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Revista Hobby News 44 José Luiz Affonso O modelista é, antes de tudo, um perfeccionista. À medida que o in- divíduo progride no hobby/mode- lismo, seu grau de exigência cresce, bus- cando sempre aprimorar o resultado final de seu trabalho. Infelizmente o perfeccionismo do mo- delista às vezes pode chegar a um grau de chatice muito grande, e aí, costumo dizer que, quando o modelista deixa de se di- vertir e seu hobby vira uma “doença”, é hora de a pessoa abandoná-lo. Mas isso é assunto para um outro dia. Mas o que é a COR? “Cor é como o olho (dos seres vivos animais) interpreta a reemissão da luz vinda de um objeto que foi emitida por uma fonte luminosa por meio de ondas eletromagnéticas; e que corresponde à parte do espectro eletromagnético que é visível (380 a 700 nanômetros - 4,3x10^14Hz a 7,5x10^14Hz). A Cor não é um fenômeno físico. Um mesmo comprimento de onda pode ser perce- bido diferentemente por diferentes pes- soas (ou outros seres vivos animais), ou seja, cor é um fenômeno fisiológico, de caráter subjetivo e individual.” ESPECTRO CONTÍNUO Um tópico comum em todos os seg- mentos de hobby é a questão COR. Já tive oportunidade de assistir a discussões intermináveis sobre um determinado tom de cor de um objeto, muita vezes sem se chegar a uma conclusão consensual entre as partes. A cor é importante para o modelista, pois ele sempre busca reproduzir o mais fielmente possível um determinado obje- to, seja um barco, avião, carro, tanque mi- litar ou até mesmo figuras humanas. Os comprimentos de onda visíveis se encontram aproximadamente entre os 380 e 750 nanômetros ou frequências (4,3x10^14 Hz a 7,5x10^14Hz). Ondas mais curtas (ou com maiores frequên- cias) abrigam o ultravioleta, os raios-X e os raios gama. Ondas mais longas (com menores frequências) contêm o infraver- melho, as micro-ondas, o calor e as ondas de rádio e televisão. O aumento de inten- sidade pode tornar perceptíveis ondas até então invisíveis, tornando os limites do es- pectro visível algo elástico. Como funciona o olho humano? O olho humano é um mecanismo com- plexo desenvolvido para a percepção de luz e cor. É composto basicamente por uma lente e uma superfície fotossensível dentro de uma câmera, que pode grossei- ramente ser comparada a uma máquina fotográfica. A córnea e a lente ocular for- mam uma lente composta cuja função é focar os estímulos luminosos. A íris (parte externa colorida) comanda a abertura e o fechamento da pupila da mesma maneira que um diafragma. O interior da íris e da coroide é coberto por um pigmento pre- to que evita que a luz refletida se espalhe pelo interior dos olhos. O interior do olho é coberto pela retina, uma superfície não maior que uma moeda de um real e da espessura de uma folha de papel. Nesse ponto do processo da vi- são, o olho deixa de se assemelhar a uma máquina fotográfica e passa a agir mais como um scanner. A retina é composta por milhões de células altamente especializa- das que captam e processam a informação visual a ser interpretada pelo cérebro. A fóvea, no centro visual do olho, é rica em cones, um dos dois tipos de células fotor- receptoras. O outro tipo, o bastonete, se espalha pelo resto da retina. Os cones, segundo a teoria tricromática (teoria de Young-Helmholtz), são responsáveis pela

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Revista Hobby News

44

José Luiz Affonso

O modelista é, antes de tudo, um perfeccionista. À medida que o in-divíduo progride no hobby/mode-

lismo, seu grau de exigência cresce, bus-cando sempre aprimorar o resultado final de seu trabalho.

Infelizmente o perfeccionismo do mo-delista às vezes pode chegar a um grau de chatice muito grande, e aí, costumo dizer que, quando o modelista deixa de se di-vertir e seu hobby vira uma “doença”, é hora de a pessoa abandoná-lo. Mas isso é assunto para um outro dia.

Mas o que é a COR?

“Cor é como o olho (dos seres vivos animais) interpreta a reemissão da luz vinda de um objeto que foi emitida por uma fonte luminosa por meio de ondas eletromagnéticas; e que corresponde à parte do espectro eletromagnético que é visível (380 a 700 nanômetros - 4,3x10^14Hz a 7,5x10^14Hz). A Cor não é um fenômeno físico. Um mesmo comprimento de onda pode ser perce-bido diferentemente por diferentes pes-soas (ou outros seres vivos animais), ou seja, cor é um fenômeno fisiológico, de caráter subjetivo e individual.”

ESPECTRO CONTÍNUO

Um tópico comum em todos os seg-mentos de hobby é a questão COR. Já tive oportunidade de assistir a discussões intermináveis sobre um determinado tom de cor de um objeto, muita vezes sem se chegar a uma conclusão consensual entre as partes.

A cor é importante para o modelista, pois ele sempre busca reproduzir o mais fielmente possível um determinado obje-to, seja um barco, avião, carro, tanque mi-litar ou até mesmo figuras humanas.

Os comprimentos de onda visíveis se

encontram aproximadamente entre os 380 e 750 nanômetros ou frequências (4,3x10^14 Hz a 7,5x10^14Hz). Ondas mais curtas (ou com maiores frequên-cias) abrigam o ultravioleta, os raios-X e os raios gama. Ondas mais longas (com menores frequências) contêm o infraver-melho, as micro-ondas, o calor e as ondas de rádio e televisão. O aumento de inten-sidade pode tornar perceptíveis ondas até então invisíveis, tornando os limites do es-pectro visível algo elástico.

Como funciona o olho humano?

O olho humano é um mecanismo com-plexo desenvolvido para a percepção de luz e cor. É composto basicamente por uma lente e uma superfície fotossensível dentro de uma câmera, que pode grossei-ramente ser comparada a uma máquina fotográfica. A córnea e a lente ocular for-mam uma lente composta cuja função é focar os estímulos luminosos. A íris (parte

externa colorida) comanda a abertura e o fechamento da pupila da mesma maneira que um diafragma. O interior da íris e da coroide é coberto por um pigmento pre-to que evita que a luz refletida se espalhe pelo interior dos olhos.

O interior do olho é coberto pela retina, uma superfície não maior que uma moeda de um real e da espessura de uma folha de papel. Nesse ponto do processo da vi-são, o olho deixa de se assemelhar a uma

máquina fotográfica e passa a agir mais como um scanner. A retina é composta por milhões de células altamente especializa-das que captam e processam a informação visual a ser interpretada pelo cérebro. A fóvea, no centro visual do olho, é rica em cones, um dos dois tipos de células fotor-receptoras. O outro tipo, o bastonete, se espalha pelo resto da retina. Os cones, segundo a teoria tricromática (teoria de Young-Helmholtz), são responsáveis pela

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captação da informação luminosa vinda da luz do dia, das cores e do contraste. Os bastonetes são adaptados à luz noturna e à penumbra.

As cores percebidas pelo olho huma-no dividem-se em três tipos e respondem preferencialmente a comprimentos de on-das diferentes de luz. Temos cones sensí-veis aos vermelhos e laranjas, aos verdes e amarelos e aos azuis e violetas. Aos pri-meiros se dá o nome de R (red/vermelho), aos segundos G (green/verde) e aos últi-mos B (blue/azul).

Os cones são distribuídos de forma de-sequilibrada sobre a retina. 94% são do tipo R (vermelhos e laranjas) e G (verdes e amarelos), enquanto apenas 6% são do tipo B (azuis e violetas). Essa aparente distorção é um equilíbrio inicialmente su-premo, que regrediu com o tempo.

Sistemas de Cores

Os sistemas de cores são tentativas de organizar informações sobre a percepção cromática humana. Pode-se tipificá-los como sistemas de Síntese Aditiva, onde a cor é percebida diretamente a partir da fonte luminosa, ou de Síntese Subtrativa, nos quais a cor é percebida a partir do re-flexo da luz sobre uma superfície.

Na Síntese Subtrativa, os principais são os que tentam determinar as cores primárias para impressão gráfica ou para as belas-artes. Cores primárias seriam um número mínimo de pigmentos a partir dos quais se poderiam obter as demais cores.

O sistema clássico é o utilizado em be-las-artes, que utiliza como cores primárias o vermelho, o azul e o amarelo (conhecido também por sua sigla em inglês RYB). Na pintura acadêmica clássica, teoricamen-te as demais cores poderiam ser obtidas através desses pigmentos.

Atualmente as artes gráficas utilizam o sistema CMYK (ciano, magenta, amarelo e preto). O sistema é baseado nas cores primárias propostas por Goethe (púrpura, amarelo, azul-celeste), convertidas em CMY (ciano, magenta e amarelo), e que foi padronizado pelo DIN – Deutsches Ins-titut für Normung (Instituto Alemão para Normatização) com a adição do preto (K) para destacar as sombras, sendo o branco do papel responsável pela ilusão impressa da luz.

A Pantone® possui o mais conceituado sistema para cores exatas e também um sistema baseado em seis cores primárias chamado de Pantone Hexachrome.

Um método bastante utilizado para or-ganizar as cores são as chamadas rodas de cores. Podem representar qualquer sistema de cor. A mais famosa delas é a Roda de Oswald baseada no sistema RBY utilizado nas belas-artes. O sistema de Chevreul propõe uma esfera onde matizes e tons estão representados no Equador e um eixo vertical indica o brilho e satura-ção. Outro exemplo é o sistema esférico de Otto Runge.

Sistema Chevreul

Sistema Otto Runge

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Federal Standard 595b O sistema de cor Federal Standard for-

nece um meio de comparar cores visual-mente. Teve suas origens no ambiente mi-litar dos EUA e ainda hoje é utilizado como a principal referência de cores.

Mais importante ainda, o FS 595b é também antigo. Suas origens remontam à 2ª Guerra Mundial, quando houve o pro-blema de fornecer a especificação da cor exata para um equipamento a um subem-preiteiro do outro lado do mundo.

Então, a solução encontrada foi a de designar um número (ou nome, se con-sultar o sistema britânico) para uma cor específica, pintando-as em amostras e distribuindo-as pelos interessados. Dessa maneira, qualquer fabricante de tinta ou vendedor poderia misturar a cor necessá-ria com precisão.

O Federal Standard 595b é uma coleção de cores, não um sistema completo de co-res, e isso tem as seguintes implicações:

• A existência de uma amostra de cor 3xxxx não implica que haja uma amostra para 1xxxx.

• Não é extensível, ou seja, não permite derivar novas cores de outras já existen-tes. Aliás, se comparar cores de camufla-gens japonesas ou cores RLM com códigos FS, apenas se pode aproximar de uma cor FS já existente, que muitas vezes não é uma coincidência perfeita (mas talvez re-lativamente boa).

Atualmente, as coisas são bastante di-ferentes. Existem outros tantos sistemas de cores, como o CMYK, o NCS ou o RGB. Esses sistemas descrevem as cores por suas propriedades físicas, suavizando e distribuindo as cores desnecessárias, per-mitindo compor praticamente qualquer número de tons, dentro da sua gama de cor.

As diversas aplicações no ramo militar é a razão para a prevalência do FS 595b e consequentemente sua adoção para fins modelísticos, pelos modelistas nos EUA e de outros países, inclusive no Brasil. De lá, o FS 595b foi adaptado pela indústria de modelismo de todo o mundo, desprezando o fato de que cores não EUA. (como as tin-tas de camuflagem britânicas ou alemãs) só podem ser aproximadas a uma ou ou-tra mais próxima FS. Poderá dizer que a aproximação é suficientemente boa para a maior parte dos fins modelísticos. Mas por causa das falhas que ainda possui, não é possível colocar o leque FS em lugar de destaque, embora se possam tirar algu-mas vantagens do sistema.

Como funciona a Federal Standard

O exemplo de um número FS poderia ser:

As cores não têm nomes oficiais, ape-nas um número de cinco dígitos. Todos os nomes atribuídos são genéricos.

O primeiro dígito pode ser 1, 2 ou 3 e indica o nível de brilho:

1 = gloss – brilhante2 = semigloss – semibrilho3 = mate – fosco

Para simplificar, todas as cores na tabe-la referem-se a mate (começam com 3). Equivalências de cores mate também se aplicam a cores semibrilhantes ou brilhan-tes – basta substituir o primeiro dígito por 2 ou 1, respectivamente.

Exemplo: FS:15200, FS:25200, FS:35200. Vernizes mate, acetinados ou brilhantes deverão ser aplicados ao objeto pintado para obter a desejada qualidade de acabamento.

Curiosamente, no leque original 595b, algumas cores estão representadas duas e até três vezes – como brilhantes, semi-brilhantes e foscas, enquanto outras ape-nas estão representadas como foscas ou brilhantes. O motivo ainda representa um mistério, mas é um lembrete de que cada amostra foi utilizada em algum lado, para alguma finalidade. Na prática, essa pecu-liaridade apenas torna o leque FS mais di-fícil de consultar.

O segundo dígito do código FS indica um grupo de classificação de cor

Os restantes três dígitos (terceiro ao quinto) combinados em um número for-necem a indicação geral (mas não um va-lor definitivo) da intensidade da cor. Valor mais baixo indica uma cor mais escura, valor mais alto indica uma cor mais clara, sem qualquer outro significado. Os núme-ros foram atribuídos com intervalos para permitir a introdução de novas cores.

Como pode ver, a confusão está toda nos detalhes. Mas para grande parte de nós, dadas as inerentes limitações do Fe-deral Standard FS 595b, a resposta decisi-va sobre a precisão de uma cor é sempre: misture as tintas de maneira que fiquem bem no seu modelo. Ao fazê-lo, a Carta de Referência Federal Standard deverá lhe fornecer uma orientação confiável.

Bibliografia

PEDROSA, Israel. Da Cor a Cor Inexistente. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1982.T., Paulo. O mundo das cores. São Paulo: Moderna, 1991.

CORES DA WEB/PERCEPÇÃO/EFEITOS:

http://www.colorindo.hpg.ig.com.br/ http://homepage.oninet.pt/modelismo-online/m_fs.html