josiário de jesus almeida - avaliação pós-ocupação em habitação de interesse social

86
1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVIL JOSIÁRIO DE JESUS ALMEIDA AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO EM HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL:ESTUDO DE CASO NO CONJUNTO HABITACIONAL PAULO SOUTOEM FEIRA DE SANTANA FEIRA DE SANTANA-BA 2011

Upload: bernadete-santiago-lima-almeida

Post on 11-Nov-2015

214 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Os estudos de Avaliação Pós-Ocupação (APO) mostram que as habitações de interesse social no Brasil passam por modificações após certo tempo de ocupação. Estes estudos consistem em coletar informações através do ponto de vista dos moradores, medições físicas, aplicação de questionários, entrevistas, registro fotográfico e observação técnica.

TRANSCRIPT

  • 1

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

    DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA

    COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVIL

    JOSIRIO DE JESUS ALMEIDA

    AVALIAO PS-OCUPAO EM HABITAO DE INTERESSE

    SOCIAL:ESTUDO DE CASO NO CONJUNTO HABITACIONAL

    PAULO SOUTOEM FEIRA DE SANTANA

    FEIRA DE SANTANA-BA

    2011

  • 2

    JOSIRIO DE JESUS ALMEIDA

    AVALIAO PS-OCUPAO EM HABITAO DE INTERESSE

    SOCIAL: ESTUDO DE CASO NO CONJUNTO HABITACIONAL

    PAULO SOUTOEM FEIRA DE SANTANA

    Monografia apresentada disciplina TEC 174 TRABALHO DE CONCLUSO DE CURSO II, como parte dos requisitos necessrios para a obteno de seus crditos.

    Orientador:ProfessorGerinaldoCosta Alves

    FEIRA DE SANTANA-BA

    2011

  • 3

    JOSIRIO DE JESUS ALMEIDA

    AVALIAO PS-OCUPAO EM HABITAO DE INTERESSE

    SOCIAL: ESTUDO DE CASO NO CONJUNTO HABITACIONAL

    PAULO SOUTO EM FEIRA DE SANTANA

    Monografia apresentada disciplina TEC 174 TRABALHO DE CONCLUSO DE

    CURSO I, como parte dos requisitos necessrios para a obteno de seus crditos.

    Banca examinadora

    Orientador: __________________________________________________________

    Prof.Especialista,Gerinaldo Costa Alves

    Membro: __________________________________________________________

    ProfMestre, Eufrosina de Azevedo Cerqueira

    Membro: __________________________________________________________

    Prof.Mestre, Lus Cludio Alves Borja

    Feira de Santana-BA

    15/09/2011

  • 4

    RESUMO

    Os estudos de Avaliao Ps-Ocupao (APO) mostram que as habitaes de interesse social no Brasil passam por modificaes aps certo tempo de ocupao. Estes estudos consistem em coletar informaes atravs do ponto de vista dos moradores, medies fsicas, aplicao de questionrios, entrevistas, registro fotogrfico e observao tcnica. O objetivo geral do presente trabalho realizar uma Avaliao Ps-Ocupao no conjunto habitacional Paulo Ganem Souto, em Feira de Santana. Especificamente, buscou-se analisar determinados aspectos construtivos do loteamento, luz de critrios mnimos de desempenho tcnico, coletar dados a partir do ponto de vista do usurio/morador que possam ajudar em futuros trabalhos do mesmo gnero e deixar sugestes para futuros trabalhos semelhantes. O apoio de bibliografias sobre APO e sobre Habitaes de Interesse Social foi um suporte indispensvel para a metodologia, que no se resume apenas na coleta de opinies atravs de questionrios supervisionados. Houve consulta de material tcnico/descritivo, visitas tcnicas, aplicao de questionrio, tabulao dos dadoscoletados e anlise dos resultados. Foi constatado que o loteamento deficiente em muitos aspectos, principalmente a segurana das ruas e reas comuns e a drenagem das guas pluviais. Em relao unidade habitacional, os moradores mostram-se insatisfeitos, entre outros aspectos, com o tamanho da cozinha, apesar das reas de todos os cmodos obedecerem aos limites exigidos pelo cdigo de obras da cidade de Feira de Santana. O quesito abastecimento de gua no loteamento atinge uma avaliao mais positiva por parte dos moradores. Outro fator positivo que pde ser observado foia flexibilidade espacial. Foi facultada ao usurio uma opo de ampliao do espao fsico.

    PALAVRAS-CHAVES: Avaliao Ps-Ocupao. Habitao de Interesse Social. Relao ambiente-comportamento.

  • 5

    ABSTRACT

    The studies of Post-Occupancy Evaluation (PDB) show that low-income housing in Brazil undergoes changes after a certain period of occupation. These studies are to collect information through the perspective of residents, physical measurements, questionnaires, interviews, observation and photographic technique. The overall objective of this study is to perform a Post-Occupancy Evaluation in public housing Paulo Ganem Souto, in Feira de Santana. Specifically, we sought to analyze certain aspects of the settlement construction in the light of minimum standards of technical performance, collect data from the standpoint of the user / resident to help with future work of the same gender and leave suggestions for future similar work. The support of bibliographies on PDB and on social housing was an indispensable support for the methodology, which is not just the collection of opinions through questionnaires supervised. There was a consultation of technical / descriptive, technical visits, questionnaires, data tabulation and analysis of results collected. It was noted that the subdivision is deficient in many aspects, especially the safety of streets and common areas and drainage of rainwater. Regarding the housing unit, residents were dissatisfied show, among other things, the size of the kitchen, despite the areas of all rooms comply with the limits required by the code works in the city of Feira de Santana.The item in the subdivision water supply reaches a more positive assessment by the residents. Another positive factor that could be observed was the spatial flexibility. Was provided to the user an option to expand the physical space.

    KEY-WORDS:Post-OccupancyEvaluation. Social Housing.Environment-behavior relationship.

  • 6

    LISTA DE SIGLAS

    APO - Avaliao Ps-Ocupao

    EHIS Empreendimentos Habitacionais de Interesse Social

    RCD Resduos de Construo e Demolio

    FCP Fundao Casa Popular

    BNH Banco Nacional da Habitao

    FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Servio

    SBPE Sistema Brasileiro de Poupana e Emprstimo

    SFH- Sistema Financeiro da Habitao

    BACENBanco Central do Brasil

    MDUMinistrio do Desenvolvimento Urbano

    MHU Ministrio da Habitao, Urbanismo e Meio Ambiente

    MBES Ministrio da Habitao e do Bem-Estar Social

    SEAC - Secretaria Especial de Habitao e Ao Comunitria

    CEF Caixa Econmica Federal

    IPMF - Imposto Provisrio sobre Movimentaes Financeiras

  • 7

    SEPURB - Secretaria de Poltica Urbana

    MPO - Ministrio do Planejamento e Oramento

    SNHIS Sistema Nacional de Habitao de Interesse Social

    FNHIS Fundo Nacional de Habitao de Interesse Social

    PLANHAB Plano Nacional de Habitao

    SNH Secretaria Nacional da Habitao

    PPA Plano Plurianual

    PNH Plano Nacional de Habitao

    PAC Programa de Acelerao do Crescimento

    PIB Produto Interno Bruto

    IPT Instituto de Pesquisas Tecnolgicas

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    SEI - Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia

  • 8

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Exemplo de construes mal planejadas em Feira de Santana...............31

    Figura 2 Exemplo de limitaes de construes.....................................................32

    Figura 3 Escada construda erroneamente.............................................................34

    Figura 4 Mapa de localizao do sistema virio de Feira de Santana.....................54

    Figura 5 Localizao do Loteamento Paulo Souto...................................................57

    Figura 6 Partido urbanstico do Loteamento Paulo Souto........................................59

    Figura 7 Planta baixa de casa do loteamento Paulo Souto (Padro Habitacional tipo 3da Prefeitura Municipal de Feira de Santana)......................................59

    Figura 8 Local destinado construo da futura praa do loteamento..................60

    Figura 9 Quadra esportiva do loteamento...............................................................60

    Figura 10 Seqncia de casas padronizadas do loteamento Paulo Souto.............61

    Figura 11 - Fachadas modificadas de padro habitacional do loteamento Paulo Souto.........................................................................................................61

    Figura 12 Casa que foi adaptada para funcionar como um bar..............................62

    Figura 13 Sede da associao comunitria do loteamento, completamenteabandonada..........................................................................................62

  • 9

    Figura 14 Espao destinado construo da futura escola...................................63

    Figura 15 Poas dgua em rua do loteamento, aps quatro dias de chuva.........64

    Figura 16 Regies de abrangncia da amostra......................................................66

    Figura 17 Unidades que responderam o questionrio............................................66

    Figura 18 Diagrama de Paretto da questo 5.........................................................71

    Figura 19 Diagrama de Paretto da questo 6.........................................................72

    Figura 20 Diagrama de Paretto da questo 8.........................................................73

  • 10

    Ao Senhor Deus Todo Poderoso, que sempre respondeu s minhas preces. Aos meus pais, que sempre priorizaram a minha educao e nunca me desampararam. Aos meus professores e amigos. Ao meu irmo mais novo, um referencial de inteligncia e dedicao aos estudos.

  • 11

    SUMRIO

    RESUMO

    ABSTRACT

    LISTA DE SIGLAS

    LISTA DE FIGURAS

    DEDICATRIA

    1INTRODUO..................................................................................................13

    1.1 JUSTIFICATIVA..............................................................................................15

    1.2 OBJETIVOS....................................................................................................18

    1.2.1 Objetivo Geral..............................................................................................18

    1.2.2 Objetivos Especficos...................................................................................18

    1.3 HIPTESE......................................................................................................19

    1.4 METODOLOGIA.............................................................................................19

    1.5 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA...................................................................22

    2 REVISO BIBLIOGRFICA...........................................................................23

    2.1 AVALIAO PS-OCUPAO.....................................................................23

    2.1.1 Introduo....................................................................................................23

    2.1.2 Valor Agregado............................................................................................25

    2.1.3 Conforto Ambiental......................................................................................27

    2.1.4 Sustentabilidade Ambiental..........................................................................28

    2.1.5 Flexibilidade Espacial...................................................................................30

    2.1.6 Segurana....................................................................................................34

    2.1.7 Eficincia Energtica....................................................................................36

    2.2 HABITAES DE INTERESSE SOCIAL.......................................................38

    2.2.1 Introduo....................................................................................................38

    2.2.2 Poltica Nacional de Habitao....................................................................42

    2.2.3 Programas do Governo................................................................................45

    2.2.4 Critrios Mnimos de Desempenho para Habitaes Trreas de Interesse

    Social..........................................................................................................48

    3ESTUDO DE CASO...........................................................................................50

  • 12

    3.1 MUNICPIO DE FEIRA DE SANTANA............................................................50

    3.1.1 Origem.........................................................................................................50

    3.1.2 Aspectos Gerais de Feira de Santana.........................................................52

    3.1.3 Como Surgiram os Conjuntos Habitacionais em Feira de Santana...........54

    3.2 CONJUNTO HABITACIONAL PAULO GANEM SOUTO................................56

    3.2.1 Caracterizao e Aspectos gerais...............................................................56

    3.2.2 Situao Atual do Bairro..............................................................................59

    3.2.3 Avaliao tcnica do bairro..........................................................................62

    3.3 LEVANTAMENTO DA POPULAO AMOSTRAL.........................................64

    4APRESENTAO E ANLISE DOS RESULTADOS......................................66

    5 CONCLUSES..................................................................................................73

    5.1 CONSIDERAES FINAIS............................................................................73

    5.2 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS..............................................74

    REFERNCIAS....................................................................................................75

    APNDICES.........................................................................................................80

    ANEXOS...............................................................................................................85

  • 13

    1 INTRODUO

    Conforme mostram os meios difusores de informao, hoje em dia so muitos

    os programas do governo que ajudam aos que no possuem moradia ou que moram

    em condies precrias. Com isso, muitas construtoras se aproveitam do forte

    incentivo do governo para lucrarem. De acordo com Pereira (s.d.) estas empresas

    entram numa corrida desenfreada para construir em quantidade, porm, em

    detrimento da qualidade. O resultado um conjunto de problemas visveis que

    acometem as edificaes populares. Os construtores tm um interesse maior pela

    diminuio dos custos da construo.

    [...] assim busca-se ganhos nos materiais e processos de construo aliados

    a uma justaposio das unidades habitacionais, que resultam numa

    monofuncionalidade acrtica do espao. (PEREIRA, s.d., p.1).

    No entanto, vrias casas j foram construdas desta maneira. Se esse

    histrico fosse previamente analisado e levado em considerao, talvez, muitos

    defeitos ou inconvenincias de projeto e construo fossem evitados.Este um dos

    princpiosem que se baseiam os estudos de APO, Avaliao Ps-Ocupao.

    De acordo com Conciani e Brando (2009), a construo civil brasileira est

    inovando-se a cada dia. H uma assimilao dos avanos tecnolgicos [mesmo que

    a passos lentos] em materiais, sistemas e processos construtivos no apenas pelas

    edificaes mais complexas, mas tambm pelas habitaes populares. Esses

    avanos tecnolgicos se desenvolvem visando no apenas a qualidade final do

    produto, mas tambm a melhoria do processo produtivo, ou seja, a satisfao do

    construtor.

    Essa evoluo no setor, no entanto, nunca pode encobrir o fato de que o

    morador, o usurio, constitui o cerne da moradia, com suas necessidades e desejos

    particulares. (CONCIANI; BRANDO, 2009, p.185).

    APO um ramo recente de pesquisa no Brasil, embora j seja aplicada nos

    pases desenvolvidos h mais de duas dcadas. Muitos estudos de APO feitos em

    vrias regies do Brasil mostram que os projetos de habitaes de interesse social

    no esto atendendo as verdadeiras necessidades dos seus usurios. Ou seja, os

    usurios tm expectativas quanto sua futura moradia e, ao tomarem posse desta,

    Bernadete SantiagoRealce

  • 14

    se sentem satisfeitos na euforia de uma novidade, visto que antes estavam em

    condies de moradia relativamente inferiores. A princpio, esquecem de suas

    expectativas e comeam a desfrutar de seu novo lar. Mas, aps certo tempo, j

    acostumados novidade, percebem que alguns aspectos de sua moradia causam

    incmodos. Aps certo tempo em que o ambiente construdo habitado torna-se

    possvel ao usurio deste perceber quais os pontos positivos e negativos de sua

    moradia. (REIS, s.d.)

    De acordo comOrnstein (1992), as pesquisas realizadas in loco (como no

    caso de APO) so mais complicadas de serem executadas em comparao s

    pesquisas de laboratrio, pois existem em campo muitas variveis interagindo

    simultaneamente. Com isto, a confiabilidade e preciso dos resultados diminuem,

    porm o estudo de APO tem mrito maior no que diz respeito s relaes ambiente-

    comportamento, visto que as manifestaes destas dependem sobremaneira da

    interao entre as diversas variveis naturais do ambiente a ser habitado. Alm

    disso, os estudos de APO tm sua importncia tambm como estudos de

    realimentao de projetos semelhantes. ParaOrnstein (2006), os fatores positivos

    encontrados em APOs devem ser classificados e recomendados para futuros

    projetos semelhantes.

    O estudo de APO visa levantar informaes importantes acerca de um

    ambiente construdo e habitado que possam servir de base para a elaborao de

    projetos similares. Por isso, Ornstein (1992) afirma que a APO um mecanismo de

    realimentao de projetos semelhantes e de controle de qualidade global do

    ambiente construdo no decorrer de sua vida til.

    Segundo Ferraz (2010), esta ferramenta possibilita que o usurio participe

    ativamente do processo de atribuio de valor ao ambiente em que vive. De acordo

    com o ponto de vista do morador da edificao possvel identificar pontos positivos

    e negativos explorados tanto no projeto quanto na construo.

    O ambiente construdo gera um tipo de resposta num especialista tcnico e

    outro tipo de resposta a um usurio leigo, pois o repertrio cultural, hbitos, atitudes

    e crenas so bastante distintos entre os diferentes elementos que participam do

    processo projetual, construtivo e de uso do ambiente.

    Segundo Andrade (s.d.), a APO um mecanismo que permite avaliar, atravs

    do ponto de vista dos usurios e dos especialistas tcnicos, aspectos tcnico-

    Bernadete SantiagoRealce

  • 15

    construtivos, funcionais, econmicos, estticos e comportamentais do ambiente

    construdo, revelando as relaes entre ambiente e comportamento.

    O objeto de estudo deste trabalho um seleto conjunto de habitaes de

    interesse social na cidade de Feira de Santana, visto que, nesta cidade, faltam

    estudos de APO nas habitaes executadas para a populao cuja renda inferior a

    trs salrios mnimos. No existem estudos suficientes que dem uma idia do grau

    de satisfao dos usurios destas habitaes.

    1.1 JUSTIFICATIVA

    importante saber se os usurios de habitaes de interesse social esto

    satisfeitos com o ambiente construdo para eles e se o ambiente construdo est

    cumprindo a sua funo de abrigar com dignidade as famlias de baixa renda. E

    abrigar com dignidade tem um sentido mais amplo do que simplesmente proteger de

    sol, chuva e acidentes. Os principais agentes envolvidos na produo de edificaes

    se limitam apenas a uma funo do produto, que o abrigo. No entanto, a habitao

    hoje em dia no tem apenas a funo de abrigar, conforme mostra Rapoport (1984)

    apud. Larcher (2005, p.6):

    A variedade observada nas formas de construo, num mesmo local ou sociedade, denota uma importante caracterstica humana: transmitir significados e traduzir as aspiraes de diferenciao e territorialidade dos habitantes em relao a vizinhos e pessoas de fora de seu grupo.

    Portanto, sendo um importante meio de traduzir a identidade do morador, a

    habitao deve contemplar a vontade deste morador, permitindo que ele sinta-se

    mais em casa, ou seja, mais confortvel.

    De acordo com Andrade e Duarte (1995) apud Moraes (2008, p.106),

    normalmente esta racionalizao [das construes] tende a associar padronizao

    com produtividade no levando em conta asquestes scio-culturais da populao

  • 16

    de baixa renda. Os empreendedores, portanto, desconhecem a percepo dos

    usurios de habitaes populares com relao ao desempenho destas edificaes.

    Desta forma, avaliar um projeto tendo como base o valor percebido pelo usurio permite oportunizar aos projetistas parmetros para se aprimorar o processo de projeto, dirigindo-o s caractersticas particulares de um mercado-alvo especfico, que neste caso, so habitaes de interesse social. (MORAES, 2008, p.106).

    No Brasil, a fase de produo do edifcio razoavelmente bem conhecida,

    mas a viso sistmica do processo se torna incompleta, na medida em que existem,

    ainda, poucas pesquisas voltadas para a fase de uso, operao e manuteno...

    (ORNSTEIN, 1992, p. 19)

    Existem aspectos do ambiente construdo que no so detectados facilmente

    por simples anlise tcnica. Para saber o nvel real de funcionalidade de um

    determinado ambiente construdo preciso abrir espao para que as pessoas deste

    ambiente esclaream suas expectativas, seus desapontamentos e alegrias que

    tiveram ao longo de um perodo de convivncia no lar.

    A anlise de inmeros estudos ps-ocupao acerca de habitaes populares

    permite constatar que a maioria destas construes no recebe todo o cuidado

    necessrio durante sua produo para que haja uma longa vida til.

    Observa-se que nem sempre existe uma preocupao com a qualidade

    projetual destas edificaes, as quais passam por alteraes e reformas nem

    sempre garantindo a qualidade de vida e salubridade (CAMARGO, 2010, p.1).

    Aps certo perodo de ocupao que se verifica esse descaso. Geralmente

    o que importa aos construtores pura e simplesmente reduo de custos durante a

    execuo, ou seja, a curto prazo. A longo prazo, geralmente os construtores no se

    preocupam mais com o produto, pois este fica entregue aos cuidados do morador.

    Alm de que a natureza longeva e relativamente cara do referido produto (habitao)

    e a especificidade do cliente (pessoa de baixa renda) geralmente no requer mais

    de uma aquisio em pouco tempo para pessoas fsicas.

    preciso garantir a qualidade das habitaes populares tendo em vista a

    relao ambiente-comportamento. No devem existir apenas critrios tcnicos a

    serem atendidos nestas habitaes. preciso unir a anlise tcnica percepo do

    usurio. Como exemplo disso pode-se citar uma das concluses do trabalho de

  • 17

    Ornstein (2006): o planejamento de localizao das habitaes de interesse social

    deve ser de tal forma a aproximar a populao de baixa renda dos principais

    equipamentos de bem estar social (creches, centros de juventude, sade, cultura,

    esporte, etc.). Esta uma indicao que deve ser observada quando da seleo de

    espaos para a construo de habitaes de interesse social, pois basta ver que a

    populao de baixa renda no tem meios eficientes de transporte para a sua

    locomoo.

    Os agentes envolvidos no processo de produo de edificaes podem e devem se apropriar dos resultados obtidos na APO para modificar a realidade, quando detectarem aspectos negativos, bem como exigirem que os aspectos positivos sejam mantidos e reaplicados em casos semelhantes. (ORNSTEIN, 1992, p. 28)

    possvel deduzir que as habitaes de classe mdia esto constantemente

    melhorando em qualidade, visto que seus usurios possuem alto poder aquisitivo

    eacesso cultura e educao de qualidade. Isso permite um constante processo de

    aperfeioamento destas construes.

    No entanto, os moradores de habitaes populares no tm condio de

    fazerem grandes exigncias, pois no dispem de poder aquisitivo suficiente. Na

    maioria das vezes so os prprios moradores que atuam como pedreiros,

    carpinteiros, profissionais da construo civil, pois assim podem reduzir custos na

    construo de sua prpria moradia. O resultado uma habitao popular de

    pssima qualidade, casas precrias que fogem ao controle da fiscalizao pblica.

    [...], ou ento porque os trabalhadores autoconstroem [sic] casas precrias

    em favelas e loteamentos clandestinos. (FREITAS, 2004, p.19).

    Para a realizao deste trabalho foi escolhido O Conjunto Habitacional Paulo

    Ganem Souto da cidade de Feira de Santana. O Loteamento Paulo Souto possui

    aproximadamente trs anos e meio de existncia, tempo suficiente que pode dar

    mais confiabilidade s respostas de uma avaliao ps-ocupao. Alm disso, um

    conjunto habitacional visivelmente precrio, o que d mais sentido ao estudo, pois

    abre a possibilidade de intervenes positivas no local.

    O loteamento Paulo Souto um conjunto habitacional relativamente grande

    (395 lotes), cujo padro das casas uniforme e, em vista disso, no leva em

    considerao as diferentes condies de exposio dos moradores insolao,

  • 18

    insegurana, iluminao natural, ventilao, etc. Um estudo de APO feito no local

    poderia comprovar se esta padronizao seria, de fato, um aspecto negativo para

    ocaso especfico. Por isso, torna-se imprescindvel um estudo destas variveis sob a

    tica dos usurios, confrontada com uma prvia avaliao tcnica.

    Existem outros loteamentos em Feira de Santana com o perfil descrito.

    Porm, o loteamento Paulo Souto possui alguns diferenciais que justificam a sua

    escolha:

    Limites bem definidos, em vista do contraste com o ambiente rural em que se

    insere (menor densidade populacional em torno dele). Com isso, possvel

    ter um controle maior sobre o espao fsico para o planejamento da pesquisa;

    Construo realizada em grande parte pelos prprios moradores (regime de

    mutiro) e outra parte pela Caixa Econmica Federal (CEF);

    Localizao em frente a um presdio, o que pode ser a origem da sua

    reputao de local perigoso;

    Uma das poucas comunidades feirenses que sofreram intervenes diretas

    do poder pblico.

    1.2 OBJETIVOS

    1.2.1 Objetivo Geral

    - Realizar uma Avaliao Ps-Ocupao no conjunto habitacional Paulo

    Ganem Souto, em Feira de Santana.

    1.2.2 Objetivos Especficos

    - Analisar aspectos construtivos do loteamento luz de critrios mnimos

    de desempenho tcnico;

  • 19

    - Coletar dados que possam servir de base para orientao de futuros

    projetos de Habitaes de Interesse Social que sejam similares ao do

    conjunto estudado;

    1.3 HIPTESE

    A falta da utilizao do mtodo da Avaliao Ps-Ocupao, para

    retroalimentar os projetos das Habitaes de Interesse Social tem feito com que os

    usurios realizem modificaes, o que caracteriza insatisfao com a sua moradia.

    1.4 METODOLOGIA

    Para a realizao deste trabalho foram adotados os seguintes passos:

    Reviso bibliogrfica: o trabalho contou com contribuies de diversos autores.

    Livros, artigos, monografias, teses de mestrado e doutorado, todo material

    encontrado que pode fornecer informaes sobre o tema.

    Caracterizao inicial do loteamento: a Secretaria de Planejamento e a Secretaria

    de Habitao forneceram, mediante carta de apresentao do aluno expedida pelo

    colegiado de engenharia civil da UEFS,o material tcnico/descritivo que foi utilizado.

    Foram cortes, fachadas, planta baixa, hidrossanitria e eltrica, planta de partido

    urbanstico e planta de situao do loteamento. Alm disso, foi fornecida uma cpia

    do decreto n7. 288, de 11 de abril de 2007, no qual o ento prefeito Jos Ronaldo

    aprova o loteamento popular. Este material forneceu dados para uma caracterizao

    inicial do local, sem foco em nenhum aspecto situacional do conjunto. Como o

    loteamento insere-se na cidade de Feira de Santana, foi feita tambm uma

    caracterizao deste entorno, mostrando seus aspectos gerais e o histrico de como

  • 20

    surgiram as habitaes coletivas precrias no municpio, tudo com base em estudos

    j realizados por outros autores.

    Visitas tcnicas: foram feitas visitas tcnicas ao loteamento para averiguao da

    situao atual do bairro, buscando comparar a situao real com o material oficial

    fornecido pelas secretarias de habitao e planejamento. Desta forma foi possvel

    definir melhor quais as questes a serem abordadas na avaliao e a maneira de

    abord-las.

    Avaliao tcnica:Foi feita uma anlise do ponto de vista da engenharia sobre os

    ambientes comuns e sobre o projeto do padro das casas.

    Elaboraodo Questionrio: foram consultados e modificados questionrios j

    existentes para se adequarem s caractersticas do local escolhido, originando um

    questionrio inicial denominado pr-teste (ver apndice A). Aps a aplicao deste

    pr-teste com cinco pessoas do bairro, verificou-se que alguns itens no estavam

    expostos de forma clara e simples para os moradores, que apresentaram

    dificuldades para entend-los. Esta falha do questionrio poderia comprometer o

    entendimento por parte do usurio e, consequentemente, pr em risco a fidelidade

    das respostas. Logo, foramfeitas alteraes na estrutura e linguagem do

    questionrio at ser obtido um questionrio definitivo (ver apndice B).

    Dimensionamento da amostra: Para a aplicao do questionrio foi escolhida uma

    amostra representativa da populao de moradores do conjunto habitacional. A

    amostra foi calculada para uma margem de erro de 10%.

    Aplicando-se a frmula para o clculo da amostra casual simples, para o nvel

    de confiana de 95%, valor de z/2 igual a 1,96 (ver Anexo A), p e q iguais a 50% ou

    0,5, tem-se a seguinte quantidade para amostra representativa de uma populao

    finita:

    n = 77,4 ou arredondada para n = 78

    Onde

    N = tamanho da populao

    n = tamanho da amostra representativa

    e = margem de erro

  • 21

    p = proporo populacional de indivduos que pertencem categoria estudada

    q = proporo populacional de indivduos que no pertencem categoria

    estudada.

    Escolha das unidades: A escolha das casas que compem a amostra no foi

    aleatria. A populao amostral foiescolhida de forma a melhor caracterizar a

    populao total do local, de acordo com a metodologia proposta por Ornstein (1992).

    Aplicao do questionrio definitivo: Alguns moradores voluntariamente

    responderama um conjunto de perguntas utilizando uma escala de valores que

    variam de timo a pssimo, aps as perguntas iniciais de caracterizao do prprio

    habitante e do local. Utilizou-se uma escala de quatro pontos, com as alternativas

    timo, bom, razovel e pssimo, devido relativa facilidade de compreenso

    dos termos. So abordadas no questionrio apenas algumas variveis consideradas

    relevantes para o estudo. Dentre os aspectos contemplados no questionrio esto

    as dimenses mnimas dos cmodos, circulaes horizontais, circulaes externas,

    iluminao artificial, iluminao natural, ruas de acesso, conforto termo-acstico, etc.

    Tabulao dos dados e resultados: Aps a aplicao do questionrio, os dados

    obtidos foram organizados em tabelas. Foram contadas a frequncia absoluta e

    relativa. Tambm foram feitos clculos estatsticos visando encontrar as medidas de

    tendncia central (mdia, mediana e moda) e o desvio padro de cada item do

    questionrio que possua a escala de quatro valores: timo, bom, razovel e

    pssimo. Para efetuar o clculo da mdia e do desvio padro foi atribudo a cada

    uma destas expresses um valor numrico:

    timo = 4; bom = 3; razovel = 2; pssimo = 1.

    O aplicativo utilizado foi a planilha do Microsoft Excel.

    Anlise dos resultados: Aps a tabulao dos dados foram tiradas concluses

    sobre os nmeros representativos. A partir destas tabelas tambm foram elaborados

    grficos de barras.

    No foram contempladas rigorosamente todas as etapas deste tipo de estudo,

    devido falta de tempo e recursos. No houve aferio de nveis de temperatura e

    rudo, entre outras variveis, por falta de aparelhos especficos e tambm porque

    demandaria um tempo maior de pesquisa de campo para levar em considerao a

    influncia das mudanas climticas, das estaes do ano.

    Pode-se afirmar que foram atingidos os objetivos geral e especficos, com

    relativa intensidade, visto que, mesmo com todos os limitantes mencionados, foi

  • 22

    possvel tirar concluses a partir de questionrios, registros fotogrficos, visitas

    tcnicas, material tcnico/descritivo, grficos e estatstica aplicada aos dados

    coletados.

    1.5 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

    CAPTULO 1

    Este captulo aborda introduo, justificativa, objetivos geral e especficos, hiptese,

    metodologia e a estrutura da monografia.

    CAPTULO 2

    Reviso bibliogrfica abordando tpicos referentes aos estudos de Avaliao Ps-

    Ocupao e as Habitaes de Interesse Social, definindo e resumindo os temas

    correlatos.

    CAPTULO 3

    Caracterizao da parte fsica e funcional do local escolhido para o estudo de caso.

    CAPTULO 4

    Neste captulo, todas as informaes coletadas durante o estudo de caso foram

    tabuladas e analisadas.

    CAPTULO 5

    Concluso, que se subdivide em duas partes: Consideraes finais e sugestes para

    trabalhos futuros.

  • 23

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 AVALIAO PS-OCUPAO (APO)

    2.1.1 Introduo

    No Brasil as construes ainda so executadas com rusticidade e toda a

    tcnica que criada ou aperfeioada no facilmente incorporada aos

    procedimentos das empresas construtoras. Segundo Bonin (1988) apud. Silva

    (2007, p.32), o ensino de construo civil no Brasil, em muitas escolas, ainda

    ultrapassado, pois transmite prticas construtivas tradicionais.

    No entanto, nos dias atuais possvel notar a preocupao maior que as

    instituies de ensino tm de valorizar a inovao tcnica. Prova disso so as

    universidades pblicas, cuja existncia se apia no trip composto por ensino,

    pesquisa e extenso.

    indispensvela observncia dos resultados de estudos de APO antes da

    elaborao de qualquer projeto de edificao. A APO rene avaliao tcnica com o

    ponto de vista dos usurios.

    De acordo com Cerqueira (2001, p.10)

    A rea ambiente/comportamento responde a duas perguntas bsicas: qual a relao entre o ambiente scio-fsico e o comportamento humano e como, a partir do conhecimento desta relao, pode-se criar ambientes mais adaptados ao homem e assim melhorar a sua qualidade de vida.

    Segundo Ornstein (1992, p. 20), as metas de APO so:

    - Promover a ao (ou interveno) que propicie a melhoria da qualidade de

    vida daqueles que usam um dado ambiente;

    - Produzir informao na forma de banco de dados e gerar conhecimento

    sistematizado sobre o ambiente e as relaes ambiente-comportamento.

  • 24

    O APO um dos mecanismos eficientes de realimentao de projetos semelhantes e de controle de qualidade global do ambiente construdo no decorrer de sua vida til. Note que, no caso de um edifcio pblico, qualidade uma viso mais ampla de desempenho, na medida em que se trata de uma aptido de um determinado produto em satisfazer, no presente e no futuro, seus usurios, devendo, portanto, ser gerenciada, isto , controlada. (ORNSTEIN, 1992, p. 20)

    No entanto, no fcil sondar as aspiraes destes usurios, conforme

    mostram Conciani e Brando (2009, p.186): Nem sempre a perspectiva do usurio

    conhecida, apesar da existncia de tcnicas para obteno de informaes, como

    a avaliao ps-ocupao, por exemplo.

    De acordo com Hino e Melhado (1998), a qualidade do projeto fundamental

    para a qualidade final do produto da Construo Civil (a edificao), em termos de

    desempenho funcional e tambm com relao a custos e resultado financeiro.

    So muitos os problemas que ocorrem nas habitaes aps a construo e

    posterior ocupao. Problemas que surgem no por falta de empenho em atender as

    necessidades dos clientes, mas por falta de observncia aos resultados de estudos

    de APO, que mostram as verdadeiras necessidades dos clientes. Nestes estudos

    so constatados que os clientes muitas vezes fazem alteraes no espao fsico do

    ambiente construdo. No raramente eles ficam insatisfeitos com o alto custo de

    manuteno. Isto se reflete nas instalaes eltricas, cujo projeto nem sempre

    contempla um baixo consumo de eletricidade; ou nas instalaes hidrossanitrias,

    que devem priorizar um consumo racional, sem desperdcios ou agresso ao meio

    ambiente; ou no conforto termo-acstico, entre outros aspectos relevantes do

    ambiente construdo.

    Segundo Reis (1995, p.3), O conhecimento das necessidades de alteraes

    nos leva a uma maior capacidade de produo de projetos habitacionais que

    estejam mais de acordo com as reais necessidades de seus usurios.. Muitos so

    os motivos que levam os usurios das Habitaes Populares a fazerem alteraes

    em suas moradias. Estas alteraes podem ser positivas ou negativas e podem

    tambm refletir mudanas (padro de vida dos usurios, mudanas de mentalidade,

    mudanas simblicas, nvel educacional, cultural, etc.).

  • 25

    Kowaltowski et al. (2004), fez um estudo de APO em conjuntos habitacionais

    de iniciativa pblica, no qual coletaram opinies dos usurios do empreendimento e

    observaram que:

    Os moradores relacionaram o conceito de qualidade de vida ao sentimento

    de segurana, proteo fsica, infiltraes da gua da chuva e conforto ambiental

    (trmico, acstico, visual e funcionalidade do espao fsico). (KOWALTOWSKI et al,

    2004, p.2).

    Segundo Andrade (s.d.), existe certa dificuldade de adaptao por parte dos

    usurios que passam a experimentar a nova moradia, pois estas pessoas ainda so

    despreparadas para lidar com um bem comum, no caso, o conjunto habitacional.

    2.1.2 Valor agregado

    Projetar e construir Empreendimentos Habitacionais de Interesse Social

    (EHIS) uma tarefa que deve levar em considerao o valor desejado pelo

    cliente.Segundo Granja et al (2009), falta um procedimento para que o valor

    recebido seja prximo ao valor desejado pelo usurio.

    O desejo de valor antes do recebimento do produto elevado, porm a prpria concepo dos moradores sobre atributos preferenciais no contemplada, uma vez que o usurio no participa do processo de projeto e construo desse tipo de produto. Dessa forma, o valor desejado aos olhos do usurio no a base principal no processo de concepo do empreendimento. (GRANJA et al. 2009, p.89)

    Segundo Moraes et al. (2008, p.107),

    A preocupao em estabelecer as condies de habitabilidade, agregando valor implantao de um projeto, leva os empreendedores a buscar elementos metodolgicos que auxiliem na escolha de projetos mais eficientes e eficazes quando da execuo de uma obra, seja ela de habitao social ou no.

  • 26

    Granja et al (2009), em seu estudo de caso que considerou quatro conjuntos

    habitacionais na regio de Campinas-SP, concluiu que entre os respondentes de

    sua pesquisa h uma prioridade no item segurana para agregao de valor,

    seguido de convivncia com a natureza, gastos operacionais menores e diminuio

    de nvel de rudo. Clientes pensam concretamente sobre valor na forma de atributos

    preferenciais e de desempenho de atributos, juntamente com as consequncias de

    se avaliar um produto numa situao de uso.

    Moraes et al. (2008) sugere um modelo de avaliao de projetos da

    construo civil diferente das formas tradicionais, que privilegiam os aspectos

    quantitativos em detrimento dos aspectos qualitativos, que se voltariam ao

    atendimento dos valores percebidos pelo usurio. O modelo sugerido propicia a

    interao do usurio com o processo de avaliao do projeto sob a perspectiva do

    valor, gerando aes de melhoria.

    Os clientes formam julgamentos de valor ou sentimentos sobre a experincia

    concreta de se utilizar o produto, ou seja, a sensao de valor recebido. No

    momento da escolha, os clientes podem antecipar o valor recebido, porm apenas

    no momento do uso vivenciaro concretamente o valor recebido (WOODRUFF,

    1997, apud. GRANJA et. al., 2009).

    Para Miron (2008)apud. Granja et al. (2009.), existe uma sutil diferena entre

    os conceitos de valor e satisfao. Deste modo, o valor percebido reflete o saldo

    entre os benefcios recebidos e os sacrifcios exigidos, enquanto que a satisfao

    est ligada ao resultado decorrente da compra e do consumo, que s pode ser

    atingido aps certo tempo de uso do imvel. A satisfao um conceito mais ligado

    ao fator psicolgico, que se manifestar com o tempo.

    Jacobs (2000)apud. Freitas (2004, p.132) afirma que os projetos de

    Habitaes Populares precisam fazer com que seus moradores neles permaneam

    por livre escolha, interessando-se pela segurana e viabilidade urbana da sua futura

    habitao.

    Outro fator que valoriza bastante uma habitao o fator esttico, a

    aparncia da edificao, que um atrativo para as pessoas.

    Reis e Lay (2003) realizaram um estudo de caso em 12 conjuntos

    habitacionais da regio metropolitana de Porto Alegre e puderam confirmar neste

    local como a aparncia externa e interna das habitaes se constitui num fator de

    qualificao e valorizao do ambiente.

  • 27

    2.1.3 Conforto Ambiental

    Em termos de conforto ambiental, Sattler (2007) trs recomendaes que

    visam garantir a um projeto de edificao boas condies de iluminao natural e

    artificial, boas condies acsticas, trmicas e boa ventilao. Neste ltimo quesito o

    ideal garantir que as janelas utilizadas tenham boa estanqueidade ao ar, para

    evitar infiltrao de ar durante o inverno, com isto evita-se tambm infiltrao de

    rudos. Alm disso, o mesmo autorprega a importncia de se tirar proveito do

    paisagismo para garantir um ambiente mais agradvel aos sentidos humanos. Um

    exemplo de como isso pode ser feito? O trabalho desenvolvido pelo arquiteto Otvio

    Urquiza (2007) citado por Sattler (2007, p.27), uma Ecovila construda na cidade de

    Porto Alegre, onde as residncias locais foram contempladas com um sistema de

    ventilao convectiva natural, no qual o ar circula atravs de um jardim de plantas

    aromticas antes de ingressar aos recintos internos. Neste caso, o paisagismo pde

    ser usado para dar um estmulo olfativo mais agradvel aos usurios do ambiente

    construdo.

    Assis et al (2006), apud Assis et al (s.d.) apontam que os principais problemas

    de conforto ambiental da habitao de interesse social so devidos falta de

    desempenho da ventilao interna e especificao inadequada de materiais. As

    concepes arquitetnicas so padronizadas e no esto adaptadas s condies

    climticas locais.

    Vianna e Romero (2002) fizeram um estudo de caso no Conjunto Habitacional

    Jardim So Luiz I, uma avaliao ps-ocupao. Eles estudaram o conforto

    ambiental desta edificao e concluram, entre outras coisas, que embora o fator

    orientao/implantao dos edifcios no seja o nico a interferir diretamente nas

    condies de conforto, ele se apresenta como um dos principais, pois definir de

    imediato a quantidade de radiao incidente em cada uma das fachadas (dada em

    W / m2). A insolao nos banheiros fundamental, do ponto de vista higinico,

    sendo que a ventilao menos importante, em vista de ser uma rea de pouca

    permanncia diria. Os autores do trabalho identificaram tambm pouca orientao

    favorvel para os dormitrios, do ponto de vista trmico, sendo que estes eram

    afetados por insolao excessiva nos perodos mais crticos do ano.

  • 28

    O uso de coberturas verdes uma tima alternativa para se atingir conforto

    trmico em regies de climas quentes. Tais coberturas consistem na substituio do

    telhado convencional por superfcies cobertas por solo, devidamente drenadas, e

    revestidas com vegetao, cujo conjunto funciona como um excelente isolante

    trmico. No entanto, deve-se observar a capacidade estrutural da laje, que suportar

    uma carga adicional, e tambm o tipo de vegetao, que deve ser o mais adequado

    para esta aplicao tendo em vista a necessidade de manuteno com a exposio

    prolongada ao sol (SATTLER, 2007).

    Moraes (1999, p.2) apud. Ferraz (2010) afirma que as sensaes de calor do

    ser humano no dependem apenas da temperatura do ambiente, mas tambm da

    umidade, do movimento da massa de ar, dos efeitos da radiao das paredes, entre

    outros fatores, inclusive idade, sexo, grau de atividade e alimentao.

    Outro aspecto de grande importncia para o conforto ambiental a

    iluminao natural, que inclusive pode interferir no fator econmico conforme

    citado no trabalho de Cerqueira (2001, p. 40),

    A anlise econmica da iluminao natural tem dois aspectos: consumo de energia e produtividade. Boa iluminao nos ambientes de trabalho ajuda a aumentar a produtividade, contribuindo tambm para uma sensao de bem estar. Entretanto, a conservao de energia no deve ser o enfoque principal do projeto de iluminao natural, em excluso de consideraes quanto percepo visual (conforto visual). Iluminao natural deve ser dirigida s pessoas. Deve respeitar as necessidades de percepo visual. Projetistas precisam entender que condies capacitam as pessoas a ver bem e confortavelmente. Conforto visual possui um carter multidimensional; no suficiente a garantiade nveis de iluminao adequados. Ofuscamento (direto ou indireto) deve ser controlado e minimizado; proporo de luminncias deve ser ajustada.

    2.1.4 Sustentabilidade ambiental

    Existem muitas definies para sustentabilidade. De modo geral,

    sustentabilidade simplesmente [...] viver dentro da capacidade de suporte do

    planeta. (GIBBERD, 2003 apud. SATTLER, 2007, p.22).

  • 29

    A palavra sustentabilidade geralmente est muito associada preservao

    ambiental. Porm, a sustentabilidade no se resume apenas dimenso ecolgica,

    existindo tambm a sua dimenso social (equilbrio na distribuio de renda,

    diminuindo as diferenas sociais), econmica (eficincia econmica em termos

    macrossociais), geogrfica ou espacial (equilbrio entre as configuraes urbana e

    rural) e cultural (valorizao das razes endgenas).

    Segundo Edwards (2004) apud. Camargo (2010, p.2) projetar de maneira

    sustentvel projetar levando em conta a conservao de recursos naturais e a

    biodiversidade da Terra, mas, tambm significa criar espaos agradveis, saudveis,

    viveis economicamente, comprometidos culturalmente, historicamente e sensveis

    s necessidades sociais.

    De acordo com Assis et.al.(s.d.), a aplicao de determinados critrios de

    sustentabilidade na construo civil requer uma mudana de valores que nortear as

    prticas de projeto e construo, levando-se sempre em considerao o meio

    ambiente natural e a cultura locais.

    Segundo Sattler (2007), so muitas as atitudes que as pessoas podem tomar

    no intuito de viver e produzir com sustentabilidade ambiental: para comear, a gua

    um recurso natural no renovvel e sob todas as suas formas este recurso deve

    ser usado racionalmente, bem como os recursos energticos renovveis. Alm

    disso, muito mais pode ser feito: reduzir uso de materiais de construo; fazer

    reaproveitamento de materiais, reduzindo perdas nas novas construes; selecionar,

    entre os materiais disponveis no mercado aqueles menos impactantes ao homem e

    ao ambiente.

    Dentro deste objetivo de utilizar materiais menos impactantes ao homem,

    Szucs (2006, p.68) sugere uma alternativa construtiva que aumenta a oferta de

    habitaes econmicas, de qualidade e que no agridem o meio ambiente, o

    sistema construtivo em madeira de reflorestamento: a espelho do que acontece em

    outras regies do mundo, a aplicao no Brasil da madeira reflorestada surge como

    alternativa vivel e econmica, podendo ser aplicada principalmente nas regies

    produtoras desse material.

    Segundo Molinet al(2006), a indstria da construo civil o setor que mais

    consome recursos naturais e gera muitos resduos do que qualquer outra atividade.

    Como medida alternativa para amenizar os impactos causados pelo setor pode-se

    destacar a reciclagem de resduos de construo e demolio (RCD) para produo

  • 30

    de agregados para concreto. A variabilidade na composio do resduo tem reflexos

    no desempenho do concreto. Assim, quando se deseja produzir concreto utilizando

    RCDs deve-se, em primeiro lugar, analisar a influncia desta variabilidade nas

    caractersticas do concreto. Conhecendo-se o comportamento resultante desta

    variabilidade e tendo o seu controle, o passo seguinte saber se vivel tcnica e

    economicamente a substituio de agregado natural por RCDs reciclados.

    Visando atingir o equilbrio entre valor almejado e o valor recebido j foram

    feitos vrios estudos com materiais alternativos para construo. Estes estudos

    podem contemplar o item convivncia com a natureza e outros itens detectados em

    estudos de APO. Exemplo disso o que mostra Barboza et al (2008) com o estudo

    de avaliao do uso de bambu como material alternativo para a execuo de

    habitao de interesse social. H milhares de anos o bambu vem sendo utilizado e

    caracterizado como uma das matrias-primas mais importantes para pases em vias

    de desenvolvimento, por ser facilmente encontrado, com produo de baixo custo, e

    por ser vivel a sua utilizao em grande quantidade. Nesse aspecto, aplicando-o

    habitao, estaria sendo propiciado o barateamento do sistema pelo uso de

    materialalternativo, com facilidade de obteno, alm de trilhar os caminhos da

    sustentabilidade.

    O grande problema de construir Habitaes de Interesse Social utilizando

    material alternativo se encontra no grau de aceitao do morador com o novo

    material. Os moradores imaginam que o material alternativo de qualidade inferior,

    justamente por no ser utilizado em larga escala e popularizado como material

    corrente no mercado (BARBOZA et. al., 2008).

    2.1.5 Flexibilidade Espacial

    De acordo com Marroquim e Barbirato (2007), as habitaes de interesse

    social construdas no Brasil so frequentemente modificadas por seus moradores,

    entre outros aspectos, por motivos de carter funcional, simblico ou econmico.

    Modificaes estas que quase sempre envolvem ampliaes, visto que HIS so

  • 31

    edificadas com reas mnimas para fins de reduo de custos. Entretanto,

    freqentemente essas modificaes impactam negativamente na funcionalidade e

    na habitabilidade dessas moradias. A construo de habitaes de interesse social

    flexveis que permitam ampliaes e modificaes sem diminuir a sua qualidade

    espacial original constitui uma alternativa para minimizar esses problemas.

    De acordo com Conciani e Brando (2009), a flexibilidade um elemento

    essencial que no pode deixar de ser contemplado nos projetos e, principalmente,

    os de moradias unifamiliares, cuja necessidade de ampliao uma realidade.

    De acordo com o que se tem observado nas construes em Feira de

    Santana, a disponibilidade de rea no significa necessariamente liberdade total

    para construir. So construes mal planejadas, sem o devido acompanhamento

    tcnico, com projetos deficientes em muitos aspectos, muitas vezes no levando em

    considerao a direo de ventos predominantes, insolao. Aspectos como esse,

    se no levados em considerao, podem gerar edificaes pouco funcionais.So

    muitos os exemplos desta falta de cuidados tcnicos. Garagens construdas com

    meia-parede em locais de predominncia de ventos fortes (que geralmente projetam

    partculas slidas em alta velocidade prejudicando a pintura externa dos

    automveis), cmodos de casas com esquadrias inadequadas ou mal posicionadas,

    escadas ou rampas com inclinaes acima do permitido por norma.

    Figura 1 Exemplo de construes mal planejadas em Feira de Santana. Fonte: www.google.com.br

    So muitas alteraes realizadas na maioria das vezes pelos prprios

    usurios, que prejudicam principalmente o conforto ergonmico.Existem limitaes

    no apenas legais, mas tambm de ordem tcnica para que uma edificao seja

  • 32

    construda com bom aproveitamento das variveis naturais e racionalizao de

    processos e materiais (figura 1).

    A figura 2 a seguir mostra uma situao onde a flexibilidade espacial

    bastante limitada e mesmo assim algumas pessoas correm at riscos tentando

    ultrapassar estas limitaes.

    Figura 2 Exemplo de limitaes de construes. Fonte: www.google.com.br

    Segundo Larcher (2005), o conceito de flexibilidade est associado a

    diferentes modos de adaptao do espao arquitetnico, existindo uma flexibilidade

    inicial e uma flexibilidade contnua, tambm chamada de funcional ou permanente. A

    primeira a que possibilita ao cliente fazer adaptaes durante a construo. A

    segunda caracteriza-se pela possibilidade de serem efetuadas alteraes ao longo

    do tempo de uso da habitao.

    A flexibilidade contnua fortemente dependente de decises iniciais, como tecnologia construtiva a ser adotada, mas no dependente da flexibilidade inicial. Por exemplo, um projeto pode prever uma srie varivel de produtos arquitetnicos (flexibilidade contnua), mas cada um deles pode no possuir flexibilidade ao longo do perodo de uso. (BRANDO e HEINECK, 1998, apud. LARCHER, 2005, p.66).

    Brando (2003) apud. Ferraz (2010) subdivide a flexibilidade em duas formas:

    a permitida e a planejada. A flexibilidade permitida quando apenas uma opo

    dada ao cliente, seja de layout ou de acabamentos. A flexibilidade planejada a que

    garante mais de uma opo ao cliente na etapa de projeto.

    Marroquim e Barbirato(2007)fizeram um estudo de APO em um conjunto

    habitacional implantado na cidade de Macei, Alagoas, com aplicao de

    questionrios, entrevistas e levantamentos fsicos. Apesar da previso, no projeto

  • 33

    original, de algumas possibilidades de flexibilizao, estas no foram informadas aos

    moradores, que executaram suas modificaes para melhor adequarem as suas

    unidades frente s exguas dimenses. Os resultados evidenciaram a ocorrncia de

    desperdcios dimensionais e funcionais nas modificaes das moradias analisadas,

    devido primeiramente, inadequao do projeto original, que impe alteraes j

    nos primeiros anos de ocupao para garantir um nvel mnimo de habitabilidade, e,

    segundo devido falta de um profissional qualificado para auxlio das reformas e/ ou

    ampliaes da casa, resultando em modificaes ineficientes, dispendiosas e com

    graves consequncias no conforto ambiental resultante. O trabalho ressalta, enfim, a

    importncia de se obter um melhor entendimento sobre as reais causas de

    modificaes feitas pelos usurios, para auxiliar os projetistas na construo de

    habitaes flexveis que permitam ampliaes e modificaes sem diminuir o

    conforto ambiental e a qualidade espacial original da habitao. A figura 3 a seguir

    mostra o quanto a falta de planejamento na construo pode prejudicar a

    funcionalidade de uma edificao.

    Figura 3 Escada construda erroneamente. Fonte: www.google.com.br

  • 34

    Portanto, mudar a posio desta janela para a parede paralela ao muro (nica

    alternativa) significaria mais do que um dispndio de mo-de-obra, seria uma perda

    no conforto da habitao.

    De acordo com Meira e Santos (1998) apud. Marroquim e Barbirato(2007), a

    padronizao dos conjuntos habitacionais no favorvel flexibilidade espacial.

    Esta padronizao conduz os usurios a fazerem modificaes para tornar suas

    habitaes mais condizentes com a sua realidade. No entanto, estas modificaes

    nem sempre so possveis, pois podem acarretar problemas tcnicos, econmicos,

    culturais, etc.

    2.1.6 Segurana

    Para Newman (1972), apud. Kowaltowskiet al(2004, p.6), o ndice de

    satisfao do indivduo em relao ao ambiente, depende, entre outras coisas, da

    sua sensao de segurana e proteo.

    A questo da segurana no se resolve unicamente com a instalao de

    barreiras, como muros altos, grades, guaritas, sistemas eletrnicos de controle de

    territorialidade, entre outros. necessrio projetar de forma a permitir uma vigilncia

    constante e natural pelo prprio usurio (GRANJA et al., 2009).

    Os acontecimentos cotidianos mostram que o crime est sempre evoluindo,

    tentando acompanhar o aumento da segurana. O esforo do homem moderno na

    criao de novas tecnologias de monitoramento e segurana para suas edificaes

    requer dos criminosos ataques cada vez mais bem elaborados. Isso produz

    aperfeioamento das tcnicas de transgresso das leis.

    Segundo Freitas (2004, p. 141), caladas amplas e arborizadas servindo de

    reas de lazer so elementos que valorizam mais uma rua, pois contribuem para a

    segurana do lugar, propiciando a circulao de pessoas no local. Ruas mais

    movimentadas so mais seguras, pois proporcionam a auto vigilncia pelo usurio.

    Kowaltowski et al. (2004, p.2) realizou um estudo de caso no Estado de So

    Paulo, no qual pde notar que a sensao de segurana e proteo no foi

  • 35

    relacionada apenas com a presena da polcia ou taxas de criminalidade, mas

    tambm com a iluminao pblica e a visibilidade nas ruas e locais pblicos.

    Para Coswiget. al.(2010), a segurana condominial prestada por empresas

    privadas, nos dias de hoje, est mais associada aos condomnios particulares. No

    entanto, a segurana particular de residncias a principal alternativa encontrada

    pelo mercado imobilirio para proteger da criminalidade as habitaes, sejam elas

    populares ou pertencentes a pessoas com maior poder aquisitivo. O modelo de

    segurana de maior renda j est sendo levado aos espaos coletivos de menor

    renda, o que diminui as diferenas entre as duas realidades, em termos de

    segurana habitacional.

    Guimares e Medvedovski (2010) realizaram um estudo de caso no

    Residencial Porto, da cidade de Pelotas-RS e identificaram alteraes fsicas e

    comportamentais decorrentes da percepo dos usurios em relao segurana

    do condomnio. Blocos de apartamentos edificados no alinhamento predial geram

    insegurana aos moradores, visto que fica facilitada a visualizao interna pelos

    transeuntes.

    ... prdios no alinhamento demandam maiores alturas de peitoris e prdios

    com recuos de ajardinamento permitem alturas menores de peitoris. (GUIMARES;

    MEDVEDOVSKI, 2010, p.3).

    Segundo Coswiget. al.(2010), solues fsico-espaciais simples podem

    melhorar muito a segurana dos conjuntos habitacionais. So medidas simples

    como o direcionamento da iluminao para as reas mais vulnerveis, a utilizao

    constante de aberturas em paredes que tm visibilidade para as reas de circulao

    de pessoas, etc.

    Voltando para as figuras 1 e 2, pode-se perceber que, sob a tica da

    segurana, tambm h um aspecto negativo na garagem construda, que a

    visibilidade proporcionada para as pessoas que transitam do lado de fora da

    residncia, a qual tambm no possui muros altos. Essa ostentao dos bens

    materiais pode atrair a ateno de criminosos.

  • 36

    2.1.7 Eficincia Energtica

    importante que uma habitao de interesse social atenda bem ao quesito

    eficincia energtica. No trabalho de Lambertset. al. (1997) fica claro que, hoje em

    dia, a arquitetura moderna perdeu um pouco do brilho que teve no passado.

    Modernamente no existe todo o envolvimento necessrio dos projetistas com a

    adaptao dos ambientes construdos s particularidades de cada ambiente natural

    em que se inserem. preciso tirar mais partido das condies climticas, de relevo,

    entre outras. Ao projetar as habitaes existem muitas variveis a se considerar, as

    variveis climticas (radiao solar, vento, temperatura e umidade), as humanas

    (contraste, ofuscamento, vestimenta, atividade fsica) e as arquitetnicas (forma,

    volume e funo). Uma pode interferir na outra, como, por exemplo, a forma de uma

    construo pode diminuir ou aumentar a ventilao.

    Assis et al (s.d.) afirmam que os loteamentos geralmente so implantados

    com base em critrios de viabilidade econmica, sem uma perspectiva de longo

    prazo. Lotes com pequena dimenso de testada e grande dimenso em

    profundidade so timos para o aproveitamento espacial do terreno, mas nem

    sempre corresponde melhor soluo para orientao solar e captao dos ventos,

    inviabilizando at mesmo a utilizao dos sistemas de aquecimento solar.

    Segundo Lambertset al. (1997), hoje em dia, para compensar esta falta de

    cuidados com as variveis naturais, satisfazendo os caprichos da vaidade

    contempornea, os projetistas colocam a responsabilidade da eficincia energtica

    nas mos das diversas tecnologiasmecnicas e/ou eletrnicas, trazendo, assim,

    consumo demasiado de eletricidade. Para se ter uma idia desta realidade, basta

    lembrar do edifcio estufa, atualmente to visto nas grandes cidades como smbolo

    de poder que, no entanto, em climas tropicais no alia o seu grande conforto

    ambiental com uma taxa tolervel de consumo energtico, necessitando de um

    consumo altssimode eletricidade. No entanto, o Brasil, do ponto de vista de

    recursos, no tem condies de aumentar demasiadamente este consumo e

    preciso criar, logo, alternativas para ameniz-lo.

  • 37

    O consumo de energia eltrica no setor residencial foi o que mais cresceu nos ltimos anos, sendo que o consumo total de energia no pas quase triplicou nos ltimos dezoito anos. Neste ritmo, o potencial eltrico instalado no Brasil se tornar insuficiente em breve, tornando inevitvel a construo de novas usinas e o consequente impacto ambiental. Tambm importante ressaltar que as reservas de combustveis necessrios s usinas termeltricas vo diminuindo com o tempo e que no possvel construir usinas hidreltricas indefinidamente, pois so limitados os locais que viabilizam sua implantao. Este cenrio torna evidente para o mercado futuro de energia eltrica a necessidade de conservao. (LAMBERTS et al., 1997, p. 20).

    O brasileiro precisa prestar mais ateno aos seus hbitos e consumir menos

    energia eltrica. Tomar banhos curtos, apagar luzes ao sair dos aposentos, no

    deixar eletrodomsticos ligados, nem abrir a porta da geladeira sem necessidade

    so formas fceis de economizar energia. A maioria das pessoas no presta

    ateno nas etiquetas de eletrodomsticos com informaes sobre consumo de

    energia eltrica.

    De acordo com Tavares (2009) h um crescimento acentuado no consumo de

    energia de fontes no renovveis (petrleo, gs natural e carvo) no perodo

    compreendido entre 1965 e 2008 e que at 2030 haver um aumento de 45% no

    consumo de energia mundial.

    necessrio ampliar o uso de formas de energia alternativas menos

    impactantes ao meio ambiente e que faam uso de recursos naturais mais

    abundantes, sendo a energia solar uma alternativa bastante promissora, conforme

    afirma Sattler (2007, p.112),

    No Brasil usa-se preferencialmente, a energia eltrica para o aquecimento de gua, principalmente entre as camadas mais populares. Se empregarmos a energia solar para o aquecimento de gua de uso residencial, diminuiremos boa parcela do consumo de energia eltrica nacional. O uso de energia solar para o aquecimento de gua uma alternativa vivel: apresenta baixo custo no longo prazo, no poluente e inesgotvel.

    Tavares (2009) prope o emprego de energia solar como alternativa ao

    chuveiro eltrico. O uso de chuveiros nas residncias ocorre geralmente em

    momentos coincidentes, o que aumenta sobremaneira a demanda por energia

    eltrica.Substituir nestes aparelhos a energia eltrica de fontes convencionais por

    energia proveniente de uma fonte limpa, inesgotvel e democrtica resolveria o

    problema da maior demanda nos horrios de pico.

  • 38

    Tratando-se de fontes de energia limpa e inesgotvel existe tambm a

    energia elica. Todavia, nem todas as regies do Brasil possuem potencial de

    gerao de energia atravs dos ventos.

    2.2 HABITAES DE INTERESSE SOCIAL

    2.2.1 Introduo

    Habitao de Interesse Social definida como aquela destinada a atender a

    populao de renda relativamente pequena.O termo vem sendo bastante utilizado,

    embora existam outros termos equivalentes, como habitao de baixo custo,

    habitao para populao de baixa renda e habitao popular. No entanto, h

    deficincias em cada uma destas definies e o termo que prevalece o que melhor

    define, at agora, a complexidade do assunto. O termo habitao de baixo custo no

    significa necessariamente habitao para pessoas de baixa renda; o termo

    habitao para populao de baixa renda fixa uma condio especfica de

    atendimento, que a renda, e requer que sejam definidos os limites mximos desta

    condio; j o termo habitao popular um termo genrico envolvendotodas as

    solues destinadas aoatendimento de necessidades habitacionais. (ABIKO, 1995,

    apud. LARCHER, 2005).

    A escassez de recursos pblicos e o empobrecimento populacional vm

    tornando cada vez mais complexo o problema do dficit habitacional do pas. Nos

    tempos atuais, faz-se cada vez mais necessria a busca por novas alternativas no

    ramo da construo civil, principalmente quando o interesse est relacionado s

    unidades habitacionais de interesse social (BARBOZA, et al., 2008).

    No caso destes empreendimentos, onde so empregados grandes montantes

    de investimentos, a etapa de projeto possui ainda maior relevncia, para garantir a

    correta aplicao dos recursos pblicos.Mas no basta apenas projetar pensando no

  • 39

    fator econmico. So muitas as variveis que se ligam direta ou indiretamente

    questo da habitao social.

    O problema habitacional no Brasil no recente. H muito tempo que ele vem

    sendo discutido. Em 1985 j havia teorias tentando explicar os mecanismos sociais

    que geravam o problema da falta de moradia ou precariedade das habitaes, que

    assolava grande parte da populao de baixa renda do pas.Existe uma explicao

    aparentemente lgica para o dficit habitacional de que a razo da existncia de

    tantas moradias precrias, com preos elevados e com forte contraste social

    justamente o fato de que a populao est crescendo num ritmo muito acelerado. No

    entanto, Ribeiro e Pechman (1985, p.8) no consideram convincente esta

    argumentao, revelando que

    ..., a demanda de um determinado bem apenas a demanda solvvel, ou seja, to somente constituda pelos indivduos que podem pagar o seu preo. Aqueles que no tm renda suficiente para adquirir uma determinada mercadoria esto excludos da demanda, no obstante dela necessitam.

    Ou seja, existe uma segregao econmica que a lgica MALTHUSIANA

    (simples e direta, populao crescendo em progresso geomtrica enquanto que os

    recursos crescem em progresso aritmtica, sem acompanh-la) no levou em

    considerao.

    Segundo Ribeiro e Pechman (1985, p. 9), a razo para que exista um dficit

    habitacional que grande parte da populao urbana brasileira est excluda do

    mercado da produo de moradias. As razes para isso so simplesmente m

    distribuio de renda e produo capitalista de moradias no Brasil, que impem um

    elevado preo no direito de habitar na cidade.

    O dficit habitacional decorrente do aumento demogrfico explosivo nos

    grandes centros e consequncia das polticas habitacionais adotadas no Pas ao

    longo dos ltimos sessenta anos [...]. (ANDRADE, s.d., p.5).

    A repercusso do problema da habitao de interesse social vai alm da

    simples construo da mesma. Sua soluo est ligada a fatores como a estrutura

    de renda das classes sociais mais pobres, dificuldade de acesso aos financiamentos

    concedidos pelos programas oficiais e a deficincias na implantao das polticas

    habitacionais. As habitaes de interesse social podem ser melhores e facilitar de

  • 40

    muitas formas o dia-a-dia de seus usurios. Muitas vezes, a demanda no s por

    casas de baixo custo, conforme mostrou Ornstein (2006, p.15),

    Os padres que deveriam impor qualidades, tanto unidade habitacional quanto ao assentamento em si, por vezes no so atingidos porque a seleo de material de baixo custo tem levado a uma rpida deteriorao das obras e ausncia de manuteno da qualidade. Essa anlise vale tambm para a infra-estrutura, que na grande maioria dos casos no implantada, embora haja leis expressas determinando que a venda de qualquer lote urbano s seja aprovada quando o loteamento j tiver construdo a infra-estrutura prevista e aprovada pelo municpio...

    Ainda segundo Ornstein (2006, p.16),

    O subsdio para produzir uma casa barata, ou lotes semi-urbanizados, no tem sido suficiente para fixar a populao e lhe dar oportunidade de desenvolvimento e insero no mercado de trabalho. Ao contrrio, com todo subsdio dado pelos governos, assistiu-se ao longo do tempo ao passa-se uma casa, semelhante ao passa-se um ponto comercial, com a diferena de que, neste caso, trata-se da troca de local ou tipo de trabalho, e no primeiro, geralmente, de troca de um abrigo por dinheiro, obrigando assim o ex-muturio a voltar a morar embaixo da ponte e de novo engrossar a fila dos sem-teto.

    Muitas so as alternativas de diminuio de custos de produo das

    habitaes que abrigam famlias pobres. Alm de medidas que podem ser tomadas

    desde a etapa de projeto, as habitaes podem ser construdas com racionalizao

    de uso dos recursos, sem o comprometimento da qualidade do processo ou do

    produto acabado.

    Conforme mostra Abiko e Coelho (2004), o sistema de ajuda mtua,

    denominado mutiro, uma boa alternativa para a populao pobre diminuir os

    custos de construo de suas moradias. A razo para esta diminuio de custos

    deve-se ao fato de que muitas despesas indiretas que ocorrem no processo

    convencional (encargos financeiros e bonificaes) no ocorrem no sistema de

    mutiro, alm de que a compra de materiais de construo, quando feita pela

    comunidade, bastante criteriosa. Os custos totais de construo em regime de

    mutiro so aproximadamente 30% inferiores aos do processo convencional.

  • 41

    Por conseguinte, confirma-se a idia dos defensores desse sistema de

    produo de moradias de que o mutiro uma alternativa eficiente e vivel, mesmo

    que tenha que ser adaptada ou mesmo descartada em certos casos. (ABIKO;

    COELHO, 2004, p.19).

    No Brasil, a ocupao de morros para habitao vem acontecendo em

    padres que variam entre o inadequado e o perigoso. O prprio Estado, em seus

    empreendimentos habitacionais de interesse social, passou a ocupar terrenos mais

    acidentados, experimentando tambm srios problemas nas implantaes. Nos

    morros, o crescimento desordenado das cidades acumula prejuzos para vrias

    geraes e torna-se evidente em episdios de desastres e na criao de paisagens

    urbanas cada vez mais comprometidas e deterioradas, onde impera a improvisao.

    A aquisio da casa prpria faz parte do sonho das comunidades de baixa

    renda. Mais do que um lugar para morar ou deixar de pagar aluguel, a casa prpria

    pr-requisito para cidadania. Infelizmente, o poder pblico no possui condies de

    atender uma demanda crescente que se acumula por anos de polticas que

    privilegiam aqueles que possuem condies de comprovao de renda de valores

    significativos. Essa ainda uma grande dificuldade das polticas pblicas atuais: a

    populao mais necessitada no tem acesso s linhas de crdito.

    No Brasil, a carncia habitacional est concentrada em uma faixa de renda especfica. O confronto entre a capacidade de pagamento das famlias e os custos com habitao, o processo de urbanizao acelerado, em conjunto com a falta de planejamento adequado que leve em considerao as diversas necessidades e condies econmicas da sociedade fazem com que parcelas considerveis da populao tenham cada vez mais dificuldades de acesso moradia adequada. (VIRGILIO, 2010, p. 4)

    As comunidades devem buscar, atravs da organizao e da unio, as

    condies para alcanarem no apenas a casa prpria, mas a educao, a

    profissionalizao, a capacitao e o desenvolvimento, a criao de trabalho e

    renda. Dessa forma, sero agentes do seu prprio destino e no passivos

    receptores de iniciativas externas, que no respondem s suas necessidades

    especficas.

    Segundo Rodrigues (2009)apud.Virgilio(2010, p. 1), para a maioria dos

    brasileiros a casa prpria um bem essencial, somado ao fato de que o valor do

    aluguel bastante oneroso, principalmente para quem pode ficar desempregado.

  • 42

    Portanto, a impossibilidade de se obter um imvel prprio tem levado famlias a

    ocuparem assentamentos irregulares, prejudicando at mesmo o meio ambiente.

    A construo da moradia uma grande oportunidade para que o processo de

    unio e participao se inicie, principalmente, se for feita atravs do sistema de

    construo por mutiro. A comunidade deve assumir o papel de gestora e tomar as

    medidas necessrias para que o resultado esteja de acordo com as suas aspiraes

    e tenha sua marca, sua identidade. Para o melhor funcionamento do programa e

    xito das iniciativas das comunidades, importante que as pessoas sejam

    agrupadas por afinidade: tenham a mesma origem, como um assentamento em

    condio de risco, ou potencialidades em comum, como uma habilidade, uma

    profisso, ou caractersticas familiares e econmicas semelhantes. A ateno a esse

    critrio contribuiria imensamente na capacidade de comunicao do grupo entre si e

    na sua integrao como uma comunidade.

    Alm disso, os valores financiados poderiam cobrir o valor da construo

    tambm de espaos para as atividades de apoio comunidade como creches,

    oficinas de trabalho, centros comunitrios e postos de sade, como tambm

    abranger os equipamentos necessrios para a construo dos edifcios, como

    betoneiras, ps, martelos, serras e outros.

    Atualmente verifica-se que as habitaes destinadas populao de baixa

    renda, independentemente do agente promotor, dos mecanismos adotados para a

    sua produo e das formas de acesso moradia, continuam necessitando, em

    menor ou maior escala, de realizaes concretas que levem a melhorias do

    desempenho funcional, visando o atendimento s necessidades dos moradores e,

    at mesmo, a satisfao destes no contexto da qualidade de vida urbana

    (ROMERO; ORNSTEIN, 2003, apud. MARROQUIM; BARBIRATO, 2007).

    2.2.2 Poltica Nacional de Habitao

    A primeira poltica nacional de habitao foi a Fundao da Casa Popular

    (FCP), criada pela lei n 9. 218 de 1 de maio de 1946. No entanto, foi extinta em

  • 43

    pouco tempo devido ao pequeno potencial de atender demanda por unidades

    habitacionaisde acordo com o Ministrio das Cidades (2004).

    Em 1964, incio do regime militar, foi criado o BNH, Banco Nacional da

    Habitao, logo aps o golpe de Estado. Os recursos utilizados pelo BNH

    originavam-se do FGTS, Fundo de Garantia por Tempo de Servio, e do SBPE,

    Sistema Brasileiro de Poupana e Emprstimo. O primeiro sustentado

    compulsoriamente pelas contribuies dos assalariados, enquanto que o segundo

    uma poupana voluntria.O BNH, juntamente com outras instituies privadas e

    estatais da esfera federal, formava o SFH, Sistema Financeiro da Habitao. O SFH

    tinha a incumbncia de atuar na rea habitacional sanando os problemas advindos

    do acelerado processo de urbanizao que ocorreu no Brasil no sculo XX.

    (BONDUKI, s.d.).

    Era um modelo centralizado de apoio financeiro moradia popular, pois as

    decises eram tomadas pelo governo federal. Um dos pontos negativos deste

    modelo era o fato de que a concesso do financiamento pelo BNH era feita s

    construtoras e no ao usurio final da habitao. O produtor das habitaes

    interessava-se apenas em atingir custos relativamente baixos, aumentando assim

    sua margem de lucro, em detrimento de uma arquitetura mais eficiente. (FREITAS,

    2004).

    Indiferente diversidade existente num pas de dimenses continentais, o BNH desconsiderou as peculiaridades de cada regio, no levando em conta aspectos culturais, ambientais e de contexto urbano, reproduzindo exausto modelos padronizados. (BONDUKI, s.d., p.74).

    Os construtores podiam se apoderar dos recursos que eram destinados

    habitao e reduziam bastante o custo de modo a aumentarem sua margem de

    lucro. Alm disso, com o tempo o BNH passou a excluir parcelas significativas da

    populao de mais baixa renda do atendimento da poltica nacional de habitao.

    Segundo Bonduki (s.d.), o BNH foi criado como uma estratgia dos governos

    militares com o intuito de combater idias comunistas e progressistas no pas, pois

    criava em cada trabalhador beneficiado com a casa prpria um sentimento maior de

    direito propriedade.

    Santos apud. Botega (2008) afirmou que o principal ponto fraco do SFH e que

    ocasionou na sua extino no foi o seu desvio de objetivos, mas sim a sua

  • 44

    vulnerabilidade s flutuaes econmicas que afetassem a inadimplncia dos seus

    muturios ou a capacidade de arrecadao do FGTS e do SBPE. No entanto, um

    outro agravante acompanhava esta fraqueza dos sistema, que foram os constantes

    casos de corrupo verificados ao longo de sua existncia.

    [...], havia aqueles que se utilizaram da inadimplncia como uma forma de

    mascarar prticas de corrupo. (BOTEGA, 2008, p.10).

    E finalmente o BNH foi extinto em 1986, por um decreto sancionado pelo

    ento presidente na poca, Jos Sarney. A partir de ento o rgo, que era to

    centralizador dissolveu-se em vrios outros rgos federais, cada um com uma

    funo bem definida no SFH, a saber: o BACEN, Banco Central do Brasil (criao de

    normas e fiscalizao do SBPE), e Caixa Econmica Federal (gestora do FGTS), o

    MDU, Ministrio do Desenvolvimento Urbano, e Secretaria Especial de ao

    comunitria, responsveis pela poltica habitacional, entre outros.

    O perodo compreendido entre a extino do BNH ea criao do Ministrio

    das Cidades em 2003 caracterizou-se pela falta de uma estratgia nacional bem

    definida para enfrentar a questo da habitao, certa instabilidade da poltica

    habitacional, ocorrendo muitas transformaes nos rgos gestores e fiscalizadores

    da rea, a saber, de acordo com o Ministrio das Cidades (2004):

    1987 - o MDU transformado em Ministrio da Habitao, Urbanismo

    eMeio Ambiente (MHU);

    1988 - cria-se o Ministrio da Habitao e do Bem-Estar Social

    (MBES), em cuja pasta permanece a gesto da poltica habitacional;

    1989 - extinto o MBES e cria-se a Secretaria Especial de Habitao

    e Ao Comunitria (SEAC). As atividades financeiras do Sistema

    Financeiro da Habitao (SFH) e a Caixa Econmica Federal (CEF)

    passam a ser vinculadas ao Ministrio da Fazenda;

    1994 - o governo Federal colocou como prioridade a concluso das

    obras iniciadas na gesto anterior e lana os programas Habitar Brasil

    e Morar Municpio, com recursos oriundos do Oramento Geral da

    Unio e do Imposto Provisrio sobre Movimentaes Financeiras

    (IPMF);

    1995 - realizada uma reforma no setor da poltica habitacional, com

    a extino do MBES e a criao da Secretaria de Poltica Urbana

  • 45

    (SEPURB) no mbito do Ministrio do Planejamento e Oramento

    (MPO);

    2003 criao do Ministrio das Cidades pelo presidente Lus Incio

    Lula da Silva, que passa a ser o rgo responsvel pela Poltica de

    Desenvolvimento Urbano e, dentro dela, pela Poltica Setorial de

    Habitao

    A partir deste momento a Poltica de Habitao passa a ter um carter mais

    participativo e democrtico.

    A Poltica de Habitao se inscreve dentro da concepo de desenvolvimento urbano integrado, no qual a habitao no se restringe a casa, incorpora o direito infra-estrutura, saneamento ambiental, mobilidade e transporte coletivo, equipamentos e servios urbanos e sociais, buscando garantir direito cidade (Ministrio das Cidades, 2004).

    Em 2005 o Ministrio das Cidades instituiu o Sistema Nacional de Habitao

    de Interesse Social (SNHIS) e o Fundo Nacional de Habitao de Interesse Social

    (FNHIS). O primeiro era responsvel pela coordenao de programas e projetos de

    habitaes populares, o segundo gerenciava os recursos destinados moradia.

    2.2.3 Programas do governo

    So muitos os programas do governo para suprir a necessidade de

    habitaes populares, entre os quais pode-se citar:

    Programa Minha Casa Minha VidaEste programa vai viabilizar crdito para a

    construo de um milho de moradias para famlias com renda de at 10 salrios

    mnimos. Conta com a colaborao de Estados, Municpios e tambm com a

    iniciativa privada (MORAES, s.d.).

  • 46

    [...]. Com isso, criou-se um patamar de recursos indito, que gera desafios excepcionais para a cadeia produtiva da construo civil, para a capacidade de gesto dos agentes pblicos e privados envolvidos com a produo habitacional e para a poltica urbana e fundiria das cidades brasileiras (CARDOSO; BONDUKI, 2009, p.6).

    De acordo com Oliveira (2010) o pacote do programa Minha Casa Minha

    Vida, lanado em maro de 2009, no est respeitando como deveria o dficit

    habitacional das famlias que esto na faixa de zero a trs salrios mnimos. So

    400 mil casas que beneficiaram aqueles que esto dentro desta faixa, quando na

    verdade deveriam ser 900 mil.

    Segundo o site oficial do programa (www.minhacasaminhavida.gov.br), a

    construo das moradias, entre casas e apartamentos, ser distribuda por regio

    conforme a tabela I.

    Tabela I Distribuio de moradias por regio.

    Regio Moradias Percentual (%)

    Norte 103.018 10,3

    Nordeste 343.197 34,3

    Centro-oeste 69.786 7,0

    Sudeste 363.894 36,4

    Sul 120.016 12,0

    Total 1.000.000 100,0

    Fonte: www.minhacasaminhavida.gov.br.

    PlanHab - Plano Nacional de Habitao.Etapa essencial de implantao e

    consolidao da Poltica Nacional de Habitao, foi elaborado pelo Governo Federal,

    atravs da Secretaria Nacional de Habitao (SNH), em agosto de 2007. O objetivo

    dessa iniciativa orientar o planejamento das aes pblicase privadas que visam

    melhor direcionar os recursos para atender s demandas habitacionais

    (FERNANDES; SILVEIRA, s.d.).

    Um dos aspectos centrais desse plano o processo participativo, o que pode

    ser verificado pela realizao de seminrios regionais, reunies tcnicas, oficinas e

    consultas aos conselhos de participao e controle social da rea habitacional.

    (FERNANDES; SILVEIRA, s.d., p.9).

  • 47

    De acordo com Cardoso e Bonduki (2009) o PlanHab definiu quatro eixos

    prioritrios: o financeiro; o urbano-fundirio; o institucional; e o da cadeia produtiva

    da construo civil.

    O PlanHab parte de um processo de planejamento de longo prazo do

    Governo Federal, que pressupe revises peridicas e articulao com outros

    instrumentos de planejamento e oramento, como o Plano Plurianual (PPA).

    O processo participativo um dos pilares constitutivos do Plano Nacional de

    Habitao. No processo de elaborao so realizados seminrios regionais,

    reunies tcnicas, oficinas e consultas aos conselhos de participao e controle

    social da rea habitacional, como forma de formular uma proposta coerente e

    pactuada com todos.

    PAC - a sigla para Programa de Acelerao do Crescimento. um plano do

    governo federal que visa promover o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). No

    que tange ao setor habitacional, o programa trs investimentos em infra-estrutura e

    estmulo ao crdito e financiamento (FERNANDES; SILVEIRA, s.d.).

    Estimular o crescimento da economia brasileira, atravs do investimento em

    obras de infraestrutura (portos, rodovias, aeroportos, redes de esgoto, gerao de

    energia, hidrovias, ferrovias, etc.). O PAC foi lanado pelo governo Lula no dia 28 de

    janeiro de 2007, prevendo investimentos da ordem de 503,9 bilhes de reais at o

    ano de 2010.

    O capital utilizado no PAC originrio das seguintes fontes principais:

    recursos da Unio (oramento do governo federal), capitais de investimentos de

    empresas estatais (exemplo: Petrobrs) e investimentos privados com estmulos de

    investimentos pblicos e parcerias.

    Ao lanar o PAC, o governo federal anunciou uma srie de medidas cujo

    principal objetivo favorecer a implementao dos projetos. Entre estas medidas,

    podemos citar a desonerao tributria para alguns setores, medidas na rea

    ambiental para dinamizar o marco regulatrio, estimulo ao financiamento e crdito,

    medidas de longo prazo na rea fiscal.

    Em fevereiro de 2009, o governo federal anunciou um aporte de 142 bilhes

    de reais para as obras do PAC. Estes recursos extras visam gerar mais empregos

    no pas, diminuindo o impacto da crise mundial na economia brasileira.

  • 48

    2.2.4 Critrios mnimos de desempenho para habitaes trreas de interesse

    social

    A avaliao de desempenho consiste em prever o comportamento potencial

    do sistema construtivo ao longo de seu uso, tomando-se duas vertentes: as

    exigncias dos usurios e as condies de exposio da habitao. Essas duas

    premissas se traduzem, neste trabalho, em seis exigncias dos usurios:

    desempenho estrutural, estanqueidade gua, segurana ao fogo, conforto trmico,

    conforto acstico e durabilidade.

    Segundo Berto (s.d.), do ponto de vista de segurana ao fogo, a existncia de

    muitas aberturas nas casas pode ser um aspecto positivo, visto que um eventual

    incndio pode ser controlado pela pouca ventilao. A taxa de combusto

    proporcional ao suprimento de ar atravs das aberturas para o exterior.Para as rotas

    de fuga, no caso de um incndio, todos os cmodos da residncia devem possuir

    duas sadas, sendo uma delas uma janela que no precisa de ferramenta para ser

    aberta por dentro.

    O desempenho estrutural deve ser de tal forma a evitar tanto a ruptura de

    peas de sustentao (o que leva ao colapso geral da edificao) como tambm

    evitar o desconforto visual e a sensao de insegurana ou de risco iminente pelo

    usurio da habitao.

    O desempenho estrutural do edifcio habitacional deve ser avaliado tanto do ponto de vista de segurana, ou seja, do estado limite ltimo, como do ponto de vista de utilizao, considerando-se a deformao dos elementos, fissurao e demais falhas que possam comprometer outras exigncias, tais como estanqueidade gua e durabilidade. (FILHO, s.d., p.8).

    Os requisitos e critrios de desempenho referentes ao conforto acstico so

    descritos nas normas do IPT, Instituto de Pesquisas Tecnolgicas, de modo