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José Augusto Lopes Pinto
outubro de 2015
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de Frutas e Vinhos
Universidade do MinhoEscola de Engenharia
Trabalho efetuado sob a orientação doProfessor Doutor Armando Albino Dias Venâncio e daEngª Marta Cristina Salgueiro Ferreira Moniz
Dissertação de Mestrado Mestrado Integrado em Engenharia Biológica Ramo Tecnologia Química e Alimentar
ii
DECLARAÇÃO
Nome: José Augusto Lopes Pinto
Título da dissertação: Implementação do sistema HACCP a uma empresa de Frutas e Vinhos
Orientadores:
Professor Doutor Armando Albino Dias Venâncio
Engª Marta Cristina Salgueiro Ferreira Moniz
Ano de conclusão: 2015
Mestrado Integrado em Engenharia Biológica
É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA DISSERTAÇÃO APENAS PARA EFEITOS DE
INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE
COMPROMETE.
Universidade do Minho, _____/_____/_________
Assinatura:
iii
AGRADECIMENTOS
A ti, avô, dedico esta Dissertação e agradeço tudo o que fizeste por mim e tudo o que me
ensinaste durante este 23 anos. Muito do que sou hoje se deve a ti. Apesar de teres partido antes de me
ver concluir esta fase da minha vida, da qual te orgulhavas, irei sempre agradecer-te por me teres apoiado
e ajudado a cá chegar. Obrigado por tudo.
Quero expressar também o meu agradecimento a todos os que me ajudaram à realização deste
projeto:
À Engª Marta por me ter proporcionado esta oportunidade, por todo o apoio e confiança em mim
depositada.
Ao Professor Armando Venâncio, orientador do projeto realizado, pelo acompanhamento e
disponibilidade demonstrada.
À D. Maria do Céu por toda a companhia, todas as dúvidas esclarecidas e por todo o apoio que
me deu ao longo destes seis meses.
Quero agradecer igualmente aos meus pais por estarem sempre presentes em todas as etapas
da minha vida, e pelo apoio que me deram para todo o meu crescimento tanto pessoal como profissional.
Um obrigado muito especial à Adriana Xavier, por me ter ajudado a chegar até aqui, e por me ter apoiado
sempre, mesmo nos momentos mais difíceis.
Por fim agradeço a todos os meus colegas de curso e especialmente aos meus amigos, por todo
o companheirismo demonstrado ao longo destes cinco anos e por todos os momentos de estudo e de
lazer passados.
A todos um muito obrigado.
v
RESUMO
Cada vez mais, a implementação de um Sistemas de Gestão da Segurança Alimentar é um
procedimento indispensável nas mais diversas indústrias da área agroalimentar, garantindo a produção
de alimentos seguros e adequados ao consumo humano. Do mesmo modo, estes sistemas levam ao
aumento da produtividade, competitividade das empresas e da confiança do consumidor nos seus
produtos.
Neste sentido, o presente projeto visa a revisão do sistema HACCP na FRUTIVINHOS -
Cooperativa Agrícola de V. N. Famalicão, C.R.L., empresa que abrange a produção de vinhos, bem como
a transformação, conservação e venda de produtos agrícolas provenientes dos associados da região. São
fins da Cooperativa, o progresso e aperfeiçoamento da agricultura em geral e das explorações dos
associados em particular, a cooperação e entreajuda entres eles e a participação no desenvolvimento do
setor cooperativo em Portugal.
Para o desenvolvimento desta dissertação, começou-se por realizar diagnóstico de modo a
analisar se existia o plano HACCP na empresa, ou até que ponto a sua implementação estava a ser
cumprida. Finalizada esta etapa, analisou-se o grau de cumprimento de uma serie de pré-requisitos, o
que permitiu verificar a existência de algumas não conformidades. Findo isto, o plano HACCP foi revisto
e atualizado, sendo que na secção dos vinhos foram analisados dois Pontos Críticos de Controlo.
Assim, com a implementação de um SGSA a Frutivinhos pretende demonstrar a sua aptidão
para produzir e comercializar produtos alimentares seguros, que vão de encontro das exigências da
legislação nacional e conseguinte dos consumidores, sendo este um processo de melhoria continua.
Palavras-Chave: HACCP, Segurança Alimentar, Vinhos, Hortofrutícolas, SGSA, PCC´s
vii
ABSTRACT
Today, the implementation of a Food Safety Management System is an indispensable procedure
in various agrifood industries in order to ensure the production of safe and suitable food for human
consumption. Likewise, these systems increase productivity and competitiveness between companies
and also consumer confidence in their products.
This project aims to revise a HACCP system in FRUTIVINHOS – Cooperativa Agricola de V.N. de
Famalicão, CRL, a wine production company that also covers the transformation, conservation and sale
of agricultural products from over 800 associated of the region . The Cooperative’s purposes are the
progress and improvement of agriculture in general and the holdings of members in particular,
cooperation and mutual help between members and the development of the cooperative sector in
Portugal.
For the development of this thesis, a diagnosis analysis was first conduct in order to determine
whether there was an HACCP plan in the company, and/or the extent to which its implementation was
being fulfilled. After this stage, the degree of fulfillment of some prerequisites was analyzed, which has
shown the existence of some non-conformities. Finally, the HACCP plan was revised and updated. In the
wines section two Critical Control Points were analyzed.
With the implementation of a Food Safety Management System, Frutivinhos intends to
demonstrate its ability to produce and market safe food products, meeting consumer demands, being
this a continuous improvement process.
KEYWORDS: HACCP, Food Safety, wine, horticultural, FSMS, CCP’s
ix
ÍNDICE
Agradecimentos .................................................................................................................................. iii
Resumo............................................................................................................................................... v
Abstract............................................................................................................................................. vii
Lista de Figuras ................................................................................................................................ xiii
Lista de Tabelas ................................................................................................................................ xv
Lista de Abreviaturas, Siglas e Acrónimos ......................................................................................... xvii
1. Introdução .................................................................................................................................. 1
1.1 Estrutura da Dissertação ..................................................................................................... 1
1.2 Objetivos ............................................................................................................................. 1
1.3 Caracterização da Empresa ................................................................................................. 1
1.3.2 Capacidade Organizacional .......................................................................................... 3
1.3.3 Instalações equipamentos e capacidade tecnológica .................................................... 5
1.3.4 Marcas e produtos comercializados ........................................................................... 11
1.3.5 Situação e perspetivas da empresa em Segurança Alimentar ..................................... 13
2. Revisão Bibliográfica ................................................................................................................. 15
2.1 Segurança de Alimentos e o enquadramento legal ............................................................. 42
2.2 O sistema HACCP ............................................................................................................. 44
2.2.1 Pré-requisitos ............................................................................................................ 44
2.2.2 Classificação dos perigos ........................................................................................... 45
2.2.3 Os princípios do HACCP e as suas etapas .................................................................. 49
2.3 O Vinho ............................................................................................................................. 15
2.3.1 Primeiras evidências em Portugal .............................................................................. 15
2.4 O Vinho Verde ................................................................................................................... 18
2.4.1 A região Demarcada dos Vinhos Verdes ..................................................................... 18
2.4.2 A certificação do Vinho Verde ..................................................................................... 21
2.4.3 Declaração de Colheita e Produção ............................................................................ 22
2.4.4 Castas ....................................................................................................................... 23
2.5 Tecnologia de vinificação ................................................................................................... 24
x
2.5.1 Colheita receção e transporte da uva ......................................................................... 24
2.5.2 Operações Pré fermentativas ..................................................................................... 25
2.5.3 Fermentação Alcoólica ............................................................................................... 26
2.5.4 Fermentação malolática ............................................................................................. 27
2.5.5 Engarrafamento e engarrafonamento ......................................................................... 27
2.6 Microflora dos vinhos ........................................................................................................ 28
2.6.1 Doenças e contaminações microbiológicas dos Vinhos ............................................... 28
2.6.2 Fungos e Micotoxinas ................................................................................................ 30
2.7 Produtos hortofrutícolas .................................................................................................... 31
2.7.1 Fatores que influenciam a qualidade dos Hortofrutícolas ............................................ 31
2.7.2 Boas práticas na cadeia pós-colheita dos hortofrutícolas ............................................. 33
2.7.3 Microflora das frutas e legumes ................................................................................. 41
3. Metodologia .............................................................................................................................. 59
3.1 Etapas preliminares à análise de perigos ........................................................................... 59
3.2 Análise de perigos ............................................................................................................. 59
3.3 Estabelecimento do plano HACCP ..................................................................................... 60
4. Resultados e Discussão dos resultados ..................................................................................... 61
4.1 Programa de Pré-requisitos ............................................................................................... 61
4.1.1 Edifícios, infraestruturas e layout ................................................................................ 61
4.1.2 Controlo de pragas .................................................................................................... 62
4.1.3 Controlo de resíduos e subprodutos ........................................................................... 63
4.1.4 Abastecimento de água ............................................................................................. 63
4.1.5 Programa de limpeza e desinfeção ............................................................................. 63
4.1.6 Saúde e higiene pessoal ............................................................................................ 64
4.1.7 Controlo da receção de matérias-primas .................................................................... 65
4.1.8 Equipamentos ........................................................................................................... 65
4.2 Etapas preliminares à Análise dos Perigos – Secção dos Vinhos ......................................... 65
4.2.1 Formação da Equipa HACCP ..................................................................................... 65
4.2.2 Características do produto ......................................................................................... 66
4.2.3 Utilização Prevista ..................................................................................................... 66
xi
4.2.4 Construção do Fluxograma e verificação in loco. ........................................................ 66
4.2.5 Análise de Risco ........................................................................................................ 71
4.2.6 Estabelecimento dos limites críticos para os PCC´s, do sistema de monitorização e das
ações corretivas ........................................................................................................................ 85
4.2.7 Implementação de um sistema de verificação do funcionamento do plano HACCP ..... 86
4.2.8 Arquivo da documentação e registos relativos ao HACCP ........................................... 86
4.3 Etapas preliminares à Análise dos Perigos – Secção dos hortofrutícolas ............................. 89
4.3.1 Formação da Equipa HACCP ..................................................................................... 89
4.3.2 Características do produto ......................................................................................... 89
4.3.3 Utilização Prevista ..................................................................................................... 89
4.3.4 Construção do Fluxograma e verificação in loco. ........................................................ 89
4.3.5 Análise de Risco ........................................................................................................ 91
4.3.6 Implementação de um sistema de verificação do funcionamento do plano HACCP ..... 99
4.3.7 Arquivo da documentação e registos relativos ao HACCP ........................................... 99
Bibliografia ............................................................................................................................. 103
Anexos ........................................................................................................................................... 107
xiii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 - Organigrama da Frutivinhos. ............................................................................................ 5
Figura 1.2 - Planta das instalações da Frutivinhos - Adega ................................................................... 8
Figura 1.3 - Planta da Frutivinhos – Secção Hortofrutícola ................................................................. 10
Figura 2.1 - Denominações de Origem em Portugal (Instituto da Vinha e do Vinho). ........................... 17
Figura 2.2 - Região Demarcada dos Vinhos verdes e respetivas Sub-regiões (CVRVV, 2002). .............. 19
Figura 2.3 - Variação do número de produtores de Vinho Verde ao longo dos últimos 20 anos (Instituto
da Vinha e do Vinho)......................................................................................................................... 20
Figura 2.4 - Selo de Garantia do Vinho Verde (CVRVV, 2002). ............................................................ 22
Figura 2.5 - Etapas pós-colheita de produtos hortofrutícolas .............................................................. 33
Figura 2.6 - Esquema de diferenciação entre Pré-Requisitos e HACCP (Venâncio, 2013) .................... 45
Figura 2.7 - Árvore de decisão segundo o Códex Alimentarius (CCA, 2003). ...................................... 55
Figura 4.1 - Fluxograma da produção do Vinho Branco Adega. .......................................................... 67
Figura 4.2 - Fluxograma da Produção de Vinho Branco D. Sancho I. .................................................. 68
Figura 4.3 - Fluxograma da Produção de Vinho Rosé Adega. .............................................................. 69
Figura 4.4 - Fluxograma do processo de Engarrafamento/engarrafonamento dos diversos vinhos da
Cooperativa. ..................................................................................................................................... 70
Figura 4.5 – Fluxograma do processamento de Hortofrutícolas. ......................................................... 90
xv
LISTA DE TABELAS
Tabela 1.1 - Evolução das uvas entregues nos últimos 4 anos ............................................................. 2
Tabela 1.2 - Quantidades de produtos hortofrutícolas entregues nos últimos 4 anos ............................ 3
Tabela 1.3 - Listagem das cubas da adega .......................................................................................... 7
Tabela 1.4 - Produtos hortofrutícolas comercializados no ano de 2014 .............................................. 12
Tabela 2.1- Evolução da Produção Apta a Vinho com Denominação de Origem Protegida (DOP) por Região
Vitivinícola em Volume (Hl) (Instituto da Vinha e do Vinho) ................................................................. 21
Tabela 2.2 - Castas mais usadas na produção de Vinho Verde .......................................................... 23
Tabela 2.3 - Principais fatores que influenciam a qualidade de um produto hortofrutícola .................. 32
Tabela 2.4 - Condições de armazenamento para alguns frutos (Almeida, 2005) (Silva, 2000) (Pinto,
2000) ............................................................................................................................................... 37
Tabela 2.5 - Condições de armazenamento para alguns Hortícolas (Almeida, 2005) (Silva, 2000) (Pinto,
2000) ............................................................................................................................................... 38
Tabela 2.6 - Produtos compatíveis de serem armazenados na mesma câmara (Almeida, 2005; Silva,
2000; Pinto, 2000) ........................................................................................................................... 40
Tabela 2.7 - Exemplo de perigos físicos (Eurisko, 2011) .................................................................... 46
Tabela 2.8 - Exemplos de perigos biológicos (Eurisko, 2011) ............................................................. 47
Tabela 2.9 - Exemplo de perigos químicos (Eurisko, 2011) ................................................................ 49
Tabela 2.10 - Matriz de Risco............................................................................................................ 54
Tabela 4.1 - Níveis de aceitação para os perigos mais relevantes ...................................................... 72
Tabela 4.2 - Listagem dos potenciais perigos associados a cada etapa do processo, análise de risco,
determinação e seleção das medidas de controlo .............................................................................. 75
Tabela 4.3 - Limites críticos, medidas de monotorização e ações corretivas para os PCC's do Vinho .. 88
Tabela 4.4 - Limites críticos para os perigos mais relevantes - Secção Hortofrutícola .......................... 92
Tabela 4.5 - Listagem dos potenciais perigos associados a cada etapa do processo, análise de risco,
determinação e seleção das medidas de controlo .............................................................................. 94
xvii
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS
ASAE - Agência de Segurança Alimentar e Económica
APSA – Agência Portuguesa para a Segurança Alimentar
BPA – Boas Práticas Agrícolas
BPF – Boas Práticas de Fabrico
BPH – Boas Práticas de Higiene
CCA – Comissão do Códex Alimentarius
CVRVV - Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes
DCP – Declaração de Colheita e Produção
DO – Denominação de Origem
DOC – Denominação de Origem Controlada
FDA - Food and Drugs Administration
FIFO – First in First out
HACCP - Hazard Analysis and Critical Control Point
IARC - International Agency for Research on Cancer
ICMSF - Comissão Internacional para Especificações Microbiológicas em Alimentos
IG – Indicação Geográfica
OIV – Organisation Internationale de la Vigne et du Vin
OTA – Ocratoxina A
PPC – Ponto Critico de Controlo
PPR – Programa de Pré-Requisitos
SGSA – Sistema de Gestão de Segurança Alimentar
VQPRD - Vinho de Qualidade Produzido em Região Demarcada
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
1
1. INTRODUÇÃO
1.1 Estrutura da Dissertação
A presente dissertação está dividida em quatro capítulos principais. O Capitulo 1 consiste
na apresentação da empresa onde o projeto foi realizado, bem como na apresentação dos seus
objetivos. A revisão bibliográfica onde são apresentados os fundamentos teóricos mais relevantes
corresponde a todo o Capitulo 2. A metodologia utilizada para a realização deste trabalho está
descrita no Capitulo 3. Por fim, no Capitulo 4 estão apresentados os resultados bem como a sua
discussão, demonstrando a situação atual da empresa e as medidas que terá de adotar de modo
a cumprir os requisitos do sistema HACCP (Hazard analysis and critical control points).
1.2 Objetivos
O presente projeto visa a revisão do sistema HACCP na empresa FRUTIVINHOS -
Cooperativa Agrícola de V. N. Famalicão, C.R.L., empresa esta que abrange a produção de vinho
branco e vinho rosé, bem como a transformação, conservação e venda de produtos agrícolas
provenientes dos associados da região. São fins da Cooperativa, o progresso e aperfeiçoamento
da agricultura em geral e das explorações dos cooperadores em particular, a cooperação e entre
ajuda destes e a participação no desenvolvimento do sector cooperativo.
Além da implementação do sistema HACCP, ou apenas revisão e melhoria do sistema,
possivelmente irá ser feita à certificação do mesmo, pela ISO 22000:2005, que especifica
requisitos para um Sistema de Gestão de Segurança Alimentar.
1.3 Caracterização da Empresa
1.3.1 Dinâmica Associativa e perfil dos cooperadores
A Cooperativa representa os interesses de cerca de 900 associados, mas ao longos dos
últimos anos têm vindo a diminuir os que trabalham efetivamente com a cooperativa. No ano de
2014 a Frutivinhos contou com apenas 34 sócios viticultores a entregar a sua produção de uvas
brancas e tintas, e 17 e trabalhar com a secção hortofrutícola. Na Tabela 1.1 e Tabela 1.2 pode-
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
2
se verificar a variação das quantidades de uvas e hortofrutícolas entregues nos últimos exercícios,
respetivamente.
Tabela 1.1 - Evolução das uvas entregues nos últimos 4 anos
Ano
Uvas Brancas
(Ton)
Uvas Tintas
(Ton)
Nº
Cooperadores
Total
(Ton)
2011 385 76 52 461
2012 104 33 36 138
2013 137 37 34 175
2014 281 22 34 303
Apesar de se verificar um aumento de 128 toneladas de uvas entregues em 2014 em
relação a 2013, a verdade é que mais de 225 toneladas foram entregues por 10 parceiros não
sócios da cooperativa através de uma parceria que se criou com outra empresa da área vitivinícola.
Apenas 78 toneladas foram entregues pelos sócios da Frutivinhos, significando assim um
decréscimo de 44 % em relação ao ano de 2013. Para este facto muito contribui o perfil dos
cooperadores que, em geral, são pequenos produtores, com idade já muito avançada (56 % com
mais de 70 anos) e que têm na cultura da vinha, apenas uma atividade secundária. Na colheita
de 2014, cada produtor entregou em média apenas 3,25 toneladas de uvas, sendo que cerca de
80% dos produtores têm áreas de vinha inferiores a 2 hectares. É importante ter presente que as
explorações com maior dimensão são em geral, geridas de forma mais criteriosa, exibindo
normalmente, uma superior qualidade nas suas uvas e que fatores como o preço pago à produção
condicionam a manutenção ou não do futuro destes produtores com a cooperativa.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
3
Tabela 1.2 - Quantidades de produtos hortofrutícolas entregues nos últimos 4 anos
A região de enquadramento da Frutivinhos é propícia para a produção de várias frutas,
destacando-se a maça e o kiwi, sendo estes posteriormente escoados pela cooperativa. No
entanto, as parcerias existentes não garantem o escoamento das frutas devido a dois fatores
essenciais: por um lado, a ausência de escala de produção, que não facilita a negociação de
preços e colocação no mercado; por outro lado, a fruta entregue apresenta uma baixa qualidade
e calibres pequenos. Além disto, alguns produtores produzem o que querem, e não o que o
mercado procura, o que leva a que não haja a procura dos seus produtos, e outros entregam o
que tem valor comercial a outras entidades, sendo que o refugo, entregam nas Cooperativas,
levando em ambos os casos à sua desvalorização. Devido a este conjunto de fatores, tem-se
assistido à quebra das quantidades de produtos recebidas, como se verifica na Tabela 1.2
1.3.2 Capacidade Organizacional
A estrutura orgânica e funcional da cooperativa, como se pode observar na Figura 2.1,
integra três órgãos centrais: a Assembleia Geral, a Direção e o Conselho Fiscal, sendo os seus
titulares eleitos trienalmente de entre os Cooperadores. O primeiro é composto por todos os
membros da Cooperativa no pleno gozo do seu direito. Reúne-se duas vezes por ano e tem como
principais competências apreciar e votar o relatório de contas, apreciar e votar o orçamento e
plano de atividades, eleger e destituir os membros dos órgãos sociais e alterar e aprovar os
estatutos e regulamentos internos. Já a Direção é composta por três membros efetivos que
representam a Cooperativa. Estes elaboram anualmente o balanço e relatório de contas e proposta
de distribuição de resultados, bem como orçamentos e plano de atividades procedendo à sua
execução. Por fim o conselho fiscal é igualmente composto por três membros que têm como
Ano Frutas (Ton) Hortícolas (Ton) Nº
Cooperadores
Total
(Ton)
2011 66 86 39 152
2012 85 253 47 338
2013 6 37 25 43
2014 20 3 17 24
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
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principais competências examinar, sempre que conveniente a escrita de toda a documentação da
Cooperativa, bem como verificar se os atos da Direção estão de harmonia com a Lei e estatutos
existentes.
Dadas as dificuldades que a Cooperativa atravessa neste momento, e face ao reduzido
volume de vendas e serviços prestados, foi necessário reduzir o pessoal efetivo, para apenas três
elementos: uma escriturária que trata de toda a parte administrativa da empresa, uma técnica que
trata de todo o processo de receção e expedição de produtos, bem como de pequenas
manutenções e uma Engenheira Agrícola, em qual assentavam as funções de Gestão da Qualidade
e Segurança Alimentar, bem como administração. No entanto esta Engenheira recentemente
abraçou um novo projeto, não possuindo a Frutivinhos ninguém com qualificações para assumir
a pasta da Segurança e Higiene Alimentar, bem como da Qualidade. Em épocas de maior atividade
como setembro e outubro, a empresa subcontrata trabalhadores em regime de prestação de
serviços, entre eles um enólogo responsável por todos os procedimentos enológicos e de
vinificação. Os serviços de Segurança Higiene e Saúde no Trabalho são subcontratados igualmente
a outra empresa especializada na área.
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ASSEMBLEIA GERALÓrgão Deleberativo
CONSELHO FISCALÓrgão Fiscalizador
DIREÇÃOÓrgão Executivo
DIREÇÃO GERAL
ASSESSORIA
VINHOS
HORTOFRUTÍCOLAS
APOIO
ADMINISTRATIVO
RECURSOS HUMANOS
COMPRAS
MANUTENÇÃO
GESTÃO DA QUALIDADE E SEGURANÇA ALIMENTAR
ARMAZÉNS
RECEÇÃO
EXPEDIÇÃO
PRODUÇÃO
Figura 1.1 - Organigrama da Frutivinhos.
1.3.3 Instalações equipamentos e capacidade tecnológica
A Frutivinhos dispõe de instalações modernas e amplas que garantem capacidade para a
prossecução das suas atividades. Revelando-se em alguns momentos excessivas, as atuais
instalações localizam-se à face da E.N. 14, e dispõem de espaço de carga e descarga condizente
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
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com as suas necessidades. A unidade industrial funciona no edifício sede, ocupando cerca de
4500 m2 de área coberta, num terreno atualmente com cerca de 8000 m2.
Apesar dos esforços em manter as instalações atuais e operacionais, existem alguns
constrangimentos ao nível da utilização dos espaços de armazenamento em frio, devido em grande
parte à sua dimensão (câmaras frigorificas de elevada dimensão). Recentemente, e de forma a
adaptar os recursos às necessidades atuais, algumas câmaras foram remodeladas e construíram-
se câmaras mais pequenas, criando assim espaços mais estanques, adequados aos atuais
volumes de hortofrutícolas recebidos e simultaneamente possibilitando a exploração dos mesmos
em regime de aluguer. Fez-se também uma alteração à tecnologia de gás utilizada para o frio,
devido às alterações legislativas que ocorreram.
Relativamente à secção vitivinícola, a adega apresenta excelentes condições para o
processo de vinificação, desde a receção da uva à sua transformação em vinho, fruto de
investimentos que se fizera na adega recentemente. Contudo, a capacidade da adega é excessiva
face ao volume de entregas de uva pelos associados nos últimos anos, pelo que existe a
possibilidade de as instalações poderem ser utilizadas por engarrafadores particulares em regime
de prestação de serviços. Para se ter uma ideia, a adega possui atualmente uma capacidade de
produção e armazenamento de vinho de cerca de 1,7 milhões de litros como se pode ver na Tabela
1.3, onde só cerca de 18 % (303.000 litros) foi ocupada com a produção da Cooperativa em 2014.
A capacidade da adega está distribuída por 86 cubas de inox de diferentes volumes, sendo que as
cubas de fermentação têm canais de arrefecimento que permitem controlar a temperatura da
fermentação e que se regula a partir de um painel central automatizado. É de referir ainda que
uma das cubas de 50.000 litros serve de depósito de água da Cooperativa.
A adega (Figura 1.2) é constituída por 9 zonas fundamentais, sendo as duas primeiras
externas à área coberta e as restantes no interior das instalações. Na zona 1 tem-se a balança e
a cabine de recolha de amostras e na zona 2 encontram-se os tegões. Já na parte interior temos
a zona de prensagem (3), a zona de fermentação de tintos e brancos (4 e 5), zona de
armazenamento (6), zona de enchimento (7), armazém de produto acabado (8) e laboratório de
análises (10). Ainda na Figura 1.2 temos assinalado a zona 9 que é o armazém de produtos
subsidiários e enológicos, e a zona 11 que é a zona de escritórios.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
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Tabela 1.3 - Listagem das cubas da adega
Cuba
Fim essencial Materia
l Capacidad
e (L) Cuba
Fim essencial
Material Capacidade
(L)
1
Fermentação
INOX
20 000 44 DEC.
MOSTOS
INOX
25 000
2 20 000 45
Conservação
25 000 3 20 000 46 25 000 4 20 000 47 25 000 5 20 000 48 25 000 6 20 000 49 10 000 7 20 000 50 10 000 8 20 000 51 10 000 9 20 000 52 15 000
10 20 000 53 15 000 11 15 000 54 15 000 12 15 000 55 15 000 13 15 000 56 25 000 14 15 000 57 25 000 15 15 000 58 25 000 16 15 000 59 25 000 17 15 000 60 50 000 18 15 000 61 50 000 19 15 000 62 50 000
20 15 000 63 50 000 21 15 000 64 50 000 22 15 000 65 50 000 23 15 000 66 DEP. ÁGUA 50 000 24 15 000 67
Conservação
50 000 25 15 000 68 50 000 26 15 000 69 50 000 27 15 000 70 50 000 28 15 000 71 50 000 29 15 000 A 2 500
30 15 000 B 5 000 31
Fermentação Tintos
25 000 C 5 000 32 25 000 D 5 000 33 25 000 E 5 000 34 25 000 F 10 000 35 25 000 G
Gaseificação 4 000
36 25 000 H 4 000 37 25 000 I
Estabilização INOX 10 000
38 25 000 J 10 000 39 15 000 L 20 000 41
Dec. Mostos 5 000 M Conservação
de Mostos
FIBRA 1 250
42 5 000 N 1 250 43 25 000 O PVC 1 000
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
8
Figura 1.2 - Planta das instalações da Frutivinhos - Adega
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9
Quanto à secção dos hortofrutícolas, as instalações da Frutivinhos (Figura 1.3) ao longo dos
últimos anos têm-se vindo a adaptar às reais necessidades da empresa. Dessa forma, em 2012, uma
das câmaras frigoríficas existentes, foi transformada em duas de menores dimensões (14 e 15), e
equipada de acordo com os mais recentes requisitos no que diz respeito à higiene e segurança alimentar,
bem como legislação existente. Assim, atualmente a Cooperativa conta com uma zona de receção dos
hortofrutícolas (12), zona de armazenamento e conservação (14 e 15), zona de escolha, calibragem e
embalamento (13), e armazém de materiais e embalagens (16). Apenas estas 5 zonas estão afetas à
atual atividade empresa, estando os restantes espaços alugados a restantes entidades privadas em
regime de prestação de serviços. Assim tem-se um armazém que em tempos foi utilizado para
armazenamento de kiwi (17), mas que de momento, face à reduzida quantidade que a cooperativa recebe
anualmente desta produção, está vazio. Os armazéns 18 e 21 estão a ser utilizados por um parceiro
privado e a câmara 20 serve de armazém à Frutivinhos para materiais e equipamentos que neste
momento ou estão avariados e ou já não são usados, como prensas antigas, barris de madeira, caixas
de plástico, garrafões de vidro entre outros. Por fim, existe ainda uma zona de lavagem (22), que serve
para lavar e higienizar todos os materiais usados tanto na zona da adega (garrafões, forquilhas, baldes…),
como os utilizados na secção hortofrutícola, como caixas de plástico, paloxes, facas, tesouras entre
outros.
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10
Figura 1.3 - Planta da Frutivinhos – Secção Hortofrutícola
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11
1.3.4 Marcas e produtos comercializados
O ano de 2014 foi um ano bastante atribulado para a Frutivinhos, dado que em meados de abril
foi furtada a estação de frio responsável pela refrigeração das cubas de fermentação. Por este motivo, e
dado que a aquisição de um novo equipamento foi impossível, a Direção optou por não se fazer a
fermentação, produzindo-se apenas mosto amuado que foi posteriormente comercializado com outras
entidades privadas produtoras de vinho verde.
Assim, por este motivo, os únicos vinhos comercializados neste momento são ainda os restantes
de campanhas anteriores. A Cooperativa tem e à disposição dos clientes várias marcas de vinho sendo
a mais reconhecida a “D. Sancho I – Colheita Selecionada”, marca que representa o vinho verde branco
produzido na adega da Cooperativa, de melhor qualidade. Para além desta existe a marca “Adega
Cooperativa de Vila Nova de Famalicão” para a comercialização de vinho verde branco e rosé, que são
de menor qualidade mas mesmo assim com a notoriedade de um Vinho de Qualidade Produzido em
Região Demarcada (VQPRD). Ambos os vinhos referidos são comercializados em garrafas de 0,75 cl e
são da colheita de 2013. Além destas, ainda possui o “D. Sancho – I – Reserva”, sendo um vinho
produzido de igual forma ao “D. Sancho I – Colheita Selecionada”, mas que no entanto sofreu um estágio
em madeiras, o que lhe confere características um pouco diferentes dos vinhos verdes mais habituais.
Este é igualmente comercializado em garrafas de 0,75 cl e é um vinho da campanha de 2012. Por fim,
é ainda comercializado vinho em garrafão de 5 L, denominado “Frutivinhos” e vinho a granel,
representando este a maior fatia do volume de vendas da secção vitivinícola.
Em 2014 foram comercializados mais de 24 toneladas de hortofrutícolas como foi apresentado
na Tabela 1.4, podendo-se dividir em 37 tipos de produtos.
Pode-se observar que o kiwi representa cerca de 50% do total comercializado neste ano, sendo
que neste momento é uma das áreas que a Frutivinhos pretende investir e dinamizar para as seguintes
campanhas, dado também o facto de ter um parceiro que garante o escoamento de toda a produção.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
12
Tabela 1.4 - Produtos hortofrutícolas comercializados no ano de 2014
Artigo Total (Kg)
Abóbora 1232
Abóbora Chilla 457
Alface Frisada 96
Alho Francês 46
Alho Seco 34
Ameixa Branca 198
Ameixa Vermelha 141
Castanha Nacional 913
Cebola 43
Couve Coração 746
Couve-galega 77
Couve Penca 78
Diospiro Fau Fau 1
Feijão-verde 251
Fisalis 6
Kiwi Hayward 12366
Laranja 39
Limão 1156
Maçã 2589
Maçã Golden 212
Maçã Jonh Gorred 65-70 132
Maçã Reineta 10
Malagueta Sino 3
Malagueta Vermelha 13
Malagueta Vermelha-cuvettes 19
Maracujá 305
Marmelo 2424
Nabiça 77
Nozes 52
Pera 13
Pera Rocha 111
Tangerina 35
Tomate 12
Tomate Cereja 11
Tomate Cherry 33
Toranja 49
Xuxu 48
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
13
1.3.5 Situação e perspetivas da empresa em Segurança Alimentar
A Frutivinhos, desde cedo demonstrou uma elevada preocupação com a qualidade e segurança
dos seus produtos. No entanto, no momento atual, muito devido às grandes dificuldades pelas que tem
atravessado, o plano HACCP deixou de ser revisto com a frequência necessária.
Existia um plano HACCP elaborado na empresa, mas que desde 2012 não era revisto nem
atualizado, pois os recursos humanos responsáveis pela sua implementação deixaram de lá trabalhar e
os que ficaram na empresa não possuíam formação para manter o SGSA atualizado.
No último ano, com a possibilidade de a Cooperativa fazer parceria de negócios com uma
empresa de maiores dimensões, foi-lhe imposto que tivesse o sistema HACCP implementado e
atualizado. Assim, foi solicitado a elaboração deste projeto de modo a perceber o grau de implementação
deste sistema, e assim a sua melhoria e atualização.
Assim, e tendo em consideração as necessidades e objetivos futuros da empresa é
imprescindível a implementação de um SGSA, de forma a garantir a segurança dos seus produtos desde
a produção primária até ao produto final, quer na secção de vinhos como na secção de hortofrutícolas.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
15
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 O Vinho
O vinho é um produto obtido exclusivamente por fermentação alcoólica, total ou parcial, de uvas
frescas (esmagadas ou não) ou de mostos de uvas (Regulamento (CE) n.º 491/2009) e é uma parte
essencial da vida e cultura europeia, sendo a UE a maior produtora de vinhos do mundo e líder mundial
na exportação de produtos vitivinícolas.
O vinho tem um registo de datação arqueológica com mais de 7500 anos sendo que os primeiros
registos provêm do início do quinto milénio A.C. nas montanhas de Zagros no norte do Irão (Jackson,
2008).
Existem registos ainda mais antigos na China (7000 anos A.C.) de bebidas fermentadas mas
que eram obtidas a partir de arroz, mel ou frutas. A presença de resíduos de vinho é normalmente
identificada pela presença de resíduos de ácido tartárico, embora outros procedimentos para a
identificação de resíduos como taninos, por exemplo, estejam em desenvolvimento (Jackson, 2008). No
entanto fica-se sempre na dúvida se estes registos encontrados são de uvas que fermentaram
espontaneamente sem ser com o objetivo de se produzir vinho, ou se houve a clara intenção de se
proceder a uma fermentação e posterior conservação da bebida para manter as suas características
únicas. Algumas evidências mostram inequivocamente que há cerca de 5000 anos já se fazia a
vinificação intencional do sumo de uva, como representado nas gravuras dos lagares do reinado de
Udimu no Egipto. Ainda no Egipto, foram encontrados em vários túmulos jarros com resíduos de vinho,
sendo os mais antigos, encontrados no túmulo do Rei Semerkhet da 1ª Dinastia 2920-2770 A.C
(Jackson, 2008).
2.1.1 Primeiras evidências em Portugal
Embora não se tenha muita certeza, pensa-se que as primeiras vinhas foram cultivadas na
Península Ibérica (Vale do Tejo e Sado) por Tartessos em 2000 A.C.. Pensa-se igualmente que estes
habitantes estabeleciam bastantes trocas comerciais com outros povos e que o vinho era um dos
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
16
produtos que veio a servir como moeda de troca no comércio dos metais (IVV, IVV - Instituto da Vinha e
do Vinho).
Nos séculos que se seguiram e dada a quantidade de povos que foram habitando o nosso
território, novas castas, novas técnicas de cultivo e produção, novas técnicas de tanoaria, entre outros
aperfeiçoamentos foram trazidos e de certa forma moldaram aquilo que foi a produção de vinho durante
séculos na Península Ibérica (IVV, IVV - Instituto da Vinha e do Vinho).
No século XVIII, a vitivinicultura, sofreu a influência da forte personalidade do Marquês de Pombal
sendo que a região do Alto Douro e o afamado Vinho do Porto beneficiaram com uma série de medidas
protecionistas. Como consequência da fama que este vinho tinha adquirido, verificou-se um aumento da
sua procura por parte de outros países da Europa, para além da Inglaterra, o que levou a um aumento
brutal das cotações do Vinho do Porto levando assim a que alguns produtores optassem por produzir em
quantidade ao invés de apostar na qualidade dos seus vinhos, gerando assim a uma grave crise no setor.
De forma a resolve-la, Marques de Pombal criou por alvará régio de 10 de Setembro de 1756, a
Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, com o fim de disciplinar a produção e o
comércio dos vinhos da região, prevendo ainda a necessidade de se fazer, urgentemente, a demarcação
da região, o que veio a concretizar-se. Assim, segundo alguns investigadores, foi esta a primeira região
demarcada oficialmente no mundo vitivinícola (IVV, IVV - Instituto da Vinha e do Vinho).
Em 1907/1908, iniciou-se o processo de regulamentação oficial de várias outras denominações
de origem portuguesas. Para além da região produtora de Vinho do Porto e dos vinhos de mesa Douro,
demarcavam-se as regiões de produção de alguns vinhos, já então famosos, como são o caso dos vinhos
da Madeira, Moscatel de Setúbal, Carcavelos, Dão, Colares e Vinho Verde. Atualmente são reconhecidas
e protegidas em Portugal 32 Denominações de Origem1 (Figura 2.1), e 8 Indicações Geográficas2 (IVV).
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
17
Denominação de Origem 1 - nome geográfico de uma região ou de um local determinado, ou uma denominação tradicional, associada a uma origem geográfica ou não, que serve para designar ou identificar um produto vitivinícola originário de uvas provenientes dessa região ou desse local determinado e cuja qualidade ou características se devem, essencial ou exclusivamente, ao meio geográfico, incluindo os fatores naturais e humanos, e cuja vinificação e elaboração ocorrem no interior daquela área ou região geográfica delimitada” (Decreto-lei n.º 212/2004, de 23 de agosto)
Indicações Geográficas2 - Designação comunitária adotada para designar os vinhos com Indicação Geográfica aos quais é conferida proteção nos termos estabelecidos na regulamentação e que integram um registo comunitário único [Regulamento (CE) n.º 1234/2007 de 25 de maio
Figura 2.1 - Denominações de Origem em Portugal (Instituto da Vinha e do Vinho).
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18
2.2 O Vinho Verde
O Vinho Verde é sem dúvida um produto único. Além da mistura de sabores que o tornam numa
das bebidas naturais mais refrescantes, é um vinho que se caracteriza por ser leve, extremamente
aromático, medianamente alcoólico e que se destaca pela frescura sendo um dos vinhos mais
consumidos em Portugal nas épocas de grande calor. A sua oferta é muito vasta e pode ir desde Vinhos
Verdes mais tradicionais, produzidos a partir de uma seleção criteriosa de várias castas, até vinhos
monovarietais, produzidos a partir de uma única casta. Toda esta tipicidade e originalidade existente
envolta deste vinho resultam de um conjunto de fatores como as características do solo, clima, fatores
socioeconómicos, bem como das peculiaridades das castas regionais e da forma como a vinha é tratada
e cultivada (CVRVV, 2002; Oliveira J. M., 2001).
2.2.1 A região Demarcada dos Vinhos Verdes
“No vasto território do Noroeste de Portugal, um manto verde e exuberante desce das serras,
cobre os vales interiores, prolonga-se pelas planícies e estende-se até ao mar. (...) no horizonte mais
vasto da paisagem, o verde impõe-se como a marca maior da identidade de toda a região.” Manuel
Carvalho, 1997
A área de produção da Denominação de Origem do Vinho Verde é das mais antigas em Portugal,
sendo demarcada por força da Lei de 18 de setembro de 1908, sendo que compete à Comissão de
Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), entidade criada em 1926, certificar produtos, promover,
defender e controlar as DO e as Indicações Geográficas IG. Atualmente, a região dos Vinhos Verdes,
estende-se por todo o noroeste de Portugal (7000 km2), a uma altitude não superior a 700 metros na
zona mais conhecida como “Entre Douro e Minho”. As suas delimitações são definidas naturalmente a
norte pelo rio Minho, a sul pelo rio Douro e pelas serras da Freita, Arada e Montemuro, a este pelas
serras da Peneda, Gerês, Cabreira e Marão e a oeste pelo Oceano Atlântico.
Nesta vasta região, distinguem-se ainda as 9 Sub-regiões apresentadas na Figura 2.2. Esta
Subdivisão tem como base a natureza dos solos das diferentes sub-regiões, bem como as práticas
culturais, os métodos de vinificação, as castas recomendadas e as características dos vinhos produzidos.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
19
Na sub-região do Ave, onde a Frutivinhos está inserida, a vinha está plantada um pouco por toda
a bacia hidrográfica do rio Ave. É uma zona de relevo bastante irregular e de baixa altitude pelo que
resulta em amplitudes térmicas baixas e índices médios de precipitação devido aos ventos marítimos a
que fica exposta. Assim, esta sub-região é sobretudo ideal para produção de vinhos brancos, com uma
frescura viva e notas florais a citrinos, sendo que as castas Arinto e Loureiro são as mais adequadas a
este tipo de clima ameno, devido à sua maturação média. Temos ainda a casta Trajadura que por
amadurecer precocemente, é mais macia e completa na perfeição de um lote de vinho com Arinto e
Loureiro (CVRVV, 2002).
Figura 2.2 - Região Demarcada dos Vinhos verdes e respetivas Sub-regiões (CVRVV, 2002).
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
20
Falando um pouco sobre números e estatísticas, segundo dados da CVRVV, na campanha de
2014/2015, houve 18995 produtores de Vinho Verde, sendo que foi um decréscimo de cerca de 6% em
relação à campanha anterior. De referir ainda que nos últimos 10 anos o número de produtores caiu
mais de 43% como se observa na Figura 2.3.
Quanto à produção, e segundo os dados do Instituto da Vinha e do Vinho a 31 de janeiro de 2015
(Tabela 2.1), na última campanha foram produzidos mais de 3000000 hL de vinho apto a Denominação
de Origem Protegida, em Portugal. Desta produção, cerca de 600000 hL, ou seja, cerca de 20% da
produção nacional, foi de vinho apto a Vinho Verde, sendo a Região dos Vinhos Verdes, a segunda região
que mais vinho produz em Portugal, logo depois da Região demarcada do Douro. De referir ainda que
estes valores incluem os vinhos aptos a licorosos, espumantes e frisantes com DOP (IVV, IVV - Instituto
da Vinha e do Vinho).
Figura 2.3 - Variação do número de produtores de Vinho Verde ao longo dos últimos 20 anos (Instituto da Vinha e do Vinho)
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
21
Tabela 2.1- Evolução da Produção Apta a Vinho com Denominação de Origem Protegida (DOP) por Região Vitivinícola em Volume (Hl) (Instituto da Vinha e do Vinho)
Por fim, estima-se que na região dos Vinhos Verdes, sejam cultivadas mais de 21000 hectares de
vinha, onde são produzidas 47 castas. Existem ainda cerca de 600 entidades económicas que se
dedicam exclusivamente a engarrafar vinho, e são já mais de 80 os países para onde Portugal exporta
os seus vinhos. De realçar ainda o facto de em 2014 se registar pelo quinto ano consecutivo um aumento
das exportações deste produto, totalizando um volume de vendas de mais de 728 milhões de euros,
sendo o valor médio de venda de 2,55 € por litro o que significa um aumento de 7,3% em relação ao
ano transato (IVV, IVV - Instituto da Vinha e do Vinho).
2.2.2 A certificação do Vinho Verde
A certificação do Vinho Verde, como já fiz referência anteriormente, é da competência da CVRVV,
sendo um processo que numa abordagem geral compreende 4 etapas:
1) Inscrição do Operador Económico (OE) na CVRVV como engarrafador;
Região Vitivinícola 2010/11 2011/12 2012/13 2013/14 2014/15
Minho 864.977 764.667 618.242 743.626 659.887
T. Montes 15.338 15.871 13.307 12.070 11.137
Douro 1.331.976 1.052.363 1.100.360 1.215.249 1.219.054
Beiras 385.790 340.194 365.732 331.268 303.620
Beira Atlântico 85.674 84.622 73.460 71.787 69.844
Terras do Dão 237.411 193.468 227.007 195.362 168.439
Terras da Beira 41.155 42.639 44.539 42.853 44.507
Terras de Cister 21.551 19.465 20.726 21.266 20.830
Tejo 64.790 45.938 63.864 55.136 53.444
Lisboa 67.503 51.865 58.334 47.388 35.424
P. Setúbal 115.260 86.072 136.108 124.146 124.883
Alentejo 449.096 413.347 399.297 470.086 554.205
Algarve 5.439 2.770 3.240 1.668 1.903
Subtotal continente 3.300.169 2.773.086 2.758.484 3.000.636 2.963.557
Madeira 32.290 35.671 45.147 40.695 38.952
Açores 527 1.719 607 1.273 1.407
Subtotal ilhas 32.817 37.390 45.754 41.968 40.359
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22
Figura 2.4 - Selo de Garantia do Vinho Verde (CVRVV, 2002).
2) Aprovação de rotulagem com a respetiva marca;
3) Controlo do produto a certificar, nomeadamente o controle analítico e sensorial (Laboratório)
4) Atribuição dos selos de garantia.
Através do Selo de Garantia (Figura 2.4) que foi criado pelo CVRVV em 1959 para o Vinho Verde,
é garantido que o produto que estamos a adquirir é genuíno e a sua qualidade está assegurada.
O laboratório da CVRVV é um laboratório oficial desde 1926, e está acreditado segundo as normas
NP EN ISO/IEC 17025. É da competência deste laboratório analisar as amostras de vinhos e seus
derivados produzidos na Região dos Vinhos verdes, no sentido de garantir que as características
correspondem à regulamentação em vigor (CVRVV, 2002).
2.2.3 Declaração de Colheita e Produção
A declaração de colheita e produção (DCP) é o documento onde o produtor e vitivinicultor declaram
anualmente a sua produção de uvas, mosto ou vinho, permitindo-lhes assim a comercialização da sua
produção. Este documento é de apresentação obrigatória anual, devendo ser apresentado entre dias 1
de outubro e 15 de novembro, sendo que o incumprimento destes prazos pode constituir uma
contraordenação punível nos termos da Lei.
O rendimento máximo por hectare de vinha destinada à produção de vinho com Denominação de
Origem “Vinho Verde” está fixado em 13500 kg ou 15000kg para vinhas que cumpram os requisitos de
produtividade e qualidade a definir pelo concelho Geral da CVRVV. No entanto para vinhas com o registo
central vitícola (RCV) atualizado há menos de 5 anos, o rendimento máximo fixa-se nos 10666 kg, sendo
que as restantes vinhas que não se enquadrem em nenhuma das situações supracitadas têm um
rendimento máximo de 7500 kg.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
23
Existe também um coeficiente máximo de vinificação que deve ser cumprido e que é de:
75 Litros de mosto para cada 100 Kg de uvas no caso de «VINHO VERDE» e vinho regional apto à IG «Minho»;
65 Litros de mosto para cada 100 Kg de uvas no caso de vinhos da casta Alvarinho (CVRVV, 2002)
2.2.4 Castas
Dada a antiguidade da região, e pelo facto de terem apenas surgido no noroeste Ibérico, há
algumas castas que são consideradas autóctones. Este facto por um lado traduz a especificidade do
Vinho Verde, mas também contribui para a distinção das sub-regiões. Na Portaria n. º668/2010, alterada
pela Portaria n.º 949/2010, são definidas as castas aptas à produção de vinhos e produtos vitivinícolas,
com direito à D.O Vinho Verde, sendo que as castas que podem ser mencionadas com destaque na
rotulagem são as apresentadas na Tabela 2.2.
Tabela 2.2 - Castas mais usadas na produção de Vinho Verde
Castas Brancas Castas Tintas
Alvarinho Amaral
Arinto Borraçal
Avesso Espadeiro
Azal Padeiro
Loureiro Touriga-Nacional
Trajadura Vinhão
Fernão-Pires/Maria-Gomes
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24
2.3 Tecnologia de vinificação
Os processos hoje utilizados na vinificação são no geral semelhantes nas várias sub-regiões
visando assim a transmissão para o vinho de todas as potencialidades aromáticas da uva, evitando ao
mesmo tempo a extração dos compostos fenólicos.
2.3.1 Colheita receção e transporte da uva
Estas etapas são semelhantes nos diferentes tipos de vinificação (branco, rosé e tinto). A colheita
das uvas é feita manualmente, permitindo assim que o operador faça uma primeira seleção dos cachos,
separando partes do cacho que não interessam, como bagos verdes, secos ou atingidos com doenças
como o oídio ou podridão.
Posteriormente à colheita, as uvas devem ser acondicionadas de modo a chegarem em perfeito
estado de integridade ao local de vinificação. Logo que a uva é esmagada, desencadeiam-se várias
reações enzimáticas como a oxidação dos polifenois e aromas, e também fenómenos habitualmente
designados por maceração. Estas reações são indesejáveis, o que faz com que qualquer forma de
transporte que implique o esmagamento da uva antes de chegar á adega é inapropriada, pois leva ao
arranque precoce destas reações e da própria fermentação alcoólica. É assim aconselhado que,
independentemente do recipiente de transporte, a altura da uva não passe os 50 cm. Por outro lado, o
recipiente onde o transporte é feito deve ser de fácil lavagem e desinfeção, pelo que a superfície interna
deve ser lisa. Antigamente, os cestos, os canastros ou as gamelas satisfaziam na perfeição a primeira
condição, no entanto ficavam bastante aquém a nível de condições de higiene. Apareceram então os
contentares metálicos que no entanto vieram a agravar as condições de transporte, tanto mais que o
viticultor para transportar a maior quantidade possível, pisava frequentemente uma parte das uvas do
contentor. Do ponto de vista higiénico, os contentores metálicos têm bastantes vantagens, ainda mais
quando se tratam de contentores de aço inoxidável. Nos últimos anos voltou-se ao uso de pequenos
recipientes como caixas de vindima, sendo as suas dimensões variadas, podendo levar entre 20 e 200
kg de uvas. Além destas caixas, também se difundiram reboques de transporte atrelados a tratores, que
conciliam a eficiência com a qualidade de transporte, pois a altura de uvas é bastante reduzida (Delanoe,
1987).
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
25
A temperatura a que as uvas são transportadas também é um fator a ter em conta, já que as
reações enzimáticas são aceleradas quando esta aumenta. Isto leva a que sejam preferidas horas de
menor calor (de manha) para a colheita das uvas, e a que o transporte para a adega seja de igual forma
reduzido ao mínimo, de modo a evitar o aquecimento da matéria-prima.
Uma vez que as uvas chegam às adegas, é necessário determinar as características do mosto.
Para isso, são recolhidas amostras de várias zonas dos recipientes de transporte (pelo menos 3), através
de uma sonda manual ou mecânica. Tal amostra serve para a determinação do açúcar, pH, acidez total,
e por vezes da atividade da lacase, através de um aparelho específico denominado refratómetro, e que
permite a leitura direta do álcool provável.
Durante esta etapa, as uvas podem ser valorizadas tendo em conta alguns fatores, o que leva
a um aumento ou não do preço pago por quilograma de uva ao produtor. O primeiro critério é o álcool
provável, ou seja, o teor alcoólico que o vinho provavelmente irá ter após a fermentação completa dos
açúcares desse mosto. O segundo critério é o estado sanitário da uva, que apesar de pouco utilizado, é
bastante importante, e que permite medir o grau de ataque por fungos como o Botrytis cinerea. Um outro
fator de valorização é a casta, tratando-se de uma forma de incentivar, ou desincentivar o cultivo de
determinadas castas, que não são tão interessantes a nível produtivo. Hoje em dia também é possível
ter em conta a maturidade fenólica das uvas, parâmetro que tem cada vez maior importância a nível
tecnológico (Cardoso, 2008).
2.3.2 Operações Pré fermentativas
Nesta etapa, podem ocorrer várias operações dependendo do tipo de vinho que estaremos a
produzir. A primeira é o desengace que consiste na separação do engaço da uva, e que apresenta
algumas vantagens no caso da vinificação em tintos, pois leva a uma diminuição do pH do mosto,
favorecendo o processo fermentativo, bem como leva a um ligeiro aumento da cor dos vinhos, pois parte
do engaço iria absorve-la. Já na vinificação em brancos, esta operação pode-se dispensar quando é feita
a extração do mosto por prensagem da uva inteira, sendo que aqui, a maceração é pouco significativa
dado o pouco tempo que as fases liquidas e sólidas estão em contacto. Atualmente usam-se
desengaçadores mecânicos para se fazer o desengaçamento que consiste num tambor metálico
perfurado, onde no centro gira uma árvore de barras dispersas helicoidalmente, projetando a uva contra
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26
o tambor. Os bagos ao colidirem com as paredes saem pelos orifícios, sendo que o engaço é levado para
a saída do equipamento (Cardoso, 2008).
De seguida provoca-se o esmagamento da uva, que nada mais é que o rompimento da película,
libertando assim o sumo contido na polpa da uva. Isto leva a que também sejam libertadas e dispersas
leveduras endógenas e enzimas no mosto, levando assim ao arranque da fermentação alcoólica. Este
processo, que em tempos era feito com os pés, e apresentava um esmagamento suave dos bagos, foi
substituído por dois tipos de esmagadores: os centrífugos e os de rolos, sendo os últimos os mais
utilizados. Na sua conceção atual, o esmagador é colocado em baixo do tambor de desengace,
esmagando os bagos de uva que atravessam os orifícios deste (Reynier, 2006).
Dado que durante todos estes processos, as uvas estão constantemente expostas a fontes de
calor, por vezes, entram nas adegas com temperaturas a rondar os 30 °C o que é indesejável. Torna-se
assim fundamental promover o seu arrefecimento. Assim, para este fim utilizam-se permutadores de
calor tubulares, onde o mosto é arrefecido pelo contacto com o circuito de água fria.
O mosto, que apresenta vários materiais em suspensão, como restos de engaço ou terras,
necessita de sofrer um processo de clarificação, permitindo assim a obtenção de um líquido mais
transparente, livre de impurezas que podem transmitir mais sabores ao vinho depois da fermentação.
Pode ser feita uma decantação estática e a temperaturas reduzidas, onde as borras se depositam no
fundo da cuba, e onde no fim o mosto já límpido é trasfegado para uma nova cuba. Este processo faz
com que a cor do vinho se torne menos intensa e melhore algumas características organoléticas do
vinho, limitando assim a produção de álcoois superiores e ácidos gordos e aumentando a síntese de
ésteres, que são responsáveis pelo aroma frutado dos vinhos (Cardoso, 2008).
2.3.3 Fermentação Alcoólica
Depois de passar por todas as etapas abordadas anteriormente, o mosto está pronto para que
se inicie a fermentação alcoólica, que mais não é que o processo biológico da transformação dos
açucares em álcool. Este processo é desencadeado por leveduras, sendo necessário por vezes adiciona-
las para que o processo seja iniciado. É de realçar que a temperatura a que se realiza a fermentação
tem impacto na qualidade dos vinhos já fermentados. Nos vinhos brancos, a fermentação ocorre a
temperaturas na ordem dos 16-23 °C, sendo inferior à temperatura de fermentação dos vinhos tintos
que se realiza entre 23 e 30 °C. Normalmente é necessário efetuar o arrefecimento das cubas e controlar
este parâmetro, dado que regra geral, cada grau de álcool que o mosto contém, a temperatura irá
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aumentar 1ºC. Num caso em que o mosto inicie a fermentação a 20 °C, a sua temperatura poderá subir
até 30 °C sensivelmente. Existem várias formas mais ou menos sofisticadas para se poder controlar a
temperatura a que a fermentação correr, desde adegas bem frescas, até sistemas elétricos de
refrigeração ou chuveiros sobre as cubas de inox (CVRVV, 2002).
2.3.4 Fermentação malolática
A fermentação malolática, que consiste na transformação do ácido málico em ácido láctico, limita
a acidez fixa dos vinhos, e produz gás carbónico que confere o característico pico ou agulha dos vinhos
verdes. Apesar disto, esta fermentação não é muto aconselhada nos vinhos verdes brancos, pois provoca
uma diminuição dos aromas primários dos vinhos, levando a que muitos enólogos evitam a sua
ocorrência. Já nos vinhos verdes tintos, a sua utilização é encorajadas, pois nestes a qualidade depende
mais da sua complexidade do que da intensidade de aromas (CVRVV, 2002).
2.3.5 Engarrafamento e engarrafonamento
Após finalizadas as fermentações, realizam-se provas organoléticas e avaliação dos resultados
das análises de rotina, definindo-se assim lotes a efetuar de acordo com os critérios de qualidade
predefinidos para cada vinho. Estes lotes podem ser elaborados com vinhos de uma única casta, sendo
vinhos monovarietais, ou com uma junção de várias castas, de forma assim a obter lotes de
características diferentes.
Antes de se proceder ao enchimento das garrafas e garrafões, o vinho necessita de sofrer uma
estabilização tartárica e proteica de forma a prevenir a formação de tartaratos depois do vinho estar
engarrafado. Para esse fim, utiliza-se a estabilização continua em frio, que consiste em refrigerar
rapidamente o vinho, levando a uma cristalização e precipitação destes sais. Após isto, é necessário
filtrar o vinho de forma a remover os cristais que ficaram em suspensão, utilizando um filtro de terras.
O vinho é então armazenado em cubas de aço inoxidável até ser engarrafado, sendo fundamental
evitar o contacto do vinho com o oxigénio. Para se atingir esse objetivo, as cubas devem ser cheias
completamente, ou então, caso isso não seja possível, preencher o restante espaço com azoto ou dióxido
de carbono. A oxidação que possa existir no vinho desnatura os seus aromas e escurece-o. É assim
comum fazer a adição do sulfuroso nesta fase, que atua como antioxidante, antissético e como
antioxidásico.
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28
Todo este processo culmina com o engarrafamento. As garrafas numa primeira fase são
enxaguadas e depois cheias com o vinho. Após isto, dá-se a rolhagem, encapsulamento, rotulagem,
empacotamento e paletização, estando aqui o produto pronto para expedição ou venda (Cardoso, 2008)
2.4 Microflora dos vinhos
Desde a vinha até ao produto final, passando pela fermentação, armazenamento e/ou
envelhecimento, são vários os microrganismos que influenciam a produção do vinho.
A microflora das uvas é constituída na sua maioria por leveduras, sendo que também são
encontradas várias espécies de bactérias lácteas e acéticas bem como alguns fungos filamentosos. O
solo, a videira ou outras plantas vizinhas são as principais fontes de contaminação, sendo os insetos os
principais vetores de transporte das leveduras. No entanto, não só das uvas se reflete toda a microflora
presente no vinho. Os métodos de colheita e de transporte, bem como as superfícies e equipamentos
utilizados na vinificação contribuem para a sua diversidade.
Durante o processo de maturação das uvas, as comunidades microbianas vão sofrendo algumas
alterações. Numa fase inicial, os géneros mais comuns são as Rhodotorula, Candida e Cryptococcus,
espécies que à medida que a uva amadurece e a quantidade de açúcares aumenta, vão sendo
substituídas, sendo que na uva madura, encontram-se predominantemente Hanseniaspora e
Metshinikowia. Quando a uva se encontra danificada, existe uma maior disponibilidade de nutrientes, o
que leva ao desenvolvimento de Candida e de Sacharomyces (Cardoso, 2008) (Campos, 2011).
No que respeita aos equipamentos das adegas que entram em contacto com o mosto ou com o
vinho, desenvolvem-se principalmente Saccharomyces cerevisiae, podendo ser encontradas outras
leveduras como Candida, Pichia e Cryptococcus sp. (Cardoso, 2008)
2.4.1 Doenças e contaminações microbiológicas dos Vinhos
A flor
A flor é uma doença que se caracteriza pelo aparecimento de um véu esbranquiçado na
superfície de vinhos expostos ao ar. Isto deve-se a uma sulfitagem insuficiente dos vinhos, o que leva ao
desenvolvimento de leveduras da espécie Candida vini, que não sendo uma levedura fermentativa, utiliza
o etanol como fonte de carbono. O aroma dos vinhos com esta doença é afetado devido à formação do
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29
composto etanal, podendo-se evitar o surgimento desta através dos atestos regular das cubas e vasilhas
e com uma correta e eficiente sulfitagem (Cardoso, 2008).
Contaminação por leveduras
A contaminação mais perigosa dos vinhos por uma levedura é devido à espécie Sacharomycodes
ludwigii. Possui uma forma apiculada com extremidades alongadas, muito semelhante a um limão. É
bastante resistente a elevados teores de SO2 livre, sendo que a contaminação ocorre geralmente a partir
de mostos amuados. Esta contaminação torna-se visível quando se formam colónias de leveduras de cor
acastanhada em vinhos engarrafados. Se se inclinar a garrafa, observa-se um depósito que cai
lentamente para o gargalo. De modo a prevenir esta contaminação, deve-se efetuar uma correta
desinfeção dos depósitos de alimentação da linha de engarrafamento, dos filtros e da enchedora
(Cardoso, 2008).
Bactérias acéticas e azedia
Estas bactérias têm a capacidade de oxidar o etanol a ácido acético. As espécies mais
encontradas são as Gluconobacter oxydans, a Acetobacter pasteurianus e A. Aceti, e a sua presença nas
uvas é devido ao seu mau estado sanitário, e em especial ao grau de infeção com o fungo Botrytis
cinerea. Como são microrganismos aeróbicos, durante a fermentação, o número de células viáveis tende
a diminuir. No entanto as trasfegas que se fazem após a fermentação aumentam os teores de oxigénio
no vinho, levando ao aumento temporário destas bactérias. Como forma de prevenir o surgimento deste
tipo de contaminação, recomenda-se que a concentração de SO2 molecular esteja ordem dos 0,7 a 1
mg/L, assim como a manutenção das adegas frescas (10-15 °C).
A “gordura dos vinhos”
Por vezes, nos vinhos que apresentem um pH elevado, acontece um fenómeno estranho, em
que ao se verter uma garrafa de vinho para um copo, este parece espesso e verte parecendo azeite,
dando a sensação que o vinho está gorduroso. Este problema não afeta as qualidades organoléticas do
vinho, nem a cor e o aroma são afetados. Após alguns estudos chegou-se a conclusão que as bactérias
responsáveis pelo surgimento desta “gordura” eram da espécie Pediococcus damnosus, que possui a
capacidade de sintetizar um polissacarídeo constituído de glucose. A forma recomendada de tratar esta
doença é fazer uma sulfitação seguida de arejamento e uma forte agitação (Cardoso, 2008) (Serra,
2005).
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30
2.4.2 Fungos e Micotoxinas
As micotoxinas, que ocorrem naturalmente como contaminantes de produtos agrícolas, são
metabolitos secundários tóxicos produzidos por fungos filamentosos. Na análise a uvas podres ou mostos
produzidos a partir de uvas em mau estado sanitário, pode-se encontrar principalmente dois tipos de
toxinas, a patulina e a ocratoxina A (OTA). A patulina, que foi a primeira a ser detetada em mostos, é
destruída durante a fermentação alcoólica, por isso a sua ocorrência não é provável, em bebidas que
sejam fermentadas. No que diz respeito à OTA, que foi descoberta na década de 90, despertou uma
atenção crescente por parte dos comités e organizações alimentares. Esta toxina que pode ser produzida
por várias espécies de fungos pertencentes aos géneros Penicillium e Aspergillus, apresenta
propriedades carcinogénicas, sendo classificada como um possível carcinogénico humano pela
International Agency for Research on Cancer (IARC). (Serra, 2005) A nível europeu, estima-se que o vinho
seja a segunda maior fonte de ingestão de OTA logo após os cereais (Pereira, 2008), sendo que a
Comissão Europeia definiu um limite máximo de 2 µg/L em vinhos, de forma a proteger os consumidores
(CCE, 2005).
A OTA, presente nas uvas, e cuja produção depende de fatores como condições climatéricas,
das variedades de uvas e área geográfica, é transferida para o vinho durante o processo de produção.
No entanto verifica-se que os níveis da toxina diminuem com o decorrer do processo, devido à adsorção
das micotoxinas aos produtos sólidos que se encontram em suspensão no vinho. De notar ainda que nos
vinhos tintos a concentração de OTA, é ligeiramente superior que nos vinhos brancos, isto devido ao
facto de nos vinhos brancos, geralmente se efetuar a separação do bagaço das uvas, o que leva a uma
reduzida contaminação do mosto e consequentemente do produto final. Assim, é essencial a
implementação de Boas Práticas Agrícolas, e de estratégias pré e pós colheita de modo a prevenir ao
máximo o aparecimento desta micotoxina nos vinhos, e assim reduzir os seus possíveis efeitos tóxicos
(Fernandes, 2007).
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31
2.5 Produtos hortofrutícolas
No mercado dos hortofrutícolas, a concorrência que se observa entre os produtos vindos de
países estrangeiros é cada vez mais intensa, sendo que a balança comercial é bastante desfavorável a
Portugal. No entanto existe um conjunto de fatores que podem dar vantagem aos produtos nacionais em
relação aos produtos importados. Um deles é a distância entre a produção e o consumidor final. Por
serem produtos bastante perecíveis, é importante que os produtos cheguem o mais rapidamente possível
ao final da cadeia. Outro fator é o clima do nosso país, que é favorável à produção de muitos hortícolas,
em especial alguns que são colocados no mercado antecipadamente aos produtos importados, pois
essas colheitas nesses países ainda se encontram bastante atrasadas. Apesar de se verificarem inúmeras
vantagens, estas carecem da capacidade de os produtores nacionais colocarem produtos de qualidade
à mesa do consumidor. Não basta só produzir frutos ou hortícolas de qualidade. É igualmente necessário
manter essa qualidade durante toda a cadeia pós colheita, aplicando para isso tecnologias que permitam
manter a qualidade do produto, reduzindo as perdas e assim aumentar o raio de distribuição e até
introduzir os produtos em novos mercados (Fonseca S. C., 2000).
2.5.1 Fatores que influenciam a qualidade dos Hortofrutícolas
Pode-se dizer que a qualidade destes produtos é um conceito subjetivo na medida em que
depende do consumidor. Existem vários componentes que podem ser considerados quando falamos de
qualidade, tais como o sabor, aparência, valor nutritivo, textura e segurança. Assim, a perda da qualidade
destes produtos que possa existir, deve-se a processos fisiológicos que ocorrem naturalmente, mas
também é conjugada com eventuais danos mecânicos, ou fatores biológicos como deterioração por
microrganismos ou doença e pragas.
Os principais fatores que podem então influenciar a qualidade ao longo da cadeia estão listados
na Tabela 2.3 (Almeida, 2005).
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32
Tabela 2.3 - Principais fatores que influenciam a qualidade de um produto hortofrutícola
Fatores
Matéria-prima
Estado de maturação À colheita
Procedimentos sanitários
Temperatura
Humidade
Etileno
Luz
Embalamento
Atmosfera envolvente
Ceras
A qualidade dos produtos hortofrutícolas é avaliada logo que entra nas instalações. É analisado
o estado de conservação, bem como a apresentação das frutas e hortícolas e aspeto das embalagens.
Depois de ser pesado, é ainda atribuído um lote a cada produto, devido ao sistema de rastreabilidade
que a Frutivinhos tem implementado.
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33
2.5.2 Boas práticas na cadeia pós-colheita dos hortofrutícolas
Geralmente, pode-se dividir toda a cadeia pós-colheita dos produtos hortofrutícolas em sete
etapas distintas, que se podem observar na Figura 2.5.
Figura 2.5 - Etapas pós-colheita de produtos hortofrutícolas
Colheita
O sucesso desta etapa depende em grande parte de todo o planeamento que se faz desde as
fases inicias da produção. Fatores como a seleção das variedades a produzir, dos tipos de rega a efetuar
ou as práticas de cultivo, são determinantes para a qualidade dos produtos depois de colhidos.
Dependendo dos produtos que se estão a produzir, os critérios para se escolher a melhor altura
de colheita variam. A data da colheita varia consoante fatores como condições climatéricas, ou derivado
a fatores de mercado. Assim como não se deve efetuar a colheita em dias chuvosos, devido à maior
Colheita
Arrefecimento
Preparação
Embalamento
Armazenamento
Transporte
Comercialização
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suscetibilidade de apodrecimentos dos produtos hortofrutícolas, também não se deve colher em horas
de elevado calor, pois quanto mais baixa a temperatura a que for colhido, mais económico vai ser o seu
posterior arrefecimento. Caso o destino do produto seja próximo do local de produção, a colheita deve
então ser feita de manhã, caso o contrário aconteça, ou seja, o destino seja distante, a colheita deve ser
feita no final do dia, e o transporte efetuado durante a noite (Arter, 2004).
Pode-se assim definir um conjunto de boas práticas que devem ser seguidas de modo a garantir
as melhores condições dos produtos e assim a manter a sua qualidade:
Dar formação aos trabalhadores para a seleção, manuseamento e técnicas de apanha dos
produtos;
Colher o produto no estado ótimo de maturação;
Colher na altura do dia mais fresca;
Proteger o produto do contato direto com o sol;
Limpar do solo os produtos que foram rejeitados;
Acondicionar os produtos em caixas convenientes, e mante-las em boas condições de higiene;
Minimizar o tempo de espera para o transporte.
Arrefecimento
A refrigeração é uma das etapas mais importante para a maioria dos produtos hortícolas, devido
aos efeitos benéficos da redução da temperatura. O tempo de vida desses produtos está diretamente
relacionado com a rapidez o que este arrefecimento é efetuado. Assim, é frequente o produto ser
arrefecido ainda antes de ser colocado no mercado, podendo ser utilizadas técnicas como o
arrefecimento em câmaras por circulação natural do ar, ou com ar forçado, arrefecimento com água,
refrigeração evaporativa a vácuo ou arrefecimento com gelo. Este processo pode ser feito logo no campo,
ou já nas instalações de preparação dos produtos, dependendo de fatores como a distância entre o
campo e as instalações, do produto e do método de arrefecimento (Fonseca S. C., 2000).
De modo a cumprir as boas práticas no arrefecimento, deve-se:
Decidir a utilização de arrefecimento ou não dependendo do produto;
Escolher o método que mais se adequa ao produto em questão;
Ter com conta o método de arrefecimento ao escolher a embalagem do produto;
Reduzir o tempo de espera até se efetuar o arrefecimento;
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35
Definir o binómio temperatura/tempo para o arrefecimento.
Preparação
Até ser colocado no mercado, o produto é sujeito ao manuseamento direto durante um conjunto
de operações, entre elas, descarga, triagem, calibração, lavagem, limpeza, aplicação de ceras e outros.
Apesar de todos estes processos serem processos físicos, poderão causar respostas biológicas ou
químicas, alem das físicas nos produtos, pelo que se deve ter sempre o cuidado de minimizar os danos
que os produtos poderão ter para não comprometer a sua qualidade final. Este conjunto de operações
pode normalmente ser feito ainda no campo, ou então em instalações de associações de produtores ou
cooperativas (Silva, 2000).
A limpeza e lavagem têm como objetivo a remoção de restos de terras, pedras e sujidade que
possa existir nos produtos, podendo ser optada por uma ou outra dependendo do grau de sujidade que
os produtos apresentem. Já a aplicação de ceras serve para além de dar um melhor aspeto aos produtos,
repor as camadas de cera naturais que foram perdidas durante as lavagens e limpezas, minimizando
também as perdas de água.
Normalmente o mercado valoriza um determinado produto dependendo das suas
dimensões/peso, daí ser necessário e importante um processo de calibração, manual ou mecânica, de
forma a separar os produtos por peso ou por tamanho. Caso a calibração seja feita manualmente, é
necessário que os operários tenham formação a nível da seleção dos produtos bem como no seu
manuseamento e acondicionamento (Silva, 2000; Fonseca S. C., 2000).
Assim, durante a fase de preparação do produto deve-se:
Descarregar o produto com o maior cuidado possível;
Rejeitar o produto que não apresente condições mínimas para ser colocado no mercado;
Remover o resto de sujidade de insetos e de plantas;
Manter os equipamentos e instalações em boas condições higiénicas;
Evitar quedas, pontos de concentração e esquinas na linha de preparação.
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Embalamento
O embalamento final do produto pode ser feito no fim de linha de preparação, ou, caso seja para
entrega imediata na loja, ser feito ainda no campo.
Existem essencialmente dois tipos de embalagens, as primárias e as secundárias. As primárias
são as que estão em contacto direto com o produto e normalmente já contêm as quantidades adequadas
para o consumidor. Isto evita assim pesagens no local de venda, evitando o manuseamento dos produtos
pelo consumidor ou operador, diminuindo os danos e as perdas. Ainda é possível a criação e manutenção
de atmosferas modificadas de modo a prolongar o tempo de prateleira dos produtos. As embalagens
secundárias são as que acondicionam as primárias e servem como embalagens de transporte (Almeida,
2005).
No local onde são preparados os produtos é necessário destinar espaço para as embalagens
vazias, que esteja limpo e seco. O embalamento pode ser manual semi-automático ou automático, sendo
que o fecho destas também poderá ser manual ou automático. Assim, deve-se:
Escolher a embalagem mais adequada a cada produto;
Não deixar as embalagens excessivamente cheias;
Minimizar o número de vezes que se efetuam embalamentos entre a colheita e o consumidor
final.
Armazenamento
O armazenamento dos produtos pode ser efetuado antes ou apos a preparação dos produtos,
podendo ser efetuado sob condições atmosféricas controladas ou ambientais. Quando as condições
atmosféricas são controladas, o armazenamento é feito em câmaras, que devem ser um compartimento
fechado, bem isolado termicamente, e sem entrada de luz exterior. Condições como a humidade,
temperatura, concentrações de 02, CO2, etileno, e velocidade do ar, são os parâmetros normalmente
controlados neste tipo de equipamentos.
Como foi referido acima, o pré arrefecimento dos produtos é aconselhável ser realizado antes
de serem colocados em câmaras, pois estas têm como objetivo a manutenção de uma determinada
temperatura e não o seu arrefecimento. Apesar de a temperatura ótima de armazenamento de muitos
produtos ser na ordem dos 0 °C, deve-se ter em atenção não usar este valor pois as câmaras podem
ter algumas flutuações de temperatura, e os produtos serem congelados, o que não é aconselhado, pois
ocorrem lesões que só são visíveis quando os produtos retomam a temperaturas mais elevadas.
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37
Nas Tabela 2.4 e Tabela 2.5 pode-se verificar quais as temperaturas que mais de adequam a diferentes
produtos, bem como outros parâmetros como Humidade Relativa e concentrações de O2 e CO2 (Fonseca
S. C., 2000).
Tabela 2.4 - Condições de armazenamento para alguns frutos (Almeida, 2005) (Silva, 2000) (Pinto, 2000)
Frutos Temperatura
(°C)
Humidade Relativa
(%)
Tempo de Armazenamento
(semanas)
Concentração de O2 (%)
Concentração de CO2 (%)
Alperce -0,5 a 0 85-90 1-3
Ameixa -0,5 a 0 85-95 1 –7 1-2 0-5
Amora -0.5 a 0 85-100 2 a 3 dias
Ananás 7-13 85-90 2-4
Avelã 0 60-75 16-96
Azeitona 5-10 85-90 4-6
Banana 13 a 14 90-95 4-6 2-5 2-5
Cereja -1 a 0 85-95 2-4 0,5-2 20-25
Damasco -0,5 a 0 90-95
Dióspiro -1 a 0 90-95 12-16
Figo -1 a 0 90-95 1-2 5-10 15-20
Framboesa -0,5 a 0 90-100 2 a 3 dias
Groselha -0,5 90-95 1-4
Kiwi 0 90-95 24-32 1-2 3-5
Laranja 0-9 85-90 3-16
Limão 12 a 14 90-95
Limão 14,5 a 15,5 85-90 4-24
Maçã -1 a +4,5 90-95 4-32 1-3 1-5
Maracujá maduro
5 a 7 90-95 1
Marmelo -0,5 a 0 85-90 8-12
Melancia 10 a 15 85-90 2-3
Melão 7 90-95 2-3
Meloa 7 90-95 2-3
Mirtilo -0,5 a 0 90-95 2
Morango -0,5 a 0 85-100 5-14 dias 5-10 15-20
Nectarina -0,5 a 0 85-90 1-8 1-3 3-5
Pêra -2 a 0 90-95 8-28 1-3 0,5-2
Pêssego -0,5 a 0 85-95 2-6 1-3 3-5
Romã 5 90-95 Até 2 meses
Tangerina 0-3.5 85-90 2-4
Toranja 10-16 85-90 4-10
Uva -1 a 0 85-95 12-24
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Tabela 2.5 - Condições de armazenamento para alguns Hortícolas (Almeida, 2005) (Silva, 2000) (Pinto, 2000)
Hortícolas Temperatura
(°C)
Humidade Relativa
(%)
Tempo de Armazenamento
(semanas)
Concentração de O2 (%)
Concentração de CO2 (%)
Abóbora 10-13 70-90 8-24 Abóbora menina
10-12 75 6-12
Agrião 0-2 90-95 3-4 dias Aipo 0 90-95 12-16
Alcachofra 0 90-100 3-4 2-3 2-3 Alface 0 90-100 2-3 1-3 0 Alho 0 65-75 24-28
Alho francês 0 90-100 4-12 Batata 7-12 85-100 8-32
Batata doce 12-15,5 85-90 16-24 Beterraba 0 90-100 4-20
Brócolo 0 92-100 1-2 1-2 5-10 Cebola 0 65-75 4-32 1-2 0-10
Cenoura 0 90-100 2-3 Cogumelo 0 85-100 3-10 3-21 5-15
“Courgette” 7 95 1-2
Couve branca 0 90-95 3-6 Couve chinesa 0 90-95 4-8
Couve de Bruxelas
0 92-100 2-5 1-2 5-7
Couve de Tarde 0 90-100 4-16 Couve flor 0 90-100 2-4 2-3 3-4
Ervilha -0,5 a 0 85-100 1-3 Espargo 0-2,5 85-100 2-4 21 10-14 Espinafre 0 90-100 1-2 7-10 5-10
Feijão 4-10 85-100 1-3 Melancia 2-10 80-90 2-3
Milho 0,5 a 0 85-100 4-14 dias
Nabo 0 90-95 10-14 Pepino 7-10 85-100 10-21 1-4 10
Pimentão 7-10 85-90 2-3 Pimento 7-10 90-95 2-3 2-5 2-5
Salsa 0 90-100 4-8 8-10 8-10 Tomate maduro 4-10 85-95 3-7 3-5 3-5
Tomate verde 12-20 85-95 1-4 3-5 2-3
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Quando os produtos a armazenar são sensíveis ao etileno deve-se efetuar uma ventilação
adequada da câmara, no entanto deve-se ter em atenção que o movimento do ar pode ter um efeito
prejudicial na qualidade dos produtos, pois leva à sua perda de água, daí se usarem humidificadores de
modo a evitar esta desidratação.
Durante esta etapa, pode haver perdas devido ao controlo deficiente da temperatura e humidade
dentro das câmaras bem como os níveis de etileno, contaminações e mistura de cargas compatíveis.
Este último aspeto é bastante importante, pois os produtos podem agrupar-se por grupos no que respeita
às suas exigências de temperatura, humidade, e tolerância a etileno e odores. Na Tabela 2.6 podemos
ver alguns grupos de produtos compatíveis (Pinto, 2000).
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
40
Tabela 2.6 - Produtos compatíveis de serem armazenados na mesma câmara (Almeida, 2005; Silva, 2000; Pinto, 2000)
Temperatura / Humidade
relativa
Produtos
0-2 °C 90-95%
Ameixa Amora Cereja Coco
Cogumelo
Figo Maçã
Morango Nabo
Nectarina
Pêssego Rabanete Tangerina
Uva
Romã
0-2 °C 95-100%
Aipo Alcachofra
Alface Beterraba Brócolo
Couve-de-bruxelas Cenoura Cereja
Cogumelo Couve
Couve-flor Endívia Ervilha
Espargo Kiwi Milho
Morango Nabo
Rabanete Salsa
Tangerina Uva
7-13 °C 95%
Abacate F. verde
Maracujá Melancia
Pimento Tomate
7-13 °C 95%
F. verde Pepino
13-18 °C 85-90%
Banana Limão
Manga Tomate
Toranja Melancia
13-18 °C 85-90%
Abóbora B. doce
Batata
Assim, para que tudo ocorra de modo a obtermos produtos de boa qualidade, deve-se:
Efetuar o pré-arrefecimento dos produtos antes de os armazenar;
Efetuar uma limpeza adequada da câmara antes de se efetuar a sua carga;
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
41
Verificar de as câmaras estão bem isoladas;
Controlar periodicamente as condições de armazenamento;
Não colocar na mesma câmara produtos que não sejam compatíveis.
Transporte
Os produtos hortofrutícolas, dependendo do tamanho da cadeia, sofrem sucessivos transportes,
desde a cadeia mais curta (produtor –> local de venda), até cadeias onde existe transporte do campo
para o local de preparação e embalamento, depois para grossistas e só depois para o local de venda. O
transporte deve assegurar que o produto chegue ao local com a mesma temperatura com que entrou,
devendo assim os veículos estarem preparados para manter a sua temperatura. As embalagens também
devem ser escolhidas de forma a rentabilizar o espaço ocupado do contentor, e deve ser deixado algum
espaço entre os produtos e paredes para que haja circulação de ar. Sempre que possível, as estradas
por onde o veículo passar devem estar em boas condições, de modo a evitar danos mecânicos. Outros
fatores como a velocidade a que circula o veículo, a pressão dos pneus e um bom sistema de suspensão
também ajudam a que os danos diminuam (Silva, 2000).
2.5.3 Microflora das frutas e legumes
No que respeita às frutas frescas, estas possuem uma barreira externa que lhes confere
resistência à entrada de microrganismos, denominada de casca. No entanto, ela possui uma grande
variedade de microrganismos que advêm do ar, do solo ou insetos, principalmente bactérias gram-
negativas como Pseudomonas, Erwinia e Lactobacillus. Já nos frutos secos, devido a muitas vezes
estarem em contacto com o solo, principalmente solo resultante de compostagem ou que contém
estrume, são encontrados vários microrganismos patogénicos como Enterobacter, Shigella, Salmonella,
E.coli e até alguns vírus como o da Hepatite A e Rotavirus. Quanto aos fungos, os mais presentes nos
frutos são o Rhizopus, Aspergillus, Penicillum, Saccharomyces, Zygosaccharomyces, Candida e Pichia
sp (Almeida, 2006).
Enquanto a casca dos frutos está intacta, a presença destes microrganismos limita-se à sua
superfície. No entanto caso haja algum dano desta barreira durante as operações de colheita ou
processamento, a entrada dos microrganismos é permitida, podendo assim contaminar e deteriorar o
fruto. (Hui, 2006)
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
42
2.6 Segurança de Alimentos e o enquadramento legal
Nos seus primórdios, o ser humano de forma a sobreviver, tinha de procurar alimento e caçar de
forma a satisfazer as suas necessidades alimentares. Com a evolução, surgiu a necessidade de se
começar a produzir o próprio alimento e mais tarde a necessidade de conservar e manter uma reserva
de alimentos, levando assim a que houvesse alterações na organização social da época. Grupos
populacionais que até então eram pequenos e nómadas começaram a crescer e tornaram-se grupos
maiores, que lentamente foram adotando um estilo de vida sedentário, fixando-se num só local. Isto levou
ao surgimento dos primeiros métodos de conservação de alimentos, como a salga, a secagem e o uso
de especiarias e ervas.
Com o passar dos anos, e com o forte crescimento tanto da população, bem como das
necessidades alimentares, surgiram outras formas de conservação de alimentos. Hoje em dia, muitas
destas técnicas primitivas ainda são usadas como a salga, a fumagem e a secagem, aliadas a técnicas
mais recentes como pasteurização, congelação, liofilização, utilização de embalagens hermeticamente
fechadas, entre outros (Lacasse, 1999).
Com as crises alimentares que ocorreram nas últimas décadas (brucelose, encefalopatia
espongiforme bovina, nitrofuranos, peste suína, a recente contaminação de hortícolas com Escherichia
coli, etc.) aliadas ainda à evolução da sociedade, ao progresso tecnológico na produção de bens
alimentares, e crescente exigência por parte dos consumidores a respeito da qualidade e segurança
alimentar, levaram ao aparecimento de referenciais e exigências relativas à Segurança Alimentar (SA)
(Oliveira A. M., 2012).
Na década de 1920, devido a doenças originadas por ingestão de leite cru, empresas americanas
juntaram-se de forma a criarem regras para serem usadas nas indústrias de alimentos, bem como nos
equipamentos destas. Surgiu assim o programa 3-A, em que a segurança do leite assentava em regras
que hoje são conhecidas como integrantes dos princípios da análise de pontos críticos de controlo
(HACCP).
Já no final da década de 50, também a Agência Espacial Norte Americana, mais conhecida como
NASA, referenciou a necessidade de assegurar a segurança alimentar nas missões por eles conduzidas
no espaço, uma vez que caso algum problema acontecesse, devido a intoxicação alimentar ou outro tipo
de ocorrência, o sucesso das mesmas podia ser comprometido. (Heritage, 2002) Para contornar tal
problema, a empresa Pillsbury em conjunto com os laboratórios da NASA, criaram em 1960 um
programa espacial para o controlo da segurança alimentar, baseado numa análise e avaliações
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
43
sistemáticas de ingredientes, ambientes e processos de fabrico dos alimentos usados em missões, na
identificação de risco potencial e na determinação de pontos críticos de controlo, de modo a se assegurar
da integridade do produto final. Esta parceria continuou até 1969, ano em que a nave EAGLE pousou na
lua, sendo que o sistema HACCP era neste momento muito parecido com o que temos hoje.
Durante a década de 70, a Food and Drugs Administration (FDA), adotou o conceito de HACCP,
e estendeu a sua área de aplicação a toda a indústria alimentar, sendo que no final da década de 80, a
Comissão Internacional para Especificações Microbiológicas em Alimentos (ICMSF) sugeriu que este
sistema fosse usado como base para o controlo de qualidade alimentar tanto do ponto de vista higiénico
como do ponto de vista microbiológico (Heritage, 2002).
Houve então uma necessidade de harmonizar todas as medidas de controlo da segurança
alimentar, a nível internacional, o que levou a que em 1993 a comissão do Codex Alimentarius publicasse
o código do HACCP. A nível comunitário a Diretiva 93/43/CEE, levou à harmonização das normas gerais
aplicadas aos géneros alimentícios, integrando os princípios do sistema HACCP. Já anteriormente, em
1991, tinham sido publicadas diretivas relativas aos produtos de pesca (Diretiva nº 91/493/CEE), aos
produtos à base de carne (Diretiva nº 92/5/CEE) e ao leite e derivados do leite (Diretiva nº 92/46/CEE).
Em Portugal, este sistema foi adotado através do Decreto-Lei nº 67/98 de 18 de março, que
estabelece as normas gerais de higiene a que estão sujeitos os produtos alimentares.
No ano de 2004 são publicados os Regulamentos (CE) nº 852/2004 e nº 853/2004 relativos à
higiene dos géneros alimentícios, e os Regulamentos (CE) nº 854/2004 e 882/2004 relativos à atuação
das autoridades de controlo oficial. O Regulamentos (CE) nº 852/2004 de 29 de abril estabelece as
regras gerais destinadas aos operadores das empresas do sector alimentar no que se refere à higiene
dos géneros alimentícios, tendo em consideração que são estes os principais responsáveis pela
segurança alimentar. Realça ainda o facto de haver a necessidade de se garantir a segurança ao longo
de toda a cadeia alimentar, desde a produção primária e de serem estabelecidos critérios microbiológicos
baseados na análise de risco. O regulamento nº 853/2004 de 29 de abril reúne num só documento,
vários requisitos que se encontravam dispersos, sobre a higiene de géneros alimentícios de origem
animal, passando assim este regulamento a conter todas as regras específicas revogando as diretivas
relativas a higiene e regras sanitárias aplicáveis a comercialização e produção de produtos de origem
animal destinados ao consumo humano. Relativamente aos controlos oficiais realizados para assegurar
a verificação do cumprimento da legislação referente aos alimentos para animais e aos géneros
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
44
alimentícios e das normas relativas à saúde e ao bem-estar dos animais, o Regulamento nº 882/2004,
foi entretanto alterado pelo Regulamento (CE) nº 776/2006 de 23 de maio.
Em 2004 também é criada em Portugal, a Agência de Segurança Alimentar, mais conhecida por
APSA, sendo que em 2005 é criada a ASAE, Agencia de Segurança Alimentar e Económica.
Um grande número de indústrias do setor alimentar têm a perfeita noção que a segurança
alimentar tem um papel preponderante não só pela obrigatoriedade da legislação mas também pela
exigência cada vez maior do consumidor. O HACCP é uma referência atualmente aceite
internacionalmente, para implementar sistemas de segurança alimentar, pois a sua implementação
facilita o cumprimento das exigências da lei, permite aumentar a segurança bem como a confiança nos
alimentos produzidos.
Existem atualmente sete princípios associados ao Sistema HACCP que estão englobados nos 14
etapas/passos do processo de implementação do sistema. Contudo antes da implementação do HACCP
é necessário obter uma base sólida para um emprego eficiente do sistema, e para isso é necessário
estabelecer princípios gerais de higiene e de boas práticas (Moreno, 2011).
2.7 O sistema HACCP
2.7.1 Pré-requisitos
O HACCP constitui uma abordagem estruturada, sistemática e preventiva para os perigos, em
detrimento da obsoleta inspeção e testes ao produto final, permitindo identificar os perigos específicos e
as formas para os controlar, garantindo assim a segurança dos alimentos. No entanto, sendo este
sistema baseado numa metodologia preventiva, a otimização dos seus resultados depende da
implementação de outros programas, chamados programas de pré-requisitos. Estes programas incluem
sistemas de apoio que são usados anteriormente ao desenvolvimento de um estudo HACCP (Eurisko,
2011).
Os Pré-Requisitos são procedimentos universais que estabelecem condições favoráveis à
produção de alimentos que sejam seguros, permitindo reduzir a ocorrência de perigos gerais do dia-a-
dia da empresa, deixando o HACCP apenas tratar dos perigos significativos e específicos do processo ou
do produto. Como programas de Pré-Requisitos, podemos incluir códigos de boas práticas de fabrico, de
higiene e agrícolas, incluindo aqui questões como planos de construção, edifícios, higiene pessoal,
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
45
Figura 2.6 - Esquema de diferenciação entre Pré-Requisitos e HACCP (Venâncio, 2013)
abastecimento de água, controlo de pragas, recolha de resíduos, materiais usados no fabrico, plano de
higienização, matérias-primas entre outros, garantindo assim que estes fatores não se tornem riscos
para a segurança alimentar.
Analisando estes factos, quando aplicamos um plano HACCP, é de elevada importância verificar
em primeiro lugar se os Pré-Requisitos do projeto estão a orientar questões técnicas e ambientais que
não sejam abordadas no plano HACCP, sendo que este só estará a funcionar corretamente se o plano
de Pré-Requisitos também o estiver (Venâncio, 2013).
2.7.2 Classificação dos perigos
Os perigos são quaisquer agentes de natureza física, química e biológica, capazes de provocar
efeitos adversos para a saúde humana (CCA, 2003).
Perigos Físicos
Os perigos físicos são aqueles que são mais facilmente visíveis ao olho humano e detetados mais
rapidamente. Estes são causados por agentes ou objetos estranhos aos alimentos, que quando ingeridos
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
46
inadvertidamente, podem ter um elevado impacto na saúde dos consumidores. É amplo o conjunto de
agentes passíveis de serem encontrados em alimentos como é visível na Tabela 2.7, e são exemplos
destes agentes fragmentos de madeira, metal, vidro, borrachas, panos e esfregões de limpeza, pedras,
ossos, areias, peças de bijuteria, objetos pessoais de operadores, entre muitos outros. É claro que estes
agentes podem ter origens muito diversas e normalmente acontecem por via de uma contaminação
acidental, através da falta de boas práticas de higiene dos manipuladores, da deficiente higiene e
conservação das infraestruturas e equipamentos que entram em contacto com os produtos alimentares,
bem como a ausência de planos de higienização e controlo de pragas (Enformar).
Tabela 2.7 - Exemplo de perigos físicos (Eurisko, 2011)
Madeira Metais Objetos pessoais
Partes de alimentos
Outros
Paus Farpas
Agrafos Clips
Parafusos Arames Pregos
Anéis
Brincos Dinheiro Botões
Ossos Espinhas Caroços
Plástico Papel Pedras Areias Vidros
Cabelos Penas
Os perigos físicos podem trazer uma série de complicações na saúde do consumidor, como
cortes e perfurações na língua na língua e boca, engasgamento e danos nos dentes. (Enformar)
Perigos Biológicos
Quanto aos perigos biológicos, estima-se que cerca de 90% das doenças transmitidas através de
alimentos sejam de origem microbiana. Estes podem ser encontrados em praticamente todos os
alimentos, mas a sua transmissão resulta na maior parte das vezes da utilização de práticas erradas de
confeção ou distribuição destes. São conhecidos mais de 250 tipos de bactérias, vírus e parasitas
causadores de doenças (Tabela 2.8), no entanto apenas alguns aparecem com uma frequência
considerável (Enformar).
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
47
Bactérias Parasitas Vírus Bolores e Leveduras
Salmonella spp. Clostridium botulinum Clostridium perfringens Listeria monocytogenes
Vibrio cholerae Bacillus cereus Streptococcus
Giardia Lamblia Entamoeba histolytica
Cryptosporidium parvum Trichinella spiralis
Ascaris lumbricoides Fasciola hepática
Virus da Hepatite A Virus da Hepatite E
Rotavirus Norovirus virus
Adenovirus Virus Norwalk
Aspergillus Penicillium
Trichoderma Mucor
Candida
Neste tipo de perigos, as consequências mais comuns são infeções aquando a ingestão de um
ou mais microrganismo viáveis, que se multiplicou de tal forma que existe em quantidade suficiente para
provocar a doença. Podem também ocorrer infeções mediadas por toxinas, que resultam da ingestão de
um microrganismo produtor de uma toxina e que vai causar intoxicação. Por fim, pode ocorrer uma
intoxicação caso o alimento ingerido esteja contaminado por organismos que libertaram substâncias
tóxicas neste. Podem ou não existir já organismos viáveis no alimento neste caso. Atualmente as
bactérias causadoras de toxinfeções mais graves são a Salmonella spp, a Staphylococcus aureus e a
Clostridium perfringens. (Venâncio, 2013)
A colonização de um alimento por parte de um microrganismo depende essencialmente de dois
fatores, os bióticos e abióticos. Os fatores bióticos são pouco relevantes ao contrário dos fatores abióticos,
que tem uma extrema relevância no que concerne ao desenvolvimento dos microrganismos através de
fatores como a temperatura/tempo, humidade, fornecimento de oxigénio, pH, e atividade da água.
A presença do perigo biológico por si só não implica necessariamente contaminação,
dependendo esta em parte de fatores como grau de contaminação do alimento, da multiplicação dos
microrganismos, pela quantidade de toxinas produzidas, mas também de fatores como a sensibilidade
de cada pessoa à ação dos agentes causadores de doenças (grupos de risco, faixa etária, estado de
saúde). (Venâncio, 2013)
Tabela 2.8 - Exemplos de perigos biológicos (Eurisko, 2011)
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
48
Perigos Químicos
Por fim, os perigos químicos podem ser responsáveis pelo aparecimento de doenças súbitas de
grande intensidade e, em alguns casos, doenças crónicas, isto devido à bioacumulação de determinados
produtos no organismo ao longo dos anos.
Este tipo de perigo pode ser dividido em 3 subcategorias: perigos presentes naturalmente nos
alimentos como histaminas, microtoxinas, dioxinas entre outros; podem ser perigos relacionados com a
adição direta de químicos aos alimentos ou substâncias que são utilizadas propositadamente no
processamento de um determinado produto de forma a conferir mais durabilidade e atratividade para o
cliente por exemplo (fungicidas, pesticidas, hormonas antibióticos entre outros); por fim podem ainda
ocorrer perigos químicos devido a substâncias adicionadas indiretamente aos alimentos, e que ocorrem
aquando do processamento alimentar, processamento este que pode levar à formação de substâncias
não desejáveis. Um exemplo muito conhecido são os processos que envolvem tecnologias baseadas em
altas temperaturas, como por exemplo a fritura, que pode conduzir à formação de substâncias tóxicas
como compostos polares. Na Tabela 2.9 podemos verificar vários exemplos de perigos que podemos
incluir nesta categoria (Enformar),
A fonte de maior perigo alimentar químico nas dietas alimentares dos povos são substâncias
tóxicas provenientes dos próprios alimentos, no entanto o teor destas substâncias pode não ser um sério
risco para a saúde humana mesmo quando ingerida em grandes quantidades, pois o alimento além das
toxinas também produz antitoxinas que anulam esse risco (Venâncio, 2013),
Atualmente é sobre este tipo de perigo que existe uma maior regulamentação legislativa.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
49
Produtos de higienização Produtos Químicos de manutenção Metais pesados
Detergentes Desinfetantes
Lubrificantes
Óleos Massas Tintas Colas
Chumbo Mercúrio Cádmio
Resíduos de pesticidas Toxinas Outros
Herbicidas Fungicidas Inseticidas
Ocratoxina A
Aflatoxina B1, B2, G1 e G2 Patulina
Verniz das unhas
Compostos polares Aditivos alimentares
(acima dos limites legais)
2.7.3 Os princípios do HACCP e as suas etapas
A elaboração do plano HACCP envolve um conjunto de passos, normalmente agrupados em
duas etapas: etapas preliminares à análise de perigos e implementação dos sete princípios do HACCP.
São 7 as etapas preliminares à análise de perigos e abrangem a revisão de planos HACCP
anteriores, constituição de uma equipa HACCP, descrição dos produtos e identificação do seu uso,
identificação do consumidor final, construção do fluxograma e a sua confirmação in-loco.
Etapa 1 - Revisão de planos HACCP anteriores
Numa primeira etapa é necessário estabelecer-se evidentemente o âmbito de aplicação devendo
para isso decidir qual a linha do processo, qual o produto e que tipos de perigo se vão julgar e determinar
os Pontos Críticos de Controlo onde esses perigos podem ser combatidos. Outro aspeto a ter em atenção
nesta etapa prende-se com o acordar de um plano de implementação (estabelecer se o controlo irá ser
até à saída do produto da fábrica, no ponto de venda ou no momento de consumo, prazos para atingir
os objetivos, recursos, etc.). Por fim, é ainda necessário estabelecer um responsável pela
implementação.
De forma a se conseguir estabelecer estes pontos é necessário então averiguar quais as
características a ter em atenção através de planos realizados anteriormente ou, caso não tenham sido
Tabela 2.9 - Exemplo de perigos químicos (Eurisko, 2011)
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
50
realizados estudos por parte da empresa para alguma particularidade em concreto, visualizar por estudos
feitos por outras entidades de forma a obter alguma informação inicial para que possa funcionar como
um ponto de partida o futuro Sistema HACCP implementado (Fonseca T. , 2011).
Etapa 2 - Reunir uma equipa HACCP
A equipa HACCP é sem dúvida fundamental ao desenvolvimento da ação, dado que é desta a
responsabilidade da elaboração implementação e manutenção do sistema na empresa.
Para que tal seja possível, terá a direção da empresa que prestar todo e qualquer apoio inicial e
colocar a disposição de todos, os recursos necessários à equipa, tanto a nível de documentação, tempo,
recursos humanos, financiamento e acesso a fontes de informação (Carvalho, 2014).
A equipa HACCP deverá ser uma equipa multidisciplinar e deverá englobar profissionais das
mais variadas áreas como da área da segurança e higiene alimentar com conhecimentos acerca dos
perigos, de avaliação de risco e medidas que podem ser tomadas para controlar algum perigo; deve-se
fazer também representar por um membro da área de produção, que tenha conhecimento das atividades
diárias da empresa, bem como dos processos para a produção dos bens alimentares; Poderá ter alguém
da área da engenharia capaz de resolver problemas relacionados com equipamentos necessários no
processo de produção; Também poderá ser membro desta equipa um profissional interno ou externo a
empresa, que seja capaz de realizar auditorias aos fornecedores e fornecer informações relacionadas
com os riscos associados às matérias-primas.
O número de pessoas envolvido nos sistema de gestão alimentar depende do tipo de operação
e do número de monitorização existentes no processo. No entanto, não havendo especialistas em todas
as áreas disponíveis na empresa, esta deve subcontrata-los para que a implementação do sistema seja
o mais eficiente possível (Venâncio, 2013).
A Equipa deverá ainda eleger um coordenador que representará a equipa perante a Direção e
que terá conjuntamente a responsabilidade de certificar que a constituição da Equipa é adequada para
as necessidades do estudo a efetuar, assegurar-se que o plano pré-estabelecido se encontra a ser
cumprido, distribuir trabalho e responsabilidades pelos restantes elementos da equipa e coordenar as
reuniões efetuadas.
Além da Equipa HACCP e da direção deverão também ser incluídos mais tarde, quando a
implementação do sistema já estiver a ocorrer, colaboradores ao estudo HACCP tendo em vista o
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
51
envolvimento de toda a organização, esta medida junto com a formação dos colaboradores garante que
os Pontos Críticos de Controlo sejam corretamente monitorizados (Eurisko, 2011).
Etapa 3: Descrição do(s) produto(s)
A equipa de segurança alimentar (ESA) deve descrever detalhadamente o produto, devendo
conter informações sobre as características das matérias-primas (origem, condições de armazenamento,
prazo de validade entre outros) e do produto acabado (composição, características físicas químicas e
biológicas que sejam relevantes para a segurança alimentar).
Esta descrição pode ser realizada por grupo de produtos de acordo com semelhanças nas
caraterísticas ou processos de fabrico.
O conhecimento destes atributos permite que sejam considerados os perigos-chave e encetar
um estudo antecipado de medidas de controlo dos mesmos.
Assim, o principal objetivo desta etapa é que a ESA se familiarize com os produtos, com os
processos e tecnologia abrangida pelo plano HACCP, funcionado assim como uma introdução e ponto
de referência para a implementação do sistema (Furtado, 2013).
Etapas 4 e 5: Identificação do uso pretendido do produto e Identificação do
utilizador/consumidor esperado
Uma vez estabelecidas as características do produto, a ESA terá de definir a utilização pretendida
do produto, por parte dos consumidores. Ao se estabelecer este critério, são também definidos os
consumidores alvos dos produtos, permitindo assim determinar se existem possíveis clientes sensíveis
ou intolerantes ao produto, quer a nível dos ingredientes, ou a nível microbiológico, sendo considerados
grupos de risco, os idosos, grávidas, bebés, diabéticos, entre outros.
Para isso, é necessária então, uma correta rotulagem para indicação da presença de
determinados ingredientes a que os consumidores possam ser sensíveis e de igual forma com as
condições de preparação do produto para que o consumidor não o use ou prepare de forma errada. É
através desta etapa que se estima o risco associado ao uso indevido do produto para desta forma se
proceder à reformulação do produto e/ou processo para que este se aproprie às necessidades dos
compradores (Carvalho, 2014).
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
52
Etapa 6: Construção do(s) fluxograma(s)
A elaboração do fluxograma é uma das etapas mais importantes no estabelecimento do plano
HACCP, constituindo a base para a análise de perigos. O fluxograma deve ser elaborado, baseando-se
na observação das operações, de forma sequenciada e progressiva e em outras informações que sejam
consideradas importantes. Este diagrama deverá ser legível e de fácil compreensão.
Como referido anteriormente, o diagrama deverá representar a sequência de todas as fases do
processo de produção, bem como todas as condições (temperatura, tempo e pressão por exemplo),
intervalos de segurança entre diferentes fases do processo, incorporação de matérias-primas e
ingredientes, bem como as suas quantidades ou concentrações, a circulação e recirculação de produtos
e correntes e tipo de equipamentos utilizados.
Outro fator a ter em conta é a planta das instalações da empresa, bem como a disposição dos
equipamentos. É igualmente importante que se descreva o destino dos produtos acabados, os
intermédios e os subprodutos e resíduos, assim como os processos de reprocessamento e recirculação
(Venâncio, 2013).
Etapa 7: Confirmação do fluxograma no terreno (in loco)
Depois do fluxograma estar elaborado, é necessário proceder a uma verificação efetiva deste, no
“terreno”, de forma a averiguar se todo o processo está de acordo com o que realmente acontece na
empresa. Por vezes as empresas já possuem fluxogramas próprios, no entanto não se faz atualizações
de rotina dos mesmos, desta forma este passo é bastante importante. Assim, a ESA, deverá proceder a
confirmação de todo o fluxograma nas instalações, e quando necessário, deverá solicitar ajuda de
técnicos e funcionários de modo a se obter com maior precisão o que realmente acontece durante a fase
produtiva, alterando assim sempre que necessário o diagrama elaborado. Desta forma estaremos a
assegurar a fiabilidade do sistema assim como assegurar a veracidade da informação recolhida.
Esta etapa deve ser observada durante todos os períodos operacionais caso haja mais que um,
cobrindo todas as operações. Caso se verifique algum desvio ou haja alguma alteração no processo ao
longo do tempo, o fluxograma deverá ser atualizado para que a realidade do processo esteja devidamente
registada (Moreira, 2009; Oliveira, 2012).
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
53
Princípio 1
Etapa 8: Identificação, análise e medidas de controlo dos possíveis perigos
identificados
Esta etapa consiste na identificação de qualquer perigo na matérias-primas ou em qualquer fase
do processamento alimentar. (REGULAMENTO (CE) N.º 852/2004 DO PARLAMENTO EUROPEU, 2004)
É nesta fase que há a recolha e avaliação de informação sobre perigos de modo a decidir quais os
realmente significativos para a segurança alimentar e a serem tratados no plano HACCP (Furtado, 2013).
Após o levantamento dos perigos que possam contaminar o produto produzido devem-se
identificar as suas fontes de contaminação, além disso qualquer etapa que possa aumentar a
contaminação ou provocar contaminação cruzada deverá também ser mencionada.
A identificação dos perigos deve ainda ter em conta fatores como a informação preliminar e
dados recolhidos nas etapas anteriores à análise de perigos, na informação externa, incluindo se possível
dados epidemiológicos e outros dados históricos (Figueiredo, 2001).
Este processo necessita de ser feito para cada produto, processo e produto novo e deverá ser
revista sempre que se inserir um novo elemento no processamento, alteração na matéria-prima, processo
e formulação do produto.
A avaliação de risco é o fator entre a probabilidade de este ocorrer e a sua severidade na saúde
de consumidor. A probabilidade de um risco ocorrer no processo produtivo pressupõe a análise de dados
estatísticos. Esta pode ser avaliada mediantes informações sobre o número de ocorrências por
determinado período de tempo ou pelo histórico da empresa e pode variar entre 1, 2 e 3, que
corresponde a probabilidade baixa, média e alta respetivamente consoante a frequência que ocorre numa
determinada etapa na cadeia de produção.
Quanto à severidade, também se pode classificar em 3 níveis: 1, 2 e 3, que corresponde a
severidade baixa, média e alta respetivamente, conforme o grau de efeitos que provoca na saúde do
consumidor. A severidade baixa ocorre quando os riscos não provocam ou raramente provocam efeitos
na saúde do consumidor. Os efeitos tornam-se relevantes apenas quando se ingere uma grande
quantidade de um agente patogénico, podendo causar indisposições ou mal-estar. A média acontece nos
casos em que as consequências são mais graves requerendo assistência médica, por fim a alta surge
na medida em que provoca efeitos graves ao consumidor obrigando mesmo à hospitalização do mesmo
ou inclusive levar à sua morte (Venâncio, 2013).
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
54
Severidade
Pro
bab
ilid
ade
1 2 3
Baixa (1) Média (2) Alta (3)
3 6 9
2 4 6
Alta (3)
Média (2)
Baixa (1)
Com base nestas distribuições estabeleceu-se uma matriz de risco de forma a se identificar quais
os perigos significativos e os perigos não significativos.
Tabela 2.10 - Matriz de Risco
Na Tabela 2.10 está apresentada uma matriz de risco simples Somerville (Carvalho & Melo,
2011) onde é feito um cruzamento das duas componentes do risco de forma a se determinar a
importância de cada risco, sendo que as áreas salientadas a vermelho e amarelo são aquelas que
representam riscos significativos, ou seja, quando o nível de risco é igual ou superior a 3, consideramos
o risco significativo.
Uma vez concluída a analise de risco, faz-se a listagem de todas as medidas preventivas
necessárias à sua eliminação ou redução para níveis aceitáveis. Caso haja uma incorreta avaliação dos
riscos e das medidas de controlo, o plano HACCP pode fracassar, e estes não serão eficazmente tratados.
Os riscos não significativos deverão ser tratados por Programas de Pré-requisitos (PPR’s). Estes
apesar de não controlarem riscos específicos permitem manter um ambiente limpo e adequado à
manipulação e fornecimento de produtos acabados. O plano HACCP controla as etapas onde a
implementação de medidas de controlo é fundamental para eliminar um risco significativo para a
segurança alimentar (Lacasse, 1999).
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
55
Figura 2.7 - Árvore de decisão segundo o Códex Alimentarius (CCA, 2003).
Princípio 2
Etapa 9: Identificação de Pontos Críticos de Controlo
Um ponto crítico de controlo é um passo ou um ponto do processo onde é necessário proceder
a um controlo de modo a prevenir, diminuir ou eliminar um perigo que seja significativo e que por isso
comprometa a segurança alimentar.
A fim de se determinar estes pontos críticos de controlo, é frequente recorrer-se ao uso da Árvore
de Decisão do Códex Alimentarius, que deve ser aplicada de forma flexível de acordo com a operação a
que se destina e a todas as fases do processo. A Árvore de Decisão, como se observa na Figura 2.7, é
um protocolo constituído por uma sequência de quatro perguntas organizadas, aplicadas a cada etapa
do processo, e que permite determinar se um dado ponto de controlo, nessa fase do processo, constitui
um Ponto Crítico de Controlo. O uso desta árvore facilita assim a discussão entre a equipa HACCP,
reforçando assim o trabalho da mesma no estudo (CCA, 2003; Figueiredo, 2001).
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
56
Consoante a resposta que obtemos a cada uma das questões levantadas pela Árvore de decisão
(sim ou não), esta nos levará por um caminho diferente, podendo levar à identificação de um ponto
crítico de controlo ou não.
Não existe um limite do número de PCC’s reconhecidos num processo. No entanto, deve-se ter
em conta que pode ser necessário recorrer a mais que uma fase de controlo para controlar um perigo e
que uma só etapa pode reduzir ou eliminar vários potenciais perigos para níveis aceitáveis.
Nos casos em que não se detetar nenhum PCC não se deve descurar o controlo. Nestes casos
o controlo é importante mas não crítico para que o alimento se apresente como viável para consumo no
fim do seu processamento. Neste caso os perigos podem ser tratados por PPR’s ou códigos de boas
práticas (Figueiredo, 2001; Venâncio, 2013).
Princípio 3
Etapa 10: Definição dos limites críticos para cada perigo em cada PCC
Identificados os pontos críticos de controlo, e mantendo-os controlados, é possível obter um
produto final que não apresente perigo para o consumidor. Para isso, definem-se então os níveis
aceitáveis para cada PPC, definindo-se critérios ou valores que definem a especificidade do produto,
como pH, temperatura, binómio temperatura/tempo, atividade da água, concentração de um sal entre
outros. Os limites devem ser estabelecidos com o apoio bibliográfico de leituras especializadas como por
exemplo recomendações comunitárias, códigos de boas práticas ou artigos científicos, podendo existir
casos em que se terá que usar parâmetros sensoriais (aparência visual, textura, etc.), nestes casos é
necessário conter especificações bem claras do que é inaceitável (Eurisko, 2011).
Princípio 4
Etapa 11: Definição do procedimento de monitorização dos PCC’s
A monitorização consiste em observações ou medições para avaliar se um PCC esta realmente
sobre controlo e dentro dos limites críticos delimitados. Por isso nesta etapa, é necessário definir os
planos, estratégias e dispositivos para efetuar testes medições e observações que permitem averiguar
se as exigências estão a ser cumpridas. Preferivelmente, dever-se-ia utilizar uma monitorização contínua
face à descontínua, mas no entanto frequentemente não é possível. Assim, a equipa HACCP, deverá
determinar os métodos bem como a frequência da monitorização dos PPC’s. Este plano de monitorização
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
57
deve ser realizado por pessoal com conhecimento e autoridade suficiente para determinar e implementar
as ações corretivas que sejam necessárias. Assim, nesta etapa deve ficar bem definido o que se monitora,
quem monitora, como se monitora e quando se monitora. Qualquer desvio que seja encontrado deverá
ser imediatamente comunicado. Caso se verifique uma tendência de um ponto não se manter
devidamente controlado, devem se proceder a rearranjos no procedimento de forma a corrigir a situação
(Figueiredo, 2001).
Princípio 5
Etapa 12: Estabelecimento de um plano de ação a adotar sempre que os limites
críticos sejam ultrapassados
Quando o sistema de monitorização revela um desvio ao limite crítico de controlo em ralação a
um PCC, deverão ser tomadas medidas e procedimentos corretivos que atuam sobre a causa do desvio
de modo a que haja um ajuste do processo, levando a que o PCC fique de novo sobre controlo. As ações
tomadas em resposta aos desvios nos limites críticos são referenciadas como ações corretivas e devem
ser estabelecidos para cada PCC. O plano de ações corretivas deve assentar claramente em atitudes que
se devem ter quando ocorrem desvios de modo a recuperar o controlo do PCC. Além da identificação e
correção do perigo, há a necessidade de se identificar o tratamento e destino dos produtos afetados, e
a necessidade de registar os incidentes e as ações efetuadas. Deve-se também proceder à avaliação e
situação do produto que afetado, pois dependendo da natureza e gravidades, este poderá ser destruído,
ou então reciclado ou reprocessado.
Após implementação das ações corretivas, a Equipa HACCP deverá proceder a revisões do
Sistema HACCP de forma a prevenir ocorrências futuras (CCA, 2003; Venâncio, 2013).
Princípio 6
Etapa 13: Implementação de um sistema de verificação do funcionamento do plano
HACCP
De modo a verificar se o plano HACCP está a funcionar de acordo com o que foi definido e
verificar a eficácias dos PCC’s é necessário estabelecer um sistema de verificação.
Por outras palavras a verificação corresponde à validação do sistema e à determinação da sua
competência em satisfazer as exigências da segurança.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
58
A verificação do Sistema HACCP deverá ser realizada após o término do estudo HACCP para
validação do mesmo. Esta verificação deve ser realizada sempre que ocorre uma mudança que influencie
a análise dos perigos, sempre que ocorra um desvio, aquando do conhecimento de novos perigos ou
face a resultados insatisfatórios de auditorias. Os procedimentos de verificação envolvem a análise de
documentos e registos do Sistema HACCP, a avaliação científica de todos os perigos e a análise dos
limites críticos e respetivas ações corretivas.
Os principais procedimentos de verificação segundo o CAC são auditorias ao HACCP e seus
registos, revisão dos desvios, inspeção do processo de fabrico e validação e deverão ser realizadas por
pessoas diferentes da que procedeu à vigilância e implementação das ações corretivas (Figueiredo,
2001; Venâncio, 2013).
Princípio 7
Etapa 14: Implementação de um sistema efetivo do resultado de todos os testes
efetuados em cada PCC
A implementação de um sistema HACCP depende do sistema de documentação onde constam
os registos, procedimentos e instruções de trabalho de todas as atividades realizadas.
Para além destes registos é essencial reunir toda a documentação relacionada com a análise de
risco, determinação de PCC’s, determinação dos limites críticos de controlo e procedimentos no âmbito
do plano HACCP.
Estes registos são provas concretas da realização das atividades de controlo efetuadas aquando
a implementação do HACCP, sendo por isso importante a sua conservação, sendo uma fonte de suporte
e que permite confirmar perante consumidores que o pano está a ser cumprido.
Estes documentos devem ser passiveis de modificação ou atualização e necessitam estar
disponíveis para consulta em qualquer momento (Venâncio, 2013; Fonseca T., 2011).
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
59
3. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento do sistema HACCP na Frutivinhos, tanto para a secção de vinhos como
para secção de hortofrutícolas, para além da metodologia do HACCP, usou-se por base a legislação
alimentar europeia, o Código Internacional de Boas Práticas da CCA e da FAO, entre outros códigos de
boas práticas e manuais de Segurança e Higiene Alimentar.
Inicialmente, decidi realizar uma “auditoria” de modo a verificar o ponto de situação e o grau de
implementação do plano HACCP na empresa bem como os programas de pré-requisitos. Para isso
realizei uma visita geral pelas instalações, consultei documentos relativos à segurança e higiene
alimentar, falei com os funcionários e direção, e assinalei quais os pontos que faltavam e os que deveriam
ser alterados ou criados.
3.1 Etapas preliminares à análise de perigos
Depois de fazer o diagnóstico ao ponto de situação, comecei por definir a Equipa HACCP na
empresa. De seguida, fiz a descrição dos produtos comercializados pela Frutivinhos, bem como o uso
esperados destes. Para isso recorri a documentos como boletins de análise de produtos, bem como
registos da empresa e bibliografia externa. Após isto, elaborei os fluxogramas para a produção dos vários
vinhos, e para a comercialização dos produtos hortofrutícolas. Os fluxogramas foram observados in-loco,
de modo a verificar se o que realmente está no fluxograma é o que acontece. Como a produção do vinho
é sazonal apenas se fez esta verificação após a conclusão do projeto.
3.2 Análise de perigos
Nesta fase, listei todos os perigos razoavelmente espectáveis para a segurança alimentar, que
poderiam ocorrer em todas as fases de produção. Defini igualmente os seus níveis de aceitação, tendo
em conta regulamentos e documentação científica consultada. Após concluir este passo, fiz uma
avaliação dos perigos, de modo a concluir quais os que necessitam de ser controlados para assim
garantir a produção de produtos seguros. Para isso, usei a matriz de risco da Tabela 2.10.
Adicionalmente, defini as medidas de controlo para os perigos, tendo em conta as práticas da empresa,
bem como a legislação em vigor, códigos e boas práticas e bibliografia externa.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
60
3.3 Estabelecimento do plano HACCP
Os riscos que foram considerados não significativos, (risco <3), são controlados por PPR’s,
enquanto os significativos (risco >3) são analisados através da árvore de decisão apresentada na Figura
2.7, de forma a identificar os PCC’s.
Por fim, e com recurso a legislações, documentação científica e outras referências, estabeleci
os limites críticos para os PCC’s, bem como um sistema para a sua monotorização, e medidas corretivas,
caso os PCC’s não estejam dentro dos limites estabelecidos.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
61
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1 Programa de Pré-requisitos
Na primeira fase do diagnóstico à empresa, foram analisados alguns PPR’s, entre os quais:
Edifícios, infraestruturas e layout;
Controlo de pragas;
Controlo de resíduos e subprodutos;
Abastecimento de Água;
Programa de limpeza e desinfeção;
Equipamentos;
Saúde e higiene pessoal;
Controlo de receção de matérias-primas.
Durante este capítulo irei abordar os resultados das observações efetuadas, bem como
sugestões de melhoria nos casos em que foram encontradas não conformidades.
4.1.1 Edifícios, infraestruturas e layout
Segundo o Regulamento (CE) nº 852/2004, os edifícios e equipamentos deverão estar
construídos e desenhadas para que o risco de contaminação seja reduzido ao mínimo e de forma a
permitir uma limpeza desinfeção e manutenção adequada.
No que diz respeito às infraestruturas e layout que foram analisadas no capítulo 1.3.3, estas
asseguram um fluxo adequado, ou seja marcha em frente, das zonas menos limpas para as zonas mais
limpas, evitando assim cruzamentos de circuitos e contaminações que possam surgir.
No entanto, algum desgaste das instalações é visível, sendo que o que mais chama à atenção
são as infiltrações de água pelos tetos e paredes. Neste aspeto seria importante verificar o estado do
material isolante dos tetos e paredes, e proceder à sua reparação, ou caso seja necessário a sua
substituição. Além das infiltrações, é de realçar o estado das grelhas de drenagem, que estão em
condições bastante degradadas. Algumas já não estão nas calhas, outras estão dobradas devido ao peso
dos camiões que circulam por cima delas, e outras não encaixam devido ao piso estar estalado. Além
disto, em algumas zonas já não se verifica o desnível no piso recomendável para o escoamento correto
das águas para os canais de drenagem, verificando-se algumas poças, aquando da lavagem e limpeza
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
62
dos equipamentos. Para isto, é recomendável, além da colocação de grades novas, a manutenção geral
do piso da adega.
Outro aspeto que deve ser melhorado é a falta de proteção anti queda e anti explosão nas
lâmpadas. Estes sistemas devem ser adotados de modo a prevenir qualquer queda de vidro nas
instalações ou nas cubas quando uma lâmpada quebra.
Verificou-se ainda que algumas portas apresentam frinchas em relação ao chão e não estão em
bom estado de conservação. Isto pode permitir a entrada de pragas e insetos no interior das instalações,
bem como a entrada de ar e possíveis contaminações por via atmosférica, pelo que é recomendável a
substituição destas portas por portas mais compridas ou calafeta-las, e que sejam de superfícies lisas e
de material não absorvente e fácil de limpar. As janelas estão devidamente equipadas com redes de
proteção contra insetos, mas não estão em bom estado de manutenção. Além dos parapeitos não
possuírem inclinação, evitando assim a acumulação de pó, as janelas que se encontram a maior altitude
estão bastante sujas. Isto deve-se ao facto de neste momento, a empresa só ter uma funcionária e ser
impossível nestas condições efetuar a limpeza destas estruturas, levando assim a uma acumulação
muito elevada de sujidade. Assim, é recomendável a execução de uma limpeza das janelas e superfícies
em geral, pois a acumulação de pó é bastante acentuada em várias áreas.
As instalações da Frutivinhos possuem ventilação natural adequada, e iluminação suficiente. A
temperatura no interior das instalações não é controlada, mas é fresca todo ano, típica de adegas,
adequada assim para a produção e armazenamento de vinho. Existem instalações sanitárias em número
suficiente, equipadas com autoclismo e ligadas a um sistema de esgoto eficiente. Possuem ainda lava
mãos, com água potável quente e fria, detergente para as mãos e toalhetes de papel para secagem.
Os produtos de limpeza e desinfetantes encontram-se numa arrecadação destinada ao
armazenamento. Os produtos enológicos, encontram-se no armazém número 9 acompanhados de todos
os manuais de utilização bem como as fichas técnicas se encontram junto destes.
4.1.2 Controlo de pragas
As pragas são uma ameaça para a segurança alimentar e devem ser alvo de controlo de modo
a evitar a presença delas no interior das instalações.
A Frutivinhos possui neste momento este serviço subcontratado a uma empresa externa de
controlo de pragas. Devido à localização e envolvência das suas instalações, a empresa possui
armadilhas com iscos para combate a roedores e baratas, no seu interior e nas zonas circundantes, que
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
63
são verificados de 2 em 2 meses, de modo a combater estas pragas eficazmente. Nas janelas existem
redes de proteção contra insetos e aves. Também como já foi referido anteriormente, as frinchas
existentes nas portas com acesso para o exterior das instalações deveriam de ser eliminadas, de modo
a evitar a entrada de roedores no seu interior.
4.1.3 Controlo de resíduos e subprodutos
É da mais elevada importância a tomada de medidas adequadas para a remoção de resíduos
numa indústria alimentar, de modo a evitar que estes se tornem fontes de contaminação para os
alimentos. Os resíduos e subprodutos, segundo o que refere no Reg. CE Nº 852/204, devem ser
retirados do local de manipulação dos alimentos o mais rápido possível, de modo a evitar a sua
acumulação, e serem colocados em contentores que possam ser fechados e que sejam de fácil lavagem.
No caso em estudo, os resíduos de plástico e papel, são recolhidos e mantidos em contentores
destinados para o efeito, e periodicamente são rececionados por uma instituição de solidariedade
denominada APPACDM – Trofa. Os resíduos de vidro são colocados num contentor destinado à
reciclagem. Já os subprodutos (frutas e legumes) são colocados em terrenos anexos para compostagem,
e os resíduos resultantes do processo de vinificação são recolhidos por uma empresa para fins de
destilação.
4.1.4 Abastecimento de água
A água utilizada no processo de fabrico é controlada periodicamente através de análises
solicitadas a laboratório externo de forma a garantir o cumprimento da legislação aplicável.
Os resultados das análises à água são validados pelo Coordenador da Segurança Alimentar
rubricando o despectivo boletim/relatório.
4.1.5 Programa de limpeza e desinfeção
O objetivo do programa de limpeza e desinfeção é o de assegurar que todas as instalações e
equipamentos se encontram limpos e higienizadas. Segundo a CCA, a limpeza deverá reduzir as fontes
de contaminação que possam surgir de resíduos de alimentos e sujidade. Caso seja necessário, deverá
ser feita uma desinfeção, com vista à eliminação de microrganismos que possam por em causa a
segurança dos alimentos. No caso em estudo, não estavam implementados os planos de limpeza nem
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
64
eram registadas as higienizações. Os procedimentos de limpeza eram efetuados de acordo com o que
as fichas técnicas dos produtos de limpeza aconselhavam. No Anexo I estão os planos de limpeza e
higienização que foram criados para todas as áreas da empresa, explicando o modo de preparação bem
como a zona a higienizar e a frequência. No Anexo II, estão os documentos para o registo das
higienizações, que devem preenchidos sempre forem efetuadas. Estes documentos foram afixados em
cada uma das zonas da empresa.
4.1.6 Saúde e higiene pessoal
Os manipuladores dos géneros alimentícios são uma fonte de possíveis contaminações, sendo
que a falta de higiene pessoal é uma das causas mais comuns destas contaminações.
Durante a auditoria, foi possível constatar que sempre que a havia manipulação de alimentos as
mãos eram higienizadas com frequência, isto é, sempre antes do início da manipulação, e sempre que
justificasse, e outros comportamentos de risco como fumar na zona de produção ou usar adornos eram
proibidos. A funcionária do armazém usa vestuário e calçado adequado ao trabalho que está a efetuar,
mas no entanto constatou-se que não usava touca para o cabelo, apesar destas existirem nas instalações.
Foi notificada assim para a utilização deste acessório aquando a manipulação dos alimentos. Foi
constatado também que a cooperativa possui equipamentos de proteção individual (EPI’s) que são
usados sempre que necessário, como aquando a sulfitagem dos vinhos, onde se deve colocar uma
máscara de proteção de modo a proteger o manipulador dos gases do SO2
Existem casas de banho em número suficiente nas instalações, sendo que duas (feminina e
masculina) possuem balneários com chuveiro e cacifos para guardar os bens e roupas normalmente
trazidas pelos funcionários.
Foi ainda verificada a caixa de primeiros socorros onde se notou a falta de alguns itens essenciais
como soro fisiológico ou compressas, e a data de validade expirada de produtos como pomada para as
queimaduras. Foi necessário repor todos os itens que faltavam dentro da caixa e substituir os que já
eram inutilizáveis.
Por fim, realizam-se exames médicos periódicos para a comprovação da aptidão física e bom
estado de saúde dos funcionários da empresa.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
65
4.1.7 Controlo da receção de matérias-primas
As matérias-primas são inspecionadas à sua chegada de forma a verificar se respeitam as
especificações definidas nas fichas técnicas, caderno de encargos e procedimentos internos de ensaio.
Quando de verifica uma não conformidade procede-se à devolução ou eventual substituição do produto
em causa. Dado que não havia um registo físico sempre que uma não conformidade era detetada, foi
elaborada uma ficha de controlo (Anexo III) que deve ser preenchida sempre que exista a receção de
novas matérias-primas. Inclui dados como a designação do produto, peso, número de caixas ou paletes,
e atribuição de número de lote. Este número de lote que irá posteriormente ser inserido no sistema
informático da empresa, acompanhará o produto correspondente ao longo de toda a cadeia produtiva,
sendo assim possível rastrear o antes e depois de cada fase do processo. No caso de serem rececionados
produtos hortofrutícolas, foi elaborada uma ficha de controlo da qualidade destes produtos (Anexo IV), a
ser preenchida pelo técnico que fizer a sua receção.
4.1.8 Equipamentos
Em relação aos equipamentos da Cooperativa, no geral apresentam-se em boas condições e são
construídos com materiais adequados à área de atividade, sendo a maioria deles feitos em inox. No
entanto é visível que alguns equipamentos se encontram avariados, e outros já com algum desgaste e
ferrugem, pelo que é aconselhado proceder à reparação, e restauro dos equipamentos em questão.
Também é importante que seja feita calibração das balanças e termómetros das cubas pois o controlo
metrológico dos métodos e instrumentos de medição têm de obedecer ao regime geral aprovado pelo
Decreto-Lei n.º 291/90 de 20 de setembro. É ainda de referir que não existia nenhum documento de
registo das manutenções e reparações e calibrações feitas aos equipamentos, pelo que se criou uma
ficha geral para esse fim (Anexo V).
4.2 Etapas preliminares à Análise dos Perigos – Secção dos Vinhos
4.2.1 Formação da Equipa HACCP
De forma a criar uma equipa multidisciplinar tentou-se englobar profissionais das mais variadas
áreas da Cooperativa. Dado que a equipa HACCP estava desatualizada, foi criada uma nova, onde fazem
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
66
parte desta equipa o Diretor da cooperativa, que será o coordenador, e o responsável por providenciar
os recursos necessários e garantir a implementação e manutenção do sistema HACCP. Faz também
parte a funcionária de armazém, que possui conhecimentos dos processos, bem como dos
equipamentos e dos produtos. Por fim também a funcionária administrativa, responsável pelos serviços
administrativos, foi incluída na equipa HACCP.
4.2.2 Características do produto
A caracterização de cada vinho produzido e comercializado pela Frutivinhos está na respetiva
Ficha Técnica e inclui dados como as características organoléticas, microbiológicas, data de validade,
condições de armazenagem e distribuição entre outros dados importante. Dado que as fichas se não
eram revistas há algum tempo, foram e atualizadas. Um exemplo destas Fichas Técnicas pode ser
consultado no Anexo VI, onde é apresentada a Ficha Técnica do vinho Adega Vila Nova de Famalicão –
Branco.
4.2.3 Utilização Prevista
Dado que recentemente entrou em vigor o decreto-lei nº 106/2015, foi necessário rever a
utilização prevista deste produto. O vinho é uma bebida que pode ser consumida por qualquer pessoa
de idade superior a 18 anos, mas que deve ser ingerida com moderação. Não é aconselhada a sua
ingestão a grávidas nem latentes. Como é também uma bebida que contém sulfitos, pessoas com alergia
a este composto devem evitar consumi-la.
4.2.4 Construção do Fluxograma e verificação in loco.
Dado que não foram encontrados fluxogramas do processo de produção de vinho, foram
elaborados os fluxogramas para cada um dos três tipos de vinho que a adega produz (Vinho Branco
Adega, Vinho Rosé Adega e Vinho D. Sancho I). De modo a ser mais fácil a perceção do processo, decidi
dividir os fluxogramas em dois, onde está apresento para cada um dos vinhos, o processo de produção
até ao armazenamento, e depois o processo de engarrafamento/engarrafonamento que é comum para
os vinhos todos. Os fluxogramas são verificados e validados anualmente, dado que a produção de vinho
é um processo sazonal.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
67
1 - Receção/Pesagem/Amostra
2 - Esmagamento Bombagem
6 - Cuba de fermentação
5 - Trasfega com arejamento
Engaço
3 - Prensagem
4 - Decantação
7 - Fermentação – Densidade 1040
8 - Final de Fermentação
9 - Trasfega com arejamento
Adição de 250ml de solução de sulfuroso a 15% por cada tonelada
de uvas
Correcção do sulfuroso se necesário através da adição de sulfuroso15%. Sulfuroso Total não deve exceder os
50 mg/L
Adição de 3g de Novoclair speed por
cada 500 litros de mosto
Aplicar 300g de Supramix por
cada 500 litros de mosto
18-24 horas 15 ºC
Aplicar 100g de Levedura por cada 500 litros de
mosto e 10g de Activateur S por cada 500 litros de
mosto. Remontar
Adicionar 40g de Activateur S por cada
500 litros de mosto.Remontar
ligeiramente
Aplicar 30g de sulfuroso puro por cada 500
litros de vinho
18-19 ºC
Borras/bagaço
Borras
10 - Embalamento
Figura 4.1 - Fluxograma da produção do Vinho Branco Adega.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
68
Figura 4.2 - Fluxograma da Produção de Vinho Branco D. Sancho I.
1 - Recepção/Pesagem/Amostra
2 - Esmagamento Bombagem
6 - Cuba de fermentação
5 - Trasfega com arejamento
Engaço
3 - Prensagem
4 - Decantação
7 - Fermentação
8 - Final de Fermentação
9 -Trasfega com arejamento
Adição de 5g de Pectinasa Mac por
cada 500 Kilos de uvas
Adição de 250ml de solução sulfurosa a
15% por cada tonelada de uvas
Correcção do sulfuroso se necesário através da adição de sulfuroso15%. Sulfuroso Total não deve exceder os
50mg por litro
Adição de 3g de Novoclair speed por
cada 500 litros de mosto
Aplicar 300g de Supramix por
cada 500 litros de mosto
18-24 horas 13 ºC
Aplicar 100g de Levedura Excellence por cada 500 litros de mosto e 10g de
Activateur S por cada 500 litros de mosto. Remontar
Adicionar 40g de Activateur S por cada
500 litros de mosto.Remontar
ligeiramente
Aplicar 30g de sulfuroso puro por cada 500
litros de vinho
16 ºC
Borras/Engaço
Borras
10 - armazenamento
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
69
Figura 4.3 - Fluxograma da Produção de Vinho Rosé Adega.
2 - Desengace/esmagamento/bombeamento
Mosto + Bagaço
3 - Encuba
4 - Fermentação - 2º Dia
Borras/Engaço
Engaço
4 - Fermentação/maceração
5 - Prensagem
6 - Trasfega com arejamento
7 - Armazenamento
1 - Recepção/Pesagem/Amostra
1 Litro de solução sulfurosa a 15% por
cada 4 toneladas de uva 10g de Pectocor por cada 500 Kg de Uvas
30g de Actiferment por cada 750Kg de
uvas
30g de Tanirouge por cada 750 Kg de
uvas
100g de Levedura por cada 750 Kg de
uvas4 - Fermentação
30g de Actiferment por cada 750Kg de
uvas
30g de Tanirouge por cada 750 Kg de
uvas
Densidade 1040
Densidade 1005
Aplicar 30g de sulfuroso puro por cada 500
litros de vinho
17 ºC
24 ºC
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
70
1 - ANÁLISE DO LOTE
4 - CORRECÇÃO
2 - FILTRAÇÃO POR TERRAS PARA A CUBA DE
FRIO
10 - GASEIFICAÇÃO
11 - ENCHIMENTO
12 - ROLHAMENTO
13 - ENCAPSULAMENTO
14 - ROTULAGEM
15 - EMBALAGEM
16 - ARMAZENAGEM
17 - EXPEDIÇÃO
ácido ascórbico
acido cítrico
ácido metatartárico
ácido tartárico
anidrido sulfuroso
sorbato de potássio
Dióxido de Carbono
Goma arábica
5 - COLAGEMBentonite
Gelatina
Gel Sílica
9 - ANÁLISE DO LOTE
GarrafasGarrafões
Rolhas
Cápsulas
Rótulo
Caixas de CartãoPelícula Aderente
FILTRAÇÃO?
CORRECÇÃO?
SIM
SIM
COLAGEM?
NÃO
SIM
6 - ENVIO DE AMOSTRA PARA LABORATÓRIO DA
CVRVV
NÃO
7 - ESTABILIZAÇÃO TARTÁRICA
8 - FILTRAÇÃO POR TERRAS E PLACAS PARA A CUBA DE GASEIFICAÇÃO
ENGARRAFAMENTO EM GARRAFA?
NÃO
SIM
3 - APLICAÇÃO DE MOSTO AMUADO OU
MCRNÃO
Figura 4.4 - Fluxograma do processo de Engarrafamento/engarrafonamento dos diversos vinhos da Cooperativa.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
71
4.2.5 Análise de Risco
Como foi descrito no Capítulo 3, ao longo de todo o processo foram identificados os vários perigos
expectáveis para a segurança alimentar. Na Tabela 4.2 estão listados todos os perigos identificados bem
como a sua análise. De forma a melhor a compressão da tabela, substituiu-se probabilidade por “P”,
severidade por “S” e risco por “R”. Quanto às questões da árvore de decisão, Q1, Q2, Q3, e Q4,
correspondem a cada uma das perguntas da árvore apresentada na Figura 2.7 - Árvore de decisão
segundo o Códex Alimentarius .
Depois de serem analisados através da matriz de risco, os perigos significativos foram
submetidos a uma análise pela árvore de decisão da Figura 2.7. Desta análise concluiu-se se um
determinado perigo é gerido pelo plano HACCP, ou se poderia ser resolvido pelos PPR’s. Os PCC’s são
as etapas do processo onde o controlo é fundamental para a eliminação ou redução de um perigo para
níveis aceitáveis. Na Tabela 4.1 estão ainda apresentados os níveis de aceitação para os perigos mais
relevantes.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
72
Tabela 4.1 - Níveis de aceitação para os perigos mais relevantes
Perigos Químicos Níveis de aceitação Critérios Justificação
OTA Ocratoxina A ≤ 2,0 μg/kg Requisito
Legal
Estes contaminantes químicos são
prejudiciais à saúde do
consumidor, pelo que existem
limites impostos pela legislação
para a sua concentração no
produto final. Chumbo Chumbo ≤ 0,20 mg/kg
Requisito
Legal
Resíduos de desinfetantes ausente Requisito
Interno
Após as lavagens e desinfeções
não devem ficar retidos nos
equipamentos vestígios dos
produtos utilizados, pelo que se
deve efetuar um enxaguamento
eficaz dos equipamentos
higienizados.
Óleos Lubrificantes ausente Requisito
Interno
Os produtos utilizados na
manutenção dos equipamentos e
máquinas não devem constituir
uma fonte de contaminação para o
produto final. Assim, o seu uso
deve ser cuidado, e devem-se
optar por produtos que sejam
adequados ao uso na indústria
alimentar.
Sulfitos
≤ 210 mg/L em vinhos
Brancos e Rosé
≤ 160 mg/L em vinhos Tintos
Requisito
Legal
As dosagens de sulfito utilizadas
no vinho são rigorosamente
controladas, pela legislação dos
países produtores de vinho, para
que estejam dentro de limites
seguros para a saúde.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
73
Tabela 4.1 - Níveis de aceitação para os perigos mais relevantes (Continuação)
Perigos Químicos Níveis de aceitação Critérios Justificação
Presença de resíduos
de tratamentos
fitossanitários
Definido pela Legislação Requisito
Legal
As uvas não devem apresentar
resíduos de tratamentos
fitossanitários. Sempre que seja
necessário é solicitado o
caderno de campo com a
descrição das práticas culturais
e os últimos tratamentos
fitossanitários aplicados à vinha
Produtos Enológicos
Limites máximos:
Sais de amónio - 1g/L
Tiamina - 0,6 mg/L
Ácido sórbico - 200 mg/L
Ácido ascórbico - 250
mg/L
Ácido metatartárico – 100
mg/L;
CO2 - 3 g/L e a
sobrepressão <1 bar, a
20 °C.
Requisito
Legal
O uso de certos produtos
enológicos tem como objetivo
principal melhorar qualidade
organoléticas dos vinhos, mas
devem ser usados em doses
moderadas, já que o seu
excesso pode ser prejudicial
para o consumidor final.
Perigos Físicos Níveis de aceitação Critérios Justificação
Vidros, plásticos,
madeiras, pedras, terra
e adornos pessoais
0 (ausência de corpos
estranhos)
Requisito
interno
Ao longo de todo o processo
são implementadas ferramentas
que visam eliminar estes
perigos do produto final,
principalmente vidros que
podem estar presentes em
garrafas.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
74
Tabela 4.1 - Níveis de aceitação para os perigos mais relevantes (Continuação)
Perigos Biológicos Níveis de aceitação Critérios Justificação
Existência de pragas
ou doenças na
matéria-prima.
Ausente Requisito
interno
As uvas devem apresentar-se
nas melhores condições
possíveis de higiene e ausente
de qualquer praga. Não existe
regulamentação para limite
quer de perigos microbiológicos
ou macrobiológicos, mas no
entanto de modo a cumprir as
boas práticas de fabrico e
higiene deve-se evitar a sua
presença.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
75
Tabela 4.2 - Listagem dos potenciais perigos associados a cada etapa do processo, análise de risco, determinação e seleção das medidas de controlo
Receção e Armazenamento de Produtos
Etapas Descrição do
potencial perigo
S
P
R Causas Medidas preventivas Q1 Q2 Q3 Q4 PCC Comentários
Receção
Físico
1 2 2
Existência de
resíduos sólidos
(terra, folhas).
Controlo visual da matéria-
prima. PPR
Biológico
2 1 3
Existência de
pragas ou doenças
na matéria-prima.
Controlo visual da matéria-
prima.
Correta aplicação de
tratamentos fitossanitários.
PPR
Químico 2 1 2
Existência de
resíduos de
tratamento das
uvas
Controlo visual da matéria-
prima. Verificação dos
cadernos de campo.
PPR
Químico 2 1 2
Presença de OTA e
Chumbo
Acompanhamento em campo do estado
Fitossanitário das Culturas;
PPR
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
76
Tabela 4.2 - Listagem dos potenciais perigos associados a cada etapa do processo, análise de risco, determinação e seleção das medidas de controlo (Continuação)
Etapas Descrição do
potencial perigo
S
P
R Causas Medidas preventivas Q1 Q2 Q3 Q4 PCC Comentários
Esmagamento
Físico
1 1 1
Quebra de limalhas
dos trituradores.
Efetuar uma vistoria prévia ao
equipamento. PPR
Biológico
2 1 2
Equipamentos
contaminados ou
mal desinfetados.
Efetuar desinfeções
adequadas ao equipamento
antes de cada utilização.
PPR
Químico 3 2 6
Existência de
químicos
adicionados com
medidas
excessivas. (SO2)
Plano HACCP, cumprimento
da legislação relativa ao teor
residual de sulfitos admissível
no vinho estabelecido pela OIV
(2013)
S N S S Não
PCC PPR
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
77
Tabela 4.2 - Listagem dos potenciais perigos associados a cada etapa do processo, análise de risco, determinação e seleção das medidas de controlo (Continuação)
Etapas Descrição do
potencial perigo
S
P
R Causas Medidas preventivas Q1 Q2 Q3 Q4 PCC Comentários
Bombagem
Físico
1 2 2
Tubos com más
condições físicas
no interior
(existência de
substâncias sólidas
ex.: pó,).
Efetuar lavagem
antecipadamente ao uso dos
mesmos.
PPR
Biológico
2 1 2 Equipamentos de
bombeamento
contaminados ou
não desinfetados.
Efetuar desinfeções
adequadas ao equipamento
antes do uso do mesmo.
PPR
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
78
Tabela 4.2 - Listagem dos potenciais perigos associados a cada etapa do processo, análise de risco, determinação e seleção das medidas de controlo (Continuação)
Etapas Descrição do
potencial perigo
S
P
R Causas Medidas preventivas Q1 Q2 Q3 Q4 PCC Comentários
Prensagem
Químico 1 1 1
Prensagem
demasiado brusca
libertação de
ácidos da grainha.
Existência de
resíduos químicos
da limpeza
anterior.
Controlo da pressão da
prensa.
Controlo do enxaguamento
após limpeza do
equipamento.
PPR
Biológico
2 1 2
Prensas
contaminadas ou
mal desinfetadas.
Efetuar desinfeções
adequadas ao equipamento
antes do seu uso.
PPR
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
79
Tabela 4.2 - Listagem dos potenciais perigos associados a cada etapa do processo, análise de risco, determinação e seleção das medidas de controlo (Continuação)
Etapas Descrição do
potencial perigo
S
P
R Causas Medidas preventivas Q1 Q2 Q3 Q4 PCC Comentários
Decantação Químico
3 2 6
Existência de
químicos
adicionados em
quantidades
excessivas. (SO2)
Plano HACCP, cumprimento
da legislação relativa ao teor
residual de sulfitos admissível
no vinho estabelecido pela OIV
S N S S Não
PCC PPR
2 1 1 Existências de
resíduos químicos
da limpeza
anterior.
Controlo do enxaguamento
após a limpeza do
equipamento.
PPR
Trasfega Físico 2 1 1
Existência de
resíduos nas
tubagens
Lavagens e desinfeções apos
cada utilização de modo a
manter as boas condições dos
equipamentos.
PPR
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
80
Tabela 4.2 - Listagem dos potenciais perigos associados a cada etapa do processo, análise de risco, determinação e seleção das medidas de controlo (Continuação)
Etapas Descrição do
potencial perigo
S
P
R Causas Medidas preventivas Q1 Q2 Q3 Q4 PCC Comentários
Fermentação
Biológico
1 1 1
Excesso de adição de
leveduras.
Doenças do mosto
Controlo quantitativo da adição de
leveduras.
PPR
Químico 2 1 1 Excesso de adição de
auxiliares de
fermentação
Resíduos de limpeza
Controlo quantitativo da adição de
auxiliares de fermentação. PPR
Trasfega
c/arejamento
Químico 3 2 6
Adição de sulfuroso em
excesso
Plano HACCP, cumprimento da
legislação relativa ao teor residual
de sulfitos admissível no vinho
estabelecido pela OIV (2013)
S N S S Não
PCC PPR
Biológico
2 1 1
Má desinfeção,
existência de
microrganismos.
Efetuar desinfeções prévias
adequadas ao equipamento antes
da sua utilização.
PPR
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
81
Tabela 4.2 - Listagem dos potenciais perigos associados a cada etapa do processo, análise de risco, determinação e seleção das medidas de controlo (Continuação)
Etapas Descrição do
potencial perigo
S
P
R Causas Medidas preventivas Q1 Q2 Q3 Q4 PCC Comentários
Armazenamento
Físico
1 2 2
Existência de resíduos
sólidos nas cubas
Efetuar um controlo prévio da
higienização das cubas. PPR
Químico 2 1 1
Existência de resíduos
químicos utilizados na
limpeza das cubas.
Controlo do enxaguamento após a
lavagem. PPR
Biológico
2 1 1 Cubas mal
desinfetadas, presença
de microrganismos.
Controlo da desinfeção prévia das
cubas. Boas práticas de higiene PPR
Correção Químico 2 1 2
Excesso de produtos
Enológicos quando
aplicáveis
Boas Práticas de Fabrico. Seguir
Instruções do Fabricante e Enólogo PPR
Análise do Lote Químico 3 2 6
Presença de SO2 em
excesso
Cumprimento da legislação relativa
ao teor residual de sulfitos
admissível no vinho estabelecido
pela OIV
S S PCC 1
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
82
Tabela 4.2 - Listagem dos potenciais perigos associados a cada etapa do processo, análise de risco, determinação e seleção das medidas de controlo (Continuação)
Etapas Descrição do
potencial perigo
S
P
R Causas Medidas preventivas Q1 Q2 Q3 Q4 PCC Comentários
Clarificação
Físico
1 2 2
Existência de
resíduos sólidos
nos filtros.
. Substituição dos filtros
sempre que necessário.
Utilizar filtros com diâmetros
adequados. Inspeção visual
PPR
Químico 2 1 2
Existências de
resíduos químicos
da limpeza
anterior.
Controlo do enxaguamento
após a limpeza do
equipamento. Boas práticas
de Higiene
PPR
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
83
Tabela 4.2 - Listagem dos potenciais perigos associados a cada etapa do processo, análise de risco, determinação e seleção das medidas de controlo (Continuação)
Etapas Descrição do
potencial perigo
S
P
R Causas Medidas preventivas Q1 Q2 Q3 Q4 PCC Comentários
Engarrafamento
Biológico
2 1 2
Garrafões/Garrafas mal
desinfetados, existência
de microrganismos.
Controlo da desinfeção do material
a usar. Boas práticas de Higiene PPR
Físico
2 1 2
Existência de resíduos
sólidos nos garrafões e
garrafas.
Controlo da lavagem e desinfeção
dos garrafões. Boas práticas de
manipulação e armazenagem dos
materiais em boas condições.
PPR
3 2 6
Quebra de garrafas ou
garrafões, existência de
vidros pequenos no seu
interior.
Controlo qualitativo das
embalagens. Bom
acondicionamento dos materiais e
Boas práticas de Manuseamento
S N S N PCC 2
Químico 2 1 2
Existência de resíduos
químicos da lavagem
anterior.
Controlo do enxaguamento após
lavagem. Boas práticas de Higiene PPR
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
84
Tabela 4.2 - Listagem dos potenciais perigos associados a cada etapa do processo, análise de risco, determinação e seleção das medidas de controlo (Continuação)
Etapas Descrição do
potencial perigo
S
P
R Causas Medidas preventivas Q1 Q2 Q3 Q4 PCC Comentários
Colocação da
rolha
Físico
2 1 2
Quebra total ou
parcial do gargalo
Controlo de qualidade das
embalagens. Boas práticas de
manipulação
S N N Não
PCC PPR
1 1 1
Deformação nas
rolhas
Controlo da qualidade das
rolhas. Boas práticas de
manipulação
PPR
Colocação da
cápsula
Físico
2 2 4 Quebra total ou
parcial do gargalo
Controlo de qualidade das
embalagens. Boas práticas de
manipulação
S N N Não
PCC PPR
Rotulagem Físico 2 2 4
Quebra total ou
parcial da
embalagem
Controlo de qualidade das
embalagens. Boas práticas de
manipulação
S N N Não
PCC PPR
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
85
A grande maioria dos perigos analisados pelo plano HACCP pode ser controlada por PPR´s,
sendo que da análise efetuada na Tabela 4.2, existem 2 PCC’s.
Relativamente aos perigos químicos como a presença de chumbo, ou produtos fitossanitários, a
presença destes é precavida pelo cumprimento das Boas Praticas Agrícolas. De igual forma, se forem
compridas as Boas Práticas de Fabrico e Boas Práticas de Higiene, o risco de o vinho poder ser
contaminado por óleos, lubrificantes, ou mesmo por produtos desinfetantes e detergente utilizados nas
limpezas, é bastante reduzido.
Relativamente aos produtos enológicos utilizados durante a produção do vinho, estes
normalmente são adicionados por pessoal com formação e que seguem as Boas Práticas de Fabrico,
bem como as recomendações dos fabricantes.
É importante realçar que os microrganismos que podem contaminar os vinhos não são
patogénicos, daí não existir legislação sobre os mesmos. Normalmente o controlo de temperatura das
fermentações, bem como a adição de sulfitos, o baixo pH do vinho e a presença de etanol, não permite
o desenvolvimento deste tipo de microrganismos. Os que se desenvolvem normalmente afetam apenas
características organoléticas não constituindo uma real ameaça para a saúde humana, sendo importante
assim cumprir as BPF e BPH, para evitar alguma deterioração das suas características.
Os PCC’s identificados na secção de produção de vinhos da Frutivinhos foram os seguintes:
PCC 1: Perigo Químico devido à excessiva adição de sulfitos ao vinho;
PCC 2: Perigo Físico devido à presença de vidros nas garrafas
4.2.6 Estabelecimento dos limites críticos para os PCC´s, do sistema de monitorização e das ações
corretivas
Na Tabela 4.3 estão apresentados os limites críticos para cada um dos PCC´s analisados bem
como o seu sistema de monitorização e as ações corretivas caso algum PCC não esteja sobre controlo.
Os limites críticos por vezes são baseados em dados subjetivos, como a inspeção visual, pelo
que devem ser apoiados por instruções específicas de como a realizar. Caso exista um desvio ao limite
critico, está-se perante uma não conformidade, pelo que se têm de tomar medidas corretivas de modo
a assegurar que a causa dessa não conformidade, que apresenta um risco para o consumidor, é
identificada, e que assim seja de novo controlada e prevenido o seu reaparecimento.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
86
O sistema de monitorização permite efetuar uma medição ou observação programada a um
dado PCC, de acordo com os limites estabelecidos. Os métodos utilizados na monitorização devem, além
de permitir averiguar uma não conformidade, permitir deteta-la em tempo útil, de forma a tratar o produto
não seguro antes de chegar até aos consumidores finais. Sempre que uma não conformidade seja
detetada, deve-se preencher a ficha presente no Anexo VIII, de modo a ficar registado a origem da não
conformidade e as medidas tomadas para as corrigir.
4.2.7 Implementação de um sistema de verificação do funcionamento do plano HACCP
De modo a verificar se o plano HACCP está a funcionar de acordo com o que foi definido e
verificar a eficácias dos PCC’s é necessário estabelecer um sistema de verificação.
Por outras palavras a verificação corresponde à validação do sistema e à determinação da sua
competência em satisfazer as exigências da segurança.
A verificação do Sistema HACCP deverá ser realizada após o término do estudo HACCP para
validação do mesmo. Esta verificação deve ser realizada sempre que ocorre uma mudança que influencie
a análise dos perigos, sempre que ocorra um desvio, aquando do conhecimento de novos perigos ou
face a resultados insatisfatórios de auditorias. Os procedimentos de verificação envolvem a análise de
documentos e registos do Sistema HACCP, a avaliação científica de todos os perigos e a análise dos
limites críticos e respetivas ações corretivas.
Os principais procedimentos de verificação segundo a CCA são auditorias ao HACCP e seus
registos, revisão dos desvios, inspeção do processo de fabrico e validação e deverão ser realizadas por
pessoas diferentes da que procedeu à vigilância e implementação das ações corretivas. Até à realização
da presente dissertação, esta verificação não era efetuada, pelo que é necessário após o término deste
projeto, que esta verificação seja efetuada periodicamente.
4.2.8 Arquivo da documentação e registos relativos ao HACCP
A implementação de um sistema HACCP depende do sistema de documentação onde constam
os registos, procedimentos e instruções de trabalho de todas as atividades realizadas.
Para além destes registos é essencial reunir toda a documentação relacionada com a análise de
perigos, determinação de PCC’s, determinação dos limites críticos de controlo e procedimentos no
âmbito do plano HACCP.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
87
Estes registos são provas concretas da realização das atividades de controlo efetuadas aquando
a implementação do HACCP, sendo por isso importante a sua conservação, sendo uma fonte de suporte
e que permite confirmar perante consumidores que o pano está a ser cumprido.
Estes documentos devem ser passiveis de modificação ou atualização e necessitam estar
disponíveis para consulta em qualquer momento.
Todos os documentos e relevantes para o sistema HACCP estão arquivados em pasta próprias,
e em sistema informático, e alguma documentação encontra-se ainda afixada em zonas onde são
pertinentes, no caso de instruções de trabalho ou registos de higienização.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
88
Tabela 4.3 - Limites críticos, medidas de monotorização e ações corretivas para os PCC's do Vinho
Etapa PCC Limite crítico
Monitorização Ações Corretivas
Método Frequência Responsável Método Frequência Responsável
Vinh
o
Análise do lote PCC1
Limite imposto
pela legislação
Análises de SO2 antes do
enchimento.
Ao longo do processo de produção;
Funcionário da adega
Isolamento do lote com excesso de SO2 e a sua
conjugação e homogeneização com
lotes de menores teores de SO2;
Rever formação do pessoal.
Sempre que necessário
Funcionário da adega
Engarrafamento PCC2
Ausência de vidros no interior
das garrafas
Inspeção visual da palete onde estão armazenadas as
garrafas de vidro e aquando a
colocação das mesmas na linha de enchimento de forma a verificar se
alguma esta partida;
Inspeção visual durante o processo
de enchimento;
Durante todo o processo de enchimento
Funcionário da adega
Recolher garrafas partidas;
Lavagem da enchedora; Recolha das garrafas daquele lote e nova lavagem de modo a
retirar qualquer vidro que possam conter;
Sempre que necessário
Funcionário da adega
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
89
4.3 Etapas preliminares à Análise dos Perigos – Secção dos hortofrutícolas
4.3.1 Formação da Equipa HACCP
De forma a criar uma equipa multidisciplinar tentou-se englobar profissionais das mais variadas
áreas da Cooperativa. Assim, fazem parte desta equipa o Diretor da cooperativa, que será o coordenador,
e o responsável por providenciar os recursos necessários e garantir a implementação e manutenção do
sistema HACCP. Faz também parte da equipa a funcionária de armazém, que possui conhecimentos dos
processos, bem como dos equipamentos e dos produtos. Por fim também a funcionária administrativa,
responsável pelos serviços administrativos, foi incluída na equipa HACCP.
4.3.2 Características do produto
A caracterização de cada produto hortofrutícola comercializado pela Frutivinhos está na respetiva
Ficha Técnica e inclui dados como as características organoléticas, microbiológicas, data de validade,
condições de armazenagem e distribuição entre outros dados importante. Um exemplo destas Fichas
Técnicas pode ser consultado no Anexo VII, onde é apresentada a Ficha Técnica do Limão.
4.3.3 Utilização Prevista
As frutas e os hortícolas podem e devem de um modo geral ser consumidos por qualquer pessoa
em qualquer faixa etária. Os benefícios do consumo de hortofrutícolas estão mais do que comprovado,
variando de fruto para fruto e de hortícola para hortícola os benefícios que podem ter para a saúde do
consumidor.
4.3.4 Construção do Fluxograma e verificação in loco.
Foi elaborado um fluxograma geral para a secção dos hortofrutícolas (Figura 4.5). A Cooperativa
trabalha com bastantes produtos, mas de um modo geral os passos e procedimentos para cada um são
os mesmos. Os fluxogramas são verificados e validados anualmente.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
90
Figura 4.5 – Fluxograma do processamento de Hortofrutícolas.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
91
4.3.5 Análise de Risco
Como foi descrito no Capítulo 3, ao longo de todo o processo foram identificados os vários perigos
expectáveis para a segurança alimentar. Tabela 4.5 estão listados todos os perigos identificados bem
como a sua análise. De forma a melhor a compressão da tabela, substituiu-se probabilidade por “P”,
severidade por “S” e risco por “R”. Quanto às questões da árvore de decisão, Q1, Q2, Q3, e Q4,
correspondem a cada uma das perguntas da árvore apresentada na Figura 2.7.
Depois de serem analisados através da matriz de risco, os perigos significativos foram
submetidos a uma análise pela árvore de decisão da Figura 2.7. Desta análise concluiu-se se um
determinado perigo é gerido pelo plano HACCP, ou se poderia ser resolvido por pré-requisitos. Os PCC’s
são as etapas do processo onde o controlo é fundamental para a eliminação ou redução de um perigo
para níveis aceitáveis. Na Tabela 4.5 estão ainda apresentados os níveis de aceitação para os perigos
mais relevantes.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
92
Tabela 4.4 - Limites críticos para os perigos mais relevantes - Secção Hortofrutícola
Perigos Biológicos Níveis de aceitação Critérios Justificação
Existência de pragas ou
doenças na matéria-
prima.
Ausente Requisito
interno
Os produtos hortofrutícolas devem
apresentar-se nas melhores
condições possíveis de higiene e
ausente de qualquer praga.
Devem-se cumprir as boas práticas
de fabrico e higiene deve-se evitar
a sua presença.
Perigos Químicos Níveis de aceitação Critérios Justificação
Resíduos de desinfetantes Ausência Requisito
Interno
Após as lavagens e desinfeções
não devem ficar retidos nos
equipamentos vestígios dos
produtos utilizados, pelo que se
deve efetuar um enxaguamento
eficaz dos equipamentos
higienizados.
Óleos Lubrificantes Vestígios (análise visual) Requisito
Interno
Os produtos utilizados na
manutenção dos equipamentos e
máquinas não devem constituir
uma fonte de contaminação para o
produto final. Devem-se optar por
produtos que sejam adequados ao
uso na indústria alimentar.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
93
Tabela 4.4 - Limites críticos para os perigos mais relevantes - Secção Hortofrutícola (Continuação)
Perigos Químicos Níveis de aceitação Critérios Justificação
Presença de resíduos de
tratamentos fitossanitários Definido pela Legislação
Requisito
Legal
Os produtos hortofrutícolas não
devem apresentar resíduos de
tratamentos fitossanitários.
Sempre que seja necessário é
solicitado o caderno de campo
com a descrição das práticas
culturais e os últimos tratamentos
fitossanitários aplicados ao
pomar/horta.
Chumbo O,1 mg/kg Requisito
Legal
Contaminante químico prejudicial
à saúde do consumidor, pelo que
existem limites impostos pela
legislação para a sua
concentração no produto final.
Perigos Físicos Níveis de aceitação Critérios Justificação
Vidros, plásticos,
madeiras, pedras, terra e
adornos pessoais
Ausente Requisito
interno
Ao longo de todo o processo são
implementadas ferramentas que
visam eliminar estes perigos do
produto final, principalmente
vidros que podem estar presentes
em garrafas.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
94
Tabela 4.5 - Listagem dos potenciais perigos associados a cada etapa do processo, análise de risco, determinação e seleção das medidas de controlo
Receção e Armazenamento de Produtos
Etapas Descrição do
potencial perigo
S
P
R Causas Medidas preventivas Q1 Q2 Q3 Q4 PCC Comentários
Receção
Físico
1 3 3
Existência de resíduos
sólidos (terra, folhas,
pedúnculo).
Presença de corpos
estranhos devido às
más condições de
produção.
Controlo visual da matéria-
prima.
Limpar o produto quando
este for colhido.
S N S S
Não
é
PCC
PPR
Biológico
1 2 1 Existência de pragas ou
doenças na matéria-
prima.
Produto entregue a
temperaturas elevadas.
Controlo visual da matéria-
prima.
Verificação das condições
de transporte.
PPR
Químico 2 1 2
Existência de resíduos
de tratamento dos
hortofrutícolas.
Controlo visual da matéria-
prima.
Verificação do caderno de
campo
PPR
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
95
Tabela 4.5. - Listagem dos potenciais perigos associados a cada etapa do processo, análise de risco, determinação e seleção das medidas de controlo (Continuação)
Etapas Descrição do
potencial perigo
S
P
R Causas Medidas preventivas Q1 Q2 Q3 Q4 PCC Comentários
Atribuição de
lote
Físico
1 1 1
Colocação de papéis
nas caixas com o
produto.
Não colocar o papel, com o
número do lote, em cima
do produto.
PPR
Lavagem Biológico 1 2 2
Crescimento de
microrganismos
patogénicos.
Boas práticas Agrícolas;
Consulta dos cadernos de
campo dos produtores;
PPR
Câmara de
conservação
Biológico
1 2 2
Temperaturas não
compatíveis com os
produtos levando à sua
degradação. Podridão
Controlo e registo das
temperaturas dos
equipamentos de frio.
PPR
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
96
Tabela 4.5 - Listagem dos potenciais perigos associados a cada etapa do processo, análise de risco, determinação e seleção das medidas de controlo (Continuação)
Etapas Descrição do
potencial perigo
S
P
R Causas Medidas preventivas Q1 Q2 Q3 Q4 PCC Comentários
Calibração
Físicos 2 1 2
Contaminação por parte
do manipulador.
Presença de partículas
no calibrador.
Boas Práticas de Higiene e
de Fabrico PPR
Químicos
2 1 2
Presença de adornos no
manuseamento do
produto.
Se for no caso de uma
máquina, esta pode ter
fugas de óleos ou outros
componentes.
Evitar ter as unhas pintadas
e utilização de adornos no
momento desta etapa.
Fazer verificações
periódicas ao calibrador.
PPR
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
97
Tabela 4.5 - Listagem dos potenciais perigos associados a cada etapa do processo, análise de risco, determinação e seleção das medidas de controlo (Continuação)
Etapas Descrição do
potencial perigo
S
P
R Causas Medidas preventivas Q1 Q2 Q3 Q4 PCC Comentários
Escolha
Física 2 1 2
Presença de corpos
estranhos com origem nos
manipuladores/produtor
Observação das condições
higiénicas de manipulação
dos utensílios e
equipamentos.
Cumprimento das regras
de higiene pessoal.
PPR
Químico 2 1 2
Contaminação a partir de
detergentes e
desinfetantes.
Passar por água os
utensílios e caixas depois de
desinfetar.
Arrumar detergentes e
desinfetantes longe do local
de manipulação.
PPR
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
98
Tabela 4.5 - Listagem dos potenciais perigos associados a cada etapa do processo, análise de risco, determinação e seleção das medidas de controlo (Continuação)
Etapas Descrição do
potencial perigo
S
P
R Causas Medidas preventivas Q1 Q2 Q3 Q4 PCC Comentários
Embalamento
Biológico
2 1 2
Caixas contaminadas por
microrganismos
patogénicos.
Desinfetar caixas antes de
por qualquer produto
dentro.
PPR
Químico 2 1 2 Resíduos de limpeza Passar as caixas por água
abundantemente. PRR
Expedição
Físico 2 1 2 Carrinha suja, mal lavada
ou com poeiras.
Lavar e desinfetar a
carrinha sempre que se
faz uma viagem.
PPR
Químico 2 1 1
Carrinha com resíduos de
produtos de desinfeção.
Passar a carrinha muito
bem por água. PPR
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
99
A grande maioria dos perigos analisados pelo plano HACCP pode ser controlada por PPR´s,
sendo que da análise efetuada na Tabela 4.5 não existem PCC´s para esta secção da Cooperativa.
Relativamente aos perigos químicos como resíduos de produtos fitossanitários, a presença
destes é precavida pelo cumprimento das Boas Praticas Agrícolas. De igual forma, se forem compridas
as Boas Práticas de Fabrico e Boas Práticas de Higiene, o risco de os produtos hortofrutícolas poderem
ser contaminado por óleos, lubrificantes, ou mesmo por produtos desinfetantes e detergente utilizados
nas limpezas, é bastante reduzido.
4.3.6 Implementação de um sistema de verificação do funcionamento do plano HACCP
De modo a verificar se o plano HACCP está a funcionar de acordo com o que foi definido e
verificar a eficácias dos PCC’s é necessário estabelecer um sistema de verificação.
Por outras palavras a verificação corresponde à validação do sistema e à determinação da sua
competência em satisfazer as exigências da segurança.
A verificação do Sistema HACCP deverá ser realizada após o término do estudo HACCP para
validação do mesmo. Esta verificação deve ser realizada sempre que ocorre uma mudança que influencie
a análise dos perigos, sempre que ocorra um desvio, aquando do conhecimento de novos perigos ou
face a resultados insatisfatórios de auditorias. Os procedimentos de verificação envolvem a análise de
documentos e registos do Sistema HACCP, a avaliação científica de todos os perigos e a análise dos
limites críticos e respetivas ações corretivas.
Os principais procedimentos de verificação segundo o CCA são auditorias ao HACCP e seus
registos, revisão dos desvios, inspeção do processo de fabrico e validação e deverão ser realizadas por
pessoas diferentes da que procedeu à vigilância e implementação das ações corretivas. Até à realização
da presente dissertação, esta verificação não era efetuada, pelo que é necessário após o término deste
projeto, que esta verificação seja efetuada periodicamente.
4.3.7 Arquivo da documentação e registos relativos ao HACCP
A implementação de um sistema HACCP depende do sistema de documentação onde constam
os registos, procedimentos e instruções de trabalho de todas as atividades realizadas.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
100
Para além destes registos é essencial reunir toda a documentação relacionada com a análise de
perigos, determinação de PCC’s, determinação dos limites críticos de controlo e procedimentos no
âmbito do plano HACCP.
Estes registos são provas concretas da realização das atividades de controlo efetuadas aquando
a implementação do HACCP, sendo por isso importante a sua conservação, sendo uma fonte de suporte
e que permite confirmar perante consumidores que o pano está a ser cumprido.
Estes documentos devem ser passiveis de modificação ou atualização e necessitam estar
disponíveis para consulta em qualquer momento.
Todos os documentos e relevantes para o sistema HACCP, estão arquivados em pasta
próprias, e em sistema informático, e alguma documentação encontra-se ainda afixada em zonas onde
é pertinente, no caso de instruções de trabalho ou registos de higienização.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
101
5. CONCLUSÕES
Cada vez mais, as empresas do setor agroalimentar têm adotado SGSA’s (Sistemas de Gestão
da Segurança Alimentar) baseados na metodologia HACCP, muito devido à crescente imposição dos
consumidores, cadeias de distribuição e autoridades legais por alimentos seguros e com qualidade. No
entanto é importante realçar que a implementação destes sistemas deverá ser sempre complementada
com a adoção de um conjunto de PPR’s como as BPF, BPH e BPA que representam requisitos primários
para prevenção da contaminação de um produto.
De um modo geral, os objetivos inicialmente propostos foram atingidos, tendo sido revisto e
atualizado o plano HACCP já desenvolvido na empresa e também planeados e desenvolvidos os
processos necessários para a obtenção de produtos seguros. Quanto à certificação pela norma NP EN
ISO 22000:2005, desde o início do projeto foi decidido optar por não a fazer devido à falta de estrutura
organizacional da empresa para a implementar.
Durante a “auditoria” de diagnóstico inicial foram verificadas algumas não conformidades, tendo
sido algumas delas corrigidas rapidamente. No entanto são visíveis as reais dificuldades que uma
pequena empresa tem de modo implementar um SGSA, sendo que para a correção de algumas não
conformidades são necessários elevados investimentos, recursos humanos e tempo, que no caso em
estudo são recursos limitados e desajustados à realidade da empresa. Assim algumas das não
conformidades apenas poderão ser corrigidas a médio prazo. Ainda durante a “auditoria”, foi possível
analisar o grau de implementação dos PPR´s, sendo que para cada um foram indicados alguns pontos
em que podem melhorar e as modificações para a uma implementação mais eficaz. No meu ponto de
vista, as situações mais críticas e que devem ser alvo prioritário por parte da direção, são mesmo as
más condições de algumas zonas das instalações, como o piso da adega e as infiltrações no teto e
paredes.
A análise dos perigos, além de permitir a identificação dos perigos expectáveis ao longo da cadeia
produtiva, permitiu identificar o seu nível de risco, e definir medidas para reduzir ou eliminar esses
perigos para níveis aceitáveis. Na secção vinícola, foram identificados dois PCC’s, sendo um deles
relativos á adição de sulfuroso ao vinho. A adição do SO2 em excesso constitui um perigo químico sendo
que os níveis máximos aceitáveis nos vinhos estão regulamentados no Reg. CE nº 606/2009. Na secção
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
102
dos hortofrutícolas, não foi identificado qualquer PCC, podendo os perigos expectáveis ser tratados por
PPR’s.
Para se garantir a eficácia do sistema HACCP, além da sua verificação, este deve estar sujeito a
uma atualização constante, num processo de melhoria continua.
Até ao início do presente e agora concluído projeto, conceitos como Segurança Alimentar, ou
sistema HACCP eram apenas teóricos que foram abordados durante estes cinco anos de percurso
académico. Agora, e findos estes meses de trabalho, é possível compreender realmente como se
processam as etapas de desenvolvimento de um SGSA e como estes se aplicam na prática, permitindo
assim uma maior consolidação de conhecimentos bem como perceber as vantagens as dificuldades e a
sua aplicabilidade num contexto real.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
103
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Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
107
ANEXOS
Anexo I – Planos de limpeza e higienização
Anexo II – Registo de Limpezas e Higienização
Anexo III – Ficha receção de Matérias Primas
Anexo IV – Controlo de Qualidade de produtos Hortofrutícolas
Anexo V – Modelos de Verificação de equipamentos
Anexo VI – Exemplo Ficha Técnica Vinhos – Vinho Branco Adega Vila Nova de Famalicão
Anexo VII – Exemplo Ficha Técnica Hortofrutícolas - Limão
Anexo VIII –Registo de Não Conformidades e Plano de Ação
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
108
Anexo I – Planos de limpeza e higienização
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
116
Anexo II – Registo de Limpezas e Higienização
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
118
FRUTIVINHOS
Cooperativa Agrícola de Vila Nova de Famalicão, C.R.L.
Registo de Higienização
Ano_______________ Local_________________________
Data Lavagem Desinfeção Produtos utilizados Observações Responsável
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
119
FRUTIVINHOS
Cooperativa Agrícola de Vila Nova de Famalicão, C.R.L.
Registo de Higienização - Cubas
Ano_______________ Local_______________________
Data Lavagem Cuba Desinfeção Produtos
utilizados
Observações Responsável
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
120
Anexo III – Ficha receção de Matérias Primas
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
121
FRUTIVINHOS
Cooperativa Agrícola de Vila Nova de Famalicão, C.R.L.
Receção de Matérias-primas
Produtor:
Data:
GT/Lote:
Hora de Receção :
Designação Peso Bruto N.º de Caixas Palete Outros
LEVANTOU
Rubrica
Caixas
Paletes
Outros
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
122
Anexo IV – Controlo de Qualidade de produtos Hortofrutícolas
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
123
FRUTIVINHOS
Cooperativa Agrícola de Vila Nova de Famalicão, C.R.L.
CONTROLO DA QUALIDADE DE FRUTOS
Abrunhos Ameixa Amêndoa Amora Avelã
Castanha Cereja Clementina Dióspiro Feijoa
Figos Framboesa Kiwano Kiwi Laranja
Lima Limão Maçã Marmelo Melão
Melancia Meloa Mirtilo Nectarina Noz
Pêra Pêssego Pinha mansa Tangera Tangerina
N.º de Entrada/Lote: Produtor Nº de caixas recebidas
Nº de caixas 1 a 40 40 a 120 120 a 320 >320
Amostragem (caixas) 2 4 6 8
Parâmetros da qualidade
(% de tolerância)
Até 5% aceites
>5% Falar com o Produtor
CONTROLO À RECEPÇÃO
CONTROLO VISUAL CALIBRE
S N S N Observações
Cortes
Golpes
Pisadelas
Focos de apodrecimento
Pedúnculo
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
124
Defeitos de forma
Limpo e matérias estranhas
Efeitos de geada
Defeitos na pele (pragas e doenças)
Outros (quais?)
CONTROLO DE MATURAÇÃO
Observações
Brix º Brix
Dureza Kgf
Notas:
Rubrica: _______________________ Data: _______/_______/_______
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
125
CONTROLO NA CONSERVAÇÃO/ARMAZENAMENTO
Data Temperatura
(°C) Humidade
Brix
º Brix
Podridão Desidratação Dureza
Kgf Rubrica Observações
S N % S N %
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
126
Anexo V – Modelos de Verificação de equipamentos
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
127
FRUTIVINHOS
Cooperativa Agrícola de Vila Nova de Famalicão, C.R.L.
Verificação de Equipamentos
SECÇÃO
MECANISMO SUJEITO A
REVISAO
IDENTIFICAÇAO:
REFERENCIA:
PROCESSOS EXCUTADOS
ANOMALIAS
OPERAÇOES A EXECUTAR
RESPONSAVEL
DATA
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
128
Anexo VI – Exemplo Ficha Técnica Vinhos – Vinho Branco Adega Vila
Nova de Famalicão
1.
ESPECIFICAÇÃO DE PRODUTO ENOLÓGICO
EPV.01.01 – ACVNF – VERDE BRANCO
Página 129 de 155
Identificação do (s) Produto (s)
Marca Embalagem Capacidade Rolha Cápsula Caixa
Adega Cooperativa
Vila Nova de
Famalicão Branco
Garrafas 750ml 38×22 FTP nº: 035001
Cartão (810×486)
6 Unid.
Cartão (855×506)
12 Unid.
Garrafão 5000 mL 44×24 - -
Condições de Armazenagem e Distribuição
Deve ser armazenado em local fresco e seco, onde não haja oscilações grandes de temperaturas.
O vinho não poderá ser exposto a temperaturas inferiores a 5ºC ou superiores a 20ºC, e deve estar ao abrigo da luz.
Acondicionamento/Embalagem
Deve ser acondicionado em vasilhas, garrafas e /ou garrafões bem limpas para que não altere as características do vinho.
Prazo de Validade
Validade aproximada de 24 meses. Depois de aberto consumir de preferência dentro de 2 dias.
Características Relevantes e Público-alvo
A maior parte dos vinhos contêm sulfitos, que são utilizados como antioxidantes na indústria alimentar, e, consequentemente em muitos vinhos. De
acordo com alguns estudos, pessoas com asma ou doenças alérgicas são mais sensíveis de reagirem à presença de sulfitos, fazendo com que tenham
eventualmente ressaca, mesmo sem terem bebido em excesso. Os sulfitos são a causa mais comum para essas reações, mas não a única. As histaminas
e os taninos, substâncias naturalmente presentes nos vinhos, principalmente tintos, também podem causar reações de urticária, irritação da pele, diarreia
e asma. Destinado a pessoas com mais de 18 anos.
Locais Possíveis de Venda
Retalho, hipermercados, minimercados, retalhistas, estabelecimentos de hotelaria, restauração e consumidor final.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
130
Rotulagem
Quando engarrafado e engarrafonado, obedece à Regulamentação Vitivinícola n.º 1169/2011 de 25 de outubro. Etiqueta com a designação do produto,
nome comercial, capacidade da embalagem, título alcoométrico volúmico total, identificação do engarrafador, identificação do lote, indicação de presença
de alergénios e eventualmente, como deve ser apreciado.
Marca Adega Cooperativa Vila Nova de Famalicão Branco
Ró
tulo
s
Análise Físico-química
De acordo com Relatório de Ensaio n.º _____________ do Laboratório da CVRVV.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
131
Anexo VII – Exemplo Ficha Técnica Hortofrutícolas - Limão
2.
ESPECIFICAÇÃO DE HORTOFRUTÍCOLAS
EPV.100.03 – LIMÃO
Págin
a 132 de 155
Designação do Produto/ Espécie
Limão/ Citrus Limon
Características Nutricionais (composição média para 100 g – valores aproximados)
Calorias 42 Kcal Proteínas 0,05 G
Carbohidratos 9,87 G Lípidos 0,34 G
Fibra alimentar 0,00 G
Características Organolépticas
Cor Varia de Amarelo a Amarelo esverdeado
Sabor/Odor Sabor ácido. Isento de odores e/ou sabores estranhos.
Características Físico – Químicas
Características Categoria
Calibre mínimo 45mm
☑ O calibre é determinado pelo diâmetro máximo da secção equatorial. Para todos as categorias existe uma tolerância máxima de 10%, que correspondam ao calibre imediatamente inferior ou superior ao (ou aos no caso de agrupamento de três calibres) mencionado (s) na embalagem ou nos documentos de transporte.
Características da Embalagem
Apresentação/Produto Final Material de Embalagem Sistema de Embalagem
Em camadas regulares com ou sem alvéolos Plástico, cartão ou madeira Manual
Em embalagens, de um modo que não seja em camadas regulares, ou a granel, em contentores paletizáveis (apenas categorias I e II)
Plástico, cartão ou madeira Manual
Embalagens unitárias destinadas à venda direta ao consumidor, de peso inferior a 5 kg, previstas:
Para um número de frutos determinados, ou Para um peso líquido da embalagem
Cuvetes de Plástico Manual
☑ Compatibilidade: Materiais e Objetos em Contacto com Géneros Alimentícios de acordo com o Reg. (CE) n.º 1935/2004, de 27.10, Reg. (CE) n.º 1895/2005, de 18.11, Dec-Lei nº 175/2007, de 8.05 e Dec-Lei nº378/2007, de 12.11. Os materiais, nomeadamente papéis, utilizados no interior das embalagens devem ser novos e estar limpos e não devem ser suscetíveis de provocar alterações internas ou externas nos produtos. É autorizada a utilização de materiais (nomeadamente de papéis e selos) que ostentem indicações comerciais, desde que a impressão ou rotulagem sejam efetuadas com tintas ou colas não tóxicas. Se os frutos forem embrulhados, deve ser utilizado papel fino, seco, novo e inodoro. É proibida a utilização de quaisquer substâncias destinadas a alterar as características naturais do fruto, nomeadamente o seu odor ou sabor. As embalagens devem estar isentas de corpos estranhos. É, porém, admitida a presença de um pequeno ramo não lenhoso, com algumas folhas verdes, aderente ao fruto.
Modo de Conservação e Acondicionamento
☑ Devem ser conservados a temperaturas entre 5 a 10ºC. Devem ser acondicionados de modo a ficarem convenientemente protegidos.
Rotulagem
Indicações de acordo com legislação específica
☑
Nome e endereço do Embalador/Expedidor
Designação do Produto
Origem Região Lote
N.º de Operador Data de Embalagem
Peso líquido aproximado Calibre e Categoria
Utilização Prevista
☑ Podem ser utilizadas as folhas, a casca, a polpa e o sumo do fruto. Na saúde vários são os benefícios que podemos obter com essa fruta:
2.
ESPECIFICAÇÃO DE HORTOFRUTÍCOLAS
EPV.100.03 – LIMÃO
Págin
a 133 de 155
Apesar de sua conhecida acidez, dentro do nosso organismo ele provoca uma alcalinização sanguínea combatendo os elevados níveis de ácido úrico que caracteriza a gota;
O consumo do limão além de contribuir para o bom funcionamento dos órgãos do aparelho digestivo, quando ingerido em jejum pela manhã desintoxica o organismo, contribuindo para a eliminação de toxinas tanto do sistema urinário como do cardiovascular;
Combate infeções na garganta, gripes e resfriados;
Combate doenças artríticas e reumatismo. Utilizações na culinária:
O limão é um excelente tempero para vários tipos de alimentos;
A casca do limão ralada pode ser adicionada a diversas preparações para garantir um gosto muito especial;
Ao preparar arroz, feijão, sopas e ensopados a utilização do suco de limão fresco irá proporcionar uma apuração no sabor dos ingredientes;
Diversas bebidas ficam extremamente saborosas quando se adicionam gotas de limão;
O xarope dessa fruta combate a gripes e resfriados. Não aconselhado a consumidores em crises renais. Consumidores com gastrite podem ser sensíveis à fruta.
Recomendações de manuseamento
☑ Evitar choques mecânicos e violentos
Transporte
☑ Viatura isotérmica (sistema de refrigeração opcional, de acordo com a distância percorrida). Apresentação de ATP para:
Veículos que realizam transportes internacionais de produtos alimentares perecíveis;
Veículos que realizam o transporte desses produtos exclusivamente em território nacional, com largura superior a 2,55 m.
Implementação do sistema HACCP a uma empresa de frutas e vinhos
135
Anexo VIII –Registo de Não Conformidades e Plano de Ação
REGISTO DE NÃO CONFORMIDADE/ PLANO DE AÇÃO
137
N.º não conformidade: Real/Potencial Data
Documentos associados
Origem
Descrição
Identificação das Causas e
Descrição
Correção/Ação Imediata
Descrição
Prazo Responsável Estado Data
É necessário implementar ações corretivas/preventivas? Tipo N.º
Se não, justificar:
Descrição da Acão corretiva/preventiva
Documentos associados:
Prazo Responsável Estado Data
Avaliação da eficácia
Descrição
Prazo Responsável Estado Data
Evidências
Eficaz? Nova Acão Tipo N.º