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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Escola de Música Licenciatura em Música JOYCE DAYANE DOS SANTOS DA MATA EDUCAÇÃO MUSICAL PARA PESSOAS COM AUTISMO: leitura musical por meio de notação não convencional Natal/RN Novembro/2017

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Escola de Música

Licenciatura em Música

JOYCE DAYANE DOS SANTOS DA MATA

EDUCAÇÃO MUSICAL PARA PESSOAS COM AUTISMO: leitura

musical por meio de notação não convencional

Natal/RN

Novembro/2017

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Escola de Música

Licenciatura em Música

JOYCE DAYANE DOS SANTOS DA MATA

EDUCAÇÃO MUSICAL PARA PESSOAS COM AUTISMO: leitura

musical por meio de notação não convencional

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura

Plena em Música da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte (UFRN) como requisito parcial para

a obtenção do grau de Licenciado em Música.

Orientadora: Profª. Msc. Catarina Shin Lima de

Souza

Natal/RN

Novembro/2017

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DEDICATÓRIA

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus que me permitiu

o dom da vida e de vivenciar todas essas experiências,

inclusive a de estar concluindo este curso. Dedico, pois, à

minha família, em especial à minha mãe e amigos, pelo

apoio, compreensão e dedicação ao longo do curso. Dedico

também aos alunos do grupo Som Azul, pais e professores

por terem feito parte de toda essa experiência junto a mim.

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AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente a Deus que está acima de tudo, pois tudo é por Ele e somente

para Ele são feitas todas as coisas.

Agradeço à minha família, em especial, à minha mãe que sempre esteve comigo me

apoiando e me incentivando a estudar música e a não desistir.

Aos professores por toda paciência e dedicação para comigo ao longo desse curso.

Agradeço imensamente a Fernando Freitas por ter me ajudado com as produções

textuais como também nas correções do trabalho.

Agradeço a Janynha (Jannielly Rayake) que sempre se dispôs a me ajudar durante a

elaboração do trabalho.

Aos professores do Som Azul, Liana, Kalinka, Raiane e o Maurício que me ajudaram

muito para o desenvolvimento deste trabalho.

À minha orientadora Catarina Shin Lima de Souza, que mesmo cheia de ocupações se

propôs a me ajudar e fazer com que esse momento de finalização do meu curso fosse possível.

Tenho uma admiração muito grande por sua pessoa, pois tem um coração humilde em ajudar

as pessoas.

À minha coorientadora Liana Monteiro, que contribuiu de maneira significativa e

especial para construção desse trabalho dividindo comigo seus conhecimentos.

Ao Lucas Nascimento que dispôs um pouco do seu tempo para contribuir de maneira

simples, porém, significante com informações necessárias para o trabalho.

E a todos os meus amigos da turma 2014, que estiveram juntos a mim durante toda essa

trajetória fazendo história como futuros educadores musicais.

Por fim, não poderia esquecer a minha amiga Vanessa Andrade, que tem me auxiliado

antes mesmo de iniciar o curso até essa fase final.

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EPÍGRAFE

Passarinho de toda cor

Gente de toda cor

Amarelo, rosa e azul

Me aceita como eu sou

Eu sou amarelo claro

Sou meio errado

Pra lidar com amor

No mundo tem tantas cores

São tantos sabores

Me aceita como eu sou

(Renato Luciano)

É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar certo

(Antoine de Saint-Exupéry)

O tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante

(Antoine de Saint-Exupéry)

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RESUMO

Este trabalho é resultado da minha pesquisa sobre ensino de leitura musical por meio de notação

não convencional aplicada aos participantes do curso de musicalização e autismo – Grupo Som

Azul - da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Como objetivo

desta pesquisa buscou-se investigar possibilidades de estratégias para o desenvolvimento da

musicalidade e leitura musical de pessoas com autismo a fim de estimular sua criatividade e

expressividade musical. Adotou-se uma abordagem qualitativa e adotou como metodologia a

Experênci-Ação e teve, como instrumentos de coleta de dados: observação participante,

protocolos, gravação em vídeo para o registro das observações de aulas e apresentações do

grupo em eventos, júri para gerar dados que fortaleceram as análises de dados e entrevista

semiestruturada. Como resultado da pesquisa foi possível verificar o desenvolvimento musical

dos alunos, principalmente no que diz respeito à compreensão do processo de escrita/leitura

musical. Os alunos passaram a expressar sua musicalidade de modo mais espontâneo e

confiante. Desse modo, ressalta-se a importância do educador musical para a criação de

recursos e adaptações de metodologias e materiais didáticos para a aquisição eficaz da

compreensão dos conteúdos musicais e vivência mais intensa da música por parte dos alunos,

especificamente, dos alunos com autismo.

Palavras-chave: Educação musical; Autismo; Notação não convencional.

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ABSTRACT

This work is the result of my research on music reading teaching through non - conventional

notation applied to participants in the Music and Autism course - Som Azul Group - of the

School of Music of the Federal University of Rio Grande do Norte. The objective of this

research was to investigate possibilities of strategies for the development of musicality and

musical reading of people with autism in order to stimulate their creativity and musical

expressiveness. It was adopted a qualitative approach and adopted as a methodology the

Experiment-Ação and had, as instruments of data collection: participant observation, protocols,

video recording to record the observations of classes and presentations of the group in events,

jury to generate data which strengthened data analysis and semi-structured interviews. As a

result of the research it was possible to verify the musical development of the students, mainly

in what concerns the understanding of the process of writing / reading music. The students

began to express their musicality in a more spontaneous and confident way. Thus, the

importance of the musical educator for the creation of resources and adaptations of

methodologies and didactic materials for the effective acquisition of the understanding of the

musical contents and more intense experience of the music by the students, specifically, of the

students with autism, is emphasized.

Keywords: Music education; Autism; Non-conventional notation.

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LISTA DE FOTOS

Foto 1 – Turma 1 do Curso de Musicalização e Autismo – Grupo Som Azul ...................... 18

Foto 2 – Turma 1 do Curso de Musicalização e Autismo – Grupo Som Azul ...................... 18

Foto 3 - Dados usados na dinâmica ............................................................................... ........ 33

Foto 4 – Criação Musical ............................................................................................... ........ 34

Foto 5 – Apresentação com partitura não convencional ......................................................... 46

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Cores das notas musicais ...................................................................................... 33

Figura 2 – Cartela de notação com cores ...................................................................... ........ 35

Figura 3 - Primeiro e segundo compasso da música Ode to Joy. (notação convencional) ... 36

Figura 4 – Representações de notas e figuras rítmicas ................................................ ........ 36

Figura 5 - Primeiro e segundo compasso da música Don’t worry be happy. (notação

convencional) ......................................................................................................................... 37

Figura 6 - Figura 4 - Representações das notas e figuras rítmicas. (notação não convencional)

................................................................................................................................................ 37

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LISTA DE TABELAS

Quadro 1 - Descrição do Autismo feita por Kanner .............................................................. 22

Quadro 2 - Descrição das principais características dos transtornos .................................... 24

Quadro 3 - A evolução histórica do TEA (Transtorno de Espectro do Autismo) ................. 25

Quadro 4 - Critérios de diagnósticos semelhanças e diferenças ........................................... 26

Quadro 5 - Descrição dos sujeitos ......................................................................................... 31

Quadro 6 - Instrumento da coleta de dados .......................................................................... 39

Quadro 7 - Categorias identificadas durante a análise ......................................................... 43

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LISTA DE SIGLAS

APAARN – Associação de Pais e Amigos dos Autistas do Rio Grande do Norte.

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande Do Norte.

TEA – Transtorno de Espectro do Autismo.

SA – Síndrome de Asperger.

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Sumário

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 15

1.1 Motivação e justificativa ................................................................................................ 15

1.2 Metodologia .................................................................................................................... 16

1.3 Universo da pesquisa ...................................................................................................... 17

1.4 Descrição do sujeito........................................................................................................ 19

1.5 Critérios de análise ......................................................................................................... 19

1.6 Estrutura do trabalho ...................................................................................................... 19

2 CONHECENDO O AUTISMO E A SÍNDROME DE ASPERGER. .................................. 21

2.1 Autismo .......................................................................................................................... 21

2.2 Alterações quanto à terminologia ................................................................................... 23

2.3 Critérios de Diagnósticos................................................................................................ 24

3 EDUCADORES MUSICAIS E APLICABILIDADES DE SEUS MÉTODOS PARA

ENSINO MUSICAL DE PESSOAS COM AUTISMO. ......................................................... 27

3.1 O Ensino de Música para Pessoas com Autismo e a Escrita não convencional ............. 29

4 VIVENCIANDO E COMPREENDENDO A MÚSICA ATRAVÉS DA LEITURA DE

NOTAÇÃO NÃO CONVENCIONAL .................................................................................... 31

4.1 A leitura pela escrita não convencional .......................................................................... 31

5 ANÁLISE DE DADOS ......................................................................................................... 39

5.1 Aprendizagem Musical através da leitura não convencional ..................................... 39

5.2 Entrevista semiestruturada .......................................................................................... 40

5.3 Critérios do Júri .......................................................................................................... 40

5.4 Análise de conteúdo........................................................................................................ 41

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 45

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 48

ANEXOS .................................................................................................................................. 51

APÊNDICE .............................................................................................................................. 56

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho discorre acerca de uma proposta de ensino de música que faz uso

de uma grafia alternativa para a leitura musical de pessoas com autismo. Foi aplicada no curso

de musicalização e autismo – Grupo Som Azul – projeto de extensão da Escola de Música da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Essa proposta tomou como exemplo os

fundamentos da pedagogia contemporânea dos compositores da segunda geração que começou

a ser utilizada na metade do século XX, tais como John Payter e Self, que fizeram uso da

notação musical não convencional, baseada na representação gráfica dos sons. (CISZEVSKI,

2010).

Assim, para compreensão da notação musical não convencional foram abordadas

diversas possibilidades que pudessem ser trabalhadas com alunos com TEA (Transtorno de

Espectro do Autismo). Como objetivo dessa pesquisa, buscou-se investigar possibilidades de

estratégias para o desenvolvimento da musicalidade e leitura musical de pessoas com autismo

e teve como objetivos específicos, identificar as necessidades dos alunos no uso da grafia

musical convencional, explorar novas metodologias que usassem formas alternativas de escrita

musical, realizar atividades com adaptações aos participantes do grupo Som Azul e avaliar o

impacto das atividades realizadas com o grupo.

A questão problema nasceu a partir da observação de uma das aulas do grupo Som Azul

onde exercia a função de monitora/professora das aulas de musicalização. Diante disso resolvi

analisar se a leitura da escrita não convencional auxiliava no desenvolvimento musical dos

alunos com autismo, uma vez que este tipo de recurso é uma forma alternativa a fim de adaptar

conteúdos e materiais para explorar de maneira mais ampla a compreensão, criação e a

expressão da música.

1.1 Motivação e justificativa

Em 2015 tive uma experiência em sala com um aluno que apresentava características

do Transtorno de Espectro do Autismo(TEA) e isso despertou-me o interesse de entender mais

sobre esse universo do autismo bem como a vontade de trabalhar com pessoas que tenham este

tipo de transtorno. Foi através desse acontecimento que conheci o projeto de extensão Som

Azul – Musicalização e Autismo e os motivos que me levaram a escolher esta pesquisa se deu

desde de 2016 quando estive participando da equipe. Como monitora, observei que os alunos

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tinham muita dificuldade em compreender as informações relacionadas às músicas trabalhadas

durante as aulas do grupo. Após realizar atividades de estimulo visual identifiquei que houve

uma resposta positiva e significativa dos mesmos. Dessa forma, iniciei um processo de pesquisa

a fim de propor atividades que facilitassem a compreensão dos alunos procurando atender às

suas necessidades específicas de aprendizado, ou seja, procurei levar para as aulas algumas

práticas alternativas que, por fim, resultassem numa maior eficácia no aprendizado musical dos

alunos com autismo.

A presença da pessoa com deficiência nos espaços de educação musical ainda

apresenta vários questionamentos, e com as pessoas que possui o TEA não é diferente. Tenho

observado que há muitos profissionais que apresentam certa resistência em pesquisar sobre a

deficiência como também em trazer para a realidade dos alunos métodos que possibilitem a

compreensão dos conteúdos musicais aplicados dentro de sala de aula, o que chamado muito

minha atenção. Dessa forma, tenho buscado conhecer mais sobre a deficiência e procurado

sempre trazer para as minhas práticas pedagógicas materiais que ajudem o aprendizado da

pessoa com autismo. A experiência me fez perceber o quão difícil é para uma pessoa com

autismo organizar várias informações para dentro do seu cérebro e, por essa razão, é

imprescindível a utilização de procedimentos pedagógicos que possam facilitar a construção do

conhecimento do aluno que possui ou não uma deficiência.

Por essa razão, esta pesquisa procurou apresentar algumas contribuições ao educador

musical, para que ele possa tornar possível a construção e o desenvolvimento musical, pessoal

e social do aluno com autismo, pois a partir do conhecimento do aluno é possível descobrir as

possibilidades que promovem a compreensão musical do mesmo.

1.2 Metodologia

Para desenvolver esta pesquisa utilizamos a abordagem qualitativa que utiliza

essencialmente metodologias que permitem criar dados descritivos que lhe permitirá observar

a forma de pensar dos participantes numa investigação. (SILVA e MENEZES, 2005).

E como metodologia foi utilizada a Experiênci-Ação, conforme Costa e Leão (2013),

tendo em vista que essa caracteriza-se como um processo de vivência musical definido como

processo planejado e flexível quanto ao atendimento das necessidades que os alunos traziam

para a sala de aula e pelo fato de ter sido observado pelo professor intermediador/pesquisador,

com fins de análise de seus resultados a curto e longo prazo, pois atende tanto à proposta de

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inovação pedagógica na música com atuação do professor quanto ao entendimento de como o

aluno aprende música numa abordagem qualitativa.

A Experiênci-Ação permite que o intermediário, seja ele professor, pais, monitor ou

tutor, atue no processo sugerindo e apresentando melhores propostas de metodologias,

tornando-as importante para o processo de ensino e aprendizagem. Nessa pesquisa tornou-se

possível o pesquisador observar, refletir e indicar o que melhor, ou não, ocorreu no processo de

ensino musical a fim de levantar indicações claras de procedimento metodológicos para um

determinado dado ou processo.

Para a coleta de dados desta pesquisa utilizamos como instrumentos a observação

participante, registros áudio visuais (vídeos e fotos) das aulas, recital e entrevista

semiestruturada.

1.3 Universo da pesquisa

A pesquisa de campo compreendeu o período de março a junho de 2017 e foi realizada

na Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), com alunos do

Grupo Som Azul – curso de musicalização que atende adolescentes e adultos com autismo. Esse

projeto faz parte de um projeto mais amplo, o Projeto de Extensão Esperança Viva da UFRN,

que oferece cursos de música para pessoas com deficiência e outras necessidades educacionais

específicas.

O curso de musicalização e autismo foi iniciado no ano 2012 pela educadora musical

Luana Kalinka, que ministrava aulas de música na instituição Associação de Pais e Amigos dos

Autistas do Rio Grande do Norte (APAARN). Pouco tempo depois, essas aulas de

musicalização de pessoas com autismo passaram a ser realizadas nas dependências da Escola

de Música da UFRN. Esse projeto atende adolescentes e adultos com autismo e passou a ser

chamado de Som Azul, nome dado pela mesma educadora Luana. A partir do momento que

começou a funcionar nas dependências da Escola de Música da UFRN, esse curso passou a

integrar o Projeto de Extensão Esperança Viva.

A partir de então, os participantes passaram a ter aulas semanais com duração de 1h.

Atualmente os alunos são divididos em duas turmas:

Turma 1 – que possuía nove alunos, com média de idade entre 10 a 25 anos e de sexos

diferentes, sendo oito meninos e uma menina. Os alunos dessa turma possuíam grau de

comprometimento do transtorno do autismo um pouco mais severo.

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Foto 1 – Turma 1 do Curso

Fonte: Arquivo Som Azul/EMUFRN

Turma 2 – composta por nove alunos, com média de idade entre 14 a 28 anos, de sexo

distintos, sendo seis meninos e três meninas. Os participantes dessa turma possuíam um grau

de comprometimento que ia do leve ao moderado.

Foto 2 –Turma 2 do Curso

Fonte: Arquivo Som Azul/EMUFRN

Foram escolhidos dois alunos com diferentes graus de autismo para participar desta

pesquisa para que fossem analisados o processo de desenvolvimento cognitivo musical

(percepção, criação e execução de elementos musicais) a partir de uma estratégia de ensino

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diferenciado: o ensino e aprendizagem de leitura musical com a utilização de notação musical

não convencional. Esses alunos, integrantes da turma 2, uma vez que essa turma já desenvolvia

atividades mais específicas do conhecimento musical, tais como: figuras musicais e altura do

som. Outro motivo para escolher essa turma devia ao fato de nela também ser trabalhada a

iniciação aos instrumentos melódicos, tais como xilofone, boomwhackers e flauta doce já que

grande parte dos alunos possuíam uma prática musical mais desenvolvida em relação à turma

1, permitindo a inclusão do processo de leitura musical. Na turma 1, os alunos ainda estavam

sendo inseridos no processo de musicalização inicial, como por exemplo, atividades que

apresentam os sons e suas propriedades, como também instrumentos que seriam estudados de

uma forma mais especifica no próximo módulo do curso. Essa distinção ocorre em virtude das

dificuldades encontradas no grau de comprometimento dos integrantes da turma 1.

1.4 Descrição do sujeito

Foram escolhidos a participar da pesquisa dois alunos com diagnósticos diferentes. O

primeiro deles tem Síndrome de Asperger (SA), possui desenvolvimento cognitivo intelectual

normal e não apresenta atraso na fala. O segundo, tem autismo de grau leve, e apresenta atraso

no desenvolvimento cognitivo intelectual, na linguagem, interação social além de possuir

comportamentos repetitivos. Para fins desta pesquisa, esses alunos receberam um pseudônimo

de Yellow e Ciano. O aluno Yellow tem o diagnóstico de Síndrome de Asperger que foi

descoberto aos 11 anos de idade. Atualmente, ele tem 16 anos idade e está no projeto há dois

anos no grupo. O aluno Ciano foi diagnosticado aos 3 anos de idade com autismo atípico de

grau leve e está no grupo Som Azul há cinco anos.

1.5 Critérios de análise

A análise de dados fundamenta-se na fenomenologia, por ser a leitura dos elementos

que resultam da interação da professora pesquisadora com os sujeitos. Os critérios de análise

foram baseados na literatura da área de desenvolvimento da Educação Musical. Durante a coleta

de dados foram levantadas informações relevantes que nos levaram a estabelecer três critérios

de análise sendo aprendizagem musical através da leitura não convencional, critério Júri e

entrevista semiestruturada.

1.6 Estrutura do trabalho

Quanto à estrutura desse trabalho, apresentamos na Introdução – como Capítulo 1, o

tema, sua delimitação, as questões norteadoras, os objetivos, a justificativa, o objeto de estudo,

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os pressupostos, a metodologia e os caminhos da análise. Em seguida, no Capítulo 2 aborda de

maneira específica o Transtorno do espectro do autismo (TEA), enfatizando o histórico do

transtorno, os conceitos, os critérios de diagnósticos utilizados atualmente.

O capítulo 3 aborda o referencial teórico dos educadores musicais que deu início à

notação musical não convencional, onde será também explicada a aplicabilidade dos seus

métodos à realidade de uma pessoa com autismo.

No capítulo 4 encontra-se a descrição da compreensão musical dos alunos com TEA a

partir da vivência com leitura da notação não convencional. Seguindo para o capítulo 5

encontra-se a análise de dados, onde são apresentadas as coletas de dados e os critérios de

análise utilizados.

Por fim, as considerações finais a respeito de todo o trabalho e impressões acerca da do

trabalho de ensino de leitura musical a partir de notação não convencional para o

desenvolvimento musical de pessoas com TEA.

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2 CONHECENDO O AUTISMO E A SÍNDROME DE ASPERGER.

2.1 Autismo

A palavra “autismo” deriva do grego “autos”, que significa “voltar-se para si mesmo”.

A primeira pessoa utilizá-la foi o psiquiatra austríaco Eugen Bleuler (1857-1939) entre os anos

de 1911 a 19131, para se referir às pessoas que tinham grandes dificuldades para interagir com

os demais e, por consequência, com muita tendência ao isolamento. Mesmo assim o autismo

não tinha o significado que atualmente conhecemos. Bleuler trabalhava com pessoas que

apresentavam comportamento psicóticos e esquizofrênicos, o mesmo identificava como

características desta condição, quatro sinais, denominados de quatro “A’s”: Autismo,

Associações frouxas, Ambivalência e Afeto inadequado (STONE, 1999).

Em 1943, o psicólogo norte americano Leo Kanner dava à psiquiatria os primeiros

passos para se estabelecer definitivamente como uma especialidade distinta da neurologia. Leo

Kanner havia observado o primeiro de seus pacientes descrito num estudo clássico em 1938,

onde lhe despertou o interesse de estudar mais sobre o caso, buscando decifrar algum tipo de

diagnostico para definir o transtorno.

Após ter estudado com mais atenção 11 pacientes, ele descreveu pormenores que

acreditava ser uma condição neurológica única, que era aparentemente decorrente da

incapacidade de estabelecer vínculos próximos com outras pessoas e para tolerar modificações

menores do ambiente e das rotinas diárias. A característica principal das crianças era uma

incapacidade importante de se relacionar com as demais pessoas, iniciando-se nos primeiros

anos de vida (KANNER, 1943).

Ele observou nessas crianças o autismo como característica mais marcante e, a partir

desse fato, foi formulado um novo tipo de diagnóstico a ser referido a estas crianças. Se há um

nome a ser empregado ao problema de Don2 e das outras crianças disse Kanner, “achei melhor

denomina-lo ‘distúrbio autista do contato afetivo’.” (1942, apud DONVAN e ZUCKER, 2017).

A partir de então, surgiu a primeira utilização do termo “autista” por parte do próprio autor.

1 Data aproximada em virtude da utilização de datas diferentes em várias referências pesquisadas. 2 Donald chamado de Don por Kanner, chegou ao seu escritório quando tinha 8 anos de idade com sua mãe que

buscava descobrir melhor diagnóstico que se encaixasse ao comportamento e características de seu filho, sendo

esse o seu primeiro caso. (DONVAN e ZUCKER, 2017)

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Kanner constatou, dentre outras peculiaridades, que as referidas crianças apresentavam

alterações quanto ao desenvolvimento cognitivo, aderindo a movimentos repetitivos,

demonstrando pouca sensibilidade relativa a determinados fatos e situações e, sobretudo,

revelando alterações na fala e na linguagem (STELZER, 2010).

No que diz respeito às ditas alterações da fala e da linguagem, estas se caracterizam

como “[...] atraso de desenvolvimento de linguagem, emprego de entoação pouco comum, uso

de prenomes trocados e perseverança” (STELZER, 2010, p. 9). Entretanto, Kanner concluiu

que 8 das 11 crianças conseguiram se desenvolver na linguagem, mas não a utilizavam para

comunicar-se com outras pessoas, essas mesmas crianças também não apresentavam

deficiência mental (KANNER, 1943). As descrições feitas por Kanner, segundo Belisário Filho

e Cunha (2010) são as seguintes:

Quadro 1 – Descrição do Autismo feitas por Kanner

/ Belisário Filho e Cunha (2010)

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Kanner tinha descrito que as crianças autistas tentavam manter o mundo externo

distante. Assim, até meados da década de 1960, o “autismo” era considerado um transtorno

emocional cuja responsabilidade era atribuída aos pais, decorrente da não manifestação de afeto

por parte deles na criação de seus filhos.

Mas depois de várias averiguações de novas hipóteses sobre o “autismo”, essa

explicação foi se mostrando falsa. Várias pesquisas, segundo Stelzer (2010), mostraram que o

transtorno poderia ser bem mais multidimensional, ou seja, que deveriam ser levadas em

consideração as causas neurobiológicas, psicológicas e sociais.

2.2 Alterações quanto à terminologia

O termo “autismo” perpassou por diferentes terminologias, tais como distúrbio autista

do contato afetivo, como já citado antes neste trabalho, transtorno invasivo do desenvolvimento

e Transtornos Globais do desenvolvimento. Hoje em dia denomina-se Transtorno do Espectro

do Autismo (TEA), no qual outros quadros podem se manifestar, como a síndrome de Asperger.

Um médico austríaco chamado Hans Asperger estudou casos de crianças que

apresentavam características assemelhadas com o autismo descrito por Kanner, entretanto

verificou que essas crianças tinham inteligência normal, faltando-lhes apenas o contato afetivo-

emocional e comunicativo. Asperger constatou, em seu estudo intitulado “Austistischen

Psychopathen” im Kindesalten (Traduzido do Alemão: As Psicopatologias autísticas na

infância), que um grupo de meninos possuíam inteligência e linguagem normais, no entanto

mostravam certas alterações quanto às habilidades de se comunicar e interagir socialmente.

Stelzer (2010) cita que, no grupo de crianças estudadas por Kanner, três das onze não

“falavam nada” e as demais teriam um comprometimento significantivo na linguagem e não

tinham doença mental. Asperger descrevia que as suas crianças “falavam como pequenos

adultos”. Ele afirmava que a inteligência das crianças era variável, entre o genial ao

mentalmente retardado.

Os estudos de Kanner e Asperger aconteceram na mesma época, porém ambos não

tinham conhecimento do estudo um do outro pelo fato de terem sido realizados durante a

segunda guerra mundial, onde era impossível o contato entre os Estados Unidos e a Europa

dominada pelo nazismo. No entanto, Kanner e Asperger usaram o mesmo termo autismo, para

a caracterização de crianças cujos comportamento sociais e comunicativos apresentavam-se

bastante peculiares.

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A descrição original de Asperger segundo Pearce (2006 apud STELZER,2010) inclui:

• Comprometimento na socialização;

• Comunicação e padrões de comportamento;

• Interesse nas atividades individuais e repetitivas;

• Interesses específicos;

• Insistência anormal;

• Brincadeiras e movimentos estereotipados;

• Comportamentos ritualizados.

Após ter sido apresentado as principais características do transtorno, segue no quadro

abaixo algumas das principais variações entre os transtornos para facilitar o entendimento:

Quadro 2 – Descrição das principais características dos transtornos.

Fonte: Dr. David W. da Silva – Neurologista – CRM 63380

2.3 Critérios de Diagnósticos

O DSM-5 é o Manual Estatístico e Diagnóstico de Transtornos mentais na sua 5ª versão

elaborado em 2013. Sua versão anterior o DSM-V foi desenvolvida em 1994, com modificações

e atualizações no denominado DSM-IV 2000. As versões deste manual, que se estendem da

primeira à quinta edição, possuem como instituição reguladora a chamada “Associação

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Americana de Psiquiatria”, conhecida como APA (do inglês, American Psichiatric

Association). Tais edições contemplam à sua época, os aspectos clínicos, estatísticos e

epidemiológico dos transtornos mentais, sendo esse o instrumento muito utilizado pelos

psiquiatras e pesquisadores em saúde mental. Abaixo apresentamos um quadro resumo das

edições e as modificações do DSM que foram feitas no decorrer do tempo:

Quadro 3 – A Evolução histórica da TEA (Transtorno do Espectro do Autismo)

Fonte: Autor

A classificação Internacional de Doenças, em sua décima versão (CID-10), elaborada

em 1992, regulada pela Organização Mundial de Saúde engloba todas as condições clínicas em

medicina, inclusive a dos transtornos mentais.

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Alguns destes sistemas contemplam algumas o mesmo grupo de patologias e

transtornos. Isto acontece entre o CID-10 e DSM-5 com relação aos transtornos mentais,

possuindo algumas diferenças e similaridades, como mostra a tabela a seguir:

Quadro 4 – Critérios de diagnósticos semelhanças e diferenças.

Fonte: Autor.

Conhecer um pouco da história do autismo bem como as principais características que

podem estar presentes nas pessoas que possuem esse diagnóstico é muito importante para

qualquer educador que, poderá criar estratégias de ensino a partir de seus interesses e de suas

necessidades específicas.

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3 EDUCADORES MUSICAIS E APLICABILIDADES DE SEUS MÉTODOS PARA

ENSINO MUSICAL DE PESSOAS COM AUTISMO.

Considerando a música de grande valor na vida do ser humano, é fundamental que ela

atinja a todos sem distinção. Sendo assim, é importante a inclusão de indivíduos com ou sem

deficiência também em instituições de ensino de música.

Na educação musical, o importante não é somente preocupar-se com a inclusão ou

inserção do aluno no ambiente educacional, mas também procurar fazer adaptações de materiais

e métodos, a fim de elaborar atividades e recursos que melhor se adequem às necessidades de

cada um.

Dessa forma, refletindo sobre o processo de leitura musical da pessoa com autismo,

passamos a pesquisar meios para facilitar a compreensão utilizando recursos didáticos e grafias

não convencionais. Para fundamentar essa ideia, encontramos em França (2010) e Ciszevski

(2010) a indicação de que, a partir da segunda metade do século XX, compositores buscaram

diferentes formas para registrar os sons, utilizando gráficos, desenhos, símbolos e figuras

ilustrativas, ou seja, formas não lineares e unidimensionais definidas até então características

da escrita oficial.

Observando a comparação da notação musical tradicional com a notação alternativa,

França (2010, p.12) aponta que

enquanto na notação tradicional o registro das durações requer longo

aprendizado (padrões, rítmicos, compassos e divisão), na notação alternativa

ele é quase inequívoco: sons curtos são representados por pontos ou traços

horizontais pequenos; longos por meio de traços maiores.

Considerando esta afirmação, podemos dizer que é de suma importância valorizar o

conhecimento do aluno que apresenta algum tipo de necessidade educacional já que, muitas

vezes, a abstração desses conhecimentos pode impossibilitam a sua compreensão. Sendo assim,

o uso da linguagem por símbolos e formas presentes no cotidiano da pessoa com autismo pode

contribuir para o aprendizado e desenvolvimento musical do mesmo de forma mais

significativa. E, de acordo com Louro (2006), “o ideal é mostrar aos alunos o caminho para

compreensão e, aos poucos, fazer com que eles se apropriem do entendimento musical de forma

autônoma”.

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De acordo com França (2010), a notação musical não convencional é um meio que tem

como alicerce a semelhança, tanto na escuta e compreensão musicais como na performance, e

está fundamentada na relação entre as características dos campos auditivo e visual. E ainda é

um procedimento que proporciona a criação, performance, escuta, análise e compreensão

musicais e, de forma espontânea na musicalização, a notação não convencional é uma

continuidade da movimentação do espaço quando pontos, linhas, contornos, surgem nas

representações das grafias feitas pelo o indivíduo.

Nos primeiros anos de vida, o ser humano, independentemente de ter ou não alguma

deficiência, tem os rabiscos e formas como sua primeira escrita, neste caso se faz necessário

utiliza-los como ferramentas importantes para iniciação musical. Isso possibilita o aluno a criar

e expressar-se de modo espontâneo sem ter que se preocupar com “regras”, importando-se então

com a exploração sonora antes mesmo da escrita. John Paynter (1972 apud ROBERTY, 2006,

p.14) ressalta a questão da notação musical como “ponto de renovação e mudança na educação

musical, em que o educador passe a enxergar a música como algo mais do que colcheias e

semínimas [nome dado aos valores das notas musicais], explorando o som previamente à

escrita”.

Pensando assim, os educadores musicais da segunda geração preservavam a utilização

dos desenhos organizados dentro da sua primeira escrita, pois este ato de registrar é um meio

de “materializar e organizar o complexo processo da percepção musical” (FRANÇA. 2010).

Assim como John Paynter, Murray Schafer também fazia parte do grupo dos educadores

musicais que trouxe novas propostas para educação musical. Sua abordagem considera a

importância da experimentação, da vivência, afirmando somente ser possível aprender música

fazendo música, aprender sobre sons fazendo sons (SCHAFER, 1992).

Esse educador musical oferece a exploração dos sons, com a consequente identificação

e classificação. Para isso, o mesmo utiliza a escrita não convencional, como desenhos, traços,

riscos, movimentos, etc, incentivando o ato da criação musical por vivência e sugerindo

discussões sobre as especificidades dos sons. Nesse caso, o principal objetivo é o fazer e o

conhecer musical, adaptando a melhor forma possível da experiência musical à realidade do

aluno, que apresenta dificuldades na assimilação dos conteúdos passados pelo professor de

música. Fonterrada (2005) enfatiza que uma das polêmicas que cerca o compositor Schafer, não

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se dá pela priorização da escuta, mas sim, à falta de ênfase no que tange ao ensino da notação

tradicional.

3.1 O Ensino de Música para Pessoas com Autismo e a Escrita não convencional

Grandes filósofos gregos davam uma importância à música na educação e formação de

jovens. A respeito da educação musical, para Platão, o aspecto intelectual está relacionado ao

aprendizado da leitura e especialmente ao aprender a ler o mundo das formas e sons que nos

rodeiam. (TEXEIRA, 1999)

Dessa forma, podemos então utilizar as diversas formas e sons que estão à nossa volta

a fim de possibilitar a compreensão dos conteúdos musicais da pessoa com autismo, pois todas

as possibilidades são válidas para enriquecer a aprendizagem musical do educando.

Sabemos que a pessoa com TEA possui uma grande dificuldade de se relacionar

socialmente com outras pessoas e a música pode contribuir significativamente para o

desenvolvimento social destas, pois a música possui diversas funções sendo elas; expressão

emocional, entretenimento, comunicação, dentre outras. Esses meios de comunicação são

usados de forma simbólica para transmissão do saber e para transformação social. Para Gainza

(1988), a música é um elemento de fundamental importância, pois movimenta, mobiliza e, por

isso, contribui para transformação e o desenvolvimento. A Educação Musical pode colaborar

para promover a saúde, o respeito e, especialmente formar o indivíduo, trazendo uma nova visão

sobre a música e suas funções sociais. (DIAS, 2014)

Com o objetivo de desenvolver o conhecimento musical dos indivíduos que tem este

transtorno, o professor de música precisa conhecer as especificidades do aluno para, assim,

elaborar um programa de ensino consistente e que possa responder às necessidades destes. No

entanto, ao conhecer o universo do autista é necessário evitar as generalizações e criação de

rótulos, pois “o educador que trabalha com este público precisa saber que, antes de qualquer

coisa, é necessário eliminar os variados rótulos relacionados à deficiência e transmitir sua

atenção para maneira como seu aluno recebe as informações em decorrência dos déficits que

ele apresenta” (HAMEL, HOURIGAN, 2011).

Considerando, então, como uma necessidade dos alunos com TEA adaptarmos as

práticas pedagógicas musicais aos alunos de acordo com seus déficits: cognitivo, de

comunicação e sensorial. A função cognitiva refere-se à habilidade de receber, processar e

manter informações na memória e, para desenvolver esta função, é necessário que haja a

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preservação dos estímulos sensoriais neurais. Dessa forma, a percepção adota a informação

sensorial para extrair o sentido da música (HAMEL e HOURIGAN, 2011) Fazendo, então,

desse processo um meio para o registro musical, podemos então utilizar símbolos familiares

para estas pessoas, onde elas possam receber as informações de forma mais concreta para

auxiliar sua compreensão. Fassina (2011) afirma que é possível que os símbolos ou formas

atuem como conexão entre processos mentais de elaboração e significação da escrita, sendo

também uma possibilidade de renovação e transformação, como uma alternativa lúdica de

aprendizagem. No que diz respeito à comunicação, essa se torna imprescindível para a relação

do aluno e professor, pois quando ambos não conseguem se comunicar, certamente haverá uma

barreira também na aprendizagem.

De acordo com os critérios de diagnóstico do DSM-V (APA, 2013), o indivíduo que

apresenta transtorno do autismo possui déficits nos comportamentos comunicativos não verbais

usados para interação social, que pode variar da comunicação verbal e não verbal, pois o mesmo

também dispões dificuldades de compreender e desenvolver relacionamentos em seu âmbito

social. Assim, o educador musical precisa avaliar a habilidade comunicativa de seu aluno com

a intenção de identificar estratégias de ensino aprendizagem, que podem girar em torno de

sistemas de comunicação alternativos. Dessa forma, o objetivo musical do professor, em virtude

das possibilidades encontradas, é o fazer musical primeiramente e independentemente da forma

escrita. E como “a notação tradicional ideal é aquela que, além de registrar, transmite a

comunicação musical da forma mais exata” (MATEIRO, OKADA, 2012, p.159), muitas vezes

essa escrita tradicional se torna incompreensível para o aluno com autismo tendo em vista que

eles têm muita dificuldade de abstração.

Muitos estudos (como os de FINKEL e WILLIAMS; KRANTZ e McCLANNAHAN;

SHABANI, KATZ, WILDER e BEAUCHAMP, 2002 apud FIALHO, 2009) indicam que

quanto mais concreta (com características físicas), elaborada e específica for a atividade, melhor

e mais eficaz é o aprendizado de pessoas diagnosticadas com TEA. Por essa razão, o uso de

uma comunicação alternativa elaborada e formada por imagens mais próximas do seu cotidiano

tem sido bastante utilizada para desenvolver essas habilidades.

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4 VIVENCIANDO E COMPREENDENDO A MÚSICA ATRAVÉS DA LEITURA DE

NOTAÇÃO NÃO CONVENCIONAL

Trazendo a proposta pedagógica dos educadores musicais da segunda geração para a

nossa pesquisa de expeiênci-ação, utilizamos adaptações de atividades para a realidade de uma

pessoa com TEA fazendo uso da escrita não convencional.

Conforme já foi descrito no capítulo 1, sobre o universo da pesquisa, essa prática foi

realizada com os alunos participantes do Som Azul – Grupo de Musicalização e Autismo, que

atende adolescentes e adultos com autismo.

Foram escolhidos dois alunos, sendo um com Síndrome de Asperger (SA) e outro com

autismo de grau leve e que, a partir desse momento, serão denominados por Yellow e Ciano

respectivamente.

Para escolha desses alunos foram considerados: a) possuírem diferentes diagnósticos;

b) possuírem o autismo em grau leve; c) pela distinção na expressividade verbal.

4.1 A leitura pela escrita não convencional

Esta pesquisa trata-se de uma experiência-ação que descreve o processo de

aprendizagem musical de dois sujeitos com diagnósticos diferentes, onde um deles possui

síndrome de Asperger, tem desenvolvimento cognitivo intelectual normal e não apresenta

atraso na fala. Em contrapartida, o outro tem autismo de grau leve, possui atraso no

desenvolvimento na linguagem, interação social e comportamentos repetitivos. Abaixo

apresentamos um quadro com as descrições dois alunos:

Quadro - 5 Descrição dos sujeitos

Fonte: Autor.

Fonte: Autor.

ALUNOS

Diagnóstico

Período da Descoberta

Idade no período da

pesquisa

YELLOW CIANO

16 Anos

Masculino

- Autismo Grau leve.

- Descobriu aos 3 anos

25 Anos

Masculino Sexo

- Síndrome de Asperger

- Descobriu aos 11 anos

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A pesquisa foi realizada no projeto de musicalização e autismo durante o primeiro

semestre de 2017. Os dois alunos que já faziam parte do projeto anteriormente e deram

continuidade aos estudos, tendo uma aula semanal de musicalização. Fez parte da pesquisa o

total de dez aulas. Cada aula tinha duração de1h e 30 min, carga horária essa que era distribuída

da seguinte forma: 45 minutos para aula de musicalização e 45 minutos para aula de flauta doce.

Buscou-se estimular e ampliar o entendimento musical dos alunos por meio de proposta

adaptada à necessidade do aluno utilizando a leitura de notação não convencional.

As atividades foram desenvolvidas no início do semestre como demonstra um dos

planos de aula a seguir:

Dentro das atividades contidas no plano de aula, estava a dinâmica dos dados que

consiste de dois dados grandes para melhor visualização de todos os alunos da turma. Na

primeira atividade em que esses dados foram utilizados, tinha como objetivo apresentação das

notas associadas às cores. Um dos dados continha nomes das notas musicais: Sol, Lá, Si, Dó e

Ré, notas essas que os alunos haviam aprendido na flauta doce até aquele momento. Essas notas

estavam coladas em papéis coloridos de acordo com as cores previamente associadas a cada

nota. As cores foram introduzidas às atividades não só para fazerem uma distinção das notas,

mas também para serem utilizadas como apoio visual de intervenção junto ao aluno com TEA

como uma forma de comunicação alternativa, tendo em vista as dificuldades que estes têm na

comunicação e na função cognitiva e sensorial. Ortega (2014) coloca que esta relação faz com

que eles se beneficiem com novos canais de comunicação, exercitando a memória, estimulando

a criatividade, além de expor sua própria musicalidade.

As cores escolhidas para distinção das notas foram baseadas nos tubos sonoros

denominado Boomwackers, que possui sua distribuição de cores da seguinte forma:

Data Musicalização Flauta Doce

13/mar • Atividade de Integração

• “Só os loucos sabem” - Charlie Brown (Fazer power

point)

https://www.youtube.com/watch?v=JRJj4z-prvM

• Dinâmica de dados (Figuras e notas)

• Cada dupla joga os ‘dadões’;

• Composição coletiva

• Execução na flauta

• “Quando os anjos entram

marchando” - Folclore

americano;

• Finalizar com a canção

nova.

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Figura1 - Cores das notas musicais

Fonte: Autor

O outro dado utilizado continha figuras de valor já conhecida por eles, sendo elas:

Semínima, mínima e a pausa da semínima. Abaixo, uma imagem dos dois dados (notas e figura

de valor):

Foto 3 – Dados usados na dinâmica.

Fonte: Arquivo Som Azul.

Nessa patologia, o objetivo principal era o incentivo à diferenciação e agrupamento dos

recursos visuais, uma vez essas pessoas apresentavam dificuldades em compreender

determinadas informações pela complexidade dos mesmos. Os dados foram apresentados aos

alunos, primeiramente os que continham figuras de valor e depois os das notas e suas cores

correspondentes. Logo em seguida foram feitas algumas atividades de combinação dos dois

dados. Assim, a combinação entre imagem e som deveria ser ressaltada a fim de que esta

estimulação sensorial facilitasse a aprendizagem musical.

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Logo após eles terem se apropriado dessa relação, seguiu-se a atividade de leitura

musical. Para realizar essa atividade, os alunos iam sendo chamados à frente para jogar um

dado. O primeiro a ser jogado era o dado rítmico e, caso não caísse em figura de pausa, o

próximo aluno jogaria dado das notas. À medida em que os dados iam sendo jogados, a

professora escrevia no quadro a figura de valor e a nota correspondente em cima da figura

(quando esta não era uma pausa). Após todos os alunos terem participado da atividade, o

resultado dessas ações transformou-se em uma criação musical, feita de forma aleatória e

coletiva, pois todos participaram sem objeção e, a partir dessa criação, os alunos foram

estimulados a cantar a sua própria música e apresentaram poucas dúvidas no momento da

execução. Dessa forma, respeitamos o tempo de compreensão de cada aluno explicando sempre

de forma contínua à medida que essas dúvidas iam surgindo. A imagem abaixo apresenta o

resultado final de um trecho musical que foi formado onde uma das professoras aponta no

quadro a composição, enquanto os alunos faziam a leitura.

Foto 4 – Criação musical.

Fonte: Arquivo som azul

Após a realização dessa atividade, na aula seguinte, procuramos reforçar o entendimento

da associação cor-nota musical. Dessa forma, apresentamos adiante o planejamento e atividades

realizadas no encontro seguinte:

Data Musicalização Flauta Doce

20/mar ● Atividade de Integração

- “Agora eu sei” – Adaptação da música “Só

os loucos sabem”;

• Dinâmica com a caixa surpresa de

música - JOYCE e RAIANE

• Relembrar - “Quando os anjos entram

marchando” - Folclore americano;

• Bruno e Luís Felipe faz a melodia

principal: Sol, si do re

• Grupo: sol, si, si, si

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A dinâmica com a caixa surpresa de música foi a próxima vivência realizada com e

pelos alunos, que foi feita utilizando cartelas com figuras musicais coloridas, pois cada nota

musical passara a ter sua identidade e sentido para os alunos. Da mesma forma como aconteceu

com as cores que têm características distintas, onde cada cor é formada por luz e brilho, cada

nota individual trazia um som próprio, se diferenciando umas das outras. Levando isso em

consideração, entre “as notas musicais (intervalos musicais) e cores, não existe somente entre

si analogia como a vibração, a frequência e as formas, também existem outras diferenças

idênticas, por exemplo, “uma nota musical poderá ter um papel distinto na escuta dependendo

da sua função harmônica, já uma determinada cor, poderá parecer diferente em função da cor

de fundo onde a mesma possa estar presente (ORTEGA, WILMER e GATTINO, 2012). A

atividade utiliza as cartelas com figuras e cores diferentes ou aleatórias, seguindo um padrão

como se fossem compassos quaternários (mas sem fazer uso de uma forma de compasso). Elas

iam sendo colocadas dentro de uma caixa coberta denominada “caixa surpresa” e, em seguida,

os alunos eram convidados a retira-las. Depois que cada um participava desse processo, as

cartelas iam sendo agrupadas, uma ao lado da outra, formando, assim, trechos musicais. Esses

trechos musicais passariam a ser reproduzidos pelos alunos, primeiramente através do solfejo

e, em seguida, tocando na flauta doce. A figura a seguir demonstra um modelo de cartela

contendo figuras de valor associadas às cores trabalhadas em sala que foi utilizado como recurso

didático.

Figura 2 – Cartelas de notação com cores.

Fonte: Autor

Após esta atividade ter sido desenvolvida e aplicada, foi observado que os alunos ainda

apresentavam dificuldade em identificar os intervalos entre as notas. Eles haviam compreendido

que cada cor correspondia a uma nota, porém não tinham a noção espacial da posição em que

elas se encontravam, ou seja, não conseguiam diferenciar qual nota era aguda e qual nota era a

grave. Então, a partir dessa constatação foi pensado em se utilizar uma outra alternativa que os

ajudassem a expressar a música de maneira mais espontânea. Diante desta situação, outra forma

que pensamos que poderia auxilia-los na compreensão das alturas foi utilizar outro tipo de

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recurso visual. Sendo assim, foram introduzidos gráficos de altura sonoros, usando formas

geométricas, tais como: triangulo e retângulo, apresentados em formato de powerpoint, de

forma que cada uma das figuras estivesse posicionada em alturas diferentes na tela, sugerindo

visualmente aos alunos que cada símbolo representava uma duração e uma altura definidas.

Essa estratégia foi pensada para auxiliar a compreensão e assimilação dos parâmetros que

norteiam o som.

França (2010) e Ciszevski (2010) salientam que os educadores da segunda geração

buscaram outras maneiras de registrar o som, fazendo uso de gráficos, símbolos e figuras

ilustrativas.

Desta maneira foi utilizada uma grafia por blocos contendo as cores das notas musicais

(ver figura 1), referindo-se a uma partitura para o ensino aprendizagem da notação não

convencional desses alunos no qual representamos a música “Ode to Joy” do compositor

Beethoven (1770-1827). Nas figuras abaixo encontram-se o primeiro e o segundo compasso da

música, sendo que a figura 3 apresenta como é a partitura convencional, e a figura 4, como foi

feita a representação dessa com a proposta de notação não convencional.

Figura 3 – Primeiro e segundo compassos da música Ode to Joy. (notação convencional)

Fonte: Autor

Figura 4 – Representação das notas e figuras rítmicas. (notação não convencional)

Fonte: Autor.

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E, assim, foi verificado que a nova adaptação feita para os alunos com autismo e SA

(Síndrome de Asperger) esclareceu as dúvidas que surgiram no encontro anterior e facilitou a

compreensão dos participantes. Em uma das aulas, Ciano identificou prontamente que a nota

Mi era mais aguda que a Ré, ele não apontou para mostrar qual era, mas fez uso da linguagem

falada para comunicar qual era a nota, enquanto Yellow processou a informação de forma mais

lenta em relação ao Ciano. Esse mesmo recurso foi utilizado nos demais encontros, e durante o

período das observações, a grafia foi sendo adaptada para a inserção de mais uma nota como

segunda voz, promovendo uma vivência prática da harmonia na música. Essa atividade

proporcionou aos integrantes do grupo uma nova experiência musical tanto no campo auditivo

como no visual. Outro exemplo de atividade com a escrita não convencional foi com a música

“Don’t worry, be happy”, do compositor Bobby McFerrin (1950- atualmente). Apresentamos

abaixo o primeiro e segundo compassos da música trabalhada utilizando o mesmo recurso

metodológico.

Figura. 5 – Primeiro e segundo compasso da canção Don’t Worry be Happy. (notação

convencional)

Fonte: Autor

Figura 6 - Representações das notas e figuras rítmicas. (notação não convencional)

Fonte: Autor.

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A partir dessas adaptações os alunos conseguiram interpretar as músicas, reconhecendo

os sinais musicais representados pelas figuras e cores.

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5 ANÁLISE DE DADOS

Para a realização dessa pesquisa, utilizamos como ferramentas a observação

participante, o diário de campo, gravações de aulas em vídeo e entrevista semiestruturada. No

quadro abaixo, apresentamos as características de cada uma dessas ferramentas:

Quadro 6 - Instrumentos da coleta de dados

Fonte: Autor

Para a análise dos dados, utilizamos como critérios: 1) verificação da aprendizagem

musical através da leitura não convencional, 2) entrevista semiestruturada (registrada em áudio)

e 3) critério do júri.

5.1 Aprendizagem Musical através da leitura não convencional

Com este critério procurou-se analisar se houve aprendizagem e de que maneira esta

nova abordagem de escrita não convencional, possibilitou a transformação e desenvolvimento

musical dos participantes. Fassina (2011) afirma que é possível que as formas atuem como uma

conexão entre processos mentais e de ligação e significação da escrita, sendo também uma

possibilidade de renovação e transformação, como uma alternativa lúdica de aprendizagem.

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A partir das imagens de registros áudio visuais foi possível discutir ou estudar

ocorrências sob a maneira de como eles geram significados ou interpretações. São as

expressões, reações e gestos, mas percebido pelo olhar atento do pesquisador.

No decorrer das 10 aulas observadas, verificamos que, apesar de terem diagnósticos

diferentes, os dois alunos pesquisados conseguiram aprender os conteúdos apresentados, ou

seja, conseguiram ler e interpretar uma música com a adaptação da partitura para um tipo de

escrita não convencional, porém que continha elementos que estavam mais próximos de sua

realidade. A leitura musical com elementos não convencionais permitiu a ambos a associação

entre o que eles viam como registro escrito e o seu resultado sonoro.

5.2 Entrevista semiestruturada

Para complementar a pesquisa e reforçar as conclusões obtidas no decorrer das aulas

observadas, elaboramos algumas questões para serem realizadas junto aos alunos Yellow e

Ciano em forma de entrevista semiestruturada.

Segundo Trivanos (1987),

a entrevista semi-estruturada é aquela que parte de certos questionamentos

básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa e que à

pesquisa e que em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de

novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do

informante.

As entrevistas foram gravadas em áudio, pois os participantes apresentaram incômodo

ao serem filmados devido à característica das pessoas com autismo, eles possuíam dificuldade

em se comunicar e expressar-se de forma mais detalhada. Dessa forma, as perguntas foram

feitas respeitando as suas “limitações”, elaboradas e apresentadas de maneira bem espontânea

para que os entrevistados se sentissem mais confortáveis. A entrevista foi realizada com a

intenção de obter informações dos próprios participantes da prática pedagógica utilizada pelos

professores. Pois, “na condução de uma entrevista semiestruturada, o entrevistador procura

obter informações, dados e opiniões por meio de uma conversa livre, para que o respondente

fique à vontade previamente ao roteiro de perguntas [...]” (MARTINS, 2008, p.27).

5.3 Critérios do Júri

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Neste critério buscou-se considerar reflexões de educadores musicais que não estavam

envolvidos durantes as atividades com o grupo, a fim de captar evidências durante as

observações que poderiam ser utilizadas na comparação/cruzamento com outros dados

coletados, tais como: as observações protocoladas e o questionário da entrevista, pois as

considerações e interpretações das evidências fornecidas por aqueles que não tiveram

participação na produção do objeto de análise são extremamente úteis e repletas de significados

(SWANWICK, 1994, p.78). Alguns recortes de filmagem das aulas considerados significantes

foram enviados para um grupo de júris composto por 3 profissionais na área da música para

serem analisados, permitindo aos observadores ou júris independentes que atuassem em suas

interpretações pessoais quanto a do objeto de pesquisa, visto que o júri garante um olhar

diferente do olhar do pesquisador neste processo.

5.4 Análise de conteúdo

A análise de conteúdo tem como objetivo explorar a estrutura e fundamentos dos

conteúdos, tendo em vista esclarecer suas diferentes características e extrair sua interpretação.

Este procedimento é um estudo minucioso do conteúdo das palavras e frases, preocupando-se

em encontrar-lhes o sentido, compreender as intenções, comparar, avaliar, destacar o

acessório, reconhecer o essencial e selecioná-lo.

A análise de conteúdo facilita o processo de reflexão do pesquisador para chegar às

conclusões finais (CARVALHO e LEÃO, 2017). As investigações de caráter exploratório

requerem uma abordagem indutiva, onde o pesquisador agrupa as unidades de “interpretações

aproximadas” para alcançar um grupo inicial de “categorias fundamentais”, as quais, ao longo

do processo, são rebuscadas em direção às “categorias finais”. Vale salientar que as categorias

emergem no curso da própria análise, a orientação mais especifica do trabalho, os objetivos no

seu sentido mais preciso poderão ir se delineando à medida que a pesquisa avança. É o caso das

observações das aulas e da entrevista semiestruturada, que utilizamos com matéria-prima para

análise. Além da elaboração das aulas junto aos comentários relevantes observados pela

pesquisadora após a realização das atividades, as entrevistas também foram transcritas em

documento textual a fim de estabelecer as possíveis categorias de análise a serem descritas.

Quando foram registrados todos os comentários das obsecrações das aulas, a gravação

da entrevista e análise da imagem em movimento feita pelo júri, foi obtido um material

relevante necessitando de uma análise mais aprofundada para estabelecer de forma mais

criteriosa as unidades de análise.

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Conforme a análise, lendo todas as repostas dos entrevistados e comentários dos

profissionais da Educação Musical, com base na literatura enfatizada na pesquisa e objetivos,

foram identificadas três categorias, são elas: 1) reconhecimento dos elementos musicais por

leitura não convencional; 2) assimilação das notas por cores; 3) estímulo sensorial por imagem

e som.

Na categoria reconhecimento dos elementos musicais por leitura não convencional

buscamos identificar a aprendizagem dos alunos envolvidos na pesquisa pelo reconhecimento

dos elementos da música contidos em uma escrita fora do contexto convencional da música e

incluindo elementos familiares aos educandos, levando em consideração suas limitações

ocasionadas pela deficiência, neste caso o TEA.

Em relação à assimilação das notas por cores, o desenvolvimento musical do aluno com

autismo se dá pela preocupação do professor em apresentar para essas pessoas

ferramentas/conteúdos com objetivo de esclarecer e ampliar o entendimento desses. Em vista

disso, as cores buscaram dar uma identificação à nota. Dessa maneira, a assimilação do

conteúdo passou pelo processo de compreensão de forma mais exata.

As contribuições da estimulação sensorial por meio da imagem (cor e formas) e som

(percepção auditiva) foram reconhecidas e serviram como eixos de referência a partir do qual

se analisam informações concretas para melhor aprendizado da pessoa com TEA.

O quadro a seguir apresenta todas as categorias identificadas durante a análise bem

como os comentários relevantes dos critérios estabelecidos pela pesquisadora.

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Quadro 7 – Categorias identificadas durante a análise.

Fonte: Autor

5.5 Avaliação dos Resultados

As categorias estabelecidas a partir da análise de conteúdo foram utilizadas como

referência para avaliação do desenvolvimento musical dos participantes, através da leitura de

notação não convencional. Abaixo será apresentada uma síntese dos resultados alcançados com

os conteúdos vivenciados em sala com os alunos com TEA, segundo as categorias apontadas

pela Análise de Conteúdo. Vale lembrar que todos os dados referentes ao desenvolvimento

musical dos alunos foram fornecidos pelo júri, entrevista e observações acerca da aprendizagem

musical.

Analisando de forma cautelosa todas informações obtidas dentro dessas categorias,

podemos observar que tanto os comentários dos jurados quanto as respostas dos entrevistados

em relação ao processo ensino aprendizagem da notação não convencional durante as aulas

observadas indicaram que as representações da grafia relacionada ao repertório contribuíram

de maneira significativa para o aprendizado e desenvolvimento musical dos participantes desta

pesquisa.

De acordo com Mateiro e Okada (2012), a forma de ensinar a notação musical e perceber

as notas tornam o conteúdo musical compreensível ao indivíduo pelo fato de haver uma relação

entre o registro sonoro e os símbolos/formas familiares aos educandos.

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Os dados colhidos no desenvolvimento da pesquisa nos proporcionaram um maior

entendimento de como a notação musical não convencional pode ser uma alternativa

metodológica que apresenta muitas vantagens. Uma delas é o estímulo para a aprendizagem

musical por parte do aluno, resultando numa melhor compreensão da música e exploração dos

elementos musicais com mais propriedade.

França segundo Mateiro e Okada (2012) diz que o tipo de notação musical que o

professor adota está diretamente relacionado ao desenvolvimento musical do aluno e ressalta

que as grafias alternativas, além de estimular os processos cognitivos, ampliam a criatividade

musical.

Percebemos o quanto foi significativa essa experiência para os alunos. Para além de

todas as ferramentas utilizadas, ao final de todo o processo, identificamos nos alunos o

sentimento de realização através do pouco que falaram, do olhar, da alegria demonstrada

durante as atividades de fazer e interpretar a música.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todas as informações contidas nesse trabalho, é importante mencionar que o

ensino/aprendizagem da notação musical não convencional se faz relevante para pessoas com

TEA e seus familiares, e profissionais da área de Educação Musical. Pude verificar durante

minha pesquisa, o quanto essa proposta foi significativa para os alunos envolvidos, promovendo

o desenvolvimento musical.

No desenvolvimento da pesquisa pude verificar a importância do educador musical para

a criação de recursos e adaptações de metodologias e materiais didáticos para que os alunos

adquiram a máxima compreensão dos conteúdos musicais e vivam mais intensamente a música.

Com isso a proposta pedagógica abordada nesta pesquisa fez com que os envolvidos se

sentissem mais capazes de expressar a musicalidade de modo espontâneo e com mais confiança.

Foi verificado que essa vivência trouxe para os alunos com TEA, do grupo Som Azul,

possibilidades que contribuíram para o aprendizado dos mesmos, onde a leitura da notação

musical não convencional os possibilitou vivenciar vários processos musicais tais como:

percepção, criação e execução.

Em relação à proposta de leitura de notação não convencional abordada nessa pesquisa,

pude perceber que o processo de aprendizagem musical foi relevante de tal forma que fez com

que o aluno que tem um comprometimento cognitivo intelectual e de linguagem,

compreendesse de maneira até mais eficaz os conteúdos musicais apresentados do que o aluno

com desenvolvimento cognitivo intelectual “normal” e sem a linguagem comprometida. Tendo

como objetivo dessa pesquisa verificar se a leitura de notação não convencional auxilia no

desenvolvimento musical dos alunos com autismo, as informações levantadas permitiram

chegar a conclusões relevantes da amostra estudada, que a aprendizagem musical dos alunos

por meio desta nova grafia relacionada ao repertório apresentaram resultados significativos.

Uma importante comprovação do resultado dessa pesquisa se deu no recital no final do

semestre, onde os participantes apresentaram a música “Don’t worry, be happy”. Nessa

apresentação, os alunos tocaram lendo a partitura com notação musical não convencional criada

especialmente para eles. Os alunos se sentiram mais confiantes na hora da apresentação, por

saberem que existia algo a sua frente que lhes ajudava a lembrar de tudo o que aprenderam e

que tudo correria bem na hora da execução. Podemos dizer que a leitura não convencional

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reforçou sua percepção auditiva/visual e vimos que eles conseguiram expressar sua

musicalidade sem precisar ler uma partitura tradicional.

Pois, enquanto na notação tradicional o registro escrito da música necessita de um longo

aprendizado, na notação não convencional esse registro pode ser representado por outros

elementos mais concretos e, portanto, mais próximos da realidade dos alunos. Tal

procedimento, faz com que o aluno se identifique melhor e permita associações visuais/sonoras

mais eficazes.

A seguir, apresentamos uma foto da apresentação do grupo fazendo uso do recurso

visual trabalhado em sala.

Foto 5 – Apresentação com partitura

Fonte: Autor

Acredito, pois, que este trabalho poderá trazer benefícios tanto para as pessoas com

TEA, quanto para qualquer outro grupo de pessoas, sendo elas com deficiência ou não. Da

mesma forma, também trazer uma contribuição para discussões acadêmicas relacionadas as

novas possibilidades para Educação Musical, para que se busque pesquisar e criar materiais

alternativos que auxiliem na compreensão dos conteúdos musicais a serem apresentados em

sala.

Desta forma, espero que esta pesquisa motive os futuros educadores musicais a

utilizarem mais possibilidades de atividades musicais que contemplem as necessidades

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específicas de seus alunos, de modo que venha proporcionar o seu fazer musical estimulando a

criatividade e a musicalidade tornando o ambiente da aula de música ainda mais prazeroso,

tanto para o educador quanto para o educando, promovendo o desenvolvimento e o aprendizado

musical.

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TEIXEIRA, E. F. B. A educação do homem segundo Platão. São Paulo, Paulus. (filosofia).

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TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa

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ANEXOS

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Grupo de Musicalização e Autismo

Som Azul - CRONOGRAMA 2017

2017.1

CRONOGRAMA Módulo II

Data

↓ Musicalização Flauta Doce

06/mar ● Atividade de Integração

- Boa tarde meu amigo

● Atividade do Karaokê

● Relembrar atividades -

“Azul da cor do mar”

● Relembrar notas da música

- Tambor e flauta

13/mar ● Atividade de Integração

- “Só os loucos sabem” -

Charlie Brown (Fazer power

point)

https://www.youtube.com/watch?v=J

RJj4z-prvM

● Dinâmica de dados (Figuras e

notas)

- Cada dupla joga os ‘dadões’;

- Composição coletiva

- Execução na flauta

● “Quando os anjos entram

marchando” - Folclore

americano;

● Finalizar com a canção

nova.

20/mar ● Atividade de Integração

- “Agora eu sei” – Adaptação

da música “Só os loucos

sabem”;

● Dinâmica com a caixa

surpresa de música - JOYCE

E RAIANE

● Relembrar - “Quando os

anjos entram marchando” -

Folclore americano;

- Bruno e Luís Felipe faz a

melodia principal: Sol, si do

re

- Grupo: sol, si, si, si

27/mar Atividade de Integração

- “Agora eu sei” – Adaptação

da música “Só os loucos

sabem”;

- REVISAR NOTAS NA

FLAUTA - GESSÉ

● Dinâmica com a caixa

surpresa de música (com notas

misturadas) - MAURÍCIO

● Atividade de Relaxamento:

MAGNA

- “Trem bala” -

https://www.youtube.com/wa

● Relembrar e finalizar-

“Quando os anjos entram

marchando” - Folclore

americano;

- Bruno, Luís Felipe, Rodrigo

e Patty faz a melodia

principal: Sol, si do re

- Grupo: sol, si, si,si

- Fazer sequência das notas a

ser entregue para as duas

vozes - LIANA

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tch?v=AaIPZwDnYdg

03/abril ● Atividade de Integração -

MAURÍCIO

- “Agora eu sei” – Adaptação

da música “Só os loucos

sabem”;

● Apresentação com

Boomwhacker’s - JOYCE

- Apreciação da música“Don’t

worry be happy” + Arranjo.

- “Ode to joy” com

Boomwhacker’s (slides)

● Atividade de Relaxamento:

- “Trem bala”

https://www.youtube.com/watch?v=

AaIPZwDnYdg

● Relembrar e finalizar-

“Quando os anjos entram

marchando” - Folclore

americano;

- Bruno, Luís Felipe, Rodrigo

e Patty faz a melodia

principal: Sol, si do re

- Grupo: sol, si, si,si

1ª e 2ª parte.

Obs.: Fazer a segunda voz para

entregar para os alunos.

10/abril ● Atividade de Integração

- Como vai;

- “Agora eu sei” – Adaptação

da música “Só os loucos

sabem”;

● Apreciação do vídeo da

orquestra “Star Wars”

https://www.youtube.com/watch?v=

xRRtOJqB8PU

● Leitura rítmica “Marcha

imperial”:

https://www.youtube.com/watch?v=

RrU2ePutlys

● Atividade Boomwhacker’s

- “Ode to joy” com slide

- “Don’t worry be happy” com

slide

● Relembrar e finalizar-

“Quando os anjos entram

marchando” - Folclore

americano.

17/abril ● Atividade de Integração

- Como vai;

- “Agora eu sei” – Adaptação

da música “Só os loucos

sabem”;

● Atividade Boomwhacker’s

- “Ode to joy” com slide

- “Don’t worry be happy” com

● Apresentar a Música

“Primavera” (Tim Maia)

Obs.: Gráficos entregues.

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slide

● Atividade de Relaxamento:

- “Trem bala”

24/abril ● Atividade de Integração

- Como vai;

- “Agora eu sei”

● Atividade Boomwhacker’s

(com figuras) (JOYCE)

- “Ode to joy” com slide

- “Don’t worry be happy” com

slide

● Apresentar a música “Se

todos fossem iguais a você”

Obs.: Gráficos entregues.

01/Maio FERIADO FERIADO

08/Maio ● Atividade de Integração

- Como vai;

- “Agora eu sei”

● Atividade Boomwhacker’s

(com figuras) (JOYCE)

- “Ode to joy” com slide

- “Don’t worry be happy”

(Ensinar a letra)

● Relembrar “Se todos

fossem iguais a você”

15/Maio ● Atividade de Integração

- Como vai;

- “Agora eu sei”

● Atividade de solfejo com

bolas (Dó, ré mi, fá e sol)

- Associar cores as notas;

- Composição musical com

cartelas das respectivas notas.

● Repassar “Se todos fossem

iguais a você”

- Introdução.

22/Maio ● Atividade de Integração

- Como vai;

- “Agora eu sei”

● Repassar “Se todos fossem

iguais a você”

- Introdução.

● Apreciação da música “Se

todos fossem iguais a você”

(completa)

https://www.youtube.com/watch?v

=Wdi9Tmk-y04

29/Maio ● Atividade de Integração

- Como vai;

- “Agora eu sei”

● Músicas com Boomwhacker’s

- Organização do grupo para a

apresentação

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05/Junho

12/Junho

19/Junho

● Atividade de Relaxamento:

- Oração (A Banda Mais

Bonita da Cidade)

➔ MÓDULO II

Apresentação:

Boomwhacker’s

● Ode to joy

Tubos e voz

● Don’t worry, be happy

Voz e flauta

● Se todos fossem iguais a você

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APÊNDICE

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PERGUNTAS REALIZADAS NA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA.

As notas com cores distintas ajudaram a entender que são diferentes?

Yellow: Sim, Hanram!

Ciano: Sim

Ao ver as notas em formas e posições diferentes, consegue perceber a altura delas?

Yellow: Hunrum, é..., sim!

Ciano: Sim

A grafia apresentada para execução da música facilitou o seu entendimento em relação

alturas das notas musicais?

Yellow: Sim, hanram!

Ciano: Não verbalizou, porém, balançou a cabeça em afirmativo.

Você consegue perceber que uma nota é aguda ou grave visualizando que elas estão

posicionais em alturas diferentes, sendo elas apresentadas por quadros colocados uma a

cima e outra a baixo?

Yellow = Hunrum, é, sim!

Ciano = sim.

Entre as notas Mi e Ré qual é a mais aguda das duas?

Yellow = Não verbalizou, mas indicou a nota na imagem usando o dedo.

Yellow = Mi

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Estaversãofoirevisadaeaprovadapelo(a)orientador(a),sendoaceite,pelaCoordenaçãodeLicenciaturaemMúsica,comoversãofinalválidapara

depósitonoRepositóriodeMonografiasdaUFRN.

____________________________DaniloCesarGuanaisdeOliveira

CoordenadordeLicenciaturaemMúsica