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JOSÉ RICARDO VIGGIANO
Pochonia chlamydosporia NO CONTROLE DO NEMATOIDE DAS GALHAS E NA PRODUÇÃO DE ALFACE E PEPINO
VIÇOSA MINAS GERAIS - BRASIL
2011
Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós‐Graduação em Fitopatologia, para obtenção do título
de Doctor Scientiae.
JOSÉ RICARDO VIGGIANO
Pochonia chlamydosporia NO CONTROLE DO NEMATOIDE DAS GALHAS E NA PRODUÇÃO DE ALFACE E PEPINO
APROVADA: 30 de março de 2011.
___________________________ ___________________________
Prof. Silamar Ferraz Prof. Luiz Antonio Maffia
(Co-Orientador)
___________________________ __________________________
Dr. Trazilbo José de Paula Júnior Prof. Everaldo Antônio Lopes
_____________________________
Prof. Leandro Grassi de Freitas
(Orientador)
Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós‐Graduação em Fitopatologia, para obtenção do título
de Doctor Scientiae.
ii
À minha esposa, Joelma, pelo amor, carinho e compreensão.
Ao meu filho, José Gabriel, pela alegria, companheirismo e ajuda.
Aos meus pais, José e Léa, pelo exemplo, apoio e estímulo.
Aos meus familiares e amigos, pelo incentivo e paciência.
iii
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Leandro Grassi de Freitas, pela paciência, determinação e
orientação segura dos trabalhos de pesquisa.
Ao Professor Silamar Ferraz, pelos conhecimentos transmitidos na área de
Fitonematologia desde a graduação.
Ao colega Paulo Afonso Ferreira, pela amizade e apoio nas análises estatísticas
do trabalho, contribuindo com valiosas correções, críticas e sugestões para os artigos da
tese.
À Empresa Rizoflora Biotecnologia S.A., nas pessoas de Ronaldo João Falcão
Zooca e Marcos Antônio dos Reis Teixeira, pelas facilidades e auxílios concedidos no
preparo do material, montagem, condução e avaliação dos experimentos.
Ao Produtor Rural, Sr. Marino Abrantes Pereira, pela cessão de áreas de cultivo
em sua propriedade para a instalação de experimentos de campo e pela ajuda na
montagem e condução destes experimentos.
Aos Professores Silamar Ferraz, Luiz Antonio Maffia, Everaldo Antônio Lopes
e ao Pesquisador Dr. Trazilbo José de Paula Júnior, pela participação como membros da
Banca de Defesa de Tese, tendo contribuído com correções, críticas e sugestões para o
aperfeiçoamento dos artigos da tese.
iv
Aos funcionários do Departamento de Fitopatologia, Sr. Mário e sua esposa
Neusa, Sara, Dona Rita, Dona Berlamina, Bráz, Camilo, Delfino e Célio pelos serviços
prestados com gentileza, presteza e qualidade.
Ao Departamento de Fitopatologia da Universidade Federal de Viçosa, pela
oportunidade de realização do Curso de Doutorado.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela bolsa de
estudo concedida durante o curso.
A todos os colegas do Laboratório de Controle Biológico de Fitonematoides,
Érica, Deisy, Guilherme, Murilo, Hugo e Alessandro, pelo convívio, amizade,
colaborações e alegrias. Um agradecimento especial à Marilene, Fernanda, Leonardo e
Ronaldo, pela disposição para ajudar-me sempre que solicitei.
Aos meus colegas do Curso de Fitopatologia pela amizade, companheirismo e
convívio acadêmico agradável.
À Deus, fonte de tudo.
v
BIOGRAFIA
JOSÉ RICARDO VIGGIANO, filho de José Viggiano e Léa Célica de Andrade
Viggiano, nasceu em Viçosa, Minas Gerais, em 28 de abril de 1966.
Em outubro de 1989, graduou-se em Engenharia Agronômica pela Universidade
Federal de Viçosa, Minas Gerais.
Em março de 1995, iniciou o Curso de Mestrado em Produção Vegetal, área de
concentração em Fitotecnia, no Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias, da
Universidade Estadual do Norte Fluminense, em Campos dos Goytacazes, Rio de
Janeiro, concluindo-o em fevereiro de 1999.
Em março de 2006, iniciou o Curso de Especialização em Proteção de Plantas,
na Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, concluindo-o em fevereiro de 2007.
Em março de 2007, iniciou o Curso de Doutorado em Fitopatologia, no
Departamento de Fitopatologia, da Universidade Federal de Viçosa.
vi
SUMÁRIO
RESUMO ......................................................................................................... viii
ABSTRACT...................................................................................................... x
INTRODUÇÃO GERAL ................................................................................. 1
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 12
ARTIGO 1
RESÍDUO DA PRODUÇÃO DE Pochonia chlamydosporia NO
DESENVOLVIMENTO DE MUDAS E PLANTAS DE ALFACE.
RESUMO ......................................................................................................... 22
ABSTRACT ..................................................................................................... 23
INTRODUÇÃO ............................................................................................... 24
MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................. 26
RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 30
CONCLUSÕES ................................................................................................ 38
AGRADECIMENTOS ..................................................................................... 38
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 39
ARTIGO 2
FORMAS DE APLICAÇÃO DE Pochonia chlamydosporia NO
CONTROLE DE Meloidogyne javanica EM ALFACE.
RESUMO ......................................................................................................... 44
ABSTRACT ..................................................................................................... 45
vii
INTRODUÇÃO ............................................................................................... 46
MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................. 48
RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 52
AGRADECIMENTOS ..................................................................................... 66
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 66
ARTIGO 3
Pochonia chlamydosporia NO CONTROLE DE Meloidogyne javanica EM
PEPINO.
RESUMO ......................................................................................................... 72
INTRODUÇÃO ............................................................................................... 73
MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................. 75
RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 81
CONCLUSÕES ................................................................................................ 94
AGRADECIMENTOS ..................................................................................... 94
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 95
ARTIGO 4
CONTROLE DE Meloidogyne spp. EM CULTIVO COMERCIAL DE
PEPINO COM DIFERENTES DOSES DE Pochonia chlamydosporia.
RESUMO ......................................................................................................... 101
ABSTRACT ..................................................................................................... 102
INTRODUÇÃO ............................................................................................... 103
MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................. 106
RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 110
AGRADECIMENTOS ..................................................................................... 119
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 119
CONCLUSÕES GERAIS ................................................................................ 125
viii
RESUMO
VIGGIANO, José Ricardo, D. Sc., Universidade Federal de Viçosa, março de 2011. Pochonia chlamydosporia no controle do nematoide das galhas e na produção de alface e pepino. Orientador: Leandro Grassi de Freitas. Co-Orientadores: Silamar Ferraz, Rosângela D’Arc de Lima Oliveira, Maurício Dutra Costa e José Rogério de Oliveira.
O fungo Pochonia chlamydosporia var. chlamydosporia tem um grande
potencial para o controle biológico do nematoide das galhas em campos de produção de
olerícolas, entretanto, as formas mais adequadas de aplicação desse organismo ainda
necessitam ser determinadas. Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivos: (a)
verificar o efeito de diferentes tipos de substratos para produção de mudas, enriquecidos
com um resíduo resultante do processo de produção do fungo, no desenvolvimento de
mudas e de plantas de alface; (b) avaliar o fungo no controle de M. javanica quando
aplicado nas mudas e no solo cultivado com plantas de alface e pepino; e (c) avaliar o
fungo no controle do nematoide das galhas em área de cultivo comercial de pepino. No
primeiro experimento, constatou-se que é possível a utilização de um resíduo à base de
arroz, resultante do processo de produção do fungo, na concentração de até 2% (v:v) no
substrato formulado e comercial, pois essa dose não prejudicou o desenvolvimento das
plantas de alface. No segundo e terceiro experimentos, o isolado Pc-10 de P.
chlamydosporia var. chlamydosporia foi efetivo no controle de M. javanica em plantas
de alface e pepino, reduzindo efetivamente o número de galhas e de galhas.g-1 de raízes
ix
de plantas de pepino e o número de ovos e de ovos.g-1 de raízes de plantas de alface e
pepino. Efeitos mais expressivos sobre o controle do nematoide foram obtidos com a
aplicação de 18,0 g.L-1 de Pc-10 nas mudas de alface e pepino, sendo que a aplicação de
Pc-10 no solo (5.000 clamidósporos.g-1 de solo) também aumentou o controle de M.
javanica em alface. A aplicação parcelada de Pc-10 nas mudas de alface e pepino não
afetou o desenvolvimento das mesmas. No quarto experimento, em área cultivada com
hortaliças e naturalmente infestada com o nematoide das galhas a dose de 75 g de um
produto à base de P. chlamydosporia var. chlamydosporia (isolado Pc-10) por cova foi
a que proporcionou maior controle do nematoide das galhas, enquanto, a dose de 100 g
do produto por cova foi a que proporcionou maior aumento da produção comercial de
pepino. Portanto, o isolado Pc-10 de P. chlamydosporia var. chlamydosporia, aplicado
nas formas de clamidósporos puros, clamidósporos sobre arroz ou apenas arroz após a
extração da maioria dos clamidósporos, nas mudas e no solo cultivado com as plantas
de alface e pepino, mostrou-se eficiente no controle do nematoide das galhas.
x
ABSTRACT
VIGGIANO, José Ricardo, D. Sc., Universidade Federal de Viçosa, March 2011. Pochonia chlamydosporia in the control of the knot-root nematode and in the production of lettuce and cucumber. Adviser: Leandro Grassi de Freitas. Co-Advisers: Silamar Ferraz, Rosângela D’Arc de Lima Oliveira, Maurício Dutra Costa and José Rogério de Oliveira.
The fungus Pochonia chlamydosporia var. chlamydosporia presents great
potential for the biological control of the root-knot nematode in fields of vegetable
production, however, the proper ways to apply this organism still need to be determined.
Thus, this study aimed to: (a) evaluate the effect of different substrates for seedling
production, enriched with a residue from the production process of the fungus, in the
development of seedlings and plants of lettuce; (b) evaluate the fungus for the control
M. javanica when applied to seedlings and to the soil cultivated with lettuce and
cucumber; and (c) evaluate the fungus in the control of knot-root nematodes in an area
of commercial cultivation of cucumber. In the first experiment, it was found that it is
possible to use a residue of rice resulting from the production process of the fungus at
concentrations of up to 2% (v:v) of a formulated and a commercial substrate, because
this dose did not adversely affect the development of the lettuce plants. In the second
and third experiments, the isolated Pc-10 of P. chlamydosporia var. chlamydosporia
was effective in controlling M. javanica in lettuce and cucumber, by reducing the
number of galls and galls.g-1 root of cucumber plants, and the number of eggs and
eggs.g-1 roots of lettuce and cucumber plants. The best results were obtained with the
xi
application of 18.0 g.L-1 of Pc-10 on seedlings of lettuce and cucumber, although the
application of Pc-10 on the ground (5,000 chlamydospores.g-1 soil) also increased the
control of M . javanica in lettuce. The divided application of Pc-10 on cucumber and
lettuce seedlings did not affect their development. In the fourth experiment, in an area
cultivated with vegetables and naturally infested with nematodes, the dose of 75 g of a
product based on P. chlamydosporia var. chlamydosporia (isolate Pc-10) per hole
resulted in higher level of control of the knot-root nematodes, while the dose of 100 g of
product per hole gave the largest increase in the commercial production of cucumber.
Therefore, the Pc-10 isolate of P. chlamydosporia var. chlamydosporia applied as pure
chlamydospores, chlamydospores over rice or as the rice after extraction of most of the
chlamydospores, on seedlings and soil cultivated with lettuce and cucumber, shown to
be effective in the control of the knot-root nematodes.
1
INTRODUÇÃO GERAL
Os fitonematoides são patógenos de grande importância econômica para a
agricultura mundial. As perdas devido à redução da produtividade e da qualidade da
produção são muito variáveis e difíceis de serem quantificadas. Estimativas da
importância econômica desses patógenos na produção agrícola mundial existem, porém,
os valores não são determinados precisamente (Tihohod, 1993). Segundo Agrios (2005),
as perdas causadas por esses patógenos nas culturas de maior importância econômica no
mundo são de aproximadamente 14% e representam, anualmente, mais de US$ 80
bilhões de dólares.
As maiores perdas decorrem dos fitonematoides endoparasitas sedentários da
família Heteroderidae: o nematoide dos cistos (Heterodera spp. e Globodera spp.) e o
nematoide das galhas (Meloidogyne spp.) (Williamson, 1999). No Brasil, estimativas de
perdas causadas pelos nematoides das galhas (Meloidogyne spp.) variam de 5 a 15%,
dependendo da cultura (Lordello, 1984).
Entre as espécies de nematoides das galhas (Meloidogyne spp.) amplamente
distribuídas nos solos agrícolas do Brasil e que possuem ampla gama de hospedeiros,
destacam-se M. incognita e M. javanica, que podem provocar perdas consideráveis em
alface (Lactuca sativa L.) e pepino (Cucumis sativus L.) (Campos, 1995; Charchar &
Moita, 1996; Charchar & Aragão, 2005). Sikora & Fernández (2005) relataram a
ocorrência das seguintes espécies de nematoides das galhas (Meloidogyne spp.) nos
2
cultivos de alface e pepino em regiões tropicais e subtropicais: M. incognita, M.
javanica e M. arenaria, relatados nas duas espécies de hortaliças, além de M. hapla e M.
enterolobi em alface, e de M. floridensis em pepino.
O manejo integrado de fitonematoides é uma tarefa complexa e difícil, pois,
geralmente, o agricultor desconhece a presença desses patógenos ou subestima os seus
danos. Além disso, o monitoramento de sua população no solo exige amostragens
sistemáticas. Portanto, o manejo integrado exige refinado conhecimento dos agricultores
e técnicos para que as medidas de controle a serem adotadas sejam eficientes, técnica e
economicamente viáveis, de baixo impacto ambiental e integradas ao sistema produtivo.
Entre os principais métodos de controle do nematoide das galhas no cultivo da
alface, destacam-se a utilização de cultivares resistentes do tipo crespas (Charchar &
Moita, 1996, 2005); a solarização e adição de matéria orgânica (Silva et al., 2006); e o
alqueive úmido (Dutra et al., 2003, 2006). No pepino, destacam-se a rotação de culturas
com espécies vegetais não-hospedeiras e a utilização de mudas enxertadas (Charchar &
Aragão, 2005; Wilcken et al., 2010).
Os fitonematoides, quando introduzidos e disseminados numa área agrícola, são
difíceis de ser erradicados e a única alternativa que resta aos agricultores é conviver
com esses indesejáveis patógenos, utilizando práticas agrícolas que visem à redução
e/ou manutenção das populações presentes na área em níveis que não causem danos e
perdas expressivas. Portanto, uma boa estratégia de controle baseia-se em medidas de
exclusão que evitam a introdução de novas espécies de fitonematoides na área de
cultivo (Ferraz et al., 2010). Segundo Charchar & Moita (1996), em áreas de cultivo de
alface, a disseminação de fitonematoides ocorre principalmente por meio de substrato
de muda infestado, água de irrigação contaminada e solo infestado aderido em máquinas
e implementos agrícolas.
3
O plantio de cultivares resistentes para o controle de fitonematoides traz
enormes vantagens, por ser um método eficiente, prático e econômico. No caso da
alface, as cultivares do tipo crespa, geralmente, apresentam maior resistência ao
nematoide das galhas. Porém, alguns mercados consumidores tem preferência por
cultivares do tipo lisa, que apresentam maior suscetibilidade ao patógeno,
principalmente, quando cultivadas no verão (Charchar & Moita, 1996, 2005). No
pepino, não existem cultivares comerciais resistentes a M. incognita e M. javanica
(Wilcken et al., 2010). Vale ressaltar que, no Brasil, não existem nematicidas químicos
registrados para o uso em alface e pepino (MAPA, 2011).
A rotação de culturas é uma prática que, bem utilizada, proporciona excelentes
resultados, porém, em solos infestados com diferentes espécies do nematoide das
galhas, sua implementação é limitada e, consequentemente, o sucesso dessa medida
também, pois esse gênero de fitonematoide é polífago (Sikora et al., 2005). No cultivo
de alface e pepino, a rotação de culturas é feita com o plantio de espécies menos
suscetíveis aos nematoides das galhas, a exemplo das gramíneas, milho e sorgo; e das
leguminosas antagonistas, tais quais as crotalárias e mucunas, que nem sempre
proporcionam um controle eficiente (Charchar & Moita, 1996; Wilcken et al., 2010).
Outras medidas, como a escolha do local de plantio, a limpeza de máquinas e
implementos agrícolas, o uso de mudas sadias, o revolvimento do solo, a destruição dos
restos culturais, o controle de plantas invasoras, o cultivo de plantas antagonistas e a
rotação de culturas com plantas não-hospedeiras, também devem ser utilizadas
(Lordello, 1984; Campos et al., 2001, 2007; Sikora et al., 2005; Ferraz et al., 2010).
Em virtude das limitações dessas medidas de controle, grandes esforços tem sido
feitos no desenvolvimento de métodos alternativos de controle (Stirling, 1991; Kerry,
2001; Freitas & Ferraz, 2005; Salgado & Borges, 2008). Entre esses métodos, o controle
4
biológico tem grande potencial como estratégia no controle integrado dos
fitonematoides (Jatala, 1986; Stirling, 1991; Siddiqui & Mahmood, 1996; Freitas &
Ferraz, 2005; Dong & Zhang, 2006; Ferraz et al., 2010).
O controle biológico é definido como a redução da capacidade de sobrevivência
e reprodução dos fitonematoides pela ação de outros organismos vivos do solo,
chamados de antagonistas ou inimigos naturais (Stirling, 1991). Pode ocorrer por meio
da manipulação do ambiente do solo para manter ou aumentar a população desses
antagonistas e/ou a sua introdução no solo de forma inoculativa ou inundativa. Os
mecanismos envolvidos nessa relação podem ser de vários tipos: parasitismo, predação,
competição, antibiose, indução de resistência e promoção de crescimento. Entre os
antagonistas que ocorrem no solo, as bactérias e os fungos são os que apresentam maior
potencial para o desenvolvimento de agentes de biocontrole de fitonematoides (Stirling,
1991; Sikora, 1992; Kerry, 1997).
Entre as bactérias, Pasteuria penetrans tem sido utilizada no biocontrole do
nematoide das galhas. Esta bactéria é agressiva, resistente e controla esse patógeno em
diversas culturas por meio da redução da penetração de juvenis de segundo estádio (J2)
nas raízes e pela inibição da produção de ovos pela fêmea. Sua utilização é limitada
devido à dificuldade de produção de seu inóculo in vitro em escala comercial e porque
seus isolados apresentarem alto grau de especificidade no parasitismo (Freitas &
Carneiro, 2000; Carneiro & Freitas, 2006).
As rizobactérias e bactérias endofíticas, principalmente Bacillus spp. e
Pseudomonas spp., também tem sido pesquisadas e apresentado potencial como agentes
de biocontrole, pois tem demonstrado a capacidade de induzir resistência sistêmica
(RSI) ao hospedeiro (Sikora, 1992; Freitas, 2006; Sikora et al., 2007).
5
Os fungos antagonistas, também conhecidos como nematófagos, são
classificados, de acordo com a estratégia utilizada para infectar ou capturar os
fitonematoides, em predadores, endoparasitas, produtores de metabólitos tóxicos e
parasitas de ovos e fêmeas (Barron, 1977; Stirling, 1991; Chen & Dickinson, 2004). Os
endoparasitas produzem esporos que são ingeridos ou aderidos à cutícula dos
fitonematoides. Posteriormente, esses esporos germinam e dão origem às hifas que
colonizam o corpo do fitonematoide. Seu potencial de uso como agente de biocontrole é
limitado, pois são muito sensíveis às variações químicas, físicas e biológicas do solo.
Exemplos desses fungos são Catenaria anguillulae, Myzocythium spp., Haptoglossa
heterospora, Hirsutella rhossoliensis, Nematoctonus spp. (Barron, 1977; Stirling, 1991;
Ferraz & Santos, 1995; Hertz et al., 2006).
Os fungos predadores formam estruturas especializadas, do tipo armadilhas, para
a captura dos fitonematoides ao longo de suas hifas. O micélio fúngico cresce a partir do
corpo do fitonematoide capturado produzindo novas estruturas. Apresentam habilidade
saprofítica variada e produzem diferentes tipos de armadilhas: hifas adesivas não-
diferenciadas, redes adesivas, nódulos adesivos, anéis constritores e não-constritores.
Importantes exemplos são encontrados no gênero Arthrobotrys. A produção das
armadilhas é induzida pela presença do fitonematoide, sendo essa uma das limitações no
desenvolvimento desses fungos como agentes de biocontrole (Stirling, 1991; Ferraz &
Santos, 1995; Hertz et al., 2006). Existem produtos no mercado, como ‘Nemastin’,
elaborado com a mistura de Arthrobotrys spp., Verticillium spp. e Paecilomyces spp., na
Índia; e ‘NematAp’, que consiste na mistura de Arthrobotrys spp. e Paecilomyces spp.,
no Brasil.
Alguns fungos nematófagos são produtores de metabólitos tóxicos que
interferem no comportamento do fitonematoide. Entre estes se destacam Paecilomyces
6
lilacinus, Myrothecium spp., Trichoderma spp., Penicillium spp., Pleurotus spp.,
Aspergillus spp. e Fusarium spp. (Stirling, 1991; Ferraz & Santos, 1995; Chen &
Dickinson, 2004). Produtos comerciais elaborados com esses agentes já foram lançados
no mercado mundial, destacando-se BioAct® e MeloCon®, ambos à base de P. lilacinus;
e DiTera®, que é um produto originado da fermentação de Myrothecium verrucaria
(Guerena, 2006).
Entre os fungos nematófagos parasitas de ovos e fêmeas, destacam-se P.
lilacinus e Pochonia chlamydosporia. São saprofíticos, estabelecem-se facilmente no
solo e colonizam rapidamente ovos e fêmeas de fitonematoides, destruindo de uma só
vez grande número de indivíduos (Stirling,1991).
Mais recentemente, pesquisas com fungos endofíticos tem demonstrado a
capacidade destes em induzir resistência sistêmica (RSI) aos hospedeiros dos
fitonematoides. Trabalhos recentes demonstraram a capacidade de uma forma não-
patogênica de Fusarium oxysporum de induzir resistência sistêmica em tomateiros à M.
incognita (El-Fattah et al., 2007) e em bananeiras à Radopholus similis (Vu et al.,
2006).
Pochonia chlamydosporia, conhecido anteriormente por Verticillium
chlamydosporium, é um fungo parasita de ovos e fêmeas de espécies de fitonematoides
endoparasitas sedentários. Tem sido um dos fungos mais pesquisados para o controle
biológico (Kerry, 1997; Bourne & Kerry, 1999; Bourne, 2001; Kerry & Bourne, 2002).
Esse fungo é tido como responsável pelo desenvolvimento de solos supressivos ao
nematoide dos cistos dos cereais (Heterodera avenae) em áreas de monocultivo com
cereais na Inglaterra (Kerry & Crump, 1998). A supressividade de um solo ao
nematoide das galhas (M. incognita) já foi conseguida através de aplicações de P.
7
chlamydosporia dentro de um sistema de rotação de culturas, após três anos de cultivo
(Bourne, 2001). Esse fungo apresenta boa capacidade saprofítica, o que permite seu
crescimento em matéria orgânica entre as estações de cultivo. Logo, o fungo não é
dependente da presença do nematóide para a sua nutrição, podendo atuar como saprófita
na ausência do nematóide hospedeiro. Esse fungo também produz clamidósporos,
estruturas de armazenamento de reservas nutricionais e de sobrevivência que favorecem
sua manipulação e produção in vitro. Outra característica marcante é a sua capacidade
de colonização da rizosfera de algumas plantas, permitindo a multiplicação do seu
inóculo no solo (Kerry, 2001).
Outros estudos tem demonstrado o grande potencial de P. chlamydosporia como
agente de biocontrole de Globodera pallida em batata (Jacobs et al., 2003),
Rotylenchulus reniformis em algodeiro (Wang et al., 2005), Heterodera schachtii em
beterraba açucareira (Ayatollahy et al., 2008) e G. pallida e G. rostochiensis em batata
(Tobin et al., 2008). Também tem apresentado antagonismo a patógenos fúngicos do
solo, como F. oxysporum, Rhizoctonia solani, Phytophthora capsici e
Gaeumannomyces graminis var. tritici (Kerry & Bourne, 2002; Monfort et al., 2005).
O desenvolvimento de formulações comerciais aceitáveis de P. chlamydosporia
é um desafio. Existem produtos que estão sendo testados em sistemas produtivos
comerciais, como ‘KlamiC’, em desenvolvimento pelo instituto CENSA, em Cuba;
‘MicoTec’, pela empresa ClamiTec, em Portugal; e uma formulação pela empresa
Rizoflora Biotecnologia S.A., em Viçosa, Minas Gerais.
O fungo P. chlamydosporia cresce facilmente em vários meios de cultura sólidos
in vitro, porém, produz poucos clamidósporos em meios líquidos (Kerry, 2001; Mo et
al., 2005). A produção de clamidósporos do fungo já foi obtida com sucesso em meio
8
sólido utilizando-se areia:farelo (Stirling et al., 1998), milho triturado (Lopes et al.,
2007a), milho triturado:areia (Dallemole-Giaretta et al. 2008; Coutinho et al., 2009) e
palha de café (Dallemole-Giaretta et al., 2010b). Recentemente, devido à
disponibilidade, preços acessíveis e características físico-químicas, o arroz tem sido
utilizado como substrato para meio de crescimento e produção massal de clamidósporos
do isolado Pc-10 de P. chlamydosporia var. chlamydosporia, em um produto em
desenvolvimento pela Rizoflora Biotecnologia. Entretanto, esse processo gera uma
quantidade considerável de um resíduo sólido e seco do substrato, podendo ultrapassar
80% da quantidade de arroz utilizado como substrato para meio de cultivo do fungo
(comunicação pessoal de Rodrigo Valdes, Rizoflora Biotecnologia). Avaliações prévias
desse resíduo in vitro, indicaram a presença de uma quantidade considerável de
clamidósporos viáveis. Dessa forma, melhorias no processo de produção massal dos
clamidósporos e investigações das possibilidades de aproveitamento desse resíduo são
essenciais para a redução dos custos de produção, além de contribuir para uma menor
geração de impactos ambientais pela indústria produtora de agentes de biocontrole. No
1º artigo da presente tese, foram investigados os efeitos da utilização do resíduo gerado
no processo de produção de clamidósporos de P. chlamydosporia var. chlamydosporia
(isolado Pc-10) no desenvolvimento de mudas e plantas de alface.
A introdução de P. chlamydosporia no solo de uma forma prática, eficiente e
integrada ao sistema produtivo também é um desafio. Segundo Kerry & Bourne (2002),
várias técnicas foram testadas, entretanto, essas técnicas não proporcionaram resultados
satisfatórios, necessitando de outras investigações. A implantação de cultivos de alface,
pepino e outras hortaliças no campo é feita principalmente por meio de mudas
produzidas com diferentes tipos de substratos comerciais ou formulados pelo próprio
agricultor (Trani et al., 2004, 2007; Lopes et al., 2007b), podendo ser uma técnica
9
simples e economicamente viável de introdução do fungo no solo que merece ser
investigada. Dessa forma, nos 2º e 3º artigos, foram investigadas as formas de aplicação
do fungo no solo e o seu efeito no controle de M. javanica em duas espécies de
hortaliças, alface e pepino.
A eficácia de P. chlamydosporia em estratégias de manejo integrado em
sistemas produtivos comerciais ainda carece de avaliações (Kerry & Bourne, 2002).
Pesquisas em condições controladas, utilizando-se diferentes isolados de P.
chlamydosporia no controle do nematoide das galhas em tomateiros cultivados em casa
de vegetação foram realizadas por Lopes (2007), Dallemole-Giaretta (2008), Podestá et
al. (2009), Coutinho et al. (2009) e Dallemole-Giaretta et al. (2010a e b), sendo
necessário avaliar a eficiência do fungo em condições de campo. No 4º artigo, foi
investigada a eficiência do controle do nematoide das galhas em pepino cultivado em
área de produção comercial de hortaliças, utilizando-se diferentes doses de um produto
formulado com P. chlamydosporia var. chlamydosporia (isolado Pc-10).
Apesar do controle biológico de fitonematoides ser estudado em todo o mundo
há décadas (Barron, 1977; Stirling, 1991; Sikora, 1992; Dong & Zhang, 2006), alguns
poucos produtos formulados com fungos nematófagos e bactérias tem alcançado
limitado sucesso comercial. Resultados inconsistentes de experimentos de casa de
vegetação e de campo, inclusive com P. chlamydosporia (Ferraz & Santos, 1995; Kerry,
1997; Dong & Zhang, 2006), podem ocorrer devido à falta de formulação que favoreça
o estabelecimento do fungo no solo.
A preocupação com a preservação ambiental tem levado à busca por métodos de
controle de doenças alternativos e eficientes, mediante a utilização de produtos não
poluentes, de custo acessível e de fácil aplicação nas lavouras (Salgado & Borges,
2008). No Brasil, pesquisadores, governantes, agricultores, indústria de bioprodutos e
10
consumidores tem se esforçado no sentido de incentivar, produzir e consumir alimentos
e derivados sem ou com a mínima utilização de defensivos agrícolas. Dessa forma, o
controle de pragas utilizando agentes de controle biológico está sendo incentivado.
Entretanto, segundo Ferraz et al. (2010), vários aspectos devem ser considerados no
desenvolvimento de bionematicidas no Brasil, destacando-se: (a) a adaptação do agente
de biocontrole às variadas condições edafoclimáticas; (b) o custo de produção do
bionematicida; (c) a formulação e forma de aplicação do bionematicida; (d) o registro
do produto.
Diante dessas exposições, formulou-se a hipótese de que melhorias do processo
de produção massal de clamidósporos e de técnicas de aplicação do fungo no solo, bem
como, a avaliação da eficiência do fungo no controle do nematoide das galhas em
condições de campo são essenciais para suportar o uso prático e comercial desse agente
de biocontrole no cultivo de hortaliças.
Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivos específicos:
1. Avaliar o efeito de três tipos de substratos para mudas enriquecidos com um
resíduo resultante do processo de produção massal de clamidósporos de P.
chlamydosporia var. chlamydosporia (isolado Pc-10) no desenvolvimento de mudas e
de plantas de alface;
2. Avaliar o efeito de P. chlamydosporia var. chlamydosporia (isolado Pc-10) no
controle de M. javanica quando aplicado em diferentes doses nas mudas e no solo
cultivado com plantas de alface;
3. Avaliar o efeito de P. chlamydosporia var. chlamydosporia (isolado Pc-10) no
controle de M. javanica quando aplicado em diferentes doses nas mudas e no solo
cultivado com plantas de pepino;
11
4. Avaliar o uso de um produto formulado com P. chlamydosporia var.
chlamydosporia (isolado Pc-10) no controle do nematoide das galhas em área de cultivo
comercial de pepino.
12
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21
ARTIGO 1
RESÍDUO DA PRODUÇÃO DE Pochonia chlamydosporia NO
DESENVOLVIMENTO DE MUDAS E PLANTAS DE ALFACE.1
1Artigo elaborado de acordo com as normas da revista “Pesquisa Agropecuária Brasileira”.
22
Resíduo da produção de Pochonia chlamydosporia no desenvolvimento
de mudas e plantas de alface.
José Ricardo Viggiano(1), Leandro Grassi de Freitas(1) e Paulo Afonso Ferreira(1)
(1)Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Fitopatologia, CEP 36.570-000,
Viçosa, MG.
E-mail: [email protected], [email protected], [email protected]
Resumo - O objetivo desse trabalho foi avaliar a utilização de um subproduto do
processo de produção de Pochonia chlamydosporia var. chlamydosporia no
desenvolvimento de mudas e plantas de alface. Esse subproduto, um resíduo constituído
de arroz contendo propágulos do fungo, foi adicionado em diferentes concentrações (0,
2 e 4% v:v resíduo:substrato) a três tipos de substratos para mudas (formulado,
comercial e fibra de coco). Sementes de alface foram semeadas em bandejas de isopor
contendo os diferentes substratos enriquecidos com o resíduo. As mudas de alface
foram transplantadas para vasos contendo o substrato solo de barranco e areia lavada
1:1 (v:v), 28 dias após o semeio. Todos os tipos de substratos e doses do resíduo
apresentaram interação significativa para todas as variáveis relacionadas ao
desenvolvimento das mudas e plantas de alface. O maior desenvolvimento das mudas
ocorreu nas testemunhas (sem o resíduo) dos substratos. Entretanto, após o transplantio
das mudas para os vasos, as doses de resíduo até 4% e 2% v:v, respectivamente, nos
23
substratos formulado e comercial, foram as que promoveram maior desenvolvimento
das plantas. A utilização dos substratos formulado e comercial com resíduo até 2% v:v é
viável e não prejudica o desenvolvimento das plantas de alface.
Termos para indexação: fungos nematófagos, controle biológico, reciclagem, substratos,
Lactuca sativa.
Residue from the production of Pochonia chlamydosporia in the development
of seedlings and plants of lettuce.
Abstract - The objective of this study was to evaluate the use of a by-product of the
production process of Pochonia chlamydosporia var. chlamydosporia in the
development of seedlings and plants of lettuce. This by-product, a residue constituted of
rice containing the propagules fungus, was added in different concentrations (0, 2 and
4% v:v residue:substrate) to three types of substrates for seedlings (formulated,
commercial and coconut fiber). Lettuce seeds were sown in polystyrene trays containing
the different substrates enriched residue. The lettuce seedlings were transplanted into
pots containing horizon C soil and sand washed 1:1 (v:v) as substrate, 28 days after
sowing. All types of substrates and residue levels showed a significant interaction for all
variables related to the development of lettuce seedlings and plants. The highest
development of seedlings occurred in the control treatment (no residue) of the
substrates. However, after transplanting the seedlings into the pots, the residue levels of
up to 4% v:v and 2% v:v, respectively, in the substrates formulated and commercial,
resulted in the highest growth of plants. The utilization of the formulated and
commercial substrates with up to 2% v:v of residue is feasible and does not affect the
development of lettuce plants.
24
Index terms: nematophagous fungi, biological control, recycling, substrates, Lactuca
sativa.
Introdução
A alface (Lactuca sativa L.) é uma hortaliça muito apreciada no Brasil e em todo
o mundo. Suas folhas são importante fonte de sais minerais e de vitaminas,
principalmente cálcio e vitamina A. No mercado encontram-se cultivares com folhas
lisas ou crespas, com ou sem formação de cabeça, existindo alfaces com folhas verde-
claras, verde-escuras ou roxas (Filgueira, 2008).
O fungo Pochonia chlamydosporia Zare & Gans (sin. Verticillium
chlamydosporium Goddard) é um agente de controle biológico que tem se destacado no
controle do nematoide das galhas (Meloidogyne spp.) (Kerry & Bourne, 2002; Ferraz et
al., 2010). Cresce facilmente em vários meios de cultura sólidos in vitro, porém, produz
poucos clamidósporos em meios líquidos (Kerry & Bourne, 2002; Mo et al., 2005). Os
clamidósporos são o tipo de inóculo mais efetivo para o estabelecimento do fungo no
solo e na rizosfera, pois não requer nutrientes adicionais (Bourne & Kerry, 1999).
Atualmente, os clamidósporos são produzidos em meios de substratos sólidos de
cereais, a exemplo do arroz (Oryza sativa L.), que permite produzir aproximadamente
1,0 x 109 clamidósporos por grama de meio de cultura (Lopes, 2007; Dalemolle-
Giaretta, 2008). Porém, o processo de produção massal de clamidósporos do fungo gera
uma quantidade considerável de resíduo sólido e seco do substrato, podendo ultrapassar
80% da quantidade total do arroz utilizado como substrato para meio de cultivo do
fungo (comunicação pessoal de Rodrigo Valdes, Rizoflora Biotecnologia S.A.). Dessa
forma, melhorias no processo de produção massal dos clamidósporos e a investigação
25
das possibilidades de aproveitamento desse resíduo são essenciais para a redução dos
custos de produção, além de contribuir para uma menor geração de impactos ambientais
pela indústria produtora de agentes de biocontrole.
A introdução de P. chlamydosporia no solo de forma prática, eficiente e
integrada ao sistema produtivo também é um desafio. Ferraz et al. (2010) relataram que
uma alternativa de aplicação do fungo é por meio da irrigação, utilizando-se
formulações de suspensão aquosa de conídios ou de pó de clamidósporos. Segundo
Kerry & Bourne (2002), várias técnicas foram testadas. Entretanto, falta avaliar a
utilização de resíduos resultantes do processo de produção massal dos clamidósporos,
ou seja, o resíduo que contém micélio e clamidósporos do fungo (cerca de 1 x 104
unidades formadoras de colônia.g-1 de resíduo) e o seu efeito sobre o desenvolvimento
das mudas e plantas, evidenciando a necessidade de maiores investigações.
Geralmente, a implantação de cultivos de alface e outras hortaliças no campo é
feita por meio de mudas produzidas com diferentes tipos de substratos comerciais ou
formulados pelo próprio agricultor (Trani et al., 2004, 2007; Lopes et al., 2007),
podendo essa técnica ser uma alternativa para a introdução do fungo no solo da área de
cultivo de hortaliças.
O presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de três tipos de
substratos enriquecidos com um resíduo, resultante do processo de produção de
clamidósporos de P. chlamydosporia var. chlamydosporia (isolado Pc-10), no
desenvolvimento de mudas e plantas de alface.
26
Material e Métodos
O experimento foi instalado em casa de vegetação equipada com sistema de
aquecimento e resfriamento, localizada em área experimental de campo do
Departamento de Fitopatologia, da Universidade Federal de Viçosa, Município de
Viçosa, MG. O experimento foi realizado de 01 de julho a 17 de setembro de 2010.
Um resíduo sólido e seco de arroz, resultante do processo de produção de
clamidósporos do isolado Pc-10 de P. chlamydosporia var. chlamydosporia, em
desenvolvimento pela empresa Rizoflora Biotecnologia, do lote 24/02, obtido em
26/03/2010, foi utilizado no experimento e será doravante chamado de resíduo.
Avaliações prévias desse resíduo em meio semi-seletivo de Gaspard et al. (1990),
indicaram a presença de clamidósporos viáveis em uma concentração média de 1,0 x
104 clamidósporos.g-1 de resíduo e densidade de 0,65 g.cm-3. Neste experimento, nos
diferentes substratos, foram aplicados 220 a 440 clamidósporos.g-1 de substrato nas
doses de 2% e 4% v:v, respectivamente.
Os seguintes substratos para produção de mudas foram utilizados: substrato
formulado (17% terra de barranco, 50% de vermiculita e 33% de húmus de minhoca);
substrato comercial (Tropstrato Hortaliças II – HT, marca Vida Verde); e fibra de coco
(Golden MIX granulado, formulação número 11, marca Amafibra). Ao substrato
formulado, foram adicionados 500 g de 04-14-08 em pó para cada 20 L da mistura.
Todos os substratos foram peneirados. O substrato formulado e o comercial foram
umedecidos com 5% de água (v:v) e a fibra de coco com 25% de água (v:v), para
aumentar a umidade dos substratos e, dessa forma, facilitar o enchimento das bandejas.
Em seguida, o resíduo em três doses (0, 2 e 4% v:v resíduo:substrato) foi adicionado e
homogeneizado aos substratos das mudas, sete dias antes da montagem do experimento,
27
constituindo-se nove tratamentos em um esquema fatorial 3 x 3: substrato formulado,
substrato comercial e fibra de coco, todos contendo as doses 0, 2 e 4% v:v do resíduo.
Amostras dos substratos utilizados no experimento foram coletadas e análises físico-
químicas foram realizadas no Laboratório de Análises de Solo Viçosa Ltda (Tabela 1).
Tabela 1. Análises físico-químicas dos substratos formulado (SF), comercial (SC) e
fibra de coco (FB) enriquecida com diferentes doses do resíduo (% v:v
resíduo:substrato) realizadas no Laboratório de Análises de Solo Viçosa Ltda.
pH N P K Ca Mg S C.O. C/N Zn Fe Mn Cu B Dens.Substratos com
diferentes doses
do resíduo H2O % ppm g.mL-1
SF 0% 5,75 0,34 0,47 1,20 1,12 3,67 1,18 2,96 8,71 91 38208 299 20 9,1 0,94
SF 2% 5,93 0,34 0,57 1,04 1,12 3,49 1,25 3,12 9,17 89 42707 294 20 7,6 0,94
SF 4% 5,94 0,40 0,53 1,20 1,05 3,92 1,32 3,43 8,57 91 44956 307 18 9,1 0,94
SC 0% 5,54 0,55 0,26 0,22 1,40 0,77 0,44 13,10 23,81 51 8516 105 29 13,6 0,64
SC 2% 6,00 0,71 0,23 0,18 1,21 0,71 0,39 12,48 17,57 48 7166 92 25 15,2 0,66
SC 4% 6,00 0,68 0,23 0,21 1,26 0,88 0,42 12,94 19,02 51 7616 90 27 13,6 0,66
FC 0% 5,95 0,74 0,15 2,08 0,48 0,37 0,39 25,42 34,35 169 1588 67 82 76,8 0,18
FC 2% 5,90 0,83 0,12 1,20 0,70 0,33 0,31 27,14 32,69 176 1273 63 88 100,8 0,17
FC 4% 5,88 0,99 0,14 1,12 0,63 0,26 0,29 27,61 27,88 162 1273 55 108 87,9 0,18
Teores totais, determinados em extrato ácido (ácido nítrico com ácido perclórico); N, pelo método do Kjeldahl; CO,
pelo método Walkley-Black.
Sementes de alface Regina 255 (marca Topseed, lote 011.912, germinação: 83%,
pureza: 99,9%, teste: 04/2010, validade: 04/2012) foram semeadas manualmente em
cinco bandejas de isopor cortadas (do tipo 128 células) com 56 células, com capacidade
para aproximadamente 1,8 L de substrato. Foram utilizadas 2-3 sementes por célula, à
profundidade de 1 cm, padronizada com o uso de um marcador de madeira. Após o
28
semeio, as bandejas foram colocadas sobre bancada telada em casa de vegetação,
cobertas com tela de nylon preta e, em seguida, irrigadas. A emergência ocorreu três
dias após o semeio, quando a tela de nylon foi retirada. Sete dias após o semeio, o
desbaste foi realizado deixando-se uma plântula por célula.
Adubações de cobertura das mudas foram realizadas aos 15, 19 e 23 dias após o
semeio, aplicando-se as soluções de adubos foliares por meio de um regador. As duas
primeiras adubações foram realizadas utilizando-se 3 g do adubo foliar Plantafol 10-54-
10 por litro de água, gastando-se, em média, 10 L de solução em cada aplicação. A
terceira foi realizada utilizando-se 1 g do adubo foliar Plantin II por litro de água,
gastando-se, em média, 12 L de solução na aplicação. O adubo foliar Plantafol 10-54-10
apresentou as seguintes características químicas: 10% N; 54% P2O5 (pentóxido de
fósforo); 10% de K2O (óxido de potássio); 0,1% Fe; 0,02% B e 0,05% Cu. O adubo
foliar Plantin II apresentou as seguintes características químicas: 10% N; 1,5% Ca;
1,0% Mg; 3,5% S; 3,0% B; 0,5% Cu; 0,5% Fe; 0,5% Mn; 0,05% Mo e 6,0% Zn. As
irrigações das mudas foram realizadas diariamente, duas vezes ao dia, de manhã e de
tarde, utilizando-se mangueira adaptada com bico regador.
Na avaliação da emergência das plântulas, cada parcela experimental foi
constituída por 30 células centrais de cada bandeja. Sete dias após o semeio, as plântulas
de cada parcela foram contadas e o percentual de emergência calculado. Na avaliação
do desenvolvimento das mudas de alface, cada parcela experimental foi constituída por
10 mudas coletadas ao acaso, das 30 células centrais de cada bandeja, 26 dias após o
semeio. Os sistemas radiculares dessas mudas foram imersos em água corrente para a
retirada do excesso de substrato, secos em papel toalha por 10 min e, em seguida, a
massa da parte aérea fresca (MPAF) e do sistema radicular fresco (MSRF), a altura e o
número de folhas dessas mudas foram determinados.
29
Para o crescimento das plantas de alface, foram utilizados vasos de 2 L contendo
o substrato solo de barranco e areia lavada 1:1 (v:v), previamente adubado com 120 g de
superfosfato simples para cada 20 L da mistura (m:v) e tratado com brometo de metila
na dose de 180 cm3.m-3. Uma muda de alface foi transplantada para cada vaso, 28 dias
após o semeio, constituindo-se nove tratamentos em um esquema fatorial 3 x 3, como
descrito anteriormente. Cada parcela experimental foi constituída por uma planta por
vaso. Após o transplantio, os vasos foram colocados sobre bancada telada em casa de
vegetação e irrigados diariamente, quando necessário, duas vezes ao dia, de manhã e de
tarde, utilizando-se mangueira adaptada com bico regador.
As plantas de alface foram coletadas 42 dias após o transplantio. Em seguida, os
sistemas radiculares dessas plantas foram imersos em água corrente para a retirada do
excesso de solo, secos em papel toalha por 10 min e as massas da parte aérea fresca
(MPAF) e do sistema radicular fresco (MSRF) foram determinadas.
O delineamento experimental foi realizado em blocos casualizados. Na avaliação
das mudas e das plantas de alface, utilizaram-se, respectivamente, seis e oito repetições
por tratamento. Os dados obtidos, transformados ou não, foram analisados pelo teste
Tukey a 5% de probabilidade, sendo as pressuposições de normalidade do erro e a
homogeneidade de variância do erro analisadas, respectivamente, pelos testes de
Kolmogorov-Smirnov e Bartlett a 5% de probabilidade. Os dados foram submetidos à
análise estatística e os resultados apresentados em tabelas de interação. As análises
estatísticas foram realizadas utilizando o software estatístico Statistica (Statsoft, 2001).
30
Resultados e Discussão
Os tipos de substratos e as doses de resíduo apresentaram interação significativa
(p<0,05) para todas as variáveis relacionadas ao desenvolvimento das mudas e das
plantas de alface.
A maior emergência foi verificada na testemunha (sem o resíduo) da fibra de
coco (Tabela 2). Entretanto, a menor emergência também foi observada nesse tipo de
substrato com a dose de resíduo a 4%. A emergência das plântulas não foi afetada
significativamente (p<0,05) pelo aumento da concentração do resíduo nos substratos
formulado e comercial. A fibra de coco, por ser um material leve e solto, proporciona
excelentes condições para germinação das sementes, contribuindo, consequentemente,
para o maior índice de emergência das plântulas. Resultados semelhantes foram obtidos
por Trani et al. (2004), que observaram excelente emergência de plântulas de alface
com esse tipo de substrato.
Tabela 2. Efeito da aplicação de diferentes doses do resíduo em três tipos de substratos
para produção de mudas sobre a percentagem de emergência de plântulas de alface, sete
dias após o semeio.
Emergência (%) Doses do resíduo (%) Tipos de substrato
0 2 Formulado 81,7 Aab 73,3 Ab 72,8 AaComercial 75,6 Ab 87,8 Aab 86,7 Aa
Fibra de Coco 95,0 Aa 93,3 Aa 66,7 BbMédias 84,1 84,8 75,4
C.V. 13,40% Médias dentro da linha seguidas pela mesma letra maiúscula e dentro da coluna seguidas pela mesma letra minúscula não diferem entrC.V.: Coeficiente de Variação (%)
31
Na avaliação do desenvolvimento das mudas de alface, 26 dias após o semeio,
considerando-se as massas da parte aérea (MPAF) e do sistema radicular (MSRF), a
altura e o número de folhas das mudas, verificou-se uma tendência semelhante para
todas essas variáveis (Tabelas 3 e 4). O substrato formulado foi o que proporcionou
maior desenvolvimento das mudas de alface. Entre todos os tratamentos, o maior
desenvolvimento das mudas foi alcançado na testemunha (sem o resíduo) do substrato
formulado, ou seja, as maiores massas da parte aérea e do sistema radicular, altura e
número de folhas das mudas de alface.
Tabela 3. Efeito da aplicação de diferentes doses do resíduo nos substratos formulado,
comercial e fibra de coco sobre as massas da parte aérea fresca (MPAF) e do sistema
radicular fresco (MSRF) das mudas de alface, 26 dias após o semeio.
MPAF (g)1 MSRF (g)1
Doses do resíduo (%) Tipos de substrato
0 2 4 Médias 0 2 4 MédiasFormulado 2,15 Aa 1,24 Ba 0,41 Ca 1,27 0,58 Aa 0,49 Aa 0,22 Ba 0,43 Comercial 0,87 Ab 0,39 Bb 0,06 Cb 0,44 0,25 Ab 0,20 Ab 0,05 Bb 0,17
Fibra de coco 0,13 Ac 0,02 Bc 0,02 Bc 0,06 0,09 Ac 0,03 Bc 0,02 Cc 0,05 Médias 1,05 0,55 0,17 0,30 0,24 0,10
C.V. 18,50% 42,70% Para cada variável, as médias dentro da linha seguidas pela mesma letra maiúscula e dentro da coluna seguidas pela mesma letra minúscula não diferem entre si pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. C.V.: Coeficiente de Variação (%) 1Valores transformados para Log10(x)
Segundo Katayama (1993), o crescimento da alface é lento até 30 dias após a
emergência, aumentando rapidamente após esse período. Apesar de absorverem
quantidades relativamente pequenas de nutrientes, comparativamente com outras
culturas, devido ao seu ciclo curto (50 a 70 dias), a alface é considerada uma espécie
32
exigente em nutrientes, principalmente na fase final do ciclo. No presente experimento,
o substrato formulado foi o que apresentou maior densidade e uma tendência a maiores
teores dos nutrientes P, Mg, S, Zn, Fe e Mn (Tabela 1). Provavelmente, tal fato,
proporcionou maior desenvolvimento das mudas de alface. Essas informações são um
indicativo de que alguns substratos comerciais apresentam composição nutricional
inadequada para algumas espécies cultivadas, como ocorreu neste experimento.
Tabela 4. Efeito da aplicação de diferentes doses do resíduo nos substratos formulado,
comercial e fibra de coco sobre a altura e o número de folhas das mudas de alface, 26
dias após o semeio.
Altura (cm)1
Doses do resídTipos de substrato 0 2 4 Médias
Formulado 8,89 Aa 6,53 Ba 3,73 Ca 6,38 Comercial 5,14 Ab 3,54 Bb 1,50 Cb 3,39
Fibra de coco 2,28 Ac 1,19 Bc 1,15 Bc 1,54 Médias 5,44 3,75 2,13
C.V. 1,20% Para cada variável, as médias dentro da linha seguidas pela mesma letra maiúscula e dentro da coluna seguidas pela mesma letra minúC.V.: Coeficiente de Variação (%) 1Valores transformados para Log10(x)
Em todos os substratos testados, verificou-se que o aumento da dose do resíduo
prejudicou o desenvolvimento das mudas de alface, sendo que esse efeito foi mais
acentuado na dose do resíduo a 4% no substrato formulado e comercial, enquanto, na
fibra de coco, a dose do resíduo, igual ou superior a 2%, já foi suficiente para reduzir o
desenvolvimento das mudas de alface (Figura 1).
33
Figura 1. Efeito da aplicação de diferentes doses do resíduo nos substratos formulado,
comercial e fibra de coco no desenvolvimento das mudas de alface, 26 dias após o
semeio.
A fibra de coco, por ser um material orgânico, naturalmente com baixo teor de
nutrientes disponíveis, proporcionou reduzido desenvolvimento das mudas de alface,
fato também constatado em trabalhos com produção de mudas de alface realizados por
Trani et al. (2004) e Lopes et al. (2007). A utilização desse tipo de substrato na
produção de mudas de hortaliças exige um manejo da fertirrigação mais criterioso e
intenso para que se obtenham mudas bem desenvolvidas. Outra opção de utilização da
fibra de coco é a mistura com outros tipos de substratos e/ou componentes na
formulação de substratos (Trani et al., 2004).
A menor relação C:N do substrato formulado e comercial, provavelmente,
favoreceu a liberação mais fácil de nutrientes, em especial, nitrogênio, para a solução do
0 2% 4% Doses do resíduo
Substrato formulado
Substrato comercial
Fibra de coco
34
meio (Tabela 1). A fibra de coco, comparativamente aos outros substratos testados,
possui menor disponibilidade de nutrientes e uma relação C:N com tendência de ser
muito superior, o que resulta em pouca liberação de nutrientes para o meio. Na
competição por nutrientes, geralmente, os microrganismos são mais eficientes em
aproveitar os nutrientes disponíveis no solo do que as raízes das plantas (Wolf &
Wagner, 2005). Por isso, a menor disponibilidade de nutrientes na fibra de coco reduziu
o desenvolvimento das mudas de alface.
Mo et al. (2005) avaliaram o efeito de fontes de carbono e nitrogênio, relação
C:N e pH inicial no crescimento de P. chlamydosporia, e observaram que o crescimento
micelial e a esporulação são influenciados pelos componentes do meio e condições da
cultura. A alta produção de conídios foi alcançada principalmente em meios líquidos
com relação C:N de 10:1 e pH inicial de 3,7. No presente experimento, uma relação C:N
próxima de 10:1 foi verificada no substrato formulado com as diferentes doses do
resíduo e, provavelmente, contribuiu para maior desenvolvimento das mudas nesse tipo
de substrato.
Em outros trabalhos, como os realizados por Coutinho et al. (2009) e por
Dallemole-Giaretta et al. (2010a e b), outras formas de aplicação combinada de P.
chlamydosporia com materiais orgânicos foram testadas. Dallemole-Giaretta et al.
(2010a) avaliaram o efeito da farinha de sementes de abóbora (FSA) e P.
chlamydosporia var. chlamydosporia no controle de M. javanica e observaram
visualmente que doses a partir de 20 g de FSA.kg-1 de solo apresentaram efeito
fitotóxico em tomateiros. Logo, dependendo do tipo, quantidade e qualidade do material
orgânico utilizado para aplicar o fungo, o desenvolvimento das mudas e das plantas
pode ser afetado.
35
O aumento da taxa de aplicação de clamidósporos de P. chlamydosporia
aumenta sua densidade no solo, entretanto, sem necessariamente aumentar a
colonização da rizosfera. A multiplicação de P. chlamydosporia também pode ser
limitada, pois o fungo pode ser dependente de sua densidade e competir por nutrientes
limitantes no solo (Bourne & Kerry, 1999). Zou et al. (2007) obtiveram 1018 isolados
bacterianos do solo e 32% desses isolados apresentaram efeito inibitório, de intensidade
variada, na germinação de conídios e no crescimento micelial de Paecilomyces lilacinus
e P. chlamydosporia. No presente experimento, o desenvolvimento das mudas foi
afetado em consequência da relação C:N dos diferentes substratos, e provavelmente,
também por mecanismos de antagonismo, como a fungistase ou, devido às
características do resíduo utilizado, um material orgânico que pode conter
microrganismos contaminantes como, por exemplo, Penicillium spp. e Rhizopus spp.
Na avaliação do desenvolvimento das plantas de alface, 42 dias após o
transplantio das mudas, considerando-se as massas da parte aérea (MPAF) e do sistema
radicular (MSRF), observou-se um comportamento semelhante para ambas as variáveis
(Tabela 5).
Como na avaliação do desenvolvimento das mudas, o substrato formulado foi o
que proporcionou maior desenvolvimento das plantas de alface, seguido do substrato
comercial e da fibra de coco (Tabela 5). Entre todos os tratamentos, o maior
desenvolvimento das plantas de alface foi observado no substrato formulado com a dose
do resíduo a 2%. No substrato formulado, verificou-se que as doses do resíduo não
afetaram as massas da parte aérea e do sistema radicular. No substrato comercial, a dose
do resíduo a 2% foi a mais favorável ao desenvolvimento das plantas de alface,
enquanto que na fibra de coco, a testemunha foi a que proporcionou maior
desenvolvimento das plantas. Como na avaliação do desenvolvimento das mudas,
36
aquelas produzidas em fibra de coco resultaram no menor desenvolvimento das plantas
de alface nos vasos.
Tabela 5. Efeito da aplicação de diferentes doses do resíduo nos substratos formulado,
comercial e fibra de coco sobre as massas da parte aérea fresca (MPAF) e do sistema
radicular fresco (MSRF) das plantas de alface, 42 dias após o transplantio das mudas.
MPAF (g) MSRF (g)
Doses do resíduo (%) Tipos de substrato
0 2 4 Médias 0 2 4 Médias
Formulado 46,78 Aa 48,20 Aa 47,38 Aa 47,45 32,25 Aa 34,30 Aa 30,67 Aa 32,41
Comercial 39,78 ABb 42,80 Ab 36,09 Bb 39,56 26,02 ABb 28,84 Aa 22,32 Bb 25,73
Fibra de coco 33,88 Ac 23,90 Bc 19,27 Cc 25,68 23,65 Ab 14,86 Bb 11,71 Bc 16,74
Médias 40,14 38,30 34,25 27,31 26,00 21,57
C.V. 8,24% 24,47% Para cada variável, as médias dentro da linha seguidas pela mesma letra maiúscula e dentro da coluna seguidas pela mesma letra minúscula não diferem entre si pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. C.V.: Coeficiente de Variação (%)
Os resultados observados no desenvolvimento das mudas e das plantas de alface
indicam que a dose do resíduo a 2% nos substratos formulado e comercial, apesar de ter
provocado um atraso no desenvolvimento das mudas na fase de sementeira, não afetou o
desenvolvimento das plantas de alface nos vasos (Figura 2). Provavelmente, o resíduo
contendo P. chlamydosporia var. chlamydosporia promoveu o crescimento das plantas
de alface após o transplantio das mudas para os vasos. Foi relatado que alguns isolados
de P. chlamydosporia promoveram o crescimento de plantas de trigo, tomate e cevada
(Monfort et al., 2005; Dalemolle-Giaretta, 2008; Marciá-Vicente et al., 2009). Além
disso, o fungo pode colonizar endofiticamente e externamente a rizosfera de plantas, a
exemplo de cevada e tomateiro (Bordallo et al., 2002; Lopez-Llorca et al., 2002;
Dalemolle-Giaretta, 2008).
37
Figura 2. Efeito da aplicação de diferentes doses do resíduo nos substratos formulado,
comercial e fibra de coco no desenvolvimento das plantas de alface, 42 dias após o
transplantio das mudas.
Algumas espécies de plantas, por exemplo, repolho, crotalária, couve, milho e
tomateiro permitem extensa colonização de sua rizosfera por P. chlamydosporia e são
consideradas boas hospedeiras para o fungo, enquanto outras, a exemplo da berinjela,
quiabo, soja e feijão não permitem um crescimento rizosférico satisfatório (Bourne et
al., 1994, 1996, 2001; Bourne & Kerry, 1999, 2002). A maior influência da planta
hospedeira na eficácia do fungo é sua suscetibilidade ao ataque dos nematoides, que
influenciará o número de nematoides que se desenvolverão e o tamanho das galhas
produzidas, que, por sua vez, afetará o número de massa de ovos que permanecerá
dentro das raízes, protegidas contra a infecção do fungo (Bourne & Kerry, 1999). Em
0 2% 4%
Doses do resíduo
Substrato formulado
Substrato comercial
Fibra de coco
38
plantas de alface, a colonização das raízes e o efeito da promoção de crescimento de P.
chlamydosporia var. chlamydosporia ainda carecem de estudos.
A mistura do resíduo contendo P. chlamydosporia var. chlamydosporia com
diferentes tipos de substratos para mudas ou fertilizantes orgânicos, comumente
utilizados pelos agricultores no cultivo de hortaliças, é uma maneira simples e
relativamente barata de aproveitamento desse resíduo na agricultura. Além disso, poderá
ser uma forma de introdução desse agente de biocontrole no solo de áreas cultivadas
com hortaliças e naturalmente infestado com o nematoide das galhas.
A utilização do resíduo até 2% v:v nos substratos formulado e comercial para a
produção de mudas é viável, sem prejudicar o desenvolvimento das plantas de alface
após o transplantio.
Conclusões
1. A utilização de substrato para mudas formulado pelo próprio agricultor
permite a produção de mudas e de plantas de alface de maior qualidade.
2. É viável o aproveitamento do resíduo resultante do processo de produção de
P. chlamydosporia var. chlamydosporia em mistura com diferentes tipos de substratos
na produção de mudas de alface.
Agradecimentos
À Marilene, Fernanda e Leonardo (Graduandos de Agronomia-UFV), pela
colaboração na montagem e avaliação do experimento. À Rizoflora Biotecnologia, pelo
39
fornecimento do resíduo da produção de P. chlamydosporia var. chlamydosporia para
realização do experimento. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), pela concessão de bolsa de doutorado ao primeiro autor.
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43
ARTIGO 2
FORMAS DE APLICAÇÃO DE Pochonia chlamydosporia NO CONTROLE DE
Meloidogyne javanica EM ALFACE.2
2Artigo elaborado de acordo com as normas da revista “Tropical Plant Pathology”.
44
Formas de aplicação de Pochonia chlamydosporia no controle de Meloidogyne
javanica em alface.
José R. Viggiano1 & Leandro G. de Freitas1
1Departamento de Fitopatologia, Universidade Federal de Viçosa, CEP 36.570-000,
Viçosa, MG, Brasil.
Autor para correspondência: José R. Viggiano, e-mail: [email protected]
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do bionematicida Pc-10, à base de
Pochonia chlamydosporia var. chlamydosporia, no controle de Meloidogyne javanica
quando aplicado nas mudas e no solo cultivado com alface. Mudas de alface foram
inoculadas com diferentes doses de Pc-10 (0; 4,5; 9,0; 13,5 e 18,0 g de Pc-10.L-1 de
água). Uma mistura de solo de barranco e areia lavada 1:1 (v:v) foi usada como
substrato para o cultivo das plantas de alface. O solo de cada vaso foi infestado com
3.000 ovos de M. javanica. Em seguida, o solo de 40 vasos foi infestado com Pc-10
(5.000 clamidósporos.g-1 de solo). Os outros 40 vasos não foram infestados. Uma muda
foi transplantada para cada vaso. A aplicação de 18 g.L-1 de Pc-10 nas mudas reduziu o
número de ovos, no primeiro e no segundo experimento, respectivamente, em 41,69% e
45,03%; e o número de ovos.g-1 de raízes em 41,86% e 57,42%, em relação à
45
testemunha. A aplicação de Pc-10 nas mudas não prejudicou o desenvolvimento das
mudas de alface. A aplicação de Pc-10 no solo e da dose de 18 g.L-1 de Pc-10 nas mudas
resultou na melhor combinação para o controle de M. javanica em plantas de alface.
Palavras-chave: controle biológico; fungos nematófagos; nematoide das galhas;
Lactuca sativa.
ABSTRACT
Forms of application of Pochonia chlamydosporia for the control of Meloidogyne
javanica in lettuce.
The objective of this work was to evaluate the effect of the bionematicide Pc-10,
based on Pochonia chlamydosporia var. chlamydosporia, for the control of
Meloidogyne javanica when applied to the seedlings and the soil cultivated with lettuce.
Lettuce seedlings were inoculated with different doses of Pc-10 (0, 4.5, 9.0, 13.5 and
18.0 g of Pc-10.L-1 of water). A mixture of horizon C soil and washed-river sand 1:1
(v:v) was used as substrate for lettuce cultivation. The substrate of each pot was infested
with 3,000 eggs of M. javanica. Next, the substrate of 40 pots was infested with Pc-10
(5,000 chlamydospores.g-1 soil). The other 40 pots were not infested. One seedling was
transplanted into each pot. The application of 18 g.L-1 of Pc-10 in the seedlings reduced
the number of eggs in the first and second experiment, respectively, by 41.69% and
45.03%, and the number of eggs.g-1 root by 41.86% and 57.42%, when compared to
control. The application of Pc-10 in the seedlings did not adversely affect the
development of the lettuce seedlings. The application of Pc-10 in soil and the dose of 18
g.L-1 of Pc-10 in the seedlings resulted in the best combination for the control of M.
javanica in lettuce plants.
46
Keywords: biological control; nematophagous fungi; root-knot nematodes; Lactuca
sativa.
INTRODUÇÃO
A alface (Lactuca sativa L.) é a hortaliça folhosa mais consumida no Brasil.
Dados da CEASAMINAS, referentes ao ano de 2010, indicaram a comercialização de
1,44 mil toneladas de alface, correspondente ao valor de R$3.153.267,36 e preço médio
de R$2,19.kg-1. Entre os 70 municípios produtores de alface no Estado de Minas Gerais,
o cultivo dessa hortaliça destacou-se em Uberlândia, Piedade de Caratinga,
Brumadinho, Barbacena, Mário Campos, Caratinga, São Joaquim de Bicas, São João
Del Rey, Ubaporanga e Sarzedo que, em conjunto, totalizaram 74% da alface
comercializada (CEASAMINAS, 2011).
O nematoide das galhas, especialmente, em condições de elevadas temperaturas
tem afetado a produção comercial da alface devido à infestação por Meloidogyne
incognita (Kofoid & White) Chitwood e M. javanica (Treub) Chitwood (Campos, 1995;
Charchar & Moita, 1996; Fiorini et al., 2005). Em áreas infestadas, o sistema radicular
da alface suscetível pode apresentar elevado nível de infecção, comprometendo o
desenvolvimento da planta, reduzindo a altura e o diâmetro da cabeça e, provocando o
amarelecimento e a murcha das folhas. Esses danos não permitem ou dificultam a
comercialização da produção da alface (Charchar & Moita, 2005).
O fungo Pochonia chlamydosporia Zare & Gans (sin. Verticillium
chlamydosporium Goddard) é um agente de controle biológico, parasita de ovos e
fêmeas de espécies de fitonematoides endoparasitas sedentários que se destaca no
controle do nematoide das galhas (Kerry & Bourne, 2002; Chen & Dickinson, 2004).
47
Produz clamidósporos, estruturas de sobrevivência resistentes, que favorecem a
manipulação, a produção in vitro e o estabelecimento do fungo no solo e na rizosfera
das plantas (Kerry, 2001; Kerry & Bourne, 2002).
A introdução de P. chlamydosporia no solo de forma prática, eficiente e
econômica em sistemas produtivos comerciais ainda necessita de avaliações. Segundo
Kerry & Bourne (2002), várias técnicas foram testadas, como por exemplo, a aplicação
na superfície do solo em suspensão aquosa ou em forma de grânulos; a imersão das
raízes em pasta de alginato contendo clamidósporos; e o transplantio de mudas em
blocos de turfa colonizada. Essas técnicas, no entanto, não proporcionaram resultados
completamente satisfatórios, necessitando de maiores investigações.
As formas de aplicação de P. chlamydosporia no solo evoluíram nos últimos
anos. Lopes et al. (2007a) e Dallemole-Giaretta et al. (2008) fizeram a aplicação por
meio da mistura de substrato colonizado pelo fungo com o solo. Coutinho et al. (2009)
aplicaram o fungo ao solo na forma de mistura de suspensão de clamidósporos e farinha
de sementes de mamão, um nematicida natural. Dallemole-Giaretta et al. (2010a)
fizeram a aplicação no solo utilizando-se mistura de arroz colonizado pelo fungo e
farinha de sementes de abóbora. Outra forma utilizada por Dallemole-Giaretta et al.
(2010b) foi a incorporação ao solo de palha de café colonizado pelo fungo.
Existem produtos em desenvolvimento e em testes nos sistemas produtivos
comerciais, como o Rizotec, pela empresa Rizoflora Biotecnologia S.A, em Viçosa,
Minas Gerais, Brasil. Neste caso, a introdução do isolado de Pc-10 de P.
chlamydosporia var. chlamydosporia no solo tem sido testada através da irrigação das
mudas no viveiro e das plantas sob pivô central. O bionematicida foi testado com
48
sucesso no controle de M. javanica por Podestá et al. (2009), Coutinho et al. (2009) e
Dallemole-Giaretta et al. (2010a e b) em tomateiro.
Geralmente, a implantação de cultivos de alface no campo é feita por meio de
mudas produzidas em bandejas de isopor com diferentes tipos de substratos comerciais
ou formulados pelo próprio agricultor (Trani et al., 2004, 2007; Lopes et al., 2007b).
Essa técnica já é amplamente utilizada pelos agricultores e pode ser uma alternativa
técnica e economicamente viável de introdução de P. chlamydosporia no solo.
O presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de P. chlamydosporia
var. chlamydosporia no controle de M. javanica quando aplicado em diferentes doses
nas mudas e no solo cultivado com plantas de alface.
MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram instalados em casa de vegetação equipada com sistema
de aquecimento e resfriamento, localizada na área experimental de campo do
Departamento de Fitopatologia, da Universidade Federal de Viçosa, no Município de
Viçosa, MG, Brasil. As temperaturas mínimas e máximas do ar e do solo no interior da
casa de vegetação durante a realização dos experimentos foram registradas diariamente
(Figura 1).
Um produto (Rizotec) constituído de clamidósporos do isolado Pc-10 de P.
chlamydosporia var. chlamydosporia, em desenvolvimento pela empresa Rizoflora
Biotecnologia, com uma concentração média de 3,1 x 108 clamidósporos.g-1 do produto,
lote de agosto/2010, foi utilizado nos experimentos e será doravante chamado de Pc-10.
49
FIGURA 1 - Temperaturas mínimas e máximas do ar e do solo (ºC) em casa de
vegetação durante a realização dos experimentos.
Na produção das mudas de alface foi utilizado o substrato comercial Tropstrato
Hortaliças II HT (marca Vida Verde), previamente umedecido com 5% de água (v:v).
Amostra do substrato utilizado nos experimentos foi coletada e análises físico-químicas
foram realizadas no Laboratório de Análises de Solo Viçosa Ltda (Tabela 1).
Sementes de alface cultivar Regina 255 (marca Topseed, lote 011.912,
germinação: 83%, pureza: 99,9%, teste: 04/2010, validade: 04/2012) foram semeadas
manualmente em cinco bandejas de isopor cortadas (do tipo 128 células) com 56
células, com capacidade para aproximadamente 1,8 L de substrato. Foram utilizadas 2-3
sementes por célula, à profundidade de 1 cm, padronizada com o uso de um marcador
de madeira. Após o semeio, as bandejas foram colocadas sobre bancada telada em casa
de vegetação, cobertas com tela de nylon preta e, em seguida, irrigadas. A emergência
ocorreu três dias após o semeio, quando a tela de nylon foi retirada. Sete dias após
50
TABELA 1 - Análises físico-químicas do substrato comercial Tropstrato Hortaliças II
HT, utilizado na produção das mudas de alface dos experimentos, realizadas no
Laboratório de Análises de Solo Viçosa Ltda.
pH N P K Ca Mg S C.O. C/N Zn Fe Mn Cu B Densidade
H2O % ppm g.mL-1
5,54 0,55 0,26 0,22 1,40 0,77 0,44 13,10 23,81 51 8516 105 29 13,6 0,64
Teores totais, determinados em extrato ácido (ácido nítrico com ácido perclórico); N, pelo método do Kjeldahl; CO, pelo método Walkley-Black.
o semeio, o desbaste foi realizado deixando-se uma plântula por célula. As irrigações
foram realizadas diariamente, duas vezes ao dia, de manhã e de tarde, utilizando-se
mangueira adaptada com bico regador.
A aplicação de Pc-10 nas mudas de alface em cada bandeja foi realizada por
meio de irrigação, utilizando-se uma garrafa PET (500 ml) com tampa perfurada
contendo 250 ml de uma suspensão com diferentes doses de Pc-10: 0; 4,5; 9,0; 13,5 e
18,0 g de Pc-10.L-1 de água. Cada dose de Pc-10 foi dividida em três partes iguais e
aplicada nas mudas, em cada bandeja correspondente, aos 3, 7 e 12 dias após o semeio.
Para o crescimento das plantas de alface, foram utilizados vasos de 2 L contendo
o substrato solo de barranco e areia lavada 1:1 (v:v), previamente adubado com 120 g de
superfosfato simples para 20 L da mistura (m:v) e tratado com brometo de metila na
dose de 180 cm3.m-3. O solo de cada vaso foi infestado com um volume de suspensão
contendo 3.000 ovos de M. javanica, sete dias antes do transplantio das mudas. O
inóculo de M. javanica foi constituído por ovos obtidos de populações puras e coletados
de raízes de tomateiros mantidos em vasos em casa de vegetação e extraídos pela
técnica de Hussey & Barker (1973), modificada por Boneti & Ferraz (1981). Em
seguida, o solo de 40 vasos foi infestado com 20 mL de uma suspensão formulada com
51
Pc-10 e calculada para fornecer 5.000 clamidósporos.g-1 de solo por vaso. O solo dos
outros 40 vasos não foi infestado com o fungo. O solo nos vasos foi mantido úmido,
próximo a 60% da capacidade de campo. Uma muda de alface foi transplantada para
cada vaso, 22 dias após o semeio, constituindo-se 10 tratamentos num esquema fatorial
2 x 5: solo sem Pc-10 (0; 4,5; 9,0; 13,5 e 18,0 g.L-1 de Pc-10 nas mudas) e solo com Pc-
10 (0; 4,5; 9,0; 13,5 e 18,0 g.L-1 de Pc-10 nas mudas). Após o transplantio, os vasos
foram colocados sobre bancada telada em casa de vegetação e irrigados diariamente,
quando necessário, duas vezes ao dia, de manhã e de tarde, utilizando-se mangueira
adaptada com bico regador.
Para a determinação do número de unidades formadoras de colônias de P.
chlamydosporia var. chlamydosporia no substrato das mudas tratadas com diferentes
doses de Pc-10 (número de UFC.g-1 de substrato), 10 mudas de alface de cada bandeja
foram escolhidas ao acaso. O substrato aderido aos respectivos sistemas radiculares
dessas mudas foi coletado, constituindo-se uma amostra composta de substrato por dose
de Pc-10 utilizada nas mudas. As amostras compostas dos substratos foram coletadas 23
dias após o semeio, em ambos os experimentos. O número de UFC.g-1 de substrato foi
determinado conforme metodologia descrita por Kerry (1991), usando meio semi-
seletivo de Gaspard et al. (1990).
As plantas de alface foram coletadas 43 dias após o transplantio. Em seguida,
foram determinadas as massas da parte aérea fresca (MPAF) e do sistema radicular
fresco (MSRF), o número de galhas e de ovos, e calculado o número de galhas.g-1 de
raízes e de ovos.g-1 de raízes. Durante a extração das raízes, amostras de solo, dos
respectivos tratamentos, foram coletadas para a determinação do número de unidades
formadoras de colônias do fungo no solo dos vasos. O número de UFC.g-1 de solo foi
determinado conforme metodologia descrita anteriormente.
52
O delineamento experimental foi realizado em blocos casualizados com oito
repetições por tratamento. Cada unidade experimental foi constituída por uma planta por
vaso. O experimento foi realizado duas vezes. Os dados obtidos, transformados ou não,
foram analisados pelo teste F a 5% de probabilidade, sendo as pressuposições de
normalidade do erro e da homogeneidade de variância do erro analisadas,
respectivamente, pelos testes de Kolmogorov-Smirnov e Bartlett a 5% de probabilidade.
Os dados foram submetidos à análise estatística e os resultados apresentados em
gráficos de regressão quando significativos. As análises estatísticas foram realizadas
utilizando o software estatístico Minitab (Minitab, 2003).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No experimento 1, a média das temperaturas mínimas e máximas durante o
período de desenvolvimento das plantas de alface foram, respectivamente, de 23,3ºC e
36,0ºC no ar, e de 24,2ºC e 32,1ºC no solo. No experimento 2, a média das mínimas e
máximas foram, respectivamente, de 23,6ºC e 37,3ºC no ar, e de 24,7ºC e 33,7ºC no
solo. Na primeira quinzena do experimento 1, período no qual o experimento 2 ainda
não havia sido iniciado, a média das temperaturas mínimas e máximas do solo foram,
respectivamente, inferiores em 0,7ºC e 1,1ºC. Inversamente, na última quinzena do
experimento 2, quando o experimento 1 já havia sido retirado para avaliação, a média
das mínimas e máximas foram, respectivamente, superiores em 0,5ºC e 0,1ºC no ar, e
0,1ºC e 1,2ºC no solo. A ocorrência de temperaturas mais baixas durante a fase de
desenvolvimento vegetativo da alface no experimento 1, principalmente na primeira
quinzena, proporcionou maior desenvolvimento das plantas de alface, o que pode ser
comprovado pelas maiores massas da parte aérea e do sistema radicular das plantas
53
nesse experimento. A alface é uma espécie de hortaliça tipicamente de inverno, que tem
seu desenvolvimento favorecido por temperaturas inferiores a 20ºC. Algumas cultivares
foram selecionadas para o verão e formam cabeça com temperaturas mais elevadas
(Sonnenberg, 1985; Filgueira, 2003; Souza & Resende, 2003), como é o caso da Regina
255 utilizada nos experimentos. Entretanto, foi observado ao final do experimento 2,
uma tendência das plantas pendoarem, um indicativo de que a temperatura e/ou o
fotoperíodo estavam em condições inadequadas para o cultivo ideal dessa cultivar.
Na avaliação do número de unidades formadoras de colônias de P.
chlamydosporia var. chlamydosporia no substrato das mudas tratadas com Pc-10
(número de UFC.g-1 de substrato), verificou-se que não ocorreu a contaminação das
testemunhas dos experimentos. Na análise de regressão do número de UFC.g-1 de
substrato, o modelo ajustado foi o linear de 1º grau (Figura 2). A utilização de doses
crescentes de Pc-10 nas mudas aumentou o número de UFC.g-1 de substrato das mudas
de alface, em ambos os experimentos. A aplicação parcelada de Pc-10 nas mudas, que
forneceu, aproximadamente, 1,21 x 106 (dose 4,5 g.L-1 de Pc-10) a 4,84 x 106
clamidósporos.g-1 de substrato (dose 18,0 g.L-1 de Pc-10), resultou, em média, na
produção de 4,16 x 104 a 10,5 x 104 UFC.g-1 de substrato. Em ambos os experimentos, a
aplicação de altas concentrações de Pc-10 nas mudas não prejudicou o desenvolvimento
das mudas de alface. Bourne & Kerry (1999) verificaram que aumento nas taxas de
aplicação de P. chlamydosporia no solo (5.000, 10.000 e 50.000 clamidósporos.g-1 de
solo) resultou no aumento da colonização do solo e da rizosfera (número de UFC.g-1 de
solo ou raiz) de diferentes plantas hospedeiras do fungo no final de seus experimentos.
No presente experimento, a lixiviação da água de irrigação do substrato das mudas pode
ter contribuído para eliminar parte dos clamidósporos aplicados nas mudas, ainda mais,
considerando-se que a última aplicação do Pc-10 nas mudas foi realizada 12 dias após o
54
FIGURA 2 - Número médio de unidades formadoras de colônias de P. chlamydosporia
var. chlamydosporia (isolado Pc-10) no substrato das mudas de alface (número de
UFC.g-1 de substrato) sob diferentes doses de Pc-10 (g.L-1) aplicadas nas mudas aos 3, 7
e 12 dias após o semeio. Cada ponto representa a média de seis repetições. C.V.:
Coeficiente de variação (%); * Significativo pelo Teste t a 5% de probabilidade.
semeio e 10 dias antes do transplantio das mudas de alface. Provavelmente, aplicações
das mesmas doses em um maior intervalo de dias, ou parceladas em quatro vezes, por
exemplo, aos 3, 7, 12 e 18 dias após o semeio, proporcionassem melhores resultados, ou
seja, maior número de UFC.g-1 de substrato à época de transplantio das mudas de alface.
Houve interação significativa (p<0,05) entre os fatores Pc-10 no solo e Pc-10 nas
mudas no número de galhas e de galhas.g-1 de raízes no experimento 2. Entretanto,
nenhum desses dois fatores afetou o número de galhas e de galhas.g-1 de raízes no
experimento 1 (dados não apresentados). No experimento 2, nos vasos com Pc-10 no
solo, não houve diferença no número de galhas nas raízes das plantas de alface em
55
função do aumento da dose de Pc-10 nas mudas (dados não apresentados). Entretanto,
nos vasos sem Pc-10 no solo, houve efeito significativo (p<0,05) das doses de Pc-10 nas
mudas (Figura 3). Na análise de regressão dessa variável, o modelo ajustado foi o linear
de 1º grau. Observou-se que a utilização de doses crescentes de Pc-10 nas mudas
diminuiu o número de galhas nas raízes das plantas de alface cultivadas nos vasos sem
Pc-10 no solo. O menor número de galhas (371) foi observado com a dose de 18,0 g.L-1
de Pc-10 nas mudas, com redução no número de galhas de 49,10%, em relação à
testemunha (729).
Na avaliação do número de galhas.g-1 de raízes do experimento 2, houve efeito
significativo das doses de Pc-10 nas mudas nos vasos sem e com Pc-10 no solo (Figura
4). Ou seja, a utilização de doses crescentes de Pc-10 nas mudas reduziu o número de
galhas.g-1 de raízes, tanto nas raízes das plantas cultivadas no solo dos vasos onde o
fungo não foi aplicado, quanto nos que foi aplicado. Na análise de regressão dessa
variável, o modelo ajustado foi o linear de 1º grau, em ambos os casos. O menor
número de galhas.g-1 de raízes foi observado nos vasos sem Pc-10 e com a dose de 18,0
g.L-1 de Pc-10 nas mudas (17,17), que representou uma redução de 58,96%, em relação
à testemunha (sem Pc-10 no solo e nas mudas).
O aumento da taxa de aplicação do fungo aumenta sua densidade no solo
(Bourne & Kerry, 1999). Entretanto, as espécies de plantas hospedeiras diferem em sua
habilidade de suportar o crescimento do fungo em sua rizosfera, assim como, o aumento
da taxa de aplicação do fungo no solo não necessariamente aumenta a colonização da
rizosfera (Kerry, 2000). Além disso, de acordo com Bourne & Kerry (1999), a
multiplicação de P. chlamydosporia pode ser limitada, pois o fungo pode ser
dependente de sua densidade e competir por nutrientes limitantes no solo. A utilização
56
FIGURA 3 - Raiz quadrada do número de galhas nas raízes das plantas de alface
cultivadas no solo dos vasos sem Pc-10, no experimento 2, sob diferentes doses de Pc-
10 (g.L-1) aplicadas nas mudas, 43 dias após o transplantio. Cada ponto representa a
média de oito repetições. C.V.: Coeficiente de variação (%); F.A.: Falta de ajustamento;
* Significativo pelo Teste t a 5% de probabilidade.
FIGURA 4 - Número de galhas.g-1 de raízes das plantas de alface cultivadas no solo
dos vasos sem e com Pc-10, no experimento 2, sob diferentes doses de Pc-10 (g.L-1)
aplicado nas mudas, 43 dias após o transplantio. Cada ponto representa a média de oito
repetições. C.V.: Coeficiente de variação (%); F.A.: Falta de ajustamento; *
Significativo pelo Teste t a 5% de probabilidade.
57
de doses crescentes de Pc-10 nas mudas proporcionou aumento da densidade do fungo
no solo e, provavelmente, da colonização rizosférica. O parasitismo dos ovos no solo foi
maior, reduzindo a formação e a eclosão dos J2, a infecção inicial das raízes e,
consequentemente, a formação de galhas nas raízes. Entretanto, no solo dos vasos
tratados com altas concentrações de Pc-10, ou seja, com a aplicação de Pc-10 no solo e
nas mudas, provavelmente, a multiplicação de P. chlamydosporia var. chlamydosporia
foi limitada.
Lopes et al. (2007a) observaram que nenhum dos quatro isolados de P.
chlamydosporia testados por eles reduziu o número de galhas de M. javanica.
Dallemole-Giaretta et al. (2008), em apenas um ciclo do nematoide, observaram que
quantidades crescentes de clamidósporos de P. chlamydosporia var. chlamydosporia
(isolado Pc-10) no solo também não afetaram o número de galhas de M. javanica.
Podestá et al. (2009) observaram que as aplicações de 5.000 e 10.000 clamidósporos.g-1
de solo de P. chlamydosporia (isolado Pc-10) reduziram significativamente o número de
galhas de M. javanica, em comparação com o tratamento testemunha, sem o fungo.
Nesses três experimentos, o fungo foi aplicado sete dias antes do transplantio das mudas
de tomateiro. Em outros trabalhos, como os realizados por Dallemole-Giaretta et al.
(2008), Coutinho et al. (2009) e Dallemole-Giaretta et al. (2010a e b), quando o fungo
foi aplicado 15 dias antes do transplantio das mudas de tomateiro, P. chlamydosporia
foi efetivo na redução do número de galhas. Segundo Dallemole-Giaretta et al. (2008),
maior período de contato entre o fungo e os ovos do nematoide no solo favorecem o
controle de M. javanica em tomateiro por P. chlamydosporia var. chlamydosporia,
aumentando o parasitismo dos ovos no solo, impedindo a formação e a eclosão dos J2.
Com isso, a infecção inicial das raízes é reduzida e, consequentemente, o número de
galhas e de ovos nas raízes. Nos presentes experimentos, o isolado Pc-10 foi aplicado na
58
dose de 5.000 clamidósporos.g-1 de solo, sete dias antes do transplantio das mudas e
esse período de tempo foi suficiente para reduzir o número de galhas e de galhas.g-1 de
raízes das plantas de alface, somente no experimento 2. Talvez, a aplicação do Pc-10 no
solo, 15 dias antes do transplantio, proporcionasse maior redução do número de galhas e
de galhas.g-1 de raízes das plantas de alface.
As temperaturas mais altas ocorridas durante a condução do experimento 2
(Figura 1), proporcionaram condições menos favoráveis ao desenvolvimento das plantas
de alface, resultando no menor crescimento da parte aérea e do sistema radicular
(Tabela 2). Consequentemente ocorreu menor parasitismo das raízes das plantas por J2
de M. javanica, resultando no menor número de galhas formadas. Temperaturas altas e
fotoperíodos longos provocam o pendoamento precoce, impedindo ou prejudicando o
fechamento de cabeça nas alfaces repolhudas (Sonnenberg, 1985). Segundo Kerry e
Bourne (1996), a suscetibilidade da planta hospedeira pode influenciar o número de
nematoides que atacam as raízes, a taxa de desenvolvimento dos nematoides e sua
multiplicação, fatores esses, que influenciam o impacto do fungo na dinâmica
populacional do nematoide. No presente experimento, provavelmente, alterações
fisiológicas da planta em consequência das temperaturas mais altas podem ter afetado,
por exemplo, a produção de exsudatos nas raízes, que interfeririam na interação
nematoide-planta, afetando a atração, a penetração e o desenvolvimento dos nematoides
nas plantas de alface.
Apenas a aplicação de Pc-10 no solo, isoladamente, foi significativa (p<0,05) na
massa da parte aérea (MPAF) das plantas de alface, em ambos os experimentos (Tabela
2). Ou seja, independentemente do aumento das doses de Pc-10 nas mudas, a aplicação
de Pc-10 no solo aumentou a massa da parte aérea (MPAF) das plantas de alface.
59
TABELA 2 - Efeito da aplicação de Pc-10 no solo sobre as massas da parte aérea fresca
(MPAF) e do sistema radicular fresco (MSRF) das plantas de alface, 43 dias após o
transplantio das mudas, nos experimentos 1 e 2.
MPAF (g) MSRF (g) Quantidade de clamidósporos.g-1 de solo nos vasos Experimentos
0 5.000 0 5.000 1 73,67 82,18 * 28,28 29,32 ns 2 60,38 64,55 * 21,71 24,42 *
. ns: não significativo pelo teste F a 5% de probabilidade *: significativo pelo teste F a 5% de probabilidade
. Média de oito repetições
Dallemole-Giaretta et al. (2008) não observaram aumento na massa da parte
aérea em comparação com a testemunha com nematoides e nem diferença na massa das
raízes das plantas, quando avaliaram o efeito da aplicação de quantidades crescentes de
clamidósporos (0, 5.000, 10.000, 15.000, 20.000 e 25.000 clamidósporos.g-1 de solo) de
P. chlamydosporia var. chlamydosporia (isolado Pc-10) em tomateiro. Em outros
trabalhos, Dallemole-Giaretta et al. (2010a) observaram que as massas da parte aérea e
das raízes de tomateiros não foram afetadas pela aplicação de 5.000 clamidósporos.g-1
de solo de P. chlamydosporia (isolado Pc-19). As mesmas variáveis não foram afetadas
pela aplicação de diferentes doses de palha de café colonizada com o isolado Pc-10 de
P. chlamydosporia var. chlamydosporia (Dallemole-Giaretta et al., 2010b). Dessa
forma, dependendo da taxa de aplicação de clamidósporos de P. chlamydosporia no
solo e das condições experimentais, o desenvolvimento das plantas pode ser afetado.
Nenhum dos fatores, Pc-10 no solo e Pc-10 nas mudas, afetou a massa do
sistema radicular (MSRF) das plantas de alface no experimento 1 (Tabela 2). Entretanto,
no experimento 2, os dois fatores isoladamente foram significativos (p<0,05), ou seja, a
60
aplicação de Pc-10 no solo e de Pc-10 nas mudas aumentou a massa do sistema
radicular (MSRF) das plantas de alface.
Na análise de regressão da massa do sistema radicular (MSRF) do experimento
2, o modelo ajustado foi o linear de 2º grau (Figura 5). Observou-se que a utilização de
doses crescentes de Pc-10 nas mudas aumentou a massa do sistema radicular das plantas
de alface. A maior massa do sistema radicular (24,57 g) foi observada no tratamento
com a dose de 18,0 g.L-1 de Pc-10 nas mudas. Essa dose aumentou em 31,39% a massa
do sistema radicular das plantas de alface em relação à testemunha (18,70 g).
Entretanto, a utilização da menor dose de Pc-10 nas mudas (4,5 g.L-1) já foi suficiente
para aumentar em 27,0% a massa do sistema radicular das plantas de alface. Monfort et
al. (2005) constataram que P. chlamydosporia (isolado 4624) pode ter um efeito de
promotor de crescimento em plantas de trigo. Dallemole-Giaretta et al. (2008)
constataram que os isolados Pc-3, Pc-10 e Pc-19 de P. chlamydosporia var.
chlamydosporia colonizaram eficientemente a rizosfera e promoveram o crescimento de
plântulas de tomate. Os isolados Pc123 e Pc21 de P. chlamydosporia tiveram um claro
efeito promotor de crescimento em cevada (Marciá-Vicente et al., 2009). O efeito
promotor de crescimento proporcionado por P. chlamydosporia var. chlamydosporia
(isolado Pc-10) nas plantas de alface do experimento 2 foi pequeno em relação ao
aumento da dose de Pc-10 nas mudas e, provavelmente, está relacionado com a menor
adaptação climática da cultivar às condições de temperaturas do experimento 2.
Os dois fatores, aplicação de Pc-10 no solo e de Pc-10 nas mudas, foram
significativos (p<0,05) isoladamente para as variáveis número de ovos e de ovos.g-1 de
raízes, em ambos os experimentos (Tabela 3).
61
FIGURA 5 - Massa do sistema radicular fresco (MSRF) das plantas de alface do
experimento 2, sob diferentes doses de Pc-10 (g.L-1) aplicadas nas mudas, 43 dias após
o transplantio. Cada ponto representa a média de oito repetições. C.V.: Coeficiente de
variação (%); F.A.: Falta de ajustamento; * Significativo pelo Teste t a 5% de
probabilidade.
TABELA 3 - Efeito da aplicação de Pc-10 no solo sobre o número de ovos e de ovos.g-1
de raízes das plantas de alface, 43 dias após o transplantio das mudas, nos experimentos
1 e 2.
Número de ovos1 Número de ovos.g-1 de raízes1
Quantidade de clamidósporos.g-1 de solo nos vasos Experimentos
0 5.000 0 5.000
1 35.471 30.581 * 1.306 1.066 *
2 41.472 36.916 * 2.050 1.606 * . ns: não significativo pelo teste F a 5% de probabilidade * significativo pelo teste F a 5% de probabilidade . Média de oito repetições 1Valores transformados para √ x (experimento 2)
62
Ou seja, independentemente das doses de Pc-10 aplicadas nas mudas, a
aplicação de Pc-10 no solo proporcionou redução do número de ovos e de ovos.g-1 de
raízes nas plantas de alface, em ambos os experimentos (Tabela 3).
Da mesma forma, independentemente da aplicação de Pc-10 no solo, o aumento
das doses de Pc-10 nas mudas reduziu o número de ovos e de ovos.g-1 de raízes das
plantas de alface (Figuras 6A a D). Na análise de regressão dessas variáveis, os modelos
ajustados foram o linear de 1º grau para o número de ovos (Figuras 6A e B) e de 2º grau
para o número de ovos.g-1 de raízes (Figuras 6C e D), em ambos os experimentos.
Observou-se que a utilização de doses crescentes de Pc-10 nas mudas diminuiu o
número de ovos e de ovos.g-1 de raízes das plantas de alface, em ambos os
experimentos. Os menores valores foram obtidos nos tratamentos com a dose de 18g.L-1
de Pc-10 nas mudas. A dose de 18 g.L-1 de Pc-10 nas mudas reduziu o número de ovos
no primeiro e no segundo experimento, em 41,69% e 45,03%, respectivamente, e de
ovos.g-1 de raízes em 41,86% e 57,42%, em relação à testemunha.
Esses resultados confirmam a eficiência de P. chlamydosporia var.
chlamydosporia (isolado Pc-10) no controle de M. javanica em alface e reforçam os
resultados obtidos por Podestá et al. (2009), Coutinho et al. (2009) e Dallemole-Giaretta
et al. (2010a e b) em tomateiros. O mesmo foi observado com pepino (dados não
publicados). A aplicação parcelada de Pc-10 nas mudas poderá ser uma alternativa
viável de introdução do fungo no substrato para mudas e, consequentemente, no solo de
áreas cultivadas com o alface e com outras hortaliças.
63
FIGURA 6 - Número de ovos e de ovos.g-1 raízes das plantas de alface com diferentes
doses de Pc-10 (g.L-1) aplicadas nas mudas, no experimento 1 (6A e C) e 2 (6B e D), 43
dias após o transplantio. Cada ponto representa a média de oito repetições. C.V.:
Coeficiente de variação (%); F.A.: Falta de ajustamento; * Significativo pelo Teste t a
5% de probabilidade.
As relações entre a planta hospedeira, o nematoide e P. chlamydosporia no solo
são complexas. Algumas espécies de plantas como repolho, couve, crotalária, milho e
tomateiro permitem extensa colonização de sua rizosfera e são considerados bons
hospedeiros para o fungo, enquanto outras, como quiabo, sorgo, feijão e berinjela não
permitem um crescimento rizosférico satisfatório (Kerry & Bourne, 1996; Bourne &
Kerry, 1999). Aumentos na taxa de aplicação do fungo no solo superiores a 10 vezes a
C
64
dose padrão (5.000 clamidósporos.g-1 de solo) aumentaram progressivamente a
colonização na rizosfera e o controle do nematoide das galhas em couve. Entretanto, em
quiabo, sorgo e feijão, esses efeitos foram observados apenas com altas doses do fungo.
Em berinjela, não houve aumento na colonização da rizosfera, mas houve melhora no
controle do nematoide e a população final de nematoides foi menor de acordo com as
altas doses do fungo. A maior influência da planta hospedeira na eficácia do fungo é,
provavelmente, sua suscetibilidade ao ataque dos nematoides, que influenciará o
número de nematoides que se desenvolverão e o tamanho das galhas produzidas, que,
por sua vez, afetará o número de massa de ovos que permanecerá dentro das raízes,
protegidas contra a infecção do fungo (Bourne & Kerry, 1999). Segundo Charchar &
Moita (1996), as cultivares de alface do tipo lisa (Vitória e Regina) são as mais
suscetíveis ao nematoide das galhas (M. incognita e M. javanica), quando comparadas
com as cultivares do tipo crespa. Apesar de não ter sido avaliado o tamanho das galhas,
nestes experimentos, observou-se que as raízes das plantas de alface Regina 255
apresentaram uma grande quantidade de galhas pequenas. Portanto, as plantas de alface
Regina 255 foram muito suscetíveis ao M. javanica e, aparentemente, a alface foi uma
boa hospedeira para o fungo. Com isso, controle mais efetivo de M. javanica em plantas
de alface Regina 255 é alcançado com aumento de taxas de aplicação do fungo, como
observado nos tratamentos com a aplicação de Pc-10 no solo e com aumento das
concentrações de Pc-10 nas mudas de alface.
Na avaliação do número de unidades formadoras de colônias de P.
chlamydosporia var. chlamydosporia no solo dos vasos cultivados com plantas de alface
com os diferentes tratamentos, verificou-se que não houve a contaminação das
testemunhas dos experimentos. Na análise de regressão do número de UFC.g-1 de solo,
os dados não se ajustaram a nenhum modelo de regressão. As altas taxas de aplicação de
65
Pc-10 nas mudas resultaram, aproximadamente, em 4,0 x 104 a 10,66 x 104 UFC.g-1 de
substrato no experimento 1; e em 4,33 x 104 a 10,33 x 104 UFC.g-1 de substrato no
experimento 2. Considerando-se a aplicação de Pc-10 no solo (5.000 clamidósporos.g-1
de solo) e nas mudas, e a quantidade relativamente pequena de UFC.g-1 de solo
observada nos vasos dos diferentes tratamentos, em média, 8.167 ± 5.701 e 19.533 ±
6.009 UFC.g-1 de solo nos experimentos 1 e 2, respectivamente, observa-se que a coleta
das amostras de solo dos vasos não foi apropriada ou representativa dos tratamentos.
Ou, ainda, de acordo com Bourne & Kerry (1999), provavelmente, a multiplicação de P.
chlamydosporia var. chlamydosporia no solo dos diferentes tratamentos foi limitada,
pois o fungo pode ser dependente de sua densidade e competir por nutrientes limitantes.
O agente de biocontrole P. chlamydosporia tem baixa eficiência de controle
quando ocorre alta população de J2 no solo em culturas suscetíveis, pois o fungo não
previne a invasão inicial das raízes pelos J2 e os danos que eles causam ao crescimento
da planta. Consequentemente, se o solo estiver fortemente infestado com J2 do
nematoide das galhas, outros métodos de controle compatíveis devem ser utilizados para
aumentar a sua eficácia (Kerry & Bourne, 2002). Uma alternativa para aumentar a
eficiência do controle de M. javanica em alface é a integração do uso combinado de Pc-
10 no solo e nas mudas com o uso de cultivares mais resistentes do tipo crespas
(Charchar & Moita, 2005); a rotação de culturas com gramíneas, a exemplo do milho e
sorgo, e com leguminosas antagonistas, por exemplo, as crotalárias e as mucunas
(Charchar & Moita, 1996); o revolvimento do solo (Dutra & Campos, 1998) e o
alqueive úmido (Dutra et al., 2003, 2006). O revolvimento do solo e o alqueive úmido
são técnicas que reduzem consideravelmente a população de J2 de Meloidogyne spp. no
solo em curtos períodos de tempo (3 a 15 dias) e são fáceis de serem implementadas
66
pelos agricultores. Entretanto, o efeito de combinado de Pc-10 com outras práticas de
controle cultural, como as anteriormente sugeridas, precisa ser mais bem investigado.
Conclui-se que a aplicação do produto Pc-10, à base de clamidósporos de P.
chlamydosporia var. chlamydosporia (isolado Pc-10), aumenta o controle de M.
javanica em plantas de alface. A utilização de Pc-10 reduz o número de ovos e de
ovos.g-1 de raízes de plantas de alface, sendo os melhores resultados obtidos nos
tratamentos onde ocorrem a aplicação de Pc-10 no solo (5.000 clamidósporos.g-1 de
solo) e de 18,0 g.L-1 de Pc-10 nas mudas de alface.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Paulo Afonso Ferreira, pela colaboração nas análises
estatísticas; à Fernanda, Érica, Deisy Leonardo e Guilherme, pela colaboração nas
atividades de laboratório desenvolvidas durante a condução dos experimentos. À
Rizoflora Biotecnologia, pelo fornecimento do produto Pc-10 para a realização dos
experimentos. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), pela concessão de bolsa de doutorado ao primeiro autor.
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71
ARTIGO 3
Pochonia chlamydosporia NO CONTROLE DE Meloidogyne javanica EM
PEPINO.3
3Artigo elaborado de acordo com as normas da revista “Biological Control”.
72
Pochonia chlamydosporia no controle de Meloidogyne javanica em pepino.
José Ricardo Viggiano1,*, Leandro Grassi de Freitas1, Everaldo Antônio Lopes2
Endereço atual: 1Departamento de Fitopatologia, Universidade Federal de Viçosa,
CEP 36.570-000, Viçosa, MG, Brasil, E-mail: [email protected]; 2Instituto de Ciências
Agrárias, Campus Rio Paranaíba, Universidade Federal de Viçosa, CEP 38.810-000,
Rio Paranaíba, MG, Brasil, E-mail: [email protected].
* Autor para correspondência: E-mail: [email protected], Telefax: +55 31 3892-
2742 (J.R. Viggiano)
Resumo
Objetivou-se avaliar o efeito do bionematicida Pc-10, à base de P.
chlamydosporia var. chlamydosporia, no controle de Meloidogyne javanica quando
aplicado nas mudas e no solo cultivado com pepino. Mudas de pepino foram inoculadas
com diferentes doses do Pc-10 (0; 4,5; 9,0; 13,5 e 18,0 g de Pc-10.L-1 de água). Para
crescimento das plantas foram utilizados vasos contendo o substrato solo de barranco e
areia lavada. O solo de cada vaso foi infestado com 3.000 ovos de M. javanica. Em
seguida, o solo de 35 vasos foi infestado com o Pc-10 (5.000 clamidósporos.g-1 de solo).
Os outros 35 vasos não foram infestados. Uma muda foi transplantada para cada vaso.
Os resultados demonstraram que a aplicação de 18 g.L-1 de Pc-10 nas mudas reduziu o
73
número de galhas, no primeiro e no segundo experimento, respectivamente, em 34,94%
e 37,17%; e o número de ovos em 36,93% e 30,83%, em relação à testemunha. A
aplicação de Pc-10 nas mudas não prejudicou o desenvolvimento das mudas de pepino.
Conclui-se que a aplicação de 18 g.L-1 de Pc-10 nas mudas resultou no maior controle
de M. javanica em pepino.
Palavras-chave: controle biológico, fungos nematófagos, nematoide das galhas,
Cucumis sativus.
1. Introdução
O pepino (Cucumis sativus L.) é uma cucurbitácea de clima tropical cujo centro
de origem é a Índia. Desenvolve-se bem em condições de temperaturas elevadas,
podendo ser cultivado em regiões com temperaturas amenas, mas não tolera
temperaturas muito baixas e geadas. Seu fruto, geralmente, é consumido cru em saladas
ou em conservas, na forma de picles (Souza e Resende, 2003; Filgueira, 2008).
O nematoide das galhas, principalmente as espécies Meloidogyne javanica
(Treub) Chitwood e M. incognita (Kofoid & White) Chitwood estão amplamente
distribuídos nos solos cultivados com hortaliças no Brasil causando perdas que podem
atingir 100% (Campos et al., 2001; Sikora e Fernández, 2005).
O fungo Pochonia chlamydosporia Zare e Gams (sin. Verticillium
chlamydosporium Goddard) é um agente de controle biológico, parasita de ovos e
fêmeas de espécies de fitonematoides endoparasitas sedentários, que se destaca no
controle do nematoide das galhas (Kerry, 1997). Esse agente de biocontrole produz
clamidósporos, estruturas de sobrevivência resistentes que favorecem sua manipulação e
produção in vitro. Os clamidósporos são o tipo de inóculo mais efetivo para o
74
estabelecimento do fungo no solo e na rizosfera, e a concentração mais indicada para
boa eficiência no campo é de aproximadamente 5.000 clamidósporos por grama de solo
(Kerry, 2001).
A introdução de P. chlamydosporia no solo de forma prática, eficiente e
integrada aos sistemas produtivos comerciais ainda carece de avaliações. Segundo
Kerry e Bourne (2002), várias técnicas tem sido testadas, como por exemplo, a
aplicação na superfície do solo em suspensão aquosa ou em forma de grânulos; a
imersão das raízes em pasta de alginato contendo clamidósporos; e o transplantio de
mudas em blocos de turfa colonizado. Essas técnicas, no entanto, ainda não
proporcionaram resultados completamente satisfatórios, necessitando de maiores
investigações. Campos e Campos (1997) utilizaram grãos de trigo pré-cozidos
inoculados e suspensão de esporos de P. chlamydosporia (2,0 x 106 esporos.ml-1) em
três aplicações para a introdução do fungo em solo infestado por Meloidogyne exigua e
cultivado com cafeeiro.
As formas de aplicação de P. chlamydosporia no solo evoluíram nos últimos
anos. Lopes et al. (2007) e Dallemole-Giaretta et al. (2008) fizeram a aplicação por
meio da mistura de substrato colonizado pelo fungo com o solo. Coutinho et al. (2009)
aplicaram o fungo ao solo na forma de mistura de suspensão de clamidósporos e farinha
de sementes de mamão, um nematicida natural. Dallemole-Giaretta et al. (2010b)
fizeram a aplicação no solo utilizando-se da mistura de arroz colonizado pelo fungo e
farinha de sementes de abóbora. Outra forma utilizada por Dallemole-Giaretta et al.
(2010a) foi a incorporação ao solo de palha de café colonizado pelo fungo.
Existem produtos em desenvolvimento e em testes em sistemas produtivos
comerciais, como o Rizotec, pela empresa Rizoflora Biotecnologia S.A, em Viçosa,
75
Minas Gerais, Brasil. Nesse caso, a introdução do isolado de Pc-10 de P.
chlamydosporia var. chlamydosporia no solo tem sido testada por meio da aplicação do
fungo via água de irrigação das mudas no viveiro e das plantas sob pivô central. O
bionematicida foi testado com sucesso no controle de M. javanica por Podestá et al.
(2009), Coutinho et al. (2009) e Dallemole-Giaretta et al. (2010a e b) em tomateiro, e
em cenoura e beterraba no campo.
A implantação de pepino e outras hortaliças no campo é feita, principalmente,
por meio de mudas produzidas em bandejas de poliestireno com diferentes número e
tamanho de células e diversos tipos de substratos comerciais ou formulados pelo próprio
agricultor (Seabra Junior et al., 2004). Essa técnica já é amplamente utilizada pelos
agricultores brasileiros e pode ser uma alternativa tecnicamente e economicamente
viável de introdução de P. chlamydosporia no solo.
O presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de P. chlamydosporia
var. chlamydosporia no controle de M. javanica quando aplicado em diferentes doses
nas mudas e no solo cultivado com plantas de pepino.
2. Material e Métodos
2.1. Local dos experimentos
Os experimentos foram instalados em casa de vegetação equipada com sistema
de aquecimento e resfriamento, localizada na área experimental de campo do
Departamento de Fitopatologia, da Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais,
Brasil. As temperaturas mínimas e máximas do ar e do solo no interior da casa de
vegetação durante a realização dos experimentos foram registradas diariamente (Fig. 1).
76
Fig. 1. Temperaturas mínimas e máximas do ar e do solo (ºC) em casa de vegetação
durante a realização dos experimentos.
2.2. Obtenção do produto Pc-10
Um produto constituído de clamidósporos do isolado Pc-10 de P.
chlamydosporia var. chlamydosporia, em desenvolvimento pela empresa Rizoflora
Biotecnologia, com concentração média de 3,1 x 108 clamidósporos por grama do
produto, lote de agosto/2010, foi utilizado nos experimentos e será doravante chamado
de Pc-10.
2.3. Produção das mudas de pepino
Na produção das mudas de pepino foi utilizado o substrato comercial Tropstrato
Hortaliças II HT (marca Vida Verde), previamente umedecido com 5% de água (v:v).
77
Amostra do substrato utilizado nos experimentos foi coletada e análises físico-químicas
foram realizadas no Laboratório de Análises de Solo Viçosa Ltda (Tabela 1).
Tabela 1. Análises físico-químicas do substrato comercial Tropstrato Hortaliças II HT,
utilizado na produção das mudas de pepino dos experimentos, realizadas no Laboratório
de Análises de Solo Viçosa Ltda.
pH N P K Ca Mg S C.O. C/N Zn Fe Mn Cu B Densidade
H2O % ppm g.mL-1
5,54 0,55 0,26 0,22 1,40 0,77 0,44 13,10 23,81 51 8516 105 29 13,6 0,64
Teores totais, determinados em extrato ácido (ácido nítrico com ácido perclórico); N, pelo método do Kjeldahl; CO,
pelo método Walkley-Black.
Sementes de pepino Caipira (marca Isla, lote 24.234, germinação: 96%, pureza:
100%, teste: 10/2009, validade: 10/2012) foram semeadas manualmente em cinco
bandejas de isopor cortadas (do tipo 128 células) com 56 células, com capacidade para
aproximadamente 1,8 L de substrato. Foi utilizada uma semente por célula, à
profundidade de 1 cm, padronizada com o uso de um marcador de madeira. Após o
semeio, as bandejas foram colocadas sobre bancada telada em casa de vegetação,
cobertas com tela de nylon preta e, em seguida, irrigadas. A emergência ocorreu dois
dias após o semeio, quando a tela de nylon foi retirada. As irrigações foram realizadas
diariamente, duas vezes ao dia, de manhã e de tarde, utilizando-se mangueira adaptada
com bico regador.
2.4. Aplicação do Pc-10 nas mudas
A aplicação de Pc-10 nas mudas de pepino em cada bandeja foi realizada por
meio de irrigação, utilizando-se uma garrafa PET (500 ml) com tampa perfurada,
78
contendo 250 ml de uma suspensão com diferentes doses de Pc-10: 0; 4,5; 9,0; 13,5 e
18,0 g de Pc-10.L-1 de água. Cada dose de Pc-10 foi dividida em três partes iguais e
aplicada parceladamente nas mudas, em cada bandeja correspondente, aos 3, 7 e 12 dias
após o semeio.
2.5. Desenvolvimento das plantas
Para o crescimento das plantas de pepino foram utilizados vasos de 2 L contendo
o substrato solo e areia, na proporção 1:1 (v:v), previamente adubado com 120 g de
superfosfato simples para cada 20 L da mistura (m:v) e tratado com brometo de metila
na dose de 180 cm3.m-3. Sete dias antes do transplantio das mudas, o solo de cada vaso
foi infestado com um volume de suspensão contendo 3.000 ovos de M. javanica. O
inóculo de M. javanica foi constituído por ovos obtidos de populações puras e coletados
de raízes de tomateiros mantidos em vasos em casa de vegetação e extraídos pela
técnica de Hussey e Barker (1973), modificada por Boneti e Ferraz (1981). Em seguida,
o solo de 35 vasos foi infestado com 20 ml de uma suspensão formulada com Pc-10 e
calculada para fornecer 5.000 clamidósporos por grama de solo por vaso. O solo de
outros 35 vasos não foi infestado com o fungo. O solo nos vasos foi mantido úmido
próximo a 60% da capacidade de campo.
Uma muda de pepino foi transplantada para cada vaso, 15 dias após o semeio,
constituindo-se 10 tratamentos num esquema fatorial 2 x 5: solo sem Pc-10 (0; 4,5; 9,0;
13,5 e 18,0 g.L-1 de Pc-10 nas mudas) e solo com Pc-10 (0; 4,5; 9,0; 13,5 e 18,0 g.L-1 de
Pc-10 nas mudas). Após o transplantio, os vasos foram colocados sobre bancada telada
em casa de vegetação e irrigados diariamente, quando necessário, duas vezes ao dia, de
manhã e de tarde, utilizando-se mangueira adaptada com bico regador.
79
Uma adubação de cobertura, em ambos os experimentos, foi realizada aos 33
dias após o transplantio das mudas, utilizando-se 3 g do adubo foliar 10-54-10 por litro
de água e aplicando-se 20 ml dessa solução em cada vaso. O adubo foliar apresentou as
seguintes características químicas: 10% N; 54% P2O5 (pentóxido de fósforo); 10% de
K2O (óxido de potássio); 0,1% Fe; 0,02% B e 0,05% Cu. Durante a condução dos
experimentos constatou-se a presença de oídio (Sphaerotheca fuliginea) na superfície
foliar das plantas de pepino. Para o controle do fungo foram realizadas duas
pulverizações com leite de vaca cru (Bettiol, 1999, 2004) nas concentrações de 10% e
5% (v:v), respectivamente, no experimento 1, aos 33 e 40 dias após o transplantio, e no
experimento 2, aos 15 e 22 dias após o transplantio.
2.6. Avaliação dos experimentos
Após o transplantio das mudas, para a determinação do número de unidades
formadoras de colônias (UFC) de P. chlamydosporia var. chlamydosporia por grama de
substrato das mudas tratadas com diferentes doses de Pc-10, 10 mudas de cada bandeja
foram escolhidas ao acaso. O substrato aderido aos respectivos sistemas radiculares
dessas mudas foi coletado, constituindo-se uma amostra composta de substrato por dose
de Pc-10 utilizada nas mudas. As amostras compostas dos substratos foram coletadas no
primeiro e no sétimo dia após o transplantio das mudas nos experimentos 1 e 2,
respectivamente. O número de UFC.g-1 de substrato foi determinado conforme
metodologia descrita por Kerry (1991) usando meio semi-seletivo de Gaspard et al.
(1990).
As plantas de pepino foram coletadas 45 dias após o transplantio. Em seguida,
foi determinada a altura, as massas da parte aérea fresca (MPAF) e do sistema radicular
80
fresco (MSRF), o número de galhas e de ovos, e calculado o número de galhas e de
ovos por grama do sistema radicular das plantas de pepino. Durante a extração das
raízes, amostras de solo dos vasos dos respectivos tratamentos foram coletadas para a
determinação do número de unidades formadoras de colônias (UFC) do fungo por
grama de solo. O número de UFC.g-1 de solo foi determinado conforme metodologia
descrita anteriormente.
2.7. Delineamento experimental
O delineamento experimental foi realizado em blocos casualizados com sete
repetições por tratamento. Cada unidade experimental foi constituída por uma planta por
vaso. O experimento foi realizado duas vezes.
2.8. Análises estatísticas
Os dados obtidos, transformados ou não, foram analisados pelo teste F a 5% de
probabilidade, sendo as pressuposições de normalidade do erro e a homogeneidade de
variância do erro analisadas, respectivamente, pelos testes de Kolmogorov-Smirnov e
Bartlett a 5% de probabilidade. Os dados foram submetidos à análise estatística e os
resultados apresentados em gráficos de regressão quando significativos. As análises
estatísticas foram realizadas utilizando os softwares estatísticos Minitab (Minitab, 2003)
e Statistica (Statsoft, 2004).
81
3. Resultados e Discussão
3.1. Médias das temperaturas durante os experimentos
No experimento 1, a média das temperaturas mínimas e máximas durante o
período de desenvolvimento das plantas de pepino foram, respectivamente, de 23,1ºC e
36,0ºC no ar, e de 23,9ºC e 32,3ºC no solo (Fig. 1). No experimento 2, a média das
mínimas e máximas foram, respectivamente, de 23,5ºC e 36,7ºC no ar, e de 24,5ºC e
33,0ºC no solo. Na primeira quinzena do experimento 1, período no qual o experimento
2 ainda não havia iniciado, a média das temperaturas mínimas e máximas no solo foram,
respectivamente, inferiores em 0,7ºC e 0,6ºC. Inversamente, na última quinzena do
experimento 2, quando o experimento 1 já havia sido retirado para avaliação, a média
das mínimas e máximas foram, respectivamente, superiores em 0,5ºC e 2,4ºC no ar, e
0,9ºC e 1,9ºC no solo.
O pepino é uma espécie de hortaliça que não se adapta ao cultivo sob baixas
temperaturas, sendo o desenvolvimento das plantas favorecido por temperaturas
superiores a 20ºC. Temperaturas inferiores a 20ºC afetam a absorção de água e
nutrientes pelas raízes das plantas (Lower e Edwards, 1986; Robinson e Decker-
Walters, 1999). Sweep (1973), citado por Sonnenberg (1985), considerou as
temperaturas mínimas de 20ºC à noite e de 24ºC durante o dia, as mais adequadas para o
bom desenvolvimento das plantas de pepino. Portanto, a ocorrência de temperaturas
mais altas durante a fase de desenvolvimento das plantas no experimento 2,
principalmente na última quinzena, proporcionou maior desenvolvimento das plantas de
pepino, o que pode ser comprovado pela maior altura e massa da parte aérea (MPAF)
das plantas de pepino neste experimento.
82
3.2. Número de UFC.g-1 de substrato das mudas de pepino
Na avaliação do número de unidades formadoras de colônias (UFC) de P.
chlamydosporia var. chlamydosporia por grama de substrato das mudas de pepino
tratadas com Pc-10, verificou-se que não ocorreu a contaminação das testemunhas dos
experimentos. Na análise de regressão do número de UFC.g-1 de substrato, o modelo
ajustado foi o linear de 1º grau (Fig. 2).
Fig. 2. Número de unidades formadoras de colônias (UFC) de P. chlamydosporia var.
chlamydosporia (isolado Pc-10) por grama de substrato das mudas de pepino sob
diferentes doses de Pc-10 (g.L-1) aplicados parceladamente aos 3, 7 e 12 dias após o
semeio, nos experimentos 1 e 2. Cada ponto representa a média de três repetições. C.V.:
Coeficiente de variação (%).
O número de UFC.g-1 de substrato foi maior no experimento 1 e a utilização de
doses crescentes de Pc-10 nas mudas aumentou o número de UFC.g-1 de substrato das
83
mudas de pepino, em ambos os experimentos (Fig. 2). A aplicação parcelada de Pc-10
nas mudas, que resultaram, aproximadamente, em 1,21 x 106 (dose 4,5 g.L-1 de Pc-10) a
4,84 x 106 clamidósporos.g-1 de substrato (dose 18,0 g.L-1 de Pc-10), proporcionou a
produção de 6,5 x 104 a 16,8 x 104 UFC.g-1 de substrato no experimento 1; e de 3,0 x
104 a 6,16 x 104 UFC.g-1 de substrato no experimento 2. Em ambos os experimentos, a
aplicação de altas concentrações de Pc-10 nas mudas não prejudicou o desenvolvimento
das mudas de pepino.
Bourne e Kerry (1999) verificaram que o aumento nas taxas de aplicação de P.
chlamydosporia no solo (5.000, 10.000 e 50.000 clamidósporos.g-1 solo) aumentou a
colonização do solo e da rizosfera (UFC.g-1 solo ou raiz) de diferentes plantas
hospedeiras do fungo no final dos experimentos. Nos presentes experimentos, a
lixiviação da água de irrigação do substrato das mudas pode ter contribuído para
eliminar parte dos clamidósporos aplicados nas mudas. As menores quantidades de
UFC.g-1 de substrato nas mudas do experimento 2 foi decorrente da coleta tardia das
amostras, realizada sete dias após o transplantio das mudas. A coleta tardia permitiu que
parte dos clamidósporos fosse perdida pela lixiviação da água de irrigação aplicada nas
mudas durante esse período. Dessa forma, a aplicação parcelada de Pc-10 nas mudas
poderá ser uma alternativa técnica e economicamente viável de introdução do fungo no
substrato das mudas de pepino e, consequentemente, no solo de áreas cultivadas com
pepino e outras hortaliças
3.3. Desenvolvimento das plantas de pepino
Não houve interação significativa (p<0,05) entre os fatores Pc-10 no solo e doses
de Pc-10 nas mudas de pepino para todas as variáveis testadas.
84
A aplicação de Pc-10 no solo (Tabela 2) ou nas mudas (dados não apresentados)
não afetou significativamente (p<0,05) a altura e a massa da parte aérea (MPAF) das
plantas de pepino, em ambos os experimentos.
Tabela 2. Efeito da aplicação de Pc-10 no solo sobre a altura, as massas da parte aérea
fresca (MPAF) e do sistema radicular fresco (MSRF) das plantas de pepino, 45 dias
após o transplantio das mudas, nos experimentos 1 e 2.
Altura (cm) ** MPAF (g) MSRF (g) **
Quantidade de clamidósporos por g de solo nos vasos Experimentos
0 5.000 0 5.000 0 5.000
1 136,91 142,40 ns 73,48 74,21 ns 19,53 19,73 ns
2 181,94 188,91 ns 87,16 88,49 ns 14,63 16,39 *
. ns: não significativo pelo teste F a 5% de probabilidade *: significativo pelo teste F a 5% de probabilidade
. Média de sete repetições ** Valores transformados para Log10 (x)
.
Dallemole-Giaretta et al. (2008) não observaram aumentos na altura e na massa
da parte aérea em comparação com a testemunha parasitada por nematoides, e nem
diferença na massa das raízes das plantas, quando avaliaram o efeito da aplicação de
quantidades crescentes de clamidósporos (0, 5.000, 10.000, 15.000, 20.000 e 25.000
clamidósporos.g-1 de solo) de P. chlamydosporia var. chlamydosporia (isolado Pc-10)
em tomateiro. Em outros trabalhos, Dallemole-Giaretta et al. (2010b) observaram que a
altura das plantas, as massas da parte aérea e das raízes de tomateiros não foram
afetadas (p<0,05) pela aplicação de 5.000 clamidósporos.g-1 de solo de P.
chlamydosporia (isolado Pc-19). As mesmas varáveis não foram afetadas (p<0,05) pela
aplicação de diferentes doses de palha de café colonizada com o isolado Pc-10 de P.
85
chlamydosporia var. chlamydosporia (Dallemole-Giaretta et al., 2010a). Podestá et al.
(2009) observaram que a altura de plantas de tomateiro não diferiu entre a testemunha e
a dose de 5.000 clamidósporos.g-1 de solo de P. chlamydosporia (isolado Pc-10)
aplicados em solo natural ou autoclavado. No entanto, a dose de 10.000
clamidósporos.g-1 de solo aumentou em 12,82% a altura das plantas em relação à
testemunha sem o fungo. Portanto, dependendo da taxa de aplicação de clamidósporos
de P. chlamydosporia var. chlamydosporia no solo e das condições experimentais, o
desenvolvimento das plantas pode ser afetado. Provavelmente, a aplicação de doses
superiores a 5.000 clamidósporos.g-1 de solo proporcionasse melhores resultados no
desenvolvimento vegetativo das plantas de pepino. Entretanto, a aplicação de doses
superiores a 5.000 clamidósporos.g-1 de solo, podem ser economicamente inviáveis,
devido a quantidade do produto Pc-10 necessária por área de cultivo.
A aplicação de Pc-10 no solo (Tabela 2) e nas mudas (dados não apresentados),
não afetou significativamente (p<0,05) a massa do sistema radicular (MSRF) das
plantas de pepino no experimento 1. Entretanto, no experimento 2, os dois fatores
isoladamente foram significativos, ou seja, o uso de Pc-10 no solo e de Pc-10 nas mudas
aumentaram a massa do sistema radicular das plantas de pepino. Na análise de regressão
da massa do sistema radicular (MSRF) do experimento 2, o modelo ajustado foi o linear
de 1º grau (Fig. 3). A maior massa do sistema radicular foi observada nos tratamentos
com as doses de 13,5 e 18,0g.L-1 de Pc-10 nas mudas, independentemente da aplicação
de Pc-10 no solo. Essas doses aumentaram em 30,28% a massa do sistema radicular das
plantas de pepino em relação à testemunha.
86
Fig. 3. Massa do sistema radicular fresco (MSRF) das plantas de pepino do experimento
2, sob diferentes doses de Pc-10 (g.L-1) aplicado nas mudas, 45 dias após o transplantio.
Cada ponto representa a média de sete repetições. C.V.: Coeficiente de variação (%),
F.A.: Falta de ajustamento; * Significativo pelo Teste t a 5% de probabilidade.
Monfort et al. (2005) constataram que P. chlamydosporia (isolado 4624) pode
ter um efeito de promotor de crescimento em plantas de trigo, pois, em seus
experimentos, o aumento da massa fresca das plântulas não pareceu ser resultado da
redução da severidade da doença causada pelo patógeno de solo Gauemannomyces
graminis var. tritici. Dallemole-Giaretta et al. (2008) constataram que os isolados Pc-3,
Pc-10 (o mesmo desse trabalho) e Pc-19 de P. chlamydosporia var. chlamydosporia
colonizaram eficientemente a rizosfera e promoveram o crescimento de plântulas de
tomate. Marciá-Vicente et al. (2009) relataram que os isolados Pc123 e Pc21 de P.
chlamydosporia promoveram o crescimento em cevada, aumentando as massas da parte
aérea e das raízes de plantas de cevada. O efeito de P. chlamydosporia var.
87
chlamydosporia (Pc-10) na promoção de crescimento de plantas de pepino precisa ser
mais bem investigado.
3.4. Controle de M. javanica nas plantas de pepino
Os dois fatores, aplicação de Pc-10 no solo e nas mudas, isoladamente, foram
significativos (p<0,05) para as variáveis número de galhas, de galhas.g-1 de raízes, de
ovos e de ovos.g-1 de raízes, em ambos os experimentos.
A aplicação de Pc-10 no solo aumentou significativamente o número de galhas e
de galhas.g-1 de raízes e reduziu o número de ovos e de ovos.g-1 de raízes nas plantas de
pepino, independentemente das doses de Pc-10 aplicadas nas mudas, somente no
experimento 1 (Tabela 3). No experimento 2, essas variáveis não foram afetadas pela
aplicação do Pc-10 no solo. Segundo Bourne e Kerry (1999), o aumento da dose do
fungo aumenta sua densidade no solo para todas as espécies de plantas. Entretanto, de
acordo com os mesmos autores, provavelmente, a multiplicação de P. chlamydosporia
var. chlamydosporia pode ser limitada, pois o fungo pode ser dependente de sua
densidade e competir por nutrientes limitantes, principalmente em temperaturas mais
baixas, como foi observado, no experimento 1, mais favoráveis ao desenvolvimento do
fungo. Essa possibilidade é reforçada pelo número de UFC.g-1 de solo observado nos
tratamentos sem e com Pc-10 no solo (dados não apresentados) do experimento 1. Nos
tratamentos sem Pc-10 no solo, o número de UFC.g-1 de solo foi, em média
(desconsiderando a testemunha, sem Pc-10 na muda), de 35.833 UFC.g-1 de solo. Nos
tratamentos com Pc-10 no solo (5.000 clamidósporos.g-1 de solo) foi, em média, de
51.333 UFC.g-1 de solo. Outra possibilidade, foi o aumento da massa do sistema
radicular das plantas que, provavelmente, aumentaram os pontos de penetração dos J2 e
88
consequentemente, o número de galhas e de galhas.g-1 de raízes (Tabela 2). Entretanto,
o aumento do número de galhas e de galhas.g-1 de raízes não afetou o desenvolvimento
das plantas e ainda reduziu o número de ovos e de ovos.g-1 de raízes das plantas de
pepino.
Tabela 3. Efeito da aplicação de Pc-10 no solo sobre o número de galhas, de galhas.g-1
de raízes, de ovos e de ovos.g-1 de raízes, 45 dias após o transplantio das mudas, nos
experimentos 1 e 2.
Número de galhas
Nº de galhas.g-1 de raízes ** Número de ovos *** Nº de ovos.g-1
de raízes **
Quantidade de clamidósporos por g de solo nos vasos Exp.
0 5000 0 5000 0 5000 0 5000
1 405 461* 23,68 25,63* 300.457 253.742* 17.595 14.178*
2 612 651 ns 43,90 43,63 ns 136.543 125.803 ns 9.933 8.056 ns
ns: não significativo pelo teste F a 5% de probabilidade *: significativo pelo teste F a 5% de probabilidade
** Valores transformados para Log10 (x) *** Valores transformados para √ x . Média de sete repetições
Comparando-se os experimentos 1 e 2, observa-se que o maior número de galhas
e de galhas.g-1 de raízes ocorreu no experimento 2 (Tabela 3). Provavelmente, tal fato
ocorreu devido às temperaturas mais altas e favoráveis à eclosão e penetração dos J2 nas
raízes das plantas de pepino durante esse período. Consequentemente, as raízes das
plantas de pepino foram afetadas com maior intensidade e apresentaram menor
desenvolvimento do sistema radicular, o que pode ser comprovado pela menor massa do
sistema radicular (MSRF) das plantas de pepino no experimento 2 (Tabela 2).
Entretanto, essas temperaturas foram mais prejudiciais ao desenvolvimento dos J2 nas
raízes das plantas, reduzindo a reprodução das fêmeas e, consequentemente, o número
de ovos e ovos.g-1 de raízes presentes nas massas de ovos. Segundo Campos et al.
89
(2008), a eclosão de J2 de M. javanica é maior na temperatura de 28ºC, devido a sua
maior movimentação, decrescendo com a redução de temperatura. A redução do tempo
de exposição à 28ºC reduz a eclosão, como ocorre durante as noites, quando as
temperaturas diminuem.
Independentemente da aplicação de Pc-10 no solo, o aumento das doses de Pc-
10 nas mudas reduziu o número de galhas, de galhas.g-1 de raízes, de ovos e de ovos.g-1
de raízes das plantas de pepino (Figs. 4A-H). Na análise de regressão dessas variáveis, o
modelo ajustado foi o linear de 1º grau, com exceção do número de ovos no
experimento 1, cujo modelo ajustado foi o linear de 2º grau (Fig. 4E). Observou-se que
a utilização de doses crescentes de Pc-10 nas mudas aumentou o controle de M.
javanica nas raízes das plantas de pepino. O menor número de galhas, de galhas.g-1 de
raízes, de ovos e de ovos.g-1 de raízes foram obtidos nos tratamentos com a dose de
18g.L-1 de Pc-10 nas mudas, com exceção do número de ovos.g-1 de raízes no
experimento 2 (Fig. 4H), que foi menor com a dose de 13,5 g.L-1 de Pc-10. A dose de
18 g.L-1 de Pc-10 nas mudas reduziu o número de galhas no primeiro e no segundo
experimento, respectivamente, em 34,94% e 37,17%; de galhas.g-1 de raízes em 46,04%
e 49,44%; de ovos em 36,93%, 30,83%; e de ovos.g-1 de raízes em 48,32% e 40,58%,
em relação à testemunha.
As relações tritróficas entre planta hospedeira, o nematoide e P. chlamydosporia
no solo são complexas e dependem da espécie de planta, da densidade do nematoide e
da abundância do fungo no solo. A maior influência da planta hospedeira na eficácia do
fungo é, provavelmente, sua suscetibilidade ao ataque dos nematoides, que influenciará
o número de nematoides que se desenvolverão e o tamanho das galhas produzidas e que,
por sua vez, afetará o número de massa de ovos que permanecerá dentro das raízes,
protegidas contra a infecção do fungo (Bourne e Kerry, 1999).
90
Fig. 4. Número de galhas, de galhas.g-1 raízes, de ovos e de ovos.g-1 raízes das plantas
de pepino com diferentes doses de Pc-10 (g.L-1) aplicadas nas mudas, no experimento 1
(4A, C, E e G) e 2 (4B, D, F e H), 45 dias após o transplantio. Cada ponto representa a
A B
C
91
média de sete repetições. CV: Coeficiente de variação (%); FA: Falta de ajustamento. *
Significativo pelo Teste t a 5% de probabilidade.
As espécies de plantas hospedeiras diferem em sua habilidade de suportar o
crescimento do fungo em sua rizosfera, assim como o aumento na taxa de aplicação do
fungo no solo não necessariamente aumenta a colonização da rizosfera (Kerry, 2000).
Algumas espécies de plantas, a exemplo do repolho, couve, crotalária, milho e tomateiro
permitem extensa colonização de sua rizosfera e são consideradas boas hospedeiras para
o fungo, enquanto outras, a exemplo do quiabo, sorgo, feijão e berinjela não permitem
um crescimento rizosférico satisfatório (Kerry e Bourne, 1996; Bourne e Kerry, 1999).
Aumentos na taxa de aplicação do fungo no solo superiores a 10 vezes a dose padrão
(5.000 clamidósporos.g-1 de solo) aumentaram progressivamente a colonização na
rizosfera e o controle do nematoide das galhas em couve, considerado mau hospedeiro
para o nematoide. Entretanto, em quiabo, sorgo e feijão, esses efeitos foram observados
apenas a altas taxas de aplicação do fungo. Em berinjela, não houve aumento na
colonização da rizosfera, mas houve melhora no controle do nematoide e a população
final de nematoides foi menor de acordo com as altas taxas de aplicação do fungo
(Bourne e Kerry, 1999). Segundo Charchar e Aragão (2005), não existem cultivares de
pepino resistentes a M. incognita e M. javanica. Apesar de não ter sido avaliado o
tamanho das galhas nestes experimentos, observou-se que as raízes das plantas de
pepino Caipira apresentaram muitas galhas grandes. Portanto, as plantas de pepino
Caipira foram muito suscetíveis ao M. javanica e, aparentemente, o pepino se
comportou como bom hospedeiro para o nematoide e mau hospedeiro para o fungo.
Essas considerações sugerem que o efeito do aumento do controle de M. javanica em
plantas de pepino Caipira somente será alcançado com aplicações que resultem em altas
92
concentrações do fungo no solo, como o que foi proporcionado nos tratamentos com a
aplicação de Pc-10 no solo e com altas concentrações de Pc-10 nas mudas de pepino.
Lopes et al. (2007) observaram que nenhum dos quatro isolados de P.
chlamydosporia testados por eles reduziu o número de galhas de M. javanica.
Dallemole-Giaretta et al. (2008), em apenas um ciclo do nematoide, observaram que
quantidades crescentes de clamidósporos de P. chlamydosporia var. chlamydosporia
(isolado Pc-10) no solo também não afetaram o número de galhas de M. javanica.
Podestá et al. (2009) observaram que as aplicações de 5.000 e 10.000 clamidósporos.g-1
de solo de P. chlamydosporia (isolado Pc-10) reduziram significativamente o número de
galhas de M. javanica, em comparação com o tratamento testemunha, sem o fungo.
Nesses três experimentos, o fungo foi aplicado apenas sete dias antes do transplantio das
mudas de tomateiro. Em outros trabalhos, como os realizados por Dallemole-Giaretta et
al. (2008); por Coutinho et al. (2009); e por Dallemole-Giaretta et al. (2010a e b),
quando o fungo foi aplicado 15 dias antes do transplantio das mudas de tomateiro, P.
chlamydosporia foi efetivo na redução do número de galhas. Segundo Dallemole-
Giaretta et al. (2008), maior período de contato entre o fungo e os ovos do nematoide no
solo proporciona melhor atuação de P. chlamydosporia var. chlamydosporia no controle
de M. javanica em tomateiro, pois mais eficiente é o parasitismo dos ovos, podendo
impedir a formação e a eclosão dos J2, reduzindo, dessa forma, a infecção inicial das
raízes e, consequentemente, o número de galhas e de ovos nas raízes. Nos presentes
experimentos, o isolado Pc-10 foi aplicado na dose de 5.000 clamidósporos.g-1 de solo,
sete dias antes do transplantio das mudas, sendo que esse período de tempo foi
suficiente para reduzir o número de galhas e de galhas.g-1 de raízes das plantas de
pepino, somente no experimento 1 (Tabela 3). Provavelmente, as temperaturas mais
baixas permitiram maior crescimento do fungo no solo e, consequentemente, um maior
93
parasitismo de ovos e menor número de J2 eclodidos que penetraram as raízes,
desenvolveram-se e formaram galhas.
3.5. Número de UFC.g-1 de solo das plantas de pepino
Na avaliação do número de unidades formadoras de colônias (UFC) de P.
chlamydosporia var. chlamydosporia por grama de solo dos vasos cultivados com
plantas de pepino com diferentes tratamentos, verificou-se que não houve a
contaminação das testemunhas dos experimentos. Na análise de regressão do número de
UFC.g-1 de solo, os dados não se ajustaram a nenhum modelo de regressão (dados não
apresentados). Entretanto, nos tratamentos onde ocorreu a aplicação combinada de Pc-
10 no solo e no substrato das mudas, o solo apresentou, em média de 40.000 ± 5.323 e
38.500 ± 8.466 UFC.g-1 de solo nos experimentos 1 e 2, respectivamente.
As altas taxas de aplicação de Pc-10 nas mudas resultaram, aproximadamente,
em 6,5 x 104 a 16,8 x 104 UFC.g-1 de substrato, no experimento 1; e de 3,0 x 104 a 6,16
x 104 UFC.g-1 de substrato, no experimento 2 (Fig. 2). Considerando-se a aplicação de
Pc-10 no solo (5.000 clamidósporos.g-1 de solo) e nas mudas, e a quantidade
relativamente pequena de UFC.g-1 de solo nos vasos dos diferentes tratamentos,
observou-se que a coleta das amostras de solo dos vasos não foi apropriada ou
representativa dos tratamentos. Além disso, a multiplicação de P. chlamydosporia var.
chlamydosporia pode ter sido limitada no solo tratado com altas concentrações de Pc-
10, pois o fungo pode ser dependente de sua densidade e competir por nutrientes
limitantes (Bourne e Kerry, 1999).
Estratégia de manejo que resulte no uso combinado do agente de biocontrole
com outros métodos de controle cultural deve ser realizada para maximizar o efeito do
controle biológico. Uma limitação de P. chlamydosporia é a sua baixa eficiência de
94
controle quando ocorre alta população de J2 no solo em culturas suscetíveis, pois o
fungo não previne a invasão inicial das raízes pelos J2, e os danos que eles causam ao
crescimento da planta. Consequentemente, se o solo estiver fortemente infestado com J2
do nematoide das galhas, outros métodos de controle compatíveis devem ser utilizados
para aumentar a eficácia do fungo (Kerry e Bourne, 2002). Uma alternativa para
aumentar a eficiência do controle de M. javanica em pepino pode ser a integração do
uso combinado de Pc-10 no solo e nas mudas com a técnica do revolvimento do solo
(Dutra e Campos, 1998) ou alqueive úmido (Dutra e Campos, 2003a, 2003b), pois essas
técnicas reduzem consideravelmente a população de J2 de Meloidogyne spp. no solo em
curtos períodos de tempo (3 a 15 dias) e são fáceis de serem implementadas pelos
agricultores. Entretanto, o efeito combinado de Pc-10 com outras práticas de controle
cultural, como as anteriormente sugeridas, precisa ser mais bem investigado.
4. Conclusões
Conclui-se que a aplicação do produto formulado com P. chlamydosporia var.
chlamydosporia (isolado Pc-10) aumenta o controle de M. javanica em plantas de
pepino. A utilização de Pc-10 reduz efetivamente o número de galhas, de galhas.g-1 de
raízes, de ovos e de ovos.g-1 de raízes de plantas de pepino, sendo os melhores
resultados obtidos em tratamentos onde ocorre a aplicação de 18,0 g.L-1 de Pc-10 nas
mudas de pepino. A aplicação de altas concentrações de Pc-10 nas mudas não prejudica
o desenvolvimento das mudas de pepino.
5. Agradecimentos
95
Os autores agradecem a Paulo Afonso Ferreira pela colaboração nas análises
estatísticas e revisão do artigo; e à Fernanda, Érica, Deisy, Guilherme e Leonardo, pela
colaboração nas atividades de laboratório desenvolvidas durante a condução dos
experimentos. À Rizoflora Biotecnologia, pela cessão do produto Pc-10 para a
realização dos experimentos. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), pela concessão de bolsa de doutorado ao primeiro autor.
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100
ARTIGO 4
CONTROLE DE Meloidogyne spp. EM CULTIVO COMERCIAL DE PEPINO
COM DIFERENTES DOSES DE Pochonia chlamydosporia.4
4Artigo elaborado de acordo com as normas da revista “Tropical Plant Pathology”.
101
Controle de Meloidogyne spp. em cultivo comercial de pepino com diferentes doses
de Pochonia chlamydosporia.
José R. Viggiano1, Leandro G. de Freitas1, Paulo A. Ferreira1, Ronaldo J.F.
Zooca1, Marilene A. da Costa1 & Marcos A.R. Teixeira2
1Departamento de Fitopatologia, Universidade Federal de Viçosa, CEP 36.570-000,
Viçosa, MG, Brasil; 2Rizoflora Biotecnologia S.A., Parque Tecnológico de Viçosa,
Novo Silvestre, CEP 36.570-000, Viçosa, MG, Brasil.
Autor para correspondência: José R. Viggiano, e-mail: [email protected]
RESUMO
Objetivou-se avaliar o efeito de um produto formulado com P. chlamydosporia
var. chlamydosporia (isolado Pc-10) no controle do nematoide das galhas em uma
lavoura de pepino. O experimento foi instalado em uma área de produção de hortaliças,
com solo naturalmente infestado com fitonematoides, localizado na Fazenda Paraíso,
Município de Tocantins, Minas Gerais, Brasil. Mudas de pepino foram transplantadas
para covas de plantio, que receberam os seguintes tratamentos: testemunha (sem húmus
de minhoca); testemunha (com húmus de minhoca); húmus de minhoca mais o produto
nas doses 25, 50, 75 e 100 g por cova. Os resultados indicaram que o menor índice de
galhas (IG) nas raízes das plantas de pepino foi obtido com a dose de 75 g do produto
102
por cova, com redução de 57% quando comparado à testemunha. A dose de 100 g do
produto por cova aumentou o número de frutos e a produção de pepino por planta
(kg/planta) da ordem de 31,5% e 36,5% em relação à testemunha, respectivamente.
Conclui-se que a utilização do produto à base do isolado Pc-10 de P. chlamydosporia
var. chlamydosporia contribuiu para o aumento do controle do nematoide das galhas e
da produção comercial de pepino.
Palavras-chave: controle biológico, fungos nematófagos, nematoide das galhas,
Cucumis sativus.
ABSTRACT
Control of Meloidogyne spp. in commercial cultivation of cucumber with different
doses of Pochonia chlamydosporia.
The objective of this study was to evaluate the effect of a product formulated
with Pochonia chlamydosporia var. chlamydosporia (isolate Pc-10) in the control of
knot-root nematodes in a field of cucumbers. The experiment was installed in an area of
vegetable production, with naturally infested soil by plant parasitic nematodes, located
in Farm Paraíso, in the city of Tocantins, Minas Gerais, Brazil. Cucumber seedlings
were transplanted into the planting hole, which received the following treatments:
control (without earthworm castings); control (with earthworm castings); earthworm
castings plus the product in the doses of 25, 50, 75 and 100 g per hole. The results
indicated that the minor gall index (GI) in roots of cucumber plants was obtained with a
dose of 75 grams of product per hole, with 57% reduction when compared to control.
The dose of 100 grams of product per hole increased the number of fruit and the
production of cucumber plant (kg/plant) of about 31.5% and 36.5% compared to the
103
control, respectively. It is concluded that use of the product based on isolated Pc-10 of
P. chlamydosporia var. chlamydosporia contributed to the increased control of knot-
root nematodes and the commercial production of cucumber.
Keywords: biological control; nematophagous fungi; root-knot nematodes; Cucumis
sativus.
INTRODUÇÃO
O nematoide das galhas (Meloidogyne spp.) está amplamente distribuído nos
solos cultivados com hortaliças no Brasil, destacando-se M. incognita (Kofoid & White)
Chitwood, M. javanica (Treub) Chitwood, M. enterolobi Yang & Eisenback (=M.
mayaguensis), M. arenaria (Neal) Chitwood e M. hapla Chitwood. A ocorrência dessas
espécies, isoladamente ou em associação, inclusive com outros gêneros de
fitonematoides, pode provocar perdas severas na produção das hortaliças e dificultar o
manejo da área de cultivo (Campos et al., 2001; Sikora & Fernández, 2005).
O pepino (Cucumis sativus L.) é uma cucurbitácea cujo fruto geralmente é
consumido cru, em saladas ou em conservas, na forma de picles. No Brasil, os frutos
mais comumente encontrados no mercado são do tipo comum, caipira, japonês e
conserva (Filgueira, 2003; Souza & Resende, 2003). Dados da CEASAMINAS, durante
o ano de 2010, indicaram a comercialização de 16,64 mil toneladas de pepino,
correspondente ao valor de R$12.349.288,62 e preço médio de R$0,74.kg-1. Entre os
144 municípios produtores de pepino no Estado de Minas Gerais, o cultivo dessa
hortaliça destacou-se em Mateus Leme, Baldim, Araguari, Inhapim e Tocantins, que,
em conjunto, totalizaram 47,66% do pepino comercializado (CEASAMINAS, 2011).
104
No cultivo do pepino, o nematoide das galhas, principalmente, M. incognita e
M. javanica tem afetado a produção. Essas espécies são as mais comuns em áreas
cultivadas sequencialmente com tomate tutorado (Solanum lycopersicum L.) e pepino.
No Distrito Federal, o plantio sucessivo de cultivares suscetíveis favoreceu a rápida
multiplicação desses fitonematoides, ocasionando perdas na produção que variaram de
14 a 44%, no tomateiro, e de 80 a 100%, no pepino, quando cultivados no campo e em
estufa, respectivamente (Charchar & Aragão, 2005). O cultivo de pepino após o
tomateiro tutorado é uma prática utilizada pelos produtores de hortaliças da Região da
Zona da Mata Mineira para aproveitamento do tutoramento e dos resíduos
remanescentes da adubação do tomateiro. No entanto, nas áreas infestadas com o
nematoide das galhas tem sido constatadas perdas na produção de hortaliças.
Entre as medidas de controle do nematoide das galhas na cultura do pepino,
destaca-se a rotação de culturas com espécies vegetais não-hospedeiras (Charchar &
Aragão, 2005; Wilcken et al., 2010). A rotação de culturas é uma prática que, bem
utilizada, proporciona excelentes resultados, porém, em solos infestados com diferentes
espécies do nematoides das galhas, sua implementação é limitada e, consequentemente,
o sucesso dessa medida também, pois esse gênero de fitonematoide é polífago (Sikora et
al., 2005).
Uma técnica alternativa pesquisada para o cultivo protegido em áreas infestadas
com o nematoide das galhas é a utilização de mudas enxertadas. Entretanto, a taxa de
multiplicação do nematoide das galhas em porta-enxertos recomendados para o pepino
ainda são desconhecidas, limitando sua recomendação (Wilcken et al., 2010).
O plantio de cultivares resistentes para o controle de fitonematoides traz
enormes vantagens por ser um método eficiente, prático e econômico, mas, no caso do
105
pepino, não existem cultivares comerciais resistentes a M. incognita e M. javanica
(Wilcken et al., 2010). Também não existem nematicidas químicos registrados para o
uso nessa cultura no Brasil (MAPA, 2011) e, portanto, o uso de nematicidas no cultivo
do pepino é proibido.
Outras medidas de manejo integrado de fitonematoides podem ser utilizadas, por
exemplo, a escolha do local de plantio, a limpeza de máquinas e implementos agrícolas,
o uso de mudas sadias, o revolvimento do solo, a solarização do solo, a adição de
matéria orgânica, a destruição dos restos culturais, o controle de plantas invasoras, o
cultivo de plantas antagonistas e a rotação de culturas com plantas não-hospedeiras
(Lordello, 1984; Campos et al., 2001, 2007; Sikora et al., 2005; Ferraz et al. 2010).
A preocupação com a preservação ambiental tem levado à busca por métodos de
controle de doenças alternativos e eficientes, mediante a utilização de produtos não
poluentes, de custo acessível e de fácil aplicação nas lavouras (Salgado & Borges,
2008). Entre esses métodos, a utilização de agentes de controle biológico apresenta
grande potencial como estratégia no manejo integrado dos fitonematoides (Stirling,
1991; Freitas & Ferraz, 2005; Dong & Zhang, 2006).
O fungo Pochonia chlamydosporia Zare & Gans (sin. Verticillium
chlamydosporium Goddard) é um agente de controle biológico, parasita de ovos e
fêmeas de espécies de fitonematoides endoparasitas sedentários, que tem se destacado
no controle do nematoide das galhas (Kerry & Bourne, 2002; Chen & Dickinson, 2004).
Já foi encontrado em solos supressivos ao nematoide dos cistos dos cereais (Heterodera
avenae Wollenweber) em áreas de monocultivo com cereais na Inglaterra (Kerry &
Crump, 1998). Apresenta boa capacidade saprofítica que permite seu crescimento em
matéria orgânica entre as estações de cultivo. Produzem clamidósporos, estruturas de
106
sobrevivência resistentes que favorecem sua manipulação e produção in vitro. Os
clamidósporos são um tipo de inóculo mais efetivo para o estabelecimento do fungo no
solo e na rizosfera e sua taxa de aplicação no solo é de aproximadamente 5.000
clamidósporos por grama de solo (Kerry, 2001; Kerry & Bourne, 2002).
A eficácia de P. chlamydosporia em sistemas produtivos comerciais ainda
carece de avaliações. Muitas pesquisas em condições controladas de casa de vegetação
foram realizadas (Lopes et al., 2007; Dallemole-Giaretta, et al. 2008; Podestá et al.,
2009), sendo necessário atualmente avaliar mais intensamente o fungo em testes de
campo (Kerry, 2001). Existem produtos que estão sendo testados em sistemas
produtivos comerciais, a exemplo do ‘KlamiC’, em desenvolvimento pelo instituto
CENSA, em Cuba; do ‘MicoTec’, pela empresa ClamiTec, em Portugal; e do Rizotec
pela empresa Rizoflora Biotecnologia S.A., em Viçosa, Minas Gerais, Brasil.
O presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de diferentes doses de
um bionematicida à base do isolado Pc-10 de P. chlamydosporia var. chlamydosporia,
no controle do nematoide das galhas em área de cultivo comercial de pepino
naturalmente infestada por fitonematoides.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado em área de produção comercial de hortaliças,
previamente cultivada com tomate e com solo naturalmente infestado com o nematoide
das galhas (M. incognita e M. javanica), durante o período seco do ano (julho a
outubro/2009), na Fazenda Paraíso, no Município de Tocantins, Minas Gerais, Brasil.
As coordenadas geográficas do local de realização do experimento foram: latitude
20º44’49.03” S, longitude 42º51’3.81” W; altitude média 294 m.
107
Na área experimental foram coletadas amostras de solo para contagem de
fitonematoides e análise físico-química do solo. O solo da área apresentou as seguintes
características físico-químicas: classe textural argila (37% de areia, 13% de silte e 50%
de argila) e pH (H2O)=5,2.
Após a colheita do tomate tutorado, os restos culturais do tomateiro foram
arrancados manualmente, o controle das plantas invasoras realizado e, em seguida, foi
feito o coveamento para o plantio das mudas de pepino entre as covas dos tomateiros,
no espaçamento de 1,0 x 0,5 m. As covas apresentaram volume médio de 4,5 L. Na
adubação das covas de plantio foi utilizado 200 g de húmus de minhoca, com exceção
de uma testemunha, e mais diferentes doses de um produto formulado com arroz
colonizado pelo isolado Pc-10 de P. chlamydosporia var. chlamydosporia, em
desenvolvimento pela empresa Rizoflora Biotecnologia, com uma concentração média
de 4,0 x 107 clamidósporos.g-1 de formulação. Os seguintes tratamentos foram
utilizados: testemunha (sem húmus de minhoca); testemunha (com húmus de minhoca);
húmus de minhoca mais o produto nas doses 25, 50, 75 e 100 g por cova. O húmus de
minhoca e o produto foram incorporados à cova de plantio, 18 dias antes do transplantio
das mudas. Após a incorporação, a área foi irrigada até atingir a capacidade de campo,
sendo irrigada novamente de acordo com a necessidade, com a finalidade de manter o
solo úmido, próximo a 60% da capacidade de campo.
Cada parcela experimental foi constituída por cinco covas por linha dupla (dez
covas por parcela). Mudas de pepino Caipira, produzidas em bandejas de isopor de 128
células com o substrato Plantmax HF, foram transplantadas 15 dias após o semeio para
as covas de plantio, utilizando-se duas mudas por cova. Os tratos culturais e o controle
fitossanitário na lavoura foram feitos, de acordo com a necessidade, pelo próprio
agricultor.
108
Para estimativa da quantidade de juvenis do nematoide das galhas no solo, foram
feitas amostragens em três pontos nas covas de plantio com o auxílio de uma pequena
pá, na camada de 0-20 cm de profundidade, totalizando três amostras simples por
parcela, que foram misturadas e delas obtidas uma amostra composta de 200 cm3 de
solo de cada parcela. As amostragens foram feitas no dia de aplicação do produto e 60
dias após o transplantio das mudas, ao final da última colheita. Os juvenis de segundo
estádio (J2) foram extraídos das amostras de solo pelo método de centrifugação em
solução de sacarose (Jenkins, 1964). A relação entre juvenis no solo foi determinada
pela contagem final (Cf) e inicial (Ci) do número de juvenis por parcela e foram
determinadas em amostras compostas de 100 cm3 de solo. A área apresentou uma
contagem inicial (Ci) do nematoide das galhas de 88 juvenis de segundo estádio (J2) por
100 cm3 de solo.
Na avaliação final, os frutos comercializáveis foram colhidos manualmente de
cada parcela, duas vezes por semana. A colheita iniciou-se 39 dias após o transplantio
das mudas, tendo sido realizadas sete colheitas, por um período de 21 dias. Foi
determinado o número de frutos e a massa dos frutos de pepino por parcela em cada
colheita. A produção cumulativa foi expressa em kg/planta. Ao final da última colheita,
os sistemas radiculares dessas plantas foram coletados com o uso de enxadão, imersos
em água para retirada do solo, secos em papel toalha por 10 min e avaliados quanto ao
nível de infecção pelo nematoide das galhas por meio de avaliação visual do índice de
galhas (IG), utilizando-se diagrama com escala de notas de Bridge & Page (1980)
(Figura 1), por três avaliadores previamente treinados, conforme o esquema a seguir:
109
Figura 1 - Diagrama com escala de notas para avaliação de galhas em sistema radicular
proposto por Bridge & Page (1980).
(0) Sem galhas; (1) Poucas galhas, pequenas, difíceis de contar; (2) Apenas galhas
pequenas, mas bem visíveis. Raízes principais sem galhas; (3) Algumas galhas grandes.
Raízes principais sem galhas; (4) Predominância de galhas grandes, mas raízes
principais sem galhas; (5) 50% das raízes afetadas. Algumas raízes principais com
galhas; (6) Raízes principais com galhas; (7) Maioria das raízes principais com galhas;
0 1
2 3 4
5 6 7
8 9 10
110
(8) Todas as raízes principais com galhas, incluindo as raízes axiais. Poucas raízes sem
galhas; (9) Todas as raízes com muitas galhas. Planta quase morta; e (10) Todas as
raízes com muitas galhas. Sem sistema radicular. Planta geralmente morta.
O delineamento experimental foi realizado em blocos casualizados com oito
repetições por tratamento. Cada parcela experimental foi constituída pelas plantas de 10
covas e a parcela útil pelas plantas das seis covas centrais de cada parcela. Os dados
obtidos, transformados ou não, foram analisados pelo Teste t a 5% de probabilidade,
sendo as pressuposições de normalidade do erro e a homogeneidade de variância do erro
analisadas, respectivamente, pelos testes de Kolmogorov-Smirnov e Bartlett a 5% de
probabilidade. Os dados foram submetidos à análise estatística e os resultados
apresentados em gráficos de regressão quando significativos. As análises estatísticas
foram realizadas utilizando os softwares estatísticos Minitab (Minitab, 2003) e Statistica
(Statsoft, 2001).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Constatou-se que não houve diferenças entre a testemunha sem o húmus de
minhoca e o tratamento com apenas húmus de minhoca, pelo Teste t a 5% de
probabilidade, para todas as variáveis testadas (dados não apresentados). Entretanto, a
aplicação combinada do húmus de minhoca com o produto formulado com P.
chlamydosporia var. chlamydosporia (Pc-10), provavelmente, contribuiu para o
estabelecimento do fungo no solo. Dallemole-Giaretta et al. (2010a e b) observaram que
a palha de café e a farinha de sementes de abóbora, em doses baixas, são materiais
orgânicos que devem ser testados como veículos para a aplicação de P. chlamydosporia
no solo e que podem contribuir para o estabelecimento do fungo no solo.
111
O número de galhas nas raízes das plantas de pepino foi reduzido pelos
tratamentos realizados com o produto formulado com P. chlamydosporia var.
chlamydosporia (Pc-10) associado ao húmus de minhoca (Figura 2). Não ocorreram
diferenças significativas no índice de galhas (IG) entre as diferentes doses de P.
chlamydosporia var. chlamydosporia (Pc-10), porém, a dose de 75 g do produto por
cova foi menor em relação à testemunha. O índice de galhas nessa dose foi 57% inferior
à testemunha.
A dose de 100 g do produto por cova proporcionou um índice de galhas superior
à dose de 75 g do produto por cova, ou seja, menor controle do nematoide das galhas
nas plantas de pepino. Ainda não está esclarecido, mas segundo Bourne & Kerry
(1999), o aumento relativamente pequeno no número de UFC.g-1 de solo observado
quando altas taxas de aplicação de P. chlamydosporia são utilizadas, sugere que a
multiplicação do fungo pode ser dependente de sua densidade e competir por nutrientes
limitantes no solo. No presente experimento, a dose de 100 g do produto por cova
disponibilizou maior número de clamidósporos.g-1 de solo. Entretanto, a população
fúngica formada no solo, provavelmente, não aumentou em função do aumento da dose
do produto aplicado, porque P. chlamydosporia var. chlamydosporia teve sua
multiplicação limitada pela deficiência de algum nutriente e/ou foi afetada por
substâncias produzidas pelo próprio fungo na rizosfera das plantas. Dessa forma, sua
eficiência foi reduzida, permitindo menor parasitismo de ovos no solo e,
consequentemente, maior eclosão e penetração de J2 nas raízes, e maior formação de
galhas nas raízes das plantas de pepino.
112
Figura 2 - Efeito de diferentes doses do produto à base de P. chlamydosporia var.
chlamydosporia (Pc-10) associado ao húmus de minhoca no índice de galhas (IG) em
raízes das plantas de pepino, 60 dias após o transplantio das mudas. A barra representa o
intervalo de confiança a 5% de probabilidade.
O controle do nematoide das galhas com a utilização de P. chlamydosporia var.
chlamydosporia em campo de cultivo comercial de pepino é respaldado por resultados
obtidos em outros trabalhos de campo feitos por Atkins et al. (2003), no controle do
nematoide das galhas em feijão, repolho e tomate; por Verdejo-Lucas et al. (2003), no
controle do nematoide das galhas em tomate; e por Tobin et al. (2008), no controle do
nematoide do cistos em batata. É também, o primeiro relato do controle de nematoide
das galhas em pepino utilizando um agente de biocontrole à base de P. chlamydosporia
var. chlamydosporia.
Atkins et al. (2003) demonstraram o controle de M. incognita em solo não
tratado e tratado com P. chlamydosporia var. catenulata (Res 392) em sistema de
D os e s do produto (g /c ova )
Índi
ce d
e ga
lhas
(IG
)
100g/c ova75g/c ova50g/c ova25g/c ova0g/c ova
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
6,38
4,574,29
2,74 3,58
113
cultivo sucessivo de beterraba-feijão-repolho-tomate. Quando o fungo foi aplicado após
cultivo de beterraba e antes do plantio de feijão, o fungo proporcionou um pequeno
efeito adicional na redução da população do nematoide após o cultivo dos dois
hospedeiros pobres para o nematoide (feijão e repolho) e evitou o aumento da
população do nematoide no cultivo subseqüente de tomate. No solo não tratado, a
população de nematoides atingiu os níveis que tinham ocorrido após o cultivo da
beterraba. A proporção de ovos e de massas de ovos dos nematoides colonizados pelo
fungo foram superiores a 70% e, significativamente, maiores que o número de
nematoides colonizados no solo não tratado. O efeito de P. chlamydosporia, sozinho e
em combinação com oxamil foi testado por Verdejo-Lucas et al. (2003), em sistema de
cultivo sucessivo de alface e tomate em casa de vegetação, com solo infestado com M.
javanica, em duas épocas de cultivo e em dois locais na Espanha. Os resultados dos
experimentos indicaram que a taxa reprodutiva do nematoide na alface foi igual ou
inferior a 1, sendo similar entre os tratamentos nas duas épocas e locais de cultivo.
Entretanto, no tomate, a taxa reprodutiva no tratamento do fungo mais oxamil foi menor
que os outros tratamentos no primeiro cultivo em ambos os locais e, consistentemente,
reduziu o índice de galhas nas raízes dos tomateiros em todos os casos. No entanto, o
número de ovos por grama de raízes variou de acordo com o tratamento. Tobin et al.
(2008) demonstraram o controle do nematoide do cisto da batata por P. chlamydosporia
em experimentos de campo, realizados em lavouras comerciais de batata no Reino
Unido. O fungo foi igualmente efetivo no controle do nematoide, quando comparado
com o nematicida sistêmico fostiazato, não existindo diferenças na taxa de
multiplicação do nematoide entre os tratamentos com P. chlamydosporia, fostiazato e o
tratamento combinado do fungo com o nematicida. Nos tratamentos com o fungo,
comparativamente à testemunha, o controle variou de 48% a 51%, sendo suficiente para
114
levar a uma significativa redução da taxa de multiplicação do nematoide do cisto da
batata.
Na análise de regressão do número de frutos por planta e da produção da massa
de frutos por planta de pepino (kg/planta), ajustou-se o modelo linear de 1º grau, para
ambas as variáveis. No intervalo das doses testadas, observou-se que a utilização de
doses crescentes do produto à base de P. chlamydosporia var. chlamydosporia (Pc-10)
aumentou o número de frutos (Figura 3) e a produção de pepino por planta (Figura 4). O
maior número de frutos e produção de pepino por planta foi obtido no tratamento com a
dose de 100 g do produto por cova. Essa dose proporcionou a obtenção de 3,42 frutos
por planta e 0,71 kg de pepino por planta representando um incremento de 31,5% no
número de frutos e de 36,5% na produção de pepino por planta, em relação à
testemunha. Segundo Bourne e Kerry (1999), o aumento da taxa de aplicação do fungo
no solo aumenta a sua densidade no solo para todas as espécies de plantas e isso pode
afetar o controle. No presente experimento, o aumento da taxa de aplicação
(clamidósporos.g-1 de solo), provavelmente, aumentou a colonização rizosférica e o
parasitismo dos ovos do nematoide no solo, resultando em maior redução no número de
J2 eclodidos e que penetrariam nas raízes que, consequentemente, formariam galhas nas
raízes das plantas de pepino.
A dose de 100 g por cova representa a recomendação de 2.000 kg.ha-1 do
produto, por exemplo, para a cultura do pepino (20.000 plantas.ha-1). Entretanto, essa
recomendação pode ser menor, caso o produto não seja utilizado em área total e apenas,
em áreas mais localizadas, a exemplo, de reboleiras com maior infestação do nematoide
das galhas. Isso representaria menor quantidade do produto a ser utilizado por área.
115
Figura 3 - Número de frutos de pepino por planta sob diferentes doses do produto à
base de P. chlamydosporia var. chlamydosporia (Pc-10) associado ao húmus de
minhoca, 60 dias após o transplantio das mudas. Cada ponto representa a média de oito
repetições. C.V.: Coeficiente de variação (%), F.A.: Falta de ajustamento; *
Significativo pelo teste T a 5% de probabilidade.
Figura 4 - Produção de pepino (kg.planta-1) sob diferentes doses do produto à base de
P. chlamydosporia var. chlamydosporia (Pc-10) associado ao húmus de minhoca, 60
dias após o transplantio das mudas. Cada ponto representa a média de oito repetições.
C.V.: Coeficiente de variação (%), F.A.: Falta de ajustamento; * Significativo pelo
Teste t a 5% de probabilidade.
116
Os tratamentos que proporcionaram plantas com menor número de galhas
absorveram com maior eficiência água e nutrientes do solo e produziram mais frutos de
pepino. O aumento da produção também pode estar relacionado ao possível efeito de
promoção de crescimento das plantas provocado por P. chlamydosporia, pois alguns de
seus isolados já foram relatados como promotores de crescimento de raízes de trigo e
tomate (Monfort et al., 2005; Dallemole-Giaretta, 2008). Estudos são necessários para
verificar a possibilidade da ocorrência do efeito da promoção de crescimento em plantas
de pepino.
Os resultados de produção, ou seja, número de frutos e produção de pepino por
planta, obtidos neste experimento, conduzido em área de produção comercial de
hortaliças, reforçam a importância do controle biológico do nematoide das galhas
utilizando produtos contendo o isolado Pc-10 de P. chlamydosporia var.
chlamydosporia. Em outros trabalhos, utilizando diferentes isolados de P.
chlamydosporia, como os realizados por Atkins et al. (2003), Verdejo-Lucas et al.
(2003) e Tobin et al. (2008), as produtividades das lavouras tratadas com o fungo nem
sempre aumentaram. Provavelmente, o aumento na produção das lavouras tratadas com
o fungo pode estar relacionado ao isolado de P. chlamydosporia utilizado nos
experimentos e sua eficiência em colonizar endofiticamente as raízes das plantas
testadas e, consequentemente, proporcionar algum efeito na promoção de crescimento
das plantas, como os já observados por Monfort et al. (2005) em trigo, Dallemole-
Giaretta (2008) em tomate e Marciá-Vicente et al. (2009) em cevada.
Em seus experimentos, Atkins et al. (2003), concluíram que embora o índice de
galhas das raízes do tomate tenha sido reduzido significativamente de 4,0 (testemunha)
para 2,5 (com o fungo), não houve efeito benéfico nas produções das culturas testadas
em nenhum dos tratamentos com o fungo. Resultados semelhantes foram obtidos por
117
Verdejo-Lucas et al. (2003), posto que nenhum dos tratamentos utilizados nos
experimentos (controle, P. chlamydosporia, P. chlamydosporia + oxamil, oxamil e
brometo de metila) aumentaram a produção de alface e, apenas brometo de metila, em
uma das localidades, aumentou a produção de tomate, em 50% e 25%, respectivamente,
no primeiro e segundo cultivo. A produção comercial de tubérculos de batata obtida por
Tobin et al. (2008), diferiu grandemente. Num primeiro experimento, a produção foi de
31,3 t.ha-1, enquanto no segundo foi de 21,6 t.ha-1, porém, não ocorreram diferenças
significativas na produção final de tubérculos de batata entre a testemunha (não-tratado)
e o tratamento utilizando P. chlamydosporia, em ambos os experimentos.
No presente experimento, a contagem final (Cf) de juvenis no solo não foi
afetada pela utilização de P. chlamydosporia var. chlamydosporia (Pc-10) em nenhum
dos tratamentos utilizados (dados não apresentados). Segundo Kerry & Bourne (2002),
essa resposta é esperada, pois o fungo não impede a invasão inicial das raízes pelos
juvenis dos nematoides das galhas e os danos que eles causam ao crescimento da planta,
observando-se, assim, baixa eficiência de controle quando ocorre alta população de J2
no solo em culturas suscetíveis. Consequentemente, se o solo estiver fortemente
infestado com juvenis dos nematoides das galhas, outros métodos de controle devem ser
utilizados para aumentar a eficácia do fungo.
Entretanto, testes de campo com um isolado de P. chlamydosporia var.
chlamydosporia conduzidos por Freitas et al. (2009) em plantio comercial de banana
Galil 18 com alta incidência de fitonematoides, em Janaúba, Minas Gerais apresentaram
resultados que afetaram a população do nematoides das galhas no solo. Em junho de
2007, 500 g de um produto contendo o fungo foram aplicados por planta. Avaliações
foram feitas em agosto e novembro de 2007 e os resultados observados indicaram uma
redução gradual das populações de Meloidogyne spp., Radopholus similis,
118
Helicotylenchus sp. e Pratylenchus sp. no solo nas duas avaliações. Além disso, a
população de Pratylenchus sp. alcançou um nível indetectável ainda na primeira
avaliação. Nas raízes, não houve redução de R. similis, porém houve uma queda
acentuada, principalmente, das populações de Meloidogyne spp. (70,4%) e, assim como
no solo, Pratylenchus sp. não foi detectado nas raízes. O menor período de contato do
fungo com o nematoide das galhas no presente experimento, em torno de 75 dias,
proporcionou menor redução da população de J2, comparativamente ao experimento
realizado por Freitas et al. (2009), no qual o fungo ficou por cinco meses em contato
com os fitonematoides. Provavelmente, o aumento do período de contato do fungo com
os fitonematoides na área aumentaria a eficiência de controle, como relatado por Bourne
& Kerry (1999). A aplicação do produto à base de P. chlamydosporia var.
chlamydosporia (Pc-10) nas covas de plantio, 18 dias antes do transplantio das mudas,
também contribuiu para o aumento da eficiência de controle do nematoide das galhas no
presente experimento, pois permitiu o seu estabelecimento e maior período de contato
do fungo com os ovos do nematoide ainda no solo.
Uma alternativa para potencializar a eficiência do controle do nematoide das
galhas seria utilizar o fungo como parte de uma estratégia integrada com outros métodos
de controle que podem incluir cultivares resistentes e/ou tolerantes, plantas não-
hospedeiras, culturas armadilhas, rotação de culturas e, possivelmente, outros
organismos antagonistas (Verdejo-Lucas et al., 2003; Tobin et al., 2008; Ferraz et al.,
2010). Outra opção seria associar o fungo com a prática do alqueive úmido (Dutra et al.,
2006) que reduz consideravelmente a população de juvenis do nematoide das galhas no
solo no cultivo de algumas hortaliças.
Neste experimento, a dose de 75 g do produto à base de P. chlamydosporia var.
chlamydosporia (Pc-10) por cova foi a que apresentou melhores resultados no controle
119
do nematoide das galhas. A dose de 100 g do produto por cova foi a que proporcionou
maior aumento da produção comercial de pepino.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Marilene, Murilo e Leonardo (Graduandos em
Agronomia-UFV), pela colaboração nas atividades de campo e de laboratório
desenvolvidas durante a condução do experimento. À Rizoflora Biotecnologia, pelo
apoio financeiro e fornecimento do produto à base de P. chlamydosporia var.
chlamydosporia para a realização do experimento. À Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), pela concessão de bolsa de doutorado ao primeiro
autor.
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125
CONCLUSÕES GERAIS
• É viável a utilização do resíduo, obtido do processo de produção massal de
clamidósporos do isolado Pc-10 de Pochonia chlamydosporia var. chlamydosporia,
na concentração de até 2% (v:v) no substrato formulado e comercial para a
produção de mudas de alface;
• A aplicação de até 18,0 g.L-1 do produto Pc-10 em mudas de alface e pepino não
afeta o seu desenvolvimento e é uma alternativa de introdução do fungo no
substrato das mudas e, consequentemente, no solo de áreas cultivadas com
hortaliças;
• A aplicação do produto Pc-10 no solo (5.000 clamidósporos.g-1 de solo) e de
18,0 g.L-1 de Pc-10 nas mudas de alface foi efetivo no controle de M. javanica em
plantas de alface, pois reduz o número de ovos e de ovos.g-1 de raízes;
• No intervalo de 4,5 a 18,0 g.L-1 de Pc-10, a aplicação de doses crescentes de Pc-
10 nas mudas aumenta o controle de M. javanica em plantas de pepino, pois reduz
o número de galhas, de galhas.g-1 de raízes, de ovos e de ovos.g-1 de raízes;
• No intervalo de 25 a 100 g do produto por cova, doses crescentes de um produto
formulado à base de P. chlamydosporia var. chlamydosporia (isolado Pc-10) reduz
o nematoide das galhas e aumenta a produção comercial de pepino em campo.