ainda estão em fase inicial no mundo todo. Exatamente por isso, pondera, é que o Brasil precisa investir nesse tipo de estudo, para não correr o risco de se tornar tecnologicamente dependente. “Eu participei de alguns eventos científicos internacionais e pude constatar que o tema tem despertado o interesse de diversas nações. As informações disponíveis dão conta de que nenhuma delas chegou a desenvolver sequer um protótipo desse equi-pamento. Assim como nós, os pesquisadores estrangeiros também estão na fase das simu-lações”, informa.

O radar cognitivo multifuncional, como o nome indica, é um equipamento dotado de um sistema inteligente. Ele tem a capacidade para realizar diversas tarefas, seja de forma separada, seja de maneira combinada. Dito de modo simplificado, a tecnologia pode ser usada para controlar o tráfego aéreo, fazer a defesa antiaérea ou monitorar as condições meteorológicas. “O radar pode atuar isola-damente em cada uma dessas frentes ou em

PublicaçãoDissertação: “Priorização de ta-refas e otimização do diagrama de arranjo de antenas em radares cog-nitivos multifuncionais”Autor: Bruno Suarez PompeoOrientador: Rafael Santos MendesUnidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC)

todas elas simultaneamente. Essa atuação é feita de forma cognitiva. Ou seja, primeiro ele realiza uma varredura para fazer o reco-nhecimento do cenário. Em seguida, de ma-neira automática, ele orienta a sua antena eletronicamente e usa de forma otimizada os recursos disponíveis. Tudo isso, claro, pode ser alterado pelo operador, que tem autonomia para interferir nas decisões”, de-talha Pompeo.

Para tornar a explicação mais clara ainda, o autor da dissertação faz uso de uma analo-gia com os semáforos que controlam o tráfe-go de veículos nas vias urbanas. Os aparelhos são programados para promover a mudança de fase (cores verde, amarelo e vermelho)

de acordo com o tempo ou o fluxo de auto-móveis. “Entretanto, se houver um acidente e um guarda de trânsito estiver no local, ele poderá intervir e orientar os motoristas da maneira como achar mais conveniente. No caso do radar cognitivo, ele constitui uma ferramenta importante para ajudar o opera-dor na tomada de decisão”, esclarece.

Valendo-se de um cenário hipotético, o pesquisador aponta uma possível situação na qual o radar cognitivo poderia atuar. “Vamos imaginar que temos diversas aeronaves em voo. Ao mesmo tempo em que quero con-trolar um avião amigo e manter contato com ele, quero também monitorar outro, suposta-mente mal intencionado. Nesse caso, o radar

primeiramente realiza a vigilância e faz o re-conhecimento prévio do cenário. Na sequên-cia, ele decide, de forma automática, quais são os alvos prioritários. A partir daí, ele des-tina mais energia para o acompanhamento da aeronave que oferece perigo, e menos para a aeronave amiga”, pormenoriza.

TRÊS FRENTESPompeo conta que o seu estudo teve que

cumprir três frentes. A primeira foi baseada em uma tecnologia denominada “arranjo de antenas”, que data da década de 1960 e que vem sendo bastante utilizada ultimamente em pesquisas envolvendo radares. O desafio cumprido pelo autor da dissertação foi esta-belecer um diagrama de radiação, que vem a ser a quantidade de energia que deve ser direcionada para cada ponto do espaço, co-erente a cada operação. Para isso, é preciso levar em consideração dois parâmetros: am-plitude e fase. “Para tornar o entendimento mais claro, vamos imaginar o radar instala-do na torre de um aeroporto. O equipamen-to, que é imenso, fica girando para vigiar o espaço aéreo. No caso do arranjo de ante-nas, não há um motor que as faça girar. A mudança de energia de um ponto para o ou-tro é feita de forma eletrônica. Os feixes de energia são direcionados automaticamente para os pontos desejados”.

A segunda frente superada por Pompeo foi o desenvolvimento de métodos para fazer com que a tecnologia fosse capaz de tomar decisões. “Nós criamos um sistema de inte-ligência, de tal maneira que o radar pudesse decidir o que fazer e, posteriormente, forne-cesse às antenas a ordem para que elas confe-rissem peso (prioridade) aos vetores. Desse modo, ele é capaz de mudar eletronicamente as fases e amplitudes das antenas, o que per-mite que o feixe de energia fique concentrado num determinado vetor aéreo”, reforça.

A terceira e última fase do trabalho con-sistiu na concepção de um simulador que pu-desse juntar os dois módulos anteriores – o arranjo de antenas e o sistema inteligente. Ao rodá-lo, Pompeo finalmente validou o seu es-tudo. “O interessante desse simulador é que ele também pode ser usado pela academia, no ensino de disciplinas na área de radar, tema muito pouco explorado no Brasil. Aqui, ainda temos poucos grupos que se dedicam a esse assunto. Tanto é verdade, que encontrei muitas dificuldades para realizar meu traba-lho. Uma delas foi a inexistência de ampla literatura científica sobre radares”, relata.

Outro problema enfrentado por Pompeo foi que, a despeito de serem referências em suas áreas de pesquisa, os professores da Unicamp também não tinham grande experi-ência em estudos sobre radares. “A conclusão da minha dissertação somente foi possível por causa da conjugação de esforços, tanto do meu orientador quanto de outros docentes da FEEC. Além disso, eu também colaborei com a minha experiência, dado que pertenço ao Grupo de Radar do Centro Tecnológico do Exército [CTEx], que fica localizado no Rio de Janeiro”, pontua.

O primeiro-tenente fez questão de desta-car, ainda, que o estudo realizado por ele tam-bém foi importante para aprofundar a relação entre o Exército e o meio acadêmico. “Penso que a cooperação entre as universidades e as forças armadas é muito positiva e pode trazer inúmeros benefícios ao Brasil. No âmbito das forças armadas, as questões relacionadas ao ensino superior estão restritas ao IME [Insti-tuto Militar de Engenharia], onde me formei, e ao ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáu-tica]. Isso precisa ser expandido através de parcerias com as boas instituições, como a Unicamp. O Exército, por exemplo, tem in-centivado os seus membros a buscarem cada vez mais a qualificação profissional em suas áreas de atuação. Eu agradeço a oportunida-de que tive ao fazer, nos últimos dois anos, o mestrado na Unicamp, período em que esti-ve lotado na 11ª Brigada de Infantaria Leve de Campinas”, conclui.

Radar desenvolvido pelo Exército Brasileiro, que não usa a tecnologia estudada no trabalho:instituição tem estreitado o relacionamento com as universidades

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3Campinas, 6 a 12 de maio de 2013

EDIMILSON MONTALTIEspecial para o JU

Foto: Antoninho Perri

Metodologia detectariscos à saúde emprodutos de beleza

A pesquisadora Mônica Siqueira Ferreira, o farmacêutico Diogo Noin de Oliveira e o professor Rodrigo Ramos Catharino: imagens associadas a dados estatísticos

Nova plataforma de pesquisa da FCM constata falhas na

formulação deesmaltes, batons e

lápis de olho

esquisadores do Laboratório Inno-vare de Biomarcadores, da Facul-dade de Ciências Médicas (FCM)

da Unicamp, criaram uma nova plataforma de pesquisa que utiliza

imagens em duas e três dimensões as-sociadas a dados estatísticos que permitem identificar, em segundos, todos os compo-nentes químicos presentes ou não na for-mulação de produtos de beleza. Essa nova plataforma, denominada de Cosmetômica, oferece até 99% de acerto, o que pode garan-tir a fabricantes e consumidores a qualidade e a segurança de produtos.

Para testar o poder da aplicação da plata-forma que associa, pela primeira vez na área de cosmética, uma técnica analítica aliada ao tratamento estatístico de dados, os pesqui-sadores analisaram as principais marcas de esmaltes, batons e lápis de olho à venda em lojas e mercados brasileiros.

As marcas utilizadas pelos pesquisadores não foram reveladas. Por questões éticas, o nome fantasia de cada produto foi substituí-do por código de números e letras.

Dentre as descobertas feitas pelos pesqui-sadores, algumas constatações preocupantes: três das nove marcas de esmalte investigadas apresentaram em sua composição taxas ele-vadas de SUDAM III, uma substância con-siderada potencialmente cancerígena; cinco amostras de batom foram analisadas (duas novas, duas em uso e uma com prazo de va-lidade vencido), e um dos produtos em uso apresentou mudanças significativas em al-gumas características sensoriais, como odor rançoso, antes mesmo do vencimento do prazo de validade, enquanto outra marca não tinha um dos componentes hidratantes des-critos no rótulo.

Três amostras de lápis de olho foram ana-lisadas (um novo, um usado e outro com uso vencido). O produto vencido mostrou subs-tâncias que, além de irritações e alergias, po-dem tornar o ambiente ocular propício para proliferação de microrganismos causadores de infecções na região.

Os resultados obtidos foram publicados na edição de março da revista Materials, no artigo “Cosmetic analysis using Matrix-As-sisted Laser Desorption/Ionization Mass Spectrometry Imaging (MALDI-MSI)”. A pesquisa foi conduzida pelo farmacêutico Diogo Noin de Oliveira, aluno de pós-gra-duação do programa de ciências médicas da FCM da Unicamp. A orientação do trabalho foi de Rodrigo Ramos Catharino, professor do curso de Farmácia da Unicamp. Este é o primeiro trabalho em que foram usadas as técnicas de Ionização por Dessorção a La-ser Assistida por Matriz (da sigla em inglês MALDI) e Espectrometria de Massas por Imagem (também do inglês MSI) na área de cosmética.

“Eu peguei a técnica MALDI-MSI, utiliza-da na área médica para a visualização de teci-dos de origem animal e vegetal, e associei-a à área de processos produtivos. Defini as subs-tâncias e os biomarcadores existentes para cada produto analisado, estabeleci dados ma-temáticos utilizando softwares específicos e juntei tudo isso nessa plataforma que deno-minei de Cosmetômica – o estudo de todos os processos e subprodutos que envolvem o cosmético”, explicou Diogo, autor do termo.

De acordo com Rodrigo Ramos Cathari-no, a aplicação dessa nova plataforma permi-te acompanhar todo o processo de produção de um cosmético, desde a matéria-prima até a sua degradação ou como se diz na área quí-mica, oxidação – o número de elétrons que um átomo ou molécula perde ou ganha para adquirir estabilidade química. Isso gera um aproveitamento melhor do produto para a empresa, além de segurança, saúde e quali-dade de vida para o consumidor.

Segundo os pesquisadores, a indústria de cosméticos é um dos ramos mais promis-sores da área farmacêutica, pois mostra um potencial cada vez maior de vendas em todo o mundo. Atualmente, o Brasil é o terceiro maior mercado consumidor de cosméticos do mundo. Com uma posição tão importan-te, a qualidade e a segurança de seus produ-

tos devem ser observadas e bons protocolos de fabricação devem ser seguidos.

“Com essa nova plataforma, consegui-mos analisar o produto que está na casa do consumidor e dizer se as substâncias nele contidas fazem, realmente, aquilo que as in-dústrias prometem ou não”, disse Rodrigo Ramos Catharino.

A TÉCNICA MALDI-MSITradicionalmente, o estudo e a avaliação

de compostos químicos em cosméticos são dados pela associação entre técnicas cro-matográficas. Sabe-se que os produtos cos-méticos são misturas complexas que preci-sam de extração, derivatização e análise de suas substâncias. Algumas etapas da pre-paração da amostra podem gerar resíduos potencialmente tóxicos e tornar o processo caro e demorado.

A Ionização por Dessorção a Laser Assis-tida por Matriz (MALDI) é uma técnica na qual se utiliza um feixe de laser ultravioleta para ionizar moléculas (torná-las carregadas eletricamente). O feixe mais comum é o de nitrogênio. Nessa técnica, a amostra pode ser misturada ou coberta por uma matriz, isto é, uma molécula que possui grande propensão ou facilidade de doar ou receber íons positi-vos de hidrogênio quando energizada por um fator externo – nesse caso, o laser.

Cada disparo de laser propicia essa rápida ionização e vaporização da amostra, levando-a para o estado gasoso e enviando-a à par-te ótica do equipamento para ser analisada. Tradicionalmente, a técnica de MALDI era utilizada para ionizar moléculas de aminoá-cidos, de baixo peso molecular. Atualmente, a técnica é largamente difundida na ionização de peptídeos (moléculas formadas pela liga-ção de dois ou mais aminoácidos) e proteí-nas. De forma figurada e lúdica, é como pegar um gigante, jogá-lo no ar e, em suspensão, ver todas as partes que o constituem. Isso é o que o MALDI faz com as moléculas, sejam elas grandes ou pequenas.

A Espectrometria de Massas por Imagem (MSI) é uma técnica relativamente simples e multifuncional para identificar a distri-buição espacial (bidimensional e, por vezes, tridimensional) de compostos em qualquer amostra física. Essa técnica pode ser adap-tada a vários tipos de ionização, dentre eles

o MALDI. O princípio é muito simples: um feixe de laser é disparado em toda a extensão da amostra e produz um espectro de massas em determinado local que pode ser entendi-do como um “pixel”, que forma a imagem química final.

“O diferencial da MALDI-MSI na Cos-metômica é dado pela facilidade e rapidez proporcionadas pela técnica. Enquanto em uma análise tradicional de cosméticos se faz necessário o preparo da amostra, com fases de extração e até mesmo desenvolvimento de métodos cromatográficos, a Cosmetômica traz uma proposta inovadora de análises, na qual não há tratamento prévio de amostras – realiza-se a análise direta do produto final – com resultados de alto nível de confiabili-dade, pela combinação da experimentação e a integração estatística dos dados obtidos atra-vés de softwares especializados em análises multivariadas”, explica Diogo.

A plataforma analítica criada pelo farma-cêutico Diogo Noin permite análises desde matérias-primas até produtos acabados ou intermediários de produção para controle de qualidade e estabilidade de cosméticos. Ade-mais, o recurso de imagem permite associar um valor adimensional entre o “pixel” for-mado e a intensidade dos sinais de massas, estabelecendo-se uma relação que pode ser comparada entre as amostras.

Essa relação, por sua vez, é diretamente proporcional à quantidade do composto na amostra em questão, o que permite que seja feita uma quantificação relativa. Pode-se infe-rir o teor de um componente em uma amos-tra quando comparada a outras contendo esse mesmo componente.

OS PRODUTOSPara a produção do artigo publicado na re-

vista Materials, os pesquisadores avaliaram os componentes químicos e as matérias-primas presentes em batons e lápis de olho. Nos esmaltes, eles quantificaram os níveis do co-rante Sudam III indicado na composição do produto, conforme descrição no rótulo de cada fabricante.

Para os batons e lápis de olho usados na pesquisa, as amostras foram divididas em novos, usados e expirados. Foram compra-dos cinco amostras de batons de diferentes fabricantes e três de lápis de olho. Todas as

amostras novas de cosméticos foram com-pradas em lojas normais de mercado. As amostras em uso ou com o prazo de validade vencido foram adquiridas com a colaboração de mães, namoradas e pesquisadoras que trabalham no laboratório. Nove amostras de esmaltes de seis fabricantes diferentes foram compradas para a pesquisa.

Os batons analisados tinham em sua composição cera de carnaúba, óleo de rícino, lanolina, cera de abelha e outros compostos que conferem espessura, cremosidade e hi-dratação ao produto. Ao analisar esses pro-dutos, os pesquisadores observaram que uma marca de batom não trazia em sua com-posição alguns produtos descritos na em-balagem, como as ceramidas. No caso dos batons em uso, os componentes ficaram oxi-dados (perderam sua função) antes do prazo de validade descrito pelo fabricante.

O mesmo princípio de análise foi usado para os lápis de olho. Segundo os pesquisa-dores, todas as amostras mostram potencial para causar irritação ocular ou até mesmo criar um ambiente propício para infecção.

“Nos batons, as modificações na composi-ção química podem ocorrer devido ao contato com a saliva e outros compostos em torno da boca. No caso dos lápis de olho, constatamos que a oxidação ocorreu sozinha, mudando o pH da fórmula, o que é um risco para quem usa esse tipo de produto”, explicou Diogo.

No caso dos esmaltes, o Sudam III foi escolhido devido ao seu potencial risco can-cerígeno e por ser um corante comum para cosméticos. Os riscos para saúde estão asso-ciados à ingestão acidental do corante devido ao hábito de roer as unhas ou em atividades domésticas comuns, como cozinhar ou assar. O Sudam III está presente nos esmaltes azuis ou marrons, em sua maioria.

Ao analisar as marcas de esmaltes esco-lhidos para testar a capacidade funcional da nova plataforma, os pesquisadores encontra-ram em uma das marcas mais vendidas nas lojas de cosméticos do Brasil uma alta con-centração de Sudam III.

“A amostra que apresentou a maior con-centração relativa do Sudam III era da cor azul-claro. Sabe-se que Sudam III é um co-rante vermelho-acastanhado sob condições normais, mas, quando submetido a condi-ções ácidas, fica azul. Este corante também ajuda a dar um aspecto grosso e brilhante ao esmalte. Outras duas amostras de teor mais elevado eram da cor vermelho-marrom”, ex-plica Diogo, sem revelar as marcas usadas no teste, por razões éticas.

A aplicação da nova plataforma analítica pelas indústrias de cosmético, segundo os pesquisadores, pode trazer uma segurança a mais para o consumidor e a garantia da qua-lidade de produção. A análise da composição química de um produto deixa de ser pontual e passa a ser global. Num único comando, é possível ver o que um produto tem de bom ou de ruim em sua formulação.

Uma das implicações da nova platafor-ma é constatar, também, se o princípio ativo presente em diversas marcas de cosméticos realmente funciona e quanto tempo um pro-duto leva para perder suas funções. Na mira das novas aplicações da Cosmetômica, os protetores solares e labiais e xampus serão o próximo foco de atenção da equipe do Labo-ratório Innovare. Os perfumes também estão na linha de pesquisa. Com a nova técnica é possível constatar instantaneamente se um perfume é ou não falsificado.

Empresas cosméticas já se interessaram pela pesquisa e querem testar a plataforma em seus produtos. “Cosmético é uma coisa quase ‘sem mãe’. Essa plataforma é como um raio X dos produtos. Não dá para esconder nada. O erro é mínimo”, diz Catharino.

PublicaçãoDiogo Noin de Oliveira, Sabrina de Bona Sartor, Mônica Siqueira Ferreira and Rodrigo Ramos Catharino. Cos-metic Analysis Using Matrix-Assisted Laser Desorption/Ionization Mass Spectrometry Imaging (MALDI-MSI). Materials 2013, 6(3), 1000-1010; doi:10.3390/ma6031000

plataforma de pesquisa que utiliza imagens em duas e três dimensões as-

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4Campinas, 6 a 12 de maio de 2013

CARMO GALLO [email protected]

Foto: Antonio Scarpinetti

Tese: “Trabalho e educação profis-sional nas décadas de 1930 e 1040 no Brasil: análise do pensamento e das ações da burguesia industrial a partir do IDORT”Autor: Eraldo Leme BatistaOrientador: José Luís SanfeliceUnidade: Faculdade de Educação (FE)Financiamento: CNPq

Publicação

Tese revê papel da burguesia de SPna gênese da educação profissional

Estudo resgata conjuntura política e social da primeira metade do século 20

Eraldo Leme Batista, autor da tese: “O IDORT tinha um projeto para toda a sociedade brasileira”

resgate histórico pode con-tribuir para conhecer o pas-sado, entender o presente e delinear o futuro. É nesse contexto que se situa a tese

desenvolvida por Eraldo Leme Batista, licenciado em Ciências Sociais e História, que analisa o contexto histórico, social e político que levou à introdução da educação profissional no Brasil, revelan-do o pensamento da burguesia industrial no início do século XX. O trabalho, apre-sentado à Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, foi orientado pelo professor José Luís Sanfelice.

O interesse do autor pela educação pro-fissional decorreu do fato de tratar-se de um tema recorrente quando se discutem a formação do trabalhador, sua qualificação e o mercado de trabalho tanto nos sindi-catos, como nas empresas, indústrias e governos. Interessou-se em descobrir, en-tão, a origem do projeto da educação pro-fissional no Brasil, quais suas motivações iniciais, como ocorreu seu desenvolvi-mento. Foi quando se deu conta de que a grande fonte de informações primárias era a Revista IDORT – publicada pelo Institu-to de Organização Racional do Trabalho, organismo criado em 1931 pela burguesia industrial paulista interessada em formar mão de obra especializada para atender às necessidades de uma indústria ainda in-cipiente que emergia já desde o início do século. A revista, criada para divulgar as ideias e ações do Instituto, lançada em ja-neiro de 1932 em São Paulo, chegava men-salmente aos seus associados e aos direto-res de empresas vinculadas a ele.

A tese faz uma ampla contextualização das condições políticas e sociais da época, das preocupações que moviam a elite in-dustrial, das reinvindicações operárias, do papel do Partido Comunista e dos movi-mentos sociais na luta de classes, além das posições conservadoras da Igreja Católica e de movimentos de extrema direita, como o integralista, liderado por Plínio Salgado.

Com efeito, nas décadas de 20 e 30 a classe trabalhadora, influenciada pelos movimentos anarquistas, socialistas, e principalmente comunistas, alarmavam a burguesia nacional em decorrência do seu alto grau de organização, mobilização e enfrentamento. A elite industrial buscava alternativas para barrar esses movimentos valendo-se de leis de expulsão do país de

operários estrangeiros que lideravam as lutas dos trabalhadores, além de apoiar o aumento da repressão sobre os movimen-tos organizados.

Por meio da educação profissional, pre-tendiam disciplinar, doutrinar e formar trabalhadores dóceis e que não tivessem ideias “estranhas”, assim consideradas as vinculadas ao Partido Comunista ou mes-mo às organizações dos trabalhadores. A partir da educação profissional buscavam formar um operário nacional que substitu-ísse os trabalhadores politizados.

Tratava-se de um grupo industrial bem articulado e organizado e que se propunha a pensar um projeto para a sociedade bra-sileira do progresso. Para Eraldo, as ideias do nacional-desenvolvimentismo surgem nesse período. O escopo era o de como desenvolver uma sociedade capitalista de fato, que até a década de 30 tinha caracte-rísticas essencialmente agrárias.

FUNDAMENTOSAlém de servir como veículo para to-

das as ideias e ações gestadas no IDORT sobre educação profissional, a revista dava guarida a artigos publicados nos EUA e na Europa sobre o tema da racionalização do trabalho, pois esta também era uma das preocupações do Instituto, inspirado nas concepções de Taylor e no fordismo. Daí a preocupação com a padronização, efici-ência, redução do tempo de produção de mercadorias e disciplina. Uma das primei-ras preocupações evidenciadas na revista era a da formação de um trabalhador espe-cializado, em um contexto social de maio-ria de população analfabeta. Era preciso facilitar o ingresso dos jovens na educa-ção básica e profissional em um período em que se desenvolvia o parque industrial paulista. A educação pública passou então a ser defendida por intelectuais liberais.

Complementava esta preocupação a for-mação de um trabalhador nacional, desvin-culado de ideias incômodas, “esquisitas”. De fato, a maioria dos trabalhadores quali-ficados provinha de culturas europeias, de centros mais desenvolvidos e politizados e pertenciam a grupos anarquistas e comu-nistas. Eram trabalhadores que não aceita-vam a exploração que ocorria na fábrica em uma época em que ainda não havia uma re-gulamentação do trabalho – a CLT foi pro-mulgada por Vargas em 1942.

Tratava-se de um período histórico em que crianças e mulheres realizavam longas jornadas diárias no chão das fábricas. Em decorrência, multiplicavam-se manifesta-

desenvolvida por Eraldo Leme

ções e greves que paralisavam a produção, particularmente devido à capacidade de mo-bilização de lideranças oriundas da Europa. Muitas destas lideranças dos trabalhadores foram perseguidas, presas e extraditadas para seus países de origem. Havia necessi-dade, então, de substituir esse trabalhador “incômodo” por um brasileiro bem forma-do e adaptado, dócil, disciplinado.

Outra questão levantada na pesqui-sa é o da preocupação inicial do IDORT com o investimento maciço na educação e formação de trabalhadores ferroviários, o que determinou a criação da escola fer-roviária Sorocabana, além das escolas de formação de trabalhadores ferroviários em São Paulo, Jundiaí, Rio Claro, criando-se posteriormente o Centro de Formação dos Trabalhadores Ferroviários. O autor expli-ca: “Tratava-se de uma categoria grande, constituída por muitos trabalhadores es-pecializados estrangeiros, que se mobili-zava, protestava, fazia greve e que parali-sava o único meio de transporte da época: o trem”.

A paralisação da rede ferroviária com-prometia o escoamento da produção in-terna e particularmente da agrícola para o porto de Santos, além do transporte de equipamentos e maquinários. Urgia subs-tituir o grande contingente de trabalhado-res ferroviários vinculados aos movimen-tos anarquistas e comunistas.

É a partir desse processo de experiên-cias com formação dos trabalhadores, que se iniciara nos primórdios do século XX, que se estrutura uma proposta de educação profissional, que dará origem, em 1942, à fundação do Senai.

Mas mais que isso, o IDORT tinha entre seus principais objetivos pensar um projeto de sociedade, um projeto capitalista, o que o leva a se constituir na principal referên-cia da elite no período. “Constatei que o IDORT não se dedica apenas à organização racional do trabalho, mas tinha um proje-to pedagógico, de formação profissional e de organização social não só para a classe trabalhadora, mas para toda a sociedade”, esclarece o autor.

A influência do Instituto vai além da educação profissional, se estende para educação escolar regular, que se oficializa nessa época, e chega até à universitária. Na mesma época é gestada a fundação da USP, destinada a formar a intelectualidade pau-lista. Mais tarde surge a Escola de Socio-logia e Política, destinada a formar quadros gerenciais para a indústria.

CONTEXTOEra um período efervescente em que

sindicalistas anarquistas e comunistas promoviam protestos e greves na luta por melhores salários, redução da jornada de trabalho e melhores condições de traba-lho. Esse descontentamento se aprofunda em 1929 com a grande crise do capitalis-mo mundial e a quebra da Bolsa de Valores nos EUA, que afeta seriamente a econo-mia e a classe trabalhadora. Neste perío-do ocorrem importantes movimentos na sociedade brasileira, como a “Revolução” de 1930, o Movimento Constitucionalista de 1932 e o Estado Novo (1937-1945). O autor analisa as motivações e consequên-cias desses acontecimentos na sociedade brasileira da época.

De outro lado, a economia agrária ex-portadora, alicerçada principalmente na exportação de café, cria condições para o acúmulo de capital destinado ao desenvol-vimento industrial no país. Muitos fazen-deiros e produtores de café, também eram, muitas vezes, comerciantes, políticos e mantinham relações com bancos estrangei-ros. O capitalismo brasileiro desenvolve-se também atrelado ao capital internacional através de empresas estrangeiras encarre-gadas de construir, manter e explorar as várias redes ferroviárias necessárias ao es-coamento da produção. Em decorrência, as paralisações constantes das fábricas e das ferrovias não atendiam aos interesses dos produtores nacionais e nem dos investido-res estrangeiros interessados em recuperar o capital investido no país.

Conquanto o governo Vargas promo-vesse políticas em prol da industrialização, exercia paralelamente controle sobre os sindicatos, reprimia anarquistas e comu-nistas e intensificava o discurso de uma so-ciedade harmônica, sem classes, com todos do mesmo lado, sem patrões e operários, mas sim empregados e empregadores. Os sindicatos deveriam defender a conciliação de classes e zelar pela harmonia de interes-ses entre capital e trabalho.

TRAJETÓRIAFilho de agricultores no município de

Kaloré, região do Vale do Ivaí, interior do Estado do Paraná, Eraldo mudou-se do Pa-raná para Hortolândia, em São Paulo, aos 23 anos, à procura de trabalho. Trabalhou como servente de pedreiro em Hortolândia e metalúrgico em Campinas. Iniciou a alfa-betização aos dez anos e concluiu o ensino secundário na cidade de Jandaia do Sul, a 30 km da sua cidade de origem, onde pas-sou a residir com os irmãos, todos traba-lhando e estudando por incentivo dos pais, que continuavam sitiantes e os visitavam nos finais de semana.

Durante os estudos universitários man-teve-se como metalúrgico e depois como professor secundário substituto e hoje é docente em universidade da região. Na me-tade final dos cinco anos dedicados à tese contou com financiamento do CNPq, o que lhe permitiu em tempo integral compulsar publicações disponíveis nas bibliotecas e no Arquivo Edgard Leuenroth da Unicamp, arquivos do Senai e da PUC-São Paulo.

O interesse de Eraldo pelo mundo do trabalho manifestou-se já por ocasião do mestrado, também realizado na Unicamp, em que estudou as mudanças, decorrentes da terceirização, no mercado de trabalho brasileiro na década de 90.

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ma tese de doutorado envol-vendo o monitoramento de vulcões com imagens de saté-lite, defendida no Instituto de Geociências (IG), possui o ine-

ditismo de ter sido desenvolvida aqui no Brasil, quando normalmente são europeus e norte-americanos que estudam vulcões ativos na América do Sul e em ou-tras partes do mundo. O trabalho de Samuel William Murphy, orientado do professor Carlos Roberto de Souza Filho, já resultou na publicação de dois artigos nas revistas mais importantes das áreas de sensoriamen-to remoto e de vulcanologia, a Remote Sen-sing of Environment e o Journal of Volcanology and Geothermal Research.

Sam Murphy observou os vulcões Láscar (Chile), Kilauea (Havaí), Erta’Ale (Etiópia), Erebus (Antártica) e Kliuchevskoi (Rússia), indo inclusive a campo nos dois primeiros. “Os vulcões causaram um efeito profundo na formação da crosta terrestre, dos ocea-nos, da atmosfera e na evolução da vida em nosso planeta. Estão associados à formação de diversos depósitos minerais, como de dia-mante, ouro, platina, cobre, nióbio, fosfatos. Igualmente, têm sido historicamente respon-sáveis por uma série de desastres naturais, e é nessa vertente que entra a nossa pesquisa, ou seja, estudamos os vulcões visando prever e monitorar a sua atividade ao longo do tem-po. Se para países como o Brasil o monito-ramento pode evitar danos econômicos, em outros significa salvar vidas”.

O autor da tese cita como exemplo brasi-leiro a erupção do Láscar de 1993, que provo-cou a queda de cinzas vulcânicas (tefra) em Porto Alegre, apesar da distância de 1.800 km. Mais recentemente, em 2011, a erupção do Puyehue, também no Chile, formou uma nuvem de cinzas que atravessou a Argentina chegando até o oceano Atlântico. A conse-quência destas erupções é a interrupção do tráfego aéreo, impactando nos negócios e no comércio. O Eyjafjallajökull, da Islândia, paralisou o espaço aéreo europeu por vários dias em março de 2010, dando prejuízos de bilhões de dólares.

5Campinas, 6 a 12 de maio de 2013

LUIZ [email protected]

Geociências (IG), possui o ine-ditismo de ter sido desenvolvida

Fotos: Divulgação

Monitoramento identifica sinaisque precedem atividade vulcânica

Do helicóptero, Samuel William Murphy acompanhouatividades do Kilauea, no Havaí

Pesquisa na área de sensoriamento remoto rende artigos em publicações internacionais

Cientistas podem formar grupo pioneiro no paísFormado na Universidade de Bristol (Ingla-

terra), Samuel Murphy já está morando há cinco anos em Campinas e acaba de renovar seu pleito junto à Fapesp, agora para o pós-doutorado. A insistência para que permaneça no país vem do professor Carlos Roberto de Souza Filho, na crença de que seu aluno pode constituir um grupo pioneiro no estudo de vul-cões no país. “Sam tem outras oportunidades no Havaí e na Europa, mas se a bolsa for aprovada, poderá montar uma equipe própria na Unicamp, pois já existe uma demanda de alunos curiosos e interessados em atuar nessa área. A garotada, hoje em dia, se entusiasma muito com o que é ‘ativo’ e ‘ao vivo’ – infe-lizmente, não se vê mais dinossauros”, brinca.

PublicaçãoTese: “Volcano monitoring using un-frared wavelengths”Autor: Samuel William MurphyOrientador: Carlos Roberto de Sou-za FilhoUnidade: Instituto de Geociências (IG)

Segundo Murphy, ocorrem cerca de 60 erupções por ano no mundo (pelo menos 20 simultaneamente) e grande parte dos vulcões ativos não conta com um monitoramento es-pecífico. Os intervalos de tempo entre perí-odos de atividade e de quiescência vulcânica muitas vezes estão no limite ou extrapolam o tempo de vida de um ser humano. O Vesú-vio, por exemplo, não entra em erupção há cerca de 70 anos. Além disso, os vulcões es-tão em diferentes locais do planeta, em várias latitudes do Polo Sul ao Polo Norte.

“O objetivo do nosso estudo foi desenvol-ver métodos para o monitoramento de vul-cões utilizando imagens de satélite, com foco na detecção e quantificação de anomalias termais. A investigação dessas anomalias, a partir de algoritmos desenvolvidos durante a pesquisa, permite a identificação de sinais que precedem fluxos de lava em determina-dos vulcões. Portanto, são métodos que au-xiliam na previsão de atividades vulcânicas”,

Souza Filho observa que a especialidade não possui tradição no Brasil, até porque não há vulcões ativos no território – a última atividade importante no país ocorreu 80 milhões de anos atrás. “Entretanto, temos ao lado a Cordilheira dos Andes com vários vulcões ativos e ainda pouco estudados por pes-quisadores latino-americanos. Os estudiosos es-trangeiros muitas vezes carecem dos conhecimen-tos geológicos que os locais possuem. Ademais, há um desvio na divulgação dos trabalhos: nos not-iciários internacionais sobre erupções na América do Sul, é raro observar um geólogo ou instituição local servindo como fonte, os entrevistados são principal-mente especialistas americanos e europeus.”

O docente do IG pretende consolidar as colabo-rações feitas ao longo desta pesquisa de doutorado

explica o pesquisador. “Nos testes realizados sobre o Kliuchevskoi (na Rússia), por exem-plo, conseguimos mapear, com boa acurácia, a evolução das anomalias termais até o mo-mento em que houve o extravasamento de lava da cratera”.

O professor Carlos Roberto de Souza Fi-lho explica que foi feita uma série temporal de análise, detectando-se tanto o compor-tamento normal como as anomalias nos vulcões estudados. Isso exigiu a coleta de milhares de imagens em cada um deles, em resoluções variando de 15 a 90 metros para dados do sensor Aster (Advanced Space-borne Thermal Emission and Reflection Radiometer), e de 250 a 1000 metros para dados do sensor Modis (Moderate Resolu-tion Imaging Spectroradiometer). “A partir desse acervo quantificamos o tamanho e a intensidade de anomalias durante mais de uma década. Com base nesses históricos, que correspondem à realidade da evolução

térmica do edifício vulcânico, desenvolve-mos modelos de predição para analisar o que deve acontecer num vulcão cujo com-portamento não é bem conhecido.”

De acordo com o docente do IG, o sen-sor mais utilizado foi o Aster, que possibilita observar a geometria da cratera (até 15m) e anomalias térmicas (até 90m), seguido do Modis e do sensor hyperespectral Hyperion. “Os sensores estão se tornando cada vez mais completos e sofisticados. Novos senso-res têm previsão de lançamento entre 2013 e 2020, oferecendo uma cobertura espacial e espectral sem precedentes. É um campo mui-to aberto à pesquisa.”

Souza Filho afirma que o monitoramento por satélites é a forma mais segura de se estu-dar vulcões, aproveitando a oportunidade da visão sinótica, à distância, cobrindo grandes áreas. “A dificuldade de se obter informações em campo leva a grande maioria dos pesqui-sadores a optar pelo sensoriamento remoto. Não é preciso arriscar a vida, como aconteceu com Katia e Maurice Krafft, casal de france-ses que desapareceram quando assistiam a uma erupção do Uzen, no Japão. A mesma fatalidade tirou a vida de um ex-professor meu da Inglaterra, Geoff Brown, que testava um equipamento quando o Galeras, na Co-lômbia, explodiu.”

Lembrando que o sensoriamento remo-to é feito há décadas, o professor considera que o avanço efetivo da pesquisa de Samuel Murphy se deu nas metodologias. “Ninguém havia trabalhado tão detalhadamente com os dados de sensoriamento remoto para esse tipo de monitoramento e com tantas séries históricas, nem desenvolvido algoritmos para isolar a anomalia termal, eliminando os falsos positivos e o risco de ambiguidade. As metodologias é que deram impacto aos arti-gos publicados. A Remote Sensing of Envi-ronment se caracteriza pela altíssima taxa de rejeição em relação aos artigos submetidos. O trabalho de Sam, por apresentar avanços originais, passou prontamente pelo sistema editorial da revista e foi muito enaltecido pe-los revisores.”

com as universidades de Cambridge e do Havaí, e com o próprio serviço geológico norte-americano, que monitora os vulcões estudados. “Como pós-doc, Sam Murphy também poderá adquirir equipa-mentos que não possuímos e visitar essas áreas com maior constância, verificando se as imagens de satélites estão de acordo com a realidade de campo. Mais importante ainda é termos um grupo nucleado no Brasil, capaz de estreitar o relaciona-mento com outras universidades sul-americanas interessadas no estudo de vulcões ativos por técni-cas de sensoriamento remoto e afins, expandindo quantitativa e qualitativamente o potencial local de pesquisa nesse tópico.”

Para ilustrar como o assunto é pouco explorado na ciência brasileira, Souza Filho lembra a dificuldade

que foi montar a banca para a defesa de tese pelo aluno. “Quase fomos buscar especialistas no exterior. Felizmente, conseguimos trazer o doutor Alberto Setzer, do Inpe, líder na área de sensoriamento termal, que estuda anomalias termais não em vulcões, mas em queimadas; o professor Paulo Meneses, da UnB, um dos pioneiros em sensoriamento remoto geológico do país; o professor Teodoro Almeida, da USP, igualmente com vasta experiência em sensoria-mento remoto da paisagem; e o professor Emil-son Leite, da Unicamp, um geofísico convidado para avaliar a adaptabilidade de nossos modelos matemáticos. Embora não exista tal distinção no IG, a banca quis registrar em ata que a tese foi aprovada com louvor.”

O professor Carlos Roberto de Souza Filho, orientador, e Samuel William Murphy,autor da tese: detecção e quantifi cação de anomalias termais

Erupção do Puyehue (Chile) em 2011: nuvem de cinza atravessou a Argentina e chegou ao oceano Atlântico

Láscar (Chile) sofre explosão cataclísmica em 1993, provocando a queda de cinzasvulcânicas em Porto Alegre, a 1.800 km, interrompendo o tráfego aéreo

Foto: Antonio Scarpinetti

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Campinas, 6 a 12 de abril de 20136

Tadeu prega diálogo e reafirma compromisso com propostas

Reitor defende a pluralidade e o respeito ao contraditórioem solenidade de posse

MANUEL ALVES [email protected]

JOÃO FREDERICO DA COSTA AZEVEDO MEYER Extensão e Assuntos Comunitários

José Tadeu Jorge recebe a insígnia da Unicamp do secretário adjunto do Desenvolvimento, Ciência e Tecnolo-gia do Estado de São Paulo, Luiz Carlos Quadrelli, que representou o governador na solenidade de posse

reafirmação dos compromissos assumidos em seu programa de gestão e a defesa da plurali-dade, do diálogo, do respeito ao contraditório e da democracia deram o tom do discurso do reitor José Tadeu Jorge, durante a solenidade de posse realizada na noite do último dia 30

de abril, no Centro de Convenções da Unicamp. Ao falar às autoridades e ao público presente, Tadeu Jorge consi-derou que a emoção de assumir o cargo pela segunda vez é diferente da primeira, mas mais intensa. “Assim como são significativamente maiores as responsabilidades desta vez”, ponderou. O reitor esteve acompanhado pelo coorde-nador geral, Alvaro Penteado Crósta, e por quatro pró-rei-tores: Gláucia Maria Pastore (Pesquisa), Teresa Dib Zam-bon Atvars (Desenvolvimento Universitário), Luís Alberto Magna (Graduação) e Ítala Maria Loffredo D’Ottaviano (Pós-Graduação). O pró-reitor de Extensão e Assuntos Co-munitários, João Frederico da Costa Azevedo Meyer, não pôde comparecer em razão do falecimento do pai.

A assembleia universitária que deu posse a Tadeu Jorge foi presidida pelo secretário adjunto do Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, Luiz Carlos Quadrelli, que representou o governador Geraldo Alckmin. O reitor foi conduzido à mesa de autoridades pelos profes-sores Mohamed Habib e Daniel Pereira, que foram pró-rei-tores durante a sua primeira gestão. A entrada do reitor no auditório foi saudada com aplausos pelo público, constituí-do por estudantes, funcionários, professores e convidados.

Depois de empossar Tadeu Jorge e entregar-lhe a in-sígnia da Unicamp, Quadrelli destacou os diversos indi-cadores da instituição, lembrando que ela é uma das mais importantes escolas de ensino superior ibero-americanas, com destacada produção científica e tecnológica. “Temos certeza de que o novo reitor e sua equipe terão a oportu-nidade de ampliar os conhecimentos gerados na Unicamp, de modo a contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico do Estado, em sintonia com os interesses da população”, afirmou, acrescentando que Tadeu Jorge tem experiência e qualificação suficientes para conduzir com competência os destinos da instituição.

O prefeito de Campinas, Jonas Donizette, enfatizou a importância da Universidade não apenas para Campi-nas, mas para o país. “Em relação a Campinas, a Unicamp causa diversos impactos positivos. A Universidade tem contribuído, por exemplo, para atrair investimentos para a cidade, uma vez que diversas empresas, principalmente na área de tecnologia, querem se instalar num local que ofereça recursos humanos altamente qualificados”, disse. O prefeito também falou sobre a amizade que mantém com Tadeu Jorge, consolidada por ocasião da sua atuação como deputado estadual. Na época, Jonas Donizette tra-balhou para que a Unicamp conseguisse junto ao governo do Estado as verbas necessárias à implantação do novo campus de Limeira.

Por fim, o prefeito de Campinas fez menção à tradição de cooperação entre a Universidade e o município. Jonas Donizette lembrou que ele próprio buscou na Unicamp valores para compor a sua administração. Citou nominal-mente o secretário de Saúde, Cármino Antonio de Souza, que é professor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). “Espero estreitar ainda mais essa colaboração. No ano que vem, o Bosque dos Jequitibás completará 115 anos. Vamos propor uma parceria com a Unicamp para promover um le-vantamento das espécies vegetais daquela área verde. Além disso, estaremos abertos a outras ações conjuntas com a Unicamp. Campinas tem muitas coisas positivas, mas tam-bém grandes desafios a serem superados. Esperamos con-tar com o apoio da Universidade para executar políticas públicas que beneficiem a população”.

Falando em nome do ex-reitor Fernando Ferreira Cos-ta, que estava em viagem ao exterior, o ex-pró-reitor de Pós-Graduação, Euclides de Mesquita Neto, saudou o novo reitor e sua equipe e desejou felicidade à nova gestão. Mes-quita Neto leu um texto enviado por Fernando Costa, no qual o ex-reitor considerou que a Unicamp “estará em óti-mas mãos nos próximos anos”. Integrantes das entidades representativas dos estudantes de graduação e pós-gradua-

ção, professores e funcionários também tiveram oportuni-dade de falar aos presentes.

Ao reafirmar a disposição de executar os compromissos firmados no programa de gestão, Tadeu Jorge salientou que todos serão cumpridos integralmente. “Não há nenhum deles que seja inviável, nada foi colocado com intenções eleitoreiras e, tranquilizem-se, não vamos colocar a Uni-versidade em risco em momento algum”. O reitor agrade-ceu a confiança que a comunidade universitária depositou em suas propostas. “Estejam certos de que nós, eu, Alvaro e toda a equipe, nos dedicaremos intensamente para fazer com que nossa Universidade tenha todas as condições ne-cessárias de se tornar melhor a cada dia”.

O Conselho Universitário da Unicamp (Consu), órgão máximo de deliberação da Universidade, ho-mologou no último dia 30, em reunião extraordiná-ria, os nomes do coordenador-geral da Universidade, professor Alvaro Crósta, e da equipe de pró-reitores indicada pelo reitor José Tadeu Jorge. Todos foram empossados durante a sessão.

O professor João Frederico da Costa Azevedo Meyer, professor titular do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc), con-tinua na Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Co-munitários (Preac). Os outros pró-reitores são os seguintes: Graduação – Luís Alberto Magna, profes-sor titular do Departamento de Genética Médica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM); Pós-Gradu-ação – Ítala Maria Loffredo D’Ottaviano, professora titular do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e coordenadora do Centros e Núcleos Inter-disciplinares de Pesquisa (Cocen) da Unicamp na gestão anterior; Pesquisa – Gláucia Maria Pastore, professora titular da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), da qual foi diretora; e Desenvol-vimento Universitário – Teresa Dib Zambon Atvars, professora titular no Instituto de Química (IQ) e ex-pró-reitora de Pós-Graduação.

Durante a reunião, o reitor também anunciou o nome do professor Paulo Cesar Montagner para o cargo de chefe de gabinete. Montagner é ex-diretor da Faculdade de Educação Física (FEF) e vinha atu-ando como diretor da Fundação de Desenvolvimen-to da Unicamp (Funcamp). Ele assumirá o cargo no lugar do professor José Ranali, professor titular da Faculdade de Odontologia (FOP), que vinha desem-penhando a função nas duas últimas gestões.

Em seu discurso, Tadeu Jorge fez questão de se referir, ainda, ao trabalho realizado por todos os reitores da Uni-camp. Três deles, Carlos Vogt, Carlos Henrique de Brito Cruz e Hermano Tavares, compunham a mesa de autorida-des. Conforme o reitor, todos se mantiveram fiéis ao proje-to original da Universidade, idealizado pelo seu fundador, o professor Zeferino Vaz. Desde os primórdios, Zeferino se preocupou em imprimir extrema qualidade às atividades de-sempenhadas pela Unicamp, seja pela contratação dos me-lhores docentes em cada área do conhecimento, vários deles recrutados no exterior, seja por meio da associação entre ensino e pesquisa. “Graças a essa tradição é que a Unicamp se transformou no que ela é hoje, completou Tadeu Jorge”.

Primeiro escalão é homologado pelo Consu

ALVARO CRÓSTA - Coordenador-geral LUÍS ALBERTO MAGNA - Graduação

GLÁUCIA PASTORE - Pesquisa

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Campinas, 6 a 12 de abril de 2013 7

Tadeu prega diálogo e reafirma compromisso com propostas

JOÃO FREDERICO DA COSTA AZEVEDO MEYER Extensão e Assuntos Comunitários

uando, há pouco mais de quatro anos, encerramos nossa gestão e fizemos neste mesmo local os agradecimentos à comunidade da Unicamp, jamais poderíamos imaginar o momento atual. A vida nos conduz e o desenrolar dos acontecimentos nos trouxe de volta. Não com as mesmas

propostas, não para concluir o inacabado, nem mesmo para aperfeiçoar o já estabelecido. O dinamismo da nossa universidade nos coloca diante de novos e expressivos desafios. E a experiência adquirida nos permite constatar que importantes ações passaram despercebidas, algumas necessitavam de uma diferente configuração de apoio político para serem viabilizadas e outras eram ainda prematuras para serem implementadas no contexto existente.

Estamos, portanto, diante de um novo programa de gestão. Elaborado a partir da comunidade e pela comunidade. Reflete, por consequência, as necessidades e os anseios de professores, pesquisadores, funcionários e estudantes. “A Unicamp de todos os saberes” é sinônimo absoluto de pluralidade, diversidade, liberdade intelectual, respeito ao contraditório, diálogo, democracia, institucionalidade e humanismo. Refere-se aos saberes presentes no interior da universidade, em todos os seus segmentos, suas áreas, seus níveis hierárquicos e de formação. Mas, diz respeito, também, ao retrato social brasileiro e suas carências. Define o compromisso de uma universidade pública com quem a financia, a sociedade, e coloca, necessariamente, nossas atividades fim em sintonia com a produção do conhecimento e a sua disseminação em benefício da qualidade de vida e da justiça social.

Reafirmamos todos os pontos colocados em nosso programa. Todos serão cumpridos integralmente. Não há nenhum deles que seja inviável, nada foi colocado com intenções eleitoreiras e, tranquilizem-se, não vamos colocar a universidade em risco em momento algum.

Queremos enfatizar alguns dos compromissos assumidos em “A Unicamp de todos os saberes”. Nossa universidade foi pioneira em estabelecer o tema inclusão no acesso aos cursos de graduação. O Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (PAAIS) caminha para completar dez anos, criando condições melhores para que estudantes da escola pública de ensino médio e autodeclarados negros ou indígenas ingressem na Unicamp. Já comprovamos que os ingressantes pelo programa possuem excente aproveitamento acadêmico, demonstrando a manutenção da qualidade dos estudantes recebidos graças aos pontos concedidos. Mais recentemente o Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS) acrescentou nova sistemática com foco nos alunos da escola pública. São demonstrações inequívocas do interesse em aproximar a universidade das necessidades sociais. Devemos intensificar essas ações, aperfeiçoá-las e agregar novas sistemáticas, que viabilizem o crescimento da inclusão em nossos cursos de graduação.

Importante lembrar do conjunto de propostas voltadas à pós-graduação, à pesquisa e às relações com a sociedade (extensão, assistência e produção cultural), mantendo a Unicamp fiel ao modelo de universidade que a alçou ao patamar qualificado em que se encontra. Equilíbrio e planejamento serão, certamente, palavras fundamentais ao longo da gestão.

No âmbito interno é inadiável proceder à revisão dos nossos

A mesa com autoridades e representantes da Unicamp na cerimônia de posse, ocorrida no último dia 30 no Centro de Convenções

Fotos: Antoninho Perri

Leia a íntegra do discurso de posse do novo reitor

Estatutos. Ultrapassados, datam originalmente de 1966, trazem, ainda, resquícios da ditadura e do autoritarismo, há um bom tempo, felizmente, incompatíveis com a realidade brasileira. Dispositivos estatutários não podem permitir que a vontade do administrador imponha-se aos direitos estabelecidos e devem eliminar a existência de julgamentos por concessão da autoridade e não por demonstração de mérito e justiça. Os Estatutos estão longe de contemplar a realidade institucional da Unicamp, motivo pelo qual muitas vezes dificultam as decisões e criam situações de morosidade inaceitáveis em uma instituição onde a agilidade é essencial para o trabalho a ser desenvolvido.

Reiteramos nossa disposição de, ao lado do Conselho Universitário, atuar pelo aperfeiçoamento da representação institucional e, em seu âmbito, o respeito à divergência, à liberdade de expressão e à organização. Mesmos princípios e conceitos que nortearão nosso relacionamento com as entidades sindicais, Adunicamp e STU, e com o DCE. Almejamos dispositivos duradouros para que o diálogo, ainda que em meio a impasses, jamais se esgote e que a civilidade o presida em todas as circunstâncias.

Ressaltamos as propostas constantes em nosso programa para tornar a Unicamp plenamente acessível, tanto no que diz respeito à infraestrutura física, quanto na comunicação eficiente com surdos e cegos.

Merecem destaque as ações propostas para a questão ambiental nos diversos campi, para a melhoria da qualidade de vida da nossa comunidade e para a qualificação dos programas educativos da Unicamp.

Antes de concluir, não poderíamos deixar de compartilhar algumas reflexões sobre o processo de escolha do reitor. Há mais de 25 anos, a Unicamp estabeleceu uma definição de como verificar a vontade da sua comunidade. Desde então, a fórmula prevista é aplicada para se conhecer o que a comunidade quer. Evidentemente, a ponderação empregada e as condições de aplicação podem ser questionadas, como de fato ocorre, entretanto, verifica-se ao longo de todo esse tempo o irrestrito respeito ao resultado obtido. A vontade da comunidade da Unicamp é aquela obtida pela aplicação da fórmula de cálculo. Os resultados, por serem matemáticos, são indiscutíveis. “A Unicamp de todos os saberes” venceu o primeiro turno e, não obtendo a maioria necessária, houve necessidade de segundo turno, pois o objetivo é saber sem sombras de dúvidas qual é a vontade da comunidade. Nova vitória. A terceira etapa é a elaboração da lista tríplice pelo Conselho Universitário. Foi surpreendente verificar que alguns colegas não aceitaram a vontade da comunidade, expressa pela sistemática vigente, a mesma que foi utilizada em alguns casos para elegê-los em suas unidades e levá-los a estarem no Conselho Universitário. A quarta etapa é a escolha do governador, historicamente tranquila no que diz respeito à Unicamp, até porque aqui é tradição os candidatos a reitor perderem a consulta respeitarem o resultado e reconhecerem como soberana a vontade da comunidade.

Nossos agradecimentos pela confiança depositada em nosso programa de gestão. Estejam certos de que nós, eu, Alvaro e toda equipe nos dedicaremos intensamente para fazer com que nossa universidade tenha todas as condições necessárias para se tornar melhor a cada dia.

“ “José Tadeu Jorge discursa na posse: “O dinamismo da nossa universidade nos coloca diante de novos e expressivos desafi os”

Primeiro escalão é homologado pelo Consu

Também participaram da mesa de autoridades o secretá-rio de Transportes Metropolitanos do Estado e professor da Unicamp, Jurandir Fernandes; o comandante da 11ª Brigada de Infantaria Leve, general José Eduardo Pereira; o secretário de Desenvolvimento Metropolitano do Estado, Edmur Mes-quita; o presidente da Câmara de Vereadores de Campinas, Campos Filho; o vice-reitor da USP, Julio Cezar Durigan; o diretor do Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Rena-to Archer, Victor Mammana; o pró-reitor de Administração da Unesp, Carlos Antonio Gamero; o vice-prefeito de Limei-ra, Antonio Carlos Lima; o prefeito de Itupeva, Ricardo Bo-calon; e o presidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), José Tadeu da Silva.

LUÍS ALBERTO MAGNA - Graduação ÍTALA D’OTTAVIANO - Pós-Graduação

TERESA DIB ZAMBON ATVARS Desenvolvimento Universitário

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8Campinas, 6 a 12 de maio de 2013

MARIA ALICE DA [email protected]

Foto: Antoninho Perri

De menino que gostava de olhar para o céu a cientista/inventorGeólogo e funcionário do IFGW, Rogério Marcon mantém observatório em sua casa

Fazendo experimentosem laboratório dequímica em 1979,

e ao lado de refratorde 60mm em 1981

e cada menino que já gritou, em brincadeiras, “eu sou um cientista” tivesse o mesmo incentivo recebi-do por Rogério Marcon para reali-zar seu sonho, a realidade do país

poderia ser outra. Ao lado do pai, em sua oficina, em Paulínia, interior de São Paulo, o geólogo descobriu que sucata não era lixo e qualquer objeto descartado pela vizinhança poderia ter serventia em suas ex-periências. O pai, também inventor, se foi, e Rogério continua a catar e experimentar coi-sas, tal qual um menino curioso, mas agora balizado por comprovações científicas. Uma de suas investidas tornou-o um dos homens mais procurados pela imprensa do Estado de São Paulo em caso de abalo sísmico. Duran-te um terremoto no litoral de São Paulo, em abril de 2008, ele era o único geólogo bra-sileiro a manter ligado, no banheiro de sua casa, um sismógrafo, construído por ele em grande parte com material alternativo, 15 dias antes do abalo. “Por algum motivo, o sismógrafo de Brasília estava desligado, e eu mantinha meu ‘experimento’ ligado em casa. Foi coincidência.”

A partir de então, Rogério ficou “famoso” entre os jornalistas, principalmente na região de Campinas. De lá para cá, registrou vários terremotos. Sempre pronto, acredita que os cientistas podem contribuir para a divulga-ção de acidentes naturais. Por isso, dificil-mente recusa um pedido dos profissionais incumbidos de explicar as causas e os dados para o grande público.

Com formação em Geologia pela Uni-camp, depois de cursar Física por quatro anos, Rogério se define como astrônomo amador e conta que essa história de astro-nomia o tocou quando deparou com o céu limpo daquela Paulínia da década de 1980. “Na época, a cidade tinha um céu bonito e eu, uma curiosidade incurável de conhe-cer o céu”, relembra. Mas foi novamente na oficina mecânica do pai que começou a construir telescópios.

Começou como discípulo de Jean Nico-lini, com outros colegas, no Observatório de Capricórnio, hoje conhecido como Ob-servatório Municipal de Campinas Jean Ni-colini. Na época, Jean apresentou-lhe uma ideia que era a construção de um aparelho especial para ver a atmosfera do sol. Em 1991, quando Nicolini morreu, a constru-ção estava pela metade, mas Rogério deu continuidade no quintal de sua casa, já no bairro Guará, e, hoje, o Observatório Ber-nar Lyot, homenagem ao astrônomo fran-cês, é o único, na região, que permite ver atmosfera solar.

Enquanto o aparelho funciona sem pa-rar, Rogério continua a fotografar o céu com novos telescópios construídos de pu-nho próprio. O último deles foi um telescó-pio newtoniano de meio metro de diâmetro para fotografar o céu noturno, instalado no sul de Minas.

Mas as aventuras do inventor não se li-mitam aos sismógrafos e telescópios. No Laboratório de Caracterização e Preparação de Materiais do IFGW, constrói dispositivos necessários para auxiliar na rotina das pes-quisas com difratometria de raios-X. Foi no Laboratório que estudou os vários tipos de rocha como trabalho de conclusão de curso (TCC) em geologia. “Uni a física e a geologia neste trabalho.”

Atualmente, acompanha o professor Pierre Kauffman, amigo e colaborador de Nicolini na década de 1960, no Centro de Radioastronomia e Astrofísica Mackenzie (CRAM), com ênfase no estudo solar. Mar-con apoia na construção de instrumento, observação solar em terahertz, frequência nunca antes usada nesta área. O estudo será publicado na Revista Fapesp. O con-vênio acontece por meio do CCS. Rogério é responsável pela parte óptica, ou seja, o telescópio que receberá a luz das explosões solares. O Experimento Solar T, como é co-nhecido, será lançado por balão pela Uni-versidade de Berkeley ou pela Rússia. O instrumento já está pronto e o lançamento está previsto para o ano que vem. Dentro desse projeto, também ajudou a construir um aparelho para observação em infraver-melho que se encontra na Argentina.

Técnico de laboratório no IFGW, Rogé-rio acaba prestando socorro a várias áreas, pois sente falta de alunos com formação técnica, ou melhor, sente falta de constru-tores de instrumentos em cursos de gradu-ação e pós-graduação. “É muito gratificante construir seus próprios equipamentos, mas com a mudança na grade do ensino técnico e médio, o aluno chega à universidade hoje sem conhecer essa parte técnica da cons-trução. Seria muito importante. Então, au-xilio no que posso. A ciência experimental foi prejudicada por desvincularem o ensino médio do técnico”, opina.

O quintal da casa condena o perfil de sucateiro. “Eu e meu pai sempre fomos su-cateiros”, brinca. Mas, como o Brasil tem carência de inventores, ele nem liga, conti-nua a preencher o que resta de espaço em seu valioso quintal com sucatas que viram diversos instrumentos. A filha de 3 anos começa a se interessar e a esposa, nem se incomoda com o acúmulo, segundo Rogé-rio. Mas o geólogo chama atenção para a seriedade da brincadeira, pois manipulan-do os restos, sem querer, acabou contri-buindo, em 2008, para a compreensão do fenômeno. “Vejo e adapto a minha neces-sidade. Com pouco recurso, construí um sismógrafo com o qual eu contribuí sem gastar muito, sem comprometer verba ofi-cial”, pondera.

Quando mal se falava em reciclagem, o pai fazia reciclagem de acrílico na década de 1970 para produzir as próprias chapas que se tornariam os letreiros luminosos da

empresa da família, com aparelho de desti-lação também criado por ele. Usava pren-sa hidráulica e usou sucata para montar as letras em acrílico. Filho único, herdou as máquinas de seu principal incentivador na época em que começou a estudar astrono-mia, ainda aos 14 anos. Na época do come-ta Halley, o pai construiu a cúpula de fibra de vidro e resina epóxi, utilizada hoje no Observatório Bernar Lyot.

Além do interesse natural por ciência, Rogério faz referência à série Cosmos, vei-culada por um canal de TV em sua adoles-cência. A visita ao Planetário de São Paulo, também na companhia do pai, estimulou ainda mais os experimentos domésticos. A empresa deixada por ele não depende mais da sucata, está modernizada e é adminis-trada pela mãe de Rogério.

Marcon entrou na Unicamp pelo Cen-tro de Engenharia Biomédica (CEB), em agosto de 1988, para fazer dosimetria da radiação da bomba de cobalto e em um acelerador existente no Caism para trata-mento de câncer. Ao perceber os traços de um bom construtor, logo o passaram para a área de oficina. Quando foi aprovado no curso de física, mudou para o IFGW por meio de troca com um funcionário da física que tinha interesse na área médica. Por ter de trabalhar durante o dia e não conseguir se dedicar aos estudos como gostaria, em 2005, optou então por um curso que se aproximasse de geofísica pelo interesse em astronomia. E foi por meio de indicação de docentes desta nova área, o Instituto de Geociências, que Rogério ficou conhecido,

Rogério Marcon no IFGW, onde trabalha: “Uni a física e a geologia”

Marcon em Huachacalla, Bolívia, durante observação de eclipse solar em 1994: paixão pela astronomia

pois, quando a pauta é sobre abalo sís-mico, se não podem atender a imprensa, aconselham a procurar o técnico.

O acesso mais rápido à informação e o número de publicações acabam contri-buindo, de certa forma, para causar pânico nas pessoas. Por exemplo, quando há ter-remoto no Chile, alguns prédios em São Paulo podem tremer, o que não significa, alerta Rogério, que o terremoto ocorrerá também no Brasil. “Se acontecesse um terremoto na Indonésia 50 anos atrás, ninguém ficaria sabendo. Mas agora te-mos a informação em tempo real. Se acon-tece de novo é motivo para gerar pânico de tsunami”, pontua. O mesmo acontece com explosão solar, segundo Marcon, pois a Nasa atualiza a cada minuto sua página para informar o que aconteceu ou poderá acontecer. Para ele, os divulgadores têm de prezar pela qualidade da informação, mas há quem se aproveite para gerar mais pânico e chamar atenção para sua publi-cação. Ele acrescenta que, “infelizmente”, algumas pessoas exageram na informação para atrair público. “Todos os motoristas da Rússia andam com câmera no carro ou no ônibus. Então, o meteoro foi filmado de todo quanto é jeito. Ao cair na inter-net, foi uma avalanche de filmes. Já caíram e caem vários deste tamanho por dia no oceano e ninguém vê. Os profissionais da ciência, como eu, têm obrigação de falar a verdade para combater essas especula-ções”, remata o adulto, ainda curioso, que não cansa de construir instrumentos.

Fotos: Divulgação

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Campinas, 6 a 12 de maio de 20139

FEA desenvolve pão branco enriquecido com três fibras

RAQUEL DO CARMO [email protected]

PATRÍCIA LAURETTIpatrí[email protected]

Edifi cação histórica de São Simão: autora de estudo prega o envolvimento da população

Foto: Divulgação

Foto: Nilton Fernandes

Foto: Antoninho Perri

Patricia Mello Garrido Ishida, autora da tese: utilizando fi bras de aveia, trigo e goma acáciaSeção de pão integral em supermercado de Campinas: cor escura é fator de rejeição por parte do consumidor

Engenheira de alimentos fez pesquisa sensorial para identificar as necessidades do consumidor

Nas bancasNas bancas

uem já não teve vontade de comprar o pão de forma in-tegral, mas por conta da apa-rência deixou na prateleira do supermercado, ainda que sou-besse dos benefícios que este

alimento pode trazer para o organismo? Por isso, a engenheira de alimentos Patricia Mello Garrido Ishida resolveu desenvolver e testar um pão com fibras brancas que pode acabar com um dos fatores de rejeição por parte do consumidor. “As fibras brancas se mostram uma alternativa para diminuir os efeitos sensoriais negativos das fibras comuns, como a cor mais escura em rela-ção aos pães que não possuem fibras”, ex-plica Patricia, ao informar que, na primeira parte do trabalho, realizou uma pesquisa sensorial com doze amostras de pães bran-cos e integrais disponíveis no mercado para identificar as necessidades do consumidor.

Segundo Patricia Ishida, a pesquisa sensorial, realizada antes de desenvolver a proposta para o novo produto, apontou que 82% dos entrevistados disseram que, provavelmente ou certamente, comprariam um pão branco com fibras. Foi este o pon-to de partida da dissertação de mestrado, apresentada na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), sob orientação da professora Caroline Joy Steel.

O pão de forma proposto pela pesquisa-dora pode ser considerado “rico em fibras”,

PublicaçãoTese: “Efeito de diferentes fontes de fibras brancas na qualidade do pão”Autora: Patricia Mello Garrido Ishida Orientadora: Caroline Joy SteelUnidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)Financiamento: CNPq

enriquecido com fibras, avaliando também as possíveis alterações na qualidade tecno-lógica. Os testes de aceitação foram com-parativos e contaram com 121 voluntários que aprovaram a nova formulação. Na ava-liação, não houve diferenças significativas para aparência, aroma, sabor, textura e im-pressão global.

pois a formulação contém seis gramas de fibras em cada cem gramas do alimento. “Comparando este pão branco com fibras e os pães brancos do mercado brasileiro que apresentaram média de 2,4 gramas de fibras em cada cem gramas do alimento, observou-se um aumento considerável no teor de fibras. Os pães brancos atuais não são considerados nem ‘fonte de fibras’ pois possuem menos que três gramas de fibras em cada cem gramas do alimento”, explica.

Para desenvolver o alimento foram uti-lizadas as fibras brancas de trigo e de aveia. Este tipo de fibra é extraído do caule da planta e possui cor branca e, justamente por isso, são chamadas de fibras brancas. Por serem insolúveis, estas fibras possuem alguns efeitos benéficos específicos sobre o

trato gastrointestinal, reduzindo problemas relacionados à constipação, por exemplo. Ademais, elas são mais baratas em relação a outros tipos de fibras brancas e, também, não conferem sabor e cor ao produto, faci-litando assim a aceitação pelo consumidor.

Na composição, Patricia utilizou ainda a goma acácia, também considerada uma fi-bra branca, só que solúvel. A opção foi para enriquecer ainda mais o pão com fibras sem interferência no sabor. A goma tem efeitos benéficos na redução do colesterol e da glicose. “As três fibras são necessárias ao organismo e acrescentá-las ao pão de forma branco seria uma forma de estimular o con-sumidor a ingerir produtos com proprieda-des funcionais”, complementa.

Outra etapa da pesquisa consistiu em realizar a análise sensorial do pão branco

Tese sugere inventário turístico para o município de São Simão

PublicaçãoTese: “Turismo sustentável: uma pro-posta para São Simão – SP”Autora: Viviane Minati PanzeriOrientação: Carlos Roberto EspindolaUnidade: Instituto de Geociências (IG)

A atmosfera das poucas ruas só não sur-preende quem passou a vida nas pequenas cidades. Típica do interior paulista, São Si-mão traz as heranças dos bons tempos do café com seus casarões e, mais do que isso, a aura de uma promessa não cumprida. As-solada por três epidemias, perdeu boa parte da população no final do século 19 e início do século 20, o prestígio de cidade sede da comarca e, mais tarde, a possibilidade de avançar no desenvolvimento que tiveram as cidades mais próximas à rodovia Anhan-guera. No lugar de São Simão, Ribeirão Preto se estabeleceu como pólo regional.

Mal nenhum. A cidade manteve as paisa-gens e principalmente o sossego que hoje é patrimônio, verdadeiro tesouro. Peculiar, São Simão tem um pequeno teatro com caracte-rísticas de teatro de ópera, inaugurado em 1890. É uma das poucas cidades brasileiras que conhecem e vivenciam a arte japonesa do Butoh, por meio de um centro instalado na cidade desde 1997. Foi o local onde o grava-dor e desenhista Marcelo Grassman nasceu e passou a infância. As belezas naturais tam-bém são muitas e duas se destacam: a praia do rio Tamanduá e o Morro do Cruzeiro.

O que o município tem em comum a ou-tros do Brasil que acreditam ter vocação turís-tica, é um projeto de lei para que seja classi-ficado como estância turística, em tramitação na assembléia do Estado desde 2011. Se esta é a vontade dos moradores e, principalmente, se a cidade está sendo planejada para receber quem vai a passeio são questões levantadas na tese de doutorado “Turismo Sustentável: uma proposta para São Simão”, de Viviane Panzeri. A turismóloga elabora um plano de desenvolvimento sustentável do turismo le-vando em consideração as premissas da Or-ganização Mundial do Turismo.

De acordo com Viviane, hoje são mais

de 60 estâncias no Estado de São Paulo e a classificação rende ao município vantagens na captação de recursos. São Simão estaria em uma fase embrionária do turismo, com a necessidade de elaboração de uma proposta que seja desenvolvida por uma equipe mul-tidisciplinar a partir de um inventário tanto do município como de seu entorno. As en-trevistas com os habitantes feitas ao longo da pesquisa sugerem que os moradores não estão envolvidos com a ideia e muitos se-quer sabem do projeto em tramitação.

“A cidade não tem potencial para de-senvolver os tipos de turismo que estão relacionados no pleito que seriam mais de 10”, observa. As possibilidades apontadas incluem: o turismo de aventura, ecológico, ecoturismo, turismo climático, paisagísti-co, histórico/cultural, religioso, desporti-vo, folclórico e artesanal, e para a terceira idade. O texto apresenta São Simão da se-guinte forma: “O clima é privilegiado, em virtude das serras que a cercam. Água po-tável e cristalina é encontrada em abundân-cia, o que a faz ter potencial para estância hidromineral, climática ou turística”.

Para Viviane, a começar da citação sobre a condição climática o equívoco do projeto é sem tamanho. “A proximidade ao Aquífero Guarani não pode servir de motivação para o turismo hidromineral porque faltam es-truturas turísticas para tanto e, se na déca-da de 1970 São Simão foi chamada de ‘Vale da Saúde’ pelo clima mais ameno, hoje por conta da cultura da cana-de-açúcar a cidade convive com as queimadas”.

A pesquisadora complementa que há apenas um hotel e uma pousada na cidade e que as grandes fazendas que poderiam ser-vir aos visitantes foram transformadas em canaviais. “Também não há o que justifique o turismo folclórico ou artesanal já que em São Simão não há nenhum produto que seja típico a não ser a geléia de mocotó”, reitera.

PLANEJAMENTOCom a pesquisa, Viviane não quer dizer

que o turismo não pode acontecer na cida-de. Ela quer sim chamar a atenção para a necessidade de um planejamento. “No caso do ecoturismo, por exemplo, isso significa usufruir da natureza a partir de um estudo

de impacto. Quanto ao turismo histórico/cultural é possível estabelecer uma rota da hospitalidade e lazer ou mesmo uma rota ‘dos pintores paulistas’ incluindo Cândido Portinari em Brodósqui e Bassano Vacca-rini em Ribeirão Preto, mas falta a inte-gração com as outras cidades. Da mesma forma ocorre com a modalidade de turismo religioso que precisaria ser estabelecido em conjunto com outros municípios”.

Em São Simão a agricultura além da ca-navieira é de eucalipto. O turismo também deveria estar relacionado com essas culturas, diz a pesquisadora. “Como seria desenvolver o turismo ao lado das culturas próprias da região?”, questiona. Viviane sugere a realiza-ção de um inventário turístico aprofundado e atualizado com a descrição de tudo o que há na cidade e em seu entorno. “A cidade tem áreas de proteção bastante interessantes para a criação de parques para visitação, mas faltam as políticas municipais e ambientais. Além do mais, o município precisa melhorar os índices de qualidade de vida, investir em capacitação da população por meio de cursos na área de turismo que podem ser realizados em redes de cooperação”.

Enquanto o projeto de Lei ressalta a cons-ciência da comunidade local dos benefícios do desenvolvimento do turismo e “uma pos-tura de incentivo à prática da atividade”, a tese aponta a direção oposta. “A população dos 13 bairros foi questionada sobre o tu-rismo e identifiquei que a cidade não está envolvida. Hoje muitos moradores são mi-grantes que vieram para o corte de cana e se estabeleceram em bairros periféricos. O contato com a história, com a cultura, com o desenvolvimento da cidade por parte dessa parcela da população não é o mesmo. No ge-ral os habitantes até gostam da ideia, mas o turismo não é uma prioridade. Por isso é tão importante envolver os habitantes que preci-sam ter vontade de participar de um projeto em que eles também são responsáveis”.

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s docentes responsáveis por projetos de parceria entre a Unicamp e a Fundação de De-senvolvimento da Unicamp (Funcamp) contam, desde o

último dia 26, com o “Espaço do Executor”. No novo ambiente, os exe-cutores poderão contar com um profissio-nal especializado que irá assessorá-los na execução administrativa financeira de seus convênios, de acordo com Eda Marçal, se-cretária-executiva da Funcamp. Segundo a secretária, a inauguração concretiza um pro-jeto de décadas, que só foi possível ser im-plantado após a reestruturação da fundação. “Houve mapeamento dos processos, otimi-zação, treinamento da equipe, criação de procedimentos e informatização integrada”, acrescenta Eda. Para o Espaço do Executor, 40 das 300 pessoas que compõem o quadro de funcionários da fundação passaram por treinamento especializado.

A ideia, de acordo com o diretor execu-tivo da Funcamp, Paulo César Montagner, é deixar um profissional responsável pelo acompanhamento de todos os assuntos ine-rentes a um convênio. Isso, segundo Mon-tagner, fará com que o executor tenha um atendimento personalizado e uma “referên-cia” dentro da fundação. De acordo com o diretor, a proposta de melhorar o sistema de comunicação, inteligência e tecnologia exis-tia há tempo. O novo espaço representa a busca da Funcamp em oferecer um serviço cada vez melhor, gerando informações mais rápidas, segundo Montagner.

Para o reitor José Tadeu Jorge, a inaugu-ração do espaço potencializa o trabalho da fundação, além de otimizar a ação dos fun-cionários, que podem ter a oportunidade de receber de forma mais completa as demandas

10Campinas, 6 a 12 de maio de 2013

Foto: Antonio Scarpinetti

último dia 26, com o “Espaço

IWT 2013 - O International Workshop on Telecommunications (IWT 2013) será realizado de 6 a 9 de maio de 2013, em Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais. O IWT é organizado pela Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp em parce-ria com o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel). A primeira edição do IWT ocorreu em 2004. O evento é realizado bienalmente desde 2007. Em 2011, o IWT aconteceu no Rio de Janeiro e contou com a participação de pesquisadores de mais de 10 países. O evento é apoiado pela Sociedade Brasileira de Telecomunicações (SBrT). Inscrições submissão de trabalhos e outras informações na página eletrônica www.inatel.br/iwt O universo de Fuller - O Projeto Universo Visionário de Fuller do Programa Aluno-Artista estreia no dia 6 de maio, no Boule-vard do Instituto de Química (IQ), uma exposição sobre as ideias do inventor R.Buckminster Fuller, considerado o “Leonardo da Vinci do Séc.XX”. A exposição está prevista para durar um mês. Conheça o Blog do projeto: universofuller.blogspot.com.br Palestra com Rolando Hinterhölzl - No dia 6 de maio, o Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) prossegue com o seu ciclo de palestras com o professor Rolando Hinterhölzl (Veneza) sobre mudança sintática e estrutura organizacional, às 14 horas, na sala CL-13. Entre rastros laços e passos - No dia 6 de maio, às 19 horas, no Espaço Cultural Casa do Lago acontece a apresentação do fi lme de dança “Entre rastros laços e passos”. O evento faz parte do Unidança. A Casa do Lago fi ca na rua Érico Veríssimo 1011, no campus da Unicamp. Mais detalhes: telefone 12-9134-8465 ou email [email protected]. Desenvolvimento brasileiro - O Instituto de Economia (IE) da Unicamp promove, por meio da Rede Desenvolvimentista e da Plataforma Política Social, seminário para discutir os aspectos do desenvolvimento brasileiro. O encontro, que tratará prioritariamente da dimensão social, será realizado entre 7 e 9 de maio, no Auditório do IE. O seminário conta com a organização do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE). Um primeiro encontro, que abordou a vertente econômica, ocorreu entre os dias 16 e 18 de abril, no mesmo local. O evento será transmitido pela internet no endereço eletrônico http://www.politicasocial.net.br/.

Funcamp inaugura espaço para facilitara relação entre executor e funcionários

Tadeu, Crósta, Montagner e Eda na cerimônia de inauguração: funcionários passaram por treinamento

Artes - “Os 26 prelúdios característicos e concertantes para violino só de Flausino Valle: observações teórico-práticas para sua interpretação” (mestrado). Candidato: Leonardo Vieira Feichas. Ori-entador: professor Eduardo Ostergren. Dia 9 de maio, ás 10 horas, na sala 3 da CPG/IA. Computação - “Supporting data quality assessment in eScience: a provenance based approach” (doutorado). Candidata: Joana Esther Gonzales Malaverri. Orientadora: professora Claudia Maria Bauzer Medeiros. Dia 6 de maio, às 10 horas, no auditório IC 2. Educação Física - “Pedagogia do esporte: pressupostos para uma teoria da avaliação da aprendizagem” (mestrado). Candi-dato: Thiago José Leonardi. Orientador: professor Roberto Rodrigues Paes. Dia 6 de maio, às 14 horas, no auditório da FEF.

Painel da semana

Teses da semana

acadêmica

Vida

Destaques

do Portal

da Unicamp

Painel da semana

Teses da semana

Livro da semana

Vida Livroda semana

Destaque do Portal

Extensionistas comunitários - Os professores Roberto Teixeira Mendes (FCM) e Saulo Augusto Pereira Filho (CAC/Preac) serão os debatedores do Seminário de Formação de Extensionistas Comunitários. Intitulado “Saúde e a Extensão Comunitária”, o evento acontece no dia 7 de maio, às 14 horas, no auditório da Agência para a Formação Profi ssional da Unicamp (AFPU). Aulas Magistrais - A professora Margareth Rago, do Depar-tamento de História do Instituto de Filosofi a e Ciências Humanas (IFCH), é a próxima convidada do “Aulas Magistrais”, evento orga-nizado pela Pró-reitoria de Graduaçao (PRG). No dia 8 de maio, às 12h30, na Sala CB05 do Ciclo Básico I, ela fala sobre “As mulheres reinventam o Brasil”. O encontro será transmitido (ao vivo) pela In-ternet. Mais detalhes no link http://www.prg.unicamp.br/aulas/index.php/aulas Cá entre nós - No dia 8 de maio, às 20 horas, no Auditório do Instituto de Artes (IA), acontece a apresentação do espetáculo solo “Cá entre Nós”, de Jussara Miller. Trata-se de um diálogo entre dança, fotografi a e literatura, inspirado livremente na obra de Adélia Prado. A organização é do Unidança. Mais informações: telefone 12-9134-8465 ou e-mail [email protected] A Física analisa D. Pedro I - O Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW) recebe, para palestra, a professora Márcia Rizzu-to, do Departamento de Física Nuclear da USP. No dia 9 de maio, às 11 horas, no Auditório “Meson Pi” (prédio Pierre Auger) ela fala sobre “A Física analisa D. Pedro I”. O evento faz parte da série de semi-nários do Departamento de Raios Cósmicos e Cronologia (DRCC). Mais informações: http://portal.ifi .unicamp.br/seminarios-do-drcc Exposições no Cis-Guanabara - O Grupo Antropoantro realiza a exposição de fotografi as “Entretantos”, de 10 a 27 de maio, no Centro Cultural de Inclusão e Integração Social (CIS-Guanaba-ra). A abertura ofi cial ocorre no dia 9 de maio, às 19 horas, na rua Mário Siqueira 829, no bairro do Botafogo, em Campinas-SP. Outra mostra de fotografi as, a de Herculano Bernardes, também estará no CIS-Guanabara, no mesmo período. As visitas podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas. Estacionamento gratuito. Mais informações: telefone 19-3233-7801. Gestos - No dia 9 de maio, às 20 horas, no Auditório do In-stituto de Artes (IA) da Unicamp, acontece a apresentação da peça “Gestos”. Trata-se do mais novo trabalho de criação da Cia. Mariana Muniz de Teatro e Dança, resultante de sua imersão no estudo de Libras (Língua Brasileira de Sinais). Gestos se dirige a dois públicos distintos: o dos surdos e o dos ouvintes, sem exclusão daqueles que livremente transitam entre essas duas línguas. Mais informações: 12 9134-8465 ou e-mail [email protected] Lançamento - A Rede de Agroecologia da Unicamp (RAU) e o Programa de Extensão em Agroecologia organizam o lança-mento do livro “Alimentos orgânicos: cozinha saudável” de Beatriz Pazinato, Inês Minowa, José Augusto Maiorano e Sirley Maiorano. Será no dia 10 de maio, às 16 horas, no CIS-Guanabara (Rua Mario Siqueira 829), no bairro do Botafogo, em Campinas. O lançamento ocorre durante a realização da Feira de Agricultura Familiar e Eco-nomia Solidária e Produtos Orgânicos. Mais informações: 19-3235-1566 (Isabel).

Sessenta anos depolítica científi ca etecnológica no BrasilSinopse: Este livro apresenta as principais trans-formações pelas quais a política científi ca e tec-nológica (PCT) brasileira passou nas últimas seis décadas. Ao empregar um referencial ainda pouco utilizado no Brasil (o da análise de política), a obra diferencia-se das interpretações usuais acerca da PCT, que conferem pouca atenção a aspectos fun-damentais associados à elaboração de políticas públicas, como valores, ideologias, interesses e as-simetrias de poder. Outro fator que confere importân-cia ao texto é seu caráter didático: há uma conhe-cida carência de material bibliográfi co que trate da evolução histórica da PCT brasileira. Também são poucos os trabalhos que apresentam elementos as-sociados ao referencial teórico-metodológico aqui empregado. O livro é leitura recomendada a pesqui-sadores, professores e estudantes que trabalham com temas tão diversos quanto Estado e políticas públicas, análise de política, reforma do Estado, política científi ca e tecnológica, política industrial, educação superior e tecnologia social.

Autor: Rafael de Brito Dias é professor da Facul-dade de Ciências Aplicadas da Universidade Es-tadual de Campinas e coordenador associado do Grupo de Análise de Políticas de Inovação (Gapi) da Unicamp. É doutor em política científi ca e tec-nológica pela Unicamp (2009), com período de es-tágio no Georgia Institute of Technology (2009), e mestre em política científi ca e tecnológica pela Uni-camp (2005). É autor de diversos trabalhos sobre análise de políticas públicas, políticas de ciência, tecnologia e inovação, tecnologia e inclusão social e educação superior.

Autor: Rafael de Brito DiasISBN: 978-85-268-0993-2Ficha técnica: 1a edição, 2012; 256 páginas; for-mato: 14 x 21 cm; peso 0,300 kgÁrea de interesse: Ciência e tecnologiaPreço: 42,00

Engenharia Elétrica e de Computação - “Simulação do campo acústico de transdutores ultrassônicos de alta frequência do tipo array anular com e sem espaçamento entre anéis” (doutorado). Candidata: Valéria Monteiro do Nascimento. Orientadora: professora Vera Lúcia da Silveira Nantes Button. Dia 10 de maio, às 9 horas, na sala de defesa de teses da CPG/FEEC. Engenharia Mecânica - “Otimização simultânea de estrutura e controlador para atenuação de vibrações em estruturas via algorit-mos genéticos” (mestrado). Candidata: Mariane Mendes Medeiros. Orientador: professor Alberto Luiz Serpa. Dia 6 de maio, às 10 horas, no auditório KD da FEM. Engenharia Química - “Propriedades de material polimérico obtido da reciclagem de embalagens multicamadas” (mestrado). Candidata: Natália Garrote de Barros. Orientador: professor João Sinézio de Carvalho Campos. Dia 8 de maio, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. Física - “Propriedades magnéticas e ópticas de nanopartículas” (mestrado). Candidato: Guilherme Gorgen Lesseux. Orientador: pro-fessor Carlos Rettori. Dia 6 de maio, às 10 horas, no auditório da Pós-graduação IFGW.

“Decoerência de pacote gaussiano em um potencial harmônico” (mestrado). Candidato: André Cidrim Santos. Orientador: professor Amir Ordacgi Caldeira. Dia 8 de maio, às 9 horas, no auditório Pós-graduação do IFGW.“Design e caracterização de hunções ScS em nióbio” (mestrado). Candidato: Felipe Gustavo da Silva Santos. Orientador: professor Amir Ordacgi Caldeira. Dia 10 de maio, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW. Geociências - “Dinâmica climática regional associada à quali-dade do ar na atmosfera urbana de Ourinhos/SP” (mestrado). Can-didata: Bruna Regina de Oliveira Lima. Orientador: professor Jonas Teixeira Nery. Dia 8 de maio, às 14 horas, no auditório do IG. Matemática, Estatística e Computação Científi ca - “Grupo de holonomia e o teorema de Berger” (mestrado). Candidato: Rafael Genaro. Orientador: professor Rafael de Freitas Leão. Dia 9 de maio, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. Química - “Híbridos inorgânico-orgânicos lamelares e mesopo-rosos aplicados na sorção de metais tóxicos e otimização de pro-cessos de mineração” (doutorado). Candidato: Maurício Alves de Melo Júnior. Orientador: professor Claudio Airoldi. Dia 7 de maio, às 13h30, no miniauditório do IQ.

que o executor busca. “O fato de ter um ca-nal mais eficiente de atendimento facilita a vida do executor, que poderá dedicar menos tempo a atividades burocráticas e possa se voltar mais àquilo que é a tarefa mais própria de um pesquisador que é o desenvolvimento

efetivo do que foi contratado em termos de pesquisa.”

De acordo com Eda, a Funcamp adminis-tra mais de mil convênios e é responsável pela contratação de mais de 5 mil emprega-dos celetistas que atendem a Universidade

dentro de projetos, convênios e hospitais. “Ainda tem muito a ser feito, mas a Fundação com o comprometimento de todos, caminhou bastante e continua engajada na busca do aperfeiçoamento contínuo para cumprir a sua missão”, conclui Eda. (Maria Alice da Cruz)

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11Campinas, 6 a 12 de maio de 2013

MARIA ALICE DA [email protected]

Fotos: Divulgação

As fronteirasda regularização

fundiária

Vila Brandina: cercada por áreas comercialmente tidas como “nobres”, comunidade não tem acesso a serviços de infraestrutura e convive com a indefi nição acerca da regularização fundiária

Tese mostra queações não têmsido capazes degarantir o direitoà moradia e mitigara segregaçãosocioespacial

eu Tião reside em uma das mais antigas e maiores favelas de Cam-pinas, a Vila Brandina, iniciada na década de 1960. Aos poucos, viu a comunidade ladeada por

shopping center, condomínio de luxo, hipermercado. Suas informações, as-sim como sua história de lutas e conquistas desde a década de 1980 contribuíram para a construção da tese de Cristiano Silva da Rocha Diógenes. A pesquisa, defendida no Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, revela a ineficácia das ações de regularização fundiária, as quais se resumiam a iniciativas pontuais e promessas não cumpridas.

Na verdade, segundo Rocha, as ações não previam uma regularização e serviam com paliativo. Os títulos de concessão de moradia, por exemplo, não eram hereditá-rios, o que levou algumas famílias a perde-rem o direito de morar em caso de faleci-mento do beneficiado.

Rocha faz sua análise de dentro do am-biente da Vila Brandina, onde passou quatro anos na companhia de pessoas da comunida-de, como seu Tião. Lá, realizou um minicen-so que permitiu identificar as ações ineficazes responsáveis pela segregação socioespacial persistente em uma região que se valorizou sobremaneira no município de Campinas.

Apesar de toda a infraestrutura ao redor, o pesquisador observou problemas como a grande distância entre a população e o posto de saúde autorizado a atendê-la, localizado no distrito de Sousas. Além disso, levantou problemas quanto à circulação de ônibus. “Não há, por exemplo, uma linha de ônibus direta para o posto de saúde.” Para situar, a Brandina está próxima ao Shopping Iguatemi.

Essas observações detalhistas da realida-de serviram para um estudo dos limites das políticas de regularização fundiária na cidade. A partir de várias experiências selecionadas, sua tese é de que as políticas de regularização fundiária não têm sido capazes de garantir a efetivação do direito à moradia e o combate à segregação socioespacial. “Há, na Vila Bran-dina certa ausência de Estado. As creches são comunitárias e os principais agentes de apoio são as ONGS e voluntários que se dispõem a ajudar”, reforça Rocha. O único local em que se percebe a presença do Estado é na escola, mas, ainda assim, diante da vulnerabilidade, algumas crianças encontram-se fora dela.

Seu Tião e outros moradores participa-ram na década de 1980 do Movimento As-sembleia do Povo, que teve como um dos representantes o ex-prefeito de Campinas Antônio Costa Santos, o Toninho, arquite-to e urbanista assassinado em setembro de 2001. Entre as informações compartilhadas com o pesquisador, ele fala sobre a insegu-rança de moradia da população que habita a Vila Brandina. “Eles não têm segurança de poder permanecer, pois não há certeza de que o terreno os pertence”, acrescenta Rocha. O movimento, segundo o pesquisador, foi um dos principais no Brasil. A segregação espa-cial é evidente, pois a vila ficou cada vez mais enclausurada com o crescimento de condo-mínios fechados.

O movimento, conforme Rocha, não teve outro representante tão comprometido como Toninho. Depois de sua morte, muitas ações foram esquecidas, sejam do ponto de vista da urbanização ou de riscos ambientais. Ele lembra que outras áreas de Campinas, como a Avenida Orosimbo Maia, também se locali-zam em áreas de fragilidade ambiental, pela proximidade do leito de rio, e foram regulari-zadas. “Quando o assunto é favela, percebe-se certo descaso”, reflete.

Os limites relacionados à regularização fundiária podem ser pensados sob três aspec-tos diferentes. Em relação à legislação, Ro-cha constata que os limites estão nos instru-mentos disponíveis tanto no âmbito federal quanto no Estatuto da Cidade. Assim como o Plano Nacional de Regularização Fundiária,

eles não comportam instrumentos de regula-rização imediata, mas só remetem aos Planos Diretores as possibilidades de resolução. Isso é um problema para Campinas, por exemplo, em que o Plano Diretor remete a outros ins-trumentos, como os Planos Locais de Ges-tão. Estes últimos seriam importantes não fossem as Zonas Especiais de Interesse So-cial (Zeis), pois não basta demarcar a área de regularização fundiária, é preciso que todo o processo seja levado adiante, nas várias dimensões elencadas: a jurídica, a urbanísti-ca, a registral e a socioambiental, argumenta Rocha. “A Zeis deveria ser autoaplicável, ou seja, quando demarcada, já deveria fixar me-tas e prazos para regularização.”

O segundo limite dos Planos Locais de Gestão encontra-se na demora em ser efeti-vados. Ele acrescenta que, em 2006, o Plano Diretor encaminhou para os Planos Locais grande parte dos instrumentos de regula-rização, mas até 2012 nenhum plano havia sido aprovado pela Câmara de Vereadores e entrado em vigor. As consequências da mo-rosidade dos processos são o retardamento da efetivação da regularização fundiária e a defasagem de estudos relacionados aos Pla-nos, já que alguns, embora já estejam pron-tos, ainda aguardam aprovação.

Além da questão da saúde e do sistema de transporte, há descuido também com a coleta e a destinação de resíduos sólidos. Como há um número importante de cata-dores no local, Rocha acredita que deveria haver mais galpões de armazenamento e ao menos um galpão de reciclagem onde esses membros poderiam desenvolver suas ativi-dades, minimizando os impactos ambien-tais negativos e ampliando os positivos. Ele explica que, por ter ruas estreitas, comuni-dades como a da Vila Brandina não permi-tem a passagem de caminhões de coleta de lixo por todos os locais.

O principal limite a ser superado, em re-lação à urbanização de áreas irregulares, é o da segregação institucionalizada, pratica-da pelo próprio Estado. “É inconcebível que

Publicação

Tese: “Avanços e limites na regula-rização fundiária em Campinas: Vila Brandina, o estado de um lugar”Autoria: Cristiano Silva da Rocha Di-ógenesOrientação: Claudete de Castro Silva VitteUnidade: Instituto de Geociências (IG)

em uma área irregular, rodeada por áreas com oferta diversificada de serviços, equi-pamentos e outras urbanidades, sofra com uma pavimentação de baixíssima qualidade, com carência de serviços de coleta de lixo e limpeza de vias públicas.” Segundo Rocha, a cidade como direito será materializada na vida de seus habitantes.

Outro limite a ser superado é o que diz respeito ao registro cartorial. A tese de-monstra que em Campinas poucos assenta-mentos em Campinas chegaram à etapa da entrega de títulos, seja de propriedade ou de concessão. O número de moradias com registro regularizado é praticamente insig-nificante. A Vila Brandina luta há mais de 30 anos para regularizar a área. “E não é ape-nas uma questão formal, já que o registro garante muito mais que a posse do imóvel. Garante o direito de permanência, à digni-dade, o direito de ter reconhecido o direito à moradia, e o mais importante, o reconheci-mento à vida de quem de fato ocupa o espa-ço segundo sua função social.”

Para Rocha, é fundamental que o sistema de registros seja desburocratizado, facilita-do e agilizado. Os processos de regulariza-ção, seja por usucapião ou da Concessão do Direito de Uso para Fins de Moradia, pre-cisam ser mais ágeis, contar com uma vara específica no Poder Judiciário, com flexibili-zação no sistema cartorial e não apenas com isenção de taxas, segundo Rocha.

SEM POLÍTICAS PÚBLICASExiste insuficiência de políticas públicas

de habitação no Brasil, na opinião de Ro-cha. Para ele, é preciso que haja um cessar da necessidade de ocupar áreas irregulares, mas o montante de recursos destinados para construção de novas moradias não tem sido suficiente para atender a demanda atual e nem mesmo as futuras. Ele acrescenta que a despeito de todas as políticas de fiscalização adotadas pela Prefeitura de Campinas, novos assentamentos surgiram, novas casas foram

construídas e o adensamento continua muito superior ao da cidade formal. “A política de fiscalização não pode ser confundida com a de prevenção de ocupação de áreas de risco, pois uma política de prevenção pressupõe in-vestimento em construção de moradias para aqueles que não podem pagar, ou só podem pagar pouco.”

O plano Minha Casa Minha Vida, do go-verno federal, ainda não mostrou resultados efetivos mesmo porque é muito mais uma política de financiamento que habitacional, segundo Rocha. Além disso, o número pre-visto para construção de moradias, princi-palmente para famílias que ganham até três salários mínimos, faixa de renda com grande parte do déficit habitacional e da precarieda-de de moradias, é muito baixo.

Mesmo diante de tantos desafios revela-dos durante a pesquisa, a política de regu-larização fundiária é necessária. Não apenas do ponto de vista urbanístico e legal, mas principalmente do ponto de vista social e es-pacial. “É preciso integrar, definitivamente, a população que mora em áreas irregulares à cidade regular, à cidade formal. A cidade como direito só pode ser materializada a par-tir da regularização e do acesso pleno a ela, o que as famílias de baixa renda ainda não po-dem usufruir. A regularização fundiária é um avanço conquistado pelos movimentos so-ciais da luta por moradia, mas é preciso mais. É preciso avançar na busca da efetivação do direito à moradia, à permanência e à cidade.”

Page 12: JU560

12Campinas, 6 a 12 de maio de 2013

ISABEL [email protected]

A historiadora da arte Larissa Sousa de Carvalho: Vecellio fez sua própria leitura de mundo

Capa de “De Gli Habiti Antichi, Et Moderni Di Diuerse Parti Del Mondo” e desenhos de Vecellio no alto e no canto da página, à direita: precursor

Foto: Antonio Scarpinetti

Imagens: Reprodução

PublicaçãoDissertação: “De Gli Habiti Antichi, Et Moderni Di Diuerse Parti Del Mondo (1590) de Cesare Vecellio: tra-dução parcial e ensaio crítico”Autora: Larissa Sousa de CarvalhoOrientador: Luiz César Marques FilhoUnidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH)

O mundo (da moda) nas pranchas de Vecellio

obra De Gli Habiti Antichi, Et Moderni Di Diuerse Parti Del Mondo, do pintor e gravador italiano Cesare Ve-

cellio (1521-1601), é uma das primeiras antologias sobre o vestuário ocidental e não ocidental, que originou o gênero de publicação de costume books

(“livros de vestuário”). Ela mostrou especificamente que a sociedade veneziana era normatizada, escalonada e que o ves-tuário era uma linguagem simbólica com códigos estritos que precisavam ser cumpridos à risca. “A partir deles, conseguia-se ler as pessoas”, conclui a historiadora da arte Larissa Sousa de Carvalho em sua pesquisa de mestrado, desenvolvida no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH).

Segundo Larissa, Vecellio teve suma importância como historiador ao delinear uma história do vestuário, como cro-nista ao relatar e descrever os aspectos mais notórios de Vene-za (a fim de honrá-la) e como etnógrafo ao olhar para outros continentes com imparcialidade, não fazendo juízo de valor. “Dedicou a Veneza quatro imagens da Piazza di San Marco. Era um ‘campanalista’”, define.

O artista nasceu na região de Pieve Di Cadore e teve uma carreira frutífera, recebendo muitas encomendas públicas dos admiradores de sua arte. Envolveu-se com a pintura, a de-coração de livros e com o campo da impressão, utilizando a técnica de xilogravura (entalhe em madeira de figuras ou for-mas). Era primo do pintor Ticiano, maior expressão da arte veneziana do Renascimento.

Paralelamente a essa atividade, fazia a produção dessa primeira obra, que lhe conferiu notoriedade, ao mesmo tempo que lhe custou mais de uma década. Este foi um feito da fase madura, de 1590, cuja fortuna crítica de sua recepção ainda é mínima no Brasil.

Ele afirmava que, se a obra tivesse boa aceitação, acres-centaria novas pranchas. Foi o que aconteceu. Oito depois, publicou a segunda edição, que incluía 88 pranchas, dentre as quais 20 dedicadas à América – Habiti Antichi Et Moderni Di Tutto Il Mondo.

Além de representar os trajes do mundo todo, a obra fala-va sobre dieta, geografia e costumes dos povos. Em algumas pranchas, associava curiosidades das nações.

O fato de Veneza receber viajantes de todas as partes fa-cilitou a representação das diferentes nações, acredita a mes-tranda, porque as pessoas circulavam muito pela cidade e, nas paradas, difundiam os hábitos de suas pátrias.

No trato com mercadores, Vecellio reproduzia as imagens das indumentárias do mundo conhecido então. Fazia obras pictóricas, algumas em prédios públicos da cidade de Cividal di Belluno, e trabalhos religiosos em sua maioria, quiçá pela efervescência do momento, com a Santa Inquisição pontifi-cando no século 16.

Como veneziano, a religião era recorrente em suas pran-chas. Em duas delas chegou a mencionar Martinho Lutero, tido precursor da reforma protestante e a quem não via com bons olhos.

Por outro lado, não era fechado a ideias e não defendeu a supremacia europeia. Valorizava o próximo e fazia uma visão positiva da América, teor abordado na dissertação de Larissa, na qual ela discutiu essa relação de alteridade.

Vecellio fez sua própria leitura de mundo. Enquanto outras representações criavam cenários e exotismo, retirou-os, apro-ximando as pessoas e tornando-as compreensíveis ao público europeu. Eram mostradas do mesmo modo que o veneziano.

Seus trabalhos divulgavam homens e mulheres, e um pouco menos crianças e animais, sempre acompanhados dos adultos. Retratavam viúvas com semblante de pesar, e prostitutas apareciam cobertas e/ou com cachorros perso-nificando a fidelidade.

Apesar de lidar com xilogravura, o artista não foi o autor

dessas gravações, e sim dos desenhos. Cogita-se, em seu lugar, o nome de Christoforo Guerra para a primeira edição, o mesmo artista que gravou Vida dos Artistas, obra de Giorgio Vasari.

Mas mesmo os desenhos às vezes partiam de outros artis-tas, fato que Vecellio deixava claro porque, para ele, a veraci-dade da obra era fundamental, reforçando a sua rede de rela-cionamentos artísticos. Ele difundia: “nessa obra me inspirei nos mosaicos da Basílica de São Marcos.”

O veio artístico era familiar e, com o primo Ticiano, partici-pou de algumas empreitadas. Contudo, nunca realizou grandes incursões fora da Itália e Alemanha. Parte de sua obra está na cidade de Cividal di Belluno e no Museu Correr, em Veneza.

A segunda versão de sua obra também está disponível em microfichas na Unicamp, na Biblioteca Cicognara. Nela, o ar-tista reduz a parte textual e acrescenta uma tradução em latim. Era o que faltava para atingir o grande público. Quando isso ocorreu, a versão circulou pela Europa, atraindo novos leitores.

Na versão de 1664, tentaram atribuir autoria a Ticiano, para angariar leitores. Eram só imagens e um texto sumário, cerca de quatro linhas. A obra ganhou novas matizes na me-dida do interesse da época.

Soube-se de uma versão de 1859-1860, feita pelo tipógra-fo Firmin Didot, da dinastia Didot. Não se tratava mais de gravuras em madeira. Ele fazia incisão em metal. Tal versão está na Biblioteca Central da Unicamp, seção de Obras Raras. Larissa propôs uma tradução parcial do conteúdo das edições originais para uma versão portuguesa – inédita e comentada.

RELICÁRIOPara divulgar Vecellio no país, Larissa precisou compre-

ender o seu projeto, a sua obra e dar-lhe visibilidade. Sua intenção foi fomentar pesquisas sobre esse artista múltiplo, que morreu aos 80 anos.

O seu legado foi a sua arte imparcial, comenta ela, que é tão ampla que pode ser vista de várias formas e interessar a muitos campos, não uma simples contribuição ao vestuário, mas à An-tropologia, à História, à História da Arte, entre outros.

Um traço do autor foi ter agregado comentários densos sobre o vestuário e o que não podia ser visto na imagem (como as roupas de baixo e as variações sazonais), bem como uma terminologia peculiar e vocabulários de um co-nhecedor. Citava alguns tecidos da época, como o ormesino (seda leve), o brocadello (seda ou linho com relevo), damas-chino (padrão têxtil em arabescos florais de ouro ou seda), entre outros.

Outra peculiaridade é que Vecellio fez uma história do vestuário. Começou na Roma Antiga representando os mi-litares e as romanas trajando o paludamento (tipo de capa militar presa ao ombro). Historiou até chegar ao século 16, quando foi editada sua obra. Fez cronologias, a geografia das nações e destacou aspectos sociais, partindo do homem e da mulher nobres, descendo aos escravos e órfãos.

Foi aí que Larissa constatou que a sociedade veneziana era normatizada e escalonada, com códigos que deviam ser seguidos à risca. A viúva veneziana que quisesse contrair novas núpcias, por exemplo, tinha que usar joias e descobrir uma parte dos cabelos. Quem conhecia essa simbologia sa-bia que ela estava disponível. Era a semiologia do vestuário.

A atualidade dessa obra, opina a autora, é que a socie-dade moderna ainda segue padrões de moda e que a roupa está sempre mudando. Vecellio tenta elucidar isso em seus

costume books. O que registra era assumido como estereótipo daquela figura, porém entende que isso não é possível. Sabe que a roupa vai modificar e que sua tarefa é interminável ao tentar fixar o mutável.

INVESTIGAÇÃOA dissertação de Larissa, orientada pelo docente do IFCH

Luiz César Marques Filho, analisou cada uma dessas ques-tões. No primeiro capítulo, discutiu a visão do artista sobre o antigo, o moderno e a mudança em relação aos trajes.

Vecellio descreveu a imagem de uma outra obra dessa época (criada por Hans Weigel e Jost Amman) em que os quatro continentes estavam representados: a Europa, a Ásia, a África e a América. Algumas eram desvendadas rapida-mente, como o índio com vestes sumárias, o africano com túnicas e o asiático com turbante na cabeça.

O europeu era representado nu, carregando uma peça de tecido e uma tesoura na mão, por seu vestuário ser efê-mero. Era o alfaiate de si mesmo, não tendo um exemplar que o definisse.

No segundo capítulo, recordou os tipos sociais de Vene-za: o doge, a virgem e a cortesã; e como essas figuras tinham a ver com os valores atribuídos à própria cidade. A virgem veneziana reproduzia a virgindade de Veneza, nunca saque-ada e nem conquistada.

Em contraposição a ela, aparecia a cortesã, que era a pró-pria luxúria. E, por mais que se pense que fosse uma figura marginal à sociedade, era central. Em Roma, tentaram bani-la sem êxito. Ainda é muito presente.

As leis suntuárias de Veneza – que regulavam hábitos de consumo, para restringir o luxo e a extravagância – eram suspendidas nas festividades, para que, nas vestes femini-nas, a própria beleza e a riqueza da cidade se refletissem para os visitantes.

No terceiro capítulo, Larissa destacou o artista e a alte-ridade. É como ele se posicionasse ante as sociedades que não tinham informações tão confiáveis. Falava por meio do relato de terceiros, daí a relação dele com os turcos e outros países. “Quando a Europa conheceu esse novo mundo, com-preendeu que ela era o velho.”

A pesquisadora escolheu o assunto porque pretendia fazer na graduação um curso de Moda. Fez História da Arte e procurou traçar um paralelo entre arte e vestuário. Fez os cursos de Corte e Costura, de Desenho de Moda e uma exposição desses desenhos, buscando complementar o conhecimento.

No doutorado, deve prosseguir estudando Vecellio e 11 artistas da segunda metade do século 16, dentro do gêne-ro de livros de vestuário. Isso para compreender a recepção dessa obra e de outras que vieram pouco antes. Deseja saber por que alguns autores atribuem a esses artistas o mesmo gênero literário sendo que suas obras se distinguem.

Alguns incluem mapas, uma visão da cidade e o vestu-ário. Outras obras são mais próximas de uma literatura de viajantes. Outras ainda apresentam só imagens. “Vou pro-blematizar esse gênero e gostaria de agendar uma ida à Itá-lia”, conta Larissa, que precisou compreender a anatomia da obra, aprofundar questões e entender o projeto de Vecellio e o seu contexto.

No mestrado, Larissa recebeu uma bolsa Santander, quando viajou para a Princeton University, EUA, para ter contato com a primeira edição da obra do italiano, que apre-sentava o conteúdo textual na íntegra.

A segunda versão ela conheceu inicialmente por microficha. As ima-gens ficavam no lado esquerdo, cer-cadas por molduras. À direita, apa-recia uma descrição que se limitava a uma prancha, na metade de uma folha. Outra metade continha a tra-dução para o latim.

sentava o conteúdo textual na íntegra. A segunda versão ela conheceu

inicialmente por microficha. As ima-gens ficavam no lado esquerdo, cer-cadas por molduras. À direita, apa-gens ficavam no lado esquerdo, cer-cadas por molduras. À direita, apa-gens ficavam no lado esquerdo, cer-

recia uma descrição que se limitava a uma prancha, na metade de uma folha. Outra metade continha a tra-

Vecellio fez sua própria leitura de mundo