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Rio de Janeiro, 21 de maio de 2007 ABRADEE/ B15.CT2007-0023 Ilustríssimo Senhor Jose Guilherme Silva Menezes Senna Diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL SGAN - Q. 603 Modulo I - 2º andar 70830-030 Brasília, DF Ref: CONTRIBUIÇÃO À CONSULTA PÚBLICA CONJUNTA ANEEL/ANATEL Nº 007/2007 – METODOLOGIA PARA O CÁLCULO DO PREÇO DE REFERÊNCIA PARA OS CONTRATOS E COMPARTILHAMENTO DE INFRA-ESTRUTURA ENTRE OS SETORES DE ENERGIA ELÉTRICA E TELECOMUNICAÇÕES Prezado Senhor, A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISTRIBUIDORES DE ENERGIA ELÉTRICA – ABRADEE, pessoa jurídica de direito privado, associação civil de fins não econômicos, com sede à Rua da Assembléia, 10, sala 3201, Rio de Janeiro – RJ, neste ato representada pelo seu Diretor Presidente e em nome de suas associadas distribuidoras de energia elétrica, vem apresentar sua CONTRIBUIÇÃO à Consulta Pública ANEEL-ANATEL n 007/2007, fazendo-o com suporte nas razões a seguir articuladas: 1. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DA AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA - ANEEL ESTABELECER (“FIXAR”) PREÇO DE REFERÊNCIA PARA ATIVIDADE EMINENTEMENTE EMPRESARIAL (COMPARTILHAMENTO DE PONTOS DE FIXAÇÃO EM POSTES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA).

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Rio de Janeiro, 21 de maio de 2007 ABRADEE/ B15.CT2007-0023 Ilustríssimo Senhor Jose Guilherme Silva Menezes Senna Diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL SGAN - Q. 603 Modulo I - 2º andar 70830-030 Brasília, DF Ref: CONTRIBUIÇÃO À CONSULTA PÚBLICA CONJUNTA ANEEL/ANATEL Nº

007/2007 – METODOLOGIA PARA O CÁLCULO DO PREÇO DE REFERÊNCIA

PARA OS CONTRATOS E COMPARTILHAMENTO DE INFRA-ESTRUTURA

ENTRE OS SETORES DE ENERGIA ELÉTRICA E TELECOMUNICAÇÕES

Prezado Senhor,

A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISTRIBUIDORES DE

ENERGIA ELÉTRICA – ABRADEE, pessoa jurídica de direito privado, associação civil

de fins não econômicos, com sede à Rua da Assembléia, 10, sala 3201, Rio de Janeiro

– RJ, neste ato representada pelo seu Diretor Presidente e em nome de suas

associadas distribuidoras de energia elétrica, vem apresentar sua CONTRIBUIÇÃO à

Consulta Pública ANEEL-ANATEL n 007/2007, fazendo-o com suporte nas razões a

seguir articuladas:

1. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DA AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA

ELÉTRICA - ANEEL ESTABELECER (“FIXAR”) PREÇO DE REFERÊNCIA PARA ATIVIDADE EMINENTEMENTE EMPRESARIAL (COMPARTILHAMENTO DE PONTOS DE FIXAÇÃO EM POSTES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA).

A ANEEL, juntamente com a ANATEL, pretende estabelecer “metodologia para

o cálculo do preço de referência para os contratos de compartilhamento de

infra-estrutura entre os setores de energia elétrica e telecomunicações”, por

meio de fórmula paramétrica para se calcular os valores a serem praticados

pelas Concessionárias de Distribuição de Energia Elétrica, na hipótese de

impasse nas negociações entre as Empresas dos Setores de Energia e de

Telecomunicações.

Já como um prenúncio da inexistência de competência legal para estabelecer

(fixar) preços a serem observados e praticados no compartilhamento de infra-

estrutura dos postes de energia elétrica, a ANEEL justifica a pretensão sob a

alegação de que a metodologia de cálculo do preço será utilizada como

“referência” nos processos de resolução de conflitos entre as Empresas dos

Setores de Energia e Telecomunicações.

Logicamente, a solução pretensamente encontrada pela ANEEL – preço de

referência a ser utilizado na resolução de conflitos - com o apoio da ANATEL,

desconsidera o histórico latente vivido pelos dois Setores – Energia e

Telecomunicações. É evidente que a partir da existência de uma formula

paramétrica referendada pelas duas Agências, não haverá uma única Empresa

do Setor de Telecomunicações disposta a pagar valores diferentes daqueles

encontrados (calculados) por meio da metodologia “referencial” para as

Distribuidoras de Energia Elétrica.

A pretensão de fixar uma “referência de preço” encontrada pela ANEEL e

ANATEL, na verdade significa um “TABELAMENTO DE PREÇOS” para as

infra-estruturas destinadas ao compartilhamento – postes de distribuição de

energia elétrica -, cabendo às Distribuidoras de Energia Elétrica apenas e tão-

somente observá-lo e praticá-lo. Já a sua instituição é fato grave porque

revestido de ilegalidade. Mais, ainda, quanto ao mérito da fórmula, que –se

legal (que se indica apenas como forma de argumentação) estaria

comprometida face aos graves equívocos que certamente causariam enormes

prejuízos para o Setor Elétrico.

A ANEEL não tem autorização legal para instituir esse “tabelamento”, ainda que

o chame de “referência”, nem a decorrente do ato legal da sua instituição (Lei nº

9.427, de 26 de dezembro de 1996), no Decreto nº 2.335, de 06 de outubro de

1997, nem no elenco das atividades permitidas na sua competência regulatória.

Está a Agência se portando ilegalmente como limitadora da livre negociação em

atividade eminentemente empresarial, como é o caso do compartilhamento de

infra-estrutura – pontos de fixação nos postes de energia elétrica.

O ato cogitado pela ANEEL e ANATEL, resulta em “interferência direta e

decisiva” não autorizada do Órgão Regulador em atividade econômica, a

qual depende de prévia previsão legal, à luz do disciplinado na Constituição

Federativa do Brasil nos artigos 5º (“Todos são iguais perante a lei, sem

distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros

residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à

segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”), inciso II (“ninguém será

obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;”), 170

(“A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre

iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames

da justiça social, observados os seguintes princípios”), parágrafo único (“É

assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica,

independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos

previstos em lei”) e 174 (“Como Agente normativo e regulador da atividade

econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização,

incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor publico e

indicativo para o setor privado”).

Não é jurídico nem razoável cogitar que o disposto no artigo 11, da Lei nº 8.987,

de 1º de fevereiro de 1995 tivesse outorgado competência regulatória para a

ANEEL “estabelecer (fixar) preço de referência para os pontos de fixação nos

postes de energia elétrica destinados ao compartilhamento”, pelo fato de se

tratar de outras fontes provenientes de receitas alternativas, complementares e

acessórias na exploração dos postes pelas empresas de energia.

Basta a análise quanto à competência regulatória da ANEEL, nos termos do

contido no parágrafo anterior, para se chegar inexoravelmente à conclusão da

impossibilidade de a ANEEL exercer o poder regulatório neste sentido. Confira-

se não ter a Lei de Concessões (Lei nº 8987/95), em momento algum, ter

outorgado à ANEEL qualquer tipo de competência relativamente ao montante

das fontes alternativas de receita das Concessionárias de Distribuição de

Energia Elétrica por conta do compartilhamento dos postes de energia elétrica

com as empresas do Setor de Telecomunicações, em decorrência do uso

secundário dos bens vinculados à concessão de serviço público. Ora, essa

atividade da Concessionária resulta em mera exploração de atividade de cunho

eminentemente empresarial como outra qualquer.

Não resta dúvida alguma que o disposto no artigo 73, da Lei de

Telecomunicações (Lei nº 9.372/97) não garantiu e/ou assegurou poder para a

ANEEL, eufemisticamente, “estabelecer” (fixar) preço pela utilização dos pontos

de fixação nos postes de distribuição de energia elétrica em benefício das

Empresas do Setor de Telecomunicações. Nem se alegue que a competência

regulatória para isto estaria implícita no artigo 73, da Lei nº 9.472/97, uma vez

que isto seria incorrer em erro crasso, tornando a interpretação falsa e afastada

dos comandos legais.

Na verdade, também o artigo 73, da Lei Geral de Telecomunicações – Lei nº

9.472, de 16 de julho de 1997, não conduz à competência regulatória da

ANEEL para impor preço ou mesmo critérios para definição de preço, (tal como

nominado na Consulta Pública ANEEL-ANATEL nº 007/2007 como

“metodologia de cálculo do preço de referência para os contratos de

compartilhamento de infra-estrutura entre os setores de energia elétrica e

telecomunicações a ser utilizado nos processo de resolução de conflitos”).

Bem se vê que a pretensa Resolução busca sustentação legal nas disposições

da Resolução Conjunta Para Compartilhamento De Infra-Estrutura Entre Os

Setores De Energia Elétrica, Telecomunicações E Petróleo nº 001, de 24 de

novembro de 1999.

No entanto, ainda que assim pretendesse, há óbice instransponível na própria

disposição da Resolução, a teor do contido no artigo 21, “verbis” : “Os preços a

serem cobrados e demais condições comerciais, de que trata o inciso IV

do artigo 20, podem ser negociados livremente pelos agentes, observados

os princípios da isonomia e da livre competição” (grifamos).

O princípio consagrado da livre negociação encontra-se expresso na norma –

Resolução Conjunta ANEEL-ANATEL-ANP nº 001/99 -, afastando toda e

qualquer eventual argumentação e construção eventualmente cogitada no

sentido de se tentar “fixar” preço para a infra-estrutura utilizada no

compartilhamento – ainda que referencial.

É fundamental trazer à baila a lição do eminente Professor CARLOS ARI

SUNDFELD, no estudo realizado pelo Centro Latino Americano de Estudos da

Economia das Telecomunicações – CELAET para a Associação Brasileira de

Distribuidores de Energia Elétrica – ABRADEE e Associação de Empresas

Proprietárias de Infra-estruturas e Sistemas Privados de Telecomunicações -

APTEL, intitulado “ANÁLISE ECONÔMICA E JURÍDICA DO

COMPARTILHAMENTO DE INFRA-ESTRUTURA DE POSTES –

EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL E A SITUAÇÃO BRASILEIRA”, anteriormente

encaminhado à essa ANEEL. Veja-se:

4. ANÁLISE JURÍDICA DA SITUAÇÃO BRASILEIRA

4.1. O objetivo desta parte é analisar a pertinência

jurídica da regulação do preço para cessão de

infra-estrutura de empresas de energia elétrica.

A questão é se as empresas distribuidoras de

energia elétrica são livres para negociar o preço

dos postes e, caso sejam, quais são os

eventuais parâmetros legais e regulatórios que

elas devem observar na formação do preço.

(...)

4.4. No caso dos meios pertencentes à empresa de

energia, é a ANEEL o órgão regulador que

decide as “condições para adequado

atendimento” (parágrafo único, art. 73, LGT) do

compartilhamento. E qual o sentido dessa

competência dada à ANEEL? Parece claro que

o dispositivo não alterou em profundidade,

como poderia, o regime jurídico da infra-

estrutura de distribuição de energia. A

destinação principal e preferencial dos postes

continuou a ser o serviço elétrico, de modo que

seu emprego secundário em serviço de

telecomunicações depende da compatibilidade

com o atendimento prioritário das necessidades

do serviço original.

4.5. O sentido da competência atribuída à ANEEL

pelo parágrafo único do art. 73 da LGT é

permitir que a ANEEL estabeleça as condições

para compatibilizar o uso secundário da infra-

estrutura com o atendimento prioritário das

necessidades do serviço elétrico. Singelamente,

pode-se dizer que esse uso secundário da infra-

estrutura instaura uma relação jurídica

contratual que tem certas semelhanças com a

locação de espaço físico. Neste contexto, a

exploração comercial, pelas distribuidoras de

energia elétrica, dos postes – isto é, sua cessão

parcial e onerosa para operadoras de

telecomunicações e de TV a Cabo – é uma

atividade econômica comum, sujeita à regra

da livre negociação e da livre formação de

preços. Trata-se de uma atividade própria de

um mercado livre, franqueado aos

detentores desses meios, sujeita à regra

geral da liberdade de ação.

4.6. Como decorrência dessa regra de liberdade de

empreendimento, o art. 73 prevê claramente a

necessidade de o beneficiário da infra-estrutura

compensar economicamente a empresa

cessionária. O modo de estabelecer a

compensação econômica foi dado pela lei: é

a livre negociação entre os interessados.

4.7. Para que a ANEEL pudesse exercer

competência regulatória limitadora da livre

negociação, especialmente no que diz respeito

à formação do preço pelo uso dos postes (cuja

exploração é atividade econômica e não

prestação de serviço público), seria necessário

que norma expressa lhe outorgasse essa

competência. O exercício desse poder, por se

configurar em uma verdadeira interferência do

Estado em atividade econômica, depende de

prévia previsão legal (Constituição Federal, art.

5º, II; art. 170, caput; art 174).

4.8. Há duas normas legais com possível

capacidade para servir de fundamento legal

para a ANEEL estabelecer condições

econômicas – entre elas, o preço – pela

exploração dos postes pelas empresas de

energia. A primeira é o art. 11 da Lei Geral de

Concessões (Lei nº 8.987/95). Mas, a Lei de

Concessões não outorga qualquer competência

regulatória ao poder concedente relativamente

ao montante das fontes alternativas de receita

do concessionário. O uso secundário dos bens

vinculados à concessão de serviço público pela

empresa concessionária não passa de uma

atividade empresarial como outra qualquer. A

segunda norma que, em tese, poderia fazer

com a ANEEL manifestasse a pretensão de se

investir na competência regulatória para impor

preço (ou critérios para definição do preço),

para cessão dos postes é o próprio art. 7 da

LGT. É claro que expressamente o art. 73 da

LGT não garantiu poder algum para a ANEEL

fixar preço pelo uso compartilhado dos postes

de energia. Uma hipótese seria imaginar que

esse poder estaria implícito no dispositivo.

Essa interpretação, no entanto, seria falsa. O

parágrafo único não deu à ANEEL o poder para

estabelecer preço de infra-estrutura de energia.

4.9. Portanto, a ANEEL não pode estabelecer

previamente, por meio de norma geral e

abstrata, fórmulas, critérios, ou mesmo

tabelar, o preço a ser cobrado pelo uso

secundário do poste. Também não pode fixar

o preço na hipótese de conflito (isto é, caso a

caso, em função de negociação frustrada

entre empresas de energia e empresas de

telecomunicações). Esta afirmação conclusiva

é possível em razão da interpretação sistemática

e conjunta das regras que tratam da regulação

de setores de interesse público no Brasil. Como

o dispositivo é silente quanto à possibilidade de

regulação do preço pelo órgão regulador,

somente uma análise comparativa das outras

normas que regulam o mesmo problema tratado

no art. 73 da LGT – o preço cobrado por

empresas que dão acesso a mercado de

interesse público – pode dar com segurança, a

correta interpretação do dispositivo.

4.10. As diversas leis setoriais trazem regras que

podem ser tomadas como parâmetro legítimo

de comparação, de forma a indicar a correta

interpretação do art. 73 da LGT quanto à

regulação do preço de compartilhamento pela

ANEEL. São elas: a Lei do Petróleo e Gás – Lei

nº 9.478, de 6 de agosto de 1997 (art. 58); a

Lei de Energia Elétrica – Lei nº 9.427, de 26 de

dezembro de 1996 (art. 3º); e o modelo que a

Lei Geral de Telecomunicações (Lei nº 9.472,

de 16 de julho de 1997) estabeleceu para a

interconexão (art. 15). É evidente nestas três

leis setoriais que elas adotam como

pressuposto de formação do preço de

acesso ao mercado a livre negociação entre

as partes. Tanto a lei do petróleo e gás, como

a lei de energia elétrica, estas no caso de

transporte do insumo, e lei de

telecomunicações, na hipótese de

interconexão, todas elas foram expressas

quanto ao conteúdo das competências

atribuídas aos órgãos reguladores.

(...)

4.12. Considerando que o objetivo da legislação é

semelhante nas normas de comparação e na

norma que trata do compartilhamento de infra-

estrutura entre setores distintos (art. 73 da

LGT), tal sistemática, que prestigia o princípio

da livre negociação, é parâmetro válido de

interpretação da problemática especifica do

preço de compartilhamento de infra-estrutura

entre setores distintos. É por isso que a

consideração sistemática do ordenamento

jurídico em vigor faz com que o parágrafo único

do art. 73 da LGT seja lido em seus precisos

termos, não sendo admissível qualquer

ampliação, por via interpretativa, do poder

conferido de forma limitada pela lei. A ANEEL

definitivamente não tem competência para

regular o preço do poste de energia. Como já

mencionado, a competência que o dispositivo

deu à ANEEL é para promover a

compatibilização do uso secundário da infra-

estrutura com o atendimento prioritário das

necessidades do serviço elétrico. E o preço,

definitivamente, não está incluído neste rol. É o

que, então, está incluído?

4.13. Essencialmente, a competência atribuída pelo

art. 73 da LGT ao regulador é para estabelecer

os limites físicos para a destinação do espaço

nos postes para outros serviços, bem como os

cuidados técnicos que, em atenção à

segurança e qualidade do serviço elétrico,

devem ser observados na instalação e

manutenção dos cabos e equipamentos de

terceiros. Também pode o regulador indicar

casos em que não é viável qualquer

compartilhamento, seja por esgotamento da

capacidade física, seja por implicar risco à

segurança ou qualidade. Ademais, certas

regras procedimentais podem ser impostas,

para garantia do princípio da não

discriminação (ex: dever de informação quanto

aos preços praticados) e do respeito ao direito

subjetivo ao compartilhamento (ex: dever de

resposta em certo prazo, dever de motivação

da recusa, etc.). Todas essas competências,

no entanto, decorrem do que já se observou:

elas servem para compatibilizar o uso

empresarial dos postes com o atendimento

prioritário das necessidades do serviço

elétrico, sendo que o preço de

compartilhamento está fora dessa esfera de

atribuições.

4.14. Definitivamente, nem outro regulador qualquer

tem competência legal para fixar preço a ser

observado compulsoriamente nos contratos de

compartilhamento de postes. O art. 73 da LGT

não deu autorização para a ANEEL fixar esse

preço, nem mesmo para estabelecer critérios

para a sua aferição, ou para arbitrá-lo no caso

concreto. A ANEEL não recebeu poder da lei

para se envolver em qualquer aspecto dessa

relação econômica, a não ser para

compatibilizá-la com as necessidades próprias

do serviço elétrico. Essa conclusão, todavia,

não autoriza o abuso das prestadoras de

energia na formação do preço, não tendo elas

legitimidade para impor preço juridicamente

excessivo, frustrar a negociação e, com isso,

impedir o exercício do direito de acesso à infra-

estrutura”. (Grifos acrescidos ao original).

À luz dos ensinamentos do brilhante jurista, mestre e Prof. CARLOS ARI

SUNDFELD, a conclusão inexorável é que falece, em absoluto, competência

para a Agência Reguladora – Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL –

para implementar “metodologia para o cálculo do preço de referência para os

contratos de compartilhamento de infra-estrutura entre os setores de energia

elétrica e telecomunicações, a ser utilizada nos processos de resolução de

conflitos”, mesmo sob a pretensa justificativa de se tratar de “preço de

referência”.

Ademais, a pretensão da ANEEL e da ANATEL, viola frontalmente o princípio

consagrado da livre negociação estabelecido para o compartilhamento de infra-

estrutura, contemplado na Resolução Conjunta ANEEL – ANATEL e ANP para

Compartilhamento de Infra-Estrutura Entre os Setores de Energia Elétrica,

Telecomunicações e Petróleo nº 001/99, em especial o disposto no artigo 21

(“Os preços a serem cobrados e demais condições comerciais, de que trata o

inciso IV do artigo 20, podem ser negociados livremente pelos agentes,

observados os princípios da isonomia e da livre competição”), colidindo

igualmente com as disposições constitucionais, em especial a capitulada no

artigo 174 da Constituição Federal.

Assim, por qualquer ângulo que se analise a pretensão conjunta das agências

reguladoras, não há competência regulatória para a intervenção estatal por

parte da ANEEL em atividade econômica–empresarial. Se não há competência

para tanto, igualmente não há motivos para se levar adiante a Consulta Pública

Conjunta ANEEL – ANATEL nº 007/2007.

2. DOS IMPACTOS E REFLEXOS NOS CONTRATOS DE COMPARTILHAMENTO DE INFRA-ESTRUTURA EM CURSO, PROTOCOLADOS PELAS DISTRIBUIDORAS DE ENERGIA ELÉTRICA JUNTO À ANEEL, AGUARDANDO HOMOLOGAÇÃO.

Mesmo diante da inexistência de competência regulatória para o

“estabelecimento” (fixação) de preço para o compartilhamento de infra-

estrutura, impõe-se assentar e destacar os reflexos inerentes à situação real

vivenciada pelas Distribuidoras de Energia Elétrica no Brasil todo. São os

contratos de compartilhamento de pontos de fixação nos postes de energia

celebrados entres as distribuidoras de energia elétrica e as empresas do setor

de telecomunicações que, na sua quase totalidade, se encontram há anos

protocolados perante a ANEEL, sem a respectiva homologação. E todos esses

contratos resultaram da LIVRE NEGOCIAÇÃO entre as partes,

instrumentalizados em ato jurídico perfeito e acabado que não ensejam,

constitucionalmente, ser alcançados por disposições posteriores.

E aqueles que não alcançaram consenso quanto ao preço, estão submetidos ao

crivo da Justiça –também em obediência à regra constitucional vigente no País.

Ao cogitar da adoção da metodologia imposta, ou seja, estranha à livre

convenção das partes, mais ainda as agencias reguladoras pretendem invadir

um campo jurídico definido e convencionado segundo as regras vigentes,

pretende trazer a instabilidade jurídica a situações já ajustadas e

constitucionalmente protegidas.

Ora, ainda ad argumentandum tantum, se competência houvesse para a

ANEEL “estabelecer” (fixar) preço, seria impositiva a adoção de medidas que

respeitassem os atos livremente pactuados pelas empresas de Energia Elétrica

e Telecomunicações, suportados inclusive em norma (Resolução Conjunta

ANEEL-ANATEL-ANP nº 001/99), circunscrevendo a sua abrangência, reflexos

e efeitos aos ajustes contratuais celebrados a partir da publicação da norma

cogitada.

3. DOS REFLEXOS NA DEMANDAS JUDICIAIS.

Preocupação digna de nota para a ANEEL – Órgão Regulador do Setor de

Energia Elétrica – são os reflexos que a metodologia cogitada para eventual

resolução de conflito provocarão nas demandas judiciais em andamento, com

prejuízos reais e objetivos para as partes, na medida que induzirá situação

diferenciada daquelas postuladas em Juízo como direito defendido. E os

contratos cujos preços foram arbitrados e estabelecidos judicialmente? Seriam

eles também revistos em atentado à coisa julgada e constitucionalmente tão

protegida como o ato jurídico perfeito? Afinal, a simples indicação de um “preço

referencial” terá o condão de influenciar perícias em andamento ou perícias

futuras quando, na verdade, a situação pode ser diversa de um para outro caso.

Os preços terão que continuar sendo livremente negociados porque dizem

respeito a situações individualizadas, com particularidades características de

cada ocupação e de cada uso. Assim, o preço não pode, ainda que

referencialmente, ser estereotipado em fórmulas ou fixações. Será um caos nas

ações judiciais em andamento. Evidentemente, em detrimento de custos

menores: afinal é na tarifa que esses custos adicionais irão refletir.

4. DA TRANSFERÊNCIA DE BENEFÍCIOS DO CONSUMIDOR DE ENERGIA ELÉTRICA (INCLUSÃO DOS VALORES ARRECADADOS COM O COMPARTILHAMENTO DE INFRA-ESTRUTURA NA MODICIDADE TARIFARIA) PARA AS PRESTADORAS DE TELECOMUNICAÇÕES E TV A CABO.

A Lei de Concessões – Lei nº 8.987, de 13.02.1995, no seu artigo 11,

estabelece “No atendimento às peculiaridades de cada serviço público, poderá

o poder concedente prever, em favor da concessionária, no edital, a

possibilidade de outras fontes provenientes de receitas alternativas,

complementares, acessórias ou de projetos associados, com ou sem

exclusividade, com vistas a favorecer a modicidade das tarifas, observado o

disposto no art. 17 desta Lei”. Parágrafo único “As fontes de receita previstas

neste artigo serão obrigatoriamente consideradas para a aferição do inicial

equilíbrio econômico – financeiro do contrato” (os grifos não constam do

original).

Nesse sentido, os valores arrecadados com o compartilhamento de infra-

estrutura pelas Distribuidoras de Energia Elétrica, na sua quase totalidade,

acaba sendo considerado para fins de proporcionar menor tarifa ao consumidor

de energia elétrica, privilegiando a modicidade tarifária.

Se assim é por força de disposição legal (Lei nº 8987/95), os consumidores de

energia elétrica são diretamente beneficiados em razão dos valores

arrecadados com o compartilhamento de infra-estrutura de postes de energia

elétrica, em decorrência destes valores na sua maioria esmagadora ser

considerado no cálculo da tarifa, proporcionando-lhes benefícios, refletindo em

uma tarifa menor.

Aí, sim, pode a ANEEL interferir, se o caso: se a atividade de compartilhamento

não é regulada, a aplicação dos recursos dele advindo o é. A aplicação e a

fiscalização dos recursos advindos da atividade de compartilhamento de infra

estrutura com agentes de telecomunicações é atividade regulada e, nesse

sentido, mais ainda prevalece o entendimento que a ANEEL não deveria estar

se ocupando de fixação de preços referencias que, a principio, somente irão

beneficiar os consumidores das empresas de telecomunicações. Os preços

hoje praticados, acertados em livre negociação ou em disputas judiciais, são os

que melhor atender aos interesses das distribuidoras de energia elétrica e, por

conseguinte, os que melhor contribuem para a modicidade tarifária para seus

consumidores.

É importante se frizar: o preço referenciados pretendido na Resolução objeto da

Audiência Pública, é altamente lesivo aos interesses dos consumidores de

energia elétrica.

Por estes fatos, como também por todos os demais já referidos, é insustentável

a disposição da ANEEL juntamente com a ANATEL em “estabelecer”

metodologia de cálculo, ainda sob alegação de “preço de referência”, a ser

utilizado na hipótese de impasse nas negociações entre as empresas dos

setores de energia elétrica e telecomunicações, uma vez que os valores hoje

arrecadados sofrerão impactos negativos, reduzindo drasticamente o

“montante” livremente pactuado, com a plena concordância das partes

envolvidas, refletindo diretamente nos benefícios proporcionados aos

consumidores de energia elétrica, ao reduzir substancialmente o montante da

arrecadação com o compartilhamento de infra-estrutura Na verdade, estar-se á

transferindo os benefícios até então proporcionados a todos os consumidores de

energia elétrica para os proprietários das prestadoras de serviços de

telecomunicações e TV a Cabo.

Voltamos alertar que se lograr êxito a pretensão da ANEEL e ANATEL, os

consumidores de energia elétrica, inclusive aqueles de menor poder

aquisitivo –os considerados consumidores de BAIXA RENDA, serão

diretamente prejudicados em detrimento dos proprietários das prestadoras de

serviços de telecomunicações e de Tv a Cabo.

Com efeito, os “valores” cobrados pelas Distribuidoras de energia elétrica são

objeto de tarifação contratual. As Distribuidoras de Energia Elétrica não podem

cobrar nem mais, nem menos dos seus consumidores daquilo que está previsto

no contrato firmado com o Órgão Regulador. No caso das Empresas de Tv a

Cabo, por exemplo, não há tarifação a ser observada e cumprida fielmente.

Elas podem contratar – na verdade, “impor” – aos seus clientes os preços que

melhor atendam os seus interesses, bastando apenas e tão-somente observar

os parâmetros amplos desenhados pelo Poder Concedente.

Este se constitui em mais um dentre tantos motivos externados para

demonstrar o desacerto absurdo ao se pretender “impor” metodologia de preço,

a qual resultará na transferência injustificável de benefícios do Setor de Energia

para os proprietários das Empresas do Setor de Telecomunicações,

prejudicando inexoravelmente os consumidores de energia elétrica.

5. METODOLOGIA DE CÁLCULO MERAMENTE ORIENTATIVA E AUXILIAR NA COMPOSIÇÃO DOS VALORES PARA FINS DE NEGOCIAÇÃO, OBSERVANDO-SE O PRINCÍPIO DA LIVRE NEGOCIAÇÃO CONSAGRADO NA RESOLUÇÃO CONJUNTA ANEEL-ANATEL-ANP Nº 001/99.

A “metodologia” com base no “custo “incorrido” mencionada na Nota Técnica nº

0027/2006-SRD-SER/ANEEL, se refere a um dos elemento existentes e

aplicados pelas Distribuidoras de Energia Elétrica para fins de apuração dos

custos para fins da utilização da infra-estrutura.

Obviamente que os valores a serem praticados para fins do compartilhamento

de infra-estrutura entre as Distribuidoras de Energia Elétrica e as Prestadoras

de Serviço de Telecomunicações e TV a Cabo, se pauta inexoravelmente pelo

“princípio da livre negociação”, onde as condições balisadoras do ajuste a ser

firmado, são livremente negociadas entre as Partes.

Assim, vêm sendo feito e praticado há bom tempo, especialmente a partir das

disposições contempladas na Resolução Conjunta ANEEL-ANATEL-ANP nº

001/1999, que expressamente afirmou “Os preços a serem cobrados e demais

condições comerciais, de que trata o inciso IV do artigo 20, podem ser

negociados livremente pelos agentes, observados os princípios da isonomia e

da livre competição”.

Neste espírito, se insere a “metodologia do custo incorrido” defendido pela

ABRADEE e recomendada a todos os seus associados, resultando em um dos

elementos de orientação no processo de negociação das Distribuidoras de

Energia Elétrica com as Prestadoras de Serviços de Telecomunicações e de TV

a Cabo.

Não é possível confundir-se: a “metodologia” de orientação a qual se refere a

“Nota Técnica nº 0027/2006-SRD-SER/ANEEL”, não implica e nem autoriza se

cogitar de adoção e implantação de fórmula paramétrica de cálculo, para fins de

apuração dos valores para o compartilhamento de infra-estrutura.

A “eventual” adoção de metodologia neste sentido, seria ferir de morte

“princípio” consagrado e adotado pelas Agências, qual seja: livre negociação

nas condições e preços para fins do compartilhamento de infra-estrutura.

6. CONCLUSÃO/REQUERIMENTO:

À luz de todo o exposto na presente missiva, conclui-se pela impossibilidade

jurídica das Agências Reguladoras – ANEEL e ANATEL – adotarem e

implantarem “metodologia” de cálculo para “estabelecer” preço a ser praticado

e obedecido pelas Distribuidoras de Energia Elétrica no processo de

negociação com as Prestadoras de Serviços de Telecomunicações e TV a

Cabo, razão pela qual afigura-se-nos importante e oportuno levar estas razões

ao conhecimento de V.Sª, para que ensejem a reconsideração quanto à

realização da Consulta Pública ANEEL-ANATEL nº 007/2007, nos termos em

que está vazada.

Colocando-nos à disposição para os esclarecimentos que porventura se façam

necessários, subscrevemo-nos

Atenciosamente Luiz Carlos Silveira Guimarães Presidente