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Visitez Le Portugal

TRATADO

Num. 95 - Ano 4 - 25 de Novembro - 25 novembre 2017

Crime

Força Aérea sabia há anos que era roubada pelos militares, mas nada fezAlerta foi dado em 2009 por um sargento de Beja, mas nada se passou até a Judiciária começar a investigar, em 2015. Juiz fala em “máfia militar” e em “polvo”.

Por Ana Henriques/P

A Força Aérea sabia há pelo menos oito anos que era roubada por militares seus que trabalhavam nas messes, mas nada fez, apesar de o assunto ter sido reportado à hierarquia.

Foi preciso a Polícia Judiciária entrar nas bases aéreas, há um ano, para serem presos preventivamente os responsáveis por uma alargada rede criminosa encabeçada por um general, coronéis e tenentes-coronéis. Segundo os investigadores, não havia uma única messe da Força Aérea onde a corrupção não grassasse – muito embora nos últimos três anos tenham saído do esquema duas cantinas. Num despacho que fez, o juiz de instrução criminal que tem em mãos o processo resultante da chamada Operação Zeus fala em “máfia militar” e em “polvo”.

Tudo começou com uma denúncia anónima enviada à Polícia Judiciária Militar na Primavera de 2014 por um empresário reformado que tinha fornecido as messes durante anos. Na carta que escreveu, explicava que também tinha alinhado no esquema, que consistia em facturar à Força Aérea quantidades de alimentos muito superiores às efectivamente entregues nas bases aéreas. O lucro era depois repartido entre os fornecedores e os militares corruptos. Depois de apontar vários nomes – incluindo o de um segundo general da zona de Coimbra conhecido nos meios castrenses como Ali Babá, que ao contrário dos seus colegas não viria a ser constituído arguido –, o denunciante despedia-se: “Sei que isto não vai dar em nada, mas fico mais aliviado em denunciar a situação”. Enganava-se: deu origem a um escândalo sem precedentes neste ramo das Forças Armadas. Há pouco mais de uma semana foi proferida acusação contra oito dezenas e meia de arguidos, metade dos quais militares. Além de corrupção estão em causa os crimes de associação criminosa e falsificação de documentos.Durante o ano e meio que a denúncia esteve nas mãos da Judiciária Militar a investigação decorreu a passo de caracol. Só com a entrada no processo da

Déclaration du premier ministre à l’occasion du

Jour du Souvenir

Le 11 novembre 2017

Ottawa (Ontario)

Le premier ministre Justin Trudeau a fait aujourd’hui la déclaration suivante à l’occasion du jour du Souvenir :

« Aujourd’hui, nous prenons le temps de nous rappeler les Canadiennes et les Canadiens qui ont servi notre pays. Nous rendons hommage à ceux qui nous ont défendus et qui ont veillé à nos valeurs les plus chères.

« Chaque génération de Canadiens a répondu à l’appel pour servir leur pays. D’Ypres à Dieppe, de la Corée à l’Afghanistan, les braves hommes et femmes de nos forces armées ont fait preuve de courage au quotidien et de résilience devant l’adversité.

« Cette année, en célébrant le 150e anniversaire de la Confédération, nous avons pris le temps de réfléchir à certains des moments les plus importants de l’histoire militaire de notre pays. En perpétuant le souvenir de batailles comme celles de Passchendaele, de la côte 70, de Vimy et de Dieppe, nous rappelons à notre génération et aux générations futures d’où vient leur liberté.

« Nous avons une dette de reconnaissance immense envers nos vétérans, ainsi qu’envers ceux qui sont tombés et leurs familles qui les aiment. Tout comme les braves hommes et femmes de nos forces armées ont pris soin de nous, nous devons aussi prendre soin d›eux. C›est notre devoir sacré en tant que pays de soutenir nos héros lorsqu’ils en ont besoin.

« À 11 heures, peu importe où vous êtes, je vous invite à observer les deux minutes de silence. Nous nous souvenons de ceux qui ont servi, qui ont vécu l’horreur et traversé l’enfer, et qui ont fait des sacrifices extraordinaires pour assurer notre liberté.

« Pays reconnaissant, nous nous tenons debout ensemble, le coquelicot près du cœur.

« Nous nous souviendrons. »

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A Chuva e o Bom Tempo

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Cont. da pág.1Polícia Judiciária civil o inquérito deu passos significativos, graças à utilização de um homem da base de Monte Real como agente encoberto. Abordado por um colega para fazer parte da rede criminosa, o militar em causa comunicou às autoridades o que se estava a passar. Foi arregimentado para fingir que alinhava, por forma a conseguir reunir provas.

Recebeu envelopes com dinheiro dos fornecedores – mais de 40 mil euros – que fotografou e gravou conversas comprometedoras. A tal ponto que a parte dos militares envolvidos não restou outro remédio quando foram detidos senão confessarem o seu envolvimento. “É raro conseguir uma prova tão ostensiva”, escreveu o juiz de instrução criminal. Uma posição partilhada pelos seis juízes do Tribunal da Relação de Lisboa que no mês passado negaram a três dos arguidos o fim da prisão preventiva, por entenderem que os indícios de crime eram demasiado fortes e o risco de perturbação da investigação demasiado grande. O general Raul Carvalho, por exemplo, arrisca-se a muitos anos de cadeia – embora negue tudo.

A hierarquia da Força Aérea podia ter investigado os roubos muito antes da denúncia anónima, há pelo menos oito anos. Foi nessa altura que um sargento colocado na base de Beja disse, durante um interrogatório a que foi submetido no âmbito de um processo disciplinar, que havia um esquema montado há muitos anos nas messes da unidade, que também ocorreria noutras cantinas da Força Aérea. E descreveu precisamente o esquema que a Operação Zeus tornou público.

O tenente-coronel que o interrogou, Carlos Candeias, garantiu em Agosto passado ao Ministério Público que entregou em mão o processo disciplinar em causa ao então comandante aéreo da Força Aérea, o tenente-general José Maria Pessoa, que viria a ser inspector-geral deste ramo das Forças Armadas. Antes disso, o militar tinha estado à frente do comando logístico e administrativo da Força Aérea, do qual faz parte o departamento ao qual pertencem os principais arguidos do processo. O inspector-geral reporta ao chefe do Estado-Maior da Força Aérea.

O PÚBLICO perguntou à Força Aérea o que fez com as informações que recebeu em 2009, mas não obteve qualquer resposta. O mal-estar provocado pela Operação Zeus tem levado a instituição a refugiar-se no silêncio. Certo é que nenhum dos arguidos tinha sido incriminado por causa das messes até à Judiciária Civil entrar nas bases aéreas, em Novembro passado.

Na primeira pastelaria que abriu em Lisboa «A Brasileira», as pessoas não estavam habituadas a beber café, e pensavam que este era para beber tal e qual como era servido (ou seja: sem açucar). Como era de imaginar, as pes-soas não gostavam do sabor.

O responsável do café, para avisar as pessoas escreveu um cartaz que dizia:

Beba Isto Com AçucarAs pessoas habituaram-se e começaram a chamar o café de :

BICA, pois eram as iniciais do cartaz.

Anjo ou Diabo?As recentes tribulações da chanceler alemã Ângela Merkel, não terão sido surpresa para alguns, mais habituados a acompanhar o que se passa no exterior deste cantinho à beira mar mal plantado. E quando digo mal plantado, não me refiro à qualidade do nosso clima ou das panorâmicas paradisíacas ou ainda, dos monumentos que ilustram quase 900 anos de uma História rica e invejada. O mal plantado tem a ver apenas, com a saga de corruptos e ladrões de todo o género que têm posto este pobre país a saque. São ervas daninhas que terão de ser extraídas — ler eliminadas — seja qual for o modo.

A Alemanha encontra-se, portanto, com um bico de obra a resolver. Não tendo conseguido maioria absoluta nas últimas eleições, tal que previsto, Ângela Merkel, é obrigada a mendigar parcerias para fazer um género de geringonça à “portuguesa”.

Ora isto é quase o princípio do fim para Merkel, E um grande quebra-cabeças para o Presidente federal do país, Frank-Walter Steinmeier. Depois de vários anos de fausto dourando a imagem e a permitir-se dominar a Europa, aproveitando-se das facilidades e das anuências do Banco Europeu para escoar as mercadorias alemãs destinadas aos países pobres do Sul, a chanceler aplicou a filosofia de Henri Ford. Quando alguém lhe perguntava se poderia escolher a cor da sua viatura a adquirir, o industrial respondia: certamente, desde que seja (cor) preta. Isto porque, nos anos vinte, todos os Ford no mercado eram pretos. No caso da Alemanha, os financiamentos apareciam desde que fossem para adquirir BMW, Áudios, Mercedes, Wolks e qualquer outra maquinaria da indústria alemã. Assim a Alemanha ultrapassou todas as previsões de desenvolvimento e crescimento europeu. Graças à miséria dos povos e à ganância dos dirigentes dos países de periferia. Orelhas murchas, espinha dobrada, o povo via e calava assobiando para o lado.

O problema maior a afligir a Alemanha neste impasse de instabilidade política, é o de recear que na hipótese — não descurada — de novas eleições, a vitória possa recair para o maior partido da Oposição e da extrema direita. São eles que mais têm atacado a chanceler e as suas decisões, muito detestadas por uma grande maioria da população. Ângela Merkel, não está sendo vítima dos seus sucessos, antes, dos seus discursos hipócritas, no concernente à insultuosa protecção dos migrantes violentos, que por sua ordem, foram aceitados na Alemanha e quer obrigar outros países a partilhar o erro.

Pobre também, quem ousar criticar os muçulmanos. A polícia, que tem ordens de não incomodar os intrusos. é lesta a prender os ousados.Viva a democracia!!!

A invasão dos muçulmanos na Europa, apenas tem dado maus resultados que, ela própria, já começou a compreender e a querer limitar acessos. Mas tarde demais. O mal está feito. Que o digam centenas ou mesmo milhares de jovens alemãs que diariamente têm sido agredidas sexualmente por grupos de selvagens, não habituados a viver em sociedade. Foi a gota que fez transbordar o copo. O povo exige segurança. E paz.

Para o Presidente alemão a margem de manobra é muito escassa. Das quatro hipóteses avançadas pelos estrategas, nenhuma parece ter mais possibilidades que a de retorno às urnas. Prontos a fazerem luta dura aos inimigos figadais da extrema direita. Porque um governo minoritário não terá longa vida, o regresso dos liberais também não parece muito provável e os socio democratas já fizeram saber a sua não disponibilidade ou interesse. Fica, portanto, entre as mãos de Frank-Walter Steinmeier o desfecho desta crise — talvez a maior desde tempos imemoriais — que pode dar um coice violento nas pretensões europeias. Com as modificações pensadas pelos manda-chuva da extrema direita, sobretudo no respeitante aos migrantes que tudo querem obter e convidam os alemães….a emigrar, deixando o país nas suas mãos, a Europa pode sofrer um colapso fatal.

Será o fim dos sonhos de alguns, duma estrutura caríssima e faraónica, duma chusma de papalvos funcionários em Bruxelas, da intenção da formação de um exército comum, europeu — adeus à identidade nacional..— e, do sonho de Ângela Merkel em formar o IV Reich….

Quem irá desolar-se?

Raul Mesquita

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Manuel do Nascimento / Paris

Camille PissarroCamille Pissarro est né le 10 juillet 1830 à l’île de Saint-Thomas aux Antilles, alors possession danoise, ce que lui confère la nationalité danoise, qu’il gardera toute sa vie. Son père Frédéric Abraham Gabriel Pissarro (1802-1865), juif portugais originaire de Bragança, est né à Bordeaux, ce qui lui confère la nationalité française. Sa mère, Rachel Manzano Pomie, également juive, est une créole des Antilles danoises. En 1842, Camille Pissarro part étudier en France, à Passy, puis en 1852 il part pour Caracas au Venezuela où reste juste en 1854 à peindre et dessiner, pour finalement rentrer à Saint-Thomas la même année. Lors de l’Exposition Universelle de Paris en 1855, il revient à Paris pour y étudier et s’installe dans sa famille à Passy. C’est à Paris qu’il rencontre les grands peintres, où il va fréquenter quelques ateliers parisiens. Frédéric Pierre Rodrigues Alvares Pissarro, son grand-père, a quitté Bragança au Portugal en 1769 pour fuir l’Inquisition.

Ses ancêtres sont des marranes, c’est-à-dire des juifs sépharades contraints de se convertir au catholicisme, quatre siècles plus tôt, mais continuant à pratiquer le judaïsme en secret. Camille Pissarro, bien que circoncis et dument enregistré à la Synagogue de Saint-Thomas, se déclare proudhonien(1) et athée libre-penseur(2). En 1860, Julie Vellay, fille d’un viticulteur bourguignon (France), entre comme domestique chez les Pissarro, elle entre en ménage avec lui, et lui sert d’abord de modèle. Ils se marient civilement à Croydon en Angleterre en 1871. Plusieurs descendants de Camille Pissarro ont choisi de suivre l’exemple de leur aïeul et de devenir peintres à leur tour, parmi ses enfants, ensuite ses petits-enfants et ses arrière-petits-enfants. Dans les années 1880, Camille Pissarro découvre les idées anarchistes. Après l’assassinat de de Sadi Carnot(3), Camille Pissarro est recherché par la police comme d’autres anarchistes non-violents, il se réfugie en Belgique. De retour en France, il participe au journal Les Temps Nouveaux(4) et s’engage contre l’antisémitisme contre l’affaire Dreyfus(5). En 1889, il compose une série d’articles appelés Turpitudes Sociales, le souvenir de la répression de la Commune de Paris(6), qui n’est pas éteint. Camille Pissarro vit à Pontoise (Nord de Paris) de 1866 à 1869 de manière épisodique.

Sa situation financière est difficile et il doit peindre des enseignes pour faire vivre sa famille. C’est encore en 1869, qu’il s’installe avec sa compagne et leur fille à Louveciennes (Ouest de Paris). En 1870, lors de la guerre avec les Prussiens(7), il doit fuir Louveciennes avec sa famille et abandonner son atelier devant l’avance des troupes prussiennes. Il se réfugie chez le peintre Ludovic Piette dans la ville de Montfoucault, puis il s’exile à Londres, où il retrouve les peintres français, Charles-François Daubigny et Claude Monet. En 1871, de retour à Louveciennes, il découvre que son atelier a été pillé et qu’il ne lui reste que quelques dizaines de toiles sur près de mille cinq cents. Au printemps de 1872, il s’installe à nouveau à Pontoise. Pissarro et le peintre Paul Cézanne collaborent entre 1872 et 1881, et Pissarro encourage Paul Cézanne à peindre en plein air. En décembre 1882, Pissarro s’installe à Osny, dans les faubourgs de Pontoise. Cette période de

Pontoise correspond au grand moment de l’histoire de l’impressionnisme en France. C’est là que Pissarro peint la plupart des tableaux qui figureront aux premières expositions des impressionnistes. En 1884, Pissarro quitte Osny pour Éragny-sur-Epte (est traversé par l’Epte, un affluent de la Seine) au Nord de Paris, dans l’Oise, où il achète une maison, grâce à un prêt du peintre Claude Monet. Pissarro

peint de nombreuses toiles, dont plusieurs sur le thème des pommiers en fleurs de la vue de son atelier, spécialement construit au milieu de son jardin. Pissarro invite chez lui les plus grands peintres de l’époque ; Claude Monet, Paul Cézanne, Van Gogh, Paul Gauguin. En 1885, il rencontre le peintre et dessinateur Georges Seurat, avec qui il se lie d’amitié. Camille Pissarro est considéré comme l’un des pères de l’impressionnisme. « Paul Cézanne aurait dit : nous sommes tous disciples de Pissarro ». Pour beaucoup de Français, le peintre Camille Pissarro, était d’origine espagnole. Erreur ! Il était le fils Frédéric Abraham Gabriel Pissarro (1802-1865), juif portugais originaire de Bragança (Nord-Est du Portugal), né à Bordeaux.

Au XVIIIe siècle la famille Pissarro vivait à Bragança, rua Direita, une voie très commerçante avec ses cordonniers, tailleurs, potiers et officines de soie. Divers

commerçants étaient tenus par les Pissarro. En 1864, Camille Pissarro, aurait vécu quelques mois au 57 rue de Vanves à Paris. La lusodescendance du peintre Camille Pissarro, originaire de la ville de Bragança (Portugal), est bien présente en France ; Joachim ou Joaquim Pissarro, est l’arrière-petit-fils du peintre portugais, Camille Pissarro. Joaquim Pissarro est l’un des commissaires de l’exposition au Musée

du Luxembourg, 19 rue de Vaugirard à Paris, qui se tient jusqu’au 9 juillet 2017, où l’on peut admirer l’exposition « Pissarro à Eragny, la nature retrouvée ».

Camille Pissarro meurt à Paris le 13 novembre 1903. Il repose, avec sa famille, à Paris au cimetière du Père-Lachaise.

(1) voir Pierre-Joseph Proudhon né en 1809.

(2) est une expression attribuée à Victor Hugo dans un discours, désignant, dans l’idéal, un mode de pensée et d’action.

(3) président de la République française du 3 décembre 1887 jusqu’à son assassinat le 25 juin 1894.

(4) est un journal anarchiste, fondé en 1895.

(5) est un conflit social et politique de la Troisième République française survenu entre 1894 à 1906, autour de l’accusation de trahison faite au capitaine Alfred Dreyfus, qui est innocenté en 1906.

(6) est une période insurrectionnelle de l’histoire de Paris (18 mars au 28 mai 1871). Cette insurrection contre le Gouvernement, issu de l’Assemblée nationale qui venait d’être élue au suffrage universel, ébaucha pour la ville une organisation proche de l’autogestion. Elle est en partie une réaction à la défaite de la guerre franco-prussienne de 1870 et à la capitulation de Paris.

(7) Guerre franco-allemande, parfois appelée guerre franco-prussienne ou guerre de 1870, conflit qui oppose du 19 juillet 1870 au 28 janvier 1871. Le 19 juillet 1870, l’Empire français déclare la guerre au royaume de Prusse. Les hostilités prennent fin le 28 janvier 1871 avec la signature d’un armistice.

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Manter a tradição do Vinho do Porto sem deixar de inovarO Enoturismo em Vila Nova de Gaia tem vindo a crescer todos os anos de forma considerável, e deve-o quase exclusivamente ao Vinho do Porto. Algo positivo para George Sandeman, chanceler da Confraria do Vinho do Porto.

O Vinho do Porto [e o Douro], mais que uma bebida diferente e única, onde amigos se juntam em torno de uma mesa em confraternização, sempre foi fonte de inspiração para muitas pessoas. Poetas escreveram sobre ele, fotógrafos captaram imagens, pintaram-se quadros e até se escreveram canções como “Vinho do Porto” [Carlos Paião] ou “Blood”, dos ingleses The Cure, que foi inspirada no vinho “Lágrima”. E foi essa paixão por esse licor sem semelhante [e o desejo de manter as suas tradições] que levou à criação da Confraria do Vinho do Porto.

Fundada em 1982, “por pessoas com fortes ligações ao vivo do Porto, a ideia que esteve na base da Confraria foi a de criar uma associação privada por pessoas com interesse na história do Vinho do Porto, nas suas tradições e na promoção de tudo o que era bom no Vinho do Porto. É isso que se tem feito desde a sua fundação”, esclarece George Sandeman.

Desde então, a Confraria [que começou com cerca de 20 confrades] não para de crescer. “Hoje em dia posso dizer que, em termos de sócios efectivos e honorários, os números já se aproximam dos três mil confrades. Vai mudando constantemente. Por exemplo, ainda recentemente realizamos uma missão aos Estados Unidos onde entronizamos 25 pessoas em Chicago e Miami”, garante o chanceler.

Sobre o objectivo principal da Confraria, George Sandeman explica que, “basicamente o nosso objectivo é manter vivas algumas tradições, mas sem as sobrevalorizar, uma vez que o Vinho do Porto tem uma grande faceta de inovação histórica. Digo isto porque pensamos sempre em inovação como algo que acontece agora, mas não. O próprio processo de produção do Vinho do Porto sempre foi desde o início uma inovação, como depois a criação do Tawny e do Vintage, por exemplo”.

Outro exemplo da relação entre tradição e inovação passa pela forma como se bebe o Vinho do Porto. “A Confraria mantém as tradições e o lado histórico, mas também não discorda que seja utilizado de formas diferentes, como bebê-lo com água tónica ou até com gelo. Porque se uma pessoa gosta de beber um cocktail feito com Vinho do Porto que o faça, porque não há nenhum problema em o fazer”, refere George Sandeman.

A tradição dos barcos rabelos

Quando questionado sobre as actividades da Confraria, Sandeman lamenta que “não haja mais tempo para que se possam fazer mais coisas. Actualmente, em termos de actividades, concentramo-nos em duas ou três coisas, nomeadamente o momento alto da Confraria, que é a entronização de novos confrades. É uma cerimónia grande, que decorre em Junho e normalmente se realiza no Palácio da Bolsa no Porto [ao que se segue um cortejo até à Alfândega, onde se realiza um jantar de cerimónia com pessoas de todo o mundo]. Depois, e coincidentemente, temos a Regata dos Barcos Rabelos [isto tudo na altura do São João] que existe graças à Confraria.

Se assim não fosse os barcos que vemos hoje em Vila Nova de Gaia não existiriam, porque não haveria a tradição das casas terem os barcos e participarem numa regata uma vez por ano. A regata começa na Afurada e termina sensivelmente junto à Sandeman por causa da linha da Ponte. Inicialmente era feita na manhã do dia de São João, mas há uns anos atrás passamos para a parte da tarde, o que a tornou mais visível. O turismo contou muito, bem como a publicidade e o interesse municipal. Actualmente, tem um impacto grande ao ponto de vários canais estrangeiros virem fazer reportagens, como o National Geographic, por exemplo. Ou seja, tem uma capacidade de angariar turismo interessante e tem-se tornado uma tradição”.

A importância do turismo

O Enoturismo nas caves do Vinho do Porto, em Vila Nova de Gaia, vai passar a barreira do milhão e meio de turistas em 2017, de acordo com as previsões. George Sandeman olha para o turismo como algo “muito positivo, não só para o negócio do Vinho do Porto [e do Douro] aqui em Gaia, mas também para a sua imagem noutros países. Nós apoiamos, por exemplo, ao nível da restauração, a prestação de um serviço de qualidade dos vinhos, para que ele seja mais atraente para os turistas. E olhamos positivamente para este crescimento turístico porque beneficia o enoturismo e ajuda a promover o Vinho do Porto”.

O chanceler da Confraria chama ainda a atenção para o facto de que “as caves estão muito melhor preparadas do que estavam. Mais profissionalizadas, havendo uma melhor segmentação e preocupação naquilo que o turista procura. Há maior autenticidade até nas zonas circundantes, com os restaurantes a oferecerem coisas nossas, típicas da região. Em geral mantém-se a tradição [que considero fundamental], mas com modernidade”.

Os últimos dados indicam que, até Julho de 2017, venderam-se mais de 4 milhões de caixas de Vinho do Porto [9 litros por caixa]. O volume de negócios ultrapassou os 175 milhões de euros. Um sector em crescimento, mas será assim no futuro? George Sandeman tem uma opinião muito clara quanto a esta questão: “quem não entende a sua história é condenado a vive-la de novo. Portanto, nós temos que entender a história do Vinho do Porto e a sua evolução. E aquilo que temos visto é um crescimento dos vinhos de alta qualidade. Isso e ainda não ser conhecido em muitos países. Como tal ainda há muita margem para o seu crescimento e vejo com bons olhos o seu futuro. Mas, claro, sem nunca perder a sua identidade e preservando as tradições”, conclui.

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Rosa dos Ventos Rose des Vents

Le Portugal comme vous ne l’avez jamais vu

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Universidades

“Qualquer português medianamente inteligente terá vergonha” de perder os seus melhores cientistasMaria de Sousa recebeu o prémio da Universidade de Lisboa. E evocou Bernardino Machado: uma nação “que nada cria, inventa e descobre, e apenas vive de empréstimos materiais ou espirituais”, não está longe de perder a sua autonomia.

Por Andreia Sanches e com Lusa

“Temos pessoas da maior qualidade. Podíamos ser respeitados internacionalmente pela qualidade da ciência que produzimos e andamos aí, para a trás e para a frente.” As declarações são de Maria de Sousa, a cientista portuguesa que nesta segunda feira recebeu o Prémio Universidade de Lisboa 2017, aludindo à quase inevitável emigração dos jovens cientistas nacionais que não encontram lugar em Portugal.

“Qualquer português medianamente inteligente terá vergonha se perdermos esse grupo [de investigadores] criado a partir de 2007 com o Programa Ciência”, afirma na intervenção escrita, que preparou para a cerimónia.

Maria de Sousa recebe prémio de Ciência pela projecção de Portugal no mundoO Prémio Universidade de Lisboa, que visa distinguir o mérito de uma individualidade que tenha contribuído de forma notável para o progresso da ciência ou da cultura e para a projecção de Portugal no mundo, foi atribuído este ano à imunologista de 77 anos. Na sua intervenção, a professora começou por evocar Bernardino Machado: “Ser instruído é ser livre. Uma nação sem originalidade, que nada cria, inventa e descobre, e apenas vive de empréstimos materiais ou espirituais, se, pelo prestígio do nome herdado, ainda conserva a sua autonomia, não está longe de perdê-la.”

Citou “vozes que valorizaram a ciência”

Também citou Abel Salazar, mais concretamente uma carta deste a Celestino da Costa de 1921: “Dêem-nos autonomia, dotações próprias para bibliotecas e publicações e isto marcha, de outra forma gastam-se dois terços das energias a vencer obstáculos imbecis!” E evocou ainda Pires de Lima, “uma década depois”: “Carecemos da mais ampla autonomia dentro dos institutos científicos de Portugal. Uma disposição legal deve regular claramente os direitos e os deveres do pessoal dos laboratórios, os quais precisam de ter uma dotação condigna.”

Estes nomes, como outros que Maria de Sousa mencionou, “são apenas alguns dos nomes das vozes que valorizaram a ciência integrada na universidade mas que por constrangimentos políticos, de financiamento, de cultura em geral, morreram sem conseguir verdadeiramente revolucionar a universidade ou cumprir o desejo de transformar o país num país que se faria respeitar pela prática da ciência e a projecção internacional dos seus cientistas”. Isso viria só a ser possível, sublinhou, “com a entrada de Portugal na União Europeia em 1986, a modificação do financiamento atribuído à ciência” e a abertura a bolsas de doutoramento encetada por José Mariano Gago (ministro nos XIV, XVII e XVIII governos constitucionais).

A imunologista Maria de Sousa é prémio Universidade de Lisboa 2017

A cientista introduziu a certa altura o que chamou de parêntesis. “Permitam-me um parêntesis de reconhecimento dos nossos estudantes GABBA [Programa Graduado em Áreas da Biologia Básica e Aplicada da Universidade do Porto] que, eles próprios, sentindo-se parte de uma escola de cientistas, sem paredes, criaram uma associação de antigos alunos designada ATG All Time GABBA de que muito nos orgulhamos. Nada de especial numa universidade americana, mas que muito me agrada poder referir nesta ocasião, porque, como comecei por dizer, sem eles, sem estar em seu nome, talvez não me sentisse tão bem hoje, aqui. E muito embora seja com alguma satisfação e orgulho que sabemos alguns deles professores em prestigiadas universidades fora de Portugal, o verdadeiro desafio será encontrar forma de mobilizar o país para os considerar.”

Explosão do numero de bolsas

E prosseguiu: depois da explosão do numero de bolsas de doutoramento da responsabilidade de Mariano Gago, houve “um segundo momento” de investigadores da Fundação Para a Ciência e Tecnologia. “Desse segundo momento resultaram entre 600 a 800 investigadores hoje directores de grupo entre os 40 e 50 anos, prontos a constituir uma estrutura sustentável de todos os ramos da ciência em Portugal. É sobretudo neste grupo que se encontram os recipientes de grandes bolsas internacionais” mas “a universidade parece não querer ou não poder integrá-los e o Governo vai implementar um decreto-lei que vai empregar milhares de ‘pós-docs’ com 6 anos de doutoramento”.

São “jovens investigadores que levarão mais 30 anos a estarem prontos a liderar, altura em que os presentes professores catedráticos terão perto de cem anos e os prontos a liderar hoje terão tido que aceitar lugares em universidades estrangeiras”.

E rematou: “Qualquer português medianamente inteligente terá vergonha se de facto perdermos esse grupo que tão inteligentemente foi criado a partir de 2007 com o Programa Ciência.”

Falta filantropia na ciência

À margem da cerimónia, em declarações à Lusa, Maria de Sousa alertou para “as consequências terríveis”, não só para o país e para a ciência que não produz, mas para os cientistas, que pessoalmente vivem “uma grande incerteza”, porque “fica tudo empanado nas Finanças”.

Ainda assim, Maria de Sousa entende que o problema não é apenas de dinheiro e defende “uma conjugação de factores” que permita aproveitar “a qualidade individual” dos jovens cientistas. “Para isso é preciso ter sistemas abertos que promovam a competitividade”, disse, apontando como exemplo a Fundação Champalimaud.

E é também na Fundação Champalimaud que se apoia para criticar a escassez de exemplos em Portugal como o desta instituição, que tem na base a filantropia de António Champalimaud, banqueiro e empresário português que morreu em 2004, considerado um dos homens mais ricos de Portugal.

“Não temos tradição de filantropia na ciência em Portugal e a ciência beneficiaria largamente disso”, disse a imunologista portuguesa.

Maria de Sousa disse que “há coisas muito interessantes a acontecer em todas as áreas, não só na ciência” e que o mecenato deveria ter maior expressividade, em benefício próprio. “Portugal é, de facto, um país muito interessante. É melhor sermos nós a descobrir isso antes que venha alguém de fora descobrir por nós”, disse.

Sobre o prémio que lhe foi entregue numa cerimónia no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa, a cientista disse ter sido uma surpresa. “Os cientistas não esperam ser reconhecidos. De maneira geral, ninguém sabe quem são os cientistas, conhecem apenas o resultado do seu trabalho. A pessoa não espera ser reconhecida. Um prémio é uma coisa que deixa a pessoa boquiaberta. E eu, quando fechei a boca, fiquei muito contente.”

“Respeitada na comunidade científica”

Numa nota biográfica disponibilizada pela universidade apresenta-se a imunologista, licenciada em Medicina pela instituição, como uma cientista “profundamente estimada e muito respeitada na comunidade científica” que é também “uma humanista que cultiva o gosto pelas artes, pela história e pela poesia”.

O prémio, entregue anualmente, e suportado pela Caixa Geral de Depósitos, tem o valor de 25 mil euros. O júri integra António Cruz Serra, Jorge Manuel Barbosa Gaspar, Paulo Macedo, José Maria Brandão de Brito, Carlos Salema, José Pedro Sousa Dias, Maria do Carmo Fonseca, Eduardo Paz Ferreira, Teresa Patrício Gouveia, Guilherme D’ Oliveira Martins e David Dinis, director do PÚBLICO.

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Franciscains, dominicains, jésuites... Sur ordre de Dieu«Au nom de Dieu et des hommes» (Fayard), de Jérôme Cordelier, raconte l’histoire des franciscains, des dominicains et des jésuites.

Par Thomas Mahler | Le Point

Saint François d’Assise. Selon Jacques Le Goff, le père de l’ordre des Frères mineurs (1210) aspire à « être un ferment de pureté dans un monde corrompu »

Selon le père Henri Madelin, il n’y a que trois choses que Dieu ignore : ce que va dire un franciscain quand il commence une homélie, ce que vient de dire un dominicain quand il a fini de parler et... ce que pense un jésuite. Pour mieux comprendre la psyché de ces trois ordres, on conseillera au Tout-Puissant la lecture du passionnant Au nom de Dieu et des hommes. Notre confrère du Point Jérôme Cordelier y narre la trépidante saga des frères mineurs (franciscains : robe brun foncé et ceinture de corde), des frères prêcheurs (dominicains : tunique blanche, scapulaire et capuce) et des membres de la Compagnie de Jésus (jésuites : pas d’habit particulier). Trois « milices » (Jacques Le Goff) de l’Église apparues dans le sud de l’Europe, en réaction à l’argent corrupteur pour la première, à l’hérésie cathare pour la seconde, à la Réforme luthérienne pour la dernière.

« Jumeaux du ciel »« Jumeaux du ciel » selon G. K. Chesterton, François d’Assise et Dominique de Guzman innovent au début du XIIIe siècle en rompant avec l›idéal médiéval du cloître pour s›adresser au milieu urbain et évoluer dans un monde en pleine mutation. Fils d’un riche marchand d’étoffes en Ombrie, Francesco di Bernardone est un noceur. Après une longue maladie, le dandy-drapier endosse une tenue de manant, entendant selon la légende l’injonction divine : « Va et répare mon Église» Le « Poverello » baise des lépreux, se lance dans des prédications théâtrales et ne rechigne pas au happening, comme ce jour où, lors d’un repas de fête, le mystique rejoint ses frères déguisé en mendiant, histoire de leur rappeler la modération. « Ce François est un vrai showman : à notre époque, il serait un pro du stand-up », souligne Jérôme Cordelier.

Nettement moins charismatique, l’Espagnol Dominique n’a pas le même succès auprès des hagiographes : nulle conversion spectaculaire pour cet apparatchik de l’Église. Mais Dominique comprend toute l’importance de l’art de la conversation, du débat intellectuel et de la transmission. Favorisant le modèle collaboratif (les start-up n’ont rien inventé), les dominicains prônent la prise de décision collective.Rapidement canonisés, les deux pionniers verront leurs organisations fortifiées sur le plan théologique par de robustes théoriciens : Bonaventure pour la première, Thomas d’Aquin pour la seconde, qui se côtoient dans la Sorbonne naissante. Les franciscains, dans la lignée de leur fondateur autoproclamé «

simple et ignorant », se spécialisent dans le charisme et la prédiction populaire, inventant crèches et che-mins de croix. Les dominicains devien-nent des maîtres du savoir, de l’effort théologique, ce qui les amènera à créer des institutions érudites comme l’École biblique et archéologique française de Jérusalem. Surtout, les deux ordres mendiants accompagnent la mondialisation naissante, s’épar-pillant à travers la planète et se frottant à d’autres cultures, à l’image d’un François d’Assise qui, en 1219, rencontre le sultan Al-Kamil, premier dialogue entre catholicisme et islam.

Légende noireSaint Ignace de Loyola. Page à la cour du roi d’Aragon puis soldat rêvant de gloire, Ignace de Loyola crée en 1540 la Compagnie de Jésus.

Trois siècles plus tard, c’est un hobe-reau basque qui intègre les deux traditions. Soldat rêvant de gloire, Ignacio de Loyola, après sa blessure à la citadelle de Pampelune en 1521, troque la lecture des romans de chevalerie contre celle de la vie de saint François et de saint Dominique. Avec sa Compagnie de Jésus, l’homme sera à la fois grand organisateur (il a laissé 7 000 lettres), biographe de sa propre vie de saint et théoricien avec ses fameux Exercices spirituels, qui annoncent les moder-nes vade-mecum de coaching. Com-me l’écrit François Sureau dans son Inigo (Gallimard), ce guerrier de Dieu anticipe « ce monde nouveau où l’homme doit d’abord se fier à lui-même pour trouver son salut ». Dans la lignée de Loyola, les jésuites

cultivent l’obéissance, l’adaptation aux coutumes locales, dite « inculturation », l’éducation, la mobilité et la tactique, à savoir gagner la faveur des puissants.

Le livre ne cache pas les pages plus sombres : sous-traitance de l’Inquisition pour les dominicains (Torquemada), rôle ambigu des missionnaires dans le processus colonisateur... Les jésuites, eux, ont droit à toute une légende noire, entretenue par des adversaires redoutables, Pascal et les jansénistes, puis Michelet et Quinet, qui les qualifient de « taupes » rusées. On notera que l’ingrat Voltaire, qui épingle l’orgueil des jésuites dans son Dictionnaire philosophique (« une de leurs principales vanités était de s’introduire chez les grands dans leurs dernières maladies »), a été à bonne école auprès des pères à Louis-le-Grand.

Désarmer le fanatismeQue reste-t-il de ces épopées aussi mystiques que politiques ? Ce qui fascine l’auteur, c’est la pérennité d’institutions médiévales qui poursuivent leur magistère spirituel. Dans l’histoire moderne, aucun pape n’a été aussi proche de ces ordres que François. Comme le remarque le truculent Timothy Radcliffe, ancien maître général de l’ordre des Prêcheurs, l’Argentin Bergoglio est . Jérôme Cordelier rappelle aussi que Macron a été formé à la casuistique jésuite à Amiens, comme Trump à la Fordham University. Avec sa vie nomade et ses sermons pour les oiseaux, François d’Assise peut même se concevoir comme le premier écolo de l’Histoire.

Mais l’influence toujours prégnante de ces fantassins de la foi dans les beaux quartiers comme dans les ghettos ne masque pas le reflux des effectifs. En France et en Belgique, les frères mineurs ne sont plus que 168, tandis que, cette année, les jésuites de France, faute de troupes, ont été fondus dans une «province d’Europe occidentale francophone ».

Saint Dominique. Venu à Toulouse pour lutter contre l’hérésie cathare, Dominique de Guzman fonde les Frères prêcheurs en 1216.

À travers des portraits de personnages hauts en couleur, Jérôme Cordelier montre cependant que l›esprit des pères fondateurs est toujours présent. Il a rencontré le courageux Henri Burin des Roziers, qui défendait les paysans sans

terre en Amazonie, le brillant Gaël Giraud, jésuite à la tête de l’Agence française de développement, le fraternel Battite Mercatbide, gardien de la communauté franciscaine de Marseille au milieu de la prostitution, ou le polyglotte Jean Druel, directeur au Caire de l’Institut dominicain des études orientales (Idéo), qui veille sur un des plus riches fonds historiques arabo-musulmans. Alors que la bataille contre l’intégrisme fait rage dans cette partie du monde, on rêve que la pièce Pierre et Mohamed, du normalien dominicain Adrien Candiard, devienne parole d’Évangile : « Le dialogue est une oeuvre sans cesse à reprendre : lui seul nous permet de désarmer le fanatisme, en nous et chez l’autre. »

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Novo Acordo Ortográfico na Assembleia Municipal de Lagos

Passou relativamente despercebida em Lagos uma importante deliberação da sua Assembleia Municipal. Referimo-nos a um protesto contra a aplicação do novo acordo ortográfico, na forma de uma moção apresentada pelo Grupo Municipal Independente. Mas se por cá não se escutou grande eco desta resolução (aprovada por maioria com votos favoráveis em todos os partidos representados), o facto recebeu alguma atenção a nível nacional. Não sendo todos os dias que a nossa cidade se inscreve num debate desta importância, e adivinhando haver aqui motivos de orgulho para muitos lacobrigenses, entendemos serem oportunas algumas linhas sobre um assunto que acompanhamos com interesse.O Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) foi imposto aos portugueses num processo um tanto atabalhoado, pouco transparente e sem que tenha havido o debate público necessário. Em má hora nos vimos amarrados a uma reforma ortográfica que não pedimos, cuja necessidade não era sentida e sem que tivéssemos sido tidos nem achados. Porém, a contestação nunca esmoreceu. O AO90 encontrou grande resistência em todos os quadrantes sociais, culturais e políticos, tendo os portugueses opinado acima dos partidos, numa demonstração de maturidade democrática pouco frequente entre nós. A discussão continua a fazer-se de forma apaixonada e tem vindo a ganhar novos contornos pois podemos, agora, avaliar algumas consequências da sua aplicação. Mas comecemos pelo princípio.

Se conhecemos muitas razões contra a aplicação do AO90, parece-nos que escasseiam motivos para a sustentar. Concordar-se-á que seriam precisas fortes razões para implementar medidas desta natureza, afectando milhões de pessoas e exigindo tantos recursos em período de crise, mas a verdade é que nunca ninguém nos conseguiu convencer da bondade do AO90.

Sendo o estudo da língua uma disciplina científica, a primeira palavra sobre alterações da ortografia deveria sempre pertencer aos linguistas. Também aconselhava o bom senso que se ouvissem aqueles que trabalham diariamente com a palavra escrita. E que disseram eles? Sem que tenha, naturalmente, havido unanimidade, o que se ouviu foi um rotundo NÃO ao novo acordo ortográfico. Centenas de académicos, escritores, jornalistas, tradutores, professores e intelectuais tornaram pública a sua discordância, que mantêm até hoje, recusando-se a aplicar a nova ortografia. A estes profissionais juntaram-se milhares de portugueses que, não tendo formação específica na área, têm uma relação próxima com a língua — simplesmente por serem leitores assíduos ou por terem prazer e brio na palavra escrita — e a quem o AO90 parece inaceitável. “Velhos do Restelo”, ouve-se, por vezes, sugerindo que quem manifesta as suas reservas o faria sem outra razão que não fosse a resistência à mudança. Seria, então, por conservadorismo bacoco que a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa recusou a sua aplicação, ou que o jornal Público mantém a ortografia anterior ao Acordo? Não nos parece.

Mas se a génese do AO90 ficou definitivamente inquinada quando se preferiu ignorar os pareceres técnicos negativos, há outras ordens de razões que nos sugerem cautelas. As primeiras reservas que o AO90 nos deveria suscitar prendem-se com as pretensões musculadas de impor uma unidade forçada à língua que se escreve, de forma oficial, em cinco continentes, naquilo que representa uma manifestação do que a globalização tem de pior: o desrespeito pela diferença, o atropelo e a arrogância na imposição da lei do mais forte.

Mas façamos de conta que sim, que haveria grandes e óbvias vantagens na construção de uma grafia única, e que se concertariam esforços com os todos países falantes da língua. Então, a recusa de Angola e de Moçambique em ratificar o AO90 deitou por terra, à partida, essas pretensões ou, pelo menos, feriu de morte a tentativa de uma unificação do português escrito. Também a Guiné-Bissau e Timor-Leste não formalizaram, até hoje, os respectivos processos e não parece exagero dizer que Portugal é o único país onde se fez algum esforço para aplicar a nova ortografia.

Sobre o entendimento conseguido entre os restantes países, em particular entre Portugal e Brasil, não se pode ignorar a assimetria dos esforços que resultam do acordo. O número de palavras que sofre alterações de um e de outro lado do Atlântico e a natureza destas é perfeitamente desequilibrada: o Brasil altera apenas cerca de metade do número de palavras que alteramos em Portugal, e o tipo de alterações é menos intrusivo, sendo que a maior parte faz-se a nível da acentuação (palavras que perdem acentos), enquanto que por cá as maiores alterações são a perda de consoantes em certas palavras. A assimetria nos esforços é tão grande que vem sustentar suspeitas de que AO90 é um esforço em defesa de interesses geopolíticos e económicos do Brasil.

Mas a longo prazo, valerá a pena o esforço? A resposta é não. É consensual entre os linguistas que a língua portuguesa de Portugal e a do Brasil estão em trajectórias divergentes. Sabe-se que daqui a umas dezenas ou centenas de anos ninguém poderá sustentar que se trate do mesmo idioma. (Aliás, não falta

quem diga que já não é.) Um dia, os brasileiros irão tomar a decisão de que a sua língua deixe de se chamar português, porque efectivamente não o será. Já hoje os livros publicados dos dois lados do Atlântico estão sujeitos a normas diferentes que tornam impraticável a tradução comum de literatura estrangeira; não existem traduções luso-brasileiras e em termos de edição o Português Brasileiro e o Português Europeu comportam-se já como línguas diferentes.

Também é preciso que se diga que o projecto de uniformização falhou, pois continuam a existir grafias diferentes para as mesmas palavras. Por exemplo, por cá “adopção” perdeu o p, mas mantém-no no Brasil. A palavra “electrão” tem três grafias: elétron (português brasileiro), eletrão (português europeu) e electrão (português angolano). Ou seja, em lugar de promover uma unificação, foram criadas palavras que não existiam. Pergunta-se, então, o que se ganhou e a resposta não será fácil...

Um aspecto preocupante é que parecem ser justificadas as suspeitas de que o acordo ortográfico venha a ter uma influência na própria oralidade. Enquanto escrevemos este texto, o jornal português de maior tiragem usa num título uma palavra que não existe: “autótone”. Referiam-se, claro está, a espécies “autóctones”, que mantém o c, antes do t. Este erro é um exemplo da prática comum de desbastar a eito de tudo o que é p ou c antes de t. Outros exemplos que se encontram sem esforço em publicações de referência são “fatos” por “factos”, “impato” por “impacto”, ou “contato” por “contacto”... Uma vez que o que está consagrado é que essas consoantes caiam se não pronunciadas, podemos temer por uma alteração da própria forma de pronunciar as palavras.

E se falamos de consequências, o leitor perguntar-se-á que estudos se fizeram sobre o impacto da aplicação do AO90. A resposta é: nenhuns! De forma leviana, foi tomada uma decisão com profundas implicações sem se conhecer o seu alcance, deixando para as gerações vindouras o pagamento de uma factura que se receia avultada.

Contra o AO90 somam-se outras razões, nomeadamente legais. Especialistas de Direito sustentam que um tratado internacional desta natureza não podia ter sido aprovado em Assembleia da República. Veja-se, a título de exemplo, o livro do embaixador e professor de Direito Internacional Carlos Fernandes, publicado pela Guerra & Paz, no ano passado.

Também se podem invocar razões estratégicas, pois, ao contrário do que pretendem muitos acordistas, o AO90 vem dificultar a aprendizagem da língua. A propósito, veja-se o quadro publicado em anexo. Note-se que o étimo latino marca a presença em todas, excepto no português acordizado. Ou seja, neste novo português escrito, o afastamento fez-se não só em relação às origens latinas da língua como também em relação ao inglês, ao alemão ou ao francês.Para além do mais, palavras diferentes que se escreviam de forma diferente, têm agora igual grafia, sem que se perceba qualquer vantagem. Outras admitem dupla grafia. Qualquer uma destas realidades anuncia dificuldades para quem queira aprender a língua.

Mas a principal crítica que se pode fazer ao AO90 é ter sido mal feito, estando carregado de arbitrariedades e disparates. Algumas alterações são de tal forma insustentáveis que irão certamente ser abandonadas e são a melhor demonstração da falta de seriedade com que o acordo foi produzido.

Quem tiver curiosidade, encontra facilmente na Internet uma boa colecção de incongruências e de opções difíceis de justificar. Não é objectivo deste texto detalhar casos particulares, mas não resistimos a chamar a atenção de algumas alterações incompreensíveis. Por exemplo, quem concebeu o AO90 entendeu que as palavras “pára” e “para” se deveriam passar a escrever da mesma forma (o absurdo das confusões que proporciona fica óbvio no título da conhecida canção “Ninguém Para O Benfica”...). “Interrutor” perdeu o p, mas “interrupção” mantém. “Cor-de-rosa” mantém os hífens, mas “cor de laranja” deixou de os ter. Escreve-se “materno-infantil”, mas “infantojuvenil”. “Paraquedas”, mas “para-brisas”. “Egito”, mas “egípcio”. “Ereto”, mas “eréctil”. Etc.

De tudo isto resulta um caos ortográfico que só a má-fé ou grave miopia permitem negar.

Conhecem-se, naturalmente, argumentos a favor do AO90. Gente bem intencionada acredita que este poderia facilitar a aprendizagem da língua, nomeadamente invocando o critério fonético, que pretende aproximar a ortografia à pronúncia culta da língua. O problema é que o critério fonético não foi uma invenção de agora e houve outras tentativas que caíram por terra devido à sua impraticabilidade.

Outros defensores do AO90 viam nele uma oportunidade para a expansão do idioma — e da pátria, a reboque. (A propósito, ouvem-se, a insuspeitos esquerdistas, argumentos sobre a importância dos mercados que fariam corar despudorados liberais...) Outros, ainda, encerram a questão entendendo que

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jornal comunitário em Português - journal communautaire en Français abc portuscale jornal comunitário em Português - journal communautaire en Françaisnesta fase o AO90 é um facto consumado. E também não falta quem diga em voz alta que se deve embarcar neste disparate apenas porque “a língua é um organismo vivo”, acrescentando que quem contesta o AO90 ainda “gostaria escrever farmácia com ph”, como se a não utilização do ph fosse um exemplo da superioridade moral dos portugueses sobre os ingleses ou os franceses que, coitados, ainda escrevem pharmacy e pharmacie, respectivamente.

E, chegados aqui, atentemos por um instante no idioma que, na forma de uma segunda língua, é o mais falado no planeta. A língua inglesa conhece múltiplas variantes: do inglês britânico ao norte americano, do australiano ao neo-zelandês, do irlandês ao canadiano, cada um com as suas especificidades. Não teremos uma lição a retirar desta realidade? Não será mais legítimo concluir que as alterações artificialmente impostas mais depressa enfraquecerão a língua do que a fortalecerá uma utópica unificação entre idiomas que sabemos terem trajectórias divergentes? Alguém imagina que os franceses considerassem a hipótese de alterar a grafia de uma palavra por esta ser escrita de outra forma no Ruanda, no Mali ou na Suíça?

De resto, o bom senso poderia ter-nos poupado a estes embaraços; a ligeireza com que se pretendeu que um país, com milhões de pessoas alfabetizadas, mudasse a sua ortografia por decreto, é leviana e só podia dar asneira.

Felizmente, em defesa da língua e para desgosto de muitos adeptos do facto consumado, a questão está longe de ser encerrada e continuam a chegar ao debate novos argumentos, embaraçosos para os entusiastas do AO90.

A Assembleia Municipal de Lagos não decepcionou os seus eleitores ao trazer o assunto a plenário, pois trata-se de uma questão transversal que tem profundas implicações, como julgamos ter deixado demonstrado. A nossa Assembleia Municipal segue os passos de órgãos de outras autarquias, como aconteceu nas Caldas da Rainha ou na Covilhã, que suspenderam a aplicação do AO90. Em Lagos, a moção apresentada fundamentou o seu protesto nos trabalhos do linguista António Emiliano (nomeadamente no parecer enviado à Comissão de Cultura da AR, no âmbito do Grupo de Trabalho para a Avaliação do Impacto da Aplicação do Acordo Ortográfico de 1990), e deputados municipais de todos os partidos representados estiveram de acordo em pronunciar-se contra esta violência feita à nossa língua.

Terminaremos esta exposição com um facto histórico por muitos ignorado. Em 1945, a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras assinaram o texto de uma convenção ortográfica. Este acordo ortográfico estabeleceu as bases da ortografia portuguesa para todos os territórios portugueses que, à data, compreendiam o território europeu de Portugal e as províncias ultramarinas portuguesas. O Acordo Ortográfico de 1945 foi revogado pelo Brasil em 1955 e a lição que se pode retirar deste episódio fica à consideração dos leitores.

Pedro Medina RibeiroProfessor e escritor

[email protected]

Sai uma espetada para o senhor espetador!Na “ortografia unificada” a regra é mesmo a mistela. Uns tiram uns hífenes, outros tiram umas letras, e há até quem as acrescente sem pensar.

Andou escondido, durante uns tempos, mas reapareceu. Nada a ver com Tancos, com a tragédia dos incêndios nem com o já cansativo Panteão. Trata-se do espetador. Sim, esse mesmo. Por vergonha, muita gente foi adoptando a grafia “espectador”, talvez por não quererem espetar nada em ninguém. O “espetáculo” ainda vá, lá vai surgindo com “c” ou sem ele, consoante os gostos. Já o espetador tinha desaparecido. Mas reapareceu em todo o seu esplendor. No Teatro da Trindade, agora mais activo em matéria de “espetáculos”, distribui-se um papelinho onde se lê “Antes do espetáculo, venha ao bar do teatro! -30% na comida para espetadores com bilhete do dia.” Qual será o menu? Espetadas? Na contracapa do DVD com o (muito recomendável) filme São Jorge, de Marco Martins, lê-se o seguinte: “Uma obra prima. Um banquete cinematográfico que mantém o espetador colado à cadeira.” Não deviam, antes, dizer pregado à cadeira? Ou espetado na cadeira?

O mais curioso é que se trata da tradução de uma nota elogiosa escrita no The Huffington Post; ou seja, a culpa não é de quem escreveu mas de quem traduziu. Quanto ao “espetador”, que no Brasil se diz e escreve “espectador”, com “c”, embora só se admita a grafia sem “c” para “espetáculo” (e esta é uma das muitas incongruências patentes na grafia oficial brasileira, mesmo antes do acordo ortográfico), o Vocabulário Ortográfico Comum (VOC) de Portugal admite duas variantes, com e sem “c”, à escolha do freguês. Mas há outro erro na frase, “obra prima”: a designação em português para masterpiece, chef-d’œuvre, obra maestra, meisterwerk ou capolavoro é obra-prima com hífen, seja em Portugal ou no Brasil, antes ou depois do acordo (está no VOC, é só conferir). Porque não há obras primas, como não há obras tias ou obras avós; é palavra composta, onde a justaposição por via do hífen lhe dá um significado novo: o de obra máxima, de excelência absoluta. Claro que estas coisas nada dizem às criaturas que tiram e põem hífenes ou consoantes a eito, porque acham que reformas é isso: tirar sinais. Basta ver as notas de rodapé nas televisões, ler legendas de filmes ou andar pelos museus para avaliar o descalabro desta aleatoriedade. Um exemplo: na colecção permanente do Museu Berardo, em Belém, há um painel intitulado “Concetualismo”. No texto desse painel, lê-se essa palavra por mais duas vezes, e lê-se também “coletivo”, respeitando os ditames do acordo ortográfico de 1990 (AO). Mas lê-se “caracterização”, “recepção”, “cariz conceptual” ou “arte conceptual”. Nem uma só vez “concetual” surge no texto. Já agora, esclareça-se que o dito VOC do Brasil não reconhece “concetualismo” nem “concetual”. Elas só existem no VOC de Portugal, mas admitindo dupla grafia. É isso: escolham.

E escolhem, nem que seja ao acaso. Numa separata comercial recente, lê-se “arquitectura” no título (com “c”), mas “atividade”, “direcionada” e “objetivos” (sem “c”) a par de “sector” (com “c”). Que bela salada mista proporciona a “ortografia unificada” que nos impingiram! Sim, porque antes do malfadado AO não havia tais mixórdias. Um exemplo, elegante e digno: a revista especializada Áudio & Cinema em Casa não respeita o AO em nenhum dos seus textos. No entanto, tem um colunista brasileiro (interessantíssimo, aliás), Holbein Menezes, cujas crónicas ou textos de análise respeitam integralmente a grafia brasileira, seja nas “eletrônicas” ou nos “fenômenos”. Vantagem: nuns e noutros textos, a ortografia é impecável, seja no português de Portugal ou do Brasil. Há mais exemplos destes, felizmente, em espectáculos, discos, livros, museus, de onde a mistela ortográfica é afastada como sujidade indesejável. Mas, apesar dessas honrosas excepções, a regra é mesmo a mistela. Uns tiram uns hífenes, outros tiram umas letras, e há até quem as acrescente sem pensar.

Nem Guiné-Bissau nem Timor-Leste ratificaram o Acordo Ortográfico de 1990 Palavras inventadas pelo Acordo Ortográfico de 1990

Petição para desvincular Portugal do acordo ortográfico entregue no ParlamentoSerá depois do Verão?, escreveu-se aqui numa das crónicas sobre o malfadado AO. Ainda não foi. Apesar das escusas, dos protestos, da evidência clamorosa de erros, ainda nada se corrigiu e tudo segue na miséria de antes. Saúde-se o sinal de vida dado, esta semana, pela Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico, através de um texto de Rui Valente no PÚBLICO intitulado “4379 Cidadãos para a Língua Portuguesa.” Esta e outras iniciativas contribuem para que não se esqueça tão magno assunto. Não é saudosismo nem reaccionarismo, como pretendem os mentores dessa aberração técnica e linguística conhecida por acordo ortográfico. É apenas senso. E higiene.

P.S.: Entre muitos outros textos publicados sobre este tema, destacaria aqui uma série relativamente recente, que tem vindo a ser publicada no PÚBLICO online, da autoria do jornalista, formador e revisor Manuel Matos Monteiro, sob o título genérico “Admirável Língua Nova” (parte I, parte II, parte III e parte IV).

O meu Portugal marinheiro

Que o mundo ao mar arrancou

Deu pátrias ao mundo inteiro

Quase sem Pátria ficou

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Europe : la peste blanche ?

par Drieu GodefridiTraduction du texte original: Europe: The Great White Death?

« Dans quarante ans au plus tard, il est à peu près certain que la majorité de la population sera d’origine musulmane, en Autriche, en Allemagne, en Espagne, en Italie, en Belgique, en Hollande. » — Charles Gave, Institut des Libertés.

Ce qui nous occupe ici est un sous-groupe de la population européenne, les « natifs », qui est en train de se condamner très efficacement à l’inexistence.

Qu’énoncer cette vérité cause fracas et furieuses condamnations médiatiques montre qu’en Europe non seulement la population « native » est mourante, mais qu’il en va de même de la liberté d’expression.

Un article passionnant par son sujet fut posté le 4 septembre dernier sur le site du think tank « Institut des libertés » par Charles Gave, qui est un financier renommé. Dans ce texte, Gave pose la question : la population « native » d’Europe — expression par laquelle il désigne la population blanche — est-elle condamnée à l’extinction ?

Sa réponse est un oui sonore. « Ce n’est ni bien ni mal. C’EST. », écrit Gave. Son argument fondamental est qu’avec un taux de fertilité « natif » de 1.4 enfant par femme et un taux de fertilité « migrant » — expression par laquelle il désigne les musulmans — de 3.4 à 4 enfants par femme, et une population musulmane de 10% au départ, il ne faut que 30 à 40 ans pour que les musulmans deviennent majoritaires. En effet, explique Gave, avec un taux de 1.4 pour une population de 100, au bout de deux générations il ne reste déjà que 42 enfants « natifs ».

Comme il était prévisible, Gave fut immédiatement traité comme un bouffon d’extrême droite pour avoir repris la thèse connue en France sous le nom de « grand remplacement » et qui fut, notamment, popularisée par l’écrivain Renaud Camus, proche un temps du Front national de Marine Le Pen.

Dans un article furieux et venimeux à propos des « calculs foireux » de Gave, le quotidien Libération — en regard duquel le New York Times et le Washington Post sont des modèles d’objectivité — écrit que la population musulmane n’est pas de 10% en France, mais moins; que le taux de fertlité « natif » n’est pas 1.4 mais 1.8; que le taux de fertilité des migrants du Maghreb est de 3.53, pas 4, et que le concept de « population d’origine musulmane » est dénué de sens.

Qui a raison, Gave ou ses critiques ?Commençons par relever que la critique de Libé est foncièrement superficielle. Gave écrit que le taux de fertilité des migrants musulmans est entre 3.4 et 4 — pas 4, comme le prétend erronément Libé (Gave : entre 3.4 et 4, Libé : 3.53, donc exactement la même chose). De plus, personne ne connaît la proportion exacte de musulmans en France — ce pays interdisant toute espèce de recensement racial ou religieux — mais 10% paraît une estimation conservatoire et raisonnable. En outre, Libé passe à côté de la seule véritable erreur de calcul du « papier » de Gave : avec un taux de fertilité de 1.4 et une population initiale de 100, aucun autre facteur n’étant pris en compte, après deux générations on obtient non pas 42 individus, comme le prétend Gave, mais 49 (100 x 0.7= 70 x 0.7= 49, et non 42).[1]

Ceci dit, Gave se livre lui-même à certaines assertions avec lesquels je suis en désaccord, par exemple :

« Ceux qui sont nés aujourd’hui seront là dans trente ans et ceux qui ne sont pas nés ne seront pas là. Cela est CERTAIN. » On suppose que le même degré de certitude habitait de nombreux observateurs en 1913, 1937 ou juste avant la Peste noire;

« Penser que l’immobilier va monter quand il n’y aura que 42 acheteurs pour 100 vendeurs est une idée intéressante mais dont j’ai du mal à comprendre la logique. », écrit Gave, qui vient pourtant d’indiquer que la population des migrants remplaçait la population native. En réalité, la France n’a jamais été aussi peuplée qu’elle ne l’est de nos jours;

Gave conclut : « L’immense nouvelle des trente ou quarante prochaines années sera donc la disparition des populations Européennes, dont les ancêtres ont créé le monde moderne. » Avec un taux de fertilité de 1.4, il faudra nettement plus que quarante années pour que disparaissent en effet les populations natives;

Plus fondamentalement, l’islam n’est pas une race. L’islam est une religion

et, en réalité, nettement plus qu’une religion : une doctrine, une idéologie, une collection complète de normes (Coran, Sunnah, Fiqh) qui a vocation à régir tous et chacun des aspects de l’existence humaine. Etant une doctrine, un crédo, on peut se convertir à l’islam. On peut également y renoncer; bien que dans ce cas (apostasie), en droit islamique, la sanction prévue est la mort.

Il existe néanmoins des personnes qui se définissent comme « anciens musulmans », même s’ils ne sont pas majoritaires. De plus, cela n’a pas grand sens de prétendre connaître quarante années par avance ce que sera le sort d’une religion ou d’une idéologie, particulièrement en Europe. Comme le dit le proverbe, « Les prévisions sont difficiles, surtout lorsqu’elles concernent l’avenir. »

Il y a à peine deux ou trois générations, des dizaines de millions d’Européens se mettaient à genoux dans nos églises pour témoigner leur adoration du Christ. Quarante années plus tard, de cette ferveur religieuse il ne reste presque rien. C’est que, dans l’intervalle, nous avons assisté au phénomène de la « déchristianisation », qui a emporté l’ensemble de l’Europe.

Pourtant, en dépit de ces réserves, il y a de la vérité dans le « papier » de Gave. Pour le dire clairement, les Européens ont cessé de faire des enfants. Et cela n’a rien à voir avec l’islam; cette « peste » est d’origine bien occidentale.

Dans son livre La Bombe P — P comme population — publié en 1968, le biologiste américain Paul Ehrlich écrivait que la meilleure façon de réduire une population — en dehors de la stérilisation forcée qu’il appelait de ses vœux — est la légalisation de l’avortement. Cela sans même tenir compte des effets convergents des moyens contraceptifs.

Quand les Européens ont commencé à légaliser l’avortement, la plupart quelques années après l’arrêt séminal de la Cour suprême des Etats-Unis, Roe vs. Wade (1973), l’Eglise catholique mit en garde contre l’avènement d’une « civilisation morbide ». Lorsque le Parlement belge décida de dépénaliser l’avortement, en 1990, il fallut trouver une « astuce constitutionnelle » pour dispenser le Roi de signer une loi dont il réprouvait le principe. Alors que tout cela se déroulait il n’y a pas trente ans, la mentalité du Roi nous paraît aujourd’hui des plus archaïques.

Quarante années plus tard, nous savons maintenant que Paul Ehrlich et l’Eglise catholique avaient raison : l’Europe est entrée dans une civilisation morbide, et les Européens ont d’autres choses à faire que des bébés.

De fait, l’avortement a pris des proportions industrielles dans des pays tels que la France et la Suède. En France, il y a 200.000 avortements par an. Pour mettre les choses en perspective, il y a en France 750.000 naissances par an. Ce qui signifie que la France avorte 20% de ses bébés/foetus/amas cellulaires (choisir en fonction de vos convictions).

Le Parlement français a récemment institué l’avortement en droit sans condition (loi Vallaud-Belkacem de 2014). Auparavant, la mère devait être en situation de détresse pour que l’avortement soit légal. Cette condition — qui n’était jamais vérifiée — a été supprimée et l’avortement est désormais un droit comme un autre, tel le droit de conduire ou d’acheter un sandwich.

En outre, le Parlement français vient d’adopter l’une de ces lois dont il a le secret pour instituer le « délit d’entrave numérique à l’avortement », soit le fait de diffuser de fausses informations sur l’interruption volontaire de grossesse. Mais qu’est-ce qu’une fausse information? Est-il faux de constater que les conséquences psychiques d’un avortement, à court et/ou long terme, sont souvent dévastatrices ? Est-il faux de mettre en images les étapes cliniques de l’avortement ? Est-il « faux » de placer la valeur de la vie humaine au dessus d’autres considérations ? De plus, si la liberté d’expression ne comporte pas celle de dire des choses fausses et même odieuses, elle n’existe pas. Cette loi implique que probablement 99% des sites américains pro-vie (ie, anti-avortement) sont désormais hors-la-loi française. Américains, prenez garde ! En France, l’avortement accède désormais légalement au rang de dogme.

Ces avortements sont pratiqués par les populations migrantes et natives et, après un temps, le taux d’avortement des deux populations tend à se rapprocher.Mais cela ne nous concerne pas ici. Ce qui nous occupe est le fait qu’un sous-groupe de la population européenne est en train de se condamner très efficacement à la marginalisation. Avec un taux de fertilité de 1.4 et pour une population initiale de 100, la suite est connue : 70, 49, 34, 24, 17, 12, 8, 6, 4, 3, 2, 1 -- en treize générations. Cette vérité n’est pas contestable, ni même polémique : elle est mathématique.

Bien sûr, même quand l’avortement est illégal, le déclin démographique est possible — par exemple, par la guerre, la peste et d’autres épidémies, ou la politique de l’enfant unique du Parti communiste chinois (qui implique des millions d’avortements forcés).[2] Certes, on peut concevoir en théorie un pays où l’avortement serait légal et où le taux de fertilité démographique serait dans le long terme de 3 enfants par femme. Mais dans la réalité des faits, il n’existe pas à ma connaissance dans la vaste littérature sur le sujet[3] un seul exemple d’une population qui ne soit pas rentrée en déclin démographique après que l’avortement ait été légalisé, normalisé et disponible à grande échelle. Dit

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clairement : une population qui massifie l’avortement se supprime elle-même, en quelques générations.

La question n’est pas ici de savoir si l’avortement est acceptable ou immoral, ou si la légalisation devrait être reconsidérée. Il ne s’est agi que de montrer que la « peste blanche » est, en Europe, une réalité et que cette « peste » est intégralement auto-infligée, ayant débuté avant l’arrivée de migrants musulmans par la légalisation de la contraception et de l’avortement, puis leur massification.Qu’énoncer une vérité aussi simple — qui l’avait déjà été en son temps par une figure aussi respectée que Raymond Aron (Plaidoyer pour l’Europe décadente), par les anciens premiers ministres M. Rocard et A. Juppé, ou l’ancien président Mitterrand (« suicide démographique ») — cause un tel fracas illustre le fait qu’en Europe la liberté d’expression est engagée sur le même sentier morbide que les Européens.

(Image : Eric Chan/Wikimedia Commons)

Drieu Godefridi est l’un des chefs de file de l’école libérale de langue française; il a fondé l’institut Hayek à Bruxelles, est titulaire d’un PhD de la Sorbonne et investit dans des entreprises européennes.

[1] La réalité est probablement autour de 45, si l’on prend en compte que pour une population de 100 il existe en moyenne 48 femmes en état de procréer. Voir l’excellent ouvrage du démographe Jacques Pâquier, Ces migrants qui changent la face de l’Europe, (avec Yves-Marie Laulan), Paris, L’Harmattan, 2004.

[2] Voyez le modèle aggrégé des déterminants démographiques de John Bongaarts, « Demographic Research, » 33, 19: 535–560, 2015).

[3] Voyez par exemple Kapótsy, B., « The demographic effects of legal abortion on the Hungarian labor force, » European Demographic Information Bulletin, septembre 1973, 4:136; Potts, M. Diggory, P., Peel, J., Abortion, Cambridge: Cambridge University Press, 1977; Berelson, B., « Romania’s 1966 Anti-Abortion Decree: The Demographic Experience of the First Decade, » Popu. Studies, 33, 2: 209s. ; Tomas Frejka, « Induced Abortion and Fertility: A Quarter Century of Experience in Eastern Europe », Population and Development Review, Vol. 9, No. 3 (Sep., 1983), pp. 494-520; Senderowitz J., Paxman JM., « Adolescent fertility: worldwide concerns, » Popul Bull., 1985 Avr. 40(2): 1-51 ; Susan Gross Solomon, « The demographic argument in Soviet debates over the legalization of abortion in the 1920’s », Cahiers du monde russe et soviétique,1992, 33, 1: pp. 59-81; Carroll, P. « Ireland’s Gain -- The demographic Impact and Consequences for the Health of women of the Abortion Laws in Ireland and Northern Ireland since 1968, » London: Papri (Pension and Population research Institute), 2011; Potrykus, H., Higgins, A., « Abortion: Decrease of the U.S. Population & Effects on Society, » MARRI Research (Marriage and Religion Research Institute), janvier 2014; Mueller, JD, Redeeming Economics: Rediscovering the Missing Element, Intercollegiate Studies Institute: 2014; John Bongaarts, « Modeling the fertility impact of the proximate determinants: Time for a tune-up, » op. cit.

Amélia Rey Colaço disse um dia:

Gosto de Fado, porque o Fado fala à minha alma Portuguesa!

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Les 10 plus belles gares d’Europe (on aurait presque envie d’y rater son train !)Lieux de rencontres, de séparations ou de retrouvailles, les gares sont le décor de nombreuses histoires. Si on les traverse souvent en courant, valise à la main, sans vraiment faire attention à l’architecture, sachez que certaines sont de véritables œuvres d’art ! Historiques, originales ou à la pointe de la modernité, Petit Futé vous emmène pour un tour d’Europe des plus belles gares !

10 - Glavni Kolodvor, Zagreb - Croatie :Inaugurée en 1892, la gare de Zagreb est la plus grande de Croatie. Avec ses allures d’imposant palais, elle impressionne par son fronton néoclassique et son escalier royal. La majorité de ses rails est cachée sous terre ce qui lui offre une élégance rare. Ce luxe nous renvoie à l’époque où Zagreb faisait partie des étapes de l’Orient Express... Aujourd’hui, les trains relient la plupart des grandes villes européennes comme Vienne, Budapest, Zurich ou Belgrade.

9 - Stazione centrale, Milan - Italie : Seconde gare d’Italie, la stazione centrale de Milan accueille en moyenne 120 millions de passagers par an. Inaugurée en 1931 pour remplacer l’ancienne gare qui n’était plus en mesure d’accueillir le nombre croissant de passagers, Mussolini avait voulu en faire l’un des symboles du pouvoir fasciste. En résulte un bâtiment imposant et majestueux sans style architectural bien défini. Aujourd’hui, on admire ses plafonds voûtés et ses immenses arches en verre et en acier qui recouvrent les plateformes ferroviaires.

8 - Hauptbahnhof, Berlin - Allemagne : Inaugurée en 2006 après plus de 11 ans de travaux, la gare centrale de Berlin est l’un des projets architecturaux les plus importants d’Allemagne. Érigée selon les plans de Meihnard von Gerkan, elle possède un immense hall de verre de 321 mètres de long. Ses deux tours de 46 m sont équipées de 6 ascenseurs panoramiques qui permettent aux quelques 300 000 passagers quotidiens de se mouvoir. Plus grande gare d’Europe, la Hauptbahnhof impressionne par sa démesure et sa modernité !

7 - Rautatieasema, Helsinki - Finlande : En 1904, l’architecte Elie Saarinen remporte un concours pour la création d’une nouvelle gare. Sa première idée était de construire un édifice correspondant aux canons du style romantique national, mais c’était sans compter sur l’avis des Finlandais qui, peu enthousiastes au projet, ont voulu une construction plus moderne. La gare d’Helsinki et son style épuré marquent alors un véritable tournant dans l’architecture du pays. Sa façade en granit agrémentée d’immenses statues d’hommes portant des globes lumineux est à l’image de l’édifice : sobre et solennel.

6 - Gare de Limoges - Bénédictins, France : Inaugurée en 1929, la gare de Limoges a été édifiée à l’emplacement d’un ancien monastère bénédictins. Œuvre de l’architecte Roger Gonthier, elle a la particularité d’être construite au-dessus des voies. Sa coupole et son campanile sont splendides et lui ont valu d’être inscrite à l’inventaire des monuments historiques. À l’intérieur, on note de somptueuses verrières et des moulures allégoriques de certaines régions desservies par le trafic. La gare Bénédictins est aujourd’hui l’une des fiertés de Limoges, et un symbole de la région.

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5 - St Pancras railway station, Londres - Royaume-Uni : Depuis 2007, les passagers de l’Eurostar ne s’arrêtent plus à la gare de Londres Waterloo mais à Saint-Pancras, l’occasion d’admirer un bâtiment splendide ! Cette gare historique d’architecture gothique a été construite au XIXe siècle, durant l’ère victorienne. Le contraste entre les bâtiments originaux, faits de briques rouges, et l’extension du XXIe siècle est saisissant !

4 - Estaciòn de Atocha, Madrid - Espagne : Inaugurée en 1851, la gare d’Atocha fut partiellement dévastée par un incendie et reconstruite en 1890. En 2004, les tragiques attentats la rendent tristement célèbre, aujourd’hui on peut y voir un mémorial à la mémoire des victimes. L’intérieur de la gare est étonnant : en son centre trône un verdoyant jardin d’hiver. Cette serre géante, œuvre de César Manrique, accueille tout au long de l’année des plantes tropicales, des tortues et des petits oiseaux. Un lieu réconfortant qui permet d’échapper au tumulte de la capitale espagnole.

3 - Groningen CS, Groningue - Pays-Bas : Si Groningue n’est pas la ville la plus visitée des Pays-Bas, elle est un point de liaison ferroviaire important. Sa gare mérite, à elle toute seule, le détour ! Œuvre de l’architecte Isaac Gosschalk, elle a été édifiée en 1896 et totalement restaurée en 1999. Véritable chef-d’œuvre, elle comporte des éléments gothiques et renaissance et surtout un plafond en papier collé somptueux ! N’hésitez pas à passer le temps dans les magasins de sa galerie : plus que faire du shopping, vous découvrirez des décors splendides et une carte historique des chemins de fer chez Albert Heijn.

2-Estação Ferroviária de São Bento, Porto - Portugal : : Mise en service en 1896, la gare a inauguré son bâtiment voyageur en 1916. José Marques da Silva, l’architecte, l’a conçue comme un véritable chef-d’œuvre. On raconte d’ailleurs que celui-ci, obnubilé par le côté artistique de la gare, en négligea son côté pratique en oubliant les guichets de vente ! La salle des pas perdus, recouverte d’azulejo, est splendide. Les fresques représentent les grands moments de l’histoire portugaise et des scènes folkloriques. Un veritable petit musée!

La plus belle

1 - Centraal Station, Anvers - Belgique : Construite entre 1895 et 1905 à la demande du roi Léopold II, la gare d’Anvers mérite le détour ! Tout en pierre, verre et métal, elle a des allures de cathédrale avec son dôme de 75m pensé par Louis de la Censerie. À la fin des années 50, la garepouvait se vanter de posséder le trafic le plus dense d’Europe avec plus de 130 allers-retours par jour. Rénovée en 2009, elle accueille aujourd’hui le réseau TGV belge et des liaisons fréquentes vers Amsterdam.

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É isto que lhe acontece se beber café de estômago vazio Para muito o café é uma necessidade, para tantas outras é a sua bebida de eleição. Tendo sempre em conta o consumo moderado, a verdade é que o café tem muitos benefícios para a saúde, como proteger o cérebro de demências, segundo investigadores da Universidade de Wisconsin-Milwaukee.

Outra excelente razão para beber café, é manter-se desperto. Mas cuidado: de acordo com especialistas, não beba café de estômago vazio. Não faz bem para a saúde e também não ajuda a acordar.

Que tal um café antigravidade. Beber café de estômago vazio vai alterar o sistema digestivo. Isto porque o café dá início à produção de ácido do estômago e, estando vazio, pode danificar o revestimento estomacal, causar indigestão ou azia. A explicação é dada pelo médico especialista, Adam Simon, director clínico do PushDoctor.co.uk, em declarações ao Express. Não vale a pena pensar em descafeinado, que tem exactamente os mesmos resultados.

Outra questão referida, segundo a mesma fonte, é que beber café com o estômago vazio “pode alterar o sistema nervoso, batimentos cardíacos e causar outros efeitos de abstinência, incluindo alterações de humor”. Também pode aumentar os sintomas de ansiedade, irritabilidade e dificuldades de concentração.

Se bebe um café assim que acorda, pode estar a condicionar o seu ritmo biológico, ou circadiano. Isto é, quando acorda o organismo liberta uma hormona, a cortisol, que faz com que nos sintamos alerta e com energia. E aqui está a confusão, é que uma pesquisa demonstrou que o consumo de café diminui os níveis de cortisol. Resultado, um café no início da manhã vai alterar o estado de alerta, fazendo com que tenha mais sono

UM FACTO HISTÓRICO POUCO CONHECIDO

Rui Tavares

Passo pelo centro da cidade e vejo de repente, em plena Praça do Comércio, a bandeira da Guiné Equatorial. Lá estava ela ao lado das outras oito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Para nos lembrar como os interesses petrolíferos levaram à CPLP uma ditadura brutal onde há uma suposta moratória à pena de morte (que ninguém verifica), e onde o ditador rouba os recursos naturais do país para que o seu filho seja um coleccionador de carros de luxo que não podem andar nas poucas estradas asfaltadas daquela desventurada terra.

Não que faltem razões históricas para uma relação com o povo da Guiné Equatorial, por onde os portugueses também andaram e onde há ainda quem fale um dialecto de base portuguesa na ilha de Ano Bom. Mas se essas fossem razões suficientes para entrar um país na CPLP, eu preferiria ter visto outro na frente da fila: o Uruguai.

Antes que alguém diga: “mas o Uruguai tem como língua oficial o espanhol!” — interrompo para responder que não tem. O Uruguai não tem idioma oficial. E isso não acontece por acaso, mas pela razão histórica de que a República Oriental do Uruguai, como é seu nome constitucional, foi criada como uma espécie de Bélgica da América do Sul, ou seja, para servir de tampão entre o Brasil e a Argentina, sucessores do império português e do império espanhol. Por isso foi deixada propositadamente sem língua oficial, nem português nem espanhol, num esforço de neutralidade.

Muita gente já ouviu falar da uruguaia Colónia do Sacramento, que foi a mais meridional das cidades portuguesas e se situa mesmo em frente a Buenos Aires, na margem uruguaia do Rio da Prata.

Esta cidade foi intermitentemente portuguesa e espanhola durante século e meio, e serviu de moeda de troca nas negociações pela posse do território das Missões, no actual estado brasileiro do Rio Grande do Sul.

Mas há menos quem saiba que todo o Uruguai foi, no início do século XIX, parte do Reino Unido de Portugal, do Brasil e dos Algarves, com o nome de Província Cisplatina. Após 1822, o Uruguai passou a fazer parte do Império Brasileiro. Em 1825, o Uruguai tornou-se independente, não – como muita gente pensa – do império espanhol, mas sim do império brasileiro.

Este é um caso único na América de língua espanhola — mas o Uruguai é também, embora minoritariamente, de língua portuguesa. Há cidades de fronteira com o Brasil, onde o português é língua materna. O “portunhol riverense”, também chamado de “fronteiriço”, é um dialecto de base portuguesa reconhecido pelo estado uruguaio.

E a língua portuguesa é de ensino obrigatório nas escolas do país.

Para mais, o Uruguai é um país democrático e respeitador dos direitos humanos. A pena de morte foi abolida em 1907. Foi um dos primeiros países na América a reconhecer o casamento gay e um dos primeiros no mundo a legalizar as drogas leves. E — esta é a melhor — já pediu e repetiu o pedido para ser observador na CPLP. Se tivéssemos sido um pouco mais activos ainda poderíamos ter tido José “Pepe” Mujica nas cimeiras da lusofonia.

É por isso que, de cada vez que eu passar pelas bandeiras da CPLP e lá vir a da Guiné Equatorial hei de suspirar e pensar: mal por mal, preferia o Uruguai.

Com mais de 200 anos, o Café Nicola, é um símbolo da história lisboeta. Foi ponto de encontro de intelectuais e palco de verdadeiras tertúlias literárias.

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‘incroyable fuite organisée de djihadistes avant la chute de RaqqaSelon la BBC, 250 djihadistes ont fui grâce à une trêve négociée avec les forces démocratiques syriennes et sous le regard de la coalition internationale.

Par Le Point.fr

C’est l’histoire d’une exfiltration. Ou comment des combattants de l’État islamique ont pu fuir le 12 octobre 2017 de Raqqa sous les bombes. Une opération rendue possible par le cessez-le-feu trouvé entre Daech et les forces démocratiques syriennes (coalition qui regroupe principalement des Kurdes et des rebelles arabes proches de l’Armée syrienne libre, ainsi que des tribus locales et des chrétiens du Conseil militaire syriaque). Le tout sous le regard attentif de la coalition anglo-américaine. Selon les informations de la BBC, 250 djihadistes – dont des leaders de l’État islamique –, et 3 500 membres de leurs familles – dont des Français – ont pu quitter la ville « avec des tonnes d’armes et de munitions ».

Certains se sont évaporés ailleurs en Syrie, d’autres ont tenté de passer la frontière jusqu’en Turquie. La BBC a recueilli les témoignages des camionneurs qui ont conduit cet exode. Photographies à l’appui. « Dès que nous sommes entrés dans Raqqa, nous étions effrayés », raconte l’un des conducteurs. « Les forces démocratiques syriennes devaient nous accompagner, mais nous étions seuls. Quand nous avons passé les portes de Raqqa, nous avons vu les combattants avec leurs armes et leurs ceintures d’explosifs. Ils ont piégé nos camions. Si cela se passait mal, ils auraient fait exploser tout le convoi. »

Un énorme convoiLes djihadistes auront la vie sauve, grâce à l’accord passé quelques jours plus tôt avec des chefs tribaux de la région de Raqqa, capitale autoproclamée de l’organisation terroriste en Syrie. Une cinquantaine de camions, treize bus et plus d’une centaine de véhicules appartenant à l’État islamique composent le convoi, selon un témoignage. Il passe par le désert, puis file vers des terres moins hostiles et souvent encore contrôlées par l’EI. Parfois, des véhicules des forces syriennes s’arrêtent pour demander aux habitants de laisser passer le convoi.

D’autres membres de Daech ont décidé de quitter la route principale et de rejoindre d’autres régions. Voire de quitter le pays. Une situation qui a fait les affaires des passeurs à la frontière syro-turque. « Depuis plusieurs semaines, beaucoup de familles ayant fui Raqqa ont voulu rejoindre la Turquie », rapporte à la BBC l’un de ces contrebandiers qui prend 600 dollars par personne, 1 500 pour une famille. « La plupart étaient des étrangers [...], des Français, des Tchétchènes, d’autres Européens. » D’autres n’ont pas eu cette chance. S’il a pu fuir avec le convoi du 12 octobre, l’un des cerveaux de l’EI, le chef du renseignement Abu Musab Huthaifa, croupit désormais dans les geôles turques.

Il y a des frères français qui sont partis pour la France pour perpétrer des attaques. Lors de sa conversation avec les journalistes de la BBC, Abu Musab a détaillé le parcours du convoi. «Nous pouvions quitter la ville avec nos armes personnelles, mais en laissant derrière nous l’arsenal le plus lourd. Nous n’avions aucune arme lourde de toute façon », indique-t-il. Certains ont cherché à atteindre l’est de la Syrie, non loin de la frontière irakienne. Une région contrôlée par l’EI. D›autres ont préféré rejoindre Idlib, à l›ouest de Raqqa, où nombre de combattants ont trouvé refuge avec leur famille.

C’est le cas d’Abu Basir al-Faransy*, un combattant français avec qui la BBC a échangé. Membre d’un groupe exclusivement français au sein de l’EI, il transmet

à la radio britannique cette menace : « Il y a des frères français qui sont partis pour la France pour perpétrer des attaques qui se dérouleront au moment du Jour du jugement. »

Le début du parcours emprunté par le convoi composé par une cinquantaine de camions et des dizaines de véhicules.

Complicité de la coalition ?

Dans son enquête, la BBC pointe aussi la participation de la coalition dans l’accord et la fuite. Plusieurs témoins disent avoir aperçu des avions survoler le convoi, voire d’avoir éclairé leur chemin. Pourquoi autoriser la fuite de centaines de combattants de l’EI ? « Nous voulions que personne ne parte, fait valoir le colonel Ryan Dillon, porte-parole de la coalition internationale contre Daech. Mais cela touche au cœur de notre stratégie, aux côtés des leaders locaux sur le terrain. Cela dépend donc aussi des Syriens, qui sont ceux qui se battent et meurent, et qui prennent des décisions sur certaines opérations ». Si un « agent de l’Ouest » avait pris part aux négociations pour l’organisation du convoi, il n’aurait « pas joué de rôle actif », rapporte la BBC.

* la BBC a modifié les noms

Yannick PASQUETAgence France-Presse

Berlin

L’Allemagne, plongée depuis dimanche dans une grave crise politique, tente d’éviter la tenue d’élections anticipées en cherchant un compromis entre les partis politiques qui permettrait à Angela Merkel de former un nouveau gouvernement.

Le président de la République fédérale, Frank-Walter Steinmeier, qui a désormais la main dans cette crise en vertu de la Constitution, fait le tour des partis susceptibles de participer à une coalition sous l’égide de la chancelière conservatrice au pouvoir depuis douze ans.

L’Allemagne en crise

Angela Merkel

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O Fado nasceu um dia…Por Raul Mesquita

Foi com este fado com letra de José Régio, que a Suzi Silva iniciou o seu recital acoplado a uma interessante exposição sobre o Fado, esse valor intemporal, bem português, que foi declarado pela UNESCO Património Cultural Imaterial da Humanidade, sendo a primeira expressão artística a receber tal honra no nosso país.

Presente o senhor Cônsul-geral de Portugal, Dr. José Guedes de Sousa, — representando o país e as instituições que apadrinharam o evento, — que ofereceu aos presentes, um Porto de Honra no início deste miniconcerto, agradecendo a disponibilidade e colaboração da Directora do Departamento universitário.

Elegantemente vestida, expressando-se com naturalidade e acerto tanto em Português como em Francês, a Suzi, com distinção e arte, apresentou o Fado, à miscelânea do público que se deslocou à Universidade de Montreal para a ouvir cantar, sim, mas também, discente da História do Fado, esse Património tão falado, mas tão pouco conhecido quanto às origens das suas fontes poéticas, críticas e musicais.

O Fado é a canção nacional. E é razão de orgulho dos portugueses. Durante a sua apresentação, os músicos acompanhadores, Libério Medeiros na guitarra e Luís Duarte na viola, deslizavam suavemente os dedos sobre as cordas, esboçando melodias que as orelhas rapidamente identificavam e o coração reconhecia. Era o Fado em surdina, que aguardava a cantora. Que ela compenetrada mergulhe o olhar num ponto da sala e deixe falar o coração. E a Suzi, ultrapassou as expectativas ao expressar nos harmoniosos sons da sua voz, alguns fados cantados com alma, com alegria trinada, fazendo vibrar a assistência, sem receitas fantasiosas ou outros artifícios, apenas com a voz, melodiosa, os sons dos instrumentos, e o saber-se desejada, levada pela assembleia talvez para uma tertúlia de fados e touros. Como em tempos idos. Tradições portuguesas, por vezes imitadas, mas nunca igualadas.

Naquele fim de tarde, na Universidade de Montreal, houve Fado. Houve história falada e história cantada. Cantou a Suzi e, a pedido dela, também o Luís Duarte. Deram-se assim, os dois tipos de interpretação: feminina e masculina. E o público gostou e aplaudiu. Ao demonstrarem capacidade e valor, os intervenientes elevaram não apenas o Fado, também distinguiram Portugal.

Adieu Monsieur le professeur…Por Raul Mesquita

Acordei esta manhã com esta canção cantada por um grupo de crianças no final de mais um ciclo escolar a zumbir-me o espírito, quando pensava em fazer este apontamento, sobre a despedida, organizada por um grupo de alunos e professores da Universidade de Montreal que seguiram e conviveram diariamente — como instruendos ou como colegas — com Luís Aguillar, responsável pelos Estudos Lusófonos na mencionada instituição universitária.

Ideia cheia de carinho e apreciação, levada a efeito num fim de tarde no começo de um Inverno precoce, que nos prepara para o que se aproxima.

Quiseram os alunos e camaradas professores, fazer ao Luís Aguillar uma simpática manifestação, elogiando as suas capacidades como professor e colega, e, também, a sua jovialidade e vivência, que uns e outros foram descobrindo ao longo dos tempos.

Luís esteve entre nós vários anos. Chegou agora o momento de passar a pasta das responsabilidades inerentes a um cargo que soube ocupar, com diligência e maestria, criando ao mesmo tempo fortes amizades e louvores. E neste pequeno encontro, teve muitos. Quantos passaram pelo palco, livraram manifestações de reconhecimento e deixaram marcadas intenções de encontros onde o caudal deste rio imenso que é a vida, os faça arribar.

Casa muito completa — ultrapassou-se as cem pessoas — com um público que seguiu e ouviu os palestritas, agradecendo-os com calorosos aplausos.

No final, demonstrando uma certa comoção que se misturou com os pequenos episódios que incluiu na sua dissertação, Luís Aguillar agradeceu emocionado tantas manifestações de apreço e de amizade, mencionando o prazer que teve nos anos em que dirigiu os Estudos Lusófonos, que lhe permitiu conviver com pessoas que não esquecerá.

Uma longa salva de palmas terminou este agradável encontro, a que se seguiu um pequeno beberete e confraternização.

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Nota: Estes dois curtos apontamentos, foram também publicados re-centemente no Jornal LusoPresse

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jornal comunitário em Português - journal communautaire en Français abc portuscale jornal comunitário em Português - journal communautaire en FrançaisCulture montréalaise

Des rues avec des noms d’oiseaux« Quelle est cette urgence maladive à lessiver nos mémoires ? L’Histoire, cette guidoune, est-elle salissante à ce point ? »

Par Marie-France Bazzo / l’Act

Notre époque est marquée par un nouveau puritanisme qui s’infiltre partout et qui emprunte parfois les sentiers les plus inattendus. Rappelons-nous, cet été, l’épisode du déboulonnage de la statue du général sudiste Robert E. Lee, qui a mené aux événements de Charlottesville, et à une mort. En amont et en aval, plusieurs monuments symboles des confédérés ont été jetés à terre.

Une polémique semblable avait aussi entouré le nom et les statues d’Horatio Nelson, jadis héros national en Angleterre, maintenant synonyme de suprématie blanche et d’esclavage. À New York, le maire Bill de Blasio a voulu éliminer le Christophe Colomb de Columbus Circle, jugé offensant pour les Amérindiens. À Montréal, au La Baie de la rue Sainte-Catherine, on a subito presto retiré une plaque à la mémoire de Jefferson Davis, ex-président des États confédérés.

Au plus fort de la polémique, on a annulé la projection, dans un festival de Memphis, d’Autant en emporte le vent, chef-d’œuvre du cinéma maintenant honni pour esclavagisme patent. On a voulu débaptiser les écoles portant le nom de John A. Macdonald, un salaud du mauvais côté de l’Histoire, comme on a rayé avec fulgurance Claude Jutra un an plus tôt…

Mais quelle est cette urgence maladive à lessiver nos mémoires ? L’Histoire, cette guidoune, est-elle salissante à ce point ?

Il se trouve que régulièrement je relis, pour l’enchantement, un chapitre des Remarquables oubliés, l’œuvre que l’anthropologue Serge Bouchard et sa coauteure Marie-Christine Lévesque ont consacrée à des explorateurs canadiens-français, des coureurs des bois, des femmes fortes, des autochtones polyglottes, qui ont sillonné l’Amérique et dont l’Histoire a oublié de s’embarrasser. Je préfère cette méthode douce et pédagogique ; ramener à la vie des personnages et des pans de notre histoire, plutôt que de déboulonner rageusement. Enrichir, plutôt que de purger.

Car à quoi sert l’Histoire, fondamentalement ? À tisser un fil, coudre une mythologie commune, qui intègre et donne à partager. Si ce fil n’existe plus, on ne peut plus remettre la trame en doute ni s’enrichir de voix et de récits discordants.

L’Histoire sert aussi à ne pas répéter les erreurs du passé. Ainsi, l’esclavage, qui nous apparaît aujourd’hui comme une aberration, mais qui était pratiqué dans les États-Unis du XIXe siècle. À juger nos ancêtres avec nos yeux contemporains, nous sommes dans la morale, pas dans la réparation. L’Histoire et ses marqueurs servent de repères pour voir plus loin.

Autre chose. L’Histoire n’est jamais neutre. Elle est écrite par les vainqueurs, qui ont la fâcheuse tendance à se répandre sur le territoire en statues lénifiantes. L’espace public de toutes les nations est occupé par des monuments à la gloire de personnages qui ont du sang sur les pattes. Parfois, ces gagnants sont aussi paranoïaques et autoritaires, et se mettent à effacer des figures historiques. De Staline à Daech jusqu’aux bien-pensants actuels, c’est le même vertueux combat : éradiquons les mémoires conflictuelles.

Qui va décider de ce qu’est la « vraie » Histoire ? En quel nom ? Selon quels critères ? Les considérations à court terme sont mauvaises conseillères. Certains activistes sont les nouveaux censeurs des démocraties occidentales. Leur hyper moral pétrie de rectitude politique forme un cocktail redoutable. Ajoutons le fait que notre jugement est dicté plus par l’émotivité que par la connaissance historique… Entre la culture de l’offense et le politiquement correct, nos rues seront bientôt abonnées aux reposants noms d’oiseaux du Canada et d’arbres de la forêt tempérée, question de ne pas choquer.

Les symboles — statues, films, œuvres, toponymes — sont là comme rappels. Ils sont datés, ce sont des produits de leur époque. Des appels à faire mieux, à regarder plus loin. Chaque période, et surtout celles de grands changements, de révolutions, se réapproprie ces marqueurs. C’est brutal, mais compréhensible. Qu’on souhaite à ce point faire table rase du passé en période de paix est nouveau.

Le danger est qu’en cette époque moralisante qui est la nôtre on veuille abolir des pans de l’Histoire. Certes, elle n’est pas belle, mais c’est celle qui nous a construits. Résistons à cette folie de radicalisme et de rectitude. Proposons des figures différentes. Enrichissons la mémoire collective. Enseignons plus, apprenons mieux les versions de l’Histoire. Explorons ses interstices méconnus, racontons les épopées des laissés-pour-compte, des perdants, dressons de nouvelles statues pour discuter autour. Lisons les Remarquables oubliés !

Bien plus que l’éradication revancharde, que le militantisme amnésique, ça forme des citoyens curieux, des humanistes.

Être un hommePour aider à changer les attitudes envers le harcèlement et les agressions sexuelles, l’homme doit comprendre qu’il a un rôle important à jouer auprès des femmes.

Par Charles Grandmont Photo: Daphné Caron / Act

Bien des gars ont tendance à l’oublier : le plus important pour définir un homme, ce n’est pas ce qu’il a entre les deux jambes, mais ce qu’il a entre les deux oreilles.

Comme le rappelle l’historien israélien Yuval Noah Harari dans son magistral livre Sapiens : Une brève histoire de l’humanité, les différences entre les hommes et les femmes ne sont pas tant biologiques que culturelles. On naît certes avec les chromosomes du sexe mâle ou du sexe femelle, mais la suite est principalement définie par les mythes du moment sur les rôles, les droits et les devoirs des hommes et des femmes.

Ceux-ci n’ont rien d’immuable, fort heureusement, car le passage de l’ouragan #moiaussi montre qu’il y a un besoin de changement dans nos attitudes envers le harcèlement et les agressions sexuelles.

Déjà, des transformations sont en cours. Les victimes ne sont plus forcées de choisir entre se taire ou faire appel à un système judiciaire dans lequel à peine une plainte sur 10 débouche sur un verdict de culpabilité. Elles peuvent se rassembler derrière un mot-clic, nouvel emblème de solidarité et source de courage, qui aide à les délester du poids de la honte. Bien sûr, il faut chercher à minimiser les risques de dérapage bien réels de ce nouveau tribunal populaire, pour que la somme de ses torts n’excède pas celle de ses bienfaits.

À la lumière de cette vague d’accusations portées contre tant de ses congénères, un homme normalement constitué va se demander ce qui cloche par rapport à son sexe et ce qu’il peut faire pour aider. Le rôle de chevalier est après tout encore puissamment associé à son sexe.

Son premier défi, c’est de se taire et d’écouter. C’est une habitude qui lui fait souvent défaut lorsqu’il est en compagnie féminine, comme peuvent en témoigner bien des femmes qui ont des collègues masculins.

En écoutant, il prendra peut-être mieux la mesure de l’effet du harcèlement sur les femmes, ce qui n’est pas encore le cas, s’il faut en croire un sondage Léger réalisé en octobre. Les hommes québécois demeurent deux fois moins nombreux que les femmes à percevoir le harcèlement sexuel comme un problème très important. Peut-être même fera-t-il un petit examen de conscience.

Si l’homme finit par comprendre qu’il a un rôle concret à jouer aux côtés des femmes dans la recherche de solutions, on vient de faire un pas de géant. Le harcèlement et les agressions sexuelles ne sont pas plus un « problème de femmes » que l’Holocauste était un « problème de Juifs » ou la lutte pour les droits civiques « un problème de Noirs », comme le soulignait récemment le chroniqueur Nicholas Kristof dans le New York Times.

Rendu à ce stade, ce qu’un homme peut faire de très efficace, c’est de mettre lui-même de la pression sur ses confrères pour créer un environnement où leurs consœurs se sentiront pleinement respectées et traitées équitablement.

Est-ce faire preuve d’un optimisme démesuré que de croire possible une telle évolution des mentalités ?

À voir la quantité d’hommes aux mains baladeuses qui sévissent encore aujourd’hui, on peut certes désespérer devant la lenteur de l’évolution de l’espèce. Mais à l’échelle de l’histoire humaine, ce n’est pas une marche vers l’égalité des sexes qui se déroule depuis que les Québécoises ont obtenu le droit de vote, il y a trois quarts de siècle, mais un véritable sprint. D’immenses progrès ont été accomplis. Et quand un bon vent souffle de dos, comme actuellement, il n’est que plus facile de presser le pas.

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Colaboração Especial

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OSCAR MONTEIRO TORRES: CENTENÁRIO DA MORTE DO 1º AVIADOR PORTUGUÊS, EM COMBATE AÉREO

Do nascimento ao alistamento no Exército

Em 1915, abriu-se concurso para oficiais que quisessem frequentar o curso de pilotagem em Inglaterra, França e EUA, sendo aprovados onze “pioneiros”, nove do Exército e dois da Armada: capitão de Cavalaria Cifka Duarte, tenente de Cavalaria Cunha Aragão, alferes de Infantaria Carlos Beja, alferes de Cavalaria Salgueiro Valente, primeiro-tenente de Marinha Sacadura Cabral, tenente de Infantaria Santos Leite, guarda-marinha António Caseiro, capitão de Artilharia Norberto Guimarães, Tenente de Cavalaria Óscar Monteiro Torres, tenente de Cavalaria António Maya e alferes de Cavalaria Lello Portela.

Filho de Julião Monteiro Torres e Ema S. Monteiro Torres, Óscar nasceu em Luanda a 26 de Março de 1889 e morreu em França, a 20 de Novembro de 1917. Aluno do Colégio Militar para onde entrou em 1900, com o número 228, prosseguiu os estudos na Escola Politécnica de Lisboa e na Escola do Exército, tornando-se, em 1909, aspirante de Cavalaria. Em 1910 faz o serviço militar em Angola.

Era adepto da intervenção portuguesa na frente europeia da Grande Guerra e em 1915, em seguida ao Movimento das Espadas, (20 a 25 de Janeiro de 1915, ou Golpe das Espadas, foi o nome pelo qual ficaram conhecidos os incidentes de insubordinação militar, em que se destacaram o capitão Martins de Lima e o comandante Machado Santos, que conduziram à demissão, a 25 de Janeiro de 1915, do Governo presidido por Victor Hugo de Azevedo Coutinho e à instauração de um governo ditatorial chefiado por Pimenta de Castro, a primeira ditadura do republicanismo português), exilou-se em Inglaterra, oferecendo-se para combater nas tropas expedicionárias britânicas que estavam em França. Por estes factos foi na altura considerado desertor no nosso País.

Em 14 de Maio daquele ano, o General Pimenta de Castro foi demitido, tendo então regressado a Portugal, e sendo o novo Governo favorável a uma participação nacional mais activa na guerra ajudou Norton de Matos, ministro da Guerra, a preparar a intervenção do Exército.

O DUELO ENTRE REPUBLICANO E MONÁRQUICO

Num artigo do Observador de 2017 Rita Ferreira baseando-se num artigo de Artur Portela “Quando os republicanos se batiam com os monárquicos”, conta-nos sobre o duelo entre Monteiro Torres e Cristóvão Aires.

“É a toque de espada que o republicano Óscar Monteiro Torres, oficial de cavalaria, se trava de razões com Cristóvão Aires, militar, jornalista e monárquico. O duelo começou às 18h30 do dia 16 de Junho de 1915, na Estrada da Ameixoeira, em Lisboa. No Diário de Lisboa, num relato publicado em 1945, que recordava o dia

em que os dois se enfrentaram, Óscar é descrito como um homem “alto e aprumado, com qualquer coisa de alígero como só o tem os homens alados.

Assistiam “centenas de populares” e ao largo “haviam parado sessenta e três automóveis”. Depois de um relato exaustivo do jornalista Artur Portela, que incluía a forma como cada um dos duelistas estava trajado, o desenlace: “Enfim, no segundo minuto, do sétimo assalto, o sable de Óscar Monteiro Torres corta numa ferida de seis centímetros o antebraço do antagonista. Os médicos suspendem o combate. Já a correr o sangue — aquele que deixa a honra imaculada. A multidão abandona calada o local”.

Nas publicações da época — Ilustração Portuguesa e A Capital — nunca é bem explicada a razão que leva os dois homens a enfrentarem-se na Ameixoeira. Mas o que os separou durante os anos que se seguiram é conhecido: Óscar era defensor da intervenção portuguesa na Primeira Guerra Mundial, Cristóvão Aires era um adepto da não beligerância. E os dois continuaram a bater-se na defesa dos seus ideais.”

Com a chegada de Norton de Matos a ministro da Guerra, em Junho de 1915, Óscar Monteiro Torres passa a ser seu secretário, com um papel activo na criação e preparação de uma força expedicionária, caso Portugal entrasse oficialmente na guerra.

Em Fevereiro de 1916 o Ministério da Guerra solicitou à Grã-Bretanha a formação de alguns pilotos, com o objectivo de virem a formar o grupo aéreo do CEP. E deste modo, em Fevereiro, foram enviados os Tenentes António de Sousa Maya e Óscar Monteiro Torres e o Alferes Alberto Lello Portela, que em Junho de 1916 conseguiriam os respectivos brevets militares nas escolas de aviação civil de Hendon e militar de Northolt, nas escolas do Royal Flying Corps, antecessoras da Royal Air Force.

Óscar Monteiro Torres realizou 25 horas de voo e obteve a classificação final de 20 valores, e recebeu igualmente formação em França nas escolas de acrobacia de Paux e de Cazaux .

É então convidado a formar com António Maya e Alberto Lello Portela um grupo de militares portugueses responsáveis pela formação de um corpo de aviação

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militar em Portugal, e participa na organização da nossa Escola de Aviação, em Vila Nova da Rainha. Como Portugal não recebeu de imediato os aviões, Monteiro Torres teve autorização de seguir para França.

Versão 1. Segundo http://www.momentosdehistoria.com/MH_05_03_03_Exercito.htm, serviu em Soissons na Esquadrilha SPA 65 equipada com aviões SPAD 7 tendo sido convidado pelo seu amigo Georges Guynemer (Ás francês), para se juntar à Esquadrilha 3, a famosa «esquadrilha cegonhas».

Versão 2. http://observador.pt/especiais/oscar-e-maria-monteiro-torres-uma-historia-de-amor-em-sete-cartas-perdidas/:

“ Escreve-se em dois jornais portugueses da época (pertencentes ao espólio da família, mas cujos recortes apenas deixam identificar um deles: O Século): “A sua ansiedade por partir para o campo de batalha era conhecida de todos quantos se encontraram com ele em Paris, e tanto assim que, vendo que demoravam a organizar-se os serviços de aviação do nosso corpo expedicionário, conseguira que Guynemer se interessasse por ele e instasse junto do ministério da guerra para que lhe fosse concedido fazer parte da célebre quadrilha das ‘Cegonhas’. O pedido ia ser deferido quando Guynemer morreu. Monteiro Torres foi então adido à esquadrilha número 65 de aviões ‘Spad’, uma das mais activas e das que mais se têm distinguido pelas suas proezas”. Este era o relato do redactor de O Século em Paris, Paulo Osório.

Ainda na esquadrilha 65, a 19 de Novembro de 1917, parte em patrulha com o capitão Lamy. Aos comandos do seu SPAD S.VII, n.º S7C1, 4268 voa a 3.000 metros sobre Dames e Laon quando se confrontam com dois aviões alemães. Mais experiente, o capitão Lamy consegue uma manobra evasiva, mas Óscar Monteiro de Torres é perseguido por dois aviões alemães entrando pelas linhas inimigas.

Num combate aéreo altamente desigual, e num acto de coragem, pica sobre os aviões alemães e consegue abate-los: um Halberstadt (avião de observação) e um Fokker (caça), sendo momentos depois abatido pelo piloto Alemão Rudolf Windisch da esquadrilha de caças Fokker, Jasta 32.

O combate é travado na zona entre Chemin des Dames e Laon, acabando o seu biplano por se despenhar na zona Alemã, tendo a população de Laon assistido a este corajoso combate.

Os Alemães recolheram o corpo e esteve em observação num hospital militar de campanha, mas na manhã do dia seguinte, e em resultado dos graves ferimentos que tinha sofrido em combate, o Capitão Piloto-Aviador Óscar Torres viria a falecer a 20 de Novembro de 1917, no Hospital Militar de Laon.

Inicialmente foi sepultado pelos alemães, com honras militares, e depois da guerra foi transferido para o cemitério português de Richebourg-l´Avoué. O seu corpo foi trazido por uma esquadrilha francesa para Portugal onde teve funeral nacional a 22 de Junho de 1930. Foi promovido a Major por distinção.

Esteve num carreiro ao serviço da Liga dos Combatentes, que precedeu a actual cripta no cemitério do Alto de S. João, e passou mais tarde para um jazigo de família no mesmo cemitério, estando averbado no respectivo título que viria a ser trasladado para a Cripta da Liga dos Combatentes. Repousa no Alto de São João em Lisboa, onde a urna com o número 5.289 com as suas ossadas deu entrada na cripta da Liga dos Combatentes em 20 de Novembro de 1976, data do 59º aniversário da morte do aviador. As palmas bronzeadas foram fixadas numa parede da Cripta dos Combatentes, segundo vontade expressa pela filha do Major Monteiro Torres, Dª Vera Monteiro Torres Cattini.

A trasladação foi feita sob encargo e organização da Liga dos Combatentes, com o apoio das Forças Armadas, com predominância da Força Aérea, tendo sido planeado que a urna sairia da Capela do Cemitério do Alto de S. João para a Cripta dos Combatentes.

Até hoje foi o primeiro e único aviador português a morrer em combate aéreo. Diz-se que o seu SPAD foi mais tarde utilizado pelo seu captor, o piloto Alemão Rudolf Windisch, e usado em combate nos céus da frente.

Pelos seus feitos em combate foi condecorado a título póstumo com a Legião de Honra e Cruz de Guerra francesas, e Medalha da Cruz de Guerra e Torre e Espada de Portugal.

OSCAR MONTEIRO TORRES E MARIA CAROLINA E LIMA CORREIA

“Conheceram-se num baile em Lisboa, no dia 15 de Janeiro de 1908. Óscar prestes a fazer 19 anos, Maria ainda tinha 17. As duas famílias abastadas frequentavam a nata da sociedade lisboeta, e assim começou o amor entre Maria Carolina e Lima Correia e Óscar Monteiro Torres.”

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Óscar nascera a 26 de Março de 1889 e Maria a 8 de Agosto de 1890,.

Namoraram, casaram e tiveram uma filha com o nome de Vera. Foi no dia 21 de Novembro de 1912, quando os dias eram sempre quentes, e os dois viviam em Angola. Óscar era oficial de Cavalaria e o responsável pelo Regimento do Huambo. Saturado das condições em que se vivia em África, a família regressou a Lisboa, em Janeiro de 1914 e viviam num apartamento da Defensores de Chaves, além de uma casa de férias no Estoril e em Lisboa davam-se festas. Viviam bem, tinham posses.

Depois de ele ter ido combater em França, foi escritora assídua enviando-lhe inúmeras cartas. Mas a notícia que recebeu sobre o marido publicada no jornal O Século, dizia: com o subtítulo: “Confirma-se ter perecido em combate com o inimigo”. O jornal confirmava, através de uma carta do redactor, em Paris, que o aviador estava morto. “O aparelho que pilotava, despenhando-se d’uma altura de cerca de 4:000 metros, foi cair num bosque ocupado pelos alemães e, não obstante mais notícias não haver sobre o facto, tudo deixa supor que o aviador não possa ter sobrevivido a essa queda”.

E começa então uma intensa troca de correspondência com o Comité de Socorros aos Militares e Civis Portugueses Prisioneiros de Guerra, criado em Lausanne [por isso ficou conhecido como Comité de Lausanne], de modo a saber do paradeiro de Óscar. Ao mesmo tempo escrevia cartas ao marido esperando que este as recebesse enviando-as para Lausanne. No início de Janeiro de 1918 recebe uma carta da Cruz Vermelha informando-a de que o marido teria sido feito prisioneiro e acreditando que estava vivo continua desesperadamente a escrever-lhe. Todas estas cartas e a correspondência enviada a partir de Lausanne para a Defensores de Chaves estão no Arquivo Histórico Militar de Lisboa.

“A 14 de maio a Cruz Vermelha Internacional contacta o Comité afirmando que continua a aguardar resposta sobre o paradeiro de Monteiro Torres. A 29 de Maio volta a escrever, dizendo que vai abrir um segundo inquérito. E a partir daqui, faz-se silêncio. Não há mais comunicações do Comité, nem mais cartas de Maria Correia Monteiro Torres que tenham ficado guardadas.

No dia 15 de Novembro de 1918, a quatro dias de fazer um ano da queda do avião de combate de Óscar Monteiro Torres, o Comité de Lausanne escreve uma carta dactilografada a Maria Correia Monteiro Torres. Não se sabe quantos dias depois o envelope é entregue no segundo andar do número 25 da Avenida Defensores de Chaves, em Lisboa. A notícia é aterradora. Óscar tinha morrido no dia 20 de Novembro de 1917, um dia apenas após o avião ter sido atingido. Estava sepultado num cemitério em Laon. Todas as cartas que Maria escrevera eram destinadas a um homem morto e enterrado.”

TOPONÍMIA

Em edital de 14 de Setembro de 1926 foi dado o nome de Av. Óscar Monteiro Torres a uma avenida paralela ao Campo Grande em Lisboa, existindo ruas com o seu nome em Alpiarça, Cascais, Venda Nova, Queluz, Montemor-o-Novo e Venda Nova.

http://nme-modelismo.blogspot.pt/2014/01/a-26-de-marco-de-1889-nasce-na-cidade.html colar da Torre e Espada e com a Medalha da Cruz de Guerra de 1ª Classe.

.http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=039267; http://cruzdeguerra.blogspot.pt/2012/01/oscar-monteiro-torres-heroi-da-cruz-de.html; da Liga dos Combatentes, documentos diversos,

CARDOSO, Edgar Pereira da Costa – História da Força Aérea Portuguesa, Ed. Cromocolor, Lisboa, s/dRedacção Quidnovi, com coordenação de José Hermano Saraiva, História de Portugal, Dicionário de Personalidades, Volume XX, Ed. QN-Edição e Conteúdos, S.A., 2004Arnaldo Garcês Arquivo Hemeroteca Digital Tipo de Iconografia Imagem de publicaçãoFonte Portugal na Guerra. Revista Quinzenal Ilustrada. Ano 1, nº 4, 1 de Outubro de 1917, p. 16http://observador.pt/especiais/oscar-e-maria-monteiro-torres-uma-historia-de-amor-em-sete-cartas-perdidas/ - Rita Ferreirahttp://www.momentosdehistoria.com/index.html (6ª edição Janeiro 2015).http://www.aereo.jor.br/2008/11/11/a-atricao-nos-combates-aereos-da-primeira-guerra e os maiores ases (20/2/2016).http://queluz-monteabraao-massama.blogspot.pt/2008/04/rua-oscar-monteiro-torres.htmlhttp://www.portugal1914.org/portal/pt/historia/iconografia/item/3963-a-primeira-missão-de-aviação-portuguesa-em-frança

Isabel Martins 17 de Novembro de 2017